VII Curso de Verão em Entomologia
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VII Curso de Verão em Entomologia
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto Programa de Pós-Graduação em Entomologia VII Curso de Verão em Entomologia 19/01 a 30/01/2009 Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Biologia Pós-graduação em Entomologia __________________________________________ Av. Bandeirantes, 3900 - Cep: 14040-901 - Monte Alegre - Ribeirão Preto – São Paulo -2- APRESENTAÇÃO O Curso de Verão em Entomologia é tradicionalmente realizado pelos alunos do programa de pós-graduação em entomologia da FFCLRP/USP. Os alunos do programa compõem a comissão organizadora do evento e apresentam palestras e mini-cursos como forma de divulgação de seus trabalhos científicos. O curso também favorece o contato com profissionais e alunos de graduação de outras universidades além da prática docente. OBJETIVOS O Curso de Verão em Entomologia tem como objetivos: - Possibilitar experiência acadêmica e aprimorar os métodos de ensino dos alunos de pósgraduação; - Promover o amadurecimento e a responsabilidade no planejamento e na organização de eventos pelos pós-graduandos; - Aprofundar o conhecimento e aprendizagem das diferentes áreas de pesquisa em entomologia pelos alunos; - Ccomplementar visões e estimular discussões, a troca de experiências, idéias e conhecimentos entre alunos da graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores de diferentes instituições. -3- CORPO DOCENTE Prof. Dr. Sebastião de Souza Almeida (FFCLRP/USP) Diretor desta Faculdade Prof. Dr. João Atílio Jorge (FFCLRP/USP) Chefe do Departamento de Biologia Profa. Dra. Zilá Luz Paulino Simões Coordenadora do Programa de Pós-Graduação – área de concentração: Entomologia Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo (FFCLRP/USP) Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação – área de concentração: Entomologia SECRETARIADO Secretaria do Departamento de Biologia Miriam Cristina Osório de Souza Carlos Augusto C. de Carvalho Almada Secretária de Pós-Graduação Renata Aparecida de Andrade Cavallari -4- COMISSÃO ORGANIZADORA DO VII CURSO DE VERÃO EM ENTOMOLOGIA Aline Martins Mestranda em Entomologia, FFCLRP-USP Camilla Helena da Silva Mestranda em Entomologia, FFCLRP-USP Flávia de Araújo Esteves Doutoranda em Entomologia, FFCLRP-USP Monise Terra Cerezini Mestranda em Entomologia, FFCLRP-USP Mauro Prato Mestrando em Entomologia, FFCLRP-USP Samuel Boff Doutorando em Entomologia, FFCLRP-USP Yara Roldão Mestranda em Entomologia, FFCLRP-USP MONITORES André Luis Franco da Rocha Cintia Eleonora Lopes Justino Claudinéia Pereira Costa Gabriel Biffi Kátia Paula Aleixo Maria Juliana Ferreira Caliman Rafael Alberto Moretto Suzete Macedo Vanessa Tragante do Ó -5- APOIO A comissão organizadora do VII Curso de Verão em Entomologia deseja expressar o reconhecimento e os sinceros agradecimentos ao importante apoio que recebeu das seguintes instituições e pessoas abaixo. REITORIA DA USP Pró-Reitoria de Pós-Graduação CAMPUS DA USP DE RIBEIRÃO PRETO Prefeitura do Campus da USP de Ribeirão Preto Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP Departamento de Biologia da FFCLRP-USP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA Coordenadoria da Pós-graduação em Entomologia: Prof. Dr. Zilá Luz Paulino Simões Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo Renata A. de Andrade Cavallari INSTITUIÇÕES CAPES/MEC - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior PESSOAL Sandra (Zeladora) -6- PROGRAMA E RESUMOS VII CURSO DE VERÃO EM ENTOMOLOGIA Programa 19/01/09 (segunda-feira) 8:00-8:30 - Entrega dos Materiais. ABERTURA Local: Anfiteatro Lucien Lison 8:30-9:30 - Palestra “As linhas de pesquisa do programa de pós-graduação em Entomologia da FFCLRP.” Profª. Drª. Zilá L. P. Simões (FFCLRP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - Palestra “Comunidades de abelhas solitárias (Hymenoptera, Apoidea) fragmentos de mata no estado de São Paulo.” Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo (FFCLRP). em 11:00-12:00 - Palestra “Biogeografia histórica dos Meliponini (Hymenoptera, Apidae, Apinae) da Região Neotropical.” Prof. Dr. João M. F. Camargo (FFCLRP). 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 01: “Métodos e técnicas para o estudo do comportamento animal: libélulas como modelo.” Biól. Rhainer Guillermo (FFCLRP/UFU). Local: Anfiteatro Lucien Lison. 20/01/09 (terça-feira) CICLO DE PALESTRAS: Biologia de Insetos Local: Anfiteatro André Jacquemin 8:30-9:30 - “A Polinização e o papel dos insetos na reprodução das Angiospermas.” Bióloga Aline Cristina Martins (FFCLRP/IBUSP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - “Insetos Agricultores: Origem e Evolução da Criação de Fungos por Formigas.” Ms. Rodrigo S. M. Feitosa (FFCLRP/MZUSP). 11:00-12:00 - “Comportamento solitário em abelhas.” Zoot. Guaraci D. Cordeiro (FFCLRP/IBUSP). -7- 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 02: “Abelhas e vespas eussociais” Dr. Sidnei Mateus (FFCLRP). Local: Anfiteatro André Jacquemin. 21/01/09 (quarta-feira) 8: 00-12:30 - Mini-curso 03: “Morfometria Geométrica” Bióloga Zioneth J. G. Galeano (FFCLRP). Local: Sala de informática do bloco B da FFCLRP. 12:30-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 04: “Métodos de coleta e curadoria em Entomologia.” Ms. Rafaela L. Falaschi, Biólogo Renato S. Capellari e Bióloga Sarah S. Oliveira (FFCLRP). Local: Anfiteatro André Jacquemin. 22/01/09 (quinta-feira) CICLO DE PALESTRAS: Ecologia de Insetos Local: Anfiteatro André Jacquemin 8:30-9:30 - “Comportamento forrageador em abelhas sem ferrão: recrutamento e comunicação.” Bióloga Yara S. Roldão (FFCLRP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - “Espaço morfológico, Diversidade Funcional e Estrutura de Comunidades.” Dr. Rogério R. Silva (MZUSP). 11:00-12:00 - “Insetos aquáticos como ferramenta para a avaliação do impacto da atividade canavieira em córregos da região central do Estado de São Paulo.” Dr. Juliano Corbi (FFCLRP). 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 05 “Ecologia de ecossistemas aquáticos continentais com ênfase na entomofauna.” Ms. Ana E. Siegloch, Ms. Karina O. Righi-Cavallaro e Ms. Marcia R. Spies (FFCLRP). Local: Anfiteatro André Jacquemin. -8- 23/01/09 (sexta-feira) CICLO DE PALESTRAS: Estudos de campo em Entomologia e biomas brasileiros Local: Anfiteatro Lucien Lison 8:30-9:30 - “Biogeografia do Cerrado.” Dr. Antonio J. C. de Aguiar (MZUSP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - “Himenópteros parasitóides: metodologias de obtenção e coleta.” Dr. Nelson W. Perioto (APTA). 11:00-12:00 - “A Floresta Atlântica sob o enfoque da mirmecologia.” Bióloga Flávia A. Esteves (MZUSP/FFCLRP). 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 06: “Quem, de fato, são os cupins..” Biól. Tiago F. Carrijo (FFCLRP/MZUSP). Local: Lab. de microscopia (bloco B, FFCLRP). 24 e 25/01/09 (sábado e domingo) 8:00-18:00 - Mini-curso 07: “Curso de Coleta, Montagem e identificação de insetos.” Bióloga Aline C. Martins (FFCLRP/IBUSP), Bióloga Flávia A. Esteves (FFCLRP/MZUSP), Ms. Paschoal C. Grossi (UFPR), Dr. Antonio J. C. de Aguiar (MZUSP), Ms. Samuel V. Boff (FFCLRP/IBUSP) e Bióloga Monise T. Cerezini (FFCLRP). Local: Mata Stª. Tereza em Ribeirão Preto. 26/01/09 (segunda-feira) 8:00-18:00 - Continuação do mini-curso 07. Local: Laboratório de microscopia (bloco B, FFCLRP) 27/01/09 (terça-feira) 8:00-12:00 - Mini-curso 08 “Quem disse que vida de vampiro é fácil?” Bióloga Ana C. P. Gandara (UFRJ). Local: Anfiteatro André Jacquemin. 12:00-14:00 - Almoço -9- 14:00-18:30 - Mini-curso 09 “Métodos para estudos sobre o comportamento alimentar de insetos” Ms. Alessandra Santana, Ms. Thamara A. B. da Silva Leal, Prof. Drª. Carla Cressoni Pereira. Local: Lab. de microscopia (bloco B, FFCLRP). 28/01/09 (quarta-feira) CICLO DE PALESTRAS: Entomologia Aplicada Local: Anfiteatro André Jacquemin 8:30-9:30 - “Produção in vitro de rainhas em abelhas sem ferrão com vistas à multiplicação de colônias.” Biólogo Mauro Prato (FFCLRP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00- 11:00 - “O uso sustentável e conservação de polinizadores, um tema global.” Prof. Drª. Vera L. Imperatriz-Fonseca (IEA/USP). 11:00-12:00 - “Social Insects: A Gateway for Investigating Important Questions in Basic & Applied Biology.” Prof. Dr. Francis Ratnieks, University of Sussex, UK. 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 10: Biologia do desenvolvimento de abelhas eussociais Ms. Moysés Elias Neto e Ms. Rodrigo Dallacqua (FFCLRP). Local: Bloco A – Genética. 29/01/09 (quinta-feira) CICLO DE PALESTRAS: Genética e Evolução. Local: Anfiteatro Lucien Lison. 8:30-9:30 - Palestrante não confirmado. 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - “Evolução da cooperação e o estudo de mutualismos entre insetos e plantas.” Biólogo Fernando H. A. Farache (FFCLRP). 11:00-12:00 - “DNA Barcoding, ou Código de Barras da Vida, em estudos de insetos.” Dr. Mateus Pepineli (FFCLRP). 12:00-14:00 - Almoço 14:00-18:30 - Mini-curso 11: Controle Biológico Ms. Ivan Fernandes Martins, Daniell R. R. Fernandes e Francisco J. S. Duque (UNESPJaboticabal). Local: Laboratório de microscopia (bloco B, FFCLRP). - 10 - 30/01/09 (sexta-feira) I FÓRUM DE SISTEMÁTICA E BIOGEOGRAFIA Local: Anfiteatro Lucien Lison 8:30-9:30 - “Sistemática Filogenética, Filologia e Ecdótica.” Prof. Dr. Nelson Papavero (MZUSP). 9:30-10:00 - Coffee Break 10:00-11:00 - “Análise filogenética em dados de comportamento animal.” Prof. Dr. Fernando B. Noll (UNESP- São José do Rio Preto). 11:00-12:00 - “Sistemática Filogenética e Biogeografia Cladística.” Dr. Charles Morphy Dias dos Santos (FFCLRP). 12:00-14:00 - Almoço 14:00-15:00 - “Incorporação de dados paleontológicos em reconstruções filogenéticas.” Ms. Felipe Chinaglia Montefeltro (FFCLRP). 15:00-15:30 - Coffee Break 15:30-16:30 - “Evolução e abordagens moleculares.” Ms. Emanuelle Corbi Corrêa (FFCLRP). 16:30-17:30 - “Sistemática filogenética e ensino.” Prof. Dr. Dalton de Souza Amorim (FFCLRP). 18:00 - ENCERRAMENTO - 11 - Índice Resumos das Palestras (o conteúdo dos resumos é de responsabilidade do(s) ministrante(s)) As linhas de pesquisa do programa de pós-graduação em Entomologia da FFCLRP. Profª. Drª. Zilá L. P. Simões (FFCLRP).......................................................................................14 Comunidades de abelhas solitárias (Hymenoptera, Apoidea) em fragmentos de mata no estado de São Paulo. Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo (FFCLRP)..............................................................................15 Biogeografia histórica dos Meliponini (Hymenoptera, Apidae, Apinae) da Região Neotropical. Prof. Dr. João M. F. Camargo (FFCLRP)....................................................................................20 A Polinização e o papel dos insetos na reprodução das Angiospermas. Bióloga Aline Cristina Martins (FFCLRP/IBUSP)......................................................................36 Insetos Agricultores: Origem e Evolução da Criação de Fungos por Formigas. Ms. Rodrigo S. M. Feitosa (FFCLRP/MZUSP)...........................................................................41 Comportamento solitário em abelhas. Zoot. Guaraci D. Cordeiro (FFCLRP/IBUSP).............................................................................44 Comportamento forrageador em abelhas sem ferrão: recrutamento e comunicação. Bióloga Yara S. Roldão (FFCLRP)..............................................................................................49 Espaço morfológico, Diversidade Funcional e Estrutura de Comunidades. Dr. Rogério R. Silva (MZUSP)....................................................................................................52 Insetos aquáticos como ferramenta para a avaliação do impacto da atividade canavieira em córregos da região central do Estado de São Paulo. Dr. Juliano Corbi (FFCLRP)........................................................................................................56 Biogeografia do Cerrado. Dr. Antonio J. C. de Aguiar (MZUSP).........................................................................................57 A Floresta Atlântica sob o enfoque da mirmecologia. Bióloga Flávia A. Esteves (MZUSP/FFCLRP)............................................................................60 Himenópteros parasitóides: metodologias de obtenção e coleta. Dr. Nelson W. Perioto (APTA)....................................................................................................65 Produção in vitro de rainhas em abelhas sem ferrão com vistas à multiplicação de colônias. Biólogo Mauro Prato (FFCLRP)..................................................................................................74 O uso sustentável e conservação de polinizadores, um tema global. Prof. Drª. Vera L. Imperatriz-Fonseca (IEA/USP).......................................................................77 Evolução da cooperação e o estudo de mutualismos entre insetos e plantas Biólogo Fernando H. A. Farache (FFCLRP). ..............................................................................78 - 12 - DNA Barcoding, ou Código de Barras da Vida, em estudos de insetos. Dr. Mateus Pepineli (FFCLRP)....................................................................................................85 Sistemática Filogenética e Biogeografia Cladística. Dr. Charles Morphy Dias dos Santos (FFCLRP).........................................................................92 Resumos dos Mini-Cursos (o conteúdo dos resumos dos Mini-Cursos é de responsabilidade do(s) ministrante(s)) Biologia do desenvolvimento de abelhas eussociais Ms. Moysés Elias Neto e Ms. Rodrigo Dallacqua (FFCLRP).....................................................97 Morfometria Geométrica............................................................................................................101 Bióloga Zioneth J. G. Galeano (FFCLRP). Métodos de coleta e curadoria em Entomologia. Ms. Rafaela Falaschi, Biólogo Renato Capellari e Bióloga Sarah Oliveira (FFCLRP).............104 Ecologia de ecossistemas aquáticos continentais com ênfase na entomofauna. Ms. Ana Siegloch, Ms. Karina Righi-Cavallaro e Ms. Marcia Spies (FFCLRP).......................109 Quem, de fato, são os cupins. Biól. Tiago F. Carrijo (FFCLRP/MZUSP).................................................................................116 Curso de Coleta, Montagem e identificação de insetos Bióloga Aline C. Martins (FFCLRP/IBUSP), Bióloga Flávia A. Esteves (FFCLRP/MZUSP), Ms. Paschoal C. Grossi (UFPR), Dr. Antonio J. C. de Aguiar (MZUSP), Ms. Samuel V. Boff (FFCLRP/IBUSP) e Bióloga Monise T. Cerezini (FFCLRP). ..................................................123 Quem disse que vida de vampiro é fácil? Bióloga Ana C. P. Gandara (UFRJ)...........................................................................................128 Métodos para estudos sobre o comportamento alimentar de insetos Ms. Alessandra Santana, Ms. Thamara da Silva Leal, Prof. Drª. Carla Cressoni Pereira..........136 Abelhas e vespas eussociais Dr. Sidnei Mateus (FFCLRP).....................................................................................................139 Controle Biológico Ms. Ivan Fernandes Martins, Daniell R. R. Fernandes e Francisco J. S. Duque (UNESPJaboticabal).................................................................................................................................143 - 13 - Palestras de abertura – 19/01/2009 "As linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da FFCRLP" Zilá Luz Paulino Simões Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto SP Ribeirão Preto, SP, Brasil A Pós-Graduação, como um Curso para formação de Mestres e Doutores, em sua forma atual, teve origem do esforço espontâneo de grupos de reconhecido saber ligados às principais Instituições do país. Hoje, é uma malha complexa e abrangente, regida por normas que organizam esta atividade acadêmica, relativamente jovem. À distância, somos capazes de enxergar os cursos em desenvolvimento nas instituições nacionais sem a necessidade de sair de nosso posto de trabalho. As informações, geradas pelos cursos, coletadas e mantidas pelos órgãos de fomento estaduais e federais são seguras, organizadas e categorizadas, e através delas, os cursos são avaliados. Ao atingir o grau de excelência intrínseco (5,0, atribuído pela CAPES) nosso curso está pronto para competir com seus similares, oferecidos pelas instituições nacionais. Para isto foi importante a coerência dos objetivos propostos, as linhas de pesquisa, o talento do corpo docente e a eficiência e prontidão do corpo discente. O Curso de Pós-Graduação em Entomologia da FFCLRP-USP se mantém fiel aos seus objetivos iniciais, ou seja, ao propósito acadêmico de formar profissionais atuantes e competitivos. Para isto mantém suas linhas de pesquisa: Biologia e Genética de abelhas e seus parasitas, Ecologia, Evolução e Taxonomia, Ecologia das interações Inseto-Planta e Controle Biológico, Manejo Integrado de Pragas e Radioentomologia, lideradas por especialistas mundialmente reconhecidos e caracterizados como os mais atuantes, produtivos e entusiastas do país. Através destes líderes em pesquisa e graças ao trabalho minucioso dos seus alunos, o Curso de Pós-Graduação em Entomologia vem se firmando como um Curso Internacional, recebendo e enviando alunos para Instituições de mesmos propósitos, no exterior. - 14 - “Comunidades de abelhas solitárias (hymenoptera, apoidea) em fragmentos de matas do estado de São Paulo” Carlos Alberto Garófalo Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto SP Ribeirão Preto, SP, Brasil Muitos tipos de animais têm estabelecido relações de polinização com plantas com flores, entre os quais se encontram beija-flores, morcegos e, inclusive, pequenos roedores e marsupiais. No entanto, os polinizadores por excelência são, sem dúvida, os insetos e entre estes se destacam as abelhas. Apenas com base no número de espécies já conhecidas, ao redor de 20000 (Michener, 2000), as abelhas representam um componente substancial da biodiversidade mundial. Além disso, elas são amplamente reconhecidas como um dos principais fornecedores dos serviços de polinização. Estas atividades das abelhas não só proporcionam um componente necessário à reprodução para muitas espécies vegetais, mas também um aumento da variabilidade genética, da viabilidade das sementes e o incremento na produção de frutos e sementes. Somente estes resultados das atividades das abelhas justificariam uma preocupação com a saúde das populações de tais insetos, mas eles são também economicamente muito importantes (Russell et.al., 2005). Cerca de 70% das espécies de plantas cultivadas pelo Homem dependem de polinização e 1/3 são polinizadas pelas abelhas (Dias et al., 1999; Kevan & Imperatriz-Fonseca, 2002; FAO, 2004). Considerando que a polinização de culturas é um serviço ambiental de enorme valor econômico (Ricketts et al., 2004), o recente declínio de populações de abelhas selvagens e domesticadas tem despertado uma preocupação global, levando a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica e a FAO (Food and Agriculture Organization) a incentivarem investigações científicas visando incrementar os conhecimentos biológicos sobre as espécies de abelhas assim como estimularem iniciativas visando a conservação desses polinizadores. Inventários biológicos são as ferramentas básicas para levantamentos iniciais de diversidade biológica, bem como para o monitoramento de alterações de diferentes componentes desta diversidade, seja perante condições ambientais distintas, seja em resposta a impactos de processos naturais ou de atividades humanas (Lewinsohn et al., 2001). Fragmentação de habitat é considerado como um dos maiores perigos para a biodiversidade (Davies et al., 2000), e devido ao aumento global na destruição de habitats, estudos da diversidade de espécies são de vital importância para o entendimento das comunidades biológicas e sua conservação (Purvis & Hector, 2000). Embora tão importantes quanto às sociais em seus papéis funcionais dentro dos ecossistemas, as espécies de abelhas solitárias foram, até o presente, significantemente menos - 15 - estudadas. Como resultado disto, tanto a composição da nossa fauna como a bionomia da maioria daquelas espécies é ainda pouco conhecida. Essa escassez de informações sobre as espécies solitárias é resultante de pelo menos dois fatores: o primeiro, porque suas populações são, na maioria das vezes, esparsas (Danks, 1971) e, o segundo, pela dificuldade de se localizar seus sítios de nidificação (Jayasingh & Freeman, 1980). Espécies de abelhas solitárias (85% das espécies conhecidas, Batra, 1984) nidificam, em sua maioria, no solo; em seguida, o substrato mais usado é madeira, com os ninhos podendo ser construídos em tocos, troncos, galhos ou ramos de árvores. Embora algumas espécies cavem buracos na madeira, cerca de 5% do total das espécies de abelhas solitárias (Krombein, 1967) apresentam o hábito de nidificar em cavidades preexistentes. Estas cavidades podem ser o interior da medula de plantas, orifícios existentes em árvores, galerias feitas em madeira por besouros ou outros insetos, em gomos de bambu, em orifícios existentes em paredes de construções de alvenaria, em ninhos abandonados de outras espécies, etc. Esta característica de nidificar em cavidades preexistentes tem facilitado o estudo daquelas espécies solitárias, pois as fêmeas são atraídas a nidificarem em espaços tubulares preparados pelo homem, os chamados ninhos-armadilha. A utilização de tais ninhos constitui, assim, um método simples e eficiente para amostrar as espécies que vivem em determinada área, evitando aquelas que estejam apenas transitando pelo local (Camillo et al., 1995; Tscharntke et al., 1998), e permite a amostragem de espécies raramente coletadas em flores pelo fato delas ocorrerem em baixas densidades em seus habitats. Estudos de longa duração, geralmente de pelo menos dois anos, com a utilização de ninhos-armadilha, têm permitido um grande avanço no conhecimento das nossas espécies solitárias. Tais estudos, longe de proporcionarem apenas a elaboração de uma lista de espécies que nidificam naqueles ninhos, como pensam alguns, permitem a obtenção de informações biológicas não proporcionadas por outras metodologias usadas nos estudos de comunidades de abelhas. Assim, análises sobre a abundância sazonal, refletida pela freqüência de nidificação das espécies, sobre a estrutura dos ninhos, revelada pela identificação dos materiais utilizados na nidificação, forma de construção das células e número de células por ninho, sobre as fontes de alimento utilizadas para a criação dos imaturos, principalmente fontes de pólen, reveladas pela análise do alimento presente nas células, sobre a dinâmica populacional, a partir dos dados de emergência e/ou mortalidade dos imaturos e razão sexual, e sobre a associação com outros organismos, revelada pela ocorrência de parasitas, predadores e patógenos, são outras informações que são obtidas para cada uma das espécies que utilizam os ninhos-armadilha. Comunidades de abelhas nidificando nos ninhos-armadilha e seus inimigos naturais têm sido usadas em trabalhos objetivando avaliar a qualidade do habitat (Frankie et al.,1998; Tscharntke et al., 1998), os efeitos da fragmentação do habitat e da complexidade da paisagem sobre a composição da comunidades e interações presa-predador (Kruess & Tscharntke, 2002; Klein et - 16 - al, 2006; Tylianakis et al., 2006), e como ambientes urbanos podem suportar tais insetos (Tommasi et al., 2004; Zanette et al., 2005). Os resultados obtidos até o momento, a partir dos trabalhos realizados em seis áreas do estado de São Paulo (antiga Fazenda Santa Carlota, Cajuru; Estação Ecológica de Jataí, Luis Antônio; Parque Estadual da Furnas do Bom Jesus, Pedregulho; Serrado Japi, Jundiaí (Garófalo, 2000); Estação Ecológica de Paulo de Faria, Paulo de Faria; Fazenda Santa Cecília, Patrocínio Paulista (Gazola, 2003)), revelaram a ocorrência de 43 espécies de abelhas utilizando os ninhosarmadilha. A antiga Fazenda Santa Carlota foi a que apresentou a comunidade mais rica com um total de 32 espécies (3 habitats amostrados) e a Estação Ecológica de Paulo de Faria foi a mais pobre com apenas 9 espécies. As 43 espécies amostradas estão distribuídas por 3 famílias: Apidae, com 23 espécies, Megachilidae, com 19 espécies, e Colletidae, com 1 espécie, e 13 gêneros. Os gêneros Tetrapedia, Euglossa e Megachile, todos com 7 espécies, foram os mais ricos. Das 43 espécies que nidificaram nos ninhos-armadilha, apenas duas, Centris analis e Centris tarsata, estiveram presentes em todas as áreas; por outro lado, 18 espécies foram exclusivas em diferentes áreas. De maneira geral, as espécies dos gêneros Centris e Tetrapedia são as que ocorrem em maior abundância. Pelo menos, 25 espécies de inimigos naturais estiveram associadas aos 2856 ninhos amostrados. Diptera, com espécies da família Bombyliidae, Coleoptera, com espécies da família Meloidae, e Hymenoptera, com espécies das famílias Apidae, Megachilidae, Leucospidae e Eulophidae, foram as ordens que tiveram representantes atacando os ninhos das abelhas. Os estudos realizados não só no estado de São Paulo como também em outros estados brasileiros indicam que várias espécies de abelhas que nidificam em ninhos-armadilha poderão ser utilizadas em programas de polinização controlada. Espécies tais como Centris analis e Centris tarsata, com uma considerável quantidade de informações biológicas já disponíveis, deverão ser as primeiras espécies de abelhas solitárias a serem utilizadas na polinização de culturas economicamente importantes em nosso país. Referências Bibliográficas Batra, S.W.T. 1984. Solitary bees. Scientifican American, 250: 120-127. Camillo, E., Garófalo, C.A., Serrano, J.C. & Muccillo, G. 1995. Diversidade e abundância sazonal deabelhas e vespas solitárias en ninhos armadilhas (Hymenoptera: Apocrita, Aculeata). Rev. Bras. Entomol. 39: 459-470. Danks, H.V. 1971. Populations and nesting-sites of some aculeate Hymenoptera nesting in Rubus. J. Anim. Ecol., 40: 63-7. Davies, K.F., Margules, C.R. & Lawrence, J.F. 2000. Which traits of species predict population declines in experimental forest fragments ? Ecology 81: 1450-1461. - 17 - Dias, B.S.F., Raw, A. & Imperatriz-Fonseca, V.L. 1999. International Pollinators Initiative: The São Paulo Declaration on Pollinators. Organizers: Brazilian Ministry of the Environment, University of São Paulo, Brazilian Corporation for Agricultural Reseach. FAO. 2004. Conservation and management of pollinators for sustainable agriculture. The international response. In: Freitas, B.M. & Pereira, J.O.P. (Org.). Solitary Bees: Conservation, Rearing and Management for Pollination. Fortaleza, CE, Brazil. 