veja revista completa
Transcrição
veja revista completa
Dissertar ISSN 1676-0867 Brazilian Journal of Academic Studies REVISTA DA ADESA - ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA ESTÁCIO DE SÁ - ANO 11 - Nos 22 e 23 Axmnopwsgr htwlunfyxd cvieokaopsu gb2qnej)xlhj uaxoycislzn etpdjrusncjf mxjduer?fho lkaf(seqcifu dl3ns!fk irlx dl3ns!fkirlx Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas O empreendedor social no município de Duque de Caxias Fábio de Souza Brandão, Celso Bruno Faria e Josir Simeone Gomes O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Sergio Luiz Braga França e Marcelo Jasmim Meiriño Um Breve Histórico da Resolução das Equações Algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis Médico veterinário: Profissional de saúde da família Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil Alice F. Souza e Ismar S. Carvalho Seção Primeiros P assos Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa Moment o Cultural A língua portuguesa no samba Zé Arnaldo Guima Dissertar – Entrevista Dissertar Luiz Guimarães A Revista Dissertar recebe como entrevistado o Professor Marcos Lemos, Diretor de Ensino da Universidade Estácio de Sá, que gentilmente aceitou o convite e nos prestigia nestes números. Vamos ler e saber o que ele tem a nos dizer sobre gestão educacional. Prof. Marcos Lemos, seja muito bem-vindo à Revista Dissertar. Marcos Lemos “ Não temos o direito de frustrar a expectativa dos nossos estudantes, e precisamos assegurar a eles uma formação que os qualifique enquanto cidadãos e também os prepare para enfrentar o mercado de trabalho.” Desejamos conhecer a sua formação e seu histórico profissional na área de gestão e educação. Eu sou economista de formação, graduado pela UERJ e com doutorado em Economia pela Universidade de Illinois. Embora eu tenha iniciado minha vida profissional na área financeira, trabalhando em empresas como a IBM e o Banco Bozano Simonsen, logo me interessei pela área acadêmica. Inicialmente, atuei como docente na própria Universidade de Illinois, em Chicago, por 3 anos. Ao retornar ao Brasil, iniciei minha carreira como gestor acadêmico, à época no Centro Universitário da Cidade, onde fui responsável pelas Pró-Reitorias de Pós-Graduação e de Ensino. No início de 2003 fui convidado para assumir a Vice-Reitoria de Graduação da Unesa e, desde então, tive a oportunidade de enfrentar diferentes desafios aqui na Estácio, passando pelas áreas de Operações Acadêmicas, CSC, EAD e, desde o final de 2013, estou responsável pela diretoria acadêmica. Prof. Marcos Lemos, a função ensino na universidade é aquela em que recai a atividade fim da instituição educacional. Fale-nos sobre sua experiência à frente desta área, em uma 1 mega universidade como a Estácio. Como vocês podem imaginar, as responsabilidades da área de Ensino em uma instituição como a Unesa são enormes. Nossa missão é educar para transformar, e é com esse espírito que temos que entender o nosso papel em relação a todos os estudantes que nos procuram e confiam em nós, em nossos professores, nossos currículos, etc. Não temos o direito de frustrar a expectativa dos nossos estudantes, e precisamos assegurar a eles uma formação que os qualifique enquanto cidadãos e também os prepare para enfrentar o mercado de trabalho. Dissertar – Entrevista Sabemos que existem modalidades de ensino na Estácio, com muitos projetos interessantes. Poderia comentar sobre alguns projetos das modalidades Presencial e EAD na sua gestão? A modalidade de ensino a distância aqui na Estácio vem experimentando um crescimento fenomenal, e se destaca em relação às concorrentes pela qualidade e proposta inovadora do nosso modelo. A oferta dos conteúdos 100% online ainda é um diferencial no mercado, além do perfil dos nossos tutores EAD, recrutados dentre os mais experientes professores da Unesa. Existem diversos projetos inovadores e muito interessantes que estão sendo desenvolvidas pela Diretoria de Operações EAD, sob a responsabilidade do Prof. Pedro Graça, que procuram responder aos principais desafios da modalidade: como manter o aluno envolvido e estimulado ao longo do semestre, e como reduzir a taxa de evasão nos cursos a distância. Um outro projeto que eu gostaria de destacar, que envolve todas as modalidades, é o Ensino 2020. Ao mesmo tempo em que nós precisamos assegurar a plena utilização do nosso atual modelo de enisno, e que precisamos continuar investindo na qualidade dos nossos conteúdos (planos de ensino, planos de aula, banco de questões, materiais didáticos, etc), a Estácio não pode ignorar a discussão acerca dos impactos trazidos para o processo de ensino e aprendizagem pela adoção de inovações tecnológicas e metodológicas. Nós optamos por introduzir essa discussão em nosso modelo de ensino, de uma forma bastante responsável, selecionando quatro disciplinas de diferentes cursos e áreas nas quais iremos experimentar com a introdução de algumas novidades metodológicas, permitindo ainda o uso de novas tecnologias em sala de aula, e além da sala de aula. Nos próximos meses todos os docentes da Unesa vão ouvir bastante sobre o Ensino 2020 e serão convidados a contribuir. Afirmam alguns estudiosos da área educacional que administrar o ensino em uma universidade não é o mesmo que gerir uma área de produção em uma indústria. Como você concebe a gestão direcionada ao ensino? Entendo que o grande desafio é buscar o equilíbrio entre gestão e academia. Aqui na Unesa temos procurado praticar isso nos últimos anos, tendo obtido ótimos resultados em todas as dimensões. Acreditamos que uma instituição de ensino sustentável é aquela cuja gestão é capaz de conciliar a qualidade dos seus cursos, a satisfação de alunos, professores e colaboradores administrativos, boas avaliações externas do Mec (visitas, Enade, etc), com o retorno aos investidores. Assim a gente consolida a nossa marca. Os professores universitários são assíduos leitores da Revista Dissertar. Qual mensagem deixaria aos nossos mestres? Primeiramente, gostaria de agradecer pela dedicação de cada um dos nossos docentes nesse grande desafio que é educar para transformar. A participação de cada um deles no aprimoramento do nosso modelo de ensino é muito importante. Também é fundamental que continuem investindo em suas próprias formações, mantendo-se atualizados sobre suas áreas de atuação, sobre o mercado de trabalho e, também, sobre as inovações na área de educação. “ Professores ... é fundamental que continuem investindo em suas próprias formações, mantendo-se atualizados sobre suas áreas de atuação, sobre o mercado de trabalho e, também, sobre as inovações na área de educação.” Dissertar ISSN 1676-0867 Revista Dissertar Revista da Associação de Docentes da Estácio de Sá Ano .......................................... 11 Número ............................ 22 e 23 maio ........................... 2013 - 2014 editada em Abril de 2015 ADESA – Associação de Docentes da Estácio de Sá rua do bispo, 83 rio comprido – 20251-060 rio de janeiro – rj – brasil tel.: 0055-21-2503-7100 [email protected] www.adesa.com.br dissertar Ano 11 nos 22 e 23 v. 2 p. 11-90 maio 2015 ISSN 1676-0867 dISSertAr, ANo 11 , N o 22 e 23, v. 2 , 2015, rio de janeiro AdeSA, Semestral 1. educação Superior – Periódicos. I Associação de docentes da universidade estácio de Sá. Nota: os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Revista Qualificação/Capes C Dissertar sumário Entrevista Prof. Marcos Lemos ............................................................................................................................... 1 Editorial A ciência a serviço da sociedade Ana Shirley de França Moraes ............................................................................................................ 7 Palavra da Presidente Márcia Glycério ..................................................................................................................................... 9 Carta Manifesto Empresa-cidadã Adm. Wagner Siqueira ........................................................................................................................... 10 Artigos Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas ..................... 11 O empreendedor social no município de Duque de Caxias Fábio de Souza Brandão, Celso Bruno Faria e Josir Simeone Gomes ................................................. 19 O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes .......................................................................... 27 Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal .............................................................................................................................. 32 Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Sergio Luiz Braga França e Marcelo Jasmim Meiriño .................................................................................................................... 39 Um Breve Histórico da Resolução das Equações Algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis ............................................................................................................ 51 Médico veterinário: Profissional de saúde da família Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes ............................................................................. 57 Precaução e prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa ....................................................................................... 63 Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin ........................................................................................................................... 71 Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil Alice F. Souza e Ismar S. Carvalho ...................................................................................................... 76 Seção Primeiros Passos Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa ........................... 80 Momento Cultural A língua portuguesa no samba Zé Arnaldo Guima ................................................................................................................................. 88 5 EXPEDIENTE Revista semestral de divulgação científico-cultural publicada sob a responsabilidade da ADESA - Associação de Docentes da Estácio de Sá Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Tel.: 0055-21-2503-7100 Comissão Editorial Efetiva: Ana Shirley de frança moraes, André Smarra, márcia glycério, André luís Soares Smarra e vicente eudes vera da Silva Editora Acadêmica Executiva: Ana Shirley de frança moraes Conselho Editorial: Antonio Andrade (uni rio), Antônio carlos de carvalho (uni rio), gelson dalvi (uerj), rovigati danilo Alyrio (ufrrj) e tereza ydalgo (uerj) Assinam os trabalhos publicados nesta edição os professores: Alice F. Souza, Ana Lúcia de Oliveira Barreto, Ernani José Antunes, Ana Shirley de França Moraes, Angela Barral Bouzas, Bárbara Galvão da Silva, Carlos Alberto Martins de Assis, Celso Bruno Faria, Claudia Lobo, Dimas Ferreira Vidal, Fábio de Souza Brandão, Fernando Cordeiro Barbosa, Ismar S. Carvalho, Josir Simeone Gomes, Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Márcia Sleiman Rodrigues, Maria Cecilia Trannin, Maria de Fátima Alves São Pedro, Mariana Costa da Silva, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Pether Neves Fernandes, Sergio Luiz Braga França, Thael Nogueira da Gama Rosa e Zé Arnaldo Guima Revisão: laura dutour Fotografia: Núcleo de comunicação, Campus joão uchoa Projeto Gráfico: contraste editora e Propaganda ltda Editoração e Diagramação: Elenir da Silva Oliveira - Designer Gráfico Jornalistas Responsáveis: fernando loureiro - AbI 1.386 josé luis laranjo duarte - reg. 16.695 mtb Distribuição: AdeSA - Associação de docentes da estácio de Sá. Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil- Tel.: 0055-21-2503-7100 Publicidade: contraste editora e Propaganda ltda. Rua Teotônio Regadas, 26 / 301 - Lapa - 20021-360 / Rio de Janeiro / RJ - Tel.: 0055-21-2252-1396/ Telefax: 005521-2232-3364 Dissertar é uma publicação semestral da ADESA – Associação de Docentes da Estácio de Sá. 6 Dissertar editorial editorial A ciência a serviço da sociedade A Ciência pressupõe um conjunto de conhecimentos organizados e sistematizados, em contraposição ao conhecimento espontâneo, empírico e popular que não se preocupa com a sistematização. É por meio desse conhecimento organizado que se pode procurar e atingir a verdade, as causas dos fatos e dos fenômenos e, assim, resolver os problemas que afligem as pessoas. Como objetivo, a Ciência se propõe a estabelecer as leis que regem as relações, nos fenômenos, entre a causa e o efeito. A ela possui como principal função o aprimoramento do conhecimento, do saber. Com isso, o papel da ciência é produzir, interpretar e divulgar o conhecimento e os métodos para o alcance de resultados. Realizar a ciência significa agir e pensar dentro de um conjunto de procedimentos que possam ser sistematizados. É um processo que exige uma atitude crítica, de forma a não se contentar com explicações incompletas ou sem fundamentação, cujos argumentos possuem caráter de aceitabilidade inequívoca. O papel da ciência no mundo acadêmico é importante para todos, porque é por meio dela que se descobrem e se encontram respostas para os problemas sociais. Assim, criam-se melhorias ao homem, para viver melhor em sociedade e no mundo. Na atualidade, a ciência necessita trazer contribuições à sociedade. Não apenas a uma classe ou grupo privilegiado, mas a todos e, por meio dela, resolver problemas que prejudicam o homem e o grupo social em sua totalidade. Esta é a grande discussão atual da ciência: o compromisso social e a relevância de seu desenvolvimento. Conhecer é atuar sobre o objeto, de forma a compreendê-lo, interpretá-lo. ou mesmo, “interpenetrá-lo” com habilidade. Contudo, o conhecimento não é estático, é dinâmico, necessita estar em sinergia com a realidade e ser difundido. Além disso, não adianta estudar para si, para o culto ao “eu mesmo”, mas sim socializar aquilo que se pesquisa e se obtém como resultado. É neste momento que os periódicos e veículos científicos e acadêmicos possuem grande valor, pois funcionam como canais específicos de divulgação da construção de conhecimentos, informações e dados valiosos ao saber humano e às suas vidas. Ana Shirley de França Moraes Editora Executiva 7 Dissertar Palavra Palavra da da presidente presidente Prezados Colegas Professores, A Revista Dissertar inaugura um novo momento. A partir dos próximos números, passaremos à publicação quadrimestral, proporcionando à comunidade universitária e acadêmica mais possibilidades de publicação e disseminação do conhecimento. Neste número, apresentamos a entrevista do prof. Marcos Lemos nos prestigiando com suas ideias e realizações na área de gestão educacional. Além da Carta Manifesto realizada pelo Adm. Wagner Siqueira, presidente do CRA-RJ, publicamos vários artigos interessantes com temas muito atuais, como sempre selecionados como os melhores submetidos ao Conselho Editorial. Também publicamos um artigo resultado do trabalho de final do curso de Administração, em Primeiros Passos, apresentado no Seminário de pesquisa e Iniciação Científica da Estácio, em 2014. Importante ainda registrar o trabalho criativo do Prof. José Arnaldo em Momento Cultural, relacionando o Samba à Língua Portuguesa. Assim, desejo a todos excelente leitura! Márcia Glycério Presidente da Adesa “Vigência 2013-2015” 9 carta manifesto Empresa-cidadã Empresa cidadã seria aquela que poria o interesse da nação acima de seus próprios interesses? Então, por que as empresas demitem os seus empregados e transferem as suas atividades para o exterior? Ou empresa cidadã é a que respeita as leis do país? Mas isso é uma exigência mínima de vida em sociedade. É a sua obrigação. Toda empresa funciona em torno de seus interesses. Assim, a expressão empresa-cidadã tende a se tornar uma cortina de fumaça, tão simpática em aparência quanto manipulativa na realidade. A disseminação do conceito de empresa-cidadã produz uma ideologia empresarial, que é seu discurso de auto justificação, de manipulação publicitária e de formação de imagem. A implementação desse conceito termina por sequestrar o bem comum para utilizá-lo na realização dos interesses empresariais específicos, no fundo apenas um eufemismo para dissimular a ganância. Essa é a função, na maioria dos casos, da expressão empresa-cidadã: o aparelhamento ideológico para a realização dos interesses particularistas da empresa, e não da cidadania, do bem comum, do interesse universal. Então, por que as empresas demitem os seus empregados e transferem as suas atividades para o exterior? A empresa cidadã tende a produzir uma ideologia que é o seu discurso de auto justificado, de manipulação publicitária, de formação de imagem, de sequestro do bem comum para o seu próprio interesse. Constitui-se uma rematada mistificação todas as enfáticas declarações dos que tentam nos convencer de que a empresa está a serviço dos seus clientes e dos seus assalariados. Isto não é verdade: ela está a serviço de seus acionistas. É claro que a empresa também está a serviço dos seus clientes. Mas por que razão? Porque ao satisfazer ao cliente engorda os seus resultados e, portanto, satisfaz ao acionista. É para satisfazer o acionista que se quer satisfazer o cliente, mesmo que se tenha que lhes empurrar produtos e serviços que só lhe fazem mal, como cigarros, remédios desnecessários, bebidas alcoólicas e refrigerantes açucarados, programas imbecilizantes do tipo reality shows, Big Brother´s , etc. Também a empresa está a serviço de seus assalariados. É evidente: é o assalariado que encanta e fideliza o cliente, o que garante mais lucros para os acionistas. O discurso da empresa-cidadã, da responsabilidade social e da ética empresarial pretende erigir uma nova Santíssima Trindade em que, à semelhança do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como no Mistério da Fé, todos numa só pessoa, o acionista, o cliente e o empregado estariam no mesmo plano de igualdade a serviço do bem comum. Isto não é verdade: os assalariados estão a serviço dos clientes para a garantia dos lucros dos acionistas. Não peçamos à empresa para fazer às vezes do Direito e da Política, da Ética e da Moral, do Amor e da Espiritualidade na construção de uma sociedade mais justa e democrática, pois não é este o seu papel social. Todos nós temos dificuldade em realizar nosso dever, em seguir os mandamentos da moral, apesar de conhecermos sua legitimidade. Há, pois, mérito em agir bem, em preferir o interesse geral ao interesse particular, o bem comum ao egoísmo. Nisso a ética moderna é fundamentalmente uma ética meritocrática e de inspiração democrática. Ela se opõe em tudo às concepções aristocráticas da virtude, que equivocadamente se pretende localizar no mundo da vida empresarial. Em suma: a moral tem o seu lugar na empresa, assim como a cidadania, mas este não é o papel da empresa – é o papel dos indivíduos que trabalham ou dirigem a empresa. Adm. Wagner Siqueira Atual presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro e filho de Belmiro Siqueira, Patrono da profissão no Brasil. É Vice-Presidente da Escolinha de Artes do Brasil e membro do Membro da Academia Brasileira de Ciências da Administração e do Conselho Consultivo da FGV Empresa Júnior. 10 Dissertar Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Estácio de Sá University: 10 years of intern evaluation Universidad Estácio de Sá: 10 años del proceso de evaluación interna O presente estudo objetiva apresentar a trajetória da Avaliação Interna da Universidade Estácio de Sá, nos últimos dez anos. A institucionalização de uma cultura de avaliação na UNESA é desenvolvida desde a década de 1990, cujas bases foram fortalecidas com o advento da Lei n.10.861/2004, que instaurou a realização de avaliação das instituições de educação superior, incluindo a autoavaliação institucional, respeitando os objetivos da avaliação formativa e visando a produzir conhecimento; questionando os sentidos das atividades e finalidades da instituição; identificando as causas de problemas e deficiências; aumentando a consciência pedagógica e capacitação profissional dos docentes e funcionários; Fortalecendo relações de cooperação entre os atores institucionais; julgando a relevância científica e social das atividades e produtos da instituição; prestando contas à sociedade e efetivando a vinculação da instituição com a comunidade. The current study aims at tracing the history of the Internal Evaluation Program at University Estácio de Sá (UNESA), in Rio de Janeiro, within the past ten years. Historically, the culture of evaluation in UNESA has been developed and institutionalized since the mid-1990´s. The Program foundations were enhanced later by the enactment of the Law n.10.861/2004 which established procedures for the evaluation of higher education institutions in Brazil. It included many aspects of the evaluation process: (i) institutional self-assessment, (ii) goals of formative assessment, (iii) production of knowledge; (iv) activities and proposed actions for the institution; (v) problems and deficiencies’ identifying; (vi) increasing educational sense; (vii) professional training of faculty and staff; (viii) cooperative relations between institutional actors; (ix) scientific and social relevance of the institution’s activities and products and (x) accountability to society. Palavras-chave: Histórico Avaliativo.Processo Avaliativo. Avaliação Interna. Este estudio tiene como objetivo mostrar la trayectoria de la Evaluación Interna de la Universidad Estacio de Sá, en los últimos diez años. Históricamente , la institucionalización de una cultura de la evaluación en UNESA se ha desarrollado desde la década de 1990 , cuyas bases se fortalecieron con la promulgación de la Ley n.10.861/2004 que establece la realización de la evaluación de las instituciones de educación superior, incluida la autoevaluación institucional respetando los objetivos de la evaluación formativa y con el objetivo de producir conocimiento; cuestionando los significados de las actividades y objetivos de la institución ; la identificación de las causas de los problemas y deficiencias; aumentando la conciencia educativa y la formación profesional de los docentes y el personal al servicio de la administración; Fortaleciendo de las relaciones de cooperación entre los actores institucionales; juzgando la relevancia científica y social de las actividades y los productos de la institución; prestando cuentas a la sociedad y confirmando el vínculo de la institución con la comunidad. pela Universidade Estácio de Sá. Graduada em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Membro da Coordenação de Avaliação da Universidade Estácio de Sá. Docente dos Cursos de Graduação e Pós-graduação Lato Sensu da Universidade Estácio de Sá. Docente da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. E-mail: [email protected] Autores: Márcia Sleiman Rodrigues Doutora em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Mestre em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Coordenadora de Avaliação da Universidade Estácio de Sá. Docente da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. E-mail: [email protected] Angela Barral Bouzas Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho, Graduada em História e Direito pela Universidade Santa Úrsula.Membro da Coordenação de Avaliação da Universidade Estácio de Sá. Docente dos Cursos de Graduação e Pós-graduação Lato Sensuda Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected] Maria de Fátima Alves São Pedro Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Gestão Ambiental pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em Direito Público e História do Direito 11 Dissertar Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas introdução Com o advento da Lei n.10.861/04, foi instituído o Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior – SINAeS, que instaurou a realização de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes (artigo 1º). essas avaliações podem ser realizadas independentemente e, a cada uma delas, é atribuído um conceito em uma escala com cinco níveis (artigo 3º, § 3º). A avaliação das instituições inclui a autoavaliação institucional e a avaliação externa queé orientada por 10 dimensões. o SINAeS compreende, além da autoavaliação, a avaliação externa, o ENADE e as avaliações de autorização e reconhecimento de cursos. A autoavaliação institucional é o processo pelo qual a instituição faz uma análise crítica de suas ações e de seu processo de desenvolvimento. Para realizá-la, foi criada, em cada instituição de ensino superior (IeS), uma comissão Própria de Avaliação (cP A) que organiza o processo de autoavaliação baseado na participação e na avaliação formativa. Neste sentido, a coordenação da cP A de cada IeS é orientada pelas diretrizes e pelo roteiro da autoavaliação institucional da comissão Nacional de Avaliação da educação Superior (coNAES). Portanto, conforme a Lei n. 10.861/04, Portaria do MEC/ INEP 2051/2004 entre outros, a autoavaliação institucional é um processo permanente de construção e formação. A autoavaliação deve ser um processo cíclico, de reflexão eauto-consciência institucional, no qual quem participa conquista direitos. A autoavaliação institucional deve ser uma construção coletiva envolvendo os sujeitos que integram a instituição. o principal objetivo do processo é o aperfeiçoamento das práticas institucionais na direção da realização de seus objetivos e metas. O processo ocorre em dez dimensões, conforme orientação da coNAeS vinculada ao mec: dimensão 1 – A missão e o plano de desenvolvimento institucional; dimensão 2 – A política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação e a extensão; Dimensão 3 – A responsabilidade social da instituição; dimensão 4 – A comunicação com a sociedade; dimensão 5 – As políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente, técnicoadministrativo, seu aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e condições de trabalho; dimensão 6 – organização e gestão da instituição; Dimensão 7 – Infra-Estrutura; Dimensão 8 – Planejamento e avaliação; dimensão 9 – Políticas de atendimento a estudantes e egressos e Dimensão 10 – Sustentabilidade financeira. Atualmente, com a nova proposição do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, o novo instrumento de avaliação dos cursos, que tem como referência o Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, está organizado em cinco eixos, que contemplam as 10 dimensões, com o acréscimo de um relato institucional. A autoavaliação visa ao desenvolvimento de uma cultura avaliativa que atenda a interesses da comunidade, respeitando os objetivos da avaliação formativa e visando a:produzir conhecimento;questionar os sentidos das atividades e finalidades da instituição;identificar as causas de problemas e deficiências;aumentar a consciência pedagógica e capacitação profissional dos docentes e funcionários;fortalecer relações de cooperação entre os atores institucionais;Julgar a relevância científica e social das atividades e produtos da instituição; prestar contas à sociedade e Efetivar a vinculação da instituição com a comunidade. A Avaliação externa é realizada por comissões designadas pelo INEP e tem como referência os padrões de qualidade para a educação superior, expressos nos instrumentos de avaliação, e nos relatórios das autoavaliações. o processo de avaliação externa independente de sua abordagem, se orienta por uma visão multidimensional que busque integrar suas naturezas formativa e de regulação numa perspectiva de globalidade. em seu conjunto, os processos avaliativos devem constituir um sistema que permita a integração das diversas dimensões da realidade avaliada, assegurando as coerências conceitual, epistemológica e prática, bem como o alcance dos objetivos dos diversos instrumentos e modalidades (INeP). Histórico da avaliação interna da unesa o debate sobre a avaliação da educação superior teve seu início na década de 1980 como um tópico sobre o modelo de educação superior que o país deveria adotar e de crítica ao modelo implantado pela reforma universitária de 19681. Assim, segundo barreyro e rothen (2008), os primeiros passos acerca de avaliação foram desenvolvidos pelo Programa de Avaliação da Reforma Universitária – 1983 (PARU), pela Comissão Nacional para a Reformulação do Ensino Superior – 1985 (Comissão de Notáveis) e pelo Grupo Executivo de Reformulação do Ensino Superior – 1986 (gereS). Nesses primórdios, a avaliação não era o foco principal, mas um elemento da política. Em 1993, iniciaria a primeira política de avaliação: o Programa de Avaliação Institucional das universidades brasileiras – PAIub, em 1993. Na universidade estácio de Sá – uNeSA, historicamente, a institucionalização de uma cultura de avaliação é um processo que se desenvolve desde a década de 1990 e cujas bases foram alicerçadas no Projeto “qualidade e Participação”.A uNeSA construiu os pilares da autoavaliação nos princípios norteadores do PAIub, instituído em 1993 pelo ministério da educação (mec). A ideia do PAIub era servir a um processo contínuo de aperfeiçoamento do desempenho acadêmico e de prestação de contas da universidade à sociedade, constituindo-se em uma ferramenta para o planejamento da gestão e do desenvolvimento da educação superior. Dessa forma, o PAIUB estabeleceu três fases centrais para o processo a ser desenvolvido em cada universidade: Avaliação Interna, Avaliação Externa e Reavaliação. o PAIub também se caracteriza por possuir dotação financeira própria, livre adesão das universidades através da concorrência de projetos e princípios de avaliação coerentes, com posição livre e participativa. este programa, segundo seu próprio texto, procura considerar “os diversos aspectos indissociáveis das múltiplas atividades-fim e das atividades-meio necessárias à sua realização, isto é, cada uma das dimensões-ensino, produção acadêmica, extensão e gestão em suas interações, interfaces e interdisciplinaridade”. Dessa forma, os princípios básicos que Em 1968, o Congresso Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n. 5.540, de 28 de novembro, fixando normas de organização e funcionamento do ensino superior. o novo modelo de universidade, teoricamente, pretendeu agregar a racionalidade administrativa à universidade para torná-la moderna e adequada às exigências de desenvolvimento. Porém, politicamente, a racionalidade administrativa acaba aumentando, no interior da própria universidade, o controle dos órgãos centrais sobre toda a vida acadêmica e, externamente, o controle da própria Universidade pelos órgãos de administração federal de ensino, ou seja, retirou dela qualquer resquício de autonomia sobre o que produzia, aumentando a dominação no seu plano interno e externo. Aestrutura universitária tornou- se mais conservadora do que anteriormente, porém fantasiada de elementos modernos de comunicação e controle administrativo-pedagógico, assentado no discurso de desenvolvimento Nacional. SILVEIRA, Alex; PAIN, Glauce. Reforma Universitária:a política educacional brasileira do governo castelo branco a costa e Silva(1964-1969). Disponível em: <http://www5.fapa.com.br/cadernosfapa/artigos/2edicao/historia/ ReformaUniversitaria.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2013. 1 12 Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas orientam o PAIub são: globalidade, comparabilidade, respeito à identidade institucional, não premiação ou punição, adesão voluntária, legitimidade e continuidade (uNeSA, 2005). Dissertar dos pela instituição.foram gerados instrumentos próprios em função de objetivos e indicadores discutidos e aperfeiçoados em inúmeras reuniões e seminários, permeados por debates acadêmicos e estudos sobre avaliação. estes instrumentos e técnicas de medida e avaliação focalizaram indicadores relacionados à auto-avaliação dos alunos, à avaliação de professores, às disciplinas,aos cursos e aos aspectos administrativos e gerenciais(uNeSA, 2004). o princípio da descentralização – uma das linhas mestras da universidade estácio de Sá – marcou a metodologia participativa no gerenciamento do processo de auto-avaliação, envolvendo 761 alunos monitores do PAIUNES, 85 professores representantes das comissões Setoriaise 24 representantes da comissão central de Avaliação (uNeSA, 2004). Inicialmente, foram avaliados quatro cursos, dos quais participaram 2.757 discentes que se autoavaliaram e avaliaram 431 docentes. No ano de 2004, foram avaliados 40 cursos, com um total de 3.882 docentes e de 99.752 alunos, dosquais cerca de 50% participaram diretamente do processo avaliativo (uNeSA, 2004). A socialização dos resultados é uma condição precípua para deslocar o foco da mensuração para a avaliação, o que requer análise, interpretação de resultados em busca de mudanças qualitativas. As avaliações contribuíram para o processo decisório dos gestores, gerando: (a) melhorias no espaço físico, em especial as salas de aula; (b) realização de encontros para aperfeiçoamento didático-pedagógico; (c)ampliação e diversificação de atividades acadêmicas complementares e atividades do Programa de Treinamento Profissional- PTP, um dos diferenciais do currículo pleno da instituição; (d) publicações internas como os cadernos Pedagógicos do curso de direito, Anotações Pedagógicas do curso de medicina veterinária; (e) cursos em módulos para capacitação didática de docentes; (f) ampliação e dinamização do sistema de empréstimo de livros da biblioteca; (g) aumento de investimento para ampliar laboratórios e fazer manutenção de equipamentos; (h) produção de artigos e monografias sobre a experiência da Universidade estácio de Sá em avaliação interna. vale ressaltar que o crescimento quantitativo da uNeSA se justificou pelo trabalho qualitativo que desenvolve o que pode ser confirmado nos conceitos obtidos nas avaliações internas e externas,revelando o compromisso do corpo docente em agregar conhecimentos, formar bons profissionais e garantir um ensino de qualidade. Percebe-se, também, que a filosofia de trabalho adotada no Projeto de Avaliação da universidade estácio de Sá se compatibiliza com as novas diretrizes propostas pelos SINAeS. A continuidade do processo permitiu à universidade tornar o PAIuNeS reconhecido pela comunidade acadêmica. Permitiu, ainda, que a partir de 2004, sob a égide da nova legislação, a comissão Própria de Avaliação – cP A conseguisse envolver todos os segmentos e todos os setores em um novo Projeto de Auto-avaliação Institucional, alicerçado nos princípios de engajamento, integração, planejamento participativo e capacidade do grupo de criar projetos e tomar decisões. Cabe ratificar a diversidade e a complexidade da Instituição, que tem buscado, de forma matricial, atender às exigências legais, buscando, de acordo com as características de uma universidade particular, cumprir com empenho e responsabilidade, sua missão institucional, incluindo a busca contínua de superação dos obstáculos encontrados no percurso do processo avaliativo. Os primeiros passos A uNeSA, no ano 1994, integrando-se ao processo de Avaliação das Universidades Brasileiras, expressado pelo documento básico produzido pela comissão Nacional de Avaliação das universidades brasileiras, criada em julho de 1993 pela SESu/MEC – gerou o seu Plano de Avaliação Institucional com o objetivo de promover a análise de processos, de desempenho organizacional, de gestão e de qualidade, considerando como referencial os objetivos institucionais e pedagógicos e o efetivo cumprimento das funções sociais, culturais e econômicas da universidade. (uNeSA, 2005) Na delineação do plano, a apropriação dos resultados foi reconhecida como uma das questões mais relevantes a serem tratadas, comprometendo-se a universidade a “assumir a responsabilidade e aceitar o desafio de promover as mudanças necessárias nos pontos que os diagnósticos apontarem como críticos”. (uNeSA, 2005) PAIUNES o P AIub (1993) constituiu-se num movimento nacional que atingiu um número elevado de universidades pelo brasil e apontou os primeiros passos para a busca de melhoria nas instituições de ensino superior naquela época. Para balzan e dias Sobrinho (apud olIveIrA, et al., 2004) “o Programa trazia como princípios básicos implícitos em sua filosofia e no contexto de sua práxis a globalização, comparabilidade, respeito à identidade institucional, não-premiação e punição, adesão voluntária, legitimidade e continuidade”. com base no PAIub a uNeSA encaminhou em 1996 um projeto de avaliação ao mec, denominado PIuNeS – Programa de Avaliação Interna da universidade estácio de Sá. como resultado do P AIuNeS, de 1997 a 2004, a universidade estácio de Sánorteou suas ações para a avaliação do aluno e do professor, com indicadores relacionados à avaliação da disciplina, do curso, dos serviços administrativos e acadêmicos, da biblioteca e da autoavaliação discente, com objetivo de congregar aspectos qualitativos e quantitativos e operacionalizar formas de ação participativa. As ações na UNESA foram implantadas gradativamente, possibilitando ajustes e aperfeiçoamento. Neste período, todos os cursos de graduação passaram por diversas avaliações, que possibilitaram a construção de uma série de análises, que fundamentaram a formulação de estratégias para tomadas de decisão. esse processo também englobou os cursos de graduação tecnológica (uNeSA, 2005). o P AIuNeS, desenvolvido no período 1997–2004, recebeu conceito de excelência no MEC/PAIUB e representou uma iniciativa concreta e eficaz para a melhoria contínua do ensino. Norteou-se, pelos princípios de descentralização articulada, adesão voluntária, isenção, abrangência, continuidade e compromisso com a instituição. Ao longo de onze etapas de trabalho contínuo, o Projeto mobilizou a comunidade acadêmica sobre a importância e os benefícios do processo de auto-avaliação institucional para o aperfeiçoamento da prática educativa. As funções diagnóstica, formativa e cumulativa se fizeram presentes na auto-avaliação da UNESA e seus resultados diagnosticados em cada etapa estimularam a mantenedora, os gestores, os professores e a comunidade acadêmica a adotarem ações internas provocadoras de mudanças e de aperfeiçoamento dos projetos pedagógicos dos cursos ofereci- 13 Dissertar Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas A comissão própria de avaliação – cpa na unesa o Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior instituído pela Lei n. 10.861, de 14/04/2004, destacou a avaliação institucional como um processo permanente, planejado, conduzido e realizado de modo a transformar resultados em subsídios capazes de promover mudanças. em decorrência desta legislação e consoante com a prática já institucionalizada, foi constituída a CPA da UNESA pela Portaria n. 105/GR/2004 em 03 de maio de 2004 e homologada pelo coNSuNI, em atendimento à lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, e integrada por 14 membros, representantes dos diferentes segmentos da comunidade acadêmica e da sociedade civil organizada. A cP A zela para que o Projeto de Auto-avaliação Institucional esteja embasado em responsabilidade, participação, comprometimento, compartilhamento democrático de idéias e projetos, integração, autonomia e permanente busca de aperfeiçoamento através da análise crítica de seus projetos e serviços. em 2008, em razão da peculiaridade multi-campi da uNeSA, a CPA passou a funcionar com representações nos diferentes campi, denominadas CPA Setoriais, com a finalidade de acompanhar, de forma eficaz, a auto-avaliação nos campi. Assim, a cP A passou a ser responsável por disseminar a cultura avaliativa na IeS, através de processos de avaliação interna e de acompanhamento e análise das avaliações externas. A Comissão é constituída por ato do dirigente máximo da IES, possui regulamento próprio e atuação autônoma em relação aos conselhos. Sua composição assegura a participação de representantes dos segmentos da comunidade acadêmica – corpo docente, corpo discente e corpo técnico-administrativo e da sociedade civil organizada. Além disso, conduz os processos de avaliação interna, bem como sistematiza e presta as informações solicitadas pelo Inep. Para tanto, organiza o relatório Anual de Auto-avaliação, analisando as ações implementadas por todos os setores da IeS, de acordo com as dimensões estabelecidas pelo SINAeS, com especial destaque para a análise do PdI – Plano de desenvolvimento Institucional. Na uNeSA, o Projeto de reconhecimento e fortalecimento da CPA foi destaque desde a sua implantação. Em novembro de 2004, foi promovido o I Seminário de Sensibilização de Autoavaliação Institucional com a participação de 155 pessoas, entre membros da cP A, vice-reitores, diretores de setores, campi e cursos. Em janeiro do ano seguinte, foi promovida Palestra e sobre Avaliação por Empowerment, fomentando a participação, a discussão e o compartilhamento de múltiplas experiências. No final do ano 2005, foi realizado II Seminário de Auto-avaliação, envolvendo, desta forma, uma palestra e um workshop visando, principalmente, capacitar cerca de 90 gestores para a utilização da metodologia, preparando-os para o desdobramento matricial do processo.No III Seminário de Auto-avaliação, os participantes interagiram como expositores e críticos do processo. eles tiveram acesso a todos os projetos produzidos, provenientes de ampla discussão deflagrada através do empowerment e os participantes puderam optar para – em uma segunda parte – participar das salas de apresentação dos temas em que 27 gestores compartilharam suas idéias, ouviram sugestões e críticas visando, a posteriori, analisar a viabilidade da incorporação das mesmas. foi uma oportunidade de favorecer não só a interlocução entre atores diferentes, como valorizar a possibilidade de expor sua complexidade. o Iv Seminário de Auto-avaliação, realizado em 12 de julho de 2005, contou com a presença de 189 participantes pertencentes aos diferentes segmentos da UNESA. Foi o primeiro momento de prestação de contas sobre as ações previstas no projeto e desenvolvidas durante o semestre. No v Seminário Interno de Autoa-valiação Institucional, realizado em23 de setembro de 2005, a uNeSA recebeu a visita de Dilvo Ristoff, diretor da DEAES – Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior/INEP, para palestra e debate com a cP A e membros da comunidade acadêmica. O tema do encontro foi: O SINAES no Contexto das Políticas de educação Superior. o amadurecimento institucional através das políticas realizadas resultou em um evento muito maior no ano seguinte, nos dias 16 e 17 de agosto de 2006, quando do vI Seminário Interno de Auto-avaliação Institucional.A uNeSA, no dia 16 de agosto, fez um balanço crítico sobre a versão preliminar do relatório final e, no dia 17 de agosto, uma palestra para os coordenadores de curso e gestores da universidade sobre o tema: os Novos Instrumentos de Avaliação do SINAeS. Ao longo destes quase dez anos, a uNeSA não abandonou a metodologia do empowerment, tendo a prática alicerçada nos princípios de autonomia; participação; delegação de responsabilidade; respeito à diversidade; especificação de tarefas; compromisso com o processo e com os resultados e meta-avaliação. A metodologia ainda contém em sua prática a definição de metas, de objetivos e a apresentação de estratégias baseadas em evidências. A CPA considera importante prosseguir o trabalho da forma como tem se realizado, com reuniões periódicas e sistemáticas dos diferentes segmentos da comunidade universitária, a fim de aprimorar os processos em desenvolvimento. Neste diapasão, pode-se observar que a cP A uNeSA vem se utilizando de uma avaliação institucional participativa, em uma perspectiva dialógica, na medida em que possibilita a produção de espaço de discussão nos quais as pessoas refletem sobre suas ações. Essas reflexões buscam levar à construção de sujeitos críticos e emancipados, conforme Lima (2009, p. 202). dando continuidade ao processo iniciado em 2004, considerando as mudanças na uNeSA em razão do novo modelo de gestão, procurou-se, a partir de 2012, redefinir processos e procedimentos adotados pela CPA, a fim de melhor sustentar os pilares que serviram de base para a constituição desta cultura avaliativa. A filosofia implantada nos primeiros anos da constituição da CPA/UNESA permaneceu inalterada, porém, com uma re significação a partir da criação do Projeto Revigoração e fortalecimento da cP A. Avaliação interna: processo em rumo a sustentabilidade A auto-avaliação de uma instituição constitui uma trama complexa, que compõe uma rede na qual estão vinculadas as pessoas da instituição com suas idéias, envolvidas com os acontecimentos do cotidiano em que estão inseridas e imersas nas práticas exigidas pelas suas atribuições. Cada pessoa, de forma única, está ligada às demais pessoas da instituição, não só aquela que é responsável pela organização como um todo, como as que estão comprometidas e à frente dos diversos setores da instituição e as que estão submetidos à hierarquia, isto é, os funcionários administrativos e acadêmicos. Cada uma dessas pessoas tem um significado especial na rede de complexas relações que se estabelecem, de acordo com o perfil institucional (uNeSA, 2005). 14 Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas Relatos sobre a avaliação interna da unesa o processo de Auto-avaliação Institucional,que é coor denado pela comissão Própria de Avaliação da universidade Estácio de Sá, configura-se em uma rede sistêmica de valores, informações e decisões, que se constrói por etapas, desde reuniões de sensibilização dos diferentes atores, que se refletem no próprio Projeto Institucional, até a análise dos resultados apresentados, por meio dos relatórios Parciais e final. vale lembrar que, através da metodologia do empowerment, este movimento se fez tão presente nas ações de auto-avaliação, que a própria Comissão Técnica do INEP/DEAES assim se expressou através de Parecer sobre o projeto apresentado pela uNeSA ao Inep: Dissertar Na avaliação interna 2006.2, no período de 2 a 31 de outubro, a cP A coordenou a realizaçãoda avaliação institucional online de todos os cursos da graduação tradicional, da graduação tecnológica e dos campi, dando prosseguimento à avaliação iniciada no 1º semestre de 2006. A avaliação contemplou aspectos relativos às práticas docentes desenvolvidas pelos cursos, por meio de questionário de Avaliação Aluno/Professor/Disciplina. Aspectos referentes à Coordenação dos Cursos, por meio de questionário de Avaliação Professor/Curso e Aluno/Curso), além de aspectos relativos aos campi e ao campus virtual. o processo de sensibilização realizado nos campi foi fundamental para que atingisse a adesão de 81,4% do corpo docente e 45,58% do corpo discente, representado por 54.770 alunos respondentes. No início de novembro daquele ano, a cP A disponibilizou no Sistema de Informação do Aluno e no Portal do Professor alguns destes resultados para que, com transparência, continuasse a fazer da avaliação um instrumento de reflexão, visando à implementação de ações de melhoria, em busca do aprimoramento da qualidade da IeS (uNeSA 2006.2). No primeiro semestre de 2007, a cP A deu prosseguimento ao processo de avaliação institucional online de todos os cursos de graduação e graduação tecnológica, contemplando em seu questionário perguntas específicas para um quantitativo maior de disciplinas. Agregou, também, a esta avaliação um questionário objetivando traçar o perfil sociocultural do corpo discente; além da avaliação dos professores, realizada pelos coordenadores de curso. Participaram da avaliação 59.373 alunos, correspondendo a 48,47% do corpo discente; com uma adesão significativa do corpo docente, correspondendo a um percentual de91,15% (uNeSA 2007.1). A cP A concluiu o processo de avaliação interna do segundo semestre de 2007, durante o período de 17 de outubro a 30 de novembro, 64.315 alunos participaram da avaliação e contribuíram, com suas pontuações, para a compreensão das características dos professores, dos cursos e dos campi onde estudam. esse total correspondeu a 55,79% dos alunos matriculados e superou o índice alcançado no primeiro semestre de 2007, que foi de 48,47% (UNESA 2007.2). Para os professores, a adesão foi ainda maior, com a média de 97,52% de participantes. considerando o sucesso deste semestre, registrou-se a importância da avaliação como instrumento de aprimoramento dos processos na universidade, tornando-se ferramenta indispensável nas tomadas de decisão (uNeSA 2007.2). realizada durante o período de 5 de maio a 12 de junho, a Avaliação Interna de 2008.1, conduzida pela cP A, atingiu o total de 65.683 alunos, que atribuíram conceitos para os campi, os cursos e para as disciplinas que estudam. esse total correspondeu a 53,86% dos alunos matriculados. A avaliação realizada pelos professores atingiu 97,09% de participantes com informações sobre os campi e os cursos. (uNeSA 2008.1). coordenada pela cP A, a Avaliação Interna da universidade em 2008.2 ocorreu no período de 29 de outubro a 26 de novembro, com a participação de 53.950 alunos, correspondendo a 46,68% de todos os discentes da graduação. A participação do corpo docente atingiu 95,29% e confirmou o engajamento deste professor com o momento da avaliação e de melhoria permanente da universidade.Neste semestre, a cP A incluiu a Avaliação da Pós-Graduação de forma online, avaliações das disciplinas tele transmitidas e dos professores pelos gerentes acadêmicos. Historicamente comprovado, a Avaliação Interna realizada pela cP A ratifica o processo avaliativo como mecanismo de identificação A proposta indica que houve articulação entre a realidade da IeS e as dimensões da Avaliação Institucional, atendendo aos princípios e diretrizes do SINAES. É possível identificar no texto que a proposta é resultado da interação entre os atores envolvidos no processo avaliativo, mostra-se coerente com os objetivos e funções de uma instituição de educação superior e assegura a identidade institucional (uNeSA, 2005). Acrescente-se que, para superar o desafio constante da auto-avaliação é preciso considerar o teor essencialmente ético do planejamento participativo como respeito ao outro e conscientização das responsabilidades, o que requer aprendizagem constante, capacidade de empatia e predisposição para trabalhar em equipe, requisitos essenciais que se destacam na CPA/UNESA. Portanto, a avaliação interna da uNeSA não se constitui em um modelo pronto e fechado. Neste sentido, quanto à avaliação interna, esclarece verhine (2010) Para se desenvolver não são necessários agentes externos, pois os principais destinatários serão os próprios atores internos do processo avaliativo. tal avaliação prima por uma metodologia ativa e dialógica e envolve o debate e a reflexão sobre o que fazer como agir e como acompanhar a ação. A co-gestão é um dos elementos essenciais dessa metodologia avaliativa, reconhecida, em primeira instância, pela idéia de auto regulação, cuja regra geral passa pela substituição dos indicadores de rendimento pelos de qualidade, além da seleção de procedimentos e técnicas que combinem o quantitativo e o qualitativo (fÉlIx, 2008). As práticas de avaliação que dão legitimidade a esse procedimento se constituem em um processo de transformação e (re) formas constantes das instituições envolvidas. Assim a avaliação formativa vincula-se, diretamente, a uma forma de democracia forte, que é uma forma de governo entendido como de formação de uma comunidade preparada para enfrentar e resolver conflitos por meio da participação, com autocrítica e auto-legislação (fÉlIx, 2008). A autora argumenta, ainda, que a avaliação institucional se sustenta em valores próprios da academia, em que o interesse pela produção de conhecimento, a transparência de suas decisões, a participação, a liberdade acadêmica e o respeito pelas idéias dos demais são pontos dominantes em uma instituição orientada para a autonomia institucional. dando continuidade ao desenvolvimento do processo de autoavaliação da uNeSA, vale destacar que a cP A, pioneira no segmento, aplicou, no 1º semestre de 2006, um questionário online, extensivo a alunos e professores de todos os cursos de graduação tecnológica, num total de 43, e a quatro cursos de graduação: educação física, fisioterapia, fonoaudiologia, Psicologia. os respondentes tiveram oportunidade de avaliar a IeS, o campus e o curso, bem como, os professores e as disciplinas. do universo dos alunos da graduação tradicional, 7.051 responderam, significando 43,4% do seu total. No Politécnico (graduação tecnológica), esta margem chegou a 35%, com 7.848 de alunos respondentes. O total de professores chegou a 1.329 (uNeSA 2006). 