Mosteiros Beneditinos no Vale do Sousa

Transcrição

Mosteiros Beneditinos no Vale do Sousa
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Deste modo, propõe-se ao jovem estudante de História da Arte ou de outra área afim um percurso
Breve Introdução
turístico, de um dia, por estes mosteiros, não sendo este guia exclusivamente para este público-alvo.
O Vale do Sousa é uma sub- região do Norte de Portugal que engloba os concelhos de Castelo de Paiva,
Felgueiras, Penafiel, Lousada, Paredes e Paços de Ferreira.
O objectivo será o percurso iniciar nos Mosteiros Beneditinos de linguagem Românica, prosseguindo
para os Mosteiros de linguagem Barroca existindo, deste modo, uma continuidade na História da Arte
Região rica em património edificado e tradições, seria necessário fazer uma abordagem à existência dos
destes edifícios da Ordem Beneditina, possibilitando ao visitante entender as transformações ocorridas e
Mosteiros Beneditinos desta mesma região. A razão prende-se pelo facto da Ordem Beneditina ser uma das
sua evolução ao longo dos tempos.
mais antigas Ordens do Ocidente, responsável pela evolução cultural, sendo a sua presença bastante visível
Qualquer interessado pela área o poderá usar com o intuito de aprofundar os seus conhecimentos. Não
no Vale do Sousa.
se pretendeu a elaboração de um guia exaustivo, mas apenas com o que se julgou essencial para o
visitante entender a edifício e sua envolvente. A Rota terá o seu início no Mosteiro de Cete – Edifício
Âncora.
A visita dos Mosteiro de Cete e Paço de Sousa será aconselhada em conjunto devido à sua proximidade
geográfica, ocupando a parte da manhã. O Mosteiro de Bustelo e Pombeiro serão visitados na parte da
tarde. Assim, a Rota terá o seguinte percurso: Cete, Paço de Sousa, Bustelo e Pombeiro.
E porque, por vezes, as pedras falam mais do que as palavras, ficam os votos de uma excelente visita.
Luís Leite
Janeiro de 2006
Região do Vale do Sousa
O Vale do Sousa possui quatro mosteiros Beneditinos de grande importância para o panorama da História da
Arte de Portugal a saber: Cete (Paredes), Paço de Sousa (Penafiel), Bustelo (Penafiel) e Pombeiro (Paredes).
Todos os mosteiros têm fundação românica ou anterior. No entanto a fisionomia e a linguagem dos mesmos
foi sendo alterada com o decorrer dos tempos de acordo com o que estava em voga. Actualmente, conseguese distinguir nos mosteiros beneditinos do Vale do Sousa dois grupos de linguagens predominantes: românica
e barroca. Nenhum dos edifícios, mantém nos dias de hoje a total pureza de estilos. Cete e Paço de Sousa
são predominantemente de linguagem românica, embora o último com importantes modificações na época
barroca da sua cabeceira. Bustelo e Pombeiro sofreram grandes alterações na época barroca, cuja linguagem
predomina.
Indíce
Bibliografia
Pág.
ƒ Almeida, Carlos Alberto Ferreira de, História da Arte em Portugal – O Românico, Editorial
Presença, 2001;
São Bento e sua Regra..................................................................................................................................2
ƒ Almeida, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Selecções do Reader’s
Digest, 1980;
Cluny................................................................................................................................................................5
ƒ Smith, Robert C, A Talha em Portugal, Livros Horizonte, 1962;
ƒ Serrão, Vítor, História da Arte em Portugal – O Barroco, Editorial Presença, 2003.
A Chegada dos Beneditinos a Portugal........................................................................................................6
O Mosteiro ou Convento Beneditino............................................................................................................8
Estilo Românico...........................................................................................................................................12
Estilo Barroco...............................................................................................................................................16
Bibliografia...................................................................................................................................................30
São Bento e sua Regra
A tradição diz que São Bento viveu entre 480 e 547, embora não se possa afirmar
com certeza que essas datas sejam historicamente correctas. São Bento, juntamente
com sua irmã Escolástica nascem em Núrsia, um vilarejo no alto das montanhas, a
nordeste de Roma. Foi para Roma estudar, mas achou a vida da cidade eterna
demasiado degenerada. Por conseguinte, mudou-se para Subiaco, onde viveu como
eremita durante três anos.
Isolado do mundo, aí escreveu a sua Regra. Foi superior de doze pequenos mosteiros até 529, altura em que
se dirigiu para Montecassino e aí funda o primeiro mosteiro típico do Ocidente. Toda a Europa tornou-se um
canteiro de Mosteiros Beneditinos. Plantados no meio das florestas, logo eram procurados pelo povo, que ao
seu redor fundavam cidades.
Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa
eficazmente o conselho de um bom pai, para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de quem te
afastaste pela desídia da desobediência. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que,
renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar
sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei.
Prólogo da Regra de São Bento
A Regra de São Bento, escrita no século VI é um conjunto de preceitos destinados a
regular a vivência de uma comunidade monástica cristã, regida por um abade.
Escrita numa altura em que alastravam, por toda a Cristandade, inúmeras regras,
começou a ter sucesso sobretudo a partir do século VIII, quando os Carolíngios
ordenaram que fosse a única regra monástica autorizada nos seus territórios. A partir
daí, esse preceito estendeu-se ao resto da Europa, sobretudo com o advento da reforma gregoriana. Foi
também adoptada, com igual sucesso, pelas comunidades regrantes femininas.
Pode-se dizer que a regra tem sido um guia, ao longo da sua existência, para todas as comunidades cristãs
da Cristandade Católica e, desde a Reforma Protestante, também aplicável às tradições Anglicana e
Protestante.
O espírito da Regra de São Bento resume-se em dois pontos: o lema da Ordem de São Bento (pax - «paz»),
que nasceria séculos mais tarde, como resultado da união de vários mosteiros que partilhavam a mesma
regra; e ainda o tradicional ora et labora («reza e trabalha»), súmula da vida que cada monge deve levar.
