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MOTIVAÇÕES DA MOBILIDADE ESTUDANTIL ENTRE
OS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
Manolita Correia Lima (ESPM–SP)67
Viviane Riegel (ESPM- SP)68
RESUMO: A pesquisa teve o objetivo de conhecer as motivações que justificam o crescente interesse dos
estudantes pelos programas de formação internacional. A investigação se concentrou em estudantes e egressos
do curso de Administração, oferecidos no Brasil, participantes de programas de intercâmbio. O grupo é
predominantemente formado por jovens, de ambos os sexos, que participaram de programas de intercâmbio
durante a graduação. Estão vinculados a instituições paulistanas, respeitadas na área de Administração. Apesar
de efetivados em sólidas empresas nacionais e multinacionais e ter renda própria, residem com os pais e estes
assumem papel preponderante nas decisões relativas ao planejamento do programa.
Palavras-chave: mobilidade estudantil; educação; multiculturalismo
ABSTRACT: The research aimed to understand the motivations that justify the growing interest of students for
international programs. The research focused on students and graduates of the Business Administration course,
offered in Brazil, participants of exchange programs. The group is predominantly composed of young men and
women who participated in exchange programs during graduation. They are linked to institutions in São Paulo,
respected in the Business Administration area. Although effective in strong national and multinational
companies and with their own income, they reside with their parents who take leading role in decisions
regarding the planning of the exchange program.
Key-words: student’s mobility; education; multiculturalism
Introdução
A investigação cujos resultados estão aqui reunidos objetivou conhecer as motivações
que justificam o crescente interesse da população estudantil por programas de formação
internacional, particularmente o intercâmbio acadêmico. Sintomaticamente, o tema tem
conquistado espaço no cinema69, motivado produções literárias70 e acadêmicas, justificando
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Professora titular do programa de Mestrado em Gestão Internacional da Escola Superior de Propaganda
e Marketing (SP). Graduação em Ciências Sociais - Universite de Paris III (Sorbonne-Nouvelle) (1984),
mestrado em Sociologia dos Espaços Construídos - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot (1984) e
doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2003). Atual projeto de pesquisa: “Internacionalização
da Educação Superior” – email: [email protected].
68
Professora assistente da Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP). Graduação em
Administração de Empresas – Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP) (2002), e mestrado em
Comunicação e Práticas de Consumo - Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP) (2010) – email:
[email protected].
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L’auberge espagnole (produção franco-espanhola de 2002, dirigida por Cédric Klapisch), Thelma e
Louise (produção americana de 1991, dirigida por Ridley Scott), Easy rider (produção americana de 1969,
dirigida por Denis Hopper).
70
Moby Dick de Herman Melville (1851), The seven voyages of Sinbad the sailor (conto 133, vol.6 das
Mil e uma noites), On the road de Jack Kerouac (1954), L’usage du monde de Nicolas Bouvier (1963), Le
voyage d’Ulysse de Tim Severin (2000) .
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Guavira Letras: Sociedade contemporânea: diversidade e multiculturalismo, Mestrado em Letras, Campus de Três
Lagoas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, n. 10, Jan.-Jul. 2010. GUERRA, Vânia Maria Lescano
(Org.). (Revista On-Line: www.pgletras.ufms.br/revistaguavira; ISSN: 1980-1858).
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levantamentos mundiais por parte de organismos internacionais71, revelando que o fenômeno
não é recente, mas que contemporaneamente envolve amplos setores da população
(NOGUEIRA et al. 2008, p. 356) e mobiliza diferentes atores em razão da multiplicidade de
motivações e interesses implicados (LIMA; CONTEL, 2009, p. 6). Por isso tem ganhado
diversos formatos: mobilidade institucionalizada / espontânea (BALLATORE; BLÖSS, 2008,
p.17); interna / externa; horizontal / vertical; curta, média ou longa duração etc. (DERVIN;
BYRAM, 2008, p. 9).
Os programas de mobilidade estudantil são genericamente nomeados de intercâmbio
internacional, incluem formatos tão diversos quanto os estágios lingüísticos, realização de
disciplinas ou cursos superiores e de high school (PRADO, 2004; NOGUEIRA, 2004). O
programa de intercâmbio acadêmico se caracteriza por um séjour de estudo, concretizado por
estudantes interessados em aperfeiçoar o domínio de uma língua estrangeira, participar de
disciplinas que integram o currículo de determinado semestre escolar, ou realizar curso
oferecido por uma instituição de educação, podendo se estender por até 12 meses,
diferenciando intercambistas de turistas. A organização do programa pressupõe o retorno do
estudante ao país de origem, tão logo as atividades previstas sejam concluídas, distinguindo
intercambistas de imigrantes (CICCHELLI, 2008, p. 144). Com a intensificação da
mobilidade acadêmica e o aperfeiçoamento dos levantamentos de dados sobre o fenômeno,
observa-se que:
a) o fluxo de estudantes internacionais é desequilibrado à medida que desperta mais
interesse entre a população estudantil oriunda dos países periféricos e semiperiféricos
(China, Índia, República da Coréia, Turquia, Marrocos, México, Brasil, etc.) do que a
dos países do centro da economia-mundo – enquanto os EUA acolhem 26% da
população estudantil internacional, enviam 2% (UNESCO, 2008).
b) as motivações que justificam o investimento financeiro e emocional envolvido na
realização do programa são múltiplas em razão da heterogeneidade da população
formada pelos intercambistas, expressa tanto no plano geográfico, quanto sócioeconômico e intelectual (capital intelectual original) (CICCHELLI, 2008).
Assim, recorrentemente, intercambistas são “confundidos” com trabalhadores
imigrados disfarçados (CHARLE et al., 2004, p. 967), preocupados em legitimar a sua
permanência no país de acolhimento e respectiva aceitação social assumindo o status de
estudante. “Confusão” que tem implicado na discussão/adoção de uma política de imigração
restritiva por parte de países do centro da economia-mundo e de maiores exigências para a
expedição de documentos que regularizem a permanência do estudante no país de
acolhimento. Chama-se atenção para o fato de vários países da União Européia transferirem a
responsabilidade pela definição da política de imigração para o Parlamento Europeu.
Os números consolidados (seja por instituição, programa, país ou região) são tão
impressionantes (em 2006 eram 2 754 373 estudantes internacionais em circulação) que
levam autores a anunciar un nouvel ordre éducatif mondial (LAVAL; WEBER, 2002) e a
assegurar que “la mobilité académique [...] semble être devenue incontestablement une
composante des paysages éducatifs de la plupart des pays du monde” (Dervin, Byram, 2008,
p. 9). Apesar de ser uma afirmativa incontestável, seu conteúdo omite o fragrante
desequilíbrio que marca a mobilidade estudantil, particularmente entre Norte e Sul, países
71
Destacam-se os levantamentos realizados pela UNESCO e OCDE e anualmente divulgados: Recueil de
données mondiales sur l’éducation – statistiques comparées sur l’éducation dans le monde (UNESCO), Regards
sur l’éducation (OCDE).
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centrais e periféricos. Reforçando o que Magali Ballatore e Thierry Blöss (2008, p. 25)
nomeiam de affinité sélective, uma espécie de hierarquia que se traduz não apenas na escolha
do país de destino (reforçando a desigualdade da força simbólica existente entre as nações –
WAGNER, 1998), mas no acesso a determinadas instituições (mais antigas, reputadas e
seletivas), áreas de conhecimento (mais valorizadas pelo mercado de trabalho), e respectivos
impactos sobre a ascensão sócio-econômica dos estudantes em mobilidade (inégalités de
prestige72).
