A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da
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A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E GERENCIAIS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS. A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da dependência AMANDA SOARES BELO HORIZONTE 2010 AMANDA SOARES A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da dependência Resumo Uma das características mais importante do sistema mundial é que, ao funcionar como uma integração, extrai o excedente econômico e transfere a riqueza da periferia dependente para os centros desenvolvidos. A construção histórica do sindicalismo brasileiro se deu entre a forma do modelo econômico adotado pelo Brasil (seja nacionalista ou neoliberal), e suas relações implicaram na participação da sociedade civil, presente na formação da CUT, do PT e da Força Sindical. Este artigo tem por fundamento uma análise a respeito da construção históricoeconômico-social do sindicalismo no Brasil, à luz da Teoria da Dependência, abrangendo conceitos da teoria marxista, como a exploração do trabalhador e a mais valia. O cenário internacional e o “Milagre Econômico” são pontos de grande relevância neste trabalhado, que foi construído com o auxilio dos intelectuais Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Marcelo Dias Carcanholo e Samir Amin. Palavras-Chaves Dependência, sindicalismo, nacionalismo, liberalismo, sociedade civil. Abstract One of the most important characteristic of the world system is that, by acting as an integration, it extracts the economic surplus and transfers wealth from the periphery to the developed centers dependent. Thus, the historical construction of Brazilian trade unions will take place between the shape of the economic model adopted by Brazil (whether nationalist or neo-liberal), and their relationships involved in the participation of civil society, present in the formation of CUT, the PT. This article is based on an analysis regarding the construction of historical, economic, social unionism in Brazil, according to the Theory of Dependence, covering concepts of Marxist theory, such as worker exploitation and surplus value. The international scenario and the "Economic Miracle" are points of great relevance in this work, which was built with the help of intellectuals as Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Marcelo Dias Carcanholo and Samir Amin. Keywords Dependency, Unionism, Nationalism, Liberalism, Civil Society. Introdução A chegada de Lula à Presidência foi vista, no Brasil e em várias partes do mundo, como uma estimulante tentativa de se iniciar a superação do período neoliberal, projeto condenado pelo voto popular de maneira eloqüente nas eleições de 2002. Era uma forma de “mudança”, devido ao descontentamento popular das políticas neoliberalizantes (privatizações, taxa de juros altos, corte dos gastos públicos, etc.) realizadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Um dos pontos que auxiliou para que Lula chegasse à presidência foi que os partidos de esquerda e as organizações dos trabalhadores permanecessem na oposição à política neoliberal. Nota-se, contudo, ao longo dos anos 1990, o fortalecimento de tendências conciliatórias dentro dessas instituições, que acabam por abrir concessões às reformas neoliberais. Este trabalho tem por objetivo geral identificar os fatores que viabilizaram a mudança do movimento sindical e consequentemente a transformação deste em partido político. Além de identificar os aspectos de ordem política e econômica que levaram o Movimento Sindical Pêlego a evoluir para o Movimento Sindical do ABC Paulista, viabilizando o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT), objetiva, também, entender como se deu a construção do projeto de luta da classe trabalhadora e sua importância para compreensão da atual situação política do país, considerando-se os fatores internos e externos que contribuiram para esta evolução do movimento sindical brasileiro. Como embassamento teorico, o artigo elucida a teoria da dependência, que juntamente com explicações dos expoentes marxistas desenvolverá a relação entre a formação do sindicalismo brasileiro e os princípios teóricos da Teoria da Dependência, comprendendo os estudos do intelectual Ruy Mauro Marini, Marcelo Dias Carcanholo e Samir Amin. A Teoria da Dependência: Uma explicação teórica. Segundo Santos (1993), a economia política internacional (EPI) é o estudo das interações do econômico e do político na arena mundial. Esse estudo abrange a relação entre a economia e a política no âmbito nacional e internacional, ilustrando as interações entre os fenômenos econômicos e os fenômenos políticos, especialmente no nível das relações entre a riqueza e o poder no âmbito da realidade social-internacional. Os estudos de EPI concentraram-se em temas que evitam a economia pura: os conflitos internacionais de origem econômica e/ou política; as cooperações internacionais e interestatais do mercado; as instituições e as administrações econômicas internacionais; os processos políticos de negociações econômicas internacionais; as desigualdades internacionais de renda e de poderes; os laços de dominação, de dependências e interdependência; a formação, a influência às violações das regras do jogo monetário; o nascimento de normas na concorrência internacional e nas relações monetárias; as restrições políticas ao livre jogo dos fluxos econômicos (proteção comercial, abertura e fechamento à imigração, controles de movimento de capitais); as relações entre Estados e mercados financeiros internacionais e o nacionalismo econômico. Um dos pontos a serem estudados dentro da Economia Política Internacional é o marxismo. Karl Marx1 estendeu o objeto de estudo da economia ao aprofundar a análise da teoria do valor e ligá-la ao processo de trabalho (dentro de um sistema econômico-social), dados as classes sociais, às formações sociais e, de maneira mais geral, a certos modos de produção que articulam as relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas2. Ele estabelecia, assim, o fundamento para uma ciência social onde a especificidade do econômico, do social, do político ou do ideológico se apresentava como momentos de uma totalidade que assumia a forma de um processo histórico singular. Esse processo era, por sua vez, um momento da história da natureza, da qual a humanidade emergiu como um elemento qualitativamente novo que se diferenciou, até certo ponto, da história natural. O surgimento da espécie humana com seu cérebro, sua mão articulada e sua 1 Disponível em MARX (1997:75). 2 Idem capacidade de transformar a natureza para alcançar seus próprios fins. Marx introduziu na história natural uma nova história: a história da humanidade3. Ele supunha uma vinculação muito complexa entre o processo de conhecimento e o processo de organização política das forças sociais. No caso da sociedade contemporânea, o proletariado foi identificado por Marx como o agente privilegiado das transformações históricas que viabilizariam o estabelecimento de um novo modo de produção, conduzindo a uma nova etapa civilizatória. O marxismo das décadas de 1940, 1950 e 1960 traz os problemas da transição do socialismo, em função do aparecimento das novas experiências socialistas na Europa Oriental, na China, na Argélia e em Cuba. A dissidência iugoslava abrira um vasto campo de debate teórico e de experiência prática. Para Santos (1978), o processo iugoslavo introduzia no debate as questões de uma via socialista alternativa baseada na auto-gestão do projeto de uma sociedade internacional sem os alinhamentos determinados pela guerra fria, da aliança dos povos coloniais, da necessidade de uma aliança entre os marxistas, a Internacional Socialista e os movimentos de libertação