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ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR ANO 90 Nº888 JANEIRO/ FEVEREIRO/ MARÇO DE 2014 PREVENÇÃO, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Mercado de radar ligado nos riscos globais, na educação financeira e na nova gestão desenvolvimentista da Susep Executiva da ABGR fala, em entrevista exclusiva, sobre a nova forma de se fazer gerenciamento de riscos e os desafios a serem enfrentados pela comunidade seguradora sumário 05 Entrevista Cenário macroeconômico Cristiane França Alves, única mulher a presidir a ABGR, diz que as novas atribuições dos gestores se resumem na visão 360 graus dos riscos. O principal obstáculo para o crescimento do setor de seguros é o agravamento do risco da economia, uma vez que o mercado não comporta mais mudanças radicais. Resseguro Seis anos após a quebra do monopólio do IRB, o mercado de Resseguro está em franca ascensão e acumula um volume de prêmios100% superior. 08 Educação financeira Em maio será realizada a Semana Nacional de Educação Financeira, que abordará temas como finanças pessoais, investimentos, seguros, Previdência e direitos do consumidor. 12 Previdência & Vida 20 Evento realizado na Bahia debateu os cenários mais prováveis para o segmento, que deve alcançar, ainda no primeiro semestre, R$ 400 bilhões em ativos administrados. Saúde SUPLEMENTAR 26 O setor de saúde encerrou 2103 com 50,2 milhões de consumidores de planos de assistência médica, um crescimento de 4,6% em relação ao ano anterior, segundo a ANS. Vida (VGBL Saúde) Riscos Globais Texto do projeto de lei de autoria do deputado Armando Vergilio estabelece os pilares do produto e sua regulamentação ganha força no Congresso Nacional. Disparidade entre ricos e pobres é a maior ameaça apontada no relatório Riscos Globais 2014, que foi divulgado no Fórum Econômico Mundial, em janeiro. 28 16 30 E Mais... 4 – Editorial; 19 – Susep; 22 – Fraudes; 24 – Sustentabilidade; 32 – Marco Civil da Internet; 34 – Artigo; 38 - Estudos CNseg; 40 – Biblioteca; 41– ENS; 42 – Opinião. EXPEDIENTE Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Nilton Molina, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcão, Pedro Pereira de Freitas, Thierry Marc Claude Claudon, William Alan Yates e Wilson Toneto. PRESIDENTE Marco Antonio Rossi 1º VICE-PRESIDENTE Jayme Brasil Garfinkel VICE-PRESIDENTES NATOS Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antônio da Silva Barros, Osvaldo do Nascimento e Paulo Miguel Marraccini VICE-PRESIDENTES Mário José Gonzaga Petrelli Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas DIRETOR NATO Luiz Tavares Pereira Filho DIRETORES Acacio Rosa de Queiroz Filho, Alexandre Malucelli, Alfredo Lália Neto, Antonio Cássio dos Santos, Antonio Eduardo Márquez de Figueiredo Trindade, Francisco Alves de Souza, João Francisco Silveira Borges da Costa, CONSELHO FISCAL Presidente Marco Antonio Rossi Membros Natos Jayme Brasil Garfinkel, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antônio da Silva Barros, Marco Antonio Rossi, Osvaldo do Nascimento e Paulo Miguel Marraccini Efetivos Ana Júlia de Vasconcelos Carepa José Maria Souza Teixeira Costa Júlio César Rosa Suplentes Haydewaldo Roberto Chamberlain da Costa e Laenio Pereira dos Santos CONSELHO SUPERIOR Presidente Marco Antonio Rossi Membros Acacio Rosa de Queiroz Filho, Carlos dos Santos, Francisco Caiuby Vidigal Filho, Mário José Gonzaga Petrelli, Nilton Molina, Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas, Pedro Pereira de Freitas, Pedro Purm Junior e Thierry Marc Claude Claudon Membros de Notório Saber Alberto Oswaldo Continentino de Araújo, Eduardo Baptista Vianna, João Elisio Ferraz de Campos, José Américo Peón de Sá, Jorge Hilário Gouvêa Vieira e Paulo Egydio Martins Membros dos Sindicatos Augusto Frederico Costa Rosa de Matos, João Gilberto Possiede, João Giuseppe Silveira Leite Esmeraldo, Júlio César Rosa, Mauro César Batista, Múcio Novaes de Albuquerque Cavalcanti, Paulo Lückmann, Roberto de Souza Santos, Francisco Alves de Souza REVISTA DE SEGUROS Órgão de divulgação do mercado segurador PUBLICAÇÃO INTEGRANTE DO CONVÊNIO DE IMPRENSADO MERCOSUL – COPREME. Em conjunto com SIDEMA (Serviço Informativo do Mercado Segurador da República Argentina), EL PRODUCTOR (Publicação da Associação de Agentes e Produtores de Seguro da República Oriental do Uruguai) e Jornal dos Seguros (Publicação do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização do Estado de São Paulo). CONSELHO EDITORIAL Ângela Cunha, Luiz Peregrino Fernandes Vieira da Cunha, José Cechin, José Ismar, Alves Tôrres, Neival Rodrigues Freitas, Solange Beatriz Palheiro Mendes. Editora-chefe Ângela Cunha (MTb/RJ12.555) Coordenação Editorial VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO [email protected] 21 - 2262.5215 Jornalista Responsável Vania Mezzonato – MTb 14.850 Assistente de produção Patricia Stanzione Colaboradores Bianca Rocha, Carmen Nery, Cezar Faccioli, Fernanda Thurler, João Maurício Rodrigues, Jorge Clapp, Larissa Morais, Marcia Alves, Maria Luisa Barros, Vagner Ricardo e Vania Mezzonato Fotografia AEF Brasil, Antranik Photos, Arquivo Bradesco Saúde, Arquivo CNseg, Banco de Imagens free via Google, Divulgação ANS, Divulgação BB Mapfre, Divulgação Transatlantic Re, Gustavo Lima/Câmara, Perkons SA, Rosane Bekierman e Simone Nobre Projeto Gráfico Tapioca Comunicação Redação e Correspondência Superintendência de Comunicação – CNseg Adriana Beltrão, Claudia Mara e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74/12º andar, Centro - Rio de Janeiro/RJ CEP. 20031-201 Telex: (021) 34505-DFNES Fax: (21) 2510.7839 Tel. (21) 2510.7777 www.viverseguro.org.br E-mail: [email protected] Escritório CNseg/Brasília SCN/Quadra1/Bloco C Ed. Brasília Trade Center – sala 1607 Gráfica: Walprint Distribuição: Serviços Gerais/CNseg Periodicidade: Trimestral Circulação: 5 mil exemplares Distribuição Gratuita REVISTA DE SEGUROS • 03 editorial Planejamento financeiro Ângela Cunha - Editora executiva o consumidor brasileiro, em sua maioria, gasta mais do que ganha, não guarda dinheiro e não planeja o próprio futuro. As conclusões de uma pesquisa recente elaborada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) atestam: oito em cada dez pessoas não sabem controlar suas próprias despesas. O estudo foi realizado em todas as capitais brasileiras para identificar a forma que os consumidores veem sua relação com o dinheiro. Susep sob novo comando Roberto Westenberger, novo superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), tomou posse no final de março prometendo uma guinada no perfil de atuação da autarquia, em sua gestão. “A ideia é que a Susep tenha uma postura menos policialesca e assuma um papel mais ativo de fomentador do desenvolvimento do setor”, afirma. Ele está convencido também de que a Susep precisa buscar uma atuação que seja baseada nos mais adequados padrões técnicos disponíveis no mercado mundial, para ficar em sintonia com as mais importantes ações desenvolvidas pela indústria de seguros e resseguros em termos regulatórios. 04 • REVISTA DE SEGUROS O desafio aumenta com as perspectivas de entrada de cerca de dois bilhões de pessoas no mercado financeiro mundial, nos próximos 20 anos, e suscita a dúvida: elas estarão preparadas para fazer as melhores escolhas financeiras e fugir dos endividamentos que assombram a maioria das famílias? No Brasil, as mudanças na pirâmide das classes sociais, que significaram maior poder de compra de parcela significativa da população, representaram também alto nível de endividamento. Nos lares com baixa educação financeira, há forte evidência de que estas famílias não planejam a aposentaria, pagam juros mais altos, têm menos bens e são mais suscetíveis à inadimplência. Esta situação preocupa as instituições financeiras (bancos, seguradoras, fundos de pensão e órgãos públicos), que estão se unindo numa campanha nacional com o objetivo de combater o analfabetismo financeiro da população. A CNseg também se engajou neste movimento, por meio do Conselho Nacional de Educação Financeira – Conef (do qual é integrante), ao lado do Banco Central, Susep, Andima, Bovespa e Febraban, entre outras instituições, e participará da Semana Nacional de Educação Financeira, que acontece em várias cidades brasilei- ras, entre os dias 5 e 9 de maio. O evento abordará temas como áreas de finanças pessoais, planejamento financeiro, investimentos, seguros, Previdência e direitos do consumidor. A iniciativa segue os parâmetros do Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010, que reconhece a educação financeira e previdenciária como ferramenta de inclusão social, de melhoria de vida do cidadão e de promoção da estabilidade, concorrência e eficiência do sistema financeiro do País. O assunto é tema de pauta desta edição, ao lado de outros igualmente importantes para o setor, como os cenários macroeconômicos e seus impactos no desempenho do mercado segurador, que vê a possibilidade de agravamento do risco da economia brasileira como um grande obstáculo a seu crescimento. Destaque também para as ameaças apontadas pelo relatório Riscos Globais 2014, divulgado em janeiro no Fórum Econômico Mundial, que cita a disparidade crônica de renda entre cidadãos ricos e pobres como a maior ameaça para o mundo na próxima década, além de apontar outros 30 riscos suscetíveis de causar consequências negativas em países e indústrias do mundo inteiro. Boa leitura! entrevista “Gestão de riscos: a capacidade de antecipar cenários” Por MÁRCIA ALVES Há empresas em que o gestor faz um trabalho integrado, cuida de risco, fraude, compliance e segurança, olhando para todas as áreas da empresa, com uma visão geral de 360 graus. E esta é uma tendência. Antranik Photos Cristiane França Alves U m dos aspectos positivos da abertura do Resseguro foi a valorização do gestor de riscos que, em contrapartida, assumiu responsabilidades além de sua tarefa de identificar, analisar e tratar, e transferir os riscos. No rol de novos riscos que desafiam a atividade de gerenciamento, estão os regulatórios, os de imagem, o compliance, o do capital humano e outros imprevisíveis e incontroláveis, como climáticos e políticos. Cristiane França Alves, única mulher a presidir a Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), diz que as novas atribuições dos gestores se resumem na visão 360 graus dos riscos. Advogada por formação, ela iniciou sua carreira em gerenciamento de riscos e seguros há mais de 20 anos, no Grupo Pirelli. Em 2003, se tornou Risk Manager da Telecom Itália Mobile no Brasil (TIM Brasil) e, cinco anos depois, retornou ao Grupo Pirelli para ocupar o cargo de Risk Manager para América Latina, no qual permaneceu até julho do ano passado. Desde agosto, Cristiane ocupa a Gerência de Seguros da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Reeleita presidente da ABGR, também integra a diretoria da Associação Latino-Americana de Gerentes de Riscos e Seguros (Alarys) e representa as duas associações, ABGR e Alarys, na Federação Internacional das Associações de Risk Managers (Ifrima). Em entrevista à Revista de Seguros, ela comenta as mudanças no gerenciamento de riscos e os novos desafios dos gestores. REVISTA DE SEGUROS • 05 entrevista Antranik Photos Revista de Seguros – No Brasil, a abertura do Resseguro foi um divisor de águas no papel do gestor de risco, que deixou de ser mero “comprador de seguros” para assumir novas responsabilidades. Como você analisa essa mudança? O gestor precisa estar preparado para riscos inimagináveis, como foi o caso das manifestações populares ocorridas no ano passado, que bloquearam estradas e atrasaram a entrega de muitas mercadorias. Cristiane França Alves Cristiane França Alves - A gerência de riscos no Brasil começou a se desenvolver como tal poucos anos antes da abertura do mercado de Resseguro. A razão disso era a certeza de que a exposição estaria coberta havendo ou não a prévia gestão de risco: identificar, analisar, tratar e transferir. Era confortável ter um ressegurador monopolista com a obrigação legal de assumir todos os riscos. Em raras exceções, quando o IRB não se interessasse, as empresas tinham permissão para buscar Resseguro no exterior. Mas, no geral, todos os riscos estavam cobertos. A abertura do Resseguro foi um marco positivo porque, bem ou mal, fomos obrigados a trabalhar em prevenção e em gerenciamento de riscos. A falta de prevenção de risco ainda é uma questão cultural no País, com a crença disseminada de que nada de ruim vai nos acontecer porque Deus é brasileiro. Por isso, ainda temos um longo caminho a percorrer e muita coisa para fazer nesse campo. RS: O papel do gestor de riscos mudou? Mudou. A abertura do Resseguro aconteceu ao mesmo tempo em que estávamos mergulhando em outras mudanças. A globalização, a velocidade das informações e a interconexão dos riscos nos obrigaram a considerar as exposições consequentes de toda 06 • REVISTA DE SEGUROS essa nova realidade. A verdade é que, de um modo geral, a nossa missão, hoje, vai muito além de identificar, analisar, tratar, reter ou transferir o risco. Espera-se da gerência de riscos a análise integrada das exposições da organização, atrelada ao novo ambiente regulatório das atividades de Seguro e Resseguro. Ou seja, espera-se que o gerente de riscos tenha a capacidade de antecipar cenários que possam comprometer a continuidade da organização. RS: Nesse novo cenário, quais são os riscos que desafiam os gestores? Esse novo cenário se traduz em riscos da cadeia de suprimentos, de