reportagem sobre o novo Distrito Federal

Transcrição

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f r a . JÁôni&i Prado
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Oscar Niemeyèr.
Distrito Federal
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IMPRESSA E EDITADA POR
BLOCH EDITARES S. A .
N. 4 1 9
•
RIO DE JANEIRO,
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3 0 DE ABRIL DE
1960
•
ANO
8
Conversa com o leitor
Sumário
NOVA ERA: BRASÍLIA
6
MAGALHÃES PINTO: PACIÊNCIA SALVOU A
UDN
28
POSTO DE ESCUTA
30
RUBEM BRAGA
33
JACINTO DE THORMES EM BRASÍLIA
34
O BRASIL EM MANCHETE
36
HENRIQUE PONCETTI
41
BRASIL, CAPITAL BRASÍLIA
42
MARTA GARCIA JA Ê HISTÓRIA
52
PAULO MENDES CAMPOS
53
JUSCELINO, CIDADÃO BENEMÉRITO DO RIO 54
FERNANDO SABINO
56
NOTICIAS QUE VALEM MANCHETE
59
Dl CAVALCANTI E O CANDANGO
60
O ROMANCE POLÍTICO DE BRASÍLIA
62
O SUPREMO ATRAI TURISTAS
70
NOITES DE LUAR NO PLANALTO
72
NIEMEYER: POEMA EM CONCRETO-ARMADO 80
O POVO NAS RUAS
82
HELENA SANGIRARDI
85
CARNAVAL DO ADEUS
86
O MUNDO EM MANCHETE
90
CLAUDIUS
92
NOSSA CAPA: Sra. Mónica Prado Mendes
(Foto de Gervásio Batista)
ITO anos atrás, a 26 de
abril, surgia o primeiro
número d e MANCHETE,
com a promessa de tornar-se uma revista do Brasil
para o inundo. Os irmãos'
Bloch foram os seus idealizadores e Henrique Pongetti o seu primeiro diretor. Naqueles dias de 1952,
tinha apenas 40 páginas
mas já contava a atualidade em vibrantes reportagens. De então para cá, o
ritmo dinâmico que tem
impulsionado a imprensa
brasileira exigiu
para
MANCHETE a construção
de um moderno parque
gráfico, que, hoje, se estende por mais de 50 mil
metros quadrados, em Parada de Lucas. Nossos objetivos, porém, ainda são
mais
amplos. Dentro de
três meses começaremos a
imprimir 32 páginas em
cores
nas
novas rotativas eletrônicas que estão
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OITO ANOS ATRÁS
Eram apenas 40 páginas. . .
sendo montadas. Ao mesmo tempo, passaremos a dispor de uma fábrica própria
de tintas de impressão — a "Blocolor" —, o que nos possibilitará tiragens de 500
mil exemplares diários. MANCHETE poderá, assim, atingir os mais distantes pontos do País e do estrangeiro. A promessa do primeiro editorial está, portanto,
sendo cumprida: uma revista do Brasil para o mundo. Esta semana, ao festejarmos
o oitavo aniversário, homenageamos uma das maiores conquistas da nossa história:
a transferência da Capital para Brasília. É uma reportagem que retrata a ousada
realização nacional às vésperas da sua inauguração — no momento exato em que
ela passará a figurar perante o mundo como Capital dos Estados Unidos do
Brasil. Em nossa próxima edição, uma equipe de dez fotógrafos e cinco repórteres contará tudo sobre as cerimônias da inaugração. E, numa edição extra, a
de Brasília — autêntica vitória do otimismo —, será apresentada desde a primeira
missa rezada no planalto até a recepção presidencial no Palácio da Alvorada.
J. M.
PRESIDENTE : ADOLPHO BLOCH • DIRETOR :
OSCAR BLOCH SIGELMANN * DIRETOR RESPONSÁVEL: NELSON ALVES * DIRETOR: JUSTINO MARTINS * ASSISTENTES : LEONARDO
BLOCH E PEDRO JACK KAPELIER * CHEFE DE
REDAÇÃO | DANIEL CAETANO * CHEFE DE REPORTAGEM . ARNALDO NISKIER * REDAÇÃO :
RAIMUNDO
MAGALHÃES
JÚNIOR,
MURILO
MELO
FILHO,
GASPARINO
DAMATA,
NEY
BIANCHI, RONALDO BÔSCOLI, ZEVI GHIVELDER,
SILVA NETO E FAtTSTO WOLFF * REVISÃO:
JORGE
GAZINEO,
EUCLÉCIO
FACÃDIO
E
SYLVIO CRUZ OLIVEIRA * COLABORADORES :
HENRIQUE
PONGETTI,
FERNANDO
SABINO,
PAULO MENDES CAMPOS, RUBEM BRAGA,
JACINTO
DE THORMES,
LEON
ELIACHAR,
HELENA SANGIRARDI, ALBERTO SHATOWSKY,
VERAMOR E CLAUDIUS * FOTÓGRAFOS i CHEFE:
NICOLAU DREI. REPÓRTERES: GERVÁSIO BATISTA, JADER
NEVES. JANKIEL
GONCZAROWSKA,
CARLOS
KERR,
GIL
PINHEIRO,
VICTOR GOMES, FELISBERTO ROGÉRIO, JOSÉ
AVELINO • LABORATÓRIO | CHEFE : JUVENIL
DE SOUZA. AUXILIARES : TOLENTINO GOMES,
MOACYR e">MES * ARTE : WILSON PASSOS,
FERNANDO MAURÍCIO, PAULO TAVARES *
ARQUIVO . ARON VAISMAN * PRODUÇÃO :
NELSON SAMPAIO, ORIARD T. GUIMARÃES *
CIRCULAÇÃO : JOSÉ ARTHUR C. NOYA * SUCURSAL DE SAO PAULO : WALTER BOUZAN,
IVO BARRETTI, GERALDO MORI * CORRESPONDENTES NO BRASIL : AMAZONAS : PHELIPE
DAOU ; PARA : OSWALDO MENDES | CEARA:
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NOVA
BRASÍLIA
Reportagem
de JSicolau Orei, Gerváno
Batista,
Jáder Weves, Jankièl
e Gil
Pinheiro
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IZ o que me cumpria. Estou dando a noiva pronta, limpinha, de véu e grinalda... O Brasil já pode casar com
ela. . .
Quem diz risonhamente estas palavras, às vésperas da inauguração da nova Capital Federal, é um homem que,
há quatro anos, surpreendeu a Nação, renunciando à sua cadeira de representante de Minas Gerais no Congresso, para
se exilar voluntariamente no planalto goiano, região em que, na época, não havia senão a natureza selvagem, a solidão
dos desertos. Com o mesmo vigor dos primeiros dias, embora mais encanecido, em razão das lutas que travou para tirar
uma cidade do nada, Asse homem vê agora o coroamento dos seus esforços com uma satisfação perfeitamente compreensível . Admirável comandante de um grande exército de trabalhadores, alcançou o objetivo visado. Presidente da Novacap
e, agora, Prefeito do novo Distrito Federol, o construtor de Brasília não perdeu o bom-humor:
— Esta cidade estava prometida ao País desde 1 6 9 1 . . . Já era tempo para o casamento, não acha ? O namoro,
de tão longo, começara a ficar escandaloso. . .
Soo . -. ntensa vibração estas horas da semana inaugural. Tudo é festa em Brasília. Por onde passa o Sr.
Israel
>
correm pessoas a abraçá-lo. Uns o cumprimentam efusivamente pela tarefa que lhe coube realizar, por
delegação do Prasídente Jusc ífino Kubitschek de Oliveira. Outros lhe apresentam congratulações por sua nomeação para
o cargo
Prefeito do novo Distrito Federal. A opinião geral sobre a escolha pode ser resumida pelo comentário de um
dos bravos candangos' <fVHt o ajudaram a construir Brasília:
— Não podia ser outro.. . Sá se quisessem fazer o homem ficar com vergonha toda vez que se encontrasse
com o Dr. Israel. .
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BRASÍLIA
De toda parte chegam milhares de carros para o
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UMA NUVEM DE POEIRA sobe para o céu do planalto, q'ue sai da calma em que viveu durante séculos e se integra na vida ativa da Nação. Pelas
estradas abertas através de milhares de quilômetros, brasileiros de todas as idades chegam para testemunhar a inauguração da nova Capital brasileira.
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CHEIOS DE ANSIEDADE, parlamentares e funcionários descem de aviões, ônibus e automóveis. Todo mundo quer ver o colosso. Pelas ruas se estendem restaurantes e cafés com suas mesas ao sol. A população de Brasília vai formando desde já o hábito de flanar despreocupadamente pelas calçadas.
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BRASÍLIA
Cinematografistas do mundo inteiro disputam os
EDIFÍCIO do Congresso visto de helicóptero. O prato virado para cima é a Câmara dos Deputados, e, o outro, o Senado. Há salas também no subsolo.
que fosse escolhido pareceria uma usurpação. Sendo êle, só se
OUTRO
pode dizer que o homem certo foi chamado a ocupar o lugar certo.
Na verdade, o que muda é o título da função, que continuará a
desempenhar com o mesmo afã, para fazer de Brasília o monumento
de arte e de progresso que, embora ainda em elaboração, pelo seu arrojo
assombra o mundo e entusiasma os brasileiros que a paixão partidária
não cegou. Mesmo os mais descrentes da capacidade do nosso povo.
A ofensiva desfechada em todas as frentes de trabalho nos poucos
dias imediatamente anteriores à mudança da Capital foi, em Brasília,
qualquer coisa de épico. Nem uma hora, nem um minuto perdido.
Andando de obra em obra numa inspeção geral, o Sr. Israel Pinheiro
verificava pessoalmente falhas e atrasos. Distribuía ordens enérgicas,
trocava impressões com engenheiros, fazia ativar trabalhos urgentes,
procurando obter vantagens na corrida contra o tempo. As explicações
se multiplicavam. Aqueles andaimes ? Iam ser retirados logo à noite.
O revestimento de mármore do Museu de Brasília ? Faltavam apenas
alguns blocos, que seriam colocados antes das seis horas. Quantos homens completavam os arremates, pintura, vidraças, limpeza e arrumação do mobiliário do Palácio do Planalto ? 700 operários, distribuídos
em turmas. O passeio, em frente, em mosaicos brancos e pretos. Havia
um pequeno atraso, que a duplicação do número de operários procuraria recuperar. Quando as explicações não satisfaziam, a voz do
chefe se fazia ouvir. Oferecia sugestões, dava conselhos, rebatia argumentos. E as palavras logo se transformavam em ação. Libertos dos
andaimes, os grandes edifícios, em sua maioria, já podiam ser admirados
na plenitude de sua beleza. A toalete da noiva, para usar da expressão do Sr. Israel Pinheiro, era a preocupação dominante. Para
isso, entraram em vigor muitas proibições. Havia como que um "On
ne passe pas" geral. Não se podia entrar no Palácio do Congresso, nem
no Palácio do Planalto. Nem no Palácio da Alvorada. Nem no Palácio
do Supremo Tribunal Federal. Brasília fervilha de jornalistas, de técnicos de cinema, de rádio e de televisão, assim como de visitantes,
chegados do estrangeiro e de todos os Estados do Brasil. Se todos tivessem livre acesso não só perturbariam o trabalho, como deixariam
por toda parte, em tapetes ainda virgens e em alvos pisos de mármore,
recém-lavados, a marca de suas pegadas, em barro vermelho. A curiosidade geral teve de ser refreada. As exceções foram raras. Só conseguimos percorrer todas as dependências do Palácio do Planalto, onde
a mobília começara a ser colocada, sob a condição de fazè-lo sem
sapatos, só de meias, como se entrássemos num templo oriental. Dois
homens, de peça em peça, moviam um aspirador de pó como nunca
vimos antes (100 kg). No último andar, numa falsa estufa (envidraçada)
mas a céu aberto), o jardim acabara de ser plantado. Embaixo, um caminhão descarregava ainda potes com begônias, antúrios e outras plantas ornamentais. Duzentos quilos de flores estavam chegando (o percurso Rio-Brasília fora coberto de avião) para a ornamentação do
novo Catete, local da recepção oficial. Desse carregamento floral constavam 400 orquídeas. Uma corbelha de noiva como poucas.
Brasília é um formigueiro, regurgitante de homens e máquinas.
Nas largas avenidas, *í)u]I-dozersw e caminhões-tanques, carros-guindastes e escavadeiras mecânicas, rolos-compressores e ônibus, jipes
e peruas cruzam-se com carros de todas as marchas, num vaivém
incessante, durante o dia e durante a noite. O tráfego se torna de instante a instante mais intenso : a cada minuto entram em Brasília veículos e mais veículos, vindos tanto de lugares próximos como de paragens remotas. Imensos caminhões de empresas de mudanças estacionam à porta de blocos dos conjuntos residenciais : mobílias de ministros, congressistas e altos funcionários acabam de chegar. No centro
comercial, passa de descarga aberta um velho Ford, carregado de
inscrições, algumas coloridas. Traz a estranha caranguejola uma placa
da Colômbia. E' um modelo de 1929. Chama-se "Jeam n e '' e já rodou
26 mil quilômetros, numa excursão de dois jornalistas colombianos,
Karis Abril e José Mendoza Urdiales, através do Equador, Peru, Chile,
Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil. Ao lado desse carro
quase pré-histórico, presente à inauguração de Brasília, pára um automóvel de aluguel com placa do Ceará! O chofer fez mais de 2.800 quilômetros para alcançar a nova Capital. Surgem barulhentamente pelas
ruas veículos de propaganda de produtos industriais: camionetas novíssimas de uma empresa carioca de café moído e verdadeira frota de uma
cervejaria paulista. Setenta ônibus com placas do Rio engrossaram
ainda mais o tráfego de Brasília, na segunda-feira, 18, além de dezenas
de outros, contratados em São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia, alinhados nas ruas à espera da ocasião em que irão auxiliar o movimento durante as festas inaugurais. Chegam também 350 automóveis
de aluguel (dos quais 60 são do tijo JK, da Fábrica Nacional de Motores), colocados à disposição dos convidados. Um grupo de trabalho do
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, sob a chefia geral
do Dr. Marcelo Rangel Pestana, assistido pelo Dr. Henrique Árias Rodrigues e mais 25 auxiliares, ficou com a incumbência de distribuir
as linhas de transportes de emergência, para facilidade do deslocamento do povo para as várias solenidades. Um setor do referido
serviço, sob a direção do engenheiro Abel Figueiredo, estará pela
primeira vez no Brasil operando em transportes de passageiros, por
meio de rádio, processo até aqui só utilizado em patrulhas policiais
e em ambulâncias. Sete camionetas radiequipadas atendem aos chamados do aeroporto, transportando rapidamente os convidados que não
dispõem de condução. Em Brasília, tudo foi planejado em escala gigantesca. E mesmo as pequenas distâncias são ali grandes demais para
serem vencidas a pé. Pletórica como se encontra, sem plano de circulação bem ordenado, muita gente, por falta de transporte, teria que
voltar do aeroporto, limitando-se a ver a nova Capital à distância .. .
Outro agudo problema equacionado foi o da hospedagem dos convidados para as festas inaugurais. O Brasília Palace Hotel ficou inteiramente reservado nestes dias festivos, para os embaixadores, ministros, cardeais e convidados especiais do Governo. Outros convidados
foram hospedados nos novos hotéis que ora estão sendo instalados.
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dos parlamentares e
demais (inclusive turistas que seguiram
OS para
a nova Capital por iniciativa própria)
DEPOIS DO TRABALHO DURO, OS OPERÁRIOS SE «EÚNEM EM GRUPOS DE CONVERSA PARA UM RÁPIDO DESCANSO
foram acomodados em apartamentos vazios de
blocos residenciais e de casas cujos moradores definitivos ainda não chegaram a Brasília.
Algumas dessas casas, com sala e três quartos, passsaram a abrigar, às vezes, vinte a trinta
pessoas. Nove a dez camas de emergência
ocupam a área de uma sala de visitas, agora
dormitório de homens, no conjunto da Caixa
Econômica, ao lado do bairro comercial. Calcula-se que a população de Brasília terá quadruplicado, entre quinta-feira e domingo, com
o aíluxo de tantos visitantes. O tráfego aéreo
se intensificou de tal forma que apenas uma
das várias companhias nacionais a Real, está
fazendo 11 viagens diárias entre o Rio e Brasília, com os aviões inteiramente lotados. A
Panair tirou todos os seus aviões das linhas do
exterior, para, esta semana, se limitar ao tráfego entre as Capitais dos Estados e a nova
Capital Federal. O Brasília Palace Hotel, que
tomou a deliberação de não aceitar hóspedes
por mais de 3 dias (depois de 72 horas desocupa os aposentos para atender a novos candidatos), tem todos os seus aposentos sob reserva até 15 de maio. Aliás, às vésperas da mudança, fez uma revisão de seus preços, adotando nova tabela: apartamentos de superluxo, Cr$ 3.000,00 por dia, incluído café da
manhã (até 4 pessoas); apartamentos de luxo,
Cr$ 2.000,00 por dia (até 2 pessoas); outros
apartamentos, Cr$ 1.600,00 por dia (até 2)
e C r | 1.200,00 (uma só pessoa).
Aproveitando-se da escassez de habitações
no período das festas inaugurais, apareceram
em Brasília vendedores de "trailers" e de
veículos a motor adaptados para servir como
casas de emergência. Despertou grande curiosidade um tipo de camioneta, provida de lavatório, mesa, espelho, armário e cama para
casal (dando até para três pessoas, segundo
o eloqüente vendedor) e, ainda, com um toldo,
ou varanda, de lona armada em suportes metálicos. Tinha ainda, à parte, uma armação
para banheiro ou vestuário. Colocada estrategicamente nas proximidades do Brasília Palace Hotel, onde muitos em vão tentavam obter hospedagem, a camioneta com cama fez
um grande sucesso. Preço: Cr$ 700.000,00.
Pouco mais de oito meses de permanência
num apartamento de superluxo. E o dono
poderia, ainda, variar a paisagem, rodando
ora para cá, ora para l á . . .
• • *
- O senhor é jornalista ?
Quem nos fêz a pergunta não cabia em si
do espanto que lhe causara a chegada, a um
dos blocos residenciais, de uma senhora que,
no seu entender, era a mais velha de todas as
pessoas residentes em Brasília.
- Não acha que é uma história para
MANCHETE ? - perguntou. - Eu cheio que
é . . . Imagine o senhor : tenho 45 anos e, no
entanto, na minha família, achavam tolice eu
vir com minha gente para Brasília. Era uma
espécie de realejo : "Deixa isso para lá . . . E*
coisa para gente moça . .." Pois bem : chegou
aí uma senhora que tem a insignificância de
90 anos de idade . . .
- Quem é ?
