veja revista completa

Transcrição

veja revista completa
Dissertar
ISSN 1676-0867
Brazilian Journal of Academic Studies
REVISTA DA ADESA - ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA ESTÁCIO DE SÁ - ANO 11 - Nos 22 e 23
Axmnopwsgr
htwlunfyxd
cvieokaopsu
gb2qnej)xlhj
uaxoycislzn
etpdjrusncjf
mxjduer?fho
lkaf(seqcifu
dl3ns!fk
irlx
dl3ns!fkirlx
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Fábio de Souza Brandão, Celso Bruno Faria e Josir Simeone Gomes
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional:
o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Sergio Luiz Braga França e
Marcelo Jasmim Meiriño
Um Breve Histórico da Resolução das Equações Algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e
Pether Neves Fernandes
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável:
nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin
Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de
folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil
Alice F. Souza e Ismar S. Carvalho
Seção Primeiros P assos
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão
baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
Moment o Cultural
A língua portuguesa no samba
Zé Arnaldo Guima
Dissertar – Entrevista
Dissertar
Luiz Guimarães
A Revista Dissertar recebe
como entrevistado o Professor
Marcos Lemos, Diretor de
Ensino da Universidade
Estácio de Sá, que gentilmente
aceitou o convite e nos
prestigia nestes números.
Vamos ler e saber o que
ele tem a nos dizer sobre
gestão educacional.
Prof. Marcos Lemos, seja
muito bem-vindo à
Revista Dissertar.
Marcos
Lemos
“ Não temos o direito de frustrar a expectativa dos nossos estudantes,
e precisamos assegurar a eles uma formação que os qualifique enquanto
cidadãos e também os prepare para enfrentar o mercado de trabalho.”
Desejamos conhecer a sua formação e seu histórico profissional na
área de gestão e educação.
Eu sou economista de formação,
graduado pela UERJ e com doutorado
em Economia pela Universidade de Illinois. Embora eu tenha iniciado minha
vida profissional na área financeira,
trabalhando em empresas como a IBM
e o Banco Bozano Simonsen, logo me
interessei pela área acadêmica. Inicialmente, atuei como docente na própria
Universidade de Illinois, em Chicago,
por 3 anos. Ao retornar ao Brasil, iniciei
minha carreira como gestor acadêmico, à época no Centro Universitário
da Cidade, onde fui responsável pelas
Pró-Reitorias de Pós-Graduação e de
Ensino. No início de 2003 fui convidado
para assumir a Vice-Reitoria de Graduação da Unesa e, desde então, tive
a oportunidade de enfrentar diferentes
desafios aqui na Estácio, passando pelas
áreas de Operações Acadêmicas, CSC,
EAD e, desde o final de 2013, estou
responsável pela diretoria acadêmica.
Prof. Marcos Lemos, a função
ensino na universidade é aquela em
que recai a atividade fim da instituição
educacional. Fale-nos sobre sua experiência à frente desta área, em uma
1
mega universidade como a Estácio.
Como vocês podem imaginar, as
responsabilidades da área de Ensino
em uma instituição como a Unesa são
enormes. Nossa missão é educar para
transformar, e é com esse espírito que
temos que entender o nosso papel em
relação a todos os estudantes que
nos procuram e confiam em nós, em
nossos professores, nossos currículos,
etc. Não temos o direito de frustrar a
expectativa dos nossos estudantes,
e precisamos assegurar a eles uma
formação que os qualifique enquanto
cidadãos e também os prepare para
enfrentar o mercado de trabalho.
Dissertar – Entrevista
Sabemos que existem modalidades
de ensino na Estácio, com muitos projetos interessantes. Poderia comentar
sobre alguns projetos das modalidades
Presencial e EAD na sua gestão?
A modalidade de ensino a distância
aqui na Estácio vem experimentando
um crescimento fenomenal, e se destaca em relação às concorrentes pela
qualidade e proposta inovadora do
nosso modelo. A oferta dos conteúdos
100% online ainda é um diferencial
no mercado, além do perfil dos nossos
tutores EAD, recrutados dentre os mais
experientes professores da Unesa.
Existem diversos projetos inovadores
e muito interessantes que estão sendo
desenvolvidas pela Diretoria de Operações EAD, sob a responsabilidade
do Prof. Pedro Graça, que procuram
responder aos principais desafios da
modalidade: como manter o aluno
envolvido e estimulado ao longo do
semestre, e como reduzir a taxa de
evasão nos cursos a distância.
Um outro projeto que eu gostaria de destacar,
que envolve todas
as modalidades,
é o Ensino 2020.
Ao mesmo tempo
em que nós precisamos assegurar a
plena utilização do
nosso atual modelo de enisno, e que
precisamos continuar investindo na
qualidade dos nossos conteúdos (planos
de ensino, planos de aula, banco de
questões, materiais didáticos, etc), a
Estácio não pode ignorar a discussão
acerca dos impactos trazidos para o
processo de ensino e aprendizagem
pela adoção de inovações tecnológicas
e metodológicas. Nós optamos por
introduzir essa discussão em nosso
modelo de ensino, de uma forma bastante responsável, selecionando quatro
disciplinas de diferentes cursos e áreas
nas quais iremos experimentar com
a introdução de algumas novidades
metodológicas, permitindo ainda o uso
de novas tecnologias em sala de aula,
e além da sala de aula. Nos próximos
meses todos os docentes da Unesa vão
ouvir bastante sobre o Ensino 2020 e
serão convidados a contribuir.
Afirmam alguns estudiosos da área
educacional que administrar o ensino
em uma universidade não é o mesmo
que gerir uma área de produção em
uma indústria. Como você concebe
a gestão direcionada ao ensino?
Entendo que o grande desafio é
buscar o equilíbrio entre gestão e academia. Aqui na Unesa temos procurado
praticar isso nos últimos anos, tendo
obtido ótimos resultados em todas as
dimensões. Acreditamos que uma instituição de ensino sustentável é aquela cuja gestão é capaz de conciliar a
qualidade dos seus cursos, a satisfação
de alunos, professores e colaboradores
administrativos, boas avaliações externas do Mec (visitas, Enade, etc), com o
retorno aos investidores. Assim a gente
consolida a nossa marca.
Os professores universitários
são assíduos leitores da Revista
Dissertar. Qual mensagem deixaria
aos nossos mestres?
Primeiramente, gostaria de agradecer pela dedicação de cada um dos
nossos docentes nesse grande desafio
que é educar para transformar. A participação de cada
um deles no aprimoramento
do nosso modelo de ensino é
muito importante. Também é
fundamental que continuem
investindo em suas próprias
formações, mantendo-se atualizados sobre suas áreas de
atuação, sobre o mercado de
trabalho e, também, sobre as
inovações na área de educação.
“ Professores ... é fundamental que
continuem investindo em suas próprias
formações, mantendo-se atualizados
sobre suas áreas de atuação, sobre o
mercado de trabalho e, também, sobre as
inovações na área de educação.”
Dissertar
ISSN 1676-0867
Revista Dissertar
Revista da Associação de
Docentes da Estácio de Sá
Ano .......................................... 11
Número ............................ 22 e 23
maio ........................... 2013 - 2014
editada em Abril de 2015
ADESA – Associação de
Docentes da Estácio de Sá
rua do bispo, 83
rio comprido – 20251-060
rio de janeiro – rj – brasil
tel.: 0055-21-2503-7100
[email protected]
www.adesa.com.br
dissertar
Ano 11
nos 22 e 23
v. 2
p. 11-90
maio 2015
ISSN 1676-0867
dISSertAr, ANo 11 , N
o
22 e 23, v. 2 , 2015, rio de janeiro
AdeSA, Semestral
1. educação Superior – Periódicos. I Associação de docentes
da universidade estácio de Sá.
Nota: os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.
Revista Qualificação/Capes C
Dissertar
sumário
Entrevista
Prof. Marcos Lemos ...............................................................................................................................
1
Editorial
A ciência a serviço da sociedade
Ana Shirley de França Moraes ............................................................................................................
7
Palavra da Presidente
Márcia Glycério .....................................................................................................................................
9
Carta Manifesto
Empresa-cidadã
Adm. Wagner Siqueira ...........................................................................................................................
10
Artigos
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas .....................
11
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Fábio de Souza Brandão, Celso Bruno Faria e Josir Simeone Gomes .................................................
19
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes ..........................................................................
27
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal ..............................................................................................................................
32
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras,
Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Sergio Luiz Braga França
e Marcelo Jasmim Meiriño ....................................................................................................................
39
Um Breve Histórico da Resolução das Equações Algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis ............................................................................................................
51
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva,
Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes .............................................................................
57
Precaução e prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa .......................................................................................
63
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável:
nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin ...........................................................................................................................
71
Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica
oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil
Alice F. Souza e Ismar S. Carvalho ......................................................................................................
76
Seção Primeiros Passos
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão
baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa ...........................
80
Momento Cultural
A língua portuguesa no samba
Zé Arnaldo Guima .................................................................................................................................
88
5
EXPEDIENTE
Revista semestral de divulgação científico-cultural publicada sob a responsabilidade da ADESA - Associação de
Docentes da Estácio de Sá
Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Tel.: 0055-21-2503-7100
Comissão Editorial Efetiva:
Ana Shirley de frança moraes, André Smarra, márcia glycério, André luís Soares Smarra e vicente eudes vera da Silva
Editora Acadêmica Executiva:
Ana Shirley de frança moraes
Conselho Editorial:
Antonio Andrade (uni rio),
Antônio carlos de carvalho (uni rio),
gelson dalvi (uerj),
rovigati danilo Alyrio (ufrrj) e
tereza ydalgo (uerj)
Assinam os trabalhos publicados nesta edição os professores:
Alice F. Souza, Ana Lúcia de Oliveira Barreto, Ernani José Antunes, Ana Shirley de França Moraes, Angela Barral
Bouzas, Bárbara Galvão da Silva, Carlos Alberto Martins de Assis, Celso Bruno Faria, Claudia Lobo, Dimas
Ferreira Vidal, Fábio de Souza Brandão, Fernando Cordeiro Barbosa, Ismar S. Carvalho, Josir Simeone Gomes,
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Márcia Sleiman Rodrigues, Maria Cecilia Trannin, Maria de
Fátima Alves São Pedro, Mariana Costa da Silva, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Paulo Sergio Martins Castelo
Branco, Pether Neves Fernandes, Sergio Luiz Braga França, Thael Nogueira da Gama Rosa e Zé Arnaldo Guima
Revisão:
laura dutour
Fotografia:
Núcleo de comunicação, Campus joão uchoa
Projeto Gráfico:
contraste editora e Propaganda ltda
Editoração e Diagramação:
Elenir da Silva Oliveira - Designer Gráfico
Jornalistas Responsáveis:
fernando loureiro - AbI 1.386
josé luis laranjo duarte - reg. 16.695 mtb
Distribuição:
AdeSA - Associação de docentes da estácio de Sá.
Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil- Tel.: 0055-21-2503-7100
Publicidade:
contraste editora e Propaganda ltda.
Rua Teotônio Regadas, 26 / 301 - Lapa - 20021-360 / Rio de Janeiro / RJ - Tel.: 0055-21-2252-1396/ Telefax: 005521-2232-3364
Dissertar é uma publicação semestral da ADESA – Associação de Docentes da Estácio de Sá.
6
Dissertar
editorial
editorial
A ciência a serviço da sociedade
A Ciência pressupõe um conjunto de conhecimentos organizados e sistematizados, em
contraposição ao conhecimento espontâneo, empírico e popular que não se preocupa com a
sistematização. É por meio desse conhecimento organizado que se pode procurar e atingir a verdade,
as causas dos fatos e dos fenômenos e, assim, resolver os problemas que afligem as pessoas.
Como objetivo, a Ciência se propõe a estabelecer as leis que regem as relações, nos
fenômenos, entre a causa e o efeito. A ela possui como principal função o aprimoramento
do conhecimento, do saber. Com isso, o papel da ciência é produzir, interpretar e divulgar o
conhecimento e os métodos para o alcance de resultados.
Realizar a ciência significa agir e pensar dentro de um conjunto de procedimentos que
possam ser sistematizados. É um processo que exige uma atitude crítica, de forma a não se
contentar com explicações incompletas ou sem fundamentação, cujos argumentos possuem caráter
de aceitabilidade inequívoca.
O papel da ciência no mundo acadêmico é importante para todos, porque é por meio dela
que se descobrem e se encontram respostas para os problemas sociais. Assim, criam-se melhorias ao
homem, para viver melhor em sociedade e no mundo.
Na atualidade, a ciência necessita trazer contribuições à sociedade. Não apenas a uma classe
ou grupo privilegiado, mas a todos e, por meio dela, resolver problemas que prejudicam o homem e o
grupo social em sua totalidade. Esta é a grande discussão atual da ciência: o compromisso social e a
relevância de seu desenvolvimento.
Conhecer é atuar sobre o objeto, de forma a compreendê-lo, interpretá-lo. ou mesmo,
“interpenetrá-lo” com habilidade. Contudo, o conhecimento não é estático, é dinâmico, necessita
estar em sinergia com a realidade e ser difundido.
Além disso, não adianta estudar para si, para o culto ao “eu mesmo”, mas sim socializar
aquilo que se pesquisa e se obtém como resultado. É neste momento que os periódicos e veículos
científicos e acadêmicos possuem grande valor, pois funcionam como canais específicos de divulgação
da construção de conhecimentos, informações e dados valiosos ao saber humano e às suas vidas.
Ana Shirley de França Moraes
Editora Executiva
7
Dissertar
Palavra
Palavra da
da presidente
presidente
Prezados Colegas Professores,
A Revista Dissertar inaugura um novo momento. A partir dos próximos
números, passaremos à publicação quadrimestral, proporcionando à
comunidade universitária e acadêmica mais possibilidades de publicação e
disseminação do conhecimento.
Neste número, apresentamos a entrevista do prof. Marcos Lemos nos
prestigiando com suas ideias e realizações na área de gestão educacional.
Além da Carta Manifesto realizada pelo Adm. Wagner Siqueira, presidente do
CRA-RJ, publicamos vários artigos interessantes com temas muito atuais, como
sempre selecionados como os melhores submetidos ao Conselho Editorial.
Também publicamos um artigo resultado do trabalho de final do curso de
Administração, em Primeiros Passos, apresentado no Seminário de pesquisa e
Iniciação Científica da Estácio, em 2014. Importante ainda registrar o trabalho
criativo do Prof. José Arnaldo em Momento Cultural, relacionando o
Samba à Língua Portuguesa.
Assim, desejo a todos excelente leitura!
Márcia Glycério
Presidente da Adesa
“Vigência 2013-2015”
9
carta manifesto
Empresa-cidadã
Empresa cidadã seria aquela que poria o interesse da nação acima de seus próprios interesses?
Então, por que as empresas demitem os seus empregados e transferem as suas atividades
para o exterior? Ou empresa cidadã é a que respeita as leis do país? Mas isso é uma exigência
mínima de vida em sociedade. É a sua obrigação. Toda empresa funciona em torno de seus
interesses. Assim, a expressão empresa-cidadã tende a se tornar uma cortina de fumaça, tão
simpática em aparência quanto manipulativa na realidade.
A disseminação do conceito de empresa-cidadã produz uma ideologia empresarial, que é
seu discurso de auto justificação, de manipulação publicitária e de formação de imagem. A implementação desse conceito termina por sequestrar o bem comum para utilizá-lo na realização dos interesses empresariais
específicos, no fundo apenas um eufemismo para dissimular a ganância.
Essa é a função, na maioria dos casos, da expressão empresa-cidadã: o aparelhamento ideológico para a realização
dos interesses particularistas da empresa, e não da cidadania, do bem comum, do interesse universal.
Então, por que as empresas demitem os seus empregados e transferem as suas atividades para o exterior?
A empresa cidadã tende a produzir uma ideologia que é o seu discurso de auto justificado, de manipulação publicitária,
de formação de imagem, de sequestro do bem comum para o seu próprio interesse.
Constitui-se uma rematada mistificação todas as enfáticas declarações dos que tentam nos convencer de que a empresa
está a serviço dos seus clientes e dos seus assalariados. Isto não é verdade: ela está a serviço de seus acionistas.
É claro que a empresa também está a serviço dos seus clientes. Mas por que razão? Porque ao satisfazer ao cliente
engorda os seus resultados e, portanto, satisfaz ao acionista. É para satisfazer o acionista que se quer satisfazer o cliente,
mesmo que se tenha que lhes empurrar produtos e serviços que só lhe fazem mal, como cigarros, remédios desnecessários, bebidas alcoólicas e refrigerantes açucarados, programas imbecilizantes do tipo reality shows, Big Brother´s , etc.
Também a empresa está a serviço de seus assalariados. É evidente: é o assalariado que encanta e fideliza o cliente, o
que garante mais lucros para os acionistas.
O discurso da empresa-cidadã, da responsabilidade social e da ética empresarial pretende erigir uma nova Santíssima
Trindade em que, à semelhança do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como no Mistério da Fé, todos numa só pessoa, o
acionista, o cliente e o empregado estariam no mesmo plano de igualdade a serviço do bem comum.
Isto não é verdade: os assalariados estão a serviço dos clientes para a garantia dos lucros dos acionistas. Não peçamos à empresa para fazer às vezes do Direito e da Política, da Ética e da Moral, do Amor e da Espiritualidade na construção
de uma sociedade mais justa e democrática, pois não é este o seu papel social.
Todos nós temos dificuldade em realizar nosso dever, em seguir os mandamentos da moral, apesar de conhecermos
sua legitimidade. Há, pois, mérito em agir bem, em preferir o interesse geral ao interesse particular, o bem comum ao
egoísmo. Nisso a ética moderna é fundamentalmente uma ética meritocrática e de inspiração democrática. Ela se opõe em
tudo às concepções aristocráticas da virtude, que equivocadamente se pretende localizar no mundo da vida empresarial.
Em suma: a moral tem o seu lugar na empresa, assim como a cidadania, mas este não é o papel da empresa – é o
papel dos indivíduos que trabalham ou dirigem a empresa.
Adm. Wagner Siqueira
Atual presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro e
filho de Belmiro Siqueira, Patrono da profissão no Brasil.
É Vice-Presidente da Escolinha de Artes do Brasil e membro do Membro da
Academia Brasileira de Ciências da Administração e do Conselho Consultivo da
FGV Empresa Júnior.
10
Dissertar
Universidade Estácio de Sá:
10 anos do processo de avaliação interna
Estácio de Sá University:
10 years of intern evaluation
Universidad Estácio de Sá:
10 años del proceso de evaluación interna
O presente estudo objetiva apresentar a trajetória da Avaliação Interna
da Universidade Estácio de Sá, nos
últimos dez anos. A institucionalização
de uma cultura de avaliação na UNESA
é desenvolvida desde a década de 1990,
cujas bases foram fortalecidas com
o advento da Lei n.10.861/2004, que
instaurou a realização de avaliação
das instituições de educação superior,
incluindo a autoavaliação institucional,
respeitando os objetivos da avaliação
formativa e visando a produzir conhecimento; questionando os sentidos das
atividades e finalidades da instituição;
identificando as causas de problemas
e deficiências; aumentando a consciência pedagógica e capacitação profissional dos docentes e funcionários;
Fortalecendo relações de cooperação
entre os atores institucionais; julgando
a relevância científica e social das
atividades e produtos da instituição;
prestando contas à sociedade e efetivando a vinculação da instituição
com a comunidade.
The current study aims at tracing
the history of the Internal Evaluation
Program at University Estácio de Sá
(UNESA), in Rio de Janeiro, within
the past ten years. Historically, the
culture of evaluation in UNESA has
been developed and institutionalized
since the mid-1990´s. The Program
foundations were enhanced later by the
enactment of the Law n.10.861/2004
which established procedures for the
evaluation of higher education institutions in Brazil. It included many
aspects of the evaluation process: (i)
institutional self-assessment, (ii) goals
of formative assessment, (iii) production of knowledge; (iv) activities and
proposed actions for the institution;
(v) problems and deficiencies’ identifying; (vi) increasing educational
sense; (vii) professional training of
faculty and staff; (viii) cooperative
relations between institutional actors;
(ix) scientific and social relevance of
the institution’s activities and products
and (x) accountability to society.
Palavras-chave: Histórico Avaliativo.Processo Avaliativo.
Avaliação Interna.
Este estudio tiene como objetivo
mostrar la trayectoria de la Evaluación
Interna de la Universidad Estacio de
Sá, en los últimos diez años. Históricamente , la institucionalización
de una cultura de la evaluación en
UNESA se ha desarrollado desde
la década de 1990 , cuyas bases se
fortalecieron con la promulgación de
la Ley n.10.861/2004 que establece
la realización de la evaluación de las
instituciones de educación superior,
incluida la autoevaluación institucional
respetando los objetivos de la evaluación formativa y con el objetivo de
producir conocimiento; cuestionando
los significados de las actividades y
objetivos de la institución ; la identificación de las causas de los problemas y
deficiencias; aumentando la conciencia
educativa y la formación profesional de
los docentes y el personal al servicio
de la administración; Fortaleciendo
de las relaciones de cooperación entre
los actores institucionales; juzgando
la relevancia científica y social de
las actividades y los productos de la
institución; prestando cuentas a la
sociedad y confirmando el vínculo de
la institución con la comunidad.
pela Universidade Estácio de Sá. Graduada em Direito pela
Universidade Federal Fluminense. Membro da Coordenação de
Avaliação da Universidade Estácio de Sá. Docente dos Cursos
de Graduação e Pós-graduação Lato Sensu da Universidade
Estácio de Sá. Docente da Escola de Magistratura do Estado
do Rio de Janeiro – EMERJ.
E-mail: [email protected]
Autores:
Márcia Sleiman Rodrigues
Doutora em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Mestre em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Coordenadora de Avaliação da Universidade Estácio de Sá. Docente da
Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ.
E-mail: [email protected]
Angela Barral Bouzas
Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho, Graduada
em História e Direito pela Universidade Santa Úrsula.Membro
da Coordenação de Avaliação da Universidade Estácio de Sá.
Docente dos Cursos de Graduação e Pós-graduação Lato Sensuda Universidade Estácio de Sá.
E-mail: [email protected]
Maria de Fátima Alves São Pedro
Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Gestão Ambiental pela Universidade Estácio
de Sá. Especialista em Direito Público e História do Direito
11
Dissertar
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
introdução
Com o advento da Lei n.10.861/04, foi instituído o Sistema
Nacional de Avaliação da educação Superior – SINAeS, que
instaurou a realização de avaliação das instituições de educação
superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes (artigo 1º). essas avaliações podem ser
realizadas independentemente e, a cada uma delas, é atribuído
um conceito em uma escala com cinco níveis (artigo 3º, § 3º).
A avaliação das instituições inclui a autoavaliação institucional
e a avaliação externa queé orientada por 10 dimensões.
o SINAeS compreende, além da autoavaliação, a avaliação externa, o ENADE e as avaliações de autorização e
reconhecimento de cursos.
A autoavaliação institucional é o processo pelo qual a
instituição faz uma análise crítica de suas ações e de seu processo de desenvolvimento. Para realizá-la, foi criada, em cada
instituição de ensino superior (IeS), uma comissão Própria
de Avaliação (cP A) que organiza o processo de autoavaliação
baseado na participação e na avaliação formativa.
Neste sentido, a coordenação da cP A de cada IeS é orientada
pelas diretrizes e pelo roteiro da autoavaliação institucional da
comissão Nacional de Avaliação da educação Superior (coNAES). Portanto, conforme a Lei n. 10.861/04, Portaria do MEC/
INEP 2051/2004 entre outros, a autoavaliação institucional é um
processo permanente de construção e formação. A autoavaliação
deve ser um processo cíclico, de reflexão eauto-consciência
institucional, no qual quem participa conquista direitos.
A autoavaliação institucional deve ser uma construção
coletiva envolvendo os sujeitos que integram a instituição. o
principal objetivo do processo é o aperfeiçoamento das práticas
institucionais na direção da realização de seus objetivos e metas.
O processo ocorre em dez dimensões, conforme orientação da
coNAeS vinculada ao mec: dimensão 1 – A missão e o plano
de desenvolvimento institucional; dimensão 2 – A política para
o ensino, a pesquisa, a pós-graduação e a extensão; Dimensão
3 – A responsabilidade social da instituição; dimensão 4 – A
comunicação com a sociedade; dimensão 5 – As políticas de
pessoal, as carreiras do corpo docente, técnicoadministrativo,
seu aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e condições
de trabalho; dimensão 6 – organização e gestão da instituição;
Dimensão 7 – Infra-Estrutura; Dimensão 8 – Planejamento e
avaliação; dimensão 9 – Políticas de atendimento a estudantes
e egressos e Dimensão 10 – Sustentabilidade financeira.
Atualmente, com a nova proposição do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP,
o novo instrumento de avaliação dos cursos, que tem como referência o Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, está
organizado em cinco eixos, que contemplam as 10 dimensões,
com o acréscimo de um relato institucional.
A autoavaliação visa ao desenvolvimento de uma cultura
avaliativa que atenda a interesses da comunidade, respeitando os objetivos da avaliação formativa e visando a:produzir
conhecimento;questionar os sentidos das atividades e finalidades da
instituição;identificar as causas de problemas e deficiências;aumentar
a consciência pedagógica e capacitação profissional dos docentes
e funcionários;fortalecer relações de cooperação entre os atores
institucionais;Julgar a relevância científica e social das atividades
e produtos da instituição; prestar contas à sociedade e Efetivar
a vinculação da instituição com a comunidade.
A Avaliação externa é realizada por comissões designadas
pelo INEP e tem como referência os padrões de qualidade para
a educação superior, expressos nos instrumentos de avaliação,
e nos relatórios das autoavaliações. o processo de avaliação
externa independente de sua abordagem, se orienta por uma visão
multidimensional que busque integrar suas naturezas formativa
e de regulação numa perspectiva de globalidade.
em seu conjunto, os processos avaliativos devem constituir
um sistema que permita a integração das diversas dimensões
da realidade avaliada, assegurando as coerências conceitual,
epistemológica e prática, bem como o alcance dos objetivos dos
diversos instrumentos e modalidades (INeP).
Histórico da avaliação interna da unesa
o debate sobre a avaliação da educação superior teve
seu início na década de 1980 como um tópico sobre o modelo
de educação superior que o país deveria adotar e de crítica ao
modelo implantado pela reforma universitária de 19681. Assim,
segundo barreyro e rothen (2008), os primeiros passos acerca de
avaliação foram desenvolvidos pelo Programa de Avaliação da
Reforma Universitária – 1983 (PARU), pela Comissão Nacional
para a Reformulação do Ensino Superior – 1985 (Comissão de
Notáveis) e pelo Grupo Executivo de Reformulação do Ensino
Superior – 1986 (gereS). Nesses primórdios, a avaliação não
era o foco principal, mas um elemento da política. Em 1993, iniciaria a primeira política de avaliação: o Programa de Avaliação
Institucional das universidades brasileiras – PAIub, em 1993.
Na universidade estácio de Sá – uNeSA, historicamente,
a institucionalização de uma cultura de avaliação é um processo
que se desenvolve desde a década de 1990 e cujas bases foram
alicerçadas no Projeto “qualidade e Participação”.A uNeSA
construiu os pilares da autoavaliação nos princípios norteadores do
PAIub, instituído em 1993 pelo ministério da educação (mec).
A ideia do PAIub era servir a um processo contínuo de
aperfeiçoamento do desempenho acadêmico e de prestação de
contas da universidade à sociedade, constituindo-se em uma
ferramenta para o planejamento da gestão e do desenvolvimento
da educação superior.
Dessa forma, o PAIUB estabeleceu três fases centrais para
o processo a ser desenvolvido em cada universidade: Avaliação
Interna, Avaliação Externa e Reavaliação.
o PAIub também se caracteriza por possuir dotação
financeira própria, livre adesão das universidades através da
concorrência de projetos e princípios de avaliação coerentes, com
posição livre e participativa. este programa, segundo seu próprio
texto, procura considerar “os diversos aspectos indissociáveis
das múltiplas atividades-fim e das atividades-meio necessárias à
sua realização, isto é, cada uma das dimensões-ensino, produção
acadêmica, extensão e gestão em suas interações, interfaces e
interdisciplinaridade”. Dessa forma, os princípios básicos que
Em 1968, o Congresso Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n.
5.540, de 28 de novembro, fixando normas de organização e funcionamento do
ensino superior. o novo modelo de universidade, teoricamente, pretendeu agregar
a racionalidade administrativa à universidade para torná-la moderna e adequada
às exigências de desenvolvimento. Porém, politicamente, a racionalidade administrativa acaba aumentando, no interior da própria universidade, o controle dos
órgãos centrais sobre toda a vida acadêmica e, externamente, o controle da própria
Universidade pelos órgãos de administração federal de ensino, ou seja, retirou dela
qualquer resquício de autonomia sobre o que produzia, aumentando a dominação no
seu plano interno e externo. Aestrutura universitária tornou- se mais conservadora
do que anteriormente, porém fantasiada de elementos modernos de comunicação
e controle administrativo-pedagógico, assentado no discurso de desenvolvimento
Nacional. SILVEIRA, Alex; PAIN, Glauce. Reforma Universitária:a política
educacional brasileira do governo castelo branco a costa e Silva(1964-1969).
Disponível em: <http://www5.fapa.com.br/cadernosfapa/artigos/2edicao/historia/
ReformaUniversitaria.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2013.
1
12
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
orientam o PAIub são: globalidade, comparabilidade, respeito
à identidade institucional, não premiação ou punição, adesão
voluntária, legitimidade e continuidade (uNeSA, 2005).
Dissertar
dos pela instituição.foram gerados instrumentos próprios em
função de objetivos e indicadores discutidos e aperfeiçoados
em inúmeras reuniões e seminários, permeados por debates
acadêmicos e estudos sobre avaliação. estes instrumentos
e técnicas de medida e avaliação focalizaram indicadores
relacionados à auto-avaliação dos alunos, à avaliação de
professores, às disciplinas,aos cursos e aos aspectos administrativos e gerenciais(uNeSA, 2004).
o princípio da descentralização – uma das linhas mestras da universidade estácio de Sá – marcou a metodologia
participativa no gerenciamento do processo de auto-avaliação,
envolvendo 761 alunos monitores do PAIUNES, 85 professores
representantes das comissões Setoriaise 24 representantes da
comissão central de Avaliação (uNeSA, 2004).
Inicialmente, foram avaliados quatro cursos, dos
quais participaram 2.757 discentes que se autoavaliaram e
avaliaram 431 docentes.
No ano de 2004, foram avaliados 40 cursos, com um total
de 3.882 docentes e de 99.752 alunos, dosquais cerca de 50%
participaram diretamente do processo avaliativo (uNeSA, 2004).
A socialização dos resultados é uma condição precípua
para deslocar o foco da mensuração para a avaliação, o que
requer análise, interpretação de resultados em busca de mudanças qualitativas. As avaliações contribuíram para o processo
decisório dos gestores, gerando: (a) melhorias no espaço físico,
em especial as salas de aula; (b) realização de encontros para
aperfeiçoamento didático-pedagógico; (c)ampliação e diversificação de atividades acadêmicas complementares e atividades do Programa de Treinamento Profissional- PTP, um dos
diferenciais do currículo pleno da instituição; (d) publicações
internas como os cadernos Pedagógicos do curso de direito,
Anotações Pedagógicas do curso de medicina veterinária; (e)
cursos em módulos para capacitação didática de docentes; (f)
ampliação e dinamização do sistema de empréstimo de livros
da biblioteca; (g) aumento de investimento para ampliar laboratórios e fazer manutenção de equipamentos; (h) produção
de artigos e monografias sobre a experiência da Universidade
estácio de Sá em avaliação interna.
vale ressaltar que o crescimento quantitativo da uNeSA
se justificou pelo trabalho qualitativo que desenvolve o que
pode ser confirmado nos conceitos obtidos nas avaliações
internas e externas,revelando o compromisso do corpo docente em agregar conhecimentos, formar bons profissionais
e garantir um ensino de qualidade.
Percebe-se, também, que a filosofia de trabalho adotada no Projeto de Avaliação da universidade estácio de Sá se
compatibiliza com as novas diretrizes propostas pelos SINAeS.
A continuidade do processo permitiu à universidade tornar
o PAIuNeS reconhecido pela comunidade acadêmica. Permitiu,
ainda, que a partir de 2004, sob a égide da nova legislação, a
comissão Própria de Avaliação – cP A conseguisse envolver
todos os segmentos e todos os setores em um novo Projeto de
Auto-avaliação Institucional, alicerçado nos princípios de engajamento, integração, planejamento participativo e capacidade
do grupo de criar projetos e tomar decisões.
Cabe ratificar a diversidade e a complexidade da Instituição, que tem buscado, de forma matricial, atender às
exigências legais, buscando, de acordo com as características
de uma universidade particular, cumprir com empenho e
responsabilidade, sua missão institucional, incluindo a busca
contínua de superação dos obstáculos encontrados no percurso
do processo avaliativo.
Os primeiros passos
A uNeSA, no ano 1994, integrando-se ao processo de
Avaliação das Universidades Brasileiras, expressado pelo documento básico produzido pela comissão Nacional de Avaliação
das universidades brasileiras, criada em julho de 1993 pela
SESu/MEC – gerou o seu Plano de Avaliação Institucional com
o objetivo de promover a análise de processos, de desempenho
organizacional, de gestão e de qualidade, considerando como
referencial os objetivos institucionais e pedagógicos e o efetivo
cumprimento das funções sociais, culturais e econômicas da
universidade. (uNeSA, 2005)
Na delineação do plano, a apropriação dos resultados foi
reconhecida como uma das questões mais relevantes a serem tratadas,
comprometendo-se a universidade a “assumir a responsabilidade e
aceitar o desafio de promover as mudanças necessárias nos pontos
que os diagnósticos apontarem como críticos”. (uNeSA, 2005)
PAIUNES
o P AIub (1993) constituiu-se num movimento nacional
que atingiu um número elevado de universidades pelo brasil
e apontou os primeiros passos para a busca de melhoria nas
instituições de ensino superior naquela época. Para balzan e
dias Sobrinho (apud olIveIrA, et al., 2004) “o Programa
trazia como princípios básicos implícitos em sua filosofia e no
contexto de sua práxis a globalização, comparabilidade, respeito
à identidade institucional, não-premiação e punição, adesão
voluntária, legitimidade e continuidade”. com base no PAIub
a uNeSA encaminhou em 1996 um projeto de avaliação ao
mec, denominado PIuNeS – Programa de Avaliação Interna
da universidade estácio de Sá.
como resultado do P AIuNeS, de 1997 a 2004, a universidade estácio de Sánorteou suas ações para a avaliação do
aluno e do professor, com indicadores relacionados à avaliação
da disciplina, do curso, dos serviços administrativos e acadêmicos, da biblioteca e da autoavaliação discente, com objetivo de
congregar aspectos qualitativos e quantitativos e operacionalizar
formas de ação participativa. As ações na UNESA foram implantadas gradativamente, possibilitando ajustes e aperfeiçoamento.
Neste período, todos os cursos de graduação passaram
por diversas avaliações, que possibilitaram a construção de uma
série de análises, que fundamentaram a formulação de estratégias
para tomadas de decisão. esse processo também englobou os
cursos de graduação tecnológica (uNeSA, 2005).
o P AIuNeS, desenvolvido no período 1997–2004, recebeu conceito de excelência no MEC/PAIUB e representou uma
iniciativa concreta e eficaz para a melhoria contínua do ensino.
Norteou-se, pelos princípios de descentralização articulada, adesão
voluntária, isenção, abrangência, continuidade e compromisso
com a instituição. Ao longo de onze etapas de trabalho contínuo,
o Projeto mobilizou a comunidade acadêmica sobre a importância
e os benefícios do processo de auto-avaliação institucional para
o aperfeiçoamento da prática educativa.
As funções diagnóstica, formativa e cumulativa se
fizeram presentes na auto-avaliação da UNESA e seus resultados diagnosticados em cada etapa estimularam a mantenedora, os gestores, os professores e a comunidade acadêmica
a adotarem ações internas provocadoras de mudanças e de
aperfeiçoamento dos projetos pedagógicos dos cursos ofereci-
13
Dissertar
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
A comissão própria de avaliação – cpa na unesa
o Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior
instituído pela Lei n. 10.861, de 14/04/2004, destacou a avaliação
institucional como um processo permanente, planejado, conduzido e realizado de modo a transformar resultados em subsídios
capazes de promover mudanças. em decorrência desta legislação
e consoante com a prática já institucionalizada, foi constituída a
CPA da UNESA pela Portaria n. 105/GR/2004 em 03 de maio
de 2004 e homologada pelo coNSuNI, em atendimento à lei
n. 10.861, de 14 de abril de 2004, e integrada por 14 membros,
representantes dos diferentes segmentos da comunidade acadêmica e da sociedade civil organizada.
A cP A zela para que o Projeto de Auto-avaliação Institucional esteja embasado em responsabilidade, participação,
comprometimento, compartilhamento democrático de idéias e
projetos, integração, autonomia e permanente busca de aperfeiçoamento através da análise crítica de seus projetos e serviços.
em 2008, em razão da peculiaridade multi-campi da uNeSA, a
CPA passou a funcionar com representações nos diferentes campi,
denominadas CPA Setoriais, com a finalidade de acompanhar,
de forma eficaz, a auto-avaliação nos campi.
Assim, a cP A passou a ser responsável por disseminar
a cultura avaliativa na IeS, através de processos de avaliação
interna e de acompanhamento e análise das avaliações externas.
A Comissão é constituída por ato do dirigente máximo da IES,
possui regulamento próprio e atuação autônoma em relação
aos conselhos. Sua composição assegura a participação de representantes dos segmentos da comunidade acadêmica – corpo
docente, corpo discente e corpo técnico-administrativo e da
sociedade civil organizada.
Além disso, conduz os processos de avaliação interna,
bem como sistematiza e presta as informações solicitadas pelo
Inep. Para tanto, organiza o relatório Anual de Auto-avaliação,
analisando as ações implementadas por todos os setores da IeS,
de acordo com as dimensões estabelecidas pelo SINAeS, com
especial destaque para a análise do PdI – Plano de desenvolvimento Institucional.
Na uNeSA, o Projeto de reconhecimento e fortalecimento
da CPA foi destaque desde a sua implantação. Em novembro de
2004, foi promovido o I Seminário de Sensibilização de Autoavaliação Institucional com a participação de 155 pessoas, entre
membros da cP A, vice-reitores, diretores de setores, campi e cursos.
Em janeiro do ano seguinte, foi promovida Palestra e
sobre Avaliação por Empowerment, fomentando a participação, a
discussão e o compartilhamento de múltiplas experiências.
No final do ano 2005, foi realizado II Seminário de
Auto-avaliação, envolvendo, desta forma, uma palestra e
um workshop visando, principalmente, capacitar cerca de 90
gestores para a utilização da metodologia, preparando-os para
o desdobramento matricial do processo.No III Seminário de
Auto-avaliação, os participantes interagiram como expositores e críticos do processo. eles tiveram acesso a todos os
projetos produzidos, provenientes de ampla discussão deflagrada através do empowerment e os participantes puderam
optar para – em uma segunda parte – participar das salas de
apresentação dos temas em que 27 gestores compartilharam
suas idéias, ouviram sugestões e críticas visando, a posteriori, analisar a viabilidade da incorporação das mesmas. foi
uma oportunidade de favorecer não só a interlocução entre
atores diferentes, como valorizar a possibilidade de expor
sua complexidade.
o Iv Seminário de Auto-avaliação, realizado em 12 de
julho de 2005, contou com a presença de 189 participantes pertencentes aos diferentes segmentos da UNESA. Foi o primeiro
momento de prestação de contas sobre as ações previstas no
projeto e desenvolvidas durante o semestre.
No v Seminário Interno de Autoa-valiação Institucional, realizado em23 de setembro de 2005, a uNeSA recebeu
a visita de Dilvo Ristoff, diretor da DEAES – Diretoria de
Estatísticas e Avaliação da Educação Superior/INEP, para
palestra e debate com a cP A e membros da comunidade
acadêmica. O tema do encontro foi: O SINAES no Contexto
das Políticas de educação Superior.
o amadurecimento institucional através das políticas
realizadas resultou em um evento muito maior no ano seguinte,
nos dias 16 e 17 de agosto de 2006, quando do vI Seminário
Interno de Auto-avaliação Institucional.A uNeSA, no dia 16
de agosto, fez um balanço crítico sobre a versão preliminar do
relatório final e, no dia 17 de agosto, uma palestra para os coordenadores de curso e gestores da universidade sobre o tema:
os Novos Instrumentos de Avaliação do SINAeS.
Ao longo destes quase dez anos, a uNeSA não abandonou
a metodologia do empowerment, tendo a prática alicerçada nos
princípios de autonomia; participação; delegação de responsabilidade; respeito à diversidade; especificação de tarefas; compromisso com o processo e com os resultados e meta-avaliação. A
metodologia ainda contém em sua prática a definição de metas,
de objetivos e a apresentação de estratégias baseadas em evidências. A CPA considera importante prosseguir o trabalho da forma
como tem se realizado, com reuniões periódicas e sistemáticas
dos diferentes segmentos da comunidade universitária, a fim de
aprimorar os processos em desenvolvimento.
Neste diapasão, pode-se observar que a cP A uNeSA
vem se utilizando de uma avaliação institucional participativa, em uma perspectiva dialógica, na medida em que
possibilita a produção de espaço de discussão nos quais as
pessoas refletem sobre suas ações. Essas reflexões buscam
levar à construção de sujeitos críticos e emancipados, conforme Lima (2009, p. 202).
dando continuidade ao processo iniciado em 2004, considerando as mudanças na uNeSA em razão do novo modelo
de gestão, procurou-se, a partir de 2012, redefinir processos e
procedimentos adotados pela CPA, a fim de melhor sustentar os
pilares que serviram de base para a constituição desta cultura
avaliativa. A filosofia implantada nos primeiros anos da constituição da CPA/UNESA permaneceu inalterada, porém, com
uma re significação a partir da criação do Projeto Revigoração
e fortalecimento da cP A.
Avaliação interna: processo em rumo a sustentabilidade
A auto-avaliação de uma instituição constitui uma trama
complexa, que compõe uma rede na qual estão vinculadas as
pessoas da instituição com suas idéias, envolvidas com os
acontecimentos do cotidiano em que estão inseridas e imersas
nas práticas exigidas pelas suas atribuições. Cada pessoa, de
forma única, está ligada às demais pessoas da instituição, não
só aquela que é responsável pela organização como um todo,
como as que estão comprometidas e à frente dos diversos
setores da instituição e as que estão submetidos à hierarquia,
isto é, os funcionários administrativos e acadêmicos. Cada
uma dessas pessoas tem um significado especial na rede de
complexas relações que se estabelecem, de acordo com o perfil
institucional (uNeSA, 2005).
14
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
Relatos sobre a avaliação interna da unesa
o processo de Auto-avaliação Institucional,que é coor denado pela comissão Própria de Avaliação da universidade
Estácio de Sá, configura-se em uma rede sistêmica de valores,
informações e decisões, que se constrói por etapas, desde reuniões
de sensibilização dos diferentes atores, que se refletem no próprio
Projeto Institucional, até a análise dos resultados apresentados,
por meio dos relatórios Parciais e final.
vale lembrar que, através da metodologia do empowerment,
este movimento se fez tão presente nas ações de auto-avaliação,
que a própria Comissão Técnica do INEP/DEAES assim se
expressou através de Parecer sobre o projeto apresentado pela
uNeSA ao Inep:
Dissertar
Na avaliação interna 2006.2, no período de 2 a 31 de
outubro, a cP A coordenou a realizaçãoda avaliação institucional
online de todos os cursos da graduação tradicional, da graduação
tecnológica e dos campi, dando prosseguimento à avaliação iniciada no 1º semestre de 2006. A avaliação contemplou aspectos
relativos às práticas docentes desenvolvidas pelos cursos, por
meio de questionário de Avaliação Aluno/Professor/Disciplina.
Aspectos referentes à Coordenação dos Cursos, por meio de
questionário de Avaliação Professor/Curso e Aluno/Curso), além
de aspectos relativos aos campi e ao campus virtual. o processo
de sensibilização realizado nos campi foi fundamental para que
atingisse a adesão de 81,4% do corpo docente e 45,58% do corpo
discente, representado por 54.770 alunos respondentes.
No início de novembro daquele ano, a cP A disponibilizou
no Sistema de Informação do Aluno e no Portal do Professor
alguns destes resultados para que, com transparência, continuasse
a fazer da avaliação um instrumento de reflexão, visando à implementação de ações de melhoria, em busca do aprimoramento
da qualidade da IeS (uNeSA 2006.2).
No primeiro semestre de 2007, a cP A deu prosseguimento
ao processo de avaliação institucional online de todos os cursos
de graduação e graduação tecnológica, contemplando em seu
questionário perguntas específicas para um quantitativo maior de
disciplinas. Agregou, também, a esta avaliação um questionário
objetivando traçar o perfil sociocultural do corpo discente; além
da avaliação dos professores, realizada pelos coordenadores de
curso. Participaram da avaliação 59.373 alunos, correspondendo a 48,47% do corpo discente; com uma adesão significativa
do corpo docente, correspondendo a um percentual de91,15%
(uNeSA 2007.1).
A cP A concluiu o processo de avaliação interna do segundo semestre de 2007, durante o período de 17 de outubro
a 30 de novembro, 64.315 alunos participaram da avaliação e
contribuíram, com suas pontuações, para a compreensão das
características dos professores, dos cursos e dos campi onde
estudam. esse total correspondeu a 55,79% dos alunos matriculados e superou o índice alcançado no primeiro semestre de
2007, que foi de 48,47% (UNESA 2007.2).
Para os professores, a adesão foi ainda maior, com a
média de 97,52% de participantes. considerando o sucesso
deste semestre, registrou-se a importância da avaliação como
instrumento de aprimoramento dos processos na universidade,
tornando-se ferramenta indispensável nas tomadas de decisão
(uNeSA 2007.2).
realizada durante o período de 5 de maio a 12 de junho, a
Avaliação Interna de 2008.1, conduzida pela cP A, atingiu o total
de 65.683 alunos, que atribuíram conceitos para os campi, os
cursos e para as disciplinas que estudam. esse total correspondeu
a 53,86% dos alunos matriculados. A avaliação realizada pelos
professores atingiu 97,09% de participantes com informações
sobre os campi e os cursos. (uNeSA 2008.1).
coordenada pela cP A, a Avaliação Interna da universidade em 2008.2 ocorreu no período de 29 de outubro a 26 de
novembro, com a participação de 53.950 alunos, correspondendo
a 46,68% de todos os discentes da graduação. A participação do
corpo docente atingiu 95,29% e confirmou o engajamento deste
professor com o momento da avaliação e de melhoria permanente
da universidade.Neste semestre, a cP A incluiu a Avaliação da
Pós-Graduação de forma online, avaliações das disciplinas tele
transmitidas e dos professores pelos gerentes acadêmicos. Historicamente comprovado, a Avaliação Interna realizada pela cP A
ratifica o processo avaliativo como mecanismo de identificação
A proposta indica que houve articulação entre a realidade da
IeS e as dimensões da Avaliação Institucional, atendendo aos
princípios e diretrizes do SINAES. É possível identificar no texto
que a proposta é resultado da interação entre os atores envolvidos
no processo avaliativo, mostra-se coerente com os objetivos e
funções de uma instituição de educação superior e assegura a
identidade institucional (uNeSA, 2005).
Acrescente-se que, para superar o desafio constante da
auto-avaliação é preciso considerar o teor essencialmente ético
do planejamento participativo como respeito ao outro e conscientização das responsabilidades, o que requer aprendizagem
constante, capacidade de empatia e predisposição para trabalhar
em equipe, requisitos essenciais que se destacam na CPA/UNESA.
Portanto, a avaliação interna da uNeSA não se constitui
em um modelo pronto e fechado. Neste sentido, quanto à avaliação interna, esclarece verhine (2010)
Para se desenvolver não são necessários agentes externos, pois os
principais destinatários serão os próprios atores internos do processo avaliativo. tal avaliação prima por uma metodologia ativa
e dialógica e envolve o debate e a reflexão sobre o que fazer como
agir e como acompanhar a ação. A co-gestão é um dos elementos
essenciais dessa metodologia avaliativa, reconhecida, em primeira
instância, pela idéia de auto regulação, cuja regra geral passa pela
substituição dos indicadores de rendimento pelos de qualidade,
além da seleção de procedimentos e técnicas que combinem o
quantitativo e o qualitativo (fÉlIx, 2008). As práticas de avaliação
que dão legitimidade a esse procedimento se constituem em um
processo de transformação e (re) formas constantes das instituições
envolvidas. Assim a avaliação formativa vincula-se, diretamente,
a uma forma de democracia forte, que é uma forma de governo
entendido como de formação de uma comunidade preparada
para enfrentar e resolver conflitos por meio da participação, com
autocrítica e auto-legislação (fÉlIx, 2008). A autora argumenta,
ainda, que a avaliação institucional se sustenta em valores próprios
da academia, em que o interesse pela produção de conhecimento, a
transparência de suas decisões, a participação, a liberdade acadêmica
e o respeito pelas idéias dos demais são pontos dominantes em uma
instituição orientada para a autonomia institucional.
dando continuidade ao desenvolvimento do processo de
autoavaliação da uNeSA, vale destacar que a cP A, pioneira
no segmento, aplicou, no 1º semestre de 2006, um questionário
online, extensivo a alunos e professores de todos os cursos de
graduação tecnológica, num total de 43, e a quatro cursos de
graduação: educação física, fisioterapia, fonoaudiologia,
Psicologia. os respondentes tiveram oportunidade de avaliar
a IeS, o campus e o curso, bem como, os professores e as
disciplinas. do universo dos alunos da graduação tradicional, 7.051 responderam, significando 43,4% do seu total. No
Politécnico (graduação tecnológica), esta margem chegou a
35%, com 7.848 de alunos respondentes. O total de professores
chegou a 1.329 (uNeSA 2006).
15
Dissertar
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
de potencialidades e fragilidades que subsidiem as tomadas de
decisão para a melhoria de aspectos acadêmicos e administrativos
de toda a comunidade universitária (uNeSA 2008.2).
A Avaliação Interna de 2009.1 ocorreu com a participação
histórica dos alunos e professores.Os números de adesão atingidos
reforçaram a percepção do interesse da comunidade acadêmica
pelo processo avaliativo e sua colaboração para a melhoria dos
serviços e processos oferecidos pela Universidade.A seguir, os
percentuais recordes: campi com meta atingida de docentes:
100% (37 campi); campi com meta atingida de discentes: 65%
(24 campi); adesão de alunos: 57,4% (64.466 alunos); adesão
de professores: 97,5%. Esta Avaliação incluiu também o questionário Sociocultural, aplicado, à época, com periodicidade
bienal e ampliado por perguntas relacionadas às preferências
para o lazer e atuação em programas sociais. Sobre esta pergunta, é importante destacar que 9% (5.801 alunos do total
de respondentes) declaram participar em atividades sociais da
própria Universidade, relacionadas à pesquisa, à extensão e a
programas de disciplinas (uNeSA 2009.1).
realizada no segundo semestre, a Avaliação Interna
2009.2 mobilizou alunos e professores e atingiu a participação
de 54.079 discentes (52,5%) e 97,1% dos docentes. Sendo a
sétima avaliação consecutiva, cujos resultados possibilitaram a
construção de um histórico de indicadores que, ao serem apresentados à Reitoria e aos gestores da IES, forneceram subsídios
para a tomada de decisão na busca pela melhoria de processos
e serviços (uNeSA 2009.2).
de 2010 a 2011, o processo de avaliação se manteve
contínuo e fiel aos pressupostos até então destacados, com curva
ascendente quanto à adesão e investimento em tecnologia para
efeito de aprimoramento.
enfocando os processos pedagógicos, científicos, sociais, técnicos
e administrativos que se estabelecem por meio das relações sociais
constitutivas da dinâmica da vida universitária. Isso, levando-se
em conta a integração entre o que a UNESA faz com o que se
propõe a fazer por meio da sua missão e finalidades.
Para tanto, inicialmente foi necessário repensar o modelo do questionário aplicado até então, a fim de adequá-lo
às inovações implementadas e acrescidas na IeS, como, por
exemplo, as inovações tecnológicas e a realidade dos cursos
de ensino a distância.
Em seguida, considerando o aumento significativo do seu
espectro, houve a necessidade de rever os processos relativos
à tecnologia da informação, de forma a manter a qualidade do
serviço e a sua disponibilidade, tudo em consonância com a
realidade globalizada.
vale a ressalva de que a pesquisa, que já era aplicada na
modalidade online, passa a contar, a partir de 2012.2, com um
novo sistema denominado questiopro, o qual propicia um dinamismo à avaliação, tanto no que tange à tecnologia, quanto ao
manancial de informação para efeito de análise dos seus resultados.
No ano de 2012, ainda, a IES fez alto investimento quanto
aos ajustes necessários ao pleno desenvolvimento do processo de
avaliação interna, bem como na sensibilização da comunidade
universitária, de forma a reforçar a importância do seu papel na
construção de um modelo coletivo quanto à busca contínua e
sistemática da melhoria dos seus cursos e da sua infraestrutura.
Assim, observa-se pelos últimos percentuais de adesão
que no ano de 2013 alcançou-se o percentual de 96 % de adesão
de docentes e 68 % de adesão de discente. No primeiro semestre
de 2014 a adesão discente consolidou todas as expectativas da
IeS, com a participação de 73% de adesão do alunado. desta
forma, constatou-se que o modelo implantado alcançou os
objetivos propostos.
Acrescente-se que a cP A, por meio das reiteradas participações em reuniões de gestão acadêmico-administrativa, vem
trabalhando junto com os coordenadores de curso e gestores
acadêmicos na reversão dos quadros de fragilidades identificadas.
Com as transformações sociais e políticas surgidas nos
últimos anos, vive-se um momento de profundas discussões
sobre a política e a qualidade das instituições de educação
superior, sendo imperativo o movimento quanto ao rigor, por
parte dos setores externos quanto à avaliação dos referenciais
de qualidade que, por sua vez, aumenta a responsabilidade das
IeS. Neste cenário, a uNeSA antecipou-se e implementou um
novo modelo de gestão frente às tendências atuais da educação,
não apenas devido à abertura econômica, mas, sobretudo, com a
finalidade de identificar métodos e programas eficazes para dar
conta dos novos desafios no cenário educativo, a exemplo dos
critérios que servem de padrões de mensuração de desempenho
para as organizações.
Nesse processo, a avaliação tem se aperfeiçoado como um
princípio básico de gestão da qualidade na sociedade moderna,seja
nos setores públicos ou privados, contribuindo para a melhoria
dos programas e influenciando as transformações e definições
de políticas, práticas e decisões destes últimos tempos.
diante deste momento histórico, partindo do desígnio de
que a avaliação é uma leitura orientada da realidade, segundo
critérios pré-estabelecidos de padrões de qualidade do ensino,
a uNeSA, no ano de 2012, redimensiona sua política de avaliação interna, definindo como norte a busca por resultados que
possam ser analisados, a fim de que se possam traçar novos caminhos, metas, estratégias que vão ao encontro de uma política
de educação de qualidade, associada a uma política intensa de
responsabilidades sociais.
Assim, a auto-avaliação institucional da uNeSA dispõe-se a avaliar os desempenhos do ensino, da extensão e da gestão,
As ações de melhorias implantadas
Nessa linha, a CPA, responsável por formular propostas
para a melhoria da qualidade das atividades educacionais desenvolvidas pela Instituição, em parceria com as coordenações
de curso e gerências acadêmicas, com base nas análises dos
resultados produzidos pelos processos internos de avaliação,
somados à análise dos resultados das avaliações externas realizadas pelo ministério da educação, impõe um ritmo de trabalho
de efetiva auto-avaliação, assumindo sua verdadeira posição no
cenário institucional, com autonomia e desprendimento que lhe
são peculiares.
A rapidez da comunicação no mundo atual chega a ser
assustadora em algumas áreas, em decorrência dos novos meios
e linguagens que, no campo da avaliação, são formas ágeis de
socialização das informações coletadas e que precisam ser adotadas, no tempo certo, a fim de possibilitar superação de falhas
e valorização de potencialidades detectadas.
Para tanto, o processo de feedback, é realizado imediatamente após a finalização do trabalho da CPA, de tabulação dos
resultados da avaliação interna que ocorre semestralmente, e da
realização das reuniões de análise desses resultados, da cP A com
os diferentes segmentos da comunidade acadêmica.
No entanto, esses procedimentos não se encerram em si.
