Business Angels e Empreendedorismo
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Business Angels e Empreendedorismo
Business Angels e Empreendedorismo Ricardo Luz Gestluz Consultores e Invicta Angels, Porto, Portugal [email protected] Resumo O estado actual da economia reforça a necessidade de “rejuvenescer” a forma de encarar o empreendedorismo e torna particularmente relevante a recriação de ambientes que o potenciem. O desenvolvimento destes ambientes passa pela integração do Desenvolvimento Sustentável nas empresas e no desenvolvimento regional, por um papel renovado do Estado como garante da concorrência e pelo reforço de Modelos de Empreendedorismo potenciadores da inovação, competitividade e coesão social. Os “business angels” assumem um importante papel neste processo, pelo capital de risco que asseguram, adaptado à fase inicial da vida das empresas, e conhecimento de gestão e acesso ao mercado que proporcionam. Palavras-chave: Business Angels, Capital de Risco, Empreendedorismo Abstract The current international and national context reinforces the need for a more youthful approach on entrepreneurship and yield particular relevance to the recreation of entrepreneurship enhancing environments. Such environments may be induced through merging Sustainable Development into management and regional development, through a renewed role of the State as guardian of real competition and through Entrepreneurship Models acting as innovation, competitiveness and social cohesion incentives. Business Angels take on a vital role in this process, insuring venture capital – suitable to early stages in enterprise existence, management knowledge and market access. Key Words: Business Angels, Venture Capital, Entrepreneurship 1. Introdução O estado actual da economia, nacional e internacional, reforçam a necessidade de “rejuvenescer” a forma como se encara o empreendedorismo em Portugal e torna particularmente relevante a recriação dos ambientes potenciadores do empreendedorismo. O desenvolvimento de tais ambientes passa pela integração do Desenvolvimento Sustentável na gestão empresarial e no desenvolvimento regional, por um papel renovado do Estado como garante da verdadeira concorrência e pelo reforço de Modelos de Empreendedorismo potenciadores da inovação, competitividade e coesão social. Os “business angels” assumem um importante papel neste processo, pelo capital de risco assegurado – adaptado à fase inicial da vida das empresas, o conhecimento de gestão e o acesso ao mercado que proporcionam. Face à situação actual, no Mundo e em Portugal, tem especial relevância a existência de ambientes potenciadores do empreendedorismo. Em especial, na economia portuguesa, que precisa de jovens empreendedores e de empresas competitivas. Hoje, e cada vez mais no futuro, é necessário integrar os valores do Desenvolvimento Sustentável na gestão das empresas e no desenvolvimento das regiões. Um desafio, mas também uma oportunidade para novas soluções e novos projectos empresariais. Neste contexto, o papel do Estado deve ser tudo menos voluntarista e proteccionista, mas sim garante de condições de verdadeira concorrência. É imperativo para a competitividade das regiões a cooperação entre as instituições públicas e privadas, no desenvolvimento de Modelos de Empreendedorismo capazes de se assumirem como factor de inovação, competitividade e coesão social. Para tal, é fundamental promover essencialmente o Empreendedorismo de base tecnológica, dado o seu potencial efeito a nível global. O capital de risco é especialmente importante para a concretização de um modelo de empreendedorismo com bases sólidas, e especialmente adaptado ao financiamento da fase inicial da vida das empresas que resultem de “spin-offs” de tecnologias que existam nas Universidades. Os Business Angels, porque aportam capacidades, competências e conhecimento aos projectos onde investem, são muitas vezes o parceiro ideal para aqueles que necessitam de capital, conhecimento de gestão e acesso aos mercados. Como nota final, é sempre bom relembrar que a responsabilidade pelo nosso futuro é obrigação, e direito, de cada um de nós e não de uma entidade abstracta designada por Estado. E que é na liberdade individual que temos que suportar o nosso presente e futuro, pois a liberdade individual, mais do que factor de promoção da abundância económica e da paz civil, é o princípio definidor do Homem enquanto ser moral. 