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O CINEMA E A FORMAÇÃO BIOÉTICA DO MÉDICO: UMA ODISSÉIA DE IMAGENS E CONCEITOS PEDRO HENRIQUE NETTO CEZAR RODRIGO SIQUEIRA BATISTA O Cinema e a Formação Bioética do Médico: Uma Odisséia de Imagens e Conceitos Pedro Henrique Netto Cezar Rodrigo Siqueira-Batista Este material corresponde ao produto final da dissertação de mestrado em Ensino de Ciências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. NILÓPOLIS 2010 C419 Cezar, Pedro Henrique Netto. O cinema e a formação bioética do médico: uma odisséia de imagens e conceitos / Pedro Henrique Netto Cezar; Rodrigo Siqueira Batista. - 2010. 56f. - (Manual para professores, produto final da dissertação de mestrado em Ensino de Ciências do mesmo autor - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Nilópolis, RJ. 2010. Bibliografia: f.50-56. 1- Ciências Humanas. 2. Educação. 3. Educação médica. 4. Filmes e vídeos educativos. 5. Manuais. I. Siqueira-Batista, Rodrigo. II. Título. CDD 370 APRESENTAÇÃO O presente trabalho é destinado aos professores que se dedicam à formação de médicos e que desejam trabalhar os princípios da ética e da bioética através de filmes de cinema, criando um ambiente lúdico, instigante e, sobretudo, reflexivo para os discentes. SUMÁRIO I) INTRODUÇÃO........................................................ 04 II) TEMAS .................................................................. 07 II.A) Bioética e o início da vida................................... 07 II.B) Bioética e o fim da vida...................................... 16 II.C) Bioética clínica: a relação médico paciente........................................................................ 27 II.D) Ética em pesquisa envolvendo seres humanos............................................................. 34 II.E) Bioética e meio ambiente. ................................ 43 III) CONSIDERAÇÕES FINAIS................................. 50 IV) REFERÊNCIAS.................................................... 51 Introdução O Ministério da Educação, através das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina - publicadas em 2001 - destacam a importância da formação de profissionais com visão generalista, crítica e reflexiva, capacitados a atuar na atenção, na prevenção e na promoção à saúde, pautado em princípios éticos e bioéticos, nos diferentes níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2001). Desta forma, a discussão de temas relacionados à ética e à bioética se torna cada vez mais necessária ao longo do curso médico. O aluno a ser formado - em concordância com as Diretrizes Curriculares Nacionais - deve estar apto a adquirir habilidades e conhecimentos que lhe permita identificar problemas básicos de saúde, reconhecer direitos, valores e aspectos econômicos dos pacientes; aprender métodos científicos e postura ética visando à tomada de decisões corretas; ter formação que o leve a aprender fazendo e aprender a aprender, construindo, com isso, seu conhecimento (SIQUEIRA, 2009). Com efeito, é necessário criar métodos e estratégias pedagógicas que despertem, no estudante, noções relacionadas com o seu dever de cuidador - o respeito pelo outro e a compreensão do ser humano na sua integralidade permitindo com isso uma interligação de diferentes saberes. 04 Baseado nestas conjecturas, por que a discussão de bioética através do cinema? O cinema em sala de aula leva à criação de um espaço para o diálogo franco de questões que ocupam e preocupam o estudante e que nem sempre encontram espaço formal acadêmico, para serem abordadas. A conversação entre os alunos é um salutar meio de crescimento pessoal.Os filmes podem ser utilizados para estimular a reflexão bioética de três formas diferentes (SHAPSHAY, 2009): a) pedagogicamente, através de ilustrações úteis e estimulantes e dos temas apresentados aos alunos; b) interpretativa, na qual a utilização de conceitos filosóficos pode permitir uma interpretação mais fidedigna de natureza cinematográfica, o que facilita seu entendimento. c) experimental, fornecendo experiências ricas em conteúdo, as quais podem permitir intuições de caráter moral e avançam o pensamento ético. De fato, o cinema permite um encontro de imagens-conceitos de diferentes áreas do conhecimento, colocando-as em movimento, - em intercomunicação atingindo a sensibilidade da audiência e permitindo, muitas vezes, vivências de diferentes realidades. 05 Desta feita, torna-se possível a reflexão acerca de inúmeras questões, as quais, posteriormente, podem ser interligadas. Com a finalidade de orientar o professor de medicina em relação à discussão de temas atinentes à bioética, serão apresentadas, a seguir, sugestões de filmes, acompanhados de sua ficha técnica e sinopse, além de propostas de temas para a utilização dos mesmos em sala de aula e opções bibliográficas para aprofundamento dos assuntos discutidos. 06 BIOÉTICA E INICIO DA VIDA 07 GATTACA Ano de Produção: 1997 (EUA) Diretor: Andrew Niccol Duração; 112 minutos. Sinopse: Em um futuro não muito distante, quando a engenharia genética está cada vez mais desenvolvida - permitindo que a ontogênese humana ocorra, de forma eugênica, em laboratório Vincent foi concebido por vias naturais. Ao nascer, porém, apresentava perfil biológico bastante desanimador, tendo em vista a tendência à cardiopatia e a expectativa de vida de 30 anos. Seu irmão, Anton, ao contrário, nasceu por inseminação artificial, sendo geneticamente superior. Sempre tratado como limitado pelos pais, Vincent, ao atingir a maioridade, resolve sair de casa para ganhar o mundo e tentar realizar seu sonho de ser piloto aeroespacial. Após vários empregos, vai trabalhar em Gattaca, uma corporação encarregada de treinar indivíduos geneticamente superiores para viagens aeroespaciais. Como tinha importantes limitações genéticas, Vincent torna-se faxineiro da corporação. 