Existe a necessidade de manter um ciclo virtuoso de retroalimen-
16
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
Dissertar
Considerações finais
tação quanto aos diferentes segmentos da IES – corpo discente,
corpo docente, corpo técnico-administrativo e a gestão da IeS,
com a preocupação constante no sentido de melhorar cada vez
mais o processo de autoconhecimento institucional.
Neste sentido, a cP A implantou e projetou para 2014
a implementação de uma campanha de fortalecimento da sua
imagem e do seu papel dentro desse cenário. foi lançada uma
nova logo da CPA/UNESA e, a partir daí, toda uma dinâmica
na rotina institucional da uNeSA, em consonância com o
modelo de gestão em vigor.
destaca-se como principais ações de melhorias implementadas nos últimos dois anos, levando-se em consideração a
revisão do PdI, para o qüinqüênio 2013-2017, e o que se espera
em relação à Dimensão 1, o aumento de oferta de cursos em áreas
de conhecimento de maior demanda no estado e divulgação e
alinhamento da missão do curso com práticas pedagógicas. quanto
à dimensão 2, criação do comitê de apoio ao eNAde, ampliação da oferta de cursos de nivelamento nas áreas de português e
matemática, incentivo à produção científica e pesquisa com oferta
de bolsas por parte da IeS aos discentes e docentes,ampliação
do número de cursos de capacitação docente, desde as questões
pedagógicas até as tecnológicas.
No que tange à Dimensão 3,houve forte investimento na
ampliação de espaços internos para relacionamento com a comunidade e criação do Suporte à Inclusão educacional.e, quanto à
dimensão 4, destaca-se a re vigoração dos canais de comunicação
com a sociedade e a realização de eventos,no intuito de possibilitar
melhor comunicação com o público interno e externo.
Para as Políticas de Pessoal, com previsão na dimensão
5, a uNeSA atendeu às reivindicações da comunidade univer sitária, com o incremento de concessão de bolsas de graduação
e pós-graduação lato e stricto sensu para docentes por meio
de editais e processos seletivos específicos, participação em
congressos, fóruns dentro e fora do país; oferta de programas
de capacitação e aprimoramento na forma de cursos ofertados
pela IES para qualificação docente e portfólio de treinamentos e
promoção de cursos de capacitação presencial aos pessoal técnico-administrativo, dentre outros. Ainda, quanto à organização e
gestão da uNeSA - dimensão 6 –teve grande preocupação de
reorganizar as atribuições administrativas e acadêmicas, assim
como a organização de seus processos, no intuito de evitar retrabalho, com a contratação de empresa de consultoria específica
e criação de setores específicos.
Para a Infra estrutura física - Dimensão 7 – a UNESA
vem atualizando os títulos e periódicos dos seus cursos no
acervo bibliográfico, bem como, substituiu o parque tecnológico dos colaboradores.
Importante destacar que o Planejamento e Avaliação
recebeu atenção especial quanto à participação e autonomia da
cP A, item esse componente da dimensão 8.
No que se refere à Dimensão 9, destacam-se as novas
políticas de atendimento, implantadas pela IeS, que buscam
corresponder aos anseios e necessidades dos discentes, uma
vez que esse item vem se destacando negativamente, nas
últimas avaliações.
Por fim, quanto à Dimensão 10 - Sustentabilidade
Financeira destaca-se que aInstituição deu ênfase ao desenvolvendo de sua política de aplicação dos recursos, baseada
em decisões de conselhos e orientações fornecidas pela CPA.
Além disso, implantou uma política focada na redução da
inadimplência e evasão, o que vem gerando resultados positivos, considerando os relatórios da área.
A cultura avaliativa na universidade estácio de Sá é
fruto de uma institucionalização cujas bases foram alicerçadas
no Projeto “qualidade e Participação”, iniciado nos primeiros
anos da década de 90, do século passado.
A uNeSA construiu os pilares da auto-avaliação nos
princípios norteadores do Programa de Avaliação Institucional
das universidades brasileira – PAIub, instituído no ano de
1993, pelo mec. com base no PAIub, a universidade estácio
de Sá criou o PAIuNeS – Programa de Avaliação Interna da
universidade estácio de Sá. A continuidade do processo permitiu
à universidade tornar o P AIuNeS reconhecido pela comunidade
acadêmica, com selo de excelência.
A partir de 2004, sob a égide da nova legislação, que
instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior
instituído pela Lei n. 10.861, de 14/04/2004, que destacou a
avaliação institucional como um processo permanente, planejado, conduzido e realizado de modo a transformar resultados
em subsídios capazes de promover mudanças foi constituída a
CPA da UNESA pela Portaria n. 105/GR/2004, em 03 de maio
de 2004, e homologada pelo coNSuNI.
Nesse processo, a avaliação tem se aperfeiçoado como
um princípio básico de gestão da qualidade na uNeSA, contribuindo para a melhoria dos programas e influenciando as
transformações e definições de políticas, práticas e decisões
destes últimos tempos.
Com as transformações sociais e políticas surgidas nos
últimos anos, vive-se um momento de profundas discussões
sobre a política e a qualidade do ensino superior. Neste cenário,
a uNeSA antecipou-se e implementou um novo modelo de
gestão frente às tendências atuais da educação, não apenas
devido à abertura econômica, mas, sobretudo, com a finalidade
de identificar métodos e programas eficazes para dar conta dos
novos desafios no cenário educativo, a exemplo dos critérios
que servem de padrões de mensuração de desempenho para
as organizações.
REFERÊNCiAS
BALZAN; DIAS SOBRINHO apud OLIVEIRA, Ana Maria Mônica
de; NuNeS, lina cardoso; SImoNettI, vera maria medina. Ava
liação Institucional na Universidade Estácio de Sá: reflexões sobre a
experiência de implementação do processo de auto-avaliação. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/pdf/aval/v09n02/v09n02a07.pdf>.
Acesso em: 20 set. 2013.
lImA, elizeth gonzaga dos Santos. Avaliação institucional e as estratégias de organização dos espaços de discussão na universidade. In:
leIte, denise (org.) Avaliação participativa e qualidade: os atores
locais em foco. Porto Alegre: Sulina, Porto Alegre: Editora Universidade metodista IPA, 2009.
PortAl. INeP . Avaliação das Instituições de Educação Superior.
Disponível em:<http://portal.inep.gov.br/superior-avaliacao_institucional>. Acesso em: 01 de out. 2013.
PORTAL. Universidade Estácio de Sá. CPA Histórico. Disponível em:
<http://www.estacio.br/cpa/historico.asp>. Acesso em 17 set. 2013.
PortAl. universidade estácio de Sá. comissão Própria de Avaliação
– CPA. Disponível em: <http://www.estacio.br/site/cpa/historico.asp>.
Acesso em: 15 set. 2013.
PortAl. uNeSA. relatório final de Auto-avaliação: 2005. disponível
em: <http://www.estacio.br/cpa/2005.asp>. Acesso em 01 out. 2013
_______. _______. Relatório Final de Auto-avaliação: 2005. Disponível
em: <http://www.estacio.br/cpa/2005.asp>. Acesso em 01 out. 2013
PORTAL. UNESA. Avaliação Interna 2006.1 Disponível em: <http://
17
Dissertar
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas
www.estacio.br/cpa/ava20061.asp>. Acesso em: 01 out. 2013.
_______._______. Avaliação Interna 2006.2. Disponível em:<http://
www.estacio.br/cpa/ava20062.asp>. Acesso em: 01 out. 2013
________._______. Avaliação Interna 2007.1. Disponível em: <http://
www.estacio.br/cpa/ava20071.asp>. Acesso em: 01 out. 2013.
_______._______. Avaliação Interna 2007.2. Disponível em: <http://
www.estacio.br/cpa/ava20072.asp>. Acesso em 01 out. 2013.
_______._______. Avaliação Interna 2008.1. Disponível em: <http://
www.estacio.br/cpa/ava20081.asp>. Acesso em: 01 out. 2013.
ROTHEN, José Carlos; BARREYRO,Gladys Beatriz. Expansão da
educação superior no brasil e avaliação institucional: um estudo do
Sistema Nacional de Avaliação da educação Superior (SINAeS). In:
Revista Avaliação. Disponível em:<http://each.uspnet.usp.br/gladysb/
expansao.pdf>. Acesso em: 25 set. 2013
SILVEIRA, Alex; PAIN, Glauce. Reforma Universitária: a política
educacional brasileira do governo castelo branco a costa e Silva(1964-1969). Disponível em: <http://www5.fapa.com.br/cadernosfapa/artigos/2edicao/historia/ReformaUniversitaria.pdf>. Acesso
em: 05 nov. 2013.
uNIverSIdAde eStÁcIo de SÁ. relatório do P
AIuNeS. rio
de Janeiro 2004. Disponível em: <http://www.estacio.br/site/cpa/docs/
resumo_referente_livro_2004.pdf>. Acesso em: 17 set 2013.
VERHINE, Robert E; FREITAS,Antônio Alberto da Silva Monteiro
de. A avaliação da educação superior: modalidades e tendências no
cenário internacional. In: Revista do Ensino Superior - uNIcAmP .
Disponível em:<http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/
artigos/a-avaliacao-da-educacao-superior-modalidades-e-tendencias-no-cenario-internacional>. Acesso em: 30 out. 2013.
Artigo enviado em 02/11/2014, aceito em 10/11/2014
18
Dissertar
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
The social entrepreneur in the municipality of Duque de Caxias
El emprendedor social en el municipio de Duque de Caxias
O objetivo deste artigo foi estudar
os principais aspectos que caracterizam
um empreendedor social no município
de Duque de Caxias. O referencial teórico utilizado na pesquisa engloba a
bibliografia sobre empreendedorismo
e empreendedorismo social. A metodologia utilizada foi bibliográfica com
pesquisa de campo, buscando identificar
o que caracteriza um empreendedor
social atuando na Baixada Fluminense.
Os resultados obtidos indicam que os
empreendedores sociais entrevistados
são voltados para a busca por oportunidades na solução de problemas
sociais; entretanto, calcular riscos não
parece fazer parte das preocupações
desses empreendedores. A maioria
deles confia em outras pessoas para
executarem as tarefas, e se reconhece
como líderes. O local e o meio em
que vive o empreendedor exercem
enorme influência sobre ele, e este
também contribui com aqueles através
da criação de novas oportunidades
para sobrevivência e crescimento da
localidade em que atua.
The objective of this paper was to
study the main aspects that characterize
a social entrepreneur in the municipality
of Duque de Caxias. The theoretical
framework used in the research encompasses the bibliography on entrepreneurship and social entrepreneurship.
The methodology was bibliographical
with a field research, seeking to identify
what characterizes a social entrepreneur
working in the Baixada Fluminense.
The results obtained indicate that social
entrepreneurs search for opportunities
to solve social problems, but they don’t
care about calculate risks. They trust
other people to execute tasks and see
themselves as leaders. The community
where the entrepreneur leaves can
influence his behavior, and he´s also
able to influence his community creating
new opportunities of survival in order
to see his community growth.
El objetivo de este trabajo fue
estudiar los principales aspectos que
caracterizan a un emprendedor social
en la ciudad de Duque de Caxias. El
marco teórico utilizado en la investigación abarca la literatura sobre el
espíritu empresarial y el emprendimiento
social. La metodología utilizada fue
bibliográfico con la investigación de
campo con el fin de identificar lo que
caracteriza a un emprendedor social que
trabaja en la Baixada Fluminense. Los
resultados indican que los encuestados
emprendedores sociales se centran en
la búsqueda de oportunidades en la
solución de problemas sociales; Sin
embargo, el riesgo de calcular no parece
formar parte de las preocupaciones de
estos empresarios. La mayoría de ellos
dependen de otras personas para realizar
las tareas, y se reconoce como líderes.
La ubicación y el entorno en el que vive
el empresario ejercen gran influencia
sobre él, y esto también ayuda con las
de la creación de nuevas oportunidades
para la supervivencia y el crecimiento
de la localidad en la que opera.
(2008), Especialização em Administração Estratégica e Docência
do Ensino Superior (2010). Atualmente é diretor da RH SENIOR
Consultoria - Centro de Capacitação Profissional - Consultor,
Palestrante e Conferencista. Atualmente é professor e Coordenador Adjunto dos cursos de Administração e Recursos Humanos
da UNIGRANRIO unidade Lapa. Também leciona nos Cursos
de Marketing, Administração, Recursos Humanos. Também
professor na Pós- graduação em Gestão de Negócios e Pessoas
da Unigranrio. Professor especialista na área de Administração,
com ênfase em Departamento De Pessoal.
Email: [email protected]
Palavras-chave: Empreendedorismo, Empreendedorismo
Social, Duque de Caxias.
Autores:
Celso Bruno Faria
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Gama
Filho (1981), com Especialização em Administração e Docência
do Ensino Superior. Atualmente é diretor da CCPMARKWAY&CBS
Consultoria - Centro de Capacitação Profissional - Consultor,
Palestrante e Conferencista. Coordenador do Curso de Processos
Gerenciais (Gestão Empresarial Presencial) - de Graduação
Superior Tecnológica pela Universidade Estácio de Sá - R.J,
Campi Centro 1 e Nova América- RJ.
Email: [email protected]
Josir Simeone Gomes
Graduado em Contabilidade pela Fundação Getúlio Vargas (1973),
graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1972), mestrado em Administração pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1978) e doutorado em Administração
Fábio de Souza Brandão
Bacharel em Administração pela Universidade Estácio de Sá
19
Dissertar
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
O município de Duque de Caxias
A região metropolitana do rio de janeiro, que congrega
17 dos 92 municípios do estado do rio de janeiro, segundo dados
do Ibge (2008), possui 11.812.482 habitantes, concentra cerca
de 70% da população estadual e quase a totalidade de bens e
serviços do estado. É o segundo polo de riqueza do país: nela se
encontra 70% da economia do estado do rio de janeiro no setor
industrial, com destaque para refinarias de petróleo, indústrias
da construção naval, metalúrgicas, petro-gás-químicas, siderúrgicas, têxteis, gráficas, indústrias farmacêuticas, de bebidas e
moveleiras. Atualmente, vem se firmando como ‘polo nacional
do setor terciário com destaque para serviços e negócios. entretanto, apesar do crescimento social e científico, ainda apresenta
problemas e precisa de melhorias nas condições de saneamento,
urbanismo, saúde, segurança, educação e lazer.
Localizado na Baixada Fluminense, o município de Duque
de Caxias abriga 855.046 habitantes, tem grande importância
econômica nos níveis estadual e nacional e uma localização
geográfica estratégica na Baixada Fluminense. Possui uma área
de 464,57 km2 e densidade demográfica de 1.887 habitantes por
km2. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,803;
o PIb é de r$ 28.143.860 (sendo o 15º do brasil), e o PIb per
capita de r$ 33.398 (Ibge, 2009).
A escolha do município para foco desta pesquisa levou
em consideração não só sua sólida e crescente importância
econômica, mas também a constatação de que há carência de
informações sobre Empreendedorismo social na região.
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1983). Possui PósDoutorado na Universidad Carlos III de Madrid, na Espanha e
curso de especialização na Harvard Business School.
Email: [email protected]
introdução
O Empreendedorismo no Brasil
Dornelas (2008, p. 10, 11) afirma que:
o movimento do empreendedorismo no brasil começou a tomar
forma na década de 1990, quando entidades como SEBRAE
(Serviço brasileiro de Apoio às micro e Pequenas empresas)
e Softex (Sociedade Brasileira para Exportação de Software)
foram criadas. Antes disso, praticamente não se falava em
empreendedorismo e em criação de pequenas empresas. os
ambientes político e econômico do país não eram propícios, e
o empreendedor praticamente não encontrava informações para
auxiliá-lo na jornada empreendedora.
Pode-se dizer que ainda faltam políticas públicas consistentes que levem à consolidação do empreendedorismo no
país, como opção à falta de emprego, e visando respaldar todo
esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades
não governamentais que estão fazendo a sua parte. Entretanto, a
consolidação do capital de risco e o papel do “anjo”- investidor
pessoa física- também estão se tornando realidade, motivando
o estabelecimento de cenários otimistas para os próximos anos
(DORNELAS, 2008). Hoje, o SEBRAE é um dos órgãos mais
conhecidos do pequeno empresário no brasil.
Situação - Problema
o artigo se propõe a analisar quais são as principais características que definem o perfil do Empreendedor social que
atua no município de Duque de Caxias,
Um breve histórico do empreendedorismo no Brasil
Segundo dolabela (2008, p. 39), “no brasil, pode-se
dizer que o empreendedorismo está apenas começando, mas
os resultados já alcançados no ensino indicam que estamos no
início de uma revolução silenciosa.”
Greco (2008), afirma que o empreendedorismo é um
fenômeno bastante complexo, pois está condicionado a fatores
culturais e é bastante influenciado por questões políticas e econômicas. dolabela (2008) aponta que o empreendedorismo é
também fruto dos hábitos, práticas e valores das pessoas.
em países desenvolvidos e com uma economia estável,
por exemplo, o empreendedor age de uma maneira completamente diferente de empreendedores em uma localidade
carente e em países miseráveis. É necessário discutir, então,
a influência que um empreendedor social exerce sobre o desenvolvimento econômico de uma determinada localidade e
também os desafios que esse indivíduo enfrenta para cumprir
sua missão.
dolabela (2008) registra um importante dado que será
considerado na análise a que se propõe essa pesquisa: o fato de
que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, os empreendedores são bastante influenciados pelo meio em que vivem.
Melo Neto (2002) afirma que o objetivo final do empreendedorismo social é retirar as pessoas da situação de risco social
e desenvolver-lhes as capacidades e aptidões naturais, buscando
propiciar inclusão social. Além disso, propõe um novo modelo
de relação entre comunidade – governo – empresas, em que haja
ações transformadoras desenvolvidas por uma rede de empreendedores sociais, onde a comunidade atue como protagonista
de ações transformadoras e o foco nessas ações transformadoras
seja nas comunidades mais intenso. certamente, esse empreendedor, para cumprir tão importante missão, encontrará sérios
desafios a enfrentar.
Objetivos geral e específicos
Objetivo Geral
Identificar as principais características do Empreendedor
social no município de Duque de Caxias.
Objetivos Específicos
• conceituar empreendedorismo, empreendedor e
empreendedor Social
• caracterizar o empreendedorismo Social
• Identificar o perfil de empreendedores sociais
atuantes no município de Duque de Caxias
Relevância do Estudo
conhecer as características apresentadas pelos empreendedores sociais, bem como o reflexo de suas atividades no
cotidiano da sociedade e, especialmente, na comunidade local,
pode contribuir para que as empresas e as universidades despertem para essa questão e para uma visão solidária para com
a coletividade.
Furtado (1999, p. 79) define uma sociedade sustentável
como sendo “uma sociedade com capacidade para improvisar,
inovar, enfrentar seus problemas da maneira mais prática possível,
mas numa perspectiva racional”.
Num momento em que toda a sociedade clama por
alternativas que garantam moradia e serviços sociais básicos
como educação, emprego e saúde, o estudo sobre os indivíduos
que acreditam na capacidade de trabalhar esses potenciais é de
fundamental importância.
20
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
Apesar de reconhecer o valor do papel de um empreendedor
social, as características que os distinguem dos demais indivíduos da sociedade geralmente são desconhecidas ou ignoradas.
A violência urbana, os recursos limitados, os arranjos e alianças
político-partidárias, bem como o pouco conhecimento formal
adquirido são desafios enfrentados por todos os empreendedores,
especialmente empreendedores sociais.
Dissertar
como a preocupação com essa temática vem avançando,
vários estudos surgiram e em vasta literatura são encontradas
características comportamentais do empreendedor, sendo possível
afirmar que determinadas características podem identificar um
empreendedor e até mesmo contribuir para o sucesso dos seus
negócios. No brasil, segundo dornellas (2008), o empreendedorismo só agora começou a ser tratado com o grau de importância devido e o governo começa a investir nessa questão – o
que países com os Estados Unidos, por exemplo, já investem
há muito tempo.
de acordo com lopes (2010, p.46):
Delimitação do Estudo
foram pesquisados empreendedores locais, no município
de Duque de Caxias, para serem conhecidos quais os principais
aspectos que caracterizam aqueles agentes sociais.
Existem diversos tipos de empreendedor, mas o objetivo
deste estudo é analisar os empreendedores sociais, ou seja, aqueles
que “buscam suprir carências fundamentais da sociedade, deixadas
em aberto pela insuficiência ou pela ineficiência ou ineficácia
do poder público.” (coimbra in melo Neto, 2002), conhecer
um pouco mais aqueles que que buscam criar novos espaços
sociais e econômicos em sintonia com a coletividade caxiense.
Quanto mais educado for o empreendedor, mais chances ele
terá de criar um negócio baseado numa oportunidade real. e o
contrário acontece com os menos educados e preparados, que
mais provavelmente direcionam suas iniciativas para ações que
garantam suas necessidades de sobrevivência
Portanto, uma educação voltada para o empreendedorismo
é fundamental para garantir um melhor aproveitamento das ocasiões que surgem e para a criação de oportunidades no mundo.
Definição dos Termos
empreendedor: aquele que assume riscos e começa
algo novo.
empreendedor social: também é alguém que assume
riscos e procura inovar, mas sua preocupação é voltada para o
coletivo, buscando produzir bens e serviços para a comunidade, e
direcionando seu foco na procura de soluções para os problemas
sociais que o cercam.
O empreendedor
dornelas (2008, p. 22) diz que “o empreendedor é aquele
que destrói a ordem econômica existente pela introdução de
novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de
organização ou pela exploração de novos recursos materiais”.
Portanto, o empreendedor faz um negócio nascer através
de uma ideia ou de uma oportunidade, e como tal, esse processo
é composto de funções, atividades e ações ligadas à realização
de novos sonhos, de novos negócios. (dorNelAS, 2008).
Para dornelas (2008), empreendedores são visionários,
sabem tomar decisões, são indivíduos que fazem a diferença,
sabem explorar a conjuntura; são determinados, dinâmicos,
dedicados, otimistas, independentes, líderes, bem relacionados,
organizados; planejam, possuem conhecimento, assumem riscos
calculados e criam valor para a sociedade. Procuram, com a
geração de empregos, dinamizar a economia e inovar, sempre
usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar
a vida das pessoas.
Referencial Teórico
Empreendedorismo
Segundo dornelas (2008, p. 14),
Um primeiro exemplo de definição de empreendedorismo pode
ser creditado a marco Polo, que tentou estabelecer uma rota
comercial para o oriente. como empreendedor, marco Polo
assinou um contrato com um homem que possuía dinheiro (hoje
mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias
deste. enquanto o capitalista era alguém que assumia riscos de
forma passiva, o aventureiro empreendedor assumia papel ativo,
correndo todos os riscos físicos e emocionais.
O empreendedor social
Mas e o empreendedor social? Melo Neto (2002) afirma
que a prioridade do empreendedor social é o combate à pobreza e
à degradação humana e ambiental, buscando promover equidade
social, cultural, econômica e ambiental. O autor afirma que esses
são pré-requisitos para o desenvolvimento de um empreendedorismo social, bem como para a criação de novos processos de
geração de riquezas e valores para a sociedade e o “empoderamento” dos indivíduos, que precisam se corresponsabilizar na
busca por seu crescimento e na construção de sua autonomia.
Para dolabela (2008), as principais características de um
empreendedor são: iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo,
necessidade de realização, perseverança e comprometimento.
Afirma também que o empreendedor é bastante influenciado
por um modelo, alguém que ele tenta imitar.
essas características desejáveis passam, necessariamente,
pela iniciativa pessoal, busca de oportunidades, perseverança,
comprometimento, qualidade do trabalho, eficiência, coragem
de assumir riscos, fixação de metas objetivas, busca de informações, planejamento e monitoração (controle), capacidade
de persuasão, capacidade de fazer contatos, independência,
autonomia, pelo autocontrole.
Para dornelas (2008), empreendedorismo tem origem
na palavra entrepreneurship que surgiu da expressão de origem
francesa (entrepreneur), e significa assumir riscos e começar algo
novo. Sua origem vem do século XVIII e XIX, e é defendida
por pensadores econômicos que acreditavam no livre mercado
e na concorrência agindo na economia.
Dornelas (2008, p. 22) também afirma que “empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e processos que, em
conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades.”
Portanto, empreendedorismo é quando se consegue
construir algo novo e de valor, criando ou aproveitando uma
oportunidade. Pode ser um serviço. um produto novo, ou uma
reinvenção do que já existe, como novos benefícios e atributos.
Para dolabela (2008, p. 24), empreendedorismo “é um
termo que implica uma forma de ser, uma concepção de mundo,
uma forma de se relacionar”.
Em Greco (2008), o termo Empreendedorismo é definido
como qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo
empreendimento, podendo ser essa uma atividade autônoma,
uma nova empresa, ou até mesmo a expansão de um empreendimento já estabelecido.
21
Dissertar
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
O empreendedorismo social
No meado do século xx, uma série de eventos indicou
momentos marcantes no cenário mundial. Um deles foi, certamente, a globalização, que emergiu a partir das mudanças do
capitalismo moderno. Ela possui um aspecto paradoxal: quanto
mais há avanços tecnológicos, de informações e de conhecimento,
tanto mais baixos são os níveis sociais e humanos da população
mundial (olIveIrA, 2008, p. 01).
diante desse panorama, alguns atores surgem dispostos
a minimizar os impactos causados pela pobreza. oliveira (2008,
p. 2) destaca, a partir desse fenômeno social, o surgimento do
empreendedorismo social moderno e suas vertentes:
melo Neto (2002,11) resume de maneira bem interessante
as diferenças existentes entre os dois tipos de empreendedorismo.
enquanto o empreendedorismo privado é individual, tendo seu
foco no mercado para a produção de bens e serviços para que
ele, visando satisfazer às necessidades dos seus clientes, amplie
as potencialidades do seu negócio, usando como medida de
desempenho o lucro, o empreendedorismo social é coletivo,
produz bens e serviços para a comunidade, tem o foco na busca
de soluções para os problemas sociais; sua medida de desempenho é o impacto social e visa resgatar pessoas da situação de
risco social e promovê-las.
filion (apud dolAbelA, 2008, p. 74) resume como o
empreendedor busca atingir seus objetivos:
Essa constatação faz com que novos sujeitos, forma e ações se
apresentem como alternativas emergentes contra o atual sistema
e gestão da vida em sociedade, inclusive e, em específico, o
empreendedorismo social. Isso porque a injustiça, a exclusão
social e o fracasso do desenvolvimento social estão desafiando
a raça humana a buscar uma nova forma de viver em sociedade,
já não só pensando em si e em seu território, mas também na
totalidade da vida no planeta, e que começa, paradoxalmente,
em nosso quintal, em nossa vida.
Quadro 1
O trabalho do empreendedor e seus requisitos
Atividades
Características
Competências
Aprendizagens
Descoberta de
Faro, intuição
Pragmatismo, bom
oportunidades
senso, capacidade de
reconhecer o que é útil
e dá resultados.
Análise setorial.
Conhecer as
características do setor,
os clientes e o
concorrente líder (1)
Sonhar
Imaginação, independência, Paixão Análise da
congruência do
sonho com o “eu” Viabilidade, adequação
à sociedade, construção
de valor positivo
Concepção de visões
Imaginação, independência,
Paixão
Concepção (2), pensamento
sistemático
Avaliação de todos os
recursos necessários e
dos respectivos custos
Tomada de
decisões
julgamento,
Visão
prudência
o empreendedorismo social pode ser entendido como um
sistema que, de acordo com Neto e Froes (2002, p. 41), tem a finalidade de transformar a sociedade. Finalidade esta que se caracteriza
por vários princípios como o aumento do nível de conhecimento da
comunidade local com relação aos recursos existentes, a capacidades
e competências disponíveis em seu meio, promovendo:
• aumento do nível de consciência da comunidade com
relação ao seu próprio desenvolvimento;
• mudança de valores das pessoas que são sensibilizadas,
encorajadas e fortalecidas em sua autoestima;
• aumento da participação dos membros da comunidade
em ações empreendedoras locais;
• aumento do sentido de conexão das pessoas com a sua
cidade, terra e cultura;
• estímulo ao surgimento de novas ideias que incluem
alternativas sustentáveis para o desenvolvimento;
• transformação da população em proprietária e operadora
dos empreendimentos sociais locais;
• inclusão social da comunidade;
• busca de maior autossuficiência pelos membros da
comunidade local; e
• melhoria da qualidade de vida dos habitantes.
Obter informações,
saber minimizar o risco
Realização
Diligência (saber Ação
de visões
“se virar”),
constância
(tenacidade)
Saber obter
informações para
realizar ajustes
contínuos,
retroalimentação
Utilização de
Destreza
equipamentos, (principalmente de
tecnologia da informação)
Polivalência
(no começo, o
empreendedor
faz tudo)
Técnica
Compras
Acuidade
Negociação. Saber
conter-se nos próprios
limites, conhecer
profundamente o tema
e ter flexibilidade
para permitir que
todos ganhem
Diagnóstico do setor,
pesquisa de compras (3)
Para dorNelAS (2007,
Projeto e
Diferenciação, Coordenação de
Marketing, gestão
colocação do
originalidade
múltiplas atividades: produto/serviços
hábitos de consumo
no mercado
dos clientes, publicidade,
promoção
Vendas
Flexibilidade para Adaptação às pessoas
ajustar-se aos e circunstâncias
clientes e às
circunstâncias,
buscar feedback Conhecimento
do cliente
Formação da equipe e conselheiros Saber construir redes
de relações internas
e externas
Gestão de recursos
humanos, saber
compartilhar
Delegação. Saber
dizer o que deve ser
feito e por quem;
saber acompanhar,
obter informações
Gestão de operações
Ser previdente,
projeção a
longo prazo
Delegação Comunicação,
de tarefas
capacidade de
aprender
P.13)
o empreendedor social tem como missão de vida construir
um mundo melhor para as pessoas. envolve-se em causas
humanitárias com comprometimento singular. tem um desejo
imenso de mudar o mundo criando oportunidades para aqueles
que não têm acesso a elas. Suas características são similares às
dos demais empreendedores, mas a diferença é que se realizam
vendo seus projetos trazerem resultados para os outros e não
para si próprios. Os empreendedores sociais são um fenômeno
mundial e, principalmente em países em desenvolvimento, como
o Brasil, têm um papel social extremamente importante, já que,
através de suas ações e das organizações que criam, preenchem
lacunas deixadas pelo poder público. De todos os tipos de empreendedores é o único que não busca desenvolver um patrimônio
financeiro, ou seja, não tem como um de seus objetivos ganhar
dinheiro. Prefere compartilhar seus recursos e contribuir para o
desenvolvimento das pessoas.
em suma, o empreendedor social, segundo Neto e froes
(2002, p. 10), é aquele que “mede o seu retorno com base na
Fonte: Dolabela (2008, p.75)
22
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
Metodologia da Pesquisa
melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários, no seu
progresso material e espiritual-pessoal”.
Tipo de pesquisa
Este artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa, e que
pode ainda ser classificada quanto aos fins e quanto aos meios,
conforme definição de Vergara (2006:46,47).
Para vergara (2006), uma pesquisa é descritiva quando
expõe as características de determinado fenômeno ou população,
sem o compromisso de explicar os fenômenos descritos, ainda que
sirva de base para tal explicação. Quanto aos fins, essa pesquisa
pode ser considerada uma pesquisa descritiva, pois descreve
as características dos empreendedores sociais e tenta elucidar
o seu perfil para a sociedade, principalmente a comunidade do
município de Duque de Caxias. Busca pesquisar e apontar os
principais pontos que caracterizam os empreendedores sociais.
quanto aos meios, a pesquisa pode ser considerada bibliográfica, com a utilização de material de apoio como livros, sites
e artigos científicos publicados sobre a temática do empreendedorismo e do empreendedorismo social, em fontes primárias e
secundárias. Também foi realizada uma pesquisa de campo no
município de Duque de Caxias, onde foram entrevistados alguns
empreendedores sociais.
O universo desta pesquisa foi composto por dez organizações, entre elas, cooperativas, associações de moradores
e organizações não-governamentais, atuantes no município de
Duque de Caxias, visando conhecer e interpretar a realidade
local. foram selecionados dez elementos representativos dos
empreendedores sociais naquele município.
Os sujeitos da pesquisa foram empreendedores atuantes
nas organizações escolhidas para a análise..
Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em livros, revistas, teses, dissertações e sites da internet
sobre a temática e por pesquisa de campo, através de entrevista
não estruturada aos sujeitos pesquisados.
Os dados foram tratados de forma qualitativa e exploratória. Recebidos os foram interpretados para se determinar quais
as principais características do empreendedor social que atua no
município de Duque de Caxias.
Perfil do empreendedor social
O perfil do empreendedor social pode ser dividido em quatro
áreas distintas: conhecimentos, habilidades, competências e posturas.
As características do empreendedor social, segundo oliveira (2008, p. 90), “não ficam tão distantes quando podemos
verificar que, na prática, já se pode ver esses elementos de forma
concreta, e sendo expressados em ações concretas”. Conforme
pode ser visto no quadro 2, a seguir:
Quadro 2
O perfil do empreendedor social
Conhecimentos
• Saber aproveitar
as oportunidades.
• Ter competência
gerencial.
• Ser pragmático e
responsável.
• Saber trabalhar de
modo empresarial
para resolver
problemas sociais.
habilidade
Competências
• Ter visão clara.
• Ser visionário.
• Ter senso de
• Ter iniciativa.
responsabilidade e
• Ser equilibrado.
solidariedade.
• Participação.
• Ser sensível
com os problemas
• Saber trabalhar
sociais.
em equipe.
• Ser persistente.
• Saber negociar.
• Ser consciente.
• Saber
• Ser competente.
pensar e agir
• Saber usar forças
estrategicamente.
latentes e regenerar
• Ser perceptivo e
forças pouco
atento aos detalhes.
usadas.
• Ser ágil.
• Saber correr riscos
calculados.
• Ser criativo.
• Saber integrar
• Ser crítico.
vários atores em
• Ser flexível.
torno dos mesmos
objetivos.
• Ser focado.
• Saber interagir
• Ser habilidoso.
com diversos
setores da
• Ser inovador.
sociedade.
• Ser inteligente.
• Saber improvisar.
• Ser objetivo.
• Ser líder.
Dissertar
posturas
• Ser inconformado
e indignado com
a injustiça e a
desigualdade.
• Ser determinado.
• Ser engajado.
• Ser comprometido
e leal.
• Ser ético.
• Ser profissional.
• Ser transparente.
• Ser apaixonado
pelo que faz
(campo social).
Apresentação dos Resultados
O exame dos dados foi realizado conforme as respostas
dos entrevistados responsáveis por empreendimentos Sociais
no município de Duque de Caxias.
os empreendedores sociais, segundo tajra e Santos
(2009, p. 50), “atuam por meio de organizações como fundações,
associações, entidades beneficentes, empresas sociais, OSCIP
(organizações da Sociedade civil de Interesse Público), órgãos
públicos, entre outras”. Dentre os entrevistados, foram ouvidos
10 empreendedores responsáveis por associações de moradores,
fundações e entidades beneficentes.
A entrevista foi elaborada com base no quadro 03, onde o
autor (Oliveira, 2008, p. 90) afirma que o perfil do empreendedor
social pode ser dividido em quatro áreas distintas: conhecimentos, Habilidades, Competências e Posturas. As características
dos empreendedores sociais entrevistados seguem de maneira
resumida logo a seguir, juntamente com a análise feita à luz do
referencial teórico desenvolvido.
Fonte: Oliveira (2008, p. 90).
Segundo tajra e Santos (2009,p. 48)
o empreendedor social possui as mesmas características e atitudes empreendedoras já apresentadas. o que muda nesse ator é
o contexto que ele atua. Enquanto os demais atuam no primeiro
setor (governo – segmento público) e no segundo setor (privado
– segmento empresarial visando o lucro), o empreendedor social
atua no terceiro setor (organizações sem fins lucrativos e não
governamentais), oriundo das lacunas da sociedade. esse setor
surgiu das ações privadas que começaram a ajudar nas questões
sociais, incorporando parcialmente o papel do estado. o terceiro
setor tem como principal objetivo promover a melhoria social
da população que, de uma forma geral, fica marginalizada dos
processos sociais, culturais, econômicos de saúde.
Conforme Neto e Froes (2002, p. 34), o empreendedor
social “é movido a ideias transformadoras e assume uma atitude
de inconformismo e crítica diante das injustiças sociais existentes
em sua região e no mundo”.
Portanto, o maior sonho do empreendedor social é “ajudar as
pessoas, desenvolver a sociedade, criar coletividade e comunidades,
vê-las crescerem e fortalecerem-se para nelas implementar ações
autossustentáveis que lhes garantam a manutenção e a melhoria
contínua do seu bem-estar.” (Neto; froeS, 2002, p. 34).
Conhecimentos
encontrar oportunidades para resolver problemas sociais
é a principal missão de todos os empreendedores entrevistados.
Estas respostas confirmam o que os autores pesquisados nos
indicam: Melo Neto (2002,11), diferencia o empreendedorismo
23
Dissertar
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
privado- que é individual e tem seu foco no mercado, produzindo
bens e serviços para ele, tendo como medida de desempenho
o lucro, e visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as
potencialidades do negócio- do empreendedorismo social, que
é coletivo, produz bens e serviços para a comunidade, tem o
foco na busca de soluções para os problemas sociais e usa como
parâmetro medir o desempenho o impacto social e o resgate de
pessoas da situação de risco social.
O presidente da Associação de moradores do Lixão de
Gramacho, atuando no local há 12 anos, afirma que a constatação do abandono da comunidade local foi o que motivou
sua decisão de agir. e continua sua luta ainda nos dias de hoje,
em que o lixão foi desativado, mas ainda algumas famílias
permanecem na comunidade.
Melo Neto (2002, 28) também afirma que “o crescimento
dos problemas sociais, que gerou o paradigma de exclusão social
de hoje no Brasil, vem exigindo de todos os atores políticos e
sociais uma nova atitude. uma atitude de mudança, inovadora
em sua natureza e essência, voltada para o desenvolvimento
sustentável das comunidades em geral e, sobretudo, das comunidades de baixa renda.” Isso ficou ainda mais claro na pesquisa
de campo no espaço do antigo Lixão de Gramacho: para o Meio
Ambiente, é fato que o espaço deveria ser desativado. Entretanto,
os problemas sociais da comunidade se agravaram ainda mais
com essa situação, pois a fonte de renda das famílias de catadores
ficou comprometida.
Melo Neto (2002) afirma ainda que a prioridade do empreendedor social é o combate à pobreza e à degradação humana
e ambiental, buscando promover equidade social, cultural, econômica e ambiental. o autor assevera que esses são pré-requisitos
para o desenvolvimento de um empreendedorismo social, e isso
foi observado na realidade pesquisada.
Sheila Passos, secretária da Associação de moradores do
Lixão de Gramacho, encontrou no empreendimento social uma
forma de buscar mudança social através das pessoas, trabalhando
com elas uma mudança de mentalidade, um maior entendimento
e sabedoria para tocarem suas vidas.
A entrevistada também está nesse empreendimento em
função da religião, pois afirma ter um “chamado especial” para
ajudar as pessoas a ter uma visão e um diferencial.
Já o presidente da Associação de Moradores do Lixão
de gramacho e mais três entrevistados encontraram no empreendimento social sua vocação: afinal, afirmaram eles, sempre
pensaram em gerenciar alguma coisa.
um entrevistado admitiu ser o empreendedorismo estimulado em família e o outro busca realização pessoal.
Assim, o empreendedor social é muito mais influenciado
por sua própria vocação ou pela necessidade de realização como
ser humano. encontramos até mesmo uma motivação religiosa,
que é bastante pessoal, para representar o desejo de envolvimento
com o empreendimento social.
Todos os empreendedores pesquisados, com exceção
de um, afirmaram aproveitar de imediato as oportunidades que
aparecem, sem, muitas vezes, pensar nas consequências. A
resposta divergente afirma que não aproveita a oportunidade,k
quando é fora da área de atuação.
A questão pontuada por Sheila Passos, secretária da Associação dos Moradores do Lixão de Gramacho, foi a frustração
em, diversas vezes, não poder aproveitar oportunidades por falta
de recursos ou condições de infraestrutura.
Diversos autores pesquisados falam sobre a relação entre
a busca por oportunidades e o perfil do empreendedor. Dolabela
(2008) registra que o local e o meio em que vive o empreendedor,
exercem enorme influência sobre seu comportamento – embora
seja uma realidade que já está mudando-. de um modo geral, em
países mais desenvolvidos, os empreendedores são motivados a
empreender guiados por oportunidades; enquanto que em países
subdesenvolvidos essa motivação se dá pela necessidade de
sobrevivência. Mas o empreendedor social também influencia
esse mesmo meio através da criação de novas oportunidades
para sua sobrevivência.
Portanto, empreendedorismo é quando se consegue
construir algo novo e de valor, criando ou aproveitando uma
oportunidade. Tanto Dolabela quanto Dornelas afirmam que
a busca por oportunidades é uma forte marca que caracteriza
o empreendedor.
entretanto, de acordo com lopes (2010, p.46), “quanto
mais educado for o empreendedor, mais chances ele terá de
criar um negócio baseado numa oportunidade real. e o contrário
acontece com os menos preparados.” Nas entrevistas realizadas
pode-se perceber que, muitas vezes, a boa vontade e a perseverança
na busca por essas oportunidades nem sempre as transformam
em oportunidades reais. A posse de uma formação específica,
principalmente na área de gestão, certamente contribuiria para a
concretização dessas oportunidades, seja em função da busca por
recursos, seja em função da visão gerencial, seja, enfim, em função
da estrutura organizacional que se faz necessária nesses casos.
Com exceção de Sheila Passos, que não tem experiência
no negócio, todos os demais empreendedores conhecem tanto o
produto/serviço quanto o negócio.
Dolabela (2008) afirma que, dentre as características desejáveis ao empreendedor (como a iniciativa pessoal, a busca de
oportunidades, a perseverança, o comprometimento, a qualidade
do trabalho, a eficiência, a coragem de assumir riscos e a fixação
de metas objetivas), estão o conhecimento do ramo de atuação e
a busca por informações sobre o produto ou serviço que o empreendedor se propõe a gerenciar. No quadro 1, encontramos o
mesmo autor sinalizando que na análise setorial – conhecer as
características do setor, os clientes e o concorrente líder é uma
aprendizagem fundamental para que o empreendedor consiga
atingir seus objetivos.
todos os empreendedores sociais entrevistados nunca
realizaram pesquisa em seu ramo de atividade, com exceção de
Shirley vieira, que às vezes a realiza.
Essa afirmativa preocupa – afinal, Dolabela (2008) declara
que além do conhecimento sobre o ramo de atuação e a busca
por informações sobre o produto ou serviço que o empreendedor
se propõe a gerenciar, a capacidade de fazer contatos também
deve ser uma preocupação do empreendedor. Pesquisar sobre o
ramo de atividade é a melhor maneira de conseguir atualização
sobre as questões concernentes ao negócio, produto ou serviço.
Habilidades
A maioria dos empreendedores diz confiar em outras
pessoas para executarem as tarefas, bem como entende a necessidade de treinar pessoas para realizar tais empreitadas (com
exceção de um, que faz questão de fazer ele mesmo). Entretanto,
ao serem questionados com maior ênfase, os agentes asseguram
que confiam, desde que isso não traga grandes riscos ou prejuízos
ao empreendimento.
A capacidade de delegar tarefas é muito importante para
que o empreendedor possa ter seu tempo liberado para atuar estrategicamente, buscar informações sobre o negócio e atuar no sentido
de expandir o empreendimento. Dolabela (2008, p. 75) afirma que
24
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
Dissertar
A maioria absoluta consegue influenciar para que as pessoas façam as coisas e deem prosseguimento às ideias iniciadas
por eles, se forem orientadas e dirigidas. Apenas um afirmou
que as pessoas não dão continuidade às ideias que ele começa.
A capacidade de liderança é muito importante na composição do perfil do empreendedor social. Como foi verificado
na literatura, dolabela (2008); dornellas (2008) e oliveira
(2008), afirmam que o empreendedor precisa ter em seu perfil
as competências de um líder.
Dolabela (2008), afirma também que a capacidade de
persuasão é uma característica importante e normalmente encontrada nos empreendedores.
Afinal, liderar significa ter capacidade para influenciar
pessoas, com o intuito de atingir objetivos. de acordo com os
resultados obtidos, todos os empreendedores entrevistados
desenvolveram essa competência ao longo de sua experiência
como empreendedores sociais.
Apenas um empreendedor não participa. todos os demais
participam de algum grupo com essa finalidade e Sheila Passos,
secretária da Associação de Moradores do Lixão de Gramacho,
afirma que sua igreja promove esse tipo de discussão.
Na bibliografia pesquisada, a capacidade de fazer contatos foi citada como importante na composição do perfil do
empreendedor apenas por um único autor: dolabela, 2008.
entretanto, na prática pode-se perceber que esses contatos e esses
relacionamentos são fundamentais para a troca de experiências
e a aquisição de mais conhecimento e maiores relacionamentos
com outros empreendedores sociais. É estranho o fato de esta
questão ser pouco citada na literatura sobre o tema.
uma das competências que o empreendedor precisa ter para atingir
seus objetivos é a capacidade de incumbir tarefas a outrem. No
quadro 1, encontramos também o conceito de delegação do mesmo
autor: delegar é saber dizer o que deve ser feito e por quem; saber
acompanhar, obter informações. Ou seja, o acompanhamento não
pode deixar de ser feito nunca, pois a responsabilidade pela tarefa
ou atividade continua sendo do empreendedor.
A maioria dos empreendedores age para que alguém
execute o que deve ser feito. Nessas entrevistas, constatou-se que
alguns possuem uma habilidade muito importante para orientar
seus subordinados e orientar a execução correta de cada atividade,
garantindo que a tarefa seja realizada até o fim.
Portanto, uma preocupação voltada para orientar funcionários que erram pode ser considerada uma habilidade importante
para garantir o trabalho em equipe, bem como a continuidade
da participação de todos os envolvidos.
Competências
Apenas dois empreendedores afirmaram ter sido própria
a ideia de partir para essa atividade e um deles admite ter aceito
a sugestão de amigos / familiares. Enquanto isso, todos os demais declararam que o interesse surgiu a partir da observação
dos problemas sociais. Realmente, Oliveira (2008) afirma que
uma das competências que o empreendedor social possui é ser
sensível com os problemas sociais.
como já pesquisado na literatura, tanto dolabela (2008)
quanto Greco (2008) registram o fato de que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, os empreendedores são
bastante influenciados pelo meio em que vivem e também por
questões políticas e econômicas. Portanto, o local e o meio em
que vive o empreendedor exercem enorme influência sobre seu
comportamento.
e realmente, na prática, percebeu-se essa tendência de o
empreendedor social ser influenciado e sentir-se verdadeiramente
responsável por mudar a realidade do ambiente que o cerca.
Melo Neto (2002), afirma ainda que a prioridade do
empreendedor social é o combate à pobreza e à degradação humana e ambiental, buscando promover equidade social, cultural,
econômica e ambiental.
e para Neto e froes (2002, p. 34), o empreendedor social
“é movido a ideias transformadoras e assume uma atitude de
inconformismo e crítica diante das injustiças sociais existentes
em sua região e no mundo”. Ou seja, esse é o principal fator para
o surgimento da ideia, não uma questão pessoal, individual ou
influenciado pela família ou os amigos.
entre os entrevistados, dois empreendedores entenderam
ser a persistência o fator mais importante para o sucesso e um
optou pela solidariedade. todavia, a maioria declarou ser mais
importante a interação com os diversos setores sociais.
tanto para dornelas (2008) quanto para dolabela (2008),
uma das características de um empreendedor é sua capacidade
de saber explorar as oportunidades. Para isso, é fundamental,
que sejam bem relacionados e estejam comprometidos com a
criação de valor para a sociedade.
os empreendedores sociais entrevistados têm clara noção
de que o sucesso e a permanência de seu empreendimento não
dependem apenas de visão, Persistência, Solidariedade e competência; percebem que para ser bem sucedido o empreendedor
precisa interar-se com os diversos setores sociais. muitos dos
empreendedores entrevistados citaram o relacionamento político,
com as esferas governamentais, como um dos fatores fundamentais para conseguir atuar no ramo de atividade a que se propôs.
Posturas
observou-se que para uma grande parte dos entrevistados
é essencial que o empreendedor coloque a “mão na massa”. Não
basta apenas desejar que aconteça, é preciso saber agir. também
foi observado que o empreendedor social tem uma característica de
“paixão pelo que faz”, como diz o autor Dornelas (2008) sobre as
características do empreendedor. Para esse autor, os empreendedores
são visionários, sabem tomar decisões, são indivíduos que fazem
a diferença, sabem explorar as oportunidades, são determinados,
dinâmicos, dedicados, otimistas, independentes, líderes, bem
relacionados, organizados, planejam, possuem conhecimento, assumem riscos calculados e criam valor para a sociedade. Procuram,
com a geração de empregos ou solucionando problemas sociais,
dinamizar a economia e inovar, sempre usando sua criatividade
em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas.
Verificou-se ainda que a grande maioria afirma que as
dificuldades enfrentadas são o maior problema. Mas, também
alegam que o pensamento de como sua iniciativa poderá contribuir para a resolução dos problemas da comunidade é constante
entre os empreendedores sociais do local. característica destacada pelo autor oliveira (2008). diante desse panorama, alguns
atores surgem dispostos a minimizar os impactos causados pela
pobreza. Oliveira (2008, p. 2) destaca, a partir dessa diferença
social, o surgimento do empreendedorismo social e suas vertentes:
Essa constatação faz com que novos sujeitos, forma e ações se
apresentem como alternativas emergentes contra o atual sistema
e gestão da vida em sociedade, inclusive e, em específico, o
empreendedorismo social. Isso porque a injustiça, a exclusão
social e o fracasso do desenvolvimento social estão desafiando
a raça humana a buscar uma nova forma de viver em sociedade,
já não só pensando em si e em seu território, mas também na
totalidade da vida no planeta, e que começa, paradoxalmente,
em nosso quintal, em nossa vida.
25
Dissertar
O empreendedor social no município de Duque de Caxias
Celso Bruno Faria, Fábio de Souza Brandão e Josir Simeone Gomes
Apenas um entrevistado alega que somente se interessa
em resolver problemas se essa solução der retorno financeiro.
Isso vai ao encontro do referencial teórico já pesquisado, quando Dolabela (2008, p. 67), afirma que o “empreendedorismo
raramente é uma proposição de enriquecimento rápido; é, antes
a construção de valor a longo prazo e de uma corrente durável
de fluxo de caixa.” Ou seja, empreendedores buscam construir
valor a longo prazo: seja na prestação de serviço ou na elaboração
de um novo produto, a inovação está atrelada à criação de uma
oportunidade duradoura. ou seja, mesmo no empreendedorismo
sem cunho social, a questão do retorno financeiro não costuma
ser prioridade para o empreendedor.
oportunidades, enquanto que em países subdesenvolvidos essa
motivação se dá pela necessidade de sobrevivência. Não se pode
ignorar também o fato de que enyre empreendedor e o merio
há uma espécie de simbiose um e outro se influenciam, através
da criação de novas oportunidades para sua sobrevivência e
crescimento da localidade em que atua.
É difícil conceber como seria uma determinada região sem
o desenvolvimento de novas empresas e a consequente criação
de empregos nela ou em suas proximidades. Ou determinada
localidade sem a organização de uma associação de moradores, ou até mesmo de organizações não-governamentais que se
disponham a suprir o que o estado não consegue em termos de
saúde, educação ou entretenimento.
Por fim, fica registrada uma sugestão de realização de
pesquisa futura para se detectar os principais desafios enfrentados
por esses empreendedores sociais para a realização do seu trabalho e o atingimento de resultados, bem como suas contribuições
para a economia e a solução de questões sociais na comunidade
e os desafios que encontram para o desenvolvimento do trabalho.
Outra sugestão é analisar o impacto causado pelo fechamento
do lixão de Gramacho sobre a vida econômica dos moradores
da comunidade e dos estabelecimentos comerciais da região.
Considerações finais
o objetivo desse artigo, de estudar as principais características de um empreendedor social no município de duque
de Caxias parece ter sido alcançado, pois proporcionou um
conhecimento bastante rico sobre a atuação dos empreendedores
entrevistados.
É importante entender a atividade empreendedora como
um fenômeno social digno de ser estudado e conhecido, podendo dessa forma contribuir com informações confiáveis para
os formuladores de políticas e programas de desenvolvimento
econômico e social.
Portanto, considerando o perfil do Empreendedor proposto por Oliveira (2008) nas áreas Conhecimentos, Habilidades,
competências e Posturas, observou-se que, diante das questões
levantadas, em termos de conhecimento, falta a essas pessoas, na
maioria das vezes, uma formação adequada, bem como preocupa
o fato de que todos os empreendedores sociais entrevistados
nunca realizaram pesquisa em seu ramo de atividade. o ponto
positivo é que quase todos possuem experiência no ramo de
atividade no qual empreendem.
os empreendedores sociais entrevistados são voltados para
a busca por oportunidades na solução de problemas sociais, embora inquiete o fato de afirmarem aproveitar essas oportunidades
muitas vezes sem pensar muito nas consequências. A literatura
aponta que é importante que o empreendedor saiba calcular os
riscos das oportunidades nas quais resolve apostar, e isso não
parece fazer parte das preocupações desses empreendedores.
em termos de habilidades, a maioria dos empreendedores
confia em outras pessoas para executarem as tarefas, bem como
procura orientar e treinar pessoas para realizarem tarefas. Isso
é muito positivo e deixa o empreendedor liberado para atuar no
crescimento da organização e na busca por contatos e conhecimentos na área de atuação.
Em termos de competências, o fato de os empreendedores
reconhecerem- se como lideres e acreditarem que a interação
com os diversos setores sociais é o principal fator de sucesso para
sua organização é muito positivo. A maioria dos empreendedores
afirma ter surgido a ideia de sê-lo a partir da observação dos
problemas sociais, o que demonstra que possuem sensibilidade
em relação às questões sociais. Outro fator positivo encontrado
na pesquisa é que todos valorizam o fato de manterem-se em
grupos de discussão sobre o seu ramo de atividade.
Sobre a postura dos empreendedores entrevistados, a paixão
pelo que fazem é o que os move, ao lado da necessidade de realização e da percepção da urgência em resolver problemas sociais.
O local e o meio em que vive o empreendedor exerce
enorme influência sobre seu comportamento – embora seja uma
realidade que já está mudando. de modo geral,em países mais
desenvolvidos os empreendedores são motivados, guiados por
Referências
ASHLEY, P.A. (2004) Ética e Responsabilidade Social nos Negócios.
São Paulo: Saraiva.
dolAbelA, f. (2008) O segredo de Luisa. São Paulo: gmt editores.
dorNelAS, j.c.A.(2008) Empreendedorismo: transformando ideias
em negócios. rio de janeiro: campus.
furtAdo, c. (1999)
O Longo Amanhecer. São Paulo: Paz e terra.
greco, S.m.S.S. (2009) Empreendedorismo no Brasil: 2008. curitiba: IbqP .
loPeS, rose. (2012) Educação Empreendedora: conceitos, modelos
e práticas. rio de janeiro: elsevier. SebrAe.
melo Neto, f. P
.; froeS, c. (2002) Empreendedorismo Social: a
transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark.
tAjrA, S. f.; SANtoS, f. t. (2009) Empreendedorismo: questões na
área da saúde, social, empresarial e educacional. 1ª. ed. São Paulo: Érica.
Artigo enviado em 03/12/2014, aceito em 20/12/2014
26
Dissertar
Dissertar
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Uses of virtual tools in pedagogical support
El uso de herramientas virtuales como apoyo pedagógico
Este trabalho tem por finalidade
investigar como as interações entre os
diferentes atores do processo ensino-aprendizagem envolvidos em um ambiente sócio-interacionista (professor,
aluno e objeto de aprendizagem) de
modo a favorecer uma aprendizagem
significativa, reduzindo os níveis de
reprovação de alunos com dificuldade
de aprendizagem utilizando recursos
tecnológicos que geram ambientes
dinâmicos, permitindo assim, que
nossos objetos de estudo tornem-se
manipuláveis ainda que virtualmente.
Essa abordagem agrega significado
aos conteúdos matemáticos, auxiliando na compreensão dos mesmos
pelo aprendizado com a plataforma
Moodle – um espaço virtual de ação
pedagógica que objetiva a aprendizagem e o trabalho colaborativo – em
sua atuação no Ensino Básico e na
Formação de Professores. Diante
das demandas impostas pela prática
letiva e pelo apelo da comunicação
virtual que caracteriza a sociedade
contemporânea, o uso desta plataforma
educacional foi adotado pelo Setor,
sob uma postura investigativa, com
os objetivos de aproximar os novos
recursos computacionais das práticas de
Ensino de Matemática, de experimentar
novas metodologias utilizando esses
recursos e de ampliar as possibilidades
de atuação acadêmica e pedagógica.
