Artrite Encefalite Caprina – CAE
Transcrição
Artrite Encefalite Caprina – CAE
CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL UNIPINHAL FUNDAÇÃO PINHALENSE DE ENSINO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE ESPIRITO SANTO DO PINHAL - SP 2005 CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL UNIPINHAL FUNDAÇÃO PINHALENSE DE ENSINO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE Locais de estágio e áreas: Kleffmann e Partner Com. e Representação Mercadológica – Extensão Rural Clínica Veterinária Saúde Animal – Clinica Médica de Grandes Animais Prof. Dr.SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO Orientador Prof. MSc. MANOEL DE CASTRO LEITE NETTO Supervisor de CEMS ESPIRITO SANTO DO PINHAL - SP 2005 FOLHA DE APROVAÇÃO JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE Monografia de Estágio Multidisciplinar Supervisionado, apresentado para obtenção do titulo de Médico Veterinário junto ao curso de Medicina Veterinária UNIPINHAL Banca examinadora: _______________________________________ Prof. Dr. SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO Presidente _______________________________________ Prof. MSc. CELSO LEITE VILLELA Membro _______________________________________ Prof. MSc. ADAUTO DE CARVALHO ROSAS FILHO Membro _______________________________________ Prof. MSc. MANOEL DE CASTRO LEITE NETTO Supervisor da CEMS Espírito Santo do Pinhal, ______ de _________________ 2005 DEDICATORIA Primeiro a Deus, por ter me dado vida e preparado uma família maravilhosa. Aos meus pais que nunca mediram esforços para que eu pudesse realizar o sonho de me tornar Médico Veterinário e estiveram comigo em as todas etapas de minha vida. Ao restante da família que também apostou em minha vitória, aos verdadeiros amigos, pois esses se satisfazem com minhas conquistas e a Priscila, que hoje, faz parte da minha vida...Agradeço também às pessoas que sentem inveja de mim, já que essa é a prova de que estou sendo bem sucedido, estimulando assim meu crescimento. AGRADECIMENTO Agradeço a todos que me auxiliaram na elaboração deste trabalho, aos pesquisadores pela divulgação e diponibilização dos resultados, ao meu orientador que sempre acreditou na minha capacidade e esteve presente sempre que necessário e a todos os demais professores, os que eu gostei e os que eu apenas suportei mas, durante o curso cada um com sua parte contribuiu para minha formação profissional. Também não poderia esquecer jamais de todos os funcionários do MORRO AZUL e do HOVET do UNIPINHAL, em especial o Sr. Joaquim que muitas vezes não é lembrado, mas é um exemplo de dedicação e amor aos animais que a ele são confiados. PENSAMENTO DE UM VELHO ÍNDIO UM VELHO ÍNDIO DESCREVEU CERTA VEZ SEUS CONFLITOS INTERNOS “DENTRO DE MIM EXISTEM DOIS CACHORROS, UM DELES É CRUEL E MAU, O OUTRO É MUITO BOM E DÓCIL. ELES ESTÃO SEMPRE A BRIGAR”. QUANDO ENTÃO LHE INDAGARAM QUAL DOS CACHORROS GANHARIA A BRIGA, O SÁBIO ÍNDIO PAROU, REFLETIU E RESPONDEU: “AQUELE QUE EU ALIMENTAR”. RESUMO Artrite-encefalite caprina – CAE- Autor: Silva, João Henrique Mota da Orientador: Ribeiro, Silvio Doria de Almeida Supervisor: Netto, Manoel de Castro Leite A artrite-encefalite caprina (CAE), é uma doença degenerativa de evolução lenta e progressiva, e pode se manifestar com cinco quadros clínicos diferentes: artrite, mamite, encefalite, pneumonia e emagrecimento crônico. Foi introduzida no Brasil pela importação de animais leiteiros. A transmissão ocorre geralmente por via digestiva, pela ingestão de colostro ou leite contaminados. A doença apresenta baixa morbidade e animais infectados acabam passando despercebidos, permanecendo no rebanho como fonte de contaminação e disseminando a CAE para todo o plantel. Existem varias maneiras de diagnosticar a CAE, a maioria delas por exames laboratoriais, pois o diagnóstico clinico fica comprometido devido aos sintomas inespecificos. Como a CAE não possui tratamento, é fundamental trabalhar em sua prevenção. PALAVRAS-CHAVE: Caprinos, colostro, lentivírus, artrite. 1 SUMÁRIO SUMÁRIO.............................................................................................................................. 1 1. 2. INTRODUÇÃO..................................................................................................................2 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................3 2.1 ETIOLOGIA................................................................................................................. 3 2.2 EPIDEMIOLOGIA........................................................................................................... 4 2.3 PATOGENIA .................................................................................................................. 8 2.4 PATOLOGIA E SINAIS CLÍNICOS............................................................................. 10 2.5 PATOLOGIA CLÍNICA E MEIOS LABORATORIAIS AUXILIARES ..................... 12 2.6 DIAGNÓSTICO.............................................................................................................12 2.7 CONTROLE E PROFILAXIA....................................................................................... 16 3 4 CONCLUSÃO..................................................................................................................20 BIBLIOGRA.....................................................................................................................21 2 1. INTRODUÇÃO A artrite-encefalite caprina (CAE) foi identificada clinicamente, pela primeira vez, em 1959, na Suíça, onde se observou artrite crônica em caprinos adultos (STÜNZI et al. 1964 apud CALLADO et al. 2001). O vírus da CAE foi isolado pela primeira vez nos Estados Unidos da América (EUA), em 1979, da membrana sinovial e do líquido cefalorraquidiano de caprinos infectados. O reconhecimento internacional da CAE como uma virose ocorreu em 1980, após a identificação do agente, classificado como um lentivirus da família Retroviridae (CRAWFORD et al. 1980). A doença foi introduzida no Brasil através da importação de animais puros de raças leiteiras, proveniente de rebanhos europeus e americanos (SARAIVA NETO 1994). Segundo Almeida et al.