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Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras Publicação dos alunos do 2º Semestre de Jornalismo - Ano III - Nº 41 QUEM É FERRÉZ? Pág. 8 Comunicador da periferia em entrevista exclusiva ao Acontece O que os professores fazem fora das salas de aula? Fãs de jogos eletrônicos Pág. 6 Pág. 7 Acontece - Ano III - N° 41 - Editorial Como eu me informo? Acontece Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretora: Esmeralda Rizzo Coordenador de Jornalismo: Vanderlei Dias de Souza Expediente Projeto Gráfico Cauã Wingeter Editor: Ana Ignácio Thâmara Kaoru Diagramação Lucas Riello Revisão: Lucas Riello Nathália Duarte Thâmara Kaoru Reporteres: Bruno Rios Camila Milaré Leonardo Vieira Letícia M. Gouveia Lucas Riello Luciana Minami Luiz Rocha Mayara R. Campagna Natalia Benitez Paula Pereira Ab Rafael Fonseca Victor Amaro Vinícius Bruno Jornal Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo da Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientados pelo professor Edson Capoano, jornalista, DRT/SP n° 46219-015192/2003-55 1ª Página: Arquivo pessoal Fotografia de capa: Arquivo pessoal Impressão Gráfica Mackenzie Tiragem dessa edição: 250 exemplares Página Quando a questão é receber informação recorremos a jornais, revistas, TV e rádio. Mas será que essas são as únicas maneiras para se manter informado? Atualmente as mídias convencionais costumam ser ligadas com algum (ou alguns) interesses políticos, financeiros e ideológicos de alguma empresa ou grupo determinado. Diante de tal situação, para sair dessa linha, existem as mídias alternativas. Internet, rádios comunitárias e livres, jornais de baixa circulação, mensagens em metrôs, ônibus e por meio de tatuagens são alguns dos exemplos. Ah, e tem também o trabalho do Ferréz, que por meio de seus livros traz à tona informações e questões importantes... função que as mídias convencionais exercem, ou pelo menos deveriam exercer. Descubra nesta edição quem é Ferréz e que tipo de trabalho ele realiza. E também: a situação de carcereiros pós ataque do PCC de 2006; a tribo dos amantes de vídeo game; a questão das cotas universitárias; os projetos que os professores da Universidade realizam fora das salas de aula e a necessidade ou não do diploma de jornalismo para comentar transmissões de esporte. Boas descobertas a todos! A primeira experiência! Desde quando escolhi ser jornalista (e creio que não somente eu, mas muitos de meus colegas), convivi com a expectativa e a dúvida de saber como era, de fato, participar da formação de um jornal. Mal imaginava que, já no primeiro ano de faculdade, poderia conviver com essa realidade, que se materializou com o Jornal Acontece. É, este mesmo que você está lendo agora! Não tinha como não “entrar de cabeça” nessa disciplina que simula a nossa futura profissão. Houve uma participação ativa de praticamente todos. Talvez por isso que no segundo semestre do ano passado tenham sido feitos mais de 20 jornais, algo jamais visto antes. Édson, professor que teve a difícil missão de acalmar nossa euforia, declarou em sua última aula que gostou bastante do resultado e pôde ver de perto o desenvolvimento dos jornais que a cada número era aprimorado. Além dos regulares, que cada classe realizava periodicamente, foram veiculados jornais extras, cobrindo os mais variados eventos do Mackenzie. O que gerou elogios, inclusive, de diretores mackenzistas! O ápice dos trabalhos chegou quando realizamos o Acontece Política, que sumiu das prateleiras em algumas horas. E o Acontece não para por aí, a cada semestre uma nova turma vive sua primeira experiência! Filipe A. Gonçalves é aluno do segundo semestre de jornalismo FALE CONOSCO Mande suas sugestões e críticas. Ecreva para nós: [email protected] SAIBA MAIS Acesse o Acontece Digital para conferir matérias exclusives, entrevistas na íntegra e conteúdo adicional: http://acontecedigital.blogspot.com Acontece - Ano III - N° 41- Cidade “O sistema penitenciário é vergonhoso” Agente carcerário relata sua experiência durante os ataques do PCC, e quais são as falhas no sistema prisional de São Paulo LETÍCIA M. GOUVEIA E