Vale destacar, a utilização de cursos
online apoiando a prática pedagógica
do ensino regular no âmbito do Ensino
Básico; armazenando e organizando
os dados acadêmicos; promovendo
a ampliação da comunicação e a relação professor-aluno, aluno-aluno,
professor-professor, assim como o
desenvolvimento da colaboração a
projetos coletivos. Pode-se assim,
provocar uma reflexão sobre a prática
docente diante das mudanças que regem
a sociedade contemporânea.
This study aims to investigate
how the interactions between the
different actors of the learning process involved in a social interaction
environment (teacher, student and
learning object) in order to promote
meaningful learning, reducing the
levels of disapproval of students with
difficulty learning using technology
resources that generate dynamic
environments, thus allowing our
objects of study become manipulable
even virtually. This approach adds
meaning to mathematical content,
assisting in the understanding of them
by learning with Moodle – a virtual
pedagogical action that focuses on
learning and collaborative work – for
her performance in Basic Education
and Teacher Training. Faced with
the demands imposed by teaching
practice and the appeal of virtual
communication that characterizes
contemporary society, the use of this
educational platform has been adopted
by industry under an investigative
attitude, with the goals of bringing
new computing resources practices
Mathematics Teaching, to try new
methods using these resources and
expand the possibilities of academic achievement and educational.
Notably, the use of online courses
supporting the teaching practice of
regular education under the Basic
Education; storing and organizing data
academics, promoting the expansion
of communication and the teacherstudent, student-student, teacheteacher, as well as the development of
collaboration collective projects. One
can thus cause a reflection on teaching
practice in the face of changes that
govern contemporary society.
27
Este estudio tiene como objetivo
investigar cómo las interacciones entre los diferentes actores del proceso
involucrado en un entorno social- interaccional (profesor, alumno y objeto de
aprendizaje) con el fin de fomentar la
enseñanza aprendizaje significativo y
el aprendizaje, lo que reduce los niveles
de desaprobación de los estudiantes
con dificultad de aprender el uso de
los recursos tecnológicos que generan
entornos dinámicos , por lo que permite
a nuestros objetos de estudio se hacen
manipulable aunque sea virtualmente.
Este enfoque añade significado a los
contenidos matemáticos, ayudar en la
comprensión de ellos, aprendiendo de
Moodle – una acción espacio virtual
educativo que tiene como objetivo el
aprendizaje y el trabajo colaborativo –
en su actuación en la Educación Básica
y de Formación de Profesores. Frente a
las exigencias impuestas por la práctica
de la enseñanza y el atractivo de la
comunicación virtual que caracteriza
a la sociedad contemporánea , el uso
de esta plataforma educativa ha sido
adoptado por la industria bajo un
enfoque de investigación, con el objetivo de acercar las nuevas prácticas
de recursos computacionales para
la enseñanza de la matemática, para
probar nuevos métodos de uso de estos
recursos y ampliar las posibilidades de
actividades académicas y pedagógicas
. Cabe destacar el uso de los cursos en
línea que apoyan la práctica pedagógica
de la educación general dentro de la
educación formal; almacenar y organizar los datos académicos; promover
la expansión de la comunicación y el
profesor alumno, alumno-alumno,
maestro – maestro, así como el desarrollo de un grupo de proyectos de
colaboración. Así se puede provocar
una reflexión sobre la práctica docente,
teniendo en cuenta los cambios que
rigen nuestra sociedad contemporánea.
Dissertar
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes
à escola e interfere no comportamento dos estudantes. Em que
medida essa nova ordem intervém na estrutura de comunicação
escolar; na organização lógica do pensamento; na capacidade
de leitura, interpretação e escrita; na relação qualitativa com
a informação são exemplos de questionamentos imperativos.
O desafio que se impõe à comunidade escolar é a adequação a
essa transformação, promovendo a discussão e a pesquisa com
esse foco. A reflexão não deve buscar qualificar o modelo que
se apresenta como positivo ou negativo, mas avaliar como ele
pode e deve ser utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas.
A pesquisa pode ser entendida como um processo de investigação orientada por um método com o objetivo de levantar,
explorar e analisar dados para criação, formalização e/ou renovação
de áreas do conhecimento visando reduzir os níveis de reprovação
na disciplina Matemática para alunos do 1˚ ano do Ensino Médio.
A observação dos ambientes virtuais foi realizada pelos autores
deste projeto de forma direta intensiva - participativa.
quanto à natureza do estudo, a pesquisa se desenvolveu
de forma qualitativa, caracterizada segundo uma abordagem
fenomenológica-hermenêutica. Para fiorentini, garnica e bicudo (2004, p.111), a pesquisa que segue essa abordagem “se
movimenta, colocando suas interrogações, buscando seus dados,
construindo sua rede de significados”. Os autores destacam ainda
que essa rede “se transforma conforme a perspectiva pela qual
é olhada”. fiorentini e lorenzato (2009, p.65) completam esse
pensamento quando afirmam que nessa abordagem a solução
dos problemas educacionais surge através da interpretação e
compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos que
experienciam o fenômeno.
No tocante a fonte de dados foi utilizada a modalidade
de pesquisa de campo. Para Santos (2004, p.27) “pesquisa de
campo é aquela que recolhe os dados in natura, como percebidos pelo pesquisador”. O estudo foi realizado em uma escola
da rede pública (colégio militar do rio de janeiro –cmrj) do
munícipio do rio de janeiro. foi analisado com o uso de um
ambiente multimídia de caráter sócio- interacionista que proporciona uma aprendizagem significativa em turmas do 1º ano
do ensino médio, com um gestor tecnológico do ambiente, um
coordenador de tutoria, um tutor da disciplina de matemática e
alunos com dificuldade de aprendizagem (voluntários) na presente
disciplina, utilizando um Ambiente virtual de Aprendizagem.
A coleta de dados foi efetuada através de quatro etapas
principais. A primeira, referente à análise da importância dos
ambientes multimídias sócio-interacionistas como objeto de
aprendizagem no ensino de Matemática. Esse processo foi executado através de uma pesquisa dos alunos com dificuldade em
pré-requisitos na aprendizagem da disciplina em estudo e índices
de reprovação. Em um segundo momento, foi caracterizado pela
aplicação de um pré-teste na turma com o intuito de se analisar
qualitativamente quais são as dificuldades de aprendizagem que
os alunos possuem acerca dos principais conceitos envolvidos na
disciplina, verificando principalmente se a deficiência seria em
pré-requisitos ou no conteúdo que está sendo aplicado. esse pré-teste foi caracterizado por questões contendo assuntos voltados
em conteúdos de anos anteriores e assuntos interdisciplinares. uma
terceira etapa foi realizada através de uma observação participante
com o intuito de investigar como o uso do objeto de aprendizagem
proposto utilizando em um ambiente virtual auxilia o docente a
proporcionar uma aprendizagem significativa a seus alunos. Segundo
Thiollent (2011) afirma que “essa etapa da pesquisa constitui um
experimento de ensino”. Borba (2004) afirma que nessa modalidade de pesquisa o professor-pesquisador pode analisar detalha-
Palavras-chave: Processo ensino-aprendizagem, Ambiente
colaborativo, Apoio pedagógico.
Autores:
Ana Lúcia de Oliveira Barreto
Mestre em Educação pela UNIGRANRIO; Pós-graduada em
Segurança de Redes de Computadores pela UNESA; Especialista em Computação Gráfica e Multimídia pela UFRJ; Possui
Licenciatura em Matemática pela Universidade Santa Úrsula
(1987) e Bacharel em Matemática pela Universidade Santa
Úrsula (1987); Professora concursada do Colégio Militar do
Rio de Janeiro, desde 1997, exerce a função em regime de Dedicação Exclusiva. Pesquisadora do grupo Jovens em Rede na
PUC-Rio, coordenado pela Profª Drª Maria Apparecida Campos
Mamede-Neves, desde 2010. E-mail: [email protected].
E-mail: [email protected]
Ernani José Antunes
Possui Graduação em Física pela Faculdade tecnico-educacional
Souza Marques ,e em Matemática pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro , Graduação em operações militares pela
Academia militar das Agulhas Negras (1993), Especialista em
Matemática, Engenharia e MBA em Logística pelo Instituto
Militar de Engenharia e Mestrado em Ciências. Atualmente é
tutor a distância em História da Matemática do programa UABUFF,doutorado em educação,foi Professor da Uerj o Colégio
Militar do Rio de Janeiro e UNESA.
E-mail: [email protected]
introdução
A educação a distância (eAd) decorre da necessidade
de novas propostas de estudo, pelas quais o aluno não tem uma
delimitação geográfica e nem uma sala de aula presencial para
buscar sua qualificação. O aluno estuda onde e quando desejar,
num universo escolar disperso, existindo uma separação física
entre professor e aluno. Surge a demanda por novas estratégias
didáticas, que incluam as ferramentas de interação do processo
ensino-aprendizagem. Assim, ocorre grande ênfase no conteúdo das mensagens trocadas entre os alunos e os docentes,
havendo uma interação social ocorrida em ambientes virtuais.
A separação entre professor e aluno com uma intermediação
pedagógica múltipla centrada no processo ensino-aprendizagem
intermediada de forma colaborativa, argumentativa, dialética e
investigativa pode reduzir os níveis de reprovação e diminuir as
deficiências que os alunos carregam no tocante a aprendizagem
no ensino da matemática. Nesta intermediação pedagógica, o
aluno é motivado a tornar-se mediador pedagógico ao lado de
seu professor diante de todos os presentes.
Diante desse panorama, refletimos sobre as possibilidades
de ampliação do contato dos alunos com a matemática, garantindo
qualidade e interesse, sem necessariamente exigir ampliação ou
alteração de grade curricular.
Procedimentos Metodológicos
A Internet, vista como mola propulsora de uma revolução
na comunicação, é responsável por mudanças sociais intensas (na
economia, na política, na cultura, na educação etc.), que geram
profundos impactos na formação do cidadão contemporâneo. O
homem se rende à comunicação virtual. A utilização, cada vez
mais intensa, dos recursos da tecnologia para a produção e a
circulação de informação torna necessária a reflexão sobre esse
tipo de comunicação e, mais especificamente, como ela chega
28
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes
Dissertar
Avaliação por participação: As intervenções dos alunos no ambiente (perguntas e respostas, atividades colaborativas, entradas),
também são separadas sob o perfil do aluno, permitindo uma
rápida avaliação. Existem ferramentas específicas que permitem
ao professor passar ensaios, exercícios e tarefas, com datas e
horários limites para entrega.
damente as atividades pedagógicas apresentadas aos estudantes.
Para fiorentini e lorenzato (2009) a “observação in loco facilita
a compreensão do significado” que os observados dão a realidade.
A observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de
vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida
o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado
fenômeno. (LÜDKE e ANDRÈ, 1986, p.26 apud FIORENTINI
e loreNzAto, 2009, p.108)
Avaliação somativa e formativa: A plataforma permite a criação de
enquetes, questionários, com grande variedade de formatos. Essas
avaliações podem ser submetidas aos alunos em datas específicas,
possuindo tempo máximo para resposta. Os critérios de avaliação
usados na disciplina são definidos pelo professor responsável do
projeto, e podem ser constituídos de uma mescla de todos os tipos
acima relacionados com coleta das notas de exercícios e provas
realizadas, graus e aqueles concedidos pelas contagens de acesso
e de participações, que podem ser coletados em uma única base
de dados e utilizada conjuntamente para avaliar o aluno.
As observações previstas nesta etapa ocorreram em uma aula
que foi realizada com a utilização do objeto de aprendizagem e suas
ferramentas como produto final dessa pesquisa. Essa observação
foi estruturada e obteve como registro de pesquisa o número de
participantes no ambiente virtual, bem como a inserção de dúvidas/
participação utilizando uma plataforma da Web 2.0 que atenderá
o conhecimento. esse mecanismo de registro era apenas para coleta de dados da pesquisa, não sendo divulgadas as respostas dos
participantes. Através da análise dos dados coletados, foi possível
estudar como o ambiente multimídia sócio-interacionista favorece
a aprendizagem significativa no apoio pedagógico.
o Ambiente virtual de Aprendizagem baseado no moodle
possui todas as ferramentas que os professores necessitam para
construir o ambiente online. Inicialmente o tutor foi treinado
extensamente na filosofia pedagógica e no uso eficiente, rápido e
de qualidade dos recursos disponíveis no ambiente. Outras ferramentas, no entanto, permitem interações mútuas, como o caso das
ferramentas fórum, wiki, diário, mensagens (e-mail), que permitem
discussões assíncronas entre os participantes. Nestes casos, os
participantes interferem nas interações uns dos outros, e a interação vai sendo construída, de forma gradativa durante o processo,
sem previsibilidade e as mensagens são criadas e significadas a
partir da interação. As questões iniciais postadas nos fóruns de
discussão, ou os tópicos de discussão abertos nestas ferramentas
de debate virtual desencadeiam a construção compartilhada do
conhecimento, em situações de ensino-aprendizagem que superam
em qualidade, a interação presencial.
O Moodle no estudo de Matemática no CMRJ
O Moodle é uma ferramenta CSCL (Computer Supported
collaborative Learning) escrita em php (http://www.php.net)
habilitada a promover aprendizado colaborativo na Internet.
(mAttoS, 2008, p.2) A utilização do moodle pelo Setor curricular de matemática do cmrj no processo ensino-aprendizagem
converge para o entendimento de que a incorporação de um novo
recurso deve se desenvolver gradativamente e com qualidade.
É certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se
baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno
e, há quatro séculos, em um uso moderado da impressão. uma
verdadeira integração da informática supõe o abandono de um
hábito antropológico mais que milenar, o que não pode ser feito
em alguns anos. (levy, 1997, p.8)
Administração do ambiente, Coordenador de tutoria,
Tutoria e o Aluno
A pesquisa em questão teve a participação dos alunos do
1º Ano de ensino médio do colégio militar do rio de janeiro,
através do Ambiente virtual de Aprendizagem moodle, com
acessos semanais, monitorado e gerenciado pelo professor de
tecnologia educacional, um dos autores deste projeto, assistido
pelo coordenador de tutoria, também autor do projeto. o coor denador de tutoria é profissional da área de Matemática em fase
de doutoramento, assim como o tutor do projeto, responsável
pela motivação dos alunos, com principal finalidade de reduzir
os níveis de reprovação no ensino da disciplina de matemática.
Foi feito um acompanhamento minucioso e contínuo
das atividades realizadas pelos alunos e junto ao tutor, adotar
estratégias para o aumento da participação e envolvimento dos
alunos na disciplina em estudo.
o coordenador de tutoria esteve atento às demandas e
reclamações dos alunos, principalmente relacionadas a problemas técnicos relacionados à utilização da plataforma, bem como
os problemas envolvendo o cotidiano e relacionamento destes
com o tutor. utilizou-se em quase a totalidade do curso a disponibilização de um canal de interação direto entre coordenador
de tutoria e aluno, principalmente para resolução de problemas
entre os alunos e tutor.
Nesse propósito, mantendo uma postura investigativa, os
docentes do Setor curricular de matemática do cmrj e os alunos
do 1º ano do Ensino Médio que frequentam esse colégio têm
utilizado o Moodle, de forma progressiva, como um recurso do
processo de ensino-aprendizagem que visa aumentar a qualidade
da interação com os conteúdos acadêmicos e o contato entre os
professores e estudantes. Não centramos a observação numa
atividade específica, mas como ferramenta da rotina acadêmica,
ou seja, observamos a utilização dessa ferramenta como parte
do nosso cotidiano e do nosso planejamento didático. ressaltamos, ainda, o nosso entendimento de que as atividades que
serão relatadas aqui não podem ser classificadas como ensino a
distância no seu senso mais geral. os envolvidos no curso não
estão geograficamente distantes e mantêm uma rotina acadêmica
tradicional de uma escola de ensino básico.
O Moodle permite criar três formatos de cursos: social,
semanal e modular. o curso social é baseado nos recursos de
interação entre os participantes e não em um conteúdo estruturado.
A plataforma Moodle tem um grande número de recursos que
flexibilizam sobremaneira a implantação de diversas filosofias de
avaliação dos alunos. Podemos realizar as avaliações do projeto
nos seguintes aspectos:
Material Didático
os alunos receberam materiais didáticos especialmente
elaborados para o projeto, como Notas de Aula por conteúdo
na disciplina, que ora estava sendo ministrada no bimestre ou
instrumentos e objetos específicos de uma disciplina.
Avaliação por acessos: O Moodle fornece uma ferramenta denominada log de atividades, que permite colocar em gráfico os
acessos dos participantes ao site, que ferramentas utilizaram, que
módulos ou materiais ou atividades acessou, em que dia, em que
hora, a partir de que computador, e por quanto tempo.
29
Dissertar
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes
Relações de Conflito
Em geral, a relação tutor-aluno foi muito cordial e amistosa,
mas ocorreram casos de alunos que não se adaptaram ao sistema
de ensino, pois havia uma mentalidade onde o tutor deveria ter
uma postura tradicional de professor de ensino presencial. Em
suma, de acordo com esquincalha (2009), o papel do tutor à
distância no projeto, remeteu-se a: conhecer o material didático
da disciplina em que atuar e o sistema de tutoria; prestar serviços
de tutoria aos alunos no Ambiente virtual de Aprendizagem,
sob a responsabilidade do professor-orientador do projeto em
que estiver atuando; propor, em consonância com o professor-orientador, as atividades de avaliação da aprendizagem, bem
como os critérios de correção; acompanhar as avaliações e discutir
os resultados com o professor-orientador do projeto.
o grupo de estudo contou com 20 alunos e acompanhado
por um mediador pedagógico, designado como tutor, que é um
aluno do 3˚período do curso de licenciatura em Matemática da
universidade castelo branco.
A primeira semana de trabalho junto ao tutor foi apresentar
o projeto, a fim de que compreendesse em detalhes a proposta,
e também, para que pudessem tirar suas dúvidas a respeito do
uso da plataforma Moodle.
Na segunda semana, foi proposto um fórum de discussão
sobre a qualidade da comunicação e o exercício da tutoria como
mediadora e incentivadora da aprendizagem individual e coletiva, a partir da disponibilização para leitura, de textos voltados
à educação a distância.
O objetivo da terceira semana foi dar formação ao tutor
para confeccionar um plano de trabalho, com foco nos conteúdos
bimestrais do Currículo Mínimo do 1˚ ano do Ensino Médio
e, Notas de Aulas específicas. Com isso, foi apresentado um
material didático produzido para o curso, além de vivenciar as
eventuais dificuldades pelas quais os cursistas poderiam passar.
Para gervai (2007) a mediação pedagógica, em termos
gerais, é o processo de intervenção pedagógica de um elemento
intermediário (o coordenador de tutoria com os tutores, e os
tutores com os professores cursistas) em uma relação (com
o curso, com a coordenação, com o material didático, com o
ambiente). A relação deixa de ser direta e passa a ser mediada
por esse elemento.
Análise de dados
Na pesquisa em tela, a interpretação e análise de dados
permitem conceitos importantes para serem analisados no projeto.
Percebeu-se que houve uma significativa melhora nos graus dos
alunos na disciplina de Matemática e que a grande dificuldade
dos alunos está nos pré-requisitos que atendam a disciplina. Isto
foi observado ao longo dos fóruns realizados, pois muitos alunos
apresentavam dificuldades em uma simples resolução de equações
do 1º grau. Para isso, houve reforço de alguns assuntos, nos fóruns
temáticos, a fim de resgate de conhecimentos necessários para
conhecer as definições envolvendo função do 1º grau, assunto
este de predomínio no corrente ano de ensino no ensino médio.
Segue abaixo um gráfico da significativa melhora dos
alunos com notas abaixo de 5,0 no corrente ano, nos 1º e 2º
bimestres dos quais 149 alunos, 16 alunos eram do ensino a
distância dos 20 inscritos no presente curso dado, ou seja, houve
uma recuperação de aprendizagem de 80%.
Tabela 02
Comparativo de Alunos com nota Parcial (AP) com média
abaixo de 5
Experiências de Ensino e Aprendizagem como
Apoio do Moodle
No cmrj o uso do moodle para o ensino de matemática
atinge cerca de 300 alunos do ensino básico. Assim, diante da
inquestionável preocupação em relação à ética e ao uso correto
da internet, como política de segurança, exige-se dos estudantes um cadastramento em que sejam identificados pela turma
a que pertencem. essa estratégia se mostra útil no controle e
reconhecimento, por parte dos administradores da plataforma,
das ações e identidades dos participantes cadastrados, sejam
eles atuantes ou não. munidos de cadastramento e inscrição,
os estudantes passam a ter acesso à plataforma educacional de
qualquer computador com acesso à Internet.
Nesta apresentação destacamos os resultados observados no
percurso acadêmico das possibilidades de utilização desse recurso.
Diante de estudantes no meio de sua formação de Ensino
Médio, o objetivo específico da utilização da plataforma Moodle
vai de encontro da demanda pela eficácia na relação tempo de
dedicação/qualidade do estudo. Dentre as diferentes atividades
realizadas pelos alunos do 1º ano do ensino médio em 2011,
destacam-se a resolução de listas de exercícios em páginas de edição
colaborativas (wiki) e testes on–line (tol). A prova do 2º bimestre
2011 foi realizada em sala de aula, mas foi oferecida aos alunos
a oportunidade de conquistar uma pontuação extra para compor
a nota. Para isso seria necessário que os alunos apresentassem no
moodle, via wiki, soluções das sete questões da prova em uma
lista de exercícios disponibilizada a partir da data de aplicação da
prova. O prazo estipulado para conclusão da tarefa foi de dois dias.
Tabela 1
Plano de Estudo
2011
Bimestres
Atividades
1º
2º
3º
2012
4º
1º
2º
3º
4º
Encaminhamento do
projeto de pesquisa
Revisão Bibliográfica
Construção do Ambiente
Aplicação do Pré-teste
Aplicação do
ambiente em aula
Aplicação do Pós-teste
Análise dos dados
Publicação
dos resultados
30
O uso da ferramenta virtual no apoio pedagógico
Ana Lúcia de Oliveira Barreto e Ernani José Antunes
Dissertar
Considerações finais
Como professores, somos responsáveis pela organização de
experiências que possam oferecer melhores condições de aprendizagem para os alunos. Embora não seja fácil traçar a linha que
marca a divisão entre a componente individual e a componente
coletiva do processo de construção do conhecimento, acreditamos
que não é possível ignorar o aspecto decisivo da segunda. Nesse
sentido, acreditamos que experimentar os avanços tecnológicos que
determinam as práticas de comunicação da sociedade contemporânea
é fundamental para garantir o papel da escola de formação básica.
Reafirmando nosso compromisso com a Educação Pública e de
qualidade, esperamos ainda, com este relato, estimular a reflexão
sobre a prática docente e apontar possibilidades de mudanças.
Nesta pesquisa, as práticas de mediação pedagógica em
um ambiente virtual se caracterizam como novidade à medida que
os alunos envolvidos, gestor tecnológico, tutor e coordenador-pesquisador se inserissem nesta modalidade de educação, possuindo ou não algum conhecimento a seu respeito procurando.
Assim, procuramos observar as práticas de mediação
utilizadas por um grupo de 20 alunos voluntários, realizando
intervenções por meio de instruções realizadas nos canais de
comunicação entre coordenação de projeto, tutor e alunos. esta
observação participante visou a redução das dificuldades em
conceitos de pré-requisitos na disciplina, minimizando as falhas
de aprendizagem, com a confecção de notas de aula e discussões
sobre a mesma em forum temático. Neste ínterim, observou-se que
os alunos intergiram na plataforma, com discussões na mesma e
tiragem de dúvidas entre tutor e os próprios alunos, caracterizando
uma mediação colaborativa e participativa. Diante do exposto, houve
uma pequena melhora dos alunos que se habilitaram ao projeto,
podendo se concluir que a modalidade de ensino praticada pode ser
oferecida para regiões de difícil acesso a recuperação, bastando possuir
apenas pessoal qualificado e disponível para o apoio pedagógico.
Após esse prazo a colaboração na wiki não foi mais permitida e o
gabarito oficial foi divulgado. Cada aluno poderia responder a, no
máximo, uma pergunta. Caso alguma solução estivesse errada ou
incompleta, outro aluno poderia apresentar uma complementação
ou solução alternativa, porém não poderia alterar a resposta dada
pelo outro aluno. Os alunos foram instruídos a utilizar cores diferentes para facilitar a identificação de suas soluções. Observou-se
uma participação ativa na resolução da tarefa, principalmente
pelos alunos com bom desempenho. Além de melhorar suas notas,
puderam oferecer um auxílio aos alunos que não sabiam resolver
as questões. O TOL–2011 foi aplicado às três turmas do 1º ano
do ensino médio, totalizando 90 alunos avaliados. consistiu em
uma prova objetiva de cinco questões com cinco opções cada.
foi uma avaliação de caráter obrigatório e equivalente a um teste
tradicional com escala de notas variando de 0,0 a 10,0 pontos e
computada no cálculo da média do 2º bimestre 2011. Para tornar
a avaliação obrigatória, o professor fez um levantamento de
quantos alunos tinham acesso à internet banda larga ou discada.
Aqueles que não tinham acesso poderiam utilizar o laboratório
de informática do colégio para realizar a atividade. Assim todos
tiveram oportunidade de realizar o teste on–line. o desempenho
dos alunos está apresentado em marinho (2008).
Discussão de resultados
Os resultados da pesquisa são apresentados no gráfico a
seguir, e mostram que o aluno tutor se preocupou em gerenciar
os fóruns de discussão, com resolução de tarefas zelando pela
organização das discussões e não permitindo conversas que não
versassem sobre os temas propostos. Percebemos também que,
de maneira geral, o tutor se preocupou em promover a reflexão
dos cursistas, postando mensagens que os fizessem repensar
nas dificuldades na disciplina e identificar as falhas no conceito
cognitivo da disciplina (pré-requisitos). Assim, nessa mesma
perspectiva fizemos vínculos de forma direta ao ambiente computacional propondo ambientes de aprendizagens cooperativos de
forma a reduzir a deficiência de aprendizagem nesta disciplina.
Assim, em nossa prática, temos consciência de que estamos
dando os primeiros passos na direção das possibilidades dessa
ferramenta no processo de ensino-aprendizagem de Matemática
no Ensino Básico. Muito há que se explorar. Em nossos cursos
on-line síncronos ou assíncronos privilegiamos a comunicação
entre alunos e alunos/professores; o desenvolvimento colaborativo de projetos coletivos, armazenamento e a organização de
dados acadêmicos. Há necessidade de estratégias diferenciadas
de ensino-aprendizagem para cada série ou segmento da educação básica. Priorizamos atenção às ações em que podemos
garantir gerência consciente e análise criteriosa em respeito às
especificidades da etapa acadêmica.
Referências
borbA, m. c. A pesquisa qualitativa em educação matemática. Anais
da 27ª reunião anual da Anped. Caxambu: 2004.
ESQUINCALHA, A. C. Guia do Tutor dos Cursos de Pós-Graduação
do LANTE/UFF. Niterói: LANTE/UFF, 2009
fIoreNtINI, d.; gArNIcA, A. v. m.; bIcudo, m. A. v. Pesquisa
Qualitativa em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica,
2004. fiorentini e lorenzato (2009, p.65)
LÜDKE e ANDRÈ, 1986, p.26 apud FIORENTINI e LORENZATO,
2009, p.108
gervAI, S. m. S. A Mediação Pedagógica em contextos de aprendizagem online. São Paulo: Bertalanffy, v.L, 2007.
levy, P. As Tecnologias da Inteligência – o futuro do pensamento na
era da informática. rio de janeiro: editora 34, 1997.
mAttoS, f. r. P
.; guImArÃeS, l. c.; bArbAStefANo, r. g.;
devolder, r.g. & dIAS, u. mathchat: um módulo de chat matemático integrado ao moodle. In: IV Colóquio de História e Tecnologia no
Ensino de Matemática, 2008, Rio de Janeiro. IV Colóquio de História e
Tecnologia no Ensino de Matemática. Rio de Janeiro: LIMC/UFRJ, 2008.
MARINHO, F.C.V.; VIEIRA, E. R.; MEIRELLES, R. M. C. & CUNHA, J.
l. Avaliações on–line: quebrando paradigmas. In: VI Seminário de Pesquisa
em Educação Matemática do Estado do Rio de Janeiro. rio de janeiro, 2008.
REGO, T. C. Vygotsky: Uma perspectiva Histórico-Cultural da Educação. rio de janeiro: vozes, 1999. 138 p.
SANtoS, A. r. d. Metodologia Científica a construção do conhecimento. rio de janeiro: dP&A editora, 2004.
THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: cortez, 2011.
Gráfico 01
Resultado do 2º Bimestre dos alunos do 1º Ano – Ensino Médio
Artigo enviado em 10/11/2014, aceito em 16/11/2014
31
Dissertar
Dissertar
Dimensões da percepção de qualidade em serviços
em uma instituição de ensino superior
Size of perception about quality in services
in high level teaching institutes
Dimensiones de la percepcion de la calidad de servicios
en una institucion de educacion superior
O presente estudo teve como objetivo identificar, a partir de dois modelos
teóricos sobre qualidade em serviço,
aquele que melhor representasse a
realidade dos serviços prestados por
uma Instituição de Ensino Superior.
Para tanto foi realizado uma pesquisa
de campo com uma amostra de 100
estudantes desta instituição, a partir
da identificação das possíveis variáveis
envolvidas no construto da percepção
de qualidade, resultante da análise
de referencial teórico. Foi realizada
Análise Fatorial para se determinar
as dimensões e os possíveis variáveis
presentes na composição deste construto. A partir dos resultados obtidos
pela análise foi possível concluir
que o modelo de Gronroos (1995),
com duas dimensões apresenta uma
condição mais adequada à realidade
desta Instituição de Ensino Superior.
This study aimed to identify,
from two theoretical models on quality service which best represent the
reality of the services provided by
an institution of higher education. A
research was conducted with a sample
of 100 students of this institution, to
identify possible variables involved
in the perception of quality construction, resulting from the analysis of
the theoretical framework.Factor
analysis was performed to determine
the dimensions and possible variables
present in the composition of this
construct. From the results obtained
by the analysis it was concluded that
the model Gronroos (1995), with two
dimensions presents a better condition to the reality of this institution
of higher education.
Palavras-chave: Qualidade em Serviços, Modelos de qualidade,
Dimensões de Qualidade.
Este estudio tuvo como objetivo
identificar, a partir de dos modelos
teóricos sobre calidad en servicio, al
que mejor representa la realidad de los
servicios prestados por una institución
de educación superior. Se realizó un
estudio de campo con una muestra de
100 estudiantes de esta institución, a
partir de la identificación de las posibles
variables involucradas en la percepción
de calidad de construcción, resultantes del análisis del marco teórico. Se
realizó un análisis Factor para determinar las dimensiones y las posibles
variables en la composición de esta
construcción. A partir de los resultados
obtenidos por el análisis se concluyó
que el modelo de Grönroos (1995), con
dos dimensiones tiene una condición
más adecuada para la realidad de
esta institución de educación superior.
estagnação econômica dos países desenvolvidos, tanto na América
do Norte, quanto na europa. este acirramento competitivo tem
promovido o que em economia é denominado “especialização
internacional do trabalho”, ou seja, os países envolvidos são
levados a se dedicarem aquelas atividades econômicas em que
possuem maiores vantagens competitivas. já há algumas décadas
o nível das atividades industriais, nos países desenvolvidos, vem
apresentando taxas de crescimento negativas, substituídas pela
força de trabalho barata dos países asiáticos. Até países como o
Brasil tiveram que abrir mão de parte de sua indústria pela falta
de condição econômica de competir com chineses, coreanos, etc.
Neste contexto, o setor de serviço tem assumido um papel
fundamental na manutenção ou no crescimento da atividade
econômica na maior parte destes países. A expansão do setor de
serviços na composição da atividade econômica tem promovido
um maior interesse por parte dos pesquisadores, nas pesquisas
relacionadas às suas particularidades, destacando neste trabalho,
pesquisas relacionadas com a “qualidade em Serviços”. essa
foi a motivação para a definição de um modelo teórico mais
adequado que permitisse a identificação de dimensões e atributos
de qualidade de serviços aplicados à realidade das Instituições
Particulares de Ensino Superior. Para tanto, foi realizado um
estudo quantitativo, confrontando os modelos de Gronroos (1995)
Autor:
Dimas Ferreira Vidal
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
pela UNESA, Especialista em Administração de Marketing
pela UCAM, Economista pela UFRRJ e Administrador pela
UNESA. Professor e Pesquisador da Universidade Estácio de
Sá – UNESA. Brasil.
E-mail: [email protected].
introdução
A competição econômica mundial tem se acirrado, particularmente na última década, fenômeno este genericamente
denominado “Globalização”. Dentre os diversos fatores que vem
contribuindo para este fenômeno, pode-se destacar a diminuição
das barreiras nacionais ao comércio exterior, graças particularmente ao papel da organização mundial de comércio, organismo
internacional responsável por regulamentar as relações comerciais
entre as nações livres, o fortalecimento, nas últimas décadas,
dos quatro grandes países emergentes no panorama econômico
internacional (Brasil, Rússia, China e Índia), acentuado por uma
32
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
e o modelo de Parasuraman,zeithaml, berry (1991) conhecido
como Servqual, com este propósito.
Dissertar
truídos em um processo cultural. zethaml e bitner (2000) apud
rocha e oliveira (2003) destacam que a qualidade percebida pelo
consumidor é resultante de seu julgamento relacionado ao seu
conceito de excelência. Diferente da qualidade objetiva, fatores
como atitude, bem estar e performance é que determinarão seu
julgamento. Grönroos (1990) e Fornell (1992) defendem que o
importante é como a qualidade é percebida pelo cliente.
Diante disto, há que se fazer uma distinção entre a qualidade dos serviços e a satisfação dos clientes. É o que afirmam
Lovelock e Wirtz(2006) e Bateson (2003). Segundo esses autores
a qualidade do serviço deriva de avaliações cognitivas de longo
prazo por parte dos clientes, acerca da entrega do serviço.o
conceito de satisfação está relacionado com o resultado obtido
naquele serviço específico. A satisfação do consumidor é uma
reação de curta duração ao desempenho específico de um serviço
(LOVELOCK E WRIGHT, 2003).
Referencial teórico
Serviços. Conceitos e definições
Na nova ótica do mercado, na qual a competição deixou
de ser local e passou a ser global, a concorrência intensa levou
as empresas a conquistarem os clientes (grÖNrooS, 1993),
saindo de uma situação de passividade em relação a eles, em
um outrora mercado caracterizado pela grande demanda e pouca
oferta de produtos e serviços.
Para atrair os clientes para si as organizações objetivam
diferenciar-se em relação aos concorrentes. No caso de prestação
de serviços, a qualidade é um aspecto recorrente na literatura
como uma competência essencial no desenvolvimento de vantagem competitiva (grÖNrooS, 1995, forNell, 1992, e
PARASURAMAN; ZEITHMAL; BERRY, 1991,).
zeithaml e bitner (2003) apud rocha e oliveira (2003)
definem serviços como atos e processos destinados à produção
de algo intangível, necessário ao consumidor, ou seja, uma atividade econômica cujo resultado, em sua maioria, não apresenta
um produto físico. Esta mesma definição já havia sido destacada
por Kotler e Armstrong (2000) e por Gronroos (1995).
Para este último, diferente de produtos que possuem características e atributos mais tangíveis, os serviços são mais percebidos pelos processos que os produzem. Gronroos (1995) definiu
ainda, quatro características para o serviço, características estas
que contribuíram para a formulação de seu modelo de qualidade:
• Intangibilidade – O resultado final de um serviço, o qual
poderia ser chamado de produto do serviço, não apresentam, em
sua maioria, características ou atributos muito tangíveis.
quais seriam os atributos de um atendimento médico a
uma consulta, ou de uma sessão de cinema, ou ainda de uma
formação em um curso superior em administração, que pudessem
servir de parâmetros para uma análise de conformidade.
O Modelo de Qualidade de Gronroos
Gronroos (1995) fornece um modelo genérico de qualidade
em serviço a partir de duas dimensões: a qualidade técnica e a
qualidade funcional. A qualidade técnica está ligada ao produto do
serviço e está relacionada á capacidade do consumidor perceber
os atributos a partir da entrega do resultado do serviço. Segundo
este autor, esta dimensão pode ser avaliada de forma mais objetiva
pelo consumidor a partir de uma série de características esperadas
pelo serviço ofertado. Ainda segundo Gronroos (1995), a qualidade funcional está ligada ao processo de produção do serviço,
ao ambiente, ao atendimento e ao conforto ou desconforto que
o consumidor experimenta. Ainda segundo este autor, dado suas
características subjetivas, esta dimensão é geralmente avaliada
a partir de suas sensações e expectativas ao longo do processo.
Nafigura 1 é apresentado o processo da qualidade per cebida definidas por Verruck et al.(2008).
Figura 1
Processo da construção da qualidade percebida
• Inseparabilidade – Na maioria das vezes o produto de
um serviço é consumido durante seu processo de produção, ou
seja, a produção e o consumo não estão separados, e em boa parte
das vezes com a participação ativa do proprio consumidor, assumindo este, as vezes um papel importante no processo, como é o
caso do serviço prestado por uma Instituição de curso Superior.
• Variabilidade – Em função da característica da inseparabilidade, é bem mais difícil padronizar os processos de produção
do serviço, visto que podem, em cada execução do processo,
estarem presentes variáveis exógenas.
• Perecibilidade – o produto de serviço, em sua maioria,
não pode ser estocado ou armazenado, visto que seu consumo é
inseparável de sua produção.
Fonte: Adaptado por Verrucket al. (2008) a partir de Gronross (1995)
As duas dimensões do modelo, qualidade funcional e a
qualidade técnica serão resultantes do processo de comparação
entre a qualidade esperada gerada pelas expectativas construídas
através da propaganda e publicidade, da promoção de vendas, da
propaganda boca a boca, pelos mecanismos de comparação com
as experiências do consumidor do serviço, e o serviço vivenciado,
tanto sob o aspecto do processo quanto do resultado do serviço.
Qualidade em Serviço
gronroos (1995) destaca que a qualidade de serviço é
o resultado da avaliação entre as expectativas do consumidor
frente ao serviço prestado. A mesma visão é compartilhada por
Parasuraman, zeithaml, e berry (2003). estes autores consideram
que a qualidade percebida por um consumidor de um serviço
é definida pela comparação com suas expectativas ao serviço
esperado. Estas expectativas poderiam ser construídas pelas
experiências deste consumidor, em suas relações de consumo,
pelas perspectivas construídas pela propaganda e publicidade
do prestador de serviço, ou ainda por padrões socialmente cons-
Modelo de qualidade SERVCAL
Parasuraman, zeithaml, e berry (1991) desenvolveram um
modelo genérico de qualidade de serviço denominado ServcAl.
Este modelo, constituído de cinco dimensões, buscava de forma
mais clara definir um conjunto de atributos ou características,
33
Dissertar
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
ligadas a estas dimensões, que pudessem servir de parâmetro
na avaliação da qualidade percebida a partir das expectativas do
consumidor de serviço. As cinco dimensões são:
• Confiabilidade – Toda e qualquer relação de consumo
envolve algum nível de risco de se não obter aquilo que se
espera sobre o produto ou serviço. o consumidor, ao optar por
uma marca ou empresa nesta relação de consumo, está em boa
parte das vezes, buscando uma relação de confiabilidade. Esta
dimensão representa a busca da garantia de que se seja entregue
aquilo que efetivamente ele buscava.
• Tangibilidade – Os autores destacam a importância das
questões tangíveis, tais como aspecto físico das instalações, condições climáticas dos ambientes, equipamentos e infra-estrutura
operacional, pessoal qualificados, visto que sobre este aspecto,
fica mais fácil, para o consumidor identificar atributos da qualidade esperada no processo da prestação de serviço.
• Responsabilidade e presteza – Está relacionado à visão que
o consumidor tem do papel dos funcionários da empresa prestadora
de serviço, ou seja, o quanto estes funcionários se mostram responsáveis pela qualidade, presteza e conforto do cliente no processo.
• Segurança – Similar à dimensão de confiabilidade, no
entanto, difere deste por estar relacionado com os riscos envolvidos em sua participação ao longo do processo. Na busca por
segurança, aspectos ligados às questões financeiras, ao ambiente,
às pessoas e as questões legais e morais são considerados importantes, pelo consumidor, em sua relação de consumo de serviço.
• Empatia – Está relacionada ao atendimento dos funcionários da prestadora de serviço ao cliente, à atenção e à boa
vontade destes funcionários no atendimento às necessidades
deste cliente.
Aparentemente, os dois modelos, de gronroos (1995) e
de Parasuraman, zeithaml, e berry (1991), seguem os mesmos
princípios, sendo que o modelo ServcAl busca ser mais específicos na definição das características e atributos que servem
de base para medir a qualidade percebida de serviços.
Nesta pesquisa, estes dois modelos serão testados para
determinar aquele que se mostrar mais adequados, como um
modelo de qualidade percebida dos serviços de uma Instituição
de ensino Superior.
Metodologia
O objetivo principal da presente pesquisa foi encontrar um
modelo teórico que permitisse a identificação das dimensões e
atributos de qualidade de serviços aplicados à realidade da Instituição de Ensino Superior em estudo. Para tanto, foi realizado um
pesquisa confrontando o modelo de Gronroos (1995) composto
por duas dimensões e o modelo ServcAl de Parasuraman,
zeithaml, berry (1991) composto de cinco dimensões.
de caráter descritivo, a presente pesquisa,tem abordagem
quantitativa. teve como meios de investigação uma pesquisa
bibliográfica para a formulação dos fundamentos teóricos que
deram a base para a identificação das variáveis que fizeram parte
de uma pesquisa de campo. Para tanto, foi utilizado um questionário estruturado, fazendo uso de uma escala Likert, composto
por vinte sete questões, cada uma delas relacionada a uma das
variáveis definidas, resultante da combinação dos dois modelos
do estudo (GIL, 1999, COOPER; SCHINDLER, 2001).
Portanto, a estratégia metodológica consistiu em identificar variáveis que pudessem estar relacionadas às dimensões
dos dois modelos e fazer uso de Análise Fatorial para a identificação e possível confirmação, das dimensões de variabilidade
presentes. Ao realizar o agrupamento em fatores ou dimensões,
a Análise Fatorial faz o agrupando de variáveis que possuem
correlação entre si, estabelecendo algum nível de dependência
entre elas, e separando em grupos aquelas que não a possuem.
Neste processo, a Análise fatorial também busca destacar aquelas variáveis que tem um poder muito baixo de explicação pela
dimensão relacionada, através de uma correlação muito baixa.
esta técnica estatística permite, não só determinar as dimensões
envolvidas (variáveis latentes) no estudo, mas também é capaz
de estabelecer o nível de importância que cada variável possui
na composição desta dimensão, bem como afastar aquelas com
baixo poder de influência da mesma (CORRAR et al., 2011).
fitzsimmons e fitzsimmons (2005), a partir do modelo
de Parasuraman, zeithaml, e berry (1991) desenvolveram um
quadro representando o processo da construção da qualidade
percebida (figura 2). A partir das cinco dimensões de qualidade, e em função experiências, necessidades e informação, o
consumidor faz uma comparação entre o serviço esperado e o
serviço percebido.
Figura 2
Processo de construção da qualidade percebida
pleo modelo SERVCAL
Coleta, procedimentos da pesquisa e tratamento dos dados
Os questionários foram entregues diretamente a 100
(cem) alunos dos cursos de Administração, Recursos Humanos
e Sistema da Informação de uma Instituição de Ensino Superior
localizada no estado do rio de janeiro. foi realizada, para o
grupo pesquisado, uma apresentação dos objetivos da pesquisa
e respondidas algumas dúvidas que se apresentaram. do total
de respondentes, foi descartado somente um questionário que
apresentava questões não respondidas.
A partir da revisão da literatura e dos objetivos da presente
pesquisa, foram identificadas 27 (vinte sete) variáveis relacionadas
às dimensões dos dois modelos envolvidos (groNrooS 1995,
PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 1991).
Atr01 – Programa do curso mantido pela universidade;
ATR02 – Domínio do conteúdo pelos professores;
ATR03 – Aulas interessantes ministradas pelos professores;
Atr04 – domínios adquiridos pelo aluno;
ATR05– Formação acadêmica do professor;
Fonte: Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005, p. 147)
Se o cliente tiver suas expectativas excedidas, ou seja, a
qualidade percebida for maior que suas expectativas, ele classificará o serviço com muita qualidade. Se suas expectativas forem
atendidas, ou seja, a qualidade percebida for exatamente igual as
suas expectativas, ele classificará o serviço como de qualidade.
E por último, se suas expectativas não forem atingidas, ou seja,
se a qualidade percebida for inferior à suas expectativas, ele irá
considerar a qualidade inaceitável.
34
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
ATR06 – Recursos pedagógicos disponibilizados pelo professor;
Atr07 – Processo de avaliação;
Atr08 – tecnologia de disciplinas à distância;
ATR09 – Cumprimento de programa pelo professor;
Atr10 – consideração dos interesses do aluno por parte da
instituição;
Atr11 – disponibilidade do coordenador;
Atr1 2– reputação da instituição vista pelo aluno;
Atr1 3– As instalações do campus;
Atr14 – A imagem da universidade;
ATR15 – Compreensão do professor pelas questões do aluno;
Atr1 6– disposição dos gestores em resolver as questões dos
alunos;
ATR17 – Habilidade do coordenador em resolver as questões
dos alunos;
Atr18 – Preocupação da gestão com a qualidade;
Atr1 9– calendário acadêmico;
Atr20 – compreensão do coordenador às questões do aluno;
ATR21 – Atendimento do funcionário;
Atr22 – Atendimento da secretaria;
ATR23 – Horário de aula;
ATR24– Conforto em sala de aula;
ATR25 – Sistema de informação acadêmica;
Atr26 – equipamentos de apoio acadêmico;
Atr27 – critérios adotados para estabelecer preços.
Para a realização da análise
fatorial foram selecionados os testes
e recursos abaixo relacionados,
fazendo uso do software SPSS 17
(corrAr
et al., 2011).
a) Determinante
o determinante necessita
ser superior a 0,00001.
Se o determinante for zero,
não há solução analítica, pois
ele define se determinada matriz
quadrada terá inversa.
b) Testes KMO – Kaiser-Meier-Olkin
O teste KMO mede a adequação da amostra à aplicação
da Análise fatorial. o resultado
obtido deve ser superior a 0,70
(70%), sendo inadequada quando
inferior a 0,50 (50%). O KMO
testa se há variáveis suficientes
em cada fator.
c) Teste de esfericidade
de Bartlett (Bartlett’s test of
sphericity)
o teste de barttlett´s verifica se a matriz de correlação é
uma matriz identidade. o objetivo
deste teste é também verificar a
adequação da amostra à aplicação
da Análise fatorial. Para que
seja possível a aplicação desta
técnica, é recomendável que o
valor de significância obtido não
ultrapasse a 0,05 (0,5%).
d) Comunalidade
Dissertar
A comunalidade é a proporção da variância de uma
variável observada que é explicada pelos fatores extraídos. As
variáveis com comunalidades menores do que 0,50 (50%) não
exibem explicação suficiente.
e) Extração de Fatores com autovalor (Eigen values)
maior que 1 (um)
Como requisito para a extração de fatores, será utilizado
como critério, os fatores que tiverem autovalor maior que 1.
f) Método Principal Axis Factoring
Por se tratar de Análise fatorial, será utilizado o método
de extração denominado Principal Axis Factoring.
g) Método de rotação Varimax
O método de rotação da matriz será o Varimax.
h) Ordenado pelo maior valor e supressão de valores
absolutos menores que 30%.
Apresentação dos resultados da pesquisa
A partir da coleta dos dados, os mesmos foram inseridos
no SPSS e processados com o recurso de “fator Analysis” desta
ferramenta. Os resultados e procedimentos são apresentados abaixo.
Na figura 1 são apresentados os testes KMO - KaiserMeier-Olkin, e de esfericidade de Bartlett´s, cuja finalidade, para
os dois testes, é determinar a adequação da amostra à técnica
de Análise fatorial. São apresentados, também, os valores de
comunalidade, cujo objetivo é apresentar a proporção de cada
variável observada que é explicada pelos fatores extraídos.
Figura 3
Testes de KMO e Bartlett´s
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17.
35
Dissertar
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
Os dados passaram pelo teste de KMO, pois foi obtido um
valor 0,828 de KMO, acima, portanto dos 0,70 necessários para
este teste. Os dados também passaram pelo teste de esfericidade
de Bartlett´s, pois o teste não ultrapassou os 0,05 de significância, mostrando que, em ambos os casos, existe uma condição
adequada para a aplicação da Análise fatorial.
Com relação a Cumunalidade, verificou-se dez variáveis
com valores abaixo de 50% (cinqüenta) de comunalidade. Isto
nos sugere que algumas das variáveis observadas não apresentam uma representatividade adequada (corrAr et al., 2011).
O passo seguinte foi realizar a extração dos fatores através
do método de Análise Fatorial e determinar a matriz de fatores
rotacionada pelo método Varimax. Na figura 4 e 5 são apresentados os dados relacionados a essas suas ações.
O resultado da extração apresenta 7 (sete) fatores com
autovalor maior que 1 (um). É importante verificar que os sete
fatores apresentam aproximadamente 64% (sessenta e quatro por
cento) da variância explicada, um valor consideravelmente alto.
O resultado da matriz de fatores rotacionada pelo método
Varimax apresentou diversas variáveis que possuem autovalores
maiores que 30% (trinta por cento) em mais de um fator. Este fato
demonstra que estas variáveis possuem uma correlação significativa com mais de uma dimensão. Neste caso, o procedimento
metodológico consiste em ir retirando, um a um, os fatores da
nossa análise, até que se obtenha variáveis que efetivamente
tenham correlação alta somente com um fator (CORRAR et al.,
2011). Neste processo chegamos aos resultados apresentados nas
figuras 5 e 6 com somente dois fatores (dimensões).
Figura 5
Dados de extração com dois fatores
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
Figura 6
Matriz rotacionada com autovalores de cada variável
Figura 5
Matriz de Fatores Rotacionada
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
A partir destes resultados, pode-se verificar que ainda
há 10 (dez) variáveis que possuem autovalor maior que 30%
(trinta por cento) nos dois fatores obtidos. Neste caso, o proce-
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
36
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
Dissertar
Figura 8
Total de variância explicada pelos fatores
dimento consiste em retirá-los do estudo e realizar uma nova
análise (corrAr et al., 2011). foram retiradas do estudo as
seguintes variáveis: ATR17 – Habilidade do coordenador em
resolver as questões dos alunos; Art20 – compreensão do
coordenador às questões do aluno; Atr11 – disponibilidade
do coordenador; Atr3 – aulas interessantes ministradas pelo
professor; ATR27 – Critérios adotados para estabelecer preços;
Atr10 – consideração dos interesses do aluno por parte da
instituição; Atr18 – Preocupação da gestão com a qualidade;
Atr4 – domínio adquirido pelo aluno; Atr13 – Instalações
do campus; Atr8 – tecnologia de disciplina a distância.
Ao realizar novamente da análise, a variável Atr14 – A
imagem da universidade perante o aluno, e Atr2 – domínio
do conteúdo pelo professor, também apresentaram autovalor
maior que 30% (trinta por cento) nos dois fatores. Portanto
também foram retirados.
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
Figura 9
Resultados da análise final
Figura 7
Matriz rotacionada com a retirada de variáveis
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
Figura 10
Resultado da matriz rotacionada
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
Resultados finais
Nas figuras 8, 9 e 10 são apresentados os resultados da
análise final pelo SPSS. O total de variância explicada pelos fatores obtidos foi de 33,78%, valor este que pode ser considerado
baixo, levantando a hipótese da existência de outras variáveis
importantes que não fizeram parte do estudo.
Verifica-se, também, que nesta última etapa da análise,
algumas das variáveis observadas possuem comunalidades abaixo
de 0,50 (50%). Neste caso, os dados obtidos sugerem que estas
variáveis não possuem um nível de explicação suficiente, indicando a possível necessidade de trocá-las por outras variáveis
com maior pode de explicação (CORRAR et al., 2011) .
A tabela da matriz rotacionada, apresentada na figura
10, indicam as variáveis que possuem os maiores autovalores
em cada uma das dimensões encontradas.
Fonte: Dados obtidos do SPSS 17
37
Dissertar
Dimensões da percepção de qualidade em serviços em uma instituição de ensino superior
Dimas Ferreira Vidal
As seguintes variáveis estão presente no fator 1 (um):
Atr22 – Atendimento da secretaria – Autovalor: 0,646;
Atr16 – disponibilidade dos gestores em resolver as
questões dos alunos - Autovalor: 0,641 ;
ATR21 – Atendimento do funcionário - Autovalor: 0,625;
ATR23 – Horários das aulas - Autovalor: 0,511;
ATR25 – Sistema de Informação Acadêmica - Autovalor:
0,501;
ATR15 – Compreensão do professor pelas questões do
aluno - Autovalor: 0,499;
Atr1 – Programa do curso mantido pela universidade
- Autovalor: 0,409;
ATR24 – Conforto em sala de aula - Autovalor: 0,321.
Para o fator 2 (dois), foram observadas as seguintes
variáveis:
Atr6 – recursos pedagógicos disponibilizados pelo
professor - Autovalor: 0,838;
ATR7 – Processo de avaliação utilizado pelo professor
- Autovalor: 0,544;
Atr12 – reputação da instituição vista pelo aluno Autovalor: 0,527;
Atr19 – calendário acadêmico - Autovalor: 0,498;
ATR5 – Formação acadêmica do professor - Autovalor:
0,424.
era esperada, visto que, ao contrário da maioria dos serviços,
os clientes de uma Instituição de ensino Superior mantém uma
relação de consumo do mesmo serviço ao longo de vários anos,
evidenciando a importância de atributos de qualidade relacionados
à sua participação no processo.
os resultados obtidos devem ser vistos com alguma
ressalva, visto que várias variáveis obtiveram uma cumunalidade inferior a 50%, a pesar de o teste de KMO indicar um
alto poder de explicação entre os fatores identificados e as
variáveis envolvidas.
Referências Bibliográficas
BATESON, John E. G., HOFFMAN, K. Douglas. Marketing de serviços. Porto Alegre: Bookman, 2003.
COOPER, Donald, SCHINDLER, Pamela. Método de pesquisa em
Administração. 7ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
CORRAR, Luiz J., PAULO, Edilson, DIAS FILHO, José M. Análise
Multivariada para os Cursos de Administração, Ciências Contábeis
e Economia. São Paulo: Atlas, 2011.
fItzSImmoNS, james A., fItzSImmoNS, mona j. Administração
de serviços. 4ª ed. São Paulo: Bookman, 2005.
forNell, claes. A national customer satisfaction barometer: the
Swedish experience. Journal of Marketing, v. 56, n. 1, p. 6-21, 1992.
gIl, Antônio c. Métodos e Técnicas em Pesquisa Social. 5ª ed. São
Paulo: Atlas, 1999.
grÖNrooS, christian. Marketing: gerenciamento e serviços. rio
de janeiro: campus, 1995.
KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Introdução ao marketing.4ª
ed. rio de janeiro: ltc, 2000.
LOVELOCK, Christopher, WIRTZ, Jochen. Marketing de serviços:
pessoas, tecnologia e resultados.5ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006.
LOVELOCK, Christopher, WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e
gestão.São Paulo: Saraiva, 2003.
PARASURAMAN, A..; ZEITHAML, V. A.; BERRY, L. L. Refinement
and reassessment of the SERVQUAL Scale. Journal of Retailing, v.
67, n. 4, winter, 1991.
ROCHA, Vítor Andrade G. A.; OLIVEIRA, Andrea da Silva. Avaliando a Qualidade de Serviço: Aplicação da Escala SERVQUAL numa
Grande Instituição Bancária. enanpad, Anais..., 2003.
VERRUCK, Fábio; LAZZARI, Fernanda; BAMPI, Rodrigo Eduardo,
mueller, Antony
Peter. Atributos e Dimensões da Qualidade em
Serviços: Um Estudo Aplicado em uma Empresa de Transporte Urbano.
rio de janeiro, enanpad, Anais..., 2008.
ZEITHAML , V. & BITNER, M.J.Marketing de Serviços, Porto Alegre:
Bookman, 2003.
