VIEIRA, Rubens Antonio Gurgel Vieira. Hip Hop

Transcrição

VIEIRA, Rubens Antonio Gurgel Vieira. Hip Hop
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RESUMO
Esta pesquisa bibliográfica enfocou os seguintes aspectos: História do Hip
Hop, Hip Hop no Brasil, Antropologia, Corporeidade, Corporeidade na
Educação Física e Hip Hop e a Corporeidade na Educação Física
Escolar, assim, o presente estudo teve como objetivo identificar as
contribuições do movimento cultural Hip Hop e a corporeidade para a
Educação Física escolar, baseando-se nos estudos de Postali, Pimentel,
Daolio, Verderi, Silva, Neira, Mattos. Concluiu-se, nesta investigação, que
o Hip Hop e a Corporeidade traçam objetivos em comum que podem
auxiliar no desenvolvimento de um ser uno nas aulas de Educação Física
escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Hip Hop. Corporeidade. Educação Física Escolar.
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1- INTRODUÇÃO
A ideia de escrever sobre o tema Hip Hop deu-se pelo fato da
minha ligação com o gênero musical Rap, que é a música representante
deste movimento cultural.
A minha ligação com o Rap começou desde cedo, isso ocorreu por
influência do meio o qual vivenciava, sempre estudei em escola pública e
tinha contato com outras crianças que eram de regiões periféricas de
Sorocaba, este contato com o Rap ocorreu por volta dos meus 10 anos
em 2004. Lembro, que neste período, a maioria dos meninos da escola,
sendo alguns deles meus amigos, escutavam Rap, principalmente o
grupo Racionais Mc’s. Recordo que desde daquela época eu achava
interessante o ritmo da música e a maneira que o pessoal daquele
movimento se vestia, mas pelo fato do Rap sofrer um preconceito maior
naquele tempo comparado com os dias atuais, acabei não tentando me
aprofundar em nada sobre o estilo, e também pela minha idade tinha
receio do que a minha família poderia vir a pensar ou falar sobre estar
envolvido com um movimento considerado de “bandido”.
Depois de alguns anos, em 2010, voltei a despertar o interesse
pelo Rap, pois tinha um amigo na minha classe, um daqueles que em
2004 seguia o que ocorria no mundo do Rap, este amigo me apresentou
alguns músicos novos do movimento, que tinham uma letra diferente dos
que faziam sucesso no passado, acabei me interessando pelas letras, as
quais criticavam algo do cotidiano onde achava que me encaixava.
Críticas coerentes, embasadas em informações e pesquisas sobre o
assunto a ser exposto em suas composições musicais, diferente das
músicas de outros grupos anteriores, que as letras eram mais
xingamentos, sem mostrar algo concreto para você utilizar como
conhecimento.
Dado este fato, busquei entender melhor o Rap, percebi que era
um dos elementos do Hip Hop, que até então acreditava ser uma música
também, a partir daí fui pesquisar mais sobre o Hip Hop e não ficar
apenas conhecendo a sua parte superficial, através destas pesquisas vi
que além do Rap o Hip Hop trazia com ele outras maneiras de se
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expressar através dos indivíduos que fazem sua prática, achei este fato
muito interessante e fiquei me perguntando por que nenhum professor na
época em que eu estava na escola explorou esta história que o Hip Hop
possui para mostrar que os jovens podem mudar o que está de errado em
sua volta através do seu conhecimento e seu talento, então logo que
comecei a me aprofundar sobre o assunto, constatei que existia neste
movimento significados muito importantes para a sociedade que exercia
esta cultura, e constatei que poderia estar relacionando-o com a
corporeidade, que nada mais é que a cultura do indivíduo sendo
expressada através do corpo, ou seja, o corpo carrega com si significados
importantes da sociedade em que o indivíduo está inserido, assim como o
Hip Hop que também carrega significados importantes para a sociedade
em que o indivíduo faz parte, e ambos procuram expressar estes
significados de uma maneira coerente para que a sociedade que está em
sua volta possa compreendê-lo (DAOLIO, 1995; VERDERE, 1999;
POSTALI, 2011).
A corporeidade é um tema que pode ser abordado pela Educação
Física, então voltou aquele pensamento do por que nenhum professor da
minha escola tentou explorar o Hip Hop, sendo que é possível utilizar o
Hip Hop em conjunto com outros temas que são abordados na escola, e
além de possuir alguns aspectos inseridos no seu contexto que fazem
parte do cotidiano do aluno.
Assim pesquisando e resgatando as experiências dos alunos,
analisando seus saberes, suas práticas culturais e como eles se
relacionam com estas manifestações, que leva os alunos a olharem além
de suas próprias experiências e realidade, assim visando ampliar a
compreensão do patrimônio cultural dos alunos e o reconhecimento social
de suas identidades, tornando este conteúdo mais prazeroso para os
alunos fazendo com que eles transformem o sabor em saber (NEIRA,
2011; MARCO, 2006;).
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2- REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A história do Hip Hop
“Gente pobre, com empregos mal remunerados, baixa
escolaridade,
pele
escura.
Jovens
pelas
ruas,
desocupados, abandonaram a escola por não verem o
porquê de aprender sobre democracia e liberdade se
vivem apanhando da polícia e sendo discriminados no
mercado de trabalho. Ruas sujas e abandonadas, poucos
espaços para o lazer. Alguns, revoltados ou acovardados,
partem para a violência, o crime, o álcool, as drogas;
muitos buscam na religião a esperança para suportar o
dia-a-dia; outros ouvem música, dançam, desenham nas
paredes.
Por incrível que pareça, não é o Brasil. Falamos dos
guetos negros de Nova York.”
(PIMENTEL, 1997).
A origem do Hip Hop está ligada ao contexto social, econômico e
cultural pelo qual a população norte-americana passava. O embrião para
o surgimento do movimento cultural Hip Hop começou nos anos 60.
Graças à efervencente luta contra a segregação racial. Nesta época os
negros eram discriminados em ônibus, escolas e banheiros. Esta luta
tinha como principais líderes: Martin Luther King Junior, pastor Batista,
que ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1968, e buscava a solução para os
problemas da população negra dentro das normas da democracia
americana. E Malcom X, membro da Nação do Islã, seita que pregava
que o “homem branco é o demônio”, mas o pensamento de Malcom X
mudou em 1964, quando ele viajou para Meca, na Arabia Saudita. Foi ali,
no oriente médio, que ele percebeu que as diferentes raças poderiam
conviver em paz. (PIMENTEL, 1997).
Ambos foram assassinados, Malcom X em 1965 e Martin Luther
King Junior em 1968. Com a morte dos maiores símbolos de luta contra a
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segregação racial, a solução pacífica para os problemas dos negros
parecia cada vez mais distante (PIMENTEL, 1997).
Com a morte de Martin Luther King Junior e Malcom X, junto ao
ínicio da Guerra do Vietnã em 1968, surge o Black Panthers Party
(Partido Panteras Negras), partido fundado por Bobby Seale e Huey
Newton, que reivindicava o poder de decidir os rumos de sua própria
comunidade através da autodefesa, foram fatos que já vinham
organizando os negros pobres dos Estados Unidos em torno de uma
causa comum (PIMENTEL, 1997; ZAPA; SOTO, 2008).
Uma das imagens mais significantes do século passado, que
marcou o esporte e teve participação dos Black Panthers, foi o ato que os
atletas americanos da modalidade de 200 metros rasos tiveram nos Jogos
Olímpicos de 1968 realizado no México (ZAPA; SOTO, 2008).
