Julho/Agosto/Setembro 2010
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Julho/Agosto/Setembro 2010
Ano III Número 8 Julho/Agosto/Setembro/2010 Distribuição Gratuita Expedição à bacia do Rio Verde Peixes comedores de algas A Aplicação do Ponto Focal no Aquapaisagismo Vivendo no extremo Revista feita por e para aquaristas amantes da natureza Dieta alemã para peixes de todas as nacionalidades. Seus peixes podem ter uma alimentação de primeiro mundo. Divididas entre as linhas especial e premium, as rações oferecem alto valor nutricional para diferentes espécies. Além da melhor nutrição, diferenciais tornarão o aquarismo cada vez mais interessante e prático: grânulos que afundam a diferentes velocidades, eficiência na alimentação de todos os peixes e o exclusivo sistema click. Com ele, você disponibiliza a quantidade exata de alimento a ser oferecida aos peixes. JBL. Alemã por natureza. Editorial Há dois anos lançamos a primeira edição desta revista que sonha ir muito mais longe, tanto na longevidade quanto na abrangência. Esperamos ter cumprido nosso objetivo de mostrar as diversas faces do aquarismo como um hobby fascinante que passa pelos caminhos da física, química e biologia, entre outras áreas do conhecimento humano e, principalmente, despertar o espírito ecológico. E é por não ser o aquarismo apenas uma diversão para crianças que continuaremos mantendo este espaço para que os amigos possam divulgar seus conhecimentos e experiências, que acabam incentivando e formando novos adeptos, além de oferecer a todos uma leitura prazerosa. E é seguindo essa linha que trazemos nesta edição fotos e informações da Bacia do Rio Verde, uma forma de chegar mais perto da natureza, graças ao Ricardo Britzke. Mostramos, também, uma forma natural de combater as algas, segundo artigo de Edson Rechi sobre Revista Aqualon os mais conhecidos peixes comedores de algas. Já que falamos da ciência no aquarismo, veremos como uma sequência de números pode nos ajudar a montar aquários plantados mais harmônicos, como explica o artigo de Americo Guazzelli. Com certeza, aqueles que acham que vivem no limite enfrentando todos os tipos de problemas para sobreviver no dia a dia, sendo o trânsito o melhor exemplo, se identificarão com algumas espécies que conseguem sobreviver nas condições mais extremas que podem se apresentar. Confiram no artigo de Oscar Shibatta! Esperamos que todos tenham uma boa leitura em meio a estes artigos selecionados pela nossa equipe para esta edição e que venham muito mais informações pela frente. Sumário 4 - Expedição à Bacia do Rio Verde Ricardo Britzke 9 - Peixes comedores de algas Edson Rechi 14 - Galeria de Peixes Chantal Wagner Kornin & Cinthia C. Emerich 15 - Galeria de Plantas Aquáticas Rony Suzuki 18 - A Aplicação do Ponto Focal no Aquapaisagismo Americo Guazzelli 22 - Vivendo no Extremo Oscar Akio Shibatta Um abraço da Equipe Aqualon. 3 A região de Campo Novo do Parecis Expedição à bacia do Rio Verde Texto: Ricardo Britzke Depto. de Morfologia Universidade Estadual Paulista Botucatu - SP - Brasil Fotos: Ricardo Britzke e José Carlos Pansonato Alves 4 Campo Novo do Parecis localiza-se na região sudoeste de Mato Grosso, a 385 km da capital Cuiabá. Sua altitude média é de 570 metros acima do nível do mar. A cidade se encontra na Chapada dos Parecis, possuindo, como mata nativa, grande áreas de cerrado e mata fechada nos vales dos rios. Sua extensão territorial é de 10.796,10 km², sendo 2.826 km² ocupados por terras indígenas. Seu aspecto histórico tem relações diretas com a história do Marechal Cândido Rondon. Em 1907, Cândido Rondon passou pela região em busca do Rio Juruena, atingiu o Rio Verde e seguiu para o norte em busca do Salto Utiariti, fronteando o sítio onde nasceria o futuro município. O território de Campo Novo do Parecis foi trabalhado em duas direções pelos serviços de linha telegráfica: uma para oeste, rumando para Utiariti e Juruena e outra para leste, em busca de Capanema e Ponte de Pedra. Em fins de janeiro de 1914, o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt, passou defronte ao sítio de Campo Novo do Parecis, em viagem pela Amazônia, juntamente com Rondon. A ocupação efetiva da região deu-se na década de setenta, com abertura de fazendas e a instalação de famílias de migrantes vindos de estados sulistas. Bacia do Rio Juruena O Rio Juruena é um dos grandes formadores do rio Tapajós. Possui suas nascentes na Chapada dos Parecis e seus principais afluentes são os rios Sacre, Verde, Buriti, Juína, Mutum, Sucaruína, CraRevista Aqualon margem possuindo cerca de 3 metros de profundidade, praticamente em toda sua extensão, uma característica muito comum na maioria dos rios da bacia Amazônica dessa região. Nesse local, o rio possui uma cachoeira, a qual forma piscinas naturais logo abaixo, o que caracteriza o nome do local como balneário. Durante a coleta para estudos em ambos vari, Papagiao, Arinos e rio do Sangue. Um desses afluentes do Juruena visitado foi o Rio Verde, um rio de águas muito claras e rápidas, sendo possível enxergar profundidades de até 3 metros nitidamente. Foram amostradas duas regiões desse rio, uma na região da BR-364 e outra na região do balneário Rio Verde. Na região da BR-364, a área amostrada possui profundidades bem variadas entre 90 cm a 3 m. Apresenta águas transparentes e com correnteza forte, principalmente nas regiões mais profundas. Em algumas áreas mais rasas do rio, foi possível observar