Breve histórico da trajetória artística de Giovanni Bottesini

Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
BREVE HISTÓRICO DA TRAJETÓRIA E
CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA DE GIOVANNI
BOTTESINI (1821-1889)
Roger da Silva Vargas1
RESUMO
Este artigo aborda a trajetória artística de Giovanni Bottesini, que tem como objetivo informar
o intérprete musical sobre aspectos da carreira e as contribuições relevantes do compositor. A
intenção do texto foi criar uma atmosfera necessária para uma reflexão musical diretamente
relacionada ao ato de interpretar
Palavra-chaves: Giovanni Bottesini
Interpretação Musical
Contrabaixo
ABSTRACT
This paper deals with artistic life of Govanni Bottesini, informing the musical performer
about career and main contributions of this composer. The aim was creates a necessary
atmosphere to musical reflexion directly linked to the attitude of interpretation.
Key - words: Giovanni Bottesini - Musical Interpretation - Contrabass
Este texto tem por objetivo traçar um breve histórico da trajetória artística de Giovanni
Bottesini (1821-1889), privilegiando a figura do compositor, bem como os aspectos
sociológicos, culturais, estéticos e musicais que fizeram parte do mundo musical no século
XIX. Pretende-se com isso oferecer subsídios para o intérprete com respeito à resolução de
problemas estritamente musicais, como articulação, dinâmica, pontuação, andamento e
fraseado.
Por mais que o compositor descreva os modos de fruição de sua obra na partitura, os
símbolos musicais evidenciam uma linguagem interna que pode ser explorada tanto pelo
editor quanto pelo intérprete, permitindo a multiplicidade de interpretações.
1
Bacharel em Instrumento (Contrabaixo) pelo Curso de Música da Escola Superior de Artes e Turismo da UEA.
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
Diante disso as partituras são modificadas a cada edição. Os modos de escuta são
alterados pelo tempo em razão da extinção ou evolução do instrumento e do emprego de
novos instrumentos, tendo como conseqüência novos timbres. Daí a importância do
conhecimento do performer sobre as características musicais do compositor e seu tempo, ao
interpretar uma obra musical.
No início do século XIX a cidade de Crema, na Itália, vivia um reflexo da vida
cultural veneziana, baseada musicalmente numa linguagem operística, comum também no
restante do país, onde reinava a música melodramática e intensa atividade religiosa.
O biógrafo Antonio Carniti, no livro In Memória di Giovanni Bottesini, (1921, p.7)
cita que os teatros em Veneza estavam quebrando a tradição de somente a aristocracia ter
acesso aos eventos musicais, suscitando com isso a admiração geral da sociedade. Na cidade
de Crema não havia espetáculo no qual a música não fosse a atração principal. Exemplo disto
eram as feiras anuais, quando as atividades musicais eram redobradas.
A partir de 1814, Crema passou a viver sob domínio austríaco, perdendo assim, um
pouco da sua riqueza. Nesta longa etapa, que durou até 1858, somente a música demonstrou
ser um campo fértil: neste período surgiram numerosas famílias de músicos e todo o
movimento musical fez reforçar entre o público o culto a esta arte.
Ainda segundo Carniti (1921, p.7), a família de Giovanni Bottesini era uma das
famílias numerosas de Crema que tinha como hábito a prática da música entre seus membros.
O valor desta arte era igualável à atividade religiosa e uma prática inviolável.
Giovanni Bottesini era neto de Giuseppe Bottesini, tendo como tios Giovanni, de
profissão desconhecida, e Luigi, comerciante e violinista. Seu pai, Pietro, era clarinetista,
violinista, maestro e compositor, tendo sido o primeiro clarinetista da Cappella del Duomo e
do Teatro Sociale. Casado com Maria Spinelli, Pietro teve quatro filhos, dos quais dois
homens mais velhos que Giovanni (Luigi e Cesare) e Ângela, a irmã caçula.
O irmão Luigi tocava trompa e era compositor, tendo vivido grande parte da sua vida
em Turim. Cesare, também músico, foi um virtuoso violinista e compositor. Ângela, que
também seguiu carreira musical, era cantora. Uma de suas mais famosas apresentações foi a
que fez no Teatro Social de Crema, como Gilda da ópera Rigoletto.