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(Michener & Grimaldi, 1988ab; Engel, 2000). De umas poucas espécies (talvez apenas uma tenha deixado descendentes) que ficaram isoladas na América do Sul, após a fragmentação da Gondwana, e a separação final entre este continente e a África, resulta toda a diversidade atual da região Neotropical, que compreende 33 gêneros (incluindo um extinto, Proplebeia; Tab. I) e 393 táxons nominais do grupo-de-espécie (species-group), conforme recente catalogação feita por Camargo & Pedro (2007b). Há, todavia, muitas espécies ainda não descritas formalmente. Tabela 1. Gêneros e número de espécies de Meliponini da região Neotropical (em ordem alfabética). Gênero No. de Espécies Aparatrigona Moure, 1951 2 Camargoia Moure, 1989 3 Celetrigona Moure, 1950 1 Cephalotrigona Schwarz, 1940 5 Dolichotrigona Moure, 1950 10 Duckeola Moure, 1944 2 Friesella Moure, 1946 1 Frieseomelitta Ihering, 1912 16 Geotrigona Moure, 1943 20 Lestrimelitta Friese, 1903 19 Leurotrigona Moure, 1950 2 Melipona Illiger, 1806 71(+10 ssp.) - 20 - Meliwillea Roubik, Lobo & Camargo, 1997 1 Mourella Schwarz, 1946 1 Nannotrigona Cockerell, 1922 10 Nogueirapis Moure, 1953 3 Oxytrigona Cockerell, 1917 8 Parapartamona Schwarz, 1948 7 Paratrigona Schwarz, 1938 29 Paratrigonoides Camargo & Roubik, 2005 1 Partamona Schwarz, 1939 32 Plebeia Schwarz, 1938 38 †Proplebeia Michener, 1982 4 Ptilotrigona Moure, 1951 3 Scaptotrigona Moure, 1942 21 Scaura Schwarz, 1938 5 Schwarziana Moure, 1943 2 Schwarzula Moure, 1946 2 Tetragona Lepeletier & Serville, 1828 13 Tetragonisca Moure, 1946 4 Trichotrigona Camargo & Moure, 1983 1 Trigona Jurine, 1807 32 Trigonisca Moure, 1950 25 A evolução dos Meliponini Neotropicais, em isolamento desde o Cretáceo Superior, resultou não só na grande diversidade taxonômica acima mencionada, mas também em uma grande variedade de modos de vida, por exemplo: espécies com hábitos necrófagos obrigatórios, espécies que cultivam leveduras associada ao pólen, espécies com relações mutualísticas com cochonilhas, etc., além de uma grande diversidade de modos de construir os ninhos. - 21 - Figura 1. Trigona hypogea, coletando carne em lagarto morto (foto cedida por D. Wittmann). O hábito necrófago obrigatório (Fig. 1) é conhecido em três espécies – Trigona necrophaga, T. hypogea e T. crassipes (Roubik, 1982; Camargo & Roubik, 1991) –, são as únicas abelhas que não coletam pólen (a corbícula é rudimentar em todas elas) e nem néctar floral; a carne de animais mortos é sua única fonte de proteínas (e suplemento de lipídeos, carboidratos e sais); os açúcares são obtidos de frutas maduras ou em decomposição no chão, nectários extraflorais, flores caídas no chão, etc. (é possível, também, que o glicogênio obtido dos animais mortos possa ser uma fonte de glicose). A carne coletada é transportada no estômago, e regurgitada nos potes, na forma de uma geléia amarelada ou esverdeada (provavelmente já sob a ação de enzimas digestivas) e misturadas com “mel”. Nos potes (Fig. 2), essa pasta proteinácea misturada com mel, passa pela ação de bactérias. No alimento larval de T. necrophaga, Gilliam et al. (1985) encontraram 5 espécies de Bacillus com atividade enzimática relacionada com o metabolismo de proteínas, lipídeos e hidrólise de carboidratos, provavelmente envolvidos na digestão do tecido animal, além da produção de ácidos graxos e antibióticos. Em T. hypogea, os potes, uma vez preenchidos com a substância proteinácea, misturada com “mel”, são selados e as reações químicas continuam em seu interior nos 12 -16 dias subseqüentes (Noll et al., 1996). Ao final desse período de maturação, tem-se um “mel” límpido de açúcares reduzidos, praticamente incolor, de bom sabor, e rico em aminoácidos livres. - 22 - Figura 2. Ninho da abelha necrófaga, Trigona hypogea (Itaituba, PA, Brasil); à esquerda, os potes onde são armazenados os produtos derivados da carne misturados com “mel”. Figura 3. Ninho de Ptilotrigona lurida (Camanaus, AM, Brasil); na parte inferior vê-se uma grande massa de potes onde é armazenado o pólen associado com leveduras. A estocagem de pólen associado com levedura – Candida sp. – , só conhecida em espécies do gênero Ptilotrigona, conforme relatado por Camargo et al. (1982) e Camargo & Pedro (2004). - 23 - Três espécies compõem esse gênero: Ptilotrigona lurida, de ampla distribuição na Amazônia, P. pereneae, endêmica do oeste da Amazônia, e P. occidentalis, que ocorre do noroeste do Ecuador até Dárien e com uma população isolada na península de Osa na Costa Rica (Camargo & Pedro, 2004). Os estudos foram realizados com P. lurida, para a qual dezenas de ninhos foram observados (Fig. 3). Potes de “mel” ou líquidos adocicados são raros ou mesmo ausentes nesses ninhos, enquanto potes com pólen, associados com levedura (Fig. 4), são encontrados em grande quantidade (em um dos ninhos estudados, havia ca. 3,0 kg de pólen). A ação das leveduras promove a dessecação e longevidade na ensilagem do pólen; torna o pólen tão seco que chega a produzir enrugamento e deformação dos potes. Outro aspecto interessante, que ainda carece de estudos complementares, é a utilização de resinas (principalmente resinas florais de Clusia spp.) coletadas por essas abelhas e adicionadas ao cerume utilizado na construção de potes e células, e que têm efeito bactericida, mas não fungicida. A ação dessas resinas pode promover o crescimento da levedura livre da contaminação por bactérias (Lokvam & Braddock, 1999; Camargo & Pedro, 2004). Supõe-se, ainda, que pelo menos parte dos açúcares utilizados pelas abelhas seja derivada do metabolismo das leveduras. Figura 4. Ptilotrigona lurida, detalhe da massa de pólen recoberta com leveduras. Associações entre certas espécies de Meliponini e hemípteros fitófagos de vida-livre, excretores de substâncias açucaradas (“honeydew”), são bastante conhecidas, mas associações mutualísticas com hemípteros sedentários, coccídeos, só são conhecidas para espécies do gênero Schwarzula (Camargo & Pedro, 2002). Silvestri (1902) foi o primeiro a supeitar de uma relação mutualística entre Scaura timida e cochonilhas, mas observações detalhadas só foram feitas por Camargo & Pedro (2002), que observaram dezenas de ninhos de Schwarzula coccidophila abrigadas em galerias escavadas por larvas de mariposa (Cossula sp., Cossidae) em ramos de Campsiandra angustifolia (Caesalpiniaceae), nas margens do rio Negro, AM, Brasil. As - 24 - cochonilhas (Cryptostigma sp.) são encontradas fixadas nas paredes das galerias, no interior dos ninhos, onde recebem proteção e cuidados por parte das abelhas (Fig. 5), e, em troca, oferecem excreções adocicadas e cera adicional que as abelhas utilizam nas construções do ninho. As excreções são o subproduto da seiva da planta sugada pelas cochonilhas. Quando estimulada pelas abelhas atendentes, as cochonilhas liberaram, pelo ânus, uma pequena gota desse líquido açucarado, que é ingerido pela atendente. Estas abelhas são as únicas, conhecidas, que dispõem, dentro de seu próprio ninho, de uma fonte permanente de carboidratos, além de cera adicional para as construções. Apenas o pólen é coletado nas flores (Camargo & Pedro, 2002). Figura 5. Schwarzula coccidophila; detalhe das cochonilhas – Cryptostigma sp. –, no interior do ninho, sendo atendidas por uma abelha (Tapurucuara-Mirim, AM, Brasil). Outro comportamento inusitado é o apresentado por Trichotrigona extranea, gênero monotípico e até agora conhecido apenas de uma única localidade, na região do médio rio Negro, AM, Brasil. As colônias são muito pequenas, com menos de 200 indivíduos, localizadas em pequenos ocos de ramos secos (de Buchenavia suaveolens); não constroem potes e não armazenam qualquer tipo de alimento. É provável que sejam abelhas cleptobióticas, mas não ao estilo das Lestrimelitta, que roubam, em ataques maciços, todo o estoque de alimento do hospedeiro e o transferem para os potes de seu próprio ninho. Supostamente, as operárias (e talvez também os machos) de T. extranea, agem individualmente e têm acesso livre e contínuo aos recursos do ninho das eventuais espécies hospedeiras (talvez de Frieseomelitta, muito comuns na região e com hábitos de nidificação semelhante aos de Trichotrigona; Camargo & Pedro, 2007a). - 25 - Figura 6. Ninhos de Trichotrigona extranea, abelha que não constrói potes e não armazena qualquer tipo de alimento; detalhe das células de cria (Samaúma, AM, Brasil). Há, também, uma grande diversidade de arquiteturas de ninhos, desde ninhos subterrâneos, com complexas estruturas para controle de umidade e circulação de ar, ninhos em ocos de árvore, em ninhos de outros insetos sociais, como térmitas e formigas, até ninhos arborícolas livres. Dentre estas, destacam-se as espécies do gênero Partamona, que estão entre as mais formidáveis construtoras de ninhos que se conhece, principalmente em relação às estruturas de entradas (Figs. 7-8), conspícuas e ricamente ornamentadas, que “facilitam” o reconhecimento do ninho e funcionam como verdadeiros alvos de pouso (várias dessas espécies – como P. batesi, Figs. 7 e 8a – constroem ninhos em grandes agregações, com as entradas muito próximas umas das outras). O ninho de P. vicina, da Amazônia, é um dos mais sofisticados conhecidos (Fig. 9); a estrutura de entrada abre-se em uma larga câmara ou vestíbulo, preenchida por uma estrutura semelhante a raízes anastomosadas, construída de terra e resinas (9b), formando um grande labirinto, onde ficam as operárias que constituem a primeira força de defesa do ninho; o vestíbulo comunica-se, através de uma pequena galeria, com uma segunda câmara ou átrio (Fig. 9c), preenchida com lamelas cerosas, células e pequenos potes, geralmente contendo substância aquosa ácida, constituindo em um típico “ninho falso”. Deste “ninho falso”, há uma pequena galeria que se comunica com o ninho verdadeiro, onde estão as crias e o alimento (Fig. 9d), e suas várias câmaras satélites – contendo potes com mel. Todo este conjunto de estruturas e câmaras têm significado na defesa do ninho, contra invasões de outros insetos, principalmente insetos sociais cleptobióticos, como Lestrimelitta spp. por exemplo (cf. Camargo & Pedro, 2003). - 26 - Figura 7. Agregação de ninhos de Partamona batesi, em termiteiro ativo (Nasutitermes acangussu); endêmica da região de Tefé, Amazônia Central, Brasil. Figura 8. Entrada de ninhos de Partamona; a – P. batesi (endêmica da região de Tefé); b – P. gregaria (endêmica da região do baixo Tapajós); c – P. pearsoni (endêmica do norte dos rios Amazonas / Negro); d – P. chapadicola (endêmica do Maranhão – leste do Pará); e – P. vicina (de larga distribuição na Amazônia). - 27 - Figura 9. Ninho de Partamona vicina, em termiteiro ativo (Amitermes excellens); (a) entrada; (b) vestíbulo / labirinto, onde fica a força de defesa do ninho; (c) átrio / ninho falso; (d) ninho verdadeiro, com favos de cria, potes de alimento, etc. (Muçum, Tapajós, PA, Brasil). Há também, uma grande diversidade de formas e tamanhos, desde a robusta Melipona fuliginosa (ca. 11,0-13,0 mm de comprimento), até a minúscula Leurotrigona pusilla (Fig. 10, ca. 2,0 mm de comprimento). Algumas espécies de Meliponini são exploradas, economicamente, desde épocas pré-colombianas. Alguns povos nativos da América do Sul, como os Kayapós, do sul do Pará, Brasil (Fig. 11), fazem diversos usos dos produtos dessas abelhas – na alimentação, na medicina, nos rituais, na confecção de artefatos, etc., e também às têm como modelo de organização social para as suas próprias comunidades (cf. Posey & Camargo, 1985; Camargo & Posey , 1990). - 28 - Figura 10. Ninho de Leurotrigona pusilla (Curicuriari, AM, Brasil), em galeria escavada por Coleoptera. Esse é o menor Meliponini conhecido (corpo com ca 2mm). O ninho tem ca de 4 cm de extensão. As causas dessa diversificação, especialmente a taxonômica, na região Neotropical, tem sido objeto de muitas especulações. Nas décadas de 1960-70 surge o postulado de “refúgios” ecológicos. Esse postulado procura associar o atual padrão de endemismos e especiação na Amazônia com ciclos climáticos (glaciais e interglaciais) do Quaternário recente. Embora essa abordagem, a priori, possa explicar alguns dos padrões atuais de distribuição, ela apenas tangencia o problema da história dos táxons; trata apenas dos fragmentos regionais de uma última etapa da história. Só mais recentemente, alguns trabalhos sob orientação da metodologia e dos conceitos da Sistemática Filogenética e da Biogeografia de Vicariância, envolvendo táxons monofiléticos, de ampla distribuição na região Neotropical, permitiram acesso a algumas etapas da história evolutiva / biogeográfica de grande significado no espaço Neotropical, possibilitando, pela primeira vez, integrar espaço, tempo e forma. Os primeiros trabalhos sobre evolução biogeográfica de Meliponini sob a óptica e protocolos da biogeografia de vicariância foram os de Camargo & Moure (1996), Camargo (1996) e Camargo & Pedro (2003). Os primeiros cladogramas biológicos e de área obtidos foram para as espécies dos gêneros Paratrigona e Geotrigona (Fig. 13), e mais recentemente Partamona (Fig. 14). Os resultados revelaram que os subgrupos de espécies dentro de cada um desses gêneros são notavelmente congruentes em termos de compartimentação biogeográfica, ou seja, quando os táxons são substituídos nos cladogramas biológicos pelas respectivas áreas de endemismo, os resultados obtidos para os subgrupos de espécies dos dois primeiros gêneros são os mesmos (parcialmente em relação às espécies de Partamona), indicando as mesmas relações entre áreas ou compartimentos - 29 - biogeográficos. Esses resultados, obviamente, sugerem um padrão geral de coevolução biogeográfica para a região Neotropical. Figura 11. Índios Kayapó (Gorotire, PA, Brasil), em viagem para coleta de ninhos de Meliponini. Esses índios são grandes conhecedores de abelhas. A seqüência de eventos de vicariância / cladogênese leva, portanto, a definição de uma hierarquia na formação de barreiras biogeográficas ou de compartimentação geológica, conforme indicado nas Figs. 15 e 16. A primeira grande barreira se forma ao longo do alinhamento dos rios Madeira / Amazonas (possivelmente mares epicontinentais relacionados às transgressões Tapajônicas, no Mioceno Inferior), separando a região Neotropical em dois grandes compartimentos: NW-SE (Fig. 16a). No compartimento NW segue-se uma quebra (aproximadamente ao longo do alinhamento dos rios Caquetá/Japurá, possivelmente relacionada às transgressões dos mares de Maracaibo no Mioceno Médio; Fig. 16b), separando o Norte da Amazônia (NAm) de toda a área sudoeste da Amazônia (SWAm) e bloco norte andino, América Central – México (Chocó-AC). E, finalmente, uma quebra separando o SWAm do componente Chocó-AC (Fig. 16c), relacionada, possivelmente, com a orogenia dos Andes equatorianos, que atingem cotas superiores a 3.000-4.000m no Plio-Pleistoceno. No componente SE, há uma separação entre a região Atlântica / sudeste (Atl) e o sudeste da Amazônia (SEAm). As quebras que dão origem aos táxons terminais podem estar relacionadas aos eventos climáticos do Pleistoceno, conforme postulado pelos adeptos dos “refúgios” ecológicos. - 30 - Figura 12. A magnífica floresta amazônica (região do alto rio Negro), resultado de muitos milhões de anos de evolução, hábitat de muitos Meliponini e de uma multi-diversificada flora e fauna, hoje à mercê de uma irresponsável e alucinada devastação. Figura 13. Cladograma de área e biológico para os subgrupos de Geotrigona (este foi o primeiro cladograma de área proposto para Meliponini da região Neotropical). Reproduzido de Camargo & Moure (1996). Uma primeira imagem que surge dessa compartimentação biogeográfica e geológica da região Neotropical, é que a Amazônia (Fig. 12) não é uma unidade histórica, mas sim composta - 31 - de três grandes compartimentos biogeográficos com relações temporais e filogenéticas distintas (Fig, 16, cladograma de área). Figura 14. Áreas de endemismo e componentes biogeográficos, inferidos a partir da distribuição das espécies de Partamona: Chocó-CA (do noroeste do Peru até o México); SWAm (componente delimitado, ao norte, pelo alinhamento dos rios Uaupés / Negro, ao sul, pelos rios Madeira / Mamoré, e a oeste, pela cordilheira dos Andes); NAm (norte dos rios Negro / Amazonas); SEAm (área ao sul dos rio Madeira / Amazonas até o noroeste da Argentina); Atl (área atlântica, da Bahia até o Paraná ). Veja Fig. 15a. Reproduzido de Camargo & Pedro (2003). Figura 15. Principais componentes biogeográficos que integram a região Neotropical e os diversos cladogramas de áreas obtidos: b – conforme Amorim & Pires (1996); c – conforme - 32 - Camargo (1996) e Camargo & Moure (1996); d – conforme Camargo & Pedro (2003). Reproduzido de Camargo & Pedro (2003). Legendas na Fig. 14. Figura 16. Seqüência de eventos de quebra e vicariância na região Neotropical. A área sombreada refere-se à Amazônia, que, pela óptica de biogeografia de vicariância, não é uma unidade histórica. Reproduzido de Camargo (2006). Referências Bibliográficas Amorim DS, Pires MRS. 1996. Neotropical biogeography and a method for maximum biodiversity estimation, p. 183-219. In: C. Bicudo EM, Menezes NA (eds.). Biodiversity in Brazil, a first approach. CNPq; São Paulo, Brasil; 326 pp. Camargo JMF. 1996. Meliponini neotropicais (Apinae, Apidae, Hymenoptera): biogeografia histórica. Anais do Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, SP, FFCLRP-USP, Ribeirão Preto, SP, 2:107-121. Camargo JMF. 2006. A Amazônia não é uma unidade histórica!, p. 47-49. In: Santana WC, Lobo CH, Hartfelder KH et al. (eds). Anais do VII Encontro sobre Abelhas. FFCLRP-USP, FMRP-USP; Ribeirão Preto, Brasil.; publicação eletrônica em mídia digital (CDROM); 850 pp. Camargo, JMF, Moure JS. 1996. 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Atualmente, as plantas floríferas, ou angiospermas, são o grupo de plantas predominantes em todos ambientes terrestres. O surgimento das angiospermas aconteceu no início do Cretáceo e teve sua radiação em meados deste período, onde grandes grupos como mono e dicotiledoneas surgiram. Existem diversas hipóteses de relacionamento de angiospermas com seus prováveis clados-irmãos. Gnetales, pequeno grupo vivente, parece ser o clado mais próximo das angiospermas, segundo evidências morfológicas (Doyle e Sanderson 1997). Porém, estudos moleculares recentes evidenciam o relacionamento de glossopterídeas e Bennetitales, com ou sem as Gnetales, com as angiospermas (Endress & Doyle 2009). Mas ainda não existe um acordo para esta questão. As flores das angiospermas são diversas em tamanho, cores, formato, porém funcionalmente todas podem ser definidas como um órgão complexo onde todas as estruturas são presumivelmente adaptadas a reprodução sexual (Dafni 1992). Nem todas as estruturas atuam na produção de gametófitos, mas é comum a existência de partes com funções assexuais, comumente proteção, atração e produção de recompensas aos visitantes. A polinização é o processo de transferência do gametófito masculino (pólen) para a superfície receptora ou estigma do órgão feminino para fecundação do gametófito feminino (óvulo). Muitas plantas são capazes de se auto-polinizar, porém a troca de gametófitos entre indivíduos diferentes é mais vantajosa por promover a diversidade genética entre populações da mesma espécie. A diversidade morfológica das flores invariavelmente está adaptada ao tipo de polinização que apresentam, ou a “síndrome de polinização”, também chamada “síndrome floral”. Os agentes polinizadores podem ser abióticos (vento, água) ou bióticos (animais). A anemofilia ou polinização pelo vento é predominante em diversas famílias, como Poaceae e Cyperaceae (Dafni 1992), que reúnem uma série de características adaptadas para tal, como: grande quantidade de pólen seco, perianto reduzido, recursos florais e atrativos reduzidos. A polinização por animais, pelo contrário, envolve uma grande quantidade de atrativos visuais ou olfativos e recursos oferecidos como recompensa. O reconhecimento da síndrome floral de uma - 36 - determinada planta é uma importante ferramenta para a descoberta de agentes polinizadores, quando estes ainda não são conhecidos (Endress 1994). Os agentes polinizadores, sejam eles bióticos ou não, contribuem para a diversidade genética das angiospermas. E isso parece bem claro. Porém há controvérsias quanto ao fato de um ou outro agente ser mais ou menos eficiente na promoção da diversidade genética e sucesso reprodutivo das plantas floríferas. A polinização por animais parece mais eficiente pois há menor perda de pólen e a transferência entre uma planta e outra é direta. A relação entre flores e insetos é tão evidente que já no século XVIII era bem conhecida e foi largamente discutida por Sprengel (Vogel 1996). Ao lado da polinização anemófila, a polinização por insetos é a mais comum encontrada na natureza. Outros animais, como aves e morcegos, também podem atuar como polinizadores, mas são bem mais raros esses casos. Um estudo na Costa Rica mostrou que 85% das plantas estudadas eram polinizadas por insetos, enquanto cerca de 20 % por vertebrados e uma pequena porcentagem por agentes abióticos (Bawa 1974). Insetos de diversas ordens podem polinizar flores de angiospermas, destacando-se Hymenoptera, em particular as abelhas, como polinizadores por excelência (Endress 1996). Esta relação promoveu a evolução da grande diversidade de formas e especializações existentes nas abelhas e o surgimento de diversos casos de coevolução entre grupos específicos de plantas e seus polinizadores. As plantas adaptadas a polinização por abelhas são denominadas melitófilas (Endress 1996) e reúnem uma grande variedade de características, dependente do grupo de abelha visitante, mas que podem ser resumidas a: atrativos na corola (cor, forma, guias de néctar), presença de um ou mais recursos compensatórios (pólen e/ou néctar, óleo, resinas, etc) e em geral antese (período de abertura da flor) diurna (Dafni 1992). As abelhas por sua vez possuem adaptações para coleta de pólen e néctar nas flores. Em geral a coleta de pólen é mais especializada que a de néctar. O transporte de pólen até o ninho também necessita de especializações, em geral pêlos presentes nos tarsos, tíbia ou esternos, dependendo do táxon (Michener 2007). As abelhas formam um grupo claramente monofilético, onde muitas de suas características sinapomórficas estão relacionadas a coleta ou transporte de pólen, mostrando a grande dependência destes animais das flores que visitam (Michener 2007). A origem das abelhas e sua diversidade estão ligadas à radiação das angiospermas no Cretáceo (estes e outros assuntos referentes a origem e evolução das abelhas podem ser conferidos em Danforth et al. 2004). Abelhas sociais são generalistas e versáteis quanto ao recurso explorado, podendo visitar uma ampla gama de espécies de plantas (Roubik 1989). Essas abelhas coletam pólen para alimento larval e néctar para sua própria nutrição. Mas existem abelhas solitárias, que coletam recursos específicos em plantas especializadas, como óleos florais (Vogel 1974), resinas - 37 - (Roubik 1989) e perfumes (Dressler 1968) são os mais comuns. A coleta de recursos específicos ou de pólen e néctar em determinados grupos de plantas acarreta uma diversidade de adaptações morfológicas destas abelhas, denominadas especialistas ou oligoléticas (Schlindwein 2004). Diptera é o segundo principal grupo de insetos visitantes florais, embora grande parte das moscas não apresentem este hábito. As flores visitadas por Diptera em sua maioria são generalistas, isto é podem também ser visitadas por outros grupos de insetos, como abelhas e bezouros polinizadas por eles. Muitas famílias de moscas atuam como polinizadores efetivos e são dependentes das flores para sua sobrevivência, como Syrphidae e Bombylidae (Kearns & Ynouye 1994). As flores especializadas para a visita por moscas, ditas miófilas são geralmente escuras, verde ou marrom e apresentam cheiro de carniça, que é o principal atrativo. Estas flores atuam como enganadoras das moscas que a visitam, já que estas vão até elas para ovipositar e, em consequência as polinizam. Estas flores com fragrância que simula matéria em decompição são visitadas por moscas das famílias Calliphoridae, Sarcophagidae, Muscidae e Drosophilidae (Endress 1996). Os bezouros de diversas famílias que visitam flores (Chrysomelidae, Staphylinidae, Cantharidae, Cerambycidae) atuam de maneira pouco especializada e muitas vezes destrutiva para a planta. Apesar disso, eles podem ser considerados como polinizadores efetivos de muitas espécies, juntamente com outros visitantes, como moscas, abelhas e e borboletas. Mas existem flores especializadas na visita de bezouros, ou cantarofilia, como as Anonnaceae e Araceae (Endress 1996). As Annonaceae desenvolveram diversas especilizações para a polinização por bezouros. Suas flores apresentam cheiro forte, em geral adocicado ou picante, que atraem os bezouros para o seu interior, onde encontram grande quantidade de alimento: tecidos e pólen (Gottsberger 1999). São encontrados dois grandes grupos de visitantes: bezouros pequenos, com hábitos diurnos ou noturnos (Nitidulidae, Curculionidae e Chrysomelidae) e grandes dinastídeos (Scarabeidae), noturnos e vorazes, atraídos por fortes odores (Gottsberger 1999) . Assim como as abelhas, as borboletas são os visitantes florais mais populares. Três grandes grupos dentro de Lepidoptera atuam como polinizadores: as mariposas Noctuidae e Sphingidae e as borboletas (Rhopalocera). Flores visitadas por borboletas em geral apresentam guias de néctar e corola tubular e longa (Dafni 1992). Existem diversos casos de especialização de plantas a polinização por borboletas e mariposas. Um caso bem conhecido é o que ocorre entre mariposas e algumas Orchidaceae, onde a especilização de ambas as partes possibilita a exploração de néctar pela mariposa nos longos tubos florais da flor e a polinização desta (Nilsson et al 1985). A íntima relação entre insetos e flores é tão antiga quanto a história das angiospermas. As primeiras evidências fósseis de especialização por parte das plantas para a visita de insetos - 38 - datam de cerca de 120 milhões de anos, quando são reconhecidos os primeiros fósseis com pétalas, sépalas, e mais tardiamente outras evidências desta relação (Grimaldi & Engel 2005). Apesar de todas as evidências de relacionamento estreito entre ambos os grupos, não é claro ainda se esta relação promoveu a diversidade de ambos. Várias evidências contradizem a hipótese de que a polinização por insetos causou a grande diversidade das angiospermas, entre elas o fato de famílias mega-diversas como Poaceae ser polinizada basicamente pelo vento (Gorelick 2001). A relação entre insetos e flores, antigo e estreito relacionamento, representa um dos mais belos exemplos de interação entre espécies presente na natureza. E, certamente um dos mais importantes, principalmente pela diversidade de espécies envolvidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bawa, K. S. 1974. 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Rodrigo Machado Feitosa Doutorando em Entomologia – FFCLRP-USP Museu de Zoologia da USP [email protected] http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4139506D8# A descrição de fósseis em âmbar dominicano dos gêneros de formigas Apterostigma e Trachymyrmex datado do Mioceno mostra claramente que as principais linhagens das formigas cultivadoras de fungos (Attini) já estavam diferenciadas há mais de 20 milhões de anos; as propostas de filogenia para Attini (adultos e larvas), dos fungos, trabalhos recentes de revisão de gêneros, indicam uma história complexa que deve ter tido origem no fim do Cretáceo, seguida da diversificação de grupos de gêneros e gêneros, cheia de derivações e ensejando muitas perguntas a serem respondidas. Os gêneros atuais parecem ter se originado no Eoceno, mas suas relações filogenéticas ainda não estão bem estabelecidas. A maioria dos cultivares de fungos criados pelas Attini pertence a Leucoagaricus e Leucocoprinus (Agaricales: Basidiomycota: Lepiotaceae: Leucocoprinae), exceto os cultivados por algumas Apterostigma que secundariamente adotaram Tricholomataceae (Apterostigma basais cultivam fungos lepiotáceos), e por um subgrupo dentro do grupo Rimosus de Cyphomyrmex que secundariamente cultiva seus fungos leucocoprináceos como levedura e não na forma de micélio. Fungos leucocoprináceos são decompositores de serapilheira abundantes na porção úmida da região Neotropical, e foram provavelmente domesticados, repetida e independentemente, várias vezes pelas formigas a partir de populações de vida livre deste fungo. Os fungos de Attini também são transferidos lateralmente entre ninhos até de gêneros diferentes, por compartilhamento temporário, roubo de pedaços e mesmo usurpação de ninhos. Ainda, as atíneas combatem o crescimento explosivo e desordenado potencialmente devastador do microfungo parasita Escovopsis usando pesticidas antimicrobianos produzidos por bactérias filamentosas Pseudonocardia pertencentes à ordem Actinomycetales, que abrigam e nutrem em regiões especializadas de seus próprios corpos. A filogenia de Escovopsis fornece evidência da transferência lateral do parasita entre espécies próximas de Attini. O parasitismo da simbiose formigas e fungos por Escovopsis provavelmente originou-se com um parasita de um fungo leucocoprináceo, que invadiu a simbiose no momento da domesticação desta cepa de fungo de vida livre. Este panorama indica que, apesar dos evidentes progressos recentes, ainda não temos uma idéia clara, consensual e aceitável dos passos na evolução da criação de fungos por formigas. Pode-se reconstituir o ancestral dos Attini, que “aprendeu” a domesticar fungos que encontrava no ambiente para utilizá-los como fonte exclusiva de alimentação dos adultos e imaturos; com esta base será possível um dia, em breve, discernir a topologia que expressa a história filogenética da simbiose formigas e fungos, evidenciando os passos evolutivos, refletidos por sua vez na morfologia, fisiologia, comportamento e ecologia das espécies de Attini. Referências Bibliográficas Adams, R.M.M., U.G. Mueller, A.K. Holloway, A.M. Green, J. Narozniak. 2000. Garden sharing and garden stealing in fungus-growing ants. Naturwissenschaften 87: 491-493. - 41 - Chapela, I.H., S.A. Rehner, T.R. Schultz, and U.G. Mueller. 1994. Evolutionary history of the symbiosis between fungus-growing ants and their fungi. Science 266: 1691-1694. Currie, C., U.G. Mueller, and D. Malloch. 1999. The agricultural pathology of ant fungus gardens. Proceedings of the National Academy of Sciences 96: 7998-8002. Gerardo, N.M., C.R. Currie, S.L. Price, U.G. Mueller. 2004. Exploitation of a mutualism: specialization of fungal parasites on cultivars in the attine ant symbiosis. Proceedings of the Royal Society of London B 1791-1798. Gerardo, N.M., U.G. Mueller, C.R. Currie. 2006. Complex host-pathogen coevolution in the Apterostigma fungus-growing ant-microbe symbiosis. BMC Evolutionary Biology 6: 88. Green, A.M., R.M.M. Adams, and U.G. Mueller. 2002. Extensive exchange of fungal cultivars between sympatric species of fungus-growing ants. Molecular Ecology 11: 191-195. Kane, M.D., U.G. Mueller. 2002. Insights from insect-microbe symbioses. Biodiversity of Microbial Life. Little, A.E.F., T. Murakami, U.G. Mueller, C.R. Currie. 2004. Construction, maintenance, and microbial ecology of fungus-growing ant infrabuccal pellet piles. Naturwissenschaften 90: 558-562. Little, A.E.F., T. Murakami, U.G. Mueller, C.R. Currie. 2005. Defending against parasites: fungus-growing ants combine specialized behaviours and microbial symbionts to protect their fungus gardens. Biology Letters 2: 12-16. Mehdiabadi, N.J., B. Hughes, U.G. Mueller. 2006. Cooperation, conflict, and coevolution in the attine ant-fungus symbiosis. Behavioral Ecology 17: 291-296. Mikheyev, S., U.G. Mueller, P. Abbott. 2006. Cryptic sex and many-to-one co-evolution in the fungus-growing ant symbiosis. Proceedings of the National Academy of Sciences 103: 10702-10706. Mueller U.G., T.R. Schultz, C.R. Currie, R.M. Adams, D. Malloch. 2001. The origin of the attine ant-fungus mutualism. Quarterly Review of Biology 76: 169-197. Mueller, U.G. 2002. Ant versus fungus versus mutualism: Ant-cultivar conflict and the deconstruction of the attine ant-fungus symbiosis. American Naturalist 160 Supplement: S67-S98. Mueller, U.G., N. Gerardo, T.R. Schultz, D. Aanen, D. Six. 2005. The evolution of agriculture in insects. 