relacionamento com clientes, investidores e público em geral, das mudanças climáticas, do ambiente tecnológico, do ambiente regulatório da atividade e da organização, de compliance e outros. Hoje, diante do maior peso regulatório e de novas leis, como a Lei Anticorrupção, por exemplo, algumas empresas estão criando um corpo mais consolidado de gerenciamento de riscos que abrange a área de compliance. Há empresas em que o gestor faz um trabalho integrado, cuida de risco, fraude, compliance e segurança, olhando para todas as áreas da empresa, com uma visão geral de 360 graus. E esta é uma tendência. Os riscos controlados demonstram que a empresa cumpre regras, tem postura ética e trabalha com o pensamento na sustentabilidade e na responsabilidade social. Também é importante considerar outros riscos, como o de capital humano, que passa pela retenção de talento e pela política de benefícios. Mas o que mais preocupa o gestor são os riscos que fogem ao controle, como os políticos ou climáticos. RS: E como enfrentar esses riscos imprevisíveis? O gestor precisa se antecipar e imaginar um cenário catastrófico, criando um plano B, um plano de contingências. Ele precisa estar preparado para riscos inimagináveis, como foi o caso das manifestações populares ocorridas no ano passado, que bloquearam estradas e atrasaram a entrega de muitas mercadorias. O gestor precisa se antecipar aos riscos e traçar estratégias que tragam a melhor resposta para um cenário futuro, caso se concretize. RS: Em relação aos chamados riscos declináveis, alguns especialistas afirmam que a solução está no gerenciamento de riscos. Os gestores aceitam essa responsabilidade? A grande responsabilidade fica nas costas do gerente de riscos. Mas eu não vejo muita saída. A resseguradora não assumirá um risco que não tenha a proteção e a prevenção que deveria ter. Então, acho que nossa responsabilidade é tentar se adequar. Sei de uma associada da ABGR, do ramo de algodão, que não consegue cobertura de jeito nenhum. As seguradoras rejeitam o risco porque se pegar fogo a perda será total. Mas existem métodos de gerenciamento de risco que podem reduzir a exposição às perdas, como a segmentação dos estoques em compartimentos. Se pegar fogo, a perda será parcial. RS: Em sua opinião, qual seria a alternativa para o problema dos riscos declináveis? O gerenciamento de riscos pode indicar várias alternativas, como criar cativas ou transferir ao seguro apenas os riscos maiores ou, ainda, adotar franquias altas. Nesse ponto, acho que as seguradoras e resseguradoras poderiam ser mais flexíveis, beneficiando as empresas que melhor gerenciassem seus riscos. RS: Com tantas novas atribuições e novos riscos para enfrentar, o gerente de risco tem formação adequada e espaço nas empresas para desenvolver carreira? Existe um grande gap no Brasil de mão de obra especializada na parte de gerenciamento de riscos e seguros. Faltam profissionais, principalmente, porque, às vezes, as empresas procuram aqueles que tenham experiência compatível com sua atividade, como engenheiro de prevenção de perdas ou especialistas em áreas especificas, como incêndio, mineração, siderurgia, petróleo, telecomunicações e outras. As empresas precisam de profissionais que conheçam o seu negócio e que, ao mesmo tempo, tenham formação em gerenciamento de riscos para fins de seguro. RS: E a formação nesta área é adequada? Creio que a maioria dos gerentes de riscos construiu seu aprendizado com a prática. Eu mesma comecei como estagiária e tive a sorte de ser efetivada dentro do departamento de seguros da empresa, no qual trabalhei como assistente e auxiliar de escritório, primeiramente no ramo de Transporte e depois no ramo de Vida, e fui aprendendo na prática. As associações internacionais também ajudam com informações e cursos, como é o caso da Risk and Insurance Management Society Inc. (RIMS) e da Associação Latino-Americana de Administradores de Riscos e Seguros (Alarys), esta última parceira da ABGR para concessão de certificação no País. Além disso, há muita literatura disponível sobre gerenciamento de riscos. RS: Qual o papel do seguro na política de gerenciamento de riscos das empresas? Na gestão de risco, o seguro é a última parte que devemos cuidar. O seguro é um instrumento para dar conforto financeiro, caso ocorram perdas depois de tudo o que gestor fez pra mitigar o risco. Mas o interesse de todos os gerentes de riscos é que o sinistro não aconteça, porque se acontecer causará a parada de produção e abrirá espaço para que o concorrente assuma sua fatia do mercado. RS: A regulamentação de alguns ramos ajuda neste processo? O acesso a novos produtos foi facilitado pela abertura do Resseguro, mas infelizmente muitos chegam ao mercado com modificações por conta da regulamentação. Isso ocorreu com o seguro de Responsabilidade Civil, com a extinção do seguro singular, e vai acontecer com o D&O, que em breve terá nova regulamentação. Esse engessamento dificulta o dia a dia do gestor de riscos. Acredito na necessidade de controle do órgão regulador sobre a empresa que vende o produto e sobre como está vendendo, mas não na forma do produto. Se no mercado internacional o Resseguro oferece cobertura para determinados produtos, por que aqui temos de fazer diferente? É preciso flexibilizar, deixar o mercado se acomodar sozinho. REVISTA DE SEGUROS • 07 cenário macroeconômico Para onde sopram os ventos da economia brasileira Por CEZAR FACCIOLI O principal obstáculo para o crescimento do setor é o agravamento do risco da economia, uma vez que os seguros não comportam mais mudanças radicais. A s transformações no Brasil promoveram um crescimento extremamente agressivo. O desafio, para este ano e os próximos, é manter esse ritmo. A avaliação é do presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi, que saúda o crescimento acelerado do mercado segurador, que se manteve acima de 10% nos últimos dez anos. Segundo ele, o mercado tem condições favoráveis e produtos com maior flexibilidade, capazes de se adaptar a diferentes segmentos, além da ampliação considerável dos potenciais consumidores de apólices de seguro, fruto do aumento de renda da população e das crescentes oportunidades de ascensão social que o Brasil apresenta. “Os brasileiros passaram a ter um patrimônio a defender, seja uma casa, um carro, uma pequena loja”, explica. As empresas, por sua vez, contam cada vez mais com os seguros como uma arma importante na atração e manutenção de profissionais qualificados. “Os benefícios desse tipo antes eram focados 08 • REVISTA DE SEGUROS em um grupo restrito de grandes empresas. Hoje, todas as grandes oferecem proteção – em Previdência, Saúde, Vida – e as pequenas e médias empresas entraram nesse universo”, conta. RISCO DA ECONOMIA O principal obstáculo para o crescimento do setor é o agravamento do risco da economia, uma vez que os seguros não comportam mais mudanças radicais. Rossi ressalta que o mercado segurador tem mantido uma interação frequente com o Governo, para frisar a necessidade de regras estáveis e diálogo permanente sobre eventuais alterações. “O Governo tem sido criterioso com o setor e mantém um diálogo aberto. Não esperamos para este ano nada muito diferente dos avanços alcançados nos últimos anos”, informa. Na questão regulatória, o avanço se traduz na montagem de um arcabouço legal compatível com o desenvolvimento do mercado e a ampliação das garantias aos beneficiários. No plano macroeconô- EFEITOS BENÉFICOS O otimismo do presidente da CNseg encontra respaldo na análise dos dirigentes dos principais segmentos de seguros no País. Osvaldo do Nascimento, presidente da FenaPrevi, espera um bom desempenho em 2014, em virtude do crescimento da renda média do brasileiro, que é a maior desde 2003. Ele também destaca o aumento do emprego formal, a alta do índice de intenção de consumo das famílias e os efeitos benéficos do Arquivo CNseg Arquivo CNseg mico, a estabilidade de preços tem norteado as ações do setor. “Inflação alta não combina com seguros. Estamos com a taxa relativamente controlada, o que é absolutamente essencial”, explica. Na avaliação do executivo, o momento relativamente favorável da economia faz florescer serviços inovadores em áreas antes contidas, como o seguro Rural e o seguro de Viagem, que experimentam um grande aumento de procura, o que deve ser mantido ao longo deste ano. O Governo tem sido criterioso com o setor e mantém um diálogo aberto. Não esperamos para este ano nada muito diferente dos avanços alcançados nos últimos anos. Mesmo com a economia crescendo mais lentamente, temos uma grande oportunidade para avançar substancialmente na formação de poupança de longo prazo. Marco Antonio Rossi Osvaldo do Nascimento bônus demográfico. “Mesmo com a economia crescendo mais lentamente, temos uma grande oportunidade para avançar substancialmente na formação de poupança de longo prazo e na contratação de produtos de proteção pessoal,” afirma. Os dados de Previdência Comple- mentar Aberta revelam a importância do setor. As reservas somam R$ 374,2 bilhões e, até o meio deste ano, o segmento deve chegar a R$ 400 bilhões em ativos administrados, o que mostra a preocupação do brasileiro com a constituição de poupança para o futuro. “No mercado de seguro de Pessoas, REVISTA DE SEGUROS • 09 Arquivo Bradesco Saúde cenário macroeconômico Não sou otimista nem pessimista, mas realista. Independentemente do cenário eleitoral e do quadro internacional, nada nos leva a prever grandes mudanças de fundamentos. Márcio Coriolano 10 • REVISTA DE SEGUROS o fenômeno se repete e estamos assistindo a uma conscientização maior dos indivíduos, o que se reflete num crescimento substancial das carteiras de seguros de Vida”, analisa. Para 2014, o objetivo da FenaPrevi é criar condições para manter o crescimento do mercado. Entre as prioridades estão a implementação do VGBL Saúde, para estimular a poupança para cobertura de gastos com tratamentos médicos na fase da aposentadoria, a criação do Universal Life, que conjuga seguro de Vida e formação de poupança de longo prazo, e o avanço na regulamentação do patrimônio de afetação dos planos de Previdência, aprimorando a blindagem dos planos. IMPACTO RELATIVO O cenário macroeconômico para este ano não desperta maiores preocupações, segundo o presidente da FenaSaúde, Márcio Coriolano. “Não sou otimista nem pessimista, mas realista. Independentemente do cenário eleitoral e do quadro internacional, nada nos leva a prever grandes mudanças de fundamentos”, avalia. Mesmo eventuais oscilações negativas de indicadores importantes teriam impacto relativo, em sua opinião. Ele cita, por exemplo, o aumento do desemprego em janeiro, que, ainda assim, foi a menor taxa para o mês em cinco anos. “Renda, emprego e produto: não há indício de maiores alterações, nada que sugira deterioração”, argumenta. Coriolano ressalta que, no caso dos planos e seguros de Saúde, mais do que em qualquer outro ramo, as variáveis macroeconômicas influenciam decisivamente, pois os contratantes, em sua maioria, são empresas de todos os tamanhos. “Até agora, o comportamento da indústria, do agronegócio e dos serviços é favorável. Se houver reversão, ficará difícil”, explica. As pequenas e médias empresas são o maior comprador de planos e seguros de Saúde. “Nas companhias de menor porte, o repasse é quase total para os beneficiários de cada plano, assim o que afeta mais a demanda é o rendimento das pessoas e das famílias”, explica. Na última década, o rendimento médio das famílias e a renda do trabalhador aumentaram significativamente, o que funcionou como combustível para que estas empresas contratassem planos por preço menor do que os contratos individuais. CONTROLE DA INFLAÇÃO Para a FenaCap, o principal desafio do País neste ano é manter a inflação sob controle e dentro da meta. “A manutenção de políticas públicas que estimulem a geração de novos empregos e a renda dos trabalhadores continua sendo um desafio importante para a economia brasileira, notadamente em um cenário externo conturbado com o atual”, analisa Marco Barros, presidente da FenaCap. Apesar das perspectivas de um crescimento do PIB relativamente fraco neste ano de 2014, o segmento de Capitalização está muito otimista e espera crescer 23% em faturamento. A expectativa é fruto SEGURO POPULAR No segmento de Seguros Gerais, o ano começou com uma boa notícia: a aprovação do Projeto de Lei 23/2011, que regulamentou a desmontagem de veículos no estado de São Paulo, que está levando outros estados a debater e propor mecanismos semelhantes. Na avaliação de Paulo Marraccini, presidente da FenSeg, a nova lei permitirá rastrear as peças automotivas e reduzir de modo expressivo o índice de roubos e furtos de veículos, uma vez que os desmanches ilegais são os principais destinos dos carros roubados. “A lei também nos dará condições para criar o seguro popular de Automóvel, inserindo no mercado uma grande parcela de veículos que hoje não tem a proteção do seguro”, prevê. O seguro Residencial, um dos que mais cresce hoje dentro do segmento, também é uma das apostas das empresas este ano. “A pene- Arquivo CNseg Arquivo CNseg da inovação que as sociedades de capitalização têm buscado e da exploração de nichos específicos de mercado, a exemplo dos títulos de Capitalização utilizados como garantia de aluguel, tanto comerciais quanto residenciais, em substituição à fiança de terceiros. Outra modalidade que vem experimentando um crescimento acentuado é a de Incentivo, voltada para o segmento corporativo, por meio da qual qualquer empresa pode realizar