Tommie Smith venceu a prova e John Carlos ficou em terceiro
colocado. No alto do pódio, durante a execução do hino dos Estados
Unidos, os Black Panthers ficaram cabisbaixos com um dos braços
erguidos e os punhos cerrados com a mão coberta por uma luva negra,
descalços, usando meias negras como forma de
protesto contra a
segregação racial e a precária situação dos negros no Estados Unidos. O
ato dos punhos cerrados e levantados é conhecido como saudação “Black
Power”, que era utilizada pelos Black Panthers. Logo após este ato virar
um escândalo, o comitê olímpico americano pediu desculpas pela atitude
de seus atletas, mas o COI (Comitê Olímpico Nacional) exigiu uma
punição severa para os atletas e caso não ocorresse essa punição, os
Estados Unidos poderiam ser eliminados dos jogos. Os dois atletas foram
suspensos e expulsos da Vila Olímpica (ZAPA; SOTO, 2008).
Segundo os estudos de Pimentel (1997):
“Os Black Panthers, com toda a repressão, logo se
enfraqueceram, mas plantaram sua semente no Hip-Hop,
como vimos. Recentemente, em maio de 99, o breaker
Crazy Legs, um dos fundadores da Rock Steady Crew,
gangue de break pioneira,
visitou São Paulo e,
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rememorando os primórdios do Hip Hop em Nova York,
revelou que muitos dos primeiros b.boys, rappers e
grafiteiros eram os irmãos mais novos dos Black
Panthers.”
Nos anos 60 também ocorreu a guerra do Vietnã, onde a maioria
dos jovens se recusou a ir, sendo assim, vários foram presos, inclusive o
boxeador negro Muhammad Ali. Por estes motivos muitas manifestações
eram feitas em todo o país (PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
A maioria dos soldados que foram para a guerra eram negros e
latinos, pois como em qualquer guerra os pobres tornavam-se “bucha de
canhão“. Além de boa parte dos que foram para o Vietnã voltarem
mutilados, viciados em drogas, principalmente a heroína. Nesta época a
paisagem do Bronx, era a mais devastada dos Estados Unidos, com 40%
de seu casario destruído e condenado. O lugar se tornou um cenário em
chamas e ruínas, com gangues em constantes conflitos, onde índice de
consumo de drogas nos guetos novaiorquinos como Bronx e Harlem
aumentou consideravelmente (PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
Esses ex-combatentes também eram discriminados porque a
população tinha visto pela TV que o exército fizera barbaridades no
Vietnã. Eles tinham dificuldade para se reintegrar à sociedade, conseguir
trabalho e acabavam na marginalidade (PIMENTEL, 1997; POSTALI,
2011).
Estes fatos foram determinantes para que se desenfreassem
manifestações mais pesadas do que as anteriores. Assim, no início dos
anos 70 surge um movimento cultural artístico entre as cinzas, para
sobreviventes, o movimento negro e jovem mais importante da atualidade,
o Hip Hop (PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
2.2
O surgimento da cultura de resistência.
Com o crescimento contínuo ao longo do século XX das cidades
marginalizadas localizadas no norte dos Estados Unidos, ocorreram-se
migrações de afro – estadunidenses do sul, e grupos provindos de outros
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países. A cidade de Nova York, em especial, recebeu grupos jamaicanos
e porto–riquenhos, que contribuíram para o desenvolvimento do Hip Hop
(PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
O Hip Hop assim como outros movimentos culturais, surgiu do
processo de hibridização cultural, que consiste na cultura de povos
diferentes postos em contato, que a partir disto se cria novas práticas
culturais (PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
Segundo os estudos de Postali (2011) mestre em comunicação e
cultura:
“A raiz do Hip Hop provém da Jamaica. Richard (2005)
ressalta que, na década de 1960, a população carente
jamaicana passou a utilizar a música como meio de
expressão contra o sistema local. Essa música é
composta pelo toastes–responsáveis pelos discursos – e
pelo acompanhamento do sound systems, aparelhos de
reprodução de áudio, caracterizado pela potência das
caixas de som.”
Postali (2011) explica os fatores que foram essenciais para o
surgimento do movimento cultural Hip Hop. Fugido das ilhas caribenhas
devido aos problemas econômicos e políticos, na década de 1970,
inúmeras pessoas migraram para as partes marginalizadas de Nova York.
Nisto acabou ocorrendo o encontro dos grupos jamaicanos com os
estadunidenses, neste encontro a população jamaicana ofereceu uma
nova forma de contestar contra o sistema social que também
descontentava a população local. O jamaicano Kool Herc e seu parceiro
Grand Master Flash, originário de Barbados, foram os pioneiros na prática
da música jamaicana nos Estados Unidos, no bairro do Bronx em Nova
Iorque. Revivendo os griots africanos (responsáveis por cantar histórias e
mitos sobre a África), os DJs jamaicanos mandavam mensagens políticas
e espirituais enquanto tocavam as músicas prediletas do seu público.
Porém em Nova Iorque, naquele tempo, o que fazia sucesso era o funk, o
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soul e outros ritmos afro-americanos. Assim, Kool Herc teve que adaptar
seu estilo: nas festas de rua que promovia com o equipamento jamaicano,
passou a cantar seus versos sobre partes instrumentais das músicas mais
populares no Bronx – de modo semelhante ao dos Watts Prophets, Gill
Scott Heron (criador do famoso verso "A revolução não será
televisionada"), e os próprios jamaicanos (PIMENTEL, 1997; POSTALI,
2011).
A música de Kool Herc e Grand Master Flash fazia com que o
público desenvolvesse maneiras diferenciadas de dançar. Durante as
apresentações ocorriam discursos que eram no ritmo da música, os
dançarinos tentavam fazer discursos que procuravam relatar o cotidiano
do Bronx, de forma que as frases fossem rimadas. Neste formato de
rimas improvisadas, acompanhadas de um som combinado, denominado
freestyle (estilo livre), o qual passou a ser uma das principais
características da cultura musical praticada nos territórios marginalizados
dos Estados Unidos (POSTALI, 2011).
A mistura entre a música jamaicana com os elementos culturais
estadunidenses foi se tornando em uma nova prática musical, que é
conhecida hoje em dia como RAP (rithm and poetry), ou seja, ritmo e
poesia. É nesse cenário de festas, organizadas por Kool Herc e Grand
Flash, que nasce o Hip Hop, mas não foram eles os responsáveis pelo
surgimento do movimento, mas sim Kevin Donovan (POSTALI, 2011).
Kevin Donovan era líder da gangue Black Spades, isto nas
décadas de 1960 e 1970, quando Bronx era considerado um dos
territórios mais perigosos dos Estados Unidos, devido ao grande número
de gangues que havia na cidade. Nascido em 1957, Kevin Donovan era
um frequentador assíduo das festas organizadas por Kool Herc e Grand
Master Flash. Segundo ele, um dos fatores que chamavam a atenção
nestas festas, era a maneira com qual a população manifestava o
cotidiano marginal, sem o uso da violência física. De acordo com as
referências, o afro-estadunidense trocou seu nome por África Bambaataa
e a gangue pela arte de rua, juntando-se aos DJs, em especial, a Kool
Herc, principal responsável pelos eventos (POSTALI, 2011).
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Segundo Richard (2005) o termo Hip Hop possui definições
diferentes, no entanto, a acepção mais usual é “saltar movimentando os
quadris”, “to hip” “to hop” (POSTALI, 2011).
Segundo Rocha, Domenich, e Casseano (2001), o termo foi criado
em 1968 por África Bambaataa, na ocasião, tentando dar um nome para
os encontros que ocorriam em parceria com Kool Herc e Grand Master
Flash. Nestes encontros se reuniam primeiramente Djs, dançarinos de
break dance e MCs (POSTALI, 2011).