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Antifungal diketopiperazines from the symbiotic fungus of the fungus-growing ant Cyphomyrmex minutus. Journal of Chemical Ecology 25: 935-941. - 43 - “Comportamento solitário em abelhas” Guaraci Duran Cordeiro Pós-Graduação em Entomologia – FFCLRP/USP As abelhas solitárias possuem um modo e um ciclo de vida diferente das abelhas que vivem em sociedade. A grande maioria das espécies de abelhas é solitária, representam 85% dos Hymenoptera (Michener 2000). Abelhas solitárias são chamadas aquelas espécies nas quais uma única fêmea coleta alimento, constrói e defende seu próprio ninho sem a ajuda nenhuma da sua ou de outra espécie e também não há contato entre gerações (Batra 1984, Alves dos Santos 2002). As abelhas solitárias usam locais e estratégias variadas para a nidificação. Algumas espécies cavam seus ninhos e outras utilizam cavidades pré-existentes para a construção do ninho (Camillo 2000). Para construir as células, a variedade de materiais também é grande: folhas, pétalas, fibras, pêlos, resina, barro, areia, óleo, e muitas vezes uma combinação destes materiais com secreções da glândula de Dufor das abelhas (Alves dos Santos 2004). Quando a abelha solitária fêmea encontra um local adequado para escavar ou uma cavidade propícia para construir o seu ninho, ela primeiro faz uma série de vôos em ziguezague ou circulares, cada vez mais longos, para aprender a localização do ninho. Algumas espécies de abelhas solitárias fazem seus ninhos isoladamente, mas muitas outras nidificam em agregações, onde mais de um indivíduo da mesma espécie que constroem seus ninhos muito próximos um dos outros. Apesar das abelhas não cooperarem entre si, essa aglomeração de ninhos e o movimento constante de abelhas na área intimida predadores e parasitas oportunistas. A maneira como a abelha constrói o ninho, ou seja, a sua estrutura depende da espécie e pode ser linear, com uma célula atrás da outra, ou ramificado em células ou túneis laterais com células em suas extremidades. A construção do ninho é gradual, pois a abelha só constrói um novo túnel ou célula após ter efetuado a postura e fechado a célula anterior. A preparação de uma célula para postura é iniciada com o seu revestimento internamente com substância impermeável, importante para evitar a umidade excessiva ou o afogamento das larvas nos ninhos construídos no solo. Com a primeira célula do ninho iniciada a abelha passa a procurar alimento para aprovisionar a célula. O alimento consiste basicamente de pólen e um pouco de néctar ou óleos que a fêmea obtém visitando as flores de sua preferência. Ao retornar para o ninho, a abelha começa a fazer uma bola de pólen umedecida com néctar ou óleos até que a quantidade de alimento armazenada seja suficiente para alimentar uma larva até a sua metamorfose. Quando a abelha termina de armazenar alimento na célula ela põe um único ovo. Finalizada a postura, a abelha fecha a célula. O material usado na construção das células varia - 44 - com a espécie de abelha. A partir desse momento, a abelha passa a construir uma nova célula e não tem mais contato com o ovo posto nem com a larva que nascerá dele. Quando a larva nasce, ela tem todo o alimento que precisa para completar o seu período de desenvolvimento. Depois de totalmente crescida, a larva atinge o estado de pré-pupa que se caracteriza por ser um período de repouso. Muitas espécies de abelhas solitárias passam a época do ano desfavorável para a sua sobrevivência (fria e/ou sem flores) como pré-pupas e só completam o ciclo quando as condições ambientais tornam-se favoráveis de novo. Outras espécies passam o período inóspito já como pupas ou abelhas adultas, mas ainda em estágio de latência e protegidas por seus casulos e ninhos. Apesar das abelhas solitárias não produzirem mel, própolis ou qualquer outro produto que se possa extrair dos seus ninhos, essas abelhas são importantíssimas para a polinização das plantas. Uma quantidade enorme de plantas silvestres depende dessas abelhas para a sua sobrevivência e entre estas estão muitas que possuem importância econômica para o homem. Algumas espécies de abelhas solitárias são utilizadas para a polinização de culturas agrícolas, para assegurar altas produtividades como a alfafa (Medicago sativa), a macieira (Malus domestica) e o morango (Fragassia ananassa). Estudos com abelhas solitárias com ninhos-armadilha As espécies de abelhas que utilizam cavidades pré-existentes têm sido as mais estudadas, pois podem ser capturadas em ninhos-armadilha (Krombein 1967, Camillo 2000). Os estudos com ninhos-armadilha iniciaram na América do Norte por Krombein (1967) e no Brasil por Serrano & Garófalo (1978). Através deste método foram realizados diversos estudos onde foi possível obter dados sobre a diversidade e abundância de espécies solitárias, biologia das espécies nidificantes, alterações da qualidade ambiental e efeitos da fragmentação (Garófalo et al. 1989, Garófalo et al. 1993, Camillo et al. 1995, Tscharntke et al. 1998, Morato & Campos 2000, Morato 2001a,b , Viana et al. 2001, Aguiar 2002, Aguiar & Martins 2002, SteffanDewenter 2002, Alves dos Santos 2003, Gazola et al. 2003). Para Garófalo (2000) e Morato & Campos (2000) a metodologia de amostragem com ninhos-armadilha facilita a obtenção de informações sobre a arquitetura interna dos ninhos, materiais de construção utilizados, recursos fornecidos para as larvas e presença dos parasitas. Os ninhos-armadilhas fornecem informações biológicas imprescindíveis para a avaliação do potencial polinizador das espécies de abelhas solitárias e para o domínio das técnicas de criação e manejo de populações, com vistas a sua utilização em agro-ecossistemas (Aguiar 2002). Morato & Campos (2000) enfatizaram que as espécies nidificantes em ninhos- - 45 - armadilhas podem ser também utilizadas como bioindicadores de qualidade do ambiente e diversidade em programas de conservação ambiental. No Brasil em estudos com ninhos-armadilha, já foram capturadas mais de 50 espécies de abelhas, entre as quais: pelo menos 9 espécies de Centris, 19 de Euglossini, 6 de Tetrapedini, 3 de Xylocopa, 19 de Anthidiini, 11 de Megachile, 1 de Colletes e algumas espécies de Hylaeus (Colletidae) (Garófalo et al. 2004). Referências Bibliográficas Aguiar, C.M.L. Abelhas (Hymenoptera, Apoidea) que nidificam em ninhos-armadilha, em áreas de Caatinga e Floresta estacional semi-decídua do estado da Bahia, Brasil. 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Biologia e ecologia de Anthodioctes moratoi Urban (Hymenoptera, Megachilidae, Anthidiini) em matas contínuas e fragmentos na Amazônia Central, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 18 (3): 729-736. 2001. - 47 - Serrano, J.C.; Garófalo, C.A. Utilização de ninhos artificiais para o estudo bionômico de abelhas e vespas solitárias. Ciência e Cultura 30: 597. 1978. Steffan-Dewenter, I. Landscape context affects trap-nesting bees, wasps, and their natural enemies. Ecological Entomology, 27: 631-637.2002. Tscharntke, T.; Gathmann, A.; Dewenter, I.S. Bioindication using trap-nesting bees and wasps and their natural enemies: community structure and interactions. Journal of Applied Ecology, v. 35, p. 708-719, 1998. Viana, B. F.; Silva, F. O.; Kleinert, A. M. P. Diversidade e sazonalidade de abelhas solitárias (Hymenoptera: Apoidea) em dunas litorâneas no nordeste do Brasil. Neotrop. Entomol., vol.30, no.2, p.245-251. 2001. - 48 - Ciclo de Palestras em Ecologia de Insetos – 22/01/2009 “Comportamento forrageador em abelhas sem ferrão: recrutamento e comunicação.” Yara Sbrolin Roldão Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP Ribeirão Preto, SP, Brasil [email protected] Um aspecto importante da vida em sociedade nos animais é a comunicação entre os indivíduos do grupo. Isso trás muitos benefícios, pois, trabalhando coletivamente pode-se haver melhora na estrutura da comunidade, na defesa, entre outros. Assim é a vida dos insetos, através do trabalho coletivo melhora-se a comunidade, em abelhas, melhorando também o forrageamento (Aguilar et al., 2005). Sabe-se que a última tarefa desempenhada pela operária dentro de uma colônia é a de forrageira ou campeira, onde esta sairá em busca de alimento como néctar e pólen, encontrados em flores poliníferas e nectaríferas (Kerr et al., 1996 & Hebling et al., 1964). De acordo com Roubik e Buchamann apud Kerr et al. (1996), as campeiras de uma colônia de Melipona compressipes, em dois dias de observação, fizeram 1176 viagens nas quais trouxeram pólen e 5368 viagens nas quais trouxeram néctar. As abelhas sem ferrão não realizam “danças” para se comunicar como em Apis mellifera, mas possuem um sofisticado sistema de comunicação para encontrar uma boa fonte de alimento. Para essa comunicação é utilizado recursos sonoros, químicos e contatos físicos (Kerr et al., 1996; Nieh, 2004; Michener, 1974; Gonçalves, 2003 & Lindauer e Kerr, 1960). A forma mais primitiva de comunicação ocorre nas mamangavas (Bombus), aonde as campeiras chegam ao ninho com as corbículas cheias de pólen. As operárias irmãs comem este pólen ainda nas patas da abelha campeira e, então, através do odor presente nesta amostra, orienta as demais para procurar pelo mesmo odor, porém não indica distância nem orientação. Já as abelhas do gênero Trigonisca, Frieseomelitta, Jataí e Duckeola informam sobre a fonte de alimento correndo e batendo nas companheiras, dispersando o cheiro do alimento (Kerr et al., 1996). O mecanismo mais complexo de orientação até a fonte de alimento em abelhas sem ferrão é o das trilhas de cheiro, observadas em Trigona recursa por Barth et al. (2008), essas abelhas utilizam a trilha de cheiro para indicar a direção e a distância da fonte de alimento. Isso ocorre quando uma forrageira faz marcações de cheiro no caminho através das glândulas labiais (não das glândulas mandibulares como sempre foi dito) que liberam a secreção com o feromônio. Muitas abelhas do gênero Melipona não utilizam essa trilha de cheiro e se comunicam através de sons (como vibrações torácicas) observado em Melipona scutellaris e - 49 - Melipona quadrifasciata por Hrncir et al. (2000), onde é indicado a existência, e em alguns casos, a distância da fonte de alimento (Esch e Kerr, 1965). Em experimentos realizados no campus da USP de Ribeirão Preto, com forrageiras de Melipona marginata, pode-se confirmar que a coleta de néctar depende da distância da fonte de alimento, ou seja, a abelha consome mais alimento quando a fonte deste se encontra mais próxima a colônia, pois a energia gasta pelo indivíduo é menor, sendo mais lucrativo (Kacelnik et al., 1986). O recrutamento e a comunicação entre as forrageiras são essenciais para o forrageamento, mas ainda é necessário um amplo estudo deste comportamento. Referências Bibliográficas Aguilar, I.; Fonseca, A. & Biesmeijer, J. C. 2005. Recruitment and communication of food source location in three species of stingless bees (Hymenoptera, Apidae, Meliponini). Apidologie. 36: 313-324. Barth, F. G.; Hrncir, M. & Jarau, S. 2008. Signals and cues in the recruitment behavior of stingless bees (Meliponini). J. Comp. Physiol. A. 194: 313-327. Esch, H. & Kerr, W.E. 1965. Sound: an element common to communication of stingless bees and to dances of the honeybee. Science. 149: 320-321. Gonçalves, L.S. 2003. Como as abelhas se comunicam? Mensagem Doce. 71. Disponível em: < http: // www.apacame.org.br/mensagemdoce/71/msg71.htm > Hebling, N.J.; Kerr, W.E. & Kerr, F.S. 1964. Divisão de trabalho entre operárias de Trigona (Scaptotrigona) xanthotricha Moure. Papéis Avulsos do Departamento de Zoologia. 16 (15): 115-127. Hrncir, M.; Jarau, S.; Zucchi, R. & Barth, F.G. 2000. Recruitment behavior in stingless bees Melipona scutellaris and Melipona quadrifasciata. II. Possible mechanisms of communication. Apidologie. 31: 93-113. Kacelnik, A.; Houston, A. I. & Schmid-Hempel, P. 1986. Central-place foraging in honey bees: the effect of travel time and nectar floe on crop filling. Behav Ecol Sociobiol. 19: 19-24. - 50 - Kerr, E. W.; Carvalho, G. A. & Nascimento, V. A. 1996. Abelha Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Belo Horizonte, MG: Acangaú, 1 ed. 145p. Lindauer, M. & Kerr, W. E. 1960. Communication between the workers of stingless bees. Bee World. 41(2): 29-41. Michener, C. D. 1974. The social behavior of the bees – a comparative study. 404p. Nieh, J. C. 2004. Recruitment communication in stingless bees (Hymenoptera, Apidae, Meliponini). Apidologie. 35: 159-182. - 51 - “Espaço morfológico, diversidade funcional e estrutura de comunidades de formigas” Rogério R. Silva Museu de Zoologia da USP (Pós-Doutor) Diversos estudos ilustram a importância do uso de atributos funcionais para o desenvolvimento de modelos quantitativos e preditivos para explicar a organização de comunidades biológicas (McGill et al., 2006; Shipley et al., 2006; Kraft et al., 2007; Petchey et al., 2007). Estudos adotando abordagem relacionada aos atributos das espécies têm o potencial de revelar a estrutura de comunidades através da relação entre estratégias ecológicas das espécies, teoria de regras de composição de comunidades e diversidade funcional (Weiher et al., 1998; Watkins & Wilson, 2003; McGill et al., 2006; Ackerly & Cornwell, 2007). Atributos funcionais são caracteres das espécies que influenciam sobrevivência, taxa de crescimento e reprodução (McGill et al., 2006). Em particular, a diversidade funcional ou a extensão das diferenças funcionais entre as espécies em uma comunidade emerge como um aspecto de importância crucial para compreender o funcionamento de ecossistemas e comunidades (Días & Cabido 2001, Petchey & Gaston 2002, 2006, Mouillot et al., 2005). Diversidade funcional geralmente envolve o estudo de comunidades e ecossistemas com base no que os organismos fazem; freqüentemente, o fenótipo dos organismos é usado para interpretar a função das espécies nas comunidades e para quantificar a diversidade funcional (Petchey & Gaston, 2006). Para representar os atributos funcionais das espécies podemos usar medidas morfológicas com importância funcional conhecida e que, portanto, têm relação com a biologia alimentar das espécies, como por exemplo, tamanho e forma de diversas estruturas. Cada táxon pode ser representado em um espaço morfológico teórico definido através dos caracteres morfológicos. A descrição do espaço morfológico das espécies em uma comunidade pode revelar significantes aspectos relacionados a estrutura de comunidades, como (1) dispersão morfológica (indicando divergência de caracteres), (2) agregada (resultado de convergência morfológica) ou (3) distribuição intermediária, o que sugere uma distribuição aleatória das espécies no espaço morfológico (Díaz & Cabido, 2001; Moreno et al., 2006). Um espaço morfológico estruturado é definido como àquele em que a distribuição das espécies no espaço morfológico não é ao acaso. Os padrões de atributos morfológicos podem ser avaliados através do estudo de grupos funcionais, que levam em consideração vários caracteres morfológicos simultaneamente (Belyea & Lancaster 1999; Fargione et al., 2003; Holdaway & Sparrow, 2006). Grupos funcionais podem ser definidos como um grupo de organismos semelhantes em certo conjunto - 52 - de atributos e semelhantes nas suas respostas a fatores ou nos seus efeitos nos ecossistemas (Díaz & Cabido, 2001; Rosenfeld, 2002; Pillar et al., 2008). Há inúmeros atributos que podem ser utilizados para a definição de grupos funcionais; os mais relevantes são expressões observáveis de formas ou comportamentos associados, alterando a ocorrência ou performance dos organismos e/ou provocando alterações em variáveis ecológicas (Pillar, 1999). A classificação em grupos funcionais permite agrupar espécies simpátricas que ocupam funções ou nichos similares e que mostram alto grau de interação ou sobreposição em sua ecologia, podendo ser assim ser vistas como grupos de espécies que influenciariam, em conjunto, a estrutura da comunidade (Wilson, 1999; Blondel, 2003). A compreensão da estrutura das comunidades de formigas neotropicais e dos fatores que determinam sua organização tem avançado com o uso do conceito de grupos funcionais. A adoção do modelo de grupos funcionais vem tendo bastante sucesso na análise ecológica das comunidades de formigas da Austrália (Andersen, 1995), pelo seu poder preditivo em relação ao impacto de fatores como stress (que limita a produtividade) e perturbação (responsável pela remoção de biomassa), sendo usado freqüentemente em estudos que visam identificar bioindicadores ambientais (Andersen et al., 2004). Recentemente, demonstramos que o emprego de atributos morfológicos para descrever comunidades de formigas ao longo de um gradiente latitudinal de Mata Atlântica (Silva & Brandão, aceito) pode ser usado para determinar os grupos funcionais de comunidades complexas como àquelas de formigas que habitam a serapilheira de florestas tropicais. Ainda, a aplicação desta abordagem permitiu revelar processos responsáveis pela organização da fauna, como (1) convergência de atributos das espécies que expressaria a existência de um filtro ambiental, definindo quais espécies podem coexistir e, (2) divergência de atributos que expressam mecanismos de limitação de similaridade (MacArthur & Levins, 1967) ou regras de montagem ou composição (Diamond, 1975), que indicam que comunidades não são apenas formadas por um subconjunto de organismos extraídos aleatoriamente de um pool de espécies adaptadas às condições do sítio, mas, mais que isso, o resultado de determinado arranjo de espécies em função de seus atributos, seguindo regras de montagem. Referências Bibliográficas Ackerly, D. D. & Cornwell, W. K. 2007. A trait-based approach to community assembly: partitioning of species trait values into within- and among-community components. Ecology Letters 10: 135–145. - 53 - Andersen, A. N. 1995. A classification of Australian ant communities, based on functional groups which parallel plant life forms in relation to stress and disturbance. Journal of Biogeography 22: 15–29. Andersen, A. N., Fisher, A., Hoffmann, B. D., Read, J. L. & Richards, R. 2004. Use of terrestrial invertebrates for biodiversity monitoring in Australian rangelands, with particular reference to ants. Austral Ecology 29: 87–92. Belyea, L. R. & Lancaster, J. 1999. Assembly rules within a contingent ecology. Oikos 86: 402– 416. Blondel, J. 2003. Guilds or functional groups: does it matter? Oikos 100: 223–231. Díaz, S. & Cabido, M. 2001. Vive la différence: plant functional diversity matters to ecosystem processes. Trends in Ecology and Evolution 16: 646-655. Diamond, J. M. 1975. Assembly of species communities. In: Ecology and Evolution of Communities. Cody, M.L. & Diamond, J.M. (eds.), Cambridge, Harvard University Press, pp. 342–444. Fargione, J., Brown, C. 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Morphological assembly mechanisms in Neotropical bat assemblages and ensembles within a landscape. Oecologia 149: 133-140. Mouillot, D., W. Stubbs, M. Faure, O. Dumay, J. A. Tomasini, J. B. Wilson, and T. D. Chi. 2005. Niche overlap estimates based on quantitative functional traits: a new family of nonparametric indices. Oecologia 145: 345–353. Petchey, O. L., Evans, K .L., Fishburn, I. S. & Gaston, K. J. 2007. Low functional diversity and no redundancy in British avian assemblages. Journal of Animal Ecology 76: 977–985. Petchey, O. L. & Gaston, K. J. 2002. Functional diversity (FD), species richness and community composition. Ecology Letters 5: 402–411. Petchey, O. L. & Gaston, K. J. 2006. Functional diversity: back to basics and looking forward. Ecology Letters 9: 741–758. Pillar, V. D., Duarte, L. S., Sosinski, E. & Joner, F. 2008. Sorting out trait-convergence and trait-divergence assembly patterns in ecological communities gradients. Journal of Vegetation Science: in press. 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Oikos 86: 507–522. - 55 - "Insetos aquáticos como ferramenta para a avaliação do impacto da atividade canavieira em córregos da região central do Estado de São Paulo" Dr. Juliano José Corbi USP – Pós-doutorando UFSCar – Pesquisador colaborador A cultura de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo tem se expandido significativamente nos últimos anos, sendo este estado o maior produtor nacional, com uma produção anual de 200.106 toneladas e ocupando uma área de 2,5. 106 hectares. A aplicação e uso de herbicidas e fertilizantes contendo diferentes concentrações dos metais como Pb, Ni, Cr e Cd, durante os diferentes estágios de plantio da cana-de-açúcar, aliados ao problema da devastação das matas ciliares, têm acarretado, em diferentes graus, impactos sobre os recursos hídricos das áreas adjacentes a essas plantações. Os insetos aquáticos, como parte integrante da biota de um corpo de água e apresentando características específicas que as tornam boas indicadoras ambientais, podem fornecer um quadro fiel da qualidade dessas áreas. Contudo, pouca atenção tem sido dada para as implicações decorrentes dos efeitos da bioacumulação ou contaminação da presença de substâncias exógenas, como, por exemplo, metais e organoclorados provenientes de áreas com atividade canavieira sobre a estrutura e as interações das espécies dessa fauna aquática. Com base nessas informações, este trabalho visa apresentar a influência de metais provenientes do uso de fertilizantes e dos organoclorados sobre a fauna de insetos aquáticos de córregos de áreas com cana-de-açúcar e possíveis processos de bioacumulação em alguns organismos dessa comunidade. Paralelamente serão apresentadas informações sobre a utilização de testes de toxicidade em laboratório para se avaliar o efeito das substâncias tóxicas contidas no sedimento em larvas de Chironomus xanthus (Chironomidae, Diptera). - 56 - Ciclo de Palestras em Estudos de Campo em Entomologia e Biomas Brasileiros23/01/2009 “Biogeografia do Cerrado” Antonio J. C. Aguiar Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo [email protected] As savanas da região Neotropical são representadas por um conjunto de áreas de savanas descontínuas na América Central, e ao norte e sudeste da América do Sul. Uma compilação das delimitações destas áreas é apresentada por Otto Huber (2002). As maiores porções de savanas são representadas pelo Cerrado, Grã-Sabana e Llanos. Pequenas áreas de savana estão presentes na América Central, a leste de Honduras e Nicarágua, na ilha de Cuba, e no sudoeste do Panamá. Outras áreas menores de savanas na América do Sul são representadas pelos Llanos de Mojos, savana de Beni e pelas savanas costeiras das Guianas, Amapá e Ilha de Marajó (Pará). A despeito de todas essas áreas poderem ser classificadas como savanas, através de semelhanças fitofisionômicas, os limites geográficos e relações históricas entre sua biota são pouco compreendidos, devido a escassez de estudos biogeográficos. Dentre os poucos estudos realizados sobre a biogeografia do Cerrado, destacam-se os estudos de Vanzolini (1963, 1976) com lagartos, que sugerem que o Cerrado tenha uma biota mais relacionada ao Chaco e Caatinga do que as outras áreas de savanas periféricas. Vanzolini (1963) cunha o termo “diagonal de áreas abertas” para esta grande área formada pelo Cerrado, Chaco e Caatinga. Esta diagonal tem importante significado biogeográfico, por separar as duas grandes áreas de florestas da América do Sul, as florestas Amazônica e Atlântica. O estudo de Zanella (2002), baseado na revisão taxonômica, registros geográficos e filogenia das espécies de abelhas do gênero Caenonomada (Tapinotaspidini) reforça o padrão sugerido por Vanzollini. Zanella (2002) mostra que o Cerrado possui uma história mais próxima ao Chaco do que a Caatinga. Silva (1995) e Silva & Bates (2002), baseados em similaridade na composição de espécies de aves apresentam conjuntos de espécies endêmicas para o Cerrado. Estes autores sugerem que as savanas do Amapá e Guianas tenha funcionado como um corredor entre as savanas da porção sul e norte da América do Sul (Cerrado e Llano), a partir da presença de conjuntos de espécies com populações contínuas nestas áreas. Aguiar & Melo (2007a, b) utilizando-se da filogenia, revisões taxonômicas e registros geográficos de abelhas solitárias das linhagens de Paratetrapedia sugerem que o Cerrado tenha uma história diferente daquela apresentada por Zanella (2002), com conjuntos de espécies endêmicas derivadas de grupos florestais (Floresta Amazônica e Atlântica). A presença de diferentes grupos endêmicos do Cerrado com relações filogenéticas entre as áreas de florestas (Atlântica e Amazônica), e as áreas abertas do Chaco e - 57 - Caatinga, sugerem uma história composta por eventos de vicariância ocorridos em tempos diferentes. O objetivo da palestra é discutir as denominações, limites e relações históricas da biota da maior savana da região neotropical, o Cerrado. Como principal ferramenta para discutir estes elementos serão apresentados alguns estudos já realizados com biogeografia histórica e ecológica da biota do Cerrado. - 58 - Referências Bibliográficas Aguiar, A.J.C. & G.A.R. Melo. 2007a. Taxonomic revision, phylogenetic analysis, and biogeography of the bee genus Tropidopedia (Hymenoptera, Apidae, Tapinotaspidini). Zoological Journal of Linnean Society 151: 511–554. Aguiar, A.J.C. & G.A.R. Melo 2007b. Systematics and biogeography of the bee genus Paratetrapedia s.l. (Hymenoptera, Apidae, Tapinotaspidini): Cerrado as a composite area. Darwiniana 45: 58–60. Huber, O. 1987. Neotropical savannas: their flora and vegetation. Trends in Ecology and Evolution 2 (3): 67–71. Silva JMC. 1995. Biogeographic analysis of the South American Cerrado avifauna. Steenstrupia 21: 49–67. Silva, J.M.C. & Bates, J.M. 2002. Biogeographic patterns and conservation in the South American Cerrado: a tropical savanna hotspot. BioScience 52: 225–233. Vanzolini, P.E. 1963. Problemas faunísticos do Cerrado. In. Simpósio sobre o Cerrado, pp. 307–320. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo. Vanzolini, P.E. 1976. On the lizards of a Cerrado-Caatinga contact, evolutionary and zoogeographical implications (Sauria). Papéis Avulsos de Zoologia 29: 111–119. Zanella, F. C. V. 2002. Systematics and Biogeography of the Bee Genus Caenonomada Ashmead, 1899 (Hymenoptera: Apidae: Tapinotaspidini). Studies on the Neotropical Fauna and Environment 37 (3): 249–262. - 59 - “A Floresta Atlântica sob um enfoque mirmecológico” Flávia de Araújo Esteves Doutoranda em Entomologia – FFCLRP/USP Museu de Zoologia/USP [email protected] A Floresta Atlântica cobria uma área de aproximadamente 1.1 milhões de Km², correspondente a 12% da superfície terrestre do país, se estendendo pelo interior do país em extensões variáveis entre as latitudes de 6° e 30°S (SOS Mata Atlântica & INPE, 1993), e assim, ocupou, e ocupa, regiões com diferentes relevos, climas e solos. É formada por dois grandes tipos de vegetação: a Floresta Pluvial Atlântica e a Floresta Atlântica Semi Decidual. A primeira cobre as encostas orientais das cadeias de montanhas que se estendem ao longo da costa do sudeste para o nordeste do Brasil, já a floresta semi decidual ocupa o platô interior no centro e sudeste do país (Oliveira-Filho & Fontes, 2000). A história das formações vegetais mundiais está correlacionada com fatores geoclimáticos, e com a Floresta Atlântica não é diferente. Sua existência se deve principalmente à pluviosidade, e o regime de chuvas (sazonalidade e/ou volume) está diretamente relacionado com a diferenciação entre as formações pluviais e semi deciduais. A floresta pluvial experimenta um clima mais úmido e quente, sem uma estação seca, ao contrário das semi deciduais (Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Apesar de sua beleza cênica, fauna e flora exuberantes, o bioma sofre impactos de origem antrópica há aproximadamente 500 anos, em parte, por causa de seus recursos naturais e por sua localização, já que está inserido na área mais populosa do território nacional, abrigando cerca de 100 milhões de habitantes (70% da população brasileira) que vivem em mais de 3000 cidades, das quais uma delas (São Paulo) está entre as maiores do mundo, e onde ocorre a produção de 80% do Produto Interno Bruto Nacional (Morellato e Haddad, 2000). Sua exploração vem ocorrendo desde a chegada dos portugueses ao Brasil, cujo principal interesse era a exploração do pau–brasil; este processo de desmatamento prosseguiu durante os ciclos da cana–de–açúcar, ouro, café, produção de carvão vegetal, expansão de pastagens, urbanização, e outros impactos provenientes do desenvolvimento não planejado do país. Atualmente, apenas 7,6% de sua extensão original ainda estão preservados (Ministério do Meio Ambiente, 1999), e mesmo assim, divididos em fragmentos localizados em áreas de difícil acesso. Sua preservação garante vida para espécies animais e vegetais que povoam seus domínios, estabilidade de encostas, manutenção de mananciais e abrigo para populações tradicionais, incluindo nações indígenas. A Mata Atlântica é um bioma complexo que abriga uma das maiores diversidades de espécies e níveis de endemismo do mundo, onde vários fatores, principalmente a pressão antrópica, levam à perda de habitat, e por isso é considerada um dos 25 hotspots existentes no - 60 - mundo (Morellato e Haddad, 2000; Ministério do Meio Ambiente, 1999). Conhecer a biodiversidade existente, suas relações ecológicas e quais são os fatores que determinam sua composição e distribuição local ou regional, é essencial na elaboração de estratégias de conservação dos ecossistemas (Kremen et al, 1993), e isto é totalmente aplicável à Mata Atlântica. Alguns grupos de invertebrados têm se mostrado especialmente adequados como modelos para o estudo da diversidade local e regional, graças à sua grande diversidade e facilidade de coleta (Kremen, 1992; Kremen et al., 1993). Comparativamente, as formigas destacam-se como um dos principais grupos de invertebrados utilizados para testar hipóteses sobre fatores que determinam diversidade de espécies em escalas locais ou globais (Kaspari, 2005; Kaspari et al., 2004, 2003, 2002, 2000a, 2000b). Apresentam uma ampla distribuição, desde o Equador até latitudes de aproximadamente 50 graus e do nível do mar a altitudes de cerca de 2.600 metros (Brühl et al., 1999). As formigas são freqüentemente utilizadas como grupos indicadores da qualidade ambiental porque respondem à perturbações do habitat, tem ciclo de vida relativamente curto, apresentam muitos táxons especializados, mantém relações com vários outros grupos animais e vegetais, são também relativamente fáceis de coletar e de separar em morfoespécies. Adicionalmente, como a maioria das espécies tem hábitos estacionários e área de forrageamento restrita, são particularmente indicadas para programas de monitoramento (Alonso, 2000; Brown, 1997; Andersen, 1991; Majer, 1983). Como um dos grupos dominantes e de maior biomassa em praticamente todos os ecossistemas, o impacto causado por suas populações no ambiente é comparativamente grande (Wilson e Hölldobler, 2005a,b; Hölldobler e Wilson, 1990), atuando como predadores de topo nas cadeias alimentares e determinando a abundância de outros artrópodes (Floren et al., 2002). São considerados os principais herbívoros das florestas tropicais, influenciando a dinâmica da vegetação (Hunt, 2003; Wilson, 1987). Ainda, são coletoras de pólen, néctar e sementes; afetam o fluxo de energia, a ciclagem de nutrientes, e assim, a estrutura e a composição química do solo (Folgarait, 1998). O número aproximado de espécies descritas é de pouco mais de 12.000, sendo que estimativas sugerem que o esperado está perto de 20.000 (Agosti e Johnson, 2003). Para esta palestra eu selecionei os três trabalhos realizados na Floresta Atlântica que tiveram as formigas como objeto de estudo. Tentei selecionar trabalhos que possam mostrar as diversas maneiras de explorar este bioma. O primeiro trabalho selecionado investigou a riqueza de espécies e abundância de formigas subterrâneas no sul do Brasil, e comparou este resultado com os dados obtidos sobre a fauna que habita a serapilheira da mesma região (Silva & Silvestre, 2004). Foi um estudo pioneiro no país e indicou a relação existente entre estes dois segmentos da fauna e a importância da inclusão de amostras de solo para levantamentos quantitativos. - 61 - Para testar a existência de uma estrutura na comunidade de formigas, sua distribuição latitudinal e assim investigar a distribuição biogeográfica na Floresta Atlântica foi realizado entre os anos 2000 e 2005 o projeto BIOTA “Formigas da Mata Atlântica”, o maior projeto, envolvendo formigas, já realizado neste bioma. Envolveu pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, da Universidade de Viçosa e da Universidade de Santa Cruz, em coletas quantitativas em 26 localidades, regularmente espaçadas, ao longo de quase 20° latitudinais da costa leste brasileira (dos estados de Santa Catarina à Paraíba), empregando um protocolo aceito internacionalmente. Este estudo indicou a distribuição da fauna de formigas em três grandes áreas, uma localizada mais ao norte, outra no entre os estados da Bahia e do Espírito Santo, e a outra mais ao sul, além de mostrar uma divisão da mirmecofauna em guildas morfológicas (Silva e Brandão, aceito) e contribuir significativamente para o conhecimento da mirmecofauna existente no substrato serapilheira no bioma Mata Atlântica. Por último apresento o projeto Formigas da Reserva da Cachoeira, onde Jochen H. Bihn busca relacionar a diversidade taxonômica, morfológica e ecológica de formigas à perturbação antrópica em matas secundárias da Floresta Atlântica, na Reserva Natural Rio Cachoeira, Paraná. É um estudo que se apoia na conservação e manejo de florestas secundárias como uma maneira de assegurar o futuro da biodiversidade em florestas tropicais. Os objetivos desta palestra são (1) apresentar os trabalhos realizados com formigas mais representativos realizados na Floresta Atlântica, e (2) oferecer aos alunos novas abordagens para o estudo de insetos. Referências Bibliográficas Agosti, D. & Johnson, N.F.; 2003. La nueva taxonomía de hormigas, pp. 45-48. In: Introducción a las hormigas de la región neotropical. Fernández, F. (ed.). Instituto Humboldt, Bogotá. 