Considerações finais
com relação aos resultados obtidos pela Análise fatorial,
pode-se concluir que, pelo menos em parte, o objetivo principal
foi atendido, pois foi possível identificar duas dimensões e treze
variáveis presentes na composição da percepção de qualidade de
serviço de Instituições de ensino Superior em estudo. Pode-se
concluir também que o modelo de gronroos (1995) é, aparentemente, é o modelo mais próximo da realidade da Instituição
de ensino Superior pesquisada. Ao analisar os agrupamentos
formados, o conjunto de variáveis agrupadas no fator 1, estas
representariam a dimensão funcional de seu modelo, e as variáveis agrupadas no fator 2 representariam a Dimensão Técnica.
Ainda segundo os resultados, a Dimensão funcional,
dado o número maior de variáveis presentes, indica um grau
maior de importância desta dimensão na percepção de qualidade
por parte de seu cliente, enquanto a variável que representa o
papel do professor e de seu conjunto de recursos pedagógicos
(dimensão técnica) como a variável isolada mais importante na
sua percepção de qualidade de Instituições de ensino Superior.
Neste contexto, pode-se afirmar que os processos envolvidos na
produção do serviço prestado pela Instituição de ensino Superior, representam, para os alunos desta instituição, os aspectos
mais importantes na definição dos atributos responsáveis pela
construção de sua percepção de qualidade. esta constatação já
Artigo enviado em 27/11/2014, aceito em 12/12/2014
38
Dissertar
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso
comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Analisis de modelos y practicas para el desarrollo regional: el caso de la
comunidad de Palmeiras, Mimoso do Sul, estado de Espiritu Santo, Brasil
Analysis of models and practices for regional development: the example
of Palmeiras community, Mimoso do Sul, state os Espirito Santo, Brazil
Este artigo consiste analisar
os modelos teóricos sobre desenvolvimento local, comparando-os com
as práticas de um caso estudado em
comunidade rural. Objetiva analisar
a eficácia dos resultados obtidos
pelo associativismo como apoio ao
desenvolvimento econômico regional.
A análise associa conceitos de Desenvolvimento Local, Associativismo
e Arranjos Produtivos Locais. É uma
pesquisa exploratória, de natureza
qualitativa, incluindo revisão bibliográfica e pesquisa de campo na
comunidade rural de Palmeiras, em
Mimoso do Sul, município localizado
no sul do Estado do Espírito Santo,
Brasil. Os requisitos e suas principais
condições para o desenvolvimento
regional sustentável são marcadamente
caracterizados: estabelecimento de
governança, aquisição de força social
e plano concreto de ação.
This article consists in analyzing
the theoretical models about local
development, comparing them with
the practices of a case studying a
rural community. It aims to analyze
the effectiveness of the results obtained
by the associations as support for
regional economic development. The
analysis combines concepts of Local
Development, Associations and Local
Productive Arrangements. It is an
exploratory research of qualitative
nature, including bibliographical
review and field researching the rural
community of Palmeiras in Mimoso
do Sul, a municipality located in
the southern state of Espírito Santo,
Brazil. The requirements and its main
conditions for sustainable regional
development are markedly characterized: establishment of governance, acquisition of social power and
concrete plan of action.
Palavras-chave: Desenvolvimento regional, Sustentabilidade,
Arranjos Produtivos Locais.
Este artículo consiste en el análisis de los modelos teóricos sobre el
desarrollo local, comparándolos con
las prácticas de un estudio de caso en
una comunidad rural. Su objetivo es
analizar la eficacia de los resultados
obtenidos por las asociaciones como
apoyo para el desarrollo económico regional. El análisis combina
los conceptos de Desarrollo Local,
Asociaciones y Arreglos Productivos
Locales. Se trata de una investigación
exploratoria de carácter cualitativo,
incluyendo revisión bibliográfica y
tr abajo de campo en la comunidad
rural de Palmeiras en Mimoso do Sul,
un municipio situado en el sur del
estado de Espírito Santo, Brasil. Los
requisitos y sus principales condiciones
para el desarrollo regional sostenible
se caracterizan notablemente: el establecimiento de la gobernabilidad,
la adquisición de poder social y un
plan de acción concreto.
Email: [email protected]
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas
Coordena o Latec-UFF (Laboratório de Tecnologia, Gestão de
Negócios e Meio Ambiente), Vice Coordenador do Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão do Departamento de Engenharia
de Produção, UFF. Coordenador do Doutorado em Sistemas de
Gestão Sustentáveis (2013). Coordenador do Convênio entre UFF
e Universidade Politécnica de Madrid. Professor do Programa de
Pós Graduação em Engenharia de Produção/UFF.
Email: [email protected]
Autores:
Laerte Ferreira Serpa Filho
Professor da faculdade de administração da Universidade
Estácio de Sá. Professor da faculdade de Administração da
Universidade Gama Filho, Professor da Facultec, Campos,
nas áreas de Introdução à Administração, à Economia, Teoria
Geral da Administração. Gestão de Pessoas, e Marketing.
Professor convidado da ESANFF/FGV Campos.
Email: [email protected]
Sergio Luiz Braga França
Doutor em Engenharia Civil (UFF), ênfase em Gestão, Produção, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável. Graduado
em Engenharia Civil (UFF). Especialista em Engenharia de
Segurança do Trabalho (UFF). Auditor Líder em Sistema de
Gestão Ambiental (BVQI). Avaliador líder do Prêmio Qualidade Rio (PQRio). Professor Adjunto II do Departamento de
Engenharia Civil (UFF).
Email: sfranç[email protected]
Marcelo Jasmim Meiriño
Professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal
Fluminense (UFF); Professor credenciado no Programa de Pós
Graduação em Sistemas de Gestão (LATEC/UFF); Doutor em
Engenharia Civil (UFF), ênfase em Gestão, Produção, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável. Arquiteto e Urbanista
(UFRJ); Mestre em Engenharia Civil (UFF); Engenheiro de
Segurança do Trabalho (UFF).
39
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
Delimitação da Pesquisa
A pesquisa de campo foi realizada durante o período os
anos de 2009, 2010, 2011 e 2012. O caso estudado foi a AMOP
– Associação de moradores da comunidade de Palmeiras, na
cidade mimoso do Sul, estado do espírito Santo, brasil.
introdução
A dimensão local tem adquirido uma importância cada vez
maior no processo de desenvolvimento econômico na medida
em que há uma clara percepção de que é nela que está embutida
a capacidade de se mobilizar as vantagens comparativas, cuja
viabilidade depende não só da geração de novos conhecimentos, como também do aprendizado, o qual se constitui num
elemento vital na capacidade local de competição por estar
intrinsecamente relacionado à cooperação entre os diversos
agentes. (mançano, 2008).de acordo com a concepção de desenvolvimento, em que o ambiente local é parte fundamental
do processo de desenvolvimento econômico, e também da falta
de políticas industriais nacionais, os agrupamentos (clusters)
industriais passaram a ganhar um interesse na medida em que
externalidades positivas, tais como geração de emprego, aumento
das exportações, crescimento econômico, novos investimentos,
inovações tecnológicas, aumento de renda, etc.,são geradas
a partir da aglomeração espacial de empresas. A formulação
do conceito dos Arranjos Produtivos locais (APls) se insere
exatamente dentro desse contexto. O conceito de APL é relativamente amplo à medida que abrange variados tipos de agentes
(econômicos, políticos e sociais) cujos vínculos são incipientes;
a participação e a interação de empresas, o que inclui as suas
diversas formas de representação e associação; e muitas outras
instituições (públicas e privadas) direcionadas para a formação
e capacitação de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento
e engenharia; política, promoção e financiamento (Cassiolato e
lastres, 2003). observam-se, entretanto, diversos modelos de
desenvolvimento local. A ampliação do conceito de desenvolvimento local permitiu captar formas de aglomerações territoriais
de diversos agentes que, com políticas públicas, podem gerar
potenciais efeitos multiplicadores na economia.
Revisão da literatura
Desenvolvimento Local
Sabe-se desde há muito que o desenvolvimento local
envolve fatores sociais, culturais e políticos que não se regulam
exclusivamente pelo sistema de mercado, uma vez, que é marcado
pela cultura do contexto em que se situa. Portanto, é considerado
como o conjunto de atividades culturais, econômicas, políticas
e sociais que participam de um projeto de transformação consciente da realidade local.
Para boisier (2000, p.166), o desenvolvimento local é
um processo de crescimento econômico e de câmbio estrutural
que conduz a uma melhoria no nível da qualidade de vida da
população local, no qual se podem identificar três dimensões:
uma econômica, em que os empresários locais competitivos nos
mercados; outra, sociocultural, em que os valores e as usam sua
capacidade para organizar os fatores produtivos suficientes para
ser instituições servem de base ao processo de desenvolvimento;
e, finalmente, uma dimensão político administrativa em que as
políticas territoriais permitem criar um entorno econômico local
favorável, protegendo de interferências externas e impulsionando
o desenvolvimento local.
Segundo buArque (2004), desenvolvimento local é
um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo
econômico e a melhoria da qualidade de vida da população.
Representa uma singular trans-formação nas bases econômicas
e na organização social em nível local, resultante da mobilização
das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e
potencialidades específicas. Para ser um processo consistente
e sustentável, o desenvolvimento deve elevar as oportunidades
sociais e a viabilidade e competitividade da economia local,
aumentando a renda e as formas de riqueza, ao mesmo tempo
em que assegura a conservação dos recursos naturais.
Quando se trata de novas formas de dinamizar o desenvolvimento, é importante se ter claro, que o território, embora deva
desenvolver-se de forma economicamente sustentável, deve ser
compreendido e analisado não somente à partir de suas variáveis
econômicas ou geográficas, segundo FURTADO (2005), “o
verdadeiro desenvolvimento é, principalmente, um processo de
ativação e canalização de forças sociais, de melhoria da capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da criatividade.
desse ponto de vista, trata-se de um processo social e cultural,
e apenas secundariamente econômico”.
o desenvolvimento local está associado, normalmente,
a iniciativas inovadoras e mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condições dadas pelo
contexto. HAVERI apud BUARQUE (2004) argumenta que “as
comunidades procuram utilizar suas características específicas e
suas qualidades superiores e se especializar nos campos em que
têm uma vantagem comparativa com relação às outras regiões”.
Dessa forma, a expressão “desenvolvimento local”, refere-se
não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e humano. Por isso, é
preciso realizar investimentos em capital humano, capital social
e capital natural, além dos correspondentes ao capital econômico
Formulação do problema
Podem ser ressaltados os conceitos relativos a APls.
Um aspecto importante é o fato da participação e da interação
dos diferentes agentes a serem considerados elementos-chave
na promoção do desenvolvimento local. essa preocupação, que
perpassa toda a literatura sobre APls, tem a sua razão de ser na
medida em que a interação entre os diversos agentes é condição
imprescindível para a elevação da competitividade das empresas
e, conseqüentemente, da localidade. A dificuldade de cooperação
entre os agentes é uma realidade exemplificada pela literatura
sobre APLs. É neste contexto que o associativismo se insere e que
pode complementar as experiências com APLs. O associativismo
desempenha papel relevante no processo de desenvolvimento
econômico local, uma vez que a condição essencial para o desenvolvimento das associações é a cooperação dos associados e a sua
plena participação nas decisões e nos negócios (mançano, 2008).
Apresenta-se como questão de pesquisa, para direcionar
os estudos neste artigo: quais são os modelos e as práticas para
o desenvolvimento local, associadas à gestão sustentável?
Quais são os requisitos necessários a eficácia do desenvolvimento local?
Objetivo da Pesquisa
O objetivo principal desta pesquisa foi desenvolver
análise sobre os métodos e as práticas de associativismo visando o desenvolvimento regional. esta análise contribui para
ampliar o conhecimento sobre o tema, auxiliar na compreensão
das características do contexto que aumentam ou diminuem a
eficácia dos resultados.
40
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
e financeiro. O enfoque do desenvolvimento local possui uma
visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível
separar a interdependência existente entre todas essas variáveis.
Segundo zAP AtA (2001), o conceito de desenvolvimento local
se apóia na idéia de que as localidades e territórios dispõem de
recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e
culturais, além de economias de escalas não exploradas, que
podem constituir seu potencial de desenvolvimento.
As estratégias e as iniciativas de desenvolvimento local
propõem-se a estimular a diversificação da base econômica
local, favorecendo o surgimento e a expansão de empresas. As
economias locais e regionais crescem quando se difundem as
inovações e o conhecimento entre as empresas situadas em um
mesmo território geográfico. O desenvolvimento local é um processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas,
liderado pela comunidade local ao utilizar seus ativos e suas
potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da
população (zAP AtA, 2001; cAmPoS, 2003).
A estratégia de apoio ao desenvolvimento local/territorial
tem como eixos a construção de capital social, o fomento adequado aos micros e pequenos empreendimentos e o fortalecimento
da governança local, por meio da cooperação, da construção de
parcerias e da constituição de pactos de atores por um projeto
coletivo de desenvolvimento com mais equidade (zAP AtA,
2001; cAmPoS, 2003).
A visão do desenvolvimento econômico local, segundo
zAP AtA (2001), supõe um planejamento integral e menos
simplificador sobre o funcionamento das economias. Essa visão
conduz a uma estratégia que deve acompanhar os esforços do
ajuste macroeconômico e externo, com atuações orientadas
para obter a introdução de inovações tecnológicas, de gestão e
sócio-institucionais no conjunto dos diferentes sistemas/ arranjos
produtivos locais e do tecido empresarial existente.
Afirma SILVEIRA (2006), que uma nova visão política está
surgindo, no que se refere ao conceito de desenvolvimento local:
Dissertar
não só do conhecimento, condições de suporte e infra-estrutura,
mas principalmente da cooperação, que vem a ser um elemento
crucial no potencial local de competição na medida em que está
assentada na capacidade dos diversos atores em gerar consenso,
segundo SerrA e PAulA(2007).
o reconhecimento da importância da dimensão local no
processo de desenvolvimento econômico acabou por despertar
um novo interesse pela questão das aglomerações industriais,
principalmente pelo fato de que a literatura econômica apontava-as como sendo responsáveis pela geração de externalidades
positivas. Segundo vargas (2002), o ressurgimento do local ou
da região como lócus desvantagens competitivas e inovativas
está diretamente relacionado a algumas experiências bem
sucedidas, como é o caso dos distritos industriais da terceira
Itália, o Vale do Silício na Califórnia, Baden-Wurttemberg na
Alemanha, etc. Marshall (1982), define que as aglomerações
de empresas num mesmo espaço geográfico geravam externalidades positivas, que nada mais eram do que o resultado dos
ganhos advindos da proximidade das empresas e também do
aproveitamento de vantagens externas comuns. Três fatores
passaram a estar relacionado à permanência das empresas num
mesmo espaço territorial: 1) a formação de um mercado local
com constante mão de obra especializada; 2) o fornecimento de
matérias-primas e de produtos intermediários, o que significava a
mitigação de crises momentâneas de abastecimento e, ao mesmo
tempo, a redução do custo de material e de deslocamento; e 3)
a possibilidade da difusão do conhecimento tecnológico entre
as empresas através do contato comercial e social.
o pioneirismo de marshall teve desdobramentos significativos, uma vez que eles não ficaram restritos à dimensão
espacial. De fato, a aglomeração industrial proporcionou um
maior grau de competitividade na medida em que as empresas
passaram a investir no processo de inovação tecnológica. cabe
aqui ressaltar que a literatura econômica teve um ganho considerável com as contribuições de Schumpeter, que destacava o
papel da inovação tecnológica no processo de desenvolvimento
capitalista. Apesar de o foco inicial estar centrado na figura do
empresário, que era concebido como o agente mais importante
no processo de inovação, sua análise foi ampliado de modo a
abranger os laboratórios de P&d e as instâncias coletivas como
elementos importantes para o processo de inovação tecnológica.
Outra contribuição teórica significativa foi dada pela corrente neoschumpeteriana, que centrou sua atenção nas relações
externas das empresas, sendo estas entendidas como o fator
primordial na explicação do processo de inovação tecnológica
e de competitividade das empresas. Neste sentido, o ambiente
cooperativo externo às empresas passou a ser determinante na
compreensão da dinâmica competitiva das empresas, o que significa dizer que o alvo das preocupações passou a ser direcionado
para o processo de aprendizado tecnológico, que demandava
acumulação de conhecimento individual e a interação com outros
agentes para que soluções para os problemas pudessem emergir.
Essa constatação foi determinante para que toda uma
corrente de investigação passasse a dirigir a sua atenção para
as experiências bem sucedidas de aglomeração industrial. É
exatamente dentro deste quadro que ocorreu a formulação do
conceito de Arranjos Produtivos locais (APls), objeto da
próxima seção.
os atores e instituições governamentais são, obvia-mente, relevantes em todo o processo de promoção do desenvolvimento
local [...] na forma de metodologias e programas de apoio – estão
claramente presentes na cena publica, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o fulcro dessas dinâmicas,
e do que hoje emerge como um movimento social associado à
perspectiva do desenvolvimento local, não é o protagonismo do
estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo local, é a percepção dos atores envolvidos em dinâmicas
locais como sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como
sujeitos de seu desenvolvimento, a través da valorização dos
ativos locais, especialmente das potencialidades de cooperação
ocultas em cada território.
ressalta PrÉvoSt (2005) que o desenvolvimento local
somente se torna possível na medida em que os agentes locais
sejam o centro do desenvolvimento, ou seja, todas as forças
indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito
de valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as
iniciativas econômicas já existentes, através da coerência dos
atores envolvidos e da capacidade desses, em associar de modo
harmônico um conjunto variado de processos e elementos, que
seja comum a todos.
entretanto, o desenvolvimento somente será viabilizado
naquelas localidades que forem capazes de mobilizar as suas
vantagens comparativas num intenso processo que requer efetivamente diálogo, sendo que este diálogo tem de ser, por necessidade,
gerador de novos conhecimentos e indutor de aprendizado, que
assume importância capital. De fato, o aprendizado depende
Arranjos Produtivos Locais
SuzIgAN, gArcIA e furtAdo (2005) salientam que a
definição de APLs não é tarefa trivial e nem isenta de controvérsia,
41
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
uma vez que eles podem assumir diversas características, que
dependem de sua história, evolução, organização institucional,
contextos culturais e sociais, localização da sua estrutura produtiva,
organização industrial, formas de governança, associativismo,
cooperação entre os atores, formas de aprendizado e grau de
difusão do conhecimento especializado local.
Apesar das dificuldades, CASSIOLATO e LASTRES
(2003) definiram os APLs como:
lAStreS e cASSIolAto (2005, p. 329) sublinham
que a concentração de empresas de atividades semelhantes, em
um mesmo território, configura um APL,caso elas apresentem,
as seguintes características:
a) dimensão territorial – é um espaço onde ocorrem
processos de produção e de trabalho, definidos a partir e por
relações jurídicas, políticas,econômicas, sociais e institucionais,
caracterizado por algum tipo de governança. Por esta definição,
os APLs compreendem um recorte do espaço geográfico que
tenha algum tipo de identidade coletiva, alguma capacidade
(mesmo potencial) de promover projetos convergentes à região
e capaz de realizar e implementar parcerias entre os atores de
dentro e fora do território;
b) diversidade de atividades, e atores econômicos, sociais
e institucionais –normalmente nos APls mais estruturados pode
ocorrer uma maior participação e interação entre as empresas
e entre estas e as instituições de apoio e suporte. mas não é a
existência de inúmeras atividades e instituições de apoio e suporte
na região é que forma um APL. Podem existir estes atores em um
espaço econômico sem que se caracterizem com um APl. o que
caracteriza o que seja um APL é o grau de interação, eficiência
e aprendizado coletivo.
c) Conhecimento tácito – a difusão do conhecimento
coletivo é importante para a formação e consolidação dos
APls, pois o saber tecnológico,comercial e produtivo, estão
incorporados no saber individual da empresa e do trabalhador. Nem sempre este saber é transferível ou decodificado
para ser transmitido para outras empresas e trabalhadores.
A proximidade espacial aliada a um processo de interação
a partir da identidade cultural, social e empresarial pode
facilitar a circulação de conhecimento e informação intra
e inter empresas, podendo vir a constituir-se em vantagem
competitiva a quem tem este procedimento,alavancagem
comercial, tecnológica e produtiva.
d) Inovação e aprendizado interativo – a capacidade de
inovar é uma das principais formas de modernizar processos,
produtos e gestão empresarial institucional. o aprendizado
interativo (coletivo) constitui-se em um importante mecanismo
de absorção, aplicação, desenvolvimento e aprimoramento de
conhecimentos produtivos e de gestão, capazes dedar um suporte
adequado ao aumento da capacidade competitiva endógena aos
diversos atores locais.
e) Governança – trata-se de um processo formal de coordenação dos diversos atores econômicos, sociais, culturais e
institucionais nas esferas pública e privada, em níveis locais e
regionais. Normalmente, esta função de governança pode ser
desempenhada pelo estado, mas não sozinho ou de maneira a
isolar os demais atores e pode ser partilhada com outras instituições de apoio e suporte.
Embora estes itens sejam característicos dos APLs, existe
uma diversidade de formas e dinâmicas de funcionamento dos
APls, as quais retratam as condições locais de territorialidade,
com variações no tipo e na intensidade de inserção das diversas
inter-relações entre empresas e entre estas e o tecido institucional
público e privado.
CASSIOLATO e SZAPIRO (2003) e HADDAD (2004),
salientam que para o desenvolvimento de um APl, em um
dado território geográfico, é condição necessária já existir um
embrião produtivo, além de algumas condições prévias, tais
como: significativo número de empresas; especialização das
empresas em determinada atividade produtiva; existência de
mão de obra local qualificada e reconhecida por usar esta qua-
[...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos
e sociais –com foco em um conjunto específico de atividades
econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.
geralmente envolvem a participação e a interação de empresas
– que podem ser produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e
serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas
formas de representação e associação. Incluem também diversas
outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação
e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e
universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política,
promoção e financiamento.
O conceito de APLs é amplo o suficiente para abranger
qualquer tipo de indústria ou especialização. ele não aponta
para a intensidade das especializações das empresas, para as
atividades que estão sendo incluídas e nem para a abrangência
geográfica onde as empresas estão operando. CASSIOLATO e
lAStreS (2003) salientam que:
o argumento básico do conceito adotado pela rede é que onde
houver produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um
arranjo em torno da mesma [...]. tais arranjos variarão desde
aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados.
Desta forma consideramos que o número de arranjos produtivos
locais existentes no Brasil seja tão grande quanto à capacidade
produtiva nacional permita.
Um aspecto importante de ser sublinhado é o fato de que
os APls, na visão de lAStreS e cASSIolAto (2003), também contemplam as pequenas e médias empresas, que poderão,
dependendo da sua integração ou organização e da existência de
cooperação relacionada à atividade principal do conjunto dessas
empresas, vir a se constituir num APl.A lógica desse processo
está na obtenção local de economias de escala,fruto do aumento
da capacidade produtiva e competitiva das empresas, e na busca
pela redução de custos dos insumos.
lAStreS e cASSIolAto (2003) salientam que a
capacidade de acumulação e transferência do conhecimento
(tácito ou tecnológico) é outro efeito positivo dos APLs. A
transferência desse conhecimento culmina em uma maior
quantidade de informação disponível aos empresários locais,
o qual terá impacto direto nas decisões dos mesmos, sobre
investimento, tanto em novos mercados quanto ao lançamento de novos produtos, ou até mesmo a mudança do processo
produtivo utilizado. Dessa forma, há uma redução do custo
individual de cada firma.
o conhecimento e a disponibilidade de mão de obra capacitada contribuem para a formação de APLs, nas regiões onde
ocorre concentração de pequenas firmas.É importante salientar que
o termo APLs se refere à concentração de quaisquer atividades
similares ou interdependentes no espaço. Nesse caso, não importa
o tamanho das empresas, nem a natureza da atividade econômica
desenvolvida, podendo esta pertencer ao setor primário, secundário
ou até mesmo, terciário, variando, desde estruturas artesanais com
pequeno dinamismo, até arranjos que comportem grande divisão
do trabalho entre as firmas e produtos com elevado conteúdo
tecnológico (MYTELKA e FARINELLI, 2000).
42
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
lificação; existência de atividades correlacionadas, a montante
e a jusante da cadeia produtiva; articulação do sistema local
com o exterior, tanto para escoar a produção quanto para captar
os novos desenvolvimentos tecnológicos; fortes interdependências entre empresas e demais agentes; existência de uma
comunidade e forte identidade local ou regional que favoreçam
a cooperação, solidariedade e reciprocidade; presença de instituições locais comunitárias e públicas capazes de compreender
e sustentar o sistema, de promover seu desenvolvimento, favorecendo a inovação; massa crítica de fornecedores locais de
componentes e de serviços que contribuem significativamente
para a melhoria da qualidade dos produtos e da eficiência dos
processos de produção; local onde se possam receber fluxos
atualizados de informações especializadas, sobre tecnologia e
características dos clientes, além de se inter-relacionarem com
outros participantes na promoção do desenvolvimento local.
torna-se importante salientar que todas essas características
descritas acima mostram que os APls, dependendo do seu grau
de sofisticação e eficiência,podem proporcionar um patamar mais
elevado de competitividade não só das empresas, como também
do conjunto das atividades em que estão inseridas. Nesse sentido,
as externalidades positivas almejadas são geradas internamente
e também para o conjunto da economia.
Ao fomentar uma cultura assentada na cooperação entre
os diversos agentes, o associativismo, objeto da próxima seção,
pode vir a contribuir para a constituição e o desenvolvimento
das vantagens competitivas de um APL, que neste contexto
poderá gerar as externalidades positivas, frutos da economia de
aglomeração, tão necessárias e desejadas.
Dissertar
Numa definição ampla, o associativismo é qualquer
iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas
ou pessoas, com o objetivo principal de superar dificuldades
e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos.A organização associativa abriga um complexo sistema de relações
sociais que se estruturam a partir das necessidades, e interesses. da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da
economia, constituindo-se em processos de aprendizagem,
interação e compartilhamento dos interesses e problemas
comuns(AvrItzer, 2004).
Para AVRITZER (2004), o fomento ao associativismo
constitui a pedra angular do desenvolvimento no sentido que
a organização associativa fornece os instrumentais aos atores
individuais e passa a ser a força indutora para incorporar novos
conhecimentos, que culmina em uma sinergia nos processos de
inovação e aperfeiçoamento. Além disso, esse autor sublinha que os
atores sociais mais importantes não são os cidadãos individualmente,
mas as corporações em que se envolvem e cuja atuação passa a
depender em grande medida dos interesses pessoais envolvidos.
Dessa forma, a associação expressa uma relação social dinâmica,
e em movimento, como uma força estratégica para a melhoria das
condições locais de uma população, sob todas as suas dimensões,
culminando coma idéia de desenvolvimento.
o associativismo é uma questão primária para o potencial
de emancipação e o desenvolvimento de qualquer comunidade
ao articular o pontual com o abrangente. AleNcAr (1997)
afirma que o associativismo representa uma importante opção
estratégica capaz de transformar ou modificar a realidade, ou
como um instrumento que proporciona aos diferentes atores
sociais meios para se adaptarem a essa realidade. Através dessa
forma de representatividade abre-se a possibilidade de combinar
o desenvolvimento coletivo e individual. Incentivar a formação
de associações tornando-se relevante à medida que a lógica
da ação coletiva acaba prevalecendo sobre a ação individual,
sem, contudo, excluí-la.
No processo do desenvolvimento local é imprescindível
o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da
capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade (frANtz,
2002).Para ArrudA apud frANtz (2002):
Conforme RODRIGUES apud CANTERLE (2004),
as organizações associativas abrigam um complexo sistema de
relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, das
intenções e interesses das pessoas que cooperam no sentido de
fazer frente a naturais debilidades. Da dinâmica dessas relações
nascem ações no espaço da economia, da política, constituindo-se
em processos de aprendizagem e estruturas de poder.
um aspecto importante de ser mencionado é o do associativismo rural. Nesse caso, as associações de produtores
podem surgir de várias maneiras. Algumas podem ser criadas
espontaneamente pelos próprios agricultores, enquanto outras,
de acordo com bASSo (1993) apud lAzzArotto (2007),
surgem pela indução de agentes externos, como o Estado,
agências de desenvolvimento e organizações não governamentais. Por meio dos agentes externos podem ser disponibilizados recursos para o grupo de agricultores, desencadeando
o processo de formação associativista, uma vez que se pode
mobilizar o início da ação coletiva(mIrANdA, 1998 apud
lAzzArotto, 2007).
Para a viabilização do associativismo, SouzA (1996)
apud LAZZAROTTO(2007) afirma que se devem observar três
princípios fundamentais:1) a definição apurada e sistemática de
Associativismo
A vida associativa está presente em muitas áreas das
atividades humanas,mormente traduzidas em condições que
visam contribuir para o equilíbrio e estabilidade social, através
da união. A esse respeito frANtz (2002, p. 1) destaca:
[...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos
mais diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola
etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa,
é entendida com sentido econômico e envolve a produção e a
distribuição dos bens necessários à vida.
Neste sentido, o associativismo pode ser entendido como
estratégia para melhoria das condições de vida da população,
sendo o desenvolvimento um processo também fundado em
relações sociais associativas.
A primeira forma manifesta de associativismo aconteceu
em Rochdale-Manchester na Inglaterra no final do século XVI,
no início da Revolução Industrial, formado por um grupo de 28
trabalhadores que decidiram aplicar os dois pences que recebiam
por semana, na fundação de uma loja (SINGER, 1998). Segundo
a história, a associação de pessoas visando interesses econômicos
não é uma característica contemporânea.
O associativismo pode ser definido como uma forma de
união de interesses comuns, onde a sociedade se organiza através
de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados
ao seu dia-a-dia (cANterle, 2004).
Ao conceito de associativismo está ligada a idéia de
vivência coletiva, de novas experiências e enriquecimento de
conhecimentos. tendo em conta este conceito e atendendo o
que se vive em uma sociedade cada vez mais competitiva e
individualista, as associações apresentam-se como um espaço
de ajuda mútua a seus associados.
43
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
interesses comuns;2) o respeito às limitações e possibilidades
de cada um e3) o aprofunda-mento e avaliação.
Ao referir os fatores fundamentais para viabilidade
das associações rurais,MUENCHEN (1996) ressalta que para
a obtenção de sucesso ao longo do tempo há necessidade
de observar e sanar dois importantes problemas que comumente ocorrem: 1) a passagem do individual para o coletivo,
pois o agricultor,individualmente, apresenta certos hábitos,
determinado nível de cultura e desconhecimento, que na
associação se transforma no coletivo; 2) cuidado especial
com a gestão dos aspectos políticos, sociais, econômicos
e culturais, pois este conjunto determinará o sucesso do
empreendimento associativo.
Assim, percebe-se que são vários os pontos a serem
observados e avaliados para o sucesso de uma associação,
pois a não observação e cuidados com determinados aspectos
pode inviabilizar o associativismo. Além disso, é importante
salientar que é bastante comum os termos associativismo e
cooperativismo serem utilizados como sinônimos. entretanto,
ambos os termos apresentam características jurídicas distintas
e próprias, que são relativas às suas classificações como organizações previstas no direito brasileiro.
De um modo geral, a diferença entre uma organização
associativa e uma cooperada basicamente se situa no amparo legal
que possuem as organizações cooperativas em realizar transações
econômicas (atos de comércio,acesso à credito e financiamentos).
De uma maneira simplista, pode-se afirmar que a principal função de uma associação é a organização e representação coletiva
dos interesses de seus afiliados, ao passo que uma cooperativa
já possui uma concepção diretamente relacionada à defesa dos
interesses econômicos de seus membros.
Síntese dos Métodos de Associativismo e de Desenvolvimento Local.
este tópico apresenta síntese (quadro 1), dos conceitos
abordados na revisão da literatura para proporcionar visão
abrangente do escopo identificado sobre associativismo e desenvolvimento local.
Quadro 1
Síntese da Revisão da Literatura
DESENVOLVIMENTO
LOCAL /
ASSOCIATIVISMO
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Autor (es)
Artigo, Livro, Tese,
Dissertação, Veículo de Publicação
Conceitos
BUARQUE,S.C.
BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local
sustentável: metodologia de planejamento. 2. ed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2004.
Processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e
agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a
melhoria da qualidade de vida da população.
ZAPATA, T.
ZAPATA, T. et al. Desenvolvimento local: estratégias e
fundamentos metodológicos. (Rio de Janeiro: Ritz, 2001).
Processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas,
liderado pela comunidade local ao utilizar seus ativos e suas
potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da população.
BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local
sustentável: metodologia de planejamento. 2. ed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2004.
“Desenvolvimento local” refere-se não só ao desenvolvimento econômico,
mas também ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e
humano. Por isso, é preciso realizar investimentos em capital humano,
capital social e capital natural, além dos correspondentes ao capital
econômico e financeiro. O enfoque do desenvolvimento local possui uma
visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível separar a
interdependência existente entre todas essas variáveis.
BUARQUE, S.C.
SILVEIRA, C.M. Desenvolvimento local: uma hipótese
política.
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
SILVEIRA, C.M.
In: SILVA, G.; COCCO, G. (Orgs.).
Territórios produtivos: Oportunidades e desafios para o
desenvolvimento local. Rio de Janeiro: DP&A; Brasília:
Sebrae, 2006.
PRÉVOST, P.
PRÉVOST, P. As dimensões e processos do desenvolvimento das coletividades locais. Seminário “Cooperativismo
e Desenvolvimento Local”, 9 e 10 de Novembro de 2005.
Curitiba.
44
Os atores e instituições governamentais são, obviamente, relevantes em
todo o processo de promoção do desenvolvimento local [...] na forma de
metodologias e programas de apoio – estão claramente presentes na cena
pública, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o
fulcro dessas dinâmicas, e do que hoje emerge como um movimento social
associado à perspectiva do desenvolvimento local, não é o protagonismo
do Estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo
local, é a percepção dos atores envolvidos em dinâmicas locais como
sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como sujeitos de seu desenvolvimento, através da valorização dos ativos locais, especialmente das
potencialidades de cooperação ocultas em cada território.
O desenvolvimento local somente se torna possível na medida em que
os agentes locais sejam o centro do desenvolvimento, ou seja, todas as
forças indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito de
valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as iniciativas
econômicas já existentes, através da coerência dos atores envolvidos e da
capacidade desses, em associar de modo harmônico um conjunto variado
de processos e elementos, que sejam comuns a todos.
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
BOISIER, S. Desarrollo (local):¿Dé qué estamos
hablando?
In: BECKER, F; BANDEIRA, S.P. (Orgs).
Determinantes e desafios contemporâneos.
Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000.
Processo de crescimento econômico e de mudança estrutural que conduz
a uma melhoria no nível da qualidade de vida da população local, no qual
se podem identificar três dimensões: econômica, sociocultural e políticoadministrativa.
MOURE-ERASO,
Rafael
MOURE-ERASO, Rafael. Development models,
sustainability and occupational and environmental
health in the Americas: neoliberalism versus sustainable
theories of development. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 8, n. 4, Jan. 2003. Disponível em: http://www.
scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413
81232003000400025&lng=en&nrm=iso Acessado
em 03 Out. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S141381232003000400025
Os requisitos de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se
as premissas da sustentabilidade, são três condições: estabelecimento de
governança, aquisição de força social e plano concreto de ação.
CANTERLE,
N.M.G.
CANTERLE, N.M.G. O associativismo e sua relação com
o desenvolvimento. Francisco Beltrão-Pr.: Unioeste, 2004.
Disponível em: www.unioeste.br
Pode ser definido como uma forma de união de interesses comuns, onde
a sociedade se organiza através de ajuda mútua para resolver diversos
problemas relacionados ao seu dia-a-dia.
ASSOCIATIVISMO
AVRITZER, L.
AVRITZER, L. Cultura política, associativismo e democratização: uma análise do associativismo no Brasil.
In: O novo associativismo brasileiro.
Relatório substantivo final: FORD/ANPOCS, 2004.
É qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas
ou pessoas, com o objetivo principal de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos. A organização associativa abriga
um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das
necessidades, e interesses. Da dinâmica dessas relações nascem ações
no espaço da economia, constituindo-se em processos de aprendizagem,
interação e compartilhamento dos interesses e problemas comuns.
ASSOCIATIVISMO
FRANTZ, W.
FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo
e cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche.
br/~dcre/frantz.html
“[...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais diferentes lugares sociais: no trabalho, na família, na escola etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa, é entendida com sentido econômico e
envolve a produção e a distribuição dos bens necessários à vida”.
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
ASSOCIATIVISMO
BOISIER, S.
Dissertar
In: BECKER,
F. BANDEIRA,
S.P. (Orgs)
ASSOCIATIVISMO
ALENCAR, E.
ALENCAR, E. Associativismo rural e participação. Lavras:
UFLA/FAEPE, 1997
Representa uma importante opção estratégica capaz de transformar
ou modificar a realidade, ou como um instrumento que proporciona aos
diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade.
Através dessa forma de representatividade abre-se a possibilidade de
combinar o desenvolvimento coletivo e individual. Incentivar a formação de
associações tornando-se relevante à medida que a lógica da ação coletiva
acaba prevalecendo sobre a ação individual, sem, contudo, excluí-la.
ASSOCIATIVISMO
FRANTZ, W.
FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e
cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche.
br/~dcre/frantz.html
Contém o desenvolvimento local. A associação expressa uma relação
dinâmica, uma relação em movimento, em direção a um lugar melhor.
“O desenvolvimento é um processo também fundado em relações sociais
associativas, das quais podem nascer formas cooperativas”.
ASSOCIATIVISMO
FRANTZ, W.
FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e
cooperação, 2002. Disponível em: http://www.unijui.tche.
br/~dcre/frantz.html.
É imprescindível o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das
potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da
capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade.
CANTERLE,
N.M.G.
CANTERLE, N.M.G. O associativismo e sua relação com o
desenvolvimento.
Francisco Beltrão-Pr.:Unioeste, 2004. Disponível em: www.
unioeste.br
As organizações associativas abrigam um complexo sistema de relações
sociais que se estruturam a partir das necessidades, das intenções e
interesses das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a naturais
debilidades. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da
economia, da política, constituindo-se em processos de aprendizagem e
estruturas de poder.
ASSOCIATIVISMO
Método de pesquisa
A Pesquisa que se desenvolve neste trabalho classifica-se
como descritiva, que tem como objeto de estudo o associativismo
e suas implicações no desenvolvimento regional. Inicia-se com
um levantamento bibliográfico sobre os principais modelos. O
passo seguinte consistiu na coleta de dados, realizada a partir
de entrevistas em campo, com o intuito de apresentar resposta à
questão central da pesquisa. A coleta de dados foi realizada com
a presença do entrevistador no campo, o que propicia melhor
compreensão das questões e respostas.
este artigo compara métodos e práticas de associativismo
e de desenvolvimento local. o caso analisado é o da AmoP –
Associação de moradores da comunidade de Palmeiras, mimoso
do Sul, estado do espírito Santo, brasil.
Estudo de caso: Associação de Produtores Rurais de
Palmeiras, em Mimoso do Sul, sul do Espírito Santo.
A AmoP (Associação dos Produtores rurais de Palmeiras) possui hoje cerca de 40 associados e surgiu da necessidade
dos agricultores da comunidade rural de mimoso do Sul em
45
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
buscar eficiência e competitividade na comercialização do café
“conilon” e outros cultivos.
A questão central deste estudo de caso é registrar as práticas
de associativismo: a experiência da Associação dos Produtores
Rurais de Palmeiras, onde os laços cooperativos se transformaram
no principal fator de desenvolvimento econômico local.
desmatamento, que colocava em risco as nascentes e os rios da
comunidade, gerou uma reação. Foi feito um abaixo-assinado
e se conseguiu envolver órgãos que pudessem ajudar. em uma
semana, conseguimos evitou-se a derrubada.
Além de salvar as nascentes, a reação dos agricultores
marcou uma mudança de atitude. Pela primeira vez, eles agiram
em grupo. No início, a associação, fundada em 1992, enfrentou
dificuldades. Como a experiência era nova, muitas pessoas
desconfiavam desse tipo de trabalho. Aos poucos, com muitas
conversas, acertos e erros, as reuniões foram ficando cheias e o
resultado apareceu.
Na primeira mudança, os agricultores começaram a trabalhar nas lavouras em um esquema de mutirão. trabalhando em
grupo os vizinhos não precisavam mais gastar com mão de obra
na hora da colheita. motivados pelo novo ambiente de trabalho, os
agricultores decidiram resolver a questão da baixa produtividade
das lavouras de café, outro problema sério da comunidade. Para
isso entraram em contato com entidades de pesquisa e assistência
técnica da região. os agricultores passaram a receber visitas regulares de agrônomos e técnicos. Foi uma fase de aprendizado.
Naquele tempo, as lavouras eram antigas e pouco adensadas. As
plantas tinham muita praga e davam pouco café. As melhorias
causaram uma disparada na produtividade das lavouras. Antes,
os agricultores não colhiam mais do que dez sacas por hectare.
Hoje, a colheita, na mesma área, passa facilmente de 70 sacas.
As primeiras conquistas ligadas à associação foram tão positivas
que acabaram mudando o ânimo de toda a comunidade. muitos
jovens agricultores, que já tinham largado o estudo, resolveram
voltar para a escola e se formar no ensino médio.
Descrição do Caso Estudado
O sul do estado do Espírito Santo é rico em experiências
no ambiente produtivo agrícola. uma delas é a da Associação de
Produtores rurais de Palmeiras (AmoP), em mimoso do Sul.
Uma experiência associativista executada com responsabilidade
e eficiência.Cerca de quarenta famílias (mais de 200 pessoas)
formam a Associação que, por sua gestão e organização, conseguiu
resultados em produtividade e em qualidade de vida.
de acordo com uma das lideranças da comunidade rural,
“tudo em Palmeiras tem a ver com suas raízes, histórias e tradições”. As propriedades começaram a se formar pelos idos de
1910, mas os cultivos se desenvolveram a partir da década de 50.
os produtores têm, basicamente, a mesma estrutura e condição
financeira. Os principais cultivos são banana e, principalmente,
café “conilon”, produto mais importante da região. As propriedades são pequenas e variam em torno de três a cinco hectares.
Iniciou-se recentemente um trabalho no grupo de estímulo à
fruticultura principalmente de manga, goiaba e acerola visando
à produção e a comercialização de polpa de fruta concentrada.
O propósito foi trabalhar com no plantio do café, no qual a plantação é individualizada, por propriedade, e a comercialização
realizada pela associação.
As propriedades têm administração independente e cultivos
distintos e quando há interesse comum de toda a comunidade,
algumas tarefas são desempenhadas em cooperação. A colheita
de café é um momento em que a ajuda se fortalece ainda mais,
em esquema de mutirão. A ordem da colheita ou da secagem
do café, por exemplo, sempre se decide por sorteio, para não
haver privilégio para ninguém. o atual presidente da AmoP é
um jovem com pouco mais de 30 anos de idade, que faz parte
da segunda geração de associados. esse associado, assim como
outros associados, é filho de fundadores da Associação. A forte
religiosidade da comunidade sempre uniu o grupo. Acostumados
às reuniões da comunidade católica, os produtores já tinham por
hábito participar das celebrações e estudos bíblicos em grupos.
Desenvolvimento Local: Práticas de Associativismo
Outra grande dificuldade dos agricultores de Palmeiras
era a comercialização eficaz da produção de café. Cada família
comercializava as suas sacas por conta própria. como o volume era pequeno, os atravessadores desvalorizavam o grão. A
virada começou quando a associação entrou em contato com
o Cetcaf, Centro Tecnológico do Café, uma organização não
governamental que faz pesquisa e transferência de tecnologia.
O objetivo foi montar uma unidade moderna de beneficiamento
que permitisse tanto o trabalho em grupo quanto a melhoria da
qualidade do café. A comercialização do café também passou
a ser feita de maneira coletiva, o que garante preços melhores.
Além do ganho extra pela qualidade, o agricultor diz que, de
uns anos pra cá, o café da comunidade passou a ser exportado
para a europa com um selo social, o que aumenta ainda mais
o preço do produto. O chamado fair trade (comércio justo ou
comércio solidário), foi apreendido em um projeto da Cafesul,
a principal cooperativa de café da região. Para garantir o selo
“fair trade”, os agricultores têm que manter crianças na escola,
cumprir as leis trabalhistas e adotar práticas responsáveis quanto
ao meio ambiente.A associação decidiu diversificar e desenvolver novas fontes de renda para a comunidade. As agricultoras
da comunidade começaram a fazer cursos de industrialização,
com produção caseira. A idéia foi produzir pães, bolos, geléias
e doces de maneira profissional.
Os agricultores de Palmeiras também fabricam biscoitos
e bolos, polpa de fruta e doces variados. Além de vender a produção em feiras e mercados locais, a comunidade também conta
o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura
Familiar. O projeto, mantido pelo governo federal, garante a
compra de produtos de pequenos sitiantes em todo o brasil. Ao
longo dos anos, os agricultores da associação não investiram
Governança e Avaliação dos Resultados
todas as decisões do grupo são resolvidas em reuniões, sem
exceção, sejam sobre captação de recursos, projetos, aquisição
de equipamento e até contratação de serviços. Há a consciência
de quem nem tudo é importante para a comunidade. Por exemplo, há pouco tempo foi oferecido um trator muito potente, mas
com o relevo acidentado, não serviria para todos. com certeza
atenderia muito mais a outra comunidade. querem aproveitar
ao máximo o que se precisa e o que será útil para todos. Existem
prioridades já eleitas por todo o grupo.
O início da Associação
quem vive em Palmeiras sabe como a história da comunidade foi importante para promover tamanha transformação.
No passado tudo era muito difícil. Muito trabalho, mas pouco
dinheiro. Trabalhava-se de forma desorganizada e sem produtividade. As transformações em Palmeiras começaram em
1991, ano em que um madeireiro de fora da cidade comprou
um lote de terra e começou a cortar árvores no alto do morro. o
46
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
Dissertar
A sala de informática, desenvolvida em 2009, é o resultado
da capacidade dos agricultores de aproveitar oportunidades e
projetos. As melhorias na educação, no meio ambiente e nas
atividades produtivas proporcionaram aos agricultores qualidade de vida. Nos últimos quatro ou cinco anos, todas as casas
foram reformadas ou ampliadas. As famílias adquiriram móveis,
eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos. considerando-se a produção de café, banana, agroindústria e outras fontes
de renda, cada família da comunidade obtém renda mensal de
aproximadamente R$ 2,5 mil por mês (2013), deduzidos os
custos de produção.
apenas em atividades produtivas, como agricultura e agroindústria. A comunidade também se envolveu com outras mudanças
de comportamento ligadas ao meio ambiente e à qualidade de
vida. O trabalho regular de coleta do lixo propiciou que as propriedades da comunidade se apresentassem mais limpas. todo
material recolhido e vendido para um centro de reciclagem
transformou-se em fonte de renda. O dinheiro é aproveitado
em projetos da associação ou em melhorias para a comunidade.
Outra mudança fundamental foi resolver o problema do
esgoto doméstico. Até alguns anos, todo material que saía das
casas dos agricultores era despejado no rio da comunidade. A
solução veio com a construção de fossas sépticas nos 40 sítios
de Palmeiras. O projeto foi pago pela Fundação Banco do Brasil,
outra entidade pública atraída pela associação. circulando por
caixas enterradas, o esgoto é filtrado e passa por um tratamento.
O líquido que sai no final é uma água meio amarelada que tem
95% de pureza. vale lembrar que com essa implantação, 220
famílias deixaram de poluir os córregos do lençol freático, os
seus próprios quintais e, além disso, ainda usam o efluente, ou
seja, a água que é liberada no processo, como adubo orgânico.
Comparação entre os modelos e práticas identificadas
na pesquisa de campo.
o quadro 2 apresenta a síntese das práticas de desenvolvimento regional na Associação dos Produtores rurais de
Palmeiras, identificadas na etapa de análise documental e de
observação em campo, comparados com os modelos teóricos.
No quadro 2 podem ser identificadas diferenças entre
os modelos teóricos e as práticas de desenvolvimento regional
Quadro 1
Síntese da Revisão da Literatura
DESENVOLVIMENTO
LOCAL /
ASSOCIATIVISMO
Fontes de Evidências das Práticas
de Gestão na Associação dos
Produtores Rurais de Palmeiras
MODELOS (Revisão de Literatura)
Entrevistas
Observação Documentos
1 – Processo de crescimento econômico e de câmbio estrutural que conduz a uma melhoria no nível da
qualidade de vida da população local, no qual se podem identificar três dimensões: econômica, sociocultural
e político administrativa.
SIM
SIM
SIM
DESENVOLVIMENTO
2 – Processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de
promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população.
SIM
SIM
NÃO
DESENVOLVIMENTO
3 – Processo de crescimento econômico e de mudanças de paradigmas, liderado pela comunidade local ao
utilizar seus ativos e suas potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da população.
SIM
SIM
SIM
4 – “Desenvolvimento local”, refere-se não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento
social, ambiental, cultural, político e humano. Por isso, é preciso realizar investimentos em capital humano,
capital social e capital natural, além dos correspondentes ao capital econômico e financeiro. O enfoque do
desenvolvimento local possui uma visão integrada de todas essas dimensões, não sendo possível separar a
interdependência existente entre todas essas variáveis.
NÃO
NÃO
NÃO
5 – Os atores e instituições governamentais são, obviamente, relevantes em todo o processo de promoção
do desenvolvimento local [...] na forma de metodologias e programas de apoio – estão claramente presentes
na cena pública, com o papel ativo de diversos núcleos irradiadores [...]. Mas, o fulcro dessas dinâmicas, e
do que hoje emerge como um movimento social associado à perspectiva do desenvolvimento local, não é o
protagonismo do Estado ou das grandes instituições: é, seguramente, o protagonismo local, é a percepção dos
atores envolvidos em dinâmicas locais como sujeitos de seu próprio projeto de mudança, como sujeitos de seu
desenvolvimento, através da valorização dos ativos locais, especialmente das potencialidades de cooperação
ocultas em cada território.
SIM
SIM
NÃO
6 – O desenvolvimento local somente se torna possível na medida em que os agentes locais sejam o centro
do desenvolvimento, ou seja, todas as forças indutoras do desenvolvimento deverão ser focadas no intuito de
valorizar os potenciais locais dinamizando e estimulando as iniciativas econômicas já existentes, através da
coerência dos atores envolvidos e da capacidade desses, em associar de modo harmônico um conjunto variado
de processos e elementos, que sejam comuns a todos.
NÃO
NÃO
NÃO
7 – “[...] associativismo, é um fenômeno que pode ser detectado nos mais diferentes lugares sociais: no trabalho,
na família, na escola etc. No entanto, predominantemente, a organização associativa, é entendida com sentido
econômico e envolve a produção e a distribuição dos bens necessários à vida”.
NÃO
SIM
NÃO
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
LOCAL
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
ASSOCIATIVISMO
47
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
ASSOCIATIVISMO
8 – Pode ser definido como uma forma de união de interesses comuns, onde a sociedade se organiza através
de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados ao seu dia-a-dia.
SIM
SIM
NÃO
ASSOCIATIVISMO
9 – É qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas ou pessoas, com o objetivo
principal de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos, sociais ou políticos. A organização associativa
abriga um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir das necessidades, e interesses. Da
dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, constituindo-se em processos de aprendizagem, interação e compartilhamento dos interesses e problemas comuns.
SIM
SIM
NÃO
ASSOCIATIVISMO
10 – Representa uma importante opção estratégica capaz de transformar ou modificar a realidade, ou como um
instrumento que proporciona aos diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade.
Através dessa forma de representatividade abre-se a possibilidade de combinar o desenvolvimento coletivo e
individual. Incentivar a formação de associações tornando-se relevante à medida que a lógica da ação coletiva
acaba prevalecendo sobre a ação individual, sem, contudo, excluí-la.
NÃO
NÃO
NÃO
ASSOCIATIVISMO
11 – Contém o desenvolvimento local. A associação expressa uma relação dinâmica, uma relação em movimento, em direção a um lugar melhor. “O desenvolvimento é um processo também fundado em relações sociais
associativas, das quais podem nascer formas cooperativas”.
NÃO
SIM
NÃO
ASSOCIATIVISMO
12 – É imprescindível o reconhecimento da multiplicidade e diversidade das potencialidades humanas, traduzidas em conhecimento da realidade, e da capacidade de atuação coletiva, sobre essa realidade.
NÃO
SIM
NÃO
ASSOCIATIVISMO
13 – As organizações associativas abrigam um complexo sistema de relações sociais que se estruturam a partir
das necessidades, das intenções e interesses das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a naturais
debilidades. Da dinâmica dessas relações nascem ações no espaço da economia, da política, constituindo-se em
processos de aprendizagem e estruturas de poder.
NÃO
NÃO
NÃO
utilizadas pela Associação dos Produtores Rurais de Palmeiras.
A integração é prejudicada pela fragmentação dos agentes
intervenientes no desenvolvimento local. Propõe-se a adoção,
para categorização dos conceitos e práticas de desenvolvimento
local e associativismo, o modelo de MOURE-ERASO (2003):os
requisitos de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se as premissas da sustentabilidade, são três condições.
a) Estabelecimento de mecanismos de governança
– Constata-se no conceito de governança organizacional a
importância dos relacionamentos entre organizações e seus
stakeholders baseados em aspectos de cooperação, confiança
e reciprocidade e, principalmente na ação de inclusão de novos
atores e suas expectativas. Governança, segundo Born (2012),
refere-se ao conjunto de iniciativas, regras, instâncias e processos
que permitem às pessoas, por meio de suas comunidades e organizações civis, exercer o controle social, público e transparente,
das estruturas estatais e das políticas públicas, por um lado, e da
dinâmica e das instituições do mercado, por outro, visando atingir
objetivos comuns. A governança, neste conceito, abrange tanto
mecanismos governamentais como informais e/ou não estatais.
Significa a capacidade social (os sistemas, seus instrumentos e
instituições) de dar rumo, ou seja, orientar condutas dos estados,
das empresas, das pessoas em torno de certos valores e objetivos
de longo prazo para a sociedade. Born (2012) apresenta definição
de governança mais abrangente, que engloba a capacidade dos
estados, empresas e das pessoas de atingir determinados objetivos
de longo prazo para a sociedade. A proposta de Braganza e Lambert (2000) inclui um framework que busca alinhar governança
com processos de negócio, com uma base prática para discussão
das responsabilidades e decisões nos níveis estratégicos e operacionais. A governança será efetiva onde as necessidades dos
stakeholders internos e externos são reconhecidas explicitamente,
onde é relevante para as atividades que as pessoas desempenham,
e onde é considerada de forma transversal.
b)Aquisição de poder social – Para promover um modelo de desenvolvimento centrado nos direitos humanos onde
a comunidade social e os fatores ambientais são considerados
simultaneamente e com a mesma prioridade de fatores econômicos, transformação cultural e redefinição de valores são
necessárias. O processo de construção de uma teoria alternativa
social e política e sua aplicação a uma nova ordem é o que é
definido como a aquisição do “poder social”.
c) Roteiro para a ação – Todas as sociedades priorizam
viver em um ambiente limpo. Países pobres e ricos consideram
isto um imperativo. A ONU tem compreendido este desejo humano
e articulou por meio de documentos e declarações este desejo
universal (Brundtland, 1987, UNEP, 1992). Essa é a base da
teoria do desenvolvimento sustentável e pode ser a chave para
os movimentos de mudança da sociedade. É necessária definição
de políticas e tecnologias que viabilizem a implementação de tal
modelo. As políticas e tecnologias são: prevenção da poluição,
redução do uso de tóxicos, a produção sustentável, química verde, engenharia ambiental, planejamento para sustentabilidade,
análise de ciclo de vida, projeto para o meio ambiente, entre
outros. Estas são conhecidas como as Tecnologias Ambientais
da Próxima Geração (NGETs) (Rand, 2003): todas têm como
objetivo final a Produção Mais Limpa.
Considerações finais e recomendações para futuras pesquisas
Apresentaram-se como questões de pesquisa, para
direcionar os estudos neste artigo:
a) quais são os modelos e as práticas para o desenvolvimento local, associadas à gestão sustentável?
b) Quais são os requisitos necessários à eficácia do desenvolvimento local?
O objetivo desta pesquisa foi desenvolver comparação
entre os métodos e as práticas de associativismo visando o
desenvolvimento local, incluindo as premissas da sustentabilidade. esta comparação contribui para ampliar o conhecimento
sobre o tema, auxiliar na compreensão das características do
contexto que aumentam ou diminuem a eficácia dos resultados.
