THE FREE WILL BAPTIST HERITAGE SERIES
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THE FREE WILL BAPTIST HERITAGE SERIES
Os Batistas Livres e a Perseverança dos Santos Comitê Histórico da Associação Nacional dos Batistas Livres (USA) 2006 (preparado por Robert E. Picirilli, PhD.) 1 OS BATISTAS LIVRES E A PERSEVERANÇA DOS SANTOS The Historical Commission1 National Association of Free Will Baptists 2006 Todos os cristãos que vêm a Bíblia como a Palavra de Deus concordam nos essenciais da fé, incluindo: A natureza de Deus e seu universo criado; A criação do homem à sua imagem; A queda de Adão e Eva (e de toda a raça humana) em pecado; A provisão de Deus para salvação, enviando Seu Filho para que se tornasse um de nós, morresse na cruz e ressuscitasse dos mortos; e Todos que exercem fé salvadora em Cristo são nascidos de novo pelo Espírito Santo e tornam-se herdeiros da vida eterna. Existem outras crenças em comum. Elas distinguem a comunidade cristã do secularismo, do naturalismo e de outras religiões não cristãs. No entanto, entre os diversos grupos cristãos existem diferenças com relação a alguns dos detalhes. Cada denominação mantém algumas posições que não são idênticas às de todas as outras denominações. Estas identificam e definem a sua herança especial. Uma destas crenças é citada no capítulo 13 do Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres: Há bases sólidas para se esperar que o indivíduo verdadeiramente regenerado persevere até o fim e seja salvo, por meio do poder da graça divina, penhorada para sustentação do mesmo. A obediência futura e a salvação final não estão determinadas nem certas, posto que, mediante as fraquezas e as multiformes tentações, o crente corre o perigo de cair, pelo que também é mister que vigie e ore, a fim de que não venha a naufragar na fé e assim pereça.1 Este é um dos ensinos (“doutrinas”) que constituem a nossa herança característica. Ela expressa o que poderíamos chamar de perseverança condicional, que serve para distinguir os Batistas Livres dos cristãos que ensinam o que é popularmente conhecido como “segurança eterna” ou “uma vez salvo, sempre salvo”. 1 Material preparado por Dr. Robert E. Picirilli e editado pelo Dr. Darrell Holley. Tradução de Kenneth Eagleton e revisão de Rejane Eagleton. 2 CONTEXTO HISTÓRICO O ponto de vista de que a perseverança é condicional tem uma longa tradição, tanto na igreja cristã quanto entre os batistas. Tradição na comunidade cristã A doutrina da perseverança é comumente definida no contexto do debate histórico entre “calvinistas” e “arminianos”. O calvinismo é uma posição quanto à salvação que remonta a João Calvino (1.509-1.564).2 Podemos chama-la de salvação por eleição, pois os seres humanos não fazem nenhuma contribuição. De acordo com os calvinistas, mesmo antes da criação, Deus predestinou (elegeu) alguns para a salvação e o restante para a perdição. Ele enviou Jesus para morrer apenas pelos eleitos e, durante a vida destes, Deus os regenera contra a vontade deles. Ele ordenou que todos os eleitos necessariamente perseverem e sejam finalmente salvos. O arminianismo, por outro lado, é uma posição quanto à salvação associada a Jacobus (Jacó ou James) Arminius (Armínio) (1.560-1.609), que resistiu algumas das tendências predestinatárias dos sucessores de Calvino.3 Também pode ser chamada de salvação pela fé. Adotando esta posição, os batistas livres ensinam que Deus providenciou salvação para todos os seres humanos através da obra propiciatória de Cristo e que convida todos à salvação. Seu propósito eterno é salvar todos que aceitam este convite pela fé, tendo sido capacitados pelo Espírito Santo a crer, apesar da depravação deles. Cada um é agente moral livre, livre para receber ou rejeitar Cristo e, mesmo após a regeneração, continuar na fé ou voltar para trás. Sua perseverança é, portanto, condicional. Tradição entre os batistas Que a perseverança é condicional tem sido a crença de muitos batistas desde o início. Na Inglaterra, no início do século dezessete, uma pequena igreja separou-se da Igreja da Inglaterra (Igreja Anglicana) e fugiram, liderados por John Smyth e Thomas Helwys, buscando refúgio na Holanda, onde encontraram ideais comuns entre os seguidores de Arminius. Em 1.612 retornaram à Inglaterra e estabeleceram a primeira igreja batista em solo inglês. Eles se identificaram como Igreja Batista “Geral” devido à crença em uma expiação “geral” para toda a humanidade. A Confissão de Fé de 1.660 dos batistas gerais contém uma declaração extensa sobre a perseverança, referindo-se a “verdadeiros crentes, ramos