semânticas, ou considerações sobre cognição e
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semânticas, ou considerações sobre cognição e
Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE SEMÂNTICAS, OU CONSIDERAÇÕES SOBRE COGNIÇÃO E FORMALISMO SEMANTICS, OR CONSIDERATIONS ABOUT COGNITION AND FORMALISM Diogo Simão1 RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de levantar uma questão: formalismo e cognição podem ser relacionados (JOHNSON-‐LAIRD, 1982)? Para isso, apresentaremos alguns pressupostos básicos que compõem tanto a semântica cognitiva (JAKENDOFF, 1990; TALMY, 2001) quanto a semântica formal (BORGES NETO, 1998; CHIERCHIA, 2003). Não iremos propor, aqui, uma resposta para a pergunta. O que queremos é instigar a curiosidade do leitor sobre cognição, formalismo e, principalmente, semântica (SAEED, 2003). Palavras-‐chave: semântica; semântica formal; semântica cognitiva. ABSTRACT: This paper aims at raising a question: can formalism and cognition be related (JOHNSON-‐LAIRD, 1982)? For this question to be posed, we will present some basic theoretical assumptions which compose both cognitive semantics (JAKENDOFF, 1990; TALMY, 2001) and formal semantics (BORGES NETO, 1998; CHIERCHIA, 2003). We will not propose an answer to the question, however. Our goal here is to instigate our readers’ curiosity about cognition, formalism and, above all, semantics (SAEED, 2003). Keywords: semantics; formal semantics; cognitive semantics. 1. INTRODUÇÃO Normalmente, atribui-‐se à semântica a ideia de ‘estudar os significados’. Segundo Gennaro Chierchia (2003, p. vii), por exemplo, “[...] a semântica é o estudo do significado das expressões das línguas naturais. É um ramo da linguística (a ciência da linguagem)”. Essa definição, entretanto, gera problemas na medida em que o ‘significado’, por não ser uma entidade física no mundo, ou seja, não podemos ver, nem encostar, etc., vai assumindo concepções diferentes em diversas teorias. Assim, a cada 1 Mestrando em Letras, UFPR. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 68 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE concepção atribuída ao ‘significado’, uma possibilidade de teoria semântica diferente é formada. Essa múltipla possibilidade gera um grande desencontro entre teóricos e teorias que pensam o estudo da semântica e dos sentidos. Dentre os diversos recortes teóricos para os estudos da semântica das línguas naturais, três são os mais conhecidos e difundidos pelos manuais de semântica de que dispomos. Assim, [...] para alguns, o significado é a relação que se dá entre as expressões linguísticas e o mundo externo que as expressões descrevem [...]; para outros, o significado é a relação que se dá entre as expressões linguísticas e o uso que os falantes fazem delas [...]; para outros, ainda, o significado é a relação entre as expressões e algo equivalente aos conceitos mentais propostos pela teoria ideacional do significado [...] (BORGES NETO, 1998, p.5). O que José Borges Neto (1998) nos explica é a possibilidade de relação das expressões linguísticas com o mundo externo, com a situação de uso da língua, e com a mente. Para isso, ele nos mostra três das linhas teóricas mais conhecidas através das quais os semanticistas encaram a natureza do seu objeto de estudo, ou seja, o sentido das expressões naturais e podem ser nomeados, respectivamente, como “semântica de valor de verdade”, “semântica de atos de fala”, e “semântica cognitiva” (BORGES NETO, 1998 p. 5). Essas três divisões acima expostas também são percebidas e descritas, respectivamente, como “abordagem denotacional”, “abordagem pragmático-‐social” e “abordagem representacional” por Chierchia (2003): As abordagens de maior sucesso que foram propostas ao longo da história podem ser agrupadas, grosso modo, em três famílias. Segundo a primeira [...] o significado é aquilo que captamos mentalmente quando usamos uma expressão. A segunda abordagem [...] subordina o significado de um sistema de expressões às convenções sociais que o governam. A terceira abordagem [...] define o significado em termos de verdade e referência. (CHIERCHIA, 2003, p. 40) Fica claro, a partir de Borges Neto (1998) e de Chierchia (2003), que há uma espécie de triangulação entre aqueles que observam a semântica através de uma perspectiva cognitiva — tendo em vista os processos mentais e suas relações com a SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 69 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE construção do sentido — de uma perspectiva social, tendo em vista os fatores externos aos indivíduos e suas relações com a construção do sentido, e finalmente, de uma perspectiva