O caso analisado foi o de uma comunidade rural. Constata-se
48
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
que a viabilização do desenvolvimento se dará naquelas localidades nas quais houver capacidade de mobilização de suas
vantagens comparativas num processo que demanda não só
geração de novos conhecimentos, como também aprendizado,
sendo que este depende, além do conhecimento, das condições de suporte e da infra-estrutura, fundamentalmente da
cooperação. De fato, a cooperação vem a ser um fator-chave
para o potencial competitivo de uma localidade, uma vez que
ela está baseada na capacidade dos diversos atores em gerar
consenso. Outro aspecto ressaltado neste trabalho foi o de
que o associativismo, principalmente em função dos seus
fortes laços cooperativos, pode exercer um papel relevante
no processo de desenvolvimento social. constatou-se através de evidências teóricas e de práticas de desenvolvimento
regional que o associativismo é um importante fator para o
desenvolvimento econômico local. Pôde-se concluir que o
associativismo, apresenta evidências de contribuir conceitualmente para o desenvolvimento econômico local em função
de suas próprias características, principalmente os fortes
laços cooperativos desenvolvidos entre os associados, que
preenchem lacunas no conceito de Arranjo Produtivo local
(APl). ressalta-se que na comparação entre os conceitos
teóricos e as práticas identificadas na pesquisa de campo,
algumas diferenças foram percebidas. Admite-se, assim que
a promoção do desenvolvimento de um determinado local
seja feita de forma que beneficie a sociedade sem, entretanto,
comprometer as condições das gerações futuras e, ainda, que
este desenvolvimento possibilite que esta mesma sociedade
recolha seus dividendos econômicos, sociais e ambientais.
Este artigo pretende contribuir para o aperfeiçoamento das
premissas dos arranjos produtivos locais para que se tornem
consistentes e compatíveis com a realidade sócio econômica.
entende-se que a aplicação dos métodos de associativismo
e desenvolvimento local analisados possibilite a formulação
de informações para estratégias competitivas e de orientação
para políticas públicas, visando o desenvolvimento local,
através da valorização do potencial econômico e utilização
adequada dos recursos naturais. conclui-se que os requisitos
de desenvolvimento local imprescindíveis, considerando-se
as premissas da sustentabilidade, são três condições: estabelecimento de governança, aquisição de força social e plano
concreto de ação. Novas pesquisas podem ser realizadas
em outros casos e estabelecer comparações em relação aos
desempenhos econômicos, sociais, culturais e ambientais de
modelos de desenvolvimento local aplicados.
Dissertar
sustentável: desafios associados às políticas públicas e construção de
um mundo justo e saudável. 2011. Disponível em www.vitaecivilis.
org.brAcesso em: 05/11/2012.
BORN, R. H., Governança e sustentabilidade: desafios planetários
para organizações não governamentais. A participação de organizações
da sociedade civil em processos, conferências e instâncias globais a
locais para o desenvolvimento sustentável. São Paulo, vitae civilis,
no prelo. Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/index.php/br/
temas/governancaAcesso em 15/10/2012.
brAgANzA, A., lAmbert, r., “Strategic Integration: Developing
Process Governance Framework”. Knowledge and Process Management. v. 7, n. 3, pp. 177-186, 2000.
bruNdtlANd report.
Our common future. Oxford University
Press, Oxford, UK. 1987.
buArque, S.c. Construindo o desenvolvimento local sustentável:
metodologia de planejamento. 2. ed. rio de janeiro: garamond, 2004.
cAmPoS, márcia maria da cruz de. Processo de desenvolvimento
local: uma análise da implementação do projeto aliança com o adolescente. 173 p. (dissertação de mestrado em Administração). escola
de Administração da universidade federal da bahia. Salvador, 2003.
cANterle, N.m.g. O associativismo e sua relação com o desenvolvimento. francisco beltrão-Pr.: unioeste, 2004. disponível em:
www.unioeste.br. Acesso em: 05/03/2012.
CASSIOLATO, J. E.;LASTRES, H. M. M. O foco em arranjos produtivos e inovativoslocais de micro e pequenas empresas. In: lAStreS,
H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.;Maciel, M. L. (org.), Pequenas empresas: cooperação e desenvolvimento local. relumedumará editora,
capítulo 1, julho 2003.
cASSIolAto, j.e.; SzAPIro, m. Uma caracterização de arranjos
produtivos locaisde micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H.
m.m.; cASSIolAto, j. e.;mAcIel, m. l. (org.), Pequena empresa:
cooperação e desenvolvimento local. relumedumará editora. rio de
janeiro: ufrj; Instituto de economia, 2003. p. 35-50.
FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação, 2002. Disponívelem: http://www.unijui.tche.br/~dcre/frantz.html.
furtAdo, c. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo:
companhiaeditora Nacional, 2005.
HADDAD, P.R. Texto de Referência da Palestra sobre Cultura Local
e Associativismo. In texto apresentado no Seminário do BNDS sobre
Arranjos Produtivos locais. bNdeS, Setembro de 2004.
LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. E, Desafios e oportunidades
para oaprendizado em sistemas produtivos e inovativos na América
Latina. In: dINIz, c.c.; lemoS, m.b. (org.). economia e território.
Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 321-340.
mANÇANo, rosângela verri, O associativismo como fator de
desenvolvimento econômico. curitiba, 2008. dissertação apresentada no Curso de Mestrado Profissionalizante da Universidade
federal do Paraná.
MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: Tratado introdutório.
São Paulo: Abril cultural, 1982. v.1.
MOURE-ERASO, Rafael. Development models, sustainability and
occupational and environmental health in the Americas: neoliberalism
versus sustainable theories of development. ciência saúde coletiva,
Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, Jan. 2003.Disponível em: www.scielosp.org/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 81232003000400025&lng
=en&nrm=iso. Acessado em 03 Out. 2013.http://dx.doi.org/10.1590/
S1413-81232003000400025
MUENCHEN, J. V. O planejamento e o controle da produção em associações depequenos agricultores. Piracicaba: eSAlq (dissertação
de mestrado), 1996.
MYTELKA, L. K., FARINELLI, F. Local Clusters, Innovation Systems
and SustainedCompetitiveness. Nota técnica 5 do projeto: Arranjos
e Sistemas Produtivos.
Referências
AleNcAr, e. Associativismo rural e participação. Lavras: UFLA/
fAePe, 1997.
AvrItzer, l. Cultura política, associativismo e democratização:
uma análise do associativismo no Brasil. In: o novo associativismo
brasileiro. Relatório substantivo final: FORD/ANPOCS, 2004.
bANdeIrA, P . Participação, Articulação de Atores Sociais e Desenvolvimento Regional; brasília,1999; Instituto de Pesquisa econômica
Aplicada. Disponível em: http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/td_0630.pdf
boISIer, S. Desarrollo (local): ¿Dé qué estamos hablando? In:
BECKER, F; BANDEIRA, S.P. (Orgs). Determinantes e desafios
contemporâneos. Santa cruz do Sul: edunisc, 2000.
BORN, R. H., Rio+20, Economia verde e governança do desenvolvimento
49
Dissertar
Análise de modelos e práticas para o desenvolvimento regional: o caso comunidade Palmeiras, Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, Brasil
Laerte Ferreira Serpa Filho, Marcelo Jasmim Meiriño, Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas e Sergio Luiz Braga França
locais e as Novas Políticas de desenvolvimento Industrial e tecnológico. Rio deJaneiro: IE/UFRJ/BNDES/FINEP/FUJB, 2000.
PNud - Programa das Nações unidas para o desenvolvimento. Atlas
doDesenvolvimento Humano no Brasil. PNud, 2000.Portal de Notícias
G1, http://m.g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2012/07/
trabalho em grupo transforma-vida-de-pequenos-produtores-no-es?hash=2, publicado em 22.07.2012.
PrÉvoSt, P . As dimensões e processos do desenvolvimento das
coletividades locais. Seminário “cooperativismo e desenvolvimento
local”, 9 e 10 de Novembro de 2005. curitiba.
rANd 2003. robert lempert, Parry Norling, christopher Pernin,
Susan Resetar, and SergejMahnovski.Next Generation Environmental
Technologies: Benefits and Barriers. rand report to the u.S. congress
Office of Science and Technology Policy 2003. http://www.rand.org/
publications/MR/MR1682/index.html
redeSISt – rede de
Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos
locais. Estratégias Locais.http://www.ie.ufrj.br/redesist/publica.
htmlacesso em: 14/06/2012.
revIStA SAfrA eS, Associativismo e Desenvolvimento. editora
Contexto, Ed. 6, fevereiro 2013.
SebrAe, Serviço brasileiro de Apoio às micro e Pequenas empresas.
Empresas em Arranjos Produtivos Locais. Disponível em: http://www.
sebrae.com.brAcesso em: 19/12/2012.
SerrA, m.A. & P AulA, N.m. de Desenvolvimento Local: A Experiência Paranaense com os Arranjos Produtivos Locais. In: melo,
R. L. de & HANSEN, D.L. (orgs.), Desenvolvimento Regional: novas
e velhas questões, Aracaju: editora da ufS, 2007.
SIlveIrA, c.m.
Desenvolvimento local: uma hipótese política. In:
SIlvA, g.; cocco, g. (orgs.). territórios produtivos: oportunidades e desafios para o desenvolvimento local. Rio de Janeiro: DP&A;
brasília: SebrAe, 2006.
SINger, P . Uma utopia militante. Repensando o socialismo. rio de
janeiro. vozes. 1998.
SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J. Sistemas Locais de
Produção/ Inovação:metodologia para identificação, estudos de casos e sugestões de políticas. In: dINIz, c. c.; lemoS, m.b. (org.).
Economia e Território. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p.287-320.
vArgAS, m. Proximidade Territorial, Aprendizado e Inovação: um
estudo sobre a dimensão local de processos de capacitação inovativa
em arranjos e sistemas produtivos no Brasil. Rio de Janeiro: IE/UFRJ
2002. (tese de doutorado).
zAP AtA, t. et al. Desenvolvimento local: estratégias e fundamentos
metodológicos. rio de janeiro: ritz, 2001.
Artigo enviado em 11/09/2014, aceito em 17/09/2014
50
Dissertar
Dissertar
Um breve histórico da resolução
das equações algébricas de grau 3
A brief history of resolution
of equations algebraic degree of 3
Una breve historia de la resolución de
ecuaciones algebraicas de grado 3
Na Matemática a teoria das
equações algébricas é de relevância
indiscutível. Assim, neste artigo, faremos uma exposição histórica do
problema da resolução de equações
algébricas com coeficientes reais (de
grau 3), desde os antigos babilônios
passando pelas civilizações grega,
árabe e chinesa até chegarmos às
contribuições de alguns matemáticos
italianos como, por exemplo, Gerônimo
Cardano, o brilhante mau-caráter;
Niccolò de Brescia (Tartaglia) o pobre
menino autodidata e Rafael Bombelli,
o destemido manipulador dos números
complexos. Comentaremos que na Grécia Clássica, problemas de enunciados
muitos simples como, a duplicação do
cubo e a trissecção do ângulo, ficaram
famosos pela impossibilidade de serem
resolvidos usando exclusivamente a régua não-graduada e o compasso, e que
ao longo dos tempos e em particular no
período helênico (compreendido entre
o século VI a.C. e o século V d. C.), se
tornaram uma fonte rica de idéias e
processos matemáticos.
In mathematics the theory of
algebraic equations are of great importance. So, in this article, it will be
shown a historical exposition of the
resolution problem of algebraic equation with rational coefficients, since the
ancient Babilonics passing through
Greek, Arabic and Chinese civilizations
up to the contribution of the Italian
mathematic, for example, Gerônimo
Cardano, the brilliant bad-character;
Niccolò of Brescia (Tartaglia) the
poor autodidactic boy and Rafael
Bombelli, the fearless manipulator
of complex numbers. We will mention
that in Classical Greece, very simple
problems statements, such as duplication
of the cube and trisection of the angle
became famous by the impossibility
of being resolved using exclusively
no-graduated ruler and the compass,
and that over time and particularly in
the Hellenic period (between the sixth
century a.C and the fifth century d. C),
to become a rich source of ideas and
mathematical processes.
Palavras-chave: Equações, Álgebra, História.
En matemáticas la teoría de ecuaciones algebraicas es sin duda relevante.
Así que en este artículo vamos a hacer
una recorrida histórica del problema
de resolver ecuaciones algebraicas con
coeficientes reales (grado 3), desde los
antiguos babilonios, antiguos griegos,
árabes y civilizaciones chinas hasta
que lleguemos a las contribuciones
de algunos matemáticos italianos
como, Geronimo Cardano, el brillante
personaje malvado; Niccolò di Brescia
(Tartaglia) los pobres autodidacta chico
y Rafael Bombelli, el manejador de
miedo de los números complejos. Se
comenta que en la Grecia Clásica, los
problemas de muchas declaraciones
simples como, la duplicación del cubo y
la trisección del ángulo, hecho famoso
por la incapacidad para resolver usando
sólo regla no graduada y compás, y
que con el tiempo y, en particular, en
el período helénico (entre el siglo V
antes de Cristo y el siglo V d. C.), se
convirtió en una rica fuente de ideas
y procesos matemáticos.
de vista, relatar que na europa de 500 a 1600 os matemáticos
italianos descobriram um método de resolução para equações
de grau 3 que exigia transformações prévias, e assim, obtiveram
com êxito uma expressão que envolvia combinações finitas de
radicais (as chamadas “fórmulas por meio de radicais”), que
permitia calcular uma de suas raízes.
Apesar de tudo, uma pergunta que surgiu naturalmente
entre os matemáticos, foi: como eram resolvidas as equações
de grau maior que 3?
Assim, para responder a essa pergunta, faremos uma
breve retrospectiva histórica. daí, para as equações de grau 4,
no livro do matemático italiano, gerônimo cardano (1501-1576)
tornava conhecida à solução de uma equação quártica devida a
seu discípulo ludovico ferrari (1522-1565).
e para as equações de grau maior que 4?. esta é uma
pergunta que está longe de ser simples, tão pouco simples que
permaneceu envolta em denso mistério por muitos anos. e,
em conseqüência disso, o matemático francês Jean Le Rond
Autor:
Carlos Alberto Martins de Assis
Mestrando em Matemática Aplicada pela FGV/RJ, Especialista
em Matemática pela UFF-Niterói, Professor Auxiliar I da Estácio
de Sá – Campus Cabo Frio.
E-mail: [email protected]
introdução
uma das grandes preocupações da Álgebra é com a resolução
das equações algébricas. e partindo disso, o tema central deste
trabalho é apresentar uma linha histórica de como eram resolvidas
algumas equações algébricas com coeficientes reais (de grau 3),
partindo desde a época dos antigos babilônios, passando pelas
civilizações grega, chinesa e árabe, isto é, apresentar situados
historicamente os métodos de resolução utilizados em algumas
equações algébricas (de grau 3). e ainda, sob o mesmo ponto
51
Dissertar
Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
(grau quatro). Encontrou-se uma tábua babilônica que fornece
além de uma tábua de quadrados e de cubos dos inteiros de 1 a
30, também a seqüência de valores de n2 + n3 correspondente a
esse intervalo. São dados muitos problemas que levam a cúbicas
da forma x3 + x2 = b, os quais são resolvidos usando-se a tábua
de n2 + n3. Para exemplificar esse método, construiremos uma
tábua dessas para n de 1 a 14 e por meio desta tábua, vamos
resolver o seguinte problema babilônico: “Somei o volume e o
dobro de uma superfície do meu cubo e obtive como resultado
3136. encontre o comprimento do lado”.
Assim, chamando de x o comprimento do lado do cubo, obtemos a seguinte equação cúbica x3 + 2x2 = 3136. Veja a tábua abaixo:
d’Alembert, em 1746, pensou ter demonstrado o seguinte teorema: “toda equação algébrica de grau n (n ≥ 1) admite pelo
menos uma raiz complexa”. Esse teorema, conhecido como
teorema de D’Alembert ou teorema fundamental da Álgebra,
só foi demonstrado por Karl F. Gauss, em 1799, em sua tese
de doutoramento. Com efeito, Paolo Ruffini (1765-1822), em
1813, apresentou uma demonstração da impossibilidade de se
obter uma fórmula resolutiva da equação de grau 5. Mas tal
demonstração apresentava lacunas.
Finalmente, o jovem matemático norueguês Niels Henrik
Abel (1802-1829) provou, em 1821, a impossibilidade de se
obter uma fórmula que expressava as raízes de uma equação do
quinto grau por meio de radicais.
Ainda assim uma questão permanecia: já que as equações
de grau ≥ 5 não são, de modo geral, resolúveis por radicais, mas
alguns tipos o são, como já se sabia bem antes de Abel, o que
caracteriza matematicamente estas últimas? A resposta a essa
pergunta seria dada pelo matemático francês Evariste Galois
(1811-1832), em cuja obra aparece delineado pela primeira vez
o conceito de grupo, inclusive com esse nome. resumidamente,
a idéia de Galois para responder a essa pergunta foi associar a
cada equação um grupo formado por permutações de suas raízes
e condicionar a resolubilidade por radicais a uma propriedade
desse grupo. e, como para toda equação de grau ≤ 4 o grupo
de permutações que lhe é associado goza dessa propriedade e
para > 4 sempre há equações cujo grupo não se sujeita a essa
propriedade, a questão da resolubilidade por radicais estava por
fim esclarecida. E essa condição necessária e suficiente para saber
quando uma equação seja resolúvel por radicais ficou conhecida
como “grupo de galois”.
Mas embora não existam fórmulas resolutivas de equações
algébricas de grau maior que 4, existem os métodos numéricos
– como, por exemplo: o método de Newton-Raphson (1690) –
que permitem descobrir essas raízes, utilizando aliados cada
vez mais indispensáveis, que são as calculadoras programáveis
e os computadores.
esse resultado, ou seja, a impossibilidade de se obter
soluções para equações de grau maior ou igual a 5 por meio de
radicais, deve-se a dois jovens, Niels Abel e evariste galois que
foram os propulsores da Álgebra Moderna, uma das mais belas
páginas da matemática e uma das principais conquistas dessa
ciência no século xIx.
Tábua 1
Determina a raiz procurada
n n2n3n2 + n3
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
1
4
9
16
25
36
49
64
81
100
121
144
169
196
1
8
27
64
125
216
343
512
729
1000
1331
1728
2197
2744
(n3 + n2) + n2 = 3136
2
12
36
80
150
252
392
576
810
1100
1452
1872
2366
2940
3
16
45
96
175
286
441
640
891
1200
1573
2016
2535
3136
Assim, observando a tábua de valores de n2 + n3, uma
raiz da equação x3 + 2x2 = 3136 é n = x = 14.
Números negativos não existiam, portanto todos os cálculos
eram feitos somente com números positivos e, embora existisse
a subtração, não constam cálculos do tipo a - b = c , onde b > a .
Podemos observar, em suma, que os babilônios eram infatigáveis
construtores de tábuas, calculistas extremamente hábeis. Para
aguçar a curiosidade do leitor, deixo como exercício o seguinte
problema babilônico cuja data é de aproximadamente 1800 a.C.
Um passeio pela história...
Os babilônios
Ao nos referirmos à matemática babilônica, queremos
dizer o tipo de matemática cultivada na antiga mesopotâmia,
a região entre os rios Eufrates e Tigre, ou, grosseiramente, o
que é hoje o Iraque. Por volta de 4000 anos a.c., os sumerianos
desenvolveram um idioma escrito, que chamamos escritura
cuneiforme. em seguida, os acadianos adquiriram e desenvolveram sua cultura e, por volta de 1800 a.c., chegou ao poder
Hammurabi, da cidade de Babel. É comum chamar todas essas
culturas de babilônicas. os arqueólogos nos tempos atuais têm
obtido de suas escavações cerca de 500.000 tábuas de barro
com escritura cuneiforme. Perto de 300 dessas tábuas são de
matemática, e estas têm sido traduzidas desde 1920.
As tábuas explicam como se resolviam equações quadráticas,
seja pelo método equivalente ao de substituição numa “fórmula
geral”, seja pelo método de completar quadrados, como também
se discutiam algumas cúbicas (grau três) e algumas biquadradas
r esolver o sistema de equações
.
Os gregos e os árabes
o envolvimento grego com as equações cúbicas é razoavelmente intenso. Assim, dentre os vários matemáticos gregos
que se empenharam na busca da resolução de algumas equações
de grau 3, podemos citar dionysodorus de caunus (250-190 d.c.)
52
Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
que obteve uma solução para essas equações a partir de uma
construção geométrica envolvendo a interseção de uma parábola
e uma hipérbole, método que também foi proposto pelo o grego
Arquimedes (287-212 a.c.).
Na civilização árabe, a álgebra de al-Khowârizmî apresenta pouca originalidade. Explicam-se as quatro operações
elementares e resolvem-se equações lineares e quadráticas, estas
últimas aritmética e geometricamente. Além disso, apresentava
também, algumas questões envolvendo mensuração geométrica
e alguns problemas de herança.
As melhores atribuições dadas pelos matemáticos muçulmanos verificaram-se no campo da álgebra geométrica. E
dessas a mais importante se deve a Omar Khayyam (1048-1122),
com a resolução geométrica de algumas equações cúbicas. Seu
método era também baseado na interseção de cônicas (um semicírculo e uma parábola). Iremos estudar o procedimento feito
por Arquimedes. Portanto, considere as equações x3 + b2x = cb2
e x2 = by, onde as incógnitas x, y, e as constantes a, b e c pertencem
a . Com efeito, substituindo a 2ª equação na 1ª, fica na forma
mas que muito provavelmente contém material bem mais antigo.
É uma síntese do conhecimento matemático chinês antigo. Nele
estão estabelecidos os traços da matemática antiga da china: cálculos orientados, com teoria e prática ligadas numa seqüência de
problemas aplicados. o trabalho, que é rico em conteúdo, consta
de 246 problemas sobre agricultura, procedimentos em negócios,
engenharia, agrimensura, resolução de equações e propriedades
de triângulos retângulos. São dadas regras de resolução, mas não
há demonstrações no sentido grego.
Um dos métodos mais antigos de aproximação das raízes
reais de uma equação é a regra conhecida como regula duorum
falsorum, muitas vezes chamada de regra da falsa posição dupla.
esse método aparece nos capítulos sobre a Arte da Matemática,
e se espalhou pela Índia e pela Arábia. De maneira abreviada, e
em forma moderna, o método é este: para resolver uma equação
f(x) = 0, admite-se que, em tal momento, dois valores “falsos”
para x : x1 e x2 . Com efeito, iremos calcular f(x1) e f(x2) de modo
que, possuam o menor erro possível, isto é, estejam bem próximos
de zero. Daí, a intersecção da corda de extremidades (x1, f(x1)) e
(x2, f(x2)) com eixo das abscissas, dá uma aproximação da raiz
procurada (figura abaixo), ou seja,
. Note que, a 2ª igualdade representa uma parábola
x 2 f ( x1 ) − x1 f ( x 2 )
f ( x1 ) − f ( x 2 )
o processo pode ser repetido com o par apropriado
x1, x3 , ou x3, x2.
x. 3 =
e esta última uma hipérbole. Daí, traçando ambos os gráficos
sobre o mesmo conjunto e coordenadas, a abscissa do ponto de
interseção das curvas será uma raiz da equação x3 + b2x = cb2.
Para exemplificar, tome a equação x 3 + 4x = 16, que pode
ser reescrita na forma x3 + 22x = 22 x 4 . Com efeito, verificamos
que a parábola e a hipérbole terão as formas:
x2 = 2y e y =
Dissertar
Figura 2
Determina a raiz x3 procurada
8
−2.
x
(x1 , f ( x1 ) )
ou seja, pela figura abaixo,
Figura 1
A interseção entre as Cônicas.
x
x1
x3
x2
(x2 , f ( x2 ) )
Para exemplificar esse método, vamos calcular até a
terceira casa decimal, a raiz de x3 – 36x + 72 = 0 situada entre
os valores “falsos” 2 e 3.
Sua solução fica:
Para x1 = 2 ⇒ f(x1) = 23–36.2+72 = 8 e x2 = 3 ⇒ f(x2) =
3
3 –36.3+72 = –9. Então, a corda tem extremidades (2,8) e (3,–9).
Conforme se vê, podemos afirmar que uma solução correspondia a x = 2. Devemos ficar muito impressionados de ver
quão hábil deveria ter sido para fazer isto sem símbolos, sem
fórmulas e sem ferramentas.
Assim, a aproximação procurada é:
.
Note que, f (2,470) está bem próximo de zero.
Após o declínio da matemática grega clássica, a matemática da china tornou-se uma das mais criativas do mundo.
enquanto a europa ocidental atravessava o marasmo cultural da
Baixa Idade Média, a matemática chinesa crescia, produzindo
resultados que a europa só iria redescobrir muito mais tarde,
durante ou após o renascimento.
Os chineses
Na china antiga um relato da história da matemática
começa no período Shang, onde o mais importante dos textos de
matemática chineses antigos é o K’ui-ch’ang Suan-shu, ou Nove
capítulos sobre a Arte da Matemática, que data do período Han,
53
Dissertar
Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
ou seja, a + − b = 3 2 + − 121 e
As contribuições dos matemáticos italianos
Provavelmente o feito matemático mais extraordinário
do século XVI foi a descoberta, por matemáticos italianos (especialmente da universidade de bolonha), da solução algébrica
das equações cúbica e quártica. um deles, chamado Scipione
dal ferro (1465-1526), conseguiu resolver, quase no início do
século xvI, a equação x 3 + px = q. mas como era de costume
na época, não publicou sua solução.
Não demorou muito e outro matemático italiano, Niccolò
de brescia (1499-1557), conhecido por tartaglia (devido à sua
gagueira), em 1541, independentemente, também chegou a uma
solução para as equações cúbicas. Na Itália, gerolamo cardano
(1501-1576), um intelectual extraordinário e polivalente, mas
a cujo caráter muitas ressalvas se faziam, cogitava a essa altura
publicar um livro de álgebra, aproveitando algumas idéias suas
sobre o assunto. Influente e insinuante como era, conseguiu
atrair tartaglia para uma entrevista na qual, prometendo segredo
e acenando algumas possíveis recompensas, acabou obtendo a
solução desejada.
Para desespero de tartaglia, quando o livro de cardano
saiu em 1545 com título de ArS mAgNA (arte maior), nele
figurava a solução de x3 + px = q , o que gerou uma polêmica de
mais de um ano entre os dois. A regra de cardano verbalmente
para resolver x 3 + px = q que figura no ARS MAGNA é:
(
(iii)
Substituindo em (i) e em (ii), temos:
 3 2 + − 121 . 3 2 − − 121  = 3 4 + 121 = 5



⇒
3
 3 2 − − 121  = 2 +11
1 −1


daí tira-se que a = 2 e b = 1. logo, x = 2 + − 1 + 2 − − 1 = 4.
Percebendo claramente a importância deste achado, o próprio
bombelli diz:
era um pensamento louco, segundo o julgamento de muitos, e
por muito tempo eu também fui da mesma opinião. Tudo parecia
apoiar-se mais em sofismas do que na verdade.
Ao realizar seus cálculos, bombelli criou as seguintes
regras para se operar com − 1 :
( − 1)(. − 1) = −1
(− − 1). − 1 = 1
(− − 1)(. − − 1) = −1
(a + b
1
2 − − 121 sejam do tipo a + − b e
−1
) (
)
− 1 + c + d − 1 = (a + c ) + (b + d ) − 1 .
Portanto, estavam lançadas as bases para o futuro desenvolvimento da Teoria dos números complexos. Bombelli foi o
último grande algebrista italiano da renascença, tendo seu livro
lido amplamente em outras partes da europa.
Hoje, podemos pensar em equações cúbicas como sendo
essencialmente todas do mesmo tipo e podendo todas ser resolvidas por um mesmo método. (boyer, 2002, p. 194).
”.
A demonstração da Fórmula
Seja K o corpo dos números reais e seja uma equação
algébrica de grau 3 com coeficientes em K e a ≠ 0 do tipo
ax3 + bx2 + cx + d = 0 (Ι).
daí, substituindo, em (Ι), a relação x = y + m e calculando
m de modo a anular o termo de 2º grau, temos, a(y+m)3 + b(y+m)2
+ c(y+m) + d = 0, ou seja, ay3 + y2(b+3am) + y(3am2+2bm+
x = 3 2 + − 121 + 3 2 − − 121 , onde de antemão podemos perceber diretamente que x = 4 é uma solução desta equação. bombelli decidiu trabalhar como se as “raízes quadradas de números
negativos fossem verdadeiros números”. Então, para obter o
resultado x = 4, parte do raciocínio segundo o qual os números
3
( )
± 1(− − 1 ) = 
±1 −1 = ± −1
criou também a regra para a soma de dois números do tipo
a + b −1 :
.
mas, no entanto cardano sabia que x = 3.
Entretanto, um outro algebrista italiano chamado Rafael
bombelli (cerca de 1526-1573) publicou um livro chamado
L’Algebra parte Maggiore dell’Arithmetica em que descreve
as idéias de Cardano de forma didática. É precisamente neste
livro onde aparece pela primeira vez a necessidade explícita
de introduzir os “números imaginários” e também uma
primeira apresentação do assunto. Ao aplicar a fórmula de
Cardano no exemplo dado por x3 = 15x + 4, bombelli obtém:
2 + − 121 e
+ b (i). elevando ao
e
estudando os casos em que p e/ou q são negativos, chegase às raízes quadradas de números negativos. Assim, cardano
descobriu uma nova espécie de números que chamou de numeri
ficti (que no século XVII ficaram conhecidos como números
imaginários, por rené descartes).
Um exemplo muito interessante de Cardano é: “para x3 = 8x + 3
3
2
(ii)
É exatamente esta regra que na literatura se chama a
fÓrmulA de cArdANo. Simbolicamente podemos escre-
obtenho, segundo a fórmula:
)
daí, x = a + − b a − − b = a
cubo os números abaixo, obtemos:
Eleve ao cubo 1/3 do coeficiente da primeira potência. Adicione
o quadrado da metade do número. tome a raiz quadrada do todo.
Adicione e subtraia a metade do número, obtendo um binômio e
seu apótema. Subtraindo a raiz cúbica do apótema1 da raiz cúbica
do binômio1, você obtém a incógnita procurada.
vê-la como:
)(
a − − b = 3 2 − − 121.
c) + (m3a + bm2 + cm + d) = 0. logo,
.
Portanto é suficiente estudar as equações do terceiro grau
do tipo x3 + py + q = 0 (ΙΙ).
a − −b,
Assim, para resolver a equação (ΙΙ), vamos supor que
y = A + B (ΙΙΙ).
terminologia usada por euclides no livro x dos elementos.
54
Dissertar
Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
elevando ao cubo os membros da igualdade (ΙΙΙ), temos,
y3 = (A + B)3, o que implica, y 3 = A3 + B3 + 3AB(A + B).
como y = A + B, temos y3 = A3 + B3 + 3ABy, ou
3
y – 3ABy – (A3 + B3) = 0 (iV).
comparando a igualdade (ΙΙ) com (iV), temos que,
II – divisão de um ângulo qualquer em 3 partes iguais
(trissecção do ângulo);
p = – 3AB
q = – (A3 + B3)
ou ainda,
θ
p3
A3B3 = –
27
θ
3
Figura 4 – A trissecção do ângulo
A3 + B3 = – q
Somente 20 séculos depois dos problemas terem sidos
propostos é que foi demonstrado que estas construções são impossíveis de serem realizadas (usando os instrumentos inicialmente
impostos), com o desenvolvimento da Aritmética, da Álgebra e
da Análise durante o século XIX. O matemático francês Pierre
Laurent Wantzel (1814-1848) que era lingüista e engenheiro da
prestigiosa École Polytechnique, foi quem apresentou a impossibilidade da duplicação do cubo e da trissecção do ângulo, utilizando o teorema 2 (auxiliar) a seguir. Assim, para abordar tais
problemas, utilizaremos os seguintes teoremas aludidos abaixo.
o leitor que estiver interessado em pesquisar alguma
demonstração deverá consultar as referências bibliográficas
(courANt, 2000, p.163) e (gArbI, 1997, p. 179).
Portanto, se conseguirmos achar os números A e B, então
y = A + B será raiz da equação y3 + py + q = 0.
ora o problema de achar, A 3 e B3 conhecendo a sua soma
e o seu produto é, como sabemos um problema clássico que se
resolve com a equação do segundo grau
.
Assim utilizando a fórmula de Bhaskara para resolver esta
equação, obtemos
e
(binômio)
(apótema) e conseqüentemente,
a
com a e b primos
b
entre si, é raiz da equação polinomial de coeficientes inteiros
cnxn +cn-1xn-1 + ...+ c2x2 + c1x + c0 = 0, então a será um divisor
de c0 e b um divisor de cn.
Teorema 1: Se um número racional,
.
Portanto, y1 = A + B, dada pela fórmula acima, é uma raiz
da equação y3 + py + q = 0.
conhecida a raiz y 1 de (ΙI), é possível fatorar o polinômio
y3 + py + q, dividindo-o por y – y1, reduzindo, então, o problema
de determinar as outras duas raízes de (ΙI) à resolução de uma
equação de grau 2. finalmente, obtém-se as três raízes de (Ι):
x1 = y1 + m, x2 = y2 + m e x3 = y3 + m.
Teorema 2 (auxiliar): A condição necessária e suficiente
para que três raízes de uma equação de grau 3, de coeficientes
racionais, sejam construtíveis por régua e compasso é que uma
delas seja racional.
i – A Duplicação do Cubo:
Se o cubo dado tiver uma aresta de comprimento unitário
seu volume será a unidade cúbica; exige-se que encontremos
a aresta x de um cubo com o dobro deste volume. A aresta x
exigida, portanto satisfará a seguinte equação cúbica
Os dois Problemas Famosos da Geometria Grega
Na Grécia Clássica, apareceram dois famosos problemas
de enunciados muito simples: a duplicação do cubo e a trissecção do ângulo, que caíram como uma verdadeira bomba em sua
cultura, e que mais tarde se transformariam para todos os gregos
numa grande frustração, devido à impossibilidade de prová-los
exclusivamente com o emprego de dois instrumentos: a régua
não-graduada e o compasso. o estudo destes dois problemas
geométricos que desafiaram o poder inventivo de inúmeros
matemáticos e intelectuais durante mais de dois mil anos deu-se
início no período helênico (período compreendido entre o século
vI a.c. e o século v d.c.). os dois problemas são:
x 3 = 2.1 ⇒ x 3 − 2 = 0 (i).
Suponhamos que a aresta x procurada seja um número
racional, isto é, a raiz da equação (i) seja um número da forma
a
a
, onde
é uma fração irredutível. Pelo teorema 1, a será um
b
b
divisor de –2 e b será um divisor de 1. os possíveis valores de
a são: ±1 e ±2 e os de b são: ±1. logo temos as possibilidades:
I – construção da aresta de um cubo cujo volume seja o
dobro do volume de outro (duplicação do cubo);
a  + 1 + 1 − 1 − 1 + 2 + 2 − 2 − 2  . ou seja:{ +1,–1,+2, –2}.
∈ , , , , , , , 
b +1 −1 +1 −1 +1 −1 −1 +1
mas nenhum destes números é raiz, pois as igualdades 1 3 – 2 = 0,
(–1)3 – 2 = 0, 23 – 2 = 0 e (–2)3 – 2 = 0 são todas falsas.
Portanto x3 – 2 = 0 não tem raízes racionais e a aresta x
procurada não pode ser construída somente com régua e compasso, pelo teorema 2 (auxiliar).
Figura 3 – A duplicação do Cubo
55
Dissertar
Um breve histórico da resolução das equações algébricas de grau 3
Carlos Alberto Martins de Assis
II–A Trissecção do Ângulo:
Para a trissecção do ângulo, o raciocínio é o seguinte:
se um ângulo ϴ é construtível por régua e compasso, então seu
Referências Bibliográficas
AAboe, A. Episódios da História Antiga da Matemática, rio de
Janeiro: Coleção do Professor de Matemática/Sociedade Brasileira
de matemática (Sbm), 2002.
BEKKEN, O. B. Equações de Ahmes até Abel, USU/GEPEM, 1994.
boyer, c. b. História da Matemática, São Paulo: edgard blücher, 2002.
cArNeIro, j. P . q. Equações algébricas de grau maior que dois:
Assunto para o ensino médio?, Rio de Janeiro: Revista do Professor
de matemática nº 40, 2º quadrimestre de 1999.
COURANT R., Robbins H. O que é Matemática?, rio de janeiro:
editora ciência moderna, 2000.
coNtAdor, P
. r. m. Matemática, uma breve história, São Paulo:
Editora Livraria da Física, Vols. I e ΙI, 2006.
EVES, H. Introdução à História da Matemática, tradução: Hygino H.
domingues, São Paulo: editora da unicamp, 2004.
gArbI, g. g. O Romance das Equações Algébricas, São Paulo:
Makon Books, 1997.
guImArÃeS, P. S. w, Santa maria: editora da ufSm, 2006.
cosseno: cosϴ = φ também o é e reciprocamente. Por uma simples
θ
fórmula da trigonometria o cos = z está relacionado com o
3
cosϴ =φ pela equação
θ 
θ 
. θ = ϕ = 4. cos 3   − 3 cos 
cos
3
3
em outras palavras, o problema de trissectar o ângulo ϴ
com cosϴ = φ equivale a construir uma solução da equação cúbica
4z3 – 3z – φ = 0 (i).
Para mostrar que isto não pode ser feito em geral,
vamos considerar o caso particular para ϴ = 60º, de modo que
1
ϕ == cos
cos 60º
60 ° = . A equação (i) torna-se então 8z 3 – 6z – 1 = 0 (ii).
φ
2
Suponhamos que com ϴ = 60º, z = cos 20º seja um número
racional da forma a , isto é, que z seja uma raiz racional da equab
a
ção (ii), onde
é uma fração irredutível. Assim, pelo teorema 1,
b
a será um divisor de –1 e b será um divisor de 8. os possíveis
valores de a são: ±1 e os de b são: ±1, ±2, ±4 e ±8. logo temos
as possibilidades:
a +1 +1 −1 −1 +1 + 1 −1 −1 + 1 + 1 −1 −1 + 1 + 1 −1 −1
∈ , , , , , , , , , , , , , , ,  .
b +1 −1 +1 +1 + 2 − 2 + 2 − 2 + 4 − 4 + 4 − 4 + 8 − 8 + 8 − 8
1 1 1 1 1 1

ou seja: + 1,−1, ,− , ,− , ,− .
2 2 4 4 8 8

mas nenhum destes números são raízes da equação (ii).
Portanto 8z3 – 6z –1 = 0 não tem raízes racionais e assim,
pelo teorema 2, z = cos 20º não pode ser construído com régua
e compasso.
Considerações finais
A humanidade levou milhares de anos para descobrir a
solução da equação de 3° grau, mas um aspecto interessante e
atraente para estudo e discussão entre alunos e professores que
vêm perdendo o significado e a sua potencialidade, é o aspecto
histórico. os processos de resolução da equação de grau 3, que
desenrolaram um grande cenário notável dentro da história,
necessitam ser resgatadas, pois, os progressos matemáticos
que antecederam à solução, conseguiram chegar ao limite do
conhecimento matemático da época.
Artigo enviado em 11/01/2015, aceito em 10/02/2015
56
Dissertar
Dissertar
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Veterinary doctor: Health Professional family
Médico veterinario: Profesional de salud de La familia
O objetivo deste estudo foi demonstrar através de uma revisão da
literatura sobre a importância do
médico veterinário na saúde pública
e seu papel no programa de saúde da
família. Foi utilizado como metodologia
de pesquisa para elementos capazes
de fabricar uma revisão de literatura
pode fomentar a discussão sobre o
papel do médico veterinário na saúde
pública e do seu lugar no programa
de saúde da família, pesquisando sites
especializados. A pesquisa das bases
de dados foi realizada utilizando a
terminologia cadastrada em Ciências
da Saúde criada pela Biblioteca Virtual
em Saúde utilizando as palavras-chave
da saúde pública; veterinário; saúde
da família. A busca resultou em 34
fontes bibliográficas que permitiram
elaborar sobre a necessidade de participação efetiva em equipes médicas
veterinárias em saúde da família.
The aim of this study was to demonstrate through a literature review
of the importance of the veterinarian
in public health and its role in family
health program. It was used as a methodology to search for elements able
to fabricate a literature review that can
foster discussion about the role of the
veterinary doctor in public health and
its place in the family health program
by searching specialized websites. A
search of the databases was performed
using the terminology Indexed in Health Sciences Descriptors created by
the Virtual Health Library using the
keywords Public Health; veterinarian;
family health. The search resulted in
34 bibliographic sources that allowed
elaborate on the need for effective
participation in veterinary medical
teams in family health
El objetivo de este estudio fue
demostrar a través de una revisión de
la literatura sobre la importancia del
veterinario en la salud pública y su papel
en el programa de salud de la familia.
Fue utilizado como una metodología para
buscar elementos capaces de fabricar
una revisión de la literatura se puede
fomentar la discusión sobre el papel del
médico veterinario en la salud pública y
su lugar en el programa de salud de la
familia mediante la búsqueda en sitios
web especializados. Se realizó una búsqueda de las bases de datos utilizando la
terminología indexadas en Ciencias de
la Salud creada por la Biblioteca Virtual
en Salud utilizando las palabras clave
de salud pública; veterinario; salud de
la familia. La búsqueda resultó en 34
fuentes bibliográficas que permitieron
elaborado sobre la necesidad de una
participación efectiva en los equipos
médicos veterinarios en la salud familiar.
Pether Neves Fernandes
Mestrando em formação para a pesquisa biomédica pela
UFRJ. Especialização em enfermagem do trabalho pela UNIG.
Enfermeiro pela UNIG.
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Saúde Pública, Medicina Veterinária, Saúde
da Família.
Autores:
Paulo Sergio Martins Castelo Branco
Doutor em Medicina (Radiologia) pela UFRJ. Mestre em Medicina Veterinária (microbiologia) pela UFRRJ. Especialista em
Microbiologia pela FTESM. Especialista em docência superior
pela UCAM. Especialista em Supervisão e Gestão escolar pela
UCAM. Medico Veterinário pela UNIGRANRIO. Licenciado
em Ciência Biológicas pela UNESA. Tecnólogo em Radiologia
pela UNESA. Médico pela UNESA. Professor da UNESA
E-mail: [email protected]
introdução
Apesar da associação dos animais com a espécie humana
ter começado em períodos pré-históricos, o desenvolvimento
da Medicina Veterinária científica é considerado recente. O
interesse inicial foi determinado mais por razões econômicas
do que por motivos humanitários, associadas com a importância da criação doméstica como fonte de alimentos e como
animais de trabalho (Thrusfied, 2004). A Medicina Veterinária
tem uma longa história de contribuições para a manutenção e
promoção da Saúde Pública (Hendrix et al, 2005). Um papiro
egípcio de 1900 a.C. foi considerado por vários historiadores
como o primeiro tratado de veterinária e desde aquela época
os praticantes das artes médicas e veterinárias já tinham a
preocupação com os possíveis riscos que os animais doentes
representavam para a saúde humana. (crmv, 2002). desde
Bárbara Galvão da Silva
Formação em Gestão Ambiental pela FIJ. Cursando Medicina
Veterinária pela UNESA.
E-mail: [email protected]
Mariana Costa da Silva
Cursando Medicina Veterinária pela UNESA.
E-mail: [email protected]
57
Dissertar
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes
que foram estabelecidos padrões de convivência coletiva, o
homem tem lutado contra as enfermidades que põem em risco a saúde dos seus animais. No entanto, muitas das doenças
que dizimaram seus rebanhos também foram responsáveis
pela morte de milhares de pessoas. A medicina veterinária
forneceu as bases para os primeiros esforços direcionados à
saúde pública, com o objetivo de combater as doenças animais
e também humanas, que estavam associadas a alimentos de
origem animal (Pfuetzenreiter, 2003). A partir da revolução
microbiológica, dava-se início à fase das campanhas ou ações
coletivas na medicina veterinária. Sua principal característica
foi a prevenção e o controle de doenças baseados em ações
populacionais. Muitas destas medidas foram desenvolvidas
por veterinários, sendo aplicadas com sucesso a problemas
similares em Saúde Pública (Pfuetzenreiter, 2003). O objetivo
desse trabalho é mostrar a importância o médico veterinário
no programa saúde da família, caracterizando-o como um
profissional de saúde coletiva capaz de interferir positivamente
para a manutenção da saúde populacional. este propósito é
justificado pela necessidade de ações profiláticas e resolutivas
em doenças de cunho zoonóticos e naquelas transmitidas por
água e alimentos A formação curricular do Médico Veterinário
privilegia esses aspectos, colocando-o em condições técnicas
para capitanear os esforços sanitários necessários para o controle
e erradicação de tais doenças.
o termo Saúde Pública pode gerar muitas discussões
quanto à sua definição estando associado de modo equivalente
a denominações como “Saúde Coletiva”, “Medicina Social /
Preventiva / Comunitária”, “Higienismo”, “Sanitarismo”. No
Brasil, a História da Saúde Pública nos revela a pouca importância que vários governos tiveram em relação à mesma. Somente
na década de 50, no então governo getúlio vargas, é que houve
a criação do Ministério da Saúde e no final da década de 80, a
criação do Sistema Único de Saúde (SuS), por intermédio da
constituição federal de 1988 e sua conseqüente regulamentação
pela Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) no início da década 90.
desta maneira os municípios passaram a assumir as atividades
anteriormente desenvolvidas pelo estado. Desta forma, o Artigo
200 (da constituição federal de 1988) e o 6° (da lei orgânica
Saúde 8080 de 1990) destacam as ações da Saúde Pública, entre
elas a vigilância Sanitária (vISA) e a vigilância epidemiológica, as quais o médico veterinário pode desempenhar por sua
formação profissional (PAIM, 1980).
O SUS é definido, como um conjunto de ações e serviços
de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais,
estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo poder público. A forma de organização
do sistema de saúde do país é baseada nos princípios da integralidade, universalidade, equidade e inter setorialidade, tendo
como modelo a atenção integral à saúde, diferenciando-se do
modelo de atenção à saúde anterior, que era apenas curativo
(guImArÃeS et al., 2010).
Ao analisar o campo de atuação do SuS instituído na lei
nº 8.080/90, verifica-se execução de ações de: vigilância sanitária e epidemiológica; de saúde do trabalhador; fiscalização e a
inspeção de alimentos, água e bebidas, para consumo humano.
Associando a este contexto a Lei Federal 5.517 de 1968 nos Art.
5º e 6º verifica-se que é da competência do médico veterinário o
exercício de atividades de inspeção e fiscalização sob o ponto-de-vista sanitário, higiênico e tecnológico de produtos de origem
animal; além de atividades ou funções públicas e particulares,
relacionadas com o estudo e a aplicação de medidas de saúde
pública no tocante às doenças dos animais transmissíveis a
espécie humana.
O espectro das atribuições profissionais do Médico Veterinário é muito amplo. Esse profissional é uma das maiores
expressões da múltipla atuação profissional em três mundos: o
vegetal, o animal e o humano. É da diversidade de seu campo
de trabalho que se origina a riqueza e a inegável contribuição
ao desenvolvimento dos povos, incluindo tudo o que se refere
à Saúde Pública (dutrA, 2006).
em países como os estados unidos, Inglaterra, frança e
Alemanha, pesquisadores têm demonstrado preocupação com o
tema das zoonoses de animais de companhia e os riscos para a
saúde humana, e têm enfatizado o papel do médico veterinário
na educação dos proprietários de animais para a promoção da
saúde e prevenção destas doenças (chomel, 1992; riordan e
Tarlow, 1996; Mong, Feinstein e Heidmann, 1999; Geffray 1999;
Robertson et al, 2000; Irwin, 2002).
Segundo fiuza (2007), nos países em desenvolvimento,
incluindo o brasil, o trabalho do médico veterinário ainda limita-se a prevenção das zoonoses endêmicas (leishmaniose, raiva,
leptospirose, dengue, febre Amarela, malária, Peste, entre
outras), emergentes e ré emergentes, além de atuar na inspeção
e controle dos locais de abate e comercialização de produtos
de origem animal. Em países desenvolvidos, este profissional
já vem utilizando seus conhecimentos de biologia, ecologia,
Histórico e panorama da medicina veterinária na saúde pública
A medicina veterinária surge, em primeira estância,
como uma promotora da saúde dos animais, tentando diminuir
prejuízos causados pelas moléstias que os atingiam. No entanto,
com o passar do tempo e o surgimento de medicina veterinária
preventiva começaram a ser utilizados também para a promoção
da saúde humana. outras habilidades, como a higiene e inspeção
de matadouros, frigoríficos e indústrias de produtos de origem
animal, solidificaram a participação deste profissional na Vigilância Sanitária, sendo este o primeiro campo de trabalho da
Saúde Pública a abrir espaço para a sua atuação (fIuzA, 2007).
O ingresso destes profissionais no campo das doenças
transmissíveis e nos serviços médicos preventivos ocorreu pelo
reconhecimento de suas habilidades e conhecimento em medicina populacional e pela importância das zoonoses. em 1946, a
conferência de estruturação da Organização Mundial de Saúde
recomendou a criação de uma Seção de Saúde veterinária, que
foi estabelecida em 1949 (Paim e Queiroz,1970).
O médico veterinário se incorpora muito facilmente ao
grupo de profissionais de saúde por estar habituado a proteger
a população contra as enfermidades coletivas. O tipo de formação recebida pelo médico veterinário está em harmonia com o
conceito de saúde pública, que considera todos os fatores que
determinam saúde coletiva, sem limitar-se às necessidades do
indivíduo (PUETZENREITER et al.2004; DAHER, 2007).
No brasil, a inclusão normativa do médico veterinário
na área da saúde é um fato recente, datada de 1991. Na época,
era escasso o conhecimento da sociedade, das autoridades
e dos profissionais de saúde sobre o papel desenvolvido
pelo médico veterinário na saúde pública. O profissional
veterinário não compunha o elenco de profissões da saúde
do conselho Nacional de Saúde (cNS) e o ministério da
educação relacionava a medicina veterinária apenas com
a área de ciências agrárias. A inclusão da profissão na área
da saúde foi efetivada na Resolução do CNS nº 38, de 04 de
fevereiro de 1993 (MEDITSCH, 2006).
58
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes
medidas gerais de profilaxia, medicina veterinária preventiva,
administração, entre outros, para desempenhar várias funções
nas diferentes áreas da Saúde Pública, inclusive coordenando
as equipes de vigilância.
Tendo como referência que as zoonoses representam 75%
das doenças infecciosas emergentes no mundo; 60% dos patógenos humanos são zoonóticos e 80% dos patógenos que podem
ser usados em bioterrorismo são de origem animal, aumenta
a importância e responsabilidade da saúde pública veterinária
(mINIStÉrIo dA SAÚde, 2010).
A combinação do processo de globalização com o aumento
acelerado da urbanização, a produção massiva de alimentos, o
comércio legal e ilegal de alimentos e animais, a intensa circulação de pessoas e animais, os aspectos ambientais como a
variação climática, entre outros, têm determinado o surgimento
de riscos e possibilidades de surtos de doenças a serem abordadas
multidisciplinar e intersetorialmente (SCHNEIDER, 2008).
Dissertar
de Saúde) e da fAo (food and Agriculture organization), que
propôs a definição atual como: “doenças que são naturalmente
transmitidas entre o homem e outros vertebrados”. A organização
Panamericana de Saúde mantém a definição para as infecções
ou enfermidades infecciosas transmissíveis, em condições naturais, entre animais vertebrados e o homem. Mas, anexa em seu
catálogo as zoonoses e enfermidades infecciosas veiculadas por
alimentos (Ávila-Pires, 2005).
A publicação da omS resultante de uma reunião de
especialistas em saúde pública veterinária (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975) procurou especificar essas
contribuições da medicina veterinária para a Saúde Pública.
São inúmeras as contribuições da medicina veterinária para
a saúde humana. A primeira e mais básica função do sanitarista veterinário está fundamentada no contexto puramente
veterinário por sua conexão com os animais e suas doenças,
relacionado à saúde e bem-estar humanos. essas atividades
refletem as qualificações específicas dos médicos veterinários
e normalmente são a base da formação do veterinário de saúde
pública dos organismos de saúde.
A omS em 1975 descreveu o conceito de saúde pública
veterinária como sendo “um componente de atividades de saúde
pública devotado à aplicação de habilidades veterinárias, conhecimentos e recursos para a proteção e melhoria da saúde humana.”
devido a consonância da saúde pública veterinária com
outros esforços nas áreas da saúde, agricultura e ambiente,
houve uma redefinição do conceito da saúde pública veterinária, passando está a ser considerada como “A soma de todas
as contribuições para o bem-estar físico, mental e social dos
seres humanos mediante a compreensão e aplicação da ciência
veterinária” (WHO, 2002).
Conceituando zoonoses e saúde pública veterinária
O conceito de saúde pública veterinária foi definido em
1951 na primeira reunião da Organização Mundial de Saúde/
FAO, em 1951. Definiu-se que a saúde pública veterinária compreende todos os esforços da comunidade que influenciam e são
influenciados pela arte e ciência médica veterinária, aplicados à
prevenção da doença, proteção da vida, e promoção do bem-estar
e eficiência do ser humano.
o problema das zoonoses é destacado por vários autores (CRIPPS, 2000; OSBURN, 1996; STÖHR & MESLIN,
1997). Esse grupo de enfermidades continua a representar um
importante problema de saúde para grande parte do mundo,
com elevadas perdas para os setores de saúde e de agricultura,
principalmente nos países em desenvolvimento. o risco de
infecções emergentes por novas entidades patológicas ou por
agentes conhecidos aparecendo em novas áreas ou em novas
condições vem aumentando nos últimos anos. o controle das
enfermidades desta natureza requer uma Cooperação inter-setorial e inter-institucional, reunindo segmentos ligados
à saúde, finanças, planejamento, comércio, agricultura e
indústria de alimentos, consumidores e comunidade científica
biomédica e agrária (STÖHR & MESLIN, 1997).
muitas das doenças que dissimulam meio aos rebanhos
também são responsáveis pelo óbito de milhares de indivíduos.
dentre estas doenças as mais citadas são: Brucelose, Tuberculose,
Teníase, Toxoplasmose, Salmonelose, Colibacilose, Clostridioses,
Leptospirose, Campilobacteriose, Listeriose, Raiva (doença), Scrapie,
Encefalopatia Espongiforme Bovina (“Mal da Vaca Louca”) e a
Influenza Aviária (“Gripe Aviária”). Estas são de passiveis transmissão ao ser humano, além da febre aftosa, peste suína clássica e
africana, anemia infecciosa equina, doença de Newcastle, doença de
Aujezski, que são zoonoses de alto impacto econômico. De acordo
com Boletim da Oficina Sanitária Panamericana (1992), hoje em dia,
são reconhecidas mais de cem zoonoses e inúmeras outras doenças
infectam-contagiosas dos animais que trazem sérias consequências
econômicas. Para combatê-las, o Médico Veterinário Sanitarista
exerce uma Vigilância Epidemiológica ativa, atuando diretamente
no campo e controlando o trânsito de animais, realizando a inspeção dos produtos de origem animal - como derivados da carne,
do leite, dos ovos, pescado e mel e procurando sinais de doenças
que possam ser transmitidas ao homem ou que possam indicar o
estado sanitário dos rebanhos.
O conceito de zoonose foi definido em 1959, por um comitê
de especialistas em zoonoses da omS (organização mundial
Atuação do médico veterinário em saúde pública
A medicina veterinária encontra-se regulamentada pela
Lei 5517, de 23 de outubro de 1968, que define as áreas de atuação profissional, as quais são amplas, abrangendo as diversas
atividades a serem desenvolvidas pelo profissional. Algumas
atividades são privativas, como a clínica veterinária, em todas
as suas modalidades, o planejamento e a execução da defesa
sanitária, além da inspeção dos produtos de origem animal
consumidos pelo ser humano. Além das atividades privativas,
o profissional pode desenvolver atividades relacionadas com
produção animal e agronegócios, saúde pública e preservação
do ambiente, áreas em que também atuam outros profissionais,
como zootecnistas, agrônomos, biólogos e médicos. (olIveIrA
FILHO; SANTOS; MONDADORI, 2009).
os conteúdos curriculares relacionados à área da medicina
veterinária preventiva e saúde pública (mPSP) são a epidemiologia
geral e aplicada, as zoonoses, a higiene e inspeção de produtos de
origem animal, o saneamento ambiental, a ecologia e proteção
ao meio ambiente, a administração em saúde, o planejamento
em saúde animal e em saúde pública, e a educação em saúde.
o médico veterinário da clínica de pequenos animais
pode contribuir com a prevenção e promoção da saúde de
forma única, por meio da proteção específica dos animais, da
detecção e tratamento das infecções zoonóticas, da orientação
sobre a prevenção dessas enfermidades aos proprietários e
da notificação de doenças e agravos às vigilâncias em saúde.