grandes tapetes de Eleocharis sp. e Echinodorus sp., o que concedia refúgios para diversas espécies de peixes menores. Próximos a estes refúgios, sempre se encontravam peixes carnívoros, como pequenos exemplares de Trairão (Hoplias aymara) e o Jejuno (Hoplerythrinus unitaeniatus). Na região do balneário Rio Verde, cerca de 30 km a oeste da BR-364, encontramos um rio bem mais profundo e escavado em seu leito, com sua Revista Aqualon Hoplias aymara Hoplerythrinus unitaeniatus 5 os pontos foram possíveis encontrar as seguintes espécies: Characiformes: Hyphessobrycon melanostichos, Hyphessobrycon vilmae, Hyphessobrycon hexastichos, Hyphessobrycon notidanos, Hemigrammus skolioplatus, Jupiaba poranga, Jupiaba yarina, Moenkhausia cosmops, Moenkhausia nigromarginata., Astyanax utiariti , Bryconops sp., Leporinus octofasciatus, Hoplias aymara, Hoplerythrinus unitaeniatus, Siluriformes: Rhamdia sp., Eigenmannia aff. limbata, Hisonotus chromodontus, Hisonotus luteofrenatus, Ancistrus parecis, Ancistrus tombador, Perciformes: Crenicichla sp., Aequidens aff. epae, Aequidens sp., Cyprinodontiformes: Rivulus modestus Além da ictiofauna, nas margens do rio, sempre nas centrais elétricas), as quais são consideradas à espreita estava o Martim-pescador esperando o todas usinas hidrelétricas de pequeno porte, cuja momento certo para capturar sua principal presa capacidade instalada seja superior a 1 MW e innos rios, os peixes desatentos. A Arara-canindé é outra ave muito comum de se encontrar, além de Characiformes: tucanos, gaviões e outros. Esta região tão bela e de riqueza inigualável possui diversos problemas causados pelo homem, que vem aumentando cada vez mais. Um dos principais é a transformação da região de cerrado em monocultura de soja, seguida de pastagens para o gado. Quanto à água, além da poluição por esgoto doméstico e insumos agrícolas, o problema mais atual enfrentado no momento são as PCH (pequeHyphessobrycon melanostichos Hyphessobrycon vilmae 6 Jupiaba yarina Revista Aqualon Siluriformes: Moenkhausia cosmops Rhamdia sp. Arara-canindé Eigenmannia aff. limbata Moenkhausia sp. Perciformes: Aequidens sp. Revista Aqualon ferior a 30MW, possuindo um reservatório de no máximo 3 km². No curso do Rio Juruena, estão previstas 77 PCHs para serem construídas, além do projeto de construção de uma hidrovia para escoar a soja. Além da destruição que tais PCHs podem causar ao meio ambiente, elas também mudarão o modo de vida das etnias indígenas da região, pois algumas dessas dependem exclusivamente da pesca, além da importância ritualística que o rio representa para essas etnias. Apesar de toda a destruição que o homem já causou ou ainda pretende, a natureza tenta contornar a situação, sempre nos mostrando toda sua riqueza para que possamos nos conscientizar e manter preservados estes locais, pois um dia tudo isso poderá desaparecer e nesse dia será tarde demais para voltar atrás. Borboletas sugando sais minerais posa Mari su s nerai is mi o sa gand 7 4 Revista Aqualon Otto (Parotocinclus maculicauda) foto: Ricardo Britzke Peixes Comedores de Algas Autor: Edson Rechi Compreende-se por algas, vários seres vivos aquáticos e autotróficos, que produzem energia necessária ao seu metabolismo através da fotossíntese, assim como as plantas. Grande parte das algas são unicelulares, embora algumas possuam tecidos diferenciados e sejam mais complexas. Em aquário, muitas vezes o surgimento de algas é inevitável, seja por alguma desestabiliRevista Aqualon dade temporária nos parâmetros da água ou por apresentar condições para seu desenvolvimento através do excesso de nutrientes disponíveis ou luminosidade excedente, além da ausência de competidores naturais como as macrófitas aquáticas. Embora pouco atrativo para a estética do aquário, é absolutamente comum o surgimento desta forma primitiva de vida vegetal, principal- mente em aquários recém montados, desestabilizados ou que apresentem água de má qualidade. Alguns tipos de algas são bem fáceis de controlar através da remoção manual durante a rotina de manutenção ou através de peixes comedores de algas, foco principal deste artigo. Aplicam-se a peixes comedores de algas verdadeiros milagres na eliminação e manutenção em aquários afetados por algas. Esta aplicação de certa forma é equivocada, uma vez que certamente ajudarão no controle de algas, alimentando-se desta, mas não fazendo milagres. Algumas espécies ajudam eficazmente e outras nem tanto. Deve-se salientar que a alimentação destas espécies de peixes primariamente é herbívora (daí a expressão “comedores de algas”), mas requer secundariamente alimentos complementares de origem animal. Por este motivo é bastante comum após sua introdução no aquário, perderem o interesse por algas e optarem por consumir apenas rações, deixando em segundo plano a função à qual foram destinados. Quando em seu ambiente natural, há uma diversa gama de alimentos disponíveis para seu consumo e, embora sua principal função no aquário seja a eliminação de algas, devemos igualmente fornecer uma gama alimentar excelente através de alimentos alternativos que complementem sua dieta, como verduras, legumes e rações (pastilhas) próprias e não somente deixálos a “base de algas”. Por vezes o aquarista poderá romper temporariamente a alimentação alternativa para “forçar” o peixe a procurar por algas, mas sempre 9 observando e se precavendo de que realmente está se alimentando desta, uma vez que poderá