- D. Josefina... Olhe aqui o endereço
. . . Bloco 8 do IAPI, quadra 106, ap. 101
Meia hora depois, D. Josefina, chegada
na véspera, dava no jipe de MANCHETE o
seu primeiro passeio por Brasília. Seu nome
completo é Josefina dos Santos Carvalho.
SEGUE
funcionários dão à cidade um ar de vida quase normal
PESADOS CAMINHÕES CHEGAM COM A BAGAGEM DOS PARLAMENTARES. MUITOS PRECISARAM DE MAIS DE UM VEÍCULO, OUTROS PREFERIRAM LEVAR APENAS UMA PARTE DE SEUS BENS.
AS MOÇAS JÁ CIRCULAM PELAS RUAS COMERCIAIS DA CIDADE EM FUNCIONAMENTO
COM BOM-HUMOR, SENHORAS DE FUNCIONÁRIOS ESPERAM O CARREGADOR DE MALAS
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BRASÍLIA
• >
Uma veneranda
senhora cria uma onda de
otimismo na cidade
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BPi ANJ, m ü X ^ . p . 65
o Presidente
QCL.
D. Josefina dos Santos Carvalho, 9 0 «nos de idade* conheceu
Kubitschek menino. O entusiasmo da anciã já criou uma legenda na cidade.
Toda gente deseja ouvir suas impressões sobre a Capital. É mãe do
Deputado Último de Carvalho.
SEGUE
N Â O HÁ TEMPO PARA CHORAR A MORTE OE U M C A N D A N G O QUE CAIU DE U M EDIFÍCIO,
Brasília pulsa na base do pitoresco e dramático: a
para a nova Capital com a família : filho, netos, bisnetos. E' a
FOIveneranda
senhora a mãe do Deputado Ultimo de Carvalho, da
"Frente Nacionalista", e grande entusiasta (desde os primeiros momentos) da candidatura do Marechal Teixeira Lott. Nasceu em Diamantina e foi colega de estudos de D. Júlia, mãe do Presidente Juscelíno
Kubitschek de Oliveira. Ainda faz croché e bordados, enfia linha na
agulha, sem óculos, caminha desembaraçadamente e tudo lhe parece
risonho e fagueiro. Impossível ser mais otimista.
- Sou idosa, mas não sou velha - faz questão de dizer D. Josefina.
Idade é uma coisa e velhice é outra, muito diferente. Tive uma irmã
que, quando chegou aos 90 anos, estava mesmo velha. Vivia a se queixar e a pedir a Deus para morrer. Dizia ter vivido muito. Era demais
e queria descansar. Pois eu, não ! Não me fartei ainda de viver. Vivi 90 ?
Pois mais dez anos não me farão nenhum mal! Por que não hei de
sentir a alegria de viver ? Tenho um filho maravilhoso, que me cerca
de todo o carinho. Tenho netos e bisnetos que me dão muito gosto.
Este ano, formam-se cinco dos meus netos ! Há maior felicidade do
que isso para quem é avó ? Tenho uma bisneta com 14 anos. Ela
me disse outro dia : "Minha bisavó, a senhora não morrerá sem eu lhe
ter dado um trineto". Pois vou esperar por ele ! Agora, quer coisa
mais bela do que esta ? Estar uma pessoa como eu, nascida antes da
Lei do Ventre Livre, assistindo à mudança da Capital para Brasília ? Só
eu sei o que o Brasil tem progredido nestes oitenta anos, desde que
me entendo . . . Outro dia apareci num programa de televisão... Imagine ! No meu tempo de moça, não havia nem rádio . . . Nem cinema !
Namorar é que era diversão dos moços. ..
D. Josefina é muito expansiva. Com ela estão uma das netas, D.
Maria Loy de Melo Tranco^ e um bisneto, Rogério, filho do Dr. Waltensir de Melo Franco, assistente ]Tfr1dico do Ministério do Trabalho.
A neta observa que a avó é sempre assim: loquaz, cheia de vivacidade,
interessada em tudo. E o única sinal de velhice, além da cabeça branca, é um pouco de surdez. A rrrais velha habitante de Brasília continua
a revelar suas impressões:
- Que lugar admirável ! Como tudo isto é b e l o . . . Gosto desses
descampados, assim . . . Como a vista da gente alcança longe ! Não me
lembro de ter visto outro horizonte tão longínquo... Nem um morro,
nem uma pedreira . . . O Juscelino teve muito g o s t o , . . Chamo-o assim
porque o conheço desde menino. Conheci muito o pai dele. E o avô,
também. Que edifícios ! Tudo muito bonito. Maravilhosa, esta Brasília !
Vou dar um abraço no Juscelino e dizer : "Sim, senhor, rapaz ! Você
fez uma bela escolha P Você, não .. . Acho que não fica bem. Digo
mesmo "Presidente". Estou encantada e quero que êle saiba. O clima é
ótimo. Acho que não saio mais d a q u i . . .
Fêz uma pausa, pensativa. Depois, uma interrogação imprevista :
- Aqui já tem cemitério ? Onde é ?
Ninguém sabia. Mas a neta disse :
- Claro que tem, v o v ó . . .
- Então, o meu problema está resolvido. Não saio mais d a q u i . . .
Riu gostosamente. Depois, voltou-se para o bisneto :
- E você, meu querido ? Está gostando ?
i*
O menino respondeu sem hesitação:
- Acho que é a maior cidade do mundo para a gente soltar
papagaio . . . Nem um fio, em lugar nenhum, para atrapalhar...
Realmente, em Brasília não há redes aéreas, para telefones ou
ligações de luz e força. Tudo é subterrâneo. Os engenheiros procuraram resolver o problema sem enfeiar a cidade. As ruas já estão posteadas e à noite acende-se a iluminação fluorescente. Urbanistas e
técnicos não sabiam que estavam oferecendo tanta vantagem às crianças. Sem dar por isso, fizeram de Brasília a cidade ideal para os
papagaios de papel. ..
Brasília está aparelhada
para instalar 2 mil telefones por mês.
A noite, no centro comercial de Brasília, havia uma enorme aglo-**-meração na sede da Companhia Telefônica, perto do estúdio da
Rádio Nacional. Que queria toda aquela gente ? Apenas isto : falar
de graça para o Rio de Janeiro. Alguns dos jornalistas (representantes
de quase todos os jornais e estações de rádio, não só do Rio como
de São Paulo) se aproveitaram da franquia concedida, para transmitir artigos e reportagens, contando suas impresssões. Quarta-feira,
14, o serviço começara, oficialmente, com um telefonema do Sr. Israel
Pinheiro, presidente da Novacap, para o Sr. Juscelino Kubitschek de
Oliveira, Presidente do Brasil. Depois, todo mundo falou, pela noite
adentro. O Major Dagoberto Rodrigues, do Serviço de Comunicações
do Exército, aplicou em Brasília os seus conhecimentos técnicos e a
sua valiosa experiência. E* quem dirige o serviço de telefones, que
utiliza, nas ligações interurbanas, o sistema sueco "cross-bar", considerado o mais moderno e aperfeiçoado do mundo. Em experiência
desde o dia 23 de fevereiro, esse serviço deixou excelente impressão
em todos, na inauguração oficial. Quer pela rapidez com que eram
feitas as ligações, quer pela nitidez da audição.
- Estamos aparelhados para instalar inicialmente 2 mil telefones
por mês - declarou-nos o Major Dagoberto. - Como o nosso serviço
e autofinanciável, o direito a um telefone será adquirido mediante
um depósito em dinheiro: Cr$ 30.000,00 para os residenciais e
Cr$ 65.000,00 para os comerciais. Parece muito caro. Mas qualquer
assinante que em qualquer tempo peça baixa da nossa lista terá o
direito a levantar o depósito. Aquele que obtiver o mesmo número
reporá essa quantia. Os telefones serão intransferíveis e exigimos um
depósito alto para evitar que se tornem objeto de especulação. Os
funcionários lotados em Brasília poderão, excepcionalmente, pagar o
seu depósito em 30 meses, mediante desconto em folha. Ninguém
poderá ter mais de um telefone em sua casa, ainda que pretenda
obtê-lo sob um nome diverso. Poderá, no entanto, instalar extensões.
Faremos o serviço na base de assinaturas até 120 ligações, sendo pagas
as excedentes a Cr$ 4,00 cada uma, tal como nos nossos telefones públicos, em que será essa a tarifa por três minutos ou menos.
,
No dia seguinte, a Companhia Telefônica abriu em várias agências as inscrições para assinaturas. Filas enormes se formaram nesses
JÁ É POSSÍVEL COMPRAR NO PRIMEIRO "S1AND" DE JORNAIS PUBLICAÇÕES DOS ESTADOS.
E A REPORTAGEM LOCAL TEM UM BOM ASSUNTO COM UNS COLOMBIANOS NUM FORDECO-
imprensa local vive seus primeiros furos de metrópole.
locais. Antes do fim da tarde, já havia cerca de 3 mil inscrições. O
Major Dagoberto, satisfeito, só se lamentava de uma coisa : não ter
aparecido um amigo do escritor e engenheiro Gustavo Corção, para
dirigir-lhe algumas palavras lá de Brasília :
- O Dr. Corção disse que o nosso serviço seria um fracasso. Mas
tenho a impressão de que ele se enganou . . . Sorriu, triunfante. Confessou, contudo, uma falha :
- E' verdade : infelizmente ainda não chegamos a um acordo com
a Companhia Telefônica Brasileira, com a qual teremos de fazer um
contrato para o tráfego mútuo interurbano... Espero, contudo, que
os obstáculos sejam vencidos.
A CTB deu, aliás, uma prova de boa-vontade : o serviço telefônico da nova Capital está sendo assessorado por duas de suas competentes funcionárias, as senhoras Zeni Viana e Edith Castôlhos, as
quais atuam como instrutoras dos jovens telefonistas (quase todos
homens) de Brasília.
Por toda parte, havia cartazes colados às paredes, anunciando o
início das irradiações da TV-Brasília no momento da inauguração
da nova Capital. Quatrocentos operários e técnicos trabalhavam ativamente na construção do edifício e na instalação da aparelhagem
(inclusive uma torre para a emissão dos sinais). O sistema de trabalho
contínuo, dia e noite, da Novacap, está sendo aí empregado. Complementarmente, doze subestações estão ao mesmo tempo sendo instaladas, no alto de montanhas, só acessíveis por meio de helicópteros,
para que as transmissões possam chegar a Belo Horizonte, ao Rio e
a São Paulo. O primeiro cinema de Brasília está sendo construído em
ritmo febril. Não será uma grande sala, mas outras surgirão, nos lugares de maior densidade demográfica. Alteiam-se os esqueletos de
numerosos edifícios na zona bancária, inclusive o do Banco do Brasil
(que está construindo também, na zona residencial, um enorme edifício de apartamentos, para uso exclusivo de seus funcionários), a pouca
distância do supermercado, da escola-parque e da Capela de Nossa
Senhora de Fátima. A imensa Catedral ae Brasília, destinada a ser
uma das mais belas do mundo, pela originalidade de sua concepção
(é circular, apresentando de qualquer ângulo o mesmo aspecto), já
tem a estrutura de concreto-armado acima do meio. O edifício do Tribunal de Contas da União tem as fundações lançadas, devendo estar
terminado antes de um ano. Na zona comercial, as lojas estão sendo
disputadíssimas. Produzem aluguéis de 70 mil a 120 mil cruzeiros. Drogarias, mercearias, casas de rádios, de malas e de roupas já começaram a
funcionar naquele setor. São raros os cafés e os bares. Restaurantes,
além dos que os institutos e o SAPS mantém, só os do Brasil Palace
Hotel, Chez Willy e Caravelle. Já é problema encontrar lugares
vagos nas mesas de qualquer deles. O recurso é o de aguardar na fila.
Outros decerto surgirão, à medida que haja locais adequados e disponíveis. Chez Willy, já com quarenta empregados, dispõe de instalações próprias (altos e baixos), já exíguas para o seu intenso movimento.
Parece muito pouco. Mas, para as festas desta semana, um serviço de
subsistência foi planejado, incluindo grandes restaurantes populares
de emergência que servirão churrasco ao ar livre. Um milhão de pães
de fôrma, com a quantidade correspondente de queijo e presunto, serão
transformados em vários milhões de sanduíches, para a massa popular. Os convidados oficiais terão bufê à parte. Verdadeiros problemas de logística foram equacionados por especialistas para que tudo
corra normalmente, pelo menos quanto a leitos, transporte e alimentos.
Mas a afluência de gente é tão extraordinária que talvez os cálculos
fiquem prejudicados, num ou noutro ponto. Há uma verdadeira corrida
nacional para Brasília, meta dos governadores dos Estados e também
dos homens comuns.
A construção da cidade continuará no
mesmo ritmo depois da inauguração.
THNTRE estes estão os "invasores". Quem são eles? Homens que
«•-' querem viver dentro de Brasília, ligados à vida de Brasília, participando das atividades de Brasília, mas sem se submeterem aos rígidos
planos traçados pelos urbanistas. De quando em quando, fazem uma
investida, para ravelar" uma parte da nova Capital. Ãs vezes, surgem
repentinamente, quase da noite para o dia, dezenas de barracos. Se houver tolerância, transformam-se em centenas e, logo, em milhares. Tornam-se uma força política e um fato consumado, como as diversas
favelas dos morros do Rio. Em Brasília, os barracos não ficam de pé.
A Novacap não o permite. O "favelismo" ali não deita raízes usucapientes. Uma vez destruídos os barracos, os moradores são localizados
numa das cidades-satélites, a uma distância de 25 km, onde podem
obter áreas de que se tornarão proprietários. Com a afluência cada
vez maior de gente que irá povoar essas cidades, já se pensa, inclusive,
num sistema de transporte, como o do plano-aéreo, para a rápida
intercomunicação.
Não só os barracos dos "invasores", mas também os conjuntos de
moradias de emergência dos trabalhadores, como a Vila Amaury, já
desapareceram da área de Brasília. Em janeiro de 1961, deverá desaparecer também a pequena cidade de casas de madeira, chamada
Núcleo Bandeirante, ou a Brasília-Velha, onde existe enorme movimento comercial e bancário (uma única agência de banco tem ali
750 milhões de cruzeiros em depósito !). Agora, os moradores da Brasília de tábuas quiseram, à sua própria custa, asfaltar a rua principal,
- a do comércio, dos bancos e do cinema. A diretoria da Novacap não
permitiu, assim como não permite que sejam feitos melhoramentos outros, ou construções sólidas, de pedra e cal, ou de cimento e tijolo.
Sem atender a razões de ordem sentimental (todas as concessões, ali,
foram dadas a título precário), a Novacap fará destruir tudo aquilo,
com um desfile de "bull-dozers" e outras máquinas pesadas, sob a garantia de forças militares (no caso de haver rebeldes ou resistentes).
Quem tiver capacidade para localizai seu comércio em Brasília (algumas firmas, inclusive bancos, já se mudaram), irá para lá. Quem
não tiver, ou irá para as cidades-satélites ou tomará outro caminho.
Cumprido o seu destino, o Núcleo Bandeirante em breve não será
senão uma lembrança para os que o viram, ou ali habitaram, enquanto a nova Capital ia surgindo no deserto do Planalto Central...
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abençoe o Brasil!"
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NAUGURADA, Brasília continuará a se desenvolver com o mesmo
impulso inicial a i n d a por vários anos, pois que, e m vex de ser
u m a cidade completa e a c a b a d a , está a i n d a em pleno fazimento,
a g o r a como antes, com a simples diferença de que terá categoria
de cidade e foros de Capital e d e que os seus problemas não serão
mais calculados abstratamente, mas sim sentidos e vividos por u m a
população permanente, de alto teor qualitativo, cujas reações imediatas às dificuldades e lacunas acaso existentes logo repercutirão no
â n i m o dos administradores e dos técnicos, muito empenhados em resolvê-las com eficiência e r a p i d e z . Dirão alguns dos opositores intransigentes da Nova Capital que pobres cobaias humanas estão sendo
submetidas neste momento a u m a brutal experiência de deslocamento
e m massa. M a s a maioria dos que enfrentam as aspe r e i as deste
período heróico, procurando ajustar-se às condições de um meio
novo, num admirável esforço de adaptação, é constituída por pioneiros que voluntária e corajosamente participam de uma jornada
histórica. Pioneiros que são ministros de Estado, senadores, deputados, ministros do Supremo e do Tribunal Federal de Recursos, homens
cujos nomes a Nação g u a r d a r á com reverência e que se engrandecer ã o por viverem numa cidade que se completará sob suas próprias
vistas, vivfficada e valorizada pelo estímulo d e suas presenças.
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Êle veio <le longe. Trazia MANCHETE como $ruia para os pontos principais. Em frente à igreja, tirou o chapéu.
BRASÍLIA
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Marta
das primeiras a chegar
para a inauguração
MA bonita niôça ÍR* Flamengo estava em Brasília q u a n d o
J surgiam n o País as primeiras candidatas ao concurso de
Miss Brasil. Marta Garcia foi a passeio ver de perto a cidade
em construção. Acabou aceitando a idéia de se candidatar com
outras moças que lá estavam. Foi eleita Miss Brasília e e n t r o u
para a história da nova Capital, como se vê na página 5 9
BRASÍLIA
Aqui ficará guardado tudo que se
escreveu contra a construção de Brasília e a
favor dela - a posteridade julgará.
O Presidente Kubitschek fêz questão
de q u e o museu da cidade ficasse p r o n t o
no dia da inauguração. Volumes e mais volumes
contarão a história da cidade.
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I-
Renunciou à chefia
campanha de Jânio: suas reservas
de tolerância levaram-no a
encontrar a solução para a crise.
Reportagem
AZ exatamente um ano que lhe entregaram o Partido para dirigir.
Ao recebê-lo, não alimentou nenhuma ilusão sobre as dificuldades
e as amarguras que o aguardavam : a UDN, na Oposição, ia tentar a
conquista do poder. Doze meses depois, ele sente na própria carne
como é ingrata a tarefa. Parece até que o relógio da UDN se recusa
sempre a andar com os ponteiros acertados : cada um deles escolhe
seu próprio compasso.
Mas uma infância e uma juventude humildes ensinaram a José
de Magalhães Pinto que a vida é um longo e penoso processo de acertar
ponteiros. As muitas lutas da meninice e da mocidade convenceram-no
de que a coerência e a paciência sempre foram as melhores soluções
para os humanos problemas, pessoais e públicos. E se o relógio de cada
político marca sua própria cadência, o de Magalhães Pinto fixa um
ritmo compassado e certo : de nada vale adiantar ou atrasar os ponteiros .
Na semana passada, convenceu-se de que a sua presença à frente
da campanha do Sr. Jânio Quadros estava servindo de motivo para
levar a UDN a uma crise grave. E quando todos jã não viam mais
nenhuma esperança de pacificação, o Sr. Magalhães Pinto conseguiu
mais «ma vez encontrar na sua paciente telerância a solução que acabou
com tÔda a briga : renunciou ao posto de chefia que ocupava na
campanha e ao qual vinha dando, há vários meses, o que havia de
melhor e de mais sincero na sua dedicação.