Além disso, o profissional acaba sendo o único ator concreto
na orientação, profilaxia e controle de parasitos internos e
externos dos pequenos animais, na ausência ou deficiência de
ações direcionadas à saúde dos animais e à educação formal
59
Dissertar
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes
e informal da população por parte do governo e da escola
(MEDITSCH, 2006).
Face à sua atuação multifacetada e estratégica ao desenvolvimento nacional, o Médico Veterinário expandiu os espaços do
seu exercício profissional, seja pela significativa contribuição no
aumento da produção de alimentos, por meio do melhoramento
genético dos rebanhos, das biotécnicas aplicadas à reprodução e
na manutenção de padrões elevados de sanidade animal, ou em
decorrência de sua ação na saúde pública, integrando equipes
interdisciplinares, na vigilância sanitária e epidemiológica, no
controle das zoonoses, no planejamento, na administração de
campanhas sanitárias e de empresas pecuárias, na produção de
fármacos e de imunobiológicos, na preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, na pesquisa científica e na difusão de
tecnologias, nos programas de desenvolvimento agropecuário,
no diagnóstico e controle de doenças, na inspeção e tecnologia
de alimentos de origem animal. (cfmv, 1997).
Essa formação multidisciplinar forjou um profissional
capaz de desempenhar papel de destaque na saúde pública.
Pode-se dividir em dois grupos as atividades desempenhadas
pelos médicos veterinários dentro da saúde pública. o primeiro
tipo estabelece as atividades para as quais o veterinário tem uma
qualificação única. O outro abrange as atividades que podem ser
desempenhadas igualmente pelos veterinários, pelos médicos e
pelos demais profissionais do setor.
No contexto da saúde pública, define-se o médico veterinário como o profissional capaz de interferir na sociedade, com
seus conhecimentos específicos e de ciências básicas biomédicas,
para a prevenção de doenças, proteção da vida e promoção da
saúde e bem-estar humanos (MEDITSCH, 2006).
tradicionalmente dentro do campo da saúde pública, a
medicina veterinária tem trabalhado no controle e erradicação
das zoonoses e na proteção sanitária dos alimentos (Pfuetzenreiter e outros, 2004). Além destes setores, situações específicas
relacionadas com o meio ambiente têm chamado a atenção para
a atuação do profissional veterinário. A incorporação nos grupos
intersetoriais e interinstitucionais que planificam, executam e
avaliam estudos e projetos de impacto ambiental, estão abrindo
oportunidades para a presença do médico veterinário nesse
segmento (Cifuentes, 1992).
A responsabilidade ambiental entregue ao médico veterinário o designa a agir na conscientização da sociedade em relação
à forma com que esta trata o meio em que vive, influenciando
nas condições sanitárias do ambiente e podendo potencializar os
riscos da aquisição de doenças. Independente de classe social,
a ocupação e o manejo desorganizado dos espaços, têm sido
responsáveis pela imposição do contato com animais sinantrópicos e silvestres e consequentemente pelo crescimento da
ocorrência de doenças zoonóticas das mais variadas veiculações,
que apresentam grande importância em saúde pública como a
dengue, leishmaniose e doença de chagas.
Programa saúde da família
O programa saúde da família (PSF) é entendido como uma
estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizado mediante a implantação de equipes multiprofissionais em
unidades de saúde. As equipes atuam com ações de promoção
da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e
agravos mais freqüentes, e na manutenção de saúde de uma
comunidade, com número definido de famílias localizadas em
uma área geograficamente delimitada (CRMV-SC, 2008).
o ministério da Saúde com o objetivo de ampliar a
abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como
sua resolubilidade, apoiando a inserção da estratégia de Saúde
da família na rede de serviços e o processo de territorialização
e regionalização a partir da atenção básica criou em 2008 os
Núcleos de Apoio à Saúde da família – NASf (brASIl,
2008). os NASf são constituídos por equipes compostas por
profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem
atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das
equipes Saúde da família, das equipes de Atenção básica,
compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios
sob responsabilidade destas equipes. os NASf devem buscar
contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do
SuS, principalmente por intermédio da ampliação da clínica,
auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos
clínicos quanto sanitários e ambientais dentro dos territórios.
Os NASF foram classificados em duas modalidades:
NASF 1 (composto por, no mínimo, cinco profissionais de
nível superior) e NASf 2 (composto por, no mínimo, três
profissionais de nível superior) – todos escolhidos/definidos
pelos gestores municipais (prefeituras) seguindo critérios de
prioridade, identificados a partir das necessidades locais e da
disponibilidade de profissionais de cada uma das diferentes ocupações. Para os NASF foram elencados quase que a totalidade
das profissões da área da saúde, como os médicos em várias
especialidades, o Assistente Social, o profissional de Educação
física, o farmacêutico, o fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o
Psicólogo, o Terapeuta Ocupacional e o Nutricionista, ficando de fora e discriminada pelo Ministério da Saúde, a Classe
médico veterinária (crmv-Sc, 2008).
As principais atribuições do médico veterinário na Saúde
Pública são:
• diagnóstico, controle e vigilância em zoonoses;
• Estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades não infecciosas dos animais em relação aos seres humanos;
• Intercâmbio de informações entre a pesquisa médica
veterinária e a pesquisa médica humana;
• Estudo sobre substâncias tóxicas e venenos provenientes
dos animais considerados peçonhentos;
• Inspeção de alimentos e vigilância sanitária;
• estudo de problemas de saúde relacionados às indústrias
de produção de alimentos de origem animal, incluindo o destino
adequado de dejetos;
• Supervisão da criação de animais de experimentação;
• estabelecimento de interligação e cooperação entre as
organizações de Saúde Pública e veterinária com outras unidades
relacionadas com animais;
• Consulta técnica sobre assuntos de Saúde Humana
relativos aos animais
funções na Saúde Pública que são comuns também aos
médicos e a outros membros da equipe, a saber:
• epidemiologia em geral; incluindo doenças que não
estão relacionadas diretamente aos animais.
• laboratório de Saúde Pública;
• Produção e controle de produtos biológicos;
• Proteção dos alimentos em geral;
• Avaliação e controle de medicamentos em geral; sendo
esta uma das funções da Vigilância Sanitária.
• vigilância Ambiental; incluindo saneamento básico.
• Pesquisa de Saúde Pública
60
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes
Apesar da histórica contribuição da medicina veterinária
no campo da saúde pública, apenas a partir de 2011 o médico
veterinário recebe o aval legal para compor as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da família (NASf), institucionalizadas
pelo ministério da Saúde e geridas pelo Sistema Único de Saúde
(SuS). A publicação da Portaria 2488 de 21 de outubro de 2011
aprova a Política Nacional de Atenção básica para o SuS, e inclui
a Medicina Veterinária no NASF, fazendo justiça a uma classe
profissional que trabalha em prol da Saúde Pública Brasileira
há muitos anos. (brASIl, 2011)
o médico veterinário contribui com seus conhecimentos, atuando na avaliação de fatores de risco à saúde, relativos
à interação entre os humanos, animais e o meio ambiente nos
domicílios e áreas circunvizinhas em apoio as equipes de Sf.
Participa da prevenção, controle e diagnóstico situacional de
riscos de doenças transmissíveis por animais vertebrados e/
ou invertebrados (raiva, leptospirose, brucelose, tuberculose,
leishmanioses, dengue, febre amarela, teníase/cisticercose, etc.),
e outros fatores determinantes do processo saúde e doença. Atua
na educação em saúde com foco na promoção da saúde e na
prevenção e controle de doenças de caráter antropozoonótico e
demais riscos ambientais, incluindo desastres naturais e provocados pelo homem. desenvolve ações educativas e de mobilização
contínua da comunidade, relativas ao controle das doenças/
agravos na área de abrangência, no uso e manejo adequado do
território com vistas à relação saúde/ambiente (desmatamentos,
uso indiscriminado de medicamentos veterinários entre outros).
Faz a orientações quanto a qualificação no manejo de resíduos.
Promove ações de educação em saúde, nas escolas; divulgação
nos meios de comunicação e sensibilização às comunidades e
sociedade organizada e não organizada. Participa na prevenção e
controle de doenças transmissíveis por alimentos. (mINISterIo
dA SAÚde, 2011b).
Dissertar
da saúde populacional a partir de seus conhecimentos acerca de
prevenção de doenças transmissíveis. A profissão de Médico
veterinário necessita consolidar cada vez mais as posições já
conquistadas, visto que várias outras profissões vêm conquistando os ramos de atuação exclusiva dos Médicos Veterinários.
A conscientização da sociedade e da própria classe de médicos
Veterinários, sobre as múltiplas facetas de sua profissão, bem
como, a conquista de novos espaços também se faz necessária,
principalmente nas áreas de Saúde Pública, por estar intimamente
relacionada à saúde, bem estar e qualidade de vida da população.
o sanitarista veterinário, mediante seus conhecimentos
específicos, está apto a garantir a qualidade da saúde da população
animal, proporcionando melhores condições ambientais, difusão
de informações e orientando a população humana quanto aos
princípios básicos de saúde.
Referências
AvIlA-PIreS, fernando dias. Dinâmica dos Reservatórios. In:
COURA, J. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, p.65-73, 2005.
boletIm de lA ofIcINA SANItArIA P
ANAmerIcANA. La
salud pública veterinária. Publ Cient Oficina Sanit Panam 1992;113(56):494-501.
brASIl. ministério de estado da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de Diretrizes e Normas para a
Organização de Atenção Básica, para estratégia Saúde Família e
o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Portaria 2488 de
21/10/2011. DOU Seção 1, número204, P.48-55, 2011.
brASIl, Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos
de Apoio Á Saúde da Família – NASF. Diário Oficial da República
federativa do brasil, brasília, n. 43, 04, 2008.
CHOMEL, B.B. Zoonosis of house pets other than dogs, cats and
birds. Pediatric Inf. Dis. J.; 11(6): 479-87, 1992.
cIfueNteS, e. e. (1992). Protección del medio ambiente y actividades
de salud pública veterinária. Revue Scientific Technique, 11 (1), 191-203.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. História
da Medicina Veterinária no Brasil. brasília: cfmv, 2002.
CONSELHO FEDERAL MEDICINA VETERINÁRIA. Quem é esse
profissional? Médico Veterinário: importante para você, fundamental
para o País. revista cfmv, ano III, n.10, p.23-27, 1997.
crIPS, P .j. Veterinary education, zoonoses and public health: a personal perspective. Acta tropica, v.76, p.77-80, 2000.
crmv-Sc. Médicos Veterinários no Programa Saúde da Família.
Informe n. 2, Jun/2008. Disponível: http://www.crmvsc.org.br/pdf/
junho.pdf, Acesso em: 18/08/2013.
DAHER, V. Guia de profissões. São Paulo: ediouro, 2007.
dutrA, m. g. b. As múltiplas faces e desafios de uma profissão
chamada Medicina Veterinária. Revista CFMV, Brasília/DF, ano
xII, n. 37, 2006.
fIuzA, c. Atuação do médico veterinário na saúde pública. documento
em hipertexto. 2007. Disponível em: http://meuartigo.brasilescola.
com/saude/atuacaomedico-veterinario-na-saude-publica.htm>. Acesso
em: 14 de ago, 2008.
geffrAy l. Infections transmises par lês animaux de compagnie.
rev. med. Int., 20 (10):888-901, 1999.
guImArÃeS, f.f.; bAPtIStA, A.A.S.; guStAvo PuglIA mACHADO, G.M.; LANGONI, H. Ações da vigilância epidemiológica
e sanitária nos programas de controle de zoonoses. vet. e zootec.
17(2), p.151-162, jun 2010.
HENDRIX, Charles M. et al. An interprofissional role for veterinary
medicine in human health promotion and disease prevention. journal
of Inter professional Care, 1 (19): 3-10, 2005.
Metodologia
o presente trabalho constituiu-se de uma revisão da literatura em método qualitativo, realizada entre janeiro de 2013
e dezembro de 2013, ao qual foi realizado um levantamento
bibliográfico atualizado no banco de dados do scielo e da bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs. A busca nos bancos de
dados foi realizada utilizando às terminologias cadastradas nos
descritores em ciências da Saúde criados pela biblioteca virtual
em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings
da U.S. Nacional Library of Medicine, que permite o uso da
terminologia comum em português, inglês e espanhol. os uni
termos utilizados foram: Saúde pública; médico veterinário; saúde
da família. Os critérios de inclusão para os estudos encontrados
foram à medicina pública e sua ligação com a profissão de médico
veterinário. Foram excluídos estudos que relatavam o papel do
médico veterinário em áreas profissionais que não interessam
diretamente a saúde coletiva. esse procedimento resultou em 34
fontes de consulta que permitiram confeccionar uma revisão de
literatura que irá contribuir para o conhecimento dos gestores
de saúde e profissionais de saude a respeito da importancia do
médico veterinário no programa saude da familia.
Considerações finais
vislumbrando uma realidade a curto prazo, pretende-se
conceber um novo olhar à medicina veterinária, na expectativa
da construção de novos paradigmas profissionais, onde o médico
veterinário seja identificado como um profissional de saúde pública capaz de contribuir decisivamente para o desenvolvimento
61
Dissertar
Médico veterinário: Profissional de saúde da família
Prof. Paulo Sergio Martins Castelo Branco, Bárbara Galvão da Silva, Mariana Costa da Silva e Pether Neves Fernandes
IRWIN P.J. Companion animal parasitology: a clinical perspective.
Int. j. Parasitol.; 32(5): 581-93, 2002.
MEDITSCH, R. G. M. O médico veterinário na construção da saúde
pública: um estudo sobre o papel do profissional da clínica de pequenos
animais em Florianópolis, Santa Catarina. Revista CFMV, Brasília/
DF, ano XII, n. 38, p. maio/junho/julho/agosto, 2006.
mINIStÉrIo dA SAÚde. boletim eletrônico
EPIDEMIOLÓGICOSVS/MS ano 10 n°2 abris 2010. Disponivel em: http://portal.saude.gov.
br/portal/arquivos/pdf/ano10_n02_sit_epidemiol_ zoonoses_br.pdf.
mINIStÉrIo dA SAÚde. Saúde da Família: ministério define inclusão
de novas especialidades profissionais nos NASFs.2011b.disponivel:
http://portal.saude.gov.br/portal/aplicações/notícias.
MONG, S.K.; FEINSTEIN L.H.; HEIDMANN, P. Helthy pets, healthy
people. j.Am.vet.med.Asoc, 215(3): 335-8, 1999.
OLIVEIRA FILHO, B. D.; SANTOS, F. L.; MONDADORI, R. G. O
ensino da medicina veterinária: realidade atual e perspectivas. revista
CFMV, Brasília/DF, ano XV, n. 46, p. 69-72, 2009.
orgANIzAcIÓN P ANAmerIcANA de lA SAlud. A competency-based curriculum for veterinary public health and preventive medicine.
Washington: Paho/WHO, 1975. 115p. (PublicaciónCientífica 313).
oSburN, b.I. Emerging diseases with a worldwide impact and the
consequences for veterinary curricula. veterinary quarterly, v.18,
n.3, p.124-126, 1996.
PAIm, g. v; queIroz j.c. Uma definição para saúde pública
veterinária. Boletim de La Oficina Sanitária Panamericana, 69 (2):
166-168, 1970.
PAIm, j. S. 1980. “As ambiguidades da noção de necessidade em
saúde” in Planejamento. Salvador. 8 (1/2), pp. 39-46.
PfuetzeNreIter, m. r.
O ensino da Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública nos Cursos de Medicina Veterinária (tese
de doutorado) universidade federal de Santa catarina. Programa de
Pós-graduação em educação. florianopolis, 2003.
PfuetzeNreIter, m. r. e zylbersztajn, A. (2004). O ensino de saúde
e os currículos dos cursos de medicina veterinária: um estudo de caso.
Interface – Comunicação, Saúde, Educação, 8, (15), 349-60, mar/ago.
RIORDAN A; TARLOW, M. Pets and diseases.Br.J.Hosp.Med, 56
(7): 321-4, 1996.
robertSoN, I.d. et al, 2000. The role of companion animals in
the emergence of parasitic zoonoses. Int. j. Parasitol; 30 (12-13):
1369-77, 2000.
SCHNEIDER, M. C. A contribuição da OPAS para a Saúde Pública
no Brasil e nas Américas. Revista CFMV, Brasília/DF, ano XIV, n.
43, p. 80-81, 2008.
STÖHR, K.; MESLIN, F.X. The role of veterinary public health in the
prevention of zoonoses, Arch virol, v.13, suppl.1, p.207-218, 1997.
THRUSFIELD, M. V. (2004). Epidemiologia veterinária. São Paulo: roca.
WORLD HELTH ORGANIZATION. Future Trends in Veterinary
Public Health. Report of a WHO Study Group. Geneva, 2002.85p.
(WHO Technical Report Series n.907).
Artigo enviado em 11/09/2014, aceito em 12/03/2015
62
Dissertar
Dissertar
Precaução e prevenção na ótica
da defesa civil
Precaution and prevention in optics
of civil defense
Precaución y prevención en el campo
de la óptica de la defensa civil
Este trabalho foi desenvolvido
com o objetivo de investigar e comparar a evolução dos institutos da precaução e prevenção, apresentando a partir
da crítica, patamares de reflexão, se
não para enfrentar o atual panorama
legislativo de responsabilização e
aplicabilidade destes no trabalho
desenvolvido pela Defesa civil, ao
menos que conclua pela necessidade
de uma maior proteção. O processo
de responsabilização atualmente
aplicado, centrado na existência do
dano, quando quase nada poderá
ser feito, vem demonstrando forte
despreparo dos profissionais e riscos
enfrentados pela falta de informação e
preparo da sociedade e Defesa Civil,
desafio a ser enfrentado.
This work was developed aiming
at investigating and comparing the
evolution of the precaution and prevention institutes, showing from the
critique levels of reflection, if not to
face the current legislative panorama
of accountability and applicability
in the work developed by the Civil
Defense, at least to conclude by the
need for greater protection. The accountability process currently applied,
centered on the existence of damage,
when almost nothing can be done, is
demonstrating strong unpreparedness
of the professionals and risks faced by
the lack of information and preparedness of the society and Civil Defense,
a challenge to be faced.
Palavras-chave: Dano Ambiental, Sociedade de Risco, Defesa
Civil.
Este trabajo fue desarrollado con
el objetivo de investigar y comparar la
evolución de los institutos de la precaución y prevención presentando, a
partir de la crítica, niveles de reflexión,
que si no logran confrontar el actual
panorama legislativo de responsabilización y aplicabilidad en el trabajo
desarrollado por la Defesa Civil, por lo
menos que concluyan en la necesidad
de una mayor protección. El proceso
de responsabilización actualmente
aplicado, focalizado en la existencia
del daño, cuando casi nada podrá ser
hecho, viene demostrando gran falta
de preparación de los profesionales y
riesgos enfrentados por la falta de información y preparación de la sociedad
y la Defesa Civil, reto a ser enfrentado.
atual, em consequência de uma grande enchente, onde passa a
atender às catástrofes locais, sem nenhuma normatização voltada
para a prevenção e muito antes das atuais orientações legislativas.
A tentativa de ampliar o aparato legal visava também
a uma articulação e resposta aos crescentes danos ambientais,
consignados e visualizados pós-Conferência de Estocolmo
(1972), marco internacional de proteção ambiental.
Seguindo a linha do tempo, a proteção ambiental nacional é inaugurada a partir da década de 1980, através da lei nº
6938/81, com sua exigibilidade prévia de análise de impacto e
responsabilidade independente de culpa, sobretudo na forma dos
artigos 9º e 14º § 1º. Ainda no meado de 1985, outro diploma
vem em auxílio da lei e estabelece direito substantivo público
capaz de ampliar ainda mais essa dinâmica de defesa: a ação civil
pública, Lei nº7347/85. A partir de então, diversos complexos
normativos surgem para a atualização e consolidação destes.
Na realidade, a organização sistêmica da defesa civil no
Brasil se deu pela criação do Sistema Nacional de Defesa Civil
(SINdec), em 1988, sendo reorganizado em agosto de 1993 e
atualizado em 2005.
No mesmo passo, as relações jurídicas devem passar a
contemplar essa complexidade, e assim não foi diferente no
direito pátrio. A partir da constituição federal de 1988, além
da colocação do direito ao meio ambiente como direito fundamental, expande-se o conceito as presentes e futuras gerações,
incorporando-se o conceito de sustentabilidade.
Autores:
Claudia Lobo
Advogada, especialista em direito civil e processo civil, Professora de Direito Civil e de Direito Ambiental da Universidade
Estácio de Sá.
E-mail: [email protected]
Fernando Cordeiro Barbosa
Doutor em Antropologia, professor do Programa de PósGraduação em Defesa e Segurança Civil - Mestrado Profissional em Defesa e Segurança Civil da Universidade Federal
Fluminense/ UFF.
introdução
O final do século XX e início do século XXI levou a
sociedade a refletir sobre um novo sistema: o ecossistema. A
relação homem–meio passa a fundamentar-se em um complexo sistema que considera todas as relações físicas, biológicas
e sociais. Agrega-se ao homem tudo o que se encontra ao seu
redor e percebe-se uma ampliação dos conceitos.
O histórico da Defesa Civil no Brasil começa na Segunda
Guerra Mundial, tendo suas raízes ligadas às forças Armadas. Todavia,
surge e sobressai a partir de 1960, vinte anos antes da constituição
63
Dissertar
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
estas relações do homem com a natureza estão agora
normatizadas em toda a sua amplitude, através do movimento
conhecido como a “constitucionalização do direito”, a releitura
de todo o ordenamento jurídico.
Para atender o compromisso firmado na Resolução
44/236, o Brasil elaborou um plano nacional de redução de desastres para a década de 90 que estabelecia metas e programas
a serem alcançados até o ano 2.000 conhecido como Política
Nacional de Defesa Civil - PNDC estruturada em quatro pilares:
prevenção, preparação, resposta e reconstrução.
Importante, portanto, deixar registrado que, em princípio, o
panorama legal atende a uma vontade de proteger o meio ambiente
e de responsabilizar o agente pelos danos causados numa sociedade
de risco. Porém, o que se tem percebido é que o objetivo da lei não
vem obtendo êxito. Pelo contrário, na medida em que são criadas
diversas leis, maiores têm sido as agressões ambientais: novas e
antigas agressões. resta a dúvida sobre a motivação.
A ocorrência de importantes eventos, social e ambientalmente danosos, como no exemplo utilizado no presente
trabalho, ocaso do Césio 137 (classificação COBRADE 21210)
tem levado a sociedade a se questionar quanto ao despreparo
legislativo e fragilidade, quando da ocorrência do dano ambiental, antes e após o fato. Amplia-se este questionamento,
perguntando-se porque não agir antes do dano. A codificação
brasileira de desastres (cobrAde - 2012), em substituição
à classificação dos desastres CODAR, até então utilizada, foi
elaborada a partir da classificação utilizada pelo Banco de
dados Internacional de desastres (em-dAt) do centro para
Pesquisa de epidemiologia de desastres (cred) e da organização Mundial de Saúde (OMS/ONU), com o propósito de
adequar a classificação Brasileira às normas Internacionais.
A matéria pretende, sem sucesso, que o conteúdo jornalístico amplie sua abrangência no sentido de trazer parâmetros
legais em nível internacional, mas termina por restringir-se ao
panorama legal nacional. feito o registro, detendo-se mais na
matéria jornalística e adotando o chamado inicial como parâmetro,
o conteúdo segue na tentativa de manter a visão preventiva da
ação danosa, ex vi: “os 20 anos da tragédia com o césio 137, em
goiânia, revelam, além do descaso do estado com as vítimas,
a ausência de um projeto de tecnologia nuclear para o país.”2
Na mesma vertente, 25 anos após, e depois de, com novo
acontecimento de vazamento de Petróleo em campos, rj, o governo brasileiro comprometeu-se a elaborar um Plano Nacional
de contingência (PNc), abrangendo todos os tipos de acidentes,
conforme noticiaram os jornais na época: “Legislação brasileira
para lidar com vazamentos é mais punitiva do que preventiva”.
Lembra ainda a notícia de 21/3/2012, Jornal O Globo,
que dois anos após o acidente na Bacia Petrolífera no Golfo do
México, e 05 meses após o primeiro vazamento da Chevron, o
brasil não conseguiu pôr em prática o seu Plano Nacional de
contingência (PNc), e ainda hoje não é dada atenção à prevenção
de acidentes. Mais adiante, afirmam os jornalistas3: “A legislação
concentra o seu foco na punição”.
No interior da matéria há o desenvolvimento de uma linha
de raciocínio muito interessante. Trata-se, conforme o título
”depois do óleo derramado” 4, de breves observações quanto à
falta de uma legislação que atue na prevenção e na reparação de
danos. Expõe as fragilidades da indústria no país, que se apresenta
como a mais nova potência energética do mundo5.
o Plano Nacional de contingência deve prever outros
casos, além dos narrados na matéria, como os casos de vazamento
nuclear, ocorridos em goiânia.
o brasil não possui um plano estruturado e “vê uma
reação desencontrada e sem firmeza de emergência”6.
como participante de uma entrevista sobre o assunto, o
coordenador do laboratório Interdisciplinar de meio Ambiente
da COPPE/UFRJ, professor Emilio La Rovere, informa ter
enviado em 2006, ao ministério do meio Ambiente, um levantamento de experiências internacionais que podem auxiliar o
Plano Nacional de Contingências brasileiro a “sair do papel”.
E informou ainda, que faltam medidas de prevenção diante do
aumento da exposição dos riscos frente à grande ampliação da
exploração e produção.
Diante dos relatos acima, percebe-se que ainda hoje existem dificuldades na aplicação das diretrizes Constitucionais e
infraconstitucionais, principalmente nas questões que envolvem
a prevenção, punição, a informação e o preparo dos profissionais
responsáveis por questões que envolvem riscos ambientais, e
neste caso, a Defesa Civil foca suas ações baseadas somente
no pós-acidente.
A cNeN, comissão Nacional de energia Nuclear, responsável pela segurança e fiscalização das atividades nucleares
no Brasil, reagiu de forma improvisada, no caso do Césio 137.
Por exemplo, contratou trabalhadores para executar a descontaminação do local sem nenhum preparo ou mesmo conhecimento
do perigo que corriam. e hoje, como seria sua atuação?
Desenvolvimento
A situação fática que norteia a análise
o brasil, apesar de diversas opções já avançadas na
ciência, optou por um modelo de desenvolvimento em que o
risco da atividade tem sido a regra, a instalação tecnológica, as
armas de fogo, os esportes radicais, os meios de transporte, as
usinas nucleares ou as indústrias químicas, e mesmo o fumo. De
fato, União, Estados e Municípios visam à promoção de ações
a partir da efetiva exploração destas atividades.
estes procedimentos requerem tecnologias avançadís simas e específicas, e que muitas vezes sobrevém a dúvida
sobre a real segurança das ações, sobretudo no que tange a
procedimentos ambientalmente nocivos. Assim, enorme é o
risco destas e outras atividades fruto do desenvolvimento sem
estudo prévio destes riscos, da própria sociedade, aumentando
a possibilidade de que algo possa dar errado.
No brasil, goiânia, o acidente com o césio-137, ocorrido
em 13 de setembro de 1987, foi o maior acidente radioativo do
Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares.
Uma cápsula contendo o césio foi encontrada nos escombros
do Instituto Goiano de Radioterapia e vendida a um ferro-velho.
o brilho azul emitido pelo césio atraiu a atenção de moradores
da região que o passaram de mão em mão. mais de 800 pessoas
foram contaminadas e pelo menos outras 200 morreram devido
aos efeitos da radiação. As manchetes, além de evidenciarem
os danos ambientais, trazem um aspecto importante, e até então
despercebido dos analistas e dos operadores do direito em geral.
diz a manchete: “o caso césio revela crime contra o povo” 1.
1
manchete no jornal A Nova democracia, n.38
64
2
conteúdo da chamada de primeira página do jornal oNova democracia, n. 38.
3
CARNEIRO Lucianne;NAIDIN, Hugo. Jornal O Globo de 21/03/2012, p. 19.
4
IBIDEM.
6
IBIDEM.
6
IBIDEM.
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
Em conclusão preliminar, pode-se afirmar que o acima
exposto tem ligação e assemelha-se a casos ocorridos no Brasil,
com relação a acidentes nucleares. casos como estes devem
envolver diversos níveis de conhecimento e de distintos agentes
sociais, opiniões de cientistas, pesquisadores, doutrinadores e
operadores do direito, além daqueles diretamente envolvidos nos
eventos danosos. A questão envolve várias áreas, devendo haver
uma interdisciplinaridade que envolva estudiosos de distintas
áreas do conhecimento, possibilitando o intercâmbio de opiniões.
o que chama a atenção no debate neste tema é a constatação de que o sistema legislativo pátrio não possui uma resposta
adequada na temática da proteção ambiental. e mais, as investigações ocorrem sempre a partir do dano, o que de certa forma
implica propostas de solução que estão diretamente articuladas
a sua existência, tais como, a busca da reparação, o seguro
ambiental e a incriminação dos autores. Não se observa uma
resposta às possibilidades de atuação no campo da prevenção e
da precaução. Nem mesmo o denominado Plano de Contingência
que se refere a uma atuação dos responsáveis após o dano, inclui
a preocupação com a prevenção.
Para melhor entender, e adequar o exemplo do Césio à
análise que se pretende, passa-se a dar sequência às reportagens
e à pesquisa desenvolvida na dissertação da professora Elaine
campos Pereira, trabalhada em sala de aula, em relação ao mesmo
evento danoso, de forma a compreender a evolução dos fatos e
os desdobramentos jurídicos que vão sendo colocados no caso
cotidianamente, e que tende a reforçar as afirmações já verificadas.7
No dia 28 de setembro de 1987, a cNeN, que tem sede
no Rio de Janeiro, foi acionada pelas autoridades. O grupo de
emergência da comissão era treinado para atender acidentes em
reatores nucleares. uma cápsula de césio-137 aberta em uma
capital brasileira era novidade.
Na época, o controle foi feito a partir da retirada dos materiais das áreas que estavam contaminadas. Tudo foi embalado.
Para armazenar os rejeitos, foram usados tambores metálicos de
200 litros, caixas de um metro quadrado (mil litros) e até um
contêiner marítimo, devido à grande quantidade de material.
Os recipientes passaram por testes físicos e de resistência para
garantir a segurança.
Inicialmente, os rejeitos foram estocados de forma provisória no mesmo lugar onde hoje funciona a unidade da CNEN,
no então recém criado município de Abadia de goiás, porém,
de forma provisória, naquele momento. Controlado o acidente,
feito um projeto a longo prazo, definiu-se o local onde os rejeitos
seriam definitivamente guardados.8
A sociedade foi surpreendida com a decisão da CNEN
de provisoriamente estocar os rejeitos na própria cidade, gerando revolta local. Percebe-se, diante das notícias da época
e mesmo hoje, a falta de esclarecimento dos profissionais que
lidam com substâncias altamente perigosas, como também da
própria população.
Para melhor ilustrar a atuação dos agentes e os comandos
das chefias imediatas, é importante registrar o relato da moradora
francisca Pereira cardoso cruz, de 79 anos, que viveu de perto
o drama dos moradores de Abadia:
Invadimos a br-060 (rodovia que liga goiânia a Abadia) e tentamos bloquear a vinda do césio. foi um presente de grego que
recebemos naquela época. As manifestações duraram uns três dias
ou mais. Passamos a noite às margens da br, em vigília. mas
fomos surpreendidos porque para cada morador tinha o dobro de
policial e eles ficavam na porta das casas para nos vigiar. Lutei
muito para o césio não vir para a Abadia9.
O depósito definitivo foi construído em 1997, mesmo ano
em que foi inaugurado o Centro Regional de Ciências Nucleares
do centro-oeste (crcN-co), unidade da cNeN em goiás. o
local fica dentro do Parque Estadual Telma Ortegal, que tem 1,6
milhões de metros quadrados. A estrutura que abriga os rejeitos
foi projetada para resistir 300 anos, intacta e preparada para
desastres como tremor de terra e queda de avião. o depósito do
Césio-137 tornou-se, então, o único depósito de lixo radioativo
definitivo do Brasil10.
As consequências e falta de informação ainda hoje se
manifestam, seja na saúde ou mesmo nas alterações sociais,
comportamentais, ambientais, vividas pela população.
recentemente veiculou-se a seguinte notícia: “veículo
foi roubado com selênio 75. Material que é usado em aparelhos
de raio-x e soldas”
Segundo a polícia, o roubo do material foi informado
também à comissão Nacional de energia Nuclear. “em contato
direto com a pele, a radiação é capaz de causar danos em células
e produzir mutações genéticas. Mas dificilmente ocorre o contato
direto, pois sua forma de transporte é em cápsulas blindadas”,
explica Ellen Guimarães Dias, presidente da Associação Brasileira de química (Abq- rj) 11.
A empresa Arctest Serviços de manutenção e Inspeção
Industrial, responsável pelo veículo, minimizou os riscos de
contaminação. Segundo mário de boita, supervisor de proteção
radiológica, o produto radioativo estava dentro de uma caixa
metálica presa com cadeado no porta-malas do veículo. o que não
impediu o seu furto e o total desconhecimento da sociedade dos
riscos provenientes de um possível manuseio desta substância.
Até a presente data, estes são os fatos principais que norteiam a análise que se pretende. de antemão, deve-se adiantar
que a conclusão a que se chega é que, pelo modelo de gestão
de risco vigente na sociedade, se novos fatos surgirem, estes
dificilmente serão capazes de reverter a curva que se impõe há
mais de duas décadas.
Elementos da modernização e sua evolução na
sociedade de risco
Segundo Beck12, os riscos evoluíram no século xx e
possuem agora uma nova arquitetura social e dinâmica política,
que pode ser resumido em teses. os riscos são apresentados
articulados com desenvolvimento de forças produtivas, que
escapam à percepção humana e atinge a todos, são invisíveis
e em sua maioria produzem danos irreversíveis; podem ser
aumentados e diminuídos ou mesmo alterados e, assim podem
ser interpretados segundo processos sociais de definição. Melhor
exemplo: radioatividade.
9
IBIDEM.
Princípio da Precaução – princípio 15; Conferência das Nações Unidas sobre
o meio Ambiente e o desenvolvimento (cNumAd), conhecida também como
eco-92, rio-92, cúpula ou cimeira da terra, realizada entre 3 e 14 de junho
de 1992, rio de janeiro.
10
7
PereIrA, elaine campos. Risco e Vulnerabilidade Sócio-ambiental: o depósito definitivo de rejeitos radioativos na percepção dos moradores de Abadia de
goiás. dissertação (trabalho de conclusão de mestrado) apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia
da universidade federal de goiás, 2005.
8
Dissertar
Matéria jornalística TV Anhanguera,13/09/2012, G1, GO.
65
11
Matéria Jornalística no O Dia, dia 03/04/2012.
12
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. São Paulo: editora 34, 2011, p. 27-28.
Dissertar
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
Há uma relação entre as situações sociais de ameaça e o
incremento e distribuição dos riscos. Todos ao final são atingidos,
independentemente de classes sociais. registre-se que os riscos
além de atingir a saúde humana, também o fazem em relação
à propriedade, ao lucro e à desapropriação ecológica. melhor
exemplo: fluxo de poluentes que escapam à competência do
estado Nacional.
Os riscos da modernização são também um excelente
negócio, um novo estágio com sua expansão e mercantilização,
sem limites, interminável, infinito, dada a sua necessidade, passando a ser um reforço à lógica capitalista do desenvolvimento.
esta mesma sociedade industrial produz as situações de ameaça
e o potencial político da sociedade de riscos.
As riquezas podem ser possuídas, porém, quanto aos riscos,
são afetados. Assim é preciso que os riscos sejam conhecidos,
disseminando uma teoria sociológica assumida pelo potencial
político da sociedade de riscos.
Por fim há um forte ingrediente político dos riscos que
são socialmente reconhecidos, o que faz com que haja uma
aproximação do público com o empresarial. Passa a atingir não
somente à saúde humana, mas os efeitos colaterais são sociais,
econômicos e, sobretudo, políticos. Melhor exemplo: o desmatamento e a perda de mercado, a depreciação do capital. trata-se,
assim, do potencial político das catástrofes, que é um estado de
exceção e que pode tornar-se uma normalidade.
Conclui o autor que “o efeito social das definições de risco
não depende, portanto, de sua solidez científica.” E explica: a
constatação de risco e a modernização devem ser analisadas sob
o parâmetro do conhecimento científico. A alegação generalizada tem levado a conclusões de insegurança científica. Assim,
ingrediente importante a ser contemplado diz respeito à ética,
aproximando-se a filosofia, a cultura e a própria política.
Nesta linha de desenvolvimento das sociedades, os parâmetros teóricos devem ser objetos de pesquisa, tanto nas concepções habermasianas, quanto nas sociedades contemporâneas,
seu desenvolvimento sócio, político, econômico e cultural, posto
que o risco produzido a partir deste desenvolvimento considera
novas plataformas temáticas transnacionais.
Para tanto, nesta releitura das sociedades, Beck13, que
toma como referência em seus estudos a evolução e feitos da
sociedade de risco, tem muito a contribuir ao presente debate,
de quem se tomam emprestadas as ideias norteadoras.
de início, o autor conclui que o conceito de modernização contribui na concepção da sociedade de risco:
há que se preocupar e refletir sobre os efeitos desta modernização
quanto aos riscos. A modernização passa a ser ao mesmo tempo
solução e problema. Na realidade, a tendência tem sido de que
o emprego de tecnologias se sobrepõe aos riscos apresentados
considerando a relevância econômica, de onde encerra um sistema de normas públicas que possa ser o único.
Importante considerar, nesta linha de análise, que ambas
as sociedades, industrial e de risco, possuem o mesmo paradigma
a enfrentar sob óticas diferentes: a desigualdade. E da mesma
forma articulados pelo tema da modernização, nesta em posições
distintas, mas sempre em relação à riqueza produzida.
Análise jurídica
Após o relato fático apresentado, bem como dos princípios
constitutivos da noção de sociedade de risco, passa-se ao mérito
que se pretende ressaltar, tendo como fio condutor a análise
crítica da responsabilidade pelos danos ambientais. Para melhor compreender a crítica que tenta esclarecer
a irresponsabilidade do estado e da Sociedade em relação à
proteção dos recursos naturais, é necessário o aprofundamento
temático no processo de responsabilização, no conceito de dano
estrito, dano real e dano potencial, e no meio ambiente como
um direito fundamental.
Assim, parece que o ponto de partida é a análise comportamental da sociedade, e principalmente das instituições e
dos profissionais diretamente ligados a acidentes nucleares.
Conceitualmente, a defesa civil caracteriza-se por um conjunto
de medidas permanentes que visam evitar, prevenir ou minimizar
as consequências dos eventos desastrosos e a socorrer e assistir
as populações atingidas, preservando seu moral, limitando os
riscos e perdas materiais e restabelecendo o bem-estar social.
São aspectos subjetivos da ação do homem pertencente a uma
sociedade de risco15 que vem sendo construída aleatoriamente
e que se pretende reinventar.
De início, pode-se afirmar sem sombra de dúvidas, que
o processo de responsabilização inserido na legislação pátria
tem o dano como seu requisito necessário. Portanto, o agente
somente será responsabilizado na hipótese de existência do dano,
nas diversas espécies de responsabilidades. observa-se que na
contramão do aparato legal, os princípios que norteiam o direito
ambiental exigem a atitude prévia e precavida do agente e, para
tanto, deve responder na inexistência do comportamento preventivo e precavido. Assim, teoricamente, sem a devida atitude
prévia exigida, a hipótese é de responsabilização.
Especificamente em relação ao dano ambiental, duas
características marcantes têm sistematicamente abraçado discussões doutrinárias e jurisprudenciais: a irreparabilidade e a
quantificação do dano.
de longa data, questiona-se se é possível a resiliência, capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após este ter sido
rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação.
A doutrina (jurídica) é unânime16 ao concluir que, uma vez atingido
o meio ambiente com um dano, seria impossível o seu retorno ao
status quo ante, repristinação. Até mesmo as chamadas medidas
Modernização significa o salto tecnológico de racionalização
e a transformação do trabalho e da organização, englobando
para além disto muito mais: a mudança de caracteres socais e de
biografias padrão, dos estilos e formas de vida, das estruturas de
poder e controle, das formas políticas de opressão e participação,
das concepções de realidade e das normas cognitivas.14
Da mesma forma que as sociedades industriais passaram
anos a debater como distribuir riquezas de forma desigual e ao
mesmo tempo “legítima”, a sociedade de risco está centrada
num novo paradigma: como é possível que as ameaças e riscos produzidos a partir desta modernização sejam evitados ou
minimizados, ou se inevitáveis como efeitos colaterais, sejam
redistribuídos de forma a não atingir o limite do aceitável?
Assim, além de tratar de libertar socialmente as pessoas
através da modernização e do desenvolvimento econômico social,
13
IBIDEM.
14
IBIDEM.
GUIVANT, Julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o
diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura – Revista semestral
de Ciências Sociais Aplicadas ao Estudo do Mundo Real. v.16, p.95-112,
abril/2001. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/
dezesseis/julia16.htm– Acesso: fev. 2013
15
16
fIorIllo, celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro.
São Paulo: Saraiva, 2004, p. 36. Também nesta posição MILARÉ, KISS, SADELEER, GODARD, VARELLA E MACHADO.
66
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
mitigadoras, constantes nos estudos de impacto ambiental, têm
demonstrado, em sua maioria, ineficácia quanto ao restabelecimento
da lógica ambiental, podendo nascer uma nova e diferente cadeia
no ecossistema, mas biologicamente, o que se perdeu com o dano
é irrecuperável. Porém, cientistas afirmam que à longo prazo, ha
possibilidade de resiliência em matéria ambiental. A diferença
está baseada na capacidade de recuperação.
Por óbvio, parece que qualquer que seja a ação antrópica,
sempre trará algum impacto, podendo ser este absorvido ou não
pelo meio ambiente, e este é o mérito do comportamento subjetivo.
A questão relevante é que, na defesa de um desenvolvimento,
busca-se a implementação de tecnologias por vezes inadequadas
e que conduzem aos danos ambientalmente não absorvidos. Nas
áreas urbanas, essas distorções se repetem, ao largo dos planejamentos estratégicos e dos instrumentos de controle, sempre
por interesses de empreendedores e financeiros.
Nesta sociedade de risco, não há outro caminho que não
seja a aproximação de proteção ao meio ambiente com a proteção
à vida. A Defesa Civil assim pode ser percebida com instituição
estratégica para redução de riscos de desastres. Sua funcionalidade
está definida no Sistema Nacional de Defesa Civil, conforme
Decreto nº 97.274, de 16.12.1988, uma de suas finalidades é o
dever de prevenir e minimizar os efeitos dos eventos desastrosos.
Ao abordar tal raciocínio no exemplo apresentado,
verifica-se de pronto que as tecnologias disponíveis não foram
suficientes para evitar o dano. Começa aqui a demonstração
concreta de que este elemento subjetivo comportamental, ou seja,
a ação do agente é de fundamental importância para a questão
ambiental, sem desejar ser, desde já, conclusiva, mas ressaltando
como ponto importante a ser retomado adiante.
Dissertar
o dano à saúde humana ou mesmo o seu atingimento psicológico,
não há como quantificá-los.
Assim, nem sempre é possível calcular o dano ambiental,
justamente em virtude de sua irreparabilidade. Édis milaré 18 salienta que essa característica ficou mais complexa com o advento
da Lei nº 8.884/94 que, em seu art. 88, alterou o caput do art.
1º da Lei nº 7.347/85, ensejando que também os danos morais
coletivos sejam objeto das ações de responsabilidade civil em
matéria de tutela de interesses trans-individuais.
No caso concreto apresentado, há um quanto que pode até
ser estimado, mas sem qualquer parâmetro ou exatidão. E ainda,
quais organismos vivos deveriam ser repostos? este ecossistema
está inteiramente identificado e classificado? Dificilmente se
chegaria a uma conclusão. em relação ao quantum indenizatório,
como valorar as perdas? Igualmente impossível.19
A legislação pátria, sem dúvida é bastante rigorosa na
objetivação da responsabilidade, incluindo-se aqui a espécie
integral (de risco da atividade), mas sempre nas situações de
existência de dano. Não só no Brasil, mas em todo o mundo há
a exigibilidade do dano. Até mesmo a idéia do dano potencial,
rechaçada pelos tribunais brasileiros, é aceita em alguns países
da europa e japão.
o ser humano, sujeito de direitos e obrigações para
presentes e futuras gerações, exige medidas comportamentais.
Assim, para quem atua colocando em risco a sociedade como
um todo e seus interesses, a reação pode ser repressiva da lesão
consumada ou preventiva de uma consumação iminente. o que
se espera é que com toda a fundamentação legal existente, possa
a precaução de forma efetiva vir a fundamentar uma nova atitude
do estado e da Sociedade.
A precaução e a prevenção são duas faces diferentes da
prudência que se colocam frente a situações quando há existência ou possibilidade de dano. os princípios da precaução e
da prevenção norteiam toda a política de proteção ambiental e
estão relacionados às teorias de uma sociedade de risco. estes
preceitos deveriam fundamentar as políticas de gestão de riscos e, sobretudo, estarem presentes nas propostas e nas ações
da Defesa Civil, por ser seu dever atuar nas situações de risco.
A precaução é de ordem hipotética de risco específico
e fático, envolve casos concretos relativos ao meio ambiente,
evitando a atividade no caso de dúvida, avaliando sempre o fato
concreto que aconteceu ou está para acontecer. Nesse processo,
cumpre aferir em que medida é necessário evitar certa atividade
ou acompanhar de perto os movimentos de determinados equipamentos pelos responsáveis por seu manuseio. Seu universo é
incerto, exigindo ações particulares, avaliação de riscos, podendo
haver ações para diminuí-los, com base na comparação entre
diversas possibilidades para se optar por uma, de menor risco.
Há, ainda, a possibilidade de se ter que optar por uma não ação,
baseado no grau de desequilíbrio em relação ao custo-benefício.
já a prevenção é de ordem abstrata e generalista, não
reclamando a presença de um fato, embora requeira um aparato
legislativo protetivo, a funcionar como estimulante negativo para
a prática de agressões. Se as opiniões nacionais ou estrangeiras,
após inventário, concluírem pela possibilidade de haver dano
denota-se a prevenção, ou seja, há o que ser prevenido.
Por que a questão envolve o elemento subjetivo?
De fato, procede ao questionamento, sobretudo, em se
tratando da espécie de responsabilização da matéria em questão.
ocorrendo o dano ambiental, impõe-se sua reparação, é o que
determina a carta magna em seu artigo 225, §3º, bem como a
Lei nº 6938/81, em seu artigo 14 § 1º, que acrescenta a inexistência de culpa na relação jurídica obrigacional. logo, volta-se
aqui para o dano, objetivamente e a sua simples comprovação,
na melhor corrente17, gera a obrigação de indenizar. Portanto,
necessita-se do dano. Se acrescentarmos a essa objetividade a
dificuldade de resiliência e de reparação indenizatória, chega-se
à conclusão de que a simples existência do dano não deveria ser
a condição primeira exigível, mas sim o comportamento prévio
precavido do agente, mas como mensurá-lo, ou mesmo apontar
a sua existência?
Novamente aproximando a temática da proteção ambiental e da defesa civil e seus objetivos de estudar, definir e propor
normas, planos e procedimentos que visem à prevenção, socorro
e assistência da população e recuperação de áreas, é possível
verificar a necessidade do mesmo comportamento prévio. Assim
a gestão de risco possibilita que as ameaças ou fatores adversos
poderão sugerir obras e medidas de proteção com o objetivo de
prevenir ocorrências graves. E este é um comportamento exigível
da sociedade. Poderá ajudar, ainda, a promoção de campanhas
educativas junto às comunidades e estímulo ao seu envolvimento.
Na busca destes objetivos, quando do exame dos aspectos
múltiplos que envolvem a reparabilidade, seja o quantum indenizatório no caso da impossibilidade de se tentar a resiliência, seja
18
mIlArÉ, edis. Direito do Ambiente – doutrina – jurisprudência –
glossário.3.ed.. rev., atual. e ampl. - São Paulo: revista dos tribunais, 2004, p.671.
19
bArboSA, tania mara Alves.
A resposta a acidentes tecnológicos: o caso
do acidente radioativo de goiânia. dissertação apresentada ao curso de mestrado
em Sociologia, da faculdade de economia da universidade de coimbra, 2009.
Conforme doutrinadores como Milaré, entende que a Constituição Federal
impõe um sistema garantista, ao passo que outros, como ToshioMukai, entendem
que o sistema é de responsabilização objetiva.
17
67
Dissertar
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
Quanto à certeza científica, aqui abordada como elemento
de fundamental importância para a aplicação do princípio da
precaução, deve ser recolocada na sua amplitude e não aplicada
exclusivamente em questões pontuais. Este princípio em sua
integralidade ainda terá um caminho árduo a percorrer, sobretudo
na jurisprudência nacional. Neste sentido, parece estar firmada
a concretização da prevenção, o que é importante, seja pela exigibilidade do próprio estudo de Impacto às atividades de risco,
seja por seu abrigo no sistema legislativo nacional.
A questão da dúvida quanto aos danos, ou mesmo em
relação aos possíveis danos potenciais parece ainda distante
de ser amadurecida. o próprio estado não vincula o ato administrativo a uma atitude precavida onde considere o recuo da
decisão de fazer quando persiste a dúvida dos efeitos danosos.
Há uma hesitação sobre a decisão, pois o dano potencial para
a jurisprudência, não é dano, deixando-se advir sua efetivação
para buscar a reparação, o que pode ser irreversível.
Retornando ao exemplo apresentado e comparando
aos conceitos doutrinários e fundamentos legais apresentados,
observa-se que a tônica é a possibilidade de indenização civil
quanto aos danos. Mas até que ponto este fato contribui para a
reversão do quadro de ações de risco, sobretudo em empresa
que manipula vultosas quantias? 10 bilhões? 100 milhões?
Que diferença faz, até mesmo e porque, conforme verificado, a
repristinação e o quantum a reparar são matérias de dificílima
definição e abordagem, quanto aos resultados a que se propõe.
Os fatos demonstram questões e conceitos que abordam
sempre o tema do dano. A própria legislação somente possibilita qualquer imputação ao agente na sua ocorrência. mas esta
trajetória sabe-se como se inicia e quais são os resultados finais.
A simples observância no exemplo apresentado demonstra uma
curva de responsabilização que tende a irresponsabilidade.
os paradigmas trazidos pela nova ordem constitucional
e sua reflexão apontam uma proteção integral e assim há um
descompasso com o processo de responsabilização vigente,
apoiado na legislação. A intenção do legislador é que o agente
responda pelo dano havido, ou seja, se houver danos, responderá
de forma objetiva sem análise da culpa, em situações de risco.
estas hipóteses aceitas e desenvolvidas na doutrina e
praticadas na jurisprudência não acompanham o que determina o princípio internacional da precaução, consagrado em
âmbito internacional através da edição como Princípio 15 da
Conferência Rio/9220.
Porém, o que de fato se exige, através dos princípios
constitucionais, tendo o direito a um meio ambiente de qualidade
como ícone primeiro, é que o agente atue de forma preventiva
e precavida e isto se refere a um comportamento subjetivo,
internalizado a partir de um processo de socialização de regras
de conduta e normas sociais, adequados e condizentes com o
espírito protetivo numa sociedade de risco. Assim, a hipótese seria de que para o agente, ao não agir
dentro dos parâmetros exigíveis do princípio da prevenção e da
precaução, haveria também uma responsabilização. caso não,
impossível enquadrar a relação jurídico-obrigacional, conforme
determina o artigo 225 da constituição da república federativa
do Brasil – CRFB/88. Não se trata aqui de tão somente utilizar-se
dos meios disponíveis para o melhor resultado possível, pois este
não é o sistema imposto. o que se espera deste comportamento
subjetivo é a garantia de que com determinado comportamento
subjetivo previamente estabelecido, o risco de ocorrer o dano
20
é diminuto. e para estes procedimentos há a garantia do agente
de sua ocorrência como elemento garantidor.
Observe-se que no fato narrado as abordagens são inteiramente descabidas neste sentido. os responsáveis da cNeN
trataram o evento danoso como falta de cuidado do laboratório,
se eximindo da sua própria responsabilidade de prevenção e
precaução. ora, se há imprevisibilidade, a determinação obrigacional é que não faça.
Se para o direito penal o elemento culpa ou dolo é princípio lógico e de substancial referência, para a responsabilização
civil ambiental ocorre o oposto, e os operadores permanecem
utilizando um pelo outro por sua conveniência processual. Há
que ser afastada a tese patronal.
O que se espera é o não fazer diante da incerteza e, portanto,
a hipótese é de que poderá haver responsabilização quando não se
atua conforme o esperado, mesmo considerando a inexistência do
dano real. A falta de atitude prévia poderia conduzir à responsabilidade do agente e ainda, se há um dano potencial, porque não
responsabilizar-se o agente pela falta de atitude prévia?
O sistema garantidor que não garante
A primeira garantia do sistema remete à responsabilização
objetiva ou responsabilidade integral, centrada exclusivamente
no dano, sem o nexo causal, tal como afirma Édis Milaré21.
Desta forma, numa sociedade de risco, em existindo dano, há
a garantia de que este será reparado. Conforme já abordado, a
crítica a este sistema é que em havendo dano a reparabilidade
e a represtinação impossibilitam tal garantia. Neste passo, os
tribunais vêm decidindo na exigibilidade do dano real de forma
geral, afastando-se dos princípios constitucionais que embasam
a atuação precavida exigida em lei.
A outra garantia é de que o agente deve atuar fundado
dentro do princípio da precaução. Ao se examinar a natureza
jurídica da precaução, há que se percorrer um estreito caminho
entre a norma jurídica e o princípio. O que se busca, ao final é
a força e a efetivação daquele princípio.
Alguns autores, como roberto Andorno 22, em visão
ilustrativa, demonstram que se trata de um pleno exemplo de
formação de uma regra de direito. Portanto, o que mais se adapta
à precaução é o seu enquadramento como um princípio político-jurídico23: é político, pois inspira a atuação governamental em
medidas protetivas da ação pública pró-sociedade; é jurídico,
pois trata de força obrigatória em normas jurídicas nacionais
e internacionais, além do reconhecimento da própria jurisprudência, sobretudo na Europa. Afirma o autor que as jurisdições
internacionais são unânimes em reconhecer no princípio da
precaução um estatuto de regra de direito diretamente aplicável,
na ausência de regulamento particular.
como consequência, decorre a conclusão de que somente
poderá alcançar esta amplitude se a sua eficácia estiver atrelada
a uma responsabilização, conduzindo a um valor jurídico geral.
Assim, a garantia deveria estar no atuar precavido do agente.
Mas este processo de responsabilização/ garantidor fundado
na precaução não possui respaldo legal no direito pátrio. Aqui
também o sistema é precário, pois apresenta um fundamento
constitucional, mas não concede meios de sua aplicação.
21
mIlArÉ, Édis,
op cit. p. 757.
22
mArtIN, gilles. La nature du príncipe de précaution, apud ANdorNo,
op. cit., p. 11.
23
ANdorNo, roberto. El principio de precaucion: um nuevo standard jurídico
para la era tecnológica.buenos Aires:la ley, 2000, p.11.
rIo 92, op. cit.
68
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
A análise deste elemento subjetivo comportamental do
agente parece ser o único caminho a percorrer que poderá trazer
respostas para este processo de responsabilização.
Tomando-se o exemplo, hoje a sociedade discute, opina
e lamenta a contaminação radioativa que ocorreu a partir de
procedimentos desprecavidos. mas a hipótese poderia ser: se o
procedimento garantidor não estivesse correto e não houvesse
danos, responderia o agente? certamente que não, pois este
elemento subjetivo é comportamental e exige outra espécie de
abordagem que não seja pelo aparato legal objetivo.
Se há um risco a enfrentar, o encaminhamento deveria
examinar se o agente agiu de forma precavida. Alguns autores
contribuem com o debate. Hans Jonas24, em 1980, formulou
o princípio da responsabilidade, aprofundando-se no conceito
de risco e da necessidade da comunidade científica produzir
conhecimentos de maneira responsável. Já Gerd Winter25 inverte a abordagem em relação ao risco. A pergunta não seria
se a atuação do agente causaria dano, mas se é necessária a
atuação arriscada do agente.
