Edicao 03/2010: The Umbrella: LIVRE de VBG E HIV
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Edicao 03/2010: The Umbrella: LIVRE de VBG E HIV
CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 1 C M Y CM MY CY CMY K Boletim Informativo “Mudando o Curso do Rio” Edição 03/2010 The Livre de VBG e HIV Abordagens com base em direitos para o programa de prevenção de Violência com Base no Género Iniciativas para prevenir a violência sexual Mortes de paixão no Botswana Desigualdades no género sustentadas contra pessoas transexuais Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 2 C M Y CM MY CY CMY K Reconhecimentos A SAfAIDS gostaria de agradecer a todos que contribuiram para esta edição de A Abrangência – Fora de perigo da VBG e VIH. A produção desta publicação não teria sido possível sem os valiosos contribuintes que providenciaram artigos, fotografias, conhecimentos e informação valiosa aos nossos leitores. O sector das ONGs deve ser aplaudido por todo o trabalho corajoso que está a fazer como resposta para a VBG e VIH na África Austral, incluindo as Organizações com Base Comunitária, Organizações com Base na Fé e aqueles outros indivíduos que generosamente voluntariam e contribuíram em pequenas formas – mas – no entanto grandiosas para aliviar as dores acarretadas pelas epidemias gémeas. E mais de tudo, gostariamos de expressar a nossa gratidão a todos os indivíduos que providenciaram uma reacção positiva – e especialmente àqueles que partilharam as suas histórias e vitórias pessoais connosco: aquelas vozes individuais que continuam a inspirar a mudança em todas as nossas comunidades – e a dar esperança ao nosso futuro. Agradecimentos Contribuintes J Kirkemann Boesen e T Martin Maude Dikobe IRIN / PLUSNEWS Yngve Sjolund Charlene Smith Liesl Theron SAfAIDS A Rouzeh Eghtessadi pela orientação e apoio na direcção do conteúdo, revisão, e produção deste boletim informativo. A Yngve Sjolund pela contribuição de artigos e colação, e a Petronella Mugoni pela edição. Natalie Davies –disposição da PÁGINA e fotografia Imagens fotográficas da capa – cortesia da telenovela ‘Gerações’ (Generations) p.20 CD4 Todas as outras imagens por Natalie Davies p.5, 13 Renúncia As opiniões expressas em A Abrangência – Fora de perigo da VBG e VIH vêm dos próprios contribuintes. Enquanto todo o esforço é feito para garantir a precisão da informação contida neste boletim informativo, o editor e a SAfAIDS, os seus directores e membros não endossam nem são responsáveis pela informação contida em A Abrangência – Fora de perigo da VBG e VIH. SÍMBOLOS africanos para a transformação da vida OSRAM NE NSROMMA “A lua e a estrela” Símbolo de Fidelidade, Amor, Harmonia, Carinho, Lealdade, Benevolência e Essência Feminina da Vida. "Kyekye pe aware." “A Estrela do Polo Norte - tem um profundo amor pelo casamento. Ela está sempre no céu a espera que a lua volte, o seu marido.” Provérbio kyekye Se isto fosse entre países, diriamos que era uma Guerra. Se fosse uma doença, diriamos que era uma epidemia. Se fosse um derrame de petróleo, diriamos que era um desastre. Mas, isto está a acontecer às mulheres, e é simplesmente um assunto do dia a dia. (Desconhecido) 2 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 3 C M Y CM MY CY CMY K CONTEÚDOS Reconhecimentos e Créditos 2 Mortes de paixão: “uma ferida inflamada na consciência da nação” Do Editor Yngve Sjolund 4 Definições / Remédios para a VBG 5 Explorando o fenómeno das mortes de paixão no Botswana Por Dr. Maude Dikobe Abordagens com base nos direitos para o programa de prevenção da VBG Por J Kirkemann Boesen e T Martin O Protocolo de Genéro e Desenvolvimento da SADC Organizações para assistir as crianças na África do Sul 15 Testemunhando a violência doméstica durante a infância coloca os homens na direcção de crime violento 15 Acesso ao recurso jurídico para as 16 - 19 sobreviventes da VBG: um problema sentido de forma diferente nas diferentes comunidades P&R Entrevista com Anneke Meerkotter, Directora, Centro de Advocacia Jurídica de Tshwaranang Depois dos ossos e as manchas negras terem sarado: cuidado e apoio psicológico providenciado às sobreviventes de violência 24 Estudo de Caso relativamente às respostas 25 - 26 da VBG e VIH Lições aprendidas sobre a implementação das políticas de saúde às sobreviventes de estupro na área rural de Mpumalanga, África do Sul 12 Intervenções prometedoras para mitigar o impacto da violência contra as crianças e o abuso Como é que podemos ajudar as crianças expostas à violência criminal ? Por Charlene Smith © 13 -14 Diversidade / Crimes de Difamação Desigualdades do género sustentando a violência contra pessoas ‘trans’ Por Liesl Theron 23 -24 6-8 O casamento entre a telenovela popular e a organização das mulheres produz resultados positivos Por Kodwa Tyiso e Nonhlanhla Sibanda 9 - 11 Violência contra as crianças 23 Conferência da Confluência do VIH/Cultura apresenta recomendações chave para o programa de VIH, cultura e género Pelo Pessoal da SAfAIDS 27 - 29 Leitura Sugerida 29 Fontes 30 Notícias da Região Dando uma voz às sobreviventes de violência sexual e física 33 Notícias dos África Líderes de apresentam-se publicamente para fazer o teste 34 Inspiração Valores Intemporais Acção O Caminho para o Amor - Sugestões Prácticas 35 Recursos / Listagens / Serviços Centros de Recurso Regional da SAfAIDS 36 Onde Procurar Ajuda 36 20 - 22 22 3 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 4 C Do Editor M Y CM MY CY CMY K - Yngve Sjolund As mulheres e as crianças estão muitas vezes em maior perigo nas suas próprias casas, o lugar onde deviam sentir-se mais seguras com as suas famílias. Milhares de mulheres estão infectadas com VIH e a taxa de infecção feminina está a subir. Um dos maiores riscos da infecção do VIH, para muitas mulheres vem de um parceiro regular. Muitas mulheres casadas às vezes são forçadas a ter sexo quando não querem –mesmo sabendo que o seu pareciro tem outros parceiros sexuais, tem uma IST ou é seropositivo; contudo podem não estar numa posição para insistir no uso do preservativo ou em monogamia. Uma relação desigual torna-se difícil, se não impossível negociar por um sexo mais seguro, e qualquer tentativa para discutir tais medidas pode provocar mais violência. As mulheres muitas vezes sofrem de forma física e psicológica e são incapazes de tomar as suas próprias decisões, pronunciar as suas próprias opiniões ou se protegerem a si próprias e aos seus filhos por recear mais repercussões. Os seus direitos humanos são recusados e as suas vidas são lhes roubadas pela ameaça de violência sempre presente. Para estas mulheres, o sexo não é uma questão de escolha e para muitas a sua casa é onde elas enfrentam violência nas mãos da pessoa amada e de quem deviam confiar. Também é bastante conhecido que certas práticas culturais em certas partes de África exacerbam a vulnerabilidade das mulheres para a VBG e propagação do VIH. A purificação sexual baseia-se na crença de que um homem pode ser curado de VIH, se tiver sexo com uma jovem quando ainda virgem, uma prática que resulta de, e contribui para a propagação do VIH. A tradição de esposa ou herança da viúva é bem comum na África Austral e na África do Leste, onde as mulheres são consideradas como ‘propriedade’ dos homens, por exemplo quando o marido de uma mulher morre, a sua esposa e propriedade são muitas vezes herdadas pelo irmão mais velho. Algumas mulheres são forçadas a casar, mesmo se os seus maridos tenham morrido de doenças relacionadas com o SIDA, ou mesmo se elas próprias estiverem infectadas, ou se os seus futuros maridos também tiverem o VIH, e apesar de tudo isto, não há leis que abordem estas práticas. O desiquilíbrio de poder entre as mulheres e os homens atravessa culturas, grupos étnicos, estatuto socio-económico, e religião – e a África Austral enfrenta desafios enormes no confronto com as duas epidemias de violência com base no género e VIH. A VBG é considerada fundamentalmente como uma preocupação para o sistema de justiça criminal, no entanto a saúde relacionada com as consequências da violência sexual são profundas, a longo prazo e propagamse em todos os aspectos da vida. Os contextos sociais, culturais e económicos são diferentes nos diferentes países, e as abordagens organizacionais e com base nos direitos também são diferentes. Enquanto todas estas consequências adversas não podem ser completamente prevenidas, muitas podem ser melhoradas por uma resposta abrangente e multi-dimensional do sector jurídico e de saúde por pessoal formado, sensível e com conhecimento para informar e satisfazer as necessidades das sobreviventes – e perpetradores. Exige-se que haja uma nova abordagem que reconheça as ligações entre a violência contra as mulheres, práticas culturais prejudiciais e a propagação do VIH, uma abordagem que se traduza no desenvolvimento e implementação das leis, políticas e programas para a VBG e VIH. Temos um desafio à nossa frente que pode ser retomado por qualquer pessoa, em qualquer lugar e a qualquer momento! Se tiver alguma ideia, e se tiver alguma experiência que queira partilhar connosco – ou contribuir com uma história ou informação do seu país que possa ajudar a ‘Mudar a Corrente do Rio’ – por favor contacte o editor de A Abrangência – Fora de perigo da VBG e VIH em [email protected] “Quando as mulheres são saudáveis, educadas e têm a liberdade para aceitar as oportunidades que a vida lhes oferece, as crianças desenvolvem e as comunidades prosperam, colhendo o dividendo duplo para as mulheres e crianças.” O Ex-Secretário-Geral, Kofi Annan (2007) 4 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 5 C M Y CM MY CY CMY K DEFINIÇÕES A violência com base no género apresenta-se em várias formas, incluindo: Violência doméstica • • Assédio sexual, incluindo ataques verbais, físicos e psicológicos ou sexuais. • Trâfego e trabalho de sexo, onde as mulheres e as raparigasas são seduzidas, geralmente com falsas promessas de emprego para além fonteiras e depois forçadas ao sexo e a outros trabalhos por pouco ou nenhum pagamento. • Violência e violência sexual em áreas de conflito e pós-conflito envolvendo o esturpo, rapto, gravidez forçada e às vezes escravização das populações civis femininas. • O abuso das crianças pode ser físico, sexual, e psicológico e/ou inclui a recusa aos recursos ou direitos, por exemplo educação ou cuidados de saúde. Às vezes, referimo-nos a isso como a uma violência de “parceiro íntimo” e pode ser de natureza física e psicológica ou sexual, e pode incluir a recusa ou extracção de recursos. Violência sexual • • Práticas tradicionais prejudiciais conduzem à violência; entre mutilação genital feminina (MGF), apaziguamento de espírito usando raparigas, mortes de dote, casamentos precoce forçados e mortes honrosas. Femícidio e o assassinato de mulheres ou raparigas simplesmente porque são do sexo feminino. VERIFICAÇÃO DE FACTOS • A forma de violência mais comum sentida pelas mulheres a nível global é uma violência física causada por um parceiro íntimo (IPV). Em mídia, pelo menos uma em cada três mulheres é espancada, forçada a ter sexo ou de outra forma abusada por um parceiro íntimo durante a sua vida. • As mulheres entre os 15-44 anos de idade correm um risco maior de estupro ou violência doméstica do que de cancro, acidentes de viação, guerra e malária, de acordo com os dados do Banco Mundial. A amnistia internacional registou que na África do Sul, aproximadamente uma mulher é morta em cada seis horas pelo marido ou namorado. • A violência com base no género está intimamente ligada à transmissão do VIH e SIDA, devido às relações desiguais de poder entre as mulheres e os homens onde a violência é usada, ou ameaçada. • A violência do parceiro íntimo parece estar associado ao aumento no uso de preservativo no contexto africano. Entre as mulheres que já sofreram de violência do parceiro íntimo, o preservativo moderno é mais frequentemente usado que os métodos de preservativos tradicionais e folcolóricos. Os dados analisados das Sondagens Demográficas de Saúde realizadas entre 2003 e 2006 nos seis países da África subsariana. (Camarões, Quénia, Malawi, Ruanda, Uganda e Zimbabué) com mulheres em idade fértil revelaram que 38% tinham sido vítimas de violência relacionadas com o seu uso de preservativo. Recursos precisos para acabar com a VBG • Informação, educação e comunicação sobre a VBG, focando as causas e as consequências, bem como a informação sobre os serviços disponíveis. 5 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 6 C • As unidades de VBG amigas da vítima nas esquadras da polícia, administradas por policiais adequadamente treinados e com uma policial presente em cada unidade. • Um acordo de “paragem única” em que os serviços holísticos para as mulheres, incorporando informação, aconselhamento empático, abrigo, assistência jurídica e apoio pode ser oferecido num só lugar sem necessidade de referências. Serviços sociais com recursos para levar as crianças de agregados familiares abusivos para cuidados temporários e com abrigos adequados para as mulheres. Implementação e avaliação do compromisso do governo para com as políticas, declarações e convenções das quais faz parte. • • M Y CM MY CY CMY K • Desafiando as concepções negativas de masculinidade que encorajam a violência contra as mulheres, e encorajam o envolvimento das organizações dos homens na liderança da educação dos homens sobre os impactos negativos da VBG nas mulheres, crianças, famílias e comunidades. • Acesso jurídico e uma variedade de outros serviços. A aplicação continua a ser um desafio, mesmo entre algumas das nações mais ricas clamando que não têm recursos humanos ou financeiros suficientes disponíveis para lidar com a violência doméstica e a violência com base no género. Estes desafios podem ser uma indicação da gravidade do problema ou um sinal de que não é tomado suficientemente a sério. Abordagens com base nos direitos para o programa de prevenção da VBG Por J Kirkemann Boesen and T Martin “Para se integrar com sucesso as abordagens com base nos direitos, as organizações devem manterse responsáveis aos seus ‘direitos de título”, e ter o conhecimento claro de quais os direitos que estão a ser violados, como estes estão a ser violados e quem é que é ‘titular de direitos’ para ter a responsabilidade de agir. Os objectivos da abordagem com base nos direitos são pela sua própria natureza ambígua e de longo prazo, exigindo um esforço determinado que vai para além da entrega e duração de qualquer organização única. As organizações devem estar preparadas para os riscos inerentes no poder da redistribuição do trabalho, reconhecer que o progresso será gradual e planear no sentido de uma perspectiva a longo prazo”. - Patrick Ndira, Director de Formação e Aprendizagem, MIFUMI As abordagens com base nos direitos desafiam, e focalizam-se em mudar as relações de poder desigual que sustentam a injustiça e a desigualdade. As abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG são diversas e propagam-se num espectro bastante estenso. Embora falemos muitas vezes sobre as abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG, continua a haver confusão sobre o que isto realmente significa, a sua evolução e qual a sua configuração em relação ao programa em prática. 