15 Dissertar Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas de potencialidades e fragilidades que subsidiem as tomadas de decisão para a melhoria de aspectos acadêmicos e administrativos de toda a comunidade universitária (uNeSA 2008.2). A Avaliação Interna de 2009.1 ocorreu com a participação histórica dos alunos e professores.Os números de adesão atingidos reforçaram a percepção do interesse da comunidade acadêmica pelo processo avaliativo e sua colaboração para a melhoria dos serviços e processos oferecidos pela Universidade.A seguir, os percentuais recordes: campi com meta atingida de docentes: 100% (37 campi); campi com meta atingida de discentes: 65% (24 campi); adesão de alunos: 57,4% (64.466 alunos); adesão de professores: 97,5%. Esta Avaliação incluiu também o questionário Sociocultural, aplicado, à época, com periodicidade bienal e ampliado por perguntas relacionadas às preferências para o lazer e atuação em programas sociais. Sobre esta pergunta, é importante destacar que 9% (5.801 alunos do total de respondentes) declaram participar em atividades sociais da própria Universidade, relacionadas à pesquisa, à extensão e a programas de disciplinas (uNeSA 2009.1). realizada no segundo semestre, a Avaliação Interna 2009.2 mobilizou alunos e professores e atingiu a participação de 54.079 discentes (52,5%) e 97,1% dos docentes. Sendo a sétima avaliação consecutiva, cujos resultados possibilitaram a construção de um histórico de indicadores que, ao serem apresentados à Reitoria e aos gestores da IES, forneceram subsídios para a tomada de decisão na busca pela melhoria de processos e serviços (uNeSA 2009.2). de 2010 a 2011, o processo de avaliação se manteve contínuo e fiel aos pressupostos até então destacados, com curva ascendente quanto à adesão e investimento em tecnologia para efeito de aprimoramento. enfocando os processos pedagógicos, científicos, sociais, técnicos e administrativos que se estabelecem por meio das relações sociais constitutivas da dinâmica da vida universitária. Isso, levando-se em conta a integração entre o que a UNESA faz com o que se propõe a fazer por meio da sua missão e finalidades. Para tanto, inicialmente foi necessário repensar o modelo do questionário aplicado até então, a fim de adequá-lo às inovações implementadas e acrescidas na IeS, como, por exemplo, as inovações tecnológicas e a realidade dos cursos de ensino a distância. Em seguida, considerando o aumento significativo do seu espectro, houve a necessidade de rever os processos relativos à tecnologia da informação, de forma a manter a qualidade do serviço e a sua disponibilidade, tudo em consonância com a realidade globalizada. vale a ressalva de que a pesquisa, que já era aplicada na modalidade online, passa a contar, a partir de 2012.2, com um novo sistema denominado questiopro, o qual propicia um dinamismo à avaliação, tanto no que tange à tecnologia, quanto ao manancial de informação para efeito de análise dos seus resultados. No ano de 2012, ainda, a IES fez alto investimento quanto aos ajustes necessários ao pleno desenvolvimento do processo de avaliação interna, bem como na sensibilização da comunidade universitária, de forma a reforçar a importância do seu papel na construção de um modelo coletivo quanto à busca contínua e sistemática da melhoria dos seus cursos e da sua infraestrutura. Assim, observa-se pelos últimos percentuais de adesão que no ano de 2013 alcançou-se o percentual de 96 % de adesão de docentes e 68 % de adesão de discente. No primeiro semestre de 2014 a adesão discente consolidou todas as expectativas da IeS, com a participação de 73% de adesão do alunado. desta forma, constatou-se que o modelo implantado alcançou os objetivos propostos. Acrescente-se que a cP A, por meio das reiteradas participações em reuniões de gestão acadêmico-administrativa, vem trabalhando junto com os coordenadores de curso e gestores acadêmicos na reversão dos quadros de fragilidades identificadas. Com as transformações sociais e políticas surgidas nos últimos anos, vive-se um momento de profundas discussões sobre a política e a qualidade das instituições de educação superior, sendo imperativo o movimento quanto ao rigor, por parte dos setores externos quanto à avaliação dos referenciais de qualidade que, por sua vez, aumenta a responsabilidade das IeS. Neste cenário, a uNeSA antecipou-se e implementou um novo modelo de gestão frente às tendências atuais da educação, não apenas devido à abertura econômica, mas, sobretudo, com a finalidade de identificar métodos e programas eficazes para dar conta dos novos desafios no cenário educativo, a exemplo dos critérios que servem de padrões de mensuração de desempenho para as organizações. Nesse processo, a avaliação tem se aperfeiçoado como um princípio básico de gestão da qualidade na sociedade moderna,seja nos setores públicos ou privados, contribuindo para a melhoria dos programas e influenciando as transformações e definições de políticas, práticas e decisões destes últimos tempos. diante deste momento histórico, partindo do desígnio de que a avaliação é uma leitura orientada da realidade, segundo critérios pré-estabelecidos de padrões de qualidade do ensino, a uNeSA, no ano de 2012, redimensiona sua política de avaliação interna, definindo como norte a busca por resultados que possam ser analisados, a fim de que se possam traçar novos caminhos, metas, estratégias que vão ao encontro de uma política de educação de qualidade, associada a uma política intensa de responsabilidades sociais. Assim, a auto-avaliação institucional da uNeSA dispõe-se a avaliar os desempenhos do ensino, da extensão e da gestão, As ações de melhorias implantadas Nessa linha, a CPA, responsável por formular propostas para a melhoria da qualidade das atividades educacionais desenvolvidas pela Instituição, em parceria com as coordenações de curso e gerências acadêmicas, com base nas análises dos resultados produzidos pelos processos internos de avaliação, somados à análise dos resultados das avaliações externas realizadas pelo ministério da educação, impõe um ritmo de trabalho de efetiva auto-avaliação, assumindo sua verdadeira posição no cenário institucional, com autonomia e desprendimento que lhe são peculiares. A rapidez da comunicação no mundo atual chega a ser assustadora em algumas áreas, em decorrência dos novos meios e linguagens que, no campo da avaliação, são formas ágeis de socialização das informações coletadas e que precisam ser adotadas, no tempo certo, a fim de possibilitar superação de falhas e valorização de potencialidades detectadas. Para tanto, o processo de feedback, é realizado imediatamente após a finalização do trabalho da CPA, de tabulação dos resultados da avaliação interna que ocorre semestralmente, e da realização das reuniões de análise desses resultados, da cP A com os diferentes segmentos da comunidade acadêmica. No entanto, esses procedimentos não se encerram em si. Existe a necessidade de manter um ciclo virtuoso de retroalimen- 16 Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas Dissertar Considerações finais tação quanto aos diferentes segmentos da IES – corpo discente, corpo docente, corpo técnico-administrativo e a gestão da IeS, com a preocupação constante no sentido de melhorar cada vez mais o processo de autoconhecimento institucional. Neste sentido, a cP A implantou e projetou para 2014 a implementação de uma campanha de fortalecimento da sua imagem e do seu papel dentro desse cenário. foi lançada uma nova logo da CPA/UNESA e, a partir daí, toda uma dinâmica na rotina institucional da uNeSA, em consonância com o modelo de gestão em vigor. destaca-se como principais ações de melhorias implementadas nos últimos dois anos, levando-se em consideração a revisão do PdI, para o qüinqüênio 2013-2017, e o que se espera em relação à Dimensão 1, o aumento de oferta de cursos em áreas de conhecimento de maior demanda no estado e divulgação e alinhamento da missão do curso com práticas pedagógicas. quanto à dimensão 2, criação do comitê de apoio ao eNAde, ampliação da oferta de cursos de nivelamento nas áreas de português e matemática, incentivo à produção científica e pesquisa com oferta de bolsas por parte da IeS aos discentes e docentes,ampliação do número de cursos de capacitação docente, desde as questões pedagógicas até as tecnológicas. No que tange à Dimensão 3,houve forte investimento na ampliação de espaços internos para relacionamento com a comunidade e criação do Suporte à Inclusão educacional.e, quanto à dimensão 4, destaca-se a re vigoração dos canais de comunicação com a sociedade e a realização de eventos,no intuito de possibilitar melhor comunicação com o público interno e externo. Para as Políticas de Pessoal, com previsão na dimensão 5, a uNeSA atendeu às reivindicações da comunidade univer sitária, com o incremento de concessão de bolsas de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu para docentes por meio de editais e processos seletivos específicos, participação em congressos, fóruns dentro e fora do país; oferta de programas de capacitação e aprimoramento na forma de cursos ofertados pela IES para qualificação docente e portfólio de treinamentos e promoção de cursos de capacitação presencial aos pessoal técnico-administrativo, dentre outros. Ainda, quanto à organização e gestão da uNeSA - dimensão 6 –teve grande preocupação de reorganizar as atribuições administrativas e acadêmicas, assim como a organização de seus processos, no intuito de evitar retrabalho, com a contratação de empresa de consultoria específica e criação de setores específicos. Para a Infra estrutura física - Dimensão 7 – a UNESA vem atualizando os títulos e periódicos dos seus cursos no acervo bibliográfico, bem como, substituiu o parque tecnológico dos colaboradores. Importante destacar que o Planejamento e Avaliação recebeu atenção especial quanto à participação e autonomia da cP A, item esse componente da dimensão 8. No que se refere à Dimensão 9, destacam-se as novas políticas de atendimento, implantadas pela IeS, que buscam corresponder aos anseios e necessidades dos discentes, uma vez que esse item vem se destacando negativamente, nas últimas avaliações. Por fim, quanto à Dimensão 10 - Sustentabilidade Financeira destaca-se que aInstituição deu ênfase ao desenvolvendo de sua política de aplicação dos recursos, baseada em decisões de conselhos e orientações fornecidas pela CPA. Além disso, implantou uma política focada na redução da inadimplência e evasão, o que vem gerando resultados positivos, considerando os relatórios da área. A cultura avaliativa na universidade estácio de Sá é fruto de uma institucionalização cujas bases foram alicerçadas no Projeto “qualidade e Participação”, iniciado nos primeiros anos da década de 90, do século passado. A uNeSA construiu os pilares da auto-avaliação nos princípios norteadores do Programa de Avaliação Institucional das universidades brasileira – PAIub, instituído no ano de 1993, pelo mec. com base no PAIub, a universidade estácio de Sá criou o PAIuNeS – Programa de Avaliação Interna da universidade estácio de Sá. A continuidade do processo permitiu à universidade tornar o P AIuNeS reconhecido pela comunidade acadêmica, com selo de excelência. A partir de 2004, sob a égide da nova legislação, que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior instituído pela Lei n. 10.861, de 14/04/2004, que destacou a avaliação institucional como um processo permanente, planejado, conduzido e realizado de modo a transformar resultados em subsídios capazes de promover mudanças foi constituída a CPA da UNESA pela Portaria n. 105/GR/2004, em 03 de maio de 2004, e homologada pelo coNSuNI. Nesse processo, a avaliação tem se aperfeiçoado como um princípio básico de gestão da qualidade na uNeSA, contribuindo para a melhoria dos programas e influenciando as transformações e definições de políticas, práticas e decisões destes últimos tempos. Com as transformações sociais e políticas surgidas nos últimos anos, vive-se um momento de profundas discussões sobre a política e a qualidade do ensino superior. Neste cenário, a uNeSA antecipou-se e implementou um novo modelo de gestão frente às tendências atuais da educação, não apenas devido à abertura econômica, mas, sobretudo, com a finalidade de identificar métodos e programas eficazes para dar conta dos novos desafios no cenário educativo, a exemplo dos critérios que servem de padrões de mensuração de desempenho para as organizações. REFERÊNCiAS BALZAN; DIAS SOBRINHO apud OLIVEIRA, Ana Maria Mônica de; NuNeS, lina cardoso; SImoNettI, vera maria medina. Ava liação Institucional na Universidade Estácio de Sá: reflexões sobre a experiência de implementação do processo de auto-avaliação. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/pdf/aval/v09n02/v09n02a07.pdf>. Acesso em: 20 set. 2013. lImA, elizeth gonzaga dos Santos. Avaliação institucional e as estratégias de organização dos espaços de discussão na universidade. In: leIte, denise (org.) Avaliação participativa e qualidade: os atores locais em foco. Porto Alegre: Sulina, Porto Alegre: Editora Universidade metodista IPA, 2009. PortAl. INeP . Avaliação das Instituições de Educação Superior. Disponível em:<http://portal.inep.gov.br/superior-avaliacao_institucional>. Acesso em: 01 de out. 2013. PORTAL. Universidade Estácio de Sá. CPA Histórico. Disponível em: <http://www.estacio.br/cpa/historico.asp>. Acesso em 17 set. 2013. PortAl. universidade estácio de Sá. comissão Própria de Avaliação – CPA. Disponível em: <http://www.estacio.br/site/cpa/historico.asp>. Acesso em: 15 set. 2013. PortAl. uNeSA. relatório final de Auto-avaliação: 2005. disponível em: <http://www.estacio.br/cpa/2005.asp>. Acesso em 01 out. 2013 _______. _______. Relatório Final de Auto-avaliação: 2005. Disponível em: <http://www.estacio.br/cpa/2005.asp>. Acesso em 01 out. 2013 PORTAL. UNESA. Avaliação Interna 2006.1 Disponível em: <http:// 17 Dissertar Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas www.estacio.br/cpa/ava20061.asp>. Acesso em: 01 out. 2013. _______._______. Avaliação Interna 2006.2. Disponível em:<http:// www.estacio.br/cpa/ava20062.asp>. Acesso em: 01 out. 2013 ________._______. Avaliação Interna 2007.1. Disponível em: <http:// www.estacio.br/cpa/ava20071.asp>. Acesso em: 01 out. 2013. _______._______. Avaliação Interna 2007.2. Disponível em: <http:// www.estacio.br/cpa/ava20072.asp>. Acesso em 01 out. 2013. _______._______. Avaliação Interna 2008.1. Disponível em: <http:// www.estacio.br/cpa/ava20081.asp>. Acesso em: 01 out. 2013. ROTHEN, José Carlos; BARREYRO,Gladys Beatriz. Expansão da educação superior no brasil e avaliação institucional: um estudo do Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior (SINAeS). In: Revista Avaliação. Disponível em:<http://each.uspnet.usp.br/gladysb/ expansao.pdf>. Acesso em: 25 set. 2013 SILVEIRA, Alex; PAIN, Glauce. Reforma Universitária: a política educacional brasileira do governo castelo branco a costa e Silva(1964-1969). Disponível em: <http://www5.fapa.com.br/cadernosfapa/artigos/2edicao/historia/ReformaUniversitaria.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2013. uNIverSIdAde eStÁcIo de SÁ. relatório do P AIuNeS. rio de Janeiro 2004. Disponível em: <http://www.estacio.br/site/cpa/docs/ resumo_referente_livro_2004.pdf>. Acesso em: 17 set 2013. VERHINE, Robert E; FREITAS,Antônio Alberto da Silva Monteiro de. A avaliação da educação superior: modalidades e tendências no cenário internacional. In: Revista do Ensino Superior - uNIcAmP . Disponível em:<http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/ artigos/a-avaliacao-da-educacao-superior-modalidades-e-tendencias-no-cenario-internacional>. Acesso em: 30 out. 2013. Artigo enviado em 02/11/2014, aceito em 10/11/2014 18 Dissertar O empreendedor social no município de Duque de Caxias The social entrepreneur in the municipality of Duque de Caxias El emprendedor social en el municipio de Duque de Caxias O objetivo deste artigo foi estudar os principais aspectos que caracterizam um empreendedor social no município de Duque de Caxias. O referencial teórico utilizado na pesquisa engloba a bibliografia sobre empreendedorismo e empreendedorismo social. A metodologia utilizada foi bibliográfica com pesquisa de campo, buscando identificar o que caracteriza um empreendedor social atuando na Baixada Fluminense. Os resultados obtidos indicam que os empreendedores sociais entrevistados são voltados para a busca por oportunidades na solução de problemas sociais; entretanto, calcular riscos não parece fazer parte das preocupações desses empreendedores. A maioria deles confia em outras pessoas para executarem as tarefas, e se reconhece como líderes. O local e o meio em que vive o empreendedor exercem enorme influência sobre ele, e este também contribui com aqueles através da criação de novas oportunidades para sobrevivência e crescimento da localidade em que atua. The objective of this paper was to study the main aspects that characterize a social entrepreneur in the municipality of Duque de Caxias. The theoretical framework used in the research encompasses the bibliography on entrepreneurship and social entrepreneurship. The methodology was bibliographical with a field research, seeking to identify what characterizes a social entrepreneur working in the Baixada Fluminense. The results obtained indicate that social entrepreneurs search for opportunities to solve social problems, but they don’t care about calculate risks. They trust other people to execute tasks and see themselves as leaders. The community where the entrepreneur leaves can influence his behavior, and he´s also able to influence his community creating new opportunities of survival in order to see his community growth. El objetivo de este trabajo fue estudiar los principales aspectos que caracterizan a un emprendedor social en la ciudad de Duque de Caxias. El marco teórico utilizado en la investigación abarca la literatura sobre el espíritu empresarial y el emprendimiento social. La metodología utilizada fue bibliográfico con la investigación de campo con el fin de identificar lo que caracteriza a un emprendedor social que trabaja en la Baixada Fluminense. Los resultados indican que los encuestados emprendedores sociales se centran en la búsqueda de oportunidades en la solución de problemas sociales; Sin embargo, el riesgo de calcular no parece formar parte de las preocupaciones de estos empresarios. La mayoría de ellos dependen de otras personas para realizar las tareas, y se reconoce como líderes. La ubicación y el entorno en el que vive el empresario ejercen gran influencia sobre él, y esto también ayuda con las de la creación de nuevas oportunidades para la supervivencia y el crecimiento de la localidad en la que opera. (2008), Especialização em Administração Estratégica e Docência do Ensino Superior (2010). Atualmente é diretor da RH SENIOR Consultoria - Centro de Capacitação Profissional - Consultor, Palestrante e Conferencista. Atualmente é professor e Coordenador Adjunto dos cursos de Administração e Recursos Humanos da UNIGRANRIO unidade Lapa. Também leciona nos Cursos de Marketing, Administração, Recursos Humanos. Também professor na Pós- graduação em Gestão de Negócios e Pessoas da Unigranrio. Professor especialista na área de Administração, com ênfase em Departamento De Pessoal. Email: [email protected] Palavras-chave: Empreendedorismo, Empreendedorismo Social, Duque de Caxias. Autores: Celso Bruno Faria Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Gama Filho (1981), com Especialização em Administração e Docência do Ensino Superior. Atualmente é diretor da CCPMARKWAY&CBS Consultoria - Centro de Capacitação Profissional - Consultor, Palestrante e Conferencista. Coordenador do Curso de Processos Gerenciais (Gestão Empresarial Presencial) - de Graduação Superior Tecnológica pela Universidade Estácio de Sá - R.J, Campi Centro 1 e Nova América- RJ. Email: [email protected] Josir Simeone Gomes Graduado em Contabilidade pela Fundação Getúlio Vargas (1973), graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1972), mestrado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978) e doutorado em Administração Fábio de Souza Brandão Bacharel em Administração pela Universidade Estácio de Sá 19 Dissertar O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes O município de Duque de Caxias A região metropolitana do rio de janeiro, que congrega 17 dos 92 municípios do estado do rio de janeiro, segundo dados do Ibge (2008), possui 11.812.482 habitantes, concentra cerca de 70% da população estadual e quase a totalidade de bens e serviços do estado. É o segundo polo de riqueza do país: nela se encontra 70% da economia do estado do rio de janeiro no setor industrial, com destaque para refinarias de petróleo, indústrias da construção naval, metalúrgicas, petro-gás-químicas, siderúrgicas, têxteis, gráficas, indústrias farmacêuticas, de bebidas e moveleiras. Atualmente, vem se firmando como ‘polo nacional do setor terciário com destaque para serviços e negócios. entretanto, apesar do crescimento social e científico, ainda apresenta problemas e precisa de melhorias nas condições de saneamento, urbanismo, saúde, segurança, educação e lazer. Localizado na Baixada Fluminense, o município de Duque de Caxias abriga 855.046 habitantes, tem grande importância econômica nos níveis estadual e nacional e uma localização geográfica estratégica na Baixada Fluminense. Possui uma área de 464,57 km2 e densidade demográfica de 1.887 habitantes por km2. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,803; o PIb é de r$ 28.143.860 (sendo o 15º do brasil), e o PIb per capita de r$ 33.398 (Ibge, 2009). A escolha do município para foco desta pesquisa levou em consideração não só sua sólida e crescente importância econômica, mas também a constatação de que há carência de informações sobre Empreendedorismo social na região. pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1983). Possui PósDoutorado na Universidad Carlos III de Madrid, na Espanha e curso de especialização na Harvard Business School. Email: [email protected] introdução O Empreendedorismo no Brasil Dornelas (2008, p. 10, 11) afirma que: o movimento do empreendedorismo no brasil começou a tomar forma na década de 1990, quando entidades como SEBRAE (Serviço brasileiro de Apoio às micro e Pequenas empresas) e Softex (Sociedade Brasileira para Exportação de Software) foram criadas. Antes disso, praticamente não se falava em empreendedorismo e em criação de pequenas empresas. os ambientes político e econômico do país não eram propícios, e o empreendedor praticamente não encontrava informações para auxiliá-lo na jornada empreendedora. Pode-se dizer que ainda faltam políticas públicas consistentes que levem à consolidação do empreendedorismo no país, como opção à falta de emprego, e visando respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades não governamentais que estão fazendo a sua parte. Entretanto, a consolidação do capital de risco e o papel do “anjo”- investidor pessoa física- também estão se tornando realidade, motivando o estabelecimento de cenários otimistas para os próximos anos (DORNELAS, 2008). Hoje, o SEBRAE é um dos órgãos mais conhecidos do pequeno empresário no brasil. Situação - Problema o artigo se propõe a analisar quais são as principais características que definem o perfil do Empreendedor social que atua no município de Duque de Caxias, Um breve histórico do empreendedorismo no Brasil Segundo dolabela (2008, p. 39), “no brasil, pode-se dizer que o empreendedorismo está apenas começando, mas os resultados já alcançados no ensino indicam que estamos no início de uma revolução silenciosa.” Greco (2008), afirma que o empreendedorismo é um fenômeno bastante complexo, pois está condicionado a fatores culturais e é bastante influenciado por questões políticas e econômicas. dolabela (2008) aponta que o empreendedorismo é também fruto dos hábitos, práticas e valores das pessoas. em países desenvolvidos e com uma economia estável, por exemplo, o empreendedor age de uma maneira completamente diferente de empreendedores em uma localidade carente e em países miseráveis. É necessário discutir, então, a influência que um empreendedor social exerce sobre o desenvolvimento econômico de uma determinada localidade e também os desafios que esse indivíduo enfrenta para cumprir sua missão. dolabela (2008) registra um importante dado que será considerado na análise a que se propõe essa pesquisa: o fato de que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, os empreendedores são bastante influenciados pelo meio em que vivem. Melo Neto (2002) afirma que o objetivo final do empreendedorismo social é retirar as pessoas da situação de risco social e desenvolver-lhes as capacidades e aptidões naturais, buscando propiciar inclusão social. Além disso, propõe um novo modelo de relação entre comunidade – governo – empresas, em que haja ações transformadoras desenvolvidas por uma rede de empreendedores sociais, onde a comunidade atue como protagonista de ações transformadoras e o foco nessas ações transformadoras seja nas comunidades mais intenso. certamente, esse empreendedor, para cumprir tão importante missão, encontrará sérios desafios a enfrentar. Objetivos geral e específicos Objetivo Geral Identificar as principais características do Empreendedor social no município de Duque de Caxias. Objetivos Específicos • conceituar empreendedorismo, empreendedor e empreendedor Social • caracterizar o empreendedorismo Social • Identificar o perfil de empreendedores sociais atuantes no município de Duque de Caxias Relevância do Estudo conhecer as características apresentadas pelos empreendedores sociais, bem como o reflexo de suas atividades no cotidiano da sociedade e, especialmente, na comunidade local, pode contribuir para que as empresas e as universidades despertem para essa questão e para uma visão solidária para com a coletividade. Furtado (1999, p. 79) define uma sociedade sustentável como sendo “uma sociedade com capacidade para improvisar, inovar, enfrentar seus problemas da maneira mais prática possível, mas numa perspectiva racional”. Num momento em que toda a sociedade clama por alternativas que garantam moradia e serviços sociais básicos como educação, emprego e saúde, o estudo sobre os indivíduos que acreditam na capacidade de trabalhar esses potenciais é de fundamental importância. 20 O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes Apesar de reconhecer o valor do papel de um empreendedor social, as características que os distinguem dos demais indivíduos da sociedade geralmente são desconhecidas ou ignoradas. A violência urbana, os recursos limitados, os arranjos e alianças político-partidárias, bem como o pouco conhecimento formal adquirido são desafios enfrentados por todos os empreendedores, especialmente empreendedores sociais. Dissertar como a preocupação com essa temática vem avançando, vários estudos surgiram e em vasta literatura são encontradas características comportamentais do empreendedor, sendo possível afirmar que determinadas características podem identificar um empreendedor e até mesmo contribuir para o sucesso dos seus negócios. No brasil, segundo dornellas (2008), o empreendedorismo só agora começou a ser tratado com o grau de importância devido e o governo começa a investir nessa questão – o que países com os Estados Unidos, por exemplo, já investem há muito tempo. de acordo com lopes (2010, p.46): Delimitação do Estudo foram pesquisados empreendedores locais, no município de Duque de Caxias, para serem conhecidos quais os principais aspectos que caracterizam aqueles agentes sociais. Existem diversos tipos de empreendedor, mas o objetivo deste estudo é analisar os empreendedores sociais, ou seja, aqueles que “buscam suprir carências fundamentais da sociedade, deixadas em aberto pela insuficiência ou pela ineficiência ou ineficácia do poder público.” (coimbra in melo Neto, 2002), conhecer um pouco mais aqueles que que buscam criar novos espaços sociais e econômicos em sintonia com a coletividade caxiense. Quanto mais educado for o empreendedor, mais chances ele terá de criar um negócio baseado numa oportunidade real. e o contrário acontece com os menos educados e preparados, que mais provavelmente direcionam suas iniciativas para ações que garantam suas necessidades de sobrevivência Portanto, uma educação voltada para o empreendedorismo é fundamental para garantir um melhor aproveitamento das ocasiões que surgem e para a criação de oportunidades no mundo. Definição dos Termos empreendedor: aquele que assume riscos e começa algo novo. empreendedor social: também é alguém que assume riscos e procura inovar, mas sua preocupação é voltada para o coletivo, buscando produzir bens e serviços para a comunidade, e direcionando seu foco na procura de soluções para os problemas sociais que o cercam. O empreendedor dornelas (2008, p. 22) diz que “o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos materiais”. Portanto, o empreendedor faz um negócio nascer através de uma ideia ou de uma oportunidade, e como tal, esse processo é composto de funções, atividades e ações ligadas à realização de novos sonhos, de novos negócios. (dorNelAS, 2008). Para dornelas (2008), empreendedores são visionários, sabem tomar decisões, são indivíduos que fazem a diferença, sabem explorar a conjuntura; são determinados, dinâmicos, dedicados, otimistas, independentes, líderes, bem relacionados, organizados; planejam, possuem conhecimento, assumem riscos calculados e criam valor para a sociedade. Procuram, com a geração de empregos, dinamizar a economia e inovar, sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas. Referencial Teórico Empreendedorismo Segundo dornelas (2008, p. 14), Um primeiro exemplo de definição de empreendedorismo pode ser creditado a marco Polo, que tentou estabelecer uma rota comercial para o oriente. como empreendedor, marco Polo assinou um contrato com um homem que possuía dinheiro (hoje mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias deste. enquanto o capitalista era alguém que assumia riscos de forma passiva, o aventureiro empreendedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos físicos e emocionais. O empreendedor social Mas e o empreendedor social? Melo Neto (2002) afirma que a prioridade do empreendedor social é o combate à pobreza e à degradação humana e ambiental, buscando promover equidade social, cultural, econômica e ambiental. O autor afirma que esses são pré-requisitos para o desenvolvimento de um empreendedorismo social, bem como para a criação de novos processos de geração de riquezas e valores para a sociedade e o “empoderamento” dos indivíduos, que precisam se corresponsabilizar na busca por seu crescimento e na construção de sua autonomia. Para dolabela (2008), as principais características de um empreendedor são: iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização, perseverança e comprometimento. Afirma também que o empreendedor é bastante influenciado por um modelo, alguém que ele tenta imitar. essas características desejáveis passam, necessariamente, pela iniciativa pessoal, busca de oportunidades, perseverança, comprometimento, qualidade do trabalho, eficiência, coragem de assumir riscos, fixação de metas objetivas, busca de informações, planejamento e monitoração (controle), capacidade de persuasão, capacidade de fazer contatos, independência, autonomia, pelo autocontrole. Para dornelas (2008), empreendedorismo tem origem na palavra entrepreneurship que surgiu da expressão de origem francesa (entrepreneur), e significa assumir riscos e começar algo novo. Sua origem vem do século XVIII e XIX, e é defendida por pensadores econômicos que acreditavam no livre mercado e na concorrência agindo na economia. Dornelas (2008, p. 22) também afirma que “empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades.” Portanto, empreendedorismo é quando se consegue construir algo novo e de valor, criando ou aproveitando uma oportunidade. Pode ser um serviço. um produto novo, ou uma reinvenção do que já existe, como novos benefícios e atributos. Para dolabela (2008, p. 24), empreendedorismo “é um termo que implica uma forma de ser, uma concepção de mundo, uma forma de se relacionar”. Em Greco (2008), o termo Empreendedorismo é definido como qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo empreendimento, podendo ser essa uma atividade autônoma, uma nova empresa, ou até mesmo a expansão de um empreendimento já estabelecido. 21 Dissertar O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes O empreendedorismo social No meado do século xx, uma série de eventos indicou momentos marcantes no cenário mundial. Um deles foi, certamente, a globalização, que emergiu a partir das mudanças do capitalismo moderno. Ela possui um aspecto paradoxal: quanto mais há avanços tecnológicos, de informações e de conhecimento, tanto mais baixos são os níveis sociais e humanos da população mundial (olIveIrA, 2008, p. 01). diante desse panorama, alguns atores surgem dispostos a minimizar os impactos causados pela pobreza. oliveira (2008, p. 2) destaca, a partir desse fenômeno social, o surgimento do empreendedorismo social moderno e suas vertentes: melo Neto (2002,11) resume de maneira bem interessante as diferenças existentes entre os dois tipos de empreendedorismo. enquanto o empreendedorismo privado é individual, tendo seu foco no mercado para a produção de bens e serviços para que ele, visando satisfazer às necessidades dos seus clientes, amplie as potencialidades do seu negócio, usando como medida de desempenho o lucro, o empreendedorismo social é coletivo, produz bens e serviços para a comunidade, tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais; sua medida de desempenho é o impacto social e visa resgatar pessoas da situação de risco social e promovê-las. filion (apud dolAbelA, 2008, p. 74) resume como o empreendedor busca atingir seus objetivos: Essa constatação faz com que novos sujeitos, forma e ações se apresentem como alternativas emergentes contra o atual sistema e gestão da vida em sociedade, inclusive e, em específico, o empreendedorismo social. Isso porque a injustiça, a exclusão social e o fracasso do desenvolvimento social estão desafiando a raça humana a buscar uma nova forma de viver em sociedade, já não só pensando em si e em seu território, mas também na totalidade da vida no planeta, e que começa, paradoxalmente, em nosso quintal, em nossa vida. Quadro 1 O trabalho do empreendedor e seus requisitos Atividades Características Competências Aprendizagens Descoberta de Faro, intuição Pragmatismo, bom oportunidades senso, capacidade de reconhecer o que é útil e dá resultados. Análise setorial. Conhecer as características do setor, os clientes e o concorrente líder (1) Sonhar Imaginação, independência, Paixão Análise da congruência do sonho com o “eu” Viabilidade, adequação à sociedade, construção de valor positivo Concepção de visões Imaginação, independência, Paixão Concepção (2), pensamento sistemático Avaliação de todos os recursos necessários e dos respectivos custos Tomada de decisões julgamento, Visão prudência o empreendedorismo social pode ser entendido como um sistema que, de acordo com Neto e Froes (2002, p. 41), tem a finalidade de transformar a sociedade. Finalidade esta que se caracteriza por vários princípios como o aumento do nível de conhecimento da comunidade local com relação aos recursos existentes, a capacidades e competências disponíveis em seu meio, promovendo: • aumento do nível de consciência da comunidade com relação ao seu próprio desenvolvimento; • mudança de valores das pessoas que são sensibilizadas, encorajadas e fortalecidas em sua autoestima; • aumento da participação dos membros da comunidade em ações empreendedoras locais; • aumento do sentido de conexão das pessoas com a sua cidade, terra e cultura; • estímulo ao surgimento de novas ideias que incluem alternativas sustentáveis para o desenvolvimento; • transformação da população em proprietária e operadora dos empreendimentos sociais locais; • inclusão social da comunidade; • busca de maior autossuficiência pelos membros da comunidade local; e • melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Obter informações, saber minimizar o risco Realização Diligência (saber Ação de visões “se virar”), constância (tenacidade) Saber obter informações para realizar ajustes contínuos, retroalimentação Utilização de Destreza equipamentos, (principalmente de tecnologia da informação) Polivalência (no começo, o empreendedor faz tudo) Técnica Compras Acuidade Negociação. Saber conter-se nos próprios limites, conhecer profundamente o tema e ter flexibilidade para permitir que todos ganhem Diagnóstico do setor, pesquisa de compras (3) Para dorNelAS (2007, Projeto e Diferenciação, Coordenação de Marketing, gestão colocação do originalidade múltiplas atividades: produto/serviços hábitos de consumo no mercado dos clientes, publicidade, promoção Vendas Flexibilidade para Adaptação às pessoas ajustar-se aos e circunstâncias clientes e às circunstâncias, buscar feedback Conhecimento do cliente Formação da equipe e conselheiros Saber construir redes de relações internas e externas Gestão de recursos humanos, saber compartilhar Delegação. Saber dizer o que deve ser feito e por quem; saber acompanhar, obter informações Gestão de operações Ser previdente, projeção a longo prazo Delegação Comunicação, de tarefas capacidade de aprender P.13) o empreendedor social tem como missão de vida construir um mundo melhor para as pessoas. envolve-se em causas humanitárias com comprometimento singular. tem um desejo imenso de mudar o mundo criando oportunidades para aqueles que não têm acesso a elas. Suas características são similares às dos demais empreendedores, mas a diferença é que se realizam vendo seus projetos trazerem resultados para os outros e não para si próprios. Os empreendedores sociais são um fenômeno mundial e, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, têm um papel social extremamente importante, já que, através de suas ações e das organizações que criam, preenchem lacunas deixadas pelo poder público. De todos os tipos de empreendedores é o único que não busca desenvolver um patrimônio financeiro, ou seja, não tem como um de seus objetivos ganhar dinheiro. Prefere compartilhar seus recursos e contribuir para o desenvolvimento das pessoas. em suma, o empreendedor social, segundo Neto e froes (2002, p. 10), é aquele que “mede o seu retorno com base na Fonte: Dolabela (2008, p.75) 22 O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes Metodologia da Pesquisa melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários, no seu progresso material e espiritual-pessoal”. Tipo de pesquisa Este artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa, e que pode ainda ser classificada quanto aos fins e quanto aos meios, conforme definição de Vergara (2006:46,47). Para vergara (2006), uma pesquisa é descritiva quando expõe as características de determinado fenômeno ou população, sem o compromisso de explicar os fenômenos descritos, ainda que sirva de base para tal explicação. Quanto aos fins, essa pesquisa pode ser considerada uma pesquisa descritiva, pois descreve as características dos empreendedores sociais e tenta elucidar o seu perfil para a sociedade, principalmente a comunidade do município de Duque de Caxias. Busca pesquisar e apontar os principais pontos que caracterizam os empreendedores sociais. quanto aos meios, a pesquisa pode ser considerada bibliográfica, com a utilização de material de apoio como livros, sites e artigos científicos publicados sobre a temática do empreendedorismo e do empreendedorismo social, em fontes primárias e secundárias. Também foi realizada uma pesquisa de campo no município de Duque de Caxias, onde foram entrevistados alguns empreendedores sociais. O universo desta pesquisa foi composto por dez organizações, entre elas, cooperativas, associações de moradores e organizações não-governamentais, atuantes no município de Duque de Caxias, visando conhecer e interpretar a realidade local. foram selecionados dez elementos representativos dos empreendedores sociais naquele município. Os sujeitos da pesquisa foram empreendedores atuantes nas organizações escolhidas para a análise.. Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em livros, revistas, teses, dissertações e sites da internet sobre a temática e por pesquisa de campo, através de entrevista não estruturada aos sujeitos pesquisados. Os dados foram tratados de forma qualitativa e exploratória. Recebidos os foram interpretados para se determinar quais as principais características do empreendedor social que atua no município de Duque de Caxias. Perfil do empreendedor social O perfil do empreendedor social pode ser dividido em quatro áreas distintas: conhecimentos, habilidades, competências e posturas. As características do empreendedor social, segundo oliveira (2008, p. 90), “não ficam tão distantes quando podemos verificar que, na prática, já se pode ver esses elementos de forma concreta, e sendo expressados em ações concretas”. Conforme pode ser visto no quadro 2, a seguir: Quadro 2 O perfil do empreendedor social Conhecimentos • Saber aproveitar as oportunidades. • Ter competência gerencial. • Ser pragmático e responsável. • Saber trabalhar de modo empresarial para resolver problemas sociais. habilidade Competências • Ter visão clara. • Ser visionário. • Ter senso de • Ter iniciativa. responsabilidade e • Ser equilibrado. solidariedade. • Participação. • Ser sensível com os problemas • Saber trabalhar sociais. em equipe. • Ser persistente. • Saber negociar. • Ser consciente. • Saber • Ser competente. pensar e agir • Saber usar forças estrategicamente. latentes e regenerar • Ser perceptivo e forças pouco atento aos detalhes. usadas. • Ser ágil. • Saber correr riscos calculados. • Ser criativo. • Saber integrar • Ser crítico. vários atores em • Ser flexível. torno dos mesmos objetivos. • Ser focado. • Saber interagir • Ser habilidoso. com diversos setores da • Ser inovador. sociedade. • Ser inteligente. • Saber improvisar. • Ser objetivo. • Ser líder. Dissertar posturas • Ser inconformado e indignado com a injustiça e a desigualdade. • Ser determinado. • Ser engajado. • Ser comprometido e leal. • Ser ético. • Ser profissional. • Ser transparente. • Ser apaixonado pelo que faz (campo social). Apresentação dos Resultados O exame dos dados foi realizado conforme as respostas dos entrevistados responsáveis por empreendimentos Sociais no município de Duque de Caxias. os empreendedores sociais, segundo tajra e Santos (2009, p. 50), “atuam por meio de organizações como fundações, associações, entidades beneficentes, empresas sociais, OSCIP (organizações da Sociedade civil de Interesse Público), órgãos públicos, entre outras”. Dentre os entrevistados, foram ouvidos 10 empreendedores responsáveis por associações de moradores, fundações e entidades beneficentes. A entrevista foi elaborada com base no quadro 03, onde o autor (Oliveira, 2008, p. 90) afirma que o perfil do empreendedor social pode ser dividido em quatro áreas distintas: conhecimentos, Habilidades, Competências e Posturas. As características dos empreendedores sociais entrevistados seguem de maneira resumida logo a seguir, juntamente com a análise feita à luz do referencial teórico desenvolvido. Fonte: Oliveira (2008, p. 90). Segundo tajra e Santos (2009,p. 48) o empreendedor social possui as mesmas características e atitudes empreendedoras já apresentadas. o que muda nesse ator é o contexto que ele atua. Enquanto os demais atuam no primeiro setor (governo – segmento público) e no segundo setor (privado – segmento empresarial visando o lucro), o empreendedor social atua no terceiro setor (organizações sem fins lucrativos e não governamentais), oriundo das lacunas da sociedade. esse setor surgiu das ações privadas que começaram a ajudar nas questões sociais, incorporando parcialmente o papel do estado. o terceiro setor tem como principal objetivo promover a melhoria social da população que, de uma forma geral, fica marginalizada dos processos sociais, culturais, econômicos de saúde. Conforme Neto e Froes (2002, p. 34), o empreendedor social “é movido a ideias transformadoras e assume uma atitude de inconformismo e crítica diante das injustiças sociais existentes em sua região e no mundo”. Portanto, o maior sonho do empreendedor social é “ajudar as pessoas, desenvolver a sociedade, criar coletividade e comunidades, vê-las crescerem e fortalecerem-se para nelas implementar ações autossustentáveis que lhes garantam a manutenção e a melhoria contínua do seu bem-estar.” (Neto; froeS, 2002, p. 34). Conhecimentos encontrar oportunidades para resolver problemas sociais é a principal missão de todos os empreendedores entrevistados. Estas respostas confirmam o que os autores pesquisados nos indicam: Melo Neto (2002,11), diferencia o empreendedorismo 23 Dissertar O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes privado- que é individual e tem seu foco no mercado, produzindo bens e serviços para ele, tendo como medida de desempenho o lucro, e visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio- do empreendedorismo social, que é coletivo, produz bens e serviços para a comunidade, tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais e usa como parâmetro medir o desempenho o impacto social e o resgate de pessoas da situação de risco social. O presidente da Associação de moradores do Lixão de Gramacho, atuando no local há 12 anos, afirma que a constatação do abandono da comunidade local foi o que motivou sua decisão de agir. e continua sua luta ainda nos dias de hoje, em que o lixão foi desativado, mas ainda algumas famílias permanecem na comunidade. Melo Neto (2002, 28) também afirma que “o crescimento dos problemas sociais, que gerou o paradigma de exclusão social de hoje no Brasil, vem exigindo de todos os atores políticos e sociais uma nova atitude. uma atitude de mudança, inovadora em sua natureza e essência, voltada para o desenvolvimento sustentável das comunidades em geral e, sobretudo, das comunidades de baixa renda.” Isso ficou ainda mais claro na pesquisa de campo no espaço do antigo Lixão de Gramacho: para o Meio Ambiente, é fato que o espaço deveria ser desativado. Entretanto, os problemas sociais da comunidade se agravaram ainda mais com essa situação, pois a fonte de renda das famílias de catadores ficou comprometida. Melo Neto (2002) afirma ainda que a prioridade do empreendedor social é o combate à pobreza e à degradação humana e ambiental, buscando promover equidade social, cultural, econômica e ambiental. o autor assevera que esses são pré-requisitos para o desenvolvimento de um empreendedorismo social, e isso foi observado na realidade pesquisada. Sheila Passos, secretária da Associação de moradores do Lixão de Gramacho, encontrou no empreendimento social uma forma de buscar mudança social através das pessoas, trabalhando com elas uma mudança de mentalidade, um maior entendimento e sabedoria para tocarem suas vidas. A entrevistada também está nesse empreendimento em função da religião, pois afirma ter um “chamado especial” para ajudar as pessoas a ter uma visão e um diferencial. Já o presidente da Associação de Moradores do Lixão de gramacho e mais três entrevistados encontraram no empreendimento social sua vocação: afinal, afirmaram eles, sempre pensaram em gerenciar alguma coisa. um entrevistado admitiu ser o empreendedorismo estimulado em família e o outro busca realização pessoal. Assim, o empreendedor social é muito mais influenciado por sua própria vocação ou pela necessidade de realização como ser humano. encontramos até mesmo uma motivação religiosa, que é bastante pessoal, para representar o desejo de envolvimento com o empreendimento social. Todos os empreendedores pesquisados, com exceção de um, afirmaram aproveitar de imediato as oportunidades que aparecem, sem, muitas vezes, pensar nas consequências. A resposta divergente afirma que não aproveita a oportunidade,k quando é fora da área de atuação. A questão pontuada por Sheila Passos, secretária da Associação dos Moradores do Lixão de Gramacho, foi a frustração em, diversas vezes, não poder aproveitar oportunidades por falta de recursos ou condições de infraestrutura. Diversos autores pesquisados falam sobre a relação entre a busca por oportunidades e o perfil do empreendedor. Dolabela (2008) registra que o local e o meio em que vive o empreendedor, exercem enorme influência sobre seu comportamento – embora seja uma realidade que já está mudando-. de um modo geral, em países mais desenvolvidos, os empreendedores são motivados a empreender guiados por oportunidades; enquanto que em países subdesenvolvidos essa motivação se dá pela necessidade de sobrevivência. Mas o empreendedor social também influencia esse mesmo meio através da criação de novas oportunidades para sua sobrevivência. Portanto, empreendedorismo é quando se consegue construir algo novo e de valor, criando ou aproveitando uma oportunidade. Tanto Dolabela quanto Dornelas afirmam que a busca por oportunidades é uma forte marca que caracteriza o empreendedor. entretanto, de acordo com lopes (2010, p.46), “quanto mais educado for o empreendedor, mais chances ele terá de criar um negócio baseado numa oportunidade real. e o contrário acontece com os menos preparados.” Nas entrevistas realizadas pode-se perceber que, muitas vezes, a boa vontade e a perseverança na busca por essas oportunidades nem sempre as transformam em oportunidades reais. A posse de uma formação específica, principalmente na área de gestão, certamente contribuiria para a concretização dessas oportunidades, seja em função da busca por recursos, seja em função da visão gerencial, seja, enfim, em função da estrutura organizacional que se faz necessária nesses casos. Com exceção de Sheila Passos, que não tem experiência no negócio, todos os demais empreendedores conhecem tanto o produto/serviço quanto o negócio. Dolabela (2008) afirma que, dentre as características desejáveis ao empreendedor (como a iniciativa pessoal, a busca de oportunidades, a perseverança, o comprometimento, a qualidade do trabalho, a eficiência, a coragem de assumir riscos e a fixação de metas objetivas), estão o conhecimento do ramo de atuação e a busca por informações sobre o produto ou serviço que o empreendedor se propõe a gerenciar. No quadro 1, encontramos o mesmo autor sinalizando que na análise setorial – conhecer as características do setor, os clientes e o concorrente líder é uma aprendizagem fundamental para que o empreendedor consiga atingir seus objetivos. todos os empreendedores sociais entrevistados nunca realizaram pesquisa em seu ramo de atividade, com exceção de Shirley vieira, que às vezes a realiza. Essa afirmativa preocupa – afinal, Dolabela (2008) declara que além do conhecimento sobre o ramo de atuação e a busca por informações sobre o produto ou serviço que o empreendedor se propõe a gerenciar, a capacidade de fazer contatos também deve ser uma preocupação do empreendedor. Pesquisar sobre o ramo de atividade é a melhor maneira de conseguir atualização sobre as questões concernentes ao negócio, produto ou serviço. Habilidades A maioria dos empreendedores diz confiar em outras pessoas para executarem as tarefas, bem como entende a necessidade de treinar pessoas para realizar tais empreitadas (com exceção de um, que faz questão de fazer ele mesmo). Entretanto, ao serem questionados com maior ênfase, os agentes asseguram que confiam, desde que isso não traga grandes riscos ou prejuízos ao empreendimento. A capacidade de delegar tarefas é muito importante para que o empreendedor possa ter seu tempo liberado para atuar estrategicamente, buscar informações sobre o negócio e atuar no sentido de expandir o empreendimento. Dolabela (2008, p. 75) afirma que 24 O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes Dissertar A maioria absoluta consegue influenciar para que as pessoas façam as coisas e deem prosseguimento às ideias iniciadas por eles, se forem orientadas e dirigidas. Apenas um afirmou que as pessoas não dão continuidade às ideias que ele começa. A capacidade de liderança é muito importante na composição do perfil do empreendedor social. Como foi verificado na literatura, dolabela (2008); dornellas (2008) e oliveira (2008), afirmam que o empreendedor precisa ter em seu perfil as competências de um líder. Dolabela (2008), afirma também que a capacidade de persuasão é uma característica importante e normalmente encontrada nos empreendedores. Afinal, liderar significa ter capacidade para influenciar pessoas, com o intuito de atingir objetivos. de acordo com os resultados obtidos, todos os empreendedores entrevistados desenvolveram essa competência ao longo de sua experiência como empreendedores sociais. Apenas um empreendedor não participa. todos os demais participam de algum grupo com essa finalidade e Sheila Passos, secretária da Associação de Moradores do Lixão de Gramacho, afirma que sua igreja promove esse tipo de discussão. Na bibliografia pesquisada, a capacidade de fazer contatos foi citada como importante na composição do perfil do empreendedor apenas por um único autor: dolabela, 2008. entretanto, na prática pode-se perceber que esses contatos e esses relacionamentos são fundamentais para a troca de experiências e a aquisição de mais conhecimento e maiores relacionamentos com outros empreendedores sociais. É estranho o fato de esta questão ser pouco citada na literatura sobre o tema. uma das competências que o empreendedor precisa ter para atingir seus objetivos é a capacidade de incumbir tarefas a outrem. No quadro 1, encontramos também o conceito de delegação do mesmo autor: delegar é saber dizer o que deve ser feito e por quem; saber acompanhar, obter informações. Ou seja, o acompanhamento não pode deixar de ser feito nunca, pois a responsabilidade pela tarefa ou atividade continua sendo do empreendedor. A maioria dos empreendedores age para que alguém execute o que deve ser feito. Nessas entrevistas, constatou-se que alguns possuem uma habilidade muito importante para orientar seus subordinados e orientar a execução correta de cada atividade, garantindo que a tarefa seja realizada até o fim. Portanto, uma preocupação voltada para orientar funcionários que erram pode ser considerada uma habilidade importante para garantir o trabalho em equipe, bem como a continuidade da participação de todos os envolvidos. Competências Apenas dois empreendedores afirmaram ter sido própria a ideia de partir para essa atividade e um deles admite ter aceito a sugestão de amigos / familiares. Enquanto isso, todos os demais declararam que o interesse surgiu a partir da observação dos problemas sociais. Realmente, Oliveira (2008) afirma que uma das competências que o empreendedor social possui é ser sensível com os problemas sociais. como já pesquisado na literatura, tanto dolabela (2008) quanto Greco (2008) registram o fato de que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, os empreendedores são bastante influenciados pelo meio em que vivem e também por questões políticas e econômicas. Portanto, o local e o meio em que vive o empreendedor exercem enorme influência sobre seu comportamento. e realmente, na prática, percebeu-se essa tendência de o empreendedor social ser influenciado e sentir-se verdadeiramente responsável por mudar a realidade do ambiente que o cerca. Melo Neto (2002), afirma ainda que a prioridade do empreendedor social é o combate à pobreza e à degradação humana e ambiental, buscando promover equidade social, cultural, econômica e ambiental. e para Neto e froes (2002, p. 34), o empreendedor social “é movido a ideias transformadoras e assume uma atitude de inconformismo e crítica diante das injustiças sociais existentes em sua região e no mundo”. Ou seja, esse é o principal fator para o surgimento da ideia, não uma questão pessoal, individual ou influenciado pela família ou os amigos. entre os entrevistados, dois empreendedores entenderam ser a persistência o fator mais importante para o sucesso e um optou pela solidariedade. todavia, a maioria declarou ser mais importante a interação com os diversos setores sociais. tanto para dornelas (2008) quanto para dolabela (2008), uma das características de um empreendedor é sua capacidade de saber explorar as oportunidades. Para isso, é fundamental, que sejam bem relacionados e estejam comprometidos com a criação de valor para a sociedade. os empreendedores sociais entrevistados têm clara noção de que o sucesso e a permanência de seu empreendimento não dependem apenas de visão, Persistência, Solidariedade e competência; percebem que para ser bem sucedido o empreendedor precisa interar-se com os diversos setores sociais. muitos dos empreendedores entrevistados citaram o relacionamento político, com as esferas governamentais, como um dos fatores fundamentais para conseguir atuar no ramo de atividade a que se propôs. Posturas observou-se que para uma grande parte dos entrevistados é essencial que o empreendedor coloque a “mão na massa”. Não basta apenas desejar que aconteça, é preciso saber agir. também foi observado que o empreendedor social tem uma característica de “paixão pelo que faz”, como diz o autor Dornelas (2008) sobre as características do empreendedor. Para esse autor, os empreendedores são visionários, sabem tomar decisões, são indivíduos que fazem a diferença, sabem explorar as oportunidades, são determinados, dinâmicos, dedicados, otimistas, independentes, líderes, bem relacionados, organizados, planejam, possuem conhecimento, assumem riscos calculados e criam valor para a sociedade. Procuram, com a geração de empregos ou solucionando problemas sociais, dinamizar a economia e inovar, sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas. Verificou-se ainda que a grande maioria afirma que as dificuldades enfrentadas são o maior problema. Mas, também alegam que o pensamento de como sua iniciativa poderá contribuir para a resolução dos problemas da comunidade é constante entre os empreendedores sociais do local. característica destacada pelo autor oliveira (2008). diante desse panorama, alguns atores surgem dispostos a minimizar os impactos causados pela pobreza. Oliveira (2008, p. 2) destaca, a partir dessa diferença social, o surgimento do empreendedorismo social e suas vertentes: Essa constatação faz com que novos sujeitos, forma e ações se apresentem como alternativas emergentes contra o atual sistema e gestão da vida em sociedade, inclusive e, em específico, o empreendedorismo social. Isso porque a injustiça, a exclusão social e o fracasso do desenvolvimento social estão desafiando a raça humana a buscar uma nova forma de viver em sociedade, já não só pensando em si e em seu território, mas também na totalidade da vida no planeta, e que começa, paradoxalmente, em nosso quintal, em nossa vida. 25 Dissertar O empreendedor social no município de Duque de Caxias Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes Apenas um entrevistado alega que somente se interessa em resolver problemas se essa solução der retorno financeiro. Isso vai ao encontro do referencial teórico já pesquisado, quando Dolabela (2008, p. 67), afirma que o “empreendedorismo raramente é uma proposição de enriquecimento rápido; é, antes a construção de valor a longo prazo e de uma corrente durável de fluxo de caixa.” Ou seja, empreendedores buscam construir valor a longo prazo: seja na prestação de serviço ou na elaboração de um novo produto, a inovação está atrelada à criação de uma oportunidade duradoura. ou seja, mesmo no empreendedorismo sem cunho social, a questão do retorno financeiro não costuma ser prioridade para o empreendedor. oportunidades, enquanto que em países subdesenvolvidos essa motivação se dá pela necessidade de sobrevivência. Não se pode ignorar também o fato de que enyre empreendedor e o merio há uma espécie de simbiose um e outro se influenciam, através da criação de novas oportunidades para sua sobrevivência e crescimento da localidade em que atua. É difícil conceber como seria uma determinada região sem o desenvolvimento de novas empresas e a consequente criação de empregos nela ou em suas proximidades. Ou determinada localidade sem a organização de uma associação de moradores, ou até mesmo de organizações não-governamentais que se disponham a suprir o que o estado não consegue em termos de saúde, educação ou entretenimento. Por fim, fica registrada uma sugestão de realização de pesquisa futura para se detectar os principais desafios enfrentados por esses empreendedores sociais para a realização do seu trabalho e o atingimento de resultados, bem como suas contribuições para a economia e a solução de questões sociais na comunidade e os desafios que encontram para o desenvolvimento do trabalho. Outra sugestão é analisar o impacto causado pelo fechamento do lixão de Gramacho sobre a vida econômica dos moradores da comunidade e dos estabelecimentos comerciais da região. Considerações finais o objetivo desse artigo, de estudar as principais características de um empreendedor social no município de duque de Caxias parece ter sido alcançado, pois proporcionou um conhecimento bastante rico sobre a atuação dos empreendedores entrevistados. É importante entender a atividade empreendedora como um fenômeno social digno de ser estudado e conhecido, podendo dessa forma contribuir com informações confiáveis para os formuladores de políticas e programas de desenvolvimento econômico e social. Portanto, considerando o perfil do Empreendedor proposto por Oliveira (2008) nas áreas Conhecimentos, Habilidades, competências e Posturas, observou-se que, diante das questões levantadas, em termos de conhecimento, falta a essas pessoas, na maioria das vezes, uma formação adequada, bem como preocupa o fato de que todos os empreendedores sociais entrevistados nunca realizaram pesquisa em seu ramo de atividade. o ponto positivo é que quase todos possuem experiência no ramo de atividade no qual empreendem. os empreendedores sociais entrevistados são voltados para a busca por oportunidades na solução de problemas sociais, embora inquiete o fato de afirmarem aproveitar essas oportunidades muitas vezes sem pensar muito nas consequências. A literatura aponta que é importante que o empreendedor saiba calcular os riscos das oportunidades nas quais resolve apostar, e isso não parece fazer parte das preocupações desses empreendedores. em termos de habilidades, a maioria dos empreendedores confia em outras pessoas para executarem as tarefas, bem como procura orientar e treinar pessoas para realizarem tarefas. Isso é muito positivo e deixa o empreendedor liberado para atuar no crescimento da organização e na busca por contatos e conhecimentos na área de atuação. Em termos de competências, o fato de os empreendedores reconhecerem- se como lideres e acreditarem que a interação com os diversos setores sociais é o principal fator de sucesso para sua organização é muito positivo. A maioria dos empreendedores afirma ter surgido a ideia de sê-lo a partir da observação dos problemas sociais, o que demonstra que possuem sensibilidade em relação às questões sociais. Outro fator positivo encontrado na pesquisa é que todos valorizam o fato de manterem-se em grupos de discussão sobre o seu ramo de atividade. Sobre a postura dos empreendedores entrevistados, a paixão pelo que fazem é o que os move, ao lado da necessidade de realização e da percepção da urgência em resolver problemas sociais. O local e o meio em que vive o empreendedor exerce enorme influência sobre seu comportamento – embora seja uma realidade que já está mudando. de modo geral,em países mais desenvolvidos os empreendedores são motivados, guiados por Referências ASHLEY, P.A. (2004) Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva. dolAbelA, f. (2008) O segredo de Luisa. São Paulo: gmt editores. dorNelAS, j.c.A.