Suely Sousa - Água, Mulheres e Desenvolvimento
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Suely Sousa - Água, Mulheres e Desenvolvimento
Universidade Federal de Ouro Preto Centro de Educação Aberta e a Distância PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO EM RAÇA E GÊNERO SUELY PINHEIRO DE SOUSA HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS: UMA ANÁLISE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA MOCÓ JUNHO-2012 ARAÇUAÍ – MG Universidade Federal de Ouro Preto Centro de Educação Aberta e a Distância PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO EM RAÇA E GÊNERO SUELY PINHEIRO DE SOUSA HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS: UMA ANÁLISE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA MOCÓ Trabalho apresentado à Universidade Federal de Ouro Preto como requisito para a obtenção de Grau de Especialista em Gestão em Políticas Públicas com foco em Gênero e Raça. Orientadora: Amanda Dutra Hot JUNHO-2012 ARAÇUAÍ – MG Dedico este trabalho aos negros que lutaram para conquistar um espaço na sociedade. Araçuaí, 20 de junho de 2012 . “Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento”. Abraham Maslow SOUSA, Suely Pinheiro de. História, identidade, aspectos sociais e econômicos: uma análise da Comunidade Quilombola Mocó 2012. Trabalho de Conclusão de Curso Especialista em Gestão Pública com foco em Gênero e Raça Universidade Federal de Ouro Preto, Araçuaí, 2012. RESUMO O presente trabalho está fundamentado em uma pesquisa realizada para conclusão do Curso de Especialista em Gestão Pública com foco em Gênero e Raça e tem por objetivo discutir a luta das comunidades quilombolas, destacando a Comunidade quilombola do Mocó situada no município de Francisco Badaró Minas Gerais, assunto que emergiu a partir da vivência com a mesma. O estudo busca contextualizar historicamente a luta dos negros no processo de conquistas culturais, sociais e territoriais a partir de diferentes compreensões histórico-teóricas, bem como a importância cultural do negro para o Brasil e os desafios encontrados ao longo dos anos. Como referência para o presente estudo foi utilizada a pesquisa qualitativa fundamentada na técnica de entrevista semi-estruturada, revisão bibliográfica, observação participante e estudo documental, seguida de análise de dados. Dentre as categorias emergentes na análise dos dados destaca-se história sócio-cultural do negro no Brasil e particularmente na comunidade de Mocó, visando o fortalecimento da construção da cidadania da população negra e os fatores impulsionadores deste processo e suas conseqüências. O presente artigo é uma pesquisa de causas e conseqüências dessa demanda na Comunidade Quilombola do Mocó município de Francisco Badaró. Palavras-chave: Trabalho; Quilombola; Cultura; Escravidão. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 – Local onde ficavam os animais Mocó...........................,,,.....23 Figura 02 – Casa de pau-a-pique.............................................................23 Figura 03 – Motor e maquinário do galpão para a produção de farinha...27 Figura 04 – Cisterna.................................................................................28 Figura 05 – Igreja local.............................................................................29 Figura 06 – Vegetação Local....................................................................30 Figura 07 – Coberta de Algodão..............................................................30 Figura 08 - Ervas medicinais (tradicionais)..............................................31 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 7 2 OBJETIVO GERAL.................................................................................... 10 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................... 10 3 METODOLOGIA........................................................................................ 11 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13 4.1 CAPITULO 1 – A ESCRAVIDÃO NO BRASIL, O CONCEITO DE 13 QUILOMBO E SUAS FORMAÇÕES TERRITORIAIS BRASILEIRA ........ 4.2 CAPITULO 2 – A QUESTÃO DE TERRITORIALIDADE QUILOMBOLA 16 EM MINAS GERAIS. 4.3 CAPITULO 3 – A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA COMUNIDADE 20 REMANESCENTE DE QUILOMBO MOCÓ............................................... 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 37 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 39 HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAS E ECONÔMICOS: UMA ANÁLISE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA MOCÓ 1. INTRODUÇÃO A escravidão que perdurou no Brasil durante séculos, teve início com a produção canavieira na primeira metade do século XVI. Durante muito tempo ela foi praticada e aceita, e muitos chegavam a justificá-la, já que, para vários senhores, esse era um favor que faziam para os escravos, e àqueles que se opunham eram castigados. Sobre esse assunto, Sousa (s/d) diz que: a rotina de trabalho desses escravos era árdua e poderia alcançar um turno de dezoito horas diárias. As condições de vida eram precárias, sua alimentação extremamente limitada e não contava com nenhum tipo de assistência ou garantia. Além disso, aqueles que se rebelavam contra a rotina imposta eram mortos ou torturados. Mediante tantas adversidades, a vida meia de um escravo de campo raramente alcançava um período superior a 20 anos. Diante de tanta dificuldade e tamanha perversidade, os negros se refugiaram, formando os quilombos que eram territórios independentes da situação colonial, onde a liberdade e o trabalho em conjunto eram a base de sustentação destas comunidades. Diante disso, a ideia de se viver em um território livre se disseminou rapidamente entre os escravos e milhares de quilombos foram surgindo no país, abrigando negros fugidos, alforriados e até mesmo brancos pobres. Assim, se formaram diversos quilombos, onde a cultura africana era preservada, seus costumes, suas crenças, seus meios de alimentação e viver. Segundo Nascimento (1980, p. 32), quilombo é um movimento amplo e permanente que se caracteriza pelas seguintes dimensões: vivência de povos africanos que se recusavam à submissão, à exploração, à violência do sistema colonial e do escravismo; formas associativas que se criavam em florestas de difícil acesso, com defesa e organização socioeconômica e política própria; sustentação da continuidade africana através de genuínos grupos de resistência política e cultural. 