campanhas de fidelização e promoção de vendas. Em 2013, o faturamento global do setor atingiu R$ 20,9 bilhões, um avanço de 26,6% sobre o ano anterior. A manutenção de políticas públicas que estimulem a geração de empregos continua sendo um desafio importante para a economia brasileira, num cenário externo conturbado. A lei (de desmanche) também nos dará condições para criar o seguro popular de Automóvel, inserindo no mercado uma grande parcela de veículos que hoje não tem a proteção do seguro. Marco Barros Paulo Marraccini tração do seguro ainda é baixa, mas as pessoas já estão mais conscientes da necessidade de proteger um dos patrimônios mais desejados pelos brasileiros,” argumenta. Dois outros projetos estão na pauta da FenSeg: o lançamento de uma campanha de esclarecimento do seguro garantia, em parceria com a CNseg; e a proposta de criação de um convênio com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), para integrar as informações relativas a cargas transportadas nas rodovias nacionais e possibilitar a fiscalização. A FenSeg e a Central de Serviços da CNseg estão trabalhando juntas no desenvolvimento de um sistema de averbação eletrônica. REVISTA DE SEGUROS • 11 Resseguro O mercado brasileiro sete anos depois da abertura Por LARISSA MORAIS Volume de prêmios das 113 empresas nacionais e estrangeiras, no ano passado, foi 100% superior ao de seis anos antes. A no 2007: o mercado brasileiro de Resseguro depende da atuação de uma única empresa, o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), e acumula R$ 3,29 bilhões em prêmios. A falta de concorrência tem efeitos negativos sobre preços, diversidade de produtos e, ainda mais preocupante quando se trata de resseguro, sobre a pulverização de riscos. Ano 2013: 113 empresas nacionais e estrangeiras participam do mercado e acumulam prêmios de R$ 6,5 bilhões, um volume de negócios quase 100% superior ao de seis anos antes. “Ainda há o que avançar, mas o balanço desses primeiros anos de abertura é muito positivo”, avalia o presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Paulo Pereira. “A chegada de um grande número de empresas demonstra forte interesse do mercado internacional pelo País. Rapidamente nos tornamos bastante competitivos”, completa Pereira. A virada teve início com a Lei Complementar 126/2007, que entrou em vigor em 2008, decretando o fim do monopólio exercido pelo IRB (entidade governamental controlado pela União) durante 70 anos. Ainda naquele ano, dezenas de empresas entraram no 12 • REVISTA DE SEGUROS mercado e o prêmio de Resseguro passou a avançar cerca de 10% ao ano – acima tanto do Produto Interno Bruto (PIB) como do mercado de seguros. O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, Wady Cury, também tem hoje uma visão muito positiva do mercado, segundo ele, muito mais maduro. “Se o volume de negócios não cresceu na mesma proporção do número de novas empresas é porque a economia brasileira não se expandiu mais”, avalia. OUTRO LADO DA QUESTÃO A Copa e as Olimpíadas trouxeram boas oportunidades de negócios, mas num volume não muito significativo, na visão do representante da CNseg. Ao mesmo tempo, o governo não investiu o esperado em infraestrutura. Otimista, Cury gosta de olhar a questão pelo outro lado: “o País continua necessitando desses investimentos”. “Muitos projetos previstos foram diferidos, não anulados. E, quando forem feitos, movimentarão fortemente os mercados de seguros e resseguros”, completa Cury, referindo-se ao Programa de Aceleração ao Crescimento Arquivo CNseg A chegada de um grande número de empresas demonstra o forte interesse do mercado internacional pelo País. Rapidamente nos tornamos bastante competitivos. Paulo Pereira (PAC) do Governo Federal. Já Paulo Pereira, da Fenaber, lembra a importância dos investimentos que serão realizados no pré-sal brasileiro para o desenvolvimento do mercado nos próximos anos. Diogo Ornellas Geraldo, analista técnico da Superintendência de Seguros Privados (Susep), faz um balanço entusiasmado do período pós-abertura. “O mercado de resseguros vem experimentando forte crescimento e desenvolvimento. Fatores como a criação de novos produtos e serviços, aumento da oferta da capacidade de resseguros, além do desenvolvimento de um mercado local sólido e em franco crescimento, são os principais acontecimentos observados”, diz. Dados da Susep mostram que, das 113 resseguradoras que oferecem serviços no mercado brasileiro, 14 são locais (com sede e reservas no Brasil), 32 admitidas (estrangeiras, mas com representação no País) e 67 eventuais (sem escritório no País). A distribuição dos prêmios, no entanto, favorece as empresas locais. Em grandes números, 60% dos negócios são realizados por elas e 40% pelas admitidas e eventuais (sendo 30% para as primeiras e 5% para as que não têm representação no País). O IRB ainda detém uma parcela bastante significativa do mercado, 63% dos resseguros locais, segundo o último balanço publicado, de 2012. NOVOS ENTRANTES Tanto Cury quanto Pereira acreditam que as resseguradoras que tinham vontade de atuar no Brasil já estão por aqui. “Pode vir mais uma ou outra, mas não uma leva de empresas. Cerca de 90% da capacidade resseguradora do mundo já estão presentes no Brasil”, observa Cury. Pereira não descarta que, nos próximos anos, haja inclusive uma reacomodação, com a saída de empresas que não estão obtendo o retorno esperado. De acordo com Diogo Ornellas Geraldo, da Susep, o número de autorizações concedidas a resseguradoras vem diminuindo, o que demonstra uma nova fase do mercado, de estabilização no número de novos entrantes. “A saída de resseguradoras, embora não seja frequente, acontece. No entanto, o número de autorizações ainda supera o de cancelamentos”, analisa. O barateamento de coberturas foi uma conquista. Os mercados aeronáutico, de risco de operações de petróleo, de cascos marítimos e de riscos industriais são citados como exemplos REVISTA DE SEGUROS • 13 Divulgação BB Mafre Resseguro Se o volume de negócios (de Resseguro) não cresceu na mesma proporção do número de novas empresas é porque a economia brasileira não se expandiu mais. Wady Cury 14 • REVISTA DE SEGUROS dos que estão com preços menores, segundo Wady Cury. Paulo Pereira menciona o setor de Garantia. “A competição também traz inovação. Temos um leque de empresas com produtos altamente diversificados”, acrescenta o presidente da Fenaber. Como exemplo de novidade, ele cita um produto parametrizado que considera muito interessante para governos municipais e estaduais. Funciona assim: se determinados parâmetros pluviométricos ultrapassam um limite estipulado, por exemplo, o governo recebe um seguro, protegendo-se do gasto orçamentário excessivo quando há chuvas fortes. Wady Cury considera muito inovadora a criação de certos produtos complementares, como o de gestão de crise. “Um exemplo foi a explosão de um depósito de fertilizantes em Santa Catarina, cujo maior problema não era receber o seguro, mas lidar com a crise resultante do acidente. Hoje há um grande esforço do mercado para entender as necessidades dos clientes e auxiliá-los”, contou. “Há um maior intercâmbio internacional e, com ele, uma indução ao desenvolvimento, com assimilação de novas técnicas, produtos e serviços”, complementou o representante da CNseg. RETORNO FINANCEIRO Um desafio importante, na avaliação de Paulo Pereira, é melhorar o retorno financeiro das resseguradoras, que ainda é muito baixo, da ordem de 1,9%. O percentual adequado seria de 15%, segundo o presidente da Fenaber. Atualmente, as resseguradoras locais, juntas, têm um patrimônio líquido de R$ 4,9 bilhões. O percentual de contratos com resseguro é considerado relativamente baixo. Segundo Wady Cury, da CNseg, 5,6% a 5,7% dos prêmios de seguros são res- segurados, contra uma média de 6,2% a 6,5% do mercado internacional. A explicação para essa diferença, segundo o executivo, está no fato de o Brasil ser um País com poucos registros de catástrofes de grandes proporções. Sendo assim, quando acontecem enchentes ou deslizamentos, como os registrados em 2012 na Região Serrana do Rio de Janeiro e em 2010 em Niterói, poucas perdas estão protegidas. Enquanto nos Estados Unidos, de cada 100 catástrofes, 50 estão asseguradas, no Brasil o percentual não chega a 10%. Em relação ao risco de catástrofes, Ornellas Geraldo acredita que as resseguradoras têm condições de ajudar o País a enfrentar eventuais problemas. Ele conta que é muito comum essas empresas auxiliarem os clientes no desenvolvimento de estudos e ferramentas de gerenciamento de riscos voltados para o cenário de catástrofes. CONGRESSO BRASILEIRO As conquistas e necessidades do mercado brasileiro de resseguros serão abordadas no 3º Congresso Brasileiro de Resseguros, que será realizado nos dias 8 e 9 de abril, no hotel Sofitel, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg afirma que o congresso representa um momento relevante, de balanço e troca de experiências, que contribui para o desenvolvimento do mercado. Entre os temas mais concorridos estão Fraude e corrupção no ambiente de negócios; Riscos cibernéticos – percepção sobre perdas potenciais; Economia brasileira e perspectivas; Desafios da exploração de petróleo no Brasil; e Aspectos Jurídicos – novo Seguro Garantia. As inscrições podem ser feitas no site da CNseg. Educação financeira Campanha vai combater analfabetismo financeiro Por MARIA LUISA BARROS A sociedade será convidada a participar, em maio, da Semana Nacional de Educação Financeira, que promoverá atividades educativas em várias cidades. s eis em cada dez brasileiros estão endividados. Um universo à beira do vermelho formado por 9,1 milhões de famílias com contas a pagar no cartão crédito, no cheque especial, no carnê de loja, na prestação do carro e em financiamentos imobiliários. A constatação, feita com base na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio, revela outro dado preocupante: as dívidas já comprometem 30% do orçamento familiar e estão mais longas, com quase sete meses de débitos a vencer. Preocupados com o alto nível de endividamento e inadimplência de consumidores que, pela primeira vez, estão tendo maior acesso a crédito e facilidades na hora da compra, bancos, seguradoras, fundos de pensão e órgãos públicos estão se engajando em uma campanha nacional para tentar combater o analfabetismo financeiro da população. Todos os setores da sociedade estão 16 • REVISTA DE SEGUROS convidados a participar da Semana Nacional de Educação Financeira, de 5 a 9 de maio, instituída pelo Conselho Nacional de Educação Financeira (Conef), do qual a CNseg faz parte, junto com os seguintes órgãos e entidades públicas: Banco Central, Superintendência de Previdência Complementar (Previc), Susep, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), BM&FBovespa, Mercadorias e Futuros, e Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A cerimômia de abertura da semana acontece no dia 5 maio no hotel Windsor Atlântica, em Copacabana. ATIVIDADES EDUCATIVAS Durante a semana serão abordados temas das áreas de finanças pessoais, planejamento financeiro, investimentos, seguros, Previdência, Capitalização e direitos do consumidor. Além de promover atividades educativas em várias cidades do País, serão divulga- Arquivo CNseg Programa de Educação Financeira nas Escolas: formado por dois projetos – Ensino Médio e Fundamental – possui um projeto pedagógico e um conjunto de livros por níveis de ensino que oferecem ao aluno e ao professor, atividades educativas que permitem a inserção do tema na vida escolar CNseg faz seminário para levar ações do Conef à sociedade O objetivo é estimular as empresas a priorizarem a educação financeira como prática necessária ao desenvolvimento do mercado e de proteção ao consumidor. Maria Elena Bidino das as ações do Governo Federal que visam estimular a consciência financeira e previdenciária da população, com base nas diretrizes da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), política pública lançada em 2010, por meio do Decreto nº 7.397. O programa criado pelo Governo pretende ajudar as pessoas a lidar com dinheiro, incluindo temas relacionados à economia no cotidiano e na formação dos brasileiros, atingindo, sobretudo, os próprios agentes do sistema financeiro. “O objetivo é estimular as empresas Ao longo dos cinco dias da Semana Nacional de Educação Financeira (5 a 9 de maio) serão promovidos cursos, palestras, seminários, conferências, visitas, exposições, feiras, concursos, competições e campanhas – tudo inteiramente gratuito e aberto ao público. As atividades vão abordar temas nas áreas de finanças pessoais, planejamento financeiro, investimentos, seguros, previdência e direitos do consumidor. Uma das ações da CNseg na agenda oficial da Semana Enef é a realização do Seminário de Educação Financeira e Proteção do Consumidor de Seguros. O seminário será realizado nos dias 6 e 7 de maio, em São Paulo, terá como público-alvo consultores internacionais, entidades de proteção e defesa do consumidor, ouvidores, representantes da Susep e da Agência Nacional de Saúde (ANS), acadêmicos e empresas do setor de seguros e sociedade em geral. A CNseg vai promover ainda um ciclo de palestras sobre orçamento doméstico, taxas de juros, seguros, Previdência Complementar e Capitalização, para seus funcionários e colaboradores das quatro Federações, da Escola Nacional de Seguros e da Seguradora Líder dos Consórcios DPVAT. A programação completa desenvolvida pelos integrantes do comitê e pelos parceiros convidados já está disponível na página da