2. Mundo actual, e Portugal Os mercados são cada vez mais competitivos, globais e instáveis, e como tal é factor de sucesso (ou sobrevivência!) a capacidade empreendedora e de inovação, das pessoas e das organizações, e é crítico para um país a mudança do modelo industrial clássico para uma economia de serviços e tecnologias. Nestes tempos em que vivemos, “crescem” os que vêem oportunidades onde outros só vêem perigos, os que mantêm uma atitude positiva e empreendedora. Portugal, a Europa, e o Mundo vivem momentos conturbados. Em termos económicos, com a globalização dos mercados ou com o impacto cada vez maior, na competição global, de economias em forte desenvolvimento como a China, a Índia ou os países de Leste, e agora com uma crise cujo impacto tem sido tremendo, e para a qual ninguém consegue antecipar um fim, bem como as consequências estruturais que deixará como legado. Em termos políticos com a instabilidade internacional ou com a emergência do terrorismo como ameaça global. Em termos sociais, com a desestruturação de valores fundamentais da vida entre as pessoas e destas com a natureza. Portugal, em especial, vive um período de grande confusão, onde conceitos como a ética, educação e formação ao longo da vida, competência e competitividade são referidos e propagandeados, mas em que as acções, principalmente as colectivas, continuam muitas das vezes a promover o oposto. Numa sociedade onde a competição se faz pelo conhecimento e inovação, pelo trabalho árduo e persistente, pelo cumprimento de objectivos bem definidos e devidamente recompensados quando atingidos, em suma pela promoção de uma cultura de mérito, Portugal parece alheado, muitas vezes como se tal não se lhe aplicasse. O que no caso português é ainda mais importante, dada a falta de dimensão do país e a ausência de factores significativamente diferenciadores. Diagnósticos realizados, a nível nacional e internacional, onde os problemas são profundamente identificados, continuam nas gavetas do esquecimento onde o país parece guardar alguma irresponsabilidade. Numa sociedade onde cada vez mais se confunde o ser e o fazer com o parecer, onde se promovem pessoas vazias de conteúdo, como se tudo se resumisse a um imenso “reality show”, onde o sucesso vem fácil e mais fácil se vai, e ao qual não se acede por méritos relevantes em qualquer área ou saber, é cada vez mais difícil (mas nunca impossível!) transmitir aos jovens valores de competência e recompensa pelo mérito. Jovens por vezes abandonados pela família, onde é pressuposto serem educados, e pela escola, onde é pressuposto serem ensinados. Parece viver-se numa permanente passerelle de vaidades, onde se valoriza a aparência e o glamour, esquecendo-se que no médio/longo prazo continuam a vencem aqueles cujas realizações têm realmente valor, aqueles cujo conhecimento dá origem a aplicações inovadoras e relevantes. Sendo o marketing e a comunicação cada vez mais importantes, não se deve esquecer que o “produto” que se entrega, seja qual for, um bem ou serviço, uma acção empresarial, social ou política, uma pessoa, uma organização ou um país, tem que ser capaz de satisfazer a necessidade para o qual foi concebido. Caso contrário, mais tarde ou mais cedo falhará estrondosamente. É assim importante a existência de ambientes adequados que potenciem o desenvolvimento nas pessoas de competências duráveis como sejam a integridade, determinação, auto aprendizagem e a criatividade, bem como as capacidades de relacionamento interpessoal, de negociação e de empreender, fundamentais para o desenvolvimento de uma nova geração de cidadãos comprometidos com o futuro. Não há investimento que sobreviva, ou tecnologia que faça milagres, se as pessoas não forem as melhores, as mais motivadas e empreendedoras. E para que isto seja possível, a aposta consistente e permanente no seu desenvolvimento, seja na esfera pessoal, seja nas escolas e universidades, nas empresas privadas ou nas instituições públicas, tem que ser definitivamente aceite como o desafio a vencer. Enquanto não se acreditar e/ou não se o quiser concretizar essa aposta, essencialmente ao nível individual, pode continuar a falar-se dos factores de competição que é importante dominar enquanto nação, da retoma económica que chega ou chegará, do que se quiser, mas apenas estará o país a enganar-se a si próprio mais do que aos outros. 3. Mundo actual, e Portugal – (algumas) respostas possíveis Num mundo em que o talento é o que conta, em que não existem barreiras à participação na economia global, e em que qualquer empresa, grande ou pequena, pode aceder ao melhor conhecimento disponível e fornecer qualquer cliente em qualquer parte do mundo, para um pequeno país como Portugal, por muitos que sejam os perigos, maiores são as oportunidades. A economia portuguesa precisa de empresas competitivas, a operar em ambiente de real concorrência. Ambiente de liberdade que recompense as boas decisões (e penalize as más) dos indivíduos e das organizações. Para tal, é necessária gente com capacidade para desenvolver projectos geradores de valor, projectos lucrativos e criadores de emprego com forte conteúdo tecnológico, e não apenas projectos onde se desperdiça “investimento pelo investimento, formação pela formação”. Existe capital de risco, formal ou informal, nacional ou internacional, disponível em relativa abundância, mas que exige resultados, medidos pelos lucros dos fundos aplicados. Capital disponível, mas apenas para bons projectos empresariais, com futuro em mercado aberto, i.