08 Entretanto, com a ajuda de um engenheiro genético, troca de lugar com Jerome, indivíduo geneticamente superior, mas que, por conta de um acidente, estava em uma cadeira de rodas. Assumindo a identidade de Jerome, Vincent volta à Gattaca como um “astronauta.” Todavia, se vê envolvido em um assassinato. A partir de então, para provar sua inocência, põe em risco sua identidade verdadeira. Comentário: O filme começa com duas citações que podem fomentar a discussão bioética acerca das pesquisas genéticas: “Vejam a obra de Deus. Quem pode endireitar o que ele fez torto?” (Ecclesiastes 7:13) e “Não só acho que devemos interferir na mãe natureza, como acho que é isso que ela deseja” (Willard Gainly). Ambas levam a pensar sobre os limites da intervenção na natureza - humana -, especialmente ao se ponderar sobre a eugenia, domínio com aplicabilidade no atual debate sobre a reprodução assistida. O filme permite uma reflexão acerca dos avanços da ciência e da tecnologia, bem como sobre seus efeitos no comportamento das pessoas em sociedade, além de instigar uma discussão de cunho filosófico sobre a existência humana. Bibliografia sugerida: TAMAMINI, M. Novas tecnologias reprodutivas conceptivas: bioética e controvérsias. Revista de Estudos Feministas. Florianópolis, v.12, n.1, p.73107, 2004. 09 OS MENINOS DO BRASIL Ano de Produção: 1978(EUA) Direção: Franklin J. Schaffner Duração: 118 minutos. Sinopse: Cerca de 30 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, o médico Joseph Mengele - acusado de vários crimes monstruosos, em nome da ciência médica, incluindo a realização de cruéis experimentos em judeus - se reúne, no Paraguai, com oficiais nazistas do Alto escalão, para empreender-lhes uma missão: matar 94 homens, entre 60 e 65 anos, em dois anos e meio em diferentes países, aspecto relacionado a experiências genéticas em curso. Neste ínterim, Lieberman - um judeu responsável por denunciar nazistas -, ao saber das intenções de Mengele, dá início, juntamente com outros companheiros, a uma desenfreada tentativa de evitar os assassinatos. 10 Comentário: O filme, apesar dos anos passados do seu lançamento, já apresenta temas como experiências genéticas e clonagem. Os efeitos que o (mau) uso destas biotecnociências podem ter na sociedade, de um ponto de vista ético, têm boas possibilidades de apreciação pelos estudantes, tal qual o caso dos debates envolvendo a clonagem humana. Como em Gattaca, abrem-se, também, perspectivas para instaurar debates acerca das técnicas de reprodução assistida. Bibliografia sugerida: ZATS, M. Clonagem e céls. tronco. Estudos Avançados. São Paulo, v.18, n.51, p.247-256, 2004. 11 O SEGREDO DE VERA DRAKE Ano de Produção: 2004 (Inglaterra) Diretor: Mike Leigh. Duração: 125 minutos. Sinopse: Vera Drake, uma respeitável e bondosa senhora que vive na Inglaterra dos anos 50, divide seu tempo entre sua casa, sua família e os vizinhos doentes dos quais ajuda a cuidar. Porém, Vera também auxilia mulheres que engravidaram e não desejavam seus filhos, através da prática do aborto. Agindo de forma altruísta - na sua concepção -, Vera não se dá conta do risco aos quais mulheres estão submetidas em conseqüência dos seus atos. Um dia, uma das garotas fica gravemente doente após o procedimento, sendo internada no hospital. Obrigada pelo médico a indicar quem havia realizado o aborto, a mãe da jovem acaba revelando a identidade de Vera. Levada à justiça, ela percebe a real dimensão dos seus atos - na medida em que os mesmos eram passíveis de punição - por ser o aborto, na época, ilegal na Inglaterra. 12 Comentário: A película traz a possibilidade, aos estudantes, de realizar debates enfocando a moralidade do aborto, considerando-se, especialmente, o princípio da sacralidade da vida e o respeito à autonomia reprodutiva da mulher ( do casal). Outro ponto importante que pode ser considerado na discussão deste filme é o risco que as pacientes correm quando o aborto é realizado por pessoas não pertencentes à área da saúde, o que permite a reflexão sobre a “desigualdade no acesso” a este procedimento ilegal, quando se compara mulheres ricas e pobres. É possível tentar levantar os aspectos legais do aborto e extrair dos alunos conhecimentos relativos à legislação do mesmo ao redor do mundo. Bibliografia sugerida: DINIZ, D.; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.15 (supl.1), p.959966,2010. REGO, S.; PALACIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética para Profissionais da Saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009,160 p. 13 REGRAS DA VIDA Ano de Produção: 1999 (EUA) Diretor: Lasse Hallström Duração: 131 minutos. Sinopse: O filme se passa na cidade de Maine, Estados Unidos, à época da Segunda Guerra Mundial, no Orfanato St. Clouds, no qual algumas mulheres iam procurar ajuda para gestações indesejadas (adoção após o nascimento ou interrupção da gravidez). No orfanato trabalha o Dr. Wilbur Larch, médico, e seu fiel ajudante Homer Wells. Nascido no orfanato, após ser rejeitado por várias famílias, Homer acabou permanecendo em St. Clouds onde cresceu sob os cuidados do Dr. Larch, herdando muitos conhecimentos da área médica. Para o médico, realizar o aborto, nestes casos, seria uma forma de ajudar as mulheres que não desejavam seus filhos, minimizando o risco de que as mesmas procurassem não médicos para o procedimento. Homer, ao longo dos anos, passa a questionar as atitudes de seu mentor, até que um evento o encoraja a sair de St. Clouds e ganhar o mundo. A partir daí passa a vivenciar diferentes situações, como a descoberta do amor, as quais terão decisiva influência sobre seu futuro. 14 Comentário: A tônica do filme é o debate em torno do aborto, caracterizado nas visões apresentadas pelos personagens principais - Wilbur Larch e Homer Wells. Para Homer, a vida é um dom divino e, portanto não deve ser interrompida sacralidade da vida - enquanto para o Dr. Larch, a mulher deve ter o direito à liberdade sobre o que fazer em relação a seu corpo respeito à autonomia reprodutiva - podendo decidir se quer ou não manter sua gestação. Tais posições - as quais têm sido motivo de debates em diferentes espaços das sociedades democráticas podem ser apresentadas aos estudantes, fomentando discussões sobre a moralidade - e a legalidade - do aborto. Bibliografia sugerida: REGO,S.; PALACIOS,M.; SIQUEIRA-BATISTA,R. Bioética para Profisionais da Saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009, 160p. SOARES, G. S. Profissionais de saúde frente ao aborto legal no Brasil: desafios, conflitos e significados. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.19 (supl.2), p. 399-406, 2003. 15 BIOÉTICA E O FIM DA VIDA 16 AS INVASÕES BÁRBARAS Ano de Produção: 2003 (Canadá) Diretor: Denys Arcand Duração: 112 minutos. Sinopse: Rémy é um professor universitário canadense, internado em um hospital público - em decorrência de uma doença terminal - no qual as condições de atendimento eram precárias. Pela gravidade de sua condição, sua ex-esposa resolve chamar o filho do casal, Sebastien, reacendendo antigas desavenças entre ambos. Porém, Sebastien está resolvido a esquecer tudo e dar ao pai toda a atenção e o tratamento que o mesmo necessita. Para isto, reúne os melhores amigos de Rémy, para ficarem com ele no hospital, em um quarto privativo. Com a piora das dores, Rémy passa a usar heroína sendo, por fim- em concordância com o seu expresso desejo - transferido para a casa de campo de um dos seus amigos. Neste ponto do filme, entende-se que o momentos da morte de Rémy está próximo. Com todos os amigos presentes, o professor passa a se despedir de cada um, até o momento derradeiro, no qual consente que lhe seja aplicada uma injeção letal. 17 Comentário: Da mesma maneira que o aborto, a eutanásia é um dos temas bioéticos mais discutidos na atualidade. O debate se estabelece, igualmente entre o princípio da sacralidade da vida de acordo com o qual a vida é sempre digna de ser vivida, independente dos infortúnios aos quais se esteja submetido - e o princípio do respeito à autonomia, de acordo com o qual compete ao indivíduo as decisões sobre a manutenção de sua própria vida, principalmente em caso de sofrimento insuportável, o que pode levar à escolha pela boa morte, a eu-tanásia. No caso do filme, o personagem Rémy amava a vida - principalmente a que tinha no passado - o que, provavelmente, foi uma dificuldade para a aceitação, de início, da eutanásia voluntária. Porém, à medida que sua qualidade de vida piora, a opção pela boa-morte torna-se sua decisão final. Com efeito, a eutanásia acaba sendo o ponto chave do filme - ainda que algumas outras questões possam ser discutidas pelos estudantes, como as precárias condições de atendimento e dificuldade para acesso a exames de maior complexidade - contexto semelhante ao vivenciado em várias cidades brasileiras - e os aspectos relacionados ao uso de drogas ilícitas. Bibiografia sugerida: REGO, S.; PALÁCIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R.Bioética Para Profissionais de Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009, 160p. SIQUEIRA-BATISTA, R.; SCHRAMM, F.R. Eutanásia pelas veredas da morte da autonomia. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.9, n.1,p.31-41, 2004. 18 MAR ADENTRO Ano de Produção: 2004(Espanha) Diretor: Alejandro Amenábar Duração; 125 minutos. Sinopse: A película se baseia em um caso verídico, apresentando a história do espanhol Ramón Sampedro, o qual se tornou tetraplégico 28 anos antes, vivendo com sua família em uma cidadezinha da Espanha. Muito imaginativo e inteligente, Ramón não se conforma em continuar vivendo preso a uma cama - mesmo com sua família tendo construído uma infra-estrutura para melhor atendê-lo - requerendo para si, uma morte digna, do seu ponto de vista. Para isso, recorre à uma ONG (organização não – governamental) que ajuda pessoas a morrer. Tal fato gera grande polêmica no país, - após exibição na imprensa - na medida em que a eutanásia é proibida na Espanha. Mesmo contra o posicionamento de sua família e da Igreja e a despeito da descoberta do amor pela advogada Julia, Ramón decide continuar firme em seu propósito. Ao conhecer a radialista Rosa, que se apaixona por ele, Ramón começa a vislumbrar a possibilidade de tornar seu desejo realidade, passando, de certa forma, a persuadi-la para conseguir seu intento. 19 Comentário: O caso de Ramón Sampedro remete à discussão da autonomia para decidir sobre o próprio ocaso, tal qual o previamente citado. Para ele - que sempre fora um homem viril, trabalhador e forte - ficar restrito ao leito representa uma situação que não podia suportar, mesmo com toda a atenção e dedicação da família. Um dos pontos altos do filme é a conversa entre Ramón e o padre católico. O filme também permite algumas indagações, juntamente com o debate da eutanásia: Qual é o conceito de morte com dignidade? Quais as possíveis formas de se praticar a eutanásia? Qual é a legislação mundial sobre este assunto? Por todos estes aspectos, é uma ótima película para o fomento ao debate biomédico. Bibliografia sugerida: REGO,S.; PALÁCIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética para Profissionais de Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009, p.160p. SIQUEIRA-BATISTA, R.; SCHRAMM, F. R. Conversações sobre a “boa morte”: o debate bioético acerca da eutanásia. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.21, n. 1, p.111-119, 2005. 20 MENINA DE OURO Ano de Produção: 2004 (EUA) Diretor: Clint Eastwood Duração: 137 minutos. Sinopse: Frankie Dunn é um experiente treinador de boxe, dono de uma academia, na qual começa a praticar boxe a jovem Maggie Fitzgerald. Após a recusa inicial de Frankie, o mesmo é conquistado pela força de vontade e o empenho de Maggie, tornando-se seu treinador. Já consagrada como grande lutadora, Maggie sofre um acidente no ringue tornando-se tetraplégica e passando a respirar por ventilação mecânica. Após brigar com sua família, interessada apenas em seu dinheiro, Maggie sofre outro baque, quando uma lesão em sua perna evolui para amputação. Com a saúde cada vez mais debilitada, Maggie só tem Frankie a seu lado e lhe pede ajuda para aliviar seu sofrimento. Frankie, então, toma uma importante decisão. 