Através dos estudos de Postali (2011) pode-se observar que não
existe uma data específica para o surgimento do Hip Hop, porém, o site
da Universal Zulu Nation (organização do Bambaataa), elegeu o dia 12 de
novembro de 1974 como aniversário do Hip Hop, um dia após ao
aniversário da organização. Desta forma o surgimento do Hip Hop está
inteiramente ligado à Universal Zulu Nation. Ela tem como lema a frase
“Paz, Amor, União e Diversão”. Nesta organização, Bambaataa reuniu
DJs1, dançarinos, MCs2 e grafiteiros3, além de promover palestras sobre
matemática, economia, prevenção de doenças, entre outros. Tendo como
base estes fatores podemos entender o porquê do Hip Hop ser um
movimento cultural formado por diferentes elementos artísticos e não
somente por um gênero musical, como é frequentemente confundido
(POSTALI, 2011).
2.3
Elementos do Hip Hop.
O Hip Hop é uma prática cultural que possui, pelo menos, cinco
elementos básicos, podendo incluir outros elementos artísticos que
dialogam com seu contexto, segundo Postali (2011):

Dj (discjokey) ou disc – jóquei, ele tem a função de controlar
a música, através de técnicas como os sound systems, mixadores
(aparelhos que unem os toca – discos e sincronizam o vinis), e o scratch,
1
Será definido no tópico Elementos do Hip Hop.
Será definido no tópico Elementos do Hip Hop.
3
Será definido no tópico Elementos do Hip Hop.
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que consiste na técnica de movimentar os discos no sentido anti –
horário, o que faz com que o som saia arranhado. Com o passar dos
tempos os Djs se aperfeiçoaram e começaram a utilizar a técnica de
sampleagem, que é caraterizada pela inserção de recortes de músicas
populares e sons diversos, que geralmente retratam a agitação urbana
como ruídos de carros, sirenes de polícia e ambulâncias, helicópteros,
tiros, vidros quebrados, entre outros. É através desta música que os
b.boys (nome dado para quem faz a prática do break dance), fazem seus
movimentos e os rappers proliferam suas rimas, sendo assim o Dj é como
se fosse o maestro do Hip Hop, pois ele dita o ritmo que os b.boys irão
dançar ou o ritmo em que os rappers irão fazer suas rimas.

RAP (rythm and poetry), cuja tradução seria ritmo e poesia,
o RAP é uma prática musical caracterizada pela improvisação poética
sobre uma batida musical rápida, realizada por sons digitais, fazendo com
que a expressão oral seja o elemento mais importante da música
(POSTALI, 2011).
Os responsáveis pelos textos são conhecidos como mestres de
cerimônia ou controladores de microfones, mais conhecidos como MCs,
eles possuem as mesmas características que os toastes jamaicanos. As
letras eram carregadas de ideias revolucionárias que poderiam mudar o
atual contexto que se encontravam as periferias e a segregação racial do
país, era a música que embalava estes jovens que procuravam mudanças
(POSTALI, 2011).
E como é um ritmo que emergiu da periferia, não tinha muitas
exigências para ser feito, bastava ter letras ou poesias acompanhadas de
batidas, e que estas letras ou poesias fossem de protesto, e isto tudo
ficava a encargo do rapper (POSTALI, 2011).
Dave Davey D. Cook explica o sucesso do RAP:
"O rap pegou porque oferecia aos jovens de Nova York a
chance de se expressarem livremente (...), era uma forma
de arte acessível a qualquer um. Você não precisa de um
monte de dinheiro ou de equipamentos sofisticados para
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rimar. Nem precisa fazer um curso. (...) O rap também se
tornou popular porque oferecia desafios ilimitados. Não
havia regras, exceto ser original e rimar na batida da
música. Tudo era possível. Fazer um rap sobre o homem
na lua ou sobre quão bom um DJ é" (apud PIMENTEL,
1997).

Break Dance, (conhecido no Brasil como dança de rua).
Surgiu a partir do funk americano. A linguagem é semelhante à da
mímica, usando movimentos de acrobacia e ginástica olímpica, e sempre
aproveitando o corpo e o chão. Segundo Leal (2007) o Breaking Dance
surgiu nas festas realizadas por Kool Herc e Grand Master Flash, em
1972. Segundo o autor, o DJ jamaicano batizou as danças praticadas em
suas festas de breaking pelo fato delas serem realizadas junto com sons
eletrônicos denominados breakbeats. As coreografias da dança se
baseiam em movimentos que imitam a violência causada pelas guerras,
no caso do surgimento do breaking, a Guerra do Vietnã. Rocha,
Domenich e Casseano (2001) falam que os movimentos realizados pelos
b.boys são imitações de soldados feridos ou mutilados, e segundo Elaine
Andrade, pedagoga da USP que estudou em sua tese de mestrado a
ação da Posse Haussa, em São Bernardo do Campo, O giro de cabeça,
em que o indivíduo fica com a cabeça no chão e, com os pés para cima,
procura circular todo o corpo, simboliza os helicópteros agindo durante a
guerra. No princípio o Breaking Dance era usado por gangues que
utilizavam os movimentos para desafiar ao outro, uma forma de competir
entre elas sem que houvesse agressões (PIMENTEL, 1997; POSTALI,
2011).

Grafite, elemento fundamental do movimento Hip Hop, que
seu nome vem da palavra italiana grafito, utilizando para definir os
desenhos e escritas que eram feitos em paredes, estes desenhos ou
escritas eram exercidas em diversos momentos da história, tanto que a
prática de registrar imagens é uma das artes mais antigas da
humanidade, eram utilizadas as rochas e paredes das cavernas ao invés
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dos muros, onde estes desenhos tinham a função de descrever o
cotidiano destas pessoas ou contar histórias, coisa que o grafite vem
fazendo hoje em dia através de seus desenhos coloridos ou suas escritas
nos muros que na maioria das vezes estes desenhos ou escritas vem
acompanhadas de mensagens de críticas ao contexto que se encontra a
população (POSTALI, 2011).
A repercussão maior do grafite veio no século XX, quando grupos
exerciam resistência ao sistema político de vários países. Segundo Leal
(2007), os movimentos sucedidos pela paz em países como França, Itália
e Estados Unidos, foram os principais percussores para o surgimento do
grafite como é conhecido hoje. (POSTALI, 2011)
A forma mais de pichação conhecida como tag é considerada uma
das primeiras manifestações feitas em muros, do tag que iria surgir o
grafite. Na década de 1960, quando os traços de dois jovens, Cornbread
e Cool Earl, chamaram a atenção da população e da Imprensa da
Filadélfia, EUA, que denominaram a prática como “bombing” (POSTALI,
2011).
Este bombardeio de traços espalhados por toda a Filadélfia
influenciou inúmeras regiões urbanas dos Estados Unidos em menos de
uma década. No início, a pichação se resumia aos apelidos dos
pichadores e os números da rua em que o autor morava. Era comum
encontrar estes registros em vagões do metrô e em trens, pois era uma
maneira de fazer com que sua marca fosse para outros lugares, e quanto
mais marcas o pichador tivesse, e em mais lugares essa marca
transitasse, mais ele era respeitado. Sendo assim, é muito comum
encontrar metrôs e trens com grafites (POSTALI, 2011).
Segundo Postali (2011), isto ocorre pois assim a marca do
indivíduo não iria apenas transitar pela linha que o metrô ou o trem está
designado a fazer, mas iria cruzar todos os espaços estadunidenses. A
disputa entre os pichadores fez com que eles aprimorassem suas
técnicas. Adaptando a saída de válvula das latas de spray para que o
volume da tinta se tornasse mais intenso, além de desenvolverem
técnicas inovadoras, também desenvolveram uma forma de retratar o
cotidiano urbano. Esta prática dominada grafite tem como função
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denunciar o que acontece em regiões urbanas marginalizadas, e de
criticar as coisas que vem acontecendo de errado em suas comunidades
ou no país, desde abusos de poder até contra o sistema político ou
econômico (POSTALI, 2011).
