conflitos socioambientais pela mineração no departamento de
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conflitos socioambientais pela mineração no departamento de
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS PELA MINERAÇÃO NO DEPARTAMENTO DE ANTIOQUIA COLÔMBIA NATHALIA AVILA ESCOBAR 1 Resumo: O artigo tenta, a partir da compreensão de processos como a reprimarização da econômica latino-americana, as crises do sistema capitalista e a apropriação-privatização dos recursos naturais e do subsolo, construir um panorama dos efeitos e conflitos socioambientais em relação à mineração no departamento de Antioquia na Colômbia, visando compreender sua relação com as noções de desenvolvimento e modernização dos territórios e com a construção de movimentos sócio territoriais, lutas e resistências em defesa da vida, da água e do território. Palavras-Chave: Mineração, conflitos sócio ambientais, desenvolvimento, apropriaçãoprivatização dos recursos naturais, movimentos sócio territoriais. Abstract: The aim of this article is to build a scene of the effects and socio environmental conflicts related to mining in the department of Antioquia in Colombia, analyzing process such as reprimarization of Latin America economic, the crisis of the capitalist system and the appropriationprivatization of natural resources, especially subsoil resources. Although pretends to understand the relation with the actual notion of development and modernization of territories and the construction of local social movements, struggles and resistance in defense of life, water and land. Key words: Mining, socio environmental conflicts, development, local social movements, appropriation-privatization of natural resources. 1- Introdução Atualmente experimentamos uma mudança significativa nos territórios latinoamericanos que se baseia na apropriação privada dos recursos naturais, terra e água, e na afetação das formas de vida locais que dependem destes recursos. A consolidação da Mineração e do Agronegócio, e paralelamente à construção de grandes empreendimentos industriais que garantem o funcionamento destes como Hidroelétricas, Barragens, grandes rodovias entre outros, produzem mudanças sócioterritoriais e ambientais de grandes magnitudes em diferentes escalas de análise geográfica, e por tanto a sua vez, um aumento dos conflitos ambientais e das tensões sociais de base territorial em nosso continente. 1 Mestranda do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Federal do Paraná. Bolsista do Programa Estudantes-Convênio de Pós-graduação – PEC-PG, da CAPES/CNPq – Brasil. E-mail de contato: [email protected] 7054 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Entender as especificidades deste modelo de desenvolvimento Latinoamericano num departamento da Colômbia, emblemático na consolidação e construção deste tipo de empreendimentos, mas também na consolidação de lutas, resistências e movimentos sociais em contra deste ideal de desenvolvimento, como é o departamento de Antioquia localizado ao noroeste do País, é o objetivo principal deste texto. A partir da mobilização de conceitos como acumulação por espoliação, extrativismo e conflitos socioambientais, e a partir de fontes secundárias em relação à política de desenvolvimento atual na Colômbia e às ações e posicionamentos dos movimentos sócioterritoriais de Antioquia, espera-se fazer um panorama dos conflitos ambientais e territoriais no departamento em relação à mineração transnacional e a outros tipos de empreendimentos. 2- Colômbia e o Desenvolvimento: A “Locomotiva” Da Mineração Atualmente, a estratégia fundamental de desenvolvimento na Colômbia, como na maioria dos países da América Latina, encontra-se baseada na reprimarização da economia e na exportação-apropriação-privatização de recursos naturais. Segundo Machado (2011) esta lógica de desenvolvimento faz parte de um fenômeno mais amplo que tem como ponto de partida as crises do sistema capitalista no século XX e as transformações estruturais do modelo de acumulação do capital que implicam uma reorganização na divisão internacional do trabalho e nos esquemas de dominação mundial. Uma destas reorganizações ocorre a partir da década dos anos 70, com uma nova crise do sistema capitalista, onde se começa a experimentar uma transformação, do modelo de substituição de importações, a processos de desindustrialização, reprimarização e recolonização da econômica latino-americana, como