Desempenho agronômico de vegetais cultivados em sistemas
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Desempenho agronômico de vegetais cultivados em sistemas
NOTA TÉCNICA DESEMPENHO AGRONÔMICO DE VEGETAIS CULTIVADOS EM SISTEMAS ALAGADOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DA SUINOCULTURA Mozart da Silva Brasil1; Antonio Teixeira de Matos2; Ronaldo Fia3; Nara Cristina de Lima Silva4 RESUMO Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o desempenho das espécies vegetais tropicais tiriricão (Cyperus sp.), taboa (Typha sp.), capim elefante (Pennisetum purpureum Schumach), capim amorgoso (Paspalum intermedium Munro Ex. Morong), Panicum sp., taioba (Xanthosoma sagittifolium), inhame (Colocasia esculenta L.) e tripa de sapo (Alternanthera philoxeroides Mart.), considerando-se os atributos: sobrevivência e adaptabilidade, índice de perfilhamento, produção de biomassa e capacidade de absorção de nutrientes, cultivadas em condições de saturação do substrato com água residuária da suinocultura, dentro de tanques de alvenaria, de 3,0 m de comprimento e 0,7 m de largura, instalados em casa de vegetação. As plantas foram mantidas em tanques, contendo lâmina d’água de aproximadamente 0,14 m e em tanques de fibrocimento de 500 litros. As espécies vegetais foram submetidas a colheitas de biomassa aérea, em tempos previamente programados, sendo analisado, no material vegetal, o conteúdo de matéria seca e a concentração de nutrientes. O capim elefante e o capim amargoso apresentaram os melhores desempenhos, em termos de produtividade, enquanto a espécie tripa de sapo destacou-se em relação ao potencial de remoção de nutrientes. O inhame, em comparação com a testemunha cultivada com água “limpa”, não apresentou perfilhamento expressivo, demonstrando pequena adaptação ao cultivo em sistemas de tratamento de água residuária da suinocultura. Palavras chave: macrófitas, leitos cultivados, remoção de nutrientes, dejetos de suínos. ABSTRACT Agronomic performance of plants cropped in wetland systems used in treating swine wastewater This study was carried out to evaluate the performance of Cyperus sp., Typha sp., Pennisetum purpureum Schumach, Paspalum intermedium Munro. ex Morong, Panicum sp., Xanthosoma sagittifolium, Colocasia esculenta L. and Alternanthera philoxeroides Mart in wetland systems used to treat swine wastewater. The plants were cultivated in a greenhouse, on a swine wastewater substrate, in 3.0 x 0.7 m masonry tanks or fibrocement tanks of 500 l capacity, with a water depth of about 14 cm. Survival and adaptability, tillering index, biomass production and nutrient absorption capacity was evaluated. The shoot portion of plants was harvested at predetermined time interval, to determine dry matter content and concentration of nutrients. Panicum sp. and P. purpureum showed the best performance for productivity, whereas the A. philoxeroides showed maximum nutrient removal potential. C. esculenta cropped did not show expressive tillering when grown in the swine wastewater compared to the cultivation in raw water (control, thus showing low adaptation to cropping in the swine wastewater treatment systems. Keywords: macrophytes, wetland, nutrient removal, swine wastewater. 1 Doutor em Engenharia Agrícola, Professor da EAF-CO, E-mail: [email protected] Doutor, Professor do DEA/UFV, E-mail: [email protected] 3 Doutorando em Engenharia Agrícola, DEA/UFV, E-mail: [email protected] 4 Graduando do Curso de Engenharia Agrícola e Ambiental, DEA/UFV 2 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 307 INTRODUÇÃO O crescimento abrupto da exploração confinada de suínos trazendo, conseqüentemente, a concentração de dejetos suínos em pequenas áreas, vem representando uma preocupação crescente com a poluição ambiental, principalmente, porque a atividade gera grande quantidade de resíduos sólidos e líquidos. Os resíduos líquidos (água residuária) são compostos por fezes, urina, resíduos de ração, excesso de água dos bebedouros e da limpeza das