referencial, com vista aos fatores estruturais da língua e suas relações com a construção do sentido. É necessário, então, estreitar o ponto de vista e escolher um ponto de partida. Assim como decidimos observar os fenômenos semânticos de uma língua natural, precisamos também escolher sob qual prisma esses fenômenos acontecem. Assim, entre as três abordagens semânticas apresentadas anteriormente, optamos por olhar com maior atenção duas delas. Uma é a que trata da teoria representacional da semântica, em que o sentido é visto como um fenômeno cognitivo. Outra é a que trata de uma teoria denotacional, em que o sentido é visto através da relação expressão/mundo. Ou, dito de outra maneira, optaremos por nos debruçar melhor sobre a semântica cognitiva e a semântica formal, observando suas fundamentações, objetivos, diferenças e relações. Uma teoria da semântica cognitiva prevê a participação de processos mentais na relação entre expressões linguísticas e o ‘sentido’ (JAKENDOFF, 1990; TALMY, 2001; PINKER, 1989). Tomemos, por exemplo, as metáforas. Durante muito tempo, as metáforas foram descritas e explicadas como figuras construídas através de uma retórica que buscava, essencialmente, um fazer retórico. A partir dessa perspectiva, construções metafóricas dependeriam, então, muito mais de uma manipulação consciente da linguagem do que qualquer outra coisa. A descoberta de que as construções metafóricas podem ser entendidas como resultados de uma operação cognitiva sobre uma construção linguística nos mostram um pouco sobre esse recorte teórico. Segundo George Lakoff e Mark Johnson (2003): “We have found, on the contrary, that metaphor is pervasive in everyday life, not just in language but in SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 70 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE thought and action. Our ordinary conceptual system, in terms of which we both think and act, is fundamentally metaphorical in nature”.2 (LAKOFF & JOHNSON, 2003, p. 3) Assim, sob a perspectiva cognitivista, a percepção que o sujeito possui do mundo é papel fundamental na construção da linguagem, excluindo, aparentemente, toda e qualquer sistematização que desconsidere a subjetividade do sistema perceptual do falante (TALMY, 2001). Em contrapartida, uma teoria de semântica formal prevê a utilização de uma espécie de metalinguagem, em que a representação das estruturas de uma dada língua natural é feita através de uma linguagem lógico-‐ matemática. Segundo Chierchia (2003, p. 49), “compreender uma sentença do português é determinar sua estrutura lógica”. Assim, ao propor um sistema de regras e operações (CORRÊA, 1999), a semântica formal se afasta, aparentemente, da semântica cognitiva. Podemos ver, também em Chierchia (2003), um distanciamento entre as duas perspectivas teóricas: [...] na abordagem mentalista, procura-‐se relacionar sistematicamente a linguagem verbal à linguagem do pensamento, enquanto que na presente abordagem procura-‐se relacioná-‐la a uma lógica. No primeiro caso, estamos tentando relacionar as línguas naturais a algo cujas propriedades não conhecemos, pois não sabemos como se configuram a sintaxe e a semântica da linguagem mental. No segundo caso, por outro lado, sabemos melhor o que procurar, porque sabemos como é que uma lógica precisa configurar-‐se. (CHIERCHIA, 2003, p. 49) A ideia da qual partimos aqui é de que a semântica formal — que propõe a definição de sentido como uma questão de verdade e referência e estabelece modelos lógicos para dar conta das expressões linguísticas — pode e tem estabelecido um diálogo com a semântica cognitiva — que propõe a definição de sentido como um conceito mental que é guiado por fenômenos cognitivos — no sentido de que um 2 “Achamos, ao contrário, que a metáfora é presente no cotidiano, não apenas na linguagem do pensamento e ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos sobre como pensamos e agimos, é fundalmentalmente metafórico em sua natureza.” (LAKOFF & JOHNSON, 2003, p. 3). Tradução nossa. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 71 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE modelo formal para os fenômenos linguísticos pode ajudar em uma análise cognitiva dos fenômenos linguísticos e entre linguagem e sentido. Nesse sentido, abordaremos, ao falar de teorias semânticas que se propõem cognitivas, as metáforas e a cognição de Lakoff e Johnson (2003), a relação mente e linguagem (PINKER, 1989, 2002) e a semântica cognitiva proposta por Ray Jakendoff (1990) e Leonard Talmy (2001), por exemplo. Falar da semântica formal, abordagem apresentada por Chierchia (2003) nos dá uma noção de como se estabelece a ligação entre a língua e a lógica. Já Borges Neto (1998) traz os fundamentos da semântica formal. 