6 Composite O que é uma abordagem com base nos direitos? Uma abordagem com base nos direitos para a prevenção da VBG é aquela que conceitualiza a VBG como uma injustiça contra os direitos humanos básicos e por isso a abordagem tem como seu objectivo central alcançar a justiça. As implicações que isto tem no programa de prevenção da VBG são de difícil alcance e complexos. O programa com base nos direitos neste sentido exige: CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 7 C • A identificação da causa principal da VBG: o desiquilíbrio no poder entre mulheres e homens. • O reconhecimento de que a VBG não é um problema ou ‘falta’ individual mas é o resultado de um sistema maior de desigualdade a nível comunitário, nacional e internacional. • A estrutura de uma vida sem violência como um direito que considera os indivíduos como titulares de direitos e outros (actores estatais e não-estatais) como portadores de deveres. • R e co n h e c i m e n to d a u n i ve r s a l i d a d e e indivisibilidade dos direitos humanos das mulheres. • Luta, perseverança e energia sustentada. Como é que uma abordagem com base nos direitos difere das outras abordagens? As abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG emergiu aquando o desenvolvimento da ideia com base nos direitos reuniu forças. Estas desafiaram os paradigmas de desenvolvimento em vigor e os quais estavam enraízados primeiro em caridade e mais tarde, em satisfazer as necessidades. Relativamente à VBG, uma abordagem de ‘caridade’ olha para as mulheres como vítimas que precisam de assistência, o foco aqui reside na manifestação do problema. Abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG considera a VBG como uma injustiça e as mulheres como legítimas titulares de direitos. Abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG considera a VBG como uma injustiça e as mulheres como legítimas titulares de direitos. As abordagens com base na caridade e necessidades consideram as mulheres como recipientes de serviços/programas necessários, não como agentes e participantes activos num processo de mudança. Não se verifica nenhum esforço em qualquer uma das abordagens para responder à causa principal da VBG ou para conceitualizar e mudar esta dinámica, considerando a VBG como uma injustiça e as mulheres como legítimas titulares de direitos. Para todos os titulares de direitos há um portador de deveres correspondente. M Y CM MY CY CMY K Uma abordagem com base nos direitos para a prevenção da VBG procura o empoderamento das mulheres como titulares de direitos e participantes num processo que faça com que os portadores de deveres estatais e não estatais sejam responsáveis pela mudança das condições que provocam a VBG. Por outras palavras, as abordagens com base nos direitos impulsionam obrigações e responsabilidades; as abordagens com base na caridade e nas necessidades não implicam o mesmo. Qual a configuração de uma abordagem com base nos direitos? As abordagens com base nos direitos da VBG divergem: tais são, e devem ser, os diversos caminhos usados para a concretização do direito das mulheres poderem viver sem violência. As abordagens podem geralmente ser classificadas como aquelas que consideram o Estado da Nação como o portador de dever e aqueles participantes não estatais como os portadores de dever. Ambas podem ser abordagens com base nos direitos. 1. Os Estados como Portadores de Dever: Traditionalmente, as abordagens com base nos direitos da VBG foram ancoradas num contexto jurídico que focavam a domesticação das leis internacionais dos direitos humanos. Estes esforços legislativos procuravam responsabilizar o estado pela protecção dos seus cidadãos, tanto a vida pública como privada foram algumas das primeiras iniciativas dirrecionadas à VBG. A advocacia das activistas pelos direitos das mulheres para a expansão da responsabilidade do estado no domínio privado foi um passo significativo na promoção e protecção dos direitos das mulheres. Isto ultrapassou os limites, uma vez que afirmava que a VBG era o resultado de um sistema e normas de uma sociedade maior que mantinha a opressão das mulheres – e que o estado tinha o dever de tomar medidas aceitáveis para proteger contra as violações dos direitos do cidadão – incluindo os direitos das mulheres. Estes esforços levaram a uma reforma jurídica significativa apresentada numa nova legislação sobre ofensas sexuais, estupro, violência doméstica, e trâfego de pessoas, entre outras, em todo o continente. Exemplos de programas que procuram aumentar a responsabilidade do estado incluem a provisão de serviços jurídicos para as mulheres, políticas de advocacia sobre a inclusão de análise com base no género num contexto de políticas nacionais de saúde, financiando as Unidades de Protecção de Crianças e Família de forças policiais nacionais para lidar com os casos da VBG, 7 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 8 C inclusão de módulos sobre a VBG para professores no currículo nacional da formação de docentes, e a promulgação de nova legislação ou revisões pertinentes ao código penal para apoiar o direito das mulheres com uma vida sem violência, só para citar alguns. 2. Actores Não-Estatais como Portadores de Dever: Embora o estado mantém-se como um portador de deveres importante no aspecto do trabalho da VBG, há ainda um reconhecimento crescente do papel essencial dos actores nãoestatais (indivíduos, comunidades, organizações, instituições, etc) em promover e proteger o direito das mulheres para uma vida sem violência. As abordagens com base nos direitos para a prevenção da VBG com actores não-estatais reconhecem a necessidade de criar e promover uma cultura de direitos humanos nas comunidades. Isto é um objectivo de longo prazo que deve ser abordado com compromisso e sinceridade. Exige transcender o uso de lemas e da retórica dos direitos para abrir um discurso sobre o desiquilíbrio do poder entre as mulheres e os homens para desafiar as normas sociais que perpetuam a VBG. Ao apoiarmos uma cultura de direitos humanos vamos além de proclamar e exigir os direitos das mulheres para ajudar as pessoas a compreender o valor e a importância da igualdade, da não-discriminação e do tratamento justo a todas as pessoas – e por assim dizer: justiça. O programa de prevenção da VBG a nível comunitário procura criar uma transformação social, onde as crenças e atitudes para com as mulheres como seres humanos subordinados são alterados para criar normas da sociedade que valorizam, protegem e respeitam os direitos das mulheres. O programa da VBG com base nos direitos de qualidade promove os direitos numa forma significativa, para que cada comunidade possa reconhecer a injustiça numa maneira apropriada ao contexto. De acordo com esta abordagem em relação ao programa, os activistas analisam um contexto específico, compreendem-no, e edificam normas sociais positivas que existem nessa comunidade, enquanto tentam mudar as normas que prejudicam as mulheres e violam os seus direitos M Y CM MY CY CMY K Reflexões práticas Até que ponto é que a sua organização está a usar uma abordagem com base nos direitos para a prevenção da VBG? Esperamos que as seguintes perguntas possam inspirar discussão, diálogo, reflexão, análise – e inspirar esforços significativos de prevenção e programa para a VBG com base nos direitos. a. Até que ponto é que os seus programas de prevenção da VBG apoiam a compreensão de direitos humanos na sua comunidade? b. Como é que você ajuda as comunidades a se aperceberem da injustiça da VBG como uma violação dos direitos humanos das mulheres? c. Como é que os esforços existentes podem ser alargados para melhor abordar a causa principal da VBG? d. Como é que está a documentar e partilhar estes esforços para as outras pessoas na região poderem aprender? e. Como é que poderiamos reforçar o programa com base nos direitos para a prevenção da VBG em toda a região? Há várias organizações que usam as abordagens com base nos direitos que envolvem os participantes não estatais na prevenção da VBG. Para mais informação contac tar o MIFUMI Projec t www.mifumi.org Este artigo foi adaptado de um artigo por Kirkemann Boesen, J. e Martin, T. 2007. Aplicando uma abordagem com base nos direitos: Um guia para a sociedade civil. O Instituto Dinamarquês dos Direitos Humanos. Temos que promover a solidariedade humana, evitar a indiferença, e desempenhar um papel com a sociedade na procura de uma solução para os problemas de violência... Shakira 8 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 9 C M Y CM MY CY CMY K O casamento entre a telenovela popular e a organização das mulheres produz resultados positivos Por Kodwa Tyiso e Nonhlanhla Sibanda 'Imagens de Cortesia do Gabinete de Publicidade de ‘Gerações’ Actor/Dumisani Mbebe no papel de Dumisani Shabangu, Winnie Ntshaba no papel de sua parceira, Khetiwe Buthelezi, de quem ele abusa POWA -Opposing Women Abuse (Pessoas Opondo-se ao Abuso Contra as Mulheres) regista um aumento no número de mulheres a telefonar para a sua linha de ajuda e a querer acesso aos seus serviços após a recente inclusão de um enredo que vivamente ilustra as experiências das mulheres vítimas de violência de um parceiro íntimo e violência doméstica na popular telenovela sul africana. A campanha faz parte da campanha anti-violência da POWA. Impacto da ‘Campanha Gerações’ da POWA A POWA pretende garantir que hajam espaços seguros e abertos para que todas as mulheres desfrutem dos seus direitos humanos fundamentais, e talvez seja este o trabalho que provavelmente tenha encorajado os produtores da novela ‘Gerações’ a dirigir-se à POWA para colaborar numa campanha de sensibilização sobre a violência contra as mulheres no seu enredo. A produção “Gerações’’ foi aclamada como uma das telenovelas mais vistas na África do Sul, e recentemente foi também introduzida em alguns países da SADC. A campanha, abordando a questão da violência contra as mulheres, está a ser transmitida como parte da série popular durante dois meses em 2010, e no fim de cada episódio segue-se na tela os números de contacto da POWA, incluindo os seus números de contacto após expediente. Durante esta campanha, a POWA tem observado uma afluência de chamadas tanto por parte dos homens como das mulheres sul africanas de todas as camadas sociais preocupados com as experiências de violência das mulheres, seja nos agregados familiares, famílias ou nas suas comunidades. Algumas das chamadas feitas após expediente para o pessoal e voluntariado de aconselhamento da POWA eram de mulheres que procuravam ajuda sobre como deixarem os seus parceiros ou maridos. Esta experiência revelou que quando os espectadores viam uma personagem na televisão vítima de abuso, a cena tornava-se real para eles. Algumas mulheres identificavam-se com as questões que a personagem ‘Khethiwe’ ( a abusada) enfrentava na história, e achavam isto inaceitável... mas o que se salientava mais ainda era quando se apercebiam que os outros actores destacavam este tipo de comportamento como abusivo. 9 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 10 C M Y CM MY CY CMY K Outras chamadas surgiam de mulheres que telefonavam do seu escritório – as chamadas “mulheres da classe operária mídia”- que também estavam a ser abusadas na sua própria vida. Uma dessas mulheres era uma policial que trabalhava no sistema de justiça criminal... procurando ajuda de uma organização da sociedade civil. Um dos desafios que a POWA está a enfrentar após o sucesso da campanha encontra-se em assistir as mulheres que telefonam das outras províncias, uma vez que há uma falta de recursos e serviços para as mulheres sobreviventes de violência. Em algumas cidades não há serviços ou organizações de referência onde as mulheres podem obter ajuda; isto é realmente muito desafiador quando uma mulher precisa de um abrigo imediato. As mulheres e os homens que contactaram pessoalmente mas não se encontram em relações abusivas mostraram interesse em se envolverem em iniciativas que pudessem assistir as mulheres sobreviventes de violência, e foram referenciados para as organizações mas próximas de onde vivem: a maior parte dos homens foram referenciados para a Rede de Justiça do Género Sonke e outras campanhas tais como Homens como Parceiros. A violência contra as mulheres é um flagelo na África do Sul e esta campanha conseguiu suscitar a consciência sobre a violência no domínio privado, em agregados familiares e comunidades. Isso indica que há pessoas que sofrem em silêncio, que não sabem onde procurar ajuda; e depois há aquelas que gostariam de ajudar na luta contra este flagelo mas não sabem como o fazer. Isto também indica o longo caminho que as organizações no sector dos direitos das mulheres têm ainda que percorrer para garantir que as mulheres se abram e possam ter a justiça que lhes é devida por parte do sistema de justiça criminal. 10 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 11 C M Y CM MY CY CMY K Apoio de aconselhamento A POWA tem seis escritórios satélite e dois abrigos confidenciais estrategicamente localizados para o aconselhamento individual, em grupo e telefónico, abrigo a curto prazo e ludoterapia infantil para as crianças nos abrigos de segurança da POWA, na companhia das suas mães. Apoio Jurídico A POWA também providencia assistência, incluindo serviços jurídicos abrangentes, preparação e apoio no tribunal - que inclui o acompanhamento das mulheres até ao tribunal assistindo as mulheres e a dar entrada aos documentos em tribunal, exigindo manutenção e assistência indirecta Contactar POWA: Horas de Expediente: + 27 (0)11 642 4345/6 Após o horário: + 27 (0) 83 765 1235 [email protected] www.powa.co.za A Kodwa Tyiso e Nonhlanhla Sibanda ambas trabalham para a POWA nos departamentos de formação e pesquisa. 11 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 12 C M Y CM MY CY CMY K Violência Contra as Crianças A violência com base no género também afecta as crianças e os jovens por causa da sua falta de poder e agência nas relações com adultos e em agregados familiares. O abuso infantil pode ser determinado como “todas as formas de mau tratamento físico e/ou emocional, abuso sexual, negligência ou tratamento negligente, ou comercial ou outra exploração, resultando em dano real ou potencial na saúde, sobrevivência, desenvolvimento da criança, ou dignidade no contexto de uma relação de responsabilidade, confiança, ou poder.” Embora a violência com base no género - por exemplo o assédio sexual ou o abuso das raparigas pelos rapazes – pode ser perpetrado pelos colegas, pode também ser perpetrado pelos adultos contra as crianças. Assim idade, bem como o género, é usado para controlar e oprimir. Enquanto as raparigas podem-se esforçar por resistir à sedução indesejável de um colega de sala, ela encontrase com muito menos poder para resistir ao mesmo por um professor, ou como é cada vez mais o caso, até o seu próprio pai. A violência contra as crianças pode ocorrer em casa, na escola, no local de trabalho, na rua, e nas instituições de custódia/residenciais. Pode ser manifestado através da violência física (incluindo a punição corporal), violência ou assédio sexual, abuso emocional, negligência, e práticas tradicionais prejudiciais, entre outras. Existem dimensões de género para cada um destes tipos de abusos, mas talvez a forma de abuso infantil com mais base no género é o abuso sexual e a exploração. O facto de que os adultos, tanto os homens como as mulheres, muitas vezes desculpam a violência nas crianças impede os esforços dos jovens materializar uma maior igualdade de género. Os estudos revelam consistentemente, por exemplo, que no caso das vítimas (explicitamente mulheres) de abuso sexual, mais de 90 por cento dos perpetradores são homens, e no caso das vítimas (explicitamente homens) entre 63 e 86 por cento dos perpetradores são homens. 