A esses elementos incorporou-se um quinto, o qual recentemente
foi adicionado por Afrika Bambaataa, que segundo ele é o mais
importante dos elementos e serve como pilar para todos os outros, este
elemento é o conhecimento. (POSTALI, 2011).
Alguns colocam também como elemento do Hip Hop, o Beat Box,
que é um tipo de percussão vocal que consiste na simulação de sons de
bateria, efeitos eletrônicos, instrumentos de sopro e outros, utilizando
apenas técnicas como a voz, a boca e a cavidade nasal, uma forma muito
utilizada, pois por se tratar de um elemento que faz parte de um
movimento enraizado na periferia, muitas vezes faltavam aparelhos de
som para que o pudessem escutar músicas ou para que o rapper pudesse
fazer suas rimas. (POSTALI, 2011).
Existe um esporte que muitos também mencionam fazer parte dos
elementos do Hip Hop, o Streetball, conhecido no Brasil como Basquete
de Rua. O Streetball é uma variação do Basquetebol tradicional. O fato
desse esporte ser considerado um dos elementos do Hip Hop é porque
ele surgiu na década de 70 nas periferias do Estados Unidos, mais
precisamente no bairro negro do Harlem em Nova Iorque. Isto é, na
mesma época em que o movimento Hip Hop estava tomando conta dos
bairros periféricos, inclusive o bairro do Harlem. (SILVA, 2012).
E fora isso o surgimento desta variação do Basquetebol tradicional,
o Streetball, tem bastantes semelhanças com o surgimento do movimento
cultural Hip Hop. O surgimento deste esporte deu-se pelo motivo de na
época o Basquetebol ser praticado apenas pela elite, isso porque o
Basquetebol foi criado na YMCA (ACM), pelo canadense James Naismith,
que era professor de artes na faculdade YMCA Springfield College. O
canadense James Naismith criou o Basquetebol a partir de um pedido do
diretor do Instituto Técnico da YMCA de Springfield, Massachusetts, Dr.
Luther Halsey Gulick, que procurava por alguma atividade física que sua
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prática fosse feita em
recinto fechado, como solução alternativa para
prática esportiva a ser orientada aos alunos da International Young Men`s
Christian Association Training School, em razão do rigoroso inverno de
Springfield. A meta era estudar a invenção de um esporte coletivo que
pudesse ser praticado em recinto fechado, não fosse violento,
comportasse um grande número de participantes, despertasse interesse e
tivesse cunho científico. Praticado em um âmbito que na época apenas a
elite frequentava (DAIUTO, 1991).
Baseado numa brincadeira infantil americana chamada “Duck on
the Rock”, o basquete foi praticado inicialmente dentro de um ginásio,
com uma bola de lacrosse e dois cestos de colheita de pêssegos
dependurados em paredes opostas, onde estava o objetivo dos 18
jogadores que formavam cada equipe (VIEIRA, 2006).
Por estes motivos que o Streetball começou a ser praticado nas
periferias, já que naquela época os seus moradores não tinham acesso a
lugares onde a elite frequentava, sendo um destes lugares a YMCA. Eles
tinham pouquíssimo acesso ao Basquetebol, sem contar que na época
era proibido que os negros fizessem parte dos times universitários ou da
própria NBA (National Basketball Association), onde era apenas permitido
brancos nos times. Sendo assim, o surgimento do Streetball teve os
mesmos meios de surgimento do movimento cultural Hip Hop, que deu-se
devido a segregação racial e social da época. Os meios de sua prática
são semelhantes ao desenvolvimento do beat box, pois a sua prática não
necessita de um lugar específico, ela era realizada em quadras públicas,
parques e também em baixo de viadutos, e na maioria das vezes esses
jogos eram realizados aos embalos do rap (OLIVEIRA FILHO, 2006).
2.4
Hip Hop no Brasil
“Apesar de ser um movimento que se originou nas periferias dos
Estados Unidos, o hip hop não encontrou barreiras no Brasil” (SCHOBER,
2004).
O Hip Hop chegou ao Brasil no início de década de 80 por
intermédio das equipes de som que organizavam bailes e de poucas
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revistas e discos comercializados na cidade de São Paulo. Sendo assim o
acesso ao conteúdo Hip Hop era pouco, pois não havia produtos e
informações que falassem sobre o assunto no Brasil, sendo apenas
possível o contato através de viagens e poucos discos e revistas
importadas (POSTALI, 2011).Segundo KLJay, DJ dos Racionais MC's:
“O Hip-Hop chegou aqui como onda, a gente não sabia
que o break evitava as brigas entre as gangues nos EUA,
promovia
uma
mudança
de
comportamento.
Não
chegavam muito bem as ideias que estavam por trás da
coisa, era tudo meio fragmentado. Um cara arranjava
uma revista, traduzia naquele inglês macarrônico, e
levava para o pessoal.” (PIMENTEL, 1997).
Para o autor Herschmann (2000), o contato dos brasileiros com o
Hip Hop era através da compra de discotecários da produção musical de
fora, que normalmente era feita em Nova York ou Miami, aonde esta
produção musical era inédita aqui no Brasil.
Mas ele chega à conclusão que isto acaba na década de 1990,
quando o acesso a produções fonográficas internacionais torna-se globais
(POSTALI, 2011).
Como antes desta década não se tinha tantas informações sobre o
movimento Hip Hop norte americano, a música e a dança era a principal
referência que se tinha sobre o movimento, sendo assim no Brasil quando
se falava de Hip Hop logo a imagem que se tinha do movimento era o
Rap e o Breaking Dance (POSTALI, 2011).
O que colaborou para que o movimento se instalasse de vez no
Brasil foi que desde os anos 70 já se vinha ouvindo funk e soul nos bailes
black das grandes cidades do país. O antigo movimento black dos anos
70 não está distante do movimento Hip Hop. Segundo Milton Ales
produtor dos Racionais (grupo de rap paulistano), organizava bailes do
Black Power (movimento que visava demonstrar o orgulho racial da
comunidade negra, popular no Brasil no final dos anos de 60 até o início
dos anos 70) e do Hip Hop em São Paulo (PIMENTEL, 1997).
16
“O rap é filho do soul”. Dois dos pioneiros do Hip Hop na capital
paulistana, Nelson Triunfo e Nino Brown, que participaram da equipe de
dança Funk & Cia. no início da década de 80, são alguns dos que se
encarregam de manter viva essa conexão entre o Hip Hop e seus
parentes mais velhos, guardando em casa raridades como os discos de
Gerson King Combo e Toni Tornado, artistas black que estão para o rap
brasileiro como James Brown para o americano. Como diz o rap "Senhor
Tempo Bom", de Thaíde e DJ Hum, "O Hip Hop é o Black Power de hoje"
(PIMENTEL, 1997).
Na década de 1980, os jovens da periferia já dançavam o Break
Dance e ouviam os raps, estes jovens começaram a fazer seus primeiros
encontros na Rua 24 de Maio, grande parte destes jovens era composta
por afro - brasileiros. (PIMENTEL, 1997).
Como diz: “O rap é compromisso, não é viagem”, em um trecho da
música “Rap é compromisso”, do álbum “Rap é compromisso” de 2001 do
MC Sabotage.
O rap nacional começou nas rodas de Breaking Dance na estação
São Bento do metrô de São Paulo, depois foi para a Praça Roosevelt. No
início as músicas de Hip Hop no Brasil não tinham letras críticas, isto é
explicado por Herschmann (2000, p. 24), “as letras da música negra
norte-americana, que fazem referência às políticas raciais e culturais, não
era compreendida” (PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011).
Tendo como percursores nas letras críticas o grupo Racionais Mc's
e Thaíde e DJ Hum, que acabaram dando um passo para criar uma nova
forma de se fazer Rap, podendo utilizar a música para conscientizar as
pessoas sobre assuntos políticos, culturais e entre outros (POSTALI,
2011).