424 pp. Alonso, L.E.; 2000. Ants as indicators of diversity, pp. 80-88. In: Ants: Standard Methods for Measuring and Monitoring Biodiversity. Agosti, D.; Majer, J.; Alonso; L.E.; & Schultz, T., (eds). Biological Diversity Handbook Series, Smithsonian Institution Press, Washington D.C. Andersen, A.N.; 1991. Responses of ground-foraging ant communities to three experimental fire regimes in a savanna forest of tropical Australia. Biotropica, 23(4b):575-585. Brown Jr., K.S.; 1997. 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Proceedings of the National Academy of Sciences, 102: 13367-13371 - 64 - “Himenópteros parasitóides (Insecta, Hymenoptera): metodologias de obtenção e coleta” Nelson Wanderley Perioto, Rogéria Inês Rosa Lara¹, Daniell Rodrigo Rodrigues Fernandes e Natália Furlan Miranda² Este texto tem por objetivo discorrer a respeito de técnicas de coleta e obtenção de himenópteros parasitóides a serem utilizados em estudos de taxonomia e sistemática, em levantamentos populacionais ou em experimentos em áreas agrícolas, onde aqueles artrópodos são importantes no controle da população de outros insetos, muitos dos quais daninhos, o que os torna passíveis de uso em programas de controle biológico de pragas; tem por objetivo também divulgar a importância da manutenção de coleções regionais na preservação da memória da biodiversidade em suas áreas de abrangência e de exemplares voucher na documentação de trabalhos de entomologia aplicada. Não há pretensão de apresentar ampla revisão sobre o tema e sim abordar as técnicas de coleta mais utilizadas para este grupo de organismos. Todas as técnicas de coleta de insetos são, em maior ou menor grau, seletivas e o uso combinado de diferentes delas, quando possível, é uma saída para mitigar tal deficiência. No estudo dos himenópteros são utilizadas técnicas variadas de coleta, em função da necessidade do pesquisador. As ora descritas são utilizadas para a realização de levantamentos faunísticos e estudos agronômicos, principalmente das espécies voadoras, e tem por objetivo a captura de maior número possível de exemplares em um amplo espectro de grupos taxonômicos. O sucesso na coleta de material biológico depende não só da correta utilização das técnicas como também da experiência individual do coletor. A obtenção de himenópteros parasitóides na natureza ou em agroecossistemas pode ser feita através de métodos de captura ativa, captura passiva ou da criação de hospedeiros. Captura ativa: redes de captura (entomológica e varredura) e aspiradores entomológicos As redes entomológicas têm como características desejáveis leveza, robustez e durabilidade; elas capturam grande número de exemplares em curto intervalo de tempo e são ideais para levantamentos de populações de parasitóides; sua eficiência é respaldada por grande número de indicações na literatura (Noyes, 1989; Perioto, 1991; Hanson; Gauld, 1995; Azevedo; Santos, 2000; Azevedo et al., 2002; Perioto; Lara, 2003; Perioto; Lara; Selegatto, 2005). As redes de varredura mais utilizadas apresentam funil de tecido de algodão, com cerca de 55 cm de comprimento por 45 cm de diâmetro de boca. Apesar de sua robustez, esse modelo - 65 - tem como desvantagem o fato de danificar exemplares mais delicados. Noyes (1982) descreveu uma rede entomológica, de aro triangular (cerca de 35 cm de lado), com funil de tecido sintético, muito utilizada em levantamentos de populações de himenópteros parasitóides. Redes de pequeno diâmetro (20 a 25 cm), com funil de 30 cm de comprimento e cabo longo (1,5 m) são ideais na captura seletiva de exemplares de maior tamanho, como os ichneumonídeos. A principal desvantagem do uso de redes entomológicas é a pouca informação biológica associada aos exemplares obtidos, que pode ser mitigada pelo uso seletivo a uma espécie vegetal de cada vez. Para a retirada dos insetos capturados podem ser empregadas as seguintes estratégias: a. agitar a rede de forma que os insetos fiquem no fundo do funil, que é então colocado no interior de um frasco mortífero até a sua morte; b. retirada dos insetos com aspirador entomológico: depois de forçá-los para o fundo do funil este deve ser cuidadosamente aberto para que os insetos saiam da rede de forma controlada, quando serão sugados pelo aspirador. Este método requer prática pois muitos espécimes podem escapar; no entanto apresenta a vantagem de permitir a seleção dos insetos a serem capturados, liberando-se aqueles não visados e, c. acondicionamento em sacos plástico: a cada 1 minuto de coleta o material obtido é vertido em sacos plásticos transparentes (50 cm de altura X 40 cm de largura) com 3 litros de solução de NaCl (50 g/l). Ao final da coleta os sacos devem ser etiquetados, fechados e encaminhados para a triagem. Os resultados obtidos com rede entomológica em diferentes áreas geográficas são comparáveis desde que sejam padronizados instrumentos, esforços de coleta e habilidade dos coletores. O aspirador entomológico, apesar de sua baixa eficiência, possibilita a captura de pequenos insetos na vegetação, de forma seletiva. Captura passiva: armadilha de Malaise, de Moericke, suspensa e luminosa de Jermy São vantagens no uso de armadilhas a operação contínua por períodos relativamente longos de exposição e pouca mão-de-obra necessária para sua operação. A armadilha Malaise é particularmente eficiente na captura de himenópteros voadores. Seu princípio de funcionamento tira vantagem da tendência natural dos insetos em voar ou caminhar para cima ao encontrar uma barreira que impede seu vôo. Construtivamente ela é uma tenda de tecido leve e resistente, com telhado de duas águas, provida de uma barreira vertical em seu interior, também em tecido, que interrompe o vôo dos insetos. Ao entrar na armadilha o inseto é forçado a caminhar ou voar para cima em direção a um frasco coletor onde se pode usar como solução conservante ETOH 70%, solução de Dietrich ou solução de NaCl (50 g/l). Em áreas - 66 - tropicais, recomenda-se a utilização de Dietrich, o que permite sua operação por até 15 dias sem o risco de perda do material coletado. O uso de cianureto (NaCN) no frasco coletor não é recomendado dado sua letalidade. Por operar de forma passiva, sua localização em campo é fundamental para a eficiência da captura. Caminhos no interior da vegetação, bordas de mata ao longo de estradas, riachos e outros corredores de vôo são sítios preferenciais. O anteparo vertical da armadilha deve ser instalado perpendicularmente à rota de vôo dominante. A armadilha de Moericke (Moericke, 1951), concebida para a captura de pulgões, demonstrou ser eficiente na captura de himenópteros parasitóides e pode ser utilizada em levantamentos de fauna e em estudos de seletividade de inseticidas a parasitóides. Construtivamente a armadilha consiste de um recipiente de boca larga, de coloração amarela, que contém solução de água, detergente comercial neutro (destinado a quebrar a tensão superficial da água) e agente conservante (formalina ou sal de cozinha). Uma alternativa de baixo custo é a utilização de pratos plásticos descartáveis de cor amarela, com 15 cm de diâmetro e 4,5 cm de altura. As armadilhas podem ser utilizadas, isoladamente ou em grupos, diretamente no solo ou serem suspensas em estacas, a diferentes alturas (Perioto et al., 2000). A indicação de uso da armadilha luminosa de Jermy (Szentkirályi, 2002) deve-se ao fato que ela apresentou bons resultados na captura de himenópteros parasitóides (principalmente de espécies crepusculares e/ou noturnas) em levantamentos realizados recentemente em áreas de agroecossistema (cultura de café) e em área de mata ciliar. Uma alternativa à armadilha de Malaise é a armadilha suspensa concebida por Rafael & Gorayeb (1982) para a coleta de tabanídeos, que apresenta características de portabilidade, baixo custo e facilidade de manuseio e conservação. Maranhão (1976), Masner e Goulet (1981) e Steyskal, Murphy e Hoover (1986) apresentaram outros tipos de armadilhas que podem ser utilizados na captura de parasitóides. Criação de hospedeiros para obtenção de himenópteros parasitóides É um dos melhores métodos de obtenção de dados biológicos tais como a associação com o hospedeiro, seu hábitat, época de ocorrência, estágio de desenvolvimento do hospedeiro quando do ataque do parasitóide, dentre outros; possibilita também associar machos e fêmeas (o que é muitas vezes dificultado dado a freqüente ocorrência de espécies com dimorfismo sexual acentuado) e obter grande números de exemplares de uma mesma espécie, o que viabiliza o estudo da variação intra-específica. A associação com o hospedeiro é de grande ajuda na identificação de parasitóides (Grissell; Schauff, 1990). - 67 - Quando da coleta de potenciais hospedeiros em campo deve-se anotar o maior número possível de informação, tais como: a. data e local de coleta, que deve ser o mais exato possível (ele deve ser facilmente encontrado por qualquer outro que deseje obter mais exemplares do inseto ali capturado). Dê preferência a referências oficiais e permanentes (p. ex. "Brasil - SP - Orlândia - Fazenda Sta. Mariana - Rod. SP-352, km 138 - cerrado - próximo ao córrego Água Limpa, 15 km ao Sul da sede do município") - a utilização de coordenadas geográficas é altamente recomendada. Deve-se evitar o uso de pontos de referência não permanentes ou ambíguos; b. nome completo do coletor e, sempre que possível, o nome da instituição onde trabalha; c. nome popular e científico e parte da planta sobre a qual se desenvolve o hospedeiro. Nomes populares das plantas podem ser de grande valia para sua identificação; quando o nome científico da planta for desconhecido, devem ser feitas exsicatas para serem identificadas por especialistas (é desejável que elas contenham órgãos reprodutivos da planta, como flores e frutos; caso a planta não esteja em época de reprodução, ela deve ser marcada para posterior coleta de material). Devem ser anotados os dados a respeito do local onde a planta se desenvolve ("em charco", "na borda da mata" etc), de seu estágio de desenvolvimento, de sua abundância no local de coleta etc. Todas as informações devem acompanhar o material coletado até a obtenção dos parasitóides em laboratório. Deve-se evitar a anotação única e exclusiva de dados em caderneta de campo e/ou a utilização de etiquetas codificadas pois sempre há o risco da perda dos dados ou da impossibilidade de decodificá-los. Durante a coleta deve-se obter, sempre que possível, o maior número de potenciais hospedeiros. Grandes amostras aumentam as chances de obtenção tanto de hospedeiros adultos (cuja identificação, de forma geral, é mais fácil que a de imaturos) quanto de maior número de parasitóides. Quando da não obtenção de formas adultas do hospedeiro, todas as informações a respeito de seus imaturos e do ambiente onde foi coletado devem ser utilizadas na tentativa de se identificar sua espécie. A anotação “obtido de lagarta de noctuídeo em vegetação de cerrado”, por exemplo, é muito melhor do que "lagarta desconhecida". As informações acima, quando conjugadas com a existência de indicações precisas do local de coleta, aumentam a possibilidade do encontro posterior do hospedeiro. O transporte do material coletado para o laboratório deve ser realizado de maneira a se evitar a morte dos potenciais hospedeiros e dos parasitóides a eles associados. A utilização de refrigeração, a coleta do material nas horas menos quentes do dia e seu transporte para o laboratório no menor tempo possível podem reduzir a perda desse material. As larvas de lepidópteros podem ser acondicionadas em recipientes de vidro ou plástico, de tampa rosqueável, preferencialmente telada; os últimos apresentam as vantagens de serem - 68 - mais leves, baratos, à prova d’água e inquebráveis. É aconselhável o uso de telas relativamente reforçadas, uma vez que alguns grupos de insetos têm mandíbulas fortes que cortam facilmente tecidos como voal. No interior do recipiente, devem ser colocadas a etiqueta, onde deve constar a localidade e demais dados, e uma pequena quantidade do vegetal do qual o inseto se alimenta que, que servirá também como suporte, o que diminui as chances de danos no transporte. É necessário levar ao laboratório suprimento suficiente de alimento para as formas imaturas dos hospedeiros: algumas espécies têm longo período de vida na sua forma imatura. No laboratório, o estoque de alimento deve ser mantido em geladeira, em sacos plásticos sem ar, o que o mantém em boas condições para alimentar os insetos por alguns dias. É importante tomar cuidado na manipulação de lagartas dada a possibilidade de ocorrência de acidentes com espécies urticantes. Caso ocorram, em alguns casos, é necessário buscar socorro médico, preferencialmente levando-se amostras de seu agente causador, dada a possibilidade de ocorrência de graves reações alérgicas ao veneno desses insetos. As posturas e ootecas de insetos podem ser facilmente transportadas em tubos plásticos que embalam filmes fotográficos. As galhas (ou cecídias), folhas contendo insetos minadores e frutos podem ser transportados em sacos de papel. Deve-se evitar a colheita de frutos muito maduros (a não ser que se busque parasitóides de insetos decompositores). Nossa experiência mostra que a emergência dos himenópteros fitófagos, parasitóides ou hiperparasitóides que se desenvolvem em frutos ocorre, em sua maioria, quando esses estão verdolengos ou "de vez". Como recomendação geral, recipientes contendo insetos vivos devem ser mantidos em ambiente fresco e à sombra, uma vez que esses organismos morrem rapidamente quando expostos ao sol, em espaço fechado. Também devem ser evitadas a superlotação e a agitação excessiva do material. Predadores e espécies mais agressivas ou canibais devem ser mantidos em frascos isolados. A triagem do material coletado, antes de sua colocação nas gaiolas ou recipientes destinados à criação de parasitóides deve ser criteriosa: a individualização dos hospedeiros deve ser norma, o que impede, ou dificulta sobremaneira, associações incorretas entre hospedeiros e parasitóides; associações incorretas devem ser evitadas a todo custo pois podem permanecer despercebidas e representar fonte de confusão na literatura por longos períodos de tempo. A individualização dos hospedeiros possibilita ainda que quando um determinado parasitóide é obtido ele possa ser associado ao seu casulo, aos restos de sua exúvia, de seu mecônio e aos restos de seu hospedeiro. Permite ainda a obtenção de informações importantes a respeito de seus hábitos como, por exemplo, se a espécie é solitária ou gregária. Tais informações podem ser úteis na identificação. Este material auxiliar é melhor armazenado a seco, em cápsulas de gelatina, que podem ser espetadas no mesmo alfinete em que está montado o parasitóide (preferível) ou então em um outro alfinete, com etiqueta idêntica, mas com alguma forma de associação com o adulto a que se refere. - 69 - Diversos tipos de gaiolas podem ser construídas para a criação de parasitóides a partir de copos e recipientes de plástico, de vidro etc. A dimensão e disposição de tais gaiolas são determinadas pelo tamanho da parte da planta ou outro substrato onde se desenvolve o hospedeiro potencial. Para promover a aeração utilizam-se tampas teladas de voal que impedem a fuga de parasitóides. Para a manutenção da umidade no interior dos recipientes pode-se colocar chumaços de algodão umedecidos com água no interior do recipiente, ou externamente, por sobre o voal. Quando obtido um número satisfatório de parasitóides adultos, é interessante buscar nos hospedeiros restantes exemplares de suas formas imaturas (larvas e pupas), que devem ser conservadas e, quando necessário, utilizadas em trabalhos de descrição dos estágios imaturos, dentre outros. O sacrifício de hospedeiros e sua necropsia podem indicar os locais de desenvolvimento dos parasitóides e a forma pela qual causam a morte do hospedeiro. A coleta dos parasitóides que emergirem pode ser feita através da utilização de aspiradores entomológicos, nas gaiolas de maior tamanho, ou com um pincel fino embebido em água, nos recipientes e gaiolas menores. Uma alternativa derivada da criação de hospedeiros é a exposição, no campo, de hospedeiros criados em laboratório. Vários parasitóides têm sido capturados desta maneira. Referências Bibliográficas Almeida, L. M. DE; Ribeiro-Costa, C. S.; Marinoni, L. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. 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A família Apidae abriga desde abelhas solitárias, como os Euglossini e Bombini, até abelhas altamente eussociais, como as abelhas do gênero Apis e os Meliponini (abelhas sem ferrão). Os meliponíneos possuem dois grupos distintos de abelhas, as do gênero Melipona, exclusivamente Neotropical, e as abelhas do gênero Trigona e gêneros afins, que possui mais de 20 gêneros de distribuição tropical e temperada (Roubik, 1989). Em Meliponini, como nos demais Hymenoptera, a determinação do sexo ocorre por partenogênese arrenótoca, na qual ovos não fecundados originam machos (haplóides) e os fecundados originam fêmeas (diplóides). As associações mais complexas de abelhas evoluíram mediante várias etapas, destacando-se o aparecimento de cooperação no cuidado com a cria, divisão reprodutiva de trabalho, ou seja, surgimento de castas, e sobreposição de gerações (Wilson, 1971). Nas abelhas altamente eussociais as diferenças fisiológicas, comportamentais e às vezes morfológicas são marcantes (Engels & Imperatriz-Fonseca, 1990). O desenvolvimento das castas está relacionado com um amplo fenômeno de polimorfismo que nas abelhas envolve basicamente a população feminina, dividida entre rainhas e operárias. A rainha possui função exclusivamente reprodutiva, sendo incapaz de sobreviver isoladamente por muito tempo e de fundar sozinha uma nova colônia. Entretanto, sua presença na colônia é fundamental, garantindo a integridade e funcionalidade da sociedade, pois são fêmeas férteis responsáveis pela postura da maioria dos ovos e por todos aqueles que originarão fêmeas (operárias ou rainhas). A produção de rainhas é um investimento limitado em colônias de abelhas, apesar de serem produzidas ao longo de todo o ano nas abelhas do gênero Melipona, com uma freqüência de 2025%, enquanto em Trigona e afins a freqüência é de apenas 1-2% (Kerr, 1950). Segundo Wirtz & Beetsma (1972) nos Hymenoptera sociais, e particularmente nas abelhas, a quantidade de alimento é um importante fator na determinação de castas. Em abelhas do gênero Apis o mecanismo de determinação de castas é exclusivamente alimentar (trofogênico), diferindo tanto na quantidade quanto na qualidade do alimento oferecido às larvas, sendo o processo de alimentação larval progressivo. Já nas abelhas sem ferrão, não foi encontrada diferença qualitativa entre o alimento oferecido às larvas que originarão rainhas e aquele oferecido às larvas que originarão operárias (Camargo, 1972 e Hartfelder & Engels, - 74 - 1989) sendo massivo o processo de alimentação larval nessas abelhas, ou seja, todo o alimento é depositado nas células antes da postura dos ovos pela rainha, sendo as células fechadas pelas operárias após a postura (Nogueira-Neto, 1997). As abelhas sem ferrão possuem várias estratégias diferentes de fornecimento de alimento às suas larvas. A primeira delas pode ser observada nos gêneros Leurotrigona e Frieseomelitta, que constróem favos de cria na forma de “cachos”, onde as células de cria são separadas umas das outras, ligadas apenas por pilares de cera Assim, larvas que têm acesso somente ao alimento da sua célula se tornam operárias. Para se tornar rainha, uma larva precisa obrigatoriamente ter acesso ao alimento de outra célula vizinha, que contém somente alimento e é construída pelas operárias emendada na parede de uma célula de cria contendo ovo. Uma segunda estratégia de fornecimento de alimento em meliponíneos ocorre nos gêneros Trigona e afins (exceto nos gêneros Leurotrigona e Frieseomelitta), a quantidade de alimento recebida pela larva é o fator responsável pela diferenciação das castas, o que é conhecido como mecanismo trofogênico. As rainhas emergem de células maiores (realeiras) e recebem mais alimento que as operárias (Kerr, 1948 e Camargo, 1972). A determinação de castas em Trigonas e afins ocorre próximo do fim da vida larval, quando há ou não alimento suficiente para crescer, entrando em uma das duas vias possíveis, a que leva ao desenvolvimento de operária e a que leva ao desenvolvimento de rainha (Michener, 1974). A terceira estratégia ocorre nas abelhas do gênero Melipona onde não existem realeiras, portanto, as rainhas se desenvolvem em células do mesmo tamanho das células de operárias e machos. Entretanto, as células de onde nascem rainhas possuem uma quantidade ligeiramente maior de alimento. Nestas abelhas a determinação das castas ocorre, supostamente por meio de mecanismo genético-alimentar, sendo as rainhas heterozigotas para dois pares de alelos sexuais Xa e Xb (Kerr, 1948; Kerr & Nielsen, 1966). Só serão rainhas as abelhas que apresentarem esta dupla heterozigose e receberem uma quantidade de alimento suficiente durante a fase larval. As demais larvas heterozigotas pouco alimentadas ou homozigotas em qualquer dos loci ou nos dois, originarão operárias. Segundo Makert (2006), são as operárias que determinam a produção de rainhas em Trigona e afins, pois são elas que decidem sobre a construção de células juntas ou separadas (Leurotrigona e Frieseomelitta), ou de células maiores (realeiras). Enquanto em Melipona, possivelmente, o sinal primário para determinação de castas parte da própria larva, porém auxiliado pela alimentação larval que tem um efeito modulador sobre essa decisão. Em cada localidade, as abelhas dependem das plantas existentes, como fontes de alimento e como locais de nidificação. Por outro lado, grande número de espécies vegetais depende das abelhas como agentes polinizadores. É bastante razoável acreditar que a manutenção de grande número de nossas espécies vegetais nativas, muitas delas, por certo, potencialmente úteis para o homem, depende da ação polinizadora das abelhas silvestres. Assim, a importância das abelhas para o homem é enorme, pois elas se constituem no principal - 75 - agente polinizador de muitas espécies vegetais, tanto cultivadas quanto silvestres. Nesse ínterim, a técnica de produção in vitro de rainhas de abelhas sem ferrão, baseada na manipulação da quantidade de alimento fornecida às larvas em desenvolvimento vem contribuir com a multiplicação de colônias através de manejo controlado, visando a obtenção de um número grande de colônias que poderão ser utilizadas tanto na meliponicultura quanto na polinização. Referências Bibliográficas Camargo, C. A. (1972). Determinação de castas em Scaptotrigona postica Latr. (Hymenoptera, Apidae). Rev. Brasil. Biol., v. 32, n. 1, p. 133-141. Engels, W.; Imperatriz-Fonseca, V. L. (1990). Caste development, reproductive strategies, and control of fertility in honey bees and stingless bees. In: ENGELS, W. (ed.), Social insects, Springer-Verlag, Berlin. p. 167-230. Hartfelder, K.; Engels, W. (1989). The composition of larval food in stingless bees: evaluating nutritional balance by chemosystematic methods. Insectes Sociaux. v. 36, n. 1, p. 1-14. Kerr, W. E. (1948). Estudos sobre o gênero Melipona. An. Esc. Sup. Agr. “Luiz de Queiroz”. v. 5, n. 2, p. 181-276. Kerr, W. E. (1950). Genetic determination of castes in the genus Melipona. Genetic. v. 35, p. 143-152. Kerr, W. E.; Nielsen, R. A. (1966). Evidence that genetically determined Melipona queens can become workers. Genetic. v. 54, p. 859-865. Makert, G. R. (2006). Genética da determinação de castas em Melipona quadrifasciata (Hymenoptera: Apoidea). 2006. 110p. Tese (Doutorado em Genética), Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Michener, C. D. (1974). The social behavior of the bees. Cambridge, Mass., Harvard Univ. Press. 404 p. - 76 - Nogueira-Neto, P. (1997). Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Nogueirapis. 446 p. Roubik, D. W. (1989). Ecology and natural history of tropical bees. Cambridge Univ. Press, Cambridge, Massachusetts. 248 p. Wilson, E. O. (1971). The insect societies. Cambridge: Belknap Press Harvard University. 548 p. Wirtz, P.; Beetsma, J. (1972). Introduction of caste differentiation in the honey bee (Apis mellifera) by juvenile hormone. Entomology Experiment Application. v. 15, p. 517-520. - 77 - “O uso sustentável e conservação dos polinizadores, um tema global” Vera Lucia Imperatriz Fonseca Instituto de Estudos Avançados da USP O declínio dos polinizadores foi inicialmente identificado no Hemisfério Norte, onde o uso de polinizadores de importância agrícola é prática usual para a produção de frutos de qualidade. Foi quantificado com relação à abelha Apis mellifera desde a década de 90. A reação dos cientistas e tomadores de decisão foi a divulgação da existência de polinizadores desconhecidos do grande público, a busca de outros polinizadores generalistas que pudessem substituir a abelha de mel, de modo que seu manejo em larga escala fosse viável, e ampliação de estudos sobre os polinizadores e as interações com as plantas visitadas. Em 1998 foi criado o primeiro documento global sobre o assunto, chamado de Declaração de S. Paulo sobre os Polinizadores1. Submetido à Convenção da Diversidade Biológica, foi aprovado em 2000, na V Conferência das Partes. O plano de ação para este tema foi aprovado em 2002, sob a coordenação da FAO. Desde então, as várias regiões do mundo se organizaram em Iniciativas regionais de polinizadores, destacando-se entre elas a Iniciativa Européia de Polinizadores, a Iniciativa Norte-Americana de Polinizadores, a Iniciativa Brasileira de Polinizadores, a Iniciativa Africana de Polinizadores, a Iniciativa de Polinizadores dos Povos das Montanhas da Asia e a Iniciativa Australiana de Polinizadores. As iniciativas de polinizadores seguem as premissas do Plano de Ação da Iniciativa Internacional dos Polinizadores, usando para isso os recursos financeiros e humanos das respectivas regiões, assim como a capacidade regional de agregação. Os caminhos seguidos por elas foram muito variados, mas em comum são dos padrões de informatização e os esforços de maior conhecimento sobre os polinizadores regionais. Nesta palestra falaremos de polinizadores, como eles têm sido abordados globalmente, apontando os principais resultados obtidos pelas iniciativas regionais até o momento e como o Brasil está tratando deste tema. 1 http://www.webbee.org.br/bpi/pdfs/declararation_pollinators.pdf - 78 - Ciclo de Palestras em Genética e Evolução – 29/01/2009 “Evolução da cooperação e aspectos de mutualismos entre insetos e plantas” Fernando Henrique Antoniolli Farache P.P.G. em Entomologia- FFCLRP-USP [email protected] Mutualismos podem ser definidos de uma forma simples como relações reciprocamente benéficas entre organismos. Nesta definição se encaixam desde relações difusas e indiretas até associações altamente integradas e especializadas (Herre et al. 1999). Relações desse tipo são muito comuns na natureza, sendo que atualmente acredita-se que virtualmente todas as espécies da terra estejam envolvidas em uma ou mais dessas interações (Herre et al. 1999, Bronstein et al. 2006). Além disso, eventos-chave na história da vida estão ligados a relações mutualísticas, como a origem das células eucarióticas e a invasão da terra pelas plantas (Bronstein et al. 2006). Podemos pensar em mutualismos em termos de intercâmbios econômicos, onde os parceiros oferecem recursos que são fáceis para eles adquirirem ou produzirem, recebendo em troca recursos que seriam difíceis de conseguir de outra maneira (Noë & Hammerstein 1995) Os primeiros estudos sobre mutualismo costumavam focar a história natural dos mesmos, trabalhando em particularidades de cada mutualismo. Entretanto, até metade do século XX, pouco foi estudado sobre questões mais profundas sobre estas relações, como em quais condições se podem observar benefícios recíprocos no ‘fitness’, os processos evolutivos pelos quais os mutualismos se originam e as condições sobre as quais eles podem persistir, coevoluir e diversificar (Bronstein et al. 2006, Bronstein 2001). Nas relações mutualísticas, diferentemente da cooperação intraespecífica, o grau de parentesco entre os indivíduos é irrelevante. Assim, a teoria da seleção por parentesco não se aplica (Bronstein 2001). Apesar de os mutualismos terem sido descritos como histórias de cooperação, hoje em dia eles são vistos como relações de exploração recíproca, onde cada parceiro é selecionado de forma a aumentar seus próprios benefícios e reduzir os custos. Assim, existe um conflito nos mutualismos, devido ao fato de o aumento do desempenho de um dos parceiros causar uma diminuição do desempenho do outro. Podemos então dizer que há um gradiente entre relações antagonísticas e mutualísticas (Herre et al. 1999). Três aspectos são fundamentais para entendermos as relações mutualísticas: os benefícios, os custos e as variações no mutualismo. Os benefícios são os aspectos mais bem entendidos das relações mutualísticas. Três classes gerais de benefícios são conhecidas, sendo essas: 1) Transporte, no qual um dos parceiros é locomovido pelo outro, como é o caso de - 79 - anêmonas que se incrustam em caranguejos. O benefício pode ser também a locomoção dos gametas, como é o caso da polinização, onde os animais transferem pólen entre as flores. 