Dissertacao_Heliana Faria Mettig Rocha
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Dissertacao_Heliana Faria Mettig Rocha
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO HELIANA FARIA METTIG ROCHA VISUALIZAÇÃO URBANA DIGITAL: SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS PARA O BAIRRO DO COMÉRCIO - SALVADOR Salvador 2007 ii HELIANA FARIA METTIG ROCHA VISUALIZAÇÃO URBANA DIGITAL: SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS PARA O BAIRRO DO COMÉRCIO - SALVADOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Corso Pereira Salvador 2007 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 iii Rocha, Heliana Faria Mettig Visualização Urbana Digital: Sistema de Informações Geográficas e Históricas para o Bairro do Comércio - Salvador / Heliana Faria Mettig Rocha. – Salvador, 2007. 168p. il. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Corso Pereira. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Arquitetura – Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2007. 1. Visualização Urbana. 2. SIG Histórico. 3. Representação Digital do Espaço. 4. Modelo Urbano 3D. 5. Bairro do Comércio/ Salvador. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 iv AGRADECIMENTOS Manifesto minha gratidão aos que contribuíram para o andamento da pesquisa que originou esta dissertação. À FAPESB, pelo importante auxílio da bolsa de mestrado. Ao meu orientador, Professor Gilberto Corso Pereira, por me acolher no LCAD, pelo incentivo à minha pesquisa, e também pela leitura, discussão, apontamentos e indicações. À Professora Ângela Maria Gordilho Souza, tenho a maior gratidão, por ter me estimulado a ingressar na vida acadêmica, desde quando participei de sua pesquisa, como bolsista de iniciação e aperfeiçoamento científico . Ao Professor Arivaldo Leão de Amorim, pela ajuda e conselhos durante a etapa de desenvolvimento do projeto de pesquisa. À gentileza do Professor Mário Mendonça de Oliveira, ao facilitar o acesso ao AHEx Arquivo Histórico Militar do Exército no Rio de Janeiro e disponibilizar sua biblioteca particular. À Professora Elisabetta Romano, por aceitar prontamente o convite de fazer parte da banca de defesa da dissertação, contribuindo com o meu trabalho. Ao Professor Francisco Sena, que, várias vezes, atendeu-me, disponibilizando seu vasto conhecimento sobre a história da arquitetura e da Cidade. Ao historiador Cyd Teixeira, pelo incentivo na escolha do estudo de caso. Ao Professor Stephen Sheppard, da Universidade de British Columbia - Canadá, pelo material bibliográfico e entrevista cedidos. Aos professores, Silvana Sá de Carvalho, Jaine de Carvalho e Natalie Groetelaars, pela presteza em me auxiliar no que foi preciso. Ao bolsista de iniciação científica, Emanoel Ferreira, pela sua disponibilidade e auxílio. À Professora Mariely Santana, pelo apoio e pelo empréstimo das fotografias do CEAB. Aos funcionários do Arquivo Público do Estado da Bahia, do Museu Tempostal, da Fundação Gregório de Matos e da biblioteca da Faculdade de Ciências Humanas da UFBA, pelo prontoatendimento. A todos que gentilmente cederam exemplares de suas coleções. Aos colegas que leram e discutiram meus textos e à Carol, em particular, pela amizade e cumplicidade durante o curso de Mestrado. A José Inácio e família pela acolhida, no Rio de Janeiro, pelo carinho e disponibilidade. A meus pais, irmã e a toda a minha família, pelo constante apoio ao meu desenvolvimento profissional e acadêmico. A Paulo Sérgio, pela paciência, apoio e incentivo no caminho. A Deus, por tudo. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 v SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................................vii ABSTRACT ............................................................................................................................viii LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................................ix LISTA DE MAPAS....................................................................................................................x LISTA DE VISUALIZAÇÕES 3D ............................................................................................x LISTA DE QUADROS .............................................................................................................xi LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..............................................................................xii 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................1 1.1. PROPÓSITO DO ESTUDO........................................................................................1 1.2. OBJETIVOS................................................................................................................2 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................6 2. A REPRESENTAÇÃO DIGITAL DO ESPAÇO URBANO ..............................................8 2.1. TEORIAS DE PERCEPÇÃO VISUAL E MÉTODOS DE APREENSÃO DA FORMA URBANA .....................................................................................................9 2.2. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL...........................................................................15 2.3. REPRESENTAÇÕES DIGITAIS .............................................................................16 3. TECNOLOGIAS DIGITAIS APLICADAS À VISUALIZAÇÃO DE ÁREAS HISTÓRICAS.....................................................................................................................19 3.1. REALIDADE VIRTUAL (RV) ................................................................................23 3.2. REALIDADE AUMENTADA (RA) ........................................................................26 3.3. SISTEMAS DE SUPORTE AO PLANEJAMENTO ...............................................28 3.4. SISTEMAS PARA PARTICIPAÇÃO PÚBLICA ....................................................29 3.5. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS e HISTÓRICAS ...................31 3.6. SÍNTESE CRÍTICA E INDICAÇÕES PARA O ESTUDO .....................................41 4. BAIRRO DO COMÉRCIO, CIDADE BAIXA, SALVADOR..........................................49 4.1. OBJETO DE ESTUDO .............................................................................................49 4.2. CONTEXTO HISTÓRICO E URBANO ..................................................................51 5. SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS PARA O BAIRRO DO COMÉRCIO – SALVADOR ......................................................................................56 5.1. OBJETIVOS DO SISTEMA.....................................................................................57 5.2. MODELOS................................................................................................................57 5.3. PROTÓTIPO .............................................................................................................59 5.4. MODELAGEM CONCEITUAL...............................................................................60 5.4.1. Modelo de Dados.............................................................................................63 5.4.2. Dicionário de Dados ........................................................................................67 5.5. AQUISIÇÃO E CONVERSÃO DE DADOS ...........................................................73 5.5.1. Fontes de Informação ......................................................................................74 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 vi 5.5.2. Processo de Conversão de Dados ....................................................................87 5.6. INTERPRETAÇÃO DA ICONOGRAFIA ...............................................................92 5.7. MODELAGEM GEOMÉTRICA TRIDIMENSIONAL...........................................97 6. VISUALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES ........................................................................100 6.1. MAPAS TEMÁTICOS .............................................................................................100 6.2. VISUALIZAÇÕES TRIDIMENSIONAIS ...............................................................103 6.3. OUTROS TIPOS DE VISUALIZAÇÃO ..................................................................122 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................125 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................129 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................................134 GLOSSÁRIO..........................................................................................................................138 APÊNDICE A: Principais funcionalidades dos programas pesquisados ...............................143 APÊNDICE B: Quadro de Eventos sobre a Cidade Baixa e o frontispício de Salvador, desde o século XVI ao século XX ...............................................................152 APÊNDICE C: Levantamento de fotografias e postais ….………........................................161 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 vii RESUMO A visualização urbana digital de áreas históricas, através de aplicações de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) foi o tema principal desta dissertação. Este foi trabalhado através da criação de um protótipo de SIG histórico para um determinado bairro, enquadrando o trabalho na categoria de estudo de caso. O bairro do Comércio foi escolhido por ser uma área significativa do patrimônio urbano de Salvador, a primeira cidade colonial no Brasil, estabelecida formalmente em 1549 pelos portugueses, em dois níveis – Cidade Alta e Cidade Baixa. Atualmente, este bairro localizado na Cidade Baixa, possui uma variada tipologia arquitetônica, que coexiste por séculos. Muitas “transformações e permanências” são reveladas pela forma urbana, mas nem sempre são indicadas nos mapas de evolução urbana, geralmente manipulados por planejadores da cidade. Além disso, a área está abandonada, por muito tempo, pela maioria de seus negócios tradicionais, que se moveram para áreas comerciais mais recentes. Isto implica em uma necessidade crítica de novas iniciativas para a preservação do patrimônio. O valor do bairro do Comércio está em seu legado arquitetônico particular, sendo o lugar onde nasceu a cidade de Salvador, e mais importante, a primeira capital do Brasil. As aplicações de SIG possibilitam unir um grande número de informações existentes sobre uma determinada área geográfica em um sistema único que permite a exposição de diversas questões através de produtos visuais, tais como mapas temáticos e visualizações tridimensionais. A metodologia aplicada ao SIG histórico foi desenvolvida com base em conceitos de paisagem urbana, tais como percepção visual, imagem da cidade e apreensão da forma urbana. Estes conceitos foram utilizados para interpretar a iconografia antiga (mapas, cartões-postais, desenhos e perfis) para construir a base de dados histórica deste bairro, sendo composta por dados espaciais e não-espaciais. Os dados espaciais são provenientes dos mapas antigos de cada período analisado, aplicados no Modelo Digital de Terreno (MDT), elaborado a partir do levantamento aerofotogramétrico mais atual (2002). Os dados não-espaciais são informações detalhadas sobre os elementos urbanos mais relevantes. O modelo conceitual do sistema detalha as feições, seus atributos e seus relacionamentos, integrando os dados históricos e temporais coletados. Finalmente, a partir do modelo urbano tridimensional, são geradas as visualizações que representam a forma desta área da cidade em diferentes períodos ao longo dos anos, desde o século XVI à sua forma atual. Os diversos produtos gerados pelo sistema podem igualmente ser utilizados em aplicações voltadas para a preservação do patrimônio e para o planejamento urbano participativo. Além disso, o protótipo permite ser atualizado e sua metodologia possibilita futuros usos, em outros bairros ou cidades. Palavras-chave: Visualização Urbana; SIG Histórico; Representação Digital do Espaço; Modelo Urbano 3D; Bairro do Comércio/ Salvador. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 viii ABSTRACT The digital urban visualization of historical areas, through Geographic Information Systems (GIS) applications was the main subject of this Master’s thesis. This subject was treated through the creation of a historical GIS prototype for a specific district, fitting the work in the category of case study. The Commercial District is a significant heritage area in Salvador, which was the first colonial city in Brazil, formally established in 1549 by the Portuguese. Currently, the Commercial District maintains a variety of typologies of architectonical units, which have coexisted for centuries. Many “transformations and permanencies” are revealed by the urban form, but are not always displayed on urban evolution maps, which are usually manipulated by city planners. Furthermore, the area has long been abandoned by most of its traditional businesses, which have moved to more modern commercial areas, and it is in critical need of heritage preservation initiatives. The Commercial District’s value lays on its particular architectural legacy, being the place of birth of the City of Salvador, and more importantly, the place of birth of Brazil. GIS technology offers the ability of putting together a great number of information of this historic area in a unique system, and it allows the display of several queries through visual outputs, such as thematic maps and 3D visualizations. The Historical GIS methodology developed was based on urban landscape concepts, such as visual perception, image of the city and urban form apprehension. These concepts were used to interpret old iconography (old maps, post-cards, drawings and elevations) and to build the historical database for the study area, which is composed of non-spatial and spatial data. The non-spatial data are detailed information about the most relevant urban elements. Likewise, the spatial data proceeds from old maps of each period analyzed, applied on the Digital Terrain Model (DTM), produced from the current aerophotometric survey (2002). The conceptual model of the system details the features, attributes and their relationships, integrating all the historical and temporal data collected. Finally, they generate digital models that represent the city in different periods throughout the years. Therefore, the historical GIS prototype developed for the Master’s thesis allows for the 3D visualization of the urban space from its XVI century form to its current form. The system’s diverse urban visualization products can also be used in applications for heritage preservation and participatory urban planning. Moreover, it allows for updating, and its methodology enables future uses, such as in other neighborhoods or cities. Key words: Urban Visualization; Historical GIS; Digital Representation of Space; 3D Urban Model; Commercial District/ Salvador. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 ix LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa da forma visual de Boston.............................................................................10 Figura 2 – Plano de Estruturação da Orla Marítima de Salvador, baseado no estuda da imagem da cidade. Visões dos técnicos, da comunidade e dos empresários – Jardim dos Namorados..............................................................................................................12 Figura 3 – Postal do início do século XX, com enfoque no novo Porto de Salvador. .............17 Figura 4 – Gráfico da concentração de usuários de telefonia celular em Roma. Maio, 2006. .19 Figura 5 – Cenários do jogo SIMCITYTM 4 que simula a construção de cidades....................21 Figura 6 – Projeto Timescope I: quiosque e simulação, no sítio histórico, da visualização por RA, através do monitor do computador, que fica dentro do quiosque. ..................27 Figura 7 – Archeoguide: simulação da visualização por realidade aumentada através do uso de óculos digital e um computador portátil. ................................................................28 Figura 8 – Ambiente visual imersivo do Landscape Immersive Lab (LIL), Forest Resources Management, UBC. ................................................................................................31 Figura 9 – Ciberarqueologia: técnica que agrega recursos digitais à arqueologia. ..................32 Figura 10 – Modelos digitais históricos: Expansão do sistema viário em Havana e Rio de Janeiro, em 1808.....................................................................................................35 Figura 11 – Projeto Missões: reconstituição virtual. ................................................................36 Figura 12 – Saint Louis Virtual City Project: cidade virtual voltada para educação, na Internet. ..................................................................................................................39 Figura 13 – SIG-3D do centro histórico de Cantu, Itália, com análise histórica, grau de conservação e transformação das edificações. .......................................................40 Figura 14 – Transformações na paisagem urbana de Kyoto. ...................................................41 Figura 15 – Os cinco níveis de detalhe (LOD), definidos pelo CityGML. ..............................45 Figura 16 – Localização geográfica do sítio escolhido: Bairro do Comércio – Cidade Baixa – Salvador. .................................................................................................................52 Figura 17 – Cais das Amarras, 1886.........................................................................................53 Figura 18 – Fotografias de 1890-1920-1930-1940...................................................................54 Figura 19 – Modelo conceitual de agregação das edificações..................................................62 Figura 20 – Modelo de Dados ..................................................................................................65 Figura 21 – Visualização de tela do ArcScene com os sucessivos trechos de aterro, aplicados à foto aérea de 2002 e ao MDT. ................................................................................75 Figura 22 – Atlas Parcial da Cidade de Salvador de 1956 – trecho do bairro do Comércio. ...77 Figura 23 – Planta de 1894 – trecho do bairro do Comércio....................................................78 Figura 24 – Original da Planta de 1779, dividida em seis partes, durante processo de montagem da imagem.............................................................................................79 Figura 25 – Planta de 1779 – trecho da Cidade Baixa..............................................................79 Figura 26 – Desenho de 1638 – trecho da Cidade Baixa..........................................................80 Figura 27 – Postais – Praça Marechal Deodoro em 1912 e em 1920.......................................83 Figura 28 – Processo de georreferenciamento do Mapa de 1779.............................................90 Figura 29 – Análise seqüencial e percurso. ..............................................................................93 Figura 30 – Parte do mapa base de 1956 mostrando as edificações de séculos diferentes. .....96 Figura 31 – Parte do mapa base de 2002 mostrando as edificações de séculos diferentes. .....96 Figura 32 – Fase de interpretação iconográfica: identificação dos edifícios-marcos e quadras sem construção no, bairro do Comércio, séc. XX, década de 30. ..........................96 Figura 33 – Edificações até 1936 e atlas de 1956, aplicado sobre MDT. ................................97 Figura 34 – Edificações-marco com modelagem no nível de detalhe intermediário LOD2. ...99 Figura 35 – Seqüência Temática 1638-1779-1894-1956-2002 – Visualização do frontispício de Salvador, simulando o mesmo ponto de vista da Figura 36. ...........................122 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 x Figura 36 – Parte da fotografia panorâmica de Salvador, ano estimado: 1900. .....................122 Figura 37 – Consulta informativa...........................................................................................123 LISTA DE MAPAS 01 – Ano 2002 .................................................................................................................... 02 – Ano 1956 .................................................................................................................... 03 – Ano 1894 .................................................................................................................... 04 - Ano 1779 ..................................................................................................................... 05 - Ano 1638 ..................................................................................................................... 06 - Transformações e Permanências ................................................................................. 102 103 104 105 106 107 LISTA DE VISUALIZAÇÕES 3D 07 – Ano 2002 .................................................................................................................... 08 – Ano 1956 .................................................................................................................... 09 – Ano 1894 .................................................................................................................... 10 – Ano 1779 .................................................................................................................... 11 – Ano 1638 .................................................................................................................... 12 – Transformações e Permanências ................................................................................ 13 – Classes das Edificações .............................................................................................. 14 – Edificações Militares – 1779 ...................................................................................... Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 114 115 116 117 118 119 120 121 xi LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Quadro de Eventos sobre a Cidade Baixa e o frontispício de Salvador, desde o século XVI ao século XX (Apêndice B). ..............................................................86 Quadro 2 – Dados utilizados na modelagem do sistema. .........................................................92 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Níveis de detalhe de 0 a 4, ou LOD 0-4, do CityGML com seus requerimentos de precisão...................................................................................................................46 Tabela 2 – Esquema dos dados do sistema...............................................................................66 Tabela 3 – Tabela de dados alfanuméricos – Edificações-marco.............................................72 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AHEx AR CAD CALP CASA CEAB CECRE CityGML CODEBA CONDER CONDURB EPSRC FAUFBA FOLDOC GDI NRW GIS GML GPS GSD GVIS IBGE IBM INFORMS IPHAN LAURD LCAD LIDAR LIL LOD LOUOS MDT MIT NCG OCEPLAN OGC PDI PMS PPGAU PPGIS PSS RMS SEPLAM SICAR SIG Arquivo Histórico do Exército Augmented Reality - Realidade Aumentada Computer Aided Design – Projeto Auxiliado por Computador Collaborative for Advanced Landscape Planning Centre for Advanced Spatial Analysis Centro de Estudos de Arquitetura na Bahia Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos City Geography Markup Language Companhia das Docas do Estado da Bahia Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Engineering and Physical Sciences Research Council Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia Free On-line Dictionary of Computing (Imperial College London.) Geodata Infrastructure North-Rhine Westphalia Geographic Information Systems Geography Markup Language Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global Harvard Graduate School of Design Geographic Visualization Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística International Business Machine Sistema de Informações Geográficas Urbanas da RMS Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Laboratório de Análises Urbanas e Representação Digital da UFRJ Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho LIght Detection And Ranging Landscape Immersive Lab Level Of Detail – nível de detalhe Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo Modelo Digital de Terreno Massachusetts Institute of Technology Núcleo de Computação Gráfica da UNISINOS Órgão Central de Planejamento Open Geospatial Consortium Processamento Digital de Imagem Prefeitura Municipal de Salvador Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Public Participatory Geographic Information System – Sistema de Informação Geográfica em Participação Pública Planning Support Systems - Sistemas de Suporte ao Planejamento Região Metropolitana de Salvador Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente Sistema Cartográfico da RMS Sistemas de Informações Geográficas Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 xiii SIG-3D SIG-4D TIN UBC UCL UDMS UFBA UFRJ UNISINOS UTM VR VRML 3D Sistema de Informação Geográfica 3D Sistema de Informação Geográfica 4D Triangular Irregular Network University of British Columbia University College of London Urban Data Management Society Universidade Federal da Bahia Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade do Vale do Rio dos Sinos Universal Transverse Mercator Virtual Reality - Realidade Virtual Virtual Reality Modeling Language três dimensões ou tridimensional Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. PROPÓSITO DO ESTUDO Foi em 1996, em Barcelona, em uma mostra intitulada “Cerdà – Urbis i Territore”1, a qual se destacou pela variedade das formas de apresentação dos estudos realizados sobre a cidade de Barcelona, que foram identificadas diversas possibilidades tecnológicas já existentes aplicáveis à análise urbana até aquele momento. Havia modelos tridimensionais físicos e digitais2, assim como representações temporais, através de sobreposição de imagens, dentre outras diversas mídias eletrônicas. Todas representavam análises e sínteses sobre os projetos urbanísticos de Ildefons Cerdà entre os anos de 1815 e 1876. Esse conteúdo foi intensamente explorado em painéis, projeções, maquetes e publicações durante a exposição. A imagem e a estrutura da cidade são constantemente sujeitas a um processo dinâmico de mudança e continuidade. A cidade de Salvador, nos seus 458 anos de história, contém muitas superposições no seu ambiente construído, por meio de reformas, reconstruções, demolições e renovações urbanas, enquanto algumas áreas permaneceram intactas, muitas vezes por motivo de abandono. Assim, surge o interesse de explorar estes aspectos de Salvador, utilizando o recurso de visualização urbana digital - ato ou efeito de tornar conceitos abstratos visíveis, através da representação visual e numérica do espaço urbano. Recursos visuais como fotografias, mapas históricos, planos de cidades, desenhos e postais registraram as mudanças, na imagem da cidade, ao longo dos anos. Com base nessas fontes de pesquisa, o propósito deste estudo concentra-se em como esse processo de mudança e continuidade é visualmente revelado pela Cidade. Deste modo, foi eleito o tema da Representação Digital relacionado à linha de pesquisa “Linguagem, Informação e Representação do Espaço” deste Mestrado para estudar as linguagens e tecnologias para a representação no espaço urbano e geográfico, incluindo aspectos tecnológicos e instrumentais e suas aplicações no planejamento urbano. Neste trabalho, a tecnologia foi aplicada como instrumento de análise e crítica do espaço urbano 1 Mostra patrocinada pelo Departament de Política Territorial i Obres Públiques de la Generalitat de Catalunya, Espanha. 2 O termo “digital” é derivado de dígito, caracterizando a representação numérica discreta de um dado ou de uma grandeza física. (TEIXEIRA; CHRISTOFOLETTI, 1997, p.84) Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 2 construído, através do desenvolvimento de um estudo histórico da dinâmica da estruturação e da transformação de um trecho da cidade. De certa forma, a metodologia desenvolvida, durante a investigação, relaciona-se com outros trabalhos, contribuindo com os estudos de macro-análise interativa em desenvolvimento no Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho (LCAD), da Faculdade de Arquitetura da UFBA, acrescentando nova faceta a projetos de pesquisa em andamento. Este estudo também colabora na relação entre os campos de conhecimento da história e da tecnologia de informação aplicada ao urbanismo. Nesse sentido, acredita-se que, aprofundar os estudos sobre representação e visualização digital, amplia as possibilidades de análise espacial praticada por arquitetos, planejadores urbanos e comunidades, que podem ser estendidas à prática do planejamento participativo3. Além disso, a pesquisa pode alimentar futuros estudos voltados à interpretação do patrimônio urbano, com objetivos mais amplos de documentação histórica e geração de dados para uma prática de educação patrimonial no meio acadêmico e na comunidade em geral. 1.2. OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho foi aprofundar estudos sobre a linguagem e a expressão gráfica de informações urbanas espaciais e temporais, em busca de uma representação digital para elementos estruturais do espaço urbano, dando suporte ao planejamento e preservação de áreas urbanas de valor histórico, pelo ponto de vista da percepção visual. A aplicação da metodologia do estudo de caso foi escolhida como forma de criar e experimentar esse processo de investigação, em apenas uma área da cidade, possibilitando avaliar cada especificidade do método desenvolvido. Assim, o bairro do Comércio, na Cidade Baixa de Salvador, foi selecionado como caso mais representativo dentre os critérios estabelecidos, visando aprofundar o objeto do estudo. O período estudado englobou, desde o século XVI ao século XX, sendo considerados alguns dados até o ano 2006. Essa extensão de tempo justifica-se pela possibilidade de representar as 3 Nesse contexto, o conceito de planejamento participativo envolve a estratégia política e educacional que busca uma visão múltipla, integrada e sustentável de desenvolvimento. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 3 diversas interferências registradas na paisagem urbana, que somente são percebidas visualmente, de forma concentrada, em determinados períodos ao longo desses séculos. No percurso, alguns objetivos mais específicos foram sendo perseguidos, como os relacionados a seguir: Resgate dos dados representativos deste trecho da cidade de Salvador na iconografia existente levantada; Levantamento dos dados sobre estudos existentes em representação digital de cidades históricas no mundo e as tecnologias aplicadas; Estudo da teoria da percepção da imagem da cidade, aplicada em um contexto histórico; Elaboração de modelos digitais urbanos para representar a configuração do espaço ao longo do tempo; Produção de informações de fácil visualização e manipulação sobre o bairro do Comércio, utilizando recursos digitais tridimensionais (3D) em aplicações de Geoprocessamento; Aprofundamento do estudo físico-ambiental da área portuária de Salvador, sua evolução urbana, características estruturais e simbólicas. Nesta pesquisam, durante o levantamento do estado da arte sobre representações digitais de cidades históricas, constatou-se uma escassez de trabalhos deste tipo no Brasil, sendo estes destacados no Capítulo 3. Entretanto, nos diversos trabalhos, realizados no exterior, foram identificadas algumas aplicações tecnológicas para áreas urbanas de caráter histórico. A grande maioria envolvia técnicas de visualização, utilizando desde programas para Realidade Virtual4, em busca de maior grau de realismo e simulações de percurso, até modelagens urbanas utilizando tecnologia de laser scanning5, com aplicação de texturas produzidas por imagens capturadas in loco. Já as aplicações que envolviam questões de precisão cartográfica, 4 Realidade Virtual é a técnica avançada de interface que permite ao usuário realizar imersão, navegação e interação em um ambiente sintético 3D gerado por computador, utilizando canais multi-sensorais. (AZEVEDO; CONCI, 2003) 5 Laser scanning – tecnologia de levantamento cadastral de alta definição que utiliza dispositivo de entrada 3D (scanner 3D) que mapeia objetos através da coleta de nuvens de pontos com coordenadas (x,y,z). Também chamada LIDAR - Light Detection And Ranging. Disponível em: <http://www.leica-geosystems.com>. Acesso em: 4 jan. 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 4 relações topológicas ou mesmo cruzamento de dados espaciais e não-espaciais, utilizavam tecnologias de Geoprocessamento. Ao analisar, mais profundamente, essas opções tecnológicas, constatou-se que as aplicações que utilizam SIG demonstram ter um maior número de funcionalidades. Englobam, em um só sistema, as funções de documentação, análise, representação, visualização e monitoramento, que podem auxiliar o estudo da evolução da forma urbana e suas respectivas interferências na paisagem. Por esse motivo, esta tecnologia foi definida como a mais adequada para desenvolver a aplicação proposta. Assim, foi possível fazer cruzamentos de informação com dados temporais, capturados a partir da iconografia antiga, de pouca precisão cartográfica, relacionando-os com dados da atualidade, com maior precisão. Além da precisão cartográfica ser uma questão importante, para este trabalho, a idéia principal foi focar na interoperabilidade do sistema e não na busca do fotorrealismo6, diferente do foco da maioria dos casos pesquisados. Atualmente, nota-se a tendência universal do desenvolvimento de modelos de cidades em 3D, onde a interoperabilidade do modelo passa a ter mais importância do que sua verossimilhança (BODUM, 2006) Neste contexto, o autor explica o conceito de verossimilhança como o alto grau de semelhança com a realidade do modelo geométrico 3D, baseado nos princípios de modelagem das tecnologias CAD, construídos com foco no fotorrealismo. Em contrapartida, interoperabilidade significa, neste caso, quando cada objeto do modelo pode ser reutilizado em outro sistema, tornando-o útil para outros propósitos, que não visualização. Além disso, com base nos conceitos apresentados na teoria da percepção da imagem da cidade, indicados por Lynch (1960), e no método de apreensão da forma do espaço urbano, detalhada por Kohlsdorf (1996), foi interpretado parte do material iconográfico, encontrado sobre o bairro do Comércio em todo o período estudado. Essa fundamentação teórica possibilitou tratar a paisagem como um conjunto de elementos visuais identificáveis, que permitiu embasar visualizações digitais urbanas em três dimensões de forma legível. Durante o levantamento bibliográfico, foi identificado o estudo do Plano Urbanístico da Orla de Salvador, publicado em 1978 pelo Órgão Central de Planejamento da Prefeitura Municipal 6 Fotorrealismo é a característica da representação gráfica que objetiva aproximar-se ao máximo do aspecto real. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 5 de Salvador (OCEPLAN), atual Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente (SEPLAM). Esse Plano teve como objetivo principal a normatização e o controle do espaço urbano, através do estudo aprofundado dos aspectos físico-ambientais da orla da cidade. A análise desse Plano trouxe algumas indicações de como utilizar as teorias de percepção visual para objetivos de análise urbana distintos. No caso desta dissertação, a finalidade foi interpretar informações provenientes de material iconográfico de forma a possibilitar cruzamentos de dados em períodos diferentes de tempo. Assim, o estudo voltou-se para o campo da documentação histórica como suporte ao planejamento. Nesse sentido, foram elaborados procedimentos metodológicos, baseados nessas teorias para representar o espaço e o tempo no contexto urbano, expostos no Capítulo 5 desta dissertação. Investigar o universo pouco explorado da iconografia antiga como fonte de informação implicou atenção redobrada à interpretação das imagens coletadas. Assim, foram tomados alguns depoimentos de arquitetos, urbanistas e historiadores para auxiliar na compreensão desses dados. Dentre eles, os professores Cyd Teixeira, Francisco Senna e Mário Mendonça de Oliveira. A partir de então, foi necessário abandonar alguns caminhos previstos inicialmente e eleger o que pareceu mais pertinente para organizar os dados e compor esta pesquisa. Como, por exemplo, foi sugerido, sempre que possível, buscar dados primários, relacionando a iconografia com documentos textuais. Assim como, relacionar mapas e perfis do mesmo período para confirmar os dados coletados. Nesse percurso, surgiram algumas questões, que foram tratadas ao longo desta dissertação, como: - Qual o nível de detalhe (Level Of Detail - LOD) seria o mais adequado para a visualização urbana de uma área, com base nos objetivos do estudo? Como usar o método da apreensão da forma urbana para interpretar espaços urbanos não mais existentes? Como trabalhar com dados espaciais e temporais em um Sistema de Informações Geográficas? Qual a melhor área da cidade para ser representada por um protótipo de sistema? Que períodos de tempo mais representativos seriam escolhidos? Uma das contribuições, esperadas na pesquisa, foi a possibilidade de integração de dados históricos do patrimônio edificado, suas respectivas representações espaciais planas e modelos geométricos tridimensionais, relacionados com a dimensão do tempo, compondo uma representação conceitual da realidade. Esta proposição de resgate da memória da cidade, de forma interativa, pode gerar inúmeros desdobramentos. Por exemplo, um dos problemas mais Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 6 difíceis é detectar a essência das decisões tomadas pela administração pública. Isso incita questões, como: - Em que extensão as “transformações e permanências”7 da cidade são resultados de escolhas deliberadas da gestão urbana? Em que extensão as iniciativas autônomas são resistentes às intervenções públicas? Essas questões, dentre outras, são geralmente analisadas com base em representações gráficas tradicionais, que acompanham o Plano de Desenvolvimento Urbano da Cidade, como: planta baixa, planta de ocupação e uso do solo, perfis e elevações, que contêm as características das fachadas da área estudada. Para análises mais apuradas, um material visual tridimensional e interativo poderia ser adicionado, expondo informações de caráter histórico com as mudanças que aconteceram na cidade ao longo do tempo e, até mesmo, simulando intervenções possíveis. 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO A estrutura desta dissertação é composta por sete capítulos, sendo o Capítulo 1, esta Introdução. O Capítulo 2 - A REPRESENTAÇÃO DIGITAL DO ESPAÇO URBANO descreve um breve histórico sobre o tema e evidencia o referencial teórico-metodológico da pesquisa, além de tratar da questão das representações digitais do espaço. O Capítulo 3 - TECNOLOGIAS APLICADAS À VISUALIZAÇÃO DE ÁREAS HISTÓRICAS contêm o levantamento do estado da arte sobre as tecnologias mais utilizadas, comentadas detalhadamente nos subitens do capítulo. E, como referencial empírico, são apresentadas as contribuições das aplicações pesquisadas para o objeto em estudo. No Capítulo 4 - ESTUDO DE CASO: BAIRRO DO COMÉRCIO, CIDADE BAIXA, SALVADOR justifica-se a aplicação da metodologia do estudo de caso e a escolha do bairro do Comércio, que é caracterizado e contextualizado historicamente. O Capítulo 5 - SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS documenta os procedimentos práticos da pesquisa. É discutida a implementação do sistema, 7 Refere-se ao título do livro de VASCONCELOS (2002): Salvador: Transformações e Permanências (15491999). Neste contexto, a expressão foi utilizada referindo-se às transformações ocorridas na Cidade através de reformas e reconstruções urbanas e às áreas intocadas (ou ditas permanentes). Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 7 considerando as fontes de informação, a preparação dos modelos digitais, as metas e fases do estudo, a descrição do sistema proposto e sua modelagem conceitual. O Capítulo 6 - VISUALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES - apresenta os mapas e modelos temáticos, seus respectivos comentários e outras possibilidades de visualização e consultas à base de dados. O Capítulo 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS - relata os resultados do estudo e uma análise do conjunto apresentado na dissertação. Enfim, os tópicos levantados, desde o início da pesquisa, são reconsiderados e também são apresentados possíveis desdobramentos para trabalhos futuros. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 8 2. A REPRESENTAÇÃO DIGITAL DO ESPAÇO URBANO A representação do espaço é uma necessidade do homem que nos remete à antiguidade. Desde esse tempo, o homem reproduz referências de lugares conquistados ou descobertos como forma de extensão da memória e da comunicação entre seus iguais. Além da representação de lugares, através da imagem, desenho ou pintura, ele também sempre representou fatos, objetos, idéias e pessoas. Na busca por uma leitura mais ampla do espaço urbano, Andrade (1993) comenta que “o discurso sobre a cidade inventa uma outra cidade, que só existe no texto, embora se espelhe na cidade real”. Com isso, ele tenta demonstrar a importância da leitura do espaço da cidade por quem nela vive, sendo estas “marcadas essencialmente pelo devaneio que acolhe a experiência empírica e projeta fantasias e preocupações teóricas”, mas que não, necessariamente, refletem a plena realidade. Da mesma forma, a representação da cidade pode ser sintetizada, de acordo com o conhecimento e a linguagem utilizada pelo seu mediador ou intérprete, através de desenhos, maquetes e de técnicas de computação gráfica. Deste modo, não há como reproduzir uma cidade, nem mesmo em meio digital, exatamente como ela é, “embora se espelhe na cidade real”. No processo de busca da aproximação da realidade, em princípio, é estabelecido um modelo conceitual com um determinado propósito, onde são especificados os elementos estruturais mais importantes que vão gerar a representação da cidade. Nos estudos de Lynch (1960), o termo “image of the city”8 refere-se a esta representação, que ele demonstra poder ser individual ou coletiva, e que, sendo consistente, pode ser utilizada para descrever ou restabelecer a própria cidade, na sua ausência. A representação do tempo também é uma necessidade revelada pelo homem desde que procurou representar imagens seqüenciadas e representações conceituais sobre o tempo. A rica e vasta iconografia da coleção de livros manuscritos, ocidentais, organizada por Nascimento (2000) para a exposição no Museu Calouste Gulbenkian, mostra que o homem tem utilizado diversas formas de representação da passagem do tempo, ao longo dos séculos, 8 “imagem da cidade”. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 9 no contexto de cada uma de suas comunidades, integrando os padrões e fronteiras que servem de medida até os dias atuais. Com a atual variedade de técnicas de representação digital, é possível representar o espaço urbano de forma a aproximar-se cada vez mais de sua configuração real, dependendo do objetivo de cada situação estudada. As tecnologias de mídia digital, que lidam com essas representações, também incorporam a dimensão do tempo, tais como a Realidade Virtual (RV) e os Sistemas de Suporte ao Planejamento, que podem ou não integrar tecnologias de SIG e modelos geométricos tridimensionais. Algumas aplicações dessas tecnologias serão tratadas no Capítulo 3 desta dissertação. 2.1. TEORIAS DE PERCEPÇÃO VISUAL E MÉTODOS DE APREENSÃO DA FORMA URBANA Objetivando intervir na cidade, alguns autores aprofundaram conceitos sobre o espaço urbano, que agregam categorias de análise distintas, mas complementares. Conceitos como percepção visual, apreensão da forma do ambiente construído, imagem da cidade e espaço cognitivo são essenciais para esse entendimento. A teoria da percepção espacial e os conceitos elaborados por Kevin Lynch, em seu primeiro livro, “The Image of the City”, publicado em 1960, delinearam, naquele momento, uma forma diferente de interpretar o espaço da cidade. Uma de suas inovações foi aplicar o conceito de legibilidade do lugar, significando a facilidade com que as pessoas entendem a distribuição de elementos no ambiente urbano. Introduzindo essa idéia, Lynch foi capaz de isolar determinados elementos visuais de uma cidade e estudar o quê, especificamente, poderia fazêla legível ou não para as pessoas. Ele demonstrou que, para perceber visualmente o espaço urbano, em princípio, as pessoas criam um mapa mental. Nesse contexto, mapas mentais são representações do que uma cidade contém e sua estrutura espacial, de acordo com a interpretação de cada indivíduo. Essas representações contêm vários elementos visuais únicos, que são definidos por Lynch como uma rede de vias, limites, bairros ou setores, pontos nodais e marcos (LYNCH, 1960, p. 2). Outro termo, introduzido na leitura da cidade por Lynch, foi imaginabilidade, que constitui a qualidade de algo que oferece ao observador uma imagem intensa e vívida. Ele explica que Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 10 uma cidade, com alta imaginabilidade, seria formada de partes bem distintas e seria instantaneamente reconhecida pelos habitantes em geral. Ele ilustrou também que uma “boa forma” da cidade seria altamente dependente do elemento mais predominante nessa cidade suas vias. Entretanto, todos os elementos visuais contribuem, favoravelmente, para a imaginabilidade, quando estes são significativos, distintos e perceptíveis. Esses elementos, quando bem dispostos em uma cidade, ampliam a habilidade humana de ver e de recordar padrões, e são esses padrões que a tornam mais fácil de apreender (LYNCH, 1960, p. 9). Em seu livro, exemplificou os “mapas da forma visual das cidades”, confirmando sua hipótese sobre a percepção visual parcial da cidade a partir do indivíduo, assim como a existência de uma imagem visual coletiva. De fato, conceitua “imagem da cidade” como um quadro mental generalizado do mundo físico exterior que cada indivíduo é portador, sendo produto tanto da sensação imediata quanto da lembrança de experiências anteriores. A princípio, esse conceito remetia a uma imagem mais estática da cidade, mas em seus estudos posteriores mostrou que há várias imagens mentais em uma mesma cidade (LYNCH, 1999). Essa idéia dinâmica é mais apropriada à realidade urbana deste estudo, que leva em consideração a análise do ambiente urbano, através da identificação dos elementos estruturais da imagem urbana, indicados por Lynch, mas não necessariamente suas implicações teóricas. Figura 1 – Mapa da forma visual de Boston. Fonte: (LYNCH, 1960, p.19) Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 11 Essa idéia é reafirmada por Alkhoven (2003) quando busca ressaltar que “a imagem e a estrutura de uma cidade estão constantemente sujeitas a um processo dinâmico de mudança e continuidade. Reparos, relocações, reabilitações, lançamentos, demolições e renovações urbanas acontecem em todas as cidades, enquanto algumas áreas, entretanto, são deixadas intocadas por períodos de tempo” . Mesmo tendo despertado uma nova forma de leitura da cidade, Lynch sofreu muitas críticas, tanto em questões teórico-metodológicas quanto em questões operacionais, principalmente, por aqueles que tentaram utilizar seus conceitos para uma análise visual urbana em cidades muito diferentes dos padrões americanos. Segundo Sampaio (1986), parece discutível a separação feita por Lynch entre a “imagem da cidade” e o processo da prática social. Para ele, Lynch evidenciou que a imagem não era derivada das práticas e ideologias existentes no plano social, mas sim da lógica da forma da estrutura urbana, enquanto arranjos espaciais. Nesse aspecto, Sampaio (1986) demonstrou o desencontro desta teoria com a de Castells (1974) em que “a simbólica urbana só existe a partir da utilização das formas espaciais como emissores, retransmissores e receptores das práticas ideológicas gerais”. Por este ponto de vista, afirmou que “a imagem mudaria com o tempo, em função das mudanças ideológicas pelas práticas sociais, assim como o espaço urbano não poderia nunca ser tomado como um texto escrito pronto e acabado para os diferentes extratos de população que compõem a cidade” (SAMPAIO, 1986). Outras críticas a Lynch referem-se às prováveis amostras tendenciosas, escolhidas por ele ao estudar apenas três cidades americanas, em termos quantitativos e qualitativos, reconhecida como uma ausência de representatividade estatística, por ele próprio. A aplicabilidade de seu método à análise do ambiente urbano da cidade de Salvador foi comentada por Sampaio (1986) referindo-se ao Plano de Estruturação da Orla Marítima de Salvador, elaborada pela Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente de Salvador (SEPLAM) em 1988. Este Plano foi um estudo de análise ambiental urbana para a Orla Marítima de Salvador, baseada em uma adaptação da metodologia de análise da imagem da cidade, criada por Lynch para uma realidade local. Durante o trabalho foram comparadas, para efeito de planejamento, as visões dos técnicos, da comunidade e dos empresários, e foram geradas novas propostas de ocupação. Segundo Sampaio (1986), houve dificuldades operacionais e necessidades de adaptação ao caso concreto. Por exemplo, o conceito de “marco” parecia aplicar-se a elementos distintos na configuração dos espaços, e o conceito de “bairro” Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 12 (district) gerou problema na identificação de seus possíveis “limites”, criando a necessidade de utilizar outro conceito, o de “zona”, determinada por características fisiográficas das áreas estudadas, mais apropriado à realidade da cidade de Salvador. Figura 2 – Plano de Estruturação da Orla Marítima de Salvador, baseado no estuda da imagem da cidade. Visões dos técnicos, da comunidade e dos empresários – Jardim dos Namorados. Fonte: (PMS, 1988). A imagem urbana de Salvador também foi estudada, anteriormente, em 1978, como parte do Plano de Desenvolvimento Urbano (PLANDURB), desenvolvido pela OCEPLAN. O objetivo era obter um modelo físico-territorial, buscando delimitar sub-unidades espaciais da cidade, a morfologia do sítio, a tipologia construtiva, a trama viária, os aspectos naturais, os bairros e as zonas de proteção ambiental. Estes elementos foram cruzados com os dados anteriormente mapeados para identificar zonas de proteção para a cidade. Naquele momento, a análise dessas zonas serviu como referência para gerar recomendações para a legislação urbanística, evitando-se, assim, uma uniformização das exigências urbanísticas nas diversas áreas da cidade (PMS, 1978). Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 13 Focalizando a área do bairro do Comércio, as principais recomendações citadas por este Plano foram a necessidade de um estudo de urbanização dos galpões e armazéns do porto de Salvador entre a pista e o mar. Isso permitiria uma relocação de usos para atividades vinculadas ao setor hoteleiro e turístico, além de especificar que “tais volumes deviam ter o pavimento térreo vazado e não ultrapassar dois pavimentos de altura, com redução da atual taxa de ocupação”. Havia uma observação para o entorno próximo aos marcos visuais da área, que deveriam obedecer a restrições específicas, em maior grau de detalhe, como a Praça Cayru, Elevador Lacerda, Mercado Modelo, Igreja da Conceição da Praia, Casarios e Forte de São Marcelo. Em relação às Zonas Construídas, o trecho do Comércio recebeu recomendações especiais quanto à preservação das visuais para a Baía de Todos os Santos e vice-versa, “constituindo em um invulgar valor simbólico da Cidade em sua silhueta” (PMS, 1978). Foi citado o controle rigoroso da tipologia das novas edificações, não permitindo volumetrias que viessem a competir com a escala dos marcos significativos existentes, tanto na altura quanto nas dimensões em planta. Recomendou-se manter a identidade das edificações no caso de restituição ou não havendo esta possibilidade, apelar-se para a substituição tipológica com base no cadastro em maquete. Além disso, sugeriu-se o impedimento de penetração de novas vias primárias; criação de um sistema especial de aprovação de projetos nessas áreas; necessidade de se fazer um cadastro físico atualizado e rigoroso das áreas, incluindo estrutura fundiária e regime de propriedade e dar prioridade à circulação de pedestres e de transportes coletivos especiais e definição de uma sinalização indicativa dos lugares com base em um projeto de comunicação visual (PMS, 1978). Percebe-se que esse estudo, com enfoque na imagem ambiental urbana, foi uma experiência de êxito no campo da normatização e do controle urbano. No caso desta dissertação, os mesmos conceitos foram aplicados na área de visualização digital urbana e documentação histórica, sendo utilizados como meio de interpretação da iconografia antiga e como base referencial para os modelos digitais urbanos, desenvolvidos por período de tempo. Também, no Brasil, Kohlsdorf (1996), através de uma leitura específica de Sitte (1992), Lynch (1960), Trieb (1985) e outros autores que estudaram as formas de percepção do espaço, procurou “ler” a cidade de um modo mais pragmático e detalhado, ampliando o conceito de legibilidade como sendo “a capacidade dos lugares de serem decodificados, em termos de identificação e localização, por seus usuários”. Considerou a forma dos lugares como meio de aprendizado dos mesmos, respondendo a expectativas estéticas de grupos sociais, criadas pelo Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 14 próprio processo de conhecimento. Realizou estudos aprofundados sobre as sensações, a percepção, a imaginação, a intuição e sobre a formação da imagem mental e da noção de espaço. Suas pesquisas contribuíram, de modo efetivo, na apreensão da forma do espaço urbano, na documentação do patrimônio histórico de diversas cidades, sendo difundido como metodologia para diversas outras iniciativas no Brasil. Como base teórica, os estudos de percepção da cidade originaram outros mais específicos no campo da paisagem urbana e da apreensão do espaço construído em todo o mundo. Estas investigações passaram a ser implementadas, globalmente, em diversas operações de planejamento urbano. Em geral, quando uma cidade se forma, ou quando as existentes se expandem, os habitantes têm se beneficiado, cada vez mais, com o uso de elementos mais “imagináveis”9 e um desenho urbano mais claro. Para compreendermos o processo de comunicação da informação espacial, precisamos entender o conceito de cognição espacial, ou seja, é a forma pela qual uma pessoa entende ou pensa sobre informação espacial. Segundo Parsons (1994), a compreensão ou cognição do ambiente é resultado de experiências ou vivências no espaço geográfico. Uma maneira de possibilitar essa experiência é a técnica da visualização digital, que, através de aplicações específicas, permitem a exploração do ambiente pelo usuário, em um processo dinâmico e interativo. Por sua vez, no campo da geografia, também existe a busca de como representar o mundo real e interpretá-lo através das tecnologias digitais. Nesse caso, a cognição espacial pode ser considerada um sistema de processamento da informação para o estudo da representação em mapas. No livro “How Maps Work: Representatiom, Visualization, and Design”10, MacEachren (2004), ao tratar desse tema, explica que a visão “processa” informação e não necessariamente “reage” à informação. Do ponto de vista da percepção aplicada em um estudo de imagem urbana, alguns aspectos tornam-se mais relevantes do que outros, como por exemplo, em um modelo espacial é importante que o lugar seja reconhecido por quem observa a representação sem dificuldades, ou seja, o modelo deve ser legível e esta legibilidade não pode perder-se na medida em que o usuário se desloca no espaço ou no tempo. 9 Neste contexto, o conceito de “imaginável” refere-se àquilo de que se pode representar na imaginação, relembrar, ou seja, elementos mais “fáceis de recordar”. 10 “Como Mapas Funcionam: Representação, Visualização e Design”. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 15 2.2. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL Durante as aulas do workshop “Percepção Visual em Espaços do Patrimônio Histórico”, realizado em setembro de 2004, pelo Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (CECRE), na Faculdade de Arquitetura da UFBA, a Professora Maria Elaine Kohlsdorf definiu que o objetivo maior da “Apreensão da Forma da Cidade”, título de seu livro, era a busca da articulação entre suas estruturas morfológicas e sua percepção visual para resgatar a memória. As técnicas elaboradas e testadas por ela foram utilizadas parcialmente em três fases deste trabalho: a interpretação da iconografia antiga, a análise visual da área estudada in loco e o estudo do percurso, através de filmagens. Segundo Kohlsdorf (1996, p.10 e 133), “a explicação dos fenômenos não depende do instrumental utilizado, mas da submissão de suas informações a teorias e, posteriormente, à verificação por intermédio da prática”, ou seja, “as melhorias no processo do conhecimento dão-se por maior aproximação da realidade objetiva, e isso depende, basicamente, de adequação da teoria às hipóteses explicativas adotadas”. Foi, nesse contexto, que esta dissertação buscou recriar realidades objetivas do passado para subsidiar seu entendimento no presente e o planejamento dessas áreas para o futuro. Dessa forma, este estudo está inserido no campo do desenho urbano e da aplicação de tecnologias computacionais, pela busca da visualização do processo dinâmico da cidade, ao longo do tempo. O fato de agentes influenciarem na organização do espaço da cidade e sofrerem com a interferência do momento histórico, em que os fatos ocorrem, pressupõe-se a importância da dimensão do tempo nesse tipo de análise. Por esse motivo, essa questão foi tratada, desde a concepção do modelo conceitual do protótipo do sistema desenvolvido neste trabalho, de forma a contemplar inúmeras variáveis passíveis de representação digital. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 16 2.3. REPRESENTAÇÕES DIGITAIS Representações gráficas sempre revelam interferências de seu mediador ou de quem as solicita, principalmente ao tratar-se do uso de tecnologias digitais. Por isso, muitas vezes, estas sofrem críticas quanto à sua autenticidade. De forma comparativa, o uso de modelos urbanos digitais para planejamento de cidades sofreu o mesmo tipo de crítica do que a utilização de mapas antigos como fontes de informação primária para pesquisas científicas. Monmonier (1996), em seu livro “How to Lie with Maps”11, discorre sobre esse tema, mostrando a característica tendenciosa da elaboração dos mapas, segundo os interesses envolvidos de seus contratantes e o momento histórico que os originou. Porém, em nenhum momento descarta sua validade como fonte de pesquisa. A iconografia coletada para esta pesquisa tem considerável importância histórico-documental, porém, como muitas delas são gravuras, desenhadas e pintadas à mão, possivelmente, trata-se de representações tendenciosas de acordo com o período histórico em que foram produzidas, o país que contratou e o próprio desenhista – mediador dos interesses envolvidos. Nem mesmo as fotografias e os postais podem ser considerados fontes totalmente garantidas, pois também sofrem influências reais de quem as encomendou. Por exemplo, um fato interessante é que não se vêem cartões-postais antigos (e quase nunca atuais) de áreas degradadas e, nem mesmo, fotografias históricas que documentam essas áreas. Em geral, no século XIX, estas imagens foram produzidas com o objetivo de documentar e divulgar a cidade para os estrangeiros, que, mais tarde, viriam habitar Salvador. Essa característica tendenciosa também foi comentada na dissertação defendida neste Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPG-AU) por Mello (2004), “o reflexo dos acontecimentos históricos do final do século XIX – Abolição da Escravatura e Proclamação da República, e da conseqüente transição política”, refletem-se nas “questões pertinentes à imagem construída para a cidade do Salvador, levantando as contradições entre a cidade real e a imagem, que lhe era atribuída como cidade ideal, revelando uma Bahia modernizada e europeizada aos olhos do mundo, na primeira metade do século XX”. 11 “Como Mentir com Mapas”. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 17 Figura 3 – Postal do início do século XX, com enfoque no novo Porto de Salvador. Fonte: CEAB. Por esse motivo, o uso da iconografia, como fonte de pesquisa para gerar representações digitais sobre cidades históricas, é um recurso que necessita de comprovação com o maior número possível de documentos, incluindo os textuais, mas que, por sua vez, também são tendenciosos (ALKHOVEN, 2003). Geralmente, os mapas ou plantas têm baixa precisão cartográfica e cadastral ao serem comparados com a cartografia atual, baseada em levantamentos aerofotogramétricos, mas podem passar por um processo de retificação ou alinhamento. Esta técnica permite a correção geométrica, relativamente precisa, entre o mapa antigo e o atual para posterior manipulação, detalhado no Capítulo 5 desta dissertação. A validade das representações digitais comprova-se pela diversidade de aplicações voltadas para quase todas as áreas do conhecimento. Essa cultura digital complementa, e eventualmente, substitui os meios convencionais, porém modifica as formas nas quais se podem manipular as informações. Representation, in fact, has become the dominant sign of digital culture beginning more than half a century ago with numerical representation, extending into words and pictures with the development of the personal computer from the 1980s on, and now moving rapidly into sound, touch and other human senses (BATTY, 2006, p. 46).12 12 Representação, de fato, tornou-se o símbolo dominante da cultura digital, iniciada há mais da metade do século passado com a representação numérica, estendendo-se para textos e imagens com o desenvolvimento do computador pessoal desde 1980 em diante, e agora, movendo-se rapidamente para o som, tato e outros sentidos humanos. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 18 Ainda assim, uma vez que um fenômeno é representado digitalmente, este pode ser copiado e manipulado diversas vezes e pode ser distribuído praticamente sem limitações. No campo da comunicação, as representações digitais podem ser utilizadas e adaptadas para mais de uma mídia, como webpages13, jogos eletrônicos, criação de mundos virtuais e formas variadas de animação e interatividade. A combinação com outros dados ou a busca por diferentes propósitos pode agregar valor à representação original, possibilitando uma diversidade de transformações digitais. 13 Webpages são páginas residentes em um servidor conectado à Internet, com conteúdo específico. É um recurso de informação condicionado à Web (World Wide Web) e pode ser acessado através do web browser. Essa informação está geralmente nos formatos HTML ou XHTML, e podem vincular navegação para outras webpages, via links de hipertexto. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Web_page>. Acesso em: 28 dez. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 19 3. TECNOLOGIAS DIGITAIS APLICADAS À VISUALIZAÇÃO DE ÁREAS HISTÓRICAS Ao levantar-se o estado da arte das tecnologias digitais que estão sendo aplicadas para o desenvolvimento de modelos geométricos tridimensionais de cidades, percebe-se o grande número de enfoques e técnicas diferenciadas de representação. Por esse motivo, é muito difícil tentar agrupá-las, ou mesmo, classificá-las. Algumas cidades apresentam aspectos de sua infra-estrutura registrados e monitorados por equipamentos específicos, assim como edificações e sistemas de tráfego têm sido automatizados. Em outras cidades, o movimento das pessoas, no tecido urbano, está sendo monitorado, através de tecnologias remotas e de coleta de informação pessoal, por telefonia celular, capturando, até mesmo, a dinâmica de uma cidade inteira, como no projeto Real Time Rome, desenvolvido pelo SENSEable City Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para a Bienal de Veneza, em 2006. Este projeto agregou dados de telefones celulares (obtidos através da plataforma Lochness da Itália Telecom), ônibus e táxis em Roma e gerou mapas seqüenciados de mobilidade sobre referências geográficas e socioeconômicas. O projeto pretendeu revelar o ritmo da cidade atualizado constantemente, enquanto ele acontecia, ou seja, em tempo real Figura 4 – Gráfico da concentração de usuários de telefonia celular em Roma. Maio, 2006. Fonte: Disponível em: <http://senseable.mit.edu/realtimerome>. Acesso em: 10 abr. 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 20 No contexto estudado, optou-se por selecionar apenas os exemplos de aplicações para áreas históricas, apesar de ter sido feito um levantamento exaustivo de diversas outras aplicações que envolviam modelagens de cidades, enquanto se buscavam estes mais específicos. Analisando-os, segundo Batty (2006, p.47), nos últimos trinta anos esse tema progrediu de três formas diferentes e interligadas entre si: Computer Aided Design14 (CAD) No início dos anos 1990, uma grande variedade de modelos urbanos digitais surgiu com a representação de edificações e da paisagem natural. Em geral, estes foram desenvolvidos para visualizar o impacto de novos projetos arquitetônicos, com o mesmo objetivo que os modelos de mídia convencional tinham sido utilizados por muitas gerações, como as maquetes físicas e perspectivas coloridas com aerógrafo15. Segundo a forma utilizada para gerar as geometrias, os sistemas CAD tridimensionais podem utilizar modeladores de sólidos, de superfícies ou híbridos. Os primeiros utilizam operações booleanas16 que geram modelos geométricos com centro de gravidade e volume. Os de superfície geram formas geométricas complexas de superfícies sem espessura. Os híbridos utilizam complexos algoritmos matemáticos, possibilitando usufruir os recursos das duas classes anteriores, aplicando a modelagem mais adequada para cada situação específica. Jogos eletrônicos (Games) O desenvolvimento de games tem espaço para inovação, improvisação e adaptação, caracterizando seus modelos como totalmente flexíveis. Apesar de não serem aplicações científicas, ampliaram o campo das representações digitais, em termos de qualidade gráfica, fly-throughs17 em tempo real e interatividade nas cidades virtuais. Esta busca 14 Projeto Auxiliado por Computador. 15 Aerógrafo é a ferramenta de pintura que utiliza a técnica de uso do fluxo de ar associado à tinta. No caso, o ar torna-se o "pincel". 16 Operações booleanas são operações matemáticas executadas segundo a Álgebra Booleana, desenvolvida por George Boole. Os operadores lógicos incluem os termos AND, OR, NOTe XOR (excluindo OR). (TEIXEIRA, CHRISTOFOLETTI, 1997, p. 49) 17 Fly-through é o recurso de animação que permite a visualização de um percurso determinado, através de um modelo geométrico tridimensional. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 21 constante pelo melhor resultado visual incentivou o desenvolvimento de melhores visualizações 3D, em outros pacotes de software, para aplicações voltadas para as tecnologias CAD e SIG, possibilitando experiências mais ricas em simulações de ambientes urbanos. Em geral, as técnicas de modelagem geométricas para games utilizam aplicações de texturas em sólidos simples e simulam ambientes com o uso de imagens, evitando modelos geométricos complexos. Figura 5 – Cenários do jogo SIMCITYTM 4 que simula a construção de cidades. Fonte: Disponível em: <http://simcity.ea.com>. Acesso em: 04 dez. 2005. Sistemas de Informações Geográficas (SIG) São conjuntos de hardware18, software19 e dados geográficos para aquisição, armazenamento, análise, gerenciamento e visualização de dados, espacialmente referenciados com a superfície da Terra. De uma forma mais genérica, os SIG são ferramentas que permitem aos usuários criar consultas interativas (buscas criadas pelos usuários), com enfoque na análise e edição da informação espacial. Ou seja, refere-se ao processo de gerar novas informações através do processamento de dados espaciais por tecnologias computacionais (PEREIRA, 1999). Essa tecnologia automatiza tarefas 18 Hardware é a parte física do computador, ou seja, é o conjunto de componentes eletrônicos, circuitos integrados e placas, que se comunicam através de barramentos. 19 Software é a sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na manipulação, redirecionamento ou modificação de um dado/informação ou acontecimento. Em contraposição ao hardware, o software é o conjunto de instruções e dados que é processado pelos circuitos eletrônicos do hardware. É o aplicativo ou programa de computador. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 22 realizadas manualmente e facilita a realização de análises complexas, através da integração de dados de diversas fontes e da criação de um banco de dados geo-codificado. As diversas funcionalidades que os SIG permitem não existem em aplicações CAD nem mesmo em games. Quando englobam modelos geométricos, estes são gerados a partir de expressões matemáticas que transformam superfícies planas com atributo de altura em sólidos simples, com um identificador. Por sua vez, estão associados a dados espaciais e não-espaciais. Alguns programas são compatíveis com modelos geométricos mais elaborados importados de outros aplicativos, que, ao serem incorporados ao SIG, também passam a ter um identificador específico. Os SIG apresentam a cidade virtual, em um domínio diferente, onde profissionais podem interagir com a cidade, de forma analítica e visual, voltados para o planejamento urbano. Muitas vezes, produzem representações cartográficas mais abstratas, mas de domínio público, como mapas, visualizações tridimensionais e gráficos. Algumas vezes, permitem mais interatividade e são mais precisos em termos de interface20 com o usuário. De certa forma, as tecnologias SIG-3D e CAD têm convergido, consideravelmente, nesse campo até o momento. Outros dois temas também vem sendo integrados, como a Web21 e a Realidade Virtual, tornando esses sistemas mais amplamente utilizados pelo público em geral. A seguir, estão expostas algumas tecnologias e aplicações pesquisadas, voltadas para a visualização digital urbana. A maioria dos exemplos tem o objetivo de gerar documentação histórica ou dar suporte ao planejamento. Para cada uma, são destacados: o conceito da tecnologia utilizada, o local onde foi realizado o estudo, o objetivo perseguido, os resultados e a fonte de referência do exemplo dado. 20 Nesse contexto, interface com o usuário refere-se à visualização dos dados na tela do computador. Em um sistema computacional, conjunto de elementos de hardware e software destinados a possibilitar a interação com o usuário. 21 World Wide Web, ou Web ou WWW – significa “rede de alcance mundial" – é a rede de computadores na Internet, que fornece informação em forma de hipermídia. É o sistema de informação e um dos muitos serviços oferecidos na Internet, empregando-a como meio de transmissão de hipermídia, como vídeos, sons, hipertextos e figuras. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 23 3.1. REALIDADE VIRTUAL (RV) As técnicas de RV utilizam o processo de simulação de situações do cotidiano, fazendo o usuário participar, não apenas através da percepção visual, mas também dos outros sentidos. Muitos exemplos de visualização tridimensional, voltados para documentação histórica, utilizam esse recurso vinculado à multimídia e à Internet22, pois, assim, disponibilizam seus produtos para maior número de usuários. Podem ter diversos usos, tais como: educativos, voltados para a academia ou para o turismo. Através da pesquisa, percebe-se que ao utilizar as técnicas de RV como suporte ao planejamento, em geral, estas são vinculadas a programas mais específicos e completos, como os que compõem um SIG, para manipular um maior e mais complexo número de informações. Estudos realizados por Imdat As (2005) e o Prof. Daniel Schodek, ambos da Harvard Graduate School of Design (GSD), ao analisar um extenso número de aplicações de realidade virtual disponíveis em websites23 e multimídias gravadas em CD-ROM ou DVD, que abordavam a visualização de edificações ou sítios históricos significantes, geraram a classificação desses exemplos em ambientes virtuais imersivos e não-imersivos. Os imersivos, nos quais o usuário fica inserido no ambiente virtual, usando equipamentos como luvas, capacetes e óculos, ou utilizam recursos de “cave” – espaço similar a uma cabine com uma tela ampla, que engloba todo o campo visual do usuário, dando a sensação de completa imersão no espaço virtual. Os não-imersivos utilizam apenas o recurso da tela do computador. Estes ambientes virtuais, voltados para aplicações de caráter histórico, foram classificados, em quatro áreas principais, com alguns exemplos: Reconstruções Virtuais: Esse tipo de aplicação RV reconstrói edificações e/ou sítios arquitetônicos que não existem mais ou aqueles ameaçados de extinção. Ajudam a audiência a conectar-se a uma parte da história que não existe mais fisicamente. Entretanto, na maioria dos casos, são reconstruções hiper-realistas24, que simulam a 22 Internet – é um conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados pelo endereço único global, baseado no Protocolo de Internet (IP) ou suas subsequentes extensões, que permite o acesso a informações e transferência de dados. 23 Website – é um conjunto de páginas Web, isto é, de hipertextos acessíveis geralmente pelo protocolo HTTP na Internet. 24 Hiper-realismo, também conhecido como realismo fotográfico ou fotorealismo, é o estilo de representação gráfica, que busca mostar uma abrangência muito grande de detalhes, tornando-a quase idêntica à fotografia ou à cena da realidade. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 24 textura, proporções, condições de iluminação, aspecto e estado de conservação dos materiais, para dar à audiência informações suficientes que auxiliem na criação de conteúdo significativo no reconhecimento de uma sequência histórica. Recursos virtuais como reconstruções digitais, animações e ferramentas interativas, em geral, são bem integrados. Um exemplo é o “The Theban Mapping Project”25, liderado por Kent Weeks e sua equipe na Universidade do Cairo. A meta principal foi preparar uma base de dados arqueológica do Vale dos Reis, na região de Tebas, no Egito. O projeto contém reconstruções virtuais através de modelos geométricos 3D interativos vinculados à uma base de dados, uma compilação de imagens, ferramentas de navegação e medição sobre mapas detalhados, elevações e seções. Também inclui tours narrativos. Museus Virtuais: É um tipo de cenário RV, onde o público, em geral, pode visitar o museu sem o confinamento do espaço e do tempo e recebe informações em diversas formas. O principal propósito dos museus virtuais é certamente permitir o acesso ao museu sem a necessidade de estar presente no local. Como exemplo, tem-se o “Eternal Egypt”26, uma versão online do Museu Egípcio do Cairo. O projeto foi desenvolvido com a colaboração do Egyptian Center for Documentation of Cultural and Natural Heritage (CultNat) e a IBM. Apresenta para o público um aplicativo hipermídia sobre histórias, representações dos lugares e objetos da cultura egípcia. Tour Virtuais: Geralmente esse recurso de tour virtual oferece walking tour27 interativos e/ou panoramas. Estes são montagens de fotografias, em uma seqüência visual de 180o ou 360o, que dão uma sensação de inserção no ambiente, visualizando-o a vista total do ambiente a partir de um ponto fixo central. São, particularmente, de lugares ou edificações existentes. Essencialmente, têm o objetivo de permitir que os usuários percebam o lugar a distância; é uma maneira de sítios históricos importantes 25 Disponível em: <http://www.thebanmappingproject.com>. Acesso em: 03 dez. 2005. Não é necessária a instalação de nenhum aplicativo ou ambiente específico para sua visualização. 26 Disponível em: <http://www.eternalegypt.org>. Acesso em: 03 dez. 2005. Para sua visualização, é necessário instalar o programa de visualização QuickTime, da Apple. 27 Walking tour – são percursos predefinidos no modelo urbano 3D, que equivalem ao passeio virtual, do ponto de vista do pedestre. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 25 alcançarem ampla audiência sem danificar o lugar. Um exemplo é o Tour Virtual, apresentado em “The Alhambra”28, em um palácio medieval com influência islâmica, na Espanha. O website foi desenvolvido pelo Visual Media Center da Columbia University, Departamento de História e Arqueologia, dirigido por Robert Carlucci e sua equipe de pesquisa. O website tem tours virtuais, pequenos vídeos, levantamentos fotográficos e um mapa animado. Reconstruções Virtuais imersivas: Nesse tipo de aplicação, os visitantes experimentam um senso de participação e responsabilidade pelos eventos que acontecem com eles no curso de suas explorações. Nesse caso, a instalação RV é um ambiente para um único usuário e a interatividade é provida através de programação em VRML29 - Virtual Reality Markup Language. A interação acontece através de vários sensores e complexos mecanismos de saída. Como exemplo, tem-se o “Beyond Manzanar”30. Foi desenvolvida pelos artistas visuais, Tamiko Thiel e Zara Houshmand, junto à Gifu International Academy of Media Arts and Sciences, Japan e a revista Wired. Mostra uma narrativa sobre os japoneses americanos, aprisionados no campo de internamento “Manzanar”, no leste da Califórnia durante a 2a Guerra Mundial e faz ligações com os iranianos americanos, ameaçados, da mesma forma, durante a crise dos reféns em 1979-80. Nesse caso, é, basicamente, uma instalação do tamanho de um quarto onde imagens sintetizadas são projetadas em uma tela na escala de um pra um, tipo “cave”. Em outras aplicações desse tipo, o campo visual pode ser envolvido totalmente com imagens sintetizadas, não somente pela frente, mas também por todos os lados, topo e base, usando a tecnologia de filmagem em panorama. Com essa aplicação, os autores objetivaram exprimir o drama das pessoas nos campos de concentração e envolver as pessoas em seus trabalhos de arte, através da imersão. 28 Disponível em: <http://www.mcah.columbia.edu/alhambra>. Acesso em: 04 dez. 2005. Para a sua visualização, são necessários os programas QuickTime, da Apple e Flash, da Adobe. 29 VRML - Virtual Reality Modeling Language – é uma linguagem que nos possibilita descrever objetos 3D e agrupá-los, de modo a construir e animar cenas ou "verdadeiros mundos virtuais". As cenas criadas são, em geral, disponibilizadas na Web e suas áreas de aplicação são bastante diversificadas, indo desde aplicações na área científica e tecnológica até entretenimento e educação, passando por representações artísticas e em multimídia. 30 Disponível em: <http://www.mission-base.com/manzanar/demos.html>. Acesso em: 04 jan. 2005. Para a sua visualização, é necessário instalar os programas blaxxun Contact 5.1 VRML browser plugin30, também disponível no website. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 26 3.2. REALIDADE AUMENTADA (RA) Uma definição bastante difundida é que ela é a sobreposição visual de objetos virtuais, gerados por computador em um ambiente real, utilizando, para isso, algum dispositivo tecnológico (Milgram, 1994), ou seja, é um acréscimo visual, em relação ao mundo real, através da superposição de imagens sintetizadas, no campo visual do usuário, em tempo real. Facilita a análise e a interação com gráficos e a exploração de aspectos cognitivos, visando à maior compreensão da informação. Imdat As (2004), da Universidade de Harvard, fez um levantamento de grupos de pesquisa como o Fraunhofer Institute, no MIT Media-Lab, o Hughes Research Laboratorie, na Califórnia e o Laboratório de Computação Gráfica e User Interface, na Nova Zelândia, exemplos de pesquisadores, que trabalham com aplicações RA. Esta área de aplicação é bem extensa, compreende desde a medicina à engenharia, desde aplicações voltadas para o lazer e a educação, assim como para o patrimônio urbano cultural. Em cenários RA, é muito importante a exatidão do posicionamento entre a representação digital e o mundo real. Um pequeno desalinhamento espacial, temporal, de intensidade, cor ou resolução pode não ser convincente para o usuário e pode, até mesmo, fazê-lo sentir-se fisicamente desconfortável. A correspondência do imaginário artificial com o mundo visual depende de uma série de parâmetros, que primeiro reconhece a posição e orientação do usuário em relação ao mundo visual e, em segundo lugar, a localização do ponto de vista em si, dentro da coordenada global do sistema. As aplicações RA têm um complexo sistema de seqüência e posicionamento, que localiza a posição exata, focalizando o usuário e seu entorno, mas, nem sempre, as posições são suficientemente precisas. O autor classifica as aplicações RA em dois tipos: Fixed Point (Pontos Fixos) e Mobile (Móvel), explicadas a seguir. Fixed Point – Esse tipo de aplicação refere-se a um “ponto fixo”, ou seja, um local fixo onde o usuário se estabelece para utilizar o aplicativo, em geral, um quiosque com equipamentos. Tem como exemplo o “Timescope – Ename 942 Project”31, desenvolvido pelo Belgian Institute for Archaeological Heritage e a IBM. Através do uso de realidade virtual e multimídia, o projeto permite que os visitantes percorram reconstruções digitais de estruturas precisamente sobrepostas às áreas de escavações arqueológicas. O projeto objetiva auxiliar no 31 Disponível em: <http://www.ename974.org/Eng/pagina/index.html>. Acesso: em 01 dez. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 27 entendimento dos remanescentes do local e na visualização de como as estruturas originais deviam se parecer quando reposicionadas virtualmente. O sistema consiste em uma câmera de vídeo, um computador, dois monitores e um touch screen32. A câmera de vídeo foi direcionada para uma seção particular dos remanescentes arqueológicos e transmitia imagens de vídeo, em ´tempo real´, para os monitores do quiosque. O usuário poderia olhar, através de uma abertura do quiosque, e ver o que realmente estava lá, ao lado, ou, alternativamente, assistir, no monitor, a informações auxiliares, separadas em camadas, daquele ponto de vista em particular. No caso de uma aplicação RA, desse tipo, não há nenhuma necessidade de sistemas complexos de seqüência nem posicionamento, porque a sobreposição ocorre somente em uma perspectiva pré-selecionada. O maior problema, nesse caso, é a necessidade de montar uma estrutura, com quiosque relativamente grande e muito visível, podendo até interferir na estética arquitetônica do lugar. Figura 6 – Projeto Timescope I: quiosque e simulação, no sítio histórico, da visualização por RA, através do monitor do computador, que fica dentro do quiosque. Fonte: (PLETINCKX, 2000, p.46). Mobile (MARS – Mobile Augmented Reality Systems) – refere-se ao tipo de aplicação, que permite a interação do usuário com um equipamento acoplado a seu corpo, enquanto ele movimenta-se. O objetivo é permitir a exploração de um local com informações educativas em ´tempo-real´. Um exemplo dessa aplicação é o projeto Archeoguide33 - um guia presencial sobre o patrimônio cultural, baseado em realidade aumentada, elaborado por um consórcio europeu de provedores de tecnologia e o Ministério da Cultura Helênica na Grécia. Nesse projeto foi utilizado um sistema misto que envolve o posicionamento e a seqüência de movimento do usuário. A ênfase 32 Touch screen – é a tela de exibição que pode ser usada como dispositivo de entrada de dados através do toque do usuário, substituindo os periféricos padrões de entrada de dados. Disponível em: <http://foldoc.org> Acesso em: 28 dez. 2006. 