é. para empresas competitivas. Portugal, em especial no Norte e Centro, para efectivamente alterar o seu padrão de especialização, precisa acelerar o investimento em empresas tecnológicas e de serviços de valor acrescentado. O capital de risco, principalmente ao nível dos Business Angels, é especialmente adaptado ao financiamento na fase inicial da vida das empresas que resultem de “spin-offs” das tecnologias que existem na Universidade. Universidade que no País, e em especial no Porto, em Aveiro e no Minho, dada a sua dimensão, competências e envolvente socio-económica onde se insere, pode contribuir fortemente para o desenvolvimento regional. Para tal, é fundamental que seja capaz de “gerar” no seu meio, ou na sua relação com as indústrias existentes, novas patentes e principalmente empresas “high tech, high growth”. Empresas estas que podem fazer a diferença a nível global. 4. Desenvolvimento Sustentável – oportunidade Empresarial, Social e Ambiental “O nosso maior desafio neste novo século é pegar num tema que parece abstracto Desenvolvimento Sustentável – e torná-lo real para todas as pessoas no mundo”. (Kofi Annan, 2001) Como decisores, ao nível Empresarial, é necessário integrar os valores do Desenvolvimento Sustentável – o desenvolvimento que permite às gerações presentes satisfazer as suas necessidades, sem pôr em causa a mesma possibilidade às gerações futuras – na gestão das empresas: «as empresas têm de integrar nas suas operações o impacto económico, social e ambiental». É crítico que tal aconteça, principalmente para a própria sobrevivência das empresas, pois a sua competitividade dependerá cada vez mais da sua capacidade em implementar uma gestão baseada no Triple Bottom Line, ou seja, uma gestão norteada por objectivos relacionados não só com os Proveitos, mas também com uma preocupação com as Pessoas e com o Planeta. Caso contrário, dificilmente, no médio/longo prazo, as empresas serão “autorizadas a existir”, pois os consumidores e as autoridades tendem a privilegiar cada vez mais as socialmente responsáveis. No entanto, convém nunca esquecer (o que acontece amiúde, com grande leviandade) que o maior acto de Responsabilidade Social Empresarial é o Lucro. Uma empresa só perdura, só investe, só contrata bons profissionais e paga bons ordenados, só investiga e desenvolve novos produtos e soluções, só adquire bens e serviços a fornecedores, só paga impostos, etc. se for rentável, e de forma contínua. Como tal, a principal responsabilidade social da empresa, e dos seus líderes, é garantir a sua rentabilidade. As empresas que, para além de uma busca incessante pelo lucro enquanto resultado de um posicionamento competitivo, compreendem e interiorizam os valores da sustentabilidade nas suas operações correntes, que reorganizam os seus sistemas e optimizam os recursos que utilizam, reduzindo o seu impacto no ambiente, melhorando a vida dos seus colaboradores e tornando os processos mais eficazes, que são capazes de conceber, desenvolver e comercializar produtos e serviços cada vez mais inovadores, cujo uso social é mais valioso e o impacto no ambiente menor, estão a antecipar-se à sua concorrência e muitas vezes às próprias exigências dos seus consumidores, tornando-se ainda mais competitivas e consequentemente a aumentar os seus lucros. A maior parte das pessoas gostaria de viver num mundo em que as Sociedades se desenvolvessem de forma sustentável, as Organizações fossem competitivas e responsáveis e as Pessoas gostassem e pudessem aprender e fossem felizes. As dinâmicas do mundo moderno e das sociedades como as conhecemos, parecem ainda constituir um forte obstáculo ao atingir desta visão. Porém, apesar de difícil, teremos que, cada um de nós, enquanto indivíduos, cidadãos, empresários, trabalhadores ou decisores públicos, ser capazes de a concretizar nas nossas acções quotidianas. Portugal na sua globalidade, e o Norte e Centro em especial, tem muitas e inovadoras empresas, muita e boa gente, criativa e habituada a apreciar a beleza da envolvente onde diariamente se movimenta. Não podemos no entanto continuar, qual cegonha, com a “cabeça enterrada na areia”. É urgente a percepção clara da importância em perseguirmos os nossos objectivos de Desenvolvimento de forma Sustentável, para sermos mais felizes e podermos garantir aos nossos filhos um melhor mundo para viver. Se o conseguirmos preparar o futuro, estaremos seguramente a ganhar o presente. 