Festas Juninas Festas de São João
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Festas Juninas Festas de São João
Festas Juninas Festas de São João Origens, Tradições e História LÚCIA HELENA VITALLI RANGEL Patrocínio: Copyright © YOKI Alimentos S.A. EDIÇÃO, CAPA E FOTOGRAFIAS: Publishing Solutions IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Ipsis Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Rangel, Lúcia Helena Vitalli Festas juninas, festas de São João: origens, tradições e história / Lúcia Helena Vitalli Rangel. – São Paulo: Publishing Solutions, 2008. Bibliografia. ISBN 978-85-61653-00-2 1. Festa de São João – História 2. Festas juninas – História. I. Título. Índice para catálogo sistemático: 1. Festas juninas : Costumes : História 394.268209 Todos os direitos desta edição são reservados à YOKI Alimentos S.A. Rua Paes Leme, 524 – 4º andar – São Paulo, SP CEP 05424-904 Tel.: (11) 4346-4177 Endereço na Internet: www.yoki.com.br 4 Apresentação “ O balão vai subindo, vem caindo a garoa. O céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João, acende a fogueira no meu coração.” Quem não cantou e se encantou com essa música de Carlos Braga e Alberto Ribeiro? Ou não colocou chapéu de palha e dançou a quadrilha com o balancê e o caminho da roça? Ou ainda resistiu às delícias dessa festa? Aliás, a culinária junina é um capítulo à parte. A canjiquinha e o munguzá no Nordeste, o curau e o bolo de fubá com ervadoce no Sudeste, o amendoim torradinho ou em suas variações, como a paçoquinha, o pé-de-moleque e o gibi. Além, é claro, da pipoca, sem dúvida uma unanimidade nacional. E o cheirinho dessa época... Festa junina sem quentão, quem já viu? No ar o cheirinho do cravo, da canela e do gengibre. O fato é que as festas juninas são comemoradas em todo o país e representam uma das mais ricas manifestações culturais brasileiras. No entanto, na mesma medida em que essas tradições culturais permanecem, apesar das profundas mudanças estruturais do Brasil — que em pouco mais de meio século passou de eminentemente rural à condição de urbano —, começam a se esgarçar na memória das novas gerações de brasileiros as origens desses festejos. As crianças continuam dançando a quadrilha no mês de junho, porém não conhecem mais a história da festa e de seus santos, o significado de seus rituais, as letras das músicas mais tradicionais. Este livro, patrocinado pela Yoki, empresa ligada às tradições brasileiras e, em 5 especial, a essa festa, uma vez que está envolvida na produção de ingredientes e quitutes juninos há mais de quarenta anos, é uma colaboração no sentido de manter vivo na memória nacional esse verdadeiro patrimônio cultural. Na decisão de publicálo pesou também o compromisso da empresa com as novas gerações, pois a idéia é que o livro possa servir de subsídio para a pesquisa escolar. Para desenvolver um trabalho com o nível de profundidade adequado, a Yoki contratou a antropóloga Lúcia Helena Vitalli Rangel, especialista no assunto, que foi auxiliada por Vivian Catenacci. O conteúdo dessa pesquisa é agora lançado em forma de livro. Festas Juninas, Festas de São João abrange aspectos variados das comemorações. Narra sua história, que remonta a períodos anteriores à era cristã, e o papel dos santos juninos nos festejos; fala das diversidades regionais, da representação do boi-bumbá no Norte à tradição caipira no Sudeste; explica as origens da quadrilha e das roupas usadas na festa. Contém também o roteiro do casamento caipira e da dança da quadrilha, reproduz as letras das músicas mais representativas e ensina a fazer os quitutes típicos de todas as regiões de nosso país. Esperamos que você, leitor, aprecie a nossa contribuição e tenha tanto prazer em ler este livro quanto nós, da Yoki, tivemos em editá-lo. Bom proveito! GABRIEL JOÃO CHERUBINI VICE-PRESIDENTE – YOKI ALIMENTOS S.A. 6 Apresentação à 3a Edição C om o sucesso das edições ante-rio res, estamos apresentando a 3a edição de Festas Juninas, Festas de São João – Origens, Tradições e Histórias, totalizando 180.000 exemplares publicados. O resultado da pesquisa elaborada por Lúcia Helena Vitalli Rangel mostra-se oportuna e atual. Os festejos juninos estão enraizados em nossas memórias, com suas melodias e aromas característicos. Esta edição apresenta nova diagramação e apresentação gráfica. Facilitar o acesso ao conteúdo da obra é nosso intuito. Buscamos uma aparência mais leve. No projeto gráfico note-se o destaque dado aos elementos ícones das festas juninas. Tudo para estimular a leitura desse material de pesquisa tão bem aceito, nas escolas e bibliotecas brasileiras. A Yoki participa dessas festas tão brasileiras, estimulando ações que dêem continuidade a essas vivências e também patrocinando eventos culturais que tenham como tema a Festa Junina. Nesta 3a edição estamos acrescentando um capítulo de poesias juninas, onde publicamos as poesias vencedoras do Concurso de Poesia de Dois Córregos, cidade do interior de São Paulo. Não deixe de ler! O livro tem como objetivo ajudar na perpetuação dessa tradição cultural tão importante. Para isso pretende ser um subsídio à pesquisa do tema, principalmente às crianças em idade escolar. Em seu conteúdo encontramos, simpatias juninas, adivinhas, letras de músicas cantadas nas festas juninas, representação de casamento matuto e evolução da quadrilha caipira. E como não poderia deixar de faltar, as saborosas comidas típicas encontradas em qualquer festa junina. Convido você, leitor, a entrar neste mundo maravilhoso. GABRIEL JOÃO CHERUBINI VICE-PRESIDENTE – YOKI ALIMENTOS S.A. 7 Sumário 8 11 NOTA INTRODUTÓRIA 15 1 Origem das Festas Juninas 16 18 18 A coleta e o cultivo Rituais de fertilidade O dia de São João na Sardenha 21 2 As Comemorações Juninas no Brasil 22 24 25 25 As relações sociais e o compadrio São João em Caruaru e Campina Grande Na Região Norte No Sudeste 27 3 Santo Antônio, São João e São Pedro 27 29 32 34 36 39 42 43 Santo Antônio: camarada e casamenteiro Simpatias, sortes e adivinhas para Santo Antônio A festa de Santo Antônio São João, a purificação pelo batismo Simpatias, sortes e adivinhas para São João A festa de São João São Pedro, fundador da Igreja Católica A festa de São Pedro 47 4 Casamento Caipira ou Matuto 47 Sugestão para a representação do casamento caipira ou matuto 51 5 Danças Juninas 51 52 53 55 57 58 58 Origem da quadrilha Trajes usados na dança Sugestão para a evolução da quadrilha caipira Fandango Bumba-meu-boi Lundu Cateretê 61 6 Jogos Juninos 61 62 Jogos de terreiro Jogos de barracas 65 7 Músicas Juninas 73 8 O Mastro 77 9 Comidas e Bebidas Juninas 97 119 127 Concurso de redações Concurso de Poesias Bibliografia 9 10 Nota Introdutória E ste livro é resultado de uma pesquisa realizada a pedido da Yoki, o que gerou uma troca fecunda entre universidade e empresa. O tema festas juninas proporciona um campo fértil de análise do significado desse período tão importante na cultura brasileira: sua origem, sua transformação na história européia e suas redefinições no contexto brasileiro, desde os tempos coloniais até a atualidade. A pesquisa, concebida por mim, foi realizada em conjunto com Vivian Catenacci, na ocasião minha aluna no curso de graduação em Ciências Sociais da PUC-SP. A prática da pesquisa representa um dos pilares fundamentais do conhecimento sobre a vida social. Aprender fazendo é muito importante na formação do aluno, não apenas porque a pesquisa a respeito da realidade social contribui para o conhecimento da vida de um povo e das questões sociais, políticas, econômicas e culturais que o configuram, mas também porque sua prática revela o prazer de conhecer. O ato de conhecer conduz ao descobrimento, à ampliação da capacidade de analisar, de sistematizar, de explicar. Conhecer, portanto, amplia os horizontes da consciência, da cidadania e da crítica. Tudo isso fornece bases consistentes para as instituições de ensino e, particularmente, para a universidade, centro de ensino, pesquisa e extensão. Outro aspecto importante a ressaltar é que a atividade de pesquisa enriquece de modo muito especial a relação pro11 fessor/aluno. Produzir em conjunto é estimulante para ambos porque ensinar e aprender são dimensões do mesmo ato, cuja base pode estar assentada na reciprocidade. Sendo assim, este livro tem caráter didático e constitui um convite à pesquisa. Agradeço à Yoki a oportunidade de realizar um trabalho prazeroso e importante e a Vivian a saudável prática da partilha. LÚCIA HELENA VITALLI RANGEL 12 13 14 1 O calendário das festas católicas é marcado por diversas comemorações de dias de santos. Seu ciclo mais importante se inicia com o nascimento de Jesus Cristo e se encerra com sua paixão e morte. Na tradição brasileira, as maiores festas são Natal, Páscoa e São João. As comemorações de cunho religioso foram apropriadas de tal forma pelo povo brasileiro que ele transformou o Carnaval — ritual de folia que marca o início da Quaresma, período que vai da quarta-feira de Cinzas ao domingo de Páscoa — em uma das maiores expressões festivas do Brasil no decorrer do século XX. Do mesmo modo, as comemorações de São João (24 de junho) fazem parte de um ciclo festivo que passou a ser conhecido como festas juninas e homenageia, além Origem das Festas Juninas desse, outros santos reverenciados em junho: Santo Antônio (dia 13) e São Pedro e São Paulo (dia 29). Se pesquisarmos a origem dessas festividades, perceberemos que elas remontam a um tempo muito antigo, anterior ao surgimento da era cristã. De acordo com o livro O ramo de ouro, de sir James George Frazer, o mês de junho, tempo do solstício de verão (no dia 21 ou 22 de junho o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais alto no céu; esse é o dia mais longo e a noite mais curta do ano) no Hemisfério Norte, era a época do ano em que diversos povos — celtas, bretões, bascos, sardenhos, egípcios, persas, sírios, sumérios — faziam rituais de invocação de fertilidade para estimular o crescimento da vegetação, promover a fartura nas colheitas e trazer chuvas. 15 Na verdade, os rituais de fertilidade associados ao cultivo das plantas, incluindo todo o ciclo agrícola — a preparação do terreno, o plantio e a colheita —, sempre foram praticados pelas mais diversas sociedades e culturas em todos os tempos. Das tradições estudadas por Frazer destacam-se os ritos celebrados nas terras do Mediterrâneo oriental (Egito, Síria, Grécia, Babilônia) com o objetivo de regular as estações do ano, especialmente a passagem da primavera para o verão, que sela a superação do inverno. A Coleta e o Cultivo O ciclo anual da natureza prevê a morte e o ressurgimento da vegetação. Todos os anos as plantas passam por um processo de transformação: no outono, as folhas mudam de cor, tornando-se amareladas e murchas; no inverno, elas caem e deixam a planta sem folhas até que chega a primavera. O sol então começa a brilhar com mais inten16 sidade e a vegetação renasce, brota e floresce para oferecer as sementes do novo ciclo, cujos frutos estarão maduros no verão. No Hemisfério Norte, as quatro estações do ano estão demarcadas nitidamente; na região equatorial e nas tropicais do Hemisfério Sul, o movimento cíclico alterna os períodos de chuva e de estiagem, mas ainda assim o ciclo vegetativo pode ser observado da mesma maneira — alteração na coloração e perda das folhas, seca e renascimento. O que ocorre com a natureza é algo semelhante à saga de Tamuz e Adônis, que submergem do mundo subterrâneo e retornam todos os anos para viver com suas amadas Istar e Afrodite e com elas fertilizar a vida. As lendas de Tamuz e Adônis “Na literatura religiosa da Babilônia, Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar, a grande deusa-mãe, a personificação das energias reprodutivas da natureza. [...] Tamuz morria anualmente [...] e todos os anos sua amante divina viajava, em busca dele, ‘para a terra de onde não há retorno, para a mansão das trevas, onde o pó se acumula na porta e no ferrolho’. Durante sua ausência, a paixão do amor deixava de atuar: homens e animais esqueciam de reproduzir-se, toda a vida ficava ameaçada de extinção. Tão intimamente ligadas à deusa estavam as funções sexuais de todo o reino animal que, sem a sua presença, elas não podiam ser realizadas. [...] A inflexível rainha das regiões infernais, Alatu ou EreshKigal, permitia, não sem relutância, que Istar fosse aspergida com a água da vida e partisse, provavelmente em companhia do amante Tamuz, para o mundo superior e que, com esse retorno, toda a natureza revivesse.” “Refletida no espelho da mitologia grega a divindade oriental, Adônis surge como um belo jovem, amado de Afrodite. Em sua infância, a deusa o ocultou numa arca, que confiou a Perséfone, rainha dos infernos. Mas, quando Perséfone abriu a arca e viu a beleza da criança, recusou-se a devolvê-la a Afrodite [...]