iniciativa (www.semanaenef.gov.br). Através do portal, os participantes têm acesso a todos os eventos da agenda oficial, com indicações de locais, horários e inscrições das atividades. A agenda será atualizada até o dia 2 de maio, na medida em que novos eventos forem confirmados. Durante o período, não será permitido fazer propaganda, vender produtos e serviços financeiros ou cobrar por certificados de participação e fornecimento de conteúdo. As empresas e órgãos que não estiverem citados na programação também poderão promover ações à distância ou presenciais. A intenção do Comitê é garantir que haja um grande número de adesões ao esforço nacional de levar educação financeira a todos os brasileiros. Para criar uma iniciativa, é preciso acessar o site do evento, clicar no link “Orientações e Critérios”, em “Faça Parte”, e descobrir como compartilhar seu projeto. Escolas também estão convidadas a participar, por meio da promoção de atividades simples em salas de aula, como gincanas, palestras, jogos e seminários, que orientem os estudantes sobre temas como poupança, planejamento, orçamento, consumo consciente, entre outros. No portal, há uma área destinada às instituições educacionais com informações sobre como participar. REVISTA DE SEGUROS • 17 AEF Brasil Educação financeira Ao desenvolver projetos, as entidades contribuem para que a educação financeira chegue aos cidadãos, dando oportunidades igualitárias de tomada de decisão financeira. Silvia Morais a priorizarem a educação financeira como prática necessária ao desenvolvimento do mercado e de proteção ao consumidor. Só conhecendo os riscos das operações é que cada um terá condições de decidir o que é melhor para a sua vida”, acredita Maria Elena Bidino, superintendente de Relações com o Mercado, da CNseg. Na sua opinião, essa estratégia reflete uma tendência global, desencadeada após a crise internacional que assolou diversas economias mundo afora. “Esse é um problema mundial, não afeta apenas os brasileiros. Mesmo nos países com alto nível de educação, a população carece de conhecimento financeiro. No Brasil, cresce a consciência das empresas do setor de seguros da necessidade de empoderar o consumidor por meio de diferentes mecanismos de informação para que a compra de seguro, Previdência Privada e Capitalização realmente atenda às suas expectativas”, ressalta Bidino. Segundo ela, a agenda oficial da Semana Nacional de Educação Financeira estará disponível na página www.semanaenef.gov.br com as ações desenvolvidas pelos integrantes do Comitê e pelos parceiros convidados, como as empresas de seguro, entidades de Previdência Privada Aberta e sociedades de Capitalização que foram convidadas a integrar essa agenda. PROJETOS EXISTENTES A iniciativa da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), uma entidade sem fins lucrativos, liderada pela Enef, conta com a participação de oito órgãos de governo (ministérios e reguladores do sistema financeiro) e da sociedade civil, representada pelo setor financeiro. Além da 18 • REVISTA DE SEGUROS Semana Nacional, a AEF já começou a levantar informações detalhadas sobre os projetos existentes na área e a identificar as ferramentas educacionais já desenvolvidas por diferentes instituições (setores públicos, privados e da sociedade civil) à sociedade brasileira. Trata-se do 1º Mapeamento Nacional das Iniciativas de Educação Financeira com a proposta de promover e fomentar a cultura de educação financeira, sobretudo entre os brasileiros que não têm o hábito de poupar para os imprevistos que a vida reserva no futuro. O estudo pretende ainda ampliar o nível de compreensão do cidadão para efetuar escolhas conscientes relativas à administração de seu orçamento e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiro, de capitais, de seguros, de Previdência e de Capitalização. FORTALECENDO A CIDADANIA Silvia Morais, superintendente da AEF-Brasil, acredita que a entidade e o mercado de seguros têm muito a contribuir. “Ao desenvolver seus projetos, as empresas e órgãos públicos fazem com que a educação financeira chegue a todos os cidadãos, dando oportunidades igualitárias de tomada de decisão financeira autônoma e saudável, fortalecendo, portanto, a cidadania”, afirma ela. As iniciativas serão reunidas em um banco de dados que poderá ser consultado pela sociedade em geral no site www.vidaedinheiro.gov.br. Para participar, basta entrar no portal do Governo e responder a um questionário sobre as iniciativas implementadas na área. A ideia é que ação contribua para que organizações que atuam com esse segmento se conheçam e possam trocar experiências. Susep Rosane Bekierman Westenberger quer fomentar o desenvolvimento do setor VAGNER RICARDO A expertise no mercado de seguros é a principal credencial do novo titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Roberto Westenberger, empossado no dia 28 de março, para levar à frente a missão de acelerar o crescimento do mercado segurador, tornando-o mais proporcional ao tamanho da economia, a sétima maior do planeta. E, ao falar para uma plateia de 400 convidados, como os presidentes da CNseg, Marco Antonio Rossi; da FenaSaúde, Marcio Coriolano; FenSeg, Paulo Marraccini; FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento e FenaCap, Marco Barros - além da diretora-executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes, entre outras lideranças, ficou claro que ele não só aceitou o desafio apresentado pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, como também já escolheu as medidas para a marcha da forte evolução do setor. Entre outras, a valorização dos quadros da Susep; decisões em prol do interesse público; incentivo à capacitação dos profissionais de mercado e apoio à educação financeira dos consumidores. Também chama a atenção a guinada no perfil de atuação da autarquia. “A ideia é que a Susep tenha uma postura menos policialesca e assuma um papel mais ativo de fomentador do desenvolvimento do mercado”, declarou ele. Autoridade regulatória Westenberger explica que este novo posicionamento não significa que a Susep vá abrir mão de suas atribuições nas áreas de fiscalização, regulação e normatização, uma vez que a autarquia é a autoridade regulatória do setor de seguros. Mas, na busca pelo desenvolvimento do mercado, ele entende que ampliar a liberdade dos players será um passo estratégico. “Uma liberdade maior beneficia não só as seguradoras, ao incentivar iniciativas proativas e inovadoras, mas também os consumidores, que passam a ter a oferta de produtos ampliada e uma maior concorrência das empresas, dois fatores favoráveis ao segurados. Com uma maior oferta de produtos, os preços ficam mais competitivos”. Produtos inovadores Westenberger avalia que a presença de várias resseguradoras no País é uma precondição para o avanço de produtos inovadores. “O ressegurador, por vocação histórica, é um indutor do desenvolvimento de novos produtos”, afirma ele, para quem este nicho de mercado, após A ideia é que a Susep tenha uma postura menos policialesca e assuma um papel mais ativo de fomentador do desenvolvimento do mercado. Roberto Westenberger os primeiros anos de abertura do resseguro, ainda tem muitas contribuições importantes a dar para o crescimento sustentável do setor de seguros. O novo superintendente está convencido também de que a Susep precisa buscar para si uma atuação que adote os melhores e mais adequados padrões técnicos disponíveis no mercado mundial. Nesse sentido, defende uma interação internacional maior da autarquia como um passo importante para a atualização no campo regulatório. “Olhando de fora, a sensação que dá é de que a Susep hoje está um pouco dissociada das mais importantes ações desenvolvidas pela indústria mundial em termos regulatórios”, afirma. REVISTA DE SEGUROS • 19 Previdência E VIDA O dever de casa a ser feito num ano desafiador Por VAGNER RICARDO O VII Encontro Nacional FenaPrevi, realizado em fevereiro, discutiu os prováveis cenários macroeconômicos para o setor em 2014. Simone Nobre C O tema estará cada vez mais presente na agenda social e política do País, abrindo caminho para novas reformas e mais oportunidades para a indústria de Previdência Privada Aberta. Roberto Walker 20 • REVISTA DE SEGUROS om o objetivo de alinhavar os cenários macroeconômicos mais prováveis para o setor de Vida e de Previdência Privada, 220 executivos de seguradoras e de instituição de Previdência Privada participaram do VII Encontro Nacional FenaPrevi, na Praia do Forte, na Bahia, de 6 a 9 de fevereiro. Além de executivos, o governador da Bahia, Jaques Wagner, juristas e políticos prestigiaram um dos mais tradicionais eventos dos ramos de Vida e Previdência Privada do mercado. A pauta de debates incluiu a conjuntura econômica e política do País neste ano de sucessão presidencial; a apresentação de um sumário executivo da pesquisa encomendada pela FenaPrevi, que servirá para orientar o mercado de Vida e Previdência a crescer a partir de diretrizes emitidas pela entidade; e o cenário internacional – temas que afetam direta ou indiretamente a atividade. Mas, apesar das turbulências de longo prazo, o cenário para a Previdência é favorável. “O tema estará cada vez mais presente na agenda social e política do País, abrindo caminho para novas reformas e, em consequência, mais oportunidades para a indústria de Previdência Privada Aberta”, afirma o executivo Roberto Walker, presidente da Principal Internacional, sócia do Banco do Brasil na BrasilPrev. ESTÍMULOS MONETÁRIOS O economista José Roberto Mendonça de Barros enumerou os fatores que impactam no cenário atual do País: a redução dos estímulos monetários nos EUA; as fragilidades políticas e econômicas dos países emergentes; e o déficit na conta corrente brasileira. Para ele, o desequilíbrio macroeconômico pode ser provocado por um eventual rebaixamento do rating de crédito do País, manifestações populares e problemas na oferta de energia. Também presente ao encontro, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, lembrou que os fundamentos da economia brasileira continuam sólidos, diferentemente dos demais países emergentes, que enfrentam dificuldades no início deste ano, após a retirada gradual dos estímulos dos EUA. Entre os emergentes, o Brasil é um dos três que mais atraem investimen- Simone Nobre tos diretos estrangeiros (IED), na faixa de US$ 64 bilhões, superado só pela Rússia (US$ 94 bilhões) e China (US$ 199 bilhões). Além disso, o País tem baixa necessidade de financiamento externo: 0,5% do PIB, acrescentou. Segundo Holland, o crescimento trimestral do Brasil, na comparação com o mesmo período de anos anteriores, sobe consistentemente desde meados de 2012. “A partir deste ano, a perspectiva de recuperação da economia mundial abre mais espaço para a retomada do comércio mundial, permitindo a continuidade da política de consolidação fiscal, iniciada em meados do ano passado, após as ações adotadas a partir do auge da crise mundial, em 2008”, disse ele. ANO DESAFIADOR Para o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento, o ano será desafiador e o crescimento do PIB deve ficar abaixo de 2%. Apesar disso, ele está confiante no desempenho do segmento. “A renda média do brasileiro cresceu e é a maior desde 2003. Mesmo com a economia crescendo lentamente, temos uma grande oportunidade para avançar substancialmente na formação de poupança de longo prazo e na contratação de produtos de proteção pessoal”, afirmou, informando que as reservas devem alcançar R$ 400 bilhões em ativos administrados ainda no primeiro semestre. Os impactos do baixo crescimento podem ser diluídos na indústria de seguros, caso alguns dos projetos prioritários da FenaPrevi avancem, como o VGBL Saúde, que estimula a poupança para gastos com tratamentos médicos na fase de aposentadoria e a criação do Universal Life, que conjuga seguro de Vida e formação de poupança de longo prazo. “As discussões com o governo e órgão regulador estão avançadas e estes projetos deverão ser concretizados”, disse Nascimento. Homenagem a Trabuco Cappi Presidente da antiga Associação Nacional de Previdência Privada (Anapp) entre 1994 a 2000, Luiz Carlos Trabuco Cappi foi homenageado pela FenaPrevi durante o Encontro Nacional pela sua destacada atuação em prol do fortalecimento do seguro de Vida e Previdência no País. Sua ação direta na construção da Lei Complementar 109 foi lembrada pelo presidente da Comissão de Marketing da FenaPrevi, Oriovaldo Pereira Lima Filho, para quem a liderança de Trabuco Cappi trouxe paz e prosperidade ao mercado. Afastado do setor segurador desde março de 2009, após deixar o comando do grupo Bradesco Seguros para assumir a presidência do Banco, Cappi é uma das lideranças históricas mais admiradas pelo setor. Prova disso foi o grande número de presidentes de entidades e de seguradoras que compareceram à homenagem, entre eles, os presidentes da CNseg, Marco Antonio Rossi, da FenSeg, Paulo Marraccini, e da FenaCap, Marco Barros, além de Osvaldo do Nascimento. Emocionado, Trabuco Cappi destacou o potencial de crescimento da economia brasileira e do mercado segurador e ressaltou que o setor tem amadurecido antes que o País envelheça. “Minha visão do mercado de seguros é otimista, sobretudo nas áreas de Vida e Previdência. Por mais forte que o Estado seja, terá dificuldade de estender seu aparato de proteção ao cidadão na plenitude necessária “, destacou ao agradecer a deferência do mercado. REVISTA DE SEGUROS • 21 Fraudes A missão de proteger o seguro e o segurado Por VAGNER RICARDO Projeto Fronteira terá 163 