'Não me afastei do pasto um só momento, não descri do meu
Partido nem constrangi companheiros : antes, procurei exercer o mandato
com o conselho e a colaboração de todos. Com a ajuda de Deus e a
solidariedade que não me têm faltado dos diversos setores da vida
partidária, estou certo de que a UDN vencerá as dificuldades atuais
para cumprir a histórica missão que lhe cabe na Pátria e atender às
justas esperanças do povo."
Foi ao preço de muitas vicissitudes que o menino pobre da cidade
de Arcos chegou hoje, no meio século de vida, à conclusão de que as
lutas são constantes. As suas começaram aos 12 anos, quando resolveu
plantar couve no fundo do quintal para vendê-la de porta em porta.
Esta acostumado a
acabar com as crises
• J O M 16 anos, teve de aumentar a idade para fazer um concurso e preMencher uma vaga no Banco Hipotecário. Passou a ganhar Cr$ 200
por mês. Pouco depois, o inspetor do Banco sugeria um aumento para
Cr$ 300, que a diretoria recusou : "Não pode. Tem menos de 18 anos".
Aos 19, sem ter conseguido chegar a contador do Hipotecário, viu-se
convidado para gerente-geral do Banco da Lavoura. Três anos depois,
foi instalar uma agência em Lima Duarte e de lá voltou casado com
a professara Berenice. O Grupo Escolar ficava bem em frente à agência
do Banco e o bancário não resistiu aos encantos da professora.
Fizeram-no diretor do Banco aos 26 anos. Pouco antes, fora eleito
presidente da Associação Comercial de Minas. Em matéria de idade
de Murilo Melo
Filho
que faz questão de dizer que continua bancário, fiel aos problemas
dos seus companheiros. Recebe qualquer deles que o procure, seja
gerente ou simples contínuo, do Rio ou da mais remota agência do
interior. Um clima de garantia e de confiança estende-se desde os 20
mil bancários e famílias que dele dependem diretamente até os 400 mil
depositantes que nele guardam suas reservas e economias.
O Sr. Magalhães Pinto foi o primeiro presidente da Federação do
Comércio do Estado, que fundou. Tinha apenas 27 anos, mas já estava
engajado na conspiração contra a ditadura. Era companheiro fraternal
de Virgílio de Melo Franco. Assinou o ''Manifesto dos Mineiros". A
ditadura exigiu sua demissão da diretoria do Banco da Lavoura.
Aquela demissão levou-o, juntamente com seu irmão Valdomiro,
a fundar o Banco Nacional de Minas Gerais, que hoje com apenas
16 anos de existência, é um dos maiores do País. Guarda apenas uma
mágoa : Valdomiro, que morreu aos 34 anos, não chegou a presenciar
o grande triunfo da obra comum.
Sua experiência política
começa e termina na UDN
ÂO pôde, entretanto, figurar oficialmente na lista da primeira di_ retoría do Banco Nacional de Minas, porque a ditadura não o
permitiu. Elegeu-se sucessivamente para a Câmara em 1945, 1950, 1954
• 1958. Foi Secretário das Finanças do Governo Milton Campos. Nas
últimas eleições para deputado, foi o mais votado em Minas, com 53 mil
legendas. Esteve na presidência do diretório mineiro do seu partido.
Agora, está na presidência do diretório nacional.
Por isto êle declara com orgulho que sua linha de ação política é
de uma coerência absoluta : toda a sua experiência partidária começa
e acaba na UDN e na Oposição, desde o "Manifesto dos Mineiros", a
perseguição da ditadura, as eleições sucessivas até a luta pela candidatura do Sr. Jânio Quadros.
Seus deveres para com as candidaturas Jânio-Leandro foram
cumpridos rigorosamente. Basta dizer que a primeira seção regional a
lançar a candidatura do Sr. Jânio Quadros foi justamente a de Minas,
então sob sua presidência. E a candidatura do Sr. Leandro Maciel teve
na Convenção Nacional, como primeira e imediata manifestação de
apoio, a palavra da UDN mineira, através do seu atual presidente,
Oswaldo Pieruccetti.
Gosta muito de ler bulas médicas. Tem mania de receitar remédios
e de ser receitado. Sua maior fraqueza: padres e irmãs de caridade,
qua já conhecem seu fraco. Seu 'hobby" é contar histórias fantasiosas.
Na intimidade com a família ou os amigos, diverte-se em dar largas
à imaginação e narrar acontecimentos fantásticos. Sobre sua cidade de
Arcos, por exemplo, diz que lá existem árvores que dão macacos e vice-versa. Gosta também de frango assado e de conversa sobre política.
Redige pessoalmente todos os telegramas de congratulações e
pêsames. Até hoje, como simples bancário, continua a contribuir para
SALVOU A U D N
precoce, até hoje é recordista absoluto nesses dois postos. A liderança
das classes financeiras e produtoras de Minas transformou-o naturalmente em chefe político. Rompeu com o Sr. Benedito Valadares, hoje
seu amigo, mas que era então interventor todo-poderoso.
Quando, há poucos dias, a situação na UDN se tornava mais crítica,
êle tranqüilizou os seus companheiros : "Tenho a impressão de que sou
um homem acostumado a acabar com as crises. Contornarei mais esta".
Muitos desacreditaram que êle o conseguisse. Seu gesto de desprendimento e superioridade aconteceu no momento decisivo para
salvar a unidade da UDN e mais uma vez provar que sua elegância
de atitudes, palavras e decisões está muito acima da média comum
dos políticos brasileiros.
Sua humildade contrasta com a posição de grande banqueiro:
tem uma humilde paciência sobretudo diante dos que lhe devem. É
o IAPB. Fundou um Banco de Sangue em Belo Horizonte e ouve
agrado o trocadilho segundo o qual nas suas veias corre sempre o
sangue de um banco.
Até agora, não pudera cuidar muito de sua candidatura ao Governo de Minas porque, antes de mais nada, estava cuidando da candidatura do Sr. Jânio Quadros à Presidência da República. Sacrificava
seus comícios no interior mineiro, porque sua presença no Rio era
absolutamente necessária às articulações, à propaganda, às viagens •
às mil e uma providências para a campanha janista.
De muito bom grado, continuaria arcando com os ânus e os sacrifícios. Mas verificou que nem uns nem outros estavam sendo bem compreendidos pelos seus companheiios de partido. Transferiu-os quando sua
paciência percebeu que essa mudança era necessária para salvar
um partido que tem sido a grande e única legenda de sua vida.
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O Sr. Israel Pinheiro não escrava ser Prefeito
de Brasília. Os planos do Governo incluíam sua designação
para a presidência da Fundação Brasil-Central, com a incumbência de construir seis cidades ao longo da estrada
Belém-Brasília. Mas, à última hora, faltou um nome para
a Prefeitura da Nova Capital e o jeito que houve foi lançar
mão do presidente da Novacap, que assim terá chance de
concluir várias obras.
Os mudancistas da UDN lamentam que a incompreensão de alguns correligionários tenha impossibilitado ao partido tirar todo o proveito possível do fato de a data de
21 de abril, prevista para a mudança, ter resultado de um
projeto do deputado udenista L mi vai Caiado.
Uma das grandes preocupações da Novacap foi estocar
a maior quantidade possível de gasolina, a fim de fazer
frente à procura que haveria naturalmente com o deslocamento de milhares de veículos. Qualquer imprevidência
poderia causar desastrosos engarrafamentos e colapsos.
O nome do Sr. Guilherme Romano chegou mesmo,
em determinado momento, a ser o mais cotado nas Laranjeiras para Governador provisório da Guanabara, porque o
Sr. Juscelino Kubitschek dizia necessitar das suas inegáveis
qualidades de administrador para completar as obras urgentes no Rio. Mas o próprio Chefe do Governo verificou
depois que necessitava muito do presidente da COFAP no
comando do abastecimento de Brasília, a fim de evitar que
ela ficasse sem os gêneros de primeira necessidade logo nos
primeiros dias de seu funcionamento.
^
Sabendo que estava sendo projetada a ereção de
um busto de ouro em sua homenagem, o Presidente da
República fêz um apelo para que desistissem da idéia. O
ouro foi substituído por psdra-sabão, oriunda das vizinhanças de Diamantina. E o busto se instalou junto ao Museu-Monumento.
Comentário do Deputado Nelson Carneiro: "Se eu
ainda soubesse por onde andam as condecorações do tempo
de colégio, estaria resolvido meu problema de comparecer
à recepção no Palácio do Planalto. Alugava uma casaca no
Rolas e pespegava, no peito, as medalinhas. Seria recebido festivamente pelo ilustríssimo e excelentíssimo senhor
doutor Chefe do Cerimonial, enquanto lá fora os candangos, de olhos vidrados, acompanhariam, embasbacados, meu
sucesso".
Engenheiros da Novacap acham que além da vitória
geral na construção de Brasília dentro do prazo previsto,
têm a comemorar um triunfo particular sobre conhecido
escritor : o dos 26 canais de micro-ondas que possibilitam
comunicações entre o Rio e Brasília. Esse escritor provava, com lápis na mão, que a ligação telefônica era impossível dentro de tanta pressa.
Frase do Sr. Juscelino Kubitschek, plenamente vitoriosa esta semana: "Se a pressa é inimiga da perfeição, a
lentidão é inimiga do progresso1*.
Para o Planalto terão de mudar-se as sedes dos partidos
políticos. Quase todos os seus respectivos estatutos prevêem a localização da sede na Capital da República. A
UDN já deu o exemplo ao PTB e ao PSD : os udenistas
serão os primeiros a reunir ali o seu Diretório Nacional.
As três emissoras de televisão que já dispõem de canal concedido na Nova Capital .realizaram desesperados esforços no sentido de transmitir para o Rio e São Paulo
as solenidades da inauguração. Uma delas chegou a conseguir na Aeronáutica dois aviões que funcionassem no ar
como estações intermediárias para a recepção e a transmissão da imagem.
Funcionámos da Câmara garantem que o Deputado
Neiva Moreira, responsável pela mudança da Casa para Brasília, teve de resolver uma média de três casos para cada
um dos 326 deputados e 600 servidores, num total de
quase 3 mil problemas.
Os telefones de Brasília disporão de aparelhos especiais de gravação (ao preço de Cr$ 100 mil, cada). Os
donos poderão ligá-los durante suas ausências. Ao voltarem para casa, saberão quais as pessoas que telefonaram
e seus respectivos recados.
•^ O Deputado Breno da Silveira (socialista) foi um
dos primeiros a instalar-se em Brasília. Comprou uma fazenda nos arredores e saiu, com espingarda de dois canos,
para caçar. Voltou, a noite, sem as esperadas pacas, mas
com um tucano e um gavião como troféus.
Os tricolores que já se encontram na Nova Capital
comemoraram ali, ruidosamente, o triunfo do Fluminense
no Torneio Rio-São Paulo, que lhe dava o título de "último
campeão da Velhacap".
Entre os americanos convidados para a inauguração
da Nova Capital figuram os novelistas John dos Passos e
Aldous Huxley, o cineasta Frank Capra, o banqueiro James
M tchell (Chase Manhattan Bank), o Coronel Robert Schuttz
(ajudante de ordens de Eisenhower) e o magnata Conrad
Hilton.
Dific lmente faltará água em Brasília. O plano de
abastecimento prevê um consumo diário de 400 litros por
pessoa para um total de 500 mil habitantes.
No mesmo dia da inauguração de Brasília, o Embaixador Hugo Gouthier estará recebendo no Coliseu de Roma
uma cópia da Estátua Loba, que amamentou Rômulo,
o fundador da Capital italana. O Sr. Juscelino Kubitschek
ficou sensibilizado com a originalidade da homenagem dos
italianos ao Brasil.
Recorda-se que no concurso de projetos de urbanização de Brasília, o Sr. Lúcio Costa tirou merecidamente o
1 ° lugar com um trabalho feito em apenas dois dias, que
foi reconhecido como o melhor por todos os outros concorrentes. O segundo lugar coube aos arquitetos João Henrique Rocha e Nei Fontes Gonçalves, a quem o Presidente
da República acaba de confiar a construção das residências
ministeriais e das superquadras do Banco do Brasil.
jç Grande parte da bagagem do Embaixador Sette
Câmara já tinha sido remetida para a Nova Capital, onde
êle serviria como Chefe da Casa Civil. Nomeado Governador provisório da Guanabara, terá agora de providenciar
a volta de sua bagagem, que já em janeiro seguirá para a
Suíça, onde êle desempenhará importante missão diplomática.
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Israel não esperava ser o
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Eni vez de ouro, uma pedra de sabão
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Um Deputado caçou: tucano e gavião
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Teve de voltar : a bagagem de Sette
Um sambista negro, que fora do Rio para a Nova
Capital, cantava ali, nas vésperas da inauguração, uma canção curiosa : "Vem Marüia, vem Marília, conhecer o palácio
do Governo Provisório de Brasília".
Os técnicos de rádio que se encontram na Nova Capital para fazer as reportagens das festas inaugurais andam
sempre munidos de transformadores portáteis, como medida
de segurança para suas irradiações. É que a corrente elétrica ali tem voltagem diferente.
O editor Diaulas Riedel entregou ao Sr. Juscelino
Kubitschek o exemplar n.° 1 da 'Toada pra se ir a Brasília", poema de Cassiano Ricardo em comemoração à transferência da Capital. A "Toada" consta do volume "Montanha Russa", que acaba de ser lançado pela Editora Cultrix.
Apesar do trabalho intenso nos últimos dias que precederam a inauguração, houve uma suspensão geral de atividades na Sexta-teira Santa. Alguns sacerdotes, em caráter
excepcional, chegaram a permitir que os operários, depois
de suas preces e atos religiosos, retornassem à faina. Mas
os própr.os trabalhadores fizeram questão de respeitar o
dia santifiçado.
Embora não exista porto marítimo em Brasília, o primeiro ministro que para ali se mudou foi o Almirante
Matoso Maia, da Marinha.
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e q u i p a d o com 7
65 5HP desen vcÍ*..-rtdo 23 m.ihas com
;,;
Em alguns hotéis de madeira da Cidade Livre, um
quarto está valendo Cr$ 1.500, a seco.
O monumento comemorativo da inauguração esteve a
-pique de não licar pronto antes do dia 2 1 . Motivo: o escultor encarregado de fazer a inscrição esqueceu o "s" da
palavra "inconlidentes".
No instante em que se estabeleceu finalmente a ligação telefônica entre o Rio e Brasília, o Sr.José Paulo Viana,
que na Novacap era o encarregado de resolver o problema,
ficou tão emocionado que não conseguiu articular nenhuma
palavra ao telefone.
Modeios
trincados
e ü*oe de f u n d a d u p l o , de 1 ou 2 motores D>esei ou gasolina,
p a r a enseaaas e alto n>ar ae i 6 a 5 2 pes. Oesennos e especificações sob sectiac
•
"1
W/i
WfWÊM
Problema sério : o tipo de cama aprovado para as residências dos congressistas era pequeno demais para o Senador Dix-Huit Rosado e para os Deputados Manuel Novais e Miguel Calmou, que medem mais de dois metros de
altura. Em compensação, era grande para os Srs.Jose Maria Alkmim, St*»xas Dória, José Martins Rodrigues, Cid Carvalho e Armando Rolemberg.
Para que nenhuma criança seja prejudicada em seus
estudos, o Ministro Clóvis Salgado determinou que o ano
letivo em Brasília só tenha início no começo de maio.
Um jornalista que percorreu recentemente as dependências do Palácio da Alvorada ficou surpreso e impressionado quando entrou nos aposentos do Sr. Juscelino Kubitschek. Em cima da mesinha-de-cabeceira do Presidente
estava o preço que êle pagava pela construção da Nova
Capital: havia ali mais de 20 vidros diferentes de remédios.
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3P> AKJ, P>10 X^ O. £Si, 4CL.4/?, p. Z5
V
0 leitor em Manchete
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r-*âÉêj
As dez mais
e bem
feminino
saber
as horas...
quando
to relógio
é Rolex
J
^
Linda, moderna,
caprichosa, inteiramente
voltada para o
deslumbramento da vida,
entre belas flores
perfumadas e jóias,
muitas jóias...
"ela" sabe aproveitar
seus encantos femininos.
Mas, um homem —
aquele que tem
a distinção
característica da
habilidade
masculina — oferece a
"ela", um relógio Rolex...
Ê um homem diferente,
um homem
que se destaca com algo novo:
um relógio Rolex...
E, inesperadamente,
"ela" fica encantada
com o seu presente...
É mais pessoal
do que um mink
— e, realmente, lindíssimo.
Ê mais encantador
do qiie um perfume
— exatamente uma jóia
de precisão perfeita.
Nada tão delicado...
tão feminino.
Ê completamente dela.
E "ela" adora isso.
t
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A leitora que se assina, Mildred,
de Campos, envia-nos uma curiosa
sugestão: "Vocês poderiam fazer um
concurso para eleger as dez mais simpáticas leitoras de MANCHETE. Para concorrer, bastaria que as candidatas enviassem suas fotografias e a
escolha das dez mais ficaria a critério dos diretores e dos fotógrafos."
E finaliza: "Como prêmio, as dez candidatas vencedoras ter am suas fotos
estampadas na capa de MANCHETE."
Seria difícil a escolha, Mildred, pois
todas as leitoras de MANCHETE são
simpáticas como você.
Por quê ?
0 Sr. José Geraldo, depois de fazer alguns reparos à reportagem "São
Paulo — 1960", ressaltando que naquela cidade se fala o melhor vernáculo do Brasil, e não o pior, conforme havíamos escrito, pede que publiquemos as seguintes perguntas, endereçadas a todo o público leitor:
"1 — Por que a ciência engatinha e
as doenças correm ? 2 — Por que
Jesus foi tão bom e existe tanta maldade? 3 — Por que não procurar
fazer só o bem ?"
