instituto científico de ensino superior e pesquisa curso de pedagogia
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INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO. VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO BRASÍLIA, JULHO DE 2003 INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO. VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO Monografia apresentada à Faculdade de Educação do ICESP, como atividade desenvolvida na disciplina TCC II, sob a orientação da Prof. Najla Veloso Sampaio Barbosa. BRASÍLIA, JULHO DE 2003 AGRADECIMENTO A todos que participaram dos mais variados momentos de minha vida durante esse curso. Aos meus colegas de classe, à minha família, e é claro sem poder esquecer à minha professora, orientadora Najla Veloso, que, sem dúvida, foi uma grande companheira enquanto professora, e também durante esse percurso de orientação da minha monografia. A todos vocês, meu obrigada sincero e com carinho. HISTÓRIA DE VIDA PARA NUNCA MAIS CHORAR – Maura Roberti Contribuição dos amigos José Carlos e Maria Lú Passava do meio dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol escaldante convidava a todos para um refresco. Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou: - Pai, tô com fome! O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência... - Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai! Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na Padaria a sua frente. Ao entrar dirigese a um homem no balcão: - Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome. Não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada encontrei. Eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o Senhor precisar. Amaro, o dono da Padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho. Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo. Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua. Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá. Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada. A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades. Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar: - O Maria! Sua comida deve estar muito ruim! Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato...? Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer. Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho. Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da Padaria, onde havia um pequeno escritório. Agenor conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos "biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada. Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na Padaria, e penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias. Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho. Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um novo homem - sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores. No dia seguinte,às 5 da manhã, Agenor estava na porta da Padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia porque estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa. E, ele não se enganou durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres. Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da Padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar. Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta... Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula. Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro. Ao meio dia ele desce para um café na Padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o "antigo funcionário" tão elegante em seu primeiro terno. Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço. Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora nutricionista Ricardo Baptista. Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um, contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido. Ricardinho, o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu pai fundou com tanto carinho: "Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma... E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar." Resumo O presente estudo aborda alguns aspectos característicos da Educação de Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados. Registra as observações da escola, dos alunos, dos professores na convivência entre os atores em sua atividade de alfabetização. Evidencia dados coletados sobre os fatores sócio – econômicos e pessoais dos alunos desse trabalho educativo, por meio de entrevistas. Os autores que lhe dão sustentação teórica são Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão. Por fim, evidencia alguns dos fatores que fazem com que os jovens e adultos do SERPRO estejam se alfabetizando fora da idade regular. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO..................................................................................................10 CAPÍTULO I : OBJETO DE ESTUDO....................................................................11 CAPÍTULO II : REFERENCIAL TEÓRICO............................................................14 CAPÍTULO III: ANÁLISE DOS DADOS.................................................................21 CAPÍTULO IV : CONCLUSÃO...............................................................................27 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO.........................................................................30 ANEXOS.................................................................................................................31 LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS GRÁFICO 1........................................................................................................... 23 GRÁFICO 2........................................................................................................... 24 GRÁFICO 3........................................................................................................... 25 AP R E S E N T AÇ Ã O “ A a l f a b e t i za ç ã o é o p r i m e i r o p a s s o p a r a a educação e degrau imediato para uma etapa c i v i l i za t ó r i a . A p a l a v r a a j u d a o h o m e m a t o r n a r se homem: assim, a linguagem passa a ser cultura. Através da decodificação da palavra, o a l f a b e t i za n d o v a i s e d e s c o b r i n d o c o m o h o m e m , sujeito de todo o processo histórico". Paulo Freire Este tema foi escolhido por mim pelo fato de na Empresa em que trabalho, SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados, ter sido inserida a Educação de Jovens e Adultos para funcionários que não são alfabetizados, ou que começaram seus estudos e por algum motivo tiveram de interrompê-los. Por ter contato com as pessoas inseridas nesse processo de educação, é que despertou em mim a curiosidade de aprofundar mais neste tema e descobrir quais os motivos que levaram essas pessoas a estarem somente agora se alfabetizando. O presente trabalho teve o intuito de mostrar a situação desses jovens e adultos que estão se alfabetizando em idade irregular. Procurei evidenciar os principais fatores que ocasionam a exclusão desses jovens e adultos da escola e, se os fatores sociais e econômicos são causadores dessa exclusão. Para construir esse projeto, utilizei referências bibliográficas de Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão. Observei também durante todo o trabalho, a partir das discussões dos sujeitos envolvidos, quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos, para iniciarem a educação em idade regular. CAPÍT UL O I – O BJET O DE EST UDO Consultando o site do MEC – Ministério da Educação e Cultura, verifiquei em algumas matérias, que no Brasil a taxa de analfabetismo registrada em 1970 era de 33,6% da população acima de 15 anos de idade. Este índice em 1997, já havia recuado para 14,7% o que corresponde a cerca de 15,8 milhões de pessoas. São vários os fatores que propiciam essa taxa de analfabetismo. É esse o intuito desse trabalho. Evidenciar quais são esses fatores que fazem com que tantos jovens e adultos estejam se alfabetizando em idade irregular, na perspectiva dos próprios sujeitos, que são os alunos da “Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO- Serviço Federal de Processamento de Dados. Levantamos algumas hipóteses de acordo com leituras feitas sobre o assunto e desejamos confirmá-las ou não de acordo com a pesquisa. Dessas exclusão hipóteses, devido ao decorrer do trabalho. uma trabalho que podemos infantil, ressaltar é a da qual falaremos no Outra hipótese para essa exclusão é que o indivíduo que logo durante o processo de educação formal, é vítima de insucesso, não atingindo os níveis requeridos, é conduzido para fileiras fechadas, ou seja é deixado de lado, sem uma observação especial do professor, sem uma aula de reforço para que ele consiga acompanhar novamente o grupo. Esse aluno constitue as primeiras categorias de exclusão no quadro do sistema formal de escolarização. Existe também outro fator que tentaremos verificar. Tratase das pessoas que já nascem economicamente excluídas, são aquelas crianças filhas de uma classe desprovida de recursos financeiros, que não tem condições de colocar os filhos na escola, e que dificilmente superarão a situação de exclusão da qual são vítimas. Embora a Constituição afirme a igualdade de todos e assegure a todos a mesma liberdade, só por desinformação de alguém poderá dizer que o filho de pais pobres tem a mesma liberdade e a mesma ascensão social quanto ao acesso aos direitos fundamentais que os filhos de pais ricos. Mas na verdade crianças filhos de pais desfavorecidos quanto ao fator econômico tem os mesmos direitos, mas não as mesmas oportunidades de ingressar em um estudo de qualidade. É grande o número de crianças brasileiras que nasce em situação de exclusão social. Muitas dessas crianças não ultrapassam o primeiro ano de vida, segundo pesquisa realizada no site do Mec, e se resistirem estarão sempre à margem da sociedade ou numa longínqua retaguarda, vítimas da fome e da falta de cuidados de saúde, com pouca ou nenhuma possibilidade de educação, morando na rua ou em condições extremamente precárias, sofrendo humilhações e agressões à sua pessoa e completamente desprovidas de bens materiais. E é por isso que vejo a importância deste trabalho para mostrar os