nacional. Já na década de 1960, a absoluta singularidade da revolução cubana introduz novos elementos no debate internacional, sobretudo no que diz respeito à relação entre a revolução democrática nos países dependentes e a passagem para uma economia socialista. A guerra do Vietnã e a derrota da maior potência militar da história, por um movimento insurrecional à base de guerrilhas, colocaram o debate da década de 70 sobre bases completamente distintas. Surgem as tentativas de regimes de transição ao socialismo no Oriente Médio e na África. Casos complexos como o da Argélia, o de Angola, ou mesmo o de Moçambique, enriqueciam enormemente a problemática da possibilidade de uma diversificação tão ampla das experiências de transição ao socialismo. Pode-se considerar, também, o fim da liderança dos partidos comunistas sobre o movimento operário em escala mundial e a emergência de uma nova fase do movimento popular mundial, do pensamento socialista e das experiências de desenvolvimento econômico e social, apresentando tanto nos países centrais quanto nos países periféricos. O marxismo se converteu num campo teórico e analítico extremamente rico e diversificado. Na América Latina, desenvolve-se uma tendência a um enfoque 3 BOTTOMORE (1988). histórico-estrutural que não teve ainda sua elaboração filosófica suficientemente desenvolvida, consolidando na chamada versão marxista da teoria da dependência, tal como a qualifica Ruy Mauro Marini (1995). A Teoria Marxista da Dependência tem sua origem nas discussões levantadas por Ruy Mauro Marini na obra político-teórica “Dialética da Dependência”4. Para Marini (1995), a Teoria da Dependência emergiu no apogeu do quadro histórico latino-americano no início dos anos 1960, com o objetivo de tentar entender a reprodução do sistema capitalista de produção na periferia, enquanto um sistema que criava e ampliava diferenciações em termos políticos, econômicos e sociais entre países e regiões, Dessa forma, a economia de alguns países – os periféricos – era condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outros – os centrais -, o que se estabelecia pela forma de inserção da América Latina no mercado internacional e pela posição que ocupava na divisão internacional do trabalho, tendo seu eixo de acumulação no setor primário-exportador. Dentro dessa lógica analítica, a Teoria da Dependência abriu espaço para diversas interpretações e correntes, emergidas a partir de diferentes campos metodológicos e epistemológicos. Algo que somente com a composição dessa nova vertente teórica, frente ao parâmetro do modo de produção capitalista puro, a economia latino-americana apresenta certas peculiaridades que impedem que o capitalismo na região se desenvolva de forma semelhante ao verificado nas economias consideradas avançadas. Por isso, ressalta que, mais que um capitalismo, o que se tem na América Latina é um capitalismo sui generis5, e este só ganha sentido se compreendido a nível tanto nacional quanto internacional. De acordo com essa corrente, a dependência pode ser entendida como uma situação na qual a economia de certos países está condicionada ao desenvolvimento e expansão de outras economias, de forma que os países centrais poderiam se auto-sustentar, enquanto que os países periféricos só poderiam expandir suas economias como um reflexo da expansão dos primeiros. Como aponta Amin (1978), a teoria da dependência preocupa-se fundamentalmente com o problema do desenvolvimento desigual e as formas como a desigualdade se manifesta na economia internacional. Logo, o essencial a ser destacado é que as 4 5 MARINI (1995:38). Idem relações internacionais se caracterizam pela exploração da periferia pelos países ricos do centro por intermédio de mecanismos como a troca desigual do investimento direto e do financiamento aos desequilíbrios dos balanços de pagamento. A hegemonia (política) do centro – que os dependentistas equiparam conceitualmente à dominação – seria a expressão da desigualdade econômica e da dependência. Para Marini (1995:22), “a dependência é entendida como uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes, em cujo âmbito as relações de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução ampliada da dependência”. Segundo SADER (2000: 109), “o fruto da dependência só pode assim significar mais dependência e sua liquidação supõe necessariamente a supressão das relações de produção que ela supõe”. Nesses termos, o objeto de estudo da Teoria Marxista da Dependência é a compreensão do processo de formação sócio-econômico na América Latina a partir de sua integração subordinada à economia capitalista mundial. Neste processo, o que se observa é uma relação desigual de controle hegemônico dos mercados por parte dos países dominantes e uma perda de controle dos dependentes sobre seus recursos, o que leva à transferência de renda – tanto na forma de lucros como na forma de juros e dividendos – dos segundos para os primeiros. Ou seja, essa relação é desigual em sua essência porque o desenvolvimento de certas partes do sistema ocorre à custa do subdesenvolvimento de outras. É a luz dessa teoria que será realizada a análise das mudanças ocorridas no movimento sindicalista brasileiro que viabilizaram em 1980 a criação de um partido político como uma real forma de poder e representação da classe trabalhadora. A relação entre o sindicalismo brasileiro e a teoria da dependência Um dos pontos ressaltados por Antunes (1995) está na configuração dos sindicatos e os partidos políticos que se destacaram como dois importantes instrumentos de organização da classe trabalhadora tanto na época da eclosão dos movimentos sociais no Brasil (nas décadas 1970 e 1980) que reivindicavam melhores condições de trabalho, quanto no atual cenário político e econômico do país e do mundo. Eles surgiram dessa forma, primeiramente, para unir a classe trabalhadora nacionalmente de forma independente do Estado e de qualquer partido político, e em um segundo momento, marcado pela perda do caráter de confronto e do referencial de classe, no qual o discurso foi adaptado ao modelo da democracia e da luta pela cidadania. Os sindicatos tinham por objetivo suprir as necessidades imediatistas da classe trabalhadora, como melhores salários e condições de trabalho. Procedeu-se, também, à reconstrução histórica da social-democracia na perspectiva analítica que percebe nas reformas graduais um referencial no processo de transformação política. Como aponta Anderson (1976), a evolução da classe operária tem grande relação com o pensamento de Marx e Engels. Entretanto, a ligação entre teoria e prática nunca foi dada de forma contínua e clara por esses pensadores. A criação de partidos de classe operária só se deu após a morte de Marx, e sua teoria e a prática proletária sempre tiveram uma relação indireta e irregular. Marx deixou uma teoria econômica coerente e desenvolvida do modo de produção capitalista, começada em “O Capital”, mas não uma equivalente teoria política das estruturas do Estado burguês, nem da estratégia e da tática da luta socialista revolucionária por um partido da classe operária que derrubasse esse Estado. A construção sistemática de uma teoria política marxista da luta de classe ao nível organizativo e tático foi obra de Lênin6, antes dele o nível político era inexplorado na teoria de Marx. Ele criou os conceitos e os métodos necessários para a condução de uma vitoriosa luta proletária pelo poder na Rússia, dirigida por um partido operário. Esses métodos eram a combinação da propaganda com a agitação, a condução das greves e manifestações, o forçamento da aliança de classes, o fortalecimento da organização partidária, o direcionamento da luta pela autodeterminação nacional e a análise da conjuntura nacional e internacional7. Isso mostrou o início da ciência