(2008) Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. rio de janeiro: campus. furtAdo, c. (1999) O Longo Amanhecer. São Paulo: Paz e terra. greco, S.m.S.S. (2009) Empreendedorismo no Brasil: 2008. curitiba: IbqP . loPeS, rose. (2012) Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas. rio de janeiro: elsevier. SebrAe. melo Neto, f. P .; froeS, c. (2002) Empreendedorismo Social: a transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark. tAjrA, S. f.; SANtoS, f. t. (2009) Empreendedorismo: questões na área da saúde, social, empresarial e educacional. 1ª. ed. São Paulo: Érica. Artigo enviado em 03/12/2014, aceito em 20/12/2014 26 Dissertar Dissertar O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Uses of virtual tools in pedagogical support El uso de herramientas virtuales como apoyo pedagógico Este trabalho tem por finalidade investigar como as interações entre os diferentes atores do processo ensino-aprendizagem envolvidos em um ambiente sócio-interacionista (professor, aluno e objeto de aprendizagem) de modo a favorecer uma aprendizagem significativa, reduzindo os níveis de reprovação de alunos com dificuldade de aprendizagem utilizando recursos tecnológicos que geram ambientes dinâmicos, permitindo assim, que nossos objetos de estudo tornem-se manipuláveis ainda que virtualmente. Essa abordagem agrega significado aos conteúdos matemáticos, auxiliando na compreensão dos mesmos pelo aprendizado com a plataforma Moodle – um espaço virtual de ação pedagógica que objetiva a aprendizagem e o trabalho colaborativo – em sua atuação no Ensino Básico e na Formação de Professores. Diante das demandas impostas pela prática letiva e pelo apelo da comunicação virtual que caracteriza a sociedade contemporânea, o uso desta plataforma educacional foi adotado pelo Setor, sob uma postura investigativa, com os objetivos de aproximar os novos recursos computacionais das práticas de Ensino de Matemática, de experimentar novas metodologias utilizando esses recursos e de ampliar as possibilidades de atuação acadêmica e pedagógica. Vale destacar, a utilização de cursos online apoiando a prática pedagógica do ensino regular no âmbito do Ensino Básico; armazenando e organizando os dados acadêmicos; promovendo a ampliação da comunicação e a relação professor-aluno, aluno-aluno, professor-professor, assim como o desenvolvimento da colaboração a projetos coletivos. Pode-se assim, provocar uma reflexão sobre a prática docente diante das mudanças que regem a sociedade contemporânea. This study aims to investigate how the interactions between the different actors of the learning process involved in a social interaction environment (teacher, student and learning object) in order to promote meaningful learning, reducing the levels of disapproval of students with difficulty learning using technology resources that generate dynamic environments, thus allowing our objects of study become manipulable even virtually. This approach adds meaning to mathematical content, assisting in the understanding of them by learning with Moodle – a virtual pedagogical action that focuses on learning and collaborative work – for her performance in Basic Education and Teacher Training. Faced with the demands imposed by teaching practice and the appeal of virtual communication that characterizes contemporary society, the use of this educational platform has been adopted by industry under an investigative attitude, with the goals of bringing new computing resources practices Mathematics Teaching, to try new methods using these resources and expand the possibilities of academic achievement and educational. Notably, the use of online courses supporting the teaching practice of regular education under the Basic Education; storing and organizing data academics, promoting the expansion of communication and the teacherstudent, student-student, teacheteacher, as well as the development of collaboration collective projects. One can thus cause a reflection on teaching practice in the face of changes that govern contemporary society. 27 Este estudio tiene como objetivo investigar cómo las interacciones entre los diferentes actores del proceso involucrado en un entorno social- interaccional (profesor, alumno y objeto de aprendizaje) con el fin de fomentar la enseñanza aprendizaje significativo y el aprendizaje, lo que reduce los niveles de desaprobación de los estudiantes con dificultad de aprender el uso de los recursos tecnológicos que generan entornos dinámicos , por lo que permite a nuestros objetos de estudio se hacen manipulable aunque sea virtualmente. Este enfoque añade significado a los contenidos matemáticos, ayudar en la comprensión de ellos, aprendiendo de Moodle – una acción espacio virtual educativo que tiene como objetivo el aprendizaje y el trabajo colaborativo – en su actuación en la Educación Básica y de Formación de Profesores. Frente a las exigencias impuestas por la práctica de la enseñanza y el atractivo de la comunicación virtual que caracteriza a la sociedad contemporánea , el uso de esta plataforma educativa ha sido adoptado por la industria bajo un enfoque de investigación, con el objetivo de acercar las nuevas prácticas de recursos computacionales para la enseñanza de la matemática, para probar nuevos métodos de uso de estos recursos y ampliar las posibilidades de actividades académicas y pedagógicas . Cabe destacar el uso de los cursos en línea que apoyan la práctica pedagógica de la educación general dentro de la educación formal; almacenar y organizar los datos académicos; promover la expansión de la comunicación y el profesor alumno, alumno-alumno, maestro – maestro, así como el desarrollo de un grupo de proyectos de colaboración. Así se puede provocar una reflexión sobre la práctica docente, teniendo en cuenta los cambios que rigen nuestra sociedad contemporánea. Dissertar O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes à escola e interfere no comportamento dos estudantes. Em que medida essa nova ordem intervém na estrutura de comunicação escolar; na organização lógica do pensamento; na capacidade de leitura, interpretação e escrita; na relação qualitativa com a informação são exemplos de questionamentos imperativos. O desafio que se impõe à comunidade escolar é a adequação a essa transformação, promovendo a discussão e a pesquisa com esse foco. A reflexão não deve buscar qualificar o modelo que se apresenta como positivo ou negativo, mas avaliar como ele pode e deve ser utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas. A pesquisa pode ser entendida como um processo de investigação orientada por um método com o objetivo de levantar, explorar e analisar dados para criação, formalização e/ou renovação de áreas do conhecimento visando reduzir os níveis de reprovação na disciplina Matemática para alunos do 1˚ ano do Ensino Médio. A observação dos ambientes virtuais foi realizada pelos autores deste projeto de forma direta intensiva - participativa. quanto à natureza do estudo, a pesquisa se desenvolveu de forma qualitativa, caracterizada segundo uma abordagem fenomenológica-hermenêutica. Para fiorentini, garnica e bicudo (2004, p.111), a pesquisa que segue essa abordagem “se movimenta, colocando suas interrogações, buscando seus dados, construindo sua rede de significados”. Os autores destacam ainda que essa rede “se transforma conforme a perspectiva pela qual é olhada”. fiorentini e lorenzato (2009, p.65) completam esse pensamento quando afirmam que nessa abordagem a solução dos problemas educacionais surge através da interpretação e compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos que experienciam o fenômeno. No tocante a fonte de dados foi utilizada a modalidade de pesquisa de campo. Para Santos (2004, p.27) “pesquisa de campo é aquela que recolhe os dados in natura, como percebidos pelo pesquisador”. O estudo foi realizado em uma escola da rede pública (colégio militar do rio de janeiro –cmrj) do munícipio do rio de janeiro. foi analisado com o uso de um ambiente multimídia de caráter sócio- interacionista que proporciona uma aprendizagem significativa em turmas do 1º ano do ensino médio, com um gestor tecnológico do ambiente, um coordenador de tutoria, um tutor da disciplina de matemática e alunos com dificuldade de aprendizagem (voluntários) na presente disciplina, utilizando um Ambiente virtual de Aprendizagem. A coleta de dados foi efetuada através de quatro etapas principais. A primeira, referente à análise da importância dos ambientes multimídias sócio-interacionistas como objeto de aprendizagem no ensino de Matemática. Esse processo foi executado através de uma pesquisa dos alunos com dificuldade em pré-requisitos na aprendizagem da disciplina em estudo e índices de reprovação. Em um segundo momento, foi caracterizado pela aplicação de um pré-teste na turma com o intuito de se analisar qualitativamente quais são as dificuldades de aprendizagem que os alunos possuem acerca dos principais conceitos envolvidos na disciplina, verificando principalmente se a deficiência seria em pré-requisitos ou no conteúdo que está sendo aplicado. esse pré-teste foi caracterizado por questões contendo assuntos voltados em conteúdos de anos anteriores e assuntos interdisciplinares. uma terceira etapa foi realizada através de uma observação participante com o intuito de investigar como o uso do objeto de aprendizagem proposto utilizando em um ambiente virtual auxilia o docente a proporcionar uma aprendizagem significativa a seus alunos. Segundo Thiollent (2011) afirma que “essa etapa da pesquisa constitui um experimento de ensino”. Borba (2004) afirma que nessa modalidade de pesquisa o professor-pesquisador pode analisar detalha- Palavras-chave: Processo ensino-aprendizagem, Ambiente colaborativo, Apoio pedagógico. Autores: Ana Lúcia de Oliveira Barreto Mestre em Educação pela UNIGRANRIO; Pós-graduada em Segurança de Redes de Computadores pela UNESA; Especialista em Computação Gráfica e Multimídia pela UFRJ; Possui Licenciatura em Matemática pela Universidade Santa Úrsula (1987) e Bacharel em Matemática pela Universidade Santa Úrsula (1987); Professora concursada do Colégio Militar do Rio de Janeiro, desde 1997, exerce a função em regime de Dedicação Exclusiva. Pesquisadora do grupo Jovens em Rede na PUC-Rio, coordenado pela Profª Drª Maria Apparecida Campos Mamede-Neves, desde 2010. E-mail: [email protected]. E-mail: [email protected] Ernani José Antunes Possui Graduação em Física pela Faculdade tecnico-educacional Souza Marques ,e em Matemática pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro , Graduação em operações militares pela Academia militar das Agulhas Negras (1993), Especialista em Matemática, Engenharia e MBA em Logística pelo Instituto Militar de Engenharia e Mestrado em Ciências. Atualmente é tutor a distância em História da Matemática do programa UABUFF,doutorado em educação,foi Professor da Uerj o Colégio Militar do Rio de Janeiro e UNESA. E-mail: [email protected] introdução A educação a distância (eAd) decorre da necessidade de novas propostas de estudo, pelas quais o aluno não tem uma delimitação geográfica e nem uma sala de aula presencial para buscar sua qualificação. O aluno estuda onde e quando desejar, num universo escolar disperso, existindo uma separação física entre professor e aluno. Surge a demanda por novas estratégias didáticas, que incluam as ferramentas de interação do processo ensino-aprendizagem. Assim, ocorre grande ênfase no conteúdo das mensagens trocadas entre os alunos e os docentes, havendo uma interação social ocorrida em ambientes virtuais. A separação entre professor e aluno com uma intermediação pedagógica múltipla centrada no processo ensino-aprendizagem intermediada de forma colaborativa, argumentativa, dialética e investigativa pode reduzir os níveis de reprovação e diminuir as deficiências que os alunos carregam no tocante a aprendizagem no ensino da matemática. Nesta intermediação pedagógica, o aluno é motivado a tornar-se mediador pedagógico ao lado de seu professor diante de todos os presentes. Diante desse panorama, refletimos sobre as possibilidades de ampliação do contato dos alunos com a matemática, garantindo qualidade e interesse, sem necessariamente exigir ampliação ou alteração de grade curricular. Procedimentos Metodológicos A Internet, vista como mola propulsora de uma revolução na comunicação, é responsável por mudanças sociais intensas (na economia, na política, na cultura, na educação etc.), que geram profundos impactos na formação do cidadão contemporâneo. O homem se rende à comunicação virtual. A utilização, cada vez mais intensa, dos recursos da tecnologia para a produção e a circulação de informação torna necessária a reflexão sobre esse tipo de comunicação e, mais especificamente, como ela chega 28 O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes Dissertar Avaliação por participação: As intervenções dos alunos no ambiente (perguntas e respostas, atividades colaborativas, entradas), também são separadas sob o perfil do aluno, permitindo uma rápida avaliação. Existem ferramentas específicas que permitem ao professor passar ensaios, exercícios e tarefas, com datas e horários limites para entrega. damente as atividades pedagógicas apresentadas aos estudantes. Para fiorentini e lorenzato (2009) a “observação in loco facilita a compreensão do significado” que os observados dão a realidade. A observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. (LÜDKE e ANDRÈ, 1986, p.26 apud FIORENTINI e loreNzAto, 2009, p.108) Avaliação somativa e formativa: A plataforma permite a criação de enquetes, questionários, com grande variedade de formatos. Essas avaliações podem ser submetidas aos alunos em datas específicas, possuindo tempo máximo para resposta. Os critérios de avaliação usados na disciplina são definidos pelo professor responsável do projeto, e podem ser constituídos de uma mescla de todos os tipos acima relacionados com coleta das notas de exercícios e provas realizadas, graus e aqueles concedidos pelas contagens de acesso e de participações, que podem ser coletados em uma única base de dados e utilizada conjuntamente para avaliar o aluno. As observações previstas nesta etapa ocorreram em uma aula que foi realizada com a utilização do objeto de aprendizagem e suas ferramentas como produto final dessa pesquisa. Essa observação foi estruturada e obteve como registro de pesquisa o número de participantes no ambiente virtual, bem como a inserção de dúvidas/ participação utilizando uma plataforma da Web 2.0 que atenderá o conhecimento. esse mecanismo de registro era apenas para coleta de dados da pesquisa, não sendo divulgadas as respostas dos participantes. Através da análise dos dados coletados, foi possível estudar como o ambiente multimídia sócio-interacionista favorece a aprendizagem significativa no apoio pedagógico. o Ambiente virtual de Aprendizagem baseado no moodle possui todas as ferramentas que os professores necessitam para construir o ambiente online. Inicialmente o tutor foi treinado extensamente na filosofia pedagógica e no uso eficiente, rápido e de qualidade dos recursos disponíveis no ambiente. Outras ferramentas, no entanto, permitem interações mútuas, como o caso das ferramentas fórum, wiki, diário, mensagens (e-mail), que permitem discussões assíncronas entre os participantes. Nestes casos, os participantes interferem nas interações uns dos outros, e a interação vai sendo construída, de forma gradativa durante o processo, sem previsibilidade e as mensagens são criadas e significadas a partir da interação. As questões iniciais postadas nos fóruns de discussão, ou os tópicos de discussão abertos nestas ferramentas de debate virtual desencadeiam a construção compartilhada do conhecimento, em situações de ensino-aprendizagem que superam em qualidade, a interação presencial. O Moodle no estudo de Matemática no CMRJ O Moodle é uma ferramenta CSCL (Computer Supported collaborative Learning) escrita em php (http://www.php.net) habilitada a promover aprendizado colaborativo na Internet. (mAttoS, 2008, p.2) A utilização do moodle pelo Setor curricular de matemática do cmrj no processo ensino-aprendizagem converge para o entendimento de que a incorporação de um novo recurso deve se desenvolver gradativamente e com qualidade. É certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, em um uso moderado da impressão. uma verdadeira integração da informática supõe o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o que não pode ser feito em alguns anos. (levy, 1997, p.8) Administração do ambiente, Coordenador de tutoria, Tutoria e o Aluno A pesquisa em questão teve a participação dos alunos do 1º Ano de ensino médio do colégio militar do rio de janeiro, através do Ambiente virtual de Aprendizagem moodle, com acessos semanais, monitorado e gerenciado pelo professor de tecnologia educacional, um dos autores deste projeto, assistido pelo coordenador de tutoria, também autor do projeto. o coor denador de tutoria é profissional da área de Matemática em fase de doutoramento, assim como o tutor do projeto, responsável pela motivação dos alunos, com principal finalidade de reduzir os níveis de reprovação no ensino da disciplina de matemática. Foi feito um acompanhamento minucioso e contínuo das atividades realizadas pelos alunos e junto ao tutor, adotar estratégias para o aumento da participação e envolvimento dos alunos na disciplina em estudo. o coordenador de tutoria esteve atento às demandas e reclamações dos alunos, principalmente relacionadas a problemas técnicos relacionados à utilização da plataforma, bem como os problemas envolvendo o cotidiano e relacionamento destes com o tutor. utilizou-se em quase a totalidade do curso a disponibilização de um canal de interação direto entre coordenador de tutoria e aluno, principalmente para resolução de problemas entre os alunos e tutor. Nesse propósito, mantendo uma postura investigativa, os docentes do Setor curricular de matemática do cmrj e os alunos do 1º ano do Ensino Médio que frequentam esse colégio têm utilizado o Moodle, de forma progressiva, como um recurso do processo de ensino-aprendizagem que visa aumentar a qualidade da interação com os conteúdos acadêmicos e o contato entre os professores e estudantes. Não centramos a observação numa atividade específica, mas como ferramenta da rotina acadêmica, ou seja, observamos a utilização dessa ferramenta como parte do nosso cotidiano e do nosso planejamento didático. ressaltamos, ainda, o nosso entendimento de que as atividades que serão relatadas aqui não podem ser classificadas como ensino a distância no seu senso mais geral. os envolvidos no curso não estão geograficamente distantes e mantêm uma rotina acadêmica tradicional de uma escola de ensino básico. O Moodle permite criar três formatos de cursos: social, semanal e modular. o curso social é baseado nos recursos de interação entre os participantes e não em um conteúdo estruturado. A plataforma Moodle tem um grande número de recursos que flexibilizam sobremaneira a implantação de diversas filosofias de avaliação dos alunos. Podemos realizar as avaliações do projeto nos seguintes aspectos: Material Didático os alunos receberam materiais didáticos especialmente elaborados para o projeto, como Notas de Aula por conteúdo na disciplina, que ora estava sendo ministrada no bimestre ou instrumentos e objetos específicos de uma disciplina. Avaliação por acessos: O Moodle fornece uma ferramenta denominada log de atividades, que permite colocar em gráfico os acessos dos participantes ao site, que ferramentas utilizaram, que módulos ou materiais ou atividades acessou, em que dia, em que hora, a partir de que computador, e por quanto tempo. 29 Dissertar O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes Relações de Conflito Em geral, a relação tutor-aluno foi muito cordial e amistosa, mas ocorreram casos de alunos que não se adaptaram ao sistema de ensino, pois havia uma mentalidade onde o tutor deveria ter uma postura tradicional de professor de ensino presencial. Em suma, de acordo com esquincalha (2009), o papel do tutor à distância no projeto, remeteu-se a: conhecer o material didático da disciplina em que atuar e o sistema de tutoria; prestar serviços de tutoria aos alunos no Ambiente virtual de Aprendizagem, sob a responsabilidade do professor-orientador do projeto em que estiver atuando; propor, em consonância com o professor-orientador, as atividades de avaliação da aprendizagem, bem como os critérios de correção; acompanhar as avaliações e discutir os resultados com o professor-orientador do projeto. o grupo de estudo contou com 20 alunos e acompanhado por um mediador pedagógico, designado como tutor, que é um aluno do 3˚período do curso de licenciatura em Matemática da universidade castelo branco. A primeira semana de trabalho junto ao tutor foi apresentar o projeto, a fim de que compreendesse em detalhes a proposta, e também, para que pudessem tirar suas dúvidas a respeito do uso da plataforma Moodle. Na segunda semana, foi proposto um fórum de discussão sobre a qualidade da comunicação e o exercício da tutoria como mediadora e incentivadora da aprendizagem individual e coletiva, a partir da disponibilização para leitura, de textos voltados à educação a distância. O objetivo da terceira semana foi dar formação ao tutor para confeccionar um plano de trabalho, com foco nos conteúdos bimestrais do Currículo Mínimo do 1˚ ano do Ensino Médio e, Notas de Aulas específicas. Com isso, foi apresentado um material didático produzido para o curso, além de vivenciar as eventuais dificuldades pelas quais os cursistas poderiam passar. Para gervai (2007) a mediação pedagógica, em termos gerais, é o processo de intervenção pedagógica de um elemento intermediário (o coordenador de tutoria com os tutores, e os tutores com os professores cursistas) em uma relação (com o curso, com a coordenação, com o material didático, com o ambiente). A relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. Análise de dados Na pesquisa em tela, a interpretação e análise de dados permitem conceitos importantes para serem analisados no projeto. Percebeu-se que houve uma significativa melhora nos graus dos alunos na disciplina de Matemática e que a grande dificuldade dos alunos está nos pré-requisitos que atendam a disciplina. Isto foi observado ao longo dos fóruns realizados, pois muitos alunos apresentavam dificuldades em uma simples resolução de equações do 1º grau. Para isso, houve reforço de alguns assuntos, nos fóruns temáticos, a fim de resgate de conhecimentos necessários para conhecer as definições envolvendo função do 1º grau, assunto este de predomínio no corrente ano de ensino no ensino médio. Segue abaixo um gráfico da significativa melhora dos alunos com notas abaixo de 5,0 no corrente ano, nos 1º e 2º bimestres dos quais 149 alunos, 16 alunos eram do ensino a distância dos 20 inscritos no presente curso dado, ou seja, houve uma recuperação de aprendizagem de 80%. Tabela 02 Comparativo de Alunos com nota Parcial (AP) com média abaixo de 5 Experiências de Ensino e Aprendizagem como Apoio do Moodle No cmrj o uso do moodle para o ensino de matemática atinge cerca de 300 alunos do ensino básico. Assim, diante da inquestionável preocupação em relação à ética e ao uso correto da internet, como política de segurança, exige-se dos estudantes um cadastramento em que sejam identificados pela turma a que pertencem. essa estratégia se mostra útil no controle e reconhecimento, por parte dos administradores da plataforma, das ações e identidades dos participantes cadastrados, sejam eles atuantes ou não. munidos de cadastramento e inscrição, os estudantes passam a ter acesso à plataforma educacional de qualquer computador com acesso à Internet. Nesta apresentação destacamos os resultados observados no percurso acadêmico das possibilidades de utilização desse recurso. Diante de estudantes no meio de sua formação de Ensino Médio, o objetivo específico da utilização da plataforma Moodle vai de encontro da demanda pela eficácia na relação tempo de dedicação/qualidade do estudo. Dentre as diferentes atividades realizadas pelos alunos do 1º ano do ensino médio em 2011, destacam-se a resolução de listas de exercícios em páginas de edição colaborativas (wiki) e testes on–line (tol). A prova do 2º bimestre 2011 foi realizada em sala de aula, mas foi oferecida aos alunos a oportunidade de conquistar uma pontuação extra para compor a nota. Para isso seria necessário que os alunos apresentassem no moodle, via wiki, soluções das sete questões da prova em uma lista de exercícios disponibilizada a partir da data de aplicação da prova. O prazo estipulado para conclusão da tarefa foi de dois dias. Tabela 1 Plano de Estudo 2011 Bimestres Atividades 1º 2º 3º 2012 4º 1º 2º 3º 4º Encaminhamento do projeto de pesquisa Revisão Bibliográfica Construção do Ambiente Aplicação do Pré-teste Aplicação do ambiente em aula Aplicação do Pós-teste Análise dos dados Publicação dos resultados 30 O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes Dissertar Considerações finais Como professores, somos responsáveis pela organização de experiências que possam oferecer melhores condições de aprendizagem para os alunos. Embora não seja fácil traçar a linha que marca a divisão entre a componente individual e a componente coletiva do processo de construção do conhecimento, acreditamos que não é possível ignorar o aspecto decisivo da segunda. Nesse sentido, acreditamos que experimentar os avanços tecnológicos que determinam as práticas de comunicação da sociedade contemporânea é fundamental para garantir o papel da escola de formação básica. Reafirmando nosso compromisso com a Educação Pública e de qualidade, esperamos ainda, com este relato, estimular a reflexão sobre a prática docente e apontar possibilidades de mudanças. Nesta pesquisa, as práticas de mediação pedagógica em um ambiente virtual se caracterizam como novidade à medida que os alunos envolvidos, gestor tecnológico, tutor e coordenador-pesquisador se inserissem nesta modalidade de educação, possuindo ou não algum conhecimento a seu respeito procurando. Assim, procuramos observar as práticas de mediação utilizadas por um grupo de 20 alunos voluntários, realizando intervenções por meio de instruções realizadas nos canais de comunicação entre coordenação de projeto, tutor e alunos. esta observação participante visou a redução das dificuldades em conceitos de pré-requisitos na disciplina, minimizando as falhas de aprendizagem, com a confecção de notas de aula e discussões sobre a mesma em forum temático. Neste ínterim, observou-se que os alunos intergiram na plataforma, com discussões na mesma e tiragem de dúvidas entre tutor e os próprios alunos, caracterizando uma mediação colaborativa e participativa. Diante do exposto, houve uma pequena melhora dos alunos que se habilitaram ao projeto, podendo se concluir que a modalidade de ensino praticada pode ser oferecida para regiões de difícil acesso a recuperação, bastando possuir apenas pessoal qualificado e disponível para o apoio pedagógico. Após esse prazo a colaboração na wiki não foi mais permitida e o gabarito oficial foi divulgado. Cada aluno poderia responder a, no máximo, uma pergunta. Caso alguma solução estivesse errada ou incompleta, outro aluno poderia apresentar uma complementação ou solução alternativa, porém não poderia alterar a resposta dada pelo outro aluno. Os alunos foram instruídos a utilizar cores diferentes para facilitar a identificação de suas soluções. Observou-se uma participação ativa na resolução da tarefa, principalmente pelos alunos com bom desempenho. Além de melhorar suas notas, puderam oferecer um auxílio aos alunos que não sabiam resolver as questões. O TOL–2011 foi aplicado às três turmas do 1º ano do ensino médio, totalizando 90 alunos avaliados. consistiu em uma prova objetiva de cinco questões com cinco opções cada. foi uma avaliação de caráter obrigatório e equivalente a um teste tradicional com escala de notas variando de 0,0 a 10,0 pontos e computada no cálculo da média do 2º bimestre 2011. Para tornar a avaliação obrigatória, o professor fez um levantamento de quantos alunos tinham acesso à internet banda larga ou discada. Aqueles que não tinham acesso poderiam utilizar o laboratório de informática do colégio para realizar a atividade. Assim todos tiveram oportunidade de realizar o teste on–line. o desempenho dos alunos está apresentado em marinho (2008). Discussão de resultados Os resultados da pesquisa são apresentados no gráfico a seguir, e mostram que o aluno tutor se preocupou em gerenciar os fóruns de discussão, com resolução de tarefas zelando pela organização das discussões e não permitindo conversas que não versassem sobre os temas propostos. Percebemos também que, de maneira geral, o tutor se preocupou em promover a reflexão dos cursistas, postando mensagens que os fizessem repensar nas dificuldades na disciplina e identificar as falhas no conceito cognitivo da disciplina (pré-requisitos). Assim, nessa mesma perspectiva fizemos vínculos de forma direta ao ambiente computacional propondo ambientes de aprendizagens cooperativos de forma a reduzir a deficiência de aprendizagem nesta disciplina. Assim, em nossa prática, temos consciência de que estamos dando os primeiros passos na direção das possibilidades dessa ferramenta no processo de ensino-aprendizagem de Matemática no Ensino Básico. Muito há que se explorar. Em nossos cursos on-line síncronos ou assíncronos privilegiamos a comunicação entre alunos e alunos/professores; o desenvolvimento colaborativo de projetos coletivos, armazenamento e a organização de dados acadêmicos. Há necessidade de estratégias diferenciadas de ensino-aprendizagem para cada série ou segmento da educação básica. Priorizamos atenção às ações em que podemos garantir gerência consciente e análise criteriosa em respeito às especificidades da etapa acadêmica. Referências borbA, m. c. A pesquisa qualitativa em educação matemática. Anais da 27ª reunião anual da Anped. Caxambu: 2004. ESQUINCALHA, A. C. Guia do Tutor dos Cursos de Pós-Graduação do LANTE/UFF. Niterói: LANTE/UFF, 2009 fIoreNtINI, d.; gArNIcA, A. v. m.; bIcudo, m. A. v. Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. fiorentini e lorenzato (2009, p.65) LÜDKE e ANDRÈ, 1986, p.26 apud FIORENTINI e LORENZATO, 2009, p.108 gervAI, S. m. S. A Mediação Pedagógica em contextos de aprendizagem online. São Paulo: Bertalanffy, v.L, 2007. levy, P. As Tecnologias da Inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. rio de janeiro: editora 34, 1997. mAttoS, f. r. P .; guImArÃeS, l. c.; bArbAStefANo, r. g.; devolder, r.g. & dIAS, u. mathchat: um módulo de chat matemático integrado ao moodle. In: IV Colóquio de História e Tecnologia no Ensino de Matemática, 2008, Rio de Janeiro. IV Colóquio de História e Tecnologia no Ensino de Matemática. Rio de Janeiro: LIMC/UFRJ, 2008. MARINHO, F.C.V.; VIEIRA, E. R.; MEIRELLES, R. M. C. & CUNHA, J. l. Avaliações on–line: quebrando paradigmas. In: VI Seminário de Pesquisa em Educação Matemática do Estado do Rio de Janeiro. rio de janeiro, 2008. REGO, T. C. Vygotsky: Uma perspectiva Histórico-Cultural da Educação. rio de janeiro: vozes, 1999. 138 p. SANtoS, A. r. d. Metodologia Científica a construção do conhecimento. rio de janeiro: dP&A editora, 2004. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: cortez, 2011. Gráfico 01 Resultado do 2º Bimestre dos alunos do 1º Ano – Ensino Médio Artigo enviado em 10/11/2014, aceito em 16/11/2014 31 Dissertar Dissertar Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Size of perception about quality in services in high level teaching institutes Dimensiones de la percepcion de la calidad de servicios en una institucion de educacion superior O presente estudo teve como objetivo identificar, a partir de dois modelos teóricos sobre qualidade em serviço, aquele que melhor representasse a realidade dos serviços prestados por uma Instituição de Ensino Superior. Para tanto foi realizado uma pesquisa de campo com uma amostra de 100 estudantes desta instituição, a partir da identificação das possíveis variáveis envolvidas no construto da percepção de qualidade, resultante da análise de referencial teórico. Foi realizada Análise Fatorial para se determinar as dimensões e os possíveis variáveis presentes na composição deste construto. A partir dos resultados obtidos pela análise foi possível concluir que o modelo de Gronroos (1995), com duas dimensões apresenta uma condição mais adequada à realidade desta Instituição de Ensino Superior. This study aimed to identify, from two theoretical models on quality service which best represent the reality of the services provided by an institution of higher education. A research was conducted with a sample of 100 students of this institution, to identify possible variables involved in the perception of quality construction, resulting from the analysis of the theoretical framework.Factor analysis was performed to determine the dimensions and possible variables present in the composition of this construct. From the results obtained by the analysis it was concluded that the model Gronroos (1995), with two dimensions presents a better condition to the reality of this institution of higher education. Palavras-chave: Qualidade em Serviços, Modelos de qualidade, Dimensões de Qualidade. Este estudio tuvo como objetivo identificar, a partir de dos modelos teóricos sobre calidad en servicio, al que mejor representa la realidad de los servicios prestados por una institución de educación superior. Se realizó un estudio de campo con una muestra de 100 estudiantes de esta institución, a partir de la identificación de las posibles variables involucradas en la percepción de calidad de construcción, resultantes del análisis del marco teórico. Se realizó un análisis Factor para determinar las dimensiones y las posibles variables en la composición de esta construcción. A partir de los resultados obtenidos por el análisis se concluyó que el modelo de Grönroos (1995), con dos dimensiones tiene una condición más adecuada para la realidad de esta institución de educación superior. estagnação econômica dos países desenvolvidos, tanto na América do Norte, quanto na europa. este acirramento competitivo tem promovido o que em economia é denominado “especialização internacional do trabalho”, ou seja, os países envolvidos são levados a se dedicarem aquelas atividades econômicas em que possuem maiores vantagens competitivas. já há algumas décadas o nível das atividades industriais, nos países desenvolvidos, vem apresentando taxas de crescimento negativas, substituídas pela força de trabalho barata dos países asiáticos. Até países como o Brasil tiveram que abrir mão de parte de sua indústria pela falta de condição econômica de competir com chineses, coreanos, etc. Neste contexto, o setor de serviço tem assumido um papel fundamental na manutenção ou no crescimento da atividade econômica na maior parte destes países. A expansão do setor de serviços na composição da atividade econômica tem promovido um maior interesse por parte dos pesquisadores, nas pesquisas relacionadas às suas particularidades, destacando neste trabalho, pesquisas relacionadas com a “qualidade em Serviços”. essa foi a motivação para a definição de um modelo teórico mais adequado que permitisse a identificação de dimensões e atributos de qualidade de serviços aplicados à realidade das Instituições Particulares de Ensino Superior. Para tanto, foi realizado um estudo quantitativo, confrontando os modelos de Gronroos (1995) Autor: Dimas Ferreira Vidal Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial pela UNESA, Especialista em Administração de Marketing pela UCAM, Economista pela UFRRJ e Administrador pela UNESA. Professor e Pesquisador da Universidade Estácio de Sá – UNESA. Brasil. E-mail: [email protected]. introdução A competição econômica mundial tem se acirrado, particularmente na última década, fenômeno este genericamente denominado “Globalização”. Dentre os diversos fatores que vem contribuindo para este fenômeno, pode-se destacar a diminuição das barreiras nacionais ao comércio exterior, graças particularmente ao papel da organização mundial de comércio, organismo internacional responsável por regulamentar as relações comerciais entre as nações livres, o fortalecimento, nas últimas décadas, dos quatro grandes países emergentes no panorama econômico internacional (Brasil, Rússia, China e Índia), acentuado por uma 32 Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal e o modelo de Parasuraman,zeithaml, berry (1991) conhecido como Servqual, com este propósito. Dissertar truídos em um processo cultural. zethaml e bitner (2000) apud rocha e oliveira (2003) destacam que a qualidade percebida pelo consumidor é resultante de seu julgamento relacionado ao seu conceito de excelência. Diferente da qualidade objetiva, fatores como atitude, bem estar e performance é que determinarão seu julgamento. Grönroos (1990) e Fornell (1992) defendem que o importante é como a qualidade é percebida pelo cliente. Diante disto, há que se fazer uma distinção entre a qualidade dos serviços e a satisfação dos clientes. É o que afirmam Lovelock e Wirtz(2006) e Bateson (2003). Segundo esses autores a qualidade do serviço deriva de avaliações cognitivas de longo prazo por parte dos clientes, acerca da entrega do serviço.o conceito de satisfação está relacionado com o resultado obtido naquele serviço específico. A satisfação do consumidor é uma reação de curta duração ao desempenho específico de um serviço (LOVELOCK E WRIGHT, 2003). Referencial teórico Serviços. Conceitos e definições Na nova ótica do mercado, na qual a competição deixou de ser local e passou a ser global, a concorrência intensa levou as empresas a conquistarem os clientes (grÖNrooS, 1993), saindo de uma situação de passividade em relação a eles, em um outrora mercado caracterizado pela grande demanda e pouca oferta de produtos e serviços. Para atrair os clientes para si as organizações objetivam diferenciar-se em relação aos concorrentes. No caso de prestação de serviços, a qualidade é um aspecto recorrente na literatura como uma competência essencial no desenvolvimento de vantagem competitiva (grÖNrooS, 1995, forNell, 1992, e PARASURAMAN; ZEITHMAL; BERRY, 1991,). zeithaml e bitner (2003) apud rocha e oliveira (2003) definem serviços como atos e processos destinados à produção de algo intangível, necessário ao consumidor, ou seja, uma atividade econômica cujo resultado, em sua maioria, não apresenta um produto físico. Esta mesma definição já havia sido destacada por Kotler e Armstrong (2000) e por Gronroos (1995). Para este último, diferente de produtos que possuem características e atributos mais tangíveis, os serviços são mais percebidos pelos processos que os produzem. Gronroos (1995) definiu ainda, quatro características para o serviço, características estas que contribuíram para a formulação de seu modelo de qualidade: • Intangibilidade – O resultado final de um serviço, o qual poderia ser chamado de produto do serviço, não apresentam, em sua maioria, características ou atributos muito tangíveis. quais seriam os atributos de um atendimento médico a uma consulta, ou de uma sessão de cinema, ou ainda de uma formação em um curso superior em administração, que pudessem servir de parâmetros para uma análise de conformidade. O Modelo de Qualidade de Gronroos Gronroos (1995) fornece um modelo genérico de qualidade em serviço a partir de duas dimensões: a qualidade técnica e a qualidade funcional. A qualidade técnica está ligada ao produto do serviço e está relacionada á capacidade do consumidor perceber os atributos a partir da entrega do resultado do serviço. Segundo este autor, esta dimensão pode ser avaliada de forma mais objetiva pelo consumidor a partir de uma série de características esperadas pelo serviço ofertado. Ainda segundo Gronroos (1995), a qualidade funcional está ligada ao processo de produção do serviço, ao ambiente, ao atendimento e ao conforto ou desconforto que o consumidor experimenta. Ainda segundo este autor, dado suas características subjetivas, esta dimensão é geralmente avaliada a partir de suas sensações e expectativas ao longo do processo. Nafigura 1 é apresentado o processo da qualidade per cebida definidas por Verruck et al.(2008). Figura 1 Processo da construção da qualidade percebida • Inseparabilidade – Na maioria das vezes o produto de um serviço é consumido durante seu processo de produção, ou seja, a produção e o consumo não estão separados, e em boa parte das vezes com a participação ativa do proprio consumidor, assumindo este, as vezes um papel importante no processo, como é o caso do serviço prestado por uma Instituição de curso Superior. • Variabilidade – Em função da característica da inseparabilidade, é bem mais difícil padronizar os processos de produção do serviço, visto que podem, em cada execução do processo, estarem presentes variáveis exógenas. • Perecibilidade – o produto de serviço, em sua maioria, não pode ser estocado ou armazenado, visto que seu consumo é inseparável de sua produção. Fonte: Adaptado por Verrucket al. (2008) a partir de Gronross (1995) As duas dimensões do modelo, qualidade funcional e a qualidade técnica serão resultantes do processo de comparação entre a qualidade esperada gerada pelas expectativas construídas através da propaganda e publicidade, da promoção de vendas, da propaganda boca a boca, pelos mecanismos de comparação com as experiências do consumidor do serviço, e o serviço vivenciado, tanto sob o aspecto do processo quanto do resultado do serviço. Qualidade em Serviço gronroos (1995) destaca que a qualidade de serviço é o resultado da avaliação entre as expectativas do consumidor frente ao serviço prestado. A mesma visão é compartilhada por Parasuraman, zeithaml, e berry (2003). estes autores consideram que a qualidade percebida por um consumidor de um serviço é definida pela comparação com suas expectativas ao serviço esperado. Estas expectativas poderiam ser construídas pelas experiências deste consumidor, em suas relações de consumo, pelas perspectivas construídas pela propaganda e publicidade do prestador de serviço, ou ainda por padrões socialmente cons- Modelo de qualidade SERVCAL Parasuraman, zeithaml, e berry (1991) desenvolveram um modelo genérico de qualidade de serviço denominado ServcAl. Este modelo, constituído de cinco dimensões, buscava de forma mais clara definir um conjunto de atributos ou características, 33 Dissertar Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal ligadas a estas dimensões, que pudessem servir de parâmetro na avaliação da qualidade percebida a partir das expectativas do consumidor de serviço. As cinco dimensões são: • Confiabilidade – Toda e qualquer relação de consumo envolve algum nível de risco de se não obter aquilo que se espera sobre o produto ou serviço. o consumidor, ao optar por uma marca ou empresa nesta relação de consumo, está em boa parte das vezes, buscando uma relação de confiabilidade. Esta dimensão representa a busca da garantia de que se seja entregue aquilo que efetivamente ele buscava. • Tangibilidade – Os autores destacam a importância das questões tangíveis, tais como aspecto físico das instalações, condições climáticas dos ambientes, equipamentos e infra-estrutura operacional, pessoal qualificados, visto que sobre este aspecto, fica mais fácil, para o consumidor identificar atributos da qualidade esperada no processo da prestação de serviço. • Responsabilidade e presteza – Está relacionado à visão que o consumidor tem do papel dos funcionários da empresa prestadora de serviço, ou seja, o quanto estes funcionários se mostram responsáveis pela qualidade, presteza e conforto do cliente no processo. • Segurança – Similar à dimensão de confiabilidade, no entanto, difere deste por estar relacionado com os riscos envolvidos em sua participação ao longo do processo. Na busca por segurança, aspectos ligados às questões financeiras, ao ambiente, às pessoas e as questões legais e morais são considerados importantes, pelo consumidor, em sua relação de consumo de serviço. • Empatia – Está relacionada ao atendimento dos funcionários da prestadora de serviço ao cliente, à atenção e à boa vontade destes funcionários no atendimento às necessidades deste cliente. Aparentemente, os dois modelos, de gronroos (1995) e de Parasuraman, zeithaml, e berry (1991), seguem os mesmos princípios, sendo que o modelo ServcAl busca ser mais específicos na definição das características e atributos que servem de base para medir a qualidade percebida de serviços. Nesta pesquisa, estes dois modelos serão testados para determinar aquele que se mostrar mais adequados, como um modelo de qualidade percebida dos serviços de uma Instituição de ensino Superior. Metodologia O objetivo principal da presente pesquisa foi encontrar um modelo teórico que permitisse a identificação das dimensões e atributos de qualidade de serviços aplicados à realidade da Instituição de Ensino Superior em estudo. Para tanto, foi realizado um pesquisa confrontando o modelo de Gronroos (1995) composto por duas dimensões e o modelo ServcAl de Parasuraman, zeithaml, berry (1991) composto de cinco dimensões. de caráter descritivo, a presente pesquisa,tem abordagem quantitativa. teve como meios de investigação uma pesquisa bibliográfica para a formulação dos fundamentos teóricos que deram a base para a identificação das variáveis que fizeram parte de uma pesquisa de campo. Para tanto, foi utilizado um questionário estruturado, fazendo uso de uma escala Likert, composto por vinte sete questões, cada uma delas relacionada a uma das variáveis definidas, resultante da combinação dos dois modelos do estudo (GIL, 1999, COOPER; SCHINDLER, 2001). Portanto, a estratégia metodológica consistiu em identificar variáveis que pudessem estar relacionadas às dimensões dos dois modelos e fazer uso de Análise Fatorial para a identificação e possível confirmação, das dimensões de variabilidade presentes. Ao realizar o agrupamento em fatores ou dimensões, a Análise Fatorial faz o agrupando de variáveis que possuem correlação entre si, estabelecendo algum nível de dependência entre elas, e separando em grupos aquelas que não a possuem. Neste processo, a Análise fatorial também busca destacar aquelas variáveis que tem um poder muito baixo de explicação pela dimensão relacionada, através de uma correlação muito baixa. esta técnica estatística permite, não só determinar as dimensões envolvidas (variáveis latentes) no estudo, mas também é capaz de estabelecer o nível de importância que cada variável possui na composição desta dimensão, bem como afastar aquelas com baixo poder de influência da mesma (CORRAR et al., 2011). fitzsimmons e fitzsimmons (2005), a partir do modelo de Parasuraman, zeithaml, e berry (1991) desenvolveram um quadro representando o processo da construção da qualidade percebida (figura 2). A partir das cinco dimensões de qualidade, e em função experiências, necessidades e informação, o consumidor faz uma comparação entre o serviço esperado e o serviço percebido. Figura 2 Processo de construção da qualidade percebida pleo modelo SERVCAL Coleta, procedimentos da pesquisa e tratamento dos dados Os questionários foram entregues diretamente a 100 (cem) alunos dos cursos de Administração, Recursos Humanos e Sistema da Informação de uma Instituição de Ensino Superior localizada no estado do rio de janeiro. foi realizada, para o grupo pesquisado, uma apresentação dos objetivos da pesquisa e respondidas algumas dúvidas que se apresentaram. do total de respondentes, foi descartado somente um questionário que apresentava questões não respondidas. A partir da revisão da literatura e dos objetivos da presente pesquisa, foram identificadas 27 (vinte sete) variáveis relacionadas às dimensões dos dois modelos envolvidos (groNrooS 1995, PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 1991). Atr01 – Programa do curso mantido pela universidade; ATR02 – Domínio do conteúdo pelos professores; ATR03 – Aulas interessantes ministradas pelos professores; Atr04 – domínios adquiridos pelo aluno; ATR05– Formação acadêmica do professor; Fonte: Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005, p. 147) Se o cliente tiver suas expectativas excedidas, ou seja, a qualidade percebida for maior que suas expectativas, ele classificará o serviço com muita qualidade. Se suas expectativas forem atendidas, ou seja, a qualidade percebida for exatamente igual as suas expectativas, ele classificará o serviço como de qualidade. E por último, se suas expectativas não forem atingidas, ou seja, se a qualidade percebida for inferior à suas expectativas, ele irá considerar a qualidade inaceitável. 34 Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal ATR06 – Recursos pedagógicos disponibilizados pelo professor; Atr07 – Processo de avaliação; Atr08 – tecnologia de disciplinas à distância; ATR09 – Cumprimento de programa pelo professor; Atr10 – consideração dos interesses do aluno por parte da instituição; Atr11 – disponibilidade do coordenador; Atr1 2– reputação da instituição vista pelo aluno; Atr1 3– As instalações do campus; Atr14 – A imagem da universidade; ATR15 – Compreensão do professor pelas questões do aluno; Atr1 6– disposição dos gestores em resolver as questões dos alunos; ATR17 – Habilidade do coordenador em resolver as questões dos alunos; Atr18 – Preocupação da gestão com a qualidade; Atr1 9– calendário acadêmico; Atr20 – compreensão do coordenador às questões do aluno; ATR21 – Atendimento do funcionário; Atr22 – Atendimento da secretaria; ATR23 – Horário de aula; ATR24– Conforto em sala de aula; ATR25 – Sistema de informação acadêmica; Atr26 – equipamentos de apoio acadêmico; Atr27 – critérios adotados para estabelecer preços. Para a realização da análise fatorial foram selecionados os testes e recursos abaixo relacionados, fazendo uso do software SPSS 17 (corrAr et al., 2011). a) Determinante o determinante necessita ser superior a 0,00001. Se o determinante for zero, não há solução analítica, pois ele define se determinada matriz quadrada terá inversa. b) Testes KMO – Kaiser-Meier-Olkin O teste KMO mede a adequação da amostra à aplicação da Análise fatorial. o resultado obtido deve ser superior a 0,70 (70%), sendo inadequada quando inferior a 0,50 (50%). O KMO testa se há variáveis suficientes em cada fator. c) Teste de esfericidade de Bartlett (Bartlett’s test of sphericity) o teste de barttlett´s verifica se a matriz de correlação é uma matriz identidade. o objetivo deste teste é também verificar a adequação da amostra à aplicação da Análise fatorial. Para que seja possível a aplicação desta técnica, é recomendável que o valor de significância obtido não ultrapasse a 0,05 (0,5%). d) Comunalidade Dissertar A comunalidade é a proporção da variância de uma variável observada que é explicada pelos fatores extraídos. As variáveis com comunalidades menores do que 0,50 (50%) não exibem explicação suficiente. e) Extração de Fatores com autovalor (Eigen values) maior que 1 (um) Como requisito para a extração de fatores, será utilizado como critério, os fatores que tiverem autovalor maior que 1. f) Método Principal Axis Factoring Por se tratar de Análise fatorial, será utilizado o método de extração denominado Principal Axis Factoring. g) Método de rotação Varimax O método de rotação da matriz será o Varimax. h) Ordenado pelo maior valor e supressão de valores absolutos menores que 30%. Apresentação dos resultados da pesquisa A partir da coleta dos dados, os mesmos foram inseridos no SPSS e processados com o recurso de “fator Analysis” desta ferramenta. Os resultados e procedimentos são apresentados abaixo. Na figura 1 são apresentados os testes KMO - KaiserMeier-Olkin, e de esfericidade de Bartlett´s, cuja finalidade, para os dois testes, é determinar a adequação da amostra à técnica de Análise fatorial. São apresentados, também, os valores de comunalidade, cujo objetivo é apresentar a proporção de cada variável observada que é explicada pelos fatores extraídos. Figura 3 Testes de KMO e Bartlett´s Fonte: Dados obtidos do SPSS 17. 35 Dissertar Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal Os dados passaram pelo teste de KMO, pois foi obtido um valor 0,828 de KMO, acima, portanto dos 0,70 necessários para este teste. Os dados também passaram pelo teste de esfericidade de Bartlett´s, pois o teste não ultrapassou os 0,05 de significância, mostrando que, em ambos os casos, existe uma condição adequada para a aplicação da Análise fatorial. Com relação a Cumunalidade, verificou-se dez variáveis com valores abaixo de 50% (cinqüenta) de comunalidade. Isto nos sugere que algumas das variáveis observadas não apresentam uma representatividade adequada (corrAr et al., 2011). O passo seguinte foi realizar a extração dos fatores através do método de Análise Fatorial e determinar a matriz de fatores rotacionada pelo método Varimax. Na figura 4 e 5 são apresentados os dados relacionados a essas suas ações. O resultado da extração apresenta 7 (sete) fatores com autovalor maior que 1 (um). É importante verificar que os sete fatores apresentam aproximadamente 64% (sessenta e quatro por cento) da variância explicada, um valor consideravelmente alto. O resultado da matriz de fatores rotacionada pelo método Varimax apresentou diversas variáveis que possuem autovalores maiores que 30% (trinta por cento) em mais de um fator. Este fato demonstra que estas variáveis possuem uma correlação significativa com mais de uma dimensão. Neste caso, o procedimento metodológico consiste em ir retirando, um a um, os fatores da nossa análise, até que se obtenha variáveis que efetivamente tenham correlação alta somente com um fator (CORRAR et al., 2011). Neste processo chegamos aos resultados apresentados nas figuras 5 e 6 com somente dois fatores (dimensões). Figura 5 Dados de extração com dois fatores Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 Figura 6 Matriz rotacionada com autovalores de cada variável Figura 5 Matriz de Fatores Rotacionada Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 A partir destes resultados, pode-se verificar que ainda há 10 (dez) variáveis que possuem autovalor maior que 30% (trinta por cento) nos dois fatores obtidos. Neste caso, o proce- Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 36 Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal Dissertar Figura 8 Total de variância explicada pelos fatores dimento consiste em retirá-los do estudo e realizar uma nova análise (corrAr et al., 2011). foram retiradas do estudo as seguintes variáveis: ATR17 – Habilidade do coordenador em resolver as questões dos alunos; Art20 – compreensão do coordenador às questões do aluno; Atr11 – disponibilidade do coordenador; Atr3 – aulas interessantes ministradas pelo professor; ATR27 – Critérios adotados para estabelecer preços; Atr10 – consideração dos interesses do aluno por parte da instituição; Atr18 – Preocupação da gestão com a qualidade; Atr4 – domínio adquirido pelo aluno; Atr13 – Instalações do campus; Atr8 – tecnologia de disciplina a distância. Ao realizar novamente da análise, a variável Atr14 – A imagem da universidade perante o aluno, e Atr2 – domínio do conteúdo pelo professor, também apresentaram autovalor maior que 30% (trinta por cento) nos dois fatores. Portanto também foram retirados. Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 Figura 9 Resultados da análise final Figura 7 Matriz rotacionada com a retirada de variáveis Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 Figura 10 Resultado da matriz rotacionada Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 Resultados finais Nas figuras 8, 9 e 10 são apresentados os resultados da análise final pelo SPSS. O total de variância explicada pelos fatores obtidos foi de 33,78%, valor este que pode ser considerado baixo, levantando a hipótese da existência de outras variáveis importantes que não fizeram parte do estudo. Verifica-se, também, que nesta última etapa da análise, algumas das variáveis observadas possuem comunalidades abaixo de 0,50 (50%). Neste caso, os dados obtidos sugerem que estas variáveis não possuem um nível de explicação suficiente, indicando a possível necessidade de trocá-las por outras variáveis com maior pode de explicação (CORRAR et al., 2011) . A tabela da matriz rotacionada, apresentada na figura 10, indicam as variáveis que possuem os maiores autovalores em cada uma das dimensões encontradas. Fonte: Dados obtidos do SPSS 17 37 Dissertar Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior Dimas Ferreira Vidal As seguintes variáveis estão presente no fator 1 (um): Atr22 – Atendimento da secretaria – Autovalor: 0,646; Atr16 – disponibilidade dos gestores em resolver as questões dos alunos - Autovalor: 0,641 ; ATR21 – Atendimento do funcionário - Autovalor: 0,625; ATR23 – Horários das aulas - Autovalor: 0,511; ATR25 – Sistema de Informação Acadêmica - Autovalor: 0,501; ATR15 – Compreensão do professor pelas questões do aluno - Autovalor: 0,499; Atr1 – Programa do curso mantido pela universidade - Autovalor: 0,409; ATR24 – Conforto em sala de aula - Autovalor: 0,321. Para o fator 2 (dois), foram observadas as seguintes variáveis: Atr6 – recursos pedagógicos disponibilizados pelo professor - Autovalor: 0,838; ATR7 – Processo de avaliação utilizado pelo professor - Autovalor: 0,544; Atr12 – reputação da instituição vista pelo aluno Autovalor: 0,527; Atr19 – calendário acadêmico - Autovalor: 0,498; ATR5 – Formação acadêmica do professor - Autovalor: 0,424. era esperada, visto que, ao contrário da maioria dos serviços, os clientes de uma Instituição de ensino Superior mantém uma relação de consumo do mesmo serviço ao longo de vários anos, evidenciando a importância de atributos de qualidade relacionados à sua participação no processo. os resultados obtidos devem ser vistos com alguma ressalva, visto que várias variáveis obtiveram uma cumunalidade inferior a 50%, a pesar de o teste de KMO indicar um alto poder de explicação entre os fatores identificados e as variáveis envolvidas. Referências Bibliográficas BATESON, John E. G., HOFFMAN, K. Douglas. Marketing de serviços. Porto Alegre: Bookman, 2003. COOPER, Donald, SCHINDLER, Pamela. Método de pesquisa em Administração. 7ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. CORRAR, Luiz J., PAULO, Edilson, DIAS FILHO, José M. Análise Multivariada para os Cursos de Administração, Ciências Contábeis e Economia. São Paulo: Atlas, 2011. fItzSImmoNS, james A., fItzSImmoNS, mona j. Administração de serviços. 4ª ed. São Paulo: Bookman, 2005. forNell, claes. A national customer satisfaction barometer: the Swedish experience. Journal of Marketing, v. 56, n. 1, p. 6-21, 1992. gIl, Antônio c. Métodos e Técnicas em Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. grÖNrooS, christian. Marketing: gerenciamento e serviços. rio de janeiro: campus, 1995. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Introdução ao marketing.4ª ed. rio de janeiro: ltc, 2000. LOVELOCK, Christopher, WIRTZ, Jochen. Marketing de serviços: pessoas, tecnologia e resultados.5ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006. LOVELOCK, Christopher, WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão.São Paulo: Saraiva, 2003. PARASURAMAN, A..; ZEITHAML, V. A.; BERRY, L. L. Refinement and reassessment of the SERVQUAL Scale. Journal of Retailing, v. 67, n. 4, winter, 1991. ROCHA, Vítor Andrade G. A.; OLIVEIRA, Andrea da Silva. Avaliando a Qualidade de Serviço: Aplicação da Escala SERVQUAL numa Grande Instituição Bancária. enanpad, Anais..., 2003. VERRUCK, Fábio; LAZZARI, Fernanda; BAMPI, Rodrigo Eduardo, mueller, Antony Peter. Atributos e Dimensões da Qualidade em Serviços: Um Estudo Aplicado em uma Empresa de Transporte Urbano. rio de janeiro, enanpad, Anais..., 2008. ZEITHAML , V. & BITNER, M.J.Marketing de Serviços, Porto Alegre: Bookman, 2003. Considerações finais com relação aos resultados obtidos pela Análise fatorial, pode-se concluir que, pelo menos em parte, o objetivo principal foi atendido, pois foi possível identificar duas dimensões e treze variáveis presentes na composição da percepção de qualidade de serviço de Instituições de ensino Superior em estudo. Pode-se concluir também que o modelo de gronroos (1995) é, aparentemente, é o modelo mais próximo da realidade da Instituição de ensino Superior pesquisada. Ao analisar os agrupamentos formados, o conjunto de variáveis agrupadas no fator 1, estas representariam a dimensão funcional de seu modelo, e as variáveis agrupadas no fator 2 representariam a Dimensão Técnica. Ainda segundo os resultados, a Dimensão funcional, dado o número maior de variáveis presentes, indica um grau maior de importância desta dimensão na percepção de qualidade por parte de seu cliente, enquanto a variável que representa o papel do professor e de seu conjunto de recursos pedagógicos (dimensão técnica) como a variável isolada mais importante na sua percepção de qualidade de Instituições de ensino Superior. Neste contexto, pode-se afirmar que os processos envolvidos na produção do serviço prestado pela Instituição de ensino Superior, representam, para os alunos desta instituição, os aspectos mais importantes na definição dos atributos responsáveis pela construção de sua percepção de qualidade. esta constatação já Artigo enviado em 27/11/2014, aceito em 12/12/2014 38 Dissertar Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Analisis de modelos y practicas para el desarrollo regional: el caso de la comunidad de Palmeiras, Mimoso do Sul, estado de Espiritu Santo, Brasil Analysis of models and practices for regional development: the example of Palmeiras community, Mimoso do Sul, state os Espirito Santo, Brazil Este artigo consiste analisar os modelos teóricos sobre desenvolvimento local, comparando-os com as práticas de um caso estudado em comunidade rural. Objetiva analisar a eficácia dos resultados obtidos pelo associativismo como apoio ao desenvolvimento econômico regional. A análise associa conceitos de Desenvolvimento Local, Associativismo e Arranjos Produtivos Locais. É uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, incluindo revisão bibliográfica e pesquisa de campo na comunidade rural de Palmeiras, em Mimoso do Sul, município localizado no sul do Estado do Espírito Santo, Brasil. Os requisitos e suas principais condições para o desenvolvimento regional sustentável são marcadamente caracterizados: estabelecimento de governança, aquisição de força social e plano concreto de ação. This article consists in analyzing the theoretical models about local development, comparing them with the practices of a case studying a rural community. It aims to analyze the effectiveness of the results obtained by the associations as support for regional economic development. The analysis combines concepts of Local Development, Associations and Local Productive Arrangements. It is an exploratory research of qualitative nature, including bibliographical review and field researching the rural community of Palmeiras in Mimoso do Sul, a municipality located in the southern state of Espírito Santo, Brazil. The requirements and its main conditions for sustainable regional development are markedly characterized: establishment of governance, acquisition of social power and concrete plan of action. Palavras-chave: Desenvolvimento regional, Sustentabilidade, Arranjos Produtivos Locais. Este artículo consiste en el análisis de los modelos teóricos sobre el desarrollo local, comparándolos con las prácticas de un estudio de caso en una comunidad rural. Su objetivo es analizar la eficacia de los resultados obtenidos por las asociaciones como apoyo para el desarrollo económico regional. El análisis combina los conceptos de Desarrollo Local, Asociaciones y Arreglos Productivos Locales. Se trata de una investigación exploratoria de carácter cualitativo, incluyendo revisión bibliográfica y tr abajo de campo en la comunidad rural de Palmeiras en Mimoso do Sul, un municipio situado en el sur del estado de Espírito Santo, Brasil. Los requisitos y sus principales condiciones para el desarrollo regional sostenible se caracterizan notablemente: el establecimiento de la gobernabilidad, la adquisición de poder social y un plan de acción concreto. Email: [email protected] Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas Coordena o Latec-UFF (Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente), Vice Coordenador do Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão do Departamento de Engenharia de Produção, UFF. Coordenador do Doutorado em Sistemas de Gestão Sustentáveis (2013). Coordenador do Convênio entre UFF e Universidade Politécnica de Madrid. Professor do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção/UFF. Email: [email protected] Autores: Laerte Ferreira Serpa Filho Professor da faculdade de administração da Universidade Estácio de Sá. Professor da faculdade de Administração da Universidade Gama Filho, Professor da Facultec, Campos, nas áreas de Introdução à Administração, à Economia, Teoria Geral da Administração. Gestão de Pessoas, e Marketing. Professor convidado da ESANFF/FGV Campos. Email: [email protected] Sergio Luiz Braga França Doutor em Engenharia Civil (UFF), ênfase em Gestão, Produção, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável. Graduado em Engenharia Civil (UFF). Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho (UFF). Auditor Líder em Sistema de Gestão Ambiental (BVQI). Avaliador líder do Prêmio Qualidade Rio (PQRio). Professor Adjunto II do Departamento de Engenharia Civil (UFF). Email: sfranç[email protected] Marcelo Jasmim Meiriño Professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF); Professor credenciado no Programa de Pós Graduação em Sistemas de Gestão (LATEC/UFF); Doutor em Engenharia Civil (UFF), ênfase em Gestão, Produção, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável. Arquiteto e Urbanista (UFRJ); Mestre em Engenharia Civil (UFF); Engenheiro de Segurança do Trabalho (UFF). 39 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França Delimitação da Pesquisa A pesquisa de campo foi realizada durante o período os anos de 2009, 2010, 2011 e 2012. O caso estudado foi a AMOP – Associação de moradores da comunidade de Palmeiras, na cidade mimoso do Sul, estado do espírito Santo, brasil. introdução A dimensão local tem adquirido uma importância cada vez maior no processo de desenvolvimento econômico na medida em que há uma clara percepção de que é nela que está embutida a capacidade de se mobilizar as vantagens comparativas, cuja viabilidade depende não só da geração de novos conhecimentos, como também do aprendizado, o qual se constitui num elemento vital na capacidade local de competição por estar intrinsecamente relacionado à cooperação entre os diversos agentes. (mançano, 2008).de acordo com a concepção de desenvolvimento, em que o ambiente local é parte fundamental do processo de desenvolvimento econômico, e também da falta de políticas industriais nacionais, os agrupamentos (clusters) industriais passaram a ganhar um interesse na medida em que externalidades positivas, tais como geração de emprego, aumento das exportações, crescimento econômico, novos investimentos, inovações tecnológicas, aumento de renda, etc.,são geradas a partir da aglomeração espacial de empresas. A formulação do conceito dos Arranjos Produtivos locais (APls) se insere exatamente dentro desse contexto. O conceito de APL é relativamente amplo à medida que abrange variados tipos de agentes (econômicos, políticos e sociais) cujos vínculos são incipientes; a participação e a interação de empresas, o que inclui as suas diversas formas de representação e associação; e muitas outras instituições (públicas e privadas) direcionadas para a formação e capacitação de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (Cassiolato e lastres, 2003). observam-se, entretanto, diversos modelos de desenvolvimento local. A ampliação do conceito de desenvolvimento local permitiu captar formas de aglomerações territoriais de diversos agentes que, com políticas públicas, podem gerar potenciais efeitos multiplicadores na economia. Revisão da literatura Desenvolvimento Local Sabe-se desde há muito que o desenvolvimento local envolve fatores sociais, culturais e políticos que não se regulam exclusivamente pelo sistema de mercado, uma vez, que é marcado pela cultura do contexto em que se situa. Portanto, é considerado como o conjunto de atividades culturais, econômicas, políticas e sociais que participam de um projeto de transformação consciente da realidade local. Para boisier (2000, p.166), o desenvolvimento local é um processo de crescimento econômico e de câmbio estrutural que conduz a uma melhoria no nível da qualidade de vida da população local, no qual se podem identificar três dimensões: uma econômica, em que os empresários locais competitivos nos mercados; outra, sociocultural, em que os valores e as usam sua capacidade para organizar os fatores produtivos suficientes para ser instituições servem de base ao processo de desenvolvimento; e, finalmente, uma dimensão político administrativa em que as políticas territoriais permitem criar um entorno econômico local favorável, protegendo de interferências externas e impulsionando o desenvolvimento local. Segundo buArque (2004), desenvolvimento local é um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. Representa uma singular trans-formação nas bases econômicas e na organização social em nível local, resultante da mobilização das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e potencialidades específicas. Para ser um processo consistente e sustentável, o desenvolvimento deve elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local, aumentando a renda e as formas de riqueza, ao mesmo tempo em que assegura a conservação dos recursos naturais. Quando se trata de novas formas de dinamizar o desenvolvimento, é importante se ter claro, que o território, embora deva desenvolver-se de forma economicamente sustentável, deve ser compreendido e analisado não somente à partir de suas variáveis econômicas ou geográficas, segundo FURTADO (2005), “o verdadeiro desenvolvimento é, principalmente, um processo de ativação e canalização de forças sociais, de melhoria da capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da criatividade. desse ponto de vista, trata-se de um processo social e cultural, e apenas secundariamente econômico”. o desenvolvimento local está associado, normalmente, a iniciativas inovadoras e mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condições dadas pelo contexto. HAVERI apud BUARQUE (2004) argumenta que “as comunidades procuram utilizar suas características específicas e suas qualidades superiores e se especializar nos campos em que têm uma vantagem comparativa com relação às outras regiões”. Dessa forma, a expressão “desenvolvimento local”, refere-se não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e humano. Por isso, é preciso realizar investimentos em capital humano, capital social e capital natural, além dos correspondentes ao capital econômico Formulação do problema Podem ser ressaltados os conceitos relativos a APls. Um aspecto importante é o fato da participação e da interação dos diferentes agentes a serem considerados elementos-chave na promoção do desenvolvimento local. essa preocupação, que perpassa toda a literatura sobre APls, tem a sua razão de ser na medida em que a interação entre os diversos agentes é condição imprescindível para a elevação da competitividade das empresas e, conseqüentemente, da localidade. A dificuldade de cooperação entre os agentes é uma realidade exemplificada pela literatura sobre APLs. É neste contexto que o associativismo se insere e que pode complementar as experiências com APLs. O associativismo desempenha papel relevante no processo de desenvolvimento econômico local, uma vez que a condição essencial para o desenvolvimento das associações é a cooperação dos associados e a sua plena participação nas decisões e nos negócios (mançano, 2008). Apresenta-se como questão de pesquisa, para direcionar os estudos neste artigo: quais são os modelos e as práticas para o desenvolvimento local, associadas à gestão sustentável? Quais são os requisitos necessários a eficácia do desenvolvimento local? Objetivo da Pesquisa O objetivo principal desta pesquisa foi desenvolver análise sobre os métodos e as práticas de associativismo visando o desenvolvimento regional. esta análise contribui para ampliar o conhecimento sobre o tema, auxiliar na compreensão das características do contexto que aumentam ou diminuem a eficácia dos resultados. 40 Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França e financeiro. O enfoque do desenvolvimento local possui uma visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível separar a interdependência existente entre todas essas variáveis. Segundo zAP AtA (2001), o conceito de desenvolvimento local se apóia na idéia de que as localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de economias de escalas não exploradas, que podem constituir seu potencial de desenvolvimento. As estratégias e as iniciativas de desenvolvimento local propõem-se a estimular a diversificação da base econômica local, favorecendo o surgimento e a expansão de empresas. As economias locais e regionais crescem quando se difundem as inovações e o conhecimento entre as empresas situadas em um mesmo território geográfico. O desenvolvimento local é um processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas, liderado pela comunidade local ao utilizar seus ativos e suas potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da população (zAP AtA, 2001; cAmPoS, 2003). A estratégia de apoio ao desenvolvimento local/territorial tem como eixos a construção de capital social, o fomento adequado aos micros e pequenos empreendimentos e o fortalecimento da governança local, por meio da cooperação, da construção de parcerias e da constituição de pactos de atores por um projeto coletivo de desenvolvimento com mais equidade (zAP AtA, 2001; cAmPoS, 2003). A visão do desenvolvimento econômico local, segundo zAP AtA (2001), supõe um planejamento integral e menos simplificador sobre o funcionamento das economias. Essa visão conduz a uma estratégia que deve acompanhar os esforços do ajuste macroeconômico e externo, com atuações orientadas para obter a introdução de inovações tecnológicas, de gestão e sócio-institucionais no conjunto dos diferentes sistemas/ arranjos produtivos locais e do tecido empresarial existente. Afirma SILVEIRA (2006), que uma nova visão política está surgindo, no que se refere ao conceito de desenvolvimento local: Dissertar não só do conhecimento, condições de suporte e infra-estrutura, mas principalmente da cooperação, que vem a ser um elemento crucial no potencial local de competição na medida em que está assentada na capacidade dos diversos atores em gerar consenso, segundo SerrA e PAulA(2007). o reconhecimento da importância da dimensão local no processo de desenvolvimento econômico acabou por despertar um novo interesse pela questão das aglomerações industriais, principalmente pelo fato de que a literatura econômica apontava-as como sendo responsáveis pela geração de externalidades positivas. Segundo vargas (2002), o ressurgimento do local ou da região como lócus desvantagens competitivas e inovativas está diretamente relacionado a algumas experiências bem sucedidas, como é o caso dos distritos industriais da terceira Itália, o Vale do Silício na Califórnia, Baden-Wurttemberg na Alemanha, etc. Marshall (1982), define que as aglomerações de empresas num mesmo espaço geográfico geravam externalidades positivas, que nada mais eram do que o resultado dos ganhos advindos da proximidade das empresas e também do aproveitamento de vantagens externas comuns. Três fatores passaram a estar relacionado à permanência das empresas num mesmo espaço territorial: 1) a formação de um mercado local com constante mão de obra especializada; 2) o fornecimento de matérias-primas e de produtos intermediários, o que significava a mitigação de crises momentâneas de abastecimento e, ao mesmo tempo, a redução do custo de material e de deslocamento; e 3) a possibilidade da difusão do conhecimento tecnológico entre as empresas através do contato comercial e social. o pioneirismo de marshall teve desdobramentos significativos, uma vez que eles não ficaram restritos à dimensão espacial. De fato, a aglomeração industrial proporcionou um maior grau de competitividade na medida em que as empresas passaram a investir no processo de inovação tecnológica. cabe aqui ressaltar que a literatura econômica teve um ganho considerável com as contribuições de Schumpeter, que destacava o papel da inovação tecnológica no processo de desenvolvimento capitalista. Apesar de o foco inicial estar centrado na figura do empresário, que era concebido como o agente mais importante no processo de inovação, sua análise foi ampliado de modo a abranger os laboratórios de P&d e as instâncias coletivas como elementos importantes para o processo de inovação tecnológica. Outra contribuição teórica significativa foi dada pela corrente neoschumpeteriana, que centrou sua atenção nas relações externas das empresas, sendo estas entendidas como o fator primordial na explicação do processo de inovação tecnológica e de competitividade das empresas. Neste sentido, o ambiente cooperativo externo às empresas passou a ser determinante na compreensão da dinâmica competitiva das empresas, o que significa dizer que o alvo das preocupações passou a ser direcionado para o processo de aprendizado tecnológico, que demandava acumulação de conhecimento individual e a interação com outros agentes para que soluções para os problemas pudessem emergir. Essa constatação foi determinante para que toda uma corrente de investigação passasse a dirigir a sua atenção para as experiências bem sucedidas de aglomeração industrial. É exatamente dentro deste quadro que ocorreu a formulação do conceito de Arranjos Produtivos locais (APls), objeto da próxima seção. os atores e instituições governamentais são, obvia-mente, relevantes em todo o processo de promoção do desenvolvimento local [...] na forma de metodologias e programas de apoio – estão claramente presentes na cena publica, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o fulcro dessas dinâmicas, e do que hoje emerge como um movimento social associado à perspectiva do desenvolvimento local, não é o protagonismo do estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo local, é a percepção dos atores envolvidos em dinâmicas locais como sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como sujeitos de seu desenvolvimento, a través da valorização dos ativos locais, especialmente das potencialidades de cooperação ocultas em cada território. ressalta PrÉvoSt (2005) que o desenvolvimento local somente se torna possível na medida em que os agentes locais sejam o centro do desenvolvimento, ou seja, todas as forças indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito de valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as iniciativas econômicas já existentes, através da coerência dos atores envolvidos e da capacidade desses, em associar de modo harmônico um conjunto variado de processos e elementos, que seja comum a todos. entretanto, o desenvolvimento somente será viabilizado naquelas localidades que forem capazes de mobilizar as suas vantagens comparativas num intenso processo que requer efetivamente diálogo, sendo que este diálogo tem de ser, por necessidade, gerador de novos conhecimentos e indutor de aprendizado, que assume importância capital. De fato, o aprendizado depende Arranjos Produtivos Locais SuzIgAN, gArcIA e furtAdo (2005) salientam que a definição de APLs não é tarefa trivial e nem isenta de controvérsia, 41 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França uma vez que eles podem assumir diversas características, que dependem de sua história, evolução, organização institucional, contextos culturais e sociais, localização da sua estrutura produtiva, organização industrial, formas de governança, associativismo, cooperação entre os atores, formas de aprendizado e grau de difusão do conhecimento especializado local. Apesar das dificuldades, CASSIOLATO e LASTRES (2003) definiram os APLs como: lAStreS e cASSIolAto (2005, p. 329) sublinham que a concentração de empresas de atividades semelhantes, em um mesmo território, configura um APL,caso elas apresentem, as seguintes características: a) dimensão territorial – é um espaço onde ocorrem processos de produção e de trabalho, definidos a partir e por relações jurídicas, políticas,econômicas, sociais e institucionais, caracterizado por algum tipo de governança. Por esta definição, os APLs compreendem um recorte do espaço geográfico que tenha algum tipo de identidade coletiva, alguma capacidade (mesmo potencial) de promover projetos convergentes à região e capaz de realizar e implementar parcerias entre os atores de dentro e fora do território; b) diversidade de atividades, e atores econômicos, sociais e institucionais –normalmente nos APls mais estruturados pode ocorrer uma maior participação e interação entre as empresas e entre estas e as instituições de apoio e suporte. mas não é a existência de inúmeras atividades e instituições de apoio e suporte na região é que forma um APL. Podem existir estes atores em um espaço econômico sem que se caracterizem com um APl. o que caracteriza o que seja um APL é o grau de interação, eficiência e aprendizado coletivo. c) Conhecimento tácito – a difusão do conhecimento coletivo é importante para a formação e consolidação dos APls, pois o saber tecnológico,comercial e produtivo, estão incorporados no saber individual da empresa e do trabalhador. Nem sempre este saber é transferível ou decodificado para ser transmitido para outras empresas e trabalhadores. A proximidade espacial aliada a um processo de interação a partir da identidade cultural, social e empresarial pode facilitar a circulação de conhecimento e informação intra e inter empresas, podendo vir a constituir-se em vantagem competitiva a quem tem este procedimento,alavancagem comercial, tecnológica e produtiva. d) Inovação e aprendizado interativo – a capacidade de inovar é uma das principais formas de modernizar processos, produtos e gestão empresarial institucional. o aprendizado interativo (coletivo) constitui-se em um importante mecanismo de absorção, aplicação, desenvolvimento e aprimoramento de conhecimentos produtivos e de gestão, capazes dedar um suporte adequado ao aumento da capacidade competitiva endógena aos diversos atores locais. e) Governança – trata-se de um processo formal de coordenação dos diversos atores econômicos, sociais, culturais e institucionais nas esferas pública e privada, em níveis locais e regionais. Normalmente, esta função de governança pode ser desempenhada pelo estado, mas não sozinho ou de maneira a isolar os demais atores e pode ser partilhada com outras instituições de apoio e suporte. Embora estes itens sejam característicos dos APLs, existe uma diversidade de formas e dinâmicas de funcionamento dos APls, as quais retratam as condições locais de territorialidade, com variações no tipo e na intensidade de inserção das diversas inter-relações entre empresas e entre estas e o tecido institucional público e privado. CASSIOLATO e SZAPIRO (2003) e HADDAD (2004), salientam que para o desenvolvimento de um APl, em um dado território geográfico, é condição necessária já existir um embrião produtivo, além de algumas condições prévias, tais como: significativo número de empresas; especialização das empresas em determinada atividade produtiva; existência de mão de obra local qualificada e reconhecida por usar esta qua- [...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais –com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento. O conceito de APLs é amplo o suficiente para abranger qualquer tipo de indústria ou especialização. ele não aponta para a intensidade das especializações das empresas, para as atividades que estão sendo incluídas e nem para a abrangência geográfica onde as empresas estão operando. CASSIOLATO e lAStreS (2003) salientam que: o argumento básico do conceito adotado pela rede é que onde houver produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um arranjo em torno da mesma [...]. tais arranjos variarão desde aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados. Desta forma consideramos que o número de arranjos produtivos locais existentes no Brasil seja tão grande quanto à capacidade produtiva nacional permita. Um aspecto importante de ser sublinhado é o fato de que os APls, na visão de lAStreS e cASSIolAto (2003), também contemplam as pequenas e médias empresas, que poderão, dependendo da sua integração ou organização e da existência de cooperação relacionada à atividade principal do conjunto dessas empresas, vir a se constituir num APl.A lógica desse processo está na obtenção local de economias de escala,fruto do aumento da capacidade produtiva e competitiva das empresas, e na busca pela redução de custos dos insumos. lAStreS e cASSIolAto (2003) salientam que a capacidade de acumulação e transferência do conhecimento (tácito ou tecnológico) é outro efeito positivo dos APLs. A transferência desse conhecimento culmina em uma maior quantidade de informação disponível aos empresários locais, o qual terá impacto direto nas decisões dos mesmos, sobre investimento, tanto em novos mercados quanto ao lançamento de novos produtos, ou até mesmo a mudança do processo produtivo utilizado. Dessa forma, há uma redução do custo individual de cada firma. o conhecimento e a disponibilidade de mão de obra capacitada contribuem para a formação de APLs, nas regiões onde ocorre concentração de pequenas firmas.É importante salientar que o termo APLs se refere à concentração de quaisquer atividades similares ou interdependentes no espaço. Nesse caso, não importa o tamanho das empresas, nem a natureza da atividade econômica desenvolvida, podendo esta pertencer ao setor primário, secundário ou até mesmo, terciário, variando, desde estruturas artesanais com pequeno dinamismo, até arranjos que comportem grande divisão do trabalho entre as firmas e produtos com elevado conteúdo tecnológico (MYTELKA e FARINELLI, 2000). 42 Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França lificação; existência de atividades correlacionadas, a montante e a jusante da cadeia produtiva; articulação do sistema local com o exterior, tanto para escoar a produção quanto para captar os novos desenvolvimentos tecnológicos; fortes interdependências entre empresas e demais agentes; existência de uma comunidade e forte identidade local ou regional que favoreçam a cooperação, solidariedade e reciprocidade; presença de instituições locais comunitárias e públicas capazes de compreender e sustentar o sistema, de promover seu desenvolvimento, favorecendo a inovação; massa crítica de fornecedores locais de componentes e de serviços que contribuem significativamente para a melhoria da qualidade dos produtos e da eficiência dos processos de produção; local onde se possam receber fluxos atualizados de informações especializadas, sobre tecnologia e características dos clientes, além de se inter-relacionarem com outros participantes na promoção do desenvolvimento local. torna-se importante salientar que todas essas características descritas acima mostram que os APls, dependendo do seu grau de sofisticação e eficiência,podem proporcionar um patamar mais elevado de competitividade não só das empresas, como também do conjunto das atividades em que estão inseridas. Nesse sentido, as externalidades positivas almejadas são geradas internamente e também para o conjunto da economia. Ao fomentar uma cultura assentada na cooperação entre os diversos agentes, o associativismo, objeto da próxima seção, pode vir a contribuir para a constituição e o desenvolvimento das vantagens competitivas de um APL, que neste contexto poderá gerar as externalidades positivas, frutos da economia de aglomeração, tão necessárias e desejadas. Dissertar Numa definição ampla, o associativismo é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas ou pessoas, com o objetivo principal de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos.A organização associativa abriga um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, e interesses. da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, constituindo-se em processos de aprendizagem, interação e compartilhamento dos interesses e problemas comuns(AvrItzer, 2004). Para AVRITZER (2004), o fomento ao associativismo constitui a pedra angular do desenvolvimento no sentido que a organização associativa fornece os instrumentais aos atores individuais e passa a ser a força indutora para incorporar novos conhecimentos, que culmina em uma sinergia nos processos de inovação e aperfeiçoamento. Além disso, esse autor sublinha que os atores sociais mais importantes não são os cidadãos individualmente, mas as corporações em que se envolvem e cuja atuação passa a depender em grande medida dos interesses pessoais envolvidos. Dessa forma, a associação expressa uma relação social dinâmica, e em movimento, como uma força estratégica para a melhoria das condições locais de uma população, sob todas as suas dimensões, culminando coma idéia de desenvolvimento. o associativismo é uma questão primária para o potencial de emancipação e o desenvolvimento de qualquer comunidade ao articular o pontual com o abrangente. AleNcAr (1997) afirma que o associativismo representa uma importante opção estratégica capaz de transformar ou modificar a realidade, ou como um instrumento que proporciona aos diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade. Através dessa forma de representatividade abre-se a possibilidade de combinar o desenvolvimento coletivo e individual. Incentivar a formação de associações tornando-se relevante à medida que a lógica da ação coletiva acaba prevalecendo sobre a ação individual, sem, contudo, excluí-la. No processo do desenvolvimento local é imprescindível o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade (frANtz, 2002).Para ArrudA apud frANtz (2002): Conforme RODRIGUES apud CANTERLE (2004), as organizações associativas abrigam um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, das intenções e interesses das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a naturais debilidades. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, da política, constituindo-se em processos de aprendizagem e estruturas de poder. um aspecto importante de ser mencionado é o do associativismo rural. Nesse caso, as associações de produtores podem surgir de várias maneiras. Algumas podem ser criadas espontaneamente pelos próprios agricultores, enquanto outras, de acordo com bASSo (1993) apud lAzzArotto (2007), surgem pela indução de agentes externos, como o Estado, agências de desenvolvimento e organizações não governamentais. Por meio dos agentes externos podem ser disponibilizados recursos para o grupo de agricultores, desencadeando o processo de formação associativista, uma vez que se pode mobilizar o início da ação coletiva(mIrANdA, 1998 apud lAzzArotto, 2007). Para a viabilização do associativismo, SouzA (1996) apud LAZZAROTTO(2007) afirma que se devem observar três princípios fundamentais:1) a definição apurada e sistemática de Associativismo A vida associativa está presente em muitas áreas das atividades humanas,mormente traduzidas em condições que visam contribuir para o equilíbrio e estabilidade social, através da união. A esse respeito frANtz (2002, p. 1) destaca: [...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa, é entendida com sentido econômico e envolve a produção e a distribuição dos bens necessários à vida. Neste sentido, o associativismo pode ser entendido como estratégia para melhoria das condições de vida da população, sendo o desenvolvimento um processo também fundado em relações sociais associativas. A primeira forma manifesta de associativismo aconteceu em Rochdale-Manchester na Inglaterra no final do século XVI, no início da Revolução Industrial, formado por um grupo de 28 trabalhadores que decidiram aplicar os dois pences que recebiam por semana, na fundação de uma loja (SINGER, 1998). Segundo a história, a associação de pessoas visando interesses econômicos não é uma característica contemporânea. O associativismo pode ser definido como uma forma de união de interesses comuns, onde a sociedade se organiza através de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados ao seu dia-a-dia (cANterle, 2004). Ao conceito de associativismo está ligada a idéia de vivência coletiva, de novas experiências e enriquecimento de conhecimentos. tendo em conta este conceito e atendendo o que se vive em uma sociedade cada vez mais competitiva e individualista, as associações apresentam-se como um espaço de ajuda mútua a seus associados. 43 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França interesses comuns;2) o respeito às limitações e possibilidades de cada um e3) o aprofunda-mento e avaliação. Ao referir os fatores fundamentais para viabilidade das associações rurais,MUENCHEN (1996) ressalta que para a obtenção de sucesso ao longo do tempo há necessidade de observar e sanar dois importantes problemas que comumente ocorrem: 1) a passagem do individual para o coletivo, pois o agricultor,individualmente, apresenta certos hábitos, determinado nível de cultura e desconhecimento, que na associação se transforma no coletivo; 2) cuidado especial com a gestão dos aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais, pois este conjunto determinará o sucesso do empreendimento associativo. Assim, percebe-se que são vários os pontos a serem observados e avaliados para o sucesso de uma associação, pois a não observação e cuidados com determinados aspectos pode inviabilizar o associativismo. Além disso, é importante salientar que é bastante comum os termos associativismo e cooperativismo serem utilizados como sinônimos. entretanto, ambos os termos apresentam características jurídicas distintas e próprias, que são relativas às suas classificações como organizações previstas no direito brasileiro. De um modo geral, a diferença entre uma organização associativa e uma cooperada basicamente se situa no amparo legal que possuem as organizações cooperativas em realizar transações econômicas (atos de comércio,acesso à credito e financiamentos). De uma maneira simplista, pode-se afirmar que a principal função de uma associação é a organização e representação coletiva dos interesses de seus afiliados, ao passo que uma cooperativa já possui uma concepção diretamente relacionada à defesa dos interesses econômicos de seus membros. Síntese dos Métodos de Associativismo e de Desenvolvimento Local. este tópico apresenta síntese (quadro 1), dos conceitos abordados na revisão da literatura para proporcionar visão abrangente do escopo identificado sobre associativismo e desenvolvimento local. Quadro 1 Síntese da Revisão da Literatura DESENVOLVIMENTO LOCAL / ASSOCIATIVISMO DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL Autor (es) Artigo, Livro, Tese, Dissertação, Veículo de Publicação Conceitos BUARQUE,S.C. BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. Processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. ZAPATA, T. ZAPATA, T. et al. Desenvolvimento local: estratégias e fundamentos metodológicos. (Rio de Janeiro: Ritz, 2001). Processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas, liderado pela comunidade local ao utilizar seus ativos e suas potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da população. BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. “Desenvolvimento local” refere-se não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e humano. Por isso, é preciso realizar investimentos em capital humano, capital social e capital natural, além dos correspondentes ao capital econômico e financeiro. O enfoque do desenvolvimento local possui uma visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível separar a interdependência existente entre todas essas variáveis. BUARQUE, S.C. SILVEIRA, C.M. Desenvolvimento local: uma hipótese política. DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL SILVEIRA, C.M. In: SILVA, G.; COCCO, G. (Orgs.). Territórios produtivos: Oportunidades e desafios para o desenvolvimento local. Rio de Janeiro: DP&A; Brasília: Sebrae, 2006. PRÉVOST, P. PRÉVOST, P. As dimensões e processos do desenvolvimento das coletividades locais. Seminário “Cooperativismo e Desenvolvimento Local”, 9 e 10 de Novembro de 2005. Curitiba. 44 Os atores e instituições governamentais são, obviamente, relevantes em todo o processo de promoção do desenvolvimento local [...] na forma de metodologias e programas de apoio – estão claramente presentes na cena pública, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o fulcro dessas dinâmicas, e do que hoje emerge como um movimento social associado à perspectiva do desenvolvimento local, não é o protagonismo do Estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo local, é a percepção dos atores envolvidos em dinâmicas locais como sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como sujeitos de seu desenvolvimento, através da valorização dos ativos locais, especialmente das potencialidades de cooperação ocultas em cada território. O desenvolvimento local somente se torna possível na medida em que os agentes locais sejam o centro do desenvolvimento, ou seja, todas as forças indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito de valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as iniciativas econômicas já existentes, através da coerência dos atores envolvidos e da capacidade desses, em associar de modo harmônico um conjunto variado de processos e elementos, que sejam comuns a todos. Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França BOISIER, S. Desarrollo (local):¿Dé qué estamos hablando? In: BECKER, F; BANDEIRA, S.P. (Orgs). Determinantes e desafios contemporâneos. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000. Processo de crescimento econômico e de mudança estrutural que conduz a uma melhoria no nível da qualidade de vida da população local, no qual se podem identificar três dimensões: econômica, sociocultural e políticoadministrativa. MOURE-ERASO, Rafael MOURE-ERASO, Rafael. Development models, sustainability and occupational and environmental health in the Americas: neoliberalism versus sustainable theories of development. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, Jan. 2003. Disponível em: http://www. scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 81232003000400025&lng=en&nrm=iso Acessado em 03 Out. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S141381232003000400025 Os requisitos de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se as premissas da sustentabilidade, são três condições: estabelecimento de governança, aquisição de força social e plano concreto de ação. CANTERLE, N.M.G. CANTERLE, N.M.G. O associativismo e sua relação com o desenvolvimento. Francisco Beltrão-Pr.: Unioeste, 2004. Disponível em: www.unioeste.br Pode ser definido como uma forma de união de interesses comuns, onde a sociedade se organiza através de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados ao seu dia-a-dia. ASSOCIATIVISMO AVRITZER, L. AVRITZER, L. Cultura política, associativismo e democratização: uma análise do associativismo no Brasil. In: O novo associativismo brasileiro. Relatório substantivo final: FORD/ANPOCS, 2004. É qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas ou pessoas, com o objetivo principal de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos. A organização associativa abriga um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, e interesses. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, constituindo-se em processos de aprendizagem, interação e compartilhamento dos interesses e problemas comuns. ASSOCIATIVISMO FRANTZ, W. FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche. br/~dcre/frantz.html “[...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa, é entendida com sentido econômico e envolve a produção e a distribuição dos bens necessários à vida”. DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL ASSOCIATIVISMO BOISIER, S. Dissertar In: BECKER, F. BANDEIRA, S.P. (Orgs) ASSOCIATIVISMO ALENCAR, E. ALENCAR, E. Associativismo rural e participação. Lavras: UFLA/FAEPE, 1997 Representa uma importante opção estratégica capaz de transformar ou modificar a realidade, ou como um instrumento que proporciona aos diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade. Através dessa forma de representatividade abre-se a possibilidade de combinar o desenvolvimento coletivo e individual. Incentivar a formação de associações tornando-se relevante à medida que a lógica da ação coletiva acaba prevalecendo sobre a ação individual, sem, contudo, excluí-la. ASSOCIATIVISMO FRANTZ, W. FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche. br/~dcre/frantz.html Contém o desenvolvimento local. A associação expressa uma relação dinâmica, uma relação em movimento, em direção a um lugar melhor. “O desenvolvimento é um processo também fundado em relações sociais associativas, das quais podem nascer formas cooperativas”. ASSOCIATIVISMO FRANTZ, W. FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche. br/~dcre/frantz.html. É imprescindível o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade. CANTERLE, N.M.G. CANTERLE, N.M.G. O associativismo e sua relação com o desenvolvimento. Francisco Beltrão-Pr.:Unioeste, 2004. Disponível em: www. unioeste.br As organizações associativas abrigam um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, das intenções e interesses das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a naturais debilidades. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, da política, constituindo-se em processos de aprendizagem e estruturas de poder. ASSOCIATIVISMO Método de pesquisa A Pesquisa que se desenvolve neste trabalho classifica-se como descritiva, que tem como objeto de estudo o associativismo e suas implicações no desenvolvimento regional. Inicia-se com um levantamento bibliográfico sobre os principais modelos. O passo seguinte consistiu na coleta de dados, realizada a partir de entrevistas em campo, com o intuito de apresentar resposta à questão central da pesquisa. A coleta de dados foi realizada com a presença do entrevistador no campo, o que propicia melhor compreensão das questões e respostas. este artigo compara métodos e práticas de associativismo e de desenvolvimento local. o caso analisado é o da AmoP – Associação de moradores da comunidade de Palmeiras, mimoso do Sul, estado do espírito Santo, brasil. Estudo de caso: Associação de Produtores Rurais de Palmeiras, em Mimoso do Sul, sul do Espírito Santo. A AmoP (Associação dos Produtores rurais de Palmeiras) possui hoje cerca de 40 associados e surgiu da necessidade dos agricultores da comunidade rural de mimoso do Sul em 45 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França buscar eficiência e competitividade na comercialização do café “conilon” e outros cultivos. A questão central deste estudo de caso é registrar as práticas de associativismo: a experiência da Associação dos Produtores Rurais de Palmeiras, onde os laços cooperativos se transformaram no principal fator de desenvolvimento econômico local. desmatamento, que colocava em risco as nascentes e os rios da comunidade, gerou uma reação. Foi feito um abaixo-assinado e se conseguiu envolver órgãos que pudessem ajudar. em uma semana, conseguimos evitou-se a derrubada. Além de salvar as nascentes, a reação dos agricultores marcou uma mudança de atitude. Pela primeira vez, eles agiram em grupo. No início, a associação, fundada em 1992, enfrentou dificuldades. Como a experiência era nova, muitas pessoas desconfiavam desse tipo de trabalho. Aos poucos, com muitas conversas, acertos e erros, as reuniões foram ficando cheias e o resultado apareceu. Na primeira mudança, os agricultores começaram a trabalhar nas lavouras em um esquema de mutirão. trabalhando em grupo os vizinhos não precisavam mais gastar com mão de obra na hora da colheita. motivados pelo novo ambiente de trabalho, os agricultores decidiram resolver a questão da baixa produtividade das lavouras de café, outro problema sério da comunidade. Para isso entraram em contato com entidades de pesquisa e assistência técnica da região. os agricultores passaram a receber visitas regulares de agrônomos e técnicos. Foi uma fase de aprendizado. Naquele tempo, as lavouras eram antigas e pouco adensadas. As plantas tinham muita praga e davam pouco café. As melhorias causaram uma disparada na produtividade das lavouras. Antes, os agricultores não colhiam mais do que dez sacas por hectare. Hoje, a colheita, na mesma área, passa facilmente de 70 sacas. As primeiras conquistas ligadas à associação foram tão positivas que acabaram mudando o ânimo de toda a comunidade. muitos jovens agricultores, que já tinham largado o estudo, resolveram voltar para a escola e se formar no ensino médio. Descrição do Caso Estudado O sul do estado do Espírito Santo é rico em experiências no ambiente produtivo agrícola. uma delas é a da Associação de Produtores rurais de Palmeiras (AmoP), em mimoso do Sul. Uma experiência associativista executada com responsabilidade e eficiência.Cerca de quarenta famílias (mais de 200 pessoas) formam a Associação que, por sua gestão e organização, conseguiu resultados em produtividade e em qualidade de vida. de acordo com uma das lideranças da comunidade rural, “tudo em Palmeiras tem a ver com suas raízes, histórias e tradições”. As propriedades começaram a se formar pelos idos de 1910, mas os cultivos se desenvolveram a partir da década de 50. os produtores têm, basicamente, a mesma estrutura e condição financeira. Os principais cultivos são banana e, principalmente, café “conilon”, produto mais importante da região. As propriedades são pequenas e variam em torno de três a cinco hectares. Iniciou-se recentemente um trabalho no grupo de estímulo à fruticultura principalmente de manga, goiaba e acerola visando à produção e a comercialização de polpa de fruta concentrada. O propósito foi trabalhar com no plantio do café, no qual a plantação é individualizada, por propriedade, e a comercialização realizada pela associação. As propriedades têm administração independente e cultivos distintos e quando há interesse comum de toda a comunidade, algumas tarefas são desempenhadas em cooperação. A colheita de café é um momento em que a ajuda se fortalece ainda mais, em esquema de mutirão. A ordem da colheita ou da secagem do café, por exemplo, sempre se decide por sorteio, para não haver privilégio para ninguém. o atual presidente da AmoP é um jovem com pouco mais de 30 anos de idade, que faz parte da segunda geração de associados. esse associado, assim como outros associados, é filho de fundadores da Associação. A forte religiosidade da comunidade sempre uniu o grupo. Acostumados às reuniões da comunidade católica, os produtores já tinham por hábito participar das celebrações e estudos bíblicos em grupos. Desenvolvimento Local: Práticas de Associativismo Outra grande dificuldade dos agricultores de Palmeiras era a comercialização eficaz da produção de café. Cada família comercializava as suas sacas por conta própria. como o volume era pequeno, os atravessadores desvalorizavam o grão. A virada começou quando a associação entrou em contato com o Cetcaf, Centro Tecnológico do Café, uma organização não governamental que faz pesquisa e transferência de tecnologia. O objetivo foi montar uma unidade moderna de beneficiamento que permitisse tanto o trabalho em grupo quanto a melhoria da qualidade do café. A comercialização do café também passou a ser feita de maneira coletiva, o que garante preços melhores. Além do ganho extra pela qualidade, o agricultor diz que, de uns anos pra cá, o café da comunidade passou a ser exportado para a europa com um selo social, o que aumenta ainda mais o preço do produto. O chamado fair trade (comércio justo ou comércio solidário), foi apreendido em um projeto da Cafesul, a principal cooperativa de café da região. Para garantir o selo “fair trade”, os agricultores têm que manter crianças na escola, cumprir as leis trabalhistas e adotar práticas responsáveis quanto ao meio ambiente.A associação decidiu diversificar e desenvolver novas fontes de renda para a comunidade. As agricultoras da comunidade começaram a fazer cursos de industrialização, com produção caseira. A idéia foi produzir pães, bolos, geléias e doces de maneira profissional. Os agricultores de Palmeiras também fabricam biscoitos e bolos, polpa de fruta e doces variados. Além de vender a produção em feiras e mercados locais, a comunidade também conta o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar. O projeto, mantido pelo governo federal, garante a compra de produtos de pequenos sitiantes em todo o brasil. Ao longo dos anos, os agricultores da associação não investiram Governança e Avaliação dos Resultados todas as decisões do grupo são resolvidas em reuniões, sem exceção, sejam sobre captação de recursos, projetos, aquisição de equipamento e até contratação de serviços. Há a consciência de quem nem tudo é importante para a comunidade. Por exemplo, há pouco tempo foi oferecido um trator muito potente, mas com o relevo acidentado, não serviria para todos. com certeza atenderia muito mais a outra comunidade. querem aproveitar ao máximo o que se precisa e o que será útil para todos. Existem prioridades já eleitas por todo o grupo. O início da Associação quem vive em Palmeiras sabe como a história da comunidade foi importante para promover tamanha transformação. No passado tudo era muito difícil. Muito trabalho, mas pouco dinheiro. Trabalhava-se de forma desorganizada e sem produtividade. As transformações em Palmeiras começaram em 1991, ano em que um madeireiro de fora da cidade comprou um lote de terra e começou a cortar árvores no alto do morro. o 46 Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França Dissertar A sala de informática, desenvolvida em 2009, é o resultado da capacidade dos agricultores de aproveitar oportunidades e projetos. As melhorias na educação, no meio ambiente e nas atividades produtivas proporcionaram aos agricultores qualidade de vida. Nos últimos quatro ou cinco anos, todas as casas foram reformadas ou ampliadas. As famílias adquiriram móveis, eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos. considerando-se a produção de café, banana, agroindústria e outras fontes de renda, cada família da comunidade obtém renda mensal de aproximadamente R$ 2,5 mil por mês (2013), deduzidos os custos de produção. apenas em atividades produtivas, como agricultura e agroindústria. A comunidade também se envolveu com outras mudanças de comportamento ligadas ao meio ambiente e à qualidade de vida. O trabalho regular de coleta do lixo propiciou que as propriedades da comunidade se apresentassem mais limpas. todo material recolhido e vendido para um centro de reciclagem transformou-se em fonte de renda. O dinheiro é aproveitado em projetos da associação ou em melhorias para a comunidade. Outra mudança fundamental foi resolver o problema do esgoto doméstico. Até alguns anos, todo material que saía das casas dos agricultores era despejado no rio da comunidade. A solução veio com a construção de fossas sépticas nos 40 sítios de Palmeiras. O projeto foi pago pela Fundação Banco do Brasil, outra entidade pública atraída pela associação. circulando por caixas enterradas, o esgoto é filtrado e passa por um tratamento. O líquido que sai no final é uma água meio amarelada que tem 95% de pureza. vale lembrar que com essa implantação, 220 famílias deixaram de poluir os córregos do lençol freático, os seus próprios quintais e, além disso, ainda usam o efluente, ou seja, a água que é liberada no processo, como adubo orgânico. Comparação entre os modelos e práticas identificadas na pesquisa de campo. o quadro 2 apresenta a síntese das práticas de desenvolvimento regional na Associação dos Produtores rurais de Palmeiras, identificadas na etapa de análise documental e de observação em campo, comparados com os modelos teóricos. No quadro 2 podem ser identificadas diferenças entre os modelos teóricos e as práticas de desenvolvimento regional Quadro 1 Síntese da Revisão da Literatura DESENVOLVIMENTO LOCAL / ASSOCIATIVISMO Fontes de Evidências das Práticas de Gestão na Associação dos Produtores Rurais de Palmeiras MODELOS (Revisão de Literatura) Entrevistas Observação Documentos 1 – Processo de crescimento econômico e de câmbio estrutural que conduz a uma melhoria no nível da qualidade de vida da população local, no qual se podem identificar três dimensões: econômica, sociocultural e político administrativa. SIM SIM SIM DESENVOLVIMENTO 2 – Processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. SIM SIM NÃO DESENVOLVIMENTO 3 – Processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas, liderado pela comunidade local ao utilizar seus ativos e suas potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da população. SIM SIM SIM 4 – “Desenvolvimento local”, refere-se não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e humano. Por isso, é preciso realizar investimentos em capital humano, capital social e capital natural, além dos correspondentes ao capital econômico e financeiro. O enfoque do desenvolvimento local possui uma visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível separar a interdependência existente entre todas essas variáveis. NÃO NÃO NÃO 5 – Os atores e instituições governamentais são, obviamente, relevantes em todo o processo de promoção do desenvolvimento local [...] na forma de metodologias e programas de apoio – estão claramente presentes na cena pública, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o fulcro dessas dinâmicas, e do que hoje emerge como um movimento social associado à perspectiva do desenvolvimento local, não é o protagonismo do Estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo local, é a percepção dos atores envolvidos em dinâmicas locais como sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como sujeitos de seu desenvolvimento, através da valorização dos ativos locais, especialmente das potencialidades de cooperação ocultas em cada território. SIM SIM NÃO 6 – O desenvolvimento local somente se torna possível na medida em que os agentes locais sejam o centro do desenvolvimento, ou seja, todas as forças indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito de valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as iniciativas econômicas já existentes, através da coerência dos atores envolvidos e da capacidade desses, em associar de modo harmônico um conjunto variado de processos e elementos, que sejam comuns a todos. NÃO NÃO NÃO 7 – “[...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa, é entendida com sentido econômico e envolve a produção e a distribuição dos bens necessários à vida”. NÃO SIM NÃO DESENVOLVIMENTO LOCAL LOCAL LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL DESENVOLVIMENTO LOCAL ASSOCIATIVISMO 47 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França ASSOCIATIVISMO 8 – Pode ser definido como uma forma de união de interesses comuns, onde a sociedade se organiza através de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados ao seu dia-a-dia. SIM SIM NÃO ASSOCIATIVISMO 9 – É qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas ou pessoas, com o objetivo principal de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos. A organização associativa abriga um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, e interesses. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, constituindo-se em processos de aprendizagem, interação e compartilhamento dos interesses e problemas comuns. SIM SIM NÃO ASSOCIATIVISMO 10 – Representa uma importante opção estratégica capaz de transformar ou modificar a realidade, ou como um instrumento que proporciona aos diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade. Através dessa forma de representatividade abre-se a possibilidade de combinar o desenvolvimento coletivo e individual. Incentivar a formação de associações tornando-se relevante à medida que a lógica da ação coletiva acaba prevalecendo sobre a ação individual, sem, contudo, excluí-la. NÃO NÃO NÃO ASSOCIATIVISMO 11 – Contém o desenvolvimento local. A associação expressa uma relação dinâmica, uma relação em movimento, em direção a um lugar melhor. “O desenvolvimento é um processo também fundado em relações sociais associativas, das quais podem nascer formas cooperativas”. NÃO SIM NÃO ASSOCIATIVISMO 12 – É imprescindível o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade. NÃO SIM NÃO ASSOCIATIVISMO 13 – As organizações associativas abrigam um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, das intenções e interesses das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a naturais debilidades. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, da política, constituindo-se em processos de aprendizagem e estruturas de poder. NÃO NÃO NÃO utilizadas pela Associação dos Produtores Rurais de Palmeiras. A integração é prejudicada pela fragmentação dos agentes intervenientes no desenvolvimento local. Propõe-se a adoção, para categorização dos conceitos e práticas de desenvolvimento local e associativismo, o modelo de MOURE-ERASO (2003):os requisitos de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se as premissas da sustentabilidade, são três condições. a) Estabelecimento de mecanismos de governança – Constata-se no conceito de governança organizacional a importância dos relacionamentos entre organizações e seus stakeholders baseados em aspectos de cooperação, confiança e reciprocidade e, principalmente na ação de inclusão de novos atores e suas expectativas. Governança, segundo Born (2012), refere-se ao conjunto de iniciativas, regras, instâncias e processos que permitem às pessoas, por meio de suas comunidades e organizações civis, exercer o controle social, público e transparente, das estruturas estatais e das políticas públicas, por um lado, e da dinâmica e das instituições do mercado, por outro, visando atingir objetivos comuns. A governança, neste conceito, abrange tanto mecanismos governamentais como informais e/ou não estatais. Significa a capacidade social (os sistemas, seus instrumentos e instituições) de dar rumo, ou seja, orientar condutas dos estados, das empresas, das pessoas em torno de certos valores e objetivos de longo prazo para a sociedade. Born (2012) apresenta definição de governança mais abrangente, que engloba a capacidade dos estados, empresas e das pessoas de atingir determinados objetivos de longo prazo para a sociedade. A proposta de Braganza e Lambert (2000) inclui um framework que busca alinhar governança com processos de negócio, com uma base prática para discussão das responsabilidades e decisões nos níveis estratégicos e operacionais. A governança será efetiva onde as necessidades dos stakeholders internos e externos são reconhecidas explicitamente, onde é relevante para as atividades que as pessoas desempenham, e onde é considerada de forma transversal. b)Aquisição de poder social – Para promover um modelo de desenvolvimento centrado nos direitos humanos onde a comunidade social e os fatores ambientais são considerados simultaneamente e com a mesma prioridade de fatores econômicos, transformação cultural e redefinição de valores são necessárias. O processo de construção de uma teoria alternativa social e política e sua aplicação a uma nova ordem é o que é definido como a aquisição do “poder social”. c) Roteiro para a ação – Todas as sociedades priorizam viver em um ambiente limpo. Países pobres e ricos consideram isto um imperativo. A ONU tem compreendido este desejo humano e articulou por meio de documentos e declarações este desejo universal (Brundtland, 1987, UNEP, 1992). Essa é a base da teoria do desenvolvimento sustentável e pode ser a chave para os movimentos de mudança da sociedade. É necessária definição de políticas e tecnologias que viabilizem a implementação de tal modelo. As políticas e tecnologias são: prevenção da poluição, redução do uso de tóxicos, a produção sustentável, química verde, engenharia ambiental, planejamento para sustentabilidade, análise de ciclo de vida, projeto para o meio ambiente, entre outros. Estas são conhecidas como as Tecnologias Ambientais da Próxima Geração (NGETs) (Rand, 2003): todas têm como objetivo final a Produção Mais Limpa. Considerações finais e recomendações para futuras pesquisas Apresentaram-se como questões de pesquisa, para direcionar os estudos neste artigo: a) quais são os modelos e as práticas para o desenvolvimento local, associadas à gestão sustentável? b) Quais são os requisitos necessários à eficácia do desenvolvimento local? O objetivo desta pesquisa foi desenvolver comparação entre os métodos e as práticas de associativismo visando o desenvolvimento local, incluindo as premissas da sustentabilidade. esta comparação contribui para ampliar o conhecimento sobre o tema, auxiliar na compreensão das características do contexto que aumentam ou diminuem a eficácia dos resultados. O caso analisado foi o de uma comunidade rural. Constata-se 48 Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França que a viabilização do desenvolvimento se dará naquelas localidades nas quais houver capacidade de mobilização de suas vantagens comparativas num processo que demanda não só geração de novos conhecimentos, como também aprendizado, sendo que este depende, além do conhecimento, das condições de suporte e da infra-estrutura, fundamentalmente da cooperação. De fato, a cooperação vem a ser um fator-chave para o potencial competitivo de uma localidade, uma vez que ela está baseada na capacidade dos diversos atores em gerar consenso. Outro aspecto ressaltado neste trabalho foi o de que o associativismo, principalmente em função dos seus fortes laços cooperativos, pode exercer um papel relevante no processo de desenvolvimento social. constatou-se através de evidências teóricas e de práticas de desenvolvimento regional que o associativismo é um importante fator para o desenvolvimento econômico local. Pôde-se concluir que o associativismo, apresenta evidências de contribuir conceitualmente para o desenvolvimento econômico local em função de suas próprias características, principalmente os fortes laços cooperativos desenvolvidos entre os associados, que preenchem lacunas no conceito de Arranjo Produtivo local (APl). ressalta-se que na comparação entre os conceitos teóricos e as práticas identificadas na pesquisa de campo, algumas diferenças foram percebidas. Admite-se, assim que a promoção do desenvolvimento de um determinado local seja feita de forma que beneficie a sociedade sem, entretanto, comprometer as condições das gerações futuras e, ainda, que este desenvolvimento possibilite que esta mesma sociedade recolha seus dividendos econômicos, sociais e ambientais. Este artigo pretende contribuir para o aperfeiçoamento das premissas dos arranjos produtivos locais para que se tornem consistentes e compatíveis com a realidade sócio econômica. entende-se que a aplicação dos métodos de associativismo e desenvolvimento local analisados possibilite a formulação de informações para estratégias competitivas e de orientação para políticas públicas, visando o desenvolvimento local, através da valorização do potencial econômico e utilização adequada dos recursos naturais. conclui-se que os requisitos de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se as premissas da sustentabilidade, são três condições: estabelecimento de governança, aquisição de força social e plano concreto de ação. Novas pesquisas podem ser realizadas em outros casos e estabelecer comparações em relação aos desempenhos econômicos, sociais, culturais e ambientais de modelos de desenvolvimento local aplicados. Dissertar sustentável: desafios associados às políticas públicas e construção de um mundo justo e saudável. 2011. Disponível em www.vitaecivilis. org.brAcesso em: 05/11/2012. BORN, R. H., Governança e sustentabilidade: desafios planetários para organizações não governamentais. A participação de organizações da sociedade civil em processos, conferências e instâncias globais a locais para o desenvolvimento sustentável. São Paulo, vitae civilis, no prelo. Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/index.php/br/ temas/governancaAcesso em 15/10/2012. brAgANzA, A., lAmbert, r., “Strategic Integration: Developing Process Governance Framework”. Knowledge and Process Management. v. 7, n. 3, pp. 177-186, 2000. bruNdtlANd report. Our common future. Oxford University Press, Oxford, UK. 1987. buArque, S.c. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. 2. ed. rio de janeiro: garamond, 2004. cAmPoS, márcia maria da cruz de. Processo de desenvolvimento local: uma análise da implementação do projeto aliança com o adolescente. 173 p. (dissertação de mestrado em Administração). escola de Administração da universidade federal da bahia. Salvador, 2003. cANterle, N.m.g. O associativismo e sua relação com o desenvolvimento. francisco beltrão-Pr.: unioeste, 2004. disponível em: www.unioeste.br. Acesso em: 05/03/2012. CASSIOLATO, J. E.;LASTRES, H. M. M. O foco em arranjos produtivos e inovativoslocais de micro e pequenas empresas. In: lAStreS, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.;Maciel, M. L. (org.), Pequenas empresas: cooperação e desenvolvimento local. relumedumará editora, capítulo 1, julho 2003. cASSIolAto, j.e.; SzAPIro, m. Uma caracterização de arranjos produtivos locaisde micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H. m.m.; cASSIolAto, j. e.;mAcIel, m. l. (org.), Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. relumedumará editora. rio de janeiro: ufrj; Instituto de economia, 2003. p. 35-50. FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação, 2002. Disponívelem: http://www.unijui.tche.br/~dcre/frantz.html. furtAdo, c. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: companhiaeditora Nacional, 2005. HADDAD, P.R. Texto de Referência da Palestra sobre Cultura Local e Associativismo. In texto apresentado no Seminário do BNDS sobre Arranjos Produtivos locais. bNdeS, Setembro de 2004. LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. E, Desafios e oportunidades para oaprendizado em sistemas produtivos e inovativos na América Latina. In: dINIz, c.c.; lemoS, m.b. (org.). economia e território. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 321-340. mANÇANo, rosângela verri, O associativismo como fator de desenvolvimento econômico. curitiba, 2008. dissertação apresentada no Curso de Mestrado Profissionalizante da Universidade federal do Paraná. MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: Tratado introdutório. São Paulo: Abril cultural, 1982. v.1. MOURE-ERASO, Rafael. Development models, sustainability and occupational and environmental health in the Americas: neoliberalism versus sustainable theories of development. ciência saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, Jan. 2003.Disponível em: www.scielosp.org/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 81232003000400025&lng =en&nrm=iso. Acessado em 03 Out. 2013.http://dx.doi.org/10.1590/ S1413-81232003000400025 MUENCHEN, J. V. O planejamento e o controle da produção em associações depequenos agricultores. Piracicaba: eSAlq (dissertação de mestrado), 1996. MYTELKA, L. K., FARINELLI, F. Local Clusters, Innovation Systems and SustainedCompetitiveness. Nota técnica 5 do projeto: Arranjos e Sistemas Produtivos. Referências AleNcAr, e. Associativismo rural e participação. Lavras: UFLA/ fAePe, 1997. AvrItzer, l. Cultura política, associativismo e democratização: uma análise do associativismo no Brasil. In: o novo associativismo brasileiro. Relatório substantivo final: FORD/ANPOCS, 2004. bANdeIrA, P . Participação, Articulação de Atores Sociais e Desenvolvimento Regional; brasília,1999; Instituto de Pesquisa econômica Aplicada. Disponível em: http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/td_0630.pdf boISIer, S. Desarrollo (local): ¿Dé qué estamos hablando? In: BECKER, F; BANDEIRA, S.P. (Orgs). Determinantes e desafios contemporâneos. Santa cruz do Sul: edunisc, 2000. BORN, R. H., Rio+20, Economia verde e governança do desenvolvimento 49 Dissertar Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França locais e as Novas Políticas de desenvolvimento Industrial e tecnológico. Rio deJaneiro: IE/UFRJ/BNDES/FINEP/FUJB, 2000. PNud - Programa das Nações unidas para o desenvolvimento. Atlas doDesenvolvimento Humano no Brasil. PNud, 2000.Portal de Notícias G1, http://m.g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2012/07/ trabalho em grupo transforma-vida-de-pequenos-produtores-no-es?hash=2, publicado em 22.07.2012. PrÉvoSt, P . As dimensões e processos do desenvolvimento das coletividades locais. Seminário “cooperativismo e desenvolvimento local”, 9 e 10 de Novembro de 2005. curitiba. rANd 2003. robert lempert, Parry Norling, christopher Pernin, Susan Resetar, and SergejMahnovski.Next Generation Environmental Technologies: Benefits and Barriers. rand report to the u.S. congress Office of Science and Technology Policy 2003. http://www.rand.org/ publications/MR/MR1682/index.html redeSISt – rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos locais. Estratégias Locais.http://www.ie.ufrj.br/redesist/publica. htmlacesso em: 14/06/2012. revIStA SAfrA eS, Associativismo e Desenvolvimento. editora Contexto, Ed. 6, fevereiro 2013. SebrAe, Serviço brasileiro de Apoio às micro e Pequenas empresas. Empresas em Arranjos Produtivos Locais. Disponível em: http://www. sebrae.com.brAcesso em: 19/12/2012. SerrA, m.A. & P AulA, N.m. de Desenvolvimento Local: A Experiência Paranaense com os Arranjos Produtivos Locais. In: melo, R. L. de & HANSEN, D.L. (orgs.), Desenvolvimento Regional: novas e velhas questões, Aracaju: editora da ufS, 2007. SIlveIrA, c.m. Desenvolvimento local: uma hipótese política. In: SIlvA, g.; cocco, g. (orgs.). territórios produtivos: oportunidades e desafios para o desenvolvimento local. Rio de Janeiro: DP&A; brasília: SebrAe, 2006. SINger, P . Uma utopia militante. Repensando o socialismo. rio de janeiro. vozes. 1998. SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J. Sistemas Locais de Produção/ Inovação:metodologia para identificação, estudos de casos e sugestões de políticas. In: dINIz, c. c.; lemoS, m.b. (org.). Economia e Território. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p.287-320. vArgAS, m. Proximidade Territorial, Aprendizado e Inovação: um estudo sobre a dimensão local de processos de capacitação inovativa em arranjos e sistemas produtivos no Brasil. Rio de Janeiro: IE/UFRJ 2002. (tese de doutorado). zAP AtA, t. et al. Desenvolvimento local: estratégias e fundamentos metodológicos. rio de janeiro: ritz, 2001. Artigo enviado em 11/09/2014, aceito em 17/09/2014 50 Dissertar Dissertar Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 A brief history of resolution of equations algebraic degree of 3 Una breve historia de la resolución de ecuaciones algebraicas de grado 3 Na Matemática a teoria das equações algébricas é de relevância indiscutível. Assim, neste artigo, faremos uma exposição histórica do problema da resolução de equações algébricas com coeficientes reais (de grau 3), desde os antigos babilônios passando pelas civilizações grega, árabe e chinesa até chegarmos às contribuições de alguns matemáticos italianos como, por exemplo, Gerônimo Cardano, o brilhante mau-caráter; Niccolò de Brescia (Tartaglia) o pobre menino autodidata e Rafael Bombelli, o destemido manipulador dos números complexos. Comentaremos que na Grécia Clássica, problemas de enunciados muitos simples como, a duplicação do cubo e a trissecção do ângulo, ficaram famosos pela impossibilidade de serem resolvidos usando exclusivamente a régua não-graduada e o compasso, e que ao longo dos tempos e em particular no período helênico (compreendido entre o século VI a.C. e o século V d. C.), se tornaram uma fonte rica de idéias e processos matemáticos. In mathematics the theory of algebraic equations are of great importance. So, in this article, it will be shown a historical exposition of the resolution problem of algebraic equation with rational coefficients, since the ancient Babilonics passing through Greek, Arabic and Chinese civilizations up to the contribution of the Italian mathematic, for example, Gerônimo Cardano, the brilliant bad-character; Niccolò of Brescia (Tartaglia) the poor autodidactic boy and Rafael Bombelli, the fearless manipulator of complex numbers. We will mention that in Classical Greece, very simple problems statements, such as duplication of the cube and trisection of the angle became famous by the impossibility of being resolved using exclusively no-graduated ruler and the compass, and that over time and particularly in the Hellenic period (between the sixth century a.C and the fifth century d. C), to become a rich source of ideas and mathematical processes. Palavras-chave: Equações, Álgebra, História. En matemáticas la teoría de ecuaciones algebraicas es sin duda relevante. Así que en este artículo vamos a hacer una recorrida histórica del problema de resolver ecuaciones algebraicas con coeficientes reales (grado 3), desde los antiguos babilonios, antiguos griegos, árabes y civilizaciones chinas hasta que lleguemos a las contribuciones de algunos matemáticos italianos como, Geronimo Cardano, el brillante personaje malvado; Niccolò di Brescia (Tartaglia) los pobres autodidacta chico y Rafael Bombelli, el manejador de miedo de los números complejos. Se comenta que en la Grecia Clásica, los problemas de muchas declaraciones simples como, la duplicación del cubo y la trisección del ángulo, hecho famoso por la incapacidad para resolver usando sólo regla no graduada y compás, y que con el tiempo y, en particular, en el período helénico (entre el siglo V antes de Cristo y el siglo V d. C.), se convirtió en una rica fuente de ideas y procesos matemáticos. de vista, relatar que na europa de 500 a 1600 os matemáticos italianos descobriram um método de resolução para equações de grau 3 que exigia transformações prévias, e assim, obtiveram com êxito uma expressão que envolvia combinações finitas de radicais (as chamadas “fórmulas por meio de radicais”), que permitia calcular uma de suas raízes. Apesar de tudo, uma pergunta que surgiu naturalmente entre os matemáticos, foi: como eram resolvidas as equações de grau maior que 3? Assim, para responder a essa pergunta, faremos uma breve retrospectiva histórica. daí, para as equações de grau 4, no livro do matemático italiano, gerônimo cardano (1501-1576) tornava conhecida à solução de uma equação quártica devida a seu discípulo ludovico ferrari (1522-1565). e para as equações de grau maior que 4?. esta é uma pergunta que está longe de ser simples, tão pouco simples que permaneceu envolta em denso mistério por muitos anos. e, em conseqüência disso, o matemático francês Jean Le Rond Autor: Carlos Alberto Martins de Assis Mestrando em Matemática Aplicada pela FGV/RJ, Especialista em Matemática pela UFF-Niterói, Professor Auxiliar I da Estácio de Sá – Campus Cabo Frio. E-mail: [email protected] introdução uma das grandes preocupações da Álgebra é com a resolução das equações algébricas. e partindo disso, o tema central deste trabalho é apresentar uma linha histórica de como eram resolvidas algumas equações algébricas com coeficientes reais (de grau 3), partindo desde a época dos antigos babilônios, passando pelas civilizações grega, chinesa e árabe, isto é, apresentar situados historicamente os métodos de resolução utilizados em algumas equações algébricas (de grau 3). e ainda, sob o mesmo ponto 51 Dissertar Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis (grau quatro). Encontrou-se uma tábua babilônica que fornece além de uma tábua de quadrados e de cubos dos inteiros de 1 a 30, também a seqüência de valores de n2 + n3 correspondente a esse intervalo. São dados muitos problemas que levam a cúbicas da forma x3 + x2 = b, os quais são resolvidos usando-se a tábua de n2 + n3. Para exemplificar esse método, construiremos uma tábua dessas para n de 1 a 14 e por meio desta tábua, vamos resolver o seguinte problema babilônico: “Somei o volume e o dobro de uma superfície do meu cubo e obtive como resultado 3136. encontre o comprimento do lado”. Assim, chamando de x o comprimento do lado do cubo, obtemos a seguinte equação cúbica x3 + 2x2 = 3136. Veja a tábua abaixo: d’Alembert, em 1746, pensou ter demonstrado o seguinte teorema: “toda equação algébrica de grau n (n ≥ 1) admite pelo menos uma raiz complexa”. Esse teorema, conhecido como teorema de D’Alembert ou teorema fundamental da Álgebra, só foi demonstrado por Karl F. Gauss, em 1799, em sua tese de doutoramento. Com efeito, Paolo Ruffini (1765-1822), em 1813, apresentou uma demonstração da impossibilidade de se obter uma fórmula resolutiva da equação de grau 5. Mas tal demonstração apresentava lacunas. Finalmente, o jovem matemático norueguês Niels Henrik Abel (1802-1829) provou, em 1821, a impossibilidade de se obter uma fórmula que expressava as raízes de uma equação do quinto grau por meio de radicais. Ainda assim uma questão permanecia: já que as equações de grau ≥ 5 não são, de modo geral, resolúveis por radicais, mas alguns tipos o são, como já se sabia bem antes de Abel, o que caracteriza matematicamente estas últimas? A resposta a essa pergunta seria dada pelo matemático francês Evariste Galois (1811-1832), em cuja obra aparece delineado pela primeira vez o conceito de grupo, inclusive com esse nome. resumidamente, a idéia de Galois para responder a essa pergunta foi associar a cada equação um grupo formado por permutações de suas raízes e condicionar a resolubilidade por radicais a uma propriedade desse grupo. e, como para toda equação de grau ≤ 4 o grupo de permutações que lhe é associado goza dessa propriedade e para > 4 sempre há equações cujo grupo não se sujeita a essa propriedade, a questão da resolubilidade por radicais estava por fim esclarecida. E essa condição necessária e suficiente para saber quando uma equação seja resolúvel por radicais ficou conhecida como “grupo de galois”. Mas embora não existam fórmulas resolutivas de equações algébricas de grau maior que 4, existem os métodos numéricos – como, por exemplo: o método de Newton-Raphson (1690) – que permitem descobrir essas raízes, utilizando aliados cada vez mais indispensáveis, que são as calculadoras programáveis e os computadores. esse resultado, ou seja, a impossibilidade de se obter soluções para equações de grau maior ou igual a 5 por meio de radicais, deve-se a dois jovens, Niels Abel e evariste galois que foram os propulsores da Álgebra Moderna, uma das mais belas páginas da matemática e uma das principais conquistas dessa ciência no século xIx. Tábua 1 Determina a raiz procurada n n2n3n2 + n3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1 4 9 16 25 36 49 64 81 100 121 144 169 196 1 8 27 64 125 216 343 512 729 1000 1331 1728 2197 2744 (n3 + n2) + n2 = 3136 2 12 36 80 150 252 392 576 810 1100 1452 1872 2366 2940 3 16 45 96 175 286 441 640 891 1200 1573 2016 2535 3136 Assim, observando a tábua de valores de n2 + n3, uma raiz da equação x3 + 2x2 = 3136 é n = x = 14. Números negativos não existiam, portanto todos os cálculos eram feitos somente com números positivos e, embora existisse a subtração, não constam cálculos do tipo a - b = c , onde b > a . Podemos observar, em suma, que os babilônios eram infatigáveis construtores de tábuas, calculistas extremamente hábeis. Para aguçar a curiosidade do leitor, deixo como exercício o seguinte problema babilônico cuja data é de aproximadamente 1800 a.C. Um passeio pela história... Os babilônios Ao nos referirmos à matemática babilônica, queremos dizer o tipo de matemática cultivada na antiga mesopotâmia, a região entre os rios Eufrates e Tigre, ou, grosseiramente, o que é hoje o Iraque. Por volta de 4000 anos a.c., os sumerianos desenvolveram um idioma escrito, que chamamos escritura cuneiforme. em seguida, os acadianos adquiriram e desenvolveram sua cultura e, por volta de 1800 a.c., chegou ao poder Hammurabi, da cidade de Babel. É comum chamar todas essas culturas de babilônicas. os arqueólogos nos tempos atuais têm obtido de suas escavações cerca de 500.000 tábuas de barro com escritura cuneiforme. Perto de 300 dessas tábuas são de matemática, e estas têm sido traduzidas desde 1920. As tábuas explicam como se resolviam equações quadráticas, seja pelo método equivalente ao de substituição numa “fórmula geral”, seja pelo método de completar quadrados, como também se discutiam algumas cúbicas (grau três) e algumas biquadradas r esolver o sistema de equações . Os gregos e os árabes o envolvimento grego com as equações cúbicas é razoavelmente intenso. Assim, dentre os vários matemáticos gregos que se empenharam na busca da resolução de algumas equações de grau 3, podemos citar dionysodorus de caunus (250-190 d.c.) 52 Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis que obteve uma solução para essas equações a partir de uma construção geométrica envolvendo a interseção de uma parábola e uma hipérbole, método que também foi proposto pelo o grego Arquimedes (287-212 a.c.). Na civilização árabe, a álgebra de al-Khowârizmî apresenta pouca originalidade. Explicam-se as quatro operações elementares e resolvem-se equações lineares e quadráticas, estas últimas aritmética e geometricamente. Além disso, apresentava também, algumas questões envolvendo mensuração geométrica e alguns problemas de herança. As melhores atribuições dadas pelos matemáticos muçulmanos verificaram-se no campo da álgebra geométrica. E dessas a mais importante se deve a Omar Khayyam (1048-1122), com a resolução geométrica de algumas equações cúbicas. Seu método era também baseado na interseção de cônicas (um semicírculo e uma parábola). Iremos estudar o procedimento feito por Arquimedes. Portanto, considere as equações x3 + b2x = cb2 e x2 = by, onde as incógnitas x, y, e as constantes a, b e c pertencem a . Com efeito, substituindo a 2ª equação na 1ª, fica na forma mas que muito provavelmente contém material bem mais antigo. É uma síntese do conhecimento matemático chinês antigo. Nele estão estabelecidos os traços da matemática antiga da china: cálculos orientados, com teoria e prática ligadas numa seqüência de problemas aplicados. o trabalho, que é rico em conteúdo, consta de 246 problemas sobre agricultura, procedimentos em negócios, engenharia, agrimensura, resolução de equações e propriedades de triângulos retângulos. São dadas regras de resolução, mas não há demonstrações no sentido grego. Um dos métodos mais antigos de aproximação das raízes reais de uma equação é a regra conhecida como regula duorum falsorum, muitas vezes chamada de regra da falsa posição dupla. esse método aparece nos capítulos sobre a Arte da Matemática, e se espalhou pela Índia e pela Arábia. De maneira abreviada, e em forma moderna, o método é este: para resolver uma equação f(x) = 0, admite-se que, em tal momento, dois valores “falsos” para x : x1 e x2 . Com efeito, iremos calcular f(x1) e f(x2) de modo que, possuam o menor erro possível, isto é, estejam bem próximos de zero. Daí, a intersecção da corda de extremidades (x1, f(x1)) e (x2, f(x2)) com eixo das abscissas, dá uma aproximação da raiz procurada (figura abaixo), ou seja, . Note que, a 2ª igualdade representa uma parábola x 2 f ( x1 ) − x1 f ( x 2 ) f ( x1 ) − f ( x 2 ) o processo pode ser repetido com o par apropriado x1, x3 , ou x3, x2. x. 3 = e esta última uma hipérbole. Daí, traçando ambos os gráficos sobre o mesmo conjunto e coordenadas, a abscissa do ponto de interseção das curvas será uma raiz da equação x3 + b2x = cb2. Para exemplificar, tome a equação x 3 + 4x = 16, que pode ser reescrita na forma x3 + 22x = 22 x 4 . Com efeito, verificamos que a parábola e a hipérbole terão as formas: x2 = 2y e y = Dissertar Figura 2 Determina a raiz x3 procurada 8 −2. x (x1 , f ( x1 ) ) ou seja, pela figura abaixo, Figura 1 A interseção entre as Cônicas. x x1 x3 x2 (x2 , f ( x2 ) ) Para exemplificar esse método, vamos calcular até a terceira casa decimal, a raiz de x3 – 36x + 72 = 0 situada entre os valores “falsos” 2 e 3. Sua solução fica: Para x1 = 2 ⇒ f(x1) = 23–36.2+72 = 8 e x2 = 3 ⇒ f(x2) = 3 3 –36.3+72 = –9. Então, a corda tem extremidades (2,8) e (3,–9). Conforme se vê, podemos afirmar que uma solução correspondia a x = 2. Devemos ficar muito impressionados de ver quão hábil deveria ter sido para fazer isto sem símbolos, sem fórmulas e sem ferramentas. Assim, a aproximação procurada é: . Note que, f (2,470) está bem próximo de zero. Após o declínio da matemática grega clássica, a matemática da china tornou-se uma das mais criativas do mundo. enquanto a europa ocidental atravessava o marasmo cultural da Baixa Idade Média, a matemática chinesa crescia, produzindo resultados que a europa só iria redescobrir muito mais tarde, durante ou após o renascimento. Os chineses Na china antiga um relato da história da matemática começa no período Shang, onde o mais importante dos textos de matemática chineses antigos é o K’ui-ch’ang Suan-shu, ou Nove capítulos sobre a Arte da Matemática, que data do período Han, 53 Dissertar Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis ou seja, a + − b = 3 2 + − 121 e As contribuições dos matemáticos italianos Provavelmente o feito matemático mais extraordinário do século XVI foi a descoberta, por matemáticos italianos (especialmente da universidade de bolonha), da solução algébrica das equações cúbica e quártica. um deles, chamado Scipione dal ferro (1465-1526), conseguiu resolver, quase no início do século xvI, a equação x 3 + px = q. mas como era de costume na época, não publicou sua solução. Não demorou muito e outro matemático italiano, Niccolò de brescia (1499-1557), conhecido por tartaglia (devido à sua gagueira), em 1541, independentemente, também chegou a uma solução para as equações cúbicas. Na Itália, gerolamo cardano (1501-1576), um intelectual extraordinário e polivalente, mas a cujo caráter muitas ressalvas se faziam, cogitava a essa altura publicar um livro de álgebra, aproveitando algumas idéias suas sobre o assunto. Influente e insinuante como era, conseguiu atrair tartaglia para uma entrevista na qual, prometendo segredo e acenando algumas possíveis recompensas, acabou obtendo a solução desejada. Para desespero de tartaglia, quando o livro de cardano saiu em 1545 com título de ArS mAgNA (arte maior), nele figurava a solução de x3 + px = q , o que gerou uma polêmica de mais de um ano entre os dois. A regra de cardano verbalmente para resolver x 3 + px = q que figura no ARS MAGNA é: ( (iii) Substituindo em (i) e em (ii), temos: 3 2 + − 121 . 3 2 − − 121 = 3 4 + 121 = 5 ⇒ 3 3 2 − − 121 = 2 +11 1 −1 daí tira-se que a = 2 e b = 1. logo, x = 2 + − 1 + 2 − − 1 = 4. Percebendo claramente a importância deste achado, o próprio bombelli diz: era um pensamento louco, segundo o julgamento de muitos, e por muito tempo eu também fui da mesma opinião. Tudo parecia apoiar-se mais em sofismas do que na verdade. Ao realizar seus cálculos, bombelli criou as seguintes regras para se operar com − 1 : ( − 1)(. − 1) = −1 (− − 1). − 1 = 1 (− − 1)(. − − 1) = −1 (a + b 1 2 − − 121 sejam do tipo a + − b e −1 ) ( ) − 1 + c + d − 1 = (a + c ) + (b + d ) − 1 . Portanto, estavam lançadas as bases para o futuro desenvolvimento da Teoria dos números complexos. Bombelli foi o último grande algebrista italiano da renascença, tendo seu livro lido amplamente em outras partes da europa. Hoje, podemos pensar em equações cúbicas como sendo essencialmente todas do mesmo tipo e podendo todas ser resolvidas por um mesmo método. (boyer, 2002, p. 194). ”. A demonstração da Fórmula Seja K o corpo dos números reais e seja uma equação algébrica de grau 3 com coeficientes em K e a ≠ 0 do tipo ax3 + bx2 + cx + d = 0 (Ι). daí, substituindo, em (Ι), a relação x = y + m e calculando m de modo a anular o termo de 2º grau, temos, a(y+m)3 + b(y+m)2 + c(y+m) + d = 0, ou seja, ay3 + y2(b+3am) + y(3am2+2bm+ x = 3 2 + − 121 + 3 2 − − 121 , onde de antemão podemos perceber diretamente que x = 4 é uma solução desta equação. bombelli decidiu trabalhar como se as “raízes quadradas de números negativos fossem verdadeiros números”. Então, para obter o resultado x = 4, parte do raciocínio segundo o qual os números 3 ( ) ± 1(− − 1 ) = ±1 −1 = ± −1 criou também a regra para a soma de dois números do tipo a + b −1 : . mas, no entanto cardano sabia que x = 3. Entretanto, um outro algebrista italiano chamado Rafael bombelli (cerca de 1526-1573) publicou um livro chamado L’Algebra parte Maggiore dell’Arithmetica em que descreve as idéias de Cardano de forma didática. É precisamente neste livro onde aparece pela primeira vez a necessidade explícita de introduzir os “números imaginários” e também uma primeira apresentação do assunto. Ao aplicar a fórmula de Cardano no exemplo dado por x3 = 15x + 4, bombelli obtém: 2 + − 121 e + b (i). elevando ao e estudando os casos em que p e/ou q são negativos, chegase às raízes quadradas de números negativos. Assim, cardano descobriu uma nova espécie de números que chamou de numeri ficti (que no século XVII ficaram conhecidos como números imaginários, por rené descartes). Um exemplo muito interessante de Cardano é: “para x3 = 8x + 3 3 2 (ii) É exatamente esta regra que na literatura se chama a fÓrmulA de cArdANo. Simbolicamente podemos escre- obtenho, segundo a fórmula: ) daí, x = a + − b a − − b = a cubo os números abaixo, obtemos: Eleve ao cubo 1/3 do coeficiente da primeira potência. Adicione o quadrado da metade do número. tome a raiz quadrada do todo. Adicione e subtraia a metade do número, obtendo um binômio e seu apótema. Subtraindo a raiz cúbica do apótema1 da raiz cúbica do binômio1, você obtém a incógnita procurada. vê-la como: )( a − − b = 3 2 − − 121. c) + (m3a + bm2 + cm + d) = 0. logo, . Portanto é suficiente estudar as equações do terceiro grau do tipo x3 + py + q = 0 (ΙΙ). a − −b, Assim, para resolver a equação (ΙΙ), vamos supor que y = A + B (ΙΙΙ). terminologia usada por euclides no livro x dos elementos. 54 Dissertar Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis elevando ao cubo os membros da igualdade (ΙΙΙ), temos, y3 = (A + B)3, o que implica, y 3 = A3 + B3 + 3AB(A + B). como y = A + B, temos y3 = A3 + B3 + 3ABy, ou 3 y – 3ABy – (A3 + B3) = 0 (iV). comparando a igualdade (ΙΙ) com (iV), temos que, II – divisão de um ângulo qualquer em 3 partes iguais (trissecção do ângulo); p = – 3AB q = – (A3 + B3) ou ainda, θ p3 A3B3 = – 27 θ 3 Figura 4 – A trissecção do ângulo A3 + B3 = – q Somente 20 séculos depois dos problemas terem sidos propostos é que foi demonstrado que estas construções são impossíveis de serem realizadas (usando os instrumentos inicialmente impostos), com o desenvolvimento da Aritmética, da Álgebra e da Análise durante o século XIX. O matemático francês Pierre Laurent Wantzel (1814-1848) que era lingüista e engenheiro da prestigiosa École Polytechnique, foi quem apresentou a impossibilidade da duplicação do cubo e da trissecção do ângulo, utilizando o teorema 2 (auxiliar) a seguir. Assim, para abordar tais problemas, utilizaremos os seguintes teoremas aludidos abaixo. o leitor que estiver interessado em pesquisar alguma demonstração deverá consultar as referências bibliográficas (courANt, 2000, p.163) e (gArbI, 1997, p. 179). Portanto, se conseguirmos achar os números A e B, então y = A + B será raiz da equação y3 + py + q = 0. ora o problema de achar, A 3 e B3 conhecendo a sua soma e o seu produto é, como sabemos um problema clássico que se resolve com a equação do segundo grau . Assim utilizando a fórmula de Bhaskara para resolver esta equação, obtemos e (binômio) (apótema) e conseqüentemente, a com a e b primos b entre si, é raiz da equação polinomial de coeficientes inteiros cnxn +cn-1xn-1 + ...+ c2x2 + c1x + c0 = 0, então a será um divisor de c0 e b um divisor de cn. Teorema 1: Se um número racional, . Portanto, y1 = A + B, dada pela fórmula acima, é uma raiz da equação y3 + py + q = 0. conhecida a raiz y 1 de (ΙI), é possível fatorar o polinômio y3 + py + q, dividindo-o por y – y1, reduzindo, então, o problema de determinar as outras duas raízes de (ΙI) à resolução de uma equação de grau 2. finalmente, obtém-se as três raízes de (Ι): x1 = y1 + m, x2 = y2 + m e x3 = y3 + m. Teorema 2 (auxiliar): A condição necessária e suficiente para que três raízes de uma equação de grau 3, de coeficientes racionais, sejam construtíveis por régua e compasso é que uma delas seja racional. i – A Duplicação do Cubo: Se o cubo dado tiver uma aresta de comprimento unitário seu volume será a unidade cúbica; exige-se que encontremos a aresta x de um cubo com o dobro deste volume. A aresta x exigida, portanto satisfará a seguinte equação cúbica Os dois Problemas Famosos da Geometria Grega Na Grécia Clássica, apareceram dois famosos problemas de enunciados muito simples: a duplicação do cubo e a trissecção do ângulo, que caíram como uma verdadeira bomba em sua cultura, e que mais tarde se transformariam para todos os gregos numa grande frustração, devido à impossibilidade de prová-los exclusivamente com o emprego de dois instrumentos: a régua não-graduada e o compasso. o estudo destes dois problemas geométricos que desafiaram o poder inventivo de inúmeros matemáticos e intelectuais durante mais de dois mil anos deu-se início no período helênico (período compreendido entre o século vI a.c. e o século v d.c.). os dois problemas são: x 3 = 2.1 ⇒ x 3 − 2 = 0 (i). Suponhamos que a aresta x procurada seja um número racional, isto é, a raiz da equação (i) seja um número da forma a a , onde é uma fração irredutível. Pelo teorema 1, a será um b b divisor de –2 e b será um divisor de 1. os possíveis valores de a são: ±1 e ±2 e os de b são: ±1. logo temos as possibilidades: I – construção da aresta de um cubo cujo volume seja o dobro do volume de outro (duplicação do cubo); a + 1 + 1 − 1 − 1 + 2 + 2 − 2 − 2 . ou seja:{ +1,–1,+2, –2}. ∈ , , , , , , , b +1 −1 +1 −1 +1 −1 −1 +1 mas nenhum destes números é raiz, pois as igualdades 1 3 – 2 = 0, (–1)3 – 2 = 0, 23 – 2 = 0 e (–2)3 – 2 = 0 são todas falsas. Portanto x3 – 2 = 0 não tem raízes racionais e a aresta x procurada não pode ser construída somente com régua e compasso, pelo teorema 2 (auxiliar). Figura 3 – A duplicação do Cubo 55 Dissertar Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3 Carlos Alberto Martins de Assis II–A Trissecção do Ângulo: Para a trissecção do ângulo, o raciocínio é o seguinte: se um ângulo ϴ é construtível por régua e compasso, então seu Referências Bibliográficas AAboe, A. Episódios da História Antiga da Matemática, rio de Janeiro: Coleção do Professor de Matemática/Sociedade Brasileira de matemática (Sbm), 2002. BEKKEN, O. B. Equações de Ahmes até Abel, USU/GEPEM, 1994. boyer, c. b. História da Matemática, São Paulo: edgard blücher, 2002. cArNeIro, j. P . q. Equações algébricas de grau maior que dois: Assunto para o ensino médio?, Rio de Janeiro: Revista do Professor de matemática nº 40, 2º quadrimestre de 1999. COURANT R., Robbins H. O que é Matemática?, rio de janeiro: editora ciência moderna, 2000. coNtAdor, P . r. m. Matemática, uma breve história, São Paulo: Editora Livraria da Física, Vols. I e ΙI, 2006. EVES, H. Introdução à História da Matemática, tradução: Hygino H. domingues, São Paulo: editora da unicamp, 2004. gArbI, g. g. O Romance das Equações Algébricas, São Paulo: Makon Books, 1997. guImArÃeS, P. S. w, Santa maria: editora da ufSm, 2006. cosseno: cosϴ = φ também o é e reciprocamente. Por uma simples θ fórmula da trigonometria o cos = z está relacionado com o 3 cosϴ =φ pela equação θ θ . θ = ϕ = 4. cos 3 − 3 cos cos 3 3 em outras palavras, o problema de trissectar o ângulo ϴ com cosϴ = φ equivale a construir uma solução da equação cúbica 4z3 – 3z – φ = 0 (i). Para mostrar que isto não pode ser feito em geral, vamos considerar o caso particular para ϴ = 60º, de modo que 1 ϕ == cos cos 60º 60 ° = . A equação (i) torna-se então 8z 3 – 6z – 1 = 0 (ii). φ 2 Suponhamos que com ϴ = 60º, z = cos 20º seja um número racional da forma a , isto é, que z seja uma raiz racional da equab a ção (ii), onde é uma fração irredutível. Assim, pelo teorema 1, b a será um divisor de –1 e b será um divisor de 8. os possíveis valores de a são: ±1 e os de b são: ±1, ±2, ±4 e ±8. logo temos as possibilidades: a +1 +1 −1 −1 +1 + 1 −1 −1 + 1 + 1 −1 −1 + 1 + 1 −1 −1 ∈ , , , , , , , , , , , , , , , . b +1 −1 +1 +1 + 2 − 2 + 2 − 2 + 4 − 4 + 4 − 4 + 8 − 8 + 8 − 8 1 1 1 1 1 1 ou seja: + 1,−1, ,− , ,− , ,− . 2 2 4 4 8 8 mas nenhum destes números são raízes da equação (ii). Portanto 8z3 – 6z –1 = 0 não tem raízes racionais e assim, pelo teorema 2, z = cos 20º não pode ser construído com régua e compasso. Considerações finais A humanidade levou milhares de anos para descobrir a solução da equação de 3° grau, mas um aspecto interessante e atraente para estudo e discussão entre alunos e professores que vêm perdendo o significado e a sua potencialidade, é o aspecto histórico. os processos de resolução da equação de grau 3, que desenrolaram um grande cenário notável dentro da história, necessitam ser resgatadas, pois, os progressos matemáticos que antecederam à solução, conseguiram chegar ao limite do conhecimento matemático da época. Artigo enviado em 11/01/2015, aceito em 10/02/2015 56 Dissertar Dissertar Médico veterinário: Profissional de saúde da família Veterinary doctor: Health Professional family Médico veterinario: Profesional de salud de La familia O objetivo deste estudo foi demonstrar através de uma revisão da literatura sobre a importância do médico veterinário na saúde pública e seu papel no programa de saúde da família. Foi utilizado como metodologia de pesquisa para elementos capazes de fabricar uma revisão de literatura pode fomentar a discussão sobre o papel do médico veterinário na saúde pública e do seu lugar no programa de saúde da família, pesquisando sites especializados. A pesquisa das bases de dados foi realizada utilizando a terminologia cadastrada em Ciências da Saúde criada pela Biblioteca Virtual em Saúde utilizando as palavras-chave da saúde pública; veterinário; saúde da família. A busca resultou em 34 fontes bibliográficas que permitiram elaborar sobre a necessidade de participação efetiva em equipes médicas veterinárias em saúde da família. The aim of this study was to demonstrate through a literature review of the importance of the veterinarian in public health and its role in family health program. It was used as a methodology to search for elements able to fabricate a literature review that can foster discussion about the role of the veterinary doctor in public health and its place in the family health program by searching specialized websites. A search of the databases was performed using the terminology Indexed in Health Sciences Descriptors created by the Virtual Health Library using the keywords Public Health; veterinarian; family health. The search resulted in 34 bibliographic sources that allowed elaborate on the need for effective participation in veterinary medical teams in family health El objetivo de este estudio fue demostrar a través de una revisión de la literatura sobre la importancia del veterinario en la salud pública y su papel en el programa de salud de la familia. Fue utilizado como una metodología para buscar elementos capaces de fabricar una revisión de la literatura se puede fomentar la discusión sobre el papel del médico veterinario en la salud pública y su lugar en el programa de salud de la familia mediante la búsqueda en sitios web especializados. Se realizó una búsqueda de las bases de datos utilizando la terminología indexadas en Ciencias de la Salud creada por la Biblioteca Virtual en Salud utilizando las palabras clave de salud pública; veterinario; salud de la familia. La búsqueda resultó en 34 fuentes bibliográficas que permitieron elaborado sobre la necesidad de una participación efectiva en los equipos médicos veterinarios en la salud familiar. Pether Neves Fernandes Mestrando em formação para a pesquisa biomédica pela UFRJ. Especialização em enfermagem do trabalho pela UNIG. Enfermeiro pela UNIG. E-mail: [email protected] Palavras-chave: Saúde Pública, Medicina Veterinária, Saúde da Família. Autores: Paulo Sergio Martins Castelo Branco Doutor em Medicina (Radiologia) pela UFRJ. Mestre em Medicina Veterinária (microbiologia) pela UFRRJ. Especialista em Microbiologia pela FTESM. Especialista em docência superior pela UCAM. Especialista em Supervisão e Gestão escolar pela UCAM. Medico Veterinário pela UNIGRANRIO. Licenciado em Ciência Biológicas pela UNESA. Tecnólogo em Radiologia pela UNESA. Médico pela UNESA. Professor da UNESA E-mail: [email protected] introdução Apesar da associação dos animais com a espécie humana ter começado em períodos pré-históricos, o desenvolvimento da Medicina Veterinária científica é considerado recente. O interesse inicial foi determinado mais por razões econômicas do que por motivos humanitários, associadas com a importância da criação doméstica como fonte de alimentos e como animais de trabalho (Thrusfied, 2004). A Medicina Veterinária tem uma longa história de contribuições para a manutenção e promoção da Saúde Pública (Hendrix et al, 2005). Um papiro egípcio de 1900 a.C. foi considerado por vários historiadores como o primeiro tratado de veterinária e desde aquela época os praticantes das artes médicas e veterinárias já tinham a preocupação com os possíveis riscos que os animais doentes representavam para a saúde humana. (crmv, 2002). desde Bárbara Galvão da Silva Formação em Gestão Ambiental pela FIJ. Cursando Medicina Veterinária pela UNESA. E-mail: [email protected] Mariana Costa da Silva Cursando Medicina Veterinária pela UNESA. E-mail: [email protected] 57 Dissertar Médico veterinário: Profissional de saúde da família Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes que foram estabelecidos padrões de convivência coletiva, o homem tem lutado contra as enfermidades que põem em risco a saúde dos seus animais. No entanto, muitas das doenças que dizimaram seus rebanhos também foram responsáveis pela morte de milhares de pessoas. A medicina veterinária forneceu as bases para os primeiros esforços direcionados à saúde pública, com o objetivo de combater as doenças animais e também humanas, que estavam associadas a alimentos de origem animal (Pfuetzenreiter, 2003). A partir da revolução microbiológica, dava-se início à fase das campanhas ou ações coletivas na medicina veterinária. Sua principal característica foi a prevenção e o controle de doenças baseados em ações populacionais. Muitas destas medidas foram desenvolvidas por veterinários, sendo aplicadas com sucesso a problemas similares em Saúde Pública (Pfuetzenreiter, 2003). O objetivo desse trabalho é mostrar a importância o médico veterinário no programa saúde da família, caracterizando-o como um profissional de saúde coletiva capaz de interferir positivamente para a manutenção da saúde populacional. este propósito é justificado pela necessidade de ações profiláticas e resolutivas em doenças de cunho zoonóticos e naquelas transmitidas por água e alimentos A formação curricular do Médico Veterinário privilegia esses aspectos, colocando-o em condições técnicas para capitanear os esforços sanitários necessários para o controle e erradicação de tais doenças. o termo Saúde Pública pode gerar muitas discussões quanto à sua definição estando associado de modo equivalente a denominações como “Saúde Coletiva”, “Medicina Social / Preventiva / Comunitária”, “Higienismo”, “Sanitarismo”. No Brasil, a História da Saúde Pública nos revela a pouca importância que vários governos tiveram em relação à mesma. Somente na década de 50, no então governo getúlio vargas, é que houve a criação do Ministério da Saúde e no final da década de 80, a criação do Sistema Único de Saúde (SuS), por intermédio da constituição federal de 1988 e sua conseqüente regulamentação pela Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) no início da década 90. desta maneira os municípios passaram a assumir as atividades anteriormente desenvolvidas pelo estado. Desta forma, o Artigo 200 (da constituição federal de 1988) e o 6° (da lei orgânica Saúde 8080 de 1990) destacam as ações da Saúde Pública, entre elas a vigilância Sanitária (vISA) e a vigilância epidemiológica, as quais o médico veterinário pode desempenhar por sua formação profissional (PAIM, 1980). O SUS é definido, como um conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público. A forma de organização do sistema de saúde do país é baseada nos princípios da integralidade, universalidade, equidade e inter setorialidade, tendo como modelo a atenção integral à saúde, diferenciando-se do modelo de atenção à saúde anterior, que era apenas curativo (guImArÃeS et al., 2010). Ao analisar o campo de atuação do SuS instituído na lei nº 8.080/90, verifica-se execução de ações de: vigilância sanitária e epidemiológica; de saúde do trabalhador; fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas, para consumo humano. Associando a este contexto a Lei Federal 5.517 de 1968 nos Art. 5º e 6º verifica-se que é da competência do médico veterinário o exercício de atividades de inspeção e fiscalização sob o ponto-de-vista sanitário, higiênico e tecnológico de produtos de origem animal; além de atividades ou funções públicas e particulares, relacionadas com o estudo e a aplicação de medidas de saúde pública no tocante às doenças dos animais transmissíveis a espécie humana. O espectro das atribuições profissionais do Médico Veterinário é muito amplo. Esse profissional é uma das maiores expressões da múltipla atuação profissional em três mundos: o vegetal, o animal e o humano. É da diversidade de seu campo de trabalho que se origina a riqueza e a inegável contribuição ao desenvolvimento dos povos, incluindo tudo o que se refere à Saúde Pública (dutrA, 2006). em países como os estados unidos, Inglaterra, frança e Alemanha, pesquisadores têm demonstrado preocupação com o tema das zoonoses de animais de companhia e os riscos para a saúde humana, e têm enfatizado o papel do médico veterinário na educação dos proprietários de animais para a promoção da saúde e prevenção destas doenças (chomel, 1992; riordan e Tarlow, 1996; Mong, Feinstein e Heidmann, 1999; Geffray 1999; Robertson et al, 2000; Irwin, 2002). Segundo fiuza (2007), nos países em desenvolvimento, incluindo o brasil, o trabalho do médico veterinário ainda limita-se a prevenção das zoonoses endêmicas (leishmaniose, raiva, leptospirose, dengue, febre Amarela, malária, Peste, entre outras), emergentes e ré emergentes, além de atuar na inspeção e controle dos locais de abate e comercialização de produtos de origem animal. Em países desenvolvidos, este profissional já vem utilizando seus conhecimentos de biologia, ecologia, Histórico e panorama da medicina veterinária na saúde pública A medicina veterinária surge, em primeira estância, como uma promotora da saúde dos animais, tentando diminuir prejuízos causados pelas moléstias que os atingiam. No entanto, com o passar do tempo e o surgimento de medicina veterinária preventiva começaram a ser utilizados também para a promoção da saúde humana. outras habilidades, como a higiene e inspeção de matadouros, frigoríficos e indústrias de produtos de origem animal, solidificaram a participação deste profissional na Vigilância Sanitária, sendo este o primeiro campo de trabalho da Saúde Pública a abrir espaço para a sua atuação (fIuzA, 2007). O ingresso destes profissionais no campo das doenças transmissíveis e nos serviços médicos preventivos ocorreu pelo reconhecimento de suas habilidades e conhecimento em medicina populacional e pela importância das zoonoses. em 1946, a conferência de estruturação da Organização Mundial de Saúde recomendou a criação de uma Seção de Saúde veterinária, que foi estabelecida em 1949 (Paim e Queiroz,1970). O médico veterinário se incorpora muito facilmente ao grupo de profissionais de saúde por estar habituado a proteger a população contra as enfermidades coletivas. O tipo de formação recebida pelo médico veterinário está em harmonia com o conceito de saúde pública, que considera todos os fatores que determinam saúde coletiva, sem limitar-se às necessidades do indivíduo (PUETZENREITER et al.2004; DAHER, 2007). No brasil, a inclusão normativa do médico veterinário na área da saúde é um fato recente, datada de 1991. Na época, era escasso o conhecimento da sociedade, das autoridades e dos profissionais de saúde sobre o papel desenvolvido pelo médico veterinário na saúde pública. O profissional veterinário não compunha o elenco de profissões da saúde do conselho Nacional de Saúde (cNS) e o ministério da educação relacionava a medicina veterinária apenas com a área de ciências agrárias. A inclusão da profissão na área da saúde foi efetivada na Resolução do CNS nº 38, de 04 de fevereiro de 1993 (MEDITSCH, 2006). 