Da década de 1990 em diante, percebe-se alguma evolução no número de instituições
de educação superior brasileiras que dispõe de algum profissional (ou setor) responsável pela
divulgação de programas de intercâmbio internacional (LIMA et al., 2008). Em parte isso se
deve à pressão exercida pelos estudantes, que em número crescente planejam uma experiência
internacional de estudo ainda na graduação (NOGUEIRA et al., 2008). Considerando que a
área de Economia e Gestão é tradicionalmente uma das mais procuradas por estudantes
internacionais, parece contributivo investigar qual é o perfil do estudante intercambista,
vinculado a cursos de graduação em Administração, oferecidos por instituições públicas e
privadas, distribuídas no território brasileiro? Qual seria o tipo de intercâmbio internacional
realizado, o destino preferido, os motivos da preferência e o tempo médio envolvido? Quais
as motivações que justificam o investimento em programas de mobilidade espontânea e quais
os resultados pessoais e profissionais que acreditam ter alcançado com a experiência?
Nos limites deste texto, mobilidade espontânea é aquela em que os estudantes
decidem investir em algum programa de formação internacional e, sem qualquer suporte
acadêmico e/ou financeiro de agências governamentais, escolhem o país de acolhimento, a
instituição que pretendem freqüentar e a atividade que desejam desenvolver (disciplina ou
curso) e, individualmente, criam as condições que viabilizam a experiência. Apesar de este
formato de mobilidade dificultar a estatística da população estudantil envolvida, tem crescido
sobremaneira na medida em que:
a) poucos países desenvolveram programas de incentivo à mobilidade acadêmica
promovendo reformas universitárias capazes de harmonizar diplomas e facilitar os
respectivos processos de validação (BILLAUD, 2007, p. 22). Número ainda menor
criou efetivos mecanismos de financiamento público, capazes de promover não apenas
a circulação de representantes da elite econômica, mas, sobretudo, da elite escolar.
Sendo assim, para a maioria, a experiência requer o financiamento privado das
despesas incluídas no deslocamento, curso e séjour (NOGUEIRA et al., 2008, p. 369);
b) apesar de a globalização da economia, associada à reestruturação do trabalho e às
crescentes taxas de desemprego, particularmente entre os jovens, requerer outro perfil
de trabalhador, parte expressiva dos países periféricos e semi-periféricos ainda não
alcançou a massificação do acesso à educação superior. Neste caso, a mobilidade dos
jovens se revela mais uma necessidade do que uma opção – seja no sentido de adiar
seu ingresso no mercado de trabalho ou no sentido de ampliar a empregabilidade com
a experiência internacional (BALLATORE; BLÖSS, 2008, p. 38);
c) o crescimento das taxas de escolarização, associado ao acesso de novos públicos à
educação superior, em diversos países, engendram a desvalorização dos certificados
escolares (NOGUEIRA et al. 2008, p. 371). Assim, antigos e novos estudantes tendem
a direcionar suas estratégias escolares para níveis mais altos e diferenciados do
sistema escolar. Nas palavras de Andréa Aguiar (2009, p. 73), “a massificação escolar
72
Esta ideia é confirmada pelos resultados da pesquisa realizada por Magali Ballatore e Thierry Blöss
(2008). Em suas palavras, “l’image de grandeur et de prestige associée aux institutions étrangères de formation
supérieure, représentent à ce titre un des facteurs jugés importants” (BALLATORE; BLÖSS, 2008, p.37).
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e a perda do distintivo dos diplomas [...] teriam acentuado a demanda atual por novos
atributos na formação. Assim, a mobilidade geográfica passaria a ser interpretada
como competência desejada da prática do saber-fazer, avaliada como triunfo
individual e pessoal, num contexto em que o cosmopolitismo se impõe como saber ou
necessidade cultural, em contraposição à imobilidade e ao confinamento nacional”;
d) com o desinvestimento em educação superior, as universidades (públicas e
privadas) que se notabilizaram no cenário mundial estão cada vez mais pressionadas a
diversificar a oferta de serviços educacionais e a atrair estudantes solvíveis como
forma de ampliar a margem de autofinanciamento. É neste contexto que o
protagonismo do mercado confere à mobilidade acadêmica uma lógica mercantil,
capaz de substituir solidariedades acadêmicas por competitividade, no enfrentamento
dos desafios presentes no mundo globalizante (CHARLE et al., 2004, p. 968).
Na intenção de pormenorizar estas ideias, o texto foi estruturado em três partes: a
primeira descreve os recursos metodológicos explorados; a segunda faz a síntese da revisão da
literatura; e a terceira descreve e interpreta os dados resultantes de levantamento realizado de
acordo com os procedimentos preconizados pelo método survey.
Descrição dos Procedimentos Metodológicos
A pesquisa foi desenvolvida com a exploração de recursos típicos do método survey.
Assim sendo, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2009 o instrumento de coleta foi
elaborado, testado e aperfeiçoado, para entre os meses de março e abril ser aplicado,
utilizando-se do sistema on-line disponível em www.surveymonkey.com. O questionário
incluiu 27 questões, distribuídas em quatro blocos de perguntas: o primeiro deles permitiu o
desenho do perfil dos respondentes; o segundo ajudou na identificação do tipo de intercâmbio
internacional preferido; o terceiro colaborou para se descobrir o destino escolhido, os motivos
da preferência, e o tempo médio de permanência no exterior; e o quarto permitiu se conhecer
as motivações que justificam o investimento em programas de mobilidade espontânea e o
mapeamento dos resultados pessoais e profissionais alcançados.
O instrumento de coleta envolveu dois tipos de questões: aquelas que solicitavam
informação foram elaboradas em forma de múltipla escolha e, dentro do possível, a sua
formulação respeitou a estrutura semi-aberta, na tentativa de inibir processos de indução,
levando em conta o reduzido número de alternativas de respostas. E aquelas que envolviam
avaliação fizeram uso de uma escala que variou de zero a sete, conforme o grau de
concordância. O acesso ao instrumento de coleta ocorreu por e-mail, enviado para o banco de
dados dos associados da Brazilian Educational & Language Travel Association (BELTA). O
filtro utilizado considerou estudantes e egressos dos cursos de graduação de Administração,
oferecidos por instituições distribuídas em todo o território nacional, que participaram de
algum programa de intercâmbio, com duração igual ou superior a três meses. Visto que a
amostra está limitada a 90 respondentes e foi obtida por meio de critérios não probabilísticos e
por conveniência, os resultados alcançados não ultrapassam o caráter exploratório.
A Mobilidade Acadêmica – origem e evolução
Historicamente as viagens fazem parte de um conjunto de iniciativas que
contribuem para a socialização internacional das classes superiores – a exemplo do
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grand tour aristocratique (WAGNER, 2007). Nesta direção, a mobilidade dos
acadêmicos não é um fenômeno recente, fruto do incremento tecnológico associado à
globalização econômica, e à elevação do padrão de competitividade e concorrência entre as
economias dos países e regiões do mundo. Guadilla (2005, p. 16) assegura que a natureza
universal do conhecimento, combinada à tradição de cooperação acadêmica, no
desenvolvimento de atividades de ensino, desde a Antiguidade, são fatores que contribuíram
para imprimir caráter intrinsecamente interterritorial às universidades e às instituições de
educação que as precederam. Interterritorial porque a emergência do Estado-nação ocorre em
período posterior, por conseguinte, tais instituições funcionavam em cidades – Bolonha
(1088), Paris (1125), Oxford (1167), Salamanca (1218) etc – ainda não separadas por
fronteiras nacionais.
