Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da
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Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da
Informativo São Vicente Boletim de circulação interna DA PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO Ano XLI - no. 272 Maio – Junho de 2008 Rua Cosme Velho, 241 22241-090 Rio de Janeiro - RJ Telefone: (21) 3235 2900 Fax: (21) 2556 1055 __________________________ E-mail: [email protected] ou [email protected] www.pbcm.com.br Equipe responsável Informativo São Vicente pelo - Diác. Osmar Rufino Dâmaso - Ir. Gentil José Soares da Silva - Vinícius Augusto R. Teixeira Correção e Revisão: - Pe. Lauro Palú Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia Colégio São Vicente de Paulo Sumário do “O Povo de Deus sente a necessidade de presbíterosdiscípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros-missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais distantes, pregando a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros-servidores da vida: que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação” (Documento de Aparecida, n.199). Editorial ............................................................................................................... 03 Carta do Superior Geral ...................................................................................... 06 Palavra do Visitador. ........................................................................................... 17 Artigos Espiritualidade A vida e missão do Presbítero Vicentino...................... Pe. Fantico Nonato Silva Borges, C. M. 20 Vida Eclesial Situando a Consagração Vicentina no coração da Igreja da América Latina .............................................. 26 Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M. Herança Vicentina Bem-Aventurada Marta Wieck...................................... 33 Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M. Memória Pe. Audálio Neves C. M................................................ 41 Pe. Célio Maria Dell’Amore, C. M. Hugo de Vasconcelos Paiva......................................... 43 Pe. Lauro Palú, C.M. Testemunho E a messe é muito grande............................................ 50 Pe. Eli Chaves dos Santos, C. M. Notícias .............................................................................................................. 56 O Informativo São Vicente pretende fazer ressoar os acontecimentos que marcaram a vida de nossa Província, refletindo sobre eles e procurando perscrutar neles os apelos que o Senhor nos dirige para percorrermos os caminhos ao longo dos quais seu Espírito quer nos conduzir. Assim, concretizamos um princípio dinâmico da espiritualidade vicentina, que nos manda reconhecer nos acontecimentos a presença providencial de Deus, presidindo a marcha de nossa história pessoal e comunitária e mobilizando as nossas energias em favor da instauração do seu Reino, como recorda nosso fundador: “Agarremo-nos a esta firme confiança em Deus, que é a força dos fracos e a vista dos cegos. E, embora as coisas não caminhem segundo os nossos gostos e pensamentos, não duvidemos, absolutamente, de que a Providência nos conduzirá ao lugar exato, para nosso maior bem” (SV III, 149). O ano de 2008 traz consigo a realização de esperanças longamente acalentadas. Nesta edição, decidimos compartilhar com os nossos leitores a jubilosa ação de graças pelo dom do sacramento da Ordem livre e generosamente acolhido por quatro dos nossos Coirmãos. As palavras dizem muito pouco, quando são profundas as emoções que nos invadem. Vivemos ainda sob o benfazejo influxo das Ordenações Presbiterais de Marcus Alexandre Mendes de Andrade, celebrada em Contagem (MG), a 5 de abril, e de Osmar Rufino Dâmaso, realizada em Campina Verde (MG), no dia 7 de junho. Preparamo-nos para a Ordenação Presbiteral de Pedro Dias de Lima, a realizar-se em Malhada (BA), dia 19 de julho, e para a Ordenação Diaconal de Deoclides Magalhães Rodrigues, marcada para 23 de agosto, em Riacho Fundo II (DF). Desejamos que estes nossos irmãos, compenetrados do sentido e do valor do ministério que abraçaram, aprofundem sempre mais a vocação de discípulos-missionários de Jesus Cristo, configurando-se ao coração do Bom Pastor, em sua permanente docilidade à vontade do Pai e em sua caridade compassiva e operosa para com os menores dos seus irmãos, a fim de serem autênticos servidores da vida, atentos às necessidades dos Pobres, empenhados na defesa dos direitos dos mais fracos e na promoção da cultura da solidariedade, sempre revestidos de profunda misericórdia, conforme a inspiradora recomendação da Conferência de Aparecida (cf. DA 199). Os artigos que enriquecem as nossas páginas confluem na direção de uma compreensão da Vida Consagrada e do Presbiterato como desdobramentos da vocação batismal, pela qual somos introduzidos no Povo de Deus e chamados à santidade no amor, a partir da inserção na comunhão trinitária. O Batismo constitui, portanto, a fonte de todas as vocações específicas como formas concretas de viver o discipulado e a missionariedade no coração do mundo. Inserir a vida e a missão do presbítero vicentino no panorama mais amplo da vocação batismal significa esforçar-nos para não sobrepor as vocações específicas à vocação fontal, evitando que a vocação universal à santidade no seguimento de Jesus se reduza arbitrariamente a privilégio ou monopólio deste ou daquele modo de viver o Batismo. A eficácia de nosso compromisso eclesial e de nossa ação pastoral está intimamente vinculada à redescoberta do Batismo como o sacramento primordial, que abre os horizontes da consagração, fundamenta a comum dignidade e legitima a diversidade de ministérios e carismas. Só assim poderemos colaborar na construção de uma Igreja missionária, toda ministerial, que se alimenta da comunhão e da participação entre os seus membros e se reconhece como servidora peregrina da humanidade. Como lembra P. Suess, um dos nossos mais lúcidos teólogos: “Pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo, a missão do presbítero é ‘um dom’ para a comunidade (DA 193). Pela realidade batismal, a missão do presbítero faz parte da missão do Povo de Deus e está a serviço dele”. Os textos aqui publicados querem servir de subsídios para a reflexão pessoal e comunitária sobre a vocação e missão de todos quantos descobriram no carisma vicentino uma forma concreta de corresponder ao chamado que o Pai dirige a todos os batizados para o seguimento de Cristo no dinamismo do Espírito Santo. Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M. “Os presbíteros são chamados a prolongar a presença de Cristo, único e supremo Pastor, atualizando o seu estilo de vida e tornando-se como que a sua transparência no meio do rebanho a eles confiado (...). Eles são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a sua Palavra com autoridade, repetem os seus gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com o Batismo, a Penitência e a Eucaristia, exercitam a sua amável solicitude, até o dom total de si mesmos, pelo rebanho que reúnem na unidade e conduzem ao Pai por meio de Cristo no Espírito” (João Paulo II. Pastores Dabo Vobis, n. 15). 26 de junho de 2008 A todos os membros da Congregação da Missão Circular do Tempo Forte (13-18 de junho de 2008) Caríssimos Coirmãos, A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus corações, agora e sempre. De 13 a 19 de junho, o Conselho Geral e eu nos reunimos para nosso segundo tempo forte deste ano. Menciono alguns dos assuntos mais significativos tratados neste encontro. 1. Os Padres Dan Borlik e Manuel Ginete apresentaram o relatório final do Grupo de Trabalho sobre a Formação Continua. O Conselho Geral e eu decidimos publicar este relatório junto com a carta do Superior Geral, escrita depois do encontro dos Visitadores no México. Esperamos que este material ajude a animar as Províncias a criarem ou melhorarem os programas de formação contínua. Tal publicação também será uma parte importante da informação a usar na preparação da Assembléia Geral de 2010. 2. O Conselho Geral e eu nos reunimos com os membros da Comissão Preparatória da Assembléia Geral de 2010. Numa semana de trabalho duro, prepararam um pacote de textos que serão enviados aos Visitadores para ajudá-los na realização das Assembléias Domésticas e Provinciais. 3. Recebemos um relatório do Pe. Josef Kapuściak, Coordenador da Comissão Executiva para a celebração do aniversário da morte de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac. Estabeleceram-se subcomissões para assegurar a boa realização desta celebração. Como já escrevi anteriormente, o Pe. Kapuściak é ajudado pelo Pe. Ginete e pela Irmã Palmarita Guida. Há cinco grupos que ajudarão na realização das celebrações: Herança, Celebração, Finanças, Projetos e Secretaria. Em 2010, esperamos poder celebrar o dia 15 de março, aniversário da morte de Santa Luísa, em Paris, França. E, dia 27 de setembro, celebrar o aniversário da de São Vicente, em Roma, Itália. Vocês receberão periodicamente informações da Comissão Executiva. 4. Em setembro, chegarão novos membros à Cúria: o Pe. Mario Grossi, da Província de Turim, que será o administrador da casa, assumindo o papel de superior e ecônomo local, o Irmão Milton de Jesus Pereira, da Província do Rio de Janeiro, e o Pe. Luís Antonio Moleres, da Província de Saragoça, que será secretário e tradutor. 5. O Instituto Vicentino da DePaul University empreenderá um projeto para a reprodução digital das publicações da Cúria Geral. 6. Recebemos um relatório do P. Giuseppe Guerra, referente a seus ofícios de Procurador e Postulador Geral. Muito provavelmente, nossa próxima beatificação será a do Venerável Pe. Salvatore Micalizzi, de Nápoles, em 2009. Convido-os a visitar a página Web do Postulador Geral www.vincenziani.com/santi.htm 7. Tratamos de questões econômicas, começando pelo Prêmio para as Missões. Foram apresentados oito projetos, entre os quais escolhemos cinco. Na festa de São Justino de Jacobis, anunciaremos os projetos ganhadores, com uma breve descrição de cada um. Inserida no relatório econômico também estava a distribuição do Fundo para as Missões. Com a Distribuição do Fundo para as Missões podemos responder aos pedidos dos bispos da Congregação que trabalham em territórios de Missão. O dinheiro foi distribuído entre nossas três missões internacionais de El Alto, Papua-Nova Guiné e Ilhas Salomão. Também reservamos fundos para ajudar o funcionamento das Conferências de Visitadores da Ásia e do Pacífico (APVC), da América Latina (CLAPVI) e da África e de Madagascar (COVIAM). Pudemos ajudar com doações 24 Províncias ou regiões de Províncias que sem esta ajuda não poderiam levar a cabo sua missão. O Pe. John W. Gouldrick, Ecônomo Geral, nos comunicou cópia do resumo do encontro da Comissão de Finanças da Cúria, que se reuniu nos dias 19-20 de maio. São estes os membros desta Comissão: Pes. Bernard Meade, Província da Irlanda, Philippe Lamblin, Província de Paris, Tom Stehlik, Província do Sul dos Estados Unidos; Santiago Azcárate, Província de Saragoça, e o Sr. Tom Beck, Província de Saint Louis, dos Estados Unidos. 8. Recebemos o relatório trimestral do Irmão Peter Campbell, Diretor da Central de Solidariedade Vicentina. Depois do último encontro de tempo forte, foram aprovados quatro novos projetos de Solidariedade Vicentina e foram dadas subvenções do Fundo de Solidariedade Vicentina a sete macroprojetos. Peter também mandou uma atualização dos passos para a fusão da Central Internacional para o Desenvolvimento com a Central de Solidariedade Vicentina, depois de ter havido uma série de reuniões com as pessoas-chaves para preparar um relatório para o Superior Geral, no tempo forte de outubro. Para as diferentes atividades da Central de Solidariedade Vicentina, vocês podem visitar sua página Web www.famvin.org/vso. 9. Houve vários relatórios sobre a Família Vicentina. O Superior Geral aceitou a renúncia do Pe. Benjamín Romo, coordenador internacional da AMM. O Pe. Benjamín tem agora uma nova tarefa na Província do México, entre alguns dos mais pobres de nossos irmãos e irmãs, o que torna totalmente impossível o desempenho de suas responsabilidades em nível internacional. Como Superior Geral e Diretor Geral da Associação da Medalha Milagrosa, quero agradecer ao Pe. Romo por seus generosos anos de serviço, não só como coordenador, mas como um dos principais promotores do desenvolvimento da AMM em nível internacional. Começamos o processo para escolher um novo coordenador. Este ramo de nossa Família celebrará seu ano jubilar, de 8 de julho de 2008 até 20 de novembro de 2009. Recebemos um relatório do Pe. Manuel Ginete, delegado para a Família Vicentina, sobre o encontro da Família Vicentina realizado em New Orleans, em abril, e de sua visita à Família Vicentina em Taiwan, em maio. Manuel participou nos fóruns dos programas de verão, organizados pelos presidentes de três obras educacionais das Filipinas, a Adamson University, em Manila, o Sacred Heart College das Filhas da Caridade na cidade de Lucena e a Universidade de Santa Isabel, das Filhas da Caridade, na cidade de Naga. O Pe. Ginete também fez uma conferência nas sessões dos Oblatos de Maria Imaculada (OMI) para sócios leigos, realizadas aqui em Roma em junho, partilhando com eles algumas de nossas experiências de trabalho com o laicado, na Família Vicentina. Fez um breve relatório sobre a reunião dos coordenadores executivos do 350º aniversário da morte de São Vicente e de Santa Luísa. As futuras visitas do Pe. Ginete, até fins de 2008, incluirão, entre outros lugares, o encontro da Juventude Vicentina e o Dia Mundial da Juventude que se realizarão na Austrália. Ao orientar, em agosto, um retiro para os membros da C. M. no Quênia, também visitará os membros da Família Vicentina. Fará uma visita à Família Vicentina no Peru, em setembro, e ainda, no mesmo mês, à Família Vicentina na Polônia. A Irmã María Pilar, Secretária Executiva do Escritório da Família Vicentina, participará, em outubro, no encontro da Família Vicentina da América Central, em Honduras. Através do trabalho do Pe. Ginete, nós, membros do Conselho Geral da Congregação da Missão e eu mesmo como Superior Geral, estamos tratando continuamente de animar os membros da Congregação da Missão a cumprir nossa obrigação de acompanhar nossas irmãs e nossos irmãos leigos. O comentário de um Coirmão, que o Pe. Ginete escutou numa de suas viagens, é muito expressivo: “Quando os leigos vicentinos se põem em marcha, as coisas andam”. Trabalhemos todos juntos com os Pobres para continuar dando glória e honra a Deus do modo vicentino. 