Giovanni Bottesini nasceu em Crema em dezembro de 1821. Porém existem
divergências a respeito do dia. Um amigo de Bottesini, Cesare Lisei, afirmava que a data tinha
sido no dia 24 de dezembro. O dicionário de música italiana Schmild, editado no século XIX,
diz que o músico nasceu em 24 de dezembro de 1823 (CARNITI, p.8). O jornal inglês
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
intitulado The illustrated London News publicou que o nascimento de Bottesini teria sido no
ano de 1833. No entanto, a data que prevalece é a que existe no registro de nascimento na
cidade de Crema: 22 de dezembro de 1821.
Em sua infância, Bottesini começou a estudar violino com o professor Cogliati, com
quem teve aulas até os quatorze anos. Em seguida, cantou como sopranino2 no coral e tocou
tímpanos na orquestra do Teatro Social de Crema (LISEI, 1886, p.4).
No ano de 1835, seu pai Pietro, soube que o conservatório musical de Milão oferecia
duas vagas, uma para fagote e a outra para contrabaixo. Bottesini optou pela segunda vaga,
supostamente pela atração que o tamanho do instrumento oferecia e também por ser o
contrabaixo o instrumento mais grave da família das cordas que tem como o primeiro
representante o violino, no qual ainda jovem havia iniciado seus estudos musicais.
No conservatório, estudou contrabaixo com o professor Luigi Rossi e composição
com os professores Ray, Vaccai e Basily. Após somente três anos atingiu nível suficiente para
iniciar suas apresentações no contrabaixo com suas composições musicais3.
O primeiro concerto de Bottesini como solista aconteceu na sua formatura, em
Crema, em 1840. Em seguida, tocou esporadicamente em algumas orquestras na Itália, como
contrabaixista solista e de naipe. Logo após sua breve passagem por algumas orquestras,
Bottesini aceitou uma oferta para visitar o Novo Mundo e por três anos foi diretor de ópera
italiana em Havana. Na capital cubana Bottesini fez sua estréia como compositor de óperas,
apresentando Cristoforo Colombo, como a primeira ópera de sua autoria.
Diretor de ópera e maestro da orquestra, Bottesini apresentava entre os intervalos das
óperas fantasias sobre temas de óperas italianas que tinham como linguagem fundamental o
estilo operístico de Gaetano Donizetti e Giuseppe Verdi.
Bottesini seguiu uma vida de tournées, assumindo ao longo de sua carreira diversos
cargos de diretor de orquestras e óperas em toda Europa, América do Norte e América do Sul.
Sempre compondo suas obras musicais, nunca deixou seu lado virtuosístico e seu instrumento
permaneceu ao seu lado até o fim da sua vida, em Parma no ano de 1889. Admirado pela
platéia de vários paises, Bottesini ficou conhecido como o «Paganini do Contrabaixo»4.
Após sair do conservatório recebeu da direção desta escola musical uma quantia de
dinheiro que, somada a um empréstimo, permitiu que ele comprasse um contrabaixo. O
instrumento era ligeiramente menor que os modelos padronizados, chamados basso di câmera
2
Sopranino Diminutivo de soprano, sendo a voz de altura mais aguda. Comum em crianças.
www.grovemusic.com Acesso em 30/11/2005
4
www.grovemusic.com Acesso em 30/11/2005
3
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
ou basseto (BUCCARELLA, 1973). Fabricado pelo luthier Giuseppe Testore, o contrabaixo
acompanhou o músico por todas as suas longas viagens (CARNITI, 1921, p.25).
O contrabaixo possuía três cordas (lá, ré e sol), usadas tradicionalmente pelos
contrabaixistas italianos dos séculos XVIII e XIX. Depois de alguns anos foi acrescentada
uma quarta corda (mi). Atualmente existem contrabaixos de cinco cordas, sendo a quinta
corda afinada em Si ou Dó.
Giovanni Bottesini fez várias inovações de técnicas para tocar o contrabaixo, sendo
uma das principais o uso diferenciado do arco. Antes de entrar em cena com suas propostas no
que se refere ao arco, prevalecia outra técnica difundida pelo também contrabaixista italiano
Domenico Dragonetti5. A técnica de arco de Dragonetti era semelhante à técnica de arco da
viola da gamba6(fig. 1): o arco era curto e a empunhadura com a mão fechada (fig. 2).
Através de refinamentos feitos pelo austríaco Franz Simandl 7, o arco, em que a empunhadura
era com a mão fechada, ficou conhecido como arco alemão.(fig. 3)
Figura 1 - Viola da gamba e seu arco.
5
Domenico Dragonetti (1763 1841) Contrabaixista e compositor italiano. Tocou em várias orquestras
italianas e inglesas, tendo ganhado fama por suas apresentações em um instrumento maior que o normal,
chamado de o Gigante .