33 Disponível em: <http://archeoguide.intranet.gr >. Acesso em: 04 dez. 2005. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 28 foi dada no desenvolvimento da interface, e, mesmo o sistema correspondendo ao mundo real em escala, posição e perspectiva, é desconectado da realidade imediata. Corresponde a um servidor de informações sobre o sítio, composto por um banco de dados relacionado com uma ferramenta de escolha de conteúdos e uma interface de acesso remoto, que funciona através de uma rede wireless34. A unidade móvel que fica com o usuário (um óculos digital e um computador portátil) tem uma interface wireless e um sensor de posição que mostra uma imagem superposta virtualmente no local visualizado. Figura 7 – Archeoguide: simulação da visualização por realidade aumentada através do uso de óculos digital e um computador portátil. Fonte: Disponível em: <http://archeoguide.intranet.gr>. Acesso em: 04 dez. 2005. 3.3. SISTEMAS DE SUPORTE AO PLANEJAMENTO Os Sistemas de Suporte à Decisão35 são sistemas construídos sob fundamentos teóricos matemáticos, focados na estrutura e comportamento das entidades urbanas, no processo de planejamento e nas teorias de representação espacial. Essas teorias são refletidas em sistemas que perseguem objetivos como: estudos de uso do solo, intervenções na área de transportes, análise fiscal e análise de meio-ambiente, dentre outros. Podem gerar análises espaciais de cenários do presente, passado e futuro, simulações, assim como gerar dados para embasar intervenções urbanas. Este tipo de sistema é geralmente utilizado pela administração pública 34 Wireless – tipo de conexão por ondas de rádio entre computadores ou entre o servidor e outros receptores. 35 Planning Support Systems (PSS), em inglês. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 29 ou privada para organizar e visualizar informações, de acordo com as atividades e os recursos que permeiam o planejamento urbano (BRAIL; KLOSTERMAN, 2001, p.xi). Exemplos desse tipo de aplicação são numerosos, na área de análise urbana, com simulação e construção de cenários futuros. Alguns autores descrevem modelos urbanos complexos, que incorporam SIG, como por exemplo, o METROPILUS – the METROpolitan Integrated Land Use System, desenvolvido pelo professor Steven Putman e pesquisadores da Universidade da Pennsylvania, com o objetivo de realizar simulações de planejamento regional. Foi utilizado em oito das dez cidades mais populosas dos Estados Unidos. É um sistema que integra modelos de locação residencial, de empregos e de uso do solo no programa ArcMap em uma interface gráfica de fácil compreensão. O sistema prevê acréscimos de análise de dados e capacidade de manipulação ao integrar-se com pacotes de planejamento de transporte e é muito utilizado para previsão de impactos ambientais, mas não utiliza dados tridimensionais (BRAIL; KLOSTERMAN, 2001, p. 99). Outro exemplo é o “Tranus” - Plano Integrado de Transporte e Uso do Solo. Foi um dos poucos em operação até o ano de 2001, utilizado na criação de um modelo da cidade de Swindon, na Inglaterra e financiado pelo Engineering and Physical Sciences Research Council (EPSRC) “Sustainable Cities”. É um modelo de sistema que integra e opera três módulos – uso do solo, transporte e análise espacial. Tem a capacidade de simular cenários alternativos, incluindo dados sobre oferta e demanda de trabalho, distribuição da população e mudanças de ocupação do solo, além de oferta de terra e de transporte sobre a área estudada. (BRAIL; KLOSTERMAN, 2001, p. 129 e 144). Até o momento, nessa abordagem do tipo PSS, prevalecem as representações digitais baseadas em modelos urbanos bidimensionais estruturados nos conceitos de SIG. 3.4. SISTEMAS PARA PARTICIPAÇÃO PÚBLICA O programa CommunityViz36, com seus módulos Scenario Constructor e Town Builder 3D é um dos mais divulgados como Sistema de Suporte à Decisão para planejamento e 36 Disponível em: <http://www.communityviz.com/>. Acesso em: 27 dez. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 30 administração de recursos, voltado para participação pública - PPGIS37. Permite análises baseadas em SIG e na modelagem geométrica 3D do mundo real. Auxilia na visualização de alternativas de uso do solo e no entendimento dos impactos potenciais, explorando opções e criando possibilidades, examinando cenários de todos os ângulos – ambiental, econômico e social. Normalmente, é utilizado como método que permite às pessoas atuarem como cidadãos nas escolhas que definirão o planejamento do espaço de sua própria comunidade, através do emprego da linguagem da visualização. Uma aplicação utilizada na University of British Columbia (UBC), em Vancouver, Canadá, foi o uso de ambientes virtuais para auxílio no processo de tomada de decisão participativa como técnica auxiliar de mediação entre as comunidades e o poder público. Esse tipo de aplicação pode ter diferentes aproximações, como demonstrar propostas diferentes de modificações no tecido urbano, simular possíveis alternativas e suas respectivas conseqüências físicas, e até mesmo, agregar projeções socioeconômicas aos dados espaciais. A descrição desse processo foi desenvolvida e detalhada por Sheppard (2004) no livro sobre Landscape Visualization38 e em pesquisas sob sua coordenação, realizadas no Collaborative for Advanced Landscape Planning (CALP), laboratório de pesquisa da Faculty of Forestry da UBC. Exemplificou o uso de aplicações típicas de visualização da paisagem no planejamento urbano e na administração de recursos ambientais, podendo ser identificados elementos de fácil reconhecimento como terreno, vegetação, corpos de água e edificações, entre outros. Também contextualizou culturalmente o tema, com o objetivo de estender a capacidade do recurso de visualização para aplicação junto às comunidades rurais e os nativos canadenses, chamados First Nations. Em sua pesquisa, foi utilizado o programa CommunityViz, que integra SIG e Landscape Visualization, mas ressaltou que as barreiras potenciais para uma implementação bem sucedida são, principalmente, devido à complexidade técnica do programa disponível até aquele momento da pesquisa. Este e outros programas serão descritos, com mais detalhes, no Apêndice A deste trabalho. 37 PPGIS – Public Participatory Geographic Information System: sistemas de informações geográficas utilizados por membros da sociedade, tanto como indivíduos ou grupos, para participação no processo de gestão ou planejamento público (coleta de dados, mapeamento, análise e/ou tomada de decisão). 38 Landscape Visualization, nesse contexto, refere-se ao processo de visualização da paisagem natural, por tratarse de estudos da Faculty of Forestry. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 31 Figura 8 – Ambiente visual imersivo do Landscape Immersive Lab (LIL), Forest Resources Management, UBC. Fonte: (SHEPPARD; LEWIS; AKAI, 2004, p.26) A representação gráfica também vem sendo tratada por planejadores urbanos de modo a simular intervenções urbanas, no contexto da prática de planejamento, iniciada em Nova York e na Califórnia nos anos 1960: o que foi chamado de planejamento “just-in-time”, por Kwartler (1998). Este conceito refere-se à articulação de um período inicial de experimentação, onde as intervenções propostas são tratadas via simulação computacional em níveis de abstração distintos. Naquele momento, como alternativa à prática tradicional, foi proposto um experimento continuado de controle do planejamento do uso do solo com participação pública, que integrava técnicas de performance e de feedback. Estas técnicas são comprovadamente eficientes e são utilizadas, normalmente, no campo da administração e gestão de pessoas para obter um retorno positivo ou negativo das equipes de trabalho para os gestores e viceversa. Nesse caso, foram adaptadas às simulações computacionais para planejamento urbano. 3.5. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS e HISTÓRICAS Dentre as aplicações apresentadas neste subitem, nem todas possuem características de um SIG, por não contemplarem as diversas possibilidades de cruzamento de dados que um SIG permite, principalmente pela falta de associação dos objetos modelados com uma base de dados espaciais. Durante o desenvolvimento de muitos desses trabalhos, essa tecnologia ainda era incipiente. Mesmo assim, estão aqui relacionados, por se aproximarem ao estudo Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 32 desenvolvido nesta pesquisa, possuindo caráter de documentação histórica e resgate da memória, com base na existência de documentação e iconografia histórica. A partir de dados de diversas procedências documentais e iconográficas, podem-se elaborar modelos digitais no computador. Dentre as técnicas de modelagem de cidades, que têm sido desenvolvidas em todo o mundo, há aplicações com inúmeras finalidades. Segundo Novitski (1998), estas podem estar voltadas para o passado – espaços urbanos que existiram ou que poderiam ter existido; voltadas para o futuro – espaços urbanos que podem vir a existir; e voltadas para o presente – espaços urbanos existentes. Pode-se simular a construção de cidades inteiras, ou de partes, que já não existem mais, por terem sido destruídas ou modificadas, com o objetivo de experimentar algo que já foi perdido (MITCHELL, 1998, p. 9). Como exemplo de aplicação desse tipo, tem-se o modelo digital de auxílio à arqueologia realizado por Antonieta Rivera, durante seu curso de pós-graduação na UBC, Canadá. A cidade asteca de Tenochtitlán, especificamente seu sítio cerimonial – Teocalli, foi reconstruído digitalmente através de modelagem geométrica em ferramentas CAD (Figura 9). Nessa situação, várias suposições foram necessárias para preencher lacunas de informação, gerando mais de um modelo de simulação. Os dados procederam de escavações arqueológicas, templos próximos ainda existentes, documentos e desenhos antigos. Foi significativa a possibilidade de criar uma percepção clara de todo o conjunto urbano-arquitetônico, que ainda não se tinha, apesar das escavações do local estarem ocorrendo há décadas, além de ter-se compreendido melhor a geometria aplicada à astronomia utilizada na locação dos templos da capital asteca. Figura 9 – Ciberarqueologia: técnica que agrega recursos digitais à arqueologia. Fonte: (NOVITSKI, 1998, p.59) Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 33 Muito se pode compreender sobre a história e a evolução urbana de um determinado local a partir de representações que remontam épocas específicas na vida de uma cidade. Seguindo esse conceito, o projeto de Cicconetti e outros (1991) desenvolveu a modelagem geométrica de um trecho da cidade medieval de Gênova, na Itália, em meados do século XV. Houve uma profunda pesquisa histórica sobre a tipologia e morfologia das edificações medievais. Buscouse na bibliografia específica, informações sobre a cidade e as regras de composição, que regiam sua arquitetura, tomando-se como base alguns edifícios cujas fachadas estavam preservadas. A partir do modelo criado, foi possível gerar novas interpretações sobre aspectos da cidade medieval e de sua sociedade. Outra aplicação relevante dos modelos tridimensionais para o contexto urbano foi o trabalho de Alsayyad e outros (2006), da Universidade de Berkeley, Califórnia: o estudo da evolução urbana da cidade do Cairo, no Egito. Foram construídos três modelos digitais da cidade em períodos marcantes em sua história – 969, 1169 e 1517 d.C. No entanto, não havia o objetivo de alcançar o fotorrealismo, utilizando-se apenas as informações disponíveis a respeito do objeto, representando edifícios ricos em detalhes (aqueles que ainda existiam), ao lado de edifícios representados, de forma simplificada, apenas pelo seu volume, em nada prejudicando os objetivos do estudo: compreender a evolução urbana da cidade do Cairo. Segundo Tenório (1999, p. 64) é importante ter em mente que nenhum tipo de simulação histórica é precisa. Quanto mais antigo o objeto-modelo, mais raras são as referências a ele, e mais imprecisos são os modelos resultantes. Entretanto, é inegável sua importância e valor histórico, muitas vezes, resultando em documentários e aplicações hipermídia ou mesmo sendo utilizados em cenários de games (Figura 5, p.19). A garantia de sua validade histórica só ocorre quando os dados são fundamentados em pesquisas baseadas em fontes confiáveis. Contudo, a partir de dados iniciais escassos mas de qualidade, se bem trabalhados, pode-se alcançar resultados inesperados e enriquecedores. Atualmente, existem muitos modelos de cidades, sendo desenvolvidos. O centro de pesquisas CASA da UCL, de Londres, realizou uma revisão crítica sobre os tipos de modelagem geométrica tridimensional, utilizados em mais de sessenta casos, escolhendo oito cidades para uma análise mais detalhada: Tokyo, New York, Berlim, Glasgow, Helsinky, Philadelphia, Washington D.C. e Jerusalém. Nessa pesquisa, foram identificadas três direções distintas para os tipos de modelagem de cidades, cada qual baseada em pontos de vista e especialidades Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 34 diferentes: aquelas que utilizam ferramentas CAD; as baseadas em métodos fotogramétricos de captura de dados e as aplicações de Sistemas de Informações Geográficas. Não se percebeu estratégia preferida para o desenvolvimento dos modelos e também nenhum método emergente como o mais apropriado. A pesquisa concluiu que a definição da tecnologia para cada projeto depende dos dados disponíveis e da finalidade do estudo. Neste centro de pesquisa, foi construído o modelo geométrico tridimensional da cidade de Londres, na Inglaterra. O projeto Virtual London39 tem suporte da municipalidade e vem sendo utilizado por arquitetos e planejadores urbanos para testar o impacto visual de grande número de propostas desenvolvidas para a cidade. Foi desenhado para uso profissional, mas também tem o objetivo de atingir um público mais amplo, através de vários processos de participação pública, por intermédio da World Wide Web. Caracteriza-se por utilizar tecnologias CAD e SIG, mas, atualmente, estão sendo experimentadas diversas técnicas de imagens fotorrealísticas e métodos de captura de dados por fotogrametria, para cenários mais detalhados. Também está sendo pesquisado, em projeto simultâneo, como o modelo pode ser distribuído para usuários externos, usando software livre, através da interface do Google Earth e do ArcExplorer. No Brasil, existem alguns exemplos de estudos históricos, com objetivos distintos. No Laboratório de Análises Urbanas e Representação Digital (LAURD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a coordenação geral do professor Roberto Segre, existe a pesquisa “Evolução dos Sistemas Simbólicos das Cidades Latino-Americanas”, que teve como um dos objetivos desenvolver um aplicativo hipermídia, analítico, que possibilita ao usuário a leitura do significado das estruturas simbólicas, em termos do seu valor cultural, especialmente edifícios e espaços públicos, que definem a evolução das cidades, sua forma e a imagem urbana. Assim, foi desenvolvida a aplicação, “A cidade que não existe: reconstrução hipermídia para compreender as cidades latino-americanas”40, que apresenta os modelos digitais históricos de duas cidades latino-americanas: Havana e Rio de Janeiro. Os modelos reconstroem a estrutura urbana das cidades em diferentes períodos históricos e apresentam diferentes escalas de visualização: o plano geral, os quarteirões ou quadras, as ruas, dos espaços públicos e os espaços arquitetônicos. 39 Disponível em: <http://www.casa.ucl.ac.uk/projects/projectDetail.asp?ID=55>. Acesso em: 19 abr. 2007. 40 Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prourb/cidades/vsmm99/index-p.htm>. Acesso em: 04 jan. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 35 Figura 10 – Modelos digitais históricos: Expansão do sistema viário em Havana e Rio de Janeiro, em 1808. Fonte: Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prourb/cidades/vsmm99/index-p.htm>. Acesso em: 04 jan. 2007. Na Universidade Federal de Santa Catarina, foi desenvolvida uma aplicação hipermídia com alguns modelos geométricos 3D, como o da Fortaleza de Anhatomirim41, seu entorno, e informações acumuladas, durante mais de cinco anos de pesquisa arqueológica na região, além de imagens de fortalezas de todo Brasil. No Rio Grande do Sul, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), foi desenvolvido o Projeto Missões42, a partir de 1990, utilizando técnicas de representação gráfica para a reconstituição digital da “Redução de São Miguel Arcanjo”, permitindo ao público um passeio virtual, através do conjunto na época de sua fundação, em 1687. Teve como base a iconografia antiga disponível, o levantamento gráfico e fotogramétrico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e os testemunhos remanescentes construtivos e arqueológicos. A partir de então, o Núcleo de Computação Gráfica (NCG) da UNISINOS deu continuidade a outras pesquisas, desenvolvendo ambientes virtuais interativos. 41 Disponível em: <http://fortalezasmultimidia.com.br/santa_catarina/>. Acesso em: 01 out. 2006. 42 Disponível em: <http://ncg.unisinos.br/missoes>. Acesso em: 01 out. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 36 Figura 11 – Projeto Missões: reconstituição virtual. Fonte: Disponível em: <http://ncg.unisinos.br/missoes>. Acesso em: 01 out. 2006. Esse é um exemplo de estudo de reconstituição virtual de espaços arquitetônicos de interesse histórico-cultural que utilizou metodologia específica de levantamento de dados e modelagem tridimensional de sítios históricos. Este trabalho utilizou ferramentas CAD, programas de renderização43, de animação e de RV, com o objetivo de produzir um aplicativo hipermídia em CD-ROM, que contemplou toda a base de dados do acervo digital coletado para a pesquisa. No caso de Salvador, a abordagem que prevalece na Universidade e na Prefeitura Municipal é a dos Sistemas de Informações Geográficas, sendo que a Prefeitura desenvolveu aplicações que disponibilizam informações sobre os logradouros e sobre a Lei de Ocupação e Uso do Solo (LOUOS), baseados em programas de Geoprocessamento. No LCAD, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), foi desenvolvido um trabalho sobre a Cidade, utilizando técnicas computacionais de representação 3D. Há um protótipo de aplicação hipermídia, que auxilia o entendimento do espaço intra-urbano da cidade do Salvador, usando cartografia interativa, animações, modelos urbanos tridimensionais, imagens 43 Renderização é o termo utilizado para descrever o desenho, rascunho, plano ou outro trabalho artístico que representa algo tridimensional no papel ou outra mídia. Também chamado de acabamento. Em computação gráfica, é a geração de uma imagem a partir do objeto tridimensional, por meio de programas específicos de computador, a partir de informações de geometria, ângulo de visão, textura e iluminação. O produto final é a imagem digital ou raster. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 37 de sensoriamento remoto, fotografias e textos, que permitem ao usuário construir visualizações específicas para uma determinada demanda. Pereira (2002) aponta que mais estudos ainda são necessários sobre a integração de modelos de cidades e sistemas interativos para abrir possibilidades para diversos tipos de uso em projeto e planejamento urbano em Salvador. Para ele, “os sistemas hipermídia têm um grande potencial para transmitir informações espaciais para profissionais ou habitantes, para que possam entender facilmente seu meio ambiente, comunicando informações diversas em um único documento, produzindo uma única visualização urbana”. Uma das vantagens desse tipo de sistema é a possibilidade de reunir dados provenientes de diferentes fontes e formatos. Algumas tecnologias e aplicações destacaram-se por tratarem da dimensão do tempo, de forma similar ao propósito desta pesquisa. Na sua maioria, apresentam soluções que envolvem tecnologia SIG, nem sempre utilizando recursos de RV ou RA. O principal motivo, que definiu a escolha desta tecnologia, foi desenvolver um modelo urbano 3D, com características geográficas espaciais e não-espaciais, levando em conta o atributo “tempo”, além da necessidade de manipulação de dados raster44, provenientes da iconografia antiga. Nessa lógica, quatro trabalhos recentes destacaram-se e estão resumidos em seguida. Na pesquisa sobre a reconstrução da cidade de Heusden, elaborada por Alkhoven (2003) da National Library of the Netherlands, a autora dá exemplos do uso de mapas para criar reconstruções 3D de cidades. Ela ressalta que a arte de representar cidades, em três dimensões, não depende apenas da tradicional arte de modelar maquetes, mas da arte e técnica da criação de mapas. A definição do nível de detalhe do modelo digital depende do objetivo final da modelagem. No caso de construir um modelo histórico de uma área urbana a partir de mapas, pode-se modelar a sua forma atual, inicialmente, usando mapas precisos. E, posteriormente, modelar as mudanças ocorridas no tecido urbano e seus objetos em retrospectiva. De forma oposta, pode-se iniciar por mapas antigos e compará-los com os atuais, cronologicamente. Ao usar documentos históricos e iconografia antiga, é importante saber interpretar o propósito do mapa original, se, no caso, foi gerado para proteção ou fortificação, registro histórico, informação ou cadastro, planejamento estratégico comercial, 44 Raster é a estrutura de representação de dados espaciais em que os elementos são codificados na forma de uma matriz (grid). Quanto menor for o tamanho da quadrícula dessa matriz, maior será a semelhança da representação com o elemento. O tamanho da quadrícula deve ser função da escala de trabalho e do nível de detalhe desejado. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 38 um projeto ou plano urbanístico. Ou, até mesmo, se há uma finalidade cadastral de mapeamento SIG, com imagens terrestres ou aéreas. A obtenção de dados válidos requer a determinação do nível de precisão e da confiabilidade de cada um desses mapas, da análise da informação original e da comparação de cada mapa com outras fontes, além de cruzar dados com fontes textuais. Sabe-se que, geralmente, os modelos urbanos, gerados podem servir de fontes para pesquisas posteriores, por isso, a documentação dessas fontes utilizadas e das decisões tomadas, no processo de modelagem, são de extrema importância. Outro projeto de reconstrução de cidades existente é o “Arnhem3D” 45, diferente de outros que representam apenas o presente. Tem o objetivo de representar a cidade antiga de Arnhem, na Holanda, como era antes de sua destruição durante a segunda guerra mundial. O resultado final permitiu aos usuários rever parte da realidade urbana da cidade do passado, desde o século XVII ao século XX. Este projeto utilizou, principalmente, recursos de realidade virtual com base em uma vasta fonte de informação iconográfica. O projeto desenvolvido pela Washington University em Saint Louis utiliza recursos da Web, de forma interativa, para explorar a história da cidade de Saint Louis, nos Estados Unidos, e representa, digitalmente, as décadas de 1850 e 1950. Os modelos urbanos espaço-temporais, produzidos foram construídos por modelagem geométrica 3D das edificações mais importantes e por extrusão46 das poligonais, formando simples “blocos de edificações”, com aplicação de bitmaps47, nas fachadas. As linhas de tempo são apresentadas, separadamente, para que se possa escolher o período a ser visualizado. É uma aplicação voltada para o ensino de história da arquitetura e do urbanismo nesta universidade. Na interface gráfica, os temas são visualizados, “horizontalmente”, através da cidade, em uma determinada década e, “verticalmente”, através do tempo, em outras décadas. 45 Disponível em: <http://www.arnhem3d.nl>. Acesso em: 01 out. 2005. 46 Extrusão é uma das técnicas de modelagem também chamada de varredura translacional. O objeto extrudado é obtido pela translação de uma superfície, por uma certa distância, ao longo de um vetor ou geratriz. (AZEVEDO; CONCI, 2003, p.145). 47 Bitmap é a imagem digital, imagem raster, arquivo de dados ou estrutura que representa um retângulo de pixels, ou pontos de cores, no monitor do computador, papel, ou outra mídia. Também chamado de mapa de bits. No contexto desta pesquisa, corresponde à imagem de fotografia digital aplicada à fachada de determinado edifício. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 39 Figura 12 – Saint Louis Virtual City Project: cidade virtual voltada para educação, na Internet. Fonte: Disponível em: <https://fusion.umsl.edu/virtualstl>. Acesso em: 10 out. 2005. O estudo da evolução do centro histórico de Cantu, na Itália, foi uma pesquisa elaborada por Brumana e outros (2006, p. 101-108). Trata-se de um modelo urbano gerado em uma aplicação SIG-3D, para representação do centro histórico desta cidade. O trabalho foi desenvolvido em várias etapas: estruturação dos dados censitários do centro histórico, aquisição de dados provenientes dos mapas históricos de caráter cadastral, modelagem conceitual e implementação do SIG e formulação dos mapas e dos modelos temáticos 3D, relacionando os diversos dados das edificações, por períodos. Como as cidades antigas italianas são muito complexas, principalmente pelas diferentes formas dos telhados das edificações, foi necessário desenvolver uma base de dados com atributos de altura. Nesse estudo de caso, as fontes de dados principais foram: o mapa topográfico atual da cidade em formato vetorial, que permitiu gerar o Modelo Digital do Terreno (MDT), por interpolação48 das curvas de nível, a informação da altura das edificações constantes nos mapas antigos, e as fotografias aéreas, que auxiliaram na interpretação dos dados. Logo após a modelagem conceitual do SIG, o primeiro passo foi criar o MDT para servir como base geográfica aos edifícios. As superfícies planas dos telhados e os modelos geométricos das edificações foram representados com maior nível de detalhe. Os elementos-base foram as poligonais das edificações com seus atributos de altura. A partir desta feição, foi gerada a feição multipatch49 48 Interpolação é o processo em que se determina o valor da função em um ponto interno de um intervalo, a partir dos valores da função nas fronteiras desse intervalo. 49 Multipatch – feição tridimensional ou volumétrica. É um tipo de shapefile, ou formato de dado vetorial da feição geográfica, que remete às especificações originais sobre a compactação do objeto, originado em uma Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 40 de cada edificação, onde foram aplicadas bitmaps. Essas edificações foram armazenadas em uma base de dados geográficos, através de uma chave primária ou identificador, correspondente a cada tema catalogado. No momento, a pesquisa está em fase de expansão, na busca de divulgar a aplicação em vários ambientes, perseguindo a potencialidade atual do Web GIS, ou GIS online. Figura 13 – SIG-3D do centro histórico de Cantu, Itália, com análise histórica, grau de conservação e transformação das edificações. Fonte: <http://www.ricercaitaliana.it/prin/unita_op-2004087132_004.htm>. Acesso em: 20 abr. 2007. O projeto “Virtual Time-Space of Kyoto”, por Yano (2006), da Ritsumeikan University, em Kyoto, Japão, teve como objetivo principal alcançar um entendimento temporal, em conseqüência das propostas de planejamento da cidade, como por exemplo, a construção de arranha-céus. Para isso, foi necessário buscar um meio de comunicar esses planos para os investidores locais, de forma a estabelecer um consenso com os anseios da sociedade. Para isso foi desenvolvido um modelo de representação digital espaço-temporal, usando tecnologias SIG e RV. Diversos cenários futuros foram projetados, gerando modelos temáticos, que, posteriormente, tornaram-se recursos úteis no processo de tomada de decisão. Nesta pesquisa de Kyoto, foi desenvolvido, inicialmente, um modelo da cidade atual com base nos dados vetoriais existentes. Em seguida, foi gerado um cenário da cidade, no passado, usando recursos como antigos mapas topográficos, fotografias aéreas e mapas da estrutura superfície plana, para se obter a feição 3D. help.com/newsletter/13/newsletter13.htm>. Acesso em: 03 jan. 2007. Disponível Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 em: <http://www.gis- 41 urbana do início do período Taisho (1912-1926). Finalmente, foram reconstruídas as alterações no “cityscape“ ou paisagem urbana de Kyoto em uma plataforma, chamada pelo autor de 4D, pelo fato de introduzir a dimensão do tempo no sistema de visualização 3D. Nesse sentido, o autor designou seu trabalho como um SIG-4D, que permitiu a transformação de mapas em um sistema de informações sobre o planejamento da paisagem da cidade, ao longo do tempo, de forma a tornar-se uma ferramenta de auxílio na busca de um consenso social entre investidores e comunidade. Figura 14 – Transformações na paisagem urbana de Kyoto. Fonte: (TAKASE e outros, 2004) 3.6. SÍNTESE CRÍTICA E INDICAÇÕES PARA O ESTUDO Procurando fazer alguns comentários sobre as aplicações levantadas, percebe-se que a maioria delas tem objetivos específicos bem definidos, porém distintos entre si. Mesmo assim, podese dizer que as que mais se aproximam deste estudo têm um objeto comum: a análise espacial da cidade, utilizando tecnologias SIG, recursos de visualização 3D e informações históricas. Assim, pode-se analisar a complexidade e a repercussão dos sistemas desenvolvidos, assim como as técnicas utilizadas. A complexidade dos sistemas relatados, com certeza, determinou a necessidade de planejamento para suas implementações. Isso se deve ao fato, principalmente, de tratar-se da Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 42 manipulação de grande número de informações procedentes de iconografia antiga, que precisaram passar por processos de conversão de dados antes de serem integrados ao sistema. Além disso, existe a etapa de modelagem de dados, que organiza as feições e os atributos vinculados a elas. Os objetivos de cada pesquisa guiaram estas etapas de estruturação e puderam direcioná-las para diversos fins, como por exemplo: educacional, análise espaçotemporal, evolução urbana, auxílio na tomada de decisões, documentação histórica, concentração de informações e unificação da visualização urbana. As repercussões das pesquisas, em seus raios de influência, mostraram-nas inovadoras e de extremo valor, abrindo espaço para novas investigações e aplicações cada vez mais direcionadas a resultados, em todos os campos de pesquisa. Mesmo que as técnicas utilizadas nos projetos tenham sido diferentes, confirma-se o fato de todos eles terem possibilitado o processamento de dados espaciais e não espaciais, produzindo a visualização dos resultados de forma tridimensional e interativa. Na verdade, a maioria dos pacotes de software de SIG permite a modelagem de superfícies de terreno e a visualização de feições em 3D, mas alguns ainda utilizam o recurso da dimensão 2.5D50. Estas feições não são consideradas tridimensionais, pois são feições bidimensionais, nas quais se aplica uma função de extrusão, como em alguns projetos supracitados. Nesses casos, a estrutura de dados do sistema armazena apenas o atributo de altura do objeto, e, no momento da visualização, este é representado. Recentemente, a última geração de software já permite a administração de feições 3D simples, do tipo multipatch, em ambiente SIG, como o ArcGIS 9.0. Percebe-se que alguns projetos utilizaram técnicas de RV para gerar visualizações tridimensionais interativas, relativas aos SIG desenvolvidos. Este recurso, normalmente, exige grandes investimentos de hardware para obter-se um bom resultado na visualização final. Pacotes de software mais recentes já disponibilizam extensões que possibilitam gerar visualizações com recursos semelhantes, como o ArcScene do ArcGIS 9.0, podendo, também, exportar dados para programas de RV. 50 A dimensão 2.5D refere-se àqueles objetos que têm duas dimensões (planas) com atributo de altura, podendo, eventualmente, serem visualizados em três dimensões. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 43 Outra questão relevante é a diferenciação dos modelos pelos seus níveis de detalhe, uma característica que pode ser graduada, de acordo com a finalidade e os recursos disponíveis para a pesquisa, que está detalhada em seguida. O foco na interoperabilidade tem feito com que muitos grupos de pesquisa internacionais organizem-se em consórcios na busca de uma prototipagem para modelos digitais de cidades, tornando-os intercambiáveis e de fácil compreensão, no campo da visualização digital. Através da análise crítica das aplicações estudadas e buscando compreender o processo de elaboração de um SIG, com a complexidade tratada aqui nesta dissertação, pode-se dividi-lo nas seguintes etapas (CÂMARA e outros, 1996) e (CARVALHO, 2002): Modelagem do mundo real: engloba a modelagem conceitual de processos e de dados a partir de questões sobre o fenômeno do mundo real; Criação do banco de dados geográficos: coleta de dados relativos aos fenômenos de interesse, identificados na modelagem conceitual, tratamento e georreferenciamento dos dados; Análise Espacial: processo de análise das localidades, atributos e relações das feições de dados espaciais, através de sobreposição de camadas e outras técnicas analíticas, para responder uma questão ou gerar conhecimento. A análise espacial extrai e cria nova informação, a partir de dados espaciais armazenados, reconstruindo visões da realidade; Saída de dados, associada à visualização cartográfica: instrumento de auxílio no entendimento de fenômenos, processos e estruturas espaciais, além da função de comunicação entre planejadores, técnicos, administradores, pesquisadores e cidadãos. As visualizações podem ser feitas, através de seleções, consultas e classificações, representando objetos espaciais 2D e 3D, além de permitir a composição de layout através de funções de interface gráfica, como elaboração de legendas, inserção de escalas, preenchimento de cores, uso de simbologia, funções de análise espaçotemporal. O sistema de visualização não somente expõe resultados, como também oferece facilidade para manipulação dos elementos visualizados ao permitir a construção de novas consultas. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 44 As características principais de um SIG-3D são a utilização de elementos, como a superfície do terreno e de blocos multipatch ou volumétricos, cada qual com seu respectivo código identificador – ID, que identifica cada feição51 do sistema e aplica-se em cruzamentos com outros dados espaciais e não-espaciais do modelo digital. Segundo alguns autores, essa tecnologia é chamada de SIG-4D, os sistemas de informações geográficas e históricas que englobam a dimensão do tempo (TAKASE e outros, 2004). A maioria dos modelos digitais de cidades têm sido considerados pelo Centro de Análises Espaciais Avançadas (CASA) como puramente gráficos ou geométricos, negligenciando aspectos semânticos e topológicos. Portanto, esses modelos quase que somente podem ser usados com o propósito de visualização, mas não para processos de análise espacial. Segundo Gröger e outros (2006, p. 6), por causa da reutilização limitada dos modelos há uma inibição do uso mais amplo dos modelos geométricos 3D de cidades. Portanto, uma abordagem mais geral deve ser feita para satisfazer as necessidades de informação dos diversos campos de aplicação. Membros do Special Interest Group 3D (SIG 3D)52, de iniciativa do Geodata Infrastructure North-Rhine Westphalia (GDI NRW) na Alemanha, desde 2002, vem desenvolvendo o City Geography Markup Language (CityGML), uma tentativa de padronização da informação semântica para representação de modelos 3D urbanos que podem ser utilizados em aplicações distintas. Define as classes e relações para os objetos topográficos de cidades e regiões mais relevantes, com respeito às suas propriedades geométricas, topológicas, semânticas e de aparência física. A importância dessa iniciativa está na busca da redução de perdas durante a troca de informação entre diferentes sistemas de Geoprocessamento e usuários. Esta proposta, que ainda vem sendo discutida e testada, pode ser utilizada para modelos digitais de vários níveis de detalhe, desde os mais simples sem relações topológicas aos mais complexos com visualizações fotorrealísticas. Tomando essa informação como base, pode-se tentar responder a uma questão inicial desta pesquisa: – Qual o nível de detalhe que o modelo deve satisfazer para alcançar o objetivo do estudo? A versão não definitiva do texto produzido pelo grupo CityGML aponta cinco 51 Feição é a representação do objeto do mundo real em um mapa. 52 SIG 3D – Special Interest Group é o grupo aberto, que consiste em mais de setenta companhias, municipalidades e institutos de pesquisa, que trabalha no desenvolvimento e exploração comercial de modelos geométricos 3D inter-operantes e visualização geográfica. Disponível em: <http://www.citygml.org>. Acesso em: 10 fev. 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 45 possíveis níveis de detalhe (LOD- level of detail) para implementação dos modelos tridimensionais de cidades. Figura 15 – Os cinco níveis de detalhe (LOD), definidos pelo CityGML. Fonte: Disponível em < http://www.citygml.org>. Acesso em: 10 fev. 2007. Como exemplo, essa metodologia foi testada, na construção do modelo geométrico 3D da cidade de Berlin (DÖLLNER e outros, 2006, cap.9, p.77), onde foram representados mais de 250 km² da cidade e a geometria espacial das edificações foram capturadas e processadas por tecnologia de laser scanning. As edificações são representadas, em vários níveis de detalhe, incluindo modelos de terreno (LOD-0), modelos de blocos (LOD-1), modelos geométricos (LOD-2), modelos arquitetônicos (LOD-3) e modelos detalhados internamente (LOD-4). Explicando melhor o termo “nível de detalhe”, Lemmens (2006) o compara com “escala”, e diz que são sinônimos. Depois da criação da base de dados geográficos, o mapa, na tela do computador ou manuscrito, perde sua função de meio de armazenagem de informações e passa a ter apenas sua função original de apresentação visual. Para tanto, o modelo pode ser visualizado, em escalas mais ou menos detalhadas, dependendo da informação disponível na base de dados e do nível de zoom, que se aplica no modelo, ou seja, a escala de visualização desejada. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 46 Tabela 1 – Níveis de detalhe de 0 a 4, ou LOD 0-4, do CityGML com seus requerimentos de precisão LOD0 LOD1 LOD2 LOD3 LOD4 Descrição da escala regional, cidade, região Bairros, Modelos modelos do modelo paisagem projetos arquitetônicos arquitetônicos natural (exterior), (interior) edificaçãomarco Classes de precisão mais baixo baixo intermediário alto muito alto Precisão absoluta do menos do que 5/5m 2/2m 0.5/0.5m 0.2/0.2m ponto 3D (posição/ LOD1 altura) Generalização máxima como blocos como objetos objetos construtivo de objetos conforme o real generalização feições feições feições; > 2*2m/1m elementos e (classificação do uso generalizadas; generalizadas; aberturas são do solo) > 6*6m/3m > 4*4m/2m representadas Edificações efeitos forma real do representativos objeto do exterior Forma e estrutura do não plano tipo e forma do forma do telhado orientação do objeto real objeto real telhado Partes projetadas do n.a. n.a. sim telhado Mobiliário urbano objetos protótipos forma real do forma real do importantes objeto objeto Únicos objetos de objetos protótipos protótipos protótipos com vegetação importantes mais altos que mais altos que a forma real 6m 2m dos objetos Abrangência >50*50m >5*5m < LOD2 <LOD2 … para ser continuado por outros temas Fonte: Albert e outros (2003), citado por Groger, G. e outros (2006). (tradução nossa) Para efeito deste trabalho, foram adotados três níveis de detalhe: Baixo: para propósitos educativos, de planejamento regional, ou de visão geral; Intermediário: modelos de terreno com edificações; Alto: inclui mapeamento de texturas nos objetos modelados, podendo incluir efeitos de luz e de movimento, úteis para reconstruções de monumentos e edifícios individuais, em menor escala e visualização aproximada. Esse nível de detalhe tem um custo muito alto para a modelagem de cidades inteiras. Entretanto, é viável para menores áreas que necessitam de maior detalhe e efeitos realísticos para, por exemplo, permitir comparações com cenários alternativos do mesmo espaço em épocas diferentes. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 47 Essa classificação auxiliou o processo de definição das características do modelo digital que foi implementado como protótipo, neste trabalho, definindo-se que, em uma aplicação voltada para o estudo da variação da imagem da cidade, pode-se usar um nível de detalhe intermediário para o modelo geral e um nível de detalhe alto para representar as edificaçõesmarco que servem de referência visual para sua leitura. Outra questão levantada, desde o princípio, foi sobre a precisão da fonte iconográfica e seu uso potencial como mapa-base em um SIG. Nesse sentido, Alkhoven (2003) focalizou parte de sua pesquisa no uso de mapas como fonte de dados e o quanto precisos eles eram, questionando: – Existe um método comum, proposta ou técnica para interpretar e extrair informações úteis – tanto de dimensões quanto de conteúdo – dos mapas? Em sua busca exaustiva sobre aplicações de SIG históricos, ela confirmou que há muito pouca informação sobre como os modelos foram construídos, que mapas foram usados como base, qual sua precisão e em que pontos foram submetidos à interpretação. Mas, apontou que há uma clara convergência de técnicas para representação tridimensional de cidades históricas, desde as ferramentas CAD, SIG e as tecnologias de RV. Dessa forma, a combinação de técnicas é capaz de permitir maior controle sobre todos os planos de informação, incluindo os de documentação iconográfica que exigem interpretação visual e comparação com dados cartográficos mais precisos. Ao usar a cartografia, como fonte de informação visual sobre a história urbana e sua reconstrução, surge a questão de sua origem. As informações visuais, retiradas de mapas, antes de serem consideradas úteis e confiáveis, precisam ser cuidadosamente estudadas. Cada tipo de mapa tem seu propósito específico, convenções de traçado, representação, símbolos e planos de informação (temas). Mapas para uso em estratégia militar, em geral, são relativamente precisos em dimensão, já que o sucesso da estratégia depende de mapas confiáveis. Nesse caso, as dimensões e as distâncias das fortificações são baseadas no estado da arte em artilharia. Mas, já que planos de fortificação são normalmente projetos para as novas fortificações e suas extensões, eles, nem sempre, mostram sistemas viários e a tipologia das edificações. Entretanto, estes planos, freqüentemente, mostram representações detalhadas das fortificações existentes (ALKHOVEN, 2003). Também era usual desenhar planos ou projetos de intervenção sobre mapas antigos. Isso geralmente traz dificuldades em interpretar corretamente as informações do mapa. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 48 A autenticidade, significando neste contexto, o grau de semelhança com o mundo real, de mapas urbanos retirados de livros do tipo “Atlas”, freqüentemente, depende de quem os publicou. O caráter comercial desse tipo de livro, no passado, evidenciava que eram copiados de outros mapas mais antigos. O processo de reprodução ou cópia, logicamente, não é a forma mais confiável de se produzir mapas. Às vezes, pequenos erros, gerados em mapas mais antigos, foram copiados diversas vezes, persistindo por décadas, ou mesmo, séculos. Quando se trata de modelos digitais, a autenticidade explicita-se através da documentação que descreve a metodologia e os procedimentos utilizados para sua execução. As representações digitais, levantadas e descritas anteriormente, têm em comum a busca pelo apuro das fontes de informação que as geraram. Do mesmo modo, para esta pesquisa, foram coletadas e selecionadas as fontes de iconografia antiga mais representativas para o período estudado e esclarecedoras para servir de base para o modelo urbano digital implementado. De forma geral, a maioria das representações digitais pesquisadas demonstrou ser adequada às metas esperadas para cada caso específico. Como limitações, é importante ressaltar que, para cada tipo de pesquisa, o nível de detalhe alcançado depende diretamente do nível de informação existente sobre o assunto. Assim como, depende também da disponibilidade de equipamentos para aquisição de dados, do pacote de software utilizado na pesquisa e da capacidade técnica e interdisciplinar da equipe envolvida. Pelo ponto de vista da tecnologia, as visualizações, que utilizam recursos de Realidade Virtual e da Realidade Aumentada, possibilitam uma maior aproximação do usuário com o modelo digital construído. Por exemplo, os projetos, que utilizam RA, podem ser considerados os que mais reproduzem esta sensação de proximidade, por utilizarem dispositivos eletrônicos, que reproduzem as sensações percebidas pelos sentidos humanos, ampliando a interatividade dos usuários com o sistema. Por outro lado, os Sistemas de Informações Geográficas têm a característica de serem extremamente precisos quanto à localização geográfica, refletindo uma melhor acurácia, nesse aspecto. Mas, nem sempre, têm o objetivo de alcançar um alto grau de visualização da realidade. Essas indicações foram de extrema importância para a fase de estruturação da metodologia e da elaboração dos procedimentos necessários para desenvolver o estudo de caso, objeto deste trabalho. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 49 4. BAIRRO DO COMÉRCIO, CIDADE BAIXA, SALVADOR 4.1. OBJETO DE ESTUDO Como estratégia para alcançar os objetivos específicos deste trabalho, escolheu-se o método do estudo de caso. Assim, pôde-se desenvolver um protótipo de SIG-3D histórico, voltado para aplicação em uma área específica da cidade, o bairro do Comércio, na cidade baixa de Salvador. Esta escolha permitiu validar a metodologia empregada neste trabalho, pois vários processos foram testados e modificados durante o uso da aplicação. Trata-se de uma investigação qualitativa ao se aproximar do conhecimento da evolução da forma da cidade e suas interferências na paisagem urbana e natural. Nesse sentido, a metodologia apoiou-se sobre as questões de representação digital tridimensional, estudos de imagem da cidade e técnicas de apreensão da forma do espaço urbano. Dessa forma, as possíveis descrições históricas de caráter físico-territorial não se restringem à representação da evolução urbana da área, mas permitem uma diversidade de consultas e classificações espaço-temporais, além de estudos volumétricos que auxiliam na apreensão da forma urbana. Existe, também, a motivação documental desse processo, pois o potencial de informação iconográfica sobre a região é vasto, mas pouco catalogado e classificado, tendo sido necessário dedicar tempo ao levantamento de dados e sua interpretação. Justifica-se a abordagem metodológica do estudo de caso como a mais apropriada para a pesquisa, pois, nesse tipo de estudo, examina-se o caso em detalhe e em profundidade, no seu contexto natural, reconhecendo-se a sua complexidade e recorrendo-se, para isso, a todos os métodos que se revelaram apropriados. Segundo Stake (1995), as características-chave dessa estratégia são: O caso tem fronteiras em termos de tempo, eventos ou processos, precisando definí-las de forma clara e precisa; É um “caso” sobre algo que há que identificar, para conferir foco e direção à investigação; Preservar o caráter único do caso; Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 50 A investigação decorre em ambiente adequado; São utilizadas diversas fontes de dados e métodos: observações diretas e indiretas, entrevistas, registros de vídeo, documentos, iconografia, etc; Para aferir sua credibilidade, definem-se critérios de aferição. O estudo de caso criterioso tem a necessidade da descrição detalhada e abundante de todo o processo de investigação, sendo fundamental utilizar o melhor tempo da pesquisa na análise dos melhores dados (STAKE, 1995, p. 84). “O ponto crítico na investigação qualitativa não é tanto acumular dados, mas “filtrar” a grande parte dos dados que acumula. A solução está em descobrir essências e revelar essas essências com suficiente contexto, sem contudo ficar obcecado em incluir tudo o que potencialmente é passível de ser descrito” (WOLKOT, 1990, citado por STAKE, 1995, p. 84). Assim, foi importante escolher alguns critérios para validar o estudo de caso e seu objetivo, o que facilitou sua definição: Critérios de escolha e validação do estudo de caso: O caso, objeto de estudo, deve ser uma área urbana de caráter histórico; O relevo deve ter características morfológicas que se modificaram com o tempo; A ocupação urbana deve ter sofrido modificações com o tempo; A volumetria das edificações foi alterada ao longo do tempo; O período de tempo escolhido para o estudo deve contemplar mudanças físicas e espaciais na área estudada; É necessária a existência de dados históricos sobre as modificações físicas da área estudada; É necessária a existência de cartografia atualizada de caráter cadastral, em formato digital; O período de análise deve ser escolhido em função da existência de fontes iconográficas passíveis de interpretação e conversão digital. Em resposta a todos esses critérios, pôde-se confirmar a escolha do caso, como sendo o bairro do Comércio, na Cidade Baixa, em Salvador, que equivale aproximadamente à área da antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Principalmente por sua peculiaridade em Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 51 termos de transformações territoriais e da volumetria de sua ocupação desde a fundação da cidade à atualidade. A esta área foi somada uma parte da Cidade Alta (parte da Rua Chile), por ser visível no frontispício da cidade, a partir do mar. 4.2. CONTEXTO HISTÓRICO E URBANO A paisagem natural sempre foi uma característica predominante do sítio da Cidade do Salvador desde 1549. Marcada com uma extensa falha geológica de um pouco mais de sessenta metros de altura em relação ao nível do mar, que separa a estreita faixa costeira do platô superior. Assim, a paisagem urbana adaptou-se aos dois níveis de implantação – a Cidade Baixa e a Cidade Alta. A sua geografia condiciona sua forma, e a Cidade desenvolve-se paralela ao mar... A Cidade Alta segue paralela à Baixa, sobre a escarpa. Até o século XIX, ambas mantêm a mesma divisão funcional dos séculos anteriores, e os limites da Cidade são os mesmos desde o século XVIII. (PINHEIRO, 2002, p.181 e 182) Desde os tempos da fundação da cidade, sua paisagem vem sendo citada por viajantes que a descrevem como a mais bela que já haviam presenciado. No século XIX, a cidade continuava deslumbrante para os viajantes, mas perdia-se um pouco do encanto no desembarque no porto, pois a insalubridade prevalecia. Havia uma reduzida faixa de terra, com edifícios de quatro, cinco andares, lojas e armazéns, em uma única rua longitudinal, tortuosa e estreita. A cidade na beira mar representava um impressionante conjunto arquitetônico e ao mesmo tempo um buliçoso labirinto de becos e ruas estreitas e tortuosas que vinham dos sopés dos morros e cortavam verticalmente a grande rua longitudinal. (MATTOSO, 1978, p. 173 e 174) Apesar de ainda ser considerada surpreendente para os que chegam pelo mar, ao longo dos séculos, esta área histórica da Cidade tem sofrido diversas transformações e, principalmente, descuidos que comprometem a preservação do patrimônio urbano e cultural desta Cidade mais antiga do Brasil. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 52 Figura 16 – Localização geográfica do sítio escolhido: Bairro do Comércio – Cidade Baixa – Salvador. Fonte: Google Earth, 2007. Observa-se que a forma da expansão urbana de Salvador ocorreu, inicialmente, pela necessidade de proteção contra possíveis ataques indígenas, posteriormente, estrangeiros, sendo consolidada com a construção das fortalezas, acompanhadas pela grande concentração de irmandades religiosas, seus conventos e Igrejas. Em seguida, em torno de uma crescente função comercial voltada para a exportação, dentro de um contexto colonial. No início do século XVIII, a economia da Colônia era mais importante que a da Metrópole (60,6% das exportações portuguesas eram de produtos brasileiros) e Salvador era o maior porto exportador do Brasil, perdendo para o Rio de Janeiro, somente a partir de 1798, depois da mudança da capital. Na Cidade Baixa, encontravam-se o Arsenal da Marinha, a Alfândega, a Associação Comercial e os consulados, ao lado de armazéns, trapiches, mercados – inclusive o de escravos –, comércio atacadista e varejista, escritórios de importadores e exportadores, pequenas indústrias e agências marítimas. Comércio, lugar de mercancia, negócios, transações, onde tudo se vendia e se comprava (TEIXEIRA, 2004). Estes fatores de expansão foram diminuindo de importância, até o início do século XIX, com a mudança da capital de Salvador para o Rio (1763), a chegada da família real ao Brasil (1808), os tratados de comércio com a Inglaterra (1810/1827) e a proclamação da Independência do Brasil (1822). O porto passou a gerar rendimentos diretos para a província; as fortalezas passam a sediar outras funções; há um aumento da imigração européia; um grande avanço nos transportes com o calçamento das principais vias do Comércio e, a partir de 1850, as linhas de bonde e a iluminação a gás. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 53 A expansão territorial da Cidade Baixa ocorreu pelos diversos aterros, algumas vezes, financiados pelo setor religioso, mas, em geral, pelo comercial e o Governo. Os aterros distribuíram-se, ao longo dos séculos, desde 1549 até 1920 (CÂMARA, 1988) e continuam existindo na medida das necessidades portuárias. O período de expansão do século XIX finalizou, em 1889, até quando os comerciantes implantaram, na beira da baía, prédios considerados magníficos, de padrão uniforme com cinco andares, em estilo pombalino, antes dos aterros para ampliação do porto (Figura 17). Ao longo do século XIX, a Cidade passou por transformações significativas. Figura 17 – Cais das Amarras, 1886. Fonte: Bahia Velhas Fotografias (autor desconhecido). De 1800 a 1869, grandes aterros foram realizados pelo Governo: o aterro do Arsenal, deslocando a ribeira das Naus para o sul; o aterro da Alfândega; e o aterro que vai da Igreja do Corpo Santo até a prumada da Ladeira do Taboão. De 1860 a 1894, novos e significativos aterros se realizam: em frente a Igreja da Conceição da Praia; o Arsenal de Marinha avança a linha da costa até o alinhamento da rotunda da Alfândega; o Cais Dourado avança mar adentro quase alinhando com a Praça do Comércio e todo o cais desse ponto até a Alfândega (CÂMARA, 1988 p.124). A expansão mais marcante para o mar, no entanto, foi no início do século XX, quando foram aterrados e urbanizados oitenta hectares de área conquistada da Baía de Todos os Santos, permitindo uma ampliação da oferta de terrenos, em padrão em quadrícula, em um dos trechos mais valorizados da cidade, do ponto de vista comercial. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 54 Figura 18 – Fotografias de 1890-1920-1930-1940. Fonte: CEAB. A economia da província alterava-se, ao longo dos séculos, com a queda e a ascensão da matéria-prima, produzida na Bahia, como o açúcar, o café, o fumo, o cacau e a borracha. E também com a implantação tardia das indústrias de tecidos, chapéus, calçados e rapé. Além disso, o tráfego de escravos, que suportou a economia, desde a fase colonial, somente terminou em 1889, com a Proclamação da República. Mesmo assim, ainda no início do século XX, a Bahia era o segundo Estado brasileiro, em volume de exportações, característica, que se espelhava na área portuária, bairro do Comércio, até meados do século. Nos anos 1970 e 1980, a abertura dos Shopping Centers causaram grande impacto no comércio tradicional da área central da cidade. E, mesmo com a Cidade Baixa tendo seu acesso melhorado, vários órgãos estaduais foram transferidos para o Centro Administrativo da Bahia (CAB), causando um esvaziamento da área. O eixo de expansão da cidade passou a ser o litoral oceânico da Cidade, assim como as estradas para o interior, com a implantação do Centro de Abastecimento de Salvador (CEASA), na estrada entre o Centro Industrial de Aratu e o aeroporto (CIA-Aeroporto). A última atividade, que resistiu ao declínio na Cidade Baixa, foi a de centro financeiro regional, com grande número de estabelecimentos bancários e financeiros até a atualidade. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 55 Durante o século XX, a sociedade civil organizou-se e tornou-se mais complexa. Várias instituições foram criadas, neste período, como: institutos, clubes, hospitais, associações, sindicatos e cinemas. Muitas das grandes residências, sem o trabalho escravo, tornaram-se escolas, asilos, prédios públicos, casas de cômodo ou cortiços. A população de Salvador duplicou de tamanho, em quase cinquenta anos, entre os séculos XVIII e XIX, fato que influenciou o crescimento irregular da Cidade. Salvador passou a crescer pouco no período inicial do século XX, sendo ultrapassada, em 1900, por São Paulo. Contudo, em 1950, houve a influência de um novo ciclo migratório para a Cidade, ultrapassando um milhão de habitantes em 1970. Essas transformações, nos limites do território estudado, comportaram um variado número de edificações construídas, em estilos distintos, em uma seqüência de demolições, construções e reconstruções que, até hoje, convivem na mesma área. A paisagem urbana atual já não tem mais as mesmas características de sua conformação inicial, mas ainda registra aspectos que permitem remontar uma história arquitetônica e urbana de extremo valor patrimonial para a cidade do Salvador e para o Brasil. Em uma visita a esse bairro, hoje, no início do século XXI, observa-se que essas feições estão-se perdendo pelo abandono e pela conseqüente desvalorização. A interferência dos órgãos públicos, que atuam em prol do patrimônio, não é suficiente para garantir a preservação da memória urbana desse lugar, um dos poucos tesouros, que ainda poderiam ser preservados para as futuras gerações. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 56 5. SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E HISTÓRICAS PARA O BAIRRO DO COMÉRCIO – SALVADOR O conceito de Sistema de Informações Geográficas pertence ao campo mais amplo, conhecido como Geoprocessamento, que é definido como o conjunto de tecnologias, métodos e processos para entrada, manipulação, armazenamento e análise de dados e informações geográficas, possuindo abrangência interdisciplinar (Pereira, 1999). O SIG, no entanto, é uma das tecnologias associadas ao Geoprocessamento e tem muitas possíveis definições. Pode ser explicado como uma ferramenta computacional, usada para coletar, armazenar, fazer consultas, análises estatísticas e visualizar dados geográficos, indexados a uma base de dados. Em um sentido mais amplo, integra hardware, software e profissionais, conjugando dados de diversas fontes, tais como, topográficos, demográficos, utilitários, serviços, infra-estrutura, imagens e outros recursos geograficamente referenciados. Tratando-se de SIG histórico, pode-se inferir que predominam dados de caráter histórico, como no caso desta pesquisa, dados relativos ao tempo de existência das edificações, ano de início da construção, ano de sua demolição, nomes antigos atribuídos às ruas, características físicas das construções modificadas com o tempo e modelos digitais que representam a cidade em períodos diferentes, ao longo dos anos. Assim como, utilização de mapas antigos como mapa-base53 dos períodos estudados. Com o objetivo de desenvolver um protótipo de SIG, foi delineada uma metodologia apropriada para visualização de áreas históricas. O desdobramento do trabalho seguiu, aproximadamente, esta seqüência, intercalada com o registro dos procedimentos metodológicos de cada etapa: 1) Pesquisa bibliográfica sobre modelos de cidades históricas e sobre a área do bairro do Comércio de Salvador; 2) Levantamento de dados sobre software de visualização urbana; 3) Definição do estudo de caso e delimitação da área; 4) Definição dos objetivos do sistema; 5) Modelagem conceitual; 53 Mapa-base, nesse contexto, significa o desenho, planta ou mapa antigo selecionado para servir de referência para cada período estudado. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 57 6) Aquisição e conversão de dados; 7) Interpretação da iconografia; 8) Modelagem tridimensional; 9) Visualização de informações; 10) Análise dos resultados e desdobramentos da pesquisa. 5.1. OBJETIVOS DO SISTEMA O objetivo principal da pesquisa foi elaborar uma metodologia para representação digital tridimensional de áreas urbanas históricas. De forma mais específica, o objetivo foi alcançado pela elaboração de um protótipo de SIG, a partir da elaboração de um banco de dados histórico, extraído da iconografia antiga do bairro do Comércio. A partir dessa metodologia, o objetivo do sistema foi servir de instrumento para a análise espaço-temporal da paisagem urbana e natural da Cidade Baixa de Salvador, que, ao passar do tempo, acumulou “transformações e permanências”, termo utilizado por Vasconcelos (2002) para descrever as mudanças formais da Cidade. Esse registro pode ser visualizado, interativamente, em séculos diferentes, através de mapas e modelos temáticos e da exploração de outros tipos de saída. No decorrer do trabalho, questões sobre os temas de representação digital, cidades virtuais e percepção visual urbana foram sendo redimensionadas, testadas e respondidas, conforme a descrição que se segue. 5.2. MODELOS Conforme Gomes e Velho (1990), objetos reais são idealizados no contexto de um espaço de modelagem e representados concretamente por meio de símbolos. O conceito de modelo é sempre reducionista. “E de fato tem que ser assim, pois, se o modelo tivesse todas as características do objeto concreto, seria o próprio objeto concreto” (SERRA, 1995, p.10). Para entender o processo de modelagem, este pode ser dividido em três níveis, que correspondem, respectivamente, aos objetos do mundo físico, aos modelos abstratos e às suas representações. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 58 Especificamente, a modelagem geométrica tem o potencial de representar produtos, processos ou sistemas, incluindo informações necessárias para análise e simulação de operações com o mesmo, pois descreve o produto tanto matematicamente (simbólico) quanto visualmente (icônico). Dessa forma, o modelo geométrico 3D possui um banco de dados tridimensional que permite produzir um conjunto completo de documentos para sua reprodução, além de visualizações para sua apresentação. No contexto desta pesquisa, alguns produtos do SIG foram os modelos urbanos digitais para cada século e os possíveis cruzamentos com os temas existentes. Estes foram gerados como uma visão da realidade manipulável e simplificada, servindo de referência para a análise espacial pretendida. Basearam-se em uma descrição formal de objetos, relações e processos. Além disso, permitiram, com a variação de determinados parâmetros, simular os efeitos de mudanças do fenômeno representado, no decorrer do tempo. De forma geral, a classificação dos modelos pode ser feita com base em três aspectos: sua finalidade; de que forma é construído e como considera o tempo. (ECHENIQUE, 1975, citado por SERRA, 1995), como se segue: Finalidade: Descritivo, Predictivo (Extrapolativo ou Condicional), Explorativo ou de Planejamento; Forma de construção: Físicos (Icônicos ou Analógicos) ou Conceituais (Verbais ou Matemáticos); Consideração do tempo: Estáticos ou Dinâmicos. Batty e Longley (2003, p.5) confirmam que todas as representações através de modelos, inclusive as que utilizam SIG, são abstrações seletivas e também simplificações da realidade. O que é escolhido para ficar fora da representação pode ser tão importante quanto os aspectos da realidade que são escolhidos para pertencer a ela, pois “... the essence of a model is to gain understanding through simplification”54 Para os autores, há uma diferença entre modelos icônicos e simbólicos, pois, enquanto os icônicos tendem a ser versões de menor escala do objeto real, os simbólicos são representações 54 “... a essência do modelo é ganhar entendimento através da simplificação”. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 59 abstratas do sistema e baseiam-se em relações lógicas, usualmente, matemáticas e estatísticas, em que atributos menos óbvios do sistema são modelados ou simulados. Consideram que os mapas manuscritos são icônicos, enquanto os mapas digitais, voltados para análise espacial, são simbólicos, já que a noção de escala não é limitada pelo computador. Portanto, segundo estas classificações, o modelo elaborado, nesta pesquisa, pode ser classificado como descritivo, pois visa compreender e explicar a realidade; físico, pois as suas características são as mesmas ou análogas as do real, sendo representadas através de mapas e modelos temáticos; simbólico, enquanto representação abstrata do trecho da Cidade; icônico, enquanto modelo geométrico das feições físicas que representam o bairro do Comércio e tem sua escala modificada em relação ao objeto real; e dinâmico, pois reflete o estado do sistema ao longo dos anos, representando a evolução urbana. Percebe-se, no entanto, que o conceito de modelo para as tecnologias SIG refere-se a duas situações distintas. O modelo da representação simbólica do próprio sistema e o modelos geométricos das representações físicas que coexistem no sistema, combinandose através de relações espaciais. Essa é uma das características que torna o SIG tão poderoso (BATTY e LONGLEY, 2003, p.6). Assim, neste caso, o modelo é a representação que tenta capturar as relações espaciais e topológicas do objeto real (a forma de uma edificação, por exemplo) e entre este objeto com outros do cenário (a distribuição das edificações). Os atributos desses objetos fazem parte do modelo e são apresentados, na forma de tabelas, pertencentes ao banco de dados do SIG. 5.3. PROTÓTIPO Neste contexto, protótipo é uma versão parcial e preliminar do novo sistema, destinado a teste e aperfeiçoamento. Para viabilizar sua execução, foi necessário seguir os procedimentos da pesquisa, testá-los e aprimorá-los, ao longo do seu desenvolvimento. A base de dados do protótipo deste sistema é composta por dados geográficos e alfanuméricos, ou dados espaciais e não-espaciais. Os dados não-espaciais encontram-se associados por um identificador comum aos objetos representados pelos dados espaciais. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 60 Desta forma, selecionando um objeto, pode-se saber o valor dos seus atributos, e, inversamente, selecionando um registro da base de dados, é possível saber a sua localização e apontá-la em um mapa. Além disso, o SIG permite compatibilizar a informação proveniente de diversas fontes. Neste caso, as fotografias aéreas, os mapas antigos e de cadastros técnicos, baseados em levantamento aerofotogramétrico. O planejamento de um sistema SIG passa por um processo de modelagem conceitual, baseado nos objetivos propostos, nas fontes de pesquisa existentes; na aquisição e conversão de dados; na preparação dos modelos digitais; nas consultas e classificações e na análise dos dados obtidos. Esses procedimentos estão relatados a seguir. A proposta dessa pesquisa foi, a partir de um estudo de caso, construir um protótipo de SIG-3D, capaz de produzir uma representação digital tridimensional, a partir de uma base de dados histórica. Esse enfoque não teve como objetivo reduzir a história do centro econômico de Salvador, até o século XX, a seus aspectos físico-territoriais. Um sistema de visualização dinâmico do espaço construído, ainda que necessário como instrumental, é um recurso que permite coletar, armazenar, analisar e manipular dados geográficos, além de ser um sistema aberto a constantes atualizações e acréscimos. 5.4. MODELAGEM CONCEITUAL A concepção do protótipo do SIG histórico considerou os seguintes itens principais: Modelo de dados: define as feições que compõem a base de dados, suas relações, formas de representação e seus atributos associados; Dicionário de dados: descreve a forma de representação, atributos, tipo e a forma de implementação física do dado. O protótipo do sistema foi desenvolvido, com dados geográficos, os mapas disponíveis no LCAD convertidos e dados alfanuméricos (não-espaciais), levantados para esta pesquisa e sintetizados no Quadro de Eventos (Apêndice B), conforme descritos anteriormente. Foi uma premissa básica deste trabalho a tentativa de usar um único pacote de software do início ao fim, verificando todas as possibilidades e restrições do Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 61 programa escolhido. Neste caso, o ArcGIS 9.0 e suas extensões que fossem necessárias. O objetivo foi sintetizar as informações levantadas em uma única ferramenta SIG e apresentá-las visualmente, de forma interativa, na tela do computador. Esses produtos foram também impressos como mapas e visualizações 3D, sendo de extrema importância para subsidiar análises espaciais e temporais sobre as interferências do processo de transformação da paisagem urbana. O modelo conceitual foi desenvolvido para permitir responder a questões como: - Que aspectos da realidade devem estar representados no(s) modelo(s) digital(is)? Dado que a representação refere-se ao mesmo espaço, em diferentes períodos, quais são as feições relevantes para a percepção visual deste espaço e que revelam a passagem do tempo – transformação – e o sentido de lugar – permanência? Para responder à primeira questão, o modelo foi baseado em conceitos de imaginabilidade e legibilidade, no contexto da paisagem urbana, que auxiliaram na definição dos elementos estruturais - vias; limites; bairros; pontos nodais e marcos como entidades geográficas do sistema (LYNCH, 1960). Com o objetivo de facilitar a apreensão da forma urbana, também foram utilizados, como camadas de informação, os condicionantes da imagem urbana, delimitados previamente pelo estudo do órgão de planejamento da cidade (PMS, 1978), dentre eles: o relevo e sistema de vales; aspectos naturais (mar, vegetação, dunas e etc.); marcos visuais (lugares); trama viária; tipologia das edificações e bairros, relacionados na Tabela 2 - Dicionário de Dados. A primeira fase do desenvolvimento do SIG histórico foi a representação mais atual da área estudada, com a base cadastral de 1998 atualizada para 2002, através de modelo tridimensional, gerado por extrusão dos polígonos da feição EDIFICAÇÕES no ArcGIS, na extensão ArcMap e visualizados na extensão ArcScene. Na seqüência, foram construídos pelo mesmo processo os modelos digitais urbanos de referência dos outros séculos, que representam o mesmo espaço, regressivamente no tempo. Somente as edificações, que mudaram de forma ou volumetria ao longo do tempo, aparecem em layers ou temas separados (EDIF_1956; EDIF_1894, EDIF_1779 e EDIF_1638). Nesses casos, em que houve transformação, acrescentamos um registro na coluna “observação” da feição EDIFICAÇÕES. Assim, ao investigar a forma antiga da edificação em outro período, pode-se carregar o layer indicado neste campo, podendo ocorrer que outra Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 62 edificação esteja, no mesmo espaço, em outro período. A figura abaixo mostra que os outros layers são, na verdade, subconjuntos, ou antes, especializações da feição EDIFICAÇÕES, conforme os atributos de tempo de início e de fim de cada edificação, que definem o período de sua existência. 1549-2002 EDIFICAÇÕES 1549-1956 EDIF_1956 1549-1894 EDIF_1894 1549-1779 EDIF_1779 1549-1638 EDIF_1638 Figura 19 – Modelo conceitual de agregação das edificações. Elaboração: Heliana F. M. Rocha - 2007 Seguindo esse raciocínio, a feição EDIFICAÇÕES sempre registra a data inicial (ou data da construção) da representação mais atual. Assim, qualquer busca dentro do período de tempo de sua existência retorna esta edificação específica. A feição EDIFICAÇÕES é o conjunto completo e contém todas as edificações dos períodos anteriores, que permaneceram até a atualidade sem alterações visualmente marcantes, as outras vão servir para abrigar os casos, em que ocorreram transformações de forma e/ou volumetria, sendo consideradas uma edificação diferente, onde podem ser visualizadas mais de uma representação, no mesmo espaço, em períodos diferentes de tempo. Assim, para cada edificação, que sofreu transformações em sua forma e/ou volume, existe um período correspondente, por exemplo, se há uma edificação que tinha uma determinada forma até 1955 e outra forma a partir de 1956, esta será representada por duas feições diferentes: EDIF_1956 e EDIFICACOES. Em cada uma haverá informação nos campos de data de “Início” e “Fim” que justifica sua presença ou não nos respectivos conjuntos. Cada elemento físico corresponde a uma feição, representada na base de dados, que tem, entre seus atributos, a definição do período de tempo válido para aquele elemento. Assim, através de mecanismos de seleção na base de dados, podem ser selecionados Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 63 elementos que têm em comum determinado atributo e/ou intervalo de tempo. As seleções podem utilizar, simultaneamente, critérios de restrição geográficos e/ou temporais. Dentro de um mesmo contexto, podem-se viabilizar diversas visualizações do modelo digital, segundo diferentes critérios, como por exemplo, restrições temporais (visualizar elementos que existiram entre os anos 1920 e 1980), restrições geográficas (visualizar os elementos próximos a determinado marco) ou, até mesmo, por uma combinação de ambos. As visualizações podem gerar modelos tridimensionais ou plantas, cortes, vistas, perspectivas e simulações de percursos. Outros atributos podem vir a compor a base de dados, associados aos diversos elementos, tais como informações textuais e imagens anexadas aos elementos urbanos, que se alteram ou não ao longo do tempo. Assim, o modelo conceitual do SIG desenvolvido organizou um conjunto de planos de informação, layers ou temas. Organizou, também, o conjunto de dados raster, como imagens de mapas, bem como o de dados vetoriais, como feições: pontos, linhas, polígonos, superfícies e volumes. 5.4.1. Modelo de Dados O modelo de dados consiste na apresentação das principais entidades espaciais, seus atributos e relacionamentos para implementação da base de dados do bairro do Comércio. As informações de interesse da base de dados estão dispostas, de acordo com a modelagem conceitual do sistema, de forma a permitir melhor entendimento do que é necessário para o cruzamento dos dados, a geração de consultas e classificações. O objetivo é estabelecer o escopo dos dados do projeto, a partir de uma visão conceitual de seus objetos geográficos e não geográficos, explicitando a forma de representação e as relações entre esses objetos. Os dados do sistema podem ser classificados, considerando tema, função, operações e a forma de conversão dos mesmos e estão dispostos na Figura 20 da seguinte forma: Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 64 Conjunto 1 – REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO Dados que representam a área estudada, em determinado período. É composto pelos mapa-base de cada século, que permitiram a representação do espaço e a localização geográfica das edificações nos diferentes períodos estudados. Assim como, as informações que geraram a superfície do terreno. Conjunto 2 – REPRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NO ESPAÇO Dados sobre as feições que representam os temas e objetos, no espaço, nos diferentes períodos estudados. No esquema que se segue, cada feição é representada por um retângulo vertical que contém três informações: o nome da feição, a forma da representação e os atributos associados: (Nome da feição) (Forma de representação) (Atributos associados) Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 65 Modelo de dados Salvador contém Limite_do_ estudo Polígono Polígono contém sobre Foto aérea 2002 Atlas 1956 imagem imagem Mapa 1894 imagem Mapa 1779 Mapa 1638 imagem imagem Aterros MDT do terreno Polígono Superfície Superfície início fim período área contém Curvas mestras Linha REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO cota sobre Quadras Edificações Polígono Polígono Volume Início; tipo Fim; uso período classe pavimentos altura; obs início fim período Praças Polígono início fim período Edif_1956 Edif_1894 Edif_1779 Edif_1638 Polígono Volume Polígono Volume Polígono Volume Polígono Volume início; fim tipo; uso período classe pavimentos altura; obs início; fim tipo; uso período classe pavimentos altura; obs início; fim tipo; uso período classe pavimentos altura; obs início; fim tipo; uso período classe pavimentos altura; obs REPRESENTAÇÃO DE OBJETOS NO ESPAÇO Figura 20 – Modelo de Dados Elaboração: Heliana F. M. Rocha - 2007 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 Eixos de Logradouros Linha início; fim período; notas toponímia hierarquia histórico; perfil nome popular nome antigo EdificaçõesMarco Polígono Volume início fim período classe imagem tipo; obs 66 Esta tabela apresenta o esquema dos dados do sistema, elaborado a partir da análise e abstração dos conceitos dos elementos da percepção visual adaptados de Lynch (1960) que definiram a implementação física do SIG. Identifica os elementos, sua descrição, as representações gráficas de cada feição, sua descrição e seus atributos. Tabela 2 – Esquema dos dados do sistema Elementos Descrição Representação Feições (implementação física) Atributos Eixos de Logradouros Canais de circulação, ao longo dos Linha quais, o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. EIXOS_ LOGRADOUROS Início; Fim; Período; Nome Popular; Nome Antigo; Hierarquia; História; Histórico; Toponímia; Perfil Setores ou Bairros Partes da cidade, reconhecíveis por Polígono possuírem características comuns que as identificam, tanto a partir do lado interno quanto como referência externa, quando visíveis de fora. LIMITE_DO_ESTUDO ATERROS Início; Fim; Período; Comprimento; Área Limites Fronteiras entre duas fases, quebras Polígono de continuidade lineares. Conferem unidade a áreas diferentes, como no contorno de uma cidade por água ou parede. LIMITE_SALVADOR; LIMITE_ESTUDO Comprimento; Área Marcos visuais ou Edificaçõesmarco Referências externas p/ o Polígono/ Volume EDIF_MARCOS observador: edifícios. Distantes ou próximos são chaves de identidade, pois permitem leitura e orientação na estrutura espacial. Início; Fim; Período; Classe; Observações Edificações Qualquer construção, isolada ou em grupo, que se eleva em uma determinada área; casa, prédio. Polígono/ Volume EDIFICACOES; EDIF_2002; EDIF_1956; EDIF_1894; EDIF_1779; EDIF_1638 Início; Fim; Período; Classe; Observações; Uso; Tipo; Pavimentos; Altura Terreno Superfície que representa as diferenças de nível do terreno: montanhas, vales, planícies, depressões, etc. Superfície MODELO DIGITAL DO TERRENO - MDT; ATERROS Início; Fim; Período;; QUADRAS; PRAÇAS Início; Fim; Período; Observações Quadras e Praças Distância entre uma esquina e outra Polígono do mesmo lado da rua; porção de solo com ou sem edificações, geralmente quadrada ou retangular, contornada por ruas. Observações(ATERRO S) Elaboração: Heliana F. Mettig Rocha – 2007 Fonte: Lynch (1960), Kohlsdorf (2000, p. 121-126) e Panerai (2006, p. 30-35) Em seguida, serão detalhadas as feições do sistema, incluindo a descrição dos seus atributos. As feições que fazem parte do sistema, mas têm apenas função auxiliar não Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 67 serão visualizadas nem detalhadas. Entre elas estão a malha UTM - Universal Transverse Mercator 55, malha de coordenadas geográficas utilizada como referência de posicionamento geográfico e meio de correspondência entre os diversos mapas trabalhados e as curvas de nível mestras, de cinco em cinco metros, que forneceram os dados altimétricos para geração do MDT. 5.4.2. Dicionário de Dados O dicionário de dados consiste na descrição da forma de representação, o tipo e a implementação física do dado, detalhando possíveis classificações associadas aos campos de informação das feições. Salvador Descrição: área continental do território municipal de Salvador, limite da costa no bairro do Comércio (equivale a um perímetro maior do que a área estudada). Representação: polígono Implementação física: arquivo shapefile LIMITE_SALVADOR.shp Limite do Estudo Descrição: área delimitada para o estudo Representação: polígono Implementação física: arquivo shapefile LIMITE_DO_ESTUDO.shp Quadras Descrição: quadras do município de Salvador, no trecho do Comércio Representação: polígono Implementação física: arquivo shapefile QUADRAS.shp e arquivo dBase QUADRAS.dbf 55 Sistema de coordenadas projetadas: SAD 1969 UTM Zone 24S; sistema de coordenadas geográficas: GCS_South_American_1969. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 68 Atributo OBJECTID Descrição Identificador da edificação Nome físico Id Início Fim Período OBS Ano inicial Ano final Período Observação Ano_inicio Ano_fim Periodo OBS Tipo OID (objeto identificador) Número – Integer Número – Integer Texto – String Texto – String Praças Descrição: áreas pavimentadas de uso público, no trecho do Comércio Representação: polígono Implementação física: arquivo shapefile PRAÇAS.shp e arquivo dBase PRAÇAS.dbf Atributo OBJECTID Início Fim Período OBS Descrição Identificador do canteiro Ano inicial Ano final Período Observação Nome físico Id Ano_inicio Ano_fim Periodo OBS Tipo OID Número – Integer Número – Integer Texto – String Texto – String Eixos de Logradouros Descrição: eixos dos logradouros do município de Salvador, no trecho do Comércio Representação: linha Implementação física: arquivo shapefile EIXO_LOGRADOUROS.shp e arquivo dBase EIXO_LOGRADOUROS.dbf Atributo OBJECTID CODLOG NOME_ANT HISTÓRICO ORIGEM PERFIL NOMEPOPULA HISTORIA NOTAS TOPONIM HIERARQ Início Fim Período OBS Descrição Identificador da linha Código dos logradouros Nome antigo Histórico Origem Perfil Nome popular Historia Notas Nome do logradouro Classificação hierárquica das vias Ano inicial Ano final Período Observação Nome físico Id Codigo_lg Nome_antigo Historico Origem Perfil Nome_popular Historia Notas Toponimia Hierarquia Tipo OID Número – Integer Texto – String Texto – String Texto – String Texto – String Texto – String Texto – String Texto – String Texto – String Texto– String Ano_inicio Ano_fim Periodo OBS Número – Integer Número – Integer Texto – String Texto – String Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 69 Hierarquia de vias: ART I – arterial I ARTII – arterial II COLI – coletora I COLII – coletora II Edificações (Edif_1956; Edif_1894; Edif_1779; Edif_1638) Descrição: localização das edificações existentes em cada século, no trecho do Comércio Representação: polígono e volume (no caso das EDIFICAÇÕES) Implementação física: arquivos shapefile EDIFICACOES.shp, EDIF_1956.shp; EDIF_1894.shp; EDIF_1779.shp; EDIFICACOES.dbf, EDIF_1638.shp EDIF_1956.dbf; e EDIF_1894.dbf; arquivos dBase EDIF_1779.dbf; EDIF_1638.dbf. Atributo OBJECTID Pavimentos Descrição Identificador da edificação Número de pavimentos Nome físico Id Num_pav Altura Altura da edificação Altura Tipo Uso Classe Início Fim Período OBS Tipo da edificação Uso da edificação Classe da edificação Ano inicial Ano final Período Observação Tipo Uso Classe Ano_inicio Ano_fim Periodo OBS Usos da edificação: Tipos de edificação: COM - comercial EDF – edifício RES – residencial MER – mercado MIL – militar MIL – militar REL – religiosa REL – religioso INS – institucional ELE – elevador PUB – público MON – monumento TUR – turismo TRA – transporte CUL – cultural Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 Tipo OID Número – Short Integer Número – Short Integer Texto – String Texto – String Texto – String Número – Integer Número – Integer Texto – String Texto – String 70 Classe da edificação: IN – Inexistência: não existem mais até o modelo de 2002; PE – Permanência: existem, com a mesma forma e volume, até o modelo de 2002; TR – Transformação: existem até o modelo de 2002, mas sofreram transformações de forma e/ou volume. Edificações-Marco ou 3D Modelos Descrição: localização das edificações notáveis, símbolos ou marcos, no trecho do Comércio (Igrejas, fortificações, monumentos, edificações de valor histórico) Representação: polígono e multipatch (poligonais, com cota Z, baseadas no modelo digital de terreno, exportadas para o SketchUp, remodeladas e importadas novamente para o ArcMap/ArcScene como multipatch, ou seja, volume) Implementação física: arquivo shapefile EDIF_MARCOS.shp e 3D_Modelos.shp e arquivo dBase EDIF_MARCOS.dbf e 3D_Modelos.dbf Atributo OBJECTID Tipo Classe Início Fim Período OBS Imagem Descrição Identificador do marco Tipo do marco Classe da edificação Ano inicial Ano final Período Observação Foto de referência Nome físico Id tipo classe ano_inicio Ano_fim Periodo_marco OBS Imagem Tipo OID Texto – String Texto – String Número – Integer Número – Integer Texto – String Texto – String Blob Classe da edificação-marco: IN – Inexistência: não existem mais até o modelo de 2002; PE – Permanência: existem, com a mesma forma e volume, até o modelo de 2002; TR – Transformação: existem até o modelo de 2002, mas sofreram transformações de forma e/ou volume. Aterros Descrição: localização das áreas aterradas por períodos, no trecho do Comércio Representação: polígono e superfície Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 71 Implementação física: arquivo shapefile ATERROS.shp e arquivo dBase ATERROS.dbf Atributo OBJECTID Shape_Area Início Fim Período Descrição Identificador do aterro Área do aterro Ano inicial da execução Ano final da execução Período Nome físico Id Area Ano_inicial Ano_final Periodo_aterro Tipo OID Número – Double Número – Integer Número – Integer Texto – String Arquivo TIN: Modelo Digital do Terreno - MDT Descrição: superfície TIN – Triangular Irregular Network, no trecho do bairro do Comércio Representação: superfície Implementação física: arquivo TIN, tin_ssa_comercio.tin Para expor como esses dados ficam armazenados, na base de dados do sistema, em seguida, está apresentada a Tabela 3. Refere-se aos dados alfanuméricos, ou não-espaciais, da feição Edificações-Marco. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 72 Tabela 3 – Tabela de dados alfanuméricos – Edificações-marco OIDField SUInstanceName 1 ASSOCIAÇÃO COMERCIAL 10 MERCADO MODELO IGREJA DE N. SRA. DA 11 CONCEIÇÃO DA PRAIA MONUMENTO DE MÁRIO 12 CRAVO 13 ELEVADOR LACERDA 15 PALÁCIO RIO BRANCO Início Fim Período EDF OBS Antigo prédio da Bolsa; 1811: demolição do Forte de São Fernando; 1814: COM início construção prédio sobre as fundações do Forte 1861 2006 1861-2006 MER 1849-1861: construção da nova Alfândega, em estilo neoclássico; 1968: incêndio; 1971: antiga Alfândega transforma-se em MERCADO MODELO; COM 1984: incêndio (reconstruído em 9 meses com 260 boxes comerciais); tombado 1956_Modelo.jpg TRANSFORMAÇÃO 1739 2006 1739-2006 REL REL 2006_IgConceicao.jpg TRANSFORMAÇÃO 1970 2006 1970-2006 MON TUR 2004_Lacerda_MarioCravo.jpg PERMANÊNCIA 1930 2006 1930-2006 ELE 1930_1977_Lacerda_GM TRANSFORMAÇÃO Palacio_secXX.jpg TRANSFORMAÇÃO 1818 2006 1818-2006 1551 1917 1551-1917 Tipo EDF Uso TRA 1739-1765: reconstrução sobre a capela (aspecto atual) Fonte da Rampa do Mercado, no local do antigo Mercado Modelo incendiado; em processo de tombamento 1930: 1ª reforma c/ mais 2 cabines e energia elétrica (atual); 1930: Sorveteria Cubana no térreo; 2004: reforma- 4 elevadores c/ percurso de 11 seg. e transportam mais de 20 mil passageiros ao dia; 2006: em processo de tombamento; tombado INS Palácio Thomé de Souza ou do Governador; 1663: reconstrução do Palácio dos Governadores, em estilo barroco; 1687-1690: reformas; 1811: 1ª. Biblioteca Pública no Palácio; 1878: praça do Palácio alargada, grade de ferro, 19 estátuas e candelabros à gás; 1890/1900: reforma;1912: ala esquerda do Palácio incendiada, juntamente com a Biblioteca Pública Imagem Classe 2006_AssComercial.jpg PERMANÊNCIA 2006_Camara.jpg TRANSFORMAÇÃO INS (Cadeia e Senado da Câmara); PAÇO MUNICIPAL; 1660/1701: reforma; 1798: reforma; 1883: reforma em estilo renascentista; 1956: Prefeitura Municipal; 1968: restauração ao estilo renascentista original 1918: reformas descaracterizam o prédio do Palácio (fachada atual); 2003: FUNDACAO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA - FUNCEB Palacio_secXIX.jpg TRANSFORMAÇÃO Se_frente_secXIX.jpg INEXISTÊNCIA 1970_Terreiro_GM.jpg PERMANÊNCIA 1962_InstCacau_BB2.jpg PERMANÊNCIA CÂMARA DOS 16 VEREADORES 1551 2006 1551-2006 EDF PUB 17 PALÁCIO RIO BRANCO 1918 2006 1918-2006 EDF 18 IGREJA DA SÉ 1553 1933 1553-1933 REL REL IGREJA DA SÉ PRIMACIAL; 1553: início da construção; 1714: Sé com 2 torres; 1757: demolição de 1 torre; 1770: demolição do frontão da Sé; 1785: demolição da 2a. torre; 1815: a Sé estava abandonada; “era um templo mais magnífico do que a catedral” (Imperador); 1933: demolição 19 CATEDRAL BASÍLICA 1736 2006 1736-2006 REL REL 1657/1736: construção da Ig. dos Jesuítas(58,7x26,6)m; 1923: Ig. de São Salvador elevada à basílica 20 INSTITUTO DO CACAU 1936 2006 1936-2006 EDF INS 22 FORTE DE SÃO MARCELO 1811 2006 1811-2006 MIL ELEVADOR CONCEIÇÃO23 PARAFUSO 1873 1929 1873-1929 ELE CUL Um dos pioneiros da arquitetura modernista, símbolo da importância do principal cultivo na época 1650: Eng. Felipe Guiton c/ projeto de planta aproximadamente circular, com uma grande torre central rodeada de aberturas c/ os canhões de defesa; 16571663: construção; 1724-1728: reforma; 1772: reforma; 1810-1812: construído um paredão externo mais alto, em forma de anel, com salas em seu interior, pois os tiros disparados pelos invasores ricocheteavam na torre, atingindo os artilheiros pelas costas; 2006: Centro Cultural LG-Insinuante 1975_ForteSaoMarcelo_GM.jpg TRANSFORMAÇÃO TRA 1873: Elevador Hidráulico da Conceição Parafuso, que 3 anos depois passou a se chamar Elevador Lacerda 1873_Lacerda.jpg Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 TRANSFORMAÇÃO 73 5.5. AQUISIÇÃO E CONVERSÃO DE DADOS No desenvolvimento deste trabalho, diferentes tipos de mapas sobre a cidade do Salvador foram coletados, como planos urbanos para uso em estratégia militar, planos de fortificações, gravuras artísticas que objetivavam descrever a cidade e plantas topográficas. Assim como fotografias, desenhos e postais antigos. A ênfase ocorreu, principalmente, nos mapas considerados representativos de cada século na história e que mostravam informações mais detalhadas sobre a morfologia urbana de Salvador. O propósito foi estabelecer uma base sólida para representar a estrutura e a forma da cidade, como reflexo da história, com a intenção de compreender o modo com que os mapas refletiam a própria imagem da cidade em cada período. Em relação à análise temporal, a pesquisa utilizou a técnica de reconstituição dos modelos digitais dos períodos estudados, a partir da atualidade e voltando para o passado. Dessa forma, percorreram-se cinco séculos como em um “filme rodado ao contrário, no qual as imagens mais recentes da cidade deveriam desaparecer dando lugar as mais antigas” (CÂMARA, 1988, p. 104). Foi utilizada a cronologia inversa para manter uma precisão relativa e melhor compatibilidade entre os mapas-base. Essa técnica baseou-se em mapas antigos, para a informação bidimensional; e perfis, fotografias e postais antigos, para gerar a informação tridimensional. Na prática, a análise espaço-temporal aconteceu simultaneamente. Uma das atividades realizadas foi compatibilizar a iconografia antiga e a base cadastral atual. Deste modo, procurou-se obter uma precisão aceitável dos dados, utilizando-se técnicas que garantiram a consistência dos dados ao compatibilizar os mapas antigos e a base cartográfica atual, através de processos de conversão de dados, descritos logo após a discriminação das fontes de dados. O processo de aquisição e conversão de dados provenientes dos mapas-base de cada período foi essencial para a construção da base de dados do sistema. Foi a etapa, que envolveu dados planimétricos, de formato raster e vetorial; e também dados de altimetria, sobre o relevo do terreno e a altura das edificações. Estas obtidas através da interpretação da iconografia e de documentos textuais. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 74 5.5.1. Fontes de Informação A escolha das fontes de pesquisa sobre o bairro do Comércio, na Cidade Baixa de Salvador, foi realizada de acordo com alguns critérios de busca, como: Mapas históricos, com melhor qualidade e exatidão cartográfica, dentro da relativa precisão dos instrumentos de sua época; Um mapa de referência, válido para cada século, registrando o território e a ocupação urbana; Fotografias, postais, desenhos e gravuras antigas como referência da ocupação urbana, tipologias das edificações, em períodos diferentes; Registros descritivos de viajantes sobre a paisagem urbana da cidade em períodos diferentes; Estudos e interpretações já realizadas sobre aspectos históricos da área. A coleta desses dados foi dividida em mapas-base e documentos, descritos a seguir: 5.5.1.1. Mapas-base As informações categorizadas como mapas-base foram assim denominadas, pois serviram, efetivamente, para a elaboração da representação espacial dos modelos digitais urbanos, viabilizando a comparação da ocupação urbana e territorial, entre os períodos estudados, assim como a vetorização de dados relevantes para o sistema. A princípio, buscou-se um mapa representativo de cada um dos cinco séculos de existência da área estudada. A escolha desses mapas foi feita dentro de um universo de inúmeros mapas, plantas e planos de caráter militar, comercial ou de exploração. O critério de seleção foi, em primeiro lugar, a função cadastral, normalmente alcançada por mapas de origem militar. Além disso, necessitavam ter uma precisão mínima aceitável para comparação com o levantamento aerofotogramétrico mais atual. A parte relativa ao trecho da Cidade Baixa na base cartográfica de 1991 da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), foi atualizada com as fotografias aéreas coloridas do ano de 2002 para ser utilizada no processo de Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 75 georreferenciamento dos mapas dos períodos anteriores. Dessa forma, a precisão dos mapas e sua representatividade, em cada século, foram importantes critérios de seleção para a escolha dos anos de 1956, 1894, 1779 e 1638. Outro dado de grande valor informativo e que pôde ser cruzado, durante a interpretação da iconografia levantada, foi o “Mapa da Evolução dos Aterros no Comércio”, na escala de 1:3.000, desenvolvido por Câmara (1988, p. 187-189), a partir da “estimativa das áreas aterradas nos diferentes períodos de evolução das freguesias de Conceição e Pilar” e reproduzido por Sampaio (2005, p. 48). Este foi adaptado para o formato digital do modelo urbano, desenvolvido para este estudo. Figura 21 – Visualização de tela do ArcScene com os sucessivos trechos de aterro, aplicados à foto aérea de 2002 e ao MDT. Fontes: Dados sobre aterros: (SAMPAIO, 2005, p. 48). Elaboração do modelo de visualização 3D: Heliana F. M.Rocha, 2007. Como o estudo se limita à área do bairro do Comércio, na Cidade Baixa, os mapasbase foram limitados, espacialmente, utilizando um recurso do software de Geoprocessamento. Foi demarcado um raio de dois quilômetros a partir da posição central do Forte de São Marcelo, delimitando uma área circular, por onde todos os planos de informação foram também delimitados, reduzindo o volume de informações do município de Salvador para a área estudada. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 76 Os mapas-base utilizados estão descritos a seguir: Ano-base 2002: Fonte: Base Sicar/RMS56: planialtimetria, sistema viário, toponímia, malha de eixos de logradouros, cadastro georreferenciado de pontos notáveis. Salvador: CONDER, 1991, 2002, 2003. Escala 1:2.000. Conteúdo: planialtimetria, sistema viário, toponímia (1991), malha de eixos de logradouros, (2002), e cadastro georreferenciado de pontos notáveis (2003). Escala 1:2.000. OBS: Base cadastral de 1991, atualizada para o trecho do Comércio, através de georreferenciamento, durante este trabalho, pelas fotos aéreas verticais coloridas de 2002, com os seguintes níveis de informação: curvas de nível, eixos de logradouros, toponímia, quadras, edificações, canteiros pavimentados, canteiros verdes, linha de borda, malha UTM. Aquisição e conversão de dados: Dados vetoriais, obtidos, através de arquivos do MapInfo, com seleção circular da área estudada, exportados para ArcMap como shapefile, contendo feições de planimetria e altimetria; geração do TIN, a partir das curvas de nível, contidas no shapefile Curvas Mestras.shp Ano-base 1956: Fonte: Atlas Parcial da Cidade de Salvador. Salvador: PMS, 1956. 1 atlas. Escala 1:1.333. Conteúdo: O atlas corresponde as 117 folhas do levantamento da planta aerofotogramétrica, executada pelo “Serviço Aéreo Cruzeiro do Sul” na escala de 1:1.000 e publicada na escala reduzida de 1:1.333. Possui uma malha de 250 m x 250 m e alta precisão cartográfica. OBS: realizada pela Diretoria de Tributação e Cadastro Municipal por intermédio da seção da Planta Cadastral e Atualização da Carta da Cidade. Aquisição e Conversão de dados: Dado raster, obtido por scanning das folhas relativas à área estudada; tratamento de imagem; georreferenciamento e retificação com quatro pontos de controle (edificações-marco), pela malha de 250 m x 250 m desta planta com a malha UTM de 1000 m x 1000 m da base SICAR, para a primeira imagem; as 56 Sistema Cartográfico da RMS. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 77 outras três foram retificadas pelos pontos de controle das bordas da primeira; vetorização das poligonais das edificações não existentes nos mapas posteriores. Figura 22 – Atlas Parcial da Cidade de Salvador de 1956 – trecho do bairro do Comércio. Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador – PMS. Ano-base 1894: Fonte: LOS RIOS, Adolfo Morales de. Planta da Cidade do Salvador. 30 mar.1894. 1 planta, color, 100 cm x 70 cm. Planta reproduzida na exposição permanente do Forte de São Marcelo. Escala aproximada: 1:5.000. (Reproduzida, também, no livro “Grande Salvador, Posse e Uso da Terra”, 1978) Conteúdo: Planta com identificação das edificações principais, na cor vermelha e das edificações religiosas, na cor preta; nomenclatura das ruas; quadras. OBS: Considerada de ótima qualidade e detalhe, por Câmara (1988). Aquisição e conversão de dados: Dado raster, obtido por fotografia digital com resolução de 7,2 megapixels do painel supracitado; georreferenciamento e retificação, no programa ArcMap, tendo como referência a base da SICAR de 1991, complementadas pelas fotos aéreas verticais coloridas de 2002; vetorização das poligonais das edificações não existentes nos mapas posteriores. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 78 Figura 23 – Planta de 1894 – trecho do bairro do Comércio. Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador – PMS. Ano-base 1779: Fonte: Planta Ichonografica da Cidade de Sam Salvador na Bahia de Todos os Santos na América Meridional aos 13 Graos de Latitude, e 315 Graos e 36 Minutos de Longe. Desenho atribuído a José Antônio Caldas. Bahia, 21 abr. 1779. Uma planta dividida em seis partes, colorida, 280 cm x 140 cm. Planta arquivada no Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro. Escala aproximada: 1:1.150. Localização: Série: NE; Sub-série: BA; Mapoteca 23; Gaveta 03; No do Mapa 239 (dividido em 6 partes) Conteúdo: Quadras; legenda numérica das principais edificações; escala gráfica em braças. OBS: Segundo Oliveira (2004), a planta semicadastral foi produzida, possivelmente, pelo Sargento-mor José Antônio Caldas, e tem um grande valor histórico pela sua precisão cartográfica. “Garimpando, no Arquivo Militar do Rio de Janeiro, encontramos uma planta de Salvador, com mais de dois metros de comprimento, feita em 1779, com uma riqueza de detalhes extraordinária, mas que não está assinada por ninguém. Esta planta está fragmentada, em seis pedaços, mas tem uma precisão notável para a época, quando utilizamos a verificação pela sua escala gráfica, comparando-a com o levantamento aerofotogramétrico atual” (OLIVEIRA, 2004, p.127 e 128). Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 79 Aquisição e conversão de dados: Dado raster, obtido por fotografia digital com resolução de 7,2 megapixels de cada uma das seis partes da planta; tratamento individual das imagens, retirando as imperfeições e manchas; georreferenciamento e retificação, usando pelo menos quatro pontos de controle no centro e extremidades (edificações-marco) de cada imagem (a borda da primeira serviu de referência para as outras imagens), no programa ArcMap com recurso de transparência do layer, tendo como referência a sobreposição, no mapa-base do ano de 2002, com suas fotos aéreas verticais e feições de edificações, eixos de logradouros, quadras e aterros; vetorização das poligonais das edificações existentes nessa planta e não existentes nos mapas posteriores. (Erro estimado entre 10 e 20 metros) Figura 24 – Original da Planta de 1779, dividida em seis partes, durante processo de montagem da imagem. Fonte: AHEx – Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro Figura 25 – Planta de 1779 – trecho da Cidade Baixa. Fonte: AHEx – Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 80 Ano-base 1638: Fonte: Desenho das Forteficações e Trincheiras que se Fizerão em Deffença do Inimigo. 1638 (data aproximada). 1 desenho, color. 90 cm x 40 cm. Desenho arquivado no Museu Algemeen Rijksarchief de Haia, Holanda. Escala aproximada: 1:30.000. Reproduzida em (OLIVEIRA, 2004, p. 202 e 203). Conteúdo: Retrata as obras de defesa em destaque, junto aos prédios da Cidade Baixa; legenda numérica com as principais edificações; escala gráfica em braças. OBS: A planta foi produzida possivelmente por um engenheiro militar português desconhecido. As fortificações são detalhadamente comentadas em (OLIVEIRA, 2004, p. 202 e 203) Aquisição e conversão de dados: Dado raster, obtido por cópia de arquivo digital com resolução de 2600 x 1110 pixels57; georreferenciamento e retificação, usando pelo menos quatro pontos de controle no centro e extremidades (edificações-marcos) de cada imagem, no programa ArcMap, com recurso de transparência do layer, tendo como referência a base da SICAR de 1991, complementadas pelas fotos aéreas verticais coloridas de 2002, com suas feições de edificações, eixos de logradouros, quadras e aterros; vetorização das poligonais das edificações existentes nessa planta e não existentes nos mapas posteriores. Figura 26 – Desenho de 1638 – trecho da Cidade Baixa. Fonte: (OLIVEIRA, 2004, p. 202 e 203) 57 Pixel é a menor unidade gráfica visualizada na tela do computador, que pode ser controlada individualmente e que contém informações sobre cores e intensidade (brilho). Palavra criada a partir da expressão em inglês picture element. (AZEVEDO; CONCI, 2003, p. 21) Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 81 Comparando a aquisição e conversão dos dados dos mapas supracitados, registraram-se algumas peculiaridades. Para a reconstituição do ano de 1956, não foram necessárias interpretações, pois a planta tinha caráter cadastral, produzida a partir de um levantamento aerofotogramétrico. Nesse caso, foi apenas necessária a vetorização, em tela das edificações, com forma e volumetria diferentes existentes nesse ano e não existentes no ano de referência (2002). Ao executar, por exemplo, a reconstituição de 1894, sobre a base da SICAR de 1991, atualizada pelas fotos aéreas verticais coloridas de 2002, o trabalho resumiu-se à vetorização, em tela, das edificações diferentes existentes nesse ano e não existentes no ano de referência (2002), a partir da análise detalhada da planta desenhada por Adolfo Morales de Los Rios (1894). Ao reconstituir o mapa subseqüente, já com base nas informações do mapa de 1779, o trabalho foi realizado a partir daquela já reconstituída para o ano de 1894, vetorizando, em tela, toda a ocupação ocorrida apenas naquele espaço de tempo diferente de 1894. Para evitar que o processo deixasse margem de dúvidas, a planta histórica de 1779, única que não tem caráter cadastral, e a planta de 1894, de caráter semicadastral, passaram pelo processo de georreferenciamento e foram retificadas sobre a base cartográfica digital de 1991. Apesar de, após o processo, ainda apresentarem algumas deformações, em relação ao levantamento aerofotogramétrico, estas não influenciaram na identificação das edificações que permaneceram ou transformaram-se entre essas datas. Por exemplo, o traçado das ruas e a forma dos quarteirões sofreram alterações possíveis de serem detectadas. Além disso, vários prédios pareceram ter sido construídos sobre o mesmo local, quase sempre com a implantação no terreno, diferente daquela do prédio anterior. Por esta razão, optamos por representar na feição de edificações de cada ano, apenas as que tiveram forma e posição diferentes entre si, ou seja, que sofreram alterações relevantes. Esse método também foi utilizado para as edificações-marco, sobre as quais havia menos dúvidas com relação à sua implantação histórica, devidamente confirmada por especialistas no assunto. 5.5.1.2. Iconografia As reconstituições dos modelos digitais tiveram que ser complementadas também com a memória iconográfica proveniente de desenhos, postais e fotografias (a partir de meados do século XIX). Há muitos dados sobre conjuntos históricos em estado de Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 82 ruína. Esses dados, muitas vezes, estão em condições precárias de armazenamento e, nem sempre, organizados e disponíveis para consulta. Explorar estas informações sempre enriquece a atuação dos arquitetos planejadores e cidadãos. Decidiu-se, então, usar a iconografia existente para visualizar o conjunto urbano ao longo dos séculos e contribuir com a representação de áreas que não têm mais a sua conformação urbana original. A iconografia levantada, apesar de extensa, não é integral. A escolha dos acervos pesquisados deu-se, em função da disponibilidade e da possibilidade de reprodução do material existente sobre a área do Comércio, desde a fundação da Cidade até o final do século XX, sendo eles: Centro de Estudos de Arquitetura da Bahia – CEAB Arquivo Histórico da Fundação Gregório de Matos Museu Tempostal – Templo dos Postais Arquivo Público do Estado da Bahia Arquivo Histórico do Exército – AHEx, no Rio de Janeiro O levantamento das fotografias e postais do CEAB originou uma tabela numerada com os seguintes campos e suas descrições (Apêndice C): Título: título registrado Ano referência: ano registrado ou estimado Local: referência de localização Tipo: se foto, desenho, ou postal Fototeca: anotação referente à organização interna do CEAB, se cadastrado Autor: Autor da fotografia ou do desenho, se conhecido Original: biblioteca ou publicação de origem, se informado OBS: anotações registradas durante este trabalho A aquisição dos dados foi, através do processo de scanning com resolução de 600 dpi58, sendo armazenados em arquivos de imagem do tipo tif. 58 Dpi – dots per inch, é a medida de resolução para impressão, especificamente, o número de pontos individuais de tinta que a impressora pode produzir em uma linha com uma polegada de comprimento. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 83 A iconografia encontrada na Fundação Gregório de Matos caracterizou-se, principalmente, por fotografias de alguns monumentos e edificações-marco, durante seus processos de construção, contribuindo com uma visão específica de suas tipologias e períodos de construção. No Museu Tempostal, geralmente, os postais são compostos por fotografias ou desenhos. Estes complementaram o levantamento de forma peculiar, por esse tipo de iconografia apresentar, em sua maioria, o objetivo de promover a cidade. Em geral, são registros urbanos que demonstram a prosperidade e o progresso da cidade do Salvador para quem foram enviados (MELLO, 2004). Foram selecionados aqueles que mostravam a abertura de novas praças, a construção das primeiras edificações, nos novos aterros, como o Instituto do Cacau, as vistas aéreas de conjunto, a implantação dos armazéns e o cais do porto. Figura 27 – Postais – Praça Marechal Deodoro em 1912 e em 1920. Fonte: Tempostal. No Arquivo Público do Estado da Bahia, a iconografia, que predominou no levantamento foram mapas antigos originais, os quais foram registrados através de fotografia digital com resolução de 1660 x 2320 pixels. Foram eles, o “Mappa Topographica da Cidade de S. Salvador e seus Subúrbios”, por Carlos Augusto Weill, impresso em Sttutgard, assim como o “Mapa do Sistema Viário de Salvador”, de 1969. No Arquivo Histórico do Exército – AHEx, no Rio de Janeiro, foi realizada a busca específica da Planta de 1779 (já mencionada), por orientação do Professor Mário Mendonça de Oliveira, o qual lhe atribuiu extremo apuro cartográfico para a época. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 84 A iconografia coletada foi utilizada como referência para identificar a volumetria do conjunto da ocupação urbana nos períodos estudados e para visualizar a tipologia das edificações, auxiliando na identificação dos períodos em que foram construídas. Além disso, as referências fotográficas, a partir de 1856 (data da primeira fotografia coletada para o trabalho), foram priorizadas em relação às outras fontes de iconografia produzidas durante o século XVIII. Estas foram selecionadas e comentadas, detalhadamente, em entrevistas realizadas com o Professor Francisco Senna, arquiteto e professor de História da Arquitetura, nesta Faculdade. A partir destes encontros, foram anotadas referências específicas para cada fotografia, localizando-as no tempo, regulado por uma margem de erro de dez anos. Este processo baseou-se, essencialmente, na configuração urbana e sua relação com as edificações existentes. 5.5.1.3. Documentos Assim como a memória iconográfica, a memória bibliográfica foi utilizada para complementar as reconstituições dos modelos digitais, desde narrativas, censos demográficos, avaliações e artigos de caráter histórico. A partir desse levantamento e do cruzamento de ambas as fontes - iconográfica e documental, foi elaborado para este estudo um Quadro de Eventos sobre a Cidade Baixa e o Frontispício de Salvador, desde o século XVI ao século XX. Este quadro permitiu organizar e sintetizar as informações que alimentaram a base de dados históricos do sistema proposto, englobando, de forma sintética, o conteúdo que reflete a dinâmica urbana dessa área, em contraposição aos acontecimentos históricos de maior relevância, sempre datados. Este recurso facilitou a compreensão e o cruzamento de dados, durante a elaboração do protótipo do sistema. Como este assumiu grandes proporções, encontra-se, em sua versão completa, no Apêndice B desta dissertação, mas tem a configuração inicial, exemplificada no Quadro 1, apresentado a seguir. O conteúdo deste quadro é o conjunto de informações sobre a evolução da cidade do Salvador, de forma cronológica, e foi organizado por temas de interesse para este trabalho, dispostos nas seguintes colunas: Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 85 Período: século estudado; Contexto político: dados sobre governadores, acordos internacionais, guerras; Iconografia e documentos: fontes de pesquisa; Configuração urbana e limites: informações urbanísticas e legislações; Porto e aterros: história da implantação do porto de Salvador e configuração dos sucessivos aterros realizados na Cidade Baixa; Vias, transportes e infra-estrutura: história dos transportes e dados sobre a implantação de vias e obras de infra-estrutura; Edificações e marcos: dados sobre as fortificações de Salvador e sobre as edificações mais marcantes do bairro do Comércio e arredores; Sociedade, economia e educação: questões socioculturais no processo de entendimento dos acontecimentos históricos no bairro do Comércio. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 Período Séc. XVI Séc. XVII Contexto Político Quadro 1 – Quadro de Eventos sobre a Cidade Baixa e o frontispício de Salvador, desde o século XVI ao século XX (Apênd Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Porto e Aterros Vias, Transportes e Limites Infraestrutura 1549: Tomé de Souza – 1º Governador Geral do Brasil – Fundação de Salvador 1560-1567: Mem de Sá, 3º Governador do Brasil 1580-1640: período filipino 1536: “Francisco Pereira Coutinho, 1º. Donatário da Bahia. Sua Fortaleza, Povoação e Sesmaria”, documento 1549: Planta de Restituição de Salvador, por Theodoro Sampaio (1949) 1550-1570: “Arredores da Cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos” restituição de Theodoro Sampaio, em 1949 – registradas as localidades de Vila Velha,Graça e Vitória, Rio Vermelho, aldeia de São Paulo (Brotas) 1551: Carta do mestre de obra Luís Dias (a parte baixa da cidade tinha apenas uma rua) 1583: Cardim descreve a cidade 1587: publicada a 1ª descrição geral da cidade por Gabriel Soares de Souza “...da banda do norte tem as casas do negócio da Fazenda, alfândega e armazéns,...” 1549: Fundação da cidade e uma única rua na Cidade Baixa, onde foram implantados os primeiros prédios ligados ao porto 1551:cerca de muros de taipa com “dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra” (Soares de Souza,1987:129-30); Crescimento inicial em forma linear; segundo Luis Dias: construção de moradias da Ribeira do Goes até o pé da Lad. da Preguiça; construção do baluarte de Santa Cruz na Ribeira dos Pescadores 2ª metade séc.: ancoradouro como porto 1549: a área do porto, na Ribeira do Góes foi protegida por um baluarte de madeira, em cima de um rochedo (Mapa de 1638) 1550: um estaleiro já funcionava na Ribeira do Góes, em frente à ermida da Conceição 1591: o novo estaleiro e o arsenal foram concluídos 1549-1553: Abertura da Lad. da Conceição e da Preguiça 1587: da Praça principal desciam d caminhos em direção à Cidade Ba 1624: 1ª invasão holandesa – demoliram 2 fortificações, construíram o 1º dique e traçaram as bases de novas fortificações; ocupação do Forte de São Marcelo pelos holandeses 1638: ataque comandado por Nassau 1640: os governantes passam a ter o título de Vice-Rei 1654: Capitulação dos holandeses em Pernambuco 1653: as terras da cidade foram tombadas 1689: Revolta dos Terços (atraso de 9 meses do pagamento da tropa) 1600: “Cidade do Salvador com o litoral da Preguiça no Ano de 1600”, reconstituição do séc.XX, vista a partir do mar (Paulo Lachenmayer, Wanderley Pinho) 1605 (publicada em 1625): 1ª planta conhecida de Salvador, de João Teixeira Albernaz I, mostra a cidade 2x maior que em 1549 com seus limites 1609: Relatório e iconografia de Diogo Moreno 1609-1612(e): “Perfil da Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos...”, 1º. perfil da cidade, atribuída ao Eng. Cristóvão Alves (construções baixas e proporções reduzidas de algumas igrejas, Conceição da Praia ainda sem torre) 1610:1º relato de um viajante estrangeiro, Pyrard de Laval 1612: “Livro que dá razão ao Estado do Brasil”, por Diogo de Campos Moreno (visão do sistema defensivo da cidade) 1624: Estampa (fronstispício) “S. Salvador”, Ilustração do Roteiro do Rico Brasil (Reys-Bock...), autor 1605: cidade de traçado relativamente regular, respeitando a topografia acidentada 1623: criada a freguesia da Conceição da Praia, confirmando o desenvolvimento da parte baixa da cidade 1640-1650: primeiras trincheiras fora dos muros (expansão da cidade) (Pinheiro Lobo) 1671: desabamento na Lad. da Conceição e na Misericórdia 1693: as trincheiras da cidade foram refeitas 1695: primeira provisão de alinhamento estabelecida, visando “evitar os danos e torturas das ruas em que se fazem casas ordinariamente nos arrebaldes...” estipulando 30 dias de cadeia 1650-1763: período em que foram implantados os principais edifícios do conjunto arquitetônico e urbanístico de caráter monumental 1651: autorizada a construção do Arsenal da Marinha, onde a partir de 1717 uma provisão real determinou a construção de um navio c/ 60 canhões por ano com os recursos da dízima da Alfândega 1655: início do Estaleiro Real c/ a construção de naus de grande dimensão 1676: Dellon, em sua visão de conjunto, mostrou o porto como um dos maiores e cômodos do oceano, uma grande baía e observa pesca de baleias 1696: todo comércio era feito em navios portugueses (Dampier, viajante) 1610: “havia um mecanismo que descia e subia as mercadorias” (La 1626: As Carmelitas solicitaram sesmarias na Cid. Baixa para insta seu guindaste 1628: Fonte dos Padres, no Taboã foi remodelada com a construção d bicas 1699: os escravos tinham a função cavalos e transportavam as mercadorias mais pesadas 87 5.5.2. Processo de Conversão de Dados O processo de conversão de dados utilizado na elaboração deste trabalho foi classificado com base no tipo do resultado que produziram: dados raster ou vetoriais. 5.5.2.1. Dados raster Imagens descritas pelo conjunto de células em um arranjo espacial bidimensional, ou seja, uma matriz (AZEVEDO; CONCI, 2003, p. 15). Os dados raster também são chamados de bitmap, que significa mapa de bits em inglês. Neste trabalho, alguns dados raster já existiam e outros tiveram que ser obtidos através da aquisição de imagens por fotografia digital e scanning. Após esta conversão, algumas passaram por processamento através de técnicas de tratamento e utilização de filtros. Outras passaram pelo processo de registro de imagens, também chamado de georreferenciamento. Fotografia digital A fotografia digital é uma forma rápida e eficiente de obterem-se dados raster. A máquina fotográfica digital gera arquivos de imagem que podem ser gravados em diversos formatos (neste caso, jpg ou tif). Estas imagens são posteriormente editadas, em programas de tratamento de imagens, como o Adobe Photoshop e, em seguida, inseridas como dado raster, em programas que usam tecnologia SIG, como o ArcMap, extensão do ArcGIS. Este tipo de fotografia foi utilizada, especificamente, para capturar uma informação muito importante para a pesquisa – a digitalização da Planta de Salvador de 1779. A planta original encontra-se dividida em seis partes, no Arquivo Histórico do Exército, todas individualmente aplicadas sobre cartolina, com tamanho um pouco maior do que as partes. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 88 Dessa forma, para reproduzir o mapa, foi necessário montar um tripé como suporte para posicionar a máquina digital com precisão e distância adequadas. A máquina digital foi configurada para utilizar sua maior resolução, ou seja, 7,2 megapixels, contra a luz matinal natural procedente da janela. Cada uma das seis partes foi posicionada, em frente da máquina na posição vertical, em uma distância constante em relação à máquina. Assim, foram retiradas as seis fotografias digitais. Em seguida, foram anotadas todas as referências bibliográficas do Mapa, assim como sua escala gráfica. Posteriormente, no laboratório, foi realizado o tratamento individual de cada imagem fotográfica. Em seguida, foi realizado o georreferenciamento das imagens sobre a base cartográfica digital de 1991, complementada pelas fotos aéreas verticais coloridas de 2002, que serviu como referência. Este processo resultou em uma imagem montada, contendo todas as seis partes do original, que precisou passar novamente pelo processo de tratamento de imagem, no programa Adobe Photoshop, obtendo-se uma imagem única com aproximadamente 5500 x 2800 pixels. Scanning59 de imagens A digitalização de dados raster é automática, através do uso do scanner, como dispositivo de entrada. Seu nível de precisão depende da resolução do sensor ótico do scanner e da qualidade do documento original. O scanner mede a reflectância de cada pixel. Quanto maior o pixel, mais rápida é a rasterização e menor a quantidade de dados processados. Ao contrário, quanto menor o pixel, maior a resolução espacial, e conseqüentemente, o processo de rasterização torna-se mais lento, gerando ainda um volume maior de dados. Para esta pesquisa, o processo de rasterização do Atlas Parcial da Cidade do Salvador de 1956 foi realizado com a configuração de 600 dpi na resolução do scanner, para que houvesse nitidez, na leitura dos dados, após a digitalização. Para garantir a melhor reprodução, o atlas foi desencadernado e suas folhas foram digitalizadas, individualmente, em um scanner de formato A4 - mesmo formato da folha original. 59 Scanning – rasterização. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 89 Dessa forma, pôde-se garantir o mínimo de deformação no processo. Em seguida, as informações do tipo raster foram georreferenciadas no programa ArcMap. Georreferenciamento e retificação de imagens Dados provenientes de scanning ou de fotografias aéreas nem sempre contêm referência espacial. Por isso, para utilizá-los em conjunto com outros dados espaciais, é preciso georreferenciar a imagem. O processo de georreferenciamento de dados raster também é chamado de retificação ou registro. É feito, através do alinhamento digital da imagem, por meio de pontos de controle (mínimo de três), associados, ponto a ponto, a um sistema de coordenadas geográficas, que são coletadas em uma base vetorial existente, ou seja, pontos de localização conhecida, para facilitar a visualização. Podem equivaler às interseções de vias e arestas de edificações. O sistema de coordenadas de um mapa é definido, usando uma projeção cartográfica (um método em que a superfície curva da Terra é desenvolvida em uma superfície plana). Em seguida, o programa ArcMap realizou o ajuste da imagem. Esse processo corrige a imagem fotográfica e adiciona um sistema de coordenadas geográficas. Georreferenciar dados raster permite que sejam visualizadas, questionadas e analisadas com outros dados geográficos. No caso das fotos aéreas verticais de Salvador, já georreferenciadas, somente foi necessário converter os dados para um padrão compatível com o software utilizado, mantendo as referências geográficas existentes. Em geral, quanto maior a sobreposição entre a imagem e o “mapa alvo”60, melhores são os resultados do processo, porque há um número mais abrangente de pontos para georreferenciar esta imagem. Pode-se inferir que a imagem georreferenciada é somente tão acurada quanto a base utilizada como referência. Para minimizar erros, é importante utilizar referências com a mais alta resolução e maior escala possível, de acordo com as necessidades do estudo. 60 “Mapa alvo”, nesse contexto, refere-se ao mapa-base de maior precisão, utilizado como referência para o registro da imagem em um processo de georreferenciamento. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 90 Durante a pesquisa, foi necessário georreferenciar os mapas de 1956, 1894, 1779 e 1638. Em seguida, também foi realizada a retificação, ou seja, a transformação de forma permanente de cada imagem georreferenciada. Ao retificar um mapa, cria-se um novo arquivo raster que contém o registro das coordenadas geográficas do mapa alvo. Este pode ser salvo como arquivo de imagem com extensão tif. Não é um processo obrigatório para o ArcMap, pois este permite a visualização do mapa georreferenciado, mesmo sem ter sido retificado. Neste trabalho, foi importante utilizar o processo de registro para que pudesse ser feito o tratamento da imagem resultante, posteriormente, em outro pacote de software, que, normalmente, não reconhece as informações do registro de coordenadas geográficas, criado pelo ArcMap. Neste caso, foi utilizado o Adobe Photoshop. Figura 28 – Processo de georreferenciamento do Mapa de 1779. Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Coleta de fotografias aéreas As fotografias aéreas verticais da CONDER foram utilizadas como base de informação para atualização e conferência dos dados da base SICAR de 1991, assim como parte da referência ou “mapa alvo” para o processo de registro dos mapas de 1956, 1779 e 1638. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 91 A CONDER divulga o conteúdo do Sistema de Informações Geográficas Urbanas do Estado da Bahia (INFORMS), através de seu website61. O sistema é composto por dados gráficos, alfanuméricos e imagens, agrupados em cinco segmentos: dados cartográficos, de cadastro técnico, demográficos e socioeconômicos, institucionais e físico-ambientais. As fotografias aéreas verticais do Sistema Cartográfico da RMS, utilizadas neste trabalho, foram adquiridas em formato digital jpg. As mais atuais são disponibilizadas, coloridas, na escala de 1:8.000, datadas do ano 2002. Também foram utilizadas, como referência, as fotografias em preto e branco, na escala de 1:8.000, datadas do ano 1998. 5.5.2.2. Dados vetoriais Dados vetoriais são compostos por pontos referenciados a sistemas de coordenadas e podem formar linhas e polígonos. Em um Sistema de Informações Geográficas, representam feições. Estas são associadas a um conjunto de atributos que define sua aparência e a um conjunto de dados que define sua geometria. Foram obtidos, a partir da base de Cartografia Sistemática da SICAR/RMS e dos dados cadastrais gerados pela CONDER, contendo dados de planimetria e altimetria, disponibilizados pelo LCAD. A técnica de vetorização manual, em tela, foi utilizada para registrar as poligonais das edificações sobre os mapas antigos, utilizando a extensão ArcMap do ArcGIS. A seleção das feições foi feita, visualmente, sobre a tela do computador, tomando-se como critério desenhar apenas aquelas diferentes da base cadastral da SICAR de 1991. A maior parte dos dados raster e vetoriais foi disponibilizada pelo LCAD/FAUFBA, levantados em pesquisas anteriores. Estes dados apresentam-se, no Quadro 2, que mostra, para cada tema utilizado na modelagem, a sua fonte, mídia, tipo, formato, em que se encontra, escala, sistema cartográfico e data de atualização, permitindo uma visão geral dos dados utilizados no sistema proposto. 61 Disponível em: <http://www.conder.ba.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2006. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 92 Quadro 2 – Dados utilizados na modelagem do sistema. Fonte Mídia Tipo Formato Escala Sistema cartográfico CONDER Digital raster JPG 1/8000 ** Data de atualização 2002 LCAD* LCAD* LCAD* LCAD* UTM/SAD 69 UTM/SAD 69 UTM/SAD 69 UTM/SAD 69 1991 1991 1991 1991 LCAD Digital vetorial AutoCAD 1/1 *** Sistema viário LCAD* Digital vetorial MapInfo 1/5000 UTM/SAD 69 * Base digitalizada a partir das folhas SICAR/CONDER, 1991. ** Escala de vôo. *** Planta digitalizada a partir de (CÂMARA, citado por SAMPAIO, 2005, p. 48). 2004 Tema Foto aérea colorida de Salvador Limite SSA Edificações Quadras Mapa Topográfico de Salvador Aterros 5.6. Digital Digital Digital Digital vetorial vetorial vetorial vetorial MapInfo MapInfo MapInfo MapInfo 1/12500 1/5000 1/5000 1/12500 1991 INTERPRETAÇÃO DA ICONOGRAFIA A interpretação da iconografia antiga levou em consideração os conceitos utilizados em análise visual urbana. São instrumentos, que ajudaram a estabelecer diretrizes para representação digital e que podem gerar desdobramentos para estudos de intervenção urbana, avaliação de desempenho e impacto visual. Segundo Kohlsdorf (2000, p. 48-96), no que diz respeito mais estritamente à morfologia do espaço urbano, os instrumentos de análise devem considerar a maioria dos elementos possíveis que a constituem. Além dos elementos arquitetônicos, deveriam ser considerados também, elementos do sítio físico, como relevo, vegetação e águas de superfície; o traçado urbano, em termos de malha, espaços construídos, abertos e semi-abertos, macro e microparcelamento; as silhuetas internas e externas, produzidas pelos planos verticais; as relações intervolumétricas entre os edifícios e destes com o espaço público; além de elementos complementares como veículos de propaganda, de sinalização e mobiliário urbano. Enfim, a estrutura do espaço, em termos das unidades morfológicas, que contém e das diversas temáticas configurativas, que apresenta, inclusive, com relação às conexões visuais e físicas que estas mantêm entre si e com o entorno. As fontes iconográficas foram de extrema importância durante a pesquisa, principalmente, para extrair informações sobre altura e volumetria das edificações do tecido urbano antigo e não mais existente, mudanças na configuração urbana e na morfologia. Foi utilizada a técnica de análise seqüencial, nas vias mais relevantes do bairro do Comércio, com o objetivo de levantar informações das edificações para a atualidade, confirmando dados relativos à Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 93 permanência, transformação ou inexistência das mesmas. Além disso, pôde-se verificar a tipologia das edificações e inferir o período em que foram construídas. Esta técnica foi adaptada da metodologia de análise espacial descrita em Kohlsdorf (1996, p. 80), que se apóia sobre uma série de eventos agrupados em três conjuntos, descritos a seguir: Eventos gerais: são as estações das seqüências – momentos durante o trajeto onde há registro perceptivo, correspondem à seleção de instantes e pontos de observação. A velocidade do observador estabelece parâmetros à quantidade de estações. No caso, a seqüência foi filmada a partir de um carro em movimento e as estações demarcadas em função dos estímulos visuais durante o percurso, obtendo-se intervalos diferentes; Campos visuais: porção de espaço, em forma de cone, abrangida pela vista do observador em cada estação, sendo três campos principais: frontal, lateral esquerdo e lateral direito; Efeitos visuais: a maneira como a realidade chega à percepção, através da busca das superfícies estruturais da cena através de representações topológicas e perspectivas. Os efeitos topológicos podem ser de alargamento e estreitamento; envolvimento e amplidão; alargamento e estreitamento lateral. Os efeitos perspectivos são de direcionamento; visual fechada; impedimento; emolduramento; mirante conexão; realce e efeito em “Y”. Figura 29 – Análise seqüencial e percurso. Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 94 A partir de uma filmagem com câmara digital em um carro em movimento, essas seqüências foram capturadas e, posteriormente, associadas aos eixos de logradouros da base cartográfica da área do Comércio. Assim como também foram definidas as estações, de acordo com os pontos de observação onde havia informações visuais relevantes. As filmagens foram agrupadas por nomes de ruas, equivalendo aos percursos da análise seqüencial. Fazendo uma análise, em câmera lenta de cada vídeo, puderam-se perceber as características visuais de cada rua no Comércio. Esse recurso também foi necessário para identificar os blocos de edificações das áreas com menor informação no modelo digital mais atual e identificar, especificamente nelas, suas características tipológicas que pudessem trazer subsídios para estimar o período em que foram construídas. Esses dados empíricos foram confirmados através de visita orientada no campo e entrevista com o Professor Francisco Sena. Além disso, os dados também foram cruzados com informações sobre os períodos dos aterros. Durante a elaboração da modelagem conceitual do sistema, os elementos estruturais da imagem urbana formaram a base dos modelos digitais, dentre eles, as vias, os setores, os limites, os pontos focais e os marcos visuais. Em alguns casos, o elemento correspondeu à uma feição específica do modelo com seus atributos, como por exemplo, as vias que corresponderam aos eixos de logradouros e os marcos visuais que corresponderam às edificações-marco. A interpretação da iconografia antiga ocorreu de forma simultânea ao desenvolvimento dos modelos digitais, perfazendo os seguintes procedimentos metodológicos para cada um dos cinco modelos digitais gerados: 1) Feições planimétricas: poligonais, representando os edifícios com seus respectivos atributos. Foram transformadas em volumes através do processo de extrusão, utilizando a informação de altura contida no atributo “altura” das edificações. Foram visualizadas na extensão ArcScene do ArcGIS; 2) Feições de superfície: modelo digital de terreno (MDT), gerado por interpolação das curvas de nível de cinco em cinco metros; Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 95 3) Feições tridimensionais: edificações-marco, modeladas no programa SketchUp, no nível de detalhe intermediário (LOD2), com aplicação de texturas e exportadas para o ArcScene como multipatch; 4) Representação da superfície: sobre o MDT aplicaram-se as imagens que serviram de mapas-base, de acordo com cada século representado: Foto aérea vertical colorida de 2002; Mapa cadastral de 1956; Mapa de 1894; Mapa de 1779; Mapa de 1638 5) Representação tridimensional: a informação sobre altura é um atributo do objeto edifício, onde o campo “altura” é baseado no número de pavimentos de cada edificação multiplicado pela altura estimada de cada pavimento e para cada século (antes do século XX, os pavimentos foram estimados com quatro metros de altura e a partir de 1930, passaram a ser estimados com três metros de altura); 6) Interpretação da iconografia: fotografias, postais, perfis ilustrados e mapas antigos foram fontes importantes de dados para interpretação volumétrica da configuração urbana de cada período. Tomou-se como base o formato da planta da edificação, constante na planta cadastral de cada século, em comparação com as fotos antigas do mesmo local, permitindo estimar a altura e a data de início e fim da edificação existente em determinado lote; 7) Interpretação documental: documentos textuais auxiliaram na confirmação de dados obtidos na interpretação iconográfica, pois, muitas vezes, descreviam o período, as edificações e a tipologia das mesmas, como por exemplo, descrições da paisagem urbana feitas por viajantes e alguns dados dos Censos Eclesiásticos de 1718/1724, 1757, 1759, 1774 e 1810, citados por Vasconcelos (2002); 8) Apreensão da forma do espaço urbano: comparando com a base cadastral atual, foram percebidos alguns amembramentos de lotes e construções de edificações de maior número de pavimentos, mudando a configuração urbana da área e, principalmente, a silhueta interna e externa das quadras, vista a partir das vias e também do mar. Muitas praças foram implantadas, no início do século XX, diferenciando o traçado urbano com a reserva de espaços abertos e semi-abertos, preenchidos por vegetação, como por exemplo, a Praça Marechal Deodoro, em 1910; a Praça Visconde de Cayru, em 1914 e a Praça da Inglaterra, por volta de 1920; Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 96 Figura 30 – Parte do mapa base de 1956 mostrando as edificações de séculos diferentes. Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Figura 31 – Parte do mapa base de 2002 mostrando as edificações de séculos diferentes. Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Algumas observações foram registradas durante a execução desses procedimentos. A maior diferença percebida, entre os mapas de 1894 e de 1956, foram as novas construções edificadas nos aterros, principalmente, a partir da grande renovação do porto, em 1906, a qual modificou, definitivamente, a paisagem urbana do bairro, visto a partir do mar. Dentre as modificações ocorridas, há a construção dos armazéns do porto, logo após o término do aterro iniciado em 1920, que engloba as atuais Avenida Estados Unidos e Avenida da França; e a construção do Instituto do Cacau, em 1936, primeiro prédio em estilo modernista e o único na área aterrada durante alguns anos. Figura 32 – Fase de interpretação iconográfica: identificação dos edifícios-marcos e quadras sem construção no, bairro do Comércio, séc. XX, década de 30. Fonte: CEAB Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 97 Figura 33 – Edificações até 1936 e atlas de 1956, aplicado sobre MDT. Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2007. Através da fotografia da década de 1930 (Figura 32), percebem-se, ainda, a existência do antigo Mercado Modelo, os quarteirões do aterro, realizado entre 1920 e 1940, ainda vazios, a existência do armazém no1 e a predominância de edificações de meia altura (até cinco pavimentos) na área do Comércio. Em contorno na cor laranja, as edificações-marco que aparecem nessa fotografia. 5.7. MODELAGEM GEOMÉTRICA TRIDIMENSIONAL Foi realizada a modelagem geométrica tridimensional das edificações-marco, com o objetivo de tornar os modelos digitais mais legíveis, ou seja, mais fáceis de interpretação para os possíveis usuários do sistema. A escolha desses marcos, também chamados de ícones, foi feita, a partir de uma análise visual perceptiva do espaço urbano, em conjunto com informações culturais locais. Para o século XX, foram escolhidos o Mercado Modelo, a Igreja da Conceição da Praia, o Elevador Lacerda, a Escultura de Mário Cravo, a Associação Comercial, o Instituto do Cacau, o Forte de São Marcelo, o Palácio dos Governadores e a Câmara dos Vereadores. Todos estes são marcos que permaneceram no tecido urbano desde a construção de cada um deles até os dias de hoje. Como existem modelos digitais, que representam cada século, as edificações-marco também tiveram que ser modeladas, segundo suas características predominantes nestes períodos, como por exemplo o Elevador Lacerda, com forma e volumetria bem diferente do seu original, o antigo Elevador Conceição-Parafuso, inaugurado em 1873. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 98 A escolha do programa para fazer a modelagem geométrica tridimensional foi baseada na sua compatibilidade com o ArcGIS, utilizado desde o início do estudo. Portanto, o Google SketchUp foi escolhido por ser um programa caracterizado pela sua facilidade e rapidez no manuseio, além de possuir essa interrelação com o ArcGIS da ESRI. Isso é possível, através de um plugin de exportação de arquivos em formato mdb, que registra as coordenadas geográficas aos modelos, chamado ArcGis Plugin. Além disso, foi utilizado outro plugin, chamado GML Texturizer. Sua função é ajustar e aplicar fotografias das fachadas às faces correspondentes no modelo no SketchUp, de forma simples e com relativa precisão. Este plugin foi testado e verificou-se sua aplicabilidade, mas ainda não é compatível com o ArcGIS – durante a exportação perdem-se os bitmaps aplicados. Contudo, pode-se resumir o processo de modelagem geométrica tridimensional, aplicada neste trabalho, da seguinte forma: 1) Exportação das poligonais da feição EDIFICAÇÕES-MARCO, a partir da base cartográfica existente, do ArcMap/ ArcGIS para o SketchUp, através do ArcGIS plugin, que transfere as coordenadas geográficas das poligonais; 2) Modelagem geométrica 3D das edificações-marco, utilizando essas poligonais como referência, no SketchUp, mantendo a posição geográfica dos modelos sólidos gerados; 3) Aplicação de cores básicas e/ou texturas nos modelos; 4) Agrupamento individual de cada modelo; 5) Exportação como arquivo em formato mdb para o ArcScene, como uma feição multipatch; 6) Abertura do arquivo em formato mdb no ArcMap; 7) Edição da tabela de atributos, inserindo os dados de cada campo de informação. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 99 Figura 34 – Edificações-marco com modelagem no nível de detalhe intermediário LOD2. Elaboração: Heliana F M. Rocha – 2007. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 100 6. VISUALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES O ponto crítico na investigação qualitativa não é tanto acumular dados, mas “filtrar” a grande parte dos dados que acumula. A solução está em descobrir essências e revelar essas essências com suficiente contexto, sem contudo ficar obcecado em incluir tudo o que potencialmente é passível de ser descrito. (WOLKOT, 1990, citado por STAKE, 1995, p. 84) A visualização de informações foi um dos produtos deste trabalho, permitindo maior entendimento e conhecimento do espaço físico e urbano da área estudada. Está apresentada, principalmente, através de “Mapas e Modelos Temáticos”, em separado. Estes podem ser utilizados, simultaneamente, na interpretação dos dados, pois somente em conjunto, demonstram aproximadamente, a visualização interativa que pode ser manipulada na tela do computador. Para a análise espacial urbana, foi empregada a técnica da sobreposição de camadas (overlay) utilizando-se, inicialmente, o aplicativo ArcMap, do ArcGIS, que é um programa gerenciador de bancos de dados geográficos de grande porte, que executa seleções e operações de análise espacial relacionadas ou não a dados alfanuméricos. O aplicativo ArcMap permite trabalhar com informações bidimensionais, enquanto a extensão ArcScene, com as tridimensionais. A preparação da apresentação impressa dos “Mapas e dos Modelos Temáticos” foi realizada, no ArcMap, através do recurso de visualização de Layout. É simulado um formato de papel e inseridos os elementos necessários para apresentação de produtos de informação geográfica, como legendas, coordenadas geográficas e escalas, de forma semi-automática. 6.1. MAPAS TEMÁTICOS Os mapas temáticos são visualizações cartográficas bidimensionais que representam temas específicos. São gerados, a partir de consultas e classificações à base de dados, que podem ser feitas, em separado ou simultaneamente, permitindo análises mais ou menos complexas, que exigem legendas e observações específicas. Os mapas, a seguir, apresentam os dados usados na análise espacial e a síntese das consultas realizadas, com legendas que mostram a classificação por período de tempo de existência das edificações e dos aterros ocorridos, sucessivamente, na Cidade Baixa, da mesma forma que serão apresentados os “Modelos Temáticos” tridimensionais no próximo subitem. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 101 Os “Mapas Temáticos” estão apresentados, de forma ordenada, em formato A3, com a seguinte descrição: Mapas Temáticos 01 a 05: Referem-se a cada século estudado, com seus respectivos mapasbase e a camada dos aterros, com nível de transparência de sessenta por cento. O comentário sobre a interpretação dos dados está mais detalhado, no próximo item, que se refere aos “Modelos Temáticos”, pois foi desenvolvido com base na análise de ambas as informações bi e tridimensionais. Mapa Temático 06: “Transformações e Permanências” Refere-se às edificações de todos os períodos, sendo distinguidas por hachuras e níveis de transparência. Este equivale a um “Mapa da Evolução da Ocupação Urbana”, visualizando-se as edificações de todos os séculos de forma conjunta. Este mapa apresenta o atributo “tempo”, nesse caso, “ano de início” - da existência da edificação - em hachuras com dez por cento de transparência, sobrepostas às cores das edificações de existência mais recente. Assim, podemse visualizar aquelas que sofreram transformações ou as que permaneceram sem alterações ao longo dos séculos estudados. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 102 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 103 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 107 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 107 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 107 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 107 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 108 6.2. VISUALIZAÇÕES TRIDIMENSIONAIS Os Sistemas de Informações Geográficas geram “Mapas Temáticos” como produtos de visualização cartográfica. Outro produto, de igual importância, são as “Visualizações 3D”, que podem ser visualizados, de forma interativa, diretamente na tela do computador, utilizando o aplicativo ArcScene do programa ArcGIS ou através da visualização dos cenários escolhidos em mídia impressa. O cruzamento de informações foi realizado, através de consultas de seleção e de classificações, visualizadas por um conjunto de modelos temáticos com o propósito de auxiliar no estudo das transformações da paisagem urbana no Comércio. Neste trabalho, cada visualização 3D consiste em uma representação digital, aproximada da paisagem urbana da cidade para cada ano determinado. As edificações são classificadas, qualitativamente, pelo dado “ano de início”, referindo-se ao ano de sua inauguração, algumas vezes, estimado. Os intervalos de tempo entre os mapas pesquisados equivalem aos cinco séculos representados. Estas são consultas lógicas (querys) que restringem a visualização de acordo com o período escolhido ou com tema específico. As edificações são representadas em três dimensões em um nível de detalhe intermediário, mais especificamente “LOD-1”, ou seja, através de modelo de blocos caracterizados por telhados de forma plana e precisão de cinco metros, tanto na posição quanto na altura. A visualização desses blocos tridimensionais é feita, no programa ArcScene, que utiliza o atributo “Altura” da edificação, no processo de extrusão das poligonais, em planta das edificações. Já as edificações, consideradas como “marcos”, estão representadas em um nível de detalhe também intermediário, mas um pouco mais detalhado como o“LOD-2”, através de modelos geométricos, caracterizados por tipos específicos de telhados, aberturas, fechamentos e precisão de dois metros, para posição e altura. Estes “Modelos Temáticos” são tridimensionais e estão apresentados, a seguir, de forma ordenada. Estão em formato de papel A3, classificados por legenda de cores, referente ao período de existência das edificações e dos sucessivos aterros ocorridos na Cidade Baixa. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 109 Apresentam-se, em cronologia inversa, do ano 2002 para o ano 1638, retornando à intenção de manter uma precisão relativa e uma melhor compatibilidade entre as bases cartográficas. Em todos os modelos temáticos, o dado iconográfico referente a cada ano estudado foi utilizado como mapa-base, em formato raster, aplicada ao modelo digital de terreno. Cada visualização 3D tem um comentário de interpretação, onde são especificados dados sobre: Ano de referência: refere-se ao ano representado; Dados cartográficos : referem-se aos dados utilizados; Fonte: referência bibliográfica ou localização do dado; Classificação: refere-se ao tipo de classificação, realizada no ArcGIS; Consulta: refere-se ao tipo de consulta lógica gerada pelo ArcGIS. Visualizações 3D - 07 a 11: Referem-se a cada século estudado, com seus respectivos mapasbase e a camada dos “Aterros”, com transparência de sessenta por cento, descritos detalhadamente a seguir. Visualizações 3D - 12 a 14: Referem-se a classificações e consultas específicas à base de dados. 07 – Ano 2002 Mapa-base: Foto aérea vertical colorida de 2002, aplicada sobre MDT Referência: CONDER Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo, através de cores Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 2002 AND NOT [Fim] < 2002 Nota-se a presença de edificações com as cores de todos os séculos estudados, comprovada in loco pela existência de exemplares de cada período da história urbana da cidade: coloniais, ecléticas (neoclássicas, art déco, art noveau), modernistas, brutalistas, dentre outras. Visualiza-se o Elevador Lacerda, como edificação-marco, a partir de 1930. Muitas das novas edificações, em sua maioria construídas na década de 1970, têm onze pavimentos, ou seja, em torno de trinta e três metros de altura, escondendo metade do desnível da encosta. A análise da transformação do perfil da cidade comprova o crescimento deste bairro comercial desde o século XVIII e a análise detalhada do estado de conservação das edificações comprova a sua decadência Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 110 durante o século XX. Motivo este que, de certa forma, conservou exemplares tão distintos em uma área bem delimitada. Atualmente, as edificações-marco têm, essencialmente, caráter turístico, como por exemplo o Mercado Modelo, a Fonte da Rampa do Mercado (também conhecida como “escultura de Mário Cravo”) e o Elevador Lacerda. 08 – Ano 1956 Mapa-base: Atlas Parcial da Cidade do Salvador de 1956 (digitalizado pela autora) aplicada sobre MDT Referência: PMS Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 1956 AND NOT [Fim] < 1956 Layer ATERROS: [Fim] ≤ 1940 Notam-se edificações de cor amarela (1551-1638), verde-claro (1639-1779), verdeescuro (1780-1894) e azul-claro (1895-1956). Todos os aterros, até 1940, estão representados pelas cores relativas aos períodos de ocorrência, segundo a legenda. Verificam-se terrenos ainda vazios na área aterrada mais recente (1920-1940) e a implantação dos Armazéns do porto ao longo do cais. Edificações de maior porte surgem entre as edificações de períodos anteriores, contrastando em altura e proporção. A área, atrás da Alfândega, já se apresenta desocupada, conforme reformas do período do governo de J.J. Seabra (1912-1916), que também influenciou no formato das novas edificações reconstruídas sobre quarteirões antigos, com quinas chanfradas e, em sua maioria, de características ecléticas. Em relação à encosta e ao mar, antes, eram totalmente visualizados pelos viajantes (que vinham do mar) e pelos pedestres (que circulavam no bairro do Comércio). Neste período, ambas as visuais começavam a sofrer transformações que continuam presentes na paisagem natural e urbana da cidade. 09 – Ano 1894 Mapa-base: “Planta da Cidade do Salvador”, por Adolfo Morales de Los Rios aplicada sobre MDT Referência: Reprodução do livro “Grande Salvador, Posse e Uso da Terra”, 1978 Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 1894 AND NOT [Fim] < 1894 Layer ATERROS: [Fim] ≤ 1860 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 111 Notam-se edificações amarelas (1551-1638), verde-claras (1639-1779) e verde-escuras (1780-1894). O mapa de Los Rios destaca os prédios públicos, em vermelho e os religiosos, em preto, facilitando a correspondência com o modelo digital e registra, como já ocupados, os dez quarteirões novos ao longo do cais, onde os comerciantes implantaram prédios de padrão uniforme, com cinco andares, antes dos aterros para ampliação do porto (Figura 17), na atual Rua Miguel Calmon. Também são desse período a ponte da Lloyd, o Plano Inclinado, a Ladeira da Montanha concluída e o Arsenal da Marinha. Quatro períodos de aterro são visualizados, conforme a legenda. Na Cidade Baixa, somam-se às edificações-marco, a Alfândega e o prédio da Bolsa (Associação Comercial). O Forte de São Marcelo já se encontra semelhante à sua forma atual, com sua muralha circundante aumentada (OLIVEIRA, 2004, p. 212). Na encosta, visualiza-se o Elevador Hidráulico Conceição-Parafuso (Elevador Lacerda) em seu aspecto antigo, datado de 1873. 10 – Ano 1779 Mapa-base: “Planta Ichonografica da Cidade de Sam Salvador na Bahia detodos os Santos...” (atribuída à Caldas, por OLIVEIRA (2004, p. 127 e 128)) aplicada sobre MDT Referência: Planta digitalizada pela autora, do original encontrado no Arquivo Histórico do Exército - AHEx, Rio de Janeiro Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 1779 AND NOT [Fim] < 1779 Layer ATERROS: [Fim] ≤ 1801 Nota-se a presença de edificações de cor amarela (1551-1638) e verde-claro (16391779). Na Cidade Alta, destacam-se a Igreja da Sé, concluída desde 1694, com uma de suas torres demolida em 1757 e a Praça Municipal, composta pelo Palácio dos Governadores, Casa de Câmara e Cadeia, Casa da Moeda e Tribunal da Relação. Dois períodos de aterros já estão representados nas cores vermelho (1550-1630) e laranja (1631-1715), mostrando o avanço da cidade para o mar e a construção de casas de até quatro pavimentos nos novos quarteirões, intercalados com alguns armazéns e trapiches. Na Cidade Baixa, destacam-se a Igreja da Conceição da Praia, já com seu aspecto atual desde 1765 e o forte de São Marcelo, ainda com sua torre central em evidência. O crescimento do bairro do Comércio ainda não compromete a visão da encosta, comprovado por Caldas em seu Frontispício de 1758 e Planta de 1777, cruzados com o Perfil de 1779, de Carlos Julião, tendo como base a referida Planta de 1779. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 112 11 – Ano 1638 Mapa-base: “Desenho das forteficações e trincheiras que se fizerão em deffença do inimigo”, planta das fortificações de Salvador em torno de 1638, do acervo do Museu Algemeen Rijkarchief de Haia, Holanda, pelo Engenheiro militar português desconhecido, aplicada sobre MDT Referência: OLIVEIRA, 2004, p. 202 e 203 Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 1638 AND NOT [Fim] < 1638 Nota-se que as edificações têm cor amarela, representando o período, em que foram construídas, entre 1551 e 1638. A malha urbana da Cidade Alta já está definida, onde se concentram edificações públicas e religiosas com maiores dimensões. Na Cidade Baixa, prevalecem as fortificações militares, assim como “casas de fazendas e Alfândega, armazéns e ferrarias” (Luís Dias), localizadas próximas à encosta, com uma média de dois pavimentos, ou seja, oito metros de altura, resumindo-se a uma única rua. A encosta de sessenta metros de altura é totalmente visível, a partir do mar, com a paisagem natural predominando sobre a urbana. Uma das edificações de destaque é o Forte da Laje (da Ribeira, de São Felipe ou de São Tiago), ainda envolto pelo mar. Também são identificadas as estâncias de São Diogo e Santo Alberto, baseadas no cruzamento de dados da gravura “Sanct Salvador” de 1627, de Hessel Gerritsz, onde a artilharia é mostrada com a fumaça do disparo dos canhões e o Relatório de 1609, anterior ao Livro que da Razão, de Diogo Moreno. (citado por OLIVEIRA, 2004, p. 179). 12 – “Transformações e Permanências” Classificação em cores, distinguindo as edificações por período, com ou sem sobreposição de edificações “fantasmas”62 dos séculos anteriores. Mapa-base: Referência: Classificação: Consulta: Foto aérea vertical colorida de 2002, CONDER aplicada sobre MDT CONDER Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Layer EDIFICAÇÕES: [Fim] < 2002 = transparentes 62 A expressão “Edificações fantasmas” foi o termo criado nesta pesquisa para descrever aquelas edificações que existiram, em um certo espaço e período de tempo, mas que não existem mais, e estão sendo visualizadas em períodos posteriores. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 113 As transformações e permanências, registradas até o momento atual, são visualizadas, através da representação com grau de transparência das edificações não mais existentes, como edificações “fantasmas”, permitindo uma análise mais específica. Este modelo apresenta o atributo “tempo”, nesse caso, “ano de início” - da existência da edificação - com a respectiva cor referente ao seu período, ainda assim, com transparência, para diferenciá-la das edificações de existência mais recentes. Dessa forma, podem ser visualizadas aquelas que sofreram transformações, as que permaneceram sem alterações ao longo dos séculos estudados e as que não existem mais. 13 – “Classes das Edificações”. Refere-se a todas as edificações, categorizadas pelo valor único do campo “Classe”, com legenda relativa às edificações das classes “Inexistência”, “Permanência” e “Transformação”. 14 – “Edificações Militares - 1779”. Refere-se à consulta por Tipo da Edificação, sendo escolhido o tipo “Militar” sobre o Mapa de 1779, aplicado ao MDT. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 114 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 115 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 116 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 117 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 118 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 119 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 120 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 121 Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 122 6.3. OUTROS TIPOS DE VISUALIZAÇÃO Existem diversas formas de visualização de dados, a partir dos recursos existentes no ArcGIS, assim como outros diversos tipos de cruzamentos de dados, desde que haja a necessidade de se obter a informação e seja possível compor bases de dados compatíveis com o sistema. Dentre as possibilidades, podem-se citar diversas maneiras de exportação em formatos VRML, de vídeo, do GoogleEarth. Além disso, dentro da extensão ArcScene, é possível gerar animações, visualizações em seqüências temáticas e consultas informativas com associação de imagens. Podem-se exemplificar alguns desses tipos de visualização gerados pelo sistema, como, por exemplo: Sequência Temática: Evolução urbana - séculos XVI a XX Figura 35 – Seqüência Temática 1638-1779-1894-1956-2002 – Visualização do frontispício de Salvador, simulando o mesmo ponto de vista da Figura 36. Elaboração: Heliana F. M. Rocha - 2007 Figura 36 – Parte da fotografia panorâmica de Salvador, ano estimado: 1900. Fonte: Guilherme Gaensly. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro em SAMPAIO (2005, p. 10 e11). A seqüência dos modelos temáticos inicia-se, em 1638, com base na cartografia antiga e finaliza, em 2002, com base na cartografia digital atual, demonstrando o quanto a cidade Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 123 avançou para o mar. Esse aumento territorial ocorreu, na Cidade Baixa, devido ao crescimento do setor comercial e à falta de espaço nessa área da cidade, sempre caracterizada como área portuária ou “porta de entrada” de Salvador, sua área portuária. Esta perde seu papel quando o governo opta pelo transporte rodoviário, gerando graves conseqüências para o bairro do Comércio, onde se concentravam depósitos e armazéns que foram transferidos para a estrada BR-324, deixando-o abandonado em sua maior parte. Na atualidade, início do século XXI, o porto ainda recebe navios de passageiros. No bairro do Pilar, encontra-se o terminal do ferry-boat para transporte de carros e passageiros para a Ilha de Itaparica e, em Água de Meninos, ocorrem embarques e desembarques de mercadorias de grande porte, como os veículos da fábrica Ford. Comparando a foto panorâmica de Gaensly, aproximadamente do ano de 1900, com o perfil de 1894, gerado pelo sistema e o “Visualização 3D” de 1894, percebem-se claramente as semelhanças na volumetria das edificações representadas e a identificação das edificaçõesmarco destacadas no modelo. Consulta Informativa: Edificação-marco Figura 37 – Consulta informativa. Elaboração: Heliana F, M. Rocha – 2007. Mapa-base: Referência: Foto aérea vertical colorida de 2002, aplicada sobre MDT CONDER Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 124 Classificação: Quantitativa, dados do campo ano de “Início” por intervalos de tempo Consulta: Layer EDIFICAÇÕES: [Início] ≤ 2002 AND NOT [Fim] < 2002 Identify: Elevador Lacerda, com sua tabela de atributos e hyperlink63 para uma fotografia. Com a aproximação a uma determinada edificação-marco, como por exemplo o Elevador Lacerda, nota-se a possibilidade da aplicação de bitmaps, nas superfícies do modelo geométrico tridimensional, permitindo melhor reconhecimento do elemento com menor grau de abstração. Trata-se do nível de detalhe “LOD-2”. Demonstra-se a opção Identify, que, ao clicar o mouse na edificação, surge uma caixa de diálogo sobre a tela do programa, com os dados alfanuméricos relativos à seleção. Outra opção é fazer um hiperlink do objeto com uma determinada imagem. Este, ao ser selecionado, visualiza-se uma nova caixa de diálogo com a referida imagem. Neste caso, uma fotografia da edificação selecionada, com data correspondente ao período pesquisado. 63 Hyperlink é a referência ou elemento de navegação de um documento para outra seção do mesmo documento, que automaticamente traz a referida informação para o usuário quando o elemento de navegação é selecionado. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 125 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho apoiou-se nas áreas de conhecimento de história e das tecnologias computacionais com a finalidade de embasar uma aplicação voltada para visualização urbana. Para alcançar esse objetivo, foi necessário desenvolver uma metodologia apropriada, que destacasse os aspectos da imagem ambiental urbana em uma análise interpretativa da iconografia antiga existente. De forma didática, foi necessária a escolha de uma área da Cidade, como estudo de caso, pois, assim, o modelo conceitual do sistema pôde ser analisado e alterado durante o processo. O trecho escolhido foi o bairro do Comércio, na Cidade Baixa de Salvador, onde iconografia e documentos textuais relatam o quanto essa área foi alterada, ao longo dos séculos, pelo seu avanço territorial para o mar e pela volumetria variada de sua ocupação no tecido urbano. A pesquisa inicial deste trabalho demonstrou que a representação digital está cada vez mais presente nos estudos urbanos e que, ao incorporar a dimensão do tempo, podem ser alcançadas análises enriquecedoras de importância documental para o resgate da memória da cidade. Outro aspecto também comprovado foi uma maior flexibilidade na visualização das informações, até então, muito complexas para se fazer cruzamentos de dados. Com o sistema proposto, dados espaciais, temporais, textuais e imagens são gerenciados e manipulados de forma a permitir inúmeros produtos para a análise urbana, principalmente para estudos sobre a forma, a ocupação, a paisagem e a história da cidade. Especificamente, este trabalho concentrou-se nas diversas possibilidades de visualização digital tridimensional que o sistema pôde produzir e nos aspectos da paisagem ambiental urbana, apresentados durante a evolução do bairro do Comércio. Com os resultados, foram identificadas as sobreposições, transformações e permanências dos elementos da estrutura urbana, formando uma imagem dinâmica desta área da cidade de fácil compreensão, visualizada tridimensionalmente. Como previsto inicialmente, o trabalho foi focado na interoperabilidade do sistema e não, necessariamente, na busca do fotorrealismo, não dando alta prioridade apenas ao impacto visual dos modelos digitais, mas sim a sua compatibilidade dentro do próprio sistema e com outras possíveis aplicações. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 126 Desse modo, as diversas possibilidades de cruzamentos dos temas trabalhados podem ser ampliadas. Em geral, podem ser realizadas consultas ao sistema para análise da forma urbana e da ocupação do espaço. Entretanto, dados podem ser acrescentados para possibilitar cruzamentos mais específicos como, por exemplo, informações sobre uso do solo, legislação, tipologia e estilos arquitetônicos das edificações, estado de conservação, ou mesmo, informações sobre imóveis de valor significativo para preservação. Assim como os dados dos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), novas categorias de análise também podem ser exploradas, como as relações de fluxos e distâncias, acessos, circulação, espaço público x espaço privado, uso do solo – habitação x comércio x serviços, sendo representados como camadas de informação que variam no tempo. Além disso, este trabalho pode contribuir integrando-se ao modelo da cidade do Salvador, construído em projeto anterior no LCAD, através de uma aplicação interativa que deverá permitir ao usuário uma navegação no espaço urbano e no tempo. Ao longo desse percurso, foram identificadas outras fontes, que podem ser consultadas posteriormente, para ampliar o sistema. Por exemplo, levantar os planos urbanísticos e legislação de cada período estudado, fazendo cruzamentos com os dados já disponíveis. Certamente, nem todas as possibilidades foram implementadas por limitações de custo e de tempo. Entretanto, a metodologia aplicada foi legitimada pelo processo e pelos resultados obtidos, podendo trazer contribuições para pesquisas futuras. Os produtos gerados pelo sistema, principalmente as visualizações 3D, também se basearam em experiências próprias, sendo analisados e representados de uma maneira não somente precisa e coerente, mas também permitindo um sentido intuitivo no manuseio dos dados. Em relação às tecnologias utilizadas no desenvolvimento do estudo, foi mantida a intenção inicial de se aplicar apenas um pacote de software para evitar um grande número de conversão de dados. Dessa forma, procurou-se utilizar o ArcGIS com seus aplicativos ArcMap para manipulação de informações bidimensionais e o ArcScene para visualização tridimensional. Além desses, foi utilizado o programa SketchUp com um plugin de conversão para ArcGIS para a criação dos modelos geométricos tridimensionais das edificações-marco, que serviram Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 127 de referência visual na análise dos modelos digitais gerados. Essa estratégia foi considerada apropriada, durante todo o estudo, correspondendo às expectativas iniciais deste trabalho. Em relação aos fundamentos teóricos deste trabalho, identificou-se que a metodologia, embasada nas teorias da percepção e da imagem da cidade, pode ser utilizada não somente em atividades como a busca de um novo desenho urbano, voltado para normatização e controle, como no Plano de Estruturação da Orla Marítima de Salvador (PMS, 1988), mas também para criar meios de interpretação de informações provenientes de uma grande quantidade de iconografia antiga, sintetizando alguns dados e possibilitando seu cruzamento, em épocas diferentes, com dados mais complexos e interdisciplinares da atualidade. Foi assim que o método da apreensão da forma urbana foi aplicado como referência para interpretar espaços urbanos não mais existentes. Este registro espaço-temporal tridimensional tem qualidade documental para o patrimônio físico e urbano da cidade, podendo agregar valor social e educativo à comunidade. Além disso, como protótipo, antecipa um sistema de suporte a decisões de planejamento urbano, que pode ser utilizado no processo de participação comunitária64, pelas qualidades de flexibilidade nas consultas e em seus diversos níveis de visualização. Essa proposta pode ser implementada, agregando-se a tecnologia web ao sistema original, ampliando sua interatividade e disponibilizando a informação a um número maior de usuários, nesse caso, os cidadãos. Enfim, as tecnologias de Geoprocessamento foram utilizadas em uma nova abordagem, focadas na representação digital do urbano de caráter histórico. Dessa forma, abrem-se novas oportunidades em aplicações para preservação e documentação do patrimônio e para processos de planejamento urbano participativo, utilizando a técnica da simulação de cenários sobre o passado, presente e futuro. Esses cenários poderão ser gerados através da implementação de um Sistema de Informações Geográficas e Históricas que gere modelos temáticos tridimensionais de períodos de tempo distintos, com base na metodologia desenvolvida e aplicada nesta dissertação. 