. A disputa entre as deusas do amor e da morte foi resolvida por Zeus, que determinou que Adônis devia viver parte do ano com Perséfone no mundo inferior, e com Afrodite, no mundo superior ou na terra, durante a outra parte. [...] a luta entre Afrodite e Perséfone pela posse de Adônis reflete claramente a luta entre Istar e Alatu na terra dos mortos, ao passo que a decisão de Zeus de que Adônis devia passar parte do ano no mundo inferior e parte do ano no mundo superior é apenas uma versão grega do desaparecimento e reaparecimento anual de Tamuz.” (Frazer, 1978, p. 123) Com o tempo os homens, além de desfrutar o ciclo da natureza coletando seus frutos, passaram a domesticar animais e a cultivar plantas para sua alimentação. O cultivo de raízes e legumes, juntamente com 17 a caça, a pesca e a coleta, representa o conjunto das atividades produtivas que tornaram possível a adaptação da espécie humana em todas as regiões do planeta, mas foi a produção de grãos e a domesticação de animais que ampliaram essa capacidade adaptativa. Imitando o ciclo anual da natureza, o homem descobriu as sementes que podia guardar a cada colheita e replantar no ano seguinte, quando seriam fertilizadas pela incidência solar e irrigadas pelas chuvas. As sementes dos grãos germinam e crescem. O homem colhe, debulha, seca e tritura os grãos para que eles se tornem seu alimento. Rituais de Fertilidade Com o cultivo da terra pelo homem, surgiram os rituais de invocação de fertilidade para ajudar o crescimento das plantas e proporcionar uma boa colheita. Na Grécia, por exemplo, Adônis era considerado o espírito dos cereais. Entre os 18 rituais mais expressivos que o homenageavam estão os jardins de Adônis: na primavera, durante oito dias, as mulheres plantavam em vasos ou cestos sementes de trigo, cevada, alface, funcho e vários tipos de flores. Com o calor do sol, as plantas cresciam rapidamente e, como não tinham raízes, murchavam ao final dos oito dias, quando então os pequenos jardins eram levados, juntamente com as imagens de Adônis morto, para ser lançados ao mar ou em outras águas. Os rituais de fertilidade perduraram através dos tempos. Na era cristã, mesmo que fossem considerados pagãos, não era mais possível acabar com eles. Segundo Frazer, é por esse motivo que a Igreja Católica, em vez de condená-los, os adapta às comemorações do dia de São João, que teria nascido em 24 de junho, dia do solstício. O Dia de São João na Sardenha Conta Frazer que, no início do século XX, na Sardenha, os jardins de Adônis ainda eram plantados na festa do solstício de verão, que lá tem o nome de festa de São João: “No final de março ou 1o de abril, um jovem da aldeia se apresenta a uma moça, pede-lhe para ser a sua comare (comadre ou namorada) e oferece-se para ser o seu compare. O convite é considerado como honra pela família da moça e aceito com satisfação. No fim de maio, a moça faz um vaso com a casca de um sobreiro, enche-o de terra e nele semeia um punhado de trigo e cevada. Como o vaso é colocado ao sol e regado com freqüência, os grãos brotam com rapidez e, na véspera do solstício (véspera de São João, 23 de junho), já está bem desenvolvido. [...] No dia de São João, o rapaz e a moça, vestidos com suas melhores roupas, acompanhados por uma grande comitiva e precedidos de crianças que correm e brincam, vão em procissão até uma igreja da aldeia. Ali quebram o vaso, lançando-o contra a porta do templo. Sentam-se em seguida em círculo na grama e comem ovos e verduras ao som da música de flautas. O vinho é misturado numa taça servida a todos, que dela vão bebendo, passando-a adiante. Em seguida dão-se as mãos e cantam ‘Namorados de São João’ (Compare e comare di San Giovanni) várias vezes, enquanto as flautas tocam durante todo o tempo. Quando se cansam de cantar, levantam-se e dançam alegremente em círculo até a noite”. (Frazer, 1978, p. 133) Outro aspecto que aproxima a festa de São João às de Adônis e Tamuz é o costume de tomar banhos no mar, em rios, nascentes ou no sereno na noite da véspera. Também perdura, desde os tempos antigos, o costume de acender fogueiras e tochas, que devem livrar as plantas e colheitas dos espíritos maus que podem impedir a fertilidade. 19 20 2 N As Comemorações Juninas no Brasil a Europa, os festejos do solstício de verão foram adaptados à cultura local, de modo que em Portugal foi incluída a festa de Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua, em 13 de junho. A tradição cristã completou o ciclo com os festejos de São Pedro e São Paulo, ambos apóstolos da maior importância, homenageados em 29 de junho. Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no Brasil, a partir de 1500, as festas de São João eram ainda o centro das comemorações de junho. Alguns cronistas contam que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas em junho, provocando grande atração sobre os indígenas. Mesmo que no Brasil essa época marcasse o início do inverno, ela coincidia com a realização dos rituais mais importantes para os povos que aqui viviam, referentes à preparação dos novos plantios e às colheitas. O período que vai de junho a setembro é a época da seca em muitas regiões do Brasil, quando os rios estão baixos e o solo pronto para enfrentar o plantio. Derruba-se a mata, queimam-se as ramagens para limpar o terreno, que é adubado com as cinzas, e a seguir começa o plantio. É a técnica da oivara, tão difundida entre os povos do continente americano. Nessa época os roçados velhos, do ano anterior, ainda estão em pleno vigor, repletos de mandioca, cará, inhame, batata-doce, banana, abóbora, abacaxi, e a colheita de milho, feijão e amendoim ainda se encontra em período de consumo. 21 Esse é um tempo bom para pescar e caçar. Uma série ritual, que dura todo o período, inclui um conjunto muito variado de festas que congregam as comunidades indígenas em danças, cantos, rezas e muita fartura de comida. Deve-se agradecer a abundância, reforçar os laços de parentesco (as festas são uma ótima ocasião para alianças matrimoniais), reverenciar as divindades aliadas e rezar forte para que os espíritos malignos não impeçam a fertilidade. O ato de atear fogo para limpar o mato, além de fertilizar o solo, serve principalmente para afastar esses espíritos malignos. Houve, portanto, certa coincidência entre o propósito católico de atrair os índios ao convívio missionário catequético e as práticas rituais indígenas, simbolizadas pelas fogueiras de São João. Talvez seja por causa disso que os festejos juninos tenham tomado as proporções e a importância que adquiriram no calendário das festas brasileiras. 22 As Relações Sociais e o Compadrio Outro fato que ajuda a compreender a importância desses festejos está relacionado com a forma de sociabilidade que foi característica da sociedade brasileira. Desde o período colonial até meados do século XX, a maioria da população de todas as regiões do Brasil vivia no campo (até 1950, 70% da população brasileira vivia na zona rural; hoje, mais de 70% vive nas cidades). Fossem colonos e agregados das fazendas agrícolas ou vaqueiros em grandes fazendas de gado, fossem pescadores nas regiões litorâneas ou seringueiros na Amazônia, fossem sitiantes por esse Brasil afora, os brasileiros viviam integrados em grupos familiares, entendendo-se como família o conjunto de pais e filhos, tios e primos, avós e sogros. As relações familiares eram complementadas pela instituição do compadrio, que servia para integrar outras pessoas à família, estreitando assim os laços entre vizinhos e entre patrões e empregados. Até mesmo os escravos podiam ser apadrinhados pelos senhores de terra. Havia duas formas principais de tornarse compadre e comadre, padrinho e madrinha: uma era, e ainda é, pelo batismo; a outra, por meio da fogueira. Nas festas de São João, os homens, principalmente, formavam duplas de compadres de fogueira: ficavam um de cada lado da fogueira e deveriam pular as brasas dando-se as mãos em sentido cruzado. Era comum recitarem versos como estes: São João dormiu, São Pedro acordô, vamo sê cumpadre que São João mandô. (Nordeste sertanejo) Ou: São João disse, São Pedro confirmou, que nosso Senhor Jesus Cristo mandou a gente ser compadre nesta vida e na outra também. (Amazônia cabocla) Os laços de compadrio eram muito importantes, pois os padrinhos podiam substituir os pais na ausência ou na morte destes, os compadres integravam grupos de cooperação no trabalho agrícola e os afilhados eram devedores de obrigações aos padrinhos. A instituição beneficiava os patrões, que tinham um séquito de compadres e afilhados leais tanto nas relações de trabalho como nas campanhas políticas, quando se beneficiavam do voto de cabresto. O compadrio ainda vigora em muitas localidades, mas o processo de urbanização que hoje atinge todas as regiões do país enfraquece essa instituição e promove diversas mudanças nas formas de sociabilidade. Atualmente, os favores (doações, pagamentos, promessas) têm sido mais importantes nas eleições do que a lealdade advinda dos laços de compadrio. 23 São João em Caruaru e Campina Grande Hoje as festas juninas possuem cor local. De acordo com a região do país, variam os tipos de dança, indumentária e comida. A tônica é a fogueira, o foguetório, o milho, a pinga, o mastro e as rezas dos santos. No Nordeste sertanejo, o São João é comemorado nos sítios, nas paróquias, nos arraiais, nas casas e nas cidades. A importância dessa festa pode ser avaliada pelo número de nordestinos e turistas que escolhem essa época do ano para sair de férias e participar dos festejos juninos. As cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, são as que mais atraem gente curiosa em conhecer as maiores festas de São João do mundo. Caruaru criou uma cidade cenográfica, a Vila do Forró, que é a réplica de uma cidade típica do sertão, com casas coloridas de arquitetura simples habitadas pela 24 rainha do milho, pela rezadeira, pela rendeira, pela parteira. Ali há também correio, posto bancário, delegacia, igreja, restaurantes, teatro de mamulengo. Atores encenam nas ruas o cotidiano dos habitantes da região. O maior cuscuz do mundo, segundo o Livro Guinness de Recordes, é feito lá, numa cuscuzeira que mede 3,3 metros de altura e 1,5 metro de diâmetro e comporta 700 quilos de massa. Uma das grandes atrações da festa é o desfile junino na véspera de São João de mais de vinte carros alegóricos, carroças ornamentadas com cortejo de bacamarteiros, bandas de pífaros, quadrilhas, casamentos matutos e grupos folclóricos. Campina Grande construiu um Forródromo que recebe todos os anos milhões de pessoas. Elas se divertem assistindo a apresentações do tradicional forró pé-deserra, de quadrilhas, cantores, bandas e desfiles de jegues, participam de jogos e brincadeiras e deleitam-se com as comidas típicas vendidas nas barracas. Na Região Norte No Sudeste Na Amazônia cabocla, a tradição de homenagear os santos possui um calendário que tem início em junho, com Santo Antônio, e termina em dezembro, com São Benedito. Cada comunidade homenageia seus santos preferidos e padroeiros, com destaque para os santos juninos. São festas de arraial que começam no décimo dia depois das novenas e nas quais estão presentes as fogueiras, o foguetório, o mastro, banhos, muita comida e folia. No eixo Belém/Parintins/Manaus, desde os tempos coloniais, a criação do boi, introduzida pelos portugueses, deu lugar a manifestações culturais que lhe são típicas: o boi-bumbá, dançado em diversas ocasiões, transformou-se atualmente em grande espetáculo, cujo ápice é a disputa entre os grupos Caprichoso e Garantido no Bumbódromo de Parintins, nos dias 28, 29 e 30 de junho. A tradição caipira, especialmente a do Sudeste do Brasil, caracteriza-se pelas festas realizadas em terreiros rurais, onde não faltam os elementos típicos dos três santos de junho. Mas elas também se espalharam pelas cidades e hoje as festas juninas acontecem, principalmente, em escolas, clubes e bairros. Como em outras partes do Brasil, o calendário das festas paulistas destaca os rodeios e as festas de peão boiadeiro como eventos ou espetáculos mais importantes, que se realizam de março a dezembro. As festas juninas, com maior ou menor destaque, ainda são realizadas em todas as regiões do Brasil e representam uma das manifestações culturais brasileiras mais expressivas. 25 26 3 Santo Antônio, São João e São Pedro Santo Antônio: Camarada e Casamenteiro F estejado no dia 13 de junho, Santo Antônio é um dos santos de maior devoção popular tanto no Brasil como em Portugal. Fernando de Bulhões nasceu em Lisboa em 15 de agosto de 1195 e faleceu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231. Recebeu o nome de Antônio ao passar, em 1220, da Ordem de Santo Agostinho para a Ordem de São Francisco e é conhecido como Santo Antônio de Lisboa ou Santo Antônio de Pádua. Santo Antônio era admirado por seus dotes de ótimo orador, pois quando pregava a palavra de Deus ela era entendida até mesmo por estrangeiros. É por assim dizer o “santo dos milagres”, como afirmou o padre Antônio Vieira em um sermão de 1663 realizado no Maranhão: “Se vos adoece o filho, Santo Antônio; se vos foge um escravo, Santo Antônio; se requereis o despacho, Santo Antônio; se aguardais a sentença, Santo Antônio; se perdeis a menor miudeza de vossa casa, Santo Antônio; e, talvez se quereis os bens alheios, Santo Antônio”. É o santo familiar e protetor dos varejistas em geral, por isso é comum encontrar sua figura em estabelecimentos comerciais. É também o padroeiro das povoações e dos soldados, pois enfrentou em vida aventuras guerreiras como soldado português. Sua figura aparece com destaque em episódios da História do Brasil: teria desempenhado o papel de heróico defensor da integridade do solo brasileiro, 27 28 como explicam os cronistas que relatam a libertação de Pernambuco dos holandeses, assim como os que falam da defesa da colônia do Sacramento, ao Sul, e do Rio de Janeiro com relação aos franceses, atribuindo a vitória à proteção deste santo. Sua influência é marcante entre o povo brasileiro. Seus devotos, em geral, não têm em casa uma imagem grande do santo e preferem levar no bolso uma pequena para se proteger. É a ele que as moças ansiosas pedem um noivo. A prática de colocar o santo de cabeça para baixo no sereno, amarrada num esteio, ou de jogá-lo no fundo do poço até que o pedido seja atendido, por exemplo, é bastante comum entre os devotos. Dos santos juninos, somente Santo Antônio é feito de madeira. Em geral, é esculpido em nó de pinho, daí terem surgido os versos: Os devotos mais exagerados só confiam seu pedido à imagem do Santo Antônio das igrejas franciscanas, procuradas especialmente nas terças-feiras e de modo particular no dia 13 de junho. Todos são devotos desse santo “camarada”. Os cantadores se apegam muito a Santo Antônio para tentar vencer os desafios, pois o consideram o mais fiel e o maior intercessor; os vaqueiros pedem proteção contra o estouro da boiada e os pescadores acreditam que no dia 13 de junho as redes se enchem de peixes. Basta lançá-las dizendo: Meu querido