10. Recebemos um relatório do coordenador da Comissão para Promover a Mudança de Estruturas, Pe. Robert P. Maloney. A notícia mais relevante é que esperamos que o livro Sementes de Esperança: Histórias de Mudanças de Estruturas, será publicado, em inglês e espanhol, para a festa de São Vicente. Como preparação para este acontecimento, continuam animando-nos a usar os cinco simples processos compostos para ajudar-nos a entender a espiritualidade da mudança de estruturas. Os materiais estão disponíveis na página Web famvin. 11. Recebemos dos Diretores do programa do Centro Internacional de Formação (CIF), Pes. Hugh O’Donnell, Juan Julián Díaz Catalán e José Carlos Fonsatti, uma avaliação do programa Herança Vicentina, realizado em abril e maio. O relatório é muito positivo e, pela primeira vez, na história do programa, participaram três leigos da Família Vicentina: Hill e Mary Jaster, que são os coordenadores dos Voluntários Vicentinos em Denver, e Mary O’Brien, que é a coordenadora da equipe de missões populares na Irlanda. Esperamos continuar convidando alguns membros escolhidos dos ramos leigos da Família Vicentina para esses programas de Herança Vicentina, embora mantendo como nosso principal objetivo a Congregação da Missão. O intercâmbio entre os Coirmãos e os leigos, nesta passada experiência, foi avaliado muito positivamente. O CIF está no final da preparação do Curso sobre o Serviço da Liderança que ocorrerá em junho e julho e que até agora conta com 35 participantes inscritos. Também trabalhamos nos preparativos para um Encontro para Irmãos da Congregação da Missão que se realizará no Centro Internacional de Formação (CIF), num futuro próximo. 12. Recebemos um relatório do Diretor de Comunicações para a Congregação da Missão, Pe. Julio Suescun, que nos ofereceu uma informação atualizada sobre Nuntia, Vincentiana e as páginas Web famvin e cmglobal. O Pe. Suescun agradece muito ao grupo de Coirmãos que apóiam seu trabalho com as traduções. E porque a tradução é um dos trabalhos mais difíceis de fazer, pedimos aos que tenham capacidade para traduzir que entrem em contato com a Cúria Geral. 13. Recebemos o relatório do Pe. Joseph Foley, representante da Congregação como ONG junto às Nações Unidas. Joe começa seu relatório com esta citação: “A oração dominical ressalta que ter o suficiente para comer é, e sempre foi, central na idéia cristã de um mundo configurado pela justiça e pela compaixão. Se cumprimos a vontade de Deus, ninguém passará fome” (tirada de Sushant Agrawal, Diretor dos Auxílios da Igreja para a Ação Social na Índia). O relatório de Joe destaca algumas reflexões do Fórum do Vaticano sobre as Organizações Não Governamentais (ONGs) de inspiração católica, realizado em novembro de 2007, em Roma, e também seu trabalho no Comitê para o planejamento da Conferência de Paris sobre a “Reafirmação dos Direitos Humanos, nos 60 anos da Declaração Universal”. Joe se uniu a esse grupo de planejamento, para apoiar os esforços dos Irmãos da Caridade que queriam falar da saúde mental como um dos direitos humanos. O Pe. Joe também informou sobre a conferência sobre alimentação e agricultura que se organizou em Roma, com o tema da fome e sobre a próxima conferência sobre as migrações, em Manila. Copio com gosto uma citação da conclusão do Joe: “Quanto mais conheço nossa comunidade, mais satisfeito me sinto pelo que somos e pelo que fazemos. Vejo que estamos fazendo, com fé e coragem, muitas das coisas apontadas pela doutrina social. Entretanto, às vezes penso que esta dimensão social do Evangelho não está suficientemente explícita em nossa formação nem nos programas de formação contínua”. Tomemos estas palavras conclusivas de Joe como um meio que nos anime a estar atentos, mais que nunca, aos sinais dos tempos e a responder-lhes como exge nosso carisma. 14. Entre outras coisas, o relatório do Pe. John Freund sobre o estado da Web famvin, informa que os vídeos de referência vicentina, criados por famvin ou por outros, se estão consolidando em youtube, onde também se criou um novo canal http://www.youtube.com/famvinglobal. Como ajuda para promover os acontecimentos importantes, famvin na edição em língua inglesa disponibilizou um calendário interativo em que todos podem anotar as promoções que ocorrerão em nível regional ou internacional. A parte das notícias de famvin na edição inglesa continua divulgando a mudança de estruturas, com a recente segunda série de 20 artigos da Comissão sobre a Mudança de Estruturas. Manifestamos nossa preocupação, porque enquanto a página web inglesa está bem desenvolvida, muitos desses textos não se podem utilizar nas páginas francesa ou espanhola. O maior problema é que não contamos com uma equipe de tradutores, assunto sobre o qual falamos com freqüência e que lamentamos. Mas, neste momento, pouco podemos fazer para mudar esta realidade. Os diversos relatórios que chegaram de cada uma das Conferências de Visitadores foram distribuídos aos membros do Conselho e preparados para um ulterior comentário. O primeiro assunto foi o desejo de termos um encontro de acompanhamento com os Presidentes das Conferências, que poderemos realizar durante o próximo ano. 15. Da Conferência de Visitadores da Europa e Oriente (CEVIM) recebemos o documento final de um encontro para formadores, celebrado em Roma. Uma de suas recomendações é que já é hora de começar a revisão da Ratio Formationis do Seminário Interno e da do Seminário Maior. Outro ponto destacado é a importância do aprendizado de línguas, entre outras razões para promover a colaboração interprovincial. Também recebemos as atas da Conferência de Visitadores celebrada em abril, em Cracóvia, com a participação do Assistente Geral, Pe. José María Nieto. Um dos tradutores foi o Pe. Claudio Santangelo, Secretário Geral. Duas das urgências mais importantes da Europa são o pedido de apoio à Vice-Província dos Santos Cirilo e Metódio e para manter a Missão da Albânia. As Províncias da Europa também gostariam de continuar a reflexão sobre como ter uma presença missionária mais ativa na Turquia, na Romênia e na Grécia. Nessa reunião a CEVIM elegeu um novo grupo de liderança para os próximos três anos: Presidente, Pe. Brian Moore, da Província da Irlanda; Vice-presidente, Pe. Nicola Albanesi, da Província de Roma; e o Pe. Antoine Nakad, da Província do Oriente, como membro do Conselho Permanente até o próximo encontro da Conferência que se celebrará, se Deus quiser, em abril de 2009, em Beirut, no Líbano. Da CLAPVI recebemos um documento de trabalho que era um seguimento do Encontro de Irmãos em Santo Domingo, em outubro de 2007. A próxima Assembléia Geral da CLAPVI se realizará na Argentina, de 16 a 22 de outubro de 2008. A Província da Argentina estará celebrando a abertura do jubileu de 150 anos de presença na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. O Superior Geral e seu Conselho aprovaram a nomeação do Pe. Andy Bellisario como Presidente da Conferência Nacional dos Visitadores dos Estados Unidos (NCV), por um período adicional de um ano. No momento, o Superior Geral e seu Conselho continuam apoiando o movimento para a reconfiguração das Províncias do Oeste, Sul e Centro-Oeste dos Estados Unidos. O Superior Geral continua apoiando e animando também os esforços da Província da Nova Inglaterra e da Província do Leste em seu movimento para uma possível reconfiguração. Outro ponto que discutimos foi a revisão da estrutura da NVC, posto que de cinco Províncias se reduzirá a três em 2010. O Superior Geral e seu Conselho sugeriram idéias para a reflexão dos Visitadores sobre este assunto. Na reconfiguração das Províncias a oeste do Mississippi, escolheu-se, depois de uma consulta a respeito disso, um novo nome para la Província: Congregation of the Mission Western Province (Província do Oeste). A data de fundação para a nova Província foi marcada para 25 de janeiro de 2010, e o Superior Geral estará presente para inaugurá-la. O Superior Geral agradece muito aos membros destas Províncias por sua participação neste dificílimo mas importante processo de reconfiguração que continua mantendose como modelo para outras Províncias que precisam caminhar na mesma direção, fazendo-o pelo maior bem daqueles a quem servimos na Missão. 16. Missões internacionais: Da missão internacional de El Alto, recebemos seu projeto comunitário e apostólico e também um anteprojeto sobre Voluntários Leigos Vicentinos para a Missão em El Alto. Da missão internacional de Papua-Nova Guiné, tivemos um breve relatório referente aos candidatos que puderam recrutar ali para a Congregação da Missão e que começarão seu processo de formação sob a guia da Província da Austrália. A missão internacional de Papua-Nova Guiné está esperando também os vistos para dois Coirmãos, os Pes. Vladimir, da Polônia, e Justin Eke, da Nigéria. Das Ilhas Salomão recebemos uma carta do Superior, P. Gregory Walsh, pedindo mais formadores para o seminário, tema que retomaremos na Carta de Chamada para a Missão, em outubro de 2008. O seminário das Ilhas Salomão espera o retorno do Pe. Flaviano Caintic, que está em recuperação, na sua Província de origem, Filipinas, depois de uma cirurgia cardíaca. O Superior Geral e seu Conselho também receberam um relatório do Visitador da Polônia, Pe. Arkadiusz Zakreta, sobre sua recentíssima visita ao Cazaquistão, onde a Congregação foi convidada a estabelecer uma nova Missão. A Província da Polônia enviará para lá seu primeiro missionário em julho, esperando, mais tarde, poder criar uma comunidade. O Cazaquistão é um extenso país, nove vezes maior que a própria Polônia, com um clima muito variado. No verão, pode chegar aos 40 º C e no inverno cair até -40º C. O Cazaquistão é um país muçulmano, sendo os ortodoxos a segunda maior população, ficando as outras religiões, inclusive a católica, como uma pequena minoria. Parabéns à Província da Polônia por este novo esforço para difundir o Evangelho, com o espírito de São Vicente de Paulo. 17. O Conselho também recebeu pedidos para as missões, vindo o primeiro da Conferência dos Bispos das Antilhas. Pedem reforços para seu seminário regional de São João Maria Vianney e dos Mártires de Uganda, localizado em Trinidad. Atualmente, o seminário tem na direção apenas dois membros residentes e de tempo integral e estão buscando mais pessoal qualificado, inclusive professores de filosofia, teologia, liturgia, pessoal de reforço para desenvolver um planejamento estratégico, um diretor espiritual e em geral ajuda para fortalecer o grupo de tempo integral na residência e na formação. Este pedido será apresentado mais amplamente na Carta de Chamado para a Missão, em outubro, mas se alguém já estiver inclinado a apoiar este pedido para trabalhar na formação, a língua é o inglês. Também recebemos um pedido de missionários, feito pelo Arcebispo de Cochabamba, para trabalharem numa paróquia onde atualmente trabalham uma comunidade de missionários leigos vicentinos e também as Filhas da Caridade. Outro chamado para a Missão nos veio do Arcebispo de Santiago, em Cuba, pedindo mais missionários para ajudar os nossos três Coirmãos que no momento trabalham em sua arquidiocese. É um extenso território de Missão que nossos três Coirmãos ainda tentam ampliar e, por razões de energia humana e de limitações, precisam de reforços. Também insistirei neste pedido na Carta da Chamado às Missões, em outubro. Foram estes os assuntos que tratamos. Ao concluir, convido todos vocês a serem criativamente fiéis à Missão. PALAVRA Seu irmão em São Vicente, G. Gregory Gay, C. M., Superior Geral Estimado Coirmão e prezado(a) Leitor(a), A Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM) no marco operativo do Planejamento Provincial (2008-2010) firma o ideal de sua prática, dentro do seu campo de ação, em vista de contribuir para a construção do ser humano e da sociedade com DO que se compromete. A PBCM apresenta uma proposta que traduz o seu modo de VISITADOR encarar sua prática específica em forma de realidade desejada. É uma proposta de utopia, o que não significa apenas um sonho, um idealismo sem fundamento ou irrealizável. O que queremos como Província? A resposta a esta questão é de fundamental importância, pois dela irão depender todas as nossas resoluções. Ciente de que as propostas e decisões firmadas em um Planejamento não se concretizarão simplesmente por estarem redigidas em documento; ciente de que para se tornarem realidade dependerão do empenho de muitas pessoas, reapresento neste espaço o marco doutrinal do Planejamento Provincial (2008-2010). Para os Coirmãos, este é um convite para reavivar os compromissos assumidos e, para os demais membros da Família Vicentina e outros parceiros, esta é uma partilha dos nossos ideais e uma convocação para que continuemos somando forças. Veja a seguir as bases nas quais os missionários vicentinos da PBCM se alicerçam e as características da Província que desejamos construir. Todos nós missionários vicentinos, Irmãos e Padres, Coirmãos admitidos, propedeutas e vocacionados: • • • • fiéis ao carisma, dado por Deus a São Vicente de Paulo, de seguir Jesus Cristo Evangelizador dos Pobres; atentos aos sinais