marxista da política. Fazendo uma analogia entre os métodos desenvolvidos por Lênin na Rússia, pode-se apontar que no Brasil as greves se tornaram comuns a partir da primeira greve de trabalhadores ocorrida entre os anos 1914 e 1918, momento do 6 7 LENIN (1994:12) Idem sindicalismo pré-Vargas. E a segunda (1939/1945) no meio do Getulismo8. Antes de 1930, as greves no Brasil tinham uma predominante motivação econômica, a luta por melhores salários9. A partir de 1930, as greves continuam tendo essa incidência, mas como freqüentemente na história brasileira foram poucos os períodos de democracia efetiva, nos períodos mais ditatoriais, uma greve econômica acabava sempre assumindo uma maior ou menor dimensão política. Getúlio Vargas assume a presidência em 1930 em meio a uma revolução que marcou o fim do domínio agrário-exportador dos barões do café e o nascimento de um projeto industrial ancorado em um Estado forte e em uma política nacionalista. Para sustentar esse salto político e econômico que Vargas pretendia alcançar com o Brasil, era necessária uma base que sustentasse seu novo projeto. Essa base foi formada a partir de uma nova relação com a classe trabalhadora, que era vista como “um caso de polícia” pelo presidente que antecedeu Vargas, Washington Luis10. Vargas passou a tratar o caso da classe trabalhadora como uma questão social de importância central na vida nacional. Ele trouxe os trabalhadores para a agenda do Estado e politizou as questões sociais. Em 1931 é oficializada a “Lei da Sindicalização”, a fim de controlar as ações dos sindicatos, ao qual os reprimia e controlava suas finanças, além de restringir suas atividades políticas e ideológicas. A ação do governo Getúlio era que os trabalhadores pudessem se filiar à um sindicato, desde que fosse o sindicato oficial do governo, submetido ao Ministério do Trabalho. Em 1943 é criado a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que permitiu o governo getulista captar as principais reivindicações dos trabalhadores. Segundo Antunes (2006), o governo Vargas obteve um “duplo” sucesso ao propor a CLT, diminuiu as greves, controlava os trabalhadores e aumentava a produção. A idéia revolucionária de tomar o poder e entregá-lo ao proletário, fazendo a revolução era cada vez mais difícil, devido ao 8 GALVÃO (2007:23). 9 Idem 10 Ricardo Antunes, 2006 – Artigo de Vargas a Lula: Caminhos e descaminhos da legislação trabalhista no Brasil. controle governamental, principalmente depois que o governo conseguiu afastar a tentativa da “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes11. A partir disso, segundo Anderson (1976) uma teoria revolucionária justa só assume forma acabada em ligação estreita com atividade revolucionária. A simples adesão formal a uma organização partidária, do tipo habitual da história recente, não basta para fornecer esse vínculo, é necessária uma ligação estreita com a atividade prática do proletariado. Nem tampouco basta a militância num pequeno grupo revolucionário, tem que existir uma ligação com as massas reais. A partir dos anos 1960, com o governo instável de João Goulart, as greves passaram a ter uma forte dimensão explicitamente política: greve geral pelo plebiscito para definir se o povo queria a volta do presidencialismo ou a manutenção do parlamentarismo12. Foi um período marcado internacionalmente pelo constante confronto entre EUA e URSS, superpotências que emergiram na Segunda Guerra Mundial, na chamada “Guerra Fria”. A URSS dominava uma parte do globo, enquanto os EUA dominavam o mundo capitalista. As indústrias se desenvolveram de forma crescente, e nos países periféricos, em recente industrialização dependiam cada vez menos da agricultura. Essa mudança estrutural levou em muitos desses países, incluindo o Brasil, a criação de uma classe operária industrial que exigiam direitos trabalhistas e sindicatos. A configuração do sindicalismo mundial era uma herança do cenário político internacional pós-II Guerra Mundial. O "fim da Guerra Fria" foi componente fundamental de um novo cenário no início da década de 1990. Mas não o único: eram também anos de auge do neoliberalismo que atacava o sindicalismo, rompendo a política de "pactos sociais" (entre governos, empresários e centrais sindicais) que dominou o capitalismo do Estado de Bem-Estar Social13. Para Magnoli (1997), as políticas do Estado de Bem Estar Social começaram a ganhar relevância, com as vitórias de Ronald Reagan nos EUA e Margareth Thatcher na Inglaterra na década de 1980. Contribuiu para essa legitimidade também, a derrocada dos países do Leste Europeu – na Hungria em 11 Idem ANTUNES (2006:49) 13 Segundo DRAIBE (1988): “O Estado do Bem Estar Social é uma transformação do próprio Estado, a partir das suas estruturas, funções e legitimidade. Ele é uma resposta à demanda por serviços de segurança sócioeconômica. Com a industrialização surge à divisão social do trabalho, isto implica num crescimento individual em relação à sociedade. Desse modo, os serviços sociais surgiram para dar respostas às dificuldades individuais, visando garantir a sobrevivência das sociedades”. 12 1956, na Tchecoslováquia em 1968 e na Polônia em 1980 – causada pelo desalinhamento internacional do Pacto de Varsóvia e o fim do regime de partido único14. ] Um dos pontos a serem considerados dentro da teoria da dependência é o que aponta Carcanholo (2004), que identifica três condicionantes históricoestruturais da situação de dependência. O primeiro seria a redução dos preços dos produtos exportados pelas economias dependentes (produtos primários e com baixo valor agregado) em relação ao preço dos produtos industriais ou com maior valor agregado importados dos países centrais, num processo de transferência de valor (ou, dito de outra forma, num processo de perda nos termos de troca). O segundo ponto colocado por Carcanholo (2004:11) é a remessa de excedentes dos países dependentes para os avançados, sob forma de juros, lucros, amortizações, dividendos e royalites, pela razão dos primeiros importarem capital dos últimos. Por fim, o terceiro ponto seria a instabilidade dos mercados financeiros internacionais, geralmente implicando em altas taxas de juros para o fornecimento de crédito aos países dependentes periféricos, colocando os mesmos à mercê do ciclo de liquidez internacional. O primeiro elemento demonstrado por Carcanholo (2004), sobre a depreciação do valor dos produtos produzidos nos países periféricos, pode ser visto no período de industrialização do Brasil, denominado de “Milagre Econômico” 15 . Na década de 1970, inserido no contexto da ditadura militar e da exploração do trabalhador, e embalado pela eclosão de outros movimentos sociais no mundo, a classe proletária brasileira se manifestava em busca de melhores condições de trabalho e salários. Os salários eram baixos, uma vez que o Brasil sofria um constante fluxo de migração, principalmente trabalhadores de baixa qualificação profissional que iam do nordeste para o sudeste, além de que a base da exportação brasileira era composta por produtos de baixo valor agregado como commodities e agropecuários. Dessa forma, os sindicatos tiveram destaque em todo país, pois davam apoio aos trabalhadores em suas reivindicações ajudando a organizar as primeiras grandes greves ocorridas na região do ABC paulista, local fortemente concentrado industrialmente, devido a incentivos governamentais. A ditadura militar 14 15 BROUE (1996:21) ROSSETTI (2007:214) já havia se instalado.com o apoio da burguesia nacional e com participação ativa dos Estados Unidos16. Nessa época, os sindicatos permaneceram atuantes, apenas se adaptando às circunstâncias de grande repressão por parte dos militares que ocupavam o poder. Rodrigues (1997), traz três importantes fatores que concorreram para a rápida reorganização do movimento