8 Neste sentido, no processo de escravidão e de resistência a ela, tem-se a formação de comunidades quilombolas, que são comunidades povoadas por negros de origem africana, onde mantinham seus costumes e crenças. A comunidade quilombola Mocó, localizada no município de Francisco Badaró, estado de Minas Gerais, estudo desta pesquisa, é uma comunidade de escravos. Isso significa que a população ali residente se refugiou naquele local para escapar dos trabalhos escravos impostos pelos senhores, formando uma comunidade onde o cooperativismo e a solidariedade prevalecia. Buscar estes desbravamentos é descobrir a origem do povo local, sua crença, sua realidade, seus costumes, sua religiosidade, além de entender a construção da comunidade local e seu papel na sociedade atual. Dessa forma, foi realizada uma pesquisa de campo com os moradores locais para descobrir a origem e o desenvolvimento desse núcleo quilombola, abordando todo o processo de formação e desenvolvimento da comunidade, perpassando pelos seus costumes, crenças, e seus desdobramentos, em ascensão ao desenvolvimento comunitário. Através da pesquisa, percebeu-se que a comunidade quilombola Mocó a princípio enfrentou dificuldades, mas atualmente a mesma se encontra em crescente desenvolvimento, através do auxílio de entidades e ações governamentais. Compreendendo a realidade da comunidade de Mocó, veem-se claramente as dificuldades enfrentadas pelo povo negro. Um povo humilde, simples, que busca sua valorização cultural e social, sendo protagonistas da realidade brasileira, onde os méritos eles não levaram, mas deixaram um legado memorável que deve ser respeitado e valorizado por todas as raças e gerações. As comunidades quilombolas são originadas de um processo de escravidão, onde as maiores valorizações que tiveram foram a mão- 9 de-obra, assim buscaram refugiar-se em quilombos, comunidade de origem negra, onde as suas identidades eram valorizadas e seus costumes preservados. Neste sentido, Linhares (2002) diz que: Os debates em torno destas designações ganham sentido, sobretudo, para efeito de medidas legais, jurídicas ou definição de direitos sociais, econômicos, políticos para os quilombolas e seus descendentes. Por exemplo, direito à legalização da terra, à moradia, à educação, à saúde, ao lazer (LINHARES, 2002). E estas questões que tangem a vida em quilombo são destacadas nesse trabalho, bem como caracterizar a comunidade envolvida, levantando dúvidas e buscando descobrir o porquê se refugiaram e como conseguiram manter viva esta cultura, que atualmente encontra-se estagnada devido aos meios de comunicação. E neste contexto, o presente trabalho faz-se fundamental e de significativa importância para compreensão histórica do desenvolvimento da comunidade de Mocó, desbravando o seu contexto social, cultural e político, bem como suas interferências na construção da realidade do cotidiano dos povos negros, em especial da comunidade de Mocó. A interpretação de conceitos e análise dos resultados se encontra distribuída em três capítulos. Com base nos referenciais teóricos e conceituais, o primeiro capítulo aborda a escravidão no Brasil, o conceito de quilombo e sua formação no país, onde se espera destacar os conflitos sofridos. O segundo capítulo se refere à questão da territorialidade, que, nesse caso, implica o espaço em que a comunidade está inserida, verificando a origem dos quilombos. O capítulo três refere-se às questões sociais e econômicas, a qual objetiva-se conhecer a trajetória histórica da comunidade remanescente de quilombo Mocó, identificando a construção de suas casas, seu modo de vida, alimentação, costumes e o que produziam o que perdura dos antepassados até hoje, além de buscar compreender os aspectos sociais e culturais da comunidade de Mocó, bem como as 10 discriminações sofridas através de histórias contadas pelos moradores da comunidade. 2. OBJETIVO GERAL: Observar a vivência dos moradores da comunidade Mocó, localizada no município de Francisco Badaró, bem como seu processo de reconhecimento como remanescente de quilombo – Comunidade Quilombola. 2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: I – Propiciar conhecimentos relacionados à formação inicial da comunidade; II – Desenvolver estudos e pesquisas sobre a história sócio cultural do negro no Brasil e particularmente na comunidade de Mocó, visando o fortalecimento da construção da cidadania da população negra; III – Assessorar e incentivar a população negra rural na conquista dos seus direitos como comunidade quilombola. 11 3. METODOLOGIA A presente pesquisa de cunho qualitativo se refere a uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo, tendo como principal finalidade fornecer embasamento teórico, para confirmar a idéia de que quando conhece a identidade dos negros eles se tornam mais valorizados. A primeira etapa, após a orientação de qual seria o trabalho de conclusão de curso foi a delimitação do tema, uma vez que o tema já tinha sido escolhido, essa etapa foi muito importante, pois ela é o primeiro passo para se definir o que quer pesquisar. Num segundo momento foi feita uma pesquisa na internet para localizar trabalhos sobre o assunto, para isso foram usadas palavras chaves como comunidades quilombolas, com essa pesquisa deu para perceber que esse é um assunto que vem sendo constantemente abordado, já que são vários trabalhos publicados sobre o tema, diante dessa pesquisa foi separado alguns artigos que mais se assimilava com o tema, onde foi detectado quais autores, se dedicaram a estudar sobre a proposta levantada nesse trabalho. Concluída essas etapas de seleção das pesquisas, foi elaborada uma tabela com os seguintes tópicos: autor, ano, nome do artigo e do livro, metodologia e resultados, com o intuito de facilitar o processo de registro do material. Dos autores pesquisados mereceram destaque: MOURA (1981), PILETTI (2000), LINHARES (2002), NASCIMENTO (1980), entre outros. Após seleção do material a ser utilizado foi feito o fichamento dos artigos e dos livros a serem utilizados, destacando o assunto principal. A segunda parte do trabalho é a pesquisa de campo realizada na comunidade quilombola Mocó para colher informações a respeito da formação do quilombo, como foi fundada e como vivem essas pessoas, que tiveram tantas dificuldades para sobrevirem a tantos maus tratos. Essa deverá acontecer em forma de entrevistas com os líderes comunitários e com pessoas que trabalham em prol do bem estar da 12 comunidade, terá a função de informar quantidade de famílias que residem nessa comunidade identificando homens, mulheres e crianças, atividades econômicas desenvolvidas, aspectos sociais, e os valores culturais que existiram e ou que ainda permanecem entre os moradores, bem como a visão dessas pessoas depois de receber o título de Comunidade Remanescente Quilombola resumindo a vivência desse quilombo. Para efetivação da pesquisa, o diálogo deve ser utilizado como principal ferramenta de pesquisa, estimulando a troca de saberes entre a comunidade local e o pesquisador, respeitando as experiências, costumes e as crenças dos sujeitos. Em subsequência deverão ser condensados os dados coletados e montados a proposta do projeto. Assim, será realizada uma pesquisa bibliográfica e de campo do referido tema, perpassando pelos seus objetivos e metas, bem como a descrição do mesmo. Após essa pesquisa deverá ser proposto uma reunião com a comunidade para discutir essas questões citadas acima, na qual deverá ser feito um condensado sobre as informações coletadas, destacando os direitos de uma comunidade quilombola e o amparo legal dessa pela Constituição, gerando assim uma reflexão crítica, Após a conclusão desse processo deve se fazer a análise para verificar se a os resultados obtidos estavam em consonância com o tema proposto, o que pode originar conceitos importantes para o desenvolvimento deste trabalho, tais como “quilombos” “discriminação” e “preconceito”. 13 4.