58 Médico veterinário: Profissional de saúde da família Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes medidas gerais de profilaxia, medicina veterinária preventiva, administração, entre outros, para desempenhar várias funções nas diferentes áreas da Saúde Pública, inclusive coordenando as equipes de vigilância. Tendo como referência que as zoonoses representam 75% das doenças infecciosas emergentes no mundo; 60% dos patógenos humanos são zoonóticos e 80% dos patógenos que podem ser usados em bioterrorismo são de origem animal, aumenta a importância e responsabilidade da saúde pública veterinária (mINIStÉrIo dA SAÚde, 2010). A combinação do processo de globalização com o aumento acelerado da urbanização, a produção massiva de alimentos, o comércio legal e ilegal de alimentos e animais, a intensa circulação de pessoas e animais, os aspectos ambientais como a variação climática, entre outros, têm determinado o surgimento de riscos e possibilidades de surtos de doenças a serem abordadas multidisciplinar e intersetorialmente (SCHNEIDER, 2008). Dissertar de Saúde) e da fAo (food and Agriculture organization), que propôs a definição atual como: “doenças que são naturalmente transmitidas entre o homem e outros vertebrados”. A organização Panamericana de Saúde mantém a definição para as infecções ou enfermidades infecciosas transmissíveis, em condições naturais, entre animais vertebrados e o homem. Mas, anexa em seu catálogo as zoonoses e enfermidades infecciosas veiculadas por alimentos (Ávila-Pires, 2005). A publicação da omS resultante de uma reunião de especialistas em saúde pública veterinária (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975) procurou especificar essas contribuições da medicina veterinária para a Saúde Pública. São inúmeras as contribuições da medicina veterinária para a saúde humana. A primeira e mais básica função do sanitarista veterinário está fundamentada no contexto puramente veterinário por sua conexão com os animais e suas doenças, relacionado à saúde e bem-estar humanos. essas atividades refletem as qualificações específicas dos médicos veterinários e normalmente são a base da formação do veterinário de saúde pública dos organismos de saúde. A omS em 1975 descreveu o conceito de saúde pública veterinária como sendo “um componente de atividades de saúde pública devotado à aplicação de habilidades veterinárias, conhecimentos e recursos para a proteção e melhoria da saúde humana.” devido a consonância da saúde pública veterinária com outros esforços nas áreas da saúde, agricultura e ambiente, houve uma redefinição do conceito da saúde pública veterinária, passando está a ser considerada como “A soma de todas as contribuições para o bem-estar físico, mental e social dos seres humanos mediante a compreensão e aplicação da ciência veterinária” (WHO, 2002). Conceituando zoonoses e saúde pública veterinária O conceito de saúde pública veterinária foi definido em 1951 na primeira reunião da Organização Mundial de Saúde/ FAO, em 1951. Definiu-se que a saúde pública veterinária compreende todos os esforços da comunidade que influenciam e são influenciados pela arte e ciência médica veterinária, aplicados à prevenção da doença, proteção da vida, e promoção do bem-estar e eficiência do ser humano. o problema das zoonoses é destacado por vários autores (CRIPPS, 2000; OSBURN, 1996; STÖHR & MESLIN, 1997). Esse grupo de enfermidades continua a representar um importante problema de saúde para grande parte do mundo, com elevadas perdas para os setores de saúde e de agricultura, principalmente nos países em desenvolvimento. o risco de infecções emergentes por novas entidades patológicas ou por agentes conhecidos aparecendo em novas áreas ou em novas condições vem aumentando nos últimos anos. o controle das enfermidades desta natureza requer uma Cooperação inter-setorial e inter-institucional, reunindo segmentos ligados à saúde, finanças, planejamento, comércio, agricultura e indústria de alimentos, consumidores e comunidade científica biomédica e agrária (STÖHR & MESLIN, 1997). muitas das doenças que dissimulam meio aos rebanhos também são responsáveis pelo óbito de milhares de indivíduos. dentre estas doenças as mais citadas são: Brucelose, Tuberculose, Teníase, Toxoplasmose, Salmonelose, Colibacilose, Clostridioses, Leptospirose, Campilobacteriose, Listeriose, Raiva (doença), Scrapie, Encefalopatia Espongiforme Bovina (“Mal da Vaca Louca”) e a Influenza Aviária (“Gripe Aviária”). Estas são de passiveis transmissão ao ser humano, além da febre aftosa, peste suína clássica e africana, anemia infecciosa equina, doença de Newcastle, doença de Aujezski, que são zoonoses de alto impacto econômico. De acordo com Boletim da Oficina Sanitária Panamericana (1992), hoje em dia, são reconhecidas mais de cem zoonoses e inúmeras outras doenças infectam-contagiosas dos animais que trazem sérias consequências econômicas. Para combatê-las, o Médico Veterinário Sanitarista exerce uma Vigilância Epidemiológica ativa, atuando diretamente no campo e controlando o trânsito de animais, realizando a inspeção dos produtos de origem animal - como derivados da carne, do leite, dos ovos, pescado e mel e procurando sinais de doenças que possam ser transmitidas ao homem ou que possam indicar o estado sanitário dos rebanhos. O conceito de zoonose foi definido em 1959, por um comitê de especialistas em zoonoses da omS (organização mundial Atuação do médico veterinário em saúde pública A medicina veterinária encontra-se regulamentada pela Lei 5517, de 23 de outubro de 1968, que define as áreas de atuação profissional, as quais são amplas, abrangendo as diversas atividades a serem desenvolvidas pelo profissional. Algumas atividades são privativas, como a clínica veterinária, em todas as suas modalidades, o planejamento e a execução da defesa sanitária, além da inspeção dos produtos de origem animal consumidos pelo ser humano. Além das atividades privativas, o profissional pode desenvolver atividades relacionadas com produção animal e agronegócios, saúde pública e preservação do ambiente, áreas em que também atuam outros profissionais, como zootecnistas, agrônomos, biólogos e médicos. (olIveIrA FILHO; SANTOS; MONDADORI, 2009). os conteúdos curriculares relacionados à área da medicina veterinária preventiva e saúde pública (mPSP) são a epidemiologia geral e aplicada, as zoonoses, a higiene e inspeção de produtos de origem animal, o saneamento ambiental, a ecologia e proteção ao meio ambiente, a administração em saúde, o planejamento em saúde animal e em saúde pública, e a educação em saúde. o médico veterinário da clínica de pequenos animais pode contribuir com a prevenção e promoção da saúde de forma única, por meio da proteção específica dos animais, da detecção e tratamento das infecções zoonóticas, da orientação sobre a prevenção dessas enfermidades aos proprietários e da notificação de doenças e agravos às vigilâncias em saúde. Além disso, o profissional acaba sendo o único ator concreto na orientação, profilaxia e controle de parasitos internos e externos dos pequenos animais, na ausência ou deficiência de ações direcionadas à saúde dos animais e à educação formal 59 Dissertar Médico veterinário: Profissional de saúde da família Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes e informal da população por parte do governo e da escola (MEDITSCH, 2006). Face à sua atuação multifacetada e estratégica ao desenvolvimento nacional, o Médico Veterinário expandiu os espaços do seu exercício profissional, seja pela significativa contribuição no aumento da produção de alimentos, por meio do melhoramento genético dos rebanhos, das biotécnicas aplicadas à reprodução e na manutenção de padrões elevados de sanidade animal, ou em decorrência de sua ação na saúde pública, integrando equipes interdisciplinares, na vigilância sanitária e epidemiológica, no controle das zoonoses, no planejamento, na administração de campanhas sanitárias e de empresas pecuárias, na produção de fármacos e de imunobiológicos, na preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, na pesquisa científica e na difusão de tecnologias, nos programas de desenvolvimento agropecuário, no diagnóstico e controle de doenças, na inspeção e tecnologia de alimentos de origem animal. (cfmv, 1997). Essa formação multidisciplinar forjou um profissional capaz de desempenhar papel de destaque na saúde pública. Pode-se dividir em dois grupos as atividades desempenhadas pelos médicos veterinários dentro da saúde pública. o primeiro tipo estabelece as atividades para as quais o veterinário tem uma qualificação única. O outro abrange as atividades que podem ser desempenhadas igualmente pelos veterinários, pelos médicos e pelos demais profissionais do setor. No contexto da saúde pública, define-se o médico veterinário como o profissional capaz de interferir na sociedade, com seus conhecimentos específicos e de ciências básicas biomédicas, para a prevenção de doenças, proteção da vida e promoção da saúde e bem-estar humanos (MEDITSCH, 2006). tradicionalmente dentro do campo da saúde pública, a medicina veterinária tem trabalhado no controle e erradicação das zoonoses e na proteção sanitária dos alimentos (Pfuetzenreiter e outros, 2004). Além destes setores, situações específicas relacionadas com o meio ambiente têm chamado a atenção para a atuação do profissional veterinário. A incorporação nos grupos intersetoriais e interinstitucionais que planificam, executam e avaliam estudos e projetos de impacto ambiental, estão abrindo oportunidades para a presença do médico veterinário nesse segmento (Cifuentes, 1992). A responsabilidade ambiental entregue ao médico veterinário o designa a agir na conscientização da sociedade em relação à forma com que esta trata o meio em que vive, influenciando nas condições sanitárias do ambiente e podendo potencializar os riscos da aquisição de doenças. Independente de classe social, a ocupação e o manejo desorganizado dos espaços, têm sido responsáveis pela imposição do contato com animais sinantrópicos e silvestres e consequentemente pelo crescimento da ocorrência de doenças zoonóticas das mais variadas veiculações, que apresentam grande importância em saúde pública como a dengue, leishmaniose e doença de chagas. Programa saúde da família O programa saúde da família (PSF) é entendido como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizado mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades de saúde. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção de saúde de uma comunidade, com número definido de famílias localizadas em uma área geograficamente delimitada (CRMV-SC, 2008). o ministério da Saúde com o objetivo de ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade, apoiando a inserção da estratégia de Saúde da família na rede de serviços e o processo de territorialização e regionalização a partir da atenção básica criou em 2008 os Núcleos de Apoio à Saúde da família – NASf (brASIl, 2008). os NASf são constituídos por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das equipes Saúde da família, das equipes de Atenção básica, compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade destas equipes. os NASf devem buscar contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do SuS, principalmente por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e ambientais dentro dos territórios. Os NASF foram classificados em duas modalidades: NASF 1 (composto por, no mínimo, cinco profissionais de nível superior) e NASf 2 (composto por, no mínimo, três profissionais de nível superior) – todos escolhidos/definidos pelos gestores municipais (prefeituras) seguindo critérios de prioridade, identificados a partir das necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de cada uma das diferentes ocupações. Para os NASF foram elencados quase que a totalidade das profissões da área da saúde, como os médicos em várias especialidades, o Assistente Social, o profissional de Educação física, o farmacêutico, o fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o Psicólogo, o Terapeuta Ocupacional e o Nutricionista, ficando de fora e discriminada pelo Ministério da Saúde, a Classe médico veterinária (crmv-Sc, 2008). As principais atribuições do médico veterinário na Saúde Pública são: • diagnóstico, controle e vigilância em zoonoses; • Estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades não infecciosas dos animais em relação aos seres humanos; • Intercâmbio de informações entre a pesquisa médica veterinária e a pesquisa médica humana; • Estudo sobre substâncias tóxicas e venenos provenientes dos animais considerados peçonhentos; • Inspeção de alimentos e vigilância sanitária; • estudo de problemas de saúde relacionados às indústrias de produção de alimentos de origem animal, incluindo o destino adequado de dejetos; • Supervisão da criação de animais de experimentação; • estabelecimento de interligação e cooperação entre as organizações de Saúde Pública e veterinária com outras unidades relacionadas com animais; • Consulta técnica sobre assuntos de Saúde Humana relativos aos animais funções na Saúde Pública que são comuns também aos médicos e a outros membros da equipe, a saber: • epidemiologia em geral; incluindo doenças que não estão relacionadas diretamente aos animais. • laboratório de Saúde Pública; • Produção e controle de produtos biológicos; • Proteção dos alimentos em geral; • Avaliação e controle de medicamentos em geral; sendo esta uma das funções da Vigilância Sanitária. • vigilância Ambiental; incluindo saneamento básico. • Pesquisa de Saúde Pública 60 Médico veterinário: Profissional de saúde da família Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes Apesar da histórica contribuição da medicina veterinária no campo da saúde pública, apenas a partir de 2011 o médico veterinário recebe o aval legal para compor as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da família (NASf), institucionalizadas pelo ministério da Saúde e geridas pelo Sistema Único de Saúde (SuS). A publicação da Portaria 2488 de 21 de outubro de 2011 aprova a Política Nacional de Atenção básica para o SuS, e inclui a Medicina Veterinária no NASF, fazendo justiça a uma classe profissional que trabalha em prol da Saúde Pública Brasileira há muitos anos. (brASIl, 2011) o médico veterinário contribui com seus conhecimentos, atuando na avaliação de fatores de risco à saúde, relativos à interação entre os humanos, animais e o meio ambiente nos domicílios e áreas circunvizinhas em apoio as equipes de Sf. Participa da prevenção, controle e diagnóstico situacional de riscos de doenças transmissíveis por animais vertebrados e/ ou invertebrados (raiva, leptospirose, brucelose, tuberculose, leishmanioses, dengue, febre amarela, teníase/cisticercose, etc.), e outros fatores determinantes do processo saúde e doença. Atua na educação em saúde com foco na promoção da saúde e na prevenção e controle de doenças de caráter antropozoonótico e demais riscos ambientais, incluindo desastres naturais e provocados pelo homem. desenvolve ações educativas e de mobilização contínua da comunidade, relativas ao controle das doenças/ agravos na área de abrangência, no uso e manejo adequado do território com vistas à relação saúde/ambiente (desmatamentos, uso indiscriminado de medicamentos veterinários entre outros). Faz a orientações quanto a qualificação no manejo de resíduos. Promove ações de educação em saúde, nas escolas; divulgação nos meios de comunicação e sensibilização às comunidades e sociedade organizada e não organizada. Participa na prevenção e controle de doenças transmissíveis por alimentos. (mINISterIo dA SAÚde, 2011b). Dissertar da saúde populacional a partir de seus conhecimentos acerca de prevenção de doenças transmissíveis. A profissão de Médico veterinário necessita consolidar cada vez mais as posições já conquistadas, visto que várias outras profissões vêm conquistando os ramos de atuação exclusiva dos Médicos Veterinários. A conscientização da sociedade e da própria classe de médicos Veterinários, sobre as múltiplas facetas de sua profissão, bem como, a conquista de novos espaços também se faz necessária, principalmente nas áreas de Saúde Pública, por estar intimamente relacionada à saúde, bem estar e qualidade de vida da população. o sanitarista veterinário, mediante seus conhecimentos específicos, está apto a garantir a qualidade da saúde da população animal, proporcionando melhores condições ambientais, difusão de informações e orientando a população humana quanto aos princípios básicos de saúde. Referências AvIlA-PIreS, fernando dias. Dinâmica dos Reservatórios. In: COURA, J. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.65-73, 2005. boletIm de lA ofIcINA SANItArIA P ANAmerIcANA. La salud pública veterinária. Publ Cient Oficina Sanit Panam 1992;113(56):494-501. brASIl. ministério de estado da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de Diretrizes e Normas para a Organização de Atenção Básica, para estratégia Saúde Família e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Portaria 2488 de 21/10/2011. DOU Seção 1, número204, P.48-55, 2011. brASIl, Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio Á Saúde da Família – NASF. Diário Oficial da República federativa do brasil, brasília, n. 43, 04, 2008. CHOMEL, B.B. Zoonosis of house pets other than dogs, cats and birds. Pediatric Inf. Dis. J.; 11(6): 479-87, 1992. cIfueNteS, e. e. (1992). Protección del medio ambiente y actividades de salud pública veterinária. Revue Scientific Technique, 11 (1), 191-203. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. História da Medicina Veterinária no Brasil. brasília: cfmv, 2002. CONSELHO FEDERAL MEDICINA VETERINÁRIA. Quem é esse profissional? Médico Veterinário: importante para você, fundamental para o País. revista cfmv, ano III, n.10, p.23-27, 1997. crIPS, P .j. Veterinary education, zoonoses and public health: a personal perspective. Acta tropica, v.76, p.77-80, 2000. crmv-Sc. Médicos Veterinários no Programa Saúde da Família. Informe n. 2, Jun/2008. Disponível: http://www.crmvsc.org.br/pdf/ junho.pdf, Acesso em: 18/08/2013. DAHER, V. Guia de profissões. São Paulo: ediouro, 2007. dutrA, m. g. b. As múltiplas faces e desafios de uma profissão chamada Medicina Veterinária. Revista CFMV, Brasília/DF, ano xII, n. 37, 2006. fIuzA, c. Atuação do médico veterinário na saúde pública. documento em hipertexto. 2007. Disponível em: http://meuartigo.brasilescola. com/saude/atuacaomedico-veterinario-na-saude-publica.htm>. Acesso em: 14 de ago, 2008. geffrAy l. Infections transmises par lês animaux de compagnie. rev. med. Int., 20 (10):888-901, 1999. guImArÃeS, f.f.; bAPtIStA, A.A.S.; guStAvo PuglIA mACHADO, G.M.; LANGONI, H. Ações da vigilância epidemiológica e sanitária nos programas de controle de zoonoses. vet. e zootec. 17(2), p.151-162, jun 2010. HENDRIX, Charles M. et al. An interprofissional role for veterinary medicine in human health promotion and disease prevention. journal of Inter professional Care, 1 (19): 3-10, 2005. Metodologia o presente trabalho constituiu-se de uma revisão da literatura em método qualitativo, realizada entre janeiro de 2013 e dezembro de 2013, ao qual foi realizado um levantamento bibliográfico atualizado no banco de dados do scielo e da bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs. A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando às terminologias cadastradas nos descritores em ciências da Saúde criados pela biblioteca virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. Nacional Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. os uni termos utilizados foram: Saúde pública; médico veterinário; saúde da família. Os critérios de inclusão para os estudos encontrados foram à medicina pública e sua ligação com a profissão de médico veterinário. Foram excluídos estudos que relatavam o papel do médico veterinário em áreas profissionais que não interessam diretamente a saúde coletiva. esse procedimento resultou em 34 fontes de consulta que permitiram confeccionar uma revisão de literatura que irá contribuir para o conhecimento dos gestores de saúde e profissionais de saude a respeito da importancia do médico veterinário no programa saude da familia. Considerações finais vislumbrando uma realidade a curto prazo, pretende-se conceber um novo olhar à medicina veterinária, na expectativa da construção de novos paradigmas profissionais, onde o médico veterinário seja identificado como um profissional de saúde pública capaz de contribuir decisivamente para o desenvolvimento 61 Dissertar Médico veterinário: Profissional de saúde da família Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes IRWIN P.J. Companion animal parasitology: a clinical perspective. Int. j. Parasitol.; 32(5): 581-93, 2002. MEDITSCH, R. G. M. O médico veterinário na construção da saúde pública: um estudo sobre o papel do profissional da clínica de pequenos animais em Florianópolis, Santa Catarina. Revista CFMV, Brasília/ DF, ano XII, n. 38, p. maio/junho/julho/agosto, 2006. mINIStÉrIo dA SAÚde. boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICOSVS/MS ano 10 n°2 abris 2010. Disponivel em: http://portal.saude.gov. br/portal/arquivos/pdf/ano10_n02_sit_epidemiol_ zoonoses_br.pdf. mINIStÉrIo dA SAÚde. Saúde da Família: ministério define inclusão de novas especialidades profissionais nos NASFs.2011b.disponivel: http://portal.saude.gov.br/portal/aplicações/notícias. MONG, S.K.; FEINSTEIN L.H.; HEIDMANN, P. Helthy pets, healthy people. j.Am.vet.med.Asoc, 215(3): 335-8, 1999. OLIVEIRA FILHO, B. D.; SANTOS, F. L.; MONDADORI, R. G. O ensino da medicina veterinária: realidade atual e perspectivas. revista CFMV, Brasília/DF, ano XV, n. 46, p. 69-72, 2009. orgANIzAcIÓN P ANAmerIcANA de lA SAlud. A competency-based curriculum for veterinary public health and preventive medicine. Washington: Paho/WHO, 1975. 115p. (PublicaciónCientífica 313). oSburN, b.I. Emerging diseases with a worldwide impact and the consequences for veterinary curricula. veterinary quarterly, v.18, n.3, p.124-126, 1996. PAIm, g. v; queIroz j.c. Uma definição para saúde pública veterinária. Boletim de La Oficina Sanitária Panamericana, 69 (2): 166-168, 1970. PAIm, j. S. 1980. “As ambiguidades da noção de necessidade em saúde” in Planejamento. Salvador. 8 (1/2), pp. 39-46. PfuetzeNreIter, m. r. O ensino da Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública nos Cursos de Medicina Veterinária (tese de doutorado) universidade federal de Santa catarina. Programa de Pós-graduação em educação. florianopolis, 2003. PfuetzeNreIter, m. r. e zylbersztajn, A. (2004). O ensino de saúde e os currículos dos cursos de medicina veterinária: um estudo de caso. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, 8, (15), 349-60, mar/ago. RIORDAN A; TARLOW, M. Pets and diseases.Br.J.Hosp.Med, 56 (7): 321-4, 1996. robertSoN, I.d. et al, 2000. The role of companion animals in the emergence of parasitic zoonoses. Int. j. Parasitol; 30 (12-13): 1369-77, 2000. SCHNEIDER, M. C. A contribuição da OPAS para a Saúde Pública no Brasil e nas Américas. Revista CFMV, Brasília/DF, ano XIV, n. 43, p. 80-81, 2008. STÖHR, K.; MESLIN, F.X. The role of veterinary public health in the prevention of zoonoses, Arch virol, v.13, suppl.1, p.207-218, 1997. THRUSFIELD, M. V. (2004). Epidemiologia veterinária. São Paulo: roca. WORLD HELTH ORGANIZATION. Future Trends in Veterinary Public Health. Report of a WHO Study Group. Geneva, 2002.85p. (WHO Technical Report Series n.907). Artigo enviado em 11/09/2014, aceito em 12/03/2015 62 Dissertar Dissertar Precaução e prevenção na ótica da defesa civil Precaution and prevention in optics of civil defense Precaución y prevención en el campo de la óptica de la defensa civil Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de investigar e comparar a evolução dos institutos da precaução e prevenção, apresentando a partir da crítica, patamares de reflexão, se não para enfrentar o atual panorama legislativo de responsabilização e aplicabilidade destes no trabalho desenvolvido pela Defesa civil, ao menos que conclua pela necessidade de uma maior proteção. O processo de responsabilização atualmente aplicado, centrado na existência do dano, quando quase nada poderá ser feito, vem demonstrando forte despreparo dos profissionais e riscos enfrentados pela falta de informação e preparo da sociedade e Defesa Civil, desafio a ser enfrentado. This work was developed aiming at investigating and comparing the evolution of the precaution and prevention institutes, showing from the critique levels of reflection, if not to face the current legislative panorama of accountability and applicability in the work developed by the Civil Defense, at least to conclude by the need for greater protection. The accountability process currently applied, centered on the existence of damage, when almost nothing can be done, is demonstrating strong unpreparedness of the professionals and risks faced by the lack of information and preparedness of the society and Civil Defense, a challenge to be faced. Palavras-chave: Dano Ambiental, Sociedade de Risco, Defesa Civil. Este trabajo fue desarrollado con el objetivo de investigar y comparar la evolución de los institutos de la precaución y prevención presentando, a partir de la crítica, niveles de reflexión, que si no logran confrontar el actual panorama legislativo de responsabilización y aplicabilidad en el trabajo desarrollado por la Defesa Civil, por lo menos que concluyan en la necesidad de una mayor protección. El proceso de responsabilización actualmente aplicado, focalizado en la existencia del daño, cuando casi nada podrá ser hecho, viene demostrando gran falta de preparación de los profesionales y riesgos enfrentados por la falta de información y preparación de la sociedad y la Defesa Civil, reto a ser enfrentado. atual, em consequência de uma grande enchente, onde passa a atender às catástrofes locais, sem nenhuma normatização voltada para a prevenção e muito antes das atuais orientações legislativas. A tentativa de ampliar o aparato legal visava também a uma articulação e resposta aos crescentes danos ambientais, consignados e visualizados pós-Conferência de Estocolmo (1972), marco internacional de proteção ambiental. Seguindo a linha do tempo, a proteção ambiental nacional é inaugurada a partir da década de 1980, através da lei nº 6938/81, com sua exigibilidade prévia de análise de impacto e responsabilidade independente de culpa, sobretudo na forma dos artigos 9º e 14º § 1º. Ainda no meado de 1985, outro diploma vem em auxílio da lei e estabelece direito substantivo público capaz de ampliar ainda mais essa dinâmica de defesa: a ação civil pública, Lei nº7347/85. A partir de então, diversos complexos normativos surgem para a atualização e consolidação destes. Na realidade, a organização sistêmica da defesa civil no Brasil se deu pela criação do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINdec), em 1988, sendo reorganizado em agosto de 1993 e atualizado em 2005. No mesmo passo, as relações jurídicas devem passar a contemplar essa complexidade, e assim não foi diferente no direito pátrio. A partir da constituição federal de 1988, além da colocação do direito ao meio ambiente como direito fundamental, expande-se o conceito as presentes e futuras gerações, incorporando-se o conceito de sustentabilidade. Autores: Claudia Lobo Advogada, especialista em direito civil e processo civil, Professora de Direito Civil e de Direito Ambiental da Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected] Fernando Cordeiro Barbosa Doutor em Antropologia, professor do Programa de PósGraduação em Defesa e Segurança Civil - Mestrado Profissional em Defesa e Segurança Civil da Universidade Federal Fluminense/ UFF. introdução O final do século XX e início do século XXI levou a sociedade a refletir sobre um novo sistema: o ecossistema. A relação homem–meio passa a fundamentar-se em um complexo sistema que considera todas as relações físicas, biológicas e sociais. Agrega-se ao homem tudo o que se encontra ao seu redor e percebe-se uma ampliação dos conceitos. O histórico da Defesa Civil no Brasil começa na Segunda Guerra Mundial, tendo suas raízes ligadas às forças Armadas. Todavia, surge e sobressai a partir de 1960, vinte anos antes da constituição 63 Dissertar Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa estas relações do homem com a natureza estão agora normatizadas em toda a sua amplitude, através do movimento conhecido como a “constitucionalização do direito”, a releitura de todo o ordenamento jurídico. Para atender o compromisso firmado na Resolução 44/236, o Brasil elaborou um plano nacional de redução de desastres para a década de 90 que estabelecia metas e programas a serem alcançados até o ano 2.000 conhecido como Política Nacional de Defesa Civil - PNDC estruturada em quatro pilares: prevenção, preparação, resposta e reconstrução. Importante, portanto, deixar registrado que, em princípio, o panorama legal atende a uma vontade de proteger o meio ambiente e de responsabilizar o agente pelos danos causados numa sociedade de risco. Porém, o que se tem percebido é que o objetivo da lei não vem obtendo êxito. Pelo contrário, na medida em que são criadas diversas leis, maiores têm sido as agressões ambientais: novas e antigas agressões. resta a dúvida sobre a motivação. A ocorrência de importantes eventos, social e ambientalmente danosos, como no exemplo utilizado no presente trabalho, ocaso do Césio 137 (classificação COBRADE 21210) tem levado a sociedade a se questionar quanto ao despreparo legislativo e fragilidade, quando da ocorrência do dano ambiental, antes e após o fato. Amplia-se este questionamento, perguntando-se porque não agir antes do dano. A codificação brasileira de desastres (cobrAde - 2012), em substituição à classificação dos desastres CODAR, até então utilizada, foi elaborada a partir da classificação utilizada pelo Banco de dados Internacional de desastres (em-dAt) do centro para Pesquisa de epidemiologia de desastres (cred) e da organização Mundial de Saúde (OMS/ONU), com o propósito de adequar a classificação Brasileira às normas Internacionais. A matéria pretende, sem sucesso, que o conteúdo jornalístico amplie sua abrangência no sentido de trazer parâmetros legais em nível internacional, mas termina por restringir-se ao panorama legal nacional. feito o registro, detendo-se mais na matéria jornalística e adotando o chamado inicial como parâmetro, o conteúdo segue na tentativa de manter a visão preventiva da ação danosa, ex vi: “os 20 anos da tragédia com o césio 137, em goiânia, revelam, além do descaso do estado com as vítimas, a ausência de um projeto de tecnologia nuclear para o país.”2 Na mesma vertente, 25 anos após, e depois de, com novo acontecimento de vazamento de Petróleo em campos, rj, o governo brasileiro comprometeu-se a elaborar um Plano Nacional de contingência (PNc), abrangendo todos os tipos de acidentes, conforme noticiaram os jornais na época: “Legislação brasileira para lidar com vazamentos é mais punitiva do que preventiva”. Lembra ainda a notícia de 21/3/2012, Jornal O Globo, que dois anos após o acidente na Bacia Petrolífera no Golfo do México, e 05 meses após o primeiro vazamento da Chevron, o brasil não conseguiu pôr em prática o seu Plano Nacional de contingência (PNc), e ainda hoje não é dada atenção à prevenção de acidentes. Mais adiante, afirmam os jornalistas3: “A legislação concentra o seu foco na punição”. No interior da matéria há o desenvolvimento de uma linha de raciocínio muito interessante. Trata-se, conforme o título ”depois do óleo derramado” 4, de breves observações quanto à falta de uma legislação que atue na prevenção e na reparação de danos. Expõe as fragilidades da indústria no país, que se apresenta como a mais nova potência energética do mundo5. o Plano Nacional de contingência deve prever outros casos, além dos narrados na matéria, como os casos de vazamento nuclear, ocorridos em goiânia. o brasil não possui um plano estruturado e “vê uma reação desencontrada e sem firmeza de emergência”6. como participante de uma entrevista sobre o assunto, o coordenador do laboratório Interdisciplinar de meio Ambiente da COPPE/UFRJ, professor Emilio La Rovere, informa ter enviado em 2006, ao ministério do meio Ambiente, um levantamento de experiências internacionais que podem auxiliar o Plano Nacional de Contingências brasileiro a “sair do papel”. E informou ainda, que faltam medidas de prevenção diante do aumento da exposição dos riscos frente à grande ampliação da exploração e produção. Diante dos relatos acima, percebe-se que ainda hoje existem dificuldades na aplicação das diretrizes Constitucionais e infraconstitucionais, principalmente nas questões que envolvem a prevenção, punição, a informação e o preparo dos profissionais responsáveis por questões que envolvem riscos ambientais, e neste caso, a Defesa Civil foca suas ações baseadas somente no pós-acidente. A cNeN, comissão Nacional de energia Nuclear, responsável pela segurança e fiscalização das atividades nucleares no Brasil, reagiu de forma improvisada, no caso do Césio 137. Por exemplo, contratou trabalhadores para executar a descontaminação do local sem nenhum preparo ou mesmo conhecimento do perigo que corriam. e hoje, como seria sua atuação? Desenvolvimento A situação fática que norteia a análise o brasil, apesar de diversas opções já avançadas na ciência, optou por um modelo de desenvolvimento em que o risco da atividade tem sido a regra, a instalação tecnológica, as armas de fogo, os esportes radicais, os meios de transporte, as usinas nucleares ou as indústrias químicas, e mesmo o fumo. De fato, União, Estados e Municípios visam à promoção de ações a partir da efetiva exploração destas atividades. estes procedimentos requerem tecnologias avançadís simas e específicas, e que muitas vezes sobrevém a dúvida sobre a real segurança das ações, sobretudo no que tange a procedimentos ambientalmente nocivos. Assim, enorme é o risco destas e outras atividades fruto do desenvolvimento sem estudo prévio destes riscos, da própria sociedade, aumentando a possibilidade de que algo possa dar errado. No brasil, goiânia, o acidente com o césio-137, ocorrido em 13 de setembro de 1987, foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. Uma cápsula contendo o césio foi encontrada nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia e vendida a um ferro-velho. o brilho azul emitido pelo césio atraiu a atenção de moradores da região que o passaram de mão em mão. mais de 800 pessoas foram contaminadas e pelo menos outras 200 morreram devido aos efeitos da radiação. As manchetes, além de evidenciarem os danos ambientais, trazem um aspecto importante, e até então despercebido dos analistas e dos operadores do direito em geral. diz a manchete: “o caso césio revela crime contra o povo” 1. 1 manchete no jornal A Nova democracia, n.38 64 2 conteúdo da chamada de primeira página do jornal oNova democracia, n. 38. 3 CARNEIRO Lucianne;NAIDIN, Hugo. Jornal O Globo de 21/03/2012, p. 19. 4 IBIDEM. 6 IBIDEM. 6 IBIDEM. Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa Em conclusão preliminar, pode-se afirmar que o acima exposto tem ligação e assemelha-se a casos ocorridos no Brasil, com relação a acidentes nucleares. casos como estes devem envolver diversos níveis de conhecimento e de distintos agentes sociais, opiniões de cientistas, pesquisadores, doutrinadores e operadores do direito, além daqueles diretamente envolvidos nos eventos danosos. A questão envolve várias áreas, devendo haver uma interdisciplinaridade que envolva estudiosos de distintas áreas do conhecimento, possibilitando o intercâmbio de opiniões. o que chama a atenção no debate neste tema é a constatação de que o sistema legislativo pátrio não possui uma resposta adequada na temática da proteção ambiental. e mais, as investigações ocorrem sempre a partir do dano, o que de certa forma implica propostas de solução que estão diretamente articuladas a sua existência, tais como, a busca da reparação, o seguro ambiental e a incriminação dos autores. Não se observa uma resposta às possibilidades de atuação no campo da prevenção e da precaução. Nem mesmo o denominado Plano de Contingência que se refere a uma atuação dos responsáveis após o dano, inclui a preocupação com a prevenção. Para melhor entender, e adequar o exemplo do Césio à análise que se pretende, passa-se a dar sequência às reportagens e à pesquisa desenvolvida na dissertação da professora Elaine campos Pereira, trabalhada em sala de aula, em relação ao mesmo evento danoso, de forma a compreender a evolução dos fatos e os desdobramentos jurídicos que vão sendo colocados no caso cotidianamente, e que tende a reforçar as afirmações já verificadas.7 No dia 28 de setembro de 1987, a cNeN, que tem sede no Rio de Janeiro, foi acionada pelas autoridades. O grupo de emergência da comissão era treinado para atender acidentes em reatores nucleares. uma cápsula de césio-137 aberta em uma capital brasileira era novidade. Na época, o controle foi feito a partir da retirada dos materiais das áreas que estavam contaminadas. Tudo foi embalado. Para armazenar os rejeitos, foram usados tambores metálicos de 200 litros, caixas de um metro quadrado (mil litros) e até um contêiner marítimo, devido à grande quantidade de material. Os recipientes passaram por testes físicos e de resistência para garantir a segurança. Inicialmente, os rejeitos foram estocados de forma provisória no mesmo lugar onde hoje funciona a unidade da CNEN, no então recém criado município de Abadia de goiás, porém, de forma provisória, naquele momento. Controlado o acidente, feito um projeto a longo prazo, definiu-se o local onde os rejeitos seriam definitivamente guardados.8 A sociedade foi surpreendida com a decisão da CNEN de provisoriamente estocar os rejeitos na própria cidade, gerando revolta local. Percebe-se, diante das notícias da época e mesmo hoje, a falta de esclarecimento dos profissionais que lidam com substâncias altamente perigosas, como também da própria população. Para melhor ilustrar a atuação dos agentes e os comandos das chefias imediatas, é importante registrar o relato da moradora francisca Pereira cardoso cruz, de 79 anos, que viveu de perto o drama dos moradores de Abadia: Invadimos a br-060 (rodovia que liga goiânia a Abadia) e tentamos bloquear a vinda do césio. foi um presente de grego que recebemos naquela época. As manifestações duraram uns três dias ou mais. Passamos a noite às margens da br, em vigília. mas fomos surpreendidos porque para cada morador tinha o dobro de policial e eles ficavam na porta das casas para nos vigiar. Lutei muito para o césio não vir para a Abadia9. O depósito definitivo foi construído em 1997, mesmo ano em que foi inaugurado o Centro Regional de Ciências Nucleares do centro-oeste (crcN-co), unidade da cNeN em goiás. o local fica dentro do Parque Estadual Telma Ortegal, que tem 1,6 milhões de metros quadrados. A estrutura que abriga os rejeitos foi projetada para resistir 300 anos, intacta e preparada para desastres como tremor de terra e queda de avião. o depósito do Césio-137 tornou-se, então, o único depósito de lixo radioativo definitivo do Brasil10. As consequências e falta de informação ainda hoje se manifestam, seja na saúde ou mesmo nas alterações sociais, comportamentais, ambientais, vividas pela população. recentemente veiculou-se a seguinte notícia: “veículo foi roubado com selênio 75. Material que é usado em aparelhos de raio-x e soldas” Segundo a polícia, o roubo do material foi informado também à comissão Nacional de energia Nuclear. “em contato direto com a pele, a radiação é capaz de causar danos em células e produzir mutações genéticas. Mas dificilmente ocorre o contato direto, pois sua forma de transporte é em cápsulas blindadas”, explica Ellen Guimarães Dias, presidente da Associação Brasileira de química (Abq- rj) 11. A empresa Arctest Serviços de manutenção e Inspeção Industrial, responsável pelo veículo, minimizou os riscos de contaminação. Segundo mário de boita, supervisor de proteção radiológica, o produto radioativo estava dentro de uma caixa metálica presa com cadeado no porta-malas do veículo. o que não impediu o seu furto e o total desconhecimento da sociedade dos riscos provenientes de um possível manuseio desta substância. Até a presente data, estes são os fatos principais que norteiam a análise que se pretende. de antemão, deve-se adiantar que a conclusão a que se chega é que, pelo modelo de gestão de risco vigente na sociedade, se novos fatos surgirem, estes dificilmente serão capazes de reverter a curva que se impõe há mais de duas décadas. Elementos da modernização e sua evolução na sociedade de risco Segundo Beck12, os riscos evoluíram no século xx e possuem agora uma nova arquitetura social e dinâmica política, que pode ser resumido em teses. os riscos são apresentados articulados com desenvolvimento de forças produtivas, que escapam à percepção humana e atinge a todos, são invisíveis e em sua maioria produzem danos irreversíveis; podem ser aumentados e diminuídos ou mesmo alterados e, assim podem ser interpretados segundo processos sociais de definição. Melhor exemplo: radioatividade. 9 IBIDEM. Princípio da Precaução – princípio 15; Conferência das Nações Unidas sobre o meio Ambiente e o desenvolvimento (cNumAd), conhecida também como eco-92, rio-92, cúpula ou cimeira da terra, realizada entre 3 e 14 de junho de 1992, rio de janeiro. 10 7 PereIrA, elaine campos. Risco e Vulnerabilidade Sócio-ambiental: o depósito definitivo de rejeitos radioativos na percepção dos moradores de Abadia de goiás. dissertação (trabalho de conclusão de mestrado) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da universidade federal de goiás, 2005. 8 Dissertar Matéria jornalística TV Anhanguera,13/09/2012, G1, GO. 65 11 Matéria Jornalística no O Dia, dia 03/04/2012. 12 BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. São Paulo: editora 34, 2011, p. 27-28. Dissertar Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa Há uma relação entre as situações sociais de ameaça e o incremento e distribuição dos riscos. Todos ao final são atingidos, independentemente de classes sociais. registre-se que os riscos além de atingir a saúde humana, também o fazem em relação à propriedade, ao lucro e à desapropriação ecológica. melhor exemplo: fluxo de poluentes que escapam à competência do estado Nacional. Os riscos da modernização são também um excelente negócio, um novo estágio com sua expansão e mercantilização, sem limites, interminável, infinito, dada a sua necessidade, passando a ser um reforço à lógica capitalista do desenvolvimento. esta mesma sociedade industrial produz as situações de ameaça e o potencial político da sociedade de riscos. As riquezas podem ser possuídas, porém, quanto aos riscos, são afetados. Assim é preciso que os riscos sejam conhecidos, disseminando uma teoria sociológica assumida pelo potencial político da sociedade de riscos. Por fim há um forte ingrediente político dos riscos que são socialmente reconhecidos, o que faz com que haja uma aproximação do público com o empresarial. Passa a atingir não somente à saúde humana, mas os efeitos colaterais são sociais, econômicos e, sobretudo, políticos. Melhor exemplo: o desmatamento e a perda de mercado, a depreciação do capital. trata-se, assim, do potencial político das catástrofes, que é um estado de exceção e que pode tornar-se uma normalidade. Conclui o autor que “o efeito social das definições de risco não depende, portanto, de sua solidez científica.” E explica: a constatação de risco e a modernização devem ser analisadas sob o parâmetro do conhecimento científico. A alegação generalizada tem levado a conclusões de insegurança científica. Assim, ingrediente importante a ser contemplado diz respeito à ética, aproximando-se a filosofia, a cultura e a própria política. Nesta linha de desenvolvimento das sociedades, os parâmetros teóricos devem ser objetos de pesquisa, tanto nas concepções habermasianas, quanto nas sociedades contemporâneas, seu desenvolvimento sócio, político, econômico e cultural, posto que o risco produzido a partir deste desenvolvimento considera novas plataformas temáticas transnacionais. Para tanto, nesta releitura das sociedades, Beck13, que toma como referência em seus estudos a evolução e feitos da sociedade de risco, tem muito a contribuir ao presente debate, de quem se tomam emprestadas as ideias norteadoras. de início, o autor conclui que o conceito de modernização contribui na concepção da sociedade de risco: há que se preocupar e refletir sobre os efeitos desta modernização quanto aos riscos. A modernização passa a ser ao mesmo tempo solução e problema. Na realidade, a tendência tem sido de que o emprego de tecnologias se sobrepõe aos riscos apresentados considerando a relevância econômica, de onde encerra um sistema de normas públicas que possa ser o único. Importante considerar, nesta linha de análise, que ambas as sociedades, industrial e de risco, possuem o mesmo paradigma a enfrentar sob óticas diferentes: a desigualdade. E da mesma forma articulados pelo tema da modernização, nesta em posições distintas, mas sempre em relação à riqueza produzida. Análise jurídica Após o relato fático apresentado, bem como dos princípios constitutivos da noção de sociedade de risco, passa-se ao mérito que se pretende ressaltar, tendo como fio condutor a análise crítica da responsabilidade pelos danos ambientais. Para melhor compreender a crítica que tenta esclarecer a irresponsabilidade do estado e da Sociedade em relação à proteção dos recursos naturais, é necessário o aprofundamento temático no processo de responsabilização, no conceito de dano estrito, dano real e dano potencial, e no meio ambiente como um direito fundamental. Assim, parece que o ponto de partida é a análise comportamental da sociedade, e principalmente das instituições e dos profissionais diretamente ligados a acidentes nucleares. Conceitualmente, a defesa civil caracteriza-se por um conjunto de medidas permanentes que visam evitar, prevenir ou minimizar as consequências dos eventos desastrosos e a socorrer e assistir as populações atingidas, preservando seu moral, limitando os riscos e perdas materiais e restabelecendo o bem-estar social. São aspectos subjetivos da ação do homem pertencente a uma sociedade de risco15 que vem sendo construída aleatoriamente e que se pretende reinventar. De início, pode-se afirmar sem sombra de dúvidas, que o processo de responsabilização inserido na legislação pátria tem o dano como seu requisito necessário. Portanto, o agente somente será responsabilizado na hipótese de existência do dano, nas diversas espécies de responsabilidades. observa-se que na contramão do aparato legal, os princípios que norteiam o direito ambiental exigem a atitude prévia e precavida do agente e, para tanto, deve responder na inexistência do comportamento preventivo e precavido. Assim, teoricamente, sem a devida atitude prévia exigida, a hipótese é de responsabilização. Especificamente em relação ao dano ambiental, duas características marcantes têm sistematicamente abraçado discussões doutrinárias e jurisprudenciais: a irreparabilidade e a quantificação do dano. de longa data, questiona-se se é possível a resiliência, capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após este ter sido rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação. A doutrina (jurídica) é unânime16 ao concluir que, uma vez atingido o meio ambiente com um dano, seria impossível o seu retorno ao status quo ante, repristinação. Até mesmo as chamadas medidas Modernização significa o salto tecnológico de racionalização e a transformação do trabalho e da organização, englobando para além disto muito mais: a mudança de caracteres socais e de biografias padrão, dos estilos e formas de vida, das estruturas de poder e controle, das formas políticas de opressão e participação, das concepções de realidade e das normas cognitivas.14 Da mesma forma que as sociedades industriais passaram anos a debater como distribuir riquezas de forma desigual e ao mesmo tempo “legítima”, a sociedade de risco está centrada num novo paradigma: como é possível que as ameaças e riscos produzidos a partir desta modernização sejam evitados ou minimizados, ou se inevitáveis como efeitos colaterais, sejam redistribuídos de forma a não atingir o limite do aceitável? Assim, além de tratar de libertar socialmente as pessoas através da modernização e do desenvolvimento econômico social, 13 IBIDEM. 14 IBIDEM. GUIVANT, Julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura – Revista semestral de Ciências Sociais Aplicadas ao Estudo do Mundo Real. v.16, p.95-112, abril/2001. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/ dezesseis/julia16.htm– Acesso: fev. 2013 15 16 fIorIllo, celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 36. Também nesta posição MILARÉ, KISS, SADELEER, GODARD, VARELLA E MACHADO. 66 Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa mitigadoras, constantes nos estudos de impacto ambiental, têm demonstrado, em sua maioria, ineficácia quanto ao restabelecimento da lógica ambiental, podendo nascer uma nova e diferente cadeia no ecossistema, mas biologicamente, o que se perdeu com o dano é irrecuperável. Porém, cientistas afirmam que à longo prazo, ha possibilidade de resiliência em matéria ambiental. A diferença está baseada na capacidade de recuperação. Por óbvio, parece que qualquer que seja a ação antrópica, sempre trará algum impacto, podendo ser este absorvido ou não pelo meio ambiente, e este é o mérito do comportamento subjetivo. A questão relevante é que, na defesa de um desenvolvimento, busca-se a implementação de tecnologias por vezes inadequadas e que conduzem aos danos ambientalmente não absorvidos. Nas áreas urbanas, essas distorções se repetem, ao largo dos planejamentos estratégicos e dos instrumentos de controle, sempre por interesses de empreendedores e financeiros. Nesta sociedade de risco, não há outro caminho que não seja a aproximação de proteção ao meio ambiente com a proteção à vida. A Defesa Civil assim pode ser percebida com instituição estratégica para redução de riscos de desastres. Sua funcionalidade está definida no Sistema Nacional de Defesa Civil, conforme Decreto nº 97.274, de 16.12.1988, uma de suas finalidades é o dever de prevenir e minimizar os efeitos dos eventos desastrosos. Ao abordar tal raciocínio no exemplo apresentado, verifica-se de pronto que as tecnologias disponíveis não foram suficientes para evitar o dano. Começa aqui a demonstração concreta de que este elemento subjetivo comportamental, ou seja, a ação do agente é de fundamental importância para a questão ambiental, sem desejar ser, desde já, conclusiva, mas ressaltando como ponto importante a ser retomado adiante. Dissertar o dano à saúde humana ou mesmo o seu atingimento psicológico, não há como quantificá-los. Assim, nem sempre é possível calcular o dano ambiental, justamente em virtude de sua irreparabilidade. Édis milaré 18 salienta que essa característica ficou mais complexa com o advento da Lei nº 8.884/94 que, em seu art. 88, alterou o caput do art. 1º da Lei nº 7.347/85, ensejando que também os danos morais coletivos sejam objeto das ações de responsabilidade civil em matéria de tutela de interesses trans-individuais. No caso concreto apresentado, há um quanto que pode até ser estimado, mas sem qualquer parâmetro ou exatidão. E ainda, quais organismos vivos deveriam ser repostos? este ecossistema está inteiramente identificado e classificado? Dificilmente se chegaria a uma conclusão. em relação ao quantum indenizatório, como valorar as perdas? Igualmente impossível.19 A legislação pátria, sem dúvida é bastante rigorosa na objetivação da responsabilidade, incluindo-se aqui a espécie integral (de risco da atividade), mas sempre nas situações de existência de dano. Não só no Brasil, mas em todo o mundo há a exigibilidade do dano. Até mesmo a idéia do dano potencial, rechaçada pelos tribunais brasileiros, é aceita em alguns países da europa e japão. o ser humano, sujeito de direitos e obrigações para presentes e futuras gerações, exige medidas comportamentais. Assim, para quem atua colocando em risco a sociedade como um todo e seus interesses, a reação pode ser repressiva da lesão consumada ou preventiva de uma consumação iminente. o que se espera é que com toda a fundamentação legal existente, possa a precaução de forma efetiva vir a fundamentar uma nova atitude do estado e da Sociedade. A precaução e a prevenção são duas faces diferentes da prudência que se colocam frente a situações quando há existência ou possibilidade de dano. os princípios da precaução e da prevenção norteiam toda a política de proteção ambiental e estão relacionados às teorias de uma sociedade de risco. estes preceitos deveriam fundamentar as políticas de gestão de riscos e, sobretudo, estarem presentes nas propostas e nas ações da Defesa Civil, por ser seu dever atuar nas situações de risco. A precaução é de ordem hipotética de risco específico e fático, envolve casos concretos relativos ao meio ambiente, evitando a atividade no caso de dúvida, avaliando sempre o fato concreto que aconteceu ou está para acontecer. Nesse processo, cumpre aferir em que medida é necessário evitar certa atividade ou acompanhar de perto os movimentos de determinados equipamentos pelos responsáveis por seu manuseio. Seu universo é incerto, exigindo ações particulares, avaliação de riscos, podendo haver ações para diminuí-los, com base na comparação entre diversas possibilidades para se optar por uma, de menor risco. Há, ainda, a possibilidade de se ter que optar por uma não ação, baseado no grau de desequilíbrio em relação ao custo-benefício. já a prevenção é de ordem abstrata e generalista, não reclamando a presença de um fato, embora requeira um aparato legislativo protetivo, a funcionar como estimulante negativo para a prática de agressões. Se as opiniões nacionais ou estrangeiras, após inventário, concluírem pela possibilidade de haver dano denota-se a prevenção, ou seja, há o que ser prevenido. Por que a questão envolve o elemento subjetivo? De fato, procede ao questionamento, sobretudo, em se tratando da espécie de responsabilização da matéria em questão. ocorrendo o dano ambiental, impõe-se sua reparação, é o que determina a carta magna em seu artigo 225, §3º, bem como a Lei nº 6938/81, em seu artigo 14 § 1º, que acrescenta a inexistência de culpa na relação jurídica obrigacional. logo, volta-se aqui para o dano, objetivamente e a sua simples comprovação, na melhor corrente17, gera a obrigação de indenizar. Portanto, necessita-se do dano. Se acrescentarmos a essa objetividade a dificuldade de resiliência e de reparação indenizatória, chega-se à conclusão de que a simples existência do dano não deveria ser a condição primeira exigível, mas sim o comportamento prévio precavido do agente, mas como mensurá-lo, ou mesmo apontar a sua existência? Novamente aproximando a temática da proteção ambiental e da defesa civil e seus objetivos de estudar, definir e propor normas, planos e procedimentos que visem à prevenção, socorro e assistência da população e recuperação de áreas, é possível verificar a necessidade do mesmo comportamento prévio. Assim a gestão de risco possibilita que as ameaças ou fatores adversos poderão sugerir obras e medidas de proteção com o objetivo de prevenir ocorrências graves. E este é um comportamento exigível da sociedade. Poderá ajudar, ainda, a promoção de campanhas educativas junto às comunidades e estímulo ao seu envolvimento. Na busca destes objetivos, quando do exame dos aspectos múltiplos que envolvem a reparabilidade, seja o quantum indenizatório no caso da impossibilidade de se tentar a resiliência, seja 18 mIlArÉ, edis. Direito do Ambiente – doutrina – jurisprudência – glossário.3.ed.. rev., atual. e ampl. - São Paulo: revista dos tribunais, 2004, p.671. 19 bArboSA, tania mara Alves. A resposta a acidentes tecnológicos: o caso do acidente radioativo de goiânia. dissertação apresentada ao curso de mestrado em Sociologia, da faculdade de economia da universidade de coimbra, 2009. Conforme doutrinadores como Milaré, entende que a Constituição Federal impõe um sistema garantista, ao passo que outros, como ToshioMukai, entendem que o sistema é de responsabilização objetiva. 17 67 Dissertar Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa Quanto à certeza científica, aqui abordada como elemento de fundamental importância para a aplicação do princípio da precaução, deve ser recolocada na sua amplitude e não aplicada exclusivamente em questões pontuais. Este princípio em sua integralidade ainda terá um caminho árduo a percorrer, sobretudo na jurisprudência nacional. Neste sentido, parece estar firmada a concretização da prevenção, o que é importante, seja pela exigibilidade do próprio estudo de Impacto às atividades de risco, seja por seu abrigo no sistema legislativo nacional. A questão da dúvida quanto aos danos, ou mesmo em relação aos possíveis danos potenciais parece ainda distante de ser amadurecida. o próprio estado não vincula o ato administrativo a uma atitude precavida onde considere o recuo da decisão de fazer quando persiste a dúvida dos efeitos danosos. Há uma hesitação sobre a decisão, pois o dano potencial para a jurisprudência, não é dano, deixando-se advir sua efetivação para buscar a reparação, o que pode ser irreversível. Retornando ao exemplo apresentado e comparando aos conceitos doutrinários e fundamentos legais apresentados, observa-se que a tônica é a possibilidade de indenização civil quanto aos danos. Mas até que ponto este fato contribui para a reversão do quadro de ações de risco, sobretudo em empresa que manipula vultosas quantias? 10 bilhões? 100 milhões? Que diferença faz, até mesmo e porque, conforme verificado, a repristinação e o quantum a reparar são matérias de dificílima definição e abordagem, quanto aos resultados a que se propõe. Os fatos demonstram questões e conceitos que abordam sempre o tema do dano. A própria legislação somente possibilita qualquer imputação ao agente na sua ocorrência. mas esta trajetória sabe-se como se inicia e quais são os resultados finais. A simples observância no exemplo apresentado demonstra uma curva de responsabilização que tende a irresponsabilidade. os paradigmas trazidos pela nova ordem constitucional e sua reflexão apontam uma proteção integral e assim há um descompasso com o processo de responsabilização vigente, apoiado na legislação. A intenção do legislador é que o agente responda pelo dano havido, ou seja, se houver danos, responderá de forma objetiva sem análise da culpa, em situações de risco. estas hipóteses aceitas e desenvolvidas na doutrina e praticadas na jurisprudência não acompanham o que determina o princípio internacional da precaução, consagrado em âmbito internacional através da edição como Princípio 15 da Conferência Rio/9220. Porém, o que de fato se exige, através dos princípios constitucionais, tendo o direito a um meio ambiente de qualidade como ícone primeiro, é que o agente atue de forma preventiva e precavida e isto se refere a um comportamento subjetivo, internalizado a partir de um processo de socialização de regras de conduta e normas sociais, adequados e condizentes com o espírito protetivo numa sociedade de risco. Assim, a hipótese seria de que para o agente, ao não agir dentro dos parâmetros exigíveis do princípio da prevenção e da precaução, haveria também uma responsabilização. caso não, impossível enquadrar a relação jurídico-obrigacional, conforme determina o artigo 225 da constituição da república federativa do Brasil – CRFB/88. Não se trata aqui de tão somente utilizar-se dos meios disponíveis para o melhor resultado possível, pois este não é o sistema imposto. o que se espera deste comportamento subjetivo é a garantia de que com determinado comportamento subjetivo previamente estabelecido, o risco de ocorrer o dano 20 é diminuto. e para estes procedimentos há a garantia do agente de sua ocorrência como elemento garantidor. Observe-se que no fato narrado as abordagens são inteiramente descabidas neste sentido. os responsáveis da cNeN trataram o evento danoso como falta de cuidado do laboratório, se eximindo da sua própria responsabilidade de prevenção e precaução. ora, se há imprevisibilidade, a determinação obrigacional é que não faça. Se para o direito penal o elemento culpa ou dolo é princípio lógico e de substancial referência, para a responsabilização civil ambiental ocorre o oposto, e os operadores permanecem utilizando um pelo outro por sua conveniência processual. Há que ser afastada a tese patronal. O que se espera é o não fazer diante da incerteza e, portanto, a hipótese é de que poderá haver responsabilização quando não se atua conforme o esperado, mesmo considerando a inexistência do dano real. A falta de atitude prévia poderia conduzir à responsabilidade do agente e ainda, se há um dano potencial, porque não responsabilizar-se o agente pela falta de atitude prévia? O sistema garantidor que não garante A primeira garantia do sistema remete à responsabilização objetiva ou responsabilidade integral, centrada exclusivamente no dano, sem o nexo causal, tal como afirma Édis Milaré21. Desta forma, numa sociedade de risco, em existindo dano, há a garantia de que este será reparado. Conforme já abordado, a crítica a este sistema é que em havendo dano a reparabilidade e a represtinação impossibilitam tal garantia. Neste passo, os tribunais vêm decidindo na exigibilidade do dano real de forma geral, afastando-se dos princípios constitucionais que embasam a atuação precavida exigida em lei. A outra garantia é de que o agente deve atuar fundado dentro do princípio da precaução. Ao se examinar a natureza jurídica da precaução, há que se percorrer um estreito caminho entre a norma jurídica e o princípio. O que se busca, ao final é a força e a efetivação daquele princípio. Alguns autores, como roberto Andorno 22, em visão ilustrativa, demonstram que se trata de um pleno exemplo de formação de uma regra de direito. Portanto, o que mais se adapta à precaução é o seu enquadramento como um princípio político-jurídico23: é político, pois inspira a atuação governamental em medidas protetivas da ação pública pró-sociedade; é jurídico, pois trata de força obrigatória em normas jurídicas nacionais e internacionais, além do reconhecimento da própria jurisprudência, sobretudo na Europa. Afirma o autor que as jurisdições internacionais são unânimes em reconhecer no princípio da precaução um estatuto de regra de direito diretamente aplicável, na ausência de regulamento particular. como consequência, decorre a conclusão de que somente poderá alcançar esta amplitude se a sua eficácia estiver atrelada a uma responsabilização, conduzindo a um valor jurídico geral. Assim, a garantia deveria estar no atuar precavido do agente. Mas este processo de responsabilização/ garantidor fundado na precaução não possui respaldo legal no direito pátrio. Aqui também o sistema é precário, pois apresenta um fundamento constitucional, mas não concede meios de sua aplicação. 