“As línguas não são estranhas umas às outras a ponto de serem
intraduzíveis”. Matelart, pag. 99 (POSTALI, 2011).
O Hip Hop brasileiro dentre tantos outros movimentos do gênero
adotados por diferentes países, são processos de tradução cultural, que é
visto uma riqueza cultural enorme neste processo, segundo Silva (2007,
pag.55) é o intercâmbio que mantém a cultura aquecida e viva. Sendo
importante conviver com outras culturas, aprendendo com elas e, por
17
meio delas transformando a nossa própria cultura. Nesta tradução
envolve o modo de se vestir, gesticular, cantar, falar e se posicionar
perante a vida social (POSTALI, 2011).
Partindo do conceito do pensador russo Vygotsky, que o
aprendizado é de fora para dentro, que terá influências da sociedade,
costumes, e cultural local. O Hip Hop brasileiro faz uma nova tradução do
Hip Hop americano, introduzindo no Rap o Samba, que é inspiração de
quase todos os movimentos musicais do Brasil, que apesar de ter sua
origem resultante das estruturas musicais europeias e africanas, é um dos
símbolos da cultura negra que se espalhou pelo território nacional (DINIZ,
1975; DANIELS, 1996).
Esta forma própria de cantar teve sua introdução no Rap tanto no
modo de interpretar, como nas batidas, um Mc famoso por fazer esta
mistura é o MC Marcelo D2. Outros movimentos culturais brasileiros que
vem da região nordeste do país, que também foram inseridas no rap, é o
repente, que possui rimas e verso bem rápidos, que se assemelham com
o freestyle praticado no Rap, e o baião, um Mc que faz muito isto em suas
músicas é o nordestino RAPadura.
O rap não é o único elemento do Hip Hop que recebeu alterações
através das culturas sociais inseridas em seu contexto original, outros
elementos do Hip Hop sofreram traduções (POSTALI, 2011).
O Break Dance teve inserido em seu contexto elementos da
capoeira, onde é uma luta que se expressa através da combinação de
jogo, luta e dança. Possui como instrumentos musicais, berimbau,
pandeiro, atabaque, agogô e reco reco. A Capoeira tem seus primeiros
sinais no Brasil Colônia em que os negros escravos, trazidos à força da
África Ocidental, descobriram em seus corpos um grande aliado para
extrapolar seus sentimentos, expressar corporalmente sua indignação,
que parte do mesmo princípio do surgimento da dança break dance, que
surgiu para demonstrar a indignação contra a Guerra do Vietnã, onde os
movimentos da dança se baseavam nos soldados feridos ou até mesmo
na hélice do helicóptero (SILVA, 2003; PIMENTEL, 1997; POSTALI, 2011,
GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER; et al, 2005).
18
Hoje em dia um dos lugares mais conhecidos em que os MC's se
encontram para batalhar um contra o outro através de rimas (freestyle) é
na frente da estação de metrô Santa Cruz, que acaba batizando o nome
do evento, que se chama Batalha do Santa Cruz, onde surgiram rappers
conhecidos atualmente no cenário nacional, exemplos como os MC's:
Emicida, Rashid e Projota que representam a nova safra do Rap Nacional
ao lado de outros tantos que vieram da Batalha da Santa Cruz.
2.5
Antropologia como introdução à Corporeidade
A corporeidade se utiliza da Antropologia Social ou Cultural. A
Antropologia Social é herdeira da tradição britânica, que tem como
principais nomes Radcliffe – Brown, Malinowski e Leach, já a chamada
Antropologia Cultural parte da tradição americana, possuindo como
autores relevantes Boas, Mead, Benedict e Kroeber (GONZÁLEZ;
FENSTERSEIFER; et al, 2005; DAOLIO, 1995).
A Antropologia Social estuda tudo o que se constitui uma
sociedade, modos de produção simbólica, técnicas, organização política,
conhecimento, crenças religiosas, sua língua, e criações artísticas
(GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER; et al, 2005).
Sendo assim, a corporeidade se utiliza destes métodos da
Antropologia, para poder compreender a sociedade não apenas a partir
de um conjunto de aspectos exteriores e materiais, mas também como
uma sociedade provida de sentido e significação. Assim demonstrando
que o homem é sempre um ser social, vinculado a redes de sociabilidade,
com uma grande capacidade de agir simbolicamente, mas não é desde
sempre que a Antropologia enxerga, ou baseia seus estudos desta
maneira sobre a sociedade (DAOLIO, 1995).
No século XIX, aonde a Antropologia é datada como disciplina
específica, a pesquisa antropológica tinha um caráter evolucionista, que
considerava todos os homens como integrantes da mesma espécie
animal, procurava descobrir a origem da espécie para justificar suas
diferenças a partir de ritmos desiguais de desenvolvimento (DAOLIO,
1995).
19
Os pesquisadores faziam suas pesquisas a distância, coletando
informações e materiais de vários povos do mundo, que quase sempre
eram trazidos por viajantes, mercadores ou missionários, tendo então
uma interpretação a partir do pressuposto de que o homem, ao longo da
sua evolução, passou por vários estágios, desde o nível mais primitivo até
o mais civilizado. Em 1987, Morgan classificou os homens em três
estágios básicos de desenvolvimento: selvageria, barbárie e civilização.
Com esta visão distante e etnocêntrica, os povos considerados primitivos
nada mais eram do que os países não europeus, sendo estes povos da
América, Ásia, e da África, que não tinham alcançado o mesmo
desenvolvimento dos povos da Europa do século XIX, esta diferença no
desenvolvimento era vista como inferioridade (MORGAN, 1946; DAOLIO,
1995).
Apesar de a Antropologia evolucionista estimular o preconceito
racial ela justificava a prática colonialista, sendo este o seu mérito, este
tipo de pesquisa permitiu o reconhecimento de uma mesma humanidade
para todos os povos, mesmo que estes povos fossem distantes e
tivessem culturas e gostos diferentes, faziam parte da família humana,
como é dito por Lewis Henry Morgan (DAOLIO, 1995).
A partir do século XX, com incremento da prática de campo, a
Antropologia passou por uma revolução conceitual e metodológica, aonde
começou ter um caráter mais dinâmico, reflexivo e simbólico. Isto é,
parou-se de ser feita através de materiais coletados por pessoas sem
treino profissional. Isto porque começaram a entender que só se poderia
compreender uma cultura se houvesse uma forte interação do
pesquisador com o seu material de estudo. O pesquisador começou a
falar a língua dos nativos com qual iria permanecer longos períodos junto,
ele passava a compreender o sentido e a função do costume e respeitar
as especificidades de cada agrupamento humano com qual ele estava
pesquisando (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER; et al 2005; DAOLIO,
1995).
Segundo Daolio (1995): “Cada sociedade era considerada como
uma entidade autônoma, em que cada detalhe observado possuía um
sentido”.
20
Acreditava-se que os dados estavam nas sociedades, podendo ser
coletados por qualquer viajante. Agora o pesquisador procurava
compreender a sociedade, relacionar os fatos entre si, estudar os
mínimos detalhes, decifrar os fenômenos sociais da perspectiva dos
membros da própria sociedade. Procurava, enfim, analisar os fatos da
sociedade dotados de significados. Percebendo aqui o respeito ao
princípio da alteridade. Aonde a alteridade é colocar-se ou constituir-se
como outro (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER; et al 2005; DAOLIO, 1995).
Com esta nova forma de fazer Antropologia, os pesquisadores de
área tiveram uma forte influência nas décadas seguintes, fazendo-se
presente até os dias de hoje. A partir dessas novas perspectivas, tornouse possível analisar não só as sociedades ditas primitivas, mas também
compreender o comportamento de indivíduos e grupos na sociedade
contemporânea (DAOLIO, 1995).