principais adultos. Pois pontos da exclusão essas crianças que são desses jovens e excluídas da escola, crescerão excluídas, e se tornarão jovens e adultos excluídos de uma sociedade onde o estudo é primordial para uma vida de sucesso. O meu trabalho de conclusão de curso foi realizado na “∗Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados, com o intuito de verificar “Fatores que Ocasionaram a Exclusão Escolar de Jovens e Adultos do SERPRO na Faixa Etária Prevista para a Educação Básica. Um Olhar do Próprio Sujeito”. O método utilizado na pesquisa foi o estudo de caso, pelo fato de o número de interlocutores significar parcela reduzida e não amostragem estatística de fenômeno sociológico, político, econômico. Investiguei os fatores que concorreram para que aqueles alunos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados, estivessem estudando somente agora. Os resultados que obtive são relacionados somente a eles e não podem a priori ser considerados como referências nacionais ou mesmo locais. Como instrumentos, utilizei visitas à instituição para observação, conversas informais com a coordenação do projeto e com professores, além de entrevista gravada com 08 (oito) alunos que participam da educação de jovens e adultos em curso de alfabetização promovido pela empresa. As questões abordadas tinham o intuito de evidenciar as percepções dos ∗ A palavra “Escolinha” utilizada em todo trabalho, nada mais é do que uma forma carinhosa de citar o local de minha pesquisa de campo a escola de EJA do SERPRO, que é reduzida a somente uma sala de aula. Por ter havido questionamento quanto a essa nomenclatura, coloco essa nota pois outros leitores poderão também ter a mesma dúvida. sujeitos alfabetizandos acerca dos fenômenos e aspectos que favoreceram a não escolarização na idade de acesso ao ensino regular. Os alunos se sentiram a vontade para responder a todas as perguntas e foram o grande enriquecimento de meu trabalho. Me emocionei muito durante as respostas dos mesmos, por saber um pouco da vida de cada um e de suas dificuldades na vida, até então, e de seu esforço para estarem nesse momento na escola. CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO A escolha de citar a literatura de autores como Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão em meu trabalho, foi devido à vasta produção dos mesmos sobre o tema “Educação de Jovens e Adultos” , e por estarem a tanto tempo inseridos nesse processo da Educação do Brasil. No livro “∗ A Importância do Ato de Ler, o autor nos esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização, colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador, de que ele é também um sujeito. ∗ FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Ed. Cortez, 1986. Paulo Freire foi professor de Português, no Colégio Oswaldo Cruz, depois diretor do setor de Educação e Cultura do SESI, onde teve contato com a educação de Jovens e Adultos. Ele é também Doutor em Filosofia e História da Educação. Segundo Paulo Freire, “ a leitura do mundo precede a leitura da palavra”(Freire, 1986,p.11). É necessário entender o que acontece em sua volta para fazer uma leitura crítica das palavras, do que você ouve, interpretar o que você está lendo e não somente aceitar colocações formadas por alguém que deseja que você entenda o que ele quer que você entenda, e não descubra o sentido que as vezes está embutido em algumas palavras. Paulo Freire(1986) cita exemplos de sua vida em que ele aprendeu a leitura da palavra, onde foi alfabetizado por seus pais com palavras de seu mundo, tornando assim, mais fácil sua alfabetização. Quando foi para a escola, já estava alfabetizado, e com sua professora continuou o aprendizado sempre tendo uma l e i t u r a d o m u n d o . C o m e l a d i z P a u l o F r e i r e “a l e i t u r a d a p a l a v r a , da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a “leitura”do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da “palavramundo”(Freire, 1986,p.17). Essa forma de compreender o que realmente está escrito é muito importante pois torna a leitura prazerosa e interessante. O aluno percebe que está sendo inserido em um contexto real, de que ele faz parte. Paulo Freire(1986) conta de sua experiência enquanto estudante e professor e mostra que é realmente importante o alfabetizando entender o que ele está lendo, fazer uma relação daquela leitura com o mundo para ficar mais fácil sua interpretação durante a leitura. Se ele apenas lê para decorar ou memorizar a leitura ele entendendo aquela leitura. não vai estar absorvendo nem “A a l f a b e t i za ç ã o é a c r i a ç ã o o u a m o n t a g e m d a e x p r e s s ã o e scrita d a e xp re ssã o o ra l”(Fre ire , 1 9 8 6 ,p .2 1). S e gu n d o o a u to r quando o aluno descobre essa forma de entender a escrita, aí sim chega o momento dele criar. na percepção crítica, “O a t o d e l e r i m p l i c a s e m p r e interpretação e “ r e- e s c r i t a ” do lido”.