os problemas ambientais e seus desafios à humanidade
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os problemas ambientais e seus desafios à humanidade
Organização Maria Luisa Marigo Leonora Arantes 2013 Volume V Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou em partes sem autorização prévia. Índice Apresentação ........................................................................................... 04 Dedicatória ............................................................................................... 05 Os Problemas Ambientais e Seus Desafios à Humanidade ................. 06 Professor Diogo Lamonica Os Desafios da Alimentação: da Infância a Adolescência ................... 17 Professora Francielle P.da Silva Química e os Sentido .............................................................................. 28 Professor Rodolfo Funfas Desenvolvimento Infantil e Neuropsicologia ........................................ 35 Professora Isabela Dean Scolin Basquetebol e Futebol ............................................................................ 48 Bem Estar do Idoso ................................................................................. 50 Professor José Eduardo Vicente Cinema e Mitologia: Percy Jackson e o Mar de Monstros ..........................53 Professora Juliana Murari Desenho, Arte, Criatividade e Processos de Criação ........................... 60 Professor Paulo Sergio Tio Dna e Seus Mistérios – O Retorno .......................................................... 69 Professora Taciana Lopes Coppo A Didática Musical no Ensino de Prática de Banda: Um Estudo de Caso ..................................................................................................................106 Professor Henrique Lima de Oliveira e Professor Tiago Jose Gonçalves História das Mulheres: Possíveis Abordagens .................................... 113 Professora Vanessa Caroline da Cruz Estações de Aptidão V 3 Apresentação Com seres humanos temos muito a desvendar sobre nós mesmos. Acreditamos que grandes descobertas ainda estão por chegar. Outras já aconteceram e permeiam os nosso dias auxiliando-nos na compreensão das capacidades física e mental que estão em nós. O Colégio Pontual transfere insformações e conhecimentos para quem tem “pressa” de alcançar o melhor de si. Eis, aqui, a função das Estações de Aptidão. 4 Estações de Aptidão V Aos nossos alunos que, de forma elegante e receptiva, nos permitiram transferir o que aprendemos com os nossos mestres. Professores das Estações de Aptidão Estações de Aptidão V 5 Professor Diogo Lamonica Graduado em Geografia – UEL. Pós Graduado em Análise e Educação Ambiental - UEL. Professor de Geografia e Estudos Ambientais do Colégio Pontual, no ensino fundamental e médio. OS PROBLEMAS AMBIENTAIS E SEUS DESAFIOS À HUMANIDADE 1 – PRIMEIROS MOMENTOS “O homem vive da natureza - ou seja, a natureza é seu corpo – e ele deve manter um diálogo contínuo com ela se não quiser morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está ligada à natureza significa simplesmente que a natureza está ligada a si mesma, pois o homem é parte da natureza” (Karl Marx, séc. XIX).1 “Bradamos contra certos efeitos da exploração selvagem da natureza, mas não falamos bastante da relação tecnicamente findada, as forças mundiais que insistem em manter o mesmo modelo de vida...” (Milton Santos, 1992).2 A história e evolução do homem sobre a Terra sempre permitiu ao mesmo descobrir e redescobrir a natureza. As descobertas e redescobertas, implicaram a natureza diferentes significados e importâncias, que são de fato, a noção e entendimento do homem sobre o mundo em que vive ou viveu. Atualmente, acelerada pelo processo de mecanização e tecnificação, presenciamos uma ruptura progressiva entre o homem e seu meio, o que provoca um desencantamento pelo mundo natural. Ora, se na antiguidade, entendíamos a natureza como algo mítico, a quem venerávamos e temíamos, hoje, 1 2 Karl Marx. Economic and Philosophical Manuscripts, 1844. Milton Santos. A redescoberta da natureza, 1992. 6 Estações de Aptidão V na modernidade, imprimimos sobre ela a lógica dos recursos naturais, transformando-a em mercadoria. Num mundo assim feito, diante de nós, encontramos um grande desafio, que também é uma grande empreita, o de formar novos cidadãos, que tenham as capacidades cognitivas para uma leitura do mundo de um ponto de vista ambiental, e ou natural. Em nossa leitura, a educação ambiental estimula no sujeito a percepção dos danos causados ao meio ambiente, devido às diversas ações humanas. Esse movimento conduz o sujeito a uma reflexão sobre seu modo de vida e não obstante, também desenvolve a percepção de que o homem é pertencente à natureza, e que a realidade é o resultado das interações naturais e humanas. Procurando romper com o paradigma atual, nós, do Colégio Pontual, localizado em Londrina-PR, introduzimos em nosso cotidiano escolar a preocupação com educação e conscientização ambiental em todos os níveis de ensino. Dessa forma, trabalhando no espaço “Estações de Aptidão”3, realizado nas dependências do colégio, nos foi dada a oportunidade de, entre os anos de 2011 a 2013, executar o projeto: “Os problemas ambientais e seus desafios à humanidade”. Em nosso projeto, cientes de nossa responsabilidade e missão enquanto escola e educadores, objetivamos a construção de conhecimentos que forneceram aos alunos subsídios para examinar, questionar e refletir sobre seu modo de vida. Esse movimento cognitivo conduz o sujeito à formulação de uma postura crítica, frente aos diversos problemas ambientais que encontramos em nosso mundo. Esse artigo tenta esboçar um pouco do que foi trabalhado em nosso projeto. Espaço destinado à realização de projetos pedagógicos com os alunos, ministrados pelos professores da instituição. As Estações de Aptidão ocorrem durante o horário normal de aulas, na sexta feira, da 11h00 as 12h00, a periodicidade de cada projeto é semestral. 3 Estações de Aptidão V 7 2 – PROJETO EM AÇÃO “Passou o inverno, passou o verão, veio outro inverno, e este foi cheio de longas chuvas, mas o vento não deixou de correr uma só noite”. (Jorge Amado, 1937)4 Nos três anos consecutivos em que o projeto foi ministrado, obtivemos bons resultados. Devido à periodicidade semestral, o projeto foi executado seis vezes, alcançando mais de cem alunos. Nesse ínterim, não trabalhamos com os alunos apenas temas e atividades que pudessem sensibilizá-los, mas também, enchê-los de conhecimento e senso crítico. O exame das questões ambientais não se trata apenas de evidenciar nossos laços eternos com a natureza, e nem somente debater problemas como o aquecimento global ou a escassez de água no mundo, mas também mostrar quão difusos podem ser os interesses sobre essas questões. Dado o grande desafio e a abrangência do título do projeto “Os problemas ambientais e seus desafios à humanidade”, a saída teórico metodológica para trabalhar as questões ambientais, em nosso caso, foi o bom uso da escala geográfica e a escolha dos temas apresentados. Devido à nossa experiência no trato da educação ambiental, procuramos trabalhar com nossos alunos questões que inferissem em sua vida cotidiana, nas escalas globais regionais e locais. Essa aproximação os envolveu diretamente nos assuntos estudados, aumentando o resultado do processo de aprendizado. Nos subtítulos que seguirão, estão à mostra algumas das atividades que trabalhamos com nossos alunos no decorrer do projeto. 4 Jorge Amado. Capitães da areia, 1937. 8 Estações de Aptidão V 2.1 – A EMERGÊNCIA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS O ambientalismo engajado, de cunho crítico, remonta as últimas décadas do século XX e início do século XXI. Em seus argumentos, estavam o caos e a completa deterioração da qualidade de vida que, pela primeira vez, na história, puderam ser comprovados. Apoiados nas revoluções tecnológicas e científicas, os ambientalistas puderam juntar provas suficientes de que seus argumentos eram verdadeiros. Como resultado, comprovou-se não somente o dano ambiental que nosso modo de vida estava causando, mas também o quão grandioso era esse dano. Nesse movimento nos anos 70 e 80, após a publicação de estudos e relatórios5, as questões ambientais tornaram-se pauta da política internacional, com a realização de conferências6 que, marcadamente, servem de horizonte para a promulgação de tratados internacionais sobre o meio ambiente. É sobre essa ótica que encontramos o desenvolvimento da legislação ambiental brasileira, que visa à preservação e conservação de nosso meio ambiente e recursos naturais. 2.2 – CRÍTICA À SOCIEDADE DE CONSUMO A sociedade contemporânea tem nos mostrado que o consumismo desenfreado tem provocado grandes danos ao planeta e a nós mesmos. Os países industrializados, para manter o sistema capitalista em curso, implantam a política do consumo, através de métodos exploratórios e midiáticos. Relatório Brundtland, nosso futuro comum. Publicado em 1987 é um ícone do ambientalismo engajado. Pela primeira vez na história um documento publicado pela ONU trabalhava as questões ambientais. 6 Conferencia de Estocolmo 1972. Sob tutela da ONU, primeira atitude mundial em tentar organizar as relações entre o homem e meio ambiente. ECO 92, Rio de Janeiro. Marco ambiental mundial, onde foi desenvolvido o conceito de desenvolvimento sustentável, bem como as políticas da agenda 21. 5 Estações de Aptidão V 9 Para iniciar o debate entre nossos alunos, primeiramente apresentamos o documentário The Story of Stuff (2010) que faz uma crítica à sociedade de consumo norte americana. Esse documentário evidencia que o processo linear de extração de matéria prima, industrialização e transformação, consumo e descarte de mercadorias simplesmente é insustentável, e colocou o homem em rota de colisão com a natureza. Figura 1 – Documentário The Story of Stuff, 2010. Municiados da crítica examinada no documentário, os alunos são convidados a fazer uma reflexão sobre seu modo de vida, debatendo sobre a frequência, quantidade e utilidade dos produtos que consomem. Posteriormente, fechando a discussão, os alunos devem interpretar alguns trabalhos selecionados do artista plástico inglês Banksy. Figuras 2 e 3. Obras sem títulos, autor Banksy. Fonte: Google imagens, 2014. 10 Estações de Aptidão V Figuras 4 e 5. Obras sem títulos, autor Banksy. Fonte: Google imagens, 2014. O artista selecionado, Banksy, não expõe suas obras em galerias. As imagens selecionadas, disponíveis no Google imagens, são geralmente grafites encontradas nos muros de muitas das cidades do mundo. As obras desse artista de rua têm como objetivo fazer uma dura crítica à sociedade de consumo. 2.3 – RAPA NUI E AS LIÇÕES DA ILHA DE PÁSCOA A história da Ilha de Páscoa não é a de civilizações perdidas e conhecimentos esotéricos. Pelo contrário, é um exemplo admirável da dependência das sociedades humanas a seu meio ambiente e das consequências causadas pela destruição irreversível desse meio ambiente. A Ilha de Páscoa está localizada no oceano Pacífico, a 1300 km do Chile. Ela foi inicialmente ocupada por povos da Indonésia, por volta do século V, que lá chegaram navegando. Nela, desenvolveu-se uma complexa e avançada civilização, com uma organização social e política envolta na adoração de seus deuses e na construção dos moais. Estações de Aptidão V 11 Figuras 5 e 6 – Moais da Ilha de Páscoa. Fonte: Google imagens, 2014. Os moais são gigantescas estátuas feitas de rocha basáltica, que estão distribuídos ao redor da ilha. Eles eram talhados nas encostas dos vulcões inativos e transportados por força humana. Para facilitar o transporte das estátuas que pesavam cada uma mais de 10 toneladas, era utilizado um sistema de rolagem com toras de madeira. Figuras 7 e 8 – Moai ainda preso a rocha. Cenas do filme Rapa Niu, de 1994. Podemos observar o sistema de rolagem com troncos que facilitava o transporte das gigantescas estátuas. A história da civilização que habitou durante 300 anos a Ilha de Páscoa nos foi contada pelo mundialmente famoso longa metragem Rapa Nui, de 1994. Nesse filme podemos entender como a construção e transporte dos moais levou a ilha a exaurir completamente seus recursos naturais. Com o uso intensivo da madeira para o transporte das estátuas, ao longo de três séculos, todas as árvores e coqueiros da ilha se esgotaram. Como consequência, desenvolveu-se o processo de erosão e lixiviação do solo, o que inviabilizou 12 Estações de Aptidão V a agricultura. Outro fato acarretado pelo desmatamento foi a escassez de água potável, pois sem a interceptação da água da chuva, a infiltração da água no solo diminuiu, secando os aquíferos e nascentes. Quando os europeus chegaram à Ilha de Páscoa, por volta de 1750, encontraram apenas cerca de 300 nativos, num espaço que chegou a abrigar 7000. Eles viviam em modos de vida primitivos, moravam em cavernas e eram subnutridos. Muitos se alimentavam de gaivotas e em outros casos, praticavam o canibalismo. 2.4 – ESTUDO DOS FENÔMENOS NATURAIS EM TRABALHO DE CAMPO “Em todas as coisas naturais há algo maravilhoso”, (Aristóteles, século IV a.C.)7. Como parte dos trabalhos de senbilização da natureza, estudamos com os alunos alguns dos processos de formação do relevo e solo. Nosso objetivo foi o de utilizar esses processos naturais para uma visão contemplativa, demonstrando como a natureza em seu bojo é feita de etapas e ciclos complexos, mas que combinados entre si nos dão um resultado maravilhoso. Figuras 9 e 10 – Trabalho de campo. Nascente do córrego Água Fresca, turmas: primeiro semestre de 2011 e segundo semestre de 2012. Aristóteles, séculol IV a.C. “The Complete Woks of Aristotle”. Princeton University Press, vol.2, p. 86, 1984. 7 Estações de Aptidão V 13 Figuras 11 e 12 – Trabalho de campo. Nascente do córrego Água Fresca, turmas: Segundo semestre de 2012 e segundo semestre de 2013. A contemplação dos fenômenos naturais em trabalhos de campo é importante para romper com o movimento de distanciamento da natureza, presente na sociedade contemporânea. Em um mundo cada vez mais tecnológico, a sensibilização dos fenômenos naturais nunca foi tão importante. 2.5 – NEM TUDO O QUE RELUZ É VERDE A questão ambiental nunca esteve tão presente em nosso cotidiano quanto hoje. Pauta da política internacional e motivo para promulgação de códigos e leis, caminhamos aceleradamente para a formação de uma sociedade guiada, por força do meio político, econômico e midiático, em prol da preservação do meio ambiente. Nesse bojo, muito dos argumentos defendidos pelos ambientalistas, como o a degradação ambiental causada pela hegemonia mundial do modo de produção capitalista, foram esquecidos. O discurso do ambientalismo crítico foi deixado de lado e substituído por um discurso economicista e desenvolvimentista, como o presente no debate sobre os créditos de carbono. Em meio a esse período sombrio, diferentes estratos sociais encontraram um novo campo para buscar a atuação e legitimação de seu poder. (É o que afirma o sociólogo português Boa Ventura de Souza Santos, em artigo publicado em jornal 14 Estações de Aptidão V de grande circulação no Brasil em 20078, quando cita o grande engajamento de políticos, empresas, ONGs e da mídia nas questões ambientais). Em meio a esse universo, as questões ambientais tornaram-se mais um aspecto da lógica de produção e reprodução do capitalismo e da lógica social do poder. O lobby feito no meio político pelas ecotransnacionais e pelo setor dos agrocombustíveis distorce a noção de desenvolvimento sustentável a seu favor. Ora se para essas indústrias a sustentabilidade econômica não depende justamente da manutenção da crise ambiental, em passo que os agrocombustíveis avançam em direção à Amazônia. Outro aspecto a ser levantado é o triunfo da apresentação sobre a significação presente no discurso midiático. Esse discurso, no trato das questões ambientais, ensombreia o entendimento, exagerando certos fatos em detrimento de outros. O alarmismo, facilitador da reprodução das notícias, não faz a devida crítica ao sistema em curso, causador dos desastres e nem conduz à reflexão sobre as reais origens dos problemas ambientais. 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos aspectos mais difíceis de trabalhar na educação ambiental são as várias facetas que essa possui. Do referencial teórico ao conhecimento prático à senbilização da natureza, a educação ambiental apresenta-se de formas diferentes. Em nosso projeto, ao longo de três anos, procuramos cobrir os aspectos que considerávamos mais importantes da educação ambiental. Dessa forma, caminhamos com nossos alunos em direção à formulação de uma crítica geral a nosso modo de vida e também, a contemplação da natureza e dos fenômenos naturais. Boa Ventura de Souza Santos. Nem tudo o que reluz é verde. Folha de São Paulo, Caderno Opinião, 12/11/2007. 8 Estações de Aptidão V 15 É necessário desenvolver um sentimento de pertencimento profundo à natureza em nossos alunos, mas tal sentimento passa pelo processo de admiração e contemplação dessa natureza. Esse elo cognitivo é um começo para o reconhecimento do homem como um ser natural, pertencente a esse sistema complexo, mas maravilhoso. Nesse artigo, procuramos transcrever em palavras um pouco de nossa experiência e didática envolvida no trato da educação ambiental. Vimos que educar jovens tão presos ao mundo virtual e tecnológico aos preceitos ambientais é uma tarefa árdua, mas extremamente necessária. O desenvolvimento de cidadãos responsáveis, críticos e sensíveis as causas ambientais é o novo desafio de nosso mundo e, devido a esse fato, afirmamos aqui que nunca se precisou tanto do professor e da escola. Sentimo-nos honrados por fazer parte desse novo movimento da educação e, desde já, agradecemos ao empenho de nossos alunos e suporte dado por nossa instituição, Colégio Pontual, pois sem vocês a execução e sucesso desse projeto seria impossível. 4 - REFERÊNCIAS Comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991, 2ª ed. MENDONÇA, Francisco de Assis. Geografia e meio ambiente. São Paulo, Contexto, 1993. MOREIRA, Ruy. O discurso do avesso. 2ed. Rio de Janeiro: Dois Pontos Editora Ltda., 1988. 16 Estações de Aptidão V Professora Francielle P.da Silva Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto Filadélfia de Londrina. Especialização em Gestão e Educação Ambiental pela Esap. Professora da rede particular de ensino na cidade de LondrinaPr. OS DESAFIOS DA ALIMENTAÇÃO: DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA Os transtornos alimentares (TA) são cada vez mais foco da atenção dos profissionais da área da saúde por apresentarem significativos graus de morbidade e mortalidade. Tais aspectos vêm impulsionando a multiplicação de estudos epidemiológicos e de acompanhamento para observar a evolução das doenças alimentares ao longo do tempo, bem como seus fatores. Transtornos alimentares são doenças caracterizadas por graves alterações do comportamento alimentar, podendo originar prejuízos biológicos e psicológicos, sendo os principais: Anorexia, Bulimia Nervosa, e Obesidade. (BORGES et al. 2006) Appolinário & Claudino (2000), descreve o os transtornos alimentares como: “(...) síndromes psicossomáticas, cuja etiologia envolve um modelo multifatorial no qual estão envolvidos fatores genéticos, socioculturais, familiares e psicológicos que explicam sua origem e manutenção”. Segundo Botelho et. al.