novos pontos de monitoramento abertos nas cinco regiões do Brasil, até 2016. V Perkons SA árias ações adotadas pela CNseg no plano institucional, como o Projeto Fronteiras, o Disque Fraude em Seguros e o Sistema de Quantificação da Fraude (SQF), demonstram o esforço para blindar o mercado segurador contra fraudes e serão apresentadas na palestra do presidente da CNseg e da Fides, Marco Antonio Rossi, na XV Conferência sobre Regulação e Supervisão de Seguros na América Latina da Internacional Association of Insurance Surpevisors (IAIS), de 21 a 24 de abril, no Paraguai. A inclusão do tema deixa claro que o combate à fraude não figura como uma tarefa das mais fáceis 22 • REVISTA DE SEGUROS da indústria mundial de seguros, mas é uma das mais gratas. “Afinal, o combate à fraude não só beneficia o mercado, mas principalmente os segurados, que deixam de ter incorporados nos prêmios o custo gerado pela fraude”, lembra o superintendente da Central de Serviços e Proteção ao Seguro (Ceser) da CNseg, Paulo Kurpan. Perfis dos projetos O Projeto Fronteiras, uma parceria público-privada, foi criado em 2003 para, inicialmente, impedir que carros roubados e furtados ultrapassassem a fronteira, sobretudo os veículos segura- dos. Porém, na prática, tornou-se também uma importante ferramenta para identificar outras práticas criminosas. O projeto consiste na instalação de câmeras – que identificam placas e modelos dos veículos e remetem tais informações ao Datacenter (Centro de Dados) da Rede Infoseg em tempo real. Se houver alguma irregularidade, um alarme dispara após a leitura da placa, permitindo a abordagem dos policiais. Os alarmes disparados em 2013 (foram 18.960 alarmes) geraram 2.979 abordagens (15,7% do total) e resultaram em 1.867 apreensões (9,8%) e 203 recuperações (1,1%), dos quais 42 relacionados a veículos segurados (0,2%). Já o Sistema de Quantificação da Fraude (SQF) é uma pesquisa realizada anualmente entre as seguradoras e tem o objetivo de gerar indicadores padrões da ocorrência de fraude nas operações de seguros gerais e para cada um dos ramos. A última pesquisa realizada, referente ao ano de 2012, apontou que os sinistros com fortes indícios de fraude somaram R$ 2,17 bilhões, dos quais R$ 342 milhões tiveram a fraude comprovada. Outro grande aliado no combate às fraudes é a administração dos convênios firmados entre a Fenaseg e as operadoras do serviço de Disque Denúncia nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Por meio de denúncias anônimas, ajudam a identificar casos de fraude. Sustentabilidade Um diagnóstico do impacto das questões ASG Por CARMEN NERY Arquivo CNseg Objetivo é fornecer uma matriz de materialidade para o mercado e elaborar um plano de engajamento com seus diversos públicos. O trabalho surgiu de um pedido da Comissão de Sustentabilidade, que considerou importante ter um diagnóstico das informações levantadas junto a executivos das empresas, reguladores e principais contratantes de seguros. Solange Beatriz A té meados deste ano, o mercado segurador contará com uma matriz de materialidade de sustentabilidade e um plano de engajamento da indústria com seus stakeholders. O projeto – fruto de convênio firmado entre a CNseg e a Resultante Consultoria Estratégica – tem por objetivo fazer um diagnóstico das questões ambientais, sociais e de governança que impactem de forma mais relevantes as operações da indústria de seguros e promover a interseção com os quatro princípios de sustentabilidade do setor. 24 • REVISTA DE SEGUROS O trabalho começou a ser articulado em meados do ano passado, e a consultoria foi contratada em janeiro deste ano. A expectativa é de que o programa abranja todo o mercado segurador e que traga informações relevantes também para as empresas. “Esse é o papel da CNseg. O trabalho surgiu de um pedido da Comissão de Sustentabilidade, que considerou importante ter esse diagnóstico a partir de informações levantadas junto a executivos das empresas, reguladores e principais contratantes de seguros. Diagnóstico interno As entrevistas visam, primeiramente, à elaboração de um diagnóstico interno. Na primeira fase, foram entrevistados diretores e superintendentes da CNseg e de suas quatro Federações associativas (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap). Os agentes externos também serão ouvidos por meio de entrevistas com representantes da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS), entre outros agentes do mercado. As entrevistas foram realizadas por dois consultores da Resultante Consultoria Estratégica: a economista Maria Eugênia Buosi e o advogado Rafael Antonelli Marcos, ambos com especialização em ações de sustentabilidade. Maria Eugênia explica que a matriz de materialidade é um conjunto de temas que precisam ser tratados pela indústria no que diz respeito às questões ambientais, sociais e de governança que impactam suas operações. “As entrevistas procuraram identificar como a indústria (neste caso, de seguros) está organizada e como o tema da sustentabilidade está sendo tratado internamente. Nosso objetivo é mapear como a CNseg pode trabalhar esses temas junto a todos os agentes”, informa a economista. Segundo Maria Eugênia, é preciso compreender, em primeiro lugar, como as questões de sustentabilidade se inserem na indústria brasileira de seguros. O objetivo é ter uma ampla compreensão do que é relevante para o setor tratar em Arquivo CNseg Os resultados serão apresentados ao Conselho Diretor, junto a uma proposta de divulgação”, afirmou Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora-executiva da Confederação. As entrevistas procuraram identificar como a indústria está organizada e como o tema da sustentabilidade está sendo tratado internamente. Nosso objetivo é mapear como a CNseg pode trabalhar esses temas junto a todos os agentes. Maria Eugênia relação às questões de sustentabilidade e também dentro de suas relações com uma cadeia enorme de stakeholders. Mitigação de riscos A expectativa é de que a proatividade pode ser uma oportunidade para se mitigarem futuros riscos e se obter maior compliance em relação à legislação. A indústria de seguros tem muitas particularidades, e, em consequência, a aderência à sustentabilidade deve levar em conta o porte e o ramo de atuação das seguradoras. Maria Eugênia explica que, na segunda fase – prevista para ocorrer por volta de abril –, serão realizados dois eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo. A economista adianta que será realizado um fórum de stakeholders, para que sejam debatidos e conhecidos a demandas e os temas importantes para as empresas, do qual poderão participar representantes das companhias, membros de associações e outros agentes. “O tema da sustentabilidade está cada vez mais presente em diversas atividades, incluindo a de seguros. Nós entendemos que a sustentabilidade precisa ser integrada à operação das empresas e ao seu planejamento estratégico, e não ser tratada apenas por meio de um planejamento isolado”, observa Maria Eugênia. Ela explica que todo o trabalho de elaboração da matriz de materialidade de sustentabilidade e do plano de engajamento da indústria com seus stakeholders será norteado por quatro direcionadores: o planejamento estratégico da CNseg, a legislação nacional e suas tendências, o Protocolo de Intenções firmado entre o Ministério do Meio Ambiente, a Confederação Nacional das Seguradoras e o Sindicato das Seguradoras, e os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), desenvolvidos pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI). “Em maio, a matriz de materialidade será colocada em consulta pública, e as contribuições serão consolidadas e entregues à CNseg, assim como o plano de engajamento. Os primeiros resultados ocorrerão ainda este ano”, conclui a economista. REVISTA DE SEGUROS • 25 SAúde suplementar SEGMENTO MANTEVE DESEMPENHO POSITIVO NO ANO PASSADO Por JOÃO MAURÍCIO RODRIGUES Até setembro, a receita das operadoras ativas foi de R$ 81,6 bilhões, dos quais 82,7% foram gastos com assistência à saúde e 17,3%, com despesas administrativas, comercialização e impostos. o 26 • REVISTA DE SEGUROS Mais bem informados e cientes de seus direitos, os consumidores encontraram no órgão regulador o principal canal para esclarecimento de dúvidas e reclamações. Divulgação ANS ano de 2013 foi muito positivo para o setor de planos de Saúde, com ganhos expressivos para os beneficiários, na avaliação do diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), André Longo. O dirigente adiantou os números gerais do movimento do setor referentes ao ano passado, encerrado com 50,2 milhões de consumidores de planos de assistência médica, um crescimento de 4,6% em relação ao ano anterior. “Nos planos exclusivamente odontológicos, chegamos aos 20,7 milhões de consumidores, 8,2% acima do registrado em 2012”, informa. Os dados completos serão divulgados oficialmente no início de abril através do Caderno de Informação da Saúde Suplementar. Os dados gráficos apresentados nesta reportagem são referentes a setembro de 2013 e constam no relatório de dezembro. André Longo explica que o terceiro trimestre de 2013 marcou uma ligeira recuperação do crescimento do mercado de Saúde Suplementar. O número de beneficiários chegou a 49 milhões de vínculos nos planos de as- sistência médica e a 19,5 milhões nos exclusivamente odontológicos. Até setembro, estes beneficiários proporcionaram às operadoras ativas uma receita de R$ 79,9 bilhões, dos quais R$ 66,1 bilhões (82,7%) foram gastos com assistência à saúde. “Mais bem informados e cientes de seus direitos, os consumidores encontraram no órgão regulador o principal André Longo canal para esclarecimento de dúvidas e para registro de reclamações sobre os planos”, explica. MODELO DE FISCALIZAÇÃO O dirigente lembra que ao longo de 2014 a Agência reforçará o compromisso com a agenda regulatória em curso, implementando projetos muito importantes, como o novo modelo de Foi um ano muito positivo (2013), mesmo com a diminuição do ritmo de crescimento do País. O aumento do número de beneficiários foi mais do dobro do crescimento econômico. José Cechin fiscalização e de análise coletiva de processos e o incentivo à qualificação dos prestadores de serviços de saúde. “Também investiremos na divulgação dos atributos que diferenciam, por exemplo, um hospital de outros, oferecendo maior gama de informações ao consumidor. Dessa forma e estimulando a participação de toda a sociedade no processo regulatório, continuaremos visando à construção de um setor com mais equilíbrio das relações entre consumidores, operadoras e prestadores de serviços de saúde”. ASPECTO REGULATÓRIO Na opinião do diretor-executivo da FenaSaúde, José Cechin, 2013 foi um ano de turbulência no aspecto regulatório e em outros, diferentemente de 2010, um ‘ano espetacular’, na sua avaliação, entre outras coisas. “Mas foi um ano muito positivo, mesmo com a diminuição do ritmo de crescimento do País. Houve um desempenho notável no número de beneficiários, que teve um aumento de 4,6%, bem maior do que o do PIB, embora menor que a média histórica que ficou em torno de 5,5%. Nota-se também crescimento Raio X do mercado de Saúde Suplementar (Fonte: ANS / setembro 2013) Número de Usuários Mercado de assistência médica: 49.033 FenaSaúde*: 14.211 Mercado de assistência odontológica: 19.532 FenaSaúde*: 11.214 *São associados da FenaSaúde 17 grupos empresariais, incluindo seguradoras e operadoras de planos Tipo de contratação Mercado de assistência médica > Coletivo: 38.574* Empresarial: 32.025 Adesão: 6.531 > Individual: 9.853 Mercado da FenaSaúde médica > Coletivo: 12.270* Empresarial: 11.131 Adesão: 1.136 > Individual: 1.766 Mercado de assistência odontológica > Coletivo: 15.986* Empresarial: 13.979 Adesão: 1.893 > Individual: 3.451 Mercado da FenaSaúde > Coletivo: 9.820 Empresarial: 9.184 Adesão: 636 > Individual: 1.389 Mercado de operadoras Número de operadoras: 1.269 Medicina de Grupo: 322 Cooperativa médica: 320 Seguradora especializada em Saúde: 12 Autogestão: 190 Filantropia: 81 Odontologia de Grupo: 228 FenaSaúde (operadoras associadas): 31 Número de Procedimentos 300 milhões de consultas médicas 550 milhões de exames complementares 60 milhões de outros atendimentos ambulatoriais 7,2 milhões de internações (*) inclui os beneficiários de planos identificados como “coletivo não identificado” e “não informado” mais expressivo nas regiões com menor penetração de planos médicos”, analisa. Segundo o diretor-executivo, as pesquisas demonstram que as pessoas que desejam ter um plano de saúde continuam tendo acesso a eles, o número de beneficiários cresceu mais que a população e, em certa medida, acompanhou o crescimento do pleno emprego formal. “Nossa perspectiva é de que esse cenário irá se repetir em 2014. Neste momento a onda não está sendo muito otimista, mas no mínimo deveremos manter os mesmos resultados do ano passado”. REVISTA DE SEGUROS • 27 Vida Projeto de lei viabiliza VGBL Saúde Por CARMEN NERY Arquivo CNseg Texto de autoria do deputado Armando Vergilio estabelece pilares do produto e pode facilitar sua aprovação no Congresso. Pretendemos alterar essa situação (atual) e estimular o empregador a contribuir, total ou parcialmente, para o custeio desses seguros. Armando Vergilio 28 • REVISTA DE SEGUROS A aguardada regulamentação do VGBL Saúde ganhou força no Congresso Nacional com a apresentação do Projeto de Lei nº 7052/2014, estabelecendo os pilares do produto. O projeto foi elaborado pelo deputado Armando Vergilio (SDD-GO), superintendente da Susep na época