sindical no Brasil. Primeiro, a manutenção da ação localizada de alguns grupos de esquerda, tanto no campo quanto na cidade, ainda que de forma dispersa e sem vinculação estreita com sua organização de origem. Segundo, a ocupação de espaços no aparelho sindical – antes ocupado pelos sindicalistas vinculados ao governo e aos empresários – por parte das novas lideranças sindicais vinculadas ao sindicato de São Bernardo, que naquele momento, concedia o padrão de ação sindical combativo a ser implementado. Na medida em que ocupavam esses espaços oficiais, criavam melhores condições de organização e articulação de sindicatos por todo país anteriormente isolados. E, por fim, o papel desempenhado pelos setores da Igreja Católica mais ligados às lutas dos trabalhadores, a partir de sua capacidade de ampliar as teias de sociabilidade por todo o país. A formação do Partido dos Trabalhadores: Uma forma real de poder para o movimento sindicalista brasileiro Nesse contexto, em 1961, com o desejo de sair da dependência e oferecer melhores condições aos trabalhadores, foi fundada a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que representava os trabalhadores unidos para uma luta comum contra o capital. Cabia a própria base da organização decidir sobre o andamento do seu sindicato17. A CUT foi criada sob a visão da independência frente ao Estado e a qualquer partido político. Com a criação, uma nova política de sindicalismo começa a ser desenvolvida No caso do sindicalismo no Brasil, houve uma forte influência de movimentos europeus, mesmo levando-se em conta que a 16 17 SANTOS (1993:12) Disponível em <http//:www.cut.org.br>. Acessado em: 23/05/2010 formação desse grupo no Brasil se deu tardiamente devido a uma industrialização também tardia. A base da CUT, segundo Rodrigues (1997), era formada, basicamente, por quatro fatias da classe trabalhadora: o operariado industrial, os trabalhadores rurais, os funcionários públicos e os trabalhadores vinculados ao setor de serviços. Em termos da especificação de suas lutas, a ação do sindicalismo “cutista” se direcionava, de um lado, na luta contra o arrocho salarial, a superexploração da força de trabalho e a política econômica. Por outro lado, a central teve papel decisivo no processo de democratização da estrutura sindical, ao longo da década de 1980, especialmente no que diz respeito ao excessivo controle dos sindicatos por parte do Estado – que era permitido, principalmente, na manutenção legal do imposto sindical e da unicidade sindical. O fato é que, mediante essa postura combativa e de oposição à política econômica e social implementada pelo governo, a CUT se tornou protagonista dos diversos embates empreendidos em prol da classe trabalhadora, seja tomando frente na organização e realização de greves, seja como estrutura de aparato às greves que ocorriam à margem dos sindicatos. Se para o Brasil havia, na década de 1960, a formação do movimento sindical com a criação da CUT, percebe-se que ao analisar o cenário internacional, o movimento operário nos países europeus passou por um processo semelhante ao processo de constituição do capitalismo, que se iniciou com o trabalhador artesanal se transformando em manufatureiro e só depois indo trabalhar nas grandes indústrias. Antes de se iniciar o proletariado, o trabalhador trabalhava sozinho e se baseava no sistema das trocas. No Brasil, a formação do proletariado se deu dentro do contexto da industrialização. No início, os trabalhadores se reuniam exclusivamente para tratar de questões econômicas como as exigências das condições mínimas de trabalho18. Como ressalta Rodrigues (1997), o Estado, a fim de controlá-los, passa a intervir cada vez mais em suas ações, tornando as relações trabalhistas um tema mais público do que privado. A intenção era subordinar os sindicatos ao Estado com o pretexto de minimizar as lutas entra as classes e a diminuir o embate entre patrões e empregados. Analisando isso, dentro da teoria da dependência, pode-se considerar o segundo ponto desenvolvido por Carcanholo (2004), ao considerar o problema da 18 SANTOS (1993) remessa de lucros excedentes, realizados por empresas transnacionais em países periféricos. Então, com o desenvolvimento do Milagre econômico na década de 1970, o Brasil permite a entrada maciça de investimento externo direto, principalmente com a entrada de transnacionais no país, acentuando um aumento e diversificação da classe trabalhadora. Durante a década de 1970, o Brasil exibiu um crescimento da produção, em torno de 7% ao ano, o que significou uma evolução anual média de 4% da renda per capita19. O superaquecimento da economia brasileira durante a primeira metade dos anos 70 foi o catalisador das crises observadas a partir de 1973. Pode-se considerar que a crise do governo ditatorial que se iniciou com o fim do “milagre econômico” e as denúncias sobre a repressão exercida pelos militares deram os primeiros passos no processo de redemocratização do país. Os movimentos grevistas do final da década de 1970 e o anúncio das eleições estaduais diretas, em 1982, davam claro sinal da retirada dos militares do poder. Com o fim efetivo do regime ditatorial em 1985 e o processo de transição para o governo civil, a estrutura sindical permaneceu intacta conservando a base da estrutura do sindicalismo de Estado. Ao analisar a Teoria Dependentista, a obra de Samir Amin aborda que as lutas de libertação nacional assumem claramente um caráter antiimperialista, transformando-se na manifestação da luta de classes no plano internacional. Mais do que um instrumento de dominação das classes dominantes nacionais, o Estado dependente é visto como um instrumento da dominação da burguesia internacional. A pressão externa sobre as elites nacionais no sentido de explorar ao máximo as massas da periferia e exportar seu excedente para os países imperialistas é considerada o elemento que provocará necessariamente a revolução nacional e socialista. Percebe-se que a contradição principal está nas relações sociais entre uma classe internacional (a burguesia) e a classe trabalhadora dos países explorados, mas também entre aquela e a burguesia nacional. Amin (1978) desenvolve a idéia do “desenvolvimento desigual”, aos quais os problemas nacionais (como o subdesenvolvimento) devem ser considerados como nada mais do que a expressão da luta de classes internacional, ou seja, da exploração do proletariado da periferia 19 ROSSETTI (2007:215) pela burguesia do centro. O modelo de governo implantado pela ditadura militar não agradou os trabalhadores que no fim dos anos 1970 faziam greves na região do ABC paulista. Apesar do “Milagre Econômico” ocorrido nesse período, que proporcionou o barateamento do petróleo e a expansão da indústria automobilística, o que se via era uma superexploração do trabalhador. Essa massa de trabalhadores começou a se organizar em partidos e sindicatos, passando da primeira motivação de caráter econômico, para uma motivação política. Nesse ponto, os sindicatos são uma das formas de dar esse sentido político à luta dos trabalhadores organizando a massa. Percebe-se que as mudanças sofridas pelo movimento sindicalista brasileiro desde seu surgimento por volta de 1910 até sua forma mais radical no ABC paulista na década de 1970, podem ser explicadas através da economia política internacional e da teoria da dependência, que ilustra a integração entre os fatores políticos e econômicos no âmbito interno e externo. Assim, é possível analisar que a luta de classes se torna uma questão internacional travada a partir de lutas nacionais. O problema está na forma como ela se expressa, ou seja, na luta entre Estados nacionais. Na década de 1980, o sindicalismo cresceu muito porque o neoliberalismo e a reestruturação produtiva que afetam os trabalhadores norte-americanos