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1 Capítulo 1 - A escravidão no Brasil, o conceito de quilombo e suas formação no território brasileiro. A escravidão no Brasil é o grande sustentáculo do processo de colonização, a partir do século XVI. Longe de se ater a uma forma homogênea de relação de trabalho, a escravidão brasileira fora marcada pelas mais diferentes caracterizações do período colonial. Para contornar a crescente demanda por força de trabalho, Portugal resolveu então investir no tráfico de escravos vindos diretamente da costa Africana. Tal alternativa se tornava viável por dois motivos: o domínio que Portugal já possuía em regiões da África e as possibilidades de lucro que a venda desses escravos traria aos cofres da Coroa Portuguesa. Sendo assim, população negra no Brasil sofreu quase quatro séculos de escravidão e chega a ser considerada por ¹muitos historiadores como a mais cruel de toda história da humanidade. Os africanos que chegavam ao Brasil eram obrigados a modificar totalmente seu modo de vida e seus costumes isso fez com que muitos africanos resistissem à escravidão fugindo, lutando e morrendo ou se libertando. Quando conseguiam fugir, reuniam-se em comunidades chamadas quilombos. Os senhores de escravos e o governo não admitia a fuga e a organização dos negros. Por isso faziam de tudo para destruí-los. Com a escravidão, criou-se na sociedade brasileira um modo de agir e de pensar que tem reflexo até hoje, pois o preconceito contra negros continua. A partir da Guerra do Paraguai (1865 – 1870) começa a ganhar força no Brasil o movimento abolicionista, pois D. Pedro II baixou um decreto que alforriava todos os escravos que servissem na guerra e voltassem vivos, como uma forma de incentivá-los a servirem. O Brasil sofria grande pressão interior e exterior e isso acarretou a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Izabel. Entretanto, a lei não incorporou os 14 escravos à sociedade, expulsos das fazendas acabaram nas periferias ou nas matas formando os quilombos. Sendo o quilombo parte do conjunto de contradições geradas no âmbito da sociedade escravista, seu estudo se torna necessário para a compreensão das posteriores transformações por esta sociedade. ¹ João José Reis, Manolo Florentino, Flávio dos Santos Gomes, etc. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra "Quilombo" tem origem nos termos "kilombo" (Quimbundo) ou "ochilombo" (Umbundo), presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental. Originalmente, designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações nômades ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também as paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de cera, escravos e outros itens cobiçados pelos colonizadores. A formação de grupos de escravos fugitivos se deu em toda a parte do Novo Mundo onde houve escravidão. No Brasil, estes grupos foram chamados de quilombos ou Mocambos. Alguns conseguiram reunir centenas de pessoas. O grande quilombo dos Palmares, na verdade uma federação de vários agrupamentos, tinha uma população de alguns milhares de almas, embora, provavelmente, não os quinzes, vinte e até trinta mil habitantes que alguns contemporâneos disseram ter. Com isso a Metrópole sentiu-se ameaçada com dimensão que estava se tornando Palmares, então buscaram combater os quilombos. Para senhores e governos, o problema maior estava em que, na sua maioria, os quilombos não existiam isolados, perdidos no alto das serras, distantes da sociedade escravista. Embora em lugares protegidos, os quilombos amiúde viviam próximos a engenhos, fazendas, lavras, vilas e cidades. Mantinham redes de apoio e de interesse que envolvia escravos, negros livres e mesmo brancos de quem recebiam informações sobre movimentos de tropas e outros assuntos estratégicos. Com essa gente eles trabalhavam, se acoitavam, negociavam alimentos, armas, munição e 15 outros produtos; com escravos e libertos, podiam manter laços afetivos, de parentesco e de amizade. É claro que houve muitos casos de quilombos isolados, às vezes encontrados por expedições que até desconheciam sua existência. Mas as evidências do próprio Palmares, e mais ainda dos quilombos que lhe sucederam Brasil afora, indicam uma relação muito mais intensa entre quilombolas e outros grupos sociais. São numerosos os relatos que dão conta da destruição de roça de milho, frutas, algodão, cana e outros produtos cultivados pelos quilombolas. Cultivavam, sobretudo, a mandioca, com que faziam para não tornarem a servir de “Criminozo azilo”, como escreveu o capitão-mor que destruiu os quilombos do Orobó e Andaraí, na Bahia, em 1796. (Ameaça negra, 2009). As comunidades quilombolas são populações negras que vivem no meio rural e se auto-identificam como Comunidades Negras Rurais, Terras de Preto, Quilombos, Mocambos e outras designações correlatas. Elas são um segmento de população negra brasileira marcada pela resistência, organização e, principalmente, pela luta em defesa de direitos sagrados: Terra, Liberdade, Cidadania e Igualdade. Ao longo da sua trajetória neste país, esse segmento resistiu de várias formas a um processo constante de tentativa de retirar seus direitos enquanto cidadãos. A principal é a tentativa de negar o direito aos territórios em que efetivamente moram e trabalham. Contudo, apesar de negados pela história oficial, os quilombos existem em todo o país, construindo assim um marco de resistência da população negra contra a opressão. As comunidades quilombolas podem ser consideradas como um dos segmentos sociais mais pobres, esquecidos e desconhecidos da nossa sociedade. No início dos anos 2000, pouco se sabia sobre quantas eram, como viviam e onde se encontravam. Novas políticas foram implantadas a partir de 2003 como os Projetos Quilombo Gerais, que trabalha em defesa do negro. 16 As comunidade quilombolas são originados de um processo de escravidão, onde as maiores valorizações que tiveram foram a mão-deobra, assim buscaram refugiar em quilombos, comunidade de origem negra, onde as suas identidades são valorizadas e seus costumes. Assim, buscaram valorizar a vida do campo, enfrentando todas as dificuldades e problemas. 4.2 - CAPITULO 2 A questão da territorialidade quilombola em Minas Gerais Fruto da intensa mobilização social, o texto da Constituição Federal de 1988 é o primeiro a reconhecer a diversidade étnica e cultural que rompe com a idéia de uma nação homogênea pautada por uma única língua, um mesmo credo, etc. A instituir o Constitucionais Artigo Transitórias 68 de (ADCT) seu Ato das Disposições estabelecendo que: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras e reconhecida à propriedade definitiva, devendo o estado emitir-lhes os títulos respectivos”, a Constituição Brasileira também reinstituiu pela primeira vez no período republicano a categoria jurídicolegal de quilombo. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1998. Art. 216). Segundo Brito Pereira (2000), ao tratar de quilombos, o ADCT 68 remete diretamente, no corpo da Constituição, ao Artigo 216, que, por sua vez, insere-se na seção da Constituição dedicada a cultura, a qual tem um principio retórico, a nacionalidade brasileira se forma a partir de grupos étnicos diferenciados, grupos com histórias e tradições diversas, cabendo ao estado protegê-los e garantir espaço e permanência para essa diferenciação. Pelo direito de propriedade, que neles tem, pode o senhor aluga-los, empresta-los, vende-los, dá-los, aliená-los, lega-los, constituí-lo em penhor ou hipoteca, dispor dos seus serviços, desmembrar da sua propriedade o usufruto, exercer enfim todos os direitos legítimos de verdadeiro dono ou proprietário. Como propriedade é ainda o escravo sujeito a ser sequestrado, embargado ou arrastado, penhorado, depositado, arrematado, adjudicado; correndo sobre ele todos os termos sem atenção 17 mais do que à propriedade no mesmo constituída.” (Perdigão, Malheiro, 2003, p.54) Segundo o Art. 17 da Constituição Brasileira, a regularização das terras é feita mediante título coletivo às comunidades. O Movimento Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas é um dos mais ativos agentes do movimento social negro no Brasil. Unidos pela força étnica, os quilombos construíram e defendem seu território. A criação do CONAQ (Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). O Programa Brasil Quilombola, a Fundação Cultural Palmares, o CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva) dentre outros são órgãos que lutam pela regularização e reconhecimento dessas comunidades como quilombos, fazendo valer a Constituição Federal. Um aldeamento ou conglomerado de casebres cobertos de palha ou folhas de palmeiras, embora sem nenhuma ordenação, com alguma separação entre eles, e situados no meio das árvores e das matas, tudo na conformidade dos usos africanos. (Pedro Thomas, 2000, p. 43). Eram assim que ficaram conhecidos os quilombos formados pelos negros refugiados. Diversos livros mostram a história dos escravos negros com detalhes e números impressionantes. Carneiro (1985) consta que o primeiro negro que chegou ao Brasil, veio na armada de Martim Afonso (1532). Negros e mulatos, uns ainda escravos, outros já forros, acompanharam o governador Tomé de Sousa na edificação da cidade de Salvador. Eram percussores de milhões de negros africanos que durante dois séculos e meio foram carregados pelo tráfico para o trabalho da nova terra. Em Minas Gerais, muitos pequenos quilombos se fixaram nos arredores das vilas, centros urbanos e fazendas. Minas Gerais foi um dos estados brasileiros que possuiu maior população negra escrava no país. 18 A mineração atraiu pessoas de vários lugares para essa região, que prometia enriquecimento fácil e rápido. Muitos foram os que trouxeram ou adquiriram escravos para o trabalho pesado nas minas. Hoje, são mais de 400 comunidades quilombolas que lutam por seus direitos em Minas Gerais, sendo que a maioria delas localiza-se na zona rural e algumas em centros urbanos. As regiões do estado com maior concentração de comunidades quilombolas são a região norte e a nordeste, com destaque nesta última para o Vale do Jequitinhonha. Em Minas Gerais, existiu um celeiro de quilombos. No fim do século XVII, no momento em que o Quilombo de Palmares estava sendo destruído, descobriram-se em Minas Gerais as jazidas de ouro e diamante. Desde então, até o fim do século XVII, a região das Minas constituiu-se a base geográfica e econômica do escravismo colonial brasileiro. (SIQUEIRA; CARDOSO, 1995, p.45). Como o curso do Jequitinhonha e a estrada real que marginava o Rio São Francisco facilitavam a imigração vinda da Bahia para o norte e nordeste de Minas, é provável que quando em Sucuriú chegaram os colonizadores em 1728, já haviam escravos pertencentes a pessoas provenientes dessa migração. O tráfico negreiro deixava os aprisionados africanos na Bahia onde as pessoas de recursos financeiros iam comprá-los como se fossem bois ou cavalos. As primeiras casas de Francisco Badaró foram edificadas por escravos. Estes a princípio foram utilizados na mineração. Esgotando os depósitos auríferos foram sendo utilizados na agropecuária. Em 1817, apenas alguns negros iam faiscar no rio Sucuriú. A situação do negro de campo esteve mais que os outros sujeitos a “caprichos” do senhor; pois era este, quem dispunha de sua alimentação, moradia, do seu tempo e mesmo das suas relações sexuais. Os castigos mais atrozes e aviltantes – tronco, vira-mundo, cepo, libando, ganilha – e as brutalidades mais terríveis – pontapés no ventre das escravas gestantes, olhos vazados e dentes quebrados a 19 martelo, empareda mentos, mutilações e aleijões, o quinhão do negro de campo, em especial enquanto o tráfico não sofreu limitações internacionais. Durante o período da escravatura, negros cativos, fugindo da prisão e dos maus tratos dos senhores, esconderam-se nas matas. Quando o número de fugitivos era suficiente, formavam comunidades, compostas por homens e mulheres, jovens e crianças que garantiam a sobrevivência do grupo, e a defesa contra a investida dos proprietários de escravos e de seus mandantes. Comunidades, também foram formadas por negros libertos. Essas comunidades de ex-escravos organizavam-se de diversas formas e tinha proporções e duração muito diferentes. Havia pequenos quilombos, compostos de oito homens ou pouco mais; eram praticamente grupos armados. No recesso das matas, fugindo do cativeiro, muitas vezes eram recapturados pelos profissionais de caça aos fugitivos. Criou-se para isso uma profissão específica. Em Cuba chamavam-se rancheadores; capitães do mato no Brasil; coromangee ranger, nas Guianas, todos usando táticas mais desumanas de captura e repressão. Em Cuba, por exemplo, os rancheadores tinham como costume o uso de cães amestrados na caça aos escravos negros fugidos. Como podemos ver, a marronagem nos outros países ou a quilombagem no Brasil eram frutos das contradições estruturais do sistema escravista e refletiam, na sua dinâmica, em nível de conflito social, a negação desse sistema por parte dos oprimidos (Moura 1987: 12-13) Estas comunidades apresentavam características de origem africana, receberam então o nome de quilombos ou mocambos. Ao longo de séculos foram surgindo em todas as regiões do país, algumas se transformaram em grandes comunidades, com os famosos quilombos de Palmares, em Alagoas, e o do Ambrosio em Minas Gerais. A alimentação das comunidades do Norte de Minas Gerais e do Médio e Baixo Jequitinhonha é semelhante à do sertanejo nordestino. O charque ou carne de sol e a farinha são largamente usados. Os vestuários quilombolas mais significativos são as calças e camisas de algodão. O uso de chapéu entre os homens e de lenço entre as mulheres 20 é muito comum. A prática do tear ainda é corriqueira entre as mulheres quilombolas, mas não foram observados jovens exercendo esta atividade. A construção e formação da comunidade de Mocó, um local onde 100% da população existente é negra, e seu local identifica-se como um pequeno quilombo, segundo característica e documentação do CEDEFES. A Equipe Quilombos Gerais, pela CEDEFES divulgou a seguinte lista de comunidades quilombolas já identificadas através de visitas e as comunidades quilombolas ainda não visitadas, mas préidentificadas. O número atualizado em 24/08/06 consta o número de 366 quilombos. 