2. UM BREVE PERCURSO PELAS SEMÂNTICAS: COGNIÇÃO [...]linguistic description have different levels of analysis. So phonology is the study of what sounds a language has and how these sounds combine to form words; syntax is the study of how words can be combined into sentences; and semantics is the study of the meanings of words and sentences. (SAEED, 2003, p. 3).3 A semântica, então, pode ser entendida como o estudo dos significados das expressões de uma língua. Como exposto anteriormente, esse estudo pode ser assumido sob três perspectivas distintas. A primeira perspectiva toma o sentido como a relação das expressões e os conceitos mentais do falante, e pode ser chamada representacional. A segunda perspectiva toma o sentido como a relação das expressões com aquilo que elas referem, e pode ser chamada denotacional. A terceira toma o sentido como a relação das expressões com a situação de uso, ou melhor, do contexto no momento da fala (CHIERCHIA, 2003). A despeito do contexto no momento da fala, focaremos aqui nas duas outras perspectivas ao tratar da semântica cognitiva e da semântica formal. A aproximação da linguística com a cognição é cenário recente 3 [...]uma descrição linguística tem níveis diferentes de análises. A fonologia, então, é o estudo de quais sons uma lingua(gem) tem e como esses sons se combinam para formar palavras; sintaxe é o estudo de como palavras podem ser combinadas em sentenças, e semântica é o estudo dos significados (sentido) de palavras e sentenças. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 72 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE na ciência da linguagem. Um dos motivos do afastamento anterior é o fato de que o sistema conceptual é algo que não se pode observar. Outro é que, uma vez que a preocupação em estudar a linguagem era entender sua estrutura, os fenômenos sociais e mentais que colaboram para isso acabaram ficando relegados ao segundo plano nos estudos linguísticos por conta da dificuldade teórica de considerá-‐los. We submit that a distinction should be made between the faculty of language in the broad sense (FLB) and in the narrow sense (FLN). FLB includes a sensory-‐ motor system, a conceptual system […]. We hypothesize that FLN only includes recursion and is the only uniquely human component of the faculty of language. (HAUSER, CHOMSKY, & FINCH, 2002, p. 1569)4 Assim, quando a linguística finalmente atentou para o sistema conceptual, para os processos mentais, para a cognição envolvida na linguagem, uma série de teorias voltadas para um tratamento cognitivo surgiu. Na década de 1980, por exemplo, Lakoff e Johnson (2003) perceberam que as metáforas, ao contrário do que se pensava até então, não eram apenas construções retóricas feitas por uma motivação estética. São, antes, resultado de um sistema cognitivo capaz de associar expressões e criar figuras a partir dessa associação. Assim, The most important claim we have made so far is that metaphor is not just a matter of language, that is, of mere words. We shall argue that, on the contrary, human thought processes are largely metaphorical. This is what we mean when we say that the human conceptual system is metaphorically structured and defined. Metaphors as linguistic expressions are possible precisely because there are metaphors in a person’s conceptual system. (LAKOFF & JOHNSON, 2003, p. 6)5 4 “Uma distinção deve ser feita entre a faculdade da linguagem num sentido amplo e num sentido estreito. O ‘sentido amplo’ compreende um sistema sensório-‐motor, um sistema conceptual […]. Nós hipotetizamos que o ‘sentido estreito’ compreende apenas a recursividade e ela é o único componente humano da faculdade da linguagem” (HAUSER, CHOMSKY, & FINCH, 2002, p. 1569). Tradução nossa. ⁴ “A mais importante afirmação que fizemos até agora é que a metáfora não é apenas uma questão de linguagem, ou seja, meras palavras. Devemos argumentar que, ao contrário, o processamento do pensamento humano é amplamente metafórico. Isso é o que queremos dizer quando falamos que o SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 73 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE Muitos dos conceitos que entendemos são através de outros conceitos (LAKOFF & JOHNSON, 2003, p. 56). Tomemos os seguintes exemplos: a) Não gaste seu tempo. Investiu tempo demais nesse trabalho. b) Defenda seu ponto de vista. O candidato destruiu a argumentação do adversário no debate. c) Ele me deu uma ideia excelente. Essas palavras tem pouco sentido. Para explicar que a metáfora faz parte do nosso sistema