O RIO DA VIDA NO HABITAT RESTAURADO
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O RIO DA VIDA NO HABITAT RESTAURADO
Capítulo 1 O RIO DA VIDA NO HABITAT RESTAURADO “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1). O capítulo 22 de Apocalipse começa tratando de dois elementos que nos remontam ao jardim de Deus, conforme registrado em Gênesis 1 e 2: um rio e uma árvore. Vamos falar agora sobre o rio da vida e, no próximo capítulo, sobre a árvore da vida. O último livro da Bíblia remete-nos de volta ao primeiro ao descrever o paraíso restaurado. O rio do paraíso original é substituído pelo rio da vida no paraíso restaurado. Já estudamos, em publicação anterior, sobre o rio que nascia no Éden para regar o jardim o habitat humano — o paraíso restaurado 2 de Deus, o paraíso original.1 É importante observar que o rio que regava o jardim não nascia dentro deste, mas vinha de outra parte do Éden. Não havia rio da vida no paraíso original, somente um rio que nascia no Éden para irrigar o habitat original dos homens. Já o rio da vida nasce no paraíso restaurado e procede do trono de Deus. Depois do deslocamento do paraíso para o céu2, não mais temos notícia desse rio mencionado em Gênesis. Diferentemente do rio do Éden que vinha regar o paraíso original, o rio da vida nasce no paraíso restaurado e irriga toda a nova terra. O rio da vida é uma inovação do paraíso restaurado. Não há nada em toda a revelação histórica, tanto no paraíso original como na presente terra, que se assemelhe a ele. Alguns dos cenários mais belos que já vi em minha vida têm a presença de um rio cruzando uma cidade ou serpenteando entre montanhas, formando um vale encantador. Os rios sempre dão beleza a uma paisagem, mesmo neste mundo sob maldição. O Brasil é cruzado por uma infinidade de rios, um mais belo que o outro por seu tamanho e encanto. Nenhum país do mundo tem tantos rios com tamanha riqueza para os olhos. No entanto, nada que há neste mundo poderá ser comparado às provisões divinas no seu mais cristalino rio, o rio da vida! Este é belamente diferente porque não depende da chuva, nem do derretimento da neve, nem de afluentes para que possa correr sempre belo pela nova terra. No paraíso original, que tem conexão com a primeira criação, encontramos um rio que “saía [...] do Éden para regar o jardim...” (Gn 2.10). No paraíso restaurado, em conexão com a nova criação, também encontramos um rio, CAMPOS, Heber Carlos de. O habitat humano – o paraíso criado. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 49-66. 2 CAMPOS, Heber Carlos de. O habitat humano – o paraíso perdido. São Paulo: Hagnos, 2012, p. 352-361. 1 22 O rio da vida no habitat restaurado um rio sem nome, simplesmente designado como rio da vida. O RIO DA VIDA FOI EXIBIDO A JOÃO POR UM ANJO “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1). Esse anjo que fala com João e lhe mostra a cidade é um dos “sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos” (Ap 21.9). Tal anjo é designado por Deus para tirar João dessa presente realidade e transportá-lo a uma época futura para lhe revelar as novidades da nova criação e a totalidade das obras divinas na cidade. Ele faz uma espécie de city tour3, apresentando a João as maravilhas do paraíso restaurado. Através da ação desse anjo, portanto, Deus mostra a João, no último capítulo do Novo Testamento, um rio denominado “rio da água da vida”, que corta a grande praça da cidade. A expressão “me mostrou” (o verbo deiknumi) aparece oito vezes no livro de Apocalipse4, três delas no capítulo em estudo. Esse verbo significa “mostrar, exibir, tornar conhecido”. Deus fez questão de dar a João vislumbres dessa paisagem onde um rio desponta maravilhosamente. Nessa visão, João se depara com o lugar de onde procedem as provisões e a nutrição dos cidadãos da nova Jerusalém. Essa é uma expressão usada por John MacArthur em seu sermão sobre Apocalipse 22, encontrado no site http://www.gty.org/Resources/ Sermons/66-84. 4 Apocalipse 1.1; 4.1; 17.1; 21.9,10; 22.1,6,8. 3 23 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 O RIO DA VIDA SERÁ UM LUGAR DE ENCONTRO DOS CRISTÃOS Conforme o ensino do apóstolo João, o rio da vida tem nascedouro no trono de Deus e do Cordeiro; o rio passa pela praça da cidade, dividindo-a em duas grandes partes. Imagino que esse lugar, em frente ao trono e na praça, será enorme, a ponto de comportar todos os remidos para a chamada assembleia dos santos. Essa assembleia vai cantar louvores ao Senhor perante seu trono, ao lado do rio. “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém! Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.9-14). Todas as criaturas vivas estão na nova Jerusalém, que é o lugar do trono governante de Deus. Elas estão diante do trono a fim de participar de uma reunião já marcada 24 O rio da vida no habitat restaurado por Deus para um grande dia, um dia de doçura e de esplendor para o seu povo de todas as épocas e lugares aos quais a redenção chegou. Eles estarão às margens do rio, em frente ao trono do Pai e do Cordeiro. Será a maior celebração da igreja, porque nunca ela esteve reunida na sua plenitude. Lá estarão a igreja triunfante, composta dos que já partiram, e a igreja militante, que hoje ainda luta neste mundo. Uma reunião inimaginável! Os mais interessados nessa visão do trono na cidade são os remidos, porque o cântico que eles entoam diz respeito ao grande Deus e à maravilhosa salvação de que são beneficiários. Eles estão em traje de gala – roupas brancas lavadas no sangue do Cordeiro. É uma cerimônia festiva que, creio eu, se repetirá muitas vezes porque sempre os remidos se lembrarão do que foi feito em seu lugar e em seu favor. Não sou capaz de vislumbrar a paisagem grandiosa do trono de onde sai o rio da vida e de todos os remidos reunidos para celebrar seu louvor a Deus. Não será uma paisagem bucólica, romântica, mas um cenário deslumbrante, indescritível, de tal forma que João não deu conta de expressar detalhes! Você e eu estaremos ali, humildes e agradecidos por tão grande obra que foi feita em nós e por nós. Ali, naquele lugar esplendoroso, contemplaremos a beleza da cidade construída pelo Cordeiro junto ao rio da vida! Você já pensou nisso? Esta é uma verdade a seu respeito que você deveria conhecer cada vez mais! A ANTECIPAÇÃO DO RIO DA VIDA NO ANTIGO TESTAMENTO Existem algumas alusões a um rio especial no Antigo Testamento, mas elas não indicam tudo o que o rio da vida significa. 25 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 “Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Sl 36.8,9). Esses versículos mencionam a “torrente das tuas delícias”, que poderia ser comparada a um rio de prazeres, mas não é esta a ideia completa do texto de Apocalipse. Já o versículo 9 afirma que em Deus “está o manancial da vida”. Se ligamos Deus a esse rio, então ele é o rio da vida, mas a informação do texto é muito vaga. Um outro Salmo diz: “Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã” (Sl 46.4,5). O salmista menciona um rio que está na cidade de Deus e que a torna alegre, um rio de delícias. Certamente essa cidade não é a Jerusalém terreal, porque ali não existe sequer um riacho digno de nota, mas é uma referência a uma cidade no estado de glória. Não há outra maneira de entender o encanto que o salmista tem por esse rio! Nessa cidade Deus habita; é uma cidade firme e que recebe desde cedo a proteção do Senhor. Nada a abala. Esses versículos apontam para um rio na cidade de Deus, mas o contexto não indica que isso se refere à nova terra. Contudo, não há nenhum impedimento exegético de ver o rio da vida com essas conotações. “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação tranquila, 26 O rio da vida no habitat restaurado tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas, nem rebentada nenhuma de suas cordas. Mas o SENHOR ali nos será grandioso, fará as vezes de rios e correntes largas; barco nenhum de remo passará por eles, navio grande por eles não navegará” (Is 33.20,21). “Naquele dia, também sucederá que correrão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e a outra metade, até ao mar ocidental; no verão e no inverno, sucederá isto. O SENHOR será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o SENHOR, e um só será o seu nome” (Zc 14.8,9). Com toda a probabilidade, esse texto de Zacarias é uma referência à nova Jerusalém, não à presente. O conteúdo dos versículos aponta para um rio com propriedades singulares e para o reinado absoluto do Senhor sobre o trono. “E há de ser que, naquele dia, os montes destilarão mosto, e os outeiros manarão leite, e todos os rios de Judá estarão cheios de águas; sairá uma fonte da Casa do SENHOR e regará o vale de Sitim” (Jl 3.18). Essa mesma ideia expressa por Joel, em referência a um rio que procede da Casa do Senhor, que é o templo de Deus, está presente em Ezequiel. Talvez a alusão mais próxima e mais detalhada ao rio da vida no Antigo Testamento esteja no livro do profeta Ezequiel. As referências de João ao rio da vida podem ser melhor entendidas ao estudarmos a menção que Ezequiel 27 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 faz a um rio especialíssimo que ele contemplou em suas visões. Alguns aspectos relacionados ao rio da vida estão prefigurados na descrição de Ezequiel. Obviamente, a sua visão ainda é nebulosa, e não há como equalizá-la ao rio da vida, mas há uma grande proximidade nos detalhes. ANÁLISE DE TEXTO “Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do templo, para o oriente; porque a face da casa dava para o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do altar. Ele me levou pela porta do norte e me fez dar uma volta por fora, até à porta exterior, que olha para o oriente; e eis que corriam as águas ao lado direito. Saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; mediu mil côvados e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos tornozelos. Mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos. Mediu ainda outros mil, e era já um rio que eu não podia atravessar, porque as águas tinham crescido, águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia passar. E me disse: Viste isto, filho do homem? Então, me levou e me tornou a trazer à margem do rio. Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia grande abundância de árvores, de um e de outro lado. Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, 28 O rio da vida no habitat restaurado e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis. Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio. Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar para se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas espécies, será como o peixe do mar Grande, em multidão excessiva. Mas os seus charcos e os seus pântanos não serão feitos saudáveis; serão deixados para o sal. Junto ao rio, às ribanceiras, de um e de outro lado, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não fenecerá a sua folha, nem faltará o seu fruto; nos seus meses, produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de remédio” (Ez 47.1-12). A visão do profeta Ezequiel pode ser entendida como uma referência a uma cidade perfeita, cujos rio e árvores se assemelham às descrições de João em Apocalipse 21 e 22. Conquanto haja similaridades, há também diferenças entre as duas visões. Como um hebreu saudoso de sua terra e do templo, Ezequiel pensa na restauração do que eles possuíam, ao mesmo tempo que deseja para o futuro coisas maravilhosas que nunca os judeus experimentaram. Os dois profetas tratam do mesmo período, mas com perspectivas diferentes, motivados por motivos diversos e a partir de diferentes níveis de revelação acumulada. O conhecimento revelado a Ezequiel é muito menor que o de João, e suas descrições se assemelham a coisas conhecidas em sua época, mas com grandes melhoras. 29 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 As referências feitas por Ezequiel têm um tom fortemente judaico. A sua linguagem é típica de um profeta no exílio, saudoso de coisas que lhes foram tiradas, como o templo, por exemplo, e esperançoso em relação a coisas sonhadas que eles nunca chegaram a possuir, como um rio tão maravilhosamente poderoso que tornaria saudáveis as águas do mar Morto. 1. O TEXTO DE EZEQUIEL FALA DE UMA CIDADE Embora a cidade não seja nomeada, podemos deduzir que se trata de Jerusalém, onde sempre esteve localizado o templo. Na linguagem de Ezequiel, é do templo que sai o rio de água viva. Obviamente, o profeta Ezequiel não está se referindo à Jerusalém do seu tempo, mas a uma Jerusalém nunca antes conhecida, jamais sonhada, uma cidade que é regada por um rio espantosamente maravilhoso! A Jerusalém incrustada no deserto da Judeia não possuía água. A maioria das grandes e importantes cidades do mundo foi construída às margens de um rio, mas não a cidade de Jerusalém. Esta sempre foi árida, rochosa e carente de água por toda a sua história. Num de seus sermões, o pregador batista Criswell levantou a seguinte pergunta: “Você se lembra de que Pôncio Pilatos enfureceu os judeus quando tomou dinheiro do tesouro do templo e construiu um aqueduto vindo dos poços de Salomão para trazer água para a cidade?”5 Jerusalém sempre foi carente de água. É até difícil pensar na cidade de Jerusalém com abundância de água no presente habitat. A referência de Ezequiel é a uma cidade que possui um precioso e longo rio, portanto a Jerusalém da nova terra. Criswell, perguntas feitas num sermão sobre o texto em estudo, encontrado no site http://www.wacriswell.com/index.cfm/FuseAction/ Search.Transcripts/sermon/1925.cfm. 5 30 O rio da vida no habitat restaurado 2. O TEXTO DE EZEQUIEL TRATA DE UM TEMPLO O templo de Jerusalém sempre foi a sede da revelação divina na religião do Antigo Testamento. No templo havia o altar, que era o lugar do sacrifício, a parte central do culto a Deus. Além disso, Deus se apresentava gloriosamente ao sumo sacerdote no templo. Ali estava o centro do culto judaico. Portanto, não é de estranhar que Ezequiel tome o templo como o lugar mais elevado da presença de Deus. Todavia, nunca houve nem haverá um templo como esse. Há teólogos que querem colocá-lo no milênio, mas isso não faz sentido, porque a existência de um novo templo no presente habitat seria um retrocesso revelacional, já que o templo físico é tipo do templo espiritual, que é a igreja de Deus. Contudo, não podemos ignorar que, para o profeta, o templo era a mais elevada aspiração dos judeus, já que o haviam perdido por causa dos seus pecados, através da ação do Império Babilônico. Na mente de Ezequiel, a reconstrução de um templo da forma como ele viu seria a realização do maior sonho de todo judeu piedoso. Na verdade, Deus não deu a Ezequiel todas as peças para construir a realidade futura, apenas algumas delas. Diferentemente de Ezequiel, João diz que não há mais templo. O lugar central da revelação divina e do seu governo está num trono, onde duas pessoas se assentam – Deus Pai e Deus Filho encarnado, o Cordeiro. 