5. Papel do Estado, no desenvolvimento económico As condições de concorrência são agora mais intensas e as empresas, localizadas em território nacional, que não forem competitivas perdem a sua posição no mercado local e global. No entanto, a tentação proteccionista, seja qual for o pretexto, tem de ser permanentemente afastada, sob pena de não potenciarmos o desenvolvimento de novos projectos (nem retermos as empresas vencedoras) em ambiente global onde a mobilidade de factores é crítica e a globalização dos mercados é incontornável e exigida pelos consumidores. O que a economia portuguesa mais precisa é de concorrência e não protecção. Mas a boa concorrência requer regras claras, simples e de aplicabilidade célere. Se, no mercado, a concorrência não for equilibrada, o regulador deve instituir, mesmo impor, mecanismos que assegurem crescentes graus de concorrência e equilíbrio de poderes entre operadores. Ou seja, é preciso que haja uma eficaz regulação. Isto limitará a capacidade de o Estado ser, ao mesmo tempo, regulador e operador, seja no sector da saúde, no sector do capital de risco ou em qualquer outro sector de actividade. O Estado foi entrando cada vez mais profundo na nossa vida. Iludidos pelas pseudo-vantagens dessa intromissão fomos esquecendo que ela contém em si um preço demasiado elevado a pagar, a liberdade! A liberdade enquanto conceito e a liberdade enquanto direito de decidirmos a nossa vida. “We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed, by their Creator, with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty, and the Pursuit of Happiness”, primeira frase do preâmbulo da Declaração da Independência dos EUA, 1776 Sob a capa do “Estado Social”, é-nos vendida a “ilusão” da igualdade, como algo possível de atingir pela acção “correctora” da realidade, por natureza desigual. Esta ilusão vai entranhando no povo que, incapaz de ver o todo e mesmo de imaginar a vida sem a presença do Estado, é crescentemente subjugado, sempre em nome de grandes ideais, sempre em nome de grandes projectos igualitários, sempre em nome de uma abstracção que, pela repetição, se vai tornando cada vez mais real. É assim, passo a passo, que o caminho da servidão se vai fazendo. Em Portugal, mais do que esquecer, nunca soubemos que o governo deve ser módico, minimamente interventivo, e que deve deixar os cidadãos conduzir as suas vidas, sem os maçar permanentemente. Que, no seguimento lógico de um minimalismo governativo, as autoridades deveriam aplicar uma reduzida carga fiscal, proporcional aos serviços prestados. No fim de contas, o governo deveria existir para servir os cidadãos na justa medida do que eles pudessem precisar e requerer. Em tempos acreditou-se (talvez nunca em Portugal!) que o Estado servia o povo, subsidiariamente, naquelas funções que este, enquanto indivíduos e associações de indivíduos, não conseguia realizar. Estas eram originalmente a garantia da soberania nacional, da segurança interna, da justiça, da propriedade...mas depois o Estado passou também a “ter que” garantir a saúde, a educação, a igualdade de género (!?) e... e mesmo com tudo isto, mesmo empobrecendo, uma grande parte continuou a trabalhar e a inventar soluções e dinheiro para satisfazer a voracidade do Estado e os interesses que este, em nome de todos, servia. Mas agora o Estado, nas suas múltiplas formas, descobriu a palavra mágica, que também é sua função garantir a competitividade, dos portugueses, das empresas e do próprio país. E, caso nada em contrário seja feito, será em nome da competitividade que se irá gastar dinheiro público nas mais fantásticas ideias e empreendimentos, sempre a bem do povo, com os seus impostos e o seu empobrecimento. No futuro quadro comunitário de apoio, o QREN, como nos programas anteriores, os meios próprios do Estado português, e da UE, que são “transferidos” para as empresas devem ser alocados, não para concretizar visões voluntaristas da economia e da competitividade do país, mas com a finalidade última de gerar um modelo de crescimento económico auto-sustentado. Ou seja, devem reforçar-se os mecanismos que geram mais poupança e mais investimento, ganhos continuados de produtividade dos factores, capital e trabalho, de forma a sustentar a competitividade dessas unidades. Mas quem sabe, a priori, se o investimento A vai ter um melhor contributo que um investimento B? Optando pelo melhor “business plan”? E a capacidade de execução (de criar valor ou riqueza e não, como está vulgarizado, gastar o que se propôs) em que medida é avaliada? É possível e desejável que o apoio ao empreendedorismo nacional seja feito pelo desenho de programas de apoio ao investimento, colocando à disposição dos empresários, no início da realização do projecto, meios financeiros em condições tais que: 1. não se distorça a concorrência, (ao não “subsidiar” quem muito promete, prejudicando quem não foi contemplado nos subsídios); 2. não se dificulte o arranque do projecto (ao disponibilizar capital de risco, mas não de subsídio); 3. a haver “subsídio” que seja para premiar quem criou riqueza (distribuído em função do maior contributo para o crescimento sustentado da economia, reforçando os melhores em detrimento dos demais). Ou seja, deve mudar-se a tónica para a criação de valor (lucros, criação de empregos de forte conteúdo técnico, valorização das empresas) e não o investimento pelo investimento, a formação pela formação. Deve ser disponibilizado capital de risco em relativa abundância, mas exigir que esse capital proporcione resultados, medidos pelos lucros dos fundos aplicados. Se assim for, as participadas terão de ser boas empresas, com futuro em mercado aberto, numa palavra, competitivas. Podem ser empresas globais ou de mercado de nicho, mas para terem sucesso precisam, seguramente, de ser bem geridas. E a boa gestão precisa em certos momentos de capital, seja para arrancar com o negócio, para ganhar escala ou para adquirir internamente ou no exterior. 