desprezá-la e ficar severamente desnutrido, podendo levá-lo à falência por inanição. Partindo deste princípio, peixes comedores de algas podem ser ótimos aliados na erradicação ou controle de determinadas algas. Abaixo estão indicadas algumas espécies encontradas com regularidade nas lojas de aquarismo. Por se tratar de peixes tropicais, a temperatura ideal para todas espécies poderá variar de 24 ºC a 28 ºC. Cascudo (Baryancistrus sp. L047) foto: Gustavo Grandjean Cascudo Nome Científico: Ancistrus sp. / Hypostomus sp. Família: Loricariidae Origem: América do Sul pH: 6.0 a 7.0 (pode variar de acordo com a espécie) Tamanho Adulto: Variável de acordo com a espécie Definição: Em geral come algas marrons e verdes; dependendo da espécie, poderá crescer bastante e desenraizar plantas. CAC (Gyrinocheilos aymonieri) foto: Helena Villar Comedor de algas chinês (CAE) Cascudo (Peckoltia sp. L134) foto: Ricardo Britzke Nome Científico: Gyrinocheilus aymonieri Família: Gyrinocheilidae Origem: Sudeste Asiático pH: 6.6 a 7.4 Tamanho Adulto: 25 cm Definição: Ótimo comedor de algas em geral, podendo ser menos inclinado a comer algas depois de adulto. Pode-se tornar agressivo quando atinge a maturidade sexual e costuma não tolerar a presença de outro CAE no mesmo espaço. Peixe muito ativo. Comedor de algas siamês (SAE) Cascudo (Ancistrus sp.) foto: Ricardo Britzke 10 Cascudo (Liposarcus pardalis) foto: Caio Sampaio Nome Científico: Crossocheilus siamensis Família: Cyprinidae Origem: Sudeste Asiático pH: 6.6 a 7.4 Tamanho Adulto: 15 cm Definição: Considerado um dos melhores comedores de algas, entre elas as temíveis filamentosas; confundido freqüentemente com o Flying Fox (Epalzeorhynchos kalopterus). Revista Aqualon CAS (Crossocheilus siamensis) foto: Ricardo Britzke Labeo bicolor Nome Científico: Epalzeorhynchus bicolor Família: Cyprinidae Origem: Tailândia pH: 6,4 a 7,2 Tamanho Adulto: 15 cm Definição: Peixe de forte personalidade, pode ser bastante territorialista com outros peixes e não tolerar outro exemplar no mesmo tanque; é um regular comedor de algas que normalmente ficam espalhadas pelas plantas, troncos e vidros. Flying Fox / Raposa Voadora Labeo Bicolor (Epalzeorhynchus bicolor) foto: Rony Suzuki Nome Científico: Epalzeorhynchus kallopterus Família: Cyprinidae Origem: Sudeste Asiático pH: 6.6 a 7.2 Tamanho Adulto: 13 cm Definição: Bom comedor de algas em geral, é um peixe bastante ativo. Ao contrário dos CAE e SAE, costuma ser mais tolerante com a presença de outros exemplares da mesma espécie, podendo ser mantidos em pequeno cardume. Otto (Parotocinclus maculicauda) foto: Ricardo Britzke Molinésia (Poecilia latipinna) foto: Rony Suzuki Limpa-vidro / Otto Flying Fox (Epalzeorhynchus kallopterus) foto: Rony Suzuki Revista Aqualon Nome Científico: Otocinclus sp. Família: Loricariidae Origem: Sudeste do Brasil pH: 6.0 – 7.0 Tamanho Adulto: 4 cm Definição: Regular comedor de algas, principalmente marrons e verdes. São peixes ideais para diversos tipos de tanques, principalmente plantados, devido ao seu tamanho reduzido. Sua adaptação inicial no aquário poderá ser difícil, opte por um Borboleta mexicana (Ameca splendens) foto: Rony Suzuki 11 pequeno cardume e insira-os de uma só vez, usando a base de 1 exemplar para cada 20L. Muitos acham que são peixes frágeis, isto se deve a abusos na captura, entre outros fatores, uma dica é esperar pelos últimos exemplares que ficam expostos ao menos duas semanas nas baterias das lojas, estes certamente serão mais resistentes e terão melhor adaptação em seu aquário. Tamanho Adulto: 5 cm Definição: Apesar de poucos o definir como peixe algueiro, dá uma bela ajuda no combate de algas em geral. Pode, eventualmente, beliscar algumas plantas. Apesar de se adaptar facilmente em pH ácido, não irá mostrar todas suas cores neste pH. Molinésia Nome Científico: Poecilia latipinna Família: Poeciliidae Origem: América do Norte e México pH: 7,2 a 7,8 Tamanho Adulto: 10 cm Definição: É boa comedora de algas devido sua dieta essencialmente herbívora, apesar de nem sempre ser mencionada. Comumente fica “beliscando” as plantas à procura de algas, mas sem danificá-las. Jordanela (Jordanella floridae) foto: Rony Suzuki Existem outras inúmeras espécies de peixes ornamentais que ajudam no controle e erradicaBorboleta mexicana ção de algas, mas, em sua maior parte, são apeNome Científico: Ameca splendens nas coadjuvantes no combate a algas, portanto, Família: Goodeidae não vá adquirir determinado peixe algívoro Origem: México pensando que será a solução definitiva para este pH: 6.5 a 7.5 problema. Tamanho Adulto: 8 cm O melhor remédio para não ter seu tanque Definição: Regular comedor de algas em geral. infestado por algas é se precaver no sentido de Peixe muito robusto, se adapta facilmente a diverevitar excessos na alimentação, quantidade de sas variações de água. peixes, manipulação de oligoelementos para plantas e manter manutenções regulares através Jordanela de trocas parciais de água e limpeza de filtros. Nome Científico: Jordanella floridae Deste modo, aliado a peixes comedores de alFamília: Cyprinodontidae gas, dificilmente as algas irão prosperar em seu Origem: América Central aquário. pH: 6.8 a 7.6 12 Revista Aqualon ® Aquários e Lagos Peixes foto: Cinthia Emerich fotos: Chantal Wagner Kornin Por: Chantal Wagner Kornin & Cinthia C. Emerich Carnegiella marthae Pseudomugil signifer Myers, 1927 Kner, 1966 Nome Popular: “Pacific Blue