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Bento estabeleceu que nenhuma ocupação, tanto de trabalho como de oração, podia ser prolongada além de
Pela obediência, o monge retorna a Deus: obediência a Deus, ao abade e aos irmãos. Tudo leva à
3 horas contínuas, para que o monge não fosse vítima do cansaço físico ou da aridez espiritual.
humildade que, com a obediência, torna a alma disposta em relação a Deus. Jesus Cristo é o companheiro do
retorno ao Pai.
Na sua Regra, São Bento, determina para os seus monges sete horas canónicas, seguindo o que diz o
Salmista:” Louvei-vos sete vezes por dia”(Sl 118,164). Essas horas canónicas são as Matinas, Laudes, Terça,
A oração ordena a vida do monge: a principal é o Opus Dei (Obra de Deus), o Ofício litúrgico comunitário. O
Sexta, Noa, Vésperas e Completas.
dia e as actividades do monge estão organizados em torno das Horas do Ofício, cujo conteúdo são os
Salmos, os Hinos, leituras da Sagrada Escritura e comentários dos Santos Pais.
As Laudes ou oração da manhã, são consideradas como as horas principais e como tais sejam celebradas.
Este louvor da manhã consagra os primeiros momentos do nosso dia a Deus. Após as trevas da noite,
Foi impressionante a difusão da Regra de São Bento. Seu maior entusiasta foi o papa Gregório Magno, que a
renasce um novo dia, lembrando a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, “luz verdadeira que ilumina
prescreveu aos mosteiros romanos e recomendou-a para a Inglaterra e Irlanda. Dali foi comunicada aos
todo o homem”(Jo 1,9). As Vésperas recebem o seu nome do astro luminoso Vésper (Vénus), que começa a
alemães e francos.
brilhar logo que caem as trevas da noite. Celebradas à tarde, ao declinar do dia, conclui o dia e dá início à
noite, agradecendo a Deus os dons por ele recebidos naquele dia. Elas lembram também que o Cristão deve
No reino franco, o rei Carlos Magno foi seu grande entusiasta e em 802 impôs a regra a todos os mosteiros
cultivar a esperança na vinda definitiva do Reino de Deus, que se dará no fim da jornada deste mundo quando
do Império. Seu filho, Luiz o Pio, quis que todo o clero vivesse em comum sob essa Regra. Pode-se dizer que
habitarmos a Jerusalém Celeste, onde não se precisará mais da lâmpada nem da luz do sol. A Terça (9h),
entre os anos de 800 e 1100, todos os mosteiros europeus eram beneditinos. Os soberanos viam nos
Sexta (12h) e Noa (15h) evocam cada uma um acontecimento do Evangelho ou dos Actos dos Apóstolos. As
mosteiros uma força extraordinária de fé, cultura e civilização, tudo fizeram para tornar a vida monástica o
Completas rezam-se antes do repouso da noite. Nesse momento faz-se um acto penitencial pelas faltas
ideal de vida cristã e de cultura. Os monges tudo fizeram por merecer essa confiança da sociedade, mas
cometidas naquele dia.
correndo o perigo do privilégio e da perda da autonomia.
O monge faz voto de estabilidade na congregação. Retornando de uma viagem necessária, não deve contar
nada do que viu ou ouviu. O silêncio é prescrito mas, havendo necessidade, pode ser rompido.
O mosteiro deve ser construído de modo que tenha tudo o necessário: água, moinho, quintal e
oficinas. O trabalho é imposto como exigência da pobreza.
Mosteiro de Montecassino
O entusiasmo imperial pelos mosteiros trouxe um aspecto negativo: tornou-os sempre mais dependentes dos
príncipes e independentes dos bispos e do papa, com o risco do enriquecimento. Um mosteiro rico
Figura central do mosteiro é o Abade (Pai): no mosteiro ele ocupa o lugar de Cristo. Deve ser bom e santo,
rapidamente esquecia o princípio beneditino da pobreza, do trabalho manual. Passava perigosamente a viver
governando mais com o exemplo do que com palavras. É o Pai espiritual, bondoso, sendo mais
de rendas. Muitos nobres e ricos passavam as suas posses aos mosteiros, com a condição de que neles se
misericordioso do que justo. Eleito pela comunidade dos monges, tem cargo vitalício de pleno poder, nada
rezasse por suas almas. Surgem assim mosteiros imensos, ricos, poderosos, com abades também poderosos
podendo ser feito sem ele. Mas, deve cercar-se de conselheiros administrativos e espirituais, repartindo com
e ricos, perdendo-se o espírito da Regra de São Bento, que era a obediência, a pobreza e a humildade.
eles o cargo.
O trabalho, essencial na vida monástica, passa a ser um adereço simbólico. Em outras palavras, os mosteiros
Quem ingressa no mosteiro, está decidido a voltar para Deus através de uma vida de obediência. Deus é o
precisavam readquirir sua independência frente ao poder político.
fim da vida monástica. Está presente em toda parte com sua imensidade, provocando na alma doce confiança
e coragem, acção de graças e, sobretudo, amor, que é o primeiro instrumento das boas obras.
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Refere a tradição que os Monges Negros (Beneditinos) entraram na Península Ibérica ainda no tempo de
Cluny
S.Bento, o qual teria incumbido doze dos mesmos de virem estabelecer casas claustrais na Península. Na
Em 909, é fundado em Cluny, na Borgonha francesa, um mosteiro que tem como ideal recuperar a
Tarraconense fundariam a de São Pedro de Cardenha (a primeira da futura Espanha) e em Lorvão a igreja de
independência e o espírito beneditino. Por isso foi logo colocado sob a protecção da Santa Sé e obteve a
S.Pelágio e S.Mamede (a primeira do futuro Portugal). No entanto, já no século VI havia em Lorvão um
garantia de livre eleição de seu abade.