(2001), a primeira descrição de CAE no Brasil foi feita por Moojen et al. (1986), no Rio Grande de Sul, seguido de Fitterman (1988) na Bahia, Pinheiro et al. (1989) em Pernambuco e Assis & Gouveia (1994) no Ceará “(CALLADO et al. 2001). Segundo Franke (1998), a CAE pode manifestar-se através de cinco quadros clínicos principais: artrite, encefalite, mamite, pneumonia e emagrecimento crônico. A CAE é caracterizada por uma alta prevalência de soropositividade e, geralmente, baixa morbidade. Os animais infectados, mesmo aparentemente saudáveis ou soronegativos, podem disseminar o vírus continuamente (RIMSTAD et al. 1993). A Artrite-Encefalite Caprina é uma enfermidade crônica incurável e com repercussão negativa sobre a produtividade do rebanho (ANDRIOLI & GOUVEIA, 2005). Na Suíça, foi realizada uma tentativa de quantificar as perdas econômicas em conseqüência da CAE, através de questionários distribuídos aos caprinocultores. A análise destes questionários revelou que de 5 a 10% dos caprinos são anualmente sacrificados por apresentarem um quadro grave de artrite. Segundo estimativas dos caprinocultores, a queda na produção de leite das cabras infectadas é de 10 a 15%, sendo que esta porcentagem pode ser observada também nos casos em que a cabra infectada não apresenta alterações no úbere (KRIEG, PETERHANS, 1990 apud FRANKE 1998). 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1ETIOLOGIA O vírus da Artrite-Encefalite Caprina é um lentivirus pertencente à família Retroviridae, e sub família Lentiviridae (FRANK, 1998), à qual pertencem também o vírus da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), da Anemia Infecciosa Eqüina e Pneumonia Progressiva Ovina (MAED VISNA) (GARCIA, 1993). É caracterizado por produzir doença degenerativa de evolução lenta e progressiva (SIGURDSSON, 1954 apud CALLADO et al. 2001). Os lentivirus são vírus envelopados. A partícula viral é composta pelos produtos do gene gag (“Group Antigen”), pol (polimerase) env (envelope) e pelo RNA genômico. Os genes gag e pol são os mais conservados, enquanto que o gene env é altamente heterogêneo. A partir da transcrição reversa, o RNA genômico da origem ao DNA proviral, o qual se integra ao genoma das células-alvo, os monócitos e macrófagos, sendo que a replicação ocorre preferencialmente em algumas populações de macrófagos teciduais, resultando na produção e excreção do vírus infeccioso no leite e provavelmente secreções respiratórias (NARAYAN et al.1992). Beer (1988) descreveu o vírus da CAE como sendo sensível ao éter, clorofórmio, metaperionato, tripsina, formol a 0,04%, luz ultravioleta, distintas temperaturas e valor de pH compreendidos abaixo de 5,1, ou acima de 9,4. O vírus da CAE possui três características gerais que promovem a persistência da infecção em seus hospedeiros. Primeiro, após a transcrição reversa do RNA viral nas células infectadas, o DNA pró-viral se integra no genoma celular, permitindo que o vírus escape dos mecanismos de defesa do hospedeiro e preserve o seu genoma. Segundo, se multiplica em células do sistema imunológico, normalmente responsáveis pela eliminação de células infectadas, assim, o hospedeiro não consegue desenvolver resposta imunológica curativa. Além disso, a restrição da expressão viral sem produção de partículas virais, permite que as células infectadas pelo vírus escapem do sistema imunológico (NARAYAN et al. 1992). Terceiro, esse vírus acumula alta taxa de mutação durante o processo de replicação, resultando em variabilidade genética e fenotipica escapando, assim, do sistema imunológico do hospedeiro (CHEEVERS et al. 1993). 4 2.2 EPIDEMIOLOGIA Segundo Garcia (1993), a CAE já foi descrita em quase todos os continentes do mundo com prevalência mais elevada naqueles países onde há uma caprinocultura mais tecnificada (OIE/FAO, 1997). O quadro a seguir demonstra a distribuição da CAE nos diversos países e reforça o conceito de que a doença é mais intensa em países onde os caprinos são criados de forma intensiva. Quadro 1. Quadro demonstrativo da prevalência da CAE em alguns países. País Caprinos sorosComentário positivos (%) Canadá França Noruega Suíça EUA Inglaterra Nova Zelândia Kenia México Peru Sudão Somália África do Sul 77,0 77,0 74,0 83,0 81,0 9,5 8,3 4,5 5,8 9,3 0,0 0,0 0,0 Criação intensiva de caprinos Ilhas (maior possibilidade de controle) Introdução por Importação Criação Extensiva de Caprinos Fonte: Franke (1993) No Brasil, tem sido registrada a ocorrência de animais soropositivos em vários estados (CALLADO et al. 2001). O primeiro registro sorológico da CAE e o primeiro isolamento do vírus foram realizados no Rio Grande do Sul e, já se sabe que o vírus se encontra bastante disseminado por todo país, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais (CARLTON; McGAVIN, 1998). O quadro a seguir apresenta os estados brasileiros onde já foi diagnosticado o vírus da CAE. 5 Quadro 2. Quadro demonstrativo de estados brasileiros onde já foi diagnosticado o vírus da CAE. Estado Referência RS Moojen et al. 1986, Dal Pizzol et al. 1989 BA CE Fitterman 1988, Assis e Gouveia 1994 Pinheiro et al. 1989, Assis & Gouveia 1994, Alves & Pinheiro 1997, Melo & Franke 1997 SP Garcia et al. 1992 MG Assis & Gouveia 1994, Dezan 1996, Castro et al. 1999 RJ PE Assis e Gouveia 1994, Cunha & Nascimento 1995 Castro et al. 1994, Saraiva Neto et al. 1995, Castro et al. 1990, Castro et al. 2000 MA Alves e Pinheiro 1997 PA Ramos et al. 1996 PI Pinheiro et al. 1996 PR Sotomaior & Milczewski 1997 PB Souza & Alves 1999, Castro et al. 2000 Fonte Callado et al. (2001) Segundo trabalho realizado por Pinheiro et al. (2001), onde foram pesquisadas 4019 amostras de soro caprino, a