dinâmicas que buscam o acesso, o controle e a exploração, desde os centros mundiais de consumo, dos recursos naturais da periferia. O neoliberalismo portanto surge, em palavras de Machado (2011) como uma estratégia de resolução da crise sistêmica dos anos 70 e como um esquema de reorganização sócio territorial da acumulação à escala global, no qual América Latina em geral e a Colômbia em particular, adquirem uma importância fundamental no mapa do domínio e controle sobre os territórios e os recursos naturais. Nesta nova geografia desigual do capitalismo, os processos de mercantilização e de exploração da natureza e da vida adquirem escalas globais nunca antes alcançadas, 7055 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO que se concretizam na América Latina na década dos anos 90, em um ciclo de privatizações e reformas estruturais da economia, que em relação à mineração, traduziu-se em reformas para facilitar e garantir a entrada dos capitais transnacionais, como aconteceu em países como o Chile, o Peru, a Bolívia e o México2 (MACHADO, 2011, p. 160) A Colômbia introduziu na década dos anos 90 uma série de reformas neoliberais destinadas a consolidar o desenvolvimento econômico por meio da privatização, da apertura comercial, da liberalização financeira e da inversão estrangeira. Porém, em relação com os outros países da América Latina, a Colômbia entrou relativamente mais tarde nesse processo de reformas institucionais destinadas à garantia da inversão estrangeira na mineração3. Foi no ano 2001 que a Colômbia construiu a Lei 685, mais conhecida como o Código de mineração, no qual se instaurou a mineração como uma atividade pública e de interesse social, sentouse as bases para incentivar a inversão estrangeira e se enfatizou o papel do Estado como facilitador e fiscalizador do desenvolvimento de projetos mineiros. A partir deste momento, e especialmente a partir do ano 2002 e junto com uma política de segurança que promulgava a militarização do país, a inversão estrangeira total no país cresceu de uma maneira exponencial passando de menos de 3 mil milhões USD no período de 2001-2004 a 10 mil milhões USD no período de 2005-2008 (SOLER, 2012). No ano 2012 a Colômbia ocupava o terceiro lugar, depois do Brasil e do Chile, em inversão estrangeira (ISUASTY E GRISALES, 2014). Paralelamente, a inversão estrangeira na mineração tem tido um crescimento constante desde o ano 2002. (SOLER, 2012) Junto com o crescimento da inversão estrangeira na mineração, que para o ano 2012 significava 17 % da inversão estrangeira total (BETANCUR, 2013), 2 Segundo Machado, nos países latino-americanos a partir da década dos anos 90 e com o apoio do Banco Mundial, começaram a estabelecer-se as bases legais e institucionais que converteriam a região num Território propício para o desenvolvimento dos interesses mineiros globais. Estas bases legais foram adotadas em 1991 no Peru e na Bolívia e em 1992 no México. O caso do Chile é especial já que foi o primeiro país na região em adotar estas bases nos anos 70 e 80 no contexto da ditadura militar de Pinochet. 3 Segundo Vicente, Martin, Slee (2011) a entrada tardia da Colômbia no estabelecimento das bases legais e institucionais para a entrada de multinacionais da mineração tem relação com a prevalência do conflito armado interno. 7056 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO claramente os títulos em as solicitações de exploração no país aumentaram, chegando a concessionar-se e solicitar-se para o ano 2012, 40 % do território nacional a empresas de mineração (VICENTE, 2011). Todo o anterior, em um clima de garantia a estes empreendimentos, estipulados na modificação do código de mineração no ano 20114, nos planos nacionais de desenvolvimento desde 2002 até o atual 2014-2018, e nos planos nacionais de desenvolvimento mineiro, que promovem a segurança jurídica, os benefícios fiscais e comerciais e a flexibilidade nos sistemas de controle ambiental5, características que segundo Machado (2011) são fundamentais para facilitar a entrada das transnacionais nos territórios. Atualmente, a mineração é a “locomotiva” mais importante do desenvolvimento na Colômbia e segundo o documento de Colômbia 2019, esperase que este segmento continue crescendo até conseguir posicionar a indústria mineira Colombiana numa das mais importantes da América Latina (VICENTE, MARTIN, SLEE, 2011). Sob o discurso de geração de emprego, responsabilidade