Mosteiro, porém é arriscado afirmar que pertenceria à Ordem de S. Bento. Certo é, que foi com Henrique de
Borgonha, parente do Abade Hugo de Cluny, que os Beneditinos entram no então recente Condado
Cluny recupera toda a riqueza da vida monástica, com especial atenção para a liturgia. Em pouco tempo,
Portucalense. Entre nós, como na Europa, os frades bentos viveram do trabalho manual, cultivando e
muitos mosteiros se uniram a Cluny, outros são fundados no mesmo espírito e a vida beneditina readquire
ensinando a cultivar as terras doadas por devotos e reis. Foram hábeis agricultores e com o seu esforço
força espiritual em toda a Igreja, sendo a causa principal de sua reforma no século XI, a Reforma
contribuíram para o aumento da riqueza pública e povoamento de lugares ermos. Promoveram a expansão da
Gregoriana. O abade de Cluny tinha autoridade sobre todos os mosteiros confederados, deles escolhendo os
cultura mental, formando arquivos e livrarias nos seus conventos, fazendo cópias de livros antigos. Parte do
abades. Isso já era um perigo pois, no espírito da Regra, cabia aos monges escolhê-lo.
desenvolvimento agrícola e populacional de Entre Douro e Minho, onde houve em maior número mosteiros
beneditinos, deriva da sua acção. Os conventos beneditinos fundados especialmente antes do século XIV
A fama de Cluny foi tanta que em pouco tempo quase toda a vida beneditina dependia desse mosteiro. Mas, a
viveram, em geral, em larga prosperidade. No entanto a partir de 1230 um mal principiou a corroê-los – a dos
fama foi o seu perigo: doações e mais doações tornaram-no rico, esplendoroso, chegando a ter a maior igreja
padroeiros que quase só cuidavam de gozar os proveitos da função. Manifestaram-se a indisciplina, e em
do Ocidente. E assim, novamente foi prejudicado o espírito genuíno da Regra. Um mosteiro rico não tem
alguns conventos a pobreza. Bento XII tentou uma reforma que se mostrou inútil. Alguns conventos foram
necessidade de trabalho.
extintos e convertidos em igrejas paroquiais ou anexados a outros.
Surge assim uma reforma dentro da reforma: alguns beneditinos se refugiam nos fundos de uma floresta,
Outro mal que surgiu, fomentado pela cobiça causando mais danos aos conventos, foi o dos abades
como num deserto, em busca da liberdade para encontrar a Deus, para o trabalho manual e celebrar a liturgia
comendatários. Em 1500 não havia um mosteiro livre dessa praga. As comendas serviam à coroa para
galardoar serviços de leigos e seculares e eram disputadas com ardor devido à riqueza beneditina. Impunha-
com simplicidade.
se assim nova reforma.
Roberto de Molesme com 21 companheiros funda o “Mosteiro Novo” em Cîteaux, em 1098, dando o nome à
nova Ordem beneditina: os Cistercienses.
No ano de 1112, entra em Cîteaux, com um grupo de 30 companheiros, Bernardo, que, em 1153, funda o
mosteiro de Claraval (Clairvaux).
São Bernardo recoloca a vida monástica no princípio da pobreza e da obediência. Foi tamanha a aceitação da
Brasão da Congregação Beneditina
reforma cisterciense que, em 1153, já havia 350 mosteiros seguindo sua interpretação da Regra.
(Mosteiro de Pombeiro de RibavizelaFelgueiras)
Em 1549 o último comendatário de Santo Tirso, D. António da Silva, em conjunto com a rainha D. Catarina,
conseguiu que viessem de Castela dois frades para realizarem essa obra: Frei Pedro de Chaves e Frei
A Chegada dos Beneditinos a Portugal
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Plácido de Vilalobos. D. Sebastião pediu ao Papa o estabelecimento da Congregação Beneditina (reunião dos
mosteiros segundo uma única regra e chefia). Pio V em 1566 nomeou Frei Pedro de Chaves como visitador,
reformador e Dom Abade de Tibães (sede da Congregação e onde, em 1570, se reuniu o primeiro capítulo
geral da mesma) com poderes latos por 10 anos. No fim do século XVIII verifica-se uma nova decadência e
impunha-se nova reforma. Todavia estavam próximos os tempos do Liberalismo. Uma lei de 1822 suprimiu
alguns mosteiros; porém não foi cumprida devido à contra-revolução de 1823. Finalmente em 1834 foi
decretada a extinção plena das ordens religiosas, cujos bens ficaram integrados na Fazenda Nacional. 30
anos antes da Republica renovou-se a Ordem Beneditina no antigo convento de Cucujães por diligencias de
Frei João de Santa Gertrudes Amorim. Pouco depois em Santo Tirso criou-se o convento de Singeverga.
Planta do Piso 2 do Mosteiro de S.Martinho de Tibães
O termo convento, do latim conventus que significa "assembleia", advém originalmente da assembleia romana
onde os cidadãos se reuniam para fins administrativos ou de justiça (convéntum jurídicum). Posteriormente
passou-se a utilizar com sentido religioso, relativamente ao monasticismo quando, para melhor servir e amar
a Deus, os homens se retiravam do mundo, primeiro sozinhos, depois em grupos de monges (comunidades
religiosas), para edifícios concebidos para o efeito, os conventos. Este conjunto de edifícios também pode ser
designado por Mosteiro, do grego monos (só), e que designa um grupo de construções de residência e
prática religiosa de monges ou monjas.
