Diagnóstico - Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente
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Diagnóstico - Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente
3. DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO No diagnóstico estratégico, os fatores críticos vão dar estrutura, foco e conteúdo à integração e à avaliação ambiental. Compreende a identificação dos processos estratégicos e as pressões associadas em termos espacial, temporal e organizacional, visando estruturar as bases para se caracterizar como uma proposta de ação, os empreendimentos da PETROBRAS, determina as conseqüências ambientais (positivas e negativas) significativas e, portanto, objeto de AAE. Considera, de forma integrada, a situação da região em função das questões relevantes ambientais, sociais e econômicos. Identificados os fatores críticos, a análise terá como base todos os processos que levaram ao estado atual de desenvolvimento e as questões associadas à infra-estrutura regional que podem ser condicionantes ou potencializar a implementação dos empreendimentos previstos. O diagnóstico é o resultado da coleta e análise de dados e informações secundárias, entrevistas e reuniões com representantes da sociedade civil, órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa. Esta análise é vinculada a indicadores que vão retratar a atual situação da região estratégica e que serão utilizados, nas próximas fases, para balizar os cenários e, posteriormente, o acompanhamento da execução da proposta avaliada. 3.1 Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Consiste na identificação dos fatores considerados condicionantes para o desenvolvimento da região e das atividades objeto desta AAE. São atividades exógenas que influenciam a estruturação da dinâmica regional com interface com o desenvolvimento dos empreendimentos. Foram considerados estratégicos: a logística de transporte e a disponibilidade de água dos recursos hídricos. 3.1.1 Logística de Transporte Neste item são apresentadas as malhas viárias atuais, rodo e ferroviária, apontando-se as deficiências e potencialidades. Complementa este estudo uma apresentação do sistema de barcas e dos portos. Apenas serão tratadas as opções que viabilizam o transporte de carga e passageiros de e para a região onde será instalado o COMPERJ, visto que os demais empreendimentos da PETROBRAS considerados nesta AAE não irão afetar a estrutura logística existente. 3.1.1.1 Malhas Viárias Atuais Cabe, inicialmente, relembrar que é com a vista da BG que cerca de dois milhões de turistas estrangeiros, anualmente, tem o primeiro contato com Brasil. Os dois aeroportos ― Santos Dumont e o internacional Tom Jobim ― estão na região da BG, assim como o cais onde desembarcam os que chegam de navio à cidade do Rio de Janeiro (Portal da Baía de Guanabara, 2009). A BG recebe centenas de navios de turismo, entre os anos de 2005 e 2006 foram contabilizados cerca de 190.000 turistas somente de cruzeiros nacionais e internacionais. Do contingente de turistas que visitaram o município do Rio de Janeiro, no ano de 2007, cerca de 774.000, 4% chegaram por via marítima e 96% por via aérea. 117 117 Os estudos desenvolvidos pela PETROBRAS para o COMPERJ especificam que a rede dutoviária atualmente existente tem capacidade para atender a distribuição de matérias primas para o Complexo e do produto acabado para as indústrias e Porto de Itaguaí. Esta característica foi essencial na seleção da região de instalação do COMPERJ. A rede dutoviária, portanto, não será foco desta avaliação. Malha Rodoviária A malha viária na região sob análise compreende as rodovias de múltiplas faixas BR-101, BR-116 e RJ-104 e as rodovias de pista simples BR-493, RJ-116 e a RJ-122. Os principais acessos viários a Itaboraí são a BR-101, que vem de São Gonçalo, a leste, e segue para Tanguá, a oeste, a RJ-104, que vem de São Gonçalo e Niterói e a BR-493, que vem de Magé e Guapimirim, a leste. Essas três rodovias se encontram no importante entroncamento de Manilha. Tem-se, ainda, a RJ-116 que se comunica ao norte com Cachoeiras de Macacu e a RJ-114 que segue ao Sul para o município de Maricá (Figura 3.1). Figura 3.1 — Malha Viária do Entorno do COMPERJ Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ a partir do Google Maps (2009) O trabalho ―Estudo de Tráfego e Transporte do COMPERJ‖ desenvolvido pela COPPE/UFRJ/PET, em 2007, avaliou os níveis de serviço destas rodovias conforme metodologia do Highway Capacity Manual (HCM), cujos níveis variam entre A, B, C, D, E e F (de melhor a pior) e são estabelecidos de acordo com parâmetros como a velocidade média da viagem, tempos médios gastos nos percursos e em filas e facilidade de manobras de ultrapassagem. 118 118 As rodovias de pista simples, um trecho da BR-101, BR-493 e RJ-116 funcionam na região analisada com nível de serviço E. Portanto, qualquer incremento de tráfego, por mais insignificante que for, torna a situação ainda mais crítica que a atual. A RJ-122 apresenta nível de serviço C. As rodovias de múltiplas faixas apresentam os seguintes níveis de serviço: a BR-101 B ou C, dependendo do sentido e do local analisado, a BR-116 entre A e B e a RJ-104 B. Estas três rodovias apresentam condições de fluxo livre no trecho próximo a COMPERJ onde eventuais interferências do fluxo são absorvidas com facilidade, velocidade de fluxo livre acima de 80 km/h, com algumas filas podendo ser provocadas. Assim, elas apresentam nível de serviço adequado para os volumes de tráfego levantados (COPPETEC, 2007). Quanto à segurança viária, os tipos de acidentes mais freqüentes nessas áreas são os atropelamentos de pessoas, colisão traseira e abalroamento transversal. Esses tipos de acidentes são comuns em locais com presença massiva de pedestres, com alto número de veículos ou por tentativas arriscadas de realizar ultrapassagens em locais inadequados. É possível deduzir que a malha rodoviária existente será capaz apenas parcialmente de absorver eficientemente o aumento no volume de veículos previstos com a instalação do complexo e das indústrias por ele incentivadas. Outras vias utilizadas na atualidade para a movimentação de veículos e das cargas com origem ou destino na área estratégica apresentam importantes problemas operacionais e de capacidade, sobretudo nos trechos que atravessam áreas urbanas da cidade do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. Entre as vias que apresentam condições de congestionamento, lentidão e insegurança mais acentuadas, chegando em alguns períodos do dia à saturação da capacidade, se encontram a Avenida Brasil, a BR-116 (Presidente Dutra) e a Ponte Rio-Niterói. No caso da Ponte existem, ainda, imposições legais que restringem a circulação de alguns veículos de carga ao período entre as 22:00 e as 04:00 horas. No Quadro 3.1 um resumo das principais características das rodovias localizadas na região onde será construído o COMPERJ. Quadro 3.1 — Caracterização das Rodovias Via BR-101 BR-116 BR-493 RJ-104 RJ-116 RJ-122 (1) (2) Ligação Tipo de rodovia Operadora Niterói-Itaboraí-Rio Bonito Duque de CaxiasMagé-Guapimirim Múltiplas faixas (4) Múltiplas faixas (4) Autopista Fluminense CRT (concessão até 2020) Magé-Itaboraí Pista simples Governo Federal Niterói-São GonçaloItaboraí Cachoeiras de Macacu-Itaboraí GuapimirimCachoeiras de Macacu Múltiplas faixas (4) Governo do Rio de Janeiro Governo do Rio de Janeiro Pista simples Pista simples Governo do Rio de Janeiro Capacidade por faixa (veíc) VMD (veíc) Nível de 2 Serviço 1900 a 2200 4755 B/C 1900 a 2200 1959 A/B 1700 1438 E 1900 a 2200 2564 B 1700 799 E 1700 645 C 1 Volume Médio Diário (VMD) Nível de serviço varia de ―A‖ a ―F‖ (de melhor a pior) Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ e COPPETEC (2007) 119 119 Malha Ferroviária Existe uma malha ferroviária próxima à região onde será instalado o COMPERJ, com dois trechos. O trecho Saracuruna – Magé – Guapimirim com uma extensão de 42,4 km, atende passageiros dos municípios de Magé, Guapimirim e Duque de Caxias. Este trecho é servido por um trem urbano operado pela Companhia Estadual de Engenharia de Transporte e Logística (CENTRAL), não é eletrificado, apresenta bitola de 1,00 m e é operado com locomotivas diesel-elétricas tracionando carros de passageiros. De acordo com dados da CENTRAL (2009), em 2008 foram realizadas, por mês, 172 viagens e transportados 22.702 passageiros. De segunda a sexta feira, 883 passageiros utilizam diariamente esse trem. Atualmente, e segundo reportagem publicada no Diário de Teresópolis (2009), são realizadas apenas 10 viagens diárias atendendo, aproximadamente, 2.000 pessoas, utilizando infraestrutura e material rodante precários e não sendo cumprida a grade de horários preestabelecida, o que provoca o baixo nível de satisfação dos usuários. Conforme informações obtidas da CENTRAL, esta reduzida oferta de viagens deixa de atender a uma considerável demanda potencial. A infraestrutura ferroviária do trecho Saracuruna – Magé – Guapimirim tem condições de assimilar um maior tráfego de trens, transportando um maior volume de passageiros, apenas com investimentos na reparação da via permanente, a melhoria e, principalmente, o aumento do material rodante e a recuperação das estações. O outro trecho da malha ferroviária, Magé – Itaboraí é utilizado na atualidade exclusivamente para o transporte de carga pela Concessionária Ferrovia Centro Atlântica (FCA) (Figura 3.2). Figura 3.2 — Trechos Ferroviários Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, a partir do Google Maps (2009) 120 120 No Quadro 3.2 um resumo das principais características dos trechos ferroviários mencionados e, 1 ainda, a indicação do trecho Niterói – Itaboraí, desativado . Quadro 3.2 — Caracterização dos Trechos Ferroviários Extensão (km) Bitola (m) Operadora SaracurunaMagé-km 58 25,1 1,00 CENTRAL/ FCA Magé-Guapimirim 17,3 1,00 CENTRAL Trecho/Ramal Extensão (km) Bitola (m) Operadora Material rodante Tipo de transporte Magé-Itaboraí 17,0 1,00 FCA Locomotivas diesel-elétricas tracionando carros de carga especializadas Cargas Niterói-Itaboraí 32,8 1,00 CENTRAL - Inutilizada Trecho/Ramal Material rodante Locomotivas diesel-elétricas e carros de passageiros e de cargas especializadas Locomotivas diesel-elétricas tracionando carros de passageiros Tipo de transporte Passageiros/ cargas Passageiros Fonte: CENTRAL (2009) Sistema de Barcas O serviço de transporte aquaviário de passageiros da RMRJ é operado, desde 1998, por um consórcio de empresas, a BARCAS S.A, em regime de concessão por 25 anos, assumindo o controle acionário da Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro (CONERJ). O serviço é prestado com 23 embarcações do tipo: barcas tradicionais, catamarãs sociais e seletivos e embarcações de apoio, distribuídas nos trechos a partir do Rio de Janeiro para Niterói, Charitas, Cocotá e Paquetá (Figura 3.3). A empresa também opera rotas em Angra dos Reis, Mangaratiba e Ilha Grande. As estações de barcas que se localizam na BG são a Praça XV (centro da cidade do Rio), Niterói (centro da cidade e Charitas), Cocotá (Ilha do Governador) e Estação Paquetá. Ao todo, incluindo as demais rotas fora da BG, o número de viagens por ano passou de 62.203, em 2006, para quase 80.000, em 2007 ― realizando, aproximadamente, 300 viagens por dia e transportando cerca de 90.000 passageiros/dia (BARCAS S/A, 2009). Atualmente, segundo Barcas S/A, aproximadamente, 76.000 passageiros são transportados diariamente entre Rio e Niterói. Este serviço complementa a opção rodoviária de passageiros entre as cidades de Rio de Janeiro e Itaboraí. Desde 2001, a Barcas S/A adaptou e destinou uma embarcação para recolher, diariamente, o lixo flutuante nos arredores das pontes de atracação e nas rotas náuticas das embarcações. A barca "Cata-Lixo", recolhe, em média, 500 kg de lixo por dia. Outra iniciativa da empresa são os passeios 1 Nos últimos dez anos, pelo menos, a linha, que passou ao controle da CBTU, em 1984, passou a não ter mais manutenção, estando hoje operada pela CENTRAL, a empresa que substituiu a parte da Flumitrens que não foi privatizada, ou seja, não passou para a Supervias. Desta forma, passou a correr os 33 km de linha com trens velhíssimos e sem nenhuma segurança. Em dezembro de 2004, por causa de um roubo de tubulação entre Guaxindiba e Itambi, a linha foi destruída nesse ponto, o que ocasionou a parada do trem e a conseqüente invasão do leito por posseiros. Em agosto de 2005, ele voltou a circular. No final de 2006, ele foi desativado (www.estacoesferroviarias.com.br). 121 121 turísticos pela BG. O tour, que é guiado, acontece todos os domingos e inclui os principais pontos turísticos do Rio de Janeiro e de Niterói. Segundo reportagens publicadas nos jornais O Globo, de 02/09/2008, e Correio do Brasil, de 21/01/2009, os usuários do sistema classificam a qualidade deste serviço como insatisfatório tendo em vista o não cumprimento da grade horária preestabelecida, as longas filas enfrentadas diariamente e ao alto risco de acidentes a que estão sujeitos. A empresa Barcas S/A justificou-se dizendo que cumpre o horário em 93% das vezes, e que o motivo da espera é o controle automático de passageiros (máximo de 1.300 por embarque), número restrito de portas de acesso à embarcação e inexistência de estações intermediárias, faz com que as pessoas tenham que aguardar a próxima embracação, causando impressão de atraso. Segundo reportagem publicada no Jornal Correio do Brasil do dia 18/02/2009 existe um estudo em andamento de busca de uma área adequada para a construção de um terminal em São Gonçalo. Rio-Paquetá-Rio Rio-Cocotá-Rio Rio-Niteroi-Rio Rio-Charitas-Rio Figura 3.3 — Rede das Ligações das Barcas Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, a partir do Google Maps (2009) Sistema Portuário A região estratégica engloba os portos de Itaguaí, Niterói e Rio de Janeiro e no litoral do estado existem ainda os portos de Angra dos Reis e do Forno (Arraial do Cabo), como se pode observar na Figura 3.4. O porto do Rio de Janeiro opera com granéis sólidos e líquidos e cargas em geral; o Pier Mauá recebe navios turísticos e de linhas de cabotagem; e o Porto de Niterói opera com granéis sólidos e outros tipos de carga. Os principais tipos de cargas transportadas na BG são: trigo, petróleo e derivados, produtos siderúrgicos, café, papel, açúcar, veículos automotores e máquinas diversas. 122 122 O crescimento da movimentação geral das cargas nos portos organizados (públicos) e nos terminais de uso privativo leva a diversas empresas a planejar a construção de novos portos e terminais ou ampliar os existentes. Segundo informações obtidas existem no Estado do Rio de Janeiro nove projetos para portos/terminais planejados na Baía de Sepetiba. Isto mostra a tendência de consolidação em Sepetiba de uma nova estrutura para escoamento de matérias primas do estado e do País. Porto Angra dos Reis Porto de Itaguaí Porto do Rio de Janeiro Porto de Niterói Porto do Forno Figura 3.4 — Portos Fonte: BVRJ (2009) Dos projetos mencionados, o governo fluminense já reprovou dois (BHP e Brazore) por questões ambientais, sociais e econômicas, particularmente por estarem localizados em área de vocação turística e com forte fragilidade ambiental. Dos seis portos/terminais aprovados, encontram-se em implantação o Terminal Portuário Centro Atlântico e o Porto do Açu (Figura 3.5). A baixa geração de empregos nas operações de embarque de minério, a reduzida arrecadação de impostos do estado e municípios (carga de exportação) e os impactos ambientais na região levaram a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços a criar um grupo técnico que analisará os projetos portuários naquela baía. Essa iniciativa visa garantir a compatibilização das propostas com a política de desenvolvimento econômico do ERJ, analisando possíveis impactos dos empreendimentos com os interesses regionais, desenvolvimento sustentável e vocações locais. A localização, o acesso aos portos por rodovias e ferrovias, assim como os tipos de cargas movimentadas dos portos de Itaguaí, Niterói e Rio de Janeiro são descritos a seguir. É possível vislumbrar que os portos podem desempenhar o papel de geradores de comércio e da economia local, regional ou nacional. Existem hoje fortes pressões empresariais com interesse em sua completa implantação e numa maior eficiência e funcionalidade. 123 123 Região da Baía de Sepetiba 1 Terminal da companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) Investimento: R$ 400 milhões Previsão de início da operação: Novembro de 2008 Licenciamento ambiental: Em fase final de elaboração do EIA – Rima Autorização na Antaq: Concedida 2 Terminal da GERDAU Investimento: R$ 500 milhões Previsão de início da operação: 2012 Licenciamento ambiental: Concedido pela FEEMA Autorização na Antaq: Em análise 7 3 Porto Privativo Largo da Pedra (CSN) Investimento: US$ 1,074 bilhão Previsão de início da operação: 2013 Licenciamento ambiental: Licença prévia concedida pela FEEMA Autorização na Antaq: Em análise 8 4 Novo Terminal do Porto de Itaguaí Investimento: R$ 350 milhões Previsão de início da operação: 2011( Em licitação) Licenciamento ambiental: Em análise pelo IBAMA Autorização na Antaq: Concedida 6 Porto Sudeste (LLX Logística) Investimento: US$ 380 milhões Previsão de início da operação: 2011 Licenciamento ambiental: Não submetido à FEEMA Autorização na Antaq: Não submetida à Agência Terminal da BHP Billiton Investimento: R$ 900 milhões Previsão de início da operação: Não informado Licenciamento ambiental: Recusado pela FEEMA( Empresa pode recorrer) Autorização na Antaq: Não submetida à Agência Terminal da Brazore (Adriana Resources) Investimento: Não informado Previsão de início da operação: 2010 Licenciamento ambiental: Recusado pela FEEMA (Empresa pode recorrer) Autorização na Antaq: Não submetida à Agência São João da Barra, no Norte Fluminense 9 Porto do Açu (LLX Logística) Investimento: US$ 1,6 bilhão Previsão de início da operação: 2010 Licenciamento ambiental: Concedido pela FEEMA Autorização na Antaq: Concedida Principais Portos do Estado do Rio 5 Terminal da Usiminas Investimento: R$ 112 milhões Previsão de início da operação: 2012 Licenciamento ambiental: Não submetido à FEEMA Autorização na Antaq: Não submetida à Agência Porto do Rio de Janeiro Porto de Itaguaí (ex Sepetiba) Porto de Angra dos Reis Porto de Niterói Porto do Forno (Arraial do Cabo) Terminal da Ilha Guaíba (Vale/MBR) Terminal da Ilha D‘Água e da Ilha Redonda (PETROBRAS) Terminal Marítimo Maximiniano da Fonseca (PETROBRAS) Figura 3.5 — Empreendimentos Portuários em Implantação no Estado do Rio de Janeiro Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, com informações publicadas no O Globo (2008) 124 124 Porto de Itaguaí O Porto de Itaguaí está localizado na costa oeste da Baía de Sepetiba, no Município de Itaguaí, ao sul e a leste da Ilha da Madeira. Apresenta uma retro-área de 10 milhões de metros quadrados de área plana, um canal de acesso com até 20 m de profundidade e cais de acostagem em águas abrigadas. Possui infra-estrutura logística industrial e tecnologia em telecomunicações e suprimento, acessos multimodais e facilidades de transportes. Os principais produtos movimentados são: minério de ferro, carvão, carga contêinerizada, produtos siderúrgicos, concentrado de zinco, coque da hulha e alumina. A infra-estrutura rodoviária que atende a movimentação de cargas de/para o Porto de Itaguaí é formada, pela BR-101 (Rio- Santos), a BR-465 (antiga Rio-São Paulo), a BR-116 (Rodovia Presidente Dutra), a BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e as rodovias estaduais RJ-099 (Piranema) e a RJ-105 (Estrada de Madureira). O Porto de Itaguaí é servido pelo ramal ferroviário de Japeri / Brisamar operado pela empresa MRS em linha tripla com bitola larga (1,60 m) numa extensão de 1,5 km (CDRJ, 2007). Porto do Rio de Janeiro O Porto do Rio Janeiro está localizado na costa oeste da BG, na cidade do Rio de Janeiro. Possui 6.740 m de cais contínuo e conta com 10 (dez) armazéns externos, oito (8) pátios cobertos e oito (8) terminais de uso privativo. Os principais produtos movimentados são: carga conteinerizada, produtos siderúrgicos, trigo, ferro gusa, automóveis e derivados de petróleo. O acesso terrestre ao porto é feito pelas rodovias federais BR-101 (Rio-Santos), BR-116 (Presidente Dutra), BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e BR-465 (antiga Rio-São Paulo) e as rodovias estaduais RJ-099 e RJ-105, através da Av. Brasil. Como já comentado anteriormente, esta Avenida apresenta condições de congestionamento, lentidão e insegurança mais acentuadas, chegando em alguns períodos do dia à saturação da capacidade. O acesso por ferrovia é feito pelas malhas da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), MRS- Logística e Campos (FCA). Porto de Niterói Localizado na costa leste da BG, na Enseada de São Lourenço, cidade de Niterói, o Porto tem uma área total de 27.060 m². Movimenta especialmente carga geral. O acesso terrestre se faz pela BR101 e com ligações diretas com a Ponte Rio - Niterói e com a Rodovia Amaral Peixoto. Apesar de existir acesso ferroviário ao Porto, pelo ramal Niterói-Itaboraí, citado anteriormente, este não está sendo utilizado atualmente. 125 125 3.1.2 Recursos Hídricos 2 A bacia hidrográfica contribuinte à BG tem uma área aproximada de 4000 km , apresentando características topográficas contrastantes, incluindo zonas montanhosas, áreas planas de baixada e áreas planas de restingas, mangues e praias. Limita-se ao norte com a Serra do Mar, com altitudes situadas entre 1.000 e 2.000 m. Na fronteira sul da bacia encontram-se cadeias de montanhas mais baixas (500 a 1.000 m), que correm paralelas ao litoral. Os rios que deságuam na BG podem ser classificados como de regime torrencial. Nascem no interior da Mata Atlântica e descem pelas encostas abruptas da escarpa frontal da Serra do Mar e dos maciços costeiros, tendo por isso o alto curso muito reduzido e com grande energia. Essa energia se perde rapidamente na baixada, pela brusca queda de velocidade de escoamento o que faz esses rios meandrarem na planície sedimentar quaternária, estreita e de drenagem inexpressiva. Existem, aproximadamente, 35 rios principais que deságuam na BG. Os rios que tem as maiores bacias de drenagem são o Guapi/Macacu, o Cacerebu e o Iguaçú que formam meandros e deltas estuarinos cobertos de extensos manguezais (Quadro 3.3). Quadro 3.3 — Principais Rios Afluentes à Baía de Guanabara Sub-Bacias Rio Carioca (Rio Lagoinha e Rio Silvestre) Área Aprox. da Sub-Bacia 2 (km ) - Canal do Mangue (Rios Comprido, Trapicheiro, Maracanã e Joana) 42,8 Canal do Cunha (Rios Jacaré, Faria-Timbó) 63,6 Rio Irajá e Canal da Penha Rios São João de Merití e Acarí Rios Merití/Pavuna Rios Acarí/ das Pedras Rio Iguaçu/Sarapuí Rios Iguaçú, Pilar, Bandeira, Pati e Tinguá Rio Bota Rios Sarapuí e Tintas Rio Estrela Rio Saracuruna Rio Inhomirim Rio Suruí Rio Irirí Rio Roncador Canal de Magé Rio Guapi/Macacu Rio Soberbo Rios Iconha e Bananal Rio Guapi-Açu Rio Macacú Rio Cacerebú Rio Cacerebú Rio Aldeia Rio Guaxindiba (Rios Alcântara e Goiana) 35,7 164,5 106,6 57,9 755,3 446,1 116,7 165,5 342.5 186 139 68,8 27,8 111,4 18,3 1253,1 132,4 215,4 349,5 502,7 846,7 655,3 191,4 144,6 Rio Imboassú 30,8 Rio Bomba 26,2 Canal do Canto do Rio Fonte: Coelho (2007) 7,4 126 126 Vale mencionar que alguns rios das áreas mais urbanizadas da bacia foram canalizados e cobertos pelas ruas, tornando-se parte do sistema de drenagem e esgotamento sanitário das cidades. É o caso dos rios Berquó e Banana Podre, na bacia de Botafogo, grande parte do Rio Carioca, na bacia do Flamengo e Rio Papa Couve, na bacia do Canal do Mangue. Podem ser divididas em sub-bacias urbanas, geralmente com áreas menores e sub-bacias rurais, com maiores extensões. A região hidrográfica da BG apresenta elevado grau de complexidade, tanto no que se refere às questões socioeconômicas e ambientais, quanto à situação do uso dos recursos hídricos, já comprometido sob os aspectos de quantidade e qualidade. A região sob o aspecto da potencialidade hídrica se caracteriza pela insuficiência na sua parte oeste, em termos de quantidade e qualidade, para atender as demandas, dependendo assim de recursos externos à bacia. Por outro lado, a parte leste, com maior abundância de água, tem sua disponibilidade atual comprometida com as demandas locais e com o compromisso de atendimento futuro a demandas externas. Os desequilíbrios entre oferta e demanda em grande parte são devidos ao uso pouco eficiente do recurso disponível, com alto índice de perdas no sistema de abastecimento e com a redução da disponibilidade, em função da degradação da qualidade da água. Por outro lado, a região dispõe de um apreciável potencial de água subterrânea, que vem sendo usado de forma desordenada e predatória, o qual, se bem explorado, pode se constituir numa expressiva fonte de recursos para atender o crescimento das demandas urbanas. O Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH), elaborado em 2006, constituiu um instrumento de gerenciamento dos recursos hídricos da região hidrográfica da BG, buscando otimizar a utilização da água, harmonizando conflitos e melhorando as condições de disponibilidade hídrica em volume e qualidade compatíveis com os vários usos. Com base em Unidades de Balanço e utilizando a metodologia de balanço hídrico, foram confrontadas as demandas e disponibilidades atuais e futuras e projetadas para o período de 2000 a 2020, incluindo-se as perdas e mantendo-se constantes os per capita. O PDRH realizou estimativas das disponibilidades hídricas de superfície, a partir dos estudos das vazões anuais mínimas médias de 7 dias consecutivos, com 10 anos de recorrência (Q7,10), dos modelos da Companhia de Pesquisa de Recursos Mineral (CPRM). Para se ter uma idéia das demandas e disponibilidades, com vistas ao cálculo do balanço hídrico das diferentes unidades de bacia, é importante conhecer a abrangência e a capacidade dos sistemas urbanos de abastecimento existentes. Esses sistemas, mostrados na Figura 3.6, executam transferências de água entre as diversas unidades de balanço da bacia. 127 127 Figura 3.6 — Sistemas de Abastecimento Urbano Existentes Fonte: PDRH (2005) 128 Os empreendimentos objeto da presente AAE vão utilizar água desses mananciais, especialmente os do Guandu, do Imunana e do Saracuruna. O Quadro 3.4 apresenta os déficits hídricos para esses mananciais em 2005, com base na fórmula mencionada. Quadro 3.4 — Déficits nas Regiões Atendidas pelo Guandu, Saracuruna e Imunana – 2005 3 Manancial Déficit em 2005 (m /s) Situação Atual Municípios Abastecidos Rio Guandu Rio de Janeiro, São João de Meriti, - 0,255 Duque de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis Barragem do Saracuruna -0,003 Duque de Caxias (Reduc) Rio Saracuruna -0,309 Duque de Caxias (captações locais) Canal do Imunana -3,376 Niterói, São Gonçalo e Itaboraí Fonte: PDRH (2005) Os resultados dos balanços hídricos nesses mananciais mostraram que os mesmos já apresentavam déficit hídrico em 2005, caso fosse respeitada a exigência de manter uma descarga remanescente de 50% do Q7,10 (vazão ecológica). Estes números evidenciam a necessidade de medidas de racionalização do uso da água, para, por um lado, reduzir o crescimento da demanda — combate ao desperdício e perdas, além do reuso da água — e, por outro lado, aumentar a disponibilidade hídrica da região — por exemplo, como o reservatório de Guapi-Açu —, utilização de água subterrânea ou importação de água de bacias externas à região — Juturnaíba, Rio Paraíba do Sul. 129 3.2 Fatores Ambientais Estratégicos Consiste na identificação dos fatores críticos e na análise dos processos estratégicos e suas interações. Relaciona-se com a dinâmica da região ou têm interface com o desenvolvimento dos empreendimentos, sejam de ordem econômica, social, ambiental ou institucional. Nesta AAE foram considerados como estratégicos: dinâmica territorial e econômica e uso do solo, dinâmica social, dinâmica dos ecossistemas e diversidade biológica, qualidade da água, qualidade do ar e geração de resíduos sólidos. Cada um desses temas será, a seguir, avaliado. 3.2.1 Dinâmica Territorial e Econômica e Uso do Solo A análise da evolução do uso e ocupação do solo permite identificar a forma como as atividades humanas estão contribuindo para a qualidade ambiental verificada em um determinado momentoespaço. Assim, a condição ambiental de uma determinada região pode ser avaliada a partir do entendimento dessa dinâmica, permitindo quantificar e localizar os diferentes usos existentes na região. Em complemento ao trabalho de interpretação de imagens de satélite, a interpretação do uso e ocupação do solo foi acompanhada da análise de um pequeno número de indicadores da dinâmica — demográfica, econômica e das receitas públicas — dos municípios que compõem a área estratégica. Esta análise visa sinalizar tendências gerais associadas aos indicadores selecionados, com o propósito de associar os resultados, ora validando, ora esclarecendo as tendências verificadas. 3.2.1.1 Evolução do Uso e Ocupação do Solo (1990 – 2005) A visualização dos vetores de crescimento urbano que atuaram sobre a área estratégica encontra-se representada pelas Figuras 3.7 e 3.8 que refletem, respectivamente, o uso e a ocupação do solo nas datas extremas do período considerado (1990 e 2005). As ―manchas‖ urbanas que caracterizam a área estratégica nesse período coincidem com os vetores que compuseram até aqui a sua rede logística de transporte rodoviário, quais sejam. A) BR 101 sentido Região Sul, mais especificamente, seu trecho conhecido como Rio-Santos, integrado também pela Avenida Brasil (considerada na verdade como um trecho urbano da BR101), que aponta na direção dos municípios de Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati no litoral sul do estado; B) BR 116 (Rodovia Presidente Dutra ou Rio-São Paulo), que aponta na direção do Vale do Paraíba (fluminense e paulista) e da Região Metropolitana de São Paulo; C) BR 040 (Rodovia Washington Luis, mais conhecida como Rio-Petrópolis), integrado pela BR-116 (no trecho mais conhecido como Rio-Teresópolis), que aponta na direção da Região Serrana e os Estados de Minas Gerais e Bahia; D) BR 101 sentido Região Nordeste, integrado também pela Ponte Costa e Silva (mais conhecida como Ponte Rio-Niterói), que aponta na direção dos municípios que compõem a Região das Baixadas Litorâneas, a Região Norte Fluminense, o Estado do Espírito Santo e, mais adiante, Região Nordeste. 130 A seguir, são explorados de forma mais pormenorizada, trabalhando-se as expansões e retrações em termos quantitativos (área e percentuais de área) para cada um dos municípios que compõem a área estratégica. Distribuição das Categorias de Uso do Solo (2005) O Quadro 3.5 apresenta os resultados da classificação do uso do solo na área estratégica, obtida a partir da interpretação de imagens de satélite CBERS-2, de junho de 2005. Os dados dizem respeito às áreas totais de cada classe de uso do solo identificada e demonstram a situação geral da região. Nesta AAE foram adotadas as seguintes classes de uso do solo: Áreas Urbanas – incluídas todas as áreas urbanas, independentemente da densidade de ocupação verificada; Uso Antrópico Não Urbano – incluídos usos tais como agrícolas, campo antrópico, mineração, reflorestamento, solo exposto; Vegetação Natural – incluídas tipologias florestais, manguezais e restingas; e Corpos Hídricos – incluindo rios, lagoas, canais e baías. Quadro 3.5 — Uso do Solo – 2005 Classe Área (hectares) Área (%) Áreas Urbanas 122.229,81 24,0 Uso Antrópico Não Urbano 237.495,89 46,6 Vegetação Natural 142.208,27 27,9 7.617,83 1,5 Corpos Hídricos Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ com base na interpretação de imagens satélites CBERS-2 (2005) A área estratégica apresentava, em 2005, mais de 70% de seu território alterado por atividades humanas. Esta expressiva parcela de alteração do território está dividida entre usos antrópicos e usos urbanos. Os usos antrópicos ocupavam 46% da área total, incluindo atividades agrícolas, campo antrópico, mineração, reflorestamento, solo exposto e áreas de lazer. Os usos urbanos ocupavam 24%, compreendendo áreas com ocupação urbana de alta densidade, ocupação urbana de média densidade, ocupação dispersa e condomínios. Estas classes de uso também são resultantes de atividades humanas e foram agrupadas em função de suas características comuns quanto à impermeabilização do terreno, geração de poluição e adensamento populacional. As áreas de vegetação natural ocupavam, em 2005, aproximadamente 28% da área analisada. As fisionomias naturais encontradas ― matas, manguezais, restingas e praias ― são essenciais para a manutenção da capacidade de produção hídrica e para o equilíbrio ambiental. Em 2005, a área ocupada pelo espelho d‘água dos corpos hídricos era de 7.617 hectares. 131 Figura 3.7 — Uso e Ocupação do Solo (1990) 132 Figura 3.8 — Uso e Ocupação do Solo (2005) 133 Distribuição das Categorias de Uso do Solo nos Municípios As categorias de uso do solo não estão dispostas de forma homogênea pelo território analisado. Para um melhor entendimento desta distribuição, os dados passam a ser apresentados por município. Grande parte da ocupação urbana existente inclui áreas adensadas e em processo de adensamento. As maiores áreas ocupadas por uso urbano estão localizadas nos municípios do Rio de Janeiro (52.588 ha), seguido dos municípios de São Gonçalo e Duque de Caxias, com respectivamente 11.701 e 10.404 hectares de usos urbanos. Os maiores percentuais de ocupação por uso urbano são encontrados nos municípios de São João de Meriti (99%), Belford Roxo (72%) e Nilópolis (50%). Os Quadros 3.6 e 3.7 apresentam as áreas ocupadas, em 2005, pelas categorias de uso do solo — em números absolutos e percentuais. Com exceção de Japeri, Queimados e Seropédica, todos os demais municípios apresentaram aumento de sua área urbana, podendo-se destacar Niterói que teve um acréscimo da ordem de 15%. O território compreendido pela área territorial dos 23 municípios estudados vem sofrendo, ao longo dos anos, um processo de degradação ambiental resultante da ocupação desordenada, com sérios impactos sobre o meio ambiente. Evolução do Uso do Solo (1990-2005) As áreas ocupadas pelas diferentes categorias de uso do solo, em cada um dos três anos analisados, são apresentadas no Quadro 3.8 — em números absolutos e relativos — considerando aqui apenas 2 parte da área total envolvida . Esses dados permitem verificar que entre 1990 e 2005, a parcela ocupada por atividades humanas (englobando o uso urbano e o uso antrópico não urbano) aumentou relativamente pouco, passando de 69,5% para 70,6%. Contudo, vale ressaltar que houve uma mudança no padrão de ocupação antrópica, pois a explicação da expansão das áreas urbanas se dá, em grande medida, a partir do seu avanço sobre as áreas antes pertencentes à categoria de uso antrópico não urbano. A variação verificada no total das áreas classificadas como corpos hídricos é pouco significativa, podendo ser considerada normal, e passível de ser atribuída a dois fatores principais: (i) a resolução 2 oferecida pelas imagens utilizadas é diferente; a de 1990 tem um pixel de 900 m , enquanto que a de 2 2 2000 tem 225 m e a de 2005 tem 400 m ; e (ii) as imagens correspondem a ―passagens‖ do satélite correspondentes a diferentes períodos do ano, o que pode estar associado a diferentes condições 3 climáticas . Já o Quadro 3.9 apresenta como cada categoria evoluiu. Demonstra o quanto de cada categoria variou no período em hectares e percentualmente, tomando-se como referência o ano inicial do período analisado. Entre 1990 e 2005, as áreas ocupadas por usos urbanos sofreram acréscimos significativos. Destaca-se que as áreas urbanas aumentaram em 30,3% (28.426 hectares), sendo que, no período 2000-2005, o crescimento de áreas urbanas quase superou o ocorrido durante toda a década de 1990 (12,3% contra 16%). 2 Essa análise comparativa não inclui os seguintes municípios: Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Magé, Paracambi e Silva Jardim. 3 A de 1990 é de janeiro, a de 2000 é de outubro e a de 2005 é de agosto. 134 Quadro 3.6 — Cobertura e Uso do Solo por Município – 2005 Área Urbana Área Antropizada Cobertura Vegetal Outros (1) Área Total Município (ha) Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim (%) (ha) (%) (ha) (%) (ha) (%) (ha) (%) 5.787,8 72,5 2.123,7 26,6 67,6 0,9 0,0 0,0 7.979,1 100,0 678,8 0,7 40.876,3 42,8 53.902,9 56,4 122,6 0,1 95.580,6 100,0 463,6 1,0 30.305,7 65,8 14.438,5 31,3 876,5 1,9 46.084,3 100,0 10.404,9 22,4 18.192,9 39,2 17.492,7 37,6 366,8 0,8 46.457,3 100,0 596,4 1,7 19.922,5 55,2 15.422,5 42,7 140,0 0,4 36.081,3 100,0 Itaboraí 7.133,8 16,8 30.524,5 72,0 4.674,7 11,0 88,9 0,2 42.421,9 100,0 Itaguaí 1.564,1 5,8 15.539,5 57,2 9.936,6 36,6 116,1 0,4 27.156,3 100,0 Japeri 2.753,8 33,2 5.159,9 62,3 180,3 2,2 189,2 2,3 8.283,2 100,0 Magé 2.705,5 7,0 17.464,1 45,3 18.309,0 47,5 91,1 0,2 38.569,6 100,0 Maricá 3.921,6 10,8 15.392,8 42,5 13.298,7 36,7 3.634,6 10,0 36.247,7 100,0 Mesquita 1.715,0 41,2 860,4 20,7 1.584,6 38,1 0,0 0,0 4.160,0 100,0 Nilópolis 962,2 50,2 952,1 49,7 1,5 0,1 0,0 0,0 1.915,7 100,0 Niterói 6.101,1 47,2 1.800,2 13,9 4.497,2 34,7 539,0 4,2 12.937,5 100,0 Nova Iguaçu 8.990,3 17,2 23.372,6 44,6 19.872,2 37,9 153,6 0,3 52.388,8 100,0 432,8 2,4 8.253,1 46,0 9.105,1 50,8 146,4 0,8 17.937,4 100,0 2.485,5 32,3 5.013,2 65,2 122,5 1,6 71,0 0,9 7.692,1 100,0 Paracambi Queimados Rio Bonito 742,8 1,6 31.720,6 68,6 13.754,2 29,8 0,0 0,0 46.217,6 100,0 Rio de Janeiro 52.588,6 44,5 34.390,9 29,1 29.173,4 24,7 2.076,7 1,7 118.229,6 100,0 São Gonçalo 11.701,5 47,0 9.317,0 37,4 3.773,7 15,1 122,0 0,5 24.914,2 100,0 São João de Meriti 3.460,7 99,3 22,8 0,7 0,3 0,0 0,0 0,0 3.483,8 100,0 Seropédica 1.051,3 3,7 24.861,6 87,6 715,2 2,5 1.751,3 6,2 28.379,4 100,0 Silva Jardim 291,6 0,3 51.968,2 55,4 39.570,4 42,2 2.003,4 2,1 93.833,6 100,0 Tanguá 926,7 6,3 10.389,9 70,9 3.345,7 22,8 0,0 0,0 14.662,3 100,0 127.460,2 15,7 398.424,4 49,1 273.239,4 33,7 12.489,4 1,5 811.613,3 100,0 Área Estratégica (1) Inclui água, afloramentos rochosos e usos não identificados. Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, com base em geoprocessamento de imagens Landsat e CBERS e PROBIO - Levantamento dos remanescentes de Mata Atlântica (2008) 135 Quadro 3.7 — Cobertura e Uso do Solo por Município – Participação na Área Estratégica – 2005 Área Urbana Área Antropizada Cobertura Vegetal (ha) (ha) Área Total Municípios (ha) Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim (%) (%) (%) (ha) (%) 5.787,8 4,5 2.123,7 0,5 67,6 0,0 7.979,1 1,0 678,8 0,5 40.876,3 10,3 53.902,9 19,7 95.580,6 11,8 463,6 0,4 30.305,7 7,6 14.438,5 5,3 46.084,3 5,7 10.404,9 8,2 18.192,9 4,6 17.492,7 6,4 46.457,3 5,7 596,4 0,5 19.922,5 5,0 15.422,5 5,6 36.081,3 4,4 Itaboraí 7.133,8 5,6 30.524,5 7,7 4.674,7 1,7 42.421,9 5,2 Itaguaí 1.564,1 1,2 15.539,5 3,9 9.936,6 3,6 27.156,3 3,3 Japeri 2.753,8 2,2 5.159,9 1,3 180,3 0,1 8.283,2 1,0 Magé 2.705,5 2,1 17.464,1 4,4 18.309,0 6,7 38.569,6 4,8 Marica 3.921,6 3,1 15.392,8 3,8 13.298,7 4,9 36.247,7 4,5 Mesquita 1.715,0 1,3 860,4 0,2 1.584,6 0,7 4.160,0 0,5 Nilópolis 962,2 0,8 952,1 0,2 1,5 0,0 1.915,7 0,2 Niterói 6.101,1 4,8 1.800,2 0,5 4.497,2 1,6 12.937,5 1,6 Nova Iguaçu 8.990,3 7,1 23.372,6 5,9 19.872,2 7,3 52.388,8 6,5 432,8 0,3 8.253,1 2,1 9.105,1 3,3 17.937,4 2,2 2.485,5 1,9 5.013,2 1,3 122,5 0,0 7.692,1 0,9 742,8 0,6 31.720,6 8,0 13.754,2 5,0 46.217,6 5,7 Rio de Janeiro 52.588,6 41,3 34.390,9 8,6 29.173,4 10,7 118.229,6 14,6 São Gonçalo Paracambi Queimados Rio Bonito 11.701,5 9,2 9.317,0 2,3 3.773,7 1,4 24.914,2 3,1 São João de Meriti 3.460,7 2,7 22,8 0,0 0,3 0,0 3.483,8 0,4 Seropédica 1.051,3 0,8 24.861,6 6,2 715,2 0,3 28.379,4 3,5 Silva Jardim 291,6 0,2 51.968,2 13,0 39.570,4 14,5 93.833,6 11,6 Tanguá 926,7 0,7 10.389,9 2,6 3.345,7 1,2 14.662,3 1,8 127.460,2 100,0 398.424,4 100,0 273.239,4 100,0 811.613,3 100,0 Área Estratégica Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, com base em geoprocessamento de imagens Landsat e CBERS e PROBIO - Levantamento dos remanescentes de Mata Atlântica (2008) 136 Quadro 3.8 — Uso do Solo (1990, 2000 e 2005) 1990 2000 2005 Classes de Uso ha Área Urbana % ha % ha % 93.803,74 18,4 108.850,39 21,3 122.229,81 24,0 Uso Antrópico não urbano 260.997,95 51,1 246.468,89 48,3 237.495,89 46,6 Vegetação 148.393,19 29,1 147.411,68 28,9 142.208,27 27,9 7.040,20 1,4 7.504,14 1,5 7617,83 1,5 Corpos Hídricos Quadro 3.9 — Evolução das Classes de Uso do Solo (1990 – 2005) 1990-2000 2000-2005 1900-2005 Classes de Uso hectares Área Urbana Uso antrópico não urbano Vegetação Corpos Hídricos % hectares % hectares % 15.046,65 16,0 13.379,42 12,3 28.426,07 30,3 -14.529,06 -5,6 -8.973,00 -3,6 -23.502,06 -9,0 -981,51 -0,7 -5.203,41 -3,5 -6.184,92 -4,2 463,94 6,6 113,69 1,5 577,63 8,2 A análise da evolução do uso do solo comprova a mudança de padrão de ocupação antrópica já referida, ou seja, a estreita relação entre substituição de áreas de uso antrópico não urbanos por áreas de usos urbanos. Da mesma forma, é possível verificar que os usos antrópicos não urbanos têm interações entre si como, por exemplo, áreas de agricultura/pastagem que, uma vez abandonados, se transformam em campos antrópicos. A área vegetada apresentou um comportamento inverso ao ocorrido com as áreas de uso urbano. No período entre 1990 a 2000 houve uma pequena redução da cobertura vegetal na região da ordem de 0,7% (981 hectares). A diminuição de áreas vegetadas, no período entre 2000 e 2005, foi mais intensa, chegando a 3,5% ou 5.203 hectares. A área estratégica apresenta mais de 2/3 de seu território alterado por atividades humanas. Esta alteração não é recente, mas continua extremamente dinâmica e preocupante. A alteração de áreas cobertas por vegetação continua ocorrendo, da mesma forma como o aumento de áreas urbanizadas. Esta relação, no entanto, não é direta. Ou seja, entre o desmatamento de uma nova área e o estabelecimento de uma ocupação urbana, atividades intermediárias são desenvolvidas. Os dados gerados, a partir da análise das imagens e períodos, permitem afirmar que as áreas com usos urbanos são as principais responsáveis pelo desmatamento existente na região. Contudo, as áreas de uso antrópico não urbano são as mais pressionadas pela expansão urbana. As áreas com ocupação urbana ocupam 24% da total, tendo apresentado crescimento de 30% no período entre 1990 e 2005. A ocupação urbana resulta em uma série de impactos negativos sobre a qualidade ambiental. Isto porque, soma-se à ausência de planejamento na instalação desta ocupação, a inexistência de infra-estrutura de saneamento básico adequado, resultando em uma combinação de fatores como a ocupação de áreas de preservação permanente com impermeabilização do solo e o despejo de esgotos nos rios e represas. 137 Na evolução do uso antrópico não urbano todos os municípios, com exceção de Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri, Itaguaí e Mesquita, apresentaram diminuição das suas áreas antropizadas para uso não urbano. As quedas mais expressivas foram em Niterói (-16%) e em Queimados (-18%). Relativamente à área de vegetação, 9 municípios apresentaram redução de área verde, 5 tiveram alguma pequena melhoria e os demais ficaram estáveis. Os casos mais preocupantes são Nilópolis, Belford Roxo e São João de Meriti, onde a área de vegetação praticamente inexiste. 3.2.1.2 Dinâmica Demográfica A análise da dinâmica demográfica envolve um complicador que resulta do fato de que sete dos 23 municípios que compõem esta área foram emancipados durante a década de 90. São eles: Belford Roxo, Guapimirim, Japeri, Mesquita, Queimados, Seropédica e Tanguá. A elaboração do Quadro 3.10 tomou por base o trabalho realizado pela Fundação CIDE que calculou os contingentes populacionais de cada um dos municípios, a partir do cômputo dos dados relativos aos setores censitários, que viriam a compor cada um deles depois da emancipação dos sete ―novos‖ municípios. Taxa de Crescimento Demográfico Como se verifica no Quadro 3.10, a área estratégica registrou taxa de crescimento anual, durante a década de 1990, inferior à média estadual (1,17%a.a. versus 1,3%a.a.). Este desempenho se explica, especialmente, pela dinâmica da capital (0,74%a.a.), devido ao seu elevado contingente populacional (pouco mais da metade da população da área estratégica). Outros três municípios centrais da Região Metropolitana também contribuíram para a dinâmica mencionada: Niterói (0,58), São João de Meriti (0,6) e Nilópolis (-0,31). Já os outros municípios apresentaram, em geral, taxas bastante elevadas de crescimento, tendo doze deles registrados taxas acima de 2%a.a.: Belford Roxo, Cachoeira de Macacu, Casimiro de Abreu, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Maricá, Nova Iguaçu, Queimados e Seropédica. De acordo com as projeções de crescimento populacional apresentadas (Quadro 3.10) observa-se a expectativa de manutenção de dinâmica demográfica semelhante à década anterior, com pequeno arrefecimento das taxas de crescimento dos municípios periféricos da RMRJ. Por outro lado, esperase, também, uma ligeira aceleração nas taxas de crescimento dos municípios centrais, à exceção de Nilópolis onde se prevê uma pequena intensificação do processo de evasão populacional. A explicação para as baixas taxas de crescimento registradas na zona central da RMRJ, durante a década de 1990, é o processo imigratório que vem ocorrendo a partir deles. Segundo a Fundação CIDE (2006), todos aqueles municípios que pertencem à zona central da Região Metropolitana, sem exceção, apresentaram taxa líquida de migração negativa na década de 1990 (Quadro 3.11). Outros municípios se apresentaram como ―pólos de atração demográfica‖, atraindo contingentes populacionais que se deslocaram buscando, provavelmente, melhor qualidade de vida, oportunidades de emprego-renda ou custos mais baixos de moradia. Neste caso, incluem-se, por exemplo, os municípios de Casimiro de Abreu, Guapimirim, Itaboraí, Maricá e Seropédica. Apesar de não se dispor de dados estatísticos sobre processos migratórios, em nível municipal, para o período 2000-2005 — eles só são oferecidos pelos Censos Demográficos do IBGE — é de se supor 138 que neste período não sofreram variações significativas, considerando os fluxos migratórios registrados no período entre 1991 a 2000. Quadro 3.10 — População Residente e Taxas de Crescimento Anual (1991 – 2005) Municípios Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Marica Mesquita Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio de Janeiro Rio Bonito São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Silva Jardim Tanguá Total dos Municípios Estado Fonte: Fundação CIDE (2006) 1991 2000 360.714 40.208 15.650 667.821 28.001 139.493 60.689 65.723 163.733 46.545 142.058 158.092 436.155 630.384 36.427 98.825 5.480.768 45.161 779.832 425.772 52.368 18.141 23.249 9.915.809 12.807.706 434.474 48.460 22.052 775.456 37.952 187.479 82.003 83.278 205.830 76.737 166.080 153.712 459.451 754.519 40.412 121.993 5.857.904 49.599 891.119 449.476 65.260 21.239 26.057 11.010.542 14.391.282 tx var anual 00/91 2,09 2,10 3,88 1,67 3,44 3,34 3,40 2,67 2,57 5,71 1,75 -0,31 0,58 2,02 1,16 2,37 0,74 1,05 1,49 0,60 2,48 1,77 1,27 1,17 1,30 2005 479.323 53.611 26.106 840.903 44.003 216.657 94.963 93.952 231.427 95.095 180.686 151.049 473.616 829.999 42.936 136.080 6.087.219 52.445 958.786 463.889 73.099 23.165 27.764 11.676.773 15.354.166 tx var anual 05/00 1,98 2,04 3,43 1,63 3,00 2,94 2,98 2,44 2,37 4,38 1,70 -0,35 0,61 1,93 1,22 2,21 0,77 1,12 1,47 0,63 2,29 1,75 1,28 1,18 1,30 Quadro 3.11 — Taxa de Crescimento Vegetativo e Taxa Líquida de Migração Municípios (década de 1990) Taxa de crescimento anual Taxa líquida de migração Taxa de crescimento vegetativo Belford Roxo 2,09 0,65 1,44 Cachoeiras de Macacu 2,12 1,04 1,07 Casimiro de Abreu 3,94 1,85 2,09 Duque de Caxias 1,67 0,12 1,56 Guapimirim 3,44 1,80 1,64 Itaboraí 3,34 1,74 1,60 Itaguaí 3,40 0,99 2,41 Japeri 2,67 0,77 1,90 Magé 2,57 1,01 1,56 Marica 5,71 4,49 1,22 -0,31 -1,41 1,10 Niterói 0,58 -0,27 0,85 Nova Iguaçu* 1,97 0,57 1,40 Paracambi 1,18 0,13 1,05 Nilópolis 139 Municípios (década de 1990) Taxa de crescimento anual Taxa líquida de migração Taxa de crescimento vegetativo Queimados 2,37 0,85 1,51 Rio de Janeiro 0,74 -0,13 0,87 Rio Bonito 1,07 -0,32 1,39 São Gonçalo 1,49 0,28 1,21 São João de Meriti 0,60 -0,85 1,46 Seropédica 2,48 1,74 0,73 Silva Jardim 1,78 0,34 1,44 Tanguá 1,27 0,13 1,15 Estado 1,30 0,19 1,11 Região Metropolitana 1,12 0,06 1,06 (*) inclui Mesquita Fonte: Fundação CIDE – Anuário Estatístico (2006) Taxa de Urbanização Os municípios da área estratégica apresentam elevada taxa de urbanização, sendo que dez deles devem ser considerados ―urbanos‖ (Quadro 3.12). Entre os municípios que ainda dispõem de áreas rurais, verifica-se que a evolução do processo de urbanização na década de 1990 foi lenta. As únicas exceções a serem feitas dizem respeito aos municípios localizados no limite sudeste da área ― Maricá e Tanguá ― com variações de mais de dez pontos percentuais neste indicador. Densidade Demográfica A densidade demográfica é muito elevada na maioria dos municípios, sendo que os dados relativos à maioria deles se posicionam em patamar muito superior ao verificado no estado, em geral (Quadro 3.12). É interessante notar que os dois municípios com maior densidade demográfica ― Nilópolis e São João de Meriti ― são os mesmos que apresentaram taxa de emigração mais elevada na década de 1990. Também, os outros municípios com densidade demográfica muito elevada (acima de 3 mil 2 habitantes por km ) apresentaram taxa de migração negativa ou muito baixa, deixando clara a correlação negativa entre estes dois indicadores. Este fato deve ser explicado, provavelmente, por condições associadas à infra-estrutura social disponível, à oferta de oportunidades de emprego-renda e ao custo dos imóveis para compra ou aluguel. No limite leste da área estratégica, os municípios de Guapimirim, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito, Silva Jardim e Casimiro de Abreu destoam, notadamente, dos demais, em função de suas baixas taxas de densidade demográfica e de urbanização. 140 Quadro 3.12 — Taxa de Urbanização e Densidade Demográfica (1991 – 2000) 2 Taxa de Urbanização Densidade Demográfica (hab/km ) Municípios 1991 2000 2000 100,0 100,0 5.500 Cachoeiras de Macacu 79,7 84,7 51 Casimiro de Abreu 85,4 82,8 49 Duque de Caxias 99,4 99,6 1.656 Guapimirim 65,9 67,4 105 Itaboraí 93,3 94,5 437 Itaguaí 93,6 95,4 292 Japeri 100,0 100,0 1.023 Magé 93,9 94,2 532 Marica 70,3 82,6 211 Mesquita nd 100,0 3.992 Nilópolis 100,0 100,0 7.923 Niterói 100,0 100,0 3.416 Nova Iguaçu 99,6 100,0 1.450 Paracambi 92,0 91,1 217 Queimados 100,0 100,0 1.591 Rio de Janeiro 100,0 100,0 4.858 60,2 65,3 107 São Gonçalo 100,0 100,0 3.583 São João de Meriti 100,0 100,0 12.953 Seropédica 75,1 79,5 243 Silva Jardim 60,2 66,8 23 Tanguá 73,3 86,1 182 95,3 96,0 328 Belford Roxo Rio Bonito Estado Notas: (i) a taxa de urbanização de Nova Iguaçu inclui Mesquita em 1991;(ii) a densidade demográfica de Nova Iguaçu em 1991 inclui Belford Roxo, Japeri, Mesquita e Queimados; (iii) a densidade demográfica de Magé, em 1991, inclui Guapimirim; (iv) a densidade demográfica de Itaguaí, em 1991, inclui Seropédica; e (v) a densidade demográfica de Itaboraí, em 1991, inclui Tanguá. Fonte: Fundação CIDE, Área Estratégica (1990/91 e 2006) 3.2.1.3 Dinâmica Econômica Considerou-se necessário trabalhar indicadores da dinâmica econômica recente da área estratégica, como forma de apoiar a validação dos resultados da foto-interpretação, assim como estabelecer uma base inicial para a posterior projeção de tendências e construção dos cenários. Participação no PIB Estadual Serviços — a área estratégica, objeto da presente análise, concentra mais da metade (58,6%) do PIB do Estado do Rio de Janeiro (Quadros 3.13 e 3.14). A característica mais marcante da estrutura produtiva desta área está associada ao fato dela concentrar 82,6% de todas as atividades terciárias do estado, o que explica o fato do setor de serviços contribuir com 2/3 do seu PIB (Quadro 3.14). 141 A importância relativa das atividades terciárias deriva da posição de destaque ocupada pela capital: o Município do Rio de Janeiro, isoladamente, concentra 61% de todo o setor terciário estadual. Dentro da hierarquia da economia e da rede de cidades do estado, concentra as atividades financeiras, de administração pública ― local, estadual e federal ― assim como as sedes das principais empresas localizadas no estado ― notadamente as do setor de óleo e gás natural e mineração/siderurgia ― e boa parte das suas fornecedoras. Indústria — por sua vez, a atividade industrial tem uma participação relativamente baixa (terça parte) no PIB. Ainda assim, a área estratégica concentra 37% da produção industrial estadual. Destaque deve ser dado ao fato de a indústria da construção civil ter representado 77,2% do PIB da construção civil do estado em 2005 (Quadro 3.14). Quanto à indústria da transformação, os municípios do Rio de Janeiro e Duque de Caxias concentram 54,7% da indústria de transformação do estado. Somadas as contribuições de Niterói, Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo e São Gonçalo, este percentual sobe para 62,8%. Mesquita, Nilópolis e Queimados também possuem forte base industrial, com cerca de 40% dos seus respectivos PIB. Contudo, por se tratarem de municípios pequenos, tem pouca relevância no contexto estadual. No extremo oeste os municípios de Itaguaí, Seropédica e Japeri possuem, até aqui, baixa participação do setor industrial na composição da sua economia, representando menos de 20% do PIB e muito menos ainda dentro do contexto estadual (menos de 0,1%). Prevalecem nestes municípios as atividades terciárias. Situação semelhante apresenta Paracambi, o de menor PIB entre os deste setor. As contribuições da indústria da construção civil são mais uniformes, pois estão, freqüentemente, ligadas à dinâmica urbana das cidades (construção/melhoria nas habitações e investimentos em infra-estruturas) e não tanto à instalação de grandes empresas ou à existência de pólos industriais. Contudo, chama a atenção no extremo leste, Casimiro de Abreu, com 45,7% do seu PIB proveniente da indústria da construção civil. Também, em Maricá a construção civil tem peso significativo, tendo contribuído com 22% do PIB, em 2005. Conforme registrado, este município se apresenta como o de mais alta taxa de crescimento demográfico da área estratégica, com uma taxa líquida de migração de 4,5% ao ano. Interessa notar que, também, apresenta elevadas taxas de crescimento e migração, ambas apenas inferiores a de Maricá. Ainda sobressai a importância da indústria da construção civil em três pequenos municípios centrais da Baixada Fluminense: Mesquita (37% do PIB), Nilópolis (33,6%) e São João de Meriti (18%). 