Santo Antônio feito de nó de pinho, com vós arranjo o que quero, porque peço com jeitinho. Em homenagem a Santo Antônio, geralmente realizam-se duas espécies de rezas e festas: os responsos, quando ele é invocado para achar objetos perdidos, e a No dia 13 de junho é pô a rede e tirá: os peixes ’stão na fiúza de Santo Antônio falá. trezena, cerimônia que se prolonga com cânticos, foguetório e comes e bebes de 1o a 13 de junho de cada ano. estar sendo usados pela primeira vez, senão… nada de a simpatia funcionar! Simpatias, Sortes e Adivinhas para Santo Antônio A seguir, algumas simpatias feitas para Santo Antônio: O relacionamento entre os devotos e os santos juninos, principalmente Santo Antônio e São João, é quase familiar: cheio de intimidades, chega a ser, por vezes, irreverente, debochado e quase obsceno. Esse caráter fica bastante evidente quando se entra em contato com as simpatias, sortes, adivinhas e acalantos feitos a esses santos: Em certas zonas paulistas, como na Serrana e na Mantiqueira, Santo Antônio recebe um vintém para achar os animais perdidos nas matas e uma pequena moeda de cobre para o porco voltar ao chiqueiro. Moças solteiras, desejosas de se casar, em várias regiões do Brasil, colocam-no de cabeça para baixo atrás da porta ou dentro do poço ou enterram-no até o pescoço. Fazem o pedido e, enquanto não são atendidas, lá fica a imagem de cabeça para baixo. E elas pedem: Confessei-me a Santo Antônio, confessei que estava amando. Ele deu-me por penitência que fosse continuando. Os objetos utilizados nas simpatias e adivinhações devem ser virgens, ou seja, Meu Santo Antônio querido, meu santo de carne e osso, se tu não me dás marido, não tiro você do poço. 29 Meu querido Santo Antônio, feito de nó de pinho, me arranje um casamento com um moço bonitinho (ou bonzinho). Santo Antônio, casamenteiro, não deixe a (dizer o nome) ficar solteira. Santo Antônio, me case já, enquanto sou moça e viva. O milho colhido tarde não dá palha nem espiga. Minha avó tem lá em casa um Santo Antônio velhinho. Em os moços não me querendo dou pancadas no santinho. Santo Antônio, Santo Antônio, abaixai-me esta barriga, que não sei que tem dentro, se é rapaz ou rapariga. Santo Antônio pequenino, mansador de burro brabo, 30 vem amansar minha sogra, que é levada do diabo. Para arrumar namorado ou marido, basta amarrar uma fita vermelha e outra branca no braço da imagem de Santo Antônio, fazendo a ele o pedido. Rezar um Pai-Nosso e uma Salve-Rainha. Pendurar a imagem de cabeça para baixo sob a cama. Ela só deve ser desvirada quando a pessoa alcançar o pedido. Para sonhar com o noivo, basta colocar três rosas vermelhas debaixo do travesseiro na véspera de Santo Antônio. A moça quer saber com quem vai se casar? Então, no dia de Santo Antônio, em cada refeição que fizer, deve deixar um pouco de comida no prato. No final do dia, ela precisa rezar para Nossa Senhora e pedir para que o homem amado venha comer os restos que deixou durante o dia. Depois é só adormecer, e o amado aparecerá em seus sonhos comendo a comida. No dia 13, é comum ir à igreja para receber o “pãozinho de Santo Antônio”, que é dado gratuitamente pelos frades. Em troca, os fiéis costumam deixar ofertas. O pão, que é bento, deve ser deixado junto aos demais mantimentos para que estes não faltem jamais. Feito um pedido a Santo Antônio, caso a pessoa tenha pressa em ser atendida, deve rezar um Pai-Nosso pela metade que o santo a atenderá logo, para que o suplicante termine a oração. Santo Antônio também é bastante lembrado nos acalantos: Numa ponta, Santo Antônio, noutra ponta, São João, no meio, Nossa Senhora, com seu raminho na mão. Se o noivado não vai muito bem ou se está se prolongando muito, as donzelas rezam a seguinte oração: “Padre Santo Antônio dos cativos, vós que sois um amarrador certo, amarrai, por vosso amor, quem de mim quer fugir, empenhai o vosso hábito e o vosso santo cordão com algemas fortes e duros grilhões que façam impedir os passos de (nome do amado), que de mim quer fugir, e fazei, ó meu bemaventurado Santo Antônio, que ele case comigo sem demora! Pelos vossos milagres; pela palavra quando a Jesus faláveis; pela defesa do vosso pai, um pedido eis-me a fazer. Abrandai a ira do mar; o sopro do vento; o negrume da noite; a chama abrasadora do sol; a frialdade da lua; a voracidade das feras; o horror dos desertos. Depois de tudo isso, abrandai o que de mais empedernido 31 existe sobre a terra: o coração dos homens. Oh!, meu milagroso Santo Antônio, fazei com que aquele por quem meu coração chama ouça a minha voz e, ouvindo-a, vá aos pés de Deus Nosso Senhor, comigo, vossa humilde devota. Amém.”” A Festa de Santo Antônio Nos primeiros treze dias de junho, os devotos de Santo Antônio rezam as trezenas com o intuito de alcançar graças através da sua intervenção ou de agradecer um milagre que o santo tenha realizado: Se queres milagres, implora confiante de Antônio o favor. Seu braço é tão forte que do erro e da morte destrói o furor… O folclorista Basílio de Magalhães, no 32 artigo “Santos padroeiros no domínio folclórico” (Cultura Política, n. 35, dez. 1943), descreve uma festa de Santo Antônio na cidade de Guarabira (Espírito Santo): na noite de 13 de junho, no centro de um terreiro bem varrido, decorado com bambu e bandeirinhas de papel coloridas, encontrase um mastro com uma bandeira e a figura de Santo Antônio em seu topo. Numa casa em frente, há um oratório preparado com a imagem do padroeiro da festa. Em determinado momento, começam as cantorias e danças matutas/caipiras ao som de violas, pandeiros e tambor. Os devotos entram dançando no meio do terreiro e cantam: Fui ao mato cortar lenha, Santo Antônio me chamou. Quando o santo chama a gente que fará os pecador. E todos na roda respondem: Na porta da sala, tá me chamando. Oh gente danada, tá me xingando! Eu não sou daqui, vou me arretirando. Ai, ai, ai! Ai, ai, ai! Santo Antônio me chamou! Como o dia de Santo Antônio é comemorado alguns dias antes do nascimento de São João, estão presentes em suas festividades elementos próprios das festas deste último, como os fogos e a fogueira. 33 São João, a Purificação pelo Batismo João Batista nasceu no dia 24 de junho, alguns anos antes de seu primo Jesus Cristo, e morreu em 29 de agosto do ano 31 d.C., na Palestina. Foi degolado por ordem de Herodes Antipas a pedido de sua enteada Salomé, pois a pregação do filho de Santa Isabel e São Zacarias incomodava a moral da época. Antes mesmo de Jesus, João Batista já pregava publicamente às margens do rio Jordão. Ele instituiu, pela prática de purificação através da imersão na água, o batismo, tendo inclusive batizado o próprio Cristo nas águas desse rio. São João ocupa papel de destaque nas festas, pois, dentre os santos de junho, foi ele que deu ao mês o seu nome (mês de São João) e é em sua homenagem que se chamam “joaninas” as festas realizadas no decurso dos seus trinta dias. O dia 23 de junho, véspera do nascimento de São João 34 e início dos festejos, é esperado com especial ansiedade. Segundo Frei Vicente do Salvador, um dos primeiros brasileiros a escrever a história de sua terra, já no ano de 1603 os índios acudiam a todos os festejos portugueses, em especial os de São João, por causa das fogueiras e capelas. São João é muito querido por todos, sem distinção de sexo nem de idade. Moças, velhas, crianças e homens o fazem de oráculo nas adivinhações e festejam o seu dia com fogos de artifício, tiros e balões coloridos, além dos banhos coletivos de madrugada. Acende-se uma fogueira à porta de cada casa para lembrar a fogueira que Santa Isabel acendeu para avisar Nossa Senhora do nascimento do seu filho. São João, segundo a tradição, adormece no seu dia, pois se estivesse acordado vendo as fogueiras que são acesas para homenageá-lo não resistiria: desceria à Terra e ela correria o risco de incendiar-se. A lenda do surgimento da fogueira de São João Dizem que Santa Isabel era muito amiga de Nossa Senhora e, por isso, costumavam visitarse. Uma tarde, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora e aproveitou para contar-lhe que dentro de algum tempo nasceria seu filho, que se chamaria João Batista. Nossa Senhora então perguntou: — Como poderei saber do nascimento dessa criança? — Vou acender uma fogueira bem grande; assim você poderá vê-la de longe e saberá que João nasceu. Mandarei também erguer um mastro com uma boneca sobre ele. Santa Isabel cumpriu a promessa. Certo dia Nossa Senhora viu ao longe uma fumaceira e depois umas chamas bem vermelhas. Foi à casa de Isabel e encontrou o menino João Batista, que mais tarde seria um dos santos mais importantes da religião católica. Isso se deu no dia 24 de junho. A lenda das bombas de São João Antes de São João nascer, seu pai, São Zacarias, andava muito triste por não ter filhos. Certa vez, um anjo de asas coloridas, envolto em uma luz misteriosa, apareceu à frente de Zacarias e anunciou que ele seria pai. A alegria de Zacarias foi tão grande que ele perdeu a voz desse momento em diante. No dia do nascimento do filho, perguntaram a Zacarias como a criança se chamaria. Fazendo um grande esforço, ele respondeu “João” e a partir daí recuperou a voz. Todos fizeram um barulhão enorme. Foram vivas para todos os lados. Vem daí o costume de as bombinhas, tão apreciadas pelas crianças, fazerem parte dos festejos juninos. 35 Simpatias, Sortes e Adivinhas para São João A moça deve apanhar pimentas num pé de pimenteira com os olhos vendados. Caso ela colha pimenta verde, seu noivo será jovem; se for madura, o casamento será com um velho ou viúvo; se a pimenta for de verde para madura, o casamento será com um homem de meia-idade. Aplicar um jejum forçado a um galo por três dias. À noite, no terreiro iluminado, colocar montículos de milho nos pés de moços e moças, que devem ter formado uma grande roda. Soltar, então, o galo faminto no centro. O montículo de milho escolhido pelo galináceo será daquele(a) que se casará em breve. Passar descalço sobre as brasas da fogueira com uma faca nova na mão. A 36 seguir, enfiar a faca numa bananeira. No outro dia, pela manhã, retirá-la e interpretar o desenho, ou melhor, as iniciais do nome da pessoa com quem vai se casar. Na noite de São João, escrever o nome de quatro pretendentes em cada ponta do lençol e dar um nó em cada uma delas. De manhã, o nó que estiver desmanchado tem o nome daquele com quem a pessoa vai se casar. No dia de São João, perguntar o nome do primeiro mendigo que lhe pedir esmolas. Esse será o nome do futuro cônjuge. Na noite de São João, encher uma bacia com água e ir com ela para a beira da fogueira. Rezar então uma Ave-Maria e, quando terminar, aparecerá na água a sombra do rapaz com quem a moça se casará. Escrever três nomes em pedaços de papel. Dobrá-los bem e colocar, aleatoriamente, um no fogão, outro na rua e o último sob o travesseiro. Ao amanhecer, desdobrar o que está sob o travesseiro; esse será o futuro cônjuge. Na noite de São João, passar um ramo de manjericão na fogueira e jogá-lo no telhado. Se na manhã seguinte ele estiver verde, a pessoa vai se casar com moço. Se estiver murcho, o noivo será velho. Ainda ao pé da fogueira, segurar um papel branco e passá-lo por cima da fogueira. Sem deixar o papel queimar, girálo enquanto se reza uma Salve-Rainha. A fumaça vai desenhar o rosto do futuro marido. Na noite de 23 de junho, quebrar um ovo dentro de um copo e deixá-lo ao relento. Na manhã seguinte, interpretar o que está desenhado na clara: torre de igreja é casamento (em algumas regiões do Brasil) ou ingresso na vida religiosa (Maranhão); túmulo, caixão de defunto ou rede de defunto significa morte na certa em algumas regiões; em outras, a rede também pode ser interpretada como renda, de que é feito o véu de noiva; significa, portanto, casamento. Encher uma bacia ou prato virgem com água e levá-la para a beira da fogueira na noite de São João. Acender então uma vela e, enquanto se vai rezando uma AveMaria, deixar os pingos da cera caírem na água. Depois é só interpretar a inicial do nome da pessoa com quem vai se casar. Pôr três pratos sobre uma mesa: um com flores, outro com água e o terceiro com um terço ou rosário. Os candidatos à sorte en37 tram na sala com os olhos vendados e postam-se atrás das cadeiras à frente das quais estão os pratos. As flores significam casamento; o terço, ingresso na vida religiosa; a água, viagem. Esta é uma sorte característica de regiões marítimas ou fluviais. Quando estiverem soltando um balão, pensar em algo que se deseja. Se ele subir, acontecerá o que se pensou; caso se incendeie, certamente o “sorteiro” ficará solteiro. Prender uma fita no travesseiro e rezar para São João. No outro dia, se ela aparecer solta é porque a pessoa vai se casar. Numa bacia com água, colocar duas agulhas. Se elas se juntarem, é sinal de que a pessoa deve se casar em breve. Às 6 da tarde da véspera de São João, pôr um cravo num copo com água. Na ma38 nhã seguinte, se ele estiver viçoso, é sinal de casamento; se estiver murcho, nada de casamento. Para curar verrugas, passar sobre elas o primeiro ramo que encontrar ao clarear o dia de São João. À meia-noite de São João, aquele que não enxergar sua imagem completa no rio morrerá logo. Quem enxergar seu corpo apenas pela metade morrerá no decorrer do ano. Salve-Rainha Esta oração está presente em muitas adivinhações de São João e Santo Antônio. “ Salve-Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, Ó clemente, Ó piedosa, Ó doce sempre Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.”” A Festa de São João Em festa de São João, na maioria das regiões brasileiras, não faltam fogos de artifício, fogueira, muita comida (o bolo de São João, principalmente nos bairros rurais, é essencial), bebida e danças típicas de cada localidade. No Nordeste, por exemplo, essa festa é tão tradicional que no dia 23 de junho, depois do meio-dia, em algumas localida- des ninguém mais trabalha. Enfeitam-se sítios, fazendas