instalações (KONZEN, 1997). Em virtude da grande quantidade de água usada na higienização das instalações e daquela desperdiçada nos bebedouros, acrescida da urina dos animais, os dejetos produzidos nas suinoculturas são predominantemente líquidos. De acordo com Oliveira (1993), uma granja de suínos produz, em média, 8,6 litros de efluentes líquidos, por animal dia-1. Considerando que muitas formas de tratamento secundário de água residuária, notadamente, as mais exigentes em tecnologia e recursos não se apresentam viáveis, economicamente, tem-se procurado alternativas de tratamento denominado seminaturais. Dentre esses métodos de tratamento de água residuária, estão incluídos o sistema de tratamento por escoamento superficial e o sistema alagado construído (“wetland”), também denominado sistema de leitos cultivados com plantas. A vegetação desenvolvida em áreas alagadas naturais, freqüentemente, denominadas plantas macrófitas, é constituída por espécies vegetais adaptadas ao crescimento em substratos saturados com a água e com baixa oxigenação. Independente do aspecto taxonômico, nas macrófitas incluiem-se desde macroalgas, como o gênero Chara, passando por angiospermas como o gênero Typha (ESTEVES, 1998) até aos ciprestes (APHA, 1995). Contudo, suas maiores representantes são as plantas aquáticas vasculares florescentes, (VALENTIM, 2003) algumas das quais apresentam capacidade de transferência de oxigênio atmosférico para a zona da rizosfera (STOTTMEISTER et al., 2003). Os vegetais cultivados em sistemas alagados desempenham importantes funções no sistema de tratamento de águas residuárias, dentre as quais destacam-se: 308 a) facilitar a transferência de gases – as macrófitas podem facilitar a entrada de oxigênio e a saída de CH4, CO2, N2O e H2S do sistema (TANNER, 2001). Entretanto, a quantidade de oxigênio transferido (em torno de 3,0 g m-2 d-1 de O2), equivalente a 30 kg ha-1 d-1 de DBO, é considerada baixa em comparação com a quantidade de material orgânico que, geralmente, é aportado nesses sistemas. Como agravante, a transferência direta de O2 da atmosfera para a água residuária através da superfície do meio suporte, estimada de 0,5 a 1,0 g m-2 d-1, pode ser reduzida, em virtude da barreira formada pelas plantas e o material orgânico em decomposição no meio (BEHRENDS et al., 1993, reportado por U.S. EPA, 2005); b) estabilizar a superfície do leito – o denso sistema radicular das macrófitas emergentes no substrato protege o sistema do processo erosivo, impedindo a formação de canais de escoamento preferencial na superfície do SAC (BRIX, 1997); c) absorver nutrientes e metais – no período de crescimento, as plantas podem absorver macronutrientes (N e P) e micronutrientes (incluindo metais), sendo que, no início da senescência, a maior parte dos nutrientes é translocada para as raízes e rizomas. A estimativa anual de absorção de nitrogênio e fósforo por macrófitas emergentes varia de 12 a 120 g m-2 ano-1 e 1,8 a 18 g m-2 ano-1, respectivamente (REEDDY & DEBUSK, 1985). A remoção de nitrogênio com as colheitas da biomassa aérea varia de 7,4 a 18,9 g m-2 ano-1 (MANDER et al., 2004) enquanto a do fósforo varia de 0,4 a 10,5 g m-2 ano-1 em Phalaris arundinacea, de 0,6 a 9,8 g m-2 ano-1 em Phragmites australis e de 0,2 a 6,5 g m-2 ano-1 em Typha spp. (VYMAZAL, 2004). Para SAC utilizado no tratamento de esgoto urbano, a absorção pelas macrófitas é estimada em 1,9 % do nitrogênio aportado ao sistema (LANGERGRABER, 2004); d) suprir carbono biodegradável para o processo de desnitrificação – a decomposição de plantas e exsudados das raízes pode servir como fonte de carbono orgânico biodegradável para microrganismos desnitrificantes e, assim, incrementar a remoção de nitrato em SAC (BRIX, 1997; TANNER, 2001), embora a matéria orgânica em decomposição e os exsudados também possam ser fontes de nitrogênio orgânico, facilmente, conversível em nitrogênio amoniacal; Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 e) atuar como isolante térmico nas regiões de clima