Assim a Antropologia pode estudar o comportamento da nossa
sociedade, não apenas a partir de um conjunto de materiais, mas provida
de sentidos e significações. Permitindo o estudo de qualquer grupo
contemporâneo, tais como operários, militantes de um partido político,
homossexuais, grupos religiosos ou, ainda, professores de Educação
Física. Sendo a experiência individual ou grupal uma expressão sintética
da cultura em que o indivíduo vive (DAOLIO, 1995).
“O conhecimento antropológico da nossa cultura passa
inevitavelmente, pelo conhecimento das outras culturas,
reconhecendo que somos uma cultura possível entre
tantas outras, mas não a única” (DAOLIO, 1995).
Esse conhecimento é realizado a fim de se compreender o sentido
de determinada manifestação social ou cultural, e a partir daí poder
entender melhor a nossa sociedade. Pensando dessa forma, é possível
realizar uma pesquisa a partir de qualquer comportamento que um
determinado grupo possa expressar, sendo possível pensar também no
conjunto de gestos corporais desenvolvidos pelo homem ao longo de sua
história como um objeto útil de estudo das sociedades, como fez Mauss
21
através do conceito ‘’fato social total’, que implica na compreensão de que
em qualquer realização do homem pode haver dimensões sociais,
psicológicas e fisiológicas (DAOLIO, 1995)
2.6
A cultura do movimentar-se
“No corpo estão inscritos todas as regras, todas as
normas e todos os valores de uma sociedade específica,
por ser ele o meio de contato primário do indivíduo com o
ambiente que o cerca” (DAOLIO, 1995).
Mesmo antes de uma criança falar ou andar, ela já traz com ela
alguns comportamentos sociais, a maneira como ela dorme, a maneira
como ela se deita, a necessidade de um certo tempo de sono e até
mesmo a maneira como ela sorri para determinadas brincadeiras
(DAOLIO, 1995).
Segundo Kofes (1985, apud DAOLIO, 1995), o corpo é uma
maneira de expressar a cultura que o indivíduo possui, portanto cada
cultura ira se expressar por meio de diferentes corpos. DaMatta (1987,
p76 apud DAOLIO, 1995) afirma que existem tantos corpos quanto há
sociedades.
Uma maneira de saber a origem de um indivíduo pode ser feita
observando a forma como ele expressa sua cultura através de gestos
corporais, podendo ser pela maneira de seu andar, sua postura corporal,
a forma como cumprimenta, ou até mesmo a maneira como se veste.
Observando-se, por exemplo, um festival de danças folclóricas, podem
ser notadas as diferenças entre as sociedades por meio dos movimentos
corporais ritmados, a postura dos dançarinos, e a rigidez ou soltura que é
executada pelos dançarinos. Podendo ser visto também a diferença da
cultura corporal nos esportes, como por exemplo, o futebol, a maneira
como as seleções se comportam em campo, a formação tática que
utilizam, e a maneira como jogam, sendo que todos jogam pelo mesmo
objetivo e com as mesmas regras, esta diferença ocorre mesmo nos dias
22
atuais, aonde os esquemas táticos tentam privilegiar o preparo físico dos
jogadores (DAOLIO, 1995).
O homem utiliza seu corpo para assimilar e se apropriar de valores,
normas e costumes sociais. Um indivíduo pode aprender uma nova
língua, um novo conhecimento ao seu repertório, mais do que um novo
aprendizado intelectual, o indivíduo adquire um conteúdo cultural, que se
instala no seu corpo e no conjunto de suas expressões, sendo assim o
homem aprende a cultura através de seu corpo (DAOLIO, 1995).
“Mais do que saber que os corpos se expressam
diferentemente porque representam culturas diferentes, é
necessário entender quais os princípios, valores e
normas que levam os corpos a se manifestar de
determinada maneira.” (DAOLIO, 1995).
Pode se afirmar que o corpo humano não é um dado puramente
biológico, o corpo é fruto da interação entre natureza e cultura. Rodrigues
afirma que nenhuma prática se realiza sobre o corpo, sem que tenha um
sentido genérico ou específico. Justamente esse sentido específico que
impede de pensar o corpo como um dado biológico (DAOLIO, 1995).
“O que define o corpo é seu significado, o fato dele ser
produto da cultura, ser construído diferentemente por
cada sociedade, e não as suas semelhanças biológicas
universais” (DAOLIO, 1995).
Entretanto estas semelhanças não definem o corpo humano, mas
sim a forma como os conceitos e as definições ao seu respeito são
construídas culturalmente. Fica evidente que os conjuntos de movimentos
e posturas corporais representam valores e princípios culturais. Sendo
assim, atuar no corpo de algum indivíduo, implica atuar sobre a sociedade
na qual esse corpo está inserido (DAOLIO, 1995).
Mais importante do que perceber a diferença na manifestação
corporal de um indivíduo, é entender o significado dessas manifestações
23
corporais em um contexto social. Tendo como etapas, encontrar as
diferenças corporais entre povos ou entre épocas de um mesmo povo,
entender os movimentos corporais como parte de um todo social
(DAOLIO, 1995).
2.7 Corporeidades na Educação Física
A Educação Física faz parte de todas práticas institucionais que
envolvam o corpo humano, desde práticas educacionais, recreativas,
reabilitadoras ou expressivas. Assim devendo na hora de sua execução
pensar no homem como um sujeito da vida social (DAOLIO, 1995).
A partir desta visão, não podemos considerar os alunos uma parte
mente e outra parte corpo. Essa visão fragmentada vem de uma
compreensão aonde nossos corpos são considerados máquinas, esta
divisão distanciou o homem moderno da natureza, fazendo com que ele
pensasse que através das ciências poderia dominar a natureza
(VERDERI, 1999).
Para que possamos fazer este corpo se tornar um corpo – vivido,
que se movimenta livremente, que tem opiniões e se utiliza disso para se
expressar, aonde corpo e mente se superam, se tornando um ser UNO,
necessita que vinculemos à ele novos paradigmas e novos conceitos, que
envolvam o homem, corpo e mente (VERDERI, 1999).
A corporeidade está relacionada ao corpo vivido, corpo sujeito, que
atua que tem vontades, necessidades e liberdade para estar interferindo
no mundo social e preconceituoso. Neste sentido podemos dizer que o
profissional de Educação Física deve se distanciar dos programas de
rotinas, padrões mecanicistas, e sem receios, utilizar métodos de
pedagogia inovadores, que enquadrem o corpo como um ser que tenha
uma visão ampla, que leve em consideração as partes e suas interrelações, e que considere as riquezas de suas significações vitais
(VERDERI, 1999).
O nosso trabalho é de dar liberdade de expressão para o aluno,
promovendo nele o conhecimento, libertando - o dos métodos rígidos que
buscam torna-lo apenas um corpo – objeto, que repete tudo que vê e o
24
que se faz. Teremos como produto final uma fotocópia mal feita de um
produto inicial (VERDERI, 1999).
Nosso aluno deve conhecer seu corpo, para que possa produzir
gestos expressivos, fundamentado num processo de construção,
favorecendo manifestações de ordem educacional, artística e cultural,
sendo que de uma cultura para outra podemos observar manifestações
motoras diferentes, que também são inseridas em um contexto social
diferente (VERDERI, 1999).
Segundo Verderi (1999), a educação que buscamos deve
possibilitar ao aluno autoconhecimento, compreensão de si mesmo e de
seu mundo, favorecer e incentivar o aluno a manifestar suas ideias de
maneira crítica e coerente, e a partir daí ele pode expressar sua
corporeidade.
Onde está corporeidade é voltar a viver novamente a vida, na
perspectiva de um ser unitário e não dual. É a existencialidade na busca
de compromissos com a cidadania, com a liberdade de pensar e agir.