da videira Cristo” que “podem, por falta de atenção, se desviar... e se tornar galhos secos, jogados ao fogo e queimados”.4 Desde então até agora existem grupos batistas arminianos, usando vários nomes, que 3 afirmam que é possível a uma pessoa regenerada dar as costas a Cristo e se perder. História Batista Livre Os batistas gerais ingleses estavam entre os primeiros colonos da América antes do final do século dezessete. Em 1.727 um pastor chamado Paul Palmer organizou a primeira igreja Batista Livre na América (até onde se sabe) no leste da Carolina do Norte (Estados Unidos). Esta igreja se identificava com os batistas gerais ingleses e adotaram a Confissão de 1.660 mencionada acima.5 Com o tempo seus sucessores adotaram o apelido de chacota que lhes foi dado: “free-willers” (os do livre arbítrio). Estes primeiros Batistas Livres (ou Batistas do Livre Arbítrio) se espalharam gradativamente pelos estados do sul do país. Na realidade, vários grupos batistas com crenças semelhantes surgiram espontaneamente em diversos locais. Em 1.780, por exemplo, Benjamin Randall estabeleceu a igreja Batista Livre em New Durham, estado de New Hampshire, e este movimento se espalhou rapidamente na direção oeste do país (mas incorporou-se aos Batistas do Norte em 1.910-1.911). No oeste do estado da Carolina do Norte e leste do Tennessee, os fundadores da Associação das Igrejas Batistas Livres (1.850) aparentemente “não sabiam que existiam outros grupos em qualquer parte do mundo com crenças semelhantes e nome idêntico”.6 Existiam outros grupos também, inclusive alguns Separate Baptists (Batistas Separados) que se tornaram Batistas Livres.7 Todos estes defendiam que a perseverança é condicional. A história das declarações formais sobre perseverança entre os Batistas Livres é interessante. Além da citação já feita do Manual, temos estes exemplos: “Todos os crentes em Cristo que pela graça perseveram em santidade até o fim de suas vidas, têm a promessa da salvação eterna”.8 “Cremos que todos os cristãos devem perseverar na graça e ser fiéis até o fim para que herdem a vida eterna: pois, bem aventurados são os que cumprem os seus mandamentos para que tenham direito à arvore da vida e entrem pelos portões da cidade”.9 “Cremos que o cristão fiel nunca cairá da graça; no entanto, cremos na agência moral do homem, depois da justificação, e que existe a possibilidade de cair no pecado e no final se perder.10 Quer seja de forma positiva ou negativa, declarado especificamente ou subentendido, o significado é óbvio: a perseverança não é garantida incondicionalmente e a possibilidade de “cair da graça” (Gl. 5:4) existe. 4 BASE BÍBLICA À citação anterior do Manual no início deste panfleto, há várias referências bíblicas para a possibilidade de apostasia: 1 Crônicas 28:9; 2 Crônicas 15:2; Ezequiel 33:18; Mateus 24:13; João 15:6; Atos 1:25; 1 Coríntios 9:27; 10:12; 1 Timóteo 1:19; Hebreus 6:4-6; 12:15; 2 Pedro 1:10; 2:20, 21 e Apocalipse 2:4; 22:19. Duas destas referências são discutidas aqui.11 Hebreus 6:4-6 O livro mais importante do Novo Testamento sobre este tema é Hebreus, que contém cinco passagens principais de advertência contra a deserção da fé tecidas ao longo do livro (2:1-4; 3:7-4:11; 6:1-12; 10:19-39; 12:12-17). “A apostasia da fé, voluntária, de alguns” é “o problema específico para o qual a carta está sendo escrita”.12 Bem ao centro destas passagens está 6:4-6 que, traduzida literalmente, diz: Pois é impossível para aqueles que foram uma vez por todas iluminados e que experimentaram da dádiva divina gratuita e que se tornaram participantes do Espírito Santo e que experimentaram da boa palavra de Deus e dos poderes do mundo vindouro e que decaíram que sejam renovados outra vez ao arrependimento eles crucificam novamente para si mesmo o Filho de Deus e o expõem à vergonha pública. As pessoas aqui descritas são identificadas por cinco clausulas coordenativas: experimentaram quatro coisas positivas e depois “decaíram”. As outras passagens de advertência confirmam e desenvolvem este sentido. Aqueles que resistem à possibilidade de apostasia pessoal geralmente “respondem” de duas maneiras. Alguns dizem que a passagem é hipotética, mas a quinta cláusula (“que decaíram”) é exatamente paralela às primeiras quatro. As pessoas descritas experimentaram todas as cinco coisas. Outros dizem que as frases não descrevem um cristão genuíno, mas as quatro frases anteriores oferecem uma das melhores descrições encontradas no Novo Testamento sobre o que é tornar-se um cristão. É interessante notar que os dois argumentos se anulam mutuamente! 