6
Viola da gamba instrumento musical de tessitura grave, tocado apoiado entre as pernas.
7
Franz Simandl (1840 1912) Professor contrabaixista austríaco que lecionou no conservatório de Viena e
principal contrabaixista da Orquestra de Bayreuth.
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
Figura 2 - Arco usado por Dragonetti.
Figura 3: Modelo de arco alemão.
A inovação de Bottesini consistiu em aumentar o tamanho do arco e desenvolver uma
técnica de tocá-lo com a mão aberta, como o modo de se tocar violino e violoncelo (fig. 4).
Figura 4: Modelo de arco desenvolvido por Bottesini.
Posteriormente o arco que Bottesini utilizava teria sido aperfeiçoado na França e
chamado de arco francês (fig. 5). Isso fez surgir uma verdadeira variante de técnicas entre os
instrumentos de cordas friccionadas por um arco.
Figura 5: Arco de modelo francês.
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
Além da nova técnica de arco, Bottesini, ao comprar um instrumento antigo fabricado
pelo luthier Testore, ajustou a afinação um tom mais alto que o adotado usualmente pelos
contrabaixistas profissionais de orquestra. Tal técnica é utilizada até hoje para recitais e
concursos.
Giovanni Bottesini é considerado o contrabaixista mais importante do século XIX,
devido às suas inovações e ao seu conteúdo musical, mais substancioso que as obras
precedentes escritas para o instrumento. Seus trabalhos para repertório solo de contrabaixo
transformaram a maneira pela qual o contrabaixista vê o instrumento.
Comparando as obras de Bottesini com as de Dragonetti, que era de uma geração
anterior à sua, Bottesini foi considerado um revolucionário para o seu tempo, apesar de
Dragonetti também ter sido bastante admirado por suas apresentações e composições, e a seu
tempo também ter sido considerado um revolucionário das técnicas de tocar o contrabaixo.
Dragonetti possuía um instrumento construído pelo luthier Gasparo da Saló, que em
relação ao contrabaixo de Bottesini era consideravelmente maior, inclusive comparando-se
com os modelos estandartes de hoje. A única semelhança entre os dois instrumentos era o uso
das três cordas. Dragonetti possivelmente tocava sentado em um banco (fig.6), enquanto
Bottesini, que optou por um instrumento menor, tocava de pé (fig.7)
Figura 6 Domenico Dragonetti
Figura 7: Giovanni Bottesini.
No âmbito musical, as obras anteriores à Bottesini apresentavam certamente
dificuldades técnicas. Porém, na música de Bottesini a quantidade de harmônicos na região
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
aguda do instrumento, juntamente com os arpejos, fazem com que as dificuldades técnicas
para o intérprete sejam maiores.
Ex: trecho extraído do Concerto nº 2, 3º movimento.
Na visível quantidade de notas impressas nas partituras das obras de Bottesini, nota-se
um tratamento diferente na região aguda e média do instrumento em relação às obras de
Dragonetti onde é explorada a região grave do contrabaixo, que por vezes se estende à região
aguda, mas através de arpejos.
Ex: trecho extraído do Concerto nº2 - Andante e Rondo.
Provavelmente a opção de Dragonetti pelo o uso dos graves se deveu ao tamanho do
seu instrumento8. Por outro lado, Bottesini, desde sua saída do conservatório em Milão,
desenvolveu carreira de solista e compositor, abrindo caminho também para a regência e
direção de ópera9.
Johann Matthias Sperger10, outro contrabaixista, compositor que viveu antes das
inovações técnicas de Bottesini, tinha a mesma preferência de Dragonetti: a exploração dos
graves.
Ex: trecho extraído da Sonatina para contrabaixo, 1º movimento.
8
Dragonetti era basicamente um profissional de orquestra, onde a cobrança de produzir graves é bem maior em
relação ao solista.
9
Bottesini teve, após sua saída do conservatório, algumas experiências como profissional de orquestra, chagando
a ser músico de fila e principal contrabaixista (chefe de naipe). Porém, o talento de Bottesini o levou a ser um
compositor. Ele apresentou obras próprias e passou a ter aprovação popular.
10
Johann Matthias Sperger (1750 1812) Contrabaixista e compositor prolífico alemão. Foi um grande
intérprete de suas obras. Escreveu vários concertos e numerosas obras instrumentais.