12 Composite Certas formas da VBG, tal como a exploração sexual, sexo não-consensual com crianças, e casamento precoce são por assim dizer cometidos contra as crianças. A mutilação/corte genital feminina é quase sempre perpetuado contra as raparigas. Em muitas comunidades outras formas da VBG tal como o trâfego de pessoas, desproporcionalmente afectam aquelas com menos de 18 anos. A opressão de acordo com a idade é também um factor na VBG de colega O facto de que os com colega. O facto de adultos, tanto os que os adultos, tanto os homens como as homens como as mulheres, muitas vezes desculpam a mulheres, muitas vezes violência entre as crianças descuplam a violência impede os esforços dos entre as crianças jovens materializar uma impede os esforços dos maior igualdade de género. Intervenções jovens materializar uma maior igualdade de género. Muitos dos factores de risco e intervenções prometedoras do abuso infantil são os mesmos ou semelhantes daqueles para a Violência de Parceiro Intimo (IPV) e violência sexual. Deve-se dar atenção às necessidades especiais e às vulnerabilidades das crianças. Os protocolos e formações para uma resposta do sector de saúde que aborde a VBG contra as mulheres adultas não são adequados para as pequenas crianças ou raparigas adolescentes. A diferente situação jurídica destes grupos, particularmente em relação ao consentimento para o tratamento de saúde, apresenta um grande número de desafios que precisam de ser resolvidos através de protocolos e instituições que se centram na materialização dos direitos da criança. De acrescentar, que os profissionais de saúde precisam de ser formados sobre os direitos das crianças bem como no desenvolvimento das crianças. CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 13 C M Y CM MY CY CMY K Intervenções prometedoras para mitigar o impacto da violência contra as crianças e o abuso Como é que podemos ajudar as crianças expostas à violência criminal? Por Charlene Smith © U m cenário típico durante uma invasão violenta em casa: as mães são violadas, muitas vezes são atadas ao lado do marido e sempre com os filhos obrigados a ver e às vezes até têm que segurar as mãos dela. A estupro é um acto deliberado de agressão profunda contra os homens nessa casa. A mágoa é muito mais profunda e permanece durante muito mais tempo do que se elas disparassem contra os homens. Todos os homens se vêem como protectores e quando não podem agir contra tal criminalidade, isto emascula-os — e sejamos bem claros, nós não queremos que eles ajam, porque se eles agirem, toda a família morre. A sua inacção traduz-se em coragem profunda porque assegura a vida de todos e há maneiras de esquecer as cicatrizes marcantes. “A família tem um conelheiro mas é a criança que fica mal. Que conselho me pode dar?” Talvez a pergunta mais importante será porque é que não há campanhas massivas nas escolas para ajudar as crianças traumatizadas por causa de roubos, aqueles que testemunharam roubos armados, roubos de carro, estupro ou a um assassinato de um dos pais? Porque é que nós presumimos que as crianças são resilientes, que o seu silêncio significa que estão a suportar, que a sua recusa para discutir o assunto significa que deviamos desistir em querer ajudar? “Os criminosos tiram a nossa liberdade, nós temos que ajudar aqueles prejudicados a recuperá-la e precisamos de os honrar durante esse processo.” Mas, voltemos às crianças. Elas têm ideias imperfeitas sobre o sexo e são depois obrigadas a ver a sua mãe a ser violada. Pior ainda, é se pertencem a uma família em que o sexo é tabu, porque a família desmorona-se depois de tal abuso e isto exige um empenho total de todos. Se uma criança for ameaçada de maus tratos, torna-se crítico que os pais reajam de imediato, nenhum valor monetário compensa os danos insinuados ou reais dos ladrões, das chaves do carro, por isso mostre-os onde está o cofre (e de modo ideal nunca tenha uma pistola ou um cofre em casa, isso torna você no seu próprio alvo), dê-lhes o cartão multibanco e o NIP correcto. Nós podemos ganhar mais dinheiro, o seguro irá pagar por quase todos os prejuízos, e nós até podemos repôr as jóias, mas a vida e a mente são frágeis. Vamos primeiro lidar com uma situação em que uma mãe é violada em frente dos seus filhos. Os violadores obrigam as crianças a ver, batendo nelas quando estas desviavam o olhar, antes de fugirem na noite escura. Neste caso, as crianças não foram fisicamente aleijadas, mas recusam ir à escola e o filho fica perpetuamente furioso. É aqui que os psicólogos têm que mudar a forma de como tratar estes assuntos. A primeira consulta com os respectivos indivíduos traumatizados não pode ser de 55 minutos, com a atenção no relógio situado logo acima da cabeça. Tem que durar o tempo que for preciso, e na minha experiência nunca é menos que três horas e às vezes até chega a ser mais demorada. Enquanto o incidente é importante e a recontagem inicial do mesmo é crítico, o mais importante de tudo é fazer com que a família passe em frente. Eu falo com a família em conjunto, e depois com cada um separadamente. Eu mostro a cada criança como é que ela se comportou heroicamente e numa maneira necessária para a família viver. Depois começo a negociar sobre o seu regresso à escola e peço que me dê autorização para abordar os colegas da sala e discutirmos como é que vamos proceder nesta matéria. Na escola, eu peço aos professores para se sentarem no fundo e começar por perguntar aos alunos quais as casas que já foram assaltadas, e que surpreendente parece que quase todas. Quem esteve presente durante o roubo de um carro, roubo armado, quem tinha sido amarrado, quem já teve alguém na família violada ou assassinada, eu podia ouvir os suspiros abafados dos professores quando o grande número de crianças levantou a mão. E isto repetia-se em escolas de todas as camadas socio-económicas. 13 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 14 C O passo seguinte é perguntar às crianças quais as acções de terceiros que ajudaram – a maior parte das vezes são de pessoas que as deixaram falar sem lhes dar conselho, um amigo de apoio … O que não ajudou: aquelas pessoas que lhes disseram o que deviam ter feito ex. lutado, aquelas que disseram para não falar nisso, não chorar, para não contar a ninguém. As palavras que ajudam ou não ajudam - as palavras de maior difamação incluem: o tempo leva tudo, esquece-te disso, continua a tua vida, ainda tens sorte de estar vivo, não digas nada, isso vai incomodar a tua mãe/o teu pai/avô etc… Depois eu dou uma apresentação breve do que aconteceu à família. As crianças já ouvriam rumores, por isso eu começo um processo para gerir a informação. Eu sempre realço o feito heroíco da criança. Depois, digo, “o João sente-se nervoso para voltar à escola, o que acham que precisamos de fazer para o ajudar?” Os professores CM MY E assim ao se recuperarem, compreendendo que todos precisam de conciliação. Mas temos que as dar responsabilidade; os criminosos tiram a nossa liberdade, nós temos que ajudar aquelas crianças prejudicadas a recuperá-la e precisamos de as honrar durante esse processo. E no caso de uma criança se sentir traída por um dos pais? Nós explicamos o receio, sobre como algumas pessoas têm um pensamento lógico e racional, outras entram em pánico e atrapalham-se. Quando não nos perdoamos uns aos outros, os criminosos saem os As crianças que directamente sofrem de violência, ou que no lar testemunhem a violência doméstica são negativamente afectadas. As crianças não natas das Crianças pequenas (ainda estão a aprender a andar) que testemunham a violência doméstica podem: • Comportar-se agressivamente com outras • Tornar-se muito envergonhadas na presença de outras • Ser lentas na fala e no andar • Ter medo • Acordar com pesadelos • Ter dores de barriga Crianças pequenas (infantes) que testemunham a violência doméstica podem: • Chorar mais ou ser mais irritáveis • Acordar várias vezes durante a noite • Ter problemas com comer ou vomitam depois de comer • Parecer desinteressadas • Não ganhar peso Composite Y não podem intervir, as crianças têm que gerir este processo e contribuir sempre com as suas ideias. Elas também têm que dizer se é melhor que a criança volte amanhã, daqui a três dias ou um semana- geralmente restritas seja qual for a razão, as crianças preparam-se para dar as boas vindas ao seu companheiro de volta. Os efeitos da violência doméstica nas crianças 14 M CY CMY K vencedores. Eles partem, eles esquecem-se de nós, mas nós humanos falíveis, carregamos o pesadelo que eles deixaram para trás, nós argumentamos, nós culpamos e esquecemos aqueles que estão realmente em falta. Mas, acima de tudo, se houve um evento violento em que as crianças estavam presentes, levem-nas a obter ajuda; deixem-nas expressar-se. Não responda à sua raiva com raiva. Seja um adulto, um pai amoroso e corajoso. A maneira como nós lidamos com a situação vai determinar a forma como elas vão aprender também. Este artigo foi abreviado de um artigo por Charlene Smith © que foi publicado originalmente no jornal ‘’Mail and Guardian’’ aos 30 Novembro 2000 http://www.thoughtleader. co.za/charlenesmith/2009/11/30/ho w-do-we-help-children-exposed-tocriminal-violence/ Crianças com idade escolar que testemunham a violência doméstica podem: • Ter pouco empenho escolar • Comportar-se agressivamente com outras • Tornar-se muito envergonhadas na presença de outras • Ficar zangadas por algo insignificante ou por nada • Ser violentas • Ser ‘bully’ com outras crianças • Molhar a cama • Ter problemas de barriga • Ter dores de cabeça Adolescentes que sofrem de violência podem: • Ter pouco empenho escolar • Sentir-se como cuidadoras da mãe • Comportar-se agressivamente com outras • Recusar trazer amigos para casa • Ficar longe de casa ou fugir de casa • Ficar zangadas por algo insignificante ou por nada • Ser violentas com as pessoas com quem namora • Quebrar coisas de propósito ou sem querer • Ter problemas de barriga • Pensar ou falar sobre se matar • Pensar ou falar sobre matar outras pessoas CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 15 C M Y CM MY CY CMY K Organizações para assistir as crianças na África do Sul: Nacional: Childline www.childlinesa.org.za Lifeline www.lifeline.org.za (dará boas referências) Joanesburgo: Teddy Bear Clinic www.ttbc.org.za Kidz Clinic em Boksburg, Alexandra e Orange Farm www.wmaca.org/kidzclinics.htm Cidade do Cabo: Rapcan www.rapcan.org.za Durban: Bobby Bear www.bobbibear.org.za Port Elizabeth: Rape Crisis www.rapecrisis.org.za Venda: Centro de Empoderamento à Vítima em Thohoyandou www.tvep.org.za Nelspruit: GRIP www.grip.org.za Testemunhando a violência doméstica durante a infância coloca os homens na direcção de crime violento As constatações chave do primeiro estudo principal de homens que usam a violência contra os parceiros íntimos entre os trabalhadores na Cidade do Cabo indicam que os homens que testemunham o abuso das suas mães quando ainda crianças são quase provavelmente três vezes mais apreendidas por posse de uma arma (pistola) e quase provavelmente duas vezes mais a se envolver em brigas no trabalho ou na comunidade como os outros homens – e são também provavelmente duas vezes e meia mais a espancar as suas próprias parceiras. Estas constatações indicam que os problemas de violência com base no género e crime violento são restritamente ligados na nossa sociedade, e a prevenção da violência de parceiro íntimo (IPV) precisa de ser revista pelo Governo e pela sociedade como importante no seu direito próprio, bem como uma parte importante dos nossos esforços no combate a outras formas de crime violento. Quase um quarto dos 1,368 homens entrevistados (23.5%) registaram ter testemunhado a sua mãe sendo abusada pelo pai ou namorado quando ainda crianças. Parece que ao testemunhar o comportamento dos seus pais, os rapazes interpretam as mensagens sobre a aceitação da violência para a resolução de conflitos e alcance de objectivos, e isto estabelece um ciclo de violência. Torna-se criticamente importante nós desenvolvermos maneiras de interromper o ciclo, reduzindo a violência do parceiro íntimo, e assim as possibilidades das crianças testemunhá-la, através de uma identificação precoce dos rapazes que precisam de ajuda no desenvolvimento de competências do conflito não-violento. De igual impor tância são as intervenções nos locais de trabalho. A violência no local de trabalho custa à África do Sul aproxidamente R40 bilhões por ano. O local de trabalho providencia excelentes oportunidades para identificar os homens em risco no uso de meios de conflito violentos contra as parceiras e outras pessoas e providencia oportunidades para intervenções nos locais de trabalho. © Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul 15 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 16 C M Y CM MY CY CMY K Acesso ao recurso jurídico para as sobreviventes da VBG: um problema sentido de forma diferente nas diversas comunidades Anneke Meerkotter P&R Entrevista com Anneke Meerkotter, Directora do Centro de Advocacia Jurídica em Tshwaranang www.tlac.org.za A Anneke exerceu as funções de advogado no Projecto de Lei da SIDA antes de se juntar à TLAC em 2006, e ela é um membro do Grupo de Trabalho do Sector dos Direitos Humanos do Conselho Nacional da SIDA da África do Sul (SANAC). Yngve Sjolund: “O que faz a TLAC?” Anneke Meerkotter: “Nós focamo-nos na advocacia para mudar o sistema jurídico para que as mulheres possam ter melhor acesso e o utilizem nos casos de violência com base no género (VBG). A nossa missão destina-se a eradicar a vitimização das mulheres de acordo com a lei e o sistema jurídico e fazer com que o sistema jurídico seja um meio para a mudança social das mulheres. Fazemos isto, influenciando as políticas e a legislação através da advocacia, lobbying, educação, formação, litigação de interesse público e pesquisa. Parte da nossa pesquisa tenta fazer o rastreio de como as leis são implementadas para que nós possamos apresentar sugestões directas ao Governo. O Governo muitas vezes não está ao corrente de todos os problemas no terreno, e em particular quando se trata da implementação das leis. Então, o problema não reside na Lei de Violência Doméstica por assim dizer, mas nos casos em que a implementação da Lei se desmembra – torna-se insignificativo. Nós tentamos dar-lhes num formato em que possam fazer mudanças políticas e ver como é que podem mudar as suas estratégias de implementação. Nós efectuamos uma advocacia que responsabilize o Governo e tentamos