dos tempos, aos clamores dos Pobres, às rápidas e profundas transformações em todos os âmbitos; comprometidos com a manifestação cada vez mais transparente de nossa identidade e com a concretização da vocação e missão da Congregação, explicitadas nas Constituições e Estatutos, nas Normas Provinciais e nos Documentos emanados das Assembléias Gerais e nos pronunciamentos do Superior Geral; em comunhão com a Igreja na América Latina e no Caribe, atentos às Conclusões da Vª Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida, que convocou a todos para sermos “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele todos os nossos povos tenham Vida”; queremos construir: 1. Uma Província disposta a redescobrir e fortalecer a atitude de discípula, como alguém que “toda manhã abre os ouvidos” para escutar com atenção o Senhor que se manifesta de muitas formas, mas, de modo privilegiado, para os missionários vicentinos, no ser, na realidade e na situação dos Pobres. Desejamos uma Província “contemplativa na ação e ativa na contemplação”, onde, de fato, se encontrem “homens de oração”, que, no pensamento de São Vicente, “serão capazes de tudo”; 2. Uma Província que seja seguidora de Jesus Cristo, Verbo Encarnado, Evangelizador dos Pobres. A Província, iluminada pela Palavra de Deus acolhida em oração, tenha um comprometimento claro e decidido com os Pobres, entendidos como lugar teológico, epistemológico e sociológico; 3. Uma Província cujos Membros trabalhem em equipe e levem verdadeira vida comunitária, “a modo de amigos que se querem bem”, em vista da Missão; 4. Uma Província articulada, em unidade e colaboração com a Família Vicentina (p. ex., na Campanha pela Mudança de Estruturas), com a Conferência dos Religiosos do Brasil e com outras instituições e movimentos e em eventos em favor dos mais pobres; 5. Uma Província que procure vivenciar as virtudes apostólicas vicentinas; 6. Uma Província que seja criativa e ousada em projetos sociais e gestos concretos de serviços aos Pobres, de formação do clero e dos leigos e em todas as demais áreas de sua atuação e administração; 7. Uma Província que desenvolva uma formação inicial e permanente no empenho de capacitar os seus membros para responder à vocação e missão vicentina diante da mudança de época; 8. Uma Província que desenvolva uma administração segura dos bens, atenta às exigências legais e ordenada à evangelização dos Pobres e à formação de clérigos e leigos. Como afirmei na apresentação do Planejamento tenho plena convicção de que nosso Planejamento Provincial é muito rico, denso, animador e desafiador, capaz de encantar a cada um de nós, missionários vicentinos, e aqueles que trabalham conosco. Temos um longo e bonito caminho a trilhar. Temos consciência dos muitos e complexos desafios que estamos enfrentando, no entanto, ao abrirmos os olhos descobriremos que não são apenas nossos, mas na sua grande maioria atingem toda a Igreja e a Sociedade na qual estamos inseridos. Poderíamos mesmo afirmar que, inseridos na Sociedade e na Igreja, delas sofremos as influências de suas forças de crescimento e também de resistência. Nesta situação, mais do que nunca, somos chamados a apontar os sinais da presença de Deus e do seu Reino. Somos chamados a vencer o cansaço, o desânimo e o pessimismo. Somos chamados a ser sinais de esperança e a continuar acreditando que vale a pena seguir Jesus Cristo, que vale a pena colaborar com a construção do Reino de Deus e ser Missionário Vicentino. Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M. Visitador Provincial A vida e missão do Presbítero Vicentino Refletir sobre a vida e a missão do presbítero é algo muito importante, pois, quanto mais se discute sobre o lugar e o papel do sacerdote no mundo e na Igreja, mais se abrem possibilidades para uma profícua intercomunicação e intercomunhão entre todos os cristãos. A Igreja, em toda sua história, sempre prestigiou o papel do sacerdócio ministerial, mas somente no Concílio Ecumênico Vaticano II foi feita a devida distinção e, ao mesmo tempo foi dado o devido lugar ao sacerdócio comum e ao ministério ordenado. “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, apesar de diferirem entre si essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se um para o outro; de fato, ambos participam, cada qual a seu modo, do sacerdócio único de Cristo. O sacerdócio ministerial, pelo poder sagrado de que é investido, organiza e rege o povo sacerdotal, oferece o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo em nome de todo o povo; por seu lado os fiéis, em virtude do sacerdócio régio, têm também parte na oblação da eucaristia e exercem o sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade operante.”1 Ora, como deixa claro o Concílio, há uma missão própria, particular e peculiar ao fiel, que, retirado do meio do povo, é investido pelo sacramento da ordem da potestas Christi para servir os irmãos, a fim de que todos atinjam, não obstante seus pecados, a vida de santidade anunciada por Jesus. Por isso, o presbítero é um irmão na fé que, com seu testemunho de vida ajuda o povo de Deus a caminhar ao encontro de Cristo. Desta forma, o povo de Deus sente necessidade de presbíteros–discípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor; de presbíteros–missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais distantes, atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia 2. Neste artigo, tentaremos entrever, em meio à atual conjuntura, alguns caminhos que apontem positivamente luzes que iluminem a vocação do presbítero – discípulo e missionário de Jesus Cristo – vicentino. Logo após o Concílio Ecumênico Vaticano II, muitos sacerdotes perderam o horizonte de seu ministério. Alguns se perguntavam: para que ser padre? Outros não viam necessidade dos ministros ordenados. Ora, a crise se constitui no pós-concílio como uma dificuldade de compreender a abertura da Igreja. Antes do Concílio, os padres tinham bem claro o seu papel na Igreja: o presbítero era o cura de almas, e a ele, “o amigo de Deus”, cabia reconduzir as ovelhas ao pastor supremo das almas, Jesus Cristo. O lugar do ministério ordenado, portanto, era salvar as almas. A salvação e tudo que estava unido a ela pertenciam à função do padre. Aos leigos cabia receber passivamente os frutos da salvação em cujo “poder eclesial” eles não participavam. Ora, com a abertura oriunda do pós-Vaticano II e do eminente papel ativo que os leigos ganharam dentro e fora da Igreja, o quadro foi significativamente alterado. Todos os cristãos, como bem demonstrou o número 10 da LG, participam do único sacerdócio de Cristo. Eles são membros com a mesma dignidade de fìlhos de Deus pelo batismo e membros de seu Povo. Essa abertura conciliar colocou o batismo cristão no centro da vida eclesial. Ao meu ver, isto representou um dos maiores avanços do Concílio. Agora não é somente ao clero, mas a cada cristão que são dados a dignidade e o poder de anunciar e testemunhar Cristo no mundo. O centro dinâmico da Igreja é a comunidade dos batizados, onde todos são chamados à santidade da Igreja e ao compromisso de uma vida de caridade3. Então, qual a missão do sacerdote? O padre, pela ordenação, é configurado com Cristo-Sacerdote, que o torna capaz de agir e falar publicamente em favor dos homens na pessoa de Cristo-Cabeça, participando da autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e dirige seu corpo4. “Mediante a consagração sacramental, 1 Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), n. 10 Cf. Conclusões da V Conferência de Aparecida (DA), n. 199. 3 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), n. 25. 2 4 Cf. KLOPPERNBURG, Boaventura. O Ser do Padre. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 79. Ver também: Optatam Totius (OT), n. 2. o sacerdote é configurado a Jesus Cristo enquanto cabeça e pastor da Igreja e recebe o dom de um ‘poder espiritual’ que é participação da autoridade com a qual Jesus Cristo pelo seu Espírito conduz a Igreja.”5 O presbítero é escolhido de dentro da comunidade dos fìéis para a missão de ser sinal visível da caridade, da compaixão e da solidariedade de Cristo no mundo. O conteúdo da caridade pastoral é o dom de si, o total dom de si à comunidade. Mas o sacerdote sabe que ele, no meio dos irmãos, é primeiramente fìel e somente depois é pastor. Como afirma Santo Agostinho: convosco sou fiel e para vós sou pastor. Assim, segundo o Concílio, todo o povo de Deus, e não apenas o presbítero, participa da unção do Messias. O fato de o presbítero ser tirado do meio do povo não o isola do mundo e do resto da humanidade nem o situa em um patamar superior. Pelo contrário, o presbítero é chamado a conviver humilde e fraternalmente, inserido na realidade do povo de Deus. Pela unção, o padre se configura a Cristo e é chamado a anunciar a Palavra do Senhor, realizando os sacramentos em nome do Senhor. Como diz São Vicente, fazendo na terra o que fez o Filho de Deus (cf. SV XII, 80-87). Por isso, para São Vicente, o padre é um imitador de Cristo como servo que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em favor de seus irmãos. Desta forma, para o presbítero vicentino, Cristo é a regra da sua vida e da sua missão. “Nesta vocação vivemos de modo mui conforme a Nosso Senhor Jesus Cristo que, quando veio a este mundo, escolheu como principal tarefa a de assistir os pobres e cuidar deles” (SV XI, 33). Segundo São Vicente, a missão que Deus confiou ao sacerdote é a de na terra continuar a sua obra. “A evangelização dos pobres é um oficio tão importante que foi, por excelência, o oficio do Filho de Deus. A ele nós nos aplicamos como instrumentos dos quais se serve o Filho de Deus que continua a fazer no céu o que fez na terra”6. Na vida do sacerdote que abraça a radicalidade da incorporação a Cristo pelo sacramento da ordem, devem coincidir ministério e vida, função eclesial e carisma. Assim, a missão e a vida do padre são concomitantemente duas realidades pericoreticamente implicadas7. Os padres e, de modo especial, nós vicentinos, precisamos nos revestir de Jesus Cristo. Porque, para vivermos em Jesus Cristo pela morte de Jesus Cristo temos de ser como Jesus Cristo (Cf. SV I, 295). Acredito que para um frutuoso serviço ministerial, é mister que o sacerdote esvazie-se de si mesmo e deixe-se modelar por Jesus. Não falo aqui de algo somente espiritual, mas existencial. É necessário assumir a missão de Cristo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Para São Vicente, estava claro que ser missionário é seguir os passos de Jesus, o Cristo. E como segui-lo? Eis aí o projeto de vida de Jesus. Ser um padre missionário é anunciar a boa nova a todas as pessoas e preferencialmente aos pobres. Ser um padre missionário é libertar os oprimidos de todo tipo de amarra que os impede de ser gente e ter dignidade. Ser um padre missionário é curar as feridas, levar as pessoas a descobrirem sua dignidade de filhos/as de Deus. Ser um padre missionário é dar vista aos que estão cegos pelo egoísmo, pela maldade, pelo desamor e pelo materialismo. Ser um padre missionário é anunciar que o Reino de Deus já chegou em forma de vida abundante para todos: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). O sacerdote, como continuador de Cristo,tem que ser o primeiro a imitá-lo. Esta é a base de toda espiritualidade do presbítero vicentino: Cristo é a regra de nossa vida e missão. “Nesta vocação vivemos de modo mui conforme a Nosso Senhor Jesus Cristo que, quando veio a este mundo, escolheu como principal tarefa a de assistir os pobres e cuidar deles. MISIT ME EVANGELIZARE PAUPERIBUS. E se perguntarem a Nosso Senhor: ‘O que veio fazer na terra?’ – ‘Assistir os pobres’ – ‘Algo mais?’ – ‘Assistir os pobres’, etc” (SV XI, 33-37). Para São Vicente, o sacerdote deve colocar a sua vida na sua vocação, isto é, viver de tal modo que esteja sempre pronto para testemunhar Cristo em qualquer tempo e lugar. Só serás quem deves ser como sacerdote, se colocares tua vida inteira na tua vocação. Só então serás sacerdote como deves ser e a partir da raiz do teu ministério, se realizares as tuas funções ministeriais com fé, esperança e amor, com todas as energias de tua vida. Tarefa de tua vida é a aproximação, sempre mais íntima, entre ti e o teu ministério. Tua vocação é tua vida e tua vida é tua vocação. Não dispões de vida privada capaz de desdobrar-se independente e fora do teu sacerdócio, vida que só parcialmente seja superposta por tuas obrigações funcionais. O que fazes como ‘funcionário’ oficial da 5 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores Dabo Vobis, São Paulo: Paulinas, 1997, n. 21. 6 In: Manual de Espiritualidade Vicentina. Curitiba: Vicentina, 1998, p.69. 7 Cf. RAHNER, Karl. Novo Sacerdócio. São Paulo: Herder, 1968, pp. 69-70. sociedade visível da Igreja externa deve constituir a lei da tua própria vida pessoal. Teu cristianismo é teu sacerdócio e vice-versa8. 