MAYARA R. CAMPAGNA DIVULGAÇÃO (www.google.com.br) “As cadeias em São Paulo são sucatas e o governo está mais preocupado com a quantidade do que com a qualidade”. W., agente penitenciário. ta e respeito com os presos. “Ficamos em uma cela e para eles não convêm nos tratar mal. Comecei a me sentir mal e eles ficaram com medo. Eu era uma bomba na mão deles, por que se algo acontecesse comigo, a situação ficaria pior. Para eles era melhor que eu estivesse fora de lá.”, declara o agente que ficou preso 14 horas na rebelião. Como medida de prevenção, a possibilidade de porte de armas fora do horário de expediente foi colocada em debate, já que os agentes não possuem preparo para situações como as que ocorreram Base da Polícia Militar atingida por ataques do PCC em maio e nem seguro de vida. Segundo Rozalvo José da Silva, secretário do Sindicato dos Agentes Penitenciários de São Paulo (SINDASP), o porte de armas é essencial para a segurança do funcionário. No entanto, o governo do estado de São Paulo e a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) não tomaram nenhum ato administrativo palpável. “Nós estamos indignados com tal situação, com a inércia da parte administrativa”, declara. DIVULGAÇÃO ��������������������������� Em maio de 2006, o estado de São Paulo foi alvo de uma série de ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Dentre os mais atingidos estavam aqueles que têm como função zelar pela segurança e os diretos dos detentos, os agentes penitenciários, vulgarmente chamados de carcereiros. Existem hoje cerca de 21 mil agentes penitenciários trabalhando com a média de 140 mil presos, divididos em 144 unidades prisionais. W., agente penitenciário e personagem principal desta matéria, não quis se identificar por uma questão de prevenção. “Para mim segurança é ‘auto vigilância’ e conduta”, afirma. O sistema penitenciário do Estado de São Paulo possui falhas graves. No presídio de Junqueirópolis, por exemplo, em um plantão existem, no máximo, 50 guardas trabalhando em um local no qual a capacidade real é de 792 detentos. No entanto, estão presas 1192 pessoas atualmente. A superlotação dos presídios é uma das reivindicações feitas tanto por parte dos presos como dos agentes. O 14º parágrafo do estatuto do PCC, revela claramente o objetivo da organização, “a prioridade do Comando no momento é pressionar o Governo do estado de São Paulo a desativar aquele Campo de Concentração, ‘anexo’ à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté”. Segundo o agente, “as cadeias em São Paulo são sucatas e o governo está mais preocupado com a quantidade do que com a qualidade. Em ano de eleições não sabemos como vai ficar, mas pelas pesquisas nada vai mudar”. O sistema carcerário de São Paulo tem muito que melhorar “se você observar a situação da organização das penitenciárias no Paraná, notará a vergonha que é o sistema de São Paulo. Aqui o contato com o preso é de 100%. Já lá, as portas são automatizadas, inspirado no sistema norte-americano, e o contato com o detento é menor.”, diz W. Durante a rebelião em que foi refém, W. afirma que sua integridade física foi preservada devido à sua condu- Super-lotação dos centros penitenciarios Página Acontece - Ano III - N° 41 - Universidade O preço de um universitário Estudantes carentes recorrem à bolsas e financiamentos para ingressar no ensino superior CAMILA MILARÉ E LEONARDO VIEIRA CA,ILA MILARÉ Para a maioria dos jovens em idade universitária, um dos grandes desafios para ingressar no ensino superior é a concorrência dos grandes vestibulares. Mas outra preocupação é como irão fazer para pagar sua formação. A alternativa para aqueles estudantes que possuem algum tipo de carência financeira é correr atrás de uma bolsa ou de um financiamento. No Mackenzie, as opções de bolsas vão desde as tradicionais àquelas que se conseguem junto às atléticas de cada curso. Segundo Rafael Santana, que fala em nome da atlética de Arquitetura, esse tipo de bolsa raramente chega a 100% e antes era mais simples de se conseguir a ajuda, pois bastava jogar ou treinar algum esporte. “Hoje, você precisa comprovar sua renda para ter uma bolsa, ser um atleta