21 mIlArÉ, Édis, op cit. p. 757. 22 mArtIN, gilles. La nature du príncipe de précaution, apud ANdorNo, op. cit., p. 11. 23 ANdorNo, roberto. El principio de precaucion: um nuevo standard jurídico para la era tecnológica.buenos Aires:la ley, 2000, p.11. rIo 92, op. cit. 68 Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa A análise deste elemento subjetivo comportamental do agente parece ser o único caminho a percorrer que poderá trazer respostas para este processo de responsabilização. Tomando-se o exemplo, hoje a sociedade discute, opina e lamenta a contaminação radioativa que ocorreu a partir de procedimentos desprecavidos. mas a hipótese poderia ser: se o procedimento garantidor não estivesse correto e não houvesse danos, responderia o agente? certamente que não, pois este elemento subjetivo é comportamental e exige outra espécie de abordagem que não seja pelo aparato legal objetivo. Se há um risco a enfrentar, o encaminhamento deveria examinar se o agente agiu de forma precavida. Alguns autores contribuem com o debate. Hans Jonas24, em 1980, formulou o princípio da responsabilidade, aprofundando-se no conceito de risco e da necessidade da comunidade científica produzir conhecimentos de maneira responsável. Já Gerd Winter25 inverte a abordagem em relação ao risco. A pergunta não seria se a atuação do agente causaria dano, mas se é necessária a atuação arriscada do agente. Assim procedendo, retira-se o fundamento da identificação do risco, cujo cerne está centrado no campo político e técnico científico, para abrigar-se na razão final da própria atividade: o bem-estar social da comunidade. Portanto há autores que trabalham o conceito e seus mecanismos, mas seria preciso melhor categorizar a sociedade de risco e este comportamento subjetivo exigível. E neste aspecto o aparato legal e o comportamento subjetivo da sociedade são insuficientes. Assim, a garantia que está posta não responde como elemento garantidor de proteção, posto que se por um lado ocorreu o dano, rompido estará todo o sistema irreparável, por outro há um elemento subjetivo comportamental que até aqui não exigível e que sem ele todo o sistema ficará exposto. Dissertar tamental imposto àqueles sujeitos de direitos, pela construção do bem maior da coletividade. As limitações impostas a sua conduta de forma fundamentada estão diretamente relacionadas à sobrevivência do grupo, e por conseqüência do indivíduo. compreendido este dever comportamental, deve ser examinada a forma de se fazer preponderá-lo na sociedade. Na realidade, poderia se afirmar que este movimento na sociedade estaria articulado a partir do somatório de vontades individuais. mas a caracterização também poderá partir da idéia da ação coletiva que promoveria este conjunto de vontades individuais. Kant26, em sua obra sobre o Esclarecimento (Aufklärung) aborda a libertação do homem e sua projeção para as decisões de razão autônoma. Afirma a dificuldade de o homem fazer isto por si só e construir a sua liberdade. conclui que será na democracia que se construirá uma sociedade justa, a partir do conceito de uso público e de uma opinião pública crítica. Portanto, é conclusivo que haja um dever obrigacional exigível pela sociedade e imposto ao homem que determina o agir integradamente com a coletividade como condição para se ter o exercício de direitos fundamentais. É razoável que este dever possa estar na interseção do campo do dever moral com o dever obrigacional. A compartimentalização de ações e a retaliação deste dever centrada no homem para o homem, não têm surtido os efeitos desejados, pois o que se verifica é a prevalência do individualismo e do interesse particularizado. As tentativas de simples normatização, portanto, esbarram na natureza do direito à vida de qualidade, o que se faz refletir a possibilidade de um novo paradigma que reinvente este subjetivo comportamental exigível. Considerações finais o presente trabalho tem a pretensão de, a partir de um exemplo fático que tem como base um acidente social e ambiental, possibilitar a reflexão sobre o sistema de responsabilização e sua operacionalização. demonstra, ainda, que as garantias constitucionais a um ambiente de qualidade estão distantes exatamente devido a um processo de responsabilização que não se presta ao que se propõe. O exemplo fático bem demonstra que há uma curva perversa de desinformação à sociedade, inteligentemente trabalhada pelos operadores do direito e que ao longo do tempo foi se esvaindo até cair no esquecimento da impunidade. Diante de tais fatos, onde estão as incongruências? Numa responsabilização que recai verticalmente sobre a exigibilidade do dano, na ausência de um efetivo sistema preventivo e precavido e, sobretudo, na ausência de compreensão de um sistema obrigacional que efetiva um movimento democrático de responsabilização.O indivíduo, protagonista deste sistema obrigacional, jamais compreenderá tal sistema se não se colocar dentro dele, tanto como credor, quanto como devedor a um ambiente de qualidade. Há aqui uma exigibilidade de um comportamento subjetivo que se pretende preventivo, precavido e que se impõe, mas que deve “nascer” como um movimento da sociedade. Observe-se que esta afirmativa vale tanto para o operador de um equipamento radiológico como para o presidente da empresa responsável pela fiscalização de equipamentos que contêm substâncias sob sua responsabilidade. todos são igualmente responsáveis, diz o comando subjetivo exigível. esta atitude preventiva e precavida deve ser o alicerce maior da responsabilização, é o que se deve à sociedade. A hipótese de uma equação social de estabilização o sistema jurídico de direitos e deveres apoia o indivíduo em sua exigência quanto ao exercício de direitos. Porém, também traz ao horizonte um “comando social” que determina que este mesmo indivíduo sujeito de direitos, em reação reflexiva, deverá arcar com seu papel social por inteiro, o que impõe obrigações mínimas do que fazer e como fazer. esta é uma condição primeira, posto que, pela regra geral, a cada direito caberá um dever. Da mesma forma, nesta equação social, se o indivíduo faz jus a direitos fundamentais, mais ainda, a mínimos sociais, há que se exigir a contraprestação social que se traduz no comportamento mínimo subjetivo, ou dever social. mas onde está este “comando social” que assim determina? Quem o legitima? O que faz com que o indivíduo entenda uma contraprestação como um comportamento subjetivo exigível de parte de um todo? A premissa que sustenta esta obrigatoriedade é de que cada indivíduo deverá arcar com sua parte, fortalecendo instituições justas promovendo a estabilidade social. Importante observar que as instituições injustas não podem impor obrigações, pois o dever seria também natural de justiça. Pelo que parece, o contraponto do exercício dos direitos fundamentais é um comando normativo como dever compor24 JONAS, Hans. El principio de responsabilidad. Ensayo de una ética para la civilización tecnológica. Barcelona: Herder, 1995, p. 38 WINTER, Gerd. As Facetas do Significado de Desenvolvimento Sustentável - uma Análise Através do estado de direito Ambiental. P AlmA, 2011, p. 41-43. 25 26 69 KANT, Immanuel. Textos Seletos. Rio de Janeiro: Vozes, p. 102. Dissertar Precaução a prevenção na ótica da defesa civil Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa Portanto, o caminho a seguir do exercício pleno do direito fundamental a uma vida de qualidade deve considerar o equilíbrio dinâmico da equação social. o rompimento do estado de individualização poderá ser contraposto à busca do consenso como ferramenta democrática de construção da necessária ambiência social ao que se adota como contraprestação. É possível que o senso comum de ajuda e a interdependência entre os indivíduos de uma sociedade sejam ferramentas preciosas no enfrentamento deste processo de individualização, firmando-se a partir de regras essenciais para a vida em sociedade, caracterizando o conceito de solidariedade social. JONAS, Hans. O Princípio da Responsabilidade. rio de janeiro: contraponto editora, 2006 KANT, Immanuel. Textos Seletos. rio de janeiro: editora vozes. 1985 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. De João Baptista Machado. coimbra: Porto, 1990. LEAL, Rogério Gesta. Habermas, Jürgen. In: BARRETO, Vicente de Paulo (coord.). Dicionário de Filosofia de Direito. São leopoldo: editora unisinos, 2006. leAl, rogério gesta. Perspectivas Hermenêuticas dos Direitos Humanos e Fundamentais no Brasil. Porto Alegre: livraria do Advogado, 2000. leÃo, lidiane Nascimento. considerações sobre a Ética do discurso de Jürgen Habermas, disponível em www.conpedi.org.br/manaus/ arquivos/.../lidiane_nascimento_leao2. Acesso em 10/02/2012 LUHMAN, Niklas. Legitimidade do procedimento. brasília: ed. uNb. 1980. mIlArÉ, edis. Direito do Ambiente – doutrina – jurisprudência – glossário. 3.ed.. rev., atual. e ampl. - São Paulo: revista dos tribunais, 2004. PereIrA, elaine campos. Risco e Vulnerabilidade Sócio-ambiental: o depósito definitivo de rejeitos radioativos na percepção dos moradores de Abadia de goiás. dissertação (trabalho de conclusão de mestrado) apresentada ao Programa de Pós-graduação em Sociologia da faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal de goiás, 2005. RAWLS, John. Uma teoria da justiça. trad. vamireh chacon. brasília: universidade de brasília, 1981. SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 2 ed., São Paulo: malheiros editores, 1997. Referências Alexy, r. Teoria de los Derechos Fundamentales. madrid: centro de estudios constitucionales, 1997. ANdorNo, roberto. El principio de precaucion: um nuevo standard jurídico para la era tecnológica.buenos Aires:la ley, 2000. ANtuNeS, Paulo de bessa. Direito Ambiental. 5 ed., rio de janeiro: lumen juris, 2001. bArboSA, tania mara Alves. A resposta a acidentes tecnológicos: o caso do acidente radioativo de goiânia. dissertação apresentada ao curso de mestrado em Sociologia, da faculdade de economia da universidade de coimbra, 2009. bArcelloS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. rio de janeiro: renovar, 2002. bArreto, vicente de Paulo. O que é Pessoa Humana. mimeo., 2001. BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. São Paulo: editora 34, 2011. bobbIo, Norberto. A Era dos Direitos. 14 ed.. rio de janeiro: campus, 1998. boNAvIdeS, P . Curso de Direito Constitucional. São Paulo: malheiros, 2000. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Introdução ao Direito do Ambiente. lisboa: universidade Aberta, 1998. CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo:Cultrix e Cultrix e Mana-Key . 2004. CERQUEIRA, Kátia Leão. Entre facticidade e validade: A legitimação do direito à luz da razão comunicativa, In: Âmbito jurídico, rio Grande, 82, 01/11/2010 [Internet]. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/Acesso em 05/01/2012. dufour, barbosa – Le príncipe de precaution, Epidémiologie ET santé animal, 2002, 41, 27-34. fArIA, josé eduardo faria. Justiça e Conflito. São Paulo: revista dos tribunais, 1991. fIorIllo, celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:Saraiva, 2004. guIvANt, julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura- revista semestral de ciências Sociais Aplicadas ao estudo do Mundo Real. v.16, p. 95-112. abril/2001. http://bibliotecavirtual. clacso.org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/dezesseis/julia16.htmAcesso: fev. 2013 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. traduzido por gilmar ferreira mendes. Porto Alegre: fabris, 1997 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. rio de janeiro: tempo brasileiro, 1997 ________. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de flávio benoSiebeneichler. 2.ed.,v. 1,rio de janeiro: tempo brasileiro, 2003. Artigo enviado em 09/12/2014, aceito em 26/02/2015 70 Dissertar Dissertar Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Educación como herramienta de ciudadanía y desarrollo sustentable: nuestro papel como educadores Education as a skill of citizenship and sustainable development: our role as educators A proposta deste artigo é a utilização da Carta da Terra como fonte inspiradora, abordando a educação como uma importante ferramenta de cidadania e sustentabilidade planetária. Conjugamos a Carta da Terra às práticas inspiradas por Peter Senge, importante autor no cenário empresarial global, para uma educação crítica e transformadora em prol do despertar da reflexão de nossos educandos, em prol da Justiça Social e de mundo mais sustentável, propondo reflexões aos educadores, para nossos alunos. The purpose of this article is to use the Earth Charter as an inspirational source, addressing education as an important tool for global citizenship and sustainability. We combine the Earth Charter with practices inspired by Peter Senge, lead author on the global business scenario, for a critical and transformative education, in order to help the reflection of our students reflect and act towards social justice and a more sustainable world, offering reflections to educators, for our students. Palavras-chave: Educação, Cidadania, Desenvolvimento Sustentável. El propósito de este artículo es utilizar la Carta de la Tierra como fuente de inspiración, dirigiéndose a la educación como una herramienta importante para la ciudadanía global y la sostenibilidad. Combinamos las prácticas de la Carta de la Tierra e inspirados por Peter Senge, autor importante en el escenario global de negocios, para una educación crítica y transformadora para el despertar de la reflexión de nuestros estudiantes hacia la Justicia Social y un mundo más sostenible, ofreciendo reflexiones a los educadores, para los estudiantes. diariamente toneladas e toneladas de resíduos são descartados, enquanto poluímos nossas águas e nossas terras, desmatamos desenfreadamente, levamos inúmeras espécies à extinção, reduzimos ecossistemas e descartamos uma imensa quantidade de resíduos diários. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, apenas 3% dos resíduos são reciclados. o desmatamento total da Amazônia, embora com um viés de queda, já causou a destruição de aproximadamente 17% da floresta, somente em sua parte brasileira. o cerrado brasileiro, que ocupa 24% do território nacional e é o segundo bioma com maior biodiversidade do Brasil já perdeu quase a metade de sua cobertura florestal original, numa extensão de quase um milhão de Km2. A área é superior ao estado no mato grosso e corresponde a 22 estados do rio de janeiro. quatro décadas é o tempo que resta de vida para a Mata Atlântica – a floresta que, em 1500, recobria todo o litoral brasileiro. Nessa velocidade, a floresta tem data para acabar: 2050. Estamos vivendo um modelo de vida que extrapola demasiadamente a capacidade de carga da terra. Desta forma, de nada adiantará estudar, progredir e encontrar um espaço de trabalho na sociedade se não tivermos a nossa “casa”, a Terra. Nosso desafio, como educadores é, ensinar a pensar, e, ao mesmo tempo, desenvolver uma consciência crítica capaz de mudar hábitos e atitudes, transformando realidades e sociedades em prol da sustentabilidade planetária. Para alcançar tal aliança e construir essas oportunidades, é importante refletirmos sobre nosso papel enquanto educadores. este artigo tem a proposta de inserir uma abordagem holística e sistêmica nos processos educativos. Para tal, baseia-se em dois instrumentos: as ferramentas apresentadas por Peter Senge, autor do best-seller “A quinta disciplina”, laureado pela Autora: Maria Cecilia Trannin Post-Doctoral Fellow – Pesquisadora at CCIAM - Climate Change Research Group - Universidade de Lisboa (FCUL). Possui graduação em Comunicação pela UFRJ. PhD em Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - Instituto EICOS- Cátedra da UNESCO (2011). Coordenação do Curso Gestão Ambiental (graduação); MBA Biodiversidade e Sustentabilidade (EaD) e do MBA em Gestão Ambiental na UNESA – Centro I. E-mail: [email protected] introdução Notícias vindas de vários lugares do mundo, sob inúmeras formas midiáticas (TV, internet, telefones celulares, outdoors, Ipods e tantos outros meios de comunicação) chegam com uma velocidade muito maior do que podemos absorver e se afetados por elas. A informação que entra através dos nossos sentidos é impressionante: cerca de 400 bilhões de bits por segundo. É fato que nós não temos a capacidade de processar toda essa informação ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, a questão da problemática ambiental, das consequências de nossos processos produtivos, do consumo e descarte exacerbado e dos impactos causados pelo nosso modo de viver permeia toda discussão, debate e informação midiática da atualidade. A natureza nos sinaliza sua fragilidade e a finitude de seus recursos, face aos nossos hábitos de consumo insustentáveis. 71 Dissertar Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin Harvard Business Review como um dos cinco “melhores livros de negócios” das duas últimas décadas, e na carta da terra. Peter Senge desenvolveu um método denominado “As cinco disciplinas”. Para o autor, uma disciplina é “um treinamento consciente para incorporação de novos hábitos, como se fosse uma espécie de técnica, algo que treinamos e incorporamos em nossas decisões e ações.” Podemos, através do treinamento e olhar crítico, mudar nossas posturas e adquirirmos maior domínio sobre nossas ações, mas dominar uma disciplina não é possuí-la. É um processo, é um comprometimento para a vida. São cinco as disciplinas propostas por Senge: a maestria pessoal, a ruptura de modelos mentais, a visão compartilhada, o Aprendizado coletivo e o Pensamento Sistêmico. com elas podemos aprender a pensar paradoxalmente, ver oportunidades antes não percebidas, termos maior clareza de pensamento e ideias mais criativas. Além disso, como inspiração base, o artigo baseia-se nos seguintes Princípios da carta da terra: • Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável; • Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável; • reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição de vida sustentável. O artigo oferece assim estratégias pedagógicas que podem integrar na Educação Superior algumas reflexões necessárias, abordando a necessidade do desenvolvimento do pensamento sistêmico, do aprendizado colaborativo e contínuo, a inserção da temática e problemática ambiental de forma transdisciplinar, o desenvolvimento de habilidades cognitivas e relacionais, e a compreensão da valorização da cidadania como dimensão da própria educação. tante. Quando falamos em ensinar, falamos da necessidade de adaptação e compreensão deste mundo. falamos de despertar para uma consciência efetivamente crítica e transformadora, que de fato compreenda a complexidade e a inter-relação entre nossas escolhas e seus impactos, sobre a nossa responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual, sobre o nosso desafio de transformar hábitos e atitudes, de “predadores e caçadores” em “construtores” de um mundo mais justo e solidário. Assim, utilizamos as ferramentas propostas por Peter Senger como fonte de inspiração, para refletirmos juntos, transportando esse conceito para o processo educativo, o professor deve assumir uma nova forma de atuação. Maestria Pessoal maestria pessoal é, por assim dizer, a arte do crescimento pessoal e do aprendizado. Pessoas com essa disciplina incorporada em suas ações buscam continuamente expandir a capacidade de criar os resultados que realmente desejam. ela vai além das competências e habilidades, embora requeira competência e habilidades. tem a ver com ser criativo, em vez de reativo. esta é a disciplina da aspiração, do sonho, da motivação. envolve o pensar sobre o que se quer atingir e alcançar como indivíduo. Para dominá-la, devemos balancear o que vivemos no momento com o que queremos ser, criando uma visão pessoal. A justaposição da visão (o que queremos) e uma visão clara de onde estamos pode gerar tensão. essa é uma tensão positiva, criativa, vital para nossa evolução e transformação. Se visualizarmos uma banda elástica, que puxamos para um lado e para o outro compreenderemos a tensão entre realidade e visão. Aprender a lidar com essa disciplina expande a nossa capacidade de fazer escolhas e de atingir outros, novos resultados. o primeiro passo para dominar essa disciplina é ensinar aos alunos a identificar o que é importante para nós e para eles. Será que realmente precisamos tudo que consumimos? Já paramos para pensar no desgaste que a terra está sofrendo? como educadores, procuramos inserir a temática através de exemplos aplicados às “nossas” disciplinas? Incentivamos novas práticas reflexivas? Conversarmos com os alunos para que exerçam sua cidadania, desenvolvam sua visão pessoal de mundo, da realidade que possuem hoje e da realidade que querem criar para si e para seus futuros filhos? É fundamental enxergar “o todo” e a complexidade em cadeia das relações. É importante mostrar aos alunos que ser honesto é não fingir que está tudo bem. com esta disciplina, treinamos o nosso caminhar direcionado para os objetivos que queremos alcançar. mover em uma direção implica em saber onde você está agora. Pessoas que dominam essa disciplina nunca “chegam ao ponto final”, estão sempre buscando, ou seja, o aprendizado é constante. como educadores, devemos ensinar que dominar essa disciplina é lutar, constantemente, contra as forças que nos puxam para trás, acreditando que a realidade somos nós que fazemos, como professores, como lideres comunitários, como empresários, como técnicos de meio ambiente, como cidadãos deste mesmo mundo. É mover adiante, a despeito dos problemas, integrando verdade, comprometimento, sonho, persistência, razão e intuição. Tendo compaixão, aprendendo e ensinando, conjugando intuição e racionalidade. uma antiga história de autor desconhecido nos conta que um homem cego estava vagando perdido em uma floresta e tropeçou em um homem que não podia andar. Iniciaram uma conversa sobre a fatalidade da vida. O homem cego disse: “Eu Desenvolvimento embora a realidade a nossa volta mude o tempo todo, desconstruindo saberes e comprovando novos fatos, criando cenários onde até o estudo da replicabilidade da vida humana é possível temos ainda um grande paradoxo: nossa realidade interna, nossos hábitos arraigados em tantos anos de consumo e descarte. É difícil mudar essa realidade, pois não paramos para “percebê-la”. Nos acostumamos a “não ver”, criamos “padrões mentais”, modelos ou enquadramentos, como as molduras nas quais colocamos quadros e pinturas. congelamos nossas percepções e dificultamos a chegada de novos hábitos e atitudes. Adotamos com facilidade uma nova mídia interativa e nos conectamos sem fios com o outro lado do mundo, mas continuamos não compreendendo, de fato, a finitude de nossos recursos naturais e a complexidade dos processos produtivos. Acreditamos que basta “fechar a torneira para economizar água”, mas comemos carne todos os dias, ignorando o gasto de água embutido na criação, processamento e abate dos animais (isso sem falar dos processos extremamente vis e cruéis aos quais os submetemos para nosso consumo). Segundo Peter Senge, para mudar uma organização é preciso primeiro empreender uma transformação individual. Nossos estudantes, e aqui falamos dos estudantes universitários, justamente aqueles que estão mais próximos do processo coletivo de decisão e transformação de realidades, vivem neste tempo mutável e midiático, a única certeza é a mudança cons- 72 Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin estou vagando pela floresta toda minha vida e não encontro a saída”. o outro respondeu: “Eu estou caído na floresta por toda minha vida e não consigo andar”. de repente, o homem que não podia andar exclamou: “Eu tenho uma solução! Você me carrega no colo e eu te mostro como o caminho”. Não somos tudo, mas ao somarmos forças podemos ser tudo. Como falou Carl Jung, psiquiatra suíço, fundador da Escola Analítica de Psicologia, autor de inúmeros livros e introdutor do termo inconsciente coletivo, “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.” como educadores, devemos difundir aos alunos o conceito de maestria pessoal, em nossas aulas, estimulando-os a identificar onde estão agora e onde querem chegar, fazendo-os co-relacionar a situação pessoal de cada um e a mudança no contexto sócio-político-ambiental do seu entorno e da sociedade com um todo. Sem mudanças internas, estaremos sempre comentando, com distanciamento, os últimos acontecimentos e fatos, as catástrofes da hora, os vulcões e terremotos do momento, sem abordar suas causas, sem efetivamente provocar mudanças nas atitudes dos estudantes, futuros empresários que deverão assumir seus papéis tanto como cidadão. queremos também sugerir que o cenário de nossas aulas apresente e aborde a temática socioambiental de forma interdisciplinar, através de exemplos inseridos nas nossas disciplinas, ao mesmo tempo em que, como educadores, ofereçamos conhecimentos para a aquisição de consciência crítica, tão necessária à transformação que queremos e precisamos ter para conservar a vida na Terra. A ideia é que, sejam quais forem as disciplinas das quais estivermos à frente, caminhemos com o propósito de abordar e desenvolver a questão da necessidade das disciplinas internas, ferramentas necessárias à absorção de novos hábitos e atitudes sustentáveis, bem como a exposição dos cenários socioambientais que temos e como os queremos transformar, no caminho para uma vida mais sustentável. Dissertar colegas, em um círculo, as visões de suas tarefas, pensamentos e posições na empresa. O jogo funcionou. o modelo estava baseado, basicamente, em dois pilares: reflexões e inquisições. Pensar sobre e perguntar. Quanto mais perguntas, melhor. ouvir. encorajar o outro a ver o seu lado da moeda. Enxergando outras perspectivas, iniciamos o processo de questionamento interno das nossas. Sair do pensamento linear (o que eu enxergo) e entrar no pensamento circular exige pratica. É a prática de advogar suas idéias e defendê-las, ao mesmo tempo em que nos deixamos livres para receber novas perspectivas. Romper modelos mentais é um desafio que vale a pena, pois nos abre a novas oportunidades de aprendizado. Para inovar, é preciso estar aberto. como educadores, o incentivo a essa prática é parte da nossa Missão, de Educar para Transformar. Visão Compartilhada A terceira disciplina, visão compartilhada, envolve buscar agregados para o seu sonho, montar um time de apoio, criar um sentimento em comum. uma visão compartilhada não é uma idéia, como “liberdade”. É muito mais uma força no coração das pessoas, uma força que inspira a buscar apoio nos outros para aumentá-la. Não é abstrata, é palpável. Para compartilhar a visão é preciso primeiro senti-la, internamente. A visão compartilhada cria uma espécie de excitação, um borbulhar interno, um desejo de ação. ela move e comove, leva adiante sonhos e aspirações. ela emerge, primeiramente, de uma visão interna pessoal. Neste sentido, a maestria pessoal, primeira disciplina aqui apresentada, muito nos ajuda, pois nos incita ao comprometimento, à tensão criativa da mudança. Sentir algo de forma intensa contagia. Não é preciso convencer ninguém. A palavra que bem descreve o sentimento desta disciplina é entusiasmo. vem de dentro. traduz-se em energia. É uma energia positiva. Exclui o “não”. Uma proibição, por exemplo, “Proibido fumar” não gera uma visão compartilhada. um desejo de ajudar, de mudar uma realidade, de construir algo mais humano e solidário sim. Como em uma catástrofe, quando as pessoas se unem em prol das outras ou de uma situação, precisamos, como educadores, oferecer motivações aos alunos para lutar por um mundo mais justo e equalitário. Assim, os educandos passam a compartilhar a mesma visão e os conecta. descobrem, nesta buscam uma energia antes não conhecida, que podem ser motivados a lutar por uma causa, seja compartilhando os conhecimentos aprendidos em sala de aula com as comunidades do entorno, seja abraçando a causa de conservação de uma determinada região, ou um mutirão de limpeza e reestruturação de um parque ou mesmo uma determinada área urbana. os alunos devem ser motivados a agir em conjunto, por uma causa. Isso também faz parte de nossa missão como educadores. Modelos Mentais A segunda disciplina que devemos abordar em nossas aulas chama-se Modelos Mentais. Conforme vamos aprendendo, cristalizamos informações em nossas redes neurais. Não temos, em nossas mentes, famílias, trabalho, comunidades. Temos imagens, histórias, representações mentais, generalizações. Essas informações geram modelos mentais. os modelos mentais são personagens ativos em nossas vidas, pois direcionam nossas ações. os modelos mentais interferem na nossa forma de perceber a realidade. Eles mudam nossa forma de observá-la. Entramos com amigos em uma festa. Cada um de nós irá notar algo diferente, a presença de pessoas distintas. Percebemos a realidade de acordo com nossos sentidos e com nossos modelos. Se estivermos atentos e disciplinados, passamos a questionar se os nossos modelos são de fato importantes e condizentes com o que queremos. Albert einstein uma vez escreveu: “Nossas teorias determinam nossas medidas”. Para aprender e inovar, precisamos ensinar nossos educandos a visualizar seus modelos mentais e praticar sua ruptura. A empresa americana Harley Davidson, fabricante de uma das marcas de motocicletas mais conhecidas do mundo, encarou o desafio de romper com modelos mentais de seus executivos. Na busca de novas invenções, criou o exercício “mentor circular”, que consistia em escolher pessoas de variadas posições na empresa para compartilhar seu dia-a-dia. As pessoas deveriam, como critério de escolha, possuir boa capacidade de comunicação e habilidade de ouvir e influenciar os outros. Baseada na idéia “crie a demanda, produza e ofereça serviços”, executivos, mecânicos, engenheiros de produção, entre outros, contavam para os Aprendizado coletivo esta disciplina trata da interação em grupo, com um ou mais objetivos em comum. Isso forma um coletivo. Atenção à palavra: Inter-ação: ação entre as partes. A disciplina denominada “Aprendizado coletivo” requer diálogo e muita conversa. diálogo, de origem grega dia-logos, significa deixar fluir a palavra, pensar junto. Atingir resultados no coletivo que não poderiam ser obtidos individualmente. Dialogo é diferente de discussão, envolve troca de opinião, ouvir o outro. coletivo não é grupo, tem liga, tem algo que os une. Pode ser definido com um conjunto de partes que defende os mesmos objetivos, cada um com a sua função, seu microcosmo que interfere no resultado. 73 Dissertar Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin como em bando de pássaros que voa alinhado, cada um na sua posição, ela nos impele à comunhão de forças, a assumir nossa posição no bando. Aprender a usar e ensinar como usar essa disciplina envolve mobilizar energia para atingir objetivos comuns, verificando os talentos, habilidades e competências de cada um, de forma a alinhá-los em um aprendizado coletivo e a buscar a formação de seus próprios coletivos. Trabalhar com a postura de estimular os alunos a aprender e estudar coletivamente, ouvindo e respeitando o outro. Nunca houve tanta necessidade de aprendizado e trabalho coletivo como agora, pois as ações que precisamos empreender para conservação da natureza e da vida humana no planeta não podem ser realizadas sem um esforço coletivo, sem aprendizado e ação conjunta. É preciso muito treinamento para o aprendizado desta disciplina. manter a visão pessoal, buscar uma visão no grupo que possa ser compartilhada e integrá-la no coletivo. mentos simples ou que é preciso separar as partes para entender o todo tira o objeto de estudo dos seus contextos, prejudicando a compreensão das relações entre o objeto e o todo. O contexto faz parte do todo e modifica as relações entre as partes. Podemos visualizar o poder do contexto se pensamos em uma sociedade, cidade ou país que acaba de passar por uma catástrofe. É possível considerar as pessoas, ou parte do sistema, sem considerar o que o(s) envolve no momento? o pressuposto da estabilidade trabalha com a crença de que o mundo é estável, previsível e controlável. O exemplo da catástrofe também pode ser aplicado aqui. Por mais que tenhamos instrumentos avançados de detecção de falhas sísmicas e medição, temos como antecipar e evacuar uma cidade dias antes de um abalo sísmico? o pressuposto da objetividade acredita que “é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade” e exige a objetividade como critério de cientificidade. Se o observador, ou sujeito incorpora a sua realidade através de suas percepções, como podemos considerar o mundo pelas lentes puras da objetividade? David Hume, irlandês que viveu mito tempo na França, pensador do século xvIII , autor da obra prima “ o tratado da Natureza Humana” e uma cativante figura da história da filosofia, nos ilustra isso de forma comovente, com apenas algumas frases: “A beleza das coisas existe na mente de quem as contempla. À parte da matemática, não conhecemos nada com certeza. Mas ainda temos que viver e viver é agir. Todas as nossas ações têm que se basear em suposições sobre a realidade”. A idéia de complexidade sistêmica nos leva a crer que os três pressupostos acima mencionados não permitem que compreendamos o universo na sua plenitude, pois esquecemos de ver as relações, as interdependências, as sinergias decorrentes das múltiplas mudanças que ocorrem o tempo inteiro no mundo. Hoje sabemos que o mundo não está pronto e sim em constante processo de transformação e que fazemos parte desta constante (re)construção. Assim sendo, não pode ser controlado e previsível. Aprendemos também que a realidade não existe objetivamente, pois depende das lentes do olhar de quem a vê. como escreveu capra: “Minha decisão consciente sobre a forma como vou observar um elétron irá até certo ponto determinar-lhes as propriedades. Se eu fizer uma pergunta própria de partícula, ele me dará resposta de partícula. Se fizer uma pergunta própria de onda, ele me dará resposta de onda.” conclusões? respostas? Não temos, mas isso não impor ta. como disse mário quintana, no pequeno grande poema As indagações: “A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.” quebra de paradigmas, realidade, compreensão do mundo, tudo está em construção e essa é a sua verdadeira beleza! É fundamental que exerçamos nosso papel como educadores para de modo a lutar pelo desenvolvimento sustentável do país e formar egressos que busquem tanto a prática de cidadania, ação individual, quanto o exercício de responsabilidade Socioambiental (ação empresarial, a ser desenvolvida e ativada em seus postos de trabalho). Assim, é importante que tenhamos como estratégia de ensino a inserção destas abordagens acima demonstradas, denominadas “cinco disciplinas”, que podem ser transmitidas aos nossos alunos de forma gradual, exemplificada e prática, convidando-os a exercitar cada uma delas no seu dia-a-dia, dentro e fora do contexto universitário. Devemos motivar nossos alunos a formarem redes de trabalho, de fraternidade e cooperação mútua. A vida natural nos dá importantes aprendizados da importância do coletivo e do agir em conjunto. devemos tentar conhecer a realidade que Pensamento Sistêmico o Pensamento Sistêmico é chamado de quinta disciplina. Pensar sistemicamente é quebrar a linearidade dos encadeamentos. Não há fim, não há começo, pois um leva ao outro. Há círculos. Através desta disciplina devemos ensinar aos nossos educandos a perceber a interdependência das coisas, da natureza, das pessoas. É baseada na circularidade de nossas ações e nos resultados que geram. Às vezes, uma pequena ação pode desencadear uma grande mudança sistêmica. Sistemas vivos possuem sua própria integridade. Dividir um elefante em dois não produz dois elefantes, mas duas metades. desenvolver o pensamento sistêmico é trabalhar a habilidade de ver o todo. A beleza de uma flor, de uma pessoa ou um poema está no todo. Para exercer e ensinar como praticar essa disciplina, é preciso elevar o pensamento, deslocá-lo das noções de tempo e espaço. Algumas vezes apenas podemos sentir o efeito de nossas ações apenas muito tempo depois, ou até nem sentiremos esses efeitos nas nossas vidas, mas serão experimentadas pelas gerações por vir. grandes problemas, como o aquecimento global, a extinção das espécies, a conservação das águas, entre outros, exigem o pensamento sistêmico. Para pensar sistemicamente, temos que ver a estrutura que se esconde em situações complexas, reestruturar nossa maneira de pensar. talvez seja a disciplina mais difícil de ensinar e aprender, mas é nesta disciplina que as quatro disciplinas apresentadas acima apresentadas estão fincadas. Para melhor entender o pensamento sistêmico ou a quinta disciplina, já que esta é base e o fim de todas as outras, falaremos agora sobre complexidade sistêmica. Quando examinamos de perto as teorias sobre os processos que geram os organismos vivos, percebemos que eles encadeiam-se numa rede química, que é característica fundamental da vida. Assim como os ecossistemas são compreendidos em função da noção de teia alimentar, ou redes de organismos, assim também os organismos são concebidos como rede de células, órgãos e sistemas orgânicos; e as células, como rede de moléculas. A ciência do século passado adotava a mecânica clássica como modelo do pensamento científico. Este pensamento entende as coisas como mecanismos e sistemas fechados. A ciência de nossos dias adota o organismo vivo como modelo, o que equivale a pensar em sistemas abertos, como redes. os sistemas são percebidos como orgânicos, interconectados, interdependentes e, portanto, complexos. A teoria da complexidade sistêmica rompe com três paradigmas científicos muito conhecidos: a simplicidade, a objetividade e a estabilidade. o pressuposto da simplicidade ou a crença em que separando-se o mundo complexo em partes, encontram-se ele- 74 Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores Maria Cecilia Trannin queremos transformar, sabendo que somos ao mesmo tempo livres para escolher nosso caminho e interdependentes. como educadores, é importante que estimulemos nosso alunato a buscar as causas da problemática socioambiental, através de exemplos e casos diários, reservando alguns minutos finais de nossas aulas para essa discussão, estimulando-os a trazer notícias de jornal e revistas da atualidade a serem compartilhas com a turma, gerando novos conhecimentos e formas de pensar. Dissertar transformar hábitos e atitudes, de “predadores e caçadores” em “construtores” de um mundo mais justo e solidário. Como posto nos desafios da Carta da Terra, importante documento para o século xxI redigido coletivamente por pensadores e educadores na rio-92, a escolha é nossa, pois devemos “formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.” O tempo que temos é o tempo em devemos fazer acontecer. que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida. que nós, educadores, possamos ser os arautos deste processo. Considerações finais Como vimos, tudo depende de nós da forma como iremos perceber a realidade e atuar sobre ela. Precisamos mudar, internamente, para provocar as mudanças que queremos, precisamos e devemos efetuar no mundo. Compreender os padrões, pensar de forma complexa, romper com as linhas de produção de pensamento e ação pré-definidas. Eis a nossa tarefa, como educadores e educados, cidadãos do mesmo planeta. Um novo perfil de atuação por parte dos homens desse tempo é essencial e diz respeito à sobrevivência de nossa vida no planeta. uma atuação sistêmica, que consiga vencer as barreiras e adversidades e encará-las como oportunidades. Conflitos, problemas, obstáculos sempre existirão. São importantes. Nos desafiam a crescer e transformar resistências em colaborações, nos fazem resilientes. É nesse contexto que se define uma nova forma de atuação do educador, baseada nos princípios da transformação individual e coletiva, na aquisição e transmissão de um novo conjunto de habilidades. Essas habilidades nos fazem perceber o mundo em sua complexidade, de uma forma nova e mais holística, gerando mudanças em nossas vidas e em nossas organizações. Quando mudamos nossa forma de perceber, mudamos nossa forma de agir individualmente e no coletivo, passamos a ver o mundo de forma diferente. Contagiamos aos que estão a nossa volta. Criamos, dessa forma, uma nova realidade. Toda mudança é um desafio. Quando aqui dizemos mudar, queremos dizer ensinar e aprender. capra sugere que as novas ciências podem colaborar com idéias, conhecimentos e imagens para uma nova compreensão do mundo contemporâneo. uma perspectiva que visualiza o universo como um sistema complexo, imprevisível, interativo, muito distante dos modelos reducionistas, estáveis e objetivos do século xvII. A decisão é nossa, pois a mudança deve ser iniciada dentro de nós. Assim, se conjugarmos a observação da problemática e das soluções socioambientais em sala de aula com o desenvolvimento das cinco disciplinas por nós apresentadas, em pequenos intervalos entre a difusão dos conhecimentos do conteúdo programático ao qual estamos vinculados, teremos avançado na construção da educação para a sustentabilidade. o presente que vivemos é delicado, a natureza vem nos dando inúmeros sinais de sua fragilidade e, ao mesmo tempo, de sua potência destrutiva (ou reconstrutiva?). ela se reorganiza, da forma como sabe e como pode, em sua complexidade sistêmica, alterada por nossos impactos. Uma forma que podemos chamar de “quântica”, ou integrada em sua complexidade. Uma percepção que vai além das aparências, que enxerga as partes que compõem o todo e o todo como um resultado das partes, e que, além disso, percebe as relações entre cada um dos elementos que integra o conjunto. falamos de despertar para uma consciência efetivamente crítica e transformadora, que de fato compreenda a complexidade e a inter-relação entre nossas escolhas e seus impactos, sobre a nossa responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual, sobre o nosso desafio de Referências ARANHA, José Alberto S. – Interfaces: A chave para compreender pessoas e suas relações em um ambiente de inovação – São Paulo: editora Saraiva, 2009. ARNTZ, William – Quem Somos Nós? A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária / William Arntz, Betsy Chase e Mark Vicente – Rio de Janeiro: Prestígio Editorial, 2007. CAPRA, Fritjof – As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável – São Paulo: Cultrix: 2005. CARTA DA TERRA, disponível em http://www.cartadaterrabrasil. org/prt/text.html, acesso em 05/10/2014 INSTITUTO ETHOS – disponível em www.ethos.org, acesso em 05/10/2014 levINAS, e. – Humanismo del outro hombre, Siglo XXI, México: 1993. SeNge, Peter – The Dance of Change: The Challenges to Sustaining Momentum in Learning Organizations / Art Kleiner, Charlotte Roberts, Richard Ross, George Roth, Bryan Smith – New York: Currency double day, 1999. SeNge, Peter – The Fitth Discipline: The Art & Practise of the Learning Organization – New York: Currency Double Day, 2006. Soto, eduardo – Comportamento Organizacional: o impacto das emoções – São Paulo: Pioneira thompson learning, 2002. trANNIN. m.c – Sustentabilidade de comunidades & meio ambiente Marketing & Comunicação: construindo uma articulação in la Sustentabilidad Hoy. 2005- Fundación CEPA Argentina: 2005. Artigo enviado em 03/11/2014, aceito em 15/03/2015 75 Dissertar Dissertar Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil New methodology to conchostracan analysis in optical microscope from bituminous shale, Sergipe – Alagoas basin, Brazil Nueva metodologia para el analisis de conchostraceos en microscopia optica oriundos de follajes betuminosos, bacia de Sergipe, Alagoas, Brasil Novos procedimentos metodológicos para a identificação de conchostráceos foram realizados em amostras de folhelhos betuminosos, oriundas da Bacia de Sergipe-Alagoas (Formação Maceió, Cretáceo Inferior, Brasil), processadas para recuperação de matéria orgânica, nas quais há a presença de uma fauna monoespecífica de conchostráceos (cyzicus pricei) e palinomorfos. A análise das lâminas em microscopia ótica permitiu identificar e reconhecer os fragmentos de conchostráceos, com os padrões de suas respectivas linhas de crescimento, e ornamentações variadas, não perceptíveis em fósseis submetidos à iluminação direta. New methodological procedures for identifying conchostracans were performed on samples of bituminous shales, derived from the Sergipe-Alagoas Basin (Maceió Formation, Early Cretaceous), processed for recovery of organic matter, where there is the presence of a monospecific fauna of conchostracans (cyzicus pricei) and palynomorphs. The analysis of slides in optical microscopy to identify and recognize the fragments of conchostracans with the standards of their respective lines of growth, and varied ornamentation, no visible fossils submitted to direct light. Nuevas metodologías para identificar conchostráceos, realizadas en muestras de follajes betuminosos, oriundas de la Bacia de Sergipe, Alagoas, procesadas para recuperar la materia orgánica, en las cuales hay presencia de una fauna mono específica de conchostráceos (cyzicus pricei) y palinomorfos. El análisis de las láminas en microscopía óptica permitió identificar y reconocer los fragmentos de conchostráceos, con los padrones de sus respectivas líneas de crecimiento, y adornos variados, no perceptibles en fósiles sometidos a iluminación directa. Quando o ambiente volta a ser favorável, os ovos eclodem e o organismo passa por uma fase larvar até chegar à fase adulta. É nessa fase que se forma a carapaça e o organismo começa a viver sobre o substrato dos corpos aquáticos (cArVALHO, 1993). os conchostráceos, como todos os artrópodes possuem uma cutícula, exoesqueleto, que recobre toda a superfície do corpo e apêndices. esta carapaça está presa ao corpo do or ganismo apenas por um simples músculo, o que faz com que periodicamente ela sofra um acréscimo, enquanto o animal troca todo seu exoesqueleto quitinoso. Possuem zoneamentos de crescimento, separadas por linhas, denominadas como linhas de crescimento, cuja função é ampliar o tamanho da carapaça para acompanhar o crescimento do animal, refletindo, portanto, as fases de desenvolvimento desses crustáceos. As características apresentadas por essas linhas constituem-se no principal foco do estudo da paleobiologia desse grupo de organismos. Os fósseis oriundos da Bacia de Sergipe-Alagoas (Formação Maceió, Cretáceo Inferior), estão presentes nos níveis de folhelhos betuminosos, onde ocorre uma fauna mono específica (Fig. 1) de conchostráceos (Cyzicus pricei). Todos os exemplares pertencem à mesma espécie, pois apresentam o mesmo padrão de ornamentação microalveolar carenado, característico da espécie Cyzicus pricei. este padrão caracteriza-se por apresentar os minúsculos alvéolos impregnados por carbonato de cálcio. Palavras-chave: Conchostráceos, Formação Maceió, Sergipe–Alagoas Basin. Autores: Alice F. Souza Engenharia de Petróleo, Universidade Estácio de Sá, Brasil. Email: [email protected] Ismar S. Carvalho Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Email: [email protected] introdução os conchostráceos são crustáceos que possuem o corpo inteiramente protegido por uma carapaça quitinosa, que geralmente está impregnada por carbonato de cálcio. Pelo seu tamanho diminuto, têm sido identificados em testemunhos de sondagem, podendo fornecer informações sobre o fóssil e o ambiente em que se deu a deposição dos sedimentos. essas características tornam os conchostráceos bons indicadores ambientais e a identificação das espécies a partir de fragmentos de carapaça em lâminas amplia sua aplicação paleoambiental e bioestratigráfica. Seus ovos podem ser submetidos a longos períodos de seca, podendo se dispersar através do vento e da água. 76 Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil A. F. Souza e I. S. Carvalho Dissertar d) No intuito de eliminar a fração mais grossa do resíduo, e consequentemente proporcionar a concentração dos fragmentos de conchostráceos, faz-se uso de peneira com malha de 200 μm. e) Em seguida, o material sofre ataque com ácido nítrico concentrado (HNO3) juntamente com clorato de potássio (KClO3) com duração de 15 min. f) Posteriormente é adicionado cloreto de zinco por 20 min, objetivando a separação do material pesado do material mais leve (separação por flotação). Após a separação por flotação, seguida da decantação, adiciona-se ácido HCl diluído a 10%. g) O material é então peneirado com malha de 10 μm, e após a lavagem com água destilada, são preparadas as lâminas usando-se uma chapa aquecedora à temperatura de aproximadamente 30° e entellan para a colagem da lamínula. As lâminas preparadas tomam como base o processamento de amostras para análise de palinofácies e fácies orgânica com o intuito de obter amostras com conchostráceos, seguindo como base a metodologia de olIveIrA et al . (2006). o processo consiste das seguintes etapas: a) com béqueres de vidro de 250 ml, acrescenta-se 40 g de sedimento e logo em seguida inicia-se a acidificação com ácido clorídrico (HCl) a 37%. b) Deixa-se em repouso por 18 h. Após esse tempo, acrescenta-se água destilada para iniciar o processo de neutralização e espera-se o material decantar. Peneira-se a solução ácida, e retorna-se o material retido na mesma para o béquer. faz-se esse procedimento até que a água esteja neutralizada. c) O mesmo procedimento é realizado com o ácido fluorídrico (HF) a 40%. Neste a amostra permanece por 24 h em repouso. Após a neutralização completa do mesmo, a amostra é acidificada com HCl a 10% por 3 h e novamente utiliza-se o mesmo procedimento anterior. d) com o material neutralizado e diluído, passa-se o mesmo para um tubo de ensaio de 250 ml, centrifuga-se por 3 min com velocidade de 1.500 rpm. usa-se a peneira para verter o líquido sobrenadante, retornando o material retido na peneira novamente para o tubo de ensaio. e) Acrescenta-se cloreto de zinco (zncl 2) no tubo de ensaio e agita-se. Usa-se a centrífuga por 30 min ou deixa-se o material em repouso por 12 h para que a matéria orgânica seja separada do material inorgânico. f) Com a matéria orgânica separada passa-se para outro tubo de ensaio, acrescenta-se algumas gotas de HCl a 10%, agita-se bem, coloca-se o tubo na centrífuga por 3 min a velocidade de 1.500 rpm, em seguida verte-se o líquido sobrenadante para a peneira, retornando o material retido novamente para o tubo de ensaio. Figura 1 – Nível de mortandade em massa, ocorrência de até 18 espécimes em 2 cm2 Exemplares com diferentes tamanhos indicam que o estágio embrionário de cada ovo em estado de latência era diferente quando ocorreu a eclosão. Metodologia o desenvolvimento de uma metodologia para a recupera ção de fragmentos de conchostráceos possibilita sua identificação através da observação ao microscópio óptico da ornamentação intra-alveolar presente em sua carapaça. A metodologia foi desenvolvida com amostras de folhelhos betuminosos, oriundos da Praia de japaratinga (japaratin ga, Alagoas) da formação maceió, bacia de Sergipe-Alagoas, brasil, através de processamento para recuperação de matéria orgânica seguindo a metodologia de olIveIrA et al . (2006). foram preparadas lâminas, tomando como base o processamento de amostras para análise palinológica. o material sofreu uma sequência de ataques químicos a fim de se obter um resíduo isento de material inorgânico e húmico, contendo apenas material orgânico com a presença de conchostráceos. o processo consiste das seguintes etapas: a) coloca-se 40 g de sedimento em um béquer de vidro de 250 ml e logo em seguida inicia-se a acidificação com ácido clorídrico concentrado (HCl) a 32% para se eliminar o carbonato. b) Deixa-se em repouso por 2 h. Após esse tempo, acrescenta-se água destilada para iniciar o processo de neutralização e espera-se o material decantar. com uma peneira de malha de poliéster, peneira-se a solução ácida, e retorna-se o material retido na mesma para o béquer. faz-se esse procedimento até que a água esteja neutralizada. c) o mesmo procedimento é realizado com o ácido fluorídrico concentrado (HF) a 40%, visando à eliminação de silicatos. Neste a amostra permanece por 12 h em repouso. Após a neutralização completa do mesmo, a amostra é acidificada com HCl a 10% por 3 h, para a eliminação do fluorsilicato, formado durante o processo anterior e repete-se o procedimento anterior. Resultados A utilização deste método possibilitou a recuperação de fragmentos de carapaças de conchostráceos, de forma indireta através do método de obtenção de palinofácies, fácies orgânicas e palinomorfos. A análise das lâminas em microscopia óptica permitiu identificar e reconhecer fragmentos de conchostráceos, com suas respectivas linhas de crescimento e ornamentações intra-alveolar (Fig. 2). Os fragmentos de conchostráceos permitiram a observação em luz transmitida de ornamentações variadas, não reconhecidas em fósseis submetidos à iluminação direta (Fig. 3). tal proposição amplia os procedimentos metodológicos para a 77 Dissertar Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil A. F. Souza e I. S. Carvalho identificação de conchostráceos possibilitando interpretações paleoambientais e possíveis correlações bioestratigráficas. Considerações finais A recuperação de fragmentos de carapaças de conchostráceos pelo método de obtenção de palinofácies é possível com a preparação de lâminas, tomando como base o processamento de amostras para análise de palinofácies e fácies orgânica. As lâminas preparadas para obtenção de fragmentos de conchostráceos com preservação de suas linhas de crescimento e ornamentações intra-alveolar, tomando como base o processamento de amostras para análise palinológica mostrou ser eficiente para identificação desses microorganismos e suas estruturas em bom estado de preservação. Figura 2 – Ornamentação microalveolar característica da espécie cyzicus pricei Agradecimentos À joão graciano medonça filho, por disponibilizar o laboratório de Palinofácies e Fácies Orgânicas (lAfo) para preparação das amostras e a toda sua equipe, em especial, Antônio donizeti de oliveira, joalice de oliveira medonça e jaqueline torres de Souza pela colaboração na preparação e confecção das lâminas e pela análise e fotografia das amostras. Este estudo contou com o apoio da fAPerj e cNPq. Referências Bibliográficas CARVALHO, I. S. 1993. Os Conchostráceos Fósseis das Bacias Interiores do Nordeste do Brasil. Programa de Pósgraduação em geociências, universidade federal do rio de janeiro, tese de doutorado, 310p. OLIVEIRA, A.D.; MEDONÇA-FILHO, J. G.; SANT’ANNA, A. j.; SouzA, j. t.; freItAS, A. g. & meNezeS, t. r. 2006. Inovação no processamento químico para isolamento da matéria orgânica sedimentar. In: congresso brasileiro de geologia, 43, Aracaju, 2006. Boletim de Resumos, Aracaju, Sociedade brasileira de geologia, p. 324. Figura 3 – Fragmentos de carapaça de cyzicus pricei , reparar na ornamentação carenada microalveolar, em luz branca (direita) e fluorescência (esquerda). 