iniciaram-se no Brasil com Fernando Collor de Mello, em 1989, e depois com Fernando Henrique Cardoso20. Nesse contexto, analisa-se o terceiro ponto desenvolvido por Carcanholo (2004) na teoria da dependência como a “instabilidade dos mercados financeiros internacionais”, no qual o Brasil sofre com elevadas taxas de inflação, fuga de capitais, mudança do regime político (ditadura para democrático) e recessão econômica, gerando grande número de desempregados. Um dos fatores que contribui para essa situação, segundo Marini (1995), é a mudança dos empréstimos tomados pelo governo brasileiro na década de 1970 (com juros baixos) e alta repentina dos juros na década de 1980, transformando os Estados Unidos no país que mais recebia dinheiro do mundo. A partir disso, pode compreender que o Estado Subdesenvolvido, na visão dos dependentistas, é um instrumento essencial para a administração do papel dependente na divisão internacional do trabalho e no processo capitalista mundial de 20 RODRIGUES (1997) acumulação de capital. Assim, a periferia estaria sujeita à penetração do capital e às relações de dominação construídas, onde existe uma relação tensa entre ricos e pobres, empresas e empregados, latifundiários e trabalhadores rurais e entre o proletário e a burguesia. É nesse contexto, dando abordagem principalmente na relação entre o proletário e a burguesia, que surge o Partido dos Trabalhadores, o PT. Ele foi fundado em São Paulo em 1980, se baseava na política da social democracia, e veio como uma forma dos trabalhadores e sindicatos de se reorganizarem sem se submeter ao Governo. Esse partido tinha intenção de ser um partido formado por trabalhadores e para trabalhadores21, uma expressão clara da sociedade civil da época. No contexto em questão, de crise econômica, a repressão do governo militar e influências trotskistas e comunistas, o PT surgiu através da união de membros do movimento sindicalista, de intelectuais de esquerda, e parte da igreja, baseando na política social democrata22. Portanto, pode-se analisar que para Marx e Engels, o partido político é a expressão de como se manifestam as classes sociais23. Para Weber é entendido como uma organização de livre associação objetivando, mediante pleito eleitoral, conquistar o poder do Estado. “Em sua estrutura interna, todos os partidos passam, no decorrer dessas últimas décadas, paralelamente à racionalização crescente das técnicas das campanhas eleitorais, para a organização burocrática. O grau de desenvolvimento que os diversos partidos alcançaram é diferente, mas a tendência geral é unívoca, pelo menos nos Estados de massas.” (Weber, 2000, p.547) Para Venturini (2000), o surgimento do PT pode ser compreendido devido à grande mobilização social do ABC paulista, que levou o movimento sindical brasileiro a ficar conhecido mundialmente como o mais ativo do mundo. Apesar dessa vontade em fugir da tutela do Estado, movimentos ligados à ação do governo como CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), que tinham lideranças mais conservadoras apareciam. Juntamente a esse fato, o movimento sindicalista brasileiro sofria fortes influências políticas da Esquerda como o Partido Comunista 21 Disponível em <http//:www.pt.org.br/estatutodeformacao> Acessado em 06/06/2010. 22 VENTURINI (2000:26) 23 SANTOS (1977:87) Brasileiro e ideológicas pelo Manifesto Comunista escrito por Marx e Engels em 1848. Assim, o movimento adquiriu a identidade de partido político, fato similar ao acontecido na Polônia com o Movimento Solidariedade 24 . Segundo Singer (2001), o PT nasceu com uma postura crítica ao reformismo dos partidos políticos socialdemocratas. Para os petistas, as políticas social-democratas não teriam nenhuma chance em vencer o imperialismo capitalista contra o qual lutavam25. Dessa forma, o partido continha ideologias marxistas, mas também ideologias dos sindicalistas, sendo essas últimas o cerne do partido. Ele seria a expressão mais clara da sociedade civil na luta contra o autoritarismo de um Estado dominado pelos militares e de uma sociedade capitalista. Ele foi formado por integrantes de movimentos sociais e sindicais, inseridos no conceito de sociedade civil. Para Hobbes, a sociedade civil é “sinônimo de Estado”, que é quando as pessoas se organizam em torno de determinadas regras, as quais o Estado tem a função de criar e fazê-las cumprir; ou seja uma forma de se opor ao estado de natureza26. Uma sociedade no estado de natureza não consegue conviver de maneira civilizada, pois não há leis e regras acertadas de forma contratual; o que faz surgir á necessidade de um governo para regular as relações entre os indivíduos. Dessa forma, a sociedade civil, seria uma evolução do estado de natureza. Então, Locke apresenta uma relação diferente com a sociedade civil, uma vez que no fim do século XVIII, a sociedade política começou a emergir juntamente com a sociedade civil e a sociedade capitalista de mercado. Isso significa que a sociedade civil se tornou ligada à propriedade privada, a produção em massa e a divisão do trabalho. A propriedade privada para ele é um direito natural, e não um direito civil como acreditam Hobbes e Rousseau. Para Bobbio (1999), “a sociedade civil aparece como esfera de mediação entre a infra-estrutura econômica e o Estado em sentido restrito, e não apenas como a esfera das relações econômicas como asseguram alguns teóricos”. A sociedade deixa de ser vista como a expressão dos interesses particulares e da iniciativa privada, para ser vista como o conjunto das instituições privadas, como elemento que articula as individualidades e nega as classes. Logo, o conceito de sociedade 24 SANTOS (1993) 25 Disponível em <http//:www.pt.org.br> Acessado em 06/06/2010. 26 BOBBIO (1999:21) civil acabou por se misturar ao que chamamos de Estado, de maneira que se tornou quase impossível distingui-los. Segundo Bobbio (1999), depois de dois séculos de distinção entre sociedade e Estado, atualmente questiona-se essa separação. Observou-se nos últimos anos um processo de socialização do Estado mais significativo que o processo de estatização da sociedade. Esse último se deu através do desenvolvimento das várias formas de participação nas opções políticas e do crescimento das organizações de massa que exercem algum poder político como nos casos dos sindicatos e os próprios partidos políticos. Os sindicatos, segundo Rodrigues (1997), foram estabelecidos no processo do desenvolvimento capitalista. São grupos que buscam melhores condições de trabalho e atendimento imediato das reivindicações da classe trabalhadora. Essas organizações não estão inseridas em um contexto político como os partidos, e sim em um contexto ideológico. Nos sindicatos, existem desde pessoas que querem apenas resolver aquele problema imediato, até pessoas que querem de fato resolver problemas estruturais da classe para resolvê-los de vez. Apresentam uma composição heterogênea que tem como objetivos solucionar problemas imediatistas que se relacionam a luta diária do trabalhador. Como aborda Antunes (2006), os sindicatos atuam para transformar essa consciência imediata, inserindo em cada trabalhador uma consciência política e uma percepção de seu papel na transformação social. É para alcançar esse sentido mais político que o movimento sindical precisa da influência de um partido político sem se subordinar ao mesmo. Por isso, partidos políticos e sindicatos têm objetivos distintos que dependem diretamente do contexto em que estão inseridos. Muitas vezes, porém, os dois se conectam, possibilitando ao movimento sindical exercer um papel fundamental na elevação do nível de consciência das classes trabalhadoras. A questão da subordinação dos sindicatos aos partidos políticos deixa claro que o sindicato é uma forma de resguardar os direitos dos trabalhadores