Sugestões
Recebemos do Padre Francisco, de
Campinas, SP, uma carta extremamente inteligente, contendo sugestões
prec osíssimas, mas, infelizmente, dada a sua extensão não podemos publicar na íntegra. O missivista começa com uma sugestão, que êle mesmo qualifica como pequena: "Colocar na página de cada um dos cronistas uma foto dos mesmos." E ressalta: "Enfim, eles merecem publicidade também pessoal para que os possamos distinguir nas ruas, dentre os
m lhares de vis mortais, anônimos e
inteiramente apagados." Em seguida.
sugere: "Por que não criar uma página — uma só, sei que é muito cara — para dar uma chancezinha a
milhares de leitores? Essa página se
chamaria, por exemplo, VOCÊ EM
MANCHETE, onde o leitor poderia
ganhar um "prêmio de loteria" ao
ver sua colaboração publicada." Depois de apontar algumas normas
(bem imaginadas) para a execução
da referida página, finaliza Padre
Francisco: "Creio ser este o único
ponto falho de MANCHETE: tratar
com pouco caso os leitores, com aquela repetidíssima frase — o nosso quadro está completo. Em palavras traduz das a um bom entendedor ela
sign fica: leitor ignorante, ingênuo,
etc. Despertar vocações, animar tendências, encorajar iniciativas no campo intelectual é obra patriótica, embora não muito, ou quase nada, comerciai" Apesar de estarmos, realmente com o quadro completo, o que
não representa necessariamente desprezo pelos le tores, muitas de suas
colaborações espontâneas têm sido
aproveitadas. Basta que elas obedeçam à linha e à programação redatorial da revista. De resto, vamos estudar a sugestão do 'VOCÊ EM
MANCHETE".
Aplausos a JK
0 Sr. Roberto Malheiros Julian,
de São Paulo, escreve: "Sendo leitor há algum tempo desta ót ma revista, venho elogiar o apoio que estão dando ao Governo de Juscelino
Kubitschek, publicando reportagens
sobre suas inúmeras realizações. Considero o atual Presidente realmente
assombroso, pois não é qualquer um
que sabe aproveitar os poucos anos
de mandato da maneira que esse gênio soube fazê-lo. Aproveitando a
oportunidade, peço que façam uma
edição especial, colorida, sobre a
NOVACAP, por ocasião de sua inauguração." O pedido do leitor veio sol)
medida: o número especial já está
quase pronto para rodar. Também de
São Paulo, o leitor LAÍS Philippe
manda uma recomendação: "Vocês aí
de MANCHETE, cujas vozes são mais
ouvidas, precisam avisar aos senhores
antimudancistas que assim como o
Presidente Juscelino e sua turma irão
para a História, por causa de Brasília, eles também irão, somente que
no papel de vilões."
O JK do Amazonas
O Deputado Roberto Jansen, líder
da UDN, na Assembléia amazonense, solicita-nos que publiquemos algumas retificações, no seu entender,
necessárias, à reportagem "Gilberto
Mestrinho — o JK do Amazonas".
Depois de afirmar que as eleições no
Amazonas foram fraudadas, diz o
Deputado que a d ferença de votos
foi 402 e não 800, conforme escreveu o nosso repórter. Em seguida, diz
aue o Governador não goza de prestígio popular de acordo com o descrito na reportagem. Em outro item. informa que o Sr. Gilberto Mestrinho
não concorreu sozinho às eleições,
mas por uma coligação de três partidos: PTB, PST e PSB. Continuando, assevera o missivista que Mestrinho não desarmou a oposição e que
o orçamento do Estado não está equilibrado. Finalizando, escreve- que o
feijão em Manaus custa 80 cruzeiros
o quilo e não. 22. Em compensação,
o leitor Max miliano de Jesns Trindade, de Salvador, BA, remete-nos
uma carta da qual destacamos os seguintes trechos: "Lendo a reportagem sobre as realizações do Governador Mestrinho foi imenso o meu
contentamento, pois, quando deixei o
Amazonas, o Estado estava às portas
do caos. Não havia água, luz, os gêneros alimentícios eram escassos e
faltava verba para tudo, ficando a
Capital e o 'nterior entregues à própria sorte." E mais: "Sou um orgulhoso de minha terra e é por isso que
envio por intermédio de MANCHETE
o meu caloroso aplauso ao Governador Mestrinho."
Dos leitores ao leitor
Cinco leitores nos escreveram, hipotecando solidariedade ao Sr. Alberto Ferre ra, a quem o cronista Ruhem Bra?a havia chamado de "um
irdagidor de mau-gôsto". Os leitores
jnsé Augusto e Basílio, de Rio Grande, RS, em sinal de protesto, devolveram a página da revista. Os outros
que mandaram suas cartas, abordando o mesmo assunto, são: Paulo Alvarenga, de Belo Horizonte. José Melo, de Santa Fé do Sul, RS, e Cláudio B. Souza, de Santa Catarina.
Ordem técnica
Aos inúmeros leitores que nos indagaram sobre a om ssáo da crônica
de Fernando Sabino no n. 416, temos a informar que a mesma foi devido a motivos de natureza técnica
na confecção da revista.
SP> í\hi,P>lO
XQ.O. 6 S I , ACL . 4 / ? , o 2.G
RUBEM
BRAGA
Notas de um
de viagem:
". . .ei poso inicial de un mundo radicalmente
nuevo." £ assim que Armando Hart, jovem Ministro da Educação de Cuba, se refere à Revolução
de seu país.
Não tentarei explicar a esse moço de 24 anos
que não há nada de novo sob o Sol; ele sabe que
há, inclusive êle mesmo e a Revolução. E essa sua
crença é extraordinariamente produtiva, pois êle
já abriu alguns milhares de escolas e em 1961
espera estar dando educação a todos os meninos
em idade escolar. A Revolução multiplicou por
oito, quase, o orçamento de seu Ministério. E
transforma quartéis em escolas.
" . . .nosotros ténemos dificultadas econômicas
si queremos tener dificultades econômicas, y resolvemos todos los problemas econômicos dei país,
presentes e futuros, si estamos en disposición de resolver esos problema* econômicos, o sea de hacer ias
coÊas que debemos hacer para lograr esos fines."
Isso está em um discurso de Fidel Castro, de
17 de setembro de 1959. Não é uma verdade. É
uma afirmação de fé e de vontade de trabalhar.
A fé e a vontade de trabalhar não resolvem, infelizmente, todos os problemas econômicos de um
país. Eles dependem de muitos fatores objetivos,
internos e externos. Mas quando o homem acha
que o destino está em suas mãos êle começa, efetivamente, a ser dono de seu destino. Ou a pensar
que é, o que não dá no mesmo, mas fica muito
parecido.
• • •
À Revolução cubana não falta, como se vê,
ingenuidade. Mas não é com ceticismo que se fazem revoluções.
Uma Revolução se faz com muita coisa, inclusive com os "bofes." Foi a primeira coisa que
vimos em Cuba, os "bofes" da Revolução : mulheres feias feiamente vestidas de vermelho e preto
nos esperavam no aeroporto. São "Ias damas de Ia
Revolución." Não sei o que elas fizeram, e acredito
caderno
Cuba
que tenham praticado atos heróicos, pois há um
potencial enorme de energia acumulado no interior de cada "chaveco."
Mas como estão à vontade, como se mostram
na luz, como brilham prazenteiras! A Revolução
lhes deu a grande oportunidade da vida.
Cuba é um país de muitas mulheres bonitas,
e muitas lutaram pela Revolução; muitas morreram, que eram belezas em flor. Mas na vanguarda
estão os "bofes", ou, como diria Marx : "as que
não têm nada a perder, e um mundo novo a
ganhar."
beijei uma na testa.
* » *
Eu e Marcito chegamos cedo demais ao Palácio, onde o Presidente da República oferecia
aquela noite um banquete à comitiva de Jânio
Quadros.
Ficamos a esperar em uma saleta do primeiro
andar. O salão de honra era guardado por dois
milicianos. Um deles, mocinho, miúdo, de cabelos
longos a se enroscar nos ombros, como o "Che"
Guevara ou o Raul Castro. A princípio estava
muito marcial e formalizado. Quando se acostumou com a nossa presença e nos esqueceu, começou a fazer micagens. Simulava exercícios violentos
com seu fuzil belga; fez um ataque a baioneta que
era um "ballet" digno de um Chaplin ou de um
Cantinflas. Falava torrencialmente, com a volubilidade dos cubanos; o outro torcia-se de rir. O menor adotava as posturas mais desleixadas e, subitamente, fazia um "apresentar armas !" infernal.
- Fidel Castro não gosta que a gente apresente armas quando êle passa. . .
Perguntei-lhe por quê.
— Acho que êle se assusta comigo...
E riam de chorar, os dois. Foram rapazinhos
assim que derrotaram um Exército de dezenas de
milhares de homens muito bem armados e treinados pelo Ditador. Era um Exército que antes de
perder a guerra tinha perdido a alma.
n
BP> W . f t f o X 3 . 0 . 65)
J
,ACL.4/1,9,Z?
t d* li (f)Vuíl^\
BRASÍLIA
de mais alguns minutos, parto para Brasília.
D ENTRO
Estão botando as coisas no automóvel. Tenho a im-
pressão de que vou à Lua. Onde está a máquina fotográfica ? E a farmácia ? Deixa ver se tem tudo : cafiaspirina
para a dor de cabeça, termômetro para a febre, privina
para o nariz, coramina para o coração, iodo e esparadrapo para a eventualidade, mitigai para os mosquitos,
alka-seltzer para a ressaca, elixir paregórico para o que
der e vier. Alguém viu se minha casaca está no carro ?
E o peito duro, a gravata branca e o sapato preto ?
Telefona ao Sette e vê se é preciso "smoking" também.
Meu Deus, para que tudo isso ? Copos de papel, pratos
de papel, guardanapos de papel, garfos, facas, colheres,
salsichas em latas, pão, água... Você acha que vai faltar
comida em Brasília ? Será que vamos passar fome na
estrada ? Então, apanha lá no bar mais uma garrafa de
uísque, o vinho que o Embaixador da Iugoslávia mandou,
e aquele camember que está guardado no armário da
copa. Não, não esqueço o queijo - á viagem é longa e
o cheiro, forte.
Quanta providencia para assistir à mudança de uma
capital. E tem rriais. Colchões para a falta de camas,
revólver para os ladrões de estrada, revisão no motor
para suportar as cinqüenta prováveis horas de ida e volta, disposição, quase bravura. Sinto que vou viver uma
grande aventura. Não invejo os que estão na cama, os que vão ficar
nas suas cidades, os que vão desfrutar apenas pelos telegramas, pelas manchetes e pela televisão o grande acontecimento. Eu quero ser dos que estão lá, eu quero participar de tudo com a minha emoção e poder contar
daqui há anos aos meus garotos que vi a Capital nascer,
a 2Í de abril de 1960, em plena Praça dos Três Podères,
entre hinos e fogos, lá no centro daquele planalto. Vi o
impossível realizado. E quando eles souberem que o velho aqui chorou um pouco (estou certo de que isso vai
acontecer) talvez me julguem melhor. Saberão que foi
de alegria pelo futuro deles, da geração deles, que chorei. Um momento como esse que vem aí, só aparece de
século em século. Não posso perdê-lo. Por isso não invejo os que estão na cama, os que dormem no conforto
de suas casas. Não, não posso invejá-los. Eles não imaginam que estão perdendo o "show do século.
Resta ainda saber se já tenho fósforo, velas, cartões
de visita no bolso, garrafa térmica, mapas, travesseiro,
dinheiro e retratos.
São cinco horas da manhã. Bem, está na hora de
partir. Ah, logo agora esse telefone. E' um amigo prevenindo que há ponte quebrada depois de Belo Horizonte. Êle acaba de chegar de Brasuia e está cheio de
notícias : — "A Helena Mello oferece um jantar na quinta-feira, Baby Monteiro levou uma caravana de Kombis
com convidados, mantímentos, empregados e acho que
até animais domésticos. Ao longo da estrada, há carros-tanque : ao todo um milhão de litros de gasolina serão
consumidos. E' bom levar, além da roupa de festa, camisas-esporte para as manhãs, que são quentes, suéteres
e meias de lã para as tardes, que são frescas, sobretudo
e chapéus para as noites, que são frias. Se por acaso dormir no carro, leve três cobertores. Na hora da inauguração, dois médicos estarão próximos do Presidente,
prontos para qualquer reação emocional mais forte. Leve
toalha, sabão e pouco dinheiro, para não ser muito roubado. Nunca beba água da bica, a Polícia é camarada
mas está sempre pronta para qualquer emergência. A
Lúcia Pedroso usará um vestido de Dior e os jornais
de Goiânia anunciam com fotografia e tudo que Teresa
e Didu estarão presentes. Vai ser duro para o Didu
arranjar cravo de lapela. Comida não falta e o José Fernandes abasteceu o seu "Au Bon Gourmet" local com tudo
que há de melhor."
w
:
Entre curioso e preocupado vou ouvindo o que o
meu amigo recém-chegado conta. Uma coisa sobretudo
me faz rir. Os colunistas sociais de Brasília (é verdade,
eles existem) fazem apelos para que, depois do dia 21,
todo mundo use paletó, gravata, terno escuro e, se possível, chapéu. Estão já compenetrados e querem vestir
o planalto com seriedade de capital antiga. Isso, naturalmente, levará tempo e acho mesmo que Brasília jamais perderá o seu simpático tipo de cidade "bluejeans".
Já devem ser seis horas da manhã, pois minha filha
menor acordou. Ela acorda extremamente pontual. Os
outros vão acordando também. Antes que a casa des)erte totalmente, devo beijar alguém e partir. Ou vou
ogo ou corro o risco de começar brincando com o cachorro, atender outro telefone...
Entro no carro. Parece mais uma velha carroça de
"cowboy", pronta para enfrentar o "farwest". Ligo o
motor e digo adeus. O meu Rio vai ficando para trás.
Í
Quanta providência para assistir à mudança de uma capital...
Mas o fato é que eu também quero ver o"show" do século
afU
I
i
mw,m fl-o.isi.ACL.V9
Moças bonitas
vão a Brasília
Em Nova I o r q u e :
Alvorada é o lema
I
•••MHmiHHlH
Lindas moças, que irão para Brasília no dia da inauguração e ali trabalharão como recepcionistas, fizeram uma parada
na Imperial Modas, com o fim de experimentar seus bonitos uniformes. Todas elas trajarão vestidos simples e elegantes,
próprios para o trabalho. As luvas e os sapatos são da mesma côr que as bolsas grandes, conforme a moda. Nas
esquinas das ruas Gonçalves Dias e Ouvidor a circulação dos pedestres esteve praticamente interrompida.
Este é o projeto do "stand" do Brasil na IV Feira Mundial de Nova Iorque, que
projeto procurou captar o sentido arquitetônico da nova Capital e reproduz,
Nas paredes serão colocados mapas luminosos e cerca de 15 mil recortes de
mostrada, também, uma máquina automática que responderá a qualquer
será inaugurada no próximo mês. O
externamente, o Palácio da Alvorada.
jornais americanos sobre Brasília. Será
pergunta que seja feita sobre o Brasil.
B9-, AtJ.*' •
5l,4Cl_.4
3o
*
m
1
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4^H
Pioneiras receberam o Congresso
Para a g r a d e c e r a a p r o v a ç ã o d o projeto d e lei q u e t r a n s f o r m a as
Pioneiras Sociais em Fundação, a S r a . Sara Kubitschek recebeu,
no Palácio d a s Laranjeiras, diversos representantes d o Congresso
N a c i o n a l . A p e s a r d o regime e x t r a o r d i n á r i o d e t r a b a l h o q u e v e m
a b s o r v e n d o os p a r l a m e n t a r e s , a recepção f o i m u i t o c o n c o r r i d a . N a
ocasião, f a l o u o presidente d a C â m a r a Federal, D e p u t a d o Ranieri
M a z z i l i , e D . Sara Kubitschek a g r a d e c e u em rápidas p a l a v r a s .
Ressaltou q u e a a p r o v a ç ã o d o p r o j e t o d a r á v e r d a d e i r a a u t o n o m i a
a u m a instituição de caráter beneficente q u e , p a r a a t i n g i r seus ideais, tem d e permanecer isenta d e quaisquer interferências políticas.
O
auditório
da
Rádio N a c i o n a l , d o
Rio, e x p l o d i u n u m a salva d e p a l m a s , q u a n d o Paulo
Gracindo, durante a realização de
s e u
programa,
a n u n c i o u o estréia
d a cantora Denise
D u r a n . Em meio
aos aplausos h a via, também, uma
p o n t a de saudades d e Dolores, a
inesquecível c r i a d o r a d e " A Noite d o M e u B e m " , i r m ã de Denise.
Revelando u m a p e r s o n a l i d a d e artística p r ó p r i a e m u i t a bossa p a r a
o m i c r o f o n e , a Duran q u e surge f o i s a u d a d a pelo a n i m a d o r d o
p r o g r a m a e pela cantora Emílinha B o r b a . Denise logo revelou q u e
canta b e m e i n t e r p r e t a r á , p r i n c i p a l m e n t e , músicas d e sua i r m ã .
\
Zuleika Pinho, broto
de 1 8 anos e olhos
verdes, só dançava
"ballet"
clássico. U m d i a convidaram-na para f a zer um bailado moderno na TV e ela
chegou à conclusão
de que todo o seu
sentimento se voltav a p a r a as danças
folclóricas e orientais. Nunca m a i s
parou e hoje é um
sucesso certo de televisão. Ela v i a j a rá, e m breve, p a r a o Oriente, o n de se especializará.
ZULEIKA DANÇA
COM O CORAÇÃO
Bfi A>
*u
€ 5 ! ^ C L . 4 / 7 , p. 3-1
Por 1991 votos e 194 abstenções a Convenção Nacional do PSD, em sua segunda reunião, decidiu homologar a candidatura do Sr,
João Goulart como companheiro de chapa do Marechal Lott às próximas eleições. A reunião transcorreu calmamente, ressaltando
os pontos de vista unânimes e a coesão das forças que apoiam o nome do Marechal. A sessão, que foi presidida pelo Ministro Amaral
Peixoto, teve como líder da convenção o Sr. José Marta Alkmim e, além da importante decisão de homologar a candidatura Jango,
ainda decidiu pela mudança da sede do partido para Brasília. Entre os membros da comissão que foram encarregados de levar a
notícia ao Vice-Prestdente da República, encontrava-se o Governador Moisés Lupion e os Srs. Afonso Celso e Meneses Pimentel.
AMARAL PEIXOTO, Lott e Jango, autêntico
estado-maior da batalha eleitoral que se inicia.
38
O DEPUTADO Último de Carvalho, seguidor
entus asta do Marechal, falou na Convenção.
FERREIRA DA COSTA (no centro) candidate
ao Governo do Paraná, e os risos da vitória.
ÔP) M , PSiO X«i.
-CL. 4/9,
Cut ifll^
Gangazuma ou
o céu dos negros
OI num filme-revista norte-americano, e me deu
F
a perfeita imagem de um racismo subconsciente
com manifestações poéticas. Um negro sonhava que
morria e que, por ter sido bom entre negros e brancos,
amarelos e peles-vermelhas, ia sem qualquer embargo
para o céu. Qual céu ? O nosso ? O de Cristo, onde
os homens de quaisquer cores são igualmente de
Deus ?
