Fazer - Videoteca: Lisboa
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Fazer - Videoteca: Lisboa
Capa Final:Layout ok final 09/02/04 13:26 Page 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 3 Augusto Mota, Catarina Alves Costa, Catarina Mourão, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Cláudia Clemente, Gonçalo Tocha, Graça Castanheira, Joana Ascensão, João Mário Grilo, João Matos, José Paulo Alcobia, João Ribeiro, João Vladimiro, Jorge Silva Melo, José Manuel Costa, Manuela Penafria, Maria João Mayer, Midas Filmes, Miguel Clara Vasconcelos, Multimedia Outdoors Portugal, München, Patrícia Barata, Pedro Borges, Pedro Mendes, RTP2, Sara Moreira, Sony, Tue Steen Müller, a todos os realizadores e produtores e a todos os intervenientes nos debates. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 4 FICHA TÉCNICA PANORAMA 2009 CINEMA SÃO JORGE ORGANIZAÇÃO GESTORA Câmara Municipal de Lisboa/ Videoteca Municipal de Lisboa EGEAC, E.E.M. – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural Apordoc – Associação pelo Documentário Marina Sousa Uva PROGRAMAÇÃO DIRECÇÃO TÉCNICA António Loja Neves Fernando Carrilho Inês Sapeta Dias PROGRAMAÇÃO “PERCURSOS Fernando Caldeira NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS” BILHETEIRA António Loja Neves Fernando Carrilho Jorge Malho Paula Lima PRODUÇÃO Alexandra Martins Armanda Parreira Inês Sapeta Dias Nina Ramos Rita Forjaz COORDENAÇÃO DO CATÁLOGO Inês Sapeta Dias IMPRENSA Susana Seabra DESIGN GRÁFICO silva!designers SPOT Fátima Rocha COORDENAÇÃO TÉCNICA Fernando Carrilho TIRAGEM 1000 Exemplares ISBN XXX DEPÓSITO LEGAL XXX ADJUNTO Serafim Correia ASSISTENTE Manuel Fragoso PROJECCIONISTAS Carlos Souto Jorge Dias PANORAMA-Book:Layout 1 6 6 09/02/02 18:35 Page 5 APRESENTAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Videoteca Municipal – 3ª MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Apordoc PANORAMA – 3ª MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Egeac, E.E.M. PORÇÃO DE TERRITÓRIO QUE SE ABRANGE NUM LANCE DE OLHOS Fernando Carrilho OU “PAÍS SEM IMAGEM É PAÍS QUE NÃO SE VÊ” 7 8 9 PANORAMA 10 12 17 17 31 36 41 51 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? 55 56 58 62 PRODUÇÃO DOCUMENTAL: PORTUGAL NA EUROPA 71 72 74 76 80 96 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS 110 A PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA Inês Sapeta Dias PROJECTOS DE FILMES Catarina Mourão Gonçalo Tocha NIKIAS SKAPINAKIS: O TEATRO DOS OUTROS Jorge Silva Melo O JARDIM João Vladimiro & ETC Cláudia Clemente DAMA DE CHANDOR BALAOU PRODUÇÃO DOCUMENTAL: PORTUGAL NA EUROPA Tue Steen Müller para o PANORAMA COMENTÁRIOS SOBRE O PAPEL DO PRODUTOR NO DOCUMENTÁRIO ESTRUTURAS DE PRODUÇÃO DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Fernando Carrilho PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS António Loja Neves António Loja Neves – UMA VIDA PLANIFICADA Augusto Mota ANTÓNIO CAMPOS, O PARADIGMA DO DOCUMENTÁRIO Manuela Penafria A VIÚVA DO CARTEIRO ANTÓNIO CAMPOS FILMES ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS SESSÃO DE ABERTURA 112 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 150 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 6 6 Da importância do Documentário Português ou “País sem Imagem é País que não se vê” Sejam bem vindos ao esplêndido cinema São Jorge para esta 3ª edição da Mostra do Documentário Português. Uma iniciativa que – logo no ano da sua “estreia” – teve o feliz desígnio de receber o cognome de PANORAMA. Levado a cabo (nessa primeira edição) pela oportuna parceria entre a Videoteca e a Apordoc – à qual se associou, logo a seguir, o decisivo contributo da EGEAC – o PANORAMA transformou-se num acontecimento realmente essencial para o calendário cinematográfico nacional, sendo actualmente inquestionável a importância do seu contributo para ampliar e consolidar uma “Cultura do Documentário” em Portugal. “País sem imagem é País que não se vê”, discorria Fernando Lopes com elevada e serena sabedoria sobre estas coisas do Cinema. Pois aí está mais uma edição do PANORAMA a demonstrar que (mesmo quando as circunstâncias de cada momento teimam em lhe dificultar o passo) a Imagem de um Portugal contemporâneo existe e sabe perpetuar-se, cinematograficamente, no futuro que cada um de nós ajuda a moldar… No que à Videoteca Municipal diz respeito, ela continua óbvia e intrinsecamente convicta da prodigiosa importância do Documentário Português, como o tem claramente demonstrado ao longo dos seus 17 anos de actividade. As centenas de documentários portugueses que apresentou, as muitas dezenas que estreou, as várias dezenas cuja produção apoiou e – impossível esquecer – os excelentes Cursos de Realização em Documentário que organizou, são evidências não só desse empenho como também do reconhecimento da importância do trabalho do autor-cineasta português, hábil em transformar a realidade em imagens usando a força da sua imaginação e pujança da sua criatividade. Quanto à relevância da Apordoc no que à promoção do Documentário em geral diz respeito, também não sobra dúvida, encontrando-se no doclisboa a sua maior expressão. Tal como também ninguém hoje em dia descrê do extraordinário empenho com que a EGEAC tem apoiado o Cinema, transformando o São Jorge numa referência incontornável do percurso cultural da Cidade. É graças ao entusiasmo e esforço desses três co-organizadores, e ao apoio de entidades, entre outras, como a SONY, a CARRIS ou o Metropolitano de Lisboa por exemplo, que ao longo dos próximos dias um vastíssimo número de documentários, de autores, de personalidades, de especialistas e com certeza de público revelarão, apreciarão e debaterão o panorama do documentarismo nacional, em geral, e os documentários feitos em Portugal ao longo de 2008 em especial. Razões suficientemente fortes para que, no que à vertente da cultura cinematográfica diz respeito, o PANORAMA continue a ser uma prioridade para a Direcção Municipal de Cultura. Bom PANORAMA 2009. Até para o ano. VIDEOTECA MUNICIPAL Direcção Municipal de Cultura PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 7 7 PANORAMA – 3ª Mostra do Documentário Português Na última década, verificou-se – em Portugal como por todo o mundo – um enorme crescimento da produção de documentários, acompanhado de uma também crescente receptividade do público. Nos últimos anos, o PANORAMA veio dar visibilidade a esta vasta produção de documentários portugueses, permitindo que os filmes cheguem a um público especialmente motivado para este género cinematográfico. A mostra anual tem a função indispensável de ser o ecrã público de um sector da criação emergente e cuja tenacidade se mostra capaz de ultrapassar as mais diversas dificuldades de produção e financiamento. O PANORAMA não é competitivo. A aparente modéstia de uma “mostra” é sobretudo a afirmação de algo mais perene e sólido, o valor das obras em si e no seu tempo; e a vontade de criar um diálogo entre filmes, vozes e pontos de vistas diferentes, estimulando o debate sobre os conteúdos, as formas e os processos. Outra vertente relevante do PANORAMA é a atenção retrospectiva dada às obras documentais dos mestres – Manoel de Oliveira, Paulo Rocha e, em 2009, António Campos – que nos oferece ter uma perspectiva temporal sobre este género cinematográfico. O cinema documental foi sempre um espelho do real. Um espelho de esperanças e de desilusões, um espelho transformador, reflexivo e crítico, um testemunho da sua época. O documentário tem essa função insubstituível de devolver ao mundo um olhar genuíno sobre o real. APORDOC Direcção PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 8 8 PANORAMA – 3ª Mostra do Documentário Português Com o início de um novo ano regressa, igualmente, um novo ciclo de inicitivas cinematográficas e/ou documentais que enriquecem o panorama cultural da cidade de Lisboa. O desenvolvimento e apresentação da 3ª edição do PANORAMA corresponde ao “renascer” e simultaneamente à continuidade do trabalho realizado em torno desta componente cultural onde se perfilam os Festivais de Cinema e Documentário. Desafio lançado em 2008 pelos então parceiros – Câmara Municipal de Lisboa/Videoteca e Apordoc – a EGEAC procurou desde o primeiro instante corresponder aos objectivos definidos para a concretização desta iniciativa. Objectivos esses que passariam pela realização do PANORAMA no espaço de referência da Cidade para o Cinema e para o Documentário, o Cinema São Jorge (palco dos principais Festivais de Cinema realizados em Lisboa), bem como pelo desenvolvimento de uma política sustentada que revele o encetar de parcerias estratégicas que possibilitem uma oferta cultural mais diversificada e de maior qualidade. Mostra não competitiva do documentário português, o PANORAMA apresenta-se, assim, como um Fórum onde o documentário se encontra em diálogo entre si e, paralelamente, com o público, constituindo-se como uma plataforma de exibição, de diálogo, de partilha de experiências e de conhecimentos, entre todos os que fazem filmes e aqueles que os vêem. A edição de 2009 afigura-se-nos desta forma como um importante contributo na apresentação de novos trabalhos, no debate de temáticas, na homenagem ao realizador António Campos, um dos pioneiros da prática do filme-documentário em Portugal. Contributo que resulta do empenho, dedicação e trabalho das equipas que programaram e produziram o PANORAMA 2009 a quem deixamos aqui o nosso reconhecimento e agradecimento. EGEAC, E.E.M. O Conselho de Administração PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 9 9 Porção de Território que se abrange num lance de olhos Por vezes, para alcançar um bom ponto de vista para uma paisagem, é necessário descobrir e percorrer um caminho incómodo. É necessário tomar decisões, transpor obstáculos, apostar no trilho certo, correr riscos e subir a uma zona elevada. Quando alcançamos o miradouro, a nossa percepção é condicionada pelo lugar onde nos posicionamos mas fundamentalmente ela é o resultado do panorama que nos é oferecido. A nossa permanente motivação é ajudar a abrir caminho e dar a ver a obra dos nossos criadores e conjuntamente com um público participante pensarmos o nosso cinema documental. O nosso olhar está à vista de todos: aberto, abrangente, eclético, interrogativo e reflexivo. Para os mais distraidos relembramos que o PANORAMA é uma mostra, assume-se como um espaço vivo e diversificado onde se propõe uma montra, um retrato, uma revelação. A imagem do documentário português é impressa com as suas luzes e com as suas sombras, com as suas vibrações e com os seus silêncios. Procuramos enquadrar neste plano geral filmes com estruturas diversas, obras com ritmos, atmosferas e tratamentos distintos. Não nos esquecemos que cumprimos uma função e um dever, por conseguinte o quadro delineado estará sempre aberto às primeiras obras, aos filmes de escola, aos profissionais e aos amadores, aos equilibrados e aos audazes, aos consistentes e aos inventores. O PANORAMA terá que continuar a dar lugar à experimentação e como todo o espaço de ensaio, o erro é desejado como forma de evolução. Amamos o desvio e a errância que nos levam à construção e à renovação profícua da nossa paisagem. Na prossecução deste objectivo e promovendo a partilha de experiências, os bons, os maus e os vilões são todos bem-vindos! O acto de programar é uma construção, se quisermos uma violência. Compor uma montra é acreditar num vislumbre de verdade no meio de um oceano constante de imagens que nos mentem. Exibimos aquilo que nos suscita encantamento e dúvida, o que é susceptível de exploração. Agradecemos aos realizadores, aos produtores, aos técnicos, aos críticos e ao público que vêm contribuindo para a construção do PANORAMA e connosco fomentam a reflexão, este olhar em volta da cinematografia documental portuguesa. Encetámos este esforço, este processo de interrogação contínua desde a primeira edição: Para onde olha o documentário português? Que cinema faz? Sucede a questão: Como se faz o documentário português? O tema central desta terceira edição incide agora na produção. Como é produzido o documentário em Portugal e de que forma a sua natureza experimental e o seu campo artístico, avesso a formatações e a regras, se coaduna com as exigências comerciais? Como conseguem os produtores e os realizadores conjugar profissionalmente espaços de liberdade criativa com objectivos concretos de financiamento, produção, exibição e distribuição? O que é uma produção criativa? Onde estão e em que consistem as novas ideias de produção? Mais do que sublinhar as usuais problemáticas conjunturais, propomos uma reflexão sobre a forma como os criadores estruturam o seu processo produtivo no meio das mesmas. A presença de António Campos na rubrica Percursos no Documentário Português não é alheia a esta temática. Cineasta emerso maioritariamente no cinema amador, nunca se rendeu perante os obstáculos, empenhadamente engendrou os seus próprios processos produtivos em consonância com a sua liberdade criativa, deixando-nos um património fílmico ímpar, indiscutivelmente de autor. Haverá obra artística sem sacrifício? Nesta edição alargámos as conversas com os realizadores e concentrámos os debates temáticos. Continuamos acima de tudo a apostar num público atento, curioso e interventivo que privilegia a aventura do olhar em detrimento de uma visão lúdica. Endereçamos o convite: aproximem-se do miradouro, expandam a vista, perscrutem o horizonte, observem, vejam e olhem o nosso panorama! DA EQUIPA DE PROGRAMAÇÃO DO PANORAMA Fernando Carrilho PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:35 Page 10 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:39 Page 11 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:39 Page 12 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? A Produção Cinematográfica A 3ª edição do PANORAMA tem como subtema a “produção”, concretizada numa pergunta de partida: “como se faz o documentário português?”. Depois de uma edição que perguntava “como faz o documentário português?” e olhava para as ferramentas da construção cinematográfica, decidimos este ano continuar essa pesquisa focalizando a atenção no pano de fundo dessa construção. Este objectivo coloca desde logo desafios ao nível da definição do objecto de reflexão: o que é a produção, em que consiste, como se define? Tentaremos aqui dar pistas para essa definição e no final ficarão sugestões de leituras, algumas delas seguidas para a construção deste texto. Mas dada a complexidade e a extensão deste objecto de estudo, levantaremos aqui apenas a poeira que consideramos poder ver assentada durante o PANORAMA, nas conversas que o irão compor. É esse então o destino deste texto: dar material para uma reflexão que se tentará concretizar durante a 3ª Mostra do Documentário Português. Produção: fabrico; criação, génese; obra, trabalho, produto; conjunto das obras de um autor ou época; formação; conjunto de todas as fases de elaboração de um filme. Querer reflectir sobre o trabalho da produção no cinema, é querer pensar o trabalho de elaboração de um filme, isto é, o trabalho que está a montante dele e o provoca. Referirmo-nos ao “trabalho da produção” é usar um pleonasmo, é a mesma coisa que dizer que se quer pensar o “trabalho do trabalho” no cinema – trabalho e produção equivalem-se, então, desde logo. O que se procura aqui pensar são então as condições de fabricação de um filme, aquilo que o produz, e portanto o faz existir enquanto produto. Pensar a produção é olhar para as rodas dentadas do cinema, ocultas ou invisíveis, e que são, não apenas os processos conjecturais, exteriores, relacionados com uma certa situação económica ou cultural, mas também, em simultâneo, os processos 12 PANORAMA-Book:Layout 1 13 09/02/02 18:39 Page 13 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? internos por que passa a obra durante a sua elaboração por um cineasta. Falar de produção em cinema é falar dos processos pelos quais uma ideia embate no mundo e se transforma com ele, até se tornar plano, e depois filme. Falar de produção no contexto do cinema documental torna-se especialmente difícil, pela maior indefinição e variação que envolve as suas fases de trabalho. Se no cinema comummente identificado com a ficção, onde uma equipa se organiza e age para cumprir um plano definido à partida – muito centrado no objecto ‘guião’ –, no cinema documental, que talvez se possa definir pelo grau de aceitação do improviso, o papel do plano prévio é bastante mais reduzido. Se num filme de ficção o guião centraliza e expressa o trabalho interno do cineasta ao longo das suas fases de trabalho e se torna objecto de comunicação com a restante equipa, guiando a organização de todo o trabalho; o trabalho no documentário, pela ausência, muitas vezes, desse elemento escrito, torna-se difícil de perceber. Perceber a produção no cinema documental torna-se perceber os pré-conceitos do cineasta, conhecer as suas primeiras imagens (as mentais), e perceber a sua deslocalização e transformação com a confrontação com a realidade (não só o objecto filmado, mas também as condições materiais e temporais de fabricação do filme, as suas condições de exibição e distribuição…). A perspectiva assumida aqui é então de que a produção é o fazer do cinema. E de que o filme é um produto. No âmbito da arte, esta ideia remete para a poiésis grega, distinta da praxis. Se a poética é o conjunto de modos de fazer arte dos quais resulta uma obra, a praxis tem um fim em si mesmo, sem obrigatoriamente resultar dela um objecto, ou qualquer coisa exterior. A produção, do lado da poética, distingue-se assim da acção (praxis), pela existência de um produto. A concepção poética da arte tem no seu centro a ideia de produção, o conjunto de modos de fazer que a suportam e que criam as obras. A produção, no cinema, seria então o conjunto de modos de fazer que originam o filme, sendo este a sua vocação. Enquanto o cineasta se preocupa com o cinema1, o produtor preocupa-se com o filme. No editorial da revista Cahiers du cinema nº216 de Outubro de 1969 (ainda no calor do Maio de ’68), Jean-Louis Comolli e Jean Narboni definem o papel da crítica cinematográfica, bem como o seu objecto. Nesse texto o filme aparece como um produto específico, manufacturado no interior de um determinado sistema de relações económicas (envolvendo obrigatoriamente trabalho) e num determinado sistema ideológico. Todos os filmes estão sujeitos às condições destes sistemas, mesmo aqueles denominados “independentes”: o filme é, sem excepção, um produto material e ideológico. “Porque todos os filmes fazem parte do sistema económico, também fazem parte do sistema ideológico, uma vez que ‘cinema’ e ‘arte’ são ramos da ideologia. Ninguém pode escapar.” O raio de acção da produção estaria, assim, bifurcado entre as condições materiais e as condições ideológicas, colocando-se entre o filme (seu produto) e o sistema (onde se situa). Tal bifurcação é vista já nalgumas leituras da noção de “modos de produção”, de Marx, já que para este autor os modos de produção material / económicos condicionam o “desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral”. Ou seja, quer vejamos a produção como gestão económica, quer a consideremos bifurcada entre a economia e a ideologia, há uma dimensão ideológica e de relação com o sistema social, político, económico, ideológico que se torna importante pensar por ser comum a essas duas visões. O filme é um produto, insere-se, como os outros produtos, numa certa organização que é geral, que o ultrapassa; o papel da produção é gerir as relações internas e as relações com o sistema que o filme estabelece para poder existir. Torna-se um acto político, portanto. Administrar meios, gerir relações, assentar modos de fazer, governar ou estabelecer objectivos e maneiras de os atingir, são funções políticas que fazem parte da dimensão de produção de um filme. Pensar a produção, é pensar a política do cinema. E esta dimensão é uma daquelas que afasta PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:39 Page 14 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? enormemente o cinema das outras artes. O cinema mobiliza forças económicas poderosas desde logo (sendo portanto importante também desde logo discutir os “modos de produção”, e assim actualizar as ramificações gerais deste conceito enumeradas por Marx); ou, como define João Mário Grilo, a necessidade de um consenso provisório é o que afasta o cinema das outras artes, isto é, a gestão não só material como da força de trabalho, dos trabalhadores de um filme, é específico ao cinema, e, acrescentamos, é aquilo que torna pertinente a discussão em volta do papel da produção. “Claramente, o cinema reproduz a realidade: é para isto que servem a câmara e a película – assim o diz a ideologia. Mas os instrumentos e as técnicas do cinema fazem eles próprios parte da realidade, e a realidade não é mais do que uma expressão da ideologia dominante. Vista sob este prisma, a teoria clássica de que a câmara é um instrumento imparcial que agarra, ou melhor, é impregnada pelo mundo na sua realidade concreta é eminentemente reaccionária. (…) O que a câmara regista é a ideologia”, aparece no tal editorial dos Cahiers. A verdade é tão produção quanto o filme. E “o que se fixa desde o primeiro plano são as coisas tal como aparecerem refractadas pela ideologia. O que inclui todas as fases do processo de produção: assuntos, estilos, formas, significados, tradições narrativas; todas sublinham o discurso genericamente ideológico”. A única forma de resistência possível seria o tomar consciência disto mesmo, da forte apetência do cinema para ser produto ideológico, e tornar esse aspecto inescapável visível no próprio filme. Talvez deixando à mostra a construção, o processo de fabricação do filme-produto, se interrompa o seu servilismo ideológico. “A ideologia fala para si própria; tem todas as respostas prontas, antes de fazer as perguntas”. Talvez a interrupção deste processo esteja exactamente no fazer perguntas. Estando definida (provisoriamente e de forma incompleta2) a noção de “produção”, podemos talvez identificar dois grandes modelos ou posturas na produção cinematográfica, entre os quais estão depois zonas cinzentas. Um é o modelo “prescritivo”3 e ao outro podemos chamar aqui “ajustado”4. Em A Ordem no Cinema, João Mário Grilo parte do “assumir a existência de uma identidade racional e global que liga as condições de prescrição (ordem) às condições de produção, como partes indissociáveis”, isto é, o assumir a existência de uma entidade que trata de assegurar a aplicação de uma série de regras, fórmulas, receitas, prescrições que fazem com que exista um filme e não outro, um cinema e não outro. “O perverso cruzamento da arte do cinema, como forma própria de pensar e modelar o espaço, o tempo e o movimento, com a indústria de filmes (movie industry) introduziu, a montante de qualquer acto de produção, um desejo de ordem e a sua correspondente discursividade.” Discurso da ordem que se sustentará no desejo de eficácia política, rentabilidade comercial ou importância cultural. O modelo prescritivo de produção tem Hollywood como paradigma, e é caracterizado pela forte visibilidade das marcas de produção no produto. Trata-se de uma ordem visível que organiza toda a apresentação e mesmo recepção desse produto, e que obriga cada filme a conjugar-se, a modelar-se conforme uma ordem prévia (e no caso de Hollywood, e do sistema de estúdio, visível na luz, e na planificação, por exemplo). As palavras de ordem são aqui factores de uniformização. No sistema de estúdio de Hollywood são os produtores que estabelecem as preferências, as recusas e as predisposições da organização. São eles que geram os tais consensos (cuja necessidade afasta o cinema das outras artes). Cada estúdio tem uma personalidade, e o produtor emerge como cineasta: é alguém que tem “vontade de imaginar”, “vontade de imagens”. “A profundidade de campo da imagem do cinema não esbarra na Natureza, nem na intencionalidade da mise en scène, nem sequer nos modos e nas dificuldades técnicas de conjugação óptica do mundo, mas no contorno e nos limites de uma palavra institucional e no efeito-território que ela produz: o campo cinematográfico – a 14 PANORAMA-Book:Layout 1 15 09/02/02 18:39 Page 15 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? porção de espaço contido pelo enquadramento da câmara – não é, por isso, apenas imagético; possui uma substância política (de conformação, mas também de resistência e insubordinação) que é a medida da sua relação à ordem e à inteligibilidade-legalidade que ela confere.” Do outro lado deste modelo extremo, estaria um outro que aqui se chama de modelo “ajustado”. Em oposição à postura do produtor de Hollywood, aqui o produtor é uma entidade que se adequa, que se a-justa, ou se adapta5 . O produtor aparece aqui como alguém que acompanha a fabricação, personagem sensível que, apesar de continuar a gerir as relações económicas/materiais e ideológicas que levarão à construção do filme-produto, modela o trabalho do filme ao contorno da visão do cineasta (que aqui, obviamente, é uma figura exterior a si). A produção é quase como o desenho6 de um cenário onde se encaixa e se move a visão do cineasta. Se no modelo prescritivo este cenário está desenhado a tinta permanente e é imutável e prévio (o produtor é o cineasta, e o realizador concretiza a sua visão), neste segundo modelo chamado de “ajustado” o desenho vai sendo modelado à medida que a visão se vai formando, e vai sendo alterado em simultâneo com ela, influenciando-se mutuamente. Entre estes dois pólos situam-se diversos outros modelos, diversidade característica da ausência de um sistema rígido (como era aquele dos estúdios de Hollywood) de produção. Cada produtor se aproxima mais ou menos de um pólo, e esta aproximação torna-se, talvez, especialmente visível no tipo de luta que se estabelece com o realizador do filme, e que acaba por ser uma luta menos entre produtor e realizador, e mais entre realizador e cineasta7: quem pré-viu o filme? No caso do documentário, e sendo especialmente difícil, como já aqui se referiu, caracterizar ou identificar a orientação e desenvolvimento da produção, aparece talvez como caso paradigmático a produção televisiva. O impor de um conteúdo (nas sessões de pitching isto é especialmente claro8), uma duração (os 50 ou 25 minutos), e mesmo pela tentativa da homogeneização ao nível da estrutura narrativa9, tornam o modelo televisivo de produção um modelo claramente prescritivo. Contudo, se no caso de Hollywood poderíamos falar do produtor como um cineasta, no modelo televisivo as regras são cegas, às fórmulas não subjaz uma visão. O cinema que se rege pelo modelo televisivo de produção (o que inclui não os filmes produzidos pela televisão, mas os filmes produzidos de uma certa maneira, podendo ser produzidos pela televisão ou não) é um cinema esvaziado do cinema, e por isso dificilmente cinema. E perante a homogeneização de uma enorme e triste parte dos documentários produzidos actualmente em Portugal o que se vê é esse cinema esvaziado de cinema (desejo de imagens; visão) que animava e movia o produtor do estúdio, o modelo prescritivo de Hollywood. Perante estas noções cruzadas e actualizadas pelo questionamento da “produção”, a programação do PANORAMA irá tentar perceber que modelos de produção estão por trás dos documentários portugueses. Tentaremos perceber se os filmes mostram desde logo o seu processo de fabricação, se é possível ver na sala por que transformações passaram, qual a reflexão, a prévisão por detrás de cada plano, e de que forma lidam com a exposição da sua própria produção (por exemplo, incluem ou não, na montagem final, a sua preparação – visível nomeadamente na evolução do trabalho de câmara?). A questão da produção irá ressaltar através da sucessão de perguntas que nos pareceu urgente colocar ao nosso documentário: por que preparação passam os documentários portugueses e de que forma se processa o seu trabalho? Que perguntas, que desafios e dúvidas habitam os realizadores e de que forma estas aparecem nos filmes? Que diferentes políticas de produção existem e que diferentes objectos elas produzem? Queremos perceber de que maneira são produzidos – ou seja pensados, ou imaginados – os documentários que hoje habitam o nosso cinema. 09/02/02 18:39 Page 16 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Ao mesmo tempo, também a rubrica percursos no documentário português irá permitir uma reflexão sobre estes problemas, mas de uma outra maneira, porque ao falar do cinema já feito, poderemos pensar em novos caminhos para o nosso cinema futuro. Quando António Campos se decidia a fazer um filme, deixava de ver outros filmes. Há no seu cinema uma procura pelo olhar original – porque o primeiro de outros que lhe seguem, ou, como diz Manoel de Oliveira, original porque decidiu o seu princípio. E talvez essa seja uma das razões fortes para que uma homenagem a este ama-dor do cinema seja simultânea a uma reflexão sobre a produção cinematográfica. Não só os filmes do António Campos nos permitirão pensar a economia e a materialidade do cinema (os filmes em 16mm, a sua relação com os dinheiros públicos, a maneira como, literalmente, manufacturava os seus filmes…), mas também a sua relação com a ideologia, e assim a sua dimensão política (que, como já vimos, é inextricável da sua dimensão produtiva). Cada filme de António Campos é um gesto muito preciso e belo na direcção de uma outra política de produção. No catálogo, esta reflexão estará repartida entre a publicação de projectos de filmes já feitos e relevantes para a cinematografia documental portuguesa. No fundo, fizemos as perguntas que vamos colocar ao longo da mostra, a filmes já feitos e mais ou menos recentes, com excepção do A Dama de Chandor, escolhido por ocupar um lugar de viragem na nossa cinematografia, que nos apeteceu conhecer desta perspectiva e que poderá iluminar de forma exemplar os restantes projectos, e mesmo os filmes que serão vistos ao longo deste PANORAMA. Uma das especificidades do fazer documental assenta na importância do objecto filmado, já que é ele que dita o tal volume de improviso cuja entrada a produção terá de gerir. Conhecer os projectos destes filmes que aqui se seguem acabará por ser perceber isto mesmo; que há no documentário, em potência, um gesto generoso de abrir as portas ao outro – o olhado – e deixá-lo entrar no processo de trabalho, na produção, portanto. A produção é essa porta. E a sua largura é o que aqui iremos observar. 1 SOBRE O PAPEL DO CINEASTA CONSULTAR, NOMEADAMENTE, “COMO UMA MASSA QUE PASSA, ENORME E CONTÍNUA: CINEMA E CANALIZAÇÃO” A PARTIR DE UMA CONVERSA COM JOÃO MÁRIO GRILO, NO CATÁLOGO PANORAMA 08. 2 A NOÇÃO DE “PRODUÇÃO” DESENTERRA UMA SÉRIE DE OUTROS TERMOS, TODOS ELES PROBLEMÁTICOS E COMPLEXOS, QUE VALERIA A PENA PENSAR E DESENVOLVER, MAS QUE É IMPOSSÍVEL LEVAR A BOM TERMO AQUI. 3 JOÃO MÁRIO GRILO. A ORDEM NO CINEMA. RELÓGIO D’ÁGUA, 1997. 4 EXPRESSÃO QUE FOI INVENTADA AQUI PARA ENSAIAR UMA OPOSIÇÃO AO MODELO PROFUNDAMENTE ANALISADO POR JOÃO MÁRIO GRILO NA OBRA SUPRACITADA. 5 “ADAPTAÇÃO” EM BIOLOGIA É O CONJUNTO DAS MODIFICAÇÕES PELAS QUAIS UM ORGANISMO SE PÕE POUCO A POUCO EM HAR MONIA COM NOVAS CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA. 6 HÁ UMA PROFISSÃO NA ORGANIZAÇÃO DAS EQUIPAS DE CINEMA AMERICANAS QUE SE CHAMA “PRODUCTION DESIGNER” E É ALGUÉM RESPONSÁVEL PELA ESCOLHA DO CENÁRIO E ESTILO VISUAL DA NARRATIVA DO FILME. TRABALHA COM O REALIZADOR E COM O PRODUTOR. 7 CHAMASE NOVAMENTE A ATENÇÃO PARA O TEXTO QUE SE BASEIA NUMA CONVERSA COM JOÃO MÁRIO GRILO INCLUÍDO NO CATÁLOGO DA 2ª EDIÇÃO DO PANORAMA. 8 VER CONVERSA COM MANUEL MOZOS INCLUÍDA NO CATÁLOGO DO PANORAMA DE 2008. 9 VER O ARTIGO “DOCUMENTARISMO PORTUGUÊS NA TELEVISÃO: O DISCURSO NOS DOCUMENTÁRIOS COM EXPRESSÃO NO PROGRAMA DOCS NA RTP2” DE CLÁUDIA SILVESTRE, NA REVISTA DIGITAL DOC ONLINE. DA EQUIPA DE PROGRAMAÇÃO DO PANORAMA Inês Sapeta Dias 16 ALGUMAS LEITURAS SUGERIDAS: A ordem do cinema, João Mário Grilo; The genius of the system, Thomas Schatz; Theorizing documentary, Michel Renov; Ideology and the image: social representation in the cinema and other media e Representing reality: issues and concepts in documentary, Bill Nichols; Cinema, arte e ideologia, org. António Roma Torres; “Cinema et méthode” in Ikon, Lucien Seve; revista Doc on line em www.doc.ubi.pt; catálogo PANORAMA 2008 PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 A DAMA DE CHANDOR 18:39 Page 17 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:39 Page 18 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? A Dama de Chandor ANTES DO FILME Estive na Índia durante dois meses com uma pessoa que estava a fazer um projecto fotográfico nas três ex-colónias portuguesas: Goa, Damão e Diu. Esta viagem coincidiu com o fim do curso de cinema que fiz em Inglaterra. Tinha voltado para Portugal, e trabalhado em televisão, mas estava um bocado triste com isso, não me identificava sobretudo com o modelo de produção, com a maneira como a televisão trabalha, com o “fazer tudo a correr”. Apareceu esta oportunidade, comprei uma câmara Hi8, e decidi gastar esse primeiro dinheiro que fiz a trabalhar, na viagem. Nessa altura li coisas sobre Goa, e sobre a especificidade desta cultura que nasce da fusão entre a cultura portuguesa e a cultura indiana. Mas quando cheguei lá... não pude deixar de ficar impressionada com as pessoas a falarem português, as ruas com nomes portugueses e, principalmente as pessoas mais velhas que vinham ter connosco com uma nostalgia de um Portugal que nada tinha a ver com o meu. Era uma sensação estranha, uma familiaridade mas ao mesmo tempo um choque imenso, porque a experiência da Índia transcende tudo isso. Comecei a pensar que gostava de fazer um filme ali, mas senti que seria fácil ficar por um certo exotismo e folclore. Goa não é muito grande e rapidamente estabelecemos uma rede de pessoas que nos iam indicando outras, e foi assim que alguém nos disse que no périplo das casas indo-portuguesas teríamos de ir obrigatoriamente a Chandor, uma aldeia no interior de Goa, onde havia uma casa apalaçada com a fachada mais comprida de toda a Goa. Foi assim que cheguei à casa da Aida (a personagem principal do filme), como turista, exactamente como no filme, e ela fezme uma visita guiada à casa que eu filmei com a minha Hi8. Quando saí de lá percebi que se algum dia fizesse um filme em Goa, era ela e a sua casa que eu quereria filmar, senti que ela e a casa encapsulavam todos os cruzamentos que ali se viviam. Voltei para Portugal com umas imagens em Hi8, nada de especial, ela a mostrar a casa, algumas fotografias.... “E o que é que eu faço com isto?”. Já tinha trabalhado em cinema, mas mais em produção e tradução de guiões de ficção, não tinha grandes contactos e resolvi tentar escrever um projecto e concorrer a uns apoios dados na altura pelo Centro Nacional de Cultura. Era um projecto muito emocional , um pouco à flor da pele, muito centrado nela – que era o que me interessava – e na relação dela com a casa, a sua energia, aquele quotidiano. Não vendi o projecto como tendo uma dimensão histórica. Era um projecto ainda muito de estudante, muito deslumbrado. E chumbei, não tive apoio nenhum, não ligaram nada àquilo, apesar deste conter já a essência daquilo que mais tarde explorei no filme. Meti o projecto na gaveta, mas resolvi escrever-lhe, a dizer que tinha gostado muito de a conhecer, e a perguntar até que ponto ela estaria disponível para eu voltar lá e filmá-la para um documentário, sobre ela, e o seu quotidiano dentro da casa e não tanto sobre a casa enquanto natureza morta. Expliquei-lhe bem que aquilo não seria uma reportagem, não íamos estar dois ou três dias, tirar umas fotografias com ela em pose com a casa como cenário, e vir embora. Disse-lhe que queria estar um mês ou mais, muito tempo, com ela, sem perturbar o seu quotidiano normal, porque era essa vivência na casa que me interessava. E tentar não me impor, sem ser invisível, ajudá-la no que fosse preciso (e foi o que acabou por acontecer: púnhamos cortinados, mudávamos lâmpadas, contribuíamos para a electricidade pondo dinheiro na “contribution box”, íamos às compras por ela). E ela respondeu-me a dizer que ficaria encantada mas que não poderia contribuir financeiramente para o filme (é muito pragmática…). A carta era muito simpática e dava para perceber que ela estava completamente aberta à ideia. E com essa resposta voltei a tirar o projecto da gaveta e resolvi começar a procurar dinheiro nas instituições mais vocacionadas para as questões da língua lusófona, do Oriente e das antigas 18 PANORAMA-Book:Layout 1 19 09/02/02 18:39 Page 19 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? colónias. Fui à Fundação Oriente e à Comissão dos Descobrimentos que nessa altura estava muito sensível à questão do documentário e do cinema em geral. E escrevi uma carta com o projecto para os dois sítios. Por esta altura achei que era importante ter um produtor. Sabia que para concorrer ao ICA (na altura IPACA) e numa fase de montagem financeira era importante ter alguém ao meu lado, e precisava de um empurrão, de certa maneira. Precisava de validar isto para mim, alguém de fora que dissesse que valia a pena persistir na ideia. Quando fazes um filme estás sempre em permanente dúvida, perguntas-te se faz sentido, se vale a pena aquela aventura gigante, num primeiro filme essa insegurança ainda é maior. O Pedro Martins, que já tinha trabalhado com a Catarina [Alves Costa] no Senhora Aparecida, foi a escolha, e foi ele que de uma forma mais concreta me deu esse empurrão. Ainda por cima ele já tinha estado em Goa, e conhecia a personagem, portanto reconheceu a força do projecto. Com o Pedro Martins concorremos ao Programa Media para o Desenvolvimento (que em Portugal continua a ser um apoio não muito requisitado, ao contrário do resto da Europa) e tivemos apoio. Aí as coisas começaram a concretizar-se, comecei a insistir com a Comissão dos Descobrimentos, e com a Fundação Oriente. Ao longo desta fase o projecto foi sendo alterado no sentido de o credibilizar junto destas diferentes sensibilidades – eu tinha a clara consciência que se conseguisse veicular a ideia de que este filme tinha uma dimensão histórica (mesmo que depois essa dimensão fosse trabalhada de uma forma menos literal), mais facilmente este seria aceite por estas instituições. Senti que era importante contextualizar o projecto em termos históricos e antropológicos, de modo a não ser apenas a história de uma senhora numa casa, era importante explicar porque é que não era uma casa qualquer, num sítio qualquer. Ao mesmo tempo fiz questão de sublinhar que se tratava ali de um ponto de vista muito pessoal: as televisões, na altura, já estavam a fazer reportagens em vários sítios, em Goa inclusive, e para mim era importante que no projecto, apesar de contextualizado, transparecesse que o que me interessava era falar sobre História de outra forma, a partir do presente, da contemporaneidade mas conjugada no presente. Lembro-me que começava com a descrição das cenas como eu as idealizava (quase como num guião de ficção), e eram sempre momentos mais visuais do que de palavra. Ao mesmo tempo lembrome que a questão de filmar o invisível estava sempre lá: eu queria filmar aquilo que não se vê logo. Apanhar o que está por trás das coisas. É claro que ao longo das várias fases até à conclusão do filme, a ideia e o objecto foram assumindo sempre formas diferentes. Concorremos também ao ICA (na altura IPACA): tudo isto coincide com o momento em que a Apordoc, ainda em versão não institucionalizada, começou a lutar pela existência de apoios específicos para o documentário, e o meu filme entra num destes primeiros concursos. Nesta altura já tinha também – depois de muita insistência, de andar a ligar quase todos os dias – o apoio da Fundação Oriente e da Comissão para os Descobrimentos (C.N.C.D.P.) Comecei a sentir que o filme ia mesmo acontecer, e tive uma necessidade enorme de voltar lá ainda sem estar a filmar, e de fazer uma verdadeira réperage. E foi isso que fiz. Voltei com uma amiga que tinha feito comigo o curso de cinema em Inglaterra, a Julie Taylor, e estivemos as duas um mês em Goa, só com a minha Hi8 outra vez e um microfone péssimo. Filmei algumas coisas mas nada de especial. A ideia era sentir o ritmo, perceber se era importante introduzir novos personagens, onde é que eles estavam – foi aliás nessa réperage que encontrámos a Maria (a segunda personagem que é de certa forma um contraponto de Aida), não a conhecia antes. Era preciso também perceber a disponibilidade da Aida, perceber se ela tinha realmente entendido que iríamos estar ali muito tempo. E, enfim, fazer pesquisa do tipo de situações que eu gostava de filmar, falar com várias pessoas, porque até ali estava tudo em aberto. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:39 Page 20 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Voltei cheia de ideias, e com a percepção que a questão do tempo, das estações, tinha que estruturar o filme, porque a vida dela e a vida das pessoas mudava obviamente consoante se tratasse da época seca ou da monção. Percebi que tinha de ir lá na monção, e aí o Pedro Martins sugeriu que se fosse já filmar – tínhamos algum dinheiro, já tínhamos o compromisso das duas instituições, e o Pedro acreditava que o filme teria dinheiro. E assim foi: a minha ideia era filmar 15 dias na monção e depois um mês, ou um mês e meio durante a estação do Natal (estação seca). Aqui começa uma nova etapa: a formação da equipa. Foi complicado porque não havia ainda uma família do Documentário, não havia pessoas com uma afinidade ao Documentário como hoje nós o entendemos. Falei com imensa gente: com pessoas que me tinham sido indicadas através de outras que eu conhecia da televisão, com quem tinha trabalhado. Falei até com uma produtora, a Panavideo, que produzia os totobolas – apesar de tudo com algumas pequenas afinidades com o Documentário. E depois falei com pessoas mais ligadas ao cinema, também. Eu conhecia o Fernando Matos Silva e na altura ele e a Fábrica de Imagens tinham bastante trabalho com o Clube Disney e trabalhavam com muitas pessoas, inclusive recém-licenciados do Conservatório. Eu própria escrevi alguns guiões para o clube Disney e fui segunda assistente de realização numa série de episódios. Foi nessa altura que conheci o João Ribeiro, um dos operadores de imagem da Fábrica (a Fábrica de Imagens veio a ser uma das co-produtoras do documentário) . O João entusiasmou-se imenso com o projecto, e veio logo com imensas ideias e imagens, houve um enorme entendimento. Eu estava sempre, sempre a reescrever o projecto, e portanto ele estava a ficar cada vez mais consistente ou pelo menos mais fácil de alguém perceber onde é que eu queria ir. No fundo o único critério para eu escolher a equipa era passar o projecto às pessoas e ver como elas reagiam. Para já percebia logo se tinham lido ou não. E depois a escolha passava por uma série de afinidades no cinema, na pintura, era importante que quem trabalhasse comigo tivesse gozo naquilo que estava a fazer. Durante a preparação vi o O Rio Sagrado do Renoir com o João, lembro-me que na altura foi um filme que nós vimos com atenção mais por causa do ambiente, o som, o espaço off. Mas de facto o que requeria mais preparação era o dispositivo, esse é que era novo para todos. Eu queria fazer um filme sobretudo observacional. E o que eu tinha de explicar às pessoas que iam comigo era que não íamos filmar todos os dias, mas íamos estar lá todos os dias. E o João aceitou completamente isto e percebeu. O mesmo aconteceu com a Armanda Carvalho. A Armanda só entrou no filme na segunda rodagem e foi a Mariana Otero que me falou nela (nessa altura “a família do Documentário” começava a constituir-se). A Armanda tinha acabado de chegar da Índia, da rodagem de um documentário com a Diana Andringa, e acho que esse entusiasmo com a Índia nos reuniu. O João Ribeiro guardou sempre tudo, as coisas que eu lhe mandei. Inclusive, numa das primeiras vezes que lá fui já em réperage, o João pediu-me para verificar onde estavam as tomadas eléctricas, e as entradas de luz, e eu fiz um plano enorme da casa com todas as fichas, tomadas, e janelas, e a orientação solar da casa, e ele ainda lá tem aquilo assim tudo dobradinho. São engraçadas estas coisas... “Li coisas sobre a Índia, a importância das diferentes estações do ano, como isso se reflectia na vida das pessoas, na luz natural, etc. Apresentei ideias à Catarina, e em bastantes havia uma coincidência absoluta. Por exemplo no papel da casa e como esta deveria ser filmada, os exteriores com a Aida… Mais tarde ela disse que me tinha escolhido porque tinha sido o único a não levar curriculum mas sim ideias para o filme. Ambos sentimos que tínhamos criado empatia, não só ao 20 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 21 21 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? nível de ideias, mas em termos de gostos em geral, o que é importante (passa pela música, pelo cinema, pelos sítios que se gosta,…). O projecto, talvez um dos mais complexos em termos de produção que fiz até hoje, era feito na SP Filmes, pelo Pedro Martins (…) “A complicada logística de filmar este documentário levou a Catarina a deslocar-se com a assistente de realização, Julie (colega do curso em Bristol), a Goa. Apesar de ela ter conhecido a personagem na qualidade de turista, teria que lá voltar para preparar o filme. Fiz uma lista de pedidos, sendo os principais: planta da casa, localização de tomadas eléctricas, posição relativamente ao sol. No seu regresso a ideia do filme tinhase consolidado, víamos filmes do Satyajit Ray ou o Rio Sagrado de Jean Renoir. Pela primeira vez um projecto crescia à frente dos meus olhos e com o meu contributo. (…) “Na altura surgiam em Portugal as primeiras câmaras Dvcam semi-profissionais. A Catarina insistiu na sua utilização, por ser mais leve, menos impositiva, comparada com uma BetaSP. Mas havia dois factores muito importantes, a qualidade era ainda menor comparada com a Betacam, mas o facto da óptica ser equipada com uma íris e não com um diafragma, o que fazia com que num mesmo plano a abertura não pudesse ser alterada de forma manual; se tal acontecesse sentir-se-iam saltos de luz no plano. O facto de a casa ser cheia de janelas, e um dos rituais quotidianos que se queria filmar em plano sequência ser o abrir destas de manhã e o fechar ao fim da tarde, tornava o uso de uma câmara com íris uma limitação que interferia com o tipo de linguagem visual que a realizadora pretendia. Aliás, um dos primeiros planos do filme, em que saímos de um táxi e entramos em casa em continuidade, teria que ser feito por corte. Acaba por ser usada a Betacam.” Mas bom, essa questão do dispositivo de realização era a primeira coisa a trabalhar. Queria fazer um filme que fosse observacional na medida em que nos envolvesse de uma forma mais orgânica, mas simultaneamente poética e que pudesse libertar-se dessa dimensão mais terráquea para qualquer coisa de mais transcendente e metafísico. Lembro-me que da primeira vez que fomos filmar levámos imensas luzes, porque o João ficou muito preocupado depois de ver o tal desenho que eu tinha feito. Percebeu rapidamente que aquilo ia ser um trabalho difícil por causa da luz, ia haver muitos contrastes. E lembro-me que filmámos uma vez ela a fechar a janela – aquela rotina constante – com luzes, e quando olhei para aquilo achei que não fazia sentido, exactamente por pôr em causa o dispositivo que tínhamos estabelecido para a rodagem. RODAGENS No início da monção, a Aida vai normalmente passar uma temporada a Bangalore, em casa do seu filho. E aquilo que fizemos foi apanhar a Aida a voltar dessa estadia. Interessava-me esta imagem dela a voltar e descobrir a casa, a descobrir a casa porque esta cena estabelece também um paralelo com a própria história da família e de Goa: a família de Aida foi muita activa na tentativa de autonomizar Goa face ao poder colonial e face à Índia e por essa razão foi perseguida pelo Estado Português, refugiando-se nessa altura em Bangalore. É uma sub-história PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 22 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 23 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 24 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? que não é visível no filme mas à qual, para mim, era importante dar espaço, mesmo que fosse uma história que ficasse escondida para alguém descobrir. Ela esteve 30 anos sem ir àquela casa. Havia portanto este ritual de regressar depois da monção, ver como está a casa, e da casa ser quase um ser vivo com momentos em que está sozinha, por si só, a funcionar em auto-gestão. Fomos para Chandor, estivemos lá uns dias sozinhos a fazer planos exteriores, e a filmar a outra personagem, a Maria. E lembro-me que na altura não sabíamos se iríamos aproveitar aquele material ou não, por ser a primeira vez que a equipa estava ali, a respirar tudo aquilo. A primeira vez que o João e o Vasco Barão (o primeiro operador de som) viram a Aida foi com a câmara na mão. A primeira imagem da Aida, quando ela chega ao aeroporto, é também a primeira imagem que o João vê através da câmara. É estranho, não é? Acho que não há regras, não se pode ser fundamentalista. E ele teve de confiar em mim. Eu conhecia a Aida, ele teve que... agarrar o momento. É óptimo tu antecipares as coisas, e viveres as situações antes de agarrares numa câmara, mas às vezes tens é de ser um bocado impiedoso e começar a filmar, independentemente de sentires que a relação está estabelecida ou não. A relação estava estabelecida comigo, não estava com ele, ele teve de viver essa relação através de mim mesmo quando eu não estava presente, como no interior do táxi. Na casa passa-se a mesma coisa: a primeira vez que a equipa lá entra é a filmar com a câmara na mão e o filme assume esse primeiro olhar, na forma como tudo foi filmado em plano sequência. Durante aquele mês de réperage eu escrevia tudo, estávamos horas juntas, a Aida, a Julie e eu, e eu perguntava-lhe coisas de que ela não percebia muito bem o propósito: “tente lá imaginar que está a entrar em casa depois de vir de Bangalore, como é que faz?”... esse momento era importantíssimo, porque era o momento em que ela descobria a casa, em que ela acorda a casa e os seus fantasmas, um ambiente que não dava para apanhar se ela estivesse lá sempre. Mas o João descreve isto muito bem. Quando acabou a licenciatura no conservatório teve de entregar um relatório, e esse trabalho tem um capítulo sobre Chandor. Se calhar era bom tu veres, porque ele fala sobre esse encontro com o personagem mas já com a câmara na mão. “O primeiro desafio importante era filmar a chegada da Aida ao aeroporto, quando ela regressa de casa do filho, depois da monção acalmar. Para mim isso colocava dois problemas: por um lado tinha que filmar a senhora antes de a conhecer, por outro, entrar na casa dela em plano sequência, sem nunca ter lá estado. Conhecia as divisões pela planta, e por imagens que a Catarina tinha feito na réperage. No aeroporto a Catarina exclamou “vem aí!”. Arranco a câmara e consequentemente o som. Fiquei um pouco emocionado, tínhamos começado finalmente depois de cerca de um ano de preparação, mas fiquei impressionado pela forma como a Aida não nos ligou ou mesmo ignorou (claro que ela sabia que estávamos à espera): nem um olhar para a câmara. Dirigiuse ao táxi, entrei com ela para o banco de trás. A equipa veio atrás no carro de produção. Filmei e filmei sem parar. O facto de ter a câmara fazia-me sentir protegido e mais seguro perante um desconhecido. Quando o táxi fez uma primeira paragem apresentei-me e pedi desculpas por não a ter cumprimentado, ela sorri e diz que percebeu, “não tem problema”, e tornou a ignorar-me. Se há filmes documentários em que as pessoas se transformam em personagens este não era um deles. A sua dignidade e indiferença perante a câmara anteviam 24 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 25 25 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? uma rodagem fascinante e rica em descobertas e ensinamentos. A Aida parecia ou era um personagem de ficção, só que real. Ao chegarmos saí rapidamente para o técnico de som ligar o seu microfone e lá fomos nós escadas acima, atrás dela – eu, o Vasco Barão (fez som na primeira parte da rodagem), e a Catarina. Depois de dois lances de escada, mesmo à entrada, os cabos prendem-se no puxador da porta, não cortei, continuámos. Ela entra em casa chama a criada e com uma energia incrível destapam mobílias, mudam sofás, cadeiras (parte das coisas estavam protegidas devido à monção), e nós, num plano sequência, desfilávamos num espaço desconhecido entre valiosos potes indo-portugueses e outros obstáculos. Poucas vezes repeti esta sensação e emoção. Tudo fluiu de uma forma que posso dizer “romanticamente mágica”. Esta sensação ocorre quando o corpo e a mente trabalham em conjunto e sintonia quando se faz câmara. O fim do primeiro dia de rodagem com a Aida fazia-nos sentir seguros e confiantes, não só para o resto do filme, mas no meu caso para sempre – confiante naquilo que queria e gostava de fazer. Acho que o êxito desta situação se deve muito à preparação que fizemos, e quando as ideias daquilo que os realizadores querem estão em nós incorporadas, tudo parece mais certo e seguro.(…) “Todos os dias víamos o material. Para mim é fundamental. Discutíamos as opções por mim tomadas nos momentos em que a Catarina não podia intervir. Víamos as limitações de um método mais observacional. Quando o realizador nos diz “era mesmo isto que eu estava a ver”, então parte dessa cumplicidade foi conquistada. O difícil nestes casos é quem faz câmara não pensar somente naquilo que vê, mas pensar principalmente naquilo que o realizador está a ver ou quererá ver, caso não tenha hipóteses de dar indicações, o que se passa muitas vezes. Este desdobramento requer prática e um grande conhecimento do outro. Por isso é tão comum os realizadores fazerem câmara em muitos projectos, o que tem a limitação de comunicarem sempre para si próprios. O verbalizar uma ideia requer clareza e objectividade. Quem ouve tem o direito de questionar e de propor, e de acatar as decisões finais de quem realiza, este é o verdadeiro trabalho de equipa.(…) PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:40 Page 26 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? “Em termos visuais, no caso dos interiores, há sempre que possível um domínio da arquitectura da casa sobre Aida. Eram planos de escala mais larga. No entanto apercebemo-nos na prática que a casa já era tão forte que se impunha por si sem haver necessidade desse reforço de forma muito evidente. Os planos largos surgem então mais como pontuações sem referência humana. No caso dos exteriores, eram sempre subjugados ao ponto de vista da personagem, ela sai de casa e nós vamos acompanhando, em plano sequência quase sempre. (…)” E então, onde é que nós íamos, Inês? Íamos no início da rodagem, quando vocês estão a fazer os planos da Maria, antes da Aida chegar... Ou seja, essa primeira fase foi um bocado para acertar agulhas. Estávamos sempre a ver o material durante a rodagem, e depois quando voltámos passei tudo para VHS e ia vendo. Pode-se preparar, e fazer uma boa réperage, mas quando se está no sítio é sempre diferente. E eu, apesar de trabalhar muito sozinha numa primeira fase, trabalho muito também com as pessoas que constituem a minha equipa, discutimos sempre muito, a forma como todos sentiram a força ou não de uma cena. Tudo isto para preparar a rodagem que seria no Natal de 1996, início de 1997. Como tinham passado quase 6 meses desde que lá tínhamos estado, decidi ir com a Julie mais cedo, e o João e a Armanda iriam ter connosco depois. Tinha um plano de rodagem, mas queria confrontar isso com a realidade, achei que era importante prepararmos o terreno, para quando eles chegassem, em vez de ficarem um bocado pendurados por nós ainda estarmos em pré-produção. Disse ao Pedro Martins que queria alugar uma câmara, e então levei uma daquelas primeiras DV’s, as VX1000. Era dia 19 de Dezembro, dia da independência de Goa, mas nunca lá chegámos, tivemos um acidente horrível em Bombaim. Chegámos a Bombaim, para apanhar o avião para Goa, mas tinha havido uma confusão de overbooking de bilhetes, só teríamos lugar depois do Natal (sendo que o João e a Armanda viriam no dia 22 ou 23). E então decidimos ir de carro – são 600 km de Bombaim a Goa, mas as estradas são tão más que se demora cerca de 11 horas. Arranjámos carro e motorista e ao fim de três ou quatro horas de viagem o carro capotou, e a Julie partiu uma vértebra cervical. Foi um drama: um médico da aldeia mais próxima deu-lhe uma injecção de morfina por causa das dores, e ela sempre a pedir-me para eu lhe tocar nas pernas e nos braços para ver se os sentia. Estivemos umas seis horas à espera de uma ambulância para nos levar de volta a Bombaim, para um hospital, até que, farta de esperar, fui para estrada parar um carro para nos transportar. Do hospital liguei aos meus personagens a contar o que tinha acontecido – ficaram preocupados mas nada surpreendidos, porque na Índia toda a gente tem cicatrizes por todo o lado por causa dos acidentes na estrada, uma espécie de ritual de passagem– e ao telefone com o 26 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 27 18:40 Page 27 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Pedro Martins, por causa das papeladas para accionar os seguros, ele diz-nos que tínhamos ganho o subsídio do IPACA. Foi bom, mas na altura nem queria saber do subsídio...estava completamente noutro filme. Bem, passámos esse Natal e o fim de ano no hospital, em Bombaim. E depois voltámos para casa, eu para Lisboa, e ela para Londres (só ficou boa passado oito ou nove meses). Foi preciso recuperar de tudo isto, deixei passar muito tempo até que decidi recomeçar outra vez. Esqueci o primeiro material da monção, e voltei para lá outra vez na mesma altura, com o João e a Armanda e o Carlos Paiva. Filmámos imensas coisas que não tínhamos filmado da outra vez, e quase tudo o que aparece de chuva no filme é desta segunda rodagem. Ficámos 15 dias. E voltámos depois, no Natal de 1997. Foi um mês e meio de rodagem. MONTAGEM Já conhecia o Pedro [Duarte] porque era amigo do João e tinha montado o Senhora Aparecida com a Catarina [Alves Costa]. Ele tinha começado a ver o material logo depois da 1ª rodagem, a primeira monção e depois da última rodagem no Natal começámos os dois a trabalhar na montagem. Normalmente levo sempre uma ideia de estrutura narrativa para a rodagem. Depois fazemos experiências e as coisas mudam, mas quando estou a filmar penso muito na montagem. Muitas vezes já tenho até várias hipóteses de como é que o filme começa, como é que o filme acaba. Aqui eu sabia que tinha de acabar com ela a fechar as janelas – tinha de ser. A luz a desaparecer...a casa devolvida aos seus fantasmas. Logo na rodagem percebi que o gesto de abrir e fechar as janelas iria pontuar todo o filme. Na altura a Aida tinha 80 anos, e quando uma pessoa de uma certa idade vive sozinha numa casa tão grande, os gestos repetem-se, é uma questão de sobrevivência. Percebi que estava perante uma personagem com muita complexidade, mas com uma dimensão de rotina muito forte. Essa rotina era muito importante para a sobrevivência dela e da casa. E a montagem respeita isso, também. Acho que a maior parte do material que está no filme foi captado durante o Natal, a 3ª rodagem. “Esta insistência vista e pensada à distância tem um lado romântico do documentário, que na altura nos parecia incondicional e certo, mas agora me parece imatura: o que se filma é o mundo expresso em imagens e sons, dando a ideia da abolição do espaço off. Queríamos conter o tempo e o espaço tal como ele é e sustentá-lo sem cortes. Cada corte na montagem faz avançar o filme. Esses cortes podem e devem ser pensados na rodagem (importância do visionamento do material), mas durante a feitura do plano dependem normalmente da intuição do operador: “deixo sair de campo? Deixo a personagem desaparecer em profundidade?”. A partir daqui uma expressão passou a fazer parte do nosso dia-a-dia: o fora de campo. Filmar é acima de tudo excluir. Na ficção isto é claro; não o é no documentário. A exclusão tem que ter um apagamento para não parecer ou ser sentida como tal; o espectador tem um sentido de verosimilhança com o que vê, dando-lhe a sensação de que o que mostramos é tudo, e nada foi excluído. De tudo isto me apercebi na montagem final deste documentário. Por vezes os planos sequência existiam, mas por vezes eram retalhados e percebemos que fazê-los não terá sido a melhor opção. (…) PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:41 Page 28 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? “Não houve um trabalho muito detalhado em termos cromáticos em tentar destacar as diferentes estações, as duas casas que aparecem no filme (da outra personagem, a Maria). A qualidade de luz era quase sempre muito boa, e as estações impunham-se naturalmente sem necessitarem que se acrescentasse qualquer valor dramático ao nível do trabalho de câmara. A chegada da monção, que no filme representa um clímax da ”natureza”, é criada fundamentalmente por um efeito de crescendo na montagem. Nesta altura os interiores tornavamse muito escuros, e por tal facto a duração dos dias de rodagem era menor, limitando o nosso trabalho. Os planos da casa vazia eram feitos a horas precisas, os efeitos de luz na parede, na sequência nocturna, que afinal é dia, foram feitos e não repetidos porque as ideias da Catarina eram claras. As portadas que se fecham em off escurecendo as fotografias dos antepassados, etc, eram dados no projecto que com a minha contribuição se tornavam cinema. (...) “Existia sempre um ritual naquela casa. A Aida todos os dias nos fazia lanchar com ela à mesma hora. Às vezes era complicado, mas regra geral respeitávamos o seu convite. O nosso prazer em filmar e ir descobrir coisas na casa era demasiado grande para pararmos para lanchar! No entanto nestes momentos de cerimónia mas de grande empatia, as histórias continuavam; sofríamos porque às vezes queríamos filmar, mas uma das principais qualidades de um “documentarista militante” é saber parar, e pensar que aquele momento de pausa e convívio poderá ser uma mais-valia no dia seguinte. Encontrar a intimidade da pessoa filmada, aquilo que o seu quotidiano nos revela, que se vai tornando cinema devido à nossa presença, é uma das grandes dificuldades do documentário, é o que se torna difícil, mas estes obstáculos convertem-se simultaneamente no seu motor principal. Há sempre a procura de algo invisível, incomunicável, que nos é revelado num momento de graça. Neste filme encontro vários momentos desses. Para que tal aconteça o tempo do plano é fundamental. (…) “Mas nesta espera, em que se fazem os filmes documentários, temos sempre que respeitar uma espécie de direito de reserva, mesmo àquele que se dá a nós sem qualquer reserva. É pois na busca e na concretização deste ténue equilíbrio que o filme se vai construindo, a pouco e pouco, aos nossos olhos. A isto chamo ética e educação.(...) “Os filmes às vezes ficam associados a planos, com os quais ficam conotados. Neste caso é normal ouvir-se “é o filme daquela imagem das cortinas ao vento…”. É um plano bonito, mas para mim será sempre um filme de planos em que se descobrem gestos e contenções silenciosas de leitura puramente visual. Aqui descobri a importância do tempo que é dado aos planos, na rodagem, tal facto é para mim uma questão de fé. Temos que ser crentes e as coisas começam a surgir lentamente aos olhos de quem filma, primeiro, e de quem sabe ler essas pistas, depois. (…)” 28 PANORAMA-Book:Layout 1 29 09/02/02 18:41 Page 29 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Sinto que descubro o filme na rodagem, e não na montagem. Claro que depois se descobrem novos sentidos. No documentário estás sempre a acrescentar qualquer coisa de teu àquilo que estás a ver e aquilo que acrescentas é forçosamente um resultado do teu confronto com o outro, é uma dança. E à medida que o processo vai avançando essa coisa que queres acrescentar vaise tornando mais clara. É isso, sobretudo, o que acontece na montagem, essa depuração. No fundo, nesta montagem não houve nenhuma revolução em relação à estrutura que eu tinha planeado na rodagem, quanto muito afinei-a ainda mais. E se fosse hoje – muita gente vai dizer que isto é uma blasfémia – se calhar não tinha a Maria no filme. Acho que se vê que é um primeiro filme nesse aspecto (a meio do processo de ...Chandor eu fiz outro filme, o Fora de Água, que acaba por ser o meu primeiro filme, porque terminou antes deste; mas ainda assim este é o primeiro filme, a primeira vez... ainda não há a coragem para sermos muito radicais). A Maria, o que representa no filme? Eu gosto muito dela, e acho que é um personagem forte, mas ela é sobretudo o veículo que permite contextualizar tudo aquilo. Ela tem essa função narrativa. Havia neste filme alguma preocupação em transmitir informação, o que se calhar tem a ver com a própria escrita do projecto, e por muito livre que me sentisse – senti-me muito livre sobretudo em comparação com os trabalhos de televisão – senti que tinha de ir ao encontro de algumas coisas que tinha veiculado no projecto escrito. Fui mostrando o trabalho a imensas pessoas, que me foram dando sugestões. Lembro-me que mostrei ao José Álvaro de Morais, que adorou o filme, o que foi um enorme incentivo. E a versão final acaba por ter 90 minutos. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:41 Page 30 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? DISTRIBUIÇÃO E EXIBIÇÃO O Pedro Martins na altura já estava muito sensível à lógica televisiva dependente das audiências e dissuadiu-me de fazer uma versão tão longa, que assim não se conseguia vender o filme. Mas fiz a versão de 90 minutos: foi essa que foi mostrada, foi essa que foi à Malaposta. Eu estava muito agarrada ao material e não conseguia cortar. Mesmo quando o canal de televisão “Arte” ou a RTBF se interessaram pelo filme, dizendo que só o podiam programar se tivesse 52 minutos, eu cortei e cortei mas não consegui ficar com menos de 70 minutos. Depois disto o filme ficou com o Pedro. Eu tinha a preocupação de o mandar para festivais – por onde circulou bastante – mas não me meti no assunto das televisões. Passado um tempo, quando os masters do filme passaram a morar na Laranja Azul, ainda tentei contactar umas televisões mas a lógica é muito a da actualidade, e não consegui – o filme já tinha tido o seu percurso. Mas de todos os meus filmes é aquele que está sempre a ser requisitado fora de Portugal, para retrospectivas, mostras etc.. O filme foi lançado em VHS e agora a Midas lançou o DVD, já vai na segunda edição, o que é óptimo. Outro assunto é mostrar o filme às pessoas que entram nele, isso é fundamental. A Comissão dos Descobrimentos, que tinha apoiado o filme, decidiu fazer uma viagem institucional a Goa com algumas individualidades e mostrar o filme na casa de Chandor. Só que não tinham explicado nada à Aida, que filme era....porquê.....e nem sequer me tinham convidado para isto. Eu tinha-lhe mandado o filme mas sabia que ela não tinha leitor e que de certeza não tinha visto o filme. Quando soube da iniciativa insisti para que me convidassem para eu ir pelo menos um ou dois dias antes para lhe mostrar o filme em vez de ela o ver pela primeira vez numa sala cheia de pessoas. E assim foi: eles pagaram-me a viagem, fui buscar a Maria a Margão, arranjei uma televisão e um VHS, e mostrei o filme às duas. A Maria muito atenta, a Aida...mais atenta à porta e aos turistas que iam aparecendo. E foi genial porque às tantas ao mesmo tempo que íamos vendo filme, ela ia mostrando a casa com o filme a correr, o que acabava por ser um espelho do que estava ali a acontecer... e no fim eram os turistas que ficavam sentados a ver o filme como se tudo aquilo fizesse parte do programa. Ela gostou. E ainda hoje trocamos presentes e cartas (ainda é viva, tem 92 anos). “(…) com um filme como este, o documentário português dá um salto incomensurável para, finalmente, começar a acertar o passo com a evolução do documentário moderno – aquele que aprendeu que não podia regressar a fórmulas anteriores (…)”. JOSÉ MANUEL COSTA IN PÚBLICO, 7 MARÇO DE 1999 A PARTIR DE UMA CONVERSA COM CATARINA MOURÃO E EXCERTOS DE UMA OUTRA MANEIRA DE FAZER CINEMA DE JOÃO RIBEIRO (TRABALHO DE 2008 FEITO PARA O RELATÓRIO FINAL DO SEU CURSO NA ESCOLA SUPERIOR DE TEATRO E CINEMA; VERSÃO INTEGRAL DISPONÍVEL NA BIBLIOTECA DA ESTC) 30 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 31 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 32 balaou É verdade que não estava à espera que o balaou existisse, mas sem o saber fui-me preparando lentamente, ao longo dos anos, para o poder fazer. O filme revelou-se e foi provocadamente revelado. Talvez balaou tenha começado em 2000 quando formei o Nucivo, colectivo de vídeo da Faculdade de Letras, impulsionado por uma ideia mitológica de recuperar os colectivos de exibição e produção das cooperativas de cinema pós 25 de Abril, onde os meios de trabalho seriam partilhados entre todos os seus membros. A estrutura existiu com força em determinados momentos com vários ciclos-debates e formações intensivas, circulação de pessoas e ideias, mas de facto a estrutura de colectivo nunca se chegou realmente a formar. Continuo a acreditar numa vaga forma de colectivo igualitário, operário e independente mas sem saber ao certo como pode sobreviver em estruturas sociais, comerciais e ideológicas tão desgarradas como as nossas. Neste ponto devo também ter falhado no meio do processo porque a minha reacção foi a do individualismo. Ou seja, para poder fazer, avancei sozinho. Em alguns aspectos é muito mais evidente e confortável. Só dependemos de nós. O Nucivo tinha (e ainda tem) material técnico semi-profissional para um tipo de rodagem muito simples e, digamos, humilde baseado num pressuposto: material mínimo para máximos resultados. Mais vale dominar bem o material que temos, ainda que mais limitado tecnicamente, do que dominar mal material profissional que seria incomportável para as nossas capacidades de auto-subsídio. Se não o fizéssemos basicamente não existiríamos. É então assim com este material que começo a filmar. Quando se dá o acontecimento que dita o arranque emocional do balaou (a morte da minha mãe) já tinha vários anos de experiência auto-didacta de filmar. Mas é importante reforçar a PANORAMA-Book:Layout 1 33 09/02/02 18:43 Page 33 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? ideia que isso não implica que saiba “filmar”, simplesmente sabia trabalhar com este tipo de material que estava habituado a utilizar. Assim, é com uma câmara 3CCD semi-profissional, um mini-microfone e um tripé de mesa do Nucivo que parto para São Miguel, Açores, em Julho de 2005 para fazer a viagem que a minha mãe queria ter feito e já não pôde, ou seja, despedir-se da família. Até aqui não há ideia nenhuma de filme, é exactamente como escrever, são capítulos de um diário filmado que se acrescentam a cada semana. Neste tipo de missões que se confundem com viagem e destino há sempre um impulso (ou vários), condições materiais, possibilidades em aberto e, seguramente, impasses. Os impasses, quando são ultrapassados, marcam o ponto de ruptura e quebra. Para além das questões que me colocava a mim próprio sobre a minha presença nesta terra de família, sobre o que queria de facto eu com este retorno ou sobre o que estava disposto a abandonar, havia uma câmara como prolongamento da minha presença. Não só estava a falar com a minha família como a estava a filmar diariamente sem objectivo nenhum definido sobre que destino dar a essas imagens. Dava-me ao luxo de não pensar em significados nem em formatos, o que em certas situações é a maneira mais simples de nos perdermos e inquietarmos. Quando mais tarde dois marinheiros me encontram e arrancam daquele impasse, lançandome literalmente ao mar, é como quando uma pedra de ouro vem ter às mãos de um garimpeiro. Nesse momento é evidente que alguma coisa aconteceu e que só me resta seguir as pistas que eu próprio fui acumulando. Falo assim, porque de facto este filme, agora como pode ser visto, é um resultado de vários acasos e caminhos paralelos que se me depararam, sendo eu na verdade o seu impulsionador. A aventura e a ventura deseja-se e pressente-se até certo ponto. Quando recebo o convite para embarcar no barco balaou aí sim existe uma possibilidade de filme, porque existe um acontecimento/evento que poderá mudar todo o tipo de perspectivas iniciais com que parti para a ilha. Há uma tensão (as minhas questões em confronto com a vida do casal de marinheiros) e há um percurso com o seu ponto de chegada e as suas consequências. E continuo a crer que só fazemos coisas para nos modificarmos. Nesse momento mudou a minha relação com a câmara e com o que filmava, porque agora sim havia um mapa já não só mental mas também físico. Esses oito dias no mar foram um misto de aventura, estágio profissional e terapia psicológica, onde fui aprendendo à minha custa, à custa dos falhanços, dos medos, das impotências comunicativas, do mistério e da resistência. Em si próprio um acontecimento não significa nada, não tem um valor determinado, mas se por acaso pretendermos uma qualquer construção de significado (ainda que cada vez mais sinta que nada de nada tem sentido) teremos de tirar consequências e decisões. A minha decisão para todo este evento prolongado por quase um ano, de Dezembro 2004 a Setembro 2005, desde a morte da minha mãe até ao fim da viagem no balaou, foi criar uma linha imaginária que ligaria todos esses eventos como inevitáveis e até necessários para uma experiência humana que queria partilhar em forma de filme. A decisão é tanto o fazer como a maneira de o fazer. Se isto é uma experiência de vida teria de ser também uma experiência de produção. Colocar tudo no nível zero. Zero de apoio, zero de dinheiro, zero de expectativas. Pouco a pouco ir erguendo uma estrutura acompanhando todas as suas fases e evoluções. Da viagem do mar passei para um ano de viagem de organização, em montagem do filme. Um ano em que deixei o meu trabalho regular de professor de português para estrangeiros, onde investi em material de edição, onde deixei a minha casa e arranjei várias poisos de trabalho e PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 34 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? residências. Portanto, a missão era total e seguramente para levar até ao fim, desse para onde desse. A produção era eu próprio, tinha tempo e tudo se misturava e unia. No entanto, a única verdade é que por mais individualistas que sejamos nunca podemos fazer nada completamente sozinhos. Neste tipo de projectos é fundamental ir abrindo o processo a outros olhares. Uma auto-produção não é uma produção isolada. Não havendo uma produtora, uma estrutura de produção, existem os amigos e os companheiros de viagens que aceitam entrar sem limitações e trabalhar sem ser pagos. Portanto, a produção sem dinheiro é também, ou é na verdade, uma teia mágica de cumplicidades. Sem a assistência de montagem da Catherine Villeret, sem a banda-sonora do Didio Pestana, sem a pós-produção de som do André Neto e sem os vários conselheiros de visionamento dos vários blocos de montagem não teria existido o filme balaou. Outra condicionante de não ter um produtor a trabalhar comigo é que não existe ninguém a dizer-me que o filme tem de acabar. Mas aqui confirma-se uma célebre frase de Federico Fellini: “Quando acaba o dinheiro acaba-se o filme.” Em Fevereiro de 2007, já muito perto de um possível final, olho para a minha conta e estou a zero. A “produção” abriu oficialmente falência e há que completar o filme e seguir em frente. Deixo de ser “o realizador” e passo para o papel de “produtor/distribuidor”. Existem contactos com algumas distribuidoras mas nada se concretiza e decido avançar mais uma vez sozinho, fechando o círculo de trabalho. 34 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 35 18:43 Page 35 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Ainda que tenha sido este o método de trabalho e agora possa dizer que conheço um pouco de tudo o que envolve fazer um filme (um filme deste género, repito) não acredito que possa ser este o esquema a utilizar para sempre, porque nada se pode repetir. Supostamente cada projecto encontra a sua forma de produção ideal. No próximo filme que já está em fase avançada de montagem continuo a não pedir subsídios, nem a ligar-me a nenhuma produtora, mantendo bases de apoios locais ligados a material técnico e logística. Este tipo de opções tomamo-las conforme o filme que queremos fazer. Filmar a Ilha do Corvo (a mais pequena ilha dos Açores com pouco mais de 400 habitantes) continua a ser para mim um registo contínuo em forma de filme de aventuras e a aventura costuma ser, por definição, sempre sem rede. Ando em viagem prolongada há ano e meio, com várias idas, retornos, procuras e vivências dentro duma comunidade que vive na tensão diária entre o individual e o colectivo. Para além de estar a fazer um filme que relata 500 anos de história de uma ilha, estou a colocar-me em causa enquanto ser social em confronto com o outro. De muitas maneiras este próximo filme é como que um prolongamento do balaou, não em termos de temática, mas em formas de trabalho que por enquanto são pontos de honra para que faça um filme: material mínimo, muito limitado e precário que é compensado com disponibilidade e entrega total. Há um processo de aprendizagem que passa pelo fazer, pela prática, integrando os erros, os desvios, as descobertas e os inevitáveis riscos de cair sem rede. Por enquanto é um possível indício de liberdade, dependente dos novos desafios ou da vontade/necessidade de querer continuar a fazer filmes… Gonçalo Tocha PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? 18:43 Page 36 36 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 37 37 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros Um dia, domingo pela certa, no enorme átrio deserto do CCB, vejo um casal aproximar-se de mim, sorrindo. “Eu sou o Nikias Skapinakis”. Nunca o tinha visto, nem imaginava como seria este pintor que, desde os anos 60, admiro, entre exposições e gravuras que fui juntando. Já, nessa altura, um amigo comum, o Bernardo Pinto de Almeida, me desafiara a fazer um filme sobre a exposição que, nesses meses de Primavera, se mostrava na Fundação Vieira-Arpad, no belíssimo Jardim das Amoreiras. “Vamos lá fazer o filme”. E como a exposição, “Quartos Imaginários”, estava a chegar ao fim, estávamos na sua semana final, só houve tempo de juntar equipa, o José Luis Carvalhosa na imagem, a Armanda Carvalho no som, uns quantos figurantes, e filmar as duas dezenas de quadros que estavam na exposição, quadros em que Nikias evoca pintores, artistas, escritores que, como diz, “conheceu ou gostava de ter conhecido”, Cesariny ou Van Gogh, Chagall ou Morandi, De Chirico ou Vieira. Nem sabia que filme iríamos fazer, tinhamos de filmar – e tanto podia o filme circunscrever-se à exposição e ser coisa para uns cinco minutos ou abranger mais coisas (mas como?). Começámos a montar aqueles poucos minutos – e a ler os muitos textos do catálogo, ou textos que Nikias, parcimoniosamente, nos ia entregando, sabendo ele muito bem o que não queria que o filme fosse. Não queria (nem eu) uma biografia; mas, é claro que há dados biográficos importantes; não queria determinados quadros por os considerar menores ou menos conseguidos; não queria eu comentadores estudiosos que, quase sempre, me aborrecem ao elogiar as qualidades do retratado. E com muito poucos materiais, começámos a escrever um argumento. Em que tentamos situar aquela exposição na história das formas que Skapinakis foi atravessando: víamos como aqueles quartos sem ninguém prolongavam as paisagens sem gente que fizera nos anos 60, víamos como aqueles retratos sem cara eram o contraponto dos retratos com cara que fizera durante anos e onde conseguiu uma qualidade rara; víamos como esta exposição respondia ainda, cinquenta anos depois, às inquietações e às propostas dos seus anos de formação: e como a sua vida de artista avançara, inquebrável, pioneira, direita, por tantas aventuras formais. Há cinquenta anos que Skapinakis tem o mesmo atelier, há cinquenta anos que enfrenta a palmeira que pintou em 1956 num dos seus trabalhos mais conseguidos, “Quintais de Lisboa”. E foi comparando os trabalhos que conseguimos estruturar o filme, viagem permanente entre os trabalhos. Só que Nikias não queria aparecer, nem ser entrevistado. Demorou muito convencê-lo, foram conversas e telefonemas, nem sei se não houve mesmo uma carta a explicar a minha vontade: tinha de o ter. E, um dia, lá conseguimos filmá-lo dizendo preciosas coisas que já dissera em ensaios ou textos vários, devidamente recortadas e combinadas com ele, montadas à tesoura. Íamos ganhando confiança: e já íamos em seis meses de trabalho (com muitas interrupções, pesquisas de documentação, escrita provisória de argumentos que sempre lhe ia mostrando, para a sua aprovação, correcção, atenção). Foi um trabalho de que gostei particularmente, tentar entrar no mundo de outro (de um outro que admiro, que respeito, que não conheço bem, com quem faço cerimónia, aproximar-me mesmo de um senhor que me habituei a ver de longe), tentar seguirlhe os meandros, mostrar-lhe o que eu ia encontrando e ele ia aceitando ou rejeitando. Não foi fácil: mas creio que conseguimos passear pelo mundo delicado e firme de um artista único, essa espécie de sensível palmeira que também ele levemente flutua por cima das artes. E eu gostei tanto de ter feito esta viagem – a convite do Nikias, com ele, por ele, por ele convidado a entrar na elegância clássica do seu mundo silencioso. Jorge Silva Melo PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 38 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:43 Page 39 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? 18:44 Page 40 40 PANORAMA-Book:Layout 1 O JARDIM 09/02/02 18:45 Page 41 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:45 Page 42 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? O Jardim Este filme nasce de uma encomenda feita pela Fundação Calouste Gulbenkian para realizar um documentário sobre o Arq.