dentro da sociedade capitalista. O sindicato se subordina a um partido à medida que precisa alcançar um sentido mais político visando a transformação social que objetiva. É uma organização de frente única que independe de sua posição política ou partidária. Apesar de sua vinculação partidária, sua independência é em relação ao partido político que se subordina. Ele se subordina a um partido para se firmar, independendo de qual é esse partido. Por isso em um mesmo sindicato encontramse diversos partidos diferentes. Dentro desses aspectos, Marini (1995) busca na expansão comercial do capitalismo nascente no século XVI e na forma como a economia brasileira se desenvolve em estreita consonância com essa dinâmica, a configuração da situação de dependência, que viria a determinar todo o posterior desenvolvimento do país, definida a partir de uma bem estruturada divisão internacional do trabalho. Desde cedo, a condição para que o Brasil se inserisse na economia internacional esteve relacionada à capacidade de criar uma oferta mundial de alimentos. Tão logo, a esta função foi acrescentada a de contribuir para a formação de um mercado de matérias-primas industriais, cuja importância crescia em função do próprio desenvolvimento industrial. Esse fator, somado ao crescimento da classe trabalhadora e à elevação da produtividade nos países centrais, contribuíram de maneira fundamental para o surgimento da grande indústria, principalmente notada no período do “Milagre Econômico”. Nesse sentido, mais do que responder às necessidades físicas induzidas pela acumulação nos países industriais, pode apontar a Teoria Marxista da Dependência. De certa forma, a obra de Florestan Fernandes também apontou para elementos nesse campo. “(...) a participação do Brasil no mercado mundial contribuirá para que o eixo da acumulação na economia industrial se desloque da produção de mais-valia absoluta à da mais-valia relativa, isto é, que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que do simplesmente da exploração do trabalhador” (SADER, 2000: 113). Mesmo dependendo do aumento da produtividade, o que determina a cota de mais-valia não é a produtividade do trabalho em si, mas sim o grau de exploração do trabalho, vale dizer, a relação entre o tempo de trabalho excedente – no qual o operário produz mais-valia – e o tempo de trabalho necessário – no qual o operário produz o valor do seu salário. Para que o aumento do trabalho excedente possa se verificar em relação ao trabalho necessário, é fundamental que a redução do valor social das mercadorias incida sobre os chamados bens-salário, aqueles necessários à reprodução da força de trabalho. É nesse ponto que a participação do Brasil no processo de acumulação ganha notável importância. Na medida em que aumenta a oferta mundial de alimentos (que são bens-salário), acaba induzindo a uma redução dos preços dos produtos primários no mercado mundial. O resultado direto é uma redução do valor real da força de trabalho nos países industriais, permitindo que o incremento da produtividade se traduza em ampliação da mais-valia. Mediante sua incorporação ao mercado mundial de bens-salário, o Brasil desempenha um papel significativo no aumento da mais-valia nos países industrializados. Como aponta Carcanholo (2004), o preço dos produtos industriais se mantém relativamente estável, a depreciação dos bens primários acaba sendo refletida na deterioração dos termos de troca. Levando em consideração a Teoria da Dependência pode assinalar que, a deterioração dos termos de troca acaba sendo a expressão da realização de um intercâmbio desigual de mercadorias entre nações industrializadas e não industrializadas, dentro da imposta divisão internacional do trabalho. No fim da década de 1980, o Brasil se viu imerso em um complexo quadro econômico, resultado não só da conjuntura internacional, mas principalmente da exacerbação dos efeitos das políticas econômicas implementadas nos anos anteriores. A inflação atingia níveis catastróficos, ultrapassando a marca de 80% ao mês27 – e superando, portanto, as reposições salariais realizadas no período - e a dívida pública se expandia de forma desenfreada. Os planos heterodoxos, adotados como objetivo de frear a inflação, não logrou sucesso28. E no plano político, o país vivia a “euforia” da redemocratização e das discussões em torno da consecução da nova Constituição. O quadro recessivo da economia abria espaço para que a representação do grande capital internacional – formatada nas figuras do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial – se fizesse presente na imposição de políticas que viessem a reordenar os contornos da economia nacional. Aliado aos interesses de determinados setores da burguesia nacional (principalmente do setor bancário e automobilístico), essas agências internacionais formavam a base para a implementação de uma série de medidas de corte liberal, consubstanciadas nas 27 ROSSETTI (2007:220) 28 IDEM políticas neoliberais29. As políticas neoliberais se firmavam em um tripé composto pela abertura comercial, abertura financeira e desregulamentação do mercado de trabalho. Foi nesse contexto que, segundo Venturini (2000), em março de 1990, quando Fernando Collor assume a Presidência da República, foi inaugurada a “era neoliberal no país”. O governo assume uma nova posição, na qual deveria estar em sintonia com a ofensiva do grande capital sobre os direitos dos trabalhadores em todo o mundo. Nesse período, para Venturini (2000), um dos movimentos mais marcantes foi a greve dos petroleiros de 1994/1995, que foi o equivalente à greve dos mineiros derrotada por Margareth Thatcher, primeira-ministra da Grã-Bretanha. Em 1994 assume o novo presidente, Fernando Henrique Cardoso, e em seguida consegue colocar a defesa do Plano Real contra a mobilização dos petroleiros, que saem da luta na defensiva e sem a conquista de reivindicações já negociadas. O movimento sindical, particularmente a CUT, participante ativo do processo de democratização, iria ser alvo de uma nova ação muito mais agressiva do governo. O desenvolvimento do capitalismo brasileiro ao longo das duas últimas décadas, condicionado pela excessiva dependência do capital estrangeiro, foi marcado por uma crise econômica relativamente longa e persistente. Deflagrada no início dos anos 1980, em função da dívida externa, a crise tem por características a acentuada diminuição das taxas de crescimento econômico, o aumento do nível de desemprego e a depreciação dos valores de troca. Por isso, ao apresentar a Teoria da Dependência, analisa que a mudança das moedas do cruzeiro para o real em 1994 e a necessidade de uma reforma econômica brusca, muda a idéia de valor. Tal intercâmbio, ao contrário de exprimir uma troca de equivalentes, conforma uma série de mecanismos que permitem realizar transferências de valor. Seriam dois os principais mecanismos através dos quais se realizaria a transferência de valor. O primeiro opera no nível da esfera de produção interna. Como as mercadorias tendem a ser vendidas pelo valor das condições médias de produção, ou pelo preço de mercado, os países centrais acabam realizando suas mercadorias por um valor superior ao custo de produção, na medida em que possuem padrões de produção superiores aos países periféricos. 