21 Comentário: O filme aborda a repentina mudança de vida de uma atleta, a qual se vê obrigada a ficar restrita ao leito, em ventilação mecânica e com uma perna amputada. Até que ponto valeria a pena viver nessas condições? No âmbito do debate bioético em torno do fim da vida faz-se importante entender o princípio da qualidade de vida, o qual permite questionar o quanto é suportável o sofrimento vinculado ao processo de morrer, como no caso de Maggie, no qual as condições eram visivelmente precárias. Bibliografia sugerida: REGO, S.; PALACIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R.. Bioética Para Profissionais de Saúde. RJ: FIOCRUZ, 2009. SIQUEIRA-BATISTA, R.; SCHRAMM F. R. Conversações sobre a “boa morte”; o debate bioético acerca da eutanásia. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.111-119. 2005. 22 O ESCAFANDRO E A BORBOLETA Ano de Produção: 2007 (França/EUA) Diretor: Julian Schnabel Duração: 112 minutos. Sinopse: O filme se baseia na história real de Jean-Dominique - um francês de 43 anos, editor de uma importante revista de moda, o qual um dia sofre um acidente vascular encefálico enquanto dirigia. Jean-Do, após despertar do coma, descobre-se praticamente sem movimentos - restando-lhe o abrir-fechar das pálpebras esquerdas - mas com consciência de si e do mundo, intacta, quadro conhecido como Locked-in syndrome (síndrome do “encarceramento”). Com a ajuda de enfermeiras, fisioterapeutas e fonoaudiólogas, o paciente desenvolve uma linguagem especial, utilizando um alfabeto através das piscadas. Inicialmente, Jean-Do não aceita sua situação, porém com o tempo descobre que podia contar com sua memória e sua criatividade, ambas intactas, fazendo uma retrospectiva de sua vida pessoal e familiar, além de viajar pela sua imaginação. Com sua melhora, as enfermeiras o encorajam a escrever um livro através da linguagem aprendida, no qual parte da sua vida é contada, juntamente com suas reflexões. 23 Comentário: A figura do escafandro reflete bem a condição do personagem principal - ou seja, um homem preso dentro de si mesmo, em princípio incapacitado para a comunicação com o mundo externo. À medida que resolve investir na sua existência e passa a ditar seu livro, Jean-Dominique dá vazão à sua imaginação e criatividade - ou seja, a borboleta sai do casulo. O filme, também, ressalta a importância da equipe de saúde multidisciplinar no tratamento de um paciente com inúmeras restrições, incentivando- o e estimulando-o a buscar, dentro de si, força de vontade para continuar vivendo. É possível discutir, com os estudantes, a questão da qualidade de vida em pacientes com doenças crônicas, para as quais as opções de tratamento podem ser tentadas para integrá-lo à sociedade. Bibliografia sugerida: FOWLER, D. J.; SÁ, A, C. Humanização nos cuidados de pacientes com doenças crônico-degenerativas. O Mundo da Saúde. São Paulo, v.33, n. 1, p. 225-230, 2009. 24 A PARTIDA Ano de Produção: 2008 (Japão) Direção: Yojiro Takita Duração: 130 minutos. Sinopse: O jovem Kobayashi é um músico japonês que trabalha em uma orquestra, na qual toca violoncelo. Com a dissolução da orquestra - e com uma elevada dívida pela compra do instrumento -, o músico se vê obrigado a vendê-lo. Ato contínuo, muda-se com a esposa para uma cidade do interior, para residir em uma antiga casa recebida como herança. Com a nova realidade, Kobayashi passa a trabalhar em uma agência funerária, atuando na preparação dos corpos para a cerimônia funerária, sem, no entanto, contar para sua esposa. Paulatinamente, Kobayashi se acostuma ao trabalho, seguindo os passos de seu chefe, um expert no serviço, até que começa a ser discriminado pela atividade que realiza, inclusive por sua esposa, da qual se separa. No fim do filme uma surpresa lhe permite pensar sobre a sua vida e sobre a própria finitude. 25 Comentário: O filme apresenta, de uma maneira muito singela e sensível, considerações sobre a finitude, mas de uma perspectiva bastante interessante - ao se comparar com as outras películas apresentadas - por ter seu foco no passamento já consumado. Ao mesmo tempo em que realiza seu serviço, Kobayashi vai se dando conta das perdas que teve ao longo de sua vida, como a ausência do pai, a morte da mãe, a morte de seu sonho de ser um grande músico, ou seja, pequenas “mortes” que todos sofrem ao longo da vida. Alguns aspectos com relação ao fim da vida podem ser trabalhados, como os conceitos de morte e de finitude e, especialmente, a questão do respeito ao cadáver - por exemplo, com implicações no estudo da anatomia humana. Bibliografia sugerida: MARTINS, A. A. Consciência de finitude, sofrimento e espiritualidade. O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 31, n.2, p.174- 178, 2007. GOMES, A. P.; REGO, S. PALACIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Análise bioética do uso de recém-cadáveres na aprendizagem prática em medicina. Revista da Associação Médica Brasileira. São Paulo, v.56, n.1, p.11-16, 2010. 26 BIOÉTICA CLÍNICA: A RELAÇÃO MÉDICO - PACIENTE 27 ADEUS, LÊNIN! Ano de Produção: 2003 (Alemanha) Diretor: Wolfgang Becker Duração: 118 minutos. Sinopse: Em 1989, antes da queda do muro de Berlim, a senhora Kerner vive na Alemanha Oriental. Fiel “devota” do socialismo, sofre, por ocasião das manifestações contra o regime oriental, um infarto agudo do miocárdio, permanecendo em coma. Desperta meses depois - em meados de 1990 - quando a Alemanha já está unificada, vivendo no regime capitalista. Alexander, seu filho, após conversar com o médico, fica sabendo que a situação da mãe é bastante delicada e, para não lhe despertar fortes emoções, decide ocultar os fatos políticos ocorridos, durante o período em que ela esteve em coma, evitando novo agravamento de sua saúde. Com a ajuda da irmã e dos amigos, usa de vários artifícios, como mudar etiquetas e embalagens de produtos, arrumar vídeos antigos da Alemanha Oriental e pedir a um amigo que forje um vídeo com noticiários da velha Alemanha. 