6. Empreendedorismo como factor de Competitividade, Inovação e Desenvolvimento Portugal, a partir da centralista capital, tem evitado que as regiões sejam governadas pelos seus representantes, eleitos democraticamente pelas populações que nelas vivem. Governantes cuja “obra” seria feita maioritariamente com receitas de impostos cobrados localmente, função da riqueza aí produzida, o que os responsabilizaria perante um povo certamente mais interventivo na vida pública, mais exigente em relação aos políticos que elege e à forma como aplicam o seu dinheiro. A Regionalização é claramente uma necessidade e uma oportunidade, principalmente hoje, em que os territórios surgem cada vez mais como espaços de concentração de pessoas de elevada qualificação profissional e de actividades de significativo valor acrescentado, isto é, constituem meios inovadores, cuja importância estratégica para a promoção do desenvolvimento económico e social e para a afirmação internacional do país não é demais sublinhar. É imperativo para a competitividade das regiões a melhoria da intervenção de nível local e a cooperação entre as instituições públicas e privadas. Desenvolver Modelos de Empreendedorismo capazes de se assumirem como factor de inovação, competitividade e coesão social, e de desempenhar um papel crucial no desenvolvimento territorial. “O espírito Empresarial é a capacidade dos indivíduos de converter ideias em actos. Compreende a criatividade, a inovação e a assunção de riscos e, assim, a capacidade de planear e gerir projectos com vista a alcançar objectivos”. (CE, 2005). Devem estes modelos ser implementados, não por voluntarismo do estado ou de entidades por si financiadas, mas em regime de parceria entre agentes económicos e sociais de modo a que, pela conjugação de esforços, se potenciem dinâmicas da sociedade. O fomento do empreendedorismo surge, neste contexto, como uma área de intervenção a privilegiar, sendo reconhecido como um elemento essencial para a criação de riqueza, aumento do emprego, inovação e coesão social, podendo desempenhar um papel crucial no desenvolvimento territorial. O apoio ao desenvolvimento do Empreendedorismo deve ter em consideração as estratégias de desenvolvimento da região onde se concretiza, e ser capaz de estabelecer uma plataforma/rede de contacto entre ideias e projectos, empreendedores, financiadores, investidores, catalisadores e facilitadores. Deve mobilizar recursos, agentes económicos e institucionais, reunindo competências e angariando meios, com vista a potenciar o desenvolvimento das regiões. A análise da estrutura produtiva de regiões como o Norte, com centro na Área Metropolitana do Porto, permite observar a existência de uma base industrial bastante significativa, consolidada e dinâmica, caracterizada pela existência de um conjunto de áreas de “mono especialização”, direccionadas para a produção de bens de consumo final. Não obstante a dinâmica industrial instalada, estas áreas estabelecem entre si relações de cooperação e de prestação de serviço relativamente fracas, condicionando, por esta via, a criação de sinergias e valor acrescentado produtivo que urge melhorar para que o desenvolvimento económico e social, o aumento da produtividade e competitividade das cidades-regiões seja possível e alcançado de forma sustentável. No caso da região Norte, este padrão confere-lhe uma vocação específica, em termos nacionais, que é a de estar no centro de um sistema económico predominantemente constituído por actividades transaccionáveis e fortemente internacionalizadas, onde ganham relevo, actual ou potencial, actividades terciárias associadas à internacionalização e à competitividade que não se pode de forma alguma desbaratar. Região que conta com algumas estruturas universitárias com prestígio internacional na área da Investigação, bem como algumas empresas com um nível organizativo e uma competitividade de médias empresas europeias, nalguns casos dispondo até já de estruturas próprias de I&D, tem assim criadas condições para o aproveitamento de oportunidades que possibilitem a conjugação de esforços no sentido de uma presença inovadora no contexto internacional, abrindo a oportunidade para a constituição de importantes ‘clusters’ intensivos em tecnologia e inovadores a nível internacional. O fomento do empreendedorismo surge, neste contexto, como um elemento essencial para a criação de riqueza, aumento do emprego, inovação e coesão social, podendo desempenhar um papel crucial no desenvolvimento regional e nacional. Em Portugal, podemos encontrar diversas iniciativas que visam o fomento do empreendedorismo, que vão desde a realização de acções de formação em empreendedorismo, organização de concursos de ideias, criação de parques/centros de incubação, disponibilização de instrumentos