Assim, desde a Idade Média, o pereginatio academica correspondia a viagens realizadas
por acadêmicos desejosos de estudar com autoridades no tema de especial interesse, em uma
ou mais regiões da Europa. Esta mobilidade acontecia pela confluência de diversos fatores: a
notabilidade conquistada por alguns professores em determinados temas (a), a existência de
uma elite sócio-econômica disposta a desfrutar de alguma experiência inter-regional, apesar
da precariedade dos meios de transporte e acomodações disponíveis (b), a convergência de
currículos definidos e controlados pela Igreja (c), além do uso corrente do latim no ambiente
educacional, facilitando a comunicação entre os atores (d) (CHARLE; VERGER, 1996).
Com a formação do Estado-nação, a mobilidade acadêmica não foi interrompida porque
os governos se viram pressionados a investir na formação de quadros naquelas áreas
descobertas pelo sistema nacional de educação (LIMA; CONTEL, 2009). Com o término das
Grandes Guerras, a mobilidade de professores europeus para universidades estadunidenses
inaugura a internacionalização da educação como estratégia capaz de incrementar o
desenvolvimento. Desde então, o número de acadêmicos originários de países da periferia ou
semiperiferia da economia-mundo só tem crescido na direção dos grandes centros,
corroborando as ideias de Octávio Ianni (2005) – a abertura para o exterior, o contato com
outras culturas, e o domínio de línguas estrangeiras são aspectos importantes da formação de
elites cosmopolitas.
No contexto das famílias pertencentes à bourgeoisie d’affaires, as viagens
permitem aos jovens experimentarem a dimensão internacional do patrimônio
familiar e assimilar elementos típicos do savoir être e do savoir faire constitutivos da
identidade burguesa. De alguma forma, as experiências decorrentes dos
deslocamentos contribuem para formar o esprit d’entreprise próprio das lideranças
internacionais, além de capacitar os viajantes para ocupar posições de comando
(WAGNER, 2007). Essas idéias são fortalecidas pelos resultados de pesquisa
realizada por Alexandre Douek e Alexandre Zylberstajn (2007), que investigaram a
relação existente entre intercâmbio internacional e empregabilidade. Os autores concluíram
que, para os empregadores, mais do que ampliar o capital intelectual, a mobilidade
internacional contribui para o desenvolvimento de atitudes valorizadas pelo ambiente de
trabalho na medida em que promove o amadurecimento emocional dos jovens. E pelo fato de
os referidos programas variarem em extensão de tempo (de três a doze meses), é crescente o
número de estudantes que organiza diversos séjours de estudo ao longo da formação
universitária (graduação e pós-graduação), e no conjunto tais experiências exerçam influência
na passagem para a idade adulta. Nas palavras de Vincenzo Cicchelli (2008, p. 139), “un
séjour allant de trois mois à un an pourrait être vécu comme un moment d’experimentation
intense des marges d’autonomie, en raison de l’eloignement important des jeunes du lieu de
résidence des parents”.
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A valorização da experiência como um traço de distinção estimula crescente
número de famílias brasileiras a investir na formação internacional dos filhos acreditando
que ela contribui para o desenvolvimento pessoal, o sucesso escolar e a inserção profissional
(NOGUEIRA et al., 2008; PRADO, 2004), na medida em que promove adequação da mão de
obra qualificada ao novo espírito do capitalismo (SENNETT, 1999). Levando-se em conta
que as fronteiras sempre estiveram abertas para as elites políticas, econômicas e intelectuais
não se pode afirmar o mesmo em relação aos trabalhadores pouco qualificados, afinal, a
mobilidade das pessoas tende a acompanhar a dinâmica dos investimentos em escala
planetária (WAGNER, 1998, p.11).
A internacionalização das economias promove a emergência do manager
international, declaradamente comprometido com a defesa de interesses comuns, sintonizados
com negócios desenvolvidos em âmbito mundial (WAGNER, 1998, p.13). Ao aprofundar o
conceito de internacionalisme professionnel, Émile Durkheim (1928) assegura que a
aproximação entre os indivíduos, decorrente de afinidades profissionais, engendra a formação
de sociedades internacionais que reúnem categorias profissionais específicas, cada vez mais
especializadas e orientadas por interesses que ultrapassam a dimensão nacional. Em seus
termos, “les sentiments et les intérêts professionnels sont doués d’une bien plus grande
universalité; ils sont beaucoup moins variables de pays à pays pour une même catégorie de
travailleurs, tandis qu’au contraire ils sont très différents d’une profession à l’autre au sein
d’un même pays” (DURKHEIM, 1928, p. 133).
Conseqüentemente, entre o que a literatura nomeia de peregrinatio accademica
(RIDDER-SYMOENS, 1996, p. 279) e mobilidade acadêmica no contexto da
internacionalização da indústria da educação (SCOCUGLIA, 2008; TEODORO, 2003) é
possível identificar diferentes atores (Estado, universidades, organismos internacionais
multilaterais, empresas voltadas para o turismo e para difusão de conhecimento, famílias,
estudantes, professores, pesquisadores, profissionais qualificados etc.) e interesses envolvidos
(culturais e acadêmicos, políticos, econômicos e comerciais – KNIGHT, 2005, p. 26).
A crescente importância econômica e política conquistada pelo conhecimento e pela
educação correspondem a fatores desencadeadores de mudanças significativas sobre a forma
pela qual a educação é pensada e organizada por países e atores implicados. Nas palavras de
Cláudio Porto e Karla Régnier (2003, p. 6),
Quando se trata da passagem do modelo de desenvolvimento industrial para o
informacional, o qual se faz acompanhar por intenso movimento de transformação nas
dimensões econômica, política, social e cultural das sociedades, percebe-se que a
capacidade de produzir, interpretar, articular e disseminar conhecimentos e
informações passa a ocupar espaço privilegiado na agenda estratégica dos setores
produtivos e dos Estados: a vantagem competitiva de um país em relação a outro
começa a depender da capacitação de seus cidadãos, da qualidade dos conhecimentos
que estes são capazes de produzir e transferir para os sistemas produtivos e da
capacidade de aplicação/ geração de ciência na produção de bens e serviços.
A mobilidade das pessoas – principal manifestação da internacionalização no âmbito
educacional (KNIGHT, 2005) – figura um tema incluído na agenda internacional dos
pesquisadores, e não são modestos aqueles empenhados em localizar e entender os aspectos
que influenciam verdadeira legião de jovens a decidir por uma formação internacional. Entre
outros, quatro autores/textos são particularmente contributivos para a discussão da questão:
Kurt Larsen e Stéphan Vincent-Lancrin (2002); Marie-Claude Muñoz (2004); Mohamed Harfi
(2004); Mohamed Harfi e Claude Mathieu (2006). Pelo fato de convergirem em algumas
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conclusões é possível consolidar os respectivos resultados em vinte aspectos e distribuí-los
em quatro categorias: motivações de ordem sociocultural, acadêmica, econômico-comercial e
político-administrativo.
Quadro n.1: Aspectos que influenciam na mobilidade internacional dos estudantes
FATORES
Sociocultural
Acadêmicocultural
Econômicocomercial
Político/Adminis
trativo
ASPECTOS
1 Língua oficial do país de destino (preferencialmente a língua inglesa).
2 Proximidade geográfica e cultural entre o país de origem e de destino, assim como
ligações históricas pré-existentes.
3 Presença de grupos de referência capazes de estimular a formação de redes de
relacionamento e de aproximar antigos, atuais e potenciais acadêmicos do país de origem
no país de acolhimento (ex.: associações de ex-alunos, ex-bolsistas, estudantes,
professores, pesquisadores etc.).
4 Qualidade de vida e atratividade cultural existente no país de destino: estabilidade
política, segurança pública, aspectos climáticos, diversidade de ecossistemas, atividades
culturais e turísticas etc.