2 Pedro 2:18-22 Nesta carta, o perigo da apostasia é mencionado explicitamente no início (1:8, 9) e no final (3:17). O tema da carta é a importância do crescimento espiritual como um fortalecimento contra o falso ensino e a apostasia. Em 2:18-22 Pedro menciona primeiramente as tentativas dos falsos mestres em desviar os cristãos (versículos 18 e 19) e depois fala da apostasia que promovem (versículos 20 e 21). 5 As pessoas mencionadas tiveram claramente uma experiência cristã genuína: escaparam das contaminações do mundo “mediante o conhecimento [salvador] do Salvador e Senhor Jesus Cristo” pelo qual conheceram “o caminho da justiça”. Apesar disto, alguns que se converteram “se deixam enredar de novo e são vencidos”, pela corrupção foram convencidos a “volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado”. O perigo é sério: “tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça”, referindo-se obviamente à impossibilidade mencionada em Hebreus 6:6. Os provérbios inseridos no final, sobre um cão doente e uma porca lavada, ilustram a folia total de se abandonar Deus depois de tê-lo conhecido. Juntamente com estas, há muitas outras passagens (listadas acima) que advertem o cristão da apostasia ou que o relembram a perseverar na fé. Calvinistas cuidadosos explicam que tais advertências “são instrumentais em manter os crentes no caminho da perseverança”.13 No entanto, se apressam a acrescentar que a apostasia não é uma possibilidade real.14 Não se pode deixar de duvidar da efetividade destas passagens se vistas sob este prisma. Qualquer advertência, compensada pela garantia de que o perigo não é real, é imediatamente negada! RESPONDENDO AOS ARGUMENTOS Aqueles que resistem à possibilidade de apostasia oferecem mais objeções do que o que pode ser tratado em um pequeno panfleto. Os que vêm a seguir são os mais importantes. Argumentando de dentro do sistema Calvinistas convictos geralmente baseiam seus argumentos em seu sistema teológico como um todo. Dizem: Deus escolheu incondicionalmente os eleitos, enviou Jesus para morrer apenas por eles e os regenerou contra a vontade deles; portanto, Deus certamente garantirá a sua perseverança. No entanto, o próprio sistema é falho. A Bíblia ensina que Jesus morreu por todos e que todos são convidados a colocar sua fé nele e ser salvo. Sendo a salvação condicional, a perseverança na salvação também é condicional. Argumentos que provêm das Escrituras 1. Passagens bíblicas que fazem promessas aos crentes. Em João 10:27-29 Jesus diz: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”. Mas 6 a promessa é para as ovelhas de Cristo; enquanto alguém for cristão, é uma das ovelhas de Cristo e possui a vida eterna. João 3:36 diz essencialmente a mesma coisa: “quem crê no Filho tem a vida eterna”; mas a promessa se aplica apenas enquanto durar a crença. Se o crente abandonar a fé, deixa de ser ovelha de Cristo. É útil comparar João 5:24 (“quem ouve a minha palavra e crê... não entra em juízo”) com João 3:36 (“aquele que não crê... não verá a vida” - ACF). Se o primeiro prova que alguém que é presentemente um crente não pode subsequentemente se tornar um descrente, então o último provará que alguém que presentemente não é crente não pode subsequentemente se tornar um crente – o que é totalmente falso. Todas as promessas parecidas, sejam elas positivas ou negativas, dependem da continuação da fé ou da crença. 2. As passagens bíblicas que estão focadas na fidelidade de Deus em realizar a obra que começou. Filipenses 1:6, por exemplo, expressa a confiança inspirada de Paulo de que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”. Compare 2 Tessalonicenses 3:3 com 2 Timóteo 1:12 e 4:18. Mais uma vez, estas passagens bíblicas são dirigidas aos que creem e que são asseguradas da fidelidade de Deus para continuar a obra em suas vidas – contanto que continuem sendo seus filhos na fé. Não devemos esquecer Hebreus 10:38: “o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”. 3. Passagens bíblicas que afirmam que Deus é aquele que nos guarda. 