Trabalhos da Extensão Rural com uso de Geoprocessa
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Trabalhos da Extensão Rural com uso de Geoprocessa
TRABALHOS DA EXTENSÃO RURAL COM USO DE GEOPROCESSAMENTO Organizado por Milton Satoshi Matsushita * Curitiba - PR 2014 * Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 1 GOVERNO DO PARANÁ Instituto Emater - Vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento Organização Instituto Emater: Engenheiro Agrônomo Milton Satoshi Matsushita, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Revisão: Licenciado Letras-Português José Renato Rodrigues de Carvalho Capa: Marlene Suely Ribeiro Chaves Diagramação: José R. R. de Carvalho 1ª Edição Tiragem: 2.000 exemplares Trabalho publicado com recursos do Programa de Gestão do Solo e da Água em Microbacias Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER Serviço de Atendimento ao Cliente SAC Rua da Bandeira, 500 Cabral - CEP 80035-270 - Caixa Postal 1662 Fone (41) 3250 2166 - Curitiba - Paraná - Brasil E-mail: [email protected] http://www.emater.pr.gov.br Todos os direitos reservados. Reprodução autorizada desde que citada a fonte: Instituto Emater. M662 MATSUSHITA, Milton Satoshi Trabalhos da Extensão Rural com uso de Geoprocessa mento / Organizador Milton Satoshi Matsushita. -- Curitiba: Instituto Emater, 2014. 439 p. : il. color. ISBN 978-85-63667-37-3 1. Geoprocessamento. 2. Sistemas de Informações Geográficas. 3. Desenvolvimento Municipal. 4. Desenvolvi- mento Rural. 5. Microbacias Hidrográficas. 6. Assentamen tos. 7. Propriedades Rurais. 8. Biodiversidade. 9. Gestão de Solo e Água I. Matsushita, Milton Satoshi. II. Título. Maria Sueli da Silva Rodrigues - 9/1464 2 CDU 528 AUTORES Adalberto Telesca Barbosa (Capítulo XV) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Instituto Emater, Toledo, Paraná, Brasil - [email protected] Adelson Raimundo Angelo (Capítulo VI) Geógrafo, Especialista em Gestão de Recursos Hídricos, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Astrogildo José Gomes de Mélo (Capítulo XIII) Engenheiro de Pesca, Especialista em Aquicultura, Instituto Emater, Paranaguá, Paraná, Brasil - [email protected] Belmiro Ruiz Marques (Capítulo V) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Manejo e Administração de Recursos Naturais, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil - [email protected] César Roberto Silva Paz (Capítulo IX) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Geomática - Tecnologia da Geoinformação, Instituto Emater, Realeza, Paraná, Brasil - [email protected] Cirino Corrêa Júnior (Capítulo XI) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Horticultura, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Edilson Moreira (Capítulo XII) Técnico Agropecuário e Gestor em Agronegócios, Instituto Emater, Guarapuava, Paraná, Brasil - [email protected] Edivan José Possamai (Capítulo VIII) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia Produção Vegetal, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil - [email protected] Edson Luiz Diogo de Almeida (Capítulo V) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil - [email protected] Edson Roberto Vaz Ronque (Capítulo I) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Entomologia, Instituto Emater, Pinhalão, Paraná, Brasil - [email protected] Emerson Pedro Baduy (Capítulo VI) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Administração Pública, Instituto Emater, Balsa Nova, Paraná, Brasil - [email protected] 3 Ênio Antônio Bragagnolo (Capítulo XV) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão Ambiental, Instituto Emater, Tupãssi, Paraná, Brasil - [email protected] Enio Giotto (Capítulo IX) Engenheiro Florestal, Doutor em Engenharia Florestal e Professor Titular da UFSM, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil - [email protected] Erni Limberger (Capítulo IV) Engenheiro Florestal, Mestre em Agronomia, Área de Concentração Produção Vegetal, Instituto Emater, Paranavaí, Paraná, Brasil [email protected] Gracie Abad Maximiano (Capítulo IV) Geógrafa, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Herivelto Holowka (Capítulo VIII) Engenheiro Agrônomo, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil [email protected] Hernani Alves da Silva (Capítulo XII) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Produção Vegetal, Instituto Emater, Paraná, Brasil - [email protected] Itamar Antonio Bognola (Capítulo X) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Florestal, Área de Concentração em Solos Florestais e Silvicultura de Precisão. Embrapa, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Jonas Daniel Ribas da Cruz (Capítulo VI) Técnico Agrícola, Instituto Emater, Rio Negro, Paraná, Brasil [email protected] José Américo Righetto (Capítulo VI) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Comercialização de Hortigranjeiros, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] José Antonio Nunes Vieira (Capítulo VIII) Médico Veterinário, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil, [email protected] José Francisco Lopes Júnior (Capítulo II) Zootecnista, Mestre em Zootecnia, Instituto Emater, Nova Esperança, Paraná, Brasil - [email protected] 4 José Kalusz (Capítulo VII) Técnico Agrícola, Instituto Emater, Fernandes Pinheiro, Paraná, Brasil [email protected] Leila Aubrift Klenk (Capítulo VI) Engenheira Agrônoma, Mestre em Ciência do Solo, Instituto Emater, Lapa, Paraná, Brasil - [email protected] Lúcio Tadeu Araújo (Capítulo VI) Engenheiro Agrônomo, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Luiz Antonio Caldani (Capítulo VI) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Fertilidade e Manejo de Solos, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Luiz Danilo Müehlmann (Capítulos XIII e XIV) Médico Veterinário, Mestre em Produção Animal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Luiz Eduardo Guimarães de Sá Barreto (Capítulo XIV) Engenheiro de Pesca, Mestre em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Instituto Emater, Cambé, Paraná, Brasil - [email protected] Luiz Marcos Feitosa dos Santos (Capítulos IV, VII e X) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola, Área de Concentração Irrigação e Drenagem, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Marco Antonio Igarashi (Capítulo XIV) Tecnólogo em Aquicultura, Ph.D. em Engenharia de Pesca, Ministério da Pesca e Aquicultura, Londrina, Paraná, Brasil - [email protected] Marcos Campos de Oliveira (Capítulo XIII) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Produção Vegetal, Instituto Emater, Paranaguá, Paraná, Brasil - [email protected] Marcia de Andrade (Capítulo VI) Economista Doméstico, Instituto Emater, Chopinzinho, Paraná, Brasil [email protected] Michele Cristina Lang (Capítulo VI) Engenheira Agrônoma, Especialista em Agronegócio com ênfase em Mercados, Fundação Terra, Lapa, Paraná, Brasil - [email protected] Milton Satoshi Matsushita (Capítulos I, II, IV, VI, VII, X, XI, XII e XIII) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 5 Nelma Pereira Cunha (Capítulos II e IV) Administradora, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Nelson Harger (Capítulo XV) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fertilidade do Solo, Instituto Emater, Apucarana, Paraná, Brasil - [email protected] Oromar João Bertol (Capítulos II, VI e VII) Engenheiro Agrônomo, Doutor em Conservação da Natureza, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Paulo Augusto de Andrade Lima (Capítulo VI) Engenheiro Florestal, Especialista em Administração Pública, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Paulo Roberto Fiorillo (Capítulo VI) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão de Recursos Naturais, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Reinaldo Tadeu Oliveira Rocha (Capítulo VII) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Geoprocessamento e Solos, Instituto Emater, Irati, Paraná, Brasil - [email protected] Roberto Tuyoshi Hosokawa (Capítulo XI) Engenheiro Florestal, Ph.D., UFPR, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Rodolfo Mayer (Capítulo III) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Geoprocessamento, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil - [email protected] Rosane Dalpiva Bragatto (Capítulo VIII) Engenheira Agrônoma, Mestre em Desenvolvimento Regional, Instituto Emater, Saudade do Iguaçu, Paraná, Brasil - [email protected] Sérgio Mudrovitsch de Bittencourt (Capítulo VII) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão Ambiental, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Udo Bublitz (Capítulo XII) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Manejo dos Recursos Naturais e Estradas Rurais, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Valdir Tambosetti (Capítulo XII) Zootecnista, Especialização em Pecuária Leiteira, Instituto Emater, Guarapuava, Paraná, Brasil - [email protected] Viviana dos Santos (Capítulo VI) Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia, Fundação Terra, Lapa, Paraná, Brasil - [email protected] 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................................9 PREFÁCIO .....................................................................................................11 CAPÍTULO 1 - MODELO DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL SUSTENTÁVEL COM APOIO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: PINHALÃO - PR .................................................................13 CAPÍTULO 2 - USO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEORREFERENCIADAS (SIG) COMO FERRAMENTA DE APOIO NA ELABORAÇÃO DE PLANOS DE DESENVOLVIMENTO RURAL E URBANO - NOVA ESPERANÇA - PR.........................................................45 CAPÍTULO 3 - PROCESSO DE GESTÃO MUNICIPAL COM USO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NO MEIO RURAL: MARIALVA - PR ..............................................................................................77 CAPÍTULO 4 - PROJETO PARANÁ BIODIVERSIDADE: PROPOSIÇÃO PARA ADEQUAÇÃO DE USO DO SOLO RURAL .......................................103 CAPÍTULO 5 - GEOPROCESSAMENTO EM APOIO AO ESTUDO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO NO PROJETO REDES DE REFERÊNCIA PARA A AGRICULTURA FAMILIAR NO NOROESTE DO PARANÁ ............131 CAPÍTULO 6 - PLANO DE RECUPERAÇÃO DO ASSENTAMENTO CONTESTADO: LAPA - PR ..........................................................................145 CAPÍTULO 7 - METODOLOGIA PARA DAR SUPORTE AO PLANEJAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS NO PROGRAMA DE GESTÃO DE SOLO E ÁGUA EM MICROBACIAS.................................173 CAPÍTULO 8 - GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS NA REGIÃO DE PATO BRANCO ......................................................................................199 CAPÍTULO 9 - SIG - CONSEQUÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL EM PROPRIEDADES RURAIS NO CONTEXTO DE MICROBACIA HIDROGRÁFICA........................................235 CAPÍTULO 10 - APTIDÃO E POTENCIAL DE USO DOS SOLOS DO ESTADO DO PARANÁ .................................................................................265 7 CAPÍTULO 11 - OCORRÊNCIA E FREQUÊNCIA DE ESPÉCIES DE PLANTAS MEDICINAIS DE UM FRAGMENTO FLORESTAL DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA RIO VERDE ..............................................365 CAPÍTULO 12 - ESTUDOS DOS CAMINHOS DO LEITE NO MUNICÍPIO DE CAMPINA DO SIMÃO COM USO DO GEOPROCESSAMENTO ..........393 CAPÍTULO 13 - O USO DE FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES DE AQUICULTURA NO LITORAL PARANAENSE .............................................................................415 CAPÍTULO 14 - PISCICULTURA EM TANQUES-REDE NA BACIA DO PARANAPANEMA ........................................................................................433 CAPÍTULO 15 - AGRICULTURA DE PRECISÃO APLICADA À AGRICULTURA FAMILIAR: A EXPERIÊNCIA DE TUPÃSSI-PR .................443 8 APRESENTAÇÃO O livro “Trabalhos da Extensão Rural com uso de Geoprocessamento” apresenta 15 casos de sucesso de aplicação do geoprocessamento nos trabalhos de extensão rural no estado do Paraná, descritos por 47 autores que compõem equipes multidisciplinares e interinstitucionais. Os relatos das atividades práticas dos extensionistas do Instituto Emater apresentam um conjunto variado de aplicações que contemplam trabalhos de diagnóstico, planejamento, gestão e monitoramento em propriedades rurais, microbacias, assentamentos e municípios, contribuindo na elaboração de planos de ação de microbacias, planos de recuperação de assentamentos e planos de desenvolvimento municipal. Alguns trabalhos abordam áreas específicas relacionadas à classificação da aptidão e potencial de uso agrícola dos solos, levantamento de propriedades rurais produtoras de leite com caracterização dos sistemas de produção e infraestrutura para transporte e armazenagem da produção, ação na área de abastecimento de água, melhoria econômica e social das propriedades familiares através da exploração seletiva e sustentável dos produtos da sociobiodiversidade nos fragmentos florestais existentes. O livro descreve o uso das ferramentas do georrefenciamento na definição de áreas para elaboração de projetos e instalação correta dos empreendimentos de piscicultura continental, piscicultura em tanquesrede e na maricultura. A prática da agricultura de precisão demonstra o conhecimento detalhado da fertilidade dos solos dos produtores assistidos, além de facilitar a inserção de práticas como a rotação de culturas e o manejo integrado de pragas e doenças, entre outras boas práticas agrícolas. A publicação que apresentamos traz importante contribuição da Extensão Rural Oficial para o desenvolvimento sustentável, com utili9 zação de ferramentas de geoprocessamento que permitem quantificar e qualificar alternativas socioeconômicas e ambientais capazes de aliar os interesses do setor produtivo rural que busca a sustentabilidade das propriedades e da sociedade em geral que defende a conservação da qualidade ambiental e a preservação dos serviços da natureza necessários às gerações atuais e futuras. Rubens Ernesto Niederheitmann Engenheiro Agrônomo Diretor-Presidente do Instituto Emater 10 PREFÁCIO O termo Geoprocessamento está relacionado à disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica, ou seja, conjunto de técnicas relacionadas ao tratamento da informação espacial, com crescente utilização nas áreas de cartografia, análise e monitoramento de recursos naturais e ambientais, fiscalização agrária, previsão meteorológica, zoneamento ecológico econômico, planejamento rural, urbano e regional, gestão do uso do solo, agricultura de precisão, trabalhos de extensão rural, entre outras. A história do geoprocessamento iniciou-se nos EUA e na Inglaterra na década de 50 com as primeiras tentativas de automatizar parte do processamento de dados com características espaciais com o intuito de otimizar a produção e manutenção de mapas. Os primeiros Sistemas de Informação Geográfica surgiram na década de 60, no Canadá, como parte de um programa governamental para criar um inventário de recursos naturais. Entretanto, o conceito de GIS (Geographic Information System) ou SIG (Sistemas de Informações Geográficas) só foi empregado na década de 70, quando começaram a surgir os primeiros sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design, ou projeto assistido por computador) que serviram de base para os primeiros sistemas de cartografia automatizada. A década de 80 representa o início de um período de avanços e massificação da microinformática, acelerando o crescimento na tecnologia de sistemas de informação geográfica que perdura até o momento atual. A introdução do Geoprocessamento no Brasil ocorreu no início dos anos 80 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a criação do Laboratório de Geoprocessamento do Departamento de Geografia. Em 1984, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estabeleceu um grupo específico para o desenvolvimento de tecnologia de geoprocessamento e sensoriamento remoto denominado Divisão de Processamento de Imagens (DPI). De 1984 a 1990 a DPI desenvolveu o SITIM (Sistema de Tratamento de Imagens) e o SIG (Sistema de Informações Geográficas) e, a partir de 1991, o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas) com resultados significa11 tivos na área agrícola e ambiental, sendo distribuído gratuitamente via Internet a partir de 1997. Atualmente o uso do geoprocessamento tem-se multiplicado em todas as áreas, principalmente com a massificação de ferramentas como o Google Earth, Google Maps, Google Street, Goolzoom, Bing Maps, GPS veicular, GPS em celular, dentre outras. A partir de 1998 o Instituto Emater passou a utilizar o geoprocessamento como ferramenta de apoio aos trabalhos de extensão rural, inicialmente contando com apoio de técnico da coordenação da região metropolitana de Curitiba (COMEC) para orientar as ações desenvolvidas e recebendo capacitações técnicas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), INPE e instituições privadas. Ao longo desses 16 anos de uso de geoprocessamento nas atividades do Instituto Emater, foram desenvolvidas ações integradas com as instituições federais, estaduais e municipais, públicas, privadas e não-governamentais que atuam com geoprocessamento nas atividades rurais, compartilhando dados, ferramentas e metodologias de trabalho nas áreas afins, possibilitando o aprimoramento de conhecimentos e desenvolvimento de trabalhos integrados com uso de softwares livres e proprietários, agilizando trabalhos e obtendo resultados com alto padrão de qualidade, reduzindo custos e facilitando a tomada de decisões. Este livro apresenta vários casos de sucesso de aplicação do geoprocessamento nos trabalhos de extensão rural, descritos por equipes multidisciplinares através de relatos das atividades práticas dos extensionistas do Instituto Emater em parceria com diversos profissionais, pesquisadores e professores de instituições parceiras. Agradecemos a todos os colaboradores e autores deste livro que, com suas experiências, contribuem democratizando as informações e permitindo que estas tecnologias possam ser conhecidas, melhoradas, adequadas à sua realidade e aplicadas por outros profissionais Organizador: Milton Satoshi Matsushita Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] 12 CAPÍTULO I MODELO DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL SUSTENTÁVEL COM APOIO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: PINHALÃO - PR Milton Satoshi Matsushita 1 Edson Roberto Vaz Ronque 2 1 2 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Entomologia, Instituto Emater, Pinhalão, Paraná, Brasil - [email protected] 13 14 INTRODUÇÃO Os anos 90 no Brasil foram marcados por um ambiente de forte competição gerada pela estabilização da economia nacional e pela globalização dos mercados. A agricultura, principalmente a produção familiar, foi atingida por uma concorrência internacional, num contexto de forte protecionismo por parte dos EUA, da Europa e do Japão. Internamente, foi afetada pela alta taxa dos juros, pouca disponibilidade de crédito, impossibilidade de produção em escala e dificuldade de acesso às tecnologias. Conforme análise realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (1998), baseada em dados da FAO (1998), em relação à agricultura familiar, vários fatores contribuíram para que este modelo desenvolvimentista e produtivista se mostrasse pouco eficaz para o desenvolvimento agropecuário na América Latina e Caribe: modelo baseado em alta produtividade e com alto consumo energético, provocando problemas de desequilíbrio ecológico e degradação dos recursos naturais; ênfase especial à tecnologia por produto, negligenciando a importância da diversificação para os sistemas produtivos, buscando maximizar seu rendimento pontual/específico, em detrimento dos ingressos globais da unidade produtiva, objetivo principal do agricultor familiar; pouca importância às tecnologias poupadoras de recursos de capital e de insumos de baixo custo e de fácil adoção; pouco valor à capacidade agregadora do agricultor e do extensionista, considerando ambos como simples beneficiários finais do processo de geração e não como parceiros ativos, com papeis fundamentais a desempenhar em todo o processo. Esses estudos apontam para as limitações e os insucessos de modelos de planejamento e desenvolvimento rural centrados na produção agrícola, concebidos na forma apontada. Este modelo desenvolvimentista e produtivista em um ambiente globalizado e competitivo resultou em aumento global na produção, porém, causou aumento de desigualdades, gerando concentração de terras e renda, acelerando o processo de degradação dos recursos naturais, colocando em risco a sustentabilidade, tanto econômica como social e ambiental, e não resultou no esperado desenvolvimento rural. O cenário atual caracteriza-se por acentuado ambiente concorrencial e acelerada evolução tecnológica. Cada vez mais as decisões precisam ser tomadas com agilidade, rapidez e precisão (POZZEBON 15 & FREITAS, 1996), com base em informações precisas que proporcionem agilidade no processo. Os desafios crescentes que a modernidade e a globalização introduziram nas empresas só poderão ser superados através da melhoria na qualidade e na velocidade das informações a serem utilizadas de forma profissional. Conforme dados do levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1996) e do PARANACIDADE (2001), o município de Pinhalão - PR tem na agropecuária sua principal atividade econômica e de ocupação da mão-de-obra, com forte integração entre os setores urbano e rural. A leste, o município de Pinhalão possui divisa seca com o município de Tomazina, o que resulta na subdivisão de muitas propriedades rurais que pertencem aos dois municípios, porém estão integrados e são assistidos por Pinhalão. Para que seu setor agropecuário continue produtivo, com capacidade de gerar riquezas e ser autossustentável, necessita de instrumentos facilitadores para administrar com eficiência as informações disponíveis, os recursos financeiros, naturais e humanos. Em 2000, a Prefeitura Municipal, com a participação da comunidade, buscou a sustentabilidade econômica, social, político-institucional e ambiental do município, melhorando o desempenho do setor agropecuário através da elaboração e execução de planos de desenvolvimento, incorporando a tecnologia de informação de precisão às demais atividades executadas pelos empresários rurais, extensionistas rurais e gestores municipais. A tecnologia de informação de precisão, que congrega as áreas de tecnologia de comunicação, ciência da computação, ciência da informação e sistemas de informação, gera progressos sociais e econômicos substanciais e tem evoluído muito nos últimos anos, com possibilidades de uso no setor agropecuário. Este setor, geralmente, trabalha com informações subjetivas e desatualizadas, com baixa confiabilidade, as quais são obtidas junto aos produtores, técnicos e comerciantes. O setor agropecuário, mesmo com a necessidade de manejar um grande volume de informações, apresenta grau maior de resistência a mudanças, não conseguindo acompanhar a evolução dos demais setores, ficando marginalizado dos avanços da informática aplicada. O presente trabalho, desenvolvido em 2000, propõe um modelo para o fornecimento de informações de forma mais rápida, segura e de fácil interpretação, propiciando ao município estudos mais confiáveis 16 para priorização de áreas para aplicação de recursos e elaboração de planos de desenvolvimento que permitam o equilíbrio econômico, social e ambiental, buscando as soluções de forma participativa e integrada entre o governo municipal e instituições formais e informais. O poder público e a comunidade têm como objetivo promover a modernização da agricultura e o desenvolvimento rural. O ponto de partida para caracterização deste trabalho é a definição de alguns conceitos ligados ao desenvolvimento, desenvolvimento sustentável, geoprocessamento e desenvolvimento municipal sustentável com apoio de sistema de informações geográficas. Para Boisier (1992 e 2000), o conceito de desenvolvimento deve ser entendido como multidimensional e dinâmico, cuja direção e velocidade das mudanças nos planos econômico, político, social, ambiental, tecnológico e territorial estão associadas a processos e questões como o crescimento da produção, o progresso técnico, a distribuição do poder, a distribuição da riqueza, a distribuição das oportunidades individuais e coletivas, a preservação dos recursos e do meio ambiente e a organização da sociedade. O desenvolvimento sustentável refere-se aos processos de mudança sociopolítica, socioeconômica e institucional que visam assegurar a satisfação das necessidades básicas da população e a equidade social, tanto no presente quanto no futuro, promovendo oportunidades de bem-estar econômico que, além do mais, sejam compatíveis com as circunstâncias ecológicas de longo prazo (JARA 1998). Ainda, segundo a Comissão Brundtland (1987), Desenvolvimento Sustentável é “desenvolvimento que supre as necessidades do presente sem impedir que gerações futuras supram as suas próprias necessidades”. É sustentável aquilo que tem uma continuidade infinita. Por isso, talvez, a adaptabilidade seja uma característica mais importante para a sustentabilidade do que a imutabilidade. Para Buarque (1999), os objetivos do desenvolvimento sustentável envolvem relações bastante complexas entre as diversas dimensões da realidade – econômica, social, ambiental, tecnológica e institucional, cujos indicadores globais são equidade, governabilidade, sustentabilidade e competitividade – com processos e dinâmicas nem sempre convergentes e combinados no tempo e no espaço. Na verdade, esta relação entre as dimensões contém tensões e conflitos, de modo que, em determinadas condições estruturais do modelo de desenvolvimento, os ganhos de cada dimensão podem levar, ao contrário, a perdas 17 e declínios em outras, especialmente na relação entre a economia e o meio ambiente, na qual existem fortes restrições estruturais, que levam à relação de ganhos e perdas. Ainda Buarque (1999) considera que a compatibilização entre os objetivos sociais, econômicos e ambientais torna-se uma possibilidade concreta com os avanços científicos e tecnológicos - mediador fundamental das relações da economia e da sociedade com a natureza - e com a consciência ambiental da humanidade. A combinação destes dois fatores permite uma redefinição das interações entre a dinâmica econômica, a estrutura social e os ecossistemas, reestruturando, portanto, o próprio modelo de desenvolvimento. A consciência ambiental confere sustentação política para as mudanças, e as inovações tecnológicas redefinem e podem moderar as tensões entre a economia e a natureza. A integração participativa do cidadão na vida política e social é fator importante também para a sustentação política, assegurando a efetividade e a continuidade das decisões. Por outro lado, a qualidade de vida é melhorada pela participação, representando objetivo adicional a ser perseguido pelo desenvolvimento sustentável, pelo que representa em realização humana e social. Conforme Weber (1995), a manipulação de informação geocodificada vem sendo também designada como geoprocessamento, frequentemente induzindo ao uso desse termo como sinônimo de Sistema de Informações Geográficas (SIG). Todavia, em muitos países o geoprocessamento é um conceito mais global, considerando desde a aquisição da informação até a obtenção do produto gráfico final, sendo o SIG uma ferramenta para efetuar o geoprocessamento. Para Câmara & Medeiros (1999), o termo SIG refere-se àqueles sistemas que efetuam tratamento computacional de dados geográficos. Um SIG armazena a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados, isto é, localizados na superfície terrestre e numa projeção cartográfica qualquer. Os dados tratados em geoprocessamento têm como principal característica a diversidade de fontes geradoras e de formatos apresentados. Devido à sua ampla gama de aplicações, na qual estão incluídos temas como agricultura, floresta, cartografia, cadastro urbano e redes de concessionárias (água, energia e telefonia), há pelo menos três grandes maneiras de utilizar um SIG: Como ferramenta para produção de mapas; como suporte para análise espacial de fenômenos; ou como 18 banco de dados geográficos, com funções de armazenamento e recuperação da informação espacial. O SIG possibilita a definição de um planejamento que obtenha a máxima eficiência, utilizando melhor combinação dos recursos produtivos e estabelecendo equilíbrio entre os fatores sociais, econômicos e ambientais. Ainda facilita a formação de grupos de produtores para realização de atividades em conjunto, definindo os melhores roteiros para distribuição de insumos, uso de equipamentos coletivos, coleta e comercialização da produção. O controle pode ser realizado com maior precisão através do uso de SIG, no qual é possível avaliar os resultados obtidos por atividade, por propriedade, por bacia hidrográfica ou por município, além de permitir cruzamento com dados físicos, econômicos, sociais e ambientais. O que caracteriza um SIG é a integração de hardware, software (tecnologia e metodologia) e pessoas a uma base de dados com informações espaciais provenientes de diversas fontes geradoras e formatos de apresentação (bases cartográficas, fotografias aéreas, imagens de satélites) com dados de censo e cadastro urbano ou rural. O SIG oferece mecanismos para combinar essas informações através de módulos de coleta, armazenamento, manipulação e análise, que permitem consultas, recuperação, atualização e visualização do conteúdo da base de dados com precisão, velocidade e qualidade, além da geração de mapas, relatórios e gráficos, em formato analógico e digital. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utilizada é um processo de construção conjunta e participativa, utilizando como referencia os trabalhos específicos desenvolvidos pelo INPE e pela EMBRAPA, que orienta os passos a serem seguidos para compreender e interpretar a realidade e propor soluções que atendam ao interesse da sociedade. 1 Dados originais Foram utilizadas diversas fontes de dados originais para caracterização física e socioeconômica do município de Pinhalão: - Mapa político em formato digital em coordenadas planas UTM, do estado do Paraná com as divisas entre municípios, elaborado pela 19 Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), órgão responsável pelo cadastro fundiário no estado do Paraná. - Mapa de solos em formato digital em coordenadas planas UTM, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Solos), em 1986 e vetorizado pela EMBRAPA Solos em 1999. - Base cartográfica (cartas topográficas) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em escala 1:50.000, elaboradas a partir de fotografias aéreas de julho de 1980, restituídas e desenhadas em 1990, e impressas em 1992. Foram utilizadas as cartas MI-2786/2 (Conselheiro Mairinck), MI-2786/4 (Ibaiti) e MI-2787/3 (Wenceslau Brás). - Imagem de satélite LANDSAT 7 TM, órbita ponto WRS 221-76, em formato digital, gravada em outubro de 1999, com composição colorida 3 (azul), 4 (verde) e 5 (vermelho), e pancromática, distribuída no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). 2 Método O método adotado é o estudo de caso. De acordo com Gil (1996:5960), “a maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para construção de hipóteses ou reformulação do problema. ... No estudo de caso, o pesquisador volta-se para a multiplicidade de dimensões de um problema, focalizando-o como um todo. ... Os procedimentos de coleta e análise de dados adotados no estudo de caso, quando comparados aos exigidos por outros tipos de delineamento, são bastantes simples.” O método “estudo de caso” consistiu no uso de Sistema de Informações Geográficas para se conhecer as potencialidades e limitações dos recursos naturais, humanos, sociais e econômicos do município de Pinhalão, a fim de se propor alternativas ambientais e economicamente sustentáveis. 2.1 Definição da área de abrangência - delimitação da unidade de estudo O município de Pinhalão é o limite geográfico do estudo proposto, tanto nos aspectos naturais, quanto nos econômicos e sociais. Segundo Silva (1999), o município é um lugar privilegiado onde os fatos se originam (nascem) e acontecem (se materializam). É uma 20 unidade ecológica heterogênea, capaz de se auto-organizar, ou seja, de definir e decidir seu próprio destino social, político, econômico, etc. Relaciona-se com o resto do mundo, não apenas com o mercado, mas com a sociedade, com os demais níveis de poder e, enfim, com o mundo em sua totalidade. O município tem uma escala territorial adequada à mobilização das energias sociais e integração de investimentos potencializadores do desenvolvimento, seja pelas reduzidas dimensões, seja pela aderência político-administrativa que oferece, através da municipalidade e instância governamental. BUARQUE (1999) Com objetivo de detalhar e facilitar as análises, o município foi subdividido em bacias hidrográficas que, segundo Osaki (1994), são unidades naturais de planejamento agrícola e ambiental, onde podem ser implantados novos padrões técnicos de uso e manejo integrado de solos e recursos hídricos. O fato de se trabalhar em unidades relativamente homogêneas quanto aos ecossistemas, permite definir uma metodologia de trabalho vantajosa para a preservação dos recursos naturais, mas também favorece uma integração com outras questões de caráter social, econômico, ambiental e político-institucional. 2.2 Procedimentos para caracterização física e socioeconômica a) Coleta de dados Este estudo de caso aborda a integração de várias formas de dados (primários e secundários), através da utilização de tecnologia de precisão como instrumento de apoio. Segundo Mattar (1996), dados primários: são aqueles que não foram antes coletados, não estando ainda de posse dos pesquisadores, e que são coletados com o propósito de atender às necessidades específicas da pesquisa em andamento. Dados secundários: são aqueles que já foram coletados, tabulados, ordenados e, às vezes, até analisados e que estão catalogados à disposição dos interessados. A busca foi realizada a partir da especificação das necessidades de dados e determinação das suas fontes: b) Dados secundários b.1) Documento da EMATER-Paraná e Prefeitura Municipal de Pinhalão, denominado de “Levantamento de Dados Municipais-LDM”, obtido através de entrevistas com todos os produtores rurais do município, tendo como base o ano agrícola de 1998 (julho de 1997 a junho de 1998). 21 b.2) “Realidade Municipal” elaborada anualmente pela EMATERParaná, contendo dados do setor agropecuário municipal. b.3) Documentos existentes na prefeitura e nos diversos órgãos ligados ao setor agropecuário do município (planos municipais, relatórios, dados do IBGE, INCRA). c) Dados primários c.1) Seleção das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos, observando-se as questões sociais (concentração de pequenos produtores), importância econômica e áreas de riscos e necessidade de preservação ambiental. Elaboração de questionário para levantamento de dados complementares, com a participação de diversos setores da sociedade local. Realização de levantamentos de dados complementares das propriedades rurais, através de visitas às propriedades e entrevistas estruturadas realizadas com seus proprietários. c.2) Georreferenciamento da área da sede principal das propriedades rurais das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos, áreas com atividades de risco ambiental e estradas rurais do município com uso de GPS de navegação. d) Preparação e armazenamento de dados Os dados coletados foram organizados, digitados, vetorizados e armazenados, em formato que facilite o processamento, recuperação e integração com uso de programas específicos. As etapas referentes ao uso do SIG foram realizadas usando-se como referencial as orientações contidas no manual do SPRING desenvolvido pelo INPE (2000) e em experiências desenvolvidas por diversas instituições e descritas no livro Sistema de Informações Geográficas: aplicações na agricultura da EMBRAPA, coordenado por Assad et al. (1998). d.1) Geração do mapa municipal O mapa digital do município em coordenadas UTM foi gerado a partir do mapa político do estado do Paraná, com uso do software ArcView. d.2) Escaneamento das cartas topográficas As cartas topográficas, em meio analógico (papel) foram convertidas em arquivos digitais (eletrônicos), através do escaneamento em uma resolução de 300 dpi e salvas como imagem com formato tiff. d.3) Registro das cartas topográficas Os registros das cartas topográficas digitais foram realizados no 22 software SPRING, utilizando-se os parâmetros cartográficos no sistema de coordenadas planas UTM e modelo da Terra no datum horizontal: SAD-69 e datum vertical: Imbituba-SC. Para o registro das cartas foram utilizados pontos conhecidos, com latitude e longitude, coletados diretamente na carta topográfica original, sendo estas coordenadas transferidas ao software SPRING e ajustadas aos pontos geográficos escolhidos na imagem. As cartas topográficas registradas em formato digital foram exportadas pelo SPRING para o formato tiff, para terem compatibilidade com o software AutoCad. d.4) Vetorização das cartas topográficas As cartas topográficas foram vetorizadas com uso do software AutoCad, usando como base as cartas topográficas escaneadas e registradas (imagem raster contínua em formato analógico), no qual os temas hidrografia, sistema viário, curvas de nível com equidistância de 20 metros, pontos e textos foram vetorizados em camadas (layers) distintas. As camadas foram vetorizadas e ajustadas com as coordenadas planas UTM (x e y), sendo que na camada curvas de nível e pontos, inseriu-se posteriormente as altitudes das curvas e dos pontos (cotas z). Após a vetorização das três cartas topográficas, as mesmas foram unidas e recortadas no perímetro do município, e exportadas em formato DXF (Drawing interchange file) para serem abertas no software SPRING, no qual foram geradas as classes de declividade, classes de altimetria e classes de exposição ao sol. d.5) Geração do mapa de bacias hidrográficas O mapa digital das bacias hidrográficas foi elaborado com base nos critérios definidos pela SEAB (1992) e Osaki (1994), levando-se em consideração a hidrografia, as curvas de nível e os pontos cotados, localizando-se as nascentes, os rios e o sentido para onde convergem as águas, unindo a outros rios até formarem as cinco bacias hidrográficas do município. A vetorização foi realizada com uso do software AutoCad, criando o perímetro de cada bacia, traçando-se uma linha imaginária nos pontos mais elevados, que são os divisores de água. As cinco microbacias hidrográficas do município são: Pedrilha com 1.699,82 ha; Santos com 2.734,70 ha; Lavrinha com 4.271,18 ha; Triângulo com 4.392,95 ha e Decol com 8.895,98 ha, além da área da sede com 35,34 ha, totalizando a área do município com 22.029,97 ha. 23 e) Processamento das cartas topográficas O software SPRING possibilitou o uso da base cartográfica vetorizada, a partir da qual foi gerado o modelo numérico do terreno, utilizado na elaboração dos mapas de classes de declividade, classes hipsométricas (altitude) e carta de exposição ao sol que, em conjunto com o mapa de solos e mapa de preservação permanente, contribuíram para definição da aptidão dos solos do município e para subsidiar com informações científicas as decisões quanto às melhores alternativas técnicas, econômicas e ambientalmente sustentáveis. e.1) Geração das classes de declividade O mapa de declividade do município foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros, pontos cotados em topos de elevações e rios como linhas de quebra, sendo o seu resultado classificado em porcentagem, segundo as classes de relevo reconhecidas pela EMBRAPA (1999). e.2) Geração das classes de altimetria O mapa de classes de altimetria foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros. Em função das cotas das curvas de nível existentes no município, as classes de altimetria foram divididas com intervalos de 100 em 100 metros, conforme faixas abaixo definidas: 501 a 600, 601 a 700, 701 a 800, 801 a 900 e acima de 900 metros de altitude em relação ao nível do mar. e.3) Geração das classes de exposição ao sol O mapa de classes de exposição ao sol foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros, pontos localizados em áreas elevadas e rios como linhas de quebra, classificadas conforme exposição aos pontos cardeais: leste, oeste, norte e sul. As faces foram classificadas conforme o seu ângulo de exposição ao sol, sendo face leste de 45º a 135º, face sul de 135º a 225º, face oeste de 225º a 315º e face norte de 0º a 45º e de 315º a 360º. Após a criação do mapa digital de classes de exposição ao sol do município foi realizado o cruzamento deste com o mapa digital das bacias hidrográficas, gerando automaticamente o mapa digital de clas24 ses de exposição ao sol das bacias hidrográficas, através do uso do software ArcView. Em função deste trabalho ser realizado em vários ambientes de SIG, faz-se necessária a integração dos arquivos digitais, exportandose os arquivos gerados no SPRING (classes de declividade, classes de altimetria e classes de exposição ao sol) no formato E00, para que possa ser convertido pelo software IMPORT71 da ESRI em um formato aceito pelo ArcView. f) Geração de mapas temáticos f.1) Geração das classes de solos Com base no mapa digital de solos elaborado pela EMBRAPA Solos em 1999, ajustado através de trabalho a campo e convertido para o atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (1999), foram identificadas no município de Pinhalão nove unidades de mapeamento de solos que, através da utilização de critérios de agrupamento por classes de solos, foram unidos em quatro classes: associação de Argissolos Vermelho-Amarelos Alumínicos com Latossolos Vermelhos Aluminoférricos; Latossolos Vermelhos Aluminoférricos; Argissolos Vermelho-Amarelos Alumínicos e Neossolos Litólicos Eutróficos, através do uso de características do perfil do solo (profundidade efetiva do solo, textura do perfil do solo e permeabilidade do perfil do solo) e fatores limitantes específicos (pedregosidade e hidromorfismo). f.2) Geração das áreas de preservação permanente O município de Pinhalão possui 425 nascentes, entre as perenes e as temporárias, distribuídas nas bacias de Pedrilha (20), Santos (30), Lavrinha (87), Triângulo (119) e Decol (170). Além de rios que se originam no município ou que percorrem suas extensões territoriais, cuja largura máxima é inferior a 10 metros, com exceção do rio das Cinzas que possui largura entre 10 e 50 metros. As áreas de preservação permanente foram calculadas em uma faixa de 50 metros na margem esquerda (município de Pinhalão) do rio das Cinzas, em 30 metros nas demais margens dos rios e num raio de 50 metros nas nascentes, além das áreas com declividade superior a 100% de inclinação (existentes somente nas áreas já consideradas de preservação permanente). Estas áreas de preservação permanente foram geradas automaticamente com uso dos rios, nascentes, curvas de nível e pontos cotados das cartas topográficas registradas e vetorizadas com coordenadas. 25 f.3) Geração das classes de aptidão dos solos Com base nas citações de Lepsch et al. (1983) e Osaki (1994), elaborou-se um quadro para grupamento de classes de aptidão de solos, baseado em classes de solos e classes de declividade. Quadro 1 - Grupamento de classes de aptidão de solos Classes de Solo Classes de declividade (%) 0a3 3,1 a 8 8,1 a 20 20,1 a 45 > 45 Associação Culturas anuais mecanizadas Cultura perene Silvicultura Latossolos Culturas anuais mecanizadas Cultura perene Pastagem Argissolos Culturas anuais mecanizadas Pastagem Silvicultura Neossolos Pastagem Cultura perene Silvicultura Fonte: Lepsch et al. (1983) e Osaki (1984), adaptado pelos autores (2000) Uma vez definidos os critérios para o grupamento de classes de aptidão de solos, gerou-se automaticamente o mapa digital através do cruzamento do mapa digital de classes de solos com o mapa digital de classes de declividade. Esta intersecção formou diversos polígonos segmentados por classes de solos e classes de declividade, que foram unidos através de mecanismos de busca baseados em álgebra booleana. g) Recuperação de dados, processamento e emissão de relatórios Os dados levantados, processados e armazenados foram relacionados, integrando-se o banco de dados aos mapas, possibilitando análise das informações sociais, econômicas e ambientais com apoio do software ArcView, que gera relatórios, gráficos, análises estatísticas e mapas temáticos com alto nível de precisão, facilitando e agilizando a tomada de decisão. Outros softwares também permitem este tipo de trabalho, porém a opção pelo uso do ArcView foi para viabilizar a integração dos dados e informações com os demais órgãos ligados ao governo do estado do Paraná. 26 RESULTADOS E DISCUSSÃO A metodologia estruturada possibilita a coleta e o processamento, de forma automatizada, estabelecendo relações entre informações físicas, econômicas, sociais e ambientais, com a utilização do SIG para obter o desenvolvimento municipal sustentável. Definiu-se um modelo referencial de desenvolvimento municipal sustentável com apoio de SIG e participação social, quanto ao uso dos fatores de produção, dos recursos naturais e humanos, em um projetopiloto no município de Pinhalão. Através deste modelo de SIG podem ser analisados os dados espacializados em mapas das propriedades rurais, microbacias hidrográficas e do município. As propriedades rurais são representadas por pontos levantados por GPS, enquanto as microbacias hidrográficas possuem mapas com as divisas físicas e o município possui mapa com divisa política, todos relacionados a banco de dados, que pode ser facilmente atualizado. A implementação deste modelo ocorre com a integração dos dados, das instituições e das pessoas, para que as tecnologias disponíveis possam ser aplicadas em benefícios da sociedade, facilitando o acesso às informações e ao conhecimento. 1 Núcleo de informações Para apoiar o processo de desenvolvimento municipal sustentável, o município de Pinhalão criou o Núcleo de Informações, que tem por objetivo ser um agente catalizador entre as forças do governo e da comunidade local, organizando e facilitando o acesso dos indivíduos, grupos e instituições formais e informais às informações e tecnologias, dando-lhes a possibilidade de participar nas decisões de interesse da coletividade. A organização dos atores individuais, atores coletivos e atores corporativos no Conselho de Desenvolvimento Municipal fortalece as suas decisões, tornando as ações executadas pelo Núcleo de Informações compatíveis com os interesses dos moradores e outros agentes relacionados com as microbacias hidrográficas 2 Modelo de desenvolvimento municipal sustentável O processo de desenvolvimento municipal sustentável inicia-se a partir de demandas provenientes da comunidade local (rural e urbana), na busca de melhores condições de vida. 27 O processo possui três grandes áreas de ação que são desenvolvidas simultaneamente: a) Caracterização dos recursos naturais disponíveis A caracterização dos recursos naturais inicia-se com a seleção de materiais, compostos por cartas topográficas (analógico), mapa político do estado (digital) e mapa de solos (digital). As cartas topográficas devem ser transformadas de formato analógico (papel) para o formato digital. Este processo inicia-se pelo escaneamento das cartas, seguido de seu registro e vetorização. Após a conclusão desta etapa, todos os materiais estão em um mesmo formato, possibilitando a geração de outros mapas temáticos através do uso de softwares específicos. A partir destes materiais são elaborados: mapa de áreas de preservação permanente, mapa de classes de declividade, mapa de classes de altimetria, mapa de classes de exposição ao sol e mapa de solos. E com o uso de GPS são elaborados: mapas de áreas de risco ambiental, estradas rurais e propriedades rurais. A combinação destes mapas permite a geração do mapa de aptidão de solos, e, posteriormente, o mapa de proposição de uso dos solos. Estas informações permitem analisar tecnicamente as melhores alternativas agropecuárias a serem desenvolvidas no município. b) Organização de uma base de dados Existe no município uma grande quantidade de dados, distribuídos em diversos órgãos, armazenados em diferentes formatos, o que dificulta a sua utilização. O primeiro passo é a organização destes dados no núcleo de informações, em um formato padrão para que possa ser utilizado pelos indivíduos e pelas instituições. Levantamentos de dados primários somente são realizados para complementar as informações necessárias. c) Organização dos atores locais As participações dos atores individuais, coletivos e corporativos são fundamentais num processo de desenvolvimento, uma vez que as propostas surgem das bases e geram um comprometimento entre os diversos setores da comunidade. E a integração de mapas sobre os recursos naturais, dados socioeconômicos e a participação da comunidade permite definir um modelo de desenvolvimento municipal sustentável, conforme demonstrado na Figura 1. 28 FIGURA 1 - FLUXOGRAMA DOS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DE MODELO DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL SUSTENTÁVEL Fonte: Elaborado pelos autores (2000) 29 3 Tabulação e análise de dados secundários A tabulação e análise dos dados secundários iniciaram-se a partir de um documento denominado “Levantamento de Dados MunicipaisLDM”, obtido através de entrevistas com todos os produtores rurais do município, tendo como base o ano agrícola de 1997/1998 (julho de 1997 a junho de 1998). Este levantamento foi realizado nas cinco microbacias hidrográficas do município, abrangendo 416 propriedades e um total de 948 produtores (proprietários, arrendatários e parceiros). As informações gerais referentes à área, população e renda das bacias hidrográficas do município estão apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Caracterização geral das microbacias hidrográficas Itens Microbacia Hidrográfica Pedrilha Santos Lavrinha Triângulo Decol Nº total de produtores 363 159 152 158 Nº total de proprietários 183 52 47 56 Nº total de arrendatários 219 96 110 101 Área total da microbacia (ha) 1.699 2.734 4.271 4.392 Área média por produtor (ha) 4,68 17,20 28,10 27,80 População rural total 1.191 470 538 514 70 17 13 12 Densidade demográfica (hab/km2) População rural - 18 a 65 anos 689 280 292 303 R.B. total da bacia (US$/ano) 2.581.469 2.51.545 1.574.074 961.528 R.B. total por produtor (US$/ano) 7.526 17.765 10.636 6.724 Renda bruta (US$/ha/ano) 1.519 897 369 219 Renda bruta (US$/adulto/ano) 3.451 8.254 5.127 2.828 Renda bruta (US$/habitante/ano) 2.167 5.216 2.926 1.871 116 78 54 8.895 76,69 387 4 219 690.440 6.703 78 2.818 1.784 Fonte: EMATER-Paraná (1999b) O sistema de colonização do município de Pinhalão concentrou as pequenas propriedades e os produtores nas microbacias hidrográficas mais próximas à sede do município, apresentando a seguinte distribuição: bacia Pedrilha com 363 produtores (38,3% do total do município), dos quais 183 são proprietários e 219 são arrendatários; destes existem 39 que além de serem proprietários também são arrendatários, ampliando a área de produção e a renda familiar; bacia Santos com 159 produtores (16,8%), dos quais 52 são proprietários e 96 são 30 arrendatários; bacia Lavrinha com 152 produtores (16,0%), dos quais 47 são proprietários e 110 são arrendatários; bacia Triângulo com 158 produtores (16,7%), dos quais 56 são proprietários e 101 são arrendatários; e bacia Decol com 116 produtores (12,2%), dos quais 78 são proprietários e 54 são arrendatários, destes existem 16 que além de serem proprietários também são arrendatários. A área agrícola total do município é de 21.994,63 ha, distribuídos nas bacias hidrográficas: Pedrilha com 1.699,82 ha (7,7% da área total do município), Santos com 2.734,70 ha (12,4%), Lavrinha com 4.271,18 ha (19,4%), Triângulo com 4.392,95 ha (20,0%) e Decol com 8.895,98 ha (40,4%). A área média por produtor nas microbacias é de: Pedrilha com 4,68 ha por produtor, Santos com 17,20 ha, Lavrinha com 28,10 ha, Triângulo com 27,80 ha e Decol com 76,69 ha. A distribuição dos produtores nas microbacias Pedrilha e Santos está demonstrada na Figura 2, na qual pode-se observar produtores/ propriedades pertencentes aos municípios de Pinhalão e Tomazina. Pode-se observar que existe uma relação inversa entre o número de produtores e a área da bacia hidrográfica, como se verifica na bacia Pedrilha que possui a menor área e o maior número de produtores, consequentemente resultando na menor área média por produtor, enquanto a bacia Decol possui a maior área e o menor número de produtores e a maior área média por produtor. As informações geradas demonstram uma grande variação nas áreas médias das propriedades, segundo a qual as microbacias de Pedrilha e Santos apresentam as menores áreas, demonstrando a necessidade ainda maior de uma assistência técnica mais concentrada, devido à necessidade de desenvolver atividades com intensa utilização de mão de obra e alta renda por área, permitindo a viabilização destas propriedades. A densidade demográfica por microbacia apresenta uma maior concentração populacional em Pedrilha com 70 habitantes por km2, Santos com 17 habitantes por km2, Lavrinha com 13 habitantes por km2, Triângulo com 12 habitantes por km2 e Decol com 4 habitantes por km2. Existe uma correlação entre o número de produtores e a população rural total de 3.100 habitantes no município, distribuídos nas bacias hidrográficas: Pedrilha com 1.191 habitantes (38,4% da população rural total do município), Santos com 470 habitantes (15,2%), Lavrinha com 538 habitantes (17,4%), Triângulo com 514 habitantes (16,6%) e Decol com 387 habitantes (12,5%). 31 FIGURA 2 - MAPA DE NÚMERO DE PRODUTORES POR MICROBACIA HIDROGRÁFICA Fonte: Elaborado pelos autores (2000) 32 A população adulta, entre 18 e 65 anos, é a mais representativa no município com 1.783 habitantes (57,4% da população rural total), distribuídos nas bacias hidrográficas: Pedrilha com 689 habitantes (57,9% da população rural total da bacia), Santos com 280 habitantes (59,6%), Lavrinha com 292 habitantes (54,3%), Triângulo com 303 habitantes (58,9%) e Decol com 219 habitantes (56,6%). Estas informações confirmam a existência de mão de obra em fase produtiva para desenvolver atividades com grande utilização de mão de obra por área. As atividades que necessitam uso intensivo de mão de obra e com maior retorno econômico são perfeitamente viáveis no município, visto que a maior concentração de mão de obra está na faixa de 18 a 65 anos e que, somados aos jovens de 14 a 17 anos que atuam na atividade agropecuária, mesmo que parcialmente, este percentual representa 68,5% da população total do município. Como estas atividades também exigem maior preparo técnico, é necessário levar em consideração o grau de instrução destes produtores, entre os quais 14,1% são analfabetos e outros 56,8% possuem, no máximo, até o 4º ano do ensino fundamental, portanto, necessitam de uma capacitação adequada quanto aos métodos e conteúdos, para que possam ter sucesso em seus empreendimentos. O município possui renda bruta de 375 dólares por ha ano, enquanto as microbacias que possuem as pequenas propriedades rurais geram maior renda bruta por área: Pedrilha com 1.519 dólares por ha/ano e Santos com 897 dólares por ha/ano, muito superior à média do município. Como resultado deste melhor rendimento por área, as microbacias que possuem a maior concentração de pequenas propriedades são as que possuem os maiores volumes globais de renda do município, ou seja, as bacias Pedrilha e Santos com apenas 20,1% da área são responsáveis 60,9% da renda bruta agropecuária municipal. As principais explorações produtivas estão apresentadas na Tabela 2. As principais explorações produtivas do município são cultivadas principalmente em pequenas propriedades rurais, nas quais o café se apresenta como exploração de maior importância no município, levando-se em consideração os aspectos econômicos, uso da mão de obra e uso do solo, seguido pelo milho, feijão e morango. As criações são exploradas no município, principalmente com ob33 jetivo de subsistência e comercialização do excedente, conforme demonstra a Tabela 3. Tabela 2 - Caracterização das explorações produtivas Bacia Hidrográfica Itens Pedrilha Café em produção - ha/bacia Café em produção - ha/propriedade Café em produção - produtor/bacia Café novo - ha/bacia Café novo - ha/propriedade Café novo - produtores/bacia Milho safra normal - ha/bacia Milho safra normal - ha/bacia Milho safra normal - produtor/bacia Morango - ha/bacia Morango - ha/propriedade Morango - produtores/bacia Feijão das águas - ha/bacia Feijão das águas - ha/propriedade Feijão das águas-produtores/bacia 439,82 3,05 144 56,75 1,26 45 161,17 161,17 81 16,47 0,24 68 114,87 1,77 65 Santos Lavrinha Triângulo Decol 52,32 1,69 31 93,63 5,85 16 70,25 70,25 16 20,99 0,33 64 25,24 2,8 9 155,65 2,51 62 65,11 1,25 52 95,61 95,61 34 4,94 0,62 8 3,41 0,85 4 187,35 3,07 61 34,3 1,14 30 63,07 63,07 38 0,45 0,11 4 10,34 1,15 9 59,04 2,46 24 412,81 45,87 9 126,78 126,78 28 3,94 0,23 17 103,06 2,34 44 Fonte: EMATER-Paraná (1999b) Tabela 3 - Criações das bacias hidrográficas do município de Pinhalão Bacia Hidrográfica Itens Pedrilha Tanque piscicultura - m /bacia Tanque piscicultura-m2/propriedade Piscicultura - produtores/bacia Vacas em lactação - cabeças/bacia Vacas em lactação - cab./propried. Vacas em lactação - produtor/bacia 2 47.595 951 50 865 10,95 79 Fonte: EMATER-Paraná (1999b) 34 Santos Lavrinha Triângulo Decol 12.713 1.589 8 148 4,77 31 20.035 1.054 19 130 4,48 29 3.152 350 9 78,2 2,17 36 14.734 1.637 9 281 11,71 24 As áreas com práticas de conservação de solos são pequenas, representando apenas 3,1% da área do município. Enquanto 35,52% realizam cultivo mecanizado com equipamentos próprios ou alugados, 66,75% realizam o cultivo com tração animal e 91,08% realizam o cultivo manualmente. As produtividades das principais explorações produtivas do município estão apresentadas na Tabela 4. Tabela 4 - Produtividade das explorações nas microbacias do município de Pinhalão Itens Bacia Hidrográfica Pedrilha Santos Lavrinha Triângulo Decol Produtividade milho normal - sc/ha 34,59 48,79 42,49 28,40 40,56 Produtividade feijão águas - sc/ha 14,01 19,75 7,92 10,98 17,61 Produtividade do café - sc/ha 46,79 55,64 31,19 49,90 35,94 Produtividade morango - kg/ha Produtividade leite-l/vaca lact./ano 32.742,08 32.324,54 209,15 817,74 20.799,6 32.500 51.805,07 1.065,88 333,68 12,17 Fonte: EMATER-Paraná (1999b) Analisando-se o conjunto de tabelas já descritas, a bacia Santos possui os melhores índices do município, apresentando as melhores produtividades e, consequentemente, o melhor retorno econômico. Enquanto a bacia Pedrilha, exceto para o morango, possui produtividades apenas médias, reflexo da concentração de pequenas propriedades com uso da baixa tecnologia. Os produtores do município de Pinhalão apresentam baixo nível de organização. Instituições como cooperativas e associações de produtores possuem baixa representatividade, sendo a área de comércio (compra e venda de produtos agropecuários) dominada por empresas particulares (intermediários legalizados e intermediários não legalizados). Pela Tabela 5, percebe-se que uma grande parcela de produtores são atendidos pelo Instituto Emater, que concentra os trabalhos nos pequenos produtores rurais das bacias Pedrilha e Santos. Há necessidade de ampliar o atendimento porque ainda existe uma grande parcela de produtores que não recebe qualquer assistência técnica, enquanto alguns recebem assistência de mais de uma organização. 35 Tabela 5 - Assistência técnica recebida pelos produtores rurais das bacias hidrográficas do município de Pinhalão Itens Instituto Emater Bacia Hidrográfica Pedrilha Santos Lavrinha Triângulo Decol 55,65 43,40 35,53 20,89 35,34 Cooperativa 7,71 6,29 9,21 8,86 17,24 Profissional Autônomo local 5,79 8,81 9,87 12,03 6,90 Profissional Autônomo de fora 7,44 8,81 5,92 7,59 7,76 Outros Não recebe assistência técnica 5,51 45,13 3,14 43,4 4,61 74,34 6,33 74,68 15,52 68,97 Fonte: EMATER-Paraná (1999b) 4 Tabulação e análise de dados primários das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos Em complemento aos dados secundários existentes realizou-se, através do Núcleo de Informações, uma pesquisa com os proprietários sobre as principais atividades agrícolas das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos, a partir da qual foram geradas informações mais detalhadas. A escolha das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos foi devido ao fato de terem maiores concentrações de mão de obra e de pequenos produtores rurais, com as menores rendas e áreas por propriedade, com necessidade, portanto, de informações mais precisas e atendimento mais intensivo para sua viabilização. As principais atividades que permitem a viabilização das propriedades rurais do município exigem uma participação constante do proprietário, portanto, realizou-se um estudo sobre a localização da moradia do proprietário, apresentada na Tabela 6. O planejamento de novas atividades nas propriedades rurais deve levar em consideração, além da residência dos proprietários, a situação legal das propriedades para realização de investimentos, tanto com recursos próprios como financiados. Constatou-se que 95,3% dos produtores da bacia Pedrilha e 95,1% de Santos possuem uma situação legal (com escritura e com documento formal de partilha), sem nenhum fator impeditivo para implantação de novas atividades que permitam realizar o desenvolvimento das propriedades e dos produtores. Importante para o planejamento das atividades a serem desenvol 36 vidas, a distribuição das áreas das propriedades rurais é apresentada na Tabela 7. Tabela 6 - Residência dos proprietários rurais das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos Bacias Hidrográficas Residência do Proprietário Pedrilha nº 78 27 48 37 190 Propriedade rural Outra propriedade rural Sede de Pinhalão Outros Total Santos % 41,1 14,2 25,3 19,5 100,0 nº 68 28 48 22 166 % 41,0 16,9 28,9 13,3 100,0 Tabela 7 - Distribuição das áreas das propriedades rurais das bacias hidrográficas Pedrilha e Santos Bacias Hidrográficas Classes de área das propriedades Pedrilha Santos nº % nº % < a 5,0 ha 75 39,5 231,84 50 30,1 156,74 5,1 a 10,0 25 13,2 187,74 40 24,1 312,85 10,1 a 15,0 29 15,3 365,06 20 12,0 254,83 15,1 a 20,0 22 11,6 404,67 29 17,5 489,95 20,1 a 25,0 > que 25,0 ha Total área (ha) área (ha) 11 5,8 249,02 10 6,0 230,34 28 190 14,7 100,0 1.639,70 3.078,03 17 166 10,2 100,0 1.127,14 2.571,85 A área total da bacia Pedrilha é de 3.078,03 ha e a área média é de 16,20 ha, enquanto da bacia Santos é de 2.571,85 ha e a área média é de 15,49 ha. Estas duas bacias possuem uma grande concentração de pequenas propriedades com áreas inferiores a 10,0 ha, representando 52,7% na bacia Pedrilha e 54,2% na bacia Santos. A cultura do café, sendo a principal atividade quanto à geração 37 de renda e ocupação de mão de obra do município, mereceu estudos mais detalhados sobre a situação atual nas microbacias Pedrilha e Santos. As lavouras mais antigas (com mais de 8 anos) são das cultivares Catuaí Amarelo (39,1%), Mundo Novo (37,0%) e Catuaí Vermelho (18,7%), enquanto entre as mais novas (menos de 2 anos) destacam-se a Catuaí Vermelho (66,6%), Catuaí Amarelo (12,8%) e Mundo Novo (8,3%). Na medida em que as lavouras são renovadas está ocorrendo um aumento de cultivares de menor porte (Catuaí), melhor produtividade (Catuaí Vermelho) e aumento de população por área, resultando maior produção e menor vida útil das plantas. A aptidão agrícola do solo permite o seu cultivo em 79% da área da bacia Pedrilha e em 73% da área da bacia Santos e, para realizar uma ampliação e/ou renovação da exploração, consultou-se o interesse dos produtores, segundo o qual 124 manifestaram o interesse no plantio de 707.500 novas covas. O município de Pinhalão apresenta 22,9% de suas áreas próprias para exploração de culturas anuais mecanizadas como morango, olericultura, floricultura, milho e feijão; 27,1% são próprias para exploração de culturas perenes como café, uva comum de mesa, pêssego, ameixa e maracujá; 27,2% são próprias para pastagens perenes; 9,4% devem ser utilizadas para silvicultura e 13,48% devem ser mantidas como áreas de preservação permanente. A compatibilização entre a aptidão dos solos, a proposição de uso e o interesse dos produtores é uma forma técnica e democrática de definir e obter sucesso nas atividades agrícolas a serem implantadas nas bacias. Os trabalhos já desenvolvidos no município demonstram o nível de conscientização dos produtores, buscando opções que permitam o uso racional dos recursos naturais com uso intensivo de mão de obra qualificada, obtendo bom retorno econômico e permitindo a melhoria na qualidade de vida. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 1) Conclusões O modelo de desenvolvimento municipal sustentável com apoio de sistemas de informações geográficas, demonstrado na Figura 1, é a contribuição central deste trabalho. O modelo foi obtido através do uso adequado dos recursos naturais e ambientais, organização das informações e pela participação comunitária. 38 FIGURA 3 - MAPA DE CLASSES DE APTIDÃO DOS SOLOS POR MICROBACIA HIDROGRÁFICA Fonte: Elaborado pelos autores (2000) 39 As informações analisadas demonstram que no município de Pinhalão as propriedades localizadas nas microbacias com menores áreas médias possuem atividades mais intensivas, apresentando maior utilização dos solos e da mão de obra, gerando maiores receitas globais ao município. E a necessidade de manter estas propriedades produtivas, utilizando adequadamente os recursos humanos e naturais disponíveis, gerou demanda para elaboração de um modelo de desenvolvimento municipal sustentável, estabelecendo equilíbrio entre os fatores sociais, econômicos e ambientais, mantendo e viabilizando estas propriedades através de atividades que valorizem o uso da mão de obra e gerem alta renda por unidade de área. Os resultados constituem subsídios para a capacitação de técnicos no uso de sistemas de informações geográficas com objetivo de desenvolvimento municipal sustentável e no processo de interpretação e democratização das informações. As informações genéricas serão disponibilizadas na Internet nos sites da Prefeitura Municipal (nomes da(s) prefeitura(s) e do Instituto Emater. As informações gerais de cada setor serão disponibilizadas nos departamentos da prefeitura (nomes da(s) refeitura(s) e nas instituições públicas e privadas. As informações mais detalhadas que necessitam de tratamentos estão disponíveis no Núcleo de Informações do município de Pinhalão. 2) Modelo de desenvolvimento municipal sustentável O modelo possui três grandes linhas de ação que são desenvolvidas simultaneamente com apoio do SIG: 2.1) Caracterização dos recursos naturais e produtivos disponíveis A elaboração de vários mapas temáticos permite distinguir as áreas com necessidade de serem preservadas ou utilizadas com restrições, identificadas através do mapa de aptidão de solos e do mapa de proposição de uso dos solos. Estas informações permitem identificar alternativas de melhoria no uso dos recursos naturais, humanos e financeiros das bacias hidrográficas e das propriedades rurais, adequando e aumentando a lucratividade de seus sistemas de produção, atendendo às necessidades sociais e preservando o meio ambiente. 40 2.2) Organização de uma base de dados A existência no município de uma grande quantidade de dados, distribuídos em diversos órgãos e armazenados em diferentes formatos, dificulta a sua obtenção e utilização. No núcleo de informações estes dados são organizados em um formato padrão, possibilitando através do SIG a sua integração com os dados referentes aos recursos naturais, facilitando o acesso, a interpretação e sua utilização pelos indivíduos e pelas instituições. 2.3) Organização dos atores locais A participação dos atores individuais, coletivos e corporativos é fundamental neste processo de desenvolvimento, uma vez que as propostas são discutidas nas bases e geram comprometimento entre os diversos setores da comunidade. A instituição de um núcleo de informações que visa mediar as forças do governo e da comunidade local, produzindo efeitos sinérgicos na realização de objetivos comuns, facilita o acesso dos indivíduos, grupos e instituições formais e informais às informações e tecnologias, que passam a ter a possibilidade de participar nas decisões de interesse da coletividade, garantindo o uso correto dos recursos e a transparência da gestão pública. O modelo permite estruturar mecanismos de participação social, tais como: - Criação do núcleo de informações, que facilita a integração entre o governo municipal e a comunidade local (individual ou grupal). - Reestruturação de vários conselhos existentes no município, com a criação de um único Conselho de Desenvolvimento Municipal com vários subconselhos, responsáveis por projetos ou ações específicas, o que propicia a concentração de esforços visando o objetivo comum ao município. - Apoio às associações de moradores das comunidades rurais, que facilita o acesso a informações e tecnologias, bem como permite aos produtores a manifestação de seus desejos através de seus representantes nos conselhos municipais, eleitos de forma direta e democrática. - Fortalecimento das associações de produtores existentes, que contribui para obtenção de melhores preços, tanto na venda de seus produtos, como na aquisição de seus insumos. - Apoio aos grupos de referência técnica de cafeicultores e fruticultores, que constitui um processo planejado e organizado de aprimoramento técnico na agricultura. 41 Este modelo referencial de desenvolvimento municipal sustentável distingue-se dos modelos clássicos de desenvolvimento e dos trabalhos normais de extensão rural pela participação social, integração de diversas fontes e formatos de dados, além da utilização do SIG como instrumento de apoio. Contribui para gerar propostas de interesse dos produtores, da comunidade e da sociedade, observando o melhor aproveitamento dos recursos humanos, utilização adequada dos solos e demais recursos naturais da propriedade, obtendo retorno econômico, social e preservando o meio ambiente. A automação dos processos de análise melhora a qualidade, a velocidade e a disponibilidade das informações para os produtores, empresários rurais e instituições do setor, tornando-a cada vez mais impessoal, agilizando as tomadas de decisão. 3) Limitações do estudo Os municípios possuem características diferentes quanto aos recursos naturais e humanos, às atividades econômicas e à organização social. Mas como os objetivos e as atividades produtivas são desenvolvidos de forma semelhante, os resultados da pesquisa, que são específicas para Pinhalão, servem de referência para outros municípios, cuja agropecuária é a base da economia, repetirem este trabalho com vistas ao desenvolvimento municipal sustentável. 4) Recomendações Com relação às divisas intermunicipais definidas por linhas imaginárias (secas), e que historicamente são motivos de discussão com os municípios vizinhos, foram identificados erros nos mapas das divisas municipais, portanto, a sugestão é que os municípios (Pinhalão, Ibaiti, Japira e Tomazina) em conjunto com o órgão competente e responsável pelas questões fundiárias no estado do Paraná, Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), procurem legalizar esta situação. Devido ao interesse do município de Pinhalão em ampliar a área de cultivo de produtos orgânicos, o Conselho de Desenvolvimento Municipal deve promover discussões participativas de esclarecimento, conscientização e orientação dos produtores, buscando soluções conjuntas quanto às alternativas técnicas, econômicas e ambientais corretas para criar um produto com qualidade reconhecida na região, estado e país. 42 REFERÊNCIAS ASSAD, E.D. e SANO, E.E. Sistema de informações geográficas: Aplicações na agricultura. 2. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998, 274 p. BOISIER, S. El difícil arte de hacer región: Las regiones como actores territoriales del nuevo ordem internacional. Cusco, Peru: Centro de estudios Regionales Bartolomé de las Casas, 1992. 214 p. ___. El desarrollo territorial a partir de la construcción de capital sinergético. In: Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v.1, n. 2 de março de 2000. Recife: ANPUR, 2000. p. 39-53. BUARQUE, S.C. Metodologia de planejamento do desenvolvimento local e municipal sustentável. Brasília: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura-IICA, 1999. CÂMARA, G. e MEDEIROS, J.S. Princípios básicos em geoprocessamento. In: Sistema de informações geográficas: Aplicações na agricultura. 2. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1999, p. 03-11. ___. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: EMBRAPA Produção de Informação, 1999. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 1996. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Agropecuário 1995-1996 - Paraná. Rio de Janeiro, 1996. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Manual do SPRING (sistema de processamento de informações georreferenciadas), INPE, 2000, vol. I e II. JARA, C.J. A sustentabilidade do desenvolvimento local. Brasília: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura-IICA, 1998. 316 p. LEPSCH, I.F. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1983. 43 MATTAR, F.N. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 1996. OSAKI, F. Microbacias - Práticas de conservação de solos. Curitiba: Câmara brasileira do livro, 1994. Paraná Cidade. Municípios do Paraná: Dados gerais de Pinhalão. disponível em: <http://celepar6.pr.gov.br.br/municípios/municipio.asp/htm> acesso em: 26/03/2001. POZZEBON, M. e FREITAS, H.M.R. Construindo um EIS (enterprise information system) da (e para a) empresa. In: Revista de administração. São Paulo v. 31, n. 4. p. 19-30, outubro/dezembro de 1996. SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ-SEAB. Manual operativo de fundo de manejo e conservação dos solos e controle da poluição. 4. versão. Curitiba: SEAB, 1992. 96 p. SILVA, J.S. Planejamento agropecuário municipal: os papeis da pesquisa e da extensão. In: Planejamento municipal. (série Agricultura familiar, 4). Brasília: EMBRAPA, 1999. p. 41-52. WEBER, E.J. Uso de sistemas de informação geográfica como subsídio ao planejamento em áreas agrícolas: um caso no planalto do Rio Grande do Sul. Dissertação (mestrado em Sensoriamento Remoto), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 44 CAPÍTULO II USO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEORREFERENCIADAS (SIG) COMO FERRAMENTA DE APOIO NA ELABORAÇÃO DE PLANOS DE DESENVOLVIMENTO RURAL E URBANO - NOVA ESPERANÇA - PR José Francisco Lopes Júnior 1 Milton Satoshi Matsushita 2 Nelma Pereira Cunha 3 Oromar João Bertol 4 1 2 3 4 Zootecnista, Mestre em Zootecnia, Instituto Emater, Nova Esperança, Paraná, Brasil [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Administradora, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Conservação da Natureza, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 45 46 INTRODUÇÃO Ao se pensar em planejamento urbano, o Estatuto das Cidades (2001) nos remete a pensar tanto o rural quanto o urbano. Não podemos mais nos limitar a pensar o urbano e ignorar o rural, já que as decisões aplicadas em um ambiente influenciam diretamente o outro (CARVALHO, 2010). Para Kohlsdorf (1985), o Planejamento Urbano possui dois fatores cruciais no modo de pensar e agir sobre a cidade. O primeiro é assumir a cidade como um processo contínuo. O planejamento, dentro dessa concepção, é entendido como um processo-subsídio a tomadas de decisões que têm a função de transformar o município de acordo com objetivos preestabelecidos. O segundo é a entrada em cena de contribuições vindas de outras áreas, tais como a sociologia, a geografia e a economia. Assim o Planejamento Urbano assumiu característica multidisciplinar ao longo do tempo. O meio rural sempre viveu grandes transformações em sua dinâmica produtiva e social. Em maior ou menor escala, essas transformações têm sido devidas a intervenções mais ou menos planejadas por agentes que estavam, de alguma forma, vinculados a esse universo denominado rural (OLIVEIRA, 2011). Um plano de trabalho é uma ferramenta de planejamento em que se identificam os pontos positivos, negativos e os problemas a serem resolvidos, apontando ainda as formas de como resolvê-los. É uma ferramenta-modelo do processo de gestão. Toda a equipe municipal participa da gestão e, em parceria com as instituições públicas e entidades privadas locais, prepara o ambiente para que as soluções ocorram dentro do prazo estipulado, de forma democrática, participativa, economicamente viável e socialmente justa, respeitando a cultura local e a legislação em vigor (INSTITUTO EMATER, 2012). O processo de planejamento e gestão requer o uso de instrumentos que resultem na eficiência do serviço público. Para isto, há necessidade de resgatar a essência das políticas públicas e seus objetivos de desenvolver o Estado, contribuindo para a sustentabilidade. Entre outras medidas adotadas cita-se o Sistema de Informação Geográfica - SIG e sua capacidade de contribuir para o processo de planejamento (DIAS JÚNIOR et al., 2009). 47 Tofler (1985) acredita que a informação é mais importante que os fatores terra, trabalho, capital e matéria-prima. O cenário atual caracteriza-se por acentuado ambiente concorrencial e acelerada evolução tecnológica. Cada vez mais as decisões precisam ser tomadas com agilidade, rapidez e precisão (POZZEBON et al., 1996), com base em informações precisas que proporcionem agilidade no processo. Segundo Laudon & Laudon (2001), informação é entendida como os dados que precisam ser formatados de um modo significativo e utilizável nas atividades humanas e, em contraste, dados são fluxos de fatos brutos que representam eventos ocorridos em organizações ou no ambiente físico antes que tenham sido organizados de modo que as pessoas possam compreendê-los e utilizá-los. Segundo Freitas et al. (1997), a eficácia no tratamento da informação depende, em grande parte, da forma com que ela é administrada e do bom entendimento de certos conceitos e relações. Não é concebível que um importante e “caro” recurso não seja tratado com um grau de seriedade e competência que assegure à organização, na figura dos usuários, um bom suporte informacional. O surgimento dos SIGs propiciou uma solução natural para resolver grande parte dos problemas das administrações públicas municipais na medida em que permite uma interação com a informação de maneira intuitiva e real, agregando informações específicas, quando for conveniente, e mantendo uma visão global da realidade analisada (OLIVEIRA, 1997). Os SIGs permitem a realização de análises espaciais complexas através da rápida formação e alternação de cenários que propiciam aos planejadores e administradores em geral, subsídios para a tomada de decisões. A opção por esta tecnologia busca melhorar a eficiência operacional e permitir uma boa administração das informações estratégicas, tanto para minimizar custos operacionais quanto para agilizar o processo decisório (SCHOLTEN, 1991). Os SIGs são sistemas computacionais, usados para o entendimento dos fatos e fenômenos que ocorrem no espaço geográfico. A sua capacidade de reunir uma grande quantidade de dados convencionais de expressão espacial, estruturando-os e integrando-os adequadamente, torna-os ferramentas essenciais para a manipulação das informações geográficas (PINA, 1994). 