em que as linhas gerais do VGBL Saúde foram estruturadas, na segunda metade da década passada. “O projeto objetiva viabilizar, sob o aspecto fiscal, a estruturação de seguros de Vida com cláusula de cobertura por sobrevivência, incluindo os que contarão com isenção tributária sobre rendimentos obtidos, quando os recursos forem destinados ao pagamento de despesa relacionada à contraprestação de plano privado de assistência à Saúde ou de seguro Saúde”, explica o parlamentar, que é também presidente da Fenacor. Na sua avaliação, a aprovação da proposta é fundamental, pois permitirá que as contribuições pagas por empresas para custear programas de caráter previdenciário (estruturados sob a forma de planos de seguros de Vida, com cobertura por sobrevivên- cia, em favor dos seus empregados e dirigentes, incluindo o VGBL Saúde) não sejam mais consideradas integrantes da remuneração dos beneficiários para efeitos trabalhistas, previdenciários e de contribuição sindical, nem integrem a base de cálculo para as contribuições do FGTS. TRATAMENTO FISCAL Armando Vergilio lembra que, atualmente, os empregadores são desestimulados de participar do custeio, total ou parcial, de planos de seguros com cobertura por sobrevivência em favor de seus empregados e dirigentes, pois essas contribuições não têm tratamento fiscal equalizado ao das contribuições vertidas para o custeio de planos de benefícios de Previdência Privada. “Pretendemos alterar essa situação e estimular o empregador a contribuir, total ou parcialmente, para o custeio desses seguros. Assim, ele estará ajudando seus empregados e dirigentes de renda mais baixa a acumular recursos para o futuro, de forma fiscal adequada, visando à manutenção do plano ou do seguro Saúde, principalmente quando não contarem mais com o plano oferecido pela empresa, e fico do País – com mais pessoas em idade economicamente ativa e emà complementação de sua aposentapregadas – e incentivar a população doria”, observa o deputado. a acumular recursos para a aposenNo entendimento do parlamentar, tal tadoria e ter condições de enfrentar o proposta não acarretará em renúncia pagamento das fiscal, uma vez contraprestações que não existem necessárias à seguros de Vida manutenção de com cobertura O texto ainda planos ou segupor sobrevivência, autoriza a ros de Saúde. cujo custeio seja Receita Federal “Certamente os feito com contria baixar normas valores serão buições de empreagravados, não sas em favor de complementares, só em razão da seus empregainclusive para idade elevada, dos e dirigentes. fiscalizar mas também Dessa maneira, a correta do constana arrecadação é destinação dos te aumento nula, de qualquer dos custos de forma. recursos que procedimentos O projeto assegucontarem com a médico-hospitara que o montante isenção fiscal. lares, sempre em das contribuiníveis superiores ções pagas pelo aos dos índices empregador será inflacionários e considerado como de reposição dos proventos do benerendimento sujeito à tributação pelo fício de aposentadoria concedido pela Imposto de Renda Pessoa Física, quanprevidência oficial”, afirma Vergilio. do os recursos forem utilizados pelo É preciso levar em conta ainda, na beneficiário – tanto por meio de resgates, como de recebimento de benefício opinião do parlamentar, que a maior parte das pessoas, quando perdem – para fins diferentes daquele previsto o vínculo empregatício ou se apopara obtenção da isenção do imposto sentam, é desligada do plano ou do de renda, ou seja, o pagamento de seguro Saúde até então custeado despesa relacionada à contraprestapelo empregador. Como um plano ção de plano privado de assistência à individual tem custo muito elevado, a Saúde ou de prêmio de seguro Saúde. maioria das operadoras e seguradoras é levada a direcionar o foco de sua BÔNUS DEMOGRÁFICO atuação para os planos coletivos. “A É importante ressaltar ainda as muconsequência é extremamente negadanças demográficas experimentadas pela população brasileira, com tendên- tiva, pois essa massa de brasileiros, já fragilizada financeiramente, fica privada cia ao rápido envelhecimento e ao autambém de contar com mais eficiente mento da expectativa de vida. Dessa atendimento de serviços à saúde”, forma, é preciso aproveitar ao máximo argumenta. o potencial do atual bônus demográ- Garantia de um futuro tranquilo O VGBL Saúde, da forma como foi concebido, permitindo a isenção no Imposto de Renda de Pessoas Físicas sobre os rendimentos obtidos, poderá oferecer ao cidadão comum a possibilidade de acumular recursos, também com o auxílio de seu empregador, destinados a cobrir despesas com contraprestações de planos e seguros de Saúde, na aposentadoria ou em caso de desemprego. O mercado já manifestou total apoio ao projeto. Segundo o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento, a proposta se caracteriza pelo alto nível de transparência e de acesso às informações viabilizados pelo produto e sua comercialização por diversos canais de distribuição. “O VGBL Saúde permitirá aportes da pessoa física de qualquer valor e a qualquer tempo, de acordo com a capacidade financeira e de formação de poupança do interessado, e tem a facilidade de ser estruturado sob a forma individual e empresarial”, afirma. O produto irá auxiliar os contribuintes a arcarem com despesas relacionadas à manutenção de planos e seguros de Saúde, inclusive, na aposentadoria, momento em que a renda costuma diminuir e as despesas médicas, aumentarem. “Após os 65 anos de idade se concentram os maiores gastos com saúde. Daí a importância da aprovação do VGBL Saúde”, diz o presidente da FenaPrevi. REVISTA DE SEGUROS • 29 Riscos globais Disparidade entre ricos e pobres é a maior ameaça Por BIANCA ROCHA Relatório Riscos Globais 2014 aponta 31 riscos suscetíveis de causar consequências negativas em países e indústrias do mundo inteiro. D esigualdades sociais e de renda, fenômenos meteorológicos extremos, mudanças climáticas, crise de fornecimento de água e ataques cibernéticos. Esses foram alguns pontos abordados no relatório Riscos Globais 2014, divulgado no Fórum Econômico Mundial, em janeiro. Elaborado por 700 especialistas da Marsh & McLennan Companies, da Swiss Re, do Zurich Insurance Group e das universidades de Oxford, de Cingapura e da Pensilvânia, o documento analisa, com uma perspectiva de 10 anos, 31 riscos suscetíveis de causar consequências negativas em países e indústrias do mundo inteiro. Os riscos foram classificados em cinco categorias – econômica, ambiental, geopolítica, social e tecnológica – e avaliados de acordo com a probabilidade e potencial de impacto. De todas as ameaças apontadas, o relatório cita a disparidade crônica de renda entre cidadãos ricos e pobres como a maior ameaça para o mundo na próxima década. BASE DE PLANEJAMENTO Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas 30 • REVISTA DE SEGUROS (Unicamp), Célio Hiratuka, o relatório fornece bases para um planejamento estratégico mais eficiente de empresas, principalmente as do setor de seguros. Neste mercado, afirma o especialista, a maturidade na gestão de riscos e o desempenho financeiro das companhias estão diretamente interligados. “O documento publicado no Fórum Econômico Mundial garante aos empresários conhecimentos necessários à criação de mecanismos de proteção em relação aos riscos analisados. Tratase, portanto de uma importante base para que organizações saibam calcular os possíveis prejuízos frente a grandes crises”, comenta Hiratuka. No entanto, afirma o professor, apesar de merecer devida atenção, o relatório não apresenta ameaças concretas à operação das seguradoras. Segundo ele, são previsões e tendências que podem causar grandes impactos ou não. “O levantamento tem a sua importância, pois reúne um conjunto amplo e complexo de pontos que devem ser analisados e avaliados por especialistas. Entretanto, em minha opinião, é complicado ter a extrema certeza do que irá acontecer daqui a O documento garante conhecimentos necessários à criação de mecanismos de proteção em relação aos riscos analisados. É uma importante base para se calcular os possíveis prejuízos frente a grandes crises. Célio Hiratuka 10 anos. Diversos riscos apontados no documento dependem da ação de diferentes agentes, como a natureza em relação aos fenômenos meteorológicos, e o Estado, principal responsável pelas políticas sociais”, explica. Banco de Imagens free via Google Estudos sobre riscos específicos FANTASMAS DA CRISE A crise financeira mundial, iniciada em 2008, está diretamente relacionada aos resultados do relatório Riscos Globais 2014, afirma Hiratuka. O fato de a desigualdade social ter sido citada como a principal ameaça da próxima década é um reflexo das políticas adotadas pelos EUA e por países da Europa para socorrer o setor financeiro, que entrou em colapso na época. “O Estado se endividou para conter o avanço da crise financeira, o que acabou causando impactos no campo social. Para garantir a ajuda aos bancos e às empresas, diversos países tiveram que cortar benefícios sociais da população, contribuindo para o aumento do desemprego e das desigualdades”, pontua. O professor avalia, entretanto, que o Brasil está um pouco à margem deste cenário. A tendência que se viu nos últimos anos foi a redução das desigualdades sociais e da pobreza no País, resultado das políticas sociais adotadas pelo Governo Federal. De acordo com estudos divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), houve diminuição considerável das diferenças sociais entre 2001 e 2012, apesar de o País ainda figurar na lista dos mais desiguais do mundo. “Tivemos um avanço nessa área e a expectativa é que a queda dos índices de desigualdade continue. Por isso, talvez esse risco, apontado como principal pelo relatório, possa ter um peso um pouco menor no Brasil. No entanto, a vulnerabilidade da economia, que cresce abaixo das perspectivas, pode ser um motivo maior de preocupação. Com relação às mudanças climáticas, o nosso País tem períodos comuns de enchentes e secas. São catástrofes que devem ser fundamentalmente avaliadas”, conclui Hiratuka. Além de medir a gravidade, a probabilidade e o impacto potencial de 31 ameaças potenciais, o relatório Riscos Globais 2014 inclui pesquisas especiais sobre três casos específicos: o risco crescente de um ‘Armageddon cibernético’ no mundo online; a complexidade crescente do risco geopolítico devido a uma distribuição multipolarizada de poderes e influências; e o desemprego e subemprego dos jovens. De acordo com o documento, foi constatado que mais de 50% dos jovens em certos mercados desenvolvidos estão à procura de trabalho ao passo que o emprego informal aumenta nas regiões em desenvolvimento. Com relação à informática, o relatório afirma que há uma forte dependência da internet para realizar tarefas essenciais e o aumento exponencial de aparelhos tecnológicos contribuem para o risco de uma pane – em uma proporção capaz de destruir sistemas ou até a sociedade. “As últimas revelações sobre a vigilância exercida pelos governos contribuíram para uma redução da força de vontade da comunidade internacional de cooperar com modelos de governança cujo objetivo seja ressaltar este ponto fraco”, reforça o documento. REVISTA DE SEGUROS • 31 marco civil Uma lei específica para a internet Por VANIA MEZZONATO Câmara aprova projeto que garante neutralidade da web, liberdade de expressão e privacidade dos usuários. A Gustavo Lima/Câmara pontado pela presidente Dilma Rousseff como uma ferramenta legal fundamental para livrar o Brasil da ciberespionagem estrangeira, o Marco Civil da Internet foi aprovado no dia 25 de março pela Câmara dos Deputados, por votação simbólica, após meses de intensas negociações. O relator do projeto foi o deputado petista Alessandro Molon, do Rio de Janeiro. O texto aprovado, que vai agora à votação no Senado Federal, impacta todos os segmentos da economia brasileira. Considerado uma espécie de constituição da rede mundial de computadores, o projeto não permite a violação das comunicações dos usuários da internet, e os provedores de acesso serão obrigados a guardar os registros das horas de acesso e do fim da conexão dos usuários pelo prazo de seis meses. A responsabilidade por esse controle não deverá ser delegada a outras empresas. 