Assim procedendo, retira-se o fundamento da identificação
do risco, cujo cerne está centrado no campo político e técnico
científico, para abrigar-se na razão final da própria atividade: o
bem-estar social da comunidade. Portanto há autores que trabalham o conceito e seus mecanismos, mas seria preciso melhor
categorizar a sociedade de risco e este comportamento subjetivo
exigível. E neste aspecto o aparato legal e o comportamento
subjetivo da sociedade são insuficientes.
Assim, a garantia que está posta não responde como elemento garantidor de proteção, posto que se por um lado ocorreu
o dano, rompido estará todo o sistema irreparável, por outro há
um elemento subjetivo comportamental que até aqui não exigível
e que sem ele todo o sistema ficará exposto.
Dissertar
tamental imposto àqueles sujeitos de direitos, pela construção
do bem maior da coletividade. As limitações impostas a sua
conduta de forma fundamentada estão diretamente relacionadas
à sobrevivência do grupo, e por conseqüência do indivíduo.
compreendido este dever comportamental, deve ser
examinada a forma de se fazer preponderá-lo na sociedade. Na
realidade, poderia se afirmar que este movimento na sociedade
estaria articulado a partir do somatório de vontades individuais.
mas a caracterização também poderá partir da idéia da ação
coletiva que promoveria este conjunto de vontades individuais.
Kant26, em sua obra sobre o Esclarecimento (Aufklärung) aborda
a libertação do homem e sua projeção para as decisões de razão
autônoma. Afirma a dificuldade de o homem fazer isto por si
só e construir a sua liberdade. conclui que será na democracia
que se construirá uma sociedade justa, a partir do conceito de
uso público e de uma opinião pública crítica.
Portanto, é conclusivo que haja um dever obrigacional
exigível pela sociedade e imposto ao homem que determina o
agir integradamente com a coletividade como condição para
se ter o exercício de direitos fundamentais. É razoável que este
dever possa estar na interseção do campo do dever moral com
o dever obrigacional.
A compartimentalização de ações e a retaliação deste dever
centrada no homem para o homem, não têm surtido os efeitos
desejados, pois o que se verifica é a prevalência do individualismo e do interesse particularizado. As tentativas de simples
normatização, portanto, esbarram na natureza do direito à vida
de qualidade, o que se faz refletir a possibilidade de um novo
paradigma que reinvente este subjetivo comportamental exigível.
Considerações finais
o presente trabalho tem a pretensão de, a partir de um
exemplo fático que tem como base um acidente social e ambiental, possibilitar a reflexão sobre o sistema de responsabilização
e sua operacionalização. demonstra, ainda, que as garantias
constitucionais a um ambiente de qualidade estão distantes
exatamente devido a um processo de responsabilização que não
se presta ao que se propõe.
O exemplo fático bem demonstra que há uma curva perversa
de desinformação à sociedade, inteligentemente trabalhada pelos
operadores do direito e que ao longo do tempo foi se esvaindo
até cair no esquecimento da impunidade.
Diante de tais fatos, onde estão as incongruências? Numa
responsabilização que recai verticalmente sobre a exigibilidade do
dano, na ausência de um efetivo sistema preventivo e precavido e,
sobretudo, na ausência de compreensão de um sistema obrigacional
que efetiva um movimento democrático de responsabilização.O
indivíduo, protagonista deste sistema obrigacional, jamais compreenderá tal sistema se não se colocar dentro dele, tanto como
credor, quanto como devedor a um ambiente de qualidade. Há
aqui uma exigibilidade de um comportamento subjetivo que se
pretende preventivo, precavido e que se impõe, mas que deve
“nascer” como um movimento da sociedade.
Observe-se que esta afirmativa vale tanto para o operador de um equipamento radiológico como para o presidente
da empresa responsável pela fiscalização de equipamentos
que contêm substâncias sob sua responsabilidade. todos são
igualmente responsáveis, diz o comando subjetivo exigível.
esta atitude preventiva e precavida deve ser o alicerce maior
da responsabilização, é o que se deve à sociedade.
A hipótese de uma equação social de estabilização
o sistema jurídico de direitos e deveres apoia o indivíduo em sua exigência quanto ao exercício de direitos.
Porém, também traz ao horizonte um “comando social” que
determina que este mesmo indivíduo sujeito de direitos, em
reação reflexiva, deverá arcar com seu papel social por inteiro,
o que impõe obrigações mínimas do que fazer e como fazer.
esta é uma condição primeira, posto que, pela regra geral, a
cada direito caberá um dever.
Da mesma forma, nesta equação social, se o indivíduo
faz jus a direitos fundamentais, mais ainda, a mínimos sociais,
há que se exigir a contraprestação social que se traduz no comportamento mínimo subjetivo, ou dever social.
mas onde está este “comando social” que assim determina?
Quem o legitima? O que faz com que o indivíduo entenda uma
contraprestação como um comportamento subjetivo exigível
de parte de um todo?
A premissa que sustenta esta obrigatoriedade é de que cada
indivíduo deverá arcar com sua parte, fortalecendo instituições
justas promovendo a estabilidade social. Importante observar
que as instituições injustas não podem impor obrigações, pois
o dever seria também natural de justiça.
Pelo que parece, o contraponto do exercício dos direitos
fundamentais é um comando normativo como dever compor24
JONAS, Hans. El principio de responsabilidad. Ensayo de una ética para
la civilización tecnológica. Barcelona: Herder, 1995, p. 38
WINTER, Gerd. As Facetas do Significado de Desenvolvimento Sustentável
- uma Análise Através do estado de direito Ambiental. P AlmA, 2011, p. 41-43.
25
26
69
KANT, Immanuel. Textos Seletos. Rio de Janeiro: Vozes, p. 102.
Dissertar
Precaução a prevenção na ótica da defesa civil
Claudia Lobo e Fernando Cordeiro Barbosa
Portanto, o caminho a seguir do exercício pleno do direito
fundamental a uma vida de qualidade deve considerar o equilíbrio
dinâmico da equação social. o rompimento do estado de individualização poderá ser contraposto à busca do consenso como
ferramenta democrática de construção da necessária ambiência
social ao que se adota como contraprestação.
É possível que o senso comum de ajuda e a interdependência entre os indivíduos de uma sociedade sejam ferramentas
preciosas no enfrentamento deste processo de individualização,
firmando-se a partir de regras essenciais para a vida em sociedade,
caracterizando o conceito de solidariedade social.
JONAS, Hans. O Princípio da Responsabilidade. rio de janeiro:
contraponto editora, 2006
KANT, Immanuel. Textos Seletos. rio de janeiro: editora vozes. 1985
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. De João Baptista Machado. coimbra: Porto, 1990.
LEAL, Rogério Gesta. Habermas, Jürgen. In: BARRETO, Vicente
de Paulo (coord.). Dicionário de Filosofia de Direito. São leopoldo:
editora unisinos, 2006.
leAl, rogério gesta. Perspectivas Hermenêuticas dos Direitos Humanos
e Fundamentais no Brasil. Porto Alegre: livraria do Advogado, 2000.
leÃo, lidiane Nascimento. considerações sobre a Ética do discurso
de Jürgen Habermas, disponível em www.conpedi.org.br/manaus/
arquivos/.../lidiane_nascimento_leao2. Acesso em 10/02/2012
LUHMAN, Niklas. Legitimidade do procedimento. brasília: ed.
uNb. 1980.
mIlArÉ, edis. Direito do Ambiente – doutrina – jurisprudência – glossário. 3.ed.. rev., atual. e ampl. - São Paulo: revista dos tribunais, 2004.
PereIrA, elaine campos.
Risco e Vulnerabilidade Sócio-ambiental: o
depósito definitivo de rejeitos radioativos na percepção dos moradores
de Abadia de goiás. dissertação (trabalho de conclusão de mestrado)
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Sociologia da faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal
de goiás, 2005.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. trad. vamireh chacon. brasília:
universidade de brasília, 1981.
SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 2 ed., São
Paulo: malheiros editores, 1997.
Referências
Alexy, r. Teoria de los Derechos Fundamentales. madrid: centro
de estudios constitucionales, 1997.
ANdorNo, roberto. El principio de precaucion: um nuevo standard
jurídico para la era tecnológica.buenos Aires:la ley, 2000.
ANtuNeS, Paulo de bessa. Direito Ambiental. 5 ed., rio de janeiro:
lumen juris, 2001.
bArboSA, tania mara Alves.
A resposta a acidentes tecnológicos:
o caso do acidente radioativo de goiânia. dissertação apresentada
ao curso de mestrado em Sociologia, da faculdade de economia da
universidade de coimbra, 2009.
bArcelloS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios
Constitucionais. rio de janeiro: renovar, 2002.
bArreto, vicente de Paulo. O que é Pessoa Humana. mimeo., 2001.
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. São Paulo: editora 34, 2011.
bobbIo, Norberto. A Era dos Direitos. 14 ed.. rio de janeiro:
campus, 1998.
boNAvIdeS, P . Curso de Direito Constitucional. São Paulo: malheiros, 2000.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Introdução ao Direito do Ambiente. lisboa: universidade Aberta, 1998.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo:Cultrix e Cultrix e Mana-Key . 2004.
CERQUEIRA, Kátia Leão. Entre facticidade e validade: A legitimação do direito à luz da razão comunicativa, In: Âmbito jurídico, rio
Grande, 82, 01/11/2010 [Internet].
Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/Acesso em
05/01/2012.
dufour, barbosa – Le príncipe de precaution, Epidémiologie ET
santé animal, 2002, 41, 27-34.
fArIA, josé eduardo faria. Justiça e Conflito. São Paulo: revista
dos tribunais, 1991.
fIorIllo, celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental
Brasileiro. São Paulo:Saraiva, 2004.
guIvANt, julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck:
entre o diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura- revista semestral de ciências Sociais Aplicadas ao estudo do
Mundo Real. v.16, p. 95-112. abril/2001. http://bibliotecavirtual.
clacso.org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/dezesseis/julia16.htmAcesso: fev. 2013
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. traduzido por gilmar
ferreira mendes. Porto Alegre: fabris, 1997
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e
validade. rio de janeiro: tempo brasileiro, 1997
________. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de flávio benoSiebeneichler. 2.ed.,v. 1,rio de janeiro: tempo
brasileiro, 2003.
Artigo enviado em 09/12/2014, aceito em 26/02/2015
70
Dissertar
Dissertar
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento
sustentável: nosso papel como educadores
Educación como herramienta de ciudadanía y desarrollo sustentable:
nuestro papel como educadores
Education as a skill of citizenship and sustainable development:
our role as educators
A proposta deste artigo é a utilização da Carta da Terra como fonte
inspiradora, abordando a educação
como uma importante ferramenta de cidadania e sustentabilidade
planetária. Conjugamos a Carta
da Terra às práticas inspiradas por
Peter Senge, importante autor no
cenário empresarial global, para uma
educação crítica e transformadora
em prol do despertar da reflexão de
nossos educandos, em prol da Justiça
Social e de mundo mais sustentável,
propondo reflexões aos educadores,
para nossos alunos.
The purpose of this article is to
use the Earth Charter as an inspirational source, addressing education as
an important tool for global citizenship
and sustainability. We combine the
Earth Charter with practices inspired
by Peter Senge, lead author on the
global business scenario, for a critical and transformative education,
in order to help the reflection of our
students reflect and act towards social
justice and a more sustainable world,
offering reflections to educators, for
our students.
Palavras-chave: Educação, Cidadania, Desenvolvimento
Sustentável.
El propósito de este artículo es
utilizar la Carta de la Tierra como
fuente de inspiración, dirigiéndose a
la educación como una herramienta
importante para la ciudadanía global
y la sostenibilidad. Combinamos las
prácticas de la Carta de la Tierra e
inspirados por Peter Senge, autor
importante en el escenario global de
negocios, para una educación crítica
y transformadora para el despertar
de la reflexión de nuestros estudiantes
hacia la Justicia Social y un mundo
más sostenible, ofreciendo reflexiones
a los educadores, para los estudiantes.
diariamente toneladas e toneladas de resíduos são descartados,
enquanto poluímos nossas águas e nossas terras, desmatamos
desenfreadamente, levamos inúmeras espécies à extinção, reduzimos ecossistemas e descartamos uma imensa quantidade
de resíduos diários. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo,
apenas 3% dos resíduos são reciclados. o desmatamento total
da Amazônia, embora com um viés de queda, já causou a destruição de aproximadamente 17% da floresta, somente em sua
parte brasileira. o cerrado brasileiro, que ocupa 24% do território nacional e é o segundo bioma com maior biodiversidade
do Brasil já perdeu quase a metade de sua cobertura florestal
original, numa extensão de quase um milhão de Km2. A área é
superior ao estado no mato grosso e corresponde a 22 estados
do rio de janeiro. quatro décadas é o tempo que resta de vida
para a Mata Atlântica – a floresta que, em 1500, recobria todo
o litoral brasileiro. Nessa velocidade, a floresta tem data para
acabar: 2050. Estamos vivendo um modelo de vida que extrapola
demasiadamente a capacidade de carga da terra.
Desta forma, de nada adiantará estudar, progredir e encontrar um espaço de trabalho na sociedade se não tivermos a
nossa “casa”, a Terra. Nosso desafio, como educadores é, ensinar
a pensar, e, ao mesmo tempo, desenvolver uma consciência crítica
capaz de mudar hábitos e atitudes, transformando realidades e
sociedades em prol da sustentabilidade planetária. Para alcançar
tal aliança e construir essas oportunidades, é importante refletirmos sobre nosso papel enquanto educadores.
este artigo tem a proposta de inserir uma abordagem
holística e sistêmica nos processos educativos. Para tal, baseia-se em dois instrumentos: as ferramentas apresentadas por Peter
Senge, autor do best-seller “A quinta disciplina”, laureado pela
Autora:
Maria Cecilia Trannin
Post-Doctoral Fellow – Pesquisadora at CCIAM - Climate
Change Research Group - Universidade de Lisboa (FCUL).
Possui graduação em Comunicação pela UFRJ. PhD em
Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Instituto EICOS- Cátedra da UNESCO (2011). Coordenação
do Curso Gestão Ambiental (graduação); MBA Biodiversidade
e Sustentabilidade (EaD) e do MBA em Gestão Ambiental na
UNESA – Centro I.
E-mail: [email protected]
introdução
Notícias vindas de vários lugares do mundo, sob inúmeras
formas midiáticas (TV, internet, telefones celulares, outdoors,
Ipods e tantos outros meios de comunicação) chegam com uma
velocidade muito maior do que podemos absorver e se afetados
por elas. A informação que entra através dos nossos sentidos
é impressionante: cerca de 400 bilhões de bits por segundo.
É fato que nós não temos a capacidade de processar toda essa
informação ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, a questão da
problemática ambiental, das consequências de nossos processos
produtivos, do consumo e descarte exacerbado e dos impactos
causados pelo nosso modo de viver permeia toda discussão,
debate e informação midiática da atualidade.
A natureza nos sinaliza sua fragilidade e a finitude de seus
recursos, face aos nossos hábitos de consumo insustentáveis.
71
Dissertar
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin
Harvard Business Review como um dos cinco “melhores livros
de negócios” das duas últimas décadas, e na carta da terra.
Peter Senge desenvolveu um método denominado “As cinco
disciplinas”.
Para o autor, uma disciplina é “um treinamento consciente
para incorporação de novos hábitos, como se fosse uma espécie
de técnica, algo que treinamos e incorporamos em nossas decisões
e ações.” Podemos, através do treinamento e olhar crítico, mudar
nossas posturas e adquirirmos maior domínio sobre nossas ações,
mas dominar uma disciplina não é possuí-la. É um processo, é
um comprometimento para a vida.
São cinco as disciplinas propostas por Senge: a maestria
pessoal, a ruptura de modelos mentais, a visão compartilhada,
o Aprendizado coletivo e o Pensamento Sistêmico. com elas
podemos aprender a pensar paradoxalmente, ver oportunidades
antes não percebidas, termos maior clareza de pensamento e
ideias mais criativas.
Além disso, como inspiração base, o artigo baseia-se nos
seguintes Princípios da carta da terra:
• Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo
da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias
para um modo de vida sustentável;
• Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente
para o desenvolvimento sustentável;
• reconhecer a importância da educação moral e espiritual
para uma condição de vida sustentável.
O artigo oferece assim estratégias pedagógicas que podem
integrar na Educação Superior algumas reflexões necessárias,
abordando a necessidade do desenvolvimento do pensamento
sistêmico, do aprendizado colaborativo e contínuo, a inserção
da temática e problemática ambiental de forma transdisciplinar,
o desenvolvimento de habilidades cognitivas e relacionais, e a
compreensão da valorização da cidadania como dimensão da
própria educação.
tante. Quando falamos em ensinar, falamos da necessidade de
adaptação e compreensão deste mundo. falamos de despertar
para uma consciência efetivamente crítica e transformadora,
que de fato compreenda a complexidade e a inter-relação entre
nossas escolhas e seus impactos, sobre a nossa responsabilidade
na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual,
sobre o nosso desafio de transformar hábitos e atitudes, de
“predadores e caçadores” em “construtores” de um mundo mais
justo e solidário. Assim, utilizamos as ferramentas propostas
por Peter Senger como fonte de inspiração, para refletirmos
juntos, transportando esse conceito para o processo educativo,
o professor deve assumir uma nova forma de atuação.
Maestria Pessoal
maestria pessoal é, por assim dizer, a arte do crescimento
pessoal e do aprendizado. Pessoas com essa disciplina incorporada
em suas ações buscam continuamente expandir a capacidade
de criar os resultados que realmente desejam. ela vai além das
competências e habilidades, embora requeira competência e
habilidades. tem a ver com ser criativo, em vez de reativo.
esta é a disciplina da aspiração, do sonho, da motivação.
envolve o pensar sobre o que se quer atingir e alcançar como
indivíduo. Para dominá-la, devemos balancear o que vivemos
no momento com o que queremos ser, criando uma visão pessoal. A justaposição da visão (o que queremos) e uma visão
clara de onde estamos pode gerar tensão. essa é uma tensão
positiva, criativa, vital para nossa evolução e transformação.
Se visualizarmos uma banda elástica, que puxamos para um
lado e para o outro compreenderemos a tensão entre realidade
e visão. Aprender a lidar com essa disciplina expande a nossa
capacidade de fazer escolhas e de atingir outros, novos resultados. o primeiro passo para dominar essa disciplina é ensinar
aos alunos a identificar o que é importante para nós e para
eles. Será que realmente precisamos tudo que consumimos?
Já paramos para pensar no desgaste que a terra está sofrendo?
como educadores, procuramos inserir a temática através de
exemplos aplicados às “nossas” disciplinas? Incentivamos
novas práticas reflexivas? Conversarmos com os alunos para
que exerçam sua cidadania, desenvolvam sua visão pessoal
de mundo, da realidade que possuem hoje e da realidade que
querem criar para si e para seus futuros filhos? É fundamental
enxergar “o todo” e a complexidade em cadeia das relações.
É importante mostrar aos alunos que ser honesto é não fingir
que está tudo bem.
com esta disciplina, treinamos o nosso caminhar direcionado para os objetivos que queremos alcançar. mover em
uma direção implica em saber onde você está agora. Pessoas
que dominam essa disciplina nunca “chegam ao ponto final”,
estão sempre buscando, ou seja, o aprendizado é constante.
como educadores, devemos ensinar que dominar essa disciplina
é lutar, constantemente, contra as forças que nos puxam para
trás, acreditando que a realidade somos nós que fazemos, como
professores, como lideres comunitários, como empresários,
como técnicos de meio ambiente, como cidadãos deste mesmo
mundo. É mover adiante, a despeito dos problemas, integrando
verdade, comprometimento, sonho, persistência, razão e intuição. Tendo compaixão, aprendendo e ensinando, conjugando
intuição e racionalidade.
uma antiga história de autor desconhecido nos conta
que um homem cego estava vagando perdido em uma floresta
e tropeçou em um homem que não podia andar. Iniciaram uma
conversa sobre a fatalidade da vida. O homem cego disse: “Eu
Desenvolvimento
embora a realidade a nossa volta mude o tempo todo,
desconstruindo saberes e comprovando novos fatos, criando
cenários onde até o estudo da replicabilidade da vida humana
é possível temos ainda um grande paradoxo: nossa realidade
interna, nossos hábitos arraigados em tantos anos de consumo e
descarte. É difícil mudar essa realidade, pois não paramos para
“percebê-la”. Nos acostumamos a “não ver”, criamos “padrões
mentais”, modelos ou enquadramentos, como as molduras nas quais
colocamos quadros e pinturas. congelamos nossas percepções
e dificultamos a chegada de novos hábitos e atitudes. Adotamos
com facilidade uma nova mídia interativa e nos conectamos
sem fios com o outro lado do mundo, mas continuamos não
compreendendo, de fato, a finitude de nossos recursos naturais
e a complexidade dos processos produtivos. Acreditamos que
basta “fechar a torneira para economizar água”, mas comemos
carne todos os dias, ignorando o gasto de água embutido na
criação, processamento e abate dos animais (isso sem falar dos
processos extremamente vis e cruéis aos quais os submetemos
para nosso consumo).
Segundo Peter Senge, para mudar uma organização é
preciso primeiro empreender uma transformação individual.
Nossos estudantes, e aqui falamos dos estudantes universitários, justamente aqueles que estão mais próximos do processo
coletivo de decisão e transformação de realidades, vivem neste
tempo mutável e midiático, a única certeza é a mudança cons-
72
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin
estou vagando pela floresta toda minha vida e não encontro a
saída”. o outro respondeu: “Eu estou caído na floresta por toda
minha vida e não consigo andar”. de repente, o homem que não
podia andar exclamou: “Eu tenho uma solução! Você me carrega
no colo e eu te mostro como o caminho”. Não somos tudo, mas
ao somarmos forças podemos ser tudo.
Como falou Carl Jung, psiquiatra suíço, fundador da Escola
Analítica de Psicologia, autor de inúmeros livros e introdutor
do termo inconsciente coletivo, “Quem olha para fora, sonha.
Quem olha para dentro, desperta.” como educadores, devemos
difundir aos alunos o conceito de maestria pessoal, em nossas
aulas, estimulando-os a identificar onde estão agora e onde
querem chegar, fazendo-os co-relacionar a situação pessoal de
cada um e a mudança no contexto sócio-político-ambiental do
seu entorno e da sociedade com um todo.
Sem mudanças internas, estaremos sempre comentando, com
distanciamento, os últimos acontecimentos e fatos, as catástrofes
da hora, os vulcões e terremotos do momento, sem abordar suas
causas, sem efetivamente provocar mudanças nas atitudes dos
estudantes, futuros empresários que deverão assumir seus papéis
tanto como cidadão. queremos também sugerir que o cenário
de nossas aulas apresente e aborde a temática socioambiental de
forma interdisciplinar, através de exemplos inseridos nas nossas
disciplinas, ao mesmo tempo em que, como educadores, ofereçamos conhecimentos para a aquisição de consciência crítica,
tão necessária à transformação que queremos e precisamos ter
para conservar a vida na Terra. A ideia é que, sejam quais forem
as disciplinas das quais estivermos à frente, caminhemos com
o propósito de abordar e desenvolver a questão da necessidade
das disciplinas internas, ferramentas necessárias à absorção de
novos hábitos e atitudes sustentáveis, bem como a exposição
dos cenários socioambientais que temos e como os queremos
transformar, no caminho para uma vida mais sustentável.
Dissertar
colegas, em um círculo, as visões de suas tarefas, pensamentos
e posições na empresa. O jogo funcionou.
o modelo estava baseado, basicamente, em dois pilares:
reflexões e inquisições. Pensar sobre e perguntar. Quanto mais
perguntas, melhor. ouvir. encorajar o outro a ver o seu lado da
moeda. Enxergando outras perspectivas, iniciamos o processo de
questionamento interno das nossas. Sair do pensamento linear (o
que eu enxergo) e entrar no pensamento circular exige pratica. É
a prática de advogar suas idéias e defendê-las, ao mesmo tempo
em que nos deixamos livres para receber novas perspectivas.
Romper modelos mentais é um desafio que vale a pena, pois
nos abre a novas oportunidades de aprendizado. Para inovar, é
preciso estar aberto. como educadores, o incentivo a essa prática
é parte da nossa Missão, de Educar para Transformar.
Visão Compartilhada
A terceira disciplina, visão compartilhada, envolve buscar
agregados para o seu sonho, montar um time de apoio, criar um
sentimento em comum. uma visão compartilhada não é uma
idéia, como “liberdade”. É muito mais uma força no coração
das pessoas, uma força que inspira a buscar apoio nos outros
para aumentá-la. Não é abstrata, é palpável. Para compartilhar
a visão é preciso primeiro senti-la, internamente. A visão compartilhada cria uma espécie de excitação, um borbulhar interno,
um desejo de ação. ela move e comove, leva adiante sonhos e
aspirações. ela emerge, primeiramente, de uma visão interna
pessoal. Neste sentido, a maestria pessoal, primeira disciplina
aqui apresentada, muito nos ajuda, pois nos incita ao comprometimento, à tensão criativa da mudança.
Sentir algo de forma intensa contagia. Não é preciso convencer ninguém. A palavra que bem descreve o sentimento desta
disciplina é entusiasmo. vem de dentro. traduz-se em energia.
É uma energia positiva. Exclui o “não”. Uma proibição, por
exemplo, “Proibido fumar” não gera uma visão compartilhada.
um desejo de ajudar, de mudar uma realidade, de construir algo
mais humano e solidário sim.
Como em uma catástrofe, quando as pessoas se unem em
prol das outras ou de uma situação, precisamos, como educadores,
oferecer motivações aos alunos para lutar por um mundo mais
justo e equalitário. Assim, os educandos passam a compartilhar
a mesma visão e os conecta. descobrem, nesta buscam uma
energia antes não conhecida, que podem ser motivados a lutar
por uma causa, seja compartilhando os conhecimentos aprendidos
em sala de aula com as comunidades do entorno, seja abraçando a causa de conservação de uma determinada região, ou um
mutirão de limpeza e reestruturação de um parque ou mesmo
uma determinada área urbana. os alunos devem ser motivados
a agir em conjunto, por uma causa. Isso também faz parte de
nossa missão como educadores.
Modelos Mentais
A segunda disciplina que devemos abordar em nossas
aulas chama-se Modelos Mentais. Conforme vamos aprendendo,
cristalizamos informações em nossas redes neurais. Não temos, em
nossas mentes, famílias, trabalho, comunidades. Temos imagens,
histórias, representações mentais, generalizações. Essas informações
geram modelos mentais. os modelos mentais são personagens
ativos em nossas vidas, pois direcionam nossas ações. os modelos
mentais interferem na nossa forma de perceber a realidade. Eles
mudam nossa forma de observá-la. Entramos com amigos em
uma festa. Cada um de nós irá notar algo diferente, a presença de
pessoas distintas. Percebemos a realidade de acordo com nossos
sentidos e com nossos modelos. Se estivermos atentos e disciplinados, passamos a questionar se os nossos modelos são de fato
importantes e condizentes com o que queremos. Albert einstein
uma vez escreveu: “Nossas teorias determinam nossas medidas”.
Para aprender e inovar, precisamos ensinar nossos educandos a
visualizar seus modelos mentais e praticar sua ruptura.
A empresa americana Harley Davidson, fabricante de uma
das marcas de motocicletas mais conhecidas do mundo, encarou
o desafio de romper com modelos mentais de seus executivos.
Na busca de novas invenções, criou o exercício “mentor circular”, que consistia em escolher pessoas de variadas posições na
empresa para compartilhar seu dia-a-dia. As pessoas deveriam,
como critério de escolha, possuir boa capacidade de comunicação
e habilidade de ouvir e influenciar os outros. Baseada na idéia
“crie a demanda, produza e ofereça serviços”, executivos, mecânicos, engenheiros de produção, entre outros, contavam para os
Aprendizado coletivo
esta disciplina trata da interação em grupo, com um ou
mais objetivos em comum. Isso forma um coletivo. Atenção à
palavra: Inter-ação: ação entre as partes. A disciplina denominada
“Aprendizado coletivo” requer diálogo e muita conversa. diálogo, de origem grega dia-logos, significa deixar fluir a palavra,
pensar junto. Atingir resultados no coletivo que não poderiam
ser obtidos individualmente. Dialogo é diferente de discussão,
envolve troca de opinião, ouvir o outro. coletivo não é grupo,
tem liga, tem algo que os une. Pode ser definido com um conjunto
de partes que defende os mesmos objetivos, cada um com a sua
função, seu microcosmo que interfere no resultado.
73
Dissertar
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin
como em bando de pássaros que voa alinhado, cada um
na sua posição, ela nos impele à comunhão de forças, a assumir
nossa posição no bando. Aprender a usar e ensinar como usar
essa disciplina envolve mobilizar energia para atingir objetivos
comuns, verificando os talentos, habilidades e competências de
cada um, de forma a alinhá-los em um aprendizado coletivo e a
buscar a formação de seus próprios coletivos. Trabalhar com a
postura de estimular os alunos a aprender e estudar coletivamente,
ouvindo e respeitando o outro.
Nunca houve tanta necessidade de aprendizado e trabalho
coletivo como agora, pois as ações que precisamos empreender
para conservação da natureza e da vida humana no planeta não
podem ser realizadas sem um esforço coletivo, sem aprendizado
e ação conjunta. É preciso muito treinamento para o aprendizado
desta disciplina. manter a visão pessoal, buscar uma visão no
grupo que possa ser compartilhada e integrá-la no coletivo.
mentos simples ou que é preciso separar as partes para entender
o todo tira o objeto de estudo dos seus contextos, prejudicando
a compreensão das relações entre o objeto e o todo. O contexto
faz parte do todo e modifica as relações entre as partes. Podemos
visualizar o poder do contexto se pensamos em uma sociedade,
cidade ou país que acaba de passar por uma catástrofe. É possível considerar as pessoas, ou parte do sistema, sem considerar
o que o(s) envolve no momento? o pressuposto da estabilidade
trabalha com a crença de que o mundo é estável, previsível e
controlável. O exemplo da catástrofe também pode ser aplicado
aqui. Por mais que tenhamos instrumentos avançados de detecção
de falhas sísmicas e medição, temos como antecipar e evacuar
uma cidade dias antes de um abalo sísmico?
o pressuposto da objetividade acredita que “é possível
conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade”
e exige a objetividade como critério de cientificidade. Se o
observador, ou sujeito incorpora a sua realidade através de suas
percepções, como podemos considerar o mundo pelas lentes
puras da objetividade?
David Hume, irlandês que viveu mito tempo na França,
pensador do século xvIII , autor da obra prima “ o tratado da
Natureza Humana” e uma cativante figura da história da filosofia,
nos ilustra isso de forma comovente, com apenas algumas frases:
“A beleza das coisas existe na mente de quem as contempla. À
parte da matemática, não conhecemos nada com certeza. Mas
ainda temos que viver e viver é agir. Todas as nossas ações têm
que se basear em suposições sobre a realidade”.
A idéia de complexidade sistêmica nos leva a crer que
os três pressupostos acima mencionados não permitem que
compreendamos o universo na sua plenitude, pois esquecemos
de ver as relações, as interdependências, as sinergias decorrentes
das múltiplas mudanças que ocorrem o tempo inteiro no mundo.
Hoje sabemos que o mundo não está pronto e sim em constante
processo de transformação e que fazemos parte desta constante
(re)construção. Assim sendo, não pode ser controlado e previsível.
Aprendemos também que a realidade não existe objetivamente,
pois depende das lentes do olhar de quem a vê. como escreveu
capra: “Minha decisão consciente sobre a forma como vou
observar um elétron irá até certo ponto determinar-lhes as
propriedades. Se eu fizer uma pergunta própria de partícula, ele
me dará resposta de partícula. Se fizer uma pergunta própria
de onda, ele me dará resposta de onda.”
conclusões? respostas? Não temos, mas isso não impor ta. como disse mário quintana, no pequeno grande poema As
indagações: “A resposta certa, não importa nada: o essencial
é que as perguntas estejam certas.” quebra de paradigmas,
realidade, compreensão do mundo, tudo está em construção e
essa é a sua verdadeira beleza! É fundamental que exerçamos
nosso papel como educadores para de modo a lutar pelo desenvolvimento sustentável do país e formar egressos que busquem
tanto a prática de cidadania, ação individual, quanto o exercício
de responsabilidade Socioambiental (ação empresarial, a ser
desenvolvida e ativada em seus postos de trabalho).
Assim, é importante que tenhamos como estratégia de ensino
a inserção destas abordagens acima demonstradas, denominadas
“cinco disciplinas”, que podem ser transmitidas aos nossos alunos
de forma gradual, exemplificada e prática, convidando-os a exercitar cada uma delas no seu dia-a-dia, dentro e fora do contexto
universitário. Devemos motivar nossos alunos a formarem redes
de trabalho, de fraternidade e cooperação mútua. A vida natural
nos dá importantes aprendizados da importância do coletivo e
do agir em conjunto. devemos tentar conhecer a realidade que
Pensamento Sistêmico
o Pensamento Sistêmico é chamado de quinta disciplina.
Pensar sistemicamente é quebrar a linearidade dos encadeamentos.
Não há fim, não há começo, pois um leva ao outro. Há círculos.
Através desta disciplina devemos ensinar aos nossos educandos a
perceber a interdependência das coisas, da natureza, das pessoas.
É baseada na circularidade de nossas ações e nos resultados que
geram. Às vezes, uma pequena ação pode desencadear uma grande
mudança sistêmica. Sistemas vivos possuem sua própria integridade. Dividir um elefante em dois não produz dois elefantes, mas
duas metades. desenvolver o pensamento sistêmico é trabalhar a
habilidade de ver o todo. A beleza de uma flor, de uma pessoa ou
um poema está no todo. Para exercer e ensinar como praticar essa
disciplina, é preciso elevar o pensamento, deslocá-lo das noções de
tempo e espaço. Algumas vezes apenas podemos sentir o efeito de
nossas ações apenas muito tempo depois, ou até nem sentiremos
esses efeitos nas nossas vidas, mas serão experimentadas pelas
gerações por vir. grandes problemas, como o aquecimento global,
a extinção das espécies, a conservação das águas, entre outros,
exigem o pensamento sistêmico. Para pensar sistemicamente,
temos que ver a estrutura que se esconde em situações complexas,
reestruturar nossa maneira de pensar. talvez seja a disciplina mais
difícil de ensinar e aprender, mas é nesta disciplina que as quatro
disciplinas apresentadas acima apresentadas estão fincadas.
Para melhor entender o pensamento sistêmico ou a quinta
disciplina, já que esta é base e o fim de todas as outras, falaremos
agora sobre complexidade sistêmica. Quando examinamos de
perto as teorias sobre os processos que geram os organismos vivos,
percebemos que eles encadeiam-se numa rede química, que é
característica fundamental da vida. Assim como os ecossistemas
são compreendidos em função da noção de teia alimentar, ou
redes de organismos, assim também os organismos são concebidos como rede de células, órgãos e sistemas orgânicos; e as
células, como rede de moléculas.
A ciência do século passado adotava a mecânica clássica
como modelo do pensamento científico. Este pensamento entende
as coisas como mecanismos e sistemas fechados. A ciência de
nossos dias adota o organismo vivo como modelo, o que equivale a pensar em sistemas abertos, como redes. os sistemas são
percebidos como orgânicos, interconectados, interdependentes
e, portanto, complexos. A teoria da complexidade sistêmica
rompe com três paradigmas científicos muito conhecidos: a
simplicidade, a objetividade e a estabilidade.
o pressuposto da simplicidade ou a crença em que
separando-se o mundo complexo em partes, encontram-se ele-
74
Educação como ferramenta de cidadania e desenvolvimento sustentável: nosso papel como educadores
Maria Cecilia Trannin
queremos transformar, sabendo que somos ao mesmo tempo
livres para escolher nosso caminho e interdependentes. como
educadores, é importante que estimulemos nosso alunato a buscar
as causas da problemática socioambiental, através de exemplos
e casos diários, reservando alguns minutos finais de nossas aulas
para essa discussão, estimulando-os a trazer notícias de jornal e
revistas da atualidade a serem compartilhas com a turma, gerando
novos conhecimentos e formas de pensar.
Dissertar
transformar hábitos e atitudes, de “predadores e caçadores” em
“construtores” de um mundo mais justo e solidário.
Como posto nos desafios da Carta da Terra, importante
documento para o século xxI redigido coletivamente por pensadores e educadores na rio-92, a escolha é nossa, pois devemos
“formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.”
O tempo que temos é o tempo em devemos fazer acontecer. que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma
nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar
a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e
pela paz e a alegre celebração da vida. que nós, educadores,
possamos ser os arautos deste processo.
Considerações finais
Como vimos, tudo depende de nós da forma como iremos perceber a realidade e atuar sobre ela. Precisamos mudar,
internamente, para provocar as mudanças que queremos, precisamos e devemos efetuar no mundo. Compreender os padrões,
pensar de forma complexa, romper com as linhas de produção
de pensamento e ação pré-definidas. Eis a nossa tarefa, como
educadores e educados, cidadãos do mesmo planeta.
Um novo perfil de atuação por parte dos homens desse
tempo é essencial e diz respeito à sobrevivência de nossa vida no
planeta. uma atuação sistêmica, que consiga vencer as barreiras
e adversidades e encará-las como oportunidades. Conflitos,
problemas, obstáculos sempre existirão. São importantes. Nos
desafiam a crescer e transformar resistências em colaborações,
nos fazem resilientes. É nesse contexto que se define uma nova
forma de atuação do educador, baseada nos princípios da transformação individual e coletiva, na aquisição e transmissão de
um novo conjunto de habilidades. Essas habilidades nos fazem
perceber o mundo em sua complexidade, de uma forma nova e
mais holística, gerando mudanças em nossas vidas e em nossas
organizações.
Quando mudamos nossa forma de perceber, mudamos
nossa forma de agir individualmente e no coletivo, passamos a
ver o mundo de forma diferente. Contagiamos aos que estão a
nossa volta. Criamos, dessa forma, uma nova realidade. Toda
mudança é um desafio. Quando aqui dizemos mudar, queremos
dizer ensinar e aprender.
capra sugere que as novas ciências podem colaborar com
idéias, conhecimentos e imagens para uma nova compreensão
do mundo contemporâneo. uma perspectiva que visualiza o
universo como um sistema complexo, imprevisível, interativo,
muito distante dos modelos reducionistas, estáveis e objetivos
do século xvII. A decisão é nossa, pois a mudança deve ser
iniciada dentro de nós. Assim, se conjugarmos a observação da
problemática e das soluções socioambientais em sala de aula com
o desenvolvimento das cinco disciplinas por nós apresentadas,
em pequenos intervalos entre a difusão dos conhecimentos do
conteúdo programático ao qual estamos vinculados, teremos
avançado na construção da educação para a sustentabilidade.
o presente que vivemos é delicado, a natureza vem nos
dando inúmeros sinais de sua fragilidade e, ao mesmo tempo,
de sua potência destrutiva (ou reconstrutiva?). ela se reorganiza,
da forma como sabe e como pode, em sua complexidade sistêmica, alterada por nossos impactos. Uma forma que podemos
chamar de “quântica”, ou integrada em sua complexidade. Uma
percepção que vai além das aparências, que enxerga as partes que
compõem o todo e o todo como um resultado das partes, e que,
além disso, percebe as relações entre cada um dos elementos que
integra o conjunto. falamos de despertar para uma consciência
efetivamente crítica e transformadora, que de fato compreenda
a complexidade e a inter-relação entre nossas escolhas e seus
impactos, sobre a nossa responsabilidade na construção de uma
sociedade mais justa e menos desigual, sobre o nosso desafio de
Referências
ARANHA, José Alberto S. – Interfaces: A chave para compreender
pessoas e suas relações em um ambiente de inovação – São Paulo:
editora Saraiva, 2009.
ARNTZ, William – Quem Somos Nós? A descoberta das infinitas
possibilidades de alterar a realidade diária / William Arntz, Betsy
Chase e Mark Vicente – Rio de Janeiro: Prestígio Editorial, 2007.
CAPRA, Fritjof – As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável – São Paulo: Cultrix: 2005.
CARTA DA TERRA, disponível em http://www.cartadaterrabrasil.
org/prt/text.html, acesso em 05/10/2014
INSTITUTO ETHOS – disponível em www.ethos.org, acesso em
05/10/2014
levINAS, e. – Humanismo del outro hombre, Siglo XXI, México: 1993.
SeNge, Peter – The Dance of Change: The Challenges to Sustaining
Momentum in Learning Organizations / Art Kleiner, Charlotte Roberts,
Richard Ross, George Roth, Bryan Smith – New York: Currency
double day, 1999.
SeNge, Peter – The Fitth Discipline: The Art & Practise of the Learning
Organization – New York: Currency Double Day, 2006.
Soto, eduardo – Comportamento Organizacional: o impacto das
emoções – São Paulo: Pioneira thompson learning, 2002.
trANNIN. m.c – Sustentabilidade de comunidades & meio ambiente
Marketing & Comunicação: construindo uma articulação in la Sustentabilidad Hoy. 2005- Fundación CEPA Argentina: 2005.
Artigo enviado em 03/11/2014, aceito em 15/03/2015
75
Dissertar
Dissertar
Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica
oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil
New methodology to conchostracan analysis in optical microscope from
bituminous shale, Sergipe – Alagoas basin, Brazil
Nueva metodologia para el analisis de conchostraceos en microscopia optica
oriundos de follajes betuminosos, bacia de Sergipe, Alagoas, Brasil
Novos procedimentos metodológicos para a identificação de
conchostráceos foram realizados em
amostras de folhelhos betuminosos,
oriundas da Bacia de Sergipe-Alagoas (Formação Maceió, Cretáceo
Inferior, Brasil), processadas para
recuperação de matéria orgânica,
nas quais há a presença de uma fauna
monoespecífica de conchostráceos
(cyzicus pricei) e palinomorfos.
A análise das lâminas em microscopia ótica permitiu identificar e
reconhecer os fragmentos de conchostráceos, com os padrões de suas
respectivas linhas de crescimento,
e ornamentações variadas, não
perceptíveis em fósseis submetidos
à iluminação direta.
New methodological procedures
for identifying conchostracans were
performed on samples of bituminous
shales, derived from the Sergipe-Alagoas Basin (Maceió Formation, Early
Cretaceous), processed for recovery
of organic matter, where there is the
presence of a monospecific fauna
of conchostracans (cyzicus pricei)
and palynomorphs. The analysis of
slides in optical microscopy to identify and recognize the fragments of
conchostracans with the standards
of their respective lines of growth,
and varied ornamentation, no visible
fossils submitted to direct light.
Nuevas metodologías para identificar conchostráceos, realizadas en
muestras de follajes betuminosos, oriundas de la Bacia de Sergipe, Alagoas,
procesadas para recuperar la materia
orgánica, en las cuales hay presencia de
una fauna mono específica de conchostráceos (cyzicus pricei) y palinomorfos.
El análisis de las láminas en microscopía
óptica permitió identificar y reconocer
los fragmentos de conchostráceos, con
los padrones de sus respectivas líneas
de crecimiento, y adornos variados,
no perceptibles en fósiles sometidos a
iluminación directa.
Quando o ambiente volta a ser favorável, os ovos eclodem
e o organismo passa por uma fase larvar até chegar à fase
adulta. É nessa fase que se forma a carapaça e o organismo
começa a viver sobre o substrato dos corpos aquáticos (cArVALHO, 1993).
os conchostráceos, como todos os artrópodes possuem
uma cutícula, exoesqueleto, que recobre toda a superfície do
corpo e apêndices. esta carapaça está presa ao corpo do or ganismo apenas por um simples músculo, o que faz com que
periodicamente ela sofra um acréscimo, enquanto o animal
troca todo seu exoesqueleto quitinoso. Possuem zoneamentos de crescimento, separadas por linhas, denominadas como
linhas de crescimento, cuja função é ampliar o tamanho da
carapaça para acompanhar o crescimento do animal, refletindo, portanto, as fases de desenvolvimento desses crustáceos.
As características apresentadas por essas linhas constituem-se no principal foco do estudo da paleobiologia desse grupo
de organismos.
Os fósseis oriundos da Bacia de Sergipe-Alagoas (Formação Maceió, Cretáceo Inferior), estão presentes nos níveis de
folhelhos betuminosos, onde ocorre uma fauna mono específica
(Fig. 1) de conchostráceos (Cyzicus pricei). Todos os exemplares
pertencem à mesma espécie, pois apresentam o mesmo padrão de
ornamentação microalveolar carenado, característico da espécie
Cyzicus pricei. este padrão caracteriza-se por apresentar os minúsculos alvéolos impregnados por carbonato de cálcio.
Palavras-chave: Conchostráceos, Formação Maceió, Sergipe–Alagoas Basin.
Autores:
Alice F. Souza
Engenharia de Petróleo, Universidade Estácio de Sá, Brasil.
Email: [email protected]
Ismar S. Carvalho
Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil.
Email: [email protected]
introdução
os conchostráceos são crustáceos que possuem o
corpo inteiramente protegido por uma carapaça quitinosa, que
geralmente está impregnada por carbonato de cálcio. Pelo seu
tamanho diminuto, têm sido identificados em testemunhos de
sondagem, podendo fornecer informações sobre o fóssil e o
ambiente em que se deu a deposição dos sedimentos. essas
características tornam os conchostráceos bons indicadores
ambientais e a identificação das espécies a partir de fragmentos
de carapaça em lâminas amplia sua aplicação paleoambiental
e bioestratigráfica.
Seus ovos podem ser submetidos a longos períodos
de seca, podendo se dispersar através do vento e da água.
76
Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil
A. F. Souza e I. S. Carvalho
Dissertar
d) No intuito de eliminar a fração mais grossa do resíduo,
e consequentemente proporcionar a concentração dos fragmentos
de conchostráceos, faz-se uso de peneira com malha de 200 μm.
e) Em seguida, o material sofre ataque com ácido nítrico concentrado (HNO3) juntamente com clorato de potássio
(KClO3) com duração de 15 min.
f) Posteriormente é adicionado cloreto de zinco por
20 min, objetivando a separação do material pesado do material mais leve (separação por flotação). Após a separação
por flotação, seguida da decantação, adiciona-se ácido HCl
diluído a 10%.
g) O material é então peneirado com malha de 10 μm, e
após a lavagem com água destilada, são preparadas as lâminas
usando-se uma chapa aquecedora à temperatura de aproximadamente 30° e entellan para a colagem da lamínula.
As lâminas preparadas tomam como base o processamento de amostras para análise de palinofácies e fácies orgânica
com o intuito de obter amostras com conchostráceos, seguindo
como base a metodologia de olIveIrA et al . (2006).
o processo consiste das seguintes etapas:
a) com béqueres de vidro de 250 ml, acrescenta-se 40
g de sedimento e logo em seguida inicia-se a acidificação com
ácido clorídrico (HCl) a 37%.
b) Deixa-se em repouso por 18 h. Após esse tempo, acrescenta-se água destilada para iniciar o processo de neutralização
e espera-se o material decantar. Peneira-se a solução ácida, e
retorna-se o material retido na mesma para o béquer. faz-se esse
procedimento até que a água esteja neutralizada.
c) O mesmo procedimento é realizado com o ácido fluorídrico (HF) a 40%. Neste a amostra permanece por 24 h em
repouso. Após a neutralização completa do mesmo, a amostra
é acidificada com HCl a 10% por 3 h e novamente utiliza-se o
mesmo procedimento anterior.
d) com o material neutralizado e diluído, passa-se o mesmo para um tubo de ensaio de 250 ml, centrifuga-se por 3 min
com velocidade de 1.500 rpm. usa-se a peneira para verter o
líquido sobrenadante, retornando o material retido na peneira
novamente para o tubo de ensaio.
e) Acrescenta-se cloreto de zinco (zncl 2) no tubo de ensaio e agita-se. Usa-se a centrífuga por 30 min ou deixa-se o
material em repouso por 12 h para que a matéria orgânica seja
separada do material inorgânico.
f) Com a matéria orgânica separada passa-se para
outro tubo de ensaio, acrescenta-se algumas gotas de HCl a
10%, agita-se bem, coloca-se o tubo na centrífuga por 3 min
a velocidade de 1.500 rpm, em seguida verte-se o líquido sobrenadante para a peneira, retornando o material retido novamente para o tubo de ensaio.
Figura 1 – Nível de mortandade em massa, ocorrência
de até 18 espécimes em 2 cm2
Exemplares com diferentes tamanhos indicam que o estágio embrionário de cada ovo em estado de latência era diferente
quando ocorreu a eclosão.
Metodologia
o desenvolvimento de uma metodologia para a recupera ção de fragmentos de conchostráceos possibilita sua identificação através da observação ao microscópio óptico da ornamentação intra-alveolar presente em sua carapaça.
A metodologia foi desenvolvida com amostras de folhelhos betuminosos, oriundos da Praia de japaratinga (japaratin ga, Alagoas) da formação maceió, bacia de Sergipe-Alagoas,
brasil, através de processamento para recuperação de matéria
orgânica seguindo a metodologia de olIveIrA et al . (2006).
foram preparadas lâminas, tomando como base o processamento de amostras para análise palinológica. o material
sofreu uma sequência de ataques químicos a fim de se obter um
resíduo isento de material inorgânico e húmico, contendo apenas
material orgânico com a presença de conchostráceos. o processo consiste das seguintes etapas:
a) coloca-se 40 g de sedimento em um béquer de vidro
de 250 ml e logo em seguida inicia-se a acidificação com ácido
clorídrico concentrado (HCl) a 32% para se eliminar o carbonato.
b) Deixa-se em repouso por 2 h. Após esse tempo, acrescenta-se água destilada para iniciar o processo de neutralização
e espera-se o material decantar. com uma peneira de malha de
poliéster, peneira-se a solução ácida, e retorna-se o material retido na mesma para o béquer. faz-se esse procedimento até que a
água esteja neutralizada.
c) o mesmo procedimento é realizado com o ácido
fluorídrico concentrado (HF) a 40%, visando à eliminação
de silicatos. Neste a amostra permanece por 12 h em repouso. Após a neutralização completa do mesmo, a amostra é
acidificada com HCl a 10% por 3 h, para a eliminação do
fluorsilicato, formado durante o processo anterior e repete-se o
procedimento anterior.
Resultados
A utilização deste método possibilitou a recuperação de
fragmentos de carapaças de conchostráceos, de forma indireta
através do método de obtenção de palinofácies, fácies orgânicas
e palinomorfos.
A análise das lâminas em microscopia óptica permitiu
identificar e reconhecer fragmentos de conchostráceos, com
suas respectivas linhas de crescimento e ornamentações intra-alveolar (Fig. 2). Os fragmentos de conchostráceos permitiram
a observação em luz transmitida de ornamentações variadas, não
reconhecidas em fósseis submetidos à iluminação direta (Fig. 3).
tal proposição amplia os procedimentos metodológicos para a
77
Dissertar
Nova metodologia para análise de conchostráceos em microscópia óptica oriundos de folhelos betuminosos, bacia de Sergipe – Alagoas, Brasil
A. F. Souza e I. S. Carvalho
identificação de conchostráceos possibilitando interpretações paleoambientais e possíveis correlações bioestratigráficas.
Considerações finais
A recuperação de fragmentos de carapaças de
conchostráceos pelo método de obtenção de palinofácies
é possível com a preparação de lâminas, tomando como
base o processamento de amostras para análise de palinofácies e fácies orgânica.
As lâminas preparadas para obtenção de fragmentos de conchostráceos com preservação de suas
linhas de crescimento e ornamentações intra-alveolar,
tomando como base o processamento de amostras para
análise palinológica mostrou ser eficiente para identificação desses microorganismos e suas estruturas em
bom estado de preservação.
Figura 2 – Ornamentação microalveolar
característica da espécie cyzicus pricei
Agradecimentos
À joão graciano medonça filho, por disponibilizar o laboratório de Palinofácies e Fácies Orgânicas
(lAfo) para preparação das amostras e a toda sua equipe, em especial, Antônio donizeti de oliveira, joalice de
oliveira medonça e jaqueline torres de Souza pela colaboração na preparação e confecção das lâminas e pela
análise e fotografia das amostras. Este estudo contou com
o apoio da fAPerj e cNPq.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, I. S. 1993. Os Conchostráceos Fósseis das
Bacias Interiores do Nordeste do Brasil. Programa de Pósgraduação em geociências, universidade federal do rio
de janeiro, tese de doutorado, 310p.
OLIVEIRA, A.D.; MEDONÇA-FILHO, J. G.; SANT’ANNA,
A. j.; SouzA, j. t.; freItAS, A. g. & meNezeS, t. r. 2006.
Inovação no processamento químico para isolamento da matéria
orgânica sedimentar. In: congresso brasileiro de
geologia, 43, Aracaju, 2006. Boletim de Resumos, Aracaju,
Sociedade brasileira de geologia, p. 324.
Figura 3 – Fragmentos de carapaça de cyzicus pricei ,
reparar na ornamentação carenada microalveolar, em luz branca
(direita) e fluorescência (esquerda).
78
Artigo enviado em 11/11/2014, aceito em 27/11/2014
Dissertar
o
ã
ç
e
S
s
o
r
i
e
Prim os
Pass
s
sos aluno
s
o
n
e
d
o
çã
ão
da forma
a produç
d
e
t
a
r
a
ic
p
íf
t
z
n
a
F
-cie
ográficos
cadêmico
n
a
o
o
m
ã
is
s
v
o
a
balh
isas e tra isciplinas.
u
q
s
e
p
e
d
tes
ed
e cursos
s estudan
d
o
l
,
a
s
e
in
r
f
o
o
s
a
fes
s
s por pro
de, digno
o
a
d
d
a
li
t
a
n
u
ie
q
r
O
de
trabalhos s e divulgados no
m
a
r
o
b
la
e
do
apresenta
o objetivo s
m
m
e
o
r
c
e
,
s
e
d
no
ssim
dêmico. A o científico nos alu
a
c
a
io
e
m
ir
írit
ivar o esp raduação e difund ,
t
n
e
c
in
e
d
g
e
a discent
ão e pósç
ic
a
íf
t
u
n
d
a
ie
r
c
g
o
da
iaçã
s.
ão de inic
ç
u
d
os Passo
o
r
ir
p
e
a
im
r
P
seção
mos um
criamos a edições publicare no. As
as
alu
rofessor- smas
Em todas
p
ia
r
e
c
r
a
me
ep
trabalho d ublicação são as
ra p
es.
regras pa os dos professor
os!
r tig
para os a s Primeiros Pass
do
Participe
79
Seção Primeiros Passos
Dissertar
Dissertar
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando
sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística
de servidores do Detran de Santa Catarina
Reduccion de costos de la administracion financiera estatal
utilizando un sistema de apoyo decisión basada en mapas digitales
en la logística en servidores de Detran de Santa Catarina
Cost reduction of Santa Catarina financial management
using the digital maps based decision support system in
logistics in dmv public servants
Uma das funções do órgão
correcional do Detran de SC, a Corregedoria, é efetuar fiscalizações por
todo o estado. O objetivo deste artigo
é demonstrar como a administração
financeira pública pode reduzir custos
operacionais de deslocamento de
servidores públicos, com práticas
de logística de materiais aplicadas à
logística de pessoas, conjuntamente a
um Sistema de Apoio à Decisão com
embasamento em mapas digitais.
Constata-se um aumento na produtividade por meio da otimização
do caminho a ser percorrido, com
informações visuais, precisas e ao
alcance imediato.
One of the functions of the
correctional agency of the SC (Santa Catarina State) DMV, Internal
Affairs, is to perform inspections
throughout the state. The purpose
of this article is to demonstrate
how public financial management
can reduce operating costs offset
public servants with practical
logistics of material applied to
the logistics of people together to
a Decision Support System with
background in digital maps. There
was an increase in productivity
by optimizing the way to go, with
visual, accurate and immediate
grasp information.
Una de las funciones de la agencia correccional del Departamento
de Transito (Placas Y Licencias) de
Santa Catarina, Asuntos Internos, es
llevar a cabo inspecciones en todo el
estado. El propósito de este artículo
es demostrar cómo la gestión de las
finanzas públicas puede reducir los
costos de operación de desplazamiento
de los servidores públicos, aplicando la
misma logística de materiales para una
logística de personas, conjuntamente a
un sistema de apoyo, basado en mapas
digitales. Se constató un aumento de la
productividad optimizando el camino
a recorrer, con informaciones visuales,
precisas y de alcance inmediato.
Palavras-chave: Logística de pessoas,
mapa digital, Administração pública.
formação em Letras. Mestre em Administração Universitária. Mestre em Psicopedagogia. Doutorado em Ciências
Pedagógicas em validação. Especialista BNI – Inep.