3. O TEXTO DE EZEQUIEL TRATA DE ÁGUAS QUE FLUÍAM DO TEMPLO “Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do templo, para o oriente; porque a face da casa dava para 31 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do altar” (Ez 47.1). Ezequiel viu um rio que saía de debaixo do templo (Ez 47.1). Esse sonho de rios fluindo do templo foi compartilhado também pelos profetas Joel (3.18) e Zacarias (14.8). Como mencionei anteriormente, o templo era o máximo da revelação divina, e eles não mais o tinham quando escreveram as suas profecias. Deus, então, acalenta o sonho deles, mostrando que aconteceriam coisas maravilhosas, mas não revelou todas as realidades, apenas suas sombras. Deus falou mais dos tipos que dos antítipos. Os profetas sempre creram que o santuário de Jerusalém era a fonte de todas as bênçãos. Na mente dos profetas, seria maravilhoso o rio da vida proceder “de debaixo do limiar do templo”! Não havia glória maior em que um profeta podia pensar naquele tempo de exílio. Deus levou Ezequiel a entender que a maior glória de Israel poderia proceder do templo, mas não contou a Israel que o lugar central do culto não mais seria o templo, e sim o seu trono. Essa verdade foi revelada somente a João. Aos profetas do Antigo Testamento, Deus falou claramente de águas vivas que haveriam de surgir na cidade (nova Jerusalém). Elas não procederão de debaixo do templo, mas do trono. Na verdade, o lugar central do culto na nova terra será o trono, junto à praça da cidade, porque àquela altura, depois do completamento da redenção, não haverá mais templo. Todavia, não podemos nos esquecer de que João, com toda a probabilidade, tinha as palavras do profeta Ezequiel em mente quando escreveu as suas visões, porque ele usa muitos elementos da descrição de Ezequiel no livro de Apocalipse. 32 O rio da vida no habitat restaurado 4. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE O RIO É MARGEADO POR ÁRVORES “E me disse: Viste isto, filho do homem? Então, me levou e me tornou a trazer à margem do rio. Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia grande abundância de árvores, de um e de outro lado” (Ez 47.6,7). Nessa parte, o texto de Ezequiel pode ser comparado ao de Apocalipse. A pequena diferença entre as duas narrativas é que Ezequiel fala em “grande abundância de árvores”, ao passo que João fala em “árvore da vida” (Ap 22.2). Há árvores em ambas as margens do rio. Ezequiel e João veem a mesma verdade de perspectivas ligeiramente diferentes. Note que não há duas verdades, mas uma só. As narrativas podem ser consideradas iguais quando entendemos que João fala de um tipo de árvore, “a árvore da vida”, que está plantada nas duas margens do rio. Então, podemos compreender que essa mesma árvore da vida é uma planta que margeia todo o rio da vida. É curioso que a espécie “árvore da vida” tenha o seu nascedouro junto ao “rio da vida”. É espantoso pensar que, se não houvesse o rio da vida, não haveria a árvore da vida! No presente habitat, as árvores crescem às margens dos ribeiros de águas; na nova terra, o mesmo processo se dará. Essas são belas combinações criadas por Deus tanto em nosso habitat atual como no futuro. 5. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO TEM ÁGUAS MIRACULOSAS “Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis” (Ez 47.8). 33 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 Obviamente, na nova terra não haverá o chamado mar Morto. A citação do profeta é para mostrar o poder vivificador das águas que procedem do templo. O mar Morto está localizado na antiga região de Sodoma e Gomorra. Em sua fúria, Deus sepultou tais cidades no fundo misterioso dessas águas. O mar Morto surgiu de uma maldição divina sobre essas cidades, que foram destruídas com fogo e enxofre vindos do céu. Ali Deus criou esse reservatório de água extremamente salgada, cujo nome é perfeitamente apropriado. A salinidade do mar é tão grande que nenhum animal aquático pode sobreviver nele. É uma impossibilidade a vida nesse reservatório aquoso! Todos sabemos que o rio Jordão desemboca no mar Morto, e as águas desse mar continuam no mesmo estado. A água do Jordão não produz nenhuma mudança no mar Morto. No entanto, as águas do rio da vida que procedem do templo produzem um efeito maravilhoso: tornam saudável o chamado mar Morto. Há uma ilustração do poder da água da vida melhor do que essa? Não existirá mais um mar Morto, porque a morte será suplantada pela vida! 6. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO PRODUZIRÁ VIDA NAS CRIATURAS “Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio” (Ez 47.9). O profeta Ezequiel é transportado para a beira desse rio extraordinário e vê coisas incríveis, que só o poder de Deus pode produzir. Esse rio que procede do templo deixa rastros de vida por onde passa. As águas absolutamente impróprias do mar Morto do presente habitat se tornarão 34 O rio da vida no habitat restaurado em águas que produzem vida e saúde no habitat futuro. A ideia no texto é que onde havia o sinal de morte haverá sinais maravilhosos de vida! Onde não havia peixes haverá abundância deles! E ainda mais: todos os animais que vivem em bandos, em grupos, em comunidades ou enxames serão vivificados. Isso é algo extremamente maravilhoso e incrível que acontecerá no habitat restaurado! As águas vivificadoras produzidas por Deus serão uma bênção indizível! Imagino que essa visão parecia um sonho para o profeta que vivia exilado e sem conforto para sua alma em tempos de cativeiro. 7. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO PRODUZIRÁ PEIXES ABUNDANTEMENTE “Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar para se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas espécies, será como o peixe do mar Grande, em multidão excessiva” (Ez 47.10). Em primeiro lugar, nas cercanias de Jerusalém não há rio de espécie alguma. En-Gedi e En-Eglaim ficam nas regiões opostas de oeste e leste do mar Morto, regiões de extrema aridez onde não há qualquer rastro de rio. Portanto, não faz sentido estender redes onde não há rios. É uma quimera pensar que haverá, no presente habitat, rios da natureza apresentada pelo profeta. Alguns estudiosos pensam que esse rio mencionado por Ezequiel aparecerá no milênio6, mas certamente não haverá grandes mudanças no presente habitat para que ele venha a existir. Portanto, essa visão não diz respeito ao habitat atual. Cf. a opinião de um famoso pregador batista de Dallas, W. A. Criswell, em seu sermão sobre Ezequiel 47.1-12, encontrado no site http://www. wacriswell.com/index.cfm/FuseAction/Search.Transcripts/sermon/1925.cfm. 6 35 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 A ideia do texto é que o lugar onde hoje prevalecem a sequidão e a estiagem, um dia, se tornará rico em água da mais pura qualidade, a qual terá poderes nunca imaginados. Nos lugares áridos nascerão plantas maravilhosas por causa da abundância de águas vivificadoras! Um paraíso de beleza inigualável a qualquer coisa do presente habitat será restaurado! Somente na nova terra será possível que esses lugares áridos venham a ser objeto de tão grande transformação! Será uma mudança maravilhosa e cheia de glória. Portanto, essa visão se refere aos dias finais e definitivos, quando se dará a morada eterna dos remidos de Deus na nova terra. Além da beleza exuberante da região por onde passa o rio da vida, o texto diz que esse rio produzirá abundância de peixes. A comparação que o profeta faz é curiosa. Ele não tem outra medida de aferição senão o mar Grande, que é o mar Mediterrâneo, o qual abastecia todas as populações com a abundância do seu peixe. As águas do rio da vida serão tão saudáveis a ponto de o profeta falar dos seus peixes “em multidão excessiva”. Esse versículo de Ezequiel pode ser um indicativo de que, àquela altura, vamos nos alimentar fartamente das carnes dos peixes, pelo menos, e não apenas das frutas das árvores. É provável que a visão desse rio pelo profeta Ezequiel apresente a ideia que mais se aproxima do rio da vida mencionado por João em Apocalipse. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante [lampro.n] como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1). 36 O rio da vida no habitat restaurado 1. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É DE ÁGUA REAL Esse rio tem aparência de água ou é realmente água (H2O)? MacArthur tende a pensar que a água do rio da vida não tem nada a ver com a água que conhecemos hoje. Veja a razão pela qual ele descarta a água desse rio como sendo H2O: A fim de haver um ciclo hidrológico, para existir um rio como nós o conhecemos, teria de haver um mar, porque o rio iria para algum lugar e, então, teria de se dissolver em alguma coisa, ser evaporado e trazido de volta para as fontes das águas para formar o rio novamente. Teria de haver um ciclo que movesse a água. Mas não há nenhum mar. Não há nenhuma criação hidrológica como a conhecemos. Assim, ele é uma espécie diferente de rio. E está claro que este rio está cheio do quê? Da vida. Ele não é de H20.7 É verdade que a expressão “água da vida” tem uma conotação espiritual no Novo Testamento. Em dois lugares específicos, Jesus se referiu a si mesmo como sendo a água da vida. À mulher samaritana, ele disse que “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.13,14). Jesus também disse, com respeito ao Espírito Santo, que aqueles que nele cressem teriam “rios de água viva” fluindo de seu interior (Jo 7.37-39). Portanto, Jesus se descreve como John MacArthur, em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, encontrado no site http://www.gty.org/resources/sermons/66-84/the-capital-city-of-heavenpart-2 (itálicos acrescidos), acessado em setembro de 2013. 7 37 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 a fonte de água viva. Se ligarmos o rio da vida a Jesus, então certamente esse rio é miraculoso e possui uma significação diferente. A linguagem empregada no evangelho de João tem uma conotação espiritual, sem qualquer noção de fisicalidade. De modo diferente, o rio da vida descrito em Apocalipse é de natureza física, e o texto está tratando da renovação da natureza física, não da natureza espiritual. Apocalipse 21 e 22 abordam a restauração do paraíso original, que era físico. Nesse paraíso havia um belo rio que regava o jardim de Deus. Da mesma forma, quando trata do paraíso restaurado, João menciona um rio que banha não um jardim, mas uma cidade. É um rio de água verdadeira, clara como cristal, apontando para sua pureza e glória inomináveis! Se dissermos que a água é de natureza espiritual, a árvore da vida também será espiritual, bem como a cidade e toda a nova terra e os novos céus. Talvez para fugir dessa “espiritualidade” da água, MacArthur afirme de modo estranho que a água do rio da vida “literalmente lampejará como belo vidro de cristal”.8 Para ele, o rio da vida não tem a água real de que o homem precisa para viver. Se a água do rio de Apocalipse 22 não tiver a composição de H2O, ela deixa de ser física e, então, não é mais água que corre num leito físico de uma cidade física. Podemos (e até devemos) admitir que o rio da água da vida é símbolo de coisas puras, santas e gloriosas, mas é um rio de água. Todavia, se dissermos que o homem não mais precisará de água (que é a maior parte da sua composição física), de que será composta a fisicalidade humana na nova terra? John MacArthur, em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, encontrado no site http://www.gty.org/resources/sermons/66-84/the-capital-city-of-heavenpart-2, acessado em setembro de 2013. 