nos bastidores do fit-bh
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nos bastidores do fit-bh
NOS BASTIDORES DO FIT-BH In the backstage of FIT-BH Num festival da dimensão do FIT-BH, acontecem, nos bastidores ou mesmo diante do público, fatos pitorescos e curiosidades, nem sempre percebidos ou divulgados. A FIT Revista 3, garimpou muitos e escolheu alguns, para deleite dos leitores: Proeza Apenas um grupo, até o momento, trouxe a uma mesma edição do FIT-BH mais de dois espetáculos. O recorde, que aconteceu na pri-meira edição, em 1994, é do grupo boliviano Teatro Los Andes, que apresentou La Leyenda de un Pueblo que Perdió el Mar, Ubu en Bolivia e Solo los Giles Mueren de Amor. Em 2006, o grupo voltou com Otra Vez Marcelo. Reconhecidamente, um 01 dos mais expressivos e atuantes coletivos latino-americanos, o Teatro Los Andes, que tem à frente o sempre bem-vindo César Brie, poderá ser visto também na 9ª edição, com o espetáculo Con un Sol Amarillo, memorias de um temblor. Homens de preto em fuga “Surpresa ao encontrá-los, alívio ao vê-los partir.” Era com essa reação do público que o grupo belga Cie. Contre-Pour estava acostumado, sempre que se apresentava na Europa. A frase acima constava, inclusive, da sinopse da intervenção Les Hommes en Noir, que o grupo trouxe a Belo Horizonte em 1996. Nela, quatro homens de negro, valendo-se do elemento surpresa, surgiam em algum ponto da cidade munidos de 02 bizarros instrumentos metálicos, instalando a desordem por onde passavam. Mas aqui, o feitiço, literalmente, virou contra os “feiticeiros”. O enorme público que se juntou na Praça Sete, muito maior que o previsto para uma intervenção, não contente em assistir, passou a participar da apresentação e a “perseguir” os homens de preto em seus deslocamentos. A situação foi ficando insustentável, a receptiva do grupo, desesperada, pedia reforço de segurança pelo celular. Temerosos, os atores encerraram a apresentação, saindo em desabalada correria em direção ao hotel na rua Espírito Santo. O público, mais empolgado ainda, achou que tudo fazia parte da encenação e foi atrás. Ao chegarem ao hotel, os homens de preto se jogaram, ofegantes e aliviados, nos sofás do hall, já que a porta de vidro automática os protegia. Quando olharam para trás, uma multidão sorridente, rostos colados nos vidros, ainda não satisfeita, pedia mais... Bomba A sinopse enviada pelo grupo espanhol Sêmola Teatre sobre o espetáculo Hibrid, para o FIT-BH de 1998, fazia alusão a “alegorias, movimentos vertiginosos, imagens de impacto”. A produção só não sabia que uma das imagens impactantes era provocada pelo estouro, em cena, de uma bomba colocada dentro de um 03 balde. Resultado: avarias no teto do palco e muitos pedidos de desculpas à direção do Palácio das Artes. Além, é claro, do imediato reparo no estrago. O show não pode parar Uma das condições para a participação no festival é o envio, pelo grupo, de um rider técnico, com a relação das necessidades a serem providenciadas pela produção local. No FIT-BH 1996, meia hora antes da apresentação do espetáculo Amor Paregórico, o produtor do grupo Velho Mangaba e suas Pastoras Endiabradas, do Recife, percebeu que havia se esquecido de relacionar uma bateria, essencial à banda que acompanhava a trupe do espetáculo. Sorte da produção e do público: a apresentação era em Santa Tereza, bairro conhecido por sua tradição musical, especialmente como berço do Clube da Esquina. Desafiada a resolver o problema em 30 minutos, a produção conseguiu não uma, mas quatro baterias, com músicos da região. Azar do grupo: o valor do aluguel do instrumento foi descontado no cachê. Dupla função Enormes banners de 6mX5m foram instalados em pontos estratégicos da cidade para 05 divulgar o FIT-BH 1997. Num deles, o Viaduto de Santa Tereza, a instalação foi particularmente complicada, exigindo muita negociação, por ser a edificação tombada pelo Patrimônio Histórico. Autorizada, a instalação foi feita numa tarde, provocando forte impacto visual. No dia seguinte, apesar de estar no ponto mais alto do viaduto, a peça havia desaparecido. Uns dias depois, o mistério foi desfeito: o banner foi visto protegendo das intempéries o teto de um barracão na periferia da cidade de Sabará. O responsável pela “transferência” não teve nem a preocupação de dissimular sua façanha: com o lado impresso para cima, o banner continuava a cumprir sua finalidade, divulgando o evento, ainda que na cidade vizinha. Sagrado e profano Em 1997, a abertura do FIT-BH deu-se num feriado, 15 de agosto, data em que Belo Horizonte celebra sua padroeira, Nossa senhora da Boa Viagem. Apesar de haver diversos setores da PBH envolvidos, ninguém se deu conta de que haveria dois eventos acontecendo na 04 av. Afonso Pena no mesmo horário: a procissão que levaria