2) Proteção, no qual um dos parceiros elimina inimigos naturais do outro mutualista ou protege este de fatores bióticos ou abióticos. 3) Nutrição, o qual envolve a provisão de um ou mais nutrientes para um dos parceiros. Os benefícios conseguidos com a cooperação podem ser diferentes para cada uma das espécies envolvidas no mutualismo. Além de qualitativas, os mutualismos podem ser separados por diferenças quantitativas dos benefícios que são trocados, sendo tais medidas muito mais difíceis de serem conseguidas do que as qualitativas (Bronstein 2001). Outro aspecto fundamental para entendermos são os custos do mutualismo, os quais são bem menos entendidos que os benefícios. Alguns tipos de custos podem ser medidos, como o custo da produção de recompensas para o parceiro. Medir os custos do mutualismo, apesar de ser difícil, é vantajoso por diversos motivos, entre eles: 1) eles nos ajudam a entender características que podem parecer complexas se considerarmos somente os benefícios, por exemplo, muitas espécies apresentam características que evoluíram de forma a defendê-las de aspectos antagonísticos de seus parceiros mutualistas; 2) custos ajudam a entender porque mutualismos não ocorrem em certos locais e entre certas espécies nas quais deveria ocorrer; 3) A sensibilidade dos custos a condições ecológicas é um dos fatores que mais contribuem para a variação dos efeitos do mutualismo em diferentes locais e cortes temporais; e 4) os custos nos ajudam a entender o surgimento de “trapaceiros” ou parasitas do mutualismo, os quais tomam os benefícios sem oferecerem nada em troca, ou seja, não pagarem os custos do mutualismo (Bronstein 2001, Yu 2001). Outra característica dos mutualismos é que existe uma variação no espaço e no tempo na rede de troca de benefícios. Esse fenômeno também foi denominado por condicionalidade ou dependência de contexto do mutualismo (Bronstein 2001). Um exemplo é a interação entre membracídeos e as formigas que os fornecem proteção. Cushman e Whitham (1989) observaram que o atendimento das formigas aos membracídeos depende da abundância dos predadores, sendo que em áreas onde os predadores eram raros, os benefícios da proteção não eram tão grandes e a interação deixava de ser mutualística. Visto a existência de um gradiente entre mutualismo e antagonismo, chegamos à questão de como o mutualismo pode surgir e ser mantido a partir de uma relação antagonística. No contexto teórico, vários modelos baseados na teoria dos jogos são usados para explicar o surgimento da cooperação (Doebeli & Hauert 2005, Nowak 2006). Dentre os modelos, os mais famosos são os baseados no dilema do prisioneiro. Nestes modelos, o cooperador oferece um benefício para a outra entidade com a qual ele interage, sendo que o cooperador terá um custo nesse processo. Se ambas as entidades cooperarem, ambas receberão o benefício e pagarão o custo. Entretanto, se somente uma delas cooperar e a - 80 - outra trapacear, uma terá que pagar o custo enquanto outra receberá somente o benefício. Se nenhuma das entidades cooperarem, nenhuma receberá o benefício, porém não haverá nenhum custo. Assim, nesse modelo o benefício será maior para a entidade que receber o recurso sem oferecer benefícios, favorecendo a trapaça (trapacear é considerado uma estratégia evolutivamente estável). Se ambas as entidades não oferecerem benefícios, o recebimento delas será menor do que teriam se ambas tivessem cooperado. Entretanto, há variações no modelo do dilema do prisioneiro que podem tanto impedir a trapaça ou torná-la desvantajosa (Doebeli & Hauert 2005). No dilema do prisioneiro iterado, existe a divisão da interação em rodadas, o que permite aos indivíduos reagirem ao comportamento anterior do outro indivíduo. Nestes modelos, a cooperação pode ser mantida devido ao fato de uma trapaça poder gerar uma retaliação por parte do outro indivíduo, gerando um menor benefício na próxima rodada. Nesse modo, a cooperação pode ser mantida (Doebeli & Hauert 2005). O dilema do prisioneiro pode ser estudado em estrutura espacial. Nesses modelos, a cooperação consegue sobreviver através da formação de agregados de cooperadores, extraindo benefícios dos vizinhos que também cooperam, o que permite a sua persistência apesar da exploração dos traidores. Sendo assim, a estrutura espacial é benéfica à cooperação (Doebeli & Hauert 2005). Outra variação é o dilema do prisioneiro contínuo, que difere dos outros modelos pelo fato do investimento ser contínuo, enquanto nos outros é tudo ou nada. Entretanto, a cooperação não costuma ser mantida nesses modelos pelo fato de os parceiros começarem a investir menos no benefício do outro membro da interação. Algumas estratégias e variações nesse modelo podem favorecer a manutenção da cooperação, como quando os investimentos contínuos são baseados nos investimentos recebidos anteriormente, ou quando esse modelo é estruturado espacialmente (McGill & Brown 2007, Le & Boyd 2006, Doebeli & Hauert 2005). Existem diversas outras extensões do dilema do prisioneiro. Dentre as mais importantes estão aquelas que envolvem a interação de mais de dois membros, que são chamados de “bens públicos”, onde vários membros investem por um benefício comum, e quanto maior o investimento de cada, maior o benefício. Essas estratégias envolvem a noção de reciprocidade indireta. Tal estratégia permite a existência de aproveitadores e mutualistas em diferentes proporções, porém a interação pode ser mantida mesmo com a exploração (Doebeli & Hauert 2005). Outros modelos de cooperação que também têm sido estudados são os baseados nos jogos do tipo “snowdrift”. Nesses jogos, o benefício é disponibilizado a ambos os membros da interação, e os custos são divididos entre os dois. Modelos baseados em “snowdrift” costumam favorecer a cooperação (Doebeli & Hauert 2005). - 81 - Nos modelos espaciais que envolvem “snowdrift”, entretanto, não são formadas as aglomerações observadas nos modelos espaciais de dilema do prisioneiro. As aglomerações são menores e em filamentos, visto que nesse modelo, a vantagem é para se tomar uma estratégia oposta à do vizinho. Normalmente, esses modelos geram vantagem aos trapaceiros (Hauert & Doebeli 2004). Modelos contínuos de “snowdrift” são pouco explorados, mas sabe-se que eles costumam a levar situações do tipo “tragédia dos comuns”, onde alguns indivíduos realizam altos investimentos e outros investem pouco ou nada (Doebeli & Hauert 2005, Rankin et al. 2007). Tais modelos são um ótimo ponto inicial para o entendimento de interações mutualísticas, porém é muito difícil incluir noções de dinâmica ecológica nesses modelos, pelo fato de torná-los muito complicados. Entretanto, é muito importante que ocorra a ligação entre resultados teóricos e estudos empíricos. No contexto da interação entre plantas e insetos, os mutualismos podem ser divididos em três tipos principais; mutualismos de polinização, de defesa e dispersão. Nas últimas décadas, o estudo desses mutualismos têm sido voltados a responder 5 questões principais, sendo essas (1) a origem evolutiva e manutenção dos mutualismos, (2) evolução de características relacionadas ao mutualismo, (3) condições que levam à generalização e à especialização, (4) a ocorrência de coevolução e coespeciação e (5) a ocorrência de parasitas de mutualismos (Bronstein et al. 2006). A polinização por insetos ocorre na maioria das angiospermas, e há evidência direta do consumo de pólen por herbívoros desde o permiano, antes do aparecimento das angiospermas. A primeira recompensa para os polinizadores deve ter sido o próprio pólen, sendo que o néctar apareceu depois. As angiospermas mais basais provavelmente optaram por polinizadores mais generalistas, que não apresentavam adaptações relacionadas à polinização. A especialização com relação aos polinizadores começou a ocorrer somente depois, gerando características relacionadas ao tipo de polinizador, conhecida como síndromes de polinização, que parecem explicar tanto a diversificação floral quanto a convergência das formas florais polinizadas por um mesmo tipo de polinizador (Bronstein et al. 2006). Estudos recentes de comunidades mostram que a maioria das plantas apresenta assembléias generalistas de polinizadores, sendo uma planta visitada por vários tipos de polinizadores e esses polinizadores visitam diversas espécies de plantas. Além disso, a maioria das interações de polinização é assimetricamente especializada, com polinizadores e plantas relativamente raras, assim como aquelas com poucos parceiros, interagindo primariamente com um grupo de espécies generalistas abundantes (Bascompte et al. 2006, Bronstein et al. 2006). A diversificação de grupos de polinizadores e plantas parece ter ocorrido poucas vezes por coevolução estrita, sendo mais comum a especiação em resposta a interações difusas entre - 82 - muitas espécies. Os exemplos mais estritos de coevolução são encontrados em sistemas de polinizadores que utilizam a sementes ou outras estruturas reprodutivas da planta para desenvolver sua prole (Dufay et al. 2003, Bronstein et al. 2006). Um grande número de espécies de plantas lenhosas atrai e oferece recompensas a espécies (principalmente formigas) para protegê-los contra herbívoros. Nas espécies mais generalistas, a recompensa oferecida são secreções e nectários florais. Tais estruturas podem se desenvolver em uma grande diversidade de locais da planta, principalmente em folhas jovens e frutos. As espécies atraídas podem proteger ou não a planta que oferece o recurso. A maioria das espécies atraídas ataca os herbívoros, além de atacarem outras espécies (Bronstein et al. 2006). Relações especializadas desse tipo são mais raras, e os recursos oferecidos são mais valiosos, incluindo abrigo (domáceas) e corpos alimentares ricos em lipídeos e proteínas. Essas relações apresentam um maior grau de fidelidade entre inseto e planta. A evidência mais antiga dessas relações são fosseis e nectários extra-florais de cerca de 35 milhões de anos. Há uma grande diversidade de formigas associadas a plantas dessa forma. Essa relação surgiu diversas vezes, sendo que somente nas leguminosas são considerados 12 surgimentos independentes (Bronstein et al. 2006). Há três hipóteses para o surgimento e manutenção das interações formiga-planta. A primeira diz que a origem e manutenção desta relação são dependentes de características da comunidade de formigas associada. Esta hipótese não é confirmada pelo fato de que regiões com maior diversidade de plantas com nectários não apresentam as comunidades mais diversas de formigas. Outra hipótese propõe que os nectários evoluíram de forma a impedir que as formigas cuidassem de homópteros danosos às plantas. Essa hipótese não se confirma, pois as formigas ainda apresentam preferência aos homópteros. Outra hipótese mais aceita é sobre a disponibilidade de recursos. Em ambientes onde o custo de recursos melhores é menor, as plantas apresentarão mais nectários e conseqüentemente serão mais protegidas (Bronstein et al. 2006). O uso da defesa realizada por formigas é muito custoso para plantas, o que pode explicar a perda dessa característica diversas vezes. Em geral, as plantas que apresentam esse tipo de defesa normalmente não possuem defesas químicas (Bronstein et al. 2006). Algumas características das plantas evoluíram no contexto da dispersão de sementes por formigas. A dispersão de sementes por formigas é muito comum, sendo conhecida em cerca de 3000 espécies e 80 famílias. Uma delas é o elaeossomo, um tecido que atrai as formigas e estimula-as a carregar a semente ao formigueiro. Essas estruturas, bem como a mirmecocoria, evoluíram independentemente. Várias vantagens são recebidas por essas plantas, pois as sementes são removidas de perto da planta-mãe, movidas a grandes distâncias e levadas a locais protegidos e ricos em nutrientes para as plantas (Bronstein et al. 2006). - 83 - Nos diversos tipos de mutualismo podem ocorrer estratégias de trapaça. “Trapaceiros” são indivíduos ou espécies que extraem recursos normalmente trocados por mutualistas. As estratégias de trapaça apresentam um rendimento maior, pelo fato de eles não pagarem o custo da reciprocidade. Há plantas cujas flores não provêm recompensas satisfatórias para os visitantes e visitantes que não realizam satisfatoriamente a polinização. Há formigas que consomem recursos das plantas sem oferecer proteção (Bronstein et al. 2006, Yu 2001). Nos mutualismos de polinização, podemos ilustrar bem a ocorrência de parasitas, como nos sistemas Ficus-vespas do figo e Yucca-mariposas da Yucca. Em ambos os sistemas existem parasitas que depositam ovos nas flores das plantas, porém não as polinizam no processo. Em figos, tais parasitas podem ter diversas biologias, sendo galhadores, parasitóides de outras espécies e inquilinos (cleptoparasitas). É conhecido que espécies galhadoras competem diretamente com os polinizadores por sítio de oviposição, e são puramente custosos para a planta. Há evidências que os galhadores são capazes de excluir polinizadores (Dufay et al. 2003, Yu 2001,). Nos mutualismos entre formigas e plantas, um caso de parasitismo ocorre em Acacia, na qual uma espécie de formiga utiliza as domáceas, porém não oferece proteção contra herbívoros e lianas. Em outros sistemas há espécies que oferecem proteção, porém parasitam o hospedeiro por impedir que ele floresça (parasitismo de castração). O benefício da castração para as formigas é que a senescência dos ramos (e conseqüentemente das domácias) é mais lenta (Bronstein et al. 2006). Para evitar o ataque de espécies parasitas, as plantas apresentam várias estratégias de filtragem. Algumas liberam voláteis específicos que atraem as espécies mutualistas. Outras têm o caule coberto por uma cera escorregadia que dificulta a entrada de espécies que não são específicas. Porém, tais estratégias são parcialmente efetivas, pois para serem efetivas é necessário que os mutualistas e os parasitas sejam significativamente diferentes uns dos outros (Yu 2001). Outra estratégia que evita trapaça é a troca de reféns, que ocorre nesse sistema, onde a produção de novas domáceas é ligada ao sucesso na defesa de partes da planta. Estas estratégias também costumam ter sucesso parcial, visto que, após as formigas receberem o benefício pela defesa, elas removem as flores defendidas após a criação das domáceas (Yu 2001). O estudo do mutualismo foi por muito tempo ligado à história natural, e as pesquisas nesta área tenderam a enfatizar características únicas de cada mutualismo, ao invés de procurar por padrões e processos comuns a todos eles, sendo essa procura uma tendência para as pesquisas futuras na área. - 84 - Referências Bibliográficas Bascompte, J.; Jordano, P. & Olesen, J.M. 2006. Asymetric coevolutionary networks facilitate biodiversity maintenance. Science 312: 431-433. Bronstein,J. 2001. Mutualisms. In: Fox, C.W.; Roff, D.A.& Fairbarn, D.J. (Eds). Evolutionary ecology: concepts and case studies. Oxford University Press. Bronstein,J.; Alarcón, R.; Geber,M. 2006. The Evolution of plant-insect mutualisms. New Phytologyst 172: 412-428. Cushman, J.H. & Whitham, T.G. 1989. Conditional mutualism in a membracid-ant association: temporal, age-specific and density-dependent effects. Ecology 70: 1040-1047. Doebeli, M. & Hauert, C. 2005. 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MMA/SBF 2002; Lewinsohn & Prado 2005). Recomendações do Programa Nacional da Biodiversidade Biológica destacam a grande necessidade desses inventários biológicos e da organização das informações sobre a biodiversidade frente à degradação contínua de ambientes naturais. Nos últimos anos, vários estudos sobre levantamento de espécies foram realizados. Se por um lado muito conhecimento foi gerado, por outro ficou mais evidente que alguns grupos ainda carecem de inventários básicos. Além da falta de informações taxonômicas, outro grande problema iminente é o risco de eventos de extinção que causam a perda de espécies em um processo irreversível, ou seja, o desaparecimento de muitas espécies que nunca foram encontradas ou catalogadas. O déficit de informação sobre insetos aquáticos no Brasil não é surpreendente, tampouco restrito a determinados grupos. Todas as recentes revisões (Ephemeroptera – Salles et al. 2004; Plecoptera – Olifiers et al. 2004; Trichoptera – Paprocki et al. 2004) sobre insetos aquáticos têm demonstrado grandes lacunas no conhecimento. Entretanto, alguns fatores tornam este grupo de especial interesse para inventários faunísticos, entre eles: 1) demanda para monitoramento ambiental; 2) reconhecimento de espécies bioindicadoras; 3) associações entre diferentes estágios de vida (larva, pupa e adulto); 4) grande quantidade de espécies a serem descritas e reconhecidas; 5) presença de espécies crípticas. O conhecimento sobre insetos aquáticos tem crescido muito nos últimos anos e o Brasil tem condições de ser um dos expoentes e modelos em estudos de biodiversidade, conservação e monitoramento. Ainda assim, é essencial que haja a implementação de novas abordagens dinâmicas e bem planejadas em consonância com iniciativas de conhecimento de biodiversidade no mundo. Tais iniciativas são hoje impulsionadas por ferramentas que buscam facilitar, aumentar, popularizar e disseminar o acesso das informações sobre biodiversidade. Exemplos: banco de dados interativos; publicações e banco de imagens disponíveis na internet; chaves ilustradas; utilização de fragmentos de DNA em estudos de taxonomia, sistemática, ecologia, entre outros. - 87 - É necessário, portanto, que pesquisadores que trabalham em regiões com alta diversidade biológica como o Brasil estejam cientes e possam se posicionar com propriedade frente a essas iniciativas (Rapini 2004). DNA Barcoding Com o desenvolvimento da biologia molecular, a busca por fragmentos de DNA contendo informações úteis à taxonomia resultou em vários estudos que uniram essas grandes áreas do conhecimento. Dentre esses estudos, foi publicado um artigo que sugeriu o uso do gene mitocondrial cytochrome c oxidase I (COI, Cox 1 or CO1) como base para a criação de um sistema global de identificação de espécies, sobretudo as de animais (Hebert et al. 2003). Tal sistema foi proposto como uma ferramenta eficiente frente à necessidade, cada vez maior, de um método rápido e fácil para identificar espécies e auxiliar na descoberta de novas, uma vez que apenas uma fração da biodiversidade foi descrita e nomeada até o momento (aproximadamente 2 milhões de espécies descritas; estimativas da biodiversidade apontam entre 5 a 30 milhões de espécie ou mais) (Hebert et al. 2004a). Recentemente, esse sistema chamado DNA Barcode, DNA Barcoding ou Código de Barras da Vida tem conquistado muita atenção da comunidade científica. Desde o primeiro artigo (Hebert et al. 2003) mais de 200 trabalhos testando DNA Barcoding foram publicados em revistas científicas com alto índice de impacto, além do surgimento de vários websites (e.g. CBOL – Consortium of the Barcode of Life, CCBD – Canadian Centre for DNA Barcoding, BOLD – Barcode of Life Data System, FISH-BOL – Fish Barcode of Life Initiative, All Leps – All Leps Barcode of Life Iniatiative) e conferências internacionais (como a realizada em Londres em 2005, Taipei 2007). O tamanho e a posição do fragmento de DNA mitocondrial sugerido nesse sistema global de bioidentificação é composto por 658 pares de bases da primeira subunidade do gene mitocondrial COI, correspondente aos nucleotídeos localizados entre as posições 1490-2198 do genoma mitocondrial de Drosophila yakuba (Clary & Wolstenholme 1985). A priori, não existiu nenhuma forte razão na escolha desse gene específico. Porém, o gene mitocondrial COI tem algumas vantagens, além de estar presente em todos os animais (pois é um dos responsáveis pela respiração celular). Primeiro, os primers universais para esse gene são muito robustos, reconhecendo a porção terminal 5’ de quase todos os organismos do reino animal. Segundo, o gene COI parece possuir mais informações filogenéticas do que qualquer outro gene mitocondrial. Terceiro, parece que todos os organismos possuem esse - 88 - fragmento de gene único, ou seja, ele é particular de cada espécie, como uma assinatura molecular (Hebert et al. 2003). Além do mais, a alta taxa de mutação e o tamanho da população do gene mitocondrial COI comparado ao DNA nuclear torna o DNA mitocondrial (mtDNA) uma ferramenta poderosa na busca pela evidência de isolamento reprodutivo entre linhagens (Kerr et al. 2007). Outra grande promessa do DNA Barcoding é transformar o conhecimento taxonômico de especialistas em informação amplamente acessível, ou seja, traduzir conhecimento taxonômico em seqüências de DNA permitindo a identificação de espécimes por não especialistas (Ratnasingham & Hebert 2007). E ainda, essa ferramenta poderá auxiliar os taxonomistas na descoberta de novas espécies, acelerando o processo de catalogação da biodiversidade. É claro que tais promessas dependem de muitos fatores como: conhecer bem os grupos, ter livrarias de seqüências de mtDNA COI para todas as espécies possíveis e , principalmente, saber se esse método é eficiente na separação das espécies dos vários grupos de organismos. Muitos estudos publicados demonstram o sucesso e eficácia desse método na separação das espécies de diversos grupos animais, tais como: Gastropoda (Remigio & Hebert 2003), Lepidoptera (Hebert et al. 2004b), aves (Hebert et al. 2004a; Kerr et al. 2007), Collembola (Hogg & Hebert 2004), Ephemeroptera (Ball et al. 2005), peixes (Ward et al. 2005), morcegos (Clare et al. 2007), etc. Atualmente, alguns estudos estão testando DNA Barcode em programas de biomonitoramento (Carew et al. 2007) e de monitoramento da biodiversidade (Hajibabaei et al. 2007), apontando-o como possível ferramenta para identificações mais rápidas e precisas. Entretanto, outros trabalhos sugerem que a utilização do DNA Barcoding pode falhar tanto no reconhecimento de espécies próximas como na descoberta de novas (e.g. Kaila & Stahls 2006; Skevington et al. 2007). Muita controvérsia e discussão, principalmente entre taxonomistas e defensores do DNA Barcode emergiram em artigos e cartas em conceituadas revistas. Por um lado existe a incerteza sobre a eficiência desse método e a preocupação sobre possíveis efeitos negativos cerca da ciência Taxonomia, com prejuízos até mesmo na diminuição de verbas para projetos de cunho taxonômicos, resultado de uma possível competição por fundos com estudos de DNA Barcodes (ver Ebach & Holdrege 2005). Por outro lado, essa ferramenta poderá auxiliar os taxonomistas e até injetar recursos em museus, herbários, laboratórios e auxiliar no desenvolvimento de projetos de inventários (ver Gregory 2005; Schindel & Miller 2005). Apesar da maioria dos estudos mostrarem a eficiência desse sistema, existe muita crítica e uma grande necessidade de testar DNA Barcode para a maioria dos grupos taxonômicos, incluindo insetos aquáticos. - 89 - Os insetos da família Simuliidae possuem um “status” taxonômico robusto, uma distribuição cosmopolita (Adler et al. 2004) e são exemplos ideais para testar DNA Barcoding. O conhecimento taxonômico das espécies de Simuliidae Neotropicais tem avançado significativamente durante os últimos 30 anos (Hernández et al. 2007), principalmente, pelo esforço de alguns pesquisadores que trabalharam muito com taxonomia, sistemática e ecologia desse grupo (e.g. Coscarón 1991; Hamada & Adler 1998; Grillet & Barrera 1997; Hamada & Adler 1999; Hamada & Grillet 2001; Hamada & Pepinelli 2004; Pepinelli et al. 2005; Hamada et al. 2006; Pepinelli et al. 2006a, 2006b). Além disso, existem alguns complexos de espécies cuja identificação é controversa e a utilização de marcadores moleculares é uma boa ferramenta para decifrá-los. Recentemente, o uso de seqüências do gene COI juntamente com observações morfológicas em dois trabalhos realizados no Brasil por Hamada et al. (submetido para a revista Zootaxa) e Pepinelli et al. (em processo de submissão à revista Molecular Ecology) revelaram, respectivamente, a presença de uma nova espécie e de um complexo de espécies (o primeiro trabalho examinou várias populações de Simulium guianense Wise e o segundo 13 espécies de Simuliidae do subgênero Inaequalium). Enfim, DNA Barcoding é uma ferramenta promissora, mas que ainda necessita ser testada para a maioria dos grupos de organismos. A palestra proferida no Curso de Verão em Entomologia da USP Ribeirão Preto em Janeiro de 2009 faz parte do projeto de pós-doutorado financiado pela FAPESP sob coordenação do Dr. Mateus Pepinelli. Sites interessantes http://www.dnabarcodes.org/ http://www.dnabarcoding.org/ http://www.dnabarcoding.ca/ http://www.boldsystems.org/views/login.php http://www.lepbarcoding.org/ http://www.fishbol.org/ http://www.barcodingbirds.org/ http://www.polarbarcoding.org/ http://barcoding.si.edu/ http://phe.rockefeller.edu/barcode/blog/ Referências Bibliográficas - 90 - Adler PH, Currie DC & Wood DM (2004) The black flies (Simuliidae) of North America. Cornell University Press, Ithaca, New York, 941p. Ball SL, Hebert PDN, Burian SK & Webb JM (2005) Biological identifications of mayflies (Ephemeroptera) using DNA barcodes. Journal of the North American Benthological Society 24: 508-524. Carew M, Pettigrove V, Cox RL & Hoffmann AA (2007) The response of Chironomidae to sediment pollution and other environmental characteristics in urban wetlands. Freshwater Biology (OnlineEarly Articles), doi:10.1111/j.1365-2427.2007.01840.x. 