142 Quadro 3.13 — PIB por Setor de Atividade por Unidades Territoriais (2005) (R$ Mil correntes) Unidade Territorial Estado Bacia de Campos Estado - Bacia de Campos - AI Total da AI Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Marica Mesquita Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio Bonito Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Silva Jardim Tanguá Fonte: Fundação CIDE (2005) Agropecuária 1.100.285 0 968.317 131.969 564 13.705 7.745 3.266 4.955 5.371 2.701 5.498 5.939 1.822 282 27 10.208 3.213 3.671 16.526 19.027 1.671 10 5.922 14.112 5.733 Indústria Total 140.922.126 63.041.963 25.773.382 52.106.781 1.830.764 193.780 152.933 11.949.820 64.478 291.517 126.316 27.468 221.208 188.231 493.140 403.476 1.958.260 1.326.424 73.065 307.283 108.343 29.981.392 1.702.536 605.113 55.296 19.756 26.181 Transformação 50.328.202 0 18.273.057 32.055.145 1.448.085 137.747 23.211 11.097.452 9.592 79.173 11.384 1.555 27.216 25.099 11.746 20.442 1.187.077 466.727 28.944 228.303 25.108 16.446.923 706.625 58.015 10.072 2.193 2.455 Construção civil 16.850.670 0 3.846.354 13.004.316 259.057 27.952 117.121 544.745 33.875 133.237 56.954 11.861 134.271 122.283 434.669 332.842 416.976 500.407 28.138 30.896 67.485 8.629.756 665.285 412.209 21.111 12.329 10.856 Serviços Total dos setores 128.728.831 0 22.336.562 106.392.269 1.588.608 199.872 95.445 6.602.824 186.694 721.021 1.077.905 285.326 893.209 352.482 679.777 587.889 4.456.752 3.349.137 195.232 496.867 575.497 78.628.184 3.323.999 1.667.385 274.155 73.755 80.255 270.751.243 63.041.963 49.078.261 158.631.019 3.419.936 407.357 256.122 18.555.910 256.127 1.017.908 1.206.922 318.293 1.120.357 542.535 1.173.199 991.365 6.415.039 4.685.769 271.510 807.821 700.366 108.628.603 5.028.206 2.272.508 335.373 107.623 112.170 PIB a preços de mercado 285.775.455 61.426.452 53.009.952 171.339.051 3.693.909 439.991 276.640 20.042.436 276.645 1.099.454 1.303.610 343.791 1.210.109 585.998 1.267.185 1.070.784 6.928.951 5.061.149 293.260 872.536 756.472 117.330.910 5.431.019 2.454.560 362.240 116.245 121.156 143 Quadro 3.14 — Participação Relativa das Unidades Territoriais na Formação do PIB Estadual, por Setor de Atividade (2005) Unidade Territorial Estado Bacia de Campos Estado - Bacia de Campos - AI Total da AI Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Maricá Mesquita Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio Bonito Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Silva Jardim Tanguá Fonte: Fundação CIDE (2005) Agropecuária 100,0 0,0 88,0 12,0 0,1 1,2 0,7 0,3 0,5 0,5 0,2 0,5 0,5 0,2 0,0 -0,0 0,9 0,3 0,3 1,5 1,7 0,2 0,0 0,5 1,3 0,5 Indústria Total 100,0 44,7 18,3 37,0 1,3 0,1 0,1 8,5 0,0 0,2 0,1 0,0 0,2 0,1 0,3 0,3 1,4 0,9 0,1 0,2 0,1 21,3 1,2 0,4 0,0 0,0 0,0 Transformação 100,0 0,0 36,3 63,7 2,9 0,3 0,0 22,1 0,0 0,2 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 2,4 0,9 0,1 0,5 0,0 32,7 1,4 0,1 0,0 0,0 0,0 Construção Civil 100,0 0,0 22,8 77,2 1,5 0,2 0,7 3,2 0,2 0,8 0,3 0,1 0,8 0,7 2,6 2,0 2,5 3,0 0,2 0,2 0,4 51,2 3,9 2,4 0,1 0,1 0,1 Serviços 100,0 0,0 17,4 82,6 1,2 0,2 0,1 5,1 0,1 0,6 0,8 0,2 0,7 0,3 0,5 0,5 3,5 2,6 0,2 0,4 0,4 61,1 2,6 1,3 0,2 0,1 0,1 Total dos setores 100,0 23,3 18,1 58,6 1,3 0,2 0,1 6,9 0,1 0,4 0,4 0,1 0,4 0,2 0,4 0,4 2,4 1,7 0,1 0,3 0,3 40,1 1,9 0,8 0,1 0,0 0,0 PIB a preços de mercado 100,0 21,5 18,5 60,0 1,3 0,2 0,1 7,0 0,1 0,4 0,5 0,1 0,4 0,2 0,4 0,4 2,4 1,8 0,1 0,3 0,3 41,1 1,9 0,9 0,1 0,0 0,0 144 Evolução do PIB (2005-1996) Entre 1996 e 2005, a soma dos PIB dos municípios da área estratégica cresceu apenas 4,1%. Neste mesmo período, estima-se que a população total tenha crescido 4,5%, indicando assim que houve ligeiro declínio real no PIB per capta. Esse desempenho econômico verificado está fortemente influenciado pelo desempenho da capital do estado. Neste mesmo período (2005-1996), o Município do Rio de Janeiro sofreu perda real de 9% do PIB enquanto, na média, os outros municípios lograram uma expansão da ordem de 50%. Também neste período, os demais municípios registraram crescimento do PIB ainda mais acelerado, com expansão acumulada da ordem de 60%. De fato, o desempenho de toda a economia do ERJ foi afetado negativamente pelo desempenho da capital. Não fosse a expansão das atividades petrolíferas na Bacia de Campos, o estado teria registrado crescimento acumulado de apenas 13,5% (Quadro 3.15). Para se ter uma idéia do impacto desta atividade sobre os resultados da economia do estado, o PIB registrado para a Bacia de Campos, que representava apenas 3% do PIB estadual em 1996, passou a 9,4% no ano 2000 e 21% em 2005. Ainda em relação ao Município do Rio de Janeiro, vale destacar que, segundo os dados disponíveis, o processo de perdas econômicas tem-se intensificado ao longo dos anos. As perdas verificadas nos anos mais recentes — PIB registrando perda real de 2% ao ano, entre 2000 e 2005 — foram maiores que as apuradas no período anterior ao aqui analisado (0,2% a.a., entre 2000 e 1996). Conforme pode ser observado no Quadro 3.16, este processo é fruto da perda de dinamismo do setor terciário da economia, uma vez que a indústria cresceu no período 2000-2005, em média, 4,2% a.a.. Na Baixada Fluminense, os municípios vizinhos Nilópolis e São João de Meriti apresentam dinâmicas quase opostas. Em Nilópolis, houve reversão da taxa de crescimento negativo da indústria, que passou de 2,8% a.a., entre 1996 e 2000, para 8,2%, entre 2000 e 2005 (Quadro 3.16 e 3.17). Este resultado está associado à evolução da taxa de crescimento da construção civil que passou de - 4,2% a.a. para 9,5% a.a. de um período para o outro. A influência deste resultado no cômputo geral não é, contudo, tão grande, pois a construção civil representa apenas 1/3 do seu PIB (Quadro 3.18). Dessa forma, o baixo desempenho do setor terciário (-0,4% a.a.) acabou por manter a taxa de crescimento do PIB em modestos 1,9% a.a.. Mesmo assim, vale notar que os resultados verificados representaram a reversão do quadro de retração econômica registrado no período anterior. Por sua vez, o desempenho de São João de Meriti passa de uma taxa de crescimento do PIB de 3,1%, entre 1996 e 2000, para uma taxa negativa de 0,7% a.a.. Esta inversão foi puxada pela retração da atividade industrial, sobretudo da construção civil (-3,3% a.a.) que, só em 2004, apresentou perda real do valor da produção equivalente a 6,2% do PIB. A indústria de transformação apresentou taxa negativa muito elevada no período (-14% a.a.). Contudo, seu pequeno peso na 4 formação do PIB deste município (2,6%) explica o fato de não influir no resultado global (Quadro 3.18). 4 Entre 2000 e 2004, outros ramos da indústria de transformação que puxaram o desempenho para baixo foram: indústria de produtos de matéria plástica (perda real do valor da produção equivalente a 0,86% do PIB de 2004, ou -30% a.a.), produtos alimentares (-0,49% em relação ao PIB de 2004 ou -9% a.a.) e a indústria de equipamentos e materiais médicos (-1% em relação ao PIB de 2004 ou -63% a.a.). 145 Quadro 3.15 — Variação do PIB por Unidade Territorial (2005-1996) Unidade Territorial PIB 2005 Var % 2005-1996 acum Var % 2005-2000 anual acum Var % 2000-1996 anual acum anual 285.775.455 40,2 3,8 22,7 4,2 14,3 3,4 224.349.003 13,5 1,4 9,4 1,8 3,8 0,9 Bacia de Campos 61.426.452 891,9 29,0 120,8 17,2 349,2 45,6 Outros municípios ERJ 53.009.952 60,4 5,4 50,0 8,5 6,9 1,7 Total da AIE 171.339.051 4,1 0,4 0,9 0,2 3,2 0,8 Belford Roxo 3.693.909 105,4 8,3 75,0 11,8 17,4 4,1 439.991 65,7 5,8 56,1 9,3 6,2 1,5 Estado Estado excluída a Bacia de Campos Cachoeiras de Macacu 276.640 98,5 7,9 42,0 7,3 39,8 8,7 20.042.436 92,3 7,5 81,1 12,6 6,1 1,5 276.645 21,4 2,2 13,4 2,6 7,0 1,7 Itaboraí 1.099.454 na na 27,8 5,0 na na Itaboraí + Tanguá 1.220.609 17,0 1,8 17,9 3,3 -0,8 -0,2 Itaguaí 1.303.610 na na 61,9 10,1 na na Itaguaí + Seropédica 1.665.850 77,5 6,6 41,0 7,1 25,9 5,9 Japeri 343.791 53,3 4,9 36,2 6,4 12,5 3,0 Magé 1.210.109 25,1 2,5 18,3 3,4 5,7 1,4 585.998 43,2 4,1 26,3 4,8 13,4 3,2 Mesquita 1.267.185 na na na na na na Nilópolis 1.070.784 8,1 0,9 10,1 1,9 -1,8 -0,5 Niterói 6.928.951 28,0 2,8 14,9 2,8 11,4 2,7 Nova Iguaçu 5.061.149 na na na na na na 293.260 23,4 2,4 16,7 3,1 5,8 1,4 7.200.870 45,0 4,2 13,9 2,6 27,3 6,2 872.536 na na 6,9 1,3 na na 117.330.910 -9,0 -1,0 -9,6 -2,0 0,7 0,2 Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Marica Paracambi Nova Iguaçu + Mesquita + Queimados Queimados Rio de Janeiro 756.472 121,1 9,2 115,3 16,6 2,7 0,7 São Gonçalo 5.431.019 9,1 1,0 -3,3 -0,7 12,9 3,1 São João de Meriti 2.454.560 9,5 1,0 -3,3 -0,7 13,2 3,1 Seropédica 362.240 na na -3,8 -0,8 na na Silva Jardim 116.245 40,1 3,8 16,7 3,1 20,1 4,7 Tanguá 121.156 na na -30,7 -7,1 na na Rio Bonito Notas: 1) valores do PIB corrigido pelo deflator implícito do PIB. 2) Nova Iguaçu inclui Mesquita em 2000 e 1996. 3) Nova Iguaçu inclui Queimados em 1996. 4) Itaguaí inclui Seropédica em 1996. 5) Itaboraí inclui Tanguá em 1996. 6) na = não aplicável, pois houve desmembramento territorial. Fonte: Fundação CIDE (2005) 146 Quadro 3.16 — Variação Anual do PIB, por Setor de Atividade (2000-2005) Unidade Territorial Agropecuária Indústria Total Transformação Construção civil Serviços PIB Estado 4,8 11,9 11,0 2,6 -1,3 4,2 Bacia de Campos Na 17,1 na na na 17,2 Outros municípios 4,3 13,0 16,6 2,6 4,1 8,5 Total da AI 12,4 6,7 8,3 2,6 -2,3 0,1 Belford Roxo 28,6 18,8 25,0 4,8 3,8 11,8 Cachoeiras de Macacu -6,9 19,8 33,8 -5,7 4,7 9,3 Casimiro de Abreu 29,5 11,3 82,8 7,8 0,6 7,3 Duque de Caxias 13,4 17,2 18,4 4,2 5,8 12,6 Guapimirim -1,7 -2,4 -20,6 2,7 4,3 2,6 Itaboraí 48,3 13,3 16,6 9,8 1,9 5,0 Itaguaí 13,7 2,8 8,3 -1,6 11,5 10,1 Japeri 54,7 1,2 22,4 3,9 5,2 6,4 Magé -8,3 3,5 -7,1 6,3 4,4 3,4 Marica 47,7 4,5 28,7 0,5 4,4 4,8 Na 8,2 9,4 9,5 -0,4 1,9 -31,8 16,7 39,0 -1,2 0,8 2,8 Nova Iguaçu + Mesquita 16,8 0,6 0,9 -2,6 3,6 2,8 Paracambi 10,0 3,0 -3,8 9,8 1,9 3,1 Queimados 62,5 -3,2 -5,7 3,7 3,3 1,3 Rio de Janeiro 27,1 4,2 3,1 4,3 -3,7 -2,0 Rio Bonito 30,5 7,9 -7,4 21,8 18,4 16,6 São Gonçalo -24,7 -1,5 0,3 -5,5 -0,2 -0,7 São João de Meriti -21,0 -3,8 -14,0 -3,3 1,3 -0,7 Seropédica 6,2 -7,5 -21,4 2,2 -1,2 -0,8 Silva Jardim 13,9 2,9 -5,2 10,3 0,2 3,1 Nilópolis Niterói Fonte: Fundação CIDE (2005) 147 Quadro 3.17 — Variação da Participação Relativa dos Setores de Atividade na Formação do PIB (1996 - 2005) Unidade Territorial Estado Indústria Agropecuária Total -0,9 21,9 Transformação 2,3 Construção civil Serviços PIB -1,5 -21,9 0,0 Bacia de Campos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 18,5 Outros municípios -0,6 10,0 12,0 -4,1 -9,4 2,5 Total da AI 0,0 8,1 5,0 1,0 -8,2 -20,9 Belford Roxo 0,0 21,2 22,4 0,7 -21,2 0,4 Cachoeiras de Macacu -4,4 24,0 27,2 -7,8 -19,7 0,0 Casimiro de Abreu -0,8 18,5 7,9 8,4 -17,7 0,0 Duque de Caxias 0,0 10,7 12,5 -1,8 -10,7 1,9 Guapimirim 0,5 -19,5 -17,2 -7,0 19,0 0,0 Itaboraí + Tanguá 0,4 -4,8 -6,8 -3,5 4,4 -0,1 -0,9 -13,4 -7,9 -3,9 14,3 0,1 Japeri 1,1 -0,1 0,3 0,7 -1,0 0,0 Magé -0,5 -5,7 -4,1 -2,5 6,2 -0,1 Marica -2,5 -2,2 2,0 -7,8 4,7 0,0 Nilópolis 0,0 6,6 0,3 5,5 -6,6 -0,1 Niterói Nova Iguaçu,Mesquita e Queimados 0,0 8,6 11,1 -3,9 -8,6 -0,2 0,1 -2,7 -3,8 -2,3 2,6 0,1 Paracambi 0,1 -3,5 -4,2 -2,1 3,4 0,0 Rio de Janeiro 0,0 6,1 1,7 1,9 -6,1 -22,2 -2,6 0,2 1,9 -3,3 2,4 0,1 Itaguaí + Seropédica Rio Bonito São Gonçalo 0,0 1,7 -0,7 0,5 -1,7 -0,5 São João de Meriti 0,0 -3,3 -4,8 0,5 3,3 -0,2 Silva Jardim Fonte: Fundação CIDE (2005) 3,2 0,6 -1,4 2,2 -3,7 0,0 148 Quadro 3.18 — Participação Relativa dos Setores de Atividade na Formação do PIB das Unidades Territoriais (2005) Unidade Territorial Estado Bacia de Campos Estado - Bacia de Campos - AI Total da AI Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Marica Mesquita Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio Bonito Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Silva Jardim Tanguá Fonte: Fundação CIDE (2005) Agropecuária 0,41 -1,97 0,08 0,02 3,36 3,02 0,02 1,93 0,53 0,22 1,73 0,53 0,34 0,02 0,00 0,00 0,22 1,18 0,45 2,36 0,02 0,03 0,00 1,77 13,11 5,11 Indústria Total Transformação 52,0 100,0 52,5 32,8 53,5 47,6 59,7 64,4 25,2 28,6 10,5 8,6 19,7 34,7 42,0 40,7 30,5 28,3 26,9 38,0 15,5 27,6 33,9 26,6 16,5 18,4 23,3 18,6 -37,2 20,2 42,3 33,8 9,1 59,8 3,7 7,8 0,9 0,5 2,4 4,6 1,0 2,1 18,5 10,0 10,7 28,3 3,6 15,1 14,1 2,6 3,0 2,0 2,2 Construção Civil 6,2 -7,8 8,2 7,6 6,9 45,7 2,9 13,2 13,1 4,7 3,7 12,0 22,5 37,0 33,6 6,5 10,7 10,4 3,8 9,6 7,9 13,2 18,1 6,3 11,5 9,7 Serviços 47,5 -45,5 67,1 46,5 49,1 37,3 35,6 72,9 70,8 89,3 89,6 79,7 65,0 57,9 59,3 69,5 71,5 71,9 61,5 82,2 72,4 66,1 73,4 81,7 68,5 71,5 Total dos setores 270.751.243 63.041.963 50.821.239 156.888.041 3.419.936 407.357 256.122 18.555.910 256.127 1.017.908 1.206.922 318.293 1.120.357 542.535 1.173.199 991.365 6.415.039 4.685.769 271.510 807.821 700.366 108.628.603 5.028.206 2.272.508 335.373 107.623 112.170 PIB a preços de mercado 285.775.455 61.426.452 54.892.561 169.456.442 3.693.909 439.991 276.640 20.042.436 276.645 1.099.454 1.303.610 343.791 1.210.109 585.998 1.267.185 1.070.784 6.928.951 5.061.149 293.260 872.536 756.472 117.330.910 5.431.019 2.454.560 362.240 116.245 121.156 149 O principal pólo de expansão econômica da área estratégica são os municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense: o primeiro dobrou o PIB, entre 2005 e 1996, e o segundo ficou próximo disso. Além disto, verifica-se que a expansão econômica destes municípios é mais recente, sendo a taxa de expansão acumulada do PIB, entre 2005 e 2000, muito superior a verificada entre 2000 e 1996. O motor da expansão é a indústria de transformação, com taxa de crescimento anual, entre 2000 e 2005, de 25% a.a. em Belford Roxo e 18,4% a.a. em Duque de Caxias. Provavelmente impulsionado pela demanda gerada pela indústria, o setor terciário, também, apresentou bom desempenho, com taxas de 3,8% e 5,8% a.a., respectivamente. Em ambos os municípios, destacam-se o crescimento da indústria química, com aumento do valor da produção entre 2000 e 2004 equivalente a 21% do PIB de 2004. Em Belford Roxo, este segmento registrou crescimento de 27,5% a.a. e em Duque de Caxias 17,6%. A oeste, o conjunto formado por Nova Iguaçu, Queimados e Mesquita registrou bom desempenho econômico, com 45% crescimento do PIB, entre 2005 e 1996, (ou um crescimento da ordem de 4,2% ao ano), especialmente entre 1996 e 2000 (6,2% a.a.). Entre 2000 e 2005, a taxa anual recuou para 2,6% ao ano (ou 2,8% se desconsiderando Queimados), indicando desaceleração no crescimento deste conjunto. Observa-se que os piores desempenhos foram apresentados pelo setor de construção civil em Nova Iguaçu e Mesquita (-2,6% a.a.) e da indústria de transformação em Queimados (-5,7% a.a.). A análise dos sub-setores industriais entre 2000 e 2004 (em termos de 5 variação do valor real da produção , como proporção do PIB de 2004) revela que Queimados passou por uma grande expansão da indústria metalúrgica (12,74%), enquanto diversos outros ramos (indústria de produtos de matéria plástica, alimentares, equipamentos e materiais médicos, têxtil e bebidas) sofreram perdas entre 3 e 5%, o que acabou por determinar a taxa negativa da indústria de transformação como um todo. Seguindo para oeste, o pequeno Município de Japeri vem apresentando aceleração do crescimento, de 3%, entre 1996 e 2000, para 6,4% nos últimos anos, em função do aquecimento do setor de serviços (5,2% a.a.), sobretudo do segmento da administração pública (1/3 do PIB em 2004). A agropecuária e a indústria de transformação tiveram desempenhos relativos muito altos, porém sobre base muito reduzida, sendo, portanto, pouco significativos para a elevação da taxa de crescimento do PIB municipal. Na seqüência observa-se Paracambi com modesta aceleração do PIB entre períodos, em função da retomada da construção civil (9,8% a.a. entre 2005 e 2000). Atingindo o limite oeste da área estratégica vem Itaguaí crescendo 10% a.a., sendo 11,5% a.a. de crescimento do setor terciário, provavelmente, influenciado pela expansão das atividades ligadas ao Porto de Itaguaí (até 2007 seu nome era Porto de Sepetiba). Confirmando esta hipótese, verifica-se neste município que o sub-setor terciário ―transportes‖ apresentou aumento real do valor da produção, entre 2000 e 2004, equivalente a 8,5% do PIB de 2004. Enquanto isso, o município vizinho de Seropédica apresentou uma taxa negativa de crescimento (-0,8%), com perdas significativas nos sub-ramos industriais ―extração de outros minerais‖ (-3,3% de valor real de produção em relação ao PIB de 2004) e produtos alimentares (-7,1%). No período anterior (1996-2000), quando Seropédica ainda não havia se desmembrado de Itaguaí, a taxa conjunta destes dois municípios foi de 6% a.a., puxada pela expansão do setor terciário. Sendo 5 Valores corrigidos pelo deflator implícito do PIB. 150 assim, se verificou nestes municípios grande aumento da participação relativa do setor terciário da economia: de 73% em 1996 para 88% em 2005. Dando a volta na direção leste da área estratégica, a partir de Duque de Caxias, tem-se os municípios de Guapimirim e Magé. Ambos apresentaram taxas de crescimento modestas do PIB (pouco mais de 2% a.a.), porém em trajetórias ascendentes em relação ao período anterior, em função da expansão das atividades terciárias (4,4% a.a.). Em ambos, destacou-se o ramo administração pública. Municípios com base industrial modesta (entre 1/4 e 1/5 do PIB de 2005 respectivamente), Guapimirim registrou retração de sua indústria (-2,4% a.a.), principalmente, das indústrias de transformação (-20,6% a.a.), em especial da indústria de papel e celulose (-28% a.a. entre 2000 e 2004), enquanto Magé registrou crescimento tanto da indústria (3,5% a.a. em função da expansão da construção civil), como do setor terciário. Devido à forte oposição na dinâmica dos segmentos industrial e de serviços, Guapimirim registrou o maior crescimento relativo do setor terciário entre todos os municípios da área estratégica, de 54% em 1996, para 73% em 2005. Na seqüência vem Itaboraí, com taxa de crescimento do PIB de 5% a.a., entre 2000 e 2005, crescimento este puxado pela expansão das atividades industriais (13,3% a.a.) tanto da construção civil (9,8% a.a.) como da indústria de transformação (16,6%), com ambos os setores contribuindo de forma semelhante, tendo em vista o maior peso da construção civil na formação do PIB (Quadro 3.16). No limite leste, tem-se o também pequeno município de Tanguá, recentemente desmembrado de Itaboraí, registrando o pior desempenho de toda a área estratégica (-7,1% a.a.), em decorrência da retração muito acentuada do setor de serviços (11,3% a.a.) que superou, em muito, no sentido negativo, os bons desempenhos da indústria e do setor agropecuário. No período anterior (19962000), esta dupla de municípios registrou pequena perda real de PIB (-0,2% a.a.), em função do desempenho negativo da indústria (-14,2% a.a.) que, no período seguinte, seria o principal setor de expansão. Os demais municípios da porção leste metropolitana apresentam dinâmicas muito próprias. Tem-se São Gonçalo em processo de desaceleração econômica, com uma taxa anual de 3,1% a.a., entre 1996 e 2000, se revertendo em uma taxa negativa de 0,7% a.a. no período mais recente, principalmente, em função da retração do setor de construção civil, que despencou de uma taxa de 10,8% a.a., entre 1996 e 2000 (Quadro 3.19), para -5,5%, entre 2000 e 2005. Niterói apresenta crescimento estável de 2,8% a.a.. Apesar de mantida a taxa de crescimento médio do PIB ao longo do período sob análise, o desmembramento dos setores de atividade revela momentos muito distintos na sua dinâmica econômica. Entre 1996 e 2000, a indústria declinava e a economia era sustentada pela expansão do setor terciário. No período seguinte, a indústria de transformação passa a sustentar a taxa de crescimento do PIB (39% a.a.), tendo o setor de serviços declinado sua taxa de crescimento para menos de 1% a.a.. A elevada taxa de crescimento da indústria de transformação fez com que este segmento industrial elevasse sua participação na formação do PIB municipal de 7,4% em 1996, para 18,5% em 2005, atrás apenas do crescimento deste setor em Belford Roxo e Duque de Caxias. No caso de Niterói, sabe-se que este resultado se deveu à recuperação da indústria naval, em decorrência das demandas geradas pela indústria de O&G (fundamentalmente a produção na bacia de Campos). Os dados da indústria de material de transporte indicam que houve variação real da produção, entre 2000 e 2004, equivalente a 32% do PIB de 2004. 151 Em relação a Maricá, os dados de PIB indicam aceleração da taxa de crescimento de 3,2% para 4,8% a.a., na primeira metade desta década. O resultado é fruto da manutenção do bom ritmo de desenvolvimento do setor de serviços, uma vez que os outros setores que apresentam desempenho relativo muito alto (indústria de transformação e agropecuária) têm peso relativo muito baixo na composição do PIB. Contudo, os dados indicam a necessidade de cuidados na interpretação deste resultado, pois o principal vetor de crescimento dentro do setor serviços foi a administração pública (18,5%). A construção civil é o principal setor a puxar o desempenho deste município para baixo, com taxa média, no período 1996-2005, de apenas 0,6%, o que implicou em 7,8% de perda de participação relativa. Quadro 3.19 — Variação Anual do PIB, por Setor de Atividade (1996-2000) Unidade Territorial Agropecuária Indústria Total Transformação Construção Civil Serviços PIB -0,8 8,9 -0,8 0,2 1,1 3,4 Bacia de Campos Na 45,6 Na na Na 45,6 Outros municípios -0,2 1,6 2,5 -1,9 1,9 1,7 Total da AI -9,7 0,0 -1,9 0,9 0,9 0,8 Belford Roxo 4,6 7,7 7,4 13,6 2,3 4,1 Cachoeiras de Macacu 0,8 8,0 18,5 1,1 -1,5 1,5 Casimiro de Abreu -19,3 13,7 -6,7 13,4 6,6 8,7 Duque de Caxias -11,1 1,6 1,6 -0,5 3,3 1,5 15,3 -6,9 -9,6 -9,3 6,7 1,7 Itaboraí + Tanguá -28,1 -14,2 -27,6 -13,3 5,0 -0,2 Itaguaí + Seropédica -18,1 -4,0 -16,2 0,1 8,6 5,9 Japeri -19,1 7,7 16,4 9,9 2,7 3,0 Magé 0,5 -3,9 -8,5 -5,5 3,3 1,4 -60,7 1,8 -7,7 0,7 5,5 3,2 Nilópolis Na -2,8 -4,2 -4,2 0,4 -0,5 Niterói Nova Iguaçu, Mesquita e Queimados 7,8 -2,6 -9,5 -1,9 4,7 2,7 -6,8 7,6 3,8 9,2 6,2 6,2 Paracambi -5,9 -2,4 1,0 -11,3 3,3 1,4 Rio de Janeiro -7,4 -1,2 -3,2 -0,9 0,3 0,2 -14,3 -3,7 -3,0 -8,1 2,9 0,7 17,3 5,5 0,6 10,8 1,8 3,1 4,6 4,8 -4,7 8,0 2,3 3,1 -2,0 4,7 1,0 0,3 5,9 4,7 Estado Guapimirim Marica Rio Bonito São Gonçalo São João de Meriti Silva Jardim Fonte: Fundação CIDE (2005) No extremo leste da área estratégica têm-se quatro municípios com participação relativamente elevada da agropecuária na formação do PIB: Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito e Silva Jardim. Todos registrando desempenho econômico bom ou excelente no período 1996-2005. Casimiro de Abreu sofreu leve desaceleração (de 8,7% a.a., entre 1996 e 2000, para 7,3% a.a., entre 2000 e 2005), em função da perda de dinamismo do setor de serviços. Em compensação, a indústria 152 de transformação e a agropecuária, que tem participação relativa pequena, tiveram crescimento explosivo no período recente. Cachoeiras de Macacu passa por intenso processo de aceleração da variação do PIB (de 1,5% a.a. para 9,3%), em função da expansão da indústria de transformação, que tem importante presença neste município (33,8%), ao contrário dos demais. Rio Bonito apresenta a maior taxa de crescimento anual entre 2000 e 2005, 16,6% a.a., em função da forte expansão do setor terciário da economia. Também, a agropecuária e a indústria da construção civil apresentaram taxas muito elevadas, porém sobre base reduzida, portanto, tendo peso pequeno no referido processo. Por fim, tem-se Silva Jardim, município com a maior participação relativa da agropecuária na formação do PIB (13,1%), que sofreu leve desaceleração entre os períodos analisados (de 4,7% a.a. para 3,1%). O declínio da atividade econômica, em função da forte desaceleração do setor de serviços, só não foi maior devido à forte expansão da agropecuária e da construção civil. No Quadro 3.17 é apresentada a variação na participação dos setores de atividade na formação do PIB dos diferentes municípios entre 1996 e 2005. Na última coluna ―PIB‖ é apresentada a variação da contribuição destas unidades territoriais na formação do PIB estadual. Desta coluna, destaca-se a perda da importância relativa da área estratégica, cuja participação declinou de uma contribuição da ordem de 80% do PIB estadual, em 1996, para 60%, em 2005. Em contrapartida a este declínio da contribuição da área estratégica, tem-se a expansão das atividades na Bacia de Campos, que aumentaram sua participação de 3%, em 1996, para 21%, em 2005. Conforme assinalado no período, a Bacia de Campos teve crescimento médio anual de 29%, enquanto a área estratégica cresceu apenas 0,4%. Também, é importante relembrar que o baixo crescimento verificado é explicado, sobretudo, pelo baixo desempenho da economia da capital, uma vez que o restante dos municípios apresentou taxas de crescimento do PIB, em geral, bastante elevadas. Pode-se dizer, de maneira geral, que o Estado do Rio Janeiro passou, no período entre 1996 e 2005, por um processo de expansão de sua base industrial, notadamente, as indústrias do petróleo, química, siderúrgica e automobilística. No caso da área estratégica, destacam-se os municípios de Belford Roxo (indústria química), Duque de Caxias (indústria química) e Niterói (indústria naval). Em contrapartida, o período registra perdas em termos da participação relativa do setor terciário, refletindo o peso do município do Rio de Janeiro, dado que ele concentra 61% desse setor no estado e vem perdendo atividades desde a década de 1980. 3.2.1.4 Desempenho das Receitas Públicas dos Municípios A distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), transferência constitucional composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto sobre 6 Produtos Industrializados, ocorre em função do número de habitantes dos municípios . Analisando-se o aumento desta arrecadação de 2001 para 2005 (Quadro 3.20), observa-se que Maricá destaca-se com o maior aumento percentual (131%), seguido de Seropédica (117%) e Japeri (106%), Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu (104%) e Queimados (103%). 6 São fixadas faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente individual. O mínimo é de 0,6 para municípios com até 10.188 habitantes e o máximo 4,0 para aqueles acima 156 mil (CF, Art. 159, I, b) (APREMERJ, 2007). 153 Com relação ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), a partilha ocorre de acordo com o número de alunos atendidos em cada 7 rede de ensino . Quadro 3.20 — Valores de Transferências Constitucionais – 2001/2006 Municípios FPM (85%) (1.000,00 R$) 2001 2006 FUNDEF (1.000,00 R$) 2001 2006 Royalties (1.000,00 R$) 2001 2006 Rio de Janeiro 48.513 82.927 471.067 735.857 25.999 80.758 Niterói 11.024 19.729 11.494 20.822 1.399 6.327 Belford Roxo 11.024 19.729 27.108 56.322 828 3.372 Cachoeiras de Macacu 4.094 8.350 2.974 6.587 243 1.076 Casimiro de Abreu 3.280 5.588 2.737 5.236 450 1.428 11.290 19.982 49.896 110.988 4.290 20.183 3.556 6.832 3.482 7.032 187 601 Itaboraí 11.024 19.729 17.802 31.805 394 1.250 Itaguaí 6.276 11.469 7.874 19.229 495 4.294 Japeri 5.532 11.385 9.487 15.205 152 727 Magé 11.024 19.729 14.011 38.075 362 1.137 Duque de Caxias Guapimirim Maricá 4.936 11.385 5.200 11.640 212 795 Mesquita 11.024 20.066 4.725 13.538 195 941 Nilópolis 10.681 18.662 8.050 12.727 265 866 Nova Iguaçu 13.132 20.996 32.524 68.428 1.300 4.593 Paracambi 3.556 6.832 2.890 6.136 158 582 Queimados 6.718 13.663 8.595 16.323 370 970 Rio Bonito 4.094 8.350 4.721 8.478 207 729 São Gonçalo 11.804 20.865 32.343 54.002 1.607 4.943 São João de Meriti 11.024 19.729 21.472 33.257 747 2.180 Seropédica 4.540 9.867 6.638 14.666 187 677 Silva Jardim 2.553 4.559 2.380 3.841 205 712 Tanguá 2.766 Fonte: TCE - RJ (2001-2004, 2006) 5.314 2.479 4.394 154 493 Todos os municípios obtiveram um aumento na arrecadação do FUNDEF de 2001 para 2006, porém, os municípios que mais evoluíram foram Mesquita (187%), Magé (172%), Itaguaí (144%), Maricá (124%), Duque de Caxias (122%), Cachoeiras de Macacu e Seropédica (121%), Paracambi (112%), Nova Iguaçu (110%), Belford Roxo (108%) e Guapimirim (102%). O mesmo ocorreu com os royalties, que aumentaram em todos os municípios, destacando-se Itaguaí, com aumento na arrecadação de 767%, seguido por Mesquita (383%), Japeri (378%), Duque de Caxias (370%), Niterói (352%) e Cachoeiras de Macacu (343%). 7 Implantado, nacionalmente, em 1998, inovou ao subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitucionalmente destinados à educação. Introduz novos critérios de distribuição e utilização de 15% dos principais impostos de estados e municípios (MEC, 2007). 154 O ICMS é um imposto estadual que incide sobre a circulação de produtos como gêneros alimentícios, utilidades domésticas, eletrodomésticos dentre outros e, também, sobre serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Os municípios que mais contribuem com o ICMS são o do Rio de Janeiro (R$ 1, 625 bilhão), Duque de Caxias (R$ 266 milhões), Niterói (R$ 83 milhões), São Gonçalo (R$ 65 milhões), Nova Iguaçu (R$ 60 milhões), Itaguaí (R$ 56 milhões) e Belford Roxo (R$ 44 milhões), respectivamente. A evolução desse imposto, de 2004 a 2006, é apresentada no Quadro 3.21. Quadro 3.21 — Valores Distribuídos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias – 2004/2006 Valores distribuídos do ICMS (1 000 R$) Municípios 2004 Rio de Janeiro 2005 2006 996 302 1 004 885 1 065 205 Niterói 56 514 63 896 83 458 Belford Roxo 35 036 38 892 44 475 Cachoeiras de Macacu 10 764 11 936 14 187 Casimiro de Abreu 21 476 17 254 18 830 218 001 259 459 266 210 7 109 7 128 7 931 Itaboraí 14 231 14 821 16 488 Itaguaí 24 469 33 942 56 640 Japeri 6 992 7 778 9 584 Magé 14 349 14 029 14 995 Maricá 8 992 9 447 10 486 Mesquita 9 785 10 918 12 418 Nilópolis 10 777 10 777 11 419 Nova Iguaçu 53 646 55 354 60 581 Paracambi 7 102 7 354 7 682 Queimados 12 145 11 484 12 791 Rio Bonito 8 312 8 684 9 615 São Gonçalo 60 889 61 718 65 197 São João de Meriti 27 106 26 956 28 751 Seropédica 7 557 7 722 8 930 Silva Jardim 8 321 8 542 9 392 Tanguá 5 921 5 912 6 500 Duque de Caxias Guapimirim Nota: As diferenças entre soma de parcelas e respectivos totais são provenientes do critério de arredondamento. Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ) Observa-se no Quadro 3.22 que muitos municípios não apresentaram grande evolução no número de estabelecimentos comerciais e de serviço, no período 2002 a 2005, porém, Belford Roxo apresentou um crescimento considerável. 155 Por sua vez, a receita total do Município do Rio de Janeiro representou 47% do total das receitas municipais do estado, em 2004. Somadas as receitas dos outros municípios este percentual se eleva para 65%. A maioria dos municípios apresenta dependência muita elevada em relação a transferências correntes. Na área estratégica, a situação não é muito diferente, sendo as transferências responsáveis por mais de 80% das receitas de metade dos municípios. Observando-se o Quadro 3.23 fica evidente que, de maneira geral, essa dependência vem crescendo entre 1991 e 2004. Porém, existem observações a serem assinaladas, tais como: (i) em Itaguaí a dependência diminuiu gradativamente, provavelmente em função da expansão das atividades ligadas ao Porto de Sepetiba e da emancipação de Seropédica; (ii) nos outros municípios a dependência, em média, decresceu ligeiramente na década de 1990, para subir, abruptamente, entre 2000 e 2004. Por fim, vale destacar que os municípios de Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu e Queimados diminuíram as respectivas dependências em relação a transferências, ao longo do período 2000 - 2004. O município que apresentou menor dependência em relação às transferências foi Niterói (36,4%), seguido da capital (46,3%). Outros 4 municípios apresentaram dependência abaixo de 70% — Itaguaí (65%), Maricá (57,6%), Nova Iguaçu (62,6%), Rio Bonito (64%) e São Gonçalo (65,6%). Quadro 3.22 — Número de Estabelecimentos Comerciais e de Serviços – 2002/2005 Estabelecimentos Municípios 2002 Rio de Janeiro Comércio 2003 2004 2005 Serviços (1) 2003 2004 2002 2005 36 444 36 641 36 894 37 109 65 943 66 394 67 061 67 686 4 010 3 994 4 100 4 241 6 200 6 356 6 458 6 514 Belford Roxo 750 747 770 830 437 439 462 509 Cachoeiras de Macacu 221 221 226 234 179 174 175 178 Casimiro de Abreu 153 156 176 190 107 122 132 123 2 883 2 931 3 037 3 127 2 150 2 172 2 303 2 391 Guapimirim 139 152 153 162 108 127 116 124 Itaboraí 648 667 664 698 385 402 418 451 Itaguaí 434 453 451 472 347 364 384 395 Japeri 108 104 103 114 45 50 45 52 Magé 705 730 750 773 426 443 433 457 Maricá 421 447 488 500 305 322 336 352 Mesquita 208 199 219 249 131 139 151 168 Nilópolis 625 664 653 661 546 554 566 574 2.584 2 603 2 629 2 649 2 093 2 117 2 161 2 168 Paracambi 161 168 164 170 114 115 118 117 Queimados 300 305 315 322 197 186 192 186 Rio Bonito 403 424 413 428 632 734 793 804 Niterói Duque de Caxias Nova Iguaçu 156 Estabelecimentos Municípios Comércio 2003 2004 2002 2005 Serviços (1) 2003 2004 2002 2005 São Gonçalo 3.005 3 034 3 113 3 172 2 274 2 293 2 388 2 450 São João de Meriti 1.658 1 640 1 665 1 693 1 087 1 084 1 131 1 117 Seropédica 124 120 136 144 72 78 86 106 Silva Jardim 54 47 52 55 52 58 59 52 Tanguá 88 83 87 93 - 35 35 41 (1) Exclusive administração pública. Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) Quadro 3.23 — Receitas municipais (2004) e Dependência de Transferências (1991-2004) (R$ Mil) Receitas Correntes (2004) (mil R$) Municípios Transferências (a) Belford Roxo Dependência de transferências (a)/(b) (%) Total (b) 2004 2000 1991 135.213 158.437 85,3 82,3 -- Cachoeiras de Macacu 34.584 39.835 87 71 - Casimiro de Abreu 66.387 69.344 96 58 - 442.113 562.299 77,1 74,3 71,7 Guapimirim 34.316 39.966 85,1 68,3 -- Itaboraí 72.914 88.685 82,2 79,9 76,2 Itaguaí 57.526 88.169 65,1 70,5 73,2 Japeri 52.813 56.475 93,5 65,2 -- Magé 89.423 108.337 81,1 67,2 56,1 Maricá 35.351 60.058 57,6 56,7 47,5 Mesquita 46.260 56.853 81,3 -- -- Nilópolis 46.583 60.542 75,7 79,6 49,9 Niterói 165.770 454.214 36,4 42,8 42,4 Nova Iguaçu 158.865 234.535 62,6 70,1 70,2 Queimados 45.876 55.474 82,7 89,4 -- Rio Bonito 32.920,19 51.6189 64 69 - Rio de Janeiro 3.131.850 6.563.537 46,3 43,9 29,9 São Gonçalo 164.125 247.917 65,6 63,6 56,4 São João de Meriti 129.002 165.632 77,8 74,7 30,3 35.928 41.744 86,1 77 -- 27.169,95 28.923 94 74 - Duque de Caxias Seropédica Silva Jardim Tanguá 18.060 19.906 90,7 89,4 -- Total 5.023.049 9.252.501 1673,2 1466,5 32,9 Outros municípios RJ 3.970.524 4.870.610 80,2 61,9 64,9 Total do Estado 8.993.573 14.123.111 1.753,4 1.528,4 37,8 Fonte: Fundação CIDE. Banco de dados Municipais - Receitas correntes municipais. Retirado de: http://www.cide.rj.gov.br (2009) 157 3.2.1.5 Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) Na expectativa de apresentar uma síntese das questões sociais e ao mesmo tempo econômicas dos municípios da região estratégica é apresentada, a seguir, a proposta da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), do seu Índice de Desenvolvimento Municipal, cujo objetivo é monitorar o desenvolvimento sócio-econômico dos municípios brasileiros, considerado uma importante ferramenta de gestão pública, uma vez que permite a orientação de ações e o acompanhamento de seus impactos sobre o desenvolvimento dos municípios. As três áreas de desenvolvimento consideradas, com igual ponderação, são Emprego&Renda, Educação e Saúde. O indicador IFDM-Emprego&Renda acompanha as características e movimentação do mercado formal de trabalho. As variáveis acompanhadas por este indicador são: Taxa de Geração de Emprego Formal sobre o Estoque de Empregados e sua Média Trienal; Saldo Anual Absoluto de Geração de Empregos; Taxa Real de Crescimento do Salário Médio Mensal e sua Média Trienal; e Valor Corrente do Salário Médio Mensal. O indicador IFDM-Educação acompanha as variáveis Taxa de Atendimento no Ensino Infantil, Taxa de Distorção Idade-Série, Percentual de Docentes com Curso Superior, Número Médio diário de Horas-Aula, Taxa de Abandono Escolar e Resultado Médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, captando a oferta e a qualidade da educação fundamental e pré-escola, de acordo com a competência constitucional dos municípios. As variáveis relacionadas à Quantidade de Consultas Pré-Natal, Taxa de Óbitos Mal Definidos e Taxa de Óbitos Infantis por Causas Evitáveis são acompanhadas pelo indicador IFDM-Saúde, que visa avaliar a qualidade do Sistema de Saúde Municipal referente à Atenção Básica. O IFDM varia de 0 a 1 estipulando as seguintes classificações: municípios com IFDM entre 0 e 0,4 são considerados de baixo estágio de desenvolvimento; entre 0,4 e 0,6 de desenvolvimento regular; entre 0,6 e 0,8 de desenvolvimento moderado; e entre 0,8 e 1,0 de alto desenvolvimento. No Quadro 3.24 os resultados deste índice nos anos de 2000, 2005 e 2006, a classificação estadual comparativamente com a classificação do IDHM/2000 e a variação no período 2000/2006. Apenas para efeito comparativo, no Quadro 3.25 a classificação dos municípios da área estratégica nos dois índices, IFDM e IDHM, em 2000. Também, é apresentado no Quadro 3.26, apenas o componente de Emprego e Renda do IFDM, a classificação estadual dos municípios e a variação desse indicador no período 2006-2000. 158 Quadro 3.24— Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) IFDM 2005 Niterói 0,7765 0,8394 0,8582 2º 1º 10,5% Rio de Janeiro 0,7271 0,8174 0,8257 4º 2º 13,6% Itaguaí 0,6905 0,7611 0,8053 7º 41º 16,6% Duque de Caxias 0,6637 0,7337 0,7577 14º 51º 14,1% São Gonçalo 0,7324 0,7226 0,7296 23º 21º -0,4% Rio Bonito 0,6509 0,7372 0,7252 24º 36º 11,4% Seropédica 0,5725 0,6548 0,7074 33º 46º 23,6% Mesquita IFDM 2006 Ranking Estadual IFDM 2000 Municípios IFDM 2006 Var % 2006-2000 IDHM 2000 nd 0,6566 0,7011 36º nd nd Nova Iguaçu 0,6024 0,7006 0,6999 38º 44º 16,2% São João de Meriti 0,6179 0,6313 0,6975 40º 34º 12,9% Nilópolis 0,6047 0,6820 0,6938 41º 18º 14,7% Casimiro de Abreu 0,6184 0,6877 0,6885 43º 24º 11,3% Maricá 0,6267 0,6662 0,6702 55º 20º 6,9% Paracambi 0,6878 0,6250 0,6702 56º 38º -2,6% Cachoeiras de Macacu 0,6492 0,6188 0,6622 65º 53º 2,0% Magé 0,6252 0,6393 0,6572 67º 56º 5,1% Itaboraí 0,6331 0,6767 0,6491 74º 65º 2,5% Belford Roxo 0,5550 0,6045 0,6201 85º 58º 11,7% Queimados 0,5445 0,6251 0,6199 86º 72º 13,9% Silva Jardim 0,5945 0,5984 0,6014 89º 74º 1,2% Japeri 0,6062 0,6070 0,5858 90º 77º -3,4% Guapimirim 0,5623 0,5801 0,5812 91º 62º 3,4% Tanguá Fonte: FIRJAN (2009) 0,5453 0,5756 0,5802 92º 81º 6,4% Legenda 2006 Legenda: Alto Moderado Regular Quadro 3.25 — Classificação dos Municípos: IFDM e IDHM – 2000 Municípios Ranking Estadual IFDM IDHM Niterói 2º 1º São Gonçalo 5º 21º Rio de Janeiro 7º 2º Itaguaí 12º 41º Paracambi 16º 38º Duque de Caxias 25º 51º Rio Bonito 32º 36º Cachoeiras de Macacu 34º 53º Itaboraí 41º 65º Maricá 52º 20º Magé 55º 56º Casimiro de Abreu 58º 24º 159 Ranking Estadual Municípios IFDM IDHM São João de Meriti 59º 34º Japeri 67º 77º Nilópolis 68º 18º Nova Iguaçu 70º 44º Silva Jardim 72º 74º Seropédica 80º 46º Guapimirim 84º 62º Belford Roxo 87º 58º Tanguá 88º 81º Queimados 89º 72º Mesquita Nd Nd Fonte: FIRJAN (2009) e PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) Quadro 3.26 — IFDM Emprego & Renda – 2000/2005/2006 IFDM E&R 2000 IFDM E&R 2005 IFDM E&R 2006 Itaguaí 0,7184 0,8594 0,9771 Ranking Estadual IFDM E&R 2006 1º Duque de Caxias 0,7312 0,8705 0,9284 2º 27,0% Niterói 0,7355 0,8237 0,8922 5º 21,3% Rio de Janeiro 0,6548 0,8234 0,8673 6º 32,5% Nova Iguaçu 0,5341 0,7420 0,7505 12º 40,5% São João de Meriti 0,5634 0,5503 0,7492 13º 33,0% Rio Bonito 0,6677 0,7603 0,7425 15º 11,2% Municípios Var % 2006-2000 36,0% nd 0,5956 0,7097 20º nd São Gonçalo 0,7168 0,6580 0,6897 22º -3,8% Nilópolis 0,4768 0,6282 0,6664 23º 39,7% Seropédica 0,4412 0,5238 0,6578 25º 49,1% Magé 0,5973 0,5722 0,6273 27º 5,0% Belford Roxo 0,4433 0,5412 0,6137 31º 38,4% Itaboraí 0,6112 0,6471 0,5826 34º -4,7% Queimados 0,4600 0,5722 0,5738 35º 24,7% Maricá 0,4908 0,4901 0,5225 42º 6,5% Cachoeiras de Macacu 0,6122 0,3716 0,4924 46º -19,6% Japeri 0,6310 0,5155 0,4865 48º -22,9% Casimiro de Abreu 0,4879 0,4844 0,4740 49º -2,8% Tanguá 0,4455 0,4875 0,4739 50º 6,4% Paracambi 0,6533 0,3044 0,4458 59º -31,8% Silva Jardim 0,5478 0,4079 0,4388 60º -19,9% Guapimirim Fonte: FIRJAN (2009) 0,3911 0,3623 0,4101 73º 4,9% Mesquita Legenda 2006 Legenda: Alto Moderado Regular 160 3.2.2 Dinâmica Social A Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo o IBGE, constitui-se no segundo maior pólo econômico nacional, concentrando 70% da riqueza econômica estadual e cerca de 8% de todos os bens e serviços produzidos no País. Apesar disso, caracteriza-se por um expressivo e histórico déficit social, expresso pela existência de amplos segmentos sociais sem acesso à infra-estrutura e serviços de qualidade e com um amplo leque de carências para a sobrevivência na sociedade contemporânea. Essa situação agrava-se nos municípios periféricos, integrantes da área estratégica desta AAE. Visando a caracterização dessa dinâmica social da região foram identificados os temas estratégicos associados aos potenciais impactos previstos, em função da implantação e operação dos empreendimentos, tendo sido considerados como relevantes: a oferta e o acesso à educação, à saúde, ao saneamento básico, à habitação e à segurança pública. 3.2.2.1 Educação 8 A situação educacional foi caracterizada com base no subíndice educação , que compõe o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), associado à média de anos de estudo da população adulta (25 anos e mais), que possibilita identificar o acesso aos serviços educacionais e as possibilidades de empregabilidade da população. Visando, ainda, identificar as condições de empregabilidade da população foi associada a média de anos de estudo da população adulta — razão entre o somatório do número de anos de estudo completos das pessoas nessa faixa etária e o total dessas pessoas. O Quadro 3.27 e a Figura 3.9 apresentam a distribuição dos municípios em função do IDHEducação, em 1991 e 2000. A média de anos de estudo da população adulta nos municípios da área estratégica, nos anos de 1991 e 2000, é apresentada no Quadro 3.28 e Figura 3.10. No período 1991 a 2000, em todos os municípios houve um crescimento no IDH-Educação e na média dos anos de estudo da população adulta. Como regra geral, os municípios com menores IDH, em 1991, foram os que apresentaram maior crescimento no período, destacando-se Silva Jardim e Tanguá, com taxas superiores a 0,15. De forma similar, apresenta-se o comportamento da média de anos de estudo da população adulta, destacando-se Maricá e Guapimirim, com incremento de mais de 1,5 anos. Com base na associação desses dois indicadores é possível observar que em 2000, Niterói, Rio de Janeiro e Nilópolis apresentaram as melhores condições regionais de acesso aos serviços educacionais e de escolaridade média da população adulta, evidenciando vantagens comparativas no que se refere à empregabilidade. 8 O subíndice da educação é obtido a partir da taxa de alfabetização da população com idade acima de 15 anos e da taxa bruta de freqüência à escola (razão entre o número total de pessoas de todas as faixas etárias que freqüentam os cursos fundamental, médio e superior e a população total de 7 a 22 anos), convertidas em índices por (valor observado - limite inferior) / (limite superior - limite inferior), com limites inferior e superior de 0% e 100%. O IDH-Educação é à média desses dois índices, com peso 2 para a taxa de alfabetização e peso 1 para a taxa bruta de freqüência. 161 Quadro 3.27 — IDH-Educação – 1991 e 2000 IDH Educação Legenda 2000 Município 1991 2000 Silva Jardim 0,631 0,799 Cachoeiras de Macacu 0,713 0,828 Rio Bonito 0,734 0,833 Tanguá 0,687 0,837 Guapimirim 0,722 0,843 Itaboraí 0,742 0,844 Casimiro de Abreu 0,744 0,859 Japeri 0,724 0,863 Magé 0,758 0,863 Queimados 0,768 0,865 Belford Roxo 0,787 0,873 Duque de Caxias 0,796 0,873 Maricá 0,773 0,881 0,786 0,882 0,815 0,884 Itaguaí 0,779 0,889 São João de Meriti 0,822 0,895 São Gonçalo 0,834 0,896 Paracambi 0,765 0,897 Rio de Janeiro 0,874 0,933 Nilópolis 0,887 0,933 Niterói 0,908 0,96 Seropédica Nova Iguaçu (1) (2) inclusive dados de Mesquita. Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: PNUD, IPEA, FJP. Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2000) 162 Legenda 0,799 a 0,837 0,838 a 0,863 0,864 a 0,873 0,874 a 0,895 0,895 a 0,960 Figura 3.9 — Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – Educação – 2000 Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 163 Quadro 3.28 — Anos de Estudo da População Adulta – 1991 e 2000 Anos de estudo Legenda 2000 Município 1991 2000 Silva Jardim 3,00 4,25 Tanguá 3,31 4,43 Japeri 3,85 4,86 Cachoeiras de Macacu 4,17 5,09 Itaboraí 4,01 5,19 Rio Bonito 4,2 5,34 Guapimirim 3,97 5,42 Paracambi 4,47 5,59 Magé 4,46 5,61 Queimados 4,37 5,63 Belford Roxo 4,68 5,64 Casimiro de Abreu 4,48 5,8 Seropédica 4,73 5,87 Itaguaí 4,81 5,9 5,17 6,05 Duque de Caxias Nova Iguaçu (1) 5,38 6,32 São João de Meriti 5,39 6,4 Maricá 4,97 6,56 São Gonçalo 5,78 6,71 Nilópolis 6,35 7,43 Rio de Janeiro 7,73 8,42 Niterói 8,84 9,65 (1) inclusive dados de Mesquita. Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2000) 164 16 5 Legenda 4,25 a 5,09 5,10 a 5,59 5,60 a 5,80 5,81 a 6,40 6,41 a 9,65 Figura 3.10 — Anos de Estudo da População Adulta – 2000 Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 165 Aqueles municípios que não integram a RMRJ têm condições menos favoráveis no que se refere ao acesso aos serviços educacionais e de escolaridade da população adulta, com destaque para Silva Jardim com a pior posição. Na comparação entre o acesso e a escolaridade da população adulta algumas questões merecem destaque: Paracambi que tem o 4° IDH-Educação (0,897), pelo fato da população adulta apresentar apenas 5,59 anos de estudo coloca-se na 14ª posição no ranking geral. Por outro lado, Duque de Caxias com o 12° lugar no IDH (0,873), por apresentar uma média de 6 anos de estudo para a população adulta, posiciona-se na 8ª posição. Os municípios da Baixada Fluminense situam-se em uma posição intermediária, sendo exceções, entre eles, Nilópolis e Japeri, respectivamente, com a melhor e a pior posição no que se refere aos aspectos analisados (Quadro 3.29). Quadro 3.29 — IDH-Educação e Anos de Estudo da População Adulta – 2000 Municípios (Classificação em Ordem Decrescente) IDH Educação Média de Anos de Estudo da População Adulta Total Ranking Niterói 0,960 9,65 10,61 1º Rio de Janeiro 0,933 8,42 9,35 2º Nilópolis 0,933 7,43 8,36 3° São Gonçalo 0,896 6,71 7,61 4° Maricá 0,881 6,56 7,44 5° São João de Meriti 0,895 6,40 7,30 6° 0,884 6,32 7,20 7° Duque de Caxias 0,873 6,05 6,92 8° Itaguaí 0,889 5,90 6,79 9° Seropédica 0,882 5,87 6,75 10° Casimiro de Abreu 0,859 5,80 6,66 11° Belford Roxo 0,873 5,64 6,51 12° Queimados 0,865 5,63 6,50 13° Paracambi 0,897 5,59 6,49 14° Magé 0,863 5,61 6,47 15° Guapimirim 0,843 5,42 6,26 16° Rio Bonito 0,833 5,34 6,17 17° Itaboraí 0,844 5,19 6,03 18° Cachoeiras de Macacu 0,828 5,09 5,92 19° Japeri 0,863 4,86 5,72 20° Tanguá 0,837 4,43 5,27 21° Silva Jardim 0,799 4,25 5,05 22° Nova Iguaçu (1) (1) inclusive Dados de Mesquita. Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 166 3.2.2.2 Saneamento Básico A análise da demanda por infra-estrutura de saneamento básico foi desenvolvida a partir do percentual de pessoas que vivem em domicílios com banheiro e água encanada e no percentual de pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo, para os anos de 1991 e 2000, os últimos dados censitários disponíveis sobre o tema, visando verificar a cobertura de infraestrutura no conjunto de municípios integrantes da área estratégica. Em 2000, do conjunto dos 23 municípios analisados, apenas 5 apresentaram percentuais acima de 93,2% de pessoas que viviam em domicílios com banheiro e água encanada. São eles: Rio de Janeiro (96,4%); Nilópolis (95,3%); Paracambi (95,6%); Casimiro de Abreu (94,4%); Cachoeiras de Macacu (94%). O pior desempenho foi registrado em Tanguá, com apenas 71,9% de pessoas em domicílios com água encanada e banheiro. Na faixa entre 71,9% e 85%, demonstrando, também, um percentual baixo de pessoas com acesso aos itens analisados podem ser citados os municípios de Japeri (79,1%); Queimados (79,4%); Silva Jardim (79,1%); Itaboraí (79,8%); Belford Roxo (83,3%); Rio Bonito e Magé, ambos com 85% (Quadro 3.30 e Figura 3.11). Quando se analisa o desempenho dos percentuais nos anos de 1991 e 2000 observa-se que vinte dos municípios registraram ampliação do número de pessoas com acesso a água encanada e com unidade sanitária domiciliar. Com crescimento acima de dez pontos percentuais destacam-se 4 (quatro) municípios, a saber: Silva Jardim, Guapimirim, Itaboraí e Cachoeiras de Macacu. Quadro 3.30 — Percentual de Domicílios com Banheiro e Água Encanada – 1991/2000 % Municípios 1991 Japeri Itaboraí Maricá Cachoeiras de Macacu Seropédica Tanguá Queimados Magé Belford Roxo (1) Nova Iguaçu Duque de Caxias Silva Jardim São Gonçalo Itaguaí Guapimirim Paracambi Rio Bonito Niterói São João de Meriti Casimiro de Abreu Nilópolis Rio de Janeiro Legenda 2000 2000 8,15 32,30 33,37 45,71 26,19 30,85 43,96 34,07 33,35 50,95 55,18 51,94 64,80 26,61 31,97 83,80 74,32 84,11 64,77 83,81 93,50 95,01 57,01 62,41 72,67 78,83 81,38 82,38 86,16 86,37 87,74 87,86 88,53 90,70 90,71 91,56 92,55 93,72 94,65 96,92 97,36 98,64 98,72 98,74 (1) Inclusive dados de Mesquita. Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: PNUD, IPEA, FJP - Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2000) 167 Legenda 71,87 a 79,43 79,44 a 85,04 85,05 a 89,69 89,70 a 93,22 93,23 a 96,42 Figura 3.11 — Percentual de Pessoas que Vivem em Domicílios com Banheiro e Água Encanada - 2000 Fonte: PNUD, IPEA, FJP - Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 168 No que se refere ao percentual de pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviços de coleta de lixo verifica-se que, em 2000, 14 (quatorze) municípios apresentaram percentuais na faixa de 86,4% a 98,7%. Os melhores desempenhos foram registrados nos municípios: Rio de Janeiro (98,8), Nilópolis (98,7%), Casimiro de Abreu (98,6%), São João do Meriti (97,4%) e Niterói (96,9%). Os três primeiros apareceram mais uma vez como aqueles com melhor desempenho no número de pessoas atendidas pelos serviços de água encanada e coleta domiciliar. Os que obtiveram os piores percentuais foram: Japeri, com apenas 57% de cobertura, seguido por Itaboraí (62,4%), Maricá (72,7%) e Cachoeiras do Macacu (78,8%). Ao se analisar os percentuais de atendimento nos anos de 1991 e 2000 observa-se que 5 municípios registraram um aumento do atendimento em mais de 50%, como nos casos de: Itaguaí, Guapimirim, Seropédica, Belford Roxo e Tanguá (Quadro 3.31 e Figura 3.12). Quadro 3.31 — Percentual de Pessoas que Vivem em Domicílios Urbanos com Serviço de Coleta de Lixo – 1991/2000 % Legenda 2000 Municípios 1991 Japeri 2000 8,15 57,01 Itaboraí 32,30 62,41 Maricá 33,37 72,67 Cachoeiras de Macacu 45,71 78,83 Seropédica 26,19 81,38 Tanguá 30,85 82,38 Queimados 43,96 86,16 Magé 34,07 86,37 33,35 87,74 50,95 87,86 Duque de Caxias 55,18 88,53 Silva Jardim 51,94 90,70 São Gonçalo 64,80 90,71 Itaguaí 26,61 91,56 Guapimirim 31,97 92,55 Paracambi 83,80 93,72 Rio Bonito 74,32 94,65 Niterói 84,11 96,92 São João de Meriti 64,77 97,36 Casimiro de Abreu 83,81 98,64 Nilópolis 93,50 98,72 Rio de Janeiro 95,01 98,74 Belford Roxo Nova Iguaçu (1) (1) Inclusive dados de Mesquita. Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 169 Legenda 57,01 a 78,83 78,84 a 86,37 86,38 a 90,70 90,71 a 94,65 94,66 a 98,74 Figura 3.12 — Percentual de Pessoas que Vivem em Domicílios Urbanos com Serviço de Coleta de Lixo – 2000 Fonte: PNUD, IPEA, FJP, Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2003) 170 3.2.2.3 Saúde O acesso aos serviços de saúde nos municípios avaliados foi identificado com base na proporção da população atendida pelos Programas de Atenção Básica, dentre os quais o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF), que atuam de forma preventiva em âmbito municipal, com os seguintes objetivos: (i) prestar atendimento de qualidade, integral e humano em unidades básicas municipais, garantindo o acesso à assistência e à prevenção em todo o sistema de saúde, de forma a satisfazer as necessidades de todos os cidadãos; (ii) reorganizar a prática assistencial com a atenção centrada na família, entendida e percebida a partir de seu ambiente físico e social; e (iii) garantir eqüidade no acesso à atenção em saúde, de forma a satisfazer as necessidades de todos os cidadãos do município, avançando na superação das desigualdades. Para a análise foram descartados outros tipos de indicadores usualmente utilizados (leitos, unidades de saúde) devido ao fato de, pela proximidade e conurbação entre os municípios considerados, ser usual a utilização dos serviços de saúde pela população em municípios com maior número de equipamentos de saúde e com oferta de serviços de maior complexidade, caso do Rio de Janeiro e Niterói, entre outros centros de referência regionais em saúde. Para a análise das condições de saúde da população foi selecionada como variável o número de internações em função de doenças infecciosas e parasitárias, que podem ser associadas à poluição hídrica e à ausência de saneamento básico. Essas doenças se incluem no Capítulo I da 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no qual, também, estão incluídas enfermidades, cuja transmissão ocorre por outros meios que não dependem das condições sanitárias, caso das doenças de transmissão predominantemente sexual. Nesse sentido, foram selecionadas no banco de dados do DATASUS as enfermidades associadas à contaminação das águas por microrganismos patogênicos de origem humana: cólera; febres tifóide e paratifóide, amebíase; diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumível; outras doenças infecciosas intestinais; leptospirose; outras doenças bacterianas; hepatites virais; esquistossomose; doenças transmitidas por protozoários; helmintíases e outras doenças infecciosas e parasitárias. Os dados das internações têm como referência o local de residência do paciente e a taxa foi construída por 10.000 habitantes. No Quadro 3.32 os dados referentes à proporção da população atendida pelos Programas de Atenção Básica, nos anos de 2001 a 2006 (em ordem decrescente dos dados para o ano de 2006). Como regra geral, são os municípios de menor porte populacional que apresentam os maiores índices de cobertura dos Programas de Atenção Básica, destacando-se Casimiro de Abreu e Silva Jardim, com atendimento superior a 88%. O município de Itaboraí é, entre os municípios de médio porte populacional (180 mil habitantes), o que apresenta a maior proporção de população atendida (73%). Entre os municípios da Baixada Fluminense, apenas Paracambi, de baixo porte populacional, apresenta cobertura satisfatória (acima de 60%). Todos os demais municípios dessa área atendem a menos de 42% da população. Destaca-se que, em Japeri, esses programas que chegaram a atender até 21% da população em 2002, deixaram de existir a partir de 2005, sendo o único município onde não se verifica acesso a esse tipo de serviço. 