(Freire, 1986,p.24) Um aspecto que achei importante é quando Paulo Freire diz q u e “q u a l q u e r a l u n o t e m o d i r e i t o d e d i ze r a s u a p a l a v r a . D i r e i t o deles de falar a que corresponde o nosso dever (educador) de e s c u t á - l o s ”” ( F r e i r e , 1986,p.30). É o que deveria sempre acontecer, o professor ouvir o aluno e saber falar para que esse aluno possa compreende-lo e aprender o que lhe foi passado. É interessante ressaltar também duas afirmações de Paulo Freire: Quem apenas fala e jamais ouve; quem “ i m o b i l i za ” o conhecimento e o transfere a estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem democracia (Freire,1986,p. 30). A outra afirmação diz, “S ó educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos e d u c a n d o s ”( F r e i r e , 1986,p.32). Verificamos dessa forma o quanto é necessário o educador saber ouvir, dialogar com o aluno, ou seja ter a capacidade de poder aprender com os educandos, com suas experiências de vida, com os conhecimentos que eles trazem para a sala de aula. Pude observar que Paulo Freire(1986) enfatiza em boa parte desse livro que o aluno deve ser livre para o pensar, o educador deve deixá-lo livre para trazer suas experiências para a sala de aula e deve também deixar que ele se torne um sujeito participativo de sua etapa de alfabetização. Paulo Freire(1986) leva-nos também à compreensão da prática democrática e crítica da leitura do mundo e da palavra, onde a leitura não deve ser memorizada mecanicamente, mas ser desafiadora que leve o alfabetizando a pensar e analisar a realidade em que ele vive. É essencial que saibamos valorizar a cultura popular em que nosso aluno está inserido, partindo desta cultura e procurando aprofundar seus conhecimentos, para que participe do processo permanente da sua libertação. Sobre isto destaca Paulo Freire. A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento compreendidos, m e m o r i za d o s , e revela nos não uma textos a ser mecanicamente visão mágica da palavra escrita (Freire, 1986,p. 19). Para uma leitura crítica o aluno deve ler com curiosidade de entender o que está lendo, até mesmo relacionando a algo real para ficar mais fácil a compreensão. Essa leitura deve ser prazerosa, onde o educando consiga absorver o foco principal do que está lendo. É necessário que ele seja estimulado, que desenvolva a criatividade e que tenha uma educação que una a prática e a teoria. Paulo Freire entende da seguinte forma essa maneira de ajuda-lo: o fato do aluno necessitar da ajuda do educador, como pedagógica, ocorre não em qualquer relação significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem (Freire,1986,p.21). O livro “ José Romão ∗ Educação de Jovens e Adultos “ de Gadotti e define alguns termos para mostrar o que a educação de adultos é ou pode ser, em si mesma. Quais as possibilidades para a transformação das condições existentes no momento, como a moradia, saúde etc. Para Gadotti: A educação popular, como uma concepção geral da educação, via de regra se opôs a educação de adultos impulsionada pela educação estatal e tem ocupado os espaços que ∗ GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação de jovens e adultos. Teoria, prática e proposta. São Paulo. Ed. Cortez, 1995. Moacir Gadotti é Licenciado em Pedagogia(1967) e em Filosofia(1971). José Eustáquio Romão, é Professor Universitário, Licenciado em História e OSPB, Doutor em História Social e Doutor em História e Filosofia da Educação. a educação de adultos oficial não levou muito a sério (Gadotti,1995,p.26). Segundo o autor, essa educação baseia-se em um respeito pelo senso comum que traz os setores populares em sua prática cotidiana, problematizando esse senso comum, tratando de descobrir a teoria presente na prática popular, teoria ainda não conhecida pelo povo, problematizando-a, incorporando-lhe um raciocínio mais rigoroso, científico e unitário. Os jovens e adultos precisam ter uma boa educação para superar suas condições precárias de vida. Esse tipo de problema não deveria existir, cada pessoa deveria ter pelo menos o básico para viver. Para Gadotti (1995) essas más condições de vida como a moradia, saúde, alimentação, estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização dos jovens e adultos. P a r a G a d o t t i , “ o a n a l f a b e t i s m o é a e x p r e s s ã o d a p o b r e za , conseqüência inevitável in ju sta ”(Ga d o tti,1 99 5 ,p .2 8 ). combater suas causas. de Para uma estrutura combatê-lo Conhecer a condição é social necessário de vida do educando, como moradia salário, família, entre outros. Mas conhecendo de perto. Por isso o processo de alfabetização é facilitado quando o educador é do próprio meio. De acordo com isso Gadotti nos fala que: “Os condições educadores culturais, precisam do jovem respeitar e do as adulto a n a l f a b e t o . E l e s p r e c i s a m f a ze r o d i a g n ó s t i c o histórico-econômico do grupo ou comunidade que irão trabalhar e estabelecer um canal de comunicação entre o saber técnico e o saber p o p u l a r ” ( G a d o t t i , 1 9 9 5 , p . 