e ruas com bandeirolas coloridas para a grande festa da véspera de São João. Prepara-se a lenha para a grande fogueira, onde serão assados batata-doce, mandioca, cebola do reino e milho. Em torno dela sentam-se os familiares de sangue e de fogueira. O formato da fogueira varia de lugar para lugar: pode ser quadrada, piramidal, empilhada… Quanto mais alta, maior é o prestígio de quem a armou. A madeira utilizada também varia bastante: pinho, peroba, maçaranduba, piúva. Não se queimam cedro, imbaúba nem as ramas da videira, por terem uma relação estreita com a passagem de Jesus na terra. Os balões levam, segundo os devotos, os pedidos para o santo. Quando a fogueira começa a queimar, o mastro, que recebeu a bandeira do santo homenageado, já se encontra preparado. Ele é levantado enquanto se fazem preces, pedidos e simpatias: 39 São João Batista, batista João, levanto a bandeira com o livro na mão. O nosso corpo é uma podridão, no fundo da terra, no centro do chão. São João adormeceu no colo de sua tia. Se meu São João soubesse quando era seu dia, descia do céu na terra cum bandeira de alegria. Depois do levantamento do mastro, tem início a queima de fogos, soltam-se os buscapés e as bombinhas. A arvorezinha, também chamada de mastro, que é plantada em frente às casas e, no lugar da festa, é plantada perto da fogueira, está enfeitada com laranja, milho verde, coco, presentes, garrafas, etc. A cerimônia do batismo simbólico de São João Batista faz parte da tradição da festa, mesmo que ela tenha deixado de ser 40 praticada em alguns lugares hoje em dia. Os devotos se dirigem ao rio cantando com entusiasmo: Vamos, vamos, toca a marchar, n’água de São João vamos nos lavar. Depois do banho coletivo, todos voltam para o terreiro cantando: N’água de São João me lavei. Toda mazela que tinha deixei! Ou ainda trazem na cabeça grinaldas de folhagens: Capelinha de melão é de São João. É de cravo, é de rosa, é de manjericão. A cerimônia do banho varia de uma região para outra. No Mato Grosso, por exemplo, não são as pessoas que se banham nos rios, e sim a imagem do santo. Na Região Norte, principalmente em Belém e Manaus, o banho-de-cheiro faz parte das tradições juninas. A preparação do banho de São João inicia-se alguns dias antes da festa. Trevos, ervas e cipós são pisados, raízes e paus são ralados dentro de uma bacia ou cuia com água e depois guardados em garrafas até o momento do banho. Chegada a hora da cerimônia, os devotos lavam e esfregam o corpo com esses ingredientes. Acredita-se que o banhode-cheiro tenha o poder mágico de trazer muita felicidade às pessoas que o praticam. As danças regionais, o som de violas, rabecas e sanfonas, o banho do santo, o ato de pular a fogueira, a fartura de alimentos e bebidas — tudo isso transforma a festa de São João numa noite de encantamento que inspira amores e indica a sorte de seus participantes. No fim da festa, todos pisam as brasas da fogueira para demonstrar sua devoção. 41 São Pedro, Fundador da Igreja Católica São Pedro, o apóstolo e pescador do lago de Genezareth, cativa seus devotos pela história pessoal. Homem de origem humilde, ele foi apóstolo de Cristo e depois encarregado de fundar a Igreja Católica, tendo sido seu primeiro papa. Considerado o protetor das viúvas e dos pescadores, São Pedro é festejado no dia 29 de junho com a realização de grandes procissões marítimas em várias cidades do Brasil. Em terra, os fogos e o pau-de-sebo são as principais atrações de sua festa. Depois de sua morte, São Pedro, segundo a tradição católica, foi nomeado chaveiro do céu. Assim, para entrar no céu, é necessário que São Pedro abra as portas. Também lhe é atribuída a responsabilidade de fazer chover. Quando começa a trovejar, e as crianças choram com medo, é costume acalmá-las dizendo: “É a barriga de São 42 Pedro que está roncando” ou “ele está mudando os móveis de lugar”. No dia de São Pedro, todos os que receberam seu nome devem acender fogueiras na porta de suas casas. Além disso, se alguém amarrar uma fita no braço de alguém chamado Pedro, ele tem a obrigação de dar um presente ou pagar uma bebida àquele que o amarrou, em homenagem ao santo. Acalanto de São Pedro Acalanto registrado em Cunha (São Paulo): Acordei de madrugada, fui varrê a Conceição. Encontrei Nossa Senhora com dois livrinhos na mão. Eu pedi um com ela, ela me disse que não; eu tornei a lhe pedi, ela me deu um cordão. Numa ponta tinha São Pedro, na outra tinha São João, no meio tinha um letreiro da Virgem da Conceição. A Festa de São Pedro Em homenagem ao santo, acendemse fogueiras, erguem-se mastros com sua bandeira e queimam-se fogos, porém não há, na noite de 29 de junho, a mesma empolgação presente na festa de São João. Também se fazem procissões terrestres, organizadas pelas viúvas, e fluviais, pois, como vimos, São Pedro é o protetor dos pescadores e das viúvas. Em várias regiões do Brasil, a brincadeira mais comum na festa é a do pau-de-sebo. Embora São Paulo também seja homenageado em 29 de junho, ele não é figura de destaque nas festividades desse mês. A mãe de São Pedro A bondade, a simplicidade e a boa-fé desse santo estão presentes nesta história: “ A mãe de São Pedro era uma velhinha muito má, não tinha amizades e todos fugiam dela. Certo dia, quando estava lavando num córrego um molhe de folhinhas de cebolas, uma delas se desprendeu, ganhou a correnteza e lá se foi água abaixo. Ao não conseguir pegá-la, ela exclamou: — Ora, seja tudo pelo amor de Deus! Não levou muito tempo, ela morreu e foi apresentar-se no céu. Mas acabou indo para 43 o inferno, tão grande era o peso de seus pecados. O filho ainda andava pelo mundo e não lhe podia valer. Quando São Pedro morreu, foi nomeado chaveiro do céu. Sua mãe o viu no gozo das glórias celestes e pediu-lhe por gestos que a salvasse. Como ele não podia resolver nada por si, apelou ao Senhor: — Salva minha mãe, Divino Mestre. O Senhor lhe respondeu com essas palavras: — Se houver, no Livro das Almas, na vida de tua mãe, ao menos uma boa ação, estará salva caso ela saiba aproveitá-la. Examinou-se o livro e a certa altura, nas contas da mãe de São Pedro, encontrou-se a folhinha de cebola, nada mais! Era a mesma que motivara o comentário da velha, que ao menos uma vez na vida se mostrara conformada: — Seja tudo pelo amor de Deus! Então o Senhor disse a Pedro: — Lança uma das pontas da folhinha em direção ao inferno. Tua mãe que se agarre a ela e tu a puxarás. Se ela conseguir subir até aqui, estará salva. Pedro fez tudo o que o Senhor lhe ordenou. A velhinha agarrou-se à folha, mas uma porção de almas, querendo aproveitar a oportunidade de salvação, segurou-se às pernas da velha. Apesar disso, ela subia. Quando o grupo já estava a certa altura, outras almas se agarravam às pernas das primeiras. A velha, indignada, de avara que era, esperneou e atirou novamente ao inferno as companheiras, pois não queria levá-las para o céu. Nesse mesmo instante, porém, a folha de cebola partiu-se, e a mãe de São Pedro ficou no espaço. Não tinha por onde 44 subir ao céu, e o pedacinho de folha que conservava nas mãos não a deixava voltar ao inferno. E até hoje ela vive assim: nem na terra nem no céu. Costuma-se dizer que quem fica com a mãe de São Pedro não está nem com Deus nem com o diabo.”” 45 46 subir ao céu, e o pedacinho de folha que conservava nas mãos não a deixava voltar ao inferno. E até hoje ela vive assim: nem na terra nem no céu. Costuma-se dizer que quem fica com a mãe de São Pedro não está nem com Deus nem com o diabo.”” 45 46 4 Casamento Caipira ou Matuto O casamento caipira ou matuto aborda de forma bem-humorada a instituição do casamento e as relações sexuais pré-nupciais e suas conseqüências. Seu enredo, com algumas variações de uma região para outra, é o seguinte: A noiva fica grávida antes do casamento e seus pais obrigam o noivo a se casar com ela. Como ele tenta fugir, o pai pede a interferência do delegado e de seus ajudantes. Em algumas localidades, o casamento civil é realizado após a cerimônia religiosa, sob a vigilância do delegado e de seus auxiliares. Depois, é só acompanhar a sanfona, o triângulo e a zabumba e comemorar o casamento com a dança da quadrilha. Sugestão para a Representação do Casamento Caipira ou Matuto Personagens Cenário Padre, coroinha, noiva, noivo, delegado, ajudantes do delegado, pais da noiva e padrinhos. Representação de um altar de igreja ou capela. Os convidados estão posicionados em 47 duas fileiras, deixando o centro para a noiva. O padre anuncia a chegada da noiva, que entra com o pai e vai até o altar, onde estão o padre, devidamente paramentado, seu coroinha e os padrinhos e pais dos noivos. Os personagens, carregando bastante no sotaque interiorano, dizem o seguinte: PADRE: A noiva tá chegano! Vamo batê parma pr’ela, pessoar!!! Cadê o noivo??? N OIVA: Ai, mãe, ele num vem, acho que vou dismaiá... (E, simulando um desmaio, é acudida pela mãe e pela madrinha.) O pai da noiva faz um sinal para o delegado e cochicha com ele. D E L E G A D O : Peraí, seu padre, eu já vô buscá ele. (Sai acompanhado por dois ajudantes, armados de espingarda e cassetetes.) Entra o noivo empurrado pelo delegado, que permanece no altar, grande parte da cerimônia, atrás do noivo, para que ele não fuja. PADRE: Bão, vamo começá logo esse casório. Ocê, Chiquinha 48 Dengosa, promete, de coração, pra marido toda vida o Pedrinho Foguetão? NOIVA: Mas que pregunta isquisita seu vigário faz pra mim. Eu vim aqui mais o Pedrinho num foi pra dizê que sim??? PADRE: E ocê, Pedrinho, que me olha assim tão prosa, qué mesmo pra sua esposa a sinhá Chiquinha Dengosa? NOIVO: Num havia de querê, num é essa minha opinião, mas, se não caso com a Chiquinha, vô direto pro caixão... (Vira-se para o delegado, que está com a espingarda em punho.) P ADRE: Então, em nome do cravo e do manjericão, caso a Chiquinha Dengosa com o Pedrinho Foguetão! E viva os noivos! C ONVIDADOS : Viva!!! (Conforme os noivos passam pelos convidados, pode-se jogar arroz.) PADRE: E vamo pro baile, pessoar!!! Com os convidados já devidamente formados, tem início a quadrilha — o grande baile do casamento. 49 50 5 Origem da Quadrilha T ambém chamada de quadrilha caipira ou de quadrilha matuta, é muito comum nas festas juninas. Consta de diversas evoluções em pares e é aberta pelo noivo e pela noiva, pois a quadrilha representa o grande baile do casamento que hipoteticamente se realizou. Esse tipo de dança (quadrille) surgiu em Paris no século XVIII, tendo como origem a contredanse française, que por sua vez é uma adaptação da country dance inglesa, segundo os estudos de Maria Amália Giffoni. A quadrilha foi introduzida no Brasil durante a Regência e fez bastante sucesso nos salões brasileiros do século XIX, principalmente no Rio de Janeiro, sede da Corte. Danças Juninas Depois desceu as escadarias do palácio e caiu no gosto do povo, que modificou suas evoluções básicas e introduziu outras, alterando inclusive a música. A sanfona, o triângulo e a zabumba são os instrumentos musicais que em geral acompanham a quadrilha. Também são comuns a viola e o violão. Nossos compositores deram um colorido brasileiro à sua música e hoje uma das canções preferidas para dançar a quadrilha é Festa na roça, de Mario Zan. O marcador, ou “marcante”, da quadrilha desempenha papel fundamental, pois é ele que dá a voz de comando em francês não muito correto misturado com o português e dirige as evoluções da dança. Hoje, dança-se a quadrilha apenas nas festas juninas e em comemorações festivas 51 no meio rural, onde apareceram outras danças dela derivadas, como a quadrilha caipira, no Estado de São Paulo, o baile sifilítico, na Bahia e em Goiás, a saruê (combina passos da quadrilha com outros de danças nacionais rurais e sua marcação mistura francês e português), no Brasil Central, e a mana-chica (quadrilha sapateada) em Campos, no Rio de Janeiro. A quadrilha é mais comum no Brasil sertanejo e caipira, mas também é dançada em outras regiões de maneira muito própria, caso de Belém do Pará, onde há mistura com outras danças regionais. Ali, há o comando do marcador e durante a evolução da quadrilha dança-se o carimbó, o xote, o siriá e o lundum, sempre com os trajes típicos. Trajes Usados na Dança No fim do século XIX as damas que dançavam a quadrilha usavam vestidos até os pés, sem muita roda, no estilo blusão, 52 com gola alta, cintura marcada, mangas “presunto” e botinas de salto abotoadas do lado. Os cavalheiros vestiam paletó até o joelho, com três botões, colete, calças estreitas, camisa de colarinho duro, gravata de laço e botinas. Hoje em dia, na tradição rural brasileira, o vestuário típico das festas juninas não difere do de outras festas: homens e mulheres usam suas melhores roupas. Nos centros urbanos, há uma interpretação do vestuário caipira ou sertanejo baseada no hábito de confeccionar roupas femininas com tecido de chita florido e as masculinas com tecidos de algodão listrados e escuros. Assim, as roupas usadas para dançar a quadrilha variam conforme as características culturais de cada região do país. Os trajes mais comuns são: para os cavalheiros, camisa de estampa xadrez, com imitação de remendos na calça e na camisa, chapéu de palha, talvez um lenço no pescoço e botas de cano; as damas geralmente usam vestidos com estampas florais, de cores fortes, com babados e rendas, mangas bufantes e laçarotes no cabelo ou chapéu de palha. Sugestão para a Evolução da Quadrilha Caipira CAMINHO DA FEST A: os pares seguem atrás ESTA dos noivos, iniciando a dança e parando em determinado momento no centro terreiro. ANARIÊ (do francês en arrière, para trás):: as damas e os cavalheiros se separam (4 metros, aproximadamente), formando duas colunas. OS CAVALHEIROS CUMPRIMENT AM AS DAMAS: UMPRIMENTAM eles se aproximam das damas, cumprimentando-as. Flexionam o tronco, mantendo a cabeça erguida, e voltam a seus lugares, caminhando de costas. AS DAMAS CUMPRIMENT AM OS CAVALHEIROS: UMPRIMENTAM elas repetem a evolução dos cavalheiros. SAUDAÇÃO GERAL: tanto as damas como os cavalheiros andam para a frente e, quando se encontram, cumprimentam-se. “B ALANCÊ” E “TUR” (balanceio e giro):: damas e cavalheiros fazem o passo no lugar, balançando os braços naturalmente, e giram dançando juntos. GRANDE PASSEIO: as damas colocam-se à direita dos cavalheiros e os dois dão-se os braços. Do lado de fora o outro braço continua balanceando ao longo do corpo. Formam um círculo e seguem dançando. Quando o marcador anuncia nova evolução, a progressão cessa e os participantes fazem o que foi ordenado. “CHANGÊ” DE DAMAS (trocar de damas):: no grande passeio, os cavalheiros avançam e colocam-se ao lado da dama imediatamente à frente. Se for dito “mais uma vez”, repetem o movimento. Os comandos “passar duas” e “passar quatro” também são executados pelo cavalheiro. OLHA O TÚNEL: os noivos, que estão na frente, param e elevam os braços internos para cima e, de mãos dadas, fazem o túnel. O segundo par flexiona o tronco, passa pelo túnel, coloca-se à frente dos noivos e eleva 53 os braços, e assim sucessivamente, até que todos passem. Executa-se o passo no lugar durante essa evolução. SEGUE O PASSEIO: é a voz de comando para que o grande passeio continue. CAMINHO DA ROÇA: as fileiras de damas e cavalheiros fundem-se, formando uma só coluna. O primeiro segura, com as mãos à altura dos ombros, as mãos de quem está atrás. Os demais colocam as mãos nos ombros de quem está à sua frente. A coluna progride, fazendo curvas para um lado e para outro, como se fosse uma serpente. O marcador da quadrilha continua dando voz de comando. OLHA A CHUVA!: todos dão meia-volta. J Á P A S S O U ! : todos dão meia-volta novamente dizendo “ehh!”