28 Comentário: O filme permite a abordagem da comunicação de más notícias, possibilitando a discussão de temas bastante caros para a bioética clínica: a veracidade, a confidencialidade e o sigilo. É possível, também, refletir sobre o papel dos familiares no cuidado à saúde de um enfermo com grave condição clínica. Bibliografia sugerida: TEITELBAUM, P. O. O consentimento informado ao paciente em relato de caso: como está essa prática em nosso meio? Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v.30, n.3, p167-169, 2008. 29 PATCH ADAMS O AMOR É CONTAGIOSO Ano de Produção: 1998 (EUA) Diretor: Tom Shadyac Duração: 114 minutos. Sinopse: O filme, que se baseia em fatos reais, retrata a história de Hunter Adams, homem que após um período de internação em um hospital psiquiátrico acaba descobrindo sua verdadeira vocação: ajudar as pessoas. Dois anos mais tarde, Hunter está no primeiro ano da faculdade de Medicina. Brilhante aluno e firme no propósito de auxiliar as pessoas, ele não compreende porque os estudantes só poderiam tomar contato com os pacientes no 3º ano do curso, o que o leva a contestações freqüentes com o Prof. Walcott, coordenador do curso. Mesmo com a desaprovação deste, Hunter começa a freqüentar o hospital, realizando performances divertidas para alegrar os pacientes internados. Um dia, Hunter tem uma idéia: criar um hospital público, sem normas estritas, no qual os enfermos recebessem toda a atenção necessária e onde o bom humor fosse uma tônica constante. Com a ajuda de um ex-interno do hospital psiquiátrico, um rico empresário, Hunter consegue alugar um espaço e uma grande casa no campo, que passa a reformar com seus amigos, que 30 dividiam seu tempo entre a faculdade e o trabalho na clínica. Nesse ponto da história, Hunter tem sua vontade de ser médico colocada a prova após um fato que o desestabiliza. Além disso, o coordenador Walcott pede a sua expulsão da universidade, por alegar que o mesmo não se encaixava nos moldes da instituição. Comentário: O filme retrata bem a relação médico-paciente, mostrando um hospital no qual os médicos eram distantes, não acolhedores, interessando-se apenas em tratar as doenças, esquecendo da visão integral do indivíduo. Esse panorama era fruto de uma formação médica voltada para o mero acúmulo de conhecimentos, desvinculados de uma preocupação com o cuidado do outro. Ao entrar em contato com essa realidade, Hunter passa a desafiá-la, uma vez que seu interesse era confortar as pessoas e lhes trazer alegria. A película é extremamente oportuna, em uma época em que se discute a educação médica e suas mudanças - incluindo a necessidade de se aprofundar o debate bioético na formação -, objetivando-se aliar teoria e prática. Bibliografia sugerida: AMORETTI, R. A educação médica diante das necessidades sociais em saúde. Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janeiro, v.29, n.2, p136-146, 2005. BRASIL. Congresso. Senado. Resolução CNE/CES,n.4, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de novembro de 2001. Seção 1,p.38. 31 UM GOLPE DO DESTINO Ano de Produção: 1991(EUA) Direção: Handa Haines. Duração: 122 minutos. Sinopse: O Dr. Jack MacKee é um conceituado cirurgião que tem um modo bastante peculiar com seus pacientes, interessando-se muito mais em conseguir êxito nos procedimentos do que no cuidado à pessoa, mostrando-se muitas vezes frio e distante. O filme toma rumos bastante interessantes quando o Dr. Mackee descobre, após procurar uma otorrinolaringologista, que está com um tumor na laringe. A médica o trata da mesma maneira fria com a qual Jack lidava com os seus pacientes. A partir daí o cirurgião passa a enfrentar uma série intensa de quimioterapia, ao passo que inicia uma amizade com uma enferma com leucemia. Esta amizade, de certa maneira, faz com Jack veja o quanto faltava de humanização na sua relação médico-paciente, além de fazê-lo repensar sua vida familiar. 32 Comentário: O filme promove uma reflexão acerca da relação médico-paciente, a partir da figura de um profissional de saúde que exibia um comportamento superior e arrogante em relação aos seus pares e pacientes, tratando esses últimos com distância e não dando a importância necessária ao seu sofrimento. A partir do momento em que descobre que tem um tumor e é tratado por uma médica com as suas características - além de passar por toda a burocracia pela qual os pacientes passam durante seu tratamento -, Jack percebe o quanto deixou a desejar nas questões humanísticas em sua profissão e o quanto poderia ter sido melhor com sua família. Atualmente, com o ensino médico voltado para a valorização da integralidade, da humanização e da bioética, este torna-se um filme bastante indicado para a discussão com os estudantes. Bibliografia sugerida: CAPRARA, A; FRANCO, A. L. S. A relação médico-paciente: para uma humanização da prática médica. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,v.15, n.3, p.647-654, 1999. DESLANDES, S.F. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva .Rio de Janeiro,v.9, n.1,p.714,2004. 33 ÉTICA E PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS 34 A EXPERIÊNCIA Ano de Produção: 2001 (Alemanha) Direção: Oliver Hirschbegel Duração: 120 minutos. Sinopse: Na Alemanha, um laboratório de pesquisas empreende um estudo com a finalidade de avaliar os efeitos do confinamento e o estabelecimento de relações de poder em sujeitos de pesquisa. Para isso, são selecionados 20 homens por livre demanda, os quais deveriam permanecer 14 dias em uma prisão simulada, sendo monitorizados durante 24 horas por câmeras, não sendo permitido nenhum ato de violência e sendo permitida a desistência a qualquer momento. Após serem informados de todos os procedimentos e regras que norteavam o experimento, os 20 homens foram divididos em guardas e presos. Inicialmente, o convívio entre os dois grupos era bastante amistoso, pois todos viam aquela situação como um jogo, no qual eram meros participantes. Orientados pelos pesquisadores a controlarem mais seriamente o comportamento dos presos, os guardas passam a se posicionar de modo mais severo, inclusive com punições e situações de humilhação. Logo cria-se uma grande tensão no local, o que acaba por causar alterações comportamentais em alguns presos e revolta em outros. 