2 8 ). É necessário o educador estudar o lugar que ele vai trabalhar e formar uma didática totalmente voltada para aquelas pessoas em especial. Por esse motivo decidi que minha pesquisa deveria ser feita no SERPRO porque os alunos e os professores que são todos funcionários da Empresa, convivem no mesmo ambiente, tornando assim mais fácil esse diagnóstico que Gadotti (1995) cita. É m u i t o i m p o r t a n t e l e m b r a r q u e c o n f o r m e d i z G a d o t t i , “O educador popular é um animador cultural, um articulador, um o r g a n i za d o r ” ( G a d o t t i , 1 9 9 5 , p . 2 9 ). O p r o f e s s o r p r e c i s a i n s e r i r exemplos do cotidiano dos alunos, organizar qual a melhor maneira de lhes transmitir conhecimento. Para Gadotti (1995), a educação de adultos deve ser sempre uma educação que desenvolve o conhecimento e a integração na diversidade cultural. O educador deve ser mostrar como um bom adepto do diálogo. O professor deve saber falar com o alfabetizando, saber ouvir, e até mesmo aprender com experiências trazidas pelo aluno, fazendo com que esse aluno saiba porque ele está estudando aquela matéria, e qual o verdadeiro sentido daquelas palavras que ele está lendo. Segundo Gadotti (1995), o educador tem que auxiliar o aluno para que além de ele enxergar palavras prontas nos livros, perceba que é livre para descobrir o significado da leitura. Por isso ele diz que: N a v e r d a d e n i n g u é m a l f a b e t i za n i n g u é m . O a l f a b e t i za d o r n ã o a l f a b e t i za o a l u n o . E l e é o mediador entre o aprendiz e a escrita, entre o sujeito e o objeto apropriação deste processo do de conhecimento (Gadotti,1995,p.34). De acordo com o que Gadotti (1995) diz, além de tudo que já vimos sobre a necessidade do aluno adulto, por ele ter uma melhor percepção da vida ele quer ver a aplicação imediata do que está aprendendo, pois sua ignorância lhe traz angústia, complexo de inferioridade. Por isso é necessário que tudo isso seja analisado, pois o primeiro direito do alfabetizando é o direito de se expressar. É preciso também ter uma seqüência na alfabetização desse aluno, porque se ele aprende mas não pratica o que aprendeu, regride ao analfabetismo. CAPÍT UL O III – ANÁL ISE DE DADO S A pesquisa foi realizada na “Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados, situada na SGAN Quadra 601 módulo V - Sede do SERPRO, na Asa Norte. O objetivo da escola é o incentivo ao estudo e formação educacional de seus funcionários que ainda não são alfabetizados, ou que fizeram somente uma ou duas séries e que por algum motivo interromperam seus estudos. Esses alunos ( funcionários ), são dispensados de suas atividades uma hora por dia, de segunda a sexta-feira, para estarem com uma professora que os orienta em suas atividades educacionais. As aulas são divididas entre os turnos matutino e vespertino, onde duas professoras se revezam pela manhã dando cada uma delas, uma aula, com duração de uma hora, para turmas diferentes. Na parte da tarde acontece tudo da mesma forma, mudando somente as professoras que são outras duas estagiárias. Em visita a escola para interá-los de meu objetivo, que seria a pesquisa sobre “Fatores que Ocasionaram a Exclusão Escolar de Jovens Prevista para e Adultos do SERPRO na Faixa Etária Educação Básica - Um Olhar do Próprio Sujeito”, fui recebida pela responsável do projeto de Educação de Jovens e Adultos, Selma dos Reis Froes Nunes, a qual me recebeu muito bem, me explicando como funciona a escolinha do SERPRO, quantos alunos possuem, quantos professores, e seus objetivos. Fui então encaminhada para uma conversa informal com algumas das professoras onde novamente falei de meu objetivo, e elas se propuseram a me auxiliar permitindo que eu visitasse as aulas e entrevistasse os alunos. Para realização desse trabalho utilizei como instrumento a entrevista, a qual foi aplicada a 08 (oito) alunos e foi também gravada, e que depois transcrevi na íntegra para o papel. ( anexos) A escola é formada até o presente momento por 12 alunos e 04 professores, onde 100% dos professores são do sexo feminino. A escola por ser localizada dentro da Empresa SERPRO, é composta somente de uma sala de aula, onde as professoras se revezam entre os turnos matutino e vespertino para dar aulas a grupos diferentes de alunos. Uma vez por mês a coordenadora do Projeto faz uma reunião de coordenação com as professoras. A coordenação do projeto de Educação de Jovens e Adultos é feita por funcionários da Empresa, que trabalham na área de Recursos Humanos e foram destinados a criar essa escolinha que começou com as primeiras séries e que agora já implantou até a 5 série, e já estão com projetos para a 6 série. O relacionamento entre alunos e professores é totalmente agradável e harmonioso. Nos dias em que estive fazendo minha observação, verifiquei o quanto os alunos gostam de seus professores. Durante a entrevista eles sempre os elogiavam. Pude constatar que os professores realmente respeitam seus alunos, suas diferenças e suas experiências de vida. As professoras fazem parte do quadro de estagiários do SERPRO, e todas estão cursando Pedagogia. Para estagiar na Escolinha de Jovens e Adultos do SERPRO, é necessário estar cursando a partir do segundo semestre do curso de Pedagogia. Os sujeitos entrevistados, alunos do EJA do