8 38 O rio da vida no habitat restaurado 2. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É SINGULAR Nunca se ouviu falar de um rio tão puro, tão limpo, tão brilhante como esse rio do paraíso restaurado. Nesse sentido, ou seja, em sua aparência, ele é uma inovação na criação de Deus, mas é água real da melhor qualidade. Em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, Horatius Bonar disse que o rio da vida “é um rio de esplendor, de esplendor divino e celestial. Nenhum rio terreno teve um brilho tão reluzente pelo sol radiante terreno, nem pode se igualar a este. Ele é brilhante sobre todos e comunica o seu esplendor para aqueles que moram em suas margens. Ele os faz brilhar como o sol. É um rio de glória – Deus o ilumina, e o Cordeiro é a fonte do seu esplendor.”9 João usa a palavra “brilhante” [lampro.n] e cita o cristal [kru,stallon] como modelo de esplendor. A ideia de cristal também aponta para a pureza da água. Daí chamarmos uma água pura de cristalina. O esplendor desse rio é inegável, e talvez não exista uma gema que expresse tão bem a ideia de brilho como o cristal. Todavia, não podemos nos esquecer de que a água do rio é água real, e o seu brilho pode ter uma explicação na natureza vigente na nova terra. Devemos considerar também que a nova terra terá o brilho da glória de Deus (Ap 21.23), e essa glória pode ser a razão da reflexão esplendorosa desse rio semelhante ao brilho do cristal. Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http:// gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012. 9 39 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 3. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É INCOMPARÁVEL Alguns rios da terra são lindos e cantados em verso e prosa. Pergunte aos egípcios qual é o rio mais belo. A resposta será o Nilo; pergunte aos indianos, e a resposta será o Ganges; pergunte aos iraquianos, e a resposta será o Eufrates; pergunte aos brasileiros, e eles vão mencionar, entre muitos, o Amazonas. No entanto, não existe neste mundo um rio que se equipare em beleza e formosura ao rio da vida. O salmista e o profeta Ezequiel tiveram sonhos e visões de rios que, no máximo, apontavam para o que João descreve em Apocalipse. Eles sonharam ou viram apenas vislumbres da glória do rio que todos os cristãos vão conhecer e ver pessoalmente. Se a visão de Ezequiel diz respeito ao rio da vida, quem sabe até daremos uma pescadinha nele, já que produzirá abundância de peixes. Isso é apenas um sonho por enquanto! AS PROPRIEDADES DO RIO DA VIDA O texto não fala especificamente de nenhuma propriedade do rio, mas a forma como ele é chamado oferece alguns indícios que devemos considerar. 1. ELE É UM RIO DE VIDA No presente habitat natural, toda vida naturalmente cessa sobre a terra se não há água. A vida desaparece da terra na falta desse elemento vital. Há várias regiões desérticas no mundo, por onde não passa nenhum rio. Ali a vida praticamente inexiste. Somente o silêncio, a aridez, a desolação e a morte reinam nessas regiões. Apenas a 40 O rio da vida no habitat restaurado irrigação artificial pode trazer alguma esperança para tais ambientes inóspitos. Certa vez, sobrevoei o rio Nilo desde o Cairo até a cidade de Luxor, a antiga Tebas. Foram cerca de 700 quilômetros de voo em que pude contemplar a enorme diferença entre uma terra irrigada e uma terra sem água. Na parte do solo regada pelo Nilo (cerca de 500 metros de cada lado da margem), havia abundância de árvores e até animais, porque a água gera e sustém a vida. Onde as últimas gotas da enchente do Nilo chegavam, o deserto não prevalecia. No entanto, na parte mais distante da margem, onde as cheias do rio não chegavam sequer um dia do ano, havia somente areia e terreno pedregoso. Não havia plantas, animais nem seres humanos. A desolação é algo terrível de se ver. A falta de água é sinônimo de morte! No habitat restaurado, a água ainda se fará necessária. A água é essencial para a geração e a manutenção da vida. Não me refiro aqui à vida espiritual, mas à vida natural. Os homens, os animais e as plantas viverão nesse novo habitat e precisarão da água real, dessa composição de hidrogênio e oxigênio que é essencial para a vida. A nova criação não elimina a nossa composição química que carece desesperadamente de água. Por essa razão, Deus providenciou a água que nos mantém a vida natural perfeita. Se o rio visto por Ezequiel é uma alusão, ainda que limitada, ao rio que foi apresentado a João, então podemos dizer que as águas desse rio despertam e vivificam todos os seres que entram em contato com elas. “Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio” (Ez 47.9). 