dedicado e ter bom desempenho. São os treinadores quem indicarão quem vai conseguir a bolsa”. Outras alternativas que o Mackenzie oferece são descontos dados para ex-alunos, para irmãos e empresas conveniadas. Os programas de iniciativa do governo, como Prouni e FIES, são outras opções. A diferença entre eles é que o primeiro dá bolsas de estudo e o segundo é um financiamento, criado para substituir o antigo crédito estudantil e não pode ser conseguido junto ao Mackenzie. A questão é que as pessoas ajudadas por esses programas apenas solucionam um de seus problemas (o pagamento das mensalidades) mas existem outras exigências financeiras, como a compra de li- O estudante Bruno Evangelista atribui ao Prouni a oportunidade de poder estudar no Mackenzie vros, transporte e alimentação. O estudante Bruno Evangelista, beneficiário do Prouni, conta com o dinheiro de seus pais, que é na maioria das vezes contado, para as despesas com ônibus e metrô. Diz ter que muitas vezes pedir emprestados os livros de seus colegas a fim de estudar para as provas. Outra dificuldade para o aluno é a realização de trabalhos. “Como não tenho computador em casa e nem sempre posso usar os computadores do Mackenzie, tenho que gastar com Lan Houses ou usar computadores de amigos, já que fico impossibilitado de terminar os trabalhos em casa, como muitos fazem”. Bruno avalia que tais esforços são válidos, Saiba mais: Mackenzie: Interessados em bolsas podem procurar o Atendi- mento Financeiro ao Aluno (AFA) das 10:00h as 20:00h ouatravés dos telefones: (11) 3236-8634 / 3236-8635 Prouni: Candidatos podem se inscrever através do site do MEC: http://www.mec.gov.br/prouni. O MEC também possui rede de parceiros que possibilitam o acesso à internet. O número 0800-616161 informa o lugar mais próximo de sua casa. FIES: Caso a instituição de ensino desejada participe, será necessário solicitar o financiamento e preencher a ficha de inscrição pelo site do FIES: http://fies.caixa.gov.br Página porque se não fosse o Prouni, ele não teria acesso ao ensino superior. O ex-universitário da Unicid, E.L.S optou pelo FIES, mas não jul- “Onde pessoas carentes vão conseguir dois fiadores que tenham renda superior a duas vezes o valor da mensalidade?” Estudante da Unicid ga o programa uma boa alternativa para os estudantes carentes, por ser muito burocrático. “Onde pessoas carentes vão conseguir dois fiadores que tenham renda superior a duas vezes o valor da mensalidade?”. Os problemas continuaram mesmo depois de formado. “Tive que pagar as outras parcelas, mas eram muito maiores do que deveriam ser. Eu fui pagando as primeiras para não sujar o nome dos fiadores. Os extratos não eram nada esclarecedores. Depois de ameaçar entrar na justiça, a Caixa Econômica foi rever; de 12 parcelas caiu pra 8”. Acontece - Ano III - N° 41- Comunicação Uma questão “diplomática” Projeto de lei sobre a exigência de diploma para jornalistas gera discussão em meio acadêmico RAFAEL FONSECA E VINÍCIUS BRUNO VINÍCIUS BRUNO “[Walter] Casagrande é o melhor comentarista de futebol do Brasil e não é formado em jornalismo” Benjamim Back “Um ginecologista homem não precisa ter dado à luz para saber como é dar à luz. Portanto eu não preciso ter jogado futebol para saber como se joga” Oscar Roberto Godói VINÍCIUS BRUNO Depois de inúmeros trâmites na justiça e aprovação em diversas comissões na Câmara dos Deputados, o projeto de lei do deputado Pastor Amarildo (PSC-TO), que previa a ampliação das funções exclusivas dos jornalistas de 11 para 23, foi vetado pelo presidente Lula em 2006, ou seja, mais tarefas de mídia só poderiam ser exercidos por diplomados. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), representada pelo presidente Sérgio Murillo, argumenta que a atual legislação é “muito antiga” (1969) e que precisa de uma atualização para preservar a profissão. Dentre essas novas funções dos quais se exigiria diploma, estão inclusas atividades de fotógrafo, locutor, cinegrafista, arquivista, ilustrador e, uma das mais discutidas e questionadas, a de comentarista de futebol. Oscar Roberto Godói, exárbitro da FIFA e comentarista da TV Record, formado em jornalismo, defende a proposta de lei e a valorização do diploma: “Essa valorização só seria possível exigindo que os profissionais, para exercer a atividade, realmente tivessem o diploma”, sustenta. Segundo Godói, aumentam muito o número de “convidados” a comentar futebol e isso diminui as oportunidades de trabalho para jornalistas formados. Perguntado sobre quem entende mais de futebol, disse: “No Brasil, todos entendem ou pensem que entendem de futebol”. Entretanto, para ele, quem se dedicar aos estudos entenderá os detalhes do futebol. “Um homem ginecologista não precisa ter dado à luz para saber como é dar na luz. Então, eu não preciso ter jogado futebol para saber como se joga.” O ex-Mackenzista Benjamin Back que é colunista do diário Lance! e comentarista do programa Estádio 97, não acredita na necessidade do diploma de jornalista. Formado em economia, Back defende que o bom comentarista é aquele que consegue ser “diferenciado”. Benjamim está no ramo jornalístico há seis anos: “Caí de pára-quedas. Sempre conheci muita gente nos bastidores do futebol e eu patrocinava o programa, aí me chamaram pra participar”. No entanto, ele diz não estar “tirando emprego de ninguém. Não me considero menos jornalista do que um cara formado”. Para ele, os melhores comentaristas de futebol são Walter Casa Grande, que não é formado e Juca Kfouri, sociólogo. Apesar de considerar dispensável, Back não é contra a faculdade de jornalismo, ao contrário, afirma até o desejo de um dia cursa-la. O coordenador de Jornalismo do Mackenzie, Vanderlei Dias, observa que é necessário uma defesa da utilização do diploma, mas reconhece que a lei discutida continha exageros que poderiam ser reavaliados: “O mercado faz a seleção dos bons profissionais. Não vejo problema em ver um ex-jogador comentar um jogo.” Dias ainda adverte: “Os alunos devem exigir e fiscalizar a qualidade de cada curso de jornalismo.” Página Acontece - Ano III - N° 41 - Mackenzie Seus professores são mais interessantes do que você imagina Conheça as múltiplas façanhas de nossos educadores, que vão muito além do Bê-a-bá PAULA PEREIRA AB Você acha que a vida dos professores está apenas na sala de aula? Saiba que temos no corpo docente do Mackenzie, desde árbitro de futebol a integrante do Movimento Sem-teto. A professora de História Rosana Schwartz, faz parte do Movimento Sem-teto e atua como colaboradora em trabalhos de formação para a cidadania. Ela diz que a importância deste trabalho é investigar e questionar problemas relacionados com a urbanização: “a luta pela moradia é também a luta pela cidadania e direito à vida”. Rosana fala da omissão dos jornais que não relatam as dívidas com impostos dos proprietários dos edifícios abandonados, que poderiam ser destinados para fins sociais. Explica também que a estratégia de ocupação dos Sem-teto é além de tudo, de denúncia. E finaliza: “enquanto o problema da moradia popular existir e não for compreendido, continuarei colaborando”. Já o professor Zeca, árbitro da Federação Paulista de Futebol por 7 anos, não exerce mais a profissão devido às suas atividades docentes. Ele declara que desde a infância se interessava por futebol e ser árbitro foi uma maneira de participar desse universo, além de poder viajar por todo estado. O professor revela que já foi agredido por um jogador a quem havia dado cartão vermelho, “ele me atingiu com um pontapé no joelho”. Zeca comenta que as lições que obteve na arbitragem são úteis PAULA PEREIRA como docente e vice-versa: “temos que lidar com sentimentos e reações humanas, disciplina e respeito às regras. As decisões finais são dadas pelo árbitro e pelo professor, podendo ou não ser mal-interpretadas”. Alexandre Jubran, especialista em Desenho Industrial, trabalha com quadrinhos há 14 anos para algumas editoras como Abril, Mithos, e como free-lance para Dynamic e Marvel nos EUA. Desde 1997 dedica-se à colorização digital. Ele conta que se envolveu com esse projeto pois engloba o que mais o interessa: quadrinhos, tecnologia e arte. “Em um mercado dinâmico, o fato mais interessante é não ficar estagnado”. Especialista em História, Denise Paes dá aulas na U.A.T.U. (Universidade Aberta do