prevalência da infecção pela CAE no estado do Ceará foi de 1% (40/4019 animais) considerando todos os tipos de animais testados. Entretanto, a prevalência em rebanhos leiteiros foi de 4.6% (37/810 animais), enquanto em Pernambuco foi de 17.6% ( 70/397), em São Paulo 29,9% (615/2065 animais), Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia verificou-se respectivamente 33,3% (205/615), 29,7% (20/101) e 27,5% (211/768). Ainda com base neste trabalho, é possível explorar os resultados de acordo com sexo, categoria, grau de sangue e tipo racial dos animais testados, formando o quadro abaixo: 6 QUADRO 3. Sexo, composição do rebanho, grau de sangue e tipo racial de caprinos positivos e negativos para CAE no Ceará 1999. Variável Estrato Reagente Não Reagente Total Número % Número % 14 2,3 606 99,7 620 Sexo Macho 26 0,8 33,73 99,2 3399 Fêmea 12 3,8 306 96,2 318 Reprodutor 25 0,9 2779 99,1 2804 Categoria Matriz 3 0,3 894 99,7 897 Jovem 37 4,6 773 95,4 810 Raças puras leiteiras 3 0,1 23202 99,9 2305 Grau de Sangue Mestiço 0 0,0 904 100,0 904 Nativo/ SRD 8 18,6 35 81,4 43 Pardo Alpina (PA) 7 4,4 151 95,6 158 Saanen (SA) 22 4,0 533 96,0 555 Tipo racial Anglo Nubiana 1 1,1 94 99,0 95 Mestiço PA x SRD 2 1,0 200 99,0 202 Mestiço SA x SRD FONTE: Pinheiro et al. (2001) O Reservatório e a fonte de infecção da CAE são animais infectados, que transmitem o agente por meio de secreções ou excreções ricas em células do sistema monócito-fagocitario. A transmissão ocorre geralmente por via digestiva, pela ingestão de colostro ou leite contaminados (Adans et al. 1983, Guiguen et al. 1990, Peretz et al. 1993 apud CALLADO 2001). Apesar de ter um significado menor, a transmissão horizontal por fezes, saliva, secreção respiratória e urogenital e, sobretudo, leite contaminado dos copos de ordenhadeiras mecânicas, tem sido considerada importante, dependendo da situação particular de cada criação. A transmissão vertical pode ocorrer, pois já foi observado a soroconversão de cabritos que foram separados imediatamente após o parto e receberam colostro e leite de vaca pasteurizado (East et al. 1993). Segundo Andrioli & Gouvea (2005), a presença da CAE no sêmen já foi comprovada, o que sugerem que este também possa ser transmitido na monta natural e inseminação artificial. Após a introdução da CAE em uma criação, a prevalência de animais soropositivos e clinicamente afetados, bem como a intensidade das alterações são bastante variadas, dependendo de fatores relacionados à intensidade do estresse, tipo de nutrição e condições gerais de higiene (Crawford & Adams 1980). 7 Segundo Callado et al. (2001), a infecção pela CAE acomete animais de ambos os sexos, várias raças e idades. Apesar de relatos de maior prevalência em determinadas raças e em animais do sexo masculino, não se pode concluir pela maior susceptibilidade racial ou relacionada ao sexo, pois os estudos são de difícil interpretação em relação aos vários fatores ligados ao manejo Um fator muito importante é o tempo de exposição para soroconversão. Assim, tem-se observado que a freqüência dos soros positivos é maior em animais mais velhos (Saraiva Neto et al. 1995). Em rebanhos com alta infecção, a soroprevalência pode ser detectada entre animais jovens (CALLADO et al. 2001). Para Guedes et al. (2001), a infecção e/ou soropositividade não estão obrigatoriamente relacionadas com a presença de sinais clínicos, uma vez que apenas 35% dos animais infectados apresentam algum sinal característico. Relata ainda, que apesar da soroprevalência da CAE em um rebanho poder atingir 90%, a maioria dos animais infectados não desenvolve sintomatologia clínica. A ocorrência de alguns rebanhos com quase a totalidade dos animais infectados tem sido explicada e atribuída ao fato da infecção poder persistir por toda a vida do animal e apresentar, inúmeras vezes uma evolução assintomática, ou não diagnosticada, tornando esses animais fontes de infecção (NARAYAN et al.1992). A doença pode levar vários meses e até anos para se manifestar; portanto os animais nessas condições representam um importante elo de transmissão, pois aparentemente são sadios mas são portadores do vírus e podem transmiti-lo aos demais animais. Com a evolução da caprinovinocultura e o constante crescimento do mercado, houve a necessidade dos órgãos públicos dispensarem uma maior preocupação com aspectos sanitários desses animais, assim, a produção de caprinos e ovinos deve ser fundamentada em sistemas de exploração que possam garantir melhores condições sanitárias para estes animais, através de medidas de biosegurança e de exames diagnósticos confiáveis e acessíveis. Através da Instrução Normativa Nº 87 da Secretaria de Defesa Agropecuária, de 10 de dezembro de 2004, foi aprovado o Regulamento Técnico do Plano Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos – PNSCO, que visa o controle e erradicação das 8 doenças de caprinos e ovinos, por meio de ações sanitárias e de vigilância epidemiológica definidas pelo DDA e executadas pelos serviços oficiais e médicos veterinários cadastrados. Atualmente, o PNSCO encontra-se em fase de estruturação. Foi formado um Comitê Técnico Científico, composto de profissionais dos diversos setores da caprino e ovinocultura, com o objetivo de dar suporte técnico às decisões do Programa. As propostas sanitárias estão em fase de conclusão e estão sendo disponibilizadas por meio de Consulta Pública, de maneira a permitir a participação de todos setores interessados. Dentre as estratégias de atuação, serão destacadas: o cadastro de estabelecimentos, o controle de trânsito de animais, a certificação de estabelecimentos, o cadastramento de Médicos Veterinários do setor privado e o credenciamento de laboratórios para realização de exames diagnósticos das doenças de controle oficial. Elaborado sem a participação de veterinários atuantes nestas atividades, o PNSCO apresenta muitas falhas. O artigo que trata da CAE constitui ameaça real à caprinocultura e sofreu críticas severas dos profissionais especializados.