64 Segundo a Lei No 3.345/83, publicada pela SEPLAM, o processo de participação comunitária é o conjunto de procedimentos, definidos por normas específicas e apreciadas previamente pelo CONDURB – Conselho de Desenvolvimento Urbano, que assegura a articulação entre a Administração, a Câmara Municipal e a Comunidade, no sentido de fazer com que os interesses coletivos consubstanciem as diretrizes e metas do planejamento urbano. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 128 Uma das contribuições, obtidas nesta dissertação, foi a possibilidade de integrar dados históricos, suas respectivas representações espaciais planas e modelos tridimensionais, relacionados com a dimensão do tempo. Isso pode auxiliar no resgate da memória da Cidade, de forma interativa, dando suporte a temas, como, por exemplo, estudos de interferência visual sobre monumentos. Outra possibilidade é a utilização dos produtos do SIG – mapas temáticos e visualizações 3D – como material visual, que pode ser adicionado aos Planos de Desenvolvimento Urbano das cidades, mostrando visualizações das mudanças, que aconteceram na cidade ao longo do tempo, como auxílio à decisão. Entre as tendências apontadas, a possibilidade de divulgar informações e resultados de pesquisas que utilizam SIG através do World Wide Web, é uma das mais perseguidas, pela existência de pacotes de software de Geoprocessamento que, no momento, já incluem essas ferramentas, o ArcExplorer é a extensão do ArcGIS que permite essa aplicação. Essa tecnologia está sendo chamada de Web GIS. Outra forte tendência é o uso da tecnologia SIG, com recursos de visualização 3D fotorrealísticos, para apoiar estudos sobre o aquecimento global, objetivando envolver o maior número possível de pessoas no processo de conscientização ecológica. Acima de tudo, a síntese de toda informação coletada no Sistema de Informações Geográficas e Históricas para o Bairro do Comércio e os procedimentos metodológicos da pesquisa podem ser estendidos e, posteriormente, aplicados em outras áreas urbanas que possuam informações históricas com objetivos semelhantes, como por exemplo, outros bairros e, até mesmo, outras cidades, permitindo gerar novos estudos de interpretação sobre a evolução da Cidade. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 129 REFERÊNCIAS ALKHOVEN, Patricia. The Changing Image of the City. A study of the transformation of the townscape using Computer-Aided Architectural Design and visualization techniques. A case study: Heusden. 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Atributo alfanumérico – propriedade ou característica de um determinado elemento, por meio de caracteres alfanuméricos, normalmente armazenados em forma tabular e relacionados ao elemento por uma chave (link) definida pelo usuário. São também chamados de nãoespaciais, em oposição aos de natureza gráfica, que contemplam cores, padrão, símbolos,... Banco de dados – coleção integrada de dados inter-relacionados, organizados em meios de armazenamento de tal forma que podem ser tratados simultaneamente por diversos usuários, com diversas finalidades. Base de dados – coleção de dados de um sistema de informações geográficas. Bitmap – é uma imagem digital ou imagem raster, arquivo de dados ou estrutura que representa um retângulo de pixels, ou pontos de cores, no monitor de um computador, papel, ou outra mídia. Também chamado de mapa de bits. Cityscape – paisagem urbana. Computação gráfica – é a área da ciência da computação que estuda a transformação dos dados em imagem. Esta aplicação estende-se à recriação visual do mundo real por intermédio de fórmulas matemáticas e algoritmos complexos. Digital – termo derivado de dígito, caracterizando a representação numérica discreta de um dado ou de uma grandeza física. Dpi – dots per inch, é uma medida de resolução para impressão, especificamente, o número de pontos individuais de tinta que uma impressora pode produzir em uma linha com uma polegada de espessura. Extrusão – técnica de modelagem também chamada de varredura translacional. O objeto extrudado é obtido pela translação de uma superfície, por uma certa distância, ao longo de um vetor ou geratriz. Fly-through – recurso de animação que permite a visualização de um percurso determinado através de um modelo geométrico tridimensional. Feição – representação de um objeto do mundo real em um mapa Feições 2.5D – termo que remete à feições de duas dimensões (planas) com atributo de altura, podendo eventualmente ser visualizadas em três dimensões. FOLDOC – Free On-line Dictionary of Computing. É um dicionário de assuntos sobre computação, fundado em 1985 por Denis Howe. Fica hospedado no Imperial College London. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 139 Fotorrealismo – característica de uma representação gráfica que objetiva aproximar-se ao máximo da situação real. Georreferência – referência com as coordenadas geográficas da superfície da Terra. Hardware – é a parte física do computador, ou seja, é o conjunto de componentes eletrônicos, circuitos integrados e placas, que se comunicam através de barramentos. Hiper-realidade – aquilo que vai além do mundo, um mundo que é mais real do que real, que pressupõe e precede o real (segundo Baudrillard). Hiper-realismo – também conhecido como realismo fotográfico ou fotorealismo é um estilo de representação gráfica, que busca mostar uma abrangência muito grande de detalhes, tornando-a quase idêntica a uma fotografia ou a uma cena da realidade. Hyperlink – referência ou elemento de navegação de um documento para outra seção do mesmo documento, que automaticamente traz a referida informação para o usuário quando o elemento de navegação é selecionado. Interface com o usuário – em um sistema computacional, conjunto de elementos de hardware e software destinados a possibilitar a interação com o usuário. Internet – é a tecnologia de informação e comunicação que envolve um conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados. Interpolação – processo em que se determina o valor duma função em um ponto interno dum intervalo a partir dos valores da função nas fronteiras desse intervalo Landscape Visualization – refere-se ao processo de visualização da paisagem natural. Laser scanning – tecnologia de levantamento cadastral de alta definição que utiliza dispositivo de entrada 3D (scanner 3D) que mapeia objetos e cenas através da coleta de nuvens de pontos com coordenadas (x,y,z). Também chamada LIDAR - Light Detection And Ranging. LIDAR - Light Detection And Ranging, relativo à laser scanning, processo de captura de dados tridimensionais utilizando tecnologia de scanner tridimensional. Multipatch – feição tridimensional ou volumétrica. É um tipo de shapefile, ou formato de dado vetorial de uma feição geográfica, que remete de volta às especificações originais. São especificações sobre a compactação do objeto, originado em uma superfície plana, para se obter uma feição 3D. Overlay – técnica de sobreposição de camadas, normalmente utilizada para análises espaciais que envolvem temas diferentes.. Panorama – montagem de imagens dispostas de forma circular ou esfericamente em ângulos de 180o ou 360o que dão uma sensação de inserção no ambiente, visualizando-o a partir de um ponto fixo central às imagens. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 140 Pixel – menor unidade gráfica visualizada na tela do computador, que pode ser controlada individualmente e que contém informações sobre cores e intensidade (brilho). Palavra criada a partir da expressão em inglês picture element. Plugin – é um programa de computador que serve normalmente para adicionar funções a outros programas para prover alguma função particular ou muito específica. PPGIS – Public Participatory Geographic Information System: sistemas de informações geográficas utilizados por membros da sociedade, tanto como indivíduos ou grupos, para participação no processo de gestão ou planejamento público (coleta de dados, mapeamento, análise e/ou tomada de decisão). Raster – estrutura de representação de dados espaciais em que os elementos são codificados na forma de uma matriz (grid). Quanto menor for o tamanho da quadrícula dessa matriz, maior será a semelhança com a representação vetorial do elemento. O tamanho da quadrícula é função da escala de trabalho e do nível de detalhe desejado. Rasterização ou Scanning – processo de transformar um mapa do formato analógico para o formato digital, utilizando a estrutura raster. A codificação é feita atribuindo-se a cada quadrícula o valor correspondente ao atributo estudado. Realidade Aumentada – é a sobreposição visual de objetos virtuais gerados por computador em um ambiente real, utilizando para isso algum dispositivo tecnológico. Realidade Virtual – é uma técnica avançada de interface que permite ao usuário realizar imersão, navegação e interação em um ambiente sintético 3D gerado por computador, utilizando canais multi-sensorais. (AZEVEDO; CONCI, 2003) Renderização – termo utilizado para descrever um desenho, rascunho, plano ou outro trabalho artístico que representa algo no papel ou outra mídia. Também chamado de acabamento. Em computação gráfica, pode ser a geração de uma imagem a partir de um modelo tridimensional, por meio de programas de computador, podendo conter informações de geometria, ponto de vista, textura e iluminação. O produto final é uma imagem digital ou raster. Shapefile – formato de dado vetorial de uma feição geográfica, usado originalmente pelo software ArcView, da ESRI, e que tornou-se padrão para a maioria dos pacotes de software utilizados em geoprocessamento. Software – sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na manipulação, redirecionamento ou modificação de um dado/informação ou acontecimento. Em contraposição ao hardware, o software é a parte lógica, ou seja, o conjunto de instruções e dados que é processado pelos circuitos eletrônicos do hardware. Programa de computador. Software livre – refere-se a todos os programas de um sistema de computador gratuitos, normalmente, distribuídos pela Web. Touch screen – é uma tela de exibição que pode ser usada como dispositivo de entrada de dados através do toque do usuário, substituindo os periféricos padrões de entrada de dados. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 141 VRML – Virtual Reality Modeling Language – é uma linguagem que descreve as seqüências de imagens de cenas geradas a partir de modelos tridimensionais e as interações de possíveis usuários que as manipulam. Aplica-se à Web, onde o usuário interage por visualização, movimento, rotação, interagindo com uma cena, aparentemente em 3D, como se estivesse no espaço real. Walking tour – são percursos predefinidos no modelo urbano digital, que equivalem a um passeio virtual do ponto de vista do pedestre. Web GIS, ou GIS online – tecnologia de Sistemas de Informações Geográficas aplicadas e disponibilizadas via Web. Webpage – página que é disponibilizada na internet com conteúdo específico. É um recurso de informação condicionado à Web (World Wide Web) e pode ser acessado através de um Web browser. Essa informação está geralmente nos formatos HTML ou XHTML, e podem vincular navegação para outras webpages, via links de hipertexto. Website – é um conjunto de páginas Web, isto é, de hipertextos acessíveis geralmente pelo protocolo HTTP, no World Wide Web. Wireless – uma rede de computadores, onde não há conexão física entre o servidor e o receptor, mas por transmissão de ondas de rádio. World Wide Web, ou Web ou WWW – significa “rede de alcance mundial" – recurso ou serviço oferecido na internet (rede mundial de computadores), e que consiste em um sistema distribuído de acesso a informações, as quais são apresentadas na forma de hipertexto, com elos entre os documentos e outros objetos (menus, índices), localizados em pontos diversos da Rede. O conjunto de todos os sites públicos existentes compõem a World Wide Web. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 Apêndice 143 APÊNDICE A: Principais funcionalidades dos programas pesquisados SketchUp NOME DO PROGRAMA: Pro 5 VERSÃO ESTUDADA: CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa que permite criação, modelagem 3D e visualização Tipo: Independente Histórico: Primeira versão criada em 1999, pela Last Software Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: Google Inc. Distribuidor: Google Inc. Endereço: 1433 Pearl St., Suíte 100 – Boulder, CO 80302 Fone/fax: (1) 303.245.0086 (Online Store) Página na Internet: www.sketchup.com Email: [email protected] Ambiente(s): Windows ou Macintosh Compatibilidade: Arquivos formato .skp: exporta .mdb c/ ArcGIS plugin; exporta .3ds, .kmz Preço: US$ 495 (versão simplificada Google SketchUp, disponível gratuitamente na web) Equipamento necessário: Windows NT (SP 3, no mínimo), 2000 e XP ou Mac OSX (10,3 min) CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de representação: Em 2D e 3D, simultaneamente. Recursos de manipulação: Integração entre 2D e 3D. Recursos de visualização: Visualizações estáticas (vistas ortogonais e modelo 3D) e dinâmicas (visualização do ponto de vista em tempo real e geração de animações). Interface Gráfica: Apresenta clareza e é de fácil aprendizado com uma janela de visualização 3D, podendo ser acionadas outras janelas. Representação e Modelagem feita por superfícies formadas por faces, arestas e Gerenciamento dos Dados: vértices. Recurso para modelagem de terreno por superfície Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 144 NOME DO PROGRAMA: ArcGIS (extensões: ArcMap - visualização 2D e ArcScenevisualização 3D) VERSÃO ESTUDADA: 9.0 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa completo de Geoprocessamento que permite visualização, mapeamento, gerenciamento e análise de dados. Tipo: Independente Histórico: Versão 9.0 criada em 2004 Nacionalidade: americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: ESRI Distribuidor: ESRI Distributors World Wide Endereço: 380 New York Street Redlands, CA 92373-8100 Fone/fax: (1) 909-793-2853 ext. 1-1235/ (1)909-307-3070 Página na Internet: www.esri.com/software/arcgis/index.html Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Arquivos formato .shp; plugins p/ SketchUp e Google Earth. Preço: US$ 2.500 por cada extensão, em média. Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de representação: Em 2D e 3D, simultaneamente. É composto por aplicações, como ArcMap; ArcScene; ArcCatalog; ArcGlobe; ArcReader e por extensões adquiridas a parte, como 3D Analyst; Spatial Analyst; Tracking Analyst, entre outros. Recursos de manipulação: Integração entre 2D e 3D; georreferência. Recursos de visualização: Visualizações estáticas (mapas temáticos 2D e modelos temáticos 3D) e dinâmicas (fly-through e walk around). Interface Gráfica: É necessária a compreensão da lógica de interrelação entre as diversas aplicações e extensões do programa. Representação e Modelos 3D gerados por inserção da cota Z nas feições vetoriais planas. Modelagem digital de terreno por nós, Gerenciamento dos Dados: arestas, triângulos, polígonos e topologia. Utiliza layers. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 145 NOME DO PROGRAMA: Autodesk Map 3D VERSÃO ESTUDADA: 2007 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Permite a criação e edição de dados espaciais, integrando CAD e SIG. Contém todos os recursos e funcionalidades do AutoCAD 2007. Tipo: Independente Histórico: primeira versão do Autodesk Map 3D criada em 2005 Nacionalidade: americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: Autodesk Distribuidor: Autodesk Authorized Resellers Endereço: Autodesk, Inc. 111 McInnis Parkway San Rafael, CA 94903 USA Fone/fax: 1-800-440-4198/ 1-415-507-4933 Página na Internet: http://usa.autodesk.com Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Arquivos formato .sdf; importa/exporta aquivos da maioria dos programas SIG (.shp, .mif, .mid, .tab, .dgn) e XML. Preço: US$ 5.295 Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de representação: Em 2D e 3D, simultaneamente. Possui extensões como o SQL Server e o Discovery Web Server. Recursos de manipulação: Integração entre 2D e 3D; georreferência. Recursos de visualização: Visualizações estáticas e dinâmicas. O render é feito com a aplicação Display Manager. Interface Gráfica: Similar ao AutoCAD, facilitando o aprendizado para os usuários familiarizados com este. Representação e Relaciona dados raster e vetoriais. Conecta-se ao Oracle Gerenciamento dos Dados: para gerenciar dados. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 146 NOME DO PROGRAMA: MapInfo Professional VERSÃO ESTUDADA: 7.0 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de Geoprocessamento que permite visualizar a integração entre dados e geografia. Tipo: Independente Histórico: Fundação da empresa em 1986 Nacionalidade: americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: MapInfo Distribuidor: MapInfo Endereço: One Global View Troy, NY 12180 Fone/fax: 1-518-285-6000/ 1-518-285-6070 Página na Internet: http://www.mapinfo.com Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Arquivos formato .mif como Universal Translator. Preço: US$ 1.495,00 Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de representação: Em 2D. Possui extensões como MapPLOT e GeoAS MapCAD. Recursos de manipulação: Georreferência. Recursos de visualização: Visualizações estáticas (mapas temáticos). Interface Gráfica: Apresenta clareza e é de fácil aprendizado com uma janela de visualização 2D, podendo ser acionadas outras janelas. Representação e Utiliza o recurso de workspace e layers para visualizar parte Gerenciamento dos Dados: do banco de dados no desktop. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 147 NOME DO PROGRAMA: CommunityViz VERSÃO ESTUDADA: 3.2 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de Geoprocessamento que permite visualizar, analisar e comunicar importantes decisões sobre o uso do solo. Explora alternativas de uso do solo, analisa impactos potenciais e modela visões de futuro para comunidades. Tipo: Extensão do ArcGIS (versões anteriores independentes). Histórico: Primeira versão do CommunityViz Suíte 1.2 criada em 2001 Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: Orton Family Foundation Distribuidor: Placeways Endereço: PO Box 295 Manchester Village, VT 05254 Fone/fax: 866.953.1400 Página na Internet: http://www.communityviz.com/ Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Compatível com ArcGis 9.2; Plugjns p/ SketchUp e Google Earth; Internet. Preço: Scenario 360 e SiteBuilder = US$ 279 ModelBuilder = US$ 745 Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Em 3D. Extensões: Scenario 360, para análises interativas; representação: SiteBuilder 3D e ModelBuilder 3D para visualizações 3D. Recursos de manipulação: Georreferência. Recursos de visualização: Visualizações 3D interativas (fly-through, walk around). Interface Gráfica: Similar ao ArcGis, facilitando o aprendizado. Representação e Utiliza layers e gera janelas para comparação de cenários; Gerenciamento dos Dados: opção Timescope (linha do tempo) e gráficos. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 148 NOME DO PROGRAMA: Visual Nature Studio VERSÃO ESTUDADA: 2.5 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de visualização 3D fotorrealística de cenários urbanos, rurais e paisagens, modelos de terrenos, rendering e animação, com precisão e flexibilidade para aplicações SIG. Tipo: Independente. Histórico: Empresa fundada em 1996. Lança o WCS. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: 3D Nature, LLC Distribuidor: 3D Nature, LLC Endereço: 13195 West Chenango Ave, Morrison, CO USA 80465 Fone/fax: (303) 659-4028/ (303) 904-9533 Página na Internet: http://3dnature.com Email: Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Suporta vários formatos de terreno, objetos 3D, dados vetoriais, pontos, imagens, seqüência de imagens e dados diretos de SIG. Com Scene Express 2, exporta-se p/ Google Earth, ArcExplorer, OpenFlight, VRML, entre outros. Preço: US$ 2.475 (Scene Express = US$ 520) Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Proporciona diversos níveis de detalhe. Forestry Edition é representação: uma extensão que auxilia a apresentação de projetos sobre o meio ambiente, articulando com uma maior audiência. Recursos de manipulação: Georreferência. Recursos de visualização: Visualizações 3D estáticas e dinâmicas com uso de biblioteca de objetos 3D sobre paisagem natural e urbana. Interface Gráfica: Amigável. Representação e São oferecidas aplicações para rendering e rendering em Gerenciamento dos Dados: rede para melhorar a performance do acabamento. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 149 NOME DO PROGRAMA: World Construction Set VERSÃO ESTUDADA: 6 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de visualização 3D de cenários urbanos, rurais e paisagens, em um nível conceitual, com pouca precisão científica e acurácia geográfica. Mais artístico. Tipo: Independente. Histórico: Primeira versão do WCS em 1996. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: 3D Nature, LLC Distribuidor: 3D Nature, LLC Endereço: 13195 West Chenango Ave, Morrison, CO USA 80465 Fone/fax: (303) 659-4028/ (303) 904-9533 Página na Internet: http://3dnature.com Email: Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Suporta vários formatos de terreno, objetos 3D, dados vetoriais, imagens, seqüência de imagens e dados diretos de SIG. Com Scene Express 2, exporta-se p/ Google Earth, ArcExplorer, ArcMap, OpenFlight, VRML, entre outros. Preço: US$ 500 (Scene Express = US$ 350) Equipamento necessário: Windows XP ou 2000 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Rendering georreferenciado, pós-processamento de imagens representação: Recursos de manipulação: Ferramentas de animação; Módulo multi-usuário Recursos de visualização: Pode-se aplicar a quantidade de detalhe necessária para cada tipo de projeto. Interface Gráfica: Galeria de componentes/objetos; controle por joystick de visualizações OpenGL em tempo real Representação e Scene-at-a-glance – permite a visualização de toda a cena do Gerenciamento dos Dados: projeto em uma única lista Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 150 NOME DO PROGRAMA: VistaProRenderer VERSÃO ESTUDADA: 4.2.7 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de visualização 3-D, rendering de cenários fotorrealísticos e animação. Tipo: Independente. Histórico: Primeira versão em 2004. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: Virtual Reality Laboratories Distribuidor: Monkey Byte Development Endereço: Fone/fax: 805/545-8515 Página na Internet: http://www.vendornation.com Email: Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Exporta .dxf Preço: US$ 49.99 Equipamento necessário: Windows 95/98/Me/NT/2000/XP CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Permite criar seqüências complexas de animação usando um representação: determinado veículo. Recursos de manipulação: Ajusta posição e ângulo da câmera, iluminação, nuvens, terreno, atmosfera, entre outros. Recursos de visualização: Renderização rápida de imagens estáticas e animações Interface Gráfica: Desenha cenários fractais. Representação e Utiliza mapas geológicos reais e/ou criações. Gerenciamento dos Dados: Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 151 NOME DO PROGRAMA: Envision VERSÃO ESTUDADA: 2.20 (desde 2004) CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de visualização 3-D e rendering de cenários fotorrealísticos, aplicável a projetos de grandes dimensões. Tipo: Independente. Histórico: Primeira versão em 1999. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: USDA Forest Service, Pacific Northwest Research Station Distribuidor: USDA Forest Service Endereço: Fone/fax: Página na Internet: http://forsys.cfr.washington.edu/envision.html Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Preço: Gratuito. Equipamento necessário: Windows 95 , 98, NT, com OpenGL CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Não permite representar mudanças na paisagem ao longo do representação: tempo. Recursos de manipulação: Permite criar simulações e fotomontagens com o uso de um modelo de câmera virtual geometricamente correta. Recursos de visualização: Simula a posição do Sol e efeitos da atmosfera. Interface Gráfica: Amigável. Representação e Seus componentes básicos incluem um modelo digital de Gerenciamento dos Dados: terreno, cores e texturas para a superfície, polígonos, linhas e pontos e objetos (ou atores) da cena. O cenário é definido por uma imagem de fundo, ponto de vista /câmera. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 152 NOME DO PROGRAMA: SmartForest VERSÃO ESTUDADA: II CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Simulador 3D de ecossistemas. O usuário pode interagir ao plantar árvores, ver seu crescimento e assistir processos de ataques de insetos, incêndio e monitorar a biodiversidade,... Tipo: Independente. Histórico: Primeira versão em 1999. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: The Imaging Systems Laboratory (Imlab) - Department of Landscape Architecture - Pennsylvania State University: US (PA) Distribuidor: The Imaging System Laboratory - Pennsylvania State University: US (PA) Endereço: Fone/fax: 814-865-0991/ 814-863-8137 Página na Internet: http://www.imlab.psu.edu/smartforest/ Email: [email protected] Ambiente(s): Está sendo desenvolvido para Windows 95/98/NT. Compatibilidade: Preço: Gratuito. Equipamento necessário: Unix com plataforma IBM RS/6000. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Está sendo criada uma extensão para o ArcMap /ArcGis. representação: Recursos de manipulação: Permite analisar o estado do ecossistema e de cada árvore. Recursos de visualização: Os usuários podem visualizar os impactos de decisões de planejamento ambiental. Interface Gráfica: Janelas de visualização 3D, elevação e tabela de árvores. Representação e Cada símbolo de árvore representa dados como tipo, Gerenciamento dos Dados: dimensão e vigor. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 153 NOME DO PROGRAMA: Ecomodeler VERSÃO ESTUDADA: 3.0 CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Programa de visualização de dados de SIG-3D com rapidez e precisão. Tipo: Requer o software World Construction Set 5 Special Edition. Histórico: Primeira versão em 2003. Nacionalidade: Canadense DADOS DO FABRICANTE: Nome: Viewscape3D Graphics Ltd. Distribuidor: Viewscape3D Graphics Ltd. Endereço: #218-475 Birch Ave. S.,Box 220, 100 Mile House, British Columbia Canada V0K 2E0 Fone/fax: 1-250-395-4676/ 1-250-395-1855 Página na Internet: http://viewscape3d.com/ Email: [email protected] Ambiente(s): Windows Compatibilidade: Importa dados de elevação em .dxf , .shp (ESRI) e .dgn (Microstation); converte informação geoespacial e atributos ambientais p/ World Construction Set 5 Special Edition (WCS 5 SE) ou Visual Nature Studio Special Edition (VNS SE) Preço: Ecomodeler 3.0 = US$1900; Ecoviewer = gratuito Equipamento necessário: Windows XP ou 2000, com GeForce 4 128 MB CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Os módulos 3D viewer e Ecoviewer são extensões p/ visualização. O GeoData Editor é uma ferramenta representação: independente de conversão de dados p/ construir modelos 3D de dados SIG. Recursos de manipulação: Modela de forma precisa as espécies, alturas e densidades de florestas. Posiciona automaticamente arquivos de imagens georreferenciadas do tipo .bmp and .tiff . Recursos de visualização: Representa terrenos, água e florestas, detalhadamente. Interface Gráfica: Representação e Possui editor de layers, possibilitando controle de layers Gerenciamento dos Dados: temáticos. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 154 NOME DO PROGRAMA: LandXplorer Studio Professional VERSÃO ESTUDADA: CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Modela cidades virtuais e ecossistemas complexos, em um sistema de integração SIG-3D. Oferece novos conceitos e soluções para apresentação, exploração, análises, edição, documentação e comunicação de geoinformação, interligadas a banco de dados específicos. Tipo: Independente. Histórico: A 3D Geo GmbH é parte do Hasso Plattner Institute, de 1998 Nacionalidade: Alemã DADOS DO FABRICANTE: Nome: 3D Geo GmbH Distribuidor: Virtual City Systems Endereço: Virtualcitysystems GmbH Annaberger Strasse 73 09112 Chemnitz Fone/fax: 0049.(0)371.40097-65/ 0049.(0)371.40097-19 Página na Internet: http://www.3dgeo.de/ Email: [email protected] Ambiente(s): Windows; opcional Linux Compatibilidade: XML, VRML, formatos CAD, ESRI, formatos 3D, MapInfo Preço: 3.439,00 € Equipamento necessário: Windows XP, 2000; NVidia GeForce FX; ATi Radeon 9800 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Cria documentos 3D interativos como objetos-base. Visualiza e comunica os resultados interativamente. representação: SmartBuildings – módulo p/ produção interativa de modelos em níveis de detalhe diferentes. Recursos de manipulação: A coleção de módulos opcionais suporta texturas de terrenos de larga escala, modelos de cidades 3D de larga escala, animação e direitos digitais. Recursos de visualização: Visualização em diversos níveis de detalhe (LOD). Interface Gráfica: Similar ao ArcGis. Representação e A estrutura de dados geográficos ou geodatabase 3D gerencia os dados interligados a metadados, qualificando-os Gerenciamento dos Dados: para diversas aplicações técnicas específicas e apresentações. Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 155 NOME DO PROGRAMA: E&S RAPIDsite VERSÃO ESTUDADA: Não se aplica CARACTERIZAÇÃO: Aplicações: Permite criação rápida de modelos 3D fotorrealísticos e de visualização interativa na escala de desenvolvimento urbana e suburbana. É uma coleção de programas que aceitam dados e modelos de programas SIG e CAD e usam imagens fotográficas como fonte de materiais para criar modelos completos de terrenos existentes com elementos urbanos como edificações, vegetação e panorama de fundo. Tipo: Independente. Histórico: Evans and Sutherland, fundada em 1968. Nacionalidade: Americana DADOS DO FABRICANTE: Nome: Evans & Sutherland Computer Corporation Distribuidor: Evans & Sutherland Computer Corporation Endereço: Evans & Sutherland Computer Corporation 600 Komas Drive Salt Lake City, UT 84108 USA Fone/fax: 1- 801-588-1000 Página na Internet: http://www.es.com Email: Ambiente(s): Windows Compatibilidade: USGS DEM e SDTS; .shp da ESRI e arquivos .dwg do AutoCAD; conversão para .AVI. Preço: RAPIDsite Creator = US$ 5,990; RAPIDsite Explorer = US$1,995 Equipamento necessário: Windows NT, 2000; Open GL CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Recursos de Cria modelos a partir de CAD, SIG e imagens. Inclui terrenos 3D, vegetação, biblioteca e panoramas de fundo. representação: Recursos de manipulação: Os usuários podem criar, editar, armazenar, gerar animações e imagens estáticas de qualquer ponto de vista Recursos de visualização: As cenas podem ser visualizadas interativamente, renderizadas com alta resolução, de forma estática ou convertidas em vídeos digitais Interface Gráfica: É preparado p/ modelar e texturizar uma área de 500m de largura, c/ um perímetro menos detalhado de até 2000m. Representação e Trabalha c/ extensões: Building Modeler, Cutout Modeler, Gerenciamento dos Dados: Picture Modeler, Panorama Modeler, Terrain Modeler, Perimeter Texture Tool, Site Layout Tool e Site Texture Tool Heliana Faria Mettig Rocha - 2007 APÊNDICE B: Quadro de Eventos sobre a Cidade Baixa e o Frontispício de Salvador, desde o século XVI ao século XX Período Séc. XVI Séc. XVII Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut 1549: Tomé de Souza – 1º Governador Geral do Brasil – Fundação de Salvador 1560-1567: Mem de Sá, 3º Governador do Brasil 1580-1640: período filipino 1536: “Francisco Pereira Coutinho, 1º. Donatário da Bahia. Sua Fortaleza, Povoação e Sesmaria”, documento 1549: Planta de Restituição de Salvador, por Theodoro Sampaio (1949) 1550-1570: “Arredores da Cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos” restituição de Theodoro Sampaio, em 1949 – registradas as localidades de Vila Velha,Graça e Vitória, Rio Vermelho, aldeia de São Paulo (Brotas) 1551: Carta do mestre de obra Luís Dias (a parte baixa da cidade tinha apenas uma rua) 1583: Cardim descreve a cidade 1587: publicada a 1ª descrição geral da cidade por Gabriel Soares de Souza “...da banda do norte tem as casas do negócio da Fazenda, alfândega e armazéns,...” 1549: Fundação da cidade e uma única rua na Cidade Baixa, onde foram implantados os primeiros prédios ligados ao porto 1551:cerca de muros de taipa com “dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra” (Soares de Souza,1987:129-30); Crescimento inicial em forma linear; segundo Luis Dias: construção de moradias da Ribeira do Goes até o pé da Lad. da Preguiça; construção do baluarte de Santa Cruz na Ribeira dos Pescadores 2ª metade séc.: ancoradouro como Porto 1549: a área do porto, na Ribeira do Góes foi protegida por um baluarte de madeira, em cima de um rochedo (Mapa de 1638) 1550: um estaleiro já funcionava na Ribeira do Góes, em frente à ermida da Conceição 1591: o novo estaleiro e o arsenal foram concluídos 1549-1553: Abertura da Lad. da Conc e da Preguiça 1587: da Praça principal desciam dois caminhos em direção à Cidade Baixa 1624: 1ª invasão holandesa – demoliram 2 fortificações, construíram o 1º dique e traçaram as bases de novas fortificações; ocupação do Forte de São Marcelo pelos holandeses 1638: ataque comandado por Nassau 1640: os governantes passam a ter o título de Vice-Rei 1654: Capitulação dos holandeses em Pernambuco 1653: as terras da cidade foram tombadas 1689: Revolta dos Terços (atraso de 9 meses do pagamento da tropa) 1600: “Cidade do Salvador com o litoral da Preguiça no Ano de 1600”, reconstituição do séc.XX, vista a partir do mar (Paulo Lachenmayer, Wanderley Pinho) 1605 (publicada em 1625): 1ª planta conhecida de Salvador, de João Teixeira Albernaz I, mostra a cidade 2x maior que em 1549 com seus limites 1609: Relatório e iconografia de Diogo Moreno 1609-1612(e): “Perfil da Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos...”, 1º. perfil da cidade, atribuída ao Eng. Cristóvão Alves (construções baixas e proporções reduzidas de algumas igrejas, Conceição da Praia ainda sem torre) 1610:1º relato de um viajante estrangeiro, Pyrard de Laval 1612: “Livro que dá razão ao Estado do Brasil”, por Diogo de Campos Moreno (visão do sistema defensivo da cidade) 1605: cidade de traçado relativamente regular, respeitando a topografia acidentada 1623: criada a freguesia da Conceição da Praia, confirmando o desenvolvimento da parte baixa da cidade 1671: desabamento na Lad. da Conceição e na Misericórdia 1693: as trincheiras da cidade foram reedificadas 1695: primeira provisão de alinhamento estabelecida, visando “evitar os danos e torturas das ruas em que se fazem casas ordinariamente nos arrebaldes...” estipulando 30 dias de cadeia 1650-1763: período em que foram implantados os principais edifícios do conjunto arquitetônico e urbanístico de caráter monumental 1651: autorizada a construção do Arsenal da Marinha, onde a partir de 1717 uma provisão real determinou a construção de um navio c/ 60 canhões por ano com os recursos da dízima da Alfândega 1655: início do Estaleiro Real c/ a construção de naus de grande dimensão 1676: Dellon, em sua visão de conjunto, mostrou o porto como um dos maiores e cômodos do oceano, uma grande baía e observa pesca de baleias 1696: todo comércio era feito em navios portugueses (Dampier, viajante) 1610: “havia um mecanismo que desc subia as mercadorias” (Laval) 1626: As Carmelitas solicitaram sesm na Cid. Baixa para instalar seu guinda 1628: Fonte dos Padres, no Taboão, f remodelada com a construção de 2 bi 1699: os escravos tinham a função de cavalos e transportavam as mercador mais pesadas Período Contexto Político Iconografia e Documentos 1711: Motim do Maneta – população pobre se revoltou contra as taxas sobre os produtos importados (liderado por João de Figueiredo Costa – o “Maneta”) 1712: trincheiras foram levantadas para defesa da cidade contra um possível ataque francês 1714-1718: vice-reinado de D. Pedro de Noronha, conde Vila Verde e Marques de Angeja 1728: Revolta contra a Justiça Militar 1750-1777: Reinado de D. José em Portugal, regime pombalino 1759: expulsão dos Jesuítas 1763:transferência da capital de Salvador p/ o Rio 1765:criado o Corpo Regular de Artilharia 1768/69: Marquês de Lavradio (governador da Bahia) Vereeniging Nederlandsh Scheepvaart Museum, de Amsterdã (fronstispício com artilharias mostradas com a fumaça do disparo dos canhões) 1631: “Planta da Restituição da Bahia”, por João T. Albernaz (linha de costa do início séc.XVII) 1638: “Desenho das forteficações e trincheiras que se fizerão em deffença do inimigo”, por Eng. Militar português desconhecido (retrata as obras de defesa em destaque junto aos prédios da Cid.Baixa); (acervo do Museu Algemeen Rijksarchief de Haia, Holanda); data aproximada 1647: “Civitas S. Salvatoris”, mapa holandês mais esquemático, mostra o dique 1676: visão de conjunto, por Dellon 1696: “St. Salvador. Ville Capitale du Brésil” (frontispício), por François Froger (destaca-se um navio em construção e o Forte de S. Marcelo); chegou num momento em que uma frota de 45 navios estava sendo carregada 1699: Dampier encontrou uma frota com mais de 30 navios europeus protegidos por 2 navios de guerra e outros 2 navios destinados a negociar na África No período, não temos ainda mapas precisos de Salvador, mas os frontispícios compensam parcialmente, dando uma visão de conjunto 1714: Mapa, Perfil e Frontispício “Plan de la Ville de St. Salvador capitale du Bresil”, por Frezier: já mostra a Sé c/ 2 torres; indica o fort Praya (São Marcelo), uma Baterie du Port Chaloupes, e uma Batterie de lÁrsenal; a fortaleza do Campo da Pólvora (construída em 1682 e demolida em 1702) 1715: “Planta da Cidade da Bahia”, mapa com proposta de novo sistema de fortificações, pelo Brigadeiro João Massé (não implementado); (identificação dos aterros do séc.XVII 1631-1715) 1716: “Vue de la Ville de St. Salvador Séc. XVII Séc. XVIII Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut Freguesias da Conceição da Praia e do Pilar. Mudança nos limites da cidade. Cid. Baixa: reduzida faixa de terra, com edifícios de 4, 5 andares, lojas e armazéns, numa única rua longitudinal, tortuosa e estreita (armazéns, trapiches, mercados – inclusive o de escravos –, comércio atacadista e varejista, escritórios de importadores e exportadores, pequenas indústrias e agências marítimas) 1714: forma da cidade radioconcêntrica e compacta, tendo em vista os limites à expansão: ao leste, o Dique do Tororó; ao norte, o Forte de Santo Antônio; ao sul, pelos Fortes de São Pedro, São Paulo e a Casa da Pólvora 1721: desabamento na Lad. da 1737: Jesuítas constróem seu cais próprio p/ fins comerciais, entre o Cais do Lixo e o do Sodré 1781: o comércio de exportação na Bahia era maior do que nas outras cidades do Brasil 1785 e 1798: os mapas mostram um alargamento da freguesia da Conceição com os aterros efetuados sobretudo na área em frente ao antigo colégio dos jesuítas 1795: Porto de Salvador como uma escala importante 1796-1797: Salvador ainda era o maior porto exportador do Brasil (a partir de 1798 passou para o 2º lugar, após o porto do Rio) 1791: permitido o comércio intercolonial 1706: construído armazém para depós de farinha 1763: ladeira do Pilar à Cruz da Rede Período Séc. XVIII Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites de fim de regime monárquico); Conjuração Mineira 1791: rebelião escrava no Haiti (exemplo p/ os escravos brasileiros) 1797: instalação do serviço postal com as outras capitanias, pelo Estado 1798: Sedição dos Alfaiates, em Salvador (influência da Revolução Francesa) (evolução construtiva da cidade ao comparar com os Frontispícios de 1696 e 1714); 2 torres na Sé (apesar de 1 já demolida); os principais trapiches de particulares e um da Congregação de São Felipe Néri; cais especializados pertencentes a particulares e a Jesuítas; prédios em frente à baía com 5 andares; Casa da Inspeção e Intendência e a Alfândega; Ig. da Conceição da Praia (em construção), Fortes de S. Francisco, do Mar, a bateria da Ribeira, o Arsenal e a bateria de São Paulo; Mosteiro de S.Bento; Forte de São Pedro em destaque; destaca o Forte de Sto. Antônio; Capela de N.Sra. da Conceição dos Pardos sem suas torres; Ig. do Rosário dos Pretos sem suas torres 1759: Livro do Censo, por Eng. José Antônio Caldas (quantitativo do clero regular e das principais irmandades leigas), sobre o “Governo Militar” 1774/1775: Censo Eclesiástico (população, raça, profissão) 1777: Planta por José Antônio Caldas (identificação da çinta de costa e grandes aterros 1715-1777; facilita a compreensão da ocupação quantificada pelos Censos de 1757, 1759 e 1774) 1779: “Elevasam, e Fasada, que mostra em prospecto pela marinha a Cidade do Salvador ...”, por Carlos Julião 1779: “Planta Ichonografica da Cidade de Sam Salvador na Bahia detodos os Santos na América Meridional aos 13 graos de latitude, e 315 graos e 36 minutos de longe” (atribuída à Caldas, por OLIVEIRA (2004:127,128)) 1782: “La Baye de Tous les Saints. Ancienne Capitale du Brésil”, por Albert Dufourcq 1785: “Planta da Cidade do Salvador”, por José Azevedo Galeão aterros na parte baixa e extensão do desenvolvimento urbano (da Calçada à São Pedro e Palma; detalha a Cid. Alta, antes das demolições realizadas, inclusive os pátios internos de alguns quarteirões. O vale como as de 1695 1759: proibido o uso de rótulas; a cidade contava com 9 freguesias 1768: “o sítio chamado a praia, que é aonde há a maior parte do comércio é bastante fúnebre, e são terribilíssimas as ruas...” (Marquês de Lavradio) 1769: Marquês do Lavradio tentou modernizar a cidade: proibiu uso das “esteiras” (persianas) nas portas e janelas e o uso de chapéus “desabados”; ordenou que as quitandas fossem retiradas do meio das ruas e que as ruas fossem limpas todos os dias 1780: ordenada a demolição das Portas do Carmo (ainda aparecem no mapa de 1785) 1782: Marquês de Valença proibiu a venda ambulante na cidade 1784-1788: muralha de proteção à “montanha”, entre o Taboão e a Misericórdia e instalados os currais de São José, no Barbalho 1795: 13 casas desabaram na encosta da Montanha 1796: derrubada das Portas de São Bento (lado sul) – atual Praça Castro Alves 1797: desabamentos 1799: “os edifícios não são da melhor arquitetura, nem da mais sólida construção, ..., as ruas são limpas, mas não regulares” (Gov. Fernando J. de Portugal) Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut Período Contexto Político Iconografia e Documentos No início do séc. XIX começou o ciclo de levantes africanos 1808: Chegada da família real no RioBrasil (corte=entre 8 a 15 mil pessoas) – fuga da invasão das tropas napoleônicas 1810: Tratados de Comércio e Navegação com a Inglaterra, direitos de Alfândega no Brasil (taxas inferiores às portuguesas) – dificulta a industrialização brasileira; Tratado de Aliança com a Inglaterra, limitando o tráfico de escravos ao interior 1811: levante popular contra a carestia 1815: elevação do Brasil a Reino Unido; encerrada a “Carreira das Índias”, onde Salvador era uma das paradas 1817: Revolução Pernambucana 1820/1821: Movimento Constitucionalista, forçando o retorno do rei a Portugal 1821: extinção da Inquisição portuguesa; iniciadas as lutas em Salvador pela Independência; Convento do Carmo transformado em quartel p/ a Legião Lusitana e invasão do Convento da Lapa pelas tropas portuguesas 1822: Independência do Brasil (as tropas portuguesas foram enviadas p/ Salvador) 1823(2julho): os portugueses se retiraram de Salvador levando todo o ouro arrecadado (10 meses após a proclamação da independência brasileira) – muitos comerciantes portugueses também; as Capitanias foram transformadas em províncias 1824: os EUA foram a 1ª. potência a reconhecer a independência brasileira; movimento da Cidade Capital de São Salvador na Baía de Todos os Santos”, por Joaquim Vieira da Silva complementadas pelo Frontispício de Vilhena (identificação dos aterros nos 40 anos anteriores); destaca a cobertura vegetal (do Forte de São Pedro até a Soledade e ao dique do Tororó) Aumento dos depoimentos, devida À entrada livre dos estrangeiros após 1808 1801: “Prospecto, que pella parte do mar faz a Cidade da Bahia...” (frontispício), por Vilhena (de Monte Serrat à Santo Antônio da Barra; Sé sem as 2 torres e c/ fachada demolida; marcas do desabamento da Ig. São Pedro dos Clérigos; Celeiro Público já representado; mostra o fortinho de Santo Alberto (“dos franceses”; capela dos Aflitos; capela de N.Sra. do Rosário; Ig. Rosário dos Pretos já com 2 torres)) 1805/1807: Censo Eclesiástico (população, raça) 1810: Censo 1819/1820: “Panorama da Bahia” (frontispício parcial), pelo tenente R. Pierce (da Vitória à Soledade) bem detalhado em aquarela 1844: Vista panorâmica da cidade do Salvador, pintura pelo alemão Eduard Hildebrandt (de Mont Serrat até o Unhão, com destaque p/ o Forte de São Marcelo e o casario da Preguiça) 1851: “Mappa Topographica da Cidade de S. Salvador e seus suburbios”, pelo Eng. Carlos A. Weyll (corresponde aos anos de 1845/46) (mostra um alargamento na Cid. Baixa, com 4 a 5 ruas paralelas aos cais; Alambique do lado sul; a “Praynha do Peixe”, a Praça São João, na área aterrada; o novo cais, em frente à atual rua Miguel Calmon, no qual são indicadas “Casas Novas”; o Consulado; a Praça do Comércio e a Alfândega) 1860: Planta semi-cadastral por Carlos Augusto Weill esc.1:5.000 complementadas com as de Hugh Wilson e Damázio (aterros do séc. Séc. XVIII Séc. XIX Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut 1802/1803: “uma elevada cercadura de montanhas, no alto das quais a cidade está construída, com exceção de uma única rua, que corre paralela à praia” “as igrejas são os edifícios de maior relevo,... as ruas são apertadas, estreitas, miseravelmente pavimentadas, nunca estão limpas” “grandes e elegantes mansões...” “ choças cobertas de telhas e sem forro, dotadas de uma única janela de rótula...”