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Santos Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP O objetivo principal da biogeografia histórica é estudar a distribuição dos táxons na tentativa de estabelecer as relações entre as áreas e qual a sua origem. A biogeografia estuda os padrões de relações entre as áreas e os processos relacionados a esses padrões – vicariância, dispersão, ou ainda extinções e falhas na vicariância. Ancoradas no conceito geológico de estabilidade da Terra, explicações dispersionistas dominaram a biogeografia por séculos. Esse panorama começou a ser alterado a partir da panbiogeografia, em meados do século passado, que questionou a estabilidade geológica do planeta com base na deriva continental, defendendo que as disjunções entre as populações estariam relacionadas a alterações no espaço. Assim, a história de fragmentação das áreas ou biotas reflete a história de fragmentação das espécies ancestrais até chegar ás espécies atuais. A partir da fusão do método filogenético de Willi Hennig (1966, ver também Amorim, 2002) e da panbiogeografia, surgiu a biogeografia cladística ou de vicariância, que enfatiza a procura por padrões de distribuição congruentes na história filogenética dos táxons. A biogeografia cladística assume que a correspondência entre relações taxonômicas e relações entre áreas é biogeograficamente informativa. Para tanto, é necessário tomar cladogramas de táxons como base para a construção de cladogramas de áreas e, destes, derivar um cladograma geral de áreas, que contenha a informação mais abrangente possível sobre o padrão de relação entre as áreas consideradas. Os cladogramas gerais de áreas são hipóteses de que o padrão repetido é resultado de um processo que fragmentou o ambiente, atingindo ao mesmo tempo várias populações de várias espécies diferentes. Em linhas gerias, a biogeografia é a disciplina responsável pelo estudo conjunto dos três componentes que sintetizam o processo evolutivo – tempo, espaço e forma. Há uma grande diversidade de métodos (Nelson & Platnick, 1981; Humphries & Parenti, 1999): análise de componentes, análise de parcimônia de Brooks, sub-árvores livres de paralogia, threearea statements e outros. Ainda não há consenso sobre que método é o mais eficiente para análises biogeográficas mas alguns deles são logicamente falhos e devem ser descartados a priori, tais como PAE (Parsimony Analysis of Endemicity) (Brooks & van Veller, 2003; Santos, 2005) e análise de áreas ancestrais (Santos, 2007). A despeito da perspectiva biogeográfica utilizada, seja ela cladística, panbiogeográfica ou até mesmo filogeográfica – com ênfase na sistemática molecular –, o uso de filogenias é essencial (Santos & Amorim, 2007). No mini-curso será enfatizada a biogeografia cladística e sua aplicação no estudo da distribuição com base na aplicação das premissas biogeográficas 0, 1 e 2 (assumptions 0, 1 e 2) (Santos, 2007). Referências Bibliográficas Amorim, D.S. 2002. Fundamentos de Sistemática Filogenética. Editora Holos, Ribeirão Preto. Brooks, D.R. & van Veller, M.G.P. 2003. Critique of Parsimony Analysis of Endemicity as a method of historical biogeography. Journal of Biogeography 30: 819825. - 95 - Hennig, W. 1966. Phylogenetic systematics. Univ. of Illinois Press, Urbana. Humphries, C.J. & Parenti, L. R. 1999. Cladistic biogeography: interpreting patterns of plant and animal distributions, second edition. Oxford University Press, Oxford. Nelson, G. & Platnick, N. I. 1981. Systematics and biogeography: Cladistics and vicariance. Columbia University Press, New York. Santos, C.M.D. 2005. Parsimony Analysis of Endemicity: time for an epitaph? Journal of Biogeography, 32, 1284-1286. Santos, C.M.D. 2007. On ancestral areas and basal clades. Journal of Biogeography, 34: 1470–1471. Santos, C.M.D. 2007. A0: flawed assumption. Darwiniana 45 (suplemento): 39–41. Santos, C.M.D. & Amorim, D.S. 2007. Why biogeographical hypotheses need a well supported phylogenetic framework: a conceptual evaluation. Papéis avulsos em Zoologia 47(4), 63–73. - 96 - Mini Cursos - 19/01/2009 “Biologia do Desenvolvimento de abelhas eussociais” Moysés Elias Neto (Programa de Pós-Graduação em Entomologia) Rodrigo Dallacqua (Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP Departamento de Biologia A abelha Apis mellifera (Holometabola, Hymenoptera, Apidae) possui um rico histórico como organismo experimental, tendo sido estudada sob perspectivas tão diferentes como a de um apicultor e a de um biólogo molecular. Tamanha notabilidade sobre a chamada “rainha dos insetos” se deve à sua natureza singular associada a interesses econômicos não apenas pelos recursos aproveitáveis das colméias (cera, mel, própolis, geléia real, pólen, entre outros), mas também por seu potencial agrícola polinizador (Winston, 2003). Além disso, representa um ícone dentre os chamados insetos eussociais, ou “verdadeiramente” sociais, caracterizados por três qualidades básicas: o cuidado com a cria, a divisão de trabalho reprodutiva e a sobreposição de pelo menos duas gerações (Wilson, 1971; Michener, 1974). Recentemente essa espécie esteve em evidência no cenário científico internacional com o anúncio do sequenciamento de seu genoma (The Honeybee Genome Sequencing Consortium, 2006). Apis mellifera apresenta um padrão holometábolo de desenvolvimento, no qual uma forma imatura (larva) passa por uma reorganização drástica da ontogênese, que resulta na formação do organismo adulto (Nijhout, 1994). O processo metamórfico nos insetos ocorre dentro do contexto dos ciclos de crescimento caracterizados por mudas, ou seja, substituição periódica da velha cutícula por uma nova, recém sintetizada. A transição larval-imaginal ocorre através de dois ciclos de muda: a pupação (muda metamórfica) e a diferenciação do adulto (muda imaginal) (Figura 1). A .. B estágio larval larv a pupa farata estágio pupal pup a adulto farato estágio adulto .. adulto C Figura 1: Metamorfose da abelha Apis mellifera. - 97 - (A) Estágios de vida (larval, pupal e imaginal), definidos pelo tipo de cutícula em contato com o ambiente externo, cada um compreendendo o intervalo de tempo entre ecdises (pontas de seta). (B) Estado ontogenético (larva, pupa e adulto), definido pelo tipo de cutícula aderida à epiderme e delimitado pelos eventos de apólise (setas). A fase farata situa-se entre a apólise e a ecdise e representa o ciclo de muda (período morfogenético no qual a nova forma de vida se diferencia ainda sob a cutícula do instar anterior). (C) Documentação de operárias em vista lateral (larva e pupas faratas) e dorsal (pupa, adultos faratos e adulto). A ontogênese da abelha se desdobra ainda na produção de três formas típicas de indivíduos adultos morfológica e funcionalmente diferentes: o zangão (macho), a rainha (fêmea reprodutiva) e a operária (fêmea infértil, porém com potencial reprodutivo) (Figura 2). De um modo geral, as fêmeas são provenientes de ovos fecundados enquanto os machos são originados partenogeneticamente a partir de ovos não fertilizados. Rainhas e operárias se originam de larvas submetidas a regimes alimentares distintos, que resultam em padrões casta-específicos de regulação endócrina e expressão gênica (Hartfelder e Engels, 1998; Evans e Wheeler, 1999; Evans e Wheeler, 2000). É importante ressaltar que tal explicação simplificada para a diferenciação dos sexos e das castas nessas abelhas omite fenômenos extremamente complexos, muitos dos quais ainda não completamente elucidados, com diversas exceções ao caminho normal do desenvolvimento. Como alguns exemplos, pode-se citar os machos diplóides, as fêmeas partenogenéticas e as inter-castas (Winston, 2003). fecundação alimentação diferencial zangão operária Figura 2: Determinação dos sexos e das castas em Apis mellifera. Os machos (zangões) se desenvolvem por partenogênese a partir de ovos não fecundados. As fêmeas se distinguem em duas castas (operária e rainha), as quais são determinadas por alimentação diferencial ainda durante o estágio larval. rainha Tanto a metamorfose como a determinação de castas correspondem a manifestações ontogenéticas denominadas polifenismos, por representarem variações fenotípicas intraespecíficas e descontínuas. Todo polifenismo consiste em um desvio no fenótipo potencialmente influenciado pelo ambiente e pelo genótipo. O dimorfismo sexual é um exemplo típico na natureza, bem como a metamorfose em Holometabola e as castas dentre os insetos - 98 - sociais, entre outros (para revisões em insetos, ver Nijhout, 1999; Evans e Wheeler, 2001; e Hartfelder e Emlen, 2005). O presente mini-curso aborda a ontogênese de Apis mellifera, bem como de outras abelhas eussociais, com ênfase nos polifenismos de diferenciação de fases (embrião, larva, pupa e adulto) e de castas (operária ou rainha). Seu objetivo principal consiste na apresentação de uma das áreas de pesquisa do programa de Pós-Graduação em Entomologia. As atividades serão desenvolvidas no Laboratório de Biologia do Desenvolvimento de Abelhas (LBDA), centro multidisciplinar no qual algumas das linhas de investigação envolvem a formação do entomólogo. Referências Bibliográficas Evans, J.D. & Wheeler, D.E., 1999. 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Muitos aspectos relevantes sobre a biologia e evolução dos grupos podem ser inferidos a partir da morfologia, mas para que isso seja possível temos que ser capazes de descrever com precisão as mudanças em os organismos de nosso interesse, onde ocorrem as mudanças, se são mudanças em a forma ou em o tamanho, e se essas mudanças podem estar relacionadas com variáveis ecológicas, ontogenéticas ou filogenéticas. Na morfologia tradicional as diferencias são reconhecidas pela comparação com objetos cotidianos mais familiares, expressões como, por exemplo: cabeça com forma de feijão, espiráculos mais o menos circulares, corpo em forma de C. Dão origem a múltiplos erros causados pela subjetividade em a hora da descrição da forma, como conseqüência pode existir varias interpretações de uma mesma descrição. Segundo Zelditch (2004) a morfometría é um caminho quantitativo de dirigir as comparações de forma que sempre hão interessado aos biólogos, logrando diminuir a subjetividade das comparações das formas ao permitir a inclusão da estadística em os analises. A morfometría clássica quantifica as diferencias entre formas a partir de longitudes entre pontos e razões proporcionais. Porem, estas medições não contem informação sobre estrutura geométrica. Além disso, o tamanho interfere dentro dos analises da forma, se os indivíduos estudados apresentam grandes diferencias em o tamanho, suas medições também diferiram em a forma se o tamanho não é corrigido. Vários métodos estadísticos se hão desenvolvido para intentar corrigir o efeito do tamanho em a morfometría tradicional. Segundo Zelditch (2004) ainda que a forma não esteja influenciada pelas diferencias de tamanho todas as medições estarão correlacionadas com ele. A morfometría geométrica é uma ferramenta que permite analisar quantitativamente a forma e suas variações em os organismos, corrigindo e - 101 - solucionando o problema da interferência do tamanho. Analisa a estrutura geométrica, extraindo e comunicando a informação sobre a localização espacial da variação morfológica (magnitude e posição) do organismo (Zelditch, 2004). Dados obtidos com morfometría geométrica têm sido utilizados em estudos de ontogenia, ecologia, taxonomia, filogenia e biogeografia (Rodrigues et al. 2005; Gumiel et al. 2003; Baylac et al. 2003; Pretorius, 2005; Baylac & Daufresne, 1996). E o potencial de ação pode ser maior ainda. Embora suas vantagens, a morfometría geométrica também tem seus problemas, especialmente em o nível pratico, particularmente em a hora que o pesquisador deve procurar pontos para a comparação entre organismos de uma ou varias espécies que sejam homólogos entre elas, em o nível biológico e topológico. Isso não é sempre possível, tendo que decidir entre analises confiáveis mas pouco reveladores ao usar só pontos completamente homólogos, ou analises ao parecer reveladores mais pouco confiáveis ao incluir outro tipo de pontos. Referências Bibliográficas Baylac M & Daufresne T. 1996. Wing venation variability in Monarthropalpus buxi (Diptera: Cecidomyiidae) and the quaternary coevolution of box (Buxus sempervirens L.) and its midge. In Advances in Morphometrics. 1996. Marcus L, Corti M, Loy A, Naylor G & Slice D. (eds) Plenum Press. New York Baylac, M. C. Villemant and G. Simbolotti. 2003. Combining geometric morphometrics with pattern recognition for the investigation of species complexes. Biological Journal of the Linnean Society. 80, 89-98. Garcia Z. 2008.¿Es o son? Morfometría geométrica de dos especies de avispas sociales (Hymenoptera, Vespidae). Boletín del Museo de Entomología de la Universidad del Valle 9(1): 11-16, 2008 Gumiel M, Catalá S, Noireau F, Rojas de Arias G, García A & Dujardin J P. 2003. Wing geometry in Triatoma infestans (Klug) and T. melanosoma Martinez, Olmedo & Carcavallo (Hemiptera: Reduviidae). Systematic Entomology 28, 173-179 Hammer O. 2002 Morphometrics – brief notes. Paläontologisches Institut und Museum. Zürich - 102 - Marcus L, Corti M, Loy A, Naylor G & Slice D. (eds). 1996. Advances in Morphometrics. Plenum Press. New York Mutanen M & Pretorius E. 2007. Subjective visual evaluation vs. traditional and geometric morphometrics in species delimitation: a comparison of moth genitalia. Systematic Entomology, 32(2):371-386. Pretorius E. 2005. Using geometric morphometrics to investigate wing dimorphism in males and females of Hymenoptera – a case study based on the genus Tachysphex Kohl (Hymenoptera: Sphecidae: Larrinae) Australian Journal of Entomology 44, 113-121 Rabello M L & Furtado dos Reis S. 1999. Princípios de Morfometria Geométrica. Holos editora. Rodrigues D, Sanfelice D, Monteiro L R & Moreira G P R. 2005. Ontogenetic trajectories and hind tibia geometric morphometrics of Holymenia clavigera (Herbst) and Anisoscelis foliacea marginella (Dallas) (Hemiptera: Coreidae). Neotropical Entomology 34(5): 769-776 Zelditch M L, Swiderski L D, Sheets H D & Fink W L. 2004. Geometrics morphometrics for biologist: A primer. London: Elsevier Academic Press. - 103 - “Métodos de Coleta e Curadoria em Entomologia” MSc. Rafaela Lopes Falaschi ([email protected])1 Renato Soares Capellari ([email protected]) 2,3 Sarah Siqueira de Oliveira ([email protected])2,4 1 Doutoranda em Entomologia http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4716142D0 2 Mestrandos em Entomologia 3 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4164254T8 4 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4162487H6 Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP Laboratório de Morfologia e Evolução de Diptera – Sala 05 – Bloco 07 Embora passem despercebidos por grande parte da prática científica atual, são de suma importância os procedimentos de coleta de material biológico e sua posterior conservação, não apenas em trabalhos de cunho taxonômico. Isso se deve principalmente às concepções popperianas de repetibilidade da experimentação e falseabilidade das hipóteses aventadas. Nessa medida, disponibilizar determinadas informações, a fim de que se possa reproduzir um experimento o mais fielmente possível, é crucial naquela perspectiva científica. Dentro da área de conhecimento da Entomologia, essas questões formam a pedraangular no que diz respeito aos procedimentos de coleta e manutenção do material biológico estudado. E isso não somente em Taxonomia e Sistemática, mas também em Ecologia, Etologia, Fisiologia dos insetos, entre outras. Os tipos de coleta variam conforme os grupos de enfoque do trabalho a ser realizado, bem como do tipo de ambiente no qual eles se encontram (de terrestres a aquáticos, passando por todas as gradações da interface entre ambos), e devem ser planejadas dentro de um conhecimento prévio de logística: como e em que locais coletar determinado grupo? Deve-se coletar o mais que puder? Ou deixar grupos específicos somente para especialistas? Qual a relação de custo-benefício esperado para uma coleta e em quanto tempo ela transcorrerá? Reconhecida a diversidade biológica de um hábitat e feita uma amostragem dela, o próximo passo é a montagem dos espécimes coletados. Diferentes grupos de insetos apresentam diferentes necessidades quanto à sua conservação ótima: em geral eles são montados em alfinetes entomológicos, mas muitos (por serem pequenos demais, apresentarem corpo pouco esclerotizados, etc.) necessitam ser preservados em álcool 70%. A despeito de em que via são preservados os espécimes (úmida ou seca), todos eles devem trazer consigo informações sobre a localidade, o período do ano em que foram coletados e coletores. Isso feito, o tratamento - 104 - museológico propriamente dito entra em cena. Museus são os depositários de uma rica fonte de informações sobre os mais diversos grupos, e os trabalhos em Taxonomia e Sistemática encontram um terreno fértil de produção científica nessas instituições. O material ali depositado serve de suporte aos mais variados estudos, desde a taxonomia ao nível alfa (descrição de espécies) até o levantamento de hipóteses de relacionamento entre os táxons e discussões sobre a evolução de grupos e caracteres. Afora isso, para qualquer trabalho que utilize espécies como modelos biológicos, é recomendável que se depositem exemplares usados nos seus experimentos em museus, a fim de que outros pesquisadores, interessados em repetir as experimentações, possam confirmar se os modelos em questão são de fato aqueles referidos inicialmente. Afora isso, na qualidade de instituição mantenedora da representação da diversidade biológica, os museus colocam-se na linha de frente na questão da comunicação científica entre pesquisadores. O empréstimo de material entre instituições ainda sofre grandes impedimentos em nosso país, mesmo num contexto global de rápido fluxo de informações. Não só a legislação acerca dessa problemática carece de inovações, que desobstruam as dificuldades hoje enfrentadas pelos pesquisadores, mas também aquela concernente à coleta e à sua legalidade. Assim, o papel dos museus como instituições depositárias de espécimes e os trabalhos de curadoria ali desenvolvidos mostram-se, ambos, de fundamental importância como fonte depositária e provedora de informação biológica, bem como no enquadramento da Biologia como Ciência sensu Popper. Referências Bibliográficas Essenciais: Almeida, L.M., Ribeiro-Costa, C.S. & Marinoni, L. 2003. Manual de Coleta, Conservação, Montagem e Identificação de Insetos. Holos Editora, Ribeirão Preto – SP. 78 p. Borror, D.J. & Delong, D.M. 1969. Introdução ao Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blücher Ltda, São Paulo – SP. 653 p. Carvalho, M. R. et alli 2007. Taxonomic impediment or impediment to taxonomy? A commentary on systematics and the cybertaxonomic-automation paradigm. 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Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001478/147869E.pdfAcessado em:16/12/2008. Lipscomb, D., Platnick, N. & Wheeler, Q. 2003. The intellectual content of taxonomy: a comment on DNA taxonomy. Trends in Ecology and Evolution, 18(2): 65-66. Papavero, N. Fundamentos práticos de taxonomia zoológica. 2.ed. São Paulo: UNESP, 1994. 285p. Primack, R. B.; Rodrigues, E. Biologia da conservação. Londrina: E. Rodrigues, 2001. 327 p. Simmons, J.E, Muñoz-Saba Y. (Eds.) 2005. Cuidado, manejo y conservación de las colecciones biológicas. Bogotá, Universidad Nacional de Colombia. http://www.gbifargentina.org.ar/temp/web_materiales_publicos/index.htm Disponível Acesso em:16/12/2008. Complementares: Allen, S. 2004. Designs for learning: Studying science museum exhibits that do more than entertain. Science Education, 88, S17–S33. - 106 - Brown, B.V. 2005. Malaise Trap Catches and the Crisis in Neotropical Dipterology. American Entomologist, 51(3), 180-183. Campos, W. G., Pereira, D. B. 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BioScience 54(5): 455459. - 108 - Mini Cursos - 22/01/2009 “Ecologia de ecossistemas aquáticos continentais com ênfase na entomofauna” Ana Emilia Siegloch - FFCLRP/ USP – [email protected] Karina Ocampo Righi-Cavallaro - FFCLRP/ USP – [email protected] Marcia Regina Spies - FFCLRP/ USP – [email protected] As águas continentais são, tradicionalmente, divididas em dois ecossistemas principais: o lêntico e o lótico. No ambiente lêntico, representado pelos lagos, lagoas e brejos, as águas permanecem estagnadas ou com movimentação lenta. No lótico, as águas apresentam correnteza visível e é representado por rios e riachos de vários tamanhos. Os rios podem ser classificados, na categoria de ordem, conforme o número de afluentes que recebem. Uma nascente, riacho que não possui tributários, é designada de 1ª ordem. Quando esta conflui com outra nascente o riacho resultante, é considerado de 2ª ordem. Dessa maneira, ocorre o aumento em uma categoria quando um riacho recebe outro de igual ordem. Outra classificação mais antiga chama regiões montanhosas de cabeceiras de ritral e regiões de planícies, mais próximas a foz de potamal. Além dessa classificação, os ambientes aquáticos podem ser classificados como temporários e permanentes. Os insetos são primariamente terrestres, de respiração traqueal. No decorrer de sua evolução alguns grupos assumiram independentemente o modo de vida aquático, que os levou a diferentes estratégias adaptativas na conquista do meio aquático. Desta forma, os insetos aquáticos são caracterizados por possuirem total ou parcial dependência da água durante seu desenvolvimento. Na entomofauna aquática, algumas ordens são exclusivamente aquáticas, ao menos nos estágios imaturos (Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera, Megaloptera e Trichoptera), ao passo que em outras, apenas parte. Em Coleoptera, Diptera, Hemiptera (Heteroptera), Lepidoptera ocorreram várias invasões independentes. Há ainda, formas semi-aquáticas em Hemiptera (Heteroptera), Collembola, Orthoptera e Blattaria. Hymenoptera Parasitica podem ser parasitóides de ovos ou imaturos de insetos aquáticos. Na invasão do ambiente aquático, várias adaptações importantes foram necessárias para permitir o desenvolvimento dos insetos aquáticos. Dentre as adaptações, as mais importantes foram referentes à respiração: vários grupos - 109 - desenvolveram traqueobrânquias; outros retiraram o oxigênio atmosférico através de tubos; há também os que apresentam respiração cutânea, além dos que assumiram bolhas de ar como estratégias respiratórias (brânquias físicas, plastrão), aproveitamento de tecidos vegetais aerados, etc. Além dessas, surgiram adaptações locomotoras como as pernas natatórias, comprimidas ou com franjas de pêlos, usados como remos; mecanismos de propulsão por jatos d’água de uma câmara anal (Odonata Anisoptera); filamentos caudais com franjas de pêlos como nadadeiras caudais (alguns Ephemeroptera); estruturas hidrófobas nas pernas e no corpo para permanecer sobre a água naqueles que vivem sobre a tensão superficial da mesma. Outro grupo de adaptações presentes nos insetos aquáticos são as relacionadas à correnteza da água: adaptações como corpo deprimido dorsoventralmente, pernas articuladas lateralmente e estruturas de adesão (garras tarsais fortes e ventosas). Entre as adaptações comportamentais pode-se citar a contínua luta dos organismos pela adesão ao substrato, sem serem carreados, a emergência dos adultos, onde muitas ninfas e pupas nadam até a superfície d’água, rompem a linha ecdisial e o adulto sai, distendem rapidamente as asas e voam. Outros reptam para fora d’água (Odonata) para formar a pupa em locais abrigados (Coleoptera e Megaloptera). A bacia de drenagem influencia diretamente os ambientes aquáticos nela presentes. Desta forma, ocorre uma interação dinâmica entre o canal do rio ou riacho e a paisagem no entorno (interação entre o ecossistema terrestre e aquático). O relevo influencia a extensão da bacia (divisores de águas), declividade e padrão de precipitação (movimentação da água). A geologia do terreno influencia a química da água. Por exemplo, riachos de bacias baseadas em rochas ígneas (granito) apresentam poucos sais dissolvidos e são acidificadas; riachos de bacias sedimentares apresentam altos níveis de sais e assim as águas são neutras ou alcalinas. A zona ripária funciona como fonte de energia (matéria orgânica alóctone), controla a temperatura e nível de luz (sombreamento), evita a erosão e entrada de sedimento. A vegetação e uso do solo influenciam a concentração de íons no solo e a transferência da para água e a quantidade de água da chuva que é perdida. As características da bacia de drenagem determinam o formato do canal dos rios e riachos nela presentes, pois o formato do canal é determinado pela declividade do terreno, tipo de substrato e quantidade de água drenada (vazão). Dentro do canal dos rios ocorre um equilíbrio dinâmico entre área de erosão e de deposição. As diferenças - 110 - na velocidade da correnteza e no substrato promovem uma alternância de regiões rasas de velocidade rápida (corredeiras) e regiões profundas de velocidade lenta (remansos). As características desses ambientes podem representar restrições a alguns grupos de insetos aquáticos. As corredeiras são ambientes altamente oxigenados, mas nelas, existe o risco dos animais serem carreados, enquanto que os remansos apesar de serem ambientes calmos apresentam baixa oxigenação. Desta forma, as comunidades de insetos aquáticos que vivem em corredeiras e remansos são distintas, apresentando adaptações às restrições impostas pelos diferentes ambientes. Os insetos aquáticos habitam uma ampla variedade de ambientes de águas continentais ocupando praticamente todos os microhábitats disponíveis. A maior diversidade, no entanto é encontrada em rios de cabeceira, de segunda e terceira ordens, com fundo pedregoso e com acúmulos de folhas em detrimentos dos ambientes lênticos. A maior diversificação do ambiente lótico é justificada por fatores históricos, pois os ambientes lênticos se extinguem no tempo geológico, enquanto que ambientes lóticos mudam de lugar, mas raramente são extintos, permitindo a sobrevivência dos insetos a eles adaptados. Nos últimos anos, vem ocorrendo um notável incremento em estudos sobre ecologia de comunidade de macroinvertebrados de ambientes lóticos no Brasil (e.g., Galdean et al. 2000, 2001, Callisto et al. 2001; Melo & Froehlich 2001; Buss et al. 2002, 2004; Roque et al. 2003; Silveira et al. 2006; Costa & Melo 2008; Nessimian et al. 2008; Hepp & Santos 2008), com ênfase na distribuição de larvas de insetos aquáticos em geral (Baptista et al. 1998, 2001a e b, 2007; Diniz-Filho et al. 1997; Rezende 2007; Fidelis et al. 2008), e em Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) (e.g., Oliveira et al. 1997; Oliveira & Froehlich 1997a; Bispo & Oliveira 1998; Bispo et al. 2001, 2006, 2007; Crisci-Bispo et al. 2007a e b). 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Os principais danos causados pelos cupins são consequência da sua capacidade de digerir celulose: são os principais agentes biológicos de degradação de madeira. Além disso, várias espécies de cupins são pragas agrícolas nos trópicos, alimentando-se de várias partes de plantas cultivadas, incluindo cana-de-açúcar, eucalipto, arroz-de-sequeiro, amendoim, frutíferas e outras (Constantino, 2008). Entretanto, a importância dos cupins vai muito além do potencial que esses insetos possuem como pragas; a seguir, e vou discorrer um pouco sobre a como esses insetos vivem, sua morfologia, biologia e importância ecológica: Os cupins são insetos hemimetábolos, com metamorfose gradual, e aparelho bucal mastigador; são ortopteróides e formam um grupo monofilético com as baratas e louva-deuses: Dictyoptera = (Blattaria + Isoptera) + Mantodea. Muito vem sendo discutido a respeito das relações internas dentro de Dictyoptera, inclusive, se a ordem Isoptera deve ou não continuar sendo utilizada, já que um gênero de baratas que vivem em madeira (Cryptocercus) é filogeneticamente mais próximo dos cupins do que das demais baratas (Eggleton et al., 2007; Inward et al., 2007; Lo et al., 2007). Desta forma as baratas ficariam parafiléticas ou, para isso não acontecer, os cupins seriam uma família (Termitidae) dentro de Blattaria, como sugerem Inward et al. (2007): Blattaria = Outras Baratas + (Cryptocercus + Termitidae). A classificação mais aceita divide a ordem Isoptera em sete famílias: Mastotermitidae, Hodotermitidae, Termopsidae, Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae (Grassé, 1986). As seis primeiras são os chamados cupins “inferiores” (que apresentam protozoários simbiontes para produção da celulase) e a família Termitidae, que é mais de 70% dos cupins do mundo, são os chamados cupins “superiores” (que possuem bactéricas para produzirem e/ou produzem sua própria celulase). No Brasil são encontradas apenas as famílias Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae. - 116 - Todas as espécies de cupins são eussociais (não existem cupins solitários), isto é, possuem divisão reprodutiva do trabalho, sobreposição de gerações e cuidado cooperativo da prole (Wilson 1971). Shellman-Reeve (1997), em um trabalho sobre a eussocialidade nos Isoptera, faz uma grande revisão dos diferentes tipos de organização social, considerando fatores como nidificação, hábitos alimentares, parentesco intra-colonial e as características sociais dos vários grupos dentro da ordem. Em termos gerais, pode-se dizer que uma colônia de cupins é constituída por um par real (rei e rainha) - que são os reprodutores -, os operários, os soldados (estéreis) e os imaturos: Os operários são morfologicamente bastante uniformes dentro de cada grupo (por exemplo, de uma mesma subfamília) e geralmente constituem a casta mais numerosa. Como o próprio nome indica, são os responsáveis por todo o trabalho da colônia: construção e reparo do ninho, coleta de alimento, alimentação dos indivíduos de outras castas, além do cuidado com ovos, jovens e o com o par real; ocasionalmente, ou nas espécies em que não ocorre a casta dos soldados, eles também defendem a colônia. Algumas espécies (como as da família Kalotermitidae) não possuem operários; possuem falsos operários (ou pseudergates), que são juvenis, com asas pouco desenvolvidas e que exerce o papel de operário, podem sofrer mudas estacionárias. Os soldados são os responsáveis pela defesa da colônia, havendo muitas adaptações relacionadas a esta função. A defesa pode ser mecânica - mandíbulas grandes, com diferentes formas, por exemplo - ou química, através de glândulas especiais, como a glândula frontal. Pode haver ainda uma combinação de defesa mecânica e química (ver Prestwich,1984). Para os imaturos e reprodutores existem vários termos especiais usados entre os especialistas; Thorne (1996) fez uma síntese dessa terminologia, fazendo um balanço entre o uso corrente, esclarecendo algumas confusões comuns e também levando em conta os novos dados sobre a biologia dos cupins. Por exemplo, todos os cupins, exceto os reprodutores, são tecnicamente imaturos, inclusive os soldados e os operários; e, para os imaturos que ainda não se diferenciaram em soldados, operários ou reprodutores, há uma nomenclatura um pouco diferente daquela normalmente empregada em entomologia. Assim, todos os imaturos (formas jovens) deveriam ser chamados de ninfas, uma vez que os cupins são insetos hemimetábolos; porém, entre os termitólogos, os termos larvas e ninfas já foram consagrados pelo uso nas seguintes acepções: - Larva - termo usado para designar os imaturos sem broto alar, sem características de soldado e não pigmentados; - Ninfa ou ninfa de alado - usado para designar imaturos sem características de soldado, com broto alar, ainda pouco pigmentados; e - Soldados brancos ou pré-soldados - imaturos pouco pigmentados, pouco esclerotizados, mas já com características de soldados. - 117 - Já para os reprodutores, existem várias formas que poderão ocorrer junto com o par real primário ou substituir o rei e/ou a rainha: - Reprodutores primários ou de 1ª ordem: são os alados ou também chamados imagos, bem pigmentados e esclerotizados, com olhos compostos perfeitamente desenvolvidos, incapazes de sofrer novas mudas. Estes indivíduos, depois de voarem e perderem as asas, vão fundar uma nova colônia e recebem, então, os nomes de reis e rainhas; - Reprodutor secundário ou reprodutor suplementar: reprodutor que se desenvolve dentro da própria colônia. Ocorre junto com o par primário; - Reprodutor de substituição: qualquer tipo de reprodutor fértil, que substitua um rei ou uma rainha que tenha morrido ou que não esteja mais fértil; - Reprodutor braquíptero, neotênico braquíptero ou de 2ª ordem: reprodutor derivado de uma ninfa, que retém o broto alar e sofre um amadurecimento precoce do aparelho reprodutor; - Ergatóide ou de 3ª ordem: reprodutor que deriva de um operário; sem broto alar. Uma colônia madura produz alados que serão os futuros reis e rainhas, fundadores de novas colônias depois das revoadas. A revoada é conhecida pelo público em geral, principalmente na primavera e/ou no verão (no início da estação das chuvas), quando há verdadeiras nuvens de cupins (então chamados de siriris ou aleluias), voando em torno de pontos luminosos. Este fenômeno é essencialmente sazonal, relacionado com as variações climáticas da região, principalmente calor e umidade relativa do ar. Há espécies