41 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 As águas do rio da nova Jerusalém têm essa capacidade de dar vida a todas as coisas. Cada gota dessa água manifesta a vida eterna, porque a realidade da vida está presente nesse rio, como seu nome indica. Aqueles que bebem desse rio vivem eternamente. Essa parece ser a ideia do texto pelo simples fato de as águas desse rio procederem do trono do Pai e do Filho. É curioso que Deus use os elementos naturais para explicar os sobrenaturais. A água natural simboliza coisas espirituais. Como a água natural limpa e purifica, assim a água da palavra de Deus, quando usada pelo Espírito Santo, lava o coração do pecador (Ef 5.26). O natural é tipo do sobrenatural. Contudo, precisamos ter o cuidado de não eliminar o natural da nova terra. Ela é a mesma criação renovada, sem as maldições. As águas que ali existirem nunca acabarão porque o rio da vida tem propriedades infindáveis. Todos nós precisaremos beber água natural, não simplesmente espiritual. Ainda que o natural na Bíblia prefigure o sobrenatural, quando o sobrenatural chega, o natural não desaparece. Se o natural desaparecer, então não será mais a nova terra, mas um local de morada diferente, sem qualquer conexão com o habitat original do homem, o jardim de Deus. 2. ELE É UM RIO DE PUREZA No texto grego usado pela Versão Revista e Atualizada, não aparece a palavra “pura”. Todavia, quando utilizamos outro texto grego como fonte de tradução, encontramos a palavra “pura” com referência à água. O texto grego bizantino apresenta as palavras potamo.n [rio] kaqaro.n [puro] u[datoj [água] zwh/j [vida], que significam literalmente “um rio puro de água da vida”. Ainda que o original grego não contivesse o termo “puro”, não se poderia pensar coisa diferente a respeito desse rio. 42 O rio da vida no habitat restaurado Creio que essas realidades apresentadas em Apocalipse são uma referência à obra de purificação que os sacerdotes faziam no Antigo Testamento e que o Sumo Sacerdote perfeito fez nos dias de sua carne. Horatius Bonar disse que “a palavra ‘puro’ quase invariavelmente se refere à purificação sacerdotal ou sacrificial. Esse rio, então, deve sua pureza ao mesmo sangue que torna brancas as roupas dos remidos; e exatamente como o ouro da cidade é chamado de ouro puro, como um cristal puro, assim o rio recebe uma designação semelhante.”10 Os rios desta velha terra são impuros, mas não o rio da nova terra. Este, por sua pureza, limpa tudo o que o cerca e entra em contato com ele. Devemos pensar que a função do rio não é conceder vida em si mesmo ou limpar o que está impuro, porque não haverá coisas impuras dentro da cidade santa. Quando dizemos que ele é o rio de vida, rio de pureza, estamos afirmando que ele mantém as coisas purificadas e limpas. Não permite que nada de imundo penetre em nosso organismo ou mesmo em nossa vida interior. A função desse rio é a manutenção da vida e da pureza. As águas desse rio nos preservarão eternamente em pureza, assim como a árvore da vida não concede vida, mas torna eterna a vida conseguida por Cristo. O rio da vida atravessa a cidade santa e não poderia ser menos do que puro e santo. Nada impuro ou imundo pode passar pela cidade, quanto mais o seu rio, que procede do trono do Pai e do Filho. Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http:// gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012. 10 43 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 “Pensem frequentemente nesse rio, vocês que sentem a impureza de sua alma; devaneiem pela fé para as margens desse rio agora mesmo; refresquem-se com suas águas translúcidas; porque não está prometido que eu darei livremente ao que tem sede da fonte da água da vida? A garantia disso, podemos ter agora mesmo; mas a plena realização está reservada para o dia em que ‘o Cordeiro que está no meio do trono nos conduzirá para as fontes das águas’.”11 Aqueles que bebem desse rio e nele se banham manifestam e mantêm pureza para sempre, porque as suas águas são absolutamente puras (daí a designação “cristalinas”). Esse rio que procede de Deus e do seu Filho nos faz recordar a purificação de nossos pecados. Como o sangue e o corpo de Jesus Cristo, esse rio também é pura comida e pura bebida. Poderemos comer dos seus peixes e beber de suas águas sem qualquer temor de contaminação, porque suas águas são purificadoras. 3. ELE É UM RIO DE GRAÇA Essa não é uma propriedade do rio explicitada no texto, que nem menciona a palavra “graça”. Mas só temos acesso ao rio da vida pela graça, porque tudo o que temos de maravilhoso vem da parte do Deus trino, sem que façamos jus a nada. Esse rio é expressão da graça porque procede do trono de Deus e do Cordeiro. Aliás, enfatizando a ideia da graça que o rio produz, Bonar diz: Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http:// gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012. 