5 Limitações na oferta de programas e cursos no sistema de educação do país de origem.
6 Equivalência do diploma expedido pelo país de origem, no país de destino.
7 Efetiva possibilidade de estudantes internacionais terem acesso aos cursos desejados no
país de destino (inexistência de numerus clausus).
8 Reputação e percepção de qualidade do sistema educativo, em geral, e dos
estabelecimentos educacionais, em particular, existentes no país de destino, em relação
ao país de origem.
9 Existência de programas bi/multilaterais entre instituições de educação, países ou
regiões (a exemplo do Erasmus, Sócrates, Leonardo, Tempus, Língua, entre outros).
10 Existência de política de bolsa de estudo, bolsa de pesquisa e estágio.
11 Validação do diploma expedido pelo país de destino, no país de origem.
12 Ligações econômicas pré-existentes entre os países que enviam e acolhem
acadêmicos.
13 Custo de vida no país de destino.
14 Comparação entre os custos financeiros envolvidos (taxas de inscrição, mensalidade
escolar, material escolar etc.) na formação oferecida nos países de origem e de destino.
15 Existência e acesso à infra-estrutura destinada a estudantes internacionais: política de
financiamento da mobilidade estudantil (concessão de bolsas ou de estágio remunerado),
seguro de saúde, alojamento para estudante, restaurante universitário, oferta de curso de
língua etc.
16 Valorização das competências desenvolvidas pelas instituições do país de destino.
17 Valor dos diplomas expedidos pelo país de destino no mercado de trabalho.
18 Possibilidade de trabalhar durante o séjour de estudo e obter algum recurso financeiro.
19 Existência de oportunidades no mercado de trabalho e possibilidade de permanecer no
país de destino após o término do curso.
20 Política de imigração que facilite a obtenção de visto de estudante no país de destino.
Fonte: Adaptado de Larsen; Vincent-Lancrin (2002, p.20-22); Muñoz (2004); Harfi (2004, p.2); Harfi; Mathieu (2006, p. 36).
De acordo com os autores consultados, a língua corresponde a um fator relevante na
escolha do país de destino. Esta assertiva é corroborada pelos números divulgados: em 2006,
dos seis destinos mais procurados pelos estudantes internacionais, quatro eram anglo-falantes:
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Estados Unidos (22%), Reino Unido (11%), Alemanha (10%), França (9%) e Austrália (6%)
(UNESCO, 2008). O interesse em aprender a língua inglesa é reforçado nos resultados de
estudos realizados no Brasil por Aguiar (2009), Nogueira et al., (2008, 2004); Douek e
Zylberstajn (2007), Almeida (2004), Prado (2004), entre outros, atestando a hegemonia da
língua inglesa no ambiente escolar.
Tabela nº.1: Principais Países Receptores de Estudantes (2001-2006)
PAÍSES
ESTADOS UNIDOS
REINO UNIDO
ALEMANHA
FRANÇA
AUSTRÁLIA
CANADÁ
2001
475 169
225 722
199 132
147 402
105 764
40 033
2002
582 996
225 722
219 039
147 402
120 987
40 033
2003
582 996
227 273
240 619
221 567
179 619
40 033
2004
572 509
300 056
260 314
237 587
166 954
40 033
2005
590 128
318 399
259 797
236 518
207 264
132 982
2006
584 814
330 078
259 797
247 510
207 264
75 546
Fonte: Recueil de Données Mondiales sur l’Éducation. Institut de Statistique/UNESCO, 2003, 2004, 2005, 2006, 2008.
Na América latina a situação não é distinta – considerando o ano escolar de 2006,
entre os seis países latino-americanos que enviaram maior contingente de estudantes para o
exterior, todos eles têm como primeiro destino os Estados Unidos (UNESCO, 2008). Chamase atenção para o fato de os países de línguas coloniais – inglês, espanhol, francês e alemão,
por exemplo – manterem a liderança na atração de estudantes internacionais.
Tabela nº.2: Destino dos Estudantes latino-americanos (2006)
PAÍSES
N.estudantes
enviados
Destino
Destino
Destino
Destino
Destino
1º
2º
3º
4º
5º
MÉXICO
Espanha
França
Alemanha
USA
Reino Unido
24 441
1 705
1 479
1 332
14 426
1 738
BRASIL
França
Portugal
Alemanha
USA
Reino Unido
19 978
2 112
1 907
1 770
7 258
1 770
COLÔMBIA
França
Venezuela
Alemanha
Espanha
USA
16 290
2 028
1 206
1 074
929
7 078
PERU
Espanha
Cuba
Itália
Alemanha
USA
10 517
1 035
1 026
993
737
3 644
VENEZUELA
Cuba
Espanha
Portugal
França
USA
9 088
3 846
595
480
393
4 962
ARGENTINA
Espanha
França
Alemanha
Cuba
USA
7 934
975
746
549
454
3 140
FONTE: Recueil de Données Mondiales sur l’Éducation. Institut de Statistique/UNESCO, 2008.
No Brasil é crescente o número de brasileiros que investe tempo e recursos em
programas de intercâmbio – enquanto em 2004 eram 40 mil, em 2008 o número mais que
dobrou: 85 mil estudantes. O interesse pela língua inglesa não está em descompasso com o
resto do mundo: 81,5% dos destinos escolhidos pelos intercambistas brasileiros convergem
para países anglo-falantes (http://www.belta.org.br/revista.asp, consultado em maio de 2008).
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Guavira Letras: Sociedade contemporânea: diversidade e multiculturalismo, Mestrado em Letras, Campus de Três
Lagoas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, n. 10, Jan.-Jul. 2010. GUERRA, Vânia Maria Lescano
(Org.). (Revista On-Line: www.pgletras.ufms.br/revistaguavira; ISSN: 1980-1858).
Guavira
no10
Descrição e interpretação dos dados
O exercício que envolve descrição e interpretação dos dados resultantes da tabulação
do questionário aplicado está organizado em três partes: inicialmente, aprofundar-se-ão
aspectos relacionados ao perfil do respondente, na expectativa de o conteúdo colaborar para a
interpretação dos dados relativos à formação universitária, às motivações que justificaram a
decisão de participar de um programa de intercâmbio internacional e, finalmente, à percepção
dos principais resultados alcançados com a experiência.
1.Perfil Sócio-Econômico dos Respondentes
Os dados revelam que a população que participa dos programas de intercâmbio
internacional é muito jovem: do total de 90 respondentes, pouco menos de três quartos
(69,7%) têm idade que varia entre 17 e 27 anos. Resultados diferentes daqueles encontrados
por Sandrine Billaud (2007, p. 26), ao estudar o público estudantil acolhido pelas
universidades francesas. A faixa etária mais bem representada pelos estudantes internacionais
na França tem mais de 25 anos. Possivelmente isso ocorre porque a pesquisadora incluiu
estudantes envolvidos com graduação e pós-graduação, desde que bolsistas do programa
Erasmus.
Os dados reforçam uma tendência mundial de antecipação do início da formação
internacional. Até a metade da década de 1990, a matrícula de estudantes internacionais se
concentrava em programas de pós-graduação stricto sensu, de 1995 em diante este quadro
vem se modificando, e atualmente a preocupação de investir em formação internacional
ocorre cada vez mais cedo, entre representantes de estratos sócio-econômicos privilegiados.
Dados referentes ao ano escolar de 2006-2007 apontam que no Reino Unido e na França a
procura por cursos equivalentes à graduação correspondia a quase metade da matrícula
internacional (77% e 49,9%, respectivamente); na Austrália o percentual atinge um pouco
mais da metade (56%); e na Alemanha a quase três quartos (69,5%) (Agence Campus France,
2008).