temperado – a cobertura da vegetação serve como isolante térmico para o SAC, reduzindo o risco de congelamento da água residuária em sua superfície (REED et al., 1995); e f) proporcionar habitat para vida selvagem e agradável aspecto estético – estas funções não estão ligadas, diretamente, ao processo de tratamento; todavia, podem ser importantes em lugares onde os banhados naturais foram destruídos, ou para melhoria no aspecto estético de pequenas unidades de tratamento unidomiciliares (residências, hotéis e hospitais). As macrófitas freqüentemente usadas em sistemas alagados construídos nos EUA são plantas macrófítas persistentes e emergentes, tais como Scirpius sp. (junco), Efeocharis sp., Phragmites sp. (carriço), Typha sp. (taboa), Cyperus sp. e outras ciperáceas, embora as espécies Peltandra virginica, Saggitaria latifolia, Iris versicolar, Phalaris arundinocea, Saururus cernuus, Pontedaria cordata, Juncus effusus, Eleocharis palustris, Carex spp., Nuphar luteum, Acorus calamus e Zizania aquatica sejam, também, utilizadas (DAVIS, 1995). No entanto, Marques (1999) sugere, como critério de seleção, o uso de espécies locais não exóticas e a tolerância dessas espécies a prolongados períodos de submergência ou permanência em substrato saturado. Assim, neste trabalho, objetivou-se avaliar a sobrevivência e a adaptabilidade, o índice de perfilhamento, a produção de biomassa e a capacidade de absorção de nutrientes por espécies vegetais tropicais, cultivadas em condições de saturação do substrato com água residuária da suinocultura. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em casa de vegetação na Área Experimental de Hidráulica, Irrigação e Drenagem, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG. As espécies vegetais tiriricão (Cyperus sp.), taboa (Typha sp.), capim elefante (Pennisetum purpureum Schumach), capim amorgoso (Paspalum intermedium Munro Ex. Morong), Panicum sp. e taioba (Xanthosoma sagittifolium) foram cultivadas em casa de vegetação, dentro de tanques de alvenaria, com 3,0 m de comprimento e 0,7 m de largura, mantidos com lâmina d’água de 0,14 m, aproximadamente. Para o plantio destes vegetais, foram formados camalhões de solo-substrato, cujas características químicas são apresentadas no Quadro 1, distribuídos em 2 (duas) linhas transversais dentro da lâmina de água dos tanques. O inhame (Colocasia esculenta L.) e a tripa de sapo (Alternanthera philoxeroides Mart.) foram cultivados em tanques de fibrocimento de 500 litros, no qual colocou-se o substrato composto de material coletado no horizonte C de um Argissolo Vermelho Amarelo e material orgânico (cama de frango), sendo que as características químicas da mistura são apresentadas no Quadro 1. Para cultivo das espécies vegetais, o substrato permaneceu saturado, sem, contudo, haver a formação de lâmina de líquido sobre a sua superfície. As altas concentrações de Na no solosubstrato utilizado nos tanques de alvenaria e, especialmente, as de P e Na na mistura solo + cama de frango devem-se, no caso do primeiro, ao fato de ser o solo-substrato retirado de área onde há muito tempo era lançada ARS bruta e, no segundo caso, por conter a cama de frango misturada ao solo altas concentrações destes elementos químicos. Quadro 1. Características químicas iniciais dos solos-substratos utilizados no cultivo dos vegetais Substrato P K S Ca Mg B Zn Na Cu -1 ................................................ (mg kg ) .