Não : havia um céu separado, separado como os
lugares para "coloreds" nos ônibus dos Estados do
Sul. Ali os anjos eram negros como >os bem-aventurados : deviam ter a voz grossa de Armstrong, a carapinha inesticável de Sammy Davis Jr. e a beiçarra de
Nat "King" Cole. Nada de mestiços encarnando o pecado da promiscuidade racial. Por certo os mulatos
estavam no inferno expiando a culpa do amor proibido. E ali iria ter, um dia, a alma dessa flor de mulatinha que é Lena Horne, a despeito de ter feito bem à
humanidade com seu sorriso meigo e sua voz tranqüilizante.
Apesar dessa crueldade racista, mascarada de
"humour", a fantasia obtinha seu efeito recreativo. O
público nunca tinha pensado em anjos negros, embora
Tarsila do Amaral ja os houvesse pintado, e lindos,
nos seus céus brasileiros democráticos e igualitários.
Quando os escurinhos de asas surgiam, planando
como enormes urubus fantasiados de garças, o público ria.
Toda a pintura religiosa da Renascença se esmerara em nos mostrar anjos louros e de olhos azuis,
como se isto fosse exigido por Deus, no lugar de altura c tórax largo, indispensáveis para o ingresso na
guarda particular de um rei. Os mais intelectualizados imaginaram Patrocínio, naquele camisolão branco, sobrevoando o céu dos negros à procura da alma
boa de Gangazuma, chefe nos quilombos dos Palmares. E seu filho Zeca contando lindas mentiras a Gangazuma, escolhido a dedo pela credulidade ou pelo
gosto de ouvir mentiras bem imaginadas e bem contadas.
Existe, sim, um racismo inconsciente, às vezes
revelado por uma aura poética e um engenhoso jôeo
de palavras. Há anos vimos um outro filme tirado do
romance de um escritor hispano-americano intitulado
O PRETO QUE TINHA ALMA DE BRANCO. O
personagem central era um negro muito bom, e quando negro é bom mesmo, abram-lhe a barriga e o tórax, puxando o fecho "éclair", e surgirá uma alma branca de branco. Inversamente, um branco mau mostrará, aninhada no seu âmago, uma negra alma de negro.
Aumentava a estupidez e a brutalidade do filme um
ator pintado de negro, à maneira de Al Johnson, em
quem nunca pude deixar de ver a tinta preta e certas marcas de fotografia de branco mostrada em negativo.
Neste instante, meu bom Gangazuma, a África
do Sul está dando ao mundo o mais extemporâneo
y
exemplo de ferocidade racista. Mata jovens, velhos
e meninos negros na África dos negros, em grande
parte libertada pelos movimentos de consciência dos
nativos fracos de armas, superarmados de razões. E
quem ordena os massacres não são os ingleses puros,
antigos colonialistas cônscios, finalmente, de que a
época vitoriana de rapinas territoriais passou : são os
descendentes dos colonos flamengos da mesma raça
daqueles que no Brasil mandaram duas expedições
exterminar os negros livres da confederação dos Palmares onde, pelo menos, os quilomholas eram também imigrados, tinham vindo de fora, o que reduzia
o morticínio a um acerto de contas entre estrangeiros,
na lógica fria dos invasores.
Lembras-te, Gangazuma ? Também a luta dos
"boers" contra os ingleses foi uma luta entre invasores para os negros da África, ainda escravizados. Lutavam pelo húmus da terra, bondosa como em nenhuma outra parte do continente, e pelos diamantes descobertos depois. Os donos da África, os negros, nada
tinham com a briga. Que lhes importa a mudança
de dono se o relho e a canga eram os mesmos ? Krüger
saiu dessa guerra de usurpadores como um herói africano, um Scipião colonial com seu monumento mais
firme em Amsterdam ou Haia, naturalmente.
Estás vendo, Gangazuma ? Trucidam os legítimos
donos do continente africano, mas um branco chamado David Pratt dispara seu revólver contra Hendrick Verwoerd em nome da igualdade de raças e da
fraternidade humana. E* esse homem sem sangue negro nas. veias que tenta abater o racista máximo, o
touro ariano que espuma de ódio quando vê uma
pele negra, um pano negro nas ruas de Johannesburgo
ou da Cidade do Cabo. E' esse advogado espontâneo
e invencível que põe finalmente o racismo sul-africano
no banco dos réus acordando, com seus disparos, os
negros mais surdos das mais inacessíveis cubatas, os
brancos mais insensíveis das mais anestesiadas civilizações.
Será condenado por tentativa de homicídio ? Certo, não tenhamos dúvidas, Gangazuma, mas seu cárcere não tardará a ser arrombado pelos negros vitoriosos na luta pela posse do seu continente. A Inglaterra tem o gênio da adaptação ao tempo, não lhe
agrada o espírito do Transvaal na comunidade de
nações livres formada pelo espírito da Inclia.
E quando David Pratt morrer, tomem nota para
conferir meu vaticínio, irá para o céu dos negros, isto
é, para uma espécie de Harlem dos negros dentro do
céu dos brancos e dos amarelos : um simples clube
onde os escurinhos se reunirão para fazer sua música
sem incomodar Scarlatti Pergolese, Mozart, Chopin,
Bach, Beethoven e outros maiorais da música propriamente dita...
- Vocês sabem, eles são muito velhos, não sabemos se gostam de "jazz". ..
0
.3
capital Brasília ! Eis a realidade que retifica os velhos texBRASIL,
tos escolares e muda os rumos da nossa história. Triunfa uma idéia
que completou, no mês passado, 147 anos de idade. À marcha dessa
idéia, através de mil e um tropeços, merece ser contada. E' uma admirável demonstração da força do espírito atuando sobre um povo
que amadurece para as grandes realizações nacionais.
A prioridade da iniciativa é de Hipólito José da Costa Furtado de
Mendonça, o primeiro jornalista brasüeiro. No "Correio Brasiliense",
publicado na Inglaterra, onde, exilado, fugiu às perseguições da Inquisição, criticava ele, em março de 1813, o comodismo da Corte de D.
João, instalada no Rio de Janeiro, quando à sua chegada ao Brasil,
em 1808, poderia ter criado uma nova e moderna Capital.
Frisando a necessidade de ser edificada uma cidade de onde fossem "abertas estradas que se dirigissem a todos os portos de mar, o
redator do "Correio Brasiliense" proclamava : "Quanto às dificuldades
da criação de uma nova Capital, estamos convencidos de que todas
elas não são mais que meros subterfúgios". Apontava-nos o exemplo
norte-americano : "A facilidade com que nos Estados Unidos da América Setentrional se edificam novas cidades, o plano da fundação de
R MAGALHÃES
JR
sua nova Capital, Washington, onde não havia uma só casa, mais no
centro de seu território, é argumento tirado da experiência de nossos
tempos, que nada pode contradizer*. Censurava à Corte a falta de coragem no arrostar novas condições de vida. O Rio estava feito. Tinha
haoitações razoáveis, ruas por onde transitavam carruagens, um teatrinho e outras diversões para os cortesãos. Evitava-se o trabalho de
criar outra cidade "com os incômodos inerentes a novos estabelecimentos". E comentava, com tristeza : "E por essas miseráveis considerações
se roubou a S.A.R., o Príncipe Regente, a glória incomparável de ser
o fundador de uma cidade, a que afixaria o seu nome, fazendo-se imortal na criação de uma vasta monarquia". Em sucessivos artigos, de
1813 a 1822, defendeu Hipólito a mesma tese, sempre mostrando o
exemplo de Washington, onde tratos de terra haviam sido vendidos em
moeda corrente, para ser o dinheiro empregado na construção de edifícios públicos.
A idéia começou a trabalhar os espíritos, mas só apareceu num
documento de grande significação política quando, em 1821, foi incorporada às instruções da Junta de São Paulo aos deputados paulistas às
Cortes Portuguesas. D. João VI cedera às exigências dos constituciona-
BRASIL
CAPITAL
BRASÍLIA
3P>
listas e, abrindo mão dos podêres absolutos, convocara as Cortes de
Lisboa. O Reino do Brasil elegeu, então seus primeiros deputados.
José Bonifácio de Andrada e Sirva não concorreu a deputação por São
Paulo, mas seu irmão, Antônio Carlos, fora eleito. Entre os demais
figuravam Diogo Antônio Feijó e Nicolau de Campos Vergueiro. Uma
parte das instruções da Junta, elaboradas por José Bonifácio, com a data
de 9 de outubro de 1821, versava especialmente sobre a mudança da
Capital do Brasil. Aí escrevera o ilustre paulista : "Parece-nos também
muito útil que se levante uma nova cidade que sirva como Capital e
assento da Corte ou da Regência, em uma latitude, pouco mais ou
menos, de quinze graus, em sítio sadio, ameno, fértil e regado por
algum rio navegável. Deste modo, ficará a Corte ou assento da Regência livre de qualquer assalto e surpresa externa e se chama para as
províncias centrais o excesso da população vadia das cidades marítimas
e comerciais. Desta Corte central dever-se-ão logo abrir estradas para
as diversas províncias e portos de mar, para que se comuniquem e
circulem com toda a prontidão as ordens do Governo, e se favoreça
por elas o comércio do vasto Império do Brasil."
Nas Cortes Portuguesas, as vozes dos deputados brasileiros não
UME A HISTÓRIA DA NOVA
decerto criará em breve giro comercial interno da maior magnitude etc."
Lembrando que era lenta e difícil a comunicação marítima entre
a Capital do Império e os portos longínquos do Pará e do Amazonas,
dizia José Bonifácio que "todos esses embaraços e dificuldades cessarão
pelas comunicações internas com a nova Capital por meio de estradas".
No seu entender, o ponto ideal para a localização era a Comarca de
Paracatu, no Oeste de Minas, "pelos muitos rios que ali nascem, ou se
cruzam e engrossam". Ponderava, no entanto: "A escolha final do
local só pode decidir-se exatamente depois de trabalhos geodésicos e
sanitários de uma comissão composta de engenheiros, médicos e arquitetos, que levante a planta do terreno e examine as circunstâncias
locais que o devem fazer digno de tal categoria".
Se a Constituinte não tivesse sido dissolvida por D. Pedro I, as
idéias de José Bonifácio, dada a sua autoridade e prestígio, decerto
teriam então prevalecido.
O terceiro defensor prestigioso da idéia da mudança da Capital
foi o diplomata e historiador Francisco Adolfo de Varahagen (Visconde
de Porto Seguro). No ano de 1834 (período regencial) dizia êle : "Per-
CAPITAL
encontraram ressonância. Aliás, ao serem encerrados os trabalhos, em
Lisboa, a 23 de setembro de 1822, a independência do Brasil já estava
feita. Na Assembléia Constituinte de 1823 (dissolvida antes de completar seus trabalhos), o Deputado José Bonifácio, no exercício da
presidência, fêz a 8 de junho uma representação a seus pares, sobre o
mesmo assunto, dizendo, inicialmente, o seguinte : "Parece muito útil,
até necessário, que se edifique uma nova Capital do Império no interior do Brasil, para assento da Corte da Assembléia Legislativa e
dos Tribunais Superiores, que a Constituição determinar. Esta Capital
poderá chamar-se Petrópolis ou Brasília." Duas denominações felizes:
uma seria aproveitada, no meado do século passado, para batizar o
núcleo de colonização germânica estabelecido na região serrana fluminense por D. Pedro II e a outra é agora retirada do olvido.
Depois de repetir argumentos constantes das instruções da Junta
de São Paulo, dizia o Patriarca da Independência: "Como esta cidade
deve ficar, quanto possível, equidistante dos limites do Império, tanto
em latitude como em longitude, vai-se abrir, deste modo, por meio de
estradas que devem sair deste centro como raios para as diversas províncias e suas cidades interiores e marítimas, uma comunicação que
mita Deus que seja quanto antes retirada a Capital do Império, tão
vulnerável e tão exposta", acrescentando que "a própria Providência
concedeu ao Brasil uma paragem central mais segura, mais sã e mais
própria a ligar entre si os grandes vales do Amazonas, do Prata e do
São Francisco". Foi uma voz que pregou no d e s e r t o . . .
Cinqüenta e sete anos depois, quando a monarquia já havia desaparecido e o regime republicano entrava na fase de estruturação,
a idéia voltou a debate e foi pacificamente incorporada à Constituição
da Fepública. Nesse documento, promulgado a 24 de fevereiro de 1891,
dizia o artigo 3.° : "Fica pertencente à União, no planalto central da
República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será
oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital
Federal. Parágrafo único : Efetuada a mudança da Capital, o atual
Distrito Federal passará a constituir um Estado."
Convém lembrar que Machado de Assis, comentando esse texto
constitucional, foi quem primeiro lembrou o nome de Estado da
Guanabara, para a nova unidade federativa a ser criada, por ser
aquele o nome que os poetas outrora lhe d a v a m . . .
O governo de Floriano Peixoto, iniciado em novembro de 1891,
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BRASÍLIA
^ máquina administrativa já começou a ser montada - os blocos
foi o primeiro a tomar providencias para que o mandamento constitucional tivesse execução. O orçamento para 1892 consignava a verba
necessária para a realização dos estudos preliminares : exploração do
planalto central, investigações sobre o clima, a hidrografia, a geologia,
etc, e escolha da área em que devia ser localizado a nova Capital.
A 17 de maio daquele ano, o Ministro da Agricultura, Antão Gonçalves de Faria, nomeou a comissão, para cuja chefia foi escolhido o
cientista Luís Cruls, nascido na Bélgica, mas radicado no Brasil e
alcançado pela "grande naturalização". Entre seus companheiros figuravam J. Oliveira Lacaille e Henrique Norize, astrônomos ; Antônio
Martins de Azevedo Pimentel e- Pedro Gouveia, médicos; Eugênio
Hussak, geólogo; Ernesto Ule, botânico; e os militares Celestino Alves
Bastos, Tasso Fragoso, Hastínfilo de Moura, Alípio Gama, Pedro Carolino Pinto de Almeida e outros.
A 9 de junho partiu a comissão para Uberaba, ponto terminal da
Estrada de Ferro Mogiana, levando 206 caixotes e fardos de material.
Aí ficou, organizando a expedição, até 29 do mesmo mês. Partiu,
então, para o planalto, via Catalão, Entre-Rios, Bonfim e Pirenópolis.
Cruzou rios e montanhas, venceu enormes dificuldades, mas atingiu,
por fim, o seu objetivo. A área escolhida corresponde à que afinal foi
utilizada : no mapa, então organizado, está o Rio Paranauá, que, represado, forma o largo ora existente em Brasília. No final do relatório ao Governo, escreveu Luís Cruls : "Sem entrarmos aqui em
considerações de ordem política e administrativa, muitas razões há
que aconselham a mudança da Capital Federal para um ponto do
interior do território. Entre elas salienta-se o incontestável benefício
que daí resultará para toda essa imensa região central, à qual faltou
até hoje a indispensável vitalidade para que se pudesse desenvolver
e progredir convenientemente."
•
A distância era
apontada como grande
obstáculo
a T ) A R A ela convergiriam então as principais estradas de ferro, que
••• seriam como que as artérias ligando-a não só aos principais pontos do litoral como também às capitais dos diversos Estados. Em suma :
julgamos necessário insistir nas vantagens que para o desenvolvimento
e o progresso hão de indubitavelmente resultar da realização desse
projeto." Adiante, afirmava : "Quanto aos inconvenientes ou desvantagens que dessa medida podem provir, acreditamos que eles só existem na imaginação de um pequeno número de pessoas pouco propensas às idéias progressistas e que, considerando insuperáveis as dificuldades que lhe são inerente, acham preferível não sair dos trilhos
da velha rotina, esquecendo-se de que esta é incompatível com todo e
qualquer progresso.
Um dos obstáculos, o da distância, afirmava que poderia ser facilmente vencido "em 20 horas, admitindo para os trens de passageiros
uma velocidade média de 60 km, inferior de 50 a 60% à dos trens americanos", desde que se fizesse ligação ferroviária direta entre o Rio e a
nova Capital.
Ainda sob a chefia de Luís Cruls, segunda expedição foi empreendida ao planalto central em 1894, para estudo das facilidades de
acesso por outros caminhos que não o anteriormente utilizado. O grupo
de Henrique Morize fez o percurso da Bahia a Formosa, via Juazeiro,
cobrindo 371,2 km. O grupo de Hastínfilo de Moura fêz o percurso da
última estação da Central do Brasil a Formosa, no total de 791,4 km.
O grupo de Celestino Alves Bastos seguiu de Itapecerica, ponto terminal da E. F. Oeste de Minas, para Santa Luzia, em Goiás, no total
de 711,9 km. O grupo de Alípio Gama seguiu da margem esquerda
do Rio São Francisco para Santa Luzia, no total de 605 km. Depois de
convergirem para o mesmo ponto, alcançaram o planalto. No regresso,
novo relatório foi apresentado, desta vez ao Ministro Antônio Olinto
dos Santos Pires, da Viação, Indústria e Obras Públicas, sendo impresso em 1896 (Governo de Prudente de Morais).
Desse relatório constavam observações do botânico Auguste Glaziou, que aconselhava o cultivo, no planalto, de árvores frutíferas como
o araticum, biribá e outras que dão frutos comestíveis, das espécies
mirtáceas, amonáeeas, etc. "Impressionou-me profundamente a calma
severa e majestosa desse vale", escreveu Glaziou. Noutro trecho do
relatório, encontram-se estas observações sobre o local do acampamento : "Ao depois, quase diariamente, percorri, herborizando cá e lá,
ora uma parte, ora outra, desse calmo território e dessas excursões voltava sempre encantado. Cem vezes as repeti, quase sempre a pé, para
facilidade das observações, em todos os sentidos e sem a menor fadiga,
tão benéfica é aí a amenídade atmosférica." E adiante : "Além desses
predicados terrestres, o clima desses lugares é perfeitamente regular.
u
Neles reina constante aragem sempre junta a uma temperatura invariável: entendo que tudo aí se reúne para felicitar absolutamente a
existência humana."
Impressos os relatórios, nada mais se fêz. Prudente de Morais,
tendo conseguido pacificar o Sul, viu-se às voltas com a campanha de
Canudos. Campos Sales não pensou em gastos, mas em valorizar a
moeda, pela contenção das despesas. Rodrigues Alves executou as
grandes obras do Rio (inclusive as do porto). Afonso Pena, criador de
Belo Horizonte, não pensou mais em mudanças, mas em dar encouraçados à esquadra. Hermes, em reformar o Exército, Wenceslau, em
aumentar a produção. E em evitar os reflexos da guerra no Brasil.