48 Um SIG pode ser definido a partir de três propriedades: a capacidade de apresentação cartográfica de informações complexas, uma sofisticada base integrada de objetos espaciais e de seus atributos ou dados, e um engenho analítico formado por um conjunto de procedimentos e ferramentas de análise espacial (MAGUIRRE et al., 1991). De acordo com Carvalho (2000), o geoprocessamento é um termo amplo que através de programas computacionais engloba diversas tecnologias de tratamento e manipulação de dados geográficos. Dentre essas tecnologias, destacam-se o sensoriamento remoto, a digitalização de dados, a automação de tarefas cartográficas, a utilização de Sistemas de Posicionamento Global - GPS e os Sistemas de Informações Geográficas - SIGs. Maguirre et al. (1991) classificam as aplicações dos SIGs em; a) socioeconômicas, envolvendo o uso da terra, seres humanos e a infraestrutura existente; b) ambientais, enfocando o meio ambiente e o uso de recursos naturais, e c) de gerenciamento, envolvendo administrações públicas, regionais e nacionais, tanto para a definição de novas políticas de planejamento quanto para a avaliação de decisões tomadas. A implementação de um SIG é um processo caro e de médio e longo prazo. A decisão de implementá-lo, ou não, deve ser baseada na análise de custo-benefício (CARVALHO et al., 2000). - Alguns dos benefícios mais comuns de um SIG são: melhor armazenamento e atualização dos dados; recuperação de informações de forma mais eficiente; produção de informações mais precisas; rapidez na análise de alternativas; e vantagem de decisões mais acertadas. Compreender a distribuição espacial de dados oriundos de fenômenos ocorridos no espaço constitui hoje um grande desafio para a elucidação de questões centrais em diversas áreas do conhecimento, seja em saúde, em ambiente, em geologia, em agronomia, entre tantas outras (DRUCK et al., 2004). O uso da geoinformação e de geotecnologias, como SIG, auxilia o planejamento estratégico municipal, aumentando a eficiência da gestão territorial, pois podem apoiar várias ações no município relativas à educação, transporte, saúde, zoneamentos, planos de desenvolvimento, análise de riscos etc. (PIEROZZI JUNIOR, 2006). 49 Nos estudos ambientais os dados geomorfológicos são essenciais para análises integradas do meio. A geomorfologia permite conhecer e compreender os tipos e formas de relevo, a hipsometria, a declividade, processos atuantes, fragilidades e potencialidades de sistemas ambientais, entre outros, quando se quer usar e/ou ocupar o solo e a água, visando ações futuras (BERGAMO et al., 2006). A declividade relaciona-se com a velocidade de escoamento superficial, afetando, portanto, o tempo que leva a água da chuva para concentrar-se nos leitos fluviais que constituem a rede de drenagem das bacias, sendo que os picos de enchente, infiltração e susceptibilidade para erosão dos solos dependem da rapidez com que ocorre o escoamento sobre os terrenos da bacia (VILLELA e MATTOS, 1975). A modificação rápida do uso do meio físico, decorrente da intensificação tanto para uso agrícola como para áreas urbanas, requer a adoção de técnicas de avaliação e diagnóstico que acompanhem a dinâmica espaço-temporal do uso do solo (ASSAD, 1995 e CANEPARO, 2000). Atualmente, o forte dinamismo do entorno geopolítico, social, econômico, tecnológico e administrativo está produzindo implicações de grande magnitude para o desenvolvimento urbano. Essas implicações, por sua vez, obrigam a transformação e renovação dos instrumentos tradicionais de planejamento urbano. As propostas de planejamento físico-territorial representam uma das últimas mudanças culturais no conceito de planejamento, em grande parte, devido ao surgimento do movimento ecológico. Em todo o mundo, o movimento ambientalista encontra-se, em grande medida, no cerne de uma reversão drástica das formas pelas quais pensamos a relação entre economia, sociedade e natureza, propiciando, assim, o desenvolvimento de uma nova cultura. O objetivo do planejamento passa a ser, então, alcançar um maior desenvolvimento econômico e uma melhor qualidade de vida, considerando a dimensão física do território, mas, igualmente, contemplar a questão ambiental e a complexidade socioeconômica e política da comunidade, minimizando, assim, as contradições e fraturas habituais nos planos setoriais (GUELL, 1997 e CASTELLS, 1999). O presente trabalho tem como objetivo gerar instrumentos, através da integração do geoprocessamento com banco de dados municipais, para auxiliar no diagnóstico e elaboração de planos de desenvolvimento e revisões no município de Nova Esperança - PR. 50 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no município de Nova Esperança, localizado na microrregião de Astorga, parte integrante da Região Geográfica Norte Central Paranaense, estado do Paraná (Figura 1). O relevo onde está localizado o município faz parte das seguintes bacias hidrográficas: do rio Pirapó, Ivaí e Paranapanema IV (Figura 2). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR. FIGURA 2 - BACIAS HIDROGRÁFICAS DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR. 51 A implantação do SIG no município de Nova Esperança iniciou-se em janeiro de 2002, sendo que o processo de aprimoramento do sistema continua até os dias atuais. Material Foram utilizadas diversas fontes de dados originais para caracterização física e socioeconômica do município de Nova Esperança: - Mapa político em formato digital em coordenadas planas UTM, do estado do Paraná com as divisas entre municípios, elaborado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), órgão responsável pelo cadastro fundiário no estado do Paraná. - Mapa de solos em formato digital em coordenadas planas UTM, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Solos), em 1986 e vetorizado pela EMBRAPA Solos em 1999. - Base cartográfica (cartas topográficas) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em escala 1:50.000. - Cartas MI-2756/2 (Nova Esperança), MI-2756/3 (Floraí) e MI2756/4 (Mandaguaçú), elaboradas a partir de fotografias aéreas de julho de 1980, restituídas, desenhadas e impressas em 1990. - Carta MI-2756/1 (Paranavaí), elaborada a partir de fotografias aéreas de 1996, restituídas, desenhadas e impressas em 2000. - Imagem de satélite LANDSAT 7 TM, órbita ponto WRS 223-76, em formato digital, imageada em março de 2.002, com composição colorida 3 (azul), 4 (verde) e 5 (vermelho), e pancromática, distribuída no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Métodos A elaboração de um plano de desenvolvimento deverá buscar a integração de várias formas de dados (primários e secundários), através da utilização de tecnologia de geoprocessamento como instrumento de apoio. a) Preparação e Armazenamento de Dados Os dados coletados foram organizados, digitados, vetorizados e armazenados, em formato que facilita o processamento, recuperação e integração com uso de programas específicos. 52 a.1) Escaneamento das Cartas Topográficas As cartas topográficas, em meio analógico (papel) foram convertidas em arquivos digitais (eletrônicos), através do escaneamento em uma resolução de 300 dpi e salvas como imagem com formato tiff. a.2) Registro das Cartas Topográficas Os registros das cartas topográficas digitais foram realizados no software SPRING, utilizando-se os parâmetros cartográficos no sistema de coordenadas planas UTM e modelo da Terra no datum horizontal: SAD-69 e datum vertical: Imbituba-SC. Para o registro das cartas foram utilizados pontos conhecidos, com latitude e longitude, coletados a campo e diretamente na carta topográfica original, sendo estas coordenadas transferidas ao software SPRING através do teclado do computador e ajustadas aos pontos geográficos escolhidos na imagem. As cartas topográficas registradas em formato digital foram exportadas pelo SPRING para o formato tiff, para terem compatibilidade com o software AutoCad 14. a.3) Vetorização das cartas topográficas As cartas topográficas foram vetorizadas na tela do computador com uso do software AutoCad 14, usando como base as cartas topográficas escaneadas e registradas (imagem raster contínua em formato analógico), onde os temas hidrografia, sistema viário, curvas de nível com equidistância de 20 metros, pontos e textos foram vetorizados em camadas (layers) distintas. As camadas foram vetorizadas e ajustadas com as coordenadas planas UTM (x e y), sendo que na camada curvas de nível e pontos, inseriu-se posteriormente as altitudes das curvas e dos pontos (cotas z). Após a vetorização das quatro cartas topográficas, as mesmas foram unidas e recortadas no perímetro do município, e exportadas em formato DXF (Drawing interchange file) para serem abertas no software SPRING, onde foram geradas as classes de declividade, classes de altimetria e classes de exposição ao sol. a.4) Geração do mapa de bacias hidrográficas O mapa digital das bacias hidrográficas foi elaborado levando-se em consideração a hidrografia, as curvas de nível e os pontos cotados, 53 localizando-se as nascentes, os rios e o sentido para onde convergem as águas, unindo a outros rios até formarem as cinco microbacias hidrográficas do município. A vetorização foi realizada com uso do software AutoCad 14, criando o perímetro de cada bacia, traçando-se uma linha imaginária nos pontos mais elevados, que são os divisores de água, levando-se em consideração a organização social da comunidade. a.5) Processamento das cartas topográficas O software SPRING possibilitou o uso da base cartográfica vetorizada, a partir da qual foi gerado o modelo numérico do terreno, utilizado na elaboração dos mapas de classes de declividade, classes hipsométricas (altitude) e carta de exposição ao sol que, em conjunto com o mapa de solos e mapa de preservação permanente, contribuíram para definição da aptidão dos solos do município e para subsidiar com informações científicas as decisões quanto às melhores alternativas técnicas, econômicas e ambientalmente sustentáveis. a.5.1) Geração das classes de declividade O mapa de declividade do município foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros, pontos cotados em topos de elevações e rios como linhas de quebra, sendo o seu resultado classificado em porcentagem, segundo as classes de relevo reconhecidas pela EMBRAPA (0 a 3%, 3 a 8%, 8 a 20%, 20 a 45%, 45 a 100% e maior que 100%). a.5.2) Geração das classes de altimetria O mapa de classes de altimetria foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros. Em função das cotas das curvas de nível existentes no município, as classes de altimetria foram divididas com intervalos de 50 em 50 metros, conforme faixas abaixo definidas: 301 a 350, 351 a 400, 401 a 450, 451 a 500, 501 a 550 e 551 a 600 metros de altitude em relação ao nível do mar. 54 a.5.3) Geração das classes de exposição ao sol O mapa de classes de exposição ao sol foi gerado automaticamente com uso do software SPRING, utilizando-se as cartas topográficas registradas, vetorizadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de nível espaçadas de 20 em 20 metros, pontos localizados em áreas elevadas e rios como linhas de quebra, classificadas conforme exposição aos pontos cardeais: leste, oeste, norte e sul. As faces foram classificadas conforme o seu ângulo de exposição ao sol, sendo face leste de 45º a 135º, face sul de 135º a 225º, face oeste de 225º a 315º e face norte de 0º a 45º e de 315º a 360º. b) Levantamentos com uso de GPS Georeferenciamento de áreas das principais explorações, atividades de risco ambiental, estradas federais, estaduais e municipais, postos de saúde, escolas e pontos turísticos do município, com uso de GPS de navegação. RESULTADOS E DISCUSSÃO O SIG municipal permite a visualização, consulta e análise dos temas mapeados, otimizando o acesso à informação no intuito da tomada correta de decisão para uma gestão territorial mais eficaz. Através deste modelo de SIG podem-se analisar os dados espacializados em mapas das propriedades rurais, comunidades e do município. As propriedades rurais foram representadas através do mapa fundiário, enquanto as comunidades em mapas com as divisas físicas e o município em mapa com divisa política, todos relacionados a banco de dados, que podem ser facilmente atualizados. A seguir são mostrados alguns exemplos de utilização do sistema de informações geográficas, para consulta e análise dos dados georreferenciados disponíveis no mesmo. a) Localização Geográfica O gerenciamento do território municipal dá-se por meio de conhecimento de seus limites, assim, qualquer ação sobre o município deve ter como base o mapa municipal, que é um documento sistemático de 55 características político-administrativas e geográficas. O município de Nova Esperança está entre sete municípios confrontantes, apresentados na Figura 3. FIGURA 3 - MUNICÍPIOS CONFRONTANTES AO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR A localização privilegiada faz do município um ponto de convergência dos municípios vizinhos, permitindo o fácil acesso a importantes rodovias estaduais que fazem a ligação do município com os principais mercados consumidores do estado e do país, com facilidade de acesso à hidrovia Tietê, à ferrovia e ao porto de Paranaguá. b) Sistema Viário Municipal O SIG pode ser utilizado para auxiliar o gerenciamento de infraestrutura, logística, administração de frotas e diversas outras tarefas relacionadas a transporte. Utilizando-se essa tecnologia, pode-se elaborar um mapa atualizado de todas as estradas rurais municipais e acessos (Figura 4), sendo utilizado como ferramenta de apoio pela prefeitura municipal de Nova 56 Esperança - PR, em parceria com o Instituto Emater, na elaboração de projetos de readequação de estradas. FIGURA 4 - SISTEMA VIÁRIO DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR O Município é transpassado por quatro rodovias e uma estrada municipal asfaltadas: a BR 376 (para Paranavaí, a nordeste), a PR 555 (para São Carlos do Ivaí e Floraí, a oeste), a PR 218 (para Atalaia, a nordeste), a PR 463 (para Uniflor e Presidente Prudente - SP, a noroeste) e a estrada Inglesa (ligação do perímetro urbano com a PR 463). Existem ainda muitas estradas não pavimentadas na sua área geográfica (Tabela 1). Tabela 1 - Tipos de pavimentos, quantidade e respectiva quilometragem do sistema viário do município de Nova Esperança, Paraná. Tipo de Pavimento Estradas (Nº) km Asfalto 5 59.35 Terra 49 174,09 Total 54 233,44 Fonte: Instituto Emater, 2012 57 c) Comunidades Rurais Segue abaixo (Figura 5) a representação espacial das comunidades rurais do município de Nova Esperança. FIGURA 5 - COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR As treze comunidades para a realização do planejamento são: Barão de Lucena com 3.709,08 ha; Bela Vista com 4.424,60 ha; Bom Jesus com 1.501,24 ha; Ivaitinga com 4.747,82 ha; Jangada com 1.577,10 ha; Paracatú com 5.254,12 ha; Paulista com 1.688,31 ha; Pirapitinga com 1.851,58 ha; Placa Zacarias com 4.270,73 ha; Santa Terezinha com 2.328,57 ha; Sede com 3.793,16 ha; União com 934,63 ha e Vila Dossi com 5.584,48 ha, totalizando a área do município com 40.221,11 ha. d) Estrutura Fundiária O município de Nova Esperança, bem como grande parte das cidades da região norte e noroeste do estado do Paraná tiveram sua colonização realizada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) de capital inglês. 58 O mapa base é formado pela representação gráfica das fronteiras entre as propriedades e pela distribuição dos imóveis rurais no território municipal (Figura 6). O mapa da estrutura fundiária permite uma visão panorâmica e simultânea de todos os imóveis rurais e de outros atributos existentes no banco de dados, tais como a área total de cada imóvel rural, o perímetro, o proprietário, bem como a identificação dos imóveis limítrofes. FIGURA 6 - ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR O município é composto principalmente por pequenas propriedades rurais com área média de 34,43 ha distribuídas no município de Nova Esperança - PR. A Tabela 2 apresenta a distribuição das áreas, de acordo com a área dos lotes rurais. 59 Tabela 2 - Distribuição das áreas do município de Nova Esperança, Paraná Classes Nº de Lotes Área Total (ha) Área Média (ha) % Lotes % Área 0 a 15 ha 552 4.595,18 8,33 48,72 11,78 15 a 30 ha 279 6.067,19 21,75 24,62 15,55 30 a 50 ha 118 4.888,03 41,42 10,41 12,53 50 a 100 ha 108 7.812,71 72,34 9,53 20,03 100 a 200 ha 48 6.610,23 137,71 4,24 16,95 200 a 300 ha 18 4.211,20 233,96 1,59 10,80 300 a 400 ha 5 1.699,64 339,93 0,44 4,36 400 a 500 ha 2 932,83 466,42 0,18 2,39 500 a 1000 ha 3 2.190,20 730,07 0,26 5,61 1.133 39.007,22 34,43 100 100 Total Fonte: Emater, 2003 A concentração de pequenas propriedades pode ser observada através da ordenação dos lotes em classes (Tabela 2), onde verificase que os lotes até 50,0 ha representam 83,76% com uma área total de 15.550,41 ha (39,87% da área total), enquanto os lotes com áreas superiores a 50,0 ha representam 16,24% com uma área total de 23.456,81 ha (60,13% da área total). O SIG permitiu a elaboração do mapa do município de Nova Esperança - PR, em meio digital, subsidiando o conhecimento geográfico e áreas de conflitos de divisas intermunicipais (Figura 7). Através da confrontação do mapa fundiário (digitalizado), dados de matrículas do Cartório de Registro de Imóveis de Nova Esperança Comarca de Nova Esperança - PR, e do mapa da divisão político-administrativa do Paraná (ITCG/SEMA, 2013), pode-se constatar a necessidade de revisão ou atualização da delimitação da divisa municipal. 60 FIGURA 7 - DIVISAS MUNICIPAIS COM NECESSIDADE DE REVISÃO DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR e) Altimetria A Altimetria se refere à representação das elevações do terreno através do fatiamento do relevo em cotas altimétricas que visam demonstrar através de classes coloridas sua distribuição espacial (Figura 8). As altitudes de modo geral, variam de 300 a 550 metros nas áreas próximas aos ribeirões. Nota-se que a separação das classes de altimetria é pouco acentuada já que as partes mais elevadas representam somente 2,96% da área total da bacia (550m até 600m), como pode ser observado na Tabela 3. 61 FIGURA 8 - CLASSES DE ALTIMETRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR Tabela 3 - Distribuição espacial da altimetria do município de Nova Esperança, Paraná Classes de Altimetria 300 a 350 350 a 400 400 a 450 450 a 500 500 a 550 550 a 600 Total Área (ha) 116,64 3.857,11 9.327,95 16.657,50 9.070,05 1.189,82 40.219,07 Área (%) 0,29 9,59 23,19 41,42 22,55 2,96 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2014 f) Declividade A declividade foi dividida em 5 classes de acordo com o sistema brasileiro de classificação de solos da Embrapa (1999), como pode ser visualizado no mapa abaixo (Figura 9). 62 FIGURA 9 - CLASSES DE DECLIVIDADE DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR O município de Nova Esperança possui 66,19% de sua área com declividade até 8%, sendo plana (19,67%) ou suavemente ondulada (46,52%). A Tabela 4 apresenta os dados mensurados sobre a distribuição espacial desta variável. Tabela 4 - Distribuição espacial da declividade do município de Nova Esperança, Paraná Relevo Plano Suave ondulado Ondulado Forte ondulado Montanhoso Classes (%) Área (ha) 000 a 003 003 a 008 008 a 020 020 a 045 > 045 7.911,16 18.710,44 13.011,17 576,72 8,43 19,67 46,52 32,35 1,43 0,02 TOTAL 40.217,92 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2014 63 Área (%) As contribuições dos mapas de hipsometria, declividade e outras representações, que representam a estrutura do relevo, proporcionam inúmeros subsídios para desenvolvimento de diagnósticos e outros trabalhos para o planejamento urbano e rural. Um dos subsídios foi no diagnóstico de microbacia do Ribeirão Paracatu, manancial de abastecimento de água da cidade de Nova Esperança, que possui uma área de drenagem de 51,50 km2 e perímetro de 34,28 km (Figura 10). FIGURA 10 - ÁREA DE DRENAGEM DA MICROBACIA PARACATU, MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR f) Pedologia A identificação e mapeamento dos solos subsidiam os planejamentos agrícolas, levantamentos do uso da terra, estudos de terras para irrigação, monitoramentos ambientais e outros. Os resultados obtidos foram satisfatórios na identificação dessa classe temática, a partir da quantificação e da espacialização dos diversos tipos de solos encontrados na área do município. Foram identificadas as seguintes ordens de solos: Latossolos, Argissolos e Nitossolos. 64 A Figura 11 apresenta o mapa da área contendo a representação geográfica das diversas classes de solos no município de Nova Esperança. FIGURA 11 - DISTRIBUIÇÃO DAS CLASSES DE SOLOS NO MAPEAMENTO DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR Com base neste mapa foram calculadas as áreas e as porcentagens das classes de solos, conforme exibido na Tabela 5. Tabela 5 - Classes de solos, área em hectares e porcentagem da área no município de Nova Esperança, Paraná Classes de Solos ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico ARGISSOLO VERMELHO Eutrófico abrúptico ARGISSOLO VERMELHO Eutrófico típico LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico TOTAL Fonte: Instituto Emater, 2014 65 Área (ha) 4.851,48 13.726,36 1.075,05 18.579,89 605,35 1.380,93 40.219,06 Área (%) 12,06 34,13 2,67 46,20 1,51 3,43 100,00 g) Hidrogeologia No município de Nova Esperança, ocorrem duas Unidades Aquíferas, a Unidade Caiuá e a Serra Geral Norte (Figura 12). FIGURA 12 - MAPA DAS UNIDADES AQUÍFERAS SITUADAS NO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR A Formação Caiuá abrange 79,50% toda a área do município (Tabela 6). Essa unidade apresenta características litológicas relativamente homogêneas, sem grandes quantidades de argilas oferecendo condições para que o aquífero Caiuá seja considerado livre, decorrente da homogeneidade e da permeabilidade, o que é de suma importância para a disponibilidade hídrica do município. Tabela 6 - Distribuição espacial das Unidades Aquíferas no município de Nova Esperança - PR Unidade Aquífera Arenito Caiuá Serra Geral Norte Área (ha) 31.974,51 8.244,55 Área (%) 79,50 20,50 TOTAL 40.219,06 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2014 66 g) Hidrografia Os cursos d´água são bem distribuídos e a quase totalidade dos lotes rurais, está situada às margens de um córrego ou ribeirão (Figura 13). FIGURA 13 - HIDROGRAFIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR O município é drenado por 08 (oito) ribeirões e 212 (duzentos e doze) córregos (Tabela 7). Tabela 7 - Quantidade e comprimento dos córregos e ribeirões no município de Nova Esperança - PR Cursos d'água Quantidade (nº) Comprimento Total (m) Córregos 212 250.841,22 Ribeirões 8 123.450,01 220 374.291,23 TOTAL Fonte: Instituto Emater, 2012 67 A distribuição espacial dos cursos d´água, em função da localização das bacias hidrográficas do Paraná, estão apresentados na Tabela 8. Tabela 8 - Distribuição espacial dos Cursos d´água, em função das bacias hidrográficas do Paraná Bacias Hidrográficas Ivaí Paranapanema IV Pirapó TOTAL Cursos d'água Cursos d'água Comprimento Comprimento (nº) (%) (m) (%) 141 64,09 226.339,21 60,47 60 27,27 96.532,95 25,79 19 8,64 51.419,07 13,74 220 100,00 374.291,23 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2014 h) Uso do Solo O uso do solo identifica o propósito econômico ou social para o qual a terra é utilizada e a ocupação identifica a cobertura física ou biológica do solo. Com o auxílio do geoprocessamento e levantamento de campo, foi possível elaborar o mapa de uso e ocupação do solo para o município de Nova Esperança (Figura 14). FIGURA 14 - USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR, 2003 68 Na Tabela 9, apresentam-se as ocorrências em área (ha) e porcentagem (%) do uso e ocupação do solo no município de Nova Esperança - PR. Tabela 9 - Distribuição da área (ha) e porcentagem (%) das ocupações do solo mapeadas no município de Nova Esperança - PR, 2003 Uso e Ocupação do Solo Área (ha) Área (%) Amoreira 4.084,19 10,15 Áreas urbanizadas 1.238,48 3,08 Cana-de-açúcar 1.116,56 2,77 475,57 1,18 Culturas anuais (grãos) 5.127,30 12,74 Culturas anuais (outras) 1.466,37 3,64 929,96 2,31 4.217,55 10,48 Pastagens cultivadas 21.581,04 53,63 TOTAL 40.237,02 100,00 Cultivos florestais Culturas permanentes Florestas nativas Fonte: Emater, 2003 i) Planejamento e Gerenciamento Urbano O planejamento é um instrumento fundamental em todas as áreas da administração, seja ela pública ou privada. No entanto, sem informações corretas, atuais e consistentes, não é possível planejar e gerenciar adequadamente. Na Figura 15, temos um exemplo de uma aplicação do SIG, para o planejamento e gerenciamento urbano. Através do geoprocessamento, pode-se criar um banco de dados com informações funcionais do município. Como exemplo, a espacialização do sistema viário urbano (Tabela 10). 69 FIGURA 15 - SISTEMA VIÁRIO URBANO DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA/PR Tabela 10 - Distribuição espacial do sistema viário urbano, no município de Nova Esperança - PR Descrição nº Área (m2) Área (%) Alameda 1 1.246,51 0,08 Avenida 17 320.498,51 21,59 Praça 9 23.332,94 1,57 Rua 207 1.139.268,31 76,75 TOTAL 234 1.484.346,27 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2014 A análise de indicadores socioeconômicos permite uma leitura da realidade capaz de gerar subsídios para o planejamento urbano e a gestão municipal. Este trabalho objetiva mostrar algumas possibilidades na espacialização de dados demográficos disponíveis por setor censitário do Censo 2000. 70 A Figura 16 apresenta os setores censitários do município de Nova Esperança. FIGURA 16 - SETORES CENSITÁRIOS DO MUNICÍPIO DE NOVA ESPERANÇA - PR, 2000 Fonte: IBGE, 2003 Tabela 11 - Taxa de pessoas residentes alfabetizadas, no município de Nova Esperança - PR, 2000 Setor Censitário Barão de Lucena Bela Vista Bom Jesus Cidade Ivaitinga Paracatu Pedreira Placa Zacharias Vila Dossi TOTAL Pessoas residentes (nº) 1.336 659 675 20.820 746 433 400 388 272 Pessoas alfabetizadas (nº) 995 504 521 16.798 557 313 317 289 196 Pessoas alfabetizadas (%) 74,48 76,48 77,19 80,68 74,66 72,29 79,25 74,48 72,06 25.729 20.490 79,64 Fonte: IBGE, 2003 71 Como resultado da aplicação dos dados demográficos sobre a malha digital dos setores censitários (rural e urbano) pode-se citar como exemplo, a taxa de alfabetização da população do município por setor censitário (Tabela 11). CONCLUSÃO As técnicas de Geoprocessamento, por apresentarem-se multidisciplinares, podem ser aplicadas em diversos estudos, como se pode observar no presente capítulo, pelo qual os subprodutos gerados a partir da coleta, espacialização e posteriores análises desses dados, complementados com trabalho de campo, permitem uma melhor compreensão do espaço geográfico permitindo, assim, a interface do contexto geral acerca de temas que possibilitem a dinâmica regional, regionalização de áreas, sejam elas unidades político-administrativas (municípios) ou áreas de expansão produtiva, entre outros, que podem, perfeitamente, utilizar esse instrumental tecnológico para seus estudos. O geoprocessamento, como ferramenta de apoio no planejamento, contribuiu para o desenvolvimento de novos conhecimentos, habilidades e competências para o aprimoramento da atuação profissional do Instituto Emater no município. Os resultados propiciaram o estudo teórico dos principais conteúdos disciplinares do geoprocessamento, relacionado a uma compreensão inicial de seu significado social estratégico e das suas mais diversas aplicações em estudos do espaço rural e urbano, do meio ambiente e nos correspondentes processos de planejamento. O Sistema de Informações Geográficas - SIG promoveu um entendimento abrangente da realidade social e da organização do espaço rural e urbano no município de Nova Esperança, o que inclui as problemáticas de ordem econômica, política e cultural, bem como aquelas que retratam a desordenação do espaço construído e os desequilíbrios ambientais. O SIG pode ser usado pela prefeitura municipal de Nova Esperança, mediante os ajustes necessários, para melhorar os serviços oferecidos e as decisões tomadas em benefício público. Os resultados quanto ao uso dos recursos naturais, dos fatores de produção (capital e mão 72 de obra) e das informações sociais (saúde, educação, etc.), devem colaborar na elaboração do diagnóstico e planejamento adequado da administração direta do município (prefeitura e secretarias municipais), poder legislativo, órgãos da administração indireta, Instituto Emater e de outras empresas, na revisão, implementação e monitoramento do plano diretor municipal. REFERÊNCIAS ASSAD, M.L.L. Uso de um sistema de informações geográficas na determinação da aptidão agrícola de terras. Revista Brasileira Ciência do Solo, Campinas, 1995. 19: p. 133-139. BERGAMO, E.P. e ALMEIDA, J.A.P. A importância da geomorfologia para o planejamento ambiental: Um estudo do município de Fartura/SP. In: VI Simpósio Nacional de Geomorfologia, Goiânia, GO, 6-10 setembro 2006. CANEPARO, S.C. 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Editora Mc Graw Hill, São Paulo, 1975. 245p. 75 76 CAPÍTULO III PROCESSO DE GESTÃO MUNICIPAL COM USO DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NO MEIO RURAL: MARIALVA - PR Rodolfo Mayer * * Engenheiro Agrônomo, Especialista em Geoprocessamento, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil - [email protected] 77 78 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas os avanços tecnológicos e a disponibilidade de hardwares e softwares, imagens de satélite mais acessíveis e de baixo custo, aliados ao georreferenciamento levaram ao desenvolvimento de ferramentas denominadas de Sistema de Informação Geográfica - SIG. Os SIGs permitem processar, manipular, visualizar, dimensionar e analisar os dados espaciais no meio rural, definido neste trabalho, em questões relativas à agropecuária, ao meio-ambiente, aos recursos hídricos, estradas e infraestrutura, além de inúmeras outras possibilidades. O sistema permite a elaboração e gerenciamento de banco de dados georreferenciados que possibilita: - - - - - Avaliação do valor venal do imóvel: o banco de dados permite visualizar tanto a área rural indicada, sua localização, proprietário, área cultivada e demais dados, podendo servir de atualização para cobrança de impostos; Transações imobiliárias: da mesma forma citada acima, as transações imobiliárias, podem ser facilitadas pelo fácil acesso às informações disponíveis no sistema; Parceria com outros órgãos: podemos citar como usuário a Segurança Pública, na qual os órgãos de repressão (polícias civil, militar ou federal) podem localizar de onde parte o pedido de atendimento, identificando a propriedade que, em geral, é de difícil localização em caso de sinistro, reduzindo o tempo de atendimento e eliminando chamadas improdutivas. O trabalho permite tanto a localização da propriedade pelas coordenadas geográficas como também pelo cadastro atualizado dos proprietários e respectivos endereços; Gerenciamento de catástrofes naturais: a defesa civil, em situações de emergência, precisa de dados atualizados, permitindo isolar regiões ou estabelecer prioridades de atendimento; Gerenciamento de projetos governamentais: o banco de dados do SIG permite melhor planejamento para a expansão de projetos como estradas, urbanas ou rurais, programas de microbacias, crédito rural, moradia, além de outras; 79 - Gerenciamento de projetos ambientais: o meio-ambiente é prioridade social e o banco de dados do SIG permite evitar depredação ambiental, ampliando a possibilidade de aplicação de projetos ambientais específicos; - Utilização por ONG/OSCIP: essas organizações não governamentais também se servem do banco de dados do SIG para sua atuação através do incentivo ao turismo rural como, por exemplo, a criação da “estrada da uva”, no município de Marialva no estado do Paraná; - Gerenciamento de Cooperativas: planejamento e atendimento aos associados, ágil e imediato, pelo acesso à área cultivada e a seus produtos; - Aplicação em instituições financeiras: na concessão de Crédito Rural ou aplicações de recursos destinados aos agricultores; - Planejamento Agrícola: expansão e controle da área de cultivo de culturas específicas (café, uva, cana de açúcar), identificadas como próprias do município. O rol elencado acima não se esgota em si, e o SIG pode ser utilizado por municípios, órgãos não-governamentais ou empresas, com a finalidade de gerar informações atualizadas que servirão de subsídios para tomada de decisões imediatas e para planejamentos futuros, com a elaboração e execução de projetos e cartas cartográficas, e mais especificamente no meio rural, servindo no acompanhamento da evolução fundiária das pequenas propriedades, geração de emprego, novas moradias, carreadores de acesso, expansão da viticultura, etc. Para uma melhor compreensão do trabalho, segue uma fundamentação teórica dos principais conteúdos abordados. Sistema de Informações Geográficas - SIG A evolução histórica do Sistema de Informações Geográficas - SIG começou a destacar-se a partir de 1960. Segundo Paredes (1994), “em 1962, surge o Sistema de Informação Geográfica no Canadá. Este sistema permitiu analisar dados de áreas com recobrimento de diferentes assuntos, com o propósito do inventário de terras; [...] em 1964, STORET, do Serviço de Saúde Pública de USA, automatiza a Divisão de fornecimento de água e controle de poluição. Nesse projeto, uniformizaram-se os dados dos diferentes órgãos e fornecem-se dados como qualidade de água, cursos, processo 80 de tratamento e localização, etc. ligados em rede; [...] em 1964, MIDAS, no Serviço Florestal de USA, desenvolve-se o primeiro SIG para gerenciamento dos recursos naturais; [...] em 1968, o Departamento de Censo de USA, desenvolve o DIME (Dual Independent Map Encoding) para a representação digital das redes de estradas e zonas de limites censitários; [...] na década de 70, desenvolveram-se definições de uso da cartografia e de estrutura topológica dos dados; [...] na década de 80, realizaram-se diferenciações criticas entre CAD, DBMS, SIG, etc. Em HARVARD, a computação gráfica e a análise espacial implementam o desenvolvimento do SIG. Muitos pioneiros e softwares de SIG são criados e distribuídos para construir os mais diversos aplicativos; [...] a década de 90 promete caracterizar-se, não apenas pelo avanço de hardware (especialmente quanto à “mips” e os meios de armazenamento a nível de gigabytes), mas, sobretudo, a nível de modelos e metodologias dos aplicativos, evidenciando o domínio do uso da informação nos diferentes campos da atividade humana.” O SIG nos dias de hoje é extremamente necessário para o desenvolvimento e estudos em diversas áreas. “O geoprocessamento utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento de informações geográficas e tem sido cada vez mais utilizado para a análise de recursos naturais. Essa ferramenta é especialmente útil para países de grande dimensão e com deficiência de informações em escalas adequadas, pois apresenta um grande potencial para a tomada de decisões sobre planejamentos urbanos e ambientais, principalmente por ser uma tecnologia que apresenta um custo relativamente baixo” (ASSAD & SANO, 1998; FLORENZANO, 2002). O SIG é um sistema computacional que permite armazenar e integrar feições gráficas e atributos dos dados que estão georreferenciados, ou seja, localizados na superfície terrestre e numa projeção cartográfica qualquer (ASSAD & SANO, 1998; FLORENZANO, 2002). Tal sistema engloba programas, procedimentos e módulos, ou subsistemas, inteirados e projetados para dar suporte ao armazenamento, processamento, análise, modelagem e exibição de dados e/ou informações espacialmente referenciadas, constituídas numa única base de dados. Dispondo de um conjunto de ferramentas e operações que permitam a integração e análise dos dados, de maneira a transformá-los em informações úteis para tomada de decisões, o SIG normalmente integra outros sistemas, como o processamento digital de imagens, análise estatística, análise geográfica, digitalização (para ser capaz de realizar estas operações) e ainda dispor de entrada e saída de dados em diversos formatos, tendo como ponto central um banco de dados (LAMPARELLI, ROCHA & BORGHI, 2001). 81 Com esses módulos é possível realizar uma série de modelagens, entre as quais se pode destacar o modelo digital de elevação (MDE), que é uma representação matemática contínua da distribuição espacial das variações de altitude numa área. Ele é construído a partir das curvas de nível e pontos altimétricos (GEPLAN, 2007). “Existem diversas formas de entrada de dados nesse sistema, das quais as principais são aquelas oriundas dos equipamentos de posicionamento por satélite e sensoriamento remoto, que é a tecnologia que permite obter imagens e outros tipos de dados, da superfície terrestre, através da captação e do registro da energia refletida ou emitida pela superfície. A obtenção dos dados é feito à distância, isto é, sem que haja o contato físico entre o sensor e a superfície terrestre” (FLORENZANO, 2002). As plataformas mais utilizadas de sensoriamento remoto são os aviões (plataforma aérea) e satélites (plataforma espacial), podendo também ser utilizadas plataformas terrestres. O termo sensoriamento remoto se refere especificamente aos métodos que se utilizam da energia eletromagnética na detecção e medida das características de objetos, incluindo-se as energias relativas a luz, calor e ondas de rádios (LAMPARELLI, ROCHA & BORGHI, 2001; CENTENO, 2003). Características do SIG O SIG possibilita a definição, mensuração, classificação, enumeração de elementos geográficos no mundo real e, a partir destas atividades, é possível analisar o mundo real de maneira a viabilizar atuações sobre ele mesmo, seja por meio de operações, manutenções, gerenciamento, construção, entre outros. São funções do SIG: aquisição, gerenciamento, análise e exibição de resultados. A aquisição se dá por meio da conversão de informações analógicas em digitais. Podem ser citadas como fontes de aquisição as fotografias aéreas, mapas, cartas, imagens de satélite entre outras. Já a função de gerenciamento está relacionada à inserção, remoção ou modificação de dados. Por sua vez, a função de análise permite o exame de dados conexos através das tarefas de seleção e agregação de informações, controle da geometria e topologia, conjugação de informações temáticas e extração de informações estatísticas. Por fim, a função de exibição de resultados está ligada à representação de dados manipulados podendo ser constituída somente de dados não-gráficos. O SIG, para permitir que as funções supradescritas atinjam suas 82 finalidades, efetua as chamadas operações espaciais, essenciais do SIG, uma vez que é fundamental que ele permita operações espaciais sobre os dados. Sobre a união de dados convém relembrar que somente o SIG pode unir dados gráficos e não gráficos (ou conjunto dos mesmos). Acerca da manipulação de dados é necessário destacar alguns aspectos. Um SIG precisa propiciar a recuperação de informações, seja em razão de critérios tanto espaciais quanto não-espaciais. A manipulação de dados vetoriais recai sobre dados de características posicionais e topológicas. São operações deste tipo de manipulação: determinação do polígono envolvente, união de áreas (por meio da qual transforma áreas contíguas numa única área), intersecção (calcula objetos a partir da intersecção de objetos contidos em um ou mais mapas), cálculo de distância e área entre dois objetos e manipulação de conexões entre pontos (soluciona problemas de cálculo de custos de deslocamento e definição de caminhos mínimos numa rede). Destacase ainda a manipulação de dados raster baseada na implementação de operações mais simples. Sistema de Posicionamento Global - GPS Em toda a história da humanidade sempre houve a necessidade de localizar-se, estabelecer caminhos e orientar-se para seguir a direção correta e, ao longo dos tempos, foram os avanços tecnológicos que permitem alta precisão à localização e orientação. Pode-se dizer que o início do desenvolvimento do sistema deu-se em 1957, ano em que a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial da história, fato que deu início aos primeiros estudos sobre o uso de satélites na localização de pontos sobre a superfície terrestre. Contudo, foram os americanos que, de fato, criaram o sistema. A base dessa criação foi o projeto NAVSTAR, desenvolvido na década de 1960 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O sistema oferece diversas informações sobre qualquer parte e hora do dia no planeta, algo que é de grande importância para o uso militar. O GPS foi um verdadeiro sucesso, fato que fez com que os Estados Unidos disponibilizassem as informações, antes somente de uso militar para o uso civil. Estrutura fundiária A distribuição da terra no Brasil é produto histórico, resultado do 83 modo de como ocorreu no passado, tendo início ainda no período colonial com a criação das capitanias hereditárias e sesmarias, caracterizada pela entrega da terra pelo dono da capitania a quem fosse de seu interesse ou vontade, em suma, como no passado a divisão de terras foi desigual e os reflexos são percebidos até os dias de hoje, sendo uma questão extremamente polêmica e que divide opiniões. Portanto a estrutura fundiária é como as propriedades rurais estão organizadas, sendo que esta organização pode ser pelo tamanho, exploração, função social, áreas de preservação ambiental e outras formas de estrutura. Em relação a sua dimensão pode-se classificar em minifúndios, que são áreas extremamente pequenas e insuficientes para o sustento da família em relação às necessidades básicas de vida e alimentação e, por outro lado, os latifúndios, que são as grandes áreas que muitas vezes exploram o extrativismo, tendo a necessidade de mudança de comportamento, pela perda da capacidade produtiva e degradação das áreas em relação ao ambiente, comprometendo a sustentabilidade da atividade. O sistema de informações geográficas contribui para identificar, dimensionar e localizar as propriedades rurais, classificando-as pelo número de módulos rurais, facilitando o planejamento de atividades que permitam absorver a força de trabalho do agricultor e sua família, garantindo a sua subsistência e o progresso econômico e social. MATERIAIS E MÉTODOS Localização O Município de Marialva situa-se na região metropolitana de Maringá ao noroeste do estado do Paraná a uma distância de 410 km de Curitiba, capital do estado, sendo a viticultura o seu destaque no sistema agropecuário, conhecido como a capital da uva fina de mesa. Esta cultura possui relevante importância na constituição histórica do município uma vez que promoveu mudanças socioeconômicas. Os primeiros pés de uva foram plantados no ano de 1962 por japoneses, produtores de café, atraídos pelos bons resultados econômicos obtidos com a cultura no estado de São Paulo. A partir de 1975, com os cafezais paranaenses dizimados pela grande geada, a uva fina de mesa tornou-se uma opção viável para os pequenos produtores. 84 Marialva encontra-se sobre o divisor de águas das bacias do Rio Ivaí ao sul e o Rio Pirapó ao norte, sendo que a sede do município está localizada nas áreas mais elevadas, situando-se sobre rochas basálticas com relevo suavemente ondulado recobertas com solos bastante desenvolvidos, provenientes da litologia local, os quais apresentam forte presença de argila em sua constituição e distribuem-se entre os LATOSSOLOS VERMELHOS Distroférricos, LATOSSOLOS VERMELHOS Eutroférricos, NITOSSOLOS VERMELHOS Eutroférricos, NEOSSOLOS LITÓLICOS Eutróficos e os Hidromórficos, sobretudo ao longo das margens dos córregos, rios e áreas drenadas. Sistema e método de posicionamento utilizado O sistema de navegação por satélite utilizado neste trabalho foi o americano conhecido como GPS - Global Positioning System que a partir dos dados coletados com receptor GPS de navegação Garmin V pelo método de posicionamento absoluto que consiste na determinação da posição parado na superfície terrestre com apenas um receptor em tempo real por meio de coordenadas determinadas em relação a um referencial (Datum) no sistema de referência Sad69 (South American Datum). Este método de posicionamento é muito utilizado em levantamentos de baixa precisão usando a pseudodistância derivada do código C/A (Coarse Acquisition), sendo utilizado para diversos fins, entre eles o uso para levantamentos cadastrais por meio do georreferenciamento. Os levantamentos cadastrais levaram ao desenvolvimento de ferramentas denominadas de “Sistema de Informação Geográfica - SIG” evidenciando o domínio do uso da informação em diferentes áreas de atuação, que permitem realizar análises complexas na área rural do município de Marialva nos mais diversos segmentos como agropecuária, cartografia, meio ambiente, topografia, infraestrutura e outras áreas conforme a aplicação de interesse do usuário. Num país de dimensões como o Brasil, com a aplicação das diversas tecnologias, entre elas o geoprocessamento, tornou-se possível armazenar e representar em ambiente computacional informações adequadas para a tomada de decisão na gestão pública, auxiliando o planejamento na análise e execução de projetos de desenvolvimento integrado e sustentável que possam atender aos interesses da maioria da população. 85 Materiais utilizados Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados os seguintes equipamentos, softwares e arquivos digitais: - Computador; - Impressora; - Software ArcView GIS® 3.2; - Software GPS Trackmaker; - Quatro GPS de navegação Garmin V; - Quatro motocicletas; - Pranchetas e cadastros; - Mapa fundiário impresso (formato analógico) do município de Marialva; - Mapa político em formato digital em coordenadas planas UTM, do estado do Paraná com as divisas entre municípios, elaborado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), órgão responsável pelo cadastro fundiário no estado do Paraná; - Mosaico de imagem de satélite SPOT 5 (Satellite Pour l’Observation de la Terre) - Satélite francês SPOT com imagens em alta resolução, adquirida pelo estado do Paraná com resolução espacial de 5 metros referentes ao imageamento em 2005, com capacidade de identificar diversos usos do solo e outros tipos de objetos; - Mapa de solos em formato digital em coordenadas planas UTM, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Solos), em 1986 e vetorizado pela EMBRAPA Solos em 1999. Preparo de materiais a) Escaneamento do mapa fundiário O mapa fundiário, em meio analógico (papel) foi convertido em arquivos digitais (eletrônicos), através do escaneamento em uma resolução de 300 dpi (dots per inch - pontos por polegada) e salvas como imagem com formato tiff. b) Registro do mapa fundiário digital O registro do mapa fundiário digital foi realizado no software SPRING, utilizando-se os parâmetros cartográficos no sistema de co86 ordenadas planas UTM e modelo da Terra no datum horizontal: SAD69 e datum vertical: Imbituba-SC. O registro do mapa fundiário foi realizado com a utilização de pontos conhecidos e bem distribuídos no campo, com latitude e longitude, coletados diretamente em locais de fácil localização e identificação no campo e no mapa fundiário, sendo estas coordenadas transferidas ao software SPRING através do teclado do computador e ajustadas aos pontos geográficos identificados no mapa fundiário. O mapa fundiário registrado em formato digital foi exportado pelo SPRING para o formato tiff, para ter compatibilidade com o software AutoCad 14 e ArcView 3.2. c) Vetorização do mapa fundiário O mapa fundiário foi vetorizado na tela do computador com uso do software AutoCad 14 e ArcView 3.2, usando como base o mapa fundiário escaneado e registrado (imagem raster contínua em formato analógico), no qual os temas hidrografia, sistema viário e divisa de lotes foram vetorizados em camadas (layers) distintas. d) Preenchimento da tabela do mapa fundiário Após a vetorização do mapa fundiário, foi preenchida a tabela com as informações referentes às glebas e número dos lotes, que são os campos-chaves para integrar com os dados coletados através de levantamento a campo. Preparo da equipe de trabalho e levantamento a campo A equipe de trabalho e execução contou a participação de engenheiros agrônomos do Instituto Emater (unidades municipal, regional e estadual), estagiários de geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e estagiários de agronomia do Centro Universitário CESUMAR (CESUMAR). A equipe de estagiários, para execução dos trabalhos no campo, foi capacitada com ensinamentos dos princípios básicos de cartografia e o uso da tecnologia “Global Positioning System - GPS”, agregando conhecimento técnico e prático, além de carga horária curricular na formação acadêmica. 87 Para a coleta dos dados em campo, contou-se com uma equipe formada por 4 estagiários de Geografia da Universidade Estadual de Maringá e de Agronomia da CESUMAR. Esses estudantes efetuaram os trabalhos de georreferenciamento e cadastramento dos imóveis rurais, fazendo croqui das áreas levantadas, com a indicação das coordenadas em cada ponto, com as anotações de uso e ocupação do solo, com os dados pessoais dos proprietários e de suas propriedades. Em um período de três anos e meio (março de 2006 a outubro de 2010), todos os imóveis rurais dentro do perímetro do município de Marialva foram georreferenciados, assim como as culturas de exploração agropecuária, áreas de reserva legal e florestas permanentes, sendo baixados quase 27.000 pontos do GPS em 1954 propriedades. Neste período ocorreu alta rotatividade de estagiários, contando com quatro estagiários efetivos e participação total de 16 estagiários contratados pela prefeitura municipal. O acompanhamento diário dos trabalhos ocorria no final da tarde ou no início da manhã seguinte, quando os estagiários preenchiam, com canetas coloridas e com uma cor pré-estabelecida a cada um, o mapa fixado em uma mesa com a finalidade de preencher os espaços já levantados no campo das propriedades cadastradas e georreferenciadas, facilitando a identificação do trabalho individual de cada um, tanto em rendimento, quanto no planejamento diário das ações a serem desenvolvidas no retorno ao campo. Para a obtenção das coordenadas em campo com uso do GPS, deu-se preferência a motocicletas, devido à versatilidade, baixo custo e à facilidade de acesso dentro das propriedades. Primeiro foi feito um SIG da estrutura fundiária, alimentando o banco de dados do sistema com dados pessoais dos proprietários e dos imóveis rurais de todo o município como glebas, número dos lotes, áreas dos imóveis em hectares e outras informações pré-definidas no cadastro. Após finalizar o SIG da estrutura fundiária, foi feita uma cópia do arquivo, na qual foi trabalhado o uso e ocupação do solo em todas as propriedades com a finalidade de gerar informações quantificando todas as explorações por cultura em hectares, além da visão espacial digitalizada na tela do computador. Importante, ainda, ressaltar que os estagiários tiveram a oportunidade de atuar diretamente com os proprietários dos imóveis rurais pequenos, médios e grandes, o que lhes proporcionou situações que 88 testaram suas habilidades e vocações na prática do dia a dia e estimularam gradativamente a sua mentalidade empreendedora, seu comportamento ético-profissional e a formação de sua identidade cidadã. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os softwares de geoprocessamento disponíveis no mercado facilitam a elaboração dos mapas digitais e a estruturação de banco de dados, possibilitando atualizações rápidas conforme os fatores de anexação, subdivisão ou desapropriação de áreas que podem ocorrer, permitindo gerar informações atualizadas para o processo de tomada de decisão, tornando-se uma ferramenta essencial para elaboração e execução dos mais diversos tipos de projetos como infraestrutura, meio ambiente, planejamento rural e tantos outros conforme a necessidade dos trabalhos a serem desenvolvidos no município. Estrutura fundiária A Estrutura Fundiária representa a distribuição espacial das propriedades dentro de um determinado espaço, possibilitando a visualização e estudo das atividades econômica, social e ambiental no meio rural. O mapa da Figura 1 apresenta a visualização espacial da estrutura fundiária atualizada por este trabalho com quase 2.000 imóveis rurais com suas glebas diferenciadas por cores, destacando-se, também, suas estradas e as áreas urbanizadas como a sede do município e seus distritos. Com uso de ferramenta de SIG correlacionou-se o mapa da distribuição espacial das propriedades (Figura 1) com o banco de dados, do qual selecionou-se todas as propriedades da gleba Keller para visualizar na tela do computador todos os campos que contém as informações básicas de cada propriedade. A partir do banco de dados é possível realizar outras consultas (Figura 2), obtendo os dados estatísticos como a somatória total em hectares, número de propriedades, a maior e a menor área em hectares e outras informações da gleba Keller. Possibilita também gerar gráficos, relatórios por ordem alfabética dos proprietários, por tamanho dos imóveis em hectares, pelo número do lote, selecionar no banco de dados o imóvel para localizar na tela do computador tendo a visão espacial da área e tantas outras informações que sejam de interesse do gestor. 89 FIGURA 1 - MAPA DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) 90 FIGURA 2 - CONSULTA DE TODOS OS IMÓVEIS DA GLEBA KELLER, MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) GRÁFICO 1 - ESTRATIFICAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) 91 Com o aumento da agricultura familiar, é necessário um planejamento em toda a cadeia produtiva para promover a utilização de tecnologias que permitam identificar estas áreas. O SIG, por integrar um banco de dados junto a uma base digital cartográfica, permite, de forma rápida, a visualização espacial das informações relativas às áreas de interesse. Assim, por meio do Sistema (correlacionado com a Figura 1 mapa da estrutura fundiária), foi possível obter o gráfico de estratificação que evidencia a estrutura fundiária do município de Marialva (Gráfico 1). Observa-se pelo gráfico que a maior concentração de imóveis (719 propriedades) possui área inferior a 5,00 ha totalizando 1.486,00 ha, ou seja, um pouco mais de 3% das áreas dos imóveis do município, o que caracteriza, em sua maioria, a subdivisão de propriedades rurais em pequenas chácaras, adquiridas por famílias que fazem parceria com produtores maiores, até conquistaram o seu espaço na atividade para trabalhar por conta própria, ampliando a agricultura familiar. Em relação às propriedades entre 5,00 ha e 100,00 ha a diversificação de explorações é bem ampla, pois os imóveis maiores são explorados por grandes culturas e pastagem, enquanto que os menores são explorados por flores, horticultura, avicultura, fruticultura e outras espécies, sendo a principal a uva fina de mesa. As propriedades acima de 100,00 ha são minoria, 69 imóveis, mas que acumulam uma área de 13.099,00 ha, exploradas por pastagem, cana de açúcar e culturas anuais. Buscando visualizar a disposição espacial dessas áreas, gerou-se o mapa da Figura 3, que apresenta a distribuição espacial das propriedades. Observa-se pelo mapa que a maioria das pequenas propriedades estão distribuídas próximas ao perímetro urbano da cidade de Marialva e, também, nos distritos de Aquidaban, São Miguel do Cambuí e São Luis e que as grandes propriedades encontram-se espacialmente localizadas nas regiões limítrofes do município. Para compreender a estrutura fundiária, faz-se necessário, além de analisar a distribuição estratificada das áreas no município, observar outros fatores que influenciam no uso e ocupação do solo. 92 FIGURA 3 - MAPA DE ESTRATIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES, MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) Uso e ocupação do solo A cultura da uva é a de maior importância no município. O SIG contribuí no acompanhamento e orientação da expansão, tanto na visão espacial de ocupação do solo, como no fornecimento de informações da infraestrutura e técnica para o desenvolvimento do setor como: adequação de estradas e carreadores, construção de moradias e barracões, poços artesianos de água para consumo humano e irrigação, localização dos imóveis, mão de obra necessária à expansão da viticultura, questões ambientais, saúde publica, segurança pública, comercialização, transporte escolar, energia elétrica e tantas outras necessidades. O mapa da Figura 4 apresenta a visualização espacial das áreas exploradas pela cultura da uva, nas quais é possível observar que se encontram próximas ao perímetro urbano da sede. Correlacionando com o mapa da distribuição espacial dos imóveis, observa-se que 93 grande parte das pequenas propriedades possui como uso do solo o cultivo da uva. Verifica-se no município a subdivisão das áreas maiores em chácaras para a implantação de novas parreiras e moradias aumentando a população no meio rural. FIGURA 4 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ÁREA DE VITICULTURA NO MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) O banco de dados que integra o SIG é de fundamental importância para o trabalho, permitindo que sejam geradas inúmeras informações e propiciando que um ou mais banco de dados resultem nas informações esperadas pelo usuário, a exemplo da análise da logística de uma empresa ou cooperativa em sua área de atuação, tanto na organização da entrega de insumos, quanto na recepção da produção das culturas anuais perenes e demais atividades desenvolvidas nas propriedades rurais. As informações proporcionadas pelo SIG possibilitam quantificar e localizar as propriedades em que estas culturas são desenvolvidas. 94 Os dados coletados e inclusos no banco de dados permitem que todas essas informações possam ser trabalhadas através do software de geoprocessamento gerando mapas e relatórios precisos. As culturas anuais estão distribuídas por todo o município e, confrontando com a distribuição estratificada das propriedades, observase que coincidem quase em sua totalidade com as propriedades com área acima de 10,00 ha. As principais culturas anuais cultivadas no município de Marialva são a soja e o milho, com ciclo médio de cinco meses. As culturas anuais são exploradas em 24.055 ha, representando mais de 50% da área do município, num total de 1.094 propriedades. Também a cana-de-açúcar, que é uma cultura bianual com área expressiva de 4.691 ha, é cultivada em 120 propriedades rurais, influenciadas pela usina de açúcar e álcool instalada no município de Marialva, no distrito de São Miguel do Cambuí. Outra informação significativa é que as maiores concentrações das áreas de pastagem estão localizadas margeando a bacia hidrográfica do Rio Pirapó ao norte do município e margeando a bacia hidrográfica do Rio Ivaí na região Sul. Também é possível, além da localização das áreas, quantificar que 8.220 ha de área do município são ocupados por pastagem num total de 560 propriedades. Correlacionando com a distribuição estratificada, observa-se a correspondência das áreas de pastagens com as propriedades com áreas superiores a 100,0 ha. Tais informações possibilitam a elaboração de programas de desenvolvimento e infraestrutura na pecuária do município. Por meio dos mapas de altimetria e hipsometria elaborados neste trabalho, pode-se observar que o norte da bacia hidrográfica do Rio Pirapó e o sul da bacia hidrográfica do Rio Ivaí, no município de Marialva, são as regiões de altitudes mais baixas, nas quais os recursos d’água são abundantes e essenciais para o desenvolvimento da pecuária, pois estas áreas, com variações acentuadas em relação à altitude, apresentam altas declividades do terreno, dificultando a mecanização e tornando mais viável o manejo de pastagens. Pode-se observar que nas divisas ao sul está a segunda maior concentração de pastagens, com as mesmas características físicoquímicas e topográficas da região norte, que permitem desenvolver projetos pecuários com o manejo correto destas áreas em relação à 95 capacidade de lotação e os efeitos do tempo de utilização que provocam a compactação do solo, planejamento das reservas legais em áreas das encostas com alta declividade e reservas permanentes para proteção de nascentes, beira de córregos e rios. Como a área de maior concentração de pastagens tem as mesmas características, a maioria das ações para o desenvolvimento da pecuária serão similares, o que só é possível com o Sistema de Informações Geográficas - SIG, que se torna uma ferramenta indispensável para empresas com atuação no setor agropecuário como cooperativas de leite, laticínios, sindicatos e o próprio Estado nas suas diversas atuações. A existência de passivos ambientais pode ser observada no mapa de uso e ocupação do solo. Portanto as questões ambientais que estão em evidência no dia a dia dos meios de comunicação, nas empresas, em organizações não-governamentais, nas instituições de ensino e pesquisa, enfim, no mundo todo podem ser analisadas com uso do SIG, com geração de propostas sustentáveis à exploração agropecuária, buscando tecnologias alternativas menos agressivas ao meio ambiente, principalmente nas culturas de grandes extensões de terra por meio do plantio direto, práticas de conservação do solo, preservação de reservas legais, preservação das matas ciliares, proteção de minas d’água, abastecedouros comunitários, readequação de estradas e carreadores, manejo de pragas e controle biológico, através de uma ação integrada entre os órgãos brasileiros de pesquisa em conjunto com a assistência técnica e produtores rurais. A malha hídrica do município, com seus rios e córregos, nascentes, minas e fundos de vale permite aferir que o município é rico em recursos naturais, em especial, a água, que está se tornando escassa no mundo. O SIG permite ao gestor, a partir das informações e dados inseridos neste sistema, obter informações, por exemplo, de que o município possui 689 km de córregos e rios e que alguns fazem divisa com municípios vizinhos, auxiliando o gestor na elaboração de projetos de preservação ambiental de forma a conservar essas riquezas naturais com a preservação destes mananciais. O Sistema permite, além da visualização espacial das áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente, quantificar a área total que corresponde a 5,41%, valor bem abaixo do ideal que é aproxima96 damente 10% da área total dada à extensão dos córregos e rios. Este déficit denota a necessidade de desenvolver projetos ambientais para restabelecimento das áreas pois, segundo a legislação brasileira, as APPs são mais abrangentes, não se limitando somente ao longo dos cursos d’água e nascentes e sim em áreas de altitude acima de 1800 metros, topo de morros, nas encostas com declividade superior a 45 graus como é na mata atlântica, na serra do mar e em outros biomas como restingas e o pantanal. O Sistema de Informação Geográfica permite a elaboração de mapas-síntese, organizando as informações por propriedades, glebas, comunidades, microbacias e explorações, gerando indicadores técnicos como produção, produtividade, área total, área média, etc. A combinação destas representações é de fundamental importância para compreender a relação entre a estrutura fundiária, o meio físico e biótico e a dinâmica socioeconômica para conhecer a realidade atual e planejar as intervenções necessárias para obter um desenvolvimento rural e municipal sustentável. GRÁFICO 2 - NÚMERO DE PROPRIEDADES EM RELAÇÃO À ÁREA POR CULTURA Fonte: Instituto EMATER (2010) O Gráfico 2, apresenta o número de propriedades em relação à área por cultura do município de Marialva e a Figura 5 possibilita a 97 visualização espacial do uso e ocupação do solo, dando oportunidade de observar o grande número de pequenas propriedades em relação às áreas das culturas exploradas. FIGURA 5 - MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE MARIALVA - PARANÁ Fonte: Instituto Emater (2010) 98 Alguns produtores vêm diversificando sua agricultura com cultivos de uvas rústicas para a industrialização e processamento de suco concentrado e geléia, através de agroindústrias, agregando valor a sua produção e aproveitando melhor a mão de obra familiar. Ademais, foi fundada uma cooperativa para produção de vinho, o que deverá delinear o perfil futuro da viticultura no município com o incremento de novas tecnologias em todos os setores produtivos até a comercialização. O desenvolvimento altera o meio ambiente e, devido a essas mudanças, vão surgindo outras possibilidades de investimentos. Assim, o SIG torna-se, neste processo, uma ferramenta que possibilita diversas aplicabilidades em várias áreas de atuação em que cada segmento pode tirar o proveito conforme a sua visão empreendedora. Um banco de dados bem estruturado permite o acompanhamento e análise temporal das áreas em estudo, fornecendo informações importantes, além da estrutura espacial para a tomada de decisão no planejamento e administração em todos os segmentos da cadeia produtiva que atuam no município, passando pelo agricultor, assistência técnica, cooperativas, comércio de insumos, órgãos estadual, órgãos federal e principalmente a administração municipal. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Este trabalho foi desenvolvimento a partir da criação de um banco de dados georreferenciado pelo Instituto Emater da área rural do município de Marialva, integrando dados de diversas fontes de informação, que permitem gerar relatórios e mapas temáticos claros e objetivos, conforme a pesquisa de interesse do usuário como regularização ambiental, ocupação do solo e outros segmentos, dando agilidade para obter os documentos necessários em qualquer processo, seja de crédito rural, ambiental ou planejamento das propriedades. O trabalho gera relatórios claros sobre o diagnóstico dos imóveis rurais dando agilidade e padronização nos documentos e mapas necessários para o processo de elaboração do projeto e/ou regularização da propriedade. Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) processam os dados espaciais do meio rural permitindo ao gestor municipal o conhecimento da estrutura fundiária do município, identificando as explorações nos mais variados segmentos agropecuários. 99 O Sistema de Informações Geográficas é uma ferramenta importante para visualizar, analisar e conhecer a estrutura fundiária do município de Marialva e contribuir com a gestão pública municipal. Os resultados mostraram que no município de Marialva as culturas anuais, as pastagens e a cana-de-açúcar são exploradas em 36.966 ha, o que corresponde a 82,67% da área total ocupada pela agropecuária, sendo que a viticultura corresponde a 2,57%, destacando-se pela influência socioeconômica no município. A viticultura está distribuída espacialmente nas regiões próximas à malha urbana e vem alterando as características territoriais das explorações, principalmente com as subdivisões de imóveis rurais adquiridos por pequenos agricultores, aumentando a população e fixando o homem no campo, em um processo inverso ao que ocorre na região de Maringá, principalmente com a exploração das culturas da cana-de-açúcar, além do milho e soja que associadas à modernização do agronegócio e avanço tecnológico no campo, provocam o êxodo rural. Em Marialva, além de proporcionar a fixação do homem no campo e empregos, pela grande quantidade de mão de obra necessária em todo o ciclo da cultura com duas safras anuais, a viticultura, como atividade econômica, gera maior renda por área ocupada, sem levar em consideração que a área ocupada atualmente é de menos de 3% (três por cento) em relação às culturas anuais, dentro do município. O convênio entre o Instituto Emater e prefeitura municipal foi concluído com a disponibilização e repasse de todo o SIG na secretaria municipal da agricultura de Marialva para utilização no dia-a-dia de suas atividades, porém, de nada adianta este trabalho se a administração municipal não der continuidade e manter atualizado o sistema, pois os processos de transações imobiliárias e mudanças no uso e ocupações do solo são contínuas e é preciso alimentar o banco de dados. 100 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C.M.; CÂMARA, G. e MONTEIRO, A.M.V. Geoinformação em urbanismo: cidade real x cidade virtual. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Comitê Brasileiro de Construção Civil. Convenções topográficas para cartas e plantas cadastrais - Escalas 1:10.000, 1:5.000, 1:2.000 e 1:1.000 Procedimento.1 ed. Rio de Janeiro, RJ, 2009. BOECKEL, D.O. e ROSSO, H.Z. Fontes de informação em Geodésia, Cartografia e sensoriamento remoto. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE Gerência de Documentação e Biblioteca, 1989. GEMAEL, C. e ANDRADE, J.B. Geodésia Celeste. Curitiba: Ed. da UFPR, 2004. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Diretoria de Geociências (DGC) - Coordenação de Geodésia (CGED). Padronização de Marcos Geodésicos. Rio de Janeiro: 2008. MATOS, J.L. Fundamentos de informação geográfica. 3 ed. Lisboa: LIDEL, 2001. MARTINELLI, M. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. 4 ed. São Paulo: Editora Contexto, 2007. MEIRELLES, M.S.P.; CÂMARA, G. e ALMEIDA, C.M. Geomática: modelos e aplicações ambientais. 1 ed. Brasília, DF: EMBRAPA, 2007. PAREDES, E.A. Sistema de Informação Geográfica. São Paulo: Editora Érica, 1994. 101 102 CAPÍTULO IV PROJETO PARANÁ BIODIVERSIDADE: PROPOSIÇÃO PARA ADEQUAÇÃO DE USO DO SOLO RURAL Luiz Marcos Feitosa dos Santos1 Milton Satoshi Matsushita2 Nelma Pereira Cunha Hagemaier3 Gracie Abad Maximiano4 Erni Limberger5 1 2 3 4 5 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola, Área de Concentração Irrigação e Drenagem, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Administradora, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Geógrafa, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] Engenheiro Florestal, Mestre em Agronomia, Área de Concentração Produção Vegetal, Instituto Emater, Paranavaí, Paraná, Brasil - [email protected] 103 104 INTRODUÇÃO Entender as forças propulsoras das mudanças de uso do solo tem sido o grande desafio do século XXI (Projeto do Milênio, 2005). Desde tempos remotos o ser humano interage com a natureza para suprir suas necessidades básicas. Antes, apenas coletando produtos do ambiente, posteriormente, estabelecendo sistema de produção e armazenamento de forma a depender menos das intempéries. Quase sempre desprovido de prognóstico e conhecimento que o orientem no sentido de evitar consequências maiores dos impactos de suas ações sobre a natureza, hoje está obrigado a ter mais cautela na exploração e uso dos recursos naturais. No Paraná os vários ciclos do desenvolvimento econômico, no inicio com extração da madeira, ouro, erva-mate seguido do estabelecimento das atividades agropecuárias colonizadoras e expansionistas, têm modificado o uso e ocupação do solo ao longo dos séculos dentro da mesma lógica que hoje busca o melhor desempenho econômico e social. O modelo de agricultura adotado no Paraná, tal qual o adotado na maioria dos países, a partir da segunda metade do último século, na qual a preocupação com o resultado econômico norteava toda a ação dos agricultores, gerou um grande passivo ambiental para a sociedade. Hoje, existe o consenso de que é preciso mudar essa realidade, com a aplicação de uma nova matriz tecnológica que assegure resultados econômicos satisfatórios com sustentabilidade ambiental da atividade agrícola. O uso racional do solo, sem dúvida, é indispensável para que esses dois objetivos sejam alcançados. Entretanto é preciso que se cuide ainda da restauração das condições mínimas que permitam aos agroecossistemas desempenharem serviços ambientais, mais próximos possível dos prestados pelos ecossistemas naturais, para que esses objetivos se perpetuem em benefício das gerações futuras. Este capítulo traz uma importante contribuição para aqueles que buscam a promoção de uma agricultura mais correta do ponto de vista ambiental. Ele reúne estudos de diversas microbacias hidrográficas da região de Paranavaí, parte do Corredor Caiuá-Ilha Grande no estado do Paraná. O espaço estudado é uma das áreas prioritárias do Projeto 105 Paraná Biodiversidade financiado pelo Banco Mundial, com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) e pelo governo do Paraná (PARANÁ, 2004). O Projeto Paraná Biodiversidade contempla três áreas que representam os corredores de biodiversidade. No noroeste do Paraná o corredor Caiuá-Ilha Grande ao longo dos rios Paranapanema e Paraná. No extremo oeste o corredor Iguaçu Paraná na junção dos rios Iguaçu e Paraná. Na porção do sul do Estado o corredor Araucária situado no médio Rio Iguaçu (Figura 1). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DOS CORREDORES DO PROJETO PARANÁ BIODIVERSIDADE E SUAS MICROBACIAS DE CONEXÃO E AMORTECIMENTO. Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) O capítulo traz uma orientação capaz de aliar os interesses do setor produtivo rural e da sociedade em geral, que defende a conservação da qualidade ambiental e a preservação dos serviços da natureza, necessários às gerações atuais e futuras. Certamente deverá, ao longo do tempo, receber atualizações em função da dinâmica do agronegócio, da evolução tecnológica e do aparecimento de novas alternativas econômico-sócio-ambientais mais sustentáveis. Sua elaboração foi resultado do trabalho incansável de profissionais do Instituto Emater com o apoio da Unidade de Gerenciamento do Projeto Paraná Biodiversidade e Serviço Social Autônomo Paranacidade da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano - SEDU. 106 MATERIAL E MÉTODOS 1. Caracterização do Corredor Caiuá-Ilha Grande - região de Paranavaí FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO DO CORREDOR CAIUÁ-ILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) A região norte do Corredor Caiuá-Ilha Grande, na região de Paranavaí, situa-se no terceiro planalto paranaense, entre os rios Paraná, Paranapanema e Ivaí. Localiza-se entre as coordenadas 22º 33’ a 23º 18’ latitude Sul e 52º 30’ a 53º 43’ longitude Oeste (Figura 2), e possui uma área de 436.848 ha. Cortada pelo Trópico de Capricórnio, esta região de clima quente enquadra-se na classificação climática 107 de Köppen tipo Cfa, em que predomina o clima subtropical com temperatura média no mês mais frio inferior a 18ºC (mesotérmico) e a temperatura média no mês mais quente acima de 22ºC, com verões quentes, geadas pouco frequentes e tendência de concentração das chuvas nos meses de verão, contudo, sem estação seca definida (IAPAR, 2000). Apresenta solos derivados da formação Arenito Caiuá muito vulneráveis à erosão e à lixiviação. A cobertura vegetal predominante desta região é a floresta estacional semidecidual, que tem como característica forte a dupla estacionalidade climática, ou seja, está fortemente ligada ao clima que tem estação seca no inverno e chuvas no verão (IVANAUSKAS, 1999). As microbacias hidrográficas da região do Corredor Caiuá-Ilha Grande na região de Paranavaí apresentam uma média de 4.413 ha e foram delimitadas dentro de cada município, fazendo com que em alguns casos os limites delas fossem os próprios rios ou estradas, conforme a divisão municipal. A menor área estudada pelo Projeto Paraná Biodiversidade na região de Paranavaí foi Itaúna do Sul, com 12.678,99 ha e a maior, a de Querência do Norte, com 83.789,23 ha. Os sistemas de produção historicamente desenvolvidos na região foram de característica extrativista com severa degradação do meio ambiente, principalmente da flora, fauna, solos e água. Os colonizadores entendiam e utilizavam os recursos florestais como fonte financiadora do desenvolvimento agrícola incentivado por governos e outros setores da economia. O valor ambiental e ecológico da floresta não foi levado em conta de forma que está reduzida a pequenos fragmentos dispersos na paisagem ou representada em algumas unidades de conservação (CAMPOS, 1999). A estratégia de atuação do Projeto definiu a microbacia hidrográfica como unidade de planejamento, constituída por um rio principal e seus afluentes, delimitada pelos divisores de água desta rede de drenagem, fechando a sua área de abrangência na foz do rio principal. O conjunto das microbacias e corredores selecionados busca assegurar a conexão de elementos da biodiversidade através de uma faixa central ao longo dos rios, cercada por áreas destinadas às práticas sintonizadas com os princípios agroecológicos e uso agropecuário de menor impacto ao ambiente. Para consolidar os corredores é necessário identificar a função de cada microbacia na paisagem. Algumas microbacias fazem a função de conexões ao longo do corredor e outras, a de amortecimento dos 108 impactos resultantes de atividades agropecuárias intensivas: a) microbacias de conexão: são aquelas localizadas ao redor das Unidades de Conservação e às margens dos rios, eixos centrais dos corredores (rios Iguaçu, Paraná e Paranapanema) e afluentes formadores de conexões locais com potencial de fluxos biológicos entre remanescentes da vegetação nativa. b) microbacias de amortecimento: ao redor das bacias de conexão estão as microbacias de amortecimento, cuja função é responder como zona de transição entre uma área com uso ajustado à conservação da biodiversidade para uma área sem restrição para o uso intensivo das tecnologias de produção e uso de insumos industrializados. 2 Material 2.1 Imagens de Satélite SPOT Para identificar classes de uso e cobertura vegetal foram utilizadas as imagens do satélite SPOT ortorretificadas, composição colorida nas bandas R(1), G(2), B(3) com resolução espacial de 10 metros e banda pancromática com resolução espacial de 5 metros, obtidas em 2004 e 2005, projeção UTM (Universal Transversa de Mercator), Meridiano Central 51º Oeste (Fuso 22), Datum Horizontal SAD 69 (South American Datum) em formato tiff. 2.2 Aplicativos de desenvolvimento e análise a) Software Spring 5.0, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) b) Software AutoCAD 2002 c) Software Arc View 3.2 d) Software ArcGis 9.0 e) Software Global Mapper 5.0 f) Software Track Maker Pro 4.0 g) Planilha eletrônica Excel 2002 2.3 Arquivos vetoriais a) Divisão política dos municípios do estado do Paraná Mapa com as divisas municipais elaborado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA). 109 b) Hidrografia Mapa hidrográfico elaborado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA); Mapa hidrográfico do Paraná Cidade; Os rios e nascentes foram definidos a partir da base hidrográfica existente, verificados e ajustados com as imagens de satélite SPOT, considerando as curvas e pontos cotados, complementado com verificação de campo. c) Cartas topográficas Cartas topográficas digitais registradas e ortorretificadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de níveis com espaçamento vertical de 20 em 20 metros, pontos cotados em topos de elevações e hidrografias, obtidos do Paraná Cidade. O trabalho de levantamento de campo, com a identificação de coordenadas usando GPS de navegação e a plotagem destes pontos sobre as cartas topográficas e imagens de satélite, permitiu corrigir o traçado de rios e estradas em algumas cartas topográficas. Mesmo conscientes destas imperfeições, optou-se por trabalhar com a base cartográfica disponível com prévio ajuste de seus traçados. 