empresarial, desenvolvimento sustentável e crescimento do Produto Interno Bruto, a exploração mineira, a eficácia na exploração do subsolo colombiano e a inversão privada, concebem-se como as únicas formas possíveis de alcançar o tão anelado desenvolvimento econômico e a superação da pobreza (SOLER, 2012). Sob este discurso de desenvolvimento impõe-se então uma racionalidade mercantil e uma lógica econômica baseada na conquista-apropriação-privatização da entidade natureza, terra-território-recursos naturais, e da conquista-apropriação-privatização dos sujeitos, dos corpos e da vida mesma (MACHADO, 2011). Este (re) surgimento do extrativismo baseia-se, portanto, num processo social de apropriação privada, por parte de grandes corporações de bens naturais que são fundamentais para a reprodução da vida local (GONÇALVES E MENDONÇA, 2013). 4 No ano 2011, implementou-se a reforma ao código de mineração de 2001, no qual se incluíram modificações principalmente em relação ao aumento das zonas protegidas da mineração, à supressão da divisão entre pequena, média e grande mineração, e no estabelecimento de importantes isenções tributárias para as empresas (SOLER, 2012). No entanto, esta reforma ao código de mineração foi declarada inconstitucional, por não prever os mecanismos de consulta prévia que estipula a convenção 169 da OIT, aceita na Colômbia no ano 1989. Atualmente, portanto, o código de mineração vigente é o primeiro código do ano 2001. 5 No ano 2010 foram feitas denúncias públicas por parte do Ministério de moradia e Meio Ambiente em relação à adjudicação de títulos de exploração de mineiros em zonas de ecossistemas frágeis e de proteção ambiental, que incluíam Parques Naturais e zonas de reserva Florestal. (VICENTE, MARTIN, SLEE, 2011) 7057 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A apropriação privada da terra, do território e da água, é fundamental então para a viabilização da mineração e do modelo de desenvolvimento, e portanto também paralelamente, os mecanismos de despojo e de violência exercidos em comunidades, populações e modos de vida locais. A acumulação por espoliação (HARVEY, 2005) como marco para entender esses processos que se baseiam na mercantilização e apropriação da natureza e no despejo de populações camponesas, assim como a violência estrutural da repressão-criminalização, parecem ser processos fundamentais para compreender o modus operandi deste modelo na Colômbia, quando o mapa do despejo, da expropriação e da violência coincide com aquele dos grandes empreendimentos minero-energéticos6. 3- Antioquia: Apropriação Dos Recursos Naturais e Acumulação Por Espoliação Antioquia encontra-se localizado no noroeste da Colômbia e é um departamento emblemático na produção minero-energética do país. No plano de desenvolvimento do departamento 2012-2015 estipula-se a necessidade de consolidar uma estratégia de desenvolvimento baseada na produção e geração de madeira, água, irrigação e energia, o que se traduz no aproveitamento de sua topografia e geologia para a geração de energia hidroelétrica e para a exploração mineira (MARIN, 2013). De fato, Antioquia conta com uma grande riqueza hídrica, encontram-se ali importantes bacias (a bacia do rio Cauca, a bacia do rio Magdalena e a bacia do rio Atrato), com uma topografia onde 30% de seu território encontramse por cima dos 1.500 metros, e com um subsolo rico em minerais, principalmente ouro, prata, calcário, cobre e carvão. Estas características convertem Antioquia num território vital para a extração, a apropriação e a exploração de recursos naturais e, portanto, em um departamento com um número significativo de conflitos ambientais e territoriais pelo uso e a apropriação da terra, da água e do território. 6 Segundo Isuasty e Grisales (2014), e levando em conta a informação da Unidade de Restituição de Terras, as regiões mais fortemente afetadas pelo conflito armado interno coincidem com as regiões dos grandes empreendimentos minero-energéticos do país. Vicente, Martin, Slee (2011) afirmam também que muitas multinacionais chegaram a lugares que tinham sido cenários de violência, desaparição forçada e assassinatos e que atualmente os índices de violação aos direitos humanos nas zonas de mineração são alarmantes. 