de financiamento ‘especiais’, serviços de apoio à constituição de empresas, etc. No entanto, apesar de honrosas excepções, o normal voluntarismo das mesmas, normalmente lideradas pelo Estado ou por entidades por si financiadas, e a ausência de uma cultura de avaliação tem gerado equívocos, parecendo que tais políticas e acções têm contribuído mais para a vulgarização do termo do que para o fomento do empreendedorismo. Assiste-se assim, a uma ausência de dados concretos sobre os resultados e desempenhos das políticas de desenvolvimento do empreendedorismo, de modo a que se possam corrigir e melhorar. A abordagem e as iniciativas desenvolvidas deixam perceber que se tratam de acções ‘atomizadas’ e ‘desgarradas/desenquadradas’ da estratégia da região, reduzindo significativamente o seu potencial impacto no desenvolvimento do território. Sendo importante a realização destas iniciativas, a abordagem mostra-se parcelar e reflecte uma visão voluntarista da realidade. A ideia, que lhe está subjacente, é muitas vezes a de que é possível ‘fazer’ empreendedores. Algo até hoje impossível de confirmar. Há razões para acreditar que importa perceber quais os elementos que constituem a essência de uma cultura e de um ambiente propiciador do surgimento de atitudes empreendedoras, o que podemos designar como um ‘sistema empreendedor’. E, por outro lado, de que forma podemos tirar partido das capacidades, competências e infra-estruturas existentes nas regiões para o alavancar. Daí que a definição de modelos de desenvolvimento do empreendedorismo, a nível regional, implica aprofundar os conhecimentos sobre o empreendedorismo, a região e o estabelecimento dos processos de aprendizagem e benchmarking com modelos já existentes (e testados) noutros contextos. A abordagem a realizar deve privilegiar a sustentabilidade dos modelos, assentando a sua acção no que é a estratégia de desenvolvimento da região já assumida pelos seus principais agentes. Deste modo, um modelo de empreendedorismo deverá assumir-se como um catalisador dessa estratégia, tendo um impacto complementar à intervenção e aos investimentos públicos, contribuindo assim para o desiderato do crescimento económico e da coesão social. Todo o modelo deve basear-se na identificação do que são os recursos, capacidades e competências da região e toda a estratégia enquadradora deve estar alicerçada nos seus sectores/clusters tradicionais ou emergentes, para potenciar o surgimento de projectos empresariais de uma forma mais sustentada e potenciadora do desenvolvimento territorial. Daqui decorre a necessidade de estabelecer plataformas/redes de contacto entre ideias e projectos, empreendedores, financiadores, investidores, catalisadores e facilitadores bem integrados na região. É pois necessário mobilizar os recursos da região, os agentes económicos e institucionais reunindo competências e angariando meios. Só da sinergia entre os três pilares (Sociedade, Sistema Científico e Tecnológicas e Empresas/Indústria) poderá resultar uma sociedade empreendedora, capaz de aproveitar a riqueza já existente, acrescentando Inovação à Tradição. Sociedade EMPREENDEDORES Sistema Científico e Tecnológico Empresas/Indústria Figura 1 – Pilares de uma sociedade empreendedora Podemos enumerar, a título de exemplo, diversas iniciativas e componentes que haverá necessidade de analisar e inserir nestes modelos, como sejam o Empreendedorismo nas Escolas, Concursos e Bancos de Ideias, Banco do Tempo, Centros de Incubação, Empreendorismo Social/Micro-crédito, Interim Management, Business Angels e Capital de Risco. Deve procurar promover-se o investimento e a dinamização das principais áreas empresariais como motores da região e da sua envolvente, a intensificação tecnológica e robustecimento da base produtiva. Paralelamente, visar também a consolidação da ligação dos Centros de Saber à Actividade Económica, fortalecendo nomeadamente – no caso do Norte – os clusters das Biociências e Engenharias Emergentes. De forma a contrariar a tendência que se tem verificado, procura criar-se as condições necessárias para a fixação dos recursos humanos qualificados na região e atracção de outros, disponibilizando-lhes condições para aí localizarem as suas empresas, favorecendo círculos virtuosos de inovação empresarial. Atendendo ao grande manancial de programas e agentes a operar na área dos apoios ao empreendedorismo, importa actuar segundo o espírito de uma parceria em detrimento da criação de novas entidades que façam mais do mesmo. Um projecto de empreendedorismo deve funcionar como uma plataforma material e imaterial de apoio ao investimento, sendo um veículo para o sucesso no desenho de projectos de iniciativa privada, um espaço de facilitação na montagem dos negócios e um canal de pressão sobre os decisores dos apoios utilizáveis. Ou seja quem pretender dinamizar uma intervenção empresarial, de maior ou menor dimensão, numa região, deve encontrar no programa um local de aconselhamento e de acompanhamento dessa intervenção. Para tal, mostra-se como