•
Getúlio tente sempre
reação desfavorável à
mudança
A idéia, que dormia, foi de novo agitada quando a paz voltou. Muda•*• *• -se ou não se muda a Capital? Começou a transitar na Câmara dos
Deputados o projeto que autorizava o Governo a dar passos nesse
sentido. Mas havia resistência. A respeito dessas resistências, falou
um deputado mineiro, Francisco Valadares, na sessão de 23 de julho
de 1920, na Câmara Federal:
- Já não quero lembrar o texto constitucional, mas a conveniência, a oportunidade, de começarmos a pensar em obedecer a êle e não
em dificultar cada vez mais o que a Constituição dispõe, interpretando
as aspirações dos verdadeiros republicanos . . . Transportada a sede do
seu Governo para o planalto, a República, por assim dizer, se aproximaria das suas fontes. Haveria ainda a vantagem - e essa incalculável para o progresso do Brasil - de chamar para as terras devolutas do
ais a atenção de maior número, e assim apressar-se a civilização
rasileira, a civilização do sertão !
Era a época em que se discutia a votação das verbas para a construção do Palácio Tiradentes e há 40 anos Francisco Valadares já achava
que essa despesa devia ser feita na nova Capital. O projeto da mudança saiu em 1920 da Câmara para o Senado, sendo aí aprovado em
primeira discussão. Ferreira da Rosa registrou o fato, no "Memorial do
Rio de Janeiro" : "O público já estava até esquecido d i s s o . . . E' que
o andamento do projeto parece-se muito com o daqueles carros, tirados por muitas juntas de bois. que nem por isso andam depressa :
levam, tempo a ganhar terreno. Vai custar a dar com a Capital em
Goiás. Tão longe ! Tão longe 1"
Quando veio a revolução de 1930, o projeto continuava esquecido
nas gavetas do Senado, que não tinha pressa...
Getúlio Vargas poderia ter mudado a Capital, nos anos em que
exerceu o poder discricionàriamente. O Ministro da Fazenda, Osvaldo
Aranha, era mudancista. Tinha entusiasmo pela idéia. Tentou transmiti-la a seu chefe. Getúlio hesitava. Poderia haver reação desfavorável. As despesas eram muitas. As resistências seriam enormes. Foi
quando Aranha teve a frase, que muitas vezes repetiu a amigos :
- Fique certo de uma coisa : se eu fôr na frente, levando o Tesouro e o Banco do Brasil, todo mundo virá logo atrás de m i m . . .
Em 1934, reuniu-se a Constituinte: o ponto de vista de Hipólito e José Bonifácio foi reafirmado, nos mesmos termos de 1891. Nada
se fêz. Em 1946, uma nova assembléia votou a terceira carta constitucional da República. E de novo triunfava, pacificamente, a idéia da
mudança da Capital. Impressionante, essa constância. A mentalidade
do Brasil começara a mudar.
•
JK conseguiu
o milagre da
fazer
transferência
T) EPETINDO Floriano, o Presidente Dutra mandou fazer o levantamento da área onde devia ser construída a nova cidade. O escolhido, Marechal José Pessoa, engenheiro militar, fixou-se na mesma
região visitada antes por Luís Cruls e seus companheiros. Desta vez,
praticamente, não houve solução de continuidade no esforço mudancista. As providências iniciais continuaram no Governo do Presidente
Vargas e, por fim, eleito o Sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, o
Congressso não hesitou mais : votou, unanimemente, os créditos necessários e as medidas indispensáveis à grande realização. Surgiu a
Novacap, como expressão desse entendimento legislativo, e um membro ilustre do Congressso Nacional, o Sr. Israel Pinheiro, renunciou ao
seu mandato para colocar-se à frente do empreendimento.
Produziu-se, depois de um milagre de compreensão, um milagre
de entusiasmo e de trabalho, para gloria não apenas de um Presidente
e de um grupo de colaboradores imbuídos da mesma energia criadora,
mas de todos os brasileiros que sentem em Brasília uma afirmação
de capacidade construtiva de que só são capazes as grandes nações.
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residenciais esperam a chegada dos funcionários.
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em prata e cetim...
Moderno... em linhas clássicas — Neste maravilhoso modelo há detalhes que seguem as ultimas
tendências da moda. O corte Ha gola, por exemplo; ou
a manga; ou o cinto, formando um laço inglês. Todavia, no conjunto, é um modelo em linhas clássicas e
tradicionais. Seu tecido é o cetim Khodia — ricamente
bordado cm fios de prata. Para acentuar o belo toque de
tradição, a grinalda é toda em flores de laranjeira, com
véu em tule Rhodianyl.
Ty T A R T A GARCIA é a moça que já entrou para a história
•*"'•*• de Brasília como a primeira Miss. Seus olhos verdes e
corjK> bonito ganharam o primeiro lugar na passarela montada,
há um ano, na Capital que agora se inaugura. Depois, no Maracanã/inho, a bela carioca foi classificada entre as finalistas.
Viajou pela Europa e tornou ainda mais conhecida a Nova
Capital. Simples como antes de todo sucesso, Marta continua
(requentando o Arpoador e a receber no bonito apartamento
de sua família, no Flamengo. Agora mesmo anima com seu
sorriso as festividades de inauguração da Capital do Brasil.
SELEÇÕES
ALBÈNE,
E
RHODIA
RHODIAJNTYX.
r i o cLia m a i s
Vestido criado por MAl)A ME
RüSITA
feliz
cLe s u a . v i d a .
Paulo
Mendes
Campos
Casa
de pensão
Q
U A N D O vim de Minas para o Rio, fui morar,
com o perdão do nome, no Palacete M o n Réve,
R u a Gustavo Sampaio.
O antigo palacete transformara-se em pensão
mofina, q u e eu, de certo em virtude da m i n h a instabilidade financeira, achava dostoievskiana.
Dividia o meu q u a r t o com a moça mais bonita
da pensão. Mas me explico : um tabique de papelão
separava os nossos leitos, u m tabique tão viciado ou
complacente q u e n ã o se podia virar demasiado na
cama estreita sem invadir a outra. Diga-se logo q u e
a minha vizinha, embora não revelasse q u a l q u e r
preconceito q u a n t o a essa relativa intimidade de
nossos corpos avolumando-se às vezes para cima de
minha cama, jamais sugeriu, por olhar, palavra, gesto
ou omissão, q u e essa intimidade transpusesse as muralhas de Jerico E q u e almas negras não teríamos
quase todos se o pecado verdadeiro não estivesse
afinal na transposição da m u r a l h a ! Mesmo de papelão flexível, u m a parede é sempre uma parede, e
preserva a nossa alma das delícias do inferno. Naquele
caso, eu e a moça dormíamos castamente juntos, encarregando-se o tabique de zelar pelo advérbio de
modo. Q u a n d o encontrava m i n h a jovem e intocada
companheira de q u a r t o , na hora do café, seu ar era
de u m recato sublime, até mesmo de u m sublime
desinteresse por mim, e atrás de seus óculos escuros
não era possível enxergar os seus olhos castanhos.
O prédio era em forma de T . Meu quarto, o
último do corpo central da construção, ficava no ângulo reto da ala direita, onde se enfileirava*m outros
quartos, outros problemas, outras ansiedades.
U m a noite, q u a n d o me arrumava para dormir,
ouvi no q u a r t o ao lado o primeiro da ala, u m a voz
de mulher moça a clamar em tom indignado contra
as constantes infidelidades de u m homem. O ataque
era de pessoa para pessoa, as acusações eram sérias e
che ; as de ameaças, mas não se fazia ouvir em resposta
a voz do acusado
A mulher dizia mais ou menos o seguinte :
— T u pensas q u e eu ia ficar a vida toda feito
uma idiota ? Não vês q u e eu tinha percebido tudo há
mais de seis meses ? Você é u m cafajeste completo,
Joãozinho. Fiz tudo por você, fui fiel, passei humilhações, não adiantou nada. Ainda se você me enganasse de vez em q u a n d o , uma, duas, três, q u a t r o
vezes. Mas pensar q u e vou ficar calada só p o r q u e te
amo isso é q u e não, meu filho ! Ej:om uma ex-amiga
m i n h a í Isto é q u e não, meu bem ! Para você estava
tudo muito cômodo, não é ? N a t u r a l m e n t e achaste
q u e eu nunca teria o topete de dar o estrilo. Pois
estás m u i t o enganado. U m a m u l h e r tem sempre a sua
moral. Por mais baixa q u e seja. Até vagabunda do
Mangue tem moral, fique você sabendo. Pois agora,
vais ficar com tua sem-vergonha. Porque a mim você
não verá nunca mais. N u n c a m a i s ! Chega I O h , se
chega !
Confesso q u e , enventualmente também meio cafajeste, subi a o peitoril da janela, ralado de curiosidade. E vi. Vi, em um q u a r t o mais ou menos parecido
com o meu, uma jovem de vinte e poucos anos, nada
feia, maquilada com exagero, vestida com a chamada
elegância duvidosa. E n q u a n t o ela prosseguia na deslompostura, retirava de um armário peças de roupa,
para arrumá-las dentro de uma, dua;>, três malas de
mão.
Na cama de casal jazia u m h o m e m m a d u r o e
grande. Bastava espiá-lo para verificar q u e a companheira dêie estava certa : Joãozinho era u m cafajeste
da cabeça aos pés, cafajeste por nascimento, vocação,
educação determinação, filosofia, r e l i g i ã o . . . Cabelos
pretos d e m r r a d a m e n t e penteados, barba raspada com
meticulosidade neurótica, bigodes a capricho, camisa
creme de palha de seda, gravata prateada com u m a
pérola, calças escuras bem passadas, sapatos de duas
cores. O todo da figura era robusto, n o limite do
obeso, a pele amarelo-esverdeada de q u e m nunca
tomou sol.
Expressão não tinha. Fitava o teto, jogando p a r a
cima vastas baforadas de fumaça.
A mulher, imprecando continuava a fazer as mala^. Às vezes parava e dirigia-lhe u m insulto mais d u r o ,
torneava um detalhe mais cru; mas o b r u t o acendia
cigarro atrás de cigarro, imparcial e tranqüilo.
Por fim, ela passou a chave nas três malas, ajeitou
o cabelo, e foi postar-se diante dele em desafio :
— Adeus, Joãozinho.
Hierática, esperou uma resposta. Êle moveu a
cabeça para o lado dela, com o olhar sempre n e u t r o ,
virou as pernas em câmara lenta para fora da cama
amassou o cigarro no cinzeiro, levantou-se, segurou-a
pela gola do vestido; em silêncio, com uma serenidade
profissional, sem desperdício de gestos, Joãozinho
aplicou na amada um dúzia de sonoros e ritmados
tabefes, de dorso de mão na face direita e de m ã o
espalmada na face esquerda.
A cena foi tão rápida, tão natural, tão técnica,
q u e não tive tempo nem razão d e espantar-me. A
última tapona atirou-a, a soluçar com entusiasmo,
?òbre as malas. Êle voltou solenemente para a cama
como um navio de guerra regressa ao ancoradouro
depois das manobras. Acendeu outro cigarro, não disse
palavra. Ela chorou, chorou ainda por bastante tempo,
depois se ergueu, espasmódica, e foi d e r r a m a r as derradeiras lágrimas sobre a camisa de palha de seda.
joãozinho a recebeu como u m pai, sofrido e grave,
acolhe uma filha transviada.
Minutos depois, a moça lavou os olhos e o rosto,
abriu a primeira mala de onde começou a retirar as
peças de roupa. Sumiu por um momento, reapareceu
em uma camisola de seda, aninhou-se de novo nos
peitos largos de Joãozinho. beijou-lhe a boca e a cara
esverdeada. muitas vezes. Êle sumiu t a m b é m por um
m o m e n t o e reapareceu em um pijama h o r r e n d o .
Deitou-se, ela se ajeitou ainda mais pedindo proteção.
- João/.inho. ainda gostas u m p o u q u i n h o de
mim ?
joãozinho não respondeu. Sua m ã o de unhas
esmaltadas procurou o comutador e a treva da noite
penetrou dentro de q u a r t o .
JK CIDADÃO
Paro quem deseja acordar na
HORfl.
BENEMÉRITO DO RIO
CEKTA-
OI u m a noite de alto sentido cívico. A C â m a r a dos Vereadores do
Distrito Federal conferiu ao Presidente Juscelino Kubitschek o título
de Cidadão Benemérito. Em companhia de D. Sara, o Presidente d a República recebeu a homenagem e, na mesma noite, anunciou a assinatura
de mensagem solicitando ao Congresso a verba de 3 bilhões de cruzeiros
para a conclusão das obras que estão sendo realizadas na cidade.
1
3
l
NO
"HALL ' DA CÂMARA, Q U A N D O
O CASAL KUBITSCHEK
*
*
/
ERA RECEBIDO
POR VEREADORES
E ALTAS
AUTORIDADES
•
\^m
O Despertador "INREBRA" é fabricado pela mesma indústria dos famoso*
relógios " H", tem « a som característico e agradável que não irrita quando
desperta... é um despertador que não
falha p u n r a ! Tenha sempre um
• JNREBR.V à sua cabeceira - durma
tranquilo... e acorde sempre na
hora certa 1
NAS
ESCADARIAS,
TODOS O U V I R A M
O
PRESIDENTE
V&UMART
POSOU ENTRE OS MEMBROS DA MESA DIRETORA E FUNCIONÁRIOS
DE PÉ, AS PALAVRAS SOLENES C O M QUE FOI ENTREGUE A JK O TÍTULO DE C I D A D Ã O
^ '
INDÚSTRIA 0 1 RllÓGIOS DO BRASIL LTDA.
Ryo Clark, 78 — T«l. 9-3780
SSQ Paulo — Bfditf
D A REPUBLICA
BENEMÉRITO.
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-Mfr*
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C. Postal, 5947 - S. Paulo
ÇP> 4M, ?AO X ^ . O . € S I , 4 C L . 4 / ? , p.4J
Aventura
do cotidiano
AVANA — Fidel Castro saíra havia mais de uma
hora, a recepção na Embaixada já tinha terminado.
Eu me deixara ficar pelos jardins, aguardando um casal
amigo, enquanto a noite cubana seguia o seu curso. De
repente, ali da varanda, ao olhar para a meia-luz do
saguão, vejo a figura do líder revolucionário, mãos na
cintura, a olhar para a sala.
H
Aproximei-me, intrigado. Fiquei sabendo então que
êle voltara para buscar sua pistola. Alguém lhe aconselhara a desfazer-se dela por um instante, para não impressionar mal aos repórteres e fotógrafos que o aguardavam na outra*sala. Tirara o cinto, deixando-o com a
arma sobre a pia do banheiro. Lá estava o cinto — coldre e cariucheira. Mas a pistola havia desaparecido.
Todas as suposições foram feitas: roubada, não
tinha dúvida. Mas por quem? Algum admirador, levada
como recordação.
— Não — insistia êle: — Trata-se de um ladrão
vulgar.
E como menino teimoso a quem tomaram um brinquedo:
— A minha p i s t o l a . . .
Presente de seu amigo Che Guevara, desde os primeiros tempos da revolução. Chapeada a ouro na culatra,
com seu próprio nome nela gravado. Diziam mesmo que
não a carregava consigo senão como peça de estimação,
e a utilizava para guardar no pente bilhetes e papéis
pessoais. Seria possível? Tanto mais grave, pois — a
ser verdade esse detalhe que na hora não tive coragem
de apurar: a carteira do líder, uma pistola!
— Muita gente entrou aqui — procuravam explicar-Ihe: — Em festas como esta, com centenas de convidados,
tais clisas costumam sempre acontecer, é impossível controlar . . .
Eu mesmo vira como um fã mais ardoroso colhera
cuidadosamente do cinzeiro o toco do charuto que êle
acabava de fumar. Era possível que alguma cubana, admii adora mais arrebatada do herói de Sierra Maestra,
vendo a arma no banheiro, num impulso de simbólica
cleptomania capaz de fazer Freud sorrir de satisfação
dentro do túmulo, a enfiasse debaixo da saia.
— Ninguém teria coragem de tirá-la a não ser como
lembrança... E um homem não ousaria guardá-la no
bolso, faria muito volume.
Com isso eu procurava de saída afastar de mim
qualquer suspeita. Afinal, era agora o único dos presentes que êle não conhecia.
— Detesto ladrões — êle insistia: — Preferia levar
quatro tiros a ser roubado.
Todos, sinceramente d^isconsclados, procuravam
ainda algum traço da arma, ainda que na imaginação.
Comecei vagamente a mexer-me também, inquieto, olhando já em lugares absurdos —- atrás dos livros na estante,
debaixo do cinzeiro, nos cantos da sala, dentro dos copos.
— Já sei! — exclamou alguém, avançando para
i*^. : e me apontando: — Agora tenho certeza!
Zstremeci nos alicerces — e já me dispunha a erguer
os b/aços para que me dessem busca ali mesmo. Mas
não se tratava disso:
— Brasileiro é que não foi — pelo menos jornalista
da comitiva: vocês todos, sem exceção, estavam reunidos
na outra sala, participando da entrevista.
Ainda bem — respirei aliviado e me cocei, menos apre nsivo. A história, pelo seu ineditismo, haveria
de transpirar. No dia segu.nte a notícia correria pelos
jornais do mundo — e eu ali. sem saber onde botar as
mãos. Mas a presença do embaixador me reconfortava. Êle
sabia que de sua hospitalidade eu jamais seria capaz de
abusar. Imaginava então a exploração que no dia seguinte se poderia fazer do caso, dando-lhe uma importância que transcendesse o seu aspecto meramente pitoresco e até de simpatia para com a revolução. 0 Brasil
romperia relações com Cuba? Afinal de contas, por muito
menos rompeu com a Rússia. Mesmo como "souvenir",
não se furta impunemente a pistola de um revolucionário.
Melhor seria talvez que eu próprio noticiasse — para
assim, pelo menos, reduzir o incidente às suas verdadeiras proporções. Deixando-me, é lógico, do lado de fora.
0 embaixador, porém, era homem de sensibilidade
e suficiente experiência diplomática. E no que dependesse de mim, as relações entre os dois países continuariam cada vez melhores. Todo mundo sabe que a aura
de estima em torno de Fidel Castro é de molde a fazer
com que seus fãs mais arrebatados lhe furtem até a roupa,
Sc tal fosse possível — quanto mais uma arma deixada
no banheiro.
— Detesto ladrões — dizia êle, com o ar mais chateado deste mundo.
Não havia perigo que passasse disso, pois, além do
irais, estava desarmado. Mas como de súbito me olhasse
fixam* ntr, quase a perguntar: afinal, quem é esse sujeito?
voltei a formular a suposição inicial: a pistola não mataria mais ninguém, êle podia ficar tranqüilo: estaria
guardada como um bem precioso, relíquia da gloriosa
r r v l u ç ã o , em mãos de algum afortunado — embora de
nvYha parte não desejasse naquele instante estar em sua
pele.
Para não ser impertinente, Fidel Castro se ergueu,
c nfira, deu por encerrado o assunto e sorriu, despedindo-se delicadamente de todos nós. Que pelo menos a pistola
roubada sirva um dia de inspiração para outras causas
just?s — pensei comigo: uma pistola a menos, uma esperança a mais.