(www.agricultura.gov.br , 2005) 2.3 PATOGENIA O vírus da CAE possui uma particular afinidade pelas células de linhagem mononuclear fagocitária (monócitos e macrófagos). Esse vírus é introduzindo no organismo dos animais na maioria das vezes pela via digestiva. Em seguida o vírus infecta as células do sistema monocítico-fagocitário produzindo a infecção persistente do hospedeiro (CALLADO et al. 2001). Sob catálise de uma enzima viral chamada “transcriptase reversa”, A partir da transcrição reversa, o RNA genômico da origem ao DNA proviral, o qual se integra ao genoma das células-alvo os monócitos e macrófagos constituindo o chamado “próvirus” sendo que a replicação ocorre preferencialmente em algumas populações de macrófagos teciduais, resultando na produção e excreção do vírus infeccioso no leite e provavelmente secreções respiratórias (NARAYAN et al.1992), 9 Processos inflamatórios em outros locais promovem o recrutamento desses macrófagos infectados; desse modo, facilitam a disseminação do vírus ao pulmão, SNC, articulações e à glândula mamária. (CARLTON; McGAVIM, 1998). Os mecanismos desenvolvidos pelos lentivirus para persistência da infecção frente a resposta imune incluem: capacidade dos monócitos de conter próvirus integrado em seu genoma sem ser detectado pelo sistema imune, pois a expressão do gene viral só é ativada quando os monócitos maturam; para capacidade de infectar persistentemente macrófagos, sem causar lise celular, podendo disseminar o vírus no próprio hospedeiro, sem a produção de partículas virais através do contato com outras células (NARAYAN et al. 1992); interrupção do ciclo viral; replicação de variantes antigênicos na presença de anticorpos neutralizantes (CHEEVERS et al. 1991); a produção insuficiente de anticorpos neutralizantes e produção do interferon, que diminui o índice de replicação e favorece a persistência do estimulo antigênico. Ainda há presença de ácido salicílico na superfície da partícula viral, o que dificulta a ação dos anticorpos neutralizantes, e a alta mutabilidade do agente que pode resultar em variantes antigênicas funcionam como mecanismo de escape da resposta celular e humoral (KNOWLES et al. 1990, CHEEVERS et al. 1993, LICHTENSTEIGER et al. 1993 apud CALLADO et al. 2001). A replicação viral é seguida pela produção de anticorpos e citocinas que participam do desenvolvimento das alterações imunopatologicas que ocorrem nos órgãos-alvo (DeMARTINI et al. 1993). A produção persistente de antígenos virais e interação, quer seja na forma de proteína livre, ou expressa na célula durante a infecção, e os anticorpos, formando imunocomplexos, contribui para progressão da doença (NARAYAN et al. 1992). As alterações patológicas que ocorrem nas infecções causadas pelo vírus da CAE, são na maior parte, mediadas internamente pela resposta imune do hospedeiro, resultado da alteração da atividade ou produção de citocinas, como a Interleucina 1 (IL-1) e Interferon (IFN) pelos monócitos. Já foi demonstrado a presença de elevados níveis de IFN no líquido sinovial de cabritos naturalmente infectados. O IFN é responsável pelo desenvolvimento da resposta linfoproliferativa por induzir a expressão de antígenos (CALLADO et al. 2001). É provável ainda que infecções oportunistas possam induzir a secreção de fatores celulares que modulem a replicação viral e a manifestação da infecção como doença clinicamente aparente. Finalmente a 10 freqüência e severidade das lesões parecem estar associadas a fatores do genoma do hospedeiro e da amostra viral (CHEEVERS et al. 1993). 2.4 PATOLOGIA E SINAIS CLÍNICOS A infecção pela CAE, geralmente persistente e assintomática, pode causar lesões multissistêmica, de evolução geralmente crônica. As apresentações clínicas da CAE têm sido classificadas de quatro formas básicas: nervosa, artrítica, respiratória e mamária (NARAYAN et al.1992). A forma artrítica é a mais importante e é geralmente observada em animais com mais de oito meses de idade. As alterações clínicas afetam freqüentemente as articulações carpianas, sendo observado aumento da consistência e tamanho das articulações. Ao exame macro e microscópico observam-se lesões típicas de processos degenerativos e inflamatórios, que afetam os tecidos conjuntivos periarticulares, bolsas sinoviais, tendões e bainhas tendinosas (PEREIRA, 1995). Sendo esses os fatores que levam ao aumento articular (SMITH, 1993). Os animais também desenvolvem pelagem escassa e ficam em decúbito external na maior parte do tempo, sendo resultados comuns as úlceras de decúbito e ainda podem andar de joelhos (BLOOD et al. 1991). As alterações macroscópicas encontradas são de natureza inflamatória e degenerativa. No líquido sinovial estão presentes fibrinas e coágulos de sangue. Em casos mais avançados, lesões degenerativas estão presentes, caracterizando-se por diminuição do líquido sinovial, focos de degeneração, erosão e necrose articular. Nas alterações microscópicas há sinal de inflamação crônica, caracterizadas por hiperplasia sinovial, com deposição de fibrina e infiltração de células inflamatórias mononucleares como linfócitos, macrófagos e plasmócitos. Células multinucleadas são identificadas ocasionalmente. O colágeno subsinovial, perisinovial e tendinoso geralmente se encontra necrótico e mineralizado. (CORREA et al. 2001). A forma mamária é freqüente e tem grande significado econômico devido ao comprometimento da produção leiteira e predisposição a infecções secundárias da glândula mamária (SMITH et al. 1993). As cabras afetadas apresentam mamite aguda ou crônica. A aguda é observada no início da galactogênese, havendo endurecimento não 11 edematoso do órgão com baixa ou nenhuma produção leiteira. A crônica instala-se durante a lactação com assimetria e endurecimento da mama e leite de aspecto normal (PEREIRA 1995). Em ambas as formas, há hiperplasia persistente de