3 Métodos A metodologia aplicada possibilita elaborar um conjunto de mapas que permite caracterizar as Microbacias, Classes de Declividade, Classes de Paisagem, Uso Atual e Ocupação do Solo, Conflito de Uso e gerar proposições para adequação do uso do solo. A elaboração do planejamento de uso da terra com apoio do Sistema de Informações Geográficas (SIG) está baseada no desenvolvimento das seguintes etapas: 3.1 Preparação de material e da equipe de atuação a) preparo do material Identificação de recursos cartográficos disponíveis/existentes (cartas topográficas em meio digital e analógico) Aquisição de GPS (Global Position System) Obtenção de imagens de satélite, para a elaboração de mapas temáticos. 110 Obtenção de programa de SIG, sensoriamento remoto e Sistema de Posicionamento Global (GPS). b) preparo da equipe de atuação Capacitação da estrutura técnica em SIG Capacitação da estrutura técnica em sensoriamento remoto Capacitação da estrutura técnica em uso de GPS Definição do modelo metodológico a ser adotado para o uso de SIG Capacitação da estrutura técnica para aplicação do modelo metodológico definido. 3.2 Definição e divisão das bacias hidrográficas O limite das microbacias hidrográficas foi feito a partir da base hidrográfica existente, curvas de níveis e pontos cotados, levandose em consideração os contornos naturais das bacias hidrográficas, adaptando-as a estrutura viária, limites das propriedades e municípios. As microbacias hidrográficas delimitadas com áreas em torno de 3.000 ha foram classificadas em microbacias de conexões e microbacias de amortecimento, em função da sua importância para formação e preservação da biodiversidade nos corredores. 3.3 Classes de declividade As classes de declividade foram agrupadas com intervalos definidos, gerados a partir das cartas topográficas digitais registradas e ortorretificadas com coordenadas e altitudes, contendo curvas de níveis com espaçamento vertical de 20 em 20 metros, pontos cotados em topos de elevações e hidrografias, obtidos do Paraná Cidade. As classes de declividade adotadas para este modelo foram estabelecidas obedecendo aos seguintes intervalos: 0-3, 3-8, 8-12, 12-15,15-20, 20-25, 25-45, 45-100 e mais que 100%. Estes intervalos foram adotados para obter um número maior de classes e um melhor detalhamento de informações sobre a paisagem. 3.4 Identificação das Áreas de Preservação Permanente (APP) As Áreas de Preservação Permanente foram mapeadas tendo como base a hidrografia e as cartas topográficas digitais. Ao longo 111 dos rios, foram elaborados mapas de distância (buffer) de 30 metros até o limite estabelecido pela legislação ambiental, e de 50 metros para as nascentes. Este procedimento, acrescido do mapeamento de outras áreas de preservação previstas, tais como as áreas com declividade superior a 100%, as áreas localizadas no terço superior dos morros e montanhas e com altitudes superiores a 1.800 metros, permite delimitar as áreas de preservação permanente, de acordo com legislação ambiental. 3.5 Classes de Paisagem Lepsch et al. (1983) citam que a capacidade de uso da terra pode ser conceituada como a sua adaptabilidade para fins diversos, sem que sofra depauperamento pelos fatores de desgaste e empobrecimento, através dos cultivos anuais, perenes, pastagens, reflorestamento ou vida silvestre. As classes de paisagem foram delimitadas a partir da legislação ambiental que trata das áreas de preservação permanente, mapa de classes de declividade, com apoio do mapa de solos existente em meio digital EMBRAPA (1999) e mapa de aptidão agrícola das terras, Ministério da Agricultura (1981), ajustado com maior detalhamento para a área de interesse, levando-se em consideração a geomorfologia, hidrografia e geologia. O cruzamento digital destes mapas temáticos permitiu elaborar o mapa próprio de classes de paisagem com respectiva aptidão, conforme apresentado a seguir: a) Classe de paisagem 1: Indicada para preservação permanente; b) Classe de paisagem 2: Indicada para exploração florestal sob manejo sustentável; c) Classe de paisagem 3: Inapta para cultivo de ciclo longo e silvicultura; d) Classe de paisagem 4: Inapta para mecanização; e) Classe de paisagem 5: Inapta para cultivo de ciclo curto; f) Classe de paisagem 6: Disponível para cultivo sob manejo adequado. 3.6 Uso atual do solo O levantamento do uso atual do solo foi realizado tendo por base as imagens de satélite SPOT, de 2004/05, adquiridas pelo Paraná Cidade. 112 E, em algumas situações específicas, foram utilizadas imagens do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Estas imagens foram utilizadas nas áreas sem imagem SPOT ou com objetivo de obter informações mais atualizadas ou de um período que permita visualizar uma determinada fase vegetativa das culturas. A precisão da interpretação das imagens aumenta à medida que se repete esta interpretação com imagens de épocas diferentes da mesma área. Por exemplo: a classificação da floresta é facilitada por essa apresentar o mesmo padrão de textura nas diferentes épocas do ano. Já a lavoura, ao contrário, apresenta padrões diferentes ao longo do ano. Ou seja, em uma época apresenta solo exposto e na sequência, cobertura vegetal homogênea. O mapa de uso do solo foi gerado através da interpretação visual de imagens de satélite na escala 1:25.000, considerando a área de 1,0 ha como menor elemento identificado. As visitas a campo foram realizadas para confirmação do uso do solo, especialmente em locais com classificação duvidosa. O uso e ocupação do solo é representado nas seguintes classes: agricultura anual, agricultura perene, pastagens e campos, cultivo florestal, vegetação de várzea, florestas, área urbanizada e corpos d’água. 3.7 Conflito O termo “conflito”, utilizado neste trabalho, refere-se à ocupação do solo na área rural em discordância com o Código Florestal, bem como com a aptidão agrícola das terras e que pode comprometer a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, particularmente nas áreas das microbacias prioritárias para a conservação e formação de Corredores da Biodiversidade no Estado do Paraná, conforme Decreto Estadual n° 3.320, de 12/07/2004. A combinação digital dos mapas de classe de paisagem com o mapa de uso do solo permitiu elaborar o mapa de conflitos e de proposições. O mapa de conflitos do uso do solo possibilita a visualização espacial do uso e ocupação das áreas e, ao mesmo tempo, facilita a geração de proposições para solução destes conflitos. 113 O mapa de conflito identifica áreas com ocupação inadequada na microbacia, como por exemplo, a falta de mata ciliar nas margens dos rios e nascentes, devido à utilização com agricultura, pastagem ou cultivo florestal com espécies exóticas. Ainda verificam-se conflitos em áreas exploradas com culturas anuais, inaptas para este tipo de cultivo. O mapa de conflito é composto pelas seguintes classes: agricultura anual em APP, agricultura perene em APP, pastagens e campos em APP, cultivo florestal em APP, cultura anual em área inapta para ciclo curto, cultura anual em área inapta para mecanização, cultura inapta para ciclo longo, pastagens e campos em área de cultivo florestal e áreas sem conflito de uso. 3.8 Proposição Por último, com base nos conflitos mapeados, foram definidas as proposições para adequação do uso da terra gerando o mapa de proposições. O mapa de proposição apresenta alternativas para solução dos conflitos, sendo composto pelas seguintes proposições: converter agricultura anual em floresta, converter agricultura perene em floresta, converter pastagens e campos em floresta, converter cultivo florestal em floresta, converter o uso atual em silvipastoril ou sistema agroflorestal, evitar preparo do solo com uso de mecanização, converter o uso para pastagem, converter uso em cultivo florestal e manter uso com manejo adequado. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado do trabalho foi organizado por corredor de biodiversidade, com subdivisão por região administrativa do Instituto Emater, município e microbacia para toda área de abrangência do Programa Paraná Biodiversidade. E neste trabalho como frisado anteriormente são apresentados os resultados e ilustrações do Corredor Caiuá-Ilha Grande, região de Paranavaí e ilustrações com mapas do município de Diamante do Norte, Guairaçá, Itaúna do Sul, Loanda, Marilena, Nova Londrina, Paranavaí, Porto Rico, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, São Pedro do Paraná e Terra Rica. 114 2 Classes de Declividade A drenagem do Corredor Caiuá-Ilha Grande, região de Paranavaí, faz parte da Bacia do Paraná que por sua vez compõe a bacia hidrográfica do Rio da Prata. A baixa declividade predominante no relevo apresenta 76,9% da área com variação entre 0 a 8%, e quando se amplia esta faixa para 0 a 15% contempla-se 95,0% da área. Esta configuração do relevo permite que as águas corram com facilidade, esculpindo assim longos rios retilíneos, em algumas áreas sem afluentes. Os vales apresentam vertentes alongadas, confundindo-se com os topos achatados com declividade no intervalo de 0 a 3%. Declividades com mais de 100% quase não são observadas nesta região. No município de Terra Rica está concentrada a maior área de altas declividades, ocupando aproximadamente 6 ha. Poucos morros são vistos nesta região. São os morros testemunhos, elevações que se destacam em uma região de relevo aplainado devido à maior resistência das rochas que não sofreram o processo de intemperização. Estes morros são constituídos por rochas que resistiram na paisagem. No sul do município de Querência do Norte estão localizadas as terras mais planas desta região. É uma área de várzea situada nas margens do Rio Paraná, divisa com Mato Grosso do Sul. A classe de declividade de 0 a 3% é predominante, e ocupa mais de 60% do município de Querência do Norte. Existe um padrão homogêneo quanto à declividade das bacias, com exceção do município de Querência do Norte, que apresenta maior área no relevo no intervalo de declividade de 8 a 15%, seguido de uma área de quase 10 ha na declividade de 25 a 45%. De um modo geral, todos os municípios apresentam maior área de declividade no intervalo 3 a 8%, como mostra a Figura 3, seguido da declividade 0 a 3%. Além de Querência do Norte, que sai deste padrão, os municípios de Santa Cruz do Monte Castelo e Santa Izabel do Ivaí apresentam maiores áreas na declividade 0 a 3%, distinguindo-se da predominância de 8 a 15% da região de Paranavaí. 115 FIGURA 3 - CLASSES DE DECLIVIDADE DO CORREDOR CAIUÁ-ILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) 4.1.3 Classes de Paisagem A classe de paisagem “indicada para preservação permanente” identifica áreas nas quais a cobertura vegetal nativa deve ser preservada, e representa 3,7% da área total. Estas áreas apresentam critérios específicos e foram definidas por lei como áreas de interesse ecológico com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Resolução do CONAMA 303/2002) (BRASIL, 2002). Esta classe é encontrada nas margens de rios (mata ciliar), entorno de nascentes, encostas íngremes e topos de morros. A classe de paisagem “indicada para exploração florestal” representa 0,1% da área total e está situada em áreas de relevo íngreme ou solo empobrecido, embora possa ser realizada em locais indicados para atividades agropecuárias, como cultivos e pastagens. Esta classe visa proteger e recuperar o solo de processos erosivos. 116 A classe de paisagem “inapta para cultivo de ciclo curto” é composta por áreas frágeis e representa 6,2% da área total, na qual existe um processo relativamente acelerado de acomodação da terra caso haja uma constante mudança da cobertura do solo. Este tipo de paisagem deve ser protegido se outros tipos de uso da terra, que não de ciclo curto, for adotado. A classe de paisagem “inapta para cultivo de ciclo longo e silvicultura” representa 0,7% da área total e indica as áreas nas quais o cultivo de ciclo longo e plantio florestal para exploração não devem ser utilizados. Elas são aptas para cultivo de ciclo curto por estarem localizadas em relevo plano com solos bem desenvolvidos, de um modo geral. O rotineiro manejo de solos necessário para cultura de ciclo curto não afeta estas áreas, permitindo que a produção agrícola ocorra sem causar danos ao ambiente natural. A classe de paisagem “área urbanizada/benfeitorias” foi identificada como áreas nas quais predominam um agrupamento de edificações com arruamento e representa 0,6% da área total. Com intenso uso e ocupação do solo, elas modificaram o ambiente natural transformando a região em uma paisagem antropizada. As edificações avulsas, como silos, paiol ou casa de agricultor, foram mapeadas nesta classe por tratar de paisagem antropizada, que é o ambiente natural modificado pelo homem. A classe de paisagem “inapta para mecanização” é constituída pelas áreas de solos rasos. Estas áreas geralmente apresentam um solo pedregoso muito próximo ao subestrato rochoso e quase não são observadas nesta região. São áreas típicas de topo de morro, encostas íngremes ou solos formados sobre uma rocha resistente na qual o processo de intemperismo da rocha ainda é recente. A classe de paisagem “disponível para cultivo sob manejo adequado” é a principal classe com 88,2% da área total, caracterizado por uma classe em que os cultivos devem ser realizados obedecendo as indicações de manejo para aquela área a exemplo dos sistemas integrados lavoura-pecuária e florestas em suas diversas modalidades. A princípio, esta classe não oferece maiores riscos de uso do solo, desde que sejam respeitadas as limitações de uso e adotadas as medidas necessárias para manter o equilíbrio natural da paisagem. 117 FIGURA 4 - CLASSES DE PAISAGEM DO CORREDOR CAIUÁ-ILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) 4.1.4 Uso Atual do Solo Observando o uso e ocupação do solo, em relação à área estudada, verifica-se que predomina o uso com pastagens em 276.077,30 ha (63,2% da área estudada), seguido de agricultura anual com 104.149,64 ha (23,8%), ocupação com florestas em diversos estágios em 34.899,38 ha (8%), vegetação de várzea em 14.416,47 ha (3,3%), área urbanizada/benfetorias em 2.481,67 ha (0,6%), corpos d’água em 2.138,10 ha (0,5%), uso com agricultura perene em 1.590,99 ha (0,4%), cultivo florestal em 1.023,54 ha (0,2%) e em percentuais pouco significativos solo exposto em 58,56 ha e área de mineração em 12,89 ha. O conjunto totaliza 436.848,53 ha, ou 100% da área estudada. Saliente-se que os dados de uso com pastagens e agricultura anual são bastante dinâmicos em função, principalmente, da reforma do pasto no período em que as áreas são usadas, temporariamente, com lavoura, em especial de milho e mandioca. 118 Excetuando-se casos particulares de modernização em função do cultivo da cana-de-açúcar e de grãos sob plantio direto, hoje predominam na região os sistemas com manejo tradicional que têm na pecuária o principal componente, completado com lavouras temporárias principalmente desenvolvidas por ocasião da reforma do pasto. No geral, são de baixo rendimento (produção em torno de 4 arrobas de carne/ha/ano e lotação menor que 1,2 unidades animal/ha). Contrariamente à trajetória para a sustentabilidade, inúmeras áreas apresentam produtividade decrescente na medida em que a fertilidade decai com o esgotamento da matéria orgânica, tudo em função do manejo inadequado do solo, da erosão e, principalmente, por degradação de áreas frágeis dos ambientes de cabeceiras e ao longo de córregos e rios com formação de solos de estrutura fraca como os latossolos arenosos, os solos quartzarênicos e os argissolos ocorrentes naquele ambiente. Mesmo nos casos de sistemas mais produtivos não é prevista a conservação da biodiversidade como fator de sustentabilidade. Quando bem planejados apenas contemplam a manutenção das áreas de preservação permanente como disponíveis para a conservação ambiental. Entretanto, mesmo que despretensiosamente, a maioria acaba contribuindo para a desejada formação de conectividades internas do corredor da Rede da Biodiversidade da região. 4.1.5 Conflito de Uso do Solo A Mesorregião Noroeste, onde estão situadas as microbacias estudadas, é a mais antropizada e ambientalmente degradada do Paraná. Apresenta cobertura florestal nativa praticamente exaurida, solos fortemente erodidos e cursos d’água assoreados. Esta situação decorre do desmatamento indiscriminado e posterior uso inadequado dos solos. Considerando o exposto, não seria exagero dizer que, no geral, a forma do uso e manejo das terras da referida Mesorregião estaria em conflito com os princípios mais moderno para uma agricultura sustentável. Entretanto, com este trabalho procurou-se localizar e dimensionar de forma particularizada parte das situações de conflitos do uso das terras na área estudada, o qual mostra serem necessários estudos mais detalhados para melhor avaliação deste quadro geral. 119 FIGURA 5 - USO ATUAL DO SOLO DO CORREDOR CAIUÁ-ILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) Para a verificação da existência de conflito com o Código Florestal foram utilizados parâmetros desse mesmo código, Brasil (1965), referentes às áreas de preservação permanente para matas ciliares, pendentes acentuadas e topo de morro. Quanto à verificação de conflito com a aptidão agrícola das terras, usou-se um comparativo do uso atual do solo com a aptidão agrícola da paisagem, definida por um sistema de classificação interpretativo com suporte na ecologia da paisagem e na Aptidão Agrícola das Terras do Paraná (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1981). Para outras informações que disciplinam o uso do solo sugere-se o Planejamento Conservacionista previsto no Decreto Estadual n° 6.120. Em relação à área estudada verifica-se que predomina o conflito cultura anual em área inapta para ciclo curto em 5.156,53 ha (1,2% da área total estudada), seguido de pastagens em APP com 4.423,30 ha (1,0%), agricultura anual em APP com 1.546,04 ha (0,4%), e em percentuais pouco significativos verifica-se: cultivo florestal em APP 120 FIGURA 6 - CONFLITO DE USO DO SOLO DO CORREDOR CAIUÁ-ILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) com 47,85 ha, Agricultura perene em APP com 7,75 ha e Cultura anual em área inapta para mecanização em apenas 3,10 ha. Em relação à Reserva Legal - RL e Áreas de Preservação Permanente - APP, o Código Florestal estabelece: a necessidade de se manter, a título de reserva legal, vinte por cento da propriedade rural com área de floresta ou outra forma de vegetação nativa, Brasil (1965) e considerando a área total estudada e a cobertura florestal existente nos estágios de desenvolvimento não mais passíveis de corte raso, existe um passivo ambiental de aproximadamente 58.568,08 ha de floresta a ser recuperado para a recomposição da Reserva Legal. É um cálculo estimado a ser confirmado com o planejamento individual das propriedades, objetivo não previsto neste trabalho. Providenciado o planejamento das propriedades, diferença significativa pode ser encontrada visto que a lei permite ao órgão ambiental autorizar, em alguns casos, Brasil (1965), a inclusão da APP no cômputo da Reserva Legal e, ainda, pode vir a ser computado como Reserva Legal parte da 121 área com vegetação de várzea. Referente às classes de uso, as áreas com vegetação de várzea somam 14.416,47 ha, dos quais 3.614,72 ha constam como APP. Restando 10.801,75 com potencial de sanar parte do passivo da RL apurado (Tabela 1). Portanto, o passivo florestal da Reserva Legal - RL na área estudada fica entre 58,60 mil ha e 47,80 mil ha (54,98% a 67,40% do exigível), enquanto que o passivo da APP é de 6.503,65 ha (38,40% do exigível), conforme Tabela 2. Tabela 1 - Dados para estimativa da Reserva Legal Área de Preservação Permanente - APP e Reserva Legal - RL Reserva Legal exigida em função da legislação (20% da área rural) Cobertura florestal existente (fora da APP) Reserva Legal faltante Vegetação de várzea com potencial para Reserva Legal Reserva Legal faltante (subtraindo várzea fora de APP) ÁREA 86.873,37 28.305,29 (58.568,08) 10.801,75 (47.766,33) (%) 100,00 32,60 (67,40) 12,52 (54,98) Fonte: Elaborado pelos autores (2009) Tabela 2 - Dados da Área de Preservação Permanente - APP Área de Preservação Permanente - APP e Reserva Legal - RL APP necessária em função da Legislação APP existente - APP (Existente com Floresta) - APP (Esistente com Vegetação de Várzea) APP Conflito (Faltante) ÁREA 16.935,70 10.432,05 6.817,33 6.503,65 6.503,65 (%) 100,00 61,60 40,25 38,40 38,40 Fonte: Elaborado pelos autores (2009) A separação dos conflitos por classe de uso da terra se fez pertinente visto diversas possibilidades de solução, em função da realidade de cada bacia ou conjunto de bacias. Os conflitos nas áreas com pecuária têm significado diferente e exigem medidas diferentes das áreas com agricultura. Da mesma forma, os conflitos em áreas de agricultura intensivamente mecanizada requerem tratamento diferente daqueles ocorrentes em áreas de agricultura familiar em sistema de manejo menos desenvolvido ou menos agressivo ao meio ambiente. De outro lado, o conjunto de conflitos de uma mesma natureza, constituindo um passivo para um determinado setor, pode auxiliar no mapeamento 122 de fontes de recursos ou desenvolvimento de oportunidades como as apontadas no item sobre proposições. É importante salientar que, em função da escala, este estudo não é suficiente para o dimensionamento dos passivos ambientais individualizados por propriedade, nem aponta passivos decorrentes de empreendimentos que não sejam rurais, a exemplo de hidroelétricas, processos industriais, loteamentos urbanos, dentre outros. Entretanto, traz informação do conjunto das microbacias que pode servir de apoio ao planejamento de ações para a formação dos corredores da biodiversidade e adequação de uso dos solos para minimizar as ameaças aos últimos remanescentes do ambientes naturais da região. 4.1.6 Proposição A solução dos conflitos de uso das terras e dos passivos diagnosticados nas microbacias estudadas exige estratégias diversas em função dos interesses envolvidos e dos modelos de agricultura pelos quais os mesmos evoluíram. Até meados da revolução verde, aplicada em países em desenvolvimento, a agricultura tradicional contemplava a derrubada da mata, muito incentivada para abertura de fronteiras agrícolas; contemplava a destoca e uso do fogo para limpeza do terreno, visando melhor desempenho das operações de preparo do solo, tratos culturais e colheita. Mais recentemente, o uso da mecanização, principalmente uso do arado e das grades no preparo do solo, fazia parte dos pacotes tecnológicos. Hoje, o uso intensivo de insumos industrializados é tido como indispensável para a manutenção dos níveis de produtividade já alcançados e necessários ao equilíbrio econômico das atividades agrícolas e fornecedores. Indistintamente, todas essas práticas dos tempos passados e as mais recentes, muito incentivadas por governos, instituições de ensino e pesquisa e outros setores da economia, contribuíram para a geração dos conflitos de uso do solo e de passivos ambientais a serem sanados. Por tudo são conflitos e passivos de solução complexa, visto a necessidade de se reverter um processo fortemente estabelecido de se fazer agricultura. Aumentando a complexidade, tem-se uma realidade 123 que se apresenta dinâmica, a começar pela legislação ambiental vigente, teoricamente reconhecida como avançada, porém de praticidade, por muitos, questionável. Por isso mesmo essa legislação tem sofrido mudanças muito frequentes ao longo do tempo, o que tende a deixar todos no aguardo e protelando decisões frente a tais passivos. Como exemplos têm-se as últimas discussões no Estado sobre a recuperação da Reserva Legal e, no âmbito federal, as propostas de mudanças do Código Florestal Brasileiro. Tem-se notícia de que há pelo menos uma dúzia de projetos de lei relacionados à questão ambiental em tramitação no Congresso Nacional (BOURSCHEIT, 2008). Cientes da possível necessidade de complementação e revisão em função da dinâmica do ambiente, listam-se neste trabalho um conjunto de proposições com potencial de atender aos diversos interesses e, portanto, capazes de avanço na solução de tais conflitos. As mais promissoras são as que recomendam a inserção do componente florestal nos sistemas de produção. Colaboram com esta afirmativa os trabalhos apresentados por diversos autores no Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP, 2008) e o Projeto de Implantação e Manejo de Florestas em Pequena Propriedade no noroeste do Estado do Paraná, Schaitza (2008), que se mostra positivo para o meio ambiente inclusive global pela fixação do carbono, por exemplo. As principais proposições passam pelas seguintes recomendações, em função da natureza do conflito observado: i) APP com conflito de uso, porem com potencial de regeneração: isolar a área, visando regeneração natural da cobertura florestal nativa. ii) APP com conflito de uso e sem potencial de regeneração: isolar a área e efetivar o reflorestamento com espécies nativas locais. iii) Áreas com vegetação nativa excedente da APP: manter o fragmento florestal para servir de trampolim ecológico em linha de conectividade com outros fragmentos. Juntamente a estas áreas e sempre que possível, deve-se projetar a recuperação do passivo referente às áreas destinadas à formação de reserva legal na região. Verificar possibilidade de uso econômico com manejo sustentado, e/ou formação de Reserva Legal em condomínio administrada sob regime de Servidão Florestal, instituto que permite ao proprietário de um imóvel rural abrigar reserva legal de imóvel rural de terceiro. iv) Área com uso em conflitos com o potencial das terras: converter o uso atual para sistemas mais apropriados. Orientações para terras 124 de baixa aptidão podem ser encontradas na Circular Técnica n° 108 do Iapar (CASTRO FILHO, 1999). v) Área sem conflito, porém com potencial de melhorias do sistema bem como no manejo das terras: informações para suporte técnico a sistemas sustentáveis são disponibilizadas por diversos autores tratando de proposição para implementação de sistemas que integram lavoura, pecuária e floresta em Sistema de Plantio Direto na Palha SPDP (FEBRAPDP, 2008). vi) Decorrente da legislação ambiental, toda conversão do uso das áreas de APP em floresta deve ser realizada com espécies nativas. FIGURA 7 - PROPOSIÇÃO DE USO DO SOLO DO CORREDOR CAIUÁILHA GRANDE, REGIÃO DE PARANAVAÍ Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2004) A área estudada mostra a predominância da proposição para se manter o uso atual das terras com manejo adequado em 420.885,34 ha (96,3% da área estuda), seguido das proposições: converter o uso em silvipastoril ou sistema agroflorestal em 5.156,53 ha (1,2%); converter pastagens e campos em floresta com 4.423,30 ha (1,0%); 125 converter agricultura anual em floresta com 1.546,04 ha (0,4%) e, em percentuais pouco significativos, converter cultivo florestal em floresta em 47,85 ha, converter agricultura perene em floresta em 7,75 ha e evitar preparo do solo com uso de mecanização em 3,10 ha. Portanto, o grande desafio é a mudança no manejo das terras que deve passar por melhor combinação de práticas e atividades que possam conciliar produção e uso mais racional do meio ambiente incluindo, recuperando e mantendo a Reserva Legal como estratégia de sustentabilidade em torno de 58,57 a 44,15 mil ha. As proposições serão mais facilmente adotadas na medida em que os diversos interessados tomem conhecimento e possam dimensionar as relações de suas causas e efeitos. Para tanto, o trabalho da Extensão Rural deve continuar ajustando, atualizando e difundindo as mais promissoras junto aos produtores rurais e suas lideranças. O passo seguinte a este trabalho deve ser a programação das ações com a participação do público nas microbacias e propriedades, promovendo-se revisões e detalhamentos necessários. Nesta oportunidade, a alocação da Reserva Legal deve receber prioridade a ser discutida com o órgão ambiental a quem cabe a responsabilidade de instruir, acompanhar e registrar sua implantação conforme o conjunto das normas e procedimentos do SISLEG. Não é demais lembrar que projetos bem dimensionados facilitam a captação e alocação de recursos, inclusive com apoio governamental. A exemplo, cita-se o apoio do Projeto Paraná Biodiversidade para 69 projetos de módulos agroecológicos, com adesão de 1.800 produtores, entre os quais destacam-se os módulos de caráter ambiental para a recuperação da Reserva Legal e fixação de carbono, e outros que associam os interesses ambiental e econômico como os de apoio à implantação de sistema silvipastoril. CONCLUSÕES Este trabalho possibilitou a visualização espacial das microbacias hidrográficas da área estudada do Corredor Caiuá-Ilha Grande, na região de Paranavaí, permitindo a análise, interpretação e quantificação de uso e ocupação das terras, apontando propostas para conservação da biodiversidade e produtividade através de um uso sustentável dos recursos naturais. 126 Em relação à Área de Preservação Permanente - APP o passivo ambiental a ser resolvido representa 38,40% da área exigível pelo Código Florestal Brasileiro (16.935 ha) no Corredor Caiuá-Ilha Grande na região de Paranavaí. Esta porcentagem representa 6.503,65 ha, considerando que 10.432,05 ha já constam como APP, com vegetação nativa em diversos estágios. Em relação à Reserva Legal - RL, considerando a vegetação existente, conforme a consideração feita no item “Conflito de Uso do Solo do resultado regional”, este passivo fica entre 54,98% a 67,40% da área exigível que é de 86.873,37 ha. A metodologia desenvolvida para este trabalho, em função dos resultados obtidos, mostrou-se eficaz para este propósito. O planejamento de uso da terra utilizado mostrou-se aplicável, rápido, replicável e economicamente viável por utilizar o sensoriamento remoto e sistema de informação geográfica. O uso de imagens de satélite possibilitou o mapeamento de áreas de difícil acesso, racionalizando tempo nos levantamentos de campo. O trabalho atende uma escala para o planejamento regional e ainda apóia o agricultor no planejamento de sua propriedade. A instrumentalização dos executores dos Centros de Planejamento de Uso da Terra, através do apoio financeiro do Fundo Mundial do Meio Ambiente - GEF e Banco Mundial viabilizou a execução do trabalho, sem os quais não teria sido possível executar este planejamento. REFERÊNCIAS BOURSCHEIT, A. e BENTO FILHO, W. Entre a produção e a preservação. Em Gestão de amanhã Guia Sustentabilidade Meio Ambiente. Porto Alegre-RS: Ano II - 2008. Pg. 11/17. ISSN 1413-9383. BRASIL. República Federativa. Código Florestal Brasileiro - Lei Federal nº 4771. Brasília-DF: Congresso Federal, 1965. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente (MMA). Resolução do CONAMA 303/2002 de 20/03/2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/ conama/legiabre.cfm?codlegi=299>. Acesso em: 12/05/2014. 127 CAMPOS, J.B. (organizador). Parque Estadual de Ilha Grande: reconquista e desafios. Maringá: IAP - Instituto Ambiental do Paraná, 1999. 118p. CASTRO FILHO, C. e MUZILLI, O. Uso e manejo dos solos de baixa aptidão agrícola. Londrina: IAPAR, 1999. 270 p. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Blucher, 1974. DIAS, J.L. A paisagem e o geossistema como possibilidade de leitura da expressão do espaço sócio-ambiental rural. Confins, Número 1. Disponível em: <http://confins.revues.org/document10.html. 2007>. Acesso em: 10/03/2009. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 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Revista de Administração Pública. Fundação Getúlio Vargas, v. 27, nº 2. Rio de Janeiro, 1993. 129 130 CAPÍTULO V GEOPROCESSAMENTO EM APOIO AO ESTUDO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO NO PROJETO REDES DE REFERÊNCIA PARA A AGRICULTURA FAMILIAR NO NOROESTE DO PARANÁ Belmiro Ruiz Marques 1 Edson Luiz Diogo de Almeida 2 1 2 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Manejo e Administração de Recursos Naturais, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, Instituto Emater, Maringá, Paraná, Brasil [email protected] 131 132 INTRODUÇÃO A cerca de dez mil anos, o homem deixou de ser extrativista e passou a produzir seu próprio alimento com o surgimento da agricultura. Com o passar do tempo, a ciência pode desenvolver ferramentas que aumentaram a eficiência das operações e a produtividade das lavouras e criações. Segundo Motta & Watzlawick (2000), a construção de mapas para representar o espaço geográfico é uma prática tão antiga como a própria civilização humana. Estudos realizados principalmente por historiadores e arqueólogos têm descoberto muitos exemplos de mapas que foram deixados por civilizações antigas, como por exemplo o mapa de Çatal Höyük, considerado o mapa mais antigo já encontrado. Outros exemplos de mapas antigos são citados na bibliografia histórica da Cartografia demonstrando que a produção desse tipo de representação gráfica fazia parte das atividades dos povos desde os tempos mais remotos. Nos dias atuais, estamos vivenciando a era do conhecimento, da modernidade, da tecnologia, falamos em agricultura de precisão, em geoprocessamento, em planejamento rural. Mas o que é geoprocessamento e qual sua ligação ao planejamento e a agricultura de precisão? Geoprocessamento é a tecnologia que abrange o conjunto de procedimentos de entrada, manipulação e análise de dados espacialmente referenciados (MOTTA & WATZLAWICK, 2000) O Sistema de posicionamento Global (GPS) surgiu em 1960, criado pela marinha e força aérea americana para uso militar e de navegação. Com o lançamento do satélite Sputinik I pelos russos em 1957, começou a utilização de satélites para o posicionamento geodésico. Em 1958 os americanos lançaram o satélite Vanguard marcando assim o início do desenvolvimento do sistema Navstar (Navigation Satellite with Timing and Ranging). A partir de 1967 foi liberado para uso civil, o sistema denominado Navy Navigation Satellite System (NNSS) também chamado de Transit, possibilitando através do uso de satélites obter a posição instantânea, bem como a velocidade e o horário de um ponto qualquer sobre a superfície terrestre num referencial tridimensional (LETHAM, 1996). Desde o lançamento dos primeiros receptores GPS, tem havido grande avanço na utilização do sistema por sua precisão, rapidez, versatilidade e economia. Considerando suas aplicações, não demorou 133 muito para que seu uso fosse disseminado na agricultura e utilizado na obtenção de imagens, medição e identificação de áreas, locação de pontos, confecção de mapas, levantamento de produtividades, agricultura de precisão e outros usos. Planejar adequadamente uma propriedade rural é uma tarefa imprescindível para quem quer usar a terra. Diversas soluções técnicas existem para que se possa conhecer a propriedade como um todo, a fim de não tomar decisões inadequadas. O geoprocessamento associado a outras técnicas, torna possível a aquisição de mapas temáticos e a quantificação de áreas. Pode-se, assim, obter dados de áreas de agricultura, pastagem, campo nativo, reflorestamentos/florestamentos, florestas nativas, reserva legal, áreas de preservação, afloramentos rochosos, áreas inundadas, áreas sujeitas a alagamento, açudes, barragens, áreas erodidas ou em processos de erosão, estradas, divisas e áreas degradadas, definindo o uso do solo. Já no ano de 1998, com a implantação do Projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar (Redes), a pesquisa e a extensão sentiram a necessidade de algum instrumento que possibilitasse a visão espacial das propriedades, identificando as áreas utilizadas por cada exploração, de forma a ser um instrumento de apoio ao diagnóstico e planejamento das propriedades dos colaboradores de maneira instantânea. Até este momento, os esforços eram de se ter croqui, em sua maioria manuscritos, ou feitos no computador, no intuito de se ter uma visão espacial das explorações da propriedade (Figura 1). FIGURA 1 - CROQUI MANUSCRITO E EM MICROSOFT EXCEL DE ÁREAS ACOMPANHADAS Fonte: Elaborado pelos autores (2006) 134 O georreferenciamento, apesar de ser ferramenta muito difundida no meio agrícola, só há pouco mais de 15 anos foi introduzido na prática extensionista como ferramenta de trabalho. Uma ferramenta de apoio durante as intervenções tornou-se necessária para acompanhar o desenvolvimento dos sistemas de produção e os resultados obtidos com o trabalho. O Projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar (Redes), pioneiro nesta introdução, foi implantado no Paraná através de uma experiência francesa do Institut de L’Élevage, tendo como objetivo estudar os sistemas de produção de agricultura familiar. Baseados numa tipificação regional de propriedades, considerando os principais sistemas agrícolas presentes que tenham viabilidade técnica e econômica, efetua-se um trabalho de seleção de propriedades e produtores que sejam representativos destes sistemas. Após a seleção, inicia-se um trabalho de diagnóstico, planejamento e intervenção, numa atuação conjunta de extensionistas, pesquisadores e produtores, que fazem ajustes no sistema de produção buscando a melhoria de seus índices técnicos e econômicos. Quando estas propriedades começam a expressar o seu máximo potencial, são utilizadas para a difusão/transferência e criação de referências, de maneira que os ajustes efetuados possam ser verificados e postos em prática por outros produtores que representam o mesmo sistema de produção, melhorando seus resultados e desenvolvendo os sistemas prioritários da região na busca do desenvolvimento rural. Resumindo, estas propriedades são basicamente conjuntos de propriedades representativas de determinado sistema de produção familiar que, após processo de otimização visando ampliação de sua eficiência e sustentabilidade, servem como referência técnica e econômica para as outras unidades por elas representadas. Como principais objetivos tem-se: - Disponibilizar informações e propor métodos para orientar os agricultores na gestão da propriedade agrícola; Levantar demandas de pesquisa a partir de diagnósticos e acompanhamento nas propriedades integrantes das redes; Ofertar tecnologias e/ou atividades que ampliem a eficiência dos sistemas de produção; Realizar testes, ajustes e validação de tecnologias; 135 - Servir como polo de difusão e capacitação de técnicos e agricultores. Propor políticas públicas que beneficiem estes sistemas e suas famílias. A estratégia de trabalho do Projeto Redes, pode ser resumida na Figura 2. FIGURA 2 - METODOLOGIA DE TRABALHO EM PROPRIEDADES DE REFERÊNCIA Fonte: Projeto Redes (2008) Foi através desta necessidade que houve a introdução do georreferenciamento no momento do diagnóstico, possibilitando maior conhecimento destas áreas em tempo real, verificando a sua dimensão, discutindo com a família através do mapa georreferenciado o planejamento das intervenções dentro da propriedade, e fazendo o controle e checagem do que foi trabalhado para obter uma melhor leitura da realidade destas propriedades. Conhecer a propriedade é fundamental para melhor aproveitamento da terra e bom gerenciamento dos recursos produtivos. O trabalho foi importante também para apresentar a propriedade 136 do produtor colaborador e os resultados obtidos a outros produtores nos momentos de difusão e transferência de tecnologia. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a utilização e os resultados obtidos com o georreferenciamento no acompanhamento e intervenção em sistemas de produção de agricultura familiar assistidos pela extensão rural do Paraná, em especial na região noroeste do Paraná, que compreende 5 regiões: Campo Mourão, Cianorte, Maringá, Paranavaí e Umuarama. MATERIAL E MÉTODOS Definida a necessidade de se ter um mapa georreferenciado das propriedades acompanhadas no Projeto das Redes, passou-se a selecionar ferramentas e métodos necessários para a realização dos levantamentos a campo. A organização do Projeto Redes no noroeste do Paraná era composta por um coordenador macrorregional, que tinha entre outras funções o acompanhamento dos trabalhos realizados pelos executores presentes nas 5 regiões abrangentes no projeto. Inicialmente diagnosticou-se que a grande maioria dos técnicos do Instituto Emater envolvidos no projeto, não tinha conhecimento para uso do GPS de navegação que seria utilizado nos levantamentos necessários. Assim, passou-se a realizar treinamentos para utilização dos GPS, bem como da metodologia de caminhamento na área, visando concluir os diagnósticos necessários. Os técnicos prioritários para receber o treinamento eram aqueles envolvidos diretamente no Projeto das Redes de Referência, no entanto, outros extensionistas também foram treinados, pois outras atividades desenvolvidas pela extensão, como levantamentos para quantificação de perdas no seguro agrícola e outros projetos técnicos, também tinham a mesma necessidade (Figuras 3 e 4). Os treinamentos abordavam aspectos conceituais do uso do GPS de navegação, lembrando que o objetivo maior previsto se constituía na distribuição espacial das explorações das propriedades e cálculos de áreas para fins de planejamento. Como apoio nos treinamentos foi utilizada a apostila “Guia de Utilização do GPS Etrex, GPS TrackMaker pro, aplicado à Emater”. Utilizou-se ainda GPS de navegação de vários modelos, principalmente GARMIN GPS 86 CX, GARMIN Etrex, e Garmin GPS 48. 137 No GPS, optou-se pela marcação de pontos, ao invés de trajetos, pois no trabalho de campo traz maiores possibilidades de controle no método, acompanhado de croqui manuscrito para identificação de pontos estratégicos. Os pontos armazenados no GPS foram descarregados nos computadores pessoais, utilizando-se programas compatíveis, como o TrackMaker e o MapSource. Para elaboração dos mapas das propriedades utilizou-se os softwares TrackMaKer pro e Arcview GIS 3.2 (Figuras 5 e 6). FIGURAS 3 e 4 - MOMENTO PRÁTICO EM CAPACITAÇÕES DE TÉCNICOS DA EXTENSÃO Fonte: Instituto Emater - Belmiro Ruiz Marques (2006) FIGURAS 5 e 6 - TÉCNICOS EM TREINAMENTO Fonte: Instituto Emater - Belmiro Ruiz Marques (2006) 138 A impressão dos mapas foi realizada em impressoras jato de tinta colorida, para uso diário dos extensionistas e também em impressoras profissionais com figuras em tamanhos maiores, para uso em metodologias extensionistas de difusão grupal (Figuras 7 e 8). FIGURAS 7 e 8 - MAPAS UTILIZADOS EM MOMENTOS DE DIFUSÃO Fonte: Instituto Emater - Belmiro Ruiz Marques (2005) RESULTADO E DISCUSSÃO O georrefenciamento aos poucos foi ganhando a atenção dos produtores, extensionistas e pesquisadores como ferramenta importante na efetivação do trabalho. Assim, o interesse cresceu e a demanda de capacitação para o trabalho com esta ferramenta também. Há mais de dez anos temos utilizado e capacitado outros técnicos para o uso desta ferramenta. Alguns técnicos se especializaram em geoprocessamento e estes, por sua vez, têm treinado os técnicos de campo no uso destas ferramentas e seus recursos. Com isto houve também a qualificação do profissional e do serviço prestado aos produtores colaboradores de grupos assistidos. O uso do GPS possibilita uma visão sistêmica e instantânea das áreas, seus recursos e suas produtividades, permite ainda ao extensionista, quando do caminhamento para o mapeamento, conhecer melhor as potencialidades e restrições das propriedades, identificando problemas prioritários a serem atacados no desenvolvimento do trabalho que ocorre após o diagnóstico e o planejamento. Após a obtenção de alguns pontos georreferenciados a propriedade passa a ser facilmente identificada por todos através de suas coordenadas. Durante o diagnóstico o caminhamento para a obtenção dos pontos que serão 139 necessários à elaboração do mapa da propriedade é obrigatório, assim possibilita ao técnico e mesmo ao produtor que participa do caminhamento, identificar pontos críticos e potenciais da propriedade que até então não tinham sido identificados (Figuras 9 e 10). FIGURAS 9 e 10 - TRABALHO DE GEORREFERENCIAMENTO Fontes: Instituto Emater - Foto 9: Edson L. Diogo de Almeida (2007) Foto 10: Belmiro Ruiz Marques (2006) Após a obtenção dos pontos, elabora-se o mapa da propriedade, ou mesmo a identificação desta utilizando as imagens do Google Earth (Figura 11). FIGURA 11 - IMAGEM DE PROPRIEDADE RETIRADA DO GOOGLE EARTH Fonte: Google Earth (2014), trabalhado pelos autores (2014) Devido à importância dessa ferramenta para o diagnóstico e planejamento das propriedades trabalhadas no Projeto Redes, foi definido 140 que obrigatoriamente todas as propriedades componentes do projeto deveriam ter suas áreas mapeadas dentro dessa metodologia. Ao todo foram levantadas mais de 80 propriedades participantes. Como exemplo e visando a organização dos trabalhos realizados, os mapas foram catalogados e apostilados para serem facilmente acessados pelos profissionais participantes do projeto (Figura 12). FIGURA 12 - CAPA DA APOSTILA CRIADA PELO PROJETO REDES Fonte: Projeto Redes - Belmiro Ruiz Marques (2005) Para aqueles técnicos com menor habilidade, a simples possibilidade de levantar os pontos a campo, fazer as medições das áreas in loco e obter uma imagem aérea da propriedade, já possibilitava um grande avanço no trabalho, com enorme economia de tempo, oferecendo resultados instantâneos e eficazes aos produtores, qualificando o trabalho da extensão. Para os extensionistas que apresentavam uma maior habilidade com a informática, foram efetuadas capacitações que permitiram através do uso de softwares apropriados a elaboração dos mapas das propriedades, mostrando a situação atual e servindo de instrumento para a discussão do planejamento com a família colaboradora. Este material elaborado serve até hoje de registro da situação inicial do trabalho (marco zero), sendo essencial na hora da transferência/difusão, pois, possibilita mostrar também a evolução ocorrida 141 na propriedade com as intervenções e o desenvolvimento do trabalho (Figuras 13 e 14). FIGURAS 13 e 14 - MAPAS UTILIZADOS NOS EVENTOS MOSTRANDO A MUDANÇA OCORRIDA NO SISTEMA DE PRODUÇÃO Fonte: Elaboradas pelos autores (2006) Na região Noroeste o geoprocessamento se desenvolveu principalmente no ambiente de trabalho do Projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar. Estas ferramentas foram amplamente utilizadas nas propriedades-referências acompanhadas por extensionistas pesquisadores e produtores colaboradores, para os quais a visão do sistema de produção é essencial para o desenvolvimento do trabalho. Mas no ambiente da extensão também houve uma grande utilização por técnicos em momentos de perícias de Proagro, elaboração de quadros naturais para fins de assentamentos (Incra), crédito fundiário (Banco da Terra), crédito rural, Programa de Uso e Manejo de Solos e Águas em Microbacias Hidrográficas (Figuras 15 e 16). FIGURAS 15 e 16 - PROJETO DE ASSENTAMENTO E CRÉDITO FUNDIÁRIO LEVANTAMENTO DE CAMPO Fonte: Instituto Emater - Belmiro Ruiz Marques (2007 e 2008) 142 Desta forma o georreferenciamento é uma ótima ferramenta para levantar, registrar, medir, identificar, aprimorar e qualificar o trabalho da extensão junto a seus produtores assistidos. É também ferramenta essencial para registrar e apresentar o trabalho da extensão à sociedade e seus mantenedores. Além disso, é um importante instrumento para o registro da história do trabalho da Extensão Rural do Paraná. CONCLUSÃO Atualmente o georreferenciamento está incorporado ao trabalho de extensão, sendo instrumento primordial de atuação do extensionista junto a seu público assistido. AGRADECIMENTOS Aos técnicos da extensão que ajudaram a construir esta história: Claudinei Antonio Minchio, Gilmar Antonio Pauly, Eduardo Agostinho dos Santos, Joaquim Rocha Martins, José Francisco Lopes Junior, Marcos Henrique da Silva, Rodolfo Mayer, entre outros REFERÊNCIAS LETHAM, L. GPS Made easy: using global positioning systems in the outdoors. Seattle: Published by The Mountaineers, 1996. p 112. MOTTA, J.L.G. e WATZLAWICK, L.F. A Importância do geoprocessamento no planejamento rural, 2000. Disponível em: <http://mundogeo.com/blog/2000/02/02/a-importancia-do-geoprocessamento-noplanejamento-rural/>. Acesso em: 12/05/2014. 143 144 CAPÍTULO VI PLANO DE RECUPERAÇÃO DO ASSENTAMENTO CONTESTADO: LAPA - PR Paulo Augusto de Andrade Lima1 Emerson Pedro Baduy8 Adelson Raimundo Angelo2 Leila Aubrift Klenk9 3 Milton Satoshi Matsushita Michele Cristina Lang10 Oromar João Bertol4 Jonas Daniel Ribas da Cruz11 Paulo Roberto Fiorillo5 Viviana dos Santos12 6 Lucio Tadeu Araujo Luiz Antonio Caldani13 José Américo Righetto7 1 2 Engenheiro Florestal, Especialista em Administração Pública, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Geógrafo, Especialista em Gestão de Recursos Hídricos, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] CONTINUA 145 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 4 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Conservação da Natureza, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 5 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão de Recursos Naturais, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 6 Engenheiro Agrônomo, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] 7 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Comercialização de Hortigranjeiros, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 8 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Administração Pública, Instituto Emater, Balsa Nova, Paraná, Brasil - [email protected] 9 Engenheira Agrônoma, Mestre em Ciência do Solo, Instituto Emater, Lapa, Paraná, Brasil - [email protected] 10 Engenheira Agrônoma, Especialista em Agronegócio com ênfase em Mercados, Fundação Terra, Lapa, Paraná, Brasil - [email protected] 11 Técnico Agrícola, Instituto Emater, Rio Negro, Paraná, Brasil [email protected] 12 Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia, Fundação Terra, Lapa, Paraná, Brasil [email protected] 13 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Fertilidade e Manejo de Solos, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 3 146 INTRODUÇÃO Este Plano de Recuperação de Assentamento - PRA, montado durante o ano de 2011, destinava-se a orientar e especificar as ações que deviam ser planejadas, projetadas e realizadas no Projeto de Assentamento (PA) Contestado, e que permitiria novos usos de áreas cujas características originais sofreram alterações. O assentamento Contestado está situado no município da Lapa na região metropolitana de Curitiba, distante a 77 km de Curitiba via BR 476 e 61 km via Balsa Nova. O presente Plano de Recuperação de Assentamento é constituído de 13 programas que visam proporcionar as ações de desenvolvimento social, econômico e ambiental, avaliar o desenvolvimento das ações existentes e planejar outras ações visando a recuperação ambiental, econômica, produtiva e social e a consolidação do assentamento. O plano será implantado no período de 20 anos, sendo que nos cinco primeiros anos, após decisão judicial que libere a eliminação dos Pinus ssp, as ações priorizadas são aquelas que visam a recuperação da mata ciliar localizada ao longo dos corpos d’água, que constituem a rede hidrográfica da área do assentamento (APP) e as Áreas de Reserva Legal (ARL). Também, este período inicial será dedicado à elaboração e implementação de programas e projetos específicos às ações produtivas e socioeconômicas. O Plano de Recuperação do Assentamento foi elaborado obedecendo à legislação ambiental, em vigor na época de sua elaboração, em especial a Resolução CONAMA N.º 387 de 27 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006), que estabelece os procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária e para a inclusão deste PA no Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente SISLEG, e a solicitação da Licença de Instalação e Operação - LIO do Assentamento e, também, ao “Termo de Referência Técnica” que entre si celebram a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no Paraná e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), com o objetivo de definir os procedimentos 147 e os parâmetros exigidos para o cadastro no Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente (Sisleg) e para o Licenciamento Ambiental dos Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária no Estado do Paraná, estabelecendo diretrizes para a elaboração do Plano de Recuperação do Assentamento - PRA, indicado na Resolução CONAMA Nº 387/2006. O planejamento do trabalho foi definido para garantir seriedade das ações e fidelidade na observação dos procedimentos contidos na Legislação Ambiental em vigor na época da elaboração do Plano. Mesmo com alterações fundamentais na Legislação Ambiental hoje em vigor, permanece a necessidade de recuperar áreas degradadas às margens e nascentes dos rios, bem como conter/eliminar a invasão do Pinus ssp em diversos locais do assentamento. Também, a legislação atual não elimina a necessidade de outras ações de conservação dos recursos naturais. Os programas elaborados sob esta perspectiva proporcionam aos assentados uma visão de sustentabilidade ambiental, social e econômica. MATERIAIS E MÉTODOS Na época da implantação do projeto do Assentamento Contestado não foram consideradas as questões ambientais relacionadas ao sistema produtivo, o que facilitou a degradação do solo e do meio ambiente, acumulando um grande passivo social, econômico e ambiental do local. Para a identificação dos impactos ambientais do projeto do Assentamento Contestado foram utilizadas técnicas de sensoriamento remoto, com o uso de imagens por satélites e das observações de campo, o que possibilitou o estudo temporal e espacial do uso da terra atual e dos impactos ambientais, analisando a degradação das áreas de matas nativas e das áreas de proteção ambiental - APP. A identificação do passivo ambiental fornecerá os elementos necessários para a elaboração desse Plano de Recuperação de Assentamento, no qual se procurou erradicar e/ou mitigar os problemas e suas consequências, buscando harmonizar as atividades dos assentados com o meio ambiente. 148 Equipamentos e softwares de geoprocessamento utilizados para o desenvolvimento do trabalho O desenvolvimento do trabalho de geoprocessamento foi realizado com utilização das ferramentas e softwares abaixo relacionados: 1) Sistema de Posicionamento Global (GPS) de Navegação O GPS de navegação foi utilizado para localizar nascentes, corpos d’água, estradas, áreas de sede e demais usos e ocupação do solo. 2) Software Track Maker Pro 4.4 O software Track Maker Pro 4.4 foi utilizado para descarregar e converter dados obtidos com GPS de navegação. 3) Planilha eletrônica A planilha eletrônica foi utilizada para tabular e totalizar informações geradas nos mapas temáticos. 4) Software SPRING O software Spring 5.1.8 disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi utilizado para gerar os mapas de classes de declividade. 5) Software Global Mapper 9 O software Global Mapper 9 foi utilizado para registro, ajustes, formação de mosaicos e recortes de imagens. 6) Software ArcGIS Desktop 9.0 e ArcView 3.2 Os softwares ArcGis 9.0 e ArcView 3.2 foram utilizados para combinação das informações, análise dos dados e elaboração dos mapas temáticos. 7) Imagens de satélite SPOT 5 e ALOS A identificação das características do meio físico foram realizadas com apoio de imagens do satélite SPOT 5 (Satellite Pour l’Observation de la Terre) ortorretificadas, cena 710/401 (30/04/06); 711/401 (28/08/05), composição colorida nas bandas RGB e banda pancromática com resolução espacial de 5 m, projeção UTM (Universal Transversa de Mercator), MC (Meridiano Central) 51 Oeste (fuso 22), Datum Horizontal SAD 69 (South Americam Datum) em formato tiff. Os trabalhos foram complementados com imagens do satélite ALOS de 2008 e 2009, composição colorida nas bandas rgb com resolução espacial de 10 m e banda pancromática com re149 solução espacial de 2,5 m, projeção UTM (Universal Transversa de Mercator), Meridiano Central 51 Oeste (fuso 22), Datum Horizontal SAD 69 (South Americam Datum) em formato tiff. Fases do desenvolvimento do trabalho Fase 1 - Formação da equipe técnica multiprofissional Para a formação da equipe técnica foi priorizado, entre vários critérios, a formação profissional e a experiência em trabalhos de extensão rural e trabalhos com assentamentos, composta de profissionais do quadro próprio do Instituto Emater e da Fundação Terra e constituída por: 8 engenheiros agrônomos,1 engenheiro florestal, 1 pedagoga, 1 geógrafo e 1 técnico agrícola. Fase 2 - Capacitação da equipe técnica multiprofissional A capacitação da equipe técnica foi realizada em duas etapas principais: Primeira etapa: Curitiba, Unidade Estadual do Instituto Emater, no período de 9 a 13 de maio de 2011 foi realizado um Curso de Capacitação sobre “Uso de GPS e Georreferenciamento para apoio à elaboração de Plano de Recuperação de Assentamentos - PRA” com uso do Programa Arcview 3.2. Segunda etapa: Laranjeiras do Sul, Assentamento Oito de Junho, no período de 23 a 27 de junho de 2011, foi realizado o treinamento teórico e prático da equipe técnica no “Uso de GPS 76 CX e uso de software para GPS”. Nesta etapa da capacitação também participaram servidores do INCRA e do IAP como instrutores ou para sanarem as dúvidas surgidas quanto às questões de interpretação da legislação vigente. Fase 3 - Trabalhos de escritório 01 Após formação e capacitação da equipe técnica de trabalho procedeu-se o levantamento de material analógico e digital da área do Assentamento, e levantamento bibliográfico dos estudos realizados na região. Fase 4 - Trabalhos e levantamentos de campo Aplicação de questionário denominado “Diagnóstico do meio so150 cioeconômico e cultural para elaboração do PRA”, e levantamento de dados dos recursos naturais e informações agronômicas para subsidiar na elaboração dos mapas temáticos. Todos lotes individuais e coletivos foram visitados pela equipe, obtendo-se informações sobre os sistemas produtivos, vegetação, hidrografia, estradas, construções, maquinários e aspectos socioeconômicos das famílias. Fase 5 - Trabalhos de escritório 02 Tabulação dos dados socioeconômicos; pesquisas bibliográficas; montagem dos mapas temáticos (localização, relevo, mapa de declividade, solo, classe de capacidade de uso das terras, recursos hídricos, cobertura vegetal, do uso atual da terra, aptidão agrícola das terras, dentre outros); descrição dos impactos sociais, econômicos e ambientais; apresentação de medidas mitigadoras para o Assentamento (cronograma de execução físico/financeiro) e redação do texto final. A metodologia utilizada está baseada em técnicas de geoprocessamento para produção de mapas temáticos, utilizando-se cartas topográficas, imagens de satélite, mapas de solos, dados bibliográficos, Sistema de Posicionamento Global (GPS) e levantamento de campo para o diagnóstico físico e ambiental dos assentamentos. Desenvolvimento do trabalho A estrutura do relatório seguiu o formato recomendado pelo Termo de Referência Técnica assinado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no Paraná e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em 8 de agosto de 2008 para o cadastro no Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente (SISLEG), para o licenciamento Ambiental dos Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária no Estado do Paraná e pela Resolução CONAMA 387, com o objetivo de favorecer a análise das equipes técnicas do INCRA e IAP. As informações coletadas no campo com uso de GPS de navegação e uso das imagens de satélite, hidrografia, curvas de nível e pontos cotados serviram de subsídio para verificação dos rios, corpos d’água, nascentes, estradas, ajustes no mapa de solos, geração do mapa de ocupação e uso do solo, conflitos e proposições ambientais. 151 A declividade é a inclinação da superfície do terreno em relação ao plano horizontal, referenciada através de um gradiente de variação no valor da elevação, que pode ser medido em graus (0 a 90°) ou em porcentagem (%). Os mapas de classes de declividade foram gerados com uso do software Spring 5.1.8 disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), utilizando dados da carta número 2856-2, contendo a base hidrográfica do Estado do Paraná na escala de 1:50.000, pontos cotados e curvas de nível com equidistância (distância vertical entre as curvas de nível) de 20 metros. Caracterização do projeto de assentamento - PA a) Geral Denominação do assentamento: PA - Contestado Data e nº da Portaria de criação do PA: Portaria 0064 de 29/11/2000 Área medida (INCRA): 3.189,09 ha Área medida (Instituto Emater): 3.182,38 ha Nº de família/lotes: 108 (cento e oito) Quadro 1 - Coordenadas cartográficas dos pontos extremos do assentamento PONTOS GEOGRÁFICAS UTM - SAD69 e MC 51 O Latitude (S) Longitude (O) Longitude (O) Latitude (S) NORTE - 25º 35’ 55” - 49º 41’ 24” 631.547m 7.168.106m SUL - 25º 39’ 21” - 49° 41’ 56” 633.292m 7.163.438m LESTE - 25° 38’ 26” - 49° 40’ 20” 630.599m 7.161.776m OESTE - 25° 37’ 57” - 49° 44’ 52” 625.710m 7.164.414m Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) b) Diagnóstico do meio natural da área do assentamento b.1) Tipo(s) de clima(s) e dados meteorológicos O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é Cfb, ou seja, temperatura moderada com chuva bem distribuída e verão brando. O mês mais frio apresenta temperatura média inferior a 18ºC (me152 sotérmico), no mês mais quente a temperatura média é inferior a 22ºC, sem estação seca definida, e a precipitação média anual é de 1400 mm (IAPAR, 2010). b.2) Geologia da área do assentamento O Assentamento Contestado situa-se no 2º planalto paranaense (Planalto de Ponta Grossa) caracterizado por um relevo relativamente suave, formado por colinas arredondadas e mesetas estruturais escarpadas. No 2º planalto também são típicas as várias formações areníticas. O Segundo Planalto Paranaense é constituído por rochas sedimentares de idade Paleozóica e Mesozóica, depositadas entre o Devoniano e o Jurássico em diversos tipos de ambientes: marinho raso, continental, fluvial, lacustre (e palustre), glacial e periglacial (BIGARELLA et al., 1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO 1) Levantamento e reconhecimento dos solos Os solos do Assentamento Contestado são formados a partir de rochas sedimentares. Unidades agrupadas de Cambissolos Cambissolos: Solos constituídos por material mineral com horizonte B incipiente imediatamente abaixo do horizonte A ou horizonte hístico com espessura inferior a 40 cm. Cambissolo húmico: É um horizonte mineral superficial de cor escura com valor e croma 4,0 ou menor, saturação de bases (V%) inferior a 65% e que apresenta espessura e conteúdo de carbono orgânico inferior ao limite mínimo para caracterizar o horizonte hístico e teor de carbono orgânico igual ou maior, e proporcional à espessura do horizonte e profundidade do solo. Cambissolo hístico: É um tipo de horizonte definido pela constituição orgânica, resultante de acumulações de resíduos vegetais depositados superficialmente, ainda que, no presente, possa encontrar-se recoberto por horizontes ou depósitos minerais e mesmo camadas orgânicas mais recentes. 153 FIGURA 1 - LEVANTAMENTO E RECONHECIMENTO DOS SOLOS Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) Tabela 1 - Levantamento e Reconhecimento dos Solos Tipos de Solos Área (ha) Cambissolo Háplico 1.312,54 Cambissolo Húmico 1.403,60 Gleissolo Melânico 466,24 Total 3.182,38 Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 2) Hidrografia e recursos hídricos Na área do Assentamento do Contestado os rios e córregos formam divisas, não só de grande parte do perímetro, como também entre os lotes. As estradas seguem pelos divisores de água e os córregos fazem as divisas no interior dos lotes. O volume de água existente é disponibilizado para irrigação e dessedentação animal, e o abastecimento doméstico é por uma rede de água a partir de um poço e armazenada 154 em uma caixa d’água elevada que disponibiliza água às residências por gravidade. O Assentamento está inserido na bacia hidrográfica do rio Iguaçu, sendo este rio parte da divisa norte do assentamento. A oeste e a sudeste as águas são drenadas para o rio Corisco que faz a divisa do Assentamento. A leste e a sudeste, as águas correm para o rio Capivari, e ambos são afluentes do rio Iguaçu. No interflúvio destes rios, há outro rio, sem denominação, também afluente do Rio Iguaçu, e todos são rios e córregos perenes. FIGURA 2 - PERÍMETRO, LOTES, ESTRADAS E HIDROGRAFIA Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) São 7 afluentes do Rio Corisco que nascem em sua margem esquerda e atravessam as áreas de Reserva Legal. São córregos de 1ª, 2ª e 3ª ordens que despejam suas águas diretamente no Rio Corisco e abrangem uma área de drenagem de 1.187,00 ha havendo um padrão dendrítico. As principais nascentes do Rio Capivari encontram-se na área urbana do município da Lapa. São 9 nascentes e afluentes que se encontram dentro dos lotes dos assentados, localizadas na margem 155 direta, formado por rios e córregos de 2ª e 3ª ordens com padrão dendrítico, que drenam uma área 1.247,00 ha. No interior do assentamento existe um rio, sem denominação, que despeja suas águas diretamente no Rio Iguaçu. Forma uma pequena microbacia com 748,00 ha formada por rios e córregos de 2ª e 3ª ordens com padrão dendrítico, e abrange os lotes dos assentados. Existem outros córregos menores, de 1ª e 2ª ordens, que despejam suas águas diretamente no Rio Iguaçu. Todos os rios e córregos da área do Assentamento são classificados como classe 2, de acordo com a portaria SUREHMA nº 20/92. De acordo com o Atlas de Recursos Hídricos do Estado do Paraná, editado pela SUDERHSA em 1998 as vazões médias para pequenas bacias da região são estimadas em 18 l/s/m2 respectivamente, e, de qualidade aceitável a boa, apesar das atividades agrícolas e urbanas desenvolvidas em sua bacia. 3) Relevo local - Classes de declividade Foram gerados dois mapas de declividade com diferentes intervalos de classe com maior ou menor nível de detalhamento das informações, adequando aos objetivos dos trabalhos: para geração das unidades de paisagens foram utilizados os intervalos de 0 a 8, 8 a 20, 20 a 45, 45 a 100 e superior a 100%; e para atender as necessidades do INCRA foram utilizados os intervalos de 0 a 5, 5 a 10, 10 a 15, 15 a 25, 25 a 47, 47 a 100 e superior a 100%. Tabela 2 - Classes de declividade Classe Área (ha) Plano (000 a 005 %) 1.065,34 Suave ondulado (005 a 010 %) 821,95 Ondulado (010 a 015 %) 694,48 Muito ondulado (015 a 025 %) 492,95 Forte ondulado (025 a 047 %) 103,33 Montanhoso (047 a 100 %) 4,34 Total 3.182,38 Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 156 FIGURA 3 - MAPA DE DECLIVIDADE Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) Predominam as classes de relevo de 0 a 5% (plano), seguidas da classes de relevo de 5 a 10% (suave ondulado) sendo que apenas um pequeno percentual da área tem declividade acima de 47%. FIGURA 4 - ASPECTO DO RELEVO LOCAL Fonte: Acervo Instituto Emater. Autor: Paulo A. A. Lima (2011) 157 4) Uso, ocupação do solo e cobertura vegetal A descrição da vegetação na área do Assentamento do Contestado segue a resolução nº 2, de 18/03/1994 do CONAMA (BRASIL, 1994) que fornece os parâmetros necessários para o enquadramento dos diversos estágios sucessionais em que se encontram as formas de vegetação nativa da área do assentamento, identificadas a partir das visitas em campo com o apoio de imagens do Google Earth, Spot e Alos. Tabela 3 - Uso e ocupação do solo Uso e Ocupação do Solo Área (ha) Agricultura permanente 8,45 Agricultura Temporária 510,56 Pastagem nativa 310,05 Pastagem cultivada 146,52 Floresta nativa estágio inicial 571,46 Floresta nativa estágio médio e avançado 523,37 Campo nativo 168,32 Corpos d´agua 2,21 Estrada de ferro 10,88 Estradas não pavimentadas 35,83 Reflorestamento misto 21,01 Reflorestamento com exótica 574,89 Edificações (benfeitorias) 3,80 Edificações (residencias) 3,93 Áreas de uso comunitário 9,48 Áreas inaproveitáveis 20,51 Áreas úmidas 74,12 Outras áreas 187,03 Total 3.182,41 Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 158 FIGURA 5 - MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DA TERRA Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 5) Conflitos e proposições ambientais legais Os mapas de conflito e proposição foram gerados a partir da combinação digital dos mapas de aptidão das terras com o mapa de uso e ocupação do solo. Os mapas de conflito e proposição possibilitam a visualização espacial do uso e ocupação das áreas, permitindo a identificação de conflitos existentes entre o uso atual e a legislação ambiental vigente e, ao mesmo tempo, facilitam a geração de proposições para solução destes conflitos. O mapa de conflito identifica áreas com ocupação inadequada nos assentamentos como, por exemplo, a falta de reserva legal e mata ciliar nas margens dos rios e nascentes, devido à utilização com agricultura, pastagem ou cultivo florestal com espécies exóticas. Ainda verificam-se conflitos em áreas exploradas com culturas anuais, culturas perenes, pastagens e cultivos florestais em áreas inaptas para este tipo de cultivo. 159 FIGURA 6 - MAPA DE CONFLITOS AMBIENTAIS LEGAIS Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) FIGURA 7 - MAPA DE PROPOSIÇÃO PARA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS LEGAIS Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 160 Tabela 4 - Resumo das áreas em conflitos com a legislação ambiental e das áreas a serem recompostas Resumo Área (ha) Área total da matrícula Área total da levantado RL necessário 3.228,0000 3.182,3805 645,6000 APP Total APP Existente - Floresta nativa estágio médio e avançado - Campo nativo - Floresta nativa estágio inicial - Edificações (residencias) - Edificações com benfeitorias em APP - Estrada de ferro - Estradas não pavimentadas - Áreas inaproveitáveis - Áreas úmidas - Outra áreas APP a restaurar - Agricultura permanente - Reflorestamento com exóticas - Reflorestamento misto - Pastagem nativa - Pastagem cultivada em APP - Agricultura temporária 517,3813 343,4017 180,8569 24,8934 102,3118 0,1949 0,4293 2,0414 1,6084 1,4003 13,0760 16,5893 173,9796 0,0080 91,5506 10,3455 40,0649 11,8730 20,1376 ARL Total ARL Existente - Floresta nativa estágio médio e avançado - Campo nativo - Floresta nativa estágio inicial - Edificações (residencias) - Estradas não pavimentadas - Áreas úmidas ARL a restaurar - Reflorestamento com exóticas - Pastagem nativa - Pastagem cultivada - Áreas de uso comunitário - Agricultura temporária - Áreas inaproveitáveis - Outra áreas - Edificações benfeitorias 1240,1087 939,7857 325,5129 133,5086 419,7040 0,0183 0,0000 61,0419 300,3230 258,2262 2,7936 2,5897 0,0405 16,8628 8,1250 11,6804 0,0048 Fonte: Instituto Emater - Levantamento de Campo (2011) 161 6) Problemas de degradação ambiental e suas causas A área Assentamento do Contestado vem de utilizações anteriores, portanto alguns dos impactos ambientais negativos provêm das atividades anteriores às famílias assentadas. Mas o uso do solo pelas famílias atuais também trouxe outros impactos ambientais para a área. a) Poluição: Os principais agentes poluidores contaminam águas e o solo. O uso de agroquímicos e a ausência de saneamento contaminam com o despejo de resíduos sólidos e líquidos. b) Erosão: O uso intensivo e revolvimento dos solos por longos anos (anterior ao assentamento), a fragilidade natural dos solos e o uso atual em algumas áreas, levaram a problemas de erosão hídrica. São observadas na área três voçorocas, erosão laminar em todas as áreas descobertas e erosão em sulcos, principalmente nos canais de drenagem. c) Reflorestamentos: Analisando a história de ocupação antrópica na área coletiva, pode-se afirmar que os reflorestamentos com espécies exóticas para fins comerciais remontam a década de 1980. Existe uma área, hoje, de 574,89 ha, composta por Pinus ssp e Eucalyptus ssp. Estão abandonados e percebe-se nitidamente que não recebem tratos silviculturais. Existem árvores mortas em pé, rebrotas não conduzidas, muitas árvores dominadas e farta regeneração do Pinus ssp sem condução em locais onde houve o corte no início do século XXI (após a ocupação dos assentados) e também nos lotes que são riscos à ocorrência de pragas e incêndios. Hoje se encontram “sob judice”, pois há uma disputa judicial sobre a exploração dos povoamentos. FIGURA 8 - REFLORESTAMENTO FIGURA 9 - VOÇOROCA DE PINUS SSP Fontes: Acervo Instituto Emater. Autor: Paulo A. A. Lima (2011) 162 7) Análise sucinta dos potenciais e limitações dos recursos naturais e da situação ambiental do assentamento O Assentamento Contestado apresenta uma área ambientalmente fragilizada em função de sua caracterização geológica, solo, fertilidade, topografia e hidrografia. Soma-se a isto o manejo e uso intensivo da área antes do assentamento das famílias. Decorrente desta fragilidade, muitas áreas são impróprias para o plantio de culturas anuais e o manejo atual adotado, fruto da falta de capital e de maquinário adequado, que leva à erosão e exposição excessiva do solo. A topografia aliada ao tipo e à estrutura do solo leva à perda por erosão, insurgências de água na superfície e subsuperfície, dificultando o manejo em diferentes condições climáticas. Ora o solo fica encharcado, ora compactado que dificulta o preparo e/ou plantio. Além disso, o manejo da matéria orgânica não é adequado ou não existe. Frente a essas fragilidades, surge um potencial produtivo, que é o zoneamento do Assentamento de acordo com o relevo e o solo para a definição da atividade agropecuária econômica a ser desenvolvida ou ampliada. Outro potencial a ser aproveitado é a estrutura hidrográfica do Assentamento e sua bela paisagem e flora natural. Outro grave problema no assentamento é a disseminação/germinação de sementes de Pinus sp. O desenvolvimento dessas sementes sem manejo florestal tem tornado esta espécie uma invasora muito agressiva tanto em áreas para conservação como em áreas produtivas. O aspecto sanitário ambiental, especialmente das áreas das residências, fica a desejar, pois é comum o despejo de resíduos sólidos e líquidos, sem destino adequado. 8) Plano de ação para o desenvolvimento sustentável do projeto do Assentamento Contestado O plano se desdobra na forma de programas temáticos e subprogramas, que se materializam em projetos e ações, formulados com a participação dos assentados em estreita sintonia com a situação diagnosticada para a área, de modo a torná-lo acessível na sua compreensão e exequível em termos operacionais, facilitando, assim, as negociações em termos de atendimento das exigências de licenciamento ambiental e das fontes de financiamento. É de se destacar que uma 163 das finalidades do PRA é subsidiar a elaboração de projetos técnicoespecíficos. a) Programa meio ambiente a.1) Restauração/Recomposição de APP Situação atual Existem 517,38 ha de áreas de preservação permanente compostas por margens de rios e uma pequena área com declividade elevada. Cerca de 1/3 destas áreas necessitam de restauração. Existem o 4300 m² de benfeitorias, 102 ha de reflorestamento com exóticas, 20 ha de agricultura e 41 ha de pastagens ocupando as APP. Medidas Mitigadoras e Compensatórias Nas áreas de matas ciliares e do entorno protetivo das nascentes a recomposição da vegetação se dará, basicamente, por isolamento com cerca e/ou marcos que delimitem estas áreas. O desenvolvimento da vegetação secundária nativa é capaz de, em uma década, formar uma capoeira, desde que não haja interferência por ações humanas e de animais. Especificamente, as benfeitorias existentes serão retiradas e alojadas em áreas cujos resíduos líquidos e/ou sólidos não sejam carreadas para as APP. Não deverão ocorrer mais práticas agropecuárias nestas áreas. FIGURA 10 - MATA CILIAR COM PRESENÇA DE ESPÉCIES EXÓTICAS Fonte: Acervo Instituto Emater. Autor: Paulo A. A. Lima (2011) 164 Quanto às áreas de APP que estão cobertas com espécies exóticas urge uma solução judicial, pois a recomposição com a vegetação nativa só ocorrerá quando da remoção de tais plantas. As plantas Pinus ssp existentes às margens dos rios e córregos estão gerando sementes que são disseminadas por toda a área, e abafam o desenvolvimento da vegetação nativa nas áreas de APP. Novamente, afirma-se a necessidade de encaminhamento de uma decisão judicial, pois a permanência destas espécies compromete a manutenção do equilíbrio ambiental na área de assentamento e gera riscos de pragas e doenças em reflorestamentos da região. a.2) Restauração de Áreas de Reserva Legal Situação Atual Existe averbada na matrícula do Imóvel uma área de 1.240,10 ha como área de reserva legal, sendo necessário restaurar ¼ da área ou 300,32 ha. São aproximadamente 258 ha cobertos com reflorestamentos de exóticas e 42 ha com atividades antrópicas (agropecuária/ saibreira/benfeitorias). Medidas Mitigadoras e Compensatórias Duas situações se apresentam nestas áreas reflorestadas: A primeira refere-se às áreas com reflorestamentos idosos não explorados. Nestas áreas, após a remoção das espécies exóticas, a recomposição se dará por regeneração natural com adensamento com espécies nativas. O entrave legal não permite nenhuma ação até a decisão judicial. A segunda situação é a das áreas nas quais já houve a retirada da madeira e a vegetação espontânea tem-se desenvolvido. Porém, as sementes de Pinus ssp encontraram nestes ambientes condições para seu crescimento, de forma desordenada e densa, sufocando a vegetação nativa. Nestas áreas, a derrubada com o uso de motosserra é suficiente. Poucos casos necessitarão a remoção dos exemplares derrubados da área. Com o fechamento do dossel das nativas, o pinus não encontrará condições para germinação. Quanto à área com plantada com eucaliptos, permanece a dúvida sobre os direitos da madeira em função da rebrota. Após a retirada destas espécies exóticas, a recomposição se dará através da regeneração natural e com adensamentos com espécies 165 que poderão proporcionar alternativas de renda e alimentar (produção de pinhão, erva mate, frutíferas nativas, mel). As atividades agropecuárias cessarão nestas áreas e as benfeitorias serão deslocadas para fora. Novamente, a regeneração natural recomporá as áreas. Próxima à área da sede comunitária, à beira da estrada de quem vem de Balsa Nova, foi aberta uma frente de lavra que foi utilizada como material de revestimento nas estradas internas. Hoje se encontra desativada. A saibreira, devidamente recuperada, deverá ser integrada à Reserva Legal. Não existe mais solo que permita o plantio, porém, as técnicas de hidro-semeaduras poderão conter o processo de carreamento de sedimentos. Também, a construção de drenos desviando as águas de chuvas evitará que os sedimentos continuem a afetar a trafegabilidade da estrada adjacente. a.3) Remoção de espécie invasora Situação Atual Os Pinus ssp têm-se disseminado com facilidade e vigor em toda a área do assentamento. Exemplares jovens são encontrados em lotes dos assentamentos, em áreas de preservação permanente e em áreas de reserva legal. Onde encontra condições propícias a espécie gera uma densa população que sufoca qualquer outra forma de vegetação. Medidas Mitigadoras e Compensatórias Os exemplares jovens desta espécie devem ser eliminados sistematicamente. A manutenção destas plantas comprometerá a ocupação das áreas dos assentamentos. A remoção destas espécies exóticas em APP deverá seguir a portaria Resolução SEMA 028 de 17/08/1998 que estabelece normas para corte de exóticas em APP, bem como a recomposição da mata ciliar. a.4) Subprograma degradação e erosão dos solos Situação atual A quase inexistência de práticas de controle de erosão na maioria das áreas, solos descobertos, uso de motomecanização, monoculturas, baixa fertilidade natural do solo e perda da fertilidade pelo manejo 166 inadequado levaram à degradação e empobrecimento dos já frágeis solos do assentamento. Medidas mitigadoras e compensatórias Para controlar os processos erosivos será necessária a adoção de práticas mecânicas, físicas e culturais, de acordo com o sistema produtivo de cada unidade produtiva/lote. a.5) Subprograma poluição e contaminação do meio ambiente com resíduos sólidos e líquidos Situação atual Ao redor de algumas residências encontram-se diversos materiais espalhados. Além disso, os destinos das águas usadas não são adequados. Medidas mitigadoras e compensatórias As famílias deverão participar de cursos de capacitação em saneamento ambiental, bem como construção de equipamentos para destino adequado de efluentes. a.6) Subprograma educação ambiental Situação atual O Projeto de Assentamento Contestado bem como toda a comunidade do município da Lapa, vêm exercendo pressão sobre os recursos naturais e consequentemente prejudicando o meio ambiente. Devido ao elevado grau de depredação dos recursos naturais e agressão ao meio ambiente, é bastante visível a poluição e contaminação das águas e solos, por agrotóxicos e dejetos humanos e animais. Medidas mitigadoras e compensatórias Percebe-se na maioria da população do assentamento uma consciência conservacionista. Há, no entanto, necessidade de ampliar a conscientização de toda a população por meio de ações que desenvolvam o conhecimento, atitudes, habilidades e a formação da consciência ecológica conservacionista individual e coletiva. Constata-se que um grande impeditivo para melhorias ambientais nas áreas é a falta de recursos financeiros. 