171 Quadro 3.32 — Percentual de Pessoas Atendidas pelos Programas de Atenção Básica 2001/ 2006 Municípios 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Casimiro de Abreu 20,3 69,1 78,6 81,2 81,7 94,4 Silva Jardim 43,8 79,9 86,8 87,5 86,1 88,0 9,8 66,7 68,7 71,8 71,4 73,3 Rio Bonito 32,2 51,4 56,9 59,3 62,8 65,6 Tanguá 26,3 44,9 64,7 63,8 57,6 61,4 Paracambi 38,6 39,7 40,6 40,0 53,4 60,1 8,9 19,3 19,7 54,1 52,0 51,0 Magé 23,8 26,8 26,6 31,8 30,6 41,4 São Gonçalo 11,9 52,8 37,2 37,2 36,7 36,5 Nilópolis 18,3 17,6 17,6 17,7 30,9 32,2 Belford Roxo 13,2 14,2 15,4 22,4 25,8 30,5 Guapimirim 30,1 29,0 26,8 26,7 20,2 28,9 Maricá 21,9 20,9 27,2 22,2 24,2 28,5 Seropédica 21,6 22,0 25,4 24,9 22,0 27,5 Niterói 12,7 12,6 17,8 21,5 24,1 26,4 Itaguaí 20,8 22,4 19,8 21,1 23,9 25,0 Duque de Caxias 13,7 14,6 14,5 14,2 13,0 24,5 Itaboraí Cachoeiras de Macacu São João de Meriti 9,7 9,9 10,0 11,8 14,4 17,0 Nova Iguaçu 10,1 9,9 11,3 11,6 12,9 16,2 Queimados 3,0 6,4 7,1 11,7 13,0 15,5 Mesquita 0,0 0,0 0,0 0,0 8,7 12,0 Rio de Janeiro 1,0 1,9 5,5 7,7 9,6 10,4 Japeri 1,5 21,2 18,1 3,5 0,0 0,0 Legenda 2006 Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: Ministério da Saúde/Datasus, Caderno de Informação de Saúde (2008) Rio de Janeiro destaca-se pela menor proporção de atendimento pelos Programas de Atenção Básica (cerca de 10% da população), sendo beneficiária especialmente a população residente em favelas e áreas de baixa renda, onde o município desenvolve programas de urbanização e incorporação à cidade formal (Programa Favela Bairro, entre outros similares). Em todos os municípios, com exceção de Japeri, os Programas de Atenção Básica têm, a partir de sua implantação, em 2001, ampliado o atendimento à população, o que pode contribuir decisivamente, a partir de ações de prevenção, para a melhoria da qualidade de vida da população, inclusive reduzindo a necessidade de recorrer aos equipamentos de medicina curativa. No Quadro 3.33 os dados referentes à população estimada em 2007,com o número de internações pelas enfermidades selecionadas e a taxa de internações por 10.000 habitantes (em ordem decrescente por taxa de interação). Dentre os municípios avaliados, a situação crítica ocorre em Queimados, onde se registrou, em 2007, uma taxa superior a 100 internações por 10 mil habitantes. Como regra geral, nos municípios da 172 Baixada Fluminense, onde existem condições precárias de saneamento básico, foi onde se registraram as maiores taxas de internações por doenças de veiculação hídrica, evidenciando a forte relação entre esses dois fatores. Por sua vez, Nilópolis destaca-se não só pelas melhores condições de saneamento básico (95% da população possui água encanada e banheiro) como pela menor taxa de internação por doenças de veiculação hídrica (16 por 10 mil habitantes). Entre os quatro municípios com as maiores taxas de internações, apenas Paracambi, que tinha em 2000 cerca de 96% da população com água encanada e banheiro, registrou uma alta taxa de internações entre a população residente (69 por 10 mil habitantes). Os municípios de Maricá e Rio de Janeiro, assim como Guapimirim e Niterói destacam-se pelas menores taxas de internação registrando 5, 8, 10 e 11 por 10 mil habitantes, respectivamente. Quadro 3.33 — Internações por Doenças de Veiculação Hídrica – 2007 Municípios Queimados População (2007) 130.275 Paracambi Internações por 10.000 Habitantes N° Internações 1.365 104,78 42.423 294 69,30 480.555 3.159 65,74 Japeri 93.197 566 60,73 Rio Bonito 51.942 232 44,67 Itaboraí 215.792 924 42,82 Nova Iguaçu 830.672 3.191 38,41 São João de Meriti 464.282 1.567 33,75 Casimiro de Abreu 27.086 69 25,47 Magé 232.171 584 25,15 São Gonçalo 960.631 2.225 23,16 Duque de Caxias Belford Roxo 842.686 1.846 21,91 Cachoeiras de Macacu 53.037 111 20,93 Seropédica 72.466 144 19,87 182.495 353 19,34 21.362 41 19,19 153.581 254 16,54 Tanguá 28.322 39 13,77 Itaguaí 95.356 126 13,21 Niterói 474.002 559 11,79 44.692 47 10,52 6.093.472 4.935 8,10 105.294 54 5,13 Mesquita Silva Jardim Nilópolis Guapimirim Rio de Janeiro Maricá Legenda: Crítica Ruim Intermediária Boa Legenda Ótima Fonte: Ministério da Saúde/Datasus (2007) 173 3.2.2.4 Habitação Para análise da carência habitacional foi selecionado o indicador déficit habitacional, cuja metodologia foi desenvolvida pela Fundação João Pinheiro (FJP), tendo como base de dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, para o ano 2000, disponibilizada no Anuário Estatístico da Fundação CIDE. Esse indicador contempla as situações que demandariam uma política de provisão habitacional, englobando as situações de déficit por reposição do estoque — que incluiria os domicílios rústicos — e de déficit por incremento do estoque — considerando os domicílios improvisados, isto é, locais destinados a fins não residenciais que servem de moradia — e a coabitação familiar — compreendendo a soma das famílias conviventes secundárias que vivem juntas no mesmo domicílio e das que vivem em cômodos cedidos e alugados. A esses dois componentes (domicílios improvisados e coabitação familiar), agrega-se o que se denominou como ônus excessivo com aluguel, considerando as famílias de até três salários mínimos, que estariam comprometendo mais de 30% de sua renda com custos de aluguel. Os quatro componentes do déficit habitacional — domicílios rústicos, improvisados, famílias conviventes e cômodos cedidos ou alugados — são calculados de forma a se excluírem possíveis sobreposições entre eles, procedendo-se, com isto, ao cálculo do montante geral a partir do somatório dos respectivos componentes. A exceção fica para o componente do ônus excessivo com aluguel, que é apresentado em separado, justamente por apresentar duplicidade com situações de déficit ou de inadequação. O déficit habitacional foi estimado em 227.860 novas moradias em 2000, com incidência notadamente urbana, correspondendo a 99% do montante da área estratégica. O município do Rio de Janeiro lidera a demanda regional, com necessidade estimada em 126.612 unidades, seguido de Nova Iguaçu e São Gonçalo, com 18.520 e 17.998 unidades, respectivamente. Os três municípios integrantes da RMRJ representam 71,6% do déficit habitacional, com a distinção de que neles não há parcela do problema a ser equacionado em áreas rurais. Relativamente, o déficit habitacional equivale a 6,9% dos domicílios particulares permanentes, enquanto, em termos absolutos e do ponto de vista regional, o destaque é para o município do Rio de Janeiro, que demanda montante substancial de investimentos, ao mesmo tempo afeta uma parcela importante da população concentrada na área urbana. A pior situação é encontrada em Seropédica, Nilópolis e Casimiro de Abreu, demandando um acréscimo de 8,8%, 8,8% e 8,1%, respectivamente, do estoque de domicílios existentes para equacionar o problema habitacional. Em relação aos domicílios permanentes, observa-se que, relativamente, as piores situações em termos de carência acentuada de unidades em áreas rurais estão Seropédica (12,9%), Tanguá (11,6%), Casimiro de Abreu (11,5%) e Itaguaí (11%) (Quadro 3.34). A distribuição do déficit habitacional, segundo seus componentes, revela a predominância da coabitação familiar, que responde, isoladamente, por 81,6% da estimativa da região estratégica, 174 enquanto a precariedade física da habitação (domicílios improvisados) é responsável por 4,3% do déficit estimado (Figura 3.13). Quadro 3.34 — Déficit Habitacional e Percentual em Relação aos Domicílios Permanentes – 2000 – Déficit Habitacional (2) % dos Domicílios (3) Municípios Total Rio de Janeiro Belford Roxo Duque de Caxias Guapimirim 126.612 Urbano Rural 126.612 Total Urbana - 7,00 7,00 Rural - 6.988 6.988 - 5,71 5,71 - 14.725 14.659 66 6,68 6,67 7,95 688 500 189 6,45 6,89 5,51 Itaboraí 3.535 3.454 81 6,59 6,81 2,74 Japeri 1.615 1.615 - 7,01 7,01 - Magé 4.269 4.043 226 7,32 7,34 7,01 Nilópolis 3.899 3.899 - 8,77 8,77 - 7.801 7.801 - 5,41 5,41 - 18.520 18.520 - 7,09 7,09 0,00 Niterói Nova Iguaçu (1) Paracambi Queimados São Gonçalo 863 804 58 7,54 7,69 5,97 2 462 2.462 - 7,35 7,35 - - 6,83 6,83 - 17.998 17.998 São João de Meriti 9.876 9.876 - 7,63 7,63 - Seropédica 1.604 1.143 461 8,83 7,83 12,91 Tanguá 538 430 107 7,40 6,79 11,59 Cachoeiras de Macacu 688 591 97 4,95 4,96 4,90 Casimiro de Abreu 516 393 124 8,06 7,37 11,52 1.474 1.154 320 6,42 6,09 7,98 Rio Bonito 999 714 286 7,26 7,70 6,36 Silva Jardim 451 339 112 7,60 8,58 5,64 1.737 1.621 116 7,55 7,38 10,98 227.860 225.618 2.243 6,92 6,91 7,35 Maricá Itaguaí Área Estratégica (1) Inclusive dados de Mesquita. Não inclui os domicílios rústicos, em função da inexistência da informação no Censo 2000. Refere-se aos domicílios particulares permanentes —- domicílios duráveis ocupados, não incluindo os vagos, nem rústicos e nem improvisados. (2) (3) Fonte: Fundação CIDE. Anuário Estatístico do Rio de Janeiro (2007) . Figura 3.13 — Participação dos Componentes no Déficit Habitacional – 2000 175 Quando se analisa a composição do déficit por situação do domicílio, observa-se o mesmo padrão para as áreas rurais, onde a coabitação familiar assume posição de destaque. Qualquer que seja o município, a coabitação familiar é o componente mais expressivo do déficit habitacional. No entanto, o peso das carências e as piores condições socioeconômicas da população condicionam o maior peso dos domicílios improvisados em Casimiro de Abreu (17,9%), Belford Roxo (10,4%) e Itaboraí (10%), bem superior aos demais municípios (Quadro 3.35). Quadro 3.35 — Participação dos Componentes no Déficit Habitacional – 2000 Domicílios improvisados (2) Cômodos cedidos ou alugados Famílias conviventes Municípios Total Rio de Janeiro Belford Roxo Duque de Caxias Guapimirim Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural 4,61 4,61 - 78,33 78,33 - 17,06 17,06 - 10,42 10,42 - 76,75 76,75 - 12,82 12,82 - 4,07 3,92 0,15 83,10 82,83 0,27 12,83 12,80 0,03 7,22 7,22 0,00 87,04 59,65 27,38 5,75 5,75 - 10,03 9,73 0,31 79,52 77,96 1,55 10,45 10,02 0,43 Japeri 1,83 1,83 - 84,54 84,54 - 13,63 13,63 - Magé 3,31 3,14 0,17 86,34 81,22 5,12 10,35 10,35 - Nilópolis 1,50 1,50 - 92,47 92,47 - 6,03 6,03 - 3,26 3,26 - 89,11 89,11 - 7,63 7,63 - 3,11 3,11 - 86,87 86,87 - 10,02 10,02 - Paracambi 2,25 2,25 - 89,83 83,08 6,75 7,92 7,92 - Queimados 5,65 5,65 - 79,20 79,20 - 15,15 15,15 - São Gonçalo 2,47 2,47 - 89,19 89,19 - 8,34 8,34 - São João de Meriti 0,74 0,74 - 88,27 88,27 - 10,99 10,99 - Seropédica 3,62 2,25 1,37 82,33 59,89 22,45 14,05 9,11 4,94 Tanguá 3,88 3,88 - 74,34 55,49 18,85 21,78 20,69 1,09 Cachoeiras de Macacu 4,46 4,46 - 90,24 76,20 14,03 5,30 5,30 - 17,90 2,32 15,58 74,93 66,57 8,36 7,17 7,17 - Maricá 5,80 5,80 - 77,77 61,75 16,03 16,43 10,75 5,68 Rio Bonito 5,23 4,28 0,94 87,17 61,89 25,28 7,60 5,24 2,36 10,16 5,59 4,57 72,90 61,75 11,15 16,94 7,74 9,20 1,74 1,74 - 85,05 80,31 4,74 13,21 11,26 1,95 4,27 4,19 0,08 81,60 80,82 0,78 14,13 14,01 0,13 Itaboraí Niterói Nova Iguaçu (1) Casimiro de Abreu Silva Jardim Itaguaí Área Estratégica (1) (2) Inclusive dados de Mesquita. Não inclui os domicílios rústicos, em função da inexistência da informação no Censo 2000. Fonte: Fundação CIDE. Anuário Estatístico do Rio de Janeiro (2007) Na região estratégica, 65,2% do déficit estimado estão relacionados às famílias de mais baixa renda. O ônus excessivo com aluguel, representado pelas famílias com renda familiar até 3,5 salários mínimos que pagam aluguel, assume presença mais marcante em Tanguá (7%), São João do Meriti (6,7%), Nilópolis (6,4%) e Rio Bonito (6,2%). Os municípios de Maricá e Niterói são os que registraram o menor percentual de famílias com ônus excessivo com aluguel, com 2,4% e 2,6%, respectivamente (Figura 3.14). 176 A série de estudos sobre o déficit habitacional, elaborada pela Fundação João Pinheiro para o Ministério das Cidades (FJP, 2007), possibilitou traçar a evolução dos indicadores entre os anos de 1991, 2000, 2004 e 2005 para a RMRJ. A evolução do déficit habitacional evidencia um acréscimo, tanto em termos absoluto, quanto relativo. Entre 2000 e 2005 ocorreu um acréscimo de cerca de 220 mil domicílios: eram 221.995, subindo para 442.153 unidades. Relativamente, passou de 6,9% para 11,8%, em decorrência, principalmente, de acréscimo significativo do déficit em áreas urbanas. Em relação à distribuição percentual dos componentes do déficit habitacional, observou-se a manutenção da tendência da coabitação familiar continuar, praticamente, estável ao longo do período. No entanto, o percentual dos que comprometem grande parte de sua renda com aluguel cresce ao longo do período. Figura 3.14 — Ônus Social com Aluguel das Famílias com Renda Familiar até 3,5 S.M. – 2000 3.2.2.5 Segurança Pública A caracterização da segurança pública foi realizada a partir da identificação da estrutura do setor e da análise de indicadores que possibilitam verificar a situação de criminalidade e de vulnerabilidade da população. A Secretaria de Estado de Segurança (SESEG) é o órgão responsável pela segurança pública estadual. A partir de 1999, visando estruturar o setor, foram criadas as Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), que são unidades de planejamento, execução, controle, supervisão, monitoramento e avaliação de políticas locais de segurança pública. Tais unidades agregam, sob a responsabilidade compartilhada e direta, um batalhão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e uma ou mais Delegacias de Polícia Civil (PCERJ). Foi prevista, ainda, em cada AISP, a constituição de um Conselho Comunitário de Segurança que, juntamente com a força policial, é responsável pela avaliação por área da dinâmica criminal, observando a incidência, elucidação de delitos e qualidade do serviço prestado pela polícia. Espera177 se que a gestão participativa com a sociedade contribua para a adoção de soluções integradas e para o acompanhamento dos resultados das medidas adotadas. Das 40 AISP existentes atualmente, as relacionadas no Quadro 3.36 localizam-se na área estratégica da AAE. Quadro 3.36 — Áreas Integradas de Segurança Pública por Municípios Áreas Integradas de Segurança Pública Municípios AISP 01, AISP 02, AISP 03, AISP 04, AISP 05, AISP 06, AISP 09, AISP 13, AISP 14, AISP 16, AISP 17, AISP 18, AISP 19, AISP 22, AISP 23, AISP 27, AISP 31 e AISP 39. Rio de Janeiro (capital) AISP 7 São Gonçalo AISP 12 Niterói/Maricá AISP 15 Duque de Caxias AISP 20 Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis AISP 21 São João do Meriti AISP 24 Seropédica, Itaguai, Queimados, Japeri, Paracambi AISP 34 Magé e Guapimirim AISP 35 Itaborai, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim, Cachoeiras Macacu AISP 40 Belford Roxo Excluído Casemiro de Abreu por integrar AISP 32, onde se incluem municípios fora da área estratégica. Fonte: Instituto de Segurança Pública (ISP) (2008) Para a análise da situação de criminalidade foram selecionados como indicadores: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes e a taxa de incidência criminal, por categorias, nas AISP. As taxas de homicídios refletem os níveis de violência extrema, já que são crimes contra a vida. Essas taxas foram obtidas no IPEADATA, sendo os dados originais provenientes do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do DATASUS, segundo a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Para a análise foi selecionado o último período disponível, de 1998 a 2002, permitindo estabelecer uma correlação do grau de exposição da população ao longo do período estudado. Visando identificar a distribuição das principais categorias de delitos, no ano de 2007, foram selecionados os dados, por AISP, do Instituto de Segurança Pública (ISP), da SESEG. Taxas de Homicídios O Quadro 3.37 apresenta as taxas de homicídios por 100 mil habitantes, no período entre 1998 e 2002 (em ordem decrescente dos dados para o ano de 2002). Em 2002, os municípios de Itaguaí e Maricá destacaram-se pelas maiores taxas de homicídios, bastante próximas das de Itaboraí. Esses municípios, situados no entorno da RMRJ, revelaram-se pelo vigoroso crescimento populacional no último período intercensitário, com taxas anuais de 5,7, 3,4 e 3,3, respectivamente, sensivelmente maiores do que a registrada nos demais municípios da área estratégica. 178 Ainda com altas taxas (entre 63 a 82 por 100 mil habitantes) situam-se os municípios de Duque de Caxias, Seropédica, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Nilópolis e Japeri, na Baixada Fluminense. Esses municípios, com exceção de Nilópolis que teve no período 1991/2000 crescimento negativo de população, apresentaram crescimento acima da média registrada na região em análise ― entre 1,7, em Duque de Caxias e 2,5, em Seropédica. O Rio de Janeiro e Niterói, municípios polarizadores e com baixo dinamismo demográfico, assim como Silva Jardim, mantém-se em uma posição intermediária no que se refere ao indicador. Quadro 3.37 —Taxa de Homicídios por 100 mil Habitantes – 1998 a 2002 Municípios 1998 1999 2000 2001 2002 Itaguaí 64,19 71,01 48,78 54,61 93,11 Maricá 77,29 67,46 65,16 61,07 90,27 Itaboraí 67,66 91,39 77,34 62,81 88,32 Duque de Caxias 85,50 80,08 67,32 69,43 82,07 Seropédica 57,53 66,70 47,50 80,71 81,70 Nova Iguaçu 79,33 77,01 75,17 78,18 81,50 Belford Roxo 48,67 64,44 53,86 73,07 68,00 Nilópolis 66,89 69,11 63,76 57,51 66,76 Japeri 79,01 14,83 28,82 53,93 63,25 Rio de Janeiro 62,64 53,55 56,61 55,52 62,79 Silva Jardim 31,00 35,89 47,03 18,50 59,31 Niterói 77,26 89,37 68,78 40,98 54,92 Queimados 98,25 57,38 42,63 70,69 53,60 Guapimirim 44,77 51,11 44,79 22,99 49,97 São João de Meriti 65,03 36,81 41,16 52,42 49,95 São Gonçalo 35,78 55,56 41,63 28,34 45,71 Magé 33,84 38,24 28,18 42,21 41,92 Cachoeiras de Macacu 24,51 52,73 57,68 28,30 37,78 Mesquita n.d. n.d. n.d. 28,56 37,33 20,31 35,71 38,38 33,75 33,08 Paracambi 7,37 26,64 7,41 17,11 31,46 Rio Bonito 36,08 35,87 30,19 35,90 25,67 Casimiro de Abreu 18,41 22,30 13,54 17,51 21,25 Tanguá Legenda 2002 Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima Fonte: IPEADATA - Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), (2003) Com as menores taxas de homicídios destacam-se Casimiro de Abreu e Rio Bonito, situados na porção leste da região. Casimiro de Abreu, apesar do intenso crescimento populacional — cresceu 3,9% ao ano na década de 1990 — conseguiu manter a menor taxa: 21 homicídios por 100 mil habitantes. As taxas de homicídios são analisadas como se segue: na Figura 3.15 a evolução, entre 1998 e 2002, no grupo de municípios que apresentou as maiores taxas em 2002 (de 63 a 93 homicídios por 100 mil habitantes); a Figura 3.16 refere-se aos municípios que tinham, em 2002, taxas entre 40 a 62 179 por 100 mil habitantes; e a Figura 3.17 mostra a evolução naqueles com as menores taxas (inferiores a 40 por 100 mil habitantes). Apesar da grande variação das taxas de homicídio por 100 mil habitantes no período estudado, há evidências que existe um padrão. De forma geral, a média do 1º grupo mantém-se em torno de 65 homicídios, a do 2° grupo situa-se em, aproximadamente, 45 e a do 3° grupo em 25 homicídios. No entanto, é importante registrar o expressivo decréscimo da taxa em Queimados, cerca de 45%. No mesmo período foi, também, significativo o decréscimo dessas taxas em Niterói, São João do Meriti e Japeri, correspondendo a 29%, 23% e 20%, respectivamente. Figura 3.15 — Evolução das Taxas de Homicídio com as Maiores Taxas em 2002 Figura 3.16 — Evolução das Taxas de Homicídio com Taxas Intermediárias em 2002 180 Figura 3.17 — Evolução das Taxas de Homicídio com as menores Taxas em 2002 Fonte: IPEADATA - Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), (2003) Distribuição por Categoria de Delitos Em consonância com o Código Penal Brasileiro, os delitos se dividem em quatro categorias: crimes contra a pessoa — crimes contra a vida, lesões corporais, periclitação da vida e da saúde, rixa, crimes contra a honra e crimes contra a liberdade individual; crimes contra o patrimônio — furto, roubo e extorsão, usurpação, dano, apropriação indébita, estelionato e outras fraudes e receptação; crimes contra os costumes — crimes contra a liberdade sexual, sedução e corrupção de menores, rapto, lenocínio e tráfico de mulheres e ultraje público ao pudor; e outros — extorsão mediante seqüestro, latrocínio e roubo a banco. No Quadro 3.38 a distribuição das categorias de delitos, no ano de 2007, e a taxa por 10 mil habitantes, nas regiões estabelecidas pelo IPEA. No caso, o que se convencionou chamar de ―interior‖ engloba a AISP 35, constituída pelos municípios de Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim e Cachoeiras Macacu. É importante ressaltar que Casimiro de Abreu não foi considerado na análise por pertencer à AISP 32, cujos dados agregam, também, os dados dos municípios de Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, Carapebus e Rio das Ostras. Quadro 3.38 — Distribuição das Categorias de Delitos e Taxa por 10 mil Habitantes – 2007 AISP Capital 10 mil hab. Baixada Fluminense 10 mil Nº hab. Grande Niterói 10 mil hab. 10 mil hab. Patrimônio 195.332 320,6 51.014 139,2 34.588 224,6 4.549 133,0 336.036 213,3 72.312 118,7 43.301 118,2 20.292 131,8 4.026 117,7 192.672 122,3 1.510 2,5 1.106 3,0 421 124 3,6 4.528 2,9 45,7 1.476 43,1 98.448 62,5 53.119 87,2 15.895 43,4 7.040 Outros Fonte: IPEADATA - Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), (2007) 2,7 Nº 10 mil hab. Nº Costumes Nº Estado Categorias Pessoas Nº Interior 181 Predominavam, em 2007, em todas as AISP, assim como no estado, os crimes contra o patrimônio, sendo significativos, ainda, os crimes contra a vida (Figura 3.18). A Figura 3.19, construída a partir da taxa por 10 mil habitantes, permite identificar a distribuição dessas categorias em função da população. São significativas no município do Rio de Janeiro e na Grande Niterói a incidência de crimes contra o patrimônio, respectivamente, 320 e 224 por 10 mil habitantes, já que são importantes pólos econômicos regionais. Em seqüência, os crimes contra a vida, apresentando uma distribuição bastante equilibrada em toda a região, assim como no estado, variando entre 117 a 132 por 10 mil habitantes. É, ainda, importante a categoria classificada como ―Outros‖ — extorsão mediante seqüestro, latrocínio e roubo a banco — especialmente na capital (87 por 10 mil habitantes). Figura 3.18 — Distribuição Percentual das Categorias de Delitos nas AISP e ERJ – 2007 Fonte: IPEADATA - Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), (2003) Figura 3.19 — Distribuição das Categorias de Delitos por 10 mil Habitantes nas AISP e ERJ – 2007 Fonte: IPEADATA - Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), (2003) 182 3.2.3 Dinâmica dos Ecossistemas e Diversidade Biológica O tema diversidade biológica e dinâmica dos ecossistemas é abordado levando-se em consideração a totalidade da área estratégica e considera os aspectos relacionados aos ecossistemas terrestres e aquáticos. Dados e informações disponibilizadas foram obtidos em órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa e dizem respeito à caracterização da biodiversidade do ponto de vista das fitofisionomias e da composição florística e faunística. Ênfase especial é feita a grupos zoológicos indicadores da qualidade ambiental e de relevante interesse para a conservação ― espécies endêmicas e ameaçadas. 3.2.3.1 Diversidade dos Ecossistemas e Diversidade Biológica Terrestre Fitofisionomias e Flora A área estratégica está integralmente inserida no Domínio da Mata Atlântica, um complexo conjunto de fisionomias e formações florestais de diferentes tamanhos, formas, condições ecológicas, níveis de conservação e pressão (Lino & Albuquerque, 2007). Em termos gerais, trata-se de um conjunto de ecossistemas com estruturas e composições florísticas diferenciadas, em função de peculiaridades do solo, relevo e clima (IBAMA, 2007). Destacam-se, neste contexto, diversos perfis florestais, a exemplo da Floresta Ombrófila Densa, além de ecossistemas associados, como ilhas costeiras e oceânicas e Formações Pioneiras ― manguezais, restingas e brejos interioranos. A Floresta Ombrófila Densa (sensu Brasil, 1983), ou Floresta Tropical Pluvial, apresenta diferenciações fisionômico-florísticas de acordo com a altitude, a saber: Floresta de Terras Baixas (entre cinco e 50 m de altitude), Floresta Submontana (50 a 500 m), Floresta Montana (entre 200 e 1.500 m) e Campos de Altitude (acima de 1.500 m). Há, também, importantes áreas de vegetação rupestre ou rupícula, que colonizam os afloramentos rochosos nas regiões serranas. A Floresta Ombrófila Densa ocorria de forma contínua desde as planícies litorâneas até altitudes superiores a 2.000 m, na serra do Mar, (Figura 3.20), ao passo que, na zona litorânea e em determinadas áreas ao redor da BG, prevaleciam as Formações Pioneiras, representadas por manguezais, vegetação paludosa e restingas. Nas demais áreas predominam vegetação secundária em diversos estágios de sucessão (inicial, médio e avançado de regeneração), mas, sobretudo, coberturas antrópicas, como lavouras (comerciais ou de subsistência) e pastagens (em muitos casos, plantadas), (Figura 3.21). 9 Nas baixadas, há remanescentes de matas secundárias inundáveis (paludosas, de Terras Baixas), mas estes são raros e restritos a pequenas áreas. Nestes setores, predomina a vegetação herbácea com espécies de capim alóctones (Paspalum, Brachiaria e Panicum, principalmente), a qual é utilizada para a criação de gado em regime extensivo. As matas ciliares nessa região foram quase completamente suprimidas e as que restaram apresentam perfil fitossociológico muito distinto de 9 A vegetação secundária é caracterizada pela baixa diversidade de espécies e homogeneidade fisionômica em cada estágio sucessional, fruto, ocasionalmente, de extração seletiva de madeira e/ou de impactos causados pelas atividades agropecuárias em áreas adjacentes. 183 áreas mais bem preservadas. Devido à ocupação antrópica de regiões marginais de rios e supressão de boa parte da vegetação ripária, os cursos d‘água encontram-se muito assoreados. Figura 3.20 — Distribuição original da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro Fonte: IEF (2007) Os campos de altitude surgem acima da cota altitudinal de 1.500 m. Também conhecidos como matas nebulosas, apresentam, tipicamente, uma cobertura herbáceo-graminóide intercalada por pequenos arbustos, com expressivo número de famílias e gêneros endêmicos de plantas. A diversidade florística é elevada nas áreas cobertas por florestas. A Floresta Ombrófila Densa 10 registra índices de diversidade florística (Índice de Shannon-Weaver ) entre 3,71, em Teresópolis (Guedes, 1945) e 4,55, na Reserva Biológica de Poço das Antas (Guedes & Bruni, 1998) e valores 11 intermediários em Macaé de Cima (4,05; Guedes & Bruni et al., 1997) e na Estação Ecológica Paraíso (4,20; Kurtz e Araújo, 2000). Nas margens da BG, as espécies arbóreas mais conspícuas dos manguezais são apenas três: Laguncularia racemosa (Combretaceæ), Avicennia schaueriana (Verbenaceæ) e Rhizophora mangle (Rhizophoraceæ). 10 O índice de diversidade de Shannon-Weaver é muito utilizado para quantificar a diversidade de espécies em estudos ecológicos e depende, basicamente, da riqueza de espécies em determinada comunidade e da eqüitabilidade com que os indivíduos são distribuídos entre as espécies (Begon et al., 1996). Desta forma, quanto mais alto o valor do índice, maior o número de espécies e menor o domínio da comunidade por uma ou poucas espécies (Odum, 1975). 11 Para efeito de comparação, o índice de Shannon-Weaver oscila entre 2,63 e 4,76 nas florestas amazônicas e de 3,61 a 4,07, nas florestas atlânticas (Martins, 1993 apud Kurtz & Araújo, 2000). 184 Figura 3.21 — Cobertura vegetal na Área Estratégica (Ano base 2001) Fonte: Fundação CIDE (2004) 185 As Formações Pioneiras, por seu turno, compreendem a vegetação de primeira ocupação, que é encontrada em áreas onde os solos estão submetidos à influência marinha, fluvial e fluviomarinha. Correspondem à vegetação de restinga (arbórea e herbácea sobre dunas e cordões litorâneos), aos ambientes de acumulação dos cursos d'água sujeitos a inundações periódicas e mangues. As restingas são encontradas em vários trechos do litoral, desde a baixada litorânea da Zona Oeste do oMunicípio do Rio de Janeiro, até Maricá, sendo que os manguezais ocorrem, principalmente, no entorno da BG, em especial nos vales fluviais e embocaduras de rios, como o Iguaçu e o Estrela. Os manguezais constituíam, originalmente, uma faixa quase contínua em todo o perímetro guanabarino, mas perderam espaço progressivamente para aterros, lixões e outros usos do solo incompatíveis com a sua conservação. Uma parcela significativa de manguezal, porém, resiste na 12 APA de Guapimirim , que abarca terras de Magé, São Gonçalo e Itaboraí. Algumas áreas de mangue também sobrevivem desde a APA da Estrela (Magé), até o município do Rio de Janeiro, na altura do Canal do Cunha. Surge ainda em pequenas manchas na Ilha do Governador, bem como na foz do rio Jequiá. Dinâmica do Desmatamento Originalmente, o ERJ possuía 97% de seu território coberto por florestas, sobretudo pela Floresta Ombrófila Densa. Já na década de 1960, grande parte dos remanescentes florestais se encontrava restrita aos limites das unidades de conservação, evidenciando um padrão de distribuição espacial muito próximo do observado atualmente. 13 De fato, o processo de fragmentação de ambientes naturais foi muito intenso e remonta ao início do século XVIII. À exploração madeireira seguiram-se desmatamentos acentuados para a implantacao de sistemas agropecuários, resultando em um mosaico de pastagens constituído por cultivos comerciais e manchas de vegetação secundária. A Floresta Ombrófila Densa reduziu-se a uma coleção caótica de fragmentos com composição florística e faunística empobrecida, graus variados de conservação e desconectados entre si. O desmatamento ocorreu, igualmente, em APP ― margens de rios e topos de morros ―, as quais são reconhecidas pela sua importância para a manutenção da biodiversidade e serviços ambientais. A distribuição espacial da cobertura florestal é pouco uniforme. As florestas estão concentradas em apenas um maior bloco, mais ou menos contínuo, localizado na Região Serrana Central ou em regiões onde as atividades econômicas ligadas à exploração direta da terra, como a agricultura e pecuária, não penetraram ou mostraram-se pouco interessantes do ponto de vista produtivo. No restante da área, a cobertura florestal é representada, na sua maior parte, por inúmeros fragmentos florestais em distintos estágios sucessionais (Figura 3.22). 12 Devido a sua importância ecológica, os manguezais do nordeste do recôncavo da Baía de Guanabara foram protegidos pelo Decreto Federal nº 90.225, que criou a Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (43 Km 2). 13 A fragmentação de habitats florestados pode afetar negativamente a diversidade e abundância de plantas e animais em áreas tropicais (Stouffer & Bierregaard, 1995) e, na prática, representa um dos principais vetores de extinção de espécies (Skole & Tucker, 1993) e perda de capacidade de suporte ambiental e recursos naturais. Fragmentos de tamanho reduzido, em particular, não suportam populações viáveis de espécies com requerimento de área de vida maiores (Soulé, 1986). Ademais, as espécies sofrem diminuição significativa de seus habitats devido ao efeito de borda (Viana, 1995). 186 35000 30000 25000 20000 ha 1990 2000 15000 2005 10000 5000 0 Rio de Janeiro No va Iguaçu M agé Duque de Guapimirim Caxias M aricá Itaguaí Niteró i Itabo raí São Go nçalo Tanguá M esquita Sero pédica Japeri Queimado s B elfo rd Ro xo Niló po lis S.J. de M eriti 0 1990 30968.3 21094 16833.4 17107.2 18451.2 12334.7 10212.1 5082.4 4362.2 4491.8 2887.8 2104.1 1802.9 250 247.5 86.31 77.4 2000 31186.7 18994.2 17990.1 20079.8 17868.9 13076.5 10549.2 4469.5 3882.8 3646.7 2987.1 1798.5 500 265.3 13.2 98.1 5.48 0 2005 29173.4 19872.2 18309 17492.7 15422.5 13298.7 9936.6 4497.6 4674.7 3773.7 3345.8 1307.4 724 187.5 123.7 67.6 1.5 0.3 Figura 3.22 — Área (ha) Ocupada por Vegetação nos Municípios da RMRJ 187 2 Com relação aos manguezais, que outrora recobriam cerca de 260 km ao redor da BG, atualmente 2 restam não mais de 80 km , dos quais 80% encontram-se na APA de Guapimirim, o que corresponde 14 a maior área contínua desse tipo de vegetação no ERJ (Amador, 1997; Jablonski et al., 2006) . 15 De acordo com trabalhos conduzidos pelo IBGE (1993) e DSG (1975), em 1956/1975, as florestas primárias e secundárias antigas e a vegetação arbórea baixa e arbustiva somadas correspondiam a 1.111.649 ha, equivalentes a 25,42% da área total do Estado. Os municípios com maior área nestas duas classes eram Silva Jardim e Cachoeiras de Macacu. Em termos percentuais, os municípios mais florestados eram, nesta ordem, Magé (59,3%), Mesquita (53,9%) e Silva Jardim (52,6%). 2 No início dos anos 80, apenas 19,2% do território fluminense ― cerca de 8.300 km ― ainda se encontravam cobertos por florestas nativas, 35% dos quais em apenas 4 maciços contínuos, incluindo a serra dos Órgãos, um dos segmentos da serra do Mar no ERJ. O restante das áreas florestais remanescentes estava disperso em pequenas manchas isoladas. Em 1990, estimava-se 2 que a cobertura florestal havia sido reduzida para apenas 6.907 km , ou 16% da área do Estado (IEF, 2007). Dados da Fundação SOS Mata Atlântica/INPE (2001), porém, indicam que restam cerca de 2 2 7.350 km ou 17% da cobertura original (42.940 km ). De acordo com a Fundação CIDE (2004), em 2001, os municípios com maior cobertura florestal ― incluindo florestas, vegetação secundária em estágio avançado de regeneração e restingas e manguezais ― continuavam a ser Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim. Ademais, municípios da Baixada Fluminense, como Mesquita, Nova Iguaçu, Magé, Duque de Caxias e Guapimirim permaneciam em posição de destaque, pelo fato de terem parte de suas áreas localizadas na serra do Mar e/ou na serra de Madureira ― maciço de Gericinó/Mendanha. Por outro lado, em alguns municípios, a área com cobertura arbórea natural é praticamente nula, caso de Nilópolis e São João de Meriti, ou extremamente baixa, a exemplo de Queimados (2,19%) e São Gonçalo (3,42%). Neste caso, trata-se de municípios essencialmente urbanizados e/ou onde a cobertura vegetal original foi, na sua quase totalidade, convertida em áreas de pastagem ou culturas agrícolas. Levando-se em consideração os dados do IBGE (1993), DSG (1975) e da Fundação CIDE (2004), para 2001, e considerando-se o total da área com cobertura arbórea clímax e em diferentes estágios de regeneração, os municípios onde ocorreram os maiores desmatamentos foram Silva Jardim e Magé. O desmatamento foi, também, acentuado nos municípios localizados a norte e a leste da BG, a exemplo de Niterói, São Gonçalo, Guapimirim e Itaboraí, evidenciando crescimento populacional e expansão da RMRJ nessa direção. Em termos percentuais, os municípios que mais perderam cobertura arbórea no período foram, nesta ordem, São Gonçalo, Nilópolis, Japeri, Magé, Niterói e Maricá, o que realça o grande avanço da malha urbana. Dentre os municípios que exibiram queda na área de vegetação, ano a ano, estão Mesquita, Nilópolis e Guapimirim, ao passo que os que apresentaram crescimento contínuo foram Magé, Tanguá e Maricá. Por sua vez, Belford Roxo, Rio de Janeiro, Itaguaí e Japeri apresentaram crescimento de área com vegetação, entre 1990 e 2000, e declínio, em 1995, atingindo, naquele ano, níveis inferiores a 1990. Situação semelhante foi verificada para Duque de Caxias, que, entretanto, não chegou a 14 Os manguezais são notórios por fornecem abrigo e alimento para alevinos e adultos de uma grande variedade de peixes, além de resguardarem condições ideais para atividades relacionadas à reprodução não somente de peixes, mas de diversas espécies de aves que deles se alimentam. 15 DSG – Diretoria de Serviços Geográficos do Exército. 188 apresentar redução de área para um patamar inferior a 1990. Por outro lado, Itaboraí perdeu vegetação de 1990 a 2000, mas apresentou recuperação em 2005, superando a área medida em 1990. Por fim, Niterói, Queimados, Nova Iguaçu, São Gonçalo e Seropédica também perderam vegetação, entre 1990 e 2000, e apresentaram crescimento de área, entre 2000 e 2005, mas não chegaram a alcançar a marca verificada em 1990. O desmatamento avança sobre pequenos e médios fragmentos isolados entre si, reduzindo ainda mais as chances de conectá-los a fragmentos de vegetação mais extensos e ―ecologicamente‖ viáveis, muito embora os maiores e mais bem conservados blocos contínuos de vegetação sejam igualmente alvos potenciais de desmatamento. Um dos ambientes mais afetados é o de restinga, que, na área estratégica, particularmente nos municípios de Maricá e na restinga da Marambaia, destaca-se por conter diversas espécies endêmicas de répteis e anfíbios (Figura 3.23 e 3.24). Outro aspecto de relevante interesse para a conservação de remanescentes florestais está associado ao fato de terem sido registrados desmatamentos no interior e em zonas de amortecimento de UC. Este fenômeno foi verificado no Setor Baixada Fluminense, especificamente na APA Floresta de Xerém (Duque de Caxias), na APA Estrela (Magé) e na APA de Gericinó/Mendanha (Nova Iguaçu), bem como no Setor Núcleo Metropolitano, particularmente na Reserva Biológica de Guaratiba, no Parque Estadual da Pedra Branca e no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro). Juntas, tais UC 2 perderam cerca de 1.400 mil m de matas, entre 1998 e 2007. Somente na APA Estrela foram 2 suprimidos cerca de 240 mil m de vegetação nativa, um dos maiores volumes de desmatamento em UC verificados em toda a área estratégica (Figura 3.25). Na região de Niterói, Maricá, Silva Jardim , Casimiro de Abreu e Rio Bonito, os maiores índices de desmatamento foram registrados no interior da APA do Rio São João/Mico-Leão-Dourado, onde 2 cerca de 1.150 mil m foram suprimidos no decênio 1997-2007 (Figura 3.26). O contínuo processo de eliminação da vegetação nativa, especialmente florestas, contribui para o isolamento de populações de plantas e animais, expondo-as a situações de risco de extinção. Com formas, extensão e graus de conservação muito variados, o que resta de vegetação nativa afigura ser insuficiente para manter populações genética e ecologicamente sustentáveis de muitas espécies animais e vegetais no longo prazo (Câmara & Coimbra-Filho, 2000; Rocha et al., 2001a). 189 Figura 3.23 — Desmatamento nos Municípios da RMRJ 190 Figura 3.24 — Desmatamento nos Municípios do CONLESTE 191 Figura 3.25 — Desmatamento na RMRJ com referência a Unidades de Conservação 192 Figura 3.26 — Desmatamento nos Municípios do CONLESTE com referência a Unidades de Conservação 193 Fragmentação Florestal A pulverização da vegetação em uma miríade de manchas verdes menores é um dos aspectos mais relevantes associados ao processo de retração da cobertura vegetal natural. Isoladas entre si e com chances progressivamente menores de se conectarem a outros remanescentes, as áreas verdes apresentam, progressivamente, menor potencial de manutenção de processos ambientais vitais e da significativa biodiversidade regional. Com base em dados disponíveis para a bacia hidrográfica drenante a BG, em 1998, havia quase 14.000 fragmentos florestais, dos quais 3.400 pertenciam à categoria ―floresta densa‖, outros 3.400 à ―floresta inicial‖ e cerca de 6.700 à ―floresta média‖, ao passo que os restantes 160 fragmentos estariam associados à vegetação de mangue. Em 2002, foi constatada uma redução global do número de fragmentos, que passou para, aproximadamente, 13.000 unidades. Por categoria, restaram 3.500 fragmentos de ―floresta densa‖, 2.500 de ―floresta inicial‖ e 6.800 da ―floresta média‖ (Figuras 3.27 a 3.30). Com relação ao mangue, houve um aumento do número de fragmentos, que passou de 160, em 1998, para cerca 350, em 2002, indicando que os estoques florestais podem estar sendo submetidos à exploração econômica ou, simplesmente, desaparecendo, face ao avanço das áreas antrópicas, em tempos recentes. Em se considerando as diferentes categorias de vegetação, percebe-se o aumento, ainda que pouco expressivo, das florestas densas e médias, as quais, em sua maior parte, estão distribuídas ao norte da BG, onde se localizam as maiores UC. As florestas, em estágio inicial de regeneração, localizadas, em boa parte, fora de UC, apresentam redução numérica de fragmentos, sendo estas, portanto, as que estão sucumbindo de imediato às frentes de desmatamento. Alternativamente, estas matas podem estar alcançando estágios mais avançados de regeneração, tornando-se matas de médio estágio de regeneração. A primeira hipótese, porém, pode estar mais próxima da realidade, pois seria o resultado do avanço das áreas urbanas sobre matas degradadas, de pequena extensão e localizadas na periferia das grandes cidades. Nesse sentido, os cerca de 1.500 polígonos de áreas urbanizadas mapeados em 1998 reduziram-se a, aproximadamente, 800, em 2002, o que atesta que a malha urbana progride no sentido de formar uma única e extensa mancha. Até 2020, pode ser esperado que o número de polígonos urbanos diminua ainda mais, tendendo à formação de um único e grande bloco de área urbana, integrando as várias regiões, que, atualmente, encontram-se desconectadas entre si. No que concerne a área estratégica como um todo, entre 1998 e 2007, foram suprimidos cerca de 2 9.300 mil m de vegetação natural, em 122 pontos distintos. Cinco frentes de desmatamento possuíam menos de 1 ha, ao passo que as demais 117 possuíam de 1 a 100 ha. Em 2007, a floresta ombrófila (incluindo a categoria ―vegetação secundária‖) possuía em torno de 16 mil fragmentos com menos de 1 ha e 6.500 fragmentos, com área variando de 1 a 100 ha. Fragmentos entre 100 e 1000 ha não superaram 730 unidades e, significativamente, fragmentos com mais de 1.000 ha somaram apenas 19. Tal realidade põe em evidência o elevado quadro de fragmentação florestal em que se encontra a região, onde predominam fragmentos florestais de 194 pequeno tamanho, cuja capacidade de suporte a biodiversidade está, portanto, comprometida em grande escala. Da mesma forma, os manguezais, com poucas manchas representativas (n=27), apresentaram 11 fragmentos com área menor de 1 ha, 6 com 1 a 100 ha e 8 com 100 a 1000 ha. Fragmentos com mais de 1.000 ha. foram apenas 2. Figura 3.27 — Fragmentação Florestal e Mudança no Uso do Solo na Região da Baía da Guanabara 8,000 7,000 6,000 5,000 Floresta inicial Floresta m édia 4,000 Floresta densa Mangue 3,000 2,000 1,000 0 1998 2002 2020 Floresta inicial 3,471 2,552 1,584 Floresta m édia 6,693 6,777 7,155 Floresta densa 3,418 3,501 3,875 160 366 1,293 Mangue Figura 3.28 — Evolução da fragmentação florestal na Região da Baía de Guanabara (1998 e 2002, medidos; 2020, projetado) 195 Figura 3.29 — Evolução da Fragmentação Florestal na Região da Baía da Guanabara 196 Figura 3.30 — Evolução da Fragmentação Florestal na Região da Baía da Guanabara 197 As terras úmidas com vegetação pioneira, por seu turno, foi o ambiente com menor número de fragmentos (n=48). Treze unidades mapeadas apresentaram área menor que 1 ha e 21 com 1 a 100 ha. Fragmentos com mais de 100 ha somaram apenas 10 unidades, sendo os quatro restantes os mais representativos em termos de área, superando 1.000 ha, cada um. Fauna A fauna do Estado do Rio de Janeiro é muito rica e diversa. São cerca de 1.130 espécies somente de vertebrados terrestres, o que representa 62% das espécies conhecidas para a Mata Atlântica (Rocha et al., 2003, 2004; Alves et al., 2003) (Quadro 3.39). Quadro 3.39 — Diversidade Faunística da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro o N de espécies Grupo faunístico Mata Atlântica Estado do Rio de Janeiro Anfíbios 340 166 Répteis 197 127 1.023 653 250 183 1.810 1.123 Aves Mamíferos Total Fontes: Rocha et al. (2003, 2004); Alves et al. (2003); Conservation International et al. (2000) As matas do ERJ são relativamente bem conhecidas do ponto de vista sistemático. Entretanto, estudos recentes, com foco na distribuição geográfica e à luz de novos métodos de classificação das 16 espécies, têm reforçado o conceito de megadiversidade associado à região. Neste sentido, é cada vez mais freqüente a separação de táxons outrora considerados como apenas uma espécie, tornando evidente a distribuição geográfica restrita de elementos anteriormente considerados bem distribuídos em termos geográficos. Como exemplo, entre as aves, pode ser citado o tovacuçu (Chamaeza meruloides), até pouco tempo considerado coespecífico da tovaca-campainha (Chamaeza campanisoma) (Raposo & Teixeira, 1992), e o macuquinho-serrano (Scytalopus speluncae), desmembrado recentemente em duas espécies (S. speluncae e Scytalopus notorius) (Raposo et al., 2006). Tais descobertas reforçam o perfil megadiverso da região de inserção da área estratégica e da necessidade de serem conduzidos mais estudos no campo da sistemática, para que a real riqueza de espécies seja estabelecida. Uma particularidade associada à fauna, sobretudo aves e mamíferos, refere-se a deslocamentos ao longo de gradientes altitudinais em resposta às mudanças das estações climáticas. No inverno, diversas espécies abandonam áreas elevadas da região (serras) em busca de condições mais favoráveis de clima e alimentação na região de baixadas ou, alternativamente, migram em direção sul, ao longo de corredores de vegetação ou através de rotas aéreas (aves). Com a fragmentação das matas em elevado grau, tais migrações vêm sendo perturbadas ou interrompidas, com conseqüências negativas para a sobrevivência das espécies no longo prazo. 16 Diversidade biológica em alto grau, notadamente entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, além de plantas. 198 Outro fenômeno de interesse para a conservação é o fato de que as matas do ERJ vêm sendo palco da redescoberta de espécies consideradas há muito extintas. Nesta categoria, inclui-se o anambémirim (Calyptura cristata), ave de pequeno porte tida como extinta há mais de 50 anos, mas que recentemente foi redescoberta em matas serranas de Guapimirim (Pacheco & Fonseca, 2001). Tal fato apenas corrobora a noção de que o conhecimento é ainda incipiente e que talvez sejam necessárias décadas para que o contorno de sua expressiva biodiversidade seja satisfatoriamente delineado. A eliminação de áreas naturais, sobretudo florestas, permite, ademais, que animais tipicamente campestres originários de formações abertas, como o Cerrado, passem a colonizar novas regiões, o que tipifica o estabelecimento de corredores de penetração de fauna alóctone. Entre outros elementos invasores, destaca-se a garça-vaqueira (Bubulcus ibis), a seriema (Cariama cristata) e a águia-cinzenta (Harpyaliaetus coronatus), além de aves de menor porte, como a asa-branca (Columba picazuro), a avoante (Zenaida auriculata) e o amassa-barro (Furnarius figulus) (Alvarenga et al., 2006). Nesse cenário há, também, diversas espécies ameaçadas, sobretudo as endêmicas, ao passo que outras já estão extintas, particularmente as habitat-especialistas de maior porte, espécies cinegéticas e/ou elementos associados às matas de baixa altitude. Grupos de Relevante Interesse para a Conservação No conjunto de ecossistemas que compõe a Mata Atlântica, determinadas regiões são consideradas prioritárias para a conservação, como o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, o que se deve a condições relativamente boas de conservação de diversas áreas, ao alto grau de diversidade biológica e à presença de endemismos, espécies raras e ameaçadas de extinção (Lino & Albuquerque, 2007). Por outro lado, esta região está entre as mais densamente populosas do Brasil, além de apresentar vasta diversidade sociocultural. Neste sentido, consolida-se uma forte interação dos elementos naturais com as atividades humanas na área estratégica, o que resulta na necessidade de serem estabelecidos condicionantes ao desenvolvimento, em se levando em consideração a fragilidade do conjunto de serviços ambientais e recursos naturais, particularmente, a presença de espécies endêmicas e ameaçadas da flora e fauna. Espécies Endêmicas 17 A Mata Atlântica é reconhecida como um dos hot spots da biodiversidade brasileira (Mittermeier et al., 1999; Myers et al., 2000) e um dos cinco mais importantes de sua categoria no mundo. É o bioma com maior concentração de espécies endêmicas no Brasil, cuja distribuição no espaço, porém, não é homogênea. Ao contrário, apresenta-se concentrada em contínuos florestais, dos quais se destacam o Corredor Central da Hiléia Baiana, que compreende matas dos estados da Bahia e Espírito Santo, e o Corredor Central da Serra do Mar, em terras do Rio de Janeiro e São Paulo (Figura 3.31). O Corredor Central da Serra do Mar é representado, ao norte, pela serra dos Órgãos, uma das áreas 17 Para ser considerado um hot spot, um bioma deve possuir mais de 1.500 espécies endêmicas de plantas e estar representado por uma área inferior a 1/4 da sua extensão original. 199 com maior concentração de espécies endêmicas de vários grupos no Brasil Muller, 2007). 18 (Rocha, 2000; Lagos & Figura 3.31 — Corredores Centrais de Biodiversidade da Mata Atlântica Fonte: Rocha et al. (2005) Com relação à flora, toda a área estratégica está circunscrita a uma disjunção florística, que vai do 19 Espírito Santo a Angra dos Reis , onde coexistem sistemas biológicos que, em muitos casos, são únicos, irreproduzíveis em território nacional (Couto, 2001). Certas espécies só aparecem em determinadas áreas, ilhadas por condições ecológicas específicas, separadas do restante por barreiras representadas por particularidades, por vezes mínimas, do ambiente. A título de exemplo, citam-se as bromeliáceas Cryptanthus, Gesneriaceae do gênero Nemathanthus, Glaziophitum miriabile (Gramineae), Prepusa hookeriana (Gentianaceae), Worsleya raineri (Amaryllidaceae) e Tillandsia grazielae (Bromeliaceae). Da mesma forma, das 100 espécies que figuram na Centuria Plantarum Brasiliennsium Erstintionis Minitata, publicada pela Sociedade Botânica do Brasil, em 1992, 40 são encontradas em território fluminense, muitas das quais na região de abrangência desta AAE (Couto, 2001). Um grande número de espécies endêmicas faz parte do sistema biológico das restingas. Há endemismos entre Leguminosae, Sapotaceae, Turnereaceae, Asclepiadaceae e Cataceae, com destaque para a Malvaceae Pavonia alnifolia, que motivou o desencadeamento de movimentos conservacionistas já na década de 30 (Couto, 2001). 18 Dentre as quatro regiões prioritárias para a conservação de aves ameaçadas na Mata Atlântica estão as montanhas e as baixadas do litoral da Região Sudeste. Estas, em particular, abrigam 46% (52 espécies) dos 112 táxons ameaçados do bioma, dos quais 34 são endêmicos (Collar et al., 1997; Marini & Garcia, 2005). 19 Em território fluminense são registradas 5.051 espécies de plantas, agrupadas em 1.405 gêneros e 193 famílias botânicas (Couto, 2001). 200 No que diz respeito à fauna, os endemismos são particularmente comuns entre os anfíbios, répteis e mamíferos (Rocha, 2000). Entre as aves, há 173 espécies próprias da Mata Atlântica nesta região, o que representa 84,4% do total de espécies endêmicas e 25,4% de todas as espécies listadas para o 20 bioma (Manne et al., 1999) . Um dos marcos da conservação ambiental da serra do Mar, o Parque Nacional da Serra dos 21 Órgãos , possui uma das mais altas concentrações de biodiversidade, pois resguarda cerca de 20% das espécies de vertebrados terrestres do País, em apenas 0,001% do território nacional. Há catalogadas 101 espécies de anfíbios, 83 de mamíferos, 83 de répteis e 462 de aves, entre as quais constam muitas espécies endêmicas. A título de exemplo, podem ser citadas, entre as aves, o papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea), o papagaio-moleiro (Amazona farinosa), o apuim-decauda-amarela (Touit surda) e a jacutinga (Pipile jacutinga) e, entre os mamíferos, o macaco muriqui (Brachyteles arachnoides) e a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus). De fato, os dados sobre a distribuição da fauna no Corredor da Serra do Mar chamam a atenção para um grande número de espécies restritas a esse intervalo geográfico. Com relação às aves, existem espécies muito importantes do ponto de vista da conservação, além das que foram citadas anteriormente, entre as quais está o anambé-mirim (C. cristata) (criticamente em perigo), além da saudade-de-asa-cinza (Tijuca condita) (vulnerável) e do formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis), considerado como ameaçado de extinção em nível global (Collar et al., 1992; BirdLife International, 2000), nacional (IBAMA, 2003) e regional (Alves et al., 2000). Endemismo notável entre os mamíferos diz respeito ao mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), encontrado unicamente em matas da Reserva Biológica de Poço das Antas (6.300 ha), em Silva Jardim, e na Reserva Biológica União (3.200 ha), em Casimiro de Abreu. A REBIO União, por sua vez, possui 17 aves oficialmente ameaçadas (Bergallo et al., 2000), podendo, neste sentido, ser considerada a mais importante reserva de aves do continente americano. As restingas do Rio de Janeiro têm alta riqueza de espécies e diversos endemismos, com destaque para o lagarto-de-cauda-verde (Cnemidophorus littoralis) e o lagarto-da-areia (Liolaemus lutze) (Carvalho & Araújo, 2004, Rocha, 1991; 1999), ambos habitat especialistas. Ao lado destes lagartos, figuram outras espécies endêmicas das restingas fluminenses, como a borboleta-da-praia (Parides ascanius) e as pererecas Xenohyla truncata, passível de ser encontrada na Barra de Maricá, e a Scinax littorea, com distribuição restrita à Ponta Negra, no mesmo município (Rocha et al., 2005). Tais espécies vêm apresentando contínua retração de área de ocorrência em função da erradicação dos ambientes naturais ao qual estão associadas, sobretudo em decorrência da valorização de terrenos na beira-mar, para fins de ocupação imobiliária. Entre os peixes, há ao menos 18 espécies endêmicas, o que situa os rios de baixada e riachos de encosta como habitats representativos do maior nível de endemismo do grupo na Mata Atlântica (Pinto, 2000). Tais rios e córregos são considerados, desta forma, como de extrema importância biológica em conseqüência da altíssima diversidade, elevado grau de endemismo e presença de comunidades especiais, a despeito de corresponder a menos de 7% do território nacional (Paiva, 20 No Estado do Rio de Janeiro, existem 32 espécies endêmicas de anfíbios (Rocha et al., 2003), 5 de répteis e 3 de mamíferos (Rocha et al., 2004). 21 O Parque Nacional da Serra dos Órgãos forma um contínuo florestal com o recém-criado Parque Estadual dos Três Picos e com a Estação Ecológica do Paraíso. Tais UC resguardam o maior conjunto de espécies raras e endêmicas do Rio de Janeiro e um dos mais significativos da Mata Atlântica. 201 1983). Em particular, as bacias dos rios Macacu e Caceribu são as que detêm maior número de espécies (61 e 37, respectivamente). Espécies Ameaçadas A despeito da importância estratégica desta região, não há listas de fauna ou flora ameaçadas de extinção sistematizadas para cada um dos municípios, com exceção do município do Rio de Janeiro, onde, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC, 2009), são registradas 247 espécies da flora e 147 da fauna ameaçadas de extinção. Outras 27 espécies da flora e 23 da fauna encontram-se extintas no município. Para o ERJ, a Lista Nacional de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA, 2003) relaciona 228 espécies, assim distribuídas: 37 já ―extintas‖, 16 ―criticamente em perigo‖, 39 ―em perigo‖ e 136 ―vulneráveis‖. Aves é o grupo com maior número de espécies ameaçadas (n=82 ou 36%), seguido por Peixes (n=48; 21%), Invertebrados (n=43; 19%), Mamíferos (n=42; 18%), Répteis (n=9; 4%) e Anfíbios (n=4; 2%). Dentre as espécies da flora ameaçadas, raras, vulneráveis ou em perigo de extinção podem ser citadas o pau-copaíba (Copaiba lagsdorffi), o palmito (Euterpe edulis), a caiapia (Dorstenia arifolia) e o pau-brasil (Caesalpinia echinata), presentes na Reserva Biológica do Tinguá e em fragmentos em melhores condições de conservação (SEMADS, 2001). Entre as bromélias, merece destaque Canistropsis microps, pois é endêmica da região centro-sul do estado e tida como extinta na cidade do Rio de Janeiro. No universo das orquidáceas, cita-se a Bifrenaria harrisoniae, espécie em perigo de extinção, e Miltonia spectabilis e Cattleya guttata incluídas na categoria vulnerável, na listagem elaborada pela SMAC. Nos fragmentos em estágios mais avançados de sucessão é esperada a ocorrência de algumas espécies de bananeira-do-mato, com destaque para Heliconia angusta, Heliconia farinosa e Heliconia fluminensis, todas incluídas na categoria vulnerável (lista do estado e da cidade do Rio de Janeiro). Em igual situação, estão as lianas (cipós), escada-de-macaco (Bauhinia smilacina), escova-demacaco (Combretum fruticosum) e timbó (Urvillea triphylla). Há, adicionalmente, dados recentes disponibilizados pelos Estudos de Impacto Ambiental elaborados para os empreendimentos objeto desta AAE. Na área do projeto de expansão da produção de gás da REDUC, constataram-se as canelas Ocotea odorifera e Ocotea porosa, madeiras de grande importância econômica, porém ameaçadas, respectivamente nas categorias ―em perigo‖ e o ―vulnerável‖. O pau-brasil (Caesalpinea echinata), que integra a Lista do IBAMA (Portaria n 37/92), foi igualmente encontrado na área (EIA REDUC, 2007). Outras espécies vulneráveis ou de interesse conservacionista identificadas são listadas no Quadro 3.40. Na Floresta Nacional Mário Xavier, em Seropédica, próximo ao empreendimento em questão, foram também identificadas espécies arbóreas ameaçadas de extinção, a exemplo do óleo-vermelho (Myrocarpus fastigiatus), araribá-rosa (Centrolobium robustum), garapa (Apuleia leiocarpa), angelim (Andira legalis) e tento (Ormosia arborea), todas enquadradas como vulneráveis (Santos, 1999). 202 Quadro 3.40 — Espécies da Flora Raras ou Vulneráveis Espécies Classificação Euterpe edulis (palmito-juçara) Vulnerável Joanesia princeps (boleira) Vulnerável Inga lenticellata (ingá) Vulnerável Machaerium incorruptibile - (jacarandá-rosa) Sorocea guilleminiana (soroca) Rara Vulnerável Fonte: MINERAL (2007) Na Área de Influência Direta e Indireta do COMPERJ, em Itaboraí, foram encontradas as árvores gonçalo-alves (Astronium graveolens) e o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), ambos na categoria ―vulnerável‖ da Lista do IBAMA, ao passo que em terrenos propensos a inundações foi observado o ipê-tamanco (Tabebuia cassinoides), classificado como ―vulnerável‖ na Lista do Estado. Com relação à fauna, a área estratégica resguarda um significativo número de espécies ameaçadas, 22 o que se deve, em parte, ao alto grau de endemismo e à acentuada fragmentação florestal . Entre os mamíferos, ressalta-se a situação crítica dos felinos de menor porte, como a suçuarana (Puma concolor capricornensis), a jaguatirica (Leopardus pardalis mitis), o gato-maracajá (Leopardus wiedii) e o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), além do rato-taquara (Kanabateomys amblyonix) e do 23 rato-de-espinho (Trinomys eliasi) , este último habitat -especialista de restingas estaduais, bem como do sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita) (vulnerável) (Bergallo et al., 2000). Entre as aves, podem ser citados elementos típicos das outrora extensas florestas de planícies, como o crejoá (Cotinga maculata), a escarradeira (Xipholena atropurpurea), Tijuca condita (vulnerável) e Calyptura cristata (criticamente em perigo). Nas restingas, o destaque é para Formicivora littoralis (criticamente em perigo) e o sanhaço-de-coleira (Schistochlamys melanopis). Nos mangues do recôncavo da BG, Alves et al. (2000) listaram três espécies ameaçadas de extinção: a biguatinga (Anhinga anhinga), o guará (Eudocimus ruber) e o arapaçu-de-bico-branco (Xiphorhynchus picus). Bencke et al. (2006) classificaram a serra do Tinguá como uma das onze áreas mais importantes para a conservação de aves no Rio de Janeiro, nove das quais estão ameaçadas de extinção e 29 apresentam distribuição restrita. Destacam-se, neste cenário, duas espécies ameaçadas: T. condita 2 (saudade-de-asa-cinza), cuja área de distribuição conhecida soma menos de 1.000 km (matas altomontanas das serras do Tinguá e dos Órgãos) e Touit surda (apuim-de-cauda-amarela). Na classe dos répteis e anfíbios, há o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), espécie considerada ―em perigo‖ na Lista do Estado do Rio de Janeiro (Rocha et al., 2000), e o sapinho-deareia (Chaunus pigmeus), notório endemismo das restingas fluminenses. 22 Com respeito ao grupo Aves, de um total de 1.020 espécies da Mata Atlântica (Pacheco & Bauer, 2000), 653 estão presentes no Estado do Rio de Janeiro, 82 das quais estão ameaçadas de extinção (Bergallo et al., 2000). Não obstante, o estado tem, com larga margem, mais aves ameaçadas do que qualquer outro lugar na Floresta Atlântica e, por extensão, nas Américas (Manne et al., 1999). Já a lista oficial de aves ameaçadas no Rio de Janeiro contém 20 espécies como provavelmente extintas (Bergallo et al., 2000), muito embora algumas destas possam ainda sobreviver em outros estados. 23 A região compreendida entre Maricá e Jurubatiba (Campos dos Goytacazes) é de especial relevância para a conservação destas espécies (Rocha et al., 2005). 203 Entre os peixes, ao menos 18 espécies endêmicas (e presentes na RMRJ) encontram-se ameaçadas, 5 das quais ocorrem na bacia do rio Macacu. Em se considerando as demais espécies, que ocorrem, simultaneamente, no Rio de Janeiro e em outros estados, este número eleva-se para 37 espécies ameaçadas. Alguns elementos da Ictiofauna de água doce já se enquadram Lista do IBAMA na categoria vulnerável (Quadro 3.41). Quadro 3.41 — Peixes de Água Doce das Bacias Hidrográficas dos Rios Iguaçu e Guandu Bacia Hidrográfica Lista IBAMA Lista UERJ Characidium grajahuense (canivete) Iguaçu Ameaçada Criticamente em perigo Leporinus conirostris (piau-branco) Guandu ameaçada Vulnerável Hyphessobrycon flammeus (lambari) Iguaçu Ameaçada Vulnerável Acentronichthys leptos Iguaçu Ameaçada Vulnerável Homodiaetus passareli Guandu Ameaçada Em perigo Listrura nematopteryx (cambeva) Iguaçu Ameaçada Vulnerável Leptolebias minimus Iguaçu Ameaçada Provavelmente extinta (1) Leptolebias marmoratus Iguaçu Ameaçada Criticamente em perigo Espécie Fonte: IBAMA (1992) Os brejos das planícies costeiras apresentam especificidades em relação à fauna ictiológica, como os pequenos peixes anuais da família Rivulidæ, conhecidos como peixinhos-das-nuvens, alguns dos quais são endêmicos dos brejos associados à Floresta Ombrófila de Terras Baixas (matas paludosas de baixada), existentes no entorno da BG, a exemplo de Leptolebias citinipinis e Leptolebias minimus (classificado pela IUCN como vulnerável). Leptolebias opalescens, Leptolebias splendens e Leptolebias marmoratus (este classificado pela IUCN como vulnerável) ocorrem na Reserva Florestal do Campo dos Escoteiros, em Magé, área especialmente importante para a conservação de três destas espécies ameaçadas de extinção. Algumas espécies da ictiofauna de água doce já se enquadram na classificação de risco elaborada pela UERJ. A fragmentação das matas e caça ilegal, entre outras interferências antrópicas, foram responsáveis pela extinção local/regional de diversas espécies da fauna. No que diz respeito aos grandes mamíferos, algumas espécies-bandeira foram extintas em nível regional. A título de exemplo, cita-se a onça-pintada (Panthera onca), eliminada em decorrência da forte pressão de caça e escassez de áreas protegidas que, juntas, pudessem suprir-lhe de grandes áreas para alimentação e reprodução. Presas preferências dos felinos foram igualmente extintas a anta (Tapirus terristris) e a queixada (Tajacu pecari), bem como o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus). Diversas aves, também, desapareceram da região, caso do gavião-real (Harpia harpyja) e do mutum24 do-sudeste (Crax blumenbachii), além de várias espécies de sub-bosque e, inclusive, de matas de restinga. Dentre estas últimas, encontra-se o sabiá-da-praia (Mimus gilvus), hoje virtualmente extinto nas restingas da área estratégica (Quadro 3.42). 