que voam à tardinha, outras à noite etc. Geralmente, colônias da mesma espécie em um mesmo lugar revoam no mesmo dia e hora. É durante a revoada que os pares se formam, no vôo ou no solo. Já no solo, ocorre a perda das asas e o par inicia um comportamento chamado de “tandem”, quando um segue o outro tocando-o no final do abdome, com antenas e palpos. O casal começa então a procurar um local favorável (que depende da espécie em questão), para iniciar uma nova colônia. Uma vez estabelecidos neste local, ocorre a primeira cópula. O par real, depois de fundar a colônia, permanece junto, ocorrendo várias cópulas durante a vida. Como pode haver substituição por outros reprodutores após a morte do rei, da rainha ou de ambos, uma colônia de cupins seria teoricamente perene. No entanto, parece que isto não ocorre de fato. Sabe-se que, para uma dada espécie, a colônia apresenta uma longevidade que não é indefinida e, mesmo encontrando-se em condições ambientais ótimas, passados alguns anos, a colônia entra em senescência e morre (Cancello & Schlemmermeyer, 1999). A maioria das espécies de cupins alimenta-se de materiais de materiais celulósicos (madeira, folhas etc.) ou matéria orgânica do solo (humus) e, junto com os besouros, os cupins são os principais insetos decompositores de madeira (Cancello & Myles, 2000) e desempenham importantes papéis ecológicos no processo de ciclagem de nutrientes, formação e aeração do - 118 - solo, sendo considerados engenheiros de ecossistema (Lawton, 1994). Os grupos alimentares dos cupins podem ser divididos em: - Xilófagos: alimentam-se de madeira e outros materiais celulósicos. - Geófagos ou humívoros: ingerem grande quantidade de solo mineral, digerindo e absorvendo a matéria orgânica semi-decomposta. - Ceifadores ou comedores de serapilheira e gramíneas: cortam pedaços de folhas e fragmentos de serrapilheira e carregam para dentro do ninho. Geralmente folhas mortas, mas alguns cortam folhas vivas, especialmente de gramíneas. - Intermediários: alimentam-se de material vegetal em decomposição, mas não ingerem solo. - Cultivadores de fungos: cupins da subfamília Macrotermitinae, que apresentam simbiose com fungos do gênero Termitomyces. Os fungos são cultivados sobre material vegetal que os cupins ingerem e passa rapidamente pelo tubo digestivo. - Especializados: algumas espécies de cupins apresentam hábitos alimentares muito especializados, como Hospitalitermes e alguns Constrictotermes, que se alimentam de líquens. Em número de espécies, a ordem Isoptera deve ser considerada intermediária entre os insetos, já em termos de biomassa e abundância, os cupins apresentam enorme significância e podem ser comparados às formigas, minhocas, mamíferos herbívoros das savanas africanas ou seres humanos, por exemplo, e estão entre os mais abundantes invertebrados de solo de ecossistemas tropicais. Esta grande abundância dos cupins nos ecossistemas, aliada à existência de diferentes simbiontes, confere a estes insetos a possibilidade de desempenhar papéis como o de “super decompositores” e auxiliares no balanço Carbono-Nitrogênio (Higashi & Abe, 1997). Os simbiontes conhecidos dos cupins podem ser: - Em nível celular: ocorre apenas em Mastotermes darwiniensis. Células especializadas do tecido adiposo apresentam bactérias simbiontes intracelulares do gênero Blattabacterium. Função: reciclagem de ácido úrico. Estão também presente em baratas; - Individual: “Protozoários”, que ocorrem em todas as famílias exceto Termitidae. Localizam-se no intestino posterior. São essenciais à sobrevivência desses cupins, mas seu papel não está claro até hoje. Alguns desses protozoários apresentam ainda simbiose com bactérias; os Termitidae, que correspondem a 70% das espécies da ordem Isoptera, apresentam capacidade de digerir celulose sem o auxílio de protozoários. Ou “Bactérias”: muitas ocorrem no intestino dos cupins, mas poucas aparecem nos meios de cultura e seu papel é pouco conhecido; - Ou colonial: “Fungos” do gênero Termitomyces que ocorrem apenas nos Macrotermitinae (África e Ásia). Operários mastigam material vegetal que passa rapidamente pelo tubo digestivo e é expelido em uma bola (milosfera), depositada sobre o jardim de fungos. - 119 - O material é adicionado em cima e o fungo é consumido na parte de baixo. São essenciais para esses cupins. As formas dos ninhos (cupinzeiros ou termiteiros) são bastante diversificados e vão desde galerias difusas na madeira ou solo, até complexos e grandes ninhos tanto epígios como subterrâneos. Os ninhos as galerias, internamente, são feitas fezes ou madeira sedimentada com saliva, ou combinação de ambos. Os ninhos velhos são muitas vezes ocupados por muitos outros animais, incluindo outros cupins. Os verdadeiros termitófilos são animais que vivem juntamente com os cupins, dentro das galerias, como vários besouros da família Staphilinidae. Termitariófilos são animais que usam o cupinzeiro, mas não interagem com os cupins, estão entre eles aranhas, lagartos, ratos, besouros, pássaros, etc. O termo inquilino é utilizado para outros cupins que utilizam os cupinzeiros construídos por outras espécies. Alguns inquilinos são especializados, como Inquilinitermes spp., que vive apenas em ninhos de Constrictotermes spp (Constantino & Acioli, 2006). Os cupins são insetos fascinantes desde seu comportamento social, dos seus modos de vida, interações, formas diversas até sua importância ecológica. O objetivo do Mini-curso será apresentar para os alunos um pouco mais sobre esses animais tão mal interpretados e pouco conhecidos. Referências Bibliográficas Cancello, E. M. & Schlemmermeyer, T., 1999. Isoptera. p. 263 - 275. In: Brandão, C. R. F. & Cancello, E. M. (eds) Invertebrados Terrestres. Vol. V. Biodiversidade do Estado de São Paulo: Síntese do conhecimento ao final do século XX (Joly, C. A. & Bicudo, C. E. M., org). São Paulo, FAPESP. Cancello, E. M. & Myles, T. G., 2000. Isoptera. p: 295 - 315. In: Bousquets, J.E.L.; Soriano, E. G. & Papavero, N. (eds) Biodiversidad, Taxonomía y Biogeografia de artrópodos de México: Hacia una síntesis de su conocimiento. Univesidad Autónoma de México. Volumen II. Constantino, R., 2008. http://www.unb.br/ib/zoo/docente/constant. Constantino, R. & Acioli, A. N. S. 2006. 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Springer, pp. 466. - 121 - Sites úteis: Constantino, R. http://www.unb.br/ib/zoo/docente/constant Thorne, B. http://www.thornelab.umd.edu/ Myles, T.G. http://www.utoronto.ca/forest/termite/termite.htm - 122 - Mini Cursos - 26/01/2009 “Identificação das principais ordens de insetos” Msc. Paschoal Grossi Universidade Federal do Paraná 1. Introdução Os insetos estão entre os mais abundantes e bem sucedidos animais terrestres. Esse sucesso pode ser atribuído a vários fatores, mas certamente a evolução do vôo concedeu a estes animais uma vantagem distinta sobre os outros invertebrados terrestres (Ruppert & Barnes, 1996). A dispersão, fuga dos predadores e acesso ao alimento ou a condições ambientais ideais foram todos muito potencializados. Eles incluem cerca de ¾ das espécies de animais descritas, e se adaptaram aos mais diversos ambientes, das maiores latitudes até o Equador, das florestas tropicais aos desertos, das montanhas as regiões litorâneas e com os mais variados modos de vida – fitófagos, carnívoros, saprófagos, parasitas. O tipo de desenvolvimento pós-embrionário é uma característica especialmente importante existindo insetos com diferentes graus de metamorfose. Os insetos ametábolos são aqueles onde ocorrem várias mudas sem haver metamorfose entre os vários instares de desenvolvimento, os hemimetábolos se caracterizam por uma metamorfose incompleta apresentando os estágios de ovo, ninfa e adulto enquanto que os holometábolos possuem uma metamorfose completa, ou seja, as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Os insetos são distinguidos dos outros artrópodos por terem três pares de pernas e geralmente dois pares de asas, localizados na região média ou torácica do corpo. Além disso a cabeça porta tipicamente um único par de antenas, um par de olhos compostos e em alguns grupos ocelos (olhos simples) em número de dois ou três (Ruppert & Barnes, 1996). 2. Filogenia, Posição Sistemática e Classificação Os primeiros fósseis de hexápodos são datados do Devoniano (entre 400 e 350 milhões de anos). Os insetos podem ser definidos como hexápodos, artrópodos terretres, mas essas definições ignorariam diversas questões importantes que vem sendo objeto de estudo e especulação por mais de 100 anos. Existem três questões cruciais relacionadas aos insetos. Qual o ancestral comum entre eles? São monofiléticos? Em quantos grupos eles se dividiram ao longo da sua evolução? - 123 - Diversas teorias evolucionárias vêm sendo propostas desde 1930. Manton (1964) em um estudo comparativo dos mecanismos mandibulares dos artrópodos resolveu várias controvérsias a respeito dos hexápodos (fig. 1). 3. Morfologia externa, Biologia e Habitat Os insetos são geralmente de forma mais ou menos alongada e cilíndrica possuindo simetria bilateral. O corpo é segmentado e os segmentos são reunidos em três regiões distintas, cabeça, tórax e abdome. A cabeça contém os olhos, antenas e peças bucais; o tórax contém as pernas e asas (quando houver); o abdome geralmente não contém extremidades locomotoras, mas freqüentemente tem alguns apêndices em sua extremidade posterior. (Borror & DeLong, 1969). Nos insetos e em outros artrópodes, o esqueleto está na sua maior parte no lado externo e é denominado exoesqueleto. A parede do corpo dos insetos serve assim não apenas como revestimento externo do corpo mas também como estrutura de suporte e proteção. As cabeças da maioria dos insetos encontram-se orientadas de forma que as peças bucais sejam direcionadas para baixo (hipognata). Uma posição anteriormente orientada e mais especializada (prognata) é encontrada em algumas espécies predadoras; uma posição posteriormente orientada (opistognata) encontra-se presente nos hemípteros, que têm peças bucais sugadoras. - 124 - A cabeça é a região anterior do corpo em forma de cápsula que contém os olhos, antenas e peças bucais. As superfícies mais laterais e dorsais da cabeça portam um par de olhos compostos e um par de antenas. Entre os olhos e as antenas encontram-se geralmente três ocelos. Três pares de apêndices contribuem para as peças bucais. Um par de mandíbulas se localiza anteriormente, seguido por um par de maxilas e depois pelo lábio. Embora único, o lábio representa na verdade um par fundido de segundas maxilas. Anteriormente à mandíbula encontra-se recoberta por uma extensão da cabeça semelhante a uma plataforma, que forma um lábio superior ou labro. Existem ainda modificações nas peças bucais associadas aos diferentes hábitos alimentares. O tórax, que forma a região mediana do corpo, é composto de três segmentos: o protórax, o mesotórax e metatórax. Um par de pernas se articula com a pleura em cada um dos três segmentos. As asas, quando presentes, se situam no meso e metatórax. As pernas se dividem nos seguintes segmentos: coxa, trocanter, fêmur, tíbia e tarso. As asas dos insetos variam em número, tamanho, forma, textura, nervação e na posição em que são mantidas quando em repouso. Na maioria dos insetos as asas são membranosas e podem conter pequenos pêlos ou escamas; em alguns insetos as asas anteriores são espessadas, coriáceas ou duras em forma de bainha (Borror & DeLong, 1969). O abdome é composto de 9 a 11 segmentos, mas o décimo primeiro segmento é geralmente muito reduzido e representado apenas por apêndices e assim o número máximo de segmentos parece ser mais do que dez. Cada segmento abdominal geralmente consiste em dois escleritos, um tergito dorsal e esternito ventral menor; a região pleural é membranosa e raramente possui áreas esclerotinizadas. Cada segmento contém um par de espiráculos localizados lateralmente. 4. Coleta e conservação Os projetos de coletas de insetos devem ser feitos de forma que alcancem os objetivos propostos. Os insetos podem ser coletados para estudos morfológicos, moleculares, ecológicos através do estudo de seu comportamento e ciclo de vida, para a confecção de coleções científicas e didáticas, e muitas vezes como um hobby. Se houver formas imaturas nas coletas, estas devem ser levadas para laboratório para criação e obtenção de adultos para posterior identificação, pois é de grande dificuldade a determinação de espécies com material jovem. Como os insetos são muito abundantes, a probabilidade de que coletas, mesmo extensas, tenham algum impacto no tamanho das populações é irrelevante. Para se obter uma coleta eficiente deve-se explorar o maior número possível de hábitats de maneira a poder encontrar as espécies referentes a cada ambiente especializado. De acordo com os métodos utilizados as coletas podem ser classificadas em ativas e passivas. As coletas ativas são aquelas em que o coletor vai de encontro com o inseto através do uso de redes, aspiradores, guarda-chuva entomológico e outros aparatos compatíveis com o seu - 125 - objetivo de coleta. Já nas coletas passivas o coletor deixa que as armadilhas façam o trabalho da coleta, sem sua interferência direta. Os dois tipos podem e em geram são feitos simultaneamente quando se quer obter espécimes de diferentes grupos, uma vez que muitas armadilhas se tornam direcionadas a grupos específicos. A forma mais simples de coleta é utilizar as mãos para a captura dos insetos, porém isso só é possível para espécimes lentos e que não possuam alguma defesa que possa causar alguma irritação cutânea para o coletor. O material também pode ser danificado destruindo alguma estrutura importante para a sua determinação. Muitas vezes apenas uma rede e um vidro letal são suficientes para uma boa coleta ativa, mas alguns grupos mais delicados necessitam de equipamento próprio para um perfeito acomodamento. Os equipamentos a serem utilizados em uma coleta são: pinças e pincéis (pinças com ponta fina para a montagem e com ponta arredondada para a coleta uma vez que muitos insetos têm corpo frágil); vidros (no seu interior álcool 70%, ou outros conservantes); vidros letais (assim que coletados os insetos devem ser mortos em vidros letais que podem ter os mais diversos tamanhos de acordo com o que se coleta, sendo importante se ter frascos de fácil abertura para não dificultar a coleta do material). O material assim que morto pode e em alguns casos deve ser acondicionado em envelopes e mantas para o seu transporte até o laboratório. Os envelopes podem ser feitos de papel manteiga ou outro qualquer desde que seja maleável evitando danificar o material e as mantas podem ser feitas de jornal. Um bom tamanho para os envelopes é o de 13 x 9 cm que devem ser dobrados em triângulo. As mantas podem ser feitas com duas tiras de jornal superpostas, coladas, dobradas e no seu interior uma fina camada de algodão para acondicionar os insetos. Seu tamanho pode variar assim como o dos envelopes, mas um bom tamanho para transporte é o de 30 x 10 cm. Pode-se considerar uma armadilha todo equipamento que uma vez que o inseto seja capturado, o mesmo não possa sair. O tipo de armadilha a ser utilizado vai de acordo com o grupo de insetos que se deseja coletar podendo ou não contar com atrativos. As armadilhas mais frequentemente utilizadas são: Armadilhas de interceptação de vôo Malaise: para a coleta de insetos bons voadores principalmente os das ordens Diptera e Hymenoptera através de uma barreira pouco visível que ao serem interceptados sobem e caem em um pote coletor. IV (interceptação de vôo) ou FIT (“Flying interceptation trap”): indicada para insetos que têm o hábito de descerem quando interceptados. Indicada principalmente para Coleoptera (Scarabaeoidea). Este tipo de armadilha pode ser confeccionado com tela tipo sombrite de 1 metro de altura por aproximadamente 2 metros de comprimento. Pode ser - 126 - instalada tanto pouco acima do solo (10 cm) quanto a mais de 1 metro do mesmo. De acordo com a altura, diferentes grupos de insetos serão capturados. Armadilhas de solo “Pit fall”: indicadas para insetos que habitam o solo, podendo ser iscadas (fezes, carcaças, frutas). Uma grande variedade de insetos e de outros artrópodes pode ser coletado. Esta armadilha é composta de um pote de 20 cm de diâmetro por 10 cm de altura que deve ser enterrada no nível do solo a fim de capturar insetos que por ali passam. No caso de se utilizar iscas ela se torna mais eficiente e mais específica. Armadilhas para borboletas Utilizam-se materiais em decomposição como frutos, fezes entre outros sendo então seletivos para algumas famílias desta ordem. É confeccionada se utilizando uma rede tubular de 70 cm de altura e 26 cm de diâmetro com os bordos superiores e inferiores reforçados com a abertura inferior aberta e com um disco plástico suportados por fios, aonde irá à isca. Armadilhas luminosas Para a coleta de insetos noturnos, sendo de bastante eficiência para mariposas e besouros principalmente podendo ser passivas ou ativas. Nas passivas deixa-se uma lâmpada ligada com uma bacia ou funil embaixo onde cairão os insetos enquanto que nas ativas se utiliza uma pano com uma lâmpada pendurada. Os insetos irão pousar no pano e podem ser coletados seletivamente, ou seja, só o material que for de interesse. A montagem do material deve ser feita com alfinetes entomológicos inoxidáveis se espetando os insetos corretamente de forma transversal ao seu eixo longitudinal. Seus apêndices devem ser de forma que possam ser observados após a secagem do material que deve ser feita de preferência em estufa. Depois de retirados da estufa devem ser etiquetados devidamente, se possível identificados e incorporados na coleção. Referências Bibliográficas Almeida, L. M., C. S. Ribeiro-Costa & L. Marinoni, 2003. Manual de Coleta, Conservação, Montagem e Identificação de Insetos, 3ª edição. Ribeirão Preto: Holos Editora. 78 p. Borror, D. J. & d. M. Delong, 1969. Introdução ao Estudo dos Insetos. Edgard Blücher. 653 p. Costa, C., S. Ide & C. E. Simonka, 2006. Insetos Imaturos. Metamorfose e Identificação. Ribeirão Preto: Holos Editora. 249 p. Csiro (Ed.) 1970. The Insects of Australia: A textbook for students and research workers. Carlton: Melbourne University Press. 1029 p. Grimaldi, D. & M. S. Engel, 2006. Evolution of the Insects. Cambridge University Press. 755 p. Ruppert, E. E. & R. D. Barnes, 1996. Zoologia dos Invertebrados, 6ª Edição. Roca Ed. 1026 p. - 127 - Mini Cursos - 27/01/2009 “Quem disse que vida de vampiro é fácil?” Biol. Ana Caroline Paiva Gandara (IBqM – UFRJ) FFCLRP/USP Sobre insetos Os insetos são os seres vivos dominantes em diversidade e quantidade, atualmente, no planeta; constam de três quartos de espécies descritas. Estima-se que essa diversidade seja muito maior que um milhão de espécies e que haja 1018 indivíduos vivos – 200 milhões para cada ser humano. Felizmente, apenas uma pequena porção desse número é obrigatoriamente hematófaga: 300 a 400 espécies são de importância econômica para o homem. Na saúde pública, os insetos hematófagos, são vetores de muitas doenças debilitantes em humanos e animais domesticados. Só no final do século XIX que foi cientificamente comprovado que insetos podiam ser vetores de doenças (Lehane, 1991). Sobre animais hematófagos Os vetores naturais de tripanossomatídeos são os insetos triatomíneos, apesar desses parasitas também serem transmitidos congenitamente ou por transfusão de sangue. Os Triatominae provavelmente são um grupo polifilético da família Reduviidae, com 128 espécies classificadas em 17 gêneros em 5 tribos. A maioria das espécies são silváticas, geralmente predando mamíferos e aves. Algumas são peridomiciliares, podendo transmitir o parasita para humanos e no caso de Triatoma infestans e Rhodnius prolixus, eles são totalmente adaptados a habitats domésticos (Cruz-López et al, 2001). Os artrópodos hematófagos conhecidos caracterizam-se pela ingestão de grandes quantidades de sangue em um único repasto. A proporção pode variar de três a dez vezes o peso do animal em jejum, no caso do barbeiro Rhodnius prolixus e do mosquito Aedes aegypti. Em carrapatos, seu volume pode chegar a ser 100 vezes maior. O intestino é o local da digestão do sangue e da absorção dos seus nutrientes. A digestão pode ocorrer de duas maneiras: o bolo alimentar vai sendo digerido simultaneamente por toda sua superfície como em alguns dípteros ou o sangue vai sendo liberado continuamente para o local da digestão, como em hemípteros e alguns dípteros (Lehane, 1991). Seu trato digestivo é dividido em três partes: os intestinos anterior, médio e posterior. No intestino anterior ou estômago, o sangue é armazenado, onde ocorrerá a hemólise, a rápida absorção de água e a digestão de compostos não proteicos. No - 128 - intestino médio, ocorre a digestão proteica e a absorção dos nutrientes e no posterior, ocorre o acúmulo de resíduos metabólicos para posterior excreção (Billingsley and Downe 1986; Garcia 1987). Sobre heme e defesas anti-oxidantes A hidrólise da hemoglobina, a principal proteína do sangue do hospedeiro vertebrado no trato digestivo do ectoparasita resulta na produção de grandes quantidades de heme livre, grupo prostético dessa proteína e de muitas outras essenciais no metabolismo respiratório. Tomandose por base a concentração de hemoglobina no sangue humano (150mg/mL) e um peso molecular de 15000Da para cada cadeia polipeptídica, temos que a concentração de heme no sangue é em torno de 10 mM. Como esse processo ocorre dentro do trato digestivo, suas células devem ficar expostas à sua potencial toxicidade ao longo da digestão do sangue. O grupo heme, quando encontrado livremente, favorece a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), as quais são capazes de causar dano oxidativo a diversos tipos de biomoléculas como lipídeos, proteínas e DNA (Schmitt, 1993; Thomas, 2002; Tappel, 1955; Aft and Mueller, 1983; Gutteridge and Smith, 1988; Vincent, 1989). O ferro II livre, produzido com a degradação do heme pela enzima heme-oxigenase, é tóxico por mediar a geração do radical hidroxila (OH.), o mais reativo dos radicais de oxigênio, na chamada reação de Fenton (Halliwell and Gutteridge, 1999). A molécula de heme, por outro lado, parece agir como um “reiniciador” da cadeia de peroxidação lipídica, determinando a formação de radicais alcoxil e peroxil a partir de peróxidos lipídicos (Van der Zee et al., 1996). Esses lipoperóxidos também podem ser formados através do superóxido produzido pela NADPH oxidase, pela respiração mitocondrial, entre outros. Animais hematófagos desenvolveram no curso da evolução mecanismos adaptativos diversos que passaram a evitar os efeitos deletérios decorrentes da ingestão de grandes quantidades de heme (Graça-Souza, 2006). Várias defesas anti-oxidantes em organismos hematófagos já foram descritas: uma proteína ligadora de heme (RHBP – Rhodnius-heme binding protein) e urato, um scavenger não específico de espécies radicalares, ambos presentes em grandes quantidades na hemolinfa (Dansa-Petretski et al, 1995; Souza et al, 1997; Souza et al, 1999); hemozoína (Oliveira et al, 2000; Silva & Mury et al, 2007); hemossomos em carrapatos (Lara et al, 2003). E mais recentemente, verificando a literatura, Oliveira e Oliveira (2002) perceberam que parasitas nos estágios de desenvolvimento em que se vivem no sangue do vertebrado, reduziam sua atividade respiratória, mesmo estando em um ambiente rico em oxigênio. Então, eles propuseram nossa hipótese atual de que animais hematófagos podem, assim como esses parasitas, realizarem essa troca em seu metabolismo energético para evitar a exacerbação de um potencial estresse oxidativo resultante da interação de RS produzidos na mitocôndria pela respiração com os - 129 - produtos pró-oxidantes da digestão do sangue. Escolher a anaerobiose, reduzindo o consumo de oxigênio e a produção de RS pode ser uma elegante estratégia para evitar estresse oxidativo produzido pela degradação da hemoglobina em animais hematófagos. Sobre radicais livres A vida com oxigênio começou há uns 2,5 bilhões de anos atrás com a evolução de organismos fotossintéticos e há 1,5 bilhões de anos, os organismos eucarióticos passaram a oxidar glicose em CO2 e água. O acúmulo de O2 mudou o ambiente, as pressões seletivas e também o índice de mutação e subseqüente evolução. Mas foi ele quem permitiu um maior aproveitamento de energia da glicose para o desenvolvimento e manutenção dos organismos multicelulares complexos (Fridovich, 1998; Semenza, 2007). O sistema traqueal de insetos possui um controle discontínuo de abertura e fechamento dos espiráculos. Explicações sugerem esse mecanismo para evitar a perda de água e como uma adaptação para vida subterrânea. Uma terceira explicação é o controle de oxigênio nos tecidos para evitar a exacerbação de estresse oxidativo, já que ele difunde nos insetos muito mais rápido que o CO2 devido à maior pressão parcial atmosférica (Hetz and Bradley, 2005). ROS geralmente são relacionadas a produtos acidentais da respiração, sendo deletérias às células, mas a família das Nox/Duox são exemplo de geração deliberada de ROS, principalmente como bactericida, além de ser discutida seu papel na sinalização celular (crescimento e angiogênese) e sistema imune, resposta à hipoxia e modificação de proteínas de matriz extracelular (Lambeth JD, 2002). Um dos mecanismos que podem estar envolvidos tanto no controle da microbiota quanto de patógenos é a existência de uma enzima produtora de superóxido, muito bem descrita na literatura sobre sistema imune de vertebrados, a NADPHoxidase (Nox). Porém, em insetos, os estudos sobre ela são bem mais escassos e as evidências de análises genômicas indicam a presença de Nox5, Duox e de uma NoxM, que é uma Nox diferenciada, por não conter todas as características que a definiriam como uma Nox clássica (Kawahara, 2007). O papel do NO como um ativador importante do sistema imune de invertebrados tem sido muito discutido, já que a atividade da NO sintase é induzida por infecções por parasitas, sendo implicado também no controle de parasitas e correlacionado com a capacidade vetorial. Quando se trata de sistema imune de invertebrados, pensa-se em 3 mecanismos: fagocitose, peptídeos antimicrobianos e encapsulação. RS tem sido levantado como um quarto efetor e o NO parece ser um microbicida generalizado por responder a infecções generalizadas, a vários tipos de patógenos, de vírus a vermes. NO é um gás que atravessa membranas produzido a partir de larginina, principalmente, pela NOS constitutiva, que é regulada por cálcio intracelular ou pela NOS induzida. Alguns parasitas possuem defesas contra a presença de NO. No cérebro de - 130 - insetos, NO parece ter um papel semelhante em vertebrados como sinalizador. Mas ainda não se sabe quais são os sinais que induzem a síntese de NOS e se eles têm isoformas como em vertebrados (Rivero, 2006). Sobre o hábito hematófago O estudo sobre a evolução do hábito hematófago é escasso e os dípteros são os melhor estudados. Hematofagia é um hábito alimentar raro entre insetos e somente 4 ordens em que esse hábito é importante: pulgas (Anoplura), barbeiros (Heteroptera), mosquitos e moscas (Diptera) e piolhos (Siphonaptera); todas as pulgas e piolhos são hematófagos obrigatórios em torno de 10% das famílias de Heteroptera e Diptera incluem sugadores de sangue. Hematofagia ocorre esproradicamente em pulgas mastigadoras (Menacanthus stramineus) e mariposas (Calpe eustrigata). A primeira menção de um fóssil hematófago foi de um mosquito Aedes ciliaris, do Quartenário e a partir daí, várias outras foram descritas por todo planeta, exceto Antártica. Fósseis de pulgas e piolhos são incomuns, o que é compreensível já que eles estão muito conectadas com o hospedeiro. Pulgas parecem ter originado no Cenozóico somente; mais de 10 espécies considerados “pré-piolhos” foram encontrados nos depósitos do Baixo Cretáceo em Baissa (Saurophthirus). Ponomarenko sugere que eles se alimentavam em pterossauros devido a suas longas pernas com fórceps tibiais e longas garras, cabeça hipognata e um abdômen extensível levemente esclerotizado. Vários autores consideram a hematofagia um hábito ancestral dentre os dípteros já que eles possuem aparelho bucal completo, herdado dos scorpion flies, e os dípteros mais derivados apresentam redução dessas peças. Mas essa hipótese necessita de mais dados para ser fortalecida já que aparelho bucal completo não é característico dos hematófagos; nenhuma família hematófaga foi encontrada até o Jurássico. Mas é de crença generalizada que o hábito hematófago surgiu a partir da entomofagia; a agressividade, peças bucais sugadoras, procura ativa e enzimas digestivas são características compartilhadas. Mas esse hábito não foi algo herdado; mas correlaciona com a expansão das savanas e dos grandes herbívoros, estimulando os insetos comiam excretas e restos de pele, a encontrar sangue eventualmente. A hematofagia surgiu independentemente no dípteros (Lukashevich ED and Mostovski MB, 2003). Não existe concordância sobre a monofilia da subfamília Triatominae, que é totalmente hematófaga e comporta em torno de 140 espécies descritas, divididas em 6 tribos e 18 gêneros. Ánalises moleculares, de aloenzimas e morfológicas não sustentam sua monofilia (Monteiro FA, 2000; Monteiro et al, 2002, Schaefer CW, 2005). A grande maioria está presente nas Américas, onde provavelmente se originou, mas a presença de algumas poucas espécies na Ásia e Austrália e a ausência de triatomíneos na África, questionam sua única origem (Hypsa V et al, - 131 - 2002). Reduviidae é uma família antiga, sendo seu hábito predador constado em fósseis do Permiano/ Triássico. Seus indivíduos hematófagos provavelmente originaram junto dos primeiros mamíferos e pássaros há 50 milhões de anos atrás, no período Jurássico. Fósseis de reduvídeos predadores são encontrados por todo mundo dos períodos Oligoceno e Eoceno (2565 m.a.), ao contrário dos hematófagos, que não aparecem antes disso. O ancestral predador dos Heteroptera era provavelmente fitófago e dentro do grupo, como os Pentatomomorpha e Cimicomorpha, originaram os hematófagos, comendo a partir de pequenos insetos como lagartas e, às vezes, a pele de vertebrados (Tartarotti E et al, 2006). A hipótese de trabalho do grupo do professor Dr. Pedro Lagerblad de Oliveira é de que a presença de mecanismos antioxidantes e de detoxificação de heme constitui parte obrigatória da adaptação de animais hematófagos à ingestão de grandes quantidades de sangue. Referências Bibliográficas Aft, R. L. and Mueller, G. C. Hemin mediated DNA strands scission. J. Biol. Chem. 258: 12069-12072; 1983. Billingsley PF and Downe AER. The surface morphology of the midgut cells of Rhodnius prolixus Stal (Hemiptera, Reduviidae) during blood digestion. Acta Tropica 43, 355-366 (1986). Dansa-Petretski M, Ribeiro JMC, Atella GC, Masuda H and Oliveira PL. Antioxidant role of Rhodnius prolixus-heme binding protein. The Journal of Biological Chemistry Vol 270, no 18, pp 10893-10896, 1995. Fridovich I. Oxygen toxicity: a radical explanation. The Journal of Experimental Biology 201, 1203-1209 (1998). Garcia ES. The digestion of Triatominae (Chapter 4). Chaga’s disease vectors, volume 2, 1987. 