conceptual, e entendemos conceitos através de outros conceitos, podendo, inclusive, propor associações do tipo: TEMPO É DINHEIRO, DISCUSSÃO É GUERRA e IDEIA É OBJETO. Quando concebemos o tempo através do dinheiro, por exemplo, sentenças metafóricas como em ‘a’ podem ser geradas. Já a discussão através da guerra permite a produção de sentenças metafóricas como em ‘b’. Finalmente, as sentenças metafóricas geradas em ‘c’ são possíveis se concebermos a ideia através de objetos. A possibilidade de perceber conceitos através de metáforas depende, então, do sistema conceptual de cada um. O modo como cada pessoa percebe o mundo; as pessoas, o ambiente, os objetos e os eventos que a cercam, e quais deles vão aparecer ou ser omitidos na linguagem. Nesse sentido, o que temos é uma espécie de olhar particular e subjetivo sobre cada coisa. Esse olhar é o que Talmy (2001, p. 257) chamará de “enjanelamento de atenção”, sistema conceptual humano é estruturado e definido metaforicamente. Metáforas como expressões linguísticas são possíveis precisamente porque há metáforas no sistema conceptual de uma pessoa” (LAKOFF & JOHNSON, 2003, p. 6). Tradução nossa. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 74 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE Using the perspectives and methods of cognitive semantics, this study sets forth the system with which languages can place a portion of a coherent referent situation into the foreground of attention by the explicit mention of that portion, while placing the remainder of that situation into the background of attention by omitting mention of it. Terminologically, the cognitive process at work here is called the windowing of attention […] (TALMY, 2001, p. 257)6 Esta é a perspectiva que descrevemos acima e que entendemos como parte integrante de um dos esforços centrais de Talmy (2001): construir uma teoria semântica que não ignore os elementos conceptuais presentes na cognição humana. O diálogo entre a linguística e a psicologia é inevitável, uma vez que boa parte de sua teoria traz o principio de figura e fundo da Gestalt como fundamentação teórica para sua argumentação — assim como Jakendoff (1990) também já havia feito. A ideia de figura e fundo é, basicamente, a capacidade que um indivíduo tem de perceber coisas mais importantes que outras no mundo real. O que é mais importante assume o destaque, ou seja, a figura. O que é menos importante é omitido, ou seja, o fundo. Esse princípio, como já dito, ganhou fama em teorias gestaltistas dentro da psicologia, e é retomado por alguns teóricos do que virá a ser a semântica cognitiva. No sentido de que cada falante possui seu sistema conceptual e que cada sistema conceptual é único, parece impossível sistematizar algo através de uma formalização da língua que, pela ideia proposta pela cognição, é subjetivo. Jakendoff (1990) é um dos autores que discutem essa questão, quando teoriza sobre os estudos da aquisição de linguagem, falando que existe uma diferença entre o mundo real e o mundo que é organizado de maneira inconsciente pela mente, que ele chama de “mundo real” e “mundo projetado” (JAKENDOFF, 1990, p 29), tratando este como algo extremamente 6 “Usando as perspectivas e métodos da semântica cognitiva, esse estudo descreve o sistema com que as linguagens podem definir uma porção de uma situação referente coerente como plano central da atenção pela menção explícita dessa porção, enquanto define o restante dessas situação para o fundo da atenção omitindo sua menção. Terminologicamente, o processo cognitivo trabalhando aqui é chamado de enjanelamento de atenção. […]”(TALMY, 2001, p. 257). Tradução nossa. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 75 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE subjetivo, ou seja, sujeito às particularidades de cada indivíduo. Seja qual for o objetivo principal de estudo de cada teórico mencionado, o que podemos notar, de maneira mais geral, é que todos os autores mencionados (LAKOFF & JOHNSON, 2003; JAKENDOFF, 1990; TALMY, 2001) consideram que a semântica cognitiva atenta para os elementos conceituais, como espaço e tempo, cenas e eventos, entidades e processos, movimento e localidade, e força e causa (TALMY, 2001; JAKENDOFF, 1990) necessários para a produção de sentido nas sentenças. 