São Bento, no Ocidente, foi o primeiro a criar a estrutura de um convento. Depois, ao trabalho da Igreja,
juntou-se o das cruzadas desde o século XII nas Ordens militares, e o dos apostolados nas Ordens
mendicantes. Os conventos, fosse qual fosse o estilo arquitectónico da sua construção, tiveram sempre um
traçado fundamentalmente igual, devido às exigências da vida religiosa em comunidade: a igreja conventual
com o coro; o claustro no rés-do-chão para onde abriam as salas em que se realizavam os outros actos de
vida em comum; a sala do capítulo para as reuniões solenes de instrução e correcção donde normalmente
também eram erguidos o refeitório e a biblioteca; em cima, a toda a volta, corriam os dormitórios, com
celas individuais; ao redor do edifício, a cerca. Esta última tinha como função a manutenção da sua
comunidade. Deste espaço vinham os legumes, a fruta, o linho, a caça, a lenha, a madeira para as
construções, a forragem e pevides para os animais; na Cerca, lugar de experimentação de novas técnicas e
culturas, funcionavam os moinhos de pão, o engenho de serrar madeira e o engenho do azeite.
O Mosteiro ou Convento Beneditino
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Aspecto da Cerca (São Martinho de Tibães)
Claustro do Cemitério (São Martinho de Tibâes)
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Mosteiro de Bustelo
temporais: igrejas anexas, passais, etc. Logo que o
Abade Comendatário falecesse a anexação seria
completa. D. António de Azevedo morreria somente
oito anos depois. Deste modo, o Mosteiro de Bustelo
Quem vista hoje o Mosteiro de Bustelo ainda pode
poderia ter o seu abade trienal, eleito em Capítulo
passear por caminhos pertencentes à antiga cerca e
como os restantes. Munido de procuração do Abade
contemplar o que resta do aqueduto que abastecia de
Geral ( Frei Baltasar de Braga), Frei João de Rosário
água o antigo mosteiro. No entanto, a desolação invade-
vem , em seu nome, tomar posse do Mosteiro e
nos ao ver as antigas instalações conventuais em ruínas,
consolidar a sua entrada na Congregação. Frei João
sombras do mosteiro que foi em tempos.
do Rosário será o primeiro Abade trienal de Bustelo.
Fundado no século XI, o Mosteiro de Bustelo vive, como
No século XVII contam-se várias intervenções, que
as restantes casas desta ordem, um período de
incidiram sobre o claustro, a portaria, os dormitórios,
apagamento, entre os séculos XIII e XVI. Para este
e outras dependências conventuais. Foram, no
declínio não foi estranha a entrada dos Abades
entanto, as obras do século XVIII que marcaram
Comendatários, no século XV, o que representou um
decisivamente a arquitectura do mosteiro e lhe
rude golpe na ordem temporal e espiritual destas casas.
conferiram o aspecto que hoje conhecemos.
A reforma Beneditina chegou a Bustelo em 1584
A igreja teve início em 1695, sob o projecto do abade,
segundo documentos disponíveis. Em 1588 Frei Baltasar
D. Manoel do Espírito Santo. Contudo, em 1704, Frei
de Braga toma posse do Mosteiro de Bustelo por parte
Matias de Lacerda, acabou por mandar deitar abaixo o
da Congregação de S.Bento. A cerimónia que teve lugar
dito alçado, por considerar ser muito "defeituoso",
no próprio mosteiro a 21 de Maio de 1588, foi precedida
conservando apenas as torres. Entretanto, Frei
dois dias antes por uma intimação e notificação do acto
Jerónimo Peixoto, deu continuidade às obras, a partir
ao abade Comendatário de Bustelo, D. António de
de 1698, edificando a livraria e os dormitórios. O já
Azevedo. O facto de este ainda se encontrar vivo não
referido Frei Matias, continuou a igreja, dotando-a da
impedia a tomada de posse do Mosteiro por parte da
abóbada do coro e da nave, lançando a escada que
Congregação Beneditina, uma vez que a ela não se
liga o coro ao claustro. O plano geral obedece aos
opunha. Tendo o Padre Prior Frei Bento do Rio Douro
modelos conventuais beneditinos, com igreja de
tocado a Capítulo, logo os monges de Bustelo se
planta cruciforme, de nave única, com coro alto e
reuniram, juntamente com o Abade Geral, para
capela-mor, apresentando as restantes dependências
ouvirem o conteúdo das bulas de consagração.
articuladas em função do claustro, de dois pisos (o
Integrado o Mosteiro de Bustelo na Congregação
primeiro com arcaria e o segundo fechado) e com uma
Beneditina, cerca de vinte anos após a sua fundação,
fonte
entrava-se também na posse de todos os seus bens
A fachada da igreja, flanqueada pelas torres, é aberta
ao
centro.
pelo
portal
principal,
encimado
pelo
frontão
interrompido a que se sobrepõem dois janelões e um
nicho. Remata o conjunto, um frontão contracurvado.
Digno de nota é o altar-mor da igreja do mosteiro de
Bustelo em estilo joanino. No aparato do estilo figura
uma diversidade de baldaquinos e sanefas de cortinas
e de panos, de fragmentos de arcos e outros motivos
arquitectónicos. São geralmente acompanhados de
figuras angélicas e alegóricas. Mantém-se a coluna
espiral, como baluarte principal do retábulo.
Atribui-se a execução do retábulo a Manuel da Costa
de Andrade e às lições de Miguel Francisco da Silva.
Aparece na base o emblema do vaso barroco de
flores, desta vez em companhia de bustos em
medalhões ovais, com riquíssimas molduras joaninas,
e da escultura, bela mas estranha, das mísulas com
meios corpos femininos extravagantemente nus,
dinamicamente dispostos por baixo de mascaras de
“luas sorridentes”. De facto não há documentação
mas tudo leva a situar o retábulo mor entre os anos
de 1745 e 1750 por causa de duas inovações. A
primeira é o carácter pouco arquitectónico do remate,
composto de tarjas com elementos de conchas e
volutas,
numa
massa
de
linhas
e
formas
movimentadas, enchendo o arco absidial.
A segunda é a forma dos fustes das colunas, com
grinaldas e caneluras no terço inferior.