Eye” Família: Pseudomugilidae Origem: Ásia e Oceania / Norte da Austrália, Sul de Nova Guiné e Ilhas Aru. Tamanho: Aproximadamente 7 cm. Comportamento: É bastante ativo, nadando na parte superior e média do aquário e gosta de se abrigar entre plantas flutuantes. O ideal é manter em uma proporção de mais fêmeas para machos, pois os mesmos assediam as fêmeas e gostam de disputar com outros machos, e até outros peixes do aquário, abrindo suas belas nadadeiras. Agressividade: Peixe pacífico. Manutenção: Tamanho mínimo do aquário: 40 litros. O aquário deve ter água cristalina e muita vegetação, em especial plantas altas e flutuantes. Apreciam leve salinidade, mas jamais adicionar sal ao aquário se estiver mantendo também peixes de couro ou outros sensíveis ao sal. Temperatura: 23 a 28 °C. pH: 6,5 a 7,5 Alimentação: Onívoro / Predador de plâncton / Aceita bem qualquer tipo de ração. Alimentos vivos devem ser oferecidos sempre para manter a saúde e incentivar a reprodução. 14 Dimorfismo Sexual: Machos são maiores e tem as nadadeiras dorsais e anais extendidas e coloração mais intensa que as fêmeas. Fêmeas maduras tem o ventre mais volumoso. Reprodução: Em grupo com predominância de fêmeas. Os machos podem se tornar agressivos, por causa disso é bom adicionar abrigos e monitorar a saúde das fêmeas. Um pequeno aquário com um filtro de espuma pode ser utilizado. Deve-se manter o pH 7.5 e a dureza elevada. O local de desova pode ser um maciço de plantas como o musgo de java ou uma “bruxinha” (mop) de lã usada na reprodução de killis e devem ficar próximos ao fundo do aquário. Para evitar a predação dos ovos, pode-se separar os adultos ou o substrato de postura. A fêmea desova cerca de 10 ovos a cada 24 horas, não sendo uma espécie muito prolífica. Os ovos demoram cerca de 16 dias para eclodirem, na temperatura mais alta. Os alevinos nascem relativamente grandes e devem ser alimentados com náuplios de artêmia. Nome Popular: Borboleta de Asas Negras Família: Gasteropelecidae Origem: América do Sul / Bacias do Rio Negro, Rio Orinoco, Rio Madeira e Amazônia Peruana. Tamanho: Aproximadamente 3 a 4 cm. Comportamento: Cardumeiro, pacífico, deve ser mantido com companheiros calmos e de tamanhos compatíveis, gosta de nadar entre raízes de plantas flutuantes e é ótimo saltador. Agressividade: Leve entre os machos da mesma espécie e semelhantes, pacíficos com os demais. Manutenção: Aquário com abundância de plantas flutuantes e bem tampado para evitar saltos fatais. Temperatura: 24 a 30 ºC pH: 5,5 a 6,5 Alimentação: Onívoro, aceita de tudo, oferecer alimentos vivos ao menos uma vez por semana. Dimorfismo sexual: Difícil diferenciar machos e fêmeas fora da época de reprodução, durante esta época pode-se observar diminutos ovos brancos dentro do corpo da fêmea, que tende a ser ligeiramente maior que o macho. Reprodução: Ovíparo, o aquário deve possuir uma boa quantidade de plantas flutuantes, pois é nas raízes das mesmas que a fêmea irá liberar os ovos, eles eclodem em cerca de 30 a 36 horas quando mantidos em temperatura mais elevada. Após cerca de 5 dias da eclosão os alevinos já consumiram o conteúdo do saco vitelino e começam a nadar livremente, não ocorre o cuidado parental nesta espécie e os pais devem ser retirados do aquário de reprodução assim que a desova for concluída. A partir do momento em que os filhotes apresentarem nado livre pode-se dar ração específica para alevinos de ovíparos e alimentos vivos, conforme forem crescendo, alimentos maiores podem ser oferecidos. Os filhotes começam a apresentar o formato dos adultos a partir dos 20 dias de idade. Outras informações: Esta espécie pode ser encontrada nas lojas sendo mantida junto com exemplares de Carnegiella strigata. Revista Aqualon Plantas aquáticas Por: Rony Suzuki flor Proserpinaca palustris Linnaeus Família: Haloragaceae Origem: América do Norte Hábito: Aquática emergente Tamanho: 10 a 40 cm de altura Temperatura: 10 a 28 °C Iluminação: Moderada a intensa. Folhas emersas pH: 5 a 8 Manutenção: Difícil Crescimento: Lento Propagação: Ela se reproduz através de corte e replantio do caule. Plantio: Deve ser plantada na área intermediária e posterior do aquário. Melhor se plantadas em ramos individuais com espaçamento de uns 2 cm. Planta de rara beleza, suas folhas avermelhadas e finamente recortadas dão um toque todo especial para essa planta principalmente contrastando com plantas de coloração esverdeada. Ela deve ser plantada em grupos na parte intermediária a posterior do aquário. • Aquários de água doce e salgada • Peixes e produtos nacionais e importados • Equipamentos e Projetos personalizados Rua Heitor Dias, 113, Boca do Rio, Salvador-BA Tel.: 71 3231-2631 / 8819-1226 | [email protected] >> A Aplicação do Ponto Focal no Aquapaisagismo Por Americo Guazzelli >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> As pessoas envolvidas com o aquarismo, mais precisamente o aquapaisagismo, já estão familiarizadas com o tema deste artigo. Seja Ponto de Ouro, Proporção Áurea ou até mesmo Regra do “Um Terço”, a técnica vem sendo aplicada na arquitetura e seguimentos artísticos, como a pintura e a música. O aquapaisagismo, arte de criar jardins submersos, também se serve desta técnica para a criação de layouts com o objetivo de que estes sejam harmônicos e agradáveis aos nossos olhos. Ainda que alguns aquapaisagistas possuam o dom desta arte e consigam atingir o objetivo naturalmente, a técnica da proporção áurea