linfonodos retromamários que apresentam-se com aumento de volume e consistência dura (SANTA ROSA 1996). A forma encefálica é mais comum em cabritos de um a quatro meses de idade ou mais raramente em caprinos mais velhos em associação com a artrítica (CRAWFORD & ADAMS, 1981). Os animais mesmo mantendo o apetite e o estado ativo, apresentam ataxia e paresia uni ou bilateral dos membros posteriores, que evoluem para tetraparesia (NARAYAN et al. 1992). A marcha do animal é curta e inconsciente, seguida por fraqueza e por fim decúbito. Nos animais que ainda têm capacidade de ficar em pé pode haver perda acentuada da propriocepção em uma das pernas posteriores. O envolvimento cerebral se manifesta por cabeça pendente, torcicolo e marcha em círculo (BLOOD et al. 1991). Essa compromete a substância branca do cérebro, os cordões espinhais e a medula (SANTA ROSA, 1996). As lesões macroscópicas geralmente não ocorrem, podendo ocasionalmente haver áreas focais de coloração marrom clara na substância cinzenta da medula oblonga e medula espinhal. (CORREA et al. 2001). A apresentação pulmonar é mais rara e de pouca gravidade, pode seguir ou acompanhar a forma encefálica e é percebida apenas quando o animal é exitado (CARLTON, 1998), seus sintomas são: tosse, taquipneia, consolidação pulmonar, som úmido à auscultação e comprometimento do estado geral (PEREIRA, 1995). Os animais afetados comem normalmente, estando alertas e afebris (SMITH, 1993). A necropsia observa-se aderências pleurais, pulmões pesados e firmes a palpação e áreas de coloração róseo-acinzentadas.(PEREIRA, 1995). No útero não ha alterações macroscópicas visíveis. Na histologia, observa-se infiltração mononuclear, com predominância de linfócitos evolvendo principalmente o endométrio, sem aparente envolvimento do miométrio e da serosa, a infiltração linfocitária é focal ou difusa, sendo mais abundante na camada subepitelial. (CORREA et al. 2001). 12 2.5 PATOLOGIA AUXILIARES CLÍNICA E MEIOS LABORATORIAIS O hemograma e bioquímica sangüínea geralmente nada apresentam de notáveis. As radiografias das articulações precocemente afetadas revelam tumefação do tecido mole anteriormente ao carpo e por vezes ao tarso. Esse quando é seguido pelo surgimento de depósitos calcificados no tecido periarticular, cápsulas articulares, ligamentos, tendões e bainhas tendinosas. As alterações ósseas são: branda reação periosteal, mineralização periarticular e irregularidade das superfícies ósseas proximais e distais à articulação (SMITH 1993). O líquido sinovial das articulações em geral está com maior volume, com coloração marrom a vermelho, redução na proteína e aumento da contagem celular (1.000 a 20.000 células/ mm3, com 90% de células mononucleares das quais 60-70% são linfócitos) (CORREA et al. 2001). Na forma mamária, histologicamente observa-se mamite intersticial com presença de nódulos linfóides (OLLIVER et al. 1985). Na forma encefálica as lesões microscópicas são de meningoencefalomielite e desmielinização (SMITH, 1993). Também são observados infiltração de células inflamatórias mononucleares na substância cinzenta da medula espinhal, múltiplos focos de infiltrados perivasculares linfocitários e de macrófagos na substância branca cerebral, associado a desmielinização. Na forma pulmonar, os achados histopatológicos são de pneumonia intersticial e broncointesticial (PEREIRA, 1995). 2.6 DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico da CAE baseia-se nas manifestações como artrite, mamite, pneumonia ou encefalite, também devemos investigar o histórico da propriedade com a provável introdução do vírus por animais oriundos de rebanhos infectados. Porém como já mencionado neste trabalho, muitas vezes os animais positivos não apresentam nenhum sintoma, aí se faz necessário o uso de exames laboratoriais para diagnosticar a doença. 13 Sempre que optar por um teste no diagnóstico de uma doença, deve-se procurar aquele que confira uma boa sensibilidade e uma boa especificidade. Segundo Cortes (1993), a sensibilidade é a habilidade de um método detectar o maior numero de achados positivos no grupo de indivíduos que realmente apresentem o atributo julgado. A especificidade é a habilidade deste método classificar como positivos somente indivíduos dotados do atributo em questão, ou seja, é expresso pela proporção de não infectados que o método é capaz de qualificar corretamente como negativo. O diagnóstico laboratorial baseia-se na detecção de anticorpos, no isolamento viral ou na detecção de antígenos virais ou porções correspondentes ao seu genoma (CORREA et al. 2001). Segundo Abreu et al. (1998), o teste laboratorial para diagnóstico da CAE mais difundido e utilizando é o Imunodifusão em Agar Gel (IDAG), que tem grande aceitação na execução de testes de rebanhos devido ao custo relativamente baixo, devido a boa sensibilidade e especificidade, além da praticidade de execução de leitura. O material utilizado para diagnostico laboratorial, é o soro sangüíneo, que pode ser armazenado desde que seja congelado. Seu envio para o laboratório, deve ser em caixa de isopor com gelo, mantendo a temperatura entre 2 e 8 ºC. O antígeno comumente utilizando no diagnóstico sorológico da CAE pelo IDAG é produzido a partir do vírus da Pneumonia Progressiva Ovina (OPP) e também pelo vírus da Maedi-Visna (MVV) (ambos importados), por sua semelhança antigênica (GUEDES; SOUZA; GOLVEIA, 2001). A escolha do antígeno para pesquisa de anticorpos para CAE tem sido motivo de controvérsia, pois embora haja recomendação para o emprego do MVV, recentemente tem sido demonstrado que a IDGA com glicoproteínas do CAE é mais sensível que com o Ag do vírus MVV. O trabalho realizado por Abreu et al. (1998) comparou o teste de IDAG utilizando os Ag do CAEV (preparados a partir de cultura de células de membrana sinovial caprina (MSC) e Ag MVV. Foram testados 120 soros e o Ag CAEV classificou 75 como positivos e 45 como negativos. Esses soros quando testados frente ao Ag. MVV resultaram em 58 positivos e 62 negativos (Sensibilidade relativa de 77.3%). Os 45 soros classificados como negativos pelo Ag. CAEV apresentaram o mesmo resultado frente ao Ag. MVV (Especificidade relativa de 100%). 