. O LHA A C OBRA! : as damas gritam e pulam, os cavalheiros procuram segurá-las em seus braços. É MENTIRA! : os “caipiras” ou “matutos” continuam o passo e gritam “uhh!”. A PONTE QUEBROU! : todos dão meiavolta novamente. 54 J Á C ONSERT OU ! : voltam a dançar no ONSERTOU outro sentido. OLHA O CARACOL!: em coluna e com as mãos ainda sobre os ombros de quem está à frente, todos obedecem às ordens do marcador, que começará a descrever um percurso cheio de curvas que fazem lembrar o casco de um caracol. Quando o marcador disser “desvirar”, o guia deverá fazer as curvas em sentido contrário, voltando a dançar em linha reta. FORMAR A GRANDE RODA: os participantes da quadrilha dão as mãos formando uma grande roda e, ao ouvir a voz de comando “à direita”, “à esquerda”, deverão se deslocar no sentido determinado pelo marcador. DAMAS AO CENTRO: as damas formam uma roda no centro e deslocam-se no sentido indicado pelo marcador. COROA DE ROSAS: os cavalheiros, de mãos dadas, erguem os braços na vertical sobre a cabeça das damas, como se as coroassem, depois abaixam os braços passando-os pela frente, até a altura da cintura das damas, contornando-as. Fazem o passo no lugar durante a coroação. Depois podem deslocar-se “à direita” e “à esquerda”. COROA DE ESPINHOS: nesse momento, são as damas quem elevam os braços sobre a cabeça dos cavalheiros, coroando-os. O LHA O GRANDE P ASSEIO! : repetem a formação descrita anteriormente. V AI COMEÇAR O GRANDE BAILE. OLHA A VALSA DOS NOIVOS!: os noivos entram no centro da roda e dançam juntos. O L H A O S P ADRINHOS ! : os padrinhos dançam no centro da roda. BAILE GERAL!: todos os pares dançam no centro da roda. O GRANDE BAILE ESTÁ ACABANDO. VAMOS NOS DESPEDIR DO PESSOAL! : todos executam a evolução do grande baile e se retiram do centro do terreiro, despedindo-se das pessoas que estão assistindo. festas juninas, o fandango tem sentidos diferentes de acordo com a localidade. No Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até em São Paulo) o fandango é um baile com várias danças regionais: anu, candeeiro, caranguejo, chimarrita, chula, marrafa, pericó, queroquero, cana-verde, marinheiro, polca, etc. A coreografia não é improvisada e segue a tradição. O fandango se divide em três grupos nessa região: Fandango 1. BATIDOS: caracterizam-se pelo forte sapateado, barulhento, que quase abafa o conjunto de tocadores. Apenas os homens sapateiam. 2. VALSADOS: dança lenta com pares fixos, do começo ao fim. OS: as valsas são intercaladas 3. MIST ISTOS de batidos. Dançado em várias regiões do país em festividades católicas como o Natal e as Em São Paulo, o fandango é uma dança que se aproxima do cateretê e às 55 vezes é sinônimo de chula (bailado masculino muito comum no Rio Grande do Sul, de coreografia agitada e bastante complexa). No Norte do Brasil, o fandango não é baile nem dança de par ou individual. É sempre um auto popular, seqüência de temas com certa articulação, que tem origem na convergência das cantigas portuguesas, como aponta Cascudo (1988, p. 320 e 321), e está presente no nosso país desde a primeira década do século XIX. Já no Nordeste brasileiro, o fandango é o auto característico dos marujos, sendo conhecido também como chegança dos marujos ou marujada. A cana-verde cana-verde, dançada principalmente no Sul e no Centro do Brasil, apesar de fazer parte do fandango, também é bem popular em outras festividades. Nas festas juninas, as quadras dessa dança são geralmente improvisadas, podendo encarregar-se dessa tarefa tanto os violeiros como os próprios dançadores. 56 Eu plantei caninha-verde sete palmos de fundura. Quando foi de madrugada a cana ’stava madura. Uai, uai, sete palmos de fundura. Quando foi de madrugada a cana ’stava madura. Pra cantar caninha-verde não precisa imaginá. De qualquer folha de mato tiro um verso pra cantá. Eu tenho um chapéu de palha, de pano não posso ter. De palha eu mesmo faço, de pano não sei fazer. Eu tenho um chapéu de palha que custou mil e quinhentos. Quando eu ponho na cabeça não me falta casamento. Formação Forma-se uma roda em fila, no sentido dos ponteiros do relógio. A cana-verde pode ser dançada só por homens e também por pares. Movimentação Os participantes deslocam-se, saindo com o pé esquerdo (eu); no quarto passo, batem o pé direito (verde) com uma palma para o centro da roda. Quando cantam “madrugada”, a palma deverá estar do lado de fora, sempre junto com o pé direito. No refrão (uai, uai) a roda faz meiavolta, girando no sentido contrário, e segue sempre a mesma movimentação, ou seja, uma palma para dentro e outra para fora, sempre batendo com o pé direito. No Maranhão, essa dança é executada de forma bastante semelhante à da quadrilha. Bumba-meu-boi Dança dramática presente em várias festividades, como o Natal e as festas juninas, o bumba-meu-boi tem características diferentes e recebe inclusive denominações distintas de acordo com a localidade em que é apresentado: no Piauí e no Maranhão, chama-se bumba-meu-boi; na Amazônia, boi-bumbá; em Santa Catarina, boi-demamão; no Recife, é o boi-calemba e no Estado do Rio de Janeiro, folguedo-do-boi. O enredo da dança é o seguinte: uma mulher grávida (cujo nome varia de acordo com a região do Brasil) sente vontade de comer língua de boi. O marido resolve atender a seu desejo e mata o primeiro boi que encontra. Logo depois, o dono do boi, que era seu patrão, aparece e fica muito zangado ao ver o animal morto. Para consertar a situação, surge um curandeiro, que consegue ressuscitar o boi. Nesse momento, todos se alegram e começam a brincar. Os participantes do bumba-meu-boi dançam e tocam instrumentos enquanto as pessoas que assistem se divertem quando o boi ameaça correr atrás de alguém. O boi do espetáculo é feito de papelão ou 57 madeira e recoberto por um pano colorido. Dentro da carcaça, alguém faz os movimentos do boi. Lundu (lundum/londu/landu) De origem africana, o lundu foi trazido para o Brasil pelos escravos vindos principalmente de Angola. Nessa dança, homens e mulheres, apesar de formar pares, dançam soltos. A mulher dança no lugar e tenta seduzir com seus encantos o parceiro. A princípio ela demonstra certa indiferença, mas, no desenrolar da dança, passa a mostrar interesse pelo rapaz, que a seduz e a envolve. Nesse momento, os movimentos são mais rápidos e revelam a paixão que passa a existir entre os dançarinos. Logo o cavalheiro passa a provocar outra dama e o lundu recomeça com a mesma vivacidade. O lundu é executado com o estalar dos dedos dos dançarinos, castanholas e sapa58 teado, além do canto acompanhado por guitarras e violões. Em geral, a música é executada como compasso binário, com certo predomínio de sons rebatidos. Essa dança é típica das festas juninas nos Estados do Norte (como parte da quadrilha tradicional e independente desta), Nordeste e Sudeste do Brasil. Cateretê Dança rural do Sul do país, o cateretê foi introduzido pelos jesuítas nas comemorações em homenagem a Santa Cruz, São Gonçalo, Espírito Santo, São João e Nossa Senhora da Conceição. É uma dança bastante difundida nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e também está presente nas festas católicas do Pará, Mato Grosso e Amazonas. Nas zonas litorâneas, geralmente é dançado com tamancos de madeira dura. No interior desses Estados, os dançarinos dançam descalços (Taubaté, Cunha, Lagoinha) ou usam esporas nos sapatos (Barretos, Guaratinguetá, Itararé). Em algumas cidades o cateretê é conhecido como catira (Araçatuba, Nazaré Paulista, Piracaia e Pereira Barreto). Em geral, o cateretê é dançado apenas por homens, porém, em alguns Estados, como Minas Gerais, as mulheres também participam da dança. Os dançarinos formam duas fileiras, com acompanhamento de viola, cantos, sapateado e palmas. Os saltos e a formação em círculo aparecem rapidamente. Os dançarinos não cantam, apenas batem os pés e as mãos e acompanham a evolução. As melodias são cantadas por dois violeiros, o mestre, que canta a primeira voz, e o contramestre, que faz a segunda. 59 60 6 O s jogos que valem prendas são uma atração tradicional nas festas juninas. Dividem-se em jogos de terreiro e jogos de barracas. Jogos de Terreiro Pau-de-sebo Brincadeira que anima as festas juninas, principalmente a festa em homenagem a São Pedro no Sudeste, e também está presente nas festas natalinas, no Nordeste. O pau-de-sebo é um mastro (não confundir com o mastro dos santos juninos) de madeira envernizada com aproximadamente 5 metros de altura. É cuidadosamente preparado: tiram-se todos os nódulos da madeira, que depois é lixada, e passa-se sebo de boi ou cera. O pau-de- Jogos Juninos sebo é então solidamente plantado no chão e muitas vezes recebe, no topo, um triângulo de madeira ao qual se amarra dinheiro (uma cédula de valor alto ou um depósito repleto de dinheiro). A brincadeira consiste em, abraçado ao pau-de-sebo, tentar subir e alcançar o prêmio. Como o mastro foi revestido com cera, dificilmente os que participam da brincadeira conseguem subir até seu topo, Escorregam até perto do chão e voltam a insistir várias vezes, até desistir ou atingir o alvo, quando recebem palmas e vivas das pessoas que estão assistindo. Catar amendoim Cada criança deve apanhar, com uma colher, os amendoins colocados à sua frente, a uma certa distância, e levá-los 61 para seu lugar, junto à linha de partida, um de cada vez. Vence quem primeiro reunir cinco grãos. Corrida de três pés Cada jogador amarra a sua perna esquerda à perna direita do parceiro e, assim, os dois pulam até a linha de chegada. Corrida de funis Introduzir dois funis numa corda, com a parte mais estreita voltada para um laço feito no centro. Os jogadores terão de, apenas soprando, levar os funis até o laço. Corrida do saci Riscar no chão duas linhas paralelas, sendo uma a de chegada. Ao sinal combinado, as crianças saem pulando num pé só em direção à linha de chegada. Corrida de sacos Semelhante à corrida do Saci, cada jogador faz o percurso com o corpo enfiado num saco bem preso à cintura. Jogos de Barracas Acertar o Alvo Cada jogador recebe três bolinhas e, de certa distância, procura jogá-las dentro da boca de um grande caipira, desenhado em cartolina. Em algumas regiões, um palhaço substitui o caipira no cartaz. Jogo de argolas Colocam-se várias garrafas estrategicamente no centro de uma barraca. Cada jogador recebe determinado número de argolas e tenta encaixá-las nas garrafas. Pescaria Num tanque de areia, colocam-se peixinhos feitos de lata ou papelão. Cada um tem na boca uma argolinha, que deverá 62 ser enganchada pelo anzol do pescador, ou jogador. Cada peixinho tem um número que corresponde a uma prenda. Tiro ao Alvo Coloca-se um alvo a certa distância; o jogador deverá acertá-lo utilizando dardos. Toca do Coelho Várias tocas numeradas são espalhadas num espaço fechado da barraca. Os jogadores apostam em determinada toca. Quando se solta ali um coelhinho, vence o jogador da toca em que ele primeiro entrar. 63 64 7 A s músicas típicas das festas juninas podem ser apenas cantadas ou também dançadas. Até hoje muitas são compostas especialmente pelos nordestinos, e formam o repertório do forró, que se transformou em baile realizado não apenas no período junino. Entre os compositores e cantores mais famosos, destaca-se o pernambucano Luiz Gonzaga. Algumas estrofes de suas músicas são conhecidas de todos os brasileiros, como as de Olha pro céu, meu amor (em parceria com José Fernandes): Olha pro céu, meu amor. Vê como ele está lindo. Olha praquele balão multicor como no céu vai sumindo Músicas Juninas as de Derramando o gai (coco de Luiz Gonzaga e Zé Dantas): Eu nesse coco num vadeio mai, apagaro o candihero, derramaro o gai Apagaro o candihero, derramaro o gai. Coisa boa nesse escuro eu sei que não sai. Já não tão mai respeitando nem eu qui sou pai, pois me dero um beliscão, quase a carça cai. Não se pr’onde vai por isso nesse coco num vadeio mai 65 Capelinha de melão (João de Barros e Adalberto Ribeiro) e as de São João na roça (em parceria com Zé Dantas): A fogueira tá queimando em homenagem a São João. O forró já começou. Vamos, gente, arrasta pé nesse salão. Algumas das músicas juninas mais conhecidas, pelo menos na Região Sudeste, são as seguintes: Cai, cai, balão Capelinha de melão é de São João. É de cravo, é de rosa, é de manjericão. São João está dormindo, não me ouve não. Acordai, acordai, acordai, João. Atirei rosas pelo caminho. A ventania veio e levou. Tu me fizeste com seus espinhos uma coroa de flor. Pedro, Antônio e João (Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago) Cai, cai, balão. Cai, cai, balão. Aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá. Tenho medo de apanhar. 