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
Karl von Dittersdorf 11, contemporâneo de Wolfgan Amadeus Mozart, compôs várias
sinfonias e concertos, dentre eles um Concerto para Contrabaixo e Orquestra dedicado a
Sperger. O concerto atinge uma tessitura normal para as possibilidades atuais de qualquer
profissional de orquestra (VASCONCELOS, 2002, p.28).
Tessitura:
Bottesini, com seu estilo virtuosístico utilizou todo o registro do contrabaixo. Para o
intérprete, a dificuldade é unir os extremos do instrumento, combinando os sons suaves do
registro agudo, através de todo o registro médio com as notas graves mais características do
contrabaixo. Ex: trecho extraído do Concerto nº 2, 1º movimento.
Apesar de Bottesini ter sido um grande compositor de óperas e notável diretor
musical, sua contribuição mais lembrada é o desenvolvimento da técnica de tocar o
contrabaixo12.
Bottesini tinha grande admiração pela música e seus estudos foram vastos, o que lhe
permitiu adquirir o conhecimento de todos os instrumentos orquestrais. O senso de
observação foi desenvolvido por ele desde a infância por sua experiência com orquestras. Ao
11
Karl von Dittersdorf (1739 1799) Compositor austríaco. Foi violinista de várias or questras do império
austríaco. Sua obra inclui mais de 40 concertos, sinfonias e música de câmara.
12
www.grovemusic.com Acesso em 30/11/2005
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
mesmo tempo, guardava todos os comentários e observações feitas pelos maestros em relação
à instrumentação (CARNITI, 1921, p.35).
A tendência de Bottesini para ser diretor de orquestra foi uma conseqüência natural do
seu próprio talento e do ambiente sempre musical em que ele viveu. A fama de Bottesini
começou cedo, logo ápos de sua saída do conservatório em Milão, com apenas 24 anos.
Depois de dirigir, em 1847, sua primeira ópera, Bottesini seguiu seus trabalhos na Inglaterra,
em 1848, com concertos em Buckingam e Birminghan. Em 1853 dirigiu óperas em Nova
Iorque e organizou o conservatório musical no México.
No ano de 1866, viajou a São Petersburgo e realizou um concerto sobre a direção de
Anton Rubinstein13. No ano seguinte, realizou tournées na França, Dinamarca, Suécia e
Noruega. Em 1869 iniciou na França trabalhos como diretor e concertista. Com o começo da
guerra Franco-Prussiana, Bottessini passou a viver em Londres, onde escreveu sua sexta
ópera, Ali Babá, de contexto cômico.
Foi prestigiado também na Espanha e em Portugal. Em 1866 foi chamado a Madrid
para dirigir o Concierto del buen retiro. O prestígio que Bottesini tinha, o levou a receber do
rei da Espanha a denominação de Comendador da Ordem Isabel Católica. Em 1881, foi
contratado para dirigir cinco concertos no Teatro São Carlos de Lisboa, por convite do rei de
Portugal e logo após os concertos recebeu outra condecoração, conferida pelo próprio
monarca deste país.
A divulgação das habilidades de Bottesini como diretor de orquestra fez com que em
1871 o músico realizasse sua primeira visita ao Cairo. Nesta época, aconteciam festejos na
cidade pela construção do Canal de Suez e para esta ocasião a ópera Aida foi designada para
fazer parte das comemorações. A primeira representação de Aida seria em 1870, mas devido à
guerra Franco-Prussiana foi adiada para o ano seguinte.
Verdi, compositor de Aida, acreditava no empenho e talento de Bottesini e deu
diretamente a ele, de viva voz e, por escrito, todos os detalhes para dirigir a ópera (CARNITI,
1912, p.36). Após a estréia de Aida, Bottesini não se deixou deslumbrar pelo sucesso de ser
um regente festejado, ao contrário, continuou a concentrar-se na sua atividade de compositor,
pela qual demonstrava interesse inabalável (Op.Cit, p.39)
O conjunto das obras de Bottesini é de difícil organização cronológica pelo fato de
sua vida ter sido sempre movimentada. Sem casa própria, em constantes viagens e vivendo
quase sempre em pensões, várias de suas composições foram perdidas. Além de não ter editor
13
Anton Rubistein (1829 1894) Pianista, compositor e professor russo. Desfrutou enorme sucesso ainda
criança como menino prodígio do piano.
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
regular para as suas partituras, tornando-se até o momento impossível compilar uma lista
cronológica das suas obras .