Tabela nº.3: Matrícula Internacional por Nível de Formação (2006-2007)
Nível de Formação
EUA
Reino Unido
França
Alemanha
29,2%
47%
49,9%
69,5%
21%
37,7%
15,7%
19%
12,4%
8,4%
40%
52,4%
50,1%
24,1%
Fonte:Agence CampusFrance. Les étudiants internationaux: chiffres clés. 2008.
GRADUAÇÃO
MESTRADO
DOUTORADO
MESTRADO+DOUTORADO
Austrália
56%
44%
Refletindo a pouca idade dos respondentes e a tendência de estabelecerem relações
estáveis quando houver substantivo progresso profissional, observa-se que a maioria reside
com os pais (57,8%) – apenas 15,6% vivem sozinhos e 12,2% com o cônjuge, – reforçando
um comportamento recorrente entre os jovens brasileiros oriundos de estratos sócioeconômicos privilegiados. Apesar disso, a maioria possui renda própria e pode assumir a sua
existência com mais autonomia – apenas 6,7% não trabalham (52,2% têm cargo efetivo em
uma empresa, 22,2% trabalham em negócio próprio ou familiar e 21,1% são estagiários).
Assim, fazem parte do grupo de jovens cangurus – trata-se de pessoas que trabalham e têm
renda própria, no entanto resistem à ideia de deixar a residência dos pais e perderem o
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conforto recebido no domicílio familiar, mesmo que para isso adiem responsabilidades típicas
de quem conquistou independência e autonomia pessoal. Segundo o instituto de
pesquisas LatinPanel, o Brasil tem 3,3 milhões de famílias (pertencentes
às classes A e B) com filhos cangurus: todos têm formação superior e a
maioria se encontra na faixa dos 25 a 30 anos (62%) (ROMANINI, 2009).
Muito mais de três quartos dos respondentes (84%) participaram de um programa de
intercâmbio internacional durante o curso de graduação. Este dado ajuda a entender a faixa
etária predominante e a forte participação da família nas escolhas dos intercambistas – tanto
no que se refere ao país de destino, quanto à instituição de educação e à natureza das
atividades realizadas. Aspecto não retratado pela literatura internacional, mas que vai ao
encontro dos resultados de recente pesquisa realizada por Maria Alice Nogueira (2004) tendo
o estudante brasileiro, filho de empresários, como alvo. A autora chama atenção para o fato de
o discurso dos pais minimizar aspectos considerados negativos da experiência internacional –
dificuldades de adaptação (clima, alimentação, língua etc.), sentimento de discriminação,
solidão e saudades da família e amigos etc. (NOGUEIRA et al., 2008, p. 367). Em contatos
com ex-intercambistas, percebe-se o desenvolvimento de um mecanismo de hiper-valorização
da experiência que aumenta a atenção para os respectivos certificados ou diplomas recebidos.
A quase totalidade dos respondentes (91%) prefere países e instituições que tenham o
inglês como língua oficial. Esta preferência certamente explica porque 66,3% informam ter
estudado em escolas de idioma e 72,9% em instituições que tenham o inglês como língua
oficial. Tanto quanto os participantes da pesquisa realizada por Ceres Leite Prado (2004),
acreditam que o domínio da língua inglesa confere status e amplia as chances de
empregabilidade entre os falantes. O protagonismo do domínio de uma língua estrangeira
também está presente nos resultados da pesquisa de Elisabeth Murphy-Lejeune (2000) que
identifica a promoção do desenvolvimento lingüístico e cognitivo, a aquisição de
competências sociais e a aprendizagem intercultural como as principais conquistas dos
programas de intercâmbio internacional.
O fato de 66,3% ter frequentado escolas de idiomas revela estreita relação com o
formato do curso realizado: cursos de língua, de curta duração (variam entre um e três meses),
realizados durante o período de férias (45,9%). Maria Alice Nogueira (2004) chama atenção
para o fato de os pais empresários, apesar de reconhecerem e valorizarem o lucro simbólico
potencialmente proporcionado por uma experiência de estudos no exterior, não se
interessarem por formatos de cursos mais longos. Preferem financiar sucessivas viagens
internacionais de curta duração, acreditando que não ameaçam o destino profissional dos
filhos. Em suas palavras, “eles temem as conseqüências de uma estadia internacional
prolongada que possa, eventualmente, afastar (material e mentalmente) o jovem de seu
destino e vocação empresarial (o gosto pelos negócios)” (NOGUEIRA, 2004, p. 52).
Talvez isso tenha relação com o fato de poucos associarem o intercâmbio internacional
à prospecção de cursos de pós-graduação (23%) ou à prospecção de estágio internacional
remunerado (20%), apesar de figurarem projetos ajustados à idade, curso, área de atuação
profissional e à categoria socioeconômica de grande parte dos respondentes. Atitude que
revela a dificuldade de os jovens formularem projetos – na direção do conceito desenvolvido
por Jean-Pierre Boutinet (1993) – que envolvam o médio e longo prazos e possivelmente isso
reflita no que Richard Sennett (1999) nomeia de desenraizado e Zygmunt Bauman (1998) de
turista, ou seja, indivíduos que vêem o mundo como espaço de circulação permanente e têm
dificuldades de projetar o futuro com base nas condições de vida presente. No entanto,
preocupações de curto prazo são esboçadas quando informam aspectos que motivaram a
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realização do intercâmbio: melhorar o currículo (45%) e desenvolver competências
relacionadas à carreira profissional (30,7%) – motivações predominantemente utilitaristas.
Os respondentes não nutrem interesse por destinos que estejam fora das rotas
tradicionais dos intercambistas. Possivelmente sejam influenciados por agentes de viagem a
optar por programas que fazem parte do portifólio de ‘produtos’ disponíveis na agência.
Coerentes com os dados anteriores, entre os cinco países preferidos – EUA (37,1%), Reino
Unido (16,9%), Austrália (14,6 %), Canadá (13,5%) e Espanha (7,9%) –, quatro são anglofalantes. Os países que acolheram os respondentes têm em comum: sistemas educacionais que
ultrapassaram o nível da massificação (a); instituições de educação superior bem classificadas
nos rankings mundiais (b); governos que institucionalizaram agressiva política de divulgação
do sistema de educação nacional (c); reconhecida experiência na recepção de estudantes
internacionais (infra-estrutura e segurança) (d) - aspectos relevantes quando 36,1% dos
respondentes asseguram que a escolha do país de destino se deveu àquele aprovado pelos pais.
Cabe esclarecer que enquanto a literatura acadêmica nacional confere expressiva participação
dos pais na decisão de investir numa experiência internacional, a literatura internacional não
reserva qualquer espaço à discussão da questão.
Consoante à crescente participação da mulher em cursos superiores e respectiva
inserção no mercado de trabalho, se constata que entre os respondentes há paridade entre
garotos e garotas: 51,1% são do sexo feminino e 48,9% do masculino. Em mais este aspecto,
os dados contrariam os resultados do estudo de Billaud (2007, p. 25), tendo a população
estudantil recepcionada pela França, no âmbito do programa Erasmus, como amostra.
Segundo a autora, o número de garotas é predominante em praticamente todos os países –
“dans tous les pays, les filles sont plus nombreuses que les garçons. Dans les pays suivats:
Danemark, Finlande, Irland, Grèce et Pays-Bas, le nombre de filles accueillies en France est
deux fois plus élevé que les garçons. La Pologne envoie même quatre fois plus de filles que
de garçons”.