11 44 O rio da vida no habitat restaurado “O Cordeiro é, de todos os nomes de Cristo, aquele que mais explicitamente expressa graça, e o canal através do qual essa graça flui para nós. Mencione apenas o Cordeiro, e você proclama o amor de Deus a pecadores, suas riquezas de graça para com os mais indignos dos seres humanos. O Cordeiro é o nome pelo qual Cristo é mais comumente mencionado neste livro; e isto parece ser feito a fim de que nós possamos, no meio dos terrões e glórias dos quais ele está cheio, sentir a graça de Deus que é derramada sobre os moradores desta pobre terra. E esta graça atravessa a eternidade; há graça para ser trazida a nós na revelação de Jesus Cristo. Há a graça da terra, há a graça do céu. Há a graça da primeira vinda e a graça da segunda vinda.”12 O rio da vida é a manifestação definitiva da graça de Deus que vem sendo acumulada no decorrer dos séculos. As águas desse rio gracioso vão nos preservar para sempre em graça a fim de que nossa existência seja de vida e pureza reais! A PROCEDÊNCIA DO RIO DA VIDA “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1). O que torna esse rio da vida tão importante como um rio de vida, de pureza e de graça, rico, abundante e brilhante como cristal, é o fato de ter o seu nascedouro sob Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http:// gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012. 12 45 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 o trono de Deus. A procedência do rio é fator fundamental para lhe conferir tão grande importância. O trono de Deus e do Cordeiro é o cerne do paraíso restaurado. Ali está o centro nervoso de toda a administração da nova terra, que tem como sede a cidade santa. A procedência desse rio indica que é um rio cheio de poder. Por essa razão é dito que ele mantém a vida, conserva a pureza e manifesta a graça com que Deus nos trata. A procedência do rio aponta para a autoridade do Pai que é compartilhada pelo Filho, porque ambos possuem um trono. Porque o rio provém do trono, podemos dizer que a água da vida, a água pura e a água graciosa procedem do Pai e do Filho, que são a fonte do rio da vida. Esse rio procedente do trono certamente infunde algum tipo de poder em nós, o qual se manifesta em vida, pureza e graça. Todo que bebe desse rio vindo do trono tem garantias eternas. Viver às margens desse rio será uma indizível bem-aventurança; beber dele será uma poderosa manutenção de vida abundante; banhar-se nele será uma ação de purificação. Participar das bênçãos desse rio é realmente estar no paraíso! Na verdade, em última instância, se entendemos que o paraíso (a cidade santa) desceu do céu (e pessoalmente eu creio nisso!), podemos dizer, sem margem de erro, que esse rio gracioso tem as suas fontes no céu, onde hoje está o trono de Deus. Então, esse paraíso trazido para cá vem com o mesmo trono, e desse trono as águas resplandecentes, vitalizadoras, purificadoras e graciosas continuam a jorrar. Semelhantemente à árvore da vida colocada no jardim original, no Éden, o rio da vida é bom para dele se beber porque é puro, é agradável aos olhos porque é brilhante, é desejável porque é gracioso. Nenhum rio deste mundo, por mais belo e limpo que seja, pode ser comparado ao rio da vida que João descreve, porque não possui as qualidades e as glórias manifestas nele. Nem o Jordão, 46 O rio da vida no habitat restaurado nem o Nilo, nem o Eufrates ou mesmo o extraordinário Amazonas podem ser comparados ao rio da vida que procede do trono do Pai e do Cordeiro! Aqueles são rios da velha terra, este é o rio da nova terra. Nesse caso, diferentemente do vinho, o novo é preferível. A LOCALIZAÇÃO DO RIO DA VIDA “No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos” (Ap 22.2). No coração da porção seca, onde Deus plantou pessoalmente um jardim para o deleite das suas criaturas, passava um rio. Esse primeiro rio mencionado na Escritura atravessava o jardim de Deus e tinha nascedouro no Éden, a grande porção seca chamada terra. “E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços” (Gn 2.10). O rio entrava no jardim procedente de outra parte do Éden, e dali se dividia em quatro braços. O rio não nascia no jardim, mas passava pelo jardim de Deus, o paraíso. Nessa visão de João há outro rio, que não corre no meio de um jardim, mas de uma cidade, chamada cidade santa ou nova Jerusalém. Não podemos nos esquecer de que a cidade santa é substitutiva do jardim que havia no Éden. Diferentemente do primeiro rio, o rio da vida tem as suas fontes no trono de Deus e do Cordeiro, que está 47 o habitat humano — o paraíso restaurado 2 no coração da cidade, em seu setor central de governo. A fonte desse rio é divina, e suas águas são brilhantes como cristal. A cidade é dividida em duas partes pela passagem do rio. Toda ela recebe os benefícios salutares desse rio puro e de águas tranquilas e belas. Há um sentido em que as águas desse rio “alegram a cidade de Deus” (Sl 46.4) e produzem abundante alimento vitalizador para todos os seus habitantes (Ez 47.9). Esse rio que banha a cidade contém todas as bênçãos físicas que um rio pode oferecer porque tem sua fonte na divindade. Também é indicativo de todas as bênçãos espirituais advindas do Deus trino. Por essa razão, podemos dizer que esse rio da cidade é uma torrente das delícias de Deus (Sl 36.8). Suas bênçãos físicas e espirituais não têm nascedouro em qualquer fonte terrena: nem nas montanhas nevadas, nem na rocha do deserto ferida por Moisés, nem mesmo no santuário (Ez 47.1), mas no trono de Deus e do Cordeiro. 48