(2007) seja por questões psicológicas, genéticas, culturais ou familiares, os distúrbios alimentares são quadros clínicos relacionados à modernidade e às exigências ou não do mundo globalizado. Estas mudanças, que ocorrem desde a infância, podem resultar em conflitos emocionais frente às novas descobertas. Estações de Aptidão V 17 Os primeiros registros de transtornos alimentares surgiram na idade média, com práticas de jejuns realizadas para obtenção de milagres ou expulsão de entidades demoníacas. Este comportamento era comum entre religiosas italianas, e eram muitas vezes submetidas a estas práticas, como forma de punição física relacionadas a sensações corporais (cansaço, impulso sexual, e dores), chamando esta abstinência alimentar de “anorexia sagrada” . Um dos casos mais conhecidos é da Santa Catarina de Siena que, aos 15 anos, perdeu sua irmã, e à frente de projetos de casamento, iniciou restrições alimentares e práticas de autoflagelamento, a fim de ser liberada das diversas propostas de casamentos futuros. Anos mais tarde, veio a falecer por motivos relacionados à anorexia. Ao contrário do que acontecia na Idade Média, nos dias de hoje diversos são os fatores que levam mulheres ou homens a desenvolverem TA, assim como relata diversos autores na literatura. Martins et al. (2009), relata que um destes fatores é: “(...) a influência da mídia pode causar situações que levam as jovens a sofrerem Bullyings, gerando conflitos internos e insatisfação com o próprio corpo, a pessoa se vê de uma forma distorcida podendo influenciar o surgimento de dietas radicais e aparecimento de sintomas de transtornos como anorexia e bulimia nervosa”. Outro fator desencadeador dos problemas relacionados à alimentação é o sedentarismo, uma característica do mundo moderno. Meios de transporte cada vez mais acessíveis, telefones celulares, controles remotos, entre outros, permitem ao homem desenvolver ações com um gasto energético muito menor comparado ao período anterior a essas inovações. Além dessa inércia física, o estresse do dia a dia nos impõe hábitos alimentares pouco saudáveis, principalmente com o apelo da mídia ao chamado “fast food”. 18 Estações de Aptidão V Esse desequilíbrio energético, entre o que se ingere de alimentos e o que se consome, entre outras causas, tem como consequência, por exemplo, à obesidade. Outro principal transtorno alimentar é a bulimia, quadro clinico antes da anorexia nervosa, caracteriza-se por não se restringir à alimentação, mas utiliza-se de métodos purgativos ou indução do vômito ao final das refeições. Na anorexia nervosa, a perda de peso é intensa, com o uso de dietas rígidas, ou abstinência da alimentação regular. Seja a bulimia ou a anorexia observa-se um quadro em busca do perfeccionismo, evidenciando insatisfação com os seus corpos e, nestes casos, se sentem obesas apesar de se encontrarem magras. Considerase esse fato uma alteração da sua percepção corporal. O medo de engordar é uma característica permanente nessas pacientes que passam a viver exclusivamente em função de dietas, da comida, do peso e da forma corporal O projeto objetivou que o aluno adquirisse conhecimento teórico cientifico das ações de uma alimentação irregular, resultando em distúrbios alimentares graves, como a bulimia, anorexia, obesidade, analisando os fatores que levam o ser humano a apresentar distúrbios alimentares e reconhecendo a importância de uma boa alimentação. Metodologia A forma em que os alunos trabalharam para atingir os objetivos propostos ao longo do ano foi peculiar a cada semestre. No primeiro semestre de 2013, o grupo do projeto era composto, em sua maioria, por alunos do ensino médio, o que fez com que a pesquisa, produção, interpretação, e debates sobre os textos apresentados fossem cada vez mais complexas. Os alunos foram divididos em grupos, os quais pesquisaram conceitos em geral, dados estatísticos sobre a mortalidade infantil em relação à obesidade e anorexia, consequências sobre a péssima alimentação na infância que os brasileiros Estações de Aptidão V 19 apresentam, causa e consequência da anorexia e bulimia entre adolescentes, e como a mídia é percursora e incentivadora do aumento de distúrbios alimentares. Ao final da pesquisa, cada grupo teve o tempo de 45 minutos para apresentar em forma de seminários os dados coletados a todos os alunos do projeto. A partir destas informações teóricas obtidas, pontuamos algumas questões relevantes para os debates, como: 1. O que é o distúrbio alimentar? Quais os fatores que envolvem este tema? 2. Como a alimentação na infância pode interferir na adolescência? 3. O que a mídia faz para atrair os consumidores mais jovens? 4. Qual o grande problema dos “fast food” na alimentação cotidiana? 5. Como pode-se incentivar uma boa alimentação? 6. A população sabe se alimentar direito? Como a correria do dia a dia está influenciando na alimentação do brasileiro? 7. Por que um dos países mais ricos e globalizados, apresenta uma população com níveis de obesidade altíssimos? Os próprios alunos conduziram os debates, o que foi enriquecedor para todo o grupo do projeto, pois a partir deste ponto, observamos maturidade nas discussões dando ao colega a oportunidade de discordar das opiniões citadas. Ficou claro observar o poder de argumentação dos alunos diante de um debate. Logo ao final dos debates, houve a apresentação da Mostra das Estações de Aptidão. Todos os alunos do projeto se empenharam muito para este evento, pois através dele puderam transmitir o conteúdo obtido, e até mesmo levantar questionamentos e informações sobre como anda a alimentação da comunidade escolar. 20 Estações de Aptidão V A fim de despertar no aluno a iniciativa de ser questionador e pesquisador, de forma a transmitir o conhecimento obtido aos demais, os alunos foram a campo, onde entrevistaram a população presente na Feira Livre da rua Santos e os próprios feirantes Após a pesquisa de campo, produziram textos, nos quais concretizaram suas opiniões. Fig. 1: Alunos integrantes do projeto no 1 semestre de 2013, em aula de campo. Feira livre na Rua Santos. Fig. 2: Aplicação de questionário com feirantes e com a população. Feira Livre na Rua Santos. Estações de Aptidão V 21 No segundo semestre, o projeto era composto em sua maioria por alunos do ensino fundamental 2, o que permitiu a mudança no rumo da pesquisa. Os alunos deram continuidade à pesquisa iniciada no primeiro semestre, porém o foco desta se baseou nos distúrbios alimentares na infância, principalmente a Obesidade. Sendo assim, assistimos a dois documentários fundamentais para o enriquecimento da pesquisa: Super Size: “A dieta do palhaço”, o qual retratou os resultados de uma alimentação de 30 dias à base de fast food e “Famintos por Mudança”, que retrata a condição de alimentação da criança brasileira, e como esta alimentação irregular conduz à obesidade infantil. Foram, então, realizados novos debates, e seminários com o objetivo de os alunos apresentarem suas opiniões e soluções para este problema mundial. Ao final do semestre, houve a visita ao Mc Donald’s onde foi exposto como é realizado o trabalho de marketing para atrair novos e jovens consumidores de “fast food” , e como tiveram de adaptar-se às normas da Organização Mundial de Saúde(OMS), a fim de não ser objeto indutor de uma alimentação irregular. Fig. 3: Alunos integrantes do projeto no 2 semestre. Aula a Campo: Mc Donald´s 22 Estações de Aptidão V Fig.4: Alunos realizando pesquisa na hora do almoço e o estabelecimento “fast food” cheio de consumidores. Para conclusão do trabalho, ao final de cada semestre, os alunos apresentaram seus conhecimentos para uma banca, compostas por três professores que avaliaram e muito mais puderam transmitir o conhecimento obtido. Resultados Os dados coletados, durante a execução do projeto, foram relevantes para os dois grupos de alunos, tanto do primeiro quanto do segundo semestre. Os alunos do primeiro semestre puderam perceber que indivíduos com distúrbios alimentares apresentam uma percepção corporal errônea e, normalmente, não se veem como realmente se apresentam. A maioria de casos relacionados à bulimia ou à anorexia está sujeito às mulheres entre 12 a 23 anos. Outra característica encontrada é que em todos os transtornos alimentares, ocorre a dificuldade em aceitação ao tratamento do distúrbio, o que dificulta a minimização deste problema. O corpo e a imagem corporal são elementos principais, devido a distúrbios na habilidade de reconhecer o que realmente se vê. A bulimia e anorexia são recorrentes no mundo da moda, e vemos que, cada vez mais, a mídia interfere e apresenta a imagem corporal que todas modelos, ou não, devem apresentar. Estações de Aptidão V 23 Nas pesquisas realizadas em aula campo na feira livre da Rua Santos- Londrina/PR, obtivemos que 70% dos feirantes não sabem a importância de um alimento ou outro para saúde humana e que, de forma geral, obtêm informações apenas superficiais. Outro ponto observado é que 100% acreditam que uma alimentação saudável deve ser valorizada e iniciada dentro das escolas, evitando a venda de produtos industrializados, refrigerantes, lanches ou salgados, para que a criança desde cedo, perceba os benefícios dos cuidados com a saúde a longo prazo. Segundo os feirantes, a maioria dos consumidores procura por verduras e frutas, sem muitas vezes se importar com os alimentos compostos de proteínas e carboidratos, ou seja, acreditam que comendo apenas vegetais e frutas estão realizando uma alimentação saudável. Durantes as pesquisas, vimos as mais diversas dietas realizadas pelas mulheres, e notou-se que 98% não apresentam em suas indicações de alimentos todos os nutrientes necessários ao corpo, ou seja, a grande maioria induz a ingestão de apenas fibras e proteínas, sem a presença dos carboidratos, elemento responsável por fornecer energia ao corpo. Outro resultado encontrado foi relacionado à obesidade no Brasil, que apresenta dados alarmantes. Em um dos documentários assistidos (“Famintos por Mudança”) vimos que em vilarejos na Amazônia não chegam alimentos saudáveis (verduras, frutas), contudo, toda semana, um barco leva a este vilarejo, refrigerantes, salgadinhos, biscoitos e chocolates. De acordo com a pesquisa realizada com a população local, vimos que as crianças do vilarejo não sabem ou nunca viram determinados frutos ou verduras, e se chocaram quando foi apresentado a eles, a quantidade de gordura e açúcar presentes em um pacote de biscoito recheado. Em aula a campo ao Mc Donald´s, observamos a estratégia de marketing utilizado por uma das maiores redes de “fast food”. Ficou evidente que as estratégias são inúmeras, como caixinhas coloridas, que dão a ideia de que é divertido se alimentar destes produtos, promoções diversas, brinquedos 24 Estações de Aptidão V e embalagens exclusivas às crianças, enfim, uma infinidade de cores e brinquedos que induzem a população a acreditar que não haveria mal algum em se alimentar de produtos Mc Donald´s. Conclusão Ao longo de muitas etapas, várias conclusões foram citadas pelos alunos. Abaixo destacamos algumas: “...a anorexia, bulimia, ou obesidade são casos de saúde pública...” Matheus França “...é revoltante saber que mais da metade da população brasileira já ingeriu coca-cola ou outro qualquer refrigerante com menos de 1 ano de idade...” Victória Silva “...todas as redes de “fast food” deveriam ser mais conscientes e inteligentes para fazer propagandas, e não apelarem nas promoções e desenhos para adquirir novos e pequenos consumidores ” José Augusto D. Diamante “Só podemos acabar com a obesidade infantil se forem criadas maneiras de diminuir os preços dos produtos orgânicos, integrais( produtos que favorecem a saúde), e aumentar o preço de produtos industrializados que induzem a uma péssima alimentação...” Maria V. Dia Diamante “...lamentável observar que a população brasileira não se preocupa em ter uma boa alimentação, não se dando contas dos riscos de saúde evidentes...” Gabriela Pires Estações de Aptidão V 25 Conclui-se que a obesidade é, hoje, uma das principais causas do aumento do número de mortalidade no Brasil, sendo as redes de “fast food” e a mídia as principais indutoras desta falta de alimentação regular e saudável. A obesidade infantil está cada vez mais evidente, e os problemas como pressão alta, diabetes, e problemas relacionados à estrutura óssea são recorrentes, o que, muitas vezes, são apresentados durante toda a vida do indivíduo. È necessário programas de valorização de uma boa alimentação, principalmente nas escolas, pois hábitos saudáveis são levados durante toda vida, ou seja, é fundamental que a criança perceba a importância de se alimentar corretamente, a fim de ter uma saúde em equilíbrio. Conclui-se, também, que se uma educação alimentar de qualidade for ensinada desde a infância, não só problemas com a obesidade serão reduzidos, como também a bulimia e anorexia. A distorção da imagem corporal é, sem dúvida, o principal fator para indução de outros transtornos alimentares, porém vale lembrar que fatores não apenas psicológicos estão envolvidos. 26 Estações de Aptidão V Referências APPOLINARIO, J.C.; CLAUDINO, A.M. Transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr, v.22, n.2, 2000. BORGES, N.J.B.G.; SICCHIERI, J.M.F.; RIBEIRO, R.P.P.; MARCHINI, J.S.; DOS SANTOS, J.E. Transtornos alimentares – quadro clínico. Revista de Medicina, v. 39, n. 3, p. 340-348, 2006. BOTELHO, F.S. et.al. Um estudo sobre auto-imagem e crenças alimentares em adolescentes Psicol. hosp. (São Paulo) v.5 n.2 São Paulo 2007. Disponível em:< http//pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script >. CLAUDINO, A.M.; BORGES, M.B.F. Critérios diagnósticos para os transtornos alimentares: conceitos em evolução. Rev Bras Psiquiatr, v. 24, n. 3, p. 7-12, 2002. HENRIQUES, Isabella; Posição do Instituto Alana sobre publicidade dirigida as crianças no Brasil. Site: www.alana.org. br/CriançaConsumo/Biblioteca MARTINS,C.R. et.al.2009 Insatisfação com a imagem corporal em relação com o estado nutricional: adiposidade corporal e sintomas de anorexia e bulimia em adolescentes. Disponível em: <http:// WWW.scielo.br/pdf/rprs/v32n1/v32n1a04pdf>. MORGAN, C.M.; VECCHIATTIA, I.R., NEGRÃO, A.B. Etiologia dos transtornos alimentares:aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais. Rev Bras Psiquiatr, 24(Supl III),p.18-23,2002 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. p. 351. Estações de Aptidão V 27 Professor Rodolfo Funfas Graduando em Química. Sempre apaixonado por ciências cursou Física por dois anos, na Universidade Estadual de Londrina, onde foi apresentado a Química; curso que o encantou e começou a estudar, na mesma universidade. Hoje, leciona a matéria, de Química, com intuito de apresentar aos alunos conhecimentos sobre o mundo que os cercam, sempre utilizando temas relacionados com o cuidado ambiental e pessoal. QUÍMICA E OS SENTIDOS “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.” Paulo Freire Partilhando do pensar de Paulo Freire, resolvemos apresentar a Química de uma maneira diferente, mais interessante, mais profunda e muito mais lúdica, em dois momentos diferentes, trabalhando com alunos de diferentes séries (do 6º ano do fundamental à 2ª série do colegial) conceitos químicos, a dinâmica e rotina de um laboratório e a amizade. Interessante observar uma vez que as experiências realizadas nas aulas, de alguma maneira, estimulavam os sentidos, daí o nome do projeto do primeiro semestre “Reações e os sentidos”. Profunda porque todas as experiências foram explicadas, tanto quanto a sua realização como ensinando as teorias que se aplicavam aos fenômenos observados. Lúdicas pois o objetivo era se divertir com as experiências, e desta forma, deixei a cargo dos alunos escolherem os nome para as experiências que eram realizadas, é com estes nomes que apresento as atividades. 28 Estações de Aptidão V O título do projeto, no primeiro semestre, foi “Reações e os sentidos”, fazendo referência às reações químicas e aos cinco sentidos: tato, visão, paladar, olfato e audição (Figura 1). Nas primeiras aulas, os alunos foram divididos em 5 grupos, e cada um escolheu um dos sentidos, sendo eles responsáveis por apresentar como os sentidos funcionam, como eles são estimulados e uma atividade que pudesse enganar os sentidos. Figura 1: Os sentidos, os órgãos e região responsável no cérebro Após conhecerem todos os sentidos, começamos as realizações de experimentos que estimulassem esses sentidos ou não, como por exemplo, “A bala sem sabor”. Neste experimento, os alunos aprenderam sobre as substâncias chamadas flavorizantes e aromatizantes (substâncias artificiais, responsáveis pelos sabores e aromas dos alimentos).A experiência consiste em colocar uma bala de fruta, sem saber o sabor, na boca, com o nariz tampado e dizer qual o sabor. O que ocorre, nesse caso, é que a substância responsável pelo sabor da bala, na verdade, é um estimulante do olfato e não do paladar, assim sendo não é possível determinar o sabor sem cheirar a bala. Outro experimento que empolgou os alunos foi a “Pasta de dentes de elefantes”. Uma experiência expansiva que além de Estações de Aptidão V 29 envolver cores há liberação de calor, devido à reação catalisada de decomposição do peróxido de hidrogênio (água oxigenada) que libera gás oxigênio e, junto com detergente, produz uma espuma espessa com consistência de creme dental (Figura 2). Figura 2: Espuma produzida na decomposição catalisada de peróxido de hidrogênio na presença de detergente. A experiência intitulada “Psy Milk” serviu para demonstrar as interações intermoleculares, responsáveis, por exemplo, pelo elevado ponto de ebulição da água, e como o detergente atua na quebra dessas interações forçando as moléculas se locomoverem pela solução movimentando também as gotas de corantes (Figura 3). Figura 3: Espalhamento das cores devido à quebra das interações intermoleculares do leite causada pela adição de detergente no leite. Em três ocasiões, os produtos dos experimentos puderam ser levados pelos alunos para casa ou utilizados em trotes com os amigos. O primeiro deles foi chamado de “Sangue do diabo”, que consiste em utilizar um indicador ácido-base (fenolftaleína) em um limpador multi uso, de características alcalinas, fazendo com que a mistura fique vermelha. Esta mistura colocada em 30 Estações de Aptidão V um frasco propelente (Figura 4), quando acionado, liberava o líquido vermelho que, momentaneamente, mancha a roupa. Como o limpador multi uso é volátil a mancha diminui até sumir completamente. Figura 4: Mistura preparada pelos alunos para aplicar trote nos amigos. Em seguida, fizemos um experimento para constatar a diferença de densidade de líquidos imiscíveis (água e óleo), porém na forma de um vintage que foi chamado de “Abajur de lava”. Neste experimento, os alunos coloriram certa quantidade de óleo com tinta óleo e colocaram em uma garrafa de vidro na qual foi adicionado uma solução de água e álcool menos densa do que a mistura óleo e tinta. Desta forma, o óleo ficou depositado no fundo do recipiente. Ao ser aquecido, por uma lâmpada incandescente, o óleo se expande, diminuindo sua densidade, e se desloca para parte superior da garrafa onde, trocando calor com o meio, fica frio, se contrai, aumenta a densidade e se move para baixo novamente (Figura 5). Figura 5: Abajur de lava feito com óleo, tinta óleo, água e álcool. Estações de Aptidão V 31 E o terceiro foi a “Chuva de ouro”. A reação do iodeto de potássio com o cloreto de chumbo produz um sal amarelo e insolúvel em água à temperatura ambiente, porém quando aquecido se solubiliza facilmente e, quando essa solução aquecida é resfriada, ela forma cristais dourados que ficam dispersos pela solução como partículas de ouro (Figura 6). Figura 6: Reação com iodeto de potássio e cloreto de chumbo antes (esquerda) e depois (direita) aquecimento com posterior resfriamento. Para o segundo semestre continuamos o foco nos três pontos destacados no começo do artigo (mais interessante, mais profunda e mais lúdica), porém alterando o nome do projeto para “O sentido das reações”. Utilizando reações mais elaboradas e técnicas, pode-se mostrar a existência de química em reações do cotidiano como o processo mais utilizado para adquirimos energia térmica, a combustão. Com esta temática realizamos dois experimentos: a “Bolha de fogo” e a “Queima da vela” (Figura 7). Figura 7: Aluno queimando a “bolha de fogo” e a vela queimando em recipiente fechado consumindo o oxigênio. 