ÍM««
JLIUSTRIERTE Jn
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iSJtÍBrt^Ss
£# •
- Í
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* "QUANTAS PESSOAS trabalham no
Vaticano ?" Resposta pronta do Papa João
XXIII: "Um pouco mais da metade..."
+ PARA COMEMORAR o 1900.° aniversário da chegada de São Paulo a Roma, o
Papa poderia proclamar 1961 "Pequeno
Ano Santo".
*
CAÇANDO TERRORISTAS, a Polícia
sul-africana prendeu, num só dia, mais de
duas mil pessoas. Não escaparam sequer os
membros do Congresso Pan-Africano, cujo
funcionamento, aliás, foi proibido.
6
,acL.
:
J
i
^
*
ELIZABETH TAYLOR e seu marido
Eddie Fischer investem capitais : vão abrir
um restaurante em Manhattan, próximo ao
edifício das Nações Unidas.
iç BILL BARNES, administrador de uma
companhia petrolífera, propôs a compra de
toda a Ilha de Cuba por uma quantia correspondente a 200 milhões de cruzeiros.
Julian Orta, acessor de Fidel Castro, respondeu em nome do Governo : "Sua proposta é, antes de tudo, idiota. Mas, parando
de quem parte, não surpreende...
*
CHARLES BOYER, David Niven e
Dick Powell fundaram uma empresa especializada na produção de filmes para T V .
A nova organização, chamada "Four Star
Films Inc.", já conta com 360 funcionários.
A quarta estrela do título é Robert Montgomery, o homem que prepara o Presidente
Eisenhower para todas as suas passagens
na T V .
ir BEN GURION conta avistar-se ainda
este ano com Kruchev. Gromyko prometeu arranjar o encontro para breve.
*
VERDADEIRA ONDA de publicidade japonesa invade os espaços caríssimos
da televisão, do rádio e da imprensa americanos, anunciando: material de escritório,
transistores, pérolas, roupas feitas, instrumentos ópticos e máquinas de escrever. A
indústria americana similar não suporta a
concorrência: a mesma caneta fabricada
nos dois países é vendida pelos japoneses
50% mais barata que a dos americanos,
it YESO AMALFI, ex-jogador brasileiro
do Racing, de Paris, a um jornalista francês : "Se eu me tornar, como espero, correspondente oficial da CBD na Europa,
farei o impossível para organizar rapidamente o encontro que se impõe entre a
equipe do Brasil, a melhor do mundo, e a
da França, a melhor da Europa."
*
FRANK SINATRA rescindiu seu contrato com o cenarista Albert Maltz, acusado (no tempo de Mac Carthy) de exercer
atividades antiamericanas. Depois de sofrer
violenta campanha da imprensa, Sinatra declarou : "Minha família, meus amigos e o
público americano levaram-me a tomar esta
grave decisão. Eu não poderia deixar de
me inclinar à vontade da maioria."
*
ANÚNCIO DE UMA agência de viagens parisiense, esta semana : Duas grandes
excursões. Semana Santa na Espanha 380 NF e Primeiro de Maio em Moscou
- 750 NF".
it NOELLE ADAM, a nova nora de
Charles Chaplin, se encontra em Hollywood,
fotografando os antigos estúdios de Carlitos, que foram transformados em mercado
de legumes . . .
*
EM W A S H I N G T O N , alguns hotéis
ostentam este conselho nas paredes de seus
quartos: "Não fume na cama. As cinzas
que cairão no chão poderão ser as suas próprias cinzas."
noticias
que vaiem
Manchete
jf HÉRCULES é, atualmente, o herói número um do cinema italiano. Depois de
"Trabalhos de Hércules" e de "Hércules e
a Rainha da Lídia", estão realizando em Cinecitá: "Os Amores de Hércules", com
Jayne Mansfield, e a "A Vingança de Hércules", uma co-produção ítalo-franco-alemã-americana.
*
O FILHO DE ROBERTO ROSSELLINI, de 19 anos de idade, já escolheu o
título do filme que marcará sua estréia como
produtor : "Divórcios" . . .
^
NOVIDADE norte-americana : os tambores dos revólveres autênticos dos "gangsters" e dos "cowbovs" estão sendo fabricados em fibra de vidro, em várias c o r e s . . .
-^ FERNANDEL, o popular cômico
francês, está se especializando no trabalho
com animais. Depois de "A Vaca e o Prisioneiro", filma "Creso", de Jean Giono,
com um grupo de 20 carneiros. 14São os
únicos artistas que não querem roubar nossos primeiros planos", declara Fernandel.
*
FEDERICO
FELLINI
checou a
Paris, acompanhado de sua esposa, Giulietta
Masina. Levou uma cópia de "La Dolce
Vira", para fazer a dublagem em francês.
ir PELA PRIMEIRA VEZ, desde que é
Presidente, o General Charles De Gaulle
dirigiu um agradecimento por escrito aos
funcionários do Eliseu (Palácio Presidencial) : para louvá-los pelo devotamento de
que deram provas na visita de Kruchev.
Um sorriso que pesa dois bilhões de dólares
f?STE
homem é cem vfa.es mais rico que Onassis. Mora num dos mais encantadores castelos
da Inglaterra. Uma jovem deliciosa, discreta e
honesta o adora. Aos 67 anos, êle possui músculos
t saúde de adolescente. Os maiores homens de
negócios do mundo o respeitam. Mas John Paul
Getty, o homem mais rico do mundo,
nunca
sorri. Só tem uma ruga, entre os olhos: a ruga
da preocupação. Filho de um rico e rigoroso
advogado, Getty
teve uma juventude
solitária,
severa e dourada. Seu único brinquedo de menino era a leitura dos jornais da Bolsa. Com
menos de 20 anos, ganhava, graças ao seu talento
para os negócios, um milhão de dólares por ano.
Em 1948, sua fortuna recebeu um impulso prodigioso quando,
tendo comprado
do Rei Ibn
Seottd,
da Arábia,
a concessão
petrolífera
da chamada "zona neutra", perto de Koiveit, êle
descobriu uma imensa jazida de petróleo
em
terreno até então considerado
estéril.
Depois
disso, o dinheiro tem atraído o dinheiro e Getty,
além da "Getty OU Companyn,
possui uma cadeia de ilsnack-barsn e de hotéis nos Estados Unidos,
2? supcrtavqucs-petroleiros
e três companhias de
seguros, cujos lucros apenas o seu cérebro
vivo
e exato consegue calcidar mtm segundo.
Getty
não tem amigos. Não confia em ninguém.
Cinco
mulheres já conseguiram casar com êle. N une a
ele pôde descobrir no coração dessas mulheres
suficiente calor para aquecer o seu. Uma após
outra, foram repudiadas, recebendo
mensalidades
superiores a SOO mil cruzeiros. Dirigia-se a elas
pelo telefone ou por carta e, depois de divorciado, nunca mais as viu. Mas Getty
acredita
que vai viver muito e obedece a uma dieta científica. Não bebe (apenas um gole de rum com
Coca-Cola quente, quando está gripado).
Todos
os dias anda 6 quilômetros a pé, medtndo-os
com
um aparelho que carrega no bolso. Ex-campeão de
luta greco-romana, Getty mantém
milagrosamente
sua forma física. Por isso, está pensando em casarse novamente. Penelope Kitson, bela inglesa de 34
anos, é a eleita. Mas ela o recusat dizendo recear
que êle pense que ela vise ao seu dinheiro \
"Eu te amo. Sejamos somente amigos" Por isso,
no parque do seu castelo de Sutherland, não longe
da casa da amada, John Paul Getty passeia seu
rosto grave, esmagado pela fortuna e pelo trabalho, Vtnddú pelo amar.
B£AH,tfóX1.0.É&í,AU4/?,
? .A-3
f
Novo e maravilhoso!
A
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E uma obra prima de Miss Arden. Finamente eremoso.
Jamais vôa ou racha. Apaga manchas e cobre o rosto
com deslumbrante aveludado. Em diversas tonalidades.
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quadris, para mandarmos certa sua funda.
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Sacie Própria; ou por V a i * Postal.
HERMES FERNANDES S. A.
RIO Av Rio Bronco, 20 - 19.s
S PAULO Rua do Seminário, 41- °
Taxa de registro:
acrescentar C r $
260,00
Toda a importância deve
ser remetida por meio de
VALE POSTAL ou CHEQUE BANCÁRIO pagável
na cidade do Rio de Janeiro,
DF., em nome de BLOCH
EDITORES S. A.
Segundo a
concepção do
pintor, o
candango e m
Dirija sua correspondência a:
REVISTA
MANCHETE
b r a n c o , p r e t o , cinza
e azul, representa
a conquista
Departamento de Circulação
d e Brasília p o r
Rua Frei Caneca, 511 - DF.
seus c o l o n i z a d o r e s
valentes.
T
CAVALCANTI
EO
CANDANGO
44
C U prometi ao Presidente que o mural ficaria pronto para a inauguração e
•*-' ficou mesmo. Só não irá, desde já, para o seu local definitivo, no edifício
da Câmara, porque ainda falta acabar de preparar a parede.
Di Cavalcanti dá alguns retoques em outro trabalho que está preparando,
também para Brasília: uma tapeçaria, que ainda será tecida, de 25 metros quadrados, representando temas nordestinos.
— O candango montado no cavalo é a figura central do mural da Câmara.
Nele eu represento a chegada a Brasília dos colonizadores, entre os quais me
coloco, no campo das artes plásticas. T e n h o trabalhado dia e noite na execução
dos trabalhos que me confiaram e, enquanto tiver forças, prosseguirei.
Di Cavalcanti dá um sorriso bem seu e conclui : — Meus trabalhos são uma
colaboração do século XIX, quando nasci, para a maior obra ào século XX.
0ft
A*J,fiio*0>.o.esi,4CLAIl,vA5
MANCHETE
ROMANCE
POLÍTICO
DE
Reportagem
de
Murilo Meio Filho
62
jVj O princípio, todo mundo riu de Brasília e do seu visionário. Cética e pessimista, a maioria dos políticos brasileiros desacreditou
da idéia. Ela representaria, quando muito, mais uma das muitas tentativas já feitas para mudar a Capital. Á lógica das coisas era usada
para provar a impossibilidade de construir uma cidade em três anos.
Á realidade, porém, desmentiu os incrédulos. £ provou que em matéria de homens e de idéias, o Brasil já não era mais aquele deserto
famoso: um Presidente transformava em pedra e tijolo a miragem do
Planalto, ao mesmo tempo em que derrotava o derrotismo, opunha-se à Oposição e plantava uma cidade. Para que tudo isto fosse possível, dentro do prazo de 3 6 meses, êle escreveu, ao preço de sua própria saúde, um grande romance : o romance político de Brasília.
O ROMANCE
A tribuna em fornut-**'~
de cilindro, construída
«na frente ao
> -^
Palácio do Planalto,
será u s a d a j j e l o s ^
Presidentes da
República que
desejarem dirigir-se ao
povo. O Sr.
KubitscLclT^iol o
a usá-la.
m^Jr
fyQJ&lô&
¥*>?d&
"
:
'.
O romance começou a ser escrito
quando Juscelino ainda era Governador de
Minas: uma promessa feita à ÜDM
SSE romance começou a ser escrito numa pequena
E
sala do seu Palácio, quando ele ainda era Governador de Minas. Chamara alguns líderes da UDN para
comunicar-lhes que pretendia candidatar-se à Presidência da República. Queria saber, de antemão, se
seus adversários, que tanto o combatiam, poderiam
apresentar-lhe algum programa mínimo de reivindicações que èle pudesse defender na praça pública como
candidato presidencial.
A resposta veio logo depois : "Nós não temos
propriamente um programa mínimo de reivindicações.
Preferiríamos resumi-lo numa só : a da transferência
da Capital para o centro do País".
- Está bem. Vocês podem ficar tranqüilos. Assumo
neste momento um compromisso solene com a UDN :
se chegar à Presidência da República, mudarei a Capital.
Foi nestes termos que o Governador Juscelino
Kubitschek de Oliveira se comprometeu com a Oposição a fazer Brasília. Aquele compromisso era o prefácio do romance que ele começava a escrever. Vieram
depois os capítulos dramáticos de sua eleição e de sua
posse. Assim que os tanques se recolheram aos quartéis, o Presidente virou aquelas páginas de agitações
e tratou de redigir a Mensagem ao Congresso, na
qual solicitava a criação da Companhia Urbanizadora
da Nova Capital, sob a sigla de "Novacap".
Mesmo sem acreditar muito na iniciativa, os oposicionistas foram cautelosos e precavidos : encaixaram na
lei um dispositivo que lhes garantia lugares na Diretoria e no Conselho da nova empresa. Esse acordo
possibilitou a fácil aprovação do projeto.
É que nesse momento já começava também a
tomar corpo o chamado Bloco Mudancista, liderado
pelo Deputado Emival Caiado, da UDN, autor da lei
que mandou fixar no dia 21 de abril de 1960 a data
da mudança.
Mas a descrença continuava tão grande que não
faltaram as surpresas e os espantos diante da aceitação,
por parte do Sr. Israel Pinheiro, do convite para ser
o Presidente da Novacap. Afinal de contas, êle era
um Deputado Federal, com mandato certo de quatro
anos à frente da Comissão de Orçamento da Câmara.
Muitos consideraram uma loucura sua trocar uma posição pela outra. Só êle não se iludiu porque conhecia
a fundo a firme determinação do Sr. Juscelino Kubitschek de transformar aquele sonho em realidade.
À medida em que os meses iam passando, as
desconfianças já não eram tantas. A opinião pública
começava a impressionar-se com as primeiras fotografias do Palácio e do hotel. Vários projetos foram surgindo, então, com a finalidade de transferir para data
posterior aquele prazo fatal da lei Emival Caiado.
A Maioria parlamentar do Governo e o Bloco
Mudancista anularam todas as tentativas de adiamento.
Depois sobreveio a longa batalha em torno da constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
para investigar possíveis irregularidades na construção
da Capital. O número de assinaturas necessárias e indispensáveis para a formação automática do inquérito
parlnmentar quase chega a ser obtido. Faltaram apenas
duas ou três. Por várias vezes, a Oposição chegou mesmo
a anunciá-la como vitória já conseguida. Mas, por
inúmeras vezes também, a Maioria preveniu-se com
diversos requerimentos em que deputados governistas
retiravam suas assinaturas e assim tornavam mais difícil aindi a obtenção do quorum de 109 apoiamentos.
Nesse ínterim, aconteceu, numa sessão secreta e
noturna, o discurso em que o Deputado Elias Adaime,
antigo e fervoroso colaborador do Sr. Israel Pinheiro,
fazia denúncias sobre a Novacap. O inquérito esteve
aí a pique de ser instaurado pela Câmara. O Governo,
entretanto, fechou a questão : concordava com a sindicância, sim, mas só depois da mudança, porque antes
dela as investigações criariam um clima de tamanho
tumulto e confusão que a tornariam impossível dentro da data prevista.
Quando a Belém-Brasília abriu um sulco na selva
e a1- viaturas passaram através dela. a cidade já estava
de pé : elevavam-se os conjuntos dos Institutos, os
prédios do Senado e da Câmara, o Palácio dos Despach is e o edifício do Supremo Tribunal.
Diante da nova realidade, a Oposição deteve-se
para reexaminar seus processos e métodos. Alguma coisa devia estar errada, pois não era possível continuar
desconhecendo um fato consumado.
Jânio veio então para a rua dizer que não era
nem nunca havia sido contra Brasília. Discordava apenas de alguns detalhes do ritmo da construção.
Sc o candidato adotava essa posição mais realista
e sensata, a UDN prosseguia na sua ilusão de abrir as
gavetas da Novacap. Terminou abrindo apenas as do
seu representante na empresa, o Sr. Íris Membcxg, q u e
teve de deixar o cargo sob as mais graves e insidiosas
acusações.
Com seu afastamento, a UDN pareceu satisfeita
e desistiu de continuar as investigações. Desistiu tanto
que, algumas semanas depois, reconheceu o erro da
sua conduta no caso e resolveu voltar atrás, com a
escolha de novo representante.
A data de 21 de abril passou então a constituir
um verdadeiro fantasma. Senadores e deputados arraigados ao Rio proclamavam sua intenção de jamais
pôr os pés em Brasília. E vários ministros do Supremo
Tribunal anunciavam seu propósito de aposentar-se,
para não sofrerem o que consideravam uma humilhação : sua ida compulsória para uma cidade sem conforto nem condições de habitabilidade.
Na Mesa da Câmara, a luta era de proporções
ainda maiores. Dois dos seus membros estavam contra
a mudança do Congresso. Todos os encargos tiveram
então de recair sobre os ombros de um jovem deputado,
o Sr. Neiva Moreira, que em poucos meses de trabalho
conseguiu realizar aquilo que a 80% dos deputados pareci-: simplesmente impossível.
Sentindo que já não podia lutar contra a consumação de um fato indiscutível, a Oposição tratou de
negociar à l>ase de um projeto que garantisse a concessão de um canal de radio para a transmissão dos debates parlamentares. Sua vitória foi completa : o Congresso disporá em Brasília do canal da Rádio Ministério da Educação, que tem o nome de Roquete Pinto,
talvez numa involuntária mas justa homenagem ao escritor-sertanista de "Rondônia".
As últimas páginas do romance tiveram de ser
escritas mais apressadamente ainda, porque as horas e
os minutos corriam céleres : em tempo recorde, a Câmara votou os projetos da organização judiciária de
Brasília e do novo Estado da Guanabara, garantindo
assim a cobertura jurídica de toda a obra.
Estava ganha a última batalha de toda a guerra. A
opinião pública de todo o País funcionava como uma
espécie de bomba de pressão, exigindo a inauguração
da Capital e ansiando por ela. È' que a Nação' inteira estava sob o impacto de uma transformação completa em sua mentalidade : passara de um pessimismo
crônico para uma desmedida euforia.
O romance político de Brasília acabava de ser
ecrito a duras penas. Só os que participaram de sua
feitura sabem o quanto foi difícil atingir a última página.
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^ ^ ^ M ^ ^ ^ M ^ ^ ^ ^ B ^ M
J
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BRASÍLIA S E R Á
CENTRO
MUNDIAL
DE TURISMO
PP3^;.
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EPOIS da visita de Eke, a TV americana exibiu a cidade de linhas
revolucionárias para milhões. Diz-se que hoje não há no mundo quem
ignore o nome da nova Capital do Brasil. Aliás, Conrad Hilton está no Rio com
planos de instalar nesta Capital, e m São Paulo e em Brasília seus famosos
hotéis. (Nesta página, uma escultura da Embaixatriz Maria Martins e do
português David Lopes da Silva Ramos; ao lado, turistas de máquina
fotográfica a tiracolo enchem seus álbuns de flagrantes.)
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SEGUE
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BRASÍLIA
O ruído das motonetas já ameaça o
Indesejáveis para
muita gente,
pelos ruídos com que
pertubam o sossego
noturno, as
motonetas já estão
invandindo Brasília.