24 De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, somente o município do Rio de Janeiro possui 170 espécies ameaçadas da fauna, além de outras 23 já extintas (SMAC/RJ, 2007). 204 Quadro 3.42 — Fauna Ameaçada de Extinção Grupo Faunístico Espécie/Classificação Aves Anhinga anhinga (biguatinga) (A) Tigrisoma fasciatum (socó-boi-escuro) (A) Leucopternis lacernulata (gavião-pomba) (A, R) Pyrrhura cruentata (fura-mato) (A) Pyrrhura leucotis (tiriba-de-orelha branca) (A) Touit melanonota (apuim-de-cauda-vermelha) (A) Touit surda (apuim-de-cauda-amarela) (A) Sporophila frontalis (pichochó) (A) Sporophila falcirostris (cigarra-verdadeira) (A) Sporophila collaris (coleiro-do-brejo) (A) Oryzoborus angolensis (curió) (A) Oryzoborus maximilianus (bicudo) (A) Mamíferos Bradypus torquatus (preguiça) (V) Alouatta fusca (guariba) (PA) Leopardus tigrinus (gato-do-mato) (PA) Leopardus wiedii (gato-maracajá) (V) Leopardus pardalis (jaguatirica) (V) Lutreolina crassicaudata (cuíca-de-cauda-grossa) (V) Artibeus cinereus (morcego) (V) Chiroderma doriae (morcego) (V) Pteronura brasiliensis (ariranha) (PE) Répteis Caiman latirostris (jacaré-de-papo-amarelo) (P) Convenções: V: vulnerável; P: em perigo; PE: em perigo de extinção; PA: provavelmente ameaçada; A: ameaçada; R: rara. Fontes: Vaz (1984); Dias (2007); Bergallo et al. (2000); Mazzoni et al.( 2000) Gestão da Biodiversidade e dos Recursos Naturais A importância do bioma Mata Atlântica, onde são encontrados recordes de biodiversidade, foi 25 reconhecida com o estabelecimento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), em 1991 26 (Figura 3.32). No Rio de Janeiro, a zona núcleo da RBMA corresponde ao conjunto de UC de Proteção Integral da serra do Mar. Somada às demais zonas ― de amortecimento e de transição ― obtém-se um total de 1,8 milhões de hectares. Determinadas áreas da Mata Atlântica, porém, são especialmente biodiversas, a exemplo da região serrana central do Rio de Janeiro, cuja relevância para a conservação motivou o estabelecimento do 27 Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar (CBSM) . Este contexto tem inspirado diversas A RBMA abrange 35 milhões de hectares de quinze dos dezessete estados brasileiros onde existe ocorrência do bioma ― do Ceará ao Rio Grande do Sul, além de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A criação da RBMA contribui para a preservação da biodiversidade e dos serviços e recursos naturais associados, além de prever o apoio a projetos demonstrativos, produção e difusão do conhecimento, educação ambiental e capacitação, pesquisa cientifica e monitoramento nos campos da conservação e desenvolvimento sustentável. 26 A RBMA é constituída por uma Zona Núcleo (unidades de conservação e áreas protegidas), Zona de Amortecimento (entorno das Zonas Núcleo, ou entre elas, comunidades tradicionais) e Zona de Transição (envolvem a Zona de Amortecimento e Núcleo, áreas urbanas, agrícolas e industriais). 27 Na CBSM estão incluídas tanto as áreas florestadas das encostas da serra do Mar, que se estendem da serra do Tinguá à Macaé de Cima, assim como os mangues da BG. 25 205 medidas para o fortalecimento das estratégias de proteção da biodiversidade e gestão participativa de UC como meio de assegurar a efetividade do processo de proteção da natureza nessas áreas. As características excepcionais do CBSM levaram o Ministério do Meio Ambiente a reconhecê-la como área de prioridade ―extremamente alta‖ para a conservação da biodiversidade e uso sustentável dos recursos naturais (MMA, 2002), (Figura 3.33). Neste Corredor, os remanescentes florestais estão resguardados em 65 UC públicas de proteção integral e cerca de 100 RPPN, que, de acordo com Barros (2007), afiguram ser estratégicas, na medida em que mais de 50% das terras com florestas estão no interior de propriedades particulares. No CBSM há uma grande concentração de UC de diversas categorias, que são geridas por diferentes esferas do poder público e por proprietários particulares, o que se deve ao padrão em forma de mosaico da paisagem. As UC do Rio de Janeiro de proteção integral, que são em maior número, contribuem para a preservação dos grandes fragmentos de mata, ao passo que as de uso sustentável respondem pela proteção do entorno das UC de proteção integral, no interior das quais há importantes conjuntos de pequenos fragmentos de vegetação. Via de regra, as UC apresentam grande proximidade física, havendo diversos casos de sobreposição e similaridades e complementaridades nos objetivos de conservação. Em apoio à consolidação da intrincada malha de UC foi estabelecido o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense (MMACF), tendo como objetivo tornar efetiva a implantação de políticas de fiscalização, disponibilização de informação, fomento à pesquisa e implantação de corredores 28 o o ecológicos . O mosaico está situado entre as coordenadas geográficas 22 11‘57‘‘ S/ 42 31‘01‘‘ O e o o 22 53‘25‘‘ S 43 41‘36‘‘ e abrange cerca 520 mil ha de 13 municípios, desde o maciço do Tinguá, até Macaé de Cima, a serra dos Órgãos e a parte leste da BG (Lino & Albuquerque, 2007). O MMACF engloba 22 UC, nos níveis federal, estadual e municipal e suas respectivas zonas de amortecimento (Quadro 3.43). Há grande conectividade física entre a maior parte das UC do Mosaico, sobretudo nas áreas serranas, além da conectividade ecossistêmica com a baixada, através das APA de Guapi29 Guapiaçu e de Macacu, que se unem a APA Guapimirim e a ESEC Guanabara . As UC sob tutela federal e estadual totalizam cerca de 470 mil ha, correspondendo a, aproximadamente, 11% da área do estado. A cobertura arbórea natural perfaz cerca de 300 mil ha dessas UC, o equivalente a 65% da sua área ou 7% da superfície do estado. Acrescentando-se a vegetação secundária, em estágio inicial a médio de regeneração, esses valores elevam-se a 350 mil 30 ha, ou 75% e 8%, respectivamente (Fundação CIDE, 2004) (Quadro 3.44). 28 A constituição de Mosaicos de UC e Áreas Protegidas está prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), consolidada pela Lei Federal nº. 9.985/00. Trata-se de uma abordagem que tem por mérito incentivar a integração de diferentes UC, com o objetivo de fortalecer a identidade regional e implementar corredores ecológicos. É particularmente aplicável a conjuntos de UC de categorias diferentes, ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas e outras áreas protegidas públicas ou privadas, que constituam um mosaico (Lino & Albuquerque, 2007). 29 A integração no Mosaico irá permitir que as APA e a ESEC Guanabara partilhem diversos instrumentos de gestão com as demais UC, o que possibilitará uma ação mais efetiva na conservação dos ecossistemas de mangue, brejos e florestas paludosas (Lino & Albuquerque, 2007). 30 Outra iniciativa voltada para conservação dos recursos naturais com reflexos na área estratégica, mais especificamente na RMRJ, refere-se à proteção das áreas de florestas, zona costeira e a Baía da Guanabara sob a forma de Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), iniciativa respaldada pelo Art. 269, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. 206 Figura 3.32 — Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na Área Estratégica Fonte: RBMA (1991) 207 Figura 3.33 — Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais no ERJ Fonte: MMA (2002) Quadro 3.43 — UC que integram o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense Órgão Gestor Categoria Parque Nacional Reserva Biológica Estação Ecológica IBAMA Área de Proteção Ambiental Estação Ecológica FEEMA IEF/SEMADUR SMMA de Guapimirim SMMA de D. de Caxias SMMA S. J. do Vale do Rio Preto Gestão Privada Área de Proteção Ambiental Parque Estadual Reserva Biológica Área de Proteção Ambiental Parque Natural Municipal Parque Natural Municipal Monumento Natural Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental Reserva do Patrimônio do Particular Natural Unidades de Conservação (UC) PN da Serra dos Órgãos REBIO do Tinguá EE da Guanabara APA de Guapimirim APA de Petrópolis EE do Paraíso APA da Bacia do Rio dos Frades APA da Floresta do Jacarandá APA da Bacia do Rio Macacu APA de Macaé de Cima PE dos Três Picos REBIO de Araras APA de Guapi-Guapiaçu PNM da Taquara PNM da Araponga MN da Pedra das Flores EE Monte das Flores APA Maravilha RPPN CEC/Tinguá RPPN El Nagual Querência Graziela Maciel Barroso Fonte: Lino & Albuquerque (2007) 208 Quadro 3.44 — Áreas Protegidas Federais, Estaduais e Municipais na Área Estratégica Unidades de Conservação Parque Nacional da Tijuca Parque Nacional da Serra dos Órgãos Estação Ecológica da Guanabara Parque Natural Municipal Darke de Mattos Parque Natural Municipal do Mendanha Parque Natural Municipal da Taquara Decreto/Lei de Criação Decreto n.º 50.923 de 06.07.1961 e alterado pelo Decreto n.º 70.186 de 23.02.1972. Decreto-Lei nº 1.822, de 30.11.1939 e alterado pelo Decreto nº 90.023, de 02.08.1984. Decreto de 15.02.2006. Decreto Municipal n.º 394/76 Lei Municipal n.º 1.958/93 Lei Municipal de nº 1.157 de 11 .12.1992 Administração Municípios Plano de Manejo Conselho Gestor IBAMA Rio de Janeiro Sim (1981) Sim IBAMA Magé, Teresópolis, Petrópolis e Guapimirim Sim Sim IBAMA Guapimirim, São Gonçalo Não Não Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Rio de Janeiro Não Não Bangu e Campo Grande. Não Não Duque de Caxias Sim Sim IBAMA Nova Iguaçu, Duque de Caxias,, Miguel Pereira e Petrópolis Sim (2006) Sim Reserva Biológica do Tinguá Decreto nº 97.780, de 23.05.1989 Parque Estadual da Pedra Branca Lei Estadual nº 2.377/74 IEF Rio de Janeiro Em elaboração Sim Parque Estadual dos Três Picos Decreto Estadual nº 31.343 de 05.06.2002 IEF Teresópolis, Guapimirim, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim Em revisão Sim Parque Estadual da Serra da Tiririca Lei Estadual nº 1.901 de 29.11.1991 e alterado pelo Decreto Estadual nº 18.598, de 19.04.1993 IEF Niterói e Maricá Em elaboração Sim Estação Ecológica Paraíso Decreto nº 9.803, de 12/03/87 FEEMA Guapimirim e Cachoeiras de Macacu Não Não Sec. Municipal de Meio Ambiente Rio Bonito Não Não Parque Municipal da Caixa D’Água Decreto Municipal nº 312 de 24/04/67 209 Unidades de Conservação Decreto/Lei de Criação Parque Municipal do Curió Lei 9.985/2000 de 19.01.2002 Parque Municipal de Nova Iguaçu Decreto nº 6.001 de 05.06. 1998 Parque Embratel 21 Decreto nº 726 de 04.11.2002 Parque Florestal do Barbosão Lei nº 1.171, de 02.08.1993 APA de GuapiMirim Decreto n.º 90.225 de 25/09/1984 APA Petrópolis Decreto nº 87.561 de 13/09/1982 Decreto n° 527 de 20.05.1992 (Redefinição de área) APA da Bacia do Rio Macacu Lei nº 4.018, de 05/12/02 APA São Bento Decreto lei nº 3.020 de 05.06.1997 APA da Estrela Lei n° 1624, de 18.09.2003 APA São José Lei nº. 1.769, de 01.10.1991 APA da Bacia do Rio Guandu LEI nº 3.760, de 08.01.2002 APA Estadual GericinóMendanha Decreto nº. 38.183, de 05/09/05 Municípios Plano de Manejo Conselho Gestor Paracambi Não Não Nova Iguaçu e Mesquita Sim Sim Rio Bonito (Serra do Sambê) Sem informação Sem informação Itaboraí Não Não IBAMA Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo Sim (2004) Sim IBAMA Petrópolis, Magé, Duque de Caxias e Guapimirim Sim Sim FEEMA Cachoeiras de Macacu e Guapimirim Não Não Duque de Caxias Não Magé Não Rio de Janeiro Não Não Seropédica, Queimados e Nova Iguaçu. Não Sim Rio de Janeiro, Nova Iguaçu e Nilópolis Em elaboração Sim Administração Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente de Nova Iguaçu Sec. Municipal de Meio Ambiente Gestão indefinida:criado por lei do Município de Itaboraí em 1993, anterior à emancipação de Tanguá. Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente de Nova Iguaçu FEEMA Sem informação Sem informação 210 Unidades de Conservação APA Municipal Suruí APA Municipal Várzea Country Club APA Municipal Pedra Branca APA Municipal da Caixa D’Água APA Municipal Morro da Viúva APA Municipal de Jacerubá APA Municipal do Rio d’Ouro APA Municipal do Iguaçu/Tinguá APA Municipal Morro Agudo APA da Serra dos Pretos Forros APA Municipal Tinguazinho Decreto/Lei de Criação Sem informação Decreto Municipal nº. 9.952 de 07.01.1991 Lei Municipal nº. 1206/88 Decreto Municipal nº. 2238, de 05.06.1991 Lei Municipal nº. 2611/97 Lei Municipal nº. 3592 de 07.07.2004 Lei nº. 3588 de 07.07.2004 Decreto nº 6.491, de 06.07.2002 Lei nº. 3594 de 07.07.2004 Decreto Municipal nº. 19145/00 Lei nº. 3586 de 07.07.2004 APA Guapi-Guapiaçu Decreto Municipal nº. 620/04 APA Municipal Retiro Lei nº. 3593 de 07.07.2004 APA do Engenho Pequeno FLONA Mário Xavier ARIE Baía da Guanabara Decreto Municipal nº. 054/91 de 19.07.1991 Administração Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Séc. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente Sec. Municipal de Meio Ambiente de São Gonçalo Municípios Plano de Manejo Conselho Gestor Magé Não Não Rio de Janeiro Não Não Rio de Janeiro Não Não Duque de Caxias Sem informação Sem informação Rio de Janeiro Não Não Nova Iguaçu Não Sim Nova Iguaçu Não Sim Nova Iguaçu Sim Sim Nova Iguaçu Não Sim Rio de Janeiro Não Não Nova Iguaçu Não Sim Guapimirim Não Não Nova Iguaçu Não Sim São Gonçalo Não Sim Decreto nº. 93.369 de 08.10.1986 IBAMA Seropédica Não Não Lei Orgânica Municipal art. nº. 471/90 Sec. Municipal de Meio Ambiente Rio de Janeiro Não Não 211 Unidades de Conservação Corredor Ecológico SambêSanta Fé (1) Corredor de Biodiversidade Tinguá-Bocaina (2) Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense (3) Decreto/Lei de Criação Administração Municípios Plano de Manejo Conselho Gestor Resolução SEMADUR nº. 103, de 20.09.2005 SEA Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim e Cachoeiras de Macacu. Não Não IEF Sec. Municipais de Meio Ambiente Instituto Terra de Preservação Ambiental (ONG) Paty do Alferes, Miguel Pereira, Vassouras, Paulo de Frontin, Mendes, Paracambí, Barra do Piraí, Piraí e Rio Claro Não Não IBAMA Petrópolis, Guapimirim, Magé, Teresópolis, São Geraldo, Japeri, Miguel Pereira, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Itaboraí, Nova Friburgo, Cachoeira do Macacu e Silva Jardim. Não Sim Não há legislação Portaria nº. 350 de 11.12.2006 Legenda: (1) Corredor Ecológico Sambê-Santa Fé: Parque Estadual dos Três Picos, APA São João, APA Macacu. (2) Corredor de Biodiversidade Tinguá-Bocaina: Reserva Biológica do Tinguá, Reserva Biológica de Araras, APA Rio Santana, APA Palmares, Parque Municipal Curió, APA Rio Guandu, APA Alto Piraí, Parque Estadual Cunhambebe, RPPN‘s (3) Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense: Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Reserva Biológica do Tinguá, Estação Ecológica da Guanabara, ÁPA de Guapimirim, ÁPA de Petrópolis, Estação Ecológica do Paraíso, ÁPA da Bacia do Rio dos Frades, ÁPA da Floresta do Jacarandá, ÁPAda Bacia do Rio Macacu, ÁPA de Macaé de Cima, Parque Estadual dos Três Picos, Reserva Biológica de Araras, Parque Natural Municipal da Araponga, Monumento Natural da Pedra das Flores, Estação Ecológica Monte das Flores, ÁPA Maravilha (São José do Vale do Rio Preto), ÁPA Guapiaçu (Guapimirim), Parque Municipal da Taquara (Duque de Caxias), Reserva Particular do Patrimônio Natural CEC (Tinguá), Reserva, Particular do Patrimônio Natural El Nagual, Reserva Particular do Patrimônio Natural Querência, Reserva Particular do Patrimônio Natural Graziela Maciel Barroso. Fonte: EIA/RIMA REDUC, JAPERI-REDUC e GNL e sites do IBAMA e IEF. 212 Recentemente foi introduzido outro mecanismo de planejamento, os corredores ecológicos do Projeto Parques e Reservas, propostos para a Mata Atlântica ― incluindo o Corredor Ecológico da Serra do Mar ― no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7). Por meio deste enfoque, em vez de se perpetuar o planejamento pontual, as necessidades da biodiversidade são examinadas em maior escala, desenvolvendo estratégias conjuntas para as UC e espaços não estritamente protegidos, com o objetivo de incrementar a real extensão disponível para a conservação (Conservation International, 2000) (Figuras 3.34 e 3.35). O tombamento é outro importante instrumento jurídico que, a despeito de não ser citado na legislação o que trata de UC, foi instituído pelo Decreto-Lei n 25/1937, para fazer valer restrições de uso que garantam a proteção e manutenção de características do patrimônio natural e cultural. Um dos sítios de maior relevância com Tombamento Provisório, efetuado em 06.03.1991, corresponde ao Sistema Orográfico da Serra do Mar/Mata Atlântica, o qual engloba trechos dos territórios de 38 municípios, incluindo Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Marica, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Gonçalo e Silva Jardim (Couto, 2001). Figura 3.34 — Corredores Ecológicos na Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro Fonte: Fundação CIDE (2007) 213 Figura 3.35 — Corredores Ecológicos na Área Estratégica Fonte: Fundação CIDE (2004) 214 Remanescentes Florestais em Áreas Protegidas Do ponto de vista de uso e ocupação do solo, as UC foram mapeadas e agrupadas em duas categorias: UC de uso sustentável e UC de proteção integral, de acordo com a Lei do SNUC (Figura 3.36). A área destinada à conservação da natureza em UC em cada município encontra-se discriminada no Quadro 3.45. Quadro 3.45 — Área das Unidades de Conservação por Município – 2005 Município Proteção Integral (ha) Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Casimiro de Abreu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Marica Mesquita Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio Bonito Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Silva Jardim Tanguá Área Estratégica Uso Sustentável (%) (ha) Área Total (%) (ha) 0,0 25.997,6 1.342,2 9.332,2 6.814,6 740,7 478,3 0,0 1.855,6 917,8 0,0 0,0 1.061,2 14.366,1 0,0 0,0 0,0 19.185,9 47,7 0,0 0,0 8.431,7 0,0 0,0 27,2 2,9 20,1 18,9 1,7 1,8 0,0 4,8 2,5 0,0 0,0 8,2 27,4 0,0 0,0 0,0 16,2 0,2 0,0 0,0 9,0 0,0 244,5 20.151,9 34.734,9 3.030,5 15.162,4 2.555,8 5.411,3 2.416,9 25.875,2 959,8 1.458,0 0,0 0,0 22.386,3 17.937,4 1.399,7 9.861,6 1.488,3 1.809,3 0,0 4.276,9 88.657,8 0,0 3,1 21,1 75,4 6,5 42,0 6,0 19,9 29,2 67,1 2,6 35,0 0,0 0,0 42,7 100,0 18,2 21,3 1,3 7,3 0,0 15,1 94,5 0,0 7.979,1 95.580,6 46.084,3 46.457,3 36.081,3 42.421,9 27.156,3 8.283,2 38.569,6 36.247,7 4.160,0 1.915,7 12.937,5 52.388,8 17.937,4 7.692,1 46.217,6 118.229,6 24.914,2 3.483,8 28.379,4 93.833,6 14.662,3 90.571,7 11,2 259.818,5 32,0 811.613,3 Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, realizada a partir de dados do IBAMA e Levantamentos Secundários em Órgãos Ambientais Estaduais e Municipais (2008) 215 Figura 3.36 — Proteção de Remanescentes Florestais 216 Situação das Unidades de Conservação A área estratégica possui 45% de seu território sujeito à regime especial de proteção da natureza, dos quais, aproximadamente 11% estão sob o regime de proteção integral e 34% sob o de uso sustentável (Quadro 3.46). Por outro lado, a distribuição das UC não é homogênea no espaço: de fato, os municípios de Silva Jardim, Rio Bonito e Casimiro de Abreu, por exemplo, apresentam 75% de sua superfície territorial submetida a alguma forma de proteção, enquanto que nos municípios de Maricá e Niterói — com forte expansão urbana — este valor é de apenas 6%. Cumpre salientar que Niterói, Maricá, Rio Bonito, Tanguá e Itaboraí, que se situam no entorno imediato do COMPERJ, são particularmente desprovidos de áreas sujeitas a condições que garantam a sua preservação. Quadro 3.46 — Superfície das Unidades de Conservação, por Município, em Porcentagem da Área Total - 2005 Área das Unidades de Conservação (%) Município Uso Sustentável Belford Roxo Proteção Integral Total 3,0 0,0 3,0 Cachoeiras de Macacu 20,8 27,2 48,0 Casimiro de Abreu 75,4 2,9 78,3 6,5 20,1 26,6 45,0 18,9 63,9 Itaboraí 4,2 1,7 6,0 Itaguaí 20,0 1,8 21,7 Japeri 29,2 0,0 29,2 Magé 85,4 4,8 90,2 Duque de Caxias Guapimirim Maricá 2,6 2,5 5,2 Mesquita 35,0 0,0 35,0 Nilópolis 0,0 0,0 0,0 Niterói 0,0 8,2 8,2 Nova Iguaçu 42,7 27,4 70,2 Paracambi 98,0 0,0 98,0 Queimados 18,2 0,0 18,2 Rio Bonito 21,3 0,0 21,3 Rio de Janeiro 1,3 16,2 17,5 São Gonçalo 7,3 0,2 7,5 São João de Meriti 0,0 0,0 0,0 Seropédica 15,1 0,0 15,1 Silva Jardim 90,2 9,0 99,2 0,0 0,0 0,0 33,8 11,2 45,0 Tanguá Área Estratégica 217 3.2.3.2 Diversidade Biológica Aquática A Baía da Guanabara (BG), principal corpo d´água na área dos empreendimentos, é circundada por regiões intensamente urbanizadas, incluindo o segundo maior centro demográfico e industrial do Brasil. Localiza-se entre os paralelos 22°24‘e 22°57‘ S e 42°33‘ e 43°19‘ O. Possui cerca de 400 km² de superfície, 131 km de perímetro e, aproximadamente, 3 bilhões de m³ de água com salinidades variadas. A profundidade do canal central, que segue o eixo maior da BG, atinge 50 m, ao passo que, próximo à extremidade noroeste, fica em torno de um metro, na maré baixa. A profundidade média, porém, é de apenas 7,6 m. 2 A BG recebe águas de uma região hidrográfica que possui cerca de 4.000 km , sendo limitada, ao norte, pelas serras do Tinguá, Estrela e dos Órgãos; a leste, pelas serras de Jaconé, dos Matos, Redonda, Sambé, Santana e Macaé de Cima; a oeste, pela serra da Pedra Branca e de Madureira e, ao sul, pelo oceano Atlântico. Apresenta múltiplos usos, como pesca, navegação, recreação e atividade portuária, entre muitos outros (Lavrado et al., 1991). Apesar de conter uma importante Unidade de Conservação (APA de Guapimirim), que preserva um significativo trecho de manguezal funcional, os extensivos impactos ao longo do tempo tornam a BG um dos ambientes aquáticos mais poluídos do mundo (Valentim et al., 1999). Poluição essa que se reflete nos valores de metais pesados encontrados nos tecidos de peixes da baía (Kehrig et al., 1998; Silva-Junior, 2009). A saúde ambiental da BG vem se deteriorando ao longo dos anos, devido a diversos fatores. No entanto, esta região é extremamente heterogênea, apresentando um gradiente variado de parâmetros abióticos. A região noroeste é considerada a mais degradada, devido à circulação restrita. O aumento das concentrações de amônia e a redução do OD refletem a crescente eutrofização desta porção da baía (Lavrado et al., 1991). Entretanto, o manguezal de Guapimirim parece diminuir os efeitos da eutrofização na porção nordeste (Lavrado et al., 1991; Valentin et al., 1999). Nas regiões nordeste e norte, são registrados os valores mais elevados de compostos nitrogenados, DBO e coliformes totais e são sujeitas a periódicas florações de microalgas oportunistas, principalmente de cianofíceas, durante o verão (Mayr et al., 1989). O canal central e a área ao seu entorno mostram melhores condições de qualidade ambiental, em função da renovação da água pelas correntes de marés, que tornam essa região menos suscetível aos efeitos da poluição orgânica (Mayr et al., 1989; Lavrado et al., 1991). As melhores condições ambientais são encontradas próximo à boca da baía, com maior influência da água costeira marinha. Contudo, mesmo essas áreas vêm sentindo os efeitos cumulativos da carga orgânica proveniente dos municípios ― Rio de Janeiro, na margem ocidental, e Niterói e São Gonçalo, na margem oriental. Além da poluição, sucessivos aterros foram responsáveis pela eliminação de uma área significativa 31 do espelho d‘água , afetando importantes espaços, como o estuário dos rios Faria-Timbó e Inhaúma, que eram utilizadas como criadouro e local de pesca de camarão (Barroso, 1989). Por outro lado, a eliminação de vegetação nativa nas margens, sobretudo nos mangues, também contribuiu para o agravamento da poluição ambiental e redução da biodiversidade. Em Duque de Caxias, os 31 A superfície original da Baía da Guanabara sofreu uma redução de 30%, devido aos aterros destinados a criar novas áreas de urbanização. Das 188 ilhas que existiam em 1500, só restam 127 (Barroso, 2007). 218 manguezais foram praticamente destruídos por aterros, depósitos de lixo e óleo proveniente de navios e de um complexo e diverso parque industrial. Em Guapimirim, a invasão de áreas de mangue para habitação tornou-se um fator adicional de degradação (Vergara-Filho et al, 1994). As melhores condições hídricas da malha hidrográfica, que é drenada por 55 rios, são encontradas nas vertentes serranas, onde está localizada a maioria das nascentes, mas a qualidade das águas deteriora-se rapidamente, na medida em que os rios atravessam centros urbanos à jusante (ECOLOGUS/AGRAR, 2005). No que diz respeito à biota aquática, a BG é um estuário tropical típico com alta produtividade primária, proporcionando um criadouro natural para muitas espécies marinho-estuarinas, que encontram em suas águas condições favoráveis para crescimento e reprodução ou apenas uma oportunidade esporádica para obter alimento e abrigo (ver Elliott et al., 2007). Peixes e crustáceos decápodes são os organismos da fauna aquática mais representativos, do ponto de vista econômico, assim como ocorre em outras áreas estuarinas brasileiras. A fauna de organismos aquáticos da BG é muito rica, sendo composta por, pelo menos, 376 espécies, considerando apenas peixes e crustáceos decápodes. Os peixes são representados por 258 espécies (68,6%) (Vianna et al., no prelo), enquanto que os crustáceos o são com 118 espécies (31,4%) (Lavrado et al., no prelo), do montante de espécies registradas oficialmente na literatura científica. Entre os peixes, 97 espécies (38,0%) possuem algum tipo de importância econômica, como recurso pesqueiro (Vianna et al., no prelo). Oito espécies são endêmicas da região Sudeste e outras quatro das regiões Sudeste/Sul. No entanto, a espécie aquadulcícola Characidium vidali ocorre, exclusivamente, nos tributários que deságuam a nordeste da BG. Da mesma forma, Hyphessobrycon flammeus tem sua distribuição restrita aos rios costeiros do Rio de Janeiro. Outro ponto importante se refere à presença de 30 espécies de peixes nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção. De acordo com os critérios do IUCN, três espécies de peixes foram classificadas como vulnerável e três em estado crítico. É o caso dos peixes anuais Leptolebias marmoratus, Leptolebias opalescens e Leptolebias splendens, que habitam os brejos das planícies costeiras. Leptolebias marmoratus, em particular, havia sido considerada extinta desde 1944, mas foi redescoberta em 2000, em uma pequena poça na mata do município de Nova Iguaçu, em um riacho tributário da BG. Ressalta-se que L. opalescens e L. splendens, igualmente endêmicas de poças que deságuam na parte mais interna da BG e em estado crítico, não são mais observadas desde a década de 1980 (Costa, 2002). A ausência dessas espécies no seu ambiente natural demonstra a fragilidade das áreas mais internas e circundantes ao fundo da baía. Na lista do CITES, destaca-se, no Apêndice II, os cavalos-marinhos, Hippocampus erectus e Hippocampus reidi. Na Lista Nacional de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçados de Extinção, elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente, foram encontradas 22 espécies de peixes, 15 das quais fazem parte do Anexo II, que inclui, apenas, espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação, como a sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis), a tainha (Mugil liza) e o cherne (Ephinephelus itajara), entre outros (Vianna et al., no prelo). Das 118 espécies de crustáceos decápodes encontradas (Lavrado et al., no prelo), 11 possuem interesse econômico direcionado para a pesca e 13 foram registradas na Lista Nacional de Invertebrados Aquáticos Sobreexplotados ou Ameaçados de Sobreexplotação, destacando-se o camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e Farfantepenaeus paulensis). Apenas o pitú 219 (Macrobrachium acanthurus) consta no Anexo I, totalizando, portanto, 14 espécies de crustáceos decápodes merecedoras de atenção. Contudo, algumas espécies de siris, pouco exploradas economicamente na BG, apresentam bom potencial pesqueiro, como Portunus spinimanus, Callinectes danae e Callinectes ornatus. A determinação do número de espécies da fauna aquática ameaçada de extinção baseou-se em pesquisas realizadas em periódicos científicos, bancos de dados (FishBase, Web of Science, ScienceDirect), publicações mais restritas (relatórios, monografias, dissertações, teses), além de comunicações em congressos. Após o levantamento, a lista das espécies registradas para a BG foi comparada às listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção para obtenção do status de conservação em níveis locais e mundiais. Quatro listas foram consultadas: CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora) em UNEP-WCMC (2009), IUCN (International Union for the Conservation of Nature – the Red List of Threatened Species) em IUCN (2009) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instrução Normativa N° 5, em MMA (2004) e Instrução Normativa N° 52, em MMA (2005). A seguir, são apresentados dados atualizados sobre as principais espécies explotadas pela atividade pesqueira, considerando aspectos da produção, mortalidade e taxa de sobrevivência, além da reprodução e avaliação do estoque: Corvina (Micropogonias furnieri) ― ocupa o 2° lugar entre os peixes costeiros de valor comercial, desembarcado pela frota industrial nas regiões Sudeste e Sul do Brasil e a mesma posição, em termos quantitativos, na BG. Entre 1986 e 2002, a produção média foi de 20.739 ton./ano nos estados do RJ, SP, PR, SC e RS, sendo que somente a BG contribuiu com cerca de 1.390 ton./ano (Jablonski et al., 2006). O estoque Sudeste da corvina forma agregados no sentido costa-mar aberto, onde realiza a desova, sendo as regiões lagunares e estuarinas locais propícios para alimentação e crescimento. A maior atividade reprodutiva ocorre entre os meses de agosto e novembro (Carneiro et al., 2005). Sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) ― na BG, alcançou a 4ª posição em volume desembarcado no período 2001-2002, totalizando 675 ton., segundo Jablonski et al. (2006). O Rio de Janeiro contribui com cerca de 30% da produção total, que foi de cerca de 17 mil ton., em 2000. Esta espécie é considerada uma ―r-estrategista‖, que possui vida curta (até 4 anos de idade) e alta fecundidade, com pico de desova ocorrendo entre o final da primavera e o verão (Cergole & Rossi-Wongtschowski, 2005). Espada (Trichiurus lepturus) ― é freqüente da primavera ao outono na zona costeira da costa Sudeste-Sul do Brasil, sendo, intensamente, capturada com linha de mão na região do Rio de Janeiro (Magro et al., 2005). No período 2001-2002 alcançou volume significativo na BG (237 ton.), (Jablonski et al., 2006). 220 3.2.4 Dinâmica das Comunidades Pesqueiras A Baía de Guanabara (BG) é um espaço geográfico e também social na medida em que apresenta diferentes usos que muitas vezes são conflitantes. A pesca na BG é uma atividade econômica bastante relevante e antiga, realizada pelos indígenas que habitavam a região (Diegues, 1983). A presença do sambaqui em Camboinhas (Niterói) corrobora este fato e sua análise permitiu identificar seus hábitos e mostrar a predominância da atividade de pesca, incluindo a coleta de mariscos (Kneip e Pallestrini, 1984). Novas tecnologias de pesca foram introduzidas por portugueses e espanhóis, durante a época do Brasil Colônia, tais como as redes de cerco e o arrasto de fundo. A tradição pesqueira destas duas culturas, a piscosidade da BG e a proximidade do mercado consumidor da cidade do Rio de Janeiro contribuiram para o desenvolvimento da atividade, onde se formaram diversos núcleos pesqueiros tais como: Ponta do Caju, Praça XV de Novembro; Ilha do Governador, Jurujuba, Maria Angu, Inhaúma, São Gonçalo, Paquetá, Piedade, Magé, Ilha da Conceição (Bernardes, 1958), alguns deles ainda hoje importantes. O relatório IBAMA (2006) identificou os principais municípios vinculados à pesca artesanal no Estado do Rio de Janeiro e ressalta a importância dos municípios do Rio de Janeiro e São Gonçalo. As comunidades de Ramos e Caju utilizam menor número de artes de pesca e atuam mais fora da BG. Os grupos pesqueiros de Jurujuba (Figura 3.37) e da Ilha da Conceição se dedicam à pesca comercial, em escala artesanal. As comunidades de Copacabana e Itaipu são consideradas da área de abrangência da BG, por situarem-se nas duas extremidades de sua zona estuarina, contudo, as artes de pesca utilizadas caracterizam-se como de pesca oceânica e cada vez mais recreativa (Barroso, 2007). Figura 3.37― Área de Pesca em Jurujuba – Niterói Fonte: Ritter (2009) Até os anos 1930 predominavam os barcos a remo no interior da BG, mas com a criação do Entreposto de Pesca da Praça XV de Novembro e as facilidades de implantação de fábricas de sardinha em conserva, a pesca de traineiras se modernizou, passando por progressivas melhorias na 221 motorização e equipamentos de apoio. Este processo de modernização gerou conflitos em relação às áreas de pesca, pois as ―novas‖ embarcações passam a utilizar as áreas próximas ao litoral, local onde era realizada a pesca artesanal (Diegues, 1983). Tal fato ocorreu quando os pescadores acostumados a pescar nas pequenas embarcações passaram a trabalhar nas embarcações maiores e ―mais modernas‖. E, com isso, acabavam por pescar nas áreas já conhecidas, gerando o referido conflito com as pequenas embarcações. Isso, também, foi verificado em Jurujuba, onde os grandes barcos passaram a competir com as pequenas embarcações (Duarte, 1999). Além disso, Duarte (1999) observou que, a partir dos anos 1950, com a introdução dos primeiros motores, a pesca realizada nas áreas próximas, dentro da BG, passa a ser praticada em locais mais distantes, como ao largo das praias do Flamengo e Icaraí, favorecendo não só a utilização de rede traineira, como a pesca de arrasto. A partir da década de 30, houve nitidamente um incentivo à atividade pesqueira, quando se estabeleceram duas fábricas de enlatamento de pescado em São Gonçalo, a Rubi (1934) e a Coqueiro (1937). Na década de 70 encontravam-se em funcionamento 19 indústrias de pesca na BG. A maioria processando sardinha, mas outros peixes, siris e camarões também eram beneficiados (Lintern et al. 1974). Mais recentemente o entorno da BG chegou a reunir 12 fábricas de processamento de pescado, que utilizavam diversas categorias como matéria prima tais como savelha, castanha, corvina, merluza, anchova, pampo e camarão (Martins, 2006). Segundo o Centro de Informações da Baía da Guanabara (2001), estavam atuando, na época, a Rubi, a Piracema, a Quaker-Pepsi Co. (antiga Coqueiro) e a Sul Atlântico, na região de São Gonçalo (Figura 3.38) Figura 3.38 ― Fábrica Atlantic Desativada (prédio vermelho) em Jurujuba – Niterói Fonte: Ritter (2009) Se por um lado, o desenvolvimento da pesca na região leste da BG foi influenciado pela instalação das indústrias pesqueira e naval, possibilitando a renovação da frota e a instalação de portos em vários locais, por outro, este desenvolvimento sem preocupações ambientais ― lançando efluentes industriais e domésticos, sem nenhum tipo de tratamento ― atrelado ao aumento da frota pesqueira e à sobrepesca contribuiu para o declínio da indústria pesqueira, iniciado nos anos 1980. 222 A pesca embarcada no interior da BG pode ser considerada artesanal, mas além dela, outras atividades extrativas ocorrem como a cata de caranguejo e siri e a coleta de mexilhão. Estas atividades são diretamente influenciadas e restringidas pela legislação e por atividades que promovem o desenvolvimento regional, como as da PETROBRAS e de outras empresas, com 32 determinação de áreas de exclusão, permanente ou temporária, de pesca . Ecologicamente, pelas características fisiográficas e diversidade dos ecossistemas, a BG é uma área de criadouro natural para inúmeras espécies de pescados. Conseqüentemente, os diferentes tipos de pescaria acabam capturando indivíduos juvenis, abaixo do tamanho comercial que são devolvidos ao mar, mortos ou com poucas chances de sobrevivência. Este problema afeta diversos invertebrados, sem importância econômica, tais como estrelas-do-mar e ouriços-do-mar, mas também grupos de pescado comerciais de pequeno porte, como polvos, lulas e siris, além de peixes, como corvinas, betaras e pescadas (Vianna et al., 2004). Para a elaboração deste texto foi consultada a bibliografia disponível sobre as atividades pesqueiras extrativistas na Baía da Guanabara. Cabe mencionar que se buscou trabalhar com as informações oficiais, divulgadas em periódicos e outros documentos acadêmicos. É importante chamar atenção que apesar da pesca realizada no interior da BG ser uma atividade relevante; o trabalhador, seu modo de vida e as condições de trabalho não são objetos freqüentes de estudos e pesquisas, seja por parte da academia ou pelos órgãos gestores. 3.2.4.1 As Características do Setor de Pesca no Brasil A pesca passa por transformações nas políticas públicas que se apresentam para o setor no Brasil, tendo como marco o recém criado Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA) ― Lei nº 11.958, de 29 de junho de 2009 ― que substitui a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP-PR). O novo Ministério será responsável pela política nacional pesqueira e aqüícola, que inclui fomento às atividades e apoio à infra-estrutura ― produção, transporte, beneficiamento, transformação, comercialização, abastecimento e armazenagem de pescado ― e visa promover o acesso à cidadania aos trabalhadores da pesca, que outras categorias já conquistaram ao longo da história. Além disso, a competência do IBAMA relativa ao ordenamento dos recursos pesqueiros irá, a partir de agora, ser compartilhada com o MPA. Segundo o Programa REVIZEE, o Brasil já apresenta em relação recursos vivos marinhos, especialmente os recursos pesqueiros, um histórico de sobrepesca, de atividade predatória e insuficiência na gestão e fiscalização dos principais estoques. Tal cenário traz uma série de ordem econômica, social e ambiental (SEAP/PR, 2009). Na dimensão social, o segmento mais afetado é o da pesca artesanal. O diagnóstico da pesca artesanal no Brasil, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), em 2004, revelou que os mecanismos sócio-institucionais que governam o acesso de pescadores aos recursos pesqueiros exercem um papel crítico no desenvolvimento deste segmento social. Entre as muitas conseqüências ambientais da sobrepesca pode-se citar: a redução na captura de pesca, a excessiva 32 Pelas características da atividade pesqueira, ela deve ser realizada em consonância às normas da marinha e dos órgãos ambientais ― INEA, IBAMA, Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP-PR). A SEAP-PR foi transformada em Ministério, em junho de 2009. 223 captura não intencional de espécies indesejadas e daquelas de menor tamanho ou protegidas, as alterações nos ecossistemas e a perda de biodiversidade. As pescarias artesanais são, freqüentemente, muito mais complexas, utilizam várias artes de pesca, capturam várias espécies que, em geral, são pouco abundantes, demandam um conhecimento tradicional, apresentam sistemas de apropriação social de espaços naturais (territórios), inúmeros pontos de desembarque e diversas cadeias produtivas, incluindo processos de socialização do pescador. No Brasil, segundo a SEAP/PR (2009), ainda predomina a informalidade na atividade de pesca artesanal, com pouca tecnologia associada às diversas etapas da cadeia produtiva, existindo uma série de questões sociais, sanitárias e ambientais a serem superadas. Historicamente, o setor produtivo da pesca, representado pelos movimentos sociais e empresários, teve pouca participação na elaboração das principais diretrizes para o desenvolvimento e/ou organização da atividade pesqueira no Brasil. Na nova Lei da Pesca (que substitui o Decreto 221/1967), o pescador e o aqüicultor passam a ser 33 considerados produtores rurais . As mulheres que trabalham nas atividades complementares à pesca artesanal também serão reconhecidas como trabalhadoras da pesca, tendo os mesmos direitos dos pescadores, como por exemplo, o seguro desemprego, modalidade seguro-defeso. A categoria dos pescadores, ao ser entendida como produtor rural terá facilitado o acesso ao crédito que promoverá melhorias das condições de trabalho, especialmente a partir da incorporação da atividade pesqueira e aqüicula na Linha Especial de Crédito de Investimento para Produção de Alimentos (Pronaf Mais Alimentos). Para a SEAP/PR (2009), a pesca artesanal não pode ser vista de forma isolada dos outros setores produtivos, nem tampouco os esforços atuais podem repetir os fracassos de anos atrás, fundados no assistencialismo. São claras as orientações do Governo Federal no sentido de direcionar esforços para a redução da pobreza, combate à exclusão social e diminuição das desigualdades sociais e regionais. Os pescadores artesanais são responsáveis, hoje, por 65% da pesca extrativa no Brasil ― 550 mil toneladas por ano. Em termos de produção nacional, considerando a aqüicultura, a pesca artesanal representa cerca de 50% do total de pescados produzidos no país. Essa produção é resultado da atividade de mais de 700 mil pescadores. Apesar da grandeza dos números, este setor ainda se encontra com baixa escolaridade e enfrenta condições precárias de trabalho. Neste contexto, o desenvolvimento sustentável do setor pesqueiro artesanal está associado a três pontos: (i) recuperação dos estoques pesqueiros; (ii) estruturação das cadeias produtivas; e (iii) formação cidadã dos pescadores e seus familiares (SEAP/PR, 2009). 33 O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) considera os pescadores e aqüicultores como Agricultores Familiares. 224 3.2.4.2 Pesca e Pescadores na Baía da Guanabara – Contexto Atual Características da Atividade Pesqueira na Baía de Guanabara 34 O universo pesqueiro na BG, apesar de caracteristicamente artesanal , não é homogêneo. Coexistem a pesca de cerco ― direcionada a indústria e empregada principalmente para a captura de tainhas e das sardinhas boca-torta, verdadeira e laje ―; o arrasto de fundo ― para a captura do camarão-rosa, pescadinha e corvina ―; a pesca de linha e anzol ― cujas principais espécies-alvo são o cherne, corvina, enchova e piraúna ―; o espinhel ― corvina, pescadas e enchova (IBAMA, 2002); o emalhe ― principal pescaria, com grande diversificação de tipos de redes: redes de fundeio, de volta, caça e malha e caceio (IBAMA, 2006); e a pesca com currais-fixos, além das outras atividades extrativistas ― caranguejo, siri e mexilhão. Em 2002 existiam 1.402 embarcações utilizando diferentes petrechos de pesca: 864 barcos de emalhe, 109 de cerco, 101 de linha, 84 de arrasto, 80 de tarrafa (IBAMA, 2002). Em levantamento posterior, o IBAMA (2006), identificou 2.186 embarcações, indicando um aumento representativo no número de embarcações no período considerado. Até a década de 90 o desembarque e a comercialização de pescado estavam concentrados no Mercado da Praça XV de Novembro, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, fundado em 1934. Com 35, o fechamento do Mercado houve, então, uma pulverização dos pontos de desembarque. Em 2002 haviam 32 pontos de desembarque da pesca artesanal no entorno da BG (IBAMA, 2002), quatro anos depois foram identificados pelo IBAMA (2006), 61 pontos: 04 em Duque de Caxias; 06 em Magé; 02 36 em Itaboraí, 15 em São Gonçalo; 15 em Niterói; e 19 no Rio de Janeiro . Este aumento pode estar relacionado à informalidade, característica do setor, atrelado ao fato de os pescadores artesanais preferirem desembarcar sua produção próximo às suas moradias, visto a reduzida quantidade de pescado capturada por embarcação e o fácil escoamento da produção (Jablonsky et al, 2006). Na medida em que alguns pontos estão sobrecarregados e com infraestrutura deteriorada, abre-se espaço para que novos pontos sejam estabelecidos (Quadro 3.47 e Figura 3.39). Outro aspecto a mencionar é que o escoamento da produção — envolvendo fatores como facilidade de acesso por mar e por terra, contatos com atravessadores e infraestrutura — é um dos principais motivos que faz com que alguns pontos concentrem um maior número de desembarques e isso justificaria um acompanhamento sistemático dos desembarques de pescado. 34 Dias-Neto (2002) classifica como pesca artesanal aquelas pescarias com objetivo exclusivamente comercial, as praticadas com finalidade de subsistência e de comercialização, ou ainda, as realizadas como atividade alternativa sazonal. A Lei de Pesca (11.958, 26/07/2009) distingue a atividade pesqueira comercial em Artesanal e Industrial. A artesanal: quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequeno porte; e a Industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial. As embarcações são classificadas como: I)de pequeno porte: quando possui arqueação bruta (AB) igual ou menor que 20 (vinte); II – de médio porte: quando possui arqueação bruta (AB) maior que 20 (vinte) e menor que 100 (cem); III – de grande porte: quando possui arqueação bruta (AB) igual ou maior que 100 (cem). 35 Entre os fatores que contribuíram para o fechamento do Mercado da Praça XV, menciona-se: o turismo; trânsito intenso de caminhões e carregadores; odor desagradável; e os preparativos para a RIO-92. 36 Deve-se considerar que o trabalho do IBAMA (2006) contabilizou os pontos de desembarque da cidade do Rio de Janeiro os quais não necessariamente estão localizados na BG. No entanto, se desconsiderados esses 19 pontos, mesmo assim, houve um incremento de 10 locais de desembarque de pescado na BG, totalizando 42 pontos. 225 Com o encerramento das atividades na Praça XV, a descarga das embarcações de maior escala ― embarcações que atuam principalmente fora da BG ― foi deslocada para a Ilha da Conceição, no local da antiga fábrica Sardinhas 88, em Niterói, tendo a sua comercialização direcionada para o Entreposto de Pescados da Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro S/A (CEASA/RJ), no bairro de Irajá. Já o pescado desembarcado nos demais pontos da BG são repassados para peixarias e feiras locais ou para intermediários, que levam o pescado, principalmente, para o CEASA/RJ ou para o Mercado São Pedro. Isso se dá de acordo com o preço, a proximidade entre o desembarque e o ponto de comercialização, mas, também, em função das relações sociais e de mercado estabelecidas entre os intermediários e os comerciantes. IBAMA (2002) verificou que as traineiras de cerco desembarcavam seu pescado em pontos como Jurujuba, Praia Grande, Ponta da Areia e Ilha da Conceição e o cais Dom Diniz (Ilha da Conceição, Niteroi); a pesca mais artesanal de emalhe, linha e cercada utilizavam mais os pontos de Olaria (Magé) e Gradim (São Gonçalo). Figura 3.39 ― Ponto de Desembarque de Pescado na BG Fonte: Vianna (2009) Quadro 3.47 ― Pontos de Desembarques mais Importantes da BG Pontos de Desembarque Coordenadas Praia Grande (22°53,24S 043°07,76W) Jurujuba (22°55,85S 043°06,95W) Ilha da Conceição – Cais da D. Diniz (22°52,56S 043°06,98W) Ilha da Conceição – Chacrinha (22°52,47S 043°07,06W) Ponta d‘Áreia (22°52,68S 043°07,41W) Cais da Piracema (22°49,61S 043°05,73W) Gradim (22°49,28S 043°05,00W) Itaóca– São Gabriel (22°45,96S 043°03,87W) Itambi – Ponto de venda de caranguejo (22°43,80S 043°57,39W) Barão – Cocotá (22°48,05S 043°10,75W) Bancários (22°47,09S 043°11,14W) 226 Pontos de Desembarque Coordenadas Tubiacanga (22°47,24S 043°13,67W) Galeão (22°49,23S 043°13,67W) Praia da Bica – Jardim Guanabara (22°49,17S 043°12,08W) Praia da Guarda – José Bonifácio (22°49,95S 043°06,60W) Praia de Olaria (22°42,62S 043°08,25W) Praia do Ipiranga – Limão (22°43,27S 043°07,06W) São Francisco – Praia da Coroa (22°42,84S 043°10,98W) Roncador (22°39,70S 043°03,02W) Piedade (22°41,51S 043°04,00W) Canal de Magé (22°39,98S 043°02,40W) Barbuda (22°40,22S 043°01,78W) Feital (22°40,54S 043°03,88W) Quinta do Cajú (22°40,54S 043°12,80W) Ramos – Colônia (22°50,25S 043°15,15W) Ramos – Coop. dos Pescadores Marcílio Dias (22°49,16S 043°16,14W) Araçá (22°50,27S 043°14,55W) Vila Pinheiro (22°52,05S 043°13,96W) Parque União (22°50,81S 043°14,52W) Praia das Pedrinhas (22°48,70S 043°04,38W) Chacrinha – Duque de Caxias (22°46,44S 043°17,04W) Associação de Maricultores de Jurujuba (22°56,00S 043°06,82W) Fonte: IBAMA (2002) Existem estimativas indicando que o número de pescadores da BG varia de 5.000 a 18.000, sendo que o IBAMA (2002) verificou a presença de 3.700 pescadores. Os pescadores estão organizados em cinco (05) Colônias de Pesca no entorno da BG (Quadro 3.48): Z-8 Niterói, Z-9 Magé, Z-10 Ilha do Governador, Z-11 Ramos, Z-12 Caju, as quais estão representadas pela Federação de Pescadores do Estado do Rio de Janeiro (FEPERJ), e cerca de 10 associações e cooperativas de pescadores artesanais, associadas à Federação dos Pescadores Artesanais (FAPESCA) e/ou à União Estadual dos Pescadores Artesanais (UEPA). Quadro 3.48 — Organizações Pesqueiras com atuação no entorno da BG Colonias e Associações de Pescadores Região de Abrangência Federação dos Pescadores do Rio de Janeiro (FEPERJ) Estadual Federação dos Pescadores Artesanais (FAPESCA) Estadual União das Entidades de Pesca e Aquicultura do Rio de Janeiro (Uepa). Estadual Colônia Z-7 Itaipu (Niterói) Colônia Z-8 Niterói, São Gonçalo e Itaboraí Colônia Z-9 Magé Colônia Z-10 (Paquetá e Ilha do Governador) Colônia Z-11 (Ramos) Rio de Janeiro Colônia Z-12 (Caju) Associação Livre de Maricultores de Jurujuba (ALMARJ) Niterói 227 Colonias e Associações de Pescadores Região de Abrangência Associação Livre de Pescadores e Amigos da Praia de Itaipu Associação dos Pescadores e Amigos da Praia Grande Associação de Pescadores e Aquicultores de Itaboraí Associação de Pescadores de Itambi Itaboraí Cooperativa dos Pescadores da Marcílio Dias Núcleo de Pescadores da Praia da Bica (Ilha do Governador) Associação dos Pescadores da Praia dos Bancários (Ilha do Governador) Associação dos Pescadores Livres de Tubiacanga (Ilha do Governador) Rio de Janeiro Associação dos Pescadores Livres do Caju Cooperativa Mista dos Pescadores de Colônia Caju – COOPESCAJU Associação dos Pescadores da Praia da Chacrinha Associação de Pescadores Livres do Gradim e Adjacências (APELGA) Centro Comunitário da Praia da Luz e Adjacências Associação de Pescadores, Aqüicultores e Escarnadeiras de Siri da Praia da Luz (APESCASIRILUZ) Associação dos Pescadores da Praia de Itaóca São Gonçalo Associação dos Moradores da Praia das Pedrinhas Associação de Moradores do Gradim Associação dos Pescadores da Praia de São Gabriel Associação dos Pescadores 100% Portinho da Boa Vista Associação de Pescadores Homens do Mar (AHOMAR) Magé Fonte: Tabela adaptada de IBAMA (2002) Atividades Pesqueiras A coleta de caranguejos constitui um universo particular no cenário da atividade pesqueira na BG. É realizada nos manguezais, os quais se concentram na região da APA de Guapimirim, nas localidades de Itaóca, Itambi e Magé, reunindo cerca de 220 catadores (IBAMA, 2002). Essa captura é feita, predominantemente, com a utilização de armadilhas (laços) formadas por tiras de plástico, colocadas sobre as tocas. A comercialização é direta e pulverizada, quase sempre com a participação dos próprios coletores (Rosa et al., 2007). A coleta de siri se dá, principalmente, por grupos de São Gonçalo, como os da Ilha Itaóca e Praia da Luz. O grupo da Ilha de Itaóca é o mais tradicional, atuando na captura de siris da espécie Callinectes danae, dentro e fora da BG, com um contingente de cerca de 180 pessoas, das quais 128 são associadas à APESCASIRILUZ (Gonçalves, et al., 2002). Há uma divisão clara entre o trabalho em terra, de descarnadeira, que é feito pelas mulheres, e o trabalho no mar, realizado pelos homens. O processamento ocorre em condições precárias e inadequadas, as mulheres trabalham nos quintais de suas casas, cozinham o produto em latões de óleo e o produto é comercializado, quase sempre no mercado de Peixe São Pedro. A extração de mexilhões é realizada por diversos grupos no interior da BG que estão localizados, especialmente, no município de Niterói, atuando na praia de Boa Viagem e Jurujuba, onde coletam o marisco dos costões da BG e das ilhas oceânicas. Existe em Jurujuba a Associação Livre dos Maricultores de Jurujuba (ALMARJ), entretanto, ela não reúne a integralidade dos marisqueiros do bairro. Se por um lado, a ALMARJ conta com um Centro de Beneficiamento e emprega mulheres dos 228 arredores, os demais marisqueiros processam seu produto sem as condições higiênico-sanitárias apropriadas (Ritter, 2007). A pesca do camarão na BG é importante em função do valor comercial deste pescado. Em estudo sobre a pesca do camarão Vianna, et al. (2004) verificaram que apesar da espécie-alvo ser o camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e F. paulensis), a pesca de arrasto camaroneiro captura mais de 70% de peixes e apenas um pouco mais de 20% é que são de crustáceos, totalizando 63 espécies capturadas. Entre elas destacam-se o siri-candeia (Portunus spinimanus), a corvina (Micropogonias furnieri), o cangoá (Ctenosciaena gracillicirhus) e o siri-azul (Callinectes danae e C. ornatus). Nesse mesmo estudo, os autores registraram 51 embarcações que atuam continuamente no interior da BG, em sua maioria ilegalmente. Grande parte das embarcações não tem permissionamento para atuar na pesca do camarão, as redes utilizadas têm tamanho de malha menor do que o permitido, o tamanho do camarão capturado é inferior ao regulamentado e a área de exclusão pesqueira não é respeitada. Os pescadores da frota camaroneira pescam em toda a BG, geralmente da ponte Rio - Niterói para dentro, até próximo a ilha de Paquetá. Contudo, o local de preferência pode variar ao longo do ano, dependendo da abundancia decamarão. Os locais de arrasto também variam em relação à profundidade, entre 3 a 20 m. Cortez (2008) verificou 137 embarcações de arrasto camaroneiro na BG, destas 100% possuíam propulsão a motor, com predominância de cascos de madeira. No que diz respeito à conservação de escado a bordo, quase 70% das embarcações estudadas possuíam uma urna com gelo e 31% utilizavam caixa isotérmica. A autora verificou que a frota camaroneira utiliza, principalmente, os pontos de desembarque do Caju (02), da Ilha do Governador (08), do Gradim, da Ilha da Conceição (04), da Ponta d‘Areia e da Praia Grande, de Magé (03), de Jurujuba, de Duque de Caxias e Praia de São Gabriel. Os pontos de desembarque de Ponta d‘Areia, Caju e Ilha do Governador concentram quase 95% das embarcações, enquanto Magé, Duque de Caxias, São Gabriel e Jurujuba apresentaram poucas embarcações destinadas à pesca de arrasto camaroneiro. A pesca em currais também é importante em função do número de trabalhadores envolvidos, das 37 espécies capturadas e da produtividade. Os currais são artes fixas de pesca que fazem parte da paisagem do fundo da baía (Barroso, 2007). Devido ao custo e às formas de organização de trabalho, a propriedade dos currais geralmente é compartilhada entre mais de um pescador. A média de durabilidade de cada curral é de um ano, o que determina uma certa flutuação do número de armadilhas em atividade (IBAMA, 2002). Em 2000, um levantamento da PETROBRAS identificou 208 currais, os quais eram partilhados por 61 pescadores, dois anos após foram verificados 511 currais, envolvendo 106 pescadores (IBAMA 2002). Já Vianna et al. (dados não publicados) contabilizaram 366 currais em operação, em 2008, variando sazonalmente, estando concentrados nas regiões de Olaria e Piedade, com pontos de desembarque em: Roncador, Canal de Magé, Barbuda, Feital, Piedade, Olaria, Praias da Coroa, da Guarda, do Limão, Itaóca, Chacrinha, Tubiacanga e Bancários. As principais espécies desembarcadas: tainha, corvina, bagre, parati, pirauma, savelha, robalo, sardinha boca-torta, ubarana, agulha, cororoca e carapeba (Figura 3.40). 37 O relatório do IBAMA (2002) faz referência ao fato de que, no passado, este artefato era construído com madeira dos manguezais, apresentando uma estimativa de que para a construção de um curral era preciso desmatar 560 m² de mangue. Atualmente, a matéria prima dos currais tem sido substituída por outros tipos de madeira, principalmente ripas de bambú. 