INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO
Carla Moleiro
Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE-IUL/CIS-IUL,
Lisboa, Portugal
Este número temático reúne um conjunto de trabalhos sobre o papel da cultura
na maternidade e família, nomeadamente em comportamentos, experiências, representações e atribuições relativas à vivência familiar e social.
A família é o primeiro ambiente no qual cada pessoa socializa, aprende e participa de um modo ativo e dinâmico, através de relações íntimas. Autores como
Bronfenbrenner (1979) ou Belsy (1980) vieram contribuir para a nossa compreensão
do desenvolvimento humano (em particular, das crianças e suas famílias) através de
modelos ecológicos do comportamento. Nestes, as experiências familiares são compreendidas em diversos níveis e consideradas em contexto, sendo o mais lato o
macrossistema, que engloba os aspetos sociais e culturais, os valores e as crenças
pelos quais se regem a criança e a família. Tornou-se, assim, mais compreensível o
papel da cultura na definição do que é considerado normativo ou adaptativo (ou não)
para uma criança ou uma família, como é o caso das práticas parentais (e.g. Calheiros, 2006), da violência familiar (e.g. Kazarian & Kazarian, 1998) ou do próprio
desenvolvimento infantil (Papalia, Olds & Feldman, 1999).
Os quatro artigos temáticos apresentados são resultantes de estudos empíricos
e revisões teóricas desenvolvidos por alunas de mestrado ou de doutoramento, no
decurso dos trabalhos para as suas dissertações ou teses. Nelas, as autoras consideram aspetos culturais nas experiências de adoção interétnica (Isabel Cristina Carvajal), nas crenças e comportamentos durante a gravidez e pós-parto (Ana Sofia
Martins), na maternidade e as tradições de mulheres Hindus (Sara Belo), e na prática de mutilação genital feminina (Sandra Piedade). São trabalhos que constituem
bons exemplos de como a cultura está presente em questões de género, de maternidade, de comportamentos de saúde, de discriminação e preconceito, de direitos
humanos, de religiosidade e espiritualidade, e tantos outros, com implicações
importantes para o trabalhos das equipas técnicas que acompanham crianças,
jovens, mulheres e famílias, e procuram promover a sua saúde e bem-estar.
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REVISTA TRANSCULTURAL – VOLUME IV – NÚMERO 1 – 2012
Dois outros trabalhos são apresentados neste número, fazendo uma ligação
mais estreita à prática. O primeiro é um caso clínico, que nos é apresentado por
Sandra Roberto; o segundo é um relatório de atividades redigido por Maria Palha,
dos Médicos Sem Fronteiras, e que exemplifica uma intervenção humanitária na
Turquia. Pensamos que estas contribuições, para além das mais académicas representadas pelos artigos científicos, constituem uma mais-valia de ligação à clínica e à
intervenção comunitária.
O momento em que surge este volume marca a reedição da Revista Transcultural, que lançou três volumes no início da história da associação, mas cuja continuidade não havia sido conseguida. Com uma ligação mais estreita da comunidade
científica e da academia com a APPPT, esperamos poder alimentar de forma mais
sistemática a publicação da revista e a disseminação de trabalhos empíricos e teóricos, casos clínicos, relatórios e projetos, revisões de livros, e comentários ou entrevistas a experts, junto de associados/as e não só, contribuindo para a nossa missão
enquanto associação de «contribuir para o alargamento dos conhecimentos no
âmbito da saúde mental transcultural, nomeadamente através da investigação científica», «Fomentar a formação dos profissionais» e «sensibilizar (...) para o tema da
saúde mental transcultural».
Referências
Belsky, J. (1980). Child maltreatment: An ecological integration. American Psychologist, 35,
320-335.
Bronfenbrenner, U. (1979). The Ecology of Human Development. Cambridge: Harvard University Press.
Calheiros, M. (2006). A Construção Social do Mau Trato e Negligência Parental: do Senso
Comum ao Conhecimento Científico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Kazarian, S. S. & Kazarian, L. Z. (1998). Cultural aspects of family violence. In S. S. Kazarian and
D. R. Evans (Eds.), Cultural Clinical Psychology: Theory, research, and practice (pp. 316-347). New York: Oxford University Press.
Papalia, D. E., Olds, S. W & Feldman, R. D. (1999). O Mundo da Criança. Lisboa: McGraw Hill.
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