32 Estações de Aptidão V Na realização destes experimentos, focou-se o cuidado que as crianças devem ter quando lidar com fogo, quais são as três necessidades para haver a combustão e os conceitos de consumo e produção de substâncias. Além deste, realizou-se a galvanização de objetos de metais com cobre, processo utilizado para evitar que objetos de metais sofram oxidação e estraguem. Para este experimento, escolheu-se o nome “Tinta de moeda”, uma vez que a fonte de cobre, para o experimento, foram moedas de R$ 0,05. Nesta reação, o cobre da moeda é retirado por um processo de oxidação e depositado em outro por redução (Figura 8). Figura 8: Reação de galvanoplastia. Ao final de cada semestre, durante as apresentações das bancas, notou-se quanto os alunos aproveitaram o projeto. Alunos muito jovens do 6º ano falavam com propriedade e segurança o que se passava, e ainda alunos da 2ª série do colegial demonstravam o quanto estavam felizes por terem participado do projeto. A diferença etária se mostrou um fator agregador, uma vez que o diálogo entre os alunos e a transferência de conhecimento foram características marcante nos dois semestres. Estações de Aptidão V 33 Referências ATKINS, Peter, LORETTA, Jones; Princípios de Química, Questionando a vida moderna e o meio ambiente, Porto Alegre: Bookman, 2001. MATEUS, Alfredo Luis; Química na cabeça;Belo Horizonte: UFMG, 2008. Imagens: Figuras 2, 4, 6 (direita) e 8: acervo pessoal Figura 1: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos1.asp Figura 3: http://socapimcanelas.com.br/videos/page/5 Figura 5: http://www.manualdomundo.com.br/2011/06/a-quaselampada-de-lava/ Figura 6 (esquerda): http://bloguedaritaa.blogspot.com.br/ 34 Estações de Aptidão V Professora Isabela Dean Scolin Psicóloga formada no Centro Universitário Filadélfia UNIFIL com Ênfase em Saúde e Qualidade de Vida. Pós graduada em Psicanálise: Curso Fundamental de Freud a Lacan, no Inbrape. Formadora em Orientação Profissional, pelo Portal Vocacional, Psicologa Hospitalar, pelo Serviço de Psicologia do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Neuropsicologia pelo EPSIC/USP, com formação em Dez/2014. DESENVOLVIMENTO INFANTIL E NEUROPSICOLOGIA Desenvolvimento infantil é o “processo que se inicia desde a vida intrauterina e envolve múltiplas aquisições, tais como o crescimento físico, maturação neurológica e a construção de habilidades relacionadas ao comportamento, as habilidades cognitiva, social e afetiva da criança” (Sigolo e Aiello, 2011). “É o resultado da interação entre fatores genéticos, biológicos e ambientais”. (Brito et al., 2011) Estes fatores pela criança e suas interações devem estar sempre em observação pelos que acompanham o desenvolvimento, para que sejam estimuladas de forma adequada e adaptada em cada fase vivenciada. A ausência de estímulos e/ou a ausência de percepções de dificuldades e atrasos apresentadas influenciam o desenvolvimento a curto e longo prazo, em específico, os fatores biológicos, os quais interferem na formação e maturação dos diversos sistemas do ser humano. Intervir no momento adequado, tanto em ambiente domiciliar como em ambiente escolar, em cada fase do ciclo de vida da criança, poderá definir diferentes competências por Estações de Aptidão V 35 toda a vida. Por isso, tamanha preocupação com a atenção e compreensão, por parte de pais/cuidadores e professores, das etapas em que ocorrem o desenvolvimento. Para Dworkin (1989), a vigilância do desenvolvimento é um processo contínuo e flexível realizado por profissio¬nais e destinado à promoção do desenvolvimento infantil e à detecção de problemas durante os cuidados primários à saúde da criança. Os componentes da vigilância do desenvolvimento incluem eliciar e atentar para as preocupações dos pais sobre seus filhos, obter uma história relevante sobre o desenvolvimento, realizar observações precisas e informativas da criança e compartilhar opiniões e interesses sobre a criança com outros profissionais. Resegue Silva (2004) complementa ao dizer que a identificação e a inter¬venção precoces são fundamentais, pois auxiliam no prognóstico dos indivíduos, sendo indispensável avaliação em toda consulta pediátrica, nas escolas e na própria casa pelos pais. Para auxiliar, são possíveis algumas formas na identificação precoce dos problemas de desenvolvimento: questionários para pais/cuidadores e professores; anotações dos pais sobre o comportamento dos filhos; instrumentos de triagem como auxílio para a vigilância do de¬senvolvimento (Dworkin, 1993; Glascoe, 2000). Assim, o papel dos que atuam na atenção pri¬mária é praticar “a vigilância do desenvolvimento de todas as crianças, identificar aquelas com necessidades especiais e en¬caminhálas oportunamente para tratamento” (Figueiras e cols., 2003, p. 1692), de forma a favorecer que estas intervenções auxiliem numa adequação possível no desenvolvimento destas. A idade em que esta identificação das alterações no desenvolvimento ocorre tem grande importância para o prognóstico que esta criança pode vir a apresentar. Seguindo os princípios da plasticidade neuronal, os neurônios que constituem o nosso sistema nervoso formam-se nas fases iniciais da gestação, com o pico máximo de neurônios aos 04 meses de gestação. 36 Estações de Aptidão V Porém, Villar et al. (1998) coloca que a existência de um número excessivo de neurônios no início da vida, nas regiões do encéfalo que estão envolvidas com a aprendizagem e a capacidade de pensar, não garante em nada que o sujeito será um gênio. Embora se tenha numerosos neurônios ao nascer, o número de conexões que funcionam entre si (sinapses) é ainda pequeno. Estas sinapses aumentam com a utilização dos neurônios, no desempenho de múltiplas funções (orgânicas e psíquicas), com o estímulo para estabelecer um número crescente de comunicações entre si, através da ativação ou da formação de novas sinapses. Essas novas sinapses, o aumento da existência destas, possibilitam o surgimento de novas vias de comunicação interneuronal, ampliando e otimizando o funcionamento do sistema nervoso. Villar et al. (1998) afirma que é preciso ter em mente que até o sexto ano de vida a plasticidade neuronal é máxima e é nesta fase que os adultos que convivem com a criança podem e devem, através de interações e mediações, favorecer intensamente o desenvolvimento de seu cérebro. Ao nascer, o primeiro grupo que irá estimular a criança são os pais; é com estes que começa um aprendizado sobre o mundo. Na sequência, esta criança passa para a pré-escola, e quem passa a atuar de forma intensa e de grande responsabilidade é o professor, pois atua junto a estas crianças num momento crucial: máxima plasticidade neural. Ou seja, pode colaborar para que a criança desenvolva grande riqueza de circuitos neuronais e evite morte precoce de milhares de neurônios, os quais ficarão de reserva para o futuro. Cada atividade realizada por este professor, visando estimular a criança, pode resultar em novas aprendizagens, as quais ficarão registradas na morfologia do sistema nervoso. Os reflexos serão para a vida inteira. Junto a esta ideia, surge a questão do determinismo genético. Hoje, acredita-se que este não seja verdadeiro, pois o sujeito que nasce com milhares de neurônios e supostamente com uma carga genética para ser um gênio, Estações de Aptidão V 37 se não for adequadamente estimulado, perde grande número de neurônios, as novas sinapses não se formam no momento adequado, deteriorando o desenvolvimento em todas as suas áreas. E, por outro lado, um sujeito que tenha nascido com um potencial genético para ter um desempenho mental e/ou físico um pouco abaixo da média, através de adequada estimulação (sensorial, motora, psíquica e social) pode reduzir a perda de neurônio e aumentar o número de conexões entre neurônios. Isso permite que a programação genética seja superada. Mas, superar esta programação genética não é algo simples, pois muitas condições estão envolvidas: uma relação afetiva positiva com o adulto que estimula ao mesmo tempo que media as aprendizagens da criança; condição nutricional adequada; saúde física e mental; boa qualidade de sono. Imagem 1: progressão das conexões interneuronais com estímulo sinapses (0 a 2 anos) Uma forma de auxiliar os pais, familiares, pessoas que cuidam de crianças e profissionais, é pela noção básica das etapas do desenvolvimento infantil, as quais estão sintetizadas nas próximas tabelas: 38 Estações de Aptidão V Estações de Aptidão V 39 40 Estações de Aptidão V Estações de Aptidão V 41 42 Estações de Aptidão V Estações de Aptidão V 43 44 Estações de Aptidão V Frente aos estudos existentes e a realidade observada referente ao desenvolvimento infantil, percebe-se uma falta de conhecimento e entendimento das etapas pertencentes a este, com estímulos adequados para cada área do desenvolvimento do indivíduo. Há uma necessidade de ampliação do conhecimento sobre cada etapa e função, quais estímulos são necessários para que as estas possam ser desenvolvidas e estimuladas na idade correta, viabilizando a percepção e o diagnóstico de possíveis déficits existentes a tempo de serem trabalhadas, visando o mínimo de danos para o indivíduo. Este entendimento, junto aos alunos do projeto, com o intuito de viabilizar um olhar ampliado sobre o conhecimento desta etapa tão importante do ser humano; e auxiliar a disseminar para a sociedade que não é só o bebê nascer que ele já está “pronto”, e sim que as funções necessitam de estímulos adequados, com pais/cuidadores e profissionais presentes e ativos no processo de desenvolvimento. Juntamente com esta ideia, o projeto também buscou entender e reconhecer as limitações das síndromes e quadros genéticos que ocorrem com mais frequência nas crianças e como o estímulo nestes casos podem favorecê-las. Com as pesquisas e o conhecimento de várias síndromes, e com a visão de como o estímulo pode auxiliar de forma global e muitas vezes de forma diretiva: no desenvolvimento físico cerebral das crianças em desenvolvimento. Com o projeto, alcançou-se o objetivo de despertar os adolescentes para a realidade existente, e iniciou-se uma possível reflexão sobre como auxiliar a sociedade a divulgar e ter a compreensão de que não é somente a criança nascer que ela já está “pronta”, esta precisa, sim, de muita atenção, cuidados básicos e principalmente, estímulos que possibilitem e favoreçam as conexões interneuronais, desenvolvendo assim as partes do cérebro. Estações de Aptidão V 45 REFERÊNCIAS AGUILAR-REBOLLEDO, F. (1998) Plasticidad cerebral: antecedents científicos y perspectivas de desarrollo. Bol. Med. Hosp. Infant. México. BIAGGIO, A. B. M. (1977) Psicologia do desenvolvimento. Petrópolis; Ed. Vozes. CUNHA F., HECKMAN J. J., MASTEROV D. V. 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Brasília: Ministério da Saúde. 46 Estações de Aptidão V PERNAMBUCO, M. C. A. (1992) As funções neuropsicológicas e os distúrbios de aprendizagem. In: SCOZ, B. J. L.; BARONE, L. M. C.; CAMPOS, M. C. M.; MENDES, M. H. Psicopedagogia. Porto Alegre: Artes médicas. RESENGUE SILVA, R. F. (2004). Crianças com risco de apresentar atraso do desenvolvimento e crianças com atraso estabelecido: A experiência de um ambulatório multidisciplinar. Tese de doutorado não-publicada, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo. TEODORO, Wagner L. G. O Desenvolvimento infantil de 0 a 6 anos e a vida pré-escolar. Uberlandia / MG. In: http:// pt.slideshare.net/wagnerlugate/o-desenvolvimento-infantil-de0-a-6-e-a-vida-prescolar# VILLAR, M. J.; CAVAZZOLI, C.; BRUMOVSKY, P. (1998) Capacidade adaptativa del sistema nervioso: mecanismos de plasticidad neural. Acta psiquiát. Psicol. An. lat. Estações de Aptidão V 47 Professor José Eduardo Vicente Formado em Fisioterapia pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina-INESUL. Tem Pós-Graduação em Treinamento Desportivo: Preparação para Competição. No momento atua como Fisioterapeuta de Ginástica Laboral e como orientador das Estações de Aptidão, Ensino Médio e Fundamental do Pontual Centro de Ensino. BASQUETEBOL E FUTEBOL Hoje em dia as pessoas vêm deixando de lado as práticas esportivas, o que muitas vezes leva a um estilo de vida sedentário e provocam distúrbios como má alimentação, obesidade, tabagismo, estresse, etc.Como reação a essa atitude, a ciência do esporte vem desenvolvendo estudos e demonstrando a importância que a prática constante de uma atividade física bem planejada tem para que as pessoas possam ter uma vida mais saudável. O esporte e a saúde são temas atuais e intimamente ligados, pois corremos atrás de uma vida menos estressante e com mais qualidade de vida. A proposta para este tema foi levar aos alunos o desenvolvimento das habilidades especificas para quando se pretende tornar um atleta de alto nível. Através de exercícios diretamente ligados ao basquete e futebol, visamos melhorar as atividades motoras e os relacionamentos interpessoais. Utilizando de corridas, passes e deslocamento com bola, os alunos foram submetidos a exercícios que melhorem seu desempenho, sua coordenação motora e equilíbrio, levando uma melhora na execução da atividade proposta. 48 Estações de Aptidão V Procuramos, através de exercícios específicos para cada modalidade, levar um pouco do dia a dia na área do esporte de alto nível. As atividades físicas eram realizadas na quadra da escola, onde inicialmente os alunos tinham noções teóricas básicas sobre o tema, faziam um leve aquecimento e posteriormente eram divididos em grupos onde as atividades eram propostas. Ao final de cada módulo, havia jogos entre os grupos para poder comprovar o que foi aprendido sobre cada modalidade. Estações de Aptidão V 49 Não somente a questão da prática do basquetebol e do futebol em si, mas a interação entre os alunos e principalmente o trabalho em grupo foi um dos principais aprendizados durante o projeto.Algumas discussões sobre ética no esporte também foi abordado, como o exemplo do jogador de futebol DiegoCosta, brasileiro, naturalizado espanhol, que definiu jogar pela seleção espanhola na próxima Copa do Mundo. Concluímos este projeto de forma positiva, já que os objetivos de conhecer exercícios de basquetebol e futebol foram alcançados. Assim, os alunos conseguiram entender na prática as dificuldades de algumas habilidades e a importância do treinamento para o aperfeiçoamento do mesmo. BEM ESTAR DO IDOSO A fisioterapia, técnica que utiliza a aplicação de agentes físicos e mecânicos (como massagens, exercícios, águas, luz, calor, eletricidade) no tratamento das doenças, tem um papel muito importante nos cuidados com a saúde dos idosos. O fisioterapeuta é um profissional responsável pelo diagnóstico, prevenção, recuperação e tratamento das disfunções do organismo humano, causadas por má formação genética, acidentes ou posturas incorretas no dia a dia. O grupo de pesquisadores que estuda qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) define a fisioterapia como a percepção do indivíduo no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, relacionado aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. 50 Estações de Aptidão V O projeto “Bem Estar do Idoso” foi desenvolvido com objetivo de levar aos alunos conhecimentos da fisioterapia em relação ao idoso. Com este projeto, os alunos aprenderam a diagnosticar algumas patologias relacionadas à terceira idade e a converterem em exercícios, atividades físicas para o bem estar destas pessoas. Estações de Aptidão V 51 Em uma das aulas campo, a oportunidade de estar diretamente em contato com aqueles que vivem lá (“Lar das Vovozinhas e Vovozinhos”), levaram os alunos a descobrir a importância do trabalho em grupo, fortalecendo os laços de carinho, atenção, humildade (responsabilidade), fazendo os idosos que ali residem, mesmo que por poucas horas, muito mais felizes. 52 Estações de Aptidão V Professora Juliana Murari Licenciada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Educação por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Professora da rede particular de ensino de londrina desde 2008. Especializada em estudos relacionados à Grécia antiga e sobre as epopeias homéricas. CINEMA E MITOLOGIA: PERCY JACKSON E O MAR DE MONSTROS Introdução: No segundo semestre de 2013, demos continuidade ao projeto “Cinema e Mitologia.” Este tema poderia indicar diversas abordagens, contudo o foco de nosso projeto era analisar o filme “Percy Jackson e o mar de monstros” e ver como o filme tinha se baseado na tradicional Mitologia grega. Filmes como esse atingiram um público das mais diversas idades. Crianças até pessoas idosas mostram-se interessadas e gostam de filmes que seguem esta linha de aventura e fantasia. A popularidade desses filmes, nos diversos estágios do desenvolvimento humano, chamou a nossa atenção e motivou a escolha do tema. Nos sentimos instigados a procurar as causas desse interesse comum, queríamos saber por que produções que contêm personagens ligados ao universo fantástico e imaginativo, que transpassa as barreiras da realidade e do cotidiano de todos, chamavam tanto atenção e despertava, em nós, curiosidade. Em decorrência disso, encontramos a problemática de nosso projeto: por que o pensamento fantástico nos chama tanto atenção? Será que as pessoas têm conhecimento de que esses filmes são baseados em histórias muito antigas? Talvez o homem contemporâneo não tenha noção de que gosta de Mitologia e, mesmo assim, Estações de Aptidão V 53 ainda responda seus questionamentos por meio dela? Nesse sentido, o objetivo do nosso projeto era investigar o filme “Percy Jackson” e as lendas que ele apresenta, procurando pesquisar se aqueles personagens, de que tanto gostávamos, eram criados pela engenhosidade do autor do filme ou faziam parte do imaginário de alguma sociedade antiga. Queríamos descobrir, no caso de personagens existentes previamente, quando foi a primeira vez na história que elas foram mencionas. Especificamente, objetivávamos colaborar para que os alunos descobrissem que o filme que tanto apreciam estão ligados à poesia e à história antiga. Intencionávamos acrescer neles o interesse principalmente pela literatura clássica, pela cultura grega e pela história antiga, provocando nos participantes do projeto, consequentemente, um apreço aos estudos relacionados a temas do passado, pois, os períodos mais antigos da história precisam ser valorizados, já que nesse período ocorreram a criação e a fundamentação de valores e conhecimentos importantes para o mundo ocidental contemporâneo, e que se encontram hoje, por vezes, esquecidos. E para responder tais questões e atingir tais objetivos, nossa estratégia de trabalho foi: 1) primeiramente investigar o enredo do respectivo filme; 2) Descobrir a quais histórias da Mitologia ele fazia menção; 3) Em seguida, procedemos com o estudo específico sobre mitologia, procurando estudar o que é mito, e qual a função dessas lendas na Grécia antiga; 4) Por fim, comparamos as histórias originais com as recriadas e utilizadas pelo filme, e descobrimos diversas discrepâncias entre elas. 5) Como produção final do projeto, criamos nossas próprias lendas, a partir dos conhecimentos adquiridos, experimentando quais os recursos necessários para contar, e dar sentido, hoje, a histórias tão antigas. 