Incorporar símbolos, prazeres, necessidades. Também é cativar e ser
cativado por outros, pelas coisas, pelo mundo. Corporeidade é você, sou
eu, somos nós, na íntima relação com o mundo, pois um sem o outro é
inconcebível. É tornar a vida mais saborosa, e daí transformar o sabor em
saber (MARCO, 2006).
2.8
Hip Hop e Corporeidade na Educação Física escolar.
Nós, professores, devemos ir além da nossa missão
tradicional, não somos simplesmente professores do
ensino corporal, somos também responsáveis pelo
ensino emocional e social (VERDERI, 1999).
Está relatado no PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) do
ensino médio, que os professores de Educação Física tiveram seus
conhecimentos e experiências baseadas em ideias de ordem técnica
(disciplinas esportivas). Esse fato se deu, entre muitas causas, pela
confusão do ambiente esportivo competitivo com o escolar educacional,
25
fruto de um contexto histórico que quis elevar o país à categoria de nação
desenvolvida à custa de seus sucessos no campo dos esportes. Isto
acaba causando o abandono da ação de educador e dando forças para a
função de treinador. Por este fato, o professor acaba abandonando as
aulas de grade curricular (com todos os alunos), para dar ênfase aos
momentos de treinamento esportivo, assim deixando de lado conteúdos
que poderiam ser mais proveitosos, que explorariam mais o ser humano,
onde através destes conteúdos fossem desenvolvidas atividades que
explorariam os significados que o corpo carrega com si, sendo que o
homem utiliza-se de expressões corporais como ferramenta de interação
com a realidade do mundo (NEIRA; MATTOS, 1999).
Com o corpo somos capazes de ver, ouvir, falar perceber e sentir
coisas, entramos em contato com a vida e outros corpos através da
comunicação e da linguagem que o corpo possui. E nas ações corporais
dos jovens e adolescentes, durante a atividade física, o enfoque deve
estar voltado para o corpo, para as ideias e para os sentimentos (NEIRA;
MATTOS, 1999).
Sendo assim o professor tem como função ser mediador, entender
e aceitar as relações corporais existentes no mundo humano, e
demonstrar para os alunos que aquilo é um espaço de aprendizagem.
(NEIRA; MATTOS, 1999).
Por isto que a corporeidade pode ser utilizada como ferramenta de
trabalho, baseando-se nesta ideia dada pelo PCN. Pois a corporeidade
tem como função de trabalhar o ser uno, que é um ser que tem liberdade
de expressão pessoal, que tem condições e direito de escolher, e tomar
decisões. Onde sua experiência motora irá resultar no descobrimento do
seu mundo. Que terá nas atividades espontâneas um aliado para o
surgimento de novas situações, que irão gerar novas informações, novos
caminhos, onde irão nortear o desenvolvimento pleno do aluno.
Trabalhando não apenas o corpo, mas também a mente, não os
separando como já se foi feito antes. (VERDERI, 1999).
Segundo Freire (1997), a Educação Física não é apenas educação
pelo movimento, é educação de corpo inteiro, sendo este corpo em
26
relação com outros corpos e objetos. Educar corporalmente uma pessoa
não significa provê-la de movimentos qualitativamente melhores.
Nesse contexto que entra o Hip Hop, que possui alguns pilares que
podem servir como auxilio para a corporeidade se desenvolver na
Educação Física escolar. Sendo estes pilares: O Break Dancing, Rap,
Streetball (conhecido no Brasil como Basquete de rua) (SILVA, 2012;
POSTALI, 2007; PIMENTEL, 1997).
Onde pode-se utilizar do freestyle, que é um dos quatro estilos
existentes no Break Dance, o freestyle, que dá ênfase na improvisação do
movimento, já que no Hip Hop há uma resistência aos movimentos
padronizados e é valorizado o estilo pessoal, que parte da ideia da
corporeidade, de ter atividades espontâneas que gerem novas situações
e informações, assim trazendo novos conhecimentos para o aluno
(SOUZA; DAOLIO; VENÂNCIO; et al, 2009; VERDERI, 1999).
A partir desta ideia o freestyle pode ser trabalhado não apenas o
lado corporal, mas também explorando o conhecimento. Isto pode ser
feito sugerindo que os alunos executem movimentos coreografados
mesclando elementos básicos do Hip Hop, onde o professor deverá
mostrar a importância dos movimentos e a história que tem por trás deles,
e abordar outros temas, como conversar com os alunos sobre o
movimento Hip Hop perante tais problemas, tanto no sentido de enfrentálos quanto agravá-los. Por exemplo, abordar letras de rap que falam sobre
ir atrás de seus direitos ou as letras que apenas fazem ostentação de algo
fútil (SOUZA; DAOLIO; VENÂNCIO; et al, 2009).
Podendo depois ser demonstrados movimentos básicos do Break
Dance através de vídeos ou b.boys, os alunos então irão depois de ter se
aprofundado melhor sobre o significado que os movimentos e a história
do Hip Hop carrega com si, denunciar problemas da região em que vivem
e problemas globais, e a coreografia que será montada deverá apontar
possíveis soluções para estes problemas, e poderão também a partir dos
movimentos básicos criarem outros, pois é esta a ideia do freestyle. Para
escolher a música que eles irão utilizar na coreografia, deverá ser
solicitado que os alunos tragam CDs ou pen drives com músicas de rap
que denunciem o problema que eles irão abordar, e no caso das músicas
27
serem estrangeiras, os alunos deverão trazer a tradução da letra, assim
podendo trabalhar em conjunto com os professores de idioma estrangeiro,
desta maneira ocorrendo a interdisciplinaridade (SOUZA; DAOLIO;
VENÂNCIO; et al, 2009).
Depois eles deverão se dividir em grupos de acordo com o
problema que escolheram abordar, assim irão ficar junto os alunos com
mais afinidade no tema, isso irá evitar que os grupos sejam compostos
apenas por quem são amigos, as famosas “panelinhas”. Em seguida
deverão eleger a música que será utilizada junto com a coreografia, no
final da apresentação pede-se que ensinem a coreografia para os demais
para que os alunos possam participar em todas as coreografias. Estas
aulas são sugeridas pelo caderno do professor da 3ª série do ensino
médio do estado de São Paulo em 2009 (SOUZA; DAOLIO; VENÂNCIO;
et al, 2009).
Assim trabalhando em conjunto com a ideia do João Batista Freire
e da corporeidade, que é trabalhar no aluno o desenvolvimento corporal e
o senso crítico, possibilitando que o aluno expresse suas ideias de uma
maneira livre, e não apenas prover este aluno de movimentos
qualitativamente melhores (SOUZA; DAOLIO; VENÂNCIO; et al, 2009;
VERDERI, 1999; FREIRE, 1997).
O streetbal também pode ser trabalhado na Educação Física
escolar, como foi feito em uma escola de ensino fundamental II localizada
em Jundiaí, desenvolvido pela professora Bianca das Neves Silva, que
através do projeto realizado por ela, utilizou o Hip Hop como pano de
fundo. Onde ela procurava através deste projeto: Resgatar a ideia de
união em torno de uma prática, possibilidades de discussões entre os
jovens sobre a realidade das periferias do Brasil, e abrir parar que eles
dessem opiniões sobre como poderiam reivindicar melhorias nas
condições de vida desta população (SILVA, 2012).