As bicicletas,
silenciosas e já
fabricadas no ^ ^ 4 t e
Brasil, também
ajudam a vencer
distâncias e
são acolhidas com
mais simpatia, _
f
a Cidade
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0 1 * MHB 4HIV?
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BRASÍLIA
Um cavalheiro
escolhe sempre
MEIAS TWIN
(digo TUIM)
— c/e espuma c/e
NYLON
Fabricadas com o excepcional FIO HELANCA
DERBINIL, p r o d u z i d o pela RENIL S. A.,
MEIAS T W I N até aqui eram um privilégio de
poucos... a procura excedia a sua venda.
Agora, porém, graças à extraordinária expansão do sua produção, V. poderá adquirl-tas facilmente, nos mais elegantes padrões
e nas mais variadas combinações de cores.
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£*SÊ
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— um produto garantido pela
Indústria de Meias Espumatex S. A.
I
São Paulo
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^
às
edifício do Supremo Tribunal Federal não perdeu sua
ponência. Está pronto para receber os altos magistrados .
nação, os quais de modo expressivo se pronunciaram pela trans
ferência da nova Capital, Milhares de pessoas já em Brasília para
a inauguração passam longo tempo na contemplação do edifício,
Fica em frente ao museu, cuja parte fronteira se vê na foto.
•••••
por
di
A cidade plana parece não
ter fim. De noite toda a
sua beleza não se perde 110
jogo de claro-escuro
da lua. Parece haver u m
gigantesco refletor atrás ds
linha do horizonte,
dando mais volume aos
edifícios e u m colorido
novo ao céu. Ninguém fiei
alheio ao silêncio q u e
enche a noite enluarada d<
Brasília. Há naquela
calma uma força poética
que leva á reflexão sobre o;
destinos do País. hoje
mais do que nunca na
corrida do desenvolvimento
Ainda esta para
•7?Sj
\TW
poema
V
m
>,
*ã
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/J:
'&
t\o ^o.cii,ha
r
9
BRASÍLIA
"Show" de luzes
e sombras
como suplemento
de beleza
•
1
:
•
.
De madrugada, ainda com os
colchões de nuvens
que povoam suas noites.
No primeiro plano, aparece a catedral que
tantas exclamações arranca dos visitantes. <• no
fnmlo os Ministérios, nos quais a cidade
viverá a rotina do dia a <li
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BRASÍLIA
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BilMãi
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A cidade é um
espetáculo sob a luz
dos refletores
mSt*~
BKI1 I 98
J
IÜ
n
£^
gftAU,P)iO y^.O, 6«l,ACC.4/?,p,5^
em que a timidez se mistura com o arrojo
vê-lo em Brasília. Parece um
P ODEREMOS
candango como outro qualquer. Pequeno de estatura. Jeitão de menino acanhado.
Olhar triste e profundo.
Fala baixo como se tivesse pudor de se
fazer ouvir. Em qualquer outra metrópole do
mundo, passaria despercebido. Em Brasília, não.
Ali é olhado como uma criatura excepcional,
já que todos o conhecem, êle foi o arquiteto
da cidade.
Quem vai a Brasília, pela primeira vez,
não deixa de se emocionar em face da arquitetura da metrópole. Oscar Niemeyer — pois esse
o nome do arquiteto revolucionário — deu um
sentido novo às linhas de cimento-armado que
teceu para criar a NOVACAP. Ali, tudo é leveza e ritmo. O Palácio da Alvorada parece
caminhar, deslizando sobre as suas colunas que
apontam para o céu. O edifício do Supremo
Tribunal mal toca o chão, dando a impressão
de estar suspenso. O Palácio dos Despachos,
réplica ampliada do Palácio da Alvorada, parece uma caixa de vidro, esquecida no planalto, à espera das orquídeas que em seu interior
deverão ser depositadas.
Niemeyer, ao criar Brasília, comunicou
um profundo sentido poético ao cimento. Quem
contempla as edificações da NOVACAP, a sensação qus tem é de enlevo espiritual. A cidade
fluiua sobre o planalto, mal tocando a terra
preta — sempre aérea e indefinível. O cimento-armado que, até há pouco tempo, era sinônimo
de solidez e de perenidade, transformou-se em
Brasília, sob os dedos criadores desse grande
mágico. A solidez e a perenidade não se perderam ou se dissiparam na prancheta do arquiteto diabólico. Elas apenas foram camufladas.
Sobre elas, e escondendo-as, abriu-se a alvorada de luz de um conjunto de linhas novas. De
fato, Brasília é o predomínio da linha sobre as
qualidades intrínsecas dos elementos de construção. E as linhas não vivem por si, isoladas
do ambiente, soltas no espaço. Suas curvas estão nitidamente em função da paisagem. Integram-se no cenário, transformando-se em parte
integrante da cena fantasmagórica do despertar
do planalto.
Homem
silencioso
e
tímido
complexa personalidade de Oscar NieN \ meyer
não se sabe o que mais admirar, se a
sua modéstia, se o seu arrojo como arquiteto
revolucionário. A timidez do homem compensa-se no transbordamento da audácia criadora.
E, quando trabalha, vive para a sua obra, sem
outro interesse senão o de realizar o que idea1 70U mentalmente. Ao ser convocado pelo Presidente Kubitschek para criar arquitetonicamente a futura Capital, Niemeyer recusou propostas altamente lucrativas em outras partes do
Brasil e no exterior. Para êle, a criação de uma
cidade era qualquer coisa inspiradora, fora do
comum, digna do sacrifício inteiro da sua atividade profissional. Assim, tomando um automóvel — já que tem verdadeiro horror a avião
— seguiu para o planalto. Estudou. Investigou.
Tomou notas. Quando regressou ao Rio, já um
verdadeiro formigamento de idéias trabalhava-Ihe o cérebro. Era o esboço rudimentar da futura metrópole. Kubitschek, tão revolucionário
como Niemeyer, ouviu o arquiteto e aprovou
aquela audácia de inovações arquitetônicas.
Pouco depois, nas noites frias de Brasília,
quem passasse por uma das casas populares,
construídas para os operários das obras, haveria de ver uma luz acesa, até alta madrugada,
na humilde sala da frente. Era Niemeyer que
trabalhava. S lencioso como uma formiga, como uma formiga, também, sabia o valor do
tempo.
Trabalhou, com afinco, com entusiasmo,
sem temer canseiras, nem fracassos. Assim como é tímido na sua existência de criatura humana, é de uma audácia desconcertante no
mundo das suas criações arquitetônicas. Desenhou, planejou, idealizou, tendo o céu por limite. O que lhe saía da prancheta de arquiteto
era sempre arrojado, como se procurasse vingar-se da própria timidez humana, sufocando-a
sob um mundo ciclópico das mais espetaculares soluções arquitetônicas. E Brasília aí está
como símbolo evidente e admirável do seu
trunfo sobre as peculiaridades do seu temperamento. A arquitetura da NOVACAP é o que
há de mais arrojado no mundo. E Niemeyer,
contemplando, hoje, aqueles palácios de cimento e de vidro, acompanhando com os olhos a
suave harmonia das linhas que compõem o universo das suas criações no planalto, há de sorrir, interiormente, sentindo-se plenamente vingado. A timidez, que é uma característica do
seu temperamento, não lhe contagiou nem a
alma, nem o espírito. Antes, pelo contrário,
transformou seu acanhamento em concentração
e esta fêz o milagre da florescência do gênio.
Niemeyer
e Lúcio Costa
Niemeyer, um dos seis filhos de uma
QSCAR
família da classe média, foi praticamente
criado por uma tia, depois de perder '
EM
ARMADO
òfsA*U'0 «.O.fcSi
quando a;nda era muito criança. Nascido no
Rio de Janeiro, depois de terminar o curso secundário, retardou sua iniciação profissional,
trabalhando na f.rma comercial do pai. Sentia-se infeliz naquele mundo de negócios, pois
que já naquele tempo, conforme declararia,
mais tarde, o "único prazer que tinha era ficar,
horas e horas, debruçado sobre uma mesa. desenhando".
Assim, segundo a inata inclinação, passou
a estudar arquitetura, sem dinhe ro e por iniciativa própria. Mas a arquitetura abrira-lhe as
portas do universo pelo qual, desde muito, ansiava. Dentro daquele mundo novo, que palmilhava de olhos deslumbrados e com o coração
aos saltos, encontrou a solução para as suas
ânsias obscuras. Recompôs a sua própria personalidade, afeiçoando-a ao sentido criador que
seria, mais tarde, a razão de ser da sua própria vida.
\inda estudante de arquitetura e. portanto, sem dinheiro e sem qualquer perspectiva,
Niemeyer deu, por essa ocasião, um passo que
poderia parecer temerário: resolveu casar-se. Êle
própr o comenta a decisão, com o seu jeitão
peculiar de falar:
— Casei-me cedo e me formei tarde e só
ms arrependo da segunda parte, se é que me
arrependo. . .
De fato, o atraso na data da formatura
seria tirado, com facilidade, pelo entusiasmo
com que se dedicou, desde logo, à carreira da
sua predileção. Ao terminar o curso, Niemeyer
já era pai de uma menina — a futura decoradora Ana Maria Niemeyer — mas já, por esse
tempo, trabalhava no escritório do que seria o
verdadeiro precursor e o chefe do movimento
da arquitetura revolucionária contemporânea
no Brasil: Lúcio Costa. A união dos dois grandes espíritos seria profunda e indissolúvel. Já
em 1936 os dois amigos, juntamente com um
grupo de arquitetos brasileiros, realizavam o
projeto do Ministério da Educação e Cultura,
seguindo a linha renovadora de Le Corbusier.
Pouco depois, um fato extraordinário e
quase inacreditável ocorreu, revelando a natureza ímpar da amizade que sempre ligou Lúcio
Costa a Niemeyer e vice-versa. Realizado, em
1939, um concurso para a escolha do projeto
para o pavilhão brasileiro a ser construído na
Feira Internacional de Nova Iorque, Lúcio Costa foi o premiado. Quando se preparava para
partir, a fim de dar início à execução do seu
projeto, Oscar Niemeyer aproxima-se de Lúcio
Costa e lhe fala. com uma visível timidez:
— Estudei a ubiquação do nosso pavilhão e resolvi fazer este desenho. Que acha
da idéia?
Lúe o Costa tomou o desenho, examinou-o
com cuidado, e partiu. Foi direto ao gabinete
do Ministro que estava encarregado da construção do pavilhão e lhe disse, sem maiores
rodeios:
— Devemos anular o resultado do concurso, pois há um projeto melhor do que o
meu. Aqui está.
E exibiu o desenho de Niemeyer.
Com muita dificuldade o Ministro procurou convencer o ilustre arquiteto de que já
era muito tarde para a reconsideração do assunto. Dada, porém, sua insistência, teve de
prometer a Lúcio Costa que, ao invés de viajar só, Niemeyer seguiria em sua companhia e
que o pav.lhão brasileiro seria construído de
acordo com o desenho deste último. E, de fato,
assim aconteceu.
Kubitsehek
e Niemeyer
êxito assinalou, desde logo, a carreira verO tiginosa
de Niemeyer. Menos de dez anos
depois, um projeto seu foi escolhido, entre trinta outros elaborados pelos maiores arquitetos
do mundo, para servir de base à construção do
ed.fício das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Era a consagração no exterior que seria seguida, pouco depois, de outras realizações da maior
importância arquitetônica, como o Museu de
Arte Moderna, em Caracas, e o planejamento
do Bairro Hansa, em Berlim Ocidental.
~"^ Mas Niemeyer, sendo um artista da arquitetura puxa, acima das exigências econômicas
ou das limitações financeiras, sempre teve necessidade de um campo de ação mais livre, dentio do qual* pudesse planejar suas criações sem
as estorvos das conveniências orçamentárias.
Assim, o seu encontro com Kubitsehek assinalou o início da fase decisiva da sua carreira.
Primeiro em Pampulha, depois em Diamantina,
e, finalmente, em Brasília.
*
JK, homem de larga visão, compreendeu que encontrara em Niemeyer o arquiteto
de que tinha necessidade para renovar, através
do atos administrativos audaciosos, a fisionomia
não só do seu Estado, mas da Nação. Quando
Preteito de Belo Horizonte, decidiu urbanizar
a Pampulha e construir um lago de 300 mil
metros quadrados a fim de diss.par a nostalgia
dos mineiros pelo mar. O novo bairro teria,
igualmente, um cassino, um restaurante, bar,
um clube náutico, um hotel e uma igreja. JK
chamou Oscar Niemeyer e o encarregou de
projetar todo esse conjunto de obras. A audácia e sentido renovador do estilo do grande arquiteto despertaram, desde logo, a atenção e o
interesse dos círculos intelectuais não só do
Brasil, como dos Estados Unidos e da Europa.
A Igreja de São Francisco de Assis, construída
na Pampulha, serviu de pretexto para prolongadas e calorosas polêmicas. Mas apesar da
atoarda que se féz, na ocasião, lá está, até hoje,
desafiando a estreiteza de vista dos espíritos
conseravdores. imponente nas suas linhas revolucionárias — tão surpreendente em sua concepção arquitetônica, quanto arrojada no sentido da mensagem religiosa que se propôs
irradiar.
Depois de Pampulha e de Diamantina,
JK, já feito Presidente da República, convocou Niemeyer para a construção de Brasília.
O grande arquiteto assinalou a importância da
nova empresa na detinição das suas tendências
revolucionárias:
— As obras de Brasília marcam, juntamente com o projeto para o Museu de Caracas, uma nova etapa em meu trabalho profissional, que se caracteriza por uma busca constante de concisão e de pureza e maior atenção
aos problemas fundamentais da arquitetura.
De fato, Niemeyer passou a interessar-se,
daí por diante, pelas soluções compactas, simrias e geométricas. Decidiu-se pela conveniência de um espírito de unidaúe e de harmonia
entre os edifícios a fim de que se caracterizem
por sua própria estrutura, devidamente integrada na concepção plástica original, e não por
seus elementos secundários. Assim, desvencilhou-se def nitivamente da influência de Le
Corbusier, que fora preponderante na fase inicial da sua carreira. Dessa maneira, despiu-se
do que havia de emprestado, de falso, de não
nieme\eriano em sua obra, para se tornar claro, puro e cristalino como podemos senti-lo,
hoje, nas fabulosas construções de Brasília.
O planalto, desbravado por J K. constituiu a grande e mágica oficina de apuração estética, dentro da qual Oscar Niemever encontrou-se a si mesmo. E, ao encontrar-se a si
mesmo, deu novo sentido à arquitetura universal.
CAIO DE
FREITAS
81
r
CARNAVAL
MANCHETE
a edição extra
sobre Brasília
o seu inicio
inauguração
pelo Presidente
JK
O povo já se aglomera nas
ruas para discutir seus problemas
PARLAMENTARES, funcionário»
e trabalhadores já formam uma
multidão nas ruas que mal acabam
de ser pavimentadas. Em certas horas, as
calçadas dos pontos principais tem o
movimento de um centro já adulto
e de vida própria. A foto dá
bem idéia do rebuliço que no
domingo passado encheu a cidade às
vésperas da inauguração.
Acompanhem
as grandes
REPORTAGENS
ESPORTIVAS
da grande equipe da
RADIO MAYRINK VEIGA
c o m a n d a d a pelo Rui Porto, com a
supervisão
de Lúcio
Um oferecimento do
Guimorões.
delicioso
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Escolas de samba, ranchos , frevos, blocos, mascarados,
ritmo e fantasias marcaram as festas de despedida da antiga Capital
com um verdadeiro carnaval. E na mesma batida o povo
saudou o r tascimento do Estado da Guanabara.
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Odete Lara
filma na
Argentina
Odete Lara está em
Buenos Aires f i l m a n do "Sábado
a
Ia
Noche, Cine". Q u a n do os produtores argentinos viram a estrela em "Moral em
Concordata"
tomaram
nota do seu
nome e na primeira
oportunidade
mand a r a m buscá-la. Fernando Ayallo, que é
um diretor "nouvelle
vague", formou um
elenco de primeiro
time com os nomes
famosos
de
Gilda
Lousek, Afda Luz e
Luís
Tasca,
todos
pouco
conhecidos
no Brasil, mas f a mosos na A r g e n t i n a .
m,m tro.êsi
Anselmo
i/f, p.fc-?
Duarte na
Outro ator brasileiro que filma
com sucesso é Anselmo Duarte.
espanhóis viram "As Pupilas do
com o galã no principal papel
90
Espanha
no estrangeiro
Os produtores
Senhor Reitor"
e logo o con-
trataram para "un Rayo de Luz", que já está
sendo rodado, sob a orientação de Luiz Lúcia,
que foi premiado, em 1959, como o melhor
diretor da Espanha. Na fotografia, uma cena
do filme i o galã brasileiro Anselmo Duarte
(tendo na mão um exemplar de MANCHETE)
e M a r i a Mahór, em um " h a l l " de hotel.
Budapeste
hoje
Budapeste já foi uma das cidades mais alegres
do m u n d o . Mas veio a guerra, a ocupação
soviética e a trágica epopéia vivida por um
povo que sonhou reconquistar a liberdade.
i«,ftoxi.aÉ5i;,4tt.4/?( j,. GÔ
MANCHETE (em inglês)
chega a Nova Iorque
Com um exemplar da separata de MANCHETE
sobre Brasília (em inglês) o Prefeito de Nova
Iorque, Robert F. Wagner, tomou conhecimento
dos detalhes de construção da cidade. Seu
interesse foi tal que distribuiu entre os vereadores todos os exemplares que o Sr. Cunha
Bueno, na foto, tinha em seu poder. Uma
remessa suplementar
permitiu então
que
outros setores de Nova Iorque pudfssem ver a
Nova Capital às vésperas da inauguração.
Depois da
húngaros
revolução
que
não
perdida, em
puderam
fugir
1956, os
do
país
arrastam sua tristeza pelas ruas, que num dia
de chuva ainda ficam mais sombrias. Note-se
a mulher uniformizada varrendo as ruas, como
em Moscou e em todos os países comunistas.
4
A neve cobria tudo.
O carro fúnebre seguia
devagar e respeitoso
com sua carga h a b i t u a l :
defunto e flores. N u m a
curva,.de nada adiantou
a prudência do motorista,
pois o veículo capotou
mesmo, embora o
caixão não tenha sofrido
um só arranhão." N ã o
houve feridos. Com
toda calma o motorista
pôs o caixão no meio
do caminho, à espera
de socorro. A foto foi
batida por um sueco
em férias na Noruega,
onde o fato ocorreu.
~ -^
Claudius
BRASÍLIA EM TRÊS TEMPOS
personagens por ordem de entrada: LÚCIO COSTA E NIEMEYER
1957-59
i
1960
OMW
y'^.