167 b) Programa infraestrutura b.1) Subprograma adequação e readequação das estradas internas do assentamento Situação atual Por ser um assentamento com grande extensão territorial, a situação das estradas é sempre muito precária pela falta de manutenção, falta de qualificação dos funcionários/profissionais responsáveis por essa manutenção e readequação das estradas; falta de qualidade de material empregado, falta de planejamento das atividades e falta de envolvimento dos moradores nas decisões e planejamento. Além disso, o alto índice de pluviosidade e o tráfego intenso de veículos pesados contribuem para a depauperação e dificulta a manutenção das estradas rurais. Medidas mitigadoras, compensatórias e ação das estradas Depois de um histórico de investimento em melhorias das estradas internas do assentamento com recursos do governo do Estado (Programa de Readequação de Estradas), a Prefeitura Municipal da Lapa tornou-se a mantenedora das mesmas. Como a extensão de estradas é muito grande, aliado ao tipo de solo, a manutenção é custosa. Há necessidade de redefinir o modelo de readequação e a participação dos assentados na definição de obras de engenharia. Além disso, os acessos aos lotes são precários e precisam ser readequados. Para essa situação, há necessidade de recursos externos à Prefeitura Municipal, como do Estado e do INCRA. Deve-se destacar a necessidade de manutenção das estradas de acesso ao assentamento, distante da sede do município e também de difícil manutenção, principalmente devido ao tráfego intenso de caminhões pesados. b.2) Subprograma melhoria das habitações Situação atual As moradias, construídas há muitos anos e com poucos recursos, carecem, na sua maioria, de reforma e ampliação. Para isso, o SENGE - Sindicato dos Engenheiros do Paraná promoveu uma série de reuniões e levantamentos a fim de elaborar plantas visando a reforma das 168 casas, o que foi concluído em meados de 2011. Com essa parceria, os moradores puderam contar com um projeto de ampliação/reforma qualificado. Medidas mitigadoras, compensatórias e ação Com os recursos do INCRA e também com recursos dos próprios moradores as obras de reforma passaram a ser realizadas a partir de dezembro de 2011. b.3) Subprograma melhoria dos prédios e construções de uso coletivo Situação atual O Assentamento está construindo uma Unidade de Beneficiamento Vegetal, panificação e packing house, com apoio técnico do Instituto Emater e Prefeitura Municipal. Há necessidade de melhoria, construção e ampliação dos espaços destinados à educação básica e saúde pública (Posto de Saúde) e também para a Escola Latino Americana de Agroecologia - ELAA. Faltam espaços para a realização de esportes e atividades artísticas e culturais. No aspecto mais específico, buscamse recursos para construção, melhoria e ampliação dos espaços religiosos (igrejas e seu entorno). Medidas mitigadoras e compensatórias Alocação de recursos para construção de uma Escola de Ensino Fundamental, recursos para o término da construção da Unidade de Beneficiamento Vegetal, recursos para construção de centro esportivo, artístico e cultural, mobilização da comunidade para alocar recursos para os centros religiosos. b.4) Outros subprogramas de infraestrutura O Assentamento Contestado recebeu em dezembro de 2011, em convênio com o governo federal um Telecentro, que funciona no casarão onde acontecem as aulas da ELAA e reuniões comunitárias. Para que o Telecentro funcione a contendo, há necessidade de ampliação do sinal de banda larga da internet, que é muito baixo e limita muito o acesso. Foi solicitada à Prefeitura Municipal a construção de um Posto de Saúde (o atendimento médico funciona precariamente em uma casa 169 na área coletiva do Assentamento) e espaços para educação de crianças, jovens e adultos e também para a ELAA. c) Programas socioeconômicos c.1) Subprograma inadimplência dos assentados junto às instituições financeiras Situação atual As famílias assentadas receberam recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF-A no ano de 2003. Desses, muitos agricultores estão inadimplentes junto ao agente financeiro. Medidas mitigadoras e compensatórias O Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES) e Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) ATES/ ATER deverá orientar os inadimplentes assentados que aplicaram corretamente o crédito e permanecem no assentamento, de como proceder junto ao agente financeiro - Banco do Brasil, para a renegociação dos débitos no Programa. Além deste, há dívidas dos Pronaf B, C e V (investimento e custeio) que precisam ser renegociadas com o banco com o apoio dos técnicos e da liderança do assentamento. c.2) Renegociação das dívidas do crédito PRONAF-A O ATES/ATER deverá fazer um levantamento da situação de cada assentado junto ao agente financeiro e elaborar laudos de vistoria individuais de aplicação dos recursos do PRONAF-A. Encaminhar os laudos de vistoria ao Banco do Brasil S/A informando a situação de cada agricultor sobre a aplicação correta ou incorreta do Crédito Rural, modalidade PRONAF-A Investimento. c.3) Programa de agroindustrialização Além de construir e equipar a unidade de beneficiamento vegetal e panificação, os assentados necessitam de capacitação de Boas Práticas de Produção, Manipulação e Transformação de Alimentos. c.4) Programa sistemas produtivos Os sistemas produtivos do assentamento vêm enfrentando entra170 ves técnicos principalmente relacionados ao solo e infraestrutura produtiva. Os solos do Assentamento Contestado são na sua maioria arenosos, com baixa CTC, ácidos, baixo teor de bases, sendo que o potássio é o elemento mais limitante devido ao seu baixíssimo nível no solo. A drenagem deste solo é deficiente e o seu aspecto físico parece ser o maior problema encontrado. Em função disso serão necessários estudos complementares - porosidade, mineralógicos e estruturais. Devido às grandes limitações encontradas, será necessário o envolvimento da pesquisa para definição efetiva do manejo a ser adotado em cada sistema produtivo. De forma geral, definidos como prioritários os sistemas olericultura orgânica, pastagem/leite e fruticultura, será necessário: fundamental acréscimo e manejo da matéria orgânica; corrigir o Al³+; elevar o pH a aproximadamente 4,5, com elevação da saturação de bases (V%) para 40 a 50%, com incorporação fracionada de calcário dolomítico (de acordo com análise de solo); correção do fósforo e potássio e aumento do nível dos nutrientes; melhoramento das pastagens nativas; ampliação do sistema orgânico; discutir a possibilidade de implantação do sistema silvipastoril, com eucalipto e outras espécies; inclusão de três patrulhas mecanizadas completas e de acordo com a aptidão dos solos, com gestão da Cooperativa Terra Livre para uso nos sistemas produtivos. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O uso das ferramentas de geoprocessamento e imagens de satélite agilizaram os trabalhos, reduzindo custos e gerando resultados de qualidade e precisão. A combinação de informações permitiu a realização de um diagnóstico e análise de propostas mais detalhadas, com informações espaciais dos aspectos físicos, biodiversidade e socioeconômicas, como o solo, recursos hídricos, uso e ocupação do solo e flora. O uso de imagens de satélite permitiu uma visão ampla e detalhada de uma extensa área como a do Assentamento Contestado, facilitando a visualização, identificação, localização e medição de áreas de vegetação, benfeitorias, edificações, estradas, nascentes, tanques e rios. 171 A partir deste Plano, o Assentamento do Contestado possui uma visão socioeconômica e ambiental para o seu planejamento. A necessidade de recursos financeiros e apoio técnico é evidente para a elaboração e execução de programas e projetos que proporcionem sustentabilidade às famílias no Assentamento. Além de contribuir para alavancar o desenvolvimento do Assentamento, cabe destacar o espírito de trabalho em equipe do Instituto Emater, pois envolveu técnicos municipais, regionais e estaduais, cada um contribuindo e compartilhando com o seu conhecimento e esforço físico na elaboração do Plano. REFERÊNCIAS BIGARELLA, J.J.; BLASI, O. e BREPOHL, D. Lapinha: a Natureza da Lapa. Lapa - Paraná: Editora Lar Lapeano de Saúde, 1997. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente (MMA). Resolução do CONAMA 2/1994 de 18/03/1994. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ estruturas/202/_arquivos/conama_res_cons_1994_002_estgios_sucessionais_de_florestas_pr_202.pdf>. Acesso em: 12/05/2014 BRASIL, Ministério do Meio Ambiente (MMA). Resolução do CONAMA 387/2006 de 27/12/2006. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ port/conama/res/res06/res38706.pdf>. Acesso em: 12/05/2014. IAPAR - INSTITUTO DE PESQUISA DO PARANÁ. CARTAS CLIMÁTICAS, versão 2000. Disponível em: <http://www.iapar.br/>. Acesso em: 10/08/2010 172 CAPÍTULO VII METODOLOGIA PARA DAR SUPORTE AO PLANEJAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS NO PROGRAMA DE GESTÃO DE SOLO E ÁGUA EM MICROBACIAS Milton Satoshi Matsushita1 Luiz Marcos Feitosa dos Santos2 Oromar João Bertol3 1 2 3 4 5 6 Reinaldo Tadeu Oliveira Rocha4 José Kalusz5 Sérgio Mudrovitsch de Bittencourt6 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola, Área de Concentração Irrigação e Drenagem, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Conservação da Natureza, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Especialista em Geoprocessamento e Solos, Instituto Emater, Irati, Paraná, Brasil - [email protected] Técnico Agrícola, Instituto Emater, Fernandes Pinheiro, Paraná, Brasil [email protected] Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão Ambiental, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 173 174 INTRODUÇÃO Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), o estado do Paraná tem aproximadamente 10,44 milhões de habitantes, dos quais cerca de 14,7% ou 1,53 milhão vivem no meio rural. A população rural apresenta maior população masculina (804 mil ou 15,7%) em relação à feminina (727 mil ou 13,7%). Porém, quando se considera os 312 municípios com menos de 20 mil habitantes (considerados “municípios rurais”), sobe para 35,1% o contingente de pessoas que vivem e dependem do campo no estado e, quando se considera os 203 municípios com menos de 10 mil habitantes, o índice de população rural sobre para 37,2%. O estado do Paraná ainda possui 77 municípios em que a população rural (61,5%) é maior que a urbana (38,5%). Com área correspondente a 2,34% do território nacional (IBGE, 2014), o Paraná responde por aproximadamente 25% da produção nacional de grãos e 8% da produção pecuária. É o principal produtor nacional de trigo, milho, aves, pinus, erva-mate e pinhão; o segundo maior produtor de soja e cana-de-açúcar; o terceiro de carne suína, leite, batata e mandioca e, ainda, ocupa posição de destaque na produção de tomate e café. Mesmo ostentando essa condição, o estado se ressente de desequilíbrios sociais e ambientais. O percentual de famílias abaixo da linha de pobreza é de 20,90%, com maior incidência nos municípios considerados rurais, nos quais se concentra 47% da população pobre (PARANÁ, 2104). O manual operativo do Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias (Programa Microbacias) alerta que a sustentabilidade da vida rural e da própria agricultura é ameaçada por problemas de uso inadequado e/ou excessivo de agrotóxicos, cobertura florestal insuficiente e desuniforme, degradação dos solos, das águas e da conservação da biodiversidade em todas as regiões. O uso inadequado e intensivo do solo tem acarretado problemas de erosão (PARANÁ, 2104). O manual operativo do Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias (PARANÁ, 2014) analisa o novo Código Florestal (Lei 12.555/2012) que altera alguns procedimentos de relevância na adequação ambiental e reflete no Programa Microbacias: 175 a) Desobriga o proprietário rural de promover a averbação da Reserva Legal; b) Institui o Cadastro Ambiental Rural (CAR), como ferramenta de informação para a Gestão Territorial Nacional; c) Possibilita a utilização das APPs (Áreas de Preservação Permanente) ocupadas irregularmente, agora denominadas Áreas Consolidadas; d) Promove a suspensão de multas ao produtor em troca de sua adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA); e) Altera a largura de recomposição das APPs em função do módulo rural municipal; f) Propicia a segurança jurídica, diminuindo o contingente de produtores à margem da legislação ambiental; g) Prevê o pagamento por serviços ambientais ligados a atividades produtivas. Essas situações influenciam na qualidade e quantidade de água disponível para consumo humano e geração de energia, com problemas de assoreamento e de poluição de corpos hídricos, e contribuem para tragédias como inundações e deslizamentos de encostas e taludes. Seus impactos extrapolam a questão ambiental, causando prejuízos para a economia, pela diminuição da produtividade; aumento de emissões de gases de efeito estufa; aumento em custos na área da saúde; gastos em recuperação de estradas, pontes e moradias; e maiores custos para tratamento de água, entre outros. O Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias relaciona os principais problemas ambientais da área rural identificados pela estrutura técnica do estado: a) Recrudescimento do processo erosivo e consequente aceleração do esgotamento da fertilidade natural dos solos; b) Sistemas de Plantio Direto com baixa qualidade na maioria das propriedades, devido principalmente à ausência de rotação de culturas; c) Constante elevação dos níveis de sedimentação e eutrofização dos rios e lagos, comprometendo a qualidade da água, principalmente daquela destinada ao abastecimento público; d) Ausência ou dimensionamento incorreto de terraços e operações motomecanizadas a favor da pendente; 176 e) Estradas rurais em situação crítica de trafegabilidade, principalmente devido à falta de integração estrada/lavoura sob o enfoque conservacionista; f) Redução da infiltração da água no perfil do solo, em decorrência de sua compactação, acarretando erosão hídrica e redução da disponibilidade de água para as plantas e para o abastecimento dos mananciais; g) Redução das oportunidades de diversificação de atividades na agricultura, devido à escassez de água em quantidade e qualidade; h) Explorações agropecuárias em áreas incompatíveis com a capacidade de uso das terras; i) Diminuição da cobertura vegetal, ameaçando a conservação da biodiversidade devido à perda de habitats naturais; j) Redução crescente da biodiversidade e da qualidade ambiental pelo uso inapropriado de agroquímicos, especialmente agrotóxicos e fertilizantes e pela diminuição da cobertura florestal; k) Espaços territoriais em desacordo com a legislação ambiental; l) Crescente degradação do solo e da água pela disposição inadequada dos dejetos de animais, lixo, resíduos industriais, esgoto e outros poluentes; m) Abastecimento de comunidades rurais com água contaminada por agrotóxicos e coliformes fecais; n) Expansão das áreas urbanas e industriais e concentração de atividades antrópicas em algumas bacias hidrográficas, acarretando aumento do impacto sobre os recursos naturais; o) Indicativo claro de mudanças climáticas, com impactos em regimes de pluviosidade, gerando paradoxalmente escassez de água e enchentes periódicas; p) Falta de conhecimento das consequências ambientais das práticas agrícolas e de compreensão da ligação íntima entre economicidade e qualidade ambiental; q) Informações deficientes sobre o uso e a conservação do solo e da água e sobre a gestão do espaço rural num enfoque sistêmico; r) Perda de capacidade de interferência do Estado no processo de planejamento do uso da terra PARANÁ (2014). 177 MATERIAL E MÉTODOS 1 Caracterização da área de trabalho As lições aprendidas na execução de programas de grande escala desenvolvidos no Paraná, (Programas Paraná Rural, 12 Meses e Biodiversidade) mostraram que a microbacia hidrográfica é a melhor unidade geográfica de planejamento e trabalho, porque permite aos técnicos de campo e aos produtores organizados ter uma visão global da situação ambiental, especialmente no que tange à gestão e conservação de solos e água e, em consequência, traçar planos de ação para a solução de problemas ambientais, sociais e econômicos. Conforme conceitos definidos pela SEAB (1992) e Osaki (1994), a microbacia é uma pequena bacia compreendida entre um fundo de vale, que pode ser um rio, riacho, várzea ou sanga (escavação profunda feita no terreno pelas chuvas ou por correntes de água subterrâneas), e os espigões que são os divisores de água, que delimitam os pontos dos quais as águas das chuvas escorrem para o mesmo lugar, que é esse fundo de vale. Ainda Osaki (1994) define microbacia como uma bacia hidrográfica com dimensões de 2.000 a 3.000 ha de área contínua. A microbacia é a melhor unidade de planejamento por se encontrar fisicamente bem caracterizada, sendo constituída de propriedades agrícolas existentes na área, seus respectivos produtores e suas famílias, além dos equipamentos e infraestrutura econômica e social. A estratégia de atuação do projeto definiu a microbacia hidrográfica com área entre 3.000 e 6.000 ha como unidade de planejamento e trabalho. A microbacia como unidade de planejamento e trabalho permite às instituições, aos técnicos de campo e aos produtores organizados ter uma visão global da situação ambiental, especialmente no que tange à gestão e conservação de solos e água e traçar planos de ação para a solução de problemas ambientais, sociais e econômicos. A abrangência do Programa Microbacias é o estado do Paraná. Os trabalhos já foram iniciados em 30 microbacias e deverá se estender para um universo de 350 Microbacias, localizadas nas áreas de agricultura mais intensiva, com problemas de conservação de solos e água, uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes, mananciais de água e áreas de fragilidade e alta densidade populacional (PARANÁ, 2014). 178 2 Material 2.1) Aplicativos de desenvolvimento e análise a) Software Spring 5.0, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) b) Software livre gvSIG c) Software livre Quantum GIS d) Software AutoCAD 2002 e) Software ArcView 3.2 f) Software ArcGis 9.0 g) Software Global Mapper 5.0 h) Software Track Maker Pro 4.0 i) Planilha eletrônica Excel 2002 2.2) Imagens de Satélite SPOT As imagens do satélite SPOT ortorretificadas, composição colorida nas bandas R(1), G(2), B(3) com resolução espacial de 10 metros e banda pancromática com resolução espacial de 5 metros, obtidas em 2004 e 2005, projeção UTM (Universal Transversa de Mercator), Meridiano Central 51º Oeste (Fuso 22), Datum Horizontal SAD 69 (South Americam Datum) em formato tiff foram utilizadas para identificar classes de uso e cobertura da terra. O uso das imagens de satélite serve de subsídio para identificar estradas, perímetros urbanos, uso e cobertura da terra, sistema de manejo e práticas conservacionistas, verificar os rios e nascentes. Existem vários termos utilizados para definir o uso e cobertura da terra em diversas instituições, inclusive no Instituto Emater, tais como: uso e ocupação do solo, uso e cobertura do solo, uso e ocupação da terra, uso da terra, dentre outros. A partir deste trabalho será utilizado o termo aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uso e cobertura da terra, que indica a distribuição geográfica da tipologia de uso, identificada por meio de padrões homogêneos da cobertura terrestre e retrata as formas e a dinâmica de ocupação da terra (IBGE, 2013). 2.3) Arquivos vetoriais a) Divisão política dos municípios do Estado do Paraná (SEMA, 2013) Mapa com as divisas municipais elaborado pela Secretaria de Es179 tado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA). b) Ottobacias (COPEL/AGUASPARANÁ, 2011) Arquivo digital em formato shapefile, escala 1:50.000, projeção UTM, Datum Horizontal SAD-1969 e Meridiano Central 51º W (COPEL/ AGUASPARANÁ, 2011). Segundo a ANA (2008) e Copel/Aguasparaná (2011), Ottobacia é uma bacia relacionada à rede hídrica através de um código hierárquico sendo que para cada trecho da rede existe uma ottobacia hidrográfica associada. c) Rede hídrica (COPEL/AGUASPARANÁ, 2011) Arquivo digital em formato shapefile, escala 1:50.000, projeção UTM, Datum Horizontal SAD-1969 e Meridiano Central 51º W (COPEL/ AGUASPARANÁ, 2011). Segundo a Copel/Aguasparaná (2011), a rede hídrica é um arquivo digital composto dos eixos dos rios, segmentados em trechos, conectados por nós e identificados por meio de código único e hierárquico obtido através da metodologia adotada pela ANA, segundo o método de Otto Pfafstetter (ANA, 2008). O produto foi oficialmente homologado pela ANA e pela Câmara Técnica de Cartografia e Geoprocessamento do Estado do Paraná (CTCG). d) Base Hidrográfica Unificada (COPEL/AGUASPARANÁ, 2011) A base hidrográfica unificada é a representação cartográfica digital dos elementos hidrográficos apresentados em um produto contínuo para toda a área do Estado. Arquivo digital em formato shapefile, escala 1:50.000, projeção UTM, Datum Horizontal SAD-1969 e Meridiano Central 51º W. e) Curvas de nível e pontos cotados (COPEL/AGUASPARANÁ, 2011) As curvas de nível e pontos cotados foram unidos e compatibilizados para todo o Estado do Paraná com equidistância (distância vertical entre as curvas de nível) de 20 metros. Arquivo digital em formato shapefile, escala 1:50.000, projeção UTM, Datum Horizontal SAD-1969 e Meridiano Central 51º W (COPEL/AGUASPARANÁ, 2011). Matsushita e Hagemaier (2010) descrevem as curvas de nível como linhas imaginárias do terreno que ligam pontos de mesma altitude na superfície do terreno, acima ou abaixo de uma determinada superfície da referência, geralmente o nível médio do mar. Os intervalos 180 entre curvas devem ser constantes na mesma representação gráfica. Os pontos cotados são pontos com cotas que identificam os topos de morros ou pontos elevados intermediários entre as curvas de nível. Segundo Rennó (2003), as curvas de nível são representadas por linhas (abertas ou fechadas) que, por sua vez, são formadas por pontos e, a cota a qual ela representa é armazenada como um atributo desta linha. As curvas de nível e pontos cotados servem de indicativo para vetorização dos rios, localização de nascentes, delimitação de microbacias e para correção do mapa de solos, geração de mapas de altimetria e classes de declividade. Quando sobrepostas e analisadas em conjunto com outros mapas temáticos, as curvas de nível facilitam a visualização do relevo do terreno e a sua relação com os demais temas (MATSUSHITA e HAGEMAIER, 2010). 3 Métodos A metodologia aplicada possibilita elaborar um conjunto de mapas que permite caracterizar as microbacias com informações da geodiversidade e biodiversidade, tais como: classes de declividade, uso atual e cobertura do solo, hidrografia, pedologia, estrutura viária, pontos críticos, conflitos de uso e ocupação do solo e gerar proposições para sua adequação. O programa Microbacias trabalha com um conjunto de informações que apresenta volume e características específicas, razão pela qual definiu-se pelo uso da ferramenta denominada Documentador, elaborada e mantida pela Companhia Paranaense de Informática (Celepar) para gerenciar com segurança o tráfego e armazenamento dessas informações. O Documentador é uma ferramenta WEB de suporte à gestão de documentos, que possibilita a centralização, guarda, gerenciamento e disponibilização do acervo de documentos de uma instituição em diferentes formatos: texto, imagem, mapa, shape, planilha e banco de dados. Outros fatores favorecem o uso da ferramenta como padrão na transferência de documentos digitais no programa, como as cópias de segurança (backup), garantia de envio e recebimento da informação (data, responsável), acesso controlado (não público) em vários níveis 181 (unidade estadual – unidades regionais; unidades regionais – unidade estadual; unidades regionais – unidades municipais – unidades regionais) com níveis de permissões para acesso e gravação (Figura 1). FIGURA 1 - FLUXO DE INFORMAÇÕES NO PROGRAMA MICROBACIAS Fonte: Elaborado pelos autores (2014) O uso do geoprocessamento como ferramenta de apoio à elaboração do diagnóstico e plano de ação desenvolve-se em diversas etapas, seguindo os passos constantes no manual operativo do Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias: a) Seleção das microbacias a serem trabalhadas O Grupo Gestor Regional (GGR) prioriza os municípios a serem trabalhados na região. A área de geoprocessamento do Instituto Emater encaminha um mapa ottocodificado (digital e analógico) de todas as microbacias dos municípios selecionados, originadas do agrupamento de ottobacias para o manejo de solo e água no Paraná (MATSUSHITA et al., 2013). O Grupo Gestor Municipal (GGM) seleciona a microbacia a ser trabalhada no município (Figura 2), informando o seu código, o nome, número aproximado de produtores e área da microbacia. 182 FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO DA MICROBACIA Fonte: Elaborado pelos autores (2014) b) Elaboração e disponibilização de informações básicas georreferenciadas A área de geoprocessamento do Instituto Emater encaminha ao GGR/GGM, através do Documentador, os mapas temáticos (rios, nascentes, corpos d’água, solos, uso e ocupação do solo, estradas, curvas de nível, pontos cotados, declividade) e imagens de satélite. c) Capacitação das equipes de trabalho O processo iniciou-se através do levantamento dos softwares livres disponíveis, resultando na seleção do software livre gvSIG em conjunto com demais instituições parceiras no Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias. Esta escolha considerou os seguintes fatores: ser software livre, facilidade em obter informações e assessoria técnica para dirimir dúvidas, uso em instituições importantes como a Universidade Federal do Paraná, Embrapa e Sanepar, além da compatibilidade com outros softwares livres e comerciais. O planejamento para realização dos cursos considerou o preparo 183 de material técnico, logística e recursos para deslocamento, hospedagem e infraestrutura necessária para a sua execução. Os participantes do Instituto Emater foram selecionados levando-se em consideração os técnicos que tinham perfil para o trabalho de diagnóstico e planejamento, conhecimentos básicos em informática e preferentemente noções de geoprocessamento, além de uma distribuição geográfica para que todas as regiões administrativas do Instituto Emater fossem contempladas. As instituições parceiras foram convidadas, ficando a seu critério a indicação dos técnicos que atendessem os pré-requisitos mínimos. Os cursos com duração de 24 horas cada um, foram realizados em Curitiba e em sedes de regiões administrativas do Instituto Emater com a participação dos técnicos do Instituto Emater e instituições parceiras da região e em algumas situações agrupando duas ou até três regiões próximas. O conteúdo dos cursos contemplou o uso de GPS e software de geoprocessamento, voltados para a prática na elaboração de diagnóstico e plano de ação de uma microbacia (Figura 3). FIGURA 3 - FASES PARA ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO E PLANO DE AÇÃO Fonte: Elaborado pelos autores (2014) 184 d) Elaboração do pré-diagnóstico O GGM recebe e analisa os mapas encaminhados pelo setor de Geoprocessamento e elabora o pré-diagnóstico e define estratégias e responsabilidades para o levantamento das informações de campo necessárias para a elaboração do diagnóstico e plano de ação. O pré-diagnóstico serve para subsidiar a consulta pública que é realizada em uma reunião que tem por objetivo apresentar o Programa aos agricultores da microbacia e consultá-los sobre o interesse da implementação do Programa. e) Elaboração do diagnóstico técnico O GGM com apoio dos técnicos referenciais regionais deve aprimorar o pré-diagnóstico através de levantamento de campo com uso de GPS e integração de dados, contemplando a análise de meio físico, passivos ambientais, infraestrutura e características socioambientais. Os mapas temáticos aprimorados com dados de campo apresentam informações do meio físico-biótico, localizando os passivos ambientais e as intervenções necessárias. f) Diagnóstico participativo da microbacia O GGM deve realizar uma oficina de diagnóstico participativo para obter a visão dos agricultores sobre os principais problemas socioeconômicos e ambientais, compatibilizando com o diagnóstico técnico. Como produto desta oficina deve resultar o diagnóstico consensado (participativo), com uma relação dos principais temas para a elaboração do plano de ação. g) Plano de ação - Nível Técnico O GGM com apoio do GGR deve promover um evento técnico com a participação de talentos e especialistas para propor um plano de ação inovador para a microbacia, considerando as informações obtidas no diagnóstico participativo. h) Plano de ação participativo da microbacia O GGM deve realizar uma oficina para a construção de um plano de ação participativo para consolidar com os agricultores as principais ações a serem desenvolvidas para solucionar os problemas diagnosticados. Esta oficina deve identificar os atores envolvidos e suas responsa185 bilidades na solução dos problemas levantados, definindo as ações, fontes de recursos e o cronograma de execução (época). i) Plano de trabalho O GGM elabora o plano de trabalho, detalhando ações que serão realizadas, beneficiários, recursos financeiros e contrapartidas para os apoios individuais e coletivos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os trabalhos de diagnóstico e planejamento de microbacias com uso de geoprocessamento foram aprimorados com a qualificação dos técnicos com realização de 19 cursos com a participação de 12 Instituições, além dos técnicos do Instituto Emater. Destacando-se a participação de técnicos das Prefeituras Municipais, Secretaria da Agricultura e do Abastecimento - SEAB, Secretaria de Estado da Educação - SEED, Agência de Defesa Agropecuária do Paraná - Adapar, Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná - Codapar, Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba - Comec, Federação de Agricultura do Estado do Paraná - FAEP, Organizações Não-Governamentais ONGs, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR, Sindicato Patronal, Universidade Estadual do Centro Oeste - Unicentro e Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, totalizando 214 participantes que atuam como “Referenciais Regionais e Municipais em Geoprocessamento”. A capacitação básica possibilitou o aprimoramento para alguns técnicos que já atuam nesta área, enquanto representou a aquisição de novos conhecimentos para outros que tiveram o primeiro contato com o geoprocessamento. O resultado do aprendizado fica mais evidente quando ocorre uma rápida aplicação do conteúdo estudado, desenvolvendo todas as etapas (diagnóstico, planejamento e plano de ação) através de um trabalho prático em uma microbacia. A combinação dos mapas físicos básicos com as informações de levantamento a campo permite aprimorar os diagnósticos e os planos de ação, facilitando a localização e a visualização dos fatores dos problemas e suas soluções. Esta metodologia está sendo aplicada em 150 microbacias hidrográficas e, para facilitar a compreensão, serão apresentados os re186 sultados dos levantamentos realizados na microbacia Manducas no município de Fernandes Pinheiro na região de Irati. A microbacia Manducas, cadastrada com código de ottobacia número 844289652, possui uma área de 6.656,30 ha e seu ponto central está situado nas coordenadas UTM SAD69 Fuso 22 J: Latitude 7.175.572 Sul e longitude 543.759 Oeste. A microbacia é servida por 53 nascentes e 108 trechos de rios e córregos que perfazem 105.549 metros (Figura 4), havendo necessidade de recuperação das áreas de preservação permanente (APP). Os córregos encontram-se assoreados em virtude da baixa utilização de técnicas de conservação de solo, tais como falta de terraços, plantio em desnível e plantio direto de forma inadequada. FIGURA 4 - MAPA DO PERÍMETRO, ESTRADAS E HIDROGRAFIA DA MICROBACIA Fonte: Elaborado pelos autores (2013) As principais estradas encontram-se readequadas e bem conservadas, havendo necessidades de melhorias no acesso às propriedades e lavouras, além das manutenções quando houver necessidade. 187 As estradas rurais são muito utilizadas para o escoamento da produção (leite, frango, soja, feijão, milho, cebola, batata, etc), transporte escolar e coletivo. A trafegabilidade nas estradas principais é boa em qualquer ocasião, mesmo em períodos chuvosos. Os mapas temáticos com informações do meio físico-biótico, tais como mapa de classes de declividade (Figura 5), mapa de solos (Figura 6), mapa de uso e cobertura da terra (Figura 7) e mapa de pontos críticos (Figura 8) contribuem para aprimorar o diagnóstico, contemplando as limitações, restrições, aptidões, potencialidades e recomendar opções mais adequadas de uso e manejo dos solos. Os dados georreferenciados localizam e identificam os passivos ambientais e as intervenções necessárias (Figura 9). FIGURA 5 - MAPA DE CLASSES DE DECLIVIDADE Fonte: Elaborado pelos autores (2013) O relevo da microbacia apresenta 85,2% da área com classe de declividade até 15%, dos quais 42,5% é plano (até 3% de declividade) e apenas 14,8% da área restante com relevo entre 15 a 100% de declividade. 188 FIGURA 6 - Mapa de solos Fonte: Elaborado pelos autores (2013) Quanto à ocorrência de solos predominam os Argissolos com ausência de caráter abrúptico com 63,53% da área total da microbacia, seguido de Cambissolo com 34,72 e Neossolo Litólico 1,75%. No grupo dos Argissolos da região são encontrados solos profundos, em geral de textura média superficialmente e média ou argilosa subsuperficialmente, com moderado impedimento à drenagem devido ao horizonte B textural. São, na grande maioria, de baixa fertilidade natural. No entanto podem ser encontrados tanto solos com caráter alítico como solos de melhor fertilidade. A maioria dos solos com o horizonte B textural é fortemente susceptível à erosão, com moderado impedimento à drenagem vertical. São solos, no geral, de alto potencial agropecuário, entretanto exigem intensivo uso de capital e manejo cuidadoso para evitar o processo de erosão acelerada. Proposições/recomendações: Devido ao horizonte B textural (gradiente textural de B/A > 1,5), deve-se ter especial cuidado no controle à erosão e dar prioridade, sempre que possível, 189 aos cultivos perenes em sistema agroflorestal. Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento, nos declives de até 25%, são indicados sistemas altamente tecnificados, tais como: Sistema Integrado Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Sistema Plantio Direto (SPD) integrado com intensivas práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, adubações para elevar sua fertilidade e correção da acidez se necessário. Nas áreas com classe de declive entre 22º a 45°, tendo em vista as restrições, seria conveniente que a fauna fosse protegida e a flora melhorada, tanto pelo enriquecimento, quanto pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico, as quais devem ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. O horizonte B textural dos Argissolos e pouca profundidade dos Cambissolos e Neossolos tornam estes solos susceptíveis à erosão, necessitando de práticas complementares de conservação de solo (terraceamento, plantio em nível), além do plantio direto já adotado. No grupo dos Cambissolos da região podem ser encontrados solos com ou sem caráter alumínico em relevo abaixo de 45% (forte ondulado) e em relevo forte ondulado a montanhoso. São vários os fatores que concorrem para a moderada utilização agrícola dos solos deste grupo, mas o mais importante refere-se à profundidade do solo. São muito susceptíveis à erosão e a possibilidade de mecanização fica bastante limitada, devido à ocorrência de áreas em relevo forte ondulado. Os Cambissolos são solos pouco desenvolvidos, evidenciados pela presença de mais de 4% de minerais primários facilmente intemperizáveis. Normalmente são associados a áreas de declives acentuados, no entanto, podem ocorrer também em áreas de relevos suave ondulados de pendentes curtas. Os solos desse grupo geralmente são de moderado potencial para explorações agrícolas. No entanto, os de profundidades efetivas inferiores a 50 cm devem ser utilizados com certa reserva quando sob uso intensivo, sendo imprescindível o uso de práticas conservacionistas intensivas. Para o uso sustentável desses solos em classes de declive inferiores a 20% são indicados sistemas tecnificados, com integração pecuá190 ria e floresta com pastagem perene, o Sistema Plantio Direto integrado com intensivas práticas de controle à erosão e do escorrimento superficial das águas pluviais, associadas a adubações para elevar sua fertilidade e correção da acidez do solo. Para as classes de 20% a 45% recomenda-se o uso sob o sistema integrado pecuária-floresta bem como fruticultura em agrofloresta, ambos tecnificados e sem revolvimento do solo e com cobertura permanente. Em relevo forte ondulado a montanhoso os solos deste grupo apresentam forte limitação com relação à sua fertilidade natural, destaca-se a elevada acidez por alumínio trocável (caráter alumínico), responsável pela inibição do desenvolvimento radicular da maioria das culturas. Além disso, são muito susceptíveis à erosão e a possibilidade de mecanização fica bastante limitada. São mais indicados para silvicultura, sendo imprescindível a aplicação de insumos e o uso de práticas conservacionistas intensivas. Estes solos não se prestam para uma agricultura rotineira, visto que os teores de alumínio trocável são bastante elevados tanto no horizonte A como no (B). Mesmo num sistema de manejo desenvolvido, no qual técnica e capital são empregados em larga escala, sua aptidão é inapta para lavoura. O uso com fruticultura em agrofloresta, com cobertura permanente é opção viável. No grupo dos Neossolos Litólicos da região encontram-se os solos que se caracterizam por serem rasos e pouco evoluídos, em geral com menos de 50 cm de espessura com grandes restrições para o desenvolvimento da agricultura e grande susceptibilidade à erosão. É comum ocorrer presença de pedras próximas à superfície. Em elevados declives a mecanização e o controle da erosão tornam a utilização agrícola difícil e dispendiosa. Não se recomenda a utilização agrícola intensiva destes solos devendo ser reservados para preservação permanente visando recarga dos aquíferos e nascentes. Quando extremamente necessário por interesse social local, com restrições e em pequenas áreas descontínuas, podem ser usados com culturas perenes em sistema agroflorestal, fruticultura em agrofloresta tecnificada e sem revolvimento do solo, mantidos permanentemente cobertos. A metodologia permite realizar análises e obter conclusões, sendo que para o uso sustentável dos solos da microbacia, indicam-se: 191 a) áreas com os grupos dos argissolos e dos cambissolos, o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuáriafloresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio; b) áreas com Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para a cobertura das florestas degradadas propõe-se o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada; c) As áreas com NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica; e d) Áreas com Neossolos Litólicos devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). O levantamento sobre a cobertura e o uso da terra é de grande utilidade para o conhecimento atualizado das formas de uso e de ocupação do espaço, sendo instrumento valioso para a construção de indicadores ambientais e para a avaliação da capacidade de suporte ambiental, frente aos diferentes manejos empregados na produção, contribuindo assim para identificar alternativas promotoras do desenvolvimento sustentável. 192 FIGURA 7 - MAPA DE USO E COBERTURA DA TERRA Fonte: Elaborado pelos autores (2013) A microbacia apresenta uma boa cobertura com florestas nativas (39,81%), acima da média do estado, mesmo assim ainda apresenta rios e nascentes desprotegidos com mata ciliar, havendo necessidade de recuperação das áreas de preservação permanente (APP). As culturas anuais (grãos) são exploradas em 54,42% da microbacia e apresenta necessidades de melhoria nas técnicas de manejo e conservação do solo, tais como adequação no sistema de plantio direto, correção no sistema de terraços e plantio em nível. O restante da microbacia apresenta as pastagens cultivadas (5,22%) e área de várzea (0,55%). A combinação de informações do relevo, solos, áreas de proteção ambiental definidas por legislação e uso atual da terra com uso do geoprocessamento permite identificar e localizar as áreas com restrições, potencialidades e recomendar opções mais adequadas de uso e manejo dos solos. Este conjunto de informações georreferenciadas localiza e identifica os principais pontos críticos (Figura 8), e possibilita apresentar alternativas de soluções, buscar as melhores relações custo/benefício 193 e definir prioridades que resultem na redução dos passivos ambientais (Figura 9). FIGURA 8 - MAPA DE PONTOS CRÍTICOS Fonte: Elaborado pelos autores (2013) FIGURA 9 - MAPA DE AÇÕES INDIVIDUAIS E COMUNITÁRIAS Fonte: Elaborado pelos autores (2013) 194 As ações grupais motivam a participação comunitária, e como exemplo de resultado prático na microbacia Manducas, com envolvimento de 100% dos agricultores, a comunidade mobilizou-se para a instalação do Sistema de Abastecimento de Água tipo II, prática prevista no plano de trabalho dessa microbacia. A organização prevê um acordo entre a Comunidade, Prefeitura Municipal e Estado, com suas devidas responsabilidades na implantação desse Sistema, sendo deliberadas e consensadas as seguintes responsabilidades: - Prefeitura Municipal: fornecimento do material para a distribuição de água (canos), bem como a abertura de valetas para a instalação da rede principal; - Produtores: participar com mão de obra para implantação do sistema, instalação das redes adutoras e redes de distribuição até as residências, com ligações prediais e respectivos ramais. Complementar as quantidades excedentes ao previsto no módulo básico do programa. Gerir o sistema de abastecimento, através da quotização das despesas mensais de energia elétrica e demais encargos de manutenção, administrados através de um regimento interno para garantir o funcionamento do sistema. - Estado: fornecer um Sistema de Abastecimento de Água tipo II previsto no programa. As ações individuais e coletivas priorizadas e consensadas com o grupo de agricultores da microbacia permitem encontrar soluções conjuntas para melhoria das condições econômicas, sociais e ambientais da microbacia. CONCLUSÕES A metodologia com apoio dos recursos de geoprocessamento, juntamente com visitas a campo, possibilita a elaboração de diagnóstico e planejamento de microbacias, caracterizando os solos, permitindo inferir sobre: limitações, restrições, aptidão, potencial e recomendar opções mais adequadas de uso e manejo. A metodologia ainda permite visualizar a implantação de outras ações relacionadas às atividades agropecuárias, estradas rurais, destinação correta de embalagens e agrotóxicos obsoletos, manejo integra195 do de pragas e invasoras, uso apropriado e controlado de agrotóxicos, destinação adequada de dejetos, emprego correto de adubos orgânicos e minerais, recuperação da cobertura florestal nas áreas de recarga de mananciais d’água, proteção de fontes, implantação de sistemas de abastecimento de água comunitários e recomposição da cobertura florestal nas áreas de preservação permanente (APP). Finalmente, contribui com a gestão integrada dos recursos naturais solo, água e biodiversidade em microbacias, para uma agricultura sustentável (ambiental, social, econômica) com melhor qualidade de vida das populações rural e urbana da microbacia e do município. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Manual de construção da base hidrográfica Ottocodificada: fase 1 - construção da base topológica de hidrografia e ottobacias conforme a codificação de bacias hidrográficas de Otto Pfafstetter. Brasília: ANA/SGI, 2008. COPEL/AGUASPARANÁ. Base Hidrográfica do estado do Paraná 1:50.000. Curitiba: Copel/Aguasparaná, 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE. Manual técnico de uso da terra. 3. ed. Rio de Janeiro, 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE. Área territorial brasileira. Rio de Janeiro, 2014. MATSUSHITA, M.S. e HAGEMAIER, N.P.C. Roteiro para elaboração de projetos socioeconômicos e ambientais com uso de Sistemas de Informações Geográficas. Curitiba: Instituto Emater, 2010. MATSUSHITA, M.S.; ÂNGELO, A.R.; ROCHA, R.T.O.; SANTOS, L.M. F. e BERTOL, O.J. Agrupamento de Ottobacias para o manejo de solo e água no Paraná: contribuição da extensão rural. Curitiba: Instituto Emater, 2013 (Série Informação Técnica, 087). 196 OSAKI, F. Microbacias - Práticas de conservação de solos. Curitiba: Câmara brasileira do livro, 1994. PARANÁ. Projeto Multissetorial para o Desenvolvimento do Paraná. Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias - Manual Operativo do Projeto. Curitiba: SEPL/SEAB, 2014. 178 p. RENNÓ, C.D. Construção de um sistema de análise e simulação hidrológica: aplicação a bacias hidrográficas. São José dos Campos: INPE, 2003. 158p. - (INPE - 10437-TDI/925). SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ-SEAB. Manual operativo de fundo de manejo e conservação dos solos e controle da poluição. 4. versão. Curitiba: SEAB, 1992. 96 p. 197 198 CAPÍTULO VIII GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS NA REGIÃO DE PATO BRANCO Rosane Dalpiva Bragatto1 Herivelto Holowka2 Marcia de Andrade3 Edivan Jose Possamai4 Jose Antonio Nunes Vieira5 1 2 3 4 5 Engenheira Agrônoma, Mestre em Desenvolvimento Regional, Instituto Emater, Saudade do Iguaçu, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil [email protected] Economista Domestico, Instituto Emater, Chopinzinho, Paraná, Brasil [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia Produção Vegetal, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil - [email protected] Médico Veterinário, Instituto Emater, Pato Branco, Paraná, Brasil [email protected] 199 200 INTRODUÇÃO As informações e os indicadores do geoprocessamento foram usados na Região de Pato Branco na execução do Programa de Gestão de Solos, Águas em Microbacias Hidrográficas, no processo de Gestão de Propriedades e na Ação de Abastecimento de Água, fornecendo o embasamento necessário para realização de diagnóstico preciso e a elaboração de planejamento adequado. O uso das ferramentas no processo de Gestão das Propriedades Rurais na região de Pato Branco dá suporte à tomada de decisão para a equipe de gestão de propriedades e para os agricultores participantes do processo. O uso do geoprocessamento, com a espacialização do banco de dados e elaboração de mapas para análises específicas, fornecerá indicadores e informações precisas, oportunas e acessíveis, facilitando e proporcionando a realização de uma administração eficiente e eficaz da empresa rural. Permite, ainda, gerir visualmente o desempenho das propriedades de gestão, proporcionando indicadores e informações que auxiliem os técnicos no diagnóstico e no assessoramento aos produtores rurais no processo de gestão da propriedade rural, na busca de melhores resultados: - Fornecendo informações internas e externas à propriedade rural, necessárias ao processo de gestão; - Realizando diagnóstico e planejamento de microbacias, municípios e região; - Identificando os municípios pertencentes à região de Pato Branco e das microbacias hidrográficas a serem trabalhadas no Projeto de Gestão de Solos, Águas e Biodiversidade em Microbacias Hidrográficas; - Mapeando as propriedades e as áreas produtivas das propriedades do processo de gestão; - Elaborando indicadores, que auxiliem no processo de tomada de decisão; - Efetuando análise individual e grupal fornecendo indicadores, que auxiliem na gestão da propriedade rural; - Localizando e identificando as nascentes protegidas, no processo de gestão das águas; - Espacializando as áreas produtivas para o processo de agricultura de precisão. 201 Geoprocessamento O Geoprocessamento é a tecnologia que abrange o conjunto de procedimentos de aquisição, armazenamento, recuperação, manipulação, análises e distribuição de dados espacialmente referenciados. Enquanto conceito, para Câmara (1995), geoprocessamento constituise em importante ferramenta de suporte à decisão. Sendo um Sistema de Informações Geográficas (SIG), pode ser definido como um sistema computacional dotado de ferramentas para manipulação, transformação, armazenamento, visualização, análise e modelagem de dados georreferenciados, voltados para a produção de informação. Considerados como uma das principais ferramentas do geoprocessamento, os SIGs permitem a obtenção qualitativa e quantitativa de dados computacionais geográficos possibilitando a gestão dos recursos e aplicação de técnicas otimizadas baseadas em diagnósticos georreferenciados (CAVALLARI, 2014). O geoprocessamento associado às técnicas atuais de mapeamento (topografia convencional, utilização de fotografias aéreas, imagens de satélite, GPS - Sistema de Posicionamento Global por Satélite - bem como outras formas de aquisição de dados), torna possível a obtenção de mapas temáticos e a quantificação de áreas, como por exemplo: áreas de preservação permanente, agricultura, pastagem, fruticultura, áreas sujeitas a alagamento, recursos hídricos, áreas erodidas ou em processos, comprimento de estradas e cercas, áreas degradadas, estrutura fundiária, bem como outras formas de utilização. Assim os SIGs servem para localizar esses dados no espaço, e para representar a relação espacial entre eles (CAMARA, 1995). A seguir, alguns exemplos dessas relações: Meio Ambiente: controle de queimadas; estudos de modificações climáticas; acompanhamento de emissão e ação de poluentes; gerenciamento florestal de desmatamento e reflorestamento. Atividades Econômicas: planejamento de marketing; pesquisas socioeconômicas; distribuição de produtos e serviços; transporte de matéria-prima. Câmara e Medeiros (1996) classificam as aplicações em: Socioeconômicas - envolvendo o uso da terra, seres humanos e a infraestrutura existente; Ambientais - enfocando o meio ambiente e o uso dos recursos naturais; Gerenciamento - envolvendo a realização de estudos e projeções que determinam onde e como 202 alocar recursos para remediar problemas ou garantir a preservação de determinadas características. É evidente a diversidade de aplicações de SIGs, contudo, as aplicações principais desenvolvidas neste trabalho se encaixam perfeitamente na classificação citada por Câmara (1996), tratando das Atividades Econômicas que envolvem os subitens Socioeconômicos, no que se refere ao uso da terra, levantamentos sobre população e qualidade de vida e infraestrutura; no contexto ambiental focalizando a utilização dos recursos naturais do município e por fim no gerenciamento, na realização de projeções de como tratar e buscar soluções de problemas ou garantir a preservação de determinadas características. Microbacia hidrográfica O termo microbacia hidrográfica diz respeito a uma área delimitada do terreno para onde convergem todos os declives, isto é, para onde convergem as águas de uma determinada região. É uma área geográfica compreendida entre um fundo de vale, que pode ser o canal de um rio, sanga ou córrego, e os espigões, que são os divisores de água, ou seja, linhas que delimitam os pontos a partir dos quais as águas da chuva escorrem. Na prática as microbacias têm início na nascente dos pequenos cursos de água e à medida que a água segue seu curso vai se unindo a outras, formando as bacias hidrográficas (OSAKI, 1994). As microbacias hidrográficas são consideradas unidades naturais de planejamento agrícola e ambiental, nas quais podem ser implantados padrões técnicos de uso e manejo integrado de solos e recursos hídricos, bem como, em decorrência da riqueza de informações que podem ser levantadas, constituírem instrumentos de interesse científico. Considerada a “melhor unidade de planejamento por se encontrar fisicamente bem caracterizada e também porque toda a área de terra (fração) por menor que seja sempre se integra a uma microbacia” (OSAKI, 1994, p.555). Portanto, desde a nascente até a foz, um curso de água está sujeito as alterações antrópicas no que diz respeito às mudanças qualitativas e quantitativas das águas. A aplicação do SIG aliada a um conjunto de procedimentos metodológicos possibilita localizar e identificar as características físicas da área de estudo. Ao considerar uma área geográfica de uma microbacia hidrográfica como a área de estudo no universo do mundo real 203 encontra-se nos fenômenos a serem representados (CÂMARA, 2001), e as informações de interesse como, cadastro urbano e rural, dados geofísicos, topográficos e tipos de solo, seu uso e ocupação podem ser agrupados, analisados e sobrepostos para esta unidade dos dados espaciais, garantindo o acesso eficiente e rápido ao usuário das informações por ele gerenciadas. Gestão de propriedades A propriedade rural deve ser vista e administrada como uma empresa. Qualquer propriedade precisa dar retorno para garantir a sobrevivência e a prosperidade. Sendo assim, a gestão de propriedades rurais tem como desafios a melhoria dos resultados socioeconômicos, financeiros e ambientais. Estes resultados são consequência da conscientização de uma visão de longo prazo e de sustentabilidade em detrimento da visão imediatista. Das várias atividades desenvolvidas pelos gestores das propriedades agrícolas estão as do processo decisório. São estas que definem o sucesso ou não de um estabelecimento. A propriedade física e todas as atividades nela inseridas apresentarão um desempenho, fruto de decisões de seus gestores. Ter um processo decisório competitivo é uma segurança para garantir a sustentabilidade de uma propriedade rural. Dentre as decisões destacam-se: planejamento de tarefas de campo; seleção de máquinas e equipamentos; gestão do processo de compra, manutenção e substituição de máquinas e equipamentos; seleção da cultura; segurança das pessoas sob a responsabilidade do gestor; análise de custos; gestão da responsabilidade social da propriedade. Além disso, em suas decisões, na avaliação de sistemas de produção deve-se avaliar o risco que determinada tecnologia possa propiciar aos agricultores (SANTOS et al., 2002). O melhor uso do solo depende da disponibilidade e habilidade do proprietário em usá-lo adequadamente e o manejo sustentado dos agroecosistemas passa pelo planejamento de uso dos mesmos na abordagem da complexidade ambiental, avaliando os problemas e levando em conta seus diversos aspectos, que são interdependentes. Dentre os fatores internos, aqueles localizados geograficamente dentro da unidade de produção e/ou que são de propriedade rural, usados no geoprocessamento estão os recursos naturais processados 204 no geoprocessamento: fertilidade do solo; tipo de solo; área disponível; quantidade de chuva; temperatura do ar; disponibilidade de água; topografia (relevo). O SIG também pode produzir confronto de cenários por meio de simulação elaborada, pois tem capacidade de comparar séries de dados temporais, pela sobreposição de imagens ou mapas de diferentes datas (SANTOS, 2004). Tem poder de previsão e estrutura o problema e suas consequências, simplifica a realidade e pode adotar conceitos subjetivos, fornecendo ao planejador instrumentos de análise pela interpretação das mudanças ocorridas no uso do solo, pela possibilidade de analisar dados georreferenciados e convencionais, tendo como resultados mapas e relatórios que irão apoiar o processo de tomada de decisão. Abastecimento d’água A água destinada ao consumo humano considerada segura é aquela cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendem aos padrões de potabilidade e não oferecem riscos à saúde. No Brasil esses padrões são regulamentados pela portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde (2012). Quanto aos parâmetros microbiológicos, determina que para a água ser potável, isto é, poder ser consumida sem causar riscos à saúde de pessoas e animais, ela não deve apresentar coliformes termotolerantes, também conhecidos como coliformes fecais. Na maioria das propriedades rurais dos agricultores familiares na região de Pato Branco, a água consumida é proveniente de nascentes ou poços escavados, cuja origem é do lençol freático. Essa água pode estar contaminada por não haver uma proteção adequada ou em consequência da contaminação do lençol freático, que pode acontecer por dejetos de animais, esgotos a céu aberto, cemitérios, lixões, fossas negras (buracos feitos na terra cheios de pedras ou não, nos quais é jogado, sem tratamento prévio, o esgoto do banheiro). Com base nos resultados de análise de água de nascentes de sistemas alternativos individuais do meio rural obtidos no ano de 2011 pela 7ª Regional de Saúde do Paraná1, em torno de 60% das amostras 1 Dados não publicados 205 analisadas apresentaram contaminação por coliformes termotolerantes, indicando água imprópria para o consumo. Nesse caso é necessário fazer o tratamento da água, sendo que a cloração é o processo mais utilizado, por ser um método simples, de baixo custo e eficiente. Por meio de acompanhamento realizado em propriedades rurais de agricultores familiares assistidos pelo Instituto Emater, estima-se que grande parte das nascentes usadas não possuem proteção adequada, ficando expostas a enxurradas, partículas de solo, restos vegetais e ejeções de animais. Além dos prejuízos à saúde da população rural, a água contaminada também pode causar perdas econômicas, principalmente nas unidades produtoras de leite, ao ser utilizada na higienização dos tetos das vacas e nos equipamentos de ordenha. Segundo Otenio et al. (2010), da Embrapa Gado de Leite, a qualidade da água na atividade leiteira tem sido determinante na obtenção de melhores resultados, pois interfere na qualidade do leite, auxiliando na redução da contagem bacteriana, deixando de ser veículo de contaminação durante a ordenha e conservação do leite ordenhado. A água contaminada pode ter bactérias que causam mastite e que contaminam o leite, podendo provocar acidez. Em análise dos fatos, a adoção do SIG pode contribuir para identificar espacialmente, através da confecção de mapas temáticos, a forma de ocupação das terras, observando os aspectos legais, localizando as nascentes, para o planejamento sustentável, considerando a atividade antrópica, as áreas e focos de contaminação. Neste contexto a utilização do SIG é fundamental para uma rápida e precisa interpretação das informações físico-espaciais, pois permitem a geração de bancos de dados temporais, que atuam como base para cruzamentos e ajustes do grande número de informações. MATERIAL E MÉTODOS A estrutura empregada no geoprocessamento seguiu parâmetros de dimensão territorial espacializada a qual abrangeu os municípios da Região de Pato Branco, localizada no Sudoeste do Paraná, tendo sido realizado no período de 2010 a 2013. Para a realização do trabalho fez-se necessário o levantamento 206 das informações acerca dos elementos existentes nas microbacias e nas propriedades. Foi feita a aquisição das informações do banco de dados, imagens de satélite e coordenadas geográficas a campo com aparelho GPS. Na primeira etapa foi realizado o planejamento, momento em que se idealizou o tema, tendo sido necessário então realizar as escolhas acerca de métodos e objetivos buscados. Sabendo o que realmente interessaria para balizar a qualidade de levantamento em campo e quais elementos seriam levantados, materiais utilizados entre hardware e software também foram apontados nesta fase. O Trabalho de campo na segunda etapa consistiu em realizar o levantamento dos dados das microbacias e propriedades estudadas. Dados geográficos e dados visuais levantados com informações qualitativas e quantitativas. Na terceira etapa do geoprocessamento foram criados mapas detalhados para realçar apresentações, revelando padrões e tendências nas informações, que de outro modo seriam difíceis de serem visualizadas em tabelas e gráficos. Realizadas análises das informações, entendendo melhor os dados levantados e seus potenciais. Gerenciamento ativo baseado nas informações geográficas, das microbacias, propriedades rurais e nascentes. E por fim foi realizado diagnóstico da situação atual proposta de adequação para embasamento do planejamento das ações a serem realizadas. Métodos As microbacias hidrográficas (ottobacias) trabalhadas foram definidas através de arquivos georreferenciados e ortorretificados, fornecidas pela equipe de Geoprocessamento do Instituto Emater, Unidade Estadual. O uso do solo, as áreas produtivas, bem como a localização das nascentes foram vetorizados a partir dos mapas analógicos das propriedades, imagens de satélite, imagens do Google Earth e levantamento a campo com GPS de navegação. Para a caracterização de cada propriedade foi seguida a seguinte sequência: no ambiente ArcMap e QGis, foram delimitados os polígonos do perímetro da área total de cada propriedade. Em seguida, estes 207 foram divididos nos diferentes tipos de uso do solo, com base no levantamento de campo e nas imagens de satélite. Estabelecidos os polígonos foi realizada a denominação e quantificação dos diferentes usos. As nascentes identificadas a campo com uso de GPS de navegação, e os dados foram processados no ambiente ArcMap e QGis. A partir dos pontos levantados elaborou-se tabela com dados de cada nascente: a localização, o nome do proprietário e o resultado da análise biológica da água. Materiais - - - Carta de Solos do Estado do Paraná, Folha SG.22-Y-A - MIR – 516, E:1:250.000 em formato digital, de autoria de Santos et al (2008). Imagem do Satélite SPOT5 do sensor HRG de alta resolução geométrica de 26 de maio de 2005, cedidas pelo Instituto Emater mediante termo de compromisso. Imagem do satélite GeoEye do programa Google Earth 6.0.3.2197 (2011) de diversas épocas, de acordo com cada quadrante geográfico analisado. Mapas analógicos de propriedades rurais. Aparelho GPS Garmin 76 csx manual. Microsot Office Word 2010 e Microsot Office Excel 2010, produzidos pela MICROSOFT (2010). TrackMaker professional versão 4.8, produzido por Odilon Ferreira Junior. ARCMap 9.0, produzido pela ESRI (2006). QGis 2.0.1 Dufour, Sistema de Informação Geográfica livre e aberto. Google Earth 6.0.3.2197 desenvolvido e distribuído pela empresa americana Google (2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir são apresentados os resultados obtidos nas ações realizadas na execução do Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacias Hidrográficas, no processo de Gestão de Propriedades e na Ação de Abastecimento de Água. 208 Área de Estudos A mesorregião Sudoeste Paranaense está localizada no Terceiro Planalto Paranaense e abrange uma área de 1.163.842,64 hectares, que corresponde a cerca de 6% do território estadual. Esta região faz fronteira a oeste com a República da Argentina, ao sul com o Estado de Santa Catarina e ao norte, pelo rio Iguaçu, limita-se com terra do Estado do Paraná. É constituída por 42 municípios, dos quais se destaca Pato Branco (Figura 1), em função de sua dimensão populacional e níveis de polarização (IPARDES, 2004). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS LIMITES TERRITORIAIS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE PATO BRANCO Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo Microbacias Hidrográficas O Estado do Paraná, através da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e demais parceiros, está imple209 mentando o Programa de Gestão de Solo e Água em Microbacia Hidrográfica, cujo objetivo é recuperar e manter a capacidade produtiva dos recursos naturais, com base na gestão de Microbacias Hidrográficas, com previsão de atuar junto a 400 microbacias até o ano de 2015 em todos os municípios do Paraná. Dentro do programa, há a ação de “Harmonização da Produção Agropecuária e da Conservação de Recursos Naturais”, voltada para uma ação direta junto ao público das microbacias, promovendo o planejamento participativo da paisagem e a elaboração de planos de conservação e uso do solo, água e biodiversidade, tendo como estratégias técnicas a produção e proteção de água, bem como aumento da biodiversidade. O trabalho estruturou-se basicamente na realização de consulta pública junto à população da microbacia visando verificar o interesse em participar do programa, realização de diagnóstico, uso e ocupação do solo e informações socioeconômicas, elaboração de plano de ação acordado com o público das microbacias e implementação das práticas propostas e consensadas. A análise em Microbacias Hidrográficas (Figura 2) foi realizada em 8 microbacias localizadas nos municípios de Mariópolis, Pato Branco, Coronel Vivida, Vitorino, Itapejara d`Oeste, Bom Sucesso do Sul, São João e Saudade do Iguaçu, na Região de Pato Branco, situada na região Sudoeste do Estado de Paraná. Com base no diagnóstico de cada microbacia e nos principais passivos ambientais identificados e de consenso com os produtores, e objetivando constituir um processo gradual de mudanças nos agroecossistemas, que leve ao desenvolvimento de sistemas de agriculturas mais sustentáveis, as linhas gerais de trabalho propostas foram: a) Melhoria do sistema plantio direto, com ações de manejo da fertilidade do solo, uso racional de fertilizantes, manejo da palhada, rotação de culturas, plantio em nível, práticas mecânicas em pontos críticos (terraceamento e afins), entre outras, visando evitar perdas de solos e águas do sistema, bem como manter e/ou aumentar a capacidade produtiva dos solos; b) Melhoria do sistema de integração lavoura-pecuária, com ações de manejo das pastagens anuais, manejo de cobertura do solo, manejo de animais, entre outras, visando reduzir os impactos sobre o solo; c) Melhoria no manejo de pastagens, com ações de manejo da 210 fertilidade do solo, manejo de resíduo de palhada em áreas de integração lavoura-pecuária, recuperação de pastagens degradadas, visando o aumento da capacidade produtiva e de lotação das pastagens; FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO E PERÍMETRO DAS MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO DE PATO BRANCO, COM DESTAQUE PARA AS MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS TRABALHADAS NO PROGRAMA DE GESTÃO DE SOLOS E ÁGUAS EM MICROBACIAS Fonte. Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo d) Melhoria na destinação e uso dos dejetos animais, como forma de evitar a contaminação ambiental e aproveitamento como fertilizante; e) Melhoria e/ou ampliação nos sistemas de rede de distribuição de águas de poços artesianos, visando o fornecimento de água potável para as famílias nos períodos de escassez devido a estiagens; f) Construção de proteção de nascente em solo cimento e tubo de concreto, visando a melhoria da qualidade da água utilizada pelas famílias e na propriedade; g) Realização de análises de água, para certificar-se sobre a qualidade da água que abastece as propriedades rurais atendidas; h) Realização de tratamento de água por meio de cloração, observando 211 recomendações do Ministério da Saúde, visando o uso de água de qualidade pelas famílias e na propriedade; i) Implantação de fossas sépticas biodigestoras, que garantem um tratamento dos resíduos sanitários, diminuindo a poluição ambiental; j) Orientar quanto à compatibilização dos sistemas produtivos existentes com a preservação ambiental, a fim de promover o saneamento ambiental das propriedades; l) Orientação e estímulo na implantação, recuperação e proteção das áreas de preservação permanente. O plantio de espécies florestais nativas e/ou a regeneração natural da floresta permitirão o aumento da biodiversidade local com a maior disponibilidade de alimentação e abrigo para a fauna. A regularização da vazão, a estabilização das margens e a redução dos efeitos das enxurradas também são função da floresta, mantendo o equilíbrio ambiental na zona ripária e a manutenção da qualidade da água disponível; m) Promoção da conectividade entre os fragmentos florestais existentes, visando a recuperação e conservação da biodiversidade. A formação dos corredores de biodiversidade é fundamental para unir os fragmentos de floresta ripária, permitindo assim a migração gênica. Desse modo, animais silvestres e espécies florestais que antes se encontravam confinadas em determinado fragmento, ali vivendo, reproduzindo e criando uma endogamia da espécie, poderão migrar para outros locais e formar novas famílias; n) Readequação de estradas rurais e integração com lavouras. Os trabalhos foram realizados em 8 microbacias e a seguir são apresentados os resultados da Microbacia Rio Bonito exemplificando o processo. Conforme mostra a Figura 3, as áreas de relevo ondulado (>8% a <20% de declive) se distribuem em 65,7% da área total. O relevo forte ondulado representa 7,1% da área, enquanto área com relevo montanhoso não se observa na microbacia. 212 FIGURA 3 - FASES DE RELEVO PRESENTES NA MICROBACIA DO RIO BONITO, CONFORME CLASSIFICAÇÃO DA EMBRAPA (2006) Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo O Rio Bonito, com largura do leito menor que 10 metros, tem uma extensão total dos canais de drenagem de 1ª, 2ª e 3ª ordem de 58,88 km (Figura 4) e com a presença de 75 nascentes de águas. Na Figura 5 encontra-se o mapa de ocorrência dos solos da microbacia do Rio Bonito. A quantificação em hectares e percentual é apresentada na Tabela 5, indicando que em 1,7% da área ocorre a presença de Neossolo Regolítico Distrófico, em 36,9% da área ocorre Nitossolo Vermelho Distroférrico típico e em 46,2% da área ocorre Latossolo Vermelho Distroférrico. Ainda em áreas de ocorrência de Neossolos, verificou-se a presença de pequenas áreas de CAMBISSOLOS e NITOSSOLOS em associação, porém com a dominância dos NEOSSOLOS. Para fins de classificação de unidades de paisagens, apresentada posteriormente, optou-se pelo uso da classe de solos predominante em cada área. 213 FIGURA 4 - MAPA HIDROGRÁFICO E ORDEM HIERÁRQUICA DOS CANAIS DE DRENAGEM DO RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo FIGURA 5 - MAPA DE SOLOS E HIDROGRAFIA DA MICROBACIA DO RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo 214 A classificação de segundo, terceiro e quarto nível das classes de solos foi feita a partir da indicação do mapa de solos da Embrapa (2006), ou seja, por aproximação com padrões regionais, tendo em vista que não foram realizadas as análises pormenorizadas das diferentes camadas de solos. O levantamento do uso das terras baseado nas imagens de satélites evidenciou os seguintes usos: áreas urbanizadas, florestas nativas, capoeiras/pousio, culturas anuais, pastagens cultivadas, cultivos florestais e corpos d´agua, conforme dados apresentados na Tabela 1 e Figura 6. Tabela 1 - Distribuição do uso da terra da microbacia Rio Bonito Uso Atual Área (ha) Culturas anuais 2.634,10 75,3 Florestas nativas 632,71 18,1 Pastagens cultivadas 147,65 4,2 Cultivos florestais 2,35 0,1 Áreas urbanizadas 52,07 1,5 Capoeiras/pousio 18,62 0,5 9,96 0,3 3.497,46 100,00 Corpos d'agua TOTAL Área (%) Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo A maior parte da área da microbacia é ocupada por lavouras, representando 75,3% da área total, seguida pelas florestas nativas com 18,1%, e por pastagem cultivada com 4,2%. Há a presença de cultivos florestais com 0,1%, e as demais áreas ocupam os 2,3% restantes da área. 215 FIGURA 6 - MAPA DE OCUPAÇÃO DO SOLO DA MICROBACIA RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo Observa-se na Figura 7 que a UP1, UP2 e UP3 correspondem a 12,9%, 42,5% e 27,7% respectivamente, e somados chegam a 83,1% da área total. Nestas três classes de UP enquadram-se as áreas em que é possível o desenvolvimento de lavouras anuais, podendo haver algumas restrições, porém, com boa aptidão para culturas permanentes e para silvicultura. Já as UP4, UP5 e UP6 somadas correspondem a 16,9% da área total, nas quais as lavouras anuais possuem restrição para uso ou mesmo enquadram-se como inaptas. Nestas, ainda, a aptidão é regular para silvicultura e regular ou restrita para culturas permanentes. A estrutura viária da microbacia (Figura 8) é composta por 59,32 km de estradas municipais/vicinais. Destas, 2,9 km de revestimento asfáltico, 13,8 km com revestimento de pedras irregulares, e 42,62 km com revestimento primário (cascalho). 216 FIGURA 7 - MAPA DE UNIDADES DE PAISAGEM E HIDROGRAFIA DA MICROBACIA RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo FIGURA 8 - ESTRUTURA VIÁRIA DA MICROBACIA DO RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo 217 Conforme os dados da Tabela 2 existem 349,47 ha de áreas que deveriam ser preservadas permanentemente, de acordo com Lei Federal 4771/65. Destas, 60,22% já estão preservadas e 39,78% precisam ser recuperadas, o que corresponde a 139,05 ha. Destes, conforme Figura 9, as áreas de APP a recuperar, 66% estão ocupadas atualmente com culturas anuais e 26% com pastagens cultivadas. Tabela 2 - Distribuição e situação das áreas de preservação permanente (APP) da Microbacia do Rio Bonito Situação Área (ha) Área (%) Existente 209,97 60,22 A recuperar 139,05 39,78 Total 349,47 100,00 Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo FIGURA 9 - MAPA DE COBERTURA FLORESTAL EXISTENTE E DE ÁREAS A RECOMPOR NA MICROBACIA RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo 218 Na Figura 10 são apresentados os principais pontos críticos ambientais verificados na Microbacia do Rio Bonito. FIGURA 10 - PRINCIPAIS PONTOS CRÍTICOS AMBIENTAIS DA MICROBACIA DO RIO BONITO Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo Observa-se com base na Tabela 4 que há áreas de lavouras anuais em unidades de paisagem sem aptidão ou mesmo restrição para tais usos, o que demanda cuidados especiais em relação ao manejo dos solos. 219 Tabela 4 - Tipo do solo, uso atual do solo e capacidade de uso das áreas manejadas (cultivos florestais, culturas anuais de grãos e culturas permanentes) na Microbacia do Rio Bonito Classificação do Solo Área (ha) % do total NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico 59,71 1,7% NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico 1290,91 36,9% LATOSSOLO VERMELHO 1615,84 Distróférrico 46,2% Uso Atual Cultivos florestais Cultivos florestais Cultivos florestais Culturas anuais (grãos) Culturas anuais (grãos) Culturas anuais (grãos) Pastagens cultivadas Pastagens cultivadas Pastagens cultivadas Cultivos florestais Cultivos florestais Culturas anuais (grãos) Culturas anuais (grãos) Pastagens cultivadas Pastagens cultivadas Cultivos florestais Cultivos florestais Culturas anuais (grãos) Culturas anuais (grãos) Pastagens cultivadas Pastagens cultivadas Capacidade de Uso do Solo Unidade de Área Paisagem2 0,51 UP4 1,22 UP5 0,62 UP6 49,79 UP4 106,90 UP5 107,71 UP6 23,23 UP4 21,65 UP5 16,35 UP6 0 UP2 0 UP3 209,56 UP2 751,35 UP3 20,65 UP2 51,59 UP3 0 UP1 0 UP2 392,28 UP1 1016,41 UP2 4,81 UP1 9,39 UP2 Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo A partir do cruzamento das informações pelo geoprocessamento, a análise conjunta dos dados sobre ocupação atual, manejo adotado nos solos e as aptidões dos solos observam-se as seguintes situações: a) Há a adoção do plantio direto nas áreas de lavouras, porém, com problemas em relação a sua qualidade em função da não adoção de práticas complementares e a simples semeadura direta; b) Adoção do plantio direto em áreas que possuem restrição de aptidão para lavouras, ocorrendo problemas relacionados ao manejo da água e erosão do solo. Além do uso do solo com o cultivo de grãos, a ocupação com áreas de preservação ambiental e reserva legal perfaz um total de 18% da Para maior informação sobre as Unidades de Paisagem e as aptidões das áreas, ver Anexo 01. 2 220 área da microbacia. Outro uso é a destinação para forrageamento dos animais, com o cultivo de pastagens permanentes ou mesmo como potreiros, que somados correspondem por 4,22% da área. As lavouras permanentes, compostas principalmente pelo cultivo de pinus, eucaliptos e de frutíferas em geral, compõem 0,6% da área da microbacia. A partir do diagnóstico espacializado em cada microbacia hidrográfica, conforme exemplificado na microbacia Rio Bonito (Figuras 3 a 10) e das ações elencadas anteriormente, foi estabelecido o seguinte cronograma de trabalho: a) Definição dos produtores beneficiados, levando em consideração o interesse em participar das atividades do programa e das propostas consensadas. Além disso, há a participação do Grupo Gestor Municipal (GGM) na definição das famílias a serem beneficiadas; b) Visitas às famílias definidas, para levantamento e quantificação das ações a serem executadas dentro das linhas gerais definidas, podendo ocorrer a definição de uma ou mais ações dentro de cada propriedade, e não coincidente entre outras propriedades; c) Realização do diagnóstico e plano de ação participativo; d) Aprovação do diagnóstico e plano de ação participativo consensado com os agricultores da microbacia, posteriormente aprovação no Grupo Gestor Municipal e Regional; e) Elaboração do plano de aplicação dos recursos individualmente e grupal, com os devidos termos de compromisso com os produtores; f) Solicitação de recursos financeiros à Unidade Técnica Estadual (UTE); g) Aplicação dos recursos e acompanhamento aos produtores. No que diz respeito aos processos produtivos, as ações previstas com o trabalho do programa de Microbacias previu atuação relacionada principalmente ao sistema produtivo de integração lavoura-pecuária, com a expressão do sistema “grãos+leite”. Na área de grãos, o programa previu uma ação mais focada para o manejo dos solos, relacionado principalmente à qualificação do sistema de plantio direto. Já com relação à bovinocultura de leite, as ações foram voltadas ao manejo dos animais, pastagens e dos dejetos, com foco tanto ambiental como na área produtiva. Quanto às práticas recomendadas na área produtiva (grãos+leite), salienta-se que objetivam melhorar a eficiência produtiva e econômica dos sistemas e estão relacionadas às práticas propostas pelo Plano de Agricultura de Baixo Carbono do Ministério da Agricultura do Governo Federal. Tais atividades foram coordenadas pelo Grupo Gestor Municipal, com a ação de forma direta dos escritórios municipais do Instituto Emater, Prefeituras Municipais e demais instituições parceiras do programa. 