…………………….................... Tanques de alvenaria* 66 36 13 123 17 0,48 6 101 2 Caixas de fibrocimento** 481 225 53 93 81 3 41 470 2 * solo-substrato retirado de área alagada onde, anteriormente, era lançada ARS bruta; ** material de solo + cama de frango Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 309 As espécies vegetais foram coletadas em áreas de sua ocorrência natural e foram transplantadas com toda sua estrutura fisiológica (sistema radicular e parte aérea). Os vegetais cultivados na casa de vegetação receberam a aplicação de água “limpa” durante um período de adaptação de quatro meses, de modo que pudessem se restabelecer e atingir o pleno desenvolvimento vegetativo. Posteriormente, os vegetais foram submetidos à aplicação, durante oito meses, de água residuária da suinocultura (ARS), proveniente do tanque de recepção de efluentes da higienização das baias de suínos do Departamento de Zootecnia, na UFV. Nesse tanque, o afluente era submetido a um tempo de residência hidráulica em torno de sete dias, de modo a sofrer depuração anaeróbia parcial. Desse tanque, o afluente foi bombeado para um reservatório com capacidade de 2.000 L, localizado próximo à casa de vegetação. Desse reservatório, o material sobrenadante foi novamente bombeado para um tanque com capacidade de 500 L, havendo, assim, remoção de parte dos sólidos sedimentáveis. Desse último tanque, foi distribuído por gravidade para os tanques de alvenaria e para os tanques de fibrocimento, onde encontravam-se os vegetais cultivados. Para quantificação da concentração química da ARS, foram utilizados os seguintes métodos de análise: nitrogênio total - processo semimicro Kjeldahl.; cloreto - método titulométrico de Mohr ; boro - digestão via seca do material vegetal, seguindo-se extração e determinação da concentração por colorimetria. Na análise dos demais nutrientes, as amostras foram mineralizadas, via úmida, sendo que, nas soluções obtidas, foram quantificadas as concentrações de fósforo e enxofre - colorimetria; potássio e sódio - fotometria de chama, cobre, zinco, cálcio e magnésio - espectrofotometria de absorção atômica (EAA). A concentração de macro e micronutrientes no tecido vegetal foi obtida por meio dos mesmos métodos de análise utilizados na caracterização da ARS. No início da aplicação da ARS, cuja caracterização química é apresentada no Quadro 2, a água evapotranspirada dos tanques foi substituída por ARS, a cada dois dias, de modo que, ao final desse período de 10 dias, toda água “limpa” tinha sido substituída. Em todos os vegetais cultivados na casa de vegetação, exceto a taboa e a tripa de sapo, foi mantida uma testemunha cultivada com água “limpa”. Por ser um experimento exploratório, e por não haver estrutura física e material disponível, o trabalho foi conduzido sem repetições. Após ter a substituição da água “limpa” por ARS, nos recipientes, iniciou-se o rebombeamento do efluente, drenado como excedente dos tanques de tratamento, para a caixa de distribuição. Esse procedimento contribuía para reposição do líquido perdido por evapotranspiração do sistema e promovia a aeração da massa líquida. Vale ressaltar que os vegetais cultivados nas caixas de fibrocimento apresentaram alteração abrupta no aspecto visual, quando houve mudança da aplicação de água “limpa” para ARS. Para a avaliação da produção de massa seca, os vegetais foram submetidos a colheitas manejadas, sempre que o estádio de desenvolvimento vegetativo peculiar de cada cultura era atingido (florescimento), para comparação da biomassa produzida. As amostras de tecido vegetal coletadas foram desidratadas em estufa a 65ºC, durante 72 horas, para posterior análise em laboratório. No cálculo da produtividade de matéria seca dos vegetais, adotaram-se os seguintes espaçamentos entre as fileiras de plantas: 0,7 m; 0,6 m; 0,6 m; 0,5 m, respectivamente para capim elefante, capim amargoso, Panicum sp. e tiriricão. Para a taboa, o inhame e a tripa de sapo adotouse a distribuição aleatória, à qual estas espécies são, naturalmente, encontradas. Quadro 2. Característica química (concentrações totais) da água residuária da suinocultura utilizada no cultivo dos vegetais Amostras N P K Ca Mg Zn Na Cl Cu -1 ........................................................... mg L ................................................................. Em 29/03/03 800 2.667 927 63 8 66 742 190 5 Em 16/05/03 3.200 6.819 350 152 17 497 629 290 13 310 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 espécie e dos demais vegetais que já haviam sido implantados, mantendo-se somente a parte vegetativa dos