QUESTIONÁRIO DE ANSIEDADE SOCIAL PARA

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QUESTIONÁRIO DE ANSIEDADE SOCIAL PARA
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V Mostra de
Pesquisa da PósGraduação
QUESTIONÁRIO DE ANSIEDADE SOCIAL PARA
ADULTOS (CASO-A30): Dados psicométricos da aplicação
em população geral
Marcia Fortes Wagner1-2, Prof.ª Dr.ª Margareth da Silva Oliveira1 (orientadora)
1
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS.
2
Faculdade Meridional- IMED, Escola de Psicologia, Passo Fundo,RS.
Introdução
O termo habilidades sociais corresponde a um universo mais abrangente das relações
interpessoais e se estendem para além da assertividade, incluindo habilidades de
comunicação, de resolução de problemas, de cooperação e as próprias dos rituais sociais
estabelecidos pela subcultura grupal. Indivíduos com ansiedade social generalizada são
caracterizados por timidez e isolamento social, repertório pobre de habilidades sociais, além
de déficits na conversação, na expressão e nas interações. Nesse sentido, considerando a
elevada prevalência de transtornos relacionados à déficits na habilidade social, instrumentos
de medida são de extrema importância. O objetivo dessa pesquisa é dar seguimento ao
processo de construção e validação da versão em português do Questionário de Ansiedade
Social para Adultos, CASO- A30 (Caballo, Salazar, Irurtia, Arias, Hofmann & Equipo de
Investigación CISO-A, 2008), um novo instrumento de avaliação da ansiedade/fobia social. O
presente trabalho tem como objetivo apresentar dados psicométricos preliminares da
aplicação em população geral do CASO-A30 no estado do Rio Grande do Sul.
Metodologia
Este estudo se caracteriza por ser uma pesquisa instrumental. Os participantes foram
coletados aleatoriamente na população, com idade a partir de 16 anos, do sexo feminino e
masculino. A amostra foi constituída por sujeitos com escolaridade mínima de 5ª série do
Ensino Fundamental, sendo excluídos sujeitos com comprometimento psicológico severo que
dificulte o entendimento do instrumento e estar intoxicado por substância na aplicação. Os
instrumentos aplicados foram: Ficha de dados sócio-demográficos, Escala de Ansiedade
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Social de Liebowitz (LIEBOWITZ,1987; TERRA et al.,2006) e Questionário de Ansiedade
Social para Adultos, CASO- A30 (CABALLO et al, 2008). Já foram aplicados em população
geral e, no presente momento, está sendo desenvolvida a coleta em amostra de população
clínica de indivíduos com ansiedade social e alcoolismo.
Resultados e Discussão
A amostra constitui-se de 779 participantes de população geral, 467 (59,5%) do sexo
feminino e 312 (40,1%) do sexo masculino, com idades entre 16 e 63 anos, idade média de
26,21 anos (DP=9,82). Quanto à escolaridade e à profissão, a maioria (n= 260) frequenta
outro curso superior, que não seja psicologia. A medida de confiabilidade utilizada foi o alfa
de Cronbach, que apresentou na escala total α=0,92 considerado um coeficiente de boa
qualidade. Os estudos de evidências de validação convergente foram realizados na correlação
entre o CISO-A30 e a Escala de Fobia Social de Liebowitz, pois ambos os instrumentos se
propõem a avaliar a presença de ansiedade/fobia social. Os resultados apontaram para uma
correlação positiva de r=0,707 (p<0,01) entre o CISO-A30 com a subescala de ansiedade da
Liebowitz e 0,572 (p<0,01) entre o CISO-A30 com a subescala de evitação da Liebowitz,
bem como uma correlação de r= 0,691 (p< 0,01) entre o CISO-A30 com a Escala Total da
Liebowitz, confirmando a correlação satisfatória com a ansiedade.
Evidências de validade
Estudos de fidedignidade: A verificação da fidedignidade do CASO-A 30, baseada no
coeficiente de Cronbach, foi de α=0,92.Apresenta consistência interna satisfatória.
Validade fatorial: Nas análises fatoriais, o CASO-A30 foi agrupado em 5 fatores, os quais
conjuntamente explicam 52,67% da variação total. Todos os fatores, cada um com 06 itens
cada, mostraram-se fortes e confirmam em número de itens, as dimensões da ansiedade social.
A Tabela 3 mostra a média(M),desvios-padrão (DP) e alfa de Crombach dos fatores do
CASO-A30.
Tabela 3. Médias(M), desvios-padrão (DP) e alfa de Crombach dos Fatores do CASO-A30.
Fatores
M
DP
Α
Falar em público e interação com pessoas
em posição de autoridade
16,35
5,50
0,85
Interação com o sexo oposto
15,97
5,20
0,83
Estar em evidência e fazer papel de
ridículo
18,44
4,57
0,75
Interação com pessoas desconhecidas
13,02
4,51
0,79
Expressão assertiva de incômodo,
desagrado ou tédio
13,02
4,51
0,79
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A amostra analisada nos dados descritivos do CASO-A30 apresentou 59,7% de
mulheres na população geral, de maioria feminina entre os participantes. Após o estudo do
CASO-A30, foi constatada estabilidade na estrutura e natureza dos cinco fatores, o que
possibilita que seja um instrumento reduzido utilizado com eficácia no rastreamento e triagem
de ansiedade/fobia social, com tempo de aplicação e correção encurtados, favorecendo o uso
em larga escala, especialmente em contextos primários de atenção à saúde. Os cinco fatores
demonstraram ótimo índice de consistência interna, ou seja, distribuição fatorial muito clara.
Conclusão
Esse estudo revelou que a versão brasileira do CASO-A30 apresenta os requisitos
necessário em termos de consistência interna e validade fatorial para ser amplamente utilizada
na avaliação da ansiedade/fobia social em população geral. Conclui-se que o CASO- A30
apresenta boas evidências psicométricas para a população do Brasil. A escala foi bastante
adequada e a análise da estrutura fatorial demonstra a capacidade psicométrica do
instrumento. A continuidade do estudo está sendo realizada com investigação na população
clínica, em amostras de 100 sujeitos com fobia social e 100 com alcoolismo.
Referências
CABALLO, V. E. El entrenamiento en habilidades sociales. In V.E. Caballo, (Org.) Manual
de técnicas de terapia y modificación de conducta. (4ª ed.) Madri: Siglo Veintiuno, 1998,
p.403-471.
CABALLO, V. E., SALAZAR, I. C., IRURTIA, M. J., ARIAS, B., HOFMANN, S. G. &
CISO-A RESEARCH TEAM. Social Anxiety In 18 Nations: Sex And Age Differences.
Psicología Conductual, Vol. 16, Nº 2 (2008), pp.161-185.
DEL PRETTE, Z. A. P. & DEL PRETTE, A. Psicologia das habilidades sociais: terapia e
educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
LIEBOWITZ M. R. Social phobia. Modern problems of pharmacopsychiatry, Vol.22
(1987), pp. 141-73.
TERRA, M. B., BARROS, H. M. T,STEIN, A. T, FIGUEIRA, I., ATHAYDE, L. D,
TERGOLINA, L. P, ROVANI, J. S, SILVEIRA, D. X. Internal consistency and factor
structure of the Portuguese version of the Liebowitz Social Anxiety Scale among alcoholic
patients. Revista Brasileira de Psiquiatria, Vol. 28, Nº 4 (2006), pp. 265-269.
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