4.4 Capítulo 3 - A trajetória histórica da comunidade remanescente de quilombo Mocó O Brasil escravista foi essencialmente rural. Durante a escravidão o mundo rural dominou o urbano, as cidades nasciam para dar suportes à sociedade escravista, mesmo os grandes centros urbanos desempenhavam apenas funções administrativas, sociais e comerciais nessa época. No contexto desta sociedade escravista, também surgiram várias formas de resistência dos escravos negros. Eram comuns os suicídios, as fugas para o mato, as rezas e os rituais. Mas a principal forma de resistência era a fuga para os quilombos organizados por negros que lutavam contra a escravidão, onde se uniam em pequenos grupos que formavam as comunidades quilombolas, compostas por homens e mulheres, jovens e crianças que garantiam a sobrevivência do grupo, e a defesa contra a investida dos proprietários de escravos e de seus mandantes. Muitas comunidades, também foram formadas por negros libertos. Ao longo de séculos estas se espalharam em todas as regiões do 21 país, algumas se transformaram em grandes comunidades, como os famosos quilombos de Palmares, em Alagoas, e o do Ambrosio em Minas Gerais, aqui citados anteriormente, outras não menos importantes, mas sem grandes reconhecimentos são aquelas que lutam pelos seus direitos destacando neste trabalho o quilombo de Mocó situado em Francisco Badaró no Vale Jequitinhonha. O Vale Jequitinhonha é uma região de história sofrida, que surgiu a partir da mineração, com a chegada de vários imigrantes. Foi com a diminuição da extração de ouro e pedras preciosas, que a agricultura, principalmente a cultura de algodão, passou a absorver uma grande parte da população do vale. O Vale do Jequitinhonha, situado em grande parte no nordeste de Minas Gerais, é considerado uma das regiões mais pobres e sofridas do país. De acordo com Maria Luzia Lamounier, o Vale Jequitinhonha é a quarta região mais carente do mundo. Esta Mesorregião, segundo Rezende (2002), tem sobrevivido devido a algumas atividades como agropecuária, extrativismo mineral e vegetal. Marcada pela desigualdade socioeconômica, sua população, independentemente das raças que a compõem – branca, negra, parda ou indígena – passa por diversas dificuldades e necessidades. O município de Francisco Badaró localizado no Nordeste Mineiro – Vale do Jequitinhonha a 700 km de Belo Horizonte pela BR116. Tendo seus limites geográficos os municípios de Araçuaí (49 km), Berilo (18 km), Chapada do Norte (22km), Jenipapo de Minas (17 km) e Virgem da Lapa (22 km). Francisco Badaró possui uma população de 10.309 habitantes, sendo que 75% encontram-se residindo na Zona Rural. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) corresponde a 0.64. A população Badaroense, em sua maior parte possui grau de estudo de ensino fundamental incompleto. A taxa de analfabetismo é ainda significativa na população adulta, entretanto se somarmos com os cidadãos que somente escrevem o nome essa taxa ganha porcentagens com mais significância. 22 A renda per capta varia entre 0.5 (meio) a 1.0 (um) salário mínimo. A economia permeia em torno de agricultura e pecuária de subsistência, sendo que a parte não consumida pelas famílias é comercializada de forma artesanal na feira local. Devido a fatores naturais, o desmatamento, dentre outras ações humanas, a produção agrícola e pecuária vem diminuindo, com isso intensifica-se a migração da população para o interior de São Paulo e Sul de Minas, ou mesmo para os grandes centros, na esperança de ir em busca de alternativas de emprego e renda. Outra característica relevante que vem ampliando, corresponde às mulheres que também estão se tornando migrantes, na tentativa de conseguirem o sustento familiar. Diante disso, os filhos estão sendo criados pelos avós, que dividem a aposentadoria com o sustento de várias pessoas, caracterizando, assim, o modelo de família extensa. Outro dado relevante do município de Francisco Badaró, é que cada vez mais os jovens estão seguindo este caminho, deixando assim os estudos em segundo plano. Não é raro encontrar adolescentes de 16 anos viajando para o corte-de-cana, colheita de café e laranja, e as meninas indo para as capitais na tentativa de trabalharem como empregadas domésticas, na maioria das vezes sem os direitos trabalhistas garantidos. Uma fonte de renda significante são os benefícios previdenciários que representam o sustento de várias famílias, ou seja, o idoso sendo chefe de família, além dos benefícios oriundos de programa do Governo Federal. A região do município de Francisco Badaró é semiárida, caracterizada por predominância de altas temperaturas e escassez de água, com índices pluviométricos de 800 a 900 mm anuais. No meio rural encontra-se homens, mulheres, crianças e animais partilhando da mesma fonte hídrica, comprometendo não só a qualidade da água para o consumo familiar, mas, como também agravando o problema da escassez, pela competição. 23 A comunidade de Mocó está localizada no Município de Francisco Badaró, Vale do Jequitinhonha, a 15 km da sede do município, e 03 km do distrito de Tocoiós de Minas, situado no município de Francisco Badaró, no estado de Minas Gerais. Como o curso do Jequitinhonha e a estrada real que marginava o Rio São Francisco facilitavam a imigração vinda da Bahia para o norte e nordeste de Minas, é provável que quando em Sucuriú (atual Francisco Badaró) chegaram os colonizadores em 1728, já haviam escravos pertencentes a pessoas provenientes dessa migração. O tráfico negreiro deixava os aprisionados africanos na Bahia aonde as pessoas de melhores recursos financeiros iam comprá-los como se fossem bois ou cavalos. As primeiras casas de Francisco Badaró foram edificadas por escravos. Estes a principio foram utilizados na mineração, esgotando os depósitos auríferos foram sendo utilizados na agropecuária. Mocó é uma comunidade de remanescente de quilombo, que significa que a população residente naquele local refugiou-se, para fugirem dos trabalhos escravos impostos pelos senhores. Assim foi realizada uma pesquisa oral com os moradores locais para descobrir a origem e o desenvolvimento da mesma, que aborda todo o processo de formação e desenvolvimento da comunidade, perpassando pelos seus costumes, crenças, e seus desbravamentos, em ascensão ao desenvolvimento comunitário. E neste contexto de desenvolvimento comunitário, a comunidade de Mocó enfrentou dificuldades, mas atualmente a mesma encontra em crescente desenvolvimento com ajuda de entidades e ações governamentais, Mas ainda tem a relação produzida pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus de asiáticos, e povos indígenas. A comunidade de Mocó se formou na segunda metade do século XIX, e segundo um dos entrevistados, o Senhor José Moreira Leite, popularmente conhecido como José Miúdo, o seu bisavô chamado 24 Jerônimo, ganhou as terras de seu senhor, o Senhor Manoel Pinheiro, que o havia vendido para Mata do Rio (atual São Paulo). Porém ele fugiu e veio atravessando rios, passando em matas e comendo bichos até chegar aqui, na comunidade de Mocó. O Senhor Manoel Pinheiro era um Senhor bom, e por isso escondeu o seu ex-escravo em Mocó, que naquela época era uma mata bruta. Conta ainda que a alimentação do mesmo se dava através de alimentos vindos da Fazenda do Senhor Manoel Pinheiro. E quando surgiu a abolição o Senhor Jerônimo saiu do esconderijo. Grande parte da população atual se origina da localidade de Capivari, no município de Minas Novas; do Córrego da Mariana, lugar próximo à comunidade; e de cabeceiras, também no município de Minas Novas; das margens do rio Sucuriú e de outras localidades de Chapada do Norte. O nome da comunidade se originou de um mamífero que existia na região em grande quantidade, denominado Mocó. Atualmente ele é raro, pois as pessoas da comunidade e de outras regiões praticamente acabaram com a espécie. Figura 01 – Local onde ficavam os animais Mocó. Foto autorizada pelos moradores 1 1 CF: Arquivos da Associação de Moradores 25 Segundo o Senhor, José Moreira Leite, até 1954, todas as construções eram de pau-a-pique. Dormiam-se em esteiras de bananeiras e as