7058 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Mapa 1 – Colômbia: Departamento de Antioquia. Fuente: Sociedad Geográfica de Colombia, Atlas de Colombia IGAC. 2002 Organização: Sociedade Geográfica de Colômbia Em relação à geração de energia, Antioquia é a região com maior potencial hidroelétrico do país, já que conta com 45 hidroelétricas, onde gera-se 33% da produção nacional de energia (MARIN, 2013). Estas hidroelétricas são propriedade de diversos empresários privados nacionais e das empresas públicas de Antioquia ISAGEN e EPM. A construção destas hidroelétricas e de mais nove que tem planejado construir-se, têm gerado uma forte modificação da natureza, principalmente da dinâmica dos rios e das fontes hídricas, que a sua vez têm afetado a produção e reprodução de modos de vida camponeses, principalmente pelo despejo e pela apropriação privada da água e da terra que pressupõem estes empreendimentos (BETANCUR, 2013). Em relação à mineração, Antioquia ocupa o primeiro lugar em títulos e solicitações de exploração mineira e conta com uma porção importante dos distritos mineiros de ouro do pais. No departamento nos últimos cinco anos aumentou o número de solicitações de exploração de minerais especialmente nas sub-regiões do Nordeste e do Sudoeste e para o ano 2012, 17 % do território do departamento encontrava-se titulado a empresas mineradoras (BETANCUR, 2013). Segundo dados da Agencia Nacional de Mineração ANA, os principais minerais extraídos para o ano 2014 foram metais preciosos, ouro, prata, zinc e cobre, extrações localizadas em quase todo o departamento, mas principalmente nas sub-regiões do Nordeste, do Baixo Cauca, do Sudoeste e do Ocidente; materiais para a construção, especialmente calcário e mármore, localizados principalmente na sub-região do 7059 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Oriente; e carvão, localizado na sub-região de Uraba. No mapa 2 podem observarse a localização dos títulos e das solicitações para mineração em Antioquia. Mapa 2 – Localização de Títulos e solicitações para Mineração, Antioquia 2012 Fuente: Cadastro Mineiro Colombiano. Títulos e solicitudes 2014 Organização: Terra Minada A extração de minerais é realizada por algumas empresas privadas nacionais e por grandes empresas transnacionais dentro das quais encontram-se, na mineração de ouro e metais preciosos, Gran Colômbia Glod, Solvista Gold Corporation e Continental Gold do Canadá e Anglo Gold Ashanti da Sudafrica, e na mineração de materiais para a construção, Holcim da Suíça, Cemex do México e Argos. É importante ressaltar que esta divisão entre empresas nacionais e transnacionais não é muito clara já que estas últimas “fraccionam” suas áreas e realizam “alianças” com outras empresas como estratégia para ocultar a grande concentração de áreas de exploração que possuem e para reduzir o pago de impostos. Desta forma, títulos minérios que aparecem com o nome de Minera Quebradona Holdings Ltda. e Exploraciones Chocó Colômbia S.A.S têm conexões diretas com Anglo Gold Ashanti, e títulos com o nome de Minerales OTU S.A, têm 7060 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO conexões diretas com Continental Gold7. De fato, Continental Glod e Anglo Gold Ashanti são duas das empresas multinacionais com mais títulos no país. A mineração no departamento claramente configura processos de apropriação de recursos naturais, principalmente terra e água, que são vitais para a produção e reprodução de modos de vida camponeses, indígenas e afrodescendentes. Em relação à pose da terra por exemplo, pode observar-se que Antioquia não só ocupa o primeiro lugar em títulos e solicitações mineiras, senão também em número de vítimas afetadas pelo conflito armado interno, que no departamento ascendem a 1,2 milhões de pessoas. De fato, as zonas com maiores títulos e solicitações para a exploração mineira, coincidem em algumas sub-regiões especialmente o Nordeste, o Sudoeste e o Oriente, com as zonas de violência que são alvo dos processos de restituição de terras despojadas pelo conflito armado interno, como o assinala Isuasty e Grisales, (2014). O caso de Antioquia é um exemplo de como, com o objetivo de favorecer as dinâmicas de mundialização do capital e portanto, de reprodução das condições de acumulação do sistema capitalista, constrói-se uma dinâmica de modernização do território baseada na commoditização dos recursos naturais e na apropriação do subsolo (GONÇALVES E MENDONÇA, 2013). Esta apropriação privada do subsolo ligada irredutivelmente à destruição e contaminação ambiental e à exportação do espaço ambiental, gera a sua vez uma multiplicação dos conflitos ambientais e das tensões sociais de base territorial (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). Os grandes empreendimentos, neste caso de mineração e de construção de hidroelétricas, intervêm o espaço territorial e alteram o ambiente e as relações culturais, integrando de forma violenta espaços às dinâmicas capitalistas e afetando espaços e territórios onde privilegiam outras dinâmicas e racionalidades e outras relações com a natureza e os recursos ambientais. 