14 Para melhor avaliação dos resultados foi comparada a distribuição de intensidade na formação das linhas de precipitação entre os soros testes de cada Ag., onde observa-se um número maior de soros positivos (++ e +++) para o teste com o Ag. CAEV. Gráfico 1. Distribuição da freqüência dos soros positivos em função da intensidade de formação da linha de precipitação frente ao Ag. CAEV e MVV. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 77,6 66,7 29,3 CAEV MVV 20,7 4 + ++ 1,7 +++ Fonte: Abreu et al. (1998). A análise deste trabalho permite afirmar que o diagnóstico da CAE por meio de IDGA utilizando Ag. CAEV é mais confiável que aqueles que utilizam Ag. MVV. O teste de IDAG é útil para o diagnóstico do rebanho, mas tem pouco valor no diagnóstico de um animal individualmente (OGILVIE, 2000) Devido a maior sensibilidade e possibilidade de quantificação e automação vários tipos de ELISA têm sido desenvolvidos para pesquisa de anticorpos, preparados a partir do antígeno da CAE. Outro método de diagnóstico pode ser a Imunofluerescência Direta, que é recomendada pela OIE e apresenta um grande potencial como teste alternativo e complementar. Entretanto devido a maior sensibilidade e possibilidade de quantificação e automação, vários ensaios imunoenzimáticos (EIE) têm sido desenvolvidos para pesquisa de anticorpos, preparados a partir de antígenos da CAE ou proteína interna e/ou transmembranária recombinante (SCHROEDER et al. 1985, RIMSTAD et al. 1994 apud CALLADO 2001), porém uso de proteínas recombinantes tem causado problemas de resultados falso positivos, o que tem resultado na substituição desse antígeno pelo vírus completo. Também tem sido adaptado um EIE para pesquisa de anticorpos no 15 leite ou colostro, sem grandes vantagens práticas aos testes com soros, pois só se aplica em animais em lactação. Para detecção qualitativa, tem-se recomendado as técnicas de Western Blotting e imunoprecipitação (GOGOLEWSKI et al. 1985, KNOWLES 1997 apud CALLADO 2001). Uma outra alternativa seria o uso da técnica de PCR. Existe um interesse crescente no diagnóstico sorológico da CAE, usando técnicas rápidas, simples e de baixo custo Pensando nisso, a Embrapa Caprinos, juntamente com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Fundação Ezequiel Dias, desenvolveram o DOT-BLOT (DB). Segundo Pinheiro (2005), o DB é um teste atrativo para aplicação de rotina, em virtude dos procedimentos que permitem a realização de dezenas de exames em uma tira de nitrocelulose para detecção de anticorpos com alta sensibilidade. No quadro a seguir é apresentado o resultado do teste de soros caprinos pelo IDAG, ELISA-i e Dot-Blot na detecção da CAE. Quadro 4. Quadro comparativo de resultados entre os testes DB, IDAG e ELISA. POSITIVO % NEGATIVO % TOTAL IDAG Dot-Blot 144 200 44.04 61.16 183 127 55.96 38.84 327 327 ELISA 209 63.91 118 36.09 327 Fonte: Pinheiro (2005). O DB mostrou-se um teste viável, rápido e sensível para detecção da CAE. Para Pinheiro (2005) é um teste com uma ótima sensibilidade e uma boa especificidade, sendo superior ao teste de IDAG e semelhante ao ELISA-i. Seu protocolo apresentou boa resolução e reação inespecífica baixa além de um bom rendimento. Portanto, o DB é um teste mais viável que o IDAG e o ELISA-i no controle desta infecção, pois além de ser mais sensível que o IDAG não necessita da indumentária tecnológica do ELISA . É também mais barato que o ELISA e mais rápido que o IDAG, podendo ser utilizado em eventos (exposições, leilões, etc) e até mesmo no campo (PINHEIRO, 2005). 16 O teste imunohistoquímico também pode ser utilizado para detecção da CAE. Segundo Garcia (1992) se pode utilizar o Índice Clínico (IC) como método para diagnosticar a manifestação clínica da CAE em cabras e cabritos. O IC é calculado através da diferença obtida entre o diâmetro da articulação carpo-cubital e o diâmetro do metacarpo. O animal é considerado clinicamente negativo para CAE, quando o IC for igual ou inferior a 5,5 cm. Se o IC estiver entre 6,0 e 6,5 cm, o animal é considerado clinicamente suspeito. Com um índice igual ou superior a 7,0 cm o animal passa a ser considerado clinicamente doente. 2.7 CONTROLE E PROFILAXIA Não há tratamento específico para a infecção pelo CAEV e não há vacina (CORREA et al. 2001) por esses motivos se torna de suma importância sua prevenção, evitando comprar animais de criatórios onde ela ocorre e nunca adquirindo animais com sintomas clínicos (RIBEIRO, 1997). Recomenda-se o controle da infecção realizando os testes sorológicos periódicos (uma a duas vezes por ano) nos caprinos acima de 9 meses de idade (CORREA et al. 2001). Uma vez introduzindo a doença no plantel, se deve adotar algumas medidas para seu controle e posteriormente erradicação. A implantação e o acompanhamento do plano de saneamento nas propriedades deve ser realizado por um Médico Veterinário que esteja em contato com um centro que realize o diagnóstico sorológico da CAE (FRANKE, 1998) Segundo Garcia (1993), em primeiro lugar deve ser feito um levantamento da situação do rebanho por meio de exames sorológicos. Em casos de prevalência baixa de animais soropositivos (5 – 10 %), recomenda-se à erradicação do problema com o abate desses animais. Em uma prevalência mais alta (acima de 10%) pode-se optar pela manutenção dos animais de elevado valor zootécnico, desde que sejam identificados com uma marca de fácil visualização. É necessário adotar um cuidado especial com os animais recém nascidos em criações onde ocorre a CAE, pois como visto anteriormente o colostro é a principal via 17 de transmissão. Desta forma, o cabrito não deve mamar na mãe “sendo separado logo após o parto e assim, criados livres da