229 Figura 3.40 ― Currais e Material para Confecção na BG Fonte: Vianna (2009) Pesca Artesanal na BG: Ofício Tradicional e Trabalho Temporário As estimativas apresentadas para a BG indicam uma grande discrepância de informações. O Quadro 3.49 apresenta os valores do número de pescadores vinculados às Colônias de Pesca da BG, segundo informações levantadas pela Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ), enquanto o Quadro 3.50 apresenta os dados dos pescadores cadastrados no Registro Geral da Pesca, junto a SEAP-PR. O número de pescadores registrados pela SEAP-PR, atual Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), no município do Rio de Janeiro, corresponde a um universo mais abrangente do que a BG. A diferença entre os dados apresentados estão relacionados a uma série de motivos, principalmente, à informalidade característica do setor pesqueiro. Se por um lado as Colônias nem sempre possuem dados atualizados acerca dos seus associados, por outro, o MPA, na tentativa de organizar e formalizar a pesca e seus trabalhadores, faz uma série de exigências para a formalização do pescador e por isso seus dados podem, também, não representar o real universo de pescadores que atuam na BG, já que os pescadores sazonais não são contabilizados pelo MPA. Na BG já foram realizados alguns censos pesqueiros que enfocaram as condições estruturais da pesca (IBAMA, 2006), e alguns estudos (IBAMA, 2002 e Jablonski, 2006) que indicam o número de envolvidos nas atividades extrativas na BG, mas não houve registro acerca da classificação dos pescadores em tradicionais ou sazonais. Quadro 3.49 — Estimativa de Pescadores Associados às Colônias de Pesca na BG Nome Colônia Z-8 Município Nº Associados* Niterói 12.827 Colônia Z-9 Magé 2.000 Colônia Z-10 RJ (Ilha do Governador) 1.300 Colônia Z-11 RJ (Ramos) 1.200 Colônia Z-12 RJ (Caju) 48 TOTAL 17.375 230 *Obs.Estes dados foram obtidos em contato telefônico com as lideranças das Colônias de Pesca. O número de pescadores apresentados representa uma estimativa, pois, de modo geral, não existem informações precisas disponíveis. Fonte: FIPERJ (2008) Quadro 3.50 — Número de Pescadores Cadastrados no Registro Geral da Pesca na BG Município Nº Pescadores Belford Roxo 04 Duque de Caxias 64 Itaboraí 105 Magé 935 Niterói 722 Nova Iguaçu 26 Rio de Janeiro 1.843 São Gonçalo 1.354 São João de Meriti 6 TOTAL 5.341 Fonte: SEAP-PR (2008) Considerando a informalidade em que vivem os trabalhadores da pesca embarcada e das atividades de coleta ― marisqueiros, catadores de caranguejo e pescadores de siri ― os mesmos vem, cada vez mais, buscando alternativas de emprego formais e mesmo informais com as quais complementem a renda familiar. Tal fato é atrelado ao grau de instrução dos pescadores que é comprovadamente reduzido. Documento produzido pela SEAP-PR (2006) indica que dos 13.305 pescadores fluminenses registrados junto ao órgão, 75% tem o nível fundamental incompleto e 9% concluíram o nível fundamental. A busca por atividades complementares à pesca é característica da atividade pesqueira nos centros urbanos. Como existe a dificuldade de viver somente da pesca, somada à falta de acesso às políticas de proteção trabalhista e à ausência de incentivo à atividade, cada vez mais os pescadores têm incentivado seus filhos a buscarem alternativas. Além disso, a pesca também costuma ser uma alternativa para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade de emprego, criando um contingente sazonal, que colabora com a criação de uma imagem negativa da atividade e deve ser controlado por meio de políticas públicas (Vianna, 2009). A Região Metropolitana do RJ atraiu um grande contingente de migrantes, a partir dos anos 70, por conta das possibilidades de trabalho. Este processo reuniu, espacialmente, junto a comunidades tradicionais da pesca, grupos com distintas características culturais. Nesta linha cabe citar o estudo de Ritter (2007), em Jurujuba, onde verificou que um grupo de migrantes alagoanos se estabeleceu no bairro por conta das possibilidades de emprego nas fábricas de sardinha. Também, se dedicaram à extração de mexilhão e, posteriormente, se organizaram na ALMARJ. Contudo, na época de sua chegada não conseguiram trabalhar diretamente na pesca, atividade que caracterizava o bairro, uma vez que não tinham experiência na pesca e encontraram certa resistência dos moradores e trabalhadores mais tradicionais. Outros dois estudos mostram a realidade dos trabalhadores da pesca na BG. Em pesquisa conduzida por Vianna et al (2004) para a pesca do camarão na BG, apenas 50% dos pescadores envolvidos não possuíam outras atividades econômicas paralelas. Rosa et al (2007) ao estudar os pescadores e catadores de caranguejo também verificou que 50% dos entrevistados não desempenhavam 231 atividade paralela, contra outros 50% que tinham outra atividade, eventual ou fixa. Já estiveram no setor formal 68,8% dos pescadores, enquanto que 40% dos catadores já passaram pelo setor desempenhando atividades, principalmente, no setor terciário (51%) (Rosa et al, 2007). Entre as atividades identificadas por Vianna et al (2004) menciona-se realização de fretes marítimos, mecânica, carpintaria, segurança etc. A complementação de renda, com atividade paralela, é necessária para esses trabalhadores em épocas quando o pescado está mais escasso ou na época do defeso. Estes dados podem indicar que na BG, em termos culturais, existem pelo menos dois tipos de pescadores: aqueles que vivem da pesca, apesar das dificuldades; e aqueles que se poderia chamar de pescadores ―sazonais‖, que são pescadores, mas que se engajam em outras atividades rotineiramente. Vianna et al (2004) constatou que os pescadores de camarão têm, em média, 2,4 + 0,3 gerações na pesca, sendo filhos e netos de pescador. Rosa et al (2007) verificou que os pescadores e catadores de caranguejo gostariam de ter um trabalho formal, com carteira assinada (21%) podendo receber todos os direitos trabalhistas assegurados (25%) e que lhes proporcionasse um salário fixo (16%). A informalidade do setor é um dos maiores problemas para o desenvolvimento da pesca fluminense e é bastante presente também na pesca industrial (Vianna, 2009). Na medida em que os pescadores mais tradicionais vivem em situação de insegurança (por exemplo: sem todos os direitos trabalhistas assegurados), cada vez mais, desestimulam seus filhos a permanecer na atividade. Atrelado a isso, cada vez mais os filhos de pescadores estão estudando e ampliando as possibilidades de mobilidade social, característico dos grupos socialmente menos favorecidos. Estes fatos acenam para a possibilidade de haver uma redução numérica daqueles grupos que ainda se esforçam para manter a sua tradição nas atividades relacionadas à pesca, resultando num aumento do número daqueles pescadores ―sazonais‖, que vêem na pesca uma atividade de renda complementar e, portanto, com menos comprometimento tanto no que concerne às relações sociais e ―de classe‖ como também em relação à preservação dos recursos naturais. Neste contexto, ainda menciona-se os cursos de capacitação oferecidos pela Marinha que permitem o ingresso na carreira de Aquaviários. Os pescadores por terem seu ambiente de trabalho no mar estão submetidos às regras da Marinha e, deste modo, também precisam estar documentados pela Instituição. Alguns dos cursos qualificam o pescador para as funções de Pescador Profissional (POP), Motorista de Pesca (MOP), aprendiz de pesca (MAP), na medida em que os mesmos comprovem a conclusão da quarta série do ensino fundamental. Esses cursos não possibilitam a ascensão para categorias superiores dos Aquaviários, como Moço de Convés (MOC) ou de Moço de Máquinas (MOM). Estas categorias, por sua vez, habilitam ao ingresso na Marinha Mercante e destina-se a formar tripulantes especializados para embarcações mercantes, tais como: Rebocadores, Dragas de grande porte, embarcações de Apoio Marítimo, de Turismo e outras não empregadas na pesca e que desenvolvem suas atividades na área marítima ― exigem a comprovação de conclusão da 8ª série do Ensino Fundamental. Já o Curso Básico de Convés (CBCV), destinado aos pescadores profissionais (POP) abre a possibilidade dos pescadores ascenderem à categoria de Pescador Profissional Especializado (PEP). É sabido que cada vez mais os pescadores têm procurado se capacitar junto à Marinha. Os pescadores mais jovens, que completam o ensino fundamental, têm investido nas capacitações de Moço de Convés, pois vislumbram ampliar sua renda, mesmo que temporariamente. O cenário atual 232 da região da BG, com a perspectiva de implantação de novos empreendimentos da PETROBRAS, tem estimulado os pescadores da região a buscar as referidas capacitações. A diversidade de trabalhadores nas atividades da pesca gera os problemas existentes em relação à legalização e profissionalização dos pescadores junto aos órgãos competentes, no caso, a SEAP-PR (MPA). O pescador profissional é a pessoa maior de 18 anos que faz da pesca sua profissão ou meio principal de vida, podendo atuar no setor pesqueiro industrial ou artesanal (Instrução Normativa 03 de 12/5/2004 - SEAP/PR). Em 2005 a SEAP/PR deu início a um processo de recadastramento dos trabalhadores da pesca. O trabalho de recadastramento dos pescadores, realizado pela SEAP-PR (MPA), visa excluir do registro pessoas cadastradas como profissionais da pesca e que não se caracterizam por ―viver exclusivamente da pesca‖. Este processo ampliou as exigências no que se refere à documentação comprobatória do exercício da atividade e, passou a cruzar o CPF junto ao Ministério do Trabalho, para certificação de que o trabalhador da pesca artesanal não possui vínculo empregatício. Esses falsos cadastros, em muitos casos, objetivam obter o beneficio do seguro-defeso, nos períodos de veda da pesca. A da nova Lei de Pesca (junho/ 2009) classifica a atividade pesqueira Comercial em Artesanal e Industrial. A artesanal: quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequeno porte; e a Industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial. o. A Instrução Normativa n 03 (12/5/2004) (SEAP/PR) dispõe sobre o Registro Geral da Pesca (RGP), categoriza os pescadores profissionais em artesanais e industriais. O Pescador Profissional é a pessoa maior de 18 anos que faz da pesca sua profissão ou meio principal de vida, podendo atuar no setor pesqueiro industrial ou artesanal. O Pescador Profissional Industrial é aquele que tem vínculo empregatício e exerce sua atividade em embarcações pesqueiras de armadores de pesca ou de indústrias, enquanto o Pescador Profissional Artesanal é aquele que, com meios de produção próprios, exerce sua atividade de forma autônoma, individualmente ou em regime de economia familiar ou com o auxílio eventual de parceiros, sem vínculo empregatício. Para a Previdência Social, além dos aspectos mencionados, há referência à embarcação, que deverá ter até 6 TAB (Tonelada de Arqueação Bruta), ainda que com auxílio de parceiro, e na condição, exclusivamente, de parceiro outorgado, utilize embarcação de até 10 TAB. Mesmo que seja fundamental a formalização do setor pesqueiro, os trabalhadores da pesca artesanal ainda encontram uma série de problemas para obter o seu registro de pescador profissional. Atrelado a isso, deve-se mencionar que o permissionamento para as embarcações capturarem as espécies cujos estoques estão comprometidos não são oferecidos a bastante tempo. Como exemplo pode-se citar a pesca de camarão-rosa (principal peneídeo capturado na BG) cuja licença de captura não é ofertada a cerca de 20 anos. 233 Não somente os trabalhadores da pesca e das demais atividades extrativistas vivem em um contexto de informalidade (não possuem proteção e garantias trabalhistas), a própria atividade pesqueira é marcada por esta informalidade. Na pesca artesanal, o pescado, já na embarcação, não é conservado seguindo os padrões higiênico-sanitários, a comercialização, na maioria das vezes, se dá de forma informal. Neste sentido, as políticas públicas voltadas para a pesca têm buscado formalizar o setor, incluindo os trabalhadores. Entre as políticas para a atividade pesqueira destaca-se a implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos (TTP) e dos Centros Integrados para a Pesca Artesanal (CIPAR), ambos previstos para a região da BG. O TPP, direcionado à frota pesqueira de maior porte (industrial), em fase mais avançada de discussão, será localizado na Ilha do Governador, enquanto o CIPAR está previsto para o município de Niterói. O TPP atenderá, basicamente, a pesca comercial de maior escala, dita industrial, com estrutura de desembarque da produção, processamento e comercialização de pescado na Praia da Ribeira (Ilha do Governador), terá suas obras licitadas ainda em 2009 e está previsto um investimento do governo federal da ordem de R$ 50 milhões. Já o CIPAR, mais voltado para a pesca artesanal, tem como objetivo a estruturação da cadeia produtiva, incluindo a produção, o fornecimento de insumos, o beneficiamento e a comercialização. Vale ressaltar que os CIPAR são concebidos em módulos, o que significa que sua estrutura pode ser ampliada. O módulo básico consiste em unidade de formação, unidade administrativa, rádio costeia e comunitária, câmara fria, caminhão isotérmico, além do ponto de desembarque de pescado. Podem ser atrelados a sua estrutura, unidades de beneficiamento, terminal para abastecimento de óleo diesel, fábrica de gelo etc. No caso específico do CIPAR de Niterói, o entreposto está orçado em R$ 6 milhões. Ambos os empreendimentos visam reduzir o caminho entre a produção e o consumidor final. No que concerne ao desembarque de pescado no TPP, os dados do Estudo de Pré-Viabilidade do TPP indicam que o empreendimento atenderá, prioritariamente, as 139 embarcações que utilizam os cinco pontos de desembarque da região Metropolitana (04 em Niterói e 01 em São Gonçalo) e descarregam cerca de 14.220 ton./ano. Essa situação está colocada uma vez que o deslocamento, por via marítima, daquelas embarcações que descarregam o pescado nos municípios de Angra dos Reis e Cabo Frio seria mais custoso do que transportar o produto por via rodoviária. Além disso, cabe mencionar que o trânsito das embarcações pesqueiras que se direcionarão para o TPP, na Ilha do Governador, se concentrará na entrada da BG e nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro, não se direcionando para a porção mais ao fundo da BG. Já com o CIPAR em operação deverá haver uma maior circulação das embarcações da pesca artesanal ao longo da BG. Cabe fazer referência ao fato de que o aumento da circulação das embarcações de pesca na BG poderá ampliar o numero de acidentes entre embarcações. Uma pesquisa conduzida em Cabo Frio identificou que entre as principais causas dos acidentes envolvendo embarcações de pesca temos: a idade das embarcações, a falta de sinalização dos barcos, ausência de equipamentos adequados e modernos, a pouca qualificação profissional do pescador e a instabilidade dos barcos pesqueiros (Ritter, 2009 e Oliveira et al., 2009) (Figura 3.41). 234 Figura 3.41 ― Embarcações de Pesca da BG Fonte: Vianna (2009) Pesca Esportiva Com relação à pesca esportiva na BG, a atividade conta com diversos clubes de pesca e é realizada no continente (de molinete) ou embarcado. Os locais que se destacam pelos pontos de pesca são: Ilha do Governador, Niterói, Urca, Centro, São Gonçalo e Magé. A Federação de Pesca e Desportos Subaquáticos do Rio de Janeiro (FEPDSRJ) tem como filiados seis clubes de pesca de linha ou submarina na BG: Clube Barracuda de Desportes, Clube de pesca 3 Anzois, Clube de Pesca os Tubarões, Clube da Aeronáutica, Iate Clube de Ramos, Iate Clube Icaraí. Os barcos utilizados para pesca de lazer são em sua grande maioria barcos de pescadores, que complementam a renda oferecendo serviços de lazer, contudo, sabe-se que alguns pontos, como na Ilha do Governador, a infra-estrutura para a pesca de molinete não é adequada (Portal da Baía de Guanabara, 2009). Restrições Legais A legislação existente para a atividade pesqueira na BG determina e restringe a pesca, como, por exemplo, para o camarão: a época do ano, o comprimento mínimo de captura, o tipo de barco, o tamanho da malha da rede e a área de pesca (Vianna et at, 2004). As principais normas legais existentes para a pesca na BG estão relacionadas no Quadro 3.51, destacando-se as restrições legais. Apesar de ser proibida, a pesca de arrasto no canal principal de navegação da BG (Regulamento Internacional para Evitar o Abalroamento no Mar, RIPEAM), Cortez (2008) verificou que as áreas preferidas para a pesca de arrasto do camarão, no interior da BG, são aquelas de maior profundidade, próximas ao canal de navegação e à ponte Rio-Niterói e no entorno da Ilha do Governador. Tal fato aumenta o risco de acidentes pelo trânsito de grandes navios cargueiros e embarcações de transporte de passageiros. 235 Quadro 3.51 — Restrições Legais Legislação Portaria 681 28/12/1967 Portaria 602 13/12/1973 SUDEPE Portaria N-55 22/12/1984 SUDEPE Decreto 90.225 25/09/1984 Portaria 43 11/04/1994 IBAMA Portaria 8 20/02/1997 IBAMA Portaria 95 28/08/1997 IBAMA Portaria 74 13/02/2001 IBAMA Portaria 124 25/09/2002 IBAMA Portaria 52 30/09/2003 IBAMA Portaria 53 30/09/2003 IBAMA Portaria 73/03-N, 24/11/2003 IBAMA Instrução Normativa 14 14/06/2005 MMA Portaria 124 25/09/2002 IBAMA Instrução Normativa 189 23/09/2008 IBAMA Instrução Normativa 15 21/05/2009 IBAMA Restrições Legais Proíbe a colocação de redes fixas ou flutuantes nas zonas de confluência de rios, lagoas e corredeiras (extensão de 1000 metros anterior à sua junção com o mar). Permite o exercício da pesca de camarão na baía de Guanabara, com redes de arrasto de portas, obedecidas as seguintes restrições: os aparelhos (canoas e botes e a malha no ensacador não inferior a 30 mm) e não podem ser usados em áreas de profundidades inferiores a 5 metros ou a menos de 200 metros de quaisquer aparelhos de pesca fixos ou flutuantes. Proíbe a captura de camarão-rosa e de camarão-verdadeiro com comprimento total inferior a 90 mm no litoral Sudeste e Sul do Brasil. Dispõe sobre a implantação da apa de guapimirim no rio de janeiro e dá outras providências. Proíbe o arrasto pelos sistemas de portas e de parelhas por embarcações maiores de 10 TBA nas áreas costeiras do Rio de Janeiro a menos de 2 milhas da costa. Proíbe, especificamente, na região da APA de Guapimirim, qualquer pesca com redes de cerco com traineiras, arrasto com sistema de parelhas e arrasto de portas. Fica proibido o emprego de qualquer tipo de armadilha, para captura do caranguejouçá, nos manguezais da APA e a instalação de novos currais. Limita a frota de arrasto de fundo, que opera sob qualquer modalidade, para captura de peixes demersais: corvina, castanha, pescadinha real, pescada e respectiva fauna acompanhante, àquelas em efetiva operação, por construir ou em construção habilitadas com permissão prévia de pesca na modalidade arrasto de fundo (peixes demersais/ fauna acompanhante) do Cabo de São Tomé, RJ, ao Cabo de Santa Marta, SC. Proíbe, anualmente, de 1º/03 a 31/05, a pesca de arrasto motorizado de camarãorosa, camarão-sete-barbas, camarão-branco e camarão-santana entre a Divisa dos Estados da BA e ES até a Foz do Arroio Chuí, RS. Proibe, anualmente, no período de 1º/10 a 30/11 para todos os indivíduos (machos e fêmeas) e no período de 1º a 31/12 somente para as fêmeas, a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização o armazenamento e a comercialização da espécie Ucides cordatus, conhecido popularmente por caranguejo, caranguejo-uçá, caranguejo-do-mangue, caranguejo verdadeiro ou catanhão, oriundo dos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Regulamenta captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização o armazenamento e a comercialização do caranguejo-uçá na Região Sudeste e Sul do País. Regulamenta a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização o armazenamento e a comercialização da espécie caranguejo guaiamum na Região Sudeste do País. Estabelece o tamanho mínimo de captura de espécies marinhas e estuarinas do litoral sudeste/sul do País. Regulamentando a pesca de currais, tem abrangência estadual, mas na prática é mais ligado à BG, cuja atividade é amplamente praticada nesse ecossistema. Proíbe, anualmente, no período de 1º/10 a 30/11 para todos os indivíduos (machos e fêmeas) e no período de 1º a 31/12 somente para as fêmeas, a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização o armazenamento e a comercialização da espécie Ucides cordatus, conhecido popularmente por caranguejo, caranguejo-uçá, caranguejo-do-mangue, caranguejo verdadeiro ou catanhão, oriundo dos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Proíbe, anualmente, o exercício da pesca de arrasto com tração motorizada para a captura de camarão rosa, camarão sete barbas, camarão branco, santana ou vermelho e barbaruça do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, de 1º/03 a a 31/05. Regulamenta a captura, o transporte, o beneficiamento e comercialização da sardinha verdadeira na região sudeste e sul do país. Conforme mapa apresentado por Cortez (2008), as embarcações que desembarcam seu pescado nos pontos da Ilha do Governador, Ilha da Conceição e Gradim circulam nas áreas de intenso transito 236 de embarcações, podendo levar a um incremento no número de acidentes envolvendo o setor pesqueiro. Cabe destacar que a Estação Ecológica da Guanabara (ESEC da Guanabara) foi criada, em 2006, dentro dos limites da APA de Guapimirim com o objetivo de proteger os manguezais (o último remanescente de mangue primário da Baía da Guanabara). As Estações Ecológicas permitem somente ações de pesquisa e de educação ambiental em sua área (SNUC, 2000). Peres et al. (2005) em pesquisa realizada observou que, se por um lado, o IBAMA argumentava que a criação da ESEC traria uma melhoria nas condições de trabalho e de vida para a população local, visto que no espaço de, aproximadamente, dois anos, as espécies que ali habitam poderiam procriar e se expandir para as áreas vizinhas; por outro, os pescadores afirmavam que a criação da ESEC excluiria os pescadores e catadores de caranguejos da sua área de trabalho, fato que os identifica profissional e socialmente. Argumentavam, ainda, que entre as medidas prioritárias seria necessário: (i) a despoluição dos rios; (ii) uma maior fiscalização por parte do IBAMA sobre as indústrias do entorno, que despejam efluentes na bacia; (iii) o tratamento de esgoto pelas prefeituras; (iv) a recuperação das áreas degradadas; (v) o desenvolvimento de programas comunitários para a limpeza e o replantio do manguezal; e (vi) subsídio para a compra de melhores embarcações que permitam aos pescadores atingir o interior da BG. Notas sobre Tensões e Conflitos Além dos aspectos legais mencionados, os diversos empreendimentos realizados na BG geram áreas de exclusão pesqueira, temporárias ou mesmo definitivas. Exemplos deste conflito são aqueles que envolvem a Petrobras e as suas instalações, como dutos. Recentemente alguns grupos de pescadores têm se organizado para reivindicar a continuidade da atividade pesqueira dentro da baía paralisadas por conta das obras de implantação de dutos. Estas obras exigem um mínimo de capacitação dos empregados, mas como a categoria dos pescadores nem sempre atende ás exigências para serem incorporados pela empresa, acabam sendo prejudicados pelo impacto das obras na pesca. Ainda, em função dos diferentes usos dos espaços da BG, existe uma série de outros ―conflitos‖ entre a pesca e as demais atividades como a portuária, de lazer (clubes náuticos), transporte via barcas e catamarãs. A título de exemplo, menciona-se a pesquisa de Ritter (2007) junto a um grupo de maricultores da ALMARJ, em Jurujuba, em que os mesmos verificaram alterações na dinâmica do sedimento da praia onde residiam, por influência dos catamarãs que faziam a rota Praça XV – Charitas. A observação direta nas mudanças da configuração da praia onde residiam os maricultores demonstrava este fato. 237 3.2.5 Qualidade da Água Nesta temática são identificadas e caracterizadas as fontes poluidoras significativas, localizadas nas bacias contribuintes à BG, bem como qualificado o processo de degradação da qualidade da água. Em seguida, são identificadas as principais tensões e potenciais conflitos entre esses empreendimentos e outras propostas de usos de ativos ambientais na bacia. 3.2.5.1 Fontes Poluidoras Esgotos Domésticos Os esgotos domésticos constituem o principal fator de poluição orgânica da BG, devido à grande população estabelecida na região hidrográfica e desassistida de serviços de saneamento. No Quadro 3.52 consta o cálculo da carga orgânica (DBO) lançada, considerando-se uma contribuição per capita de 0,054 kg/hab.dia. Para fins de avaliação deste tipo de poluição, adotou-se a distribuição de população nos anos 1970 e 2000, apresentada, em termos macro, no Quadro 3.49 juntamente com a estimativa da vazão total de esgotos e as respectivas vazões tratadas no período. No Quadro 3.54 são listadas as principais Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) operadas pela CEDAE e pela concessionária Águas de Niterói, incluindo as ampliações e as novas estações. Quadro 3.52 — Carga Orgânica Bruta da População Contribuinte da BG, por Município – 2000 População Total Município 434.474 Urbana (%) 100,0 48.543 775.456 37.952 187.479 205.830 165.843 153.712 459.451 754.756 49.691 5.857.904 891.119 449.476 26.057 Total Belford Roxo Cachoeiras de Macacu Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Magé Mesquita Nilópolis Niterói* Nova Iguaçu* Rio Bonito* Rio de Janeiro* São Gonçalo São João de Meriti Tanguá População Total 10.497.743 População fora da bacia Rural (%) População na bacia Carga Bruta de DBO (kg/dia) 0,0 434.474 23.241 84,7 15,3 48.543 2.621 99,6 67,4 94,5 94,3 100,0 100,0 100,0 100,0 65,3 100,0 100,0 100,0 86,1 0,4 32,6 5,5 5,7 0,0 0,0 0,0 0,0 34,7 0,0 0,0 0,0 13,9 775.456 37.952 187.479 205.830 165.843 153.712 402.015 460.361 41.155 3.887.419 891.119 449.476 26.057 41.875 2.049 10.124 11.115 8.956 8.300 21.709 24.859 2.222 209.921 48.120 24.272 1.407 8.166.891 441.012 57.436 294.395 8.536 1.970.485 2.330.852 *Municípios não totalmente incluídos na bacia. Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2000) 238 Quadro 3.53 — Distribuição da População da BG e Correspondentes Vazões de Esgoto Totais e Tratadas – 1970-2000 População 1970 (milhões de habitantes) Regiões Cidade do Rio de Janeiro Baixada Fluminense Niterói / São Gonçalo Núcleos menores População 2000 (milhões de habitantes) 4,3 1,6 0,7 0,4 7,0 3 12,6 m /s 3 0,9 m /s Total Vazões Totais de Esgotos Vazões Tratadas 5,8 2,7 1,35 0,86 10,7 3 20,1 m /s 3 6,7 m /s Quadro 3.54 — Principais Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) na Região da BG ETE Data Penha 1949 Penha 1960 Realengo Galeão Ilha do Governador Realengo Acari Ceasa Morro União Acari Galeão Icaraí Palmares 1966 1966 1969 1972 1973 1974 1976 1976 1977 1978 1979 Penha 1979 Jard. Gramacho Paquetá ETIG 1994 1998 1998 São Gonçalo 1998 Pavuna-Meriti Sarapuí 2000 2000 Mocanguê 2002 Icaraí 2003 Toque Toque 2004 Jurujuba 2005 Barreto 2006 Alegria 2009 Vazão (l/s) Tipo de tratamento 140 Primário Secundário/Filtro 434 Biológico 38 Filtro Biológico 34,5 Secundário Incompleto 200 Lodos Ativados 70 Filtro Biológico 70 Secundário/Compacta 22 Aeração Prolongada 25 Valo de Oxidação 210 Secundário/Compacta 60 Secundário Completo 650 Lodos Ativados 100 Valo de Oxidação Lodos 1686 Ativados/Fil.Biológ. 374 Lagoa de Estabilização 27 Secundário 525 Lodos Ativados Primário convencional e 765 Lodos Ativados c/ O2 puro 1000 Primário/CEPT 1000 Primário/CEPT Biológico/Nível 15 Secundário Primário/CEPT/Emis. 975 Sub. Biológico/Nível 220 Secundário 30 RAFA/Biofiltro Aerado Biológico/Nível 120 Secundário Primário 5000 Secundário Observações Passou p/sec. Vazão projeto Acréscimo Vazão total Acréscimo Trat. terciário Sistema Graúna Acréscimo Secundário em 2001 Q Atual/ 170 l/s Q Atual/ 180 l/s Base Naval Marinha Acréscimo Sist.Verticalizado Q Atual/ 2.500 l/s Fonte: CEDAE e Águas de Niterói (2009) Como resultado, verificou-se que teria havido um aumento de 200 t/dia de DBO, se não houvesse sido construído o emissário submarino de Ipanema e as novas estações de tratamento de esgotos. 239 Ou seja, mesmo com as novas estações, os esgotos domésticos não tratados continuam a exercer uma pressão muito grande sobre o consumo de oxigênio dissolvido das águas da BG. Ressalte-se ainda que, embora venha avançando ultimamente, as obras de esgotamento sanitário do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), ainda não surtiram os efeitos desejados pelas seguintes razões: as ETE de Sarapuí e Pavuna estão concluídas e operando precariamente, ainda dependendo da completa instalação da rede de esgotamento; algumas ETE não estão sendo operadas adequadamente; mesmo nas áreas já esgotadas, as conexões domiciliares ainda são poucas e os esgotos sanitários, inferiores ao planejado. Embora o tratamento de esgotos domésticos seja o principal instrumento adotado no controle da poluição das águas da BG, existem algumas limitações inerentes aos países em desenvolvimento, onde as áreas das cidades organizadas congregam 55% da população, enquanto os restantes 45% referem-se à cidade periférica (30%) e às favelas (15%) (PROSANEAR, 1986). Não é possível implantar uma cobertura total e os esgotos não tratados, principalmente das favelas e, também, em parte da cidade periférica, acabam por chegar à BG. O sistema de esgotamento reduz somente as cargas poluidoras das fontes pontuais, mas não das fontes difusas, como o run-off urbano e rural. Estas fontes são significativas, principalmente se considerada a carga de nutrientes. A concessão dos serviços de água e esgotos para empresas privadas não é a solução preconizada para todos os casos, porém, pode melhorar sensivelmente a qualidade destes serviços. Um exemplo é o da empresa Águas de Niterói, atuando desde 1999, que tem melhorado consideravelmente a cobertura dos serviços de esgotos no município. Atualmente, 88% do esgoto é coletado e, desse total, 75% encaminhado às estações de tratamento. A empresa opera cinco ETE, sendo quatro a nível secundário e uma com tratamento primário quimicamente assistido e lançamento submarino (ETE de Icaraí). Por outro lado, também reduziu as perdas de água para 22%, com isto, mais de 120.000 habitantes passaram a ser atendidos, sem que se aumentasse o volume de água tratada e distribuída. De acordo com estudo realizado, em 2003, pela firma Pacific Consultants International, por solicitação do Governo Estadual/CEDAE e patrocínio do Governo Japonês/JICA, para que seja alcançado o objetivo de melhoria da qualidade de água — DBO menor que 10 mg/l, em todas as estações de amostragem, em 2010 — deverá ser melhorado o sistema de esgotamento da zona oeste. Atualmente, estão em operação os sistemas de Alegria, Penha, Pavuna e Sarapuí. Os sistemas de Alegria e Penha já prevêem a cobertura total de suas áreas, mas os sistemas de Pavuna e Sarapuí incluem muitas áreas ainda não esgotadas. Além disso, a região de Bangu não tem sistema de esgotamento nem estação de tratamento. Por essas razões, as bacias de Pavuna, Acari, Sarapuí e Bangu foram selecionadas pela Pacific como áreas prioritárias para implantação de sistemas de esgotamento, com vistas a atingir, adequadamente, esse objetivo de curto prazo. 240 É interessante notar que, de acordo com as simulações realizadas com o modelo de eutroficação da Pacific, não se consegue atingir o objetivo previsto na Diretriz (DZ 105) da FEEMA ― manter a DBO abaixo de 5 mg/l com a tecnologia atualmente disponível. Por esta razão, verifica-se que a BG não tem mais capacidade de receber cargas orgânicas adicionais, além daquela prevista pelo crescimento vegetativo da população, a não ser que sejam adotadas novas medidas de recuperação. Dentre elas, pode ser citada a retirada de sedimentos contaminados de Figura 3.42 — Despoluição dos canais do Fundão e do Cunha áreas específicas da região oeste/noroeste, o que http://www.semadur.rj.gov.br/pages/sup_interv_esp/intervenc oes_projetos/prog_canalcunha.html está previsto ocorrer no Canal do Fundão, com o apoio da PETROBRAS. Segundo a SEA (2007), a PETROBRAS financiará a dragagem e o desassoreamento de cerca de 6,5 km de extensão dos canais do Cunha e do Fundão. Para evitar o carreamento de nova massa poluente serão instaladas uma estação de despoluição e uma barreira de contenção de lixo flutuante no Canal do Cunha, junto à foz dos canais e rios que ali deságuam. Estima-se que cerca de 1,8 milhão de metros cúbicos de material poluente seja retirado dos canais. Após processo de secagem e desidratação, a lama será depositada em local previamente escolhido e autorizado pela UFRJ. É importante observar que as prioridades do estudo da Pacific são diferentes das prioridades do Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH/2006). Enquanto a Pacific preconiza aumentar a cobertura de esgotamento sanitário no lado oeste da BG (Pavuna, Acari, Sarapuí e Bangu), com o objetivo de melhorar as condições do espelho d‘água, o PDRH enfatiza a prioridade para tratamento no lado leste, com vistas a preservar a qualidade da água dos rios para abastecimento público. Em relação à problemática de saneamento e saúde, uma análise socioeconômica do Brasil, no final da década de 1980, mostrava a deterioração da saúde ambiental das populações, principalmente nas favelas e áreas pobres metropolitanas. A RMRJ tem sido exemplo desta situação, com problemas de exclusão social evidenciados na grande proliferação de favelas, ocupação de espaços públicos pelas denominadas populações de rua e aumento espantoso da criminalidade e violência urbana. Caracteriza-se, dessa forma, um estreito vínculo entre a pobreza e meio ambiente, com problemas quase intransponíveis de coleta e tratamento de esgotos, lixo e até abastecimento de água. Um boletim do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de 2006, noticiou que a cobertura da rede de esgotos no Brasil não avançava há quatro anos e que o atendimento dos serviços de coleta havia permanecido em 50%, entre 2001 e 2004, segundo relatório do Ministério das Cidades. Neste relatório, uma radiografia do saneamento mostra que nos últimos anos pouca coisa tem mudado no setor, figurando o Brasil com os piores desempenhos dentre os países da América Latina. Nem a elevação das tarifas em 41% e o aumento dos investimentos em 22,8% foi suficiente para melhorar o atendimento dos serviços de esgotamento sanitário. Os investimentos apenas supriram o crescimento vegetativo da população. 241 Despejos Industriais Um marco do crescimento industrial do Rio de Janeiro foi a instalação da Refinaria Duque de Caxias (REDUC), em 1961, a maior do País naquela ocasião, processando 220.000 barris/dia e dando lugar a instalação de outras indústrias petroquímicas, que se apresenta como o principal setor produtivo presente na BG. Na RMRJ, segundo o Cadastro da FEEMA, existem cerca de 7.500 empreendimentos, dos quais 3.823 são indústrias, com predominância de indústrias metalúrgicas, químicas e de minerais não metálicos. A maior concentração industrial ocorre no município do Rio de Janeiro, onde se encontram 63% das indústrias. Em termos espaciais, a maior parte está localizada na parte leste da RMRJ, na região do entorno da BG. Os demais setores produtivos envolvem: mecânico, materiais de transporte, produtos de materiais plásticos, produtos alimentares e perfumaria, sabões e velas. De acordo com o porte e características do processo industrial foram selecionadas, no âmbito do PDBG, as 55 empresas que apresentavam o mais alto potencial poluidor e eram fontes de incômodos ou periculosidade (Figura 3.43). 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Química Alimentícia Têxtil Metalúrgica Petroquímica Farmacêutica Bebidas Papel Galvânica Figura 3.43 — Indústrias Prioritárias por Tipologia, do PDB Fonte: Scheeffer (2001) De acordo com o Relatório de Controle Industrial da FEEMA (2005), antes da implantação do PDBG (1994), eram controlados apenas 20% dos efluentes líquidos dessas unidades. Em 2004, quase dez anos depois, este percentual já era equivalente a 97%. O controle das 155 indústrias prioritárias (55 de prioridade 1 e 100 de prioridade 2) levou a um percentual bastante alto de redução de carga poluidora lançada por estas indústrias na BG, em termos de carga orgânica (DBO), óleos e graxas (O&G) e metais pesados (Quadro 3.55 e Figura 3.44). 242 Quadro 3.55 — Percentual de Redução de Carga Poluidora das 155 Indústrias Prioritárias, entre 1994 e 2004 Indústrias DBO O&G Metais Pesados Prioridade 1 (55 Ind.) 94% 97% 75,5% Prioridade 2 (100 Ind.) 90% 97% 71,4% Fonte: FEEMA (2005) DBO DQO Óleos e Graxas (O & G) Metais Pesados Figura 3.44 — Redução da Carga Poluidora das 55 Indústrias Prioritárias, em termos de DBO e DQO, Óleos e Graxas e Metais Pesados Fonte: FEEMA (2005) Essa significativa redução da carga orgânica industrial fica evidenciada quando se comparam as cargas estimadas nos dois relatórios técnicos sobre a BG (Quadro 3.56) Quadro 3.56 — Estimativa da Carga Orgânica Industrial na BG Autor Carga Orgânica Ind. (t/dia) Water Quality Model of Guanabara Bay Hydroscience, Inc. 95,2 Management and Improvement of the Environmental Conditions of Guanabara Bay Pacific Consultants 23,2 Ano Nome do Relatório 1977 2003 243 Despejos Acidentais Há ainda a considerar os acidentes com vazamentos de óleo, ainda freqüentes, o que mostra, por um lado, que os sistemas de prevenção da poluição ainda não estão funcionando adequadamente na orla marítima, todavia, os acidentes são provenientes de diversas causas, tanto nas instalações e 38 dutos, como no transporte marítimo . O impacto dos lançamentos acidentais e rotineiros de óleo pode ser identificado pelas concentrações de hidrocarbonetos na água, nos sedimentos e na biota. Os hidrocarbonetos que têm sido utilizados como indicadores são os n-alcanos, os Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleares (HPAs), além da Mistura Complexa Não Resolvida (MCNR). O impacto do vazamento acidental do oleoduto nos ecossistemas da BG, em 2000, foi avaliado pela PETROBRAS, em conjunto com universidades, órgãos ambientais e entidades não governamentais e incluiu: caracterização física e química do produto vazado, vistoria dos ecossistemas atingidos pelo acidente, análise da toxicidade e da presença de hidrocarbonetos de petróleo em amostras de água e de sedimento, avaliação do nível de contaminação por hidrocarbonetos em peixes, além da avaliação 39 da biodegradabilidade do óleo derramado (síntese do relatório publicado no ANEXO III). HPAs Ensaios toxicológicos realizados com três espécies (Artemia sp, Mysidium gracile e Vibrio fisheri – sistema Microtox) indicaram a inexistência de efeitos agudos tóxicos nas amostras de água testadas. As análises de HPAs nas trinta amostras de sedimentos da região inter-marés indicaram que 73% das amostras apresentaram teores inferiores a 2 g/g, valores típicos de ambientes não impactados; 20% das amostras situaram-se na faixa de 2 a 5 g/g; e 7% (duas estações próximas à REDUC) na faixa de 20 g/g, considerados como típicos de ambientes costeiros contaminados. N- ALCANOS Os alcanos constituem uma família de hidrocarbonetos alifáticos de cadeia aberta contendo apenas ligações simples. Os n-alcanos são alcanos sem ramificações Possuem mobilidade baixa, alto índice de associação com sedimentos e fator de bioacumulação alto. A toxicidade para os elos da cadeia alimentar é pouco estudada, tendo sido comprovada a elevada toxicidade de alguns n-alcanos leves para seres humanos via ar. As fontes antropogênicas principais no ambiente marinho são refinarias de petróleo, locais de produção de petróleo e gás natural, indústrias químicas, solventes orgânicos (produção e uso), postos de abastecimento de gasolina, combustão estacionária e transportes. As principais fontes naturais no meio geológico incluem o gás natural e o petróleo. 38 39 Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos Totais (HPAs) são compostos orgânicos de hidrogênio e carbono formados de dois ou mais anéis benzênicos e dispostos em forma linear, angular ou agrupada, podendo ter ou não grupamentos substituídos ligados a um ou mais anéis. Possuem mobilidade baixa, associação com sedimento alta e fator de bioacumulação alto. Um grande número são tóxicos para os primeiros elos da cadeia alimentar marinha e alguns deles são carcinogênicos potentes para invertebrados e vertebrados marinhos e seus consumidores humanos. As principais fontes antropogênicas para o meio marinho são os derramamentos de petróleo (principalmente óleo pesado), deposição atmosférica, efluentes líquidos industriais e sanitários, carreamento superficial de solo contaminado, além de fontes indiretas transportadas via rios e córregos, inclusive, aquelas provenientes de asfaltamento. Os resultados de n-alcanos (faixa de 1,24 a 56,7 g/g) para a região intermarés indicaram que 80% das amostras se encontravam em níveis inferiores a 20 g/g, considerados como não contaminados. As estações que apresentaram as maiores concentrações localizam-se nas proximidades da ruptura do duto, exceto uma estação, situada na APA de Guapimirim, com nítida contribuição de nalcanos ímpares, típicos de origem de vegetais superiores. Ver item sobre Risco Ambiental desta AAE. ―Caracterização Preliminar do Impacto do Lançamento Acidental de Óleo Ocorrido em 18/01/2000 na Baía de Guanabara‖. 244 Os resultados de MCNR situaram-se na faixa de 15,4 a 2127 g/g, sendo as maiores concentrações observadas, também, na região de ruptura do duto. Neste caso, 37% dos resultados foram superiores a 200 g/g, contaminados. considerados como altamente MCNR A Mistura Complexa Não Resolvida (MCNR) é uma mistura de hidrocarbonetos, característica de petróleo bruto biodegradado, que não consegue ser separada por cromatografia gasosa, aparecendo como elevação na linha de base do cromatograma. Possuem baixa mobilidade e são persistentes em sedimento marinho. A fonte antropogênica principal no meio marinho é o petróleo degradado. As fontes naturais incluem o petróleo cru degradado, o intemperismo de rochas antigas e o detrito de algas. É um traçador de derramamentos de petróleo passados ou crônicos. Segundo relatório da PETROBRAS (/2000), os níveis de hidrocarbonetos encontrados nos sedimentos foram atribuídos à existência de poluição crônica, devida ao intenso tráfego de embarcações e aos lançamentos de despejos industriais e domésticos, entre eles os da REDUC, trazidos pelos rios. Porém, agrupando-se as estações de amostragem, de acordo com sua localização geográfica (estações próximas à REDUC, próximas da APA de Guapimirim e outras na região do canal principal) e elaborando-se análise (Box Plots) destes dados, pode-se melhor evidenciar o percentual de participação de cada um destes grupos: as maiores concentrações de hidrocarbonetos, principalmente n-alcanos e MCNR, nos sedimentos foram observadas na área noroeste da BG, nas imediações da REDUC, em comparação com outras de suas áreas, evidenciando o impacto das atividades rotineiras da refinaria e outras fontes de poluição da região. Outros indicadores podem ser utilizados na avaliação da origem do material contaminante e dos processos de transformação de compostos de óleo no ambiente, como as relações entre certos HPAs e a presença de determinados hidrocarbonetos nas amostras. Porém, há incertezas inerentes à aplicação destes procedimentos em amostras ambientais, geradas pela combinação de diversos eventos, tais como degradação, volatilização, adsorção e solubilização diferenciada dos HPAs e a presença no ambiente de materiais e óleos provenientes de diversas fontes (detalhes no ANEXO III). Após o acidente de 2000, Meniconi et al (2001) calcularam os índices fenantreno e antraceno (Fen/Ant), benzo(a)antraceno e criseno (Bz(a)ant/Cris) e fenantreno e antraceno (Fen/Ant). Ficou então evidenciado que a maioria das amostras de sedimentos apresentaram uma mistura de inputs petrogênico e pirolítico. A predominância de fontes petrogênicas sobre fontes pirolíticas foi observada em algumas poucas amostras da região intermarés, duas perto da região da REDUC e outras duas perto da APA de Guapimirim. 40 Em outra avaliação com o Índice de Preferência de Carbono (IPC) , os sedimentos da BG ficaram na faixa de 1,3 a 5,0. Cerca de 1/3 das amostras na região intermarés, principalmente na região nordeste, coincidindo com a APA de Guapimirim, apresentaram altos índices, sugerindo uma contribuição biogênica. Os outros 2/3 das amostras tiveram índices na faixa de um a dois, indicando um nível significativo de poluição de origem petrogênica A relação entre a concentração da MCNR e dos Picos Resolvidos (PR), indica a presença de compostos petrogênicos degradados nas amostras. Quando esta razão assume valor superior a quatro há um forte indício da contaminação por hidrocarbonetos de petróleo e/ou derivados. Após o acidente esta relação ficou na faixa de 2 a 85, com um valor médio de 24,2, o que indica que os 40 Calculado para compostos na faixa de nC16-nC34, é possível estimar a origem dos n-alcanos. Valores de IPC acima de quatro são indicadores de fontes biogênicas de n-alcanos, devido à maior presença de compostos ímpares. Para valores próximos a um, sem a predominância de homólogos de cadeia par ou ímpar, as fontes de n-alcanos são petrogênicos. 245 sedimentos da BG estão, em geral, contaminados por resíduos de petróleo biodegradados. As exceções são os sedimentos da região nordeste, sabidamente menos contaminados e que não parecem ter sido afetados pelo acidente, conforme observação visual da mancha de óleo. Três anos após o acidente de janeiro de 2000, a PETROBRAS realizou nova campanha de monitoramento dos sedimentos de fundo. O estudo concluiu que não houve uma diferença estatisticamente significativa entre as amostras de 2000 e 2003, embora tivesse havido alguns resultados do Σ HPAs totais bem inferiores em 2003. Outro estudo foi realizado pelo Departamento de Química da PUC-RJ (Wegener, 2002), com a 41 participação da UERJ e UFRJ, em comum acordo com a Secretaria do Ambiente , que concluiu que a contaminação por hidrocarbonetos de petróleo é crônica. Os resultados confirmaram que foram as áreas de mangues as mais atingidas pelo óleo derramado. Nos manguezais da REDUC e de Suruí ocorreu a penetração do óleo para camadas mais profundas do sedimento, atingindo ao menos 18 cm de profundidade. A área mais contaminada se encontra entre a REDUC e a Ilha do Governador, mas não há como identificar claramente quaisquer efeitos do derrame nos sedimentos locais. Nas proximidades da praia de Mauá, apenas nas estações mais próximas da costa a contaminação é significativa, o que aponta para a deposição do óleo no sedimento apenas na região rasa ou em contato com as margens. No entorno da Ilha de Paquetá, os níveis de contaminação são intermediários, mas superiores aos observados cinco anos antes do derrame. Como esses locais estão distantes das principais fontes crônicas de contaminação, tal resultado pode decorrer da deposição do óleo derramado, mas, também, podem estar relacionados ao aumento geral da contaminação da baía, no transcorrer da última década. Os sedimentos da APA de Guapimirim apresentam-se sem contaminação ou levemente contaminados, sendo o único local onde certamente não houve deposição do óleo que vazou no acidente (detalhes no ANEXO IV). Wegener (2002) menciona, adicionalmente, que as fontes internas de liberação de contaminantes geradas pelos sedimentos podem ser eliminadas, ou ao menos reduzidas, com dragagem especializada para remoção dos sólidos a partir das áreas mais críticas. Iniciativa nesse sentido é a que será realizada, como já mencionado, no Canal do Cunha, com recursos da PETROBRAS. Em outra iniciativa, a PETROBRAS está realizando um projeto multidisciplinar para avaliar, em maior profundidade, a contaminação por hidrocarbonetos, considerando a multiplicidade de fontes e a complexidade do ecossistema Recentemente foi apresentado em congresso, trabalho de ―Investigação sobre a distribuição espaçotemporal, origem e tipologia de HPA em sedimentos da Baía de Guanabara‖ de Wagener, A. de L. R.; Scofield, A. de L.; Farias, C.O; Hamacher, C. e Meniconi, F.G., que inclui parte dos resultados obtidos no projeto de pesquisa ―Avaliação Ambiental da Baía de Guanabara‖, coordenado pelo CENPES e executado por um pool de universidades do Brasil (dados de julho de 2005 a julho 2007). Nesse trabalho foi mencionado que: 41 ―Avaliação dos Danos Causados pelo Derramamento de Óleo – Monitoramento Químico, em janeiro de 2000, na Baía de Guanabara (RJ)‖. 246 a Baía de Guanabara é um estuário que se apresenta afetado por fontes pontuais e fontes difusas de contaminação. Dentre as fontes difusas mais importantes estão os esgotos domésticos, os materiais originados de emissões atmosféricas, incluindo a queima de combustíveis fósseis e de álcool etílico, e a introdução de óleo a partir das atividades de transporte; as principais fontes pontuais de contaminação encontram-se na região noroeste da BG, a qual recebe aportes de rios contaminados por efluentes derivados de disposição de resíduos urbanos e de indústrias, como petroquímicas, refino do petróleo, curtumes, metalúrgicas e alimentícias; a contaminação por hidrocarbonetos, derivados do petróleo e produzidos em processos de combustão incompleta, é crônica na BG, havendo registros nos sedimentos do crescimento do aporte de óleo, espelhado na crescente concentração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos de origem petrogênica, desde a década de 1950 (Lima, 1996). As fontes de hidrocarbonetos petrogênicos são diversas e incluem desde o escoamento urbano até a liberação direta de óleos em derrames acidentais. Ainda nesse trabalho foram utilizadas as estações de amostragem de sedimentos assinaladas na Figura 3.45. Figura 3.45 — Poluição de um Corpo d’Água da BG Figura 3.45 — Localização das Estações de Amostragem da Qualidade da Água na BG e Rios Afluentes Fonte: Wagener et al. (2008) 247 O trabalho citado chega às seguintes conclusões: a distribuição de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no sedimento permite reconhecer zonas de diferentes níveis de hidrocarbonetos, assim distribuídas: baixas concentrações — estações localizadas na porção nordeste da BG, próximas à APA de Guapimirim (BG21, BG22, BG23 e BG24); estações de elevado hidrodinamismo e forte influência marinha, próximas a desembocadura (BG02, BG03 e BG09); e elevadas concentrações — estações localizadas na porção noroeste da BG, em área de circulação restrita, com influência industrial e região próxima ao acidente ocorrido em 2000 (BG30, BG31 e BG32); estações próximas a regiões de grande tráfico de navios: BG05 (porto do Rio de Janeiro) e BG06 (região de estaleiros em Niterói).Vale ressaltar que as maiores concentrações de hidrocarbonetos observadas no estudo foram da estação BG05, no porto do Rio de Janeiro. As razões diagnósticas de origem dos HPA evidenciam elevada influência de fontes pirolíticas nas amostras de sedimento. Concentrações mais elevadas de HPA aliadas à tipologia dos HPA individuais refletem aporte de produtos petrogênicos. Contaminação por Resíduos Sólidos Urbanos42 Cerca de 8.400 t/dia são dispostos no Aterro Metropolitano de Gramacho, que vem recebendo uma série de investimentos e melhorias, por parte de uma empresa responsável pela sua recuperação e operação, mas que ainda não pode ser considerado um aterro sanitário. As principais melhorias dizem respeito à preservação ambiental e às condições de trabalho da cooperativa de catadores que recolhem os materiais recicláveis lançados no aterro. A principal medida de preservação ambiental foi a implantação da Estação de Tratamento de Chorume. Posteriormente, o efluente é lançado no manguezal próximo ao Rio Sarapuí. É importante mencionar que nem todo chorume gerado é 43 captado, assim, a contaminação da BG e dos seus manguezais continua, embora em menor escala . O Aterro de Gramacho está para ser desativado. Porém, a licitação para a exploração do futuro Aterro de Paciência, que se situa na bacia hidrográfica da Baía de Sepetiba, foi anulada. Enquanto as questões judiciais se processam, inclusive com interveniência do Ministério Público, o Aterro de Gramacho continua a receber o lixo de Duque de Caxias, de Mesquita e Nilópolis e a maior parte do produzido na Cidade do Rio de Janeiro. A Prefeitura de Nova Iguaçu vem buscando equacionar, de forma integrada, a problemática de resíduos sólidos no município. O aterro sanitário da Central de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu está licenciado pela FEEMA e capacitado para receber resíduos urbanos, industriais, lixo hospitalar e entulho de construção civil. 42 Este tema será abordado com maiores detalhes no item sobre Resíduos Sólidos. Com a nova estação recém inaugurada, o aterro vai absorver 1.920 metros cúbicos de chorume por dia, quase seis vezes mais do que o sistema absorvia anteriormente, e será uma das maiores unidades de tratamento do mundo desse tipo de resíduo. A iniciativa faz parte do processo de recuperação e manutenção do Aterro do Jardim Gramaxo, iniciado em 1997. A COMLURB chegou a afirmar que o local que recebe mais de 8 mil toneladas de lixo por dia estava condenado. Ainda de acordo com a COMLURB, novos estudos geotécnicos mostraram que o local agora terá uma sobrevida de mais quatro anos, mas que seu fechamento é inevitável. A prefeitura do Rio criou um grupo de trabalho para estudar alternativas para o futuro tratamento do lixo. 43 248 No lado leste da Baía estão sendo melhoradas as condições dos aterros sanitários de Niterói, São Gonçalo e Magé, no contexto do PDBG. Também, estão sendo construídas usinas de reciclagem e compostagem e incineradores de resíduos hospitalares em Niterói e São Gonçalo. A Estação de Icaraí recebe 15 mil litros de chorume por dia pela rede coletora do aterro sanitário do Morro do Céu. O lixo é a mais visível forma de poluição de um corpo d‘água. Na BG, o lixo acumulado nas suas margens e o lixo flutuante que navega no espelho d‘ água polui suas águas e causa prejuízos e danos aos diversos usos benéficos como: a recreação (banho de mar), a pesca, a navegação comercial e de lazer, o turismo, de uma forma geral, e o uso estético e paisagístico (Figura 3.46). Foram feitas estimativas da quantidade de lixo flutuante (Coelho, 1989) que chega ao espelho d‘ água da Baía, através dos principais rios. Para estas estimativas, foi considerado um peso específico do 3 lixo da ordem de 300 kg/m . Foi utilizado esse mesmo peso específico para a vegetação flutuante. Lixo Flutuante As estimativas mostraram que chegam à BG, 274 t/dia de lixo flutuante e 542 t/dia de balseiras e vegetação flutuante, perfazendo um total de 816 t/dia, o que constitui uma quantidade significativa de detritos e obstáculos. Destaca-se, nesse sentido, o Projeto Ecobarreira da SERLA, em parceria com a FGV, que consiste em colocar barreiras flutuantes em locais estratégicos dos rios para controle do lixo flutuante lançado aos corpos hídricos. O material recolhido é reciclado em cooperativas e dessa forma o projeto promove a geração de emprego e renda para a população do entorno. O primeiro rio beneficiado foi o rio Irajá (Projeto Piloto), corta os bairros de Irajá, Brás de Pina e Cordovil, que carreia a maior quantidade de lixo flutuante (cerca de 300 t/dia). Figura 3.46 — Poluição de um Corpo d’Água da BG Fonte: Vianna (2009) Atualmente, na BG há barreiras instaladas no Canal do Cunha, na altura da comunidade da Maré (onde atua a Coopguanabara), e no rio Meriti (Associação do Moradores do Trevo das Marés e a Cooperativa Amigos Recicladores - COOPAR), reciclando cerca de 2,5 ton. somente de garrafa PET 249 e latinhas/mês), na Baixada Fluminense. O Projeto está em fase de lançamento nas seguintes localidades: rio Sarapuí, rio Iguaçu, rio Estrela, rio Caceribu, rio Guaxindiba e Canal Suruí. Outras Fontes de Poluição As águas pluviais têm sido sistematicamente esquecidas, embora seja uma das principais fontes de carreamento e transporte de poluentes e sedimentos para o interior da baía. O sistema de esgotamento sanitário operado pelo estado é do tipo separador absoluto, que pode ou não receber os despejos industriais, preliminarmente tratados, mas, em muitos casos, está associado ao sistema de drenagem urbana. De forma que um problema de grandes dimensões associado às águas pluviais contaminadas é o grande número de favelas na região da BG, áreas difíceis de serem esgotadas. Os esgotos gerados pela população favelada formam valas negras e acabam chegando aos sistemas de drenagem urbana e daí aos rios e à própria baia. Várias soluções têm sido testadas para resolver esse problema, porém sem muito sucesso, entre elas podem ser mencionadas: as redes condominiais, seguidas de ligação final com o sistema de esgotamento sanitário; e a captação das vazões de tempo seco de rios, riachos e canais muito contaminados, posteriormente encaminhados para sistemas de tratamento. Também, há que se considerar como outras fontes de poluição e degradação da BG, os aterros do espelho d‘água, as altas taxas de assoreamento decorrentes do desmatamento e a destruição dos manguezais. 3.2.5.2 Processo de Degradação da Qualidade da Água A instalação das primeiras indústrias na bacia da BG data do tempo do Império, durante a segunda metade do Século XIX e início do Século XX. Na época colonial, não se permitia a instalação de qualquer indústria, fábrica ou oficina que fosse além do trabalho manual mais simples e os produtos manufaturados deviam ser comprados aos portugueses e ingleses, em troca das matérias-primas. A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, trouxe mudanças radicais. A proibição de indústrias foi suspensa e o primeiro passo para a expansão do comércio exterior se deu com a abertura dos portos. Essa medida permitiu a dinamização da praça do Rio de Janeiro, transformando definitivamente a estrutura comercial brasileira. A indústria brasileira nasceu da Oficina de Fundição e Estaleiro da Ponta da Areia, em Niterói, fundada por Mauá, em 1847. Os navios ali construídos foram usados na guerra contra o Paraguai. Já em 1850, a oficina produzia caldeiras para máquinas a vapor, maquinismos para engenhos de açúcar, moendas, serras, prensas hidráulicas, equipamentos de calderaria, mecânica, serralheria, modelagem e os primeiros tubos de ferro fundido para o encanamento das águas do Rio Maracanã. A localização industrial naquela época obedecia aos critérios de proximidade do mercado consumidor, da fonte de matérias-primas e dos mercados de capital. Entre 1890 e 1900, o Rio de Janeiro preenchia essas condições melhor que qualquer outro lugar do País. Tem-se aí a fonte de motivação inicial para a instalação industrial às margens de corpos d‘água, como a BG, o que veio a se tornar uma constante ao longo dos anos, em função tanto da necessidade de água para o processo produtivo, quanto de um corpo receptor para os rejeitos da atividade industrial. 