8 Cf. RAHNER, Novo Sacerdócio, p.73. O sacerdote é um enviado de Cristo e da Igreja, pela ordenação, para viver e atuar na força do Espírito Santo a serviço da comunidade. Daqui se entende o essencial da caridade pastoral que deve ter o presbítero para com o povo a ele confiado. Pois “a caridade pastoral é aquela virtude pela qual nós imitamos Cristo na entrega de si mesmo e no seu serviço. Não é apenas aquilo que fazemos, mas o dom de nós mesmos que manifesta o amor de Cristo por seu rebanho. A caridade pastoral determina o nosso modo de pensar e de agir, o modo de nos relacionarmos com as pessoas”1. Como já podemos perceber, a missão do sacerdócio ministerial não é um simples título jurídico, nem um status social. Não consiste apenas num serviço eclesial prestado à comunidade, delegado por ela, e por isso revogável pela mesma comunidade ou renunciável por livre escolha do funcionário. Trata-se, ao contrário, de uma real e íntima transformação por que passa o organismo sobrenatural do presbítero por obra de um ‘Sinete’ divino, ou seja, por obra de uma graça especial de Deus derramada na pessoa; um caráter, que habilita o sacerdote a agir in persona Christi e por isso o qualifica em relação a Ele como instrumento vivo da sua ação2. O sacerdote não é funcionário do altar, ele é um outro Cristo para os irmãos. Por isso, dizia-nos São Vicente: “Lembre-se padre, de que vivemos em Jesus Cristo pela morte em Jesus Cristo, e que temos de morrer em Jesus Cristo pela vida de Jesus Cristo e que nossa vida tem que estar oculta em Jesus Cristo e cheia de Jesus Cristo, e que para morrer como Jesus Cristo, temos que viver como Jesus Cristo” (SV I, 295). É preciso viver como o Mestre, pois quem vive nele deve proceder como ele: “aquele que diz que permanece nele deve também andar como ele andou” (1Jo 2,6). Desta forma, temos claro que somos constituídos para o serviço de Cristo na Igreja, principalmente no meio dos Pobres. A vida do presbítero, e particularmente de nós vicentinos, deve estar mergulhada, de tal forma em Cristo que todos que se achegarem a nós sintam a presença dele e assim, por nosso modo de viver, seja revelado Jesus a todos os irmãos: “Oh! Salvador de nossas almas, que nos chamaste ao seguimento de tuas máximas e à imitação de tua vida humilde e desprezada! Coloca em nós as disposições necessárias para sofrer, da maneira que desejas, as perseguições que julgares bem nos enviar” (SV XII, 284-285). Pe. Fantico Nonato Silva Borges, C. M. Diretor do Seminário Interno Interprovincial (Petrópolis-RJ) Situando a Consagração Vicentina no coração da Igreja da América Latina “Fazer memória é descobrir motivos para viver. A vida dos fundadores é, assim, tema fecundo de reflexão. Fazendo de sua existência memória viva do Evangelho sem glosa e orientando sua vida em torno da memória de Jesus, os fundadores deram identidade à sua consagração e vitalidade ao carisma que o Espírito lhes dava. Destemidamente, assumiram a causa de Jesus com convicção e entusiasmo, configurando-se totalmente ao Senhor que os chamava e os convidava a uma nova forma de existência”3. 1 JOÃO PAULO II, Pastores Dabo Vobis, n. 23. 2 JOÃO PAULO II. Homilia por ocasião da ordenação de sacerdotes no Rio de Janeiro, em 1980. In: Documentos, Homilias e Pronunciamentos do Papa ao povo brasileiro. Escopo: Brasília, 1980, p. 64. 3 ANDRADE, Marcus Alexandre Mendes de. O que o Espírito diz à Vida Consagrada... Uma visão do Congresso Nacional “Novas Gerações e Vida Religiosa” – Memória, Poder e Utopia. Convergência, ano XLI, n.396, p. 480, out. 2006. Olhar a consagração pelo viés da santidade é olhá-la naquilo que ela mais tem de sentido e de importância para a Igreja e para o mundo. A Vida Consagrada existe para ser memória eloqüente e transparente do Senhor e não para outra coisa qualquer. Sua missão, seu estilo de vida, sua inserção no mundo, suas obras e sua experiência espiritual-carismática estão a serviço do grande dom de Deus que visita os seus: o chamado à consagração radical, para que o fiel entregue ao Senhor, de maneira absoluta, generosa e abnegada, toda sua vida, seus dons, sua motivação, sua disposição e seu entusiasmo para ser transparência de Deus para o mundo e sinal escatológicoprofético do mundo novo. O consagrado é, pois, sinal e visibilidade da ação de Deus no mundo e de seu projeto para a humanidade. Sinal da ação de Deus, porque sua própria presença no mundo parte de “um contato íntimo com Deus na oração pessoal e um aprofundamento no sentido da caridade, que tem sua melhor expressão na Celebração Eucarística” (Medellín 12,5). O consagrado é aquele que faz de sua experiência de Deus a marca registrada de sua vida e passa a existir a partir de uma lógica toda única, que é a lógica eucarística do Reino, isto é, da própria ação do Senhor, que não se fecha em si mesmo, mas se faz oblação alegre e salvífica por amor à humanidade, amando-a até o extremo e partilhando toda sua existência como alimento e reconciliação de todos e, em nível mais amplo, reestruturando toda a vida da sociedade à luz do Reino. A vida do consagrado, assim, é toda ela profecia, pois, “em seu conjunto, constitui a maneira específica de evangelizar própria do religioso” (Puebla 725). Mesmo sem palavras e sem grandes obras, aquele que se consagra e assume em sua vida a vida do próprio Jesus é um profeta e anunciador da graça de Deus. Para a Vida Consagrada, desde que levada na radicalidade que a caracteriza, a própria existência do consagrado já é evangelização, cumprimento da missão da Igreja e sinal de amor para com a humanidade. Sua presença é toda ela um testemunho eloqüente, pois reflete o próprio Deus que se aproxima e convida a humanidade para o Reino, para “os valores alternativos do Reino” (Aparecida 224). Sua vida e consagração, que não fazem propriamente parte da hierarquia da Igreja, mas de sua santidade e fulgor carismático, devem estar voltados para a grande tarefa que é a “transfiguração do mundo” (Medellín 12,3). Isso se faz pelos conselhos evangélicos, esta forma toda especial de se consagrar ao Cristo, vivendo e agindo a partir de seu próprio estilo de vida, de suas convicções e ideais. Vivendo pobremente, os consagrados “compartilham seus bens e denunciam evangelicamente os que servem ao dinheiro e ao poder” (Puebla 747). São profetas de um mundo novo, solidário e fraterno, em que as pessoas são valorizadas por serem pessoas humanas e não por sua capacidade de consumo e de produção. São “testemunhas da liberdade frente ao mercado e às riquezas” (Aparecida 219), isto é, mostram, com sua vida, que a liberdade atinge a pessoa em seu âmago e que todos valemos muito mais do que permite a mesquinhez das relações comerciais excludentes e opressoras. São sinal de que mais vale privar-se pelo bem comum do que possuir em detrimento de massas populares condenadas à miséria. Sinal de que o mundo novo, o Reino, é Reino de partilha e de solidariedade e que o gênero humano, renovado e redimido por Cristo, não compreende individualidades isoladas, mas é um povo de irmãos, que se doam mutuamente e não admitem a morte de outrem, engendrando novos sistemas e novas oportunidades para a defesa da vida e da dignidade de todos. Pela vivência da pobreza, os consagrados “participam do mistério e da missão de Cristo, glorificam a Deus e interpelam a sociedade” (Santo Domingo 85). Fazem, assim, a perfeita síntese entre a vida e a fé, não justapondo o louvor de Deus e a busca de um mundo justo. Ao mesmo tempo em que suas vidas cantam as glórias de Deus e seus louvores, também se colocam como profecia firme e decidida contra as estruturas injustas e a lógica opressora que condena multidões à miséria e à exclusão. Vivendo a castidade, são “testemunhas da aliança libertadora de Deus com o homem, (...) libertação escatológica, vivida na entrega a Deus e numa solidariedade nova e universal com os homens” (Puebla 749). Doando a si próprios a Deus para o serviço dos irmãos, os consagrados expressam já aqui a libertação definitiva de Deus, pela qual o amor tudo suprirá e completará toda falta, todo desequilíbrio, toda limitação e toda carência. Deixando de estabelecer laços afetivos exclusivos com uma única pessoa, consagram toda sua vida para um amor universal e uma solidariedade que não conhece limites Os consagrados são chamados a amar sem barreiras, especialmente os mais pobres e abandonados, sendo “testemunhas de uma entrega no amor radical e livre a Deus e à humanidade, frente à erotização e banalização das relações” (Aparecida 219). Num mundo excludente e seletivo, a castidade é uma profecia da valorização do ser humano e de sua dignidade inviolável. O coração casto não aceita a apropriação das pessoas, a prisão afetiva ou o envolvimento desinteressado baseado apenas na satisfação de necessidades egocêntricas e deturpadas. O consagrado olha para o outro com respeito, dando-lhe liberdade e garantindo-lhe o desenvolvimento humano e integral de suas capacidades existenciais e relacionais. Como amor recebido gratuitamente e generosamente doado, a castidade representa o elã da consagração, pois é testemunho eloqüente do Deus que ama desinteressadamente, sem exigir alguma coisa ou medir os favorecimentos de seu amor. É sinal de um mundo novo construído pelo amor de Deus, de uma nova lógica, evangélica e humanística, pela qual o ser humano é valorizado em sua inteireza e não apenas em algumas de suas dimensões existenciais, e de uma nova geração que surge para amar e dar testemunho da graça de Deus e de sua força redentora e rearticuladora dos afetos, sentimentos, interesses e relações interpessoais e sociais. Pela obediência, os consagrados demonstram sua “comunhão com a vontade salvífica de Deus e denunciam todo projeto histórico que, apartando-se do plano divino, não faz crescer o homem em sua dignidade de filho de Deus” (Puebla 748). São, assim, testemunhas de uma liberdade vivida teologicamente, isto é, como orientação profunda para Deus e para seu projeto. Obediência é, primeiramente, atenção e acolhimento da vontade de Deus, escutada e discernida na comunidade dos seguidores. É obediência ao Deus que chamou e consagrou para sua convivência e missão. Esta vontade, no entanto, só pode ser percebida em confronto com a realidade social e histórica em que se vive. Nenhuma fala de Deus é dessituada, expressa de maneira a-histórica. Sua vontade expressa-se a partir dos anseios do mundo e dos reclamos da história e sua acolhida generosa se dá a partir de uma comunidade, também concreta e inserida na realidade. Discernir juntos os desígnios de Deus é tarefa de todos os consagrados, para que possam, ainda mais, ser testemunhas desta vontade para o mundo, como sinal transparente e eloqüente do próprio Deus. E hoje, dentre as mais importantes expressões do desígnio de Deus, encontra-se a solidariedade com os pequenos e pobres. “Negando-se a si mesmos, aceitam como própria a cruz do Senhor que sobre eles pesa e acompanham os que sofrem por causa da injustiça” (Puebla 743). Negar a si próprio e sua vontade, seus projetos pessoais e seus sonhos individuais em benefício de um sonho comum e de um projeto que favoreça a todos; colocar-se livremente na busca da justiça, mesmo em prejuízo de interesses particulares; reorientar a própria vida a partir de uma lógica desinteressada e solidária, que eleva as necessidades alheias como primeira e obsessiva preocupação de todos; tudo isso é, realmente, um ato de verdadeiro heroísmo e de comprovada santidade. A consagração é a intensificação da consagração do batismo, é levá-la à plenitude como sinal especial escolhido por Deus para toda a humanidade. Deus escolhe alguns, para que, a partir dos dons pessoais e de suas capacidades, coloquem-se totalmente na perspectiva do Reino. “Seu voto último e radical é a disposição decidida e inquebrantável de configurar a vida inteira de modo que possa ser também para o mundo atual encarnação de uma existência centrada no ‘Deus do mundo’”4. E, centrando-se no Deus do mundo, fazem de sua vida um espaço para a manifestação da missão do Filho de Deus, missão salvífica e reconstrutora da humanidade. A Vida Consagrada na Igreja constitui “elemento decisivo para sua missão” (Aparecida 216), é verdadeiro “fermento da consciência missionária” (Puebla 755). Sua inserção na vida do povo e a radicalidade de sua presença junto às situações-limite da existência são expressões claras de uma fecunda atividade missionária. Unindo fé e vida, “deve encarnar-se no mundo real, e hoje com maior audácia que em outros tempos” (Medellín 12,3). Sua missão é essa encarnação nas realidades concretas, nos sentimentos mais íntimos do povo, nas situações mais desesperadoras, nas realidades mais abandonadas e carentes de uma presença solidária. Engajada lá onde as pessoas vivem e realizam sua história, a Vida Consagrada pode ser fermento no mundo, incentivo para a construção de novos paradigmas 4 QUEIRUGA, Andrés Torres. Por el Dios del mundo en el mundo de Dios: sobre la esencia de la Vida Religiosa. Bilbao: Sal Terrae. p. 90 existenciais a partir do Evangelho e ainda testemunho para a própria Igreja, convidando-a a sempre estar disposta e desejosa de um deslocamento não só geográfico, mas ideológico, espiritual e efetivo para junto dos Pobres. Esta missão, no entanto, “não supõe somente o desprendimento interior e a austeridade comunitária, mas também solidariedade, partilha e, em certos casos, convivência com os Pobres” (Puebla 734). De fato, assumir como consagrado a missão de Jesus exige um desprendimento interior muito grande, pois o Senhor exige uma presença radical entre os mais sofridos, como foi sua própria experiência. Desprendimento que converte as atitudes e as consciências, que nos faz repensar conceitos e lógica existencial, que nos tira de nosso mundo, seguro, tranqüilo e garantido, e nos coloca nos desafios da vida concreta, como companheiro solidário dos Pobres, não nos colocando acima deles, mas como um irmão entre os irmãos, que fala de experiências reais, de um Deus que verdadeiramente é solidário (e o consagrado é ali sacramento desta solidariedade!), e não apenas transmite conceitos e pensamentos a respeito de uma missão idealizada e academicamente estudada. Esta proximidade essencial da Vida Consagrada com o povo, especialmente os Pobres, determina-lhe sua conotação laical, seu espaço de atuação, seu lugar privilegiado para a experiência da graça: o Povo de Deus. “Deus não precisa de religiosos para si, mas, se os “retira”, é para depois “atirá-los”, tendo em vista a missão evangélica, que pertence a todo o povo de Deus. Assim, a consagração religiosa deve ser vivida como laical (pertencente ao “laos”), na sua origem e desenvolvimento inicial. De modo algum, confundese com um determinado ministério na Igreja”1. Exatamente a partir desta compreensão, de uma missão laical, secular, voltada inteiramente para o povo e não para a manutenção da Igreja enquanto instituição, mas sim para a construção do Reino de Deus, a partir de uma realidade concreta que é a do povo pobre, sofrido, abandonado e excluído, é que São Vicente de Paulo pensou as congregações missionárias por ele fundadas. Tanto a Congregação da Missão quanto a Companhia das Filhas da Caridade são congregações de espírito secular, comunidades não-religiosas, consagradas a Deus para o serviço do povo, sem o qual a própria consagração fica comprometida. “Minhas filhas, creu-se oportuno que continuásseis com o nome de sociedade ou confraria, e assim ordenou o mesmo arcebispo, por medo de que, se se diz congregação, quisessem quiçá no futuro trocar a casa por um claustro e fazer-vos religiosas (...). Sois os apóstolos da caridade” (Conferência de 8 de agosto de 1655 – ES IX, 731-732). “Mas sigamos adiante, padres, e vejamos qual é esse estado ao qual Deus nos chamou. É um ato que nos faz religiosos? Não! Trata-se de sacerdotes seculares que se colocam nesse estado que Nosso Senhor escolheu para si mesmo, renunciando aos bens, às honras e aos prazeres (...). E quanto a nós, ainda que não sejamos religiosos, somos, entretanto, de uma ordem, não da ordem de São Francisco ou de São Domingos, mas da de São Pedro, e, para maior firmeza, acrescentaram-se os votos de pobreza, castidade e obediência” (Conferência de 7 de novembro de 1659 – ES XI, 643-644). Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M. BEM-AVENTURADA MARTA WIECKA Um coração indiviso, uma doação sem reservas No dia 2 de dezembro de 2007, celebramos, em Salvador (BA), a beatificação de Irmã Lindalva Justo de Oliveira (1953-1993), Filha da Caridade brasileira que, na fecundidade do seu escondimento oblativo, testemunhou a radicalidade do amor incondicional a Deus e aos Pobres até a entrega da própria vida. Dois meses depois, a 3 de fevereiro de 2008, a Igreja proclamou bemaventurada a Irmã Josefina Nicoli (1863-1924), coroando assim seu empenho evangélico em favor do resgate, da promoção e da formação de crianças e jovens, sobretudo dos mais vulneráveis, para os quais seu coração vicentino permanecia permanentemente voltado. No dia 24 de maio, em Leopoli (Ucrânia), teve lugar a beatificação de uma jovem polonesa que consumiu todo o dinamismo de sua juventude no serviço humilde e alegre aos enfermos de vários hospitais, manifestando sempre a mesma compaixão e o mesmo zelo para com todos. Falamos, então, da Irmã Marta Anna Wiecka (1874-1904), cujo percurso biográficoespiritual passamos a apresentar. Marta Anna nasceu a 12 de janeiro de 1874, em Nowy Wieck (Polônia), da nobre e distinta família dos Wiecka, filha de um rico proprietário de terra. Era a terceira de treze irmãos, dos quais três morreram na mais tenra infância e cinco no vigor da juventude, entre os 20 e 30 anos. Desde cedo, dedicou-se ao cuidado dos irmãos mais novos, amadurecendo seu caráter e ensaiando os primeiros passos de uma vida que se consumaria na oferta cotidiana de si mesma aos sofredores. Seria esta a característica central de sua breve existência. Embora sua família vivesse em um ambiente predominantemente protestante, Marta foi educada na fé católica e aprendeu de sua mãe, Paulina, o amor a Deus e o desejo de conhecê-lo, bem como o interesse pela biografia dos santos. Aos 12 anos, conforme costume da época, iniciou sua preparação para a Primeira Comunhão. Para isso, duas vezes por semana, precisava percorrer a pé um longo caminho até a igreja paroquial. Impelida por um profundo amor a Jesus Cristo e animada por sua indescritível força de vontade, colocava-se a caminho da igreja, onde participava das práticas de piedade e das aulas de catecismo. Depois, retornava para casa e ia para a escola. Tinha espírito de liderança e estava sempre cercada de amigas que partilhavam dos seus ideais e admiravam sua capacidade de assimilação, memorização e transmissão dos conteúdos da fé. Seu catequista era o jovem Padre Marian Dabrowski que, além de vigário paroquial, era também capelão da Casa Provincial das Filhas da Caridade de Chelmno. Marta se colocou, então, sob a prudente orientação deste homem de Deus e o escolheu como seu confessor e diretor espiritual. Quando, aos 15 anos, decidiu dar um passo mais audacioso em vista de sua consagração ao Senhor, não hesitou em escolher a Companhia das Filhas da Caridade, conhecida, sobretudo, por meio da palavra do seu diretor. Com efeito, Padre Marian acompanhou de perto todo o processo vocacional de Marta e, ao notar a progressividade do seu amadurecimento, sugeriu-lhe que apresentasse o seu pedido à Irmã Visitadora de Chelmno, que logo manifestou o desejo de conhecê-la pessoalmente. Embora com uma boa impressão da jovem, a Irmã lhe pediu que esperasse um pouco, dois anos na verdade, devido à sua inexperiência e ao fato de que a Casa de Formação já não comportava maior número de pessoas. Marta, embora insatisfeita com aquela angustiante espera, teve mais tempo para discernir o chamado que o Senhor lhe fazia. Tomou conhecimento de que sua amiga Mônica Gdaniec, apenas dois anos mais velha, desejava tornar-se Filha da Caridade, mas também a esta foi pedido que aguardasse um pouco, visto que o Seminário (Noviciado) não dispunha de espaço para receber novas Irmãs. Unidas pelo mesmo ideal de consagração ao Senhor e aos pobres, as duas amigas dirigiram-se à Casa Provincial de Cracóvia e conseguiram ser acolhidas naquela Província. Necessitavam apenas do consentimento de seus pais, o que não obtiveram facilmente, visto que Cracóvia ficava muito distante de Nowy Wieck e as famílias não tinham parentes ou conhecidos naquela cidade. Superados os primeiros obstáculos, as duas jovens partiram, enfrentando uma penosa viagem de dois dias. Era o dia 25 de abril de 1892. Marta tinha apenas 18 anos e sua amiga, Mônica, 20. No dia seguinte, iniciaram o Postulado e, quatro meses depois, o Seminário. A 21 de abril de 1893, foram enviadas em missão. A primeira destinação de Irmã Marta foi o Hospital Geral de Leopoli, que tinha por volta de 1.000 enfermos e onde trabalhavam 50 Irmãs, com as quais a jovem Irmã Marta muito aprendeu, particularmente no tocante às técnicas de cuidado dos doentes. No ano seguinte, foi enviada a Podhajce. Como, nesta Casa, já havia uma Irmã com o seu nome, Marta passou a ser chamada Irmã Susana. O número de enfermos era bem menor, aproximadamente 60, mas, em compensação, era bem reduzido o número de Irmãs: apenas 6. Requeriam-se não apenas competência profissional, mas também espírito de iniciativa. De fato, naquele hospital ainda em construção, havia muito a organizar. Irmã Marta não decepcionou a confiança de seus superiores, e das Irmãs da comunidade, nem dos doentes. Sua paciência, mansidão, bondade e alegria, sentimentos próprios de uma pessoa realizada em sua opção pela Caridade, eram como um bálsamo que suavizava a dor, alimentava a esperança, revigorava a fé, restituía a vida. Em Podhajce, preparou-se para os Primeiros Votos, emitidos a 15 de agosto de 1897. Pouco depois, escreveu à sua família: “No que diz respeito a mim, sou incapaz de expressar minha felicidade. Quisera descrevê-la, queridos pais, em poucas palavras. Quem poderá compreender esta felicidade? Sejam suficientes estas palavras de gozo: ‘Eu sou de meu amado e meu amado é meu’. Oxalá possa unir-me a Ele no céu o quanto antes!”. Sua compaixão e sua delicadeza operosa para com os enfermos chamavam a atenção de todos os que passavam pelo hospital. Contam que um judeu pediu para ser batizado, depois de contemplar o testemunho de autêntica vida cristã da jovem Filha da Caridade. A terceira destinação de Irmã Marta Wiecka foi o hospital de Bochnia, cidade próxima a Cracóvia, onde 5 Irmãs cuidavam de mais ou menos 55 pacientes. A Irmã Servente que a recebeu escreverá alguns anos depois de sua morte: “Seu extraordinário zelo na doação aos doentes e o ardente desejo de ganhar muitas almas para Deus eram notáveis. Vendo o seu zelo, eu a observava para comprovar a autenticidade de sua entrega a Deus e aos Pobres”. E acrescentou: “Era um verdadeiro anjo, esquecia-se por completo de si mesma para ganhar muitas almas para Cristo e aliviar os que sofriam”. Naquele tempo, não havia preocupação com a separação dos enfermos de acordo com a gravidade ou especificidade da doença. O único critério de divisão era o de gênero: homens de um lado, mulheres de outro. Irmã Marta foi encarregada do pavilhão masculino. Um dia, chegou ao seu pavilhão um jovem estudante de pouco mais de 20 anos. Desejava tornar-se padre, mas sérios problemas pulmonares comprometiam a realização do seu intento. A Irmã comoveu-se diante da situação do jovem e se dispôs a cuidar dele com maternal solicitude, encontrando no rapaz, talvez, algumas semelhanças com o seu irmão Jan Wiecka (1878-1970), que já se preparava para o ministério presbiteral. Nessa mesma ocasião, internara-se no pavilhão um homem acometido por uma doença venérea, que se inquietava ao notar o cuidado e o zelo dispensados pela Irmã àquele jovem. Tomado por um ciúme doentio e insano, procurou de todas as formas chamar sobre si a atenção de Irmã Marta que, em razão do regulamento da Comunidade, deveria dedicar-se tão somente ao restabelecimento dos enfermos que lhe tinham sido confiados, incluindo o referido jovem. O cuidado daquele homem estava sob a responsabilidade da Irmã Servente. Como todas as suas tentativas fracassaram, ao deixar o hospital, o homem decidiu caluniar Irmã Marta. Procurou o pároco e disse-lhe, mentindo sordidamente, que a Irmã estava grávida do jovem estudante. O pároco, escandalizado, deu toda credibilidade ao caluniador e apressou-se em informar os superiores do que ouvira. A Visitadora imediatamente mandou chamar a Irmã Servente, a fim de repreendê-la, o que fez com severidade e aspereza. Esta bondosa Irmã, embora sem ainda compreender tudo o que estava acontecendo, percebeu que aquela calúnia infame começava a se propagar. Indignada com a situação, assumiu a defesa de Irmã Marta, cuja piedade, retidão e fidelidade incondicional a Deus e à vocação conhecia de perto. Não podia tratar abertamente do assunto com a pobre Irmã que, em meio àquele sofrimento, entregava sua causa ao Senhor, que perscruta os corações daqueles que confiam em seu amor (cf. Jr 11,20). Restava-lhe intensificar sua vida de oração e seu empenho no tratamento dos doentes que estavam sob sua responsabilidade. Apoiada numa relação de profunda intimidade com o Deus de sua vocação, Marta deixava transparecer em seu olhar uma impressionante serenidade. Um dia, enquanto estava em oração, viu interiormente uma cruz com alguns raios luminosos e escutou uma voz que lhe dizia: “Minha filha, suporta pacientemente todas as calúnias e todas as acusações. Dentro de pouco tempo, estarás comigo!”. A essa altura, o caluniador, insatisfeito com o encaminhamento da situação, decidiu mudar o alvo de sua fúria, tentando esfaquear, por duas vezes, a Irmã Servente que, desde o início, tinha assumido a defesa de sua jovem Irmã. Somente depois dessas duas tentativas frustradas, alguém se interessou em investigar o passado daquele homem, surpreendendo-se com as terríveis sombras descobertas em seus antecedentes. O pároco, caindo em si, ao dar-se conta da facilidade com que havia acreditado nas calúnias que lhe foram ditas, partiu imediatamente para a casa das Irmãs e, ajoelhando-se diante delas, entre lágrimas, implorou o perdão por tamanha ingenuidade. Os acontecimentos confirmavam a autenticidade das intuições de Marta amadurecidas na vigilância da oração. No ano de 1902, Irmã Marta Wiecka chegou a Sniatyn, seu quarto e último campo de apostolado. Foilhe confiado o departamento dos infectados, onde se mostrou capaz de conservar a caridade diligente, a dedicação operosa, o mesmo critério profissional e a extraordinária habilidade para se relacionar suavemente com os doentes, sobretudo com os mais fragilizados. Em razão da sua disponibilidade para escutar as pessoas e ajudá-las no discernimento da vontade de Deus, muitos iam ao seu encontro para compartilhar alegrias, dores e esperanças e beneficiar-se dos seus conselhos. O pároco local, sabendo dos seus dons, passou a indicá-la como diretora espiritual aos seus paroquianos. Atraídos pelo testemunho da jovem Filha da Caridade, muitos judeus passaram a tê-la em elevada estima, num período em que os conflitos religiosos ameaçavam a paz. No mês de maio de 1904, chegou ao hospital uma mulher acometida por uma doença gravíssima e altamente contagiosa, da qual dificilmente alguém conseguia escapar. Contudo, a mulher se restabeleceu e retornou para sua casa. Era preciso, porém, desinfetar o ambiente e tudo o que havia entrado em contato com a enferma. Tal encargo foi confiado a um funcionário do hospital. Ao saber dessa ordem e dos riscos de contaminação que ela trazia, o homem entrou em grande desespero e pôs-se a chorar, pensando no futuro de sua jovem esposa e do seu filho ainda pequeno. Irmã Marta, deixando o sofrimento do outro comover-lhe o íntimo do coração, ofereceu-se para a execução da tarefa. Foi e realizou todo o serviço com edificante tenacidade. Passaram-se apenas poucos dias e a boa Irmã parecia entrever que sua vida estava chegando ao seu termo, sob o signo luminoso da Cruz. Retomou ainda, embora muito enfraquecida, seu serviço junto aos doentes, para oferecer-lhes ajuda e conforto. Pouco tempo depois, esgotada pelo cansaço, mas sempre conservando sua encantadora serenidade, já não podia sair do leito. Alguns dias antes, havia dito às Irmãs, com surpreendente convicção, que não veria o fim do mês de maio. Nenhuma delas lhe deu crédito, mas Irmã Marta continuava a repetir, sentindo o declinar de suas energias. De fato, no dia 30 de maio de 1904, o Senhor acolheu Irmã Marta Wiecka entre os seus eleitos, fazendo brilhar sobre ela o clarão da sua luz inextinguível (cf. Ap 22,4-5). Seus funerais foram presididos por seu irmão recém-ordenado, Padre Jan Wiecka. Muitas