a imagem de Nossa Senhora da Igreja de São José para a igreja da Boa Viagem e o cortejo do grupo Générik Vapeur, com Bivouac, que iria da porta principal do Parque Municipal para a Praça da Estação. Às 18h, aconteceu o inusitado: os dois cortejos - o sagrado entoando hinos religiosos e o profano precedido por um barulhento trio elétrico - se cruzaram, provocando estranhamento e surpresa em ambos os públicos. O episódio gerou carta de protesto do Arcebispo Metropolitano. Visita surpresa Cumprindo o ritual de passar nos teatros antes de todas as estréias para dar boasvindas aos grupos e checar se está tudo dentro do programado, o diretor geral do evento teve uma surpresa no FIT-BH de 1998, ao entrar no hall do Teatro Sesiminas: incógnita e desacompanhada, lá estava ninguém menos que Arianne Mnouskine, a consagrada diretora francesa do Théâtre du Soleil. De férias em São Paulo, ela dera um pulo a BH para ver seus amigos cubanos no espetáculo Otra Tempestad, do grupo Teatro Buendía. Cumprimentada, ela respondeu educadamente, mas deu sinais claros de que queria continuar do jeito que estava: tão incógnita, quanto desacompanhada. E assim foi feito. A arte imita a vida Contemplada com o Prêmio Fomento do FIT-BH 2004, a intervenção Circular 01 06 109 ocorria dentro de um ônibus, alugado pela produção, com motorista e tudo, para servir de cenário. O público entrava e a viagem começava. 07 Em alguns pontos, os atores e atrizes subiam no coletivo, como se passageiros fossem. Saindo de frente do Palácio das Artes, o coletivo rodava pela av. do Contorno terminando a viagem em frente à Serraria Souza Pinto. Numa das cenas, uma personagem feminina sacava um revólver de plástico, ameaçava dar um tiro na própria cabeça e depois colocava o tronco para fora da janela do ônibus e apontava a arma para os transeuntes. As pessoas corriam assustadas, os am-bulantes se escondiam atrás de suas bancas. 110 Na véspera da estréia, na última viagem de ensaio, um fiscal da Bhtrans, ao ver a cena, ligou para a polícia: um ônibus havia sido seqüestrado por uma mulher armada, no Centro de BH. Em pouco tempo, o coletivo estava cercado por terra e pelo ar: um helicóptero da Polícia Militar sobrevoava a Praça da Estação e dezenas de policiais apontavam metralhadoras, dando ordens para que as portas do ônibus fossem abertas. Os crachás do festival que o elenco usava foram o argumento principal para que a polícia se convencesse de que tudo não passava de encenação. Foi com música folclórica e buquê de flores que o grupo polonês Teatr Ósmego Dnia, responsável pelo espetáculo Arka, que abriu o FIT-BH 2006, expressou, na despedida, seu agradecimento à receptiva que o acompanhou. Mas surpresa mesmo foi o respeitoso beijo na testa que ela ganhou do sisudo diretor, no aeroporto de Confins. Marvada pinga A nossa popular aguardente foi elemento indispensável para pelo menos dois grupos do FIT-BH 2006. O africano Kofi Kôkô, além de velas, toalha branca e um prato virgem, solicitou à produção três litros de cachaça “da boa”. O material era para ser usado nos rituais religiosos promovidos no camarim, antes do espetáculo As Folhas que Resistem ao Vento. Apenas os homens - apesar de haver também uma mulher no elenco - podiam participar. A porta era trancada, e a entrada vetada até mesmo à produção. O estado de transe se mantinha durante o espetáculo e, em alguns casos, até depois, com os integrantes tendo certa dificuldade de localização espacial, necessitando ser ajudados na volta ao hotel. Já para o grupo Bumba-meu-Boi da Floresta, do Maranhão, a cachaça era elemento de cena mesmo. Seus 45 integrantes consumiam, por apresentação, um mínimo de seis garrafas - que era servida pelo receptivo do FIT-BH em copos plásticos. A bebida era tão fundamental que foi trazida pelo próprio grupo. Anjos da guarda Um receptivo tem, durante o FIT, a importante missão de acompanhar os grupos dia e noite. Falando a língua do grupo visitante, é importante elo na sua comunicação com a produção, a imprensa, os garçons, os médicos - sim, porque às vezes os convidados vão parar em hospitais, precisam contratar babás para os filhos, fazem compras, querem visitar o Mercado Central, Ouro Preto... Tanto cuidado costuma comover alguns duros corações dos cerebrais estrangeiros. E acontece de nascer, dessa breve convivência, um também breve vínculo afetivo. 