é grande aliada e não há como ser dispensada pela maioria. Leonardo Pisano, 1170-1250, conhecido como Fibonacci, foi o matemático italiano criador de uma seqüência de números que acabou sendo a base para se chegar a uma conta muito simples, que pode auxiliar os projetos neste hobby. Resumindo, basta que se divida o comprimento do display pelo valor 1,618, já arredondado a apenas 3 casas decimais, que se encontrará um dos pontos focais, 18 Revista Aqualon onde devem ser concentrados os elementos planta que se destaque pela forma ou cor e até mesmo a parte mais leve e baixa de de destaque da montagem. um layout em forma de U. Também é a partir dos cálculos seguintes que serão descobertos os outros locais onde serão dispostos os demais elementos que terão a função de coadjuvantes na montagem. Pode-se optar pelo ponto existente no lado esquerdo ou no direito, sendo que o primeiro Mas, como se chegou a essa operação? é o mais agradável para o cérebro humano. Com a seqüência de números de Fibonacci! Neste local ficarão os destaques, seja a rocha principal de um Iwagumi, o centro ou a par- Trata-se da soma dos dois primeiros númete mais interessante de um tronco, alguma ros para a formação do próximo, gerando uma seqüência. Iniciando com o número 1, não há anterior, portanto, 1 + 0 = 1. Teremos 1,1, onde o próximo será o 2. Dessa forma, 1, 1, 2, 3, 5 e 8 seriam parte dessa seqüência infinita. Ao se utilizar a operação e encontrar o ponto focal com mais algumas divisões dentro das áreas menores que vão se formando, pode-se visualizar os números da seqüência em questão dispostos, como no desenho abaixo. 2 3 1 1 8 5 Na montagem acima, de Rony Suzuki, podemos comprovar a beleza da arte através da sequência de Fibonacci. Revista Aqualon >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> 19 >> A espiral que se forma nas folhas de uma bromélia também confirma essa seqüência de números, passando por cada divisão que estes proporcionam, sendo possível aproveitá-la, também, na disposição de elementos, desníveis do substrato ou formato das moitas das plantas utilizadas. Tudo isso pode ser confirmado na natureza, como no corpo humano ou em conchas de animais. São inúmeros exemplos que podem ser encontrados e, à medida que mais se aproximam da seqüência, mais belos parecem aos nossos olhos. Algumas imagens para exemplificar a aplicação da proporção áurea no aquapaisagismo... 2. Pode-se optar por colocar as pedras principais ao lado do ponto focal para que nele seja colocada alguma planta de destaque. 4. Pedra lateral esquerda posicionada em função da principal. 1. Aquário com os principais pontos focais demarcados. 3. Início da composição das pedras com a pedra principal no ponto focal. 5. A terceira pedra posicionada no segundo ponto focal da direita para criar um vazio entre ela e a principal favorecendo a inserção de plantas no local para destaque. 7. Pedra adicionada no ponto focal direito em função da principal e rebaixada para deixar o espaço reservado às plantas. 6. Pedra de suporte adicionada para auxiliar uma das pedras laterais. 9. Duas pequenas pedras adicionadas no lado esquerdo ao fundo para darem suporte às demais. 5 8 1 1 2 20 3 8. Sexta pedra adicionada em função da pedra lateral esquerda. Revista Aqualon J������ S�������� J������ S�������� A������������� • P������� ���� �������� A��������� • M��������� M������� A������������� • P�������•���� �������� A��������� • M��������� • M������� ����������������������.��� 43 8423-0190 43 8423-0190 ����������������������.��� Visite: http://jardinssubmersos.wordpress.com Vivendo no Extremo Peixes de habitats ou hábitos extremos: novos paradigmas para a aquariofilia Oscar Akio Shibatta Universidade Estadual de Londrina Aprendemos já no ensino fundamental, numa das primeiras aulas de ciências, que a água é incolor, inodora e insípida. Essas características são as que gostaríamos em uma água de aquário doméstico, para que não nos incomodasse com cheiros desagradáveis e turbidez que dificultasse apreciar os peixes e as plantas. O interessante é que nem todo peixe se importa com uma água com essas características, pois a molinésia Poecilia mexicana (conhecida anteriormente como Poecilia sphenops), consegue viver em água com alta concentração de enxofre, na caverna chamada Cueva de Villa Luz, em Tabasco. O ar da caverna é letal ao homem porque contém altas concentrações de gás sulfídrico (H2S) e gás carbônico (CO2), e baixa concentração de oxigênio (O2). O H2S sai das fendas da terra e é metabolizado pelas bactérias que o transforma em ácido sulfúrico (H2SO4). É interessante que esse ácido reage com o calcário da caverna, de tal modo que o pH da água permanece próximo ao neutro. Apesar do enxofre em suspensão, o que dá à água uma cor esbranquiçada, além de odor de ovo podre, os peixes vivem normalmente. Era de se es22 Revista Aqualon perar que nenhum peixe pudesse sobreviver nesse ambiente, mas mesmo assim a população da molinésia é grande, servindo como alimento às pessoas. Ao contrário da maioria dos ecossistemas terrestres que dependem da luz solar para a produção de alimentos pela fotossíntese das plantas, nessa caverna os peixes se alimentam das bactérias que utilizam o enxofre e que formam filamentos sobre o substrato. Mesmo vivendo em cavernas escuras, acredita-se que, devido à grande quantidade desse recurso alimentar, a população da molinésia não sofreu a pressão ambiental necessária à seleção de