pessoas vieram de toda a região para rezar junto ao túmulo daquela que logo foi considerada uma verdadeira testemunha da Caridade. São Vicente de Paulo, com quem Marta havia se identificado desde a sua juventude, ao referir-se à doação sem reservas das jovens Filhas da Caridade, nas mais variadas situações, exortava: “Se víssemos na terra o lugar por onde passou um mártir, nós nos aproximaríamos com respeito e o beijaríamos reverentemente; e poderíamos desprezar as nossas Irmãs, que são pessoas que Deus conserva e faz persistir no martírio?! Ó minhas caras filhas, tenhamo-las em elevada estima, conservemos por elas essa estima, à qual esperamos chegar, e vejamo-las como mártires de Jesus Cristo, pois servem ao próximo por seu amor” (SV IX, 270). Essa elevada estima, de que fala São Vicente, haveremos de nutrir por Irmã Marta Wiecka que, ao longo de seus breves trinta anos de vida, conservou íntegra sua fidelidade à vocação recebida e, mais de cem anos depois, não obstante os regimes totalitários que grassaram na Polônia, continua fazendo ecoar no coração do seu povo e de toda a Família Vicentina o inquietante apelo à santidade entendida como doação corajosa e serena ao Amor que é mais forte do que a morte (cf. Ct 8, 6). O túmulo de Irmã Marta Wiecka, desde a sua morte, vem sendo visitado com assiduidade por numerosas pessoas de diferentes tradições religiosas. Em 1920, em meio a conflitos político-ideológicos, as Filhas da Caridade foram expulsas de Sniatyn e não mais regressaram àquela localidade. A recordação de Irmã Marta, porém, permaneceu viva na memória do povo que a ela se refere como “mãe”, dizendo que, assim como no hospital cuidava de todos, sem distinções preconceituosas, do céu haveria de ouvir e ajudar a todos. Com a Segunda Guerra Mundial, a Ucrânia foi incorporada à União Soviética. Novos conflitos eclodiram, submetendo a população a uma vigilância contínua, inibidora da liberdade civil e religiosa. A igreja de Sniatyn foi desativada. O cemitério também teria que desaparecer. Os túmulos dos poloneses foram profanados e destruídos, mas a sepultura de Irmã Marta permaneceu intacta. Ainda hoje, seu túmulo continua sendo uma referência para cristãos católicos dos mais variados ritos e para todos quantos descobrem nela um modelo ético de retidão, compaixão e solidariedade. Passados os anos, o povo solicitou insistentemente ao Cardeal Arcebispo de Leopoli que iniciasse o processo de canonização de Irmã Marta Wiecka. O arcebispo, por sua vez, pediu às Filhas da Caridade apoio e estímulo para introduzir a Causa. O processo de beatificação de Irmã Marta foi aberto, graças à iniciativa do povo, e os testemunhos de favores alcançados por sua intercessão, desde a sua morte até hoje, são muito abundantes. A 20 de maio de 2004, com o decreto que reconhece a heroicidade de suas virtudes, Irmã Marta Wiecka foi declarada Venerável pelo Papa João Paulo II. No dia 6 de julho de 2007, o Papa Bento XVI aprovou um milagre atribuído ao auxílio de sua intercessão. Sua beatificação foi celebrada no dia 24 de maio de 2008, em Leopoli, hoje na Ucrânia, em cujo território se encontra também Sniatyn, lugar em que foi sepultada e de onde se expandiu o suave odor de sua santidade. Fontes bibliográficas: * CASTRICA, Maddalena. Venerabile Suor Marta Anna Wiecka (1874-1904). Figlia della Carità. In: GUERRA, Giuseppe (org.). I Santi della Famiglia Vincenziana. Roma: Vincenziane, 2007, p. 223-234. * PLIS, Anna. Sor Marta Wiecka. Anales de la Congregación de la Misión y de las Hijas de la Caridad, Madrid, n. 4, julio-agosto 2007, p. 376-387. Vinícius Augusto R. Teixeira, C.M. Padre Audálio Neves, C.M. * 25-01-1912 + 29-11-2002. Diamantina-MG - Rio de Janeiro-RJ Uma das figuras mais nobres e ilustres que conheci, na PBCM, foi o Pe. Audálio Neves. Eu já era aluno de Filosofia, quando se realizou, no Seminário São Vicente, onde estudávamos, uma Assembléia Provincial. Vieram os Superiores das Casas e os Delegados eleitos para dela participarem. Tivemos a preciosa oportunidade de conhecer vários Coirmãos: da Bahia, Ceará, Maranhão e outras Casas do Sul. Poderia desfiar uma série de nomes ilustres. Fico, porém, só com o Pe. Neves. Um admirável lazarista. Boa pinta. Agradável papo nos recreios. Nascido em Diamantina-MG. Filho de José Neves Sobrinho e Luiza Antonieta de Lima Neves. Veio ao mundo no dia 25 de janeiro de 1912, data da conversão de São Paulo, Apóstolo, e da Fundação da Congregação da Missão. Isso terá um significado marcante na vida deste notável lazarista. Sua família era de nobre estirpe. Aristocrática. Bela residência na cidade. Seu pai mexia com comércio de ouro e jóias. Levava vida folgada de nobre. Quando findou o curso primário, sentiu o jovem o apelo de Deus para ser padre. Foi estudar no Seminário Arquidiocesano, então dirigido pelos Padres da Missão de S. Vicente. Levou o mais belo e apurado enxoval. Batinas de merinó. Faixas de gorgurão. Sapatos com fivelas de prata. Tudo como mandava o figurino perfeito da época. Roupas dos melhores tecidos. Material de uso de rico quilate. Ia estudar para padre na sua cidade e devia ser uma referência especial para os outros de condição bem mais pobre, naquela casa. Isso foi em 1925. O Reitor do Seminário acabava de ser nomeado Bispo de Joinville-SC. Houve uma onda de seminaristas seculares de Diamantina, pedindo para ingressar na Congregação da Missão, para consolidar a própria vocação em Petrópolis-RJ, burilando a própria formação, para serem formadores do Clero e Missionários. Dom Joaquim Silvério não só dava licença, mas até apoiava e ficava feliz em manifestar sua gratidão para com a Congregação, pelos bons párocos saídos da formação ministrada pelos Lazaristas. Santos e zelosos párocos no seu clero. Homens cultos e piedosos. Eis que o jovem Audálio Neves, símbolo de elegância e grã-finagem na elite de Diamantina, decide também engrossar a turma, abandonando família, bens, e fausto e ir para o Noviciado em Petrópolis. Foi um susto geral. Quase um alarme, pois outros também tomaram a mesma decisão: Moacir Alves, José Paulo Sales, Joaquim Sales, André Avelino, Geraldo Costa e outros que queriam ocupar o claro deixado pelo escolhido para o episcopado. Chegado a Petrópolis, em l4 de agosto de 1930, aquele jovem bem trajado e vistoso inicia o tempo de Formação para missionário. O Noviciado. Tempo de silêncio e recolhimento, escondido com Cristo em Deus. Despoja-se de tudo o que é vaidade e profano. Entrega ao Diretor seu belo relógio de ouro com a vistosa corrente do mesmo metal. Muda as batinas de merinó e faixas de gorgurão por outras mais simples e pobres. Converte-se em verdadeiro seguidor e filho do Pai dos Pobres, S.Vicente. Compenetrado. Silencioso. Faz grande progresso na vida espiritual e interior. Na oração, parece ter o dom das lágrimas, tal a unção e piedade nas celebrações litúrgicas. Visitas e adorações ao SS. Sacramento tomam-lhe bom tempo. É uma nova criatura, encantando seus companheiros diamantinenses. Assim progride no tempo de estudos na Filosofia e Teologia, até receber a ordenação sacerdotal a 8 de dezembro de 1938, das mãos de Dom João Batista Cavati, C.M., recém-sagrado Bispo de Caratinga; MG. Sua primeira colocação foi no Seminário de Curitiba; PR, em 1939, como professor e disciplinário. Já em 1942, foi transferido para Fortaleza, para o Seminário da Prainha, como diretor dos cursos de Filosofia e Teologia e professor. Em 1946, vai colocado no Seminário Santa Tereza em Salvador, BA. Tem três outras atividades: Ecônomo do Seminário; Diretor das Senhoras da Caridade; Capelão militar da Base Aérea. É colocado no Rio de Janeiro, em 1954, como capelão do Colégio Sagrado Coração de Maria e diretor nacional das Senhoras da Caridade. Nomeado pároco em l962 da linda igreja neogótica do Colégio Imaculada, na Praia do Botafogo. Aproveita todo o seu tempo para estudar e se qualificar em Psicologia-Orientação Educacional. Tira o primeiro lugar no curso de rádio e TV, ganhando bolsa de estudos na Sorbonne; França. Faz bacharelado em Filosofia e Mestrado em Direito Canônico. Todos os cursos com nota máxima e diploma com louvor. Um belo exemplo para as novas gerações. Em 1986, é nomeado, pelo Sr. Cardeal, Juiz do Tribunal Eclesiástico. Eleito Vigário Forâneo em 1989, desempenhou tais funções com esmero e capricho, até chegar o fim de 2001. Enfermo, precisou devolver os postos ocupados. O Conselho Provincial tomou a deliberação de devolver a Paróquia para o Sr. Arcebispo, passando-a ao Clero Diocesano, não sem muito desgosto de Coirmãos e das Filhas da Caridade, proprietárias do terreno, colégio e igreja, que era a capela do Educandário. Pe Audálio Neves, nos quarenta anos, residindo e trabalhando no Botafogo, fez obras notáveis. A casa paroquial, atrás da igreja, sem lhe tirar a beleza. Cavou o solo entre as colunas de pedra para formar bonito e confortável salão paroquial. Pintou por dentro e fora a igreja, com restauração das pinturas. Estruturou espiritual e materialmente a comunidade paroquial, confiada aos lazaristas pelo Sr. Cardeal. Trabalho imenso. Foi valente desbravador. Era, porém, muito centralizador. Não dava espaço para os Auxiliares-Coirmãos nem às Filhas da Caridade, proprietárias do imóvel. Nem mesmo aos leigos para o campo de atividades. Mostrou sempre muito zelo no que fazia. Ardoroso mestre nos estudos. Seguro na exposição da doutrina. Muito bom pregador na paróquia e em retiros. Exemplo de estudos já na idade avançada, recebendo notas máximas e láureas. Morreu a 29 de novembro de 2002 e foi sepultado no cemitério São João Batista, RJ, onde aguarda o convite do servo bom e fiel. Descanse em PAZ. Pe. Célio M. Dell’Amore, C. M. HUGO DE VASCONCELOS PAIVA * 08/02/1928 † 01/05/2008 N.B. Este artigo foi escrito para a Revista de Catequese, para ressaltar a importância da contribuição do nosso Padre Paiva à renovação da catequese no Brasil. Enviei o artigo ao Pe. Agnaldo, que achou bom publicá-lo no ISV, mesmo depois da pequena nota posta na última edição. No dia 1º de maio deste ano de 2008, morreu Hugo de Vasconcelos Paiva, um dos maiores pastoralistas que o Brasil já teve. Hugo nasceu em Alvinópolis, Minas Gerais, em 8 de fevereiro de 1928, filho de Carlos de Paiva, advogado e fazendeiro, e de D. Maria Vasconcelos Paiva, a mulher forte de que falam as Escrituras. O casal teve 18 filhos, sinais de uma têmpera familiar forte, religiosa, fecunda, fiel e feliz. Tendo vivido como cidadão do mundo, formado na Europa, viajando pelo Brasil e trabalhando ainda noutros países da América Latina e da África, Hugo morava no Rio de Janeiro mas foi morrer em sua terra natal. Tinha ido a Alvinópolis, para animar a formação de cooperativas agrícolas entre os proprietários e os trabalhadores da região. Numa dessas viagens de contatos, morreu, com um sobrinho, atropelado por um caminhão, que se desgovernou e invadiu a pista contrária. O sepultamento ocorreu em Nova Era, Minas Gerais, dia 2 de maio. Morreu com 80 anos completos, que levava muito bem, parecendo ter muito menos idade. Formação e experiência pastoral Na simplicidade de seus dados biográficos se escondem uma personalidade muito rica e uma atividade pastoral e pedagógica extraordinária, que marcaram a Igreja contemporânea do Brasil. Depois dos estudos primários, Hugo foi para o Seminário do Caraça, para ser Padre na Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo. Terminado o ginásio e o clássico (1943-1947), Hugo foi para Petrópolis, Rio de Janeiro, onde começou o Seminário Interno (noviciado), aos 23 de setembro de 1947. Dois anos depois, fez os votos temporários e três anos mais tarde, em 27 de setembro de 1952, os perpétuos. Foi ordenado Padre por Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, bispo de Petrópolis, aos 13 de março de 1955. Nos anos de formação, foram reconhecidas e elogiadas sua seriedade nos estudos, sua capacidade intelectual, sua vida interior e espiritual intensa. Nas palavras de um colega de estudos, no seminário menor e no maior, era pessoa madura, alvo da confiança de seus superiores. Era desapegado e pobre, sem atitudes levianas. Seu trato nem sempre era fácil, porque, sempre mergulhado nos estudos, às vezes parecia mesmo um pouco auto-suficiente, racional, frio, quase indiferente e não muito cordial. Em 1956, foi professor de história da filosofia e de psicologia, de francês e matemática, no seminário (maior e menor) da Prainha, em Fortaleza, Ceará. Em 1959, foi professor de psicologia experimental no seminário maior de Diamantina, Minas Gerais, de março a julho, pois foi mandado a estudar pastoral catequética, no Institut Catholique de Paris. Voltou em 1962, sendo colocado no Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, de onde subia a Petrópolis, para lecionar homilética e pastoral no Seminário Maior da Província. Em 1963, começou a organizar e dirigir o Instituto Superior de Pastoral Catequética (ISPAC), a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Rio de Janeiro. Em 1973, revalidou na Faculdade de Filosofia de São João d'el Rey seus estudos de filosofia. Em 1974, passou a trabalhar na pastoral da Diocese de Nova Iguaçu. Ali se comprometeu fundamente na formação dos seminaristas, do clero e de líderes cristãos para a atividade política e social. No Chile, num curso da Unesco, no ICIRA, especializouse em Educação de Adultos. Ainda em 1974, foi delegado de sua Província à Assembléia Geral da Congregação da Missão, de cujos debates participou fortemente e em cujos resultados deixou sua marca pastoral. Fez uma opção muito radical, indo viver com outros coirmãos, numa favela, integrando-se fundamente nos meios populares, o que deu a seu trabalho uma dimensão ainda mais consciente e evangélica, na opção pelos Pobres e no modo de fazer teologia. Em seus alunos, nos seminários de Fortaleza e da Congregação em Petrópolis, em seus companheiros de trabalhos pastorais ou pedagógicos, deixou a lembrança de