Nas várias composições para contrabaixo apenas duas obras apresentam data de
edição que precede o falecimento (1889) de Bottesini: Concerto em fá sustenido menor para
contrabaixo, editado em Londres em 1892, que tinha o pianoforte como acompanhamento; e
Gran duo concertante para violino, contrabaixo, pianoforte e orquestra, editado em Paris no
ano de 188014.
Várias obras de Bottesini de importante relevância foram editadas em 1950 em
Viena. Dentre as que mais se destacam estão: Concerto Nº2 para contrabaixo e piano forte,
Concerto di bravura para contrabaixo e pianoforte e Grande allegro di concerto para
contrabaixo e pianoforte.
Bottesini viveu intensamente a música melodramática no século XIX e teve como
conseqüência o reflexo da música italiana nas suas composições, resultando em várias
fantasias de óperas italianas como: Fantasia para contrabaixo e piano forte da ópera Lucia di
Lammermoor; Fantasia para contrabaixo e Orquestra da ópera La sonnambula, comumente
conhecida com redução para piano; Fantasia para contrabaixo e pianoforte da ópera I
Puritani.
No campo de composições para contrabaixo, Bottesini escreveu o livro didático
Método per Contrabasso editado pela editora italiana Ricordi. É um livro completo que,
depois de um breve prefácio, divide-se em duas partes, sendo a primeira dirigida ao
contrabaixo como instrumento de orquestra e a segunda, ao contrabaixo como instrumento
solista. A finalização do livro é feita com uma série de estudos melódicos.
No campo orquestral (sinfonias, música sacra, óperas) demonstrou influência de
Hector Berlioz, Camille Saint-Saens, Jules Massenet e Giuseppe Verdi, mantendo sempre a
presença da melodia italiana. Destacam-se as sinfonias Graziela e Caratteristica, a música
Missa de Requiem e o oratório Getsemani. Além disso, as óperas Cristoforo Colombo,
representada pela primeira vez em Havana (1847) e Il diavolo della notte, comedia lírica,
representada em Milão (1858).
Bottesini também criou em outras formas de composição como quartetos, quintetos e
música de câmera vocal e instrumental.
A vida de Bottesini foi sempre a de um viajante, tanto que o jornal francês L Europe
Artiste qualificou o célebre italiano como un turista musicale. Com sua gloriosa carreira,
14
www.grovemusic.com Acesso em 30/11/2005
Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
chegou à idade de sessenta e seis anos sem nenhum patrimônio próprio e acumulando
problemas de saúde que começavam a se manifestar através de um distúrbio no fígado que
pouco a pouco o levaria para a morte (CARNITI, 1921, p.79).
Verdi, que tinha profunda amizade por Bottesini, teve conhecimento das condições
do amigo e recomendou ao governo italiano para que fosse diretor da Regia Scuola di Musica
di Parma, cargo que assumiu em 20 de janeiro de 1889 (Op. Cit., p.78).
O mal-estar do fígado passou a gerar em Bottesini indisposição, mas mesmo com a
saúde debilitada, aceitou realizar um concerto musical no Casino di lettura. Com este
concerto se encerra a sua carreira, vindo a falecer no dia 7 de julho de 1889 em conseqüência
de cirrose hepática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BADILA, Ouvidio. The Best of Bottesini. Genova-Italia. Dynamic Srl,1994.
BUCCARELLA, Lucio. Contrabasso Solo. CDB. Phonogram. São Paulo: Editora Matiz
Gráfica, 1973.
CARNITI, Antonio. In memoria di Giovanni Bottesini. Crema: Editora Turris, 1921.
LIMA, Sônia Albano de. Uma metodologia de interpretação musical. São Paulo: Musa
Editora, 2005.
LISEI, Cesare. Giovanni Bottesini Cena Biografica. Crema: Editora Ricordi.1886.
SADIE, Stanley (ed.).The New Grove Dictionary of music and musicians, New York /
London: Macmillan Publishers, 1980, 20 vol.
VASCONCELOS, José. Acústica musical e organologia. São Paulo: Movimento Editora,
2002.
FONTES ELETRÔNICAS:
PALMER, F.M, Domenico Dragonetti. http://www.grovemusic.com, (acessado em
08/05/06)
SLATFORD, R. Giovanni Bottesini. http://www.grovemusic.com, (acessado em 30/11/05)
_______________.Karl von Dittersdorf. http://www.grovemusic.com, (acessado em
08/05/06)
McCREDIE, A.D. Johann Matthias Sperger <http:www.grovemusic.com>, (acessado em
08/05/06)
This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com.
The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.