4- Em Defesa da Vida e do Território: MOVETE A mercantilização dos recursos naturais e a espoliação da Natureza e da sociedade que pressupõe este modelo de desenvolvimento, gera disputas e conflitos territoriais principalmente baseados nas expropriações das formas e modos de vida 7 Informação obtida do jornal Colombiano el Tiempo Artigo “Los dueños de las minas” 30 de nov. De 2012. 7061 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO que dependem dos recursos naturais, da terra e da água, para sua reprodução material e simbólica. O território para estas comunidades é visualizado como um todo onde não só convergem as condições naturais e físicas, senão também suas próprias formas de sociabilidade e de construção comunitária e social. A apropriação-privatização da Natureza e do subsolo baseada num ideal de desenvolvimento pressupõe a alteração de formas e modos de vida alternativos e a integração violenta de suas territorialidades ao sistema urbano-industrial-capitalista (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). Mas esta alteração e integração não se dá sem luta, organização e resistência. Numerosos movimentos sócioterritoriais surgem para defender o território e a vida e para denunciar as contradições do desenvolvimento e a situações que ameaçam a sua existência e sua reprodução material e simbólica. Na Colômbia, estes movimentos têm numerosas nuances que podem ter como ponto de partida tanto reivindicações nacionais quanto locais e/ou regionais, que podem ser construídas em relação à posse da terra e/ou à contaminação da água e do ar, e que são construídas também por uma diversidade de atores sociais, comunidades e populações camponesas, indígenas, afrodescendentes e urbanas. No âmbito regional e local, mais especificamente de Antioquia, encontramos o Movimento pela defesa da Vida e do Território MOVETE. Este movimento surge no ano 2012 como uma articulação de diversas organizações camponesas da subregião do Oriente, de aproximadamente onze municípios, em resposta aos efeitos da construção de Hidroelétricas na Região e da mineração, e em defesa da água, do território, da vida e da soberania alimentar. Este movimento tem como antecedentes o “Movimento Cívico”, surgido na mesma região na década dos anos 80, que se posicionava em contra da construção de hidrelétricas e que foi fortemente reprimido e criminalizado. Além da criminalização, as comunidades camponesas do oriente de Antioquia foram vítimas de deslocamentos forçados no ano 2003 por causa das dinâmicas do conflito armado interno da época. Desde o ano 2008, as comunidades camponesas começaram um processo de retorno aos territórios, experimentando, porém, novos ciclos de despejo e apropriação privada de seus territórios, ligados à 7062 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO construção de hidroelétricas e à exploração mineira e da mão dos discursos de desenvolvimento minero-energético no departamento8. É significativo ressaltar que algumas organizações que fazem parte deste movimento, junto com outros movimentos de Antioquia, conseguiram no período de 2008 a 2010 frear dois projetos hidroelétricos de vital importância: o projeto hidroelétrico do rio Tapemares no município de Granada e o projeto do rio Chorrera no município de San Carlos. Por meio de manifestações, pressões políticas e recursos públicos os moradores organizados destes municípios conseguiram pacificamente a realização de audiências públicas e a revocatória das licenças ambientais outorgadas a empresários privados para a construção das hidroelétricas. Estes acontecimentos são fundamentais para os movimentos sociais de Antioquia já que demonstram que, numa história de despejo, conflito armado e criminalização, a organização comunitária é capaz de alterar as relações de poder que este modelo apresenta. As organizações locais e especificamente as organizações de Antioquia conseguem mostrar e visibilizar os efeitos