º Ribeiro Telles e os Jardins da Fundação. Mal comecei a pensar nele, a ideia das estações do ano e da sua variação neste microcosmos toma uma dimensão fulcral no projecto. Tentar captar a ondulação do tempo foi, a partir desse momento, uma ideia basilar do filme. Tracei então um plano de rodagem bastante livre mas onde tentava registar os picos das estações e a sua transição. Assustava-me a ideia de abordar a personalidade e o trabalho do prof. Ribeiro Telles através de uma entrevista e/ou documentário biográfico. Quando aceitei o convite, tive também que apresentar uma equipa e um orçamento para o projecto. Durante o processo de rodagem, a pessoa mais próxima foi o engenheiro de som, pois acompanha as nossas dúvidas, os nossos erros, os nossos problemas. Por isso escolhi para a captação de som a pessoa com quem tinha mais trabalhado no projecto anterior (Pé na Terra) pelas suas qualidades de envolvência e discussão de ideias. Senti que esta foi das decisões mais importante para o decorrer do filme pois deste modo assegurei que uma pessoa exterior não me deixava cair na preguiça mental, facilitismo — ou o derrotismo que se lhe opõe— em que tão facilmente caímos quando estamos sozinhos. Foi, por exemplo, depois de um dia de rodagem logo no primeiro mês, que o Tiago (engº de som) me pede que lhe explique por texto “o que andamos para aqui a fazer”, fui para casa pensar e no dia seguinte trazia o texto de onde saiu a sinopse do filme: “Sim, sei que as árvores não têm olhos, a água não tem boca e as pedras não têm ouvidos. Ainda assim comunicamos. Especialmente aqui, neste Jardim, tenho longas conversas caladas, como dois velhos conhecidos que pela simples presença se falam de calma, de sabedoria, de quietude ou de raiva, de tempestade, de conforto, de tristeza. Sei que também tu aqui vens para te ligares ao teu corpo, ao teu passado, ao teu próximo. Aqui, respira-se uma intimidade partilhada entre pessoas, animais e plantas. Aqui assisti aos primeiros passos de um bebé, à chegada de um pato mudo, à queda das folhas do grande choupo branco.” Voltando atrás. Antes de pegar na câmara fiz algum trabalho de campo — não tanto como devia pois caí no erro de achar que conhecia bem o Jardim por nele ter passado, nos anteriores 5 meses, grande parte do meu tempo — onde, além de procurar estar atento a tudo (o que pode ser um erro de falta de ponto de vista) tentava conhecer melhor as espécies de flora, fauna e pessoas que nele habitavam. Recolhi muitas folhas e flores no caderno apontando nomes e sua sazonalidade. Tracei um mapa com os pontos de actividade animal: os ninhos, os charcos, o recanto dos namorados, o local de brincadeiras dos mais novos, o sítio onde os bebés dão os primeiros passos na vida, que por curiosidade é próximo do local onde os mais velhos repousam, com certeza alegrando-se da jovialidade que os rodeia. Neste mapa, desenhei também os pontos mais interessantes para captar a relação entre edifícios e Jardim. Quais as janelas, os pontos de fuga, os reflexos que me fascinavam. Sem me dar conta disso fui descobrindo possíveis relações destes pontos com certas obras do museu. Caso de tapeçarias, biombos, quadros ou esculturas. Relação que me interessava no sentido de aproximar a fruição que se tem com o Jardim e com as peças de arte de um museu. Fui-me apresentando aos jardineiros pois rapidamente me apercebi que seriam um forte elo de ligação humana, além da surpresa de um mundo invisível aos olhos do transeunte ocasional, 42 PANORAMA-Book:Layout 1 43 09/02/02 18:45 Page 43 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? fascinou-me um lado humano de certas personagens: podemos, com uma observação cuidada, reparar que estes homens e mulheres têm um trato diferente com o mundo que os envolve, em parte por cuidarem da vida, muitas vezes frágil, do Jardim e obviamente dos percursos de vida particulares. Travei também um conhecimento mais forte com os “habitués” do Jardim: a senhora já viúva que todos os dias passa a tarde sentada a conversar com as “outras” que como ela já não têm ninguém muito próximo com quem falar, o Sr. que teve uma trombose e vem ver o jogo de cartas entre os reformados, o homem que vem fazer as palavras cruzadas entre uma garrafa de cerveja, junto ao ribeiro – que lhe lembra a terra natal onde brincava ao ar livre entre prados e ribeiros. O velho Sábio incompreendido que debitava de cor poesia, o “indigente” que entre o concerto ao ar livre onde todos se aperaltaram para ir, passeava com a beata ao canto da boca e walkman nos ouvidos. Bem, uma vasta panóplia de pessoas frequentam este jardim (não referi a classe economicamente mais alta apenas por que não me interessam tanto à partida, mas obviamente o jardim está cheio de gente como nós) e que nos podem contar alguma coisa pelos seus gestos, experiências, costumes e bizarrias. Tratei também de perceber quais as actividades que se iriam realizar no Jardim. Concertos, espectáculos, visitas, etc... Filmei algumas, como o Jazz em Agosto, ou os concertos de música clássica no anfiteatro, mas havia sempre o problema de não chegar perto das pessoas de modo a poder desenvolver uma “mini-história” que pudesse servir o filme. Por esta razão ganhei um especial interesse nas actividades que o sector educativo do C.A.M. realiza na Primavera e Verão. Fiquei especialmente curioso pela forma como estas actividades integravam o Jardim, a perspectiva que dele davam e o facto de poder ter com os seus responsáveis uma cumplicidade que podia ajudar a conduzir estas actividades para o rumo que o filme tinha tomado (visto que comecei o filme no Verão e só programei estas filmagens para a Primavera). A sua duração (uma semana) também permitia algum desenvolvimento na relação com as estas crianças e adultos. Outra curiosidade minha em relação a este espaço era o seu comportamento nocturno. Quando se fecham as portas ao público ficam os seus “habitantes”. Como se comporta e que qualidades toma este espaço no silêncio da noite? Fiz uma visita guiada pelo edifício à noite onde acedi a magníficas vidraças sobre jardins suspensos, lagos reflectindo a lua. Terraços onde via a copa das árvores que com o vento calam a sinfonia de sapos e rãs, estátuas que ganhavam uma vida escondida, sonolenta e triste. Tinha a liberdade, tempo e calma para um diálogo diferente do praticado durante o dia, onde a agitação da cidade se sente com outra intensidade. Desta visita ao edifício surgiu-me outra curiosidade: como trabalham os jardineiros nestas varandas e nestes terraços? Que relação têm eles com os trabalhadores nos escritórios? Foi extremamente interessante a réperage deste momento. Escolhi um dia em que os jardineiros iam trabalhar nas varandas e acompanhei-os, de escritório em escritório, à procura de situações de confronto, de extremos ou semelhanças, ou apenas de indiferença entre interior e exterior, entre o trabalho com os computadores e com as plantas. Coleccionei portanto uma série de curiosidades que tentei enquadrar numa estação específica (por ex. os trabalhos dos jardineiros nas varandas no fim do Outono, as actividades do sector educativo na Primavera, a vida humana do Jardim no Verão, o edifício durante todas as estações...) e que decidi saciar através da filmagem. Tinha agora de me concentrar no ponto de vista da câmara. O que é ela aqui no meio? Devo dizer que esta foi a maior luta em todo o filme sendo que nunca fixei um só ponto de vista. Fui fantasma, fui pato, fui espectador, fui sapo, bicho da conta, estátua, árvore, flor. Enfim tudo PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? 18:45 Page 44 44 PANORAMA-Book:Layout 1 45 09/02/02 18:45 Page 45 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? aquilo que é vivo por natureza ou imaginação. Deixo-vos um exemplo deste processo: comecei a rodagem a filmar o Jazz em Agosto do ponto de vista do fantasma do Sr. Gulbenkian e de um pato. Se no caso do Sr. Gulbenkian era comportar-me como um humano mas sem ser notado, tomar pontos de vista no meio da vegetação, andar por zonas interditas à generalidade da audiência, etc. No caso do pato foi um pouco mais complicado. Experimentámos, à tarde, com a câmara a boiar numa jangada improvisada com bidões de água e esferovite, o que seria a visão de um pato que, calmamente se passeava pelo lago e, de repente se depararia com um anfiteatro repleto de luzes, gente e uma sonoridade estranha. Nesta filmagem, efectuada na altura em que no palco se fazia o teste de som, apercebemo-nos que à noite, em pleno espectáculo, ver dois tipos no meio do lago, de galochas e com um objecto estranho a boiar à frente seria no mínimo uma grande barraca. No fim de contas ficámos com o plano captado à tarde, que faz parte do filme final o que faz muito sentido, pois apesar de ser uma ideia estapafúrdia foi filmado com uma intenção bastante clara: olhar o Jardim de uma nova perspectiva. Aprendi assim que as ideias, por mais estúpidas que possam parecer, são para ser experimentadas e não para ficarem na cabeça a ganhar teias de suposições. Se a coisa corria bem com o trabalho de campo no Jardim, o mesmo não se podia dizer das aproximações ao professor Ribeiro Telles. O Sr., de forte carácter, teimava em fugir-me à “simpatia” deste projecto. Fui-me apercebendo que seria impossível ganhar a confiança necessária para filmá-lo à vontade numa outra situação que não fosse em trabalho. Se a princípio esta ideia me desconcertou, à medida que ia fazendo alguma investigação paralela, apercebi-me que, em entrevistas que ele tinha anteriormente dado, a conversa era sempre a mesma, completamente controlada por ele – pois nas matérias em que ele discorria não há entrevistador que possa estar ao seu nível. “Melhor assim”, pensei. “Vou filmá-lo em plena actividade” que era coisa que em nenhuma entrevista se via. E, lembrei-me que em certos documentários sobre personalidades interessantes, uma das maneiras mais fortes de conhecimento sobre a personagem era vê-la em plena actividade, intelectual, ou manual (ou a junção das duas). Por isso parti para esta abordagem. Com a colaboração do Arqº Paisagista João Mateus, que o assistia nos trabalhos de reformulação do Jardim, fui sabendo onde se fariam as próximas aparições do professor. No Jardim, no atelier, numa visita guiada, numa reunião, e aparecia sem avisar ninguém de modo a não permitir escudos ou esquivas. Desta forma integrei-me como mais um trabalhador (se bem que não servisse para grande coisa) no meio do Jardim podendo circular à vontade entre os trabalhos que se iam realizando. Houve portanto uma série de ideias pré-concebidas de filmagem ou de situações a despoletar. Mas, deixei na cabeça muito espaço para “encher” com elementos exteriores ao cinema, ao Jardim, ao filme que procurava criar, de modo a criar imaginários que o pudessem suportar. Aqui refugiei-me nos livros. Especificamente na poesia, contos e Haikus. Foram estas leituras que em muito me permitiram ver o Jardim com o corpo e através dele chegar à cabeça, aos olhos e à mão que agarra a câmara. Deixo um exemplo de cada autor que mais li. Falta o espaço para o conto O Rouxinol e a Rosa de Oscar Wilde e para A Fala do Índio (recolha de textos dos Índios da América do Norte). O processo de montagem incluiu, além do montador (Miguel Coelho), dois colaboradores dos Ateliers Varan (Cláudio Martinez e Dominique Paris). Estes dois colaboradores acompanharam o processo em 3 momentos: o início, onde visionámos o material previamente escolhido por mim e pelo Miguel e onde discutimos a ideia de montagem que eu tinha para o filme. Começámos por colocar os planos/sequências em post its e tentar compor a montagem na parede com o uso destes. Foi um processo que durou mais PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? 18:45 Page 46 46 PANORAMA-Book:Layout 1 47 09/02/02 18:45 Page 47 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:45 Page 48 “Canto Vigésimo Segundo Quando no Outono As árvores estavam nuas Uma tarde a nuvem de pássaros Exaustos Poisou sobre os ramos. Pareciam ter regressado as folhas Baloiçando ao vento.” TONINO GUERRA IN O Mel “XLVII Num dia excessivamente nítido, Dia em que dava vontade de ter trabalhado muito Para nele não trabalhar nada, Entrevi, como uma Estrada por entre as árvores, O que talvez seja o Grande Segredo, Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam. Vi que não há Natureza, Que Natureza não existe, Que há montes, vales, planícies Que há árvores, flores, ervas, Que há rios e pedras Mas que não há um todo a que isso pertença, Que um conjunto real e verdadeiro É uma doença das nossas ideias. A Natureza é partes sem um todo. Isso é talvez o mistério de que falam. Foi isto o que sem pensar nem parar, Aceitei que devia ser a verdade Que todos andam a achar e que não acham, E que só eu, porque a não fui achar, achei. ALBERTO CAEEIRO IN O Guardador de Rebanhos “O Fim é agora mesmo, o começar de uma nova vida” HÔGEN YAMAHATA IN Folhas caem, um novo rebento PANORAMA-Book:Layout 1 49 09/02/02 18:45 Page 49 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? ou menos uma semana. Depois fiquei eu e o Miguel (devo dizer que neste, como no filme anterior, fui bastante chato como realizador e estive sempre presente e activo no processo de montagem) a experimentar as ideias previamente discutidas. Uma das coisas que mais ajudou o processo foi a certeza de coerência nas estações e o começo no Verão, como uma forma suave de entrar no espaço. E acabar com a Primavera com a sensação de revitalização. O meio, Outono e Inverno foram os mais difíceis pois assemelhavamse muito no conteúdo, soturno, triste, melancólico. Posto isto fizemos uma primeira montagem do material, com 2h45 e enviámos para o Cláudio e Dominique que chegariam em breve. Voltaram então com a consciência da 1ª versão e foi essa a base da discussão neste segundo período de uma semana. O que resultava, o que não resultava, o que podia ser levado mais longe, a música, o que ficou de fora e não devia, etc... Passado este período ficámos de novo sozinhos para chegar a uma versão de 115 minutos onde o essencial estava já bastante delineado. Era agora tempo de trabalhar o som e esperar que este ajudasse a clarificar melhor a imagem. O som foi trabalhado com o Nuno Morão em dois passos. O primeiro onde o Nuno viu o filme e discutimos as ideias que queríamos implícitas. E um segundo, passado sensivelmente 10 dias, onde trabalhámos diariamente durante 15 dias, tanto a limpeza do som, as passagens sonoras, a inclusão de novos sons e a inclusão da música. A música surge a partir da ideia que tinha do tom do filme, um contrabaixo, que soltava notas de longe a longe. Pesquisei uma série de contrabaixistas e peças de contrabaixo e cheguei ao Peter Kowald e posteriormente à editora RogueArt, onde encontrei aristas como Kidd Jordan, Roscoe Mitchell, Hamid Drake e Scott Fields entre outros que me clarificaram muitas das ideias que queria passar com o filme. Chegaram os nossos colaboradores para o visionamento da última versão (110’) e discutimos essencialmente o que para eles estava a mais. Chegámos a uma versão de 95 por minutos onde o Cláudio disse “menos 5 minutos e isto ficava per... quase perfeito” para mim este foi um dos maiores elogios que pude ouvir daquela boca. Levou-me, passado 3 meses, a pegar no material e cortá-lo para a versão final que tem 80 minutos. Infelizmente o Cláudio morreu e não pode dizer se eram esses ou não os minutos que estavam a mais. Nos “entretantos” tinha enviado o filme para a selecção do doclisboa 2007 e tinha sido seleccionado. Aqui começaram os problemas... Da parte dos consultores que me tinham passado a encomenda não tinha havido acompanhamento, o que eu senti como um voto de confiança e liberdade que muito me agradou (embora tivessem sido eles a propor a colaboração do Cláudio e da Dominique para a montagem). Fiz um dvd para cada um deles com a versão de 110 minutos e qual não é o meu espanto quando o Sr. António Pinto Ribeiro, numa reunião a sós, me diz que era necessário fazer uma nova versão pois aquela não passaria na administração. Recordo-me das suas críticas dizendo que o filme não era suposto servir de “panfletismo” político, que tinha demasiados emigrantes, e que achava algumas cenas demasiado kitsch. Fiquei sem dúvida apavorado com a ideia de, de repente, perder um ano e meio do meu trabalho, e fui saber a opinião da outra pessoa que tinha dado a cara pela encomenda. A Srª Catarina Vaz Pinto achava o filme coerente, como uma visão subjectiva do jardim e, apesar de algumas críticas construtivas percebi que tinha ficado contente com o rumo que o trabalho tinha tomado. Foi marcada uma reunião com alguém de responsabilidade na administração da Fundação e com o Sr. Pinto Ribeiro. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:45 Page 50 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Devo dizer que a semana de intervalo entre estas reuniões foi sufocante. Pus vários cenários possíveis, até o de mover uma acção judicial contra a Gulbenkian (imaginem!!!) caso me dissessem que o meu filme nunca iria ver a luz do dia. Felizmente as pessoas que estão à frente da Gulbenkian são sensatas e inteligentes e o que me disseram foi que este filme não era a encomenda que eles tinham em vista e que passaria a ser um filme realizado com o apoio da Fundação mas em que a produção era totalmente da minha responsabilidade. O pagamento foi tal como combinado. Apenas me cortaram a possibilidade de fazer correcção de cor que era algo que eu tinha contemplado apenas no fim do projecto e por isso ainda estava em apreciação no momento das reuniões anteriores. Conclusão, fiquei com o meu filme e, justiça divina, com uma produção inteiramente minha (o que correspondeu à verdade, pois além do material e espaço, a Gulbenkian tinha-me garantido pouco mais. Não desvalorizando os colaboradores Varan e a Miló e o Manuel Veiga que iam dando uma mão de quando em vez). Aprendi, na pele, que os contratos servem para alguma coisa (por estranho que pareça, não estabeleci nenhum contrato escrito com a Gulbenkian) e que muitas vezes cargos importantes não correspondem a pessoas importantes. Mas tenho a certeza que o tempo irá fazer as suas escolhas. Queria também referir que das encomendas que a Gulbenkian fez sobre os seus serviços/espaços acho (pois não tenho a certeza) que este filme foi o único que correu festivais nacionais e internacionais, projectando desta maneira a imagem da Fundação (que era um dos intuitos da encomenda). O Jardim estreou no doclisboa de 2007 com uma versão de 95 minutos. Foi apresentado no PANORAMA de 2008. Teve uma segunda estreia com uma versão de 80 minutos no FID Marseille em 2008. Foi seleccionado para o XX Festival de Mar de Plata, na Argentina. Passa no ciclo “Novíssimos do Cinema Português” no Cinema S. Jorge em Lisboa, promovido pelo ABC Cineclube. Espera que alguém na Fundação permita a projecção do Jardim no jardim para que utentes, operários e animais possam ver em “grande” o filme em que participaram. João Vladimiro 50 PANORAMA-Book:Layout 1 & ETC 09/02/02 18:47 Page 51 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:47 Page 52 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? & ETC Estava a tirar o curso na Restart, e era preciso fazer um documentário de 10 ou 12 minutos, para as aulas da Graça Castanheira. Começámos por apresentar cinco temas de entre os quais a Graça nos ajudaria a escolher um. Desses cinco que eu apresentei, a editora & Etc nem era o mais evidente. Gostava muito do tema, mas tinha outros que me interessavam particularmente, por estarem ligados à minha mãe ou à minha família, ao meu percurso pessoal. Mas a Graça influenciou-me a escolher filmar a & Etc, muito por um critério de urgência, e estou contente, porque se não fosse ela eu se calhar tinha ido filmar outra coisa, mais pessoal. O & Etc começou por aí. E era suposto ser um filme de 12 minutos. Aquelas eram pessoas muito queridas para mim, tinham sido meus vizinhos, aqui no Chiado: na porta ao lado do meu atelier eu todos os dias via entrar uns senhores, e um dia atrevi-me a espreitar lá para dentro e eram só teias de aranha, os dois senhores e livros por todos os lados. Seguiram-se três anos de tardes inteiras de conversa, criou-se uma amizade muito boa, e tudo isso existia antes do documentário & Etc. Foi isso que criou o interesse em fazer o filme. Para fazer, então, esse projecto de 10 ou 12 minutos gravei umas horinhas, mas fui-me entusiasmando e percebi que o material tinha pernas para andar. E que era um desperdício reduzir tudo aquilo a 12 minutos. Porque esse tempo daria para mostrar os gags do Victor [Silva Tavares], mas não daria para percebermos as várias camadas que ali estão em causa. À superfície há toda aquela jovialidade, mas por trás está a história de uma editora que apareceu na altura do fascismo, está a história de uma grande coragem. Como o Victor diz, às vezes para fazerem uma edição tinham de fazer três ou quatro. Quer dizer, os tipos são uns lutadores e uns sobreviventes, e eu queria dar essas várias leituras. Não só a parte jovial, jocosa da coisa, mas também o outro lado, o lado sério e político, e para isso precisava de mais tempo. Fui percebendo isto quando estava a filmar. E quando percebi que muita coisa ia ficar por dizer, fui começando a estruturar o trabalho para mais. Na altura entreguei o trabalho com 12 minutos, e percebi que tinha tido uma boa recepção por parte dos professores, dos alunos – as pessoas aderiram muito bem ao filme. E então a Graça voltou a entusiasmar-me: “porque é que não fazes alguma coisa para lá disto?” Entretanto mandei o filme para a Ana Isabel Strindberg, através de um amigo comum. E a Ana Isabel, sem me conhecer de lado nenhum, ligou-me e disse-me que era capaz de valer a pena seguir o trabalho, e deu-me um prazo para eu lhe entregar uma versão mais longa, de meia hora. Então, nessa altura falaríamos. Continuei portanto a filmar. Aliás, nunca parei: as filmagens duraram mais ou menos um ano, nove meses, quase em contínuo. Ia para lá, depois voltava passado um mês, era assim, como sempre: ia muitas vezes ter com eles antes de começar a fazer o filme, portanto era só levar a câmara. Mas à medida que ia avançando para a versão longa, ia-me apercebendo que havia lacunas que era preciso preencher. Coisas que já me tinham sido ditas, em off, nas longas conversas que fomos tendo, mas que nunca tinham sido filmadas. E que na montagem seriam necessárias como elementos de transição, para construir uma sequência. Como já tinha tido milhares dessas transições sem câmara, eu sabia que seria só ir para lá e esperar. Provocá-los, espicaçá-los e esperar. Ao longo de todo este processo o meu trabalho foi mudando. No início, quando ainda estava na escola, fui para lá com duas câmaras. Era a primeira vez que eu fazia um documentário, e portanto queria assegurar-me que não perdia nada. Fui com uma câmara, controlada por uma pessoa que não eu, com tripé, planos mais formais. E eu levava a minha câmara à mão, só para garantir planos que talvez pudessem escapar. E curiosamente acabei por usar mais os meus planos à mão. Pareceu-me que para o objecto em causa – no caso, o objecto de estudo 52 PANORAMA-Book:Layout 1 53 09/02/02 18:47 Page 53 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? & Etc – fazia mais sentido os planos à mão. Porque eles são assim. São mais espontâneos, mais descomprometidos, mais descontraídos. Num documentário formal, sobre alguém formal, se calhar faziam sentido planos mais formais. Mas, para mim, ali fazia mais sentido acompanhar o que acontecia. Assim, acabei por ir dispensando a câmara fixa. O que não se apercebe no final, porque, na montagem, acabei por misturar todas as fases. O filme foi-se fazendo. E nesse sentido acho que foi feito da pior maneira possível. Agora estou a fazer outro documentário, e estou a começar por fazer um dossier, a tentar arranjar financiamento para pagar à equipa e podermos comer durante a rodagem… não sei se esse é o método correcto mas pelo menos é um método. O & Etc foi a ausência de método. Foi ir para lá e estar preparado para o que desse e viesse. E ter muitas, muitas cassetes. Não sei se posso dizer que foi uma coisa caótica, mas foi pelo menos intuitiva e improvisada. E fui seguindo a conversa e as dicas, mas sem rede. Uma vez, por exemplo, quando fomos filmar para a tipografia, era suposto ter duas câmaras e a menina do som não apareceu. Foi um caos: não se imagina o que é estar por entre as máquinas com a perche e ainda com a câmara, há planos indescritíveis. Se fosse para um filme mais formal teria sido difícil aproveitar esses planos. Não houve, portanto, uma preparação. Os ensaios acabaram por ser as próprias filmagens. E houve planos dessa fase incluídos na montagem. A montagem foi também um processo intuitivo, era a primeira vez que eu estava a montar e portanto fui fazendo e fui descobrindo. A montagem acaba por ser uma reflexão sobre todo o material filmado. Ou seja, enquanto que se filmou sem estrutura, sem ideias pré-concebidas, a montagem, apesar de parecer fluida, foi muito pensada, muito estruturada. E a sua construção passou por tentar perceber como é que se podia “contar” a história da & Etc sem ser de uma forma convencional, sem ser de uma forma maçadora, mas que incluísse tudo. A montagem não segue de todo a cronologia do trabalho, de tal forma que há imagens de Verão, seguidas de imagem no Inverno, e Verão logo a seguir – a Graça Castanheira sempre disse que em documentário há coisas mais importantes do que o raccord. Neste caso era mais importante criar uma coerência no discurso. Foi no fundo a palavra que me orientou. Esse foi o fio condutor. As coisas que eles dizem remetem para o que aparece a seguir. Houve algumas cenas muito difíceis de cortar – e a este nível, mais uma vez, a Graça ajudoume imenso – mas percebi que uma das coisas que tinha de gerir era o lado cómico do Victor. Não queria que ele acabasse como um buffon, e se exagerasse… Há anedotas que ele demora seis minutos a contar, e não podia, num filme de 20 minutos, ter o Victor só a contar histórias, por mais hilariantes que fossem… e são. Estou a preparar uma edição em DVD, agora, e nos extras estou a incluir algumas dessas cenas que não pude incluir, já as vi 300 vezes e continuo a rir-me porque é inacreditável – só aquele homem é que conta histórias assim. Envolvi-me muito no processo do filme, e terminá-lo foi bastante doloroso. Custou-me cortar. É como uma amputação, na realidade. Estás a cortar coisas do teu filme que tu achas que são boas, e que gostavas de partilhar com o mundo. Mas era importante manter o princípio, meio e fim, e se fosse muito maior poderia perder coerência. No final havia o timming imposto pelo doclisboa, e ainda bem. De outra forma seria talvez como um desenho: nunca sabes quando acabar. O Alberto Carneiro dizia-me sempre: “Tens que parar porque se não estragas. O bom é inimigo do óptimo”. E é verdade, tens de saber parar. Acho que o & Etc não é o típico filme de escola. Quando fui para a escola já tinha 30 anos, já tinha tido um filho, já tinha feito uma licenciatura, já tinha exercido outra profissão durante 13 anos. Não penso como um aluno de 18 ou 20 anos. Acho que quando fui estudar cinema, fui com “vícios” de formações profissionais anteriores. Não consigo evitar compor os planos de uma certa forma porque venho de Arquitectura, e já tenho a carga de muito desenho à mão. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:47 Page 54 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Não consigo olhar para as coisas com o mesmo desprendimento que às vezes gostaria de ter. Foi útil ter passado por essa formação, mas não tenho a mesma ligeireza ou leveza que se calhar um miúdo de 18 anos tem a pegar na câmara. Tenho já um grande peso em cima, de que há coisas que não posso fazer de determinada maneira, e não me atrevo a experimentar. O que por vezes é um bocadinho limitativo. Tenho de lutar contra mim: “Eu sei que não é assim, mas vou tentar”. E custa. Mas no & Etc deixei-me levar, confesso. Achei que não ia achar piada nenhuma a documentário. Fiz Arquitectura, depois publiquei um livro de contos, e portanto achava que o meu reino era a ficção. O documentário era uma cadeira que eu tinha de fazer. Mas depois a Graça era uma professora fabulosa, e como gostei imenso das aulas dela senti que tinha de fazer um bom trabalho. Comecei a interessar-me e dei por mim completamente fascinada. Para além de que podes fazer documentário com poucos meios. Enquanto a ficção precisas de uma equipa grande, no documentário, em última análise, podes ser tu e outra pessoa, ou só tu. Eu fiz isto com 0€. Primeiro com material da Restart, e depois com a minha própria câmara e computador. Se há coisa que me irrita são as pessoas que dizem que querem fazer um filme mas não têm dinheiro. Acho que isso não é desculpa. O & Etc foi feito com boa vontade, sobretudo. E sei que não é a maneira certa, mas pelo menos não existe hoje uma desculpa, em vez dele. A PARTIR DE UMA CONVERSA COM CLÁUDIA CLEMENTE 54 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:47 Page 55 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:47 Page 56 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Produção Documental: Portugal na Europa TUE STEEN MÜLLER PARA O PANORAMA P. Qual é a principal fonte de financiamento para o documentário europeu? Que outras fontes financeiras existem, e que significado têm na produção documental? É fácil e comum haver co-produções entre países europeus? R. Quando circulo pela Europa sublinho sempre o quão é importante o financiamento estatal para a existência do documentário criativo. Sem ele podem esquecer-se os documentários, no país de onde venho. Suponho que seja o mesmo em Portugal. Tem que existir um forte reconhecimento da existência do documentário enquanto forma artística para estabelecer bom financiamento público para o documentário. E este forte reconhecimento consegue-se existindo uma cultura de documentário. Uma escola de cinema com educação de documentário, festivais como os que vocês têm em Portugal, boa atenção e financiamento por parte das televisões, publicidade em volta do género, artigos nos jornais, críticas, projecções de cinema, etc.. A um nível europeu, o Programa MEDIA tem sido crucial para o estabelecimento de festivais, mercados, foruns de pitching, programas de prática. É por isto que as co-produções têm subido. E é por isto que a Europa está cheia de produtores talentosos, que sabem trabalhar internacionalmente. Fácil? Não, de todo, é complicado angariar dinheiro, mas eu venho da “velha escola” e acho importante fazer co-produções não só por razões financeiras mas também porque uma co-produção com muitos países significa basicamente que o filme será visto em muitos países. Intercâmbio cultural. P. Como tem evoluído a distribuição comercial de documentários nos últimos anos? Quantos documentários são vistos nos cinemas dentro ou fora do seu país de origem? Lembraste de um exemplo de documentário visto fora dos cinemas do seu país de origem? E podes falar-nos desse sucesso? R. Há um aumento do número de documentários programados em salas comerciais. E há mui- tos documentários que circulam pelas salas fora do seu país de origem. Não sou fã do Michael Moore, mas ele é um exemplo, tal como o é Werner Herzog, e também o Darwin’s Nightmare circulou e foi, por exemplo, um grande sucesso em França. O meu exemplo preferido do momento é um filme da Eslováquia, Blind Loves, que vai estrear nos cinemas franceses muito em breve. É um filme que não tem um atractivo comercial óbvio, e nunca teria ido para as salas de cinema se não fosse o sucesso que os documentários têm neste momento. Vocês mostraram o Z32 no doclisboa, que também foi para as salas, tal como Man on the Wire e Valse avec Bashir, entre outros. Mas isto tem que ser planeado à partida, antes de filmar o documentário. É necessário ter uma estratégia. P. O que achas que o crescimento dos festivais de documentário trouxe à produção docu- mental? Consideras que o estabelecimento de um circuito específico para os documentários afastou os documentários dos festivais de cinema (e fechou-os dentro dos festivais de documentário)? R. É assim? Eu pensei que era ao contrário, que muitos dos grandes festivais como Cannes, Berlim e Veneza aceitam documentários antes de eles serem mostrados em festivais de documentário. O ano passado os melhores documentários estavam NÃO na competição do IDFA, 56 PANORAMA-Book:Layout 1 57 09/02/02 18:47 Page 57 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? em Amsterdão, mas naquilo que vocês chamam festivais de cinema: Of Time and City de Terence Davies, Sleep Furiously de Gideon Koppel, Oblivion (um filme holandês!) de Heddy Honigmann esteve fora de competição, tal como Z32 de Avi Mograbi – e outros. P. Como é que a relação da televisão com o documentário tem evoluído nos últimos anos? O número de documentários comprados aumentou? E a televisão compra documentário estrangeiro? E se houve alteração, o que trouxe ela ao carácter e personalidade do documentário na Europa? R. Actualmente, há uma atitude provinciana a dominar a programação televisiva na Europa. A busca constante por audiências altas transformou-se no foco da discussão interna quando toca a interpretação documental do mundo em que vivemos. Documentários produzidos localmente, em língua local, sobre um assunto local (sobretudo estilo de vida) vendem melhor em termos de audiência do que uma co-produção internacional sobre um assunto global, por mais forte que seja a sua tendência universal. Os canais públicos compram documentários e emitem-nos. Alguns em grande quantidade, como os canais nórdicos que até compram documentários noutras línguas que não na sua ou no inglês dominante. Eles compram e legendam. Tal como os holandeses e os belgas e os catalães e os estónios e muitos outros canais em países mais pequenos. Até aqui tudo bem – mas eles compram-nos por preços bastante baixos e programam-nos em horários tardios ou depois da meia-noite. De facto estou um pouco pessimista em relação ao papel das televisões públicas, em termos de desenvolvimento do documentário criativo. É paradoxal, porque os tempos andam bons para o documentário. É mostrado nos cinemas mais do que nunca. Tem uma audiência crescente em festivais por todo o mundo. Uma audiência jovem e orientada para temas internacionais existe, mas talvez tenha desistido da televisão há muito tempo! Os DVD’s são editados para serem vendidos em livrarias, e os documentários podem ser encontrados, inclusive para exibição on-line. Mas a televisão não está a acompanhar este desenvolvimento. P. Como achas que o documentário português é visto pelos outros países europeus? Como o vês, tu? E como achas que se situa neste panorama europeu que tens estado a descrever? R. Bem, vocês sabem o quanto eu aprecio o documentário português, desde que o conheci bem, quando estava na EDN e começámos os Lisbon Docs. Eu vi e escrevi sobre os vossos filmes, muitos deles feitos pela geração que agora está por trás da Apordoc e do doclisboa. Ao mesmo tempo, vi muitos poucos documentários portugueses serem apresentados em foruns internacionais, enquanto projectos. Penso que isto se deva à falta de produtores com conhecimento do panorama internacional e interesse em agarrar o desafio internacional e coragem para se atirarem a isso. Tem havido e ainda há uma hesitação e um medo em perderem a vossa integridade até se tornarem vítimas da formatação internacional televisiva. Digo apenas: vá lá, já são fortes, conseguem resistir, têm óptimos realizadores que poderiam ter uma muito melhor exposição internacional do que agora têm... Estava a falar por mim, agora. Para ser honesto, e para responder à vossa pergunta: lamento dizer que os documentários portugueses NÃO são vistos nos outros países europeus. E é uma pena! Mudem isto, é só o que posso dizer. Marketing. Presença em todo o lado. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:51 Page 58 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:56 Page 59 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 18:59 Page 60 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 61 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 62 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? Estruturas de Produção do Documentário Português ALGUNS APONTAMENTOS INTRODUÇÃO: É unânime que o documentário atravessa na contemporaneidade um momento significativamente dinâmico. Este fenómeno é agora notoriamente muito mais intenso, massificado e global comparado com outros períodos da história do cinema onde o documentário regozijou igualmente de importantes impulsos. As inovações tecnológicas digitais dos materiais e equipamentos de registo e tratamento de som e imagem contribuíram para uma acentuada diminuição dos custos de produção no sector audiovisual e cinematográfico, possibilitando um notável incremento do número de praticantes. A acessibilidade, a simplificação e o aceleramento dos processos produtivos contribuíram para uma explosão global da produção documental. Contudo, a influência omnipresente da televisão e as novas práticas videográficas fruto de novas potencialidades tecnológicas vieram levantar velhas questões de género, ao mesmo tempo que desencadearam novas problemáticas. O documentário cinematográfico viu-se novamente confrontado com questões ontológicas e o seu território de cinema ameaçado. A palavra documentário continua a servir para catalogar um diferente conjunto de conteúdos televisivos e de produtos audiovisuais, facto que propicia o seu distanciamento do cinema, campo artístico onde nasceu e se formou. Por outro lado, e apesar das ameaças de contaminação e dificuldades de legitimação, o documentário cinematográfico alcançou historicamente importante estatuto, obtendo projecção em festivais de cinema por todo o mundo, atraindo novos públicos e granjeando a atenção dos apoios financeiros públicos. Quase sempre caracterizado por uma actividade cinematográfica marginal, o documentário perfila-se actualmente como género potencialmente apto para engrenar nos circuitos comerciais. Paralelamente ao crescimento do seu estatuto, novas exigências são reivindicadas por uma comunidade de praticantes, académicos, críticos e profissionais que simultaneamente se alargou. É exigido o alargamento dos apoios financeiros públicos, são reclamados direitos de trabalho para os profissionais, é pretendida a ampliação dos canais de exibição e distribuição e é sobretudo desejada a constituição de uma actividade comercial sustentável. Recaem precisamente sobre todos estes pontos as fragilidades do documentário cinematográfico na actualidade, havendo ainda um longo caminho por percorrer no sentido de profissionalizar devidamente a actividade. A profissionalização do meio é um desejo eminente e maioritário da comunidade de praticantes. As problemáticas inerentes a este anseio são globais estando muitas delas identificadas. O fenómeno português não está distante de outras realidades, contudo continua a pecar num conjunto de atritos, entorpecimentos e debilidades que noutros países não se verificam ou foram minimizados, consequência de diferentes dinâmicas conjecturais. Seguidamente far-se-á uma breve análise das estruturas de produção do documentário português, pontualmente auxiliada com alguns dados estatísticos, apresentados em percentagem através do modelo de gráfico circular, que tem como objectivo, não a constituição de um quadro 62 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 63 19:04 Page 63 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? concreto, mas apenas e exclusivamente o fornecimento de alguns indicadores para uma reflexão mais aprofundada e consequentemente mais fértil. Os dados apresentados são resultado de uma investigação que teve como corpus de análise os documentários portugueses patentes nas 3 primeiras edições do doclisboa – Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa1. Para além de um levantamento estatístico, o retrato apresentado foi ainda consubstanciado com um conjunto de entrevistas efectuadas aos realizadores e produtores destes documentários. A todos eles endereço um agradecimento pela sua disponibilidade, generosidade e consequente contributo. É certo que os dados apresentados remontam aos anos de 2002, 2004 e 2005, estando por isso desfasados no tempo, contudo e apesar do fenómeno abordado estar em permanente transformação, considerou-se que o panorama da produção de documentários em Portugal não sofreu grandes alterações desde então. Desta forma, estou crente que os dados apresentados mantêm alguma relevância para a apreensão da realidade actual. REALIZADOR E PRODUTOR A maioria das empresas cinematográficas que produzem documentários têm uma dimensão pequena, funcionam numa lógica de projecto comportando uma média de 3 a 4 pessoas. Estas microestruturas são em grande parte propriedade de apenas uma pessoa, normalmente o realizador que acumula funções de produção e realização. O nascimento de um conjunto diverso de pequenas produtoras de cinema a partir sensivelmente do ano 2003, resultou na dispersão e enfraquecimento do tecido produtivo português face à dimensão do mercado. As causas desta fragmentação são as mesmas de hoje, ou seja, a constituição de uma empresa é a fórmula encontrada pelos realizadores para beneficiarem directamente dos apoios financeiros à produção do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, visto que estes apenas são atribuídos aos responsáveis de empresas legalmente constituídas. Neste sentido verifica-se uma tendência para o nascimento de uma nova empresa por cada novo realizador que surge no sector. Presentemente assistimos a um abrandamento do fenómeno, registando-se o encerramento de diversas produtoras que naturalmente não sobreviveram num mercado exíguo e marcadamente dependente dos apoios públicos. A contenção orçamental do ICA, sob a tutela do Ministério da Cultura, ao diminuir o volume dos apoios ao documentário a partir de 2002 (MARTINS, S., 2006: 22-27), potenciou o efeito. A figura 1 mostra-nos que 41 por cento dos realizadores utilizaram a sua própria produtora para realizar os seus projectos e que em 16 por cento dos casos adoptaram um modo misto, PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 64 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? ou seja produzindo os seus projectos individualmente numa primeira fase e associando-se posteriormente a uma produtora de forma a concluírem a sua obra. Relevante é o facto de apenas 19 por cento dos realizadores terem sido contratados por uma produtora alheia de forma a realizarem o projecto. Esta tendência demonstra a fraca relação entre produtores e realizadores, a falta de cooperação artística e empresarial, a desconfiança e a dispersão das forças produtivas, bem como a dependência face aos apoios do ICA. Na óptica de alguns realizadores a sua independência explica-se pela excessiva burocratização e falta de apoio que sentiram quando trabalharam com produtores de outras empresas. Acusados de gerirem apenas os fundos do ICA, de não apresentarem soluções criativas e pecarem por falta de promoção dos filmes, os realizadores preferiram romper com as ligações a esses produtores e constituir a sua célula empresarial como forma de liberdade criativa e autonomia financeira. Na prática, quer as estruturas produtivas geridas pelos realizadores, quer as produtoras de cinema tuteladas pela figura do produtor que opera com diversos realizadores apresentam na sua generalidade limitados índices produtivos do ponto de vista económico. ENTRE O PROFISSIONAL E O ARTESANAL O realizador de documentários português opera num sector de actividade extremamente frágil, recorrendo a práticas que misturam modus operandi de características artesanais e profissionais. Caracterizado pela actividade audiovisual e cinematográfica, as estruturas produtivas inserem-se no seio destes dois pólos, produzindo conteúdos diversos. Algumas produtoras de cinema e alguns realizadores independentes, apesar da preferência ou não pelo documentário cinematográfico, recorrem à produção de conteúdos heterogéneos que podem ir desde o institucional ou outro tipo de vídeo promocional passando pela curta ou longa-metragem de ficção. Algumas produtoras de maior dimensão produzem também alguns conteúdos para televisão sendo, no entanto, escassos os exemplos. A fraca dimensão comercial da produção de documentários em Portugal é acompanhada por um baixo nível dos custos de produção. Trabalhando isoladamente ou com um reduzido número de colaboradores, os realizadores de documentário recorrem à utilização de materiais técnicos com custos acessíveis misturando assiduamente componentes profissionais com amadores. Esta prática compósita de materiais de qualidade superior e inferior atravessa todo o processo produtivo e constitui-se como o único meio viável de edificar certas obras. É comum na mesma produção a mescla de câmaras domésticas, prosumer (semi-profissionais) e profissionais de alta definição (geralmente as de formato HDV), o recurso a sistemas de edição vídeo em computadores pessoais paralelamente com profissionais é também habitual. Por exigências financeiras são também suprimidas técnicas e materiais no processo produtivo, como sejam, projectores de iluminação, microfones apropriados, correcções de cor, misturas e equalizações de áudio, adequação das compressões do sinal vídeo, etc. Os formatos de registo de vídeo de menor qualidade são também preferidos como forma de controlar os custos como é o caso do Mini-dv. Apesar de muitos projectos serem rodados com câmaras que possibilitam o registo em formatos de qualidade superior como o DVCAM e o HDV, o recurso ao formato Mini-dv é dominante, resultado do seu menor custo. Os realizadores para concluírem os seus projectos recorrem a práticas artesanais e executam uma ginástica orçamental que passa por empréstimos de materiais e recurso a mão-de-obra gratuita proveniente de amigos. Na sua maioria estes realizadores dedicam-se ao cinema imbuídos de um espírito militante, recreando as suas práticas artísticas de forma lúdica, pois na sua generalidade a sua subsistência económica é assegurada com rendimentos provenientes de actividades sem qualquer conexão com o cinema e o audiovisual. 