também reforçar a capacidades das organizações com base comunitária nas várias províncias para responsabilizar o Governo. As OBC 16 Composite apuram o que está de errado na prática e podem-lhe dizer se uma determinada esquadra da polícia responde ou não às reclamações. E é a este nível que precisamos de garantir a implementação das leis para que sejam significativas para as mulheres”. YS: “Estatisticamente o registo do rastreio de acompanhamento dos casos da VBG no sistema jurídico e nas esquadras da polícia é muito fraco. Existem as estruturas de apoio em quase toda a África do Sul, mas não podemos esquecer das áreas rurais e remotas. Como é que a implementação eficaz das leis se realiza nestes contextos em que as sobreviventes de violência não têm uma disponibilidade de acesso aos recursos, e podem talvez somente depender da familia, parentes por afinidade ou dos mais velhos na comunidade, ou ainda então talvez de uma esquadra da polícia ou magistrado remoto? Como é que as estruturas jurídicas e as abordagens culturais se relacionam com a VBG?” AM: “Nós temos um escritório numa área rural em Acornhoek, Mpumalanga. Fizemos algum estudo nessa área para estabelecer quais os recursos de acesso que as mulheres têm quando são abusadas e determinar que tipo de serviços elas quereriam utilizar ou tornar disponível. Ficou claro que as mulheres iriam escolher qualquer um dos sistemas jurídicos: escolheriam o caminho tradicional ou iriam à polícia. Realmente, os dois sistemas não se interagem – a polícia não se refere à autoridade tradicional e a autoridade tradicional não se refere à polícia. Foi interessante notar que quem ia à polícia ou à autoridade tradicional, ouvia a mesma resposta “vamos mediar” como forma de lidar com a questão. Mesmo se for à polícia, você não vai conseguir abrir automaticamente um processo ou ordem de protecção. Algumas pessoas nem sempre recorrem ao sistema jurídico. Às vezes, a mulher ia à policia porque só queria avisá-lo para não repetir o feito – não era a sua verdadeira intenção abrir uma caso criminoso. Ela prefere decidir por si própria quem é que vai assustar mais o perpetrador: o seu pai, o oficial da CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 17 C polícia ou o chefe, e tomar o melhor caminho que achar para ela. O acesso é um problema e apresenta-se diferente em diferentes comunidades. Em Acornhoek, por exemplo é muito mais fácil ir ter com as autoridades tradicionais e nós tivemos a oportunidade de nos encontrar com alguns líderes tradicionais que são muito prestáveis e interessados na questão da violência doméstica. Mas, também às vezes deparámo-nos com muitos que não estavam interessados. A dificuldade com o recurso tradicional é saber se vai ou não ser ouvida no caso de ir lá à procura de assistência. Detectámos que tanto a polícia como as autoridades tradicionais só tomam a mulher sério se ela tivesse casada com o homem. Só assim é que reconhecem a relação. Se estiver simplesmente a viver com o indivíduo, e for até a autoridade tradicional apresentar queixa, esta não se envolve na sua preocupação. A polícia também lhe julga pelo facto de que está a viver com alguém com quem não está casada. Fica bem evidente que a eficácia da intervenção depende da situação marital.” YS: “Todos os países na África Austral (excepto o Seychelles) tem uma lei geral que opera lado a lado da lei consuetudinária/religiosa. Como é que os direitos das mulheres sofrem o impacto destes dois sistemas jurídicos?” AM: “Os líderes tradicionais consideram o seu caso se você estiver casada conforme os usos e costumes. Nas áreas rurais, a maioria dos casamentos são casamentos consuetudinários e são juridicamente reconhecidos, mesmo se não os registar. Se não os registar e a relação terminar, fica muito díficil aplicar os seus direitos e a divisão do património conjunto. Os líderes tradicionais estariam normalmente mais atentos se você estiver num casamento consuetudinário válido na sua comunidade, mesmo se não estiver registado. Apercebemonos também que um curandeiro tradicional, teria a mesma abordagem relativamente à mediação. Geralmente, são aconselhadas ‘a voltar e a tentar ser mais simpática para o marido, e para não tentar gerar o conflito’.” YS: “A TLAC procura fazer com que o público – mulheres e homens – esteja mais conscientes dos seus direitos jurídicos. As pessoas no entanto, não parecem nem sequer saber quais são os direitos humanos mais básicos. Como é que se põe o público na sua vasta maioria ao corrente destas questões pertinentes à violência com base no género?” AM: “Isso seria uma preocupação minha. A gente julga que as pessoas sabem que ‘não quer dizer não’. Mas, há áreas meias cinzentas quando em conversas destas, por exemplo os homens e as mulheres têm interpretações diferentes sobre os seus direitos nos casos em que ela começou por dizer ‘sim’e depois mudou de ideias. As pessoas parecem não entender. O mesmo acontece com a violência doméstica– há muitas áreas cinzentas em que as pessoas não sabem o que é aceitável; elas interiorizam algum abuso e culpam-se. Isto é M Y CM MY CY CMY K um problema grande e preocupa-me mesmo quando você diz às pessoas ‘’estes são os seus direitos”; tal vai depender de como você como indivíduo encara a situação. E isto por sua vez vai depender muito do seu próprio estado emocional e dos seus próprios níveis de confiança e aspectos associados. As pessoas precisam de ter acesso ao aconselhamento, pois aí reside o maior fracasso do país – mais ainda do que a falta de conselho e serviços jurídicos. O facto é de que há serviços de aconselhamento nas cidades chaves, mas quando se vai para as áreas rurais não há psicólogos ou assistentes sociais. Os assistentes sociais fazem uma visita uma vez por semana, se isso. Você não pode dirigir-se a lado algum e falar de violência e das suas opções – e é isso que as mulheres precisam.” YS: “O que pensa do aconselhamento individual ou para o casal como uma intervenção?” AM: “As mulheres que estão em relações abusivas precisam de aconselhamento para elas próprias sobre as suas vidas, e o que querem fazer. Os casais com problemas maritais podem beneficiar do aconselhamento para o casal no caso de haver um simples mau entendimento e as partes não se falam. As discussões entre os homens e as mulheres, namoradas e namorados sobre questões do dia a dia, às vezes não é possível. Tal deve-se ao muito descontentamento que existe. O aconselhamento não vai ajudar numa situação em que uma das partes exerce poder e controlo sobre a outra parte. Não seria numa base de equitativa ter uma sessão de aconselhamento. Encontrámos clientes a dizer que tinham feito o aconselhamento em conjunto, em que o homem articulou tudo bem, e depois quando o casal saíu da sessão ele voltou a ser o que era. As pessoas têm a capacidade de manipular o aconselhamento e isso é preocupante.” YS: “Tenho falado com pessoas sobre a terminologia, tal como a ‘violência com base no género’ que é usada mas que a maioria das pessoas não compreende. Algumas designam-na com o que realmente a define: espancar a mulher?” AM: “Podiamos defini-la assim de facto, visto que as muitas pessoas que coabitam não são casadas e não estão portanto tecnicamente a espancar a sua ‘esposa’. As pessoas ficam confusas com o termo VBG e ficam irritadas quando se fala de ‘violência contra as mulheres’. E têm uma razão legítima: quando se é um homem, você saberia de um incidente em que um amigo seu foi espancado pela sua mulher, ou podia até saber do incidente em que um homem foi tratado injustamente. Quando estes termos são usados os homens sentem-se afligidos, porque pensam que nós podemos ignorar o abuso que de facto também ocorre contra os homens. A VBG iria fazer referência às questões de poder e controlo quando estas estão presentes na situação, por isso podia ser contra os homens– ou homossexuais e lésbicas – porque não estão a fazer o que lhes é ‘esperado’ fazer na sociedade. A VBG é um termo mais vasto e isso ajuda as muitas 17 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 18 C comunidades, mas quando se vai a uma comunidade para tentar explicar, isto torna-se um exercício explosivo. O Governo não compreende o que é o ‘ género’ – não compreende que está relacionado com o poder, vê isto simplesmente como homens e mulheres. Elas querem uma explicação neutra sobre o género.” YS: “Não acha que o termo VBG é confuso e dessensibiliza a questão?” AM: “S em dúvida. Até mesmo a campanha internacionalmente conhecida por ‘16 Dias de Activismo Contra a Violência com Base no Género’ é chamada ‘16 Dias de Activismo Contra a Violência Contra as Mulheres e Crianças na África do Sul’. Quando nós incluímos os homens e as crianças e as pessoas com deficiências, diluímos completamente a questão.” YS: “Você diria que os serviços providenciados pelo Projecto Refentse- que providencia serviços de cuidado ao estupro e profilaxia pós-exposição (PEP) – é o melhor exemplo prático?” AM: Em Acornhoek, o hospital de Tintswalo foi montado para servir de intervenção às sobreviventes de estupro. Ao nível de políticas, às vezes nem tudo corre bem, mas aqui tudo funciona a nível básico. Por exemplo, o Governo tem diferentes políticas que determinam aspectos diferentes sobre os serviços de saúde para as sobreviventes de estupro, com departamentos diferentes dedicados a assuntos diferentes sem qualquer estratégia coerente relativa aos serviços de estupro e PEP.” YS: “Falo com sobreviventes de estupro e elas nem sequer sabem que a PEP é uma opção. Porque é que a PEP não está extensivamente divulgada junto do público em geral como um remédio para prevenir o VIH às sobreviventes de estupro?” Composite Y CM MY CY CMY K Moerane, uma pessoa realmente muito dedicada às questões de violência doméstica. Eles realizaram worshops sobre a violência com base no género nas comunidades rurais na Província do Nordoeste. Inicialmente encontraram-se com as partes interessadas locais como o assessor da enfermaria, a enfermeira na clínica e o polícia. Depois realizavam um workshop comunitário e tentaram estabelecer um tipo de comissão local que pudesse abordar as questões de violência doméstica e ofensas sexuais, para depois passar os casos de referência para o escritório de conselhos. Foi uma iniciativa que custou muito pouco dinheiro, mas que tentou fazer com que a comunidade começasse a falar da VBG. Os líderes tradicionais não participam em algumas destas comunidades, só porque são comunidades muito pobres e muitas vezes edificadas ao lado de uma mina. Agora, as minas estão a fechar, prevalece a pobreza e pode-se ver o abuso do álcool e um aumento da VBG– mas pelo menos eles estão a falar disso. Uma pergunta fundamental que emergiu destes workshops tinha a ver com a PEP e quando e como ter acesso – a clínica mais perto pode ser a 50 km de distância, as ambulâncias nunca vêm a estas comunidade e se algém quiser apanhar um táxi para o hospital, vai-lhe custar R300, por isso ninguém vai ao hospital. Isto ilustra o caso da disponibilidade do acesso, e a necessidade de garantir que os mais pobres entre os pobres recebam a ajuda de que precisam.” YS: “Está claro que todos nós enfrentamos um enorme desafio na abordagem e alívio da VBG nas áreas rurais na SADC. Como é que nós até começamos com esta enorme tarefa, para criar a sensibilização ou obter políticas relacionados com a protecção dos cidadãos e o acesso aos serviços básicos?” YS: “Tens sugestões sobre como podemos melhorar a situação?’ AM: “O que é que as organizações da sociedade civil fizeram especificamente com a campanha Shukumisa foi que as organizações das áreas urbanas e rurais que providenciam serviços à sobrevivente de estupro trabalhasse em conjunto para monitorizar a implementação das leis no terreno e fazer a advocacia para a mudança. Por exemplo, o Projecto Thohoyando de Empoderamento à Vítima, sob a responsabilidade de Fiona Nicholson, providencia aos voluntários no hospital a assistência que você precisa quando é violada. Daí em diante, com o seguimento dos exames médicos, essa pessoa torna-se a sua pessoa de suporte durante todo o processo ciminal. Vêm-no visitar ao domícilio e têm que certificar que você está a aderir ao seu PEP. Trabalham de forma criativa, o qué raramente utilizado pelas organizações da sociedade civil com o objectivo de criar a mudança na sua comunidade. Por exemplo, trabalharam em aldeias encorajando os homens a assinar um juramento de que se iriam opôr à violência praticada na sua comunidade. AM: “Um exemplo sobre como as organizações com base comunitária podem alterar estes aspectos cabe ao Centro de Conselho Jurídico Lethabong, sob a responsabilidade de John A Campanha Shukumisa providenciou formação às organizações sobre a Lei de Ofensas Sexuais e como parte da formação os parceiros da campanha desenvolveram uma AM: “As pessoas tendem a querer culpar as outras, por exemplo se uma adolescente for para o hospital porque engravidou, as enfermeiras tratam-na um tanto ao quanto mal, porque em primeiro lugar não devia ter engravidado. Os sul africanos parecem ter a necessidade de passar um juízo moral para todos à sua volta. Inicialmente, os regulamentos exigiam que você provasse a sua violação antes de poder ter acesso à PEP num hospital. As organizações da sociedade civil conseguiram alterar isso através da advocacia. No entanto, ainda persistem as razões pela qual a pílula do dia seguinte não é disponibilizada.” 