35 Sem embargo, porém, o pesquisador chefe não aceita parar a experiência. A situação vai num crescendo, até que os guardas completamente fora de si acabam por dominar inclusive os próprios organizadores da pesquisa. Ao final, o que era para ser um procedimento sem maiores problemas, acaba se tornando um palco de terror. Comentário: Em relação às questões bioéticas envolvendo estudos em seres humanos, o filme claramente mostra que a experiência fugiu totalmente de seu propósito e do controle dos pesquisadores, colocando a vida de seus participantes em risco. A discussão com os estudantes deve esclarecer que antes de se iniciar um projeto de pesquisa, este deve ser encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), cuja finalidade é analisar os interesses de todos os envolvidos, com atenção maior à segurança dos participantes e aos riscos dos procedimentos que serão realizados. Outra parte a ser abordada com os discentes diz respeito ao conhecimento da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e de como o CEP deveria ter se posicionado em relação a este tipo de estudo. Bibliografia sugerida: SCHRAMM, F. R. A moralidade da prática de pesquisa nas ciências sociais: aspectos epistemológicos e bioéticos. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 9, n.3, p.773-784,2004. BRASIL, resolução 196 de 10 de outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União. Brasília, 10 de outubro de 1996. 36 COBAIAS Ano de Produção: 1997 (EUA) Direção: Joseph Sargent. Duração: 118 minutos. Sinopse: Em 1932, no estado do Alabama, foi observado um significativo número de casos de sífilis, principalmente na cidade de Tuskegee. Com a finalidade de estudar a doença, o governo estadunidense criou um programa nesta localidade, o qual ficou conhecido como o “Estudo Tuskegee”. Os pacientes, após realizarem teste sanguíneo confirmatório de sífilis, eram tratados com aplicações tópicas de mercúrio. Após algum tempo, acabaram as verbas para o projeto e o estudo foi interrompido, gerando insatisfação de todos os envolvidos, principalmente da dedicada enfermeira Miss Evers. Após novas deliberações, foi acertado que o governo federal manteria a verba para o projeto, porém os pacientes seriam apenas acompanhados e não tratados, pois a intenção era provar que a sífilis se manifestava nos negros da mesma forma que se manifestava nos brancos. Com isso, alguns pacientes agravaram seu quadro, adquirindo manifestações neurológicas da doença. 37 Em 1942, surge a penicilina como fármaco de escolha para o tratamento, optando-se, entretanto por sua não administração aos pacientes do estudo para não influenciar os resultados da pesquisa, utilizando-se a desculpa que a mesma poderia causar reações colaterais importantes nos enfermos com a forma terciária da sífilis. Isso gerou uma grande indignação e revolta, levando à denúncias públicas. Comentário: A grande importância desse filme está em determinar o quanto é eticamente reprovável a utilização de seres humanos em pesquisa sem a anuência dos mesmos, considerando-se as questões bioéticas envolvidos em trabalhos científicos à luz da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e das resoluções posteriores. Pode-se destacar, também, a importância de se ter um comitê de ética em pesquisa capaz de analisar os projetos de pesquisa envolvendo seres humanos. Estas são importantes questões a serem refletidas pelos estudantes. Bibliografia sugerida: CASTILHO, E. A.; KALIL, J. Ética em pesquisa médica: princípios, diretrizes e regulamentações. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba, v.38, n.4, p. 344-347, 2005. 38 O JARDINEIRO FIEL Ano de Produção: 2005 (EUA) Direção: Fernando Meirelles Duração: 129 minutos. Sinopse: Justin, um diplomata britânico, conhece a ativista Tessa e, ato contínuo, ambos se apaixonam, decidindo morar no Quênia. Tessa logo conhece Arnold, um médico envolvido no cuidado às doenças infecciosas incidentes no continente africano, em particular a infecção por HIV/AIDS. Ao perceberem que os medicamentos que estavam sendo fornecidos para a população estavam causando mortes, Tessa e Arnold se empenham em desmascarar as transações das indústrias farmacêuticas dentro do país, porém, são assassinados de forma brutal. Justin, que até então desconhecia as investigações da mulher, resolve, após a morte de Tessa, seguir seus passos para terminar o que ela e Arnold haviam começado e acaba, por fim, envolvido numa grande conspiração com a participação não apenas de indústrias farmacêuticas, como do próprio governo britânico. 39 Comentário: O filme aborda a questão do “duplo-padrão” nas pesquisas envolvendo seres humanos. De fato, a África foi escolhida como local para essas pesquisas, devido aos menores custos com os encargos do projeto, além das suas desigualdades sociais, econômicas e políticas. Temas como o descaso com a vida alheia e os conflitos de interesse podem ser trabalhados junto aos estudantes, permitindo conjecturas éticas, as quais devem ser estruturantes para a execução de um projeto de pesquisa, visando a proteção aos participantes. O sujeito de pesquisa deve ser esclarecido sobre todas as etapas do procedimento e principalmente com qual finalidade o mesmo está sendo realizado. Isso é garantido através da assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Bibliografia sugerida: CASTILHO, E. A.; Kalil, J. Ética e pesquisa médica: princípios, diretrizes e regulamentações. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba, v.38, n.4, p.344-347, 2005. BRASIL, resolução 196 de 10 de outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas regulamentares pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União. Brasiília, 10 de outubro de 1996. 