64 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 65 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 66 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? A figura 3 mostra-nos que a maioria dos realizadores (54 por cento) para subsistir economicamente recorre a outras actividades dentro do sector, como é o caso das funções técnicas, a programação e o ensino do cinema. Relevante é o facto de 41 por cento dos realizadores assumirem que a fonte do seu rendimento é exterior à actividade cinematográfica e audiovisual. Embora existam produtoras de cinema que apesar das dificuldades económicas mantêm uma actividade comercial continuada de relativa dimensão, a existência de estruturas produtivas de teor artesanal é significante. As pequenas estruturas de produção mantêm uma actividade comercial intermitente dependendo da chegada de apoios financeiros, pautando o seu desempenho por longos períodos de inactividade. O panorama da actividade produtiva de documentários em Portugal é assim frágil, complexo e híbrido caracterizado por estruturas profissionais e artesanais. DOCUMENTÁRIO E TELEVISÃO O documentário cinematográfico é um produto de difícil consumo comercial e de aceitação sempre relativa, deste modo o financiamento tem de ser preferencialmente garantido antes da fase de arranque da produção. Do conjunto de produtoras legalmente constituídas como empresa comercial, constata-se que do universo estudado apenas 29 por cento recorreram à co-produção. Nos mercados internacionais a constituição de parcerias e co-produções entre produtoras e canais de televisão são fundamentais para a estrutura financeira dos projectos. Os realizadores e produtores portugueses argumentam que o facto de não terem maior expressão nestes mercados se deve à dificuldade que têm em obter apoios do canal público de televisão, nomeadamente da RTP 2. Não possuindo o suporte dos canais públicos do seu país dificilmente conseguirão atrair apoios internacionais e desta forma montar uma estrutura financeira viável à execução dos projectos. A RTP escuda-se afirmando que já cumpre parte do seu dever ao abrigo do protocolo com o ICA e que ela própria possui um conjunto de realizadores que cumprem bem parte das suas necessidades e possibilidades de produção. A paupérrima articulação entre os institutos públicos de financiamento, os canais de televisão privados e públicos, os produtores e os realizadores resulta numa actividade produtiva empresarial de escassa expressão. A RTP argumenta que o documentário é uma aposta forte do canal público de televisão, os seus programadores exibem a assinalável presença do documentário nas suas grelhas cumprindo deste modo os seus desígnios de serviço público. Contudo, a palavra documentário continua a servir para designar conteúdos diferentes entre si, com prejuízo para o documentário cinematográfico. O documentário exibido na RTP 2 é esmagadoramente o documentário televisivo cumprindo a sua função informativa, educacional e de entretenimento. Não sendo totalmente ignorado, o documentário cinematográfico, denominado em televisão por documentário de “autor” ou de “criação”, quando programado é relegado para horários desfasados dos picos de audiência. Ao abrigo do protocolo com o ICA a RTP é obrigada a contribuir com uma parte do financiamento do instituto ficando com direitos de exibição sobre os documentários apoiados2. Mas nem sempre os programadores, apesar de os terem em carteira, os exibem. Jorge Wemans director de programas da RTP 2 em 2007 em entrevista à revista Docs.pt, refere: “…eu acho que há documentários de autor que não foram feitos a pensar em televisão e que portanto eu, como programador, acho que não têm lugar na grelha.”3. Aqui Jorge Wemans toca na questão paradoxal do documentário cinematográfico na sua relação com a televisão. Como é que uma prática artística que é experimental, avessa a formatações e orientada para exibição em sala, tem lugar na televisão? A televisão, mesmo a pública, é regida pela valorização das audiometrias e está interessada em veicular produtos 66 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 67 19:04 Page 67 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? -- com uma linguagem acessível a um vasto número de espectadores. Os documentários televisivos são disso um exemplo, alvo de formatações na linguagem, na duração e nos conteúdos abordados, privilegiam a palavra, concentram e aceleram a narrativa e conduzem à precisão do sentido. No espectro dos documentários cinematográficos existem naturalmente alguns, que não possuindo estruturas tão experimentais, são “televisionáveis” aos olhos dos programadores. Outros por seu lado, que trabalham a ambiguidade de sentido, o espaço e o tempo da imagem e que apelam ao “esforço do olhar” do espectador, encontrarão inevitavelmente obstáculos à sua exibição em televisão. No passado a televisão beneficiou com a experiência do cinema-directo e do “video de guerrilha” nos anos 60 e 70, assimilando posteriormente a sua estética para a concepção de produtos televisivos. Neste sentido, José Manuel Costa defende que a televisão deveria manter em aberto um contacto com o espaço do cinema, como forma de laboratório. Ou seja, experimentando inteligentemente formas e linguagens com possibilidades de aplicação futuras no próprio seio da sua indústria: “se há que perceber que o documentário de televisão corresponde a um espaço comunicacional próprio, mal iriam as coisas para a indústria televisiva se esta se acantonasse nos modelos que formatou. Mesmo sendo um território outro, e quanto mais for um território outro, o documentário de cinema, ou o espaço do cinema, é ainda, para a televisão, algo em que esta deve saber investir, porque, algures é um laboratório do seu futuro.” COSTA, J. M., 2007: 52 Na prática as televisões privadas em Portugal ignoram absolutamente o documentário cinematográfico, mantendo a televisão pública uma relação difícil. O que os realizadores e produtores desejam não é ter apenas uma pequena janela do documentário cinematográfico nas grelhas dos canais públicos, mas sim, participar activamente na construção do serviço público. O documentário cinematográfico é uma forma essencial de tratar a memória de um país e de contribuir activamente para visões mais alargadas e profícuas da humanidade. A estratégia de co-produções com produtoras portuguesas orientadas para a projecção internacional é escassa no seio do canal público como testemunha Jorge Wemans: “É raríssimo recorrermos à co-produção porque não nos parece que seja um instrumento adequado para a nossa dimensão e orçamento. Sendo a nossa iniciativa fundamentalmente centrada nos documentários sobre a cultura e património português, não temos na nossa linha de prioridades co-produções que não visam assuntos portugueses.”4 A falta de imaginação e de criatividade em transformar o local em universal condena ao isolamento as estruturas produtivas portuguesas. Por outro lado e de um modo genérico, a apatia e ausência de ideias de produção das próprias empresas cinematográficas resulta no estreitamento do mercado e numa actividade incipiente. APOIOS FINANCEIROS A dependência financeira face ao ICA é assim evidente para as produtoras de cinema dedicadas ao documentário, o peso dos apoios financeiros daí resultantes é grande nos orçamentos gerais dos projectos. A angariação de outras fontes de apoios é débil. Na figura 5 constata-se que apenas 27 por cento dos projectos lucraram obter financiamentos independentes do então ICAM/RTP e do tradicional auto-financiamento dos realizadores. A aplicação da lei do Mecenato em Portugal tem sido sinónima de um diminuto apoio do sector privado à cultura, não despertando o interesse dos agentes empresariais e dos cidadãos. Acresce o facto do sector Audiovisual e Cinematográfico se constituir como uma das áreas PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 68 culturais com menor aposta por parte dos mecenas (CASANOVA et alii, 1998: 99-106). Deste modo e na sua generalidade, os orçamentos dos projectos de documentário em Portugal são muito reduzidos comparativamente a outros países europeus. Os que foram alvo do apoio do ICA apresentam valores orçamentais muito próximos ao montante máximo do apoio5, enquanto os outros que não tiveram essa sorte são produzidos com orçamentos extremamente reduzidos, na sua maioria financiados integralmente pelo próprio realizador. Os apoios do ICA ao documentário são considerados pelos documentaristas como bastante baixos comparativamente aos apoios à ficção, o que revela ainda a manutenção de um estatuto menor do documentário no seio dos apoios públicos. Se é certo que alguns documentários se podem produzir com valores próximos ou muito inferiores a 50 000 ou 80 000 euros, haverá outros cuja dimensão e estrutura do projecto poderá necessitar de valores muito acima. Como exemplo podem-se mencionar os projectos de dimensão internacional e os casos em que estes requerem a gravação em suportes de maior qualidade como a película em 35 mm ou o vídeo em alta definição em formato HDCAM. No outro lado da moeda é recorrente a contestação perante certas longas-metragens de ficção que aparentemente não justificaram um apoio de 700 000 euros por parte do ICA. Se é certo que as tipologias do ICA são sempre um alvo apetecível de críticas por uma comunidade permanentemente insatisfeita perante o volume dos apoios, também é verdade que a relação entre os apoios ao documentário e à ficção é bastante díspar em favor da ficção. Pese embora a influência e o estatuto do documentário tenha crescido muito dentro das políticas de apoios ao cinema, existe ainda um longo caminho por percorrer. Uma outra crítica apontada ao ICA é a de que a própria instituição não respeita as orientações dos apoios que traçou. Tratando-se de apoios ao documentário cinematográfico de “criação” é frequente constatar que muitos documentários apoiados pelo ICA no âmbito desta rubrica têm na verdade uma linguagem claramente televisiva, afastando-se do objectivo central desta rubrica que é a de financiar projectos de cinema cujas linguagens devem promover a experimentação. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:04 Page 69 As relações da televisão com o ICA, como forma de promover o elo entre o cinema e o audiovisual, propiciam algumas confusões na identificação das obras apoiadas, sobretudo no campo do documentário. A velha questão de separar o conteúdo audiovisual da obra cinematográfica. Por este facto, alguns documentaristas reivindicam que todo o documentário televisivo deveria ser exclusivamente apoiado pelos canais de televisão de forma directa sem a mediação do ICA. No entanto, é justo dizer que existe por parte do Ministério da Cultura um esforço em tentar corrigir estes problemas mantendo ao mesmo tempo uma proximidade do cinema com a televisão nas suas políticas. No novo regulamento da Lei da Arte Cinematográfica e Audiovisual6 a definição de “documentário de criação” passou para “documentário cinematográfico de criação” tentando dirigir os apoios concretamente para os projectos que se inserem na arte cinematográfica. Numa outra medida e para justificar um apoio a uma obra de qualidade superior dirigida para televisão convencionou-se chamar ao documentário televisivo, “documentário criativo para televisão” na tentativa de o separar da reportagem e do documentário televisivo formatado de qualidade artística inferior. EXIBIÇÃO A par das dificuldades da relação com a televisão, o documentário encontra também obstáculos à sua difusão em sala de cinema. Para além dos festivais de cinema continua a não existir uma rede nacional de exibição comercial de documentários. Apesar da recuperação de alguns cineteatros nas principais cidades do país e da sua exigência por conteúdos, continua a ser inexplicável por que não chega de modo satisfatório a essas cidades a abundância produtiva de documentários e de curtas metragens de ficção portuguesas. Nos grandes centros populacionais de Lisboa e Porto crescem os multiplexes nas grandes superfícies comerciais, enquanto desaparecem os espaços de exibição de cinema mais alternativos ao mainstream. Em Lisboa há muito que se reivindica uma sala de cinema com uma programação continuada de documentários e curtas de ficção. A rede de cinema digital implementada pelo ICA com a parceria de 09/02/02 19:04 Page 70 COMO SE FAZ O DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS? algumas instituições de ensino e com apoios do programa Media continua em fase de experimentação e os seus resultados na difusão de conteúdos são ainda inexistentes ou inexpressivos. Deste modo, o retorno comercial de exibição de documentários em sala de cinema, salvo honrosas excepções como Os Lisboetas de Sérgio Trefaut e Fados de Carlos Saura, é incipiente. Na figura 6, verifica-se que 54 por cento dos documentários portugueses não obtiveram qualquer retorno financeiro após a sua conclusão. Embora o estudo não o permita averiguar será fácil de adivinhar que os restantes 46 por cento obtiveram reduzidos proveitos na relação com os custos de produção, exibição e distribuição. É óbvio que esta problemática está inserida dentro de uma outra mais global que se prende com a generalidade do cinema europeu. Não abordando esta questão mais complexa de distribuição e exibição, é no entanto de salientar que o documentário português tem ainda fracos resultados financeiros de exibição em sala ao ser comparado com alguns países europeus. CONCLUSÃO Ao longo do estudo constatou-se que a produção de documentários cinematográficos em Portugal é edificada por empresas de pequena dimensão. Uma forte percentagem destas produtoras de cinema comporta um número reduzido de pessoas e é liderada por realizadores que acumulam funções técnicas, artísticas e administrativas. Parte destas microestruturas caracterizam-se por uma fraca dimensão comercial, operando numa lógica de projecto, quase sempre dependente de apoios financeiros públicos. Mas por outro lado, elas evidenciam-se pela sua flexibilidade e versatilidade, adaptando-se às adversidades de produção conforme os projectos. Os trabalhadores destas estruturas desenvolvem a sua actividade cultural, imbuídos de fortes motivações artísticas e dotados de capacidades polivalentes e criativas. A actividade dos responsáveis pelas estruturas produtivas, frequentemente intermitente, é acompanhada de hábeis procedimentos económicos de forma a diminuírem ao máximo os custos de produção. Manobrando a actividade produtiva através da mobilidade profissional dos seus elementos e conciliando materiais e técnicas profissionais e artesanais, estas estruturas apresentam uma notável ligeireza e empenho criativo. 1 FORAM ANALISADOS 37 DOCUMENTÁRIOS PORTUGUESES, FICANDO FORA DO UNIVERSO DE ESTUDO OS DOCUMENTÁRIOS: JE T’AIME…MOI NON PLUS DE MARIA DE MEDEIROS E SEREIAS DE DINA CAMPOS LOPES. 2 VER PONTO 1 E 3 DA CLÁUSULA QUINTA DO PROTOCOLO CONSULTADO EM 6 DE JANEIRO DE 2009 EM: HTTP://WWW.ICA IP.PT/ADMIN/FILES/DOCUMENTS/CONTENTDOC719.PDF. 3 “A RTP 2 É UMA CASA EM QUE AS PESSOAS PODEM VIR BATER À PORTA…” DOCS.PT REVISTA DE CINEMA DOCUMENTAL, Nº 5, JUNHO, LISBOA, APORDOC ASSOCIAÇÃO PELO DOCUMENTÁRIO, P. 35. 4 “A RTP 2 É UMA CASA EM QUE AS PESSOAS PODEM VIR BATER À PORTA…” DOCS.PT REVISTA DE CINEMA DOCUMENTAL, Nº 5, JUNHO, LISBOA, APORDOC ASSOCIAÇÃO PELO DOCUMENTÁRIO, P.38. 5 O VALOR MÁXIMO POR PROJECTO DE APOIO FINANCEIRO À PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS ERA DE 50 000 EUROS. VALOR APLI CADO PELO ENTÃO DESIGNADO ICAM INSTITUTO DO CINEMA DO AUDIOVISUAL E DO MULTIMÉDIA A QUE SE REPORTA O PERÍODO. 6 VER ARTIGO 2 DEFINIÇÕES DO DECRETOLEI Nº. 227/2006 DE 15 DE NOVEMBRO CONSULTADO EM 27 DE MARÇO DE 2008 EM: HTTP://WWW.ICAIP.PT/ADMIN/FILES/DOCUMENTS/CONTENTDOC654.PDF Fernando Carrilho 70 BIBLIOGRAFIA: MARTINS, Susana Ribeiro, (2006) Balanço: um crescimento desigual, in Docs.pt – Revista de cinema documental, nº 3, Junho, Lisboa: Apordoc– Associação pelo documentário, pp.22-27. COSTA, José Manuel, (2007) – Entre o laboratório e a normalização, notas sobre o documentário na era televisiva in Docs.pt – Revista de cinema documental nº 5, Junho, Lisboa: Apordoc – Associação pelo documentário, pp. 49-52. CASANOVA, José Luís, CARREIRAS, Helena, MATA, João, ALVES, Nuno (1998) Os Mecenas in 10 Anos de Mecenato Cultural em Portugal (coord.) Maria de Lourdes dos Santos, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, pp.99-106. PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 71 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 72 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Percursos no Documentário Português Nunca se desejou, com esta secção «Percursos no Documentário Português» com que também vamos construindo o PANORAMA, apenas homenagear os cineastas que aqui vamos destacando. Trata-se mais de partilhar a obra firmada e que tanto respeitamos com outras pessoas, sejam as ligadas ao documentarismo – à concepção e à sua produção – sejam as que desejam apenas observar e comungar dos olhares que se vão compondo sobre a nossa sociedade, sobre as suas comunidades e as suas gentes. António Campos é, exemplarmente, o criador ideal para consubstanciar esta noção de partilha e estes parâmetros da mostra: avesso a mordomias, refugiando-se de celebrações, ele foi compondo o seu cinema de peças marcantes, das melhores que se fizeram em Portugal, longe de focos, de tertúlias, de grupos de pressão ou interesses. Mesmo os que, por essas alturas dos anos 60 e 70 do último século, se davam com os meios do cinema dito de amadores não tiveram nunca a medida exacta, sequer aproximada do que era o caminho criativo deste homem do interior, resguardado numa cidadezinha de província, que trabalhava numa secretaria de uma escola comercial. Hoje – mostrada ainda insuficientemente, mas a ponto de se perceber que contém momentos maiores do cinema português – ficamos ainda sem saber onde é que António Campos formou o seu olhar cinematográfico, a argúcia e intensidade do seu olhar perscrutador, a rara acutilância dos enquadramentos, a espantosa capacidade de entrosamento com as personagens cuja vida e gestos captava para sempre. Certo, haveria, no início, uma ou outra – nem tantas assim – sessão cineclubista com clássicos que não se esquecem… mas o essencial estava no seu condão de entender as gentes, estava na sua postura ao captar as situações, estava no respeito com que se embrenhava no meio delas, sem jamais perturbar, estava na frontalidade do seu olhar, na humildade natural do acto de aproximação. Afinal, a origem de tudo esteve na sua formação humanista, no interesse superior com que atendia às pessoas e aos seus rumores. E é de tais atributos que ressalta cada expressão, cada palavra, cada gesto de quem intervém nos seus filmes, é desta simples e rara maneira de conceber uma obra e de dar a ver ao espectador – ao cúmplice – o que ele observava e nos legou numa parte inimitável, e sem substituição, do nosso legado histórico constituído por imagens em movimento. Ele era o mensageiro infatigável que ligava os dois elos essenciais da sua labuta: de um lado as pessoas de um povo que ele admirava, do outro os espectadores dos seus filmes. Ele contríbuiu como quase ninguém para a edificação da vitrina do nosso imaginário através da recolha de momentos que jamais poderão ser perdidos, agora que foram registados, e que se não fosse a sua pertinácia e desaforo nunca teriam assim perdurado. 72 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 73 73 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS A sua prática, que se diria artesanal, misturava-se à surpreendente inventiva cinematográfica, tocando a genialidade, para memorizar o fim de um mundo numa obra que se estrutura pela fraternidade, e que radica em ambientes de tradição em ruptura para aparecer aos espectadores como o inovador olhar que descobre e que revela. Era um moderno – basta observar a maioria dos planos de Invenção do Amor, ou, noutro registo não menos moderno, os de A Almadraba Atuneira para nos dar-mos conta disso, sem hesitação –, um moderno que ousa resgatar «os gestos ancestrais antes da chegada das grandes mudanças do mundo moderno». Será realmente esta a classificação que podemos fazer do seu trabalho. Para lá da ficção ou do documentário, da atitude antropológica ou da perseguição do instinto, para além de qualquer «filiação», a sua obra traz-nos deslumbrados pela rectidão, pelo rigor, pela crueza (que não restringe a beleza) da sua observação dos objectos que nos trazem quotidianos densos, quantas vezes mal desenhados até chegar Campos e filmá-los. Para além de usufruirmos de várias obras-primas, o que nos ensina o espólio artístico de António Campos, aos documentaristas? Em primeiro lugar, a postura, essa atitude política que de antemão enforma o cineasta e que se estende na filosofia com que se aborda o assunto; não um tomar partido dentro do tema, mas tomar partido pelo tema, pela urgência de filmá-lo, pela vontade de resgatá-lo. Em segundo lugar, a pauta da arte, o esforço de criar, não apenas de filmar, o ensejo de captar através de uma pensada e refinada construção cinematográfica. Em terceiro lugar, a irmandade estabelecida com quem lhe transmite o «conhecimento» que está a retratar, numa envolvência de igual para igual, sem o preconceito ou o estereótipo ou a superficialidade que desarma a recolha. Num momento em que é útil reanalisar os caminhos do documentarismo português, os filmes de António Campos são elemento distintivo que podem auxiliar na descoberta de sentidos para esta acção de captar a realidade e os seus magnetismos. Ele, sentado no pequeno sofá da sua saleta-arquivo de Leiria em que se refugiava com o cinema, diria das suas dúvidas acerca disso. Dúvidas que não temos, nós. DA EQUIPA DE PROGRAMAÇÃO DO PANORAMA António Loja Neves PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 74 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS A Viúva do Carteiro A bolsa negra de plástico imitando pelica pendia-lhe do braço quebrado em ‘vê’ pelo cotovelo, como uma âncora sobre bojo de barco inútil abandonado contra as dunas. Era alta e magra e vestida de negro, e a magreza envelhecia-a e dava-lhe ainda mais comprimento. Entrou a contrapelo, à revelia do grupo que já estava de saída. O espaço ao ar livre do Verão enchia-se de besouros que cirandavam à busca de uma luz que os hipnotizasse, à falta do foco projector do cinematógrafo agora apagado e recolhido. Dirigiu o passo acertado e pequenino decididamente para mim. “Você é que passa o filme?”, perguntou. “Sou eu, sim senhora. Acabei de passar”, respondi com a curiosidade a saque. Entre antebraço e comissura dos dedos “fura-bolos” e “mata piolhos”, continuei a embrulhar o cabo do som da pequena projectora de 16mm que conquistara à Direcção-Geral de Educação de Adultos. Ela mostrou-se aflita. Eu também: percebia-lhe a intenção quase obstinada, mais do que mero desejo, mas acabara de passar duas vezes seguidas o filme e não via, àquela hora, uma nesga de vontade em mim que ousasse admitir uma terceira projecção. “Amanhã há mais”, confirmei com ar convincente para que me libertasse. Ela acordou quase submissa, o que me deu uma sensação de remorso incalculável. Fazê-la aguardar naquela inquietação pelo dia seguinte incomodava-me. Foi então que, embora já afeita à ideia do “amanhã”, não pôde esperar tanto tempo para falar do essencial, do que realmente a trouxera ali, e despejou uma história inconcebível. Era a viúva do carteiro, “sabe o senhor, o homem que levava as cartas e as encomendas para o arraial. Dizem que aparece no filme, e eu tenho tantas saudades! Morreu-me há meses, sabe o senhor?” Alguém lhe tinha telefonado para Tavira a dizer do marido vivo no filme que um indivíduo de Lisboa estava a passar em Cabanas, a de Conceição de Tavira, ali ao lado. Poucos quilómetros a separavam da memória reviva, inesperadamente ressuscitada, e veio a correr nalgum carro de aluguer. Nesta altura da conversa eu já estava desarmado, derreado mas convencido. Não havia mais nada a fazer. Não se nega a uma viúva a imagem animada do marido, de chapela e cornetim distribuindo novas e mandados pelo arraial da companha do atum. Lá se desfez a caixa, lá se desenrolaram os fios e se recolocaram as bobines. Logo que disso se apercebeu alguém, o passa-palavra movimentou a multidão que já estava fora – discutindo, relembrando, gracejando com quem aparecia na fita – e que regressou em supetão reacomodando-se nas cadeiras do cine-esplanada, pronta para reviver pela terceira vez numa noite os pais, a infância, os companheiros, os maridos, a dura faina entretanto finada por maleitas várias, que o atum já só passa ao largo e a ilha e o arraial foram entretanto tragados por vagalhões. O passe mágico das imagens em movimento tocava-nos a todos. Eles com as recordações íntimas e tão colectivas, eu a braços com o sortilégio do cinema e com a chance de ser agente dessa metamorfose. A mulher, erecta figura aguardando com ansiedade os momentos breves em que o amado viria num bote de vela latina, encalharia no areal, caminharia enfrentando a câmara do António até ao grande plano, passaria de viés tocando na buzina o chamamento, e deixaria a mulher coberta de saudade ao afastar-se de costas, já sem a olhar, definitivamente ausente. Há momentos de que não se esquece a emoção sentida e se revivem com toda a intensidade. Se a animação cultural com o cinema me levou a mil paragens do país, me permitiu centenas de encontros e alguns episódios únicos e sublimes que me formaram indelevelmente, o da velha viúva de Cabanas marcou-me sobre todos. 74 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 75 75 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Os filmes são mais do que histórias e os documentários, mais do que quaisquer outros, são bocados arrancados às nossas vidas perpetuando a espécie que somos. E este filme, uma obraprima do documentário, por maioria de razão. Falo de A Almadraba Atuneira, o precioso filme do António Campos que tive a honra e um muito peculiar prazer de ir mostrar pela primeira vez, vinte anos volvidos da sua rodagem, aos que lhe deram alma e enredo. Não há memória de um êxito tão grande no cine-esplanada de Cabanas. Nem quando o Bud Spencer e o Terence Hill trinitaram de frio enfrentando uma viração marinha que galgava o areal, passava o braço de água salgada e vinha bater na caliça emparedada que fazia de écran. Da companha lembravam-se quase todos, mas havia que refrescar imagens atenuadas pelo tempo. Os putos que tinham poucos anos de idade e andavam de rabo ao léu quando o filme foi rodado pespegaram-se com os filhos da mesma idade à frente do écran. E choraram saudades dos pais falecidos, e riram dos esgares, e sonharam as fainas pujantes com os atuns a espadagar até que os arpões os cativavam para as malhas laterais e os içavam para os convés das barcaças-armadilhas. Naqueles dias, Cabanas esteve em alvoroço, orgulhosa de se ver reproduzida na pantalha pintada no cimento do paredão. A obra-prima de António Campos regressava às origens e cumpria o ciclo: filmagem, recolha e arquivo do acervo das labutas de um povo, motor da memória colectiva e retemperador da saudade dos gestos e das personagens do quotidiano, num resguardar e tornar a dar, que o documentário também é para isso que serve. Passei muitas mais vezes Almadraba, ou o Vilarinho das Furnas e o Rio de Onor. E Gente da Praia da Vieira, como na noite de outra sessão memorável no Escaropim, à beira-rio de Salvaterra de Magos, onde fui levado pelas antropólogas Paula Godinho e Rosa Papoila. E tem sido uma vivência tão enriquecedora, a convivência com as obras do António Campos, que até me disporia a escrever um tratado, sério, longo e profundo. Todavia, deixo-vos apenas o segredo da viúva de Cabanas. É a melhor homenagem que posso fazer ao cineasta e ao amigo. DA EQUIPA DE PROGRAMAÇÃO DO PANORAMA António Loja Neves PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 76 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS António Campos – uma vida planificada UM TESTEMUNHO MUITO PESSOAL António Campos foi um homem que viveu a vida, como se, previamente, a tivesse planificado até ao mínimo pormenor, a fim de conseguir realizar a obra a que se propusera. Era exigente para consigo próprio e para com os outros. Metódico na sua vida e na sua arte. Secreto. Não alardeando projectos, nem obra acabada de fazer. Um tempo de esbirros também a isso obrigava. E a cidade – e o país – só começou a dar por ele quando os seus primeiros trabalhos foram reconhecidos no estrangeiro, dado o valor antropológico que os júris de vários certames lhes reconheceram! Não o conheci em trabalho de campo, como realizador. Ambos estávamos na função pública, na então Escola Industrial e Comercial de Leiria, onde entrei como professor no ano lectivo de 1959/60, sendo ele o Chefe da Secretaria, cargo muito pouco criativo, como facilmente se imagina. Mas logo de início houve entre nós uma certa comunhão de ideias e interesses, já que, na altura, eu leccionava a disciplina de Desenho aos alunos do Ciclo Preparatório do Ensino Técnico, disciplina muito abrangente nas técnicas e estéticas, e que, por vezes, exigia uma colaboração estreita com a disciplina de Trabalhos Manuais, a cargo do professor Camilo Mourão, principalmente na execução de trabalhos de grandes dimensões, que ainda hoje se encontram a decorar a agora denominada Escola Secundária de Domingos Sequeira. E sobre tal actividade e colaboração versavam muitas das nossas conversas, na Escola, ou nos ocasionais encontros de rua, sendo evidente o seu interesse por um tipo de trabalhos fora do vulgar exercício escolar, trabalhos que iam saindo das quatro paredes das salas de aula para darem vida e cor à frieza dos corredores e de alguns espaços exteriores. Era, pois, notório o seu interesse por tudo o que fosse trabalho manual e denotasse, além de capacidade imaginativa, rigor oficinal. Assim se foi estabelecendo uma admiração mútua no campo artístico, que mais se fortaleceu quando, animado pela voga dos filmes de Norman McLaren, realizei, melhor, pintei e desenhei directamente sobre película de 8mm, fora de prazo, que o António Campos me dera, o filme de animação Variações Sobre o Mesmo Traço, que obteve em festivais portugueses de cinema de amadores, na sua categoria, três primeiros prémio, além de outras distinções, incluindo uma medalha de honra em Andorra, em 1966. Não posso esquecer que foi no seu atelier que, pela primeira vez, vi o meu filme projectado, pois, então, ainda não tinha máquina de projectar e o António Campos já andava a filmar com película de 16 mm. Era nesse seu pequeno atelier que juntava os amigos mais íntimos para lhes apresentar, em ante-estreia, os filmes acabados de realizar e montar, para deles ouvir opiniões, ou críticas. Foi aí que vi pela primeira vez a A Almadraba Atuneira (1961), Retratos das Margens dos das Rio Lis (1965) e Chagall (1966). Já quanto à primeira apresentação aos amigos de A Invenção do Amor (1965) o caso foi diferente, e inesquecível, já que o António Campos quis juntar o maior número possível de pessoas, e tal projecção teve que ser levada a efeito numa sala ampla, no 1º andar dos escritórios da Cerâmica do Lis, à época uma zona ainda fora da área urbana de Leiria. Estariam umas trinta pessoas, entre elas, além do Dr. Mário Delgado, administrador de tal unidade fabril, o Dr. Vasco da Gama Fernandes e o Dr. José Henriques Vareda, figuras bem conhecidas da, então, Oposição Leiriense, para além de quase todos os intervenientes no filme como actores de ocasião. O filme impressionou pelo inesperado da ambiência surrealista e metafórica conseguida, reforçando, de um modo acutilante e original, a crítica ao regime político de então, a qual já estava bem presente no belo poema homónimo de Daniel Filipe, poema que serviu de base ao guião. 76 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 77 19:05 Page 77 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Ao falar-se de A Invenção do Amor não podemos esquecer a colaboração importante que o também professor da nossa Escola, Camilo Mourão, lhe deu como seu assistente, e de Joaquim Manuel (Quiné), o único que era – e foi toda a sua vida – um verdadeiro actor amador, além de encenador de vários grupos de teatro na área de Leiria, tendo sido, ainda, seu íntimo colaborador em Vilarinho das Furnas (1971), chegando a deslocar-se com o realizador, várias vezes durante as filmagens, na sua velha e “heróica” carrinha de caixa fechada, a essa aldeia comunitária do Gerês. O meu contacto com o António Campos, em ambiente de trabalho artístico, deu-se, apenas em 1966, durante os ensaios da peça de teatro Histórias para Serem Contadas, do argentino Oswald Dragún, levada à cena pelo Grupo de Teatro Miguel Leitão, de Leiria, em que ele fazia de 1º actor, peça encenada pelo Quiné. Tive que assistir aos ensaios para estudar um apontamento cenográfico funcional, mas que, simultaneamente, ajudasse o espectador a envolver-se na situação do drama social denunciado pelo autor do texto. Quando acima refiro que ele era metódico na sua vida e na sua arte, vieram-me à memória as interrupções que, sistematicamente, fazia nos ensaios, sempre à mesma hora da tarde, já no Teatro José Lúcio da Silva, a poucos dias da estreia da peça, para fazer o seu lanche frugal. António Campos tivera já uma outra colaboração com este grupo de teatro, em 1965, como responsável do som, manejando ele próprio o seu gravador de fita, em A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, peça também encenada pelo Quiné. António Campos não era homem que frequentasse tertúlias em cafés, onde poderia ir, mas esporadicamente, para beber a sua garrafa de água de mesa. Nesses idos de 60 havia o grupo do ‘Lereno’, ao qual Camilo Mourão e eu pertencíamos, e o da ‘Esplanada do Jardim’, de uma geração mais velha, onde pontificava Miguel Franco, o autor de O Motim, actor nos primeiros filmes do Campos – Um Tesoiro (1958) e O Senhor (1959) – e, nessa altura, encenador do Grupo de Teatro Miguel Leitão. Mas da colaboração destes dois grupos nasceu, na sequência do movimento dos suplementos e páginas literárias nos semanários da província, o “Pinhal Novo”, uma folha com cor em ambos os lados, incluída no “Região de Leiria”, mas que era paga por alguns colaboradores, pois o director do jornal exigia quinhentos escudos por número, já que tal folha não tinha qualquer publicidade. Era seu dinamizador o Guilherme Valente, à época aluno dos últimos anos no Liceu de Leiria e hoje personalidade bem conhecida do universo editorial português, graças ao sucesso da sua editora “Gradiva”. O tempo, quando liberto do trabalho burocrático, passava-o António Campos sozinho no seu pequeno atelier, bem distante da casa onde vivia, planificando e montando os seus filmes, ou, simplesmente, desenvolvendo projectos para o futuro. Como este seu refúgio de trabalho ficava na mesma rua e muito perto do meu apartamento, muitas vezes nos cruzávamos no passeio e parávamos para dois dedos de conversa. Mesmo depois de ter saído de Leiria manteve este seu atelier, até que a saúde lho permitiu, e não posso deixar de referir o que me disse num desses últimos encontros, quando já se tinha aposentado da função pública e eu estava a aproximar-me do fim da minha carreira como professor: “ – Olhe que, quando se aposentar, não deixe de fazer uma planificação das actividades a desenvolver em cada dia, para não desperdiçar o tempo em vão e se sentir perdido, uma vez que, de repente, deixa de ter aqueles horários rígidos a que a Escola o obriga”! É esta a imagem que guardo de António Campos – um homem com uma vida planificada, como se estivesse a querer realizar o filme da sua própria existência! Augusto Mota PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 78 Para ti Muito ficou por fazer. Muito ficou por mostrar e para dar a conhecer quando a cegueira invadiu o teu olhar esclarecido e bruscamente impediu que, assim, fosse exibido, algo mais deste país, embuído de vivências, cujo povo é a raíz de muitas existências situadas num passado, que adoravas pesquisar projectando, com cuidado, usos a documentar: a riqueza etnográfica, o valor antropológico, a paisagem geográfica e o cariz psicológico. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 79 O cinema foi teu norte, sem sujeição a padrões. Mantiveste sempre forte as tuas convicções! “Naif”, diz pois a crítica, que é timbre das tuas “telas”; foi simples característica do rigor das coisas belas. A cultura e o misticismo foram o teu alimento. Fizeste guerra ao fascismo, na época do movimento da luta pela liberdade, da ruptura dos grilhões. Com a arma da humildade, recreaste tradições. Soubeste ludibriar a implacável censura pondo a nu, ao projectar, a realidade dura do labor sacrificado de aldeias comunitárias convivendo, lado a lado, com as situações precárias. Tinhas alma de pintor, de cinéfilo e de artista, de músico e de actor, de poeta e humanista. Partiste, modestamente, mas deixaste um legado intemporal, permanente, pelo qual serás lembrado, na arte por ti escolhida. Mas o vazio criado e a saudade vivida do nosso mundo privado, repleto de emoções, é mar sem fim, espraiado nas minhas recordações. Maria Clementina Reis Jorge da Silva «Com os melhores cumprimentos, segue em anexo o texto Para Ti, em homenagem póstuma a meu marido, e dedicado também a todos os leitores que tiverem a amabilidade de o ler, caso considere que o mesmo tem interesse ou qualidade para o seu trabalho. Com a mais elevada consideração, Maria Clementina» PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:05 Page 80 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS António Campos, o paradigma do documentário “Se me dissessem para fazer um filme, mas com a condição de não meter nada do documental, eu responderia: ‘desculpe, mas não posso comprometer-me’.” ENTREVISTA A ANTÓNIO CAMPOS POR MANUEL COSTA E SILVA E ANTÓNIO LOJA NEVES, 1997 IN CATÁLOGO ANTÓNIO CAMPOS, LISBOA, CINEMA TECA PORTUGUESA, 2000, P.130. INTRODUÇÃO Enquanto cineasta, António Campos (Leiria, 29 de Maio de 1922 – Figueira da Foz, 7 de Março de 1999) segue o seu caminho afastado dos movimentos e movimentações do cinema português, estando a sua filmografia situada entre 1957 e 1993. António Campos faz um percurso solitário, seja por dificuldades em aceder a materiais e equipamentos para os quais não possuía recursos financeiros, seja por dificuldade de diálogo com os centros urbanos por onde circulavam as influências e as tomadas de decisão. Qualquer que seja a razão, temos sempre de acrescentar uma boa dose de preservação da sua própria autonomia. Nas palavras do próprio: “Escolhi o caminho da marginalidade. Gostei das minhas luzes, do meu ‘charriot’, da câmara, o tripé – a independência…”1 António Campos fazia questão em ter liberdade de movimentos para poder fazer o que bem entendia, assumindo-se como único responsável das suas decisões. O seu percurso foi feito à sua própria custa, ultrapassando dificuldades, em especial, financeiras. A falta de apoios a que várias vezes se referiu era feita num tom misto de queixa e de orgulho. Afirma o realizador: “gosto de liberdade no meu trabalho. E, se é certo que fui aprendendo com os meus erros, o que me deixa tranquilo é que fui eu próprio quem os pagou.”2 Desconfortável com um cinema onde predomine a figura do produtor e fortemente avesso a uma organização que pudesse afectar a sua liberdade, António Campos encontra no documentário a possibilidade de um outro cinema mais arrojado, um “anticinema”,3 para usarmos uma expressão sua. O que interessa ao realizador é uma outra forma de produção, mais pessoal e mais íntima no contacto com os intervenientes do filme e, também, com os espectadores. De notar que no caso de Terra Fria (1992), único filme a ter exibição comercial (estreou em 1995, três anos após a sua conclusão) decorreram exibições anteriores em ambiente mais restrito, pois António Campos pretendia auscultar de perto as reacções dos espectadores.4 A tudo isto não é alheio o uso de equipamento amador (16 mm) largamente mais manejável que o formato profissional (35 mm) e mais facilmente transportável, permitindo a António Campos um acrescento de mobilidade. Colocar-se à parte era um posicionamento consciente e ciente das vantagens: “… faço cinema um pouco à margem desse sistema [circuitos comerciais], o que me oferece uma certa liberdade de actuação.”5 mas, também, ciente da desvantagem: “…de um ponto de vista de lucro não são filmes comerciáveis; não é o tipo de filme de que se diz que é bestial e que portanto as empresas desejem comprar e projectar. Todos sabemos que quem tem dinheiro para investir no cinema ou outra coisa qualquer, quer primariamente o rendimento do capital.”6 António Campos vai mais longe: “O objectivo de captar aspectos da realidade da vida portuguesa não apaixona as pessoas que podiam produzir os filmes com base no argumento de que estes não são rentáveis. Tal impede um melhor aproveitamento das possibilidades que o cinema nos dá dos mecanismos de que hoje dispõe.”7 António Campos acusa a concepção mercantilista do cinema de, no mínimo, mutilar um cinema como o seu, empenhado em colocar no ecrã a vida e originalidade das gentes do seu país. 80 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 81 81 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS O DOCUMENTÁRIO COMO EXPERIMENTAÇÃO António Campos encontrou no documentário a possibilidade de experimentação, em especial, a possibilidade de se acostumar à câmara de filmar. Um Tesoiro (1958) foi o primeiro filme que considerou suficientemente acabado para ser exibido. Mas, na sua filmografia, O Rio Lis (1957) é anterior a essa sua primeira curta-metragem. O próprio António Campos não lhe reconhece valor: “O ‘Rio Lis’ não é um documentário, nem nunca foi idealizado para isso. Tem sido apenas uma espécie de cobaia.”8 O Rio Lis foi o seu primeiro contacto com a realização cinematográfica. No cenário natural, António Campos encontrou o seu laboratório para exercitar a agilidade técnica. “O que me motivou a realização do pequeno filme Rio Lis foi somente o experimentar a primeira máquina de filmar que eu tinha nas minhas mãos. Porque o rio Lis passa na minha terra, porque passei a minha infância e juventude a poucos metros de onde há muita água, onde eu ia e vinha com as marés.”9 E a partir das suas afirmações destacamos já uma ideia essencial: a escolha de temas que lhe são próximos, no caso, geográfica e sentimentalmente próximos. Mas, só por si o rio Lis, ou seja, a paisagem natural não era o assunto que mais seduzia António Campos. No filme imediatamente seguinte, aperfeiçoou a selecção temática. Depois de ter lido o conto de Loureiro Botas, entusiasmou-se com a ideia de o cinematizar10 por se tratar da vida de uma mulher pobre que vivia junto ao mar, e que António Campos situou na Praia da Vieira de Leiria. O mesmo carácter de experimentação tem o filme intitulado Campos de Leiria (1979), um pequeno filme a cores cuja data coincide com Ti Miséria, filme produzido pela RTP. Em Campos de Leiria, António Campos ensaia aproximações ao real, por exemplo, depois de um grande plano de flores amarelas e brancas, segue-se um plano geral dessas mesmas flores e a câmara abre caminho por entre um jardim florido num dia de sol. Com este filme de apenas 8 minutos apercebemo-nos clara e inequivocamente do “António Campos operador de câmara”. Totalmente rodado em exteriores, as panorâmicas ao ombro abundam. Mas, apesar de todo este movimento, a câmara não faz sentir a sua presença enquanto aparelho técnico ou olho mecânico, para usarmos uma expressão mais vertoviana. Para António Campos, a câmara não é um olho mecânico, é sinónimo de olho humano. Dito de um modo mais radical, a câmara está “colada” ao olho do operador, um e outro são um só. Manuseada pelo homem que explora o ambiente que o rodeia, a câmara é absolutamente cúmplice do olhar do cineasta. Em Campos de Leiria, vemos a especial sensibilidade de operador de câmara de (António) Campos, de Leiria. Admitimos ter havido uma montagem neste filme mas, parece que estamos perante um operador que faz a montagem ao filmar (pelo ligar e desligar da câmara). Também os filmes que realizou para a Fundação Calouste Gulbenkian (sobre Arte), permitiram a António Campos treinar a câmara. Segundo o próprio: “São filmes talvez sem grande interesse mas que o têm, enorme, para mim, pois me permitem, pela experiência resolver certos problemas de ordem técnica o que me dá maior à vontade para filmes que me interessam mais.”11 AS DUAS PRIMEIRAS CURTAS-METRAGENS E A ADAPTAÇÃO As duas curtas-metragens Um Tesoiro (1958) e O Senhor (1959) rodadas em 8 mm, são uma adaptação de dois contos literários homónimos, de Loureiro Botas e Miguel Torga, respectivamente. Em Um Tesoiro as legendas do genérico inicial surgem sobre um plano de ondas do mar que batem levemente na areia. Quando o genérico termina entra em campo uma mulher vestida de preto que caminha de costas voltadas para o espectador. Nos dois planos seguintes ela surge já em campo, mostrando ao espectador uma figura distante e solitária. Esta é a protagonista do filme que vemos de corpo inteiro, inserida no meio ambiente de uma pequena povoação piscatória ou da qual vemos apenas o rosto sublinhando que o filme tem como enfoque PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 82 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS a sua vida pessoal, uma vida pessoal atormentada pela perda de um filho. Em O Senhor, deparamo-nos com a mulher-mãe como personagem central e aglutinadora de toda a acção. António Campos não faz, tal como em Um Tesoiro, uma coreografia de entradas e saídas em campo. A dado momento do filme, o moleiro cuja mulher está prestes a dar à luz, vai pedir ajuda ao padre. Depois de um plano de uma paisagem, segue-se o moleiro montado no burro e um plano picado a partir do sino da igreja com o moleiro diminuído em tamanho, perante a grandiosidade divina a que recorre. O moleiro percorre um caminho, mas António Campos mostra-o sempre dentro de campo. O espaço fílmico não é, com António Campos, um espaço de entradas e saídas de campo, é um espaço de permanência. Diríamos que o enquadramento apenas tem sentido quando dentro dele estão coisas ou pessoas (no caso, mais pessoas que coisas preenchem o ecrã). A partir desta permanência podemos afirmar, com alguma segurança, que o realizador dedica especial atenção à planificação dos seus filmes. E com Um Tesoiro e O Senhor, António Campos entende o cinema como uma Arte contemporânea de outras Artes, designadamente a da escrita, com a qual pode partilhar de um mesmo espírito sem, no entanto, perder a sua autonomia uma vez que possui os seus próprios recursos. Terra Fria (1992) partiu do romance respeitando o “espírito da obra”, como o realizador fez questão de notar.12 O romance conta uma história de infidelidade que tem lugar nos anos 40, em Padornelos, (Trás-os-Montes), onde o escritor se deslocou para escrever o seu romance e onde decorreu a rodagem desse mesmo filme. Sempre ao lado do seu povo, o realizador mais que uma história de traição conjugal, faz um retrato do sofrimento e do engano, por parte de quem tem mais poder ou mais dinheiro sobre aqueles que pouca ou nenhuma possibilidade têm para se defender. António Campos nunca se cansou de homenagear toda “essa gente ignorada, espezinhada, que não tinha caixa de previdência, que ganhava mal.”13 – uma homenagem quase a resvalar para o fatalismo, que ainda assim, nos parece evitar. De qualquer modo, “essa gente”, é uma expressão demasiado vaga para um realizador como António Campos. Nos seus filmes a mulher-mãe e a mulher-trabalhadora, ocupam um lugar especial e de destaque.14 Especial porque António Campos nutre simpatia pelas mulheres, lança-lhes um olhar algo distanciado porque há um universo que é só delas, a maternidade e admira-lhes a capacidade e coragem de não se esquivarem à execução de trabalhos pesados. E de destaque porque, efectivamente, as mulheres são as principais protagonistas dos seus filmes (é a elas que concede mais tempo de permanência no ecrã). De momento, lembramos o grande plano do rosto de uma mulher a ceifar em Vilarinho das Furnas (1971) ou a mulher em Retratos dos das Margens do Rio Lis (1965) que a câmara individualiza durante uma feira e que conversa com alguém a seu lado, sem vermos quem seja, apenas as suas expressões faciais nos ficam deste plano. Em Terra Fria, Ermelinda, a criada seduzida pelo patrão, um homem regressado da emigração, é mulher de Leonardo. Ermelinda fica grávida do patrão, de alcunha o “americano” e, instruída por este, deixa o marido pensar que o filho é dele. Num acesso de fúria extrema, Ermelinda mata o “americano” e o marido prontifica-se a assumir a culpa e foge para Espanha. Ao longo do filme, destacamos dois momentos em que é mais patente a solidariedade do realizador pela personagem feminina. Ao tomar banho, Ermelinda baixa-se para apanhar água com as mãos e levanta-se deixando a água correr pelo seu corpo. Aqui, a câmara segue os seus movimentos enquanto se baixa e levanta, num registo largamente afastado da (já muito) clássica apresentação do corpo feminino como mero objecto de desejo. Depois de Ermelinda ter assumido a autoria material do assassinato, chega o dia em que é libertada da prisão. Naquele que é o plano final do filme, Ermelinda está no meio de um enorme átrio e um dos guardas vai abrir os portões. A claridade que vem de fora inunda todo o ecrã e Ermelinda caminha para a liberdade. Guardadas as devidas distâncias, António Campos e os escritores Loureiro Botas, Miguel 82 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 83 83 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Torga, Ferreira de Castro, A. Passos Coelhos e Teófilo Braga encontram-se enraizados na originalidade do povo português, no quotidiano dos homens e mulheres que trabalham na terra e no mar e para quem o nascimento e a morte são momentos fundamentais da vida. E a adaptação de António Campos não é a da fidelidade ao texto, mas ao “espírito” das obras. Em Terra Fria (1992), adaptado (livremente) do romance homónimo de 1934, de Ferreira de Castro, é, também, patente essa afinidade e intimidade entre obras, não tanto pela equivalência, mas por partilharem o mesmo modo de ver o mundo, por participarem e possuírem um mesmo fundo cultural. UMA MISSÃO A CUMPRIR: FILMAR O PRESENTE Leiria 1960 é um exemplo e, também, um título exemplarmente esclarecedor daquela que é, segundo António Campos, a missão do cinema: filmar o presente. Se quisermos, a respeito deste filme, temos oportunidade de ser ainda mais precisos. Num plano em ligeiro contra-picado, num letreiro suspenso de um ao outro lado de uma rua lemos: “FEIRA DE”. Um homem levanta a parte final desse letreiro: “MARÇO”. Neste filme, Leiria é percorrida durante um dia e uma noite, por um hipotético visitante. Para além de muitos outros planos, temos esta certeza de um hipotético visitante porque no plano final a câmara dentro de um comboio afasta-se da estação onde se lê: “LEIRIA”. Ao longo de Leiria 1960 encontramos associações entre planos. Por exemplo, num parque, a câmara olha de frente uma menina que sorridente brinca num baloiço, segue-se um plano fixo de pássaros pousados nos frágeis ramos da vegetação, junto ao rio. Não nos parece, no entanto, estarmos perante um filme de montagem. Nestes, o ponto de vista da câmara de filmar não é atribuível a nenhuma personagem. E é precisamente neste ponto que Leiria 1960 difere. A câmara está colada ao olho do operador. Por detrás da câmara há uma força humana que a conduz. Estamos aqui muito distanciados da concepção vertoviana da câmara como um olho mecânico que vê melhor que o olho humano. António Campos tem a particularidade de “fazer desaparecer” a presença da câmara e de proceder a um enquadramento dinâmico, no sentido em que se adapta ao que está a filmar. A câmara apreende, ou melhor, absorve o que está à sua frente e movimenta-se como uma força centrípeta que atrai e enquadra as pessoas e o meio ambiente (e esta é uma câmara que se detém, em especial, nas pessoas). Em Leiria 1960, António Campos regista o “aqui e agora”, fornecendo-nos uma data e um local concretos. Encontramos esta mesma abordagem em A Festa (1975), curta-metragem realizada como complemento a Gente da Praia da Vieira (1975), o primeiro filme de António Campos depois do 25 de Abril. Em A Festa, a câmara de António Campos respira o mesmo ar que a gente de Vieira de Leiria e os sons são os oriundos do local (som ambiente). O plano inicial é uma longa panorâmica da praia até um cartaz que anuncia: “Praia da Vieira em festa!”, nos dias 9 e 10 de Agosto de 1975. A festa é em honra do S. Pedro e “em benefício da capela local”. Em A Festa, durante a actuação de um rancho folclórico apercebemo-nos que António Campos nunca utilizou os cantares populares para acompanhar outras imagens que não as que lhe correspondem. Ou seja, os cantares típicos não são usados aqui, nem em nenhum outro filme, para embelezar genéricos iniciais, genéricos finais ou qualquer outro momento do filme. A imagem é sincronizada com o som. Absolutamente sóbrio nas suas escolhas, António Campos regista a vida das pessoas com dignidade, sem nunca procurar alimentar um olhar sobre o pitoresco. Em vez disso oferece-nos um registo sereno, tranquilo e, sobretudo, um olhar atento a tudo o que rodeia. Em A Almadraba Atuneira (1961), o primeiro filme em 16 mm, António Campos presta homenagem ao trabalho e esforço dos pescadores de atum algarvios. Esta é a última almadraba ou “companha” por eles feita. Pouco depois do filme terminado, o mar destruiu este arraial PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 84 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS algarvio. Segundo o próprio afirmou, foi com A Almadraba Atuneira que encontrou o seu caminho.15 Um caminho que supomos ser o de ter encontrado, em definitivo, um sentido para o (seu) cinema. E esse é um caminho que apresenta dois aspectos essenciais. Um desses aspectos diz respeito à aproximação de António Campos às pessoas, homens e mulheres que trabalham. Em A Almadraba, António Campos enche o ecrã com o árduo e comunitário trabalho dos pescadores de atum e a vida em terra. O nosso visionamento deste filme surpreendeu-nos precisamente pela presença constante do elemento humano. Em praticamente todos os planos estão presentes corpos, rostos, expressões, gestos dos pescadores ou das varinas. São estas as pessoas que filma, as que fazem os trabalhos mais pesados, as que mais se esforçam sem que lhes sejam dadas garantias de um benefício correspondente ao seu esforço. Um outro aspecto diz respeito a António Campos ter encontrado no cinema o meio adequado para prestar homenagem às gentes do (seu/nosso) povo. Um investimento plástico que em A Almadraba prima pelo rigor e cuidado no enquadramento e composição dos planos. Em A Almadraba Atuneira, o ecrã transborda de uma vitalidade invulgar, de um mesmo trabalho feito a várias mãos que depende de todos e de cada um; uma união como se de um único corpo, de uma única coluna dorsal se tratasse. Já a montagem não é um mero dispositivo formal, é colocada ao serviço da energia dos pescadores da Ilha da Abóbora. A ligação entre os planos faz-se por um tipo de raccord a que podemos chamar “raccord por analogia”. Os planos são muito iguais entre si, há um mesmo preenchimento do ecrã, um mesmo equilíbrio de composição. E, com A Almadraba Atuneira, António Campos terá, em definitivo, assumido que os seus filmes teriam como objectivo maior uma tarefa tão importante quanto urgente: filmar o presente. Nos seus filmes encontramos modalidades e nuances de uma missão que António Campos entende ser a do cinema e que assumiu como sua. “Filmar o presente” é uma expressão composta de três aspectos essenciais. Em primeiro lugar, os seus filmes foram rodados nos locais onde os acontecimentos tiveram lugar, onde as pessoas viviam. António Campos deslocou-se a diversas localidades e aí permaneceu, levando na bagagem uma boa dose de tacto e tomando como cenário o mar, a montanha, o rio, os vales, em suma a paisagem natural. Tal como a criança em Falámos de Rio de Onor (1974) que, atenta, presencia e assiste espantada ao nascimento de um vitelo; vive essa experiência deixando-se impressionar, directamente, sem artificialismo; também, em António Campos, encontramos um cinema que resulta de experiências vividas directamente com pessoas concretas e que são colocadas em ecrã para aí permanecerem. Num segundo ponto, referimos os protagonistas dos seus filmes. Mais concretamente, as mulheres ocupam um lugar de destaque. Mas, não só as mulheres, as crianças são também intervenientes. O filme em que mais evidente se tornou para nós a figura das crianças no cinema de António Campos é Retratos dos das Margens do Rio Lis. Trata-se de um filme suportado por uma associação entre o fluir das águas do rio e o fluir da vida dos homens e mulheres que trabalham dia-a-dia, lutando pela sua sobrevivência. O título do filme refere que o enfoque será colocado nas pessoas que vivem nas margens do rio Lis, ou seja, o filme oferece-nos retratos dos que são das margens do rio Lis. O trabalho e a pobreza das gentes que habitam nas margens do rio correm lado a lado mas, também, a esperança já que as crianças têm um lugar especial neste filme. O plano que fecha o filme é uma panorâmica ascendente de uma criança de tenra idade que, sentada no chão, brinca com um ramo de oliveira. Este plano ilumina e renova a vivência à beira rio. Ao longo de todo o filme, as crianças surgem-nos de frente, ao nível dos seus olhos, ou em movimento de câmara, em panorâmica dos pés à cabeça ou ao contrário, o mais das vezes partilhando connosco o silêncio. Num dos planos, um rapaz calça umas botas de borracha e começa a caminhar desajeitado, tentando encontrar equilíbrio com umas botas manifestamente grandes demais para os seus pés. O plano seguinte é uma panorâmica para a direita 84 PANORAMA-Book:Layout 1 85 09/02/02 19:07 Page 85 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS desde os pés descalços de uma criança até às botas de borracha, a câmara sobe até à cara desse rapaz que calçou as botas e que olha para a câmara de frente. A partir deste rosto que exclui o cómico ou o tragicómico da situação, elucida-se o modo como as crianças nos surgem ao longo de todo o filme. As crianças apresentam-se apenas com uma convicção inabalável: “eu existo”. E existir, o simples existir é em si o maior sinal de Esperança. Um terceiro ponto que nos permite afirmar que a filmografia de António Campos encontrase radicada e empenhada em filmar o presente, diz respeito aos temas dos filmes. Os temas que o motivaram primam pela sua actualidade (o que, em grande medida, é correlativo de uma preservação da nossa memória colectiva). A Invenção do Amor (1965) é o filme que destacamos, por dizer respeito ao que o próprio chamou de “realidade subentendida”.16 Em A Invenção do Amor, a metrópole surge como metáfora da insensibilidade, da falta ou mesmo impossibilidade de comunhão e de qualquer tipo de afectividade entre os seus habitantes. O filme tem lugar num tempo e espaço sobre os quais não nos é fornecida qualquer indicação precisa, mas que facilmente podemos identificar como sendo o do regime salazarista. O filme baseado no emblemático poema homónimo, de 1961, do poeta natural de Cabo Verde, Daniel Filipe é contemporâneo de uma vivência que haveria de se prolongar até 1974. Mas, se A Invenção do Amor é mais claramente um filme político, Vilarinho das Furnas e Falámos de Rio de Onor, divulgados, exibidos e aclamados pela sua etnografia, encontram-se imbuídos de uma forte componente política, ainda que a mesma não seja totalmente explícita. Se a literatura foi, em outros momentos, fonte de inspiração, em Vilarinho das Furnas e Falámos de Rio de Onor, António Campos apoia-se em livros de carácter científico escritos pelo antropólogo Jorge Dias. Antes de mais, a respeito de Vilarinho das Furnas e Falámos de Rio de Onor, dois filmes dedicados ao comunitarismo agro-pastoril, gostaríamos de realçar que, a nosso ver, não são dominados pela dimensão etnográfica. Trata-se de uma dimensão doseada com outras preocupações, nomeadamente político-sociais. Esses filmes vão para além da mera preservação em imagem, dos usos e costumes de cada uma dessas comunidades. Em Falámos de Rio de Onor, à vida comunitária na zona de fronteira junta-se o tema da origem do desmembramento dessa vida, a emigração. António Campos filmou esta comunidade (segundo sabemos de Outubro/Novembro de 1972 a Agosto de 1973), sem nunca pedir a nenhum habitante para recriar para a sua câmara isto ou aquilo que fosse mais pitoresco, exótico ou característico da vivência comunitária passada. Já em Vilarinho das Furnas trata do afundamento de uma aldeia pelas águas de uma barragem imposta por uma “lei” exterior mas, também, da resistência da população ao desaparecimento do único mundo que conhecem. E o filme é um acto de resistência, solidário com os habitantes. Ainda que Vilarinho das Furnas tenha sido e continue a ser identificado como filme etnográfico, no sentido de observar e descrever uma determinada cultura, entendemos que a dose de etnografia não será a mais relevante do filme, ou, pelo menos, não é aquela que mais gritantemente se manifesta. Parece-nos que um olhar minimamente atento a este filme não pode deixar de realçar uma grande carga crítica. A chegada do Governador Civil a Vilarinho das Furnas é hilariante sem, no entanto, cair na exploração gratuita. Um plano, sublinhe-se, com a duração certa, mostra o jipe do governador a chegar à aldeia; chega com dificuldade, mal consegue passar por cima de algumas pedras; a população assiste à chegada e um homem ajuda na manobra. Por entre um aglomerado de pessoas, o Sr. Governador passa em frente à câmara compondo o casaco, ainda não refeito da chegada atribulada. Segue-se uma colmeia (leia-se, comunidade) de abelhas pendurada no ramo de uma árvore. Logo a seguir, essa colmeia cai ao chão, dispersando as abelhas. A comunidade visitada está, também, em vias de ser dispersada pela barragem, faltando apenas um “golpe de misericórdia”. E a visita do Governador pode muito bem ser esse golpe que faltava. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 86 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Em Vilarinho das Furnas não encontramos um único traço que diga respeito a uma observação ou um olhar curioso lançado sobre uma população com um modo peculiar de vida. Em vez disso, estamos perante um olhar atento à regressão dos valores que deveriam suportar a evolução de um país. Um olhar que não é de resistência ao progresso, mas que alerta para a sua violência. O que é colocado em questão é a leviandade em associar progresso a violência. Menos etnográfico e mais sócio-político, o que António Campos nos lega é um filme de uma crítica incisiva a um país que afunda a sua própria cultura a favor de um progresso que devia construir mas, ao invés disso, o impõe. Seguindo Jorge Leitão Ramos, em vez de etnográfico, entendemos mais adequado dizer que António Campos testemunhou situações humanas.17 Ainda no que diz respeito à actualidade dos seus temas, interessa referir que Ti Miséria, um Conto Tradicional Português (1979) introduz aqui uma nuance. Trata-se de um filme que concretiza em imagens e sons o imaginário popular. Filmar o presente parece-nos ser, então, a expressão que melhor se adequa à concepção de cinema de António Campos e que se encontra presente em toda a sua filmografia. De todas as entrevistas e depoimentos que consultámos fomos encontrar no Catálogo do 1º Congresso Internacional sobre o Rio Douro18 uma declaração sua cuja importância vai para além do filme a que se referia, Falámos de Rio de Onor. António Campos declara: “…se certas situações já não existem, ou tendem a desaparecer, então não há que desenterrar um passado que nos é penoso. Há sim que tornar sólido um presente onde o futuro se possa articular.” Esta é, então, a missão do cinema – tal como entendida por António Campos – a de “filmar o presente”. É uma missão que na sua filmografia se apresenta com rigor e justeza, sem lamentações, nem recorrendo a qualquer tipo de demagogia. Para concluirmos este ponto a respeito do objectivo maior do cinema, tal como António Campos o entende, o de filmar o presente, destacamos dois filmes: Gente da Praia da Vieira (1975), o seu primeiro filme depois do 25 de Abril, e Histórias Selvagens (1979), sobre o qual disse tratar-se de um “filme de realidade com uma gota de ficção. Realidade de hoje – a que se fala nos mercados e nos talhos, principalmente a das mulheres e dos homens que estão relacionados com essa ficção.”19 Em Histórias Selvagens, tal como em Gente da Praia da Vieira, parte-se do passado para chegar ao presente. Em Histórias Selvagens, quase nos apetece dizer que António Campos pega no espectador pela mão, pois começa por estabelecer, demoradamente, a história de Montemor-o-Velho. Depois da incursão histórica passa-se à dura realidade do presente. Uma voice over masculina clarifica que as cheias do rio Mondego são um flagelo na vida da população, já desde há anos, e que todos os esforços, incluindo projectos políticos, se mostraram incapazes de colmatar. As cheias passaram já a fazer parte integrante da vida dos habitantes de Montemor-o-Velho. Os dois contos: O Chino e Neve, de A. Passos Coelho interessaram António Campos por se tratarem de “narrativas muito humanas, de relação com o nosso povo”.20 Em Gente da Praia da Vieira, posterior a 25 de Abril, mais que em qualquer outro filme, a câmara detém-se longamente nas pessoas e nos locais. Lembramos os planos do interior de um barco que serve da casa a uma família e onde estão tachos, um colchão, cestos… e, ao lado, mulheres lavam roupa no rio. Notamos, também, que António Campos mantém a mesma coerência a respeito do espaço fílmico. Tal como em filmes anteriores (e mesmo posteriores), não encontramos uma orquestração de entradas e saídas em campo. Este é, por excelência, um espaço de permanência. Quando acompanha um barco no rio que vai estender as redes, nunca esse barco sai ou entra de campo. Esta é uma cena que lembramos especialmente, pela serenidade de registo coincidente com as águas calmas do rio. 86 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 87 Page 87 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS A “POESIA COM OS PÉS NA TERRA” A “poesia com os pés na terra” foi a expressão usada por António Campos para se referir ao filme Um Tesoiro.21 Mas, esta é uma expressão que melhor nos parece resumir e definir o seu estilo de realização. Em António Campos, encontramos um aturado trabalho de realização cinematográfica sem que o mesmo afecte o conteúdo dos seus filmes. Sem nunca cair no mero postal ilustrado, no mero exercício formal, nem naquilo a que podemos chamar de um “assalto ao real” (um registo “nu e cru” a reivindicar uma aproximação “tal qual” a esse real), conseguindo preservar a espontaneidade dos gestos e falas dos seus intervenientes. António Campos é o realizador da planificação cuidada e amadurecida, de um reconhecimento dos locais, de uma preparação anterior que lhe permita não recorrer à re-construção, optando por ter a câmara presente durante o decorrer dos acontecimentos. É, também, o realizador da montagem depurada, o seu corte aperfeiçoa o filme, distribui por cada plano a duração mais adequada e expurga o que (eventualmente) na rodagem possa estimular o mais pequeno sensacionalismo, ou qualquer tipo de voyeurismo. E é, finalmente, o realizador do e para o espectador. É para ele que faz filmes; é com ele que António Campos se preocupa quando faz um filme, pretende tocar tanto o espectador do presente, aquele que é colocado perante realidades que estão a acontecer, como com o espectador futuro, aquele que poderá olhar para o passado através dos seus filmes. O cinema de António Campos é o de um olhar rigoroso e cúmplice para com as pessoas que filma, em especial, mulheres e crianças do povo. Primando pela actualidade dos seus temas, António Campos filma o presente, com dignidade e justeza, sem lamentações, nem recorrendo a qualquer tipo de demagogia. Os seus filmes registam a vida do povo português com dignidade e respiram tranquilidade. A sua câmara é sinónimo de olho humano, ou seja, no espaço fílmico não se encontra representada a vida dos intervenientes, o espaço fílmico pretende ser a vida mesmo. Ou seja, o que se pretende é uma sobreposição entre o ecrã e o objecto filmado e os limites do quadro fecham, guardam e preservam o objecto filmado para o futuro. Esta é uma câmara atenta a tudo o que a rodeia, movimentando-se para absorver e preservar no ecrã o mundo de “hoje”. Percebemos assim que “tornar sólido um presente onde o futuro se possa articular” não será apenas uma missão a cumprir, constitui-se como fundo moral do cinema. Se tivéssemos de escolher os planos mais representativos da filmografia de António Campos, os três primeiros de Um Tesoiro não seriam de todo uma escolha infeliz. Por várias razões: por se tratarem de um registo in loco, no caso a Praia da Vieira (a natureza esteve sempre presente nos seus filmes), porque entra em campo uma mulher – e foram elas quem mais tempo permaneceu e ocupou o ecrã de António Campos -, porque o raccord se apoia no meio ambiente (o mar, a montanha, os rios nunca foram constituídos em personagem), e porque depois de entrar em campo o segundo plano mostra-a já em campo e, também, no terceiro plano surge já em campo. António Campos não recorre a uma orquestração de entradas e saídas em campo. O espaço fílmico é pois um espaço de permanência. Diríamos que depois de uma pessoa ou objecto entrar em campo é para não mais de lá sair. A respeito dessa não-orquestração, o filme A Almadraba Atuneira é absolutamente exemplar, o seu “raccord por analogia” remete-nos, precisamente, para o espaço fílmico como local de permanência. Por isso, os seus planos manifestam um especial cuidado de planificação quanto à composição e enquadramento. Da composição destacamos que os seus planos se constituem de uma figura e o seu fundo (a profundidade de campo é a de um primeiro e segundo planos). Quanto ao enquadramento, os elementos encontram-se, maioritariamente, centrados. A permanência em campo, em que o enquadramento e composição assumem especial importância, remete-nos para um outro aspecto que encontramos em Um Tesoiro, e que vamos PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 88 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS encontrar na restante filmografia: a riqueza de conteúdo. Essa riqueza de conteúdo diz, essencialmente, respeito a uma relação constante com obras literárias. O cinema não se encontra alheado das preocupações de outros autores, nomeadamente os que têm na palavra o seu modo de expressão, em romances, contos, poesia ou mesmo em livros de investigações científicas. Do ponto de vista temático, a entrada e permanência em campo lança-nos imediatamente para vida das pessoas. E foi com a vida do povo português, com a sua vida de trabalho que António Campos preencheu e encheu o ecrã. Nos seus filmes nenhum traço panfletário vem perturbar a concentração naquele que é o valor maior, o Homem. Desprovido de acérrimas militâncias ideológicas a haver alguma ideologia terá de brotar do Homem, terá de ter como origem os problemas concretos das pessoas que mais dificuldades têm em sobreviver. A eficácia do cinema de António Campos não está no imediato. O realizador abre-nos as portas para a força maior de uma revolução tranquila, uma revolução prenhe de amor pela vida e pelo Homem enquanto valor maior. CONCLUSÃO: O DOCUMENTÁRIO COMO PARADIGMA O documentário em António Campos não ocupa um lugar específico ou restrito. O registo documental serviu-lhe de experimentação, constituiu-se como projecto – o de filmar o presente – e este projecto podemos, também, encontrá-lo nos filmes ditos de ficção. É o caso a que já fizemos referência de A Invenção do Amor e ao qual podemos acrescentar Histórias Selvagens, com o drama das cheias em Montemor-o-Velho. Assim, os planos “documentais” de António Campos não são, por exemplo, os da praia da Vieira em Um Tesoiro, ou os das salinas em A Tremonha de Cristal, nem os das cheias de Montemor-o-Velho em Histórias Selvagens, nem os das mulheres a ceifar em Vilarinho das Furnas ou a chega de bois em Terra Fria. O lado documental da sua filmografia é constituído por planos onde não existe orquestração de entradas e saídas em campo, pela duração equilibrada dos planos, pela actualidade dos seus temas, pelo “raccord por analogia”, … Este é o seu lado documental porque, a partir daqui podemos chegar à sua ligação ao mundo através do cinema. O universo documental é então bastante alargado pois interfere com os filmes que não são estritamente designados de documentário abrangendo a sua filmografia. Já não se trata aqui de uma praxis de carácter estritamente documental, estamos perante um modo de estar no cinema que toma o documentário como fundamento e alicerce. Mais explicitamente ou à retaguarda, a componente documental está sempre presente no cinema de António Campos. Qualquer plano que concorra para o seu modo de ver o mundo será então, um plano documental. E é neste sentido que o documentário serve de paradigma e dá unidade e sentido a uma filmografia onde independentemente do género a que determinado filme possa pertencer não será viável exclui a leitura de que o Homem é o valor maior a preservar e que sobre ele recai um olhar militante, mas absolutamente despojado de qualquer reivindicação panfletária. 1 PEDRO ROSA MENDES, “OS FILMES QUE O FRIO TECE”, PÚBLICO MAGAZINE, 13 DE JANEIRO DE 1991, P.26. 2 CATÁLOGO CINEMA PORTUGUÊS, INSTITUTO PORTUGUÊS DO CINEMA, S/ DATA. 3 ENTREVISTA FEITA EM LEIRIA A 18 DE ABRIL DE 1997 POR ANTÓNIO LOJA NEVES E MANUEL COSTA E SILVA IN CATÁLOGO ANTÓNIO CAMPOS, CINEMATECA PORTUGUESA, 2000, P. 133. 4 CF. “ ‘TERRA FRIA’ DE ANTÓNIO CAMPOS”, REGIÃO DE LEIRIA, 30 DE NOVEMBRO DE 1995. 5 JOSÉ GOMES BANDEIRA, “VILARINHO DAS FURNAS: NOVO FILME DE ANTÓNIO CAMPOS”, O COMÉRCIO DO PORTO, 2 DE ABRIL DE 1971, P. 16. 6 JOSÉ VIEIRA MARQUES, “VILARINHO DAS FURNAS ENTREVISTA COM ANTÓNIO CAMPOS”, CULTURA ZERO, LISBOA, CENTRO DE ES TUDOS E ANIMAÇÃO CULTURAL, Nº 3, LISBOA, MARÇO DE 1973. 7 TITO LÍVIO, “ENCONTRO COM OS NOVOS CINEASTAS ‘FAZER CINEMA, PARA MIM É AUSCULTAR OS VERDADEIROS PROBLEMAS DAS PESSOAS’ DIZNOS ANTÓNIO CAMPOS”, DIÁRIO POPULAR, 15 DE JULHO DE 1974, P.3. 88 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 89 89 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS 8 F.X.P., “ANTÓNIO CAMPOS”, JORNAL DE NOTÍCIAS, 20 DE MAIO DE 1960, P. 9. 9 LUCERNA BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA DOMINGOS SEQUEIRA, “ANTÓNIO CAMPOS E A SUA OBRA”, Nº 8, 1 DE JUNHO DE 1993, P. 3. 10 “ENCONTREI ENTÃO NO CONTO ‘UM TESOIRO’ DA AUTORIA DE LOUREIRO BOTAS, O ASSUNTO QUE ME ATRAÍA.” IN “1959. UMA ES PERANÇA PARA O CINEMA PORTUGUÊS: O RENOVO DO CINEMA AMADOR E EXPERIMENTAL. OS CINECLUBES FAZEM CINEMA”, IMA GEM, Nº 32 SETEMBRO DE 1959, P.712. 11 JOSÉ VIEIRA MARQUES, “VILARINHO DAS FURNAS ENTREVISTA COM ANTÓNIO CAMPOS”, CULTURA ZERO, Nº 3, LISBOA, MARÇO DE 1973. 12 “ANTÓNIO CAMPOS CINEMATIZA FERREIRA DE CASTRO”, O CORREIO SEMANÁRIO MARINHA GRANDE, 10 DE FEVEREIRO DE 1989. 13 JORGE LEITÃO RAMOS, “O HOMEM DA CÂMARA”, EXPRESSO CARTAZ, 1 DE DEZEMBRO DE 1995, P. 10. 14 O QUE PODE SER CONFIRMADO EM VÁRIAS ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS: “TENHO UM GRANDE APREÇO PELO SEU MULHERES TRABALHO” IN CARLOS ALBERTO SILVA, “ANTÓNIO CAMPOS AGUARDA ESTREIA DE ‘TERRA FRIA’”, REGIÃO DE LEIRIA SUPLEMENTO 2º CADERNO, 7 DE OUTUBRO DE 1994. “AGORA, DEPOIS DE FAZER ‘A FESTA’ E ‘GENTE DA PRAIA DA VIEIRA’ SINTO QUE ALGO ME FICOU PARA POR EM RELEVO: A EXISTÊNCIA CORAJOSA E OPTIMISTA DAS SUAS MULHERES VERDADEIRAS LUTADORAS.” IN “DOCUMENTA RISMO E ETNOGRAFIA: ANTÓNIO CAMPOS NO FESTIVAL DE CINEMA DE SANTARÉM”, DIÁRIO DO RIBATEJO, 1 DE OUTUBRO DE 1976. “SEMPRE TIVE UM GRANDE APREÇO PELAS MULHERES, NÃO ME REFIRO AO ASPECTO SEXUAL MAS AO TRABALHO, À VIDA QUE ELAS TÊM.” IN VASCO CÂMARA, “ANTÓNIO CAMPOS, REALIZADOR DE ‘TERRA FRIA’ AO PÚBLICO, O AMADOR DE CINEMA”, PÚBLICO, 1 DE DE ZEMBRO DE 1995. “A IMAGEM DE UMA MULHER CARREGADA E CHEIA DE TRABALHO, MERECELHE TODO ‘O RESPEITO’.” IN “OS CAMI NHOS DE ANTÓNIO CAMPOS, QUANDO O CINEMA É PAIXÃO…” , DIÁRIO REGIONAL LEIRIA, 30 DE NOVEMBRO DE 1995. 15 CF. PEDRO ROSA MENDES, “OS FILMES QUE O FRIO TECE”, PÚBLICO MAGAZINE, 13 DE JANEIRO DE 1991, P.25. E, EM OUTRO MO MENTO, O REALIZADOR AFIRMOU: “FOI ESSE O PRIMEIRO FILME CUJA TEMÁTICA ME INTERESSOU A FUNDO, ISTO É, A VIDA DAS PES SOAS, AS SUAS DIFICULDADES. ENTUSIASMAVAME, ASSIM, COMO NOS FILMES DE TEMA SOCIAL, POR PENETRAR DENTRO DAS DIFICULDADES DAS PESSOAS, DAS SUAS NECESSIDADES, DOS SEUS PENSAMENTOS. NO LOCAL DAS FILMAGENS, PASSEI O PERÍODO DE MARÇO A OUTUBRO, COM O OBJECTIVO DE DAR UMA PAISAGEM, UMA PANORÂMICA DE TODA A VIDA DOS PESCADORES, DESDE A SUA CHEGADA À ILHA, ETC.” IN JOSÉ VIEIRA MARQUES, “VILARINHO DAS FURNAS ENTREVISTA COM ANTÓNIO CAMPOS”, CULTURA ZERO, LISBOA, CENTRO DE ESTUDOS E ANIMAÇÃO CULTURAL, Nº 3, LISBOA, MARÇO DE 1973. O EMPENHO DE ANTÓNIO CAMPOS EM FAZER FILMES SOBRE OS PROBLEMAS CONCRETOS DAS PESSOAS, LEVAMNO A PROFERIR UMA DECLARAÇÃO ALGO INUSITADA NO SEU DIS CURSO CONTIDO EM RELAÇÃO AOS FILMES DE OUTROS REALIZADORES. TRATASE DE UMA CRITICA A FESTA, TRABALHO E PÃO EM GRIJÓ DE PARADA 1973, DE MANUEL COSTA E SILVA: “UM FILME INTERESSANTE, MAS QUE NÃO VAI MUITO AOS PROBLEMAS DO POVO, PASSA UM POUCO PELA RAMA” IN JOSÉ DE MATOSCRUZ, “ENCONTRO COM ANTÓNIO DE CAMPOS NO FESTIVAL DE SANTARÉM”, PLA TEIA, 10 DE DEZEMBRO DE 1974. 16 IN JOSÉ DE MATOSCRUZ, “ANTÓNIO CAMPOS FALA DE HISTÓRIAS SELVAGENS O SEU ÚLTIMO FILME”, DIÁRIO POPULAR, 12 DE OUTUBRO DE 1978, P. 25. 17 JORGE LEITÃO RAMOS, “UM FILME A VER SE POSSÍVEL”, DIÁRIO DE LISBOA, 21 DE FEVEREIRO DE 1980. 18 VILA NOVA DE GAIA, 25 ABRIL A 2 DE MAIO DE 1986. 19 IN JOSÉ DE MATOSCRUZ, “ANTÓNIO CAMPOS FALA DE HISTÓRIAS SELVAGENS O SEU ÚLTIMO FILME”, DIÁRIO POPULAR, 12 DE OUTUBRO DE 1978, P. 25. 20 IN JOSÉ DE MATOSCRUZ, “ANTÓNIO CAMPOS FALA DE HISTÓRIAS SELVAGENS O SEU ÚLTIMO FILME”, DIÁRIO POPULAR, 12 DE OUTUBRO DE 1978, P. 25. 