uma pessoa inteligente, bondosa, criteriosa e extremamente generosa. Era dotado de grande simplicidade e amor aos mais desvalidos. Era um amigo fiel, comprometido e generoso, um homem bom, engajado na transformação social, na luta contra as injustiças e iniqüidades e no combate à falta de solidariedade. Deixou a Congregação da Missão e o exercício do ministério em 1982. Continuou trabalhando como professor no Colégio São Vicente de Paulo no Rio de Janeiro, na pastoral da diocese de Nova Iguaçu, na assessoria a grupos da CRB e da CLAR, na formação de líderes pastorais nos grupos locais da Sociedade de São Vicente de Paulo (e era de ver a seriedade com que preparava suas contribuições, indo aos textos de São Vicente e de Frederico Ozanam, o patrono e o fundador dos confrades vicentinos). De acordo com quem o conheceu como padre e depois de deixar o exercício do ministério, o Hugo se tornou aos poucos mais humano, mais engajado no processo pedagógico, mais acessível e tranqüilo. Se, na Congregação, sobretudo pela diferença de formação e de opções pastorais e mesmo políticas, às vezes dissentia fortemente dos coirmãos e de algumas autoridades, depois se tornou uma pessoa tranqüila e prudente, dando muita segurança ao ambiente onde vivia e trabalhava, dando claro testemunho de fé e buscando comunhão com a Igreja. Sempre se distinguiu pela simplicidade e pobreza pessoal. Tendo tido oportunidade de acumular bens materiais, viveu com desprendimento, jamais aceitando, por exemplo, dispor de um carro pessoal ou de outras formas de conforto. No ministério extraordinário que exercia, embora devesse freqüentemente ir a lugares muito distantes, evitava as viagens aéreas, para não onerar os custos dos encontros ou congressos, submetendo-se a longas viagens por terra e muitas vezes prestando serviço gratuitamente. Um dos Pais da Igreja contemporânea Daniel Rops disse que São Vicente de Paulo foi um dos Pais da Igreja moderna. Entendemos isso, ao ver as atividades de São Vicente, na assistência a milhares de Pobres durante tantos anos na França conflagrada em que exerceu seu ministério. Passou da assistência à promoção dos Pobres, com uma visão antropológica lúcida e corajosa, na linha mais atual, de modo que os Pobres pudessem ser sujeitos de sua vida e de sua evangelização. A visão do sacerdócio, da atividade pastoral (catequética, querigmática e litúrgica), a consciência do dever missionário universal da Igreja e da Congregação, tudo isso, aliado à sua atividade pastoral e a seu esforço de formar multiplicadores a serviço da caridade, justifica o título que Daniel Rops lhe deu. Mesmo conscientes da enormidade desta afirmação, podemos dizer que Hugo Paiva foi um dos Pais da Igreja contemporânea no Brasil. Quando se diplomou pelo Instituto Superior de Catequese, sua ficha veio acompanhada das seguintes apreciações sobre sua capacidade e seu rendimento: “O Padre Vasconcelos termina o Instituto em excelentes condições. Seus resultados nos exames foram muito bons. Foi o animador do grupo de estudantes brasileiros do Instituto. Sua monografia final é absolutamente notável e denota um agudo senso das realidade pastorais. Poderá prestar grandes serviços no campo catequético no Brasil. Seria desejável que pudesse ser consagrado a esse trabalho com prioridade”. O diretor adjunto do Instituto escreveu ao Provincial: “O Pe. Hugo Vasconcelos denotou uma grande aptidão para perceber os problemas catequéticos em perspectivas amplas e realistas. (...) Comunicamos ao senhor nossas grandes expectativas quanto ao futuro ministério do Pe. Hugo e todos desejamos que possa consagrar um parte notável de seu tempo à renovação da catequese no Brasil” (dos arquivos da Província Brasileira da Congregação da Missão). Como respondendo a essas intuições proféticas, Dom José Costa Campos, bispo de Valença, em nome do Secretariado Nacional de Ensino Religioso, pediu ao Provincial que liberasse o Pe. Paiva, para que pusesse seus talentos em favor da catequese no Brasil. E Dom Hélder Câmara, como Secretário Geral da CNBB, tinha feito o mesmo pedido ao Provincial, no início de agosto de 1962: “que autorize o Rev.mo Pe. Hugo Paiva a prestar uma ajuda que sabemos será preciosa ao Secretariado Nacional do Ensino de Religião e ao Secretariado Regional Leste (Setor I), ambos sediados no Rio de Janeiro. São poucos, infelizmente, os especialistas em moderna catequética. A Congregação possui, no momento, um dos melhores, porque alia aos conhecimentos especializados, qualidades sacerdotais que muito o recomendam. Sem prejuízo da colaboração que ele há de prestar à querida Congregação da Missão, é natural que a luz seja posta no candelabro e alumie a casa inteira” (dos mesmos arquivos). Ao longo de muitos anos, Hugo Paiva liderou uma equipe esforçada e consciente, no Instituto Superior de Pastoral Catequética, ISPAC. Muitos religiosos e religiosas passaram pelos seus cursos e puderam levar para suas comunidades os ares renovados do Concílio Vaticano II. Uma nota característica do Paiva era não fazer escândalo, mostrando idéias novas, que reviravam pelo avesso velhas concepções e práticas já insustentáveis. Mesmo que alguns alunos mais jovens se sentissem estonteados com tanta renovação, a orientação do Paiva era serena. Vejam-se, por exemplo, estes dois depoimentos de seminaristas que foram seus alunos, escritos mais de cinqüenta anos depois daquelas aulas que abriam horizontes: “Lembro-me da revolução que provocou em nossas cabeças de jovens, quando começou a ensinar em Petrópolis. A valorização da Pastoral na formação seminarística, a catequese em bases mais bíblicas e na realidade do povo, a leitura dos novos sinais de Deus na sociedade, o diálogo, a cabeça sempre arejada por novas idéias, o desejo de mudar para melhor - foram contribuições riquíssimas e inesquecíveis para toda a nossa geração. Ele me marcou muito e contribuiu para a opção de também fazer o curso de Pastoral Catequética no Instituto Católico de Paris, onde ainda gozava, depois de muitos anos, de grande prestígio junto aos professores” (José Myrson Melo Lima). “Também recebi muito dele e me lembro que isso era geral, tanto no seminário menor, onde foi professor e prefeito, quanto em Petrópolis, quando foi também meu professor (ele subia do Rio só para ministrar nossas aulas e voltava no mesmo dia). Na Prainha ele era um inovador sem exagerar nada. Um homem coerente, querido de todos. Severo até para consigo mesmo. Ainda não consigo vê-lo de outra maneira” (Fernando Pimentel). Do ISPAC, Paiva irradiou para todo o Brasil sua eclesiologia, sua renovação pastoral. Deu mais de 400 cursos para Bispos, no Brasil. Multiplicou seu apostolado como professor convidado no Instituto de Catequese Latino-Americana em Santiago, no Chile, e no Instituto Superior de Religião em Abidjan, na Costa do Marfim. Contribuiu de maneira notável para a difusão e recepção dos avanços trazidos pelo Concílio Vaticano II, aplicando-os à catequese, à educação em geral, à formação para a vida religiosa, à renovação nos processos de governo e orientação das Congregações e das Dioceses. No Colégio São Vicente, aplicou à educação de crianças, adolescentes e jovens, o que elaborou nos trabalhos que fez com Paulo Freire e seus companheiros da educação libertadora, e este enfoque deu uma orientação prática, encarnada e transformadora à teologia que o Paiva pregava e vivia. O tempo que viveu na favela não foi uma aventura inconseqüente, mas um testemunho de uma fé encarnada, consciente de que somos cristãos para mudar o mundo e fazê-lo Reino de Deus. Daí, pelos resultados obtidos, pelo extremo cuidado na transmissão da doutrina (nunca improvisava, escrevia todas as suas intervenções, embora tenha publicado pouquíssimo em vida), pelo esforço continuado ao longo de muitos anos na atualização da formação de Padres, religiosos e bispos, colaborando com a CNBB, a CRB, a CLAR, a figura modesta e serena de Hugo Paiva pode ser aproximada da de São Vicente de Paulo, seu patrono e fundador da Congregação em que ele exerceu seus ministérios, para que o leitor sinta como é justo um título como esse de Daniel Rops, já em relação à contemporaneidade da Igreja no Brasil. No dia 3 de julho de 1993, Hugo Paiva recebeu o rescrito Prot. N. 328/92/S. da Congregação do Culto Divino, que o dispensava do celibato sacerdotal, com a perda do estado clerical e a dispensa dos votos perpétuos, concedida pelo Santo Padre João Paulo II em 31 de maio daquele mesmo ano. Depois disso, casouse no civil e no religioso com Martha Helena Nogueira de Castro, que se dedicava, com ele, ao trabalho com moradores da periferia favelada de uma região no Rio de Janeiro. Desligado da Congregação, continuou seu trabalho de formação de seminaristas e de leigos em Nova Iguaçu e o ampliou, de maneira muito despretensiosa, em Cachoeira de Macacu, também no Estado do Rio de Janeiro, com a Sociedade de São Vicente de Paulo (Vicentinos), na formação de agentes pastorais para os meios pobres. Quando celebrei a Missa no sétimo dia de seu falecimento, a capela de nossa Casa Provincial esteve cheia de amigos, ex-alunos, companheiros de Congregação, de lutas pedagógicas, de trabalhos na base, que vieram trazer ao Paiva sua homenagem e sua despedida e à esposa, D Martha, o conforto do carinho e da amizade que nos ligaram profundamente ao Hugo Paiva e aos Seus. Rio de Janeiro, 17 de junho de 2008 Pe. Lauro Palú, C. M. E a Messe é muito grande!... 1. Missão Vicentina do Chirrundzo - Moçambique Uma cena comum em muitas comunidades da Missão Vicentina do Chirrundzo, em Moçambique, por ocasião da visita do padre: logo que as pessoas avistam o velho carro do padre chegar, todos se colocam de pé junto à sua modesta capela de matope (pau-a-pique) e se põem alegremente a cantar: “Hoyo hoyo, Sinhori Padre” (Bem-vindo, Sr. Padre). As feições das pessoas são sofridas, mas o sorriso é largo, bonito. A realidade é de muita pobreza e sofrimento, mas a visita do padre, a missa, é momento de encontro e festa, de alegria e esperança. Esta é uma pequena e simples imagem da presença evangelizadora da Igreja nestas terras africanas. Moçambique é um dos países mais pobres do mundo. Alguns dados confirmam essa verdade: numa população aproximada de 20 milhões, com mais de 65% na agricultura de subsistência, 69% dos moçambicanos vivem na pobreza absoluta; 45 anos, a média de expectativa de vida; 63% de mortalidade infantil; 60,5% de analfabetos; 91% sem água potável; 80% de corrupção na utilização indevida dos bens públicos; mais de 16% da população infectada pela AIDS… Por outro lado, alguns indicadores econômicos são até positivos, renda per capita, investimentos, taxa de crescimento, mas tudo em benefício de uma minoria privilegiada. Os números estatísticos são frios, mas, na vida concreta, traduzem uma inquietante realidade humana de muita dor, de injustiça social, de fome, de falta de água, de mortes prematuras, de carência quase total dos serviços básicos, de grande privação de condições de vida digna e humana. Sob o aspecto sócio-cultural, o país é um mosaico de grupos humanos com tradições culturais próprias, com línguas, usos e costumes diferentes. Predomina a cultura tradicional, de vertente bantu, com inúmeros tabus míticos e tradições culturais bem originais, que marcam as relações familiares e sociais, a religião e toda uma postura diante da vida. A cultura moderna, dentro do processo de globalização, começa a chegar, com as inevitáveis e imprevisíveis conseqüências. Nesta realidade de pobreza estrutural e de complexidade cultural, a presença evangelizadora da Igreja acontece modesta. Nos últimos 30 anos, com o fim do regime colonialista português, a Igreja Católica em Moçambique passou por um grande e doloroso processo de renovação e purificação; buscou despojar-se de seu esquema colonial e ser uma presença mais sintonizada com os apelos da realidade, através da organização das pequenas comunidades, do desenvolvimento das estruturas eclesiásticas locais, da formação de leigos e de clero local e da promoção de ações solidárias sobretudo nas áreas da saúde e da educação. Atualmente, mais da metade dos moçambicanos praticam a religião tradicional, com forte acento no culto aos mortos; os católicos não chegam a 20% da população. A presença evangelizadora da Igreja acontece em condições bastante desafiantes. O povo é acolhedor e tem uma grande abertura ao sagrado. No entanto, a realidade sócio-cultural coloca uma série de questões (por exemplo: compreensão do tempo e do espaço, língua, culto aos mortos, poligamia, crescente urbanização, desigualdade sócio-econômica, antigos e novos problemas sociais que afetam sobretudo os jovens e as famílias, presença forte das seitas, etc.), que exigem um longo e lento processo de evangelização inculturada e diversificada, através de uma metodologia de respeito e de diálogo, de senso crítico e espírito profético e com a indispensável participação de leigos bem preparados. As comunidades são pequenas e pobres, com uma infra-estrutura material bastante precária e, na área rural, dispersas nas distantes aldeias e com muitas limitações para suas atividades. Há grande carência de recursos humanos e materiais para o trabalho pastoral. Leigos preparados para os serviços nas comunidades e clero local ainda são poucos. A realidade de Moçambique aponta para as muitas realidades onde a evangelização se faz urgente, aponta para o apelo profético lançado pelos bispos latino-americanos, em Aparecida, para que a Igreja se faça de fato toda missionária. Na casa vizinha, no outro lado da rua, nas periferias, em outros grupos e situações humanos, em outras cidades e regiões, em outros países, em outros cantos esquecidos do mundo, há muita gente sofrida, há muitos sorrisos bonitos e corações abertos, à espera da Boa Nova. A messe é muito grande! Em Moçambique, há em torno de uns 200 missionários e missionárias brasileiros. Faz-se necessário continuar a transpor as fronteiras do interesse próprio, as fronteiras geográficas e culturais, alargar mentes e corações, desinstalar-se da indiferença e do comodismo, globalizar a esperança e a caridade, superar barreiras e, como discípulos e missionários de Cristo, anunciar o Evangelho, para transfigurar a realidade, de modo que todos tenham vida, e vida digna, humana e justa!... 