08 Bomb In a festival with that dimension FIT-BH has, it happen, in the The synopsis sent in by Spanish group Sêmola Teatre about backstage or even in front of the public, some funny facts and curiosities, not always caught or divulged. FIT-BH Magazine 3 has searched many and has chosen some ones, for the lectors fun: A prowess Only one group, so far, has brought to a same edition of FIT-BH more than two spectacles. The record which happened in the first edition, in 1994, belongs to Bolivian group Teatro de los Andes, who presented La Leyenda de un Pueblo que Perdió el Mar, Ubu en Bolivia and Solo los Giles Mueren de Amor. In 2006, the group returned with Otra Vez Marcelo. Recognized as one of the most expressive and active LatinAmerican collectives, Teatro de los Andes, which has as director the always welcome César Brie, will be also seen in the 9ª edition with the spectacle Con un Sol Amarillo, memorias de un temblor. Men in black on the run “Surprised to meet them, relieved to see them leave.” This was the reaction from the audience that Belgian group Cie. Contre-Pour was used to, every time they performed in Europe. This phrase appeared in the synopsis of the intervention Les Hommes en Noir, which the group brought to Belo Horizonte in 1996. In it, four men dressed in black, using the surprise element, appeared at some point of the city carrying bizarre metallic instruments, creating disorder wherever they went. But here the spell literally turned back on the spell-makers. The huge audience that went to Praça Sete, much bigger than predicted for an intervention, not satisfied only with watching them, started to participate in the spectacle and to “chase” the black-dressed men in their movements. The situation became unbearable; the guide desperately asked for security reinforcement by the cell phone. Frightened, the actors finished the show, desperately running back to their hotel in the city center. The audience, even more excited, thought all of that made part of the performance and followed them. When they arrived at hotel, the men in black threw themselves on the hotel sofas, breathless and relieved since the automatic glass doors protected them. When they looked back, a smiling crowd with their faces touching the glass, not yet satisfied, asked for more... spectacle Hibrid, for FIT-BH 1998, made allusion to “allegories, vertiginous movements, impacting images”. But the production did not know that one of the 'impacting images' was provoked by the explosion, in scene, of a bomb placed inside a bucket. The result: damage to the stage ceiling and many apologies offered to the direction of Palácio das Artes. Besides, of course, the immediate repair of the damage. The show must go on One of the conditions to take part in the Festival is for the group to send a technical rider containing the list of needs to be provided by local production. In FIT-BH 1996, half an hour before the spectacle Amor Paregórico, the producer of the group Velho Mangaba e suas pastoras Endiabradas, from Recife, realized he had forgotten to include on the list a drum kit, essential for the band that came with the spectacle team. For the production and audience luck, the show was going on in Santa Tereza, a neighborhood known for its musical tradition, especially as the birthplace of Clube da Esquina. Challenged to solve the problem in 30 minutes, the production managed to get not one but four drum sets, from musicians close by. The group's bad luck: the instrument hiring value was abated from their payment. Double function Big 6m X 5m ban09 ners were installed at strategic points of the city to promote FIT-BH 1997. In one of them, the Santa Tereza bridge, the installation was particularly difficult, demanding many negotiations, because the bridge is a historical monument under government trust. Once authorized, the installation was made in an afternoon, provoking a strong visual impact. The following day, although it was on the highest point of the bridge, the piece had disappeared. Some days later the mystery was solved: 111 112 the banner was seen protecting the top of a shack from the rain in the outskirts of the city of Sabará. The responsible for the “transfer” did not have any concern to dissimulate his feat: with the print side up, the banner kept accomplishing its finality, promoting the event even in the neighboring city. French director of the Théâtre du Soleil. On vacation in São Paulo, she had come over to Belo Horizonte to see her Cuban friends in the spectacle Otra Tempestad with the group Teatro Buendía. When saluted, she answered politely but signaled clearly that she wanted to be left that way: unknown and alone. And so she was. Holy and profane Art imitates life In 1997 the FIT-BH opening happened on a holiday, August 15, the date in which Belo Horizonte celebrates its patron saint, Nossa Senhora da Boa Viagem. Although there were several City administration sectors involved, no one realized that two events would happen at Afonso Pena avenue at the same time: the procession that would take the image of Nossa Senhora from the Church of São José to Church of Boa Viagem, and the other procession of the group Générik Vapeur, with