40 O ÓLEO DE LORENZO Ano de Produção: 1992 (EUA) Direção: George Miller Duração: 135 minutos. Sinopse: Filme baseado na história real do menino Lorenzo, uma criança de quatro anos, filho de Augusto e Micaela. A professora de Lorenzo começa a detectar súbita mudança em seu comportamento, com episódios de agressividade, o que leva seus pais a iniciar uma peregrinação por vários neurologistas pediátricos, até que após exaustiva avaliação diagnóstica, chega-se à conclusão que a criança apresenta uma doença neurológica de cunho genético, de prognóstico bastante limitado, chamada leucoadrenodistrofia, por uma alteração no metabolismo lipídico, que gera uma degeneração neurológica progressiva. O casal Micaela e Augusto inicia, então, um profundo estudo acerca da doença, tentando buscar uma opção terapêutica. Descobrem uma substância chamada ácido oleico, que através da dieta poderia retardar os efeitos da doença, porém só havia sido testada em ratos. Mesmo sem o apoio de grande parte da classe médica, Augusto e Micaela resolvem tratar Lorenzo com tal substância, enquanto as condições clínicas da criança pioram cada vez mais. 41 Isso leva Augusto e Micaela a intensificarem suas pesquisas e descobrirem outra substância que administrada junto com o ácido oléico manteria os níveis lipídicos normais no sangue. Desta forma, criou-se o Óleo de Lorenzo, que surgiu como uma promissora terapêutica para crianças com essa doença. Frente aos resultados apresentados pelo casal, médicos neurologistas passam a considerar a possibilidade de realização de estudos para testar a eficácia do medicamento. Comentário: O filme foca a luta incansável dos pais para salvar a vida de seu filho, submetendo-o a um tratamento não cientificamente validado, mesmo sem o aval do corpo médico. O que pode ser discutido é a questão ética do papel dos pais sobre as decisões em relação aos filhos, como em casos da literatura onde os pais solicitaram que a vida de seus filhos fosse abreviada, para poupar sofrimentos maiores. Até que ponto pais podem decidir sobre a vida - ou sobre a morte - dos seus filhos? Bibliografia sugerida: GAIVA, M. A. M. Pesquisa envolvendo crianças: aspectos éticos. Revista Bioética. Brasília, v.17, n.1, p.135-146. 2009. 42 BIOÉTICA E MEIO AMBIENTE 43 A ÚLTIMA HORA Ano de Prdução: 2007 (EUA) Direção: Nadia Conners, Leila Conners Petersen Duração: 95 minutos. Sinopse: A película é um documentário apresentado pelo ator Leonardo Di Caprio, o qual enfoca o impacto das ações do homem na biosfera, contribuindo para o surgimento de catástrofes naturais - como maremotos, furacões, queimadas e degelo - , os quais podem desencadear a extinção de espécies, o surgimento de doenças veiculadas pelo ar e pela água, a desnutrição e a emergência de epidemias. Durante o filme são entrevistados líderes políticos, cientistas, religiosos e ambientalistas - como ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, o cientista Stephen Hawking, e os especialistas em desenvolvimento sustentável William McDonough e Bruce Mau - , os quais alertam para o dano que a espécie humana está causando na natureza, através do consumo excessivo dos recursos naturais, que excedem as possibilidades de convivência harmônica na biosfera. 44 Comentário: O filme leva a uma profunda reflexão acerca das ações humanas nos ecossistemas. O desenvolvimento de recursos tecnológicos cada vez mais avançados, acaba por produzir maior poluição ambiental, a qual aumenta os níveis de gases poluentes, intensificando com isso o processo de aquecimento global e todas as variações climáticas dele provenientes. Outras formas de dano à natureza, como a poluição das águas e a sua contaminação por substâncias químicas, a erosão do solo, o excesso do uso de pesticidas, também são mostrados. Através de belíssimas imagens, o filme pretende ser um alerta ao desrespeito às questões bioéticas em relação ao meio ambiente, mostrando que os recursos naturais não são infindáveis. Destaca-se a discussão da bioética ambiental no curso médico, uma vez que ela reflete sobre os seres vivos, incluindo os seres humanos e como os mesmos se apresentam nas relações cotidianas. O médico deve compreender que tais ações destrutivas do meio ambiente são primordiais na gênese do processo de adoecimento. Bibliografia sugerida: CARVALHO, F. M. F.; PESSINI, L.; JÚNIOR, O. C. Reflexões sobre bioética ambiental. O Mundo da Saúde. São Paulo, v.30, n.4,p.614-618, 2006. SIQUEIRA-BATISTA, R.; RÔÇAS, G.; GOMES A. P. et al. A bioética ambiental e ecologia profunda são paradigmas para se pensar no século XXI? Ensino, Saúde e Ambiente. Niterói, v.2, n. 1, p.44-51, 2009. 45 ERIN BROCKOVICH Ano de Produção: 2000 (EUA) Direção: Steven Soderbergh. Duração: 130 minutos. Sinopse: o filme se baseia em uma história real, a trajetória de Erin Brockovich. A protagonista vê-se confrontada com a necessidade de ter de trabalhar para sustentar seus filhos e, num golpe de sorte, consegue um emprego em uma firma de advogados. Sem ter os conhecimentos de uma verdadeira advogada, Erin começa a investigar um caso que envolve uma poderosíssima empresa, a PGE - Gás e Electricidade do Pacífico, pivô de crimes ambientais, dos quais resultam inúmeras mortes, doenças e mal formações nos habitantes de uma pequena localidade da Califórnia. Apaixonada pelo seu trabalho, Erin passa a envolver-se com as famílias afetadas, vivendo como se fosse sua a história de cada uma daquelas pessoas. O caso vai atingindo proporções gigantescas, com centenas de queixosos, acabando nos tribunais. Comentário: A poluição ambiental por parte de fábricas de produtos tóxicos é responsável por um grande número de doenças e mortes e muitas vezes por questões políticas, esses dados são omitidos. 46 Mais uma vez a questão da ética ambiental tem lugar para discussão, pois a poluição industrial pode levar à morte de inocentes. As práticas industriais apoiadas pelas políticas públicas levam à exposição humana a produtos químicos nocivos, agrotóxicos e substâncias perigosas, tornando a população vulnerável a enfermidades, além de contribuírem para a destruição do ambiente. Bibliografia sugerida: SIQUEIRA-BATISTA, R.; GOMES, A.P.; RÔÇAS, G. Ética para todos os seres e ecologia profunda: um preliminar diálogo com relevância para a saúde pública. Cadernos de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.17, n.3, p.558-57, 2009. 