SERPRO, podem ser caracterizados da seguinte forma. Dos 08 alunos entrevistados, 50% são homens e 50% são mulheres. G R ÁF I C O I homens mulheres Questionando esses mesmos alunos quanto a idade obtive os seguintes números: De 20 à 30 anos são 12,5% dos alunos. De 30à 40 anos são 25% dos alunos. De 40 à 50 anos são 37,5% dos alunos. E de 50 a 60 anos são 25% dos alunos. G R ÁF I C O I I 20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos 50 a 60 anos Dos 08 (oito) alunos entrevistados e questionados a respeito de sua infância, ou seja se trabalharam quando criança: 75% dos interlocutores, alegaram que não estudaram quando criança porque trabalhavam para ajudar a família; 12,5% afirmaram não terem estudado por falta de interesse, mesmo havendo incentivo dos pais; 12,5% responderam que não estudaram por cuidar de casa e filhos, ficando assim preso também ao fator econômico por não ter como pagar alguém para cuidar dos filhos e cuidar da casa, tendo acesso à escola somente depois dos filhos criados. G R ÁF I C O I I I Trabalhavam quando criança Falta de interesse próprio Dedicaram ao lar e a família De acordo com o que já havia citado nesse trabalho, quando falamos sobre o problema sócio-econômico do país; verificamos que os problemas de moradia, saúde, alimentação entre outros são os grandes causadores das raízes do analfabetismo, ou seja, a criança que não tem uma moradia fixa, uma boa alimentação e uma boa saúde, é difícil essa criança ter um bom rendimento nos estudos, e assim o número de analfabetos pode ficar cada vez mais significativo. P a r a G a d o t t i , “o a n a l f a b e t i s m o é a e x p r e s s ã o d a p o b r e za , conseqüência inevitável de uma estrutura social injusta”(Gadotti,1995,p,28). Coloco novamente essa citação, pois ela nos leva a pensar como uma estrutura social influi em toda a educação de um indivíduo. Se nesse nosso país existem poucos com muito e muitos com tão pouco, é aí que está a maior injustiça. Enquanto uma classe tão restrita pode usufruir de uma boa educação, a maioria da população é tão pobre e desprovida de recursos que não tem nem mesmo o que comer, e quem dirá condições para estudar. E é daí que cresce o número de pessoas que não se alfabetizam, e é claro não concluem nem mesmo o ensino fundamental. Esses fatores fazem com que o analfabetismo seja a expressão, a conseqüência da pobreza que existe por causa de uma sociedade injusta e de rendas tão mal distribuídas. CAPÍT UL O IV - CO NCL USÃO Essa pesquisa foi de grande importância, pois me proporcionou um contato maravilhoso com pessoas (alunos), que passavam por mim todos os dias nos corredores da empresa que trabalho, SERPRO, trocávamos um bom dia, mas eu não imaginava que fossem pessoas tão especiais e batalhadoras. Essa convivência com esses pesquisa me possibilitou rever que eu alunos durante toda a minha conceitos e mudar concepções já havia estabelecido, sem buscar informações do próprio sujeito. A pesquisa aos poucos foi se tornando realidade. Elaborei um roteiro de entrevista gravada com os alunos da “Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO . Transcrevi essas respostas e comecei a analisá-las de acordo com as citações dos autores que utilizei em minha monografia. D a a n á l i s e f e i t a n a “ E s c o l i n h a ” , d e i in í c i o à m i n h a a n á l i s e de dados onde descrevi todas as informações que obtive nessa pesquisa. Algumas dificuldades surgiram na medida em que tinha que transcrever o que vi e ouvi daqueles alunos, entre elas suas histórias, sua infância, a vontade que a maioria demonstrava em ter estudado quando criança, enfim a realidade de cada um. Aprendi muito com essa pesquisa, com cada um daqueles alunos. Ë impressionante a força de vontade que eles têm, a esperança de uma vida melhor através dos estudos. No início do projeto de pesquisa eu não imaginava a imensidão desse problema que é o analfabetismo. Mas depois da pesquisa que fiz com esses alunos do SERPRO, percebi que o trabalho infantil, de que eles foram vítimas, não possibilitou o acesso dos mesmos à escola em idade regular. Foi constatado também em minha pesquisa que 87.5% dos alunos foram vítimas do problema sócio-econômico existente em nosso país, começaram ou os seja, não estudos e estudaram tiveram quando que parar criança, por falta ou de condições financeiras dos pais, tendo que trabalhar em casa ou fora, para ajudar na sobrevivência da família. Pude também verificar que de acordo com o que Gadotti (1995) fala e depois podendo comparar com as respostas da entrevista que fiz com os interlocutores de minha pesquisa, o aluno que começa seus estudos e aprende a ler e escrever e depois, por algum motivo, tem que interrompê-los e não tem como praticar a leitura e a escrita volta a ser analfabeto. Constatei isso em conversa informal com alguns alunos onde eles me disseram que já haviam estudado quando criança, mas precisaram parar e com a falta da prática desaprenderam e agora quando retornaram começaram do início novamente pois já não se lembravam do que haviam aprendido. As pessoas formam suas palavras através da leitura que elas fazem do ambiente