221 Gestão em Propriedades Rurais O desenvolvimento atual do agronegócio requer que os agricultores racionalizem os recursos usados na exploração agropecuária e estabeleçam o uso de tecnologia adequada ao contexto, para obtenção de melhores resultados. A grande dificuldade consiste em tomar as decisões, baseadas em informações concretas e confiáveis, que forneçam o embasamento necessário para realização de diagnóstico preciso e a elaboração de planejamento adequado, que possibilite ao agricultor governar os fatores de produção, para ter efeitos crescentes. Para isso, se estabeleceu na região de Pato Branco, projeto de Gestão de Propriedades Rurais - GPR, que visa fornecer indicadores e informações precisas, oportunas, acessíveis e adequadas à situação existente, no assessoramento aos agricultores familiares, assistidos pelo Instituto Emater, na realização de gestão eficiente e eficaz de suas propriedades. Este projeto (Figura 11) é composto por dois processos: Redes de Gestão (Geração) - responsável pela geração de informações e o de Difusão de Referências – no qual acontece a socialização das informações geradas a outros agricultores familiares. FIGURA 11 - PROJETO DE GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS 222 Na execução, o processo segue as seguintes etapas, conforme ilustra a Figura 11: tipificação - caracterização do sistema de cada propriedade; diagnóstico inicial - marco zero da propriedade e da família; planejamento das ações necessárias - baseado nos problemas detectados no diagnóstico, o qual visa atingir a situação desejada e a execução das ações previstas. Sendo dinâmico, sua execução compreende o acompanhamento e intervenções que permitirão o aprimoramento do diagnóstico e o planejamento, ocasionando, como consequência, melhores resultados. Assim, toda ação exitosa se torna referência para outras propriedades de agricultores familiares. O processo de Redes de Gestão se iniciou com a seleção dos agricultores familiares, observando os critérios estabelecidos , e estão distribuídas em 12 munícipios da região de Pato Branco (Figura 12). FIGURA 12 - MAPA DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS PROPRIEDADES ESTUDADAS Fonte. Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo O mapeamento das propriedades foi iniciado em 2010, já no ano agrícola de 2013/2014, a Rede de Gestão possui 24 propriedades acompanhadas e georreferenciadas. O geoprocessamento consiste na 223 vetorização do uso atual (Figura 13), a partir deste, é realizado o diagnóstico quantitativo e qualitativo das áreas e a seguir o planejamento, gerando mapa da situação proposta de adequação ambiental e das áreas produtivas. No exemplo apresentado na Figura 14, verifica-se a proposta de adequação da propriedade ao Código Florestal. FIGURA 13 - MAPA DA SITUAÇÃO ATUAL DA PROPRIEDADE DO SR. JOSE SANTOS DE QUADROS Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo. 224 Outra ação desenvolvida com base nos mapas georreferenciados é o planejamento para a agricultura de precisão. A espacialização visual destacada de cada área produtiva possibilita planejar com maior clareza, acurácia e precisão as ações, permitindo gerenciamento mais eficaz em cada atividade desenvolvida na propriedade. Dentre as atividades, verifica-se o exemplo da atividade silvipastoril, com piqueteamento, destacando-se o dimensionamento das áreas e espécies de pastagens perenes (Figura 15), importante no planejamento forrageiro. FIGURA 14 - MAPA DA SITUAÇÃO PROPOSTA PARA ADEQUAÇÃO AO CÓDIGO FLORESTAL DA PROPRIEDADE DO SR. JOSE SANTOS DE QUADROS Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo 225 FIGURA 15 - MAPA DA ÁREA SILVIPASTORIL MOSTRANDO O PLANEJAMENTO DO PIQUETEAMENTO DE PASTAGENS PERENES NO CONDOMÍNIO PIZZOLATTO Fonte: Instituto Emater, 2012. Dados de pesquisa de campo Abastecimento de Água As nascentes estudadas estão localizadas nos municípios que receberam recursos da Ação Emergencial para Mitigação dos Efeitos da Estiagem no Sudoeste do Estado do Paraná e estão distribuídas aleatoriamente (Figura 16) nos limites territoriais dos municípios de Bom Sucesso do Sul, Chopinzinho, Clevelândia, Coronel Vivida, Itapejara d`Oeste, Mariópolis, São João, Saudade do Iguaçu e Vitorino. De acordo com os dados da tabela da Figura 16, o resultado médio das análises realizadas das fontes consideradas no Programa é de 68,9% de contaminação, ficando acima dos índices observados pela 7ª Regional de Saúde do Paraná. Observa-se o menor índice de contaminação no município de Bom Sucesso do Sul, com 46,81% de contaminação e o maior índice de contaminação 80% no município de Saudade do Iguaçu. Conhecendo-se a geologia e conformação dos so226 los na região, esse resultado pode ser em decorrência da localização do lençol freático. Pois em Saudade do Iguaçu observa-se a ocorrência de solos mais rasos, ao contrário de Bom Sucesso do Sul, onde se observa a ocorrência de solos mais profundos (Figura 17). FIGURA 16 - MAPA DA LOCALIZAÇÃO DAS NASCENTES ANALISADAS Fonte: Instituto Emater, 2013. Dados de pesquisa de campo não publicados FIGURA 17 - MAPA DE SOLOS E LIMITES TERRITORIAIS DOS MUNICÍPIOS DA MICRORREGIÃO DE PATO BRANCO 227 Nesse caso, pelo alto índice de contaminação observado, é necessário fazer o tratamento da água, sendo que a cloração é o processo mais utilizado, por ser um método simples, de baixo custo e eficiente. Para tal pode-se usar o Clorador Emater (Figura 18), equipamento simples, fácil de montar e de baixo custo, composto por materiais encontrados em lojas de materiais de construção. Destina-se ao tratamento da água no meio rural com uso de pastilhas para cloração da água em reservatório de qualquer capacidade. Desenvolvido pelos técnicos do Instituto Emater da Região de Pato Branco, com base no modelo criado pela Sanepar de Pato Branco - PR. FIGURA 18 - FOTO DO CLORADOR Fonte: Herivelto Holowka, 2012 CONCLUSÕES Atualmente a profissionalização dos agricultores é fundamental para sobrevivência do seu empreendimento, devido à complexidade e competitividade existente no agronegócio. Desta forma, o processo de gestão oferece vantagens, uma vez que se compõe de recurso que possibilita gerar informações importantes na realização da análise técnica, econômica e financeira, fornecen228 do embasamento necessário para realização de diagnóstico preciso e elaboração de planejamento adequado que leve a resultados compensadores. Mais importante que produzir, é fazer com organização, controle e conhecimento do que está sendo feito. É possível avançar muito na produção e geração de renda nas propriedades com a aplicação de medidas simples, técnicas produtivas e gerenciais que existem há muitos anos, mas que não são aplicadas na maior parte das propriedades. A aplicação de conceitos técnicos e de gestão associads aos mapas temáticos permitem a expansão da produção para patamares bem mais elevados sem muito esforço e sem invenção tecnológica. A associação dos mapas temáticos com as modernas técnicas do geoprocessamento constitui suporte à sistematização da informação espacial dos dados. Ficando evidente a importância das operações com SIGs, que permitem uma interpretação mais apurada com características de diferentes mapas, facilitando a resolução de problemas ambientais, sociais e econômicos em propriedades rurais. Assim, torna-se crucial no processo de tomada de decisão, sendo pontual no lançamento das informações, agregando vasta quantidade de elementos. A espacialização de fenômenos e dados georreferenciados possibilita a gestão do território e é de grande valia na gestão de propriedades, pois permite identificar no campo visual a resposta a perguntas como: onde e por que ocorrem fenômenos e onde atuar para saná-los, ou ainda, prioriza os locais que sofrerão interferências. REFERÊNCIAS CÂMARA, G. Introdução à Ciência da Geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001. CÂMARA, G. Modelos, Linguagens e Arquiteturas para Bancos de Dados Geográficos. Tese de Doutoramento em Computação Aplicada. São José dos Campos, INPE, 1995. Disponível em: <http://www. dpi.inpe.br/gilberto/tese>. Acesso em: 12/05/2014. CÂMARA, G. e MEDEIROS, J.S. Geoprocessamento para projetos ambientais. São José dos Campos, INPE, 1996. 229 CAVALLARI, R.L. A importância de um Sistema de Informações Geográficas no Estudo de Microbacias Hidrográficas. Revista Cientifica Eletrônica de Agronomia, v. 6, n. 11, 2007. Disponível em <http:// faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/b659XY730u80PB9_2013-5-3-11-28-57.pdf >. Acesso em: 12/05/2014. EMBRAPA Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2ª Edição. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 2006. IPARDES. Leituras Regionais, Mesorregião Geográfica Sudoeste Paranaense. Coordenação técnica Rosa Moura. Curitiba - PR. 2004. 134 p. Ministério da Saúde. Portaria 2914, de 12 de dezembro de 2011. Procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Disponível em: <http://. saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 15/10/2012. OSAKI, F. Microbacia - Práticas de Conservação de Solos. CuritibaParaná. 1994. OTENIO, M.H.; CARVALHO, G.L.O.; SOUZA, A.M. e NEPOMUCENO, R.S.C. Cloração de Água para Propriedades Rurais. Juiz de Fora: Embrapa, 2010. Comunicado Técnico, 60. SANTOS, H.P.; AMBROSI, I.; LHAMBY; J.C.B. e SCHNEIDER, G.A. Comparação econômica de sistemas de rotação de culturas para a região do planalto médio do RS. Revista Brasileira de Agrociência, v.8; n.1 jan-abril, 2002. Disponível em: <http://www2.ufpel.edu.br/faem/ agrociencia/v8n1/artigo04.pdf>. Acesso em: 12/04/2014. SANTOS, R.F. Planejamento Ambiental: teoria e prática. Ed. Oficina de textos. São Paulo, 2004. 230 ANEXO 1 - UNIDADES DE PAISAGEM (UP), DE APTIDÃO DAS TERRAS, A PARTIR DO CRUZAMENTO DAS CLASSES DE SOLO COM AS CLASSES DE DECLIVIDADE Grupos Solos/ Declive A – 0 a 8% A – 8 a 20% B – 0 a 8% B – 8 a 20% C – 0 a 8% C – 8 a 20% D – 0 a 8% D – 8 a 20% D – 20 a 45% E – 0 a 8% E – 8 a 20% E – 20 a 45% E – 45 a 100% F – 0 a 8% F – 8 a 20% F – 20 a 45% F – 45 a 100% F – >100% G – 0 a 8% G – 8 a 20% G – 20 a 45% G – 45 a 100% G – >100% Lavoura (CA) Bom Bom/Regular Bom/Regular Regular/Restrito Bom/Regular Regular/Restrito Regular/Restrito Restrito Inapto Restrito Inapto Inapto Inapto Restrito Restrito/Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Pastagem e Lavoura (CP) Bom Bom Bom Regular Bom Regular Regular Regular/Restrito Restrito Regular/Restrito Restrito Restrito/Inapto Inapto Regular/Restrito Restrito Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Inapto Silvicultura Bom Bom Bom Bom Bom Bom Bom Regular Regular Regular Regular Regular Restrito Regular Regular Restrito Restrito/Inapto Inapto Restrito Restrito/Inapto Inapto Inapto Inapto UP UP1 UP2 UP2 UP3 UP2 UP3 UP3 UP4 UP5 UP4 UP5 UP6 UP7 UP4 UP6 UP7 UP8 UP9 UP7 UP8 UP9 UP9 UP9 A = LATOSSOLO VERMELHO textura argilosa + LATOSSOLO BRUNO textura argilosa B = LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO textura argilosa + NITOSSOLO VERMELHO textura argilosa + NITOSSOLO BRUNO textura argilosa. C = LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO textura média + ARGISSOLO textura média/argilosa. D = CAMBISSOLO HÁPLICO textura argilosa + CAMBISSOLO HÚMICO textura argilosa. E = ARGISSOLO VERMELHO textura arenosa/média ou média/argilosa, abrúptico + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO textura arenosa/média ou média/argilosa, abrúptico + CAMBISSOLO HÁPLICO textura média + CAMBISSOLO HÚMICO textura média + NEOSSOLO REGOLÍTICO textura argilosa. F = GLEISSOLO MELÂNICO + ORGANOSSOLO HÁPLICO + NEOSSOLO LITÓLICO textura argilosa. G = NEOSSOLO LITÓLICO textura média + NEOSSOLO QUARTZARÊNICO + AFLORAMENTO DE ROCHA + ESPODOSSOLO HUMILÚVICO. CA = Culturas Anuais CP = Culturas Permanentes Fonte: Elaborado por Oromar João Bertol 231 As classes UEM (2011) foram assim definidas: Classe boa - terras com aptidão boa são as que têm solos sem limitações significativas para a produção sustentável para uma determinada utilização, observando as condições de manejo considerado. Classe regular - terras com aptidão regular são as que têm solos com limitações moderadas para a produção sustentável para uma determinada utilização, observando as condições de manejo considerado. As limitações elevam a necessidade de insumos. Classe restrita - terras com aptidão restrita apresentam solos com limitações fortes para a produção sustentável para uma determinada utilização, observando as condições de manejo considerado. Essas limitações aumentam ainda mais a necessidade de insumos. Classe inapta - terras com aptidão inapta apresentam solos com condições que parecem excluir a produção sustentável para uma determinada utilização em questão. As terras consideradas inaptas para lavouras têm suas possibilidades analisadas para usos menos intensivos (pastagem, silvicultura). No entanto, essas terras são, como alternativa, indicadas para a preservação da flora e da fauna, recreação ou algum outro tipo de uso não-agrícola. Trata-se de terras ou paisagens nas quais deve ser estabelecida ou mantida uma cobertura vegetal, não só por razões ecológicas, mas também para a proteção de áreas contíguas agricultáveis. 232 ANEXO 2 - CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE AGRICULTORES/PROPRIEDADES RURAIS DE REFERÊNCIAS Município Comunidade Nome do Agricultor Nome do Técnico Seleção dos Agricultores Critérios Restritivos (S/N) Enquadra-se na categoria social desejada. Apresenta disposição, motivação e interesse. Apresenta credibilidade junto aos demais agricultores (liderança, poder de persuasão, comunicabilidade). Tem condição de exploração estável da propriedade (é proprietário ou possuidor de contrato de arrendamento ou parceria e situação econômico-financeira minimamente estável). Possui relacionamento harmonioso junto à comunidade e seus pares. É receptivo a orientações e às informações de técnicos. Dispõe de vontade e capacidade de execução e organização para fazer os registros necessários. Critérios Orientadores (S/N) Apresenta boa capacidade de comunicação oral, o que poderá facilitar a realização de futuras atividades de difusão de tecnologia. Apto às mudanças e inovações na busca de melhoria na propriedade. É participativo ou tem predisposição para interagir em grupo. Tem residência na propriedade ou na sede do município/comunidade. É responsável pela administração da propriedade. Possui sucessão familiar definida com sucessores(as) já participantes direta ou indiretamente do processo produtivo. Seleção das Propriedades Critérios Restritivos (S/N) Enquadra-se no sistema de produção escolhido, seja pela composição de atividades, seja quanto à infraestrutura e funcionamento. As condições de acesso à propriedade são favoráveis para o acompanhamento do trabalho e para visitas de outros agricultores e técnicos em evento de difusão. Apresenta-se sem grandes problemas relacionados à preservação ambiental. Critérios Orientadores (S/N) Apresenta boa localização no município e na região. Observações: Realizar análise sob o ponto de vista do agricultor e da propriedade; Fatores restritivos são aqueles que, se não atendidos, comprometem a escolha do agricultor/propriedade; Fatores orientadores são aqueles que são desejáveis, mas não definidores na escolha do agricultor/propriedade (podem ser usados para o desempate). 233 234 CAPÍTULO IX SIG - CONSEQUÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL EM PROPRIEDADES RURAIS NO CONTEXTO DE MICROBACIA HIDROGRÁFICA César Roberto Silva Paz 1 Enio Giotto 2 1 2 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Geomática - Tecnologia da Geoinformação, Instituto Emater, Realeza, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Florestal, Doutor em Engenharia Florestal e Professor Titular da UFSM, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil [email protected] 235 236 INTRODUÇÃO O estudo foi aplicado no Território do Sudoeste Paranaense, atualmente uma região de predomínio da “Agricultura Familiar”, que teve sua origem caracterizada por ocupação, cuja legitimação de posse dos imóveis, sem os critérios de ocupação e planejamento de uso do solo, assumiram um formato assimétrico, uma “colcha de retalhos”, o meio ambiente foi pensado apenas como espaço fornecedor de recursos naturais. Os impactos ambientais relacionados à supressão do ecossistema natural, principalmente via substituição da mata nativa pelos sistemas agrícolas, a interferência sobre a abundante malha hídrica e sistemática perda de biodiversidade, acentuados pela introdução de tecnologias aplicadas de forma generalizada desconsiderando aspectos particulares da região, geraram consequências relacionadas à erosão hídrica, assoreamento e contaminação dos cursos de água, aponta Bragagnollo, et al, (1998). Adversidades climáticas vêm causando redução de disponibilidade de água no meio rural, ou intensas precipitações acentuaram o processo erosão do solo, da infraestrutura viária, entre outros, fatos que levam a sociedade a intensificar o debate sobre as obrigações impostas pela legislação para a solução do passivo ambiental através da definitiva implantação de cobertura florestal nas áreas de preservação permanente e reserva legal, questões que têm gerado preocupações e incertezas no meio rural, sobretudo nas propriedades familiares, em função da redução de área e consequente perda de renda. As microbacias que possuem estações de captação e tratamento de água para abastecimento das cidades são prioritárias para a interferência, numa dinâmica adaptativa inerente às sociedades modernas, com base em proposições de políticas ambientais, aperfeiçoamento da legislação e o suporte de recursos tecnológicos de Geoprocessamento associados ao posicionamento global, sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas - SIG. Portanto, o estudo do geoambiente ocorreu em duas vertentes, uma preocupou-se com a microbacia hidrográfica como um todo. Outra com o estabelecimento rural e seu recorte. Assim, o objetivo deste trabalho, é estudar o espaço territorial da microbacia hidrográfica do Rio Sarandi, manancial de abastecimento público, identificar o passivo ambiental de propriedades familiares tí237 picas e medir o impacto socioeconômico resultante da adequação à legislação, com o apoio de ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto. Mais especificamente, estudar as propriedades selecionadas metodologicamente e identificar o impacto ocorrido após solução do passivo ambiental relacionado ao decréscimo da renda operacional agrícola (ROA) sobre a superfície de área útil (SAU). Elaborar uma metodologia, cujo procedimento pode ser adotado em microbacias hidrográficas de características semelhantes e sugerir alternativas ao uso do solo/ambiente que permitam amenizar perdas decorrentes do processo de recuperação ambiental. MATERIAIS E PROCESSO METODOLÓGICO A pesquisa se apoia no estudo do âmbito da microbacia hidrográfica como unidade de planejamento e, simultaneamente, a propriedade rural média considerando o sistema de produção “familiar” predominante. Microbacia de terceira ordem (11.690 ha) previamente selecionada, com nascente no município de Ampére, cortando os municípios de Santa Izabel do Oeste e Realeza (Figura 1). FIGURA 1 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA REGIÃO, OBJETO DE ESTUDO 238 Processamento de imagens da microbacia Rio Sarandi com aplicação de software de geoprocessamento Neste processo um conjunto de materiais e softwares foi usado, de acordo com a conveniência, custo e o produto a ser gerado no SIG. Imagens SPOT 5, identificação 703/401 de 19/03/2005, R1 G2 B3. Também sequências temporais de imagens orbitais dos satélites CBERS com resolução espacial de 20,0 metros do ano 2007 a 2008, obtidas em meses intercalados para conferência de uso do solo. Imagem digital em formato Tif da Carta MI-2849-3 escala 1:50.000 da DSG - 1ª Divisão de Levantamento, georreferenciada e ajustada sobre a imagem Spot formato digital e mapas cartográficos de glebas contendo os lotes rurais - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA na Escala 1:10.000, associados às matrículas e documentos cadastrais dos proprietários rurais selecionados, para identificações dos lotes e divisas. Os levantamentos de campo realizados através de aparelhos emissores e receptores de ondas de radiofrequência - RF, código C/A e portadora de Banda L1 (SPS), e também aparelho somente de código C/A, utilizando sinal GPS. A edição dos objetos de interesse sobre a imagem foi através dos programas ArcMap GIS 9.3; e/ou ArcView GIS 3.3, associados a Banco de Dados adicional. Para definição de determinadas feições a vetorização foi realizada com o apoio da Imagem do satélite QuickBird resolução de 1,00 m, proveniente da Digital Globe. Os suportes para o Banco de Dados foram os softwares CR Campeiro 7, planilhas Excel ou Microsoft Acces. Pesquisa no âmbito da microbacia - avaliações socioambientais, econômicas e antrópicas através de SIG - Análises do geoambiente A Figura 2 desenha o modelo metodológico que inclui estudos socioeconômicos no Sistema de Informações Geográficas de forma a integrar os dados coletados para um melhor proveito com relação a sua aplicabilidade considerando as interações que ocorrem abrangendo aspectos territoriais, do geoambiente e paisagem com ênfase ao uso do solo. 239 FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO MODELO METODOLÓGICO ADOTADO Antes da aplicação de pesquisa individual com residentes, a área do estudo foi delimitada com o apoio das curvas de nível (A), também propiciando o estudo do relevo associado à hidrografia (Figuras 3 A e B). Também ocorreu o reconhecimento de toda sua extensão, com expectativa de pré-diagnosticar a situação do meio geobiofísico e consolidar a escolha de atributos, além de conferir e atualizar a locação de rios e nascentes (B). Pesquisa nas propriedades rurais - avaliações por pesquisa de dados através de cadastro rural multifinalitário Durante o processo foi realizado o levantamento das 382 propriedades dos produtores residentes da área da microbacia, e delimitado o campo de estudo pelo fator “Sistema de Produção” predominante e “área média” das unidades familiares que, ao atender a legislação com adequação ambiental, terão redução de área, e consequente interferência sobre os fatores sociais e econômicos (Tabela 1). 240 A PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR - UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 - Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba - Santa Catarina Meridiano Central:51° W Gr - Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz FIGURA 3A - CURVAS DE NÍVEL (A) DA MICROBACIA RIO SARANDI ATUALIZADAS 241 B PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR - UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 - Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba - Santa Catarina Meridiano Central:51° W Gr - Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz FIGURA 3B - HIDROGRAFIA (B) DA MICROBACIA RIO SARANDI ATUALIZADA 242 Com base nas necessidades de informações para trabalhar um Sistema de Informações Geográficas, criou-se um Cadastro Rural Multifinalitário com a pretensão de tornar-se um Banco de Dados permanente, permitindo o seu uso através de amostragem e/ou senso, atualização temporal, análise estatística e cálculos econômicos básicos. C FIGURA 4 - SISTEMAS DE PRODUÇÃO (C) PREDOMINANTES NA MICROBACIA RIO SARANDI (VER CORRELAÇÃO NA TABELA 1) 243 Tabela 1 - Atividades Econômicas por Município - Sistemas de Produção (C) predominantes Sistemas de Produção Território Microbacia Rio Sarandi Ampére Realeza Santa Izabel Residentes Total % Agroindústria - 2 2 4 1,05 Avicultura 5 2 17 24 6,28 Fruticultura - 1 - 1 0,26 Fumo - - 11 11 2,88 Grãos 24 15 119 158 41,36 Leite 20 24 89 133 34,82 Horticultura 1 1 2 4 1,05 Piscicultura - 2 1 3 0,79 Sericicultura 1 - 9 10 2,62 Serviços 0 3 15 18 4,71 Suinocultura 4 1 3 8 2,09 Reflorestamento 1 - 2 3 0,79 Outros - 4 1 5 1,31 56 55 271 382 100 A escolha das Unidades de Produção e Etapas do procedimento para estudo socioeconômico: ETAPA 01 - Escolha do público prioritário: priorizou-se a aplicação da pesquisa para o estudo das unidades de Agricultura Familiar, residentes na microbacia e enquadradas nos critérios estabelecidos pela tipificação adotada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e utilizada para enquadramento de crédito rural do Programa Nacional da Agricultura Familiar. ETAPA 02 - Parâmetros de amostragem: para aplicação do Cadastro Rural Multifinalitário, não sendo possível sua generalização através de um senso, foi convencionada a seguinte proposição: a) Pesquisa por Sistema de Produção predominante - atividades 244 principais nas propriedades; b) Sorteio por localidade visando melhor distribuição espacial dos produtores entrevistados; c) Iniciar o levantamento por propriedades com áreas médias por atividade da microbacia em estudo. d) Erro amostral inferior a 10% sobre população segregada por sistema de produção. e) Utilização de Banco de Dados e/ou planilhas; f) Avaliação de impacto socioeconômico: Renda Operacional Agropecuária (R$) por Superfície de Área Útil (ha) comparando a situação atual com dados simulados pós-adequação ambiental (Tabela 2): Tabela 2 - Base de cálculo do estudo econômico Avaliação composta pela média das propriedades e por Sistema de Produção Situação Atual - Média ROA SAU R$ HA Pós-Adequação Ambiental Redução ROA com APP SAU % e R$ ROA com RL SAU % e R$ ROA com RL +APP SAU % e R$ Soares (2000), conceituou os parâmetros de avaliação socioeconômica utilizado pelo Projeto “Redes de Referência para a Agricultura Familiar” que foi adaptado para este trabalho: A unidade de área denominada Superfície de Área Útil - SAU compreende as terras trabalhadas ou exploradas por uma empresa rural não importando se próprias, arrendadas, ou sob qualquer condição legal. SAU = Lavouras + Pastagens A Renda da Operação Agrícola - ROA, corresponde à diferença entre a Renda Líquida Global e os juros pagos sobre o capital emprestado. É o recurso que a exploração disponibiliza ao produtor para manutenção da família e investimentos. Não se trata de dinheiro total245 mente disponível, uma vez que compreende também o aumento no estoque de produtos, de animais, além de ter sido apropriada também na forma de autoconsumo. Resume o autor. ROA = RLG – Juros pagos ao capital de terceiros A produção obtida foi informada pelos produtores pesquisados e consideradas as diferentes produtividades de acordo com a realidade, portanto no preço de cada produto vendido foram considerados os valores médios de mercado regional obtidos pelo Departamento de Economia Rural - DERAL da Unidade Regional da Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná - SEAB. ETAPA 3 - Planimetria das Propriedades Rurais selecionadas e seus respectivos usos do solo: a planimetria direta das feições existentes foi obtida através da edição sobre imagens orbitais, identificando as propriedades rurais selecionadas com a geração de cartogramas digitais e analíticos, obtendo-se sua extensão territorial e posicionamento geográfico com a finalidade principal de conferir as informações cadastrais e facilitar o processo de planejamento de adequação ambiental. RESULTADOS E DISCUSSÃO A microbacia como unidade de estudo e planejamento A sequência de iterações temáticas constitui a base para a identificação de incongruências e potencialidades. As classes de declividade (D) associadas às classes de solo (E) descritas pela EMBRAPA (1999), possibilitam a visualização das classes de aptidão agrícola ou paisagem (F), que intersecionados com o mapa de uso do solo (G) poderão endereçar as superfícies conflitantes e/ou de uso adequado, inclusive identificando as propriedades rurais e respectivas responsabilidades. A aplicação de um Sistema de Informações Geográfica gera a possibilidade de incontáveis simulações propositivas de aplicação na utilização do solo, com a possibilidade de visualização nos mapas temáticos construídos neste caso através do software ArcMap GIS 9.3. (Figuras 5 D, E, F e G). 246 D FIGURA 5D - MAPAS DE ITERAÇÕES TEMÁTICAS RESULTANTES DO SIG DA MICROBACIA RIO SARANDI 247 E FIGURA 5E - MAPAS DE ITERAÇÕES TEMÁTICAS RESULTANTES DO SIG DA MICROBACIA RIO SARANDI 248 F FIGURA 5F - MAPAS DE ITERAÇÕES TEMÁTICAS RESULTANTES DO SIG DA MICROBACIA RIO SARANDI 249 G FIGURA 5G - MAPAS DE ITERAÇÕES TEMÁTICAS RESULTANTES DO SIG DA MICROBACIA RIO SARANDI 250 Um Sistema de Planejamento Territorial que, em palavras mais objetivas, é dedicado ao planejamento, permite inspecionar e analisar, por varredura de toda a extensão territorial da base de dados utilizada, localizações e correlações de interesse do usuário, permitindo também o equacionamento de situações ambientais, tais como o levantamento de áreas de riscos e de potenciais conflitos de utilização do território, estimativas de impactos ambientais, criação de cenários prospectivos, definição de unidades e normas de manejo e zoneamentos territoriais para diferentes finalidades como proteção ambiental e planejamento econômico, fornecendo conhecimentos indispensáveis para utilização racional dos recursos ambientais disponíveis. XAVIER DA SILVA (2007) Área de Preservação Permanente - APP O mapa com o buffer de 30m sobre os cursos de água e 50m de raio nas nascentes de acordo com a legislação vigente (SISLEG, IAP, 2007), foi levantado e corrigido, obtendo-se a área de preservação permanente ideal, totalizando 996,51 ha (Figura 6). A mata de galeria nesta área especifica é de 553,51ha, equivalente a 55,60% conforme verificado no estudo de uso do solo em APP. O déficit a implantar nesta microbacia hidrográfica é de 451,81 ha ou 44,40% da área de mata ciliar para cumprir a legislação. Neste cálculo não está descontada a largura média dos rios que é de 6,0m. A delimitação do espaço de Área de Preservação Permanente da microbacia demonstrada no mapa da Figura 6 e seus respectivos usos apresentados na Tabela 3, apontam conflitos de uso distribuídos em todo o curso dos rios, onde são destacados: - Importante influência das áreas urbanas que merece estudo especifico; - A área inadequada de pastagem atinge a 20,09% da APP. - Significativo número de sedes de propriedades em área de APP, totalizando 21,23 ha, muitas com benfeitorias de alto valor. - As lavouras anuais correspondem a 14,81% da APP, constituindose um conflito impactante sobre a água em razão do uso sistemático de agrotóxico nesta região. - A presença de pastagens e animais, fato considerado crítico e talvez o de maior desafio para os gestores ambientais, em razão da importância da pecuária leiteira para a estabilidade socioeconômica da região. 251 PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR – UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 – Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba – Santa Catarina Meridiano Central: 51° W Gr – Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz FIGURA 6 - ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - NASCENTES E RIOS COM BASE NA HIDROGRAFIA ATUALIZADA 252 A mata de galeria nesta área especifica é de 553,51 ha, equivalente a 55,60% conforme verificado no estudo de uso do solo em APP. O déficit a implantar nesta microbacia hidrográfica é de 451,81 ha ou 44,40% da área de mata ciliar para cumprir a legislação. Neste cálculo não está descontada a largura média dos rios que é de 6,0 m. A delimitação do espaço de Área de Preservação Permanente da microbacia demonstrada no mapa acima, e seus respectivos usos apresentados na Tabela 3, apontam conflitos de uso distribuídos em todo o curso dos rios, onde são destacados: - Importante influência das áreas urbanas que merece estudo especifico; - A área inadequada de pastagem atinge a 20,09% da APP. - Significativo número de sedes de propriedades em área de APP, totalizando 21,23 ha, muitas com benfeitorias de alto valor. - As lavouras anuais correspondem a 14,81% da APP, constituindose um conflito impactante sobre a água em razão do uso sistemático de agrotóxico nesta região. - A presença de pastagens e animais, fato considerado crítico e talvez o de maior desafio para os gestores ambientais, em razão da importância da pecuária leiteira para a estabilidade socioeconômica da região. Áreas de Reserva Legal - RL Descontada a área florestada de galeria existente na malha hídrica e aquelas destinadas a Cultivos Florestais como atividade econômica, detectou-se uma área com fragmentos florestais que somam 955,76 ha ou 8,17% da área total da microbacia. Estes em diversos estágios de regeneração. No mapa (Figura 7) é possível visualizar a dificuldade de unir os fragmentos florestais de forma a constituir corredores de biodiversidade. Em determinadas regiões da microbacia é possível a ligação com as matas de galeria, sendo importante massificar este conceito entre os produtores rurais para que, ao planejarem a localização da Reserva Legal, considerem a possibilidade de união de fragmentos. Da área total da Microbacia Rio Sarandi, descontadas a área de APP e de Zona Urbana dos municípios de Realeza e, principalmente, 253 Santa Isabel do Oeste, área seria de 10.211,06 ha. Desta forma seria preciso que atribuir 20% de Reserva Legal que totaliza uma necessidade de 2.042,21 ha. Assim foi identificado o déficit de cobertura florestal em relação à Legislação Ambiental que soma 1.086,45 ha. Tabela 3 - Usos do Solo em Área de Preservação Permanente - APP Legenda Usos do Solo Açude Área (Ha) % 10,82 1,09 4,84 0,49 0,9 0,09 23,23 2,33 0,77 0,08 147,39 14,81 0,83 0,08 Mata Ciliar 553,51 55,60 Pastagem 199,95 20,09 Sede 21,23 2,13 Várzea 17,03 1,71 Zona Urbana - Realeza 0,19 0,02 Zona Urbana - Santa Isabel do Oeste 1,49 14,8 995,49 100,0 Capoeiras Comunidade Rural Cultivos florestais Infraestrutura Lavouras Anuais Lavouras Perenes Quando é acrescentada a área de Cultivos Florestais de 333,07 ha aos 955,76 ha de fragmentos de espécies nativas, totaliza-se uma cobertura florestal permanente de 1.288,83 a. Esta análise está demonstrada com a presença de toda a cobertura florestal existente, e consiste em ricos elementos de análise sobre a relação do homem com o ambiente. O estudo detalhado e atualizado do uso do solo neste momento permite criar uma referência temporal, ou seja, cria a possibilidade de avaliar a evolução da reposição florestal com aceitável precisão. 254 PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR – UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 – Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba – Santa Catarina Meridiano Central: 51° W Gr – Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz FIGURA 7 - VEGETAÇÃO PERMANENTE 255 A propriedade rural como célula de decisão A Tabela 4 apresenta os valores médios resultantes da aplicação da sequência metodológica proposta através da compilação de dados da pesquisa de campo que comparou informações da atual situação das propriedades em estudo, por agrupamento homogêneo, com simulações da solução do passivo ambiental. Considerando o tamanho das propriedades, constata-se significativa diferença. Cultivos de grãos com 22,24ha têm a maior área média, leite 14,23ha, seguido de fumo e sericicultura com 9,18ha caracterizando atividade com intenso emprego de mão de obra. Com relação à Superfície de Área Útil - SAU e sua comparação com a área total, os porcentuais mostram-se semelhantes entre os sistemas de produção estudados. Observando a situação de proteção de águas, evidenciada pelas denominadas Áreas de Preservação Permanente, fica evidente que a atividade leiteira tem a menor cobertura florestal, ou seja, 47%, em função da necessidade de usar a área para pastagem. Os grãos com 59% e sericicultura e fumo abrangem 56% da APP com floresta. As áreas para a formação dos 20% de Reserva Legal são semelhantes nos sistemas grãos, sericicultura e fumo, ficando 37%, enquanto o leite conta com 30% da cobertura com espécies nativas necessárias. Mapas de conflitos e proposição de uso do solo das propriedades selecionadas e respectivas perdas econômicas por sistema de produção A Figura 8 demonstra a análise realizada numa propriedade típica de grãos, através de ferramentas de geoprocessamento, que compara o uso atual e ao mesmo tempo o uso ideal indicado através de simulações para cada classe na unidade produtiva selecionada. Ao mesmo tempo que quantifica os diferentes usos do solo no estabelecimento, possibilita proposições de mudanças de recortes que poderão ser adotadas se conveniente ao proprietário de acordo com o passivo ambiental. A identificação do uso adequado também permite ao proprietário otimizar gastos para a readequação do uso da terra e até mesmo produzir soluções customizadas para aumento de renda e ocupação de mão de obra. 256 Tabela 4 - Avaliação Econômica por Sistema de Produção - Valores Médios GRÃOS % LEITE % SEDA E FUMO % Área Total 22,24 100 14,23 100 9,18 100 SAU Atual 19,17 86 12,35 87 7,92 86 APP Legislação 1,47 100 1,35 100 1,26 100 APP Existente 0,87 59 0,64 47 0,70 56 RL Legislação 4,45 100 2,84 100 1,84 100 RL Existente 1,64 0,86 30 0,67 36 APP Falta 0,60 RL Falta 2,87 37 Ha 0,65 2,08 Ha 103.871,75 0,62 1,16 Capital Próprio 66.062,93 Renda Bruta 39.280,17 Margem Bruta 21.355,68 ROA 19.373,80 29.389,45 15.355,33 SAU - (APP) 18,57 11,70 6,77 SAU - (RL ) 16,30 10,33 6,22 SAU - (APP + RL) 15,70 9,68 5,61 R$ 54.141,37 21.784,94 Diferenças de Áreas Ha Passivo R$ Indicadores econômicos 57.350,00 R$ 27.956,32 16.927,76 Áreas pós adequação No ambiente da microbacia, na medida em que avançam os levantamentos das propriedades, através de um senso que pode ser por comunidade, os recortes irão se encaixando de forma a completar a paisagem. Este modelo retrata com precisão as situações como: Áreas subutilizadas; Atende a Legislação Ambiental; Condição inadequada; e Condição regular. Também é um instrumento de gestão que, ao ser concluído, permite a integração de práticas de manejo de solo e água na microbacia. 257 Legenda APP Uso atual (ha) % Conflitos (ha) % 1,68 7,09 1,68 7,09 0,61 2,57 APP conflito 2,31 % 9,73 Asfalto 0,39 1,62 0,39 1,62 0,39 1,62 Lavoura 18,52 77,98 14,94 62,91 14,94 62,91 Pastagem 1,38 5,82 0,78 3,28 0,83 3,49 Pomar 0,20 0,85 0,20 0,85 0,13 0,55 RL 1,08 4,53 1,08 4,55 3,67 15,45 4,75 20,0 RL sugerida Sede SAL Proposição (ha) 0,50 2,11 0,40 1,68 0,40 1,68 23,75 100 23,75 100 23,75 100 20,10 84,63 15,90 66,95 FIGURA 8 - ESTABELECIMENTO DE NABIR BORTOLOMEDI - SISTEMA GRÃOS 258 Também quantificou as perdas econômicas decorrentes da regularização do passivo ambiental na propriedade, demonstrado na Tabela 5, na qual a Renda Operacional Agrícola por Superfície de Área Útil (ROA/SAU) sofreria uma redução de 3% ao regularizar somente as Áreas de Preservação Permanente, chegando a 20,90% se incluir a reposição florestal nativa para atender os 20% de Reserva Legal. Tabela 5 - Resultados da avaliação econômica - propriedade típica produtora de grãos Simulação Econômica - Valores médios - Sistema de Produção Grãos - Nabir Bortolomedi Situação Atual – Média (R$) ROA SAU R$ HA Grãos 930,35 Pós-Adequação Ambiental (R$) Redução (%) ROA com APP SAU 950,64 3,00 ROA com RL SAU 801,33 18,26 ROA com RL + APP SAU 775,45 20,90 A seguir cabe estabelecer a correlação de caráter econômico entre o caso da propriedade rural e o conjunto das propriedades estudadas. Quando avaliamos as perdas econômicas decorrentes da regularização do passivo ambiental no conjunto das propriedades (Tabela 6) e por sistemas de produção, verificamos que para regularizar somente as Áreas de Preservação Permanente a Renda Operacional Agrícola por Superfície de Área Útil (ROA/SAU), seria reduzida em média, 4% para os produtores de grãos, 14% na atividade leiteira e chegaria a importantes 18% nos fumicultores e sericicultores. Quando ocorre a regularização do passivo ambiental da propriedade, inclusive com a reposição florestal nativa para atender os 20% de Reserva Legal teríamos redução da ROA/SAL de 13% do sistema grãos, 18% para os produtores de leite e chegando a 31% nos sistemas de produção de fumo e sericicultura. 259 Como ressalva, vale salientar que nesta análise pode ser considerada a qualidade do recurso natural que esta sendo explorado, pois uma área degradada ao ser transformada em reserva florestal pode não refletir perda econômica importante. Tabela 6 - Avaliação de redução econômica por simulação pós-solução do passivo ambiental Avaliação composta pela média das propriedades e por Sistema de Produção Situação Atual – Média (R$) Grãos ROA SAU R$ HA Leite S e F* 1.034,66 1.666,24 2.341,51 Pós-Adequação Ambiental (R$) ROA com APP SAU ROA com RL SAU ROA com RL + APP SAU Redução (%) 994,31 4,0 1.555,44 7,0 2.045,54 13,0 891,57 14,0 1.377,31 17,0 1.921,21 18,0 851,21 18,0 1.266,51 24,0 1.625,24 31,0 * Sericicultura e Fumo O modelo demonstrado através das técnicas de geoprocessamento, com as diversas possibilidades de interações de dados, permite chegar ao “endereço dos problemas”, como mostra a Figura 9. Não só na forma de visualização gráfica, mas localiza geograficamente os responsáveis pela tomada de decisão sobre as interferências necessárias no meio ambiente, quantifica-os com precisão satisfatória e em detalhes; permite sua hierarquização, o que cria facilidades para gestores, corpo técnico, órgãos ambientais e de saneamento e, principalmente, para os próprios agricultores familiares e suas instituições representativas no sentido de empreender esforços para solução dos problemas mais críticos, contribuindo para a priorização da aplicação de recursos públicos. Independente das discussões que possam flexibilizar o código florestal brasileiro a proposição do uso do solo (Figura 10), contempla aspectos legais de cobertura florestal nativa para composição das áreas de preservação permanente e situações de aptidão de uso do solo. 260 PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR – UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 – Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba – Santa Catarina Meridiano Central:51° W Gr – Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz Eng. Agr. Ericson Fagundes Marx FIGURA 9 - POSICIONAMENTO DAS PROPRIEDADES E INADEQUAÇÃO DO USO DO SOLO 261 PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR – UTM Datum Horizontal: South American Datum 1969 – Minas Gerais Datum Vertical:Imbituba – Santa Catarina Meridiano Central:51° W Gr – Fuso 22 S Elaborado por: Eng. Agr. César Roberto Silva Paz Eng. Agr. Ericson Fagundes Marx FIGURA 10 - PROPOSIÇÃO DE ADEQUAÇÃO AMBIENTAL 262 Tais proposições de uso terão que estar relacionados não somente aos aspectos tecnológicos, mas também econômicos, portanto, é importante na gestão de bacias hidrográficas que a integração de praticas contemple recursos de diversas fontes sob a orientação de equipes multidisciplinares, e que os residentes tenham participação efetiva neste processo de mudança de atitude com relação ao meio ambiente. A orientação de converter lavouras anuais em florestas nativas está relacionada à localização em áreas de APP, nestes casos a situação é objetiva e a adoção torna-se inquestionável. Assim como indicações relativas às várzeas que, no decorrer do processo de ocupação, foram consideradas como entraves para o uso econômico do solo, mas que constituem importantes áreas de retenção e reserva de água, contribuindo para biodiversidade. Segundo Assad et al. (1998), para modificar um cenário de degradação ambiental é preciso que seja implantado um programa racional de utilização e manejo dos recursos naturais, principalmente do solo e da água, com participação direta das comunidades rurais. O desafio é a produção de materiais que possam representar o estudo de forma didática, com facilidade de manipulação e entendimento. CONCLUSÕES Foi possível o encaixe de uma avaliação socioeconômica no Sistema de Informações Geográficas. Foi constatado coerência em pontos percentuais, entre a cobertura florestal existente em Área de Preservação Permanente levantadas com ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, quando comparadas à média existente nas unidades de produção familiar pesquisadas. A formação de matas de galerias para a definitiva proteção das Áreas de Preservação Permanente mostrou-se possível para o sistema de produção grãos, pois o impacto econômico seria uma redução de 4% da Renda Operacional Agrícola em relação à Superfície de Área Útil, índice que pode ser facilmente suplantado com ajustes na gestão e processos tecnológicos. Para atividade leite seria um decréscimo médio de 7%, ainda razoável, enquanto sericicultura e fumo de 13%, requer maiores esforços e estudos. O pleno atendimento da legislação e solução do passivo ambiental das propriedades, considerando separadamente a Reserva Legal e a 263 Área de Preservação Permanente, resulta numa redução da Renda Operacional Agrícola de 18% na atividade grãos, 24% no leite e chegando a 31% do fumo e sericicultura. Portanto um desafio a ser assumido. O estudo, ao endereçar geograficamente incongruências e potencialidades, bem como os produtores rurais residentes, identifica responsável, personaliza situações e cria facilitadores para elaboração de projetos individuais e comunitários. REFERÊNCIAS ASSAD, E.D. e SANO, E.E. Sistemas de informações geográficas: aplicações na agricultura. 2. ed. EMBRAPA-SPI/EMBRAPA-CPAC, 1998. 434 p. BACHA, C.J.C. Eficácia da política de reserva legal no Brasil. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 42., 2004. Anais... Cuiabá, 2004. 1 CD-ROM BRAGAGNOLO, N.; PAN, V. e THOMAS, J.C. Solo: uma experiência em manejo e conservação - Curitiba: Ed. do Autor, 1997. 102 p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412 p. PARANÁ. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. SEMA/IAP/DIDEF. Coletânea SERFLOR. Curitiba: SEMA/IAP, 1996. 67 p. SOARES JÚNIOR, D. e SALDANHA, A.N.K. Indicadores econômicos propostos para a análise dos sistemas de produção e propriedades agropecuárias trabalhadas nas Redes de Referências para a Agricultura Familiar. In: SEMINÁRIO SULBRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL, 2000, Itajaí. Anais... Itajaí: Associação Brasileira de Administração Rural, 2000. XAVIER DA SILVA, J. Geoprocessamento em estudos ambientais: uma perspectiva sistêmica. MEIRELLES, M.S.P.; CAMARA G.; ALMEIDA M. Geomática: modelos e aplicações ambientais. Brasília, DF: EMBRAPA Informação tecnológica, 2007. cap. 1, p. 21 -53. 264 CAPÍTULO X APTIDÃO E POTENCIAL DE USO DOS SOLOS DO ESTADO DO PARANÁ Luiz Marcos Feitosa dos Santos 1 Milton Satoshi Matsushita 2 Itamar Antonio Bognola 3 1 2 3 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola, Área de Concentração Irrigação e Drenagem, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Florestal, Área de Concentração em Solos Florestais e Silvicultura de Precisão, Embrapa, Curitiba, Paraná, Brasil [email protected] 265 266 INTRODUÇÃO A publicação “Aptidão Agrícola das Terras do Paraná” (BRASIL, Ministério da Agricultura, 1981), se apresenta como um instrumento para orientar o planejamento agrícola em escala regional. Para ser utilizada em escala maior, recomendam-se ajustes visando alcançar detalhes correspondentes ao nível de planejamento desejado partindo-se de análises dos atributos do solo e de variáveis socioeconômicas e ambientais (RAMALHO FILHO e BEEK, 1995). Para tanto, a equipe técnica deve possuir amplo conhecimento regional e local dispondo, ainda, de informações de solo, clima, vegetação e sistemas de manejo e uso do solo a serem adotados. Na publicação citada a aptidão agrícola das terras recebe a classificação de boa, regular, restrita e inapta, razão do grau da intensidade dos seguintes fatores limitantes ao uso do solo: deficiência de fertilidade, deficiência de água, excesso de água, causando deficiência de aeração, suscetibilidade à erosão e impedimento à mecanização, fatores estes classificados por grau de limitação em nulo, ligeiro, moderado, forte e muito forte. Dependendo do grau da limitação de um ou mais fator limitante sua superação poderá requerer intensidade diferente de recursos, conhecimento e domínio de práticas agrícolas, seja para sua superação parcial ou total. Se o grau da limitação é muito forte para um determinado tipo de uso e manejo sua superação pode ser inviável o que torna o solo inapto para o tipo de exploração e de manejo pretendido. Significa dizer que toda gleba de terra apresenta um potencial de uso inerente aos seus atributos e tipo de uso e manejo a ser submetido. Quando esse potencial é superado pelo uso mais intensivo que o suportado ou adverso à sua aptidão, as glebas passam a apresentar sinais característicos de degradação, refletidos por deficiência nutricional das culturas, erosão acelerada do solo, menor resistência a eventos climáticos extremos, entre outros. A despeito do que se tem publicado, em função de novas tecnologias e sistemas alternativos de produção é possível e necessário ajustes na classificação da aptidão agrícola das terras no Paraná. Entre os conhecimentos atuais que os justificam podem ser citadas as ino267 vações relacionadas ao sistema plantio direto, aos sistemas integrados de produção lavoura-pecuária-floresta e às inovações advindas da agroecologia. Ideal seria uma nova classificação. Até que isto venha ser possível, mantém-se a classificação da aptidão conforme já conceituada como aptidão boa, regular, restrita ou inapta (RAMALHO FILHO e BEEK, 1995) acrescentando-se, como incremento ao conceito auferido, um indicativo da potencialidade agrícola do solo em função da resposta possível de ser obtida com a aplicação de tecnologias e sistemas de produção inovadores. Sendo a potencialidade indicada por quatro níveis: potencial alto, moderado, baixo e restrito. Exemplificado: um solo que nas condições naturais venha ser classificado como inapto, com os avanços tecnológicos poderá ganhar potencial de produção mesmo que de forma restrita, assim ficando com a classificação de naturalmente inapto com potencial restrito visto ser submetido à nova condição de uso e manejo. Ficando ainda em aberto novo incremento de potencial razão do aporte de novos conhecimentos cabíveis em dada condição local. O presente trabalho visa apoiar os profissionais na classificação da aptidão e potencial de uso agrícola dos solos no Paraná, na perspectiva de planejamento de sistemas sustentáveis de produção, tendo a bacia hidrográfica como unidade de planejamento. Está pautado em dois aspectos da ciência do solo: o primeiro, trata da classificação dos solos com seus atributos utilitários e sua distribuição, enquanto o segundo, trata da aptidão em condições naturais e do potencial de resposta quando minimizadas suas limitações por intervenções, uso e manejo adequadamente apropriados. Este trabalho expõe uma abordagem simples sobre o tema de aptidão agrícola das terras do estado do Paraná, tanto do ponto de vista tradicional quanto no que tange a uma potencialidade melhorada, por assim dizer. Não tem a pretensão de ser definitivo e exaustivo quanto ao seu conteúdo e nem de ser um “pacote tecnológico fechado”. Pelo contrário, procura-se trazer para o conhecimento de todos, alguns aspectos inovadores do ponto de vista do desenvolvimento agrícola e conservação ambiental no estado do Paraná. 268 1 Solos no estado do Paraná No estado do Paraná ocorrem 10 ordens de solos, descritas a seguir, dentre as 13 definidas no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos - SiBCS (BHERING e SANTOS, 2008), mais a unidade de mapeamento de Afloramentos de Rocha. No nível de grandes grupos, 37 classes estão representadas por 224 unidades de mapeamento, descritas no Anexo 1. 1.1 Argissolos São solos constituídos por material mineral, que têm como características diferenciais a presença de horizonte B textural (gradiente textural de B/A > 1,5) de argila de atividade baixa ou alta, conjugada com saturação por bases baixa ou caráter alítico. O horizonte B textural (Bt) encontra-se imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o hístico, sem apresentar, contudo, os requisitos estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos Luvissolos, Planossolos, Plintossolos ou Gleissolos. 1.2 Cambissolos São solos constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial, desde que em qualquer dos casos não satisfaçam os requisitos para serem enquadrados nas classes dos Vertissolos, Chernossolos, Plintossolos e Organossolos. Têm sequência de horizontes A ou hístico, Bi, C, com ou sem R. 1.3 Chernossolos São solos constituídos por material mineral que tem como características diferenciais: alta saturação por bases e horizonte A chernozêmico sobrejacente a horizonte B textural ou B incipiente com argila de atividade alta, ou sobre horizonte C carbonático ou horizonte cálcico, ou ainda sobre a rocha, quando o horizonte A apresentar concentração de carbonato de cálcio. O horizonte A chernozêmico pode ser menos espesso (com 10 cm de espessura ou mais) quando seguido de horizonte B com caráter ebânico. 269 1.4 Espodossolos São solos constituídos por material mineral com horizonte B espódico subjacente a horizonte eluvial E (álbico ou não), ou subjacente a horizonte A, que pode ser de qualquer tipo, ou ainda, subjacente a horizonte hístico com espessura insuficiente para definir a classe dos Organossolos. Apresentam, usualmente, sequência de horizontes A, E, B espódico, C, com nítida diferenciação de horizontes. 1.5 Gleissolos São solos hidromórficos, constituídos por material mineral, que apresentam horizonte glei dentro de 150 cm da superfície do solo, imediatamente abaixo de horizontes A ou E (com ou sem gleização), ou de horizonte hístico com espessura insuficiente para definir a classe dos Organossolos. Não apresentam textura exclusivamente areia ou areia franca em todos os horizontes dentro dos primeiros 150 cm da superfície do solo ou até um contato lítico. Também não apresentam horizonte vértico ou horizonte B textural com mudança textural abrupta acima ou coincidente com horizonte glei ou qualquer outro tipo de horizonte B diagnóstico acima do horizonte glei. Horizonte plíntico, se presente, deve estar a profundidade superior a 200 cm da superfície do solo. 1.6 Latossolos Os Latossolos são solos constituídos por material mineral, com horizonte B latossólico imediatamente abaixo de qualquer um dos tipos de horizonte superficial, exceto o horizonte hístico. São solos em avançado estágio de intemperização, muito evoluídos, como resultado de enérgicas transformações do material constitutivo. São virtualmente desprovidos de minerais primários ou secundários menos resistentes ao intemperismo, e têm capacidade de troca de cátions da fração argila inferior a 17 cmolc kg-1 de argila sem correção para carbono. 1.7 Luvissolos O Luvissolo é encontrado somente como unidade secundária em uma associação no levantamento de solos de 1981 (LARACH et al., 1984). O Podzólico Bruno Acinzentado Eutrófico é atualmente denominado como Luvissolo Háplico Órtico planossólico. Os Luvissolos com270 preendem solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural, argila de atividade alta e saturação por bases elevada, imediatamente abaixo do horizonte A ou horizonte E. Apresentam diversos horizontes superficiais, exceto A chernozêmico e horizonte hístico. 1.8 Neossolos São solos constituídos por material mineral, não hidromórficos, ou por material orgânico pouco espesso, que não apresentam alterações expressivas em relação ao material originário devido à baixa intensidade de atuação dos processos pedogenéticos. São solos pouco desenvolvidos pedogeneticamente, ou seja, não apresentam horizonte B diagnóstico. Eles podem ser rasos (espessuras ≤ 50 cm): Neossolos Litólicos; pouco profundos (espessuras entre 50 e 100 cm): Neossolos Regolíticos; profundos (espessuras entre 100 e 200 cm) a muito profundos (≥ 200 cm): Neossolos Flúvicos e ou Neossolos Quartzarênicos. 1.9 Nitossolos São solos constituídos por material mineral, com horizonte B nítico, textura argilosa ou muito argilosa (teores de argila maiores que 350 g kg-1 de solo a partir do horizonte A), estrutura em blocos subangulares ou angulares, ou prismática, de grau moderado ou forte, com cerosidade expressiva (na classe dos Nitossolos Vermelhos) nas superfícies dos agregados e gradiente textural menor que 1,5. 1.10 Organossolos São solos pouco evoluídos, com preponderância de características devidas ao material orgânico. Normalmente de cores preta, cinzenta muito escura ou brunada, resultantes de acumulação de restos vegetais, em graus variáveis de decomposição, em condições de drenagem restrita (ambientes mal ou muito mal drenados), ou em ambientes úmidos e frios de altitudes elevadas, saturadas com água por apenas poucos dias durante o período chuvoso. 1.11 Afloramentos de Rocha Os Afloramentos de Rocha estão representados pela exposição de arenitos e/ou por associações com Neossolo Litólico Hístico típico e 271 Cambissolo Húmico Distrófico léptico, ambos de textura argilosa, substrato granitos e quartzitos. 2 Agrupamento das classes de solos por atributos mais marcantes Neste trabalho, reconhecendo a pouca praticidade de se apresentar restrições, potencialidades, e sugestões/recomendações para cada uma das 33 classes de solos e suas unidades mapeadas, os solos do estado foram agrupados pelos atributos diagnósticos/utilitários mais marcantes em 12 grupos, sendo desconsideradas nos agrupamentos as características com relação à presença de cascalho, pedregosidade e relevo. Entretanto, pela extrema importância para o manejo adequado das unidades foram feitas considerações sobre essas características que, reconhecidamente, interferem na classificação da aptidão e/ ou potencial agrícola. Todavia recomenda-se expressamente que estas características sejam avaliadas nas condições locais e, se necessário, apresentadas em escala de maior detalhe. Decorrente da similaridade de aptidão e potencial agropecuário os 12 grupos estão representados por quatro conjuntos, os quais são descritos a seguir com os seus respectivos agrupamentos. 2.1 Conjunto de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Refere-se a terras com solos cujos fatores limitantes são possíveis de serem superados com práticas simples e predominantemente de baixa necessidade de inversão de capital. Os solos desse agrupamento apresentam alto potencial agropecuário quando adequadamente explorados sob os três sistemas descritos nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 (Sistema Plantio Direto - SPD; Sistemas Integrados de Produção Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistemas Integrados de Produção com Base Agroecológica - SIPBA). Fazem parte desse conjunto os seguintes grupos: Grupo 1 - Latossolos de textura média. Grupo 2 - Latossolos de textura argilosa e muito argilosa. Grupo 3 - Nitossolos. Grupo 4 - Argissolos com ausência de caráter abrúptico. 272 2.2 Conjunto de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Refere-se a terras com solos que apresentam limitações que requerem intensivas práticas e maiores investimentos de recursos para superá-las visando produção sustentável, assim representando moderado potencial agropecuário. Fazem parte desse conjunto os seguintes grupos: Grupo 5 - Argissolos com caráter abrúptico e Luvissolos Grupo 6 - Cambissolos com ausência de caráter alumínico e/ou léptico e Chernossolos. Grupo 7 - Cambissolos com caráter alumínico. 2.3 Conjunto de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Refere-se a terras com solos que possuem limitações severas, exigindo, para se tornarem produtivos e sustentáveis, práticas muito intensivas e investimentos de recursos muitas vezes fora das possibilidades da maioria dos agricultores, portanto de baixo potencial agropecuário. Este conjunto constitui-se de apenas um grupo. Grupo 8 - Neossolos Regolíticos, Neossolos Quartzarênicos e Cambissolos com caráter léptico. 2.4 Conjunto de solos Inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Refere-se a terras com solos que não apresentam possibilidades de superação de suas limitações sem descaracterizá-los de forma irreversível, ainda assim com elevados custos ambientais e financeiros, portanto de restrito potencial agropecuário. Fazem parte desse conjunto os seguintes grupos: Grupo 9 - Neossolos Litólicos, Cambissolos Flúvicos e Cambissolos em relevo montanhoso. Grupo 10 - Neossolos Flúvicos, Gleissolos Háplicos ou Melânicos e Organossolos. Grupo 11 - Gleissolos Sálicos (incluindo os tiomórficos) e todos os Espodossolos. Grupo 12 - Afloramentos de Rocha. Este agrupamento, apesar de 273 não ser uma classe de solo, é espacializado e delimitado no mapa de solos do estado do Paraná, o que justifica fazer considerações sobre o mesmo. 3 Limitações/restrições, potencialidades e recomendações por grupo de solos Apresentam-se a seguir, por grupos de solos, as principais limitações/restrições, potencialidades e recomendações. Ressalta-se que a escala deste trabalho não permite a aplicação direta e exclusiva dessas informações em planejamento agrícola em escala de microbacia ou propriedade rural. É importante que o usuário identifique as associações de classes de solos (descritas no Anexo 1) em uma determinada microbacia hidrográfica, a fim de desmembrá-las em cada um de seus solos constituintes para melhor compreensão dos fenômenos que ali ocorrem e para indicar melhor uso, manejo e conservação em cada gleba delimitada na referida microbacia hidrográfica. Como visto, os solos do estado do Paraná estão agrupados em quatro conjuntos com similaridade de aptidão e potencial agropecuário, sendo: os solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário representando 57,16% do total do estado, conjunto de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário com 16,76% do estado, conjunto de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário com 14,68% e conjunto de solos Inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário com 11,40% do total do estado. Tabela 1 - Distribuição dos conjuntos de aptidão e potencial agropecuário (área e %) Conjuntos de Aptidão Área (ha) (%) Solos de Boa Aptidão 11.089.180 57,16 Solos de Regular Aptidão 3.251.649 16,76 Solos de Restrita Aptidão 2.847.418 14,68 Solos Inaptos 2.212.217 11,40 Total de Solos 19.400.464 100,00 274 3.1 Conjunto de solos com boa aptidão agrícola/alto potencial agropecuário Os solos com boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário estão presentes nas 22 regiões administrativas do Instituto Emater, com distribuição apresentada na Tabela 2. Tabela 2 - Distribuição do conjunto de solos com boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário (área e %) Região Área (ha) Apucarana Campo Mourão Cascavel Cianorte Cornélio Procópio Curitiba Dois Vizinhos Francisco Beltrão Guarapuava Irati Ivaiporã Laranjeiras do Sul Londrina Maringá Paranaguá Paranavaí Pato Branco Ponta Grossa Santo Antonio da Platina Toledo Umuarama União da Vitória 218.931 837.055 917.645 361.662 483.860 580.140 102.683 322.396 655.549 213.303 547.176 291.386 591.316 591.914 53.474 863.109 410.603 1.089.135 326.404 731.990 682.935 216.513 1,97 7,55 8,28 3,26 4,36 5,23 0,93 2,91 5,91 1,92 4,93 2,63 5,33 5,34 0,48 7,78 3,70 9,82 2,94 6,60 6,16 1,95 11.089.180 100,00 Total de Solos Boa Aptidão % do estado % da região 69,30 72,47 75,11 82,64 67,40 36,10 54,60 56,61 47,22 35,25 49,65 46,40 85,82 90,40 10,15 86,75 45,54 45,19 41,09 90,92 69,56 30,67 3.1.1 Grupo 1 - Latossolos de textura média Potencialidades: Caracterizam-se por serem solos profundos bem drenados sem impedimento ao desenvolvimento da agropecuária visto que suas limitações são removíveis com as tecnologias disponíveis. Racionalmente manejados são de alto potencial agropecuário e florestal. 275 Limitações/restrições: Apesar de serem solos muito bons para a agropecuária em geral, os solos deste grupo apresentam baixa fertilidade natural e podem rapidamente se esgotarem nos primeiros anos de uso caso não ocorra a reposição dos nutrientes via adubações e correção da acidez quando necessária. Apresentam suscetibilidade à erosão de moderada a forte que pode se agravar, mesmo no relevo suave ondulado, se mal manejados (exemplo: plantios morro abaixo, plantios com preparos de solos convencionais). Devido à baixa capacidade de retenção de umidade (principalmente nos Latossolos com teores de argila entre 15 e 20%) podem ainda apresentar deficiência de água nas regiões com ocorrência de estiagens ou pequenos veranicos. Proposições/recomendações: Para os solos desse agrupamento recomenda-se o uso e manejo sob sistemas tecnificados contemplando: correção da deficiência de fertilidade e da acidez quando necessária, incorporação de carbono ao solo e fixação biológica de nitrogênio e adoção da irrigação para os cultivos mais exigentes em água. Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento são indistintamente indicados o Sistema de Plantio Direto (SPD), integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e os Sistemas Integrados de Produção com Base Agroecológica (SIPBA). 3.1.2 Grupo 2 - Latossolos de textura argilosa e muito argilosa Potencialidades: Os solos deste agrupamento, quando bem e racionalmente manejados e/ou, com melhoria das limitações naturais, apresentam alto potencial agropecuário e florestal uma vez que são profundos bem drenados sem impedimentos à mecanização. Apresentam, ainda, boa capacidade de retenção de água e razoável tolerância à perda de solo por erosão. Limitações/restrições: Neste grupo são encontrados desde solos de alta fertilidade até solos quimicamente deficientes em nutrientes essenciais para as plantas, podendo, inclusive, ocorrer alta deficiência de fósforo. A suscetibilidade à erosão, de ligeira à moderada, pode se agravar, mesmo em relevo suave ondulado, pela formação de compactação do solo, quando mal manejados, favorecendo o escorrimento 276 superficial das águas pluviais. Proposições/recomendações: Para os solos desse agrupamento recomenda-se o uso e manejo com sistemas tecnificados contemplando: correção da deficiência de fertilidade e da acidez quando necessária; rotação de cultura com espécies indicadas para prevenir ou mitigar a compactação, incorporação de carbono ao solo e fixação biológica de nitrogênio e, dependendo dos cultivos exigentes em água, a adoção da irrigação. Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento são indicados, o SPD integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de ILPF e os SIPBA. 3.1.3 Grupo 3 - Nitossolos Limitações/restrições: Neste grupo são encontrados desde solos de alta fertilidade natural, com ligeira deficiência de fósforo até solos quimicamente pobres e com caráter alítico (teores de alumínio trocável ≥ 4 cmolc dm-3 solo e saturação de alumínio ≥ 50% associado com atividade da fração argila ≥ 20 cmolc dm-3 argila). Em função do tipo de relevo em que ocorrem, possuem suscetibilidade à erosão, de moderada a forte e com leve impedimento à drenagem. Se mal manejado a suscetibilidade pode se agravar pela formação de compactação do solo. Nas áreas com classe de declive forte ondulado há limitações para agricultura motomecanizada, razão da grande dificuldade de controle da erosão e redução significativa no rendimento das máquinas. Potencialidades: São solos de alto potencial para a agricultura em geral nas áreas com classe de declive suave ondulado e ondulado. A principal limitação refere-se à suscetibilidade à erosão, principalmente quando intensivamente mecanizados, podendo esta ser controlada eficazmente com o emprego de práticas conservacionistas intensivas. Se bem manejados podem apresentar altas produções de forma sustentada. As áreas com relevo forte ondulado podem ser melhor aproveitadas com pastagens, fruticultura e florestas plantadas. Proposições/recomendações: Para os solos desse agrupamento recomenda-se o uso e manejo com sistemas tecnificados contemplando: correção da deficiência de fertilidade e da acidez quando necessária; rotação de cultura com espécies indicadas para prevenir a forma277 ção de camada adensada, fixação biológica de nitrogênio e adoção da irrigação para os cultivos exigentes em água. Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento são indicados: o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavourapecuária-floresta. Nas áreas com classe de declive acima de forte ondulado e até 45°, tendo em vista as restrições, seria conveniente que a fauna fosse protegida e a flora melhorada, tanto pelo enriquecimento, quanto pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico, as quais devem ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. 3.1.4 Grupo 4 - Argissolos com ausência de caráter abrúptico Limitações/restrições: Neste grupo são encontrados solos profundos, em geral de textura arenosa ou média superficialmente e média ou argilosa subsuperficialmente, com moderado impedimento à drenagem devido ao horizonte B textural. São, na grande maioria, de baixa fertilidade natural. No entanto podem ser encontrados tanto solos com caráter alítico como solos de melhor fertilidade. A maioria dos solos com o horizonte B textural é fortemente susceptível à erosão, com moderado impedimento à drenagem vertical. Potencialidades: São solos, no geral, de alto potencial agropecuário, entretanto exigem intensivo uso de capital e manejo cuidadoso para evitar o processo de erosão acelerada. Proposições/recomendações: Devido ao horizonte B textural (gradiente textural de B/A > 1,5), deve-se ter especial cuidado no controle à erosão e dar prioridade, sempre que possível, aos cultivos perenes em sistema agroflorestal. Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento, nos declives de até 25%, são indicados sistemas altamente tecnificados, tais como: ILPF, SPD integrado com intensivas práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, adubações para elevar sua fertilidade e correção da acidez se necessário. Nas áreas com classe de declive entre 22º a 45°, tendo em vista as restrições, seria conveniente que a fauna fosse protegida e a flora melhorada, tanto pelo enriquecimento, quanto pelo adensamento com espécies nativas de valor eco278 nômico, as quais devem ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. 3.2 Conjunto de solos com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Os solos com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário estão presentes em 19 regiões administrativas do Instituto Emater, com distribuição apresentada na Tabela 3. Tabela 3 - Distribuição do conjunto de solos com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário (área e %) Região Campo Mourão Cascavel Cianorte Cornélio Procópio Curitiba Guarapuava Irati Ivaiporã Laranjeiras do Sul Londrina Maringá Paranaguá Paranavaí Pato Branco Ponta Grossa Santo Antonio da Platina Toledo Umuarama União da Vitória Total de Solos Regular Aptidão Área (ha) % do estado 64.239 398 71.677 18.860 605.715 211.528 276.725 132.136 11.909 3.087 14.180 215.539 69.405 99.843 681.392 305.113 6.796 229.363 233.744 1,98 0,01 2,20 0,58 18,63 6,51 8,51 4,06 0,37 0,09 0,44 6,63 2,13 3,07 20,96 9,38 0,21 7,05 7,19 3.251.649 100,00 % da região 5,56 0,03 16,38 2,63 37,70 15,24 45,73 11,99 1,90 0,45 2,17 40,93 6,98 11,07 28,27 38,41 0,84 23,36 33,11 3.2.1 Grupo 5 - Argissolos com caráter abrúptico e Luvissolos Limitações/restrições: Neste grupo são encontrados solos desde baixa até alta fertilidade. Em geral de textura arenosa ou média superficialmente e média ou argilosa subsuperficialmente, porém, o cará279 ter abrúptico do horizonte B textural torna o impedimento à drenagem mais severo que nos outros Argissolos. O Caráter abrúptico se caracteriza quando a textura do horizonte B em relação ao horizonte A varia mais de 1,5 vez numa distância vertical, na faixa de transição entre o horizonte A e B, inferior a 7,5 cm. Desta forma, são agravados os problemas em relação à erosão e ao manejo de água. Todos os solos deste grupo são fortemente suscetíveis à erosão, com grande impedimento à drenagem vertical e desenvolvimento radicular devido ao horizonte B textural abrúptico. A compacidade do horizonte A, em alguns casos também se torna um empecilho ao seu melhor aproveitamento agrícola. Potencialidades: São solos de aptidão regular para culturas anuais, entretanto, com intensivo uso de capital e manejo cuidadoso apresentam moderado potencial para pastagens, culturas permanentes tais como frutíferas perenes e florestas plantadas. Proposições/recomendações: recomenda-se que seja priorizado para exploração com culturas perenes em sistema agroflorestal, devido ao horizonte B textural agravado pelo caráter abrúptico. Visando superar suas limitações, mesmo que parcialmente, propõe-se que o uso desses solos deva ser com sistemas altamente tecnificados, tais como: ILPF com pastagem perene, adubações para elevar sua fertilidade. Nas unidades que possam suportar o cultivo de lavouras (áreas com declives inferiores a 20%) estas devem ser sob Sistema Plantio Direto ou cultivo mínimo sempre com a incorporação de matéria orgânica para melhorar as condições físicas do horizonte A. Todavia quando ocorrem em declive acentuado combinado com pendentes curtas, o risco de degradação pela erosão é muito grande, o que torna obrigatório o uso de práticas intensivas de controle da erosão. 3.2.2 Grupo 6 - Cambissolos com ou sem caráter Alumínico em relevo inferior a forte ondulado e Chernossolos Limitações/restrições: São vários os fatores que concorrem para a moderada utilização agrícola dos solos deste grupo, mas o mais importante refere-se à profundidade do solo. São muito susceptíveis à erosão e a possibilidade de mecanização fica bastante limitada, devido à ocorrência de áreas em relevo forte ondulado. 280 Os Cambissolos são solos pouco desenvolvidos, evidenciado pela presença de mais de 4% de minerais primários facilmente intemperizáveis. Normalmente são associados a áreas de declives acentuados, no entanto, podem ocorrer também em áreas de relevos suave ondulados de pendentes curtas. Os Chernossolos são identificados pelo Horizonte A Chernozêmico, que é uma camada superficial escura, de consistência macia, rica em matéria orgânica e altos teores de nutrientes que lhes conferem alta fertilidade natural. No entanto, o risco de erosão é grande onde o relevo é mais movimentado. Embora possam apresentar um horizonte B textural (característica de Argissolo e Luvissolo) ou incipiente (Cambissolo), normalmente não são profundos. Potencialidades: Os solos deste grupo geralmente são de moderado potencial para explorações agrícolas. No entanto, os solos com profundidades efetivas inferiores a 50 cm, devem ser utilizados com certa reserva quando sob uso intensivo, sendo imprescindível o uso de práticas conservacionistas intensivas. Proposições/recomendações: Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento para as classes de declive inferiores a 20% são indicados sistemas tecnificados com integração pecuária e floresta com pastagem perene, o SPD integrado com intensivas práticas de controle à erosão e do escorrimento superficial das águas pluviais, associadas a adubações para elevar sua fertilidade e correção da acidez do solo. Para as classes de 20 a 45% recomenda-se o uso sob o sistema integrado pecuária-floresta bem como fruticultura em agrofloresta, ambos tecnificados e sem revolvimento do solo e com cobertura permanente. 3.2.3 Grupo 7 - Cambissolos com ou sem caráter Alumínico em relevo forte ondulado a montanhoso Limitações/restrições: Os solos deste grupo apresentam forte limitação com relação à sua fertilidade natural, destaca-se a elevada acidez por alumínio trocável (caráter alumínico), responsável pela inibição do desenvolvimento radicular da maioria das culturas. Além disso, são muito suscetíveis à erosão e a possibilidade de mecanização fica bastante limitada, devido à ocorrência de áreas em relevo forte ondulado. Potencialidades: Os solos deste grupo geralmente se prestam para silvicultura, sendo imprescindível a aplicação de insumos e o uso de 281 práticas conservacionistas intensivas. Estes solos não se prestam para uma agricultura rotineira, visto que os teores de alumínio trocável são bastante elevados tanto no horizonte A como no (B). Mesmo num sistema de manejo desenvolvido, onde técnica e capital são empregados em larga escala, sua aptidão é inapta para lavoura. Proposições/recomendações: Recomenda-se o uso sob o ILPF, bem como, o uso de fruticultura em agrofloresta, ambos tecnificados e sem revolvimento do solo e com o uso de cobertura permanente. 3.3 Conjunto de solos com restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Os solos com restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário estão presentes em 18 regiões administrativas do Instituto Emater, com distribuição apresentada na Tabela 4. Tabela 4 - Distribuição do conjunto de solos com restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário (área e %) Região Apucarana Campo Mourão Cascavel Cianorte Cornélio Procópio Curitiba Dois Vizinhos Francisco Beltrão Guarapuava Irati Ivaiporã Laranjeiras do Sul Londrina Maringá Pato Branco Ponta Grossa Santo Antonio da Platina União da Vitória Total de Solos Restrita Aptidão Área (ha) % do estado 96.992 146.415 105.075 191 207.012 263.771 45.060 160.559 321.649 68.621 306.485 278.465 67.731 46.786 115.085 427.873 159.890 29.760 3,41 5,14 3,69 0,01 7,27 9,26 1,58 5,64 11,30 2,41 10,76 9,78 2,38 1,64 4,04 15,03 5,62 1,05 2.847.418 100,00 282 % da região 30,70 12,68 8,60 0,04 28,84 16,42 23,96 28,19 23,17 11,34 27,81 44,34 9,83 7,15 12,76 17,75 20,13 4,22 3.3.1 Grupo 8 - Neossolos Regolíticos, Neossolo Quartzarênico e Cambissolos com caráter léptico1 Limitações/restrições: Os solos deste grupo em geral são de pouca profundidade podendo ocorrer presença de pedras próximas à superfície. A fertilidade natural varia desde baixa até alta. A mecanização e, de certa forma, o controle da erosão, tornam-se difíceis e dispendiosos principalmente nos declives elevados. Em regiões com ocorrência de veranicos podem apresentar severa deficiência de água. O Neossolo Quartzarênico, sem representatividade no nível de escala adotado por ser apenas inclusão nos solos do agrupamento, ocorre em relevo plano ou suave ondulado, com textura arenosa ao longo do perfil. Considerando-se o relevo de ocorrência, o processo erosivo não é alto, porém, deve-se precaver com a erosão devido à textura ser essencialmente arenosa. Embora não exista limitação física para o desenvolvimento radicular em profundidade, este é prejudicado pela reduzida quantidade de água disponível (textura essencialmente arenosa) e pelos teores de matéria orgânica, fósforo e micronutrientes muito baixos, redundando em baixíssima capacidade de troca de cátions (CTC). A lixiviação de nitrato e potássio é intensa devido à textura essencialmente arenosa. Potencialidades: Pelas limitações e restrições que apresentam são solos de utilização restrita e até inapta para a agricultura mecanizada. Entretanto com o uso de tecnologias de base agroecológica, sistemas integrados de produção com floresta, irrigação para as culturas mais exigentes podem se tornar aptos e produtivos. Proposições/recomendações: Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento, para as classes de declive inferiores a 20%, são indicados sistemas tecnificados com integração lavora-pecuária-floresta, o SPD integrado com intensivas práticas de controle à erosão e do escorrimento superficial das águas pluviais, associadas a adubações para elevar sua fertilidade e correção da acidez para neutralização do alumínio do solo. Caso venha a ser utilizado por questões sociais locais, em relevos mais acentuados, deve ser sob cultivo mínimo se possível em sistema agroflorestal com práticas de controle da enxurrada, inclusive visando recarga dos aquíferos e nascentes. 