18 M CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 19 C lista de verificação de tudo que devia existir em cada esquadra da polícia, hospital e tribunal de modo a garantir uma cópia da Lei, uma sala acolhedora para a vítima, etc. A Campanha requere um acompanhamento dos problemas, por isso muito do trabalho efectuado foi para assegurar que o Governo se aperceba de que não pode virar as costas à sociedade civil, se as pessoas quiserem vir ver os seus serviços.” YS: “Como é que a religião e a política podem mudar a perspectiva da VBG numa comunidade?” AM: “Os workshops que o Centro de Conselho Jurídico Lethabong realizou como um exemplo, encorajou a participação de todas as partes interessadas na comunidade. Em alguns workshops, somente alguns membros de partidos políticos estiveram presentes - o que por si é bom, pois os partidos políticos deviam mostrar um interesse na VBG. Noutras áreas, grandes números de pessoas das igrejas também apareceram. Tal reflecte sinais positivos e demonstra que as redes maiores podem também se envolver nestas questões. Isto mostra que há muito que pode ser feito, porque as ONGs nem sempre estão empenhadas com estes grupos– e as igrejas e os partidos políticos são muitas vezes os únicos grupos organizados nas áreas rurais.” YS: “Quais são os outros problemas ou áreas problemáticas que enfrenta na abordagem da VBG?” M Y CM MY CY CMY K AM: “Estamos a lidar com casos de trabalhadoras do sexo em Joanesburgo – alguns casos em que foram violadas pela polícia ou onde a apreensão ilegal ocorreu. A reforma da lei relativa ao trabalho de sexo é uma questão primordial de momento e será uma ainda maior com a Taça Mundial. Seria útil, se as organizações pudessem partilhar conhecimentos positivos pertinentes à questão do trabalho do sexo, e onde o processo também providenciasse aos trabalhadores do sexo informação sobre os seus direitos no caso de uma apreensão policial e edificar-se nesse sentido. Temos um caso onde 20 polícias estiveram envolvidos no estupro de trabalhadoras do sexo– o caso é muitas vezes afastado porque cada polícia tem o seu próprio advogado. Esta falta de responsabilidade por parte dos polícias é inaceitável.” YS: “Para aqueles de nós a trabalhar com os direitos humanos e das mulheres numa base diária, pode ser desolador – como é que se deixa passar, ou se recolhe o testemunho?” AM: “Eu ainda não consegui essa competência, para ser honesta. Nenhum membro do meu pessoal está a lidar bem com esta situação e as pessoas nem sempre se identificam com o aconselhamento formal e nós continuamos a tentar compreender como lidar com tudo isto. Quando vejo telenovelas como ‘The Bold and the Beautiful’’ (O Ousado e a Beleza) eu finjo que os problemas da Brooke são mais importantes!” Muitas mais crianças vão à escola, mas muitas ainda não estão nas salas de aula O número de crianças com idade de escola primária e a ir à escola tem aumentado a nível global, mas muitos países afectados por conflito ainda têm um grande número de crianças sem qualquer educação. De acordo com o relatório ‘O Futuro é Agora’ (The Future is Now ), das 72 milhões de crianças fora da escola, 39 milhões delas vivem em países afectados pelo conflito. O relatório aponta que para além de levar à morte e ao ferimento de milhões de crianças, o conflito força milhões de famílias a fugir das suas casas, separa as crianças das suas famílias, e destroí a educação. Na Somália, 81% das crianças não têm acesso à educação, e sem acção urgente para ajudar estas crianças de mais difícil alcance, o Objectivo Dois do Desenvolvimento do Milénio – que todas as crianças tenham um curso completo de escolaridade primária até 2015 – náo será concretizado. O conflito afecta a educação de várias maneiras. Na Província do Equador na República Democrática do Congo, os pais mais preocupados mantiveram os filhos em casa durante o mês de Abril porque as milícias andavam pelos arredores, e na Província de Kivu do Sul, centenas faltaram aos exames em Abril por causa das lutas entre as facções rivais das milícias. De acordo com o Fundo das Crianças das NU (UNICEF) somente 14% das crianças frequentaram a escola durante duas décadas de conflito que terminou em 2005 na parte sul do Sudão. Em Angola, pelo menos dois milhões se inscreveram nas escolas mas 1,2 milhões ainda ficaram de fora, no entanto só 54% completam a escola primária. Um estudo realizado pelo ministério de educação e a UNICEF constatou que 77% destas crianças eram raparigas. O relatório ‘O Futuro é Agora’ (The Future is Now) está disponível no http://www.savethechildren.org.uk/en/ docs/The_Future_is_Now_low_res.pdf 19 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 20 C M Y CM MY CY CMY K DIVERSIDADE / CRIMES DE DIFAMAÇÃO Desigualdades do género sustentando violência contra as pessoas ‘trans’ “A violência contra as mulheres envolve declarações clamando o controlo sobre os corpos das mulheres e o seu direito de expressão.” Por Liesl Theron A África do Sul é internacionalmente aclamada pela sua Constituição progressiva de 1996 pós-apartheid, foi a primeira no mundo que proíbia a discriminação na base da orientação sexual. A África do Sul foi o quinto país no mundo a celebrar os casamentos do mesmo sexo e a consentir outros direitos importantes para os gays e as lésbicas, incluindo os direitos de adopção para o mesmo sexo e beneficiário conjunto em fundos e políticas médicas. Contudo, todos estes direitos liberais e progressivos são reconhecidos num tom pouco pronunciado de violência extrema contra as mulheres, grupos minoritários e pessoas LGBTI. Uma em cada três mulheres sul-africanas pode antecipar ser violada durante a sua vida – ou seja pelo menos uma vez. Nos documentos e relatórios de pesquisa, lê-se que uma mulher na África do Sul é violada em cada 20 segundos. A Directora do Projecto Triângulo, Vanessa Ludwig, começou o seu discurso de abertura num evento de angariação de fundos (para apoiar a campanha Fim de Difamação que foca os crimes de difamação contra as pessoas LGBTI) em Março 2008 com uma mensagem muito dramática mas de forte impacto. Ela pôs-se em frente do microfone em silêncio durante alguns minutos, com o holofote virado para ela e um tambor djembe africano a batucar cada 20 segundos. Ao criar um ambiente que aos poucos se tornava muito inconfortável, as suas primeiras palavras para a audiência foram: ‘Cada 20 Composite vez que se ouve o tambor, mais uma outra mulher está sendo violada’ e desafiou a audiência a mudar o seu mau estar em ira. Ouvimos estes discursos chocantes e poderosos, de acordo com os vários relatórios de pesquisa das organizações credíveis tal como o Conselho de Pesquisa Médica, o Conselho de Pesquisa de Ciências Humanas e muitos mais (Moffett, 2009) que ecoam as mesmas estatísticas aterradoras. A África do Sul pós-apartheid, com o seu discurso de liberdade, apresentações poderosas, ONGs mobilizando eleitoirados, workshops contínuos e campanhas que suscitam a sensibilização tais como a Campanha de Um em Nove, a Campanha a Rosa tem Espinhos, Devolva a Noite, 16 Dias de Activismo, Campanha 070707 e muitos mais eventos que encorajam as mulheres a ‘divulgar’ (a sua situação do VIH, estupro ou estado de lésbica). Estes movimentos e eventos associados criaram um momento em que as mulheres contaram com coragem as suas histórias. Existem contradições sobre quais os direitos que as mulheres são capazes de exercer e reivindicar na África do Sul relativamente aos direitos encontrados na Constituição. As pessoas LGBTI enfrentam contradicções semelhantes entre a lei escrita e a sua experiência de vida. As pessoas transexuais acham-se cada vez mais marginalizadas, rejeitadas da sociedade ‘inclusiva’ , no entanto não incluída nos grupos ou contextos LGBTI. De CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 21 C modo semelhante acontece com as lésbicas e os gays na sua experiência de vida que está em contradicção com a nossa Constituição, as pessoas transexuais encontram-se num espaço ambíguo, onde os espaços heterossexuais e homossexuais não são incluídos, e prejudicados contra– contudo a nossa Constituição faz provisão para todos na ‘Nação Arco-Íris’. Na noite de 2 de Junho 2008 a Daisy Dube, que se autoidentifica com orgulho como uma traversti (drag queen) foi baleada e morreu no local do crime. Uma amiga íntima, que andava fora naquela noite com Daisy, confirmou que a motivação para o assassinato tinha sido a identidade de género e de que elas não estavam dispostas a sujeitarse ao rídiculo. O tiroteio resultou depois da Daisy e as suas três amigas terem desafiado três homens homofóbicos a abster-se de lhes chamarem ‘isitabane’ – um termo em isiZulu que significa hermafródite, geralmente usado como forma derrogatória para se referir às pessoas LGBT nos bairros. Nem todos os crimes de difamação e de violência com base no género contra as pessoas transgénero resultam em morte. Nem todos os crimes de difamação e de violência com base no género contra as pessoas transgénero na África do Sul são comunicados. Muitas receiam a vitimização secundária da polícia. Uma mulher ‘trans’ violada por um bando de seis homens não reportou o caso na polícia devido ao medo que sentia da polícia e das coisas terríveis que ouvira falar deles. A resposta da polícia é tão humilhante como extremamente traumática. Uma outra mulher ‘trans’ estava a viver numa casa em que a polícia realizou uma rusga alietória à procura de droga em Julho 2008. Todos os companheiros de casa foram levados para a esquadra da polícia e quando souberam que ela era transexual, ela ficou nas celas provisórias muito mais tempo que os outros. Ela foi ‘revista’ e abusada por quase todos os polícias na esquadra. No entanto, ela nunca foi considerada culpada por posse de drogas nem teve qualquer incriminação contra a sua pessoa. Em 2007, uma mulher intersexo foi levada para a esquadra da polícia por causa de uma ofensa de trânsito. Ela foi revista por todos os polícias na esquadra, abusada e acabou com manchas negras. Ela comunicou o incidente ao Gender DynamiX; ela nunca apresentou queixa, nem quis aconselhamento porque como ela própria disse o seu interesse era somente bloquear a má experiência. As pessoas ‘trans’ também sofrem de abuso e violência dos seus próprios familiares, devido à sua identidade ‘trans’. Uma mulher ‘trans’ relatou como o seu pai e outros homens familiares a violaram e abusaram dela repetidamente na sua infância por causa do seu ‘comportamento efeminado’ e chamavam-na ‘maricas’, um termo derrogatório para um gay; o termo é semelhante ao seu equivalente inglês ‘bicha’ (primeiro usado como um termo derrogatório e agora no processo M Y CM MY CY CMY K de ser reclamado em certas comunidades). Ela também era forçada a realizar actos sexuais com um cão para “lhe ensinar uma lição”. Uma mulher ‘trans’ contou uma série de incidentes que começou quatro meses depois da sua cirúrgia de redesignação de género. Puseram fogo à sua casa numa noite enquanto dormia, felizmente ela acordou a tempo de se salvar, mas a casa ficou completamente queimada. Dois meses mais tarde o seu negócio foi atacado com uma gasolina-bomba e seis meses depois ela foi atacada com uma picareta pelo amante da ex-esposa. Ela suspeitou que todas estas tentativas à sua vida vieram deles. Uma mulher ’trans’ registou que queria cometer suicídio como resultado da rejeição da sua comunidade e família. Ela foi severamente espancada pelos membros da família da sua esposa. Nessa altura, os médicos receavam que ela tivesse perdido parcialmente a visão do seu olho direito devido a danos causados à cara. O mau tratamento e as arrelias nas escolas é algo que muitas pessoas ‘trans’ podem identificar. Em alguns casos as p e s s o a s ‘ t r a n s’ a t é disseram como os professores ‘se juntavam’ à ridicularização por causa da maneira como se apresentavam. Uma mulher ‘ trans’ referiu-se a um incidente em que um grupo de rapazes lhe atacaram uma tarde nos quartos de banho depois da escola. Os incidentes como este conduzem à depressão e pouco empenho. Muitos jovens ‘ trans’ desistem da escola a uma idade precoce devido à intimidação, ridicularização e discriminação, aumentando ainda mais a sua marginalização devido a ser economicamente desavantajado. Os parceiros de pessoas transgénero também estão sujeitos à violência e são igualmente vulneráveis, no entanto são em alguns casos mais invisíveis. Na medida em que as estatísticas, informação, estruturas e apoio adequado para as vítimas da violência com base no género não existem na África do Sul, para lésbicas, gays e pessoas transgénero, tornase mais prematuro perguntar se os parceiros ou qualquer SOFFA (Outro Ser Significativo, Família, Amigos e Aliados) de pessoas transgénero serão reconhecidos e apoiados, ou serão contados em actos violentos transfóbicos em estatísticas de crime de difamação. Muitos jovens ‘trans’ desistem da escola a uma idade precoce devido à intimidação, ridicularização ou discriminação A prevalência da violência com base no género entre qualquer comunidade é prejudicial. Muitos incidentes no passado recente podem ser descritos nas palavras da Antje Schuhmann como ‘afirmações violentas para reclamar o controlo dos corpos das mulheres e o seu 21 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 22 C direito de expressão’ (2009). Quero argumentar que a violência que os gays, lésbicas e mulheres em geral enfrentam é na sua maioria com base no género e não na base de orientação sexual. A comunidade transgénero está directamente exposta a esta ameaça por causa da não observância do género ou comportamento e expressão transversal do género. Como um exemplo, considere a mulher de Umlazi, que ficou despida e os homens na aldeia queimaram a sua barraca – porque ela estava a usar calças. Ela não era lésbica. Este tipo de opressão aconteceu porque ela não conformou com as normas culturalmente esperadas. A violência que os gays, lésbicas e mulheres em geral enfrentam éna sua maioria com base no género e não na base de orientação sexual. A comunidade transgénero está directamente exposta a esta ameaça por causa da não observância do género ou comportamento e expressão transversal do género. Por isso é essencial fazer advocacia contra este mal e lutar pela protecção e direitos de todos os cidadãos e especialmente para os indivíduos LGBTI. A Liesl Theron é a fundadora da Gender DynamiX, uma organização dos direitos humanos promovendo a liberdade de expressão da identidade de género, focando o transgénero e pessoas de não conformidade de género. A Liesl usa a palavra ‘trans’ livremente na sua escrita, indicando e respeitando o trans que inclui o transgénero, transexual, transvesti e não conformância de género. A Gender DynamiX é a única organização sul africana que focaliza no sector de transgénero, transexual e na não conformidade de género. www.genderdynamix.org.za “Os esforços para reduzir as incidências de violência contra as mulheres precisa de estar ligado a intervenções destinadas a alcançar uma redução na estigmatização dos homens gay… Os programadores precisam de adoptar uma abordagem inclusiva para a programação que interliga o activismo contra aviolência contra as mulheres, mitigação e prevenção do VIH e activismo dos direitos dos gays.” – a Dra Leigh Price, de uma apresentação sobre ‘Compreender a dominância masculina e remodelagem dos aspectos de remodelagem para abordar a epidemia do VIH na África Austral'. 