rizomas. Este procedimento acelerou o restabelecimento dos vegetais ao sistema, com exceção da taboa, que apresentou melhor estabelecimento, quando transplantada com toda sua biomassa. No período de monitoramento do experimento, a água residuária da suinocultura, fornecida ao experimento, apresentou considerável variação na concentração, conforme observado na Figura 1, proporcionando a concentração média no sistema de tratamento, apresentada no Quadro 3. A redução drástica de concentração, observada na 5ª amostragem (seta) ocorreu devido o tanque de armazenamento de dejetos ter sido drenado no período e reenchido com água residuária de baixa concentração. A maioria das espécies vegetais cultivadas apresentou razoável desenvolvimento e capacidade de sobrevivência ao cultivo em condição de saturação com a ARS, exceto a espécie taioba (Xanthosoma sagittifolium) que não se adaptou a esse sistema de cultivo, apresentando raquitismo e amarelecimento de suas folhas, de modo a não apresentar desenvolvimento satisfatório. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na fase de implantação dos vegetais nos tanques de alvenaria, a princípio, efetuou-se o transplantio da espécie taboa (Typha sp.) com reduzida quantidade de substrato, proveniente do local de estabelecimento natural dos vegetais, aderido às raízes. Entretanto, observou-se o completo murchamento das plantas, seguindo-se a senescência. Por esta razão, posteriormente, realizou-se um segundo transplantio do vegetal, utilizando-se plantas com maior quantidade de substrato de solo argiloso aderido ao sistema radicular, o que favoreceu a sua adaptação ao novo ambiente. A partir desta observação, procedeu-se à mesma forma de transplantio para os demais vegetais que faltavam a ser implantados e adicionou-se mais substrato às raízes dos vegetais implantados, inicialmente.. No transplantio dos primeiros vegetais, utilizou-se a planta como um todo (sistema radicular e parte aérea). No entanto, observou-se que o tiriricão (Cyperus sp.), principalmente, teve dificuldade de manter sua parte aérea, ocorrendo perda de turgescência, causando sua rápida senescência. Em virtude desses sintomas, optou-se por remover a parte aérea dessa 21000 Concentração 18000 15000 12000 9000 6000 3000 0 29/03/03 28/04/03 28/05/03 27/06/03 27/07/03 26/08/03 25/09/03 25/10/03 Período de m onitoram ento ST (mg/L) SS (mg/L) SD (mg/L) CE (µS/cm) DQO(mg/L) Figura 1. Características física e química da ARS monitorada no durante o experimento. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 311 Quadro 3. Características físicas e químicas médias da ARS, apresentadas durante o monitoramento no sistema de experimentação Variáveis -1 DQO (mg L ) ARS ARS + Lodo* 6.145 37.064 -1 5.604 57.105 -1 1.919 20.460 -1 3.685 36.645 ST (mg L ) SF (mg L ) SV (mg L ) -1 SS (mg L ) 4.291 40.000 -1 1.178 7.200 -1 SSF (mg L ) SSV (mg L ) 2.777 32.800 -1 1.650 17.105 -1 CE (dS m ) 2,243 3,130 pH SD (mg L ) 7,28 7,48 -1 819,5 3092,5 -1 1.700 240 -1 2.540 680 819,5 3092,5 2.107 743,3 N (mg L ) P (mg L ) K (mg L ) -1 N (mg L ) -1 Na (mg L ) * Lodo formado nos tanques de alvenaria cultivados com os vegetais aos 100 dias de tratamento com ARS. Quadro 4. Número total de perfilhos das plantas cultivadas com água “limpa” (testemunha) e com água residuária da suinocultura (ARS), avaliados no 1º e 2º corte durante o tratamento Cultivo com água "limpa" Espécie vegetal 1º Corte 2º Corte Cultivo com ARS 1º Corte 2º Corte Número de perfilhos Capim Elefante 35 34 39 103 Capim Amargoso 138 173 99 373 Panicum sp. 35 119 34 264 Tiriricão 120 121 96 331 Inhame 17 36 16 45 Taboa - - 43 91 No Quadro 4, apresentam-se os resultados obtidos do perfilhamento das plantas, que receberam o tratamento (cultivo com ARS) e das plantas cultivadas com água “limpa” (testemunhas). Observou-se que as plantas cultivadas com ARS tiveram expressivo perfilhamento e superior porcentagem de perfilho em relação às plantas cultivadas com água “limpa”, exceto o inhame que apresentou taxa de porcentagem, praticamente igual, para ambos os cultivos. 