infecção (BLOOD et al. 1991). Segundo Ribeiro (1997), o colostro da cabra nunca deve ser fornecido cru, há necessidade de tratá-lo termicamente aquecendo-o a 56 ºC por uma hora. Também se pode utilizar colostro de outras espécies ou sucedâneo de colostro e colostro em pó. O colostro de outras espécies (como por exemplo a bovina), certamente não transmite a CAE, porém pode transmitir doenças típicas de bovinos como a brucelose e tuberculose, além disso devemos estar cientes de que a transmissão de imunidade é menos eficiente. O sucedâneo de colostro deve ser preparado com sangue de animal comprovadamente sadio, caso contrário este irá disseminar doenças para os cabritinhos. Existe também a possibilidade de formar um banco de colostro, onde as cabras fornecedoras devem ser testadas pela técnica de PCR a fim de confirmar a inexistência de anticorpos para a CAE. Para Correa et al. (2001), a formação de dois rebanhos, um com caprinos positivos e outro com negativos, mantidos separadamente, e a eliminação gradativa dos caprinos afetados é uma medida eficaz no controle da infecção. Os cabritos negativos devem ficar permanentemente isolados por uma faixa de no mínimo 1,8 m de largura com relação aos caprinos soropositivos. Não se deve permitir que os animais compartilhem comedouros e bebedouros. Cabras soro negativas devem ser montadas por bodes CAE-NEGATIVOS (SMITH, 1993). Recomenda-se dispensar cuidados especiais com as agulhas, seringas e materiais cirúrgicos que devem ser criteriosamente esterilizadas dando preferência a materiais descartáveis. Quando não possível a utilização desses, é necessário desinfetá-los entre o uso de um animal e outro. Materiais como canivetes e tatuadores devem ser mergulhados em água fervente antes de serem utilizados em outros animais. Para Garcia (1993) uma linha de ordenha deve ser instituída, pois, embora remota, há a possibilidade de transmissão da CAE, assim devemos ordenhar primeiro os animais negativos e por fim os animais positivos. Por último, se deve levar em conta a presença da CAE no ambiente uterino, visto que pode ocorrer transmissão da CAE de matrizes portadoras do vírus para suas crias durante a prenhes ou no peri-parto. Assim, a separação das crias logo após o 18 nascimento e o uso dos métodos de controle restringindo leite e colostro para as crias pode não ser 100% efetivos, o que explicaria a persistência do vírus nos rebanhos onde são seguidos rigorosos programas de controle da CAE (ANDRIOLI & GOUVEA, 2005). Segundo Santa Rosa (1996), o tempo necessário para eliminar a doença do rebanho depende da pressão que se estabelece no programa de controle empregado. Quando o rebanho já está praticamente limpo, mas ainda possui cabras soro positivas comprovadamente superiores, cujo material genético é realmente de grande importância, uma alternativa é a inclusão desses animais em um programa de transferência de embriões, desde que possam permanecer isolados do rebanho (RIBEIRO, 1997) pois a CAE não é transmitida pela transferência de embriões como pode ser comprovada no quadro a seguir: Quadro 5. Transmissão de enfermidades através da transferência de embriões de doadoras infectadas para receptoras sadias AGENTE No lavagens Transmissão Transmissão dos Embriões Receptoras Crias Referência Embriões caprinos CAEV CAEV Língua Azul 3 10 10 Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Wolfe et al. 1987 Andrioli et al. 2002 Chemineau et al.1986 0 3 4 nr Negativo NR Positivo Negativo Positivo Negativo Negativo Negativo Foster et al. 1992 Foote et al. 1993 Gilbert et al. 1987 Dawson et al. 1988 Embriões ovinos Scrapie Scrapie Língua Azul Maedi Visna Fonte: http://www.emepa.org.br/caprino_te03.php Segundo Franke (1998), o criador de caprinos pode desempenhar um importante papel no controle da disseminação da CAE. Para isso, é necessário que ele incentive a sua associação a promover discussões sobre este tema, convidando pesquisadores da área e, juntos, elaborarem propostas de planos regionais de controle. Outra forma de colaboração dos caprinocultores seria a de exigirem o exame sorológico da CAE na inscrição em exposições, bem como nas transações de compra e venda de animais. Em hipótese alguma os animais positivos poderão ser vendidos a outros criadores. A saída 19 de animais positivos de uma propriedade só poderá ser permitida quando estes se destinarem ao abate. O rebanho é considerado livre da doença quando apresentar pelo menos dois resultados consecutivos de sorologia negativa com intervalo mínimo de seis meses (SANTA ROSA, 1996). 20 3 CONCLUSÃO É possível concluir que a CAE esta presente em grande parte do rebanho brasileiro, e que muitas vezes passa despercebida aos olhos dos criadores devido a sua baixa morbidade; porém, gera grande perda de produção. Muitas vezes esse prejuízo é ainda maior, pois além da queda de produção existe o tratamento dos sintomas, descarte de animas e até a morte. Uma vez introduzida a CAE no rebanho, o criador terá que adotar uma série de medidas para controlá-la e posteriormente erradicá-la. O processo é demorado e exige paciência, tempo e persistência. Como não existe tratamento, tomar o máximo de cuidado para não contaminar os animais sadios. Assim, o uso de matérias cirúrgicos, agulhas e tatuadores, entre outros. Como a principal via de transmissão é a vertical, pela ingestão de colostro e leite contaminados, é fundamental adotar as medidas que evitam essa forma de transmissão (uso de colostro tratado ou colostro de outra espécie e o aleitamento com leite de cabra pasteurizado, leite de vaca ou leite em pó). Exames laboratoriais são de suma importância para monitorar a situação do rebanho, acompanhando assim se o plano de controle esta funcionando ou não, ajudando na decisão de manter ou introduzir novas medidas de controle. 