22 Composite M Y CM MY CY CMY K Depois dos ossos e as manchas negras terem sarado: o cuidado e apoio psicológico para as sobreviventes de violência Para além das lesões físicas, incidentes violentos ou ameaçadores em casa ou comunidade muitas vezes resultam em danos psicológicos graves e incapacitadores para as sobreviventes. Enquanto as nódoas negras, ferimentos ou ossos partidos possam sarar em poucos dias ou meses, o trauma emocional de um ataque violento pode levar anos a ultrapassar. Depois de providenciar um tratamento médico imediato, incluindo a PEP no caso de estupro, e fazer-se um relatório para que o caso possa passar pelos canais jurídicos apropriados, é importante que as sobreviventes sejam apoiados em lidar com os efeitos psicológicos da violência. As iniciativas de aconselhamento, terapia e dos grupos de apoio foram dadas como úteis após os abusos sexuais, especialmente em casos envolvendo factores complicados relacionados com a própria violência ou o processo de recuperação. Há alguma evidência de que um breve programa comportamental cognitivo administrado logo após o abuso pode impulsionar uma melhoria do dano psicológico suscitado pelo trauma. As sobreviventes da violência sexual, às vezes culpam-se umas às outras pelo incidente, e a abordagem disto na terapia psicológica tem revelado ser importante para a recuperação. No entanto, os programas de aconselhamento e tratamento a curto prazo depois dos actos de violência sexual exigem uma avaliação significativa. O apoio formal psicológico para aqueles que s o f re m d e v i o l ê n c i a s e x u a l te m s i d o expansivamente providenciado pelo sector nãogovernamental, particularmente os centros para crise de estupro e várias organizações de mulheres e homens. Inevitavelmente, o número de vítimas da violência sexual com acesso a estes serviços é pequeno. Uma solução para alargar o acesso é através das linhas de ajuda, idealmente aquelas que são gratuitas. Uma linha de ajuda ‘Parar com o Abuso contra a Mulheres’ atendeu 150,000 chamadas nos primeiros cinco meses de operação CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 23 C M Y CM MY CY CMY K Explorando o fenómeno das mortes de paixão no Botswana Por Dr. Maude Dikobe Várias razões foram apresentadas para explicar as elevadas incidências das mortes de paixão no Botswana, a mais evidente é aquela da dinâmica do poder desigual em relações entre homens e mulheres; as mulheres são muitas vezes consideradas como menores que precisam de ser disciplinadas de tempos a tempos. Uma outra razão está enraízada nas práticas culturais e padrões de socialização. Além disso, até certo ponto, algumas cantigas folclóricas Tswana podem-nos ajudar a compreender a forma com estas mortes de paixão são tratadas – bem como as respostas a estes assassinatos. Muitas pessoas usam a sua cultura, tradições ou religião como uma maneira de controlar as mulheres. Na cultura Setswana, como também acontece em muitos outros países na África Austral, quando alguém se casa o homem paga ’ lobola’ (preço da noiva), principalmente na forma de gado e dinheiro, à família da mulher. O conceito de ter ‘comprado uma esposa’ tem sido citado como uma razão para a crença de alguns homens de que têm licence para bater nas suas esposas. Estas crenças são ainda mais reforçadas pelas líricas de algumas canções nos casamentos, tal com aquela que inclui as seguintes palavras, “eu comprei a minha esposa com o meu gado”. As causas das mortes de paixão são diversas mas é preciso ainda efectuar-se muita pesquisa sobre esta questão para melhor se compreender tanto as implicações culturais como as socio-económicas. Entre elas, o crescente nível de pobreza e o desemprego entre os jovens já foram citados como factores contribuidores para a proliferação do namoro inter-geracional quando as raparigas comercializam favores sexuais por uma vida de luxo. A socialização também desempenha um factor importante. Os homens são socializados para ser provedores e as mulheres as que são providenciadas. Isto cria uma dependência em que as mulheres esperam apoio financeiro e presentes dos homens, e o provedor por sua vez espera lealdade e amor assim que tenha efectuado ‘a compra’ da rapariga. Logo que a relação azede, e a rapariga tente deixá-lo, o homem sente-se que foi usado e não aceita a rejeição, às vezes levando à violência, e outras vezes até aosassassinato. Soluções O Governo do Botswana e outras partes interessadas dedicaram-se a iniciativas destinadas a reduzir a violência contra as raparigas e as mulheres. Botswana é signatório de acordos que protegem os direitos das mulheres, entre eles a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW), a Declaração do Género da SADC, e o Projectolei da Ofensa Sexual entre outros. Apesar dos aumentos para a igualdade a nível legislativo, a violência com base no género mantém-se problemático no Botswana. Até à data, não há qualquer mecanismo formalizado para monitorar e avaliar a violência com base no género. Alguma mobilização comunitária e consciência para a sensibilização mantém-se crucial. Existe unicamente só um abrigo para as vítimas da violência de género e violência doméstica e estupro, e este situa-se em Gaborone, a capital, com um outro centro – Mulheres Contra o Estupro (WAR) - em Maun, a nordeste. Há um apelo para se aumentar o número dos respectivos centros em todo o país e de os tornar acessível para as mulheres e raparigas. E sente-se ainda a necessidade de mobilizar a opinião pública contra as injustiças maiores de femícido. Todos deviam dizer “NÃO” à violência contra as mulheres. O estado de rectificar e aplicar as leis em vigor e garantir que haja uma tolerância zero para com a violência contra as raparigas e mulheres. O Governo do Botswana também está de momento a considerar estabelecer workshops nacionais consultativos, onde todo o país pode ser sensibilizado em questões de vulnerabilidade das mulheres em face ao abuso. O diálogo entre as várias partes interessadas, incluindo as ONG’s, Sociedade 23 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 24 C Civil e líderes tradicionais e religiosos, de modo a encontrar soluções e intervenções que mitiguem o impacto da violência contra as mulheres no país também é encorajador. Em particular, há a necessidade de sentenças mais rigorosas para os perpetradores, para que eles não possam andar na rua totalmente livres para atacar outras jovens. M Y CM MY CY CMY K A Dra. Maude Dikobe é uma activista do género e Reitora de Literatura e Artes Expressivas da Diáspora Africana na Universidade de Botswana. Ela é uma académica de Fulbright e concluiu o Doutoramento em Estudos da Diáspora Africana de UC Berkeley, Estados Unidos. Mortes de paixão: “uma ferida inflamada na consciência da nação” “Os crimes de paixão” são comuns em todo o mundo, mas diversos incidents de mortes de paixão – em que várias jovens foram mortas pelos seus amantes nos arredores de Botswana num curto espaço de tempo – tem atraído a atenção dos media internacional.. Embora os homens e rapazes são às vezes vítimas de mortes de paixão, as mulheres e as raparigas no Botswana são os que geralmente mais sofrem as consequências deste tipo de violência com base no género. O antigo Presidente do Botswana, Festus Mogae reparou na Conferência Nacional sobre Crimes de Paixão Entre os Jovens no Botswana em 2008 que “estes crimes são recentes no Botswana e não fazem parte da nossa cultura como nação pacífica e compassiva”. Ele notou ainda que, “os crimes de paixão são uma ferida inflamada na consciência da nossa nação … estão a devorar a constituição da sociedade”. Os comentários do antigo Presidente estão próximos das preocupações semelhantes dos jovens e adultos no Botswana, que expressam a urgência para reduzir ‘femicídio’ - ou mortes de paixão como são geralmente mencionados – antes de ficarem fora de controlo. O PROTOCOLO DE GÉNERO E DESENVOLVIMENTO DA SADC O Protocolo de Género é um documento jurídico abrangente que providencia objectivos, estratégias e alvos para alcançar a igualdade de género na região da SADC. Isso abrange 28 alvos, bem como mecanismos para monitorar e rastrear o progresso, incluindo a reportagem dos estados membros de dois em dois anos. A assinatura e domesticação do Protocolo de Género e Desenvolvimento da SADC é considerado por muitos como um passo importante para eradicar a violência com base no género. O Botswana ainda não assinou o Protocolo,e a decisão do Governo para adiar a assinatura do Protocolo do Género da SADC é desolador. O Bostwana explicou que que leva os seus compromissos a sério, e que o Governo mantém-se 24 Composite em não querer assinar compromissos que não pode cumprir, e que as provisões são demasiado mandatórias. A recessão foi também citada como uma questão que impede o Governo de assinar o Protocolo. Quando os Chefes de Estado e o Governo da SADC, assinaram o Protocolo sobre o Género e Desenvolvimento a 17 de Agosto 2008, eles comprometeram-se por alcançar pelo menos 50% de representação das mulheres em posições para a tomada de decisões – garantindo a eradicação do abuso, pobreza e disparidade no sector público (parlamento) e privado no ano 2015; que está sincronizado com os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, especialmente o Objectivo 3 que procura p ro m ove r a i g u a l d a d e d o g é n e ro e o empoderamento das mulheres. CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 25 C M Y CM MY CY CMY K CASO DE ESTUDO RELATIVAMENTE A RESPOSTAS DA VBG & VIH O Projecto Refentse Lições aprendidas sobre a implementação das políticas de saúde para as sobreviventes de estupro na área rural de Mpumalanga, África do Sul O Plano Estratégico Nacional do VIH e SIDA 2007-2011 (NSP) exige uma formação melhorada e um acesso aumentado para a profilaxia pós-exposição (PEP). Um documento progressista publicado pelo Departamento de Saúde (as Políticas Nacionais de Abuso Sexual e Directrizes Nacionais de Gestão para Cuidade de Abuso Sexual) tem como um dos seus objectivos, “estabelecer serviços de cuidados de saúde designados, especializados, acessíveis, 24 horas para a gestão holística dos pacientes melhorar a sua condição de saúde depois do abuso sexual.” Infelizmente, as Políticas e Directrizes não foram extensivamente publicadas ou circuladas e não são muito bem conhecidas entre os provedores dos cuidados de saúde ou da sociedade civil. O Projecto Refentse (em seSotho corresponde a resiliência) foi estabelecido por SIDA Rural e Programa de Pesquisa da Acção de Desenvolvimento (RADAR) para desenvolver um modelo para a prestação de serviço de alta qualidade, serviços integrados de cuidado ao estupro que incorpore a PEP para VIH num hospital público rural. O Hospital Tintswalo desenvolveu políticas de gestão e um protocolo de tratamento que aborda os desafios específicos enfrentados pelo hospital, e garante que o hospital será capaz de providenciar serviços de saúde contínuos para as sobreviventes de estupro, mesmo se houvesse rotatividade de pessoal. FASE 1 Durante a Fase 1, uma Comissão Consultativa do Projecto multi-sectoral (PAC) foi estabelecida para reunir todos as partes interessadas (representantes da polícia, hospital , serviços sociais e tribunais) a partilhar informação e experiências, identificar lacunas no modelo actual e avaliar as oportunidades para reforçar as ligações entre o sistema de saúde e justiça criminal. A PAC apresenta-se como um fórum útil para envolver os provedores de serviços em problemas comuns sentidos pelas sobreviventes de assédio sexual, para abordar estes problemas e melhorar as relações de referência. FASE 2 A TLAC liderou a Fase 2 do Projecto Refentse, monitorizou a implementação dos serviços de estupro e verificou que o hospital podia facilmente sustentar a intervenção e até melhorar a qualidade do serviço oferecido. A qualidade do cuidado providenciado no hospital excedeu durante a segunda fase do projecto conforme indicado na tabela que se segue: Indicadores dos cuidados de qualida de Pré Pós Fase 2 Efectuado o teste de gravidez 67.5% 86.0% (216/236) 91.5% Dado EC 65.1% 72.5% (187/231) 80.9% VCT na primeira visita 41.2% 60.6% 73.2% 28 dias PEP dado na primeira visita 15.1% 55.1% 67.6% A frequente rotatividade do pessoal nas facilidades de saúde rural induziram à formação interna sobre a gestão do abuso sexual (fluxo de pacientes, registo historial, medicação e aconselhamento, e referência) junto das enfermeiras profissionais recentemente nomeadas OPD numa base contínua. As visitas a clínicas nas redondezas reforçou as referências entre o hospital e as clínicas, distribuição de panfletos e encorajou a inclusão de informação sobre os serviços de saúde para as sobreviventes de estupro nas conversas matinais de saúde providenciadas para os pacientes das OPD nas clínicas e nos hospitais. 25 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 26 C M Y CM MY CY CMY K Boa prática para o reforço de serviço de saúde no Hospital Tintswalo Uma política de gestão de estupro e protocolo de tratamento coordena os cuidados com os cuidadores de saude, funcionários, farmácia, laboratório, consultores de VCT e assistentes sociais para ter um impacto directo no cuidado ao paciente e reduzir juízos e atitudes pessoas de provedores individuais ex. retendo a PEP na crença de que as mulheres mentem quanto ao estupro. Seguem-se algumas lições do processo de reforço dos serviços de saúde, e em particular à sobreviventes de estupro no Hospital Tintswalo em Acornhoek, Limpopo, África do Sul. Lições aprendidas • Uma sala designada é útil para a centralização de serviços, medicamentos e testes diagnósticos, minimizando os atrasos e a necessidade para provedores adicionais – e aumentar a privacidade para o tratamento de casos. • Um foco no cuidado sistematizado – isto é útil dado a falta de formação recebida por muitos cuidadores de saúde, e a sua elevada rotatividade dentro das facilidades rurais de saúde. • Expandir os serviços motivados por enfermeiras, uma vez que a falta de médicos nas áreas rurais aumenta o período de tempo que as sobreviventes de estupro esperam antes de ser atendidos e ser providenciados com cuidado pós-estupro. Esta estratégia realça a implementação eficaz das políticas. • A prática de fazer referências não surge automaticamente, e o providenciamente de um carta padrão de referências para os provedores de serviço e encontros rotineiros e documentação das fontes de referência ajuda a manter e a edificar redes de referência funcionáveis. As ONGs podem desempenhar um papel importante na monitoria da implementação das políticas do governo e podem também reflectir e distinguir criticamente entre o que são as ‘más’ políticas e o que representa um fracasso na implementação. O acesso que a TLAC gozou nos registos do Hospital Tintswalo e a participação do hospital no projecto pode ser pouco comum e talvez até não seja facilmente duplicado, contudo, a relação entre RADAR, TLAC e o Hospital Tintswalo é ilustrativo de um tipo de parceira construtiva que pode ser estabelecida entre os serviços de governo e ONGs. República Democrática do Congo (RDC) O Presidente Kabila compromete-se em garantir uma geração livre de SIDA na República Democrática do Congo Em Maio 2010, o Presidente Joseph Kabila da República Democrática do Congo comprometeu-se em promover a emergência de uma Geração Livre de SIDA, garantir uma maternidade mais segura e eliminar a transmissão de mãe para filho (transmissão vertical) do VIH neste país. “No meu país dá-se a prioridade às mulheres e crianças,” o Presidente Kabila disse ao receber uma missão conjunta no seu país por Thoraya Ahmed Obaid, o Director Executivo da UNFPA, e Michel Sidibé, Director Executivo da UNAIDS. 