32 • REVISTA DE SEGUROS REGISTRO DE PÁGINAS O Marco Civil da Internet não autoriza o registro das páginas e do conteúdo acessado pelo internauta. A coleta, o uso e o armazenamento de dados pessoais pelas empresas só poderão ocorrer desde que especificados nos contratos e caso não sejam vedados pela legislação. Ainda que a empresa não faça coleta ou armazenamento de dados no País, se a companhia tiver uma subsidiária no Brasil deverá respeitar a legislação brasileira, com direito à privacidade e sigilo de dados pessoais. “Provedores de acesso e aplicações não poderão ceder dados a terceiros sem que os usuários permitam, o que inviabiliza uma série de práticas”, explicou o relator no dia da aprovação, referindo-se ao monitoramento dos Estados Unidos. O trecho sobre o armazenamento de dados era uma das principais demandas da Presidência da República. Um dos pilares do projeto, a neutralidade de rede sofreu algumas alterações no texto original, mas foi mantido. Por esse princípio, os provedores não podem ofertar conexões diferenciadas, por exemplo, para acesso somente a e-mails, vídeos ou redes sociais. É uma Gustavo Lima/Câmara Plenário da Câmara: uma faixa de apoio ao projeto é estendida na galeria durante a votação da lei que é considerada a constituição da rede medida popular para os usuários, contestada pelas grandes empresas de telefonia, que gostariam de comercializar pacotes de acordo com o nível de consumo do usuário. MARKETING DIRIGIDO O texto aprovado prevê também o fim do marketing dirigido – as empresas de acesso não poderão espionar o conteúdo das informações trocadas pelos usuários na rede. Há interesse em fazer isso com fins comerciais (publicidade, por exemplo) nos moldes do que Facebook e Google fazem para Armazenamento de dados Apesar de não haver consenso sobre uma nova legislação para a internet, o projeto passou a ser prioridade para a presidente Dilma Rousseff depois que veio à tona a informação de que os Estados Unidos espionaram a chefe do Executivo e seus assistentes, além da Petrobras. O monitoramento de brasileiros enviar anúncios aos seus usuários de acordo com as mensagens que trocam. Será proibido monitorar, filtrar, analisar ou fiscalizar o conteúdo dos pacotes, salvo em hipóteses previstas por lei. Outro ponto abordado pelo projeto determina que os provedores sejam responsabilizados por conteúdo de terceiros apenas se ignorarem decisões judiciais de retirá-lo do ar. Os conteúdos pornográficos devem ser tratados de forma diferenciada: a página que disponibilizar imagens ou vídeos que violem a intimidade de terceiros, sem autorização das na web seria feito por agências de espionagem norte-americanas. O relator na Câmara do projeto que cria o Marco Civil da Internet, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), decidiu não incluir no texto, que foi à votação no plenário da Câmara, a obrigatoriedade de manter no Brasil datacenters para armazenagem e gerenciamento de dados de usuários em território nacional. Em pessoas envolvidas, também será responsabilizada pela violação. O homem tido como criador da Web, Tim Berners-Lee, divulgou na véspera da aprovação do projeto pela Câmara um comunicado apoiando o Marco Civil da Internet no Brasil, segundo a World Wide Web Foundation. “Espero que com a aprovação desta lei, o Brasil solidifique sua reputação como um líder mundial na democracia e no progresso social, e ajude a inaugurar uma nova era, em que os direitos dos cidadãos em todos os países ao redor do mundo sejam protegidos por leis de direitos digitais.” contrapartida, o texto possibilita que o Executivo edite decreto estabelecendo a obrigatoriedade. Os provedores de conexão à internet serão proibidos de armazenar registros que permitam saber quais sites foram acessados pelos usuários e quando. Provedores de aplicação podem guardar tais dados desde que não repassem as informações a terceiros. REVISTA DE SEGUROS • 33 artigo Como nasceu a CNseg Arquivo CNseg Por Luiz Tavares Pereira Filho As exigências ainda pendentes do processo de redefinição da representação sindical e associativa das empresas do mercado segurador. Luiz Tavares Pereira Filho é vice-presidente executivo da Fenaseg I niciado em 2006, acha-se em fase final o projeto de redefinição da representação sindical e associativa das empresas de Seguro, Resseguro, Previdência Complementar Aberta e de Capitalização (doravante referidas como empresas do mercado segurador). O projeto, executado com sucesso, demanda ainda a adoção de certas providências de ajuste, aprovadas pela diretoria da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) e Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg) no início do atual mandato. Na verdade, chegou-se, naturalmente, ao modelo que parece ser o ideal, em parte diferente daquele que foi inicialmente imaginado, com a vantagem de apresentar-se mais enxuto e, por isso mesmo, mais funcional. Com efeito, o modelo vigente de representação das empresas atende às finalidades a que se queria alcançar com a formulação inicial, quais sejam: 34 • REVISTA DE SEGUROS (i) desdobramento da representação então concentrada na Fenaseg em novas federações, com vistas a tratar de forma especializada os diferentes segmentos de mercado; (ii) criação de um órgão superior, em nível de confederação, para coordenar as novas federações, e com legitimação para questionar, junto ao Supremo Tribunal Federal, a constitucionalidade de leis por meio das correspondentes ações judiciais (ADINs); (iii)unificação da representação da Previdência Complementar Aberta, antes dividida entre a Fenaseg e a Associação Nacional das Empresas de Previdência Privada (Anapp) e respectivos sindicatos. PROBLEMAS NA IMPLEMENTAÇÃO Anteriormente, a representação das empresas do mercado segurador era limitada à sua dimensão sindical, apresentando uma configuração bem simples: os oito sindicatos regionais das seguradoras constituíam a federação sindical (Fenaseg), ESTRUTURA SINDICAL (NÃO IMPLANTADA) CONFEDERAÇÃO SINDICAL que posteriormente filiou-se a uma confederação também sindical, a Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif). Já a representação da Previdência Complementar Aberta mostrava-se redundante: a Fenaseg e os respectivos sindicatos conviviam com a Anapp e outros cinco sindicatos regionais específicos do segmento. O ambicioso projeto de reformulação elaborado em 2006 estabelecia duas estruturas “espelho” de representação das empresas de Seguro, Resseguros, Previdência Complementar Aberta e Capitalização, tal como exibido no diagrama ao lado. Aprovado o modelo, as medidas necessárias à sua implementação tiveram início imediato pela Fenaseg. Foram constituídas quatro federações associativas – as “Fenas” – e, em seguida, criada a confederação associativa, a atual CNseg. Conseguiu-se também realizar a transformação da Anapp em Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), assim como dissolver os sindicatos regionais do segmento. Restou apenas um deles, o Sindepp Rio de Janeiro, que se transformou no Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar (Sinapp), com abrangência nacional. Essa parte do projeto acabou por ser inteiramente estruturada, com êxito, e encontra-se em pleno funcionamento. FEBRAPREVI FEBRASAÚDE SINAPP FEBRACAP FEBRASEG FENASEG SINDICATOS REGIONAIS (OITO) EMPRESAS ASSOCIADAS ESTRUTURA ASSOCIATIVA (INTEIRAMENTE IMPLANTADA) CNSEG FENAPREVI FENASAÚDE FeNACAP FENSEG EMPRESAS ASSOCIADAS REVISTA DE SEGUROS • 35 artigo Infelizmente (ou felizmente como se verá depois), a parte concernente à estrutura sindical não obteve aprovação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Entendia a Fenaseg, com base em pareceres jurídicos externos, que um mesmo MODELO DE REPRESENTAÇÃO Feitos os ajustes indicados, o modelo da representação sindical do mercado ficou da seguinte forma: ESTRUTURA SINDICAL consif FEnaseg SINAPP federação 2 federação 3 federação 4 SINDICATOS REGIONAIS (OITO) EMPRESAS ASSOCIADAS Como pode ser observado, sem maiores alterações na estrutura sindical, atingiu-se com o atual modelo de representação os três objetivos antes mencionados. De fato, aliou-se a especialização dos segmentos, obtida por meio das quatro novas Federações associativas, à sinergia proporcionada com a atuação da CNseg, verdadeiro órgão de representação nacional do mercado segurador. 36 • REVISTA DE SEGUROS sindicato poderia filiar-se a mais de uma federação, o que facilitaria o atendimento à regra segundo a qual uma federação sindical deve ser formada por, no mínimo, cinco sindicatos. O MTE, porém, alegando o princípio da unicidade sindical, denegou o requerimento de registro das federações. Paralisou, assim, já na instância final, a implementação da segunda parte do projeto, não obstante as quatro federações sindicais – as “Febras” – terem sido formalmente constituídas como pessoas jurídicas, com registro próprio e emissão de CNPJ. NOVA ORIENTAÇÃO Em meio às dificuldades surgidas com o indeferimento da proposta de ampliação da estrutura sindical do mercado segurador, verificouse que a jurisprudência do STF, antes restritiva na matéria, evoluíra na inteligência do conceito de “entidade de classe de âmbito nacional”. Esse conceito, previsto na Constituição para legitimação ativa na impetração de ADINs, passou a abarcar as entidades associativas de empresas, desde que tivessem abrangência nacional. Uma vez que a CNseg já estava constituída, a condição exigida pelo Supremo – associação de âmbito nacional – restava atendida, não havendo mais a necessidade de criar-se uma confederação sindical para aquela finalidade. Aliás, a legitimidade da CNseg para impetrar ADINs já vem sendo exercida e reconhecida, em diversos processos que tramitam no Supremo. Ora, com a criação das quatro Federações associativas especializadas, e feita a transformação da Anapp em FenaPrevi – além de sedimentada a aceitação da CNseg como parte legítima para impetrar ADINs – não havia por que prosseguir na implementação da parte sindical, cujo modelo, de resto, não lograra aprovação no MTE. REDEFININDO O MODELO À vista da nova orientação do STF em relação à legitimidade para impetrar ADINs, tornouse desnecessária a constituição da confederação sindical e, consequentemente, das federações sindicais, que, ao fim e ao cabo, teriam por única função a de viabilizar aquela confederação. Assim, estava praticamente montado o novo modelo de representação, com a criação da CNseg – associação de nível nacional – e com as quatro Federações associativas: a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e a Federação Nacional de Capitalização (FenaCap). A vinculação/representação sindical das empresas de Seguros Privados, de Resseguros e de Capitalização ficou como estava, ou seja, com os oito sindicatos regionais das seguradoras filiandose à Fenaseg, que permaneceu atuante e com suas funções intactas. No segmento de Previdência Complementar Aberta, surgiu o Sinapp como sindicato único de âmbito nacional. PEÇAS SOLTAS Contudo, a interrupção da parte do projeto relativa à atuação sindical deixou pelo caminho algumas “peças soltas” que precisavam ser ajustadas. Em primeiro lugar, permaneciam em aberto, constituídas, as quatro pessoas jurídicas destinadas a atuar como federações sindicais (as “Febras”), já inscritas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas e dotadas de CNPJ. E mais complicado ainda: a questão da Previdência Complementar Aberta não fora adequadamente resolvida, já que o Sinapp e os sindicatos regionais das seguradoras tinham em seus estatutos previsão semelhante quanto à representação dessa atividade, configurando evidente conflito de competência. Por sua vez, o Sinapp quedara-se solto, como entidade avulsa, sem filiação a federação alguma. Ademais, a Fenaseg, federação sindical que permaneceu, precisava ainda explicitar no seu estatuto a representação da Previdência Complementar Aberta e a previsão de que a ela deveriam filiar-se todos os sindicatos que congregassem as empresas especializadas do segmento, o que abrangia o Sinapp e as seguradoras. PROVIDÊNCIAS Com o intuído de integrar ao sistema aquelas peças soltas, a CNseg passou a executar a lista de providências necessárias à efetivação dos ajustes conducentes à consolidação do projeto. Em síntese, tais providências consistiram em: > Obtenção de certidões junto à Receita Federal para registro da dissolução das federações sindicais (Febras) inativas e baixa dos respectivos CNPJs. > Estreitamento dos vínculos com a Consif, confederação sindical a que está filiada a Fenaseg. > Celebração de acordo extrajudicial entre Fenaseg, Sinapp e sindicatos regionais das seguradoras, pelo qual o Sinapp concorda em filiar-se à Fenaseg, e passa a conter nos seus estatutos a representação das entidades, com fins e sem fins lucrativos, que desenvolvam exclusivamente a atividade de Previdência Complementar Aberta, ao passo que ficam vinculadas aos referidos sindicatos regionais as seguradoras que operam Previdência Complementar Aberta e Vida. > Aprovação e filiação do Sinapp à Fenaseg. > Alteração estatuária da Fenaseg para tornar explícita a representação sindical da Previdência Complementar Aberta (em andamento). > Alteração estatutária dos nove sindicatos para adequação da representação sindical da Previdência Complementar Aberta (em andamento). REVISTA DE SEGUROS • 37 estudo cnseg A importância do seguro garantia no mercado brasileiro Por Núcleo de Estudos e Projetos Artigo produzido pela CNseg analisa o desempenho do segmento e sugere mudanças na legislação. d iante de um cenário de vultosas obras que atendem ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 1 e 2, ao mundial de futebol e às Olimpíadas, o seguro Garantia relacionado ao setor público entra em grande evidência. Pela sua importância, que assegura o Uma importante fiel cumprimento mudança das obrigações assumidas por demandada pelo empresas em mercado seria o licitações e conaumento do limite tratos, o produto de cobertura foi objeto de um disponibilizado artigo produzido pelo Núcleo de nestes contratos, Estudos e Proque é considerado jetos da CNseg baixo. intitulado por “Seguro Garantia - Obras do governo e aumento do limite da garantia” disponibilizado no site da CNseg. Os objetivos principais do estudo foram a melhor compreensão do seguro e a sugestão de mudanças na legislação atual, a partir de respostas 38 • REVISTA DE SEGUROS para as seguintes questões: o seguro Garantia satisfaria as necessidades do mercado?; o mercado segurador seria capaz de suportar os novos limites de garantia sugeridos?; e, por fim, qual seria o custo benefício da variação destes limites? O trabalho foi iniciado a partir de uma análise histórica. O seguro Garantia surgiu nos Estados Unidos, no século XIX, quando se percebeu que seria possível combater grandes perdas acarretadas pela inadimplência de construtoras em obras públicas