2. Mundo, mundo, vasto mundo… Alguns flashes de nossa missão: Em Massingir, Pe. Sebastião Mendes terminou a construção da Igreja paroquial, uma verdadeira epopéia: tudo muito demorado e difícil para compra e transporte de material, falta de dinheiro, de operários qualificados, constantes roubos de material... Numa Comunidade da Missão do Caniçado, Pe. Quirino vai abençoar uma Casa Agrária que estava sendo inaugurada; junto com um grupo de umas 30 pessoas, principais integrantes da Comunidade, ele pede alguém para fazer uma leitura da Bíblia, mas ninguém sabe ler, e a solução foi ir atrás de um jovem para fazer a leitura… No Chirrundzo, Ir. Licínio se desdobra, com limitados recursos materiais e humanos, para organizar o Centro de Promoção e Formação, onde já funcionam uma pequena Biblioteca, um Curso de Iniciação à Informática e o Curso para os Animadores das Comunidades, e sonha com outras iniciativas de promoção humana e social… Numa Comunidade da Missão da Barragem, a Animadora apresenta ao padre uma questão: a Coordenadora da Catequese não é batizada, é esposa única, mas seu marido não quer se casar na Igreja. Ela é a única pessoa da Comunidade com disposição e condições para este trabalho, ela tem que sair da Catequese ou pode continuar? E o padre, contra todas as indicações e orientações pastorais, não tem outra saída senão conviver com essa situação… A Equipe Missionária Vicentina do Chirrundzo, com 3 padres (2 acima dos 70 anos de idade) e um irmão, atende as Missões do Caniçado, da Barragem e de Massingir, com o total de umas 40 comunidades e/ou núcleos, a sudoeste da Província de Gaza, em Moçambique. Região rural, de agricultura de subsistência com técnicas bem rudimentares, bastante pobre, com a população vivendo dispersa pelas aldeias e em condições sociais extremamente precárias. O universo cultural, costumes, tradições, estruturas de vida, modos de pensar, de sentir e de se relacionar, tudo muito diferente da dita ‘civilização ocidental’, o que torna um grande desafio a compreensão da realidade e o desenvolvimento de uma ação pastoral inculturada e compatível com os reais apelos e necessidades do povo. Ao contrário de outras Missões com grandes obras e projetos sociais, aqui o trabalho missionário acontece miúdo, modesto, dentro das possibilidades. A visita às Comunidades é a principal atividade, com a celebração da missa na pobre capela de matope ou debaixo da árvore, em clima de alegria e quase sempre com os mesmos cantos e danças, com o atendimento de confissões, mesmo sem saber o Changana, com reuniões diversas e com visitas a doentes e famílias. A partir das visitas, se busca animar as atividades ordinárias e articular alguma nova iniciativa. As Comunidades são pequenas; em média, têm uma participação em torno de umas 50-70 pessoas. Praticamente só se consegue reunir o povo aos sábados e domingos, pela manhã. Muitas vezes, nas visitas, após muitos quilômetros percorridos em caminhos ruins, o padre lá encontra um modesto grupo de 20, 10 pessoas, ou até mesmo ninguém, sobretudo quando acontecem falecimentos ou outras atividades nas aldeias. A grande maioria do povo pratica a religião tradicional, com forte acento no culto aos mortos; é forte a presença das igrejas evangélicas. A convivência é pacífica, há grande trânsito de pessoas entre as religiões, com grande vantagem para a religião tradicional e para as seitas com sua ação em torno dos milagres e adaptada às conveniências locais. Há aldeias onde não há nenhuma comunidade ou ação pastoral católica organizada. Os católicos atingem uns 10% da população. A vida e o trabalho das Comunidades giram mais em torno da liturgia, da catequese e da caridade. A participação sacramental é reduzida, devido às limitações da catequese e à poligamia masculina. Os momentos celebrativos mais expressivos acontecem nas missas de falecidos, nos poucos batizados e nos raros casamentos, quando aparece mais gente e se serve comida para todos. A catequese sofre com a falta de catequistas que saibam ler e preparados e com a falta de material atualizado em língua local. Há alguns grupos pastorais, como Conferência Vicentina, Legião de Maria e grupo de jovens, que funcionam com grande dificuldade. O povo é solidário e generoso, realiza pequenos atos de ajuda fraterna, na medida de seus parcos recursos materiais – aliás, com a penúria financeira do povo, a Missão se sustenta graças a donativos externos. Somam-se a tudo isso os desafios do trabalho em equipe e da comunicação. Com as poucas lideranças dispersas pelas comunidades no mato, falta uma equipe de trabalho, para juntos pensar, planejar, avaliar e executar as atividades. Para comunicar-se em Moçambique, primeiro, é preciso adaptar-se ao português de Portugal, com algumas diferenças e particularidades bem originais e até engraçadas; depois, como a maioria do povo aqui fala o Changana, o missionário estrangeiro depende em tudo dos tradutores e tem que tentar aprender a língua e descobrir novas formas de comunicação (entre nós, só o Pe. Quirino, com seus mais de 40 anos nestas terras, fala a língua local!). Na vastidão e complexidade sócio-cultural da realidade missionária, “kutsongo kutsongo, ha famba!” (devagar, estamos a caminhar!). Dentro de um lento processo de busca e de aprendiza aprendizagem constante, alguns esforços estão sendo encaminhados: construção da Igreja de Massingir, realização do Curso de Animadores das Comunidades, organização do Centro de Promoção, esforço regional de uma reflexão e ação conjunta com os Salvatorianos (brasileiros) de Chókwè, busca de presença mais constante nas Comunidades, algumas pequenas ajudas emergenciais aos mais pobres, esforço de conhecimento da realidade para uma ação inculturada, elaboração de pequenas propostas para melhoria da infra-estrutura material das Comunidades, confecção de material pastoral… São pequenos e tímidos passos, lentas e modestas iniciativas, com algumas bonitas e singelas atitudes e respostas de fé da parte do povo sofrido, que ajudam a superar a sensação de impotência e a descobrir e a aprofundar o sentido da Missão. Mais que converter pessoas ao catolicismo, mais que implantar a Igreja, mais que fazer grandes obras sociais, a missão é um longo e lento caminho de fazer-se presença do amor de Deus; um contínuo esforço e uma atitude de fé no auscultar e anunciar a Palavra de Deus presente na vida das pessoas e na Sagrada Escritura; um paciente e respeitoso diálogo de busca e de discernimento da presença do Deus da Vida na diversidade das experiências e culturas humanas; um colocar-se como hóspede na casa do outro e, num dar e receber, partilhar a experiência de fé; um fazer-se presença de doação, frágil e vulnerável, inserida na Igreja local, para, na dinâmica da cruz, testemunhar a bondade e a misericórdia de Deus Salvador; um colocar-se nas mãos da Divina Providência como modesto instrumento, acreditando no protagonismo do Espírito como condutor da missão, na força transformadora da Palavra e no potencial evangelizador dos pobres; um fazer-se Igreja peregrina, centrada no kerigma, inserindo-se na Igreja local, valorizando os leigos e fazendo-se sinal e serviço do Reino; um despojar-se contínuo para revestir-se da compaixão e misericórdia de Cristo, solidarizando-se com os excluídos e fazendo-se irmão universal… A missão é uma experiência fascinante, encantadora e amedrontadora, e que aqui, neste vasto mundo de palhotas e machambas, de espírito tribal e cheio de tradições, de batuques e magia, coloca vastas exigências e possibilidades, e, vixe Maria!, requer também um vasto coração na paixão por Cristo e no compromisso com o Reino! Pe. Eli Chaves dos Santos, C. M. Ordenação do Pe. Osmar Rufino Dâmaso, C.M. “Em favor deles eu me consagro, a fim de que eles sejam consagrados na verdade” (Jo 17,19). Inspirado no evangelista João, o Padre Osmar se preparou para a sua ordenação, ocorrida em Campina Verde (MG), no dia 7 de junho deste ano, sob a oração consacratória de Dom Francisco Carlos da Silva, bispo da diocese de Ituiutaba (MG). A Igreja de Deus e, de modo especial, a Congregação da Missão, se alegraram por mais um jovem que se consagrou, por toda a vida, ao serviço do Reino, através do sacramento da Ordem. Todos nós ficamos felizes por mais um presbítero que se dispôs inteiramente ao serviço dos mais pobres e oprimidos da nossa sociedade. Neste dia tão festivo, a Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa parou para celebrar a ordenação, colocando em prática tudo aquilo que havia sido preparado para a grande festa. Desde os preparativos, 2 passando pela realização da semana vocacional que, por sua vez, foi muito bem preparada, à celebração de ordenação, à Primeira Missa do Pe. Osmar e, por fim, às despedidas, tudo estava muito bem organizado e bonito, revelando, para todos os que se faziam presentes, o quanto os campinaverdenses, além de talentosos, são receptivos. Sob o olhar da mãe de Deus, a Virgem da Medalha Milagrosa, e do nosso fundador, São Vicente de Paulo, todos os participantes, padres, irmãos, seminaristas e fiéis leigos de nossas paróquias, elevaram as suas preces a Deus pelo Padre Osmar. Pelo Pe. Osmar estão dirigidas a Deus todas as nossas sinceras e insistentes orações. Que o ministério acolhido por ele seja frutuoso, tornando-se luz na vida de todos, principalmente, dos mais pobres. Parabéns, Pe. Osmar, por mais uma etapa vencida! Odinei de Paiva Magalhães, C. M. MISEVI 3ª Assembléia Nacional do MISEVI “....., quem exprime melhor a maneira de viver de Jesus Cristo na terra do que os missonários? [...] Imaginemos que [Deus] nos diz: “saí missionários, saí! Vós ainda aqui estais e há tantas pobres almas à vossa espera. Talvez a sua salvação dependa das vossas pregações, das vossas catequeses!”. (SVP, XI, 55-56) 3 Os Missionários Leigos Vicentinos (MISEVI – Brasil) estiveram reunidos no Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens (Caraça), de 19 a 21 de abril de 2008, para sua III Assembléia Nacional. Contamos com a presença de representantes dos Núcleos Missionários de Belo Horizonte, Contagem, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. De acordo com as prioridades estabelecidas na Assembléia anterior, dedicamos estes dias de oração, de estudo e partilha ao aprofundamento de nossa formação humana, espiritual e missionária à luz do carisma vicentino. Os assessores deste encontro desenvolveram os seguintes temas: Vivendo e Convivendo, com a psicóloga Patrícia Rubim, que concluiu: dialogamos pouco sobre os problemas que nos afligem. Sobre Espiritualidade Vicentina, o seminarista Vinícius Augusto Teixeira, C.M., brilhantemente expôs o tema : “Com São Vicente, peregrinos na oração e na missão”. Apresentou algumas chaves de leitura para compreender a espiritualidade vicentina: a contemplação na ação. São Vicente foi contemplativo em seus trabalhos. De forma que a espiritualidade vicentina se firma sobre dois pólos: a evangelização e a missão. A palestra de Helcio Alvim Filho e Irmã Rizomar Figueiredo, F.C. complementou os assuntos com o tema: Missionários Leigos imbuídos do carisma vicentino. Celebramos a alegria da aprovação dos nossos Estatutos Nacionais que passarão a nortear a caminhada dos 6 núcleos já constituídos e dos 6 em formação. Já constituídos: Belo Horizonte – MG Santa Luzia – Paróquia São Raimundo Nonato Paulo VI – Pai Misericordioso Instituto São Vicente de Paulo Contagem – MG Paróquia N. S. de Fátima Diadema – SP Paróquia Menino de Jesus 4 Rio de Janeiro – RJ Colégio São Vicente de Paulo Em formação: Petrópolis – RJ Seminário Interno Interprovincial São Vicente de Paulo Carinhanha – BA Missão-Paróquia São José Serra do Ramalho – BA Missão-Paróquia São José Operário Brasília – DF Paróquia da Medalha Milagrosa (Riacho Fundo II) Fortaleza – CE Quixeramobim – CE A apresentação da caminhada dos Núcleos Missionários demonstraram um amadurecimento na organização, ressaltando o empenho dos trabalhos dos coordenadores e assessores e dos leigos nos encontros mensais de cada núcleo. A Assembléia foi encerrada com a palavra do Assessor Nacional, Pe. Alexandre Nahass Franco, C. M., e da Presidente Nacional do MISEVI, Maria Rosa Momesso de Castro. Maria Rosa Momesso de Castro Presidente Nacional do MISEVI Festa de Nossa Senhora de Fátima Contagem M.G. Dia 13 de maio é o dia em que se celebra a festa de Nossa Senhora de Fátima, entretanto durante todo o mês nossa comunidade paroquial esteve envolvida em diversas atividades religiosas no intuito de prestar as devidas honras a nossa Padroeira. 5 Diversos Coirmãos estiveram conosco durante a novena e também nas missas celebradas com as famílias, dentre eles, os Pes. André Luiz Ferraz, Francisco Hermelindo, Marcus Alexandre, Raimundo João da Silva, Luís Roberto, Vandeir Barbosa, e Antenor Pinto Resende. Nossos sinceros agradecimentos a todos! Transferências Comunicamos as seguintes transferências: No inicio de agosto, o Pe. José Gonzaga de Morais, C. M., irá para o Ofício de Vigário Paroquial da Missão-Paróquia de São José Operário, em Serra do Ramalho, BA. Pe. José Gonzaga de Morais nos últimos anos trabalhou como missionário e vigário paroquial na Missão em Francisco Badaró e Jenipapo de Minas (Vale do Jequitinhonha), Diocese de Araçuaí (MG). No mês de setembro, a convite do Superior Geral da Congregação da Missão, Ir. Milton Pereira de Jesus, C. M., estará prestando serviços na Cúria Geral, em Roma Aos nossos Coirmãos vicentina, nesta nova missão! 6 uma fecunda caminhada 7
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