26 Composite “Vou liderar para assegurar uma Geração Livre de SIDA na RDC,” o Presidente acrescentou, expressando o seu compromisso para lançar uma iniciativa nacional para reverter a epidemia do SIDA e tornar mais segura a maternidade com prioridades de uma Geração Livre de SIDA, não só no seu país, mas também na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e União Africana. Actualmente, mais de 40,000 bebés nascem com VIH todos os anos na RDC. Somente 2% das mulheres grávidas têm acesso aos serviços para prevenir a transmissão vertical, e só 8% das mulheres grávidas recebem o teste de VIH e aconselhamento. A RDC é um dos seis países no mundo que em conjunto é responsável por 50% das mortes maternas a nível mundial. A cada hora, a morte materna leva a vida de aproximadamente quatro mulheres. Fonte: UNFPA http://www.unfpa.org/public/cache/offonce/news/pid /5604;jsessionid=218163660445014589D7BE989FEC1 D87 CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 27 C M Y CM MY CY CMY K Conferência da Confluência do VIH/Cultura apresenta recomendações chave para o programa de VIH, cultura e género - Pelo Pessoal da SAfAIDS A SAfAIDS, em parceria com a Oxfam Novib, HIVOS e o Instituto Tropical Real (KIT) que com sucesso realizou uma conferência, entitulada a ‘Confluência do VIH/CulturaMudando a Corrente do Rio: Possibilidades e Desafios no Programa' do dia 12 a 13 de Abril 2010. A conferência, que se realizou em Joanesburgo, África do Sul, reuniu mais de 130 participantes da região da SADC, África, Ásia, América do Sul e Europa. Ao planear a conferência, os respectivos organizadores começaram por se aperceber que as partes interessadas estão cada vez mais conscientes de que é importante conceber a eficácia dos programas e intervenções destinados à prevenção do VIH, bem como a incidência da VBG na África Austral, e ser sensível às crenças e práticas culturais. A conferência desta forma cria uma plataforma para a troca de conhecimento, ideias, experiências e desafios, informação e acima de tudo, soluções práticas para conceber e implementar programas eficazes: com o objectivo final de promover trabalho focando na importância de considerar a cultura no VIH e intervenções na VBG. Durante a abertura oficial da conferência, o Sr. Sandi Mbatsha, Acessor Especial do Ministério das Mulheres, Jovens e Pessoas com Deficiências na República da África do Sul elogiu a conferência por salientar a influência que as práticas culturais têm em aumentar ou reduzir a incidência do VIH na região. Recomendações principais para o programa de VIH, VBG, cultura e género No final da conferência, os organizadores partilharam as treze recomendações principais para o programa que emergiu das apresentações, discussões e deliberações de painel. As recomendações foram discutidas, e depois do processo consultativo, as recomendações abaixo determinadas foram endossadas pelos participantes. 1. Adoptar uma definição abrangente de cultura. A conferência reconheceu que a cultura é um conceito difícil de definir – no entanto a definição abrangente de cultura como “Você e Eu, a forma como vivemos, trabalhamos e brincamos juntos” foi apresentada. • A cultura devia ser definida pelas próprias comunidades, e as definições adoptadas pelos programadores devia ser o contexto e comunidade – específica e reconhecer a diversidade. 2. Considerar o significado da linguagem • É importante ser sensível ao significado e ideologias transmitidos através da linguagem, assim os implementadores do programa 27 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 28 C precisam de considerar o uso da língua materna ao desenvolver materiais e implementar programas. 3. Sociedade Civil, governos e os mídia têm uma responsabilidade par tilhada sobre a comunicação do VIH • A Sociedade Civil (CS) e os feitores de políticas precisam de reconhecer o papel importante desempenhado pelos mídia no discurso sociocultural relacionado com o VIH e género e envolver os mídia nos processos de d e s e nvo l v i m e n t o d e s t a s m e n s a g e n s. • Os mídia precisam de ser sensíveis à mensagens que comunicam, garantindo precisão da terminologia usada (por exemplo o uso do VIH e SIDA em contrapartida com o VIH/SIDA). • A SC devia investir em assegurar que os mídia estejam bem capacitados para relatar questões com exactidão. 4. Considerar o ‘nosso’ activismo • O activismo para os direitos das mulheres devia estar integralmente ligados com o activismo para os direitos humanos, direitos dos gays e direitos reprodutivos. • Os programadores deviam desafiar as atitudes negativas direccionadas a diversas sexualidades (LGBTI), considerar atitudes próprias direccionadas às pessoas LGBTI e adoptar um activismo com base nos direitos e programas. 5. Objectivo por ‘SAVE’ (SALVAR) • Considerar MCP, MC, drogas e álcool e sexo intergeracional como motivadores chave do VIH na resposta. • Promover SAVE como uma estratégia para a prevenção do VIH uma vez que é mais holística e atenta ao contexto socio-cultural em que vivemos, se estivermos muito “próximos da raíz’ das novas infecções. O modelo ‘SAVE’ apresentado por INERELA inclui: - um foco em promover Práticas de sexo mais seguras e produtos de sangue seguros, - garantindo Intervenções médicas disponíveis, - Aconselhamento voluntário e testagem (com um foco no desvio das ‘congregações amigas do SIDA', para ‘congregações que conhecem o seu estado de VIH'), e - Empoderamento 6. Respeitar e envolver a liderança tradicional • Maior impacto pode ser alcançado quando os líderes tradicionais são sensibilizados, e envolvidos em encontros de políticas de alto nível a nível regional. 28 Composite M Y CM MY CY CMY K • Os líderes tradicionais podem ser pro-activos ao abordar a sociedade civil, se tiverem planos de trabalho; será mais fácil para a SC identificar onde a intervenção é precisa sem esquecer ainda as áreas de colaboração. 7. Respeitar o valor da cultura no VIH e os programas de género • Garantir o respeito pela capacidade das próprias comunidades para abordar práticas culturais negativas e encorajar práticas culturais positivas/protectoras. 8. Reconhecer a natureza multi-factoral da transmissão do VIH • Considerar que o VIH não se limita só ao sexo, mas também pode ser influenciado pela genética, contexto público, economia bem como a cultura. Maior esforço é preciso para reunir a evidência e compreender a epidemia local. Os estudos ‘Conheça a Sua Epidemia’ - ultrapassa as fronteiras para compreender todos os factores que motivam o VIH. 9. Desencorajar as atitudes patriarcais e encorajar a igualdade de género e o empoderamento das mulheres • Compreender o que é o patriarcado e os contextos nos quais ocorre. As dinâmicas de poder estabelecidos atraves do patriarcado precisam de ser interrogados, com a intenção de melhorar o sistema. A participação masculina para desafiar o desiquilibrio do poder perpetuado pelos sistemas patriacais devia ser encorajado. 10. Desenvolver indicadores que monitorizam mudanças nas práticas culturais e de género que influenciam o VIH • Embora seja díficil calcular os factores complexos, os programas precisam de identificar meios de monitorizar as mudanças na prática que influenciam o VIH. • Considerar abordagens qualitativas para a recolha de informação e documentação de apoio nas comunidades. • Documentar as boas práticas existentes para apoiar o nosso trabalho nos contextos culturais. 11. Sociedade Civil devia ser firme e basear-se em princípios nos seus esforços para abordar a cultura • A Sociedade Civil devia comunicar/fazer advocacia focando os feitores de políticas, doadores e partes interessadas que comuniquem o valor de uma abordagem cultural do VIH e programas de género. CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 29 C 12. Melhorar o envolvimento dos jovens e considerar o impacto da educação na mitigação do VIH • As vozes dos jovens precisam de ser ouvidas mais nas plataformas regionais e internacionais. • Focalizar no encorajamento do diálogo intergeracional. M Y CM MY CY CMY K 13. Interrogação das influências da religião no trabalho do VIH e gánero • Compreender o papel que a cultura religiosa desempenha nas sociedades contemporâneas. Leitura Sugerida Uma Investigação Filosófica do Estupro: A Realização e Não-Realização da Pessoa Feminina (Pesquisa Routledge sobre o Género e Sociedade) por Louise Du Toit (Livro de capa dura - Abr. 15, 2009) Identificando o Poder Interior: Um Caminho para o AutoEmpoderamento para as Mulheres: Edição do 20o Aniversário por Iyanla VanZant (Livro de bolso - Ago. 15, 2009) SIDA, Sexo, e Cultura: Políticas Globais e Sobrevivência na África Austral por Ida Susser (Livro de capa dura - Fev. 9, 2009) A Mestria do Amor por Don Miguel Ruiz ) (Edição Kindle - Jan. 18, 2010) Encerramento e a Lei de R e l a çõ e s : Fi n s e N ovo s Começos por Lissa Coffey e Arielle Ford (Livro de Bolso - Jan. 19, 2010) O Caminho para o Amor: Estratégias Espirituais para a Recuperação por Deepak Chopra (Livro de bolso Jan. 12, 1998) Fé no Vale: Lições para as Mulheres na Jornada em Direcção à Paz (Walker Livros de Impressão Grande) por Iyanla VanZant (Livro de bolso Junho 2004) Comunidade NãoImaginada: Sexo, redes e SIDA na Uganda e África do Sul) (Series California em Antropologia Pública) por Robert J. Thornton (Livro de bolso - Set. 2, 2008) Vivendo Através do Entretanto: Aprendendo a Quebrar os Padrões do Passado e Começar o Processo de Recuperação por Iyanla Vanzant (Edição Kindle - Mar. 17, 2002) Ontem, Eu Chorei: Celebrando as Lições de Viver e Amar por Iyanla Vanzant (Livro de capa dura - 2007) Orgulho de MIM: Falando contra a Violência Sexual e VIH por Charlene Smith (Livro de bolso) Ago. 29, 2002) 29 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 30 C M Y CM MY CY CMY K FONTES Definições: Campanha do Secretário-Geral das NU para Terminar com a Violência Contra as Mulheres.UNFPA. Folha de Factos da Violência Contra as Mulheres: Situação da População Mundial. Abordagens com base nos direitos para o programa de prevenção da VBG - Kirkemann Boesen, J., & Martin, T. (2007) Aplicando uma abordagem com base nos direitos: Um guia inspiracional para a sociedade civil: O Instituto Dinamarquês para os Direitos Humanos. Direitos e workshop de poder, A. Hughes e J. Wheeler: relatório (Brighton, Instituto de Estudos de Desenvolvimento, 17-20 Dezembro 2003), http://www2.ids.ac.uk/drccitizen/docs/r&pworkshop report˚nal.pdf. 2. 3. 4. 5. 6. Violência contra as crianças: OMS em Zuberi/UNICEF, 2005, Krug et al., 2002, Johnston, Fevereiro 2006 Violência doméstica: Testemunhando a violência doméstica durante a infância coloca os homens numa caminha para o crime violento: MOVE (Homens Ultrapassando a Violência), [email protected] © Speak Out, Pessoas Opondo-se ao Abuso das Mulheres (POWA). Estudo do Conselho de Pesquisa Médica do Género da África do Sul & Grupo de Saúde, financiado pelo Departamento de Artes, Cultura, Ciências e Tecnologia (DACST), Dr Naeemah Abrahams. Crimes de difamação: (Moffett, 2009) – Do Boletim 83 ACAS: Violência com base sexual e do género em África Iniciativas para prevenir a violência sexual: Wikipedia, a enciclopédia gratuita 7. 8. 9. 10. 11. 12. Dando uma voz as vítimas de violência sexual Centro de Notícias das NU http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=3 1801&Cr=Humanitarian+Day&Cr1 13. Referências e notas: 1. Foa EB, Hearst-Ikeda D, Perry KJ. Avaliação de um programa comportamental-cognitivo breve para a prevenção de PTSD crónicos em vítimas de abuso de crimes. Jornal de Consulta e Psicologia Clínica, 1995, 63:948 955. 30 Composite 14. Foa EB, Street GP. Mulheres e eventos traumáticos. Jornal de Psiquiatria Clínica, 2001, 62 (Suppl.17):29 34. Meyer CB, Taylor SE. Adjustamento ao estupro. Jornal de Personalidade e Psicologia Social, 1986, 50:1226 1234. Christofides N. Avaliação da Cidade Alma na parceira com a Rede Nacional sobre a Violência Contra as Mulheres (NNVAW ): algumas constatações iniciais. Joanesburgo, Projecto da Saúde das Mulheres, Universidade de Witwatersrand, 2000. Kelly L, Radford J. Violência sexual contra as mulheres e raparigas: uma abordagem de uma perspectiva internacional. 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Um estudo exploratório de práticas profissionais de abuso pós-sexual: examinando a aplicação padronizado dos kits de estupro. Cuidados de Saúde para Mulheres Internacionais (na imprensa). 19. Resnick H et al. Prevenção de psicopatologia pós-estupro: constatações preliminares de um estudo de tratamento de estupro grave controlada. Jornal de Desordens de Anxiedade, 1999, 13:359 370. 20. Ramos-Jimenez P. Estratégias filipinas para combater a violência doméstica contra as mulh eres. Centro de Pes q u is a do Desenvolvimento Social de Manila e Universidade de De La Salle, 1996. 21. Violência contra as mulheres e VIH/SIDA: determinando a agenda de pesquisa. Organização Mundial de Saúde, Genebra, 2001 (documento WHO/FCH/ GWH/01.08). 22. Estudo de controlo de caso da conversão do VIH nos cuidadores de saúde após exposição percutânea ao sangue infectado de VIH: França, Reino Unido, e Estado Unidos, Janeiro 1988 a Agosto 1994. Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade, 1995, 44:929 933. 23. Ippolito G et al. O riscos de VIH ocupacional nos cuidadores de VIH. Arquivos de Medicina Interna, 1993, 153:1451 1458. 24. Violência contra as mulheres e VIH/SIDA: determinando a agenda de pesquisa. Organização Mundial de Saúde, Genebra, 2001 (documento WHO/FCH/ GWH/ 01.08). 25. Estudo de controlo de caso da sero conversão do VIH nos cuidadores após exposição percutânea ao sangue infectado de VIH: França, Reino Unido, e Estados Unidos, Janeiro 1988 to Agosto 1994. Relatório Semanal Morbidade e Mortalidade, 1995, 44:929 933. M Y CM MY CY CMY K 26. Wiebe ER et al. Oferecendo profilaxia do VIH para pessoas que foram sexualmente abusadas: 16 meses de experiência num serviço de abuso sexual. Jornal da Associação Médica Canadiana, 2000, 162:641 645. 27. Du Mont J, Parnis D. Abuso sexual e resolução jurídica: inquirindo a recolha médica de evidência forense. Medicina e Lei, 2000,19:779 792. 28. Njovana E, Watts C. Violência do Género no Zimbabué: uma necessidade para uma acção colaborativa: Assuntos de Saúde Reprodutiva, 1996, 7:46-54. 29. Segurança e protecção: eliminando a violência contra as mulheres e raparigas nas sociedades muçulmanas. Montreal, Instituto Global de Irmandade, 1998. 30. Mehrotra A et al. Uma vida sem violência: e o nosso direito. Nova Iorque, NY, Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres, 2000. 31. Du Mont J, Myhr TL. Tão poucas convicções: o papel de características relacionadas com o cliente no processamento jurídico de abusos sexuais. Violência Contra as Mulheres, 2000, 6:1109 1136. 32. Mais acções e iniciativas para implementar a Declaração de Beijing e Plataforma para Acção, N ov a I o rq u e, NY, M u l h e re s, Pa z e Desenvolvimento, Nações Unidas, 2000 (Documento de Resultados, Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, Mulheres 2000: Beijing Mais Cinco). 33. Direitos reprodutivos 2000: caminhando em frente. Nova Iorque, NY, Centro para a Lei Reprodutiva e Políticas, 2000. 34. Bedont B, Martinez KH. Acabando com a impunidade para os crimes de género ao abrigo do Tribunal Criminal Internacional. O Jornal ‘Brown’ de Assuntos Mundiais, 1999, 6:65 85. 35. Coomaraswamy R. Integração dos direitos humanos das mulheres e a perspectiva do género. Violência contra as mulheres, Nova Iorque, NY, Conselho Económico e Social das Nações Unidades, Comissão dos Direitos Humanos, 2000 (Relatório do Relator Especial sobre a violência contra as mulheres) 36. Khafagi F. Rompendo com os tabus culturais e sociais: o luta contra a mutilação genital feminina no Egipto. Desenvolvimento, 2001, 44:74 78. 31 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 32 C 37. Efeitos da saúde reproductiva da violência com base no género. Nova Iorque, NY, Fundo das Populações das Nações Unidas, 1998 (disponível na internet em h t t p : / / w w w. u n f p a . o r g / a b o u t / r e p o r t /report98/ppgenderbased.htm) (Relatório Anual 1998: prioridades do programa). 38. Centro de Pesquisa Innocenti da UNICEF. Casamento precoce: cônjuge infantil. Innocenti Digest, 2001, No. 7. 39. Serra Leoa: estupro e outras formas de violência sexual contra as raparigas e mulheres. Londres, Amnistia Internacional, 2000. 