Os altares laterais são de estilo rococó assim como o
fabuloso cadeiral do coro alto composto por 25
lugares, em cujos espaldares se relatam as vidas de
São Bento e Santa Escolástica
Imóvel de Interesse Público, Dec. nº 29/84, DR
145 de 25 Junho 1984
além Pirinéus o envio de monges em número e
Mosteiro de Cete
coragem suficientes para dar vida ao cenóbio. E
vieram de um grande mosteiro beneditino existente
O visitante a chegar a Cete não fica alheio a toda a
na cidade de Cette. Dos beneditinos de Cette, que
envolvente do Mosteiro. Situado em pleno meio rural
continuaram a afluir, ficou a obra, a tenacidade e o
é um marco importantíssimo da nossa arquitectura
nome dado pelo povo ao mosteiro e ao lugar.
românica e símbolo das vivências dos nossos
antepassados. Logo no início da sua existência sofreu
Encimada por ameias recortadas e com sineiras
devastação tal que justifica o carácter de fortificação
abertas muito posteriormente e que muito lhe
que apresenta. Compromisso arquitectónico entre as
diminuem o aspecto bélico, a torre eleva-se em
formas góticas e as tradições estruturais e de
seguimento à fachada principal da igreja, num
elementos decorativos românicos, a igreja de Cete
mesmo plano vertical. Três gárgulas zoomórficas
enquadra-se
esplêndidos
salientam-se da lisura granítica da torre e o seu
arvoredos e campos, sempre motivo de regalo para os
pavimento térreo é coberto por uma abóbada de
olhos.
ogivas cujo impulso para o exterior é suportado
numa
paisagem
de
por
original
contraforte
de
ornamentação
Nem a menor ideia se pode conceber do que terá sido
manuelina. O visitante entra na igreja do mosteiro
o primeiro mosteiro de Cete. Referem-se a ele
pelo portal principal (1). Embora gótico, este revela
antiquíssimas crónicas que falam da conversão de
a persistência das proporções românicas. Um friso de
dois
Mosara,
bolas rodeia as arquivoltas sustentadas por três pares
importantes e ricos proprietários de extensos
de colunelos com capitéis ornamentados com
territórios entre Douro e Minho. Estava-se então na
folhagens e caras. Pormenor de raridade em templo
primeira metade do século IX e mantinha-se grande
de certa importância é a pedra de armas emoldurada e
parte da Península Ibérica sob o domínio muçulmano.
inserida logo acima do ponto das arquivoltas, ao que
Com o ardor próprio do neo convertismo, Samora e
se julga brasão dos Oveques e Braganções,
Mosara quiseram participar na recuperação cristã
reconstrutores e fundadores do mosteiro na segunda
correndo todos os riscos que tal compromisso
fase da sua existência (séc XI). O eixo axial da alta
envolvia. Assim, decidiram fundar um mosteiro
frontaria
próximo do povoado de Vila Douro, ao qual doaram
(reconstruída) de modesta dimensão e desenho
largas e boas terras na margem direita do Sousa.
geométrico simples.
mouros,
chamados
Samora
e
abre-se
depois
com
uma
rosácea
Principal problema era formar a comunidade, pois as
circunstâncias religiosas e políticas e a escassez de
população cristã em nada facilitaram o agrupamento
de religiosos. Samora e Mosara acabaram por seguir o
melhor exemplo de então: pedir a uma ordem religiosa
Entrado na igreja deparamo-nos do lado esquerdo
com a capela tumularia de D. Gonçalo Oveques (2).
Guarnecem o portal da capela duas arquivoltas de
1
ponto, a exterior ornamentada com friso floral.
Do lado meridional foram recuperados dois trechos de
Abobadas polinervadas, cujos arcos arrancam de
singela beleza e encanto – o Claustro (7) e a Sala
quartelas sextavadas e com um bocete armoriado na
do Capítulo (6). O acesso à igreja é praticado por
pedra de fecho, cobre a capela onde se guarda o
uma porta (5) com perfis geométricos com a
excelente túmulo de D. Gonçalo Oveques, de frontal
mínima decoração e tímpano apoiado em dois
composto por cinco painéis cheios de decoração
largos cachorros, considerada o mais antigo
vegetalista e divididos por pares de caules cruzados,
testemunho arquitectónico do monumento. A
avançado por azulejos mudéjares quinhentistas.
austeridade
domina
o
claustro
harmónico,
espiritual, com arcarias de volta perfeita e simples
Comprida e alta, a nave (3) é como uma galeria que
chanfros, suportada por colunas oitavadas e de
conduz à capela mor,(4) mais baixa, de arco triunfal
capiteis não decorados. Na fachada Norte, duas
apontado e aparado em chanfro, com friso de bolas
portas a par de estilo e dimensões bem distintas: uma
por ornato e apoiado em colunas com capiteis
gótica e com ornamentação fitomórfica sendo a outra
esculpidos – um vegetalista, outro com cabeças
de dois arcos concêntricos de volta perfeita e sem
humanas; sobre o arco uma pequena rosácea. Os dois
ornatos – resurgiram após as obras de restauro
sectores, recto e cilíndrico, da capela mor são
efectuadas pelos Monumentos Nacionais.
7
cobertos por abobadas: ogival a primeira, apoiada em
dois fortes arcos torais; a segunda, em quarto de
esfera sobre arcatura cega e colunas capitelizadas.
Esta notável arquitectura deve-se a ampliações
4
realizadas no século XIV pelo Abade D. Estevão cujos
restos mortais aqui jazem, do lado do evangelho, sob
a sua estátua jacente, de mitra e báculo.
8
6
3
7
5
2
1
3
3
1 – Entrada Principal
2 – Capela com Túmulo de D.
Gonçalo Oveques
3 – Nave
4 – Cabeceira
5 – Porta de acesso ao Claustro
6 – Sala do Capítulo
7 – Claustro
8 – Portais Norte
Monumento Nacional, Dec.