Tempo Útil), que atende principalmente ao público da terceira idade. “É um curso de extensão, onde as pessoas procuram aprender pelo prazer de novas descobertas e de conhecimentos para enriquecer suas vidas”, explica Denise. Ela confessa reali- “Digo a eles [alunos] que vou imitar o Zagallo: vão ter que me engolir” Denise Paes, professora do Mackenzie zar o trabalho com a maior alegria e brinca, “digo a eles que vou imitar o Zagalo: vão ter de me engolir”. Daniel Benitez nascido em Cuba, ministrou por três anos aulas de Karatê como voluntário, e afirma que dar aulas de disciplina técnica ou esportiva significa crescimento constante e que não era só ensinada a parte técnica, mas também princípios éticos, equilíbrio, tolerância e respeito. Benitez completa dizendo que “o retorno é muito confortante. Saber que com aquela ajuda as crianças seriam melhores cidadãos, me fazia satisfeito”. Página Entrevista na íntegra com o professor Zeca no Acontece Digital Acontece - Ano III - N° 41 - Comportamento Antes do Game Over O ambiente dos jogos evolui paralelo ao tipo de jogo LUCAS RIELLO, LUIZ ROCHA E VICTOR AMARO Pac-man. Ragnarok. ������� Street� Fighter. Counter Strike. O entretenimento com jogos eletrônicos em espaço público são populares nos Estados Unidos desde a década de 30. Com o tempo, a evolução tecnológica alcançou-os e alçou-os a um lugar inesperado: do simples elevar de uma alavanca caçando algumas fichas em cassinos até as comunidades virtuais de jogos em rede mundial. Antes dos jogos serem virtuais, jogava-se mecanicamente. Eram máquinas de Pinball e caçaníquel que possibilitavam a um único jogador testar sua sorte e habilidade contra a máquina. Depois que começou a se pesquisar em universidades americanas a possibilidade de os jogadores interagirem com o destino do jogo, criou-se a virtualidade. A chegada de jogos de luta permitiu a disputa entre os jogadores e a criação de grupos que competiam entre si, conhecidos como gangs de fliperama. A imagem desses ambientes ficou marcada pelas brigas e uso de drogas. “A polícia passava aqui na frente quase que semanalmente pra ver se não tinha ninguém fumando alguma coisa. Era ruim para os negócios”, disse Tiago Eduardo, que trabalhava na Scorpion Games & Fliperamas. Com o tempo, as casas de fliperama foram se deslocando para a periferia e becos da cidade. Os jogos mudaram de perfil, tornando-se interativos, transformando a participação do jogador não em uma mera disputa, mas em LUCAS RIELLO uma experiência de relacionamento virtual em comunidades em rede. Nesse contexto surge a Lan House como um lugar de reunião de jogadores caracterizada pelos vários computadores em rede, ar-condicionado, poltronas confortáveis e fones de ouvido. O público diverte-se pagando por hora, tendo acesso à internet, jogos e aos demais serviços que o Máquinas de fliperama dividem espaço com estabelecimento oferece. banheiro e caixas de cerveja “Aqui a gente joga em clãs. Reunimos uns amigos e fica- U$100.000,00. Jogar video-game se mos, às vezes, o dia todo e de ma- tornou profissão. E pensar que tudo, drugada jogando contra outros clãs de fato, começou há muito tempo, de outras lan”, afirmou Fabio Mol- quando pesquisadores do Massa������ nar, que participa de campeonatos chussetts�������������������������� Institute Of Technology, de Counter Strike pela Central Lan, o MIT, desenvolveram o jogo Tênis em Vargem Grande Paulista, na re- para Dois, feito para computador e gião metropolitana de São Paulo. custava cerca de 120.000 dólares. Nós oferecemos produtos e serviços de qualidade, sempre fis“As casas de fliperama calizados. Além dos computadores eram cheias de e registros que são caros, uns jogos são de um servidor – um preço; oubandidos. Agora tenho tros jogos são de outros servidores uma lan, muito mais – outros preços. Por isso temos que cobrar a hora, para cobrir os gastos”, organizada e limpa” diz Tiago Mendes, proprietário de Eduardo Pereira uma lan house. A diferença de gasto entre a casa de fliperama e as lan, esse investimento entre os registros DESVENDANDO CHEATS, O de jogos e a compra de placas de SEGREDOS DOS JOGOS arcade, muitas vezes piratas, tra