que vivem, das pessoas que se relacionam, e dessa forma pude observar que na “Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO, os professores buscam isso, eles permitem que os alunos busquem experiências de seu cotidiano para debaterem em sala de aula. Quando sentem que o aluno não está absorvendo o conteúdo, fazem exercícios relacionados ao dia a dia deles, como por exemplo no dia em que a professora fez um café na sala de aula, debatendo com os alunos, que inclusive alguns trabalham na copa, sobre matemática. Quantas colheres disso, quantas daquilo, medidas etc. Assim fica mais fácil para o aluno assimilar. E dessa forma, verifiquei que a equipe de educadores do SERPRO age com todo respeito ao conhecimento do aluno. Os alunos são ouvidos e suas experiências preservadas para adquirirem novos conhecimentos. Acredito que através de programas voltados para a educação de Jovens e Adultos, sendo eles públicos ou privados, como é o caso do SERPRO, teremos cada dia mais alunos completando as séries básicas. Não podemos esquecer também, que é necessário acabar com o trabalho infantil e com vários outros fatores que propiciam a exclusão da escola em idade regular. Precisamos que todas as crianças em idade de acesso à escola estejam realmente na escola, pois só assim eliminaremos tantas salas de aula formadas por jovens e adultos. REF ERENCIAL BIBL IO G RÁF ICO FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Ed. Cortez, 1986. GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação de jovens e adultos. Teoria, prática e proposta. São Paulo.Ed. Cortez,1995. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.. Capturado em 21 de Outubro de 2002. Online. Disponível na Internet http:// www.mec.gov.br Disponível na Internet http:// www.história de vida.com.br INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA C U R S O D E P E D AG O G I A – AD M I N I S T R AÇ ÃO E S C O L AR I N S T R U M E N T O D E C O L E T A D E D AD O S Questionário Al u n o s Este questionário tem o objetivo de coletar dados para pesquisa que objetiva investigar a temática Educação de Jovens e Adultos. Como campo, selecionamos o Serpro - Serviço Federal de Processamento de Dados. Agradeço antecipadamente sua colaboração no sentido de fornecer os dados necessários para as análises. Reafirmo que este documento será utilizado apenas como referencial desta pesquisa. Obrigada, Vanessa. I - Dados pessoais: 12345- Nome: Idade: Local de Nascimento: Casado (a): Tem filhos? Quantos? II – Informações 6- Você trabalhava quando criança/ ou adolescente? 7- Você chegou a começar seus estudos quando criança? 8- Se não, por que motivos? 9- Se sim, quais os fatores que o levaram a deixar a escola ? 10- Que motivações levaram você a retomar os estudos? R E S P O S T AS D O S I N T E R L O C U T O R E S Q U AN T O A E N T R E V I S T A: Interlocutor 1 Idade: 38 anos Local de Nascimento: Itacaré – BA Casado: Sim Tem filhos? Tenho. Quantos? quatro filhos. Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Comecei a trabalhar com idade de 8 (oito) anos. Por causa desse trabalho, eu trabalhava com meus pais e não foi possível eles me colocarem na escola, porque a gente trabalhava na roça. Meu pai era daqueles homens “cabeçudo”e aí não deixava a gente estudar porque tinha que ajudar ele, e aí o tempo foi passando e a gente não estudou. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Não. Aprendi a assinar o nome em casa com o meu cunhado, marido da minha irmã. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Eu já tentei várias vezes, inclusive o pouco que eu aprendi a ler e escrever foi porque em 1992 eu entrei em um colégio na 410 sul. E é por causa dos objetivos, a gente sempre tem que pensar num futuro melhor. Eu estava trabalhando, e lá eles exigiam um grau de escolaridade. E aí eu matriculei e fui estudar para pegar o certificado que eu estava estudando, se eu não adquirisse o certificado eu não podia ficar com a vaga que eu estava assumindo.Quando eu mudei para o Goiás, ficou difícil, eu estudar e trabalhar e aí eu saí do colégio. E agora comecei aqui no SERPRO esse ano. Interlocutor 2 Idade: 35 anos Local de Nascimento: Pernambuco Casado: Sim Tem filhos? Tenho. Quantos? quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Você trabalhava quando criança/ ou adolescente? Trabalhava um pouco né! Trabalhei em roça, depois de roça fui trabalhar na área de comércio. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Comecei, parei. Se sim, quais os fatores que o levaram a deixar a escola? Tinha que se virá para conquistar algumas coisas. Eu estudei até os dezessete, dezoito anos, mais ou menos. Fiz o 1º, 2º,3º e 4º anos, depois parei, voltei fiquei até o 6º ano e parei de novo. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Eu comecei praticamente essa semana. E porque é o seguinte. A gente sabe muito poucas coisas, e acho que é interessante a gente saber muito mais e então peguei essa oportunidade aí e estou querendo voltar no 6º ano. Estou tentando pra ver se vai dar certo, se não der tem que esperar mais. Interlocutor 3 Idade: 19, não 29 anos. Local de Nascimento: Arco Verde. Pernambuco Casado: Não Tem filhos? Não Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Na roça. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Quando eu era criança não. Comecei a estudar depois que eu cheguei aqui em Brasília, com vinte anos mais ou menos. Quais os fatores que o levaram a deixar a escola? Eu mudei. Estava aqui na Ceilândia, aí mudei para o Goiás, aí “bagunçou “tudo. Trabalhando, estudando, saindo mais tarde do serviço, aí não dava pra estudar. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Hoje em dia se não tiver estudo, a gente não tem nada. Mas é bom. Saber ler é bom demais. Comecei aqui no SERPRO e fiz do 1º ao 4º ano, aí terminei, fiz o 4º ano de novo pra não ficar parado e aí esse ano começou o 5º ano e eu estou aqui. Interlocutor 4 Idade: 48 anos Local de Nascimento: Goiânia Casado: Não. Solteira Tem filhos? Tenho. Quantos? Um casal Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Não. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Estudei. Eu fiz até a 5 série. Se sim quais os fatores que a levaram deixar a escola? Foi malandragem mesmo. O meu pai me deu todas as condições de estudar. A minha mãe morreu quando eu tinha 06 meses e o meu pai para suprir essa falta deixava eu fazer tudo, eu que impunha meus limites, e aí eu não quis mais estudar. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Vontade. Acho que nunca é tarde pra gente aprender. Interlocutor 5 Idade: 60 anos Local de Nascimento: São José da Lagoa da Prata. PA Casado: Sim Tem filhos? Tenho. Quantos? Quatro filhos e quatro netos. Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Sim. Comecei a trabalhar; morava no sítio, comecei a trabalhar novo, com uns dez anos. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Não. Naquela época não existia escola naquela região onde nós morávamos, morava na roça. Agora de uns anos desses pra cá é que a gente veio ver que tem escola lá na região. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Eu já tentei várias vezes aqui em Brasília. É porque quando eu começava a estudar, muitas vezes a gente começava a trabalhar e ia embora pra roça e a coisa continuava do mesmo jeito. Aí agora é que começamos a estudar de novo e agora é uma hora por dia mais pra mim está valendo a pena, porque a gente está recordando o que já havia esquecido. Interlocutor 6 Idade: 56 anos Local de Nascimento: Monte Alegre. PI Casada: Casada Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Não. Só vim trabalhar depois dos meninos grande. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Estudei até a 4 série. Lá no Piauí eu estudei até mais ou menos a 3 e cheguei aqui e fiz a 4 . Se sim, quais os fatores que a levaram deixar a escola? Eu fiquei grávida do último menino e aí eu saí do colégio e não voltei mais. Que motivações levaram você a retomar os estudos? É a gente aprender pelo menos, escrever corretamente. Porque muita coisa a gente não vai aprender. Aprender fazer uma continha. E graças a Deus eu já sei. E muita coisa a gente esquece. Eu já tinha dezoito anos que eu não estudava. Aí eu voltei para a Escolinha, aí eu já sei fazer continha, recordei muita coisa que eu já tinha esquecido. Interlocutor 7 Idade: 46 anos Local de Nascimento: Água Branca - PI Casada: Divorciada Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Eu vim pra Brasília com oito anos e comecei a trabalhar com oito anos, de babá, em casa de família. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Não tinha tempo, as vezes a gente ia trabalhar, quando chegava no colégio, já era passado de hora aí não deixavam a gente entrar, tinha que voltar de novo e assim foi a minha vida. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Há, porque a gente tem que estudar né! Aprender mais alguma coisa. A gente aprendeu um pouquinho, mas a gente esqueceu, então a gente tem que estudar pra conseguir alguma coisa na vida. E a minha professora tem paciência comigo, é um doce, me coloca lá no cantinho, vai soletrando e eu estou conseguindo. Interlocutor 8 Idade: Oh, minha idade certa é 44 anos Local de Nascimento: Nasci em Anápolis Casada: Viúva Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis Você trabalhava quando criança/ou adolescente? Desde os sete anos pra ajudar minha mãe. Você chegou a começar seus estudos quando criança? Eu estudei, pouco né. Sempre saía, porque eu vim trabalhar aqui. Se sim, quais os fatores que a levaram a deixar a escola? Eu engravidei com doze anos e larguei. Quando eu fiquei grávida, eles ficavam falando de mim na escola, eu fiquei com vergonha e saí. E aí vem um menino, vem outro, todo ano um menino. Que motivações levaram você a retomar os estudos? Pelo curso que teve aqui, o 1º curso. Aí eu pensei que eu tinha que escrever coisas, lá na frente, a Maria ficava falando que tinha que fazer uma redação, chegava lá falando tanta coisa que eu ficava com medo de escrever, fazer uma palavra errada, porque eu erro muito a letra, quando é dois “s”, o “z”e o “s”, o “c”e o “s, eu erro demais. Agora eu estou tão boa que você precisa ver. Graças a Deus.
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