16-06-1910, DG 136 de 23
Junho 1910
Mosteiro de Paço de Sousa
com as despesas. Nem sempre o desafogo
económico corresponde a boa administração. A
história do mosteiro de Paço de Sousa está
cheia de altos e baixos. De 1429 existe uma
A obra da fundação do grande mosteiro beneditino de
carta ao mosteiro condenando os que alienavam
Paço de Sousa dignifica a memória do cavaleiro
as propriedades dos mosteiros, que davam ou
Trocosendo Guedes, que no século X combateu
vendiam como se fossem bens próprios. No
bravamente contra os muçulmanos que há mais de
início os monges resistiram à visitação e à
200 anos dominavam quase toda a terra ibérica.
reforma, mas nada conseguiram. No mosteiro
Iniciada nos fins do século X a edificação do mosteiro
não existia um único livro da Regra de S. Bento
recebeu depois várias modificações, especialmente
e por isso ninguém fazia ideia dela. Frei João
importantes as realizadas nos séculos seguintes. Hoje
Alvares traduziu-a do latim e ofereceu-a. Frei
pouco ou nada resta do primitivo templo. Junto ao
João
mosteiro erguia-se o paço senhorial que deu o nome
constituições bem ordenadas, que o papa Paulo
ao lugar. Pero de Trocosendes, filho do fundador,
II aprovou. No entanto, o Cardeal D. Henrique
casou com D. Toda Ermigues que já tinha um filho do
estabeleceu a discórdia no mosteiro. Abade de
primeiro casamento, Ermigo Viegas, a quem viria a
Paço de Sousa durante 18 anos, quis beneficiar
caber, com arranjos e partilhas de heranças, o
a Companhia de Jesus resignando em favor dela
padroado de Paço de Sousa, embora não fosse
os seus direitos abaciais. Depois desfechou
representante natural do fundador. Ermigo Viegas foi
novo golpe contra os beneditinos com a doação
avô de Egas Moniz e este, recebendo legítimos
do próprio mosteiro aos Jesuítas. O papa Gregório
direitos e deveres sobre o Mosteiro de Paço de
XIII ordenou a limitação da dádiva à “renda da mesa
Sousa, aqui realizou obras tão importantes que
abacial” – os beneditinos mantinham a posse do
justificaram expressa visita de D. Mafalda, mulher de
mosteiro e a “ renda conventual” que permitia a
D. Afonso Henriques. Egas Moniz doou o paço e
existência
outras propriedades ao mosteiro. O Concílio de
independente quanto possível e sem admitir a
Coiança (1050) recomendara a regra de S. Bento às
intervenção dos Jesuítas na vida conventual. Com o
numerosas comunidades que se iam formando na
decreto da expulsão liberal os beneditinos saíram e o
Europa, e alguns desses mosteiros beneditinos
mosteiro foi vendido a particulares e a igreja entregue
alcançaram em Portugal notabilidade e privilégios
ao povo. Em 1927 um grande incêndio apressou a
consideráveis, como os de Lorvão, Tibães, Santo
restauração empreendida pela Direcção geral de
Tirso, Arouca e Paço de Sousa.
Monumentos Nacionais.
colocou
da
tudo
onde
comunidade
devia
de
e
1
fez
S.Bento
tão
A importância da igreja de Paço de Sousa na nossa
arquitectura românica é significativa, pois representa
Nos primeiros tempos os monges de Paço de
um modo de construir e sobretudo de ornar, muito
Sousa estavam obrigados a dar um jantar aos
própria da bacia do Sousa e Baixo Tâmega, ao qual M.
bispos do Porto sempre que por aqui viessem, mas
Monteiro, devido às suas características regionais,
em 1116 o bispo D. Hugo renunciou a esse direito.
denominou de “ românico nacionalizado”. Marcam-se
De qualquer forma, o mosteiro podia arcar bem
na frontaria os três corpos das naves – o central,
4
ladeado até meia altura por dois gigantes ligados no
perspectiva. O outro cenotáfio revela um maior rigor a
topo por um friso de modilhões, tem a valorizá-lo um
nível escultórico. No facial dos pés representa-se a
portal gótico de cinco arquivoltas apontadas (1),
cena da sua morte, com Egas Moniz na cama e saindo
coluna com capitéis de temas fitomórficos biselados,
de sua boca uma figura desnuda que simboliza a sua
e tendo superiormente entre os contrafortes cornija
alma eleita. Esta é recolhida por dois anjos. Ao seu
ornada por modilhões figurando animais. Sobre as
lado aparecem quatro mulheres a chorar. No outro
mísulas, em bovídeo e cabeça humana, o tímpano é
topo representa-se a sua tumulação presidida por
decorado com um círculo central contendo uma
bispo com báculo, mitra e livro. Na face lateral frontal
inscrição, ilegível, ladeado inferiormente por dois
representa-se a lenda da sua viagem a Toledo onde se
6
círculos onde estão esculpidos dois bustos humanos
evidencia a melhoria técnica, estilística e narrativa.