47 UMA VERDADE INCONVENIENTE Ano de Produção: 2006 (EUA) Direção: Davis Guggenheim Duração: 100 minutos. Sinopse: Al Gore - político que concorreu à presidência dos Estados Unidos com George Bush apresenta, através deste documentário, fruto de suas palestras ao redor do mundo, os riscos do aquecimento global para a população. Deste modo, por meio da exploração sobre diferentes gráficos, alerta para os danos ao meio ambiente provocados pela ação humana. Além de mostrar os riscos aos quais o planeta está exposto, Al Gore também aponta algumas saídas para se lidar com a situação. Comentário: Esta película tem como proposta a divulgação das sérias conseqüências do aquecimento global, provocadas pelo excesso de contaminação do ar por gases tóxicos, fruto de um desarranjo no consumo dos recursos naturais, gerando o chamado efeito estufa. Isso promove o aumento das temperaturas, com consequências deletérias para a natureza, tais como escassez de água, migração de espécies marinhas, mudanças nos ecossistemas, além de problemas de saúde, principalmente de cunho respiratório. 48 O aquecimento global é discutido no mundo todo, através de conferências ambientais que visam limitar a emissão de gases poluentes para a atmosfera. É uma questão de grande magnitude, que deve ser discutida pela ética ambiental, uma vez que o homem deve preservar a natureza e os seus recursos, para que gerações futuras possam usufruir dos mesmos. A bioética ambiental, mesmo não possuindo a vinculação tão estreita com o dia-a-dia do médico - como, por exemplo, os debates sobre o início e o fim da vida - torna-se um assunto importante para a formação do cidadão, o que está em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Bibliografia sugerida: GARRIDO, R. G. Da bioética clínica à bioética ambiental. Diálogo & Ciência. Revista da Rede de Ensino FTC. Salvador, ano VI, n.13, p.1-13, 2008. POTTER,V. R. Getting to the year 3000: can global bioethics overcome evolution’s fatal flaw? Perspectives in Biology and Medicine. Baltimore, v.34,n.1,p.88-98,1990. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste manual é auxiliar professores interessados em despertar, em seus estudantes, a reflexão de temas relacionados à bioética, aspectos extremamente relevantes na formação médica. Os filmes escolhidos permitem uma importante ajuda nesse sentido, fornecendo diferentes opções de utilização, além de terem duração que permite seu uso em sala de aula, sem tornar a atividade enfadonha e cansativa. O cinema desperta reflexões e estimula o interesse pelo aprendizado. É um recurso pedagógico que lida com atitudes humanas e os fatores que elas encerram, como valores, virtudes e limitações. 50 REFERÊNCIAS DOS FILMES A EXPERIÊNCIA. Direção de Oliver Hirschbiegel. Alemanha. Samuel Goldwyn Films / Europa Filmes, 2001. 114min. Son.,color. DVD. A PARTIDA. Direção de Yojiro Takita..Japão.Paris Filmes,2008. 130 min. Son., color. DVD. A ÚLTIMA HORA. Direção de Nadia Conners e Leila Conners Petersen. Estados Unidos.Warner Independent Pictures, 2007.95 min. Son., color. DVD. AS INVASÕES BÁRBARAS. Direção de Denys Arcand.Canadá. Miramax Films e Art Films,2003. 99 min. Son.,color. DVD. ADEUS, LÊNIN! Direção de Wolfgang Becker. Alemanha. Sony Pictures Classic, 2003.118 min. Son,. Color. DVD. COBAIAS. Direção de Joseph Sargent. Estados Unidos. Warner Home Video, 1997. 118 min. Son., color. DVD. ERIN BROCKOVICH uma mulher de talento. Direção de Steven Soderbergh. Estados Unidos. Universal Pictures/Columbia TriStar Pictures, 2000. 145 min. Son., color. DVD. 51 GATTACA_ experiência genética. Direção de Andrew Niccol. Estados Unidos. Columbia Pictures/ Sony Entertainment Pictures, 1997. 112 min. Son., color. DVD. MAR ADENTRO. Direção de Alejandro Amenábar. Espanha. 20th Century Fox/Fine Line Features,2004. 125min. Son., color. DVD. MENINA DE OURO. Direção de Clint Eastwood. Estados Unidos. Warner Bros/Europa Filmes, 2004. 137 min. Son., color. DVD. O ESCAFANDRO E A BORBOLETA. Direção de Julian Schnabel. França/Estados Unidos. Miramax Films/ Europa Filmes, 2007. 112 min. Son., color. DVD. O JARDINEIRO FIEL. Direção de Fernando Meirelles. Estados Unidos. Focus Features/UIP, 2005. 129 min. Son., color. DVD. O ÓLEO DE LORENZO. .Direção de George Miller. Estados Unidos. Universal Pictures/ UIP, 1992.135 min. Son., color. DVD. O SEGREDO DE VERA DRAKE. Direção de Mike Leigh. Inglaterra. New Line Cinema/ Fine Line Features. 2004. 125 min. Son., color. DVD. 52 OS MENINOS DO BRASIL. Direção de Franklin J. Schaffner. Estados Unidos. 20th Century Fox Film Corp., 1978. 118min. Son., color. DVD. PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO. Direção de Tom Shadyac. Estados Unidos. United International Pictures (UIP), 1998. 115 min. Son., color. DVD REGRAS DA VIDA. Direção de Lassa Hallström. Estados Unidos. Miramax Films, 1999.130 min. Son., color. DVD. UM GOLPE DO DESTINO. Direção de Handa Haines. Estados Unidos. Buena Vista Pictures/ Gativideo/Warner Bros., 1991. 122 min. Son., color. DVD. UMA VERDADE INCONVENIENTE. Direção de Davis Guggenheim. Estados Unidos. Paramount Classics/UIP, 2006. 100 min. Son., color. DVD. 53 GOMES, A. P.; REGO, S.; PALACIOS, M. SIQUEIRABATISTA,R. Análise bioética do uso de recém cadáveres na aprendizagem prática em medicina. Revista da Associação Médica Brasileira. São Paulo, v.56, n.1, p.11-16, 2010. MARTINS, A. A. Consciência de finitude, sofrimento e espiritualidade. O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 31, n.2, p. 174-178. 2007. POTTER, V. R. Getting to the year 3000: can global bioethics overcome evolution’s flaw? Perspectives in Biology and Medicine. Baltimore, v.34, n.1,p.88-98, 1990. REGO, S.; PALÁCIOS, M; SIQUEIRA-BATISTA, R Bioética para profissionais de saúde. 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