características tipicamente troglóbias (= de quem vive em cavernas), tais como a perda da visão e da pigmentação da pele. Estas características são apresentadas por outro peixe mexicano hipógeo (= que vive sob a superfície da terra), o lambari-cego ou tetra-cego-das-cavernas Astyanax jordani (fig. 1). Quando nascem, as larvas não têm olhos, mas em poucos dias eles se desenvolvem e se assemelham a um pequeno ponto escuro; esses olhos não crescem na mesma proporção da cabeça e parecem se retrair na cavidade ocular à medida que o peixe se desenvolve; gradativamente os olhos são cobertos pelo tegumento até que desaparecem completamente. No primeiro número da Aqualon, pode-se conferir como se dá a redução dos olhos ao longo do desenvolvimento ontogenético, numa série de belíssimas fotos. Observar esse peixe em aquário é sempre surpreendente, pois é impressionante como eles se deslocam naturalmente pelo ambiente, sem se chocar com obstáculos. Para isso, utilizam outros sentidos, tais como a audição, a linha lateral, a olfação e a gustação. Ao contrário da molinésia P. mexicana, esse lambari-cego vive em caverna onde as águas são muito transparentes, com qualidades químicas mais próximas da sua pureza. Espécies hipógeas geralmente ocorrem em cavernas de regiões cársticas (= calcárias), mas no Brasil existem algumas que vivem em outro tipo de ambiente e são ainda mais radicais. Provavelmente, poucos sabem da existência de peixes que Revista Aqualon vivem abaixo de nossos pés, no lençol freático. Nesses locais pode haver a formação de uma camada subterrânea de rocha porosa chamada canga que permite o seu deslocamento. A primeira espécie descrita foi Phreatobius cisternarum, coletada em poços, também conhecidos como cisternas, na Ilha de Marajó. É um bagre pequeno com cerca de 4 cm de comprimento, alongado, cor de rosa e com olhos muito reduzidos. Até recentemente, era a única espécie conhecida, mas em 2007 descrevi, junto com colegas do Museu de Zoologia da USP, uma segunda espécie, Phreatobius dracunculus (fig. 2), também coletada em poço, porém no estado de Rondônia. As características dessa espécie são muito similares às de P. cisternarum, mas diferem pelas proporções corporais, número de raios das nadadeiras e ausência de olhos. Essa ampliação Figura 1. Astyanax jordani, uma espécie tipicamente troglóbia, sem olhos e pigmentos na pele. Não se importa se o aquário estiver sem iluminação, mas aprecia uma água com qualidades químicas próximas da sua pureza. fotos: Rony Suzuki Figura 2. É difícil imaginar que uma espécie de peixe pudesse viver no lençol freático abaixo de nossos pés. Mas, na Amazônia ocorre, e Phreatobius dracunculus é apenas uma delas. foto: Reginaldo A. Machado da distribuição do gênero pode significar que ele esteja mais vastamente distribuído na bacia amazônica. Nada se conhece sobre a biologia dessas espécies em ambiente natural, mas em aquário foi observado que se alimentam de minhoca, artêmia adulta congelada e tubifex desidratado. A considerar o tipo de ambiente em que vivem, sem contato com o ar, devem sobreviver em baixas concentrações de oxigênio e este ainda pode ser obtido com o auxílio da respiração cutânea. A coloração rósea do tegumento provavelmente é conseqüência da irrigação sanguínea superficial, que auxilia a captura do oxigênio com maior eficiência. Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, o oxigênio utilizado na respiração dos peixes não é aquele que constitui a molécula da água (H2O), mas sim o gás O2 que está dissolvido nela. Também ocorre que, quando a temperatura se eleva, as moléculas desse gás se agitam mais, podendo se desprender da água com facilidade. Por isso, recomenda-se a utilização de um aparelho aerador, cuja turbulência contribui para o aumento da concentração de oxigênio dissolvido na água dos aquários. É interessante notar que os aeradores dos ambientes naturais são o vento e as corredeiras, mas nos trópicos a concentração de oxigênio nem sempre é alta e algumas características morfológicas, fisiológicas ou comportamentais, que possibilitaram a sobrevivência dos peixes, foram selecionadas. É compreensível que os 23 peixes de cavernas ou de lençol freático apresen- o auxílio do tegumento do lábio. Já obtassem mecanismos que possibilitassem a sobrevi- servei sardinhas-papudas Triportheus vência em ambientes pouco oxigenados. Mas, esse angulatus fazendo exatamente isso problema também é enfrentado por peixes que no Pantanal. vivem na superfície, principalmente os de regiões Mas, o pirarucu Arapaima gitropicais. Nestas, a baixa concentração de oxigênio gas, que é o maior peixe ósseo se tornou uma pressão ambiental que selecionou da América do Sul, não utiliza espécies com estratégias respiratórias alternativas esse mecanismo. Mesmo tendo à respiração branquial. brânquias, ele precisa abocaUm dos mais famosos peixes ornamentais a de- nhar o ar atmosférico para reasenvolver algo nesse sentido é o peixe-de-briga-sia- lizar as trocas gasosas na bexiga mês Betta splendens (fig. 3) Ele e os seus parentes natatória extremamente vascuTrichogaster spp., Colisa spp. e Macropodus spp. larizada. Por isso, morre asfixiado são originários de rios e lagos de águas quentes se mantido em um tanque tampado e pouco oxigenadas da Malásia e países vizinhos. e sem a possibilidade de capturar o ar. Apresentam um aparelho respiratório acessório co- Como necessita ir à superfície com freqünhecido como labirinto. Esse órgão