socioambientais do modelo de desenvolvimento atual, e suas dinâmicas de despejo da terra, dos territórios e da água, e de imposição violenta de lógicas e racionalidades capitalistas. O surgimento destes movimentos ressalta a existência e permanência de modos diferenciados de relacionar-se com a natureza e com o território, questionando a mesma ideia de desenvolvimento e resistindo ao ideal e a prática das sociedades e dos modelos urbano-industriais (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). A defesa da vida ressalta a defesa dessas outras racionalidades, produzidas e reproduzidas na cotidianidade mesma das relações sociais comunitárias, desses outros saberes sobre a natureza e sobre a terra, que se opõem à lógica de crescimento econômico e de dominação da natureza, e que tem resistido historicamente aos embates do progresso. A defesa da água ocupa também um lugar fundamental já que permite assinalar a dependência que tem o modelo de desenvolvimento atual da terra, da água e dos recursos minerais e portanto, a centralidade que estes adquirem nas disputas territoriais e ambientais atuais. A realização de festivais em defesa da agua 8 Informação obtida de vídeos feitos pelo MOVETE publicados pelo sistema de televisão comunitária do município de Rionegro, Acuario TV. 7063 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO que são feitos pelo MOVETE, fazem ver a centralidade da luta e da resistência pela terra, pela a água e pelo território, como base material e simbólica da reprodução da vida e dos meios que os fazem corpos e sujeitos. 5- Considerações Finais O caso da Colômbia e especificamente de Antioquia permitem observar e analisar alguns pontos fundamentais do que nos apresenta o modelo de desenvolvimento atual na América Latina. O primeiro que é importante ressaltar é a relação e a influência que exercem as configurações econômicas e sociais dos países centrais do sistema-mundo capitalista nas configurações sociais e econômicas dos países da periferia, baseadas estas últimas atualmente num modelo extrativista e de reprimarização da economia (SEAONE, 2012). Este ponto ressalta a importância da análise do desenvolvimento geográfico desigual e combinado da produção e organização capitalista do espaço, no qual conceitos como acumulação por espoliação são fundamentais (HARVEY, 2005). De fato, o modelo de desenvolvimento e as dinâmicas de modernização do território de Antioquia, ressaltam a importância do despejo e despojo da terra, da água e do território em favor da apropriação, privatização e colonização dos recursos naturais. A criminalização da organização social em Antioquia, assim como a ligação entre os territórios de violência e os territórios modernizados no departamento, ressalta a importância da relação estrutural entre extrativismo e violência (SEOANE, 2012), violência em tanto coação física e repressão para garantir o despejo quanto violência simbólica de imposição de racionalidades sobre o progresso e o desenvolvimento (MACHADO, 2011). Nesta dinâmica o Estado tem um papel fundamental como facilitador e propiciador da entrada das multinacionais nos territórios, mediante a modificação, adaptação e criação de leis e reformas que dão a segurança jurídica e benefícios fiscais e comerciais a estas empresas, e mediante a defesa inquestionável do desenvolvimento como verdade absoluta. A defesa da racionalidade mercantil precisa indubitavelmente desta articulação entre capital e Estado para a conquista e a produção colonial da natureza e dos corpos e sujeitos (MACHADO, 2011). É por isso que as organizações e movimentos, constroem conjuntamente ações em defesa da vida e dos territórios e em contra das racionalidades modernas e do desenvolvimento criando e (re) criando desde a 7064 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO cotidianidade da vida comunitária e da diversidade das relações sociais que estabelecem entre si e com a natureza, contra poderes territoriais autônomos e formas alternativas de entender o desenvolvimento, sendo capazes de alterar as relações de poder e de construir espaços alternativos de vida. 6- Referências BETANCUR, L. Antioquia: un territorio de Agua con mucha sed: paradojas sobre el recurso hídrico, IN: Antioquia: agua e hidroeléctricas, Periódico el contexto, universidad pontificia bolivariana contexto No. 38, Septiembre 2013. GONÇALVES, R.J. E MENDONÇA M. 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