com um instrumento de seguro. O produto foi aperfeiçoado em 1935 com o “Miller Act”, uma mudança que se tornou uma forte aliada contra a crise que assolou o mundo em 1929. Por outro lado, no Brasil, o seguro Garan tia surgiu somente em 1967 com o Decreto-Lei 200, que foi sucedido pelo Decreto-Lei 2.300, em 1986. O seguro Garantia de obras públicas tem crescido sistematicamente nos últimos anos. A arrecadação da carteira teve um aumento acima dos 40% nos primeiros 11 meses do ano passado em comparação ao mesmo período do ano anterior. Também a retenção das empresas que operam neste seguro acompanha o movimento ascendente do mercado – as grandes alterações que o mercado de seguro Garantia tem sofrido nos últimos anos corroboram com a ideia de que ele acompanha o investimento do Governo Federal em obras públicas. Atualmente, o seguro Garantia é regido pela Lei 8.666, principalmente no que tange os limites de garantia de obras públicas. Uma importante mudança demandada pelo mercado Shutterstock seria o aumento do limite de cobertura disponibilizado nestes contratos, que é considerado baixo. Análises dos dados de empresas do setor mostram que, em alguns sinistros, o valor garantido não supriu o pagamento das multas existentes nestes contratos, não fornecendo a resiliência necessária. Além disso, em quase 70% dos casos analisados, o valor da indenização foi inferior ao da perda, em consequência deste limite legal. Neste ponto é importante analisar o papel do limite de responsabilidade: o seguro Garantia tem uma peculiaridade em relação aos outros seguros, uma vez que o risco de sinistro é reduzido à medida que a obra avança. Ao garantir o fiel cumprimento de um contrato, por exemplo, quanto mais tardia a interrupção, maior a probabilidade de a obra se aproximar de sua conclusão. Por este motivo, os limites de responsabilidade são proporcionais ao valor da obra. Na Europa, atingem 30%, na maioria dos contratos. No Brasil, é evidente que o valor máximo de 10% ainda está aquém da realidade. investimentos previstos no pac-2 classificados por classes de valor das obras públicas 6% Até R$ 100 mi 8% 27% 6% De R$ 100 mi a R$ 500 mi De R$ 500 mi a R$ 1 bi De R$ 1 bi a R$ 10 bi 27% De R$ 10 bi a R$ 50 bi Mais de R$ 50 bi 26% Com relação à capacidade financeira das seguradoras do mercado, o artigo produzido pelo Núcleo de Estudos e Projetos fez uma análise dos capitais atualmente existentes. Diante de uma metodologia que utilizou dados aproximados, mas com cenários bem conservadores, o resultado obtido foi bastante robusto. Mesmo em situações extremadas, o mercado segurador brasileiro teria plena capacidade de suportar o aumento dos limites, pois o capital adicional não atingiria 4% do patrimônio líquido ajustado do mercado nestes casos. Em suma, o artigo publicado pela CNseg faz uma avaliação acurada do mercado de seguro Garantia no País e demonstra, principalmente, que alguns aspectos da legislação podem estar dissonantes da atual conjuntura que retrata um mercado em crescimento vigoroso. REVISTA DE SEGUROS • 39 Biblioteca Aspectos práticos sobre gestão de risco Arquivo CNseg Resenha por: Alexandre Leal Alexandre Leal, Superintendente de Regulação da CNseg Gestão Estratégica do Risco: uma referência para a tomada de riscos empresariais Aswath Damodaran Editora: Bookman, 2009, 384 páginas 40 • REVISTA DE SEGUROS Um dos destaques do livro é a análise comparativa que o autor faz entre proteção contra riscos e gestão de riscos. o livro de Aswath Damodaran é dirigido àqueles que têm que diagnosticar e tomar decisões que envolvam a análise de riscos. MBA e doutor pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Damodaran é professor de Finanças na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, aonde ministra os cursos de finanças corporativas e avaliação do programa de MBA. O livro apresenta conceitos de gestão de risco e um breve histórico de como o tema é tratado. Aborda a dualidade com que o ser humano encara o assunto, tendo, ao mesmo tempo, aversão e fascinação pelo risco. Nesse aspecto, o autor ressalta a importante contribuição da Teoria da Perspectiva, de Kahneman e Tversky, um dos pilares das finanças comportamentais e um importante contraponto à teoria econômica, que assume que somos totalmente racionais e avessos ao risco. O autor explora as ferramentas que são empregadas pelo gestor de risco. Desde as funções de probabilidade utilizadas nas análises, passando pelos modelos de precificação de ativos, pelas técnicas de simulação e a avaliação por fluxos de caixa descontados. Especial atenção é dada aos modelos de valor em risco (VaR em sua sigla em inglês), como forma de quantificação e mensuração do risco, e de opções reais, utilizadas para avaliar as oportunidades que as incertezas oferecem aos gestores. Damodaran faz uma interessante análise comparativa entre proteção contra riscos e gestão de riscos. Ele observa haver uma confusão entre os analistas em relação a esses conceitos e preconiza que a proteção contra riscos (hedge) gera mais valor para as empresas de menor porte, com uma pequena base de acionistas e com nível elevado de endividamento. O processo de gestão de riscos, por outro lado, tem maior relação com as escolhas estratégicas do que com as decisões da esfera financeira. O fluxo de caixa da empresa é um reflexo dos riscos assumidos no passado. Já os novos investimentos deverão oferecer um retorno em excesso ao custo do capital por um prazo razoável, que compense o risco assumido. A importância da governança corporativa no processo de assunção de riscos é ressaltada. Aspectos como o acesso a informações e a recursos financeiros e humanos, velocidade de tomada de decisão, flexibilidade e experiência do conhecimento, como determinantes na definição da estratégia a ser adotada, também são explorados. O livro aborda uma série de aspectos teóricos e práticos empregados na gestão de risco. A mensagem de que a gestão de risco é um processo que deve ter como foco a maximização do valor da empresa está presente em toda a obra. Do ponto de vista do profissional do mercado segurador, o livro é um bom texto introdutório, que pode auxiliar nas discussões sobre enterprise risk management, tema que será tratado pela Susep ao longo de 2014. ens MBA terá novas turmas em maio FERNANDA THURLER Curso que chega também a Belo Horizonte destina-se a ampliar conhecimentos para aplicação futura em carreira gerencial. A Escola Nacional de Seguros inaugura, em maio, a primeira turma do MBA Executivo em Seguros e Resseguro em Belo Horizonte (MG). Já tradicional na grade de pós-graduação nas unidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, o curso tem como público-alvo os profissionais com nível superior completo (Bacharelado, Tecnólogo ou Politécnico), que buscam ampliar seus conhecimentos para aplicação futura em carreira gerencial. Também estão abertas as inscrições para uma nova turma na unidade do Rio, que terá início no mês de maio. O MBA Executivo em Seguros e Resseguro é dividido em cinco módulos, com duração total de 18 a 20 meses (carga horária de 480 h/a). VISÃO SISTÊMICA O diretor de Ensino Superior e Pesquisa da Escola Nacional de Seguros, Claudio Contador, informa que todos os programas são estruturados para que os alunos despertem visão sistêmica e capacidade de adaptação às repentinas mudanças no contexto socioeconômico e empresarial, de grande importância para qualquer profissão. “Neste MBA, os alunos irão ampliar seus conhecimentos para o exercício de funções diretas em seguros e resseguro. Valendo-se O curso abordará a realidade do mercado e dos novos atores que nele estão ingressando, visando à busca das melhores práticas de gestão. Claudio Contador de um conteúdo atual e de comparações críticas, o curso abordará a realidade do mercado e dos novos atores que nele estão ingressando, visando à busca das melhores práticas de gestão”, diz ele. No segmento de extensões, a Escola está com inscrições abertas na unidade de São Paulo para o curso Gestão e Subscrição dos Seguros de Responsabilidade Civil Geral, Riscos Profissionais e Seguros Ambientais. As aulas começam em maio e têm como público-alvo os profissionais de seguros que já operam dentro dessa especialização e demais técnicos de seguros que desejam se capacitar neste segmento. A escolaridade requerida é a de nível superior completo ou em fase de conclusão, em qualquer área. NOÇÕES SÓLIDAS O curso tem como foco os fundamentos jurídicos, técnicos e práticos dos contratos de seguros pertinentes aos segmentos, visando à sistematização dos fundamentos a partir de noções sólidas extraídas das fontes do Direito e da técnica estabelecida pelas teorias gerais e específicas dos contratos de seguros, além da prática cotidiana do mercado nacional e também internacional. Maria Luiza Martins, gerente de Planejamento, Desenvolvimento e Parceria da Escola, explica que o curso permitirá a capacitação e a reciclagem de conhecimentos no segmento deste tipo complexo de seguro, partindo de estudos e reflexões para o estabelecimento de procedimentos conforme a atualidade. “O objetivo é estimular e aprimorar a capacidade crítica do aluno, de modo que ele possa aplicar e enquadrar as diversas possibilidades dos referidos seguros às situações de riscos que se apresentam nas diversas atividades cotidianas da sociedade moderna, além de propor o estabelecimento de bases sólidas para a subscrição desses mesmos riscos”, afirma. Lançados em 2006 no Rio de Janeiro e em 2008 em São Paulo, os cursos de MBA da Funenseg já formaram 830 profissionais. Atualmente são oferecidos também nas unidades de Campinas, Curitiba e Brasília, sendo que no passado foi formada uma turma na cidade de Goiânia – a escola realiza ainda cursos na sede das próprias empresas (in company). Há uma grande demanda, mas no geral a fila de espera é da ordem de 30 alunos. “O suficiente para formar uma nova turma no semestre seguinte”, conclui Maria Luiza. REVISTA DE SEGUROS • 41 opinião O seguro, num ano difícil, ainda vai bem Arquivo CNseg Antonio Penteado Mendonça, jornalista e especialista em Seguros e Previdência O artigo da última edição analisou as perspectivas para 2014, levando em conta uma série de fatores adversos, minimizados pelo fato de ser um ano curto. Passado o Carnaval, é hora de arregaçar as mangas e correr, porque logo ali na frente está o mundial de futebol e, depois dela, com poucos meses para campanha, a eleição para deputados, senadores, governadores e presidente. Dizia um grande político – da época em que o Brasil tinha grandes políticos – que a única coisa feia numa eleição é perder. Eu sei que a maioria dos que estão aí hoje, ocupando a cena política, nunca ouviram a frase, mas acreditam piamente nela. É essa crença que dá a certeza de que entre a Copa e a eleição o clima será denso, com chuvas e tempestades caindo sobre os candidatos e paralisando a atividade produtiva brasileira. Depois da eleição... bom, primeiro, os vencedores devem comemorar. Depois, aí já é final de ano, Natal, Réveillon, pra que fazer muita força? Deixa o barco andar sozinho rumo a 2015 que, de acordo com todos os entendidos, será pior do que 2014. Mas 31 de dezembro ainda está longe. Vamos ficar no dia a dia, com a inflação em alta, o juro em alta, a bolsa em baixa, a economia menos aquecida e o dinheiro custando mais caro. 42 • REVISTA DE SEGUROS Ainda que num ritmo menor, o setor de seguros deve continuar crescendo e apresentar um desempenho bem acima da média nacional. Entre a Copa e a eleição o clima será denso, com chuvas e tempestades caindo sobre os candidatos e paralisando a atividade produtiva brasileira. Antonio Penteado Mendonça Alguns dados acendem a luz amarela. A indústria está andando de lado, o consumo das famílias está caindo, o preço do minério de ferro está caindo, o escoamento da safra agrícola está emperrado numa sequência de gargalos (a maioria decorrente da falta de competência do governo), as obras de infraestrutura estão atrasadas, a seca na região sudeste é real e compromete a geração de energia e o abastecimento de água. Precisa mais? Tem. Num mundo cada vez mais competitivo, a educação brasileira continua uma das menos eficientes, a saúde pública está seriamente doente, os impostos estão entre os mais altos do planeta e os serviços públicos, entre os piores. Num cenário como esse fica difícil imaginar que há espaço para boas notícias, ou para algum setor econômico crescer. E, no entanto, entre mortos e feridos, ainda que num ritmo bem menor do que se imaginou no ano passado, o setor de seguros deve continuar crescendo e apresentar um desempenho positivo bem acima da média nacional. Não tem como ser diferente, até por conta das deficiências do setor público. Saúde pública de má qualidade significa procura pelos planos de saúde privados. Rombo da previdência implica na procura pelos planos de Previdência Complementar Aberta. Violência, com roubos e furtos crescendo em todo o País, significa maior demanda pelos seguros para estes riscos, incluídos os seguros de Veículos. Passeatas e atos de vandalismo incentivam a procura pelos seguros de Incêndio e demais riscos empresariais. E juros altos melhoram os resultados das seguradoras. Ninguém espera um crescimento no ritmo dos últimos anos. Aliás, os balanços recém-publicados mostram que o lucro industrial do setor não foi alto. Pelo contrário, várias seguradoras fecharam no azul por conta dos resultados financeiro e patrimonial. Mas o dado bom é que, em 2014, há espaço e demanda para manter o crescimento – e isso, agora, é o mais importante.