2.Formação Universitária – vínculo institucional
Considerando a totalidade dos respondentes, 49,4% são egressos de cursos superiores
de Administração e 50,6% são estudantes do curso de graduação em Administração que
realizaram algum programa de intercâmbio internacional. Apesar de o questionário ter sido
divulgado por meio de um sistema on-line, disponível em www.surveymonkey.com, e o seu
acesso ter ocorrido por e-mails enviados para o banco de dados dos associados da BELTA,
observa-se que grande parte dos respondentes estuda na cidade de São Paulo, em instituições
de destaque na área de Administração. Essa constatação foi possível, porque houve a
indicação do nome da instituição a que estão ou estiveram academicamente vinculados:
Escola Superior de Propaganda e Marketing; Faculdade Armando Álvares Penteado;
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Fundação Getúlio Vargas; Instituto
de Ensino e Pesquisa; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; e Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Diante da constatação do perfil sociocultural dos estudantes dessas
instituições, questionam-se possíveis significados entre a associação de origem institucional
dos respondentes e as atividades de intercâmbio internacional.
Como principais razões estão o fato de a cidade de São Paulo abrigar instituições que
selecionam os ingressos por mérito acadêmico (vestibular) e por perfil socioeconômico (valor
das taxas escolares), o que explica a crescente mobilidade internacional de parte expressiva do
corpo discente durante a graduação. Essa observação é reforçada quando os respondentes
registram os aspectos que levaram em consideração na escolha do país de destino na medida
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em que os custos envolvidos (21,1%), estabilidade da moeda local (25,7%) ou a possibilidade
de compatibilizar atividades de estudo e trabalho (33,3%) obtiveram baixa representatividade
entre as respostas, comparativamente a alternativas de respostas.
Além disso, a competição no mercado de trabalho local é tão acirrada que,
precocemente, os estudantes procuram investir em atividades que possam enriquecer o
currículo e as chances de competir por boas oportunidades de estágio e efetivação. Essa
observação é reforçada ao indicarem aspectos que motivaram a realização do intercâmbio
(Tabela 4): aperfeiçoar o conhecimento de uma segunda língua (76,6%); melhorar o
currículo (45%), e desenvolver competências relacionadas à carreira profissional (30,7%).
Ainda há o fato de a cidade abrigar empresas especializadas na organização de programas de
intercâmbio que regularmente promovem produtos comercializados em colégios, faculdades e
feiras, mobilizando estudantes interessados em obter informações. E ao fato de as
supracitadas instituições de educação superior (ESPM, FAAP, FGV, PUC e Mackenzie)
terem investido na criação de uma espécie de escritório dedicado à execução de sua política
de internacionalização. E por isso mesmo já dispõem de acordos internacionais firmados com
instituições, predominantemente localizadas na América do Norte e Europa Ocidental.
3. Motivações que justificam a participação no programa de intercâmbio
Os dados processados revelam que entre os fatores que influenciaram a decisão de
investir em um programa de intercâmbio internacional, o principal deles reside no interesse de
aperfeiçoar o conhecimento de uma segunda língua (com média de 6,42) e no desejo de
concretizar uma vivência pessoal de natureza internacional (com média de 6,29 –
considerando uma escala que varia até sete pontos) (Tabela n.4).
Tabela nº.4: Objetivos que motivaram o investimento do programa de intercâmbio
Objetivos
1
(%)
2
(%)
3
(%)
4
(%)
5
(%)
6
(%)
Aperfeiçoar o conhecimento de
2.6
2.6
1.3
2.6
2.6
11.7
língua estrangeira
Vivência pessoal
1.3
2.6
1.3
1.3
10.3
20.5
Conhecer outra cultura
2.6
0.0
2.6
5.1
11.5
19.2
Conhecer outro país
2.7
2.7
4.0
4.0
8.0
17.3
Melhorar o currículo
2.6
3.9
3.9
7.8
22.1
14.3
Desenvolver
competências
5.3
6.7
9.3
13.3
16.0
18.7
relacionadas à profissão
Prospectar alternativa de estágio
20.0
14.7
16.0
14.7
8.0
9.3
internacional e remunerado
Prospectar alternativas de pós23.0
18.9
13.5
14.9
10.8
8.1
graduação
Fonte: Questionários aplicados via SurveyMonkey – Grupo Experimental (04/2009)
7
(%)
Rating
Average
76.6
6,42
62.8
59.0
61.3
45.5
6,29
6,17
6,09
5,68
30.7
5,07
17.3
3,73
10.8
3,39
Os números estão em harmonia com os dados divulgados pela BELTA
(http://www.belta.org.br/revista.asp, consultado em maio de 2008): enquanto em 2004 os
cursos de idioma representaram mais de 75% do total de intercâmbios realizados, em 2008
eles alcançaram 81,5%. Na maioria das vezes, estudantes e famílias preferiam cursos de curta
duração, envolvendo de um a três meses, realizados no período de férias. Coerentes com o
interesse de aperfeiçoar o inglês, as rotas mais procuradas para a realização dos referidos
cursos foram o Canadá, a Inglaterra, a Austrália e os Estados Unidos.
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Conhecer bem uma segunda língua permanece uma característica de distinção,
particularmente em um país cujo acesso à educação superior está reservado a poucos – em
2006 (MEC-INEP), a taxa de escolarização líquida foi de 12,1% – e onde a maioria da
população fala, lê e escreve mal a própria língua. Nas palavras de Ceres Leite Prado (2004, p.
69), “os intercâmbios representam [...] uma nova etapa na reconstituição incessante das
desigualdades escolares, já que eles permitem [...] a aprendizagem da língua nos países onde
ela é falada, com toda a carga de distinção que isso acarreta”.
A preferência por programas de intercâmbio orientados para a realização de cursos de
línguas, de curta duração, realizados nas férias, deve-se a múltiplos fatores: faixa etária
prevalecente (a); formato melhor assimilável pelos estudantes e respectivas famílias (b),
dificuldades de adaptação ao país (c), possibilidade de não comprometer o semestre escolar
no Brasil (d); associação entre domínio de língua, inserção e ascensão no mercado de trabalho
(e).
Nogueira (2004) assegura que as escolhas referentes à língua estrangeira e ao país de
destino dos potenciais intercambistas são fortemente influenciadas pela família, justamente o
agente que viabilizará financeiramente a participação dos estudantes nos cursos. Os critérios
utilizados refletem a formação socioeconômica da família e, via de regra, estão relacionadas a
variáveis sócio-culturais (hierarquia das línguas) e econômico-financeiras (custo-benefício).
Esta constatação vai ao encontro das idéias de Calvet (1999, apud PRADO, 2004, p. 67),
quando o Autor argumenta que poucas línguas conferem mais valia no mercado lingüístico,
conseqüentemente, quanto mais Governo e famílias atribuem valor comercial a algumas,
maior é o número de falantes e maior é a sua importância política e econômica.
A busca de uma experiência pessoal pode estar associada a aspectos individuais –
mesmo por pouco tempo, se deslocar para outro país, perder os pontos de referência, enfrentar
problemas novos, experimentar situações que exigem independência, maturidade e
responsabilidade, sem a tutela da família - que representam desafios que podem elevar a autoestima, autoconfiança e a auto-aprendizagem dos jovens (SILVA; ROCHA, 2008;
CICCHELLI, 2008). No texto de Vincenzo Cicchelli (2008, p. 154) há o resgate do
pronunciamento de Guillaume – estudante francês que contabilizava quatro séjours
internacionais (Grã-Bretanha, Alemanha, Suécia e Polônia) e finalizava o mestrado.
“Guillaume parle alors d’une croissance de confiance en soi, d’un sentiment de supériorité à
l’égard de ses camarades restés en France, de son irritation à l’égard de jugements superficiels
émis à l’encontre des autres peuples”.
Tanto quanto les grands tours, o intercâmbio internacional funciona como uma
espécie de rito de passagem necessário para outras experiências que virão com a vida adulta e
as exigências de uma economia em ritmo de globalização: estágio internacional, programas de
expatriação e impatriação etc. A valorização da experiência é reforçada com a convergência
do discurso proferido por colegas, empresas que estagiam, literatura que lêem – jornais e
revistas de grande circulação, artigos e livros acadêmicos – à medida que todos reafirmam o
que Ianni (2005, p. 97) nomeia de intelectuais orgânicos do cosmopolitismo.