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Carla Cresoni Pereira O comportamento alimentar dos insetos envolve uma série de componentes comportamentais que inicialmente guiam um inseto até o recurso alimentar e, após o contato, permitem o reconhecimento e utilização dos itens alimentares. De uma forma geral, o conteúdo de nutrientes, de compostos secundários, no caso das plantas, e a disponibilidade de um item alimentar e o estado nutricional do inseto vão determinar quando os comportamentos de busca, seleção e obtenção de alimentos serão expressos. Basicamente, há três tipos de hábitos alimentares: polifagia, oligofagia e monofagia. Os insetos polífagos alimentam-se de itens de várias espécies; juntamente com os onívoros são chamados generalistas. Os insetos oligófagos alimentam-se de vários gêneros dentro de uma mesma família, enquanto os monófagos alimentam-se de uma só espécie ou poucas aparentadas. Esses insetos (oligófagos e monofágos) são comumente chamados especialistas. Essa classificação é mais didática do que prática: muitos insetos, dependendo de sua fase de desenvolvimento, podem apresentar hábitos alimentares diferentes. No entanto, o conhecimento desses hábitos é importante para a escolha do método de estudo a ser utilizado. O primeiro passo para se estudar o comportamento alimentar é a observação em campo, onde é possível conhecer o hábito alimentar da espécie estudada. Estudos de campo consistem, em sua maioria, de trabalho de observação e métodos de captura e recaptura de indivíduos para diferentes fins: avaliação da dispersão, da sobrevivência, ganho de biomassa, identificação do estado reprodutivo ou idade, entre outros aspectos. Em seguida, estudos em laboratório são cruciais para o entendimento das respostas mostradas pelos insetos frente a diferentes itens alimentares. Em condições de laboratório, o estado nutricional e a fase ontogênica do inseto são conhecidos, bem como o conteúdo nutricional dos itens alimentares a serem empregados. O controle das variáveis, possível somente em laboratório, permite que os vários fatores que influenciam o comportamento alimentar sejam estudados individualmente. Para os estudos em laboratório, é importante o conhecimento de índices comumente utilizados em estudos de comportamento alimentar e sua aplicação. Por exemplo, índices como eficiência da dieta não podem ser utilizados para insetos cuja ingestão não pode ser medida, como é o caso das larvas frugívoras. Em estudos de nutrição, é necessária a escolha de parâmetros para medir a performance, como longevidade e produção de ovos ou descendentes. - 136 - Alguns conceitos, como aceitabilidade, preferência, indução e outros devem ser conhecidos para que se possa descrever os comportamentos observados e identificar sua importância. O objetivo deste mini-curso é abordar alguns métodos de estudo do comportamento alimentar dos insetos, enfatizando os conceitos e parâmetros geralmente utilizados e relacionando-os com os conhecimentos de biologia básica e ecologia dos insetos. O curso será constituído por informações teóricas, descrição e discussão de alguns métodos utilizados e sua demonstração prática. Referências Bibliográficas Bernays, E. A. Regulation of feeding behavior. In: G. A. Kerkut & L. I. Gilbert (eds.). Comprehensive Insect Physiology, Biochemistry and Pharmacology. Oxford, Pergamon Press, 1985. v. 4, p. 390-467. Bernays, E. A. Effect of experience on feeding. In: CHAPMAN, R. F. & BOER, G. (ed.) Regulatory Mechanisms in Insect Feeding. NY: Chapman & Hale, 1995. p. 279-306. Bernays, E. A. & Chapman, R. F. Plant secondary compounds and grasshoppers: beyond plant defenses. Journal of Chemical Ecology v. 26, p. 1773-1793, 2000. Bernays, E. A. & Weiss, M. R. 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Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 47, p.3-14, 1988. Zucoloto, F. S. Alimentação e Nutrição. In: Malavasi, A. & Zucchi, R. A. (Ed.). Moscas-dasfrutas de Importância Econômica no Brasil – Conhecimento Básico e Aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000. cap. 7, p. 67-80. - 138 - Mini Cursos - 28/01/2009 "Abelhas e vespas eussociais" Dr. Sidnei Mateus Especialista em Laboratório Departamento de Biologia - FFCLRP-USP. [email protected] Arquitetura de ninhos e comportamento das abelhas indígenas sem ferrão (Hymenoptera, Apidae, Meliponini). Abelhas sem ferrão ou abelhas indígenas pertencem à tribo Meliponini, apresentam um diferenciado sistema de organização social. Possui extrema diferenciação entre as castas (rainha e operárias), estabelecimento de colônias por enxameagem, grandes colônias perenes, complexa arquitetura de ninho, sistema de comunicação elaborado, armazenamento de grandes quantidades de alimento e sistema de termorregulação eficaz. Nidificam geralmente em ocos de árvores vivas ou mortas, mas podem construir ninhos expostos, subterrâneos, associados com cupins, vespas e formigas. Normalmente, as colônias possuem apenas uma rainha fecundada, centenas a milhares de operárias, machos imaturos e, circunstancialmente, rainhas virgens. As operárias realizam as tarefas de construção, manutenção da colônia, coleta e processamento do alimento, cuidado com a cria e defesa do ninho, através de uma elaborada divisão de trabalho que é influenciada pela idade dos indivíduos. Na maioria das espécies, elas desenvolvem ovários, podendo botar ovos tróficos, que alimentarão a rainha, ou ovos funcionais, que darão origem a machos. O Processo de Aprovisionamento e Postura (POP) é uma característica dos meliponíneos absolutamente ímpar entre os insetos sociais é o meio pelo qual eles produzem sua cria. A construção e tratamento das células de cria podem ser sincrônicos, grupado ou facultativamente grupado, as células são tratadas com alimento larval líquido onde ocorrerá a postura da rainha. Este modelo apresenta algumas peculiaridades: as células de cria são usadas uma única vez, envolvendo ininterrupto ciclo de construção de novas células; aprovisionamento massal, no qual todo o alimento necessário para o desenvolvimento da larva é depositado na célula antes da postura da rainha; utilização de alimento larval líquido; operculação das células de cria; e complexa relação entre rainha e operárias. A Determinação de castas é o sistema de produção de rainhas, apresenta diferenças entre os táxons. Nas espécies do gênero Melipona a determinação das castas é regulada por mecanismos genéticos e por influências ambientais. As rainhas emergem de células isomórficas em relação às células de operárias ou machos. Nos outros gêneros a quantidade de alimento é o fator decisivo. As rainhas emergem de células reais, maiores que as de operárias, onde as larvas recebem um suprimento alimentar extra. Há ainda - 139 - dois outros possíveis mecanismos de produção de rainhas, restritos a determinadas circunstâncias e a algumas espécies de meliponíneos. Nos gêneros Frieseomelitta e Leurotrigona, larvas podem perfurar a o alvéolo vizinho e ingerir o seu alimento, desenvolvendo-se em rainha. Devido à grande competição por recursos alimentares nos trópicos, os meliponíneos desenvolveram várias estratégias de forragear para evitar disputas com outras espécies nas fontes de alimento. Existe uma grande variedade e diferentes níveis de complexidade nos mecanismos de comunicação que formam a base dessas estratégias. Ao contrário das abelhas melíferas, abelhas sem ferrão não dançam para indicar às companheiras a posição exata da fonte de alimento. Porém, os meliponineos demonstram uma grande capacidade de guiar abelhas recrutadas ao lugar de interesse. Mecanismos de comunicação envolvem, entre outras coisas: sons produzidos pelas forrageiras dentro do ninho os quais indicam o "valor" do alimento, e trilhas de feromônios entre o ninho e a fonte alimentar as quais indicam a posição do recurso às abelhas recrutadas. Além da comunicação envolvida no forrageamento, os meliponíneos possuem complexos mecanismos de comunicação química envolvidos nas atividades coloniais, como no reconhecimento intra-colonial e POP. Biologia e comportamento de Bombus, mamangavas sociais (Hymenoptera, Apidae, Bombini). No Brasil ocorrem seis espécies do gênero, Bombus (Fervidobombus) morio, B. (Fervidobombus) atratus, B. (Fervidobombus) brasiliensis, B. (Fervidobombus) transversalis, B. (Fervidobombus)brevivillus e B. (Fervidobombus) bellicosus. A fundação de novas colônias ocorre após o final de um ciclo colonial, uma rainha inseminada funda seu ninho em um local previamente selecionado, a rainha constrói um pote de cera (produzido por ela – glândulas abdominais) para armazenar alimento (néctar), em seguida construirá sua primeira célula onde botara seus primeiros ovos. No inicio aprovisiona e defende o ninho até emergir as primeiras filhas (operárias) que serão suas ajudantes. Todo o trabalho de manutenção, coleta e defesa da colônia ficarão a cargo das operárias. A rainha será a responsável pela construção de novas células e postura, raramente deixará o ninho. Os ninhos de mamangavas geralmente são encontrados na superfície do solo ou cavidades preexistentes, construídos entre ramos e touceiras de capim, sem entrada definida. A cobertura é feita com detritos vegetais, varias camadas de palha seca cobre as estrutura do ninho, as operárias cortam com as mandíbulas pedaços de folhas e capim e cobrem o ninho. Ciclo colonial: lentamente a colônia desenvolve, a rainha realiza posturas em intervalos variando de dois a onze dias, a população da colônia aumenta consideravelmente. A rainha começa a perder a dominância sobre elas o que leva o aparecimento de operárias (inseminadas ou não) com ovários desenvolvidos as quais iniciam a - 140 - construção de células e realizam postura. A rainha passa a agredir operárias com ovários desenvolvidos e destruir suas posturas, mas devido à grande quantidade não consegue impedir o desenvolvimento dos ovos. Nesta fase de agressão que ocorre a produção de sexuados (machos e rainhas), a produção de operárias é interrompida. As Rainhas virgens prontas fisiologicamente logo abandonam a colônia mãe para estabelecer seu próprio ninho, outras rainhas serão inseminadas e permanecerão no ninho materno realizando posturas (territórios e brigas); outras rainhas permanecem no ninho trabalhando como operárias (coleta pólen e néctar) por algum tempo, posteriormente podem ser inseminadas e disputar território dentro do ninho. A rainha fundadora pode ser morta por operárias quando ela perde a dominância ou pelas novas rainhas que emergirão na colônia (suas filhas). Após a produção de sexuados (machos e rainhas) a colônia entra em decadência, já não tem mais operária, pode uma rainha filha reativar a colônia, começar a produzir operárias e assim começa um novo ciclo. Arquitetura de ninhos e comportamento das vespas sociais do Brasil (Hymenoptera, Polistinae, Epiponini). As vespas pertencentes à subfamília Polistinae ocorrem em todo mundo, a maior diversidade é encontrada na região Neotropical. No Brasil, é representada por três tribos (Carpenter, 1993): Polistini (38 espécies), Mischocyttarini (115 espécies) e Epiponini (147 espécies). Nos Polistinae, novas colônias são iniciadas por fundação independente ou por enxameio. Em Polistes e Mischocyttarus, uma ou várias rainhas (férteis) iniciam a construção de seu próprio ninho. Dominância física cria uma hierarquia em colônias com mais de uma rainha fundadora. Nas espécies da tribo Epiponini, novas colônias são sempre iniciadas por enxameio, várias rainhas e um grupo de operárias deixam o ninho original para iniciar uma nova colônia. O enxameio é um movimento coordenado por um grupo de operárias (escoteiras) que começa com a seleção do novo local para o futuro ninho. Entre o novo local onde se construirá o novo ninho e o ninho original é feito um caminho químico. As escoteiras adicionam uma substância glandular produzida no 5° esternito, esfregando o abdômen em folhas de árvores, galhos, postes etc., ou, algumas espécies maceram as bordas de folhas ao longo da trilha, deixando secreção oral. A fundação por enxameio parece ser mais vantajosa que fundação independente. Tal especialização na dispersão da colônia reduz o risco de morte das rainhas, as colônias iniciadas com grande população têm maior especialização entre os indivíduos e são mais efetivas na defesa, construção e manutenção da colônia. Dependendo da espécie, o material de construção do ninho é uma combinação de fibra vegetal longa ou curta, pêlos de folhas, barro e secreção oral. Polistes e Mischocyttarus constroem ninhos sem envelopes presos por um pedúnculo. Nos Epiponini, exceto o gênero Apoica e algumas espécies de Agelaia, os - 141 - ninhos são construídos com envelope externo. Os ninhos podem ser construídos embaixo de folhas, cavidades, troncos de árvores, paredes ou pendurados em galhos. A arquitetura dos ninhos foi aparentemente influenciada pela predação por formigas, de modo que várias formas de defesa foram desenvolvidas. Em Polistes e Mischocyttarus, uma substância que repele formigas é produzida no 6° esternito e aplicada no pedúnculo dos ninhos. Nos Epiponini, o envelope é provavelmente a defesa primaria contra formigas, e algumas espécies adicionam na entrada do ninho material viscoso, provavelmente misturado com secreção oral. Somado a isso, operárias adultas trabalham como guardas na defesa da colônia. As vespas adultas alimentam-se de néctar, suco de frutas ou fluídos de Homoptera “honeydew”. As larvas são alimentadas diariamente pelas operárias com proteína animal (lagartas), proveniente de imaturos de outros insetos que são macerados. Em algumas espécies as rainhas são visivelmente maiores que operárias (Agelaia), ou menores que operárias (Apoica), em outras espécies, há pouca diferença morfológica entre as castas (Parachartergus, Chartergellus, Protopolybia). - 142 - Mini Cursos - 29/01/2009 “Controle biológico” MSc. Ivan Carlos Fernandes Martins MSc. Daniell Rodrigo Rodrigues Fernandes MSc. Francisco José Sosa Duque Programa de Entomologia Agrícola Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Unesp – Jaboticabal-SP. Os insetos são considerados os animais dominantes do mundo, existem cerca de 1 milhão de espécies identificadas e possuem adaptações morfológicas e fisiológicas para suportar os mais diferentes tipos de vida. Podem viver em variados habitats, tanto na água como em terra, com algumas espécies altamente especificas que podem sobreviver em condições extremas de determinado hábitat, como por exemplo algumas espécies que vivem em desertos e áreas geladas do planeta. Entretanto algumas espécies são consideradas generalistas, sobrevivendo em vários tipos de hábitats e se alimentando de uma gama enorme de presas. O homem teve que aprender a conviver com os insetos seja de forma pacifica ou não, e com o passar do tempo começou a utilizar estes indivíduos em seu beneficio. Muitos insetos são considerados úteis ao homem seja na exploração de recursos fornecidos por estes, na sua própria alimentação ou utilizando estes na busca de algum beneficio. A entomologia, ou seja, o estudo dos insetos, é uma ciência que procura estudar todos os aspectos desses magníficos artrópodes, bem como suas relações com o homem e o meio o qual vivem. Esta ciência hoje está subdividida em várias sub áreas, como a entomologia agrícola, entomologia veterinária, entomologia médica, entomologia forense, entomologia ambiental, etc. A Entomologia agrícola estuda basicamente os insetos e suas relações com o homem, plantas e animais. Devido à exploração agrícola alguns insetos conseguem se beneficiar deste hábitat perturbado e aumentar sua população a níveis que podem causar prejuízo econômico ao homem. Com isso o homem sempre buscou alternativas para controlar estas populações sejam elas químicas, físicas ou biológicas. Portanto, este mini-curso de controle biológico vem apresentar, conceitos, história, importância e formas de utilização deste estudo dentro da entomologia agrícola, que utiliza de alternativas biológicas para controlar populações de insetos então considerados pragas. Assim, constitui de uma forma de informação e incentivo para que novos estudantes se interessem por esta linha de pesquisa. - 143 - 2. Finalidade e significado do controle biológico Existem diversas formas de interações entre organismos vivos. Todas essas interações ocorrem de forma a manter a hegemonia do ecossistema (alguns autores preferem utilizar o termo “equilíbrio do ecossistema”). As relações entre os organismos dentro de um ecossistema podem gerar diversas conseqüências, muita vezes beneficiando apenas um determinado organismo, e em varias ocasiões regulando de forma natural as populações. Dentre as principais ações que podem ocorrer encontramos: predação, herbivoria, parasitismo e competição. Então, o fenômeno natural de regulação de uma população, onde organismos geram ações para sua sobrevivência se beneficiando de outro organismo, damos o nome de controle biológico. O controle biológico é um fenômeno dinâmico que sofre a influência de fatores bióticos e abióticos como: fatores climáticos, disponibilidade de alimento e competição intra e inter específicos. Todo organismo vivo possui então um agente de mortalidade biótica, que é determinado então seu inimigo natural. 3. História, evolução e importância do controle biológico O controle biológico surgiu devido a necessidade de uma ação para regular ou controlar insetos pragas. Porém o que seria um inseto praga? O conceito de inseto praga diz que uma população de inseto se torna praga quando esta atinge altos níveis populacionais causando algum prejuízo ao homem, seja na saúde ou econômico. Entretanto para que isto ocorra há necessidade de condições favoráveis para uma população. Então o que mudou na forma de viver da população humana para fazer surgir insetos pragas? O próprio aumento da população e a necessidade de ocupação de novas áreas para moradia e produção de alimentos. A produção de alimentos de forma cultivada gerou condições favoráveis para que determinados insetos tivessem aumento populacional a níveis que os classificassem como pragas. As primeiras observações da ação de inimigos naturais na regulação de algum inseto praga são bem antigas, sendo sempre vistas de forma natural dentro de um agroecossistema. Os chineses foram os primeiros a utilizar agentes para controle biológico. Isto ocorreu com uma espécie de formiga predadora Oecophylla smaragdina (Hymenoptera: Formicidae), utilizada para controle de lepidópteros desfolhadores e coleobrocas de citros, isso no século III - 144 - A.C.. Os produtores daquela época moviam as colônias de formigas de um campo para outro fazendo com que estas controlassem as pragas que causavam prejuízos a suas lavouras. Na Europa as primeiras propostas escritas para o uso de insetos predadores no controle de pragas foram realizadas em 1752 pelo taxonomista Carls Linnaeus. Porém no inicio de 1800, naturalistas como Erasmus Darwin (Avô de Charles Darwin) e vários outros entomologistas americanos, sugeriram que sirfídeos (Diptera: Syrphidae) e coccinelídeos (Coleoptera: Coccinelidae) poderia ser aplicados para combater afídeos (Hemiptera: Aphidae) em casa de vegetação e certas culturas fora destas. Entretanto as primeiras observações de parasitismos foram bem mais tardias que as primeiras observações de predação, provavelmente pela dificuldade de observação e pouco conhecimento desses insetos na época. Em 1602, U. Aldrovandi foi a primeira pessoa a observar o parasitismo de insetos. Ele relatou o controle da lagarta das crucíferas, Pieris rapae (Lepidoptera: Pieridae) por Apanteles glomeratus (Hymenoptera: Braconidae), apesar de ter confundido os casulos do parasitóide com ovos da praga. Oecophylla smaragdina Fonte: www.pbase.com/eullin/image A primeira pessoa a publicar uma correta interpretação de insetos realizando parasitismo foi o Físico Inglês Martin Lister em 1685, que notou ichneumonídeos (Hymenoptera: Ichneumonidae) emergiam de lagartas. Em 1700, Antoni van Leeuvenhoek, interpretou corretamente o parasitismo de afídeos por uma espécie de vespa Aphidius (Hymenoptera: Braconidae). - 145 - O primeiro caso de sucesso de controle biológico clássico (explicado no item 4.3.) foi obtido com a introdução, na Califórnia, de Rodolia cardinalis (Coleoptera: Coccinelidae), trazida da Austrália em 1888 para controlar o afídeo Icerya purchasi (Hemiptera: Aphidae), e em dois anos controlou totalmente a praga. Pieris rapae, parasitado por Apanteles glomeratus Fonte: www.biocontrol.ento.vt.edu/ Vespa Aphidius Fonte: www.hydro-gardens.com/images/aphidius.jpg Anteriormente a segunda guerra mundial o controle biológico estava em uma crescente e cada vez mais surgia alternativa para este método de controle de pragas, porém em 1939 com o início da guerra foi sintetizado o DDT com o intuito de matar pragas a saúde dos soldados, - 146 - após a guerra o DDT surgiu com a “solução” para todos os problemas de pragas na agricultura, fazendo com que o controle biológico quase não fosse mais utilizado, daí em diante o uso indiscriminado de produtos inseticidas fez como surgissem vários malefícios como o surgimento de novas pragas e o desequilíbrio biológico. O ressurgimento do controle biológico se deu graças a uma nova filosofia de controle de pragas, o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que visava proteger a biodiversidade e a saúde humana. O controle biológico nesta época surgiu com novas táticas não só a clássica, mais também a conservativa e a aplicada (explicados no Itens 4.4. e 4.5.). Atualmente, o controle biológico assume um papel cada vez mais importante em programas de manejo integrado e manejo ecológico de pragas, visto em que o momento atual as discussões de uma produção integrada focando a produção sustentável são cada vez maiores e necessárias. Predador, Rodolia cardinalis Fonte: www.fi.cnr.it/r&f/n22/images/ 4. Terminologias utilizadas no controle biológico 4.1 Predadores Organismo de vida livre durante todo o ciclo de vida, captura, mata e consome a presa. Normalmente é maior que sua presa e requer mais do que um indivíduo para completar seu desenvolvimento. Possuem baixa especificidade em relação a suas presas, sendo na sua maioria considerada predadores “generalistas”, por consumirem vários tipos de presas. 4.2 Parasitóides - 147 - Este organismo mata o hospedeiro e exige somente um indivíduo para complementar o seu desenvolvimento, os adultos de organismos parasitóides possuem vida livre. Existem várias categorias de parasitismo geralmente envolve a forma e local do desenvolvimento, podemos encontrar então: parasitóides de ovos, aqueles que se desenvolvem em ovos de outros organismos; parasitóide de larvas, aqueles que se desenvolvem em larvas; entre outras formas de parasitísmo como: hiperparasitismo, multiparasitismo, superparasitismo, etc. 4.3 Controle biológico clássico Importação e colonização de parasitóides ou predadores, visando ao controle de pragas exóticas, eventualmente pode ser utilizado para controle de pragas nativas. Geralmente as liberações são realizadas com um baixo número de indivíduos (liberação inoculativa), por uma ou mais vezes no mesmo local, sendo considerada uma medida de controle em longo prazo, tendo em vista que a população dos inimigos naturais aumenta com o passar do tempo, este método de controle é aplicado em culturas perenes e semiperenes. Para o controle biológico clássico há necessidade de medidas que visem à segurança da biodiversidade local, por isso a importação de inimigos naturais passa por rigorosos processos de estudos em laboratórios de quarentena, para depois poderem ser liberados. 4.4 Controle biológico natural ou por conservação Refere-se à população de inimigos naturais que ocorrem naturalmente no campo. A conservação e o possível aumento de parasitóides e predadores podem ser realizadas de algumas formas, dentre elas: a manipulação de hábitat, criação e preservação de áreas de abrigo, refugio, reprodução e de alimento alternativo para adultos, mudanças nas práticas culturais, utilização de produtos químicos seletivos ou evitar o seu uso, diversificação de culturas, entre outras. Este controle natural de pragas é muito importante nos agroecossistemas sendo responsáveis por manter a diversidade e conseqüentemente a prevenção do aparecimento de pragas. 4.5 Controle biológico aplicado É realizado com um grande número de insetos (liberação inundativa), sendo utilizados parasitóides e/ou predadores, após criação massal em laboratório, visando a redução rápida de uma população praga, fazendo com que esta retorne a níveis abaixo dos considerados níveis de dano econômico, sendo utilizado de forma curativa diferentemente do conservativo que age de - 148 - forma preventiva. Por isso a forma aplicada é bem vista e aceita pelos seus usuários por ter uma ação rápida e agindo de forma curativa semelhante aos inseticidas. Hoje devido às técnicas bem sucedidas de criação massal em laboratório e biofábricas, o controle biológico aplicado é bem difundido e utilizado, sendo hoje responsável pelo controle de pragas nas mais diversas culturas. Referências Bibliográficas Barbosa, P. Conservation Biological Control. Academic Press, New York, 1998. Bellows T. S. & Fisher T. W. Handbook of Biological Control. Academic Press, New York, 1999. Debach, P. Biological control by natural enemies. London, Cambridge University Press. 1974. 323p. Filho, A. B.; Leite L. G.; Machado L. A. O que é Controle Biológico. In: Manual de Controle Biológico, Sociedade Nacional de Agricultura, 1996. Huffaker, C. B. & Messenger, P. S. Theory and Practice of Biological Control. Academic Press, New York, 1976. Parra, J.R.P.; Botelho, P.S.M.; Corrêa-Ferreira, B.S.; Bento, J.M.S. Controle Biológico no Brasil: Parasitóides e Predadores. Editora Manole, BarueríSP. 2002, 609p. Smith, E. H. & Pimentel D. Pest Control Strategies. Academic Press, New York, 1978. Van Driesche, R. G. & Bellows JR, T. S. Biological Control. Kluwer Academic Publishers, Boston, 1996. 6. Literatura recomendada Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I. O papel da biodiversidade no - 149 - manejo de pragas. Holos Editora, Ribeirão Preto – SP, 2003. 226p. Askew, R.R. Parasitic insects. London, Heinemann. 1971. 316p. Barbosa, P. Conservation Biological Control. Academic Press, New York, 1998. Bellows T. S. & Fisher T. W. Handbook of Biological Control. Academic Press, New York, 1999. Debach, P. Biological control by natural enemies. London, Cambridge University Press. 1974. 323p. Godfray, H.C.J. Parasitoids: behavioral and evolutionary ecology. Princeton, Princeton University Press, 1994. 473p. Hajek, A.E. Natural enemies: na introduction to biological control. Cambridge University Press. 2004. 396p. Johnson, N.F. & Triplehorn, C.A. Borror and Delong’s introduction to the study of insects. 7ª edição, Brooks Cole. 2004. 864p. Parra, J.R.P.; Botelho, P.S.M.; Corrêa-Ferreira, B.S.; Bento, J.M.S. Controle Biológico no Brasil: Parasitóides e Predadores. Editora Manole, BarueríSP. 2002, 609p. Parra, J.R.P. & Zucchi, R.A. Trichogramma e o controle biológico aplicado. FEALQ, Piracicaba-SP. 1997. 324p. Pinto, A.S.; Nava, D.E.; Rossi, M.M.; Malerbo-Souza, D.T. Controle biológico de pragas: na prática. Piracicaba – SP, CP 2. 2006. 287p. Smith, E. H. & Pimentel D. Pest Control Strategies. Academic Press, New York, 1978. Van Driesche, R. G. & Bellows JR, T. S. Biological Control. London, Chapman & Hall, 1996. 539p. - 150 - Van Den Bosch, R.; Messenger, P.S.; Gutierrez, A.P. An introduction to biological control. New York, Plenum Press, 1982. 247p. Waage, J.K. & Greathead, D.J. Insects parasitoids. London, Academic Press, 1988. 389p. Wajnberg, E.; Bernstein, C.; Van Alphen, J. Behavioural ecology of insects parasitoids: from theoretical approaches to field applications. Wiley Blackwell. 2008. 464p. 7. Periódicos recomendados American Entomologist Annual Review of Entomology Arquivos do Instituto Biológico Australian Journal of Entomology Biocontrol Biological Control Bragantia Environmental Entomology Florida Entomologist Journal of Applied Entomology Journal of Economic Entomology Nature Neotropical Entomology Revista Brasileira de Entomologia Science Scientia Agricola The Canadian Entomologist Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a comissão do VII Curso de Verão em Entomologia da FFCLRP/USP, pela oportunidade de podermos compartilhar um pouco do nosso conhecimento nesta iniciativa, e também por incentivarem o ensino da entomologia em todas suas vertentes. - 151 - Também gostaríamos de agradecer a FCAV/UNESP e aos nossos orientadores Dr. Francisco Jorge Cividanes, Dr. Nelson Wanderley Perioto e Dr. Sérgio de Freitas (respectivamente) pelo incentivo diário e pela liberação de nossas atividades para ministrarmos esse mini-curso. Observação Este texto não possui pretensões bibliográficas, e foi elaborado apenas para fins didáticos. Portanto, não merece ser citado. Á aqueles que buscam algo mais refinado cientificamente recomendamos o uso dos textos citados nos itens 5 e 6, e para aqueles que por ventura gostariam de aprofundar-se no mundo da entomologia, seja no controle biológico ou não, recomendamos a leitura de periódicos especializados, listados no item 7. Existem uma gama imensa de periódicos especializados na área de entomologia, e não é nossa pretensão aqui listálos por completo, porém esta breve listagem auxiliará aqueles com interesses maiores nos estudos entomológicos. - 152 -