66 Com a filha de João Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva na hora de ir pro altar. A fogueira está queimando, o balão está subindo, Antônio estava chorando e Pedro estava fugindo. E no fim dessa história, ao apagar-se a fogueira, João consolava Antônio, que caiu na bebedeira. São João ficou zangado. São João só dá cartão com direito a batizado. São João não me atendendo a São Pedro fui correndo. No portão do paraíso disse o velho num sorriso: ”Minha gente eu sou chaveiro, nunca fui casamenteiro”. Isto é lá com Santo Antônio (Lamartine Babo) Eu pedi numa oração ao querido São João que me desse um matrimônio. São João disse que não, São João disse que não, isto é lá com Santo Antônio. Implorei a São João desse ao menos um cartão que eu levasse a Santo Antônio. 67 Balãozinho Venha cá, meu balãozinho. Diga aonde você vai. Vou subindo, vou pra longe, vou pra casa dos meus pais. Ah, ah, ah, mas que bobagem. Nunca vi balão ter pai. Fique quieto neste canto e daí você não sai. 68 Toda mata pega fogo. Passarinhos vão morrer. Se cair em nossas matas, o que pode acontecer. Já estou arrependido. Quanto mal faz um balão. Ficarei bem quietinho, amarrado num cordão. Chegou a hora da fogueira (Lamartine Babo) Chegou a hora da fogueira. É noite de São João. O céu fica todo iluminado, fica todo estrelado, pintadinho de balão. Pensando na cabocla a noite também fica uma fogueira dentro do meu coração. Quando eu era pequenino, de pé no chão, recortava papel fino pra fazer balão. E o balão ia subindo para o azul da imensidão. Hoje em dia meu destino não vive em paz. O balão de papel fino já não sobe mais. O balão da ilusão levou pedra e foi ao chão. Sonho de papel (Carlos Braga e Alberto Ribeiro) O balão vai subindo, vem caindo a garoa. O céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João, acende a fogueira no meu coração. Sonho de papel a girar na escuridão soltei em seu louvor no sonho multicor. Oh! Meu São João. Meu balão azul foi subindo devagar. O vento que soprou meu sonho carregou. Nem vai mais voltar. 69 Sem título (Djalma da Silveira Allegro e Paulo Soveral) A mesa tá preparada, os conviva vão chegando, o quentão vai se servido, o leitão tá esturricando. Tem pipoca, tem pamonha, mio verde com fartura. Tem cabrito e frango assado, tem doce de rapadura. Tem tanta coisa gostosa que barriga quase fura… Chame o Mané Sanfoneiro que o baile vai começá! Vamos dançá a quadrilha, cada um no seu lugar. As moça dançam com o padre, as véia com o delegado. Uns ainda tão na mesa comendo doce e salgado. A fogueira vai queimando que dá gos to a gente vê. As estrelas ain da piscando, o sol quase pra nascê. Tá todo mundo esperando otro dia amanhe cê… Pula a fogueira (João B. Filho) E a festança continua, continua o arrasta-pé. Dança home com otro home e muié com otra muié. Um já gastô as butinas, otro já sentô cansado. 70 Pula a fogueira Iaiá, pula a fogueira Ioiô. Cuidado para não se queimar. Olha que a fogueira já queimou o meu amor. Nesta noite de festança todos caem na dança alegrando o coração. Foguetes, cantos e troca na cidade e na roça em louvor a São João. Nesta noite de folguedo todos brincam sem medo a soltar seu pistolão. Morena flor do sertão, quero saber se tu és dona do meu coração. 71 72 8 C omo os demais elementos das festas juninas que estão diretamente relacionados com a época da colheita (do milho, principalmente, no Brasil), os mastros são símbolos da fecundação vegetal, segundo o folclorista Câmara Cascudo (1988, p. 481 e 482). No topo do mastro, que deve ter mais ou menos 5 a 6 metros de altura, fica a bandeira do santo padroeiro da festa, símbolo da sua presença durante a festividade. A crença popular é de que o mastro tem o poder de sinalizar, dependendo do lado para onde virar a bandeira que está no seu topo, muita prosperidade ou morte. Em alguns lugares, colocam-se três bandeiras sobre o mastro, cada uma com a figura de um dos santos juninos: Santo Antônio é representado como um homem O Mastro de meia-idade que segura o menino Jesus nos braços; São João é uma criança de cabelos encaracolados que tem um carneirinho no colo, simbolizando Jesus Cristo, apontado por São João Batista como o verdadeiro Cordeiro de Deus; São Pedro aparece na bandeira como uma pessoa idosa que tem nas mãos as chaves do céu. A preparação do mastro, até a ocasião de seu erguimento, é parte essencial das festas em homenagem aos santos juninos, principalmente São João. O mastro recebe um tratamento especial desde o momento da escolha da madeira. O tronco da árvore deve ser o mais reto possível e ser cortado em uma sexta-feira de lua minguante por três pessoas que, antes de derrubá-lo, devem rezar o Pai-Nosso. No momento em que a árvore é derrubada e cai no chão, 73 esses homens, em sinal de respeito, devem tirar o chapéu e evitar cuspir naquele lugar. O transporte do tronco escolhido para mastro também requer cuidado especial. A madeira deve ser colocada sobre um tipo de andor ou nos ombros dos homens, que não precisam ser os mesmos que derrubaram a árvore. Na verdade, todos os homens que participarão da festa querem carregá-lo pelo menos por alguns instantes, até o seu levantamento. As mulheres levam a bandeira que será colocada em seu topo. A preparação do mastro não inclui necessariamente a pintura. Quando ele é pintado, em geral adquire uma só cor no Norte do Brasil e duas cores no Sul, onde o 74 azul e o vermelho são as cores preferidas. Evita-se pôr pregos no mastro e é geralmente o promotor da festa quem determina onde será feito o buraco para levantá-lo. Também são chamadas de mastro as árvores que em geral nessa época, mais especificamente no dia de cada santo junino, são plantadas em frente às casas dos roceiros enquanto eles rezam a oração Salve-Rainha. Depois de erguidas, essas arvorezinhas são decoradas com fitas, flores, laranjas espetadas nos galhos e cipós de flor-de-são-joão. Seu pé fica repleto de ovos de galinha, grãos de milho e feijão, para assegurar que a colheita seja farta e haja uma boa produção de ovos, sem pestes nem doenças. 75 76 9 Comidas e Bebidas Juninas P rodutos agrícolas genuinamente americanos, como milho, amendoim, batata-doce e mandioca, cultivados pela população indígena, tornaram-se a base da alimentação dos brasileiros. Os portugueses trouxeram a tecnologia, como o forno de fazer farinha, e costumes — modo de preparo dos pratos e temperos variados — que provocaram mudanças no processamento desses produtos. Hoje eles constituem o cardápio básico das festas juninas, acrescentando-se produtos regionais como o pinhão sulino, as castanha-de-caju e a do pará. Arroz-Doce Arroz lavado Leite, açúcar (ou leite condensado) Canela em pau Raspas de limão ou laranja Canela em pó Cozinhe o arroz na água com a canela em pau e, se quiser, com as raspas de limão ou laranja. Depois de cozido, acrescente o leite quente e o açúcar ou leite condensado. Salpique canela em pó. 77 Bolo de Batata-Doce 1 quilo de batatas-doces cozidas e amassadas 3 xícaras de açúcar refinado 4 gemas, leite puro de 1 coco 120 gramas de manteiga 100 gramas de castanhas-do-pará torradas e moídas 1 xícara de farinha de trigo 1 colher de chá de fermento 2 claras em neve Misture a batata-doce com todos os ingredientes. Se ficar pesado, junte um pouco de leite de vaca. Bata bem e coloque, por último, as claras em neve. Forno quente em fôrma untada. Bolo de Fubá 1 xícara e meia de açúcar 1 xícara e meia de farinha de trigo 1 xícara de fubá 1 xícara de óleo 1 xícara de leite 1 colher de chá de fermento 3 ovos 1 colher de chá de erva-doce Bata todos os ingredientes e leve ao forno para assar, de preferência numa forma com buraco no meio. 78 Bolo de Fubá Cozido 2 xícaras de chá de fubá 2 xícaras de chá de açúcar 2 xícaras de chá de leite 2 colheres de sopa cheias de manteiga 1 colher de chá de erva-doce 4 cravos-da-índia 1 rama de canela 1 pitada de sal Faça um mingau com todos os ingredientes, mexendo sempre até ficar solto da panela. Deixe esfriar. 4 ovos 1 colher de sopa bem cheia de fermento em pó 1 xícara de chá de leite 1 pires de queijo parmesão ralado Bata as claras em neve e adicione as gemas batendo um pouco mais. Junte ao mingau já frio, adicione o fermento em pó dissolvido no leite e o queijo parmesão ralado. Leve ao forno quente em fôrma untada com manteiga. 79 Bolo de Macaxeira 1 quilo de macaxeira crua ralada 1 coco ralado 1/2 litro de leite 1 colher de sopa de manteiga Açúcar a gosto Misture tudo e leve ao forno em fôrma untada. Bolo de Milho 500 gramas de milho para angu (xerém) 1 colher de chá de erva-doce 2 cocos 250 gramas de açúcar refinado 3 xícaras de água quente para retirar o leite dos cocos Sal a gosto 2 colheres de sopa de fubá Cozinhe o xerém no leite de coco. Depois de cozido, acrescente os outros ingredientes e leve a assar em tabuleiros untados. Uma vez assado, corte em retângulos. Bolo de Milho Elétrico 1 lata de milho sem água 1 medida da lata de açúcar 1 medida da lata de milho de leite de coco 80 1 medida da lata de flocos de milho 3 ovos inteiros 1/2 pote pequeno de margarina Bata bem o milho (sem a água) com o leite de coco e os ovos no liquidificador, acrescente os demais ingredientes, um por vez, batendo sempre até formar uma massa homogênea. Asse em forno regular, em fôrma bastante untada e polvilhada. Assim que desenformar, polvilhe açúcar peneirado por cima do bolo ainda quente. Bolo de Milho Verde 6 espigas de milho verde 2 xícaras de chá de leite 2 colheres de sopa de margarina derretida 2 xícaras de chá de açúcar 4 ovos 1 colher de café de canela em pó 1 colher de sobremesa de fermento em pó Retire os grãos de milho verde com uma faca afiada, cortandoos rente ao sabugo. Coloque o milho e o leite no liquidificador e bata muito bem. Junte os ovos, o açúcar, a canela e a margarina, batendo até ficar uma mistura homogênea. Finalmente acrescente o fermento. Unte muito bem uma assadeira com margarina. Leve ao forno por aproximadamente 40 minutos. Deixe esfriar durante duas a três horas e corte em quadradinhos. 81 Bolo de Santo Antônio 250 gramas de farinha de trigo 250 gramas de manteiga 8 ovos 250 gramas de açúcar 10 gramas de erva-doce 100 gramas de castanhas-do-pará assadas sem casca Misture o açúcar com a manteiga até ficarem bem ligados, acrescente a erva-doce e vá colocando as gemas uma a uma, mexendo sempre. Bata bastante e, por fim, junte a farinha de trigo. Asse em fôrma redonda, untada e forrada com papel vegetal, também untado. Forno regular. Com as claras, faça uma massa de suspiro e cubra o bolo depois de assado, enfeitando-o com castanhas. Volte ao forno para o suspiro dourar. Bolo de São João 1 tigela de massa de mandioca lavada 14 gemas de ovos 1/2 quilo de açúcar 100 gramas de manteiga 1 xícara de leite de coco Bata as gemas e, quando estiverem bem batidas, acrescente 100 gramas de manteiga e 1 xícara de leite de coco sem água. Junte os demais ingredientes e continue a bater até que tudo esteja 82 bem ligado. Leve ao forno regular numa assadeira untada com manteiga. Bolo Souza Leão 1 quilo de açúcar 4 cocos 2 quilos de mandioca mole 400 gramas de manteiga 5 xícaras de água 12 gemas 1 pitada de sal Desmanche a mandioca em bastante água. Peneire. Ponha num saco grande e lave bastante, até perder completamente a goma. Esprema e pese 1 quilo. Coloque a massa em uma tigela grande e “machuque” as gemas uma a uma. Reserve. Com 3 xícaras de água quente, retire o leite dos cocos e acrescente à massa. Faça uma calda rala com o açúcar e 2 xícaras de água, desmanche nela a manteiga e despeje-a quente na massa, aos poucos, mexendo com uma colher de pau. Tempere com sal. Peneire e leve a assar em fôrma untada. Forno quente. Está assado quando, introduzindo um palito no bolo, ele sair melado com uma massa ligada, como grude. 83 Broa de Fubá 700 gramas de farinha de trigo 300 gramas de fubá 150 gramas de açúcar 150 gramas de margarina 10 gramas de sal (1 pitada) 100 gramas de fermento de pão Erva-doce Numa bacia, coloque a farinha e, fazendo no centro uma cova, junte o fermento desmanchado em um pouco de água ou leite (vai dobrar de volume). Acrescente o sal, o açúcar, o fubá, a margarina e a erva-doce. Misture e bata bem. Deixe descansar por 40 minutos. Faça então as broinhas do formato que quiser e deixe crescer já na fôrma untada com manteiga e farinha de trigo ou fubá. Depois de crescerem, leve ao forno a 200 graus. Canjica ou Mungunzá Milho próprio para canjica Leite Canela em pau Opcionais: casquinhas de limão ou laranja, leite condensado, coco ralado, amendoim torrado. Deixe o milho da canjica de molho na água de preferência de um dia para outro. Cozinhe em água suficiente na panela de 84 pressão por mais ou menos 20 minutos com a canela em pau e, se quiser, as casquinhas de limão ou laranja. Depois de cozido, acrescente o leite quente e o açúcar (ou leite condensado) e deixe ferver mais um pouco (querendo, pode-se pôr também coco ralado e amendoim torrado). Canjica Pernambucana 25 espigas de milho verde 1 xícara de leite de coco grosso 4 litros de leite de coco ralo 3 xícaras de açúcar refinado 1 colher de sopa de manteiga 1 colher de sopa rasa de sal 1 xícara de chá de erva-doce 50 gramas de queijo de manteiga ralado (opcional) Rale as espigas e lave a massa com parte do leite ralo em peneira finíssima. Passe na máquina de carne (peça sem dente) ou no liquidificador. Junte o resto do leite ralo e leve ao fogo, mexendo sempre com colher de pau. Depois de meia hora de fervura, acrescente os outros ingredientes e, por último, o leite grosso. Cozinhe com fervura constante, sempre mexendo. Despeje em pratos e polvilhe com canela em pó. 85 Curau Espigas de milho verde Açúcar Água (ou leite) Canela em pó Retire o milho da espiga com uma faca, rale-o ou bata-o no liquidificador e passe-o em peneiras finas, apertando bem com uma colher para obter o suco. Junte o açúcar e leve ao fogo, acrescentando água ou leite e mexendo sempre com uma colher de pau, até que o creme fique totalmente cozido. Despeje em recipientes untados com água fria e salpique canela em pó. Com o farelo que sobrou na peneira ao preparar o curau, aproveite para fazer bolinhos de milho verde fritos. Basta acrescentar ovos, sal, um pouco de óleo e uma pitada de fermento. Com uma colher, em panela com óleo quente, vá fritando pequenas quantidades de massa. Cuscuz de Milho 250 gramas de flocos de milho 1 coco raspado Sal ou açúcar a gosto Água Com a água salgada, umedeça os flocos de milho, misture bem e leve a cozinhar no cuscuzeiro. Ou faça o seguinte: ferva água numa 86 chaleira; coloque a massa em um pires, formando montes; cubra com um guardanapo úmido, amarre embaixo do pires e tampe com ele a boca da chaleira. Em 10 a 15 minutos o cuscuz estará cozido. Deixe esfriar e ensope-o com leite de coco açucarado e com um pouquinho de sal. Leve ao fogo e mexa sempre até ferver. Grude 1 quilo de goma (polvilho) 250 gramas de coco raspado 1 colher de café de sal Lave a goma até tirar o azedo, passe por um tecido fino e seque, colocando um pano sobre ela. Quando estiver apenas úmida, passe numa peneira e junte o coco e o sal, misturando bem para a massa ficar ligada. Leve para assar no forno em assadeira. 