Bivouac, which would go from the Parque Municipal main gate to the Praça da Estação. At 6 pm, the unusual happened: both processions - the holy one singing religious hymns and the profane preceded by a noisy sound truck - crossed each other in the middle of the street... provoking strangeness and sur- Awarded with Prêmio Fomento of FIT-BH 2004, the intervention Circular 01 happened inside a bus, rented by the production with driver included, serving as the stage setting. The audience would get on and the trip would begin. At some stops actors and actresses would get on the vehicle as if they were passengers. Leaving from Palácio das Artes, the bus would go by Contorno avenue finishing the trip in front of the Serraria Souza Pinto. In one of the scenes, a female character would draw a plastic revolver, threatening to shoot her own head and then putting her torso out of the window and pointing the gun at the population. People ran away scared and street vendors tried to hide themselves behind their boxes. The day before the premiere, on the last rehearsing trip, an employee of the local traffic company saw the scene and called the police: a bus had been kidnapped by a woman carrying a gun in the city center. In a few minutes, the car was surrounded by land and by air: an police helicopter flew over the Praça da Estação and many policemen pointed machine guns, screaming for the bus doors to be opened. The Festival badges the cast wore were the main arguments to convince the police that all of what was happening was nothing but a performance. Guardian angels prise on both audiences. 10 The incident generated a letter of protest from the Metropolitan Archbishop. Surprise visit Maintaining the ritual of visiting the theaters before every premiere to welcome the groups and check if everything was in order, the general director of the event had a surprise in FIT-BH 1998 when he was walking into the hall of Teatro Sesiminas: standing unknown and all alone, there was none other than Arianne Mnouskine, the well-known During FIT, a guide has the important mission of accompanying the groups night and day. Speaking the language of the visiting group, he or she is an important link in the group's communication with the production, the press, the waiters, the doctors - yes, because at times the guests have to go to hospitals, need to hire baby sitters for the kids, feel like going shopping, want to visit Mercado Central, the city of Ouro Preto... So much care tend to touch some hard hearts of cerebral foreigns. And from this brief relationship an also brief affective link might appear. It was with folkloric music and flowers that the Polish group Teatr Ósmego Dnia, responsible for the spectacle Arka, that opened FIT-BH 2006, expressed their thanks to the guide who accompanied them when they were leaving. But the real surprise was the respectful kiss on the forehead she received from the unsmiling director at Confins airport. Evil booze Our popular cachaça (sugar cane liquor) was an indispensable element for at least two groups at FIT-BH 2006. The African Kofi Kôkô, besides candles, a white towel and an untouched plate, requested from the production three liters of the “good one”. The material was supposed to be used in the religious rituals promoted in the dressingroom before the spectacle As Folhas que Resistem ao Vento. Only the men - although there was also a woman in the cast - could participate. The door was locked and entry forbidden even to the production. The state of trance remained during the spectacle and, in some cases, till later, when the members had a certain difficulty in their spatial localization and needed help to return to the hotel. 01 - Em Um Sol Amarelo, Memórias de Um Terremoto - Teatro de Los Andes/Bolívia/2008 (Foto: Radoslav Pazameta) 02 - Homens de Preto – Cie Contre-Pour/Bélgica/1996 (Foto: frederico Antoniazzi) 03 - Híbrid – Sêmola Teatre/Espanha/1998 (Foto: Guto Muniz) 04 - Bivouac - Génerik Vapeur/França/1997 (Foto: Guto Muniz) 05 - Arka – Teatr Ósmego Dnia/Polônioa/2006 (Foto: Kika Antunes) 06 - Circular 01 – Prêmio Fomento/BH/2004 (Foto: Kika Antunes) 07 - As Folhas que Resistem ao Vento – Cia Koffi Kôkô/Benin/2006 (Foto: Guto Muniz) 08 - O Auto do Bumba-Meu-Boi da Floresta/MA/2006 (Foto: Guto Muniz) 09 - Página 111: Arka (Foto: Guto Muniz) 10 - Amor Paregórico – Velho Mangaba e suas Pastoras Endiabradas/PE/1996 (Foto: Kika Antunes) 11 - Um dos tantos cobiçados banners do FIT (Foto: Guto Muniz) For the group Bumba-meu-Boi da Floresta, from Maranhão, the cachaça was a scenic element indeed. Its 45 members consumed, in each show, a minimum of six bottles - which was served by the FIT-BH team in plastic glasses. The drink was so fundamental that it was brought by the group itself. 113 11