312 A espécie Panicum sp. apresentou maior porcentagem de perfilhamento entre o 1º e 2º corte, isto é, 240% e 674,5% para as plantas cultivas com água “limpa” e com ARS, respectivamente. No entanto, essa espécie vegetal não teve mais capacidade de emitir perfilho após o 2º corte, quando já havia ocorrido acúmulo da carga orgânica no lodo contido nos tanques de cultivo com ARS. Ao contrário, a espécie reduziu, abruptamente, o número de perfilhos emitidos no estágio anterior. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 Seguindo a mesma tendência, a espécie taboa não foi mais capaz de emitir perfilho após o 2º corte. Mesmo antes desse 2º corte, aos 100 dias de cultivo com ARS, quando o lodo nos tanques de cultivo já havia atingido as concentrações, apresentadas no Quadro 3, a taboa começou a apresentar morte de alguns perfilhos novos. Provavelmente este dano ocorreu devido ao efeito de salinidade da ARS. Essa desconfiança decorre do fato de que, Barros (2005), que avaliou a vegetação na área onde foram coletados os propágulos empregados neste estudo, identificou aquela espécie como Typha latifólia e, de acordo com Pearson (2005), a espécie é moderamente sensível à salinidade. Conforme se observa no Quadro 5, com exceção da tripa de sapo, que não teve testemunha avaliada, todas as espécies vegetais sobreviventes ao cultivo com ARS bruta, apresentaram produtividade superior às suas respectivas testemunhas. Dentre essas espécies, o capim amargoso apresentou a maior produção de biomassa, enquanto no inhame foi a menor. No Quadro 6, são apresentados os resultados de remoção de nutrientes pela colheita da biomassa aérea das espécies vegetais. Verifica-se que as cinco espécies sobreviventes no ensaio apresentaram razoável capacidade de remoção dos nutrientes analisados. Entretanto, embora apresentando a segunda menor produtividade de matéria seca (Quadro 5), a espécie tripa de sapo, apresentou a maior remoção dos nutrientes. Analisando, isoladamente, os valores de remoção de alguns nutrientes, verifica-se que o tiriricão apresentou o maior potencial de remoção de sódio e zinco, embora, estes elementos sejam absorvidos em menores quantidades relativas pelos vegetais. Quadro 5. Produtividade média de matéria seca dos vegetais cultivados no experimento com ARS Espécie vegetal Número Corte/Ano Intervalo de corte (dias) Capim elefante 87 4,2 Capim amargoso 92 4,0 Tiriricão 107 3,4 Inhame 67 5,4 Tripa de sapo 59 6,2 Produtividade de matéria seca (t ha-1 ano-1) Tratamento Testemunha 11,1 ARS 100,6 Testemunha 18,8 ARS 111,5 Testemunha 10,2 ARS 69,8 Testemunha 24,8 ARS 35,7 - - ARS 56,6 Quadro 6. Valores estimados da remoção de nutrientes pelas colheitas da biomassa dos vegetais cultivados com ARS Espécies vegetais Tratam ento N P K Ca Mg Cl -1 Na S B Zn Cu -1 ....................................................... kg ha ano ................................................. Capim elefante ARS 3330 302 905 413 272 102 292 4,8 0,3 2,2 0,5 Capim amargoso ARS 2565 245 1896 357 178 803 558 17,8 0,4 2,1 0,5 Tiriricão ARS 2932 140 2373 230 98 768 614 29,8 1,0 10,2 0,4 Inhame ARS 1178 107 1214 189 111 50 532 17,2 0,6 1,8 0,5 Tripa de sapo ARS 3226 170 2377 934 408 679 606 57,7 1,0 9,2 1,5 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.3, 307-315, Jul./Set., 2007 313 CONCLUSÃO Considerando, conjuntamente, os quatro atributos avaliados, as espécies capim elefante, capim amargoso, tiriricão, Inhame e tripa de sapo apresentaram os melhores desempenhos, quando cultivadas com água residuária da suinocultura. Em relação ao perfilhamento das plantas, o inhame apresentou o pior comportamento. A espécie tripa de sapo apresentou o maior potencial de remoção de nutrientes, dentre as espécies avaliadas. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION – APHA. Standard methods for the examination of water and wastewater. 19º. ed. Washington. D.C.: APHA s.n.p. 1995. 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