21 4 BIBLIOGRAFIA ABREU, S. R. O.; CASTRO, R. S.; NASCIMENTO, S. A.; SOUZA, M. G. Produção de antígeno nucleoprotéico do vírus da artrite-encefalite caprina e comparação com o vírus do Maedi-visna para utilização em teste de imunodifusão em Agar gel. Pesq. Vet. Bras. Abr./jun. 1998 18(2): p.57-60 ALMEIDA, M. G. A. R.; ANUNCIAÇÃO, A. V. M.; FIGUEREDO, A.; MARTINEZ, T. C. N.; LABORDA, S. S. Dados sorológicos sobre a presença e distribuição da artrite-encefalite caprina (CAE) no estado da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal Vol. 1, n.3 2001 p.78-83 ANDRIOLI, A.; GOUVEIA, A. M. G. Crias de cabras portadoras do CAEV podem nascer contaminadas. Disponível em: http://www.gt.com.br/dev/nordesterural/matler.asp?newsId=2712. acesso em 22 ago. 2005. BEER, J. Doenças infecciosas em Animais Domésticos. São Paulo: Roca, 1998, 380p. BLOOD, D.C. et al. Clínica Veterinária. São Paulo: Guanabara, 1991, p.783-784 CARLTON, W. W,; McGAVIN, M. D. Patologia Veterinária Especial de Thonson. 2.ed,. Porto Alegre: Artmed, 1998, p.180 CALLADO, A.. K. C.; CASTRO, R. S. de E ; TEIXEIRA, M. F. da S. Lentivirus de pequenos Ruminantes. (CAEV e Maed-Visna): revisão e perspectivas. Pesq. Vet. Brás., jul./.set. 2001, vol. 21, n.3, p. 87-97. CHEEVERS, W.; McGUIRE, T.; NORTON, L. K.. Failure of neutralizing to regulate CAE lentivirus expression in vivo. Virology. 1993. 196:835-839 22 EAST, N. E.; ROWE, J. D.; DAHLBERG, J. E.; THEILEN, G. H. & PEDERSEN, N. C. Modes of transmission of capine arthritis-encephalitis virus infection. Small Rumin., 1993, n.10, p.251-262 EMEPA – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A. sanitário- potencial de transmissão de patógenos Controle via TE. Disponievel em http://www.emepa.org.br/caprino_te03.php. Acesso em 18 set. 2005. CORK L. C.; HADLOW W. J.; CRAWFORD T. B. Infectious leucoencephalosmyelitis of oung goats. Infectious Disease. 1974 129:134-141 CÔRTES, J. A.. Epidemiogia: Conceitos e princípios fundamentais. São Paulo: Livraria Varela, 1993, p. 227 CORREA, F. R.; SCHILD, A. L.; MENDEZ, M. C.; LEMOS, R. A. A. [et al.] Doenças de ruminantes e eqüinos vol.1. São Paulo. Varela. 2001. 426p. CRAWFORD T. B.; ADAMS, D. S.; CHEEVERS, W. P. & CORK, L. C. Chronic arthritis in gosts caused by a retrovirus. Science 1980. 997-999 DeMARTINI, J. C.; BROODIE, S. J.; CONCHA, A. de la; ELLIS, J. A. Pathogenesis of lynphoid interstitial pneumonia in natural and experimental caprine lentivirus infection. Clin. Infection Disease. 17:236-242 FRANKE, C. R. Uma virose ameaça o rebanho nacional: artrite encefalite caprina (CAE). Bahia Agrícola. V.2, n.3, p 89-92, nov. 1998 FRANKE, C. R. Controle sanitario da artrite-encefalite caprina. Salvador: EDUFBA, 1998. 70p. 23 GARCIA, M. Artrite encefalite caprina: uma nova doença no Brasil. A hora veterinária. São Paulo, v.13, n. 76, p. 57-59, 1993 GUEDES, M. I. M. C.; SOUZA, J. C. A..; GOUVEIA, A.. M. G. Infecção experimental em cabritos pelo vírus da artrite encefalite. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. Belo Horizonte, v.53 n.1, fev. 2001 MARCHESIN, D. M.; MOOJEN, V.; RAVAZZOLO, A. P. Caracterização molecular parcial do gene gag de amostras do vírus da artrite-encefalite caprina (CAEV) isoladas de animais naturalmente infectados no Rio Grande do Sul, Brasil. Pesq. Vet. Bras., jul. 1998, vol 18, n.3-4, p.119-126 McGUIRE, T. C.; NORTON, L. K.; O’ROUKE, K. L.; CHEEVERS; W. P. Antigenic variation of neutralization sensitive epitopes of caprine arthrittis-encephalits lentivirus during persistent infection.. Vet. Med.Association. 1988. 62:3488-3492 MEDEIROS, L. P. Caprinos: princípios básicos para sua exploração. Teresina: Brasília, 1994. 177p NARAYAN, O.; ZINK, C. M.; GORREL, M.; McENTEE, M.; SHARMA, D. & ADAMS, R. Lentiviurs induced arthritis in animals. J. Reumatologi. 1992. 32:25-32 OIE/FAO. Animal Health Yearbook. 1997. OLGIVIE, T. H. Medicina interna de grandes animais. Porto Alegre: Artmed, 200. p.280-281; 325-326 OLIVER, R.; CATHCART, A.; McNIVEN, R.; POOLE, W. & ROBATI, G. Infection of lambs with CAEV by feeding milk from infected goats. Vet. Med.Association. 1985. 19:83 24 PEREIRA, M. F. Artrite-encefalite caprina a vírus (CAE) – estudo anatomopatologico e imunohistoquimico em cabras naturalmente infectadas. Escola de Medicina Veterinária UFMG, Belo Horizonte. 1995. 64p. PINHEIRO, R. R.; GOUVEIA, A. M. G.; ALVES, F. S. F. Prevalência da infecção pelo vírus da artrite encefalite caprina no estado do Ceará, Brasil. Cinc. Rural, mai./jun. 2001, vol 31, n.3, p.449-454 PINHEIRO, R. R. Um novo método de diagnóstico da artrite encefalite caprina. Disponível em: http://www.capritec.com.br/artigos_embrapa020819d.htm. Acesso em 8. mai. 2005 RIBEIRO, S. D. A. Caprinocultura: criação racional de caprinos. São Paulo. Nobel. 1997. 318p. RIMISTAD, E.; EAST, N. E.; TORTEN, M.; HIGGINS, J.; DEROCK, E. & PEDERSEN, N. C. Delayed seroconversion following naturally acquired caprine arthritis-encephalitis virus infection in goats. Am. J. Vet. 1993. n. 54 p.1858-1862 RUSSO, P.; VITU, C.; BOURGOGNE, A..; VIGNONI, M.; ABADIE, G.; DAVID, V. & PÉPIN, M. Caprine Arthritis-encephalitis virus: detection of proviral DNA in jactoserum cells. Vet. Rec. 1998. 140:483-484 SANTA ROSA, J. Enfermidades em caprinos: diagnóstico, patogenia, terapêutica e controle. Sobral: Brasília, 1996. 220p. SARAIVA NETO, A. O. Soroprevalência da artrite-encefalite caprina em caprinos leiteiros criados no estado de Pernambuco. Recife, 1994. Faculdade de Mediciana Veterinária UFRPE, 1994 25 SMITH, B. P. Tratado de medicina veterinária interna de grandes animais. São Paulo: Manole, 1993. p.1138-1139 TIZARD, I. R. Imunologia Veterinária. São Paulo: Roca. 1998, 545p. TRAVASSOS, C. E.; BENOIT, C.; VALAS, S.; SILVA, A. G. & da SILVA, A. Detection of caprine arthritis encephalitis vírus in while blood mononuclear cells and sêmen of experimentally infected bucks. Vet. Res. 1998 n.29 p.579-584 TRAVASSOS, C. E.; BENOIT, C.; VALAS, S.; SILVA, A. G. & da SILVA, A. Caprine arthitis encephalitis vírus in sêmen of naturally infected bucks. Small Rum. Res. 1999 n.32 p.101-106