29 MARINI (1995:95) A conseqüência é a ocorrência da transferência de valor da periferia para o centro, por conta do processo de concorrência entre capitais internos e externos dentro de uma mesma esfera de produção, ou seja no caso do Brasil que sofreu com as crises na década de 1980, viu uma grande especulação, aumentando sua dívida interna, algo que começou a mudar com o controle da inflação com a criação do Plano Real. O segundo opera no âmbito da concorrência entre distintas esferas que se inter-relacionam. A existência de monopólio na produção de bens de alto valor agregado por parte dos países centrais permite que estes vendam seus produtos a preços superiores àqueles que prevaleceriam com iguais taxas de lucro, o que implica que as nações periféricas sejam obrigadas a ceder gratuitamente parte do valor que produzem. A partir da transferência de valor da periferia para o centro, observa-se que segundo Marini (1995), o capitalista da nação desfavorecida, mais que tentar corrigir os desequilíbrios entre os preços e os valores de suas mercadorias, busca compensar a perda da renda gerada pelo comércio internacional. Isso porque a transferência de valor é uma transferência de mais-valia, que se apresenta como incremento da taxa de mais-valia e da taxa de lucro nos países industrializados, em detrimento da taxa de mais-valia das nações periféricas. Ou seja, na medida em que a perda de mais-valia ocasionada pelo intercâmbio desigual não pode ser resolvida em nível das relações de mercado, a reação da economia dependente é tentar compensá-la no plano da produção interna através da ampliação da produção de excedente. Nessa perspectiva, o aumento da intensidade do trabalho – e não o incremento de sua capacidade produtiva – se configuraria como um aumento da mais-valia. Marini (1995) aponta ainda outro mecanismo para se elevar a mais-valia. Este seria o “prolongamento da jornada de trabalho” - aumento da mais-valia absoluta - como forma de aumentar o tempo de trabalho excedente, aquele no qual o trabalhador segue produzindo após ter criado todo o valor necessário à sua subsistência. Isto que dizer que, por estarem fundamentados no uso intensivo e extensivo da força de trabalho, a utilização desses mecanismos acaba fazendo com que o trabalho seja remunerado por baixo de seu valor, e por isso correspondem a uma superexploração da força de trabalho. A partir desse argumento, Marini (1995) busca mostrar que não há outra forma de compensar a transferência de valor para o centro porque a periferia não consegue desenvolver uma base técnica, compatível com a do centro, que possibilite elevar o valor agregado de seus produtos, a partir do aumento da produtividade do trabalho. Essa dinâmica de acumulação de capital, além de permitir que o capitalismo dependente cresça e contorne sua restrição externa, intensifica em graus cada vez maiores a distribuição regressiva da renda e da riqueza, que nada mais são que conseqüências inevitáveis da dependência. A ocorrência da superexploração da força de trabalho acaba sendo fortalecida, nos países periféricos, pela existência do exército industrial de reserva. Como aponta Carcanholo (2004), não há um desenvolvimento industrial capaz de produzir bens com alto valor agregado na periferia – que permitam um intercâmbio eqüitativo com os países centrais - e que ao mesmo tempo absorvam a massa de trabalhadores desempregados, a pressão sobre essa classe, através da imposição de cargas de trabalho cada vez mais excessivas e de baixos salários, acaba se apresentando como a alternativa mais viável para a geração do excedente necessário à transferência de valor. Nesse sentido, o Brasil, enquanto periferia do modo de produção capitalista acaba se configurando como um espaço no qual estão dadas todas as condições para que se efetue a superexploração do trabalho, sendo esta a expressão da remuneração do trabalho por baixo do seu valor, através da intensificação dos mecanismos da mais-valia absoluta, ressaltando características do modo de produção neoliberal. O neoliberalismo surge como uma resposta à crise do Estado do Bem Estar Social, sendo uma política e uma ideologia que representam interesses de uma minoria em detrimento dos interesses dos trabalhadores. Nos anos 1980, enquanto na Europa o sindicalismo começava a sofrer uma decadência, no Brasil, o movimento era ascendente. A Europa estava vivendo o início de uma crise sindical provocada principalmente pelo neoliberalismo que lutava ativamente contra o sindicato combativo. Ao fazer a análise da década de 1990, com os governos de Fernando Collor de Melo, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso percebe que de forma sintética, o objetivo com a abertura comercial era abrir o espaço do mercado interno para os produtos internacionais através da supressão de diversas tarifas protecionistas, internalizar o efeito da concorrência, que serviria de estímulo à modernização da indústria nacional. Conjuntamente, permitira o acesso a novas tecnologias e métodos produtivos que estimulariam a ampliação da produtividade interna. O efeito “lógico”, segundo Rossetti (2007) seria a expansão do setor industrial, a redução do preço da cesta de consumo - acompanhada pela ampliação dos produtos que a compunham – e o aumento do nível de emprego. Por seu turno, o objetivo da abertura financeira era permitir ao país sua efetiva participação no fluxo de liquidez internacional, do qual ainda não fazia parte. Essa participação criaria a oportunidade de acesso a crédito externo e fluxos de investimentos, necessários para a modernização industrial – portanto, uma política complementar à abertura comercial – e para a correção de desequilíbrios no balanço de pagamentos, ao mesmo tempo em que abria diversas possibilidades de valorização do capital nacional. Por fim, a desregulamentação das relações de trabalho traria uma maior eficiência para a indústria nacional, na medida em que reduziria os impostos, ampliaria a produtividade do trabalho, e consequentemente, geraria mais empregos, provocando um efeito direto sobre a renda e o consumo no país. Essas três medidas vinham acompanhadas pela redução do papel do Estado30. De acordo com o discurso neoliberal, a intervenção do Estado na economia era o responsável por diversos gargalos, na medida em que alocava de forma ineficiente os recursos na economia. Por isso, como aponta Rossetti (2007), era necessário que as forças de mercado agissem de forma livre, permitindo que os recursos fossem destinados para os setores nos quais possuíssem maior potencialidade e eficiência. Ao Estado caberia a implementação de medidas que permitissem a consolidação de um espaço interno mais propício ao desenvolvimento das forças de mercado e dos capitais privados. Todas essas medidas foram praticadas no Brasil pelo governo federal, desde a posse de Fernando Collor, seguindo e ganhando força nos governos conseguintes. Essas políticas não tardaram em mostrar seus efeitos perversos. A indústria enfraqueceu pela concorrência internacional. Os capitais que se destinavam ao país o faziam com vistas ou à valorização no espaço financeiro ou a aquisições de 30 BOITO (1999) empresas, tendo pouco direcionamento na expansão da capacidade produtiva. E do lado das relações de trabalho, a desregulamentação representou diversas perdas de direitos adquiridos pela classe trabalhadora ao longo dos seus anos de luta, precarizando as formas de trabalho e abrindo espaço para a ampliação do mercado de trabalho informal, ao mesmo tempo em que a redução do papel do Estado se expressava também na redução dos direitos sociais. Dentro da estrutura do mercado de trabalho, essa desregulamentação representou um aumento da pressão sobre a classe trabalhadora em seus diversos aspectos. Logo, o esforço de modernização por meio da industrialização substitutiva – estratégia defendida por Celso Furtado31 ou a abertura comercial do Brasil proposto por Zélia Cardoso de Mello, foram incapazes de tirar o Brasil (periferia) do atraso e da dependência. O intercâmbio desigual (produtos da periferia não conseguem concorrer internacionalmente), a ação das multinacionais (abertura comercial e concorrência interna desleal) e a hegemonia dos países capitalistas centrais (Consenso de Washington) produziriam um mecanismo de extração do excedente produzido na