Começou com a desaduz a declaração de Eduardo Pereira, dono de lan house. vença entre os produtores de “As casas de fliperama jogos e os executivos da emeram cheias de bandipresa Atari. Os executivos obdos. Tinha gente bebenrigaram os desenvolvedores do e fumando. Por isso a retirarem seus nomes dos preferi ter uma locadora de video-game, coisa créditos, deixando só os dos mais séria. Agora tenho chefes. Contrariados, esses uma lan, ainda mais fazedores de jogos criavam cóorganizada e limpa”. digos que quando acionados, Os clãs, difemostravam seus nomes e carrente das gangs, participam de torneios em gos na empresa. Através dessa campeonatos muniniciativa, hoje tem-se diverdiais que chegam a dar sas revistas de games e dicas. Além dos jogos, a qualidade das lans é medida prêmios superiores a pelos seus equipamentos e serviços extras LUCAS RIELLO Página Acontece - Ano III - N°41 - Perfil Da periferia ao reconhecimento nacional O escritor Ferréz fala sobre seus trabalhos e seu projeto social BRUNO RIOS, LUCIANA MINAMI E NATALIA BENITEZ Página Ferrez com seu novo livro, “O Amanhecer Esmeralda” mulher. Mas, graças a Deus é um livro muito bem aceito. Recebo cartas de professores que o adoram e, até, recomendam [aos alunos]. Como surgiu a 1Dasul (usina cultural voltada à comunidade do Capão Redondo que possui selo musical próprio e grife de moda, a Irmandade)? Eu tive a idéia de montar um movimento cultural, que juntasse os artistas da periferia. Então a gente pegou pessoas do bairro que fazem roupa e ela é vendida aqui também. O logotipo é “Nada mais que respeito”. A marca tem sete anos, o pessoal compra e graças a Deus deu tudo certo. E seus projetos futuros? Bom, a HQ Os inimigos não mandam flores foi a primeira de uma trilogia. Agora vou lançar o segundo (Central do crime original) e depois o último que é o final da vingança. Como você vê a imprensa brasileira? Em relação a essa nova geração, eu tenho uma crítica: é ruim porque a velha geração não trabalha mais nas redações. Eles contratam os novos pois é mais barato, não tem mais aquele mito do repórter velho com o novo. Eu acho que isso faz falta. “Em relação à nova geração da imprensa brasileira, tenho uma crítica: não existe mais o repórter velho com o novo. Acho que isso faz falta.” ARQUIVO PESSOAL Como você começou a se interessar por literatura ? Acho que a primeira identificação que eu tive foi com os gibis. Depois teve um determinado momento da minha vida que eu comecei a ler livros mais sérios, me dediquei mais e falei: “É isso aqui que quero fazer”. Como você virou cronista da Caros Amigos? Quando eu lancei o Capão Pecado, eles me chamaram para fazer uma matéria. Depois a Marina Amaral (editora da Caros Amigos) me ligou e pediu um texto. A repercussão foi muito boa, ela pediu outro e eu brinquei que poderíamos fazer um contrato. Fiquei lá por cinco anos. E por que você saiu? Acho que tudo na vida tem um prazo e eu estava afim de descobrir coisas novas. Também foi por motivos de ideologia, é muita ideologia por metro quadrado. Mas eu adoro a revista e a acho a melhor do país, não é porque eu saí não (risos), mas a revista é boa mesmo. Você escreveu “Amanhecer Esmeralda”, livro voltado para as crianças da periferia. Como foi a aceitação? É meu segundo livro mais vendido, acredita? Pensava que não iria vender nada por ser infantil, voltado para a criança negra e ARQUIVO PESSOAL Seu nome é Reginaldo Ferreira da Silva, mas gosta de ser chamado de Ferréz, uma homenagem a duas personalidades históricas do Brasil: Virgulino Ferreira, “Ferre” e Zumbi dos Palmares, “Z”. Nascido em Capão Redondo, uma das regiões mais violentas da cidade de São Paulo, que registra de cerca de 86.39 assassinatos a cada grupo de 100.000 habitantes, número muito acima da média nacional. Apesar da vida difícil, Ferréz acumula seis livros em seu currículo. Entre obras de variados gêneros, está Capão Pecado, que o projetou nacionalmente. Com os especiais “Literatura Marginal”, ele ganhou em 2001 o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Confira agora a entrevista que Ferréz cedeu ao Acontece. Leia a entrevista de Ferrez na íntegra no Acontece Digital