3. UM BREVE PERCURSO PELAS SEMÂNTICAS: O FORMALISMO A semântica formal, por outro lado, [...] come at meaning from another angle: for them a primary function of language is that it allows us to talk about the world around us. When communicating with others and in our own internal reasoning we use language to describe our models, facts and situations. From this perspective, understanding the meaning of an utterance and his meaning is being able to match it with the situation it describes. Hence the search of meaning, from denotational perspective, is the search for how the symbols of language relate the reality. (SAEED, 2003 p. 292-‐ 293)7 vai buscar na condição de verdade entre as expressões da língua e suas relações com o mundo. Vejamos um exemplo de sentença a) Filipe saiu de casa com o cabelo desarrumado. 7 “[...] vêm o sentido por outro ângulo: para eles [semanticistas formais] a função primária da linguagem é que ela nos permite falar do mundo que nos cerca. Quando nos comunicamos com outros e com nós mesmos, usamos linguagem para descrever modelos, fatos e situações. Sob essa perspectiva, entender o sentido de uma sentença é ser possível marcar qual situação ele descreve. Hence o sentido do significado, sob uma perspectiva denotacional, é a busca por como os símbolos da linguagem relatam a realidade” (SAEED, 2003 p. 292-‐293). Tradução nossa. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 76 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE Para poder entender como a condição de verdade funciona, primeiro, podemos dizer que ‘Filipe’ é uma expressão linguística que representa um indivíduo no mundo. A sentença em ‘a’ só será verdadeira se e somente se existir um indivíduo no mundo chamado Filipe, e esse indivíduo realizar uma ação de ‘sair de casa com o cabelo desarrumado’. Ou melhor, podemos dizer que a sentença ‘Filipe saiu de casa com o cabelo desarrumado’ é verdadeira se e somente se Filipe saiu de casa com o cabelo desarrumado. Para dar conta dessas relações entre expressão e significado, busca-‐se utilizar uma linguagem universal — ou melhor, uma metalinguagem — que dê conta das expressões das línguas individuais. Para isso, se faz necessário escolher um modelo que sirva como linguagem universal, que para a semântica formal será um modelo lógico que chamamos de cálculo de predicado. Tomemos, como exemplo, as afirmativas abaixo: b) Filipe dorme. c) Bruno fuma. para assumir que, ao contrário de uma estrutura sujeito-‐predicado tradicional, em que sujeito é de quem — ou de que — se fala e predicado é o que se fala sobre alguém — ou algo, uma estrutura de predicado lógica é uma espécie de estrutura que precisa ser preenchida pelo sujeito para poder ter o sentido completo. (SAEED, 2003, p. 296-‐297) Assim, podemos atribuir, o que normalmente se faz, uma letra maiúscula ao predicado, como mostram os exemplos abaixo, d) dorme: D e) fuma: F SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 77 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE e para o sujeito, uma letra minúscula, que podemos chamar de ‘constante individual’. Assim, f) Filipe: f g) Bruno: b a estrutura lógica das duas sentenças apresentadas em (b) e (c) pode ser montada, normalmente, com o predicado seguido do sujeito h) Filipe dorme: D(f) i) Bruno fuma: F(b) e se o sujeito for uma incógnita, ou melhor, não especificado, temos normalmente as letras finais do alfabeto, atribuídas normalmente às incógnitas que aparecem na matemática: j) x dorme: D(x) k) y fuma: F(y) Os exemplos acima dizem respeito às estruturas lógicas dos verbos intransitivos, ou seja, aqueles verbos que exigem apenas um argumento. Se formos pensar nos verbos transitivos, que exigem dois argumentos, teremos uma estrutura lógica um pouco diferente, que podemos ver no exemplo abaixo l) João ama Maria. m) João ama Maria: A(j, m) SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 78 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE e que demonstra que o predicado funciona, nesse caso, estabelecendo uma relação entre os argumentos, que são dispostos como no exemplo ‘m’. Assim, estruturas mais longas e mais complexas vão sendo traduzidas para uma linguagem matemática, lógica. Tomemos alguns exemplos com operadores e conectores: n) Filipe dorme e Bruno fuma. o) D(f) ^ F(b) Para levantar alguns pontos: o símbolo ‘^’ funciona como conector aditivo do tipo ‘p e q’, em que ‘p’ e ‘q’ são duas sentenças distintas. Nos exemplos abaixo, por outro lado, o símbolo ‘→’ funciona como condicional do tipo ‘se p, então q’, em que ‘p’ e ‘q’ são duas sentenças distintas: p) Se Filipe dormir, Bruno fuma. q) D(f) → F(b) O que apresentamos acima foi apenas um dos vários meios de representar uma língua natural através de outra linguagem, não natural, que funciona para dar mais precisão à análise. Essa linguagem, que não é natural, serve como uma linguagem para mencionar a linguagem que estamos estudando, que é natural. Fazemos isso para ter mais precisão na análise e, de certa forma, poder generalizar as observações. Chamamos essa linguagem que fala da linguagem de metalinguagem. Vejamos que a semântica formal parte, então, do pressuposto de que há uma relação entre língua e algo no mundo, e que essa relação pode ser explicitada através de uma metalinguagem precisa e eficiente. Vários são os modelos que tentam dar conta disso. Vai para além dos nossos propósitos tratar de todos os modelos. Ficamos, antes, na ideia geral da abordagem teórica. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 79 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos que as expressões linguísticas podem se relacionar, a depender do modelo teórico adotado, ao mundo, à mente e às expressões linguísticas. Escolhemos aqui dois deles: aqueles modelos que consideram a relação entre língua e mundo e aqueles que consideram a relação entre língua e mente. Percorremos, rapidamente, a ideia por detrás da semântica dita cognitiva e pela semântica dita formal para investigar algum meio de se usar ambos os modelos ao mesmo tempo, utilizando um para resolver o problema do outro e vice e versa. (SAEED, 2003, p. 296-‐297). Ocorre que há, entre a semântica formal e a semântica cognitiva, um problema de saída: como é possível resolver a relação mundo — mente — língua — mente — mundo? Esse seria o primeiro passo a considerar para ir em direção ao que estamos investigando. É possível que o mundo forneça à mente os elementos essenciais para uma representação. Essa representação, provavelmente, não é fixa. Da representação, temos a língua natural. Agora vejamos o percurso contrário... Um modelo de semântica cognitiva prevê que o sentido de uma dada expressão linguística se dá na relação entre essa expressão linguística e a mente. Até aí, tudo certo. O problema é que a semântica formal pressupõe que essa relação ocorre entre a expressão linguística e o mundo. A pergunta mais intrigante é como chegamos da mente ao mundo. Chegamos? Philip Nicholas Johnson-‐Laird (1982) chega a discutir esse problema quando diz que é necessário que se construa um modelo de mente, e não de representação mental. Essa discussão é importante porque um modelo de representação mental é um modelo em cima de uma metalinguagem, que não é o referente propriamente dito, como vimos na seção anterior — é a linguagem para falar da linguagem. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 80 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE Vemos que a cognição é um fator fundamental no processamento da linguagem — como exemplificamos com as metáforas de Lakoff e Johnson (2003). Tratamos do modo como manipulamos conceitos que oriundam de nosso recorte do mundo, e da manipulação desse recorte mentalmente. O problema é: como usamos isso para falar do mundo? E esse mundo é novamente acessível, ou uma vez que representado, não há como religar a relação sentença – objeto no mundo? Não temos espaço para responder a essas perguntas, nem cremos que elas sejam possíveis de serem respondidas — ainda. Cremos que a investigação sobre questões como essas é interessante na medida em que nos ajuda a compreender qual a relação entre nossa mente, o mundo e o modo como nós falamos desse mundo através da nossa mente. REFERÊNCIAS BORGES NETO, J. Fundamentos de semântica formal: a semântica de Montague. Tese de concurso titular. Curitiba: UFPR, 1998. CHIERCHIA, G. Semântica. Campinas: Ed. Unicamp, 2003. CORREA, L. M. S. Aquisição da linguagem: uma retrospectiva dos últimos 30 anos. In: DELTA, v. 15, n. especial, São Paulo, 1999. HAUSER, M.D., CHOMSKY, N., & FINCH, W.T. The faculty of language: what is it, who has it, and how did it evolve? In: Science, 298, 1569-‐1579. 2002. JACKENDOFF, R. Semantic and Cognition. Cambridge, MA: MIT Press, 1990. JOHNSON-‐LAIRD, P. N. Formal semantics and the psychology of meaning” In: S. Peters and E. Saarinen (eds.). Process, Beliefs. and Questions: D. Reidel Publishing Company, 1982. Pp.1-‐68. LAKOFF, G. & JOHNSON, C. Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago Press, 2003. PINKER, St. Learnability and cognition — the acquisition of argument structure. Cambridge, Mass: The MIT Press, 1989. ________________. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem São Paulo: Martins Fontes, 2002. SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 81 Curitiba, Vol. 3, nº 4, jan.-‐jun. 2015 ISSN: 2318-‐1028 REVISTA VERSALETE SAEED, J. I. Semantics – introducing linguistics. Blackwell Publishing ltd, 2003. TALMY, L. Toward a Cognitive Semantics. Vol. I. Cambridge, Mass: The MIT Press, 2001. Submetido em: 10/03/2015 Aceito em: 13/04/2015 SIMÃO, D. Semânticas, ou considerações... 82
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