21 FRANCISCO XAVIER PACHECO, “CINEMA EM LEIRIA, ENTREVISTA COM ANTÓNIO CAMPOS”, FILME, Nº16, JULHO DE 1966, P.41. Manuela Penafria (UBI) COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:07 Page 90 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:09 Page 91 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:09 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Page 92 92 93 09/02/02 19:09 Page 93 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:10 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Page 94 94 PANORAMA-Book:Layout 1 COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA 95 09/02/02 19:10 Page 95 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:10 Page 96 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS A Almadraba Atuneira A ALMADRABA ATUNEIRA NA ILHA DA ABÓBORA NA COSTA DO ALGARVE (TÍTULO NA PELÍCULA) ANO 1961 16 mm (ampliado para 35 mm pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), preto e branco, 27 minutos REALIZAÇÃO, PRODUÇÃO, IDEIA, ARGUMENTO, FOTOGRAFIA, MONTAGEM DE IMAGEM, MONTAGEM DO NEGATIVO DE IMAGEM António Campos SOM Alexandre Gonçalves (montado em 1974 com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian). MÚSICA Excertos de Stravisnsky INTERPRETAÇÃO pescadores de atum na companha da Ilha da Abóbora (em frente a Conceição de Tavira) e suas famílias. Colaboração: Octavia, Maria Manuela, Escalço Valadas, Malheiro do Vale PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA Festival Internacional de Cinema de Santarém – II Festival do Filme Agrícola e de Temática Rural, 1972 FORMATO ORIGINAL 96 Por altura da passagem dos cardumes de atum pela costa algarvia, em direcção ao Mediterrâneo, onde vão procriar, em toda a costa sul da Península Ibérica se mobilizam comunidades piscatórias muito peculiares. São os que constituem as companhas do atum, que vão preparar e lidar com as almadrabas, as armadilhas especiais para a captura do atum, hoje extintas da costa portuguesa por causa da diminuição brutal dos cardumes e desvio de rotas. António Campos capta todo o processo de preparação dessa pesca artesanal até à «matança», acompanhando por uma temporada as actividades no arraial que se instalava na ilha da Abóbora, diante da localidade de Cabanas de Tavira. Foi a última companha daquele arraial, que o mar engoliria no Inverno seguinte – desapareceram as casas e a própria ilha –, e é um dos documentários maiores do cinema português. PANORAMA-Book:Layout 1 COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA 97 09/02/02 19:10 Page 97 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:10 Page 98 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS 98 A Festa 1975 16 mm, cor 24 minutos REALIZAÇÃO, ARGUMENTO, MONTAGEM António Campos FOTOGRAFIA Acácio de Almeida SOM Alexandre Gonçalves ASSISTENTE DE IMAGEM Francisco Silva ASSISTENTE DE PRODUÇÃO José J. Mota PRODUÇÃO Instituto Português de Cinema LABORATÓRIOS Tóbis Portuguesa, Nacional Filmes PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA Festival Internacional de Cinema de Santarém – V Festival do Filme Agrícola e de temática Rural, 1976 ANO FORMATO COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA Uma festa religiosa tradicional nos momentos decisivos de grandes transformações na «primavera» das transformações que revolucionaram a sociedade no seguimento do golpe de 25 de Abril de 1974. Tradições ancestrais, mantidas nomeadamente pelos emigrantes que sempre voltam à terra por alturas da santa padroeira, confrontam-se quase imperceptivelmente com indícios do momento convulsivo do processo revolucionário então em curso. PANORAMA-Book:Layout 1 99 09/02/02 19:10 Page 99 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:10 Page 100 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS 100 Falamos de Rio de Onor ANO 1974 16 mm (ampliado para 35 mm pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), cor, 63 minutos REALIZAÇÃO, ARGUMENTO E MONTAGEM António Campos FOTOGRAFIA António Campos, Acácio de Almeida SOM Alexandre Gonçalves PRODUÇÃO António Campos com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian – Centro Português de Cinema PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA Festival Internacional de Cinema de Santarém – IV Festival do Filme Agrícola e de Temática Rural, Outubro de 1974 FORMATO ORIGINAL COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA Numa aldeia transmontana a cavalo sobre a fronteira com o território espanhol, nesses primeiros anos da década de 70 o comunitarismo, com os seus ancestrais hábitos tradicionais de organização associados à propriedade e às práticas agrícolas pastoris, encontra-se já em decadência. Mantêm-se visíveis as suas marcas no quotidiano da população. António Campos é informado da existência da aldeia em 1971, pelo etnólogo Jorge Dias, e vai rodar o seu documentário entre Outubro de 1972 e Agosto de 1973. Por dificuldades de pós-produção a obra só será apresentada em Outubro de 1974. PANORAMA-Book:Layout 1 101 09/02/02 19:11 Page 101 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Page 102 102 PANORAMA-Book:Layout 1 103 09/02/02 19:11 Page 103 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Gente Da Praia da Vieira ANO 1975 16 mm (ampliado para 35 mm pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), preto e branco e cor, 73 minutos. Inclui imagens de Um Tesoiro e de A Invenção do Amor REALIZAÇÃO, ARGUMENTO, MONTAGEM António Campos FORMATO ORIGINAL ADAPTAÇÃO DE DIÁLOGOS E DIRECÇÃO DE ACTORES Joaquim Manuel (Quiné) FOTOGRAFIA Acácio de Almeida, António Campos (operador de câmara a preto e branco) SOM Alexandre Gonçalves ASSISTENTE DE IMAGEM Carlos Mena ASSISTENTE DE PRODUÇÃO José J. Mota PARTICIPAÇÃO João Daniel, José Ribeiro, Camilo Korrodi, Armando Filipe, António Casa Branca MÚSICA Shostakovich, Luciano Bério, Bruno Maderna. INTERPRETAÇÃO Joaquim Manuel (Quiné), Miguel Franco, Carolina Young, Octávio Ferreira (sequências de A Invenção do Amor), e actores do Grupo de Teatro do Orfeão de Leiria. LABORATÓRIOS Tóbis Portuguesa, Nacional Filmes PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA Festival Internacional de Cinema de Santarém – V Festival do Filme Agrícola e de Temática Rural, 1976 COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA Filme com o qual «emparceira» A Festa, rodados na mesma aldeia de pescadores, dá-nos a ver a confrontação do olhar sobre uma comunidade da beira-mar da região leiriense – onde os populares, galvanizados pelo ambiente revolucionário onde todos os sonhos são possíveis, lançam mãos à obra em transformações e modernizações que alguns contestam. Campos apresenta esse fresco de contradições e desejos díspares e revisita alguns momentos da sua obra anterior, com inclusão de trechos de O Tesoiro e A Invenção do Amor, que tinham sido rodados na mesma região. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 Page 104 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Histórias Selvagens ANO 1978 16 mm (ampliado para 35 mm pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), cor, 102 minutos REALIZAÇÃO António Campos ARGUMENTO António Campos a partir de Histórias Selvagens, O Chino e A Neve, de A. Passos Coelho POEMA José Gomes Ferreira COMENTÁRIOS António Campos FOTOGRAFIA Acácio de Almeida SOM Alexandre Gonçalves DECORAÇÃO Francisco Baião EFEITOS ESPECIAIS Joaquim Manuel (Quiné) MONTAGEM António Campos FORMATO ORIGINAL 104 Glicínia Quartim (Lobina), Carlos Bartolomeu (Bastião), Cremilda Gil (vendedora), Márcia Breia (comadre no talho), João Lagarto (feirante), Júlio Cardoso (advogado), Lurdes Jorge (filha), Fernando Manuel (filho), Laura Quintela (cliente do talho), José Emílio (Avô), José Alberto (talhante), Alexandrino Teixeira, Vítor Cova, Francisco de Jesus, povo de Montemor-o-Velho e Maria de Deus, Cândido Mota, Fernando Alves, Fernanda Lapa (locução). DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO José J. Mota PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA VII Festival de Santarém, Novembro de 1978 INTERPRETAÇÃO Menção Honrosa do 1º Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa de Aveiro, 1984. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 Page 105 COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA 105 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Sobre esta adaptação de dois contos de Passos Coelho, rodado essencialmente num vale que é território ameaçado pelas cheias, disse A. Campos por altura da sua estreia: Histórias Selvagens desejaria ser uma crónica cinematográfica sobre o trabalhador rural, implantada na área de Montemor-o-Velho, desde tempos recuados até aos nossos dias.» E Maria João Madeira refere-se sobre ele assim: «Mais uma vez, pela sua complexidade narrativa onde convivem tempos diferentes, personagens e paisagem, vigor documental e afirmação ficcional, o filme é recebido como um ponto de viragem na obra do realizador (…)» PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 Page 106 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 Page 107 107 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Um Tesoiro ANO 1958 FORMATO ORIGINAL 8mm (ampliado para 35 mm COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), preto & branco, 14 minutos REALIZAÇÃO, FOTOGRAFIA, MONTAGEM DE IMAGEM E SOM António Campos ARGUMENTO António Campos (adaptação do conto homónimo de Loureiro Botas) INTERPRETAÇÃO Clara Botas, gentes de Vieira de Leiria, Miguel Franco, Octavia de Almeida COLABORAÇÃO Maria Clementina Silva (locução em versão de trabalho) Nota: António Campos fez, em momento indeterminado, uma banda sonora magnética, conservada numa transcrição videográfica. Sabendo-se que o próprio acalentava o projecto de refazer totalmente o acompanhamento sonoro deste filme, a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema optou até ao presente momento por divulgar apenas a banda original de imagem. Subsistem algumas pequenas imperfeições em algumas mudanças de plano, derivadas das características das colagens originais em suporte de 8 mm, minimizadas, mas não totalmente eliminadas, no processo de duplicação. Prémio no Festival Internacional de Cinema Amador de Carcassone de 1958 com o Trophée de L’Espoir. Menção Especial do Júri e Prémio da Melhor Interpretação Feminina para Clara Botas nas Jornadas Internacionais do Filme de 8mm em Paris, 1960. Primeira obra importante de António Campos, depois do inicial O Rio Lis, dela diz o cineasta: «Relata a vida de fome e de miséria que no Inverno todos sofriam com a paragem das companhas de arrasto. Os mais novos partiam para as florestas da Galiza, outros para as beiras interiores de Portugal, todos como madeireiros. Nem todos regressavam (ver o meu filme Gente da Praia da Vieira), mesmo os que iam para as margens do Tejo. Com este filme inaugurei o meu etnocinema que preocupadamente tenho tentado prosseguir durante toda a minha vida.» PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:11 Page 108 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS Vilarinho das Furnas ANO 1971 16 mm (ampliado para 35 mm pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), preto e branco, 77 minutos REALIZAÇÃO, PRODUÇÃO, FOTOGRAFIA, MONTAGEM António Campos ARGUMENTO António Campos a partir de uma ideia de Paulo Rocha e baseado na obra original de Jorge Dias, Vilarinho das Furnas, Aldeia Comunitária SOM Alexandre Gonçalves COLABORAÇÃO Aníbal Gonçalves Pereira (narrador), Joaquim Manuel (Quiné), Fernando Cruz, Jorge Pereira, Glória LABORATÓRIOS Tóbis Portuguesa, Nacional Filmes FORMATO ORIGINAL Nomeado para o Prémio da Crítica no Festival Internacional de Cinema de Cannes, 1972 COLECÇÃO CINEMATECA PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA Uma aldeia perdida nas faldas da serra Amarela, Gerês, e a sua vivência comunitária, das raras experiências integrais que ainda restam em território português do comunitarismo agro-pastoril, serão destruídas pelas águas represadas de uma grande barragem «estratégica». A integração será difícil, mas conseguida por fim, e Campos regista as derradeiras tarefas, como a última apanha do milho, a última procissão, a manutenção sem esperanças dos últimos diques tradicionais. 108 PANORAMA-Book:Layout 1 109 09/02/02 19:11 Page 109 PERCURSOS NO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS: ANTÓNIO CAMPOS PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:12 Page 110 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:15 Page 111 MIDAS FILMES Praça de São Paulo, nº19 – 2º Esq. 1200-425 Lisboa Tel/Fax. 21 347 90 88 [email protected] 111 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS António Campos (título provisório) HDV, 60’, 2009 Catarina Alves Costa Pedro Duarte IMAGEM Pedro Paiva SOM Olivier Blanc PRODUÇÃO Joana Cunha Ferreira, Alexandra Caiano, Pedro Borges – Midas Filmes e RTP2 (com Laranja Azul) REALIZAÇÃO MONTAGEM SINOPSE Um retrato de António Campos, cineasta excepcional a que chamaram amador, um dos mais singulares realizadores portugueses pelo modo como filmou o país nas décadas de 60 e 70. Considerado um realizador à margem, um solitário, um instintivo que trabalhava sem meios e com a cumplicidade de alguns, Campos representa a paixão de filmar. Usando excertos dos seus filmes, e revelando em conversas o seu cinema e a importância que este tem, este documentário quer mais do que tudo encontrar o homem, a pessoa. Para isso, revisita as paisagens que filmou, reconstitui o mundo em que vivia, o momento em que começa a filmar, a Leiria do teatro amador e da Escola Industrial, os anos em que trabalhava na Fundação Gulbenkian, usando para estas reconstituições depoimentos, fotografias e filmes pessoais. BIOFILMOGRAFIA Nasceu em 1967. Licenciou-se em Antropologia Social no ISCTE e fez mestrado M.A. (Econ) no Granada Center for Visual Anthropology, Univ. Manchester. Desde 1998, é Assistente Convidada na F.C.S.H da Universidade Nova de Lisboa, onde actualmente desenvolve projecto de Doutoramento (sobre as imagens do povo no cinema português). Entre 1995 e 2000 foi Técnica Superior no Museu Nacional de Etnologia. É realizadora e produtora sediada na Laranja Azul. E da sua filmografia fazem parte os seguintes filmes, quase todos vencedores de importantes prémios em festivais de cinema e documentário um pouco por todo o mundo: Regresso à Terra (1992), Senhora Aparecida (1994) Swagatam (1998), Mais Alma (2001), O Linho é um Sonho e A Seda é um Mistério (produzidos pela Laranja Azul para o Museu Tavares Proença de Castelo Branco entre 2001 e 2003), O Arquitecto e a Cidade Velha (2003). PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:15 Page 112 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:15 Page 113 19:15 Page 114 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS A Carta de Quinhamel Mini DV, 77’, 2008 REALIZAÇÃO Peter Anton Zoettl IMAGEM Américo Santos MONTAGEM Franz Bieberkopf SOM Gianna di Cicco PRODUÇÃO FullBlue 114 SINOPSE A mãe de Gina não quis que ela se despedisse de ninguém, pois, caso soubessem, poderiam fazer-lhe mal. Djú trabalhava como professor, mas agora é aluno. Actualmente encontram-se ambos em Portugal, tentando dar um passo em frente no seu caminho entre dois mundos. Dois estudantes guineenses e um antropólogo, fora de campo. BIOFILMOGRAFIA Para além de A Carta de Quinhamel, realizou em 2007 o filme Longe de mim. NOTA DE INTENÇÕES Entre o lá e o cá é onde a vida de muitos hoje se passa. O ‘lá’ define o ponto de vista do ‘cá’, mesmo quando aquele já assemelha mais uma lembrança do que uma realidade. E o ‘lá’ representa sempre o sonho do regresso, que tornará o ‘cá’ um só passo para um novo ‘lá’ futuro, que todos esperam ser melhor do que o ‘lá’ de onde outrora partiram. Tudo uma questão de pontos de vista, dos que partiram, chegaram, observaram… Rua António Enes, 16, 1º E, 1050-025 Lisboa; [email protected] 09/02/02 FULL BLUE PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 115 09/02/02 19:15 Page 115 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS A Gravura: Esta Mútua Aprendizagem Betacam SP, 80’, 2008 REALIZAÇÃO Jorge Silva Melo GUIÃO Jorge Silva Melo IMAGEM José Luis Carvalhosa MONTAGEM Vitor Alves SOM Armanda Carvalho; Quintino Bastos ARTISTAS UNIDOS R. Campo de Ourique, 120, 1250-062 Lisboa 21 387 60 78 [email protected] PRODUÇÃO Artistas Unidos SINOPSE Um documentário sobre a “Gravura”, a cooperativa de gravadores portugueses fundada em Lisboa, em 1956, por um grupo de artista e intelectuais. Através de quase três dezenas de depoimentos, retrata-se aqui a sua história, e as suas consequências, a sua origem nos movimentos de oposição à ditadura, numa improvisada garagem de Algés. E sobretudo, a necessidade que os artistas sentiram de aprender em conjunto, de se organizar, aprender e ensinar ao mesmo tempo. Um momento único de camaradagem, aprendizagem, intercâmbio, um momento político na História das Formas. BIOFILMOGRAFIA Fazem parte da filmografia de Jorge Silva Melo os seguintes filmes de ficção: Passagem ou a Meio Caminho (1980); Ninguém Duas Vezes (1984); Agosto (1988); Coitado do Jorge (1993); António, um Rapaz de Lisboa (2001); A Felicidade (2008). E também os documentários: António Palolo – Ver o Pensamento a Correr (1995); Joaquim Bravo, Évora 1935, Etc Etc. Felicidades (1999); Conversas em Leça em casa de Álvaro Lapa (2006); Nikias Skapinakis – O Teatro dos Outros (2007); Álvaro Lapa: A Literatura (2008); António Sena, a Incessante Mão (em preparação); Ângelo de Sousa (em fase de pesquisa e desenvolvimento) NOTA DE INTENÇÕES Neste filme, conta-se uma história. A de uma vontade de criar condições de trabalho para os artistas fora do percurso institucional. E contam-na os principais intervenientes, fundadores, artistas e não-artistas, gente empenhada. Aquilo que me interessou foi esse retrato coral de uns anos – o final dos anos 50 – que se disseram de chumbo, em que a ditadura pareceia eternizar-se e a arte soçobrar. História de resistência, de gosto, de desafios, de leveza. E o cinema começa quando um dos intervenientes, ao olhar para uma velha ficha de inscrição na Gravura, papelinho que não via há mais de 50 anos, sorri. Um sorriso que vem pelo corpo fora há cinquenta anos, um sorriso de orgulho, uma história que pertenceu a muita gente. 19:15 Page 116 A Invisibilidade das Pequenas Percepções Mini DV Cam, 38’, 2008 REALIZAÇÃO Miguel Clara Vasconcelos GUIÃO Miguel Clara Vasconcelos IMAGEM Miguel Clara Vasconcelos MONTAGEM Miguel Clara Vasconcelos SOM Miguel Clara Vasconcelos PRODUÇÃO Companhia Paulo Ribeiro SINOPSE São dois corpos, são duas pessoas, são dois indivíduos que respiram, choram, odeiam, são amados ou não...e dançam! Em A Invisibilidade das Pequenas Percepções vemos um processo de criação capaz de transformar pessoas com baixas expectativas sociais em intérpretes de um espectáculo contemporâneo que desafia vários estereótipos sobre a dança, a motricidade e a interpretação musical. BIOFILMOGRAFIA Nasceu em 1971, Lisboa. Mestrado em Arte e Novas Tecnologias pela Escola Superior de Arquitectura e Belas Artes da Universidade Europeia de Madrid, estudou Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa nas Faculdades de Letras da Universidade de Lisboa e Universidade de Coimbra. Frequentou o Curso de Encenação de Teatro do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. Escreveu e encenou vários projectos teatrais, antes de se dedicar ao cinema. Da sua filmografia destaca Documento Boxe, (53’, Documentário, Prémio Melhor Curta Metragem Portuguesa no 13º Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde, 2005); «EX», (54’, Documentário, Selecção Oficial do IndieLisboa 2007); Uma História Fugaz, (17’, Documentário, Estreia no PANORAMA em 2008) e Instantes de Ficção, (Selecção Oficial do 16º Festival de Vila do Conde). NOTA DE INTENÇÕES No início nenhuma imagem, nenhuma associação de ideias. Não sabia porque um coreógrafo me contactava para “trabalhar sobre o seu trabalho”. Não conhecia o Romulus Neague e fiquei curioso em saber como é que ele conhecia o meu trabalho. Encontrámo-nos no Porto, no café Java, por ser perto do Teatro Nacional de São João, onde ele actuava nessa noite. Tinha-me enviado o projecto com antecedência, um espectáculo de dança cujos intérpretes eram duas pessoas com experiências de vidas no limite da “normalidade”, o limite físico e o limite social. Eu tinha muitas perguntas. O Romulus também. Os ensaios levaram-me a transportar vários quilos de equipamento para Viseu e a instalar-me perto do estúdio de dança por temporadas de 3 e 4 dias. O que filmar? Qual o ponto de vista? Qual a história, para além do espectáculo? Um documentário, mesmo com a lógica de um “Making Of ”, deve contar uma história, fazer o espectador viajar pelos bastidores, mas também por emoções reais, anteriores ao espectáculo propriamente dito. Além de acompanhar e filmar ensaios, eu quis conhecer a vida dos seus intervenientes. Dar visibilidade ao “lado real” de forma mais directa e explícita do que a coreografia do Romulus. Ele compreendeu isso desde o início e colaborou em todo o processo de contacto com instituições e pessoas, para conseguir trazer para a tela excertos do quotidiano, de quotidianos diferentes do nosso. Para mim, é esse o fascínio do documentário. Ser capaz de revelar o lado fantástico da realidade. Por fim, o árduo processo de montagem, onde temos de reorganizar as imagens captadas de uma forma coerente, a partir do material filmado mais do que das ideias pré-definidas no guião. A escolha dos planos obedeceu a uma interpretação mais subjectiva do espectáculo e dos seus participantes. Procuro que o meu trabalho seja como uma janela que permita ver o “outro lado”, mas onde os vidros não são completamente neutros nem completamente transparentes e alteram ligeiramente a imagem. Uma janela que deixa ver o mundo através de lentes especiais, ou, melhor dito, pessoais. Rua de Macau, nº 14, 1º, 1170-203 Lisboa 21 019 22 78 [email protected] 09/02/02 ANDAR FILMES PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:15 Page 117 117 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Acesso Reservado Mini DV, 25’, 2008 Pedro Lemos, Gustavo Ribeiro Pedro Lemos, Gustavo Ribeiro MONTAGEM Pedro Lemos, Gustavo Ribeiro IMAGEM Jorge Bernardes SOM João Vitor Palhares PRODUÇÃO Universidade Católica Portuguesa REALIZAÇÃO GUIÃO SINOPSE Uma equipa de documentaristas procura capturar alguns trabalhadores que servem um sistema comum, mas todos eles com funções distintas. Procura-se verificar se estas funções influenciam o seu modo de encarar a problemática da vida, e as suas vidas privadas. Isto sempre tendo em conta as profissões que exercem num espaço reservado e interdito ao público. PEDRO LEMOS, GUSTAVO RIBEIRO [email protected] BIOFILMOGRAFIA Acesso Reservado é o primeiro filme de Pedro Lemos e Gustavo Ribeiro. NOTA DE INTENÇÕES Pretende-se permitir um olhar distinto sobre o trabalhador “comum”, conotando-o com a força e a dignidade com que todo o ser humano deverá ser identificado. Esta intenção é sugestionada ao longo do documentário, enquanto se viaja pelo espaço reservado, capturando momentos das personagens (funcionários) em trabalho, e depoimentos das mesmas. 19:15 Page 118 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Adeus à Brisa DV Cam, 53’, 2008 REALIZAÇÃO Possidónio Cachapa GUIÃO Possidónio Cachapa IMAGEM Cláudia Varejão MONTAGEM Rita Figueiredo SOM José Reis; Adriana Bolito PRODUÇÃO Filmes do Tejo II SINOPSE Um homem fala sobre o seu passado, que se confunde com o da História do seu país. Num discurso comovente, evoca a luta pela liberdade e a sua crença nas revoluções e na supremacia da Beleza. Sentado na sua sala, Urbano Tavares Rodrigues mantém-se o escritor, o resistente, o que acredita no melhor do Homem. E se as coisas em que acreditou nem sempre lhe corresponderam foi porque ainda não tinha chegado o tempo certo. Mas vai haver um mundo novo. Vai haver. No meio do Tempo, Urbano reflecte, enquanto a brisa do sul não cessa de soprar. 118 BIOFILMOGRAFIA Possidónio Cachapa, Évora, 1965. Licenciado em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa, estudou Realização na Escola Técnica de Imagem e Comunicação. De forma contínua, tem complementado a sua formação com diversos cursos de Imagem, Direcção de Actores e Escrita de Argumento, em Portugal e no estrangeiro. Mais conhecido como escritor (os seus romances estão traduzidos em diversos países e continuam a ser adaptados ao cinema e ao teatro), tem trabalhado como argumentista, e assistente de realização, de diversos realizadores. Desde 1997 que desenvolve experiências na área da ficção e do vídeo. Este é o seu primeiro filme. Av. Liberdade, 85, 3º, 1250 Lisboa 21 323 44 00 [email protected] 09/02/02 FILMES DO TEJO II PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:15 Page 119 ESTC Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 Amadora 21 4989400 [email protected] 119 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Aleluia Betacam SP, 9’, 2008 Fábio Ribeiro Pedro de Jesus IMAGEM André Gaspar MONTAGEM Ana Sofia Alves SOM Ana Queiroz; Ruben Santos PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema REALIZAÇÃO GUIÃO SINOPSE À falta de uma imagem de Deus, os homens inventaram imagens que o representassem para se sentirem mais próximos Dele. Para sentirem mais fé. Essas imagens estendem-se também para todos os santos e não santos. Por vezes, essas imagens são produzidas em massa e numa grande variedade... BIOFILMOGRAFIA Fábio Ribeiro nasceu em Lisboa no ano de 1982. Em 2003 inscreveu-se na ETIC, onde concluiu dois cursos na área de Pós-Produção e Composição de Imagem. Em 2005 escreveu e realizou a sua primeira curta-metragem, Dopamina, financiada pela iniciativa “Labs” com fundos do ICAM e do Ministério da Cultura. No ano seguinte fundou a “Afterburn Produções Audiovisuais” e realizou Maria, um documentário premiado com o “Public’s Vote Award” no “International Video Journalist Award’s” (Berlim). Nesse mesmo ano entrou para a ESTC estando neste momento a frequentar o último ano. Em 2008 realizou, no âmbito da escola, Aleluia, distinguido com a Menção Honrosa nos festivais Primeiro Olhar 2008 em Viana do Castelo e no Curtas 2008 em Vila do Conde. Encontra-se na fase de pré-produção do seu mais recente projecto, JIIN, uma curta-metragem que aborda o papel inconsciente dos nossos demónios interiores. NOTA DE INTENÇÕES Existem várias coisas na vida que não conseguimos explicar. Elementos que não vemos, mas que no entanto sentimos que existem. A Fé não é suficiente, necessitamos de imagens que nos aproximem dessa inexplicável presença, não nos sentimos seguros sem essa materialização do desconhecido, mas porquê? Este documentário observa o momento de transição entre o profano e o sagrado, quando um objecto passa a ser o intermediário da nossa relação com Deus e quando a Fé se transforma em algo que conseguimos ver e tocar. Fé disponível nas lojas… 09/02/02 19:15 Page 120 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 120 Álvaro Lapa: A Literatura Betacam SP, 100’, 2008 REALIZAÇÃO Jorge Silva Melo GUIÃO Jorge Silva Melo IMAGEM José Luis Carvalhosa; Rui Poças MONTAGEM Vitor Alves SOM Armanda Carvalho; Emídio Buchinho; Quintino Bastos PRODUÇÃO Artistas Unidos SINOPSE Numa viagem entre Viseu e Lisboa, Jorge Silva Melo reconstitui para o actor Pedro Gil a sua relação com Álvaro Lapa, as entrevistas que realizou com o artista, os anos passados a ver crescer uma das obras mais singulares da arte portuguesa. E a questão: o que é a literatura? Uma demorada viagem iniciática em que se revê toda a obra pictórica e literária e que termina com a declaração de Álvaro Lapa: “Disponível, disponível é a juventude. Mesmo que seja incapaz, incompetente, estouvada, destrutiva. Mas é disponível”. BIOFILMOGRAFIA Fazem parte da filmografia de Jorge Silva Melo os seguintes filmes de ficção: Passagem ou a Meio Caminho (1980); Ninguém Duas Vezes (1984); Agosto (1988); Coitado do Jorge (1993); António, um Rapaz de Lisboa (2001); A Felicidade (2008). E também os documentários: António Palolo – Ver o Pensamento a Correr (1995); Joaquim Bravo, Évora 1935, Etc Etc. Felicidades (1999); Conversas em Leça em casa de Álvaro Lapa (2006); Nikias Skapinakis – O Teatro dos Outros (2007); Álvaro Lapa: A Literatura (2008); António Sena, a Incessante Mão (em preparação); Ângelo de Sousa (em fase de pesquisa e desenvolvimento) NOTA DE INTENÇÕES Um documentário sobre um rosto: e o rosto de Álvaro Lapa é imprevisível. Fecha-se, abre-se, pára num silêncio pétreo, sorri, parece por vezes uma criança. Ele próprio me disse, após vermos em conjunto o filme sobre Joaquim Bravo em que usei partes de uma longa entrevista: “pareço uma árvore seca”. Por vezes, o silêncio que faz descer sobre a conversa, a nudez da fala é mais desarmante do que a frase, a interrupção mais eloquente. O facto de Álvaro Lapa ter morrido pouco depois da realização de uma longa entrevista que durante dois dias lhe fizemos transformou o projecto. Se Lapa chamou “Reunião” à sua última exposição, este filme poderia chamar-se “Visita à Literatura”. Mas eu queria falar daquilo que dele passou para a minha vida. ARTISTAS UNIDOS R. Campo de Ourique, 120, 1250-062 Lisboa 21 3876078 [email protected] PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 121 121 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Aquele Querido Mês de Agosto 35 mm, 150’, 2008 REALIZAÇÃO Miguel Gomes GUIÃO Miguel Gomes; Mariana Ricardo; Telmo Churro IMAGEM Rui Poças MONTAGEM Miguel Gomes; Telmo Churro SOM Vasco Pimentel PRODUÇÃO O Som e a Fúria; Shellac Sud O SOM E A FÚRIA R.Soc. Farmacêutica, 40, 3º Esqº, 1150-340 Lisboa 21 3582518/ Fax: 21 3582520 [email protected] SINOPSE No coração de Portugal, serrano, o mês de Agosto multiplica os populares e as actividades. Regressam à terra, lançam foguetes, controlam fogos, cantam karaoke, atiram-se da ponte, caçam javalis, bebem cerveja, fazem filhos. Se o realizador e a equipa do filme tivessem ido directamente ao assunto, resistindo aos bailaricos, reduzir-se-ia a sinopse: «Aquele Querido Mês de Agosto acompanha as relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de baile». Amor e música, portanto. BIOFILMOGRAFIA Nasce em Lisboa, em 1972. Frequenta a Escola Superior de Teatro e Cinema. Trabalha como crítico de cinema na imprensa portuguesa entre 1996 e 2001. As suas curtas metragens são premiadas em festivais como Oberhausen, Vila do Conde, Belfort ou CinemaTexas e exibidas em Locarno, Roterdão, Viennale e Buenos Aires, entre outros. Estreia-se na longa metragem em 2004, com A Cara que Mereces. NOTA DE INTENÇÕES A vida nem sempre é fácil, meus amigos! Em Julho de 2006, ocorre uma pequena calamidade. A rodagem do filme, prevista para o mês seguinte, é adiada para data incerta. Falta dinheiro à produção para um argumento exigente, a ser rodado no interior de Portugal durante as festas de Agosto, e opções de casting ao realizador. Rapidamente recuperado do choque, este decide partir para o terreno com uma câmara de 16 mm e uma equipa composta por cinco elementos – pequena mas brava! – e filmar tudo aquilo que lhe parecesse digno de registo, comprometendo-se a reformular a ficção em conformidade. Esta história e as que se lhe seguiram poderão encontrá-las no filme; embora, por amor à verdade, se deva reconhecer que as aparências iludem e que certos realizadores têm uma propensão genética para a mistificação. Documentário? Ficção? A meio deste filme vemos uma ponte: a ponte romana de Coja sobre o rio Alva, da qual se atira Paulo “Moleiro”. Sem querer parecer Confúcio, diria que de qualquer uma das margens que esta ponte une se avista perfeitamente a outra. E que o rio é sempre o mesmo. 19:16 Árvores Mini Dv, 71’, 2008 Eva Ângelo Eva Ângelo; Joana Providência IMAGEM Eva Ângelo MONTAGEM Eva Ângelo PÓS-PRODUÇÃO Quico Serrano CO-PRODUÇÃO Culturgest; Teatro do Bolhão REALIZAÇÃO GUIÃO SINOPSE Memórias de experiências quotidianas na voz de homens e mulheres em diálogo com a vida e com a morte. São testemunhos de pessoas que contam histórias de salvação. Doze pessoas, doze árvores, corpos e viagens a transformar o tempo e o lugar. Page 122 BIOFILMOGRAFIA Bacharelato em Tecnologias da Comunicação Audiovisual, terminado em 2000 no Instituto Politécnico do Porto; formação profissional em Técnicas de Produção Gráfica e Multimédia na Alquimia da Cor, em 2002; Licenciatura em Design de Luz e Som terminada em 2003 na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. Inicia a sua actividade artística em fotografia em 1999. Na área audiovisual destaca o trabalho de assistência que realizou para o atelier Júlio Dematos e a operação do audiovisual no espectáculo O que Diz Molero, no Teatro Nacional de S. João, no Porto. Desenvolve a partir de 2000 a sua actividade enquanto Técnica e Designer de Vídeo para Dança e Teatro realizando e editando vídeos experimentais e promocionais. A partir de 2005 foca o seu percurso num trabalho de pesquisa realizando e editando os seus próprios documentários. Concilia os seus projectos pessoais com outras actividades sendo colaboradora da RTP e professora da disciplina Tecnologia da Comunicação e Informação na Academia Contemporânea do Espectáculo. NOTA DE INTENÇÕES Este trabalho é o resultado de uma recolha e selecção de histórias que contribuíram para a pesquisa no contexto do projecto Ladrões de Almas de Joana Providência. Em dialéctica com estes testemunhos de pessoas que contam histórias de salvação, temos a árvore, a metáfora aqui escolhida para transporte e estímulo à escuta, que procura uma compreensão também simbólica e intuitiva sobre este universo. – TEATRO DO BOLHÃO Pr.Coronel Pacheco, Nº 1, 4050-453 Porto; [email protected] 09/02/02 CULTURGEST PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 123 As Pedras e as Pessoas MiniDv, 12’, 2008 REALIZAÇÃO Luís Nogueira RESTART Cais português lote 2.11.01.Ac, Parque das Nações, 1990-223 Lisboa 21 8923570 [email protected] GUIÃO Luís Nogueira MONTAGEM Luís Nogueira MÚSICA Deadcombo (Temas: Rumbero Rodada) PRODUÇÃO Restart SINOPSE Documentário inspirado no dito popular: “As pessoas de Trás-os-Montes são duras e frias como as pedras que eles lá têm”. BIOFILMOGRAFIA Realizou, para além deste As Pedras e as Pessoas, um vídeo experimental intitulado Sombras, também em 2008. NOTA DE INTENÇÕES “Duros e frios como as pedras que eles lá têm” Um dos meus antepassados era transmontano, nunca o conheci mas quando mo descrevem esta frase é utilizada, de que ele “era duro e frio como as pedras que eles lá têm”. Sendo pelo menos parcialmente verdade que a paisagem molda os comportamentos das pessoas que habitam nela, pretendi filmar as pedras e as pessoas de Trás-os-Montes, encontrar os pontos em comum (ou não), encontrar (ou não) sentido nessa frase. O facto de, naquela região ao longo dos tempos, as pedras terem sido sempre parte da paisagem e também matéria-prima dominante, fez-me ter curiosidade sobre as relações e cumplicidades, a “simbiose” que se estabeleceu entre as pessoas e as pedras. Trás-os-Montes era a única região de Portugal continental que nunca tinha visitado. A imagem da região exercera sempre sobre mim um certo fascinio. A aridez fria e pedregosa que imaginava naquelas serras ainda selvagens despertava em mim grande curiosidade. Teria de lá ir um dia. O facto de esperar encontrar lugares pouco ou nada tocados pela presença humana, permitiu-me idealizar uma especie de viagem às origens. Das pedras, das pessoas e minhas também afinal. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 124 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 124 SINOPSE “Bab Septa” significa em árabe a porta de Ceuta e é o nome da passagem na fronteira entre Marrocos e Ceuta. É o local para onde convergem aqueles que, vindos de várias partes de Africa, procuram chegar à Europa. O filme Bab Sebta percorre quatro cidades ao encontro dos tempos da espera e das vozes desses viajantes. BIOFILMOGRAFIA Frederico Lobo. Nascido no Porto em1981. Estudou Som e Imagem no Porto. Em 2006 frequentou o curso de documentário dos Ateliers Varan na Fundação Calouste Gulbenkian no âmbito do qual realizou o filme Entre Tempos. Em 2008 terminou Bab Sebta, longa-metragem co-realizada com Pedro Pinho. Pedro Pinho. Nasceu em Lisboa em 1977. Realizou 2 curtas-metragens de ficção: Perto (2004) e No Início (2005). Bab Sebta é o seu primeiro documentário. Betacam SP, 110’, 2008 REALIZAÇÃO Frederico Lobo; Pedro Pinho GUIÃO Frederico Lobo; Pedro Pinho IMAGEM Luísa Homem; Frederico Lobo; Pedro Pinho Rui Pires; Frederico Lobo; Pedro Pinho; Luísa Homem; Cláudia Silvestre SOM Frederico Lobo; Pedro Pinho PRODUÇÃO Luísa Homem MONTAGEM LUÍSA HOMEM Bab Sebta O mundo mundializa-se. As fronteiras atenuam-se. Os mercados liberalizam-se. Os destinos exóticos multiplicam-se. Multidões de turistas circulam, capturando e amalgamando paisagens remotas em máquinas minúsculas. Num piscar de olhos, mercadorias atravessam hemisférios. Na fronteira sul da Europa persiste-se em excluir uma vasta parte da população mundial desta nova realidade. Insiste-se em montar barreiras intransponíveis a marcar fronteiras imaginárias e transitórias – invisíveis para o fluxo frenético de pessoas e bens que se dirige de Norte para Sul, mas desmedidas para os homens e mulheres que decidiram migrar no sentido inverso. Bab Sebta nasceu da perplexidade produzida pelos acontecimentos de Setembro 2005 e pelas imagens que na altura foram difundidas. Os ataques massivos de migrantes subsaharianos às grelhas fronteiriças de Ceuta e Melilla levou-nos a fazer uma viagem ao Norte de África duas semanas após estes acontecimentos e a iniciar a preparação deste filme. O filme ocorre em volta da caracterização de 4 espaços – 4 cidades ao longo da costa do Norte de África onde se reúnem largos grupos de pessoas à espera de uma oportunidade de passar para a Europa. A aparente inacção que domina o tempo presente destes 4 espaços abre lugar a que, na partilha do quotidiano, se soltem as conversas, se cruzem discussões nos mais diversos dialectos de origem, se construa a narrativa das histórias vividas – onde o passado recente, a viagem, o deserto, o mar, os perigos, os esquemas, surgem com dimensões épicas. Como se o passado e o futuro actuassem como espelho e antítese glorificadora de um presente em que alguma coisa não acontece. [email protected]; [email protected] NOTA DE INTENÇÕES PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 125 Caminhu Ku Futuru AO NORTE – ASSOCIAÇÃO DE PRODUÇÃO E ANIMAÇÃO AUDIOVISUAL Praça D. Maria II, 113, R/C, 4900-489 Viana do Castelo 258 821619 [email protected] DV Cam, 90’, 2008 REALIZAÇÃO Carlos Eduardo Viana GUIÃO Carlos Eduardo Viana IMAGEM Ricardo Geraldes MONTAGEM Rui Santos; António Soares SOM Alexandre Martins PRODUCAO Ao Norte – Associação de Produção e Animação Audiovisual SINOPSE Em Caminhu Ku Futuru a câmara acompanha o trabalho quotidiano Joaquim Furtado, Delegado de Educação do Concelho de Santa Catarina, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, e Osvaldino Moura, Gestor e Coordenador do Pólo Educativo de Ribeira da Barca. E procura pôr em relevo os desafios que estes enfrentam no campo de educação. BIOFILMOGRAFIA Carlos Eduardo Viana nasceu em Antas, em 1953. Tem o curso Superior de Cine Vídeo da ESAP. Iniciou-se no documentário com Jean-Loic Portron num Atelier de Cinema Directo realizado em Viana do Castelo. Bolseiro do Governo Francês, frequentou na Associação Varan, em Paris, dois estágios de Cinema Directo (Iniciação e Especialização). É Professor do Ensino Básico. NOTA DE INTENÇÕES Caminhu Ku Futuru regista as percepções de vários actores educativos a nível regional e comunitário sobre a importância da escola e da educação de base para o desenvolvimento local no contexto de um pequeno país insular – Cabo Verde. São abordadas situações específicas no interior da ilha de Santiago (particularmente no concelho de Santa Catarina e no pólo educativo da Ribeira da Barca) que se relacionam com o contributo da educação para o desenvolvimento social e educativo local. Este trabalho enquadra-se numa perspectiva mais ampla de intervenção e reflexão resultante de uma ligação muito rica que a Escola Superior de Educação de Viana do Castelo tem estabelecido ao longo dos últimos cinco anos com escolas, comunidades, organizações não-governamentais e outros actores no contexto do desenvolvimento, muitos deles situados no meio rural e que têm uma preocupação com a escolarização das crianças e com a qualidade da educação numa perspectiva africana de desenvolvimento endógeno. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 126 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 126 Conversa entre Duas Mulheres DV Cam, 20’, 2007/8 REALIZAÇÃO Ana Gil GUIÃO Ana Gil; Marie-Claude Bonnet IMAGEM Ana Gil MONTAGEM Grégory Betend; Ana Gil SOM Cécile Martinaud PRODUÇÃO Université Stendhal de Grenoble; Ass. Ardèche Images SINOPSE Conversa entre Duas Mulheres é isso mesmo – uma conversa entre uma mulher de 62 anos e outra de 28, com uma câmara entre as duas. A mais nova filma. A mais velha pinta uma parede e dá resposta às inquietudes da primeira sobre o tempo que não pára. Ao longo de 3 dias as cores mudam o espaço e a relação cresce. A conversa desenrola-se em torno do corpo de Marie-Claude, dos seus defeitos, das suas transformações, dos seus amores… NOTA DE INTENÇÕES Este filme partiu de um desafio para filmar “a palavra” de uma forma que fugisse à entrevista clássica (= pessoa sentada numa cadeira responde a perguntas). Escolhi o movimento como veículo da “palavra”. Sabia que queria falar sobre as fases da vida de uma mulher através do lado mais concreto do corpo. Sabia que queria filmar um corpo a produzir algo que se transformassse em 3 dias. E encontrei Marie-Claude. Propus-lhe fazermos um filme em conjunto. Queria que ela tivesse um papel criativo, que não fosse apenas a pessoa filmada. Ela aceitou. Disse que tinha uma parede para pintar. Passámos tardes a falar, a beber chá, a chorar e a rir juntas. Criou-se algo. E depois partimos para o filme. ANA GIL Nasce em 1979. Licencia-se em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Paralelamente forma-se em Realização na Restart – Escola de Criatividade e Novas Tecnologias. Em 2007 conclui o mestrado em Realização de Documentário de Criação organizado pela Université Stendhal de Grenoble e pela Association Ardèche Images. Realizou: A Menina e o Cão vão ao Baile da Rainha (2007; Secção de competição nacional DocLisboa 2007); As saudades que eu já tinha da Minha Alegre Casinha (2008). [email protected] BIOFILMOGRAFIA PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 127 127 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Cordão Verde HIROATSU SUZUKI E ROSSANA TORRES [email protected]; [email protected] MiniDV/CAM, 37’, 2009 REALIZAÇÃO Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres GUIÃO Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres IMAGEM Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres MONTAGEM Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres SOM Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres PRODUÇÃO Rossana Torres SINOPSE Poema de imagens e sons em torno do Homem e da Natureza, na Serra do Caldeirão e Vale do Guadiana. BIOFILMOGRAFIA Rossana Torres realizou e coordenou entre 2003 e 2005 os Ateliers de cinema de animação. É o primeiro filme de Hiroatsu Suzuki. 19:16 Page 128 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Da Vida das Bonecas DV Cam, 56’, 2008 REALIZAÇÃO Neni Glock GUIÃO Neni Glock IMAGEM Neni Glock MONTAGEM Neni Glock – ADN Filmes SOM Neni Glock PRODUÇÃO ADN – Neni Glock 128 SINOPSE Mais do que um documento sobre bonecas, é acima de tudo uma visão sobre os seus coleccionadores e as distintas maneiras que têm de relacionar-se com elas. Mostra a actividade do tradicional Hospital de Bonecas existente no coração de Lisboa e mais 4 personagens adultos, homens e mulheres que de uma forma ou outra se sentem ligados a este mundo do imaginário infantil. BIOFILMOGRAFIA Realizou os seguintes filmes, todos eles adquiridos pela RTP2: Rastas (2005; Menção Honrosa na XXXl Jornada Internacional de Cinema da Bahia); A Fé de Cada Um (2006; Prémio Especial do Júri, XXXII Jornada Internacional de Cinema da Bahia); Diferenças (2007). NOTA DE INTENÇÕES Apenas contar histórias com alma sobre personagens reais. – NENI GLOCK Rua do Caminho da Quinta, 7A-2º, Oeiras, 2780-095 21 441 17 6 [email protected] 09/02/02 ADN PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 129 MANAMANA DESIGN INDUSTRIAL LDA Rua das Fontanhias 76, 1300-257 Lisboa 21 3623525 [email protected] 129 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Desvião/Padrão Mini DV, 18’, 2008 REALIZAÇÃO Sara Morais AUTORIA Joana Morais; Sara Morais IMAGEM Joana Morais; Sara Morais MONTAGEM Sara Morais SOM Joana Morais; Sara Morais PRODUÇÃO Manamana Design Industrial Lda SINOPSE Em 18 minutos percorrem-se 10 estações de metro. Partindo dos azulejos criados por Maria Keil para o Metropolitano de Lisboa, procuram-se relações visuais entre a geometria de uma obra que permanece e o movimento de uma cidade. BIOFILMOGRAFIA Nascida em Lisboa a 05 de Novembro de 1982. Contam-se na sua filmografia, para além de Desvio/Padrão: O Silêncio dos Objectos, FCSH/UNL (2004); Na Rua, Videoteca de Lisboa (2004); Fragmento, Videoteca de Lisboa (2004); Conto, FCSH/UNL (2005) NOTA DE INTENÇÕES Este filme faz parte de um livro-dvd sobre os azulejos de Maria Keil apoiado pela Direcção Geral de Artes/Ministério da Cultura no âmbito de apoios a projectos de design. A intenção era falar sobre a importância da obra de Maria Keil jogando com a ideia de padrão e de desvio. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:16 Page 130 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Dificilmente o que Habita Perto da Origem Abandona o Lugar Betacam Digital, 50’, 2008 REALIZAÇÃO Olga Ramos AUTORIA Catarina Rosendo e Olga Ramos MONTAGEM Cláudia Varejão e Graça Castanheira SOM Armanda Carvalho PRODUÇÃO Laranja Azul 130 BIOFILMOGRAFIA Olga Ramos nasceu em Lisboa em 1967. Formada pela Escola Superior de Teatro e Cinema em montagem. Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian especializa os seus estudos na área de realização de documentário com Michael Rabiger. Desde 1991 trabalha como realizadora, montadora e operadora de câmara. Realiza os documentários: Julio Resende, até ao Farol, Paula Rego, A Audiência, Taraf de Haidouks, Ninguém é Perfeito, 24Horas e Outra Terra, Francisco Tavares Proença Júnior – Arqueólogo/Archeologue. SINOPSE [email protected] Catarina Rosendo nasceu em Lisboa em 1972. Mestrado em História da Arte Contemporânea pela FCSH-UNL (Lisboa). Bolseira da FCT para Doutoramento na mesma instituição. Trabalho continuado de investigação e curadoria no âmbito da arte contemporânea portuguesa, através de exposições, edições, seminários, entre outros. OLGA RAMOS Alberto Carneiro é escultor. Nasceu na zona rural nortenha de São Mamede do Coronado. Aí exerceu o ofício de santeiro durante vários anos, antes de iniciar um percurso artístico que o transformaria num dos mais importantes artistas da sua geração. Hoje habita no mesmo lugar onde nasceu, num “regresso a casa” que é também um retorno aos lugares físicos e afectivos que influenciaram as suas propostas artísticas: as coisas da terra e o mundo agrícola e rural do Vale do Coronado. A sua obra tem-se desenvolvido, desde o início da sua actividade, por um trabalho com e na natureza. O seu trabalho faz uma importante reflexão sobre a paisagem enquanto entidade natural e cultural que nos rodeia, e da qual fazemos parte. Esta é uma história sobre Alberto Carneiro, vista a partir de O Canavial: memória-metamorfose de um corpo ausente, trabalho de 1968, assumido como eixo em torno do qual se constrói uma narrativa que sobrepõe os ritmos quotidianos da sua vida à sua obra e, no limite, torna o homem indistinto do próprio escultor. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Page 131 131 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Do Corpo à Palavra Mini Dv Cam, 48’, 2008 REALIZAÇÃO Colectiva DIRECÇÃO DE PROJECTO Mariana Lemos ORIENTAÇÃO DA REALIZAÇÃO E MONTAGEM C.E.M – CENTRO EM MOVIMENTO Rua dos fanqueiros, nº 150 – 1º, 1100 – 232 Lisboa 21 887 17 63 / 21 887 19 17 [email protected] Bruno Cabral SOM Miguel Cabral PRODUÇÃO Cristina Vilhena e Flávia Diab – CEM SINOPSE Um grupo de mulheres com histórias de vida que passam pela prostituição de rua, na cidade de Lisboa, desenvolve um trabalho baseado no corpo e na dança, no contexto de um programa de reintegração social. No âmbito deste programa, participam num laboratório de cinema documental com o objectivo de realizarem um filme colectivo. No decorrer do processo, surge a urgência de se abordar o tema da prostituição e o direito à maternidade. No dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, o grupo organiza um evento público na Igreja dos Anjos, onde é apresentado um vídeo criado por elas, Mães de Corpo Inteiro, seguido de um debate. O processo de trabalho, momentos do laboratório de dança e de cinema, a preparação do evento, os conflitos, as escolhas e a reflexão sobre o tema da maternidade, até chegar ao dia da exibição do vídeo, são o fio condutor deste documentário. Uma reflexão sobre a vida deste grupo de mulheres, as suas histórias pessoais, lutas e conquistas. BIOFILMOGRAFIA Filme colectivo realizado no âmbito do projecto “IR”. NOTA DE INTENÇÕES No âmbito dos projectos sócio-artísticos que o c.e.m – centro em movimento – desenvolve com a comunidade, desenvolve-se desde 2005 um trabalho em colaboração com a Obra Social das Irmãs Oblatas. O c.e.m. tem vindo a acompanhar um grupo de mulheres com idades entre os 30 e os 60 anos, com histórias de vida que passam pela prostituição de rua. O investimento no trabalho de corpo é a base do projecto e, desde 2007, tem vindo a associar às anteriores, experiências de cinema documental. Este filme é uma dessas experiências. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Page 132 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 132 Imorredoira Mini DV, 6’, 2008 Sílvia das Fadas Sílvia das Fadas IMAGEM Sílvia das Fadas MONTAGEM Sílvia das Fadas PRODUÇÃO Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univ.Nova de Lisboa; Sílvia das Fadas REALIZAÇÃO GUIÃO SINOPSE Porque a minha casa é um arquivo e é tão viva como aqueles que a habitam e as suas histórias iniciaram-se muito antes de mim, num ano impreciso de há dois séculos atrás, quando em seu lugar ainda havia NOTA DE INTENÇÕES Eu nunca quis deixar a casa, quis relacionar-me cinematograficamente com ela e filmá-la tornou-se uma espécie de auto-retrato. Uma forma de a (me) compreender na interioridade, uma possibilidade apenas. SÍLVIA DAS FADAS Nasci em Coimbra, cidade circular, onde deixei as tranças e incendiei a imaginação entre as paredes negras do teatro-estúdio do CITAC. Entreguei-me aos Estudos Artísticos no ano em que eles abriram, e descobri o cinema num impulso de transformar as palavras em imagens. Comecei a filmar em super 8 e por dois anos trabalhei no Grauco, o cineclube mais antigo de Roma, cidade que me roubou o coração e que me viu também estudar na Scuola Romana di Fotografia. Fiz uma ou outra performance, duelos comigo mesma, passei indisciplinadamente por um mestrado na FCSH e continuo os meus estudos de Cinema / Imagem em Movimento no Ar.Co. Romance Noir (6’10’’, super 8, 2007); I have been here before (9’, super 8, 2005); A última vez que subi ao castelo (2’30, super 8, 2005). [email protected] BIOFILMOGRAFIA PATRICIA LEAL [email protected] PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Making Of (Caixa de Música) DV Cam, 25’, 2007 REALIZAÇÃO Patricia Leal PRODUÇÃO Patricia Leal GUIÃO Patricia Leal IMAGEM Patricia Leal MONTAGEM Patricia Leal SOM Filipe Chagas Page 133 SINOPSE Em Maio de 2007, o David pediu-me para acompanhar a rodagem da sua curta-metragem e realizar o making of. As suas condições: nenhumas. Somente respeitar o prazo de entrega. As minhas condições: não saber pormenores do argumento. Eu iria simplesmente aparecer nos vários locais de filmagem. No final, para organizar o material filmado, pedi ao David que partilhasse comigo a estruturada timeline de montagem da curta-metragem. BIOFILMOGRAFIA Patrícia Leal realizou: Lumier Cite (vídeo, 2008), Hamlet Light (2007, exibido no Teatro das Figuras de Faro, no CCB e no Teatro Municipal de Guarda), Water (vídeo, 2006, exibido no Off On Film Festival em Varsóvia), Imagery Incubator (vídeo, 2006, presente no Temps d’Images – Museu do Chiado), Yangel (doc., 2005, exibido no PANORAMA 06 e no ciclo Novíssimos do Cinema Português), Minotauro (doc., 2006, venceu o prémio dos cineblubes Primeiro Olhar nos Encontros de Viana, e passou pelo Vilnius Short Film Festival, Mostra de Curtas e Vídeo experimental de Setúbal, no Artfest). NOTA DE INTENÇÕES O meu trabalho varia entre o documentário, a vídeo arte e as colaborações no campo das artes perfomativas. O tema central dos trabalhos em vídeo são a percepção e a desconstrução da linguagem e ferramentas próprias do cinema. 19:17 Page 134 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Máscara do tempo Betacam SP, 10’, 2008 REALIZAÇÃO Gonçalo Jordão GUIÃO Hugo Costa IMAGEM Hugo Costa MONTAGEM Filipe Afonso SOM Marco Ferreira PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema SINOPSE Não pretendemos representar, mas antes procurar imagens de um mundo em transição. Sem nunca esquecer a importância do olhar, queremos oferecer ao espectador ecos de uma arquitectura que se mascarou no tempo. 134 BIOFILMOGRAFIA Gonçalo Jordão nasceu em 29 de Julho de 1981, na cidade do Porto. Licenciado em História de Arte após participar no Programa Eramus, em Nápoles, ingressou na ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema), onde frequenta o Curso de Cinema (áreas de montagem e realização). NOTA DE INTENÇÕES A construção de uma barragem, entre 1954 e 1959, levou ao nascimento de infra-estruturas para instalar as pessoas, e as suas famílias, que iriam trabalhar nesta obra. A localização coincidia com umas das áreas mais atrasadas do país, a Aldeia de Picote, em Miranda do Douro. Para a construção da barragem e de todo o plano urbanístico foram chamados três jovens arquitectos da escola de Belas Artes do Porto. Estávamos em período pós-inquérito (sob a tutela de Carlos Ramos e Fernando Távora). O resultado é um conjunto arquitectónico único onde se conjuga tradição e moderno. Onde o homem se reúne com a natureza. Actualmente encontramos esta urbanização deserta e degradada. Porquê? Esta é uma das inquietações do nosso filme, é uma das nossas questões primordiais. Interessa-nos descobrir, procurar entre as memórias da arquitectura, algumas respostas. A barragem será olhada, respeitada, como um espaço sagrado, mas também como um elemento de separação. Um lugar que marca a relação do homem com o seu presente e com o seu passado. O rosto dos vultos funde-se com o ruído das turbinas, pintando uma paisagem minimal, repetitiva, de absorvimento. A barragem marca uma separação. Um lugar onde o homem vive entre o passado e o presente. Vive rodeado de vultos do passado, respirando o agora. Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 Amadora 21 498 94 00 / Fax: 21 493 76 20 [email protected] 09/02/02 ESTC PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Page 135 19:17 Page 136 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS 136 Moiras DV Cam, 25’, 2008 Regina Guimarães; Saguenail Regina Guimarães; Saguenail MONTAGEM Regina Guimarães; Saguenail SOM Rui Coelho PRODUÇÃO Hélastre REALIZAÇÃO IMAGEM SINOPSE Em Viana do Alentejo, uma mulher do Norte, há já alguns anos envolvida em trabalhos ligados às “artes da terra”, preocupa-se com as lãs de ovelha que, após a tosquia, são destruídas porque a sua comercialização não é economicamente viável. Assim nasceu o local Oficina do Feltro. BIOFILMOGRAFIA Regina Guimarães e Saguenail vivem e trabalham no Porto desde 1976. Hélastre é o signo da sua obra comum. Além de inúmeras produções, resultantes da iniciativa individual de cada um dos autores, nomeadamente nas áreas da Poesia, do Cinema, do Vídeo, da Crítica, da Tradução, da Pedagogia, da Canção, etc. Têm prosseguido uma obra em parceria nos domínios do Documentário e do Teatro. NOTA DE INTENÇÕES Este filme tenta devolver a matéria de um sonho que, num certo Primeiro de Maio, se exprimiu por gestos e cantigas. Rua Anselmo Braancamp, 498, 4000-080 Porto 22 0110618 / Fax: 22 510104 [email protected] 09/02/02 HÉLASTRE PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Page 137 137 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Morar Aqui Mini Dv, 27’, 2008 REALIZAÇÃO Maria Remédio IMAGEM Maria Remédio FACULDADE DE BELAS ARTES – FACULDADE DE LISBOA / MARIA REMÉDI [email protected] MONTAGEM Maria Remédio SOM Maria Remédio PRODUÇÃO Faculdade de Belas Artes – Universidade de Lisboa SINOPSE É um bairro de Lisboa, e no bairro existe uma rua. Nessa rua, pequenos negócios de família ditam a rotina acolhedora do sítio. Gentes que nascem e crescem ali, que se cruzam todos os dias, durante muitos anos, às vezes quase uma vida. Os laços familiares estendem-se aos vizinhos, aos colegas de trabalho, aos transeuntes, aos habitantes do lugar. BIOFILMOGRAFIA Maria Remédio nasceu em Lisboa, 1983. Licenciada em Pinturas-Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2007. Para além de Morar Aqui, realizou Terceiro Bê, 2007 (Prémio Primeiro Olhar Jovem/IPJ nos Encontros de Viana, 2008). NOTA DE INTENÇÕES Existem vários locais, bairros de Lisboa, onde a vida rotineira e localizada contradiz a ideia de cidade como fruto do anonimato. Na rua para onde me mudei há 3 anos, em Campo de Ourique, encontrei esta vida. Descobri a vontade de representação daquela rotina à porta de minha casa. Há quanto tempo aqui estão estas pessoas? Qual é o ritmo dos seus dias? Como se gerem as relações familiares dentro de um mesmo pequeno estabelecimento comercial? Como se refaz a solidão por idosos nesta rotina? 19:17 Page 138 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Música de Câmara Mini DVCam, 9’, 2007 Tiago Afonso Tiago Afonso GUIÃO Tiago Afonso IMAGEM Tiago Afonso; Artur Afonso; Amarante Abramovici MONTAGEM Tiago Afonso; Regina Guimarães MÚSICA Franz Schubert REALIZAÇÃO PRODUÇÃO 138 SINOPSE Diário/Ensaio/Livro filmado em Super 8mm, mas montado com as técnicas do vídeo. BIOFILMOGRAFIA À volta do documentário tem realizado por um lado vídeos etnográficos (Museu Municipal de Penafiel), sobre arte contemporânea (Museu Serralves), “Diários” de carácter experimental e retratos (filmes Prec) NOTA DE INTENÇÕES Diário/Ensaio, percurso sonhado por sítios onde passei, pessoas que me frequentam, juízos vários disparados em várias direcções. [email protected] 09/02/02 TIAGO AFONSO PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:17 Page 139 Nacional 206 Dv Cam, 53’, 2008 REALIZAÇÃO Catarina Alves Costa IMAGEM João Ribeiro MONTAGEM Catarina Mourão SOM Armanda Carvalho PRODUÇÃO Laranja Azul LARANJA AZUL Rua Tenente Ferreira Durão, 19, 3º esq tel/fax 21 388 12746 [email protected] SINOPSE Fábrica de têxteis. Estrada Nacional 206, entre Guimarães e Famalicão, no Vale do Ave. À procura de testemunhos sobre os percursos escolares, encontramos o quotidiano e a rotina de uma fábrica que nunca pára, dia e noite, e dos que nela trabalham. O filme mostra uma empresa com oitenta anos, ainda nas mãos da terceira geração de familiares do sr. Oliveira, o fundador. Com 1200 trabalhadores, exporta 80% da sua produção para a Alemanha, os EUA e o Japão produzindo tecido de grande qualidade para marcas como Armani e Hugo Boss. Dentro dos seus corredores e maquinaria, seguimos o quotidiano e rotina dos trabalhadores que nos falam da escola, e do seu percurso profissional e pessoal. BIOFILMOGRAFIA Nasceu em 1967. Licenciou-se em Antropologia Social no ISCTE e fez mestrado M.A. (Econ) no Granada Center for Visual Anthropology, Univ. Manchester. Desde 1998, é Assistente Convidada na F.C.S.H da Universidade Nova de Lisboa, onde actualmente desenvolve projecto de Doutoramento (sobre as imagens do povo no cinema português). Entre 1995 e 2000 foi Técnica Superior no Museu Nacional de Etnologia. É realizadora e produtora sediada na Laranja Azul. E da sua filmografia fazem parte os seguintes filmes, quase todos vencedores de importantes prémios em festivais de cinema e documentário um pouco por todo o mundo: Regresso à Terra (1992), Senhora Aparecida (1994) Swagatam (1998), Mais Alma (2001), O Linho é um Sonho e A Seda é um Mistério (produzidos pela Laranja Azul para o Museu Tavares Proença de Castelo Branco entre 2001 e 2003), O Arquitecto e a Cidade Velha (2003). NOTA DE INTENÇÕES O ambiente é o das pessoas, do seu silêncio, e o das máquinas, e do seu trabalhar. Câmara e microfone no espaço claustrofóbico da fábrica que fabrica tecidos, das rotinas, dos turnos, do trabalho mecânico, do descanso de meia hora, do descascar e comer uma maçã no espaço envidraçado com vista para as máquinas. Toca a campainha, entra o turno das duas horas da tarde às dez da noite. O filme encadeia imagens do quotidiano de trabalho com pequenas entrevistas, dentro da fábrica, em que as pessoas falam da escolaridade, da formação, das expectativas e sonhos. Mas as respostas faladas estão des-sintonizadas com o quotidiano, a fábrica é um enorme corpo em movimento, microcosmos do mundo profissional, em que a máquina é metáfora do trabalho. 09/02/02 19:17 Page 140 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Compasso DV Cam, 160’, 2008 Regina Guimarães; Saguenail Saguenail MONTAGEM Regina Guimarães; Saguenail SOM Rui Coelho PRODUÇÃO Hélastre REALIZAÇÃO IMAGEM 140 SINOPSE A aldeia Fonte Arcada é o palco e este filme é o rasto de um encontro e de um confronto de olhares: o dos seus habitantes, o dos sociólogos em campo, o dos cineastas no encalço do inquérito. BIOFILMOGRAFIA Regina Guimarães e Saguenail vivem e trabalham no Porto desde 1976. Hélastre é o signo da sua obra comum. Além de inúmeras produções, resultantes da iniciativa individual de cada um dos autores, nomeadamente nas áreas da Poesia, do Cinema, do Vídeo, da Crítica, da Tradução, da Pedagogia, da Canção, etc. Têm prosseguido uma obra em parceria nos domínios do Documentário e do Teatro. NOTA DE INTENÇÕES Os sociólogos, com o seu método estatístico e os seus inquéritos, constroem uma imagem distinta daquela que o olhar ou a câmara podem captar. Esse processo particular da construção de imagens constitui o objecto deste filme. HÉLASTRE Rua Anselmo Braancamp, 498, 4000-080 Porto 22 011 06 18 / Fax: 22 510 10 41 [email protected] PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 141 141 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Lar PRIMEIROS SINTOMAS Travessa do Fala Só, nº 13, 4º esq., 1250-109 Lisboa 21 3470877 [email protected] Betacam SP, 71’, 2008 António Borges Correia António Borges Correia MONTAGEM António Borges Correia IMAGEM António Borges Correia SOM Vitor Ribeiro PRODUÇÃO Primeiros Sintomas / Bruno Bravo REALIZAÇÃO GUIÃO SINOPSE Aldeia de Reboleiro, interior, Norte de Portugal. Cento e três idosos vivem no Lar de Santa Catarina. Eram camponeses. A maior parte já perdeu a noção do Tempo num Espaço que lhes é estranho. Têm necessidade de comunicar, não querem estar sós. Querem voltar para as suas casas. Batem às portas uns dos outros, rezam, caminham pelos corredores, esperam.... BIOFILMOGRAFIA Nascido em 1966. Estudos de Cinema entre 1989 e 1992 em Lisboa no Conservatório. Até 2003 realização de quatro curta-metragens que foram a alguns festivais internacionais. Em 1999 a curta Golpe de Asa esteve em Locarno e Vila do Conde. Por vezes faz séries de televisão. O seu primeiro documentário foi filmado em 2005 e é sobre uma actriz portuguesa, Isabel de Castro. Em 2008 terminou O Lar dentro de uma residência para idosos. O filme foi apresentado em Paris no festival Cinéma du Reél – competição internacional; e em Lisboa, no IndieLisboa, competição nacional. Prepara um documentário com veteranos de Guerra: Apoteose. NOTA DE INTENÇÕES Como vivem, o que sentem os idosos num espaço que lhes é estranho? Ninguém está sozinho com a câmara. As abordagens ao Espaço e ao Tempo não procuram significado. Há uma abordagem objectiva à realidade. O espectador é obrigado a construir uma ideia. Vejo e oiço, não transformo, não coloco questões. Minimizo a adulteração do real. É a minha redenção. 19:18 Page 142 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Meu Amigo Mike ao Trabalho Beta Cam Digital, 48’, 2008 REALIZAÇÃO Fernando Lopes MONTAGEM Pedro Duarte IMAGEM Edmundo Díaz SOM Pedro Melo PRODUÇÃO Joana Cunha Ferreira, Pedro Borges / Midas Filmes SINOPSE “Mike, porque é que não fazes um quadro para eu filmar?”. “Porque não?”, respondeu-me o Mike. “Devo dizer-te, no entanto, que se não gostar do quadro não há filme”. “Vamos arriscar, essa é a verdadeira natureza do cinema, e já agora da pintura, não achas?”. Arriscámos, e aqui está o resultado. 142 BIOFILMOGRAFIA Fazem parte da filmografia de Fernando Lopes: Belarmino (1964); Uma Abelha Na Chuva (1971); Nós Por Cá Todos Bem (1976); Crónica dos Bons Malandros (1984); Matar Saudades (1988); O Fio do Horizonte (1993); O Delfim (2002); Lá Fora (2004); 98 Octanas (2006). NOTA DE INTENÇÕES Mike, o meu amigo, é meio suíço, meio americano. É pintor e vive há 30 anos em Portugal, onde ele descobriu a sua Ilha dos Amores. É pois também português. Na Fonte Santa, entre o Redondo e o Alandroal tem o seu atelier, um enorme hangar onde fizemos este filme. O seu nome de guerra é Michael Biberstein. Reconhecido internacionalmente, é um pintor presente na Gulbenkian, em Serralves e na Colecção Joe Berardo, no que a Portugal diz respeito, e no estrangeiro no Museu Reina Sofia, em Madrid, o Beaubourg em Paris, no Whitney Museum em Nova York. Para lá dos múltiplos coleccionadores particulares portugueses e estrangeiros. Decidimos partir para esta aventura numa conversa em casa de amigos comuns. O Mike deu-me a ver e a filmar a sua viagem interior na criação de uma pintura. Filmámos pois o silêncio, o seu mistério, e a sua magia. Praça de São Paulo nº19 – 2º Esq. 1200-425 Lisboa Tel/Fax. 21 347 90 88 [email protected] 09/02/02 MIDAS FILMES PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 143 143 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Parque Dv Cam, 60’, 2008 REALIZAÇÃO Catarina Alves Costa IMAGEM Catarina Alves Costa, Paulo Menezes, Tiago Afonso MONTAGEM Pedro Duarte SOM Catarina Mourão, Olivier Blanc, Pedro Duarte PRODUÇÃO Laranja Azul LARANJA AZUL Rua Tenente Ferreira Durão, 19, 3º esq tel/fax 21 388 12746 [email protected] SINOPSE O espaço é só um, o do Parque. O tempo passa, três anos, pontuados pela mudança das estações e pelas transformações produzidas pela obra de requalificação, que ficámos de documentar. Aqui e ali, um acontecimento. Mas também os gestos quotidianos, que se repetem, o encontro matinal dos jardineiros, o varrer das folhas, o tempo da rega, as ervas daninhas. A ideia de vida no campo, nostálgica e artificial, e a obra ou como se transforma um parque, pelo outro. No meio, os jardineiros que entregaram a sua vida ao parque. Serralves é sentir. BIOFILMOGRAFIA Nasceu em 1967. Licenciou-se em Antropologia Social no ISCTE e fez mestrado M.A. (Econ) no Granada Center for Visual Anthropology, Univ. Manchester. Desde 1998, é Assistente Convidada na F.C.S.H da Universidade Nova de Lisboa, onde actualmente desenvolve projecto de Doutoramento (sobre as imagens do povo no cinema português). Entre 1995 e 2000 foi Técnica Superior no Museu Nacional de Etnologia. É realizadora e produtora sediada na Laranja Azul. E da sua filmografia fazem parte os seguintes filmes, quase todos vencedores de importantes prémios em festivais de cinema e documentário um pouco por todo o mundo: Regresso à Terra (1992), Senhora Aparecida (1994) Swagatam (1998), Mais Alma (2001), O Linho é um Sonho e A Seda é um Mistério (produzidos pela Laranja Azul para o Museu Tavares Proença de Castelo Branco entre 2001 e 2003), O Arquitecto e a Cidade Velha (2003). NOTA DE INTENÇÕES Este documentário começa por ser uma encomenda da própria Fundação de Serralves, propondo-se fazer um registo da recuperação do parque de Serralves, o que envolve a situação agrária da quinta, os vestígios de uma paisagem construída em jardim, a casa mãe e o seu jardim, a orla do parque que confronta com a envolvente do Museu, etc. No filme, a manutenção daquilo que existe e a reconstrução e a recriação do Parque são abordados quer do ponto de vista humano, quer do ponto de vista ambiental. O filme cobre vários espaços que servem para contar pequenas histórias num mosaico cuja unidade é dada pelos personagens, pelas suas emoções e pela sua visão do que está a ser transformado. 19:18 Page 144 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Segredo Mini Dv Cam, 25’, 2008 REALIZAÇÃO Edgar Feldman GUIÃO Edgar Feldman IMAGEM Gonçalo Roquette MONTAGEM Edgar Feldman; Gonçalo Roquette SOM Valete de Paus MÚSICA ORIGINAL Hugo Novo PRODUÇÃO Tinta Invisível 144 SINOPSE António Dias Lourenço, hoje com 94 anos, comunista, relembra os anos de encarceramento no Forte de Peniche, durante a ditadura fascista em Portugal, focando-se no episódio da sua evasão em 1954. BIOFILMOGRAFIA Realizou: Ver Artes – Arquitectura / Desenho Urbano (104 programas semanais para a RTP 2; 1992/1996); Matança (Doc.,1997) O Guardador de Rebanhos (Doc., 1999); Querença (Longa-metragem, 2002); Cenas de um Microclima (Doc., 2004); Lianor (Curta-metragem, 2006); Djunta Mo Kova M (Doc., 2006); Magazine Imobiliário (programa semanal para a SIC Notícias, 2006/2008); Relicário ou SMS Sweetheart (Curta-metragem, 2009). Rua dos Baldaques, 60, 2º Eqº, 1900-085 Lisboa [email protected] 09/02/02 TINTA INVISÍVEL PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 145 145 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS O Tapete Voador BOLLYWOOD PICTURES Av. Álvares Cabral, 54 – 2ºDto 1250-018 Lisboa [email protected] DV Cam, 58’, 2008 REALIZAÇÃO João Mário Grilo GUIÃO João Mário Grilo, pesquisa de Jessica Hallett IMAGEM Rui Poças MONTAGEM Paulo MilHomens SOM Hesam Shahin; Vasco Pedroso MÚSICA Pedro Amaral; Ghazal PRODUÇÃO Bollywood Pictures/Fernando Centeio SINOPSE Foi através de Portugal que o tapete persa entrou na Europa, estabelecendo-se como uma das mais importantes tradições culturais no Ocidente, no que respeita às artes decorativas. 500 anos depois, voltámos ao Irão para revelar os seus gestos de fabrico originais e as suas formas e cores hipnóticas que mantêm, ainda, toda a sua frescura e fascínio. NOTA DE INTENÇÕES O filme está estruturado em quatro viagens mais uma, da geometria à natureza, do nó ao “abrash” (o modo natural de variação da cor). Na realidade, porém, este é um filme sobre si próprio e, talvez mesmo, sobre a arte em geral e as suas paisagens infinitas e imemoriais. No final, revelaremos o mistério do verdadeiro “tapete voador”, aquele através do qual tanta gente “voou”, como hoje se voa através do ecrã (tapete móvel) e dos seus poderes mágicos. BIOFILMOGRAFIA Nasceu em 1958, na Figueira da Foz. É professor na Universidade Nova de Lisboa. Realizador das seguintes longas-metragens: Maria (1979), A Estrangeira (1982), O Processo do Rei (1989), O Fim do Mundo (1993), Saramago: documentos (1994), Os Olhos da Ásia (1996), Longe da Vista (1998), 451 Forte (2001), A Falha (2002), Prova de Contacto (2004), O Tapete Voador (2008). Tem, em preparação, Duas Mulheres (longa-metragem de ficção) e o documentário Cal, sobre a obra do arquitecto Raul Lino. 19:18 Page 146 O Voo do Humbi-Humbi DV Cam, 60’, 2008 REALIZAÇÃO Carlos Eduardo Viana PRODUCAO Ao Norte – Associação de Produção e Animação Audiovisual GUIÃO Carlos Eduardo Viana IMAGEM Ricardo Geraldes MONTAGEM Pedro Paiva SOM Alexandre Martins SINOPSE Este documentário foi realizado na Comuna de Lombe, no Município de Cacuso, Província de Malange, Angola. Regista o esforço realizado por vários actores estatais e não estatais (ONG’S, Igrejas, Comunitários, Professores, Alunos e Comunidades) no processo de desenvolvimento social, cultural e económico. BIOFILMOGRAFIA Carlos Eduardo Viana nasceu em Antas, em 1953. Tem o curso Superior de Cine Vídeo da ESAP. Iniciou-se no documentarismo com Jean-Loic Portron num Atelier de Cinema Directo realizado em Viana do Castelo. Bolseiro do Governo Francês, frequentou na Associação Varan, em Paris, dois estágios de Cinema Directo (Iniciação e Especialização). É Professor do Ensino Básico. NOTA DE INTENÇÕES O Voo do Humbi-Humbi foi produzido no contexto do projecto “Educar sem Fronteiras”. Foi filmado na comuna do Lombe, na província de Malange, onde as comunidades estão envolvidas na reabilitação/reconstrução. Foi registado o esforço realizado por vários actores estatais e não estatais no processo de desenvolvimento social, cultural e económico, nomeadamente no papel que a Escola poderá ter nestes processos. As filmagens realizaram-se em parceria com a ADRA e com o Programa de Educação Onjila (termo em Umbundo que significa Caminho). Este programa tem marcado o sistema educativo a nível descentralizado, quer pela sua criatividade no que se refere ao trabalho de ligação à comunidade, quer na perspectiva de inovação no que respeita aos métodos de ensino-aprendizagem (metodologia CAT – Compreender, Analisar e Transformar), quer ao projecto educativo de escola e à implementação das ZIP’s (Zonas de Influência Pedagógica). Nestes contextos, foi possível ilustrar a resiliência do sistema educativo na situação de pós-conflito, assim como a “esperança” que as populações depositam nas escolas. É também um tributo aos professores e alunos e à sua capacidade e disponibilidade para construir a paz e “aprender a viver juntos”. – ASSOCIAÇÃO DE PRODUÇÃO E ANIMAÇÃO AUDIOVISUAL Praça D. Maria II, 113, R/C, 4900-489 Viana do Castelo 258 82 16 19 [email protected] 09/02/02 AO NORTE PANORAMA-Book:Layout 1 CIMBALINO FILMES Rua Direita das Campinas, nº 2, 4100-204 Porto; [email protected] PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 147 Tóquio Porto 9 Horas Betacam SP, 7’, 2008 João Nuno Brochado João Nuno Brochado; Mafalda Rebelo MONTAGEM João Nuno Brochado; Mafalda Rebelo PRODUÇÃO Cimbalino Filmes REALIZAÇÃO IMAGEM SINOPSE Do outro lado do Mundo, um novo dia nasce em Tóquio. No Porto só nascerá 9 horas depois. As diferenças e as semelhanças entre dois locais que não distam apenas em espaço físico… BIOFILMOGRAFIA Na vida artística de João destaca-se o filme Paraíso Fiscal presente em mais de 20 festivais a nível nacional e internacional, tendo ganho prémios em três deles. Em 2006, após terminar o curso em Som e Imagem, frequentou o curso da NewYork Film Academy realizando três curtas. Em 2008, criou a sua produtora juntamente com três sócios: a Cimbalino Filmes. 19:18 Page 148 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Trabalho Forçado Mini Dv, 11’, 2008 Tiago Melo Bento IMAGEM Tiago Melo Bento MONTAGEM Frederico Lobo; Tiago Hespanha; João Vladimiro SOM Elsa Groulade; Tito Fontes; Tiago Hespanha; João Vladimiro PRODUÇÃO Corredor – Associação Cultural REALIZAÇÃO SINOPSE Uma terra de pescadores. Um barco em construção que não termina. Trabalho final de um Workshop de Cinema Documentário. 148 BIOFILMOGRAFIA Este é o primeiro filme de Tiago Melo Bento. NOTA DE INTENÇÕES No decurso de uma formação em cinema documental propus-me observar um tipo de trabalho pouco divulgado e prestes a desaparecer em S.Miguel. Já passou o tempo em que a construção dos barcos de boca aberta representou uma “indústria” significativa, e em expansão. Agora existem três “locais” em que são feitos, dois na freguesia de Rabo de Peixe e outro, sobre o qual me debrucei, em Vila Franca do Campo. Após algumas tentativas cheguei à fala com o mestre que orientava o trabalho. Ele aceitou que eu o filmasse a trabalhar e depois... nunca mais apareceu. Diziam para o procurar nas tabernas, nas centenas que existem nesta ilha... Fiquei com o seu ajudante durante uma semana (o tempo disponibilizado pelos formadores do curso) à espera... Trabalho forçado, o dele e o meu. Entretanto alguma coisa se passou durante o tempo que lá estive. [email protected] 09/02/02 TIAGO MELO BENTO PANORAMA-Book:Layout 1 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 149 149 PANORAMA: MOSTRA DO DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS Via de Acesso DV Cam, 82’, 2008 REALIZAÇÃO Nathalie Mansoux GUIÃO Justine Lemahieu; Nathalie Mansoux IMAGEM João Pedro Plácido; Nathalie Mansoux; Miguel Sargento MONTAGEM Justine Lemahieu SOM Miguel Cabral; Ivàn Castañeiras PRODUÇÃO Nathalie Mansoux SINOPSE NATHALIE MANSOUX [email protected] Os últimos habitantes da Azinhaga dos Besouros, na periferia de Lisboa, não têm direito a ser incluídos no “Plano Especial de Realojamento”. Vivem a demolição do seu bairro, onde irá ser construída uma via rápida. BIOFILMOGRAFIA Nathalie Mansoux nasce em Paris em 1974. É licenciada em Antropologia pela Universidade Paris X – Nanterre. Durante a licenciatura, frequentou o curso de Antropologia Social no ISCTE, em Lisboa. O seu trabalho na área do documentário começou em 2000, quando co-realizou De Paso por Juchitán sobre uma comunidade reivindicativa do Sudeste mexicano. Ganhou o prémio para melhor documentário no Festival Ovarvídeo 2002 e integrou as selecções do Festival da Malaposta 2001 e Vozes Contra el Silencio 2002. Desde 2001, vive em Lisboa, faz tradução e legendagem de filmes para a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Trabalha também como assistente de realização. Entre 2005 e 2008, realizou Via de Acesso, o documentário que lhe valeu o prémio para melhor longa-metragem portuguesa no Festival Indie Lisboa 2008 e que foi seleccionado por vários festivais internacionais. Em 2008, co-realizou Femmes en Construcción, um documentário sobre a construção de um centro comunitário para mulheres em Joal-Fadiouth, Senegal. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:18 Page 150 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:19 Page 151 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:19 Page 152 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL À BOLEIA REALIZAÇÃO Miguel Carranca DURAÇÃO 20’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um filme na primeira pessoa. O autor percorre Portugal, à boleia, Mirandela a Sagres. Vai ouvindo histórias e conhecendo diferentes realidades que nos dão um retrato peculiar de Portugal hoje. A CARTA DE QUINHAMEL REALIZAÇÃO Peter Anton Zoettl DURAÇÃO 77’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO FullBlue A mãe de Gina não quis que ela se despedisse antes de vir para cá, porque se alguém soubesse lhe poderia fazer mal qualquer dia. Djú trabalhava como professor, mas agora é aluno. Ambos estão em Portugal, a ver se conseguem dar um passo à frente no seu caminho entre dois mundos. Dois estudantes guineenses e um antropólogo, fora de campo. A CATEDRAL REALIZAÇÃO Graça Castanheira DURAÇÃO 50’ FORMATO Betacam PRODUÇÃO Valentim de Carvalho A expressão mens sana in corpore sano data de há vinte séculos atrás. Numa altura em que os ginásios na área metropolitana de Lisboa são mais do dobro dos centros de saúde existentes, seis personagens, dos 24 aos 70 anos, elucidam-nos sobre as suas razões para frequentarem um popular “life club” da capital. A FUNDAMENTAL RIGHT REALIZAÇÃO Karsten Krause DURAÇÃO 29’ FORMATO DV PRODUÇÃO HfbK Hamburg O realizador alemão chega a Lisboa sem ter um plano para o filme e sem falar português. Em Portugal conhece Marta, que trabalha para a associação SOS Racismo. Com ela vai visitar pessoas e lugares e mostra-nos num registo intimista os problemas que os imigrantes enfrentam em Portugal. A GRAVURA: ESTA MÚTUA APRENDIZAGEM REALIZAÇÃO Jorge Silva Melo DURAÇÃO 80’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Artistas Unidos Um documentário sobre a Gravura, a cooperativa de gravadores portugueses fundada em 1956 por um grupo de artistas. Através de quase três dezenas de depoimentos de intervenientes na cooperativa, retrata-se aqui a sua história, e as suas consequências, a sua origem nos movimentos de oposição à ditadura numa improvisada garagem de Algés. A INVISIBILIDADE DAS PEQUENAS PERCEPÇÕES MAKING OF REALIZAÇÃO Miguel Clara Vasconcelos DURAÇÃO 38’ FORMATO HDV PRODUÇÃO Companhia Paulo Ribeiro São dois corpos, são duas pessoas, são dois indivíduos que respiram, choram, odeiam, são amados ou não... e dançam! Em Invisibilidade das Pequenas Percepções vemos um processo de criação capaz de transformar pessoas com baixas expectativas sociais em intérpretes de um espectáculo contemporâneo que desafia vários estereótipos sobre a dança, a motricidade e a interpretação musical. A LUZ DOS MEUS DIAS REALIZAÇÃO Anabela Saint-Maurice DURAÇÃO 52’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Rádio e Televisão Portuguesa Em A Luz dos Meus Dias a acção desenrola-se numa pequena aldeia do interior sul de Portugal. Ana Zé, a protagonista, é uma mulher obesa que aos trinta e quatro anos consegue finalmente vencer a timidez e o estigma social. Ana Zé canta agora no grupo coral e é uma mulher mais feliz As “modas” que o coro feminino canta, evocam um mundo rural perdido no tempo. A relação de Ana com a mãe e com as outras mulheres da aldeia permite fazer o retrato cru de um Portugal entregue à sua sorte. A NOSSA NECESSIDADE DE CONSOLO REALIZAÇÃO André Santos e Marco Leão DURAÇÃO 13’ FORMATO HDV PRODUÇÃO Love Department O tempo passa por nós. Passa como as nuvens no céu que são guiadas pelo vento. Enquanto ele passa nós vivemos e sentimos a sua passagem. A OCASIÃO SEGUINTE REALIZAÇÃO Claúdia Alves e Rita Brás DURAÇÃO 36’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Filmes do Tejo II Que escondem os anúncios de oferta publicados no Jornal Ocasião? Canções a pedido, cortes de cabelo ao domicílio, centros de reza colectiva, mãos de operários que curam, investigação criminal. Uma viagem pela verdade de personagens particulares. A OUTRA FACE REALIZAÇÃO Bernardo Trancoso e Carlos Silva DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um jovem viciado em sexo conta-nos a sua vida. A relação com as mulheres é o seu grande problema que inconscientemente se vai revelando. ALI BÁBÁ CARLOS RALEIRAS REALIZAÇÃO David Marques, Pedro Ribeiro DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O jornalista Carlos Raleiras conta-nos os momentos dramáticos que viveu no Iraque durante o rapto de que foi alvo. AMÁLIA, DIÁRIO DE UM ESPECTÁCULO REALIZAÇÃO Frederico Corado DURAÇÃO 40’ FORMATO DVCAM PRODUÇÃO Entrar Em Palco – Associação Cultural, Magazin Produções e Teatro Politeama Para a reedição do musical Amália de Filipe La Féria em DVD este documentário faz o percurso do nascimento deste espectáculo na Ilha da Madeira na passagem do milénio até à sua última representação no Porto em 2006. AS PEDRAS E AS PESSOAS REALIZAÇÃO Luís Nogueira DURAÇÃO 12’ FORMATO MiniDv PRODUÇÃO Restart Documentário inspirado no dito popular: “As pessoas de Trás-os-Montes são duras e frias como as pedras que eles lá têm”. ACESSO RESERVADO REALIZAÇÃO Pedro Lemos, Gustavo Ribeiro DURAÇÃO 25’ FORMATO Mini DV PRODUÇÃO Universidade Católica Portuguesa Uma equipa de documentaristas procura capturar alguns trabalhadores que servem um sistema comum, mas todos eles com funções distintas. Procura-se verificar se estas funções influenciam o seu modo de encarar a problemática da vida, e as suas vidas privadas. Isto sempre tendo em conta as profissões que exercem num espaço reservado e interdito ao público. ADEUS À BRISA REALIZAÇÃO Possidónio Cachapa DURAÇÃO 55’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Filmes do Tejo Um homem fala sobre o seu passado que se confunde com o da história do seu país. Num discurso comovente, evoca a luta pela liberdade e a sua crença nas revoluções e na supremacia da beleza. Sentado na sua sala, Urbano Tavares Rodrigues mantém-se o escritor, o resistente, o que acredita no melhor do Homem. ALELUIA REALIZAÇÃO Fábio Ribeiro DURAÇÃO 9’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema À falta de uma imagem de Deus, os homens inventaram imagens que o representassem para se sentirem mais próximas Dele. Para sentirem mais fé. Essas imagens estendem-se também para todos os santos e não santos. Por vezes, essas imagens são produzidas em massa e numa grande variedade... ÁLVARO LAPA: A LITERATURA REALIZAÇÃO Jorge Silva Melo DURAÇÃO 100’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Artistas Unidos Numa viagem entre Viseu e Lisboa Jorge Silva Melo reconstitui para o actor Pedro Gil a sua relação com Álvaro Lapa, as entrevistas que realizou com o artista, os anos passados a ver crescer uma das obras mais singulares da arte portuguesa. 