4. Escolha da Língua e do País de Acolhimento
Consoante ao que já foi tratado em partes anteriores do texto, o interesse dos
intercambistas está concentrado na aprendizagem do inglês. Quais são os dados que permitem
a inferência? Questionados sobre as razões que justificaram a escolha do país de destino
(Tabela n.5), ter o inglês como língua oficial é a primeira opção com média de 5,25 de um
total de 7,0. Coerentes com esta resposta, 91% dos respondentes escolheram países de língua
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inglesa – entre os cinco destinos preferidos, quatro são países anglo-falantes. A Espanha foi o
quinto destino na escolha dos respondentes e o único a não ter a língua inglesa como oficial.
Curiosamente, 83,7% dos respondentes asseguram ter nível avançado de proficiência
em inglês e isso ajuda a entender a escolha por cursos de curta duração, realizados durante as
férias (45,9%). Na pesquisa realizada por Prado (2004, p. 69-70), a autora encontra situação
semelhante: apesar de terem freqüentado cursos de inglês no Brasil, os estudantes
justificavam o intercâmbio internacional realizado à determinação de aperfeiçoar o inglês. Por
que isso acontece? Para Elisabeth Murphy-Lejeune (2000), enquanto um séjour no estrangeiro
permite ao estudante a aprendizagem contextualizada da língua porque subordinada à prática
social que envolve contatos dinâmicos e comunicação em tempo real, a aprendizagem em
contexto escolar é limitada na medida em que o processo conduz o estudante a contatos
superficiais e pouco autênticos com a língua. Billaud (2007, p. 27) chama atenção para o fato
de aprender uma língua de forma vivenciada e contextualizada envolver não apenas questões
lingüísticas, mas também aspectos interculturais – “acquérir des savoirs, savoirs-faire et
savoirs-être sur la langue et la culture de l’Autre permet gérer la différence, de la considérer
comme acceptable et enchissante”.
Tabela n.5: Razões que motivaram a escolha do país de destino do intercâmbio
Razões
1
(%)
20.0
6.8
2
(%)
2.7
5.4
3
(%)
1.3
9.5
4
(%)
5.3
16.2
5
(%)
4.0
16.2
6
(%)
12.0
8.1
Ter como língua oficial o inglês
Boa infra-estrutura de acolhimento
Oferta de atividades compatíveis com
16.2
8.1
14.9
13.5
13.5
12.2
nível intelectual dos estudantes
Custos envolvidos
17.1
10.5
11.8
11.8
14.5
13.2
Instituições reconhecidas no mercado
15.1
12.3
17.8
11.0
8.2
15.1
de trabalho
Facilidades de obtenção de visto
27.4
12.3
6.8%
6.8%
11.0
15.1
Indicação de amigos
25.0
13.9
11.1
9.7
12.5
9.7
Estabilidade da moeda local
25.7
14.9
10.8
12.2
9.5
12.2
Possibilidade de compatibilizar estudo
33.3
11.1
8.3
12.5
4.2
12.5
e trabalho
Destino aprovado pelos pais
36.1
8.3
8.3
9.7
9.7
9.7
Indicação da agência
31.5
15.1
9.6
16.4
8.2
8.2
Proximidade geográfica com o Brasil
70.7
9.3
8.0
4.0
4.0
1.3
Fonte: Questionários aplicados via SurveyMonkey – Grupo Experimental (04/2009)
7
(%)
54.7
37.8
Rating
Average
21.6
4,23
21.1
4,2
20.5
4,12
20.5
18.1
14.9
3,89
3,72
3,61
18.1
3,53
18.1
11.0
2.7
3,5
3,23
1,76
5,25
5,05
5. Percepção dos Principais Resultados do Programa de Intercâmbio
Relacionando os objetivos que motivaram a realização do programa de intercâmbio
(Tabela n.4) com a avaliação dos resultados alcançados (Tabela n.6), observa-se que a
vivência pessoal ocupa lugar de destaque entre os respondentes: apesar de ter sido
reconhecida como o segundo objetivo buscado com a realização do intercâmbio internacional,
ela foi considerada o resultado mais significativo da experiência, uma vez que alcançou a
média de 6,48, de um total de 7,0. Aqui, certamente a magia de conhecer outro país, outra
cultura e, de algum modo, se auto-conhecer, são fatores que merecem destaque entre pessoas
tão jovens (69,7% dos respondentes têm idade que varia entre 17 e 27 anos) e que ainda
apresentam significativa dependência financeira e emocional vis-à-vis dos pais.
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O principal objetivo – aperfeiçoar o conhecimento de uma segunda língua – obteve a
segunda melhor média de resultado, com 6,44 (Tabela n.6), também acima da média dos
objetivos iniciais (Tabela n.4). Os significados que complementam a experiência relacionada
a aspectos pessoais e culturais são as oportunidades de conhecer outro país e outra cultura,
ultrapassando um pouco a visão impressionista e estereotipada do turista, além de
desenvolver conhecimentos que possibilitem diálogos com sociedades cada vez mais diversas,
em termos culturais.
Tabela nº.6: Significado/ Resultados do programa de intercâmbio
Significado/ Resultados
1
2
3
4
5
6
Vivência pessoal
1.3
1.3
0.0
1.3
9.3
14.7
Aperfeiçoar uma segunda língua
1.3
4.0
1.3
0.0
6.7
9.3
Conhecer outra cultura
1.3
1.3
1.3
1.3
9.3
16.0
Conhecer outro país
1.3
1.3
2.6
2.6
10.5
11.8
Melhorar o currículo
2.7
5.3
2.7
4.0
10.7
21.3
Desenvolver competências
6.8
4.1
9.5
12.2
14.9
17.6
relacionadas à carreira profissional
Prospectar alternativas de pós21.6
17.6
9.5
16.2
12.2
9.5
graduação
Prospectar alternativa de estágio
16.9
19.7
16.9
12.7
12.7
7.0
internacional e remunerado
Fonte: Questionários aplicados via SurveyMonkey – Grupo Experimental (04/2009)
7
Rating
Average
72.0
77.3
69.3
69.7
53.3
6,48
6,44
6,41
6,34
5,92
35.1
5,18
13.5
3,62
14.1
3,62
Os aspectos relacionados não podem, no entanto, ser desconectados da própria
possibilidade de melhoria de habilidades profissionais, pois esse também é um resultado
desejado e percebido pelos respondentes, como consequência do desenvolvimento pessoal e
da habilidade multilinguística.
6. Intercâmbio Cultural e Empregabilidade
A relação entre intercâmbio e empregabilidade – já investigada por outros
pesquisadores (DOUEK; ZYLBERSTAJN, 2007; PRADO, 2004; MURPHY-LEJEUNE,
2000) – é reafirmada em mais essa oportunidade: 82,8% asseguram que o domínio de língua
estrangeira figura como um dos critérios de seleção adotados pelos empregadores (Tabela 7).
Os resultados da pesquisa de Murphy-Lejeune (2000), tendo como alvo estudantes da Suécia,
concluem que os empregadores preferem recrutar jovens que tiveram alguma experiência
internacional. Ao enumerar as justificativas apontadas pelos empregadores suecos – (a)
aperfeiçoar competências linguísticas; (b) desenvolver sensibilidade intercultural; (c) elevar a
capacidade de perceber o que ocorre sob diferentes ângulos; (d) melhorar a capacidade de
adaptação às mudanças; (e) responder positivamente à necessidade de mobilidade
internacional – se percebe curiosa proximidade com os aspectos salientados pelos
respondentes brasileiros, ao serem questionados sobre as exigências do empregador ao adotar
processos seletivos (Tabela 7).