pessoas trabalhavam na roça no sistema de maromba ou mutirão. Figura 02 – Casa de pau-a-pique. Foto autorizada pelos moradores 2 A casa de pau-a-pique, que mal protegia dos ventos, em épocas de grandes chuvas não eram seguras, pois o barro poderia derreter, e as folhas de coqueiros poderiam sair com o vento. Mas, eram uma fonte de riqueza para muitos. Até o início do século XX, permaneceram na comunidade aproximadamente trinta habitantes. Com o passar do tempo foram chegando outras famílias a procura de trabalho (lavoura e ouro) e povoaram o sítio, eram ex-escravos e indígenas. Segundo os relatos, os homens tinham de trabalhar para os fazendeiros de outras regiões, caminhando até vinte quilômetros, em troca de alimentos. Segundo eles a mão de obra era explorada, pois eles não recebiam dinheiro e sim alimentos estragados e muitas crianças morriam de fome. Para que se formar um coletivo? As respostas incluem: o formato coletivo facilita a produção do comum e sua apropriação pública e não privada; facilita a troca de estratégias e táticas de resistências e autonomia com outros atores sociais em tempo real; aumenta o alcance 2 CF: Arquivos da Associação de Moradores 26 de ferramentas poéticas e afetivas de relação com o mundo; cria um espaço de investigação poética alternativo às estruturas do mercado; realiza uma cartografia compartilhada da cidade, dos poderes, dos movimentos sociais, da aliança e das práticas artísticas. Cidadania é a consciência de si mesmo como ser social, que capacita o indivíduo a perceber como sujeito histórico, condutor do seu próprio destino. Nesse processo há um desvencilhar-se do individualismo e do espírito de pequenez, para tornar-se cidadão consciente, organizando-se em associações, que falam a mesma língua, com costumes e hábitos idênticos, história e tradição comuns. O cidadão brasileiro que se descobre sujeito histórico do seu processo de desenvolvimento social e humano, adquire consciência critica, deixando de ser apenas um cidadão de papel. No papel, os brasileiros têm uma cidadania garantida. Contudo, o que se observa na prática é a sua inexistência em todo o país: desemprego, falta de escola, preços abusivos, migração, desnutrição, desrespeito sistemático aos direitos humanos. Os direitos do cidadão passaram por processos de luta, sonho, e busca do principal direito, a Igualdade, conforme Constituição Brasileira, que foi uma luta constante das mulheres, e continua sendo diariamente. Na luta por estes direitos, os negros buscaram se organizar e formar uma corrente em prol de um sonho; não foram diferentes no Vale do Jequitinhonha, os negros do Município de Francisco Badaró, também buscaram se organizar e formar um grupo significativo no município, que dedicam tempo, e trabalham unidos. Os movimentos sociais são uma forma de energia que vem da sociedade civil. Podem sofrer reveses e momentos de estagnação, mas o mais importante é que existiam, sejam permanentes, capazes de encontrar um caminho. Esse grande movimento não ondas. As grandes ondas não se formam a todo o instante. Existe um tempo, às vezes curto, em que a onda eclode a mostra toda a sua força. (Herbet de Souza) 27 As associações de moradores, os sindicatos, os movimentos dos sem casa, dos sem terra, dos trabalhadores, dos pais de alunos, de professores, são movimentos civis. Os cidadãos relacionam-se entre si através das normas do direito civil, para lutarem contra os políticos do Estado que limitam os seus direitos. A busca de soluções para os problemas de emprego, educação, saúde, moradia, transporte, alimentação, violência, entre outros deve ser feita de forma coletiva e organizada e para terem poder de pressão, os movimentos sociais e as associações necessitam de participação ativa e constante do povo. As Associações de Bairro são muito importantes para que as pessoas consigam resolver muito de seus problemas. Um vereador, um prefeito, pode às vezes ignorar o pedido de uma pessoa individualmente, mas torna-se mais difícil ignorar o pedido de grupo de pessoas organizadas, de uma associação. O que é uma Associação? Associação, em um sentido amplo, é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoa física ou outras sociedades jurídicas com objetivo comum, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados. Formalmente, qualquer que seja o tipo de associação ou seu objetivo pode dizer que a Associação é uma forma jurídica de legalizar a união de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituição permite a construção das condições maiores e melhores do que a que os indivíduos teriam isoladamente para a realização do seu objetivo. A associação em suma é a forma mais básica para se organizar juridicamente um grupo de forma de pessoas para a realização de objetivos comuns. “Buscando satisfazer suas necessidades, o ser humano percebeu que estas poderiam ser alcançadas com maior facilidade quando ele se organiza em grupo”. (BONETTE & SILVA, 2006) Nesta linha temos o Associativismo, que é qualquer iniciativa, formal ou informal, em que pessoas, grupo ou entidades reúnem esforços, vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver problemas e gerar benefícios comuns. 28 Essa dinâmica supera limites e tem o poder de transformar a sociedade, permite a conquista de direitos sociais, culturais e econômicos. Sendo também uma maneira de participar da sociedade de forma mais igualitária e competitiva. As ações associativas dependem de comportamentos e atitudes relacionadas à cooperação e a participação sendo que alguns valores norteiam a sua prática. As associações têm como objetivo: Representar e defender os interesses do associado; Estimular a melhoria técnica, profissional e social dos associados; Reunir esforços para reivindicar melhoras em sua atividade e comunidade; Melhorar na qualidade de vida; Participar do desenvolvimento local e regional. Princípios que regem o Associativismo: Solidariedade; interdependência; confiança reconhecimento das participação lideranças; mútua; direta; multiplicidade; sinergia; aprendizagem coletiva; fraternidade. Características das Associações: Reúnem duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas para a realização de objetivos em comuns; Têm seu patrimônio construído por taxas pagas pelos associados, doação, fundo, reservas, subvenções, etc. Não possuem capital social; Tem seus fins alterados pelos Associados, em assembléia geral; Seus associados deliberam livremente em assembléia geral, tendo cada associado direito a um voto; As associações assumem os princípios de uma doutrina que se chama associativismo e que expressa à crença de que juntos, nós podemos encontrar soluções melhores parta os conflitos que a vida em sociedade nos apresenta. Esses princípios são reconhecidos no mundo 29 todo e embasam as várias formas que as associações podem assumir: cooperativas, sindicatos, fundações, organizações sociais, clubes, entre outros. O que irá diferenciar de forma jurídica de cada tipo de associação são basicamente os objetivos que se pretende alcançar. Nesta logística temos a luta dos negros de Francisco Badaró, que buscaram constituir a Associação Comunitária no quilombo do Mocó. A comunidade de Mocó encontra-se atualmente organizada por uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, criada para o desenvolvimento, denominada Associação Comunitária Representativa Mocoense, fundada em 08/02/2004, onde