1 O caráter léptico: contato lítico entre 50 e 100 cm de profundidade. 283 3.4 Conjunto de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Os solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário estão presentes em 21 regiões administrativas do Instituto Emater, com distribuição apresentada na Tabela 5. Tabela 5 - Distribuição do conjunto de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário (área e %) Região Área (ha) % do estado % da região Campo Mourão Cascavel Cianorte Cornélio Procópio Curitiba Dois Vizinhos Francisco Beltrão Guarapuava Irati Ivaiporã Laranjeiras do Sul Londrina Maringá Paranaguá Paranavaí Pato Branco Ponta Grossa Santo Antonio da Platina Toledo Umuarama União da Vitória Total de Solos Inaptos 107.361 198.549 4.094 8.157 157.238 40.308 86.525 199.569 46.511 116.303 46.214 26.846 1.890 257.616 62.466 276.125 211.700 3.046 66.290 69.558 225.851 2.212.217 4,85 8,98 0,19 0,37 7,11 1,82 3,91 9,02 2,10 5,26 2,09 1,21 0,09 11,65 2,82 12,48 9,57 0,14 3,00 3,14 10,21 100,00 9,29 16,25 0,94 1,14 9,79 21,43 15,19 14,38 7,69 10,55 7,36 3,90 0,29 48,92 6,28 30,62 8,78 0,38 8,23 7,08 32,00 3.4.1 Grupo 9 - Neossolo Litólico, Cambissolos Flúvicos e Cambissolos de relevo montanhoso Limitações/restrições: Os solos deste grupo se caracterizam por serem rasos e pouco evoluídos, em geral com menos de 50 cm de espessura, exceto os Cambissolos Flúvicos que podem ser mais pro284 fundos, mas com grandes restrições para o desenvolvimento da agricultura e grande suscetibilidade à erosão. É comum ocorrer presença de rochas próximas à superfície. Em elevados declives a mecanização e o controle da erosão tornam a utilização agrícola difícil e dispendiosa. Geralmente este grupo de solos requer investimentos com corretivos e fertilizantes, irrigação em regiões com ocorrência de deficiência de água em função da ocorrência de estiagens ou veranicos, e a baixa capacidade de retenção de umidade pela pouca espessura do solo. Potencialidades: São solos de uso restrito dentro de uma agricultura tecnificada, no entanto, se manejados adequadamente, é possível utilizá-los com olericulturas, pastagens, reflorestamento ou outras culturas perenes que forneçam permanente proteção ao solo. Proposições/recomendações: Para o uso sustentável dos solos desse agrupamento é recomendável o uso com sistemas integrados pecuária-floresta e eventualmente lavoura em cultivo mínimo ou baixo uso de mecanização e quando necessário com adubação para melhorar a fertilidade. Não se recomenda a utilização agrícola intensiva destes solos devendo ser reservados para culturas perenes em sistema agroflorestal, fruticultura em agrofloresta tecnificada e sem revolvimento do solo e com cobertura permanente com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, inclusive visando recarga dos aquíferos e nascentes. 3.4.2 Grupo 10 - Neossolo Flúvico, Gleissolo Háplico ou Melânico e todos os Organossolos Limitações/restrições: Os solos deste grupo caracterizam-se por apresentarem condição de hidromorfismo pronunciado ou não, sujeito a inundações frequentes. A maior restrição deste grupo para a sua utilização agrícola ou não, é a presença de água. Esta condição favorece o acúmulo de matéria orgânica nestes solos. Os solos deste grupo também podem apresentar baixa sustentação de máquinas e edificações. Potencialidades: A sua utilização já consolidada em alguns locais no estado expressa este potencial, principalmente na cultura do arroz e hortaliças. Os solos deste grupo podem apresentar algum potencial agrícola quando adequadamente drenados. Entretanto esta forma de utilização é a mesma que acelera a decomposição da matéria orgâni285 ca, que é responsável, em grande parte, pela sua fertilidade natural, podendo levar o solo a uma degradação irreversível. Este grupo possui grande importância ecológica pela sua participação no ciclo hidrológico e biogeoquímico do carbono. Os Organossolos, em especial, funcionam como reservatórios e são responsáveis pela filtragem e armazenamento de água, atuando também no sequestro/estoque de carbono. Proposições/recomendações: As áreas com solos deste grupo na sua grande maioria devem ser destinados à preservação permanente, portanto, nas áreas próximas aos cursos d’água naturais a função hidrológica deve ser considerada como prioritária. Ressalvado pelo interesse social em função do uso já consolidado, nas áreas de menor risco de inundação recomenda-se obras de drenagem visando o controle da altura do lençol freático de forma a permitir o uso agrícola dentro de um contexto de interesse social e com sistemas agroecológicos. Neste contexto, os Organossolos devem receber recomendações especiais, pois possuem grande suscetibilidade à degradação pela subsidência, quando drenados. Portanto, recomenda-se que a utilização destas áreas dependa de um estudo detalhado dos efeitos e preferencialmente através de licenciamento ambiental. 3.4.3 Grupo 11 - Gleissolo Sálico2 e todos os Espodossolos Limitações/restrições: Os solos deste grupo normalmente apresentam-se em situação de hidromorfismo pronunciado ou não, sujeitos a inundações constantes ou frequentes. São solos arenosos superficialmente (Espodossolos) fracamente estruturados, de baixa fertilidade, mal e muito mal drenados e solos argilosos e imperfeitamente drenados (Gleissolos). Estas restrições tornam estes solos inaptos para a agricultura. As áreas de ocorrências de solos Tiomórficos não são indicadas para exploração agropecuária ou florestal. Potencialidades: As limitações destes solos restringem sua aptidão agropecuária. Proposições/recomendações: As áreas deste grupo de solos na sua grande maioria devem ser destinadas à preservação permanente e devem ser mantidas nas condições naturais. 2 Gleissolo Sálico incluindo os Tiomórficos. 286 Ressalvado pelo interesse social em função do uso já consolidado, recomenda-se para os Espodossolos o ajuste do manejo e uso agrícola dos mesmos. 3.4.4 Grupo 12 - Afloramentos de Rocha Limitações/restrições: Áreas com afloramento de rocha não apresentam possibilidade de uso agropecuário ou florestal. Potencialidades: Não há potencial para uso agropecuário ou florestal. Dependendo do material de origem, a possibilidade destas áreas é restrita a extração mineral desde que atendidas as exigências de licenciamento ambiental. Proposições/recomendações: Áreas que devem ser mantidas nas condições naturais. 4 Aptidão agrícola em razão dos sistemas de produção inovadores Alguns fatores limitantes de uso dos solos podem ter o grau de limitação minimizado ou até mesmo superado com a aplicação dos conhecimentos atuais. Como já frisado anteriormente, este fato leva a necessidade de ajustes na classificação da aptidão agrícola das terras considerando cada sistema de produção a ser adotado. Um exemplo: aplica-se a classificação inapta para um solo raso e declive acentuado quando se pretende realizar o preparo para o plantio de forma convencional, com uma aração e duas gradagens. Nesta situação, a mecanização se torna difícil, o processo erosivo incontrolável e a dependência de recursos externos para se manter a produção é crescente em função das perdas da fertilidade e do próprio solo. No entanto, se manejado e utilizado sob base ecológica, ou seja, sem revolvimento e permanentemente protegido, coberto pela palhada ou vegetação, pode ter sua aptidão reclassificada, visto que, imitando os processos naturais, este sistema é enriquecedor. (...) Ao longo desse processo, a vegetação cria fertilidade e biodiversidade, capazes de se manter sustentavelmente, através de intrincados mecanismos alimentados pela biomassa produzida. (...) (KHATOUNIAN, 2001, p.99). Embora reconhecendo a existência de outros sistemas consolidados ou em transição, sucintamente apontam-se três sistemas com con287 dição de se obter sustentabilidade. Inclusive indicados para recuperação de áreas degradadas, proteção da biodiversidade, dos recursos hídricos e de melhoria da economia das comunidades menos desenvolvidas do Estado. 4.1 Sistema Plantio Direto - SPD Segundo Bolliger et al. (2006) o SPD é sustentado por três princípios fundamentais, que são: Mínimo revolvimento do solo; Cobertura permanente do solo com palha ou vegetação; Rotação de culturas. No entanto, as experiências vividas por técnicos da extensão rural do Instituto Emater associadas a resultados de pesquisa (BERTOL et al., 2004; GUADAGNIN et al., 2005 e BERTOL et al., 2007) relatam as deficiências do SPD em conter o escorrimento superficial das águas pluviais. Portanto, o SPD prescinde do quarto principio fundamental: O controle do escorrimento superficial das águas pluviais através de práticas mecânicas corretamente dimensionadas, conforme descrito por (CAVIGLIONE et al., 2010), e em conformidade com a resolução da SEAB 172/2010 (SEAB-PR, 2010). O SPD acarreta melhorias nos resultados econômicos, pois a ausência de operações para preparo do solo gera uma sensível economia de tempo, combustíveis, trabalho e custos. Quando a área é preparada para receber o SPD, necessita da eliminação ou mitigação da camada compactada, correção da fertilidade do solo, implantação de terraços corretamente dimensionados, integração da lavoura com as estradas dentro de critério conservacionista. Quando o sistema é adequadamente conduzido, além dos benefícios no controle da erosão, há incrementos nos teores de carbono e na biodiversidade do solo, ao mesmo tempo em que há significativo incremento na reciclagem de nutrientes e finaliza com aumento na taxa de infiltração de água no solo. São inegáveis efeitos benéficos do SPD no sistema solo-água-planta no médio e longo prazos. As fotos mostram detalhes do Sistema Plantio Direto com os princípios fundamentais (Figura 1) e estrada adequada e integrada aos terraços e o sistema para o controle do escorrimento (Figura 2). 288 FIGURA 1 - SISTEMA PLANTIO DIRETO APRESENTANDO OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SISTEMA: PLANTIO SOBRE RESÍDUOS DE CULTIVO ANTERIOR E TERRACEAMENTO DE BASE LARGA. Foto: Acervo: Instituto Emater. Autor: Oromar João Bertol, 2013. FIGURA 2 - ESTRADA ADEQUADA, INTEGRADA AOS TERRAÇOS E AO SISTEMA PLANTIO DIRETO Foto: Acervo: Instituto Emater. Autor: Oromar João Bertol, 2013 289 4.2 Sistemas Integrados de Produção Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) Observações de campo realizadas para verificar efeitos de eventos extremos de estiagens e chuvas intensas no Paraná apontam para dois aspectos importantes relacionados com perdas na agropecuária, portanto, relacionados com a sustentabilidade dos sistemas de produção atualmente mais adotados. O primeiro aspecto evidencia a necessidade de mudanças radicais dos sistemas produtivos altamente degradantes ao meio ambiente, com perdas de solo, água e nutrientes e consequente assoreamento de reservatórios e eutrofização dos recursos hídricos. O manejo inadequado resulta em outros impactos também que são: incidência de pragas e invasoras resistentes que exigem controle intensivo com maior uso de agrotóxicos. Estes fatos acabam afetando a qualidade dos alimentos produzidos e os custos de produção. FIGURA 3 - SISTEMA INTEGRADO PECUÁRIA-FLORESTA Foto: Acervo: Instituto Emater. Autor: Luiz Marcos Feitosa dos Santos, 2013 290 O segundo aspecto mostra, de forma concreta, que nos sistemas ILPF tais problemas são menos evidentes e até mesmo insignificantes. Os sistemas integrados em suas diversas modalidades, quando adequadamente planejados, trazem vantagens econômicas para os produtores e oferta de alimentos de melhor qualidade. Conservam melhor a biodiversidade por interagir positivamente com os ecossistemas local e regional. Essas interações positivas são essenciais para a adaptação dos agroecossistemas às mudanças climáticas e melhoria no balanço das emissões de gases de efeito estufa. Devem ser contempladas nesses sistemas as práticas preconizadas para uma agricultura de baixas emissões de gases de efeito estufa - recuperação de áreas degradadas, fixação biológica de nitrogênio e tratamento de dejetos de animais, entre outras. As fotos mostram áreas em sistema ILPF (Figura 3) e o sub-bosque em plantio de eucalipto visando a recuperação de área degradada (Figura 4), retiradas na região Noroeste do Estado. FIGURA 4 - SUB-BOSQUE DE EUCALIPTO EM SISTEMA INTEGRADO PECUÁRIA-FLORESTA, RECUPERANDO ÁREA DEGRADADA Foto: Acervo: Instituto EMATER. Autor: Luiz Marcos Feitosa dos Santos, 2013 291 4.3 Sistemas Integrados de Produção com Base Agroecológica (SIPBA) Duas definições são necessárias para ajudar o entendimento desse sistema. Primeiro a definição da agroecologia é vista através da dimensão ecológico-técnica-produtiva como sendo a “(...) ciência baseada em uma abordagem sistêmica que integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, utilizando o agroecossistema como unidade de estudo e trabalho (...)” (HAMERSCHMIDT et al., 2005). Outra definição trata o enfoque agroecológico como sendo destinado “(...) a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos sustentáveis (...)” (CAPORAL e COSTABEBER, 2004). Os sistemas integrados de produção sob base agroecológica podem ser entendidos a partir do texto “Extensão Rural e Agroecologia”. “A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquela que, tendo como base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de maneira integrada, aos seguintes critérios: a) baixa dependência de insumos comerciais; b) uso de recursos renováveis localmente acessíveis; c) utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local; d) aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente; e) manutenção, a longo prazo, da capacidade produtiva; f) preservação da diversidade biológica e cultural; g) utilização do conhecimento e da população local, e h) produção de mercadorias para o consumo interno e para exportação” (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p.15). As fotos ilustram o início do estabelecimento de agrofloresta, Vale do rio Ribeira, em clareiras ou áreas degradadas, levando à recuperação da fertilidade e condições física do solo com o cultivo de espécies leguminosas de rápido retorno (Figura 5). Em virtude disto a flora é melhorada pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies de valor econômico (Figura 6), que são exploradas mediante técnicas extrativas apropriadas e não predatórias. 292 FIGURA 5 - INÍCIO DO ESTABELECIMENTO DE AGROFLORESTA, RECUPERANDO A FERTILIDADE QUÍMICA E FÍSICA DO SOLO COM ESPÉCIES LEGUMINOSAS Foto: Acervo: Instituto EMATER. Autor: Luiz Marcos Feitosa dos Santos, 2011 FIGURA 6 - AGROFLORESTA LOGO APÓS O INÍCIO, COM ENRIQUECIMENTO DA FLORA PELO ADENSAMENTO COM ESPÉCIES DE VALOR ECONÔMICO Foto: Acervo: Instituto EMATER. Autor: Luiz Marcos Feitosa dos Santos, 2011 293 MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utiliza os recursos do Sistema de Informações Geográficas (SIG) para combinar informações e elaborar um conjunto de mapas que permite localizar e caracterizar as 10 ordens de solos que ocorrem no estado do Paraná e nas 22 regiões administrativas do Instituto Emater. Portanto, este trabalho apresenta-se em uma escala regional, e para seu uso em planejamento de microbacia ou propriedade rural, necessita de ajustes para a escala de trabalho desejado. As informações foram combinadas e como resultado obteve-se 12 grupos de solos organizados em quatro conjuntos decorrentes da similaridade de aptidão e potencial agropecuário conforme descrito no item 2. O desenvolvimento do trabalho de geoprocessamento foi realizado com utilização dos softwares e arquivos digitais abaixo relacionados: Aplicativos de desenvolvimento e análise: a) Software ArcGis 9.0 O software ArcGis 9.0 foi utilizado para combinação das informações, análise dos dados e elaboração dos mapas temáticos. b) Planilha eletrônica A planilha eletrônica foi utilizada para tabular e totalizar informações geradas nos mapas temáticos. Arquivos vetoriais: a) Divisão política dos municípios do estado do Paraná Mapa político em formato digital em coordenadas planas UTM, do estado do Paraná com as divisas entre municípios, elaborado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA, 2011). b) Mapa de solos Mapa de solos em formato digital em coordenadas planas UTM, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A elaboração do conjunto de mapas com suas respectivas tabelas desenvolveu-se com apoio do Sistema de Informações Geográficas (SIG), contemplando as seguintes etapas: 294 a) Organização da tabela do mapa político do estado do Paraná Os municípios do mapa político do estado do Paraná foram classificados nas 22 regiões administrativas do Instituto Emater, para posterior formação dos grupos de solos por unidades regionais. b) Organização da tabela do mapa de solos As 33 classes de solos do estado do Paraná e suas respectivas unidades de mapeamentos foram agrupadas em 4 conjuntos, subdivididos em 12 grupos de solos, baseados em seus atributos utilitários mais marcantes e que apresentam similaridade de aptidão e potencial agropecuário, descritos a seguir: Conjunto 1 - solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 1 - Latossolos de textura média. Grupo 2 - Latossolos de textura argilosa e muito argilosa. Grupo 3 - Nitossolos. Grupo 4 - Argissolos com ausência de caráter abrúptico. Conjunto 2 - solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 5 - Argissolos com caráter abrúptico e Luvissolos. Grupo 6 - Cambissolos com ausência de caráter alumínico e/ou léptico e Chernossolos. Grupo 7 - Cambissolos com caráter alumínico. Conjunto 3 - solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 8 - Neossolos Regolíticos, Neossolos Quartzarênicos e Cambissolos com caráter léptico. Conjunto 4 - solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Grupo 9 - Neossolos Litólicos, Cambissolos Flúvicos e Cambissolos em relevo montanhoso. Grupo 10 - Neossolos Flúvicos, Gleissolos Háplicos ou Melânicos e Organossolos. Grupo 11 - Gleissolos Sálicos (incluindo os tiomórficos) e todos os Espodossolos. Grupo 12 - Afloramentos de Rocha. 295 c) Combinação (união) do mapa de solos com mapa de municípios/ regiões A combinação do mapa de solos com o mapa político subdividiu o mapa de solos, gerando um arquivo com os solos do estado, correlacionando todas as informações de solos nos respectivos municípios/ regiões. d) Geração de mapa de solos por região O mapa de solos do estado subdividido por municípios/regiões foi exportado por região, gerando 22 mapas com os solos de cada região administrativa do Instituto Emater. e) Tabulação dos dados A partir da tabela do mapa de solos do estado, foram totalizadas as áreas por conjunto e por grupos de solos das regiões e do estado. f) Elaboração de mapa de grupos de solos por região e do estado do Paraná A partir do mapa de solos do estado e das regiões foram gerados 23 mapas com os grupos de solos. Com objetivo de permitir uma melhor visualização nos mapas apresentados, as cores dos grupos de solos aqui utilizadas, não seguem os padrões de cores do sistema brasileiro de classificação de solos e nem do manual técnico de pedologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). g) Apresentação das informações do estado e por região Os mapas e as tabelas gerados estão apresentados com dados do estado e das regiões, complementados com informações sobre as potencialidades e recomendações adequadas à sua aptidão agrícola em razão dos sistemas de produção inovadores. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5 Solos por Região administrativa do Instituto Emater Os solos presentes em cada região foram quantificados a partir do levantamento de reconhecimento de solos do estado (LARACH et al., 1984). Os 12 grupos de solos especificados anteriormente estão apre296 sentados na Figura 7 com distribuição em área e percentual apresentados na Tabela 6. Na sequência deste item apresentam-se a ocupação pelos grupos de solos em área e percentual da área de cada região e no Estado. Tabela 6 - Distribuição dos Grupos de solos no Estado (área e %) Grupo Grupo 01 Grupo 02 Grupo 03 Grupo 04 Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região 01-LATOSSOLOS de textura média 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 03-NITOSSOLOS 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 Grupo 06 Grupo 07 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico e Luvissolos 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico e CHERNOSSOLOS 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico Área (ha) (%) 1.373.734 4.765.589 3.027.904 1.921.953 7,1 24,6 15,6 9,9 11.089.180 57,2 1.177.470 6,1 1.313.887 6,8 760.293 3,9 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 3.262.048 16,8 Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS, NEOSSOLO QUARTZARÊNICO e CAMBISSOLOS com caráter léptico Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 Grupo 10 Grupo 11 Grupo 12 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS, CAMBISSOLOS FLÚVICOS e CAMBISSOLOS de relevo montanhoso 10-NEOSSOLO FLÚVICO, GLEISSOLO HÁPLICO ou MELÂNICO e ORGANOSSOLOS 11-GLEISSOLO SÁLICO e ESPODOSSOLOS 12-AFLORAMENTOS DE ROCHA Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário 2.847.418 14,7 2.837.020 14,7 1.560.379 8,0 366.803 1,9 120.599 164.436 0,6 0,8 2.212.217 11,4 Subtotal Solos Ilha Ilha Água Água Urbana Urbana 19.400.464 100,0 42 399.324 85.684 Total geral 19.885.514 297 FIGURA 7 - MAPA GERAL DOS GRUPOS DE SOLOS DO ESTADO COM DELIMITAÇÃO DAS MACRORREGIÕES E REGIÕES DO INSTITUTO EMATER 5.1 Grupos de solos na Unidade Regional de Paranavaí Dos 12 grupos de solos do estado do Paraná, seis estão presentes na região de Paranavaí (Figura 8). A Tabela 7 mostra que nesta região predominam solos com boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário, visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 863.109 ha com 86,75% da área total de solos da Região. Os solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário, representados pelo Grupo 05 com 69.405 ha, ocupam 7,0% da área total de solos da Região enquanto que o Grupo 10, inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário com 62.466 ha representa 6,3% desse total. Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalida298 des de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives mais acentuados ou de maior risco de degradação. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas de incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. As informações sobre as limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas com maiores detalhes no item 3. As áreas do Grupo 05 (7,0%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 (6,3%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). Tabela 7 - Grupos de solos na unidade regional de Paranavaí (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 Área (ha) (%) 509.708 51,2 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 57.564 5,8 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 10.775 1,1 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 285.063 28,7 863.109 86,7 69.405 7,0 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 69.405 7,0 10-NEOSSOLO FLÚVICO, GLEISSOLO HÁPLICO e ORGANOSSOLOS 62.466 6,3 62.466 6,3 994.980 100,0 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 Grupo 10 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Área total de solos da região de Paranavaí Água 30.521 Urbana 2.637 Área total da região de Paranavaí 1.028.137 299 FIGURA 8 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE PARANAVAÍ, ESTADO DO PARANÁ 5.2 Unidade regional de Maringá Dos 12 grupos de solos do Estado sete estão presentes na região de Maringá (Figura 9). A Tabela 8 mostra que 90,40% dos solos dessa Região são na condição natural de boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 591.914 ha. A mesma Tabela 8 mostra que 7,15% encontram-se no grupo de aptidão restrita com baixo potencial agropecuário, 2,17% com aptidão regular e moderado potencial e finalmente 0,29% de solos inaptos com restrito potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão apontadas no Item 3. Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades 300 de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas de incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. FIGURA 9 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE MARINGÁ, ESTADO DO PARANÁ As áreas do Grupo 05 (2,2%) e do grupo 8 (7,1%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 (0,3%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 301 Tabela 8 - Grupos de solos na unidade regional de Maringá (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média 162.987 24,9 Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 130.980 20,0 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 204.400 31,2 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 93.547 14,3 591.914 90,4 14.180 2,2 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 14.180 2,2 Grupo 08 46.786 7,1 46.786 7,1 1.890 0,3 1.890 0,3 654.770 100,0 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO Total solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 3.591 Urbana 4.047 Total geral 662.408 5.3 Unidade regional de Umuarama Dos 12 grupos de solos do Estado sete estão presentes na região de Umuarama (Figura 10). A Tabela 9 mostra que nesta Região predominam solos com boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 682.935 ha com 69,6% da área total de solos da Região. A mesma Tabela 9 mostra que 23,4% encontram-se no grupo de aptidão regular com moderado potencial agropecuário e finalmente 7,1% com solos inaptos e restrito potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão apontadas no Item 3. Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas 302 de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives mais acentuados ou de maior risco de degradação. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas de incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. FIGURA 10 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE UMUARAMA, ESTADO DO PARANÁ As áreas do Grupo 05 (23,4%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 (7,1%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 303 Tabela 9 - Grupos de solos na unidade regional de Umuarama (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Área (ha) (%) 341.915 34,8 21.862 2,2 21.031 2,1 298.127 30,4 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário 682.935 69,6 Grupo 05 229.363 23,4 229.363 23,4 743 0,1 68.815 7,0 69.558 7,1 981.856 100,0 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS Grupo 10 10-NEOSSOLO FLÚVICO, GLEISSOLO HÁPLICO e ORGANOSSOLOS Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 56.759 Urbana 2.039 Total geral 1.040.654 5.4 Unidade regional de Cianorte Dos 12 grupos de solos do Estado sete estão presentes na região de Cianorte (Figura 11). A Tabela 10 mostra que nesta Região predominam solos com boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário, visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 361.662 ha com 82,6% da área total de solos da Região. A mesma Tabela 10 mostra que 16,4% encontram-se no grupo de aptidão regular com moderado potencial agropecuário e em torno de 1% com solos inaptos e restrito potencial agropecuário representados pelos grupos 10 e 8. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão apontadas no Item 3. 304 FIGURA 11 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE CIANORTE, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives mais acentuados ou de maior risco de degradação. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas que contribuam para incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. As áreas do Grupo 05 (16,4%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as dos Grupos 10 e 08 devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 305 Tabela 10 - Grupos de solos na unidade regional de Cianorte (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 10 10-NEOSSOLO FLÚVICO e GLEISSOLO HÁPLICO Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água Área (ha) (%) 118.226 27,0 67.231 15,4 62.129 4,2 114.077 26,1 361.662 82,6 71.677 16,4 71.677 16,4 191 0,0 191 0,0 4.094 0,9 4.094 0,9 437.624 100,0 883 Urbana 1.272 Total geral 439.779 5.5 Unidade regional de Campo Mourão Conforme mostra a Figura 12 ocorrem na região nove grupos de solos dos doze que ocorrem no Estado. A Tabela 11 mostra que 72,5% dos solos da Região (grupos 01, 02, 03, 04) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 12,7% de representatividade encontram-se os grupos de aptidão restrita e baixo potencial agropecuário. Em terceiro lugar com 9,3% vem os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. Finalmente com aptidão regular e moderado potencial tem-se os grupos 05 e 06 representando 5,6% do total de solos da Região. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas no Item 3. 306 FIGURA 12 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE CAMPO MOURÃO, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos práticas incorporadoras de matéria orgânica no solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tendo em vista as restrições dos grupos 03 e 04 com inclusões de Neossolos e Cambissolos, com declive entre 45% e 100% é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada, pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico. Devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. Áreas do Grupo 08 (12,7% de aptidão restrita) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (9,3% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental. 307 Tabela 11 - Grupos de solos na unidade regional de Campo Mourão (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 Grupo 03 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Área (ha) (%) 43.842 3,8 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 468.483 40,6 03-NITOSSOLOS 273.593 23,7 51.138 4,4 837.055 72,5 63.241 5,5 998 0,1 64.239 5,6 146.415 12,7 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 146.415 12,7 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 107.352 9,3 Grupo 10 10-GLEISSOLO HÁPLICO 9 0,0 107.361 9,3 1.155.070 100,0 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 4.154 Urbana 1.776 Total geral 1.161.001 5.6 Unidade regional de Apucarana Conforme mostra a Figura 13 ocorrem na região cinco grupos de solos dos doze que ocorrem no Estado. A Tabela 12 mostra que 218.931 ha ou 69,3% dos solos da Região (grupos 01, 02, 03, 04) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 96.992 ha ou 30,7% de representatividade encontra-se o Grupo 08 de aptidão restrita e baixo potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas no Item 3. 308 Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos práticas incorporadoras de matéria orgânica no solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. FIGURA 13 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE APUCARANA, ESTADO DO PARANÁ Tendo em vista as restrições dos grupos com inclusões de Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100% é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada, pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico. Devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. Áreas do Grupo 08 podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. 309 Tabela 12 - Grupos de solos na unidade regional de Apucarana (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Subtotal Solos Água Área (ha) (%) 3.350 1,1 75.788 24,0 136.205 43,1 3.588 1,1 218.931 69,3 96.992 30,7 96.992 30,7 315.923 100,0 89 Urbana 1.486 Total geral 317.498 5.7 Unidade regional de Londrina Dos 12 grupos de solos do Estado oito estão presentes na região de Maringá (Figura 14). A Tabela 13 mostra que 85,8% dos solos dessa Região são, na condição natural, de boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 591.316 ha. A mesma Tabela 13 mostra que 9,8% encontram-se no grupo de aptidão restrita com baixo potencial agropecuário, 3,9% de solos inaptos com restrito potencial agropecuário e finalmente 0,4% com aptidão regular e moderado potencial. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão apontadas no Item 3. Para o uso sustentável das áreas com os grupos 01, 02, 03 e 04 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de con310 trole do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas de incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. As áreas do Grupo 05, ARGISSOLOS com caráter abrúptico (0,4%) e do grupo 8, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (9,8%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 juntamente com as do Grupo 09 (3,9%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). FIGURA 14 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE LONDRINA, ESTADO DO PARANÁ 311 Tabela 13 - Grupos de solos na unidade regional de Londrina (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 Área (ha) (%) 69.694 10,1 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 186.237 27,0 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 272.104 39,5 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 63.282 9,2 591.316 85,8 3.087 0,4 3.087 0,4 67.731 9,8 67.731 9,8 1.204 0,2 25.642 3,7 26.846 3,9 688.980 100,0 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 31.164 Urbana 2.465 Total geral 722.609 5.8 Unidade regional de Cornélio Procópio Dos 12 grupos de solos do Estado oito estão presentes na região de Cornélio Procópio (Figura 15). A Tabela 14 mostra que 67,4% dos solos dessa Região são, na condição natural, de boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. São representados pelos grupos 01, 02, 03 e 04 que somam 483.860 ha. 312 FIGURA 15 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE CORNÉLIO PROCÓPIO, ESTADO DO PARANÁ A mesma Tabela 14 mostra que 28,8% encontram-se no grupo de aptidão restrita com baixo potencial agropecuário. Em terceiro lugar tem-se 2,6% com aptidão regular e moderado potencial e finalmente 1,1% de solos inaptos com restrito potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão apontadas no Item 3. Para o uso sustentável das áreas com os grupos 01, 02, 03 e 04 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização das práticas agrícolas com mínimo de risco de degradação e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas de incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. 313 Tabela 14 - Grupos de solos na unidade regional de Cornélio Procópio (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 Área (ha) (%) 1.029 0,1 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 211.652 29,5 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 230.510 32,1 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 40.669 5,7 483.860 67,4 18.860 2,6 18.860 2,6 207.012 28,8 207.012 28,8 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 1.477 0,2 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO 6.680 0,9 8.157 1,1 717.890 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 25.106 Urbana 1.558 Total geral 744.555 As áreas do Grupo 05, ARGISSOLOS com caráter abrúptico (2,6%) e do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (28,8%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 (0,9%) juntamente com as do Grupo 09 (0,2%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 314 5.9 Unidade regional de Santo Antônio da Platina Na região de Santa Antônio da Platina (Figura 16) estão presentes oito grupos de solos dos quais predominam os grupos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário, com 41,1% do total de solos da Região (Tabela 15). Em seguida ocorrem os grupos com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário (38,4%). Em terceiro lugar tem-se o grupo de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário com 20,1%. Finalmente estão presentes os solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário com representatividade de apenas 0,4%. FIGURA 16 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE SANTO ANTONIO DA PLATINA, ESTADO DO PARANÁ Frente às limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos apontadas no Item 3, para os grupos 01, 02, 03, 04, 05 e 06 da Região indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta sendo: lavoura-pecuária nos declives 315 que, com mínimo de risco de degradação, permitam a mecanização das práticas agrícolas e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos tecnologias e práticas que contribuam com a incorporação de matéria orgânica ao solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 15 - Grupos de solos na unidade regional de Santo Antônio da Platina (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Área (ha) (%) 14.353 1,8 112.255 14,1 61.554 7,7 138.241 17,4 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário 326.404 41,1 Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico 298.209 37,5 Grupo 06 06- CHERNOSSOLOS 6.905 0,9 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 305.113 38,4 Grupo 08 159.890 20,1 159.890 20,1 3.046 0,4 3.046 0,4 794.453 100,0 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 30.415 Urbana 1.283 Total geral 826.151 As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS (20,1%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Enquanto que as do Grupo 10 (0,4%) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação são destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 316 5.10 Unidade regional de Ivaiporã Conforme mostra a Figura 17 ocorrem na região nove grupos de solos dos doze que ocorrem no Estado. A Tabela 16 mostra que 49,6% dos solos da Região (grupos 01, 02, 03, 04) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola. Apresentam alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 27,8% de representatividade encontram-se os grupos de aptidão restrita e baixo potencial agropecuário. Em terceiro lugar com aptidão regular e moderado potencial tem-se os grupos 05 e 06 representando 12,0%. Finalmente com 10,6% vem os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas no Item 3. FIGURA 17 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE IVAIPORÃ, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 02, 03, 04, 05, 06, e 07 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais, a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades 317 de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam o uso racional da mecanização das práticas agrícolas, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando sempre e em todos os casos práticas incorporadoras de matéria orgânica no solo, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 16 - Grupos de solos na unidade regional de Ivaiporã (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 413.131 37,5 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 125.005 11,3 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 9.041 0,8 Total solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário 547.176 49,6 Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico 116.587 10,6 Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico 5.925 0,5 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 9.624 0,9 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 132.136 12,0 Grupo 08 306.485 27,8 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS 306.485 27,8 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 116.291 10,6 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO 12 0,0 116.303 10,6 1.102.100 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 1.520 Urbana 301 Total geral 1.103.921 Tendo em vista as restrições do grupos 03 e 04 com inclusões de Neossolos e Cambissolos, com declive entre 45% e 100% é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada, pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico. Devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. Áreas do Grupo 08 (27,8% de aptidão restrita) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal 318 com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (10,6% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.11 Unidade regional de Toledo Conforme mostra a Figura 18 ocorrem na região oito grupos de solos dos doze que ocorrem no Estado. A Tabela 17 mostra que 90,9% dos solos da Região (grupos 01, 02, 03, 04) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 8,2% vem os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. Finalmente em terceiro lugar com aptidão regular e moderado potencial tem-se os grupos 05 e 06 representando apenas 0,8% do total de solos da Região. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 18 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE TOLEDO, ESTADO DO PARANÁ 319 Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos, inclusive os grupos 05 e 06, indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuáriafloresta, lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 17 - Grupos de solos na unidade regional de Toledo (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 Grupo 03 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Área (ha) (%) 32.344 4,0 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 374.733 46,5 03-NITOSSOLOS 308.234 38,3 16.680 2,1 731.990 90,9 6.340 0,8 456 0,1 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Grupo 06 06- CHERNOSSOLOS Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 6.796 0,8 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 50.296 6,2 Grupo 10 10-NEOSSOLO FLÚVICO, GLEISSOLO HÁPLICO e ORGANOSSOLOS 15.994 2,0 66.290 8,2 805.077 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 38.805 Urbana 3.226 Total geral 847.108 Tendo em vista as restrições dos grupos 03 e 04 com inclusões de Neossolos e Cambissolos, com declive entre 45% e 100% é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada, pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico. Devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. 320 Áreas dos grupos 09 e 10 (8,2% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.12 Unidade regional de Cascavel Conforme mostra a Figura 19 ocorrem na região oito grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 18 mostra que 75,1% dos solos da Região (grupos 01, 02, 03, 04) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 16,3% vem os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. Em terceiro lugar com 8,6% está o grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente com representatividade pouco significante encontra-se o Grupo 06 com apenas 398 ha. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 19 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE CASCAVEL, ESTADO DO PARANÁ 321 Para o uso sustentável das áreas com os principais grupos de solos indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta, lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 18 - Grupos de solos na unidade regional de Cascavel (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média 715 0,1 Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 508.646 41,6 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 406.582 33,3 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 1.702 0,1 917.645 75,1 398 0,0 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 06 06- CHERNOSSOLOS Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS 398 0,0 105.075 8,6 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 105.075 8,6 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 194.582 15,9 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO 3.966 0,3 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 198.549 16,3 1.221.667 100,0 54.875 Urbana 6.130 Total geral 1.282.672 Tendo em vista as restrições dos grupos 03 e 04 nas inclusões de Neossolos e Cambissolos, com declive entre 45% e 100% é importante que a fauna seja protegida e a flora melhorada, pelo enriquecimento e pelo adensamento com espécies nativas de valor econômico. Devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (8,6%) podem apresentar produções 322 sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (8,2% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.13 Unidade regional de Francisco Beltrão Na Região de Francisco Beltrão (Figura 20) estão presentes cinco grupos de solos dos quais predominam os grupos 02 e 03, de boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. O Grupo 08, com aptidão restrita e os grupos 09 e 10 que em condições naturais são de solos inaptos. De acordo com a Tabela 19, representam respectivamente 56,6%, 28,2% e 15,2% do total da área de solos da Região. FIGURA 20 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE FRANCISCO BELTRÃO, ESTADO DO PARANÁ 323 Com os percentuais mostrados na Tabela 19 e considerando as limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos apontadas no Item 3, na Região configura-se predominância de solos de alto potencial para produção com o Sistema Plantio Direto em 322.396 ha (grupos 02 e 03). Indicando-se inclusive para o Grupo 08 os sistemas integrados de produção lavoura-pecuária-floresta nos declives que permitem, sem degradação, a motomecanização das práticas agrícolas. Nos declives de 20% a 45% o sistema integrado pecuáriafloresta ou silvipastoril bem manejado pode apresentar produções sustentáveis. O sistema agroflorestal com base agroecológica melhora as possibilidades do uso sustentável nos solos do Grupo 8. Tabela 19 - Grupos de solos na unidade regional de Francisco Beltrão (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Área (ha) (%) 93.458 16,4 228.937 40,2 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário 322.396 56,6 Grupo 08 160.559 28,2 160.559 28,2 86.500 15,2 24 0,0 86.525 15,2 569.479 100,0 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 2.753 Urbana 1.653 Total geral 573.885 Áreas dos grupos 09 e 10 devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 324 5.14 Unidade regional de Pato Branco Na Região de Pato Branco (Figura 21) estão presentes sete grupos de solos dos quais predominam os grupos 02 e 03 com 45,5% da área total de solos da Região (Tabela 20). São de boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 30,6% estão os solos dos grupos 09 e 10 que, em condições naturais, são inaptos para explorações agrícolas sob sistemas convencionais. O Grupo 08, com aptidão restrita vem em terceiro lugar com 12,8%. Finalmente tem-se os grupos 06 e 07 com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário representando 11,1% dos solos da Região. FIGURA 21 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE PATO BRANCO, ESTADO DO PARANÁ Com os percentuais mostrados na Tabela 20 e considerando as limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos apontadas no Item 3, na Região configura-se predominância de solos de 325 alto potencial para produção com o Sistema Plantio Direto em 410.603 ha (grupos 02 e 03). Indicando-se inclusive para os grupos 06 e 07 os sistemas integrados de produção lavoura-pecuária-floresta nos declives que permitem, sem degradação, a motomecanização das práticas agrícolas. Nos declives de 20% a 45% o sistema integrado pecuáriafloresta ou silvipastoril bem manejado pode apresentar produções sustentáveis. O sistema agroflorestal com base agroecológica melhora as possibilidades de uso sustentável nos solos do Grupo 08. Tabela 20 - Grupos de solos na unidade regional de Pato Branco (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Área (ha) (%) 329.449 36,5 81.154 9,0 410.603 45,5 Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico 40.721 4,5 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 59.122 6,6 99.843 11,1 115.085 12,8 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 115.085 12,8 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 275.996 30,6 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO 129 0,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário 276.125 30,6 Subtotal Solos 901.655 100,0 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Água 22.890 Urbana 2.256 Total geral 926.801 Áreas dos grupos 09 e 10 devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 326 5.15 Unidade regional de Dois Vizinhos Na Região de Dois Vizinhos (Figura 22) estão presentes cinco grupos de solos dos quais predominam os grupos 02 e 03 com 54,6% da área total de solos da Região (Tabela 21). São de boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 24,0% estão os solos do grupo 08 com restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente tem-se os grupos 09 e 10 que, em condições naturais, são inaptos para explorações agrícolas sob sistemas convencionais. FIGURA 22 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE DOIS VIZINHOS, ESTADO DO PARANÁ Com os percentuais mostrados na Tabela 21 e considerando as limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos apontadas no Item 3, na Região configura-se predominância de solos de alto potencial para produção com o Sistema Plantio Direto em 102.683 ha (grupos 02 e 03). Indicando-se inclusive para os grupos 06 e 07 327 os sistemas integrados de produção lavoura-pecuária-floresta nos declives que permitem, racionalmente, a motomecanização das práticas agrícolas. Nos declives de 20% a 45% o sistema integrado pecuáriafloresta ou silvipastoril bem manejado pode apresentar produções sustentáveis. O sistema agroflorestal com base agroecológica melhora as possibilidades de uso sustentável nos solos do Grupo 08. Tabela 21 - Grupos de solos na unidade regional de Dois Vizinhos (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 32.652 17,4 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 70.031 37,2 102.683 54,6 45.060 24,0 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 45.060 24,0 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 40.208 21,4 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO 100 0,1 40.308 21,4 188.051 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 9.418 Urbana 697 Total geral 198.166 Áreas dos grupos 09 e 10 devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.16 Unidade regional de Laranjeiras do Sul Conforme mostra a Figura 23 ocorrem na região sete grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 22 mostra que 46,4% dos solos da Região (grupos 02 e 03) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com empre328 go das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 44,3% está o grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Em terceiro lugar com 7,4% vem os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. Finalmente com representatividade de 1,9% encontram-se os grupos 06 e 07 com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 23 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE LARANJEIRAS DO SUL, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 02, 03, 06 e 07 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. 329 Tabela 22 - Grupos de solos na unidade regional de Laranjeiras do Sul (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 138.984 22,1 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 152.402 24,3 291.386 46,4 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico 8.187 1,3 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 3.722 0,6 11.909 1,9 278.465 44,3 278.465 44,3 46.125 7,3 89 0,0 46.214 7,4 627.974 100,0 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 13.430 Urbana 847 Total geral 642.251 Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto indicam-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS (44,3%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (7,4% de solos inaptos) devem ser re330 servadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.17 Unidade regional de Guarapuava Conforme mostra a Figura 24 ocorrem na região oito grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 23 mostra que 47,2% dos solos da Região (grupos 02 e 03) apresentam, em estado natural, boa aptidão agrícola com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 23,2% está o grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Em terceiro lugar com 15,2% encontram-se os solos dos grupos 06 e 07 com regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Finalmente com representatividade de 14,4% encontram-se os grupos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 24 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE GUARAPUAVA, ESTADO DO PARANÁ 331 Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 02, 03, 06 e 07 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Tabela 23 - Grupos de solos na unidade regional de Guarapuava (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Área (ha) (%) 559.064 40,3 96.484 6,9 655.549 47,2 Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico 65.593 4,7 Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico 97.314 7,0 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 48.621 3,5 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 211.528 15,2 Grupo 08 321.649 23,2 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 321.649 23,2 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 198.183 14,3 Grupo 10 10- GLEISSOLO MELÂNICO 1.385 0,1 199.569 14,4 1.388.294 100,0 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 12.538 Urbana 1.557 Total geral 1.402.390 Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos 332 grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS (23,2%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (14,4 de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.18 Unidade regional de Irati Conforme mostra a Figura 25 ocorrem na região nove grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 24 mostra que 45,7% dos solos da Região (grupos 05, 06 e 07) apresentam regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Em segundo lugar com 35,2% constam os grupos 02, 03 e 04 de boa aptidão agrícola e com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Em terceiro lugar com 11,3% está o grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente com representatividade de 7,7% encontramse os solos inaptos representados pelos grupos 09 e 10. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. 333 FIGURA 25 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE IRATI, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 02, 03, 04, 05, 06 e 07 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas 334 mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. Tabela 24 - Grupos de solos na unidade regional de Irati (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 84.500 14,0 Grupo 03 03-NITOSSOLOS 93.396 15,4 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 35.407 5,9 213.303 35,2 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico 78.673 13,0 Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico 45.203 7,5 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 152.849 25,3 276.725 45,7 68.621 11,3 68.621 11,3 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS e CAMBISSOLOS FLÚVICOS ou de relevo montanhoso 32.036 5,3 Grupo 10 10-NEOSSOLO FLÚVICO 14.475 2,4 46.511 7,7 605.160 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 699 Urbana 1.379 Total geral 607.238 As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (23,2%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (14,4% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 335 5.19 Unidade regional de União da Vitória Conforme mostra a Figura 26 ocorrem na região dez grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 25 mostra que 33,1% dos solos da Região (grupos 05, 06 e 07) apresentam regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Em segundo lugar com 32,0% constam os grupos 09 e 10 com solos naturalmente inaptos para atividades agrícolas. Em terceiro lugar com 30,7% constam os grupos 01, 02, 03 e 04 de boa aptidão agrícola e com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis como as relacionadas no Item 4. Finalmente com representatividade de 4,2% encontram-se os solos do Grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 26 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE UNIÃO DA VITÓRIA, ESTADO DO PARANÁ 336 Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 01, 02, 03, 04, 05, 06 e 07 indicam-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavourapecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 25 - Grupos de solos na unidade regional de União da Vitória (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 08 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO ou MELÂNICO Área (ha) (%) 907 0,1 51.997 7,4 142.583 20,2 21.026 3,0 216.513 30,7 10.335 1,5 127.639 18,1 95.770 13,6 233.744 33,1 29.760 4,2 29.760 4,2 186.558 26,4 39.293 5,6 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário 225.851 32,0 Subtotal Solos 705.867 100,0 Água 20.943 Urbana 1.414 Total geral 728.224 337 Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com agrofloresta tecnificada. As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (4,2%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (32,0% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.20 Unidade regional de Ponta Grossa Conforme mostra a Figura 27 ocorrem na região onze grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 26 mostra que em 45,2% constam os grupos 01, 02, 03 e 04 com solos de boa aptidão agrícola e com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis relacionadas no Item 4. Em segundo lugar com 28,7% da área de solos da Região estão os grupos 05, 06 e 07 com solos que apresentam regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Em terceiro lugar com 17,3% encontram-se os solos do Grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente com representatividade de 8,8% constam os grupos 09 e 10 com solos naturalmente inaptos para atividades agrícolas. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. 338 FIGURA 27 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE PONTA GROSSA, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 01, 02, 03, 04, 05, 06 e 07 indica-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indicam-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com sistema agroflorestal tecnificado. 339 Tabela 26 - Grupos de solos na unidade regional de Ponta Grossa (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Área (ha) (%) 72.875 3,0 618.036 25,6 42.224 1,8 356.000 14,8 1.089.135 45,2 98.361 4,1 Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico e NEOSSOLO QUARTZARÊNICO 297.709 12,4 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 285.322 11,8 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 681.392 28,3 Grupo 08 427.873 17,8 Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 427.873 17,8 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 150.762 6,3 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO ou MELÂNICO e ORGANOSSOLOS 43.078 1,8 Grupo 12 12-AFLORAMENTO DE ROCHA 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 17.859 0,7 211.700 8,8 2.410.099 100,0 10.766 Urbana 6.508 Total geral 2.427.372 As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (17,3%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09 e 10 (8,8% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 340 5.21 Unidade regional de Curitiba Conforme mostra a Figura 28 ocorrem na região onze grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 27 mostra que, em primeiro lugar com 37,7% da área de solos da Região estão os grupos 05, 06 e 07 com solos que apresentam regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Em segundo lugar com 36,1% constam os grupos 01, 02, 03 e 04 com solos de boa aptidão agrícola e com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis relacionadas no Item 4. Em terceiro lugar com 16,4% encontram-se os solos do Gupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente com representatividade de 9,8% constam os grupos 09, 10 e 12 com solos naturalmente inaptos para atividades agrícolas. As limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos estão descritas anteriormente no Item 3. FIGURA 28 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ 341 Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 01, 02, 03, 04, 05, 06 e 07 indica-se o Sistema de Plantio Direto integrado com práticas de controle do escorrimento superficial das águas pluviais. Indica-se a produção integrada com o cultivo florestal nas diversas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta: lavoura-pecuária nos declives que permitam a mecanização com baixo risco de degradação do solo e rendimento aceitável das máquinas/equipamentos, e pecuária-floresta nos declives de 20% a 45%. Privilegiando práticas incorporadoras de matéria orgânica, inclusive com a fixação biológica de nitrogênio. Tabela 27 - Grupos de solos na unidade regional de Curitiba (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Grupo 01 01-LATOSSOLOS de textura média Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa Grupo 03 03-NITOSSOLOS Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico Total solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Área (ha) (%) 1.790 0,1 228.432 14,2 8.571 0,5 341.347 21,2 580.140 36,1 33.558 2,1 Grupo 05 05-ARGISSOLOS com caráter abrúptico Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico e CHERNOSSOLOS 469.021 29,2 Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico 103.136 6,4 Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário 605.715 37,7 Grupo 08 263.771 16,4 08-NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Total de solos de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário 263.771 16,4 Grupo 09 09-NEOSSOLOS LITÓLICOS 18.946 1,2 Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO ou MELÂNICO e ORGANOSSOLOS 71.104 4,4 Grupo 12 12-AFLORAMENTO DE ROCHA 67.189 4,2 157.238 9,8 1.606.864 100,0 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário Subtotal Solos Água 11.849 Urbana 39.175 Total geral 1.657.889 342 Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias ou com sistema agroflorestal tecnificado. As áreas do Grupo 08, NEOSSOLOS REGOLÍTICOS e CAMBISSOLOS com caráter léptico (16,4%) podem apresentar produções sustentáveis se exploradas mediante sistema agroflorestal com base agroecológica. Áreas dos grupos 09, 10 e 12 (9,8% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). 5.22 - Unidade regional de Paranaguá Conforme mostra a Figura 29 ocorrem na região oito grupos de solos de doze que ocorrem no Estado. A Tabela 28 mostra que, em primeiro lugar, com 48,9% da área de solos da Região estão os grupos 09, 10, 11 e 12, solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário. Em segundo lugar com 40,9% constam os grupos 06 e 07 com solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário. Em terceiro lugar com 16,4% encontram-se os solos do Grupo 08 de restrita aptidão agrícola e baixo potencial agropecuário. Finalmente com representatividade de 10,2% constam os grupos 02 e 04 com solos de boa aptidão agrícola e com alto potencial agropecuário visto que os fatores limitantes mais importantes podem ser minimizados com emprego das tecnologias disponíveis relacionadas no Item 4. No Item 3 estão descritas as limitações, potencialidades e recomendações por grupo de solos. 343 FIGURA 29 - GRUPOS DE SOLOS NA UNIDADE REGIONAL DE PARANAGUÁ, ESTADO DO PARANÁ Para o uso sustentável das áreas com os grupos de solos 02, 04, 06 e 07 com potencial moderado a alto deve-se propiciar o desenvolvimento de uma agricultura tecnificada, entretanto, suportado pelos conhecimentos da agroecologia. Em casos, quando o principal fator limitante é mitigado, por exemplo, drenagem adequada do ambiente para controle do excesso d´água no perfil, pode-se melhorar o potencial de alguns desses solos para atividades agropecuárias e para a silvicultura. Neste caso excetuam-se as áreas com Gleissolo Tiomórfico e outros solos com influência marinha. Tendo em vista as restrições dos Neossolos e Cambissolos com declive entre 45% e 100%, presentes por associações em diversos grupos de solos, é importante que nas áreas com esses solos a fauna seja protegida e a flora melhorada. Para tanto, indica-se para as áreas com a cobertura florestal degradada o enriquecimento e adensamento com espécies nativas de valor econômico, devendo ser exploradas mediante técnicas extrativas não predatórias e desde que atendidas as particularidades da legislação ambiental para a região. 344 Áreas dos grupos 09, 10, 11 e 12 (48,9% de solos inaptos) devem ser reservadas para conservação ambiental juntamente com áreas de outros grupos que por força da legislação sejam destinadas para preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). Tabela 28 - Grupos de solos na unidade regional de Paranaguá (área e %) Grupo Unidades de Solos por Grupo Ocorrentes na Região Área (ha) (%) Grupo 02 02-LATOSSOLOS de textura argilosa e muito argilosa 456 0,1 Grupo 04 04-ARGISSOLOS com ausência de caráter abrúptico 53.018 10,1 Total de solos de boa aptidão agrícola e alto potencial agropecuário Grupo 06 06-CAMBISSOLOS com ausência de caráter Alumínico Grupo 07 07-CAMBISSOLOS com caráter Alumínico Total de solos de regular aptidão agrícola e moderado potencial agropecuário Grupo 09 09- CAMBISSOLOS FLÚVICOS ou de relevo montanhoso Grupo 10 10- GLEISSOLO HÁPLICO ou MELÂNICO Grupo 11 11-GLEISSOLO SÁLICO e ESPODOSSOLOS Grupo 12 12-AFLORAMENTO DE ROCHA 53.474 10,2 214.409 40,7 1.130 0,2 215.539 40,9 53.118 10,1 4.512 0,9 120.599 22,9 79.388 15,1 Total de solos inaptos para agricultura e restrito potencial agropecuário 257.616 48,9 Subtotal Solos 526.630 100,0 Ilha 42 Água 16.155 Urbana 1.977 Total geral 544.803 6 Recomendações Finais As recomendações aqui relatadas não têm a pretensão de ser definitivas quanto ao seu conteúdo e nem de serem um “pacote tecnológico fechado”. Pelo contrário, procura-se trazer, para o conhecimento de todos, alguns aspectos inovadores do ponto de vista do desenvolvimento agrícola e conservação ambiental no estado do Paraná. No entanto, as limitações que ainda possam existir são impostas pelo estado de arte da tecnologia a ser empregada e da organização social para efetivamente satisfazer as necessidades humanas. Relaciona-se, pois, intimamente com a progressiva transformação da 345 economia e da sociedade, com destaque para o acesso aos recursos e para a distribuição de custos e benefícios. Assim, contempla a consideração pela manutenção da diversidade biológica conjugada com o respeito pela diversidade socioeconômica e cultural de grupos humanos, utilizando os recursos disponíveis e visando o desenvolvimento agrícola sustentável no Estado do Paraná. Por fim, necessário se faz um esclarecimento: pode ser que uma determinada tecnologia aqui recomendada possa, num primeiro momento, em uma dada região, parecer um pouco complexa do ponto de vista produtivo-conservacionista, bem como ser bem diferente do que é praticado tradicionalmente pelos agricultores neste local. No entanto, ela pode estar sendo utilizada com bastante sucesso em outra região do estado, podendo ter grande chance de se adaptar bem no referido local que ainda não a utiliza, apenas pelo fato de minimizar os fatores limitantes e potencializar os fatores favoráveis. Cabe salientar, no entanto, que a adaptação de uma determinada tecnologia recomendada (em menor ou maior escala) dependerá muito das condições edafoclimáticas e socioeconômicas dos agricultores da região aos quais se pretende dar um melhor gerenciamento de suas propriedades rurais. REFERÊNCIAS BERTOL, I.; COGO, N. P.; SCHICK, J.; GUADAGNIN, J.C. e AMARAL, A.J. Aspectos financeiros relacionados às perdas de nutrientes por erosão hídrica em diferentes sistemas de manejo do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 31, p. 133-142, 2007. BERTOL, I.; LEITE, D.; GUADAGNIN, J.C. e RITTER, S.R. Erosão hídrica em um Nitossolo Háplico submetido a diferentes sistemas de manejo sob chuva simulada. II - Perdas de nutrientes e carbono orgânico. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 28, n. 6, p. 10451054, 2004. BHERING, S.B.; SANTOS, H.G.D. Mapa de solos do Estado do Paraná - Legenda atualizada. Rio de Janeiro: EMBRAPA Floresta: EMBRAPA solos: IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná, 2008. 74p. 346 BOLLIGER, A.; MAGID, J.; SKORA Neto, F.; CALEGARI, A.; AMADO, T.J.C.; RIBEIRO, M.F.S.; RALISCH, R. e NEERGAARD, A. Taking stock of the Brazilian “zero-till revolution”: A review of landmark research and farmers’ practice. Advances in Agronomy, v. 91, p. 47110, 2006. BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria Nacional de Planejamento Agrícola. Aptidão agrícola das terras do Paraná. Brasília: BINAGRI, 1981. 140p. ilus. 4 mapas (em pasta) (Estudos básicos para o planejamento agrícola. Aptidão agrícola das terras, 21). CAPORAL, F.R. e COSTABEBER, J.A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2007. 24 p. CAVIGLIONE, J.H.; FIDALSKI, J.; ARAÚJO, A.G.; BARBOSA, G.M.C. LLANILLO, R.F. e SOUTO, A.R. Espaçamentos entre terraços em plantio direto. Londrina: Instituto Agronômico do Paraná, 2010. 59p. GUADAGNIN, J.C.; BERTOL, I.; CASSOL, P.C. e AMARAL, A.J. Perdas de solo, água e nitrogênio por erosão hídrica em diferentes sistemas de manejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 29, p. 277-286, 2005. HAMERSCHMIDT, I.; SILVA, J.C.B.V. e LIZARELLI, P.H. Agroecologia, o Novo enfoque da extensão Rural. Curitiba, PR: EMATER-PR, 2005. 84 p. KHATOUNIAN, C.A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu : Agroecologia, 2001. LARACH, J.O.I.; CARDOSO, A.; CARVALHO, A.P.; HOCHMULLER, D.P.; RAUEN, M.J. e FASOLO, P.J. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado do Paraná - Relatório 1. Londrina: EMBRAPA e IAPAR, 1984. RAMALHO FILHO, A. e BEEK, K.J. Aptidão Agrícola das terras do Brasil. 3 rev. Rio de Janeiro: Embrapa - solos, 1995. 65p. 347 Anexo 1 - LEGENDA DO MAPA DE SOLOS DO PARANÁ (BHERING e SANTOS, 2008) A legenda descritiva do Mapa de Solos do Estado do Paraná apresenta 224 unidades de mapeamento, representando dez classes em nível de ordem no 1º nível e 36 classes em nível de grande grupo no 3º nível do SiBCS, conforme pode ser visualizado a seguir. ARGISSOLOS VERMELHOS Distróficos PVd1 - ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo suave ondulado. PVd2 - ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. PVd3 - ARGISSOLO VERMELHO Distrófico abrúptico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. PVd4 - ARGISSOLO VERMELHO Distrófico abrúptico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado. PVd5 - ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura arenosa/média, A moderado, álico, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. ARGISSOLOS VERMELHOS Eutróficos PVe1 - ARGISSOLO VERMELHO Eutrófico típico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. PVe2 - ARGlSSOLO VERMELHO Eutrófico abrúptico, textura arenosa/média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado. PVe3 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO Eutrófico típico + GLEISSOLO MELÂNICO indiscriminado + GLEISSOLO HÁPLICO, todos textura média/argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo plano. ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELOS Distróficos PVAd1 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas. PVAd2 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. PVAd3 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/ argilosa + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, ambos fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. PVAd4 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/ argilosa pouco cascalhenta, fase relevo forte ondulado + LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, textura argilosa, fase relevo ondulado, ambos fase floresta subtropical perenifólia. PVAd5 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/ argilosa pouco cascalhenta + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, textura média pouco cascalhenta, substrato siltitos e arenitos finos, ambos álicos, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso. PVAd6 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, fase floresta 348 subtropical perenifólia, relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado, substrato arenitos, ambos textura média. PVAd7 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura arenosa/média, álico, fase campo subtropical, relevo ondulado e suave ondulado. PVAd8 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado, ambos textura média, fase campo subtropical. PVAd9 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato folhelhos síltico-arenosos + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, todos textura média, álicos, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. PVAd10 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura média/ argilosa, fase relevo forte ondulado + LATOSSOLO BRUNO Distrófico típico, textura argilosa, fase relevo ondulado, ambos A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. PVAd11 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura média/argilosa pouco cascalhenta, A moderado, álico, fase campo subtropical, relevo ondulado. PVAd12 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura média/ argilosa pouco cascalhenta, fase relevo forte ondulado + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico latossólico, textura argilosa pouco cascalhenta, fase relevo ondulado, ambos A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. PVAd13 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura arenosa/média, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. PVAd14 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia. PVAd15 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado. PVAd16 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/ argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase campo subtropical, relevo montanhoso, substrato filitos, xistos e quartzitos, ambos álicos. PVAd17 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura média/ argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura argilosa, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado substrato siltitos, argilitos e folhelhos, ambos A moderado. PVAd18 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, textura média/argilosa pouco cascalhenta, A moderado, fase campo subtropical, relevo forte ondulado e montanhoso. PVAd19 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. PVAd20 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/ argilosa, álico, fase floresta subtropical subperenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Eutrófico típico, substrato siltitos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Alítico típico, ambos textura média, fase floresta subtropical subcaducifólia, todos A moderado, relevo suave ondulado e ondulado. PVAd21 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/ argilosa, relevo ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura argilosa, relevo 349 suave ondulado, ambos A moderado, álicos, fase floresta subtropical subperenifólia. PVAd22 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado. PVAd23 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura arenosa/média, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado e suave ondulado. PVAd24 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/argilosa pouco cascalhenta, A proeminente + NEOSSOLO LITÓLICO Chernossólico típico, textura média pouco cascalhenta, substrato granitos, ambos fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado. PVAd25 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/argilosa, fase relevo ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, fase relevo forte ondulado, substrato filitos e xistos, ambos A moderado, fase floresta tropical subperenifólia. PVAd26 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/argilosa pouco cascalhenta, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso. PVAd27 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico latossólico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta tropical perúmida, relevo ondulado e forte ondulado. PVAd28 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico latossólico, álico, fase floresta tropical perúmida relevo ondulado e forte ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase floresta tropical perenifólia de várzea, relevo plano, substrato sedimentos do Quaternário, ambos A moderado, textura argilosa. PVAd29 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico latossólico, A moderado, álico, fase floresta tropical perúmida, relevo ondulado e forte ondulado + GLEISSOLO MELÂNICO + GLEISSOLO HÁPLICO, ambos fase floresta tropical perenifólia de várzea, relevo suave ondulado e plano, todos textura argilosa. PVAd30 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico, textura argilosa, A proeminente, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas. PVAd31 - Associação de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, relevo forte ondulado + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/ argilosa, relevo ondulado, ambos álicos, fase floresta subtropical perenifólia. PVAd32 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado de vertentes curtas. PVAd33 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa pouco cascalhenta, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. PVAd34 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, textura média, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELOS Eutróficos PVAe1 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico típico, textura média/argilosa, A chernozêmico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso. PVAe2 - ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico abrúptico, textura média/argilosa, A chernozêmico, fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado. 350 CAMBISSOLOS HÚMICOS Alumínicos CHa1 - CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas. CHa2 - Associação de CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, fase floresta subtropical perenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, ambos textura argilosa, fase relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas. CHa3 - CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado, substrato filitos. CHa4 - CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, textura argilosa, fase campo subtropical, relevo suave ondulado, substrato sedimentos pleistocênicos. CHa5 - Associação de CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, substrato sedimentos pleistocênicos + ARGISSOLO VERMELHOAMARELO Alumínico típico, A moderado, ambos textura argilosa, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. CHa6 - Associação de CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico + NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, álico, ambos fase campo subtropical, substrato rochas eruptivas + ORGANOSSOLO HÁPLICO Sáprico típico, álico, fase campo subtropical de várzea, todos textura argilosa, relevo suave ondulado de vertentes curtas. CHa7 - CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico, textura argilosa, fase campo subtropical, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato filitos. CHa8 - Associação de CAMBISSOLO HÚMICO Alumínico típico + NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, ambos textura média, fase campo subtropical, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato arenitos + ORGANOSSOLO HÁPLICO indiscriminado, fase campo subtropical de várzea, relevo plano. CAMBISSOLOS HÚMICOS Distróficos CHd - CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico latossólico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato sedimentos colúvio-aluviais areno-argilosos. CAMBISSOLOS FLÚVICOS Tb Distróficos CYbd - Associação de CAMBISSOLO FLÚVICO Tb Distrófico típico ou gleissólico + GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia de várzea, relevo plano, substrato sedimentos recentes. CAMBISSOLOS HÁPLICOS Alumínicos CXa1 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Alumíníco úmbrico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato folhelhos sílticos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Alumínico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado, ambos textura argilosa. CXa2 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Alumínico úmbrico, fase relevo ondulado, substrato folhelhos sílticos + ARGISSOLO VERMELHOAMARELO Alumínico típico, A moderado, fase relevo suave ondulado, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia. CAMBISSOLOS HÁPLICOS Tb Distróficos CXbd1 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado, substrato migmatitos. CXbd2 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, 351 fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado, substrato folhelhos e arenitos finos + GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico + GLEISSOLO MELÂNICO Tb Distrófico, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical de várzea, relevo plano. CXbd3 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato siltitos, argilitos e folhelhos. CXbd4 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, álico, substrato folhelhos sílticos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas. CXbd5 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Distro-úmbrico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, ambos textura argilosa, fase pedregosa relevo ondulado, substrato rochas eruptivas. CXbd6 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo forte ondulado, substrato rochas eruptivas + LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, fase relevo ondulado, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. CXbd7 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato folhelhos sílticos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, ambos fase campo subtropical, relevo suave ondulado de vertentes curtas. CXbd8 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, ambos textura argilosa, álicos, fase campo subtropical, relevo ondulado, substrato folhelhos sílticos. CXbd9 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo forte ondulado, substrato migmatitos. CXbd10 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, textura média, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado, substrato arenitos e folhelhos sílticos. CXbd11 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico + NEOSSOLO LITÓLICO Distro-úmbrico típico, ambos textura média, álicos, fase campo subtropical relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato arenitos. CXbd12 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado substrato arenitos + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado, ambos textura média, fase campo subtropical. CXbd13 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato siltitos e arenitos finos. CXbd14 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia altimontana, relevo ondulado e forte ondulado, substrato migmatitos. CXbd15 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, substrato migmatitos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico, fase floresta subtropical perenifólia, ambos textura argilosa pouco cascalhenta, A moderado, álicos, relevo forte ondulado. CXbd16 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, ambos textura argilosa, A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia altimontana, reIevo montanhoso e escarpado, substrato migmatitos. CXbd17 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, substrato migmatitos + 352 LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico, ambos textura argilosa, A moderado, álicos, fase floresta tropical altimontana, relevo ondulado e forte ondulado. CXbd18 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta tropical altimontana, relevo montanhoso, substrato migmatitos. CXbd19 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, álico, fase floresta tropical altimontana, relevo montanhoso, substrato migmatitos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico latossólico fase floresta tropical perúmida, relevo forte ondulado e ondulado, ambos textura argilosa, A moderado. CXbd20 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase campo subtropical, relevo ondulado, substrato migmatitos. CXbd21 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, álico, fase relevo forte ondulado + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, fase relevo montanhoso, ambos textura argilosa, A moderado, fase campo subtropical, substrato filitos. CXbd22 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase campo subtropical, relevo montanhoso, substrato filitos e xistos + LATOSSOLO BRUNO Distrófico cambissólico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado, ambos textura argilosa, A moderado, álicos. CXbd23 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase relevo ondulado, substrato rochas cristalinas ácidas + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, fase relevo suave ondulado, ambos textura argilosa, A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. CXbd24 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico + GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia de várzea, relevo plano, substrato sedimentos recentes. CXbd25 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico latossólico, A proeminente, álico, fase floresta subtropical perenifólia + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia, ambos textura argilosa, fase relevo suave ondulado, substrato siltitos. CXbd26 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico latossólico, substrato rochas cristalinas ácidas + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, ambos textura argilosa, A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso. CXbd27 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico argissólico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato siltitos e folhelhos. CXbd28 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico argissólico úmbrico, textura argilosa, substrato folhelhos sílticos + NEOSSOLO LITÓLICO Distro-úmbrico típico, textura média, substrato arenitos e siltitos, ambos álicos, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. CXbd29 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico argissólico úmbrico, fase relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato folhelhos sílticos + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico cambissólico úmbrico, fase relevo suave ondulado, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. CXbd30 - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato rochas eruptivas + NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. CXbd31 - CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico argissólico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta tropical perúmida, relevo forte ondulado e ondulado. 