sustentando o sol e a lua e uma rosácea de anéis
encadeados com rico emolduramento. A igreja de
Paço de Sousa tem um corpo de três naves,
organizadas em três tramos com os respectivos arcos
3
1 – Entrada Principal
2 – Transepto
3 – Cabeceira ou abside
4 – Absides laterais
5 – Portal lateral Sul
6 – Claustro
7 – Túmulo de Egas Moniz
diafragma, a que se junta um transepto não saliente
(2), também com arcadas diafragma. Toda esta parte
4
4
está coberta a madeira. A cabeceira mantém as duas
2
laterais românicas (4), de remate semicircular. O
portal ocidental é mais arcaico que o lateral sul (5). A
abside é rectangular (3), sendo uma obra setecentista,
5
que veio substituir a abside circular perdida. A Sul da
igreja desenvolve-se o claustro (6), composto por
quatro lanços de 7 tramos, de colunas toscano-
7
dóricas com os arcos com nervuras, sustentando em
1
3 lados as antigas instalações monacais. Na fachada
Norte., que confronta com a igreja, conserva-se
apenas a arcaria, estando também o lanço Este em
ruína, no 1º andar.. No centro do claustro existe um
belo chafariz. A igreja de Paço de Sousa abriga o mais
celebrado túmulo românico português: o túmulo de
Egas Moniz (7). Tal como o podemos ver hoje, o
monumento apresenta dois cenotáfios pertencentes a
duas épocas e estilos diferentes. Do túmulo mais
antigo resta-nos a tampa com uma inscrição alusiva
ao destinatário e as duas placas laterais. Um facial
mostra a cena da viagem a cavalo de Egas Moniz até
Toledo, juntamente com a sua mulher e dois filhos,
para se entregar a Afonso VII de Leão. O outro facial
apresenta uma decoração vegetal tipo palmeta. A
escultura desta obra é bastante simples e sem
7
6
Monumento Nacional, Dec. 16-06-1910, DG 136
de 23 Junho 1910, Desp. Março 1986, Dec. nº
67/97, DR 301 de 31 Dezembro, Dec. 16-06-1910,
DG 136 de 23 Junho 1910
Mosteiro de Pombeiro
Alcácer-Quibir; tratavam-se os enfermos nas frequentes
epidemias; todas as manhãs se distribuía comida e o
vinho, nos dias de jejum dava-se aos pobres. Sexta- feira
Santa, com os monges a pão e água, preparava-se o
jantar da comunidade para o servir aos pobres.
Parece não ser aceitável a hipótese de a fundação do
Mosteiro de Pombeiro datar do século IX. Bem mais
Pombeiro é bem o símbolo da História Nacional. Aqui
provável é a que se refere ao século XI. Em 1059, Gomes
vinham os guerreiros implorar a protecção da Virgem e no
Echigues terá feito a doação de várias propriedades à
regresso das batalhas, depositar troféus que os
Ermida de Santa Maria e entre elas a quinta de S.
representassem em agradecimento. Foi mesmo preciso
Veríssimo de Sousa, expressando o desejo de nela
organizar em frente ao portal principal uma galeria com
edificar um mosteiro beneditino. Em posterior doação
três grandiosas naves, onde figuravam expostos todos
Gomes Echigues e sua mulher Gontrode Moniz
os brasões de armas da principal nobreza de então. Esta
aumentaram os bens da nova casa monástica que
galeria foi construída em 109 por orientação de D. Abade
continuaria a ser ajudada pela estirpe dos Sousas. A
Rodrigo para ser uma espécie de panteão de
condessa Portucalense D. Teresa e seu filho D. Afonso
consagração Nacional.
1
Henriques concederam carta de couto e outros
benefícios ao mosteiro cujo património e prestígio foram
O Mosteiro de Pombeiro conserva importantes trechos
aumentando com o tempo, permitindo-lhe resistir a
medievais e da estrutura românica da igreja: O portal (1),
várias crises. O Abade de Pombeiro gozava de especiais
constituído por cinco arquivoltas que se apoiam em
direitos entre os quais o de ser esmoler-mor do rei
colunas adossadas cujos capiteis historiados revelam
quando este visitava terras a Norte do rio Douro e o de
extraordinária delicadeza para tão duro material
ser designado pela Santa Sé para desempenhar
(granito). As impostas são enriquecidas por um belo
determinadas missões. Problemas graves teve de
cordão. Da primitiva empreitada românica ainda
enfrentar esta comunidade beneditina, motivados por
subsistem duas absides laterais (5).
questões com alguns concelhos vizinhos. Mais tarde
sofreu o ruinoso regime das comendas. Quando o Prior
Entre 1719 e 1721 o mosteiro foi modernizado por
do Crato D .António foi comendatário os monges
iniciativa do Abade Frei Bento de Assunção. Em 1744
passaram muitas privações. Em 1589, Filipe II de Espanha
alargou-se a Capela Mor (4) com um novo retábulo
promoveu uma bula papal onde se concedia parte das
dedicado a Santa Maria. Em 1748 construíram-se as duas
rendas deste mosteiro ao dos Jerónimos de Belém.
torres e em 1761 a igreja foi novamente reformada.
Levada a tribunal, a questão tardou mais de 150 anos a
Seguiram-se entre 1767 e 1795 as obras artísticas de
favor de Pombeiro. Em Pombeiro, além de dos seus
talha e escultura a cargo de Frei José de Santo António
grandes méritos de ordem religiosa e cultural, sempre se
Vilaça. Em 1780 o Claustro (7) foi revestido com
beneficiaram os necessitados. Resgataram-se cativos de
5
5
belíssimos
azulejos
encenando
quadro
bíblicos.
A
acompanhar as obras exteriores conservou-se um espólio
riquíssimo em paramentaria, a biblioteca e o arquivo
documental.
O interior da igreja é composto por três naves adornadas
com talha da época Barroca. As obras levadas a efeito nos
séculos XVII e XVIII acrescentaram diferentes formas de
exprimir a religiosidade. O coro setecentista apoia-se num
espectacular arco de talha, obra do referido frei beneditino
6
José de Santo António Vilaça. Do mesmo artista é a autoria
7
do cadeiral do coro alto, púlpito, retábulos etc. As absides
laterais conservam valiosas pinturas de fresco. No interior
da igreja também estão guardados dois túmulos do século
XIV (2). O túmulo em que está representado em estátua
jacente um guerreiro com espessa barba e espada ao peito
1 – Entrada Principal
2 – Túmulos
3 – Nave Central
4 – Capela Mor
5 – Absides Laterais
6 – Sacristia
7 – Claustro
é de João Afonso de Menezes. O outro é do jovem conde
Gomes de Pombeiro.