existe uma diretoria atuante e organizada que coordena as ações da comunidade, além de controlar os bens móveis e imóveis, conforme estatuto da mesma. Os moradores também fazem partes de entidades ligadas as questões culturais, como Irmandade do Rosário dos Homens Preto do Sucuriú e Associação dos Artesãos de Francisco Badaró. Na Comunidade remanescente Quilombola de Mocó, moram atualmente cerca de 45 famílias, divididas entre três grupos: os Miúdos, os Velhos e os José Dinás. A alimentação das comunidades do Norte de Minas Gerais e do Médio e Baixo Jequitinhonha é semelhante à do sertanejo nordestino. O charque ou carne de sol e a farinha são largamente utilizada na culinária dessas famílias. Atualmente a economia da comunidade Mocó gira em torno da produção de farinha, com o cultivo de mandioca. As famílias cultivam o produto e na época da produção eles se ajudam através da troca de dias, ou seja, cada semana é própria para determinada família, mas todos ajudam, sendo que uma parte é deixada para o comércio onde o dinheiro arrecadado é para a manutenção. Esta produção é realizada na tenda comunitária, construída em 17 de Abril de 1985, com ajuda do Governo Municipal e Entidades, e posteriormente ampliada e adaptada com maquinário industrial. Figura 03 – Motor e maquinário do galpão para a produção de farinha 30 Foto autorizada pelos moradores 3 Outra fonte de renda é o engenho comunitário, utilizado para a fabricação de rapadura, realizada com o plantio da cana de açúcar feita pela própria população da comunidade. A comunidade também desenvolve o cultivo de hortaliças e verduras. Utilizam água das cisternas para molhar as plantas e os adubos produzidos na própria região com a ajuda do gado. As cisternas de onde captam água para o uso diário em todas as atividades, são localizadas longe das casas próximas as vazantes. Figura 04 – Cisterna Foto autorizada pelos moradores 3 4 CF: Arquivos da Associação de Moradores 31 As vendas das hortaliças são realizadas na sede do município e no distrito de Tocoiós, por mulheres. Elas vendem de porta em porta, durante a semana e no domingo no mercado municipal, mas essas fontes de renda não são suficientes para o sustento familiar, pois com a escassez das chuvas as plantações diminuem, o que está provocando um decréscimo da população. A comunidade sofre com o processo de migração, onde a maioria da população viaja para o corte de cana que dura 8 messes aproximadamente, e a colheita de café (inicia em abril e vai até julho), no interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grasso, além de migrarem para os grandes centros urbanos, muitas mulheres também migram para São Paulo e Belo Horizonte para o trabalho doméstico. A comunidade de Mocó está sofrendo decréscimo populacional, pois, segundo outra entrevistada, Maria Aparecida Rocha, aproximadamente 15 anos atrás havia mais de 70 famílias morando na comunidade. É visível a falta de jovens na atualidade. Assim a comunidade atualmente sobrevive basicamente com pessoas idosas, e crianças, que na maioria sobrevivem da aposentadoria como trabalhadores rurais. Segundo Maria Aparecida, antes, na época de estiagem, havia rezas e penitências para pedir chuva. Uma das penitências era carregar uma pedra na cabeça e depositar no pé de um cruzeiro para pedir a chuva. Hoje essa tradição não existe mais. As comunidades quilombolas de Minas Gerais possuem forte religiosidade cristã, fundada no catolicismo popular mesclado com práticas de matriz africana, que se expressa em inúmeras festas e celebrações. Os moradores mais antigos pertenciam a Irmandade dos Homens Pretos do Rosário de Sucuriú, fundada em 1847, em Francisco Badaró. Segundo José Miúdo, todo ano ele brincava o candango na festa de nossa Senhora do Rosário. A riqueza das fusões de elementos africanos, europeus e indígenas criou esse caldo cultural nos quais os grupos quilombolas estão 4 CF: Arquivos da Associação de Moradores 32 inseridos. Hoje, a festa do Rosário continua, mas os moradores não fazem mais parte da irmandade, mas muitos participam das festividades. Na comunidade hoje tem a tradicional festa de Santo Antônio, que é realizada no mês de junho, com novenas animadas pelas comunidades vizinhas e a subida da bandeira no nono dia da novena, que geralmente acontece no fim de semana mais próximo ao dia em que se comemora o dia do santo (13 de junho), a subida da bandeira acontece em frente à igreja local. Figura 05 – Igreja local Foto autorizada pelos moradores 5 A geografia da região é marcada pela seca. A vegetação é predominante de cerrado, com manchas de caatinga e capoeiras em encostas de morros. Segundo o morador Antônio Vellho, havia muita caça antigamente, mas hoje os animais desapareceram, devido a vegetação e exploração das terras. Nunca houve conflitos explícitos de terra na comunidade, pois a terra da região não é muito propicia para a agricultura, apesar de ser ainda uma importante fonte de renda das famílias. Apenas uma família possui o título da terra, emitido pela Rural Minas. A moradora e proprietária se chama Raquel Sales Pereira. Segundo os moradores, a terra da comunidade pertence à família do padre Barreiro desde o final de século XIX. Figura 06 – Vegetação Local 5 CF: Arquivos da Associação de Moradores 33 Foto autorizada pelos moradores 6 Os vestuários quilombolas mais significativos são as calças e camisas de algodão. O uso de chapéu entre os homens e de lenço entre as mulheres é muito comum nos dias atuais. A prática do tear ainda é corriqueira entre as mulheres quilombolas, as cobertas de algodão são produzidas na própria comunidade, em teares manuais, que exigem sacrifício e determinação, mas não foi observado que os jovens exercem esta atividade. Figura 07 – Coberta de Algodão Foto autorizada pelos moradores 7 As dificuldades eram muitas, quando as pessoas adoeciam, elas tomavam remédios caseiros e quando estes não resolviam os problemas de saúde, a pessoa doente era levada, carregada em um catre (cama) pelos moradores da comunidade até uma cidade que tinha atendimento médico. 6 7 CF: Arquivos da Associação de Moradores CF: Arquivos da Associação de Moradores 34 Figura 08 - Foto autorizada pelos moradores Ervas medicinais (tradicionais) 8 E, quando uma pessoa falecia, era carregada a 12 km pelos moradores para o sepultamento, hoje esse é feito na comunidade vizinha Tocoiós e o transporte acontece em carro. Não havia escola na comunidade e os negros eram considerados inferiores e não podiam frequentar as aulas. Por isso há um grande número de analfabetismo na região. Mas, mesmo assim, continuam caminhado rumo ao progresso, ao desenvolvimento e concretização de sonhos dos moradores, que lutam por melhor qualidade de vida, buscando aos órgãos competentes meios para alavancar a comunidade, porém com a falta de meios de comunicação inexistentes na comunidade, como telefone, emprego, água tratada, posto de saúde, rede de esgoto, salão comunitário, entre outros bens móveis e imóveis que tornam uma comunidade acessível a todos. A comunidade conta com rede de energia elétrica e água encanada, mas ainda há a prática de coleta de água em açude e cisternas. Outro morador, Antonio Velho, também disse que sua bisavó era indígena e foi pega no laço. Esses relatos demonstram a grande miscigenação ocorrida na região do Jequitinhonha entre indígenas e afrodescendentes. A população da comunidade Mocó é de 100% de afrodescendentes. 