está localizado ência, no ambiente natural se torna uma presa fálogo acima dos arcos branquiais e é formado por cil ao homem, que o captura com o auxílio de um dobras de tecido altamente vascularizado com ca- arpão. É um peixe que possui cuidado parental e é pilares. Não é à toa que esses peixes sobrevivem muito interessante observar o cardume de filhotes em águas estagnadas de subindo simultaneminúsculos aquários. amente à superfície Peixes que não pospara respirar. suem o labirinto, como Outra espécie que os tetras, podem se obtém o oxigênio do beneficiar do pequeno ar é a pirambóia Letamanho, que facilita pidosiren paradoxa as trocas gasosas pelo (fig. 4), mas as trocas tegumento do corpo gasosas ocorrem num todo, além das brânpulmão. Quando em quias. Mas, em Charaambiente aquático, ciformes maiores, como ela vai até a superfío tambaqui Colossoma cie da água e inspira macropomum, há uma pelas narinas que se hipertrofia do lábio infelocalizam na abertura rior que também permida boca. Ainda, devido Figura 3. Devido às suas belíssimas cores e exuberância das te realizar essas trocas. a essa capacidade resnadadeiras, o Betta splendens tornou-se um dos peixes Eles abocanham a água piratória, a pirambóia mais populares na aquariofilia. Um órgão respiratório acesmais oxigenada próximo consegue sobreviver à superfície, respiram enterrada na lama, sório, chamado labirinto, o possibilita a sobreviver em pequepelas brânquias, mas obmesmo que o nível da nos aquários de águas estagnadas. foto: Americo Guazzelli tém mais oxigênio com água se reduza com24 pletamente. Para isso, constrói um casulo com uma estreita passagem de ar, onde se mantém até que o local inunde novamente. É uma espécie muito resistente às variações na qualidade da água e, provavelmente devido à essa capacidade, ela sobreviveu até hoje. Outros peixes que constroem um abrigo e sobrevivem Figura 4. Talvez, a respiração pulmonar e a grande resistência da pirambóia Lepidosiren paradoxa às variações dos parâmetros físicos e químicos da água tenham possibilitado a sua sobrevivência ao longo de milhões de anos, enquanto seus parentes foram extintos. fotos: Rony Suzuki fora da água são os saltadores-do-mangue Periophthalmus spp. (fig. 5), da Oceania e Ásia. Quando a maré abaixa, eles saem das tocas e são muito ativos fora da água, coletando seu alimento e até defendendo o seu território de outros saltadores. Isso é possível porque a cavidade branquial tem uma reserva de água que mantém os filamentos branquiais livres e capazes de realizar as trocas gasosas normalmente. Em outros peixes que não possuem esse reservatório branquial, quando fora da água, não conseguem realizar as trocas gasosas devido Revista Aqualon ao colabamento dos filamentos branquiais e morrem sufocados. Devido à capacidade de sobreviver fora da água, algumas pessoas são impulsionadas a supor que os saltadores são um tipo de elo entre os peixes e os anfíbios. Mas, numa análise mais cuidadosa, é possível demonstrar que esse pensamento está incorreto. Os saltadores são Gobiidae, uma família da ordem Perciformes, que por sua vez pertencem ao grupo dos peixes de nadadeiras raiadas, ou Actinopterygii. Já os anfíbios são Tetrapoda, e tem como parentes mais próximos os Sarcopterygii pulmonados da ordem Dipnoi (o grupo da pirambóia). Ou seja, o ancestral comum mais recente é compartilhado entre os Tetrapoda e os Dipnoi, e não entre os Tetrapoda e os Perciformes. Assim, os saltadores possuem um parentesco muito distante dos anfíbios para que possam ser o elo entre os peixes e os batráquios. Os Rivulidae anuais, como Simpsonichthys spp. (fig. 6), Figura 5. Os saltadores-do-mangue Periophthalmus spp. possuem atividade fora da água, mas não devem ser considerados o elo entre os peixes e os anfíbios. fotos: Felipe Aoki Revista Aqualon vivem em ambientes estacionais que secam em determinadas épocas do ano, mas não conseguem sobreviver sem água, ao passo que seus ovos sim, pois são enterrados no substrato e permanecem em estado de latência até a próxima estação chuvosa. As larvas eclodem e dão sequência a uma nova geração. São espécies de pequeno porte, cujos machos são muito coloridos, equiparando-se aos mais belos peixes marinhos. Esse colorido, aliado a um comportamento elaborado de corte, é importante para atração das fêmeas ao acasalamento. Os machos podem ser agressivos e territoriais, mas as fêmeas são as que escolhem com quem se acasalar. Em estudo sobre a dieta de Simpsonichthys boitonei em poça natural foi observado que eles comem muitas espécies de artrópodes, com predominância de cladóceros. Devido ao fato da fêmea não ser territorial, percorrendo mais amplamente o ambiente, a quantidade ingerida desse item alimentar foi maior. Falando em alimentação, as diversas espécies de peixes podem ser enquadradas nos grupos tróficos clássicos, tais como onívoros, carnívoros, herbívoros e detritívoros. Mas existem também as espécies parasitas, que são verdadeiros vampiros que se alimentam do sangue retirado dos filamentos branquiais de outros peixes. Na bacia do rio Paraná ocorre uma espécie chamada Paravandelia oxyptera e na bacia amazônica a Vandelia cirrhosa. Esta é conhecida como candiru e é muito temida e famosa entre os índios e ribeirinhos por penetrar na uretra de banhistas que urinam dentro da água. A explicação corrente é que o peixe é conduzido pela uréia, um composto nitrogenado que deve ter o mesmo poder de atração da amônia liberada pelas brânquias. A penetração é possível porque são peixes alongados, com o diâmetro de Figura 6. Simpsonichthys picturatus vivem em brejos estacionais, mas os adultos não sobrevivem quando a água acaba. Para driblar a extinção da espécie, os pais desovam no substrato e os ovos permanecem em estado de latência até que as águas retornem. foto: Rony Suzuki um cateter e muito lisos. Como possuem pequenos espinhos na região opercular, são difíceis de extrair apenas puxando-os com as mãos, sendo necessária a intervenção cirúrgica. Exceto o Betta e seus parentes, os peixes apresentados nessa matéria não são comuns nos aquários domésticos, provavelmente pela raridade ou por fugirem dos requerimentos usualmente recomendados aos aquários domésticos. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, pela necessidade de se adaptar a ambientes rigorosos, muitos deles suportam uma grande variação nos parâmetros físicos e químicos da água, tornando-se fáceis de manter em cativeiro. Isso abre uma grande possibilidade aos aquaristas mais avançados e curiosos, que podem fazer observações inéditas do comportamento e da reprodução em cativeiro dessas espécies. O prazer está em desvendar um mundo ainda desconhecido e trazer novos paradigmas à aquariofilia. 25 • Clínica Veterinária • Aquarismo: Doce e Marinho • Banho e Tosa (Climatizado) • Pet Shop Rua Miguel Burnier, 94, Barra, Salvador - Ba, Cep: 40140-190 Tel: 71. 3015-4013 | Email: [email protected] A Revista Aqualon poderá ser baixada gratuitamente em arquivo PDF pela internet através do site www.aqualon.com.br ou através dos nossos parceiros que nos ajudam a divulgar o aquarismo. www.aquafloripa.com www.aquahobby.com www.aquamazon.com.br www.aquaonline.com.br www.forumaquario.com.br www.hobbyland.bio.br/forum www.natureaqua.com.br www.sekaiscaping.com www.vitoriareef.com.br/forum/index.php www.xylema.net Caso queira receber os exemplares impressos na comodidade de sua casa, basta se tornar um colaborador desta revista. O valor anual será de R$ 15,00, o que dará direito a 4 edições da revista. Caso haja interesse, entre em contato através do email: [email protected] EXPEDIENTE: Seja um aquarista consciente: * Não solte peixes, plantas ou qualquer outro animal aquático nos rios ou lagos. A soltura desses animais pode causar impactos ambientais muito sérios, prejudicando fauna e flora nativa! * Não coloque juntas espécies de peixes de pH diferentes. Certamente uma delas será prejudicada, podendo adquirir doenças e contaminar todo o restante. * Não superalimente os seus peixes, pois o excesso * Não inicie o hobby se não estiver disposto a dispensar os cuidados básicos que os peixes exigem. de alimento pode poluir a água do seu aquário. Com pouco tempo de dedicação obterá sucesso e * Não compre rações vendidas em saquinhos plás- isto se transformará em lazer. ticos transparentes. A luz retira todas as vitaminas e proteínas da ração. Estas também não possuem * Seja observador. É preciso conhecer o comportaprazo de validade. Procure comprar rações de boa mento dos habitantes de seu aquário para se anteciqualidade que você notará a diferença na saúde de par aos problemas que possam surgir. seus animais. * Lembre-se: Peixes são seres vivos e não merca* Não Superpovoe o aquário, pois o excesso de dorias que podem ser descartadas a qualquer mopeixes debilitará todo o sistema de filtragem do mento. Preserve a vida! aquário, podendo levar seus peixes à morte. * Finalizando, PESQUISE! Atualmente podemos * Não compre peixes que estejam em aquários usar a internet como uma forte aliada para alcançar que tenham peixes doentes ou mortos. Eles podem um aquarismo saudável e consciente. Temos vários transmitir doenças para todos os peixes que você já sites/fóruns que pregam a prática correta do aquarismo. Citaremos apenas alguns dos mais confiápossui em seu aquário. veis, em ordem alfabética: * Não compre peixes por impulso. Pesquise antes a respeito da espécie. Muitas podem ser incompa- www.aquaflux.com.br tíveis com o seu aquário, seja por agressividade, www.aquahobby.com www.aquaonline.com.br parâmetros da água ou tamanho do aquário. www.forumaquario.com.br Foto: Rony Suzuki Revista Aqualon é uma publicação da Aqualon - Aquarismo em Londrina. Com distribuição gratuita, visa divulgar o aquarismo em todos os seus segmentos, desde os aquários propriamente ditos até os aspectos ecológicos que o hobby abrange. Editor: Rony Suzuki Coordenação: Americo Guazzelli e Rony Suzuki Projeto gráfico e diagramação: Evandro Romero e Rony Suzuki Periodicidade: Trimestral Tiragem: 2000 exemplares Revisão: Americo Guazzelli Fotografia: Caio Sampaio, Chantal Wagner Kornin, Cinthia C. Emerich, Felipe Aoki, Gustavo Grandjean, Helena Villar, José Carlos Pansonato Alves, Reginaldo A. Machado, Rony Suzuki Colaboraram nessa edição: Americo Guazzelli, Chantal Wagner Kornin, Cinthia C. Emerich, Edson Rechi, Oscar Akio Shibatta, Ricardo Britzke, Rony Suzuki Para anunciar na revista: [email protected] (43) 3026 3273 - Rony Suzuki Colaborações e sugestões: Somente através do e-mail: [email protected] As matérias aqui publicadas são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a opinião da Revista Aqualon. Não publicamos artigos pagos, apenas os cedidos gratuitamente para desenvolver o aquarismo. Permite-se a reprodução parcial ou total dos artigos e outros materiais divulgados na revista desde que seja solicitada sua utilização e mencionada a fonte.