152 PANORAMA-Book:Layout 1 153 09/02/02 19:19 Page 153 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL ANIKI NA CASA REALIZAÇÃO Tiago Pereira DURAÇÃO 52’ FORMATO DV PRODUÇÃO Serviço Educativo da Casa da Música O processo criativo do Espectáculo “Aniki segue outro Caminho” do serviço educativo da Casa da Música que assinala os 100 anos de Manoel de Oliveira com uma revisitação à sua primeira longa-metragem, Aniki-Bóbó, através de um projecto de alcance comunitário. De regresso aos cenários naturais do filme – as zonas ribeirinhas do Porto e Gaia – pretende-se recriar a história intemporal de Carlitos e seus companheiros numa perspectiva contemporânea. AO ALCANCE DE TODOS REALIZAÇÃO Tiago Pereira DURAÇÃO 22’ FORMATO DV PRODUÇÃO Serviço Educativo Casa da Música Documentário sobre o projecto “ ao alcance de todos – Música e necessidades especiais do serviço educativo da Casa da Música”. AQUELAS SOMBRAS REALIZAÇÃO Isabel Taunay DURAÇÃO 13’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema É noite. Trajados de negro, os estudantes adquirem uma forma obscura, são apenas sombras. E são “Aquelas Sombras” que seguimos. Alguns reúnem-se em serenatas, declarando-se às donzelas à janela, cantando, fazendo ecoar pela cidade a sua melodia. Outros formam-se em trupes na Porta Férrea, perseguindo os infractores do “Código da Praxe”, principalmente os caloiros que circulem na baixa de Coimbra depois da meia-noite. AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO REALIZAÇÃO Miguel Gomes DURAÇÃO 147’ FORMATO 35 mm PRODUÇÃO O Som e a Fúria As histórias de amor e desamor num Verão no interior de Portugal. As músicas e os bailaricos. E uma equipa de cinema a tentar trabalhar. ÁRVORES REALIZAÇÃO Eva Ângelo DURAÇÃO 71’ FORMATO Mini Dv PRODUÇÃO Culturgest; Teatro do Bolhão Memórias de experiências quotidianas na voz de Homens e Mulheres em diálogo com a vida e com a morte. Testemunhos de pessoas que contam histórias de salvação. Doze pessoas. Doze Árvores, corpos e viagens a transformar o tempo e o lugar. ATRÁS DA CAMPINA REALIZAÇÃO Alexandre Mestre DURAÇÃO 40’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Código de Cores Atrás da Campina é uma viagem ao fantástico universo dos Caretos da Lagoa – na região de Mira – seres míticos e assombrosos que se distinguem pelos seus trajes e rituais reminiscentes da figura feminina e do demónio. Há séculos que aquele homem de saias, barulhento, cabeça cornuda, anda a perseguir raparigas da região. Mas agora os tempos mudaram. B FACHADA TRADIÇÃO ORAL CONTEMPORÂNEA REALIZAÇÃO Tiago Pereira DURAÇÃO 52’ FORMATO DV PRODUÇÃO Tiago Pereira e B Fachada A tradição vista por um “cantautor” urbano. BAB SEBTA REALIZAÇÃO Frederico Lobo e Pedro Pinho DURAÇÃO 108’ FORMATO HDV PRODUÇÃO PATÊ Filmes/Gil&Miller/RAIVA Bab Sebta significa em árabe a porta de Ceuta e é o nome da passagem na fronteira entre Marrocos e Ceuta. É o local para onde convergem aqueles que, vindos de várias partes de África, procuram chegar à Europa. BRANCUSI AS RAÍZES E OS RAMOS REALIZAÇÃO Alexandre Martins DURAÇÃO 28’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Alexandre Martins e Nuno Miguel Se destas pedras uma anunciasse o que a faz silêncio: aqui, muito perto, na bengala deste velho, isso se abriria, como ferida em que terias de mergulhar, solitário, longe do meu grito, ele também já talhado pelo cinzel, branco. CAMINHU KU FUTURU REALIZAÇÃO Carlos Eduardo Viana DURAÇÃO 90’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual Em Caminhu Ku Futuru a câmara acompanha no trabalho quotidiano de Joaquim Furtado, Delegado de Educação do concelho de Santa Catarina, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, e Osvaldino Moura, gestor e coordenador do Pólo Educativo de Ribeira da Barca, e põe em relevo os desafios que enfrentam no campo da educação. CASAS DE SORTE REALIZAÇÃO Gonçalo Abrantes e Susana Cerdeira DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Uma jovem psicóloga conta-nos a triste história da sua vida e de como conseguiu sobreviver ao “destino” para que aparentemente tinha nascido. Filha de uma prostituta toxicodependente, acaba por ir viver para casa dos avós alcoólicos. CONVERSA ENTRE DUAS MULHERES REALIZAÇÃO Ana Gil DURAÇÃO 20’ FORMATO DV Cam PRODUÇÃO Université Stendhal de Grenoble; Ass. Ardèche Images Conversa entre duas mulheres é isso mesmo – uma conversa entre uma mulher de 62 anos e outra de 28, com uma câmara entre as duas. A mais nova filma. A mais velha pinta uma parede e dá resposta às inquietudes da primeira sobre o tempo que não pára. CORAÇÃO INDEPENDENTE REALIZAÇÃO Joana Cunha Ferreira DURAÇÃO 50’ FORMATO Betadigital PRODUÇÃO Midas Filmes Joana Vasconcelos é uma das mais reconhecidas e mediáticas artistas portuguesas da sua geração. Com um percurso nacional e internacional impressionante para a sua idade, as suas obras são frequentemente apontadas pela sua dimensão kitsch e espalhafatosa. Mas são também um reflexo mordaz de uma parte deste mundo. CORPO TODO REALIZAÇÃO Pedro Sena Nunes DURAÇÃO 37’ FORMATO HDV – DVCam PRODUÇÃO Serviço Educativo da Casa da Música O documentário Corpo Todo retrata o processo criativo, com base na história do Ícaro da mitologia grega, da coreógrafa Ana Rita Barata e do encenador Tim Yealland com os utentes da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC). CRIAR SAÚDE REALIZAÇÃO Catarina Faria DURAÇÃO 52’ FORMATO Mini DV PRODUÇÃO Remake Films O filme Criar Saúde retrata o estágio curricular de um grupo de alunas de enfermagem no Atelier e Oficina de Educação pela Arte de Samora Correia. O objectivo do estágio é o desenvolvimento de actividades de promoção da saúde junto das crianças. DA VIDA DAS BONECAS REALIZAÇÃO Neni Glock DURAÇÃO 56’ FORMATO DV Cam PRODUÇÃO ADN FILMES Uma visão sobre os coleccionadores de bonecas e as distintas maneiras de se relacionar com elas. A actividade do tradicional Hospital de Bonecas existente em Lisboa, fundado em 1830, revela também outros quatro personagens, adultos, homens e mulheres que de uma forma ou de outra sentem-se ligados a este mundo do imaginário infantil. DESVIO PADRÃO REALIZAÇÃO Sara Morais DURAÇÃO 18’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Manamana Design Industrial lda Em 18 minutos percorrem-se 10 estações de metro mas, desta vez, pára-se para olhar e escutar. Partindo dos azulejos criados por Maria Keil para o Metropolitano de Lisboa entre 1957 e 1972, procuram-se relações visuais entre a geometria de uma obra que permanece e o movimento de uma cidade. DIÁRIO DE TURMA REALIZAÇÃO Madalena Miranda DURAÇÃO 50’ FORMATO DV PRODUÇÃO Fundação Calouste Gulbenkian O meu “e se…” depende de um facto que alterou a trajectória da minha vida. A minha mãe decidiu dar uma morada falsa na minha inscrição no ensino secundário para eu ir para a escola “com melhor fama”. Mas teria a minha vida sido assim tão diferente se tivesse ido para outro liceu? Passados 20 anos, fui à procura de personagens para esta história. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:19 Page 154 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL DIFICILMENTE O QUE HABITA PERTO DA ORIGEM ABANDONA O LUGAR REALIZAÇÃO Olga Ramos DURAÇÃO 50’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Laranja Azul Alberto Carneiro é escultor. Nasceu na zona rural nortenha de São Mamede do Coronado. Aí exerceu o ofício de santeiro durante vários anos, antes de iniciar um percurso artístico que o transformaria num dos mais importantes artistas da sua geração. DO CORPO À PALAVRA REALIZAÇÃO Colectiva DURAÇÃO 48’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO CEM – centro em movimento Um grupo de mulheres com histórias de vida que passam pela prostituição de rua, na cidade de Lisboa, desenvolve um trabalho baseado no corpo e na dança, no contexto de um programa de reintegração social. No âmbito deste programa, participam num laboratório de cinema documental com o objectivo de realizarem um filme colectivo. DOMINICU REALIZAÇÃO Nelson Tondela DURAÇÃO 4’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Nelson Tondela Dominicu é uma visão do pós. Pós-compra. Pós-venda. Pós-regateio... É o espelho de inúmeras feiras que tradicionalmente habitam muitos espaços por esse Portugal fora e, inevitavelmente, é um espelho de quem nelas transita. É A NOSSA TRADIÇÃO! REALIZAÇÃO Carlos Reis DURAÇÃO 90’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Escola Superior de Artes Aplicadas Este documentário segue de perto a Festa do Castelo, um momento muito importante na vida da comunidade monsantina. O filme revela fragmentos da vida de algumas personagens, procurando mostrar o lugar das memórias, os conceitos de tradição, a importância da diversão através do canto, do jogo e da dança. E O HOMEM ENCONTROU O CÃO REALIZAÇÃO Zulmira Gamito DURAÇÃO 17’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um homem (representação de Konrad Lorenz) conta-nos 5 histórias que reflectem profundamente a nossa relação com os animais, e consequentemente a nossa relação com os outros e com as nossas fronteiras morais. EDGAR PÊRA REALIZAÇÃO Francisco Ariztía DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O realizador na primeira pessoa. Reflexões muito pessoais sobre o seu próprio trabalho. Fragmentos, recuos, avanços, frases, sons por vezes dispersos, por vezes ligados. Há uma forma de nos representar a nós próprios? ENTREGA REALIZAÇÃO João Coimbra DURAÇÃO 9’ FORMATO BetacamSP PRODUÇÃO João Coimbra & Vitoria Dias O senhor António é o único vendedor de pão em bicicleta. Uma actividade que em tempos era comum em Lisboa. ESCUTA O QUE TE DIGO REALIZAÇÃO Ana Teresa Faleiro, Filipa Marinho, João Melo e Mário Santos DURAÇÃO 9’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart Trata-se de um documentário acerca de pessoas que já foram sem-abrigo e estão a recomeçar as suas vidas num centro de acolhimento ESTA É A MINHA CARA REALIZAÇÃO Raquel Freire DURAÇÃO 223’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Ponta Associação Cultural Esta é a minha cara. Esta é a minha tribo de criadores: João Garcia Miguel, Lúcia Sigalho, Mónica Calle, Miguel Moreira, Paulo Castro, Circolando e Susana Vidal. A minha identificação cultural nacional vem deles e é para eles, num movimento pendular caótico. Porque me reconheço nessa condição, os confrontei com as suas criações, com a sua vontade indómita de criar, sem dinheiro, sem fama, sem apoios significativos, eles continuam. EU ADORO ESTE SOM REALIZAÇÃO Filipe Fernandes, Rui Matos, Zulmira Gamito DURAÇÃO 20’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Numa realidade onde o acesso à diversidade é difícil, observou-se uma turma de crianças da primeira classe, cujo gosto musical corresponde ao do modelo dominante oferecido pelos media. Com que facilidade podem elas ser estimuladas para se tornarem receptivas a outros modelos? A aprendizagem da música pode contribuir para que julguem de uma forma mais autónoma e que criem os seus gostos próprios? EXTINÇÃO REALIZAÇÃO Filipe Felizardo DURAÇÃO 12’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema Subsiste à beira Tejo, no Lavradio, um vasto depósito de gessos das fábricas da Quimiparque. No local já foram realizados anúncios para as marcas Vodafone e Pepe Jeans, e um videoclip da banda U2 realizado por Anton Corbjin. Nós também estivemos lá. FERNANDO FILIPE, UM CENÓGRAFO NO MUSEU REALIZAÇÃO Frederico Corado DURAÇÃO 50 minutos FORMATO DVCAM PRODUÇÃO Entrar Em Palco – Associação Cultural, Magazin Produções e Museu Nacional do Teatro Aproveitando a exposição retrospectiva do seu trabalho no Museu Nacional do Teatro, Fernando Filipe e alguns amigos levam-nos por uma alameda de memórias teatrais até um espaço dedicado à memória do seu trabalho. FERNANDO LOPES, PROVAVELMENTE REALIZAÇÃO João Lopes DURAÇÃO 94’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Midas Filmes/Pedro Borges Viajamos com Fernando Lopes até às suas origens: por um lado, a terra, a Várzea da infância; por outro lado, o cinema, as convulsões do Cinema Novo português e o desejo utópico de transformar o mundo. Não é um movimento nostálgico, mas uma exigência de verdade. A mesma exigência que o levou a filmar a vida crua e romanesca de Belarmino Fragoso, na Lisboa dos anos 60, a encarar os fantasmas do mundo rural recolhidos em Uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira, ou ainda a retratar a solidão avassaladora dos novos condomínios fechados, em Lá Fora. Na nossa viagem, desaparecem as fronteiras entre o cinema e a vida. FOLK LORE 1 E 2 REALIZAÇÃO Tiago Pereira DURAÇÃO 11’ e 6’ FORMATO DV PRODUÇÃO Tiago Pereira Video magazine de recolhas etnográficas. GAMBLING REALIZAÇÃO Bernardo Trancoso, Carlos Silva, Edivaldo Simões DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um jovem passa os seus dias enrolado no vício do jogo. Desde o poker no computador aos jogos de ténis, a sua obsessão é não perder. O seu mundo fechou-se e a seu vício afastou-o da realidade. HIPNOSE REALIZAÇÃO João Viera e Rodrigo Santos DURAÇÃO 10’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Uma mulher traumatizada pela perda de todos os seus bens e de toda uma vida estabelecida em Angola recorre a um programa de TV onde a submetem a uma hipnose. Mas será assim que se resolve uma grande depressão? HISTÓRIAS DA VIDA NA TERRA REALIZAÇÃO Luis Correia DURAÇÃO 175’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Lx Filmes Primeira série documental portuguesa sobre a história da evolução. Como é que os peixes, os insectos, os anfíbios, os répteis, as aves e os mamíferos se diversificaram e conquistaram os diferentes ambientes do planeta? Com imagens reais de espécies características da fauna portuguesa, ilustrada com grafismos e animações 2D e 3D, a série pretende responder a estas questões. 154 PANORAMA-Book:Layout 1 155 09/02/02 19:19 Page 155 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL IMAGENS COM GENTE DENTRO REALIZAÇÃO Pedro Sena Nunes DURAÇÃO 11’ FORMATO Mini DV PRODUÇÃO Associação Vo’arte Primeiro dia da última viagem do homem que na sua guitarra meteu gente lá dentro. A morte do homem dos dedos geniais, testemunhada e partilhada por várias vozes e memórias também musicais. ÍMAN REALIZAÇÃO João Pinto DURAÇÃO 30’ FORMATO DVCAM PRODUÇÃO Alkantara O documentário acompanha de perto a peça “ÍMAN” uma criação da coreógrafa Filipa Francisco, o grupo Wonderfull’s Kova M e vários artistas convidados. Wonderfull’s Kova M é um grupo do Bairro da Cova da Moura que dança hip hop e músicas com raízes africanas. Alkantara e Filipa desafiaram o grupo a experimentar outras linguagens e criar uma peça original resultando num mergulho nas suas histórias e no Bairro. IMORREDOIRA REALIZAÇÃO Sílvia das Fadas DURAÇÃO 7’ FORMATO Mini DV PRODUÇÃO FCSH da Univ. Nova de Lisboa; Sílvia das Fadas Porque a minha casa é um arquivo e é tão viva quanto aqueles que a habitam e as suas histórias iniciaram-se muito antes de mim, num ano impreciso de há dois séculos atrás, quando em seu lugar ainda havia. JOÃO PEDRO RODRIGUES REALIZAÇÃO Filipe Fernandes DURAÇÃO 11’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O realizador João Pedro Rodrigues reflecte sobre o seu trabalho abordando, por capítulos, vários temas recorrentes na sua obra. JORGE PINA REALIZAÇÃO Hugo Alho e Joana Índias DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Campeão de boxe, Jorge Pina sofre uma lesão ocular que pouco a pouco resulta em cegueira total. Na angústia da sua nova condição, Jorge tenta lutar contra a sua tristeza. Hoje, continua a treinar e concorreu aos para-olímpicos de Pequim. KUDURO FOGO NO MUSEQUE REALIZAÇÃO Jorge António DURAÇÃO 52’ FORMATO Beta Digital PRODUÇÃO Mukixe Produções Desde a independência nunca Angola tinha assistido a um movimento cultural tão dinâmico como o Kuduro. Este documentário é o retrato social e cultural de uma nova geração, que quer acima de tudo ser a voz de uma nova Angola. LIBERDADE REALIZAÇÃO João Pinto Nogueira DURAÇÃO 28’ FORMATO Beta Digital PRODUÇÃO Real Ficção Documentário sobre a vida e a obra do Prof. Arnaldo Sampaio. LIBERTOX REALIZAÇÃO Leandro Ferrão, Maria João Gonçalves DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O dia-a-dia dos residentes num centro para desintoxicação na Golegã. Os que já ali estão há mais tempo têm o dia preenchido com várias tarefas, uma das quais é serem os “anjos” dos novos residentes, chamados de “Libertox”. Os “anjos” não deixam um só segundo os “Libertox”, vigiando-os no período mais difícil da ressaca. LIS/JFK REALIZAÇÃO Roberto Pinho DURAÇÃO 9’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart Ao viajar para Nova Iorque e percorrer Lisboa vou procurar encontrar as diferenças e semelhanças que existem entre a percepção dos Nova Iorquinos e Lisboetas acerca destas cidades. Para isso vou recorrer a entrevistas de rua e imagens em ambas as cidades e tentar encontrar uma correlação entre estas duas metrópoles que à partida nada têm de igual. LOOKING BACK INTO THE FUTURE REALIZAÇÃO Ivo Serra DURAÇÃO 26’ FORMATO Mini DV PRODUÇÃO Bomba Suicida A partir de um trabalho de found-footage do arquivo do Fórum Dança, Looking back into the future é uma passagem pelas linhas cruzadas e ziguezagueantes da identidade (identificação) do corpo, numa composição de imagens e sons de várias peças de dança contemporânea portuguesa entre os finais dos anos 80 até aos nossos dias. LUANDA A FÁBRICA DA MUSICA REALIZAÇÃO Kiluanje Liberdade, Inês Gonçalves DURAÇÃO 56’ FORMATO DV PRODUÇÃO Kiluanje Liberdade – Noland filmes Num musseque de Luanda em permanente construção vivem os miúdos poetas. Dj Buda é um deles. Todos querem entrar na sua máquina de onde sai Kuduro. Buda cria no computador ritmos electrónicos electrizantes e eles recitam aos berros para o microfone clássico ao estilo de Frank Sinatra. O resultado destas Buda sessions é uma polifonia cacofónica que conta aqui e agora a vida em Angola. Eles querem ouvir-se. E dançam. As festas que o Dj Buda organiza são um sucesso: há comes e bebes e baile pela noite fora. LUÍS SANTOS REALIZAÇÃO Nelson Lopes e Miguel Marques DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Luís Santos, co-piloto foi detido na Venezuela, acusado de cumplicidade de tráfico de droga. Em Caracas onde passou vários meses numa situação absurda e violenta. Na primeira pessoa ele conta-nos a sua versão de todos os acontecimentos. MAKING OF CAIXA DE MÚSICA REALIZAÇÃO Patrícia Leal DURAÇÃO 25’ FORMATO DV Cam PRODUÇÃO Patrícia Leal Filme que acompanha a rodagem de uma curta-metragem. Único requisito da realizadora: não saber nada sobre o argumento do filme do qual filma a rodagem. MARC N´DANOU RITMO DE UM MOVIMENTO DIÁRIO REALIZAÇÃO Francisco Ariztía e José Matos DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O filme segue a vida “dupla” de um bailarino Togôlez, em Lisboa. Durante o dia, trabalhando nas obras, e à noite exercendo a sua verdadeira profissão, dando aulas de dança ou actuando em espectáculos MARTINHO NAZARÉ REALIZAÇÃO Ana Mateus e Ana Dias DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Martinho Nazaré lutou contra o antigo regime nas fileiras clandestinas do PCP. Como professor tentava passar as suas ideias aos mais jovens, despertando-os para as injustiças sociais e políticas. Várias vezes castigado e perseguido, enviado para Moçambique, Martinho Nazaré conta-nos as suas experiências. MÁSCARA DO TEMPO REALIZAÇÃO Gonçalo Jordão DURAÇÃO 10’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema Não pretendemos representar, mas antes procurar imagens de um mundo de transição. Sem nunca esquecer a importância do olhar, queremos oferecer ao espectador ecos de uma arquitecta que se mascarou no tempo. MOIRAS REALIZAÇÃO Regina Guimarães e Saguenail DURAÇÃO 25’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO Hélastre Em Viana do Alentejo, uma mulher do Norte, há já alguns anos envolvida em trabalhos ligados às “artes da terra”, preocupa-se com as lãs de ovelha que, após a tosquia, são destruídas porque a sua comercialização não é economicamente viável. Assim nasceu o local Oficina do Feltro. MORAR AQUI REALIZAÇÃO Maria Remédio DURAÇÃO 27’ FORMATO Mini Dv PRODUÇÃO Faculdade de Belas Artes – Universidade de Lisboa É um bairro de Lisboa, e no bairro existe uma rua. Nessa rua, pequenos negócios da família ditam a rotina acolhedora do sítio. Gentes que nascem e crescem ali, que se cruzam todos os dias, durante muitos anos, às vezes quase uma vida. Os laços familiares estendem-se aos vizinhos, aos colegas de trabalho, aos transeuntes, aos habitantes do lugar. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:20 Page 156 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL MUITAS PESSOAS REALIZAÇÃO Joana Areal DURAÇÃO 34’ FORMATO DV PRODUÇÃO Fundação Calouste Gulbenkian É sobre nós. É sobre a cidade. Tudo se passa aqui, por onde se passa, por onde se anda e se vê muitas pessoas. De uma tendência, vício de observar secretamente pessoas e espaços surge a necessidade de criar um método, regras para que esta informação possa ser recolhida, analisada e tratada. Definem-se então as 6 acções humanas mais comuns na cidade – DORMIR, ANDAR, TRABALHAR, COMER, BEBER, FALAR. MUNDO CÃO REALIZAÇÃO Hugo Alho, Joana Índias DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Uma mulher luta sozinha contra o abandono e pela protecção dos animais. Investindo tudo o que tem, tenta resolver os casos que lhe vão aparecendo, mas parece ser uma tarefa sem fim... MÚSICA DE CÂMARA REALIZAÇÃO Tiago Afonso DURAÇÃO 9’ FORMATO Mini DVCam PRODUÇÃO Hélastre Diário/Ensaio/Livro filmado em Super 8mm, mas montado com as técnicas do vídeo. NACIONAL 206 REALIZAÇÃO Catarina Alves Costa DURAÇÃO 53’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Laranja Azul Fábrica de têxteis. Estrada Nacional 206, entre Guimarães e Famalicão, no Vale do Ave. À procura de testemunhos sobre os percursos escolares, encontramos o quotidiano e a rotina de uma fábrica que nunca pára, dia e noite, e dos que nela trabalham. NANCY WINS! THE MAKING OF “EVIL MACHINES” REALIZAÇÃO Frederico Corado DURAÇÃO 50 minutos FORMATO DVCAM PRODUÇÃO Entrar Em Palco – Associação Cultural, Magazin Produções e São Luiz Teatro Municipal O lendário humorista britânico Terry Jones esteve em Portugal no Teatro Municipal São Luiz a encenar um espectáculo com libreto de sua autoria e música de Luis Tinoco. A câmara ocupa o lugar que o espectador não teve direito a ter com o seu bilhete, ultrapassa a quarta parede e entra no palco. O COMPASSO REALIZAÇÃO Regina Guimarães e Saguenail DURAÇÃO 160’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO Hélastre Durante três anos, acompanhámos todos os passos de um inquérito que um grupo de sociólogos, dirigidos por José Madureira Pinto, realizou em Fonte Arcada. Este filme pretende ser o rasto do encontro possível de três olhares: o dos cientistas, o dos habitantes e o dos cineastas. O CORPO ELÉCTRICO DO GRUPO DANÇANDO COM A DIFERENÇA REALIZAÇÃO Marta León DURAÇÃO 80’ FORMATO HD DVCAM PRODUÇÃO Die4films Audiovisuais A Ilha da Madeira, Portugal, não é dos melhores sítios que existem para se nascer deficiente. É uma ilha no Atlântico Norte com 270 mil habitantes, tão acidentada que se torna difícil percorrer 100 metros que não terminem em declive. Mas quando o Corpo Eléctrico começa, o Grupo Dançando com a Diferença já partiu. O FADO ACONTECE REALIZAÇÃO Ana Mateus, Gonçalo Abrantes, Susana Cerdeira DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O dia-a-dia numa casa de fado muito particular. Em Alfama, num ambiente muito familiar, um velho casal de aficionados de fado mantem um restaurante com esforço e dedicação. A empregada de mesa é também a fadista, e aos turistas são dadas autênticas “aulas de história do fado”. O LABIRINTO DO ATUM REALIZAÇÃO João Romão e Vico Ughetto DURAÇÃO 52’ FORMATO Digibeta PRODUÇÃO Switch.com Em Portugal, apenas uma fábrica produz especialidades de atum, como a muxama. Desde os tempos da civilização fenícia, o que sucedeu para o atum deixar de ser o principal sustento vindo do mar? O que permanece das famílias e da indústria que suportou? O LAR REALIZAÇÃO António Borges Correia DURAÇÃO 71’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO António Borges Correia Aldeia do Reboleiro, norte de Portugal, 103 velhos vivem no Lar de Santa Catarina. Eram pessoas do campo. A maior parte deles perdeu a noção do tempo num espaço que lhes é estranho. Há um grande desejo de comunicar, não querem estar sozinhos. O MEU AMIGO MIKE AO TRABALHO REALIZAÇÃO Fernando Lopes DURAÇÃO 48’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Midas Filmes e BA Filmes Mike é o amigo, meio suíço, meio americano, de Fernando Lopes. É pintor e vive há 30 anos em Portugal, onde descobriu a sua Ilha dos Amores. Na Fonte Santa, entre o Redondo e o Alandroal, tem o seu atelier, um enorme hangar onde este filme foi feito. O MILHO E O HOMEM REALIZAÇÃO José Barahona DURAÇÃO 53’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Filmes do Tejo II A reconstrução da história do milho e, por consequência, das sociedades humanas de há seis mil anos para cá, desenvolvida a pouco e pouco pela conjunção de materiais recolhidos pelo realizador dentro do próprio filme. O PARQUE REALIZAÇÃO Catarina Alves Costa DURAÇÃO 60’ FORMATO DV Cam PRODUÇÃO Laranja Azul O espaço é só um, o do Parque. O tempo passa, três anos, pontuados pela mudança das estações e pelas transformações produzidas pela obra de requalificação, que ficámos de documentar. Aqui e ali, um acontecimento. Mas também os gestos quotidianos, que se repetem, o encontro matinal dos jardineiros, o varrer das folhas, o tempo da rega, as ervas daninhas. A ideia de vida no campo, nostálgica e artificial, e a obra ou como se transforma um parque, pelo outro. No meio, os jardineiros que entregaram a sua vida ao parque. Serralves é sentir. O PROTEGIDO REALIZAÇÃO Jorge Queli e David Ponciano DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um jovem reflecte sobre 4 episódios marcantes da sua vida. Em todos eles, e sem nenhuma razão aparente, ele é salvo in extremis de que algo de muito grave lhe aconteça. Quem o guardou em todos esses momentos? Quem o tirou da água quando, a seu lado, o seu melhor amigo morria afogado? O SABOR DA DIÁSPORA REALIZAÇÃO Eurico Filipe DURAÇÃO 50’ FORMATO DV PRODUÇÃO Óscar Gil Produções Três que por razões várias tiveram que abandonar o seu país – um por situações de guerra, outro por questões politicas e outro por questões económicas – que têm o mesmo destino, Portugal, país colonizador que os recebe. Cada um com a sua vida refeita mas com um pensamento em comum... Angola mãe-Pátria. O SEGREDO REALIZAÇÃO Edgar Feldman DURAÇÃO 60’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Tinta Invisível António Dias Lourenço, hoje com 94 anos, comunista, relembra os anos de encarceramento no Forte de Peniche, durante a ditadura fascista em Portugal, focando-se no episódio da sua evasão em 1954. O SORRISO DO GESTO REALIZAÇÃO Natacha Sampaio DURAÇÃO 15’ FORMATO HDV PRODUÇÃO Restart Do gesto nasce um sorriso. Um grupo de crianças e adolescentes surdos partilham connosco o seu dia-a-dia na E.B. das Laranjeiras. O TAPETE VOADOR REALIZAÇÃO João Mário Grilo DURAÇÃO 56’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Bollywood Pictures Foi através de Portugal que o tapete persa entrou na Europa, estabelecendo-se como uma das mais importantes tradições culturais no Ocidente, no que respeita às artes decorativas. 500 anos depois, voltamos ao Irão para revelar os seus gestos de fabrico originais e as suas formas e cores hipnóticas. 156 PANORAMA-Book:Layout 1 157 09/02/02 19:20 Page 157 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL O VOO DO HUMBI HUMBI REALIZAÇÃO Carlos Eduardo Viana DURAÇÃO 60’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Associação ao Norte Este documentário foi realizado na comuna de Lombe, no município de Cacuso, província de Malange, Angola, e regista o esforço realizado por vários actores estatais e não estatais, no processo de desenvolvimento social, cultural e económico, nomeadamente no papel que a escola poderá ter nestes processos. OPERAÇÃO MONDEGO REALIZAÇÃO Pedro Guilherme Teixeira DURAÇÃO 16’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart Dois velhos amigos de sensivelmente 60 anos, encontram casualmente uma figura que foi preponderante na sua juventude. A conversa entre os três remete-os para uma experiência que os marcou definitivamente, a participação no assalto ao Banco de Portugal da Figueira da Foz. OUTSIDE REALIZAÇÃO Sérgio Cruz DURAÇÃO 20’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Sérgio Cruz Na China, a cultura e as artes estão estreitamente ligadas às pessoas e às suas vidas. Ao longo de um mês o realizador coleccionou imagens das ruas de Pequim, documentou performances quotidianas. PARTES REALIZAÇÃO Cláudia Batalhão DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart Este é um documentário que procura demonstrar o poder da dança como forma de expressão, como linguagem e comunicação. Tem como ponto de partida questões que serão feitas a diferentes intérpretes/bailarinos, a quem se pede, única e exclusivamente, que a sua resposta seja dada através de movimento sem o uso da palavra. PÊNDULO IMPERFEITO REALIZAÇÃO Miguel Bação Miranda DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um jovem tóxico-dependente passou grande parte da sua vida na cadeia. Hoje, livre do vício, tenta recuperar a sua dignidade e a relação perdida com a filha. Reflectindo de forma lúcida e sem melodramas, ele analisa o perigo da sua recaída. Será que é desta vez que tudo se irá recompor ou será só mais uma fase boa, de uma vida má? PERTO DO CORAÇÃO REALIZAÇÃO Francisco Simões DURAÇÃO 15’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO Restart A taxidermia é um processo de preservar um corpo morto de um animal da sua natural decomposição. Nas suas utilizações científicas assim como nas pessoas que têm animais que mandaram “embalsamar”, preserva-se a imagem física de um corpo morto, numa simulação perto do estado vivo, como ultrapassagem do seu inevitável desaparecimento. Um corpo suspenso como memória. PESSOALMENTE, MARIA DO CÉU GUERRA REALIZAÇÃO Frederico Corado DURAÇÃO 50 minutos FORMATO DVCAM PRODUÇÃO Entrar Em Palco – Associação Cultural, Magazin Produções e Entretanto Teatro Na primeira pessoa, a actriz Maria do Céu Guerra faz um percurso pela sua carreira numa conversa intimista no bar d’A Barraca. O Teatro, o tempo, o palco, as memórias e as pessoas aparecem como que cartazes anunciando um próximo espectáculo. POKER E VIOLINOS REALIZAÇÃO Nuno Oliveira DURAÇÃO 15 FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Uma mulher com duas paixões: o jogo de poker e a recuperação e reparação de violinos. Ela conta-nos como, para ela, estas duas coisas aparentemente tão distantes, se unem no sentido mais profundo da procura e do desejo de se superar a si próprio. PORTO MERCADO ABERTO REALIZAÇÃO Norberto de Almeida Fernandes DURAÇÃO 9’ FORMATO 16 mm PRODUÇÃO Norberto de Almeida Fernandes Porto Mercado Aberto documenta a existência do mercado do Bolhão no dia 23 de Fevereiro de 2008. Este é o decorrer dos dias sobre a luta de uma cultura pela sobrevivência. A vida no limiar da transformação, manter o espírito ou permitir a sua demolição. Os comerciantes, continuam dia-a-dia a abrir as portas deste património à tradição e cultura que caracteriza a cidade do Porto. PRAGAS REALIZAÇÃO Daniela Ribeiro, José Martins, Tiago Neo DURAÇÃO 17’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart Este documentário retrata a construção e a criação artística do grupo Teatro Praga da sua última criação “ Conservatório “, partindo da leitura do texto filosófico de Peter Sloterdiik. QUERIA SER REALIZAÇÃO Sílvia Firmino DURAÇÃO 75’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Nuvem de Fogo AC Uma escola primária em risco de fechar no interior de Portugal. Dez alunos, do primeiro ao quarto ano lectivo, numa mesma sala. Um filme que vai à procura de um programa de reforço à leitura e encontra a força, as ambições e os medos destas crianças. RETRATO DE INVERNO DE UMA PAISAGEM ARDIDA REALIZAÇÃO Inês Sapeta Dias DURAÇÃO 42’ FORMATO 16 mm PRODUÇÃO Raiva Fixar o presente de uma paisagem destruída pelo fogo. Procurar o que ficou (as cores, as texturas, os silêncios) nos escombros e restos. Vontade de olhar de frente o corpo morto da árvore que ardeu, e perceber o seu lugar na terra onde ainda resta. Observação da passagem do tempo sobre a árvore queimada, e percepção da sua imobilidade. RIGO 23, ON INDIAN TIME REALIZAÇÃO Luis Carapeto DURAÇÃO 58’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Luis Carapeto RIGO 23 é um artista português residente nos E.U.A. O seu trabalho destaca-se na abordagem da actualidade politico-social nas diferentes comunidades, com quem vai estabelecendo uma cooperação sólida de trabalho e de relação humana. Este documentário foca os seus últimos trabalhos e exposições. RUAS DA AMARGURA REALIZAÇÃO Rui Simões DURAÇÃO 111’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Real Ficção As Ruas da Amargura são povoadas de homens e de mulheres, de todas as idades, com carências afectivas, financeiras, problemas mentais, alcoolismo, toxicodependência, ou simplesmente pessoas que chegaram a Portugal à procura de uma vida um pouco melhor. SANDRO G. REALIZAÇÃO Tiago Câmara DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Emigrante nos EUA Sandro G. passou grande parte da sua vida a vender droga pelas ruas. Deportado para os Açores, terra de origem, acabou por se transformar no famoso “Rapper de Rabo de Peixe”. SEVILHANAS LUSITANAS REALIZAÇÃO Miguel Miranda e Tiago Câmara DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona Um grupo de raparigas da Moita dedica o seu tempo livre a praticar danças sevilhanas. Mas a intensidade dos treinos, a pouca qualidade dos espectáculos para que são convidadas, e as guerras e intrigas internas, provoca no grupo um conflito latente que se torna um suplício... SOBRE QUATRO RODAS REALIZAÇÃO Bruno Cabral DURAÇÃO 50’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Valentim de Carvalho Filmes Um grupo de amigos habitantes da vila do Castedo dividem os dias entre o trabalho na vinha e a prática do tuning. SOFTWARE LÍQUIDO REALIZAÇÃO Tiago Pereira DURAÇÃO 7’ FORMATO DV PRODUÇÃO Parque Patrimonial do Mondego Primeira versão do ainda não acabado filme sobre o rio Mondego. PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:20 Page 158 INVENTÁRIO 2008: OS DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL SOUNDWALKERS REALIZAÇÃO Raquel Castro DURAÇÃO 29’ FORMATO HD DVCAM PRODUÇÃO Bazar do Vídeo Alguns princípios são fundamentais para construirmos uma sociedade acusticamente saudável, onde possamos viver dentro dos sons da vida. O respeito pela voz e pela palavra, a consciência sonora, o despertar da audição. Preservar os sons que tendem a desaparecer, mas ter abertura para os sons que nascem com cada novo passo tecnológico. TOKIO PORTO 9 HORAS REALIZAÇÃO João Nuno Brochado DURAÇÃO 10’ FORMATO Betacam SP PRODUÇÃO Cimbalino Filmes Do outro lado do mundo, um novo dia nasce em Tóquio. No Porto só nascerá 9 horas depois. As diferenças e as semelhanças entre dois locais que não distam apenas geograficamente. TRABALHO FORÇADO REALIZAÇÃO Tiago Melo Bento DURAÇÃO 11’ FORMATO Mini Dv PRODUÇÃO Corredor – Associação Cultural Uma terra de pescadores. Um barco em construção que não termina. Trabalho final de um Workshop de Cinema Documentário. U OMÃI QE DAVA PULUS REALIZAÇÃO João Pinto Nogueira DURAÇÃO 76’ FORMATO Digibeta PRODUÇÃO Continental Filmes Autor de três romances: A Noite e o Riso, Directa, Square Tolstoi e da colectânea de contos Estação. Postumamente foi editada a novela inacabada O Fim do Mundo. A 7 de Fevereiro de 1985 morreu no Hotel Lisboa com 55 anos. Quem foi Nuno Bragança? UM BARCO AO LONGE REALIZAÇÃO Mariana Castro e Rita Pestana DURAÇÃO 11’ FORMATO DVCam PRODUÇÃO ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema O retrato de um faroleiro, seguindo-lhe os gestos calmos e a rotinas vividas com descontracção. Seguimo-lo ao longo de um dia, até ao momento em que ele supervisiona o acender do farol. Mas ouvimos continuamente uma voz do passado, de um faroleiro de um tempo que precede a automatização do farol, e para o qual manter a chama do farol acesa é uma questão quase desesperada. UMA HISTÓRIA FUGAZ REALIZAÇÃO Miguel Clara Vasconcelos DURAÇÃO 14’ FORMATO HDV PRODUÇÃO Companhia Paulo Ribeiro/ANDAR Filmes Cátia é uma rapariga muito jovem mas com um passado difícil, que alimenta o sonho de ser barwoman ou modelo. Encontra um homem numa cadeira de rodas. Ambos participam num projecto de dança mas o passado de Cátia é mais forte e ela é impedida de continuar com os ensaios. VALENTUM REALIZAÇÃO Clara Games DURAÇÃO 10’ FORMATO Betacam Digital SP PRODUÇÃO Clara Games Naufragou, caiu ao mar, sobreviveu ao grande ciclone e à perseguição do fascismo. Salvou embarcações perdidas e soltou presos do temido forte, valendo-lhe a valentia o salto para os «batiments» da França. Quando regressou, despediram-no porque não tinha partido. Ti João «Valentum» Farto, mais que de Peniche é da Berlenga, ilha de patuscadas e folias, pescarias míticas, sustos e, para alguns, o fim. VIA DE ACESSO REALIZAÇÃO Nathalie Mansoux DURAÇÃO 82’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO Nathalie Mansoux Os últimos habitantes da Azinhaga dos Besouros, na periferia de Lisboa, não têm direito ao realojamento. Vivem a demolição do seu bairro, onde no futuro irá ser construída uma via rápida. VOLUNTÁRIOS REALIZAÇÃO Ana Dias, Paula Vieira, Nuno Oliveira DURAÇÃO 15’ FORMATO DV PRODUÇÃO Universidade Lusófona O dia de Natal num quartel de bombeiros no centro de Lisboa. Os voluntários falam entre si sobre os seus problemas, aventuras e desventuras enquanto preparam o jantar, cozinhado no quartel. 0=6 HOMEOSTÉTICA REALIZAÇÃO Bruno de Almeida DURAÇÃO 60’ FORMATO Betacam Digital PRODUÇÃO BA Filmes Documentário sobre o movimento Homeostética, que surgiu em Lisboa nos anos 80 e foi constituído pelos artistas Fernando Brito, Ivo, Pedro Portugal, Pedro Proença, Manuel João Vieira e Xana. 1,2,3 MACACOS DO CHINÊS REALIZAÇÃO José País DURAÇÃO 12’ FORMATO DV PRODUÇÃO Restart A música está a mudar. Com ela, os ouvintes. No olho do furacão estão os músicos. Quem são? Como estão reflectidos na música por eles criada? O que é fundar uma banda no início do séc. XXI? O acesso aos meios de criação e aos canais de difusão realmente alteraram o cenário estabelecido anteriormente 13/14 REALIZAÇÃO Joana Areal DURAÇÃO 21’ FORMATO DV PRODUÇÃO Fundação Calouste Gulbenkian 13/14 é uma idade. 13 é a idade do Tiago, 14 da Rute, 14 do Pedro. É o tempo entre criança e adulto. Neste período do meio já se sabe coisas. O Tiago gosta mais de carne, acorda com a mãe a chamar o seu nome, ou com o telemóvel quando está de castigo. A Rute gosta de ouvir o som das palmas e no futuro quer ser actriz e psicóloga, mas pode mudar. O Pedro vai para a NASA, fazer o que faz um Engenheiro Aeroespacial que ainda não sabe muito bem o que é, mas vai descobrir quando lá chegar. 158 PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 19:20 Page 159 Uma selecção de documentários apresentados pelo PANORAMA será exibida, em datas a anunciar, no âmbito da iniciativa “Aos Domingos o Terreiro do Paço é das Pessoas” PANORAMA-Book:Layout 1 09/02/02 DA EQUIPA DE PROGRAMAÇÃO DO PANORAMA 19:20 Inês Sapeta Dias Page 160 Capa Final:Layout ok final 09/02/04 13:26 Page 1