353 CAMBISSOLOS HÁPLICOS Ta Eutróficos CXve - Associação de CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Eutrófico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, substrato rochas eruptivas básicas NITOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, fase floresta subtropical perenifólia, ambos textura argilosa, A moderado, fase relevo forte ondulado. CHERNOSSOLOS RÊNDZICOS Órticos MDo - CHERNOSSOLO RÊNDZICO Órtico saprolítico, textura argilosa, fase floresta tropical subperenifólia, relevo montanhoso, substrato calcário. ESPODOSSOLOS HUMILÚVICOS Hidromórficos EKg - Associação de ESPODOSSOLO HUMILÚVICO Hidromórfico típico, fase floresta hidrófila de restinga + ESPODOSSOLO HUMILÚVICO Órtico típico, A moderado, fase floresta de restinga, ambos textura arenosa, relevo plano. GLEISSOLOS SÁLICOS GZ - Associação de GLEISSOLO SÁLICO + GLEISSOLO HÁPLICO, ambos indiscriminados, textura argilosa, fase campo subtropical de várzea, relevo plano. GLEISSOLOS MELÂNICOS GM1 - GLEISSOLO MELÂNICO indiscriminado, textura argilosa, fase campo e floresta subtropical de várzea, relevo plano. GM2 - Associação de GLEISSOLO MELÂNICO indiscriminado, fase floresta subtropical perenifólia de várzea, relevo plano + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, A moderado, álico, fase floresta subtropical altimontana, relevo ondulado e forte ondulado, substrato migmatitos, ambos textura argilosa. GM3 - Associação de GLEISSOLO MELÂNICO, textura argilosa + ORGANOSSOLO, ambos indiscriminados, fase campo e floresta subtropical de várzea, relevo plano. GLEISSOLOS HÁPLICOS GX1 - GLEISSOLO HÁPLICO indiscriminado, textura argilosa, fase campo e floresta tropical perenifólia de várzea, relevo plano. GX2 - GLEISSOLO HÁPLICO indiscriminado, textura argilosa, fase campo tropical de várzea, relevo plano. LATOSSOLOS BRUNOS Ácricos LBw1 - LATOSSOLO BRUNO Ácrico úmbrico, textura argilosa, fase campo subtropical relevo suave ondulado. LBw2 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Ácrico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico latossólico, álico, fase relevo ondulado, substrato rochas cristalinas ácidas, ambos textura argilosa, fase campo subtropical. LATOSSOLOS BRUNOS Distróficos LBd1 - LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. 354 LBd2 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado, substrato rochas eruptivas, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LBd3 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado, substrato migmatitos, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LBd4 - LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LBd5 - LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LBd6 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo forte ondulado, substrato filitos, ambos textura argilosa, álicos, fase campo subtropical. LBd7 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas, ambos textura argilosa, fase campo subtropical. LBd8 - Associação de LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato sedimentos pleistocênicos, ambos textura argilosa, álicos, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LBd9 - LATOSSOLO BRUNO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. LBd10 - LATOSSOLO BRUNO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LATOSSOLOS VERMELHOS Distroférricos LVdf1 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. LVdf2 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LVdf3 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LVdf4 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. LVdf5 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LVdf6 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase cerrado e cerradão subtropical, relevo suave ondulado e plano. LVdf7 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. LVdf8 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LVdf9 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato rochas eruptivas, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. 355 LVdf10 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia relevo suave ondulado. LVdf11 - Associação LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, fase relevo suave ondulado + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, fase relevo ondulado, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia. LVdf12 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LVdf13 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo suave ondulado. Vdf14 - LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. LATOSSOLOS VERMELHOS Eutroférricos LVef1 - LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólía relevo suave ondulado. LVef2 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, fase relevo suave ondulado + NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico tipico, fase relevo suave ondulado e ondulado, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia. LVef3 - LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia relevo suave ondulado. LATOSSOLOS VERMELHOS Distróficos LVd1 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia relevo suave ondulado. LVd2 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia relevo suave ondulado. LVd3 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LVd4 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LVd5 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico + ARGISSOLO VERMELHOAMARELO Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa, álicos, fase campo subtropical relevo suave ondulado. LVd6 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado, substrato folhelhos, ambos textura argilosa, álicos, fase campo subtropical. LVd7 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distrófico cambissólico úmbrico, fase relevo ondulado, ambos textura média, álicos, fase floresta subtropical perenifólía. 356 LVd8 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, textura média, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado. LVd9 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. LVd10 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase relevo ondulado, substrato siltitos argilitos e folhelhos, ambos textura argilosa, A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LVd11 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura argilosa, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, textura média/argilosa, fase relevo ondulado, ambos A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LVd12 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura argilosa, fase relevo suave ondulado + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média/ argilosa, fase relevo ondulado, ambos A moderado, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. LVd13 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura média, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo suave ondulado. LVd14 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura média, A moderado, álico, fase cerrado e cerradão subtropical, relevo suave ondulado. LVd15 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura média, A moderado, álico, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. LVd16 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia relevo suave ondulado. LVd17 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, fase relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase pedregosa, relevo forte ondulado, substrato granitos e quartzitos, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia. LVd18 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado e plano. LVd19 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, textura média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado e plano. LVd20 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico húmico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. LVd21 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico cambissólico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave e ondulado de vertentes curtas. LVd22 - Associação de LATOSSOLO VERMELHO Distrófico cambissólico úmbrico + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa pouco cascalhenta, álicos, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LVd23 - LATOSSOLO VERMELHO Distrófico argissólico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. LATOSSOLOS VERMELHOS Eutróficos LVe1 - LATOSSOLO VERMELHO Eutrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. 357 LVe2 - LATOSSOLO VERMELHO Eutrófico típico, textura média, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado. LATOSSOLOS VERMELHO-AMARELOS Distróficos LVAd1 - LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado. LVAd2 - LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico argissólico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta tropical perúmida, relevo forte ondulado e ondulado. NEOSSOLOS LITÓLICOS Húmicos RLh1 - NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado e forte ondulado, substrato siltitos, argilitos e folhelhos. RLh2 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico típico, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato rochas cristalinas ácidas. RLh3 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, fase floresta subtropical subperinifólia, substrato rochas eruptivas + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, A proeminente, fase floresta subtropical perenifólia, ambos textura argilosa, álicos, fase pedregosa, relevo forte ondulado e montanhoso. RLh4 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura argilosa, fase pedregosa campo subtropical relevo suave ondulado, substrato rochas eruptivas + ORGANOSSOLO indiscriminado, fase campo subtropical de várzea, relevo plano + NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, textura argilosa, fase campo subtropical, relevo suave ondulado, todos álicos. RLh5 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura argilosa, álico, fase pedregosa, fase campo subtropical relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas + AFLORAMENTOS DE ROCHA + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico típico, textura argilosa, álico, fase pedregosa, fase campo subtropical relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas. RLh6 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, fase relevo forte ondulado + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico latossólico, fase relevo ondulado, ambos textura média, fase floresta subtropical subperenifólia, substrato arenitos. RLh7 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura média, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato arenitos + AFLORAMENTOS DE ROCHA (arenitos). RLh8 - NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura média, álico, fase campo subtropical, relevo suave ondulado, substrato arenitos. RLh9 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, textura média, fase campo subtropical, relevo suave ondulado substrato arenitos + AFLORAMENTOS DE ROCHA (arenitos). RLh10 - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Húmico típico, fase relevo forte ondulado, substrato quartzitos + LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, fase relevo ondulado, ambos textura média, álicos, fase campo subtropical. 358 NEOSSOLOS LITÓLICOS Distro-úmbricos RLdh - Associação de NEOSSOLO LITÓLICO Distro-úmbrico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, ambos textura argilosa, A proeminente, álicos, fase pedregosa floresta subtropical subperenifólia relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas. NEOSSOLOS FLÚVICOS Psamíticos RYq - NEOSSOLO FLÚVICO Psamítico típico, A moderado, álico, fase floresta tropical de várzea, relevo plano. NEOSSOLOS FLÚVICOS Tb Distróficos RYbd - NEOSSOLO FLÚVICO Tb Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical de várzea, relevo plano. NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Húmicos RRh1 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Húmico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, substrato rochas eruptivas + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, A proeminente, fase floresta subtropical perenifólia, ambos textura argilosa, álicos, fase pedregosa relevo forte ondulado e montanhoso. RRh2 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Húmico típico, textura argilosa, álico, fase pedregosa, fase campo subtropical, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas + AFLORAMENTOS DE ROCHA + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico típico, textura argilosa, álico, fase pedregosa, fase campo subtropical, relevo suave ondulado de vertentes curtas, substrato rochas eruptivas. RRh3 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Húmico típico, fase relevo forte ondulado + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico latossólico, fase relevo ondulado, ambos textura média, fase floresta subtropical subperenifólia. NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Distro-úmbricos RRdh1 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato siltitos e tilitos + ARGISSOLO VERMELHOAMARELO Distrófico cambissólico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado, ambos textura argilosa. RRdh2 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, textura argilosa, álico, fase pedregosa, floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato rochas eruptivas + AFLORAMENTOS DE ROCHA. RRdh3 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, ambos textura argilosa, álicos, fase pedregosa floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas. RRdh4 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, textura média, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado, substrato siltitos e arenitos finos. RRdh5 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, fase floresta subtropical subperenifóiia, substrato arenitos e siltitos finos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia, ambos textura média, álicos, fase relevo ondulado. 359 RRdh6 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, textura argilosa, fase pedregosa, substrato rochas eruptivas + NEOSSOLO REGOLÍTICO Distro-úmbrico típico, textura média, substrato siltitos e arenitos finos, ambos A proeminente, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo montanhoso e escarpado. NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Distróficos RRd1 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, álico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato siltitos argilitos e folhelhos. RRd2 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, fase relevo montanhoso e escarpado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase relevo montanhoso, ambos textura argilosa, A moderado, fase pedregosa floresta subtropical subperenifólia, substrato filitos, xistos e quartzitos. RRd3 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, fase relevo montanhoso e escarpado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase relevo montanhoso, ambos textura argilosa, A moderado, fase campo subtropical substrato filitos e xistos. RRd4 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, ambos textura média, A moderado, fase campo cerrado, relevo ondulado, substrato arenitos e siltitos. RRd5 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, substrato siltitos + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico argissólico, substrato folhelhos, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia relevo forte ondulado. RRd6 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia relevo montanhoso e escarpado, substrato gnaisses. RRd7 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, fase relevo montanhoso e escarpado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico, fase relevo montanhoso, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia, substrato granitos e migmatitos. RRd8 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura argilosa e média, fase campo subtropical, relevo montanhoso, substrato filitos, xistos e quartzitos + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico abrúptico, textura média/argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado, ambos A moderado. RRd9 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Distrófico típico, textura siltosa, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato siltitos e arenitos finos. NEOSSOLOS REGOLÍTICOS Eutróficos RRe1 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato siltitos, arenitos e argilitos. RRe2 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, fase pedregosa, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, fase relevo ondulado, ambos textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia. RRe3 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, A moderado, substrato folhelhos 360 + NEOSSOLO LITÓLICO Chernossólico típico, substrato diabásios + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, A moderado, todos textura argilosa, fase pedregosa, floresta subtropical subperenifólia, relevo montanhoso e forte ondulado. RRe4 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, textura média, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato arenitos. RRe5 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, textura média, A moderado, fase floresta tropical subcaducifólia, relevo suave ondulado e ondulado, substrato siltitos. RRe6 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, textura média, substrato siltitos + LUVISSOLO HÁPLICO Órtico planossólico, textura média/argilosa, ambos A moderado, fase floresta tropical subcaducifólia, relevo suave ondulado e ondulado. RRe7 - NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico típico, textura média, A moderado, fase floresta tropical subcaducifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato arenitos. RRe8 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico chernossólico, fase floresta subtropical subperenifólia relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado, ambos textura argilosa, fase pedregosa. RRe9 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico chernossólico, fase pedregosa, floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado + CHERNOSSOLO HÁPLICO Órtico léptico, fase pedregosa, floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato rochas eruptivas básicas, todos textura argilosa. RRe10 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico chernossólico, fase relevo montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + CHERNOSSOLO ARGILÚVICO Férrico saprolítico, relevo forte ondulado, ambos fase pedregosa, floresta tropical subcaducifólia + NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado, todos textura argilosa. RRe11 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICO Eutrófico Chernossólico, fase pedregosa, floresta tropical subcaducifólia, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo ondulado, ambos textura argilosa. RRe12 - Associação de NEOSSOLO REGOLÍTICOEutrófico chernossólico, fase relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas + CHERNOSSOLO ARGILÚVICO Férrico saprolítico, relevo forte ondulado, ambos fase pedregosa, floresta tropical subperenifólia + NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo ondulado, todos textura argilosa. NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS Órticos RQo - NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Órtico húmico, álico, fase campo subtropical, relevo ondulado e suave ondulado. NITOSSOLOS BRUNOS Alumínicos NBa1 - Associação de NITOSSOLO BRUNO Alumínico úmbrico, textura argilosa + ARGISSOLO 361 VERMELHO-AMARELO Distrófico úmbrico, textura média/argilosa, ambos fase floresta subtropical perenifólia, relevo forte ondulado. NBa2 - Associação de NITOSSOLO BRUNO Alumínico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Alumínico úmbrico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo ondulado, substrato siltitos, argilitos e folhelhos, ambos textura argilosa. NITOSSOLOS BRUNOS Distróficos NBd1 - NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado de vertentes curtas. NBd2 - Associação de NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, substrato rochas eruptivas, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. NBd3 - NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado e forte ondulado. NBd4 - Associação de NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado e forte ondulado + LATOSSOLO BRUNO Distrófico úmbrico, fase relevo ondulado, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia. NITOSSOLOS VERMELHOS Distroférricos NVdf1 - NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado e suave ondulado. NVdf2 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, fase relevo ondulado + CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico úmbrico, fase relevo forte ondulado, substrato rochas eruptivas, ambos textura argilosa, álicos, fase floresta subtropical perenifólia. NVdf3 - NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. NVdf4 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, fase relevo ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, fase relevo suave ondulado, ambos textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia. NVdf5 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico úmbrico, fase floresta subtropical perenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Distro-úmbrico típico, fase floresta subtropical subperenifólia + CAMBISSOLO HÁPLICO Distroférrico úmbrico, fase floresta subtropical subperenifólia, todos textura argilosa, fase pedregosa, relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas. NVdf6 - NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia relevo suave ondulado e ondulado. NVdf7 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, fase relevo ondulado + LATOSSOLO VERMELHO Distroférríco típico, fase relevo suave ondulado e ondulado, ambos fase floresta subtropical perenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Eutrófico típico, fase floresta subtropical subperenifólia, relevo forte ondulado, substrato rochas eruptivas básicas, todos textura argilosa, A moderado. NITOSSOLOS VERMELHOS Eutroférricos NVef1 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. 362 NVef2 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo ondulado. NVef3 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave ondulado e ondulado. NVef4 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo ondulado + GLEISSOLO indiscriminado, fase floresta tropical perenifólia de várzea, relevo plano. NVef5 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico, fase floresta tropical perenifólia + NEOSSOLO LITÓLICO Eutrófico típico, fase pedregosa, floresta tropical subperenifólia, substrato rochas eruptivas básicas, ambos textura argilosa, A moderado, fase relevo ondulado e forte ondulado. NVef6 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado. NVef7 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, textura argilosa, fase floresta tropical perenifólia, relevo ondulado. NVef8 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico latossólico, textura argilosa, A moderado, fase floresta tropical perenifólia, relevo suave ondulado. NVef9 - NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, textura argilosa, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado e forte ondulado. NVef10 - Associação de NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico chernossólico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo ondulado e forte ondulado + NEOSSOLO LITÓLICO Eutrófico típico, A moderado, fase floresta subtropical subperenifólia relevo forte ondulado e montanhoso, substrato rochas eruptivas básicas, ambos textura argilosa, fase pedregosa. ORGANOSSOLOS HÁPLICOS OX1 - ORGANOSSOLO HÁPLICO indiscriminado. OX2 - ORGANOSSOLO HÁPLICO Sáprico típico, fase campo subtropical de várzea, relevo plano. OX3 - Associação de ORGANOSSOLO HÁPLICO Sáprico típico + CAMBISSOLO FLÚVICO Tb Distrófico típico, textura indiscriminada, álico, substrato sedimentos recentes, ambos fase campo e floresta subtropical de várzea, relevo plano. AFLORAMENTOS DE ROCHA AR1 - AFLORAMENTOS DE ROCHA (Arenitos). AR2 - Associação de AFLORAMENTOS DE ROCHA + NEOSSOLO LITÓLICO Hístico típico + CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico léptico, ambos textura argilosa, álicos, fase campo e floresta subtropical perenifólia, relevo escarpado e montanhoso, substrato granitos e quartzitos. 363 364 CAPÍTULO XI OCORRÊNCIA E FREQUÊNCIA DE ESPÉCIES DE PLANTAS MEDICINAIS DE UM FRAGMENTO FLORESTAL DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA RIO VERDE Milton Satoshi Matsushita 1 Roberto Tuyoshi Hosokawa 2 Cirino Corrêa Junior 3 1 2 3 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Florestal, Ph.D., UFPR, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Horticultura, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 365 366 INTRODUÇÃO A preocupação crescente da sociedade mundial em relação à qualidade do ambiente e com o uso sustentável dos recursos naturais levou o secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em 2000, solicitar a Avaliação Ecossistêmica do Milênio mediante documento encaminhado à Assembléia Geral intitulado “Nós, os Povos: O Papel das Nações Unidas no Século XXI”, com o objetivo de avaliar as consequências que as mudanças nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano e as bases científicas das ações necessárias para melhorar a preservação e uso sustentável desses ecossistemas. As conclusões dos especialistas vieram comprovar as mudanças já percebidas pela humanidade, ou seja, todos no mundo dependem da natureza e de um ecossistema em equilíbrio para termos condições de uma vida decente, saudável e segura. Motta (1998) e Brown (2003) fazem referência sobre as ações pelas quais os seres humanos causaram alterações sem precedentes nos ecossistemas nas últimas décadas para atender as crescentes demandas por alimentos, água, fibras e energia. As tecnologias e conhecimentos disponíveis podem reduzir consideravelmente o impacto humano nos ecossistemas, porém, a participação das comunidades (locais, regionais ou globais) que compartilham dos benefícios aumenta as chances de sucesso na preservação e recuperação dos recursos naturais. Conforme Andretta (2008), o Paraná com uma superfície de apenas 2,3% do território nacional é o principal estado agrícola do país e responde, em média, por 22% da produção de grãos e é o terceiro maior exportador do agronegócio. Esta condição de grande produtor agrícola foi obtida através de ampliação de fronteiras agrícolas e uso de alta tecnologia, resultando na substituição de áreas de florestas nativas contínuas por outras formas de uso da terra, formando fragmentos florestais interrompidos por estradas, pontes, represas, culturas agrícolas, etc. A floresta com Araucária ou floresta ombrófila mista (FOM), definida pelas áreas de ocorrência natural do pinheiro representa uma área de abrangência de 8.295.750 ha na região do bioma e 3.293.389 ha na região dos campos, totalizando 11.589.485 ha, ou seja, uma área de 367 58% da área total do estado do Paraná, segundo o diagnóstico dos remanescentes de floresta com Araucária, organizado por Castella e Britez (2004). Esta área de 8.295.750 ha do bioma floresta ombrófila mista, ainda possui 2.506.485 ha de remanescentes florestais nativos, que representa 30,2% da cobertura florestal original, sendo a maioria nos estágios médio e inicial (94,3% dos remanescentes) e apresentam uma riqueza de produtos da sociobiodiversidade ainda pouco estudada. Segundo o Brasil (2009), o termo “sociobiodiversidade” expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais. Enquanto os produtos da sociobiodiversidade são bens e serviços (produtos finais, matérias primas ou benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, promovendo renda e melhoria na qualidade de vida e do ambiente em que vivem os agricultores familiares. Atualmente nota-se uma crescente preocupação global em relação às questões ambientais, saúde pública, produção de alimentos e geração e distribuição de renda no mundo. Portanto, o equilíbrio entre o crescimento econômico e a preservação ambiental deve ser uma busca permanente. Os instrumentos econômicos devem contribuir para valoração ambiental, distribuindo equitativamente os custos ambientais, através de metodologias e ferramentas que encontrem o equilíbrio entre a preservação dos recursos naturais e o crescimento econômico (MATSUSHITA, 2010). Levando-se em consideração a participação das comunidades (locais, regionais ou globais) preconizada por Motta (1998) e Brown (2003), o Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, Ministério do Meio Ambiente - MMA e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS elaboraram em 2009 o Plano Nacional de promoção das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, como parte da estratégia do governo federal de articular as políticas de governo voltadas à promoção do desenvolvimento sustentável, geração de renda e justiça social (BRASIL, 2009). O Plano Nacional das cadeias de produtos da sociobiodiversidade contempla a medicina tradicional e o uso de plantas medicinais como componentes da estratégia para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. 368 O Ministério da Saúde ressalta a importância mundial da medicina tradicional, citado em Brasil (2006, p.12): “Em 1991, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou a importante contribuição da medicina tradicional na prestação de assistência social, especialmente às populações que têm pouco acesso aos sistemas de saúde, e solicitou aos estados-membros que intensificassem a cooperação entre praticantes da medicina tradicional e da assistência sanitária moderna, principalmente no tocante ao emprego de remédios tradicionais de eficácia científica demonstrada, a fim de reduzir os gastos com medicamentos.” Segundo Alexiades e Shanley (2004), Carvalho (2006) e Alonso (2008), a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das pessoas dos países em desenvolvimento, no mundo, dependem da medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde e que cerca de 85% da medicina tradicional envolve o uso de extratos de plantas. Lorenzi (2008b) relata que o Brasil possui a flora arbórea mais diversificada do mundo, e que a necessidade de produzirmos riquezas infinitamente deve estar alicerçada em um desenvolvimento autossustentado, considerando a relação da vida do homem com o meio ambiente. O autor ainda cita que não é preciso domar a natureza, mas sim aprender com ela, que os bosques heterogêneos de essências nativas formam um ecossistema em equilíbrio. Vieira et al. (2002) destacam o Brasil entre os países de maior biodiversidade mundial, abrigando cerca de 50 mil espécies de plantas superiores, distribuídas nos grandes biomas: Amazônia (25-30 mil espécies), Mata Atlântica (16 mil espécies), Cerrado (7 mil espécies) e demais espécies distribuídas na Caatinga e Floresta Subtropical. Além da diversidade de recursos genéticos, o Brasil possui uma diversidade de etnias, com forte influência em nosso hábito alimentar e cultural, em especial, no que diz respeito ao uso de plantas medicinais e aromáticas, cuja maioria das espécies nativas necessita de estudos básicos, além de seu cultivo ainda ser incipiente ou inexistente. Ming (2002), no relato dos resultados na 1ª reunião técnica de trabalho sobre estratégias para conservação e manejo de recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas, considerou 24 espécies com prioridade alta no bioma Mata Atlântica para pesquisa sobre sistema reprodutivo, biologia floral, diversidade genética, dinâmica de 369 populações e cadeia produtiva. As espécies de plantas medicinais e aromáticas prioritárias no bioma Mata Atlântica são: Espinheira santa (Maytenus aquifolium Mart.; Maytenus ilicifolia Mart, ex. Reiss. - Celastraceae) Carqueja [Baccharis trimera (Less.) DC. (=B. genistelloides) - Asteraceae] Chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus Michell. - Alismataceae) Ginseng brasileiro [Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen; P. paniculata Kuntze - Amaranthaceae] Ipê-roxo [Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo; Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley (=T. avellanedae) - Bignoniaceae] Guaco (Mikania glomerata Spreng; Mikania hirsutissima DC.; Mikania laevigata Sch. Bip. Ex Baker - Asteraceae) Ipeca [Psychotria ipecacuanha (Brot.) Standl. - Rubiaceae] Pata-de-vaca (Bauhinia forficata Link. - Leg. Caesalpinoideae) Canela [Ocotea odorífera (Vell.) J.G. Rohwer - Lauraceae] Guaçatonga (Casearia sylvestris Sw. - Flacourtiaceae) Catuaba (Trichilia catigua A. Juss.; Trichilia elegans A. Juss. - Meliaceae) Piper (Piper aduncum L.; Piper hispidinervum C.DC. - Piperaceae) Macela (Achyrocline satureoides DC. - Asteraceae) Araucária (Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze - Araucariaceae) Cavalinha (Equisetum giganteum L. - Equisetaceae) Cana-de-macaco (Costus spiralis Rosc. - Zingiberaceae) Embaúba (Cecropia glaziovi Snethl.; Cecropia peltata Schreb. ex Miq. Cecropiaceae) Maracujá (Passiflora alata Dryaner; Passiflora edulis Sims - Passifloraceae) Copaíba: - Leg. Caesalpinoideae incluída no grupo da Amazônia Pau-andrade [Persea major (Meisn.) L.E. Koop. - Lauraceae] Centella (Centella asiatica (L.) Urban - Apiaceae): incluída no grupo de Ruderais Caapeba (Pothomorphe peltata Miq.; Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Piperaceae) (MING, 2002, p. 64 e 65). Segundo Corrêa Júnior e Scheffer (2004), o estado do Paraná destaca-se pela maior tradição no cultivo de plantas medicinais, que iniciou há mais de 100 anos com o cultivo de camomila como cultura alternativa de inverno na Região Metropolitana de Curitiba - RMC, que logo se tornou referência para esta espécie no Brasil. Em 1994, o estado do Paraná já era fornecedor de 90% da demanda nacional de plantas cultivadas. O aumento na demanda de plantas medicinais, a busca de culturas alternativas e rentáveis por parte dos agricultores, o estímulo a uma agricultura ecologicamente sustentável por parte da então Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER370 PR, hoje Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER, fomentaram as iniciativas dos agricultores que logo diversificaram a produção e passaram a cultivar, além da camomila, outras espécies exóticas e, mais recentemente, também nativas (CORRÊA JÚNIOR e SCHEFFER, 2004). Os pequenos fragmentos florestais localizados nos remanescentes da floresta ombrófila mista apresentam uma riqueza de produtos da sociobiodiversidade (plantas medicinais, aromáticas, ornamentais, artesanais, dentre outras) com valores ambientais, sociais e culturais para a comunidade. Este trabalho tem por objetivo verificar a ocorrência, a frequência e identificar as espécies de produtos da sociobiodiversidade vegetal (plantas medicinais, aromáticas, ornamentais e artesanais) existentes nos fragmentos florestais remanescentes da floresta ombrófila mista utilizados pelas comunidades locais e com potenciais econômicos. MATERIAL E MÉTODOS A seleção do fragmento florestal foi realizada com apoio de ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, com utilização de imagens do satélite francês SPOT 5 (Satellite Pour I’Observation de la Terre) com resolução espacial de 5 metros referentes ao imageamento em 2005. A interpretação das imagens através de técnicas e equipamentos de sensoriamento remoto permitiu a classificação e localização dos fragmentos florestais, para posterior confirmação a campo e obtenção de pontos e perímetro com uso de Sistema de Posicionamento Global (GPS). A pesquisa foi desenvolvida em um fragmento florestal 39.265 m2 localizado na microbacia hidrográfica Rio Verde, município de Campo Largo - PR (Figuras 1 e 2), entre a latitude 25°25’20” Sul e longitude 49°27’23” Oeste com uma altitude entre 920 e 960 metros acima do nível do mar. O fragmento situa-se em uma área de distribuição natural da floresta ombrófila mista, com significativos remanescentes em estágio médio de sucessão, característica das áreas que sofreram uma degradação intensa com a extração de madeiras, mas que apresentam 371 florestas com boa recuperação por estarem preservadas por um período superior a 40 anos. FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DO FRAGMENTO FLORESTAL, CAMPO LARGO, PR Fonte: Matsushita (2010) FIGURA 2 - FOTO DE FRAGMENTO FLORESTAL, CAMPO LARGO, PR Fonte: Matsushita (2010) 372 O clima da região é do tipo Cfb, de acordo com a classificação de Köppen, apresentando estações climáticas bem definidas, com chuvas distribuídas durante todo o ano, com inverno rigoroso, geadas severas e com umidade relativa do ar entre 80 a 85%. A precipitação média anual fica entre 1.400 e 1.600 mm. A temperatura média anual é de aproximadamente 16,5°C, com mínimas podendo atingir valores negativos inferiores a -5 °C, e máximas superiores a 33 °C (IAPAR, 2000). O fragmento está localizado em relevo ondulado a forte ondulado, possuindo solo com textura argilosa denominado Cambissolo Húmico alumínico (EMBRAPA, 1999). Considerando o objetivo de verificar a ocorrência, a frequência e identificar as espécies da sociobiodiversidade dentro de um fragmento florestal, utilizou-se o método de transecto, locando e demarcando faixas com 20 m de largura perpendiculares ao rio, seguindo o sentido de maior declive devido à incidência de uma maior diversidade de espécies. O fragmento florestal de 39.270 m2 foi georreferenciado e subdividido em 48 unidades amostrais (Figura 1), com tamanhos variáveis em função de sua divisão perpendicular ao rio. Através de sorteio aleatório simples, as unidades amostrais foram selecionadas completamente ao acaso para que todas as amostras tivessem a mesma probabilidade de ser selecionada. O sorteio definiu sequencialmente as unidades amostrais 26, 01, 36, 06, 35, 28, 12 e 39 para realizar o levantamento das espécies da sociobiodiversidade. FIGURA 3 - UNIDADES AMOSTRAIS DO FRAGMENTO FLORESTAL, CAMPO LARGO, PR Fonte: Matsushita (2010) 373 FIGURA 4 - IMAGEM DO FRAGMENTO FLORESTAL, CAMPO LARGO, PR Fonte: Matsushita (2010) As unidades amostrais foram localizadas com uso de GPS e demarcadas com estacas e fitas. A coleta percorreu toda área das unidades amostrais sorteadas, iniciando pelas bordas localizadas nas áreas mais elevadas seguindo até o rio. As espécies foram coletadas com base no conhecimento etnobotânico de profissionais do Instituto Emater e de membros da comunidade com amplo conhecimento em coleta de plantas medicinais (“mateiros”) com mais de 50 anos de experiência na região. Ao serem localizadas as espécies de plantas medicinais, foram realizadas contagens para verificar a sua ocorrência (ocorre ou não ocorre na unidade amostral) e estabelecer a frequência, organizadas em 3 (três) classes: baixa (B) - até 5 plantas por unidade amostral, média (M) - de 6 a 15 plantas e alta (A) - acima de 15 plantas. Os materiais coletados, plantas ou ramos com folhas e inflorescências, foram enviados ao Museu Botânico Municipal da Prefeitura Municipal de Curitiba para secagem, preparo das exsicatas e identificação botânica. A área mínima representativa de amostragem foi observada através da curva espécie-área, que é uma função do número acumulado de espécies levantadas em relação à área de amostragem. Ela pode fornecer informações referentes à homogeneidade na distribuição 374 das espécies no povoamento. A curva espécies-área apresenta seu crescimento máximo nas primeiras subparcelas levantadas, tendendo a se estabilizar (horizontalizar) à medida que mais parcelas vão sendo incluídas. Os trabalhos de Jardim e Hosokawa (1986) e Araújo (2002) apresentam resultados nos quais observou-se que, em florestas naturais, a tendência à estabilização é suficiente para representar a vegetação, considerando-se que com o aumento da área amostrada ocorrem novas espécies. Vaccaro (1997) apresenta uma sugestão, onde a área mínima de amostragem é alcançada quando um acréscimo de 10% na área de amostra determina um acréscimo inferior a 10% no número de espécies. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram identificadas 55 espécies de plantas nas unidades amostrais do fragmento florestal, distribuídos em 31 famílias e 49 gêneros (Quadro 1). As espécies identificadas estão divididas nas seguintes famílias: Asteraceae (19); Solanaceae (3); Apiaceae, Myrtaceae, Piperaceae, Rosaceae (2); Anacardiaceae, Bignoniaceae, Blechnaceae, Dryopteridaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Flacourtiaceae, Hypericaceae, Liliaceae, Lythraceae, Malvaceae, Melastomataceae, Oxalidaceae, Plantaginaceae, Polygonaceae, Polypodiaceae, Pteridaceae, Ranunculaceae, Rutaceae, Sapindaceae, Smilaceae, Symplocaceae, Thiliaceae, Ulmaceae e Vitaceae (1). As plantas coletadas apresentaram uma grande diversidade, sendo que 80,1% das famílias foram identificadas por uma espécie, 12,9% das famílias com duas espécies, 3,2% das famílias com três espécies e apenas a família Asteraceae com 19 espécies. O maior número de espécie foi encontrado no gênero Baccharis e Mikania com três representantes, Piper e Solanum com dois, enquanto as demais apresentaram apenas uma espécie, conforme resultados organizados na Tabela 1, com a frequência de ocorrência de plantas com potencial medicinal identificadas nas unidades amostrais do fragmento florestal de Campo Largo - PR. 375 Quadro 1 - Frequência de ocorrência de plantas com potencial medicinal identificadas no fragmento florestal de Campo Largo - PR. Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Anacardiaceae Schinus terebinthifolius Raddii Aroeira, aroeira branca, aroeira-docampo Árvore nativa, com uso ornamental, melífera, aromática, óleo essencial, madeira, lenha, carvão e na medicina popular: adstringente, antidiarréico, anti-hemorrágico, anti-inflamatório, antinevrálgico, antirreumático, antisséptico, cicatrizante, depurativo, digestivo, disentérico, diurético, estimulante, febrífugo, peitoral, resolutivo e urinário (4, 9, 11, 14, 16, 17, 19 e 25). M A M A MM A M Apiaceae Apium leptophyllum (Pers.) F. Muell. Ex Benth Mastruço, aipo-bravo, gertrudes Planta exótica, daninha, com uso na medicina popular: cicatrizante, depurativo, digestivo, diurético, peitoral e vermicida (9, 13 e 17). Apiaceae Hydrocotyle asiática L. Centela asiática Planta exótica, daninha, com uso na medicina popular: antibiótico, antiflebológico, anti-inflamatório, calmante, cicatrizante, cordial, depurativo, diurético, estimulante, resolutivo, tônico, vulnerário e vasodilatador (1, 6, 8, 9, 11, 17, 21 e 25). Asteraceae Ageratum conyzoides L. Mentrasto, mentraste, erva-de-sãojoão Planta nativa, daninha, aromática com uso na medicina popular: amargo, analgésico, antidiarréico, antigripal, anti-inflamatório, antirreumático, M MMMMMMM carminativo, cicatrizante, emenagogo, febrífugo, hemostático e tônico (5, 6, 10, 11, 15, 17 e 25). Asteraceae Artemísia verlotorum Lamotte Artemísia, artemísiacomum, losna-brava. Planta exótica, daninha, aromática, óleo essencial, com uso na medicina popular: amargo, antiespamódicos, digestivo, emenagogo, febrífugo, hepático, sedativo, tônico, vermífugo (2, 10, 13, 18 e 25). B B M M B B CONTINUA 376 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Asteraceae Assa-peixe Austroeupatorium inulaefolium (Kunth.) R.M. King&H. Rob. Planta com uso na medicina popular: antigripal, anti-hemorrágico, anti-hemorroidal, antinevrálgico, curativo e peitoral (25). A A A A A A A A Asteraceae Baccharis calvescens DC. Vassourinha ou voadeira Planta com uso na medicina popular: antigripal e antitérmico (1, 6 e 9). A A A A A A A A Asteraceae Baccharis microdonta DC. Carqueja Planta com uso na medicina popular: amargo, antigripal, anti-hemorrágico, febrífugo e hepático (1, 5, 6 e 25). B M Asteraceae Baccharis milleflora (Less.) DC. Carqueja Asteraceae Bidens pilosa L. Picão, picão-preto, pico-pico, amor seco, carrapichinho Língua-deAsteraceae Chaptalia nutans vaca, arnica do mato. (L.) Polak Planta com uso na medicina popular: amargo, analgésico, antirreumático, anti-inflamatório, antisséptico, urinário, colegogo, cordial, diurética, depurativa, estomáquico, febrífugo, hepatobiliar, hipoglicemiante, hemostático, laxante e tônico (1, 5, 6, 21, 24 e 25). Planta nativa, daninha, com uso na medicina popular: anti-hemorroidal, antirreumático, antisséptico, antisséptico urinário, blenorrágico, carminativo, cicatrizante, disentérico, depurativo, diurético, emoliente, estomáquico, febrífugo, hepatobiliar, hipoglicemiante, resolutivo e vulnerário (5, 6, 9, 10, 11, 15, 17, 20, 23 e 25). Planta nativa, daninha, óleo essencial, com uso na medicina popular: antigripal, anti-hemorrágico, antinevrálgico, antisséptico, blenorrágico, diurético, vulnerário (9, 13, 15 e 17). B B M A M A M A M M CONTINUA 377 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Asteraceae Chrysolaena platensis (Spr.) H. Robinson Assa-peixe Asteraceae Dasyphyllum tomentosum (Spreng.) Cabrera Goiapa, açucará, guaiapá Planta com uso na medicina popular (25). Asteraceae Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Cambará Planta nativa, com uso ornamental, madeira e na medicina popular: antigripal, balsâmico, digestivo, emoliente, febrífugo e tônico (9, 14, 16, 17 e 25). Asteraceae Grazielia serrata (Spreng.) R.M. King&H. Rab. Eupitério Planta com uso na medicina popular (25). Asteraceae Mikania glomerata Spreng. Guaco, cipó-catinga, guacode-cheiro, guacotrepador Planta nativa, com óleo essencial, melífera e uso na medicina popular: amargo, antigripal, anti-inflamatório, antinevrálgico, antirreumático, antisséptico, béquico, broncodilatador, calmante, cicatrizante, depurativa, diurética, emoliente, expectorante, febrífugo, fluidificante, peitoral, sudorífico, tônico e vulnerário (3, 5, 6, 9, 11, 15, 17, 21, 24). Cipócabeludo, cipó-d’água Planta nativa, com óleo essencial, melífera e uso na medicina popular: antidiarréico, antinevrálgico, antirreumático, antisséptico urinário, blenorrágico, diurético, emenagogo, estimulante, resolutivo, vulnerário e moluscicida (9, 11, 15, 17, 21 e 25). Asteraceae Mikania hirsutissima DC. Planta daninha, com uso na medicina popular: antigripal, antihemorroidal, antitussígeno, antihemorrágico, antinevrálgico, blenorrágico, diurético e vulnerário (25). B B B B B B B B B B B A A A A M B B CONTINUA 378 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Micania Asteraceae Mikania micrantha H.B.K. Planta nativa, inseticida, com óleo essencial e uso na medicina popular: antirreumático, antisséptico, balsâmico, cicatrizante e febrífugo (3). M Asteraceae Solidago chilensis Meyer Arnica, arnicabrasileira, arnica-docampo Planta nativa, daninha, com óleo essencial, melífera e de uso na medicina popular: adstringente, antinevrálgico, cicatrizante, estomáquico e vulnerário (5, 6, 9, 11, 17, 20 e 25). B B Asteraceae Sonchus oleraceus L. Serralha, chicóriabrava, serralha-lisa, serralheira Planta exótica, daninha, com óleo essencial, melífera e de uso na medicina popular: anti-inflamatório, antirreumático, cicatrizante, depurativo, digestivo, diurético, estomáquico, hepático, laxante e tônico (6, 9, 10, 11, 15, 17 e 25). B B B Asteraceae Taraxacum officinale Weber Dentede-leão, almeirão, taraxaco, amargosa Planta exótica, daninha, melífera e de uso na medicina popular: amargo, antiescorbútico, anti-inflamatório, antirreumático, aperiente, carminativo, colagogo, colerético, depurativo, B B diurético, estomáquico, febrífugo, hepatobiliar, hipoglicemiante, hipolipemiante, hipotensor, laxante, oftálmico, tônico e vulnerário (1, 2, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 15, 17, 18, 21, 23 e 25). Asteraceae Vernonanthura tweedieana (Baker) H. Rob. Assa-peixe Planta nativa, de uso na medicina popular: antigripal, anti-hemorrágico, anti-hemorroidal, antinevrálgico, balsâmico, béquico e vulnerário (25). Bignoniaceae Jacaranda puberula Cham. Caroba, carobinha, jacarandábranco, caroba-damata Planta nativa, com uso ornamental, madeira e na medicina popular: antirreumático, cicatrizante, depurativo, diurético e vermífugo (14 e 25). A B M A M B B M B B A CONTINUA 379 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico SamamBlechnaceae Blechnum baiaçu-dobrasiliense Desv. brejo Planta nativa, com uso na medicina popular: antitussígeno e diurético (9). B B B B B B B B Dryopteridaceae Ctenitis sp Samambaia Euphorbiaceae Sebastiania commersoniana (Baillon) L. B. Smith & R.J. Down Branquilho, salgueirobrabo, branquinho, branquio Planta nativa, com uso ornamental, melífera, madeira, lenha, carvão e na medicina popular (9, 14 e 17). A Fabaceae Machaerium Stipitatum (DC.) Vogel Sapuva, sapuvão, sapuvinha, sapuva-docampo Planta nativa, com uso ornamental, lenha, carvão e na medicina popular: curativo (4 e 14). M M B B B M B B Flacourtiaceae Casearia decandra N.J. Jacquin Guaçatunga, guaçatonga, cabroé, guaçatungapreta, cafédo-mato Planta nativa, com uso ornamental, madeira, lenha, carvão e na medicina popular: anestésico, antiofídico, antirreumático, antisséptico, cicatrizante, cordial, diurético, emoliente, hipolipemiante, hipotensor, resolutivo e tônico (9, 12, 16, 17, 22 e 25). Hypericaceae Hypericum brasiliense Choisy Milfacada, orelha-degato, alecrim bravo Planta nativa, com uso na medicina popular: estimulante (25). Liliaceae Cordyline spectabilis Kunth&Bouché Uvarana, guaraneira Planta nativa, com uso na medicina popular: diurético e depurativo (5 e 9). Planta nativa, com uso na medicina popular: antitussígeno, balsâmico, diurético e sudoríparo (9). A A A A A A A A A A A B A A A A A A A B A A A A A A A A CONTINUA 380 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Lythraceae Cuphea calophylla Mesostemon (Koehne) Lourt. Setesangrias Malvaceae Sida rhombifolia L. Guanxuma, guanxumabranca, vassourinha, malva, matapasto Planta nativa, com uso na medicina popular: antirreumático, diurético, depurativo, febrífugo, hipolipemiante, hipotensor, sudoríparo e tônico (25). Planta nativa, daninha com uso na medicina popular: adstringente, afrodisíaco, antigripal, antihemorroidal, anti-inflamatório, balsâmico, calmante, curativo, disentérico, digestivo, diurético, emenagogo, estomáquico, emoliente, estimulante, febrífugo, supurativo, tônico e vermífugo (9, 10, 11, 17, 21, 23 e 25). Melastomataceae Pixirica Leandra australis (Cham.) Cogn. Planta nativa, com uso na medicina popular (9). Myrtaceae Campomanesia xanthocarpa O. Berg. Guabirobeira, guabiroba, gabirobeirado-mato Planta nativa, com óleo essencial, uso ornamental, lenha, carvão e na medicina popular: adstringente, antidiarréico, antigripal, antihemorrágico, anti-hemorroidal, balsâmico, curativo, depurativo, disentérico, hipolipemiante e vermífugo (4, 9, 14, 17, 19 e 25). Myrtaceae Eugenia uniflora L. Pitanga, pitangueira, pitangavermelha Planta nativa, com uso ornamental, melífera, aromática, lenha, carvão e na medicina popular: adstringente, afrodisíaco, ansiolítico, antidiarréico, antirreumático, balsâmico, béquico, calmante, diurético, disentérico, estimulante, estomáquico, febrífugo, hipocolesteremiante, hipotensor e vermífugo (4, 9, 14, 17, 19, 20 e 25). B B A A A M B M B B M A A MM B B B B A B CONTINUA 381 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Planta exótica, daninha com uso na medicina popular: adstringente, antiescorbútico, disentérico, depurativo, emenagogo e hepático (9 e 14). Oxalidaceae Oxalis latifolia Kunth Azedinha Piperaceae Piper gaudichaudianum Kunth Pariparoba, pariparobado-mato, jaborandi Planta nativa, com uso na medicina popular: anti-hemorroidal, balsâmico, estomáquico e hepático (6, 9 e 17). Piperaceae Piper mikanianum (Kunth) Steud Pariparoba, jaborandi, murta Planta nativa, com uso na medicina popular: anti-hemorroidal, balsâmico, estomáquico, hepático, hipocolesteremiante e hipotensor (6, 9, 17 e 25). Plantaginaceae Plantago tomentosa Lam. Tansagem, tanchagem Planta exótica, daninha com uso na medicina popular: adstringente, anti-hemorroidal, anti-inflamatório, antisséptico, antidiarréico, cicatrizante, depurativo, diurético, emoliente, estomáquico, hepático, expectorante, laxante, peitoral e resolutivo (1, 5, 9, 11, 15, 18, 24 e 25). Polygonaceae Rumex obtusifolius L. Língua-devaca Planta exótica, daninha com uso na medicina popular: antitussígeno, balsâmico, desobstruente, tônico (9, 10, 13 e 17). Polypodiaceae Campyloneurum nitidum (Raulf.) C. Presl Rabo-dearara Planta com uso na medicina popular: antirreumático, antitussígeno e emenagogo (25). Pteridaceae Adiantum raddianum C. Presl Avenca Planta nativa, com uso na medicina popular: antirreumático, antidiarréico, antitussígeno, balsâmico e disentérico (25). A A A A A A A A Ranunculaceae Clematis dioica L. Cipó barba branca Planta nativa, com uso na medicina popular: depurativo e diurético (25). A A A A A A A A A A A A A A A A M MMMM A M A A A M A M M M MM B B M A B B CONTINUA 382 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Ameixeira, ameixaamarela, nêspera, ameixa-dojapão Planta exótica, com uso na medicina popular: adstringente, antitussígeno, depurativo, desobstruente, emoliente, hipotensor e laxativo (9 e 17). Rosaceae Rubus urticaefolius Poir Amoreira, amora -branca Planta nativa, com uso na medicina popular: adstringente, antidiarréico, anti-inflamatório, antinevrálgico, depurativo, diurético, hepático, hipoglicemiante e vermífugo (9 e 25). Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mamicade-cadela, mamica-deporca, juvevê, mamiqueira, juva Planta nativa, com uso ornamental, aromática, melífera, lenha, carvão e na medicina popular: adstringente, analgésico, antiespasmódico, carminativo, depurativo, estimulante, estomáquico, febrífugo e tônico (4, 9, 14, 17, 20 e 25). Rosaceae Eriobotrya japonica Lindl. Camboatá, Sapindaceae Cupania vernalis cuvatã, cuvantã, Cambessedes pau-d’arco, miguel pintado Planta nativa, com uso ornamental, melífera, mourões, lenha, carvão e na medicina popular: antirreumático, febrífugo, hepático e tônico (4, 9, 14, 17 e 19). Smilaceae Smilax cognata Kunth Salsaparrila, japecanga Planta nativa, com uso na medicina popular: antirreumático, depurativo, diurético, febrífugo, hipocolesteremiante e sudorífico (1, 15, 21 e 25). Solanaceae Nicandra physaloides (L.) Gaertn. Joá-decapote, balão, quintilho, bexiga Planta exótica, daninha, com uso na medicina popular, porém seus tecidos contêm alcalóides tóxicos (10 e 13). M B B B B A A M B A MM M B MM M M CONTINUA 383 CONTINUAÇÃO Nome Popular Usos* e (referências) Frequência de Ocorrência Unidades amostrais 26 01 36 06 35 28 12 39 Família Nome científico Solanaceae Solanum americanum Mill. Maria-preta, mariapretinha, erva-de -bicho Planta exótica, daninha, com uso na medicina popular: analgésico, cicatrizante, depurativo, diurético, emoliente, expectorante, narcótico, sedativo e vermífugo (10, 11 e 17). Solanaceae Solanum mauritianum Scop. Fumo bravo Planta nativa, inseticida, com uso na medicina popular: antinevrálgico, calmante, cicatrizante e diurético (7). Symplocaceae Symplocos laxiflora Benth. Maria mole Thiliaceae Luehea divaricata Mart. Açoitacavalo, açoutacavalo, paude-canga, ibatingui Planta nativa, com uso ornamental, madeira, móveis e na medicina popular: adstringente, anti-hemorrágico, antirreumática, balsâmico, béquico, depurativo, disentérico e diurético (9, 14, 16, 17, 19 e 25). Ulmaceae Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent Esporão de galo Planta nativa, com uso na medicina popular: digestivo (9 e 17). Vitaceae Cissus sulcicaulis (Baker) Planch. Mãe boa Planta nativa, com uso na medicina popular: antirreumático (25). B B B B B B B B B B Planta nativa, com uso na medicina popular (9). B M MM M A A A A B Fonte**: (1) Alonso (2008); (2) Boni e Patri (1994); (3) Carollo (2008); (4) Carvalho (2006); (5) Corrêa Júnior et al. (1994); (6) Corrêa Júnior et al. (2006); (7) Coutinho (2009); (8) Franco (2008); (9) Kolbes (2007); (10) Lorenzi (1986); (11) Lorenzi (2002a); (12) Lorenzi (2002b); (13) Lorenzi (2008a); (14) Lorenzi (2008b); (15) Martins et al. (2000); (16) Pedroso et al. (2007); (17) Ramos (2008); (18) Reader’s Digest (1984); (19) Reitz et al. (1983); (20) Simões et al. (1995); (21) Teske e Trentini (1994); (22) Thadeo (2007); (23) Torres (2005); (24) Velloso e Peglow (2003) e (25) Zampier*** (2010). * Os usos estão descritos em ANEXO 1 – Glossário de propriedades medicinais das plantas. ** Referências consultadas *** Informações verbais com base em sua ampla experiência de mais de 50 anos em coleta e uso de produtos da sociobiodiversidade na comunidade local. 384 Os resultados apresentados no Quadro 1 possibilitaram analisar a ocorrência e frequência de espécies medicinais, das quais 15 espécies (27,3%) foram encontradas em todas as unidades amostrais, entre elas 6 espécies com alta frequência e 9 com frequência variando entre baixa, média e alta. Outras 16 espécies (29,1%) apresentaram ocorrência em pelo menos 4 unidades amostrais (50%) com frequência variando entre baixa, média e alta; 14 espécies (25,5%) apresentaram ocorrência em pelo menos 2 unidades amostrais (25%) com frequência variando entre baixa, média e alta; e 10 espécies (18,2%) apresentaram ocorrência em 1 unidade amostral (12,5%) com frequência variando entre baixa, média e alta. O levantamento nas unidades amostrais apresentou os seguintes resultados (Tabela 1): unidade amostral 26 com 40 espécies de plantas medicinais identificadas, sendo 3 espécies exclusivas desta unidade; unidade 01 com 41 espécies identificadas, sendo 2 espécies exclusivas e 8 espécies diferentes em relação à unidade amostral anterior; unidade 36 com 20 espécies identificadas, sem ocorrência de espécie exclusiva e 1 espécie diferente em relação às unidades amostrais anteriores; unidade 06 com 28 espécies identificadas, sem ocorrência de espécies exclusivas ou diferentes das unidades amostrais anteriores; unidade 35 com 25 espécies identificadas, sendo 2 espécies exclusivas e 3 espécies diferentes em relação às unidades amostrais anteriores; unidade 28 com 29 espécies identificadas, sendo 2 espécies exclusivas e 2 espécies diferentes em relação às unidades amostrais anteriores; unidade 12 com 33 espécies identificadas, sendo 1 espécie exclusiva e 1 espécie diferente em relação à unidades amostrais anteriores; e unidade 39 com 22 espécies identificadas, não ocorrendo qualquer espécie exclusiva ou diferente. Assim, o número de espécies acumuladas por unidade amostral iniciou com 40 espécies, conforme apresentado na Tabela 1 e na Figura 2 indicando, como esperado, uma redução do número de espécies e aproximando-se de uma estabilização da curva à medida que novas unidades amostrais foram coletadas, perfazendo o total de 55 espécies de plantas medicinais. 385 Tabela 1 - Número de espécies com potencial medicinal identificadas nas unidades amostrais - Campo Largo-PR Nº da unidade amostral Área (m2) Nº de espécies identificadas Nº de espécies exclusivas 26 01 36 06 35 28 12 39 1.295 1.109 199 754 532 1.591 1.301 338 40 41 20 28 25 29 33 22 3 2 0 0 2 2 1 0 Nº de espécies diferentes das Nº de unidades espécies amostrais acumuladas anteriores 40 8 1 0 3 2 1 0 40 48 49 49 52 54 55 55 Fonte: Matsushita (2010) FIGURA 5 - CURVA ESPÉCIE-ÁREA DE ESPÉCIES COM POTENCIAL MEDICINAL, CAMPO LARGO, PR. Fonte: Matsushita (2010) 386 CONCLUSÕES Com base no conhecimento etnobotânico foram coletadas e identificadas 55 espécies de plantas com usos medicinais, popularmente conhecidas, utilizadas e citadas em literaturas por apresentarem-se úteis para a sociobiodiversidade. Apesar de a cultura popular conhecer o uso das espécies identificadas, algumas são pouco utilizadas porque existem espécies similares mais eficientes e de fácil acesso. Muitas espécies ainda não possuem registro no órgão de vigilância sanitária competente do Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo necessário ampliar as pesquisas e registro dessas espécies para que sejam industrializadas, expostas à venda e entregues ao consumo, garantindo à população brasileira o acesso seguro e o uso racional. A maioria das espécies existentes é nativa da região, porém, foram identificadas várias plantas que são exóticas e invasoras, tais como centela asiática (Hydrocotyle asiatica), losna (Artemisia verlotorum), picão preto (Bidens pilosa), serralha (Sonchus oleraceus), dente-de-leão (Taraxacum officinale), azedinha (Oxalis latifólia), tanchagem (Plantago tomentosa) e língua-de-vaca (Rumex obtusifolius); outras invasoras são nativas como o mentrasto (Ageratum conyzoides), arnica do mato (Chaptalia nutans), assa-peixe (Chrysolaena platensis), dentre outras. A maior parte das espécies invasoras foi localizada principalmente nas bordas dos fragmentos, próximas às áreas exploradas com culturas anuais. A maioria das espécies arbóreas é nativa e possuem várias utilidades, tais como medicinal, ornamental, melífera, madeira, lenha e carvão. O seu plantio é recomendado em reflorestamentos heterogêneos destinados à recuperação de áreas degradadas de preservação permanente. Apesar da ocorrência de um grande número de espécies no fragmento florestal pesquisado, algumas espécies da região com potencial econômico não foram localizadas, como a cavalinha (Equisetum heymale, E. giganteum), chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus), pata-de-vaca (Bauhinia forficata), marcela (Achryrocline satureioides), espinheira santa (Maytenus ilicifolia), dentre outras. Os fragmentos florestais da região de ocorrência da floresta ombró387 fila mista apresentam uma grande diversidade de espécies úteis para a população, com grande potencial de mercado para a indústria alimentícia (chás), fitoterápicos (remédios), óleos essenciais, fibras e fitocosméticos. O uso sustentável dos produtos da sociobiodiversidade possibilita a melhoria econômica e social nas propriedades familiares através de sua exploração seletiva, incentivando a manutenção e ampliação dos fragmentos florestais, reduzindo o impacto ambiental e garantindo a sustentabilidade dos sistemas de produção. Com o georreferenciamento das unidades amostrais, torna-se possível o mapeamento e a localização das espécies com potencial medicinal para futuras coletas, pesquisas e estudos de viabilidade econômica para uma exploração sustentável. 388 REFERÊNCIAS ALEXIADES, M.N. e SHANLEY, P. Productos forestales, médios de subsisencia y conservacion. Estudios de caso sobre sistemas de manejo de productos forestales no maderables. Volumen 3 - Amarica Latina. Jakarta, Indonésia: SMK Desa Putera, 2004. ANDRETTA, G.M.A.C. Valor Bruto da Produção Agropecuária Paranaense de 2006. Curitiba: SEAB/DERAL/DEB, 2008. ALONSO, J.R. Fitomedicina: curso para profissionais da área da saúde. São Paulo: Pharmabooks, 2008. ARAUJO, M.M. Vegetação e mecanismos de regeneração em fragmento de floresta estacional decidual ripária, Cachoeira do Sul, RS, Brasil. Santa Maria-RS, 2002. 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Brasília: Embrapa recursos genéticos e biotecnologia/Instituto do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis (Ibama)/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 2002. 392 CAPÍTULO XII ESTUDOS DOS CAMINHOS DO LEITE NO MUNICÍPIO DE CAMPINA DO SIMÃO COM USO DO GEOPROCESSAMENTO Milton Satoshi Matsushita 1 Hernani Alves da Silva 2 Udo Bublitz 3 Valdir Tambosetti 4 Edilson Moreira 5 1 2 3 4 5 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Produção Vegetal, Instituto Emater, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Especialista em Manejo dos Recursos Naturais e Estradas Rurais, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Zootecnista, Especialização em Pecuária Leiteira, Instituto Emater, Guarapuava, Paraná, Brasil - [email protected] Técnico Agropecuário e Gestor em Agronegócios, Instituto Emater, Guarapuava, Paraná, Brasil - [email protected] 393 394 INTRODUÇÃO O Brasil produz anualmente 32 bilhões de litros de leite e esta produção vem aumentando cerca de 5% ano após ano. Neste cenário, destacam-se a Região Sudeste e Sul, responsáveis por aproximadamente 62% da produção nacional (IBGE, 2012). No ano de 2011, o estado com maior produção de leite foi Minas Gerais, com 27,2% da produção nacional, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 12% e em terceiro lugar o Paraná, responsável pela produção de 3,8 bilhões de litros, que representaram 11,8% da produção nacional. A produção do estado do Paraná encontra-se em ascensão. Segundo Mezadri (2013) entre os anos de 2001 e 2011 houve aumento da produção de 1,9 para 3,8 bilhões de litros, correspondendo a uma variação de 100%, enquanto que o rebanho evoluiu de 1,15 para 1,59 milhões de cabeças, variação correspondente a 38%. O crescimento maior da produção em relação ao efetivo de rebanho reflete melhoria em índices produtivos do rebanho, que partiu de 6 litros/vaca/dia no ano de 2001, para 10,9 litros em 2009. Além disso, a estimativa das receitas mostra que o leite é uma importante fonte geradora de renda para os produtores paranaenses, pois, para metade deles, representa mais de 50% da renda obtida com a exploração agropecuária (IPARDES, 2009). O leite tem um papel importante no desenvolvimento econômico de propriedades com economia de base familiar em todo o estado do Paraná e o desenvolvimento do setor pode ser a garantia da geração de renda e trabalho, favorecendo a permanência dos sujeitos do campo, no campo. Na percepção do pequeno produtor rural, a produção de leite é a atividade que garante mensalmente a entrada de recursos para a manutenção da sua família, o que já não acontece com as culturas anuais. A região do Território Paraná Centro (Figura 1) é composta por 17 municípios localizados na região central do Estado. Segundo IPARDES (2009), esta região não faz parte das principais bacias leiteiras estaduais em termos de produção de leite, apresentando índice médio de 8,5 litros/vaca/dia e 55,3% das propriedades leiteiras produzindo até 50 litros/dia. Mais recentemente, levantamento realizado por agentes extensionistas nos municípios que compreendem o Território, mostra que a atividade leiteira na região é caracterizada pela agricultura familiar e pelo baixo nível tecnológico, com cerca de 70% das propriedades 395 leiteiras produzindo menos de 100 litros de leite/dia, com média regional de aproximadamente 65 litros. FIGURA 1 - MUNICÍPIOS PERTENCENTES AO TERRITÓRIO PARANÁ CENTRO Fonte: Elaborado pelos autores (2014) Em função das características da atividade leiteira na região, a Associação dos Municípios do Território do Paraná Centro desenvolveu uma proposta para o “fortalecimento da atividade leiteira no Território Paraná Centro”, buscando como resultado a melhoria da qualidade de vida dos produtores e a garantia das condições necessárias para a permanência do homem no campo e, ao mesmo tempo, garantir a segurança alimentar dos produtos lácteos oriundos desta localidade. Os principais desafios para a atividade leiteira nos municípios do Território Paraná Centro são: - A assistência técnica especializada no setor em contingente suficiente para o atendimento da demanda; - O aumento da produção de leite por unidade produtiva, com melhoria da sanidade, pois a baixa produção por unidade compromete economicamente a atividade; 396 - A melhoria da qualidade do leite e, como consequência, o produtor receber remuneração compatível; A promoção da sustentabilidade do setor em todas as suas dimensões, garantindo a geração de renda e qualidade de vida dos bovinocultores na região. Os resultados de pesquisa realizada por Viana e Rinaldi (2010) em Laranjeiras do Sul, municípios com características semelhantes ao Território Paraná Centro, demonstraram os principais problemas ou entraves que podem ser considerados como fatores de restrição ao bom desenvolvimento da cadeia produtiva do leite no município. Os quatro principais entraves totalizam 87% dos problemas, sendo: necessidade de melhorar a qualidade da alimentação, pastagem e genética do rebanho (23%), falta de assistência técnica (23%), estrada (21%) e preço (20%). As estradas foram mencionadas como fator de restrição, uma vez que estradas ruins dificultam e até mesmo impedem, em períodos chuvosos, o acesso dos caminhões que transportam o leite das propriedades ao local de armazenamento na cooperativa, ocasionando em alguns casos perdas de produção, além de dificultar a locomoção do proprietário e a entrada de insumos nas propriedades. Ainda o trabalho de Viana e Rinaldi (2010) em relação à conservação das estradas de acesso às propriedades dos produtores cooperados da Cooperativa de Produtores de Leite de Laranjeiras do Sul - COLELS conclui que 60,0% da estrada principal é considerada regular e 40,0% ruim, enquanto 47,1% da estrada secundária é considerada regular e 52,9% ruim. Segundo Demarchi (2003), a malha viária rural é um importante componente da infraestrutura rodoviária, vital para a economia de qualquer país, permitindo o fluxo regular de mercadorias e o desenvolvimento de comunidades, contribuindo para na melhoria de sua qualidade de vida. Em geral, a grande maioria das estradas rurais foram abertas de forma inadequada pelos colonizadores, orientadas pela estrutura fundiária e pelas facilidades do terreno, favorecendo em períodos de chuvas intensas o desenvolvimento de processos erosivos, prejudiciais à pista de rolamento e às áreas marginais, sendo que a manutenção e a readequação são atividades complementares à conservação do solo e contribuem favoravelmente para a preservação do meio ambiente. DEMARCHI (2003) 397 O planejamento para a implantação ou melhoria nas atividades agropecuárias pelos técnicos e produtores deve considerar e analisar vários fatores, tais como: tecnologia, produtividade, alimentação, aspectos de sanidade, aspectos ambientais, rentabilidade, geração de empregos etc. No entanto, na maioria das vezes, alguns gargalos de logística são esquecidos e podem vir a comprometer o sucesso da atividade ou reduzir a sua lucratividade. No caso específico da cadeia produtiva do leite, a existência de estradas rurais e acessos (carreadores) em boas condições de trafegabilidade é condição fundamental, em função da necessidade de transporte (frete) quase que diário, para atender a demanda da indústria, aliado ao fato da condição limitada de armazenagem e frigorificação do leite nas propriedades rurais. As melhorias e adequações realizadas nas estradas rurais pelas prefeituras municipais e outros órgãos, na maioria das vezes, não consideram as condições das propriedades rurais localizadas nas suas margens. As águas provenientes das glebas rurais, por falta de práticas de manejo e conservação de solos e água, ocasionam sérios problemas erosivos nas propriedades rurais e também nas estradas rurais. Por outro lado, as estradas rurais também desaguam e causam erosão e prejuízos nas áreas agrícolas. A partir de outros trabalhos desenvolvidos pela extensão rural em diversos programas de Estado, conforme citados por Parchen e Bragagnolo (1991), Bragagnolo et al. (1997), Doreto (1998), Muzilli (2004) e Bertol (2008), é possível afirmar que tanto as propriedades rurais quanto as estradas e carreadores devem estar integrados e harmonizados no controle da erosão e fluxo das águas, para que tenham boas condições de trafegabilidade e durabilidade. A cadeia produtiva do leite e qualquer outra atividade agrícola necessita de estradas e acessos (carreadores) rurais em boas condições de trafegabilidade em qualquer condição climática, sob pena de causar grandes prejuízos a todos os atores envolvidos. Devido ao anteriormente exposto, o Instituto Emater com apoio de ferramentas de geoprocessamento tem por objetivo levantar informações das propriedades rurais produtoras de leite, estradas federais, municipais e rurais, além dos carreadores (tipo de pavimento, extensão, largura e condições de trafegabilidade) e propor medidas para sua correta adequa398 ção, melhoria e manutenção. Além das informações relativas às estradas rurais, a metodologia objetiva a caracterização dos sistemas de produção de leite nos aspectos de constituição dos rebanhos leiteiros, produção de leite, produtividade e infraestrutura de armazenagem da produção. MATERIAL E MÉTODOS O município de Campina do Simão foi selecionado por ser representativo dentre os municípios do Território Paraná Centro e pelo interesse em fortalecer a atividade leiteira. Os levantamentos foram planejados e executados com apoio de ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto com utilização de imagens do satélite francês SPOT 5 (Satellite Pour I’Observation de la Terre) com resolução espacial de 5 metros referentes ao imageamento em 2005. A interpretação das imagens através de técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto com uso do software livre gvSIG permitiu localizar as propriedades, estradas e carreadores, para posterior confirmação a campo com obtenção de linhas e pontos nas estradas e propriedades com uso de Sistema de Posicionamento Global (GPS). A localização das propriedades e pontos de referência, estradas e carreadores foram realizados com uso de um conjunto de equipamentos e softwares: - GPS de navegação, configurado para o Sistema de Coordenadas planas UTM (Universal Transversa de Mercator) e Datum horizontal South American Datum SAD 69 <Brazil IBGE>; - Software GPS Trackmaker Pro, configurado para o mesmo sistema de coordenadas e datum do GPS, Sistema de Coordenadas planas UTM (Universal Transversa de Mercator) e Datum horizontal South American Datum SAD 69 <Brazil IBGE>; - Planilha eletrônica Microsoft Excel; - Banco de dados Microsoft Access; - Software livre de geoprocessamento gvSIG; - Software de geoprocessamento Esri ArcGis; Os trabalhos foram desenvolvidos de forma participativa, adequando os dados coletados às necessidades para elaboração de um diagnóstico e plano de ação para fortalecer a atividade leiteira no Território Paraná Centro. A implementação dos trabalhos ocorreu em várias etapas, con399 templando capacitações e levantamentos a campo, conforme segue: a) Análise dos dados atuais que apresenta uma situação com informações divergentes em relação às estradas estaduais e municipais, motivando a realização de levantamentos para obtenção de informações mais precisas; b) Elaboração e adequação de um roteiro e planilha para coleta de dados que contemple informações relacionadas à infraestrutura rodoviária: nome da estrada, tipo de estrada (federal, estadual, municipal, municipal secundária e via urbana), tipo de pavimento (asfalto, cascalho, pedras irregulares e terra), obras (pontes, trincheiras, viadutos e bueiros), condições de tráfego (qualquer tempo, difícil com chuva, difícil acesso e sem acesso com chuva) e largura média da pista de rolamento. E informações relacionadas à produção de leite: nome do produtor, nome da empresa ou cooperativa, infraestrutura de apoio (centro comunitário, resfriador comunitário), preço recebido pelo produtor, produção diária, coleta em número de dias, tipo de equipamento de armazenamento do leite (resfriador de expansão, resfriador de imersão, freezer e geladeira), rebanho total de bovino de leite e vacas em lactação de bovino de leite. c) Capacitação prática dos técnicos para: c.1) coletar dados com uso de GPS (pontos e trilhas); c.2) salvar arquivos de dados do GPS em formato shape (pontos e trilhas); c.3) preencher formulário de pesquisa (Ficha de Levantamento de Propriedades) no campo; c.4) preencher os formulários de pesquisa (fichas de campo) em uma planilha Excel para que posteriormente possam ser salvas em DBF; c.5) salvar arquivos de dados do Excel (XLS) para banco de dados (DBF) (formato utilizado pelo gvSIG); d) Utilização do Excel para tabulação, combinação e análise de dados; e) Utilização o gvSIG para realizar a tabulação, combinação e análise de dados; f) Utilização o ArcGis para elaboração dos layouts para apresentação de dados. 