87 Pamonha com coco 25 espigas 2 1/2 xícaras de açúcar refinado Leite grosso de 2 cocos Leite ralo de 2 cocos (7 xícaras) 1 xícara de chá de erva-doce 1 colher de sopa de manteiga derretida Cascas de milho verde em formato de saquinhos Rale o milho. Com a metade do leite do coco ralo, lave a massa e passe-a por peneira mais grossa do que a da canjica. Acrescente o restante dos ingredientes. Encha os saquinhos feitos com as palhas, amarre-os com tiras finas de palha e leve a cozinhar em bastante água fervente com um pouquinho de sal. Pamonha Fazer pamonha no interior é sempre um acontecimento festivo que reúne familiares, vizinhos e amigos. Todos dividem as tarefas e trabalham num clima de muita alegria e empolgação. Espigas de milho verde Leite Banha Açúcar (se for pamonha doce) Sal (se for pamonha salgada) 88 Reservar boas palhas de milho para fazer os saquinhos das pamonhas e também para amarrá-las. Descasque e rale as espigas de milho, raspando os sabugos com uma colher. Acrescente o leite, a banha quente em quantidade suficiente para uma massa consistente e tempere com açúcar ou com sal. Coloque a massa em cada saquinho feito da palha, amarreos e leve para cozinhar em um caldeirão com água fervente. Cubra com sabugos para que as pamonhas afundem na água, proporcionando cozimento homogêneo. OBSERVAÇÃO: na pamonha salgada, pode-se acrescentar, em cada uma, pedaços de queijo fresco. Pé-de-moleque 1 quilo de amendoim cru e com casca 2 copos de açúcar 1 colher de café de bicarbonato Leve uma panela ao fogo com o amendoim e o açúcar e vá mexendo com uma colher de pau para torrar. Quando estiver caramelado, apague o fogo e jogue o bicarbonato. Mexa bem e jogue numa superfície de mármore devidamente untada com manteiga. Deixe esfriar e quebre os pedaços. 89 Pé-de-moleque da Amazônia 1 quilo e meio de massa de macaxeira (aipim ou mandioca) mole 2 cocos 600 gramas de açúcar refinado 5 gramas de cravo torrado 5 gramas de erva-doce torrada 1 litro de água quente 300 gramas de castanhas-do-pará torradas e moídas 100 gramas de castanhas-do-pará torradas para enfeitar 2 ovos inteiros 2 gemas 1 colher de sopa de manteiga derretida Desmanche a massa na água; peneire e lave até perder o azedo. Esprema e pese 1 quilo. Retire o leite dos cocos com toda a água e junte à massa com o restante dos ingredientes. Enfeite com castanhas inteiras. Fôrma untada e forno quente. Esta receita também pode ser feita de maneira mais simples, com macaxeira cozida e amassada, castanha-do-pará, açúcar e erva-doce. Misturar bem todos os ingredientes e fazer pequenas porções redondas e achatadas. Levar à chapa do fogão a lenha. O resultado é uma espécie de bolacha torrada por fora e macia por dentro. Essa é uma das delícias culinárias típicas das populações ribeirinhas da Amazônia. 90 Pé-de-Moleque de Rapadura 1 rapadura pura 1/2 quilo de amendoim torrado sem casca e ligeiramente moído ou passado no liquidificador 1 xícara de café de leite 1 pedaço médio de gengibre cortado miúdo Pique bem a rapadura e leve ao fogo para derreter juntamente com o leite e o gengibre, mexendo com uma colher de pau. Quando desmanchar e formar um melado, coloque um pouco deste numa xícara com água — se estiver no ponto, formará uma bolinha consistente. Apague o fogo, acrescente o amendoim e bata bem. Quando o fundo da panela começar a ficar esbranquiçado, despeje numa superfície de mármore untada com manteiga. Deixe esfriar e corte os pés-de-moleque. Pipoca Doce 1 xícara de chá de milho de pipoca 1 xícara de açúcar 1 xícara de chá de água 1 1/2 xícara de óleo Misture bem os ingredientes até formar uma calda. Tampe a panela e deixe a pipoca estourar. Depois de pronta, despeje-a numa assadeira e deixe esfriar para ficar crocante. 91 Pipoca Salgada Numa panela ou pipoqueira, coloque o milho de pipoca com um pouco de óleo. Tampe a panela, dando umas sacudidelas para que os grãos estourem. Acrescente sal e misture bem. Sopa de Milho Verde 20 espigas de milho verde 5 espigas de milho maduro 1 quilo de costelinha de boi Temperos secos a gosto Sal Vinagre Coentro Cebolinha 2 dentes de alho amassados 4 tomates picados 2 cebolas picadas 1 pimentão picado 2 colheres de sopa de extrato de tomate Rale os 5 milhos maduros e reserve. Em um caldeirão, refogue as costelinhas com todos os temperos secos e verdes e junte os grãos dos milhos ralados e as outras espigas de milho. Cubra tudo com bastante água e deixe em fogo brando até que as espigas estejam cozidas. É preciso mexer constantemente, pois os grãos 92 ralados descem ao fundo do caldeirão. Observe sempre a água para que o milho cozinhe bem. Tapioca Goma Sal a gosto Coco ralado Lave bem a goma para tirar todo o azedo. Deixe secar numa vasilha coberta com um guardanapo e, quando estiver úmida, passe na peneira. Ponha sal com muito cuidado, pois ela salga com facilidade. Leve uma frigideira ao fogo e, quando estiver bem quente, acrescente uma xícara ou um punhado da goma e espalhe com a mão mesmo em toda a superfície da frigideira. Espalhe por cima um pouco de coco ralado e polvilhe sobre o coco um pouco de goma. Quando estiver levantando dos lados, retire e feche em forma de papel. Para Assar na Fogueira Batata-doce Embrulhe em papel-alumínio e coloque na fogueira para cozinhar. Depois de cozida, abra ao meio e cubra com manteiga ou queijo catupiry. 93 Cebola do reino Embrulhe em papel-alumínio e coloque na fogueira para cozinhar. Depois de cozida, corte em pedaços e tempere com azeite de oliva. Bebidas Juninas Quentão 1 garrafa de pinga 2 xícaras de açúcar 2 xícaras de água Gengibre Canela em pau Cravo Noz-moscada ralada Limão cortado em quatro Leve ao fogo todos os ingredientes, menos a pinga, e deixe ferver até soltar o sabor. Tire do fogo e acrescente a pinga. Leve novamente ao fogo até levantar fervura. Vinho Quente Vinho tinto Canela em pau Cravo 94 Gengibre picado 2 xícaras de açúcar 2 xícaras de água Opcional: frutas picadas (maçã, abacaxi, uva, pêssego...) Leve todos os ingredientes ao fogo, menos o vinho e as frutas, e deixe ferver até soltar o sabor. Tire do fogo e acrescente o vinho, leve ao fogo novamente até levantar fervura. Se quiser, acrescente as frutas picadas. 95 96 Concurso de Redações Apresentação das Redações Nota 10 S andro Silva escreve que ficou bonito vestido de noivo e a noiva ficou linda na dança da quadrilha de sua escola. Raiza Ribeiro descreve que São João dormiu no dia de seu aniversário e Caroline Cracho que São João, Santo Antônio e São Pedro brigaram no céu para saber qual deles era o santo mais importante da festa junina. Letícia Abelha informa que essa festa já teve o nome de Festa Joanina, porque São João era homenageado. David Silva afirma que a criançada fica esperando a hora da comilança e Rodrigo da Costa que “soltou balão, que faz parte da tradição, mas que tomou cuidado para não queimar nada não”. Priscila Brito garante que é preciso ter bom coração para entrar na festa, que é considerada por Daniel Lisboa como uma das mais antigas e populares do Brasil. Alessandra Mallmann conta que em uma época que não tinha telefone ou correio, a moça Isabel avisou sua prima Maria do nascimento de seu filho através de uma fogueira bem alta acendida na noite de São João. Hugo Bertazoni aprendeu histórias das festas juninas com seus avós. “Minha avó diz que conquistou meu avô em uma dessas festas. “Ela só não diz que deixou Santo Antônio de cabeça para baixo, aquela tradicional simpatia para arrumar casamento”. Ele diz saber “que os tempos são outros, mas se Deus quiser essas festas nunca vão acabar”. Essas frases, retiradas das dez redações de crianças que venceram o Concurso Cultural, promovido pela Yoki em 2003, refletem duas coisas muito importantes. Primeiro, são o resultado de um trabalho de pesquisa, que tão bem faz ao desenvolvimento intelectual das crianças; segundo, explicitam vivências positivas e alegres que acabam conferindo à infância aquela aura mágica que depois de adultos elas nunca esquecerão! 97 98 “Festas Juninas” Conta a lenda dos mais velhos que no dia do seu aniversário São João não conseguiu ser acordado por sua mãe. Tanto dormiu, que perdeu o mais lindo espetáculo de uma noite Junina. O céu fica iluminado como se fosse dia, com a explosão dos fogos de artifícios, dando colorido especial juntando-se ao brilho das estrelas. No chão o calor das fogueiras a que das noites frias do mês de junho; incendeia o coração dos namorados; que com suas crendices tradicionais, tiram sua sorte nas brincadeiras e advinhações. O clima festeiro de alegria toma conta do povo, da cidade aos lugarejos mais distantes. O Terreiro se transforma em arraiá, ao som do forró, quadrilha e xaxado ninguém dança sozinho; somente de rosto colado, o suor castiga o corpo os pés ficam encaliçado mais o povo não arreda o pé, e quando vem da fé, o dia já tem clareado. Comida não pode faltar, pamonha, canjica e milho assado. Fica a vontade do próximo São João poder brincar mais animado. RAIZA LEITE VIANA RIBEIRO • RECIFE – PE 99 100 O Arraial da Paz Precisamos fazer uma grande festa, a maior possível, bem enfeitada, colorida, com muitas bandeirinhas, balõezinhos, uma grande fogueira, muita música, e danças, com muita alegria e inúmeros convidados. Com barracas de doces, comidas, bebidas, pipocas, milho-verde e tudo de bom que existir. Vamos fazer brincadeiras, reunir todos os amigos e as famílias, nessa grande festa é proibido indiferenças, todas as pessoas podem ir, ricos e pobres, brancos e negros, enfim todos aqueles que querem paz, amor e diversão. Nessa festa tudo será dividido haverá muita união, compreensão, afeto, harmonia e muita esperança no futuro para que se mantenha tudo isso sempre. Para entrar nessa festa é preciso ter um bom coração, gostar da natureza e dos animais, respeitar o próximo e ter fé em Deus. Essa festa pode ser comemorada todos os dias do ano, sempre que você quiser. É um verdadeiro arraial da paz feito para você, nunca deixe de sonhar, de ser feliz, de acreditar que o mundo pode ser uma grande festa colorida e que você será sempre o convidado especial. Então vamos todos começar a comemorar dar as mãos e cantar. E se cantarmos bem alto o mundo irá ouvir e só basta começar. PRISCILA NUNES DE BRITO • CAMPINAS – SP 101 102 Briga na Festa Junina No céu, São João, Santo Antônio e São Pedro estavam brigando para ver qual era o santo mais importante das Festas Juninas: — Eu sou o santo mais importante das Festas Juninas. As moças me deixam até de castigo; de ponta cabeça e embaixo da cama. Eu arranjo muitos casamentos sofridamente e me orgulho disso! — disse Santo Antônio. — E eu que além de guardar as portas do céu, tenho que confirmar os compadres que pulam fogueiras, pois a música diz: “ São João falou, São Pedro confirmou, que nós somos compadres, porque Deus mandou ”! — disse São Pedro. — Eu também já estou cansado de ler o futuro das pessoas e me acordarem nas Festas Juninas! — falou São João. — Xiii! Não estão vendo que a quadrilha vai começar! — exclamou Deus. E a quadrilha começou. Lindo como nunca. As moças com tranças e vestidos floridos e os moços com chapéis de palhas, camisa xadrez e calça jeans. — Quantas guloseimas! Pipocas, paçocas, pamonhas, tapiocas! — Por isso que você está engordando alguns quilinhos João! — falou São Pedro. — Mas você não é nenhum santinho, vive alagando a grande São Paulo! – exclamou São João. — Agüenta! — gritou Deus Eu tenho barracas com jogos, como pescaria e argolinhas. E como Deus e os santos estavam vendo uma Festa Junina lá no Maranhão, a rua ficou repleta de Bois-Bumbá. A festa estava repleta de bandeirinhas coloridas, também tinha uma fogueira imensa. E se você quer saber como terminou a briga, Deus deu uma bronca nos santos e eles nunca mais brigaram. CAROLINE ANDREASSA CARACHO • SÃO PAULO – SP 103 104 Festas Juninas F oi com meu avô que aprendi muitas coisas sobre festas juninas. E le com sua simplicidade, criado na roça me falou o quanto essas festas eram importante para as famílias que viviam na zona rural. S empre quando ele começa a falar fico atento. Eu sei que essa tradição foi trazida pelos europeus, onde lá eles comemoravam as grandes safras. Aprendi isso na escola. Mas as histórias que meu avô conta é demais! T odo ano no mês de junho acontecia a tão esperada festa. A s moças e os rapazes chegavam na festa sem par, mas nunca