250 A indústria têxtil foi, tradicionalmente, o setor pioneiro do processo de industrialização. No Brasil, as primeiras indústrias instalaram-se ao final da primeira metade do século XIX, no Rio de Janeiro, que era então, município da Corte e depois, Distrito Federal. Em 1898, já eram dezenove as indústrias têxteis, a grande maioria localizada na região hidrográfica da BG. O desequilíbrio ecológico na BG teve o seu início na Enseada de Inhaúma, com as obras de terraplanagem e aterro na área do antigo Aeroporto de Manguinhos (1928/1930), culminando com a fusão das ilhas da Sapucaia, Fundão, Catalão, Caqueirada, Bom Jesus, Cabras, Baiacu e Pindaí do França e Pindaí do Ferreira, dando formação à atual Ilha do Fundão. Os vazadouros de lixo na Sapucaia e Ponta do Caju também contribuíram para o aterro da região. Em 1937, o espelho d‘água da Enseada de Inhaúma tinha diminuído de 800 para 660 ha e, em 1957, reduzia-se para 460 ha, quase a metade da área inicial. A circulação das águas, que, em 1937, era feita através de oito canais, com largura total de 1600 metros, vinte anos depois, passou a ser feita escassamente através de dois canais (do Fundão e Ilha dos Pinheiros), com largura total de menos de 500 m. Na enseada de Botafogo, os esgotos domésticos lançados pela City (The Rio de Janeiro City Improvements Company), no início da década de 40, ocasionaram um impacto adverso na qualidade de suas águas, sendo esta contaminação mais evidente nos locais de lançamento das estações de tratamento, cujos tanques de decantação tinham uma eficiência muito baixa. De 1957 até o final da década de 70, verificou-se o agravamento progressivo das condições de qualidade e quantidade das águas da Enseada de Inhaúma. Os constantes aterros praticamente impediram a circulação das águas, acarretando o assoreamento de toda a enseada e deixando à mostra o fundo lamacento nas situações de maré baixa. Finalmente a realização do aterro do Projeto Rio, iniciado em 1979, decretou a morte da Enseada de Inhaúma, bem como o fim da Ilha dos Pinheiros, incorporada ao aterro e ao continente. Em 1961, a instalação da REDUC, foi um marco do crescimento industrial do Rio de Janeiro, propiciando a instalação de outras indústrias petroquímicas na região. Espelho d’Água Na década de 1960, realizou-se a primeira campanha sistemática de monitoramento de qualidade de águas da BG, em 37 estações de amostragem. Uma análise dos dados coletados mostrava que a qualidade de água já era bastante desfavorável naquela época. Parâmetros indicadores de poluição orgânica, como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO), eram bastante altos. Os teores de oxigênio dissolvido eram bons no canal central e na porção leste da baía, enquanto na área oeste a saturação de oxigênio era, em média, de 50%, com severos déficits perto do fundo. Os dados de coliformes totais indicavam níveis de poluição abaixo dos níveis atuais, muito embora as contagens de coliformes já indicassem características de águas poluídas. Os estudos de controle de poluição da BG foram feitos, no início da década de 1970, por meio do desenvolvimento de modelos matemáticos de qualidade de água e modelos econômicos. Anteriormente, havia um convênio de controle da poluição das águas da Baía, assinado em 1971 pelo Ministério da Marinha com os governos dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, para a fiscalização da poluição por óleo proveniente de navios, tanques e terminais e da poluição por despejos industriais. 251 Em 1974, foi elaborado o primeiro relatório enfocando os usos propostos, critérios e situações de qualidade, análises de custo-benefício, bem como as conclusões preliminares sobre o efeito das cargas orgânicas na qualidade das águas, obtidas de modelos unidimensionais, identificando-se toda a baía por seu canal principal (Coelho, 1974). Posteriormente, foram desenvolvidos modelos bidimensionais, pela firma Hydroscience Inc., que permitiram que se chegasse às seguintes conclusões: a análise dos dados de coliformes e oxigênio dissolvido indicou que a qualidade das águas em diversas regiões costeiras era bastante ruim e estava interferindo com os usos recreacionais; as projeções dos modelos matemáticos, para o ano 2010, indicaram que os critérios de qualidade de água (coliformes totais e oxigênio dissolvido-OD), propostos pela FEEMA, poderiam ser atendidos em 90% das áreas recreacionais, por meio da disposição dos efluentes adequadamente tratados. Os 100% não poderiam ser atendidos devido às cargas poluidoras oriundas das favelas; e os estudos chamaram a atenção para o problema da eutroficação, pois o crescimento do fitoplâncton seria favorecido pela implantação de sistemas de tratamento e pelo aumento das descargas de nutrientes e da transparência das águas. O declínio econômico, na década de 1980, gerou deterioração ambiental, particularmente no meio urbano. A BG, situada no centro da RMRJ, acusou diretamente este impacto. A qualidade das águas tem piorado ao longo dos anos, com maior ou menor intensidade, principalmente em termos de poluição orgânica. As medições de clorofila, em quase todas as estações de amostragem, refletiram uma tendência muito grande de crescimento, indicando claramente o aumento da produtividade primária e, conseqüentemente, da eutroficação, principalmente nas áreas de recôncavo, onde a média das concentrações aumentou até dez vezes, chegando a valores médios próximos a 200 µg/l. Essa situação, decorrente do lançamento de esgotos brutos, foi também evidenciada pelos valores crescentes de coliformes fecais e nutrientes. A localização dessas estações de monitoramento pode ser visualizada na Figura 3.47. Figura 3.47 — Estações de Monitoramento na Região da BG Fonte: FEEMA (2009) 252 Outra evidência constatada da ocorrência de maior degradação das águas da baía foi a diminuição da transparência em, aproximadamente, 0,5 m em média, em todos os pontos monitorados. O pH mostrou-se bastante constante, em torno de oito, tendo sido detectada uma estratificação em todo o espelho d‘água em termos de salinidade, com as concentrações no fundo superiores às da superfície. O oxigênio dissolvido (OD) também apresentou grandes variações de concentração entre a superfície e o fundo, em função de fatores, como fotossíntese e re-aeração na camada superficial, respiração, demanda bental e da própria estratificação. Com relação a metais pesados, no período 1980/1989, foram poucos os resultados acima dos padrões da Classe 7, do CONAMA, para concentrações de cádmio, cobre, níquel, zinco e cromo na água, tendo sido encontrado um maior número de resultados acima dos padrões para mercúrio e chumbo. Em relação a fenóis, verificou-se um aumento no número de resultados acima dos padrões, comparando-se os períodos 87/89 com 80/86. Em termos de cianetos, não houve resultados acima dos padrões. Desta forma, os principais problemas ficaram por conta dos nutrientes na porção norte e oeste da Ilha do Governador, onde as medianas foram muito superiores (de seis a dez vezes) às das demais estações. A DBO também seguiu essa tendência, embora as diferenças não fossem tão marcantes. Esses resultados evidenciaram maciços lançamentos de esgotos brutos na costa oeste e noroeste, provenientes da Baixada Fluminense e da Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro. De acordo com os resultados publicados pela FEEMA, em dezembro de 1998, verificava-se que a BG continuava apresentando graves problemas de poluição e eutroficação. As concentrações de matéria orgânica, nutrientes e coliformes fecais eram menores na região do canal principal até a região norte e nordeste. Estas concentrações cresciam na área oeste, principalmente entre as ilhas do Governador e Fundão e o continente. A área sul da Baía beneficiou-se com obras de coleta e tratamento de esgotos, principalmente o emissário submarino de Ipanema. Os dados de OD e DBO das diversas estações de amostragem ao longo da Baía ilustravam esta situação naquela época. O grande crescimento de algas contribuiu de forma significativa para o aumento da carga global de poluição orgânica. Essa situação, que antes se limitava às porções oeste e noroeste, vem se estendendo para outras regiões, ameaçando a qualidade de água de toda a Baía. O elevado grau de eutroficação tem ameaçado a porção nordeste da Baía, que não só é uma área mais rica em espécies aquáticas, como também se beneficia da presença dos manguezais que têm um papel fundamental na manutenção da sua biodiversidade e produtividade ecológica. As áreas oeste e noroeste são as mais poluídas em termos de carga orgânica e, também, de nutrientes. A estação GN-040 apresenta os mais altos níveis dos vários parâmetros de qualidade de água na superfície e no fundo. Por outro lado, essa estação apresenta os mais baixos níveis de OD e de transparência. Outras estações de amostragem situadas nessas áreas apresentam condições de qualidade de água um pouco melhores. Já as estações próximas ao canal principal mostram uma qualidade de água menos degradada. A FEEMA ainda não publicou os dados mais recentes sobre a qualidade do espelho d‘água da BG, no período de 2000 a 2005. Entretanto, foi feito o tratamento estatístico preliminar desses dados, o que permite constatar não ter havido ainda nenhuma melhora significativa (Figuras 3.48 a 3.51). 253 Em termos de carga orgânica, os dados desse último período avaliado ilustram o crescente problema de supersaturação de oxigênio, com níveis muito altos de DBO, principalmente na região noroeste. O problema da eutroficação pode ser exemplificado com os níveis crescentes de nitrogênio e fósforo e clorofila, que já começa a se agravar até no canal principal da Baía. Em relação a metais pesados, ainda se encontram picos de concentração, como exemplificado para o caso de mercúrio no espelho d‘água. Fundo 30 30 25 25 Oxigênio Dissolvido (mg/L) Oxigênio Dissolvido (mg/L) Superfície 20 15 10 5 20 15 10 5 0 0 GN0050 GN0043 GN0020 GN0000 GN0022 GN0047 GN0306 GN0048 GN0040 GN0042 GN0026 GN0064 GN0025 GN0093 GN9050 GN9043 GN9020 GN9000 GN9022 GN9047 GN9306 GN9048 GN9040 GN9042 GN9026 GN9064 GN9025 GN9093 Estação de Amostragem Estação de Amostragem Figura 3.48 — Oxigênio Dissolvido na Baía de Guanabara Fonte: FEEMA (2007) (Dados não publicados) Fundo 50 50 40 40 D.B.O(mg/L) D.B.O(mg/L) Superfície 30 30 20 20 10 10 0 0 GN0050 GN0043 GN0020 GN0000 GN0022 GN0047 GN0306 GN0048 GN0040 GN0042 GN0026 GN0064 GN0025 GN0093 GN9050 GN9043 GN9020 GN9000 GN9022 GN9047 GN9306 GN9048 GN9040 GN9042 GN9026 GN9064 GN9025 GN9093 Estação de Amostragem Estação de Amostragem Figura 3.49 — Demanda Bioquímica de Oxigênio na BG Fonte: FEEMA (2007), (Dados não publicados) 254 300 Clorofila A Total (ug/L) 250 200 150 100 50 0 GN0043 GN0040 GN0020 GN0042 GN0000 GN0026 GN0022 GN0064 GN0047 Estação de Amostragem Figura 3.50 — Concentração de Mercúrio na Superfície da BG Fonte: FEEMA (2007) (Dados não publicados) Fundo 300 6 250 5 Transparência (SECCHI)(M) Clorofila A Total (ug/L) Superfície 200 150 100 4 3 2 1 50 0 0 GN0043 GN0040 GN0020 GN0042 GN0000 GN0026 GN0022 GN0064 GN0047 GN0050 GN0043 GN0020 GN0000 GN0022 GN0047 GN0306 GN0048 GN0040 GN0042 GN0026 GN0064 GN0025 GN0093 Estação de Amostragem Estação de Amostragem Figura 3.51 — Clorofila A Total na BG Fonte: FEEMA (2007) (Dados não publicados) Bacias Drenantes: Rios e Canais 2 A região hidrográfica da BG tem uma área, aproximada, de 4000 km , apresentando características topográficas contrastantes, incluindo zonas montanhosas, áreas planas de baixada e áreas planas de restingas, mangues e praias. Os rios que nela deságuam nascem no interior da Mata Atlântica e descem pelas encostas da Serra do Mar e dos maciços costeiros, tendo curso reduzido e grande energia, que se perde rapidamente na baixada, pela queda de velocidade de escoamento, o que faz esses rios correrem em meandros na planície sedimentar quaternária, estreita e de drenagem inexpressiva. Existem, aproximadamente, 35 rios afluentes, sendo os que têm as maiores bacias de drenagem o Guapi/Macacu, o Cacerebu e o Iguaçu, que formam meandros e deltas estuarinos cobertos de extensos manguezais. Os rios que atravessam as áreas urbanizadas, mais densamente povoadas, funcionam como canalização a céu aberto de esgoto. Nesta categoria, incluem-se os rios afluentes da 255 costa oeste, desde o canal do Mangue até o canal de Sarapuí, bem como os rios Alcântara, Mutongo, Bomba e canal do Canto do Rio, na costa leste, que deveriam, pelo menos, terem sido enquadrados nas classes de usos de harmonia paisagística e estética. Seu sistema hidrográfico é composto por três grandes grupos de bacias. O maior sistema abrange as bacias que deságuam na BG, e apresenta características de baixada de natureza pantanosa com áreas inundáveis, por estarem situadas em níveis abaixo da média das marés. Nesta área, estão presentes rios que percorrem áreas densamente ocupadas (Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, a oeste da Baía, e Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, a leste), assim como áreas menos povoadas (Magé e Guapimirim). Um segundo conjunto de bacias é formado pelas áreas de drenagem dos rios situados a oeste, que deságuam na Baía de Sepetiba, os quais drenam extensas áreas planas e baixas delimitadas pela Serra do Mar ao norte. Abrange os municípios de Mangaratiba, Itaguaí, Paracambi, Japeri, Queimados, Seropédica e parte de Nova Iguaçu, bem como a Zona Oeste do Rio de Janeiro. O terceiro e último dos grupos de rios é formado por cursos d‘água que desaguam nas lagoas litorâneas, que se conectam ao mar por canais estreitos e que foram originadas pelo recuo oceânico e formação de cordões arenosos (restingas). No Rio de Janeiro aparecem as lagoas Rodrigo de Freitas, Jacarepaguá, Camorim, Tijuca e Marapendi; do lado leste, em Niterói, encontram-se as lagoas de Piratininga e Itaipu, assim como a Lagoa de Maricá, Barra, Padre e Guarapina, no município de Maricá. A Figura 3.52 ilustra as diversas bacias hidrográficas da RMRJ. Figura 3.52 — Regiões Hidrográficas da BG, com seus Rios Principais Fonte: Coelho (2007) 256 Os rios menos degradados, da região norte/nordeste, de acordo com a classificação vigente, têm usos mais nobres, como a preservação de flora e fauna, de modo a garantir a proteção dos ecossistemas. Os rios Guapi e Macacu têm a melhor qualidade de água, servindo como fonte de abastecimento público para Niterói e São Gonçalo. Nessa região, localiza-se a APA de Guapimirim, que engloba as desembocaduras dos rios Guapi, Macacu, Cacerebu e Guaxindiba. Os resultados publicados pela FEEMA, em 1998, confirmam que os rios da costa oeste e vários rios da costa leste se encontram em situação crítica, ao passo que ao norte os rios apresentam melhores condições de qualidade, com exceção do canal de Magé. Os rios desta área refletem condições urbanas e industriais menos intensas. Os rios Iguaçu e Cacerebu recebem lançamentos industriais significativos tanto do complexo petroquímico no entorno da REDUC (Rio Iguaçu) como da CIBRAN (Rio Cacerebu). As concentrações de metais nas águas não são bons indicadores, com muitos dos resultados perto dos limites de detecção dos métodos de análise. Assim mesmo, foram observados picos de concentração de mercúrio na água dos rios Acari e São João de Meriti, valores esses confirmados pelos resultados obtidos nos sedimentos, devido aos despejos da Cia. Eletroquímica Panamericana. Também foram detectadas concentrações de cromo na forma trivalente no Rio Sarapuí, devido à contribuição da Cia. Bayer. Embora esses lançamentos tenham sido reduzidos, persistem os passivos ambientais constituídos pelos sedimentos contaminados nas áreas próximas aos lançamentos. Sedimentos da Baía de Guanabara e dos Rios Os sedimentos de fundo constituem num registro fundamental das alterações ambientais que ocorrem nos corpos d‘água. Os metais e certos micro-poluentes orgânicos tendem a ficar adsorvidos aos sólidos em suspensão que podem sofrer sedimentação. Os metais são adsorvidos, preferencialmente, pela fração fina dos sedimentos (silte e argila). Já os micro-poluentes orgânicos, assim como os organoclorados e hidrocarbonetos aromáticos polinucleares, tendem a ficar adsorvidos na fração orgânica dos sedimentos. Este processo faz com que o sedimento de fundo funcione como um integrador da variação, ao longo do tempo, das concentrações destes poluentes na água. Além disto, funcionam, também, como concentrador, observando-se, geralmente, concentrações muito mais elevadas nos sedimentos do que na água. As concentrações de metais pesados nos sedimentos superficiais foram maiores na parte noroeste, entre as desembocaduras dos rios Irajá, São João de Meriti, Sarapuí e Iguaçu, decrescendo em direção à parte central e a entrada da baía. As concentrações de mercúrio são maiores nos rios Acari/ São João de Meriti, devido aos despejos da Cia. Eletroquímica Panamericana. Em relação ao cromo, as maiores concentrações encontram-se nos rios Sarapuí e Iguaçu, devido aos lançamentos da Bayer e REDUC. No caso do cobre, a maior concentração foi detectada no rio Inhomirim, afluente do rio Estrela. O grau de contaminação química do sedimento, com vistas à proteção da vida aquática, foi classificado segundo a Resolução CONAMA 344/04, que estabelece diretrizes e procedimentos mínimos para a avaliação do material dragado. Para efeito de classificação do material dragado, são definidos nesta resolução critérios de qualidade, a partir de dois níveis: (1) limiar abaixo do qual se prevê baixa probabilidade de efeitos adversos à biota; e (2) limiar acima do qual se prevê um provável efeito adverso à biota. 257 De acordo com essa Resolução e as concentrações de metais pesados extraídas da publicação da FEEMA intitulada ―Qualidade de Água da Baía de Guanabara 1990/1997 (dezembro de 1998)‖, podese dizer que os valores de cobre, zinco, cádmio, chumbo e mercúrio quase todos os valores encontrados estão acima do Nível 1 e alguns acima do Nível 2. Em relação ao cromo, a maioria dos resultados mostrou que os valores estão abaixo do Nível 1. Para se ter idéia do grau de contaminação dos sedimentos por metais pesados na BG, buscou-se fazer uma comparação com outras baías poluídas, em maior ou menor grau, bem como comparações com os níveis estabelecidos na CONAMA 344/04 (Quadro 3.57). As maiores concentrações foram encontradas na BG, tanto em termos de valores máximos como de faixa média, para todos os metais pesados. Seguiram-se os valores encontrados para a Baía de Todos os Santos, em Salvador e, depois, com níveis mais baixos, a Baía da Ribeira, em Angra dos Reis. Além dos metais pesados, outro ponto a ser avaliado refere-se aos hidrocarbonetos de petróleo contidos nos sedimentos. Fez-se uma comparação entre as concentrações de HPAs nos sedimentos, imediatamente após o acidente de janeiro de 2000, e concentrações de HPAs, coletadas em 2003, em algumas das estações de amostragem do programa inicial da PETROBRAS (Meniconi et al., 2001). Das 57 estações iniciais demarcadas, no ano de 2000 (ver Figura 3.41), foram selecionadas 21 estações para a campanha de 2003. Estas estações foram agrupadas em três lotes de acordo com a situação geográfica: área nas proximidades da REDUC (8 estações); área próxima à APA de Guapimirim (5 estações); e área na região do Canal Principal (7 estações). Quadro 3.57 — Dados Comparativos de Metais Pesados Fração Antropogênica Total na Baía de Todos os Santos, Baía da Ribeira e BG Metais Pesados Fração ntropogênica total (µg/g) Cobre Zinco Chumbo Cádmio Cromo Mercúrio Baía da Ribeira Angra UFRJ 1981 Baía de Guanabara FEEMA - 1997 Faixa Média Faixa Média Máximo 39 a 64 22 a 98 83 a 101 8 a 29 35 a 63 27 a 28 < 0,5 1 a 1,4 68 a 70 11 a 24 BTS HYDROS/CH2MHILL – 1999 Máximo 96 Aratu norte 118 Aratu norte 148 Est. Subaé 3,4 Est. Subaé 72 Mataripe 0,42 Tainheiros 0,05 a 0,06 1500 GN-403 650 GN-25 130 GN-111 5 GN-26 330 GN-20 2,0 GN-21 Resolução CONAMA 344/04 (µg/g) Faixa Média Nível 1 Nível 2 200 a 538 34 270 83 a 188 150 410 40 a 80 46,7 218 1a3 1,2 9,6 23 a 64 81 370 0,15 0,71 0,2 a 0,35 OBS.: Todos os resultados se referem às análises na fração fina dos sedimentos após extração à quente com ácido forte. Como se pode verificar pela análise dos gráficos de Box-Plot (Figura 3.53), as concentrações de HPAs totais (Σ 38 HPAs), nas proximidades da REDUC, apresentam valores maiores do que aqueles verificados nas outras áreas selecionadas, embora as medianas das três áreas sejam semelhantes. No ano de 2003, em que não houve acidente significativo de lançamento de óleo, esta diferença foi bastante mais acentuada, pois as concentrações na APA de Guapimirim passam a ser pouco significativas. 258 HPAs TOTAIS NOS SEDIMENTOS DA BG 2003 HPAs totais nos sedimentos da Baía de Guanabara Janeiro de 2000 65000 55000 55000 HPAs TOTAIS (ug/g peso seco)_ 65000 HPAs totais ng/g 45000 35000 25000 15000 5000 -5000 Reduc APA Canal Pr Non-Outlier Max Non-Outlier Min Median; 75% 25% 45000 35000 25000 15000 5000 -5000 Reduc APA Canal Pr Non-Outlier Max Non-Outlier Min Median; 75% 25% Outliers Extremes ÁREA Área Figura 3.53 — HPAs nos Sedimentos e HPAs Totais na BG Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, com base em PETROBRAS (2001) Foram analisadas as concentrações dos treze HPAs individuais que constam da Resolução CONAMA 344/04, nas diversas estações de amostragem, nas três áreas geográficas, nas campanhas de 2000 e 2003, o que permite tecer algumas observações: inicialmente, verifica-se que as estações da área da APA apresentam concentrações bem menores do que as outras duas áreas, com poucos valores acima do Nível 1. Este quadro fica mais evidente na campanha de 2003; nas outras áreas, muitos valores estão acima do Nível 1, apresentando alguns poucos acima do Nível 2. Na campanha de 2003, ano em que não houve acidentes significativos de lançamentos de óleo, os valores acima do Nível 2 ficaram restritos à área nas proximidades da REDUC, na estação ao lado da refinaria. Embora não constem da Resolução 344/04, foram avaliados os isômeros alquilados dos HPAs cuja análise indicou uma possível origem petrogênica na contaminação e mostrou a predominância desses compostos nas estações próximas à REDUC, refletindo-se, também, nos maiores valores do somatório dos 38 HPAs analisados. Os sedimentos de muitas estações da área estudada estão acima do Nível 1, inclusive com alguns resultados acima do Nível 2, indicando que estão contaminados por hidrocarbonetos de petróleo, existindo possibilidade de ocorrência de efeitos adversos à biota. Praias da Baía da Guanabara Um dos indicadores utilizados na avaliação é o índice de qualidade bacteriológica das praias, expresso em número de coliformes fecais, Escherichia coli ou enterococos. No presente estudo, a qualidade das praias das ilhas de Governador e Paquetá é de particular importância, tendo em vista a localização da estação flexível de GNL, que fica situada entre as ilhas do Governador e Paquetá. A Figura 3.54, originada do relatório da FEEMA, ainda não publicado, ―Balneabilidade de Praias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro‖, de 2009, mostra a qualidade das praias em termos de atendimento aos padrões da Resolução 274/04, do CONAMA, no período de 2000 a 2008, evidenciando as seguintes conclusões: 259 todas as praias da Ilha do Governador, bem como a praia de Ramos e as praias de São Gonçalo e Magé estiveram impróprias para banho de mar durante todo o período avaliado, não atendendo aos padrões do CONAMA; as praias da Ilha de Paquetá mostraram uma balneabilidade variável, pois nos anos de 2001 a 2003 mostraram uma tendência de melhoria, piorando de novo nos anos de 2004 a 2006, possivelmente, devido ao não funcionamento da ETE de Paquetá; a Praia de Ramos, artificialmente construída na década de 1960, teve a pior qualidade entre todas as praias avaliadas. Sabedores de que esta praia seria a última a se enquadrar nos padrões de balneabilidade, dentro de um processo de recuperação das águas da baía, o governo estadual optou por construir o ―Piscinão de Ramos‖, para o lazer da população da região, usando água da baía após tratamento. A mesma iniciativa foi também adotada no município de São Gonçalo; as praias Vermelha e São João estiveram sempre dentro dos padrões enquanto as de Urca, Botafogo e Flamengo mantiveram-se sempre impróprias para banho; no município de Niterói, as praias de Jurujuba e Gragoatá estão sempre fora do padrão do CONAMA e as praias de Charitas e São Francisco só apresentaram balneabilidade no ano de 2007. As praias de Boa Viagem, Flexas e Icaraí melhoraram a partir de 2001 ficando dentro dos padrões, possivelmente após entrada em operação do Emissário Submarino de Icaraí. Praias Zona Sul Qualificação Anual 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2006 2007 2008 2006 2007 2008 Vermelha Forte São João Urca Botafogo Flamengo Praias Niterói Qualificação Anual 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Gragoatá Boa Viagem Flechas Icaraí São Francisco Charitas Jurujuba Eva Adão Praias Ilha do Governador Qualificação Anual 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Galeão São Bento Engenho Velho J. Guanabara Bica 260 Ribeira Engenhoca Pitangueiras Bandeira B. Capanema Guanabara Pelônias Ramos Praias Qualificação Anual Paquetá 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2006 2007 2008 Imbuca Ribeira Grossa Tamoios Catimbau P. Castagneto Moreninha J. Bonifácio Praias Qualificação Anual Magé / São Gonçalo Ipiranga Mauá Anil Piedade Luz (S. Gonçalo) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2008 Legenda: QUALIFICAÇÃO FEEMA: ÓTIMA BOA Máximo de 250 em 80% ou mais do tempo Máximo de 1.000 em 50% ou mais do tempo, exceto as ótimas REGULAR Máximo de 1.000 em 70% ou mais do tempo e menos de 80% do tempo MÁ Máximo de 1.000 em 50% ou mais do tempo e menos de 70% do tempo PÉSSIMA Praias que não de enquadram nas categorias anteriores Número de resultados insuficiente para a qualificação Figura 3.54 — Qualificação das Praias Interiores da BG – 2000/2008 Fonte: FEEMA (2009), (dados não publicados) Flora e Fauna Aquática como Indicadores de Qualidade da Água Estudos recentes, feitos nos últimos anos, mostraram que a BG é um ecossistema tropical, com um grau de eutroficação muito elevado. O impacto do lançamento de esgotos domésticos, despejos industriais e águas pluviais contaminadas se manifesta nas altas concentrações de amônia e fósforo e, também, na baixa transparência das águas, principalmente, na região mais interior da baía. 261 O aumento da biomassa primária no canal principal, nos últimos trinta anos, revela uma redução progressiva da capacidade de diluição das cargas poluidoras lançadas na baía. O zooplâncton, um bom indicador do grau de poluição ambiental, tem diminuído ou desaparecido das áreas mais impactadas da baía, principalmente no lado oeste, onde se situam a cidade do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense. A transparência das águas é extremamente baixa, principalmente nas áreas mais internas e nos períodos de chuva. Os teores de amônia são crescentes e o oxigênio dissolvido tem diminuído ao longo dos anos. Todos esses problemas transformaram a BG num dos ecossistemas mais eutroficados do mundo, o forte impacto antrópico altera suas condições físico-químicas, repercutindo visivelmente sobre o seu sistema plantônico. Em 1990, a FEEMA apresentava relatório de estudos preliminares do Projeto Biota da Baía de Guanabara, cujo objetivo principal era o levantamento da produção de pescado junto às colônias de pesca e, também, a avaliação da qualidade deste pescado, recurso de grande importância econômica e social. As análises de metais pesados mostraram a presença de cobre e zinco nos camarões e nos siris, porém abaixo do limites permitidos para consumo humano. Em uma amostra de peixe (piraúna), a concentração de cobre no fígado foi bastante significativa, porém, no tecido muscular, a concentração foi bem pequena. Em termos de cádmio, chumbo e cromo total, todas as análises (com exceção de chumbo em uma amostra de tainha) apresentaram concentrações abaixo do limite de detecção do método de análise. O mercúrio apresentou concentrações acima do limite de detecção do método em várias espécies de peixes, porém bem abaixo dos limites recomendados para consumo humano, com exceção do bagre-papai que apresentou uma concentração de 0,45 g/g no tecido muscular, bastante próxima do padrão (0,5 g/g). O Projeto Biota da Baía de Guanabara, embora numa fase preliminar, mostrou que os níveis de PCB no pescado não representavam riscos para o consumo humano. As concentrações de metais no mexilhão Perna perna refletem uma média moderada de concentrações, principalmente influenciadas pelas fontes difusas e não refletindo as piores condições de qualidade de água da Baía. Os HPAs acumulados no Perna perna parecem efetivamente revelar o grau de contaminação destes hidrocarbonetos nos locais amostrados na BG. Os perfis individuais de HPA mostram uma contaminação generalizada proveniente de lançamentos de óleos e apontam o diesel como a fonte mais presente. De acordo com trabalho do Departamento de Química da PUC, os mexilhões Perna perna vêm se mostrando um bom indicador da contaminação por óleo no ambiente marinho. Em diversas ocasiões, estes mexilhões foram coletados nos pilares da ponte Rio – Niterói, inclusive, após o grande derramamento de óleo, em janeiro de 2000. O Quadro 3.58 apresenta as concentrações de HPA totais nos mexilhões coletados nos pilares da ponte, em diversas datas. Os resultados obtidos nos meses de junho, outubro e dezembro de 1999, uma concentração média -1 -1 de 500±200 μg kg peso seco, foram significativamente menores que o valor de 1738 μg kg peso seco encontrado em fevereiro de 2000, depois de um derramamento de óleo. Os autores do trabalho concluíram que o óleo MF380 derramado no acidente do duto da PETROBRAS seria a explicação mais plausível para este aumento da concentração de HPA nos mexilhões, já que não se conhece nenhum outro grande acidente envolvendo derramamento de óleo ocorrido naquela ocasião. 262 Quadro 3.58 — HPAs Totais nos Tecidos de Perna perna da Ponte Rio-Niterói Datas -1 Σ HPAs (μg kg peso seco) Junho de 1999 532 Outubro de 1999 354 Dezembro de 1999 738 Fevereiro de 2000 1738 Abril de 2001 376 Setembro de 2001 >6000 Fonte: Wagener et al (2005) O aumento da concentração de HPA depois do acidente foi devido, principalmente, a incrementos mensuráveis de naftaleno, fenantreno e dibenzotiofeno e seus respectivos homólogos alquilados. Embora os índices de relação entre HPA tenham revelado contaminação petrogênica depois do derramamento do óleo, os indicadores para HPA nos mexilhões diferem daqueles do óleo derramado. As concentrações de HPA totais medidos nos mexilhões da ponte em abril de 2001 voltaram aos -1 níveis anteriores ao acidente (376 μg kg peso seco). De acordo com os autores, concentrações de -1 HPA inferiores a 1000 μg kg peso seco representam uma teor médio na população dos mexilhões Perna perna neste local de amostragem. Em setembro de 2001, a amostragem coincidiu com novo acidente reportado pelos órgãos ambientais do Rio de Janeiro, de origem desconhecida, com a -1 concentração de HPA nos mexilhões acima de 6000 μg kg peso seco (detalhes no ANEXO III). Avaliação de Tendências A FEEMA desenvolveu metodologias estatísticas alternativas para avaliação de tendências de séries temporais de dados de qualidade de água. No caso da avaliação de médio e longo prazo foi utilizado o teste de Mann Kendall, método não paramétrico, basicamente qualitativo, útil para detectar tendências ascendentes, descendentes ou sem tendências observadas em séries de dados de qualidade de água. Para a aplicação desse método estatístico, foram selecionados oito pontos de coleta de amostras no espelho d‘água da BG, sendo quatro estações situadas na região noroeste e norte (GN-040, GN-020, GN-042 e GN-000), três na zona intermediária (GN-043, GN-026 e GN-022) e uma estação no canal principal perto da entrada da baía (GN-064). Foram avaliados os dados de qualidade de água, do período de 1980 a 1997 para os parâmetros: temperatura, transparência, nitrogênio Kjeldahl, nitrato, nitrogênio amoniacal; fósforo total; orto fosfato dissolvido; DBO; coliformes fecais; fitoplâncton e razão diatomáceas / cianofíceas. Considerando-se que não se conseguiu incluir os parâmetros referentes a metais pesados, fenóis, cianetos e outras substâncias tóxicas, a avaliação desenvolvida evidenciou, basicamente, os problemas de lançamento de esgotos domésticos em termos de carga orgânica e eutroficação, não enfocando problemas de poluição industrial nem lançamento de óleo e substâncias tóxicas. A avaliação de tendência evidenciou a degradação da qualidade de água, já que não houve melhoria em nenhuma estação de amostragem, mas uma situação inalterável em três das oito estações consideradas (GN-022, GN-040 e GN-064). Destas estações, a GN-022 foi a que esteve mais próxima da zona de melhora, enquanto a estação GN-064, localizada perto da entrada da baía, 263 mostrou-se muito próxima da área de piora. As demais cinco estações localizaram-se na área de piora de qualidade de água, sendo que as estações GN-026 e GN-042 foram as que apresentaram maior degradação. Os resultados obtidos trouxeram um importante alerta em relação à qualidade de água da Baía. O canal central, o último baluarte de qualidade por propiciar a renovação das águas duas vezes por dia com as entradas de maré, começa a apresentar sinais claros de degradação: duas maiores pioras das oito estações (GN-026 e GN-042) e uma quase piora na estação GN-064, na entrada da baía, que tradicionalmente sempre apresentou a melhor qualidade de água. A FEEMA realizou uma nova avaliação de tendências, incluindo os dados mais recentes, de 2000 a 2005, com o objetivo de aquilatar as possíveis melhorias resultantes das obras de coleta e tratamento de esgotos e controle das cargas orgânicas das indústrias realizadas no âmbito do PDBG. Fazendose uma análise comparativamente com os dados anteriores pode-se concluir: o número de estações de amostragem analisadas passou de 8 para 12, cobrindo uma maior área do espelho d‘água; a zona de ‗melhora‘ passou a contar com uma estação de amostragem GN-50 entre a Ilha do Fundão e o continente, porém sabe-se que essa estação se localiza numa área de péssima qualidade de água, não se constituindo portanto em um grande ganho; diminuíram-se as estações de amostragem da área de ‗piora‘: eram 5 (GN-26, GN-42, GN-20, GN-00 e GN-43) e passaram para 3 (GN-306, GN-64 e GN-42). Os parâmetros responsáveis pela classificação dessas estações foram os nutrientes. A GN-42 esteve na zona de ‗piora‘ nas duas avaliações; aumentaram-se bastante as estações na área de ‗inalteração‘: eram 3 e passaram para 8, mostrando talvez uma mudança de rumo, de uma tendência de piora verificada anteriormente na maioria das estações para uma tendência de ‗inalteração‘; nessa nova avaliação chama atenção a estação GN-64 que estava inalterada anteriormente, próxima à zona de piora e agora entrou definitivamente na zona de ‗piora‘. Considerando que essa estação sempre foi a de melhor qualidade de água tendo em vista a sua proximidade com a boca da baía esse é um fator negativo em relação à observação anterior. Também, a nova estação GN-306, próxima da GN-64, foi classificada na zona de piora, confirmando que a região da boca da baía outrora a de melhor qualidade vem mostrando sinais de degradação (Figura 3.55). -80% Período 2000-2005 GN25 GN40 GN00 GN22 GN50 Área de melhora W 0 Área de inalteração Conflitos de Uso 0,1 0,2 GN42 GN306 0,3 GN43 GN20 GN48 0,4 0,5 Área de piora GN47 GN26 0,6 GN64 0,7 0,8 0,9 1 -80% Figura 3.55 — Tendência da Qualidade de Água da BG Fonte: FEEMA (2009) (dados não publicados) 264 No mundo moderno, os corpos d‘água, de uma maneira geral, têm usos múltiplos e variados. Muitas vezes estes usos são conflitantes e, embora eventualmente difíceis de coexistir, podem ser compatibilizados por meio de uma gestão ambiental eficiente. Tal é o caso da BG, na qual o uso industrial é conflitante com o lazer, no caso de atividades náuticas, uso das praias e passeios turísticos, e com a pesca comercial e recreativa. No mundo atual é inegável que o turismo é uma das melhores formas de se aproveitar o espelho d‘água da baía seja com ecoturismo, lazer náutico, regatas, pesca esportiva, iates clubes e marinas. A BG continua ostentando um magnífico visual tratando-se de um dos cartões postais do Brasil, talvez o mais importante no exterior. A chegada de dezenas de transatlânticos durante o verão pode revitalizar as regiões portuárias, transformando o patrimônio urbanístico e arquitetônico dos waterfronts em complexos culturais, integrando as atividades de arte, cultura, lazer, esporte, 44 gastronomia, comércio e contemplação paisagística . Com a de realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a possibilidade das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro é fundamental que se obtenha uma melhoria da qualidade das águas da BG, não só para as atividades turísticas, como, também, para as provas de iatismo e vela. Outro uso conflitante é o de diluição de despejos, seja de esgotos domésticos, despejos industriais ou águas pluviais contaminadas. O uso industrial tem crescido progressivamente e, ao mesmo tempo, o Governo do ERJ tem procurado melhorar a qualidade das águas com as obras do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). No sentido de caminhar na direção da sustentabilidade é de fundamental importância conseguir melhorar a qualidade das águas, seja por intermédio do PDBG ou de outras ações específicas. Identificam-se, assim, dois conjuntos de usos que se contrapõem, mas que podem ser administrados de forma ambiental e sustentável (Quadro 3.59). Quadro 3.59 — Conjunto de Usos da Baía de Guanabara Conjunto de Usos A Conjunto de Usos B Industrial Turismo e Ecoturismo Água para Indústria Recreação de Contato Primário/Secundário Navegação Industrial e Comercial Pesca Comercial Diluição de Despejos Preservação de Flora e Fauna 44 Inúmeros roteiros são organizados para que os turistas conheçam os pontos histórico-culturais localizados no entorno da BG: Fortaleza de Santa Cruz, Forte do Imbuhy e Forte Barão do Rio Branco, em Niterói; e Fortaleza de São João e o Forte Duque de Caxias, no município do Rio de Janeiro. As ilhas da BG, também, têm importância histórica e fazem parte de roteiros oficiais: Ilha Fiscal, Ilha de Villegaignon, Ilha das Enxadas, Ilha das Cobras e a Ilha de Paquetá. Segundo Coelho (2007), alguns roteiros de turismo ecológico marítimo poderiam ser incluídos nos programas oficiais, como a visita aos manguezais da APA de Guapimirim e às fortalezas da BG e mesmo o itinerário de D. Pedro II para Petrópolis no séc. XIX (barco/trem/ônibus). 265 3.2.6 Qualidade do Ar Neste item serão, inicialmente, caracterizadas as condições meteorológicas, mas especificamente as condições climáticas da região estratégica. Em seguida, a contextualização do monitoramento e a caracterização da qualidade do ar e, ainda, as principais fontes de poluentes atmosféricos. 3.2.6.1 Condições Meteorológicas O clima na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) demonstra ter a mesma diversidade observada no resto do estado: não somente as temperaturas médias são fortemente influenciadas pela questão do relevo e da posição em relação ao oceano, mas, também, o regime e a distribuição dos totais pluviométricos. Os contrastes térmicos associados à topografia podem induzir a circulações locais, tais como as brisas de vale e montanha. A topografia, a cobertura vegetal e a distância das fontes de umidade influenciam, significativamente, na distribuição da precipitação. A pluviosidade média anual situa-se em torno de 1.500 mm, influenciada pela atuação de Sistemas Convectivos de Meso-escala, de Sistemas Frontais e do Anticiclone do Atlântico Sul, ou seja, por uma combinação de fatores locais e dinâmicos da atmosfera. As descrições climatológicas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) demonstram que o Estado do Rio de Janeiro sofre influências tanto de sistemas tropicais, quanto de latitudes médias. Possui uma estação seca bem definida no inverno e uma estação chuvosa no verão (chuvas convectivas). Além disto, a atuação de sistemas frontais é responsável pela ocorrência de precipitação na região durante boa parte do ano. A precipitação, também, é determinada pelo relevo, influência marítima e instabilidade atmosférica. Em relação às temperaturas, a região no período de inverno é afetada pela penetração de massas de ar frio de altas latitudes, o que contribui para a predominância de baixas temperaturas nesta estação. A RMRJ demonstra a mesma diversidade climática assistida para o estado, onde não somente as temperaturas médias são fortemente influenciadas pela questão do relevo e da posição em relação ao oceano, como pelo regime e distribuição dos totais pluviométricos. De acordo com as Normais Climatológicas, do Instituto Nacional de Meteorologia, do período 196190, as temperaturas médias mais altas são registradas no trimestre janeiro/fevereiro/março e as mínimas, entre junho e setembro (Quadro 3.60). Observa-se, ainda, que a maior parte do total precipitado (1.172,9 mm) ocorre no verão e que, em geral, a umidade relativa do ar apresenta pouca variação entre os meses do ano. No que tange as médias de nebulosidade, são verificados mínimos nos meses de julho e agosto e máximas em dezembro. É importante lembrar que a RMRJ quase sempre apresenta alguma nebulosidade, em grande parte por conta da proximidade de fontes de umidade, como o oceano e a BG. A insolação total, assim como a temperatura média, apresenta máximas no trimestre janeiro/fevereiro/março. Os menores valores registrados são observados nos meses de setembro e dezembro. 266 Vários aspectos de caráter geográficos como a presença da BG, a Baixada Fluminense densamente urbanizada e a proximidade da Serra do Mar, influenciam o clima local e interferem nos parâmetros meteorológicos responsáveis pela caracterização das condições micro-climáticas da região. Quadro 3.60 ― Normais Climatológicas do Estado do Rio de Janeiro 1961-1990 Temperatura Período Precipitação Total Umidade Relativa Nebulosidade (0 – 10) Insolação Total (Horas e Décimos) Média Máxima Mínima Janeiro 26.2 29.4 23,3 114,1 79,0 6,0 196,2 Fevereiro 26,5 30,2 23,5 105,3 79,0- 5,0 207,0 Março 26,0 29,4 23,3 103,3 80,0 5,0 195,6 Abril 24,5 27,8 21,9 137,4 80,0 5,0 166,0 Maio 23,0 26,4 20,4 85,6 80,0 5,0 171,4 Junho 21,5 25,2 18,7 80,4 79,0 5,0 157,2 Julho 21,3 25,3 18,4 56,4 77,0 4,0 182,5 Agosto 21,8 25,6 18,9 50,5 77,0 4,0 178,4 Setembro 21,8 25,0 19,2 87,1 79,0 6,0 136,9 Outubro 22,8 26,0 20,2 88,2 80,0 6,0 158,5 Novembro 24,2 27,4 21,4 95,6 79,0 6,0 168,7 Dezembro 25,2 28,6 22,4 169,0 80,0 7,0 160,1 Anual 23,7 Fonte: INMET (1992) 27,2 21,0 1172,9 79,0 5,0 2078,5 Basicamente, predomina o clima tropical semi-úmido, com verão quente e chuvoso e inverno seco com temperaturas amenas. Entretanto, devido à interação entre os fatores dinâmicos do clima e as características geográficas é comum a ocorrência de variabilidades climáticas diferentes. Sazonalmente, os valores de pressão atmosférica ao nível da superfície são maiores no inverno e menores no verão. Na região, as pressões atmosféricas médias em janeiro e julho (meses climatologicamente extremos) são de 1011 hPa e 1020 hPa, respectivamente. Em termos de qualidade do ar, a ocorrência de maiores ou menores pressões na superfície interferem diretamente na capacidade de mistura dos poluentes situados na camada de ar mais baixa, influenciando, conseqüentemente, nos níveis de concentração dos poluentes. As maiores pressões estão associadas à estabilidade que retém os poluentes nos níveis mais baixos, limitando seu deslocamento vertical, enquanto que as menores pressões, ao contrário, permitem uma maior movimentação vertical, afastando os poluentes dos níveis próximos ao solo, reduzindo suas concentrações. A Figura 3.56 representa a variação da pressão atmosférica no ERJ. A precipitação na região, por sua vez, apresenta uma sazonalidade típica da região sudeste, mais chuva no verão e menos no inverno. Existem, segundo as Normais Climatológicas, duas épocas do ano com maior intensidade de chuvas, em abril, início do outono e dezembro, início do verão. A umidade relativa do ar, apesar de não se alterar, significativamente, ao longo do ano, permanecendo numa média mensal de cerca de 80%, acompanha a variação sazonal da precipitação 267 e atinge níveis inferiores a 70% no período do inverno. Na Figura 3.57 a variação sazonal da precipitação. 1022 1020 1018 Pressão [hPa] 1016 1014 1012 1010 1008 1006 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Figura 3.56 ― Variação da Pressão Atmosférica no ERJ Fonte: INMET (1992) 180 160 140 Precipitação [mm] 120 100 80 60 40 20 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Figura 3.57 ― Variação Sazonal da Precipitação Fonte: INMET (1992) Quanto à insolação, esta é função não apenas da nebulosidade existente, mas, também, da duração dos dias — mais longos no verão e mais curtos no inverno. Os menores valores ocorrem em setembro (136,9 horas), devido aos elevados níveis de nebulosidade nesta época e dias não tão longos quanto os de verão. Por outro lado, o maior valor ocorre em fevereiro (207,0 horas), mês com dias longos e nebulosidade intermediária. Com relação à capacidade natural de dispersão, considerando os aspectos relativos à circulação do ar, em que o parâmetro vento é responsável pelo transporte e diluição dos poluentes atmosféricos, a avaliação climatológica, realizada com base nas observações horárias da estação meteorológica do 268 Aeroporto do Galeão, revelou que os ventos fluem predominantemente da direção sudeste. No que se referem às velocidades médias ao longo do ano, estas se situam em torno de 2,8m/s, enquanto que a ocorrência de calmarias é cerca de 8% (Figura 3.58). Figura 3.58 ― Rosa dos Ventos do Aeroporto do Galeão 2001-2005 A região de Itaboraí, onde vai se instalar o COMPERJ, apresenta um clima tropical do tipo AW, relativamente uniforme durante todo o ano. No verão, em decorrência do grande calor, não amenizado pelos ventos e elevada umidade relativa, ocorrem fortes chuvas, enquanto no inverno, mais seco, os totais pluviométricos e a média das temperaturas são mais baixos. Contudo, pela existência de dois meses secos de inverno e por possuir totais anuais de pluviosidade entre 1.000 e 1.500 mm, esta área pode ser interpretada, também, como sendo de clima tropical semi-úmido (AM). Os maiores índices pluviométricos acontecem no período de novembro a março, ao final do qual a intensidade de chuvas vai diminuindo, gradativamente, chegando a valores mínimos entre junho e setembro. Os efeitos de orografia local, marcada pela circulação de ventos extremamente úmidos, dão origem a um regime diferenciado com altas precipitações. De acordo com o estudo da distribuição das chuvas na região, verifica-se que janeiro é o mês mais chuvoso, com uma média que oscila ao redor de 210 mm, e agosto o mês mais seco, tendo uma precipitação média por volta de 30 mm. A influência da Massa Polar Atlântica (mPa) na primavera faz com que esta estação apresente elevadas taxas de pluviosidade e temperatura, enquanto no verão estas características sejam dadas pela presença da Massa Equatorial Continental (mEc). O clima da região também sofre influência da vertente atlântica da Serra do Mar e da zona dos Maciços Costeiros. A amplitude sazonal de pressão atmosférica é de 25 hPa, no inverno e 30 hPa, no verão e tem como principal causa a alternância entre domínios de ar tropical e de massas polares migratórias. Vale destacar que a área do empreendimento encontra-se na trajetória de deslocamentos de frentes frias 269 em todas as épocas do ano, o que pode resultar em significativas variações de pressão atmosférica, em curto intervalo de tempo, sobretudo em rápidas passagens frontais. A pluviosidade média anual situa-se em torno de 1,500 mm e é caracterizada pela influência de sistemas tropicais e de sistemas típicos de latitudes médias, assim como toda a Região Sudeste devido à localização latitudinal. Sobre a região é observada a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala, de Sistemas Frontais e do Anticiclone do Atlântico Sul, ou seja, uma combinação de fatores locais e dinâmicos da atmosfera. O período mais chuvoso é a transição entre primavera-verão e o verão, até seu término em março, e a estação mais seca é o inverno, principalmente os meses de junho e agosto. Os dados obtidos de uma estação meteorológica localizada na APA de Guapimirim, situada ao sul da área onde se pretende instalar o empreendimento e mais próxima à BG indicam uma pluviosidade média anual de 1.709 mm e uma pluviosidade média máxima anual de 2.396 mm, sendo a média do mês mais chuvoso, dezembro, de 253 mm, enquanto a média do mês mais seco, agosto, é de 59 mm (ESAP/COMPERJ, 2006). A passagem de frentes frias ocorre ao longo de praticamente todo o ano, em geral, com curtos intervalos de tempo e com maior freqüência nos meses de inverno. Também, nesta época do ano, é bastante comum, principalmente após o afastamento de uma frente fria, a atuação do Anticiclone do Atlântico Sul, um sistema de alta pressão atmosférica que inibe a formação de sistemas convectivos e que pode formar, dependendo de sua intensidade, bloqueios à entrada de novas massas de ar frio advindas da Região Sul. Com relação à circulação do ar, de acordo com as informações geradas pelas estações meteorológicas instaladas na região do futuro Complexo Petroquímico, foi possível observar que a ventilação natural da região é deficiente, com velocidades médias do vento variando de 0,8 m/s a 1,4 m/s e ocorrência de calmarias entre 36,2% a 52,6% para o período monitorado. No Quadro 3.61 os resultados das medições dos ventos realizadas por 4 estações distribuídas na região. Na região de Itaboraí, durante a noite e madrugada as calmarias chegam a atingir o valor de 92,9%. Quadro 3.61 — Caracterização dos Ventos na Região do COMPERJ Parâmetro Direção predominante 2 do Vento ( ) VOR Velocidade Média (m/s) Calmaria (%) Direção predominante 2 do Vento ( ) Sambaetiba Velocidade Média (m/s) 6 – 11h 12 – 17h 18 – 23h Total 88 70 143 132 110 0,59 0,69 2,23 2,24 1,46 62,64 52,84 9,47 22,85 36,44 42 96 192 329 92 0,06 0,85 1,61 0,57 0,82 92,89 51,65 15,28 69,74 52,63 Direção predominante 2 do Vento ( ) 130 137 214 149 156 Velocidade Média (m/s) 0,36 0,50 1,71 1,06 0,95 67,11 57,02 8,59 37,57 40,79 Calmaria (%) IBAMA 0 – 5h Calmaria (%) 270 Parâmetro Macacú 0 – 5h 6 – 11h 12 – 17h 18 – 23h Total Direção predominante 2 do Vento ( ) 124 111 186 143 138 Velocidade Média (m/s) 0,56 0,56 2,19 1,36 1,23 56,22 57,56 17,45 28,15 38,23 Calmaria (%) Fonte: CONCREMAT (2007) 3.2.6.2 Caracterização da Qualidade do Ar Historicamente, a qualidade do ar na RMRJ vem sendo monitorada desde 1967, quando foram instaladas as primeiras estações de monitoramento. A rede de monitoramento contava, então, com apenas três estações de amostragem. Já nessa ocasião foram registradas concentrações de partículas em suspensão que evidenciavam o processo de degradação da qualidade do ar em várias localidades. Entretanto, ao logo do tempo, apesar das várias ações desenvolvidas no sentido de promover a melhoraria da qualidade do ar, os resultados que vêm sendo obtidos ainda superam os padrões estabelecidos pela legislação em grande parte das localidades monitoradas, principalmente nos municípios que compõem a Baixada Fluminense. Uma vez que a qualidade do ar é resultado do processo de lançamento de poluentes por fontes de emissão e suas interações na atmosfera, as atividades desenvolvidas pelas indústrias, centrais de geração de energia, construção civil, tráfego intenso de veículos, entre outras, que geram emissão de partículas e/ou gases podem alterá-la, significativamente, em uma dada localidade. Na RMRJ, da mesma forma que em outras metrópoles de países em desenvolvimento, a maior parte das grandes instalações industriais, como refinarias, pólos petroquímicos e siderúrgicas, responsáveis pelas emissões de poluentes para a atmosfera, está concentrada em áreas urbanas. Também, concentram as principais vias de tráfego e os maiores fluxos de veículos, onde podem ocorrer grandes congestionamentos, que contribuem ainda mais para o aumento da emissão de poluentes do ar. Tal configuração concedeu à RMRJ o segundo lugar do País em concentração de fontes emissoras. Adicionalmente, alguns fatores locais, tais como a topografia acidentada, a ocupação desordenada do solo, a presença da BG e as condições atmosféricas dominantes dificultam a dispersão dos poluentes, favorecendo situações que comprometem ainda mais a qualidade do ar. Segundo o relatório ―Qualidade do Ar na Região Metropolitana do Rio de Janeiro‖ (FEEMA-GTZ, 1995): A RMRJ (...), “além de suas variadas características urbanas, se apresenta envolvido por uma acidentada topografia, que cria divisores microclimáticos naturais, além de afetar, significativamente e de modo diversificado, a ventilação e, por conseguinte, os mecanismos de transporte e dispersão dos poluentes na região. Por outro lado, as condições atmosféricas concorrem, em muitas oportunidades, para a formação de inversões térmicas e ventos fracos e calmarias próximas à superfície, o que tende a degradar ainda mais a qualidade do ar...”. 271 Além desses fatores, deve ser considerado, ainda, que a região está sujeita às características do clima tropical, com intensa radiação solar e temperaturas elevadas, favorecendo os processos fotoquímicos e outras reações na atmosfera, com geração de poluentes secundários. Assim, levando-se em consideração as influências da topografia e da meteorologia na capacidade dispersiva dos poluentes atmosféricos de uma região. A FEEMA delimitou quatro áreas na RMRJ, denominadas ‗Bacias Aéreas’, unidades de planejamento para a gestão da poluição do ar. A distribuição espacial pode ser visualizada na Figura 3.59, são elas: 2 Bacia Aérea I — localizada na Zona Oeste da região possui cerca de 730 km de área. Está inserida na Bacia Hidrográfica da Baía de Sepetiba. Engloba a região administrativa de Santa Cruz e Campo Grande (ambas localizadas no município do Rio de Janeiro), além dos municípios de Itaguaí, Seropédica, Paracambi, Queimados, Japeri e Nova Iguaçu; Bacia Aérea II — compreende a zona oeste do município do Rio de Janeiro englobando os 2 bairros de Jacarepaguá e da Barra de Tijuca. Ocupa uma área de, aproximadamente, 140 km ; Bacia Aérea III — abrange a zona norte do município do Rio de Janeiro e parte dos municípios da Baixada Fluminense — Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, 2 Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti. Possui em torno de 700 km ; 2 Bacia Aérea IV — localizada a leste da BG, ocupa uma área de, aproximadamente, 830 km . Compreende os municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá. A Bacia Aérea III assume um papel de destaque em relação às demais por abrigar a maior parte da ocupação urbano industrial do estado e, como conseqüência, possuir um grande potencial de fontes de emissões de poluentes, sendo considerada área prioritária para as ações de controle da qualidade do ar. Figura 3.59 — Bacias Aéreas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Fonte: Cavalcanti (2003) 272 A FEEMA publicou, em 2004, o ―Inventário de Fontes Emissoras de Poluentes Atmosféricos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro‖, cujos resultados demonstraram que na Bacia Aérea III estão localizadas não só as fontes fixas que mais contribuem com a emissão de poluentes para a atmosfera, como, também, muitos segmentos das principais fontes móveis (vias de tráfego). Por se tratar da região mais degradada, a maior parte das estações de amostragem da qualidade do ar está instalada na Bacia III, razão pela qual, mesmo antes da quantificação de fontes realizada no citado relatório da FEEMA, ações de gestão já eram definidas e implementadas. Monitoramento da Qualidade do Ar Atualmente, o monitoramento da região compreende 21 estações manuais que realizam amostragens de material particulado total e/ou inalável, além de outras 14 estações de monitoramento contínuo pertencentes à FEEMA, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) e a atividades industriais 45 em cumprimento ao PROCON-Ar , capazes de medir as concentrações dos óxidos de nitrogênio ( NOx) ― monóxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2) ― hidrocarbonetos totais (HCT), hidrocarboneto não metano (HCNM), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), dióxido de enxofre (SO2) e partículas inaláveis (PI), além de parâmetros meteorológicos (Figura 3.60) Quando se avalia as concentrações de longo período, ou seja, as concentrações médias anuais, a série histórica, formada por quase quatro décadas de monitoramento de partículas totais em suspensão, mostra uma tendência decrescente nas concentrações, embora predomine, ao longo dos anos, a violação aos padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA 03/90. A Figura 3.61 permite observar que, historicamente, as concentrações de partículas totais em suspensão violam os limites para proteção da saúde humana em quase todos os locais onde há monitoramento. As maiores concentrações de partículas totais em suspensão ocorrem Baixada Fluminense, onde, nos últimos anos, o padrão de curto período tem sido violado, com ocorrência de ―Nível de Atenção‖ e “Nível de Alerta‖ caracterizando ―Episódios Críticos de Poluição do Ar‖, conforme previsto na Resolução CONAMA 03/90. 