Silva (2012) aponta as semelhanças das ruas onde o streetball foi
criado com as ruas onde os alunos envolvidos no projeto vivem, assim
partindo da ideia de trazer a realidade social do aluno para a escola, isto
fez com que o interesse dos alunos aumentasse sobre o assunto,
28
possibilitando discussões sobre a produção cultural das periferias. Silva
(2012), optou por trabalhar com blocos de streetball por perceber que
alguns alunos tinham um vínculo forte com o rap, e também reclamaram
que o basquetebol já tinha sido trabalhado anteriormente com eles. A
partir desta visão, a professora fez seu planejamento voltado para 14
aulas, onde nestas aulas ela procurou dar uma introdução mais profunda
ao streetball. Os alunos vivenciaram minijogos de streetball, viram a
função social que existe por traz da modalidade, realizaram dribles e
bandejas típicas da modalidade, fizeram jogos de streetball com algumas
regras básicas, organizaram equipes para minitorneio, foi verificado a
apropriação do conhecimento e fechado o planejamento com uma prova.
Após o término das aulas, Silva (2012), pode notar que a maioria
dos alunos se apropriaram do conteúdo, mesmo que de maneiras
diferentes. E que de maneira geral os meninos além de se interessarem
pelo aspecto teórico da aula se envolveram mais com a aula prática,
aprenderam e executavam com bastante entusiasmo alguns dribles. A
maior parte das meninas foram bem aplicadas nas discussões e
disputavam a função de controlador (espécie de arbitro no streetball, é
responsável por anotar os pontos e intervir no jogo quando necessário),
tiveram uma participação mais como principiante no papel de jogadoras.
Alcançando assim a meta maior do projeto, que era mostrar para os
alunos o quão rico pode ser a produção cultural da periferia e com isso
mudar a visão que eles tinham sobre o estar no mundo.
Através deste projeto desenvolvido por Silva (2012), pode-se tentar
realiza-lo para trabalhar a corporeidade também, pois nele não foi apenas
enfatizado o esporte streetball, mas também a história do surgimento
desta modalidade e a importância social que ela carrega com si, e sendo
anexado com o movimento cultural Hip Hop que traz consigo outras
possibilidades de debates, isto fará com que se trabalhe no aluno o senso
crítico e o ajude a expor suas ideias, sem contar que o streetball é uma
modalidade que não carrega com si tantas regras, igual o basquetebol,
isso facilita para que o aluno possa o praticar e seja mais espontâneo,
podendo a partir de alguns dribles básicos do streetball criar outros
dribles, ou seja, outras maneiras de resolver problemas, assim
29
desenvolvendo o raciocínio lógico do aluno, que parte da ideia da Verderi
(1999), que a corporeidade trabalha um ser uno, trabalhando tanto a
mente quanto o esquema corporal, isto através de atividades mais
espontâneas que irão ajudar a nortear o desenvolvimento do aluno.
Também parte da ideia de Neira (2011), onde o educador pesquisa
e resgata as experiências dos estudantes, analisando seus saberes, suas
práticas culturais e como eles se relacionam com estas manifestações,
que leva os alunos a olharem além de suas próprias experiências e
realidade, assim visando ampliar a compreensão do patrimônio cultural
dos alunos e o reconhecimento social de suas identidades. Pois quando
se traz à tona assuntos que abordem camadas desprivilegiadas
economicamente, afrodescendentes ou outros grupos banalizados pela
sociedade, contrapõem-se sobre a ótica comum. Ao enfrentar a
concepção popular, indivíduos que pertencem aos grupos dominantes
também apreciam o fato de que nas mais diversas questões existem
perspectivas que não conhecem ou que estavam submersas.
Sendo assim a tematização do conhecimento popular no currículo
potencializará novos métodos e vozes divergentes, onde irá partir da ideia
que a corporeidade traz consigo, de propor novas concepções para o
aluno (NEIRA, 2011; VERDERI 1999).
Através destes projetos que utilizam a corporeidade e o Hip Hop,
pode-se desenvolver algumas competências e habilidades indicadas
pelos PCNs do ensino médio nos alunos, sendo elas, segundo (NEIRA;
MATTOS, 1999):
Representação e comunicação:

Onde o aluno demonstra autonomia na elaboração de
atividades corporais, e também capacidade para discutir e modificar
regras, reunindo elementos de várias manifestações de movimento e
estabelecendo uma melhor utilização dos conhecimentos adquiridos
sobre a cultura corporal.

O aluno assumirá uma postura ativa na prática das
atividades físicas, e consciente da importância delas na vida do cidadão.
30

Participar de atividades em grandes e pequenos grupos,
compreendendo as diferenças individuais e procurando colaborar para
que o grupo possa atingir os objetivos a que se propôs.

Reconhecer na convivência e nas práticas pacíficas,
maneiras eficazes de crescimento coletivo, dialogando, refletindo, e
adotando uma postura democrática sobre diferentes pontos de vista
postos em debate.

O aluno irá se interessar pelo surgimento de múltiplas
variações da atividade física, enquanto o objeto de pesquisa e área de
interesse social.
Investigação e compreensão:

O aluno ira refletir sobre as informações específicas da
cultura corporal, sendo capaz de diferencia-las e reinventa-las em bases
científicas, adotando uma postura autônoma.
Contextualização sociocultural:

cultura
O aluno irá compreender as diferentes manifestações da
corporal,
reconhecendo
e
valorizando
as
diferenças
de
desempenho, linguagem e expressão.
Sendo assim trabalhar a corporeidade em conjunto com o Hip Hop
no âmbito escolar atua de maneira assegurada pelos PCNs (NEIRA;
MATTOS, 1999).
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa desenvolvida utilizando revisão literária sobre
o movimento cultural Hip Hop e corporeidade, pode-se chegar à
conclusão que eles podem ser utilizados em conjunto na Educação Física
escolar, pelo fato de buscarem as mesmas habilidades e competências a
serem desenvolvidas no indivíduo que irá ser trabalhado.
É na corporeidade que estas habilidades e competências podem
ser desenvolvidas através do contato profundo do aluno com o movimento
Hip Hop, ou seja, conhecer as histórias, expressões e significados que
são carregados por trás deste movimento, e não ficar apenas com as
ideias superficiais sobre o assunto. Assim, passa a ser desenvolvida em
conjunto, pois ela como o Hip Hop possuem ideologias similares, que são
de trabalhar e desenvolver um ser que pense, exponha suas ideias de
forma coerente, possua um senso crítico sobre o que cerca o seu mundo,
e que também saiba utilizar seu corpo como ferramenta para se
expressar. De forma que este indivíduo através da sua cultura em
conjunto com estas manifestações intelectuais e corporais, possa dialogar
e ser compreendido pela sociedade presente em seu entorno.
Buscando assim trazer para os alunos novas concepções sobre a
Educação Física escolar, fazendo com que se mude a visão da sociedade
perante as aulas de Educação Física, ou seja, fugindo dos paradigmas da
Educação Física escolar convencional, onde estas novas concepções
possam proporcionar para os alunos novos pontos de vista sobre as
diferentes realidades socioculturais presentes em sua volta, e também
trazer uma nova percepção sobre o seu corpo. Isto fara com que o aluno
não se perceba apenas como um indivíduo na sociedade, mas sim, ser o
indivíduo na sociedade, que pense de maneira coletiva, buscando
resolver os problemas que o cercam, mas também os problemas que
cercam a sociedade em que ele está inserido.
Assim mostrando que a Educação Física pode conceber para a
sociedade um ser uno, carregado de ideias e maneiras de como
32
expressá-las, e não apenas um indivíduo carregado de movimentos
qualitativamente melhores.
33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAIUTO, Moacyr, Basquetebol: Origem e evolução. Rio de Janeiro, RJ:
Editora Iglu, 1991.
DANIELS, Harry, Uma introdução a Vygotsky. São Paulo, SP: Edições
Loyola, 2002.
DAOLIO, Jocimar, Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papirus, 1995. –
(Coleção Corpo e Motricidade).
DARBY, Derrick, SHELBY, Tommie, IRWIN, William. Hip Hop e a
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