54 Estações de Aptidão V Mitologia grega: O mito é essencialmente uma história, muitas vezes de caráter tido como ilusório e fantasioso. Veja-se, por exemplo, a obra Teogonia do poeta grego arcaico Hesíodo. Nos poemas que compõem essa obra, Hesíodo relata como se deu a passagem do caos para o mundo ordenado, ou cosmos, e a formação de suas partes naturais identificadas com o mar, céu, terra, astros, etc. Na Teogonia, encontra-se uma tradição de procedência diversa, misturada de maneira muito variada com aquilo que Hesíodo concebeu como expressão do seu próprio pensamento. A Teogonia descreve um desenvolvimento, que vai do caos até o mundo organizado. Nesta obra, há um esforço de pensamento pré-racional que é sustentado pela causalidade mítica e isto abrirá caminho, posteriormente, para cosmologias filosóficas. Teogonia significa nascimento ou origem dos deuses, é, portanto um poema no qual se procura estabelecer a genealogia dos deuses imortais e, ao fazer assim, o poeta identifica os nomes dos deuses a partes do cosmos, preparando em uma linguagem mítica os fundamentos da cosmogonia. Quando se examinam estes e outros mitos, cosmogônicos ou não, pode, em um primeiro momento, ter-se a impressão de que tais histórias não passam de contos sem nenhuma base intelectual. De fato, ao serem analisados mais a fundo, vê-se que tais contos possuem uma lógica que lhes é própria. Por meio desta, aventa uma explicação acerca dos questionamentos que os homens daquele tempo tinham diante do mundo, compreendem indagações um tanto quanto metafísicas, na medida em que se preocupam com o ser e suas limitações, assim como a alegria, a felicidade e a tristeza, coisas com as quais o homem se depara durante a vida e que seriam objeto de interesse, com outros pressupostos, pela nascente filosofia. Os mitos foram uma forma de resposta, de resolução, para os problemas encontrados pelos homens de então. (REALE: 1990, p.15) Estações de Aptidão V 55 Em suma, pode-se dizer que o mito mais do que uma simples narrativa fantástica era um relato de uma civilização, ou seja, a estrutura mitológica tem uma grande importância antropológica, paidética e pedagógica, já que demonstra a cultura e o pensamento de um povo, no caso em questão, do povo grego. Desse modo vê-se que essas histórias faziam parte desse povo; e eram intrínsecas a ele e constituíam o caráter básico daquela civilização. (BRANDÃO: 1999, p.183) Mais importante do que o mito em seu caráter antropológico é a relação que essas histórias têm para o surgimento da filosofia; nos mitos hesiódicos e também homéricos, tem-se a constante presença de seres de caráter “ilusório”, porém, podese perceber um grande esforço para uma explicação racional das interrogações impostas pelo cotidiano daquele povo. Foi justamente pelo interesse dos gregos de explicar e entender a si e ao mundo à sua volta que surgiu a filosofia. É neste sentido que tem que ser entendida a famosa expressão “do mito ao logos”. (REALE: 1990, p.16) Foi o ato dos gregos mais “primitivos” de se perguntarem: por que e tentarem responder miticamente que foram abertas as portas para a filosofia. A mitologia acabou ajudando a nascer a filosofia e constituiu uma evolução, uma avanço, mas esse avanço se deu a partir dos mitos. Estes estiveram sempre presentes naquela. A partir dessas formas de explicações “primitivas” é que foi dada a largada para a explicação filosófica e sua teoria “puramente” racional; o pensamento, foi aprimorando-se e se desenvolvendo, renovando, mas isso não torna as cosmovisões míticas menos sistemáticas, erradas ou piores, apenas as tornam diferentes e anteriores. Os principais mitos expostos por Hesíodo, por exemplo, apareceriam posteriormente, sob outro enfoque, no pensamento filosófico. Na Teogonia, observa-se que são os deuses individuais responsáveis pelo surgimento e organização de todas as coisas existentes no cosmos, no mundo organizado. Essa concepção já remete a uma preocupação dos gregos em explicar o mundo, 56 Estações de Aptidão V como tudo se originou, ainda que seja de forma mítica. Já há, embrionariamente, um esforço para explicar e justificar miticamente as coisas. É justamente esse esforço que será levado em consideração pelos pré-socráticos, posteriormente e, agora, racionalmente, e é deste esforço, como se sabe, que nascerá a filosofia. A presença do mito pode ser encontrada ao longo de toda a história da filosofia. Em muitos filósofos, ao exporem o seu pensamento, não excluem o uso do mito ou ao menos não o conseguem excluir totalmente. É possível que assim seja porque o mítico esteja presente na estrutura do próprio ser humano. Não se pode, então, dessa forma, fazer filosofia sem certa dose de presença do mito. E o mito, através dos poetas, especialmente Homero e Hesíodo, educou o povo grego, e fundamentou-se como expressão máxima da cultura grega. A mitologia e o filme Percy Jackson: No caso do segundo filme da saga Percy Jackson, o autor usou tanto elementos presentes na obra Teogonia de Hesíodo, quanto da Odisseia de Homero. Segundo a mitologia grega, Cronos capou seu pai Urano e assumiu o controle do Olimpo. Contudo, com medo de ser destronado pelos filhos, os engolia, um a um. Até que foi enganado por sua esposa e seu caçula Zeus. Este com ajuda da mãe, deu um remédio a Cronos que causou vômitos e o obrigou a expelir todos os filhos. Zeus, ao lado de seus irmãos, Hades e Poseidon, decidem lutar pela soberania da morada dos deuses e vencem. Na aventura, o semideus Luke tenta ressuscitar o titã Cronos e será impedido pelos semideuses Percy, filho de Poseidon e Anabeth, filha de Atena. A produção cinematográfica procura ressaltar uma nova guerra entre os titãs e a luta pelo poder que existe entre os deuses. A trajetória de Percy ao longo do filme também se parece muito com a do Herói da Odisseia: Odisseu, também conhecido Estações de Aptidão V 57 pelos romanos como Ulisses. Percy, assim como Odisseu, precisa encarar um mar repleto de monstros, tal como Cila e Caríbdis. Cila se trata de um monstro marinho que devorava as pessoas que passavam por seu rochedo e Caríbdis um redemoinho que sugava as embarcações e fazia com que grandes navios sumissem no mar. Percy também encontra Polifemo, um ciclope, filho de Poseidon, que habitava uma ilha e devorava quem se atrevesse a pisar nela. Na narrativa original da Odisseia, Odisseu foge de Polifemo embriagando o gigante de um olho só e quando o gigante perguntava que ele era, ele respondia: ninguém. Essa passagem se tornou muito conhecida, por tornar o gigante incapaz de contar quem o havia ferido ou de fazer queixas ao seu pai. Além disso, aparecem diversos deuses como Dionísio, Hades, Hermes, que são pais dos semideuses responsáveis por toda a trama do filme. Também destacam-se as criaturas mitológicas: sátiros, centauros, ninfas, minotauro, entre outros. Todos compondo um cenário moderno, mas, ao mesmo tempo, completamente embasado na mitologia grega tradicional. Conclusão: Ao avaliar este projeto, acredito que ele tenha alcançado seus objetivos, pois os alunos passaram a ler mais, sentiram-se incentivados aos estudos literários, principalmente por assuntos ligados à antiguidade. Além disso, aprenderam a refletir e a investigar os filmes a que assistem, desenvolvendo, assim, um pensamento crítico em relação às informações às quais eles têm acesso. Discutimos diversas vezes a problemática de nosso projeto, que queria desvendar o elevado interesse por esses filmes, e chegamos à conclusão de que esse apreço pelos filmes mágicos se dá porque o ser humano não é um animal inteiramente racional, também há em nós uma parte irracional, emotiva, sentimental, que tem necessidade de ser privilegiada em vários períodos da vida. 58 Estações de Aptidão V Compreendemos que apesar da história mudar, as sociedades se desenvolverem, e os meios de produção e subsistência se alternarem constantemente, a essência do ser humano não muda, ainda temos os mesmos sentimentos que tínhamos na antiguidade; reconhecemos facilmente as sensações de sermos injustiçados, de estarmos tristes ou felizes. Além disso, choramos e rimos e sonhamos como fazíamos no período antigo, no medievo, na modernidade, e, com certeza, será assim pelos séculos seguintes. Em face disso, concluímos que é devido à própria maneira de Ser dos humanos que produz em nós o interesse por esse filme e tantos outros parecidos. O fantástico e o imaginativo sempre nos intrigaram e continuarão nos intrigando, isso porque, substancialmente, somos seres imaginativos e criativos. Referências: BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. 13. Ed. Petrópolis: Vozes, 1999. COMMELIN, P. Mitologia grega e romana. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000. HESÍODO. Teogonia. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Roswitha Kempf, 1984. Os trabalhos e os dias. Trad. Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1989. HOMERO. Ilíada. Trad. Odorico Mendes; pref. Augusto Magne. Rio de Janiero / São Paulo / Porto Alegre: W. M. Jackson Inc., 1950. (In: Clássicos Jackson, vol. XXI) Odisséia. Trad. Odorico Mendes; org. Antônio Medina Rodrigues, pref. Haroldo de Campos. São Paulo: Ars Poetica / EDUSP, 2000. REALE, Giovanni. História da filosofia: antiguidade e idade média. São Paulo: Paulus, 1990. VERNANT, Jean Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. São Paulo: Paz e Terra, 1990. Estações de Aptidão V 59 Professor Paulo Sergio Tio Arquiteto, urbanista, ilustrador, kirigamista, cenógrafo, professor e artista plástico. Graduado em Arquitetura & Urbanismo pela Universidade Estadual de Londrina e Curso de Aperfeiçoamento em Gerenciamento de Projetos pela FATEC/ CPLAN – SP. DESENHO, ARTE, CRIATIVIDADE E PROCESSOS DE CRIAÇÃO APRESENTAÇÃO O tema “Desenho, Arte, Criatividade e Processos de Criação” teve a intenção de trazer às crianças um pouco do universo das artes e seus processos de criação. Através da teoria e da prática, foram oferecidas várias experiências em arte relacionadas ao desenho, à pintura, escultura e fotografia. Além disso, em todas as práticas também foi dada uma introdução à história da arte. Quando falamos em arte em suas várias subdivisões, devemos ter em mente que todas possuem, de modo geral, seus processos de criação. No entanto, cada um pode ter uma visão diferente sobre cada assunto, seja em desenho, pintura, escultura ou fotografia. A intenção é estimular sempre que a criança crie seus próprios processos e demonstrar que a arte, em tese, não tem função específica. Quem deve chegar a esta conclusão, se tem ou não função, é a própria criança - talvez ela a encontre ou simplesmente passe a vida inteira praticando-a apenas por prazer. O que, convenhamos, não é uma dúvida tão importante. 60 Estações de Aptidão V JUSTIFICATIVA Tendo o claro entendimento de que sempre aprendemos a desenhar, antes mesmo de escrever o ensino do desenho, é sempre uma boa oportunidade para que as crianças possam descobrir e experimentar uma vivência criativa. É bom ressaltar que não devemos direcionar sobre o que ela deve ou não fazer e, sim, mediar a sua relação com as ações. Ressaltamos aqui os ensinamentos de Mirian Celeste Martins, professora e pesquisadora, quando afirma que a escola tem pautado o ensino com base na racionalidade humana, sem considerar o caráter simbólico do homem. As escolas, hoje em dia, visam mais o ensino dos conteúdos do que a expressão artística da criança. Ela ainda afirma que é sempre por meio da arte, do desenho e de sua percepção, que a criança vive experiências importantes em sua formação física, psíquica e social. Outros pesquisadores também defendem a ideia de que a arte pode sempre ser envolvida pelas diversas áreas da educação e desta maneira formar cidadãos mais sensíveis e eficientes, nos vários campos de atuação. Quando ensinamos às crianças várias possibilidades de criação em arte, seja através do desenho, pintura, escultura ou fotografia, damos apenas ferramentas para que elas possam exercitar suas potencialidades criativas. O intuito do ensino da arte não é necessariamente formar artistas e, sim, pessoas, cidadãos ativos, criativos e competentes. Assim como a linguagem falada e escrita, a linguagem do desenho serve para que as crianças mapeiem o seu mundo e se situem nele. Com a fotografia isto também pode acontecer, mesmo que não disponham de equipamento para fotografar (apesar de dispormos de tantos dispositivos para isso atualmente). Elas podem simplesmente fotografar com os olhos, com a imaginação e, em conjunto com técnicas de desenho, “fotografá-las” com lápis de cor, canetinhas ou pincéis. Estações de Aptidão V 61 Em resumo, devemos encarar o mundo das artes como algo extremamente necessário à nossa vida: não devemos ter o errado e pejorativo entendimento de que ela é um passatempo. Ela sempre existiu, desde as antigas pinturas rupestres, que tinham alto significado para quem as fazia, até os dias de hoje com a arte contemporânea. A arte conduz artista e expectador, por vezes, para dentro da obra. Devemos entender ainda que, apesar da arte sempre situar-se num plano movediço ela não deve representar uma incerteza quando relacionada à educação e muito menos à vida. OBJETIVO GERAL O objetivo do ensino da arte é sempre desenvolver capacidades sensoriais latentes nos alunos, envolvendo visão, tato e audição. Através de exercícios auditivos, fazer com que percebam formas, cores e até cheiros e tudo isto se faz através do afloramento de suas memórias, de suas experiências vividas. Estimular a coordenação (tato) através de exercício como desenhar sem ver, de ponta cabeça, espelhado ou com a mão invertida (troca de mão para destros e canhotos). Através de vários processos de criação, estimular outros com o intuito da experimentação e investigação. Desenvolver o senso crítico através da arte: uso da história da arte para destacar as experiências aplicadas como, por exemplo, relatar sobre a importância das pinturas rupestres para os povos primitivos e para o entendimento de como se deu o processo de formação intelectual e artística do homem. É sempre através da arte que os homens se expressaram. Devemos falar da pintura, da escultura, da fotografia, mas não devemos nos esquecer da literatura, da música e de como tudo isto se modificou através dos séculos. Reforçando o que foi dito acima, todos nós temos muitas capacidades latentes. O desenvolvimento delas é simplesmente uma questão de prática e só aprendemos a desenhar bem se nos esforçamos muito para isto, assim também é com a literatura, 62 Estações de Aptidão V a música, a escultura. Sempre reclamamos que não temos talento para isto ou aquilo. Será que, de fato, não abandonamos nossas capacidades criativas e modo de nos expressarmos em detrimento de uma educação que nos engessa, apenas nos conduzindo ao mercado de trabalho? Deveríamos parar para pensar em algumas questões: Como a arte me afeta? Como posso me apropriar dela? OBJETIVOS ESPECÍFICOS Apresentar referências artísticas possibilita sempre uma compreensão do fazer artístico. Através do conhecimento dos diversos processos de criação artísticos, independente do material oferecido (lápis, pastel, grafite em pó, monotipia, escultura em argila ou em papel, fotografar com máquinas artesanais, etc.), o aluno pôde experimentar e criar por si só, expandindo cada vez mais o seu repertório artístico. O curso não teve o intuito de criar artistas e devemos ressaltar que a absorção do conteúdo dado é diferente em cada pessoa. A condução dos conhecimentos para uma vida profissional futura seja ela em qualquer área - nas ciências humanas, biológicas ou exatas, poderá ou não ocorrer. Foram apresentadas às crianças novas possibilidades de visualizar algo. Talvez, em princípio, seja difícil de entender, mas podemos ver algo sem realmente vê-lo. Para ver o que não vemos (este é um exemplo de exercício sem modelo para observação visual) podemos nos apropriar da escultura ou do desenho, ativando a nossa memória através do tato. Entender tais procedimentos, na raiz de seu significado, é o que nos faz ter um repertório sensorial e de conhecimento artístico maior. Volto a frisar que não precisamos, necessariamente, nos tornar artistas, apenas estamos exercitando o nosso cérebro, para que novas sinapses ocorram e novas conexões se formem. Com isto, talvez consigamos mantê-lo mais ativo, no intuito de favorecer nossas atividades do dia a dia ou simplesmente nos ajudar a ter uma velhice melhor, mais cognitiva. Estações de Aptidão V 63 REFERENCIAL TEÓRICO A professora e pesquisadora Mirian Celeste Martins possui vários estudos relacionados ao ensino da arte nas escolas. Ela propõe duas ações fundamentais: o desvelar e o ampliar. O desvelar, segundo a autora, é dar espaço para a expressão da criança, em toda sua vazão, no que se refere ao seu repertório sonoro, gestual, de falas e imagens. O ampliar norteia o caminho para a criança enriquecer seu repertório pessoal. O professor é importantíssimo neste processo e junto com a criança compartilha das descobertas e fracassos. Sua cumplicidade leva-o a elogiá-la e/ou incentivá-la em todos os momentos em que for necessário. Os artistas que seguem abaixo são as referências para cada área: • Desenho e pintura: Lygia Clark; • Escultura: Alberto Giacometti e Lygia Clark; • Fotografia: Sebastião Salgado e Evgen Bavcar. METODOLOGIA Em todas as aulas envolvendo poéticas como desenho, escultura e fotografia, tentou-se encaminhar as ações de maneira a não privilegiar o fazer por fazer. Para cada novo tema, nova descoberta, aplicou-se uma técnica diferente, seja através do modo de fazer ou com novas ferramentas. Devemos ter a noção de que a criação nunca parte do conhecimento aprimorado de uma ou outra técnica e o curso não prezou pela formação de especialistas. O que se observou foi que cada criança se apropriou de uma ou outra ferramenta de modo bem particular e isto acabou por refletir em suas ações e, por fim, estas foram traduzidas em novos processos de criação. 64 Estações de Aptidão V Deixá-las livres para descobrir todos os processos envolvidos nestas experimentações permitiram que elas exercitassem a auto-expressão e assim potencializassem os seus resultados. REFERÊNCIAS E METODOLOGIA Não podemos dizer que o ato de desenhar é inato ao ser humano, é algo que se aprende, é cultural. No entanto, o desenho acaba sendo uma das primeiras maneiras de nos relacionarmos com o meio em que vivemos. Em nossa infância, adotamos o desenho quase como algo essencial à nossa comunicação. Devemos atentar para a correta mediação, pois esta conexão com o mundo interno e externo da criança é ainda muito tênue, ela necessita que se tome extremo cuidado. Suas mensagens saem de sua alma, são frescas e cheias de sentimentos. Ao longo de nossas vidas as sufocamos em detrimento da linguagem escrita. Por meio da arte é que podemos resgatar estas linguagens esquecidas ou relegadas ao segundo plano – desenho, pintura, escultura, fotografia e por vezes música e literatura. Através de exercícios práticos com base teórica podemos dar resignificado àquilo que, no início de nossa vida cognitiva “entendíamos” e praticávamos (as relações sensoriais) com mais frequência. Em suma, quando crianças, aprendíamos a ser cada vez “mais humanos” através dos estímulos recebidos. Esta correta mediação que vem, em primeira instância, de nossos pais e depois com a escola (lembremos que muitas outras coisas também são necessárias) é que em teoria irá “formatar-nos”. Vários exercícios de experimentação foram adotados para que a criança tivesse contato direto com o fazer: confecção de esculturas em papel, em argila, com massa fria, desenhos com a técnica de “chiaroscuro” (claro e escuro), onde se obtém o resultado através da subtração do grafite espalhado pelo papel, com o auxílio de borracha e/ou mata-borrão. Através Estações de Aptidão V 65 de técnicas em fotografia as crianças puderam “mapear” o território em que atuavam, ao fotografar; assim conseguiam significar cada imagem captada, ou seja, perceberam que uma simples foto podia dizer muita coisa através da forma, da cor ou da luz que incidia sobre ela. Outra coisa que perceberam é que a fotografia também pôde ser usada como uma linguagem narrativa – pequenas histórias puderam ser contadas a partir de alguns clicks. A partir do referencial neoconcreto de Lygia Clark, foram propostas experimentações com desenhos bi e tridimensionais. A experimentação de várias formas e objetos serviram para parametrizar determinadas aulas, onde as crianças puderam perceber que formas tridimensionais podem muito bem ser representadas de maneira bidimensional e vice-versa. A escultura de Alberto Giacometti nos diz muita coisa e foge do padrão realista com o qual estamos acostumados. Suas esculturas de pessoas filiformes, caminham, postam-se eretas, são enormes e parecem mesmo quererem ser diferentes. Estas características serviram para elaborar um trabalho com as crianças, onde se procurou extrair o que estava contido lá no fundo de suas almas e se materializasse sem prévio planejamento, sem esboços, sem “muito pensar”. Com a fotografia podemos criar um mundo à parte, viajar por ele, nos inserir nele. Fotógrafos como o brasileiro Sebastião Salgado nos dão a dimensão de quão poderosa é a fotografia. Outro fotógrafo que nos traz o olhar da alma é Evgen Bavcar, esloveno, ficou cego aos 12 anos. Ele apenas não podia ver com seus olhos, mas fotografa com os ouvidos, com a mão e principalmente com o coração. CONCLUSÕES A proposta foi desenvolver aulas teórico/práticas, quando cada experimentação possibilitasse o contato das crianças com atividades que não faziam parte do seu cotidiano. Retirálas de um campo e colocá-las em outro na qual não estavam 66 Estações de Aptidão V acostumadas fez com que revisitassem seus parâmetros com relação à arte. Com isso, a apreensão, tanto para os novos quanto os antigos assuntos, tornaram-se mais eficientes. Em resumo, ao experimentar um conteúdo diferenciado puderam acrescentar novas formas de expressão em seus repertórios individuais. REFERÊNCIAS FELDMAN, Edmund Burk. Uma Teoria Humanística na Educação Artística. Becoming human through arts: aesthtic experience in the school. Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice Hall, 1970. Trad. Edith Ponce, 1976. Revisão Terezinha Rosa Cruz e Helena Ribeiro S. Barcellos. Universidade de Brasília, IAU/Depto de Desenho. READ, HERBERT. A Educação pela Arte. Lisboa: Edições 70, 1982 MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Aprendiz da Arte: trilhas do sensível olhar-pensante. Ed. Espaço Pedagógico, São Paulo, 1993. MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. OSTROWER, Fayga – Criatividade e Processos de Criação, Ed. Vozes, 1 ed., Petrópolis-RJ, 1977. MINISTÉRIO, Cristiane. Lições para sair da fôrma! Revista AMAE Educando, n. 333, p. 16-20, Belo Horizonte, agosto 2005. JUBRAN, Alexandre – Desenho à mão livre – materiais e anatomia, Ed. Criativo, São Paulo, 2011. Estações de Aptidão V 67 ARNHEIM, Rudolf – Arte e Percepção Visual, trad. Ivonne Terezinha de Faria, Livraria Pioneira Editora, 4ª ed.,São Paulo, 1986. EDWARDS, Betty – Desenhando com o Lado Direito do Cérebro, trad. Ricardo Silveira, Ediouro, 2ª ed.,Rio de Janeiro, 2000. GENET, Jean – O Ateliêr de Giacometti, trad. Célia Euvaldo, Editora Cosac & Neify, São Paulo, 2012. BAVCAR, Evgen. O Corpo, Espelho Partido da História. In: NOVAIS, Adalto (Org.) O homem-máquina. A ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SALGADO, Sebastião – Êxodos. Companhia das Letras, São Paulo, 2000. FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta – Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios. Campinas, SP: Papirus, 1993. MIRADAS, Projeto. Miradas: Oficina de imagens e Narrativas. Revista Oikos, Vol. 6, Nº 2, 2007. Disponível em 10 de setembro de 2012 em: http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/ article/view/33/29. Site sobre Lygia Clark - http://www.lygiaclark.org.br/biografiaPT. asp 68 Estações de Aptidão V Professora Taciana Lopes Coppo Licenciada e Bacharel em Ciências Biologicas pela Universidade Estadual de Londrina, Mestra em Ciências Biologicas pela Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Gestão Ambiental pelo ESAP, Professora no Colégio Pontual. DNA E SEUS MISTÉRIOS – O RETORNO Problemática e justificativa O presente projeto é uma releitura do projeto DNA e seus mistérios, um pouco de engenharia genética apresentado às estações de aptidão no ano de 2010. Atendendo aos pedidos de muitos alunos que não tiveram oportunidade de realizar a primeira apresentação do projeto, foi proposta uma releitura do mesmo. Os avanços tecnológicos aplicados à Ciência estão além do que se podia imaginar há alguns anos. Os estudos da Biotecnologia, Genética e Biologia Molecular são exemplos. Atualmente, palavras como clonagem, transgênicos, células tronco estão em voga. Na escola, são abordados tais assuntos especialmente nas disciplinas de Biologia e Ciências, entretanto muitos dos avanços que tais áreas apresentam não são mencionados. Assim é necessário trazer ao aluno conhecimentos mais recentes, proporcionando contato de forma mais prática, com análise de modelos e também realização de técnicas laboratoriais, para que o aluno: compreenda como se realiza uma pesquisa científica, qual o papel da ética nestes e entenda o significado de tantos avanços obtidos pela Engenharia Genética, enfocando seus pontos positivos e negativos. Os avanços da ciência, especialmente na área biológica, sempre ocorreram após a descoberta de novas tecnologias e metodologias de investigação. Assim, à medida que os avanços ocorrem o conhecimento científico se aprimora. Mais Estações de Aptidão V 69 recentemente, tal incremento ocorreu na área da Biologia Molecular e Genética, fato que propiciou um avanço na compreensão das funções celulares e de processos vitais até então pouco esclarecidos. Como este progresso se deu de maneira rápida, certamente houve dificuldade, no meio escolar, em manter atualizado o processo ensino aprendizado englobando essas novas descobertas. Desse modo, este projeto é uma forma de atualizar e colocar os alunos mais em contato com o mundo da engenharia genética, enfocando seus objetivos, técnicas e principais contribuições para a humanidade, com base em uma discussão ética. Objetivos do Projeto O objetivo maior desta releitura foi ampliar os conhecimentos sobre a molécula de DNA a um maior número de alunos, colocando os princípios e técnicas biotecnológicas de maneira mais simples, enfocando estrutura e funcionamento do DNA, bem como sua importância como molécula detentora da vida e norteadora de diversos processos tecnológicos. Além disso visou-se demonstrar os avanços da Engenharia Genética no mundo atual e trazer para o conhecimento do aluno as técnicas que são utilizadas nesta área da ciência. Colocar ao mesmo, um panorama do mundo futuro com os avanços desta ciência, enfocando os pontos bons e ruins da manipulação genética. Sendo os objetivos específicos os seguintes: • Conhecer a molécula de DNA, sua localização, estrutura e função; • Construir modelos da molécula de DNA e compreender os processos de transmissão de caracteres genéticos; • Compreender o que é o código genético e quais suas aplicações; 70 Estações de Aptidão V • Compreender o que é Engenharia Genética e sua atuação no mundo atual; • Conhecer os processos biotecnológicos que existem na atualidade e também os que se apresentam na ficção, especificamente em filmes e seriados; • Conhecer os avanços da Engenharia Genética e realizar práticas laboratoriais para estudo do DNA; • Discutir como será o mundo futuro com o crescimento da Engenharia genética, quais serão os riscos e benefícios da manipulação gênica; Fundamentação teórica DNA – ácido desoxirribonucléico – é uma molécula presente nas células dos seres vivos, desde os mais primitivos, até os considerados mais evoluídos. Ela contém toda a informação genética do organismo e controla, através de mecanismos específicos, todas as funções e características do ser que a contém. Em abril de 2013, celebrou-se os 60 anos da descoberta da estrutura da “molécula da vida”, o DNA. Essa molécula, que tem sido tão citada pela mídia em artigos que tratam dos avanços alcançados pelo projeto genoma, dos testes de Figura 1: Esquema de molécula de DNA. paternidade, da biotecnologia, dos alimentos transgênicos e da clonagem, é um tema que pode gerar um projeto escolar muito rico, capaz de contribuir para a construção de um ensino Estações de Aptidão V 71 significativo e que contemple aspectos envolvendo uma interação entre a ciência, a tecnologia e a sociedade (Ferreira & Justi, 2004). A dupla hélice do DNA é, provavelmente, a estrutura molecular mais representada na atualidade. Tem sido utilizada como apelo para vendas em rótulos e em comerciais de vários produtos e, também, apresentada como ícone da ciência, desenvolvimento e modernidade nos mais diversos eventos. Porém, grande parte da população mundial não compreende esses conteúdos científicos e talvez essa dificuldade seja decorrente da própria natureza abstrata desses conceitos, como é por exemplo, o caso da estrutura da molécula de DNA, sua duplicação e replicação, proteína ou gene, síntese de proteínas, dentre outros (Jann & Leite, 2010). Os conhecimentos na área de genética são de natureza interdisciplinar e apresentam relação direta com o contexto social contemporâneo (Ferreira & Justi, 2004). A sociedade necessita ter acesso aos conhecimentos científicos desta área para que possa se engajar em debates e opinar sobre grandes temas que afligem a humanidade como, por exemplo, as pesquisas em genética e suas aplicações na área da saúde e ambiente (Jann & Leite, 2010). E é por meio da educação que conseguimos esses avanços. Segundo Vigotsky (1991), a educação, como tantas outras áreas de conhecimento, pode assumir “uma parte ativa de um processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas”. Figura 2: Biotecnologia possibilitou o desenvolvimento de técnicas laboratoriais de manipulação de genes. 72 Estações de Aptidão V A Biotecnologia, área multidisciplinar composta de conhecimentos da Biologia Molecular, Bioquímica e Engenharia Genética, tem se desenvolvido rapidamente nos últimos vinte anos constituída de técnicas científicas que permitem a manipulação gênica. Seus legados têm sido um dos assuntos científicos mais comentados pela mídia em todo o mundo em função de suas importantes aplicações em diversos campos como medicina, química industrial, agricultura (Ferreira & Justi, 2004). Consequentemente, aspectos relacionados a essa área passaram a fazer parte da maioria dos currículos propostos para o ensino de ciências (AAAS, 1990; Brasil, 2000; DFEE, 1995; Ministerio de educación, cultura y desporte, 2001). Embora a abordagem predominantemente memorística e estanque dos conteúdos da Biologia venha sendo combatida, já há algumas décadas, persiste ainda em muitas salas de aula a utilização de modelos, jogos e outros recursos didáticos vêm modificando esta situação (Benedetti et al., 2005). Segundo Jann & Leite (2010) com Figura 3: Ovelha Dolly, o desenvolvimento da Ciência e concebida através da técnica Tecnologia, é fundamental dar de clonagem – uma das técnicas mais controversas da maior atenção ao estudo destas Biotecnologia. disciplinas nas salas de aula, portanto, faz-se necessário buscar novos recursos didáticos que facilitem o processo de aprendizagem, principalmente, despertando o interesse dos alunos. A compreensão dos conceitos básicos de DNA, genética e Engenharia Genética, pode ser facilitada pela inserção de recursos didáticos no processo ensino aprendizagem. Neste ponto, técnicas e atividades lúdicas utilizadas pelos professores em sala de aula são recursos valiosos. É desejável, entretanto, que se assegure uma dinâmica de aula capaz de estimular o Estações de Aptidão V 73 interesse dos alunos, por isso é necessário variar as técnicas e as atividades de acordo com os conteúdos e as habilidades que se pretendam desenvolver (Soncini e Castilho, 1990). Uma das principais vantagens do uso de instrumentos didáticos numa abordagem educacional é a de que os estudantes são participantes ativos ao invés de observadores passivos, tomando decisões, resolvendo problemas e reagindo aos resultados das suas próprias decisões (Franklin et al., 2003). Stortti e Pinhão (2007) mencionam que esta construção do conhecimento pressupõe também o apoio daqueles que detém o saber já sistematizado, ou seja, a mediação do que sabe mais como ponto de apoio aos aprendizes. Desta forma, segundo Benedetti et al. (2005), Konder (2006) e Jann & Leite (2010), há uma ferramenta muito prática para resolver os problemas apontados pelos educadores e alunos, onde a falta de estímulo, a carência de recursos e aulas repetitivas podem ser resolvidas com eficiência, pois associam as brincadeiras e a diversão com o aprendizado. Os alunos são estimulados e acabam desenvolvendo diferentes níveis da sua formação, desde as experiências educativas, físicas, pessoais e sociais. Gomes e Friedrich (2001) afirmam que práticas lúdicas melhoram o desempenho dos alunos, pois propõe momentos de aprendizado e diversão, além de estimulá-los a trabalhar em equipe. Segundo a argumentação de Konder (2006), a educação precisaria aproveitar melhor a potencialidade do lúdico como fonte de satisfação, divertimento, risos e mesmo de sátira, possibilitando ao aluno a aprendizagem da crítica, inclusive em relação a si próprio e ao professor. Para o autor, a maioria dos professores, no entanto, esquiva-se, protegendo-se de tal exposição. Ao não proporcionar ou restringir as oportunidades do “brincar em sala de aula”, o professor pode estar reagindo à dimensão crítica e lúdica do brincar, talvez tentando garantir a segurança de seu saber que, assim, se manteria inquestionável. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o estudo das Ciências Naturais deve utilizar diferentes métodos 74 Estações de Aptidão V ativos, pois um estudo exclusivamente livresco deixa enorme lacuna na formação dos estudantes. Macedo e colaboradores (2005) apontam a influência da afetividade no desenvolvimento e na aprendizagem, pois dificilmente se adquirem conhecimento sem desejo, interesse e motivação. Os PCNs trazem, assim, uma proposta de trabalho para tornar o ensino efetivo, como parte essencial para a formação cidadã. A interdisciplinaridade aparece nesse documento como uma prerrogativa para a promoção de um aprendizado integrador, com caráter prático e crítico, cujo objetivo é desenvolver competências que possibilitem uma visão de mundo atualizada, a capacidade de compreensão das problemáticas abordadas pelos meios de comunicação e a ação e relação do ser humano com seu meio social e suas tecnologias (BRASIL, 2000). No âmbito das propostas dos PCN de ensino médio, o DNA é um tema que pode ser amplamente trabalhado através de uma abordagem interdisciplinar, integrando principalmente as áreas de química e biologia, e promovendo uma relação entre progresso científico e avanço tecnológico que, por sua vez, pode imprimir mudanças de hábitos e mentalidade em nossa sociedade. Mais atualmente os modelos de ensino do Paraná também expressam essa necessidade de um estudo mais atual e aprofundado dos princípios e importância do DNA e processos biotecnológicos (PARANÁ, 2008). Os cadernos de expectativas de aprendizagem (PARANÁ, 2012) deixam claras a necessidade da descrição do material genético em sua estrutura e composição, vinculada a uma abordagem histórica que permita o desenvolvimento de um posicionamento criterioso relativo ao conjunto das construções e intervenções humanas no mundo, como nos processos de clonagem e alterações genéticas, amplamente discutidos pela Bioética. Segundo Ferreira & Justi (2004) estudos realizados na Europa têm evidenciado que estudantes na faixa etária de Estações de Aptidão V 75 13-18 anos apresentam ideias confusas sobre temas na área de genética como, por exemplo, função do DNA e dos genes, transferência genética, projeto genoma, clonagem. (Lewis, Leach, & Wood-Robinson, 2000; Lewis & Wood-Robinson, 2000; Martínez-Garcia, Gil-Quílez, & Osada, 2003). Alguns poucos estudos desenvolvidos no Brasil (como, por exemplo, Ripolli & Wortmanm, 2002) que investigam ideias de estudantes brasileiros sobre tais temas, bem como a prática de professores de química e de biologia aos quais temos tido acesso nos últimos anos têm nos mostrado que tanto esses temas gerais quanto temas mais específicos – como o DNA – são muito mal compreendidos pelos nossos estudantes. Baseados nestas constatações é apresentado o seguinte projeto. Atividades realizadas e concepções dos alunos. A dupla hélice do DNA tem sido apresentada como ícone da ciência, desenvolvimento e modernidade nos mais diversos eventos. Porém, com a realização do projeto DNA e seus mistérios no ano de 2010 foi possível perceber um maior interesse dos alunos para com esse tema dentro do colégio. Ao ser lançado pela primeira vez, o tema DNA apresentavase desconhecido de grande parte dos alunos, dificuldade decorrente da própria natureza abstrata desse conceito. Hoje, com a presença de um projeto e a ascensão de estudos e assuntos relacionados ao DNA, o tema ganhou um espaço, antes diminuto. Em conversas com vários alunos de séries diferenciadas fica evidente que o assunto DNA – Genética, que antes sempre ocupou um local distante, considerado de difícil compreensão pelos alunos, agora desperta curiosidade nos mesmos, principalmente nos assuntos que envolvem a Biotecnologia. Baseados nestas constatações, os trabalhos deste projeto foram realizados ao longo do ano de 2013, sendo as atividades divididas em duas fases a saber: A primeira foi realizada no primeiro semestre e constou 76 Estações de Aptidão V de um estudo mais aprofundado sobre o DNA – sua estrutura, localização e função. A segunda, realizada ao longo do segundo semestre, constou de um estudo sobre a Engenharia Genética e Biotecnologia propriamente dita – definições, usos e ética na prática destas técnicas. Houve modificação dos alunos que compunham a turma do primeiro para o segundo semestre. 1º Semestre Conhecendo o assunto: DNA As atividades do projeto se iniciaram com um questionário de identificação dos alunos e que, entre outras indagações, continha duas perguntas norteadoras para as atividades seguintes. As perguntas foram: Você já ouviu falar em DNA? Qual a importância do DNA? Assim como ocorreu no primeiro ano do projeto, a maioria dos alunos respondeu, entre outras palavras, que o DNA era uma molécula que existia nas células, mas que não sabiam qual a sua real função. Porém, a concepção de que o DNA era base apenas para o teste de paternidade mudou, em 2010 quase 100% das respostas relacionaram a sigla DNA a teste de paternidade, em 2013 esse percentual caiu para 68%, sendo as demais respostas associadas a procedimentos como clonagem e transgenia. A segunda pergunta desta mesma atividade foi: O que é Biotecnologia? Para que ela serve? Você acredita que ela traz mais riscos ou benefícios à vida? As respostas foram parecidas aos anos anteriores. Aproximadamente 40% dos alunos responderam que não conheciam este termo (Biotecnologia). Os demais apresentaram variadas respostas, sendo a mais comum (34,5%) aquela que associava engenharia genética à técnica que “mexia com os genes” sendo as atividades de clonagem, transgenia, teste de Estações de Aptidão V 77 paternidade e solução de crimes as mais citadas (100% das respostas citaram ao menos uma dessas atividades). A maioria dos alunos (66%) disse que há pontos bons e ruins. Entre os bons, destacam a cura de doenças de maneira mais específica e eficaz, aumento de produtividade na agricultura sendo um passo importante no combate à fome. Entre os ruins que a Biotecnologia é uma atividade de risco à vida, pois pode gerar armas biológicas de destruição em massa ou então alimentos e seres modificados que podem prejudicar a saúde. Nos chama a atenção o seguinte relato: Há ao perigo de tais técnicas caírem em mãos de pessoas gananciosas e sem ética, desta forma seria um risco, pois em nome da ganância grandes problemas poderiam ocorrer. Partindo deste ponto, verificou-se que os alunos ainda apresentavam certa dificuldade com relação ao tema do projeto, associando ao mesmo a apenas algumas técnicas Biotecnológicas e sem a visão global sobre o tema, sendo o ambiente de conhecimento sobre a molécula bem restrito. Este desconhecimento deve-se em grande parte pela faixa etária predominante dos alunos, que se encontrava entre 11 e 14 anos. Nas etapas escolares onde se encontram, este assunto ainda é pouco abordado. Muitas das respostas apresentadas apontavam o tema como assunto complicado e de difícil acesso, sendo sua compreensão complexa. Fato concordante com os autores Ferreira & Justi (2004), quando mencionam que estudantes na faixa etária de 13-18 anos apresentam ideias confusas sobre temas na área de genética como, por exemplo, função do DNA. Após esta análise preliminar, foi iniciado o trabalho. Em um primeiro momento os alunos foram apresentados ao tema DNA através da interpretação de textos, vídeos e atividades que visavam mostrar a localização, constituição e importância da molécula. 