45 PROCON-Ar – Programa de Auto Controle das Emissões para a Atmosfera ( DZ-545), aprovado pela Deliberação CECA n. 935, de 07 de agosto de 1986. 273 Figura 3.60 — Estações de Monitoramento da Qualidade do Ar na RMRJ Fonte: FEEMA (2005) Figura 3.61 — Concentração de Partículas Totais em Suspensão na RMRJ Fonte: Concremat (2007) O monitoramento das concentrações de partículas inaláveis, por sua vez, teve início em 1998. A evolução das concentrações anuais registradas mostra uma preponderância de valores superiores aos padrões fixados pela legislação, embora apresentem tendência de queda. A Figura 3.62 mostra o comportamento das concentrações anuais das várias localidades monitoradas. 274 Figura 3.62 — Concentração de Partículas Inaláveis na RMRJ Fonte: CONCREMAT (2007) As estações localizadas em municípios da Baixada Fluminense, Nova Iguaçu e São João de Meriti e nos municípios de São Gonçalo e Niterói são as que apresentam os maiores níveis de concentração de partículas inaláveis. Da mesma forma, constata-se que o maior número de violações ao padrão diário ocorre, também, nos municípios da Baixada Fluminense, onde já foram registradas concentrações que caracterizam situações críticas de poluição do ar. O monitoramento dos gases tem sido realizado por meio de estações automáticas que medem, continuamente, a qualidade do ar. Deste modo, opera desde 1999 a rede de monitoramento da FEEMA, composta de quatro estações em: Nova Iguaçu, São Gonçalo, Jacarepaguá e Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Durante todos estes anos, os resultados mostraram que as concentrações de SO2 encontram-se muito abaixo dos limites estabelecidos e, de certa forma, estáveis. Para o NO2 os níveis de concentração não têm ultrapassado os padrões de longo período fixados pela legislação. No entanto, observa-se que as concentrações médias encontram-se bastante elevadas, principalmente em Nova Iguaçu, que chegam a ocupar cerca de 80% do padrão de qualidade do ar. Quanto ao padrão de curto período de NO 2, este foi ultrapassado em todas as localidades monitoradas, exceto São Gonçalo. Já para o CO em qualquer das quatro estações não há ocorrência de violação dos padrões de qualidade do ar. Os níveis de concentração de O3 na qualidade do ar, medidos em todas as estações, apresentam 3 inúmeras violações ao padrão — 160 µg/m , durante 1 hora, a não ser excedido mais de uma vez ao ano. É importante ressaltar que a localização das estações que compõem a rede da FEEMA é 275 desfavorável para a detecção de altas concentrações de ozônio, uma vez que a fonte de emissão de 46 seus precursores está muito próxima — tráfego de veículos intenso . Além dos gases, a rede de monitoramento contínuo mede as concentrações de partículas inaláveis na qualidade do ar. Embora não tenham sido observadas ultrapassagens ao padrão de curto período, no início desta década foram observadas violações ao padrão anual no Centro do Rio de Janeiro e em Nova Iguaçu. De uma maneira geral, o conjunto de resultados de concentração dos vários poluentes medidos pela FEEMA demonstra uma situação de saturação do ar para partículas totais em suspensão, quase na totalidade das áreas monitoradas da RMRJ, devendo-se ressaltar que a Baixada Fluminense já apresenta episódios agudos de poluição do ar. Também, parece claro que o setor norte da Bacia Aérea III, onde se encontra grande parte dos municípios da Baixada Fluminense, constitui uma zona crítica de poluição do ar quanto às concentrações de partículas inaláveis. Atribui-se, prioritariamente, à grande quantidade de vias não pavimentadas a maior contribuição de emissões de material particulado e, secundariamente, à ressuspensão da poeira. Todavia, o material particulado inalável tem na queima de combustível fóssil sua grande fonte de emissão. Os altos índices de concentração de ozônio indicam aumento contínuo das emissões de óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, provenientes do crescimento industrial e do aumento da frota veicular, aliado a uma maior incidência de radiação solar durante todo o ano, tornando a região propícia à formação deste poluente. Nas imediações da REDUC, no município de Duque de Caxias, a qualidade do ar é monitorada desde 2004, por meio de quatro estações automáticas sob a responsabilidade da Refinaria. Há, também, outra estação sob a responsabilidade da TERMORIO, cujo funcionamento descontínuo dos equipamentos não permite qualquer análise dos resultados. A rede de monitoramento da REDUC foi dimensionada com base em estudos de simulação do comportamento dos poluentes emitidos durante sua operação. As estações são capazes de medir, em tempo real, a concentração de todos os poluentes regulamentados pela legislação, além de hidrocarbonetos totais, metano, hidrocarbonetos não metano e BTX – benzeno, tolueno e xilenos. Tais estações estão localizadas na área de influência do Pólo Gás-químico e algumas estão aptas a medir parâmetros meteorológicos, embora haja uma estação meteorológica completa instalada no site da Refinaria. Em geral, verifica-se que os resultados das concentrações dos poluentes medidos ultrapassam ou tangenciam os padrões de qualidade do ar de longo período. Para os padrões de curto período, as violações são mais freqüentes, alcançando valores significativamente altos para as concentrações de ozônio, partículas inaláveis e hidrocarbonetos (Anexo V). 46 O ozônio é um poluente secundário, formado na atmosfera pela reação fotoquímica entre os óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos emitidos, principalmente de fontes de combustão. Para que ocorra a reação é necessário luz solar, ou seja, as maiores concentrações ocorrem a certa distancia das fontes de emissão e nos horários de maior insolação. 276 Pode-se considerar que, mesmo com um período mais reduzido de monitoramento da rede de monitoramento da REDUC, Duque de Caxias apresenta resultados de concentração de poluentes mais altos, caracterizando-a como a área de pior qualidade do ar da RMRJ. Na região enquadrada como Bacia Aérea IV, ou seja, na região de instalação do Complexo Petroquímico, a PETROBRAS vem monitorando, desde fevereiro de 2007, os seguintes parâmetros: material particulado, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e ozônio, além de terem sido instaladas algumas estações de monitoramento de parâmetros meteorológicos. Também, tem sido realizado o monitoramento de BTX, por meio do emprego de metodologia de amostragem passiva, em vários pontos da região. Embora o período de monitoramento não seja suficiente para que se possa caracterizar a qualidade do ar daquela área, algumas ocorrências já são bastante significativas e devem ser destacadas. Segundo os resultados apontados no EIA do COMPERJ, ocorreram, em apenas quatro meses, 5 (cinco) ultrapassagens ao padrão de qualidade do ar para o ozônio. Os demais poluentes não apresentaram violações aos padrões de curto período. Para o BTX, a maioria dos valores encontrados estava abaixo do limite de detecção do método utilizado, caracterizando-os como zero. Fontes Emissoras de Poluentes Atmosféricos O já citado ―Inventário de Fontes Emissoras de Poluentes Atmosféricos” definiu qualitativa e quantitativamente as fontes poluidoras do ar, possibilitando o conhecimento da natureza e extensão do problema, de acordo com a região em estudo. O levantamento abordou as emissões provenientes não só de atividades industriais (fontes fixas), como, também, de veículos automotores (fontes móveis) nas principais vias de tráfego. É importante ressaltar que o inventário de emissões não abordou as fontes naturais, tais como queimadas, desgaste do solo, erosão eólica, e nem as vias de tráfego não pavimentadas, cuja emissão de material particulado é significativa na RMRJ. No universo de fontes consideradas tem-se como principal resultado a identificação das fontes móveis como responsáveis por 77% do total de poluentes emitidos para a atmosfera e as fontes fixas por 23% (Figura 3.63). A contribuição das fontes fixas e móveis, por tipo de poluente, está apresentada no Quadro 3.62 e na Figura 3.64. Verifica-se que a maior parcela de contribuição das fontes fixas está relacionada à emissão de material particulado inalável e dióxido de enxofre. Quanto às fontes móveis, a participação de suas emissões é maior para os hidrocarbonetos e monóxido de carbono. A participação das emissões das fontes fixas em cada bacia aérea consta da Figura 3.65. Observa-se que a Bacia Aérea III concentra 58% das emissões totais provenientes das fontes fixas. A carga poluidora de dióxido de enxofre lançada representa, aproximadamente, 53% do total lançado por todas as atividades industriais da RMRJ. Para os hidrocarbonetos, alcança 95% das emissões inventariadas e, no caso dos óxidos de nitrogênio, a contribuição relativa é de 44% do total emitido. A desagregação das informações por tipologia industrial evidencia que a principal 277 47 contribuição é atribuída às atividades de refino de petróleo , responsáveis por 42 % das emissões totais, de acordo com a Figura 3.66. Figura 3.63 — Contribuição das fontes na Carga Poluidora da RMRJ Fonte: FEEMA (2004) Quadro 3.62 — Taxas de Emissão por tipo de Fonte na RMRJ (x 1000 ton/ano) Tipo de Fonte MP10 Fixas SO2 10,6 Móveis Total Fonte: FEEMA (2004) NOX CO HC 55,8 30,3 6,3 25,9 7,8 7,5 60,2 314,7 53,4 18,4 63,3 90,5 321,0 79,3 COMPARAÇÃO ENTRE AS EMISSÕES DE FONTES FIXAS x FONTES MÓVEIS TAXA DE EMISSÃO (t/ano) 325000 300000 275000 250000 225000 200000 175000 150000 125000 100000 75000 50000 25000 0 FIXA MÓVEL TIPO DE FONTE SO2 NOx CO HC total MP 10 Figura 3.64 — Emissão por Tipo de Fonte na RMRJ Fonte: FEEMA (2004) 47 Na ocasião, havia 2 refinarias de petróleo em operação na RMRJ: Manguinhos e REDUC. 278 7% 34% 1% 58% Bacia I Bacia II Bacia III Bacia IV Figura 3.65 — Participação das Emissões das Fontes Fixas por Bacias Aéreas Fonte: Pires (2005) 10% 0% 4% 42% 31% 0% 2% 1% 5% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0% 1% Química Asfalto Alimentícia Fumo Diversos Petroquímica Cerâmica Farmacêutica Vidro Refino de Petroleo Lavanderia Cimenteira Naval Metalúrgica Têxtil Papel Geração de Energia Figura 3.66 — Participação das Emissões por Tipologia Industrial Fonte: Pires (2005) Com base nas informações do Inventário, Pires (2005) distribuiu geograficamente as emissões contabilizadas na RMRJ, ressaltando duas áreas onde a densidade de emissão de SO x superava o 2 2 valor de 50 t/km .ano: a de maior densidade, acima de 500 t/km .ano, encontrava-se em Duque de Caxias, onde são realizadas atividades de refino de petróleo e atividades petroquímicas; e a outra, 2 com densidade entre 50 e 500 t/km .ano, situava-se no município do Rio de Janeiro, onde há grande concentração de atividades industriais que utilizam óleo combustível. Também, demonstrou que em Duque de Caxias ocorre a maior densidade de emissão de NO x, acima 2 de 100 t/km .ano, juntamente com parte do município do Rio de Janeiro onde predominam atividades que utilizam gás natural. A densidade de emissão de monóxido de carbono apresentou distribuição 2 semelhante a do óxido de nitrogênio, porém, com escala máxima entre 20 e 50 t/km .ano. 279 A maior densidade de emissão de hidrocarbonetos e de material particulado inalável foi observada, também, em Duque de Caxias. As Figuras 3.67 a 3.71 ilustram esses comentários. Figura 3.67 — Densidade de Emissão para o SOx na RMRJ. Fonte: Pires (2005) 280 Figura 3.68 — Densidade de Emissão para o NOx na RMRJ Fonte: Pires (2005) 281 Figura 3.69 — Densidade de Emissão para o HC na RMRJ Fonte: Pires (2005) 282 Figura 3.70 — Densidade de Emissão para o CO na RMRJ. Fonte: Pires (2005) 283 Figura 3.71 — Densidade de Emissão para MP10 na RMRJ Fonte: Pires (2005) 284 Todo esse conjunto de informações aponta, claramente, que na Bacia Aérea III a região do município de Duque de Caxias concentra a maior parcela de contribuição de emissões de poluentes atmosféricos provenientes de atividades industriais. No inventário de emissões de poluentes atmosféricos (2007), realizado com o objetivo de integrar o ―Plano de Gestão da Qualidade do Ar do Pólo Gás-Químico do Rio de Janeiro‖, demonstrou-se que as emissões atmosféricas provenientes das empresas localizadas em Campos Elíseos, Duque de Caxias, a REDUC é responsável por 76,3% das emissões de material particulado, 99,8% de SO2, 72,7% de NOx, 61% de CO e 42,4% de HC (Quadro3.63). Quadro 3.63 — Emissões de Fontes Fixas ― Pólo Gás-Químico de Duque de Caxias - 2006 Parâmetro Fonte CO (ton/ano) SOx (ton/ano) NOx (ton/ano) MP (ton/ano) HC (ton/ano) REDUC 1415,3 17306,2 5323,2 521,7 913,6 Nitriflex 0 0 0 0 386,8 Petroflex 304,4 2,2 667,2 16,6 449,7 RIOPOL 357,0 3,9 568,6 64,7 219,5 Suzano 19,7 0 3,6 13,2 23,9 Termorio 211,8 24,8 759,8 67,6 161,6 Total 2308,2 17337,3 7340,4 683,8 2155,1 % REDUC 61 99,8 72,7 76,3 42,4 Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, a partir dos dados do Plano de Gestão da Qualidade do Ar no Pólo Gás-Químico e EIA REDUC (2007) 3.2.7 Resíduos Sólidos A caracterização dos resíduos sólidos é realizada considerando-se a geração e a destinação dos resíduos urbanos, de saúde e industriais, por município, na área estratégica da presente AAE. Além disto, aborda-se o transporte de resíduos por modal rodoviário face às condições de tráfego nas principais rodovias do Estado do Rio de Janeiro. 3.2.7.1 Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) Nas áreas urbanas da região estratégica produz-se cerca de 14.000 ton./dia de lixo domiciliar e público, depositados em lixões, aterros controlados e aterros sanitários. Observa-se que uma boa parte dos moradores da região ainda dispõe seu lixo em suas propriedades, por meio de queimadas, enterramento ou vazadouro em locais indevidos. Os municípios de Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Magé ainda depositam os resíduos urbanos coletados em lixões; em Niterói e São Gonçalo operam-se aterros controlados; Itaboraí e Nova Iguaçu dispõem de aterros sanitários próprios; Rio Bonito e Tanguá usam processos de compostagem e reciclagem de resíduos urbanos; Duque de Caxias, Mesquita, Nilópolis, Rio de Janeiro e São João do Meriti utilizam um mesmo aterro controlado, o aterro metropolitano de Jardim Gramacho (Consórcio Ecologus-Agrar, FEEMA, SERLA, SEMADUR, 2005). O Quadro 3.64 sintetiza as informações referentes à gestão de resíduos sólidos domiciliares nos municípios situados na área estratégica. 285 Quadro 3.64 ― Geração Percentual de Coleta e Disposição Final do Lixo – Área Estratégica Municípios Índice de Coleta (%) Geração de Lixo (t/dia) Rio de Janeiro 98,87 9.089 Belford Roxo 88,42 375 Disposição Final Interações Conflitos CTR Gericinó Aterro de Gramacho Aterros em final de vida útil, sem alternativas para a destinação do lixo. Lixão Disposição inadequada Recebe, também, o lixo do Rio de Janeiro, Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti Aterro em final de vida útil, sem alternativas para a destinação do lixo, localizado em área de manguezal às margens da BG Disposição inadequada, localizado próximo a rodovia interestadual Duque de Caxias 88,95 750 Aterro de Gramacho Magé 84,05 130 Lixão Mesquita 98,91 95 Aterro de Gramacho Aterro em final de vida útil Nilópolis 99,00 125 Aterro de Gramacho Aterro em final de vida útil Nova Iguaçu 87,15 1.000 São João de Meriti 97,70 300 Cachoeiras de Macacu 71,44 Guapimirim Aterro Sanitário Lixão Aproveitamento do biogás Aterro de Gramacho Aterro em final de vida útil 23 Lixão Disposição inadequada 78,39 20 Aterro Controlado Disposição inadequada Rio Bonito 79,00 30 Tanguá 77,53 16 Itaboraí 60,05 110 Lixão Aterro Sanitário Niterói 96,92 750 Aterro Controlado Aterro em final de vida útil São Gonçalo 91,19 870 Aterro Controlado Aterro em final de vida útil, localizado próximo a APA Marica 71,8 81 Silva Jardim 66,4 36 Lixão Disposição inadequada Casimiro de Abreu 90,7 168 Seropédica 80,2 Usina de Reciclagem Lixão Usina de Reciclagem Lixão Disposição inadequada Redução do volume de lixo por meio do beneficiamento Beneficiamento de resíduos da construção civil (RCC) para utilização na remediação do lixão. Disposição inadequada Usina de Reciclagem Aterro Controlado Lixão Disposição inadequada 286 Municípios Índice de Coleta (%) Geração de Lixo (t/dia) Paracambi 89,6 76 Itaguaí 88,6 Queimados Japeri Disposição Final Interações Conflitos Lixão Disposição inadequada 100 Aterro controlado Disposição inadequada 86,7 53 Aterro Controlado Disposição inadequada 57,6 28 Lixão Disposição inadequada Fonte: Consórcio Ecologus-Agrar (2005) 287 3.2.7.2 Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) Os resíduos de serviços de saúde, conforme as Resoluções CONAMA 358, de 29.04.2005, e 306, de 01.12.2004, e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), compreendem os provenientes das seguintes atividades: atendimento de problemas de saúde humana e animal; laboratórios de análises clínicas e produtos de saúde; necrotérios, funerárias e serviços de embalsamento; serviços de medicina legal; drogarias e farmácias; estabelecimento de ensino e pesquisa de saúde; centro de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico ―in vitro‖; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; e serviços de tatuagem. São divididos, de acordo com as citadas Resoluções, nos seguintes grupos: GRUPO A ― resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção; Grupo B ― resíduos químicos; Grupo C ― resíduos radioativos; Grupo D ― resíduos comuns; e Grupo E ― materiais perfurocortantes ou escarificantes. Os resíduos do Grupo B são destinados aos aterros industriais de resíduos perigosos, aos incineradores de resíduos industriais e ao co-processamento em fornos de cimenteiras, devidamente licenciados, sendo analisados juntamente com os resíduos industriais. Os do Grupo C somente são assim considerados quando decorrido o tempo de decaimento radioativo dos radioisótopos presentes. Após este tempo, e comprovada a ausência de atividade radioativa, são destinados de acordo com as suas características físico-químicas para instalações de resíduos industriais. A destinação dos resíduos de serviços de saúde dos grupos A, D e E, de acordo com a legislação, deve ser feita em aterros sanitários, após prévia esterilização, ou em incineradores. Há, também, empresas especializadas na coleta e transporte desses tipos de resíduos. Não há informações precisas sobre a geração desses resíduos na região estudada, uma vez que, na maioria dos casos, são misturados com o lixo domiciliar. A International Health Care Network realizou estudo a fim de estimar a geração de resíduos de saúde em função de algumas variáveis, para diferentes regiões do mundo, obtendo os resultados apresentados nos Quadros 3.65 e 3.66. O Quadro 3.67 estabelece a geração de RSS por leito hospitalar. Para a América Latina, o estudo concluiu que a geração é de 3 kg/leito hospitalar/dia. Como este é o único dado disponível será utilizado para se fazer a estimativa de geração, conjuntamente com os dados do IBGE referentes ao número de leitos hospitalares em cada município. 288 A estimativa da geração e as principais características do manejo dos resíduos sólidos de saúde, por município, encontram-se no Quadro 3.68. Analisando-se os dados, verifica-se que a coleta é inadequada e não há pré-tratamento antes da disposição dos resíduos de saúde na maioria dos municípios, com exceção de Nova Iguaçu, cuja coleta é diferenciada e adequada. Quadro 3.65 ― Geração Diária de Resíduos de Saúde, em Estabelecimentos Hospitalares Região Geração Diária (kg/leito) América do Norte 7 – 10 Europa Ocidental 3–6 América Latina Ásia Oriental - Países de renda alta - Países de renda média Europa Oriental Países Mediterrâneos Orientais Fonte: International Health Care Network (1997) 3 2.5 – 4 1,8 – 2,2 1,4 – 2 1,3 – 3 Quadro 3.66 ― Geração Diária de Resíduos de Saúde, por Tipo de Empreendimento Gerador Geração Diária (kg/leito) Hospital universitário 4,1 – 8,7 Hospital geral 2,1 – 4,2 Hospital distrital 0,5 – 1,8 Centro de primeiros socorros Fonte: International Health Care Network (1997) 0,05 – 0,2 Quadro 3.67 ― Geração Diária por Tipo de Resíduos de Saúde Tipo de Resíduo Geração Diária (kg/leito) Químicos e farmacêuticos 0,5 Perfuro-cortantes 0,04 Embalagens combustíveis Fonte: International Health Care Network (1997) 0,5 289 Quadro 3.68 ― Geração Estimada de Resíduos Sólidos de Saúde por Município Município Rio de Janeiro Número de Estabelecimentos de Saúde Geração Estimada de RSS (kg/dia) Número de Leitos Hospitalares Interações Os estabelecimentos privados são responsáveis pela coleta e destinação. Coleta diferenciada. Conflitos Não há pré tratamento 1.595 21.103 63.309 Belford Roxo 26 189 567 Coleta inadequada Não há pré tratamento Disposição em lixão Cachoeiras de Macacu 24 68 204 Coleta e disposição inadequadas Casimiro de Abreu 15 78 234 212 949 2.847 Guapimirim 12 39 117 Itaboraí 70 364 1.092 Itaguaí 41 183 549 Japeri 12 182 546 Magé 58 451 1.353 Marica 29 104 312 Mesquita 17 0 0 Nilópolis 28 65 195 Niterói 272 2.534 7.602 Nova Iguaçu 107 1.021 3.063 Duque de Caxias Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Queima a céu aberto Coleta diferenciada. Disposição em local específico. Mistura dos resíduos na disposição Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta e disposição inadequadas Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta diferenciada. Adequada. Usina de incineração operando. Coleta diferenciada e adequada. Pré tratamento e disposição adequada. 290 Número de Estabelecimentos de Saúde Paracambi 27 1.176 3.528 Queimados 17 146 438 Rio Bonito 41 760 2.280 200 1.991 5.973 São João de Meriti 72 1.016 3.048 Seropédica 28 18 54 Silva Jardim 16 14 42 4 200 600 São Gonçalo Tanguá Número de Leitos Hospitalares Geração Estimada de RSS (kg/dia) Município Interações Conflitos Coleta e disposição inadequadas Coleta diferenciada. Usina de incineração. Local específico para disposição. Coleta diferenciada. Disposição em local específico. Usina inoperante Não há pré –tratamento Coleta inadequada Não há pré tratamento Coleta inadequada Queima a céu aberto Fonte: IBGE (2005) 291 3.2.7.3 Resíduos Industriais (RI) Os dados sobre resíduos industriais no Brasil são bastante imprecisos. A Resolução CONAMA 313, de 29.10.02, determinou que os estados realizassem inventários regionais, a fim de que se pudesse compilar os dados e construir o Inventário Nacional de Resíduos Industriais. Entretanto, a carência de dados e a falta de homogeneidade dos critérios de elaboração impediram a organização de dados confiáveis. No âmbito do Projeto de Controle de Resíduos Industriais, do PDBG/PAC (FEEMA, 2000), foram inventariadas 1169 indústrias localizadas na região hidrográfica da BG, das quais apenas 636 apresentavam dados de geração de resíduos. Em 2000, a geração de resíduos perigosos (Classe I) era de 10.075 ton./mês, aproximadamente 41% do total gerado no estado, sendo o município do Rio de Janeiro o maior gerador, com uma média de 4.000 ton./mês, seguido de Duque de Caxias, com uma geração em torno de 3.500 ton./mês. A geração de resíduos inertes e não inertes (Classe IIA e IIB) na BG era de 21.927 ton./mês, totalizando 32.002 ton./mês de resíduos na região. O total de resíduos industriais encaminhados aos vazadouros públicos era de 24.493 ton./mês. Só o Aterro Metropolitano de Gramacho recebia 16.587 ton./mês, ou 67%, inclusive oriundo de outras bacias hidrográficas como Sepetiba e Jacarepaguá. Outras informações sobre a gestão de resíduos sólidos industriais, na bacia da BG, constam do Quadro 3.69 e da Figura 3.72. Quadro 3.69 ― Inventário de Resíduos Industriais na Região da BG (ton./mês) Município Belford Roxo Cachoeiras de Macacú Duque de Caxias Guapimirim Classe II Classe I Perigoso Total A-Não Inerte 380,74 B-Inerte 65,28 323,94 769,96 - 0,03 - 0,03 3.574,17 1.474,61 4.865,52 9.914,30 - 5,00 128,32 133,32 Itaboraí 3,80 15,43 115,45 134,68 Magé 2,00 10,30 50,46 62,76 Nilópolis 0,72 0,02 2,73 3,47 12,37 42,06 201,93 256,36 1.384,27 332,31 732,09 2.468,67 - - 1,20 1,20 4.144,30 1175,68 8.955,01 14.274,98 572,75 607,55 2.684,03 3.964,33 0,05 2,04 1,54 3,63 - 130,00 5,30 135,30 10.075,16 3.860,32 18.067,51 32.002,99 Niterói Nova Iguaçu Rio Bonito Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Tanguá Total Fonte: FEEMA (2000) 292 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Rio Iguaçu Rio Sarapui C. do Cunha Rio Acari Rio Imboassu Rio Irajá Figura 3.72 ― Geração de Resíduos Industriais nas Principais Sub-Bacias da BG (%) Fonte: FEEMA (2000) 48 Pode-se identificar, também, o passivo ambiental em matéria de resíduos industriais, ou seja, a quantidade de resíduos gerados por processos industriais ora desativados ou de resíduos estocados que aguardam solução definitiva de destinação (Figura 3.73). 24.481,87 25.000 20.000 17.325 15.000 10.253 10.000 4.589 5.000 0 Toneladas 1998 destinado em 1999 destinado até jul/00 remanescente-00 17.325 10.253 4.589 24.481,87 Figura 3.73 ― Passivo Ambiental Existente na Região da BG Fonte: FEEMA (2000) 49 O levantamento do passivo ambiental referente à disposição de Bifenilas PoliCloradas (PCB), ou de materiais contaminados, indica a existência de 888.699 litros de PCB, sendo 514.293 litros em uso e 374.406 litros estocados. Para o monitoramento da movimentação de resíduos industriais por parte de gerador, transportador e receptor, utiliza-se no ERJ o Sistema de Manifesto de Resíduos (Figura 3.74). 48 A preocupação ambiental e os prejuízos que um passivo pode acarretar tem feito com que as indústrias brasileiras gastem cada vez mais com tratamento e transporte de resíduos e com a correção de problemas. A soma dos investimentos totalizou R$ 1,2 bilhão, em 2005, R$ 1,4 bilhão, em 2006, e deve chegar a R$ 1.6 bilhão, em 2007, segundo dados da Price Waterhouse Coopers (Gazeta Mercantil, 30-07-2007). 49 O inventário é realizado em cumprimento ao que determina a Deliberação CONAMA 005, de 01.06.95. 293 1000 496 352 212 596 672 382 500 0 1985-96 1997 1998 1999 jul/00 BG Figura 3.74 ― Indústrias Vinculadas ao Sistema de Manifesto de Resíduos Industriais Fonte: FEEMA (2000) O tratamento e a disposição final de resíduos industriais gerados na região da BG são realizados, em sua grande maioria, em uma das instalações alternativas existentes no próprio estado, entre as quais os aterros sanitários ou de resíduos perigosos, incineradores de resíduos industriais, fornos de clínquer licenciados para o co-processamento de resíduos, fábricas de artefatos de concreto licenciadas para a incorporação de resíduos não-perigosos e re-refino de óleo combustível. Além disto, existem diversas empresas recicladoras de plásticos e peças metálicas. Parte considerável dos resíduos industriais perigosos é disposta em outros estados, em virtude de a demanda ser maior que a capacidade das instalações existentes no Estado do Rio de Janeiro. Os principais sistemas de destinação de resíduos, identificados na BG são de recuperação e reciclagem (41%), aterros municipais de lixo urbano (32%) e co-processamento (16%) (Figura 3.75). Sistema de Destinação Estocagem Incineração Copeocessamento Recup./Reciclagem Encapsulamento Landfarming Aterro Industrial Aterro Municipal Aterro Terceiros Outros 20000 15000 10000 5000 0 Figura 3.75 ― Geração de Resíduos por Estocagem/Tratamento/Disposição (ton./mês) Fonte: FEEMA (2000) Para o recebimento, transporte e comercialização de resíduos Classe II B, existem cerca de 120 empresas com licenças ambientais em vigência. 294 Para essas empresas são encaminhados papéis, papelão, sucatas plásticas e metálicas, cartuchos de impressora, madeiras e vidros. No site da FEEMA encontra-se a lista das empresas licenciadas, contendo a descrição de suas atividades e o número de sua licença de operação. O manejo de óleo é feito por três empresas, sendo uma delas licenciada para o re-refino de óleo lubrificante usado e as demais para armazenamento e comercialização de óleos minerais e vegetais. Para pneumáticos e borracha são quatro as empresas licenciadas (FEEMA, 2007). As empresas de destinação de resíduos industriais situadas fora do Estado do Rio de Janeiro estão listadas no Quadro 3.70. Quadro 3.70 ― Destinação de Resíduos Industriais no Brasil Tecnologia Capacidade Aterros para Resíduos Classe II-A Capacidade: não há dados Aterros para Resíduos Classe I Capacidade: 4.000.000 ton. Cimenteiras licenciadas para co-processamento de resíduos Capacidade: 1.500.000 ton./ano Unidades de blendagem para co-processamento de resíduos Capacidade: 380.000 ton./ano Incineradores Capacidade: 97.000 ton./ano Região Geográfica Nordeste Sudeste Sul Nordeste Sudeste Sul Norte Nordeste Sudeste Centro Oeste Sul Nordeste Sudeste Centro Oeste Sul Norte Nordeste Sudeste Quantidades 4 23 9 2 8 6 2 5 14 5 4 1 6 1 2 2 2 8 Fonte: ABETRE (2006) As principais alternativas atuais para o tratamento e disposição de resíduos industriais são: coprocessamento em fornos de cimenteiras, incineração, reciclagem, aterro industrial e aterro sanitário. A RMRJ não possui em seus aterros municipais unidade destinada aos resíduos industriais nãoinertes (Classe IIA), sendo que muitos destes resíduos são depositados nos próprios aterros municipais, conforme dados da FEEMA. Por outro lado, vários destes aterros não operam de forma eficiente, ocasionando fontes de contaminação ambiental e de riscos à saúde humana. O co-processamento é uma das alternativas que apresenta maior oferta na região próxima às futuras instalações do COMPERJ, pois em Cantagalo, na região serrana do estado a uma distância de cerca de 130 km, existem diversas fábricas de cimento capazes de receber resíduos para tratamento. Segundo a ABETRE, a disponibilidade de oferta de co-processamento no Brasil, em 2006, era de 1.500.000 ton./ano, sendo que existem 14 cimenteiras na região sudeste. A utilização da tecnologia de co-processamento é limitada pela capacidade das unidades de preparação do ―blending‖. Existem, no ERJ 4 unidades e apenas uma delas está localizada fora da área estratégica, no município de Quissamã. A Haztec Tecnologia e Planejamento Ambiental S.A. é proprietária de duas destas unidades, uma no município de Magé e outra em Belford Roxo. A 295 Essencis Soluções Ambientais S.A. é proprietária da outra unidade, também localizada no município de Magé. A estimativa de capacidade nominal total é de 120.000 ton./ano. A incineração é outra alternativa para destinação de resíduos industriais perigosos que, por suas características, não podem ser co-processados ou dispostos em aterro. Entretanto, o custo da incineração mantém-se em níveis mais elevados do que os de co-processamento. Também, segundo a ABETRE, em 2006 a oferta de incineração no País era de 97.000 ton./ano. No ERJ existem, atualmente, dois incineradores licenciados: Tribel, no município de Belford Roxo para resíduos sólidos, líquidos e pastosos (localizada na unidade da Bayer) e a Servatis, em Resende, apenas para resíduos líquidos. Em dezembro de 2008 as atividades de incineração e preparação de ―blending‖ para co-processamento pertencente à Tribel foram incorporadas pela Haztec, que solicitou a Licença Prévia para a transferência do incinerador de Belford Roxo para Santa Cruz. No ERJ existem três plantas de tratamento de resíduos industriais por destruição térmica, sendo duas localizadas em Resende, fora da área estratégica. A outra está localizada no município de Belford Roxo e, atualmente, pertence à Haztec. A capacidade nominal total estimada para esta tecnologia é de 20.000 ton/ano. A disposição em aterro industrial é uma alternativa de destinação de resíduos aplicável àqueles que não podem ser minimizados, reutilizados, reciclados ou tratados. O único aterro industrial licenciado para a disposição de resíduos Classe I, provenientes de terceiros, pertence à Bayer S/A e há uma clara compreensão do mercado que a sua utilização para recepção de resíduos de terceiros será gradativamente diminuída, em função da recente reestruturação na área de prestação de serviços 50 ambientais . O único aterro licenciado para a disposição de resíduos industriais Classe II, dentro da área estratégica, é de propriedade da Haztec e fica localizado em Nova Iguaçu. Este aterro também recebe os resíduos sólidos urbanos deste município. O custo de destinação de resíduos em aterro é o mais baixo, se comparado às alternativas anteriores, mas devem ser observadas diversas restrições à sua utilização. A capacidade de recebimento pelos aterros industriais para resíduos perigosos no Brasil é de 4.000.000 ton., havendo 18 unidades licenciadas, segundo a ABETRE. Para resíduos Classe IIA, segundo a mesma fonte, há 36 unidades, mas sua capacidade é desconhecida. Atualmente, há a previsão de instalação, em Paracambi, de uma Central de Tratamento de Resíduos Industriais pela Essencis, compreendendo: Unidade de Blendagem de Resíduos para destinação em co-processamento, Aterro Industrial Classes IIA e IIB, Unidade de Tratamento de Efluentes Líquidos, Unidade de Biopilha e Galpão de Estocagem de Resíduos. A Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) está coordenando o Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, observando o previsto nas disposições da Lei Estadual nº. 4191/2003, que institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos, como, também, nas Leis Federais nº. 11.445/2007 e nº. 11.107/2005 e sua regulamentação pelo Decreto nº. 6.017/07. 50 A Bayer S.A. divulgou, em 2007, o término da parceria com a empresa francesa Tredi e a aquisição completa da empresa de tratamento de resíduos pela indústria alemã. Na mesma nota à imprensa, a Bayer divulgou que pretende redimensionar as atividades da Tribel, focando na destinação de seus próprios resíduos. 296 O armazenamento temporário de resíduos ocorre nos próprios geradores ou em empresas licenciadas para estocagem A maior parte das empresas licenciadas para a destinação dos resíduos pode armazená-los, temporariamente, para finalização em suas próprias instalações. Quando da geração de grandes quantidades de resíduos, deve ser avaliado o impacto referente ao armazenamento temporário, bem como a disponibilidade de instalações para fazê-lo. O transporte de resíduos é feito por rodovias federais e estaduais e vias de acesso secundárias próximas aos receptores. Normalmente, se dá em caçambas, caminhões compactadores ou em veículos de carga seca, baú, tanque, basculantes e em equipamentos do tipo ―Munck‖. Existem cerca de 110 empresas transportadoras de resíduos licenciadas no Rio de Janeiro, 25 dos quais são licenciadas para o transporte de resíduos perigosos. Em alguns casos, a própria empresa de destinação possui o transporte licenciado, sendo que para resíduos perigosos há apenas um 51 caso . As vias rodoviárias comumente utilizadas para o trânsito de veículos transportadores de resíduos são as seguintes: BR 116 (Norte) – ligação entre o Rio de Janeiro e Teresópolis, sendo utilizada para o acesso a Magé, Nova Friburgo, Norte Fluminense e adjacências; BR 116 (Sul) – ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, passando pelos municípios da Baixada Fluminense, nos quais cruza uma grande faixa residencial; BR 040 – ligação entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, passando por Petrópolis e que dá acesso direto à REDUC. Também utilizada como acesso para a BR 116 e BR 101 (Sul); BR 101 (Sul) – ligação entre a Cidade do Rio de Janeiro e o litoral de São Paulo, passando pelo pólo industrial de Itaguaí. Cruza uma grande faixa residencial do subúrbio e Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro. Também é acesso à Ponte Presidente Costa e Silva, onde não é permitido o transporte de produtos e resíduos perigosos. BR 101 (Norte) – ligação entre a Cidade do Rio de Janeiro e a região Nordeste do País, passando, dentro do estado, por Itaboraí, Macaé e Campos e pelos estados litorâneos da Região Nordeste; BR 493 – ligação entre a BR 101 (Norte) e a BR 116 (Norte), ligando Manilha a Santa Guilhermina, passando por Magé, e que dará acesso, por meio de via de penetração, ao COMPERJ; RJ 116 – Rodovia Amaral Peixoto – liga Niterói a Itaboraí e Itaboraí à Cachoeira de Macacu e que dará acesso, através de via de penetração, ao COMPERJ; RJ 144 – liga Além Paraíba a Bom Jardim, passando por Duas Barras; e RJ 152 – liga Duas Barras a Cantagalo. De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes, em 2003, foram atribuídas notas às rodovias, que foram, também, classificadas conforme indica o Quadro 3.71. A Figura 3.76 ilustra as principais estradas do Estado do Rio de Janeiro. 51 FEEMA, disponível em: www.feema.rj.gov.br, acesso em setembro de 2007. 297 Quadro 3.71 ― Qualidade das Estradas Rank Ligação 10 o Rio de Janeiro a São Paulo 39 o Brasília ao Rio de Janeiro 41 o Santos a Além Paraíba (MG) 44 o 45 o o Nota Classificação BR 116 (Sul) 92,78 Ótima BR 040 72,2 Deficiente BR 101 (Sul) 70,66 Deficiente Rio de Janeiro a Bahia BR 116 (Norte) 70,22 Deficiente Feira de Santana ao Rio de Janeiro BR 101 (Norte) 69,67 Deficiente RJ 116 69,21 Deficiente Rodovias agrupadas do Rio de Janeiro. Liga Niterói a Cachoeiras de Macacu Fonte: CNT, disponível em www.cnt.org.br 46 Rodovia Figura 3.76 ― Mapa Rodoviário da Região da BG Fonte: Google Maps (2008) O Departamento Estadual de Estrada de Rodagem do Rio de Janeiro (DER-RJ) possui dados relativos ao número de acidentes ocorridos no ano de 2006, contemplando as rodovias estaduais: na RJ 116 houve 537 acidentes, dos 5.659 registrados em rodovias estaduais, o que correspondeu a 12% do total, sendo esta rodovia a terceira em número de acidentes; na RJ 144 houve 10 acidentes e na RJ 152 foram 23; ambas tiveram porcentuais inferiores a 1%. A RJ 144 e a RJ 152 fazem a ligação com Cantagalo, no qual estão localizadas as cimenteiras do Estado do Rio de Janeiro; as duas compõem uma rota bastante utilizada para transporte de resíduos. Ambas são rodovias de pista simples que cruzam áreas residenciais. O Quadro 3.72 apresenta um sumário das condições do transporte de resíduos no estado, considerando os dados anteriores. 298 Quadro 3.72 ― Condições do Transporte de Resíduos pelas Rodovias Estaduais Estrada Relevância para o Transporte de Resíduos Via de acesso aos Municípios de Magé, Rio de Janeiro e BR 116 – Norte Cantagalo, nos quais estão localizadas empresas de destinação de resíduos Condições Conclusões Velocidade média de fluxo superior a 80 km/h; condições de fluxo livre no trecho próximo ao COMPERJ; condições deficientes. Condições favoráveis ao fluxo de veículos nas proximidades do COMPERJ e Região Metropolitana do Rio de Janeiro; condições desfavoráveis para o fluxo no sentido de Cantagalo e para fora do estado. Condições ótimas Condições favoráveis para o fluxo de veículos transportadores de resíduos. BR 116 – Sul Ligação com o Sul Fluminense e o Estado de São Paulo, nos quais existem empresas de destinação de resíduos BR 040 Via de acesso à BR 116 Norte Condições deficientes e Sul e ao Estado de Minas Gerais BR 493 Ligação entre a BR 101 – Velocidade média inferior a 60 Condições desfavoráveis ao Norte e BR 116 – Norte, km/h. Porcentagem de tempo fluxo de veículos passando por Magé e por vias em filas de 75%. transportadores de resíduos. de acesso ao COMPERJ RJ 116 Via de acesso entre Niterói (Ponte Presidente Costa e Silva) e Cachoeiras de Macacu RJ 144 Estrada com baixo índice de Estrada que liga Além Paraíba acidentes. Rodovia de pista a Duas Barras e à RJ 152, via simples e cruzando áreas de acesso a Cantagalo residenciais. Condições desfavoráveis ao fluxo de veículos transportadores de resíduos. RJ 152 Estrada que liga Duas Barras a Cantagalo Estrada com baixo índice de acidentes. Rodovia de pista simples e cruzando áreas residenciais. Condições desfavoráveis ao fluxo de veículos transportadores de resíduos. Estrada com alto índice de acidentes. Condições favoráveis para o fluxo de acesso às BR 116 – Norte e Sul. Condições desfavoráveis para o fluxo no sentido Minas Gerais. Condições desfavoráveis ao fluxo de veículos transportadores de resíduos. 299 3.3 Questões Estratégicas Após a caracterização dos aspectos relevantes relacionados aos fatores estratégicas para esta AAE, neste item identifica-se os processos ambientais e, paralelamente, seleciona-se os indicadores que servirão como base para a realização dos cenários, na próxima etapa, ao mesmo tempo em que destaca-se as questões estratégicas relacionadas a cada um dos fatores considerados (Quadro 3.73) Quadro 3.73 — Processos Ambientais e Indicadores Selecionados para cada Fator Estratégico Fatores Estratégicos Processos Ambientais Indicadores Fatores Condicionantes Logística Capacidade do sistema viário Infra-estrutura rodoferroviária e marítima Recursos Hídricos Disponibilidade de água Déficit por sistema de abastecimento urbano-industrial Fatores Ambientais Estratégicos Expansão Urbana Dinâmica Territorial e Uso do Solo Número de habitantes na área estratégica Área destinada ao uso urbano/área total dos municípios Evolução do PIB Dinâmica Econômica Receitas municipais Geração de emprego e renda IDH – Educação Empregabilidade Anos de estudo da população adulta Demanda por Saneamento Ambiental Dinâmica Social Atendimento em Saúde Carência Habitacional Garantia de Segurança Pública Dinâmica dos Ecossistemas e Diversidade Bioológica Dinâmica das Comunidades Pesqueiras Alteração da Cobertura por Fitofisionamias e Fragmentação Florestal Alteração da Biodiversidade Aquática Atividade Pesqueira na Baía da Guanabara % dos domicílios permanentes com saneamento ambiental (abastecimento de água; instalação sanitária e coleta de resíduos sólidos) Déficit de Atendimento dos Programas de Atenção Básica em Saúde Número de Internações por Incidência de Doenças de Veiculação Hídrica Déficit Habitacional Taxa de Homicídios por 100 mil habitantes/Tipo de delito Redução da cobertura e aumento da fragmentação vegetal Número de espécies da fauna aquática ameaçadas na Baía de Guanabara Número e situação de formalidade / legalidade dos pescadores Número das principais artes de pesca Áreas de exclusão e trânsito de embarcações 300 Fatores Estratégicos Processos Ambientais Lançamento de Cargas Orgânicas Qualidade da Água Lançamento de Hidrocarbonetos de Petróleo Acumulação de metais pesados nos sedimentos e bioacumulação e biomagnificação na biota Qualidade do Ar Emissão de gases (NOx e HC) Geração de Resíduos sólidos urbanos (RSU) Resíduos Sólidos Geração de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) Geração de Resíduos Industriais (RI) Indicadores Concentração de DBO na coluna d‘água(mg/l) Concentração de HPAs nos sedimentos e nos organismos aquáticos (mexilhões e caranguejos) Concentração de metais pesados nos sedimentos da BG Concentração de NOx e HC(precursores do ozônio) Geração de RSU (ton/dia) Capacidade de destinação (ton) / Geração Anual de RSU (ton) Geração de RSS (ton/dia) Capacidade de Destinação (ton) / Geração anual de RSS (ton) Geração de resíduos perigosos e não perigosos (ton/mês) Capacidade de controle e destinação de resíduos industriais 3.3.1 Fatores Condicionantes do Desenvolvimento 3.3.1.1 Logística As rodovias de múltiplas faixas da região estratégica, numa classificação que varia de A a F (de melhor a pior),apresentam: BR-116 - Rodovia Presidente Dutra, que liga Duque de CaxiasMagé-Guapimirim, nível A ou B, dependendo do trecho; RJ-104, que liga Niterói-São GonçaloItaboraí, nível B; e a BR-101, no trecho que liga Niterói-Itaboraí-Rio Bonito, nível B/C. Outras importantes vias de acesso que apresentam condições de congestionamento, lentidão e insegurança mais acentuadas, sem classificação formal, são a Ponte Rio –Niterói, com restrição legal para veículos de carga entre 22 e 4 horas, e a Avenida Brasil, chegando em alguns períodos do dia à saturação da capacidade, bem como acontece em trechos da BR 116. As rodovias de pista simples como a RJ-122, que liga Guapimirim-Cachoeiras de Macacu, tem nível C; a BR-493, Rio–Magé, antiga Rodovia do Contorno que liga Magé-Itaboraí, está no nível E; e a RJ-116, com nível E, liga Cachoeiras de Macacu-Itaboraí. Nessas condições, a malha rodoviária existente não absorverá eficientemente todo o aumento no volume de veículos previstos com a instalação do complexo e das indústrias por ele incentivadas. A malha ferroviária, operada pela CENTRAL, no trecho Saracuruna–Magé–Guapimirim, necessita de investimentos para reparação da via permanente e um maior número de trens ou vagões e recuperação das estações. Já o trecho Magé-Itaboraí é utilizado, exclusivamente, para o transporte de carga pela Concessionária FCA; e o trecho Niterói-Itaboraí está inutilizado. O serviço de transporte aquaviário de passageiros, operado pela BARCAS S.A, atendendo aos trechos Rio-Niteroi (complementa a opção rodoviária entre as cidades de Rio de Janeiro e Itaboraí), Rio-Charitas, Rio-Cocotá, Rio-Paquetá com qualidade considerada insatisfatória. A construção de um terminal em São Gonçalo está em fase de identificação de área adequada. 301 O Porto de Itaguaí, com infra-estrutura logística industrial e tecnologia em telecomunicações e suprimento, acessos multimodais e facilidades de transportes, tem acesso rodoviário para movimentação de cargas com a BR-101 (Rio- Santos), a BR-465 (antiga Rio-São Paulo), a BR116 (Rodovia Presidente Dutra), a BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e as rodovias estaduais RJ-099 (Piranema) e a RJ-105 (Estrada de Madureira). E como acesso ferroviário: ramal de JaperiBrisamar, operado pela empresa MRS. Há um projeto estratégico de ampliação para atender, dentre outros, os novos projetos da PETROBRAS (Pré-Sal e COMPERJ). O Porto do Rio de Janeiro, que movimenta cargas conteinerizadas e outras, tem acesso terrestre pelas rodovias federais BR-101 (Rio-Santos), BR-116 (Presidente Dutra), BR-040 (RioJuiz de Fora) e BR-465 (antiga Rio-São Paulo) e as rodovias estaduais RJ-099 e RJ-105, através da Av. Brasil e acesso ferroviário pelas malhas da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), MRSLogística e Campos (FCA). O Porto de Niterói movimenta especialmente carga geral e tem acesso terrestre pela BR-101 e com ligações diretas com a Ponte Rio - Niterói e a com a Rodovia Amaral Peixoto e acesso ferroviário pelo ramal Niterói-Itaboraí (não utilizado atualmente). Previsão de ampliar os portos em geral, especialmente na Baía de Sepetiba, com nove projetos para portos/terminais e, destes, seis foram aprovados, estando em implantação o Terminal Portuário Centro Atlântico e o Porto do Açu. 3.3.1.2 Recursos Hídricos De acordo com o Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH), o balanço hídrico representado pelo confronto entre as ofertas hídricas nos pontos de captação e as demandas hídricas para abastecimento das populações urbanas mostraram que já apresentavam déficit, em 2005, caso fosse respeitada a exigência de manter a vazão ecológica (Quadro 3.74). Esses resultados evidenciam a necessidade de medidas de racionalização do uso da água buscando reduzir o crescimento da demanda (combate ao desperdício e perdas, além do reuso da água) e aumentando a disponibilidade hídrica dos sistemas existentes. Quadro 3.74 — Déficits nos Sistemas de Abastecimento - 2005 Manancial Situação Atual 3 Déficit em 2005 (m /s) Rio Guandu - 0,255 Barragem do Saracuruna -0,003 Rio Saracuruna -0,309 Canal do Imunana -3,376 Fonte: PDRH (2005) 302 3.3.2 Fatores Ambientais Estratégicos 3.3.2.1 Dinâmica Territorial e Econômica e Uso do Solo A visualização dos vetores de crescimento urbano que atuaram sobre a área estratégica encontra-se representada na Figura 3.77 que reflete as ―manchas‖ urbanas no período (1990-2005), que coincidem com os vetores que compuseram a rede logística de transporte rodoviário, quais sejam: E) vetor BR 101 sentido Região Sul, mais especificamente seu trecho conhecido como Rio Santos; F) BR 116 (Rodovia Presidente Dutra ou Rio-São Paulo), que aponta na direção do Vale do Paraíba (fluminense e paulista) e da Região Metropolitana de São Paulo; G) BR 040 (Rodovia Washington Luis, mais conhecida como Rio-Petrópolis), integrado pela BR-116 (no trecho mais conhecido como Rio-Teresópolis), que aponta na direção da Região Serrana e os Estados de Minas Gerais e Bahia; H) BR 101 sentido Região Nordeste, integrado também pela Ponte Costa e Silva (mais conhecida como Ponte Rio – Niterói), que aponta na direção dos municípios que compõem a Região das Baixadas Litorâneas, a Região Norte Fluminense, o Estado do Espírito Santo e, mais adiante, Região Nordeste. Observa-se que o efeito do COMPERJ, a leste, e o Pólo Mínero-Siderúrgico-Portuário, a oeste, devem reforçar diretamente a expansão da mancha urbana na direção dos vetores ―A‖ e ―D‖. Contudo, o Arco Rodoviário Metropolitano, em especial, deverá reforçar a ocupação dos ―vazios urbanos‖ da metrópole. O Arco será, certamente, o elemento efetivamente novo deste conjunto, pois os demais tendem a reproduzir, embora de forma ampliada, os efeitos concêntricos produzidos por outras atividades já instaladas na região. Essa é uma primeira visão analítica em relação ao potencial impacto dos empreendimentos a serem implantados na área estratégica e, conseqüentemente, da capacidade de provocar mudanças nos processos de regionalização e polarização sobre esses vetores históricos, alterando a dinâmica territorial, o uso e ocupação do solo da região e, portanto, a dinâmica demográfica e social. Essa constatação levou a proposta de setorização como apresentada no Quadro 3.75 e na Figura 3.78. Por outro lado, a expansão urbana no entorno Metropolitano do Rio de Janeiro foi mapeada a partir dos levantamentos realizados, tendo como referência os anos de 1990, 2000 e 2005. Essa sobreposição teve como objetivo especular sobre a expansão da área metropolitana ou das manchas urbanas dos municípios que compõem a área estratégica (Figura 3.79). A contextualização da área estratégica, que servirá de base para a análise do processo de requalificação por que atravessa esse espaço geográfico se inicia pela análise da evolução histórica das pressões exercidas pelas atividades humanas sobre os territórios e recursos ambientais disponíveis nos territórios dos municípios – setores – área estratégica. 303 (A) BR 101 Sul – Litoral Sul e Santos/SP (C) BR 040 – Região Serrana e Juiz de Fora/MG (B) BR 116 – Vale do Paraíba e RMS (D) BR 101 Norte – Região dos Lagos, Norte Fluminense e Vitória/ES Figura 3.77 — Vetores de Crescimento Urbano 304 Quadro 3.75 — Vetores de Pressão Determinantes da Setorização Setores Vetores de Pressão Determinantes da Setorização Municípios Oeste Metropolitano Itaguaí, Seropédica, Japeri, Paracambi, Queimados Pólo Siderúrgico Ampliação do Porto de Itaguaí Duplicação da MRS Logística Arco Metropolitano Núcleo Metropolitano Rio de Janeiro Pólo Siderúrgico Baixada Fluminense Nilópolis, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita PLANGAS + GNL Ampliação da REDUC Consolidação do Pólo Gasquímico Arco Metropolitano (Porto Itaguaí) Leste Metropolitano São Gonçalo, Itaboraí, Magé, Guapimirim, Tanguá, Cachoeiras de Macacu COMPERJ Arco Metropolitano (Porto Itaguaí) Litoral Atlântico Niterói, Maricá COMPERJ Conexão Cabiúnas Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio Bonito PLANGAS Figura 3.78 — Setores / Municípios Considerados 305 Figura 3.79 — Entorno Metropolitano, Expansão da Área Urbana – 1990/2005 306 Com esse objetivo foram considerados três indicadores procurando retratar-sintetizar a evolução histórica dessas pressões ao longo do período de tempo analisado (1990-2005). Auxiliam a identificação dos casos em que as variações se deram de forma mais ―brusca‖, ou seja, onde maior tende a ser a demanda por uma capacidade de resposta mais rápida por parte dos governos locais. A consideração desses três indicadores aponta para um quadro no qual desponta particularidades e traços comuns que ajudam a compor o perfil dos municípios e setores metropolitanos. Essas particularidades e traços comuns permitirão apontar tendências a serem consideradas na definição de estratégias de ação: Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) como indicador de dinamismo econômico, com base no qual se procura identificar os setores de atividade que mais crescem em cada um dos municípios (e grupos destes), entendendo-se que essas atividades expandidas representam Pressões que podem contribuir para: atrair de fluxos migratórios; determinar a expansão física das áreas urbanizadas (com reflexos sobre a cobertura vegetal remanescente); e elevar o potencial poluidor-degradador do ambiente. Crescimento Populacional (POP) como indicador de dinamismo demográfico, por meio do qual se procura perceber o crescimento da atratividade dos municípios (não necessariamente associada ao crescimento do seu PIB), assim como da demanda por serviços ambientais básicos em cada um deles; e Evolução do Uso do Solo (USO) como indicador de dinamismo territorial seja pelo lado da parcela do território já ocupada por usos urbanos ou das áreas antropizadas não urbanas que podem acomodar novas atividades econômicas, contingentes populacionais e, portanto, expansão urbana. O Quadro 3.76 sintetiza os ―valores‖ assumidos pelos indicadores para o caso dos municípios, permitindo posteriores especulações sobre tendências verificadas no plano dos setores definidos a partir de duas premissas. A primeira é de que quanto maior tenham sido as taxas de crescimento do PIB e da POP maior teriam sido as pressões antrópicas exercidas pela expansão urbana sobre os recursos ambientais dos diferentes municípios. Essa premissa levou ao estabelecimento de três faixas de variação e à associação das mesmas a ―pesos‖ de valor positivo que representam as pressões que o dinamismo econômico-demográfico impôs aos recursos ambientais, principalmente sobre os remanescentes de cobertura vegetal em bom estado de conservação, variando de [+1] 52 (baixo) a [+3] (alto) . A segunda premissa deriva da conclusão que a transformação de uso do solo na área metropolitana obedece a um padrão segundo o qual a expansão urbana tem-se dado, no período analisado, sobre áreas antes ocupadas por usos antrópicos não urbanos. Nessa direção, quanto maior forem as áreas correspondentes ao uso antrópico não urbano — formando assim um ―estoque de terrenos para a expansão urbana‖ — maior será a capacidade de um dado município acomodar incrementos de dinamismo econômico, demográfico e, portanto, territorial-urbano. Essa premissa resultou, também, 52 No caso do POP, as faixas ficaram assim estabelecidas: (+1) de –0,35 a 1,25; (+2) de 1,26 a 2,86; (+3) de 2,87 a 4,38. No caso do PIB, as faixas são: (+1) de –2,0 a 4,2; (+2) de 4,3 a 10,5; (+3) 10,6 a 16,6. 307 no estabelecimento de três faixas de variação e à associação das mesmas a ―pesos‖ de valor negativo já que representam ―reservas‖ capazes de atenuar pressões que o dinamismo econômicodemográfico poderá exercer sobre os recursos ambientais, notadamente dos remanescentes de cobertura vegetal, variando de [-1] que indica uma baixa capacidade de acomodação de pressões 53 antrópicas a [-3] que indica uma alta capacidade de acomodação de pressões antrópicas . A avaliação da situação dos municípios e setores se fez a partir da soma dos ―pesos‖ positivos relativos aos indicadores de PIB e POP que forneceram um balanço das pressões antrópicas (BPA) exercidas ao longo do período. Esse resultado (BPA) foi então subtraído da capacidade de acomodar pressões (ver coluna ―campos antrópicos‖) resultando assim um balanço final (BF) a partir do qual foram qualificados os municípios. Essa qualificação aparece sob a forma de cores (vermelho, amarelo e verde) que representam os níveis de criticidade associados a cada município. Quadro 3.76 — Síntese dos Indicadores por Municípios e Setores Metropolitanos USO (Campos Pressões Antrópicas (BF) PIB (2005/2000) POP (2005/1991) Oeste Metropolitano Itaguaí Seropédica Japeri Paracambi Queimados 10,1 (2) (-) 0,8 (1) 6,4 (2) 3,1 (1) 1,3 (1) 2,98 (2) 2,29 (2) 2,44 (2) 1,22 (1) 2,21 (2) 4 3 4 2 3 57,22 (-2) 94,24 (-3) 83,55 (-3) 46,0 (-2) 68,85 (-3) 2 0 1 0 0 Núcleo Metropolitano Rio de Janeiro (-) 2,0 (1) 0,77 (1) 2 29,09 (-1) 1 (*) 1,9 (1) 2,8 (1) (-) 0,7 (1) 11,8 (3) 12,6 (3) (-) 0,7 (1) 5,0 (2) 3,4 (1) 2,6 (1) 1,70(2) (-) 0,35 (1) 1,93 (2) 0,63 (1) 1,98 (2) 1,63 (2) 1,47 (2) 2,94 (3) 2,37 (2) 3,00 (3) 1,28 (2) 2,04 (2) 0,61 (1) 4,38 (3) 1,75 (2) 3,43 (3) 1,12 (1) 2 3 2 5 5 3 5 3 4 2 4 2 5 3 5 4 20,70(-1) 49,70 (-2) 44,61 (-2) 0,65 (-1) 26,62 (-1) 39,16 (-2) 37,40 (-2) 71,95 (-3) 45,28 (-2) 55,22 (-2) 70,86 (-3) 42,8 (-2) 13,91 (-1) 42,47 (-2) 55,4 (-2) 65,8 (-3) 68,6 (-3) 1 0 1 1 4 3 1 2 1 2 -1 2 1 3 1 2 1 Setores Municípios * Baixada Fluminense Leste Metropolitano Litoral Atlântico Conexão Cabiúnas Mesquita Nilópolis Nova Iguaçu S. J. Meriti Belford Roxo Duque de Caxias São Gonçalo Itaboraí Magé Guapimirim Tanguá Cach. de Macacu Niterói Maricá Silva Jardim Casimiro de Abreu Rio Bonito 9,3 (2) 2,8 (1) 4,8 (2) 3,1 (1) 7,3 (2) 16,6 (3) Nota: BPA – Balanço das Pressões Antrópicas; BF – Balanço Final (*) Incluído em Nova Iguaçú Legenda: Alto Médio Baixo Critica Média (6-5) (4-3) (2-1) (4-3) (2-1) BPA Antrópicos) Baixa (-1-0) Considerando-se o BPA, que reflete o balanço da pressão antrópica em cada município e setor metropolitano, as seguintes leituras estratégicas se apresentam como indicativos para a projeção de cenários futuros: 53 No caso da disponibilidade de áreas dedicadas a usos antrópicos não urbanos as faixas ficaram assim estabelecidas: (-1) de 0,65 a 31,85; (-2) de 31,86 a 63,06; (-3) de 63,07 a 94,27. 