(Thomas Lindley, contrabandista inglês) “na praia no sítio da Preguiça até a Jiquitaia, com uma rua tortuosa, mas continuada com propriedades de casas de três, e quatro andares, e outros grandes edifícios,...” (Vilhena) 1811: Câmara indica um tipo uniforme de construções de grande porte no litoral do Comércio, obedecido pelos construtores 1817: “a sua parte mais importante está situada no alto, e a parte restante, habitada principalmente por mercadores, está situada a beiramar...” “o interior dessa grande cidade não oferece... aspecto agradável; não se nota ali nem asseio, nem ordem, nem gosto. A arquitetura é pesada...; as casas são todas construídas com os mais diversos estilos...” (Maximiliano de WiedNeuwied, príncipe alemão naturalista) 1818: “ao longo da praia, só há espaço para uma única rua principal, cortada no meio por alguns becos...”; comentam sobre vastas fachadas de trapiches e armazéns à beira mar (Von Spix e Von Martius) 1820/1821: a Bahia perdeu a comarca de Sergipe, que tornou-se autônoma 1827: Pernambuco perdeu para a A freguesia da Conceição da Praia foi transformada completamente, tornando-se a principal parte da cidade, devido aos novos aterros e às melhorias do sistema viário (principais ligações p/ o norte) 1800-1869: o aterro do Arsenal, deslocando a ribeira das Naus para o sul; o aterro da Alfândega; e o aterro que vai da Igreja do Corpo Santo até a prumada da Ladeira do Taboão 1801: acabou o monopólio do sal e da pesca da baleia 1808: abertura dos portos ao comércio internacional 1816-1822: início da modernização do porto com novos aterros 1818: início da Praça de São João (atual Praça da Inglaterra), na área aterrada 1843: início do aterro da Alfândega 1845: fundação da Capitania dos Portos da Bahia 1845 e 1847: retomada das obras do porto de Salvador 1852: Cia de Navegação Sta. Cruz (norte e sul do Brasil) 1858: 1ª. linha de navegação à vapor (Inglaterra-Brasil); Salvador perde sua importância p/ Porto de Recife; Cia do Bonfim (Recôncavo); Cia de Navegação à vapor (Recôncavo) 1860-1894: aterro em frente a Ig. da Conceição da Praia; o Arsenal de Marinha avança a linha da costa até o alinhamento da rotunda da Alfândega; o Cais Dourado avança mar adentro quase alinhando com a Praça do Ladeira desde a Capela da Conceição ladeira de São Bento, perto da Porta d Sta. Luzia; Ladeira da Preguiça; Lade Misericórdia; Ladeira do Taboão; “Cam Novo”; Ladeira da Cruz do Cosme; ma tarde, Ladeira da Montanha 1802: as estradas que davam acesso cidade eram 3: a das Boiadas, a de B Cabula e a do Rio Vermelho (Vilhena) 1810: Ladeira das Galés, com o aterro dique 1811: conclusão da estrada do Rio Vermelho (atual Av. Cardeal da S 1813: demolição do guindaste dos Beneditinos por ordem da Câmara 1815: introduzida a máquina à vapor n Bahia, no engenho; o príncipe autorizo construção da estrada entre Salvador Rio 1819: 1ª viagem de navio à vapor entr Salvador e Cachoeira 1827: iniciados os correios marítimos províncias 1828: inaugurada a iluminação pública com lampiões de azeite de baleia 1829: parte do revelim do Forte de Sã Pedro foi desmanchado p/ a construçã Rua das Mercês (indica perda da importância no sistema de defesa do s da cidade, porém ativo durante a Sabinada) 1830: cavalos e burros, cadeirinhas de arruar, caleches e carroças de tração animal 1836: transporte hidroviário com dois navios de propulsão a vapor que parti da rampa do Mercado, na praça Cayru iam até o Porto do Bonfim, com parad Água de Meninos 1839: navegação a vapor concedida p Estado p/ João Diogo Sturtz, com 4 ba p/ “transporte gratuito das pessoas e objetos do serviço público” 1842-1855: início do calçamento das r Período Séc. XIX Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut 1830: assassinato do Presidente da Província, Visconde de Camamu; implantado o novo Código Criminal 1831: abdicaçãp do Imperador D. Pedro I, início da Regência; criada a Guarda Nacional; movimento “Matamaroto”, contra os portugueses; revolta no forte do Barbalho e renúncia do Presidente da Província; revolta do 20º. Batalhão de Caça do Piauí, no forte de São Pedro, contra os portugueses, resultando na demissão do Vice-Presidente da Província e do Comandante de Armas; revolta do Regimento de Artilharia; insurreição popular no bairro de Santo Antônio; 1833: grave levante federalista no forte do Mar, com a ocupação por 80 prisioneiros, resultando no bombardeio do centro da cidade (danos na Sé e nos prédios da Praça Mucicipal) 1834: os Conselhos Gerais das Províncias foram substituídos pelas Assembléias Legislativas 1835: Rebeliãp Malê, de caráter islâmico, maior revolta negra em Salvador, culminando os movimentos de 1826, 1828 e 1830 1836: “Cemiterada”, movimento de irmandades leigas que destruiu o 1º. Cemitério do Campo Santo (reconstruído no ano seguinte) 1837-1838: “Sabinada”, grande movimento federalista quando foi proclamada a independência da Bahia; revolta da “Cabanagem” no Pará e a “Farroupilha” no RS 1839: criação da Tesouraria da Caixa e Renda Provincial 1841: Cia. p/ Introdução de Fábricas Úteis – industrias (de sabão, de moer trigo, de papel, têxtil) 1843: implantação da 1ª. tarifa protecionista 1844: expira o tratado com a Inglaterra 1844-1846: Francisco José de Souza Soares de Andréa (Presidente da Província) 1845: Ato de Aberdeen, pelo Parlamento Inglês, proibindo o tráfico internacional de escravos; 1ª. Adm Mendes (limitada ao litoral da baía) 1871: “Planta da Cidade Baixa da Bahia, entre Unhão e a Igreja de São Francisco de Paula” , planta semicadastral, pelo Eng. inglês Hugh Wilson (plano de combate aos incêndios na Cid. Baixa) (além dos detalhes da escala, anotação das atividades realizadas nos principais prédios; nova “vitrine” da cidade, espaço mais valorizado da cidade, (atual R. Miguel Calmon); Correios atrás da Alfândega; no Largo das Princesas (atual R. da Bélgica), a capela do Corpo Santo e o Hotel Mullem); localiza todos os escritórios, bancos e seguradoras da Cid. Baixa; Mercado Santa Bárbara (em frente ao Hotel das Nações); após a Praça Riachuelo, localiza os trapiches, o cais Dourado, o Mercado do Ouro, à beira d’água e trapiche Barnabé (limite c/ a freguesia do Pilar) 1871: Planta de parte da Cid. Baixa por Eng. H. Matteo 1872: 1º. Censo Nacional 1875: Panorama Fotográfico, por Marc Ferrez (ponte de atracação da Alfândega concluída, Elevador Hidráulico) 1883: “Plan de la ville de Bahia (Brésil). Partie centrale”, anexa ao Relatório do Consulado Francês (entre os Fortes de São Pedro, Santo Antônio (norte), Lapa e Barris (leste); mostra a Rua da Vala - (relevo, prédios públicos, religiosos, residências francesas) (bem preciso na Cid. Baixa, mostra o novo Cais Dourado e o novo alinhamento de quarteirões entre a Alfândega e a Associação Comercial, indica a Lad. da Montanha e as linhas de bonde) 1890: Censo 1893: Francisco Vicente Vianna, diretor do Arquivo Público, descreve o Estado da Bahia c/ informações estatísticas e cada freguesia 1894: Mapa “Bahia (S. Salvador)”, por Elisée Reclus, (Itapagipe até a Barra e Rio vermelho, parece baseado no de Mouchez de 1867); “Planta da Cidade do Salvador”, por Adolfo no antigo campo de manobras do Terço dos Henriques, na frente da Ig., no lado da baía 1850/1889: O crescimento espacial da cidade foi possibilitado pelas novas linhas dos transportes coletivos 1857: 1ª. demarcação do perímetro urbano 1889: o comércio achava-se localizado perto do cais, onde “todas as ruas são calçadas e as principais cortadas por linhas de bondes...” (Aguiar) 1878/1883: reconstrução do Cais Dourado 1891: as obras do porto foram concedidas à Cia. Docas e Melhoramentos da Bahia diligências ligando a Cid. Alta à Barra; mapa de Weyll: observa-se todo um sistema viário de cumeadas: cumeada Garcia (atual Leovigildo Filgueiras), o da Barra (atual lad. da Barra), a Graça(atual Corredor da Vitória) e o R vermelho (atual Av. Cardeal da Silva); indicação do Canal da Jequitaia, 3 via principais partindo de Roma à Montse (atual Luis Tarquínio); a “Calçada do Bonfim” e a atual Caminho de Areia, ligando à Penha, e passando pela Massaranduba; duas 1as. linhas de diligência (gôndolas) 1852: Cia do Queimado – 21 chafarize forneces água p/ cidade 1858: iluminação à óleo 1859: Estrada 2 de Julho, ligando a Fo Nova ao Rio Vermelho, ao longo do va do Lucaia 1860: inaugurada a linha ferroviária B & São Francisco Railroad, com 14 km a Calçada até Aratu 1862: iluminação à gás 1865: serviço de limpeza de Salvador 1866: 1ª. linha de bondes de tração animal, o ferrocarril, com carruagens d ferro que iam de Muganga, hoje Coqu de Água de Meninos, até a Baixa do Bonfim. Foi a 1ª a operar no Brasil e a no mundo 1868: inaugurada uma linha de bonde por animais, entra a Conceição da Pra o Bonfim; 1ª. linha locomotiva à vapor entre Bonfim e Itapagipe 1870: locomóvel, conhecido como "Borracha do Rocha" - locomotiva sob pneus que puxava um vagão de passageiros, ligando a Ig. da Conceiç Praia ao Largo do Teatro, na Praça Ca Alves, para a Ladeira da Conceição 1873: Elevador da Conceição, no Tab (Cia de Transportes Urbanos) e Eleva Hidráulico (Lacerda) 1874: telégrafo 1878/1881: construção da Lad. da Montanha 1880: barragem de Mata Escura, artic com a estação do Queimado 1884: telefone 1885: 1ª. iluminação elétrica no Brasil Terreiro de Jesus (retomada da importância do centro) 1889: inauguração do Plano Inclinado Período Séc. XIX Contexto Político 1864/1866: Guerra do Paraguai (18.725 baianos) 1868: Junta Comercial 1869: Canal de Suez 1875: pedido de empréstimo à Inglaterra (Brasil) 1881: 1º. Pedido de empréstimo externo pela Província 1888: Abolição da Escravatura 1889: Queda do Império e a implantação da República 1889/1891: Encilhamento Político Financeiro, patrocinado por Rui Barbosa 1889/1930: “República Velha” 1891: deposição do governador J.G.Silva, por um movimento liderado por Cezar Zama 1892: Tribunal da Apelação e Revista, substituindo o Tribunal da Relação 1897/1898: rebelião religiosa e popular de Canudos Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut percorrida pelo Pilar, na Cidade Baixa bairro de Santo Antônio Além do Carm na Cid. Alta; Guindaste dos Terésios e Guindaste da Praça (ambos de existê curta); começou a funcionar o Elevado Tabuão (elevador hidráulico, com torre ferro de 29m de altura, c/ material importado da Inglaterra Período Séc. XX Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut 1906: Convênio de Taubaté – política de valorização do café, principal produto de exportação do país 1912: rebelião militar com bombardeio de parte da Cid. Alta, a partir dos fortes de São Pedro, de São Marcelo e do Barbalho 1913: J.Joaquim Seabra 1914/1918: abertura do Canal do Panamá (diminui a importância do porto de Salvador; 1ª. Guerra Mundial (Am. Latina na órbita econômica norte-americana em detrimento dos capitais britânico e alemão); o comércio da Bahia ficou praticamente paralisado, já que a Alemanha era o maior comprador 1915: criado o Tribunal Superior de Justiça 1917: Revolução Russa (desdobramentos ideológicos); editado o 1º. Código Civil brasileiro, extinguindo os “aforamentos perpétuos” tornando-se “arrendamentos” 1918: extinção da Guarda Nacional (maior repercussão no interior do país) 1919: greve pela jornada de trabalho, pelo Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros; greve de funcionários públicos 1926: Pós-Guerra: importações dos EUA maiores do que da Inglaterra 1927: Lei de defesa do Patrimônio Histórico e Artístico 1929: crise econômica mundial (repercussões graves na economia exportadora – 1928: Indicador e Guia Prático da Cidade do Salvador, Bahia, por Lauro Sampaio (histórico da cidade, levantamento de prédios por subdistritos, principais monumentos e igrejas (67 católicos), associações e instituições, cemitérios, hospitais, cinemas, clubes, jornais(8), escolas, arrabaldes, linhas de bonde, agências de navegação(36), agências bancárias(11) e consulados(20) 1939: sociólogo americano Donald Pierson, escreveu um livro sobre Salvador baseado em estudos de ecologia humana da Escola de Chicago (pesquisa entre 1935 e 1937 sobre “topografia social”, diferenças de classe, pobreza na periferia, denominou partes da cidade segundo a predominância da cor dos habitantes) 1940: Censo do IBGE 1941: austríaco Stefan Zweig em seu livro comenta duas 2 viagens ao Brasil: “... reconhecemos quão rica já foi essa cidade ... ela não decaiu. Estacionou apenas ...” 1942: Eng. Américo Simas escreveu o artigo “Sugestões para a organização do Plano Diretor da Cidade do Salvador”, “uma proposta de luta por uma cidade higiênica, artística e pitoresca, com ruas largas e grandes parques”, propondo alargamento de ruas, construção de viadutos e uma avenida de encosta ligando a Cid. Baixa à Barra (reflexo do ideário modernista da época); 1903: grande reforma urbana de Pereira Passos no Rio, servindo de modelo às demais cidades brasileiras 1908: o quarteirão dos Cobertos, perto do Tabuão, foi incendiado 1912/1916: Governo do Estado, com J.J.Seabra implementa reformas urbanas “haussmanianas”, com os recursos do cacau, seguindo modelo das reformas do Rio; demolição da Sé, da Ig. da Ajuda. Da matriz de São Pedro e do Rosário 1925: aprovado o 1º. Projeto de loteamento da cidade, o da Cia. Comercial Imóveis e Construções, com 123 lotes no Bonfim 1930: estavam aterrados e urbanizados 80 ha, de área conquistada da baía de Todos os Santos, permitindo uma ampliação da oferta de terrenos, num padrão em quadrícula, num dos trechos mais valorizados da cidade, no ponto de vista comercial 1930/1940: os loteamentos indicam o crescimento espacial: 70 loteamentos deram entrada na PMS nos anos 30, e 50 nos anos 40 1935: Semana do Urbanismo (1ªs. propostas de park-ways p/ a cidade) 1940: o mapa do EPUCS registra a concentração de indústrias entre a Calçada, Boa Viagem, e Ribeira 1942: assinatura do contrato com o Eng. Mário Leal Ferreira p/ elaboração do 1º. Plano p/ a cidade; o Mapa do Exército registra o cais na sua dimensão atual, c/ 9 dos 12 “um aspecto negativo dos aterros realizados na Cid. Baixa foi o fato de “esconder” os belíssimos prédios do séc. XVIII, que compunham a fachada de Salvador, e que foram, em sua quase totalidade, demolidos na posterior verticalização da área” (Vasconcelos, 2002:306) A opção pelo transporte rodoviário gerou graves conseqüências para a área portuária, a “porta de entrada” de Salvador deixou de ser o seu porto; a concentração de depósitos e armazéns foram transferidas p/ a BR-324. O porto ainda recebe navios de passageiros e no Pilar, o terminal do ferry-boat 1906/1930: grandes obras de modernização do Porto pelo Governo Federal 1907: as obras do porto foram concedidas à Societé Portuaire de Bahia, para o Governo Federal (interesse de companhias estrangeiras) 1911: aprovada a planta de remodelação do Comércio e toda a área foi declarada de utilidade pública 1913: Inauguração do 1º trecho do Cais da Alfândega, 360 m de cais e 3 armazéns 1920:modernização do porto, realização de aterros que mais que duplicaram a área da Cid. início séc.: carruagens de ferro, bo de tração animal que davam atendim aos dois níveis da cidade. As linha rampa do Mercado e do Largo do Pa se constituíam em duas áreas transbordo dos dois sistemas funcionavam de forma independen Rede de Bondes da Cidade B operada pela Companhia Veí Econômicos, e Rede de Bonde da C Alta, operada pela Companhia Transportes Urbanos e pela Comp Circular Carris da Bahia. Nessa é havia ainda a Companhia dos T Centrais, cujas linhas partiam de rampa localizada próximo à Igrej Barroquinha. Final séc.: O turismo tem transformad área sul com a construção da Bahia Marina e a transformação de trapiches restaurantes. Estudos estão sendo realizados para a criação de uma via náutica, para fins turísticos. 1901:1º. Automóvel circulou em Salva 1902: a Rua Santos Dumont foi alarg foi reedificada a fachada da cape Corpo Santo; a Rua Direita do Pa passou a ser chamada Rua Chile 1903: inauguração do serviço de en elétrica, na Rua Chile (Cie. D’Eclairag Bahia) 1905: serviço de esgotos (com The Sampaio); obras de saneamento da central 1909: Elevador do Tabuão foi eletrifica 1910: Elevador Lacerda e o Inclinado Gonçalves foram eletrificado 1912/1922: abertura da Av. Oceânica Período Séc. XX Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut 1947: independência do subcontinente indiano, levando à formação do “Terceiro Mundo” 1949: Vitória Comunista na China 1950/1953: Guerra da Coréia 1952: fundação do Banco do Nordeste visando facilitar o crédito na região; grande seca no interior do estado, sendo registrados 118.000 emigrantes baianos em São Paulo 1954/1975: Guerra do Vietnã 1955: Comissão para o Planejamento Estadual – CPE para elaborar estudos p/ o desenvolvimento do Estado 1956: início da produção automobilística no Brasil c/ maior impacto no sul; fundação do Fundagro (em 1966 transformado em Desenbanco) 1957: processo de formação do Mercado Comum Europeu 1959: Revolução Cubana influencia uma série de golpes militares na América Latina, inclusive no Brasil; criação da SUDENE, dando início ao planejamento regional, visando industrializar a região Nordeste, o investimento do Governo Federal se deu mais na infraestrutura industrial 1960: transferência da capital do Rio para Brasília 1960/1970: a Bahia absorveu 47% dos investimentos realizados no Nordeste 1962/1965: Concílio Vaticano II modifica a Ig. Católica 1964: Golpe Militar, implantando um regime autoritário no país, conforme a realidade da Guerra Fria 1965: criação da Urbis para a construção de grandes conjuntos populares, correspondendo à Cohabs do sistema BNH 1967: criado o Centro Industrial de Aratu pelo governo da Bahia, em Candeias e Simões Filho; criação da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural, posterior Instituto, IPAC 1968: Ato Institucional Número 5, agravando a situação política interna; o novo governo criou uma série de mecanismos e instituições que interferiram no processo de crescimento das cidades, como o Ruth Landes (pesquisa entre 1938 e 1939 sobre o papel das mulheres no candomblé na Bahia) 1951: “Salvador, plan de la Ville”, por Aroldo de Azevedo (Itapagipe ao Rio Vermelho, destacando as vias de cumeada e ligação da Barra ao Rio Vermelho) 1952: Mapa “Transportes Coletivos”, publicado o Roteiro Turístico da Cidade de Salvador, pela PrefeituraPMS (registra 7 consulados, 17 bancos, 5 jornais, 3 estações de rádio e as linhas de bonde); “Mapa da Cidade. Salvador”, PMS (sub-distritos da Sé, da Conceição da Praia (1952), do Passo (1953), do Pilar (1954) e de Nazaré (1955)) 1953: pesquisa de Thales de Azevedo mostrou a permanência da estratificação social e étnica na cidade; “Mapas dos Subúrbios de Salvador”, onde representou as várias etapas de ocupação, desde o núcleo inicial, em 1549 até o território ocupado em 1957; “Mapa da Ocupação do Espaço Urbano – Centro da Cidade de Salvador”, em cores (indica as áreas de comércio de luxo, do comércio grosso e depósito, do varejo pobre, do comércio de transição e artesanato, da alimentação, e os armazéns. Destaca os edifícios públicos e religiosos, assim como as áreas de deterioração) 1956: Atlas Parcial da Cidade de Salvador, pela PMS (mais preciso do que o de Aroldo de Azevedo) Os demais mapas, na escala de 1:1.000, registram os sub-distritos, sendo um registro importante antes da implantação das avenidas de vale e da Av. Contorno; Guia de Viagem sobre a Bahia, preparado para o Congresso Internacional de Geografia, por Domingos e Keller; 1958: “Hipsométrico de Salvador”, “Utilização do Espaço Urbano”, por Domingos e Keller; tese do geógrafo Milton Santos “O Centro da Cidade de Salvador” e “Cartograma da Distribuição dos Guichês Bancários”, limitou seu estudo aos distritos da Sé, das avenidas de vale) 1947: 1ª. invasão de terrenos na cidade, o “Corta Braço”, no Pero Vaz; outras invasões como as de Alagados e a do Nordeste de Amaralina, dando início à formação de importantes bairros populares (Brandão estimou 14.000 casas levantadas sem licença entre 1940 e 1950) 1948: criação da Comissão do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador (CPUCS), substituindo o EPUCS, sob a direção de Diógenes Rebouças; início da invasão de Alagados, contando com 8.875 hab em 1960 Anos 50: 128 projetos de loteamento deram entrada na Prefeitura. Foram implantados 8 loteamentos populares e 2 clandestinos 1954: o território municipal passou a ser dividido em Distritos e SubDistritos, que se apoiaram nos limites das antigas freguesias 195Distritos 1957: redução do território municipal de Salvador com a emancipação de Candeias, de Simões Filho (em 1961), de Lauro de Freitas (em1962) 1959: criação da Superintendência de Urbanização da Capital (SURCAP) para a construção das avenidas de vale Anos 60: 47 projetos de loteamentos na PMS, 10 loteamentos populares, 2 clandestinos e ocorreram 10 invasões, das quais 3 foram erradicadas 1960: foi aprovada a divisão do município em bairros 1967: implantação de novo sistema viário, sob inspiração das diretrizes do EPUCS, com a construção da Av. Costa e Silva, e da Av. Castelo Branco (1968), e as demais após 1970 Anos 70: a Construtora Odebrecht lançou um grande loteamento industrial e atacadista, o “Porto Seco Pirajá”, ao longo da BR-324; até os anos 70, Salvador possuía uma estrutura mononuclear, o centro tradicional (bipolar, Cid. Baixa e Cid. Alta) 1970: criação da OCEPLAN 1970: Companhia sob intervenção federal Anos 70: realização de parte das propostas do EPUCS de construção das avenidas de vale 1971: início da construção do porto de Aratu para atender as empresas do CIA e do futuro Pólo Petroquímico 1977: criação da CODEBA 1938: 162 bondes elétricos e 36 ô “marinetes”; alargamento da Rua da A 1939: Rodovia Rio-Bahia (integraçã economia nacional e facilita a migraç o sudeste); 1.028 automóveis 1942: alargamento da Rua Carlos Go início da construção da estrada Amar Itapuã, abrindo a orla oceânica urbanização; início da verticalizaçã cidade com a construção de prédio apartamentos 1944: Aeroporto de Ipitanga; conclu Estrada do Aeroporto, abrindo o inter península p/ chácaras 1948: a cidade era ainda “provinc circulavam apenas 2.044 autom particulares em Salvador 1949: construída a 1ª. avenida de va Av. Centenário; concluída a estrad longo da orla atlântica, entre Amaralin aeroporto 1951: inaugurada a Hidroelétrica de Francisco, permitindo a industrializ das capitais nordestinas 1952/1966: Túnel Américo Simas 1954: Barragem do Rio Joanes 1955: a Prefeitura encapou a Cia. Ci Carris da Bahia e criou o Serviço Mun de Transporte Coletivo (SMTC), manteve sempre um papel complem às empresas privadas 1956: 5.183 automóveis e 398 ôn superando os 140 bondes ainda existe 1958/1970: Av. Contorno 1959: sistema de ônibus elétricos, cob o mesmo trajeto dos bondes elétricos 1960: 1ª. estação de TV de Salvador, Itapuã; ampliação da estação de água Bolandeira 1961: extinção do serviço de bondes 1965: o IBGE registrou 30.201 autom na cidade 1966/1975: Av. ACM, fazendo a ligaçã entre a Pituba e a área do atual Iguate 1970: Empresa de Transportes Urban Salvador (Transur), incorporou tod patrimônio da SMTC Anos 80: Plano Inclinado LiberdadeCalçada 1963: pavimentação da rodovia Rio-B (BR-116), reforçando a integração da economia da Bahia aos estados do Ce Sul 1967: conclusão da Av. Oscar Pontes Período Séc. XX Contexto Político Iconografia e Documentos Configuração Urbana e Limites núcleos das 9 regiões do país 1985: o Brasil voltou à redemocratrização, num período de crise econômica conhecido como a “década perdida”; Salvador foi declarada “Patrimônio Histórico da Humanidade”, pela UNESCO 1986: a Caixa Econômica Federal assumiu as atividades do BNH, reduzindo a participação do Estado na construção residencial, com impacto no desenvolvimento das cidades, que passaram a resultar sobretudo da ação dos agentes provados e da autoconstrução popular Anos 90: o Governo Federal intensificou o processo de privatização do patrimônio federal, iniciando pela Rede Ferroviária do Leste Brasileiro 1993: reunião dos Estados IberoAmericanos em Salvador, com a inauguração parcial dos trabalhos de reforma no Pelourinho 1999: a Prefeitura realizou concursos p/ o planejamento do conjunto de subúrbios; implantação da Ford em Camaçari com a previsão de um importante impacto indireto em Salvador Anos 2000: criação do Escritório de Revitalização do Comércio, intervindo na ocupação e mudança de função das edificações do bairro prédios do Banco do Brasil e do Instituto do Cacau) 1975: Inventário, exemplar do levantamento do patrimônio arquitetônico de Salvador, por Paulo Ormindo de Azevedo que coordenou para todo o Estado 1977: Plantas da Cidade do Salvador, da Plandurb, anexos ao Inventário de Loteamentos, da PMS, escala 1:20.000 (loteamentos aprovados até essa data; mostra a Salvador “formal” e da “informal”) 1980: Censo do IBGE 1983: Mapa “RMS. Município de Salvador”, da CONDER, escala 1:25.000, de Uso do Solo (zonas de habitação formal, de habitação popular, de ocupação espontânea, áreas de comércio e serviço, zona portuária, zona industrial, além de vários tipos de uso do solo não urbano, espaços verdes e principais equipamentos) 1984: Mapa “Distritos e Sub-Distritos” de Salvador, da CONDER 1985: Mapa “Cidade do Salvador”, da CONDER, escala 1:10.000 1987: Mapa de Salvador da CONDER, na escala de 1:10.000 (equipamentos importantes recentes, como a Estação da Lapa, Shopping Piedade, Estação do Aquidabã, Shopping Iguatemi, Hipermercadom Shopping Itaigara, Pituba Parque Center, Hospital Aliança, estabelecimentos de ensino, o Acesso Norte, as principais casas de candomblé da cidade,...) 1999: Mapa de Salvador, da Geocad, escala 1:30.000 (localiza os principais prédios públicos e, sobretudo, dos novos prédios garagem construídos na área; apresenta um destaque da área central com indicações das transformações ocorridas no Pelourinho, com as praças internas, e destaca os principais estabelecimentos) 2000: Censo Empresarial do Comércio; início do processo de revitalização do Comércio, liderado pela prefeitura em parceria com a Associação Comercial da Bahia, 1977: concluído o Projeto Urbanístico Integrado de Cajazeiras, correspondendo ao planejamento de enorme área de 1.600 há. No interior da península Anos 80: 8 loteamentos populares e ocorreram 37 invasões, das quais 3 foram erradicadas 1981: convênio entre a Prefeitura e o Estado p/ implantação do Dinurb – Distrito Industrial Urbano, ao longo da BR-324 1982: invasão das Malvinas em terrenos de elevado valor entre a Av. Paralela e a orla oceânica 1983: 1.883 famílias das Malvinas foram removidas p/ Coutos, nos subúrbios ferroviários 1984: A OCEPLAN foi transformada em SEPLAN; aprovada a Lei de Ordenação do Uso do Solo Urbano (LOUS) p/ o município 1985: aprovado o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU) 1987: ocorreu nova invasão nas Malvinas, que em 1991 alcançava 4.000 unidades habitacionais 1990: A SEPLAN foi transformada em COM 1997: 357 favelas levantadas, ~590.000 hab, 118.000 unidades residenciais, numa área de 1.473 há, sendo 61% em áreas públicas (Ângela Gordilho Souza) Porto e Aterros Vias, Transportes e Infraestrut ligando Salvador à ilha de Itaparica e sul do Brasil; Vale do Bonocô; Av. Contorno 1971: Av. Suburbana; Av. Pinto de Ag entre a orla e o Centro Administrativo 1973: prédio do Detran; início do aterr Cana Brava (finalizado em 1979) 1974: Vale do Canela; 2ª. pista da Av. Vasco da Gama; Av. Magalhães Neto Paralela(desde1972); construção da n Estação Rodoviária 1975: Emissário Submarino do sistem esgotamento de Salvador entrou em funcionamento no Rio Vermelho; Vale Barris; Av. Antônio Carlos Magalhães 1977: Av. Garibaldi; Av. Orlando Gom ligando a Av. Paralela à orla atlântica; Paripe-CIA, com 9km de extensão 1978: Av. Juracy Magalhães, ligando a Garibaldi ao Rio Vermelho; Vale do O 1979: criação da Transur, empresa de transportes urbanos municipais, substituindo a SMTC; criados os aterr em Alagados e em seguida, os planos urbanização Anos 80: ampliação do Aeroporto de Salvador, tornando-o internacional; paralisação do Plano Inclinado do Pila prejudicando o comércio local 1981: Plano Inclinado Liberdade-Calç 1983: Estação da Lapa 1984: reforma do Aeroporto 1989: iníc construção do terminal de transportes Iguatemi (obra inacabada e recuperad final dos anos 90) 1995: “Programa Bahia Azul”, grande trabalho de saneamento; obras de embelezamento de locais turísticos como o Dique do Tororó, Ja dos Namorados, Unhão, Parque do C Azul, ... 1999: nova ampliação do Aeroporto c/ novo sistema viário APÊNDICE C: Levantamento de fotografias e postais. Num Foto Título Ano ref Local Tipo Foto331 mapa3 Geográfica Topografica da Cidade Capital de S. Salvador Bahia de Todos os Santos séc.XVIII 2 Foto Conceição da Praia 0 Conceição da Praia Foto 3 Vista Geral - Forte São Marcelo - Porto 0 Cidade Baixa e Cidade Alta - lateral Foto 4 Rua Conselheiro Dantas 0 Comércio Foto-postal 5 Comércio 0 Rua Foto 6 Cidade Baixa - Porto 0 Aterro Foto 7 Conceição da Praia 0 Elevador Lacerda Foto 8 Vista parcial do Cais do Porto de Salvador 0 Aterro visto da Cidade Alta Foto 9 Fototeca Fotógrafo Mapa État de la Bahia 0 Vista da Bahia de Todos os Santos Foto-postal 10 Um aspecto do bairro comercial Bahia 0 Rua Foto-postal 11 Comércio 1915 Rua Foto 12 Vista parcial da cidade baixa - Bahia 0 13 Rua Conselheiro Dantas 0 Rua Foto-postal 14 Rua Conselheiro Dantas 0 Cidade Baixa Foto-postal 15 Panorama do Porto 0 Vista da Cidade Alta Foto-postal 16 Comércio - Porto 0 Aterro e Igreja da Sé Foto 17 Cidade Baixa - Bahia 0 Comércio Foto-postal 18 Vista do Porto 0 Comércio - Aterro e Porto Foto 19 Cidade Baixa - Bahia 0 Comércio - Aterro e Porto Foto-postal 20 Praça Cayrú - Bahia 0 21 Comércio 0 22 Praça Cayrú 0 23 Trecho da Rua Lopes Cardoso - Comércio 0 encosta Foto 24 Praia da Gamboa 0 Vista da Cidade Alta Foto 25 Rua Conselheiro Lafaiete 0 Comércio Foto 26 Comércio 0 Rua Foto 27 Rua Lopes Cardoso 0 Comércio Foto João Legal Leal 28 Rua Pedro Bandeira 0 Comércio Foto João Legal Leal 29 Rua Portugal 0 Comércio Foto Foto6330 com Foto64- Praça da Inglaterra - Bahia ~1930 Reforma Foto-postal A.Santos Foto-postal Foto-postal Rua com bêbado Foto Foto Centro Histórico João Legal Leal Num 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 Foto Foto74com Foto75com Foto76com Foto78com Foto79com Foto80com Foto81com=97 Foto82com Foto83com Foto84com Foto85com Foto86com 53 com Foto8754 com Foto8855 com Foto8956 com Foto9057 com Foto9158 com Foto9259 com Foto9360 com Foto9461 com Foto9562 com Foto9663 com Foto9764 com=81 Foto9865 com=39 Foto9966 com Título Ano ref Local Tipo Fototeca Fotógrafo Nadir Gomes Franco Lima Vista Aérea - Porto ~1950 Comércio - Praça da Inglaterra Foto Rua Conselheiro Dantas - Comércio - Bahia ~1920/1930 Rua com linha de bonde Foto-postal Cais do Porto - Zona do Comércio déc. 1960 Vista Regata Foto-postal Rua Conselheiro Dantas déc. 1910 Rua com linha de bonde Foto Igreja da Santíssima Trindade déc. 1920 Aterro Foto Praça Deodoro da Fonseca 1912 Vista Geral Foto-postal Vista da Rua Manoel Vitorino e da Conceição 1944 Rua e Trapiche Adelaide Foto Cais do Porto - Zona do Comércio déc. 1920 Docas da Bahia Foto Rua Conselheiro Dantas déc. 1930 Vista depois do alargamento Foto-postal Rua Pinto Martins 1a. Metade séc. XX Rua Foto-postal Rua Conselheiro Dantas 1920/1930 Rua Foto Vista do Porto e Comércio ~1920 Ladeira da Montanha Foto Rua Nova das Princesas - vista 0 Rua Portugal - Comércio Foto Comércio 1920/1930 Rua Conselheiro Dantas Foto Comércio ~séc. XX Rua com linha de bonde no aterro Foto Vista da Cidade Alta 1920-1950 Forte de São Marcelo Foto Vista da Cidade Alta 2a. Metade séc. XIX Comércio Foto Rua Pinto Martins 0 Travessa da Montanha Foto-postal Comércio final déc. 1940 Instituto do Cacau, Plano Gonçalves Foto Bahia - Panorama déc. 1940 Vista geral - Zona do Comércio Foto-postal Banco Inglês final déc. 1920 British Bank of South America Foto Antiga Rua da Preguiça final déc. 1940 Conceição da Praia e Elevador Lacerda Foto Voltaire Fraga Conceição da Praia final déc. 1940 Ladeira da Montanha - Comércio Foto Arsenal da Marinha (antiga Preguiça) déc. 1940 Rua e Trapiche Adelaide Foto Área fronteira à Conceição da Praia ~1930/1940 Escola de Aprendizes de Marinheiros Foto Voltaire Fraga Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Rua das Princesas ~1910 Comércio Foto Nadir Gomes Franco Lima Travessa da Montanha Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Lindermann Edgard Antunes Nadir Franco Lima Num 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 Foto Foto112com Foto114com Foto115com Foto116com Foto117com Foto119com Foto120com Foto121lacerda Foto122lacerda Foto123lacerda Foto12487 lacerda Foto12588 lacerda Foto12689 lacerda Foto12790 lacerda Foto12891 lacerda Foto12992 com Foto13093 com Foto13194 lacerda Foto13295 lacerda Foto13396 lacerda Foto13497 lacerda Foto13598 lacerda Foto13699 taboao Foto137100 taboao Foto138101 lacerda Título Ano ref Local Tipo Comércio 1a. Déc. Séc. XX Rua de paralelo e linha de bonde Foto Cidade Baixa final séc. XIX Alfândega Foto Bairro da Preguiça final séc. XIX Solar do Unhão e bairro da Preguiça Foto Rua Conselheiro Dantas déc.1940 Vista Foto-postal Praça Deodoro da Fonseca déc.1920 Vista Geral Foto-postal Rua Conselheiro Dantas início séc. XX Foto Vista da Cidade Baixa déc. 1940 Rua de paralelo e linha de bonde Palácio do Governo 1919 e Mercado Modelo Elevador Lacerda ~1910 Elevador e Palácio do Governo Foto Elevador Lacerda 1873/1890 Elevador e Palácio do Governo Foto Elevador Lacerda 1900/1910 Praça Municipal (Tomé de Souza) Foto Vista antiga Alfândega e Elevador 1900/1910 Palácio do Governo e Elevador Lacerda Foto Elevador Lacerda final déc. 1920 Elevador em construção Foto Elevador Lacerda ~1930 Elevador em final de construção Foto-postal Elevador Lacerda déc. 1920 Fila para o Elevador Lacerda Foto Elevador Lacerda déc. 1920 Rua Conselheiro Dantas final séc. XIX Vista antes do alargamento Foto Vista da Cidade Alta déc. 1940 Comércio - Instituto do Cacau(1936) Foto Elevador Lacerda déc. 1940 Instalação nova - 64m de altura Foto Praça Municipal de Salvador 1900/1910 Elevador Lacerda Foto Elevador Lacerda 1900/1910 Elevador Lacerda 1900/1910 Praça Cayrú ? Foto-postal Elevador Lacerda início séc. XX antiga instalação Foto Elevador do Taboão final séc. XIX Vista interna Foto Elevador do Taboão final séc. XIX Vista interna Foto Elevador Lacerda final déc. 1920 Elevador em final de construção Foto Fototeca Fotógrafo Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Nadir Franco Lima Foto Perfil da Cidade de Salvador Nadir Franco Lima Diversos Foto-postal Airton Nadir Franco Lima Panorama - Foto 1 Nadir Franco Lima Foto Nadir Franco Lima Diversos Num Foto Título Ano ref Local Tipo Fototeca 115 Vista Aérea Órfãos de São Joaquim Foto Comércio 116 Vista Aérea Porto Foto Comércio 117 Vista Aérea Porto e Instituto do Cacau Foto Comércio 118 Vista Aérea Porto e Instituto do Cacau Foto Comércio 119 Vista Aérea Porto e Instituto do Cacau Foto 120 Vista Aérea Órfãos de São Joaquim Foto14121 perfil Foto15122 perfil Foto16123 perfil Foto17124 perfil Foto18125 perfil Foto19126 perfil Foto20127 perfil Foto21128 perfil Foto22129 perfil Foto23130 perfil Foto24131 perfil Foto25132 perfil Foto26133 perfil Foto28135 perfil Foto29136 perfil Foto30137 perfil Foto31138 mapa1 Foto32139 mapa2 Foto144140 lacerda 2a. Metade séc. XIX Porto e Docas da Bahia Desenho/Proposta Vista Antiga da Cidade do Salvador séc. XIX Bahia de Todos os Santos Desenho Vista da Cidade do Salvador - Invasão Holandesa 1624/1625 Bahia de Todos os Santos Desenho Vista da Cidade do Salvador - Invasão Holandesa Vista Parcial de Gravura Holandesa - Invasão Holandesa Vista Parcial de Gravura Holandesa - Invasão Holandesa 1624 Bahia de Todos os Santos Desenho 1624 da Ajuda à São Bento Desenho 1624 da Lad. da Conceição à Lad. da Preguiça Desenho Perfil da Cidade do Salvador ~1910 Fac. De Medicina à antiga Igreja da Sé Foto Perfil da Cidade do Salvador 1900/1906 Elevador Lacerda e Alfândega Foto Perfil da Cidade do Salvador ~1900 Boqueirão do Passo Foto Perfil da Cidade do Salvador início séc. XX Órfãos de São Joaquim Foto Perfil da Cidade do Salvador 1900/1906 Foto Perfil da Cidade do Salvador final anos 1940 Misericórdia à Conceição da Praia Conceição/ Palace Hotel/ Palácio dos Desportos Perfil da Cidade do Salvador 1950/1960 The Caloric Company Foto Perfil da Cidade do Salvador ~1920 do Carmo à Catedral Foto Perfil da Cidade do Salvador década de 1850 Praça da Sé ao Teatro João Desenho Cidade Baixa e Cidade Alta Foto-postal Foto Desenho Planta do Engenheiro Jean Massé 1718 Desenho/Projeto Elevador Lacerda déc. 1940 Foto-postal Elaboração: Heliana F. M. Rocha – 2006. Fonte: CEAB. Comércio Comércio Bahia: Harbour and Graving Docks Perfil da Cidade do Salvador ~1960 Topografica da Cidade Capital de São Salvador Bahia de Todos os Santos 1798 Fotógrafo Perfil da cidade Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Perfil da Cidade do Salvador Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Nadir Gomes Franco Lima Joaquim Vieira da Silva