78 Estações de Aptidão V Foi apresentada a história da descoberta da estrutura do DNA, realizada pelos pesquisadores James Watson e Francis Crick em 1953. Esta descoberta foi fruto de muitas observações e a conclusão final sobre a estrutura da molécula foi realizada de forma inesperada, onde o modelo de uma escada em espiral foi a inspiração para a Figura 4: James Dewey conclusão final sobre a estrutura do Watson e Francis Crick ao lado do modelo de DNA. DNA em dupla hélice. A história da descoberta da estrutura foi de muita surpresa para os alunos. Comentários em sala foram percebidos: “Professora, quer dizer que os pesquisadores Watson e Crick usaram os experimentos de outros pesquisadores e levaram a fama?” Maria Julia, 6º ano. “Se os pesquisadores descobriram o modelo do DNA olhando para uma escada, vou começar a prestar mais atenção ao meu redor.” João Vitor, 8º ano. Estrutura do DNA Após as explicações sobre localização e função do DNA passou-se ao estudo da estrutura do mesmo. Para tal foi realizada uma atividade na qual os alunos, divididos em grupos, montaram moléculas espaciais de DNA utilizando materiais simples como palitos de sorvete, modelo impresso de bases nitrogenadas, barbante e canudinhos (modelo realizado com base na atividade que consta em Sodré et. al., 1999). A atividade simula uma molécula em tamanho ampliado. É possível ver características distintivas como a organização das bases e das cadeias de fosfato, como o DNA se enrola para se condensar, enfim o modelo reproduz a estrutura presente Estações de Aptidão V 79 em nossas células. Segundo Loreto e Sepel (2007), assim como o emprego de modelos foi fundamental no processo de descoberta da estrutura da molécula de DNA, a apresentação dessa estrutura sob forma de modelo nos diferentes níveis de ensino é um grande facilitador para a compreensão de vários fenômenos relacionados ao funcionamento do DNA. Algumas características da molécula de DNA são facilmente representadas em figuras e outras exigem esquemas mais elaborados e maior esforço de abstração. Mais uma vez a montagem dos modelos foi uma das atividades que mais atraiu os alunos, todos mostraram um engajamento e participaram de maneira efetiva tanto na própria atividade quanto nas explicações subsequentes. Esses fatos podem ser vistos nas expressões dos alunos nas imagens a e depoimentos a seguir: Figura 5: Montagem dos modelos de DNA. 80 Estações de Aptidão V “Professora, olha como parece realmente uma escada! Que interessante saber que temos uma estrutura dessas dentro de nossas células.” Rafaela ossito 5ª série em 2010. “Olha, parece uma hélice mesmo e completa uma volta a cada 10 bases, igual fala no texto. Agora, sim, consegui entender o que significa essa tal dupla hélice.” Vitor Miyada 5ª série em 2010. Interessante observar que os pontos que mais chamaram a atenção dos alunos foram parecidos mesmo três anos depois. “É igualzinha ao que o texto dizia, cada parte do modelo corresponde a um material da estrutura e no fim parece uma escada mesmo!!” Maria Julia 6º. ano. Passagem da característica genética Após finalizadas as atividades sobre a estrutura do DNA, passou-se à explicação de como ocorre a transformação da informação genética do DNA para a formação da proteína. Desta maneira foi explicada a expressão “código genético” e o como esse código controla e determina nossas características. Foi exposto aos alunos que neste processo há primeiramente uma etapa chamada transcrição do código que está no DNA, na qual a parte do DNA que contém as informações da proteína de interesse é literalmente copiada, formando uma nova molécula que sai do núcleo para ser lida no citoplasma (momento chamado de tradução), à medida que a molécula vai sendo traduzida há a formação da proteína de interesse. Estações de Aptidão V 81 Figura 6: Tabela do código genético utilizada pelos alunos para a realização das atividades Esta atividade foi realizada em sala de aula através de um jogo de transcrição/tradução, no qual os alunos realizavam a tradução de uma molécula de RNA com base na estrutura do código genético. Os alunos deveriam interpretar a tabela da figura 6 e compreender que a sequência de aminoácidos que formam a proteína (por exemplo que expressa a cor do cabelo) era determinada pela sequência de bases nitrogenadas do DNA. Tal atividade foi bem recebida pelos alunos e seus resultados podem ser expressos nos seguintes trechos: “Todas as características do nosso corpo estão escritas no DNA e em código, a célula consegue ler essa mensagem e formar a proteína correta.” Gustavo, 8º ano. 82 Estações de Aptidão V “Assim como a gente escreve em códigos a célula tem seu código. Ele se baseia nas letrinhas A,T,C e G [bases nitrogenadas. Elas formam um código que expressam uma proteína. Nosso corpo é basicamente proteínas, assim o código genético determina todas as nossas características.” Nathan, 8ª série. Jogo de DNA – Importância da leitura correta do DNA Para complementar os conhecimentos da importância dos processos de transcrição e tradução ocorrerem de maneira os alunos foram levados ao laboratório de informática onde puderam jogar online o jogo de DNA disponível em http://www. clickjogos.com/jogo/mad-dna.html. Figura 7: Página inicial do jogo. O objetivo deste jogo foi mostrar a importância que o procedimento de passagem de informação seja preciso e extremamente correto. No jogo os alunos tinham que “fabricar” um ser vivo misturando os compostos na sequência correta apresentada pelo cientista, caso esta sequência fosse errada ao final um monstro era formado. Estações de Aptidão V 83 Assim como no jogo, qualquer erro de processamento do código genético causa danos e má formações, surgem daí as anomalias “Eu errei uma cor apenas e apareceu um monstrinho que tinha orelha de coelho, rabo de peixe e casco de tartaruga. Consegui perceber que se a leitura do DNA for errada, sai tudo errado”. Bárbara – 2º ano do Ensino Médio. “Consegui perceber que se ocorrer alguma leitura errada podem acontecer coisas ruins”. Letícia – 6º. mat. Como trabalhar o DNA na prática - Extração de DNA do morango Para finalizar o trabalho, foi realizada a extração caseira de DNA do morango, seguindo o protocolo presente em: http:// genoma.ib.usp.br/educacao/Extracao_DNA_Morango_web. pdf. Nesta, através de materiais do cotidiano é possível extrair o DNA. O objetivo foi mostrar como é realizado o primeiro procedimento laboratorial para se trabalhar com DNA de maneira mais simples e de certa forma cotidiana. A cada procedimento era explicado o fundamento teórico relacionado e, ao final do processo, foi possível perceber grande quantidade de DNA. “Para esta atividade, nós simulamos o procedimento de extração do DNA com materiais que temos em casa. Primeiro ralamos o morango, para romper as células e liberar o núcleo, em seguida colocamos água morna e detergente para dissolver as membranas do núcleo que são feitas de gordura, depois colocamos o álcool e sal que ajudam a aglomerar as moléculas de DNA. No fim, temos milhões de moléculas de DNA”. Rafael – 9º. Ano – extraído do relato do portfólio. 84 Estações de Aptidão V Figura 8: Imagens da aula prática realizada no laboratório de ciências do colégio. Divulgação dos resultados do 1º. Semestre – Mostra e banca. A primeira divulgação dos trabalhos desenvolvidos ocorreu durante a mostra de trabalhos das Estações de Aptidão, evento aberto aos pais e comunidade, no qual todos os projetos participantes das estações apresentam seus resultados. Durante o evento, os alunos se organizaram em grupos e abordaram temas expressos durante o projeto. Houve apresentação geral e respostas às duvivdas apresentadas pelas pessoas que visitavam o espaço. Estações de Aptidão V 85 Figura 9: Mostra de trabalhos do 1º semestre Através desta atividade, foi possível perceber o crescimento obtido pelos alunos acerca do assunto DNA. Foi gratificante escutar crianças de 10 - 13 anos dizendo com propriedade: “O DNA é a molécula da vida, tem a forma de hélice e é formado por nucleotídeos: fosfato, desoxirribose e bases nitrogenadas pareadas sempre Adenina com Timina e Citosina com Guanina. Essas letrinhas formam um código”. Rebeca, Letícia, Flávia e Victória – 9º ano. Através destes depoimentos, percebe-se que o projeto atingiu também o ambiente dos alunos. Figura 10: Alunos durante a apresentação para a banca. 86 Estações de Aptidão V O segundo ponto de divulgação do trabalho foi a Banca. Ao final do semestre, oralmente, os alunos apresentaram o trabalho a uma banca avaliadora, constituída por professores do colégio e assistida por alunos de diferentes projetos. Os alunos se organizaram e apresentaram o conteúdo visto ao longo de todo o semestre passando do histórico da descoberta do DNA até a explicação bioquímica da estrutura e funcionamento do mesmo. O ponto crucial foi a realização da prática da extração do DNA do morango para a plateia. Essa atividade um ponto de destaque da apresentação, também pela brilhante explicação dada pelos alunos ao longo da técnica. Ao final da apresentação, os grupos colocaram as impressões que tiverem sobre o assunto trabalhado: “O projeto foi legal para podermos perceber que o DNA está presente no nosso dia a dia e também que ele é muito importante”. Maria Julia, Beatriz, Letícia e Isabella. “A extração do DNA é o primeiro ponto a se fazer em um laboratório, aqui conseguimos realizar essa prática de maneira simples e fácil de entender”. Nathan, João Vitor, Rodrigo, Gustavo. Estações de Aptidão V 87 Equipe 1º semestre: Bárbara Guimarães Moro, Beatriz Garcia de Araújo Moreira, Bianca Gorini, Enrico Secco, Flávia Ayumi, Gabriel Armacollo, Giovana Gorini, Gustavo Fortes Pereira, Isabela Wolff, Izabella Nonaca, João Vitor Peretti, Letícia Katayama, Letícia Wendel, Maria Julia Barreiro Garcia, Nathan Lopes Nakamura, Rafael Y. Tobaru, Rebeca Portello, Rodrigo Eugênio Ferreira, Vitória Araúna. 88 Estações de Aptidão V 2º Semestre Nesta etapa, foram trabalhados conteúdos relacionados à Engenharia Genética. Assim como no primeiro semestre, os trabalhos se iniciaram com o estudo teórico quando foram apresentados aos alunos: O que é engenharia genética e biotecnologia, sua abrangência e principais usos. Os avanços da ciência, especialmente na área biológica, sempre ocorreram após a descoberta de novas tecnologias e metodologias de investigação. Assim, à medida que os avanços ocorrem o conhecimento científico se aprimora. Mais recentemente, tal incremento ocorreu na área da Biotecnologia, com ênfase na Biologia Molecular e Genética. Tais avanços foram apresentados aos alunos e deles foi possível perceber o seguinte entendimento: “A biotecnologia está presente nos dias de hoje e graças a ela temos uma produtividade maior e a cura para algumas doenças.” Carla e Marília. “A engenharia Genética é uma parte da Genética que se desenvolveu muito (...) seus procedimentos visam a manipulação dos genes. É empregada nos dias de hoje, especialmente nas áreas da medicina, investigação criminal e agricultura. Clonagem, transgenia e terapia gênica são alguns exemplos.”. Barbara, Nathan, Gustavo, João Daniel e João Ângelo. Estações de Aptidão V 89 Jogo da eletroforese A eletroforese é uma técnica usada para separar moléculas com tamanhos e cargas diferentes. Ela é bastante útil quando queremos analisar o tamanho das moléculas obtidas ou checar o resultado de uma amplificação de DNA. Basicamente consiste em aplicar um gel que servirá como matriz (algo semelhante à um mingau de maisena) para separar diferentes moléculas através do seu Figura 11: Cuba de eletroforese. peso molecular por meio da aplicação de um campo elétrico em uma máquina chamada cuba de eletroforese. Cada mistura de DNA ou proteínas é colocada em locais diferentes do gel, e este é submetido à diferença de potencial elétrico. Figura 12: Resultado da eletroforese, DNA em padrão de bandas. 90 Estações de Aptidão V Moléculas de pequeno peso molecular irão migrar para o pólo oposto mais rapidamente que moléculas maiores. Pense no emaranhado de cordas em que os menores conseguem atingir o outro lado mais rapidamente, pois ficam menos retidos nos obstáculos formados à passagem. Depois que a corrida das moléculas está terminada, gel é exposto à luz UV e os fragmentos são vistos no gel em bandas, que correspondem a diferentes tamanhos dos fragmentos de moléculas utilizadas, revelando assim como uma foto da molécula estudada (figura 12). Este é um um procedimento básico em laboratórios de genética, realizado após a extração do DNA. Para entendimento do procedimento e compreender sua importância foram realizados dois jogos. No primeiro, os alunos tiveram que, com os dados oferecidos pelo exercício, montar um padrão de eletroforese comum. Com isso, foi compreendido o que significou os desenhos de padrões de bandas de DNA. “A eletroforese é como uma foto do DNA e, quando comparamos essas fotos, podemos encontrar semelhanças e é daí que vem o teste de paternidade.” Amanda 9º. ano. Em seguida foi realizado o jogo do teste de paternidade, no qual foi apresentado o perfil de quatro pessoas (criança, mãe, pai, criminoso) de DNA eram apresentados em uma história e através dos conceitos de eletroforese, os alunos montaram os padrões de bandas. Ao final, por comparação, eles tinham que ver quem seria o possível par da criança e quem seria o possível criminoso da história. Houve grande participação dos alunos. “Professora, foi muito legal essa atividade, me senti desvendando crimes, com as técnicas do CSI”. João Daniel 8º. ano. Estações de Aptidão V 91 Visita à UEL Como atividade de conclusão sobre como se trabalha com DNA, foi realizada uma visita ao laboratório de genética da professora Dra. Silvia Helena Sofia da Universidade Estadual de Londrina. Nessa ocasião, os alunos puderam participar da realização de um procedimento de extração e análise do DNA de uma abelha além de observarem as células de sua própria boca no microscópio. Também foram apresentados aos mesmos um laboratório de genética, seus equipamentos, atividades, rotina. A B C 92 D Estações de Aptidão V E Figura 13: Visita ao Laboratório de Genética Molecular da professora Dra. Sílvia Helena Sofia da Universidade Estadual de Londrina. As figuras ilustram a extração do DNA de uma vespa (A e B) e a foto de um gel de eletroforese real, preparado no laboratório (C) mostrando o DNA do inseto. Vista geral do laboratório (D). Minutos antes da observação de células ao microscópio (E). Os alunos ficaram entusiasmados ao verem que o processo de extração foi semelhante ao realizado com a prática do morango no 1º. Semestre e que a eletroforese realmente existe e é muito utilizada. Notou-se uma grande participação dos alunos e também um interesse maior dos mesmos. Isso pode ser visto pelas fotos e comentários: “Na UEL, conhecemos o laboratório do DNA e vimos que as técnicas que aprendemos no projeto realmente acontece, foi muito legal”. Maria Julia, Beatriz Hegeto 6º. Ano. Estações de Aptidão V 93 Figura 14: Alunos no Centro de Ciências Biológicas da UEL. Engenharia Genética no nosso dia a dia Alguns conceitos de Engenharia Genética foram apresentados aos alunos através de textos e imagens, porém ao serem questionados se alguma técnica biotecnológica estava presente em suas vidas os alunos, em sua maioria, disseram que não que as técnicas de manipulação do DNA eram presentes apenas em laboratórios. Partindo deste ponto a professora levou os seguintes materiais: lata de óleo, chicletes e mistura para bolo. Apresentou aos alunos os materiais e questionou se eles eram ou não transgênicos. Figura 15: Campanha sobre alimentos transgênicos. O símbolo de transgênicos no centro do prato. 94 Estações de Aptidão V Ao final foi revelado que aqueles produtos eram transgênicos e que eram identificados com o símbolo de um triângulo amarelo com um T em seu centro. Esse símbolo é previsto por lei e todos os produtos que contenham algum ingrediente transgênico devem apresentá-lo em sua embalagem. Figura 16: Alguns alimentos que apresentam ingredientes transgênicos identificados com o símbolo. De maneira geral, os alunos se mostraram espantados ao perceberem que a biotecnologia, mais especificamente a transgenia já se encontrava em alimentos comuns do dia a dia. Muitos questionamentos surgiram no que se refere a segurança: “Professora, existe algum risco?” Beatriz Hegeto – 6º ano. Estações de Aptidão V 95 DNA na Ficção Foram apresentados episódios dos seriados Dr. House e CSI – Investigação criminal. Nesses, várias técnicas de engenharia genética foram discutidos nas áreas da medicina e investigação criminal. Com esta atividade, os alunos perceberam que a Engenharia Genética está realmente presente no cotidiano dos mesmos seja no próprio entretenimento ou na realidade, como no caso, por exemplo, de técnicas médicas e medicamentos atuais Figura 17: Análise das técnicas de engenharia genética aplicadas na medicina e em casos criminais através de episódios de seriados CSI e Dr. House. Partindo dessa ideia foi proposta uma atividade na qual os alunos separados em grupos teriam de pesquisar algum filme, seriado ou desenho que apresentasse alguma técnica de manipulação de DNA. Os alunos apresentaram os seguintes filmes: 96 Estações de Aptidão V Figura 18: Alguns filmes apontados pelos alunos. Nessa atividade, os alunos conseguiram reconhecer várias técnicas de engenharia genética e também mutações que deram origem aos grandes heróis do cinema. Ética na Engenharia Genética - Filme Gattaca – Experiência Genética. O filme Gattaca (1997) conta a história de uma sociedade muito avançada tecnologicamente, onde não havia mais classes sociais, mas, sim, a divisão da sociedade entre os “geneticamente perfeitos” - concebidos em laboratório com todas as características selecionadas e os “filhos de Deus” – concebidos naturalmente, sem manipulação e com possíveis defeitos. Estes considerados inferiores. Estações de Aptidão V 97 Os “filhos de Deus” nunca são aptos a subirem de vida, pois para todas as atividades a serem desenvolvidas é analisada a constituição genética, que sempre os desfavorecia. Na história, é apresentada a luta de um desprivilegiado filho de Deus que não aceita sua condição “inferior” para conseguir vencer essa barreira e preconceito e realizar seu sonho de ascensão social e profissional. Figura 19: Cartaz do filme Gattaca (1997). O objetivo desta atividade foi realizar uma discussão sobre a ética dentro da engenharia Genética, como seria o futuro do mundo caso ocorresse na sociedade o mesmo relatado no filme. “Eu acho que um dia pode acontecer o que foi mostrado no filme, se não existir um controle logo logo os seres humanos serão produzidos em laboratório”. João Ângelo 7º. ano. “Não tínhamos parado para pensar, porém a Biotecnologia pode ser um ponto bom ao proporcionar melhoria de vida e saúde das pessoas, mas má pois pode ser motivo de separação entre os homens, criando raças superiores” Carla 2º. Ano Ensino Médio. 