40. Violência sexual contra os refugiados: directrizes sobre a prevenção e resposta. Genebra, Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, 1995. 41. Programa sobre a violência sexual e com base no género na Guiné. Genebra, Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, 2001. 42. Nduna S, Goodyear L. Dor demasiado forte para lágrimas: avaliando a prevalência de violência sexual e de género entre os refugiados burundianos na Tanzânia. Kibondo, Comissão Internacional de Salvação, 1997. BOTSWANA: Fonte de Notícias: Todas as notícias locais foram submetidas pela Agência da Imprensa do Botswana (BOPA) © O Governmo do Botswana - = 20100209&i=Voice_of_Women_ reaches_out_to _community Referências e notas: 1. Valores extraídos de: As implicações socioeconómicas da violência contra as mulheres no Botswana, Março 1999, um relatório contratado pelo Departamento dos Assuntos das Mulheres, e Estupro no Botswana: estatísticas, perfis, leis e consequências, 1998, Associação das Mulheres Emang Basadi. 2. Na primeira conferência nacional para a prevenção de crime realizada em Gaborone, o ano passado, Monica Tabengwa, a directora de Metlhaetsile, apelou para que: "o Governo devia considerar as ONGs como sendo anti-governo porque eles não o são". 3. Os jornais não têm relatores de tribunal a tempo inteiro e isto signifca que há casos publicados numa base ad hoc. Embora a violência contra as mulheres se tenha tornado 32 Composite M 4. 5. 6. Y CM MY CY CMY K ‘notícia valiosa’ em anos recentes, os relatórios de estupro estão a tornar-se cada vez mais sensacionalizados com violadores geralmente referidos como ‘pestes do sexo’ etc. Sem qualquer código de conduta para jornalistas, este tipo de cobertura vai simplesmente piorar. Ao mesmo tempo, a publicidade nos mídia de impressão está agora a começar a usar os corpos das mulheres para vender artigos tais como automóveis pela primeira vez. O relatório numa revisão de todas as leis afectando a situação das mulheres no Botswana, Setembro 1998, Departamento dos Assuntos das Mulheres, recomenda que a Constituição seja alterada. As alterações – em particular o VIH e nenhuns componentes de fiança – atraíram alguma crítica na altura do Ditshwanelo, o Centro do Botswana para os Direitos Humanos. A claúsula de 'nenhuma fiança' foi declarada inconstitucional pelo Juíz Raymond Mwaikasu do Supremo Tribunal de Francistown e, como resultado, um número não revelado de violadores acusados foram libertos da prisão. RCC sempre apoio a claúsula de nenhuma fiança por causa da probabilidade de um violador (acusado) que não fique sob guarda será uma ameaça acrescentada e intimida a pessoa que ele violou ou até mesmo a sua família. A prevalência e as consequências de estupro das mulheres no Botswana: uma agenda para pesquisa e acção, Associação das Mulheres de Emang Basandi, Agosto 1994. CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 33 C M Y CM MY CY CMY K NOTÍCIAS DA REGIÃO Dando uma voz às sobreviventes de violência sobreviventes, não vítimas , sexual e físicadas mulheres, empoderamento cultura, envolvimento comunitário, prevenção do VIH, políticas e leis Em Darfur, as mulheres têm muito medo de falar sobre a violência sexual, e os cuidadores de saúde que cuidam delas fazem-no com o maior sigilo. Durante aproximadamente dois anos e meio, a Roselidah Ondeko tem estado a trabalhar no leste da República Democrática do Congo (RDC), ajudando as mulheres locais a pronunciarem-se sobre a epidemia da violência sexual e física com base no género na região. A Roselidah está ao serviço do Fundo das Populações das NU (UNFPA), e coordena o programa de violência sexual nas províncias de Kivu do Norte e Sul, que é apoiado financeiramente pela Agência Canadiana de Desenvolvimento Internacional (CIDA). Ela está sediada na capital provincial de Kivu do Norte. A parte leste da RDC, que enfrenta conflito contínuo entre os rebeldes e o exército congolês, é notário pelas suas elevadas taxas de violência sexual e física contra os civis. “No início era muito difícil escutar todas estas histórias e ver ao que estas mulheres se sujeitavam. Eu tive que confrontar isto com os colegas a praticar a mesma profissão,” explica a Roselidah. Mas, a Roselidah recorda que estas vítimas femininas da violência sexual que vêm procurar apoio psicológico decidiram não sucumbir. “Quando se considera o que elas aguentaram, a gente apercebe-se de que elas não se renderam. Elas têm esperança” diz ela. Acima de tudo, em vez de falar de vítimas, ela prefere usar a palavra ‘sobreviventes.’ A Roselidah cita o exemplo de uma mulher que tinha sido violada, depois abandonada pelo seu marido. Ao abrigo deste programa, ela recebeu um cabrito como uma fonte de rendimento. Isto foi em 2007. “Em 2008, quando eu me encontrei de novo com ela, ela já tinha mais seis cabritos, porque se ela deixasse as coisas andar, ela não sabia quem iria cuidar dos seus filhos.” De acordo com os dados recolhidos pela UNFPA, o número de casos de violência sexual registados tinha aumentado entre Janeiro e Junho no Kivu do Sul, comparado com o mesmo período do ano passado. Isso podia ser explicado, de acordo com a Roseliah, pela calma relativa em certas áreas da província. “As sobreviventes agora podem ter acesso a cuidados médicos e a serviços psiciológicos e os trabalhadores de saúde podem chegar às áreas que dantes eram inacessíveis por causa da insegurança,” explica ela. Os perpetradores de violência sexual são na sua maioria homens em farda, sejam os soldados do exército congolês ou combatentes dos grupos rebeldes.” Cada vez vimos mais e mais crianças afectadas “ por esta violência sexual, acrescenta a Roselidah. Antes de chegar à RDC, a Roselidah foi enviada para Darfur região a oeste do Sudão e Uganda. Quando ela compara a sua situação actual com aquela em Dafur por exemplo, o pessoal da UNFPA verifica que as pessoas na RDC falam mais abertamente sobre a violência sexual que tem sido perpetrada. “Em Darfur, as mulheres têm muito medo de falar sobre a violência sexual, e os trabalhadores de saúde que cuidam delas, fazem-no no maior sigilo,” por medo de represálias, ela observou. Fonte : Centro de Notícias das NU, http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=3180 1&Cr=Humanitarian+Day&Cr1 33 Composite CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 34 C M Y CM MY CY CMY K NOTÍCIAS DE ÁFRICA Líderes apresentam-se em público para fazer o teste O Presidente sul africano, Jacob Zuma lançou re c e n t e m e n t e u m a d a s c a m p a n h a s de aconselhamento e testagem (VCT) voluntárias na história ao revelar a sua situação de VIH- negativo este ano. Os ministros e os presidentes dos conselhos provinciais na África do Sul têm seguido este exemplo, mas os políticos em África nem sempre são assim tão directos. A IRIN/PlusNews expõe a história de quem se apresentou ou não para ‘a pica’. 2001 – No Botswana, o Presidente Festus Mogae tornou-se um dos primeiros líderes a ser testado publicamente para o VIH e encorajou os ministros e deputados a fazer o mesmo. 2002 – O Presidente zambiano, Kenneth Kaunda fez manchete com o seu teste público e, tal como Mogae, usou a oportunidade para incentivar outros a seguir o exemplo. Kaunda perdeu um filho devido a complicações relativas ao VIH nos anos 80 e mais tarde fundou a Fundação Kenneth Kaunda de Crianças para África, que administra escolas para as crianças órfãs do SIDA. 2004 – O Presidente do Malawi, Bakili Muluzi reconheceu publicamente ter feito o teste de VIH e a ter perdido o irmão devido às doenças relacionadas com o SIDA. O Presidente da Uganda, Yoweri Museveni recusou fazer o teste, mas alguns meses mais tarde, 12 deputados da Uganda participaram numa campanha de testagem nacional conhecido por “É melhor saber”. 34 Composite No Dia Mundial da SIDA, vários da Etiópia de alto perfil tornaram-se voluntários para ser testados, incluindo a esposa do Primeiro Ministro Meles Zenawi, a Sra Azeb Mesfin, que revelou que o seu marido tinha feito o teste; O Ministro das Finanças e Economia, Mulu Ketsala, e a Embaixatriz dos Estados Unidos Aurelia Brazeal. 2006 – O Senador dos Estados Unidos, Barack Obama e a sua esposa, Michelle, foram testados em Kisumu, capital da Província Nyanza, no Quénia, onde o pai de Obama nasceu. "Se um senador dos Estados Unidos pode ser testado, então qualquer pessoa pode ser testado," foi o que ele comunicou na altura. No Dia Mundial do SIDA, o Vice Presidente sudanês, o Dr Riek Machar dirigiu-se para ser testado na esperança de aumentar o interesse dos VCT; somente um por cento dos sudaneses do sul foram testados. Na Nigéria, o Presidente Olusegun Obasanjon repetiu o feito. 2007 – No início de uma campanha de testagem nacional ao VIH em Julho, o Presidente da Tanzânia Jakaya Kikwete e a sua esposa; o Primeiro Ministro Edward Lowassa e a sua esposa; vários outros ministros, uma centena de deputados, e muitas outras figuras públicas foram testadas. Uma estimativa de 4.1 milhões de tanzanianos foram alcançados em seis meses como parte da campanha. 2010 – A África do Sul lança uma campanha que procura testar 15 milhões de pessoas em aproximadamente 13 meses. O Presidente Jacob Zuma revela os resultados do seu quarto teste ao VIH. Fonte: © IRIN. Todos os direitos reservados. Notícias e análise do VIH/SIDA: htt://www.plusnews.org CTRF_Newsletter_03_Port#2B.FH11 10/28/10 3:03 PM Page 35 C M Y CM MY CY CMY K INSPIRAÇÃO ACÇÃO O Caminho para o Amor – Sugestões Práticas Considere a lista que segue com tudo o que o amor deve realizar. O amor deve: Curar Renovar Tornar-nos seguros Inspirar-nos com o seu poder Dar-nos segurança, sem dúvida Isento de qualquer receio Revelar a imortalidade Trazer a paz Harmonizar diferenças Trazer-nos mais próximos de Deus Mesmo se esta lista se destacar como irrealista, entre num acordo com o amor – um negócio da alma – sabendo que qualquer uma das coisas ou todas elas se podem tronar realidade na sua vida. Tire um pedaço de papel e assinale o que você quer do amor. É uma força real, se estiver sintotinizada com a sua pessoa, o amor vai responder. Faça a sua lista a mais completa e especifica possível. Registe todas as entradas da lista recolhida e ao lado liste o que quer. Exemplo: O amor deve curar: Eu quero curar a minha ira para com o meu pai O amor deve renovar: Eu quero sentir um entusiasmo renovado para com o meu trabalho. Assim que sestiver satisfeito com tudo o que detalhou que queria, o acordo está completo. Ponha o pedaço de papel num lugar seguro. Você acabou de anunicar à sua alma o que pretende, e cabe ao amor responder. O amor é inteligente e sensível. Conhece-o melhor do que você se conhece a si mesmo - por isso tem o poder de concretizar a sua parte do tratado. Não se detenha na sua lista ou tente torná-la em realidade. A única coisa que precisa de fazer, é quando sentir amor, agir sobre ele. Fale com o seu coração. Seja fiél. Mantenha-se aberto. É assim que se alinha com o amor. No fim de alguns meses, tire a sua lista e leia-a de novo. Pergunte-se quanto daquilo que está listado já virou realidade – você ficará supreendido! De facto pedir amor é uma das coisas mais difíceis que alguém pode arriscar, e ao arriscá-lo primeiro no seu coração, você abre uma porta que jamais se vai fechar. - Excerto de ‘O Caminho para o Amor’ por Deepak Chopra 35 Composite CTRF_Newsletter_03_Portuguese 10/28/10 3:33 PM Page 36 C M Y CM MY CY CMY K RECURSOS / LISTAS / SERVIÇOS Para ter acesso a informação adicional sobre HIV, VBG e Cultura, contactar os seguintes Centros de Recursos nos seus respectivos países: Angola-SCARJOV Sede: Estrada da Camama/Vianda (ao CALEMBA 2) Bairro da Paz - Kilamba Kiaxi PO Box 3085 Luanda - Angola Tel. 1: +244 912 368 535 Tel. 2: +244 927 713 289 E-Mail: [email protected] Botswana-BONASO PO Box 3129 Plot 767, Tati Road, Extension 2 Gaborone, Botswana Tel: +267 3170582 / 3908490 Fax: +267 570582 E-Mail: [email protected] Lesotho-National AIDS Commission Maseru Sun Office Block Orpen Road PO Box 11232 Maseru 100 Lesotho Tel: +266 22326794 Fax: +266 2232 7210 E-mail: [email protected] Website: www. www.nac.org.ls Malawi-MANASO Chitetezo House City Boutique Building Haile Selassie Road PO Box 2916 Blantyre Malawi Tel: +265 1 835046/18 E-mail: [email protected] Website: www.manaso.org Malawi-Blantyre City Assembly Town Hall Civic Centre Private Bag 67 Blantyre Malawi Tel: +265 1 670 211 Namibia-NANASO PO Box 23281 Erf: 1011, 42-44 Ondoto Street, Okuryangava, Windhoek, Namibia. Windhoek, Namibia Tel: +264 61 26 1122 Fax: +264 61 23 4198 E-Mail: [email protected] Swaziland-NERCHA National HIV and AIDS Information Centre Lamvelase Premises Nkoseluhlaza St / Sandlana St Manzini Swaziland Tel: +268 505 4597 / 505 3313 Fax: +268 505 4425 E-mail: [email protected] Zambia-Afya Mzuri Joint Resource Centre Plot 10487B Manchinchi Road, Olympia Park, Lusaka. Tel : +260 11 295124 / 295122 Fax : +260 11 295120 / 295124 Cell No. : +260 977 741223 / 966 249194 Email: [email protected] Website: www.afyamzuri.org.zm Zimbabwe-SAfAIDS 17 Beveridge Road Avondale Harare Zimbabwe Tel: +263 4 336193 / 4 Email: [email protected] Website: www.safaids.net Onde buscar ajuda – África Austral Botswana Voz das Mulheres (VAW), Mahalapye, Botswana Tel: +267-4714864 / 4714011 Mulheres Contra a Estupro (WAR), Maun, Botswana Tel: +267-71395813 Projecto do Abrigo da Sociedade das Mulheres de Kagisano, Mogoditshane, Botswana Tel: +267-3900516/3907659 Áreas chave: Estas organizações oferecem serviços (aconselhamento, conselho jurídico, abrigo/refúgio, referências), prevenção ao nível da comunidade, mobilização, sensibilização), reforço dos sectores de serviço com um foco na polícia, cuidadores de saúde e governo local para abordar o estupro/abuso sexual, abuso sexual da rapariga, assédio sexual no local de trabalho e ao nível comunitário). Moçambique Associação de Mulheres, Lei e Maputo, Moçambique Tel: +258-823055900 Desenvolvimento (Muleidi), Áreas chave: Muleide providencia apoio jurídico às mulheres sobreviventes de violência que de outro modo não têm viabilidade económica. 36 Composite Elas providenciam informação e educação sobre a prevenção de violência e VIH e também efectuam projectos juntamente com as mulheres gerando rendimentos. Associação Moçambicana das Mulheres de Correia Jurídica (AMMCJ), Maputo, Moçambique Tel: +258-14-08232 Áreas chave: As advogadas que trabalham na AMMCJ visam diminuir a violência contra as mulheres e garantir uma situação jurídica igual para as mulheres. A AMMCJ providencia um abrigo temporário e serviços jurídicos e aconselhamento para as vítimas da violência do género. Suazilândia Mulheres e Lei na Pesquisa e Educação na África Austral (WLSA) Capítulo da Suazilândia, Mbabane, Suazilândia Tel: +268-4047088 Áreas chave de foco: O objectivo da WLSA é o de melhorar a situação jurídica das mulheres na África Austral. A organização responsabiliza-se pela acção de pesquisa, conselho jurídico, conselho e serviços jurídicos, advocacia para a reforma jurídica e mudança bem como formação e educação sobre os direitos das mulheres como direitos humanos. A WLSA investiga tanto a lei consuetudinária como a lei geral, e a interacção entre as duas.