periferia, uma modalidade internacional do conceito de exploração. Por outro lado, como aponta Antunes (2006), a estabilização monetária e a conseqüente supressão do movimento inflacionário, advinda com a consolidação do Plano Real, representou ganhos em termos dos salários reais e da renda. Esses fatos, de forma ampla, impactaram sobre o posicionamento e a representatividade do movimento sindical. Pois é dentro desse contexto que nasce o chamado “sindicalismo de resultado”, a partir da confluência de duas atuações sindicais que, ademais suas trajetórias distintas, em meados da década de 1980 abraçaram o mesmo projeto: de um lado, a tendência liderada por Luís Antônio de Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; de outro, a tendência liderada por Antônio Rogério Magri, então presidente do Sindicato dos Eletricistas de São Paulo32. Essa confluência deu vida a uma nova vertente do movimento sindical, inserida de forma indistinta na onda neoliberal. De acordo com Antunes (2006: 38-39), os pontos centrais do ideário do “sindicalismo de resultado” passam pelo reconhecimento da vitória do capitalismo e 31 FURTADO (2007:58) 32 RODRIGUES (1997) da inevitabilidade da lógica do mercado, a limitação e restrição da luta sindical, que deveria restringir sua luta à busca de melhorias nas condições de trabalho, a exclusividade da ação política aos partidos, e a redução da ação do Estado em favor de uma política privatizante. Esses pontos, conjuntamente a adoção de uma estratégia de recusa do confronto direto e da busca de resultados imediatos nas ações práticas, dão o caráter neoliberal e burguês a um tipo “novo” de prática no seio do movimento sindical. É dentro dos preceitos do sindicalismo de resultado que é criado, em 1991, a Força Sindical33, que viria a representar, desde o surgimento do novo sindicalismo, uma ruptura em termos de projeto de prática sindical. Colocando-se enquanto uma central sindical moderna e ativa, a Força Sindical, segundo Antunes (1995:41) organizou desde o seu nascimento, suas “lutas” não como forma de romper e se posicionar de forma adversa à política econômica vigente, mas sim dentro da lógica neoliberal, objetivando alcançar os ganhos possíveis para a classe trabalhadora, dentro das possibilidades limítrofes do sistema capitalista. Nesse sentido, não se posiciona contra a política econômica, e reconhece sua soberania; na verdade, se organiza de forma a consolidar um espaço dentro de uma lógica política e econômica que, supostamente, estaria em disputa. Usando desse discurso e fazendo diversas concessões, a Força Sindical conseguiu agregar setores sindicais egressos da esquerda tradicional, além de trazer para o espaço sindical setores que, historicamente, não se vinculavam aos sindicatos. Com sua prática diferenciada e seu discurso fácil, a Força Sindical acabou ganhando uma expressiva posição no cenário de lutas nacionais. Ao adotar uma postura não conflitiva e propositiva, se mostraram como mais simpática não só ao governo, mas também a setores sindicais que, aos poucos, se desvincularam da CUT. Nesses termos, a nova central sindical acabou impondo uma modificação no cenário sindical nacional que, somado à nova conjuntura econômica, acabou com os ideais de luta combativa propostos pela CUT, impondo a essa central a necessidade de rever suas ações, concepções e posicionamentos. Em referência ao PT, segundo Rodrigues (1997), a Força Sindical participou e apoiou a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, além de contribuir na formação do governo petista, colocando 33 Disponível em <http://www.fsindical.org.br> . Acessado em 07/06/2010 Carlos Lupi e Paulo Pereira, o “Paulinho da Força” no controle do Ministério do Trabalho. Atualmente, depois de seis anos de governo Lula (2003/2009), o PT, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e a Força Sindical estão subordinadas ao governo Lula. Para Antunes (2006), a Força Sindical, que nunca teve um perfil combativo se aliou ao governo federal, e seu futuro será a gestão de um sindicalismo mais de cúpula. Porém, o país também assiste ao ressurgimento de centrais sindicais de esquerdas. Logo, a CUT tem procurado repensar sua relação com o governo federal. Em dezembro de 2004, liderou a Marcha Nacional do Salário Mínimo, cujas principais bandeiras eram a elevação do mínimo para R$ 300 e correção em 10% da tabela do imposto de renda a partir de 2005. Alguns pontos garantiam a unidade do movimento sindical como o papel da CUT como resistência ao neoliberalismo. Com exceção do PSTU e sua tendência sindical, todas as demais forças apostaram que a vitória de Lula seria uma forma de reverter esse quadro adverso e a possibilidade para uma reforma sindical, que garantisse mais representatividade ao movimento dos trabalhadores. As centrais sindicais se aproximaram de Lula, que criou uma agenda pública do governo comprometida com a redução da jornada de trabalho e com o aumento dos salários. CONCLUSÃO A teoria da dependência preocupa-se, fundamentalmente, com o problema do desenvolvimento desigual e as formas com que a desigualdade se manifesta na economia internacional. Logo os sindicatos e partidos políticos criticavam as formas de exploração “selvagem” com que o capitalismo tem instalado no país, pois a exploração (concentração de renda), a opressão (ditadura de 1964 a 1985), desemprego, inflação e pobreza, fizeram com que as manifestações, promovidas pela sociedade civil (Diretas Já, greves, movimentos contra as privatizações e corrupção) não restringissem apenas em períodos eleitorais, mas em toda a história recente brasileira. A partir disso, com a vitória de Lula em 2003, o PT a CUT e a Força Sindical foram fazendo sucessivas concessões às reformas econômico/sociais e se encontram, hoje, defendendo uma política que concilia com o programa neoliberal (livre-mercado, lucros bancários, superávit primário, arrocho salarial, controle da inflação via taxa de juros elevada, etc.) adotado em grande parte pelo governo Lula. Esse deslocamento do PT, da CUT e da Força Sindical para uma posição de “centro-esquerda” deve-se a uma multiplicidade de fatores, de ordem nacional e internacional, dentre os quais se destaca a força política e ideológica do neoliberalismo no Brasil. As transformações ocorridas no PT, que foi abandonando seu perfil inicial de um partido de massa e se convertendo num partido mais próximo do modelo de partido de quadros de tipo eleitoral, a crise do movimento sindicalista internacional e aproximação da social-democracia européia, também foram determinantes para a nova posição do PT, da CUT e da Força Sindical como centro-esquerdista. O novo sindicalismo no Brasil, no papel da CUT e da Força Sindical, se depara agora com a necessidade de elaborar novas formas de atuação tanto em relação ao governo quanto nas relações entre capital e trabalho no novo momento da economia brasileira. As reivindicações iniciais que visavam apenas melhores salários, já não são mais suficientes devido à conjuntura nacional e internacional do país. BIBLIOGRAFIA AMIN, Samir. Crise estrutural do sistema capitalista. RJ. Editora Afrontamento. ANDERSON, Perry. Considerações sobre o marxismo ocidental. Portugal. Edições Afrontamento, 1976. ANTUNES, Ricardo. O Novo Sindicalismo no Brasil. 2° Edição. Campinas-SP, Pontes, 1995. ANTUNES, Ricardo. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. SP. Editora Boitempo, 2006. BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade – Para uma teoria Geral da política. São Paulo. Paz e Terra, 2001. BOITO Jr., Armando. Política Neoliberal e Sindicalismo no Brasil, SP. Editora Xamã, 1999. BROUÉ, Pierre - União Soviética: da revolução ao colapso. Porto Alegre. Editora da Universidade, 1996. CARCANHOLO, Marcelo Dias. 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