Na primeira década do século XIX, os invasores franceses
5
4
5
em fuga para Espanha foram travados em Amarante pelo
General Silveira que os não deixou passar a ponte. Pouca
6
sorte para Pombeiro, pois ao desviarem-se por aqui,
queimaram o Mosteiro. Em 1819 num esforço renovador, já
o Mosteiro tinha na sacristia (6), três novos retábulos com
Reconstruí-se a biblioteca, a Casa do Capítulo, a casa dos
Hospedes e uma pequena parte do Claustro. O Mosteiro de
2
2
7
Pombeiro teria o seu fim com a Revolução Liberal. Após
esta segue-se a venda e a dispersão do seu valioso espólio.
Monumento Nacional, Dec. 16-06-1910,
DG 136, de 23-06-1910
ZEP – Port. 651/2002, de 14-06-2002
3
dois quadros de Grão Vasco e um outro de Joaquim Rafael.
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Mosteiro de Cete
Mosteiro de Paço
de Sousa
Mosteiro de
Bustelo
Mosteiro de
Pombeiro
O Estilo Barroco
Ao contrário do Renascimento e do Maneirismo, que foram movimentos de raiz intelectual, nascidos nomeio
dos humanistas e pouco acessíveis às pessoas em geral, o Barroco dirigia-se ao grande público, e por isso
destinava-se a persuadir e a estimular as emoções pelo movimento curvilíneo, real ou aparente, pela busca
do infinito, pelo jogo ostentatório da luz e da sombra, pelo teatral e pelo fantástico. O barroco arquitectónico
nasceu da reconstrução que os papas da Contra- Reforma efectuaram em Roma. Serviu primeiramente as
nações que aceitaram as directrizes do Concílio de Trento, expandindo-se depois para os restantes países da
Europa, alcançando também o Oriente e o Continente Americano. Dos múltiplos contactos com os antigos e
novos gostos e tendências, resultou um estilo que reformulou algumas das grandes linhas de orientação já
criadas pelos artistas da Antiguidade e Renascimento e definiu uma nova e original linguagem – a da arte
barroca – mais cénica, mais fantasista e de acordo com a imaginação de cada autor. Estas características
foram conseguidas através da aliança entre arquitectura/pintura/escultura/jardinagem/jogos de água, criando
efeitos perspécticos e ilusórios dando a sensação de movimento e de maior espaço.
O Barroco em Portugal durou de finais do século XVII a finais do século XVIII. As grandes alterações na
arquitectura das igrejas foram motivadas pela necessidade de as adaptar às exigências da nova ordotoxia
litúrgica, os cerimoniais religiosos, incluindo o ritual da missa da qual passou a fazer parte a pregação. As
paredes das igrejas são revestidas com estuques, pinturas, retábulos, criando a ilusão de um espaço maior.
A talha foi a mais genuína e característica expressão artística do Barroco Português. Muito prolixa e
exuberante foi complemento indispensável na decoração dos interiores arquitectónicos cobrindo todas as
superfícies (altares, paredes, púlpitos, balaustradas, frisos, cornijas, mísulas, tectos, caixas de órgãos e
cadeirais de coros) e organizando os espaços pelo emolduramento das áreas reservadas à pintura ou aos
azulejos. Assim o fundo dourado, ou policromado, da talha funcionava como um fundo homogéneo que
uniformizava e interligava, num todo as diferentes superfícies e elementos decorativos.
1
O Estilo Românico
O surgimento a arquitectura românica no território Português teve início no princípio do século XII,
aproximadamente cem anos mais tarde do que no resto da Europa, e prolongou-se até finais do século
XIII.
A igreja românica, símbolo da espiritualidade da época, esteve, quase sempre, ligada a uma instituição
religiosa, a um mosteiro, ou implantada no seio de uma comunidade agrícola. Por este motivo, o
românico Português tem características fortemente rurais, constituído por pequenas igrejas, que
consoante a riqueza dos seus patronos e os recursos ou dádivas disponíveis, se revestiu de maior ou
menor qualidade técnica e decorativa.
O Românico Português estendeu-se de Norte a Sul do País, desde o Minho ao Alentejo, e esteve ligado
ao poder e prestígio das ordens religiosas – primeiro os Beneditinos e depois os Cistercienses – que
se constituíram como centros de difusão da fé. É devido à mobilidade dos monges, dos romeiros e
sobretudo dos artesãos que se difundiram as técnicas de construção, as formas e sobretudo o ideario,
simbólico e formal, da sua plástica.
Os materiais usados nas construções eram os existentes nos locais: o granito no Norte, e os calcários
na região de Coimbra – pedra de ançã e lioz. Para além dos materiais, o que define e caracteriza a
arquitectura românica é a sua robustez, dada pelas paredes grossas e pelos contrafortes salientes,
pelo emprego da pedra aparelhada, pela utilização do arco de volta perfeita, pelos relevos com
funções didácticas e decorativas, tanto no interior como no exterior do edíficio, e pela aplicação de
cachorrada nas cornijas. A igreja românica possui um espaço interno homogéneo, em que as massas
e os vãos se organizam e definem tendo em vista o ritual religioso. As igrejas românicas no nosso
país são na sua maioria rurais, com uma só nave, cabeceira em abside ou quadrangular e cobertura
efectuada por um telhado de duas águas.
A escultura românica no Norte de Portugal é austera, sendo a da região centro mais delicada devido
aos materiais usados.
A temática da escultura românica portuguesa segue a tradição europeia, imposta pelas autoridades
eclesiásticas, quer nos motivos ornamentais, quer nos temas doutrinários. Nas igrejas rurais, de
pequenas dimensões, a inspiração é baseada nos costumes locais, pois escasseavam meios de
informação e técnicas, e por isso, a liberdade do artista era maior; é aqui que a ironia do grotesco se
impõe, que são postos a nú os vícios e as virtudes, os castigos e as recompensas, especialmente nos
capiteis e cachorradas do exterior
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