fundamental perceber o que está subjacente ao empreendorismo em termos de componentes imateriais e materiais. Bem como saber o que já existe na região neste âmbito e quais os recursos endógenos com capacitação económica, competências e capacidades instaladas. Deste ‘confronto’ resultará um modelo sustentável de promoção do empreendorismo, estruturado e efectivo, capaz de se assumir como factor de competitividade, inovação e de desenvolvimento regional. Em suma, visa-se simultaneamente, promover o Empreendedorismo de base tecnológica e as suas formas de financiamento, apoiar o funcionamento em rede e a cooperação entre empresas inovadores e estas com ‘centros de saber’, e fomentar o desenvolvimento económico, social e ambiental da região. Um modelo de empreendedorismo existente numa região deve ser divulgado (o que não é comunicado, não existe!) junto dos agentes e públicos-alvo relevantes, com vista a pré-avaliar os seus resultados, bem como a recolher ‘inputs’ cuja pertinência possa valorizar o modelo e a sua aplicabilidade. E, como é evidente mas tão poucas vezes implementado, é fundamental garantir-se um correcto acompanhamento, avaliação e revisão do modelo implementado. 7. Capital de Risco e Business Angels - importante alavanca do Empreendedorismo O capital de risco é especialmente importante para a concretização de um modelo de empreendedorismo com bases sólidas, e especialmente adaptado ao financiamento da fase inicial da vida das empresas que resultem de “spin-offs” das tecnologias que existem nas Universidades. Universidade que têm especial responsabilidade pelo futuro das regiões onde se inserem, e que se devem articular com as suas congéneres, próximas -ex. Universidades do Porto, de Aveiro e do Minho- no sentido de criarem regiões que se batam com o que há de melhor na ibéria, na Europa e no mundo. Mas, a rivalidade não deve assentar em publicações em revistas, nem mesmo em patentes, mas antes em empresas designadas de “high tec, high growth”, com origem nessas mesmas Universidades. Empresas que podem fazer a diferença, marcando o ritmo de desenvolvimento do seu sector a nível global. Para que tal seja possível, a Universidade precisa de ser desafiada pela comunidade envolvente e de desafiar essa mesma comunidade. As regiões portuguesas têm condições de criar instrumentos que acelerem e alavanquem este processo, reservando uma fatia expressiva de meios financeiros para investir em projectos inovadores a implantar nessas mesmas regiões. Deve procurar-se projectos disruptivos face aos quadros em que as empresas e as Universidades se têm movido até agora, colocando-lhes mesmo desafios de encontrar soluções para problemas vividos por segmentos da população e das empresas, ou para as necessidades do espaço territorial. As empresas tecnológicas, na fase inicial de vida, precisam de capital, nalguns casos (sector da saúde, por exemplo) de muito capital. O capital de risco é adequado a financiar esse tipo de projectos, assumindo os riscos e partilhando os sucessos, vendendo mais tarde a sua participação. Os Business Angels, em especial nas suas fases iniciais de desenvolvimento, porque aportam capacidades, competências e conhecimento aos projectos onde investem, são muitas vezes o parceiro ideal para aqueles que, tendo a ambição e a capacidade para desenvolver novos projectos e tecnologias, necessitam de capital, conhecimento de gestão e acesso aos mercados. Os Business Angels são indivíduos que investem de forma profissional, directamente ou através de sociedades veículo, no capital de PME´s com forte potencial de valorização. São “capitalistas de risco individuais” que cobrem as necessidades de financiamento a que os “fundos institucionais” de capital de risco não dão resposta, nomeadamente em projectos de “seed capital” e “start-up”. Sejam “angels com experiência profissional”, empresários ou executivos de grandes empresas, “angels de rendimento financeiro”, indivíduos com fortunas, e/ou “angels empreendedores”, que triunfaram nos seus negócios, são essencialmente indivíduos disponíveis para acreditar em quem acredita em si e nas suas capacidades. O Invicta Angels – Associação de Business Angels do Porto é um clube constituído por pessoas disponíveis para investir dinheiro, competências, tempo e rede de contactos em projectos empresariais liderados por empreendedores, projectos que nascendo nas Regiões Norte e Centro do país tenham ambição global. Os investidores do Invicta Angels, bem como quaisquer outros investidores em projectos empresariais de terceiros, como bem disse Michael Elias, da Kennet Venture Partners, “andam à procura é de negócios com receitas e clientes, e não apenas de tecnologia…andam à procura de negócios “a sério” e não de 20 engenheiros com uma ideia incrível.” Os Business Angels em particular, e o capital de risco em geral, podem contribuir para a mudança de mentalidades, não porque visam a sua mudança, mas porque apostam em pessoas e projectos que lideram essa mudança. “Um comerciante não é mais que um servidor do público, ou de um público, e recebe uma paga, a que chama o seu “lucro”, pela prestação desse serviço. Ora toda a gente que serve deve, parece-nos, buscar agradar a quem serve. Para isso é preciso estudar a quem se serve mas estudá-lo sem preconceitos nem antecipações; partindo, não do princípio de que os outros pensam como nós, ou devem pensar como nós - porque em geral não pensam -, mas do princípio de que, se queremos servir aos outros, nós é que devemos pensar como eles: o que temos que ver é como é que eles efectivamente pensam, e não como é que nos seria agradável ou conveniente que eles pensassem.”