400 O método utilizou o Sistema de Informações Geográficas para qualificar e quantificar as propriedades e a infraestrutura rodoviária para o trabalho de fortalecimento da atividade leiteira no município de Campina do Simão, cujos trabalhos concentraram-se na região central e oeste do município, devido à localização das propriedades leiteiras nestas regiões. FIGURA 2 - CAMINHOS DO LEITE DE CAMPINA DO SIMÃO Fonte: Elaborado pelos autores (2014) RESULTADOS E DISCUSSÕES Os caminhos do leite no município de Campina do Simão possuem 262,69 km de estrutura viária, sendo servidos por rodovia estadual asfaltada (6,0%), estradas municipais cascalhadas (76,1%), carreadores cascalhados e em terra (16,8%) e vias urbanas (1,1%), conforme detalhado nas Tabelas 1 e 2. O município possui apenas 15,7 km de rodovia estadual asfaltada, sendo esta o principal acesso à sede do município. E como todas as estradas municipais (principais e secundárias) são cascalhadas, permite o tráfego entre todas as comunidades rurais do município, apenas 401 apresentando dificuldade em pequenos trechos localizados em diversos pontos que apresentam relevo com declividade acentuada e pista de rolamento irregular prejudicando o tráfego em dias de chuva. Tabela 1 - Tipos de estradas e de pavimentos dos caminhos do leite Tipo de Pavimento Largura min. (m) Largura máx. (m) Largura média (m) Comprimento (m) Cascalho 3 6 3,8 35.626 13,6 Terra 3 4 3,6 8.409 3,2 Estadual Asfalto 8 8 8,0 15.718 6,0 Municipal Cascalho 4 8 5,8 164.260 62,5 Municipal secundária Cascalho 3 6 4,7 35.772 13,6 Asfalto 8 8 8,0 2.529 1,0 Pedra irregular 8 8 8,0 377 0,1 3 8 4,9 262.691 100,0 Tipo de Estrada Carreador Via urbana Total geral % Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) Tabela 2 - Tipos de estradas, pavimentos e trafegabilidade dos caminhos do leite Tipo de Pavimento Tipo de Estrada Cascalho Carreador Terra Trafegabilidade Difícil Difícil com Qualquer acesso (m) chuva (m) tempo (m) 279 2.622 1.637 4.874 Sem Total acesso (m) geral (m) 32.725 35.626 1.898 8.409 Estadual Asfalto 15.718 15.718 Municipal Cascalho 343 163.917 164.260 Municipal secundaria Cascalho 53 35.719 35.772 2.529 2.529 377 377 Asfalto Via urbana Pedra irregular Total geral % 1.916 7.892 250.985 1.898 262.691 0,7 3,0 95,5 0,7 100,0 Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) 402 Os caminhos do leite de Campina do Simão possuem 95,5% da estrutura viária em condições de trafegar com qualquer tempo, sendo que os maiores gargalos estão nos carreadores, que apresentam locais sem acesso, trechos de difícil acesso com chuva e difícil acesso com qualquer tempo, dificultando o trânsito de caminhões para a coleta do leite, o que pode ser visualizado nas Figuras 3 e 4. FIGURA 3 - TIPO DE PAVIMENTO DAS ESTRADAS Fonte: Elaborado pelos autores (2014) Os carreadores apresentam problemas de trafegabilidade em 11,3 km (25,7%) de sua extensão, sendo 25,6% em trechos com cascalho e 74,4% em trechos de terra. 403 FIGURA 4 - CONDIÇÕES DE TRÁFEGO Fonte: Elaborado pelos autores (2014) Tabela 3 - Condições de trafegabilidade dos carreadores por tipo de pavimentos (comprimento total dos carreadores em metros) Carreador Trafegabilidade Tipo de Pavimento Terra Total % 279 1.637 1.916 4,4 Difícil com chuva (m) 2.622 4.874 7.496 17,0 Qualquer tempo (m) 32.725 32.725 74,3 1.898 1.898 4,3 8.409 44.035 100,0 Difícil acesso (m) Cascalho Sem acesso (m) Total geral (m) 35.626 Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) Os trechos com problemas de trafegabilidade são curtos, porém, afetam um grande número de produtores de leite, sendo que 5,3% das propriedades não têm acesso, 5,3% têm dificuldade de acesso com 404 qualquer tempo e, para 22,7%, o acesso é difícil com chuva, totalizando 33,3% das propriedades sem condições ou com dificuldade de trânsito de caminhões para coleta do leite ou transporte de insumos para as atividades produtivas. Tabela 4 - Condições de trafegabilidade dos carreadores por tipo de pavimentos (número de propriedades) Carreador Trafegabilidade (propriedades) Tipo de Pavimento Cascalho Terra Total % Difícil acesso 2 6 8 5,3 Difícil com chuva 10 24 34 22,7 Qualquer tempo 100 100 66,7 8 8 5,3 38 150 100,0 Sem acesso Total geral 112 Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) A coleta do leite é realizada por caminhões de uma cooperativa e dois laticínios, e os produtores estão distribuídos em todo município, não existindo nenhuma concentração por região, onerando o processo de logística para a coleta do leite. A Cooperativa Agropecuária Mista de Guarapuava - Coamig possui a maior abrangência no município em número de produtores e produção total de leite, enquanto a empresa Picnic atua com poucos produtores com as melhores produções e produtividades. A empresa Santa Maria com os produtores menores, obtém os piores índices de produção e produtividade. Os produtores da Coamig têm um rebanho com 27,9% de vacas em lactação em relação ao rebanho total, enquanto a Picnic 28,3% e a Santa Maria 20,8%, índices considerados baixos para os padrões da bovinocultura de leite, em sistemas de produção eficientes. A relação de vacas em lactação pelo total do rebanho é um índice global do sistema de produção, pois, além de ser afetado pelo intervalo de partos e pelo período de lactação, também sofre influência negativa da idade ao 405 primeiro parto. Maiores valores indicam maiores proporções de animais gerando receitas em relação ao número total do rebanho (KRUG, 2001). FIGURA 5 - DISTRIBUIÇÃO DOS PRODUTORES DE LEITE POR EMPRESA Fonte: Elaborado pelos autores (2014) De acordo com Campos e Ferreira, 2001, na composição ideal de rebanho para uma taxa de reposição de 20%, com rebanho estabilizado, com intervalo de parto de doze meses e período de lactação de dez meses o número de vacas em lactação seria de 42%. A produção média por propriedade de 48,6 litros/dia (Tabela 5) é inferior à produção média verificada no Território Paraná Centro, onde a produção média é de 67 litros/dia/propriedade. De acordo com IPARDES, 2009, 55,3% dos produtores de leite do estado do Paraná produzem até 50 litros/dia e são responsáveis por 14,7% da produção paranaense de leite. Esta baixa escala de produção limita a estruturação técnica adequada em termos de maquinários, equipamentos e de infraestrutura na unidade de produção, e se constitui em entrave à modernização do setor, porque, além de condicionar a modernização, acarreta maior custo médio de produção, inviabilizando economicamente as pequenas propriedades de leite (KRUG, 2001). 406 A produtividade média de 8,2 litros/vaca/dia é baixa, porém, apresenta-se acima da produtividade média do estado que é de 7,1 litros/ vaca/dia para pequenas propriedades. A média diária do estado atinge 10,9 litros, com importante diferenciação conforme o porte dos produtores, variando de 7,1 litros/vaca/dia, para os pequenos, a 18,5 litros/ vaca/dia, para os maiores produtores, com sistemas de produção mais tecnificados (IPARDES, 2009). Esta baixa produtividade verificada no município, provavelmente, não esteja relacionada à qualidade genética do rebanho, mas às condições de manejo alimentar e reprodutivo, que podem ser melhorados com programa de assistência técnica adequado a esta realidade. As propriedades que comercializam a produção com a empresa Picnic apresentam produtividade de 12,1 litros/vaca/dia, e produção média de 108,4 litros/propriedade/dia, acima da média apresentada pelas propriedades que comercializam com as empresas Coamig e Santa Maria (Tabela 5). Estes resultados indicam que as propriedades da empresa Picnic, provavelmente, estejam se apropriando de tecnologias mais adequadas de produção para esta realidade. Tabela 5 - Indicadores técnicos das empresas Empresa Produtores (nº) Coamig Picnic Santa Maria Total geral 82 16 35 133 1.927 505 518 2.950 Rebanho Total Médio (Cab/prop) 23,5 31,6 14,8 22,2 Rebanho Lactação Total (Cab) 538 143 108 789 Rebanho Lactação Médio (Cab/prop) 6,6 8,9 3,1 5,9 4.019 1.735 698 6.452 49,0 108,4 19,9 48,6 7,5 12,1 6,5 8,2 Rebanho Total (Cab) Produção Total (l) Produção Média (l/prop) Produtividade Média (l/vaca/dia) Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) A maioria dos produtores da Coamig (52,4%) e da Picnic (50%) concentra-se na faixa de 26 a 150 litros de leite por dia. Porém, a produção média dos produtores da empresa Picnic é de 108,4 litros por dia, 407 enquanto da Coamig é de 49,0 litros por dia. A empresa Santa Maria possui 40% dos produtores com produção inferior a 25 litros de leite por dia e 34,3% sem nenhuma produção. Conforme apresentado na Tabela 6, 16 propriedades, ou 12,03% do total de propriedades não apresentaram produção no momento do levantamento, mostrando alta sazonalidade da produção. A sazonalidade da produção de leite é um sério problema, tanto para o produtor como para a indústria. O produtor além de receber preço para leite extracota nos meses de maior produção, também não tem regularidade nas receitas durante o ano, dificultando o custeio dos sistemas de produção, bem como a qualidade de vida das famílias. Por outro lado, a indústria é obrigada a trabalhar com toda a capacidade em épocas de maior produção, e com ociosidade de até 50% em períodos de menor produção. A sazonalidade é consequência da qualidade e quantidade de alimentos oferecidos aos animais e do manejo alimentar e reprodutivo que as unidades de produção adotam. A produção de forragens de qualidade e em quantidade para o ano todo é fundamental para uma boa produção de leite ao longo do ano. Isto se obtém com o uso de pastagens anuais e perenes e forragens conservadas, como feno e silagem. Com relação à armazenagem da produção na propriedade é observado, na Tabela 7, que 78 propriedades (65,54%) armazenam o leite em tanques por expansão direta, com possibilidade de atender os requisitos da Instrução Normativa -IN 62 (BRASIL, 2011), permitindo a refrigeração do leite até temperatura igual ou inferior a 4oC (quatro graus Celsius) no tempo máximo de 3 horas após o término da ordenha, independentemente da capacidade do equipamento. Por outro lado, 15 propriedades (12,60%) armazenam o leite em tanques de refrigeração por imersão (Tabela 7). Estes equipamentos devem ser dimensionados de modo que permitam refrigerar o leite até temperatura igual ou inferior a 7oC (sete graus Celsius) no tempo máximo de 3 horas após o término da ordenha, independentemente da capacidade do equipamento, para atender aos requisitos definidos na IN 62 (BRASIL, 2011). A Tabela 7 mostra que 26 propriedades (21,84%) armazenam o leite em freezers ou geladeiras, não atendendo os requisitos da IN 62. Estas propriedades devem passar por adequação, com orientação da assistência técnica na aquisição de equipamentos adequados para o 408 armazenamento da produção, ou serem organizadas para o uso coletivo de tanques de resfriamento a granel (tanques comunitários), admitidos na IN 62. A localização do equipamento deve ser estratégica, facilitando a entrega do leite de cada ordenha no local onde o mesmo estiver instalado. No momento da coleta do leite, a empresa deve advertir o produtor que estiver com a temperatura acima do padrão, que deve ser de até 7oC para tanques de imersão e de no máximo 4oC para tanques de expansão. Leite com temperaturas acima destes padrões não deverão ser carregados (BRASIL, 2011). Tabela 6 - Caracterização das empresas por classes de produção Classe de produção Produtores Nº Produção total (l) Produção Vacas Produtividade média (l/prod) lactação (cab) (l/vaca/dia) Coamig Sem produção 3 0 a 25 litros/dia 31 499 16,1 114 4,4 25,1 a 150 litros/dia 43 2.480 57,7 330 7,5 mais 150 litros/dia 5 1.040 208,0 94 11,1 82 4.019 49,0 538 7,5 Total Coamig Picnic Sem produção 1 0 a 25 litros/dia 3 60 20,0 12 5,0 25,1 a 150 litros/dia 8 645 80,6 69 9,3 mais 150 litros/dia 4 1.030 257,5 62 16,6 Total Picnic 16 1.735 108,4 143 12,1 Sem produção 12 0 a 25 litros/dia 14 208 14,9 38 5,4 25,1 a 150 litros/dia 9 490 54,4 70 7,0 mais 150 litros/dia 0 Total Santa Maria 35 698 19,9 108 6,5 133 6.452 48,6 789 8,2 Santa Maria Total Geral Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) 409 Tabela 7 - Equipamentos utilizados no armazenamento do leite Empresa Equipamento Expansão Coamig Nº Capacidade Total (l) Capacidade Média (l) 60 32.600 543 3.569 Freezer 2 700 350 59 Imersão 6 1.400 233 132 Outro Picnic 68 34.700 423 4.019 Expansão 15 11.220 748 1.705 15 11.220 701 1.735 Outro Expansão 3 1.110 370 60 6.790 357 451 Geladeira 5 1.190 238 10 Imersão 8 2.490 311 177 35 11.580 331 698 1 380 380 18 119 57.880 486 6.470 Total Total geral 30 19 Freezer Outro 259 Total Total Santa Maria Produção Total (l) Freezer Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) A pequena escala de produção, 48,6 litros/propriedade (Tabela 5), encarece o custo da logística para coleta do leite, levando as empresas responsáveis pela coleta a alongar o período entre as coletas. Na Tabela 8 pode-se observar que 88 propriedades (71,55%) estão adequadas aos requisitos da IN 62, com a coleta do leite realizada no máximo 48 horas após a ordenha inicial. No entanto, 35 propriedades (28,45%) do total estão entregando a produção com período superior a 48 horas, chegando ao extremo de intervalos de coleta de 12 dias (288 horas), contrariando os requisitos recomendados pela IN 62, que define o tempo transcorrido entre a ordenha inicial e seu recebimento no estabelecimento que vai beneficiá-lo (pasteurização, esterilização, etc.) de no máximo 48 horas, sugerindo como ideal um período de tempo não superior a 24 horas. Para solucionar este problema e propiciar que as empresas e os produtores inseridos na cadeia de produção no município se insiram nas determinações da IN 62, deve ocorrer uma ação forte da assistência 410 técnica especializada no sentido de aumentar a escala de produção e produtividade, propiciando uma adequação na logística de coleta do leite, com redução do custo de coleta. A organização dos produtores, com baixa escala de produção e sem equipamentos adequados de refrigeração do leite, em grupos para entrega da produção em tanques comunitários, também poderão contribuir na adequação do período de coleta de leite pelas empresas. Tabela 8 - Período de coleta de leite pelas empresas Empresa Coleta (número de dias) 2 3 4 5 7 8 10 12 Total geral % 82 66,7 16 13,0 Coamig 82 Picnic 6 3 7 9 10 3 1 1 1 25 20,3 88 3 16 10 3 1 1 1 123 100,0 71,5 2,4 13,0 8,1 2,4 0,8 0,8 0,8 100,0 Santa Maria Total geral % Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2013) CONCLUSÕES A produção de leite, alimento altamente perecível, necessita de uma boa estrutura viária, que seja transitável por caminhões tanques com qualquer tempo, para que o produto mantenha a qualidade obtida durante o processo produtivo. O município de Campina do Simão possui estradas municipais cascalhadas, com alguns pontos críticos que prejudicam o tráfego de caminhões, principalmente em dias de chuva. Por outro lado, um terço dos carreadores apresentam problemas críticos e localizados, necessitando de melhorias e manutenções preventivas e constantes. A melhoria e a manutenção da qualidade das estradas municipais e dos carreadores, poderia ser realizada através de um programa municipal, aprovado pelo poder legislativo, compatibilizando os trabalhos com instituições federais e estaduais. A metodologia proposta se mostrou eficiente propiciando a caracterização dos sistemas de produção de leite no município de Campina do 411 Simão. O diagnóstico permitiu o conhecimento da realidade, indicando dificuldades na produção devido à inadequação dos rebanhos leiteiros, baixa produtividade animal e baixa produção por propriedade. A caracterização desta realidade permite concluir a necessidade de interferência de uma assistência técnica especializada, buscando o fortalecimento da cadeia produtiva do leite no município. Incentivar a produção de forragens de qualidade e em quantidade para o ano todo, com o uso de pastagens anuais e perenes e forragens conservadas, como feno e silagem para uma boa produção de leite ao longo do ano, reduzindo a sazonalidade de produção e melhorando a escala de produção. As propriedades que não estão atendendo aos requisitos de IN 62 devem receber orientação da assistência técnica na aquisição de equipamentos adequados para o armazenamento da produção, ou serem organizadas para o uso coletivo de tanques de resfriamento a granel (tanques comunitários), localizados em local estratégico, facilitando o armazenamento e a entrega do leite de cada ordenha. REFERÊNCIAS BERTOL, O.J. (Organizador). Programa de Gestão Ambiental integrada em Microbacias - PGAIM. Curitiba: Secretaria de Estado do Planejamento, 2008. BRAGAGNOLO, N.; PAN, V. e THOMAS, J.C. Solo: uma experiência em manejo e conservação. Curitiba: Ed. do Autor, 1997. 102 p. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa no. 62, de 29 de dezembro de 2011. Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do Leite Tipo A, do leite Cru Refrigerado e do Leite Pasteurizado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel, 2011. CAMPOS, A.T. e FERREIRA, A.M. Composição do rebanho e sua importância no manejo. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 2p. (Embrapa Gado de Leite. Instrução Técnica para o produtor de leite). 412 DEMARCHI, L.C.; RABELLO, L.R; SANTOS, N.B.; FRANCO, O. e CORREA, R.O. Adequação de estradas rurais. Campinas: CATI, 2003. 64 p. (Manual Técnico, 77). DORETO, M. Uso do enfoque sistêmico na sutentabilidade dos sistemas de produção: a experiência do IAPAR. In: RAÍZES, Revista de ciências sociais e econômicas. Agricultura, meio ambiente e condições de vida. Campina grande: UFPB, ano xvii, n.16, março/1998, p 72-79. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Produção da pecuária municipal 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatística/economia/ppm/2010/tabelas pdf/tab23.pdf> Acesso em: 4/01/2012. IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Caracterização socioeconômica da atividade leiteira no Paraná: sumário executivo/Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural. Curitiba: IPARDES, 2009. 29p. KRUG, E.E.B. Estudo para identificação de benchmarking em sistemas de produção de leite no Rio Grande do Sul. 2001. 194p. Dissertação (Mestrado em Administração) - Mestrado em Administração para Executivos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MEZADRI, F.P. Conjuntura. Análise da Conjuntura 2012/2013. Leite. SEAB: Curitiba-PR. 2013. Disponível em: <http://www.agricultura. pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/leite_2013_14.pdf>. Acesso em: 4/01/2014. MUZILLI, O. Degradação e recuperação do solo sob uso Agrícola - O caso do Estado do Paraná. Londrina, Paraná: Iapar, 2004. PARCHEN, C.A.P. e BRAGAGNOLO, N. Erosão e conservação de solos no Paraná. Curitiba: EMATER, 1991. 16p. VIANA, G. e RINALDI, R.N. Principais fatores que influenciam o desempenho da cadeia produtiva de leite - um estudo com os produtores de leite do município de Laranjeiras do Sul - PR. In: Organizações Rurais & Agroindustriais. Lavras: v. 12, n. 2, p. 263-274, 2010. 413 414 CAPÍTULO XIII O USO DE FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES DE AQUICULTURA NO LITORAL PARANAENSE Astrogildo José Gomes de Mélo 1 Marcos Campos de Oliveira 2 Luiz Danilo Muehlmann 3 Milton Satoshi Matsushita 4 1 2 3 4 Engenheiro de Pesca, Especialista em Aquicultura, Instituto Emater, Paranaguá, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Produção Vegetal, Instituto Emater, Paranaguá, Paraná, Brasil - [email protected] Médico Veterinário, Mestre em Produção Animal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia e Política Florestal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] 415 416 INTRODUÇÃO O Litoral do Paraná é formado pelos municípios de Paranaguá, Morretes, Antonina, Guaraqueçaba, Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba com uma área total de 6.337,64 km2. É uma área ambientalmente bem conservada e protegida por parques nacionais, unidades de conservação, reservas do patrimônio natural, reserva indígena e áreas de preservação permanente. É uma região com boa distribuição de águas superficiais de bom volume e excelente qualidade devido a baixa ocorrência de impactos antropogênicos no entorno. Portanto, com potencial para a exploração da aquicultura. O litoral possui uma extensão de 105 km de costa, localizado entre as coordenadas latitude 25o12’44” S e longitude 48o01’15” W, e 25o58’38” S e 48o35’26” W. O complexo estuarino de Paranaguá formado por cinco baías, localizado no extremo norte possui uma área total de 612 km2 e a baía de Guaratuba ao sul, com 48,57 km2 de área (CHRISTO, 2006). As condições ambientais nessas baías são apropriadas para a realização de cultivos marinhos, em especial, a ostreicultura. O clima da região é definido como subtropical úmido mesotérmico com verões quentes. A pluviosidade anual média é de 2.837 mm com os maiores valores durante o verão e menores no inverno. A temperatura média no inverno é de 14,5º C e no verão 29,6o C. Os ventos predominantes são de leste e sudeste com velocidade média de 4 m/s (IPARDES, 1995). Essas condições permitem classificar a região como apropriada para a exploração da piscicultura em viveiros de terra no continente e a maricultura nas áreas estuarinas. No entanto, essas atividades estão sob rigoroso controle legal. Ambas atividades, antes de qualquer ação necessitam cumprir com várias exigências que devem ser viabilizadas através de projetos técnicos. Para a piscicultura continental deve ser atendida a Resolução no 413/2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (BRASIL, 2009), que dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura e a Portaria no 125/2009 do Instituto Ambiental do Paraná - IAP (PARANÁ, 2009) que reconhece a Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras para o Estado do Paraná, estabelece normas de controle e dá outras providências. 417 Os projetos de aquicultura marinha são orientados pelos dispositivos do Decreto no 4.895, de 2003 (BRASIL, 2003) que dispõem sobre os procedimentos relativos à autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura e da Instrução Normativa Interministerial no 06 de 31 de maio de 2004 (BRASIL, 2004) que estabelece as normas complementares para a autorização de uso dos espaços físicos em corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura. Nas duas situações é fundamental a localização exata das áreas pretendidas para as explorações. Na piscicultura continental a precisão quanto à localização é fundamental para que não ocorra a intervenção em áreas de preservação ambiental ou protegidas pela legislação. Nas áreas de aquicultura marinha a localização correta proporciona a segurança quanto à qualidade ambiental necessária para a exploração, bem como evitar a invasão de áreas prioritárias para a navegação ou as utilizadas para a pesca, recreação ou outras atividades que poderiam gerar conflitos e insucesso na atividade. A localização correta dos cultivos, além da segurança em relação às exigências legais e as outras atividades são fundamentais para a obtenção da produtividade pretendida (MÉLO et al., 2011). As áreas são selecionadas levando-se em conta a proteção contra ventos fortes, a direção e a força das correntes de marés, da profundidade e tipo de sedimento no local, a qualidade da água e a estimativa da produtividade primária, são os principais aspectos que devem ser considerados. O presente trabalho tem por objetivo relatar as ferramentas utilizadas e a importância do georrefenciamento na definição das áreas, na elaboração dos projetos e na instalação correta dos empreendimentos de piscicultura continental e da maricultura. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no município de Paranaguá, localizado no Litoral do Paraná no período de 2005 a 2011. Para a realização do trabalho no campo foi utilizado o equipamento de Sistema de Posicionamento Global (GPS) de Navegação. Como apoio foram utilizadas imagens de satélite SPOT 5 (Satellite Pour l’Observation de la Terre) ortorretificadas, composição colorida 418 nas bandas RGB e banda pancromática com resolução espacial de 5 m, projeção UTM (Universal Transversa de Mercator), MC (Meridiano Central) 51 Oeste (fuso 22), Datum Horizontal SAD 69 (South Americam Datum) em formato TIFF e imagens do Google Earth, principalmente para a localização das propriedades e áreas de cultivo. As cartas do exército (EXÉRCITO DO BRASIL, 1999) e os mapas temáticos das unidades de conservação estadual e federal de acervo do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e do Parque Nacional Saint-Hilaire Lang foram utilizados para destacar os limites destas unidades para que os produtores tomassem conhecimento de seus entornos, a fim de não confrontar a legislação vigente. Projetos da piscicultura continental Para a elaboração dos projetos da piscicultura continental foi necessário o deslocamento até a propriedade rural. E com auxilio de GPS de navegação foram identificados os vértices da área total. Os vértices foram identificados no equipamento com a determinação das coordenadas geográficas registradas em UTM SAD 69. Com o uso do equipamento foram registradas a localização e as distâncias entre os referidos vértices e calculada a área total. Os vértices e as transectas foram estabelecidos respeitando-se a legislação ambiental vigente. Os dados (pontos e trilhas) foram descarregados do GPS com uso do software TrackMaker Pro 4.4 e MapSource. Com a determinação da área e realizada a discussão com o proprietário para acordar a área de captação da água, o dimensionamento dos canais, o número, tamanho e forma dos viveiros e os canais de drenagem, e posteriormente elaborado as plantas de localização e dos detalhes das estruturas a serem utilizadas na atividade. As plantas detalhadas (localização e estruturas) na escala exigida pelas instituições ambientais para licenciamento da área foram utilizadas para a composição dos projetos técnicos. Projetos de maricultura Para elaboração dos projetos de maricultura as áreas foram prédefinidas em reuniões com as comunidades. Nesta oportunidade também foi levantado o número de interessados e a partir desse número, realizado o cálculo da área total. 419 Após a definição das áreas, o deslocamento até as mesmas foi realizado através de embarcação motorizada. Nas áreas, levando-se em conta a profundidade média do local foram estabelecidos e registrados os vértices em coordenadas geográficas UTM, conforme já descrito acima. Os vértices e as transectas foram estabelecidos após várias leituras e considerações para dar toda a segurança na localização, em relação à profundidade média do local, correntes de marés e a não existência de impedimentos físicos ou possíveis áreas de conflitos com outras atividades. Além dos recursos já mencionados acima na descrição das atividades para a piscicultura continental, neste caso foram utilizadas as cartas náuticas impressas, produzidas pela Marinha do Brasil em 1975. Após a aquisição, as cartas náuticas, em meio analógico (papel) foram convertidas em arquivos digitais (eletrônicos), através do escaneamento em uma resolução de 300 dpi e salvas como imagem com formato tiff. Essas cartas foram georreferenciadas na projeção e datum original, projeção UTM e datum horizontal Córrego Alegre - MG. Na sequência foram convertidas para projeção UTM Datum Horizontal SAD 69 (South Americam Datum), formato padrão para todos os mapas temáticos utilizados. Esse procedimento foi necessário para facilitar a plotagem dos pontos estabelecidos através do georreferenciamento sobre as cartas náuticas. Após a demarcação da área total foram definidas a orientação e a localização das estruturas de cultivo (long-lines ou mesas). As estruturas tiveram a localização projetada sobre as cartas náuticas, para facilitar a identificação dos locais pelos técnicos das Instituições de controle ambiental e da Marinha do Brasil, a fim de manifestarem o parecer sobre a viabilidade do projeto quanto à localização. Essas coordenadas foram utilizadas na localização e montagem das estruturas aquáticas, para a instalação dos cultivos nas áreas definidas pelo projeto. A Marinha do Brasil utiliza-se as demarcações das estruturas aquáticas para orientar a navegação, compondo as próximas atualizações das Cartas Náuticas. Esses procedimentos utilizaram como referencia as estações do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), formado pelo conjunto de estações, materializadas no terreno, cuja posição serve como referência precisa a diversos projetos de engenharia, mapeamento, geofísica, pesquisas científicas, aquicultura, dentre outros. 420 RESULTADOS E DISCUSSÃO Projetos da piscicultura continental O trabalho na piscicultura continental foi realizado em 60 propriedades, como ilustração para este trabalho utilizou-se a Fazenda São Miguel, de propriedade de Vandeir Martins Viana, localizada na comunidade Quintilha, município de Paranaguá (Figura 1). FIGURA 1 - PISCICULTURA CONTINENTAL, FAZENDA SÃO MIGUEL Fonte: Acervo do Parque Nacional Saint-Hilaire Lange A combinação do levantamento dos vértices da área total e dos viveiros individuais, inseridas sobre as imagens de satélite permitiram a localização e a quantificação das áreas já existentes e das áreas a 421 serem expandidas (Figura 2). Esses procedimentos, além de facilitarem o trabalho de elaboração do projeto, permitiram a programação dos canais de abastecimento e drenagem. As coordenadas georreferenciada do empreendimento, permite obter com segurança a localização em relação às áreas de preservação ambiental e os limites das propriedades, produzindo mapas com imagens que possibilitam a visualização precisa do empreendimento. Estes mapas (Figuras 2 e 3) facilitam a uniformização, interpretação e avaliação pelos envolvidos no processo de planejamento e execução do projeto. FIGURA 2 - PISCICULTURA CONTINENTAL, FAZENDA SÃO MIGUEL Fonte: Imagem de fundo Spot (2004) A Figura 2 apresenta os viveiros já existentes (números 1 a 7) e os projetados (números 8 a 11), sendo as áreas com possibilidade de expansão com a atividade de piscicultura delimitada com as linhas pretas. O entorno do Parque Saint-Hilaire estão delimitados pelas linhas amarelas e as áreas com relevo de alta declividade que devem ser preservadas estão delimitadas pelas linhas roxas. Devido à dificuldade das instituições fiscalizadoras se localizarem através imagem de satélite com baixa resolução ou com alta cobertura de nuvens (Figura 2), elas exigem que os mapas sejam sobrepostas sobre a Carta do Exército (Figura 3), instrumento mais conhecido pelas instituições fiscalizadoras. 422 FIGURA 3 - PISCICULTURA CONTINENTAL, FAZENDA SÃO MIGUEL Fonte: carta do Exército (1999) As cartas do exército contêm detalhes sobre as estradas, rios, vegetação e áreas desmatadas, facilitando a localização das áreas do projeto. O projeto final tem área total de 24,00 ha sendo composto por 11 viveiros com área 3,20 ha. O abastecimento dos viveiros é feito por derivação da água captada no rio Brejatuba, comunidade Quintilha a localizada a 1.200 metros de distância à montante da área de produção (vide Figura 1 e 2). A drenagem é feita através dos canais que deságua em uma várzea que vai para o rio Brejatuba, a 30 metros à jusante da área de produção. Atualmente o projeto encontra em plena produção, sendo a espécie principal de produção a Tilápia do Nilo (Oreochromis nitoticus). A exploração semi-intensiva atende o compromisso de sustentabilidade ambiental do projeto. Projetos de maricultura Na maricultura foram elaborados 23 projetos no Litoral (Figura 4 e Tabela 1), dos quais 12 já estão licenciados e com os Termos de Cessão emitidos pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Como ilustração para este trabalho utilizou-se a área de cultivo na comunidade de Ponta 423 Oeste - Ilha do Mel, localizada no município de Paranaguá. O projeto encontra-se em plena produção de ostras (Crassostrea brasiliana) e em fase de implantação de cultivos de mexilhão (Perna perna). Com uso do geoprocessamento foram selecionadas diversas áreas para cultivos de moluscos em vários municípios do litoral do Paraná pela equipe técnica do Instituto Emater e pelos pescadores participantes do projeto da maricultura em seus municípios. Nessas localidades foram verificadas as ações dos ventos, correntes, marés, ondas e rota de navegação para atender todas as orientações da legislação marítima e ambiental. Os levantamentos compatibilizados com as necessidades dos beneficiários resultaram na delimitação de 34,76 ha em 23 projetos envolvendo 224 famílias de pescadores beneficiados (Instituto Emater, 2009). Tabela 1 - Número de projetos por exploração, áreas delimitadas e número de pescadores envolvidos Número de projetos Área de cultivo ha Pescadores envolvidos Ostra – long lines 18 30,56 191 Ostra – mesas 4 2,60 13 Mexilhão 1 1,60 10 Camarão 2 - 2 Totais 23 34,76 216 Exploração Fonte: Instituto Emater (2009) O uso do GPS permitiu a localização das áreas dos projetos através de uma navegação mais segura e uma rota mais precisa, sem riscos em relação aos baixios ou pedras rasas submersas (Figura 5). 424 FIGURA 4 - ÁREAS SELECIONADAS PARA CULTIVOS DE MOLUSCOS, COMUNIDADES DO LITORAL DO PARANÁ Fonte: Instituto EMATER (2011) 425 FIGURA 5 - ROTA PARA A ÁREA DE CULTIVO DE OSTRAS EM SISTEMA DE MESAS Proprietário: Syrio Fernandes Costa Junior, Europinha, Paranaguá Fonte: Imagem Google Earth (2014), projeto elaborado Instituto Emater (2006). Da fase de elaboração até a obtenção da Cessão de uso para implantação do projeto passaram 6 anos (2005 a 2011). Neste período ocorreram mudanças de técnicos e de beneficiários, e o geoprocessamento foi instrumento valioso para localizar as coordenadas do projeto original com precisão, visto que no ambiente aquático não existem marcos e divisas identificadas (Figura 6). Após o recebimento do termo de cessão pela comunidade, foi realizada a implantação do projeto com a identificação dos pontos para a colocação de estacas (Figura 7) com objetivo de ancoragem dos longlines e sinalização dos vértices das áreas de cultivo. 426 FIGURA 6 - CARTA NÁUTICA COM A PLOTAGEM DA ÁREA DE CULTIVO DE MEXILHÕES DA COMUNIDADE DE PONTA OESTE - ILHA DO MEL Fonte: Instituto Emater (2006) FIGURA 7 - MERGULHADOR REALIZANDO A COLOCAÇÃO DAS ESTACAS PARA A ANCORAGEM DOS LONG-LINES E SINALIZADORES, PONTA OESTE - ILHA DO MEL. Fonte: Arquivo Instituto Emater. Autor: Astrogildo José Gomes de Melo (2011). 427 Uma grande dificuldade de trabalhar com as cartas náuticas (Figura 6) deve-se ao fato de que elas foram elaboradas para registrar macro eventos (Figura 8) e acidentes geográficos, destinadas a orientação dos navios que utilizam nossos portos, baias e enseadas. A escala e as dimensões dos acidentes geográficos não possuem a precisão necessária para locação dos pontos das áreas de cultivos, por isso a combinação de informações dos pontos coletados com GPS apresenta distorções quando sobrepostos às cartas náuticas. FIGURA 8 - PASSAGEM DO NAVIO AO LADO DA ÁREA DE CULTIVO Fonte: Arquivo Instituto Emater. Autor: Astrogildo José Gomes de Melo (2005) Pela toposequência da costa, substrato do fundo da baía ou enseada foram mapeados os sistemas de produção mais adequado: locais emersos as baixas marés de sizígia ideais para os cultivos de ostras em mesas com travesseiros (Figura 9) e, aqueles que permanecessem com uma coluna de água entorno de três metros foram orientados o uso do apetrecho aquícola long-line, com lanternas (Figura 10), no máximo quatro andares, fixados ao fundo com estacas de aço galvanizado com tirantes de amarração até a corda principal de cultivo. 428 FIGURA 9 - ÁREA DE CULTIVO EM BAIXIO. CULTIVO DE OSTRAS NATIVAS EM MESAS COM TRAVESSEIROS Produtor: Syrio Costa Fernandes Junior. Europinha. Baía de Paranaguá Fonte: Foto acervo Instituto Emater (2007) FIGURA 10 - CULTIVO DE OSTRAS NATIVAS. LONG LINE E LANTERNAS. COLETA DA PRIMEIRA PRODUÇÃO Comunidade da Ponta Oeste, Paranaguá Fonte: Acervo Instituto Emater. Autor: Marcos Campos de Oliveira (2011) 429 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As técnicas e ferramentas de uso de geoprocessamento na indicação, seleção e localização das áreas propícias aos cultivos de moluscos na região do litoral paranaense apresentaram um importante recurso para a otimização de custos e melhorias das qualidades das análises geográficas, socioeconômicas e técnicas. A ciência do geoprocessamento vem proporcionando avanços na assistência técnica, tanto em qualidade, velocidade, amplitude e resultados. A qualificação da assistência técnica tornou o Instituto Emater um referencial nas orientações técnicas, na realização de levantamentos de dados, no planejamento, na execução e no acompanhamento das unidades de produções de organismos aquáticos do litoral paranaense. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 4.895 de 25 de novembro de 2003. Dispõe sobre a autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da União para fins de aqüicultura, e dá outras providencias. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2003. BRASIL. Instrução normativa interministerial nº 06 de 31 de maio de 2004. Estabelece as normas complementares para autorização de uso dos espaços físicos em corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura. Requerimento para a autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da união. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2004. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Resolução nº 413, de 30 de julho de 2009. Dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2009. CHRISTO, S.W. Biologia reprodutiva e ecologia de ostras do gênero Crassostrea sacco, 1987 na baía de Guaratuba (Paraná - Brasil): Um subsídio ao cultivo. Curitiba, PR: UFPR, 2006. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, 138p. 430 EXÉRCITO BRASILEIRO - Diretoria de Serviço Geográfico. Carta Geral do Mapeamento Sistemático do Sistema Cartográfico Nacional do tipo Carta Topográfica. Brasilia: Ministério da Defesa - Exército Brasileiro, 1999. Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - Instituto Emater. Projeto de desenvolvimento da aquicultura e pesca no litoral do Paraná. Curitiba, PR: Instituto Emater, 2009. Relatório técnico, 67 p. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES. Diagnóstico ambiental da APA de Guaraqueçaba. Curitiba: IPARDES, 1995. 166 p. MARINHA DO BRASIL. Diretoria de Hidrografia e Navegação. Diretoria de Portos e Costas. Cartas Náuticas - Litoral (Portos e Costas). Brasília: Marinha do Brasil, 1977. Disponível em: <https://www.dpc.mar. mil.br/>. Acesso em: 15/05/2014 MÉLO, A.J.G.; MÜEHLMANN, L.D.; GARBOSSA NETO, A. e BALDAN, A.P. Criação de Ostras Nativas. Curitiba, Paraná: Instituto EMATER, 2009. 52 p. PARANÁ. Instituto Ambiental do Paraná - IAP. Portaria nº 125/2009 de 07 de agosto de 2009. Reconhece a Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras para o Estado do Paraná, estabelece normas de controle e dá outras providências. Curitiba, PR: IAP, 2009. 431 432 CAPÍTULO XIV PISCICULTURA EM TANQUES-REDE NA BACIA DO PARANAPANEMA Luiz Eduardo Guimarães de Sá Barreto 1 Luiz Danilo Mühelmann 2 Marco Antonio Igarashi 3 1 2 3 Engenheiro de Pesca, Mestre em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Instituto Emater, Cambé, Paraná, Brasil - [email protected] Médico Veterinário, Mestre em Produção Animal, Instituto Emater, Curitiba, Paraná, Brasil - [email protected] Tecnólogo em Aquicultura, Ph.D. em Engenharia de Pesca, Ministério da Pesca e Aquicultura, Londrina, Paraná, Brasil - [email protected] 433 434 INTRODUÇÃO A piscicultura desempenha um papel importantíssimo em muitos países, visto que contribui, através da produção de organismos aquáticos, com a produção de alimentos e renda. É uma atividade que pode ser desenvolvida tanto em viveiros de terra (chamados também de tanques) ou em tanques-rede. Enquanto a produção mundial de pescados através da pesca (captura no mar e em águas continentais) tem se mantido praticamente estabilizada nos últimos anos, a produção da aquicultura tem apresentado crescimento constante, superando inclusive o crescimento verificado em outras fontes de produção de proteína animal (SIDONIO et al., 2011). Esse crescimento não ocorreu de forma uniforme no mundo e a produção e distribuição foi desigual, sendo que a Ásia está contabilizando 88% do volume total produzido no mundo e enquanto a China produziu 61,7% da produção mundial em 2012 (158 milhões de toneladas), o Brasil alcançou apenas 1,1% (FAO, 2014). Os dados oficiais de produção da aquicultura brasileira, de 707.461 mil toneladas em 2012, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2014) colocaram o Brasil entre os 12 países maiores produtores do mundo e o Paraná é um dos principais estados na produção de piscicultura em água doce (MPA, 2013). A FAO estima que o Brasil possa produzir, com base no seu potencial hídrico, pelo menos, 20 milhões de toneladas por ano. A meta, até o final do ano que vem, é atingir a marca de 2 milhões de toneladas (Portal Brasil, 2013). A piscicultura, seja em viveiros de terra ou em tanques-redes é uma das atividades que para ser explorada precisa ser licenciada. De forma geral, os viveiros de terra são construídos nas propriedades rurais observando a legislação ambiental quanto às áreas a serem ocupadas e os tanques-redes são instalados em grandes áreas alagadas, predominantemente, em águas públicas, ou seja, que possuem outras finalidades como objetivo principal. Os tanques-rede ou gaiolas são estruturas flutuantes de variados tamanhos e formatos, com o espaço delimitado por telas ou redes, que permitem a contenção apropriada dos peixes e a renovação constante da água (Figura 1). Para os produtores ou empresas realizarem a exploração de peixes em tanques-redes é 435 necessária a obtenção do “Termo de Cessão” da área a ser ocupada e por este termo o Poder Público autoriza a localização, instalação e operação do empreendimento. FIGURA 1 - TANQUE-REDE UTILIZADO PARA A PRODUÇÃO DE PEIXES Fonte: Arquivo Instituto Emater. Autor: Luiz E. G. de Sá Barreto (2013) O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) criado em 2009, é a instituição responsável pela emissão dos termos de cessão, após os pareceres das instituições ambientais, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Agência Nacional das Águas (ANA), Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e o cumprimento dos processos administrativos necessários para a cessão de bens públicos às pessoas ou empresas. Portanto, é fundamental a localização exata das áreas pretendidas para as explorações. A localização correta proporciona a segurança quanto à qualidade ambiental necessária para a exploração, bem como evita a invasão de áreas prioritárias para a navegação ou as utilizadas para a pesca, recreação ou outras atividades o que poderia gerar conflitos e insucesso na atividade. A localização correta dos cultivos, além da segurança em relação às exigências legais e às outras atividades é fundamental para a obtenção da produtividade pretendida. As áreas são selecionadas levando-se em 436 conta a proteção contra ventos fortes, a direção e a força das correntes da água, da profundidade e a qualidade da água. O presente trabalho tem por objetivo relatar as ferramentas utilizadas e a importância do georrefenciamento na definição das áreas, na elaboração dos projetos e na instalação correta dos empreendimentos de piscicultura em tanques-rede. MATERIAL E MÉTODOS Para elaboração dos projetos de piscicultura em tanques-rede (Figura 2) levou-se em consideração alguns aspectos, como avaliação da área quanto a sua adequação zootécnica, avaliação de impactos sobre as comunidades tradicionais e dos impactos sobre os outros usos do ambiente, como abastecimento, descargas, pesca, turismo e navegação, bem como a inserção regional do projeto e sua importância social e econômica. FIGURA 2 - ÁREA COM OS TANQUES-REDE JÁ INSTALADOS Fonte: Arquivo Instituto Emater. Autor: Luiz E. G. de Sá Barreto (2013) Quanto à escolha das áreas, vários fatores foram levados em consideração, tais como: facilidade de acesso; profundidade adequada que leve em consideração a dinâmica do lago; qualidade de água; espaço para construção de instalações de apoio fora de áreas de APP; que esteja distante de centros urbanos e condomínios; que esteja fora de rotas de 437 navegação; afastados de “paliteiros” (troncos de árvores submersas) e, capacidade de troca de água de, pelo menos, 5 (cinco) renovações do volume total do tanque-rede por minuto ou uma corrente de água de, no máximo, 10 metros/minuto. O georreferenciamento da área foi realizado pela empresa Esteca Topografia, escritório especializado em levantamentos topográficos, do município de Rolândia, que utiliza o receptor monofrequencial marca Sight GPS. Para o pós-processamento de dados é utilizado o programa TopoEven e a plotagem das plantas (Figura 3) a impressora Hp 800. A profundidade do local é realizada com ecobatímetro Garmin Eco300. Com a planta impressa, é definida a localização, disposição e o número de tanques-rede a serem instalados, conforme a profundidade do local, sempre se respeitando a relação de 1:1,75 entre o fundo do tanque-rede e o sedimento. FIGURA 3 - PLANTA GEORREFERENCIADA DA ÁREA DE CULTIVO Fonte: Instituto Emater (2013) 438 São elaboradas duas plantas, sendo uma, Figura 3, com a localização do empreendimento discriminando os pontos de batimetria, acesso ao lago, nível da água no dia do levantamento, cota máxima de inundação, localização das estruturas de apoio, área de preservação e os limites da área requerida, denominada Área Aquicola. Os pontos que definem o quadrilátero onde devem ser instalados os tanques rede são posicionados pelo sistema de coordenadas planas UTM e coordenadas geodésicas (Figura 4). FIGURA 4 - FOTO DE SATÉLITE INDICANDO A LOCALIZAÇÃO E POSICIONAMENTO DOS TANQUES-REDE Fonte: Instituto Emater (2013) A segunda planta, Anexo II, apresenta os detalhes do projeto com as medidas lineares das distâncias entre linhas, entre tanques-rede, bitolas dos cabos, localização das boias cegas, boias luminosas e poitas (Figura 5). Após as fases de georreferenciamento da área, plotagem e definição do número de tanques-rede, chega-se à fase de elaboração do projeto com as informações exigidas pela legislação e pelos órgãos licenciadores. O projeto é encaminhado ao Ministério da Pesca e Aquicultura em quatro cópias, a fim de ser analisado na questão técnica e ambiental, considerando a capacidade de suporte do ambiente e da segurança da navegabilidade pelas seguintes instituições: Marinha, Ibama, Agência 439 Nacional das Águas e Instituto Ambiental do Paraná, finalizando com o Termo de Uso e Cessão de Águas Públicas da União para Piscicultura pela Secretaria de Patrimônio da União. FIGURA 5 - PLANTA COM OS DETALHES DA ÁREA DE CULTIVO Fonte: Instituto Emater (2013) São exigidos para instruir o processo os seguintes documentos: cópias de documentos pessoais; Requerimento de Licenciamento Ambiental - IAP; Requerimento para Autorização de Uso de Espaços Físicos de Corpos d’água de Domínio da União - MPA; cópia da escritura da propriedade; publicação de Súmula em jornal de circulação regional e Diário Oficial do Estado; anuência prévia do município, declarando a inexistência de óbices; Certidão de Débito Fiscal - Receita Federal, Estadual e Municipal; Declaração de Regularidade Social – INSS; Certidão Negativa de Débito Ambiental - IBAMA do interessado e do técnico responsável; Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) Conselho Regional de Engenharia e Agronomia; análise d’água com a concen440 tração do Fósforo total, Demanda Bioquímica de Oxigênio, Demanda Química de Oxigênio, Coliformes totais, Amônia, Nitrito e Clorofila A, e fotos do Local de Instalação do projeto. Outro ponto importante nos projetos de piscicultura em tanques rede é a elaboração do Plano de Controle Ambiental - PCA, no qual se faz uma análise integrada da qual conste prioritariamente a caracterização do empreendimento, o diagnóstico e o prognóstico ambiental e finalmente a proposta de controle, compensação e mitigação dos impactos. Para a realização de todo o processo o georreferenciamento é fundamental. Além de contribuir facilitando a elaboração do projeto, permite a instalação no local exato conforme projetado e licenciado. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da criação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca - SEAP, no ano de 2000 posteriormente transformada no Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA, e com a legislação pertinente à criação de peixes em tanques-rede em águas públicas da União, foram definidas as regras para implantação e funcionamento dos projetos pois até então não havia leis que regulamentassem a atividade. Dessa forma, existia um clima de insegurança jurídica que limitava a entrada de investidores já que alguns produtores pioneiros sofreram pesadas sanções financeiras, através do IBAMA. Em 2003, ficou consolidado o cultivo de peixes em tanques-rede através do Decreto Lei 4.895 de 2003 e suas instruções normativas (BRASIL, 2003). Dessa forma, com a legislação já definida, foram instalados, só na bacia do rio Paranapanema, margem paranaense, cerca de 60 projetos coletivos e individuais, com mais de 16.000 tanques-rede e produção estimada de mais de 23.000 toneladas/ano. O reservatório que possui maior número de projetos é o de Capivara, seguido de Chavantes. O município com maior número de tanques-rede é o de Alvorada do Sul, com 4.170 unidades. Além dos projetos individuais há projetos coletivos na maioria dos municípios lindeiros, destacando-se Carlópolis, Itambaracá, Santa Mariana, Alvorada do Sul, Sertanópolis, Inajá, Terra Rica e Diamante do Norte, através de condomínios de produtores e grupos de pescadores artesanais. 441 CONCLUSÕES O georreferenciamento é fundamental para a elaboração dos projetos técnicos de cultivo de peixes no sistema de tanques-rede. Através das coordenadas geográficas é possível a instalação no local exato conforme programado no projeto e licenciado. REFERÊNCIAS AGENCIA NACIONAL DE ÁGUA. Bacia hidrográfica do rio Paranapanema, ANA, 2014. Disponível em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/ ARQS/APRESENTACAO/CRH/GT-PARANAPANEMA/32/Bacia_Rio_ Paranapanema_CBHS.png>. Acesso em: 14/06/2014. BRASIL. Lei Federal nº4.895, de 25 de novembro de 2003. Dispõe sobre a autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura, e dá outras providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2003/decreto-489525-novembro-2003-497528-norma-pe.html>. Acesso em: 14/06/2014. FAO. The state of world fisheries and aquaculture 2012. Disponível em: <http://www.fao.org/fishery/statistics/software/fishstatj/en>. Acesso em: 23/06/2014. PORTAL BRASIL, 2013. Produção de pescado no País cresce incentivada por políticas de fomento. Disponível em: <http://www. brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/03/28/producao-de-pescado-nopais-cresce>. Acesso em: 03/04/2013. SIDONIO, L., CAVALCANTI, I., CAPANEMA, L., MORCH, R., MAGALHÃES, G., LIMA, J., BURNS, V., ALVES JÚNIOR, A.J., MUNGIOLI, R. Panorama da aquicultura no Brasil: desafios e oportunidades. BNDES Setorial 35, p. 421 - 463. Disponível em: <http://www.bndes. gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/ bndes_pt/Galerias/Arquivos/ conhecimento/bnset/set3512.pdf>. Acesso em: 02/04/2013. 442 CAPÍTULO XV AGRICULTURA DE PRECISÃO APLICADA À AGRICULTURA FAMILIAR: A EXPERIÊNCIA DE TUPÃSSI-PR Adalberto Telesca Barbosa 1 Ênio Antônio Bragagnolo 2 Nelson Harger 3 71 2 3 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Instituto Emater, Toledo, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão Ambiental, Instituto Emater, Tupãssi, Paraná, Brasil - [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fertilidade do Solo, Instituto Emater, Apucarana, Paraná, Brasil - [email protected] 443 444 INTRODUÇÃO O município de Tupãssi localizado na região Oeste do estado do Paraná tem na produção agropecuária sua principal atividade produtiva. Entre as atividades de destaque na formação do Valor Bruto da Produção Agropecuária está a produção de grãos, a qual ocupa 98,75 da área destinada à agricultura. Entre os estabelecimentos rurais que desenvolvem a produção de grãos 86% possuem área inferior a 50 ha. Estes pequenos produtores têm um bom conhecimento da sua propriedade, no entanto, realizam as correções do solo e adubações sem conhecer a variabilidade apresentada em suas áreas. Frente à realidade local e com a necessidade de colocar ao alcance dos produtores da agricultura familiar o acesso a novas ferramentas, foi criado no município de Tupãssi um programa para o manejo da fertilidade a partir da agricultura de precisão. A agricultura de precisão é uma das grandes inovações do campo do conhecimento nesse início de século (CENTENO, 2014). Na região Oeste do estado do Paraná, existem iniciativas de prestação de serviços na área, realizadas por empresas especializadas. Como produto, entregam aos agricultores o mapeamento completo de suas áreas. As cooperativas agrícolas, que representam um importante serviço no atendimento em assistência técnica, estão continuamente adquirindo equipamentos e softwares objetivando atender uma demanda. Empresas e cooperativas que fazem a revenda de corretivos, especialmente calcários, possuem equipamentos de distribuição a taxa variável, pelos quais os produtores podem realizar a correção da fertilidade de acordo com as variabilidades apresentadas nos mapas a partir de resultados de análises de solo. A experiência do trabalho do Programa Municipal “Tupãssi: Fazendo Agricultura de Precisão”, na parceria entre Instituto Emater, Prefeitura Municipal de Tupãssi e a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, tem por objetivo inserir a ferramenta da agricultura de precisão na agricultura familiar visando promover as boas práticas agrícolas no manejo da fertilidade de solos. 445 Caracterização da área rural do município Aspectos econômicos e naturais O município de Tupãssi está localizado na região Oeste do Estado do Paraná e pertence à região administrativa do Núcleo Regional da SEAB de Toledo (Figura 1), situando-se sua sede municipal na Latitude 24º35‘16‘’S e Longitude 53º30‘42‘’W. A população municipal é de 7.997 habitantes sendo que deste montante, 6.286 residem na área urbana da sede municipal e duas sedes distritais, enquanto os 1.711 restantes residem na área rural (Censo Demográfico, IBGE 2010). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TUPÃSSI NO ESTADO DO PARANÁ Fonte: Os autores, 2014 O município tem por característica uma economia essencialmente derivada da agropecuária, sendo que das atividades produtivas, a agricultura representou 82,6% do Valor Adicionado Bruto no ano de 2011, enquanto a indústria apareceu com 17,4% do montante de R$ 65,7 milhões (IPARDES, 2014). Segundo os dados da Secretaria de Esta446 do da Agricultura e Abastecimento (SEAB), o Valor Bruto da Produção Agropecuária ano de 2012 atingiu o valor de 187,97 milhões de reais (SEAB, 2014), conforme pode ser observado na Tabela 1. TABELA 1 - Decomposição do Valor Bruto da Produção Agropecuária Municipal (VBP) no ano de 2012 Produto Agropecuário Grãos Avicultura Suinocultura Bovinocultura Piscicultura Madeira Fruticultura Olericultura Apicultura Caprinocultura Cana-de-açucar Total Valor (R$) Representatividade (%) 99.827.531,55 52.150.873,03 26.273.037,25 6.022.604,98 1.667.064,00 1.254.745,00 545.688,59 99.885,07 49.228,50 44.906,50 34.814,00 187.970.378,47 53,11 27,74 13,98 3,20 0,89 0,67 0,29 0,05 0,03 0,02 0,02 100,00 Fonte: SEAB, 2014 Do Valor Bruto da Produção Agropecuária a avicultura de corte e suinocultura em sistemas intensivos contribuiu com 45,9%, enquanto a agricultura, com destaque para as culturas da soja e do milho, representa 54,1%, que corresponde a um total de R$ 101,76 milhões. A topografia do município é em relevo suave ondulado na qual as declividades das áreas de cultivo oscilam entre 2 e 8%. O solo que predomina é classificado como Latossolo Vermelhos Distroférico - LVdf 1 a LVdf 14, textura argilosa, álico, fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado. O clima segundo Koppen é cfa: Clima subtropical (mesotérmico), temperatura média do mês mais frio inferior a 18ºC, sem estação seca definida, com verões quentes e com temperaturas média dos meses mais quentes superiores a 22ºC, sendo pouco frequente a ocorrência de geadas e tendência de concentração de chuvas nos meses de verão. 447 O regime pluviométrico caracteriza-se por chuvas bem distribuídas ao longo do ano, porém, com maior concentração nos meses de verão, e o valor anual médio das precipitações está entre 1.600 a 1.800 mm. A estrutura fundiária O município de Tupãssi, segundo o censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006) possui 872 estabelecimentos rurais dos quais 87,96% possuem área inferior a 50 hectares (Gráfico 1). O número de Declarações de Aptidão ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF - DAP) do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA atinge um total de 1.004, sendo que destas 765 encontram-se ativas (MDA, 2014). Gráfico 1 - Distribuição Fundiária do município de Tupãssi Fonte: Censo Agropecuário, IBGE 2006 Na distribuição fundiária do município de Tupãssi predominam pequenas propriedades. São 618 unidades produtivas, cuja área é inferior a 20 hectares. Essas propriedades, mesmo com pequenas áreas disponíveis, estão dedicadas ao cultivo de grãos especialmente as culturas da soja e do milho, sendo este em segunda safra, que são culturas com arcabouço tecnológico voltado para escala de produção. Para permitir a 448 viabilidade das pequenas propriedades no atual modelo de produção, várias políticas públicas foram implementadas no município ao longo dos anos, podendo ser citadas as patrulhas de máquinas agrícolas, os abastecedouros comunitários, a recuperação de estradas, o apoio na conservação de solos e na aquisição de calcário e o uso do crédito, especialmente o PRONAF. Porém, novas iniciativas são necessárias nas pequenas propriedades para acompanhar os avanços tecnológicos. A Agricultura de Precisão Uma das frequentes preocupações e também motivação da pesquisa agronômica trata do incremento da produtividade por unidade de área e redução de custos de produção, minimizando os efeitos ambientais danosos e aumento da rentabilidade do produtor rural, entre outros fatores (GIOTTO; CARDOSO e SEBEM, 2013). Segundo Giotto, Cardoso e Sebem (2013), na agricultura tradicional, se pressupõe que o solo apresenta-se homogêneo para as práticas agrícolas em relação ao manejo do solo, quando na realidade isto não é verdade, pois o solo possui características heterogêneas e que manejos considerando as médias das necessidades para a área podem não representar a realidade, sendo necessário para a Agricultura de Precisão considerar a variabilidade espacial e temporal dos atributos dos solos e das plantas. Mesmo que o conceito de Agricultura de Precisão esteja ligado a um processo de gestão do sistema produtivo e que no campo do conhecimento envolva uma quantidade significativa de temas multidisciplinares como agronomia, geomática, mecatrônica e meio ambiente, o início da Agricultura de Precisão teve foco em máquinas dotadas de receptores GPS (Global Positioning System) e mapas de produtividade (INAMASSU et al., 2011). Este conceito inicial é o que está sendo executado na prática pelas empresas especializadas e cooperativas adotadoras do sistema. Outro fator importante é o de que as máquinas atualmente comercializadas para a utilização no processo de correção do solo, plantio e colheita passaram a contar com equipamentos de SIG (Sistemas de Informações Geográficas), o que requer que o produtor esteja com o sistema de mapeamento da fertilidade georreferenciado para a utilização desta tecnologia disponível. 449 Nesse enfoque, Benites e Oliveira (2011) afirmam que a caracterização da variabilidade espacial do solo é ferramenta de suporte aos processos decisórios em Agricultura de Precisão, principalmente nas fases iniciais de adoção. Os agricultores familiares, da região Oeste do Paraná, mesmo com os avanços tecnológicos nos sistemas de produção, continuam realizando amostragens de solos únicas para toda a área de lavoura de suas propriedades, e a partir do resultado da análise de solo realizam correções e fertilizações padronizadas. Na maioria dos casos as formulações de adubos também não obedecem às necessidades de acordo com a fertilidade do solo e necessidades das culturas. Contudo, atendem aos requisitos para os créditos bancários de custeio disponibilizados pelos agentes financeiros. Para Bernardi et al. (2011), o conhecimento da variabilidade espacial das propriedades do solo é útil para o uso racional dos insumos, como na aplicação a taxa variável de calcário e fertilizante. A partir dessas informações torna-se possível interferir ou manejar as diferenças quantificadas, por meio da aplicação localizada dos insumos agrícolas, de acordo com a necessidade específica local. Diferentemente da aplicação uniforme de fertilizantes e corretivos, que pode resultar em áreas com aplicações abaixo ou acima da dose necessária, a aplicação com taxas variáveis pode aumentar a produtividade e a eficiência do uso de nutrientes, ao mesmo tempo em que reduz o potencial para poluição ambiental (BERNARDI et al., 2004). Material e métodos O Programa Municipal “Tupãssi Fazendo Agricultura de Precisão” foi concebido a partir da parceria da Unidade Municipal do Instituto Emater com a Prefeitura do Município de Tupãssi e implantado com o apoio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB. Para a operacionalização do programa foram adquiridos diversos equipamentos entre eles o quadriciclo para a coleta de análises de solo, softwares específicos, caminhão com GPS e distribuidor taxa variável (Tabela 2). 450 Tabela 2 - Máquinas, equipamentos e softwares adquiridos para a operacionalização do Programa Municipal “Tupãssi Fazendo Agricultura de Precisão” Equipamento Nº Valor (R$) (*) Quadriciclo 420 cc para levantamentos de campo 1 21.900,00 Amostrador de solos para Quadriciclo 1 17.760,00 GPS para geração de perímetro e grid amostral 1 5.550,00 Carreta para Transporte de Quadriciclo 1 3.000,00 Software para interpretação de análise de solo 1 5.000,00 Software Gerador de mapas de fertilidade 1 4.990,00 Caminhão com GPS e distribuidor taxa variável 1 397.200,00 Total 455.400,00 (*) Os valores são referenciais e constantes no Plano de Trabalho Fonte: Instituto Emater, 2013. Para possibilitar a operação dos softwares aplicados à agricultura de precisão e ao processamento dos dados a prefeitura municipal forneceu dois computadores compatíveis com as necessidades requeridas, sendo os equipamentos de informática destinados ao uso exclusivo das ações do programa. Para proporcionar o esclarecimento dos beneficiários da proposta e, ao mesmo tempo, motivá-los quanto à participação no Programa Municipal “Tupãssi Fazendo Agricultura de Precisão”, foram elaborados materiais de divulgação como o banner reproduzido na Figura 2. AGRITU (Associação dos Agricultores de Tupãssi) Para a gestão do programa foi formada uma Associação de Agricultores, a Associação dos Agricultores de Tupãssi - AGRITU, entidade criada com a função de coordenar e viabilizar o trabalho, administrando e reaplicando os recursos auferidos com a prestação dos serviços junto aos beneficiários, bem como, proporcionar o respaldo legal para administrar os recursos repassados pelo estado e município para a finalidade exclusiva do programa. 451 FIGURA 2 - BANNER ELABORADO PARA FACILITAR O ENTENDIMENTO DA OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA JUNTO ÀS COMUNIDADES RURAIS POTENCIALMENTE BENEFICIÁRIAS Fonte: Instituto Emater, U. M. de Tupãssi, 2013 A operacionalização do programa a campo Na parceria da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB, com o município de Tupãssi foi disponibilizada uma sala anexa à Unidade Municipal do Instituto Emater, que passou a ser chamada de Sala da Agricultura de Precisão, onde se processam as ações administrativas e técnicas, bem como reuniões e atendimento ao público beneficiário. Os produtores interessados em aderir ao programa de agricultura de precisão fazem sua inscrição e passam a fazer parte de uma lista de espera. A prestação de serviços em agricultura de precisão ocorre de acordo com a ordem de inscrição, compatibilizada com o período 452 entressafra quando a área estará apta para a realização dos levantamentos de campo. No momento de inscrição ao programa o produtor é informado dos custos da execução dos levantamentos de campo e recebimento dos resultados materializados por um compêndio de mapas de fertilidade e correção, além da cópia do resultado das análises de solos. O custo da contrapartida dos beneficiários varia de acordo com o tamanho da área total de sua propriedade, conforme a Tabela 3. Tabela 3 - Custo de execução do trabalho de levantamentos georreferenciados de campo, análises de solo e mapas Área da Propriedade (ha) Valor/ha Apoio Programa Mercado Regional (%) (R$) (R$) Até 12,10 80 10,33 50,00 12,20 a 24,20 71 14,46 50,00 24,30 a 48,40 63 18,60 50,00 Acima de 48,40 59 20,67 50,00 (*) Preço médio praticado no mercado regional, fora do programa, para a prestação do serviço Fonte: Instituto Emater, 2014 O maior apoio financeiro concedido para as pequenas propriedades objetiva tornar atrativo o programa da agricultura de precisão na agricultura familiar e menos atrativa a adesão a médias e grandes propriedades, que têm nas empresas e cooperativas a possibilidade da prestação desses serviços e com a vantagem do menor tempo de espera para o atendimento. Para a operacionalização do Programa foram adotadas estratégias para disciplinar uma rotina de trabalho que facilitasse a universalização dos procedimentos a serem adotados. Os passos a partir do cadastramento e habilitação do beneficiário obedecem a sequência: 1º) Elaboração do Perímetro da Lavoura: Trata-se de uma operação na qual se utiliza o equipamento GPS acoplado ao quadricíclo e percorrimento do perímetro da área em que será feito o trabalho de levantamento da amostragem de solo; 453 2º) Identificação das curvas de nível: Feita a identificação do perímetro é repetido o procedimento para a localização georreferenciada das estruturas mecânicas de proteção ao escorrimento superficial das águas implantadas na área; 3º) Divisão da área amostral em Grid: Após feitos os levantamentos iniciais, o equipamento GPS calcula automaticamente e divide a área em grades cujas células nunca serão superiores a 2,0 hectares. No caso de áreas muito pequenas o grid é reduzido a tal ponto que á área passe a conter pelo menos 3 células; 4º ) Amostragem do solo: Em cada grid é feita a coleta de 12 subamostras de solo dentro de cada célula do grid, resultando ao final uma amostra composta representativa da célula. Para este procedimento segue-se uma metodologia de caminhamento em Z, no qual em cada uma das três retas que formam a letra são realizadas 4 coletas, totalizado as 12 subamostras que compõem a amostra composta que representa a célula. FIGURA 3 - CAPACITAÇÃO DA EQUIPE RESPONSÁVEL PELA UTILIZAÇÃO DO QUADRICICLO E GPS NOS LEVANTAMENTOS DE GEOPROCESSAMENTO E COLETA DE ANÁLISES DE SOLO Fonte: Instituto Emater, 2013 454 5º) Envio das amostras ao Laboratório: Encerrados os procedimentos de campo as amostras de solo coletadas são enviadas ao laboratório de análises de solo. As informações solicitadas na análise química do solo referem-se à composição química do solo devendo trazer informações sobre: pH, CaCl2, Ca, Mg, Al, P, K, H+Al, C, P, MO e S. 6º) Resultado das análises de solo: Concluído pelo laboratório o processo de análise química, os resultados são repassados aos técnicos do Instituto Emater em forma de planilha eletrônica com um ordenamento compatível com a exigida pelo software utilizado para a interpretação e análise dos dados. O software utilizado para a interpretação da análise química do solo foi desenvolvido pela empresa Analissolo Ltda., e possui como características básicas: a) Sistema de geração das recomendações da neutralização de acidez do solo através da utilização da metodologia por saturação por bases; b) Geração de tabelas informando o resultado teórico final das recomendações; c) Importação dos resultados laboratoriais e exportação dos resultados de correção através de planilhas em CSV; d) Adequação aos produtos corretivos disponíveis na região; e) Capacidade de cálculo em grupo de análises ou individualizadas; f) Opção de correção do elemento potássio (K) em relação ao total da Capacidade de Troca Catiônica (% da CTC); g) Sugestão de correção pela qual pode ser utilizada associação de calcários; h) Opção de impressão dos laudos de correção; i) Informações da correção através de gráficos que permitem impressão e fornecimento ao produtor. O software para realizar a interpretação das análises com foco para grãos dentro das características apresentadas pelo município de Tupãssi foi ajustado pela equipe técnica do Instituto Emater, que definiu indicadores de suficiência de nutrientes no solo conforme a Tabela 4. 455 Amostra Data pH H+Al Al Ca Mg K P-Mellich P-Resina P-Rem M.O. (%) 1 19/03/0014 5.2 4.96 0.0 4.73 2.11 0.37 2 19/03/0014 5.1 5.35 3.41 0.0 9.54 2.683 Soma C.T.C Saturação (V) B Cu Zn Mn Fe Bases 7.21 12.17 59.24 S 4.29 0.0 5.08 1.94 0.27 5.64 0.0 13.78 3.242 7.29 12.64 57.67 2.8 3 19/03/0014 4.9 6.69 0.07 5.07 1.84 0.32 6.82 0.0 11.04 2.907 7.23 13.92 51.94 2.52 4 19/03/0014 5.0 5.35 0.0 5.17 2.06 0.23 2.98 0.0 10.71 2.773 7.46 12.81 58.24 3.08 5 19/03/0014 5.1 5.35 0.0 5.56 1.89 0.32 4.46 0.0 11.87 2.706 7.77 13.12 59.22 2.52 0.0 5.99 1.77 0.34 22.47 0.0 10.46 2.37 8.10 13.86 58.44 7.28 6 19/03/0014 5.0 5.76 Ao importar estas análises, serão descontados 6 créditos dos 9445 disponíveis. FIGURA 4 - REPRODUÇÃO DA PLANILHA ELETRÔNICA COM A INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO DAS ANÁLISES DE SOLO DO SOFTWARE DESENVOLVIDO PELA EMPRESA ANALISSOLO LTDA Fonte: Software Analissolo Tabela 4 - Parâmetros técnicos adotados para a Interpretação dos elementos químicos constantes nas análises de solo Elemento Parâmetro Fósforo (P) Potássio (K) na CTC Cálcio (Ca) na CTC Magnésio (MG) na CTC Enxofre (S) Soma de Bases (V %) Relação Cálcio/Magnésio Relação Cálcio/Potássio Relação Magnésio/Potássio Relação (Ca + MG)/K 6– 9 mg.dm-3 3–4% 50 – 60 % 10 – 15 % > 10 mg.dm-3 70 % 3a5 12 – 17 2-5 13 - 20 Fonte: Equipe Técnica Instituto Emater, 2013. Na elaboração do mapeamento e demais informações georreferenciadas está sendo utilizado o software Farm Works Office - 2013, cujo conjunto de informações é entregue ao produtor em documento impresso. A assistência técnica local, seja de cooperativa ou empresas de assistência técnica à agricultura, está preparada para a orientação aos produtores. 456 FIGURA 5 - CAMINHÃO EQUIPADO COM KIT AGRICULTURA DE PRECISÃO E DISTRIBUIDOR DE CORRETIVOS TAXA VARIÁVEL EM OPERAÇÃO Fonte: Instituto Emater, 2014 Exemplos de mapas gerados na aplicação da prática de agricultura: de precisão FIGURA 6.1 - MAPEAMENTO DA PROPRIEDADE CONTENDO AS ÁREAS E CURVAS DE NÍVEL FIGURA 6.2 - MAPA DE DISPONIBILIDADE DE POTASSIO (K), SEGUNDO O RESULTADO DAS ANÁLISES DE SOLO 457 FIGURA 6.3 - MAPA DO TEOR MATÉRIA ORGÂNICA SEGUNDO O RESULTADO DAS ANÁLISES DE SOLO FIGURA 6.4 - MAPA DA DISPONIBILIDADE DE POTÁSSIO (K) APÓS A CORREÇÃO PROPOSTA PELO PROGRAMA FIGURA 6.5 - MAPA DA DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO SEGUNDO O RESULTADO DAS ANÁLISES DE SOLO FIGURA 6.6 - MAPA DE APLICAÇÃO DE CALCÁRIO CALCÍTICO EM TAXA VARIÁVEL 458 Nos primeiros seis meses de operacionalização do programa foram atendidos 53 produtores, o que totalizou área de 618,28 hectares (Gráfico 5). Em junho de 2014, o número de produtores que compunham a lista de espera era de 173, cujos atendimentos foram realizados nos intervalos de pousio entre culturas. Gráfico 2 - Percentual de produtores beneficiados pelo programa neste primeiro ano de funcionamento de acordo com a área total da propriedade Fonte: Instituto Emater, 2014 Conforme o Gráfico 2, no primeiro ano de funcionamento do programa 82,7% dos produtores assistidos possuem áreas com até 20 hectares, o que cumpre um dos principais objetivos do programa que é o acesso da ferramenta da agricultura de precisão para os agricultores familiares do município de Tupãssi. Conclusões Em seu primeiro ano de funcionamento o Programa Municipal “Tupãssi Fazendo Agricultura de Precisão” demonstrou que o agricultor familiar do município está interessado na adoção de novas tecnologias de produção, o que ficou evidente pelo grande número de inscritos. 459 A prática da agricultura de precisão está permitindo o conhecimento detalhado da fertilidade dos solos dos produtores assistidos e, ainda, a partir dos mapas, a avaliação do sistema de terraceamento e possíveis focos de erosão. Há uma expectativa que os outros fatores como da melhoria da qualidade do plantio direto e, consequentemente, o aumento da infiltração e armazenamento da água no perfil do solo sejam temas que passem a ser incorporados como objetivos de resultados no médio prazo. A ferramenta de agricultura de precisão, pelo manejo dos itens relativos à fertilidade do solo, poderá ser um importante facilitador para a inserção de práticas como a rotação de culturas e o manejo integrado de pragas e doenças, entre outras boas práticas agrícolas. Observou-se no primeiro ano do programa no município que a Assistência Técnica local passou a debater o tema fertilidade do solo e suas implicações no processo de uma produção agrícola mais sustentável do ponto de vista econômico e ambiental. Os resultados do trabalho estão compondo um banco de dados no qual será possível identificar deficiências e desequilíbrios na fertilidade do solo de acordo com o sistema de manejo utilizado, permitindo recomendações individualizadas de acordo com a realidade de cada produtor assistido. A proposta de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER, proporcionada pela técnica da agricultura de precisão no manejo da fertilidade na pequena propriedade, é passível de ser reproduzida em outros municípios a partir das realidades locais. 460 REFERÊNCIAS BERNARDI, A.C.C.; BETTIOL, G.M.; INAMASSU, R.Y. e RABELLO, L.; Avaliação da produção e propriedades químicas espacializadas e da calagem e adubação a taxas variadas em lavoura de milho para silagem em São Carlos, SP. In: INAMASSU, R.Y.; NAIME, J.M.; RESENDE, A.V.; BASSOI, L.H. e BERNARDI, A.C.C. (Eds). Agricultura de Precisão: um novo olhar. São Carlos, SP: Embrapa - Instrumentação Agropecuária, 2011. p. 194-200. CENTENO, A. Do hectare para o m2. Revista Agro DBO, p. 56 e 57. Fev, 2014. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006. Disponível em: <www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 26/03/2014. INAMASSU, R.Y.; NAIME, J.M.; RESENDE, A.V.; BASSOI, L.H. e BERNARDI, A.C.C. Agricultura de Precisão: um novo olhar. São Carlos, SP: Embrapa - InstrumentaçãoAgropecuária, 2011. IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/>. Acesso em: 26/03/2014. EMATER - Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná. Disponível em: <http://www.emater.pr.gov.br/>. Acesso em: 26/03/2014. GIOTTO, E.; CARDOSO, C.D.V. E SEBEM, E. Agricultura de Precisão com o Sistema CR Campeiro 7 - Volume I - Santa Maria: UFSM - Laboratório de Geomática, 2013. MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário. Disponível em: <http:// www.mda.gov.br/>. Acesso em: 26/03/2014. OLIVEIRA, R.P. e BENITES, V.M. Variabilidade do solo como indicador da oportunidade da agricultura de precisão em sistema de plantio direto. In: INAMASSU, R.Y.; NAIME, J.M.; RESENDE, A.V.; BASSOI, L.H. e BERNARDI, A.C.C. (Eds). Agricultura de Precisão: um novo olhar. São Carlos, SP: Embrapa - Instrumentação Agropecuária, 2011. p. 194-200. 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