8 CF: Arquivos da Associação de Moradores 35 As informações extraídas de entrevistas realizadas na comunidade local, com pessoas idosas, vêm somar a investigação sobre a realidade da comunidade, bem como se deu o processo de formação da mesma. A elaboração, com entrevistas informais, abriu as portas para uma série de debates e questionamentos, junto aos moradores da comunidade. Todas as pessoas entrevistadas focam a família José Moreira Leite, onde foi possível notar que os ensinamentos culturais são passados de geração para geração. A mãe ensina a filhar a cuidar da casa, as ervas medicinais, o cuidado com as roupas, os grãos, e as hortaliças. Os meninos são seguidores dos pais, onde aprendem a cuidar da terra e preparar para as plantações. Os antigos moradores não possuem conhecimento com escrita e a leitura, mas contam história memoráveis de luta e sofrimento, do período das chuvas e como tudo começou. Parece realmente um sonho, um ato de liberdade, como se deu em Palmares. Porém, a realidade local é outra. A comunidade guarda memórias físicas como possível notar nas visitas realizadas, onde tem o fogão a lenha, construído de barro, que é adquirido nas proximidades. Assim, diante desta memória física e conversa informal com os moradores sobre a origem do local, acoplando-se os dados de órgãos e entidades, nota-se o quanto culturalmente esta comunidade é importante e como ela caminha para o resgate e valorização, onde os moradores mantêm acessa esta chama de cultura de amor por sua identidade. A escravidão deixou como herança a marginalização do negro, a discriminação e as ideias racistas que ainda predominam no nosso convívio social. O preconceito racial pode ser constatado de forma clara e, às vezes, disfarçada no nosso cotidiano, na organização da sociedade e até mesmo nos provérbios populares. Os movimentos e organizações da raça negra lutam, permanentemente, pelo fim da discriminação racial e pela igualdade, porém essa luta só será realmente significativa no momento em que todos 36 abraçarem essa causa em busca de respeito e direitos iguais para toda a sociedade. Este texto foi construído tendo como referência o depoimento de um morador do Município de Francisco Badaró – Comunidade de Mocó - José Moreira Leite, 85 anos, popular Zé Miúdo, bisneto dos escravos Jerônimo e Inês que foram os primeiros moradores da comunidade de Mocó, considerado braço de um quilombo de Chapada do Norte, devido a população ser negra. Ele afirmou que sua vida foi muito difícil, pois tinha que trabalhar para ajudar no sustento, e tentava estudar a seis quilômetros de casa. Aprendeu a ler e escrever com uma professora de Minas Novas que era de sua cor, ele estudou na comunidade de Passagem. Abertamente ele nunca sofreu nenhum tipo de discriminação ou preconceito. Ele contou que participava das festas e essas duravam três dias, tinha a dança dos escravos que chamava de candango. Relatou o fato de que Manoel Pinheiro era um senhor que tinha vários escravos, dentre eles existia um chamado Adão que era muito malvado, assim, Manoel Pinheiro teve de vendê-lo na Mata do Rio (atual São Paulo), o escravo fugiu e veio atravessando rios, passando em matas e comendo bichos até chegar aqui. Manoel Pinheiro, por ser muito bom, o escondeu no Mocó – que nessa época era mata bruta – tratava dele, mandava levar comida e água, até que surgiu a abolição e ele pode sair do esconderijo. 37 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana no Brasil colônia ocorreu, progressivamente. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles. A descoberta de ouro e posteriormente de diamante provocou um intenso fluxo migratório para Minas Gerais em fins do século XVII. A promessa de enriquecimento rápido atraiu pessoas de vários lugares do Brasil. Uma das maiores importantes formas de resistência à escravidão, os quilombos formaram-se em regiões de grande concentração de escravos, durante o período mais intenso do tráfico. Embrenhados nas matas e terras virgens, os núcleos se transformavam em prósperas aldeias. Os quilombos marcaram esse período da história de Minas Gerais. A formação de quilombos foi intensa na região. Muitos foram os negros que lutaram contra o cativeiro. Foi contra o cativeiro e pela liberdade que os negros levados para Minas Gerais lutaram. Por meio de diferentes formas de resistência, os negros conquistaram seu espaço em terras mineiras. A fuga, a ocupação de áreas não povoadas após a abolição ou mesmo o recebimento de glebas de terra de seus (antigos) proprietários por doação ou herança foram as formas de conquista e consolidação dos territórios negros em Minas Gerais. Não foi diferente com a comunidade quilombola Mocó, situada no município de Francisco Badaró, em Minas Gerais. Nessa comunidade, também estão presentes os movimentos e organizações da raça negra, que lutam, permanentemente, pelo fim da discriminação racial e pela igualdade, porém essa luta só será realmente significativa no momento em que todos abraçarem essa causa em busca de respeito e direitos iguais para toda a sociedade. 38 Dessa forma, esse trabalho foi bastante significativo, pois proporcionou um estudo novo sobre a comunidade quilombola Mocó. Mas, não se finda aqui este assunto, podendo harmonizar outras pesquisas que terá como tema a comunidade quilombola Mocó. A população negra tem hoje na sociedade uma participação mais ativa, desenvolvendo atividades profissionais que exigem dedicação e responsabilidade na concorrência dentro do mercado de trabalho e nas lutas pelas suas conquistas no espaço público, percebe-se que muitos estão lutando pela transformação de uma sociedade demarcada pela escravidão, que ela herdou. São várias as conquistas, mas ainda tem muito que conquistar. As comunidades quilombolas não querem competir, querem que sejam respeitadas e valorizadas. Homens e mulheres precisam somar esforços e competências na construção de um mundo melhor, com igualdade naquilo que se vive. Tendo em vista tudo o que foi explanado neste trabalho é que se pode concluir a necessidade de uma política mais efetiva, com mais recursos disponibilizados à manutenção e ampliação de ações que possam atender às demandas da população quilombola, oferecendo de fato uma melhor qualidade de vida a todos que nela se integrar. Analisando a realidade da política social no município, percebe-se que há necessidade de melhoria em todos os aspectos, mas existem os entraves diante a localização do município, a falta de estrutura, condições climáticas e vontade política, aliada à falta de recursos disponibilizados. O crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico são visíveis e necessários nos dias atuais. Contudo, precisamos compreender que devemos substituir o modelo predatório por outro que promova o desenvolvimento com responsabilidade social e ambiental. Um modelo não cumulativo de riquezas, mas distribuidor de justiça, no qual todos possam ter acesso aos bens produzidos. 39 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, Rafael S. A. dos. Territórios das comunidades Quilombolas do Brasil. Brasília: Mapas Editora e Consultoria, 2005. AURÉLIO,Dicionário.http://74.86.137.64-static.reverse.softlayer.com/.Acesso em 10/05/2012 BERTOLINO, Júnia. Os Arturos e o congado: símbolo de luta e resistência. In: Cedefes, 2007. 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