98 Estações de Aptidão V Divulgação dos resultados segundo semestre - Painel e Banca Foi confeccionado um painel contendo as atividades realizadas no segundo semestre e apresentadas as impressões dos alunos sobre as atividades. Figura 20: Cartaz confeccionado pelos alunos para divulgação dos resultados do projeto Estações de Aptidão V 99 Como atividade final, foi realizada a segunda banca, nos mesmos moldes da realizada no primeiro semestre para mostrar ao colégio as atividades realizadas no segundo semestre. A grande mudança percebida entre a primeira banca e a segunda foi o crescimento dos alunos, um grande avanço no que se refere à postura, preparo, consciência e comprometimento. Não havia mais alunos relaxados, encostados no quadro, Figura 21: Apresentação dos alunos sentados no chão, mas, na banca – segundo semestre sim, divulgadores de suas pesquisas, com falas orgulhosas, estudantes preocupados com o conhecimento e o domínio de suas falas comprometidos em compartilhar com os demais colegas o que foi aprendido no projeto. Assim, desta atividade foi elaborada pelos alunos a conclusão final do projeto. Esta foi expressa pelo aluno Arthur em sua apresentação durante a banca: “Aprendemos muitos conceitos que não conhecíamos, vimos as atividades de um laboratório que trabalha com DNA e estudamos sobre o que pode acontecer no futuro. Gostamos bastante do projeto”. Beatriz Garcia – 8º ano 100 Estações de Aptidão V Trabalho que ficou. Ao longo do projeto dois pontos ficaram, o primeiro foi uma página no Facebook dedicado ao projeto que permitiu maiores discussões sobre os assuntos relacionados ao tema do projeto, além da integração entre os próprios alunos, que passaram a ter uma convivência maior. Figura 22: Capa do grupo do projeto no Facebook. Outro ponto foi a conclusão do portfólio. Cada aluno confeccionou um relato de todas as aulas do projeto contendo a impressão de cada conteúdo e as avaliações de cada atividade realizada. Com esse trabalho, o projeto ficou registrado, podendo ser utilizado para estudo por exemplo para as disciplinas de Ciências e Biologia. Além disso, o portfólio contendo a estrutura de um trabalho científico proporcionou aos alunos a realização de um registro científico. Ponto que será fundamental nas atividades escolares atuais e futuras. Figura 23: Capa do portfólio confeccionado pelos alunos. Estações de Aptidão V 101 Equipe 2º semestre: Amanda Pohl Mazzucco, Anna Carolina Pereira Lawin, Bárbara Guimarães Moro, Beatriz Garcia de Araújo Moreira, Beatriz Hegeto Arantes, Carla Silveira Piblio, Gustavo Fortes Pereira, João Angelo De Paula Baccarin, João Daniel Andrade Bezerra , Maria Eduarda de Carvalho Rocha, Maria Eduarda Hokamura, Maria Eduarda Plaza de Souza, Maria Julia Barreiro Garcia, Marilia Kaori Ueda, Nathan Lopes Nakamura, Paula Jordana de Castro Ultra, Sofia Araújo Loredo, Vitória Batisata do Valle. Considerações finais De maneira geral, os objetivos do projeto foram atingidos. Assim como ocorreu em 2010, o resultado foi satisfatório. O início das atividades foi marcado por muitas dúvidas porém ao longo do trabalho foi possível perceber sutis mudanças nos alunos. Os mesmos já se mostravam capazes de analisar notícias envolvendo descobertas genéticas, reconhecer algumas técnicas e opinar criticamente sobre os benefícios e malefícios que os avanços genéticos poderiam trazer. Desta maneira, no projeto, percebeu-se que os alunos entraram em contato e se envolveram com o tema. Muitos deles 102 Estações de Aptidão V demonstraram a assimilação desses pensamentos e em alguns momentos passaram a utilizar termos e conceitos até então desconhecidos em seus discursos, demonstrando domínio do assunto e também a capacidade de transmitir o conhecimento adquirido à comunidade externa, especialmente aos familiares, cumprindo o objetivo maior de todo projeto – envolvimento do aluno e aplicabilidade da temática na sociedade. Referências AAAS (American Association for the Advancement of Science). (1990). 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Professor Tiago Jose Gonçalves Graduado em Música pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). A DIDÁTICA MUSICAL NO ENSINO DE PRÁTICA DE BANDA: UM ESTUDO DE CASO RESUMO O presente artigo tem por objetivo apresentar considerações e reflexões acerca do ensino de música no contexto de sala de aula. É um tema que permeia o processo didático para um ensino musical efetivo. Para tanto, serão analisados os semestres em que houve a oficina de prática de banda – parte integrante das estações musicais do colégio Pontual de Londrina - . Pretende-se esmiuçar o processo a fim de detectar o papel exercido pelo professor na compreensão de conteúdos relacionados à música. A análise está calcada em referenciais teóricos, visto que o presente artigo pretende analisar as oficinas já mencionadas com base em um referencial 106 Estações de Aptidão V teórico composto por nomes como Keith Swanwick e Luiz Guarilha. PALAVRAS-CHAVE: prática de banda, música, didática, ensino, produção musical INTRODUÇÃO Apesar de a música estar presente no cotidiano da maioria das pessoas, são poucas as que dominam a linguagem musical e têm acesso a estas informações. Ter acesso a esta manifestação artística desempenha um papel fundamental na vida dos alunos, não apenas do ponto de vista da diversidade artístico-cultural, mas também no que se refere à inclusão social, resgate da autoestima, além do desenvolvimento cognitivo e psicomotor. Em Arte a Serviço da Transformação Social (2004), Clarice Libânio e Ronaldo Silva avaliam que a música também está relacionada aos sentimentos humanos, sendo que a autoestima envolve a percepção que o sujeito tem de si, seus sentimentos em relação à sua imagem. Essa imagem vinculase efetivamente ao sentimento que outrem desenvolve em relação à sua pessoa e ao produto final de seu aprendizado, no caso, no âmbito do campo da música. Em outras palavras, constrói-se a autoestima, o gostar de si mesmo, a partir do reconhecimento do seu próprio trabalho musical. Muitos projetos sociais relacionados à área musical são noticiados com frequência nos meios de comunicação, mostrando resultados significativos de transformações sociais em contextos de pobreza com pessoas que não tiveram acesso à educação. Então por que não utilizarmos a música no contexto escolar a fim de haver também esta transformação do indivíduo preparando para as escolhas do futuro? Não precisamos ver a música como a salvação da educação, mas sim como um meio de auxiliar o indivíduo em seu crescimento como cidadão. Estações de Aptidão V 107 Princípios da educação musical Segundo o educador musical Keith Swanwick (2003), há alguns princípios que devem nortear o ensino musical em um contexto escolar. No primeiro princípio, o autor recomenda considerar a música como discurso, trazendo a consciência musical do último para o primeiro plano. A menor unidade musical significativa é a frase ou gesto, não um intervalo, tempo ou compasso, ou seja, não devemos ensinar de início as relações intervalares e construção, mas sim a música como um discurso; no caso, o resultado final de intervalos e tempos, para posteriormente o professor dar o significado aos elementos presentes na música. O segundo princípio que o autor coloca é: considerar o Discurso Musical dos Alunos. Nessa teoria não seria correto basear didaticamente as aulas na premissa de que ensinaremos música para pessoas que não sabem música. Todos já tiveram um contato com música, cantando, apreciando, ou até mesmo batendo o pé escutando uma canção ou batendo palmas nos cânticos das igrejas e etc. Até as tribos mais isoladas têm suas práticas musicais. Portanto não se ensina a música como algo novo no sentido de que nunca tiveram o contato com música, o papel do educador musical é dar suporte para uma continuidade do aprendizado que já se inicia desde quando a mãe começa a cantar para a criança dentro de seu próprio útero. Portanto o aluno já vem com uma bagagem de conhecimento musical, de onde o professor pode partir do que o estudante já conhece e assim construir novos conhecimentos. Essas premissas garantem uma grande ferramenta para aceitação do conteúdo didático na sala de aula, pois o professor inicia as aulas com um assunto do qual os alunos já possuem um conhecimento prévio. No terceiro princípio, o autor propõe que haja fluência musical do início ao final. O educador que não planeja suas aulas corretamente, dificilmente conseguirá alcançar como resultado um aprendizado significativo. Uma aula bem planejada, além 108 Estações de Aptidão V de beneficiar os alunos, dá uma maior segurança ao professor na hora de lecionar. Mesmo que uma atividade não funcione, se a aula foi bem planejada certamente o professor terá outro recurso para dar continuidade ao assunto da aula. Prática de Ensino Uma das metodologias que pode ser empregada no ensino é a pratica de banda em conjunto, muito difundida pelo educador musical Luiz EduardoGuarilha, em que o professor utiliza um repertório de músicas populares, sem ser exigido qualquer domínio técnico do instrumento. As músicas são, muitas vezes, rearranjadas em sua estrutura rítmica e melódica, como por exemplo: um ritmo de bateria, onde na canção original é executado por um único músico, nesta prática é dividido em várias linhas, e cada linha é tocada por um aluno, ou seja, um ritmo de bateria que muitas vezes possui cinco linhas diferentes executadas por um único músico é dividido para vários alunos, assim,o processo integral é facilitado e o aluno consegue executar uma linha rítmica antes complexa. Nos instrumentos melódicos também é utilizado a mesma prática, por exemplo: uma canção popular que possui três acordes - tríades - na sua execução, tem os mesmos fragmentados por notas e divididos entre os alunos, sendo que cada nota da tríade é executada por um estudante, no violão, piano, baixo ou qualquer instrumento melódico (neste caso o ritmo também é reescrito para facilitar a execução). Estações de Aptidão V 109 Considerações Finais Durante o projeto das estações musicais, no ano de 2013, foi feita a prática de banda e conjunto com a metodologia baseada na proposta do educador musical Luiz Guarilha, em que são executadas canções do cotidiano dos alunos, rearranjando as músicas para facilitar ao máximo a compreensão. As aulas eram iniciadas com a apresentação da música, em seguida eram distribuídos os instrumentos para dar seguimento. Primeiramente, era tocada a música da forma que os alunos sabiam, para que em um primeiro momento pudessem sentir o prazer de uma execução imediata, desmistificando a crença de que para tocar um instrumento a pessoa tem que ter certo “dom” certamente há pessoas com facilidades maiores que as outras, por questões físicas, psicológicas, mas toda pessoa consegue aprender, mesmo que umas demorem mais do que as outras - em seguida, os acordes ou ritmos, que eram complicados para quem está entrando em contato pela primeira vez com o instrumento, eram alterados para facilitar o processo. 110 Estações de Aptidão V Ao fim do semestre letivo, foi nítida a significativa evolução musical dos alunos. Não se deve ter a ideia de que em uma aula semanal com duração limitada o aluno vai alcançar resultados expressivos técnico-instrumentais sem o estudo em casa durante a semana. Contudo, é muito válido notar que o pensamento musical, o papel de cada aluno no conjunto, e tantas outras características de um bom instrumentista podem sim ser compreendidas e trabalhadas com um resultado muito satisfatório durante as aulas. Estações de Aptidão V 111 Referências LIBÂNIO, Clarice e Silva, Ronaldo. Guia Cultural das Vilas e Favelas de Belo Horizonte, capitulo A Arte a Serviço da Transformação Social, 2004. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Tradução. Alda Oliveira e Cristina. Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003. DOMINGUES, Luiz Eduardo Guarilha. O ensino coletivo de música a partir da formação de uma banda de garagem. Monografia. Curso de Especialização em música Lato Sensu . Universidade do Rio de Janeiro, 2009 112 Estações de Aptidão V Professora Vanessa Caroline da Cruz Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina, atua como professora na rede estadual de ensino e cursa disciplinas do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu (mestrado) em Ciências Sociais da referida Universidade como estudante especial. HISTÓRIA DAS MULHERES: POSSÍVEIS ABORDAGENS “Dizem que mulher é o sexo frágil, Mas que mentira absurda! “ Erasmo Carlos Os homens. Quando utilizamos esta expressão, podemos ou não estar falando sobre as mulheres. Neste verbete, pretendemos incluir também sua participação. Se invertêssemos o gênero, no entanto, a conversa seria outra. Todos aqueles que enxergam nas reivindicações femininas apenas despeito, não tardam em defender que quando dizemos “os homens”, elas também estão lá, é só porque esse é o “correto” ortograficamente falando.1 Já, de começo, podemos perceber que até na escola é difícil falar sobre o assunto, difícil também é ser menina, em um mundo feito para meninos. Antes de se observar a dignidade humana do ser, observa-se: “Parabéns, mamãe! É menino ou menina?” Se for menino: roupas azuis, carrinhos, bolas de futebol, armas, espadas. Se for menina: roupas cor-deApesar de reconhecer a deselegância de não fazer a flexão de gênero num artigo que reflete justamente sobre esse tema, indicando o direcionamento de nossas falas às mulheres, acrescentando, por exemplo, todos (as), alunos (as), etc., manteremos a norma culta da língua portuguesa apenas para atender à formalidade da ocasião da publicação. 1 Estações de Aptidão V 113 rosa, fogõezinhos, panelinhas e bonecas. Desde cedo somos moldados para exercer certos papéis sociais que, muitas vezes, colocam a mulher em desvantagem. Diante dessas indagações e constatações, nosso projeto propôs a discussão sobre a seguinte questão: qual o papel da mulher na sociedade ocidental contemporânea? Ela é livre ou cada vez mais subjugada por imposições patriarcais? Assim, construímos nossa prática visando à edificação de um ambiente propício para o tratamento destes temas, por vezes espinhosos, por envolver uma série de questões que são pertinentes à escola, mas que se encontram no estreito limite daquilo que é considerado assunto de foro íntimo, portanto, de incumbência exclusiva da família. Através das contribuições trazidas pelo filão da história social, muitas pesquisas historiográficas têm reivindicado para si a tarefa de lançar luz sobre aqueles que sempre participaram da construção da história, mas que por uma razão ou por outra foram relegados a segundo plano no momento da elaboração de narrações sobre o passado. Este aparato teórico foi nosso guia neste trabalho (HUNT, 2001). Nossos objetivos giravam em torno de fomentar nos alunos a compreensão da construção sócio histórica da desigualdade de gênero, sua função política, social, econômica, entre outras, e a criação de condições de conscientização e relativização das mesmas, com vistas à conquista, pelo educando, de uma postura crítica, questionadora, que os capacite para conviver com/superar esta ordem social. Entre eles também figuraram o desejo de despertar a aptidão para a atuação na área das ciências humanas e abrir portas para o aprendizado específico no trato teórico-metodológico da pesquisa histórica. Nossa metodologia consistiu em promover encontros entre os estudantes e profissionais das áreas das ciências humanas e de setores especializados no atendimento à mulher, criando um clima de liberdade para a discussão de temáticas afins. Contamos ainda com a realização de pesquisas, apresentação de seminários, debates, análises de filmes, documentários, 114 Estações de Aptidão V imagens, anúncios publicitários, músicas, brinquedos, dados oficiais do governo (gráficos, planilhas, estatísticas, etc.), aulascampo, entre outras práticas definidas a partir do contato com os discentes. A questão do gênero em debate O que torna homens e mulheres diferentes entre si? O que a sociedade espera de cada um deles? A determinação sexual pela biologia dita também aquilo que somos enquanto seres sociais? Sexo é o mesmo que gênero? Afinal, o que é gênero? Esta última pergunta norteou nossas abordagens desde o início, uma vez que era necessário estabelecer estes conceitos com clareza. De acordo com as discussões realizadas pelo grupo, determinamos que sexo refere-se especificamente a determinação biológica que recebemos ainda na concepção, está ligada ao fato de termos órgãos sexuais masculinos ou femininos. A expressão gênero, no entanto, é mais abrangente e diz respeito a uma série de atribuições sociais que o indivíduo deve cumprir, de acordo com o sexo que possui, segundo a cultura em que vive. Estas funções sociais são mutáveis, variando de lugar para lugar, de época para época (GROSSI, s/d). Para Guacira Lopes Louro, é preciso observar que a “sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas é social e política [...] a sexualidade é “aprendida”, ou melhor, é “construída, ao longo de toda a vida, de muitos modos, por todos os sujeitos” (LOURO, 2000, p. 5). Dessa forma, a autora apresenta uma forte recusa ao argumento do “eterno feminino”, espécie de essência que acompanharia toda mulher que a tornaria meiga, dócil, submissa e afeita aos cuidados da casa, dos filhos e do marido. Para Simone de Beauvoir, toda essa construção simbólica é feita no campo da cultura e não da biologia (BEAUVOIR, 1970, p. 17). As conquistas femininas das décadas de 1960, 1970, revolução comportamental e sexual que garantiu às mulheres Estações de Aptidão V 115 o direito de, por exemplo, poder evitar a concepção através da pílula, configuraram para nós, hoje, um mundo bastante diferente daquele vivido pelas nossas mães e avós (ALVES, PITANGUY, 1985). Sobre o assunto, podemos citar um exemplo cotidiano:minha mãe, dona Rosângela, foi retirada da escola pelo meu avô aos doze anos. Isso ocorreu porque, segundo meu avô, saber ler e desenhar o nome era “o suficiente para não ser boba do marido”. Hoje, depois das referidas conquistas e de ter tido sete netas (dentre as quais quatro são formadas) e dois netos (nenhum terminou o Ensino Médio), meu avô vai com gosto às formaturas das netas e diz que o estudo é o maior tesouro que um pai pode dar aos filhos. Vivemos um momento histórico ímpar. Aparentemente, nunca houve tanto espaço para que as mulheres possam gozar de sua liberdade, mandar em suas próprias vidas, ter e exercer seus direitos. Mas se examinarmos esse momento mais de perto, com um pouco mais de atenção será que essa será a realidade encontrada? Nossa herança greco-romana, com sua carga excessivamente misógina, tem raízes um pouco mais difíceis de extirpar. Para essa sociedade, a mulher é um ser inerentemente doméstico, sua condição biológica de progenitora a faz frágil e vulnerável, incapaz de guiar-se e proteger-se a si mesma. Seus dons e talentos “naturais” para o cuidado do lar, dos filhos, da cozinha e do marido, de quem deve ser uma espécie de empregada de cama, mesa e banho, a sujeitam à condição de servidora que deve ansiar por sua atenção (BEAUVOIR, 1970). Consagrada e auxiliada por um pano de fundo religioso, que através da força espiritual de sua fala, trata de reforçar ideias e pontos de vista que legam à mulher um papel secundário, de coadjuvante na história de suas famílias, de sua sociedade e de sua própria existência, essa herança segue. O julgamento moral sobre o comportamento feminino está quase sempre relacionado à visão que, no ocidente, o cristianismo tomou a responsabilidade de construir: ou somos Maria, a mãe abnegada, que renunciou à sua vida sexual e suportou o 116 Estações de Aptidão V opróbrio de ser apontada como mãe solteira para gerar o filho de Deus. Quando associadas a ela, estamos nos congregando com a sociedade e com aquilo que ela espera de nós (BÍBLIA SAGRADA, 1993; KRAMER, SPRENGER, 2007) Quando, ao contrário, nos assemelhamos à imagem de Eva, criatura rasteira, traiçoeira, cheia de artimanhas e volúpias, estamos nos aproximando do próprio Satanás, e somos culpadas pela perdição de toda a humanidade. Afinal, foi ela quem ouviu a serpente e abriu as portas do paraíso para o pecado, sendo castigada em sua própria carne e amaldiçoando todas as demais mulheres com a submissão ao homem e as dores do parto, castigo dos céus pela desobediência (RAGO, 1985; BÍBLIA SAGRADA, 1993; KRAMER, SPRENGER, 2007). Assistimos, ao longo da história, a um violento processo de dominação masculina construída à base de elogios ao comportamento da mulher que seguiu a postura “correta” e exortações, açoites, estupros “corretivos”, espancamentos, banimentos, excomunhões, tortura, exorcismos, enforcamentos e fogueira para as que não se enquadravam nesse padrão. Se durante a Antiguidade a vida das mulheres não era um mar de rosas, a Idade Média representa a catarse da