Tabela n.7: Exigências do empregador ao fazer a contratação
Exigências
Domínio de língua estrangeira
Senso de responsabilidade
Capacidade de resolver problemas
Capacidade de iniciativa
Percentual (%)
82.8
67.2
57.8
54.7
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Lagoas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, n. 10, Jan.-Jul. 2010. GUERRA, Vânia Maria Lescano
(Org.). (Revista On-Line: www.pgletras.ufms.br/revistaguavira; ISSN: 1980-1858).
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Capacidade de se adaptar em ambientes interculturais e multiculturais
50.0
Capacidade de diagnosticar problemas
43.8
Autonomia pessoal
31.3
Outra.
4.7
Fonte: Questionários aplicados via SurveyMonkey – Grupo Experimental (04/2009)
Contudo, é impossível generalizar esta conclusão: ao divulgar os resultados de uma
pesquisa que fez uso de análise comparativa entre estudantes originários de três países (Itália,
França e Reino Unido), Ballatore e Blöss (2008) asseguram que enquanto para os italianos
uma experiência de estudo fora do país de origem influi não apenas sobre a formação
acadêmica, mas igualmente sobre as chances de inserção profissional; para os britânicos, um
séjour internacional exerce pouca influência sobre seus resultados acadêmicos e sobre suas
aspirações profissionais (BALLATORE; BLÖSS, 2008, p.29). Ou seja, a importância
conferida ao programa de intercâmbio internacional é proporcional à qualidade do ensino
percebida e às perspectivas de inserção profissional existentes no país de origem dos
estudantes.
Apesar de muito jovens, um pouco mais da metade (50,6%) ainda cursava a graduação
no momento em que o questionário foi aplicado, a situação profissional dos respondentes se
revela bastante promissora: 52,2% afirmam ter cargo efetivo em uma empresa; 22,2%
trabalham em negócio próprio ou familiar; 21,1% são estagiários, e apenas 6,7% não
trabalham. Entre aqueles que estão trabalhando, percebe-se que estão vinculados a
organizações bem-estruturadas: 41,2% trabalham em empresas multinacionais; 23,5% em
empresas nacionais; 23,5% em negócio próprio, e 11,8% em empresas nacionais com
atividades fora do país. Os sinais de êxito profissional também podem ser medidos pelo fato
de quase metade (42,9%) trabalhar há mais de dois anos na mesma organização. Os dados
corroboram a leitura que Prado (2004) faz da questão quando a autora associa a aquisição de
uma segunda língua à ideia de um futuro promissor no mercado de trabalho, assegurando ser
esse o principal objetivo dos pais ao decidirem pelo envio dos filhos para um período fora do
país. Isto reforça a ideia de que o consumo de produtos educacionais no exterior contribui
para a legitimação das desigualdades sociais, particularmente em um país ainda carente de
políticas de democratização do acesso à educação superior de qualidade.
Considerações finais
Apesar de a amostra ser predominantemente formada por jovens e apresentar clara
paridade entre garotos e garotas, todos já tinham participado de algum programa de
intercâmbio internacional e, para a maior parte deles, a experiência aconteceu durante a
graduação. A totalidade dos respondentes optou pela graduação em Administração, parte
expressiva esteve ou está vinculada a respeitadas instituições de educação superior, privadas,
localizadas na cidade de São Paulo. Coincidentemente, no momento em que respondeu ao
instrumento, a grande maioria estava efetivada em sólidas empresas nacionais e
multinacionais. Revelando que, independentemente do sexo, as experiências internacionais
acontecem cada vez mais cedo na vida de jovens oriundos de meios sociais favorecidos. Por
isso mesmo os pais têm condições de financiar os custos envolvidos e de influir na escolha de
alternativas capazes de ampliar as chances de os filhos ocuparem espaços profissionais
privilegiados, no concorrido mercado de trabalho. Afinal, as melhores oportunidades de
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Lagoas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, n. 10, Jan.-Jul. 2010. GUERRA, Vânia Maria Lescano
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trabalho são limitadas e o administrador concorre com colegas oriundos de diversas áreas de
conhecimento: engenharia de produção, economia, contabilidade, psicologia, etc.
Apesar de a grande maioria ter renda própria, continua residindo com os pais,
fortalecendo uma tendência que se instalou recentemente entre as famílias brasileiras de renda
elevada. Possivelmente isso tenha alguma relação com o papel exercido pelos pais nas
decisões envolvidas com o planejamento do programa de intercâmbio: escolha do país de
destino, da instituição de acolhimento, do tipo e formato da atividade, da extensão do
programa de estudo, do tipo de alojamento, etc. Apesar de a grande maioria assegurar ter
nível avançado de proficiência da língua inglesa, prefere as escolas de línguas, cursos de
língua inglesa de curta duração, oferecidos no período de férias. Reforçando o conceito de
férias produtivas, ou seja, dissociada da ideia de repouso, descanso e relaxamento e associada
à realização de atividades úteis porque, de alguma forma, enriquecem o currículo.
Com a evolução dos meios de transporte e das tecnologias de informação, a circulação
de pessoas, mercadorias e capital forçou os membros de diversas culturas a conviverem e
partilharem espaços geográficos, econômicos e políticos. Com a multipolaridade das esferas
de poder, esse encontro de culturas não pode mais significar o silêncio de muitas e a
supremacia de poucas. Então emerge a necessidade de as sociedades multiculturais
inaugurarem efetivo diálogo intercultural. Neste contexto, o multilinguismo tem exercido
importância vital, na medida em que permite a comunicação entre diferentes e o crescimento
pela diferença. Contudo, o multilinguismo permanece limitado a poucos, uma vez que as
políticas educacionais ainda não conseguem criar as condições que favoreceriam seu pleno
desenvolvimento e isso requer o investimento privado das famílias que podem pagar pelo
consumo de bens culturais fora do país.
Sensíveis a essa questão, os jovens e suas respectivas famílias percebem a importância
que o multilinguismo exerce tanto no plano individual – ampliação do capital intelectual,
social e material – quanto no plano social, uma vez que as sociedades e as organizações
ganham contornos cada vez mais multiculturais. Isso explica o interesse que os estudantes ou
egressos do curso de Administração nutrem pela aprendizagem de línguas, particularmente a
língua inglesa, a ponto de representar o fator que determina a decisão de realizar o programa
de intercâmbio. Entre empregadores, famílias, egressos e estudantes do curso de
Administração há explícita convicção de que o aprendizado do inglês amplia ou ampliará os
conhecimentos, propicia ou propiciará o desenvolvimento de atitudes e de habilidades
profissionais socialmente valorizadas. E, por isso mesmo, tem o poder de ampliar as
perspectivas profissionais dos ex-intercambistas. Apesar de, historicamente, o aprendizado de
línguas estrangeiras fazer parte da cultura geral dos indivíduos, nesse caso, ele reforça a
hierarquia das línguas no mercado linguístico. Reforça também a hegemonia da língua
inglesa, a hierarquização escolar (desvalorização da aprendizagem de uma língua estrangeira
no país de origem do estudante e a valorização do aprendizado de uma língua estrangeira de
forma vivenciada, entre a comunidade de falantes). Além de reforçar as desigualdades sociais
decorrentes do uso de critérios de seleção cada vez mais excludentes, porque prestigiam
fatores socioeconômicos em detrimento de fatores meritocráticos. Parece que o intercâmbio
internacional de curta duração colabora mais para legitimar e perpetuar a desigualdade social
do que para formar pessoas capazes de conviver com a diversidade cultural.
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