iam embora sem deixar um coração apertado. S empre acabava em casamento. J ura a minha avó que foi numa dessas festas que meu avô à conquistou. Ela só não diz que deixou Santo Antônio de cabeça pra baixo. Aquela tradicional simpatia para arrumar casamento. U ma vez meu avô disse que algumas pessoas ridicularizam esse povo da roça. N a escola sempre aprendi que devemos respeitar e resgatar os costumes desse povo. Falei isso pro meu avô e ele ficou feliz. I gnorar esses costumes é impossível pois o cheirinho da pipoca e o gostinho da paçoca é inresistível. E o meu avô concorda. N ão dá também prá resistir ao som da sanfona e as guloseimas dessa gostosa festa. A h! Mas uma coisa é certa, eu adoro essas festas. Sei que os tempos são outros. Mas se Deus quiser essas festas nunca vão deixar de existir. HUGO BERTAZOLI • MOGI GUAÇU – SP 105 106 História de um Milhinho de Pipoca Eu sou um pequeno grão de milho de pipoca. Nasci há alguns meses junto com muitos irmãozinhos, todos enfileiradas na mamãe espiga. E foi ela que contou que estamos reservados para uma festa muito especial. — O destino de vocês é ajudarem a animar uma festa junina. Como nós não sabíamos o que era esta festa, nos explicou tudo bem direitinho: disse que a comemoração é bem antiga e era chamada “festa Joanina” porque homenageava São João. Sendo uma festa religiosa, não faltavam procissões e missas. Com o passar do tempo, São Pedro e Santo Antônio também começaram a ser homenageados. Como as festas sempre aconteciam nos meses de junho, viraram tradição. Sendo um mês frio, havia sempre uma fogueira para aquecer o povo. As bebidas também eram quentes: canjicão e quentão. A pipoca quentinha não podia faltar e o local da festança era todo enfeitado com bandeirolas. Eu e meus irmãozinhos começamos a ficar preocupados. — A pipoca quentinha somos nós? — Claro, a maior glória para um milhinho de pipoca como vocês é estourarem de alegria no mês de junho – mamãe nos acalmou, fazendo com que todos imaginassem a cena – Enquanto um gostoso cheirinho invade o ar, olhinhos gulosos de crianças com roupinhas caipiras brilham aguardadndo o momento de saborear esta delícia tão simples e insubstituível. Desde o dia que mamãe nos falou sobre esta festa, não vemos a hora de participar. Hoje estamos dentro de uma sacolinha esperando o grande momento de ir para panela. Oba! O mês de junho chegou! LETÍCIA SOARES ABELHA • IPATINGA – MG 107 108 “Festas Juninas” A noite estava fria. O céu cheinho de estrelas curiosas. Todas olhavam para a casa de Isabel. Queriam ser as primeiras a ver o menino que ia nascer. O mês era de junho. O dia, 24! Foi nesta noite fria, cheia de estrelas e grilos, que João nasceu. Zacarias e sua esposa estavam felicíssimos. Os vizinhos e parentes também estavam alegras. Mas no meio de tanta felicidade surgiu uma preocupação: — Zacarias, disse Isabel, minha prima Maria não sabe, que Joãozinho nasceu. Como vou avisá-lá? Não havia telefone naquele tempo. Nem telégrafo. Nem correio. Então, acenderam uma fogueira e levantaram um mastro ali perto. Nossa Senhora, que morava muito longe, viu a claridade e adivinhou: — Garanto que o filho de Isabel nasceu. Esperou o dia amanhecer. Arrumou uns presentes e montou num camelo. Ia visitar sua prima. Ia dar-lhe os parabéns. E sabe de uma coisa? Ainda hoje o povo acende fogueira na noite de São João. E comem muitas coisas gostosas! ALESSANDRA MALLMANN • ESTRELA – RS 109 110 Festa de São João Fui na festa de São João, pra cantar uma canção, e tocar meu violão. Mas chegando lá esqueci o refrão. Fui então soltar balão, pois faz parte da tradição, mas tomei cuidado pra não queimar nada não. Comi Pipoca Yoki pra ficar bem mais forte e também tomei quentão. Fui dançar a quadrilha, com uma linda menina, vestida de Festa Junina. Estava tudo legal, tinha fogos e foguetes na festa do arraial. Tinha tudo de bom, algodão doce, pé de moleque, vinho e pinhão. Naquela noite estrelada, toda a criançada brincava animada. Fui pular a fogueira, queimei meus pés e tive que me jogar na cachoeira. Saí todo molhado, mas o mais engraçado foi na hora do casamento, quando os noivos chegaram encima de um jumento. Veio a melhor parte, teria que ter muita sorte, como toda festa de São João, teve um bingão e o prêmio seria um computador. Aí fiz uma oração ao querido São João pra ganhar no bingão. Pena que era muita gente envolvida pra realizar o sonho da minha VIDA! RODRIGO DA COSTA • BLUMENAU – SC 111 112 Redação sobre Festas Juninas A Festa Junina é uma das mais antigas e populares do Brasil. Ela começa no dia 13 de junho e dura todo o mês. O céu cheio de estrelas Parece trazer uma canção Para comemorar neste mês Santo Antônio, São Pedro e São João. Antigamente, os agricultores pediam aos santos uma boa colheita. E para se protegerem dos maus espíritos, eles usavam bombas e fogos de artifício. As crianças soltaram bombinhas Os adultos soltaram rojões São Pedro respondeu Com muitos trovões. São três os santos homenageados nas festas juninas no dia 13, São João, no dia 24, São Pedro, no dia 25 de junho. No interior, as festas ainda são muito parecidas com aquelas trazidas da Europa. Na cidade há uma lei que proíbe soltar balões e fazer fogueiras nas ruas. Mas as quermesses nas escolas, igrejas e clubes continuam animando o mês. Na noite de São João em volta da alegre fogueira com a turma tocando violão vamos dançar a noite inteira. No céu-espada-buscape-balão; na mesa-milho, licor, cocada YOKI. Uma festa típica de São João, lá fora onde, a fogueira queima chama Maria Helena. DANIEL LISBOA • SALVADOR – BA 113 114 As Festas Juninas Festa junina é festa pra valer. Todo mundo gosta de festas juninas, velho, rapaz, moça, menino e menina. As crianças fazem a maior festa nos dias de festa junina é muita alegria e correria nesses dias de festança, a gente fica só esperando a hora da comilança, os vizinhos se ajuntam para acender a fogueira, soltam bombas e rojões, só não pode soltar balão pra não causar confusão. As mocinhas e rapazes se preparam pra quadrilhas, todos cantam e dançam nos modos de antigamente, dos tempos dos meus avós. depois de tanta folia é a hora da alegria e pra repor a energia comemos de tudo um pouco, bolo de milho, mugunzá, arroz doce, amendoins, pé-de-moleque, cocada, milho assado e cozido, doses de diversos tipos e tapioca recheada. Os homens bebem quentão pra alegrar o coração e arrastar pé no forró, as mulheres amimadas dançam até de madrugada e só então vão para casa levar a criançada cansada de tanta festa e folia, aí agente dorme sonhando e fica só esperando o ano que vem, para ter novamente muita festa no Brasil, e fartura, muita dança e alegria durante as festas juninas. DAVID ABRANAVEL SANTOS SILVA • MACEIÓ – AL 115 116 Festa Junina Oi meu nome é Sandro Lino da Silva tenho 7 anos Eu gosto muito do mês de junho porque é comemorada a festa junina e também o dia dos santos = São João, São Pedro e Santo Antônio. Quando chega a festa junina as pessoas enfeitam toda a rua com bandeiras balões. fazem barracas e vendem doces, pipocas, amendoim, pé de moleque e batata doce assada na brasa da fogueira e toca da música caipira para as pessoas dançarem. eu gosto muito de estourar bombinhas e buscapés Eu sei que é um pouco perigoso mais eu tomo cuidado. Na minha escola todo ano as professoras fazem festinhas pra nós, enfeitam a escola toda com bandeiras de papel e nós dança quadrilha Eu já dancei 3 vez mais a vez que eu mais gostei foi o ano passado porque eu fui o noivo a professora me emprestou o terno porque eu não tinha fiquei bem bonito a minha noiva também ficou linda esse ano eu quero dançar de novo as professoras, fazem bolo de fubá e canjica é muito bom Eu estudo num colégio de freiras elas são muito boazinhas eu queria muito ganhar os livros pra ajudar a minha escola, porque ela é municipal e nós só temos ajuda do prefeito, as professoras ia ficar muito feliz se eu desse os livros pra escola. Se eu ganhar o dinheiro eu vou dar pra minha mãe porque ela tá precisando mais a minha mãe nunca vai poder me da um. Eu assisto a Fábrica Maluca todo dia daí eu vi a Eliana falando dessa promoção daí eu escrevi pra ver se eu ganho. A Eliana mandou pesquisar na internet ou no livro pra saber mais sobre a festa junina mais como eu não tenho nenhum dos dois eu escrevi o que eu sabia. Espero que tenha gostado da minha histórinha, Ficarei muito feliz se eu ganhar Muito obrigado fiquem todos com Deus. SANDRO LINO DA SILVA • LUPIONÓPOLIS – PR 117 118 Concurso de Poesias E ste capítulo é dedicado às poesias A cidade é tradicional incentivadora juninas. Um material rico e que tra- de eventos, que mantêm vivos os costumes duz, por meio de versos, a importância das e hábitos do interior. Essa filosofia, de Festas Juninas em nossa cultura. Todos os promover atividades que resgatam as trabalhos foram selecionados durante o raízes do povo brasileiro, também faz tradicional Concurso Regional de Quadrilhas parte da missão da Yoki Alimentos, que promovido, em 2007, pela prefeitura de Dois apoiou essa manifestação cultural da Córregos, no interior Paulista. região. 119 Sonho Caipira S e tem coisa que me anima É ver uma festa junina Não sei bem o que me troca Se o calor da fogueira ou o cheiro da pipoca S ó sei que fico de um jeito Me dá uma sardade no peito Uma vontade de grita, de tirá o sapato E corrê pro arraia Mas a vida tem seus caminhos E com moço fino eu fui me casá Vim morá aqui na cidade e tenho que me comportá Ele diz que moça fina não pode se misturá E ntão eu fico na janela vendo a quadria dançá E quando a fogueira apaga A minha maior alegria É esperá junho de novo chegá M.C.P.C. - DOIS CÓRREGOS (CONCURSO REGIONAL) 120 Festa Junina F esta de comemoração E muita animação Todos reunidos Para festejar o mês de São João T em quadrilha e tem família Tem bomba e tem rojão Todos dançam, comem e bebem Na maior agitação F esta junina é pra isso Pular, sorrir e se divertir Não importa idade, raça ou cor O que todos querem é curtir A festa começa ao escurecer E vai até o sol raiar Ninguém tem a menor vontade De fazer essa alegria terminar LETHICIA MASSOLINI ROMAQUELI - DOIS CÓRREGOS(CONCURSO MUNICIPAL) 121 Se nóis não recicrá o mundo vai acabá Q uando chega as festa junina Fico esperano a sanfona tocá E só folia e alegria, que o coração chega a apertá Prá agradecê, no pé do mastro, a coieita eu vô ofertá A ntonio, Pedro e João, parô prá adimirá Esse ano o tema é fazê o povo conscientizá As roupa tão bonita, não dá prá compará paper, vidro, latinha e prástico, usamo pra enfeitá A té a lenha prá fogueira logo, logo Nem árvore vai precisá cortá Ceis vão vê, o fogo vai sê recicrave, hão de inventá. Lá de longe vai dá pra avistá, o brilho do arraiá A emporgação é tanta com essa história de recicrá Que dá vontade até de prantá os mio dos piruá Já pensô se os grão brota, que bonito vai sê o miará É o jeito caipira prá camada de ozônio preservá. MARILDA CASONATO – MINEIROS DO TIETÊ (CONCURSO REGIONAL) 122 Ao Reciclar, Viver I A vontade de viver bem nesta terra Se encontra lá bem dentro do teu ser Da consciência soberana que carrega Dentro dela, reciclado o saber II Temos metas ao forjar este ambiente Vidro, plástico, embalagens ganham vida Conquistando a natureza no presente Geração que aproveita não é perdida III Lixo orgânico, eu entendo sua história Mais parece um arauto do amor Quando quase não resiste à luto inglória Húmus forte, gera a inesperada flor IV Cate aquilo que não possa mais usar Na coleta seletivo e inteligente Vamos descalçar a bota da miséria Reciclando este país e sua gente MARCONDES SEROTINI FILHO – BARRA BONITA (CONCURSO REGIONAL) 123 Reciclagem O planeta em que vivemos Tem recursos limitados Muitos já estão esgotados Disso tudo já sabemos. M as estamos aguardando Um milagre acontecer Com os braços cruzados e sem nada fazer Assim, os dias vão passando! H á tempo ainda, talvez! Não fique só no abstrato Reciclar é um belo ato Faça então sua vez! Mais o que é reciclagem? É evitar desperdício pela reutilização De materiais como vidro, plásticos, papelão E Tantos outros: é impossível a contagem! ANTONIO VIEIRA - JAÚ (CONCURSO REGIONAL) 124 125 126 Bibliografia AMARAL, Rita de Cássia de Mello Peixoto. Festa à brasileira: significados do festejar, no país que “não é sério”. São Paulo: FFLCH/USP, 1998. Tese de doutoramento. ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional. São Paulo: Melhoramentos, 1964. BETTTENCOURT, Gastão de. Os três santos de junho do folclore brasílico. Rio de Janeiro: Agir, 1947. BORGES, Geruza Helena. Festas juninas. Belo Horizonte: Mazza, 1993. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Cavalhadas de Pirenópolis. Goiânia: Oriente, 1974. CAMELO, C. Nery. Alma do Nordeste. 3. ed. Rio de Janeiro, 1936. CANDIDO, Antônio. Os parceiros do Rio Bonito. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1975. CARNEIRO, Sandra Maria. Balão no céu, alegria na terra. 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LIMA, Rossini Tavares de. Folclore das festas cíclicas: carnaval, semana santa, festa de Santa Cruz, São João, natal. São Paulo: Irmãos Vitale, 1971. __________. Abecê do folclore. 5. ed. São Paulo: Record, 1972. LIRA, Marisa. Festas juninas. Comunicado da CNFL n. 29, Rio de Janeiro, 18 abr. 1948. 128 MONICA, Laura Della. Manual de folclore. São Paulo: Produções Audiovisuais Brasileiras, 1976. MORAES FILHO, Melo. Festas e tradições populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. RIBEIRO, Darcy (editor) et al. Suma etnológica brasileira. v. 1. Etnobiologia. Petrópolis: Vozes/Finep, 1986. __________. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. RIBEIRO JR., Jorge Cláudio Noel. A festa do povo: pedagogia de resistência. Petrópolis: Vozes, 1982. VAZ, Yara Jardim. Danças folclóricas de todos para todos. São Paulo: Gráfica Carioca, 1956. WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica. 2. ed. São Paulo/ Brasília: Ed. 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