misoginia, com sua Inquisição e a caça às “bruxas”, pobres garotas que haviam cometido o terrível crime de não ter um membro masculino próximo em suas famílias, ou ter um gato preto e conhecimento de ervas (KRAMER, SPRENGER, 2007). Em Malleus Maleficarum – o martelo das Bruxas, famoso manual de identificação e tortura elaborado pelos monges dominicanos Heinrich Kramer e Jacobus Sprenger, em 1484, para servir de guia durante as investigações feitas pela Inquisição, lê-se que as mulheres são mais suscetíveis aos crimes de bruxaria e cópula com o demônio, pois, de acordo com textos bíblicos e outros, de autores consagrados datados da antiguidade, podemos enxergar exortações contra a “maldade natural da mulher”: Estações de Aptidão V 117 Que outra coisa é uma mulher, senão um inimigo da amizade, um castigo inevitável, um mal necessário, uma tentação natural, uma calamidade desejável, um perigo doméstico, um deleitável detrimento, um mal da natureza pintado com alegres cores! Portanto, se é um pecado divorciarse dela quando deveria mantê-la, é, na verdade, uma tortura necessária. Pois ou bem cometemos adultério ao nos divorciar, ou devemos suportar uma luta quotidiana. Em seu segundo livro A Retórica, Cícero diz: “Os muitos apetites dos homens levam-no a um pecado, mas o único apetite das mulheres as conduz a todos os pecados, pois a raiz de todos os vícios femininos é a avareza”. E Séneca diz em suas Tragédias: “Uma mulher ama ou odeia; não há uma terceira alternativa. E as lágrimas de uma mulher é um engano, pois podem brotar de uma pena verdadeira, ou ser uma armadilha. Quando uma mulher pensa sozinha, pensa o mal” (KRAMER; SPRENGER, 2007, p. 51). Na Idade Moderna, vemos a ativa participação feminina em todas as esferas. Num tempo de grandes revoluções, as mesmas lutaram lado a lado com os homens nas trincheiras, nas fábricas, nas plantações de cana ou de algodão, no front de batalha, orientadas pela mesma força e pela mesma ideologia, qualquer que fosse ela. Ao receber o chicote do feitor ou a lâmina da espada, estavam lá apostos, nas ruas, pelejando. No momento de colher os frutos das vitórias, no entanto, a mais antiga das formas de dominação entrava novamente em ação, e as punha porta adentro em sua eterna prisão domiciliar, para garantir a hegemonia masculina sobre a sociedade. Afinal, todas as barreiras podiam ser quebradas, menos a mais natural: 118 Estações de Aptidão V a soberania do homem sobre o “sexo frágil’, supostamente constituída pelos deuses e pela natureza. No decreto da Assembleia Nacional Francesa de 1795, observa-se a seguinte ordem dada às mulheres para que voltem aos seus lares após as lutas da Revolução Francesa, de 1789: Decreta-se que todas as mulheres se retirarão, até ordem contrária, a seus respectivos domicílios. Aquelas que, uma hora após a publicação do presente decreto estiverem nas ruas, agrupadas em número maior que cinco, serão dispersadas por força das armas e presas até que a tranquilidade pública retorne a Paris (ALVES apud FERREIRA, 2010) Na Idade Contemporânea, tempo de “perturbações” democráticas em todo o ocidente, o sufrágio “universal” excluía simplesmente metade da população da participação no pleito, como candidatas ou eleitoras (STUART MILL, 2006). Enfrentando o deboche público dos companheiros com quem, muitas vezes, dividiam a vida, o feminismo, agora constituído em movimento social, lutou para que apenas no século XX nos fosse permitido votar, salvo exceções. Foi também necessário lutar por nosso próprio corpo. Não precisar usar espartilhos sufocantes e cheios de ferros, vestidos que pesavam toneladas, saltos que nos tiravam a mobilidade, sutiãs apertados, poder viver nossa sexualidade sem a supervisão de outrem, poder escolher ser mãe, poder tomar um remédio que evitasse a gestação, entre outros (ALVES; PITANGUY, 1985) Pisando em ovos: abordando temas difíceis Quem é professor sabe bem o sufoco que se torna tentar tratar sobre temas como aids, eutanásia, pesquisas com célulastronco, dogmas religiosos e demais assuntos que possam ferir o direito dos pais de transmitir seus valores aos filhos, sem que influências externas os levem para um caminho muito distinto daquele que sonharam para eles. Com o gênero não é diferente. Estações de Aptidão V 119 Falar sobre questões consideradas tabu com meninas em fase de formação tem sido uma experiência enriquecedora, ainda que por vezes dolorosa. No entanto, é preciso abordar tais temas. Discutir a respeito, trocar ideias, relativizar conceitos há muito adotados e refletir sobre o que queremos para nossas meninas hoje e no futuro é uma tarefa que muitos organismos nacionais e internacionais tomaram para si, como, por exemplo, o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) . Segundo Fúlvia Rosemberg, as cinco conferências internacionais realizadas pela ONU (Organização das Nações Unidas), reúnem em três tópicos as metas estabelecidas pela organização para a educação das meninas: • Assegurar ou garantir o acesso total, igual ao dos homens, mais amplo e o mais cedo possível de meninas e mulheres à educação em todos os níveis (primário, secundário e superior) de educação, assim como à educação profissional e ao treinamento técnico; • Eliminar todos os estereótipos de gênero das práticas, matérias, materiais, currículos e instalações educacionais; • Eliminar as barreiras que impedem o acesso à educação a adolescentes grávidas ou mães jovens. Buscando atender a estes requisitos, nosso projeto de pesquisa contou com a participação de profissionais como a socióloga Malú Marigo, que abordou sociológica, histórica e mitologicamente a construção da condição feminina através da leitura e interpretação de imagens e vídeos, devido à importância de adquirir esta habilidade nos dias de hoje. Nesta perspectiva, observamos a constituição de uma concepção de projeto de resgate da dignidade feminina, a partir da consideração da “dupladesvantagem de se ter nascido mulher e pobre”. Sobre o referido, ver: ROSEMBERG, Fúlvia. Educação Formal, Mulher e Gênero no Brasil Contemporâneo. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8638.pdf. Acesso em 04/02/2014. 2 120 Estações de Aptidão V Recebemos ainda o EVA Coletivo, representado pelas militantes Mariane Hara e Rafaella Duarte que, na ocasião, discutiu sobre a realização da Marcha da Vadias, manifestação popular que tem acontecido anualmente em Londrina e em diversas outras partes do país e do mundo, da qual o Coletivo participa da organização. Nossas atividades com o grupo se resumiram na relativização do nome adotado pela manifestação que, na maioria das vezes, causa certo “estranhamento” em quem o ouve pela primeira vez; na leitura de imagens e fotos das passeatas realizadas na cidade e de orientações aos adolescentes para que soubessem identificar e como agir em caso de se envolver em relacionamentos abusivos que pudessem levar a uma futura situação de agressão doméstica. Por fim, mas não menos importante, contamos com a ilustre presença de Elaine Galvão, socióloga auxiliar técnica da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres da Prefeitura Municipal de Londrina. Com ela, tivemos um bate-papo acerca da atuação do poder público no intuito de prevenir e coibir a violência contra as mulheres, seja ela no âmbito doméstico, social, médico ou institucional, isto é, a violência cometida contra a mulher pelo poder público. Com a socióloga, falamos ainda sobre a importância de se acompanhar as leis e políticas propostas aos órgãos competentes por nossos legisladores, devido à tentativa de aprovação do Estatuto do Nascituro, proposta de lei que concede ao feto, a partir de sua concepção, todos os direitos e proteções legais de um ser humano já nascido, criminalizando todo o tipo de aborto, inclusive aquele motivado por gestação fruto de violência sexual, atualmente permitido por lei. O projeto defende a concessão do pátrio poder aos estupradores e uma ajuda de custo, conhecida de modo caricato como “bolsaestupro”, para que a mulher cuide da criança fruto de violência até seus dezoito anos. O projeto prevê ainda pena de reclusão às agressões contra o nascituro, que passam a ser consideradas crimes hediondos (Projeto de lei, Estatuto do Nascituro, 2007). Estações de Aptidão V 121 Contribuições discentes Ao refletir e pesquisar sobre a experiência das mulheres no tempo, nos deparamos com inúmeros dados interessantes e passíveis de análise pelos pequenos pesquisadores. Uma das experiências mais enriquecedoras que tivemos foi observar ideias de grandes intelectuais do pensamento ocidental sobre a mulher, onde encontramos as falas de Platão:“Se a natureza não tivesse criado mulheres e escravos, teria dado ao tear a propriedade de fiar sozinho” (PLATÂO, apud PERREIRA, 2004, p. 229) De Xenofonte: “que viva sob uma estrita vigilância, veja o menor número de coisas possível, ouça o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível” (XENOFONTE apud ALVES; PITANGUY, 1985); do apóstolo e autor de grande parte das epístolas de compõem o Novo Testamento, Paulo de Tarso: “que aprendam no silêncio a sua sujeição”(SÃO PAULO APÓSTOLO apud ALVES; PITANGUY, 1985); de Jacobus Sprenger: Terêncio diz: ‘No intelectual, as mulheres são como crianças’. E Latâncio em Institutiones III: ‘Mulher alguma, entendeu a filosofia, exceto Temeste’. Em Provérbios, XI como se descrevesse uma mulher, diz: ‘Argola de ouro no focinho do porco é como uma mulher formosa apartada da razão’. [...]. Mas a razão natural é mais carnal que o homem, como fica claro analisando suas muitas abominações carnais. E devemos apontar o defeito na formação da primeira mulher, que foi formada de uma costela curva, isto é, a costela do peito, que se encontra encurvada, por assim dizer, em direção contrária a do homem. E devido a este defeito é um animal imperfeito, sempre engana. Por isso diz Catão: ‘Quando uma mulher chorar, fique preso na rede’. E depois: ‘Quando uma mulher chora se esforça para enganar um homem’ (KREMER, SPRENGER, 2007, p. 52). 122 Estações de Aptidão V E ainda, de Jean-Jacques Rousseau, entre outros: Toda a educação das mulheres deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida útil e agradável – são esses os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a infância (ROUSSEAU apud PULEO, 2004, p. 17) As pesquisas realizadas pelas discentes lançaramse também a outros campos, versando sobre a estética dos personagens femininos em gibis3 e pin-ups, perfis que exaltam o lado sexual das mulheres, excluindo suas demais facetas, representando, ainda que de modo diverso daquele que fala abertamente contra a mulher, o pensamento exclusivamente masculino a respeito dela. Acompanhamos ainda discussões sobre diferentes tipos de violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha, saúde feminina, movimento feminista, movimento de mulheres, movimento sufragista, além de condição da mulher homossexual e transexual e de políticas públicas especializadas para as mulheres em nosso município, estado e país. Abaixo, encontram-se algumas imagens coletadas pelos discentes durante os estudos: BARCELLOS, Janice Primo. O feminino nas Histórias em Quadrinhos. Parte 1: A mulher pelos olhos dos homens. Disponível em: <http://www. eca.usp.br/nucleos/nphqeca/agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htm> Acesso em 05/03/14, às 18h44min. 3 Estações de Aptidão V 123 Betty Boop, famosa pin up norte-americana Mulher Maravilha 124 Estações de Aptidão V Mulher-gato em gibi do Batman. Representação de Pandora, mito grego onde a mesma, a exemplo de Eva, abre a caixa contendo todas as desgraças que há no mundo, espalhandoos. Estações de Aptidão V 125 Galeria de fotos: aula-campo Nossa experiência prática com aula-campo consistiu numa visita à região central de Londrina. Nela, contamos com a colaboração da tutora Michelle Munhoz, e orientamos o grupo de alunos a observarem as lojas, manifestações culturais, situações inusitadas e comemorações que se desenvolviam neste espaço devido ao Dia Internacional da Mulher, na ocasião do dia 08 de março de 2013. A intenção era problematizar junto aos discentes qual o tipo de celebração era proposta para o referido Dia e estabelecer uma comparação com o histórico das lutas femininas pelo reconhecimento de seus direitos e de seu espaço. Para tanto, após a experiência, realizamos pesquisas em meio virtual para buscar a origem desta festividade. O descompasso era claro: enquanto os portfólios dos alunos indicavam que haviam encontrado produtos como fogões, máquinas de lavar, sabonetes íntimos, lingeries, sapatos, joias, absorventes, produtos de limpeza, itens de beleza e perfumaria,entre outros, sendo divulgados como promoções especiais para o Dia 08 de março, e flores e decoração exageradamente cor-de-rosa compunham o cenário, a pesquisa, entretanto, revelava uma história menos rosada. A origem desta festividade é controversa. Todavia, grande parte das referências4 indicam a queima de cerca de 150 operárias adultas e outras tantas crianças no interior da fábrica em que trabalhavam em 08 de março de 1857, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, que teria sido ordenada pelos proprietários do empreendimento porque estas haviam constituído um movimento para reivindicar seus direitos. Entre as condições de trabalho que as tecelãs enfrentavam estavam: jornadas de trabalho de cerca de dezesseis horas, salários até Sobre este tópico ver: TADDEO, Luciana. Dia Internacional da Mulher: Por que essa data é comemorada no dia 8 de março? In: Revista Aventuras na História. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~barbosa/sbf-genero/Textos/ dia-da-mulher.pdf. Acesso em 03/02/2014, às 23:30. 4 126 Estações de Aptidão V sessenta por cento menores que os dos homens pelo mesmo trabalho, agressões físicas e sexuais (TADDEO, s/d). Entretanto, essa versão não foi totalmente provada. Estudos indicam que, nesta ocasião, a multidão foi violentamente dispersada pela força policial, e a versão do incêndio teria se originado da confusão com um acidente ocorrido em 25 de março de 1911, em uma outra fábrica norte-americana. Nesta variante da história, o grande número de mortos (por volta de 130 trabalhadoras entre 13 e 25 anos) deveu-se às péssimas condições de segurança da fábrica e não do intento de seus empregadores (Idem, s/d). Controvérsias à parte, fato é que a criação de um dia específico para a meditação a respeito do papel da mulher na sociedade, estabelecido pela Organização das Nações Unidas, em 1977, reflete séculos de lutas por melhores condições de vida, trabalho e, sobretudo, por igualdade, como indica a sessão pela construção da Igualdade de Gêneroda Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 2012), não constituindo, portanto, uma ocasião para a exaltação de frivolidades ou do já velho “eterno feminino”. Marcha feminina em prol de melhores condições de trabalho e vida, dia internacional da mulher. (autoria desconhecida). Estações de Aptidão V 127 Considerações finais Nossa experiência ao abordar a temática de gênero foi marcada por um certo ar risível da parte de vários alunos e alunas e, principalmente, dos professores (nesse caso, faz-se necessário enfatizar que se tratam dos homens). “Piadinhas”, insinuações, observações feitas em tom irônico foram algumas das situações que enfrentamos, inclusive dos alunos. Muitos diziam, mesmo não entender qual a necessidade da realização do projeto, já que hoje, “homens e mulheres têm iguais condições...” Porém, ao buscarmos investigar minimamente milênios de história, minhas seis meninas, meu menino e eu encontramos uma realidade tensa, culminada por um século XXI onde ainda ocorrem estupros coletivos (Índia, 2013); tentativas de assassinato de meninas que querem apenas ir à escola (Paquistão, 2012); mulheres são queimadas com ácido jogado em seus rostos por seus próprios parceiros e não encontram atendimento médico por serem automaticamente consideradas más esposas, pois esta é a punição destinada a elas (Paquistão, hoje); açoitamentos em praça pública quando da acusação de crimes de prostituição ou adultério (países islâmicos, hoje); casamentos infantis pra evitar que as meninas “se percam” (Índia, hoje). No Brasil, a cada 100 mil mulheres, 586 morrem devido à violência doméstica; no Paraná, uma mulher sofre feminicídioa cada dia (isto é, ser morta única e exclusivamente por questões ligadas à sua condição de ser mulher) e nosso estado é considerado um dos que “têm pior desempenho em relação ao tratamento dispensado às mulheres.”5 Dados retirados do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Violência Contra a Mulher no Brasil, de julho de 2013. http://www.senado. gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1. Acesso em 05/03/14, às 01h42min. 5 128 Estações de Aptidão V Vulnerabilidade à pobreza, tráfico de pessoas, esquemas de prostituição, pedofilia, estupros, espancamentos, julgamentos morais, desigualdades no mundo do trabalho, responsabilidades unilaterais no tocante a evitar a concepção e também a cuidar dos filhos desejados ou indesejados, mesmo quando frutos de violência, são algumas das dificuldades enfrentadas pelas mulheres ocidentais, em especial as brasileiras, nos tempos hodiernos.6 Estes são apenas alguns dos itens que justificam a realização desse projeto, que teve como objetivo trazer estes debates à tona, propondo um espaço para sua discussão junto às alunas e aos alunos, aqueles que poderão construir um mundo melhor. Por fim, ainda que isso não possa mudar o que aconteceu, dedico carinhosamente este artigo à minha aluna Letícia Monique, assassinada a tiros aos 17 anos pelo ex-namorado, em seu trabalho, em novembro de 2013. Ela estava ali, na minha frente, todos os dias, com seu sorriso doce. Mesmo com toda a informação, com todo o aparato de proteção à mulher que conheço, com todo o esforço em disseminar discussões a respeito, ela morreu, ao meu lado, sem que eu pudesse fazer nada pra evitar.Vou carregar essa culpa para o resto da vida. Eu sinto muito! Dados retirados do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Violência Contra a Mulher no Brasil, de julho de 2013. http://www.senado. gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1. Acesso em 05/03/14, às 01h42min. 6 Estações de Aptidão V 129 Referências ALVES, Branca; PITANGUY, Jaqueline. O que é feminismo. São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1985. (Coleção primeiros passos). BARCELLOS, Janice Primo. O feminino nas Histórias em Quadrinhos. Parte 1: A mulher pelos olhos dos homens. Disponível em: http://www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca/ agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htmAcesso em 05/03/14, às 18h44min. BEAUVOIR, Simone. 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Acesso em 04/02/2014, às 2h20min. 132 Estações de Aptidão V Estações de Aptidão V 133 134 Estações de Aptidão V Estações de Aptidão V 135 Ficha Técnica Apresentação: Estações de Aptidão V Autores •Diogo Lamonica •Francielle P.da Silva •Rodolfo Funfas •Isabela Dean Scolin •José Eduardo Vicente •Juliana Murari •Paulo Sergio Tio •Taciana Lopes Coppo •Henrique Lima de Oliveira •Tiago José Gonçalves •Vanessa Caroline da Cruz Organização: Maria Luisa Marigo Leonora Arantes Capa: Lucas Magalhães Benossi Projeto Gráfico: Lucas Magalhães Benossi Revisão: Leonora Arantes Tipologia: Arial, 12 Número de Páginas: 136 Pontual Centro de Ensino - Uma escola feita a mão... Rua Tupi, 455 - Centro - Londrina PR - 43 3321 6757 www.pontuallondrina.com.br - facebook.com/pontuallondrina 136 Estações de Aptidão V Como entender o Homem que trafica animais selvagens, extraindolhe a vida na natureza mas prega a preservação do meio ambiente? Por que o desejo incontínuo de saborear os mais diferentes tipos de acúcares? O que há entre combustíveis fosseis e o lixo que as cidades produzem? Isto tudo está aqui, ao seu dispor. Pontual Centro de Ensino - Uma escola feita a mão... Rua Tupi, 455 - Centro - Londrina PR - 43 3321 6757 www.pontuallondrina.com.br facebook.com/pontuallondrina