. Fernando Pessoa (1926) Estas sábias palavras foram ditas - não por um qualquer guru dos nossos dias mas - por um senhor há pelo menos setenta anos, em “A Essência do Comércio”. Esse Senhor, Fernando Pessoa de seu nome, disse-o num texto saboroso e absolutamente actual sobre o mercado e o papel do comerciante e da propaganda, mas bem o poderia ter dito sobre a nossa actual sociedade e seus líderes. Palavras estas a que deveríamos dar redobrada atenção, principalmente agora quando o berço da democracia, a Europa Ocidental, se debate com um welfare state ultrapassado e fadado à inevitável falência, e onde a esperança se desvanece quando a população, acostumada à falsa segurança do “pleno emprego”, se vê lançada no mundo real onde terá que enfrentar novos riscos...mas também novas e grandes oportunidades. E, como já, e bem, dizia Sir Winston Churchill, “Um optimista vê uma oportunidade em cada calamidade; um pessimista vê uma calamidade em cada oportunidade” e Portugal necessita, e rapidamente, de alterar o seu modelo de desenvolvimento e atitude generalizada perante a vida, para que se deixe de lamentar as calamidades e se aproveitem cada vez mais as oportunidades. 8. Uma nota final A responsabilidade pelo nosso futuro é obrigação, e direito, de cada um de nós, não de uma entidade terceira e abstracta designada por Estado. Este terá, isso sim, que reduzir o seu peso na economia, liberalizando, e libertar a energia (e o dinheiro) para o empreendimento liderado pelos seus cidadãos e suas organizações. Enquanto pessoas, o nosso foco deverá estar na defesa da nossa liberdade, enquanto empresários e trabalhadores, a nossa principal preocupação deve ser a de servir bem aqueles para quem o trabalho que fazemos, os bens que produzimos ou os serviços que prestamos se destinam. Ao Estado, nas suas diversas formas, devemos pedir não soluções mas autoridade e que promova as funções basilares da vida em sociedade, subsidiariamente aos cidadãos e entidades que a constituem, garantindo apenas e só aquilo que melhorando a vida das pessoas não possa por estas ser garantido. Porque mestre em “concluir o que os outros querem”, sob a capa de bonitas palavras e intenções, sejam elas a solidariedade ou o bem-estar social, o Estado vai justificando a crescente cobrança de impostos - sempre “transitória”. E porque afirma “projectar melhor o futuro”, pensa e implementa megalómanos projectos que, sob a promessa de que nos “tornar mais competitivos” que os nossos competitivos parceiros, têm vindo e continuarão a constituir forte contributo para a nossa pobreza. Como era bom que assim não fosse e o Estado se limitasse a garantir os “grandes princípios conhecidos como o Império das Leis”, pois como bem disse Hayek (2007 ed.), em The Road to Serfdom: “Não há distinção melhor entre um país livre e um submetido a um governo arbitrário do que a observância, nos primeiros, dos grandes princípios conhecidos como o Império das Leis. Este conceito significa que o governo em todas as suas acções está submetido a regras fixas e previamente anunciadas - regras que tornam possível prever com razoável certeza, como a autoridade usará seus poderes coercivos em determinadas circunstâncias, permitindo, portanto, cada indivíduo planear seus assuntos com base neste conhecimento”. Porque a liberdade individual, mais do que factor de promoção da abundância económica e da paz civil, é o princípio definidor do Homem enquanto ser moral. Mas a liberdade só existe se a soubermos conquistar e conservar. Uma sociedade que permite sistemáticos atropelos do poder governativo, invariavelmente justificados por falácias colectivistas, não é composta por homens livres, nem aspira à liberdade. “Com efeito, é difícil imaginar como é que homens que renunciaram completamente ao hábito de se governarem a si próprios podem ser capazes de escolher devidamente aqueles que devem governá-los, e não é possível acreditar que um governo liberal, enérgico e hábil consiga sair dos sufrágios de um povo de servos”. Alexis de Tocqueville (2008 ed.) Era bom que sempre o soubéssemos, e nunca o esquecêssemos. Referências De Toqueville, Alexis (Edição 2008). Da Democrácia na América. Relógio d’Água Hayek, F.A., edited by Caldwell, B. (Edição 2007). The road to serfdom. The University of Chicago Press, Routledge, London Pessoa, Fernando. (1926). A essência do comércio. Revista de Comércio e Contabilidade, nº 1, 1 de Janeiro