78 Artigo enviado em 11/11/2014, aceito em 27/11/2014 Dissertar o ã ç e S s o r i e Prim os Pass s sos aluno s o n e d o çã ão da forma a produç d e t a r a ic p íf t z n a F -cie ográficos cadêmico n a o o m ã is s v o a balh isas e tra isciplinas. u q s e p e d tes ed e cursos s estudan d o l , a s e in r f o o s a fes s s por pro de, digno o a d d a li t a n u ie q r O de trabalhos s e divulgados no m a r o b la e do apresenta o objetivo s m m e o r c e , s e d no ssim dêmico. A o científico nos alu a c a io e m ir írit ivar o esp raduação e difund , t n e c in e d g e a discent ão e pósç ic a íf t u n d a ie r c g o da iaçã s. ão de inic ç u d os Passo o r ir p e a im r P seção mos um criamos a edições publicare no. As as alu rofessor- smas Em todas p ia r e c r a me ep trabalho d ublicação são as ra p es. regras pa os dos professor os! r tig para os a s Primeiros Pass do Participe 79 Seção Primeiros Passos Dissertar Dissertar Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Reduccion de costos de la administracion financiera estatal utilizando un sistema de apoyo decisión basada en mapas digitales en la logística en servidores de Detran de Santa Catarina Cost reduction of Santa Catarina financial management using the digital maps based decision support system in logistics in dmv public servants Uma das funções do órgão correcional do Detran de SC, a Corregedoria, é efetuar fiscalizações por todo o estado. O objetivo deste artigo é demonstrar como a administração financeira pública pode reduzir custos operacionais de deslocamento de servidores públicos, com práticas de logística de materiais aplicadas à logística de pessoas, conjuntamente a um Sistema de Apoio à Decisão com embasamento em mapas digitais. Constata-se um aumento na produtividade por meio da otimização do caminho a ser percorrido, com informações visuais, precisas e ao alcance imediato. One of the functions of the correctional agency of the SC (Santa Catarina State) DMV, Internal Affairs, is to perform inspections throughout the state. The purpose of this article is to demonstrate how public financial management can reduce operating costs offset public servants with practical logistics of material applied to the logistics of people together to a Decision Support System with background in digital maps. There was an increase in productivity by optimizing the way to go, with visual, accurate and immediate grasp information. Una de las funciones de la agencia correccional del Departamento de Transito (Placas Y Licencias) de Santa Catarina, Asuntos Internos, es llevar a cabo inspecciones en todo el estado. El propósito de este artículo es demostrar cómo la gestión de las finanzas públicas puede reducir los costos de operación de desplazamiento de los servidores públicos, aplicando la misma logística de materiales para una logística de personas, conjuntamente a un sistema de apoyo, basado en mapas digitales. Se constató un aumento de la productividad optimizando el camino a recorrer, con informaciones visuales, precisas y de alcance inmediato. Palavras-chave: Logística de pessoas, mapa digital, Administração pública. formação em Letras. Mestre em Administração Universitária. Mestre em Psicopedagogia. Doutorado em Ciências Pedagógicas em validação. Especialista BNI – Inep. E-mail: [email protected] é imperiosa a atuação de um ser humano para transportar o produto de um ponto A para um ponto b. um ser humano pode ser o responsável por apenas um produto, como um carteiro ou por milhares, como um motorista de caminhão ou locomotiva - depende do modal de transporte escolhido. este ser humano, responsável pelo transporte da carga tem características de “perecibilidade” assim com a carga que ele transporta. Algumas cargas necessitam serem condicionadas com temperaturas muito frias, outras devem ser embaladas com grande cuidado, algumas têm vida útil muito curta. já o responsável pelo transporte destes materiais está sujeito a sérios obstáculos, como o desgaste físico causado por horas dirigindo um caminhão, desgaste psicológico por ficar tempo longe de sua família, estresse por transportar uma carga valiosa. Por isso, há necessidade de estudo de logística de Pessoas, onde Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa Formação multidisciplinar, une a formação em administração e informática. Bacharel em Administração pela Universidade Estácio de Sá, Bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, incompleto e Pós Graduando em Administração Pública, pela Universidade Estácio de Sá Atualmente é servidor público da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, lotado no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). E-mail: [email protected] Adm. Ana Shirley de França Moraes (Orientadora) Professora Titular da Universidade Estácio de Sá – RJ e Professora de Pós-graduação na UFRJ. Administradora, introdução Ao falar de logística, instintivamente associamos ao processo de transporte de materiais. ou seja, transportar matérias-primas para a fábrica, produtos semi-prontos entre unidades de produção, produtos acabados da fábrica para os centros de distribuição e destes para as lojas ou diretamente para o consumidor final, dependendo do modelo de distribuição aplicado. Independente do momento de aplicação do conceito, a estreita ligação do termo “logística” com um produto físico é evidente. contudo, nem tudo que é deslocado é um produto. Por enquanto, ainda 80 Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa o estudo de logística de materiais é utilizado como embasamento para aplicabilidade neste novo tema. este conceito teve sua necessidade exposta no próprio ambiente de trabalho do autor, na corregedoria do Detran do estado de Santa Catarina. Há uma grande movimentação de servidores por todo o estado, que tem, dentre outras funções, a de fiscalizar todos os mais de mil estabelecimentos credenciados do detran, tais quais despachantes e centros de formação de condutores. estes servidores estão localizados na capital, em florianópolis, e devem sistematicamente visitar os credenciados, com a finalidade de obterem mais informações acerca de denúncias contra um credenciado específico ou de realizarem ações preventivas. estas ações objeti vam penalizar aqueles que comentem atos ilícitos e manter uma qualidade mínima aceitável de serviço oferecido ao cidadão catarinense, que está em busca de obtenção da sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) ou ainda de documentos do seu veículo automotor. estes credenciados terão seus endereços migrados para um mapa geográfico digital, o Google Earth™ e serão visualizados de uma forma inovadora, não mais em gráficos de barras ou em tabelas, mas sim com sua localização precisa no mapa digital. Com tais informações é possível estudar melhor as rotas necessárias para a realização do trabalho, certificando os lugares de parada para descanso, refeições, abastecimento e estadia. A mudança de metodologia proposta produzirá mais trechos curtos de viagem, em substituição a poucos longos e cansativos trechos. A redução de gastos do governo se tornará evidente ao passo em que viagens redundantes serão evitadas. o consumo de combustível será minimizado, a vida útil dos veículos oficiais aumentará. O desgaste do servidor será menor mediante mais paradas durante longas viagens. tudo isso objetivando o melhoramento qualitativo e quantitativo das fiscalizações efetuadas concomitantemente com o bem-estar do servidor público. Desenvolvimento o termo “logística de pessoas” é pouco explorado e documentado. Pelo termo “logística”, carlos márcio vitorino (2012) afirma como sendo a “área que tem a função de controlar o deslocamento de materiais, partindo dos fornecedores até as prateleiras das lojas”. A logística já foi limitada apenas à entrega de mercadorias onde determinasse o cliente. com o advento de novas teorias administrativas e a evolução natural do mercado, esse conceito minimalista necessitou de adequação, principalmente pela necessidade cada vez maior de tornar o produto mais atrativo, reduzindo seus custos. Pode-se atacar a redução de custos de um produto em várias abordagens diferentes, como a redução do preço de compra, melhoramento da produção com a redução de desperdícios, redução nos gastos de transporte e armazenamento. Ao longo dos tempos, pode-se dividir a logística em quatro etapas. Na primeira fase, no início do século XX, a logística servia apenas para o transporte de produtos agrícolas. Na fase dois, a partir da II guerra mundial, a logística foi incorporada no campo militar, para o transporte de soldados, veículos, suprimentos. Napoleão bonaparte, em 1812, perdeu a conhecida batalha de Grande Armée, na Rússia, por ter ficado sem mantimentos para sua tropa. com o fim da II Guerra Mundial tem começo a fase da Integração Interna ou Cadeia de Suprimentos, onde é introduzido o estudo da logística como algo maior, mais completo, em que há preocupação com o gerenciamento de transportes, suprimentos, gestão de estoques. já na década de 1970, o antigo modelo não atendia à demanda causada pelo aumento do consumo. As indústrias, então, passaram para a produção de massa a fim de corresponderem à demanda crescente. Os produtos finais necessitavam de várias matérias- primas para serem fabricados, possivelmente oriundas de várias partes do globo. Neste momento, o computador surge como um grande aliado para ajudar nos cálculos de quantidade de matéria-prima a ser comprada, utilizando variáveis complexas como o preço por unidade considerando-se a distância percorrida, o tempo de deslocamento, a qualidade da peça, o estoque local. Para se ter uma ideia da complexidade deste tipo de produção, tomemos por exemplo a construção do avião A380, da empresa Airbus, o maior avião comercial do mundo. embora a montagem seja concentrada na cidade de toulouse, no sul da frança, a operação logística envolve cer ca de mil empresas em mais de cem países. Algumas peças do A380, concebido em 2007, chegam por aviões cargueiros, navios e outras, e, por serem tão grandes, paralisam pequenas cidades no transpor- 81 Dissertar te rodoviário do porto até toulouse. um atraso na entrega de uma peça do avião acarretará o atraso na montagem final do produto, ocasionando prejuízos à Airbus, que ficará com um hangar ocupado desnecessariamente ou ainda poderá pagar multas por não cumprimento de prazos de entrega ao cliente. fica evidente então que a logística auxilia as empresas a aumentarem continuamente o nível de serviço ao cliente e a otimizarem os custos. O transporte é a função da logística que posiciona geograficamente os produtos. Conforme diz Paulo Roberto bertaglia, “o transporte deve receber todas as prioridades necessárias. Seja para movimentar produtos finais, matérias-primas, componentes ou pessoas, ele deve ser rápido, eficiente e barato” (2009). A correta escolha do modal de transporte utilizado pode fazer diferença entre o lucro e o prejuízo na composição do preço final do produto. Geralmente o transporte tem uma grande parcela nos custos da cadeia de Suprimentos. BERTAGLIA afirma que “dois são os parâmetros que influenciam as atividades de transporte: distância e tempo. As análises da logística de transporte têm demonstrado que a velocidade aliada ao componente preço tem sido a tendência na área de movimentação” (2009). o transporte rodoviário é o mais independente dos modais, já que possibilita a movimentação de uma grande variedade de produtos, tamanhos e formas, em várias etapas da distribuição. A maior desvantagem é o seu alto custo em relação a modais de maiores volumes, como marítimo e ferroviário. Levando-se em conta a má qualidade notória das estradas brasileiras, os custos de transporte rodoviário podem ser ainda mais altos, decorrentes do incremento nos custos de manutenção dos veículos. Os estoques são formados pelas empresas em função das incertezas quanto à demanda ou quanto ao seu re suprimento. um estoque muito grande ocasiona em grande volume de capital investido retirado do capital de giro, aumentando seus riscos mediante ameaças externas. Estoques muito pequenos deixam a empresa mais ágil quanto às mudanças no mercado, contudo mais lentas para entregas de volumes maiores de produção. Podem ainda ter o preço final de seu produto oscilando, uma vez que necessitam comprar matéria-prima constantemente em quantidades menores. com as empresas buscando a redução nos seus níveis de estoque, Dissertar Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa aumentam as exigências para que as entregas sejam mais frequentes e com maior agilidade, sem perder de vista a manutenção da qualidade do produto a ser entregue. A armazenagem se refere ao espaço físico onde as mercadorias são armazenadas, preservando sua qualidade original. A informação consiste em dados ou análises a respeito de estoque, transporte, instalações e clientes, que fazem parte da cadeia de suprimento. A informação é potencialmente o maior fator-chave de desempenho da cadeia de suprimento, pois afeta diretamente cada um dos demais fatores-chave. (Sunil chopra, Peter mindl, 2002) A logística de suprimentos trata de fornecer a cadeia com informações referentes à compra, recebimento, conferência das matérias-primas necessárias, dentre outras. A logística de produção transforma a matéria-prima em produtos finais. Já a logística de distribuição acolhe os produtos finalizados para serem entregues ao seu destino final. o roteiro de entrega deve considerar fatores como o tempo de serviço do condutor, a quantidade a ser entregue, produtos, embalagens. o uso de sistemas de computador traz inúmeros benefícios, pois possibilita a simulação das entregas, alterando o valor de certas variáveis, como a quantidade de entregas, diferentes cargas de veículos e rotas. Conforme enfatiza BERTAGLIA, “quando os ativos são utilizados na ida e na volta, o aproveitamento é superior, e a frota torna-se mais eficiente” (2009). O uso de sistemas especializados para otimização de rotas pode contribuir para a redução de custos e melhorias no desempenho geral de entregas. A utilização da tI - tecnologia da Informação - para determinar a rota ótima a ser utilizada conforme a carga, veículo e pontos de entrega/coleta, proporcionam uma redução significativa de custos. Um roteirizador utiliza um mapa digital, que apresenta informações de regiões, restrições de tráfego, pontos de pedágio. Neste mapa são inseridos os endereços dos clientes, fornecedores, depósitos, postos de combustíveis ou qualquer outra informação geográfica importante, como até mesmo a inserção de pontos de fiscalização alfandegária ou trechos recomendados para descanso. Pode-se elencar como alguns dos benefícios do uso de sistemas de roteirização: a redução de custos devido à otimização das distâncias, o melhor uso da capacidade do veículo e a minimização dos tempos de deslocamento. A tecnologia atual de posicionamento global por satélites (gPS - sigla em inglês para Global Position System) possibilitou trazer para o veículo algumas possibilidades de roteirização não planejadas. Como, por exemplo, uma necessidade de desvio não programado numa estrada sem que o motorista seja conhecedor da região. também é possível estimar o tempo de chegada, criar check points para manter o transporte no horário determinado previamente. com tantas variáveis a serem levadas em conta na equação da busca pelo menor custo, a tI tem um papel indispensável. ela permite a integração entre os mais variados departamentos da empresa, viabilizando as operações logísticas existentes na cadeia. Através deste fluxo de informações, os mais variados processos, operações e controles podem ser efetivados. Seu uso propicia ganhos de competitividade na cadeia de suprimentos, como aumento da agilidade, maior velocidade de resposta às novas demandas, maior flexibilidade, personalização do atendimento e um consequente aumento do nível de serviço sentido pelo cliente. A tI possibilita a rápida identificação para a posterior eliminação de processos redundantes e que não estejam agregando valor à cadeia. os sistemas computacionais tem variadas aplicações, como a utilização de código de barras nos produtos para viabilizar a rastreabilidade, coletores de dados para controle e identificação, sistemas ERP. O avanço tecnológico afeta sobremaneira o desempenho dos transportes. A tecnologia pode ser usada de várias formas, como: 1. controle de veículos por satélite: indica sua posição de deslocamento; 2. controle de rotas: sistemas altamente flexíveis permitem traçar rotas econômicas para diferentes veículos, considerando capacidades, áreas geográficas e características do produto a ser transportado; 3. checagem de carga: a contagem pode ser efetuada por leitura óptica, alimentando diretamente um sistema de estoques; 4. Informação imediata de entregas ou de outros problemas de rota; 5. visibilidade da cadeia de abastecimento em todo o seu contexto: ativos, estoque, localização geográfica de veículos e produtos, capacidades, disponibilidades de fornecedores 82 entre inúmeros outros benefícios. (bertAglIA, 2009) Conforme diz James A. O’Brien, “Sistema de informação é um conjunto organizado de pessoas, hardware, software, redes de comunicações e recursos de dados que coleta, transforma e dissemina informações em uma organização” (2006). um sistema deve ter três componentes básicos: entrada, processamento e saída. A entrada é onde ocorre a inserção de todas as informações necessárias, os chamados dados. No processamento, os dados da entrada são convertidos nas informações que são mostradas na saída, exibidas das mais variadas formas. Os sistemas de informação podem ser classificados, de acordo com O´BRIEN (2006), como operacionais e gerenciais. os sistemas operacionais, como o próprio nome diz, dão apoio às operações, sendo subdividos em: sistemas de processamento de transações, controle de processos e colaborativos. já os sistemas gerenciais são, por sua vez, formados em sistemas de informação gerencial, de apoio à decisão e de informação executiva. o papel dos sistemas de apoio às operações de uma empresa é processar transações de forma eficiente, controlar processos industriais, apoiar comunicações e colaboração e atualizar bancos de dados da empresa. São chamados de sistemas de apoio gerencial aqueles que se concentram em fornecer informação e apoio aos gerentes em sua tomada de decisão eficaz. (O’BRIEN, 2006) Os sistemas de informação gerencial fornecem informações no formato de relatórios, planilhas, demonstrativos. os sistemas de apoio à decisão, foco deste trabalho, fornecem informações interativas, de diversas formas, para que os gerentes possam embasar certa decisão a ser tomada. já os sistemas de informação executiva fornecem informações críticas, customizadas para a empresa. um Sistema de Apoio à decisão se caracteriza por fornecer informações sobre o desempenho da organização de acordo com a necessidade, de forma interativa, num formato flexível, altamente personalizável, cujas informações são produzidas por modelagens analíticas de dados dos negócios. Assim sendo, estes sistemas podem obter os dados das mais variadas fontes de informações da empresa e mostrar para o gerente da forma como preferir, sendo comum o cruzamento de informações inicialmente sem relação. Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa uma das maiores redes de varejo dos estados unidos descobriu, em seu gigantesco armazém de dados, que a venda de fraldas descartáveis estava associada à de cerveja. em geral, os compradores eram homens, que saíam à noite para comprar fraldas e aproveitavam para levar algumas latinhas para casa. Os produtos foram postos lado a lado. resultado: a venda de fraldas e cervejas disparou. (Revista Exame, Edição 633 de 09/05/1997) dentro dos sistemas de apoio à decisão, existe uma nova forma de representar dados, por meio de informação geográfica. A ideia por trás disso é, ao invés de mostrar a quantidade de venda por loja, que este valor esteja exposto em um mapa geográfico digital, bem onde a loja está. Assim, visualmente tem-se uma maneira completamente diferente e intuitiva de visualização de gráficos. Este tipo de sistema também pode exibir mapas de apoio à decisão referentes à distribuição geográfica de pessoas e produtos. muitas empresas escolhem esta opção para verificar onde há uma carência de atendimento que deva ser suprida, mesmo que a pessoa não tenha conhecimento geográfico para tal. também pode ser usado para otimização de roteiro, analisar fatores demográficos, inclusive mesclando estes com as vendas, obtendo assim índice de venda por habitante. Ainda segundo o’brIeN, usar um sistema de apoio à decisão envolve quatro tipos básicos de modelagem analítica: what-if (observar como as variáveis se relacionam diante de mudanças), análise da sensibilidade (observar como mudanças repetidas em uma variável afetam outras), análise de busca de metas (fazer repetidas mudanças em variáveis até que uma outra alcance o valor desejado) e análise de otimização (encontrar um valor ótimo para variáveis selecionadas, mediante certas condições). Ante o exposto até aqui, vislumbra-se a importância da logística e de um sistema de apoio à decisão para aumentar a riqueza dos proprietários da empresa a partir da redução do custo de seus produtos. “Um produto é o fruto, ou resultado, de qualquer atividade ou processo” (1989) - é a definição de Joseph m. muran bem aceita até hoje. o produto é composto de parte física e outra parte intangível. A parte física é formada por características como peso, volume, forma, perecibilidade. Já “a parte intangível compõe-se de serviços, reputação da empresa, pós vendas”, segun- do tommy carlson e Anders ljundberg (1995). A este ponto ainda podemos adicionar a sustentabilidade e ações sociais da empresa para com a sociedade. Há de se ressaltar também a estreita relação entre a logística e a administração financeira, que têm como algumas similaridades, segundo francisco ferraes Neto (2002): a) A preocupação do uso adequado dos recursos da empresa; b) A alocação dos recursos deve ser feita de forma racional e do modo a maximizar e acelerar o retorno obtido; c) A constante procura pela redução de custos e pela eliminação daqueles que são desnecessários; d) A tomada e a implementação de decisões que se destinem a aumentar a riqueza dos proprietários. Os profissionais dessas áreas devem realizar decisões sobre investimentos e avaliá-los. A racionalização dos recursos, levando à consequente redução de custos, e a possibilidade de ofertar maior nível de serviço, poderão se transformar num nítido aumento da lucratividade. Isto deve ser uma preocupação recorrente e que será confirmada por meio de um sistema logístico eficiente. Conclui-se que existe uma relação muito forte entre a logística e a administração financeira, assim como se evidencia que, quanto mais eficiente for a logística, melhor será o impacto financeiro na organização. A logística é um tema de grande relevância para as empresas. Dela extraise a importância do produto - antes mesmo de ser chamado de “produto”– chegar até ao balcão de vendas ou ao seu destino final. Uma sequência de informações, preços, modais de transporte, armazenagens, embasa um sistema de apoio à decisão que tem como objetivo reduzir o custo do produto para empresa, consequentemente aumentando sua margem de lucro. este trabalho levará a aplicação das práticas e dos objetivos da logística de produtos para um patamar pouco estudado, a logística de pessoas, onde o bem mais importante é o ser humano. No caso em tela, será feito um paralelo com o setor da corregedoria do detran de Santa catarina, que tem como uma de suas funções a fiscalização de credenciados daquele órgão por todo o estado. o departamento de trânsito do Estado de Santa Catarina (Detran/SC) é o órgão executivo de trânsito do Estado e a ele cabe, no âmbito de sua circunscrição, segundo o Art. 22 do código de trânsito brasileiro - ctb, dentre outros: 83 Dissertar I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para dirigir e carteira Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão federal competente; ... V – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis pelas infrações previstas neste Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos vI e VIII do art. 24, no exercício regular do Poder de Polícia de trânsito; diversas atividades são realiza das por pessoas jurídicas ou físicas que devem ser credenciadas junto ao órgão para poderem exercer suas atividades de acordo com a legislação vigente. São credenciados pelo Detran/SC: os despachantes, centro de formação de condutores (cfc), centro de Avaliação de condutores (cAc), fábrica de Placas e remarcadores de chassi. No presente estudo, serão contemplados os despachantes e os cfcs apenas. A atividade de despachante foi instituída pelo decreto nº 1.635, de 5 de abril de 2004 é executada por pessoas físicas ou jurídicas credenciadas, devidamente habilitadas por meio de procedimento administrativo composto por provas e títulos, sendo expedido o Alvará de funcionamento para a pessoa jurídica constituída pelo credenciado. Suas atribuições são enumeradas segundo a lei nº 10.609, de 28 de novembro de 1997, que se resumem a ser um prestador de serviço entre o detran e o proprietário do veículo, com o ônus deste. Ainda na mesma lei, são consideradas infrações, como por exemplo: auferir vantagem indevida do cliente a título de tributos, taxas ou honorários, alardear ou propiciar facilidades na prestação de serviços, praticar ato de improbabilidade contra a fé pública, contra o patrimônio ou contra a administração pública, negligenciar no desempenho da atividade, alienar a qualquer título ou ceder a credencial a terceiro. regulamentada pela Portaria n.º 0053/SSP/SC/97, a atividade de Centro de formação de condutores de veículos Automotores (cfc), no estado de Santa Catarina, destinada à formação Dissertar Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa de condutores de veículos automotores de duas ou mais rodas, para a obtenção de Carteira Nacional de Habilitação e ao encaminhamento ao detran, dos demais procedimentos relativos à habilitação, renovação de exame, expedição de 2ª via, mudança de categoria e afins, será exercida por pessoa jurídica de direito privado previamente registrada, que preencha os requisitos e satisfaça às exigências da presente portaria. considera-se cfc o estabelecimento dedicado à formação de condutores de veículos automotores, que ministre cursos teóricos em legislação de trânsito e práticos de direção veicular aos candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. A Corregedoria do Detran/SC foi criada pela lei complementar nº 341, de 16 de março de 2006. É o setor responsável pela fiscalização de todos os credenciados, para que cumpram seus deveres legais para com a sociedade. A corregedoria é presidida pela figura do Corregedor, onde existe uma ou mais comissões investigativas, sendo cada uma formada por um presidente, um secretário e duas vogais. A comissão é responsável por investigar minuciosamente a denúncia, ouvindo as testemunhas de acusação e defesa, bem como elaborar o Relatório final que será encaminhado ao diretor. mais alguns poucos servidores que auxiliam na tramitação do processo, questões administrativas e análises jurídicas e técnicas compõe o setor. A primeira etapa do processo é o recebimento de uma denúncia contra um credenciado. esta denúncia pode advir de boletim de ocorrência registrado na delegacia de Polícia onde ocorreu o fato, ou chegar internamente de outros setores que se depararam com uma irregularidade, ou suspeita, por meio de comunicação interna. delegados de Polícia das delegacias regionais de Polícia (drP), ministério Público, credencia dos do detran, clientes, candidatos, todos podem ser denunciantes de práticas irregulares. Pela corregedoria tramitam documentos que serão doravante chamados de processos. um processo pode ser do tipo amigável ou administrativo. uma vez a denúncia aceita pelo corregedor, ela passa a formar um processo de fase amigável para depois, se for o caso, migrar para a fase administrativa. Enquanto na fase amigável, como o próprio nome diz, a questão é tratada informalmente, valendo-se de e-mails ou defesas prévias sem a necessidade explícita de um advogado. A finalidade é levantar provas ou indícios para justificar a abertura da fase administrativa. A fase amigável pode ser: a) Procedimento: é o processo mais genérico; b) fiscalização: onde é necessário deslocar uma equipe de funcionários até o local com a finalidade de avaliar in loco. A fiscalização é tanto preventiva como corretiva, quando incentivada por uma denúncia. A fiscalização é foco deste trabalho. todos os processos ami gáveis de fiscalização ficam armazenados num arquivo, organizados por delegacia regional de Polícia (drP) que atende àquela região formada por um ou mais municípios. A divisão é feita considerando-se fatores populacionais, regionais e econômicos. No estado de Santa catarina são 30 drPs mais a da capital. logo, é comum que municípios limítrofes pertençam a DRPs diferentes. c) diligência: quando é necessária a busca de provas numa região a fim de fomentar provas no processo; Uma vez que a justificativa apresentada seja insuficiente ou não tenha embasamento, uma comissão é nomeada pelo diretor do detran para investigar de forma detalhada o processo. Assim, a fase amigável evolui para a fase administrativa, iniciando-se o Processo Administrativo (PA). Neste ponto já é possível fazer algumas comparações. o “produto” tanto dito anteriormente aqui é o procedimento de fiscalização e o “estoque” é o arquivo que armazena todos os procedimentos de fiscalização. Um estoque muito alto significa que há um número muito grande de fiscalizações a serem cumpridas. A maneira de fazer o estoque “girar” é aumentando a entrega, ou seja, executando as fiscalizações nos credenciados. o cliente é o estado de Sc, cuja demanda será considerada constante e que consome toda a produção, ou seja, sempre há a necessidade de realizar alguma fiscalização. Ao se levantar a necessidade de deslocamento para uma cidade, é solicitado um relatório de quais credenciados tem processos de fiscalização abertos naquela drP . Inicia-se o planejamento operacional da ação. tomemos como exemplo a cidade de Chapecó, no oeste catarinense, pertencente à 12ª drP , que também contém as cidades: Águas de chapecó, Águas frias, bom jesus do Oeste, Caxambu do Sul, Chapecó, Cordilheira Alta, coronel freitas, cunhataí, dentre outras. Neste caso, é levantada a 84 informação de que existe a necessidade de apenas três credenciados a serem fiscalizados naquela drP , todos em chapecó. Assim, é feita uma reunião com o fito de escolher os credenciados a serem fiscalizados, visando-se o aproveitamento do deslocamento, a otimização do tempo e a diminuição do valor gasto por fiscalização, distribuindo-se este valor fixo pelo maior número possível de credenciados, baseado nestas informações. Como todos estão na mesma cidade- alvo, não haveria a necessidade de planejar uma rota. Os custos da fiscalização englobam os valores para hospedagem, alimentação dos servidores e combustível. uma vez que há a necessidade de deslocamento até certo município, principalmente se este for distante, como avaliar o tempo de permanência a quais os credenciados que devem ser fiscalizados? A equipe de fiscalização sairá da capital, florianópolis. A distância entre as cida des é um custo fixo, independente do número de servidores (limitado à capacidade do veículo oficial ou cinco pessoas). o tempo de deslocamento deve ser convertido em valores para também ser contabilizado como custo fixo deste deslocamento. lembrando que este último valor é um investimento do estado, pois o servidor não está efetivamente produzindo – apenas se deslocando. o modelo atualmente usado é o de deslocamento, fiscalizações no destino, deslocamento de retorno. devido ao desgaste físico pela viagem e horário de chegada, as fiscalizações iniciam-se no dia seguinte. o modelo proposto é baseado no levantamento das necessidades de fiscalização dos credenciados de modo a otimizar a viagem, reduzir custos e cansaço com deslocamento e aumentar a quantidade de fiscalizações. Inicialmente, é necessário mudar o critério para escolha dos credenciados escolhidos para fiscalização, não mais por drP , mas pelas cidades próximas ou ao longo do trajeto. Uma forma seria juntando a quantidade de credenciados que necessitam de fiscalização do estado por cidade e, através de um mapa, cruzar as informações de modo a fiscalizar o maior número possível de credenciados na região. Na tabela abaixo, uma amostra desta relação: Somente com a tabela, a localização de cidades próximas é impossível sem um conhecimento geográfico do estado. Ainda assim, a consulta a um mapa geográfico a cada cidade torna o trabalho custoso e demorado. este mo- Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa Dissertar Tabela 1 Número de procedimentos de fiscalização por município. Agrolândia Agronômica Apiúna Total 1 2 delo será então composto de três fases: a) Primeira fase: identificar visualmente cada credenciado num mapa geográfico político digital, destacando, com o uso de cores diferentes, se já foi fiscalizado (quando e por qual equipe), através de um pino virtual; b) Segunda fase: diferenciar no mapa os credenciados que devam ser fiscalizados (que tem um procedimento aberto de “fiscalização”); c) Terceira fase: integração com receptor de gPS automotivo. o Google Earth™ é um software desenvolvido e distribuído pela empresa norte- americana Google® cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a partir de mosaico de imagens de satélite. desta forma, o programa pode ser usado como um gerador de mapas bidimensionais, visualizador de imagens de satélite ou como um simulador das diversas paisagens presentes no nosso planeta. com ele é possível escolher e visualizar a rota entre duas localidades desejadas. foi elaborado um arquivo, a partir da base de credenciados do Detran/SC, o qual é interpretado pelo programa como sendo uma lista de vários locais a serem marcados no mapa. o software então realiza esta marcação com um pino, como na Figura 1 a seguir: esta visualização permite a identificação de onde existe maior concentração de credenciados e onde há carência. A linha azul é o caminho de florianópolis a chapecó. Nota- se que existem vários pinos no caminho. Os pinos de cor azul clara são credenciados que ainda não foram fiscalizados. Os de cor azul escura já foram fiscalizados há certo tempo. Logo, o foco é nos pinos de cor azul clara. Ampliando a imagem na cidade de chapecó, como na figura 2, vê-se que as cidades de Xaxim e Xanxerê, além de serem próximas a Chapecó, estão no caminho e abrigam credenciados que não foram fiscalizados. Salientando que Xaxim e Xanxerê pertencem à 16ª DRP, diferentemente de Chapecó, que pertence à 12ª drP . observando a rota mais detalha damente, percebe-se que ainda há outras 1 ... São Lourenço do Oeste São Ludgero São Miguel do Oeste 4 1 4 ... Xanxerê Xaxim 1 3 Figura 1 - Distribuição dos despachantes pelo estado de SC cidades no caminho, como campos Novos, da 26ª drP , com dois credenciados que devem ser fiscalizados. E assim em diante, por todas as cidades que se encontram no caminho, é viável traçar rotas para fiscalizar o máximo possível. Na segunda fase, é necessário exportar informações do sistema de uso interno de registro de processos. desta forma, além dos status de “fiscalizado” ou “pendente de fiscalização”, passa a existir uma terceira categoria, que são os que “necessitam de fiscalização”, seja porque há evidências que justifiquem ou necessitem de diligência in loco a fim de levantar mais evidências. estes creden ciados são destacados num mapa à parte. Desta forma, é exequível otimizar a rota com a finalidade de passar por estes credenciados. Os pinos referentes a tais credenciados possibilitam, ainda, a inserção de várias informações provenientes do sistema, de tal forma a direcionar a escolha do alvo, como o objeto da ação que motivou a abertura do procedimento, como uma denúncia de mau atendimento ou emissão de documento sem prévio consentimento do proprietário. Além disso, é possível exibir as informações necessárias acerca daquele pino no mapa: motivo da fiscalização, nome, seu perfil (CFC ou Despachante), 85 o número do procedimento, o assunto, endereço e telefone no credenciado. Todas estas informações são exportadas do sistema interno para o Google Earth™, permitindo utilizar apenas um sistema para determinar a escolha. o Google Earth™ tem se mostrado uma ótima ferramenta no planejamento da melhor rota. contudo, não orienta e equipe a chegar ao exato local desejado. Esta função é desempenhada pelos aparelhos de gPS automotivos que, com o endereço destino, conseguem orientar o motorista, com elevada precisão, até o destino requisitado. uma vez que a relação de credenciados já existe, algumas modificações foram feitas para que as informações sejam exportadas para o aparelho de GPS, a fim de atingir a terceira fase do modelo proposto. Desta forma, ao se fazer a escolha dos credenciados a serem fiscalizados a partir do Google Earth™ é possível selecioná-los no gPS como destino e deixá-lo orientar o caminho aos funcionários. Ainda contando com uma capacidade do GPS de informar a sua posição atual, a equipe de fiscalização pode, em qualquer lugar do estado, procurar o credenciado mais próximo de onde está, com apenas alguns cliques Dissertar Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa Figura 2 - Cidades de diferentes DRPs no aparelho. Nas informações do credenciado aparecem todas as informações que constam no sistema de mapas digital no escritório, mas desta vez, as informações são acessadas diretamente pelo software do GPS. A Secretaria de Segurança Pública de SC (SSP/SC) ainda tem um convênio com postos de combustíveis espalhados pelo estado. A relação de postos está presente em cada viatura, impressa por ordem alfabética de cidade. É simples encontrar o posto conveniado, desde que o usuário saiba que cidade está mais perto da sua localização. A relação de postos de combustíveis conveniados também foi enviada para o GPS, de tal forma que ele mostra o posto mais próximo de sua localização atual. Esta informação será disponibilizada a todos da SSP/SC, a fim de ajudar na localização destes postos. Além dos postos de combustíveis, também foi enviada ao GPS a localização de todas as delegacias regionais de Polícia do estado de Sc. Assim, a equipe de fiscalização pode se deslocar até lá se necessário for, visando informar às autoridades presentes que a corregedoria está na região e solicitar/oferecer ajuda mútua, caso seja necessário. de maneira geral, as caracterís ticas de um produto que mais tem influência sobre a estratégia de logística são seus atributos naturais - peso, volume, valor, perecibilidade, inflamabilidade e susbtituibilidade, como bem dito por Ronald H. Ballou (2006). Assim, requerem certos cuidados na sua separação, transporte, armazenamento e pedido. Ao se mover o foco da logística para o ser humano, novas variáveis entram em cena, como o tempo de deslocamento, tempo total de ausência do convívio da família, insegurança das estradas, manutenção dos veículos, locais de descanso e de repouso. Itens como peso, volume podem ser trazidos para o ser humano, mas como aplicar variáveis como perecibilidade e insubstituilidade? Pode-se explorar a perecibilidade como o limiar de esgotamento físico e mental, onde a necessidade de descanso é urgente. ultrapassar este limite acarreta a substituibilidade. Um funcionário pode ser substituído por outro, mas a vida dele não. logo, lida-se com o mais valioso dos produtos: a vida. Como efetuar cálculos de rentabilidade onde uma das variáveis é indefinida? o uso dos mapas digitais tem se mostrado um grande aliado no planejamento da rota a ser traçada, efetuando os devidos ajustes no caminho a ser feito, se necessário. Esta ferramenta atua perfeitamente como um sistema de apoio à decisão, na medida em que claramente fornece informações e apoio ao responsável em sua tomada de decisão eficaz. também demonstram sua importância no nível de planejamento operacional que tem, segundo MasakazuHoji, “a finalidade de maximizar os recursos da empresa aplicados em operações de determinado período, envolvendo decisões mais descentralizadas, mais repetitivas e de maior reversibilidade” (2007). A maioria dos planejamentos tem características misturadas de: Filosofia de satisfação: os objetivos devem ser atingíveis, para proporcionar um mínimo de satisfação aos responsáveis pela execução do planejamento; Filosofia de otimização: com a utilização de técnicas matemáticas e estatísticas e de modelos de simulação, o planejamento deve ser feito para atingir o melhor resultado possível; Figura 3 - Credenciados que devem ser fiscalizados 86 Filosofia da adaptação: consiste em responder adequadamente às mudanças externas, pois o planejamento trabalha com diferentes níveis de incertezas. (Hoji,2007 apud oliveira, 1995) Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa Considerações finais Assim, evidencia-se que o planejamento operacional da melhor rota, com a finalidade de aumentar a eficiência e eficácia das fiscalizações, conciliando o bem-estar do servidor público é, além de plausível, essencial de ser implementado, seja qual for a metodologia, proporcionando a adequação ao conceito da filosofia de satisfação e simultaneamente. A melhor rota torna a viagem de fiscalização mais eficiente, pois estimula a equipe a realizar mais paradas durante todo o trajeto. Para o motorista que transporta carga maior que 4.536 Quilos, profissional de transporte escolar e de passageiros em veículos com mais de dez lugares, foi sancionada a lei nº 12.619, de 30 de abril de 2012, que diz que os motoristas deverão ter repouso de no mínimo 11 horas por dia, além do descanso de 30 minutos a cada 4 horas ininterruptas de direção. A punição prevista é apreensão do veículo, multa e perda de cinco pontos na carteira de habilitação. entretanto, não há regulamentação para o caso de veículo de passeio. Neste caso, vale a regra do bom senso ou estipular um tempo intermediário, como 3 horas, entre as paradas. estas paradas para descanso podem coincidir com paradas para abastecimento ou mesmo uma fiscalização. O objetivo é evitar a fadiga causada pelo longo trajeto percorrido. De posse de todas estas informações, a administração pública terá uma redução nos custos gerais, não só diretamente, com a logística de pessoas envolvidas na ação, como também na redução de fadiga, descansos após longas viagens, aumento da eficiência e eficácia das fiscalizações, em suma, fazendo melhor uso do dinheiro público – aumento do roi (returnofinvestiment). conseqüentemente, aumento da auto-estima do servidor, da sensação de efetiva participação no negócio, assim como pelo uso de ferramentas tecnológicas diferenciadas. o presente estudo demonstrou que existe uma necessidade de aprofundar este tema de logística, pois é possível expandi-lo para outras áreas como o transporte público de massa nas grandes cidades, novas regulamentações para o transporte rodoviário de longas distâncias e definições trabalhistas sobre funcionários que necessitam se deslocar à trabalho constantemente. Referências BAllOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/ logística empresarial. Bookman, 2006. BERTAGLIA, Paulo roberto. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. Saraiva, 2009 CHOPRA, Sunil; meINdl Peter. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Pearsoneducation, 2002 FERRAES NETO, francisco. A relação da logística com a administração financeira e seusimpactos nos índices financeiros de uma organização. rev. fAe, curitiba, v.5, n.1, p.49- 49, set./dez. 2002 HOJi, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. Atlas, 2007 O´BRiEN, james A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. Saraiva, 2006 Saiba como é construído o A380. disponível em: http://www.terra.com.br/economia/infograficos/a380/. Acesso em 15 de outubro de 2013 VITORINO, carlos márcio. Logística. Pearson, 2012 * trabalho apresentado no Seminário de Pesquisa da Estácio de Iniciação Científica, em 2014. Trabalho final do Curso de Administração. Artigo enviado em 10/11/2014, aceito em 02/02/2015 87 Dissertar DissertarMomento Cultural Dissertar A língua portuguesa no samba Portuguese for samba El protugués em El samba O presente texto revela como o gênero de música popular é resultado do ambiente sociocultural de origem. Já que a língua é uma marca cultura, é certo que a sua forma musical é decisivamente marcada pela língua na qual suas letras serão escritas. Assim, demonstra-se como o samba revela essa estreita relação com a língua. This text shows how the genre of popular music is the result of the socio-cultural environment where it has born. Language is a culture brand so its musical expressions are marked by the language in which it will be written. It´s demonstrated how close is the relationship between samba and the language. Palavras-chave: Língua, Samba, Português. Este texto revela como El género de la música popular es el resultado del ambiente socio-cultural que lo origina. Ya que la lengua es una marca de una cultura, es verdad que su forma musical es decisivamente marcada por el idioma en el cual se escribirán sus letras. De esa forma queda demostrado como el samba muestra esa estrecha relación con la lengua. inglês e, por isso, abusam dos ditongos e das sílabas nasais. Se na letra, a tarefa não foi bem realizada, cabe ao cantor, na interpretação, adaptar os nossos vocábulos, pronunciando-os como se não fossem falantes nativos do português. Assim também é com o baião, que tem suas características calcadas no dialeto nordestino e tematiza quase sempre a vida no campo, as agruras da seca, e a inexorabilidade da fuga para o sul-sudeste, a saudade de casa, as festas de São João, etc. A moderna música baiana é o reflexo da língua e do jeito de ser malemolente dos soteropolitanos assim como a guarânia sul-mato-grossense acompanha o som bilíngue da fronteira com o Paraguai. O samba carioca nasceu na região denominada por Heitor dos Prazeres de Pequena África, que engloba a Zona Portuária e a Cidade Nova. Habitada por pessoas pobres, de maioria negra e de origem baiana, é resultado das intensas migrações internas e externas de que o Rio de Janeiro foi alvo após a Abolição. No início do século xx, essa população, que morava em casebres e cortiços, foi escorraçada de suas moradias pela Reforma da cidade e teve que se abrigar nos morros do centro, de modo a continuarem próximos das ocupações adjacentes ao cais do Porto, ou se deslocar para os subúrbios mais distantes. o samba logo se tornou a voz daquela gente que tinha nele e em seus criadores o canal através do qual externavam suas mazelas amorosas ou sociais, davam vazão às suas angústias, ou simplesmente registravam os percalços da vida, quase sempre de forma bem-humorada. Por ser oriundo de uma comunidade social de certa forma homogênea, os sambas refletem em suas letras, além dos temas que mais tocam seus criadores e adeptos, a fala de que se servem no dia a dia para a intercomunicação. Esse “jeito especial de falar” que se construiu nessa comunidade é que caracteriza o novo gênero musical que surge e que lhe dá o sabor que tem até hoje. A fala carioca, que é a forma pela qual aquela gente se apropria da língua portuguesa, determina o samba como gênero musical. Autor: Zé Arnaldo Guima (José Arnaldo Guimarães Filho) é professor, compositor e poeta. Escreveu “Palavra sã”, de poesias, lançado em 2001, e “Pequeno dicionário do futebolês”, em 2014. Gravou e lançou os cds “Bem feito”, 2000 e “Aviso à praça”, em 2013. Prepara, para lançamento em breve, “A língua no Fundo de Quintal - A gíria na Linguagem do Samba”, de onde foi tirado, em forma de resumo o artigo “a Língua portuguesa no samba” e “O assassinato da garota de Ipanema”, romance policial. E-mail: [email protected] todo gênero de música popular é resultado do ambiente sociocultural em que se origina. ele é criado para ser o veículo de expressão artística de uma comunidade. Por isso, suas letras giram em torno de uma temática recorrente, de interesse e reconhecimento das pessoas que formam a matriz social em que se forjou, e a sua forma musical é decisivamente marcada pela língua na qual suas letras serão escritas. O rock americano, por exemplo, é do jeito que é porque foi criado para dar voz aos anseios dos jovens das grandes cidades americanas, falantes, obviamente, do inglês, no fim da década de 1940. Ao ouvirmos uma composição nesse gênero, esperamos o acompanhamento típico de, pelo menos, guitarra, contrabaixo e bateria, a estrutura rítmico-melódico-harmônica que o caracteriza indubitavelmente e a prosódia anglofônica, para a qual ele foi criado e que o caracterizou enquanto formato musical. estranhamos uma canção nesse estilo cantada em outra língua porque percebemos as incongruências e os choques entre o formato musical que ele originalmente tem e a prosódia estranha à qual tem que se adaptar. É como enfiar um pé 42 num sapato 39. No Brasil nossos roqueiros sofrem criando letras, na nossa língua, que se adaptem a esse gênero musical. Nesse processo, buscam enxertar palavras com sons próximos aos do 88 A língua portuguesa no samba Zé Arnaldo Guima Dissertar Foto: http://escrevendoprapensar.blogspot.com.br A melodia e o rimo se moldam à fala dos que o criam e de quem o canta nas primeiras rodas. Ao lado da estrutura musical (ritmo, melodia e harmonia) que caracteriza todo gênero, do acompanhamento harmônico típico (violão, sete cordas e cavaquinho), dos instrumentos de percussão (que são inventados junto com ele), e da dança malemolente de seus adeptos, a linguagem do samba é uma de suas marcas e é, como as demais, determinante para a sua forma definitiva. Aqui, cabe chamar a atenção para um aspecto. o samba foi por muito tempo relegado a um segundo plano pelos consumidores brancos, “por ser uma música de negros, indolentes e libidinosos”. torcia-se o nariz para essa música que levou anos até ser aceita nos salões. muito do preconceito de que por muito tempo o samba foi vítima advém de sua linguagem, dentro do qual se ressaltam os usos não abonados pela norma padrão, a temática distanciada dos moradores “do asfalto” e o uso de gírias. Nesse contexto, vale falar pela primeira vez da gíria, que é utilizada sem cerimônia nas letras dos primeiros sambas. o emprego das gírias reforça a oralidade que marca as letras do samba, não fossem assim as de qualquer canção, de qualquer gênero, em sua maioria. No samba, essa marca de oralidade é ainda mais presente e explícita porque muitas canções nascem de improviso, nos desafios do partido-alto, em que dois ou mais versadores duelam após o canto uníssono de um refrão que lhes serve de mote. voltando à história. A população negra e mestiça que se desloca em primeiro lugar da zona portuária para os morros do Centro do Rio e, logo depois, para os subúrbios e favelas da Zona Norte, leva a língua que se forjara na Pequena África e a espalha pela cidade. junto com ela, vai o samba e tudo o que o cerca porque ele é, como percebeu Zé Kéti em samba metalinguístico e antológico, verdadeiramente a “voz do morro”. A língua dos morros e dos subúrbios mantém-se viva e, por isso, em constante evolução, mas de certa forma homogênea, pelos contatos que continua havendo entre seus moradores, parentes e ex-vizinhos, e pela extraordinária força centrípeta que esse gênero musical demonstra, sobretudo depois do surgimento das escolas de samba. A fala mestiça carioca que surgira na Pequena África continua sendo comum aos habitantes das favelas pelas ligações culturais, sociais, religiosas e familiares que seus moradores perpetuam. O samba estará semprepresente nas festas e nas cerimônias religiosas, antes, durante e depois das celebrações. ele é o elemento comum às comunidades que surgem e crescem por toda a cidade, junto com as manifestações religiosas e culturais de menor retumbância. Já consolidado, o samba se transformou e deu frutos diversos, variando-se e adaptando-se às mudanças e aos am- bientes em que era recebido. em cada escola, originária de uma favela, ganhou uma batida diferente e, conforme o dialeto da localidade, modificava-se, “dançando conforme a língua”. Noel rosa levou-o para os salões e para as rádios. Suas letras “falam” de outros temas e de outro jeito e através dele, o samba conquistou a classe média, até virar bossa-nova, em que assume um formato bem diferente do samba ancestral, porque a linguagem à qual estará cosido será outra. No fim dos anos de 1970, no Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, após as peladas das noites de quarta-feira, reuniam-se jovens músicos para uma informal roda de samba que deveria ser, como aspiravam seus criadores, “como as de antigamente”. Sem amplificação de som, como nos primórdios, mas com muito mais gente em volta. O repertório era formado por “sambas da antiga”, que logo passam a conviver com canções recém-compostas porque muitos compositores inéditos ou esquecidos frequentam esses encontros musicais e ganham nele, democraticamente,espaço para divulgar suas obras. Nas rodas do cacique, ao lado dos tradicionais pandeiro, surdo, violão e cavaquinho, ouvem-se novo sons que vêm dos tantãs, dos repiques de mão e do banjo com braço de cavaquinho, uma novidade levada para lá por Almir guineto, um dos integrantes originais do fundo de quintal. um novo formato de samba está sendo processado porque também uma nova linguagem, diferente daquela do limiar do século xx, já anda nas bocas dos habitantes das agora chamadas comunidades. Os temas também se modificam e o samba, de novo, servil à sua gente, se acomoda aos novos tempos, e se transforma em pagode. Rapidamente o pagode do Cacique de Ramos transforma-se numevento de sucesso. À quadra do bloco de embalo, acorrem os amantes febris do gênero, carentes desse tipo de reunião, que perdera espaço, nas escolas de samba e nos morros;nestes, por causa da violência e do encolhimento das religiões africanas, parceiras do samba desde sua gênese, naquelas porque já não havia, paradoxalmente, lugar, apesar do gigantismo das agremiações carnavalescas, para o “samba de meio de ano”, engolido pela melhor performance comercial do samba enredo. Vários cantores frequentam o Cacique em busca de novas “pérolas” para seu repertório. beth carvalho, grande madrinha do grupo, frequentadora habitual das rodas que ocorriam embaixo das “tamarineiras”, convida os seus componentes para acompanhá-la em um de seus discos de maior sucesso, “Pé no chão”, de 1978. devido ao sucesso do disco de sua madrinha e divulgadora com a participação decisiva do grupo, a indústria fonográfica contrata os rapazes do Cacique de Ramos, antes amadores, para gravar um disco que, sugestivamente tem o nome de “Samba é no fundo de quintal”. 89 Dissertar A língua portuguesa no samba Zé Arnaldo Guima Nesse primeiro trabalho, a mesma diversidade de estilos que se ouvia nas rodas das quartas-feiras, fruto da democracia autoral que permitia a qualquer um cantar sua obra ao menos uma vez, migra para o disco que busca, ainda, reproduzir a sonoridade dos pagodes do cacique. o disco alcança vendagem expressiva para um artista iniciante. 23 compositoresescrevem as doze canções que compõem o disco e outra de suas marcas se faz presente: a linguagem que embala as letras apresenta pela primeira vez aos incautos a língua de uso nos morros e subúrbios do rio de janeiro, recheada de gírias e de “plebeísmos”. Por esse motivo, o grupo sofre o preconceito de que o samba foi vítima em suas origens. Seu estilo, o pagode, é considerado menor, e as suas canções de menor prestígio do que as dos baluartes do gênero, sobretudo Cartola, Ataulfo Alves e Nelson cavaquinho, cujas letras e músicas eram elogiadas até pelos intelectuais da zona sul do rio de janeiro. o samba, após uma década de sucesso e de altas vendagens, perde espaço para o Rock Brasil nos anos de 1990 e,mais uma vez, se recolhe. Sua índole permanece, apesar das transformações, de certa forma previsíveis, que sofre desde a sua criação. As condições sociais e culturais em que foi forjado desaparecem paulatinamente e, por isso, desalojado de seus ambientes naturais, o terreiro e a quadra das agremiações carnavalescas, ele busca pousos diferentes, até ressurgir, mais uma vez, desta vez em novo pouso, a Lapa, onde foi recebido com reverência e reprocessado por novos músicos e intérpretes. A língua em que suas letras são escritas também se adapta aos novos tempos. os novo criadores – Arlindo cruz, Sombrinha, Zeca pagodinho, Trio Calafrio, Toninho Gerais, Serginho Meriti – fiéis às raízes de onde descendem, escrevem seus poemas musicais na mesmalíngua em que namoram, rezam, brigam ou fazem suas compras. As gírias e as construções típicas da linguagem popular e oral desses novos tempos, estão à mostra, com todas as letras, à disposição de quem queira estuda-las para compreendê-las, porque o samba, além de todas as suas riquezas, oferta-nos generosamente mais essa dádiva: a de ser um registro notável e original de nossa “inculta e bela” língua portuguesa. Artigo enviado em 12/12/2014, aceito em 11/03/2015 90 Formas de participação, normas e política Dissertar editoriais A Revista DISSERTAR tem o propósito de ser um canal de comunicação eficaz para diversas áreas do conhecimento. Para isto, espera contribuir como suporte para as disciplinas mais variadas e como fonte de pesquisa que possibilite a ampliação dos meios de comunicação e enriqueça seus leitores. Sem privilegiar nichos do saber, nem excluir campos de reflexão, DISSERTAR está determinada a caracterizar-se como “universitária”, na acepção pluralista do termo, estimulando a produção científica da comunidade acadêmica da UNESA. Para isso, ela precisa da participação dos professores. Participe, enviando seus trabalhos para AdeSA, Associação de docentes da estácio de Sá, rua do bispo 83, rio de janeiro, ceP 20261-060, brasil. e-mail para contato: [email protected] Modelagem do artigo: título em português, traduzido para inglês e espanhol. resumo de até 7 linhas em português, traduzido para inglês e espanhol. minicurrículo do autor, com e-mail. Texto com introdução, desenvolvimento e considerações finais (normas da ABNT). Referências em normas da ABNT. Fonte 12, Times New Roman, em espaço um e meio. Páginas: mínimo 10, máximo 25. Modo de envio: Na primeira página do artigo: título, resumos e minicurrículo do autor. da segunda em diante, o artigo desenvolvido. enviar para o e-mail: [email protected] Apresentação Metodológica dos Textos: - Título objetivo, descritivo e breve; - Resumos devem conter resumos em Português, Inglês e espanhol, em caráter obrigatório; - Palavras-chave ou Descritores Devem apresentar 5 (cinco) palavras, referentes ao conteúdo, escolhidas do próprio texto; - Autor e Currículo Em até 5 linhas com afiliação institucional completa do autor; incluir e-mail e telefone de contato; - Citações devem ser acompanhados pela chamada do autor, ano de publicação e página; - Notas As notas de rodapé devem ser evitadas e, quando extremamente necessárias, colocadas no fim do texto, depois das Referências Bibliográficas. Toda e qualquer indicação de fonte deve ser feita no próprio texto; - Referências Bibliográficas Devem constituir lista em ordem alfabética, colocada ao final do texto, obedecendo à Associação brasileira de Normas técnicas (AbNt) Nbr 6.023. Exemplos de Citação em Referências: - livro de 1 autor beIrÃo, Nirlando. claudio bernardes: A psicanálise da prancheta. São Paulo: dbA, 1999. - livro com mais de 3 autores grINover, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099, de 26-09-1995. 2.ed. rev. atual. e aum. São Paulo: r. dos tribunais, 1997. - Publicações periódicas (revistas e jornais) emPreSÁrIoS da Argentina querem a suspensão temporária do mercosul. o globo, rio de janeiro, 27 set. 2001. economia, p. 28. - Ilustrações e Anexos às ilustrações Devem ser acompanhadas de Fonte e Título, de forma que permita compreender os dados. Os quadros, tabelas e gráficos devem obedecer às Normas do IBGE. - Destaque Itálico deve ser usado, apenas, para destacar conceitos ou palavras estrangeiras; o negrito restrito aos títulos e intertítulos. - Estrutura dos Textos Os textos devem ser estruturados logicamente em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. - Ficha Cadastral No modelo padrão ADESA. - Nome, endereço, e-mail, fone e Instituição. A opção por citações maiores que três linhas em padrão itálico deve-se ao fato da formatação e tipologia de letra do veículo. Modalidades - Artigos relatos de pesquisa ou parecer crítico sobre determinado tema, até 20 páginas. - Ensaios Análise, reflexão, e conclusões sobre temas profissionais ou acadêmicos, até 15 páginas. - Resenhas registro e crítica de obras publicadas, mínimo 5 páginas. Próxima Edição: Professor envie seus textos para a próxima edição da Revista Dissertar, seguindo as especificações acima, para o e-mail: [email protected] ou para Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Tel.: 0055-21-2503-7100. 91