308 no setor Oeste Metropolitano destacam-se os municípios de Itaguaí e Japeri nos quais tanto a expansão do PIB, como da POP, se situou numa faixa média. No caso de Itaguaí, as indicações são de que a concessão do porto de Itaguaí, assim como sua modernização e expansão, são razões explicadoras dos resultados verificados. É de se supor que essa tendência venha a ser acentuada com a chegada de novos investimentos produtivos e infra-estruturais como, por exemplo, a CSA e o Arco Rodoviário Metropolitano; o Núcleo Metropolitano não comportou incrementos significativos das pressões antrópicas, já que as taxas de expansão verificadas foram: negativa para o PIB e muito baixa para a POP. Visando o futuro próximo, é difícil dizer em que medida essa tendência recente do Município do Rio de Janeiro será modificada pelos novos vetores considerados no presente trabalho; na Baixada Fluminense as variações verificadas no período analisado indicam que as pressões antrópicas cresceram, acentuadamente, nos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, sobretudo por conta da evolução dos seus respectivos PIB, resultado certamente influenciado pela presença de atividades vinculadas ao processamento de óleo e gás natural. É de se supor que essa tendência recente deverá ser potencializada pelos investimentos envolvendo a ampliação da REDUC e implantação do PLANGAS e do Arco Rodoviário Metropolitano; no Setor Leste Metropolitano destacam-se os municípios de Itaboraí e Guapimirim. Tendo em vista o período analisado (1990/2005) fica claro que o COMPERJ (ou os outros novos vetores, como o Arco Rodoviário) não pode ser considerado fator de indução desses resultados. Os dados analisados indicam que esses municípios já vêm apresentando uma tendência de crescimento do seu dinamismo econômico-demográfico e, portanto, das pressões sobre o ambiente desde a década passada. Nesse setor chamam ainda atenção os municípios de São Gonçalo e Magé, especialmente pelo crescimento populacional verificado no período analisado. Contudo, as projeções certamente indicarão o aprofundamento desse dinamismo, face aos investimentos, direta e indiretamente, associados à implantação e operação do COMPERJ, de outros empreendimentos, notadamente, o Arco Rodoviário e a petroquímica de terceira geração; no Setor Litoral Atlântico destaca-se o caso do município de Maricá que cresce de forma significativa — muito acima da média dos demais municípios metropolitanos — tanto em termos de PIB como POP. Essa é outra tendência a ser anotada já que se especula sobre uma conexão que tende a se estabelecer entre os efeitos derivados do COMPERJ, do Arco Metropolitano e da expansão da infra-estrutura turística nesse município; e no Setor Conexão Cabiúnas todos os municípios mostram um crescente dinamismo, ainda que do ponto de vista econômico esse crescimento esteja muitas vezes ligado aos gastos do setor público. Contudo, no caso de Casimiro de Abreu há evidências de que as pressões antrópicas estão crescendo mais que na média dos municípios da região, haja vista a taxa de crescimento populacional (3,43% a.a.) muito acima da média do Estado ou da região metropolitana. Contudo, é de se esperar que nesse setor metropolitano os investimentos considerados produzam menos efeitos, já que seus impactos tendem a se direcionar mais especificamente na direção oposta — ou, grosso modo, das Baixadas Fluminense e de Sepetiba. O desempenho dos indicadores de pressão verificados ao longo desses quinze anos (1990/2005) sugerem que as atenções voltadas para a construção de cenários futuros de uso do solo e dinâmica territorial estejam voltadas para grupos de municípios classificados segundo o grau de dinamismo territorial e, por extensão, o nível de pressão exercida sobre os recursos ambientais neles 309 disponíveis. Os grupos de municípios (de 1 a 4) sugerem ritmos de crescimento das pressões antrópicas, o que sugere, portanto, níveis de prioridade-cuidados diferenciados: Grupo 1: Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaboraí, Maricá, Mesquita e Casimiro de Abreu; Grupo 2: Itaguaí, Japeri, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito; Grupo 3: Seropédica, Queimados, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Magé e Silva Jardim; Grupo 4: Paracambi, Rio de Janeiro, Nilópolis, São João de Meriti, Tanguá e Niterói. Agregando-se a essa análise o BPA, que reflete o indicador de capacidade de acomodação das pressões antrópicas verificadas em cada município, percebe-se que a disponibilidade de amplas áreas hoje dominadas por campos antropizados — ou seja, dedicados ao ―uso antrópico não urbano‖ — tende a dar conta das pressões associadas aos incrementos do dinamismo econômico e demográfico que possam ocorrer em vários municípios. Permanece, entretanto, uma indicação de alerta e prioridade no caso dos seguintes municípios: Nível de Atenção 1: Belford Roxo; Nível de Atenção 2: Duque de Caxias e Maricá; Nível de Atenção 3: Itaguaí, Itaboraí, Guapimirim, Cachoeira de Macacu e Casimiro de Abreu. Por último, foram confrontados os resultados expressos na coluna BF com o percentual de área correspondente a cobertura vegetal em bom estado de conservação (Quadro 3.77). Esses percentuais de área incluem outros espaços além daqueles protegidos por legislação específica (APP e UC), o que permite visualizar o ―montante‖ de recursos potencialmente exposto às pressões antrópicas. O sentido desse confronto é, portanto, o de permitir a visualização do balanço entre, por um lado, as pressões antrópicas e a capacidade de acomodá-las e, por outro, a cobertura vegetal exposta em cada município. O tratamento dado ao indicador da importância relativa dos remanescentes de vegetação em cada município foi semelhante àquele adotado no caso dos indicadores de pressão e capacidade de acomodação. Foram igualmente estabelecidas três faixas de variação às quais foram associadas cores indicando as seguintes situações: a proporção de cobertura vegetal foi considerada como Alta (verde escuro) naqueles municípios em que a área correspondente é superior a 37,63% do seu território; a proporção de cobertura vegetal foi considerada como Média (verde) naqueles municípios em que a área correspondente é superior a 18,82% e inferior a 37,62% do seu território; e a proporção de cobertura vegetal foi considerada Baixa (verde claro) naqueles municípios em que a área correspondente é inferior a 18,81% do seu território. Convém assinalar que, à exceção de São Gonçalo e Itaboraí, nos setores a leste da área de estratégica (Leste Metropolitano, Litoral Atlântico e Conexão Cabiúnas), todos os demais municípios abrigam significativos remanescentes de cobertura vegetal. A propósito, vale lembrar que, apesar de formar parte de uma louvável estratégia de gestão ambiental desses remanescentes, a sua 310 transformação em Unidades de Conservação tem redundado, muitas vezes, em resultados muito pouco efetivos. Quadro 3.77 — Pressões Antrópicas/Capacidade de Acomodação e Vegetação Exposta Pressões Antrópicas (PIB-POP-USO) Cobertura Vegetal (2005) Cob. Veg./ Área Total Itaguaí Médio Média Seropédica Baixo Baixa Japeri Médio Baixa Paracambi Baixo Alta Queimados Baixo Baixa Rio de Janeiro Médio Média Mesquita Médio Alta Nilópolis Baixo Baixa Nova Iguaçu Médio Alta S. J. Meriti Médio Baixa Belford Roxo Crítico Baixa Duque de Caxias Crítico Média São Gonçalo Médio Baixa Itaboraí Médio Baixa Magé Médio Alta Guapimirim Médio Alta Tanguá Baixo Média Cachoeiras de Macacu Médio Alta Niterói Médio Média Marica Crítico Média Silva Jardim Médio Alta Casimiro de Abreu Médio Média Rio Bonito Médio Média Setores da Área estratégica Oeste Metropolitano Núcleo Metropolitano Baixada Fluminense Leste Metropolitano Litoral Atlântico Conexão Cabiúnas Municípios Novos Vetores de Pressão Pólo Siderúrgico Ampliação Porto Itaguaí Duplicação da MRS Logística Arco Metropolitano Pólo Siderúrgico Ampliação REDUC PLANGAS Consolidação Pólo Gasquímico Arco Metropolitano (Porto Itaguaí) COMPERJ Arco Metropolitano (Porto Itaguaí) COMPERJ PLANGAS Legenda: Critica Média Baixa Alta Média Baixa O confronto das tendências históricas de pressões antrópicas sobre o ambiente, especialmente sobre os remanescentes de vegetação exposta às mesmas resultou na indicação de três grupamentos de municípios (Quadro 3.78): 1. subconjunto formado por municípios com histórico Médio de pressões combinado com remanescentes vegetais em proporções Médias (áreas na faixa de 18,82% a 37,62% do território do município): Duque de Caxias e Maricá 2. subconjunto formado por municípios com histórico Médio Baixo de pressões antrópicas combinado com remanescentes vegetais em proporções Altas (áreas situadas acima de 37,62% do território do município): Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu e Guapimirim; 3. subconjunto unitário formado por Itaguaí que apresenta um histórico Médio Baixo de pressões antrópicas combinado com remanescentes vegetais em proporções Médias (áreas na faixa de 18,82% a 37,62% do território do município). 311 Quadro 3.78 — Referências para a Construção de Cenários de Expansão Urbana Pressões Antrópicas: Tendência Recente (1990/2005) Proporção da Cobertura Vegetal Exposta (2005) Alta Critico Média Baixa Duque de Caxias, Maricá Belford Roxo Médio Nova Iguaçu, Mesquita, Magé, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim Itaguaí, Rio de Janeiro, Niterói, Casimiro de Abreu, Rio Bonito Japeri, São João de Meriti, São Gonçalo, Itaboraí Baixo Paracambi Tanguá Seropédica, Queimados, Nilópolis Considerando o uso e cobertura do solo, tendo como referência o território de cada município, podese extrair algumas observações importantes: alguns municípios como Belford Roxo e São João de Meriti têm grande parte do seu território dedicado ao uso urbano, especialmente o segundo. Nesse caso, o percentual do território ocupado pelo uso urbano alcança 99,3% o que significa que ele não tem mais como crescer a não ser adensando, ou seja, verticalizando; a análise dos municípios na perspectiva das suas respectivas áreas antropizadas, considerando54 se o padrão de dinâmica territorial identificado, ou seja : verifica-se que Seropédica, Japeri, Queimados, Itaboraí, Tanguá, Casimiro de Abreu e Rio Bonito são aqueles que possuem percentuais elevados (>60%) de seus territórios constituídos por áreas antropizadas, ou seja, áreas que tendem e poderiam comportar a expansão urbana, sem colocar em risco áreas que abriguem remanescentes vegetais; e analisando-se o conjunto de municípios na perspectiva das respectivas áreas com cobertura vegetal (protegida ou não) é possível identificar um terceiro grupo formado por unidades territoriais que ainda possuem áreas significativas (>40%) que devem ser protegidas (ou cuja proteção deve ser reforçada). Nesse grupo, estão incluídos os municípios de Paracambi, Magé, Guapimirim, Cachoeira de Macacu e Silva Jardim. Contudo, analisando-se o uso e cobertura do solo, tendo como referência o território da área estratégica como um todo, pode-se extrair outras observações importantes: apenas seis de um total de 23 municípios abrigam 65,3% do total da área ocupada por cobertura vegetal (protegida ou não): Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Magé, Cachoeira de Macacu e Silva Jardim; e por sua vez, o Rio de Janeiro compreende 41,3% de toda a área urbana da área estratégica. Combinando-se os resultados da análise desses dois aspectos, tem-se o seguinte quadro: cinco municípios possuem áreas já antropizadas (mas não urbanizadas) que poderiam comportar confortavelmente a expansão urbana: Seropédica, Itaboraí, Tanguá, Casimiro de Abreu e Rio Bonito; 54 Há estreita relação entre substituição de áreas de uso antrópico não urbanos por áreas de usos urbanos. Da mesma forma, é possível verificar que os usos antrópicos não urbanos na região têm interações entre si como, por exemplo, áreas de agricultura/pastagem que, uma vez abandonados, se transformam em campos antrópicos. 312 seis municípios possuem áreas de cobertura vegetal que podem ser consideradas estratégicas e, portanto, deveriam ser protegidas (ou ter sua proteção reforçada): Cachoeira de Macacu, Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Silva Jardim; e dois municípios estão próximos da condição de saturação, ou seja, têm pouco espaço para crescerem suas áreas urbanas: Belford Roxo e São João de Meriti. 3.3.2.2 Dinâmica Social A Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresenta um expressivo e histórico déficit social, . identificado pela existência de amplos segmentos sociais sem acesso à infra-estrutura e serviços de qualidade, com muitas carências para a sobrevivência na sociedade contemporânea. Uma síntese dessa situação é apresentada no Quadro 3.79. O setor Oeste Metropolitano é o que apresenta mais índices ‗críticos‘, especialmente Japeri (empregabilidade, saneamento básico e saúde), Queimados (saneamento básico e saúde) e Itaguaí (taxa de homicídio). O município do Rio de Janeiro (Núcleo Metropolitano) apresentou dados satisfatórios em quase todos os indicadores analisados, com exceção de programas de saúde, com situação ‗crítica‘, seguido pelo déficit habitacional e taxa de homicídios, com classificação ‘intermediária‘. Todos os municípios da Baixada Fluminense apresentaram níveis ‗críticos‘ de pessoas atendidas por programa de saúde, com exceção de Nilópolis e Belford Roxo (‗ruim‘). No entanto, este último foi o que apresentou a pior taxa de déficit habitacional. Do Leste Metropolitano, Tanguá e Cachoeiras de Macacu têm os piores níveis entre os demais municípios na questão de estudo e empregabilidade. Já Cachoeiras de Macacu apresentou melhores índices de domicílios com banheiro e água encanada e taxa de homicídio (‗bom‘), enquanto Itaboraí apresenta os piores índices de coleta de lixo e déficit habitacional, além de ter a única classificação ‗ruim‘ de taxa de homicídio deste setor. São Gonçalo se destaca como o melhor município em termos sociais desta sub-região, sem apresentar nenhuma situação ‗crítica‘, mas pode melhorar na questão de atendimento pelos Programas de Saúde. Dos dois municípios do Litoral Atlântico, Niterói tem indicadores bem mais satisfatórios que Maricá, que apesar de apresentar bons níveis de educação e poucas internações por doenças de veiculação hídrica, deixou a desejar em taxa de homicídio e serviço de coleta de lixo (‗crítico‘). 313 Quadro 3.79 — Análise Integrada dos Indicadores Sociais Empregabilidade Setores Municípios Oeste Metropolitano Itaguaí Seropédica Japeri Paracambi Queimados Núcleo Metropolitano Rio de Janeiro Baixada Fluminense Leste Metropolitano Litoral Atlântico Conexão Cabiúnas IDH Educação Anos Estudo População Adulta Saneamento Domicílios com Água Encanada e Instalações Sanitárias Coleta de Lixo Saúde Programas Saúde Doenças Veiculação Hídrica Moradia Segurança Pública Déficit Habitacional Taxa de Homicídios Mesquita Nilópolis Nova Iguaçu S. J. Meriti Belford Roxo Duque de Caxias São Gonçalo Itaboraí Magé Guapimirim Tanguá Cach. de Macacu Niterói Maricá Silva Jardim Casimiro de Abreu Rio Bonito Legenda: Critica Ruim Intermediária Boa Ótima 314 No setor Conexão Cabiúnas, Silva Jardim tem apenas como melhor índice as pessoas atendidas pelos programas de saúde (‗ótimo‘), pois quatro indicadores estão no nível ‗crítico‘: IDHEducação, empregabilidade, domicílios com banheiro e água encanada e déficit habitacional, o pior desempenho desta sub-região. Casimiro de Abreu, por sua vez, se destaca por ter apenas a questão de habitação como ‗crítica‘ e pela situação ‗ótima‘ em saneamento ambiental e pela menor taxa de homicídio, juntamente com Rio Bonito. Dentre os dados gerais analisados da área estratégica, a questão da saúde (programas de saúde e doenças por veiculação hídrica) foi a que apresentou os piores índices (7 em situação ‗crítica‘, 6 em situação ‗ruim‘ e 13 ‗intermediários‘). Sendo assim, dos 23 municípios apresentados, o município de Japeri (1º lugar), apesar de um ter um melhor índice na questão de déficit habitacional, é o que mais necessita de atenção com relação às questões sociais analisadas, apresentando 4 índices ‗críticos‘ e 3 ‗ruins‘. Silva Jardim (2º lugar), apesar de um índice ‗ótimo‘ em programas de saúde e um ‗bom‘ em internações por doenças de veiculação hídrica vem na segunda posição menos favorável, com 4 índices ‗críticos‘, seguido por Tanguá e Queimados (ambos com 3 índices ‘críticos‘) (3º lugar). 3.3.2.3 Dinâmica dos Ecossistemas e Diversidade Biológica A área estratégica concentra ecossistemas que contêm um dos maiores índices de biodiversidade da Mata Atlântica, mas, igualmente, áreas com as mais elevadas densidades demográficas do país. Esta peculiar situação gera conflitos que envolvem o uso predominantemente urbano-industrial e a conservação ambiental, os quais se manifestam pela expansão e adensamento da malha urbana em direção aos últimos remanescentes florestais, que resguardam a rica biodiversidade regional. Claramente perceptível, a vocação urbano-industrial da área estratégica vem se consolidando através do preenchimento paulatino de vazios demográficos em contraposição às áreas verdes nativas, que, progressivamente, tornam-se menores e mais esfaceladas no espaço. A expansão da malha urbana encontra restrições apenas nos contrafortes da região serrana central do Estado, nos maciços próximos a linha da costa, nas áreas paludosas no entorno da Baía da Guanabara e no oeste do município do Rio de Janeiro, onde estão situados os mais expressivos remanescentes florestais e as UC de uso sustentável e proteção integral. Dessa forma, as florestas, restingas e mangues estão localizados em regiões onde obstáculos de natureza física impuseram limites à expansão das atividades econômicas ou onde estas se estagnaram em decorrência de realidades socioeconômicas e políticas desfavoráveis (p.ex. êxodo rural, abandono de áreas agrícolas e política ambiental), permitindo que a vegetação nativa se regenerasse. É neste cenário que se inserem os empreendimentos PETROBRAS, bem como outros empreendimentos estruturantes da economia regional, entre os quais o Arco Rodoviário Metropolitano, que deverão caracterizar e nortear a dinâmica de crescimento econômico associado ao Estado, em particular os municípios dos setores Oeste Metropolitano, Baixada Fluminense, Litoral Atlântico, Núcleo Metropolitano e Leste Metropolitano. 315 Perda de Cobertura de Vegetação Nativa A despeito de sua importância para a conservação da biodiversidade, os remanescentes de vegetação, especialmente aqueles situados fora de UC, estão sujeitos à redução de área ou ao desaparecimento, sobretudo em conseqüência do corte raso para aumento da área de pastagens e lavouras, nas zonas rurais. Nas proximidades dos núcleos urbanos, os fragmentos florestais são, com maior freqüência, eliminados, parcial ou totalmente, em função da expansão das zonas residenciais, formais ou não (Rocha et al., 2003). Cumpre ressaltar que as frentes de desmatamentos estão instaladas em todos os setores da Área estratégica, muito embora o Leste Metropolitano, Conexão Cabiúnas e Núcleo Metropolitano detenham os maiores índices de desmatamento (Quadro 3.80). Com exceção do setor Oeste Metropolitano, foi verificado, igualmente, que os desmatamentos vêm ocorrendo no interior de UC, comprometendo, de forma mais expressiva, os remanescentes florestais dos municípios de Silva Jardim e Casimiro de Abreu. As perdas se concentram, sobremaneira, em unidades de conservação de uso sustentável da área estratégica, exceto no caso do Núcleo Metropolitano, onde o corte raso da vegetação vem sendo verificado em UC de proteção integral (côo na Reserva Biológica de Guaratiba, Parque Estadual da Pedra Branca e Parque Nacional da Tijuca). No setor Conexão Cabiúnas, os desmatamentos se concentram na recém criada APA da Bacia do São João/ Mico-leão-dourado, cujo território é um dos mais expressivos da Área estratégica. Pelo fato desta UC ser uma das mais extensas de toda a região, abarcando áreas rurais e urbanas, bem como trechos sob a influência da BR 101, existe uma maior propensão à ocorrência de desmatamentos nesta unidade. No Núcleo Metropolitano, ao contrário, a área das UC sob forte pressão antrópica são relativamente reduzidas e encontram-se ilhadas por extensas manchas urbanas, as quais vêm se expandindo, em parte, a custa da supressão da vegetação de encostas dos maciços litorâneos. Os desmatamentos proliferam indistintamente em todas as sub-regiões, afetando tanto UC de uso sustentável quanto de proteção integral. Entretanto, é admissível supor que as UC de uso sustentável, que é a categoria mais difundida em nível regional (Quadro 3.81), possam estar mais vulneráveis a processos de desmatamento, quando comparadas as UC de proteção integral, sobretudo aquelas que integram o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, que se beneficiam de uma gestão compartilhada e, conseqüentemente, de estratégias coletivas mais efetivas de salvaguarda dos recursos naturais regionais. Assim sendo, há de ser considerado que o fato de dispor de alguma forma de proteção, seja parque nacional (PN) ou área de proteção ambiental (APA), não garante a efetiva manutenção dos remanescentes vegetais, já que em muitas situações o avanço da área urbana e antropizada ocorre no interior de áreas sujeitas a regimes especiais de proteção (tanto no Núcleo Metropolitano como nas sub-regiões periféricas). Nesse contexto, não são apenas áreas florestadas que estão sujeitas à degradação e fragmentação, mas, também, manguezais e restingas, cuja fragilidade está submetida às pressões da especulação imobiliária e expansão dos aglomerados sub-normais. 316 Quadro 3.80 — Desmatamento por Setor da Área Estratégica (ha) Setor Município Desmatamento Itaguaí Seropédica Oeste Metropolitano Japeri --- --- 902.614 --- 1.046.545 898.295 1.046.545 898.295 --- --- Nova Iguaçu 242.548 70.753 São João de Meriti 16.225 --- Belford Roxo 75.251 --- 370.266 215.867 704.290 286.620 202.022 --- Duque de Caxias Subtotal São Gonçalo Leste Metropolitano Itaboraí 1.331.596 --- Magé 1.365.611 238.707 Guapimirim 344.248 --- Tanguá 258.079 --- 90.495 --- 3.592.051 238.707 Niterói 32.583 --- Maricá 413.439 --- Silva Jardim 886.706 738.593 Cachoeiras de Macacu Subtotal Litoral Atlantico Conexão Cabiúnas ----- Nilópolis Baixada Fluminense 94.874 --- Subtotal Subtotal --- --- Queimados Rio de Janeiro 371.804 435.936 Paracambi Núcleo Metropolitano Desmatamento em UC Casimiro de Abreu 403.964 403.964 1.348.379 --- Subtotal 3.085.071 1.142.557 Total 9.330.571 2.566.179 Rio Bonito Quadro 3.81 — Superfície das Unidades de Conservação, por Setor – 2005 Setor Área Total (ha) Área das Unidades de Conservação (ha) Uso Sustentável Proteção Integral Total Oeste Metropolitano 89.448,4 31.090,4 482,5 31.572,9 Núcleo Metropolitano 118.229,6 1.488,3 19.185,9 20.674,2 Baixada Fluminense 116.384,7 27.116,5 23.698,3 50.814,8 Leste Metropolitano 252.229,9 72.621,3 35.456,2 108.077,5 49.185,2 959,8 1.979,0 2.938,8 186.135,5 129.254,3 9.773,9 139.028,2 811.613,3 262.530,5 90.575,9 353.106,4 Litoral Atlântico Conexão Cabiúnas Área Estratégica 317 Setor Área Total (%) Área das Unidades de Conservação (%) Uso Sustentável Proteção Integral Total Oeste Metropolitano 100,0 34,8 0,5 35,3 Núcleo Metropolitano 100,0 1,3 16,2 17,5 Baixada Fluminense 100,0 23,3 20,4 43,7 Leste Metropolitano 100,0 28,8 14,1 42,8 Litoral Atlântico 100,0 2,0 4,0 6,0 Conexão COMPERJ-Cabiúnas 100,0 69,4 5,3 74,7 100,0 32,3 11,2 43,5 Área Estratégica Fragmentação Florestal A progressão do desmatamento na área estratégica ocorre de forma difusa no território e em todas as sub-regiões, muito embora seja verificada uma propensão à ocorrência de taxas mais elevadas de corte raso da vegetação em porções do território onde os remanescentes florestais são mais extensos e relativamente pouco protegidos, seja pelo fato de não estarem sob a influencia de uma UC ou a UC de que são parte integrante corresponder à categoria de uso sustentável, que permitem diversificados usos antrópicos do solo. O processo de remoção da vegetação contribui para a fragmentação de matas mais extensas, isolando populações animais e vegetais e contribuindo, em última instância, para a extinção de espécies, sobretudo aquelas cuja distribuição geográfica é excepcionalmente restrita. Uma das conseqüências negativas associadas à eliminação da vegetação, de um modo geral, e dos fragmentos florestais, em particular, diz respeito à redução da oportunidade de manutenção de conectividade entre as UC, o que restringe ou impede movimentos sazonais da fauna ao longo de eixos latitudinais e gradientes de altitude e, por conseqüência, do fluxo gênico entre populações. Nesse sentido, muitas espécies da fauna, sobretudo as de maior porte e que exigem grandes áreas para manter populações viáveis, tendem a desaparecer em pequenos fragmentos florestais e mesmo nas UC com área relativamente reduzida 55. Na área estratégica, a fragmentação florestal atingiu níveis críticos, devendo comprometer a sobrevivência de várias espécies da fauna e flora no longo prazo, contribuindo para a extinção local de espécies. Portanto, a redução em extensão e o crescente isolamento das maiores manchas florestais (e UC) é, provavelmente, o fator que impõe maior desafio à conservação dos recursos naturais regionais e, particularmente, da biodiversidade associada. Muito embora a tendência à redução de área da cobertura vegetal e o desmatamento pulverizado em diversas frentes seja um processo consolidado em nível regional, as ações voltadas para o estabelecimento da conectividade entre fragmentos representa uma estratégia que vem obtendo resultados positivos em algumas sub-regiões. Nos municípios de Silva Jardim e Casimiro de Abreu, há iniciativas voltadas para a expansão das florestas submontanas - cuja importância é crucial para a sobrevivência do mico-leão-dourado - através do estabelecimento de RPPN ao redor de UC de proteção integral. 55 A caça ilegal, que é extensivamente praticada fora e no interior de muitas UC, é fator agravante, que também responde pela extinção de espécies. 318 Por outro lado, o estabelecimento do corredor florestal Sambê-Santa Fé, no âmbito dos Projetos Ambientais Complementares (PAC/PDBG), em terras de Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim e Cachoeiras de Macacu, é uma importante iniciativa no sentido de restabelecer a conectividade de importantes parcelas de Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro. Esta região é considerada como de extrema importância biológica para a conservação de mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios, e invertebrados, além da flora e dos recursos abióticos (água, solo, paisagem, etc.), de acordo com o relatório ―Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação da Mata Atlântica e Campos Sulinos‖ (MMA, 2000). Ademais, cumpre a importante função de estabelecer a conectividade entre matas submontanas e montanas, permitindo, desta forma, o trânsito de animais entre áreas mais elevadas com terrenos de baixada, o que é importante para a perpetuação de movimentos pendulares altitudinais associados a mudanças de estações. Outro importante setor da Mata Atlântica diz respeito ao corredor formado pelas UC serranas e APA de Guapimirim e a Estação Ecológica Guanabara, cujos territórios são fortemente influenciados por sedimentos fluviais em grande parte provenientes dos contrafortes serranos. Estas UC localizam-se na região da foz de diversos rios oriundos do alto das serras que compõe a região hidrográfica da BG, sendo os principais elos de ligação da baixada com as demais áreas do Mosaico. A gestão da APA Guapimirim e da ESEC Guanabara, portanto, depende diretamente da gestão das demais UC do Mosaico, que têm parte de suas áreas drenando para ela. Neste contexto, a APA de Macacu e de Guapi-Guapiaçu, em particular, resguardam ambientes naturais com características ambientais semelhantes às encontradas nas UC serranas e, também, elementos típicos de UC do recôncavo da BG, como manguezais. Esta estreita associação entre ambientes serranos e estuarinos tipifica uma situação inédita na área estratégica, ressaltando a importância de se manter a conectividade ecossistêmica entre regiões tão distintas, mas profundamente interdependentes, em termos funcionais. Diversidade Biológica Aquática A análise da biota aquática priorizou os grupos zoológicos cuja identificação da composição especifica é mais bem resolvida e que tenham relevância, não só como indicadores ambientais, mas, também, como recurso pesqueiro. Desta forma concentrou-se em peixes e crustáceos decápodes. Entretanto não se pode esquecer que a BG comporta outros grupos importantes e ameaçados, como o boto-cinza (Sottalia guianensis). Os resultados obtidos no inventário faunístico sobre o número de espécies, da fauna aquática, ameaçadas de extinção indicam que a BG é um ambiente com uma grande riqueza de espécies, mas com uma situação que carece de atenção, no que diz respeito à manutenção da diversidade da biota aquática, em função do cenário de degradação ambiental histórico e contemporâneo. Apesar de o número de espécies ameaçadas de extinção não ser muito elevado, a provável extinção de duas espécies de peixes anuais que habitam corpos d´água ecótones ao espelho da BG e a situação delicada em que outras espécies se apresentam, sobretudo elasmobrânquios, serranídeos, cavalos-marinhos, outros peixes anuais e pitús, já traçam um panorama a ser considerado. O papel estratégico da BG contrasta com a ocorrência de espécies ameaçadas de extinção devido à pesca, poluição e destruição de habitats. No que diz respeito aos ecossistemas de água continental, diversos fatores têm contribuído para a sua degradação. Os mais relevantes problemas estão associados à supressão da vegetação ciliar e das matas nas cabeceiras; lançamento de esgoto in natura; resíduos sólidos urbano, rural 319 e industrial; obras de canalização e retificação; construção de represas (barragens); adução ilegal de recursos hídricos; derrames de óleo; aterros para implantação de estradas; e drenagem das planícies de inundação e de lagoas marginais (Bizerril, 2001). Todos esses fatores afetam negativamente a biodiversidade em diferentes graus, o que é agravado pela reduzida representatividade das UC que protegem o médio e baixo curso dos rios56. A retificação do baixo curso de rios é um fator adicional que concorre para a degradação da qualidade ambiental dos corpos hídricos. Esta prática foi especialmente difundida no entorno da BG, onde a intensa ocupação do espaço e o adensamento populacional ocorreram à custa da eliminação de ambientes estuarinos e áreas sujeitas a alagamento, pela drenagem dos terrenos e retificação e regularização dos cursos d‘água. As obras hidráulicas reduziram o perfil dos rios, aprofundaram os leitos e contribuíram para o aumento da velocidade das correntes, ao elevar a capacidade de vazão. Como resultado, houve aumento da freqüência de transbordamento das cheias menores e médias, sem que as grandes enchentes tenham sido eliminadas. A relação entre o rio e a baixada inundável foi interrompida, contribuindo para o desaparecimento de locais onde eram registradas desovas de peixes (SEMADS, 1998). Com relação ao número de espécies, da fauna aquática em declínio populacional, como em qualquer outro estuário do porte e importância da BG, boa parte das espécies de peixes e crustáceos decápodes registrados são estuarino-dependentes ou estuarino-residentes (Elliott et al., 2007). Essa dependência direta de algumas espécies ao ecossistema da BG aumenta a sua vulnerabilidade ao declínio populacional, em virtude da degradação da qualidade da água e disponibilidade de contaminantes. Outro fator agravante é que muitas destas espécies, a exemplo da sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) e do camarão-rosa (Farfantepenaeus spp.) apresentam populações em franco declínio, em função da sobrepesca (D´Incao et al., 2002). 3.3.2.4 Dinâmica das Comunidades Pesqueiras A pesca na BG é uma atividade econômica bastante relevante e antiga. A pesca embarcada no interior da BG pode ser considerada artesanal, mas além dela, outras atividades extrativas ocorrem como a cata de caranguejo e siri e a coleta de mexilhão. A pesca passa por transformações nas políticas públicas que se apresentam para o setor no Brasil, tendo como marco o recém criado Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), responsável pela política nacional pesqueira e aqüícola, que inclui fomento às atividades e apoio à infraestrutura e visa promover o acesso à cidadania aos trabalhadores da pesca, que outras categorias já conquistaram ao longo da história. A competência do IBAMA relativa ao ordenamento dos recursos pesqueiros irá, a partir de agora, ser compartilhada com o MPA. O Brasil já apresenta em relação recursos vivos marinhos, especialmente os recursos pesqueiros, um histórico de sobrepesca, de atividade predatória e insuficiência na gestão e fiscalização dos principais estoques. Tal cenário traz uma série de ordem econômica, social e ambiental. Na dimensão social, o segmento mais afetado é o da pesca artesanal, que são, freqüentemente, muito mais complexas, utilizam várias artes de pesca, capturam várias espécies que, em geral, são pouco abundantes, demandam um conhecimento tradicional, apresentam sistemas de apropriação social de espaços naturais, inúmeros pontos de desembarque e diversas cadeias 56 Diversas UC incluem lagos ou pequenas porções de rios, usualmente nas cabeceiras, mas deixa a descoberto a maior extensão dos cursos d‘água. Alguns rios se encontram em situação particularmente crítica, pois integram mais de uma jurisdição política ou constituem fronteiras políticas entre municípios. 320 produtivas, incluindo processos de socialização do pescador. No Brasil ainda predomina a informalidade na atividade de pesca artesanal, com pouca tecnologia associada às diversas etapas da cadeia produtiva, existindo uma série de questões sociais, sanitárias e ambientais a serem superadas. Historicamente, o setor produtivo da pesca, representado pelos movimentos sociais e empresários teve pouca participação na elaboração das principais diretrizes para o desenvolvimento e/ou organização da atividade pesqueira no Brasil. O universo pesqueiro na BG, apesar de caracteristicamente artesanal, não é homogêneo. Coexistem a pesca de cerco, o arrasto de fundo, a pesca de linha e anzol, o espinhel, o emalhe e a pesca com currais-fixos, além das outras atividades extrativistas ― caranguejo, siri e mexilhão. Em 2002 existiam 1.402 embarcações e 32 postos de desembarque da pesca artesanal, em levantamento posterior, o IBAMA (2006), identificou 2.186 embarcações e 61 postos. Existem estimativas indicando que o número de pescadores da BG varia de 5.000 a 18.000, sendo que o IBAMA (2002) verificou a presença de 3.700 pescadores. Os pescadores estão organizados em 5 Colônias de Pesca no entorno da BG, as quais estão representadas pela Federação de Pescadores do Estado do Rio de Janeiro (FEPERJ), e cerca de 10 Associações e Cooperativas de pescadores artesanais, associadas à Federação dos Pescadores Artesanais (FAPESCA) e/ou à União Estadual dos Pescadores Artesanais (UEPA). A coleta de caranguejos constitui um universo particular no cenário da atividade pesqueira na BG, realizada nos manguezais, os quais se concentram na região da APA de Guapimirim. A coleta de siri se dá, principalmente, por grupos de São Gonçalo, como os da Ilha Itaóca e Praia da Luz. A extração de mexilhões é realizada por diversos grupos no interior da BG que estão localizados, especialmente, no município de Niterói, onde coletam o marisco dos costões da BG e das ilhas oceânicas. A pesca do camarão é importante em função do valor comercial deste pescado. No arrasto camaroneiro inúmeras embarcações atuam continuamente no interior da BG, em sua maioria ilegalmente. Em 2000, um levantamento da PETROBRAS identificou 208 currais, os quais eram partilhados por 61 pescadores, dois anos após foram verificados 511 currais, envolvendo 106 pescadores (IBAMA 2002). Já Vianna et al. (dados não publicados) contabilizaram 366 currais em operação, em 2008. As estimativas apresentadas para a BG indicam uma grande discrepância de informações. Considerando a informalidade em que vivem os trabalhadores da pesca embarcada e das atividades de coleta, cada vez mais os pescadores buscam alternativas de emprego formais e mesmo informais com as quais complementem a renda familiar. A busca por atividades complementares à pesca é característica da atividade pesqueira nos centros urbanos. Segundo pesquisa, apenas 50% dos pescadores envolvidos na pesca do camarão na BG não possuíam outras atividades econômicas paralelas. Segundo SEAP-PR (2006) dos 13.305 pescadores fluminenses registrados junto ao órgão, 75% tem o nível fundamental incompleto e 9% concluíram o nível fundamental. A Região Metropolitana do RJ atraiu um grande contingente de migrantes, a partir dos anos 70, por conta das possibilidades de trabalho. Este processo reuniu, espacialmente, junto a comunidades tradicionais da pesca, grupos com distintas características culturais. Estes dados podem indicar que na BG, em termos culturais, existem pelo menos dois tipos de pescadores: aqueles que vivem da pesca, apesar das dificuldades; e aqueles que se poderia 321 chamar de pescadores ―sazonais‖, que são pescadores, mas que se engajam em outras atividades rotineiramente. Na nova Lei da Pesca o pescador e o aqüicultor passam a ser considerados produtores rurais. As mulheres que trabalham nas atividades complementares à pesca artesanal também serão reconhecidas como trabalhadoras da pesca, tendo os mesmos direitos dos pescadores, como por exemplo, o seguro desemprego, modalidade seguro-defeso. Entre as políticas para a atividade pesqueira na BG destaca-se a implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos (TTP) e dos Centros Integrados para a Pesca Artesanal (CIPAR). A legislação existente para a atividade pesqueira na BG determina e restringe a atividade em determinadas épocas do ano, em áreas específicas e os equipamentos pertinentes. Apesar de ser proibida, a pesca de arrasto no canal principal de navegação da BG, trata-se das áreas preferidas aquelas de maior profundidade, próximas ao canal de navegação e à ponte Rio-Niterói e no entorno da Ilha do Governador, gerando riscos de acidentes pelo trânsito de grandes navios cargueiros e embarcações de transporte de passageiros. As embarcações que desembarcam seu pescado nos pontos da Ilha do Governador, Ilha da Conceição e Gradim circulam nas áreas de intenso transito de embarcações, podendo levar a um incremento no número de acidentes envolvendo o setor pesqueiro. 3.3.2.5 Qualidade de Água Os esgotos domésticos constituem-se no principal fator de poluição orgânica da BG, devido à grande população estabelecida na sua região hidrográfica, mais de 8 milhões de habitantes. Apenas 35% dos esgotos domésticos recebem tratamento adequado e correspondem às áreas da cidade organizada que congregam 55% da população das cidades. O restante se refere à cidade periférica (30%) e às favelas (15%), áreas onde não é possível implantar uma cobertura total de esgotamento. As obras de esgotamento sanitário do PDBG, ainda não surtiram os efeitos desejados. As ETE concluídas operam precariamente, ainda dependendo da completa instalação da rede de esgotamento. O sistema de esgotamento reduz somente as cargas poluidoras das fontes pontuais, mas não das fontes difusas, como o run-off urbano e rural. Estas fontes são significativas, principalmente se considerada a carga de nutrientes. A qualidade das águas vem piorando ao longo dos anos com maior ou menor intensidade nas diversas regiões da baía, principalmente em termos de poluição orgânica. A clorofila, em quase todas as estações de amostragem, reflete grande tendência de crescimento, indicando claramente o aumento da produtividade primária e, conseqüentemente, da eutroficação, principalmente no fundo da baía. O grande crescimento de algas contribui de forma significativa para o aumento da carga global de poluição orgânica. Essa situação, que antes se limitava às regiões oeste e noroeste, vem se estendendo para outras regiões, ameaçando a qualidade de água de toda a baía, inclusive a região nordeste, que não só é uma área mais rica em espécies aquáticas, como, também, beneficia-se da presença dos manguezais, que tem um papel fundamental na manutenção da biodiversidade e da sua produtividade ecológica. 322 Em termos de carga orgânica, os dados do período 2000 a 2005 ilustram o crescente problema de supersaturação de oxigênio, com níveis muito altos de DBO, principalmente na região noroeste (Figura 3.80). A realização das obras como projetadas no PDBG é um grande passo dentro do conjunto de medidas necessárias à recuperação da BG no tocante ao controle das cargas orgânicas, mas torna prioritária, também, a remoção de nutrientes nos sistemas de tratamento previstos. A análise de tendência, envolvendo o período 1980-1997, trouxe um importante alerta em relação à qualidade de água da baía. O canal central, o último baluarte de qualidade da BG pois propicia a renovação das águas da baía duas vezes por dia com as entradas de maré, começava a apresentar sinais claros de degradação, com 2 estações com os pioras resultados das 8 monitoradas e com uma piora já indicada na entrada da baía, que tradicionalmente sempre apresentou a melhor qualidade de água. Na mais recente análise de tendência realizada pela FEEMA, período 2000-2005, observa-se a qualidade da água nas estações de amostragem (Figura 3.81), segundo escala apresentada na Figura 3.82. Chama a atenção a estação que sempre foi a de melhor qualidade de água, tendo em vista a sua proximidade com a boca da baía, entrando definitivamente na zona de ‗piora‘. Os resultados obtidos em uma nova estação monitorada nessa região confirmam que a outrora área de melhor qualidade, a boca da baía, vem mostrando sinais de degradação. Nessa última análise de tendência, aumentaram-se bastante as estações na zona de ‗inalteração‘: eram 3 e passaram para 8, mostrando talvez uma mudança de rumo, de uma tendência de ―piora‖ verificada anteriormente na maioria dessas estações. 50 D.B.O(mg/L) 40 30 20 10 0 GN0050 GN0043 GN0020 GN0000 GN0022 GN0047 GN0306 GN0048 GN0040 GN0042 GN0026 GN0064 GN0025 GN0093 Estação de Amostragem Figura 3.80 — DBO (mg/l) – Superfície Fonte: FEEMA (2007) (Dados não publicados) FFigura 3.81 — Estações de Monitoramento Fonte: FEEMA (2009) 323 -80% Período 2000-2005 Área de melhora W 0 0,1 0,2 GN42 GN306 GN25 GN40 GN00 GN22 GN50 Área de inalteração 0,3 GN43 GN20 GN48 0,4 0,5 Área de piora GN47 GN26 GN64 0,6 0,7 0,8 0,9 1 -80% Figura 3.82 — Tendência da Qualidade de Água da BG Fonte: FEEMA (2009) (dados não publicados) Os rios que atravessam as áreas urbanizadas, mais densamente povoadas, funcionam como canais de esgoto a céu aberto. Nessa categoria incluem-se os rios afluentes da costa oeste, desde o canal do Mangue até o canal de Sarapuí, bem como os rios Alcântara, Mutongo, Bomba e canal do Canto do Rio na costa leste, que deveriam, pelo menos, estar enquadrados para harmonia paisagística e uso estético. O controle das 155 indústrias prioritárias dentro do PDBG levou a um percentual bastante alto de redução de carga poluidora, lançada por essas indústrias na região da BG, em termos de cargas orgânicas (DBO), óleos e graxas (O&G) e metais pesados (Quadro 3.82). Quadro 3.82 — Redução de Carga Poluidora das Indústrias Prioritárias - 1994/2004 Indústrias DBO O&G Metais Pesados Prioridade 1 (55 ind) 94% 97% 75,5% Prioridade 2 (100 ind) Fonte: FEEMA (2005) 90% 97% 71,4% Os sedimentos da BG estão contaminados tanto por metais pesados como por hidrocarbonetos de petróleo, principalmente nas suas porções oeste e noroeste, entre as desembocaduras dos rios Irajá, São João de Meriti, Sarapuí e Iguaçu, decrescendo em direção à parte central e a entrada da baía, podendo ocorrer efeitos adversos à biota aquática. Dados mais recentes da Petrobras (2005 a 2007), apresentados em congresso (CBO, 2008) classificaram a BG em áreas de baixas concentrações, caracterizadas pelas estações localizadas na porção nordeste, próximas à APA de Guapimirim, e pelas estações de elevado hidrodinamismo e forte influência marinha, próximas a desembocadura, e áreas de elevadas concentrações, representadas pelas estações localizadas na porção noroeste, em área de circulação restrita, com influência industrial e região próxima ao acidente ocorrido em 2000 e, também, estações próximas a regiões de grande tráfego de navios, como o porto do Rio de Janeiro e região de estaleiros em Niterói (Figura 3.83). Numa iniciativa da SEA, a PETROBRAS financiará a dragagem e o desassoreamento de cerca de 6,5 km de extensão dos canais do Cunha e do Fundão. Estima-se que cerca de 1,8 milhão de metros cúbicos de material poluente seja retirado dos canais. No Rio de Janeiro as praias Vermelha e São João se mantiveram sempre dentro dos padrões e em Niterói, as praias de Charitas e São Francisco só apresentaram balneabilidade no ano de 2007, enquanto as de Boa Viagem, Flexas e Icaraí melhoraram a partir de 2001 ficando dentro dos padrões, após entrada em operação do Emissário Submarino de Icaraí, em 2001. 324 Estimativas realizadas mostraram que chegavam à BG cerca de 800 t/dia de lixo flutuante, o que constitui uma quantidade significativa de detritos e obstáculos. O Projeto Ecobarreira controla o lixo flutuante e o material recolhido é reciclado em cooperativas, promovendo a geração de emprego e renda para a população do entorno. Há barreiras instaladas no Canal do Cunha, na altura da comunidade da Maré, e no rio Meriti, na Baixada Fluminense. Está prevista a implantação nos rios Sarapuí, Iguaçu, Estrela, Caceribu, e nos canais de Juaxindiba e Suruí. Outras fontes de poluição e degradação da BG são os aterros do espelho d‘água e as altas taxas de assoreamento decorrentes do desmatamento e destruição dos manguezais. Figura 3.83 — HPAs Totais nos Sedimentos da Baía de Guanabara – 2003 Fonte: LIMA/COPPE/UFRJ, com base em PETROBRAS (2001) 325 3.3.2.6 Qualidade do Ar A bacia aérea é a unidade de planejamento ambiental para gestão da poluição do ar, definida com base no relevo, na cobertura do solo e nas características climatológicas que criam áreas homogêneas em termos dos mecanismos responsáveis pela dispersão de poluentes. A Bacia Aérea III e IV foram as consideradas nesta AAE (Figura 3.84). Atualmente, o monitoramento compreende 21 estações manuais, que realizam amostragens de material particulado total e/ou inalável, além de outras 14 estações de monitoramento contínuo da qualidade do ar pertencentes à FEEMA, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a atividades industriais, capazes de medir as concentrações de NOx (NO e NO 2), HCT, HCNM, CO, O3, SO2 e PI, além de parâmetros meteorológicos (Figura 3.85). Figura 3.84 — Bacias Aéreas da RMRJ Figura 3.85 — Estações de Monitoramento RMRJ Fonte: Cavalcanti (2003) Fonte: FEEMA (2005) No universo de fontes consideradas, tem-se como resultado principal que as fontes móveis são responsáveis por 77% do total de poluentes emitidos para a atmosfera e as fontes fixas, 23%. A Bacia Aérea III concentra 58% das emissões totais provenientes das fontes fixas na RMRJ. A carga poluidora de dióxido de enxofre representa, aproximadamente, 53% do total, os hidrocarbonetos 95% das emissões inventariadas e, no caso dos óxidos de nitrogênio, a contribuição relativa é 44% do total emitido. As concentrações de partículas totais em suspensão, historicamente, violam os limites estabelecidos para proteção da saúde humana em quase todos os locais onde há monitoramento, entretanto, é possível observar uma tendência de decréscimo. As maiores concentrações de partículas totais em suspensão (PTS) ocorrem na região da Baixada Fluminense, onde é observado que o padrão de qualidade do ar de curto período (240 µg/m3) tem sido violado. São alcançados níveis de concentração que caracterizam a ocorrência de ―Nível de Atenção‖, como, também, a de ―Nível de Alerta‖ de poluição do ar, caracterizando ―Episódios Críticos de Poluição do Ar‖ (Resolução CONAMA 03/90). 326 Atribui-se, prioritariamente, à grande quantidade de vias não pavimentadas a maior contribuição de emissões de material particulado e, secundariamente, à ressuspensão da poeira. O setor norte da Bacia Aérea III, onde se encontra grande parte dos municípios da Baixada Fluminense, constitui uma zona crítica de poluição do ar quanto às concentrações de partículas inaláveis, que tem na queima de combustível fóssil sua grande fonte de emissão. As estações de monitoramento localizadas em Nova Iguaçu e São João de Meriti são as que apresentam os maiores níveis de concentração de particulas inaláveis, juntamente com os municípios de São Gonçalo e Niterói. O maior número de violações ao padrão diário de qualidade do ar ocorre, também, nos municípios da Baixada Fluminense, onde já foram registradas concentrações que caracterizam situações críticas de poluição do ar, de acordo com os patamares estabelecidos pela legislação em vigor. Os poluentes gasosos, monitorados desde 1999, apresentam concentrações de dióxido de enxofre muito abaixo dos limites estabelecidos e, de certa forma, estáveis; para o dióxido de nitrogênio, apesar dos níveis de concentração não ultrapassarem os padrões de longo período, apresentam uma nítida tendência de crescimento; o padrão de curto período de NO 2 tem sido ultrapassado em todas as localidades monitoradas, exceto São Gonçalo; e as concentrações de monóxido de carbono não ultrapassam os padrões de qualidade do ar. Os níveis de concentração de ozônio, na área estratégica, representam a situação mais crítica, em termos de poluentes gasosos, apresentando inúmeras violações ao padrão estabelecido pela legislação. Os elevados índices de concentração de ozônio indicam aumento contínuo das emissões de óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, provenientes do crescimento industrial e do aumento da frota veicular, aliado a uma alta incidência de radiação solar durante todo o ano, tornando a região propícia à formação deste poluente. No município de Duque de Caxias, mais exatamente na área de influência da REDUC, as concentrações de poluentes do ar apresentam-se significativamente elevadas, podendo-se observar que, mesmo com um período não tão extenso de monitoramento, essa região pode ser caracterizada como a de pior qualidade do ar da RMRJ. Na região onde se pretende a instalação do Complexo Petroquímico, embora o período de monitoramento não seja suficiente para que se possa caracterizar a qualidade do ar daquela área, têm sido verificadas algumas ocorrências de ultrapassagens do padrão de ozônio. O Inventário de Fontes Emissoras de Poluentes Atmosféricos da RMRJ (FEEMA, 2004) concluiu que as vias de tráfego são responsáveis por 77% dos poluentes que são emitidos na região. Os 23% restantes são emitidos por fontes industriais, onde mais da metade é proveniente da Bacia Aérea III. O Inventário também revela que a região de Duque de Caxias, mais exatamente a área do Pólo Gás-Químico, é a que concentra as maiores fontes de emissão industriais da RMRJ. Vários fatores de caráter físico-geográficos influenciam, significativamente, nos níveis de qualidade do ar observados na RMRJ. A capacidade natural de dispersão de poluentes é 327 influenciada pelas características urbanas e pela acidentada topografia que criam divisores microclimáticos naturais, afetando, significativamente, e de modo diversificado, a ventilação e, por conseguinte, os mecanismos de transporte e dispersão dos poluentes na região. 3.3.2.7 Resíduos Sólidos O diagnóstico dos resíduos sólidos na área estratégica considera a geração e a destinação dos resíduos urbanos, de saúde e industriais e aborda o transporte e as condições de tráfego nas principais rodovias do ERJ. Resíduos Urbanos Nas áreas urbanas da RMRJ são coletados cerca de 14.000 ton./dia de lixo domiciliar e público. O município de Nilópolis é o que apresenta um maior índice de coleta (99%), seguido por Mesquita (98,91%) e Rio de Janeiro (98,87%). Os municípios que apresentam os menores índices são Itaboraí (60,05%) e Japeri (57,6%). Grande parte dos municípios da área estudada utiliza o aterro de Gramacho (Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti), onde são dispostos 10.300 ton./dia neste aterro que já se encontra em final de vida útil. Já os municípios de Belford Roxo, Magé, Cachoeiras de Macacu, Seropédica, Silva Jardim, Paracambi e Japeri não apresentam nenhum tipo de tratamento de seu resíduo urbano, dispondo em lixões o equivalente a 700 ton./dia. Casimiro de Abreu, Guapimirim, Itaguaí, Niterói, Queimados e São Gonçalo possuem aterro controlado. Casimiro de Abreu, Rio Bonito e Tanguá, são os únicos municípios que possuem usina de reciclagem, apesar de também terem lixões. Os municípios que apresentam aterro sanitário próprio são Nova Iguaçu, com um sistema de aproveitamento do biogás para a geração de energia, e Itaboraí. Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) Os Resíduos provenientes dos Serviços de Saúde são resíduos que podem apresentar risco de infecção (Grupo A), Resíduos químicos (Grupo B), Resíduos radioativos (Grupo C), Resíduos comuns (Grupo D) e Materiais perfurocortantes ou escarificantes (Grupo E). Para o adequado manejo desses RSS deve haver procedimentos de coleta diferenciada, pré-tratamento, destinação em local adequado e incineração, dependendo do caso. Os resíduos de saúde na área estratégica, em sua maioria, são coletados de forma inadequada e misturados com o lixo domiciliar. Segundo a International Health Care Network a geração de RSS por leito hospitalar na América Latina, é, em média, de 3 kg/dia. Sendo assim, a média de geração de resíduos hospitalares, com base nos dados de número de leitos hospitalares do IBGE, é de 97 ton./dia. 328 Rio de Janeiro, Itaboraí, Niterói, Nova Iguaçú, São Gonçalo e São João de Meriti possuem coleta diferenciada de RSS. Desses, apenas Nova Iguaçu e Niterói têm o pré-tratamento desses resíduos. Os que reservam locais adequados para o despejo são Niterói, Nova Iguaçu e Itaboraí. Nova Iguaçu, Niterói e São Gonçalo são os únicos que possuem incineradores, apesar de este último, estar com o equipamento inoperante. Os municípios que mais deixam a desejar na questão dos RSS são os municípios de Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu (que são despejados no lixão) e Guapimirim e Tanguá, que praticam a queima a céu aberto dos mesmos. Resíduos Industriais Os tipos de resíduos industriais são divididos em Classe I – Resíduos perigosos e Classe II, subdividida em A – Resíduos inertes e B – Não inertes. A Resolução CONAMA 313/02 estabelece o Inventário Nacional de Resíduos Industriais. Na bacia da BG a FEEMA inventariou 1.169 indústrias localizadas, das quais apenas 636 apresentavam dados de geração de resíduos (PDBG/PAC, 2000). Os principais dados de geração de resíduos industriais (em ton./mês) nos municípios da BG são: Resíduos perigosos: Rio de Janeiro (4.144), Duque de Caxias (3.574), Nova Iguaçu (1.384), São Gonçalo (573) e Belford Roxo (4.144), os demais apresentam níveis bastante inferiores, sendo gerado no total da região 10. 075 ton./mês. Resíduos não–inertes: Duque de Caxias (1.475), Rio de Janeiro (1176), São Gonçalo (608), Nova Iguaçu (332) e Tanguá (130). Resíduos inertes: Rio de Janeiro (8.955), Duque de Caxias (4.866), São Gonçalo (2.684), Belford Roxo (324), Niterói (202), Guapimirim (128) e Itaboraí (115). O total geral de produção de resíduos industriais por mês é de 32.003 ton., sendo os maiores geradores: (1º) Rio de Janeiro (14. 274,98); (2º) Duque de Caxias (9.914,30); (3º) São Gonçalo (3.964,33); (4º) Nova Iguaçu (2.468,67); e (5º) Belford Roxo (769,96). Cerca de 40% dos resíduos industriais gerados encontram-se na bacia do rio Iguaçu e mais de 24.000 ton. de resíduos gerados na BG estão estocados aguardando um destino final adequado. A destinação final dos Resíduos Industriais se divide da seguinte forma: recuperação e reciclagem (41%) — cerca de 120 empresas possuem licenças ambientais em vigência; aterros municipais de lixo urbano (32%) — o único aterro licenciado para a disposição de resíduos industriais Classe II, dentro da área estratégica, está localizado em Nova Iguaçu; co-processamento (16%) — fábricas de artefatos de concreto licenciadas para a incorporação de resíduos não-perigosos e re-refino de óleo combustível. Sabe-se que o 329 manejo de óleo das indústrias da BG é feito por três empresas. Uma delas faz o re-refino de óleo lubrificante usado e as demais fazem o armazenamento (temporário) e a comercialização de óleos minerais e vegetais. outros (11%) — estocagem, uso de demais tecnologias, tais como incineradores, fornos de clínquer licenciados, landfarming, encapsulamento, aterro industrial, aterro de terceiros. Parte considerável dos resíduos industriais perigosos é disposta em outros estados, a demanda é maior que a capacidade instalada no ERJ. Existem cerca de 110 empresas transportadoras de resíduos licenciadas no ERJ, 25 das quais para o transporte de resíduos perigosos. No transporte de resíduos são utilizadas rodovias estaduais e federais e das 6 rodovias mais utilizadas a única considerada com condição ideal é a BR 116 (sentido sul). As demais apresentaram condições deficientes — pistas estreitas, passagens por áreas urbanizadas ou com grande fluxo de veículos. 330