E-mail: [email protected]
é imperiosa a atuação de um ser humano
para transportar o produto de um ponto A para um ponto b. um ser humano
pode ser o responsável por apenas um
produto, como um carteiro ou por milhares, como um motorista de caminhão
ou locomotiva - depende do modal de
transporte escolhido. este ser humano,
responsável pelo transporte da carga tem
características de “perecibilidade” assim
com a carga que ele transporta. Algumas
cargas necessitam serem condicionadas
com temperaturas muito frias, outras
devem ser embaladas com grande cuidado, algumas têm vida útil muito curta.
já o responsável pelo transporte destes
materiais está sujeito a sérios obstáculos, como o desgaste físico causado por
horas dirigindo um caminhão, desgaste
psicológico por ficar tempo longe de
sua família, estresse por transportar uma
carga valiosa. Por isso, há necessidade
de estudo de logística de Pessoas, onde
Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
Formação multidisciplinar, une a formação em administração e informática.
Bacharel em Administração pela Universidade Estácio de Sá, Bacharel em Ciências da Computação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, incompleto e
Pós Graduando em Administração Pública, pela Universidade Estácio de Sá
Atualmente é servidor público da Secretaria de Segurança Pública do Estado de
Santa Catarina, lotado no Departamento
Estadual de Trânsito (Detran).
E-mail: [email protected]
Adm. Ana Shirley de França Moraes
(Orientadora)
Professora Titular da Universidade Estácio de Sá – RJ e Professora de Pós-graduação na UFRJ. Administradora,
introdução
Ao falar de logística, instintivamente associamos ao processo de transporte de materiais. ou seja, transportar
matérias-primas para a fábrica, produtos
semi-prontos entre unidades de produção, produtos acabados da fábrica para
os centros de distribuição e destes para
as lojas ou diretamente para o consumidor final, dependendo do modelo de
distribuição aplicado. Independente do
momento de aplicação do conceito, a estreita ligação do termo “logística” com
um produto físico é evidente.
contudo, nem tudo que é deslocado é um produto. Por enquanto, ainda
80
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
o estudo de logística de materiais é utilizado como embasamento para aplicabilidade neste novo tema.
este conceito teve sua necessidade exposta no próprio ambiente de
trabalho do autor, na corregedoria do
Detran do estado de Santa Catarina. Há
uma grande movimentação de servidores por todo o estado, que tem, dentre
outras funções, a de fiscalizar todos os
mais de mil estabelecimentos credenciados do detran, tais quais despachantes
e centros de formação de condutores.
estes servidores estão localizados na
capital, em florianópolis, e devem sistematicamente visitar os credenciados,
com a finalidade de obterem mais informações acerca de denúncias contra um
credenciado específico ou de realizarem
ações preventivas. estas ações objeti vam penalizar aqueles que comentem
atos ilícitos e manter uma qualidade mínima aceitável de serviço oferecido ao
cidadão catarinense, que está em busca
de obtenção da sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) ou ainda de documentos do seu veículo automotor.
estes credenciados terão seus
endereços migrados para um mapa geográfico digital, o Google Earth™ e serão
visualizados de uma forma inovadora,
não mais em gráficos de barras ou em
tabelas, mas sim com sua localização
precisa no mapa digital. Com tais informações é possível estudar melhor as rotas necessárias para a realização do trabalho, certificando os lugares de parada
para descanso, refeições, abastecimento
e estadia. A mudança de metodologia
proposta produzirá mais trechos curtos
de viagem, em substituição a poucos
longos e cansativos trechos. A redução
de gastos do governo se tornará evidente
ao passo em que viagens redundantes serão evitadas. o consumo de combustível
será minimizado, a vida útil dos veículos
oficiais aumentará. O desgaste do servidor será menor mediante mais paradas
durante longas viagens. tudo isso objetivando o melhoramento qualitativo e
quantitativo das fiscalizações efetuadas
concomitantemente com o bem-estar do
servidor público.
Desenvolvimento
o termo “logística de pessoas” é
pouco explorado e documentado. Pelo
termo “logística”, carlos márcio vitorino (2012) afirma como sendo a “área
que tem a função de controlar o deslocamento de materiais, partindo dos fornecedores até as prateleiras das lojas”.
A logística já foi limitada apenas à entrega de mercadorias onde determinasse
o cliente. com o advento de novas teorias administrativas e a evolução natural
do mercado, esse conceito minimalista
necessitou de adequação, principalmente pela necessidade cada vez maior de
tornar o produto mais atrativo, reduzindo seus custos. Pode-se atacar a redução de custos de um produto em várias
abordagens diferentes, como a redução
do preço de compra, melhoramento da
produção com a redução de desperdícios, redução nos gastos de transporte e
armazenamento.
Ao longo dos tempos, pode-se
dividir a logística em quatro etapas. Na
primeira fase, no início do século XX, a
logística servia apenas para o transporte de produtos agrícolas. Na fase dois,
a partir da II guerra mundial, a logística foi incorporada no campo militar,
para o transporte de soldados, veículos,
suprimentos. Napoleão bonaparte, em
1812, perdeu a conhecida batalha de
Grande Armée, na Rússia, por ter ficado
sem mantimentos para sua tropa. com o
fim da II Guerra Mundial tem começo a
fase da Integração Interna ou Cadeia de
Suprimentos, onde é introduzido o estudo da logística como algo maior, mais
completo, em que há preocupação com
o gerenciamento de transportes, suprimentos, gestão de estoques.
já na década de 1970, o antigo
modelo não atendia à demanda causada
pelo aumento do consumo. As indústrias,
então, passaram para a produção de massa a fim de corresponderem à demanda
crescente. Os produtos finais necessitavam de várias matérias- primas para serem fabricados, possivelmente oriundas
de várias partes do globo. Neste momento, o computador surge como um grande
aliado para ajudar nos cálculos de quantidade de matéria-prima a ser comprada,
utilizando variáveis complexas como
o preço por unidade considerando-se a
distância percorrida, o tempo de deslocamento, a qualidade da peça, o estoque local. Para se ter uma ideia da complexidade deste tipo de produção, tomemos por
exemplo a construção do avião A380, da
empresa Airbus, o maior avião comercial
do mundo. embora a montagem seja concentrada na cidade de toulouse, no sul da
frança, a operação logística envolve cer ca de mil empresas em mais de cem países. Algumas peças do A380, concebido
em 2007, chegam por aviões cargueiros,
navios e outras, e, por serem tão grandes,
paralisam pequenas cidades no transpor-
81
Dissertar
te rodoviário do porto até toulouse. um
atraso na entrega de uma peça do avião
acarretará o atraso na montagem final do
produto, ocasionando prejuízos à Airbus,
que ficará com um hangar ocupado desnecessariamente ou ainda poderá pagar
multas por não cumprimento de prazos
de entrega ao cliente. fica evidente então
que a logística auxilia as empresas a aumentarem continuamente o nível de serviço ao cliente e a otimizarem os custos.
O transporte é a função da logística que posiciona geograficamente os
produtos. Conforme diz Paulo Roberto
bertaglia, “o transporte deve receber
todas as prioridades necessárias. Seja
para movimentar produtos finais, matérias-primas, componentes ou pessoas,
ele deve ser rápido, eficiente e barato”
(2009). A correta escolha do modal de
transporte utilizado pode fazer diferença
entre o lucro e o prejuízo na composição
do preço final do produto. Geralmente o transporte tem uma grande parcela
nos custos da cadeia de Suprimentos.
BERTAGLIA afirma que “dois são os
parâmetros que influenciam as atividades de transporte: distância e tempo. As
análises da logística de transporte têm
demonstrado que a velocidade aliada ao
componente preço tem sido a tendência
na área de movimentação” (2009). o
transporte rodoviário é o mais independente dos modais, já que possibilita a
movimentação de uma grande variedade de produtos, tamanhos e formas, em
várias etapas da distribuição. A maior
desvantagem é o seu alto custo em relação a modais de maiores volumes, como
marítimo e ferroviário. Levando-se em
conta a má qualidade notória das estradas brasileiras, os custos de transporte
rodoviário podem ser ainda mais altos,
decorrentes do incremento nos custos de
manutenção dos veículos.
Os estoques são formados pelas empresas em função das incertezas
quanto à demanda ou quanto ao seu re
suprimento. um estoque muito grande
ocasiona em grande volume de capital
investido retirado do capital de giro,
aumentando seus riscos mediante ameaças externas. Estoques muito pequenos
deixam a empresa mais ágil quanto às
mudanças no mercado, contudo mais
lentas para entregas de volumes maiores de produção. Podem ainda ter o preço final de seu produto oscilando, uma
vez que necessitam comprar matéria-prima constantemente em quantidades
menores. com as empresas buscando
a redução nos seus níveis de estoque,
Dissertar
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
aumentam as exigências para que as
entregas sejam mais frequentes e com
maior agilidade, sem perder de vista a
manutenção da qualidade do produto a
ser entregue. A armazenagem se refere
ao espaço físico onde as mercadorias
são armazenadas, preservando sua qualidade original.
A informação consiste em dados
ou análises a respeito de estoque,
transporte, instalações e clientes, que
fazem parte da cadeia de suprimento. A
informação é potencialmente o maior
fator-chave de desempenho da cadeia
de suprimento, pois afeta diretamente
cada um dos demais fatores-chave.
(Sunil chopra, Peter mindl, 2002)
A logística de suprimentos trata
de fornecer a cadeia com informações
referentes à compra, recebimento, conferência das matérias-primas necessárias,
dentre outras. A logística de produção
transforma a matéria-prima em produtos
finais. Já a logística de distribuição acolhe os produtos finalizados para serem
entregues ao seu destino final.
o roteiro de entrega deve considerar fatores como o tempo de serviço
do condutor, a quantidade a ser entregue,
produtos, embalagens. o uso de sistemas
de computador traz inúmeros benefícios,
pois possibilita a simulação das entregas, alterando o valor de certas variáveis,
como a quantidade de entregas, diferentes cargas de veículos e rotas. Conforme
enfatiza BERTAGLIA, “quando os ativos
são utilizados na ida e na volta, o aproveitamento é superior, e a frota torna-se
mais eficiente” (2009). O uso de sistemas
especializados para otimização de rotas
pode contribuir para a redução de custos
e melhorias no desempenho geral de entregas. A utilização da tI - tecnologia da
Informação - para determinar a rota ótima
a ser utilizada conforme a carga, veículo
e pontos de entrega/coleta, proporcionam
uma redução significativa de custos. Um
roteirizador utiliza um mapa digital, que
apresenta informações de regiões, restrições de tráfego, pontos de pedágio. Neste mapa são inseridos os endereços dos
clientes, fornecedores, depósitos, postos
de combustíveis ou qualquer outra informação geográfica importante, como até
mesmo a inserção de pontos de fiscalização alfandegária ou trechos recomendados para descanso. Pode-se elencar como
alguns dos benefícios do uso de sistemas
de roteirização: a redução de custos devido à otimização das distâncias, o melhor
uso da capacidade do veículo e a minimização dos tempos de deslocamento. A
tecnologia atual de posicionamento global por satélites (gPS - sigla em inglês
para Global Position System) possibilitou trazer para o veículo algumas possibilidades de roteirização não planejadas.
Como, por exemplo, uma necessidade
de desvio não programado numa estrada sem que o motorista seja conhecedor
da região. também é possível estimar o
tempo de chegada, criar check points para
manter o transporte no horário determinado previamente.
com tantas variáveis a serem
levadas em conta na equação da busca
pelo menor custo, a tI tem um papel
indispensável. ela permite a integração
entre os mais variados departamentos
da empresa, viabilizando as operações
logísticas existentes na cadeia. Através
deste fluxo de informações, os mais variados processos, operações e controles
podem ser efetivados. Seu uso propicia
ganhos de competitividade na cadeia
de suprimentos, como aumento da agilidade, maior velocidade de resposta às
novas demandas, maior flexibilidade,
personalização do atendimento e um
consequente aumento do nível de serviço sentido pelo cliente.
A tI possibilita a rápida identificação para a posterior eliminação
de processos redundantes e que não
estejam agregando valor à cadeia. os
sistemas computacionais tem variadas
aplicações, como a utilização de código
de barras nos produtos para viabilizar a
rastreabilidade, coletores de dados para
controle e identificação, sistemas ERP.
O avanço tecnológico afeta sobremaneira o desempenho dos transportes. A tecnologia pode ser usada de
várias formas, como:
1. controle de veículos por satélite:
indica sua posição de deslocamento;
2. controle de rotas: sistemas altamente flexíveis permitem traçar rotas
econômicas para diferentes veículos,
considerando capacidades, áreas geográficas e características do produto
a ser transportado;
3. checagem de carga: a contagem
pode ser efetuada por leitura óptica,
alimentando diretamente um sistema
de estoques;
4. Informação imediata de entregas ou
de outros problemas de rota;
5. visibilidade da cadeia de abastecimento em todo o seu contexto: ativos,
estoque, localização geográfica de
veículos e produtos, capacidades,
disponibilidades de fornecedores
82
entre inúmeros outros benefícios.
(bertAglIA, 2009)
Conforme diz James A. O’Brien,
“Sistema de informação é um conjunto
organizado de pessoas, hardware, software, redes de comunicações e recursos
de dados que coleta, transforma e dissemina informações em uma organização”
(2006). um sistema deve ter três componentes básicos: entrada, processamento e
saída. A entrada é onde ocorre a inserção
de todas as informações necessárias, os
chamados dados. No processamento, os
dados da entrada são convertidos nas informações que são mostradas na saída,
exibidas das mais variadas formas. Os
sistemas de informação podem ser classificados, de acordo com O´BRIEN (2006),
como operacionais e gerenciais. os sistemas operacionais, como o próprio nome
diz, dão apoio às operações, sendo subdividos em: sistemas de processamento de
transações, controle de processos e colaborativos. já os sistemas gerenciais são,
por sua vez, formados em sistemas de
informação gerencial, de apoio à decisão
e de informação executiva.
o papel dos sistemas de apoio às
operações de uma empresa é processar
transações de forma eficiente, controlar
processos industriais, apoiar comunicações e colaboração e atualizar bancos
de dados da empresa. São chamados de
sistemas de apoio gerencial aqueles que
se concentram em fornecer informação
e apoio aos gerentes em sua tomada de
decisão eficaz. (O’BRIEN, 2006)
Os sistemas de informação gerencial fornecem informações no formato de relatórios, planilhas, demonstrativos. os sistemas de apoio à decisão,
foco deste trabalho, fornecem informações interativas, de diversas formas,
para que os gerentes possam embasar
certa decisão a ser tomada. já os sistemas de informação executiva fornecem
informações críticas, customizadas para
a empresa.
um Sistema de Apoio à decisão
se caracteriza por fornecer informações
sobre o desempenho da organização de
acordo com a necessidade, de forma
interativa, num formato flexível, altamente personalizável, cujas informações são produzidas por modelagens
analíticas de dados dos negócios. Assim sendo, estes sistemas podem obter
os dados das mais variadas fontes de informações da empresa e mostrar para o
gerente da forma como preferir, sendo
comum o cruzamento de informações
inicialmente sem relação.
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
uma das maiores redes de varejo dos
estados unidos descobriu, em seu
gigantesco armazém de dados, que a
venda de fraldas descartáveis estava
associada à de cerveja. em geral, os
compradores eram homens, que saíam
à noite para comprar fraldas e aproveitavam para levar algumas latinhas
para casa. Os produtos foram postos
lado a lado. resultado: a venda de
fraldas e cervejas disparou. (Revista
Exame, Edição 633 de 09/05/1997)
dentro dos sistemas de apoio à
decisão, existe uma nova forma de representar dados, por meio de informação geográfica. A ideia por trás disso
é, ao invés de mostrar a quantidade de
venda por loja, que este valor esteja exposto em um mapa geográfico digital,
bem onde a loja está. Assim, visualmente tem-se uma maneira completamente
diferente e intuitiva de visualização de
gráficos. Este tipo de sistema também
pode exibir mapas de apoio à decisão
referentes à distribuição geográfica de
pessoas e produtos. muitas empresas
escolhem esta opção para verificar onde
há uma carência de atendimento que
deva ser suprida, mesmo que a pessoa
não tenha conhecimento geográfico
para tal. também pode ser usado para
otimização de roteiro, analisar fatores
demográficos, inclusive mesclando estes com as vendas, obtendo assim índice
de venda por habitante. Ainda segundo
o’brIeN, usar um sistema de apoio à
decisão envolve quatro tipos básicos de
modelagem analítica: what-if (observar
como as variáveis se relacionam diante
de mudanças), análise da sensibilidade
(observar como mudanças repetidas em
uma variável afetam outras), análise
de busca de metas (fazer repetidas mudanças em variáveis até que uma outra
alcance o valor desejado) e análise de
otimização (encontrar um valor ótimo
para variáveis selecionadas, mediante
certas condições).
Ante o exposto até aqui, vislumbra-se a importância da logística e
de um sistema de apoio à decisão para
aumentar a riqueza dos proprietários da
empresa a partir da redução do custo de
seus produtos. “Um produto é o fruto,
ou resultado, de qualquer atividade ou
processo” (1989) - é a definição de Joseph m. muran bem aceita até hoje. o
produto é composto de parte física e outra parte intangível. A parte física é formada por características como peso, volume, forma, perecibilidade. Já “a parte
intangível compõe-se de serviços, reputação da empresa, pós vendas”, segun-
do tommy carlson e Anders ljundberg
(1995). A este ponto ainda podemos adicionar a sustentabilidade e ações sociais
da empresa para com a sociedade.
Há de se ressaltar também a estreita relação entre a logística e a administração financeira, que têm como algumas similaridades, segundo francisco
ferraes Neto (2002):
a) A preocupação do uso adequado dos recursos da empresa;
b) A alocação dos recursos deve
ser feita de forma racional e do modo a
maximizar e acelerar o retorno obtido;
c) A constante procura pela redução de custos e pela eliminação daqueles
que são desnecessários;
d) A tomada e a implementação
de decisões que se destinem a aumentar
a riqueza dos proprietários.
Os profissionais dessas áreas devem realizar decisões sobre investimentos e avaliá-los. A racionalização dos recursos, levando à consequente redução de
custos, e a possibilidade de ofertar maior
nível de serviço, poderão se transformar
num nítido aumento da lucratividade.
Isto deve ser uma preocupação recorrente e que será confirmada por meio de um
sistema logístico eficiente. Conclui-se
que existe uma relação muito forte entre
a logística e a administração financeira,
assim como se evidencia que, quanto
mais eficiente for a logística, melhor será
o impacto financeiro na organização.
A logística é um tema de grande
relevância para as empresas. Dela extraise a importância do produto - antes mesmo de ser chamado de “produto”– chegar
até ao balcão de vendas ou ao seu destino
final. Uma sequência de informações,
preços, modais de transporte, armazenagens, embasa um sistema de apoio à
decisão que tem como objetivo reduzir
o custo do produto para empresa, consequentemente aumentando sua margem
de lucro. este trabalho levará a aplicação
das práticas e dos objetivos da logística
de produtos para um patamar pouco estudado, a logística de pessoas, onde o
bem mais importante é o ser humano. No
caso em tela, será feito um paralelo com o
setor da corregedoria do detran de Santa catarina, que tem como uma de suas
funções a fiscalização de credenciados
daquele órgão por todo o estado.
o departamento de trânsito do
Estado de Santa Catarina (Detran/SC) é
o órgão executivo de trânsito do Estado
e a ele cabe, no âmbito de sua circunscrição, segundo o Art. 22 do código de
trânsito brasileiro - ctb, dentre outros:
83
Dissertar
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;
II – realizar, fiscalizar e controlar
o processo de formação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para dirigir e carteira
Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão federal competente;
...
V – executar a fiscalização de
trânsito, autuar e aplicar as medidas
administrativas cabíveis pelas infrações previstas neste Código, excetuadas
aquelas relacionadas nos incisos vI e
VIII do art. 24, no exercício regular do
Poder de Polícia de trânsito;
diversas atividades são realiza das por pessoas jurídicas ou físicas que
devem ser credenciadas junto ao órgão
para poderem exercer suas atividades
de acordo com a legislação vigente.
São credenciados pelo Detran/SC: os
despachantes, centro de formação de
condutores (cfc), centro de Avaliação
de condutores (cAc), fábrica de Placas
e remarcadores de chassi. No presente
estudo, serão contemplados os despachantes e os cfcs apenas.
A atividade de despachante foi
instituída pelo decreto nº 1.635, de 5
de abril de 2004 é executada por pessoas físicas ou jurídicas credenciadas,
devidamente habilitadas por meio de
procedimento administrativo composto
por provas e títulos, sendo expedido o
Alvará de funcionamento para a pessoa
jurídica constituída pelo credenciado.
Suas atribuições são enumeradas segundo a lei nº 10.609, de 28 de novembro
de 1997, que se resumem a ser um prestador de serviço entre o detran e o proprietário do veículo, com o ônus deste.
Ainda na mesma lei, são consideradas
infrações, como por exemplo: auferir
vantagem indevida do cliente a título de
tributos, taxas ou honorários, alardear
ou propiciar facilidades na prestação de
serviços, praticar ato de improbabilidade contra a fé pública, contra o patrimônio ou contra a administração pública,
negligenciar no desempenho da atividade, alienar a qualquer título ou ceder a
credencial a terceiro.
regulamentada pela Portaria n.º
0053/SSP/SC/97, a atividade de Centro
de formação de condutores de veículos Automotores (cfc), no estado de
Santa Catarina, destinada à formação
Dissertar
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
de condutores de veículos automotores
de duas ou mais rodas, para a obtenção
de Carteira Nacional de Habilitação e ao
encaminhamento ao detran, dos demais
procedimentos relativos à habilitação,
renovação de exame, expedição de 2ª
via, mudança de categoria e afins, será
exercida por pessoa jurídica de direito privado previamente registrada, que
preencha os requisitos e satisfaça às exigências da presente portaria. considera-se cfc o estabelecimento dedicado à
formação de condutores de veículos automotores, que ministre cursos teóricos
em legislação de trânsito e práticos de
direção veicular aos candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.
A Corregedoria do Detran/SC foi
criada pela lei complementar nº 341, de
16 de março de 2006. É o setor responsável pela fiscalização de todos os credenciados, para que cumpram seus deveres
legais para com a sociedade. A corregedoria é presidida pela figura do Corregedor, onde existe uma ou mais comissões
investigativas, sendo cada uma formada
por um presidente, um secretário e duas
vogais. A comissão é responsável por
investigar minuciosamente a denúncia,
ouvindo as testemunhas de acusação e
defesa, bem como elaborar o Relatório
final que será encaminhado ao diretor.
mais alguns poucos servidores que auxiliam na tramitação do processo, questões administrativas e análises jurídicas
e técnicas compõe o setor.
A primeira etapa do processo é
o recebimento de uma denúncia contra
um credenciado. esta denúncia pode advir de boletim de ocorrência registrado
na delegacia de Polícia onde ocorreu o
fato, ou chegar internamente de outros
setores que se depararam com uma irregularidade, ou suspeita, por meio de comunicação interna. delegados de Polícia das delegacias regionais de Polícia
(drP), ministério Público, credencia dos do detran, clientes, candidatos, todos podem ser denunciantes de práticas
irregulares. Pela corregedoria tramitam
documentos que serão doravante chamados de processos. um processo pode
ser do tipo amigável ou administrativo.
uma vez a denúncia aceita pelo corregedor, ela passa a formar um processo de
fase amigável para depois, se for o caso,
migrar para a fase administrativa.
Enquanto na fase amigável, como
o próprio nome diz, a questão é tratada
informalmente, valendo-se de e-mails
ou defesas prévias sem a necessidade
explícita de um advogado. A finalidade
é levantar provas ou indícios para justificar a abertura da fase administrativa. A
fase amigável pode ser:
a) Procedimento: é o processo
mais genérico;
b) fiscalização: onde é necessário deslocar uma equipe de funcionários
até o local com a finalidade de avaliar
in loco. A fiscalização é tanto preventiva como corretiva, quando incentivada
por uma denúncia. A fiscalização é foco
deste trabalho. todos os processos ami gáveis de fiscalização ficam armazenados num arquivo, organizados por delegacia regional de Polícia (drP) que
atende àquela região formada por um
ou mais municípios. A divisão é feita
considerando-se fatores populacionais,
regionais e econômicos. No estado de
Santa catarina são 30 drPs mais a da
capital. logo, é comum que municípios
limítrofes pertençam a DRPs diferentes.
c) diligência: quando é necessária a busca de provas numa região a fim
de fomentar provas no processo;
Uma vez que a justificativa apresentada seja insuficiente ou não tenha
embasamento, uma comissão é nomeada pelo diretor do detran para investigar
de forma detalhada o processo. Assim, a
fase amigável evolui para a fase administrativa, iniciando-se o Processo Administrativo (PA).
Neste ponto já é possível fazer
algumas comparações. o “produto”
tanto dito anteriormente aqui é o procedimento de fiscalização e o “estoque” é
o arquivo que armazena todos os procedimentos de fiscalização. Um estoque
muito alto significa que há um número
muito grande de fiscalizações a serem
cumpridas. A maneira de fazer o estoque
“girar” é aumentando a entrega, ou seja,
executando as fiscalizações nos credenciados. o cliente é o estado de Sc, cuja
demanda será considerada constante e
que consome toda a produção, ou seja,
sempre há a necessidade de realizar alguma fiscalização.
Ao se levantar a necessidade de
deslocamento para uma cidade, é solicitado um relatório de quais credenciados
tem processos de fiscalização abertos
naquela drP . Inicia-se o planejamento operacional da ação. tomemos como
exemplo a cidade de Chapecó, no oeste
catarinense, pertencente à 12ª drP , que
também contém as cidades: Águas de
chapecó, Águas frias, bom jesus do
Oeste, Caxambu do Sul, Chapecó, Cordilheira Alta, coronel freitas, cunhataí,
dentre outras. Neste caso, é levantada a
84
informação de que existe a necessidade
de apenas três credenciados a serem fiscalizados naquela drP , todos em chapecó. Assim, é feita uma reunião com o fito
de escolher os credenciados a serem fiscalizados, visando-se o aproveitamento
do deslocamento, a otimização do tempo
e a diminuição do valor gasto por fiscalização, distribuindo-se este valor fixo pelo
maior número possível de credenciados,
baseado nestas informações. Como todos
estão na mesma cidade- alvo, não haveria
a necessidade de planejar uma rota.
Os custos da fiscalização englobam os valores para hospedagem, alimentação dos servidores e combustível.
uma vez que há a necessidade de deslocamento até certo município, principalmente se este for distante, como avaliar
o tempo de permanência a quais os credenciados que devem ser fiscalizados?
A equipe de fiscalização sairá da capital,
florianópolis. A distância entre as cida des é um custo fixo, independente do
número de servidores (limitado à capacidade do veículo oficial ou cinco pessoas). o tempo de deslocamento deve ser
convertido em valores para também ser
contabilizado como custo fixo deste deslocamento. lembrando que este último
valor é um investimento do estado, pois
o servidor não está efetivamente produzindo – apenas se deslocando.
o modelo atualmente usado é o
de deslocamento, fiscalizações no destino, deslocamento de retorno. devido ao
desgaste físico pela viagem e horário de
chegada, as fiscalizações iniciam-se no
dia seguinte.
o modelo proposto é baseado no
levantamento das necessidades de fiscalização dos credenciados de modo a otimizar a viagem, reduzir custos e cansaço
com deslocamento e aumentar a quantidade de fiscalizações. Inicialmente, é
necessário mudar o critério para escolha
dos credenciados escolhidos para fiscalização, não mais por drP , mas pelas
cidades próximas ou ao longo do trajeto.
Uma forma seria juntando a quantidade
de credenciados que necessitam de fiscalização do estado por cidade e, através
de um mapa, cruzar as informações de
modo a fiscalizar o maior número possível de credenciados na região. Na tabela
abaixo, uma amostra desta relação:
Somente com a tabela, a localização de cidades próximas é impossível
sem um conhecimento geográfico do
estado. Ainda assim, a consulta a um
mapa geográfico a cada cidade torna o
trabalho custoso e demorado. este mo-
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
Dissertar
Tabela 1
Número de procedimentos de fiscalização por município.
Agrolândia
Agronômica
Apiúna
Total
1
2
delo será então composto de três fases:
a) Primeira fase: identificar visualmente cada credenciado num mapa
geográfico político digital, destacando,
com o uso de cores diferentes, se já foi
fiscalizado (quando e por qual equipe),
através de um pino virtual;
b) Segunda fase: diferenciar no
mapa os credenciados que devam ser
fiscalizados (que tem um procedimento
aberto de “fiscalização”);
c) Terceira fase: integração com
receptor de gPS automotivo.
o Google Earth™ é um software
desenvolvido e distribuído pela empresa
norte- americana Google® cuja função
é apresentar um modelo tridimensional
do globo terrestre, construído a partir de
mosaico de imagens de satélite. desta
forma, o programa pode ser usado como
um gerador de mapas bidimensionais,
visualizador de imagens de satélite ou
como um simulador das diversas paisagens presentes no nosso planeta. com
ele é possível escolher e visualizar a rota
entre duas localidades desejadas. foi
elaborado um arquivo, a partir da base
de credenciados do Detran/SC, o qual é
interpretado pelo programa como sendo
uma lista de vários locais a serem marcados no mapa. o software então realiza
esta marcação com um pino, como na
Figura 1 a seguir:
esta visualização permite a
identificação de onde existe maior concentração de credenciados e onde há
carência. A linha azul é o caminho de
florianópolis a chapecó. Nota- se que
existem vários pinos no caminho. Os pinos de cor azul clara são credenciados
que ainda não foram fiscalizados. Os de
cor azul escura já foram fiscalizados há
certo tempo. Logo, o foco é nos pinos de
cor azul clara. Ampliando a imagem na
cidade de chapecó, como na figura 2,
vê-se que as cidades de Xaxim e Xanxerê, além de serem próximas a Chapecó,
estão no caminho e abrigam credenciados que não foram fiscalizados. Salientando que Xaxim e Xanxerê pertencem
à 16ª DRP, diferentemente de Chapecó,
que pertence à 12ª drP .
observando a rota mais detalha damente, percebe-se que ainda há outras
1
...
São Lourenço
do Oeste
São Ludgero
São Miguel
do Oeste
4
1
4
...
Xanxerê
Xaxim
1
3
Figura 1 - Distribuição dos despachantes pelo estado de SC
cidades no caminho, como campos Novos, da 26ª drP , com dois credenciados
que devem ser fiscalizados. E assim
em diante, por todas as cidades que se
encontram no caminho, é viável traçar
rotas para fiscalizar o máximo possível.
Na segunda fase, é necessário
exportar informações do sistema de uso
interno de registro de processos. desta
forma, além dos status de “fiscalizado”
ou “pendente de fiscalização”, passa a
existir uma terceira categoria, que são
os que “necessitam de fiscalização”, seja
porque há evidências que justifiquem ou
necessitem de diligência in loco a fim de
levantar mais evidências. estes creden ciados são destacados num mapa à parte. Desta forma, é exequível otimizar a
rota com a finalidade de passar por estes
credenciados. Os pinos referentes a tais
credenciados possibilitam, ainda, a inserção de várias informações provenientes do sistema, de tal forma a direcionar
a escolha do alvo, como o objeto da ação
que motivou a abertura do procedimento, como uma denúncia de mau atendimento ou emissão de documento sem
prévio consentimento do proprietário.
Além disso, é possível exibir as
informações necessárias acerca daquele
pino no mapa: motivo da fiscalização,
nome, seu perfil (CFC ou Despachante),
85
o número do procedimento, o assunto,
endereço e telefone no credenciado. Todas estas informações são exportadas do
sistema interno para o Google Earth™,
permitindo utilizar apenas um sistema
para determinar a escolha.
o Google Earth™ tem se mostrado uma ótima ferramenta no planejamento da melhor rota. contudo, não
orienta e equipe a chegar ao exato local
desejado. Esta função é desempenhada
pelos aparelhos de gPS automotivos
que, com o endereço destino, conseguem orientar o motorista, com elevada precisão, até o destino requisitado.
uma vez que a relação de credenciados
já existe, algumas modificações foram
feitas para que as informações sejam exportadas para o aparelho de GPS, a fim
de atingir a terceira fase do modelo proposto. Desta forma, ao se fazer a escolha
dos credenciados a serem fiscalizados
a partir do Google Earth™ é possível
selecioná-los no gPS como destino e
deixá-lo orientar o caminho aos funcionários.
Ainda contando com uma capacidade do GPS de informar a sua
posição atual, a equipe de fiscalização
pode, em qualquer lugar do estado, procurar o credenciado mais próximo de
onde está, com apenas alguns cliques
Dissertar
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
Figura 2 - Cidades de diferentes DRPs
no aparelho. Nas informações do credenciado aparecem todas as informações que constam no sistema de mapas
digital no escritório, mas desta vez, as
informações são acessadas diretamente
pelo software do GPS.
A Secretaria de Segurança Pública de SC (SSP/SC) ainda tem um convênio com postos de combustíveis espalhados pelo estado. A relação de postos está
presente em cada viatura, impressa por
ordem alfabética de cidade. É simples
encontrar o posto conveniado, desde que
o usuário saiba que cidade está mais perto da sua localização. A relação de postos
de combustíveis conveniados também
foi enviada para o GPS, de tal forma que
ele mostra o posto mais próximo de sua
localização atual. Esta informação será
disponibilizada a todos da SSP/SC, a fim
de ajudar na localização destes postos.
Além dos postos de combustíveis, também foi enviada ao GPS a localização
de todas as delegacias regionais de Polícia do estado de Sc. Assim, a equipe
de fiscalização pode se deslocar até lá se
necessário for, visando informar às autoridades presentes que a corregedoria
está na região e solicitar/oferecer ajuda
mútua, caso seja necessário.
de maneira geral, as caracterís ticas de um produto que mais tem influência sobre a estratégia de logística são
seus atributos naturais - peso, volume,
valor, perecibilidade, inflamabilidade
e susbtituibilidade, como bem dito por
Ronald H. Ballou (2006). Assim, requerem certos cuidados na sua separação,
transporte, armazenamento e pedido.
Ao se mover o foco da logística para o
ser humano, novas variáveis entram em
cena, como o tempo de deslocamento,
tempo total de ausência do convívio da
família, insegurança das estradas, manutenção dos veículos, locais de descanso
e de repouso. Itens como peso, volume
podem ser trazidos para o ser humano,
mas como aplicar variáveis como perecibilidade e insubstituilidade? Pode-se
explorar a perecibilidade como o limiar
de esgotamento físico e mental, onde a
necessidade de descanso é urgente. ultrapassar este limite acarreta a substituibilidade. Um funcionário pode ser substituído por outro, mas a vida dele não.
logo, lida-se com o mais valioso dos
produtos: a vida. Como efetuar cálculos
de rentabilidade onde uma das variáveis
é indefinida?
o uso dos mapas digitais tem se
mostrado um grande aliado no planejamento da rota a ser traçada, efetuando os
devidos ajustes no caminho a ser feito,
se necessário. Esta ferramenta atua perfeitamente como um sistema de apoio à
decisão, na medida em que claramente
fornece informações e apoio ao responsável em sua tomada de decisão eficaz.
também demonstram sua importância
no nível de planejamento operacional
que tem, segundo MasakazuHoji, “a finalidade de maximizar os recursos da
empresa aplicados em operações de determinado período, envolvendo decisões
mais descentralizadas, mais repetitivas
e de maior reversibilidade” (2007). A
maioria dos planejamentos tem características misturadas de:
Filosofia de satisfação: os objetivos
devem ser atingíveis, para proporcionar
um mínimo de satisfação aos responsáveis pela execução do planejamento;
Filosofia de otimização: com a utilização de técnicas matemáticas e
estatísticas e de modelos de simulação,
o planejamento deve ser feito para
atingir o melhor resultado possível;
Figura 3 - Credenciados que devem ser fiscalizados
86
Filosofia da adaptação: consiste em
responder adequadamente às mudanças
externas, pois o planejamento trabalha
com diferentes níveis de incertezas.
(Hoji,2007 apud oliveira, 1995)
Redução de custos da administração financeira estadual utilizando sistema de apoio à decisão baseado em mapas digitais na logística de servidores do Detran de Santa Catarina
Profa. Ana Shirley de França Moraes – Orientadora e Adm. Thael Nogueira da Gama Rosa
Considerações finais
Assim, evidencia-se que o
planejamento operacional da melhor
rota, com a finalidade de aumentar a
eficiência e eficácia das fiscalizações,
conciliando o bem-estar do servidor
público é, além de plausível, essencial
de ser implementado, seja qual for a
metodologia, proporcionando a adequação
ao conceito da filosofia de satisfação e
simultaneamente. A melhor rota torna
a viagem de fiscalização mais eficiente,
pois estimula a equipe a realizar mais
paradas durante todo o trajeto. Para o
motorista que transporta carga maior que
4.536 Quilos, profissional de transporte
escolar e de passageiros em veículos
com mais de dez lugares, foi sancionada
a lei nº 12.619, de 30 de abril de 2012,
que diz que os motoristas deverão ter
repouso de no mínimo 11 horas por
dia, além do descanso de 30 minutos a
cada 4 horas ininterruptas de direção.
A punição prevista é apreensão do
veículo, multa e perda de cinco pontos
na carteira de habilitação. entretanto,
não há regulamentação para o caso de
veículo de passeio. Neste caso, vale a
regra do bom senso ou estipular um
tempo intermediário, como 3 horas,
entre as paradas. estas paradas para
descanso podem coincidir com paradas
para abastecimento ou mesmo uma
fiscalização. O objetivo é evitar a fadiga
causada pelo longo trajeto percorrido.
De posse de todas estas informações, a administração pública terá
uma redução nos custos gerais, não só
diretamente, com a logística de pessoas envolvidas na ação, como também
na redução de fadiga, descansos após
longas viagens, aumento da eficiência
e eficácia das fiscalizações, em suma,
fazendo melhor uso do dinheiro público – aumento do roi (returnofinvestiment). conseqüentemente, aumento da
auto-estima do servidor, da sensação de
efetiva participação no negócio, assim
como pelo uso de ferramentas tecnológicas diferenciadas.
o presente estudo demonstrou
que existe uma necessidade de aprofundar este tema de logística, pois é possível expandi-lo para outras áreas como o
transporte público de massa nas grandes
cidades, novas regulamentações para o
transporte rodoviário de longas distâncias e definições trabalhistas sobre funcionários que necessitam se deslocar à
trabalho constantemente.
Referências
BAllOU, Ronald H. Gerenciamento da
cadeia de suprimentos/ logística empresarial.
Bookman, 2006.
BERTAGLIA, Paulo roberto. Logística e
gerenciamento da cadeia de abastecimento.
Saraiva, 2009
CHOPRA, Sunil; meINdl Peter. Gerenciamento da cadeia de suprimentos.
Pearsoneducation, 2002
FERRAES NETO, francisco. A relação da
logística com a administração financeira e
seusimpactos nos índices financeiros de uma
organização. rev. fAe, curitiba, v.5, n.1,
p.49- 49, set./dez. 2002
HOJi, Masakazu. Administração Financeira
e Orçamentária. Atlas, 2007
O´BRiEN, james A. Sistemas de informação
e as decisões gerenciais na era da internet.
Saraiva, 2006
Saiba como é construído o A380. disponível
em: http://www.terra.com.br/economia/infograficos/a380/. Acesso em 15 de outubro
de 2013
VITORINO, carlos márcio. Logística.
Pearson, 2012
* trabalho apresentado no Seminário de
Pesquisa da Estácio de Iniciação Científica, em 2014. Trabalho final do Curso de
Administração.
Artigo enviado em 10/11/2014,
aceito em 02/02/2015
87
Dissertar
DissertarMomento Cultural
Dissertar
A língua portuguesa no samba
Portuguese for samba
El protugués em El samba
O presente texto revela como o
gênero de música popular é resultado
do ambiente sociocultural de origem.
Já que a língua é uma marca cultura,
é certo que a sua forma musical é
decisivamente marcada pela língua na
qual suas letras serão escritas. Assim,
demonstra-se como o samba revela
essa estreita relação com a língua.
This text shows how the genre
of popular music is the result of the
socio-cultural environment where it
has born. Language is a culture brand
so its musical expressions are marked
by the language in which it will be
written. It´s demonstrated how close
is the relationship between samba and
the language.
Palavras-chave: Língua, Samba, Português.
Este texto revela como El género
de la música popular es el resultado del
ambiente socio-cultural que lo origina.
Ya que la lengua es una marca de una
cultura, es verdad que su forma musical
es decisivamente marcada por el idioma
en el cual se escribirán sus letras. De esa
forma queda demostrado como el samba
muestra esa estrecha relación con la lengua.
inglês e, por isso, abusam dos ditongos e das sílabas nasais.
Se na letra, a tarefa não foi bem realizada, cabe ao cantor, na
interpretação, adaptar os nossos vocábulos, pronunciando-os
como se não fossem falantes nativos do português.
Assim também é com o baião, que tem suas características calcadas no dialeto nordestino e tematiza quase sempre
a vida no campo, as agruras da seca, e a inexorabilidade da
fuga para o sul-sudeste, a saudade de casa, as festas de São
João, etc. A moderna música baiana é o reflexo da língua e
do jeito de ser malemolente dos soteropolitanos assim como
a guarânia sul-mato-grossense acompanha o som bilíngue da
fronteira com o Paraguai.
O samba carioca nasceu na região denominada por Heitor
dos Prazeres de Pequena África, que engloba a Zona Portuária e
a Cidade Nova. Habitada por pessoas pobres, de maioria negra
e de origem baiana, é resultado das intensas migrações internas
e externas de que o Rio de Janeiro foi alvo após a Abolição. No
início do século xx, essa população, que morava em casebres
e cortiços, foi escorraçada de suas moradias pela Reforma da
cidade e teve que se abrigar nos morros do centro, de modo
a continuarem próximos das ocupações adjacentes ao cais do
Porto, ou se deslocar para os subúrbios mais distantes.
o samba logo se tornou a voz daquela gente que tinha
nele e em seus criadores o canal através do qual externavam
suas mazelas amorosas ou sociais, davam vazão às suas angústias, ou simplesmente registravam os percalços da vida,
quase sempre de forma bem-humorada. Por ser oriundo de
uma comunidade social de certa forma homogênea, os sambas
refletem em suas letras, além dos temas que mais tocam seus
criadores e adeptos, a fala de que se servem no dia a dia para
a intercomunicação.
Esse “jeito especial de falar” que se construiu nessa
comunidade é que caracteriza o novo gênero musical que surge
e que lhe dá o sabor que tem até hoje.
A fala carioca, que é a forma pela qual aquela gente se apropria da língua portuguesa, determina o samba como gênero musical.
Autor:
Zé Arnaldo Guima
(José Arnaldo Guimarães Filho) é professor, compositor e
poeta. Escreveu “Palavra sã”, de poesias, lançado em 2001, e
“Pequeno dicionário do futebolês”, em 2014. Gravou e lançou
os cds “Bem feito”, 2000 e “Aviso à praça”, em 2013. Prepara,
para lançamento em breve, “A língua no Fundo de Quintal - A
gíria na Linguagem do Samba”, de onde foi tirado, em forma
de resumo o artigo “a Língua portuguesa no samba” e “O
assassinato da garota de Ipanema”, romance policial.
E-mail: [email protected]
todo gênero de música popular é resultado do ambiente
sociocultural em que se origina. ele é criado para ser o veículo
de expressão artística de uma comunidade. Por isso, suas letras giram em torno de uma temática recorrente, de interesse
e reconhecimento das pessoas que formam a matriz social em
que se forjou, e a sua forma musical é decisivamente marcada
pela língua na qual suas letras serão escritas.
O rock americano, por exemplo, é do jeito que é porque
foi criado para dar voz aos anseios dos jovens das grandes
cidades americanas, falantes, obviamente, do inglês, no fim da
década de 1940. Ao ouvirmos uma composição nesse gênero,
esperamos o acompanhamento típico de, pelo menos, guitarra,
contrabaixo e bateria, a estrutura rítmico-melódico-harmônica
que o caracteriza indubitavelmente e a prosódia anglofônica,
para a qual ele foi criado e que o caracterizou enquanto formato
musical. estranhamos uma canção nesse estilo cantada em outra língua porque percebemos as incongruências e os choques
entre o formato musical que ele originalmente tem e a prosódia
estranha à qual tem que se adaptar. É como enfiar um pé 42 num
sapato 39. No Brasil nossos roqueiros sofrem criando letras,
na nossa língua, que se adaptem a esse gênero musical. Nesse
processo, buscam enxertar palavras com sons próximos aos do
88
A língua portuguesa no samba
Zé Arnaldo Guima
Dissertar
Foto: http://escrevendoprapensar.blogspot.com.br
A melodia e
o rimo se moldam à
fala dos que o criam
e de quem o canta
nas primeiras rodas.
Ao lado da estrutura
musical (ritmo, melodia e harmonia)
que caracteriza todo
gênero, do acompanhamento harmônico
típico (violão, sete
cordas e cavaquinho), dos instrumentos de percussão (que
são inventados junto
com ele), e da dança
malemolente de seus
adeptos, a linguagem
do samba é uma de suas marcas e é, como as demais, determinante para a sua forma definitiva.
Aqui, cabe chamar a atenção para um aspecto. o samba
foi por muito tempo relegado a um segundo plano pelos consumidores brancos, “por ser uma música de negros, indolentes
e libidinosos”. torcia-se o nariz para essa música que levou
anos até ser aceita nos salões. muito do preconceito de que
por muito tempo o samba foi vítima advém de sua linguagem,
dentro do qual se ressaltam os usos não abonados pela norma
padrão, a temática distanciada dos moradores “do asfalto” e
o uso de gírias.
Nesse contexto, vale falar pela primeira vez da gíria, que
é utilizada sem cerimônia nas letras dos primeiros sambas. o
emprego das gírias reforça a oralidade que marca as letras do
samba, não fossem assim as de qualquer canção, de qualquer
gênero, em sua maioria. No samba, essa marca de oralidade é
ainda mais presente e explícita porque muitas canções nascem
de improviso, nos desafios do partido-alto, em que dois ou
mais versadores duelam após o canto uníssono de um refrão
que lhes serve de mote.
voltando à história. A população negra e mestiça que
se desloca em primeiro lugar da zona portuária para os morros
do Centro do Rio e, logo depois, para os subúrbios e favelas
da Zona Norte, leva a língua que se forjara na Pequena África
e a espalha pela cidade. junto com ela, vai o samba e tudo o
que o cerca porque ele é, como percebeu Zé Kéti em samba
metalinguístico e antológico, verdadeiramente a “voz do morro”.
A língua dos morros e dos subúrbios mantém-se viva e,
por isso, em constante evolução, mas de certa forma homogênea,
pelos contatos que continua havendo entre seus moradores,
parentes e ex-vizinhos, e pela extraordinária força centrípeta
que esse gênero musical demonstra, sobretudo depois do surgimento das escolas de samba.
A fala mestiça carioca que surgira na Pequena África
continua sendo comum aos habitantes das favelas pelas ligações
culturais, sociais, religiosas e familiares que seus moradores
perpetuam. O samba estará semprepresente nas festas e nas
cerimônias religiosas, antes, durante e depois das celebrações.
ele é o elemento comum às comunidades que surgem e crescem por toda a cidade, junto com as manifestações religiosas
e culturais de menor retumbância.
Já consolidado, o samba se transformou e deu frutos
diversos, variando-se e adaptando-se às mudanças e aos am-
bientes em que era
recebido. em cada
escola, originária de
uma favela, ganhou
uma batida diferente
e, conforme o dialeto da localidade,
modificava-se,
“dançando conforme a língua”. Noel
rosa levou-o para
os salões e para as
rádios. Suas letras
“falam” de outros
temas e de outro jeito e através dele, o
samba conquistou
a classe média, até
virar bossa-nova, em
que assume um formato bem diferente do samba ancestral,
porque a linguagem à qual estará cosido será outra.
No fim dos anos de 1970, no Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, após as peladas das noites de quarta-feira,
reuniam-se jovens músicos para uma informal roda de samba
que deveria ser, como aspiravam seus criadores, “como as de
antigamente”. Sem amplificação de som, como nos primórdios,
mas com muito mais gente em volta. O repertório era formado
por “sambas da antiga”, que logo passam a conviver com canções recém-compostas porque muitos compositores inéditos
ou esquecidos frequentam esses encontros musicais e ganham
nele, democraticamente,espaço para divulgar suas obras.
Nas rodas do cacique, ao lado dos tradicionais pandeiro, surdo, violão e cavaquinho, ouvem-se novo sons que
vêm dos tantãs, dos repiques de mão e do banjo com braço de
cavaquinho, uma novidade levada para lá por Almir guineto,
um dos integrantes originais do fundo de quintal. um novo
formato de samba está sendo processado porque também
uma nova linguagem, diferente daquela do limiar do século
xx, já anda nas bocas dos habitantes das agora chamadas
comunidades. Os temas também se modificam e o samba, de
novo, servil à sua gente, se acomoda aos novos tempos, e se
transforma em pagode.
Rapidamente o pagode do Cacique de Ramos transforma-se numevento de sucesso. À quadra do bloco de embalo,
acorrem os amantes febris do gênero, carentes desse tipo
de reunião, que perdera espaço, nas escolas de samba e nos
morros;nestes, por causa da violência e do encolhimento das
religiões africanas, parceiras do samba desde sua gênese, naquelas porque já não havia, paradoxalmente, lugar, apesar do
gigantismo das agremiações carnavalescas, para o “samba de
meio de ano”, engolido pela melhor performance comercial
do samba enredo.
Vários cantores frequentam o Cacique em busca de novas
“pérolas” para seu repertório. beth carvalho, grande madrinha
do grupo, frequentadora habitual das rodas que ocorriam embaixo das “tamarineiras”, convida os seus componentes para
acompanhá-la em um de seus discos de maior sucesso, “Pé no
chão”, de 1978. devido ao sucesso do disco de sua madrinha e
divulgadora com a participação decisiva do grupo, a indústria
fonográfica contrata os rapazes do Cacique de Ramos, antes
amadores, para gravar um disco que, sugestivamente tem o
nome de “Samba é no fundo de quintal”.
89
Dissertar
A língua portuguesa no samba
Zé Arnaldo Guima
Nesse primeiro trabalho, a mesma diversidade de estilos
que se ouvia nas rodas das quartas-feiras, fruto da democracia
autoral que permitia a qualquer um cantar sua obra ao menos
uma vez, migra para o disco que busca, ainda, reproduzir a
sonoridade dos pagodes do cacique. o disco alcança vendagem
expressiva para um artista iniciante. 23 compositoresescrevem
as doze canções que compõem o disco e outra de suas marcas
se faz presente: a linguagem que embala as letras apresenta pela
primeira vez aos incautos a língua de uso nos morros e subúrbios do rio de janeiro, recheada de gírias e de “plebeísmos”.
Por esse motivo, o grupo sofre o preconceito de que o
samba foi vítima em suas origens. Seu estilo, o pagode, é considerado menor, e as suas canções de menor prestígio do que
as dos baluartes do gênero, sobretudo Cartola, Ataulfo Alves
e Nelson cavaquinho, cujas letras e músicas eram elogiadas
até pelos intelectuais da zona sul do rio de janeiro.
o samba, após uma década de sucesso e de altas vendagens, perde espaço para o Rock Brasil nos anos de 1990
e,mais uma vez, se recolhe. Sua índole permanece, apesar das
transformações, de certa forma previsíveis, que sofre desde a
sua criação. As condições sociais e culturais em que foi forjado desaparecem paulatinamente e, por isso, desalojado de
seus ambientes naturais, o terreiro e a quadra das agremiações
carnavalescas, ele busca pousos diferentes, até ressurgir, mais
uma vez, desta vez em novo pouso, a Lapa, onde foi recebido
com reverência e reprocessado por novos músicos e intérpretes.
A língua em que suas letras são escritas também se
adapta aos novos tempos. os novo criadores – Arlindo cruz,
Sombrinha, Zeca pagodinho, Trio Calafrio, Toninho Gerais,
Serginho Meriti – fiéis às raízes de onde descendem, escrevem
seus poemas musicais na mesmalíngua em que namoram, rezam, brigam ou fazem suas compras. As gírias e as construções
típicas da linguagem popular e oral desses novos tempos, estão
à mostra, com todas as letras, à disposição de quem queira
estuda-las para compreendê-las, porque o samba, além de todas
as suas riquezas, oferta-nos generosamente mais essa dádiva: a
de ser um registro notável e original de nossa “inculta e bela”
língua portuguesa.
Artigo enviado em 12/12/2014, aceito em 11/03/2015
90
Formas de participação, normas e política Dissertar
editoriais
A Revista DISSERTAR tem o propósito de ser um canal de comunicação eficaz para diversas áreas do conhecimento. Para
isto, espera contribuir como suporte para as disciplinas mais variadas e como fonte de pesquisa que possibilite a ampliação dos
meios de comunicação e enriqueça seus leitores.
Sem privilegiar nichos do saber, nem excluir campos de reflexão, DISSERTAR está determinada a caracterizar-se como “universitária”, na acepção pluralista do termo, estimulando a produção científica da comunidade acadêmica da UNESA. Para isso,
ela precisa da participação dos professores.
Participe, enviando seus trabalhos para AdeSA, Associação de docentes da estácio de Sá, rua do bispo 83, rio de janeiro,
ceP 20261-060, brasil. e-mail para contato: [email protected]
Modelagem do artigo:
título em português, traduzido para inglês e espanhol.
resumo de até 7 linhas em português, traduzido para inglês e espanhol.
minicurrículo do autor, com e-mail.
Texto com introdução, desenvolvimento e considerações finais (normas da ABNT).
Referências em normas da ABNT.
Fonte 12, Times New Roman, em espaço um e meio.
Páginas: mínimo 10, máximo 25.
Modo de envio:
Na primeira página do artigo: título, resumos e minicurrículo do autor.
da segunda em diante, o artigo desenvolvido.
enviar para o e-mail: [email protected]
Apresentação Metodológica dos Textos:
- Título objetivo, descritivo e breve;
- Resumos devem conter resumos em Português, Inglês e espanhol, em caráter obrigatório;
- Palavras-chave ou Descritores Devem apresentar 5 (cinco) palavras, referentes ao conteúdo, escolhidas do próprio texto;
- Autor e Currículo Em até 5 linhas com afiliação institucional completa do autor; incluir e-mail e telefone de contato;
- Citações devem ser acompanhados pela chamada do autor, ano de publicação e página;
- Notas As notas de rodapé devem ser evitadas e, quando extremamente necessárias, colocadas no fim do texto, depois
das Referências Bibliográficas. Toda e qualquer indicação de fonte deve ser feita no próprio texto;
- Referências Bibliográficas Devem constituir lista em ordem alfabética, colocada ao final do texto, obedecendo à Associação brasileira de Normas técnicas (AbNt) Nbr 6.023.
Exemplos de Citação em Referências:
- livro de 1 autor
beIrÃo, Nirlando. claudio bernardes: A psicanálise da prancheta. São Paulo: dbA, 1999.
- livro com mais de 3 autores
grINover, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099, de 26-09-1995. 2.ed. rev. atual.
e aum. São Paulo: r. dos tribunais, 1997.
- Publicações periódicas (revistas e jornais)
emPreSÁrIoS da Argentina querem a suspensão temporária do mercosul. o globo, rio de janeiro, 27 set. 2001. economia, p. 28.
- Ilustrações e Anexos às ilustrações Devem ser acompanhadas de Fonte e Título, de forma que permita compreender
os dados. Os quadros, tabelas e gráficos devem obedecer às Normas do IBGE.
- Destaque Itálico deve ser usado, apenas, para destacar conceitos ou palavras estrangeiras; o negrito restrito aos títulos e
intertítulos.
- Estrutura dos Textos Os textos devem ser estruturados logicamente em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.
- Ficha Cadastral No modelo padrão ADESA. - Nome, endereço, e-mail, fone e Instituição.
A opção por citações maiores que três linhas em padrão itálico deve-se ao fato da formatação e tipologia de letra do veículo.
Modalidades
- Artigos
relatos de pesquisa ou parecer crítico sobre determinado tema, até 20 páginas.
- Ensaios Análise, reflexão, e conclusões sobre temas profissionais ou acadêmicos, até 15 páginas.
- Resenhas registro e crítica de obras publicadas, mínimo 5 páginas.
Próxima Edição:
Professor envie seus textos para a próxima edição da Revista Dissertar, seguindo as especificações acima, para o e-mail:
[email protected] ou para Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Tel.: 0055-21-2503-7100.
91