1 Pedro 1:5, por exemplo: “que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo”. O próprio texto deixa claro que o crente é guardado por Deus, mas que assim o são mediante a fé. Se a salvação é condicionada à fé, a continuação na salvação também é condicionada à fé contínua. Argumentos lógicos Diversos argumentos “lógicos” podem ser usados para argumentar contra a possibilidade da apostasia.15 Entre eles temos: Ao que nasceu de novo não é possível “desnascer”. Deus não perdoa e depois retira o seu perdão. Deus ama seus filhos e não permitirá que se percam. Aquele que é nascido de novo nunca terá o desejo de deixar a Deus. Se fosse possível retirar alguém do corpo de Cristo, o corpo seria mutilado. Um filho nunca deixa de ser filho, independentemente do que faça. 7 Alguns destes “argumentos” dependem de analogia com as coisas físicas ou com a experiência humana e não resistem ao exame minucioso da Bíblia. Por exemplo, o “corpo” de Cristo não pode ser mutilado da mesma forma que não é “deformado” antes da conversão de uma pessoa. O fato de não poder “desnascer” não anula o fato de que é possível “morrer” espiritualmente. Ezequiel 33:12-13 serve para nos repreender por chegarmos a conclusões demasiadamente apressadas sobre o que Deus “não faria”. Apesar de crermos que uma pessoa convertida não se afastaria facilmente de Deus, Adão e Eva fizeram exatamente isto – e sem uma natureza depravada! A questão mais importante, no final das contas, é se a Bíblia ensina que a salvação é condicional. Cremos que ela o ensina claramente. ELEMENTOS IMPORTANTES DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA CONDICIONAL Os Batistas Livres geralmente concordam nos aspectos mais importantes deste tema. O relacionamento entre fé e obras A salvação é pela graça por meio da fé e não pelas obras. Apoiamos sem reservas esta ênfase bíblica. A fé salvadora é estender mãos vazias para receber vida eterna como um dom (presente) de Deus. Salvação pela fé significa que deliberadamente nos recusamos a oferecer nossas obras a Deus como base de nossa salvação. Não somos salvos pela fé e guardados pelas obras. Mas também prontamente afirmamos a necessidade da obediência do crente. Os “Artigos de Fé” no Manual citam três “condições” para a salvação: arrependimento, fé e “a contínua fé e obediência até a morte”.16 Arrependimento e fé iniciais não são suficientes em si mesmos; é necessário perseverar na fé e no tipo de obediência cristã que demonstra esta fé para usufruir da salvação final. Isto não é contraditório com a salvação por meio da fé somente. O que fazemos é evidência necessária de nossa fé. Tiago 2:14-26 afirma que “fé sem obras é morta”. Somos justificados somente pela fé, mas a verdadeira fé resulta em obediência. 8 A natureza da segurança Temos segurança e uma esperança confiante da salvação presente e final. A declaração batista livre inicia com estas palavras: “Há bases sólidas para se esperar que o indivíduo verdadeiramente regenerado persevere até o fim e seja salvo”. Os calvinistas frequentemente alegam que os que creem em perseverança condicional não podem ter verdadeira segurança. Na verdade, a base da nossa segurança é a mesma que a deles: a obra completa de Cristo e o Espírito que vive no interior e “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8:16). A Bíblia, no entanto, não dá segurança de salvação a uma pessoa cuja vida é caracterizada por um comportamento pecaminoso. Veja 1 João 3:4-10: “todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus” (v. 10). Todos aqueles que nasceram de Deus e permanecem nele não vivem na prática do pecado (1 João 3:6, 9). Apesar de não afirmarmos a perfeição sem pecado nesta vida, os batistas livres sentem calafrios quando alguns que pregam a “segurança eterna” tentam dar segurança de salvação àqueles cujas vidas continuam a evidenciar um padrão de desobediência. O acréscimo de 1.969 ao Manual diz que “toda pessoa que esteja vivendo conscientemente na prática de pecados... deve ser considerada perdida”.17 No entanto, o nosso ponto de vista não justifica a falta de segurança ou confiança de uma pessoa na sua condição diante de Deus: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1 João 5:13). Aqueles que constantemente temem que possam acidentalmente “perder” a sua salvação ou que pensam estar constantemente “dentro” e “fora” da salvação aparentemente ancoraram sua fé em si mesmos e em sua conduta, mas não em Cristo. A seriedade da apostasia A apostasia é uma possibilidade real e séria. As passagens bíblicas citadas deixam claro que “naufragar na fé” (1 Timóteo 1:19) ou “decair da graça” (Gálatas 5:4) é algo sobre o qual todos os crentes devem ser advertidos. O abandono da fé salvadora e virar as costas para Deus é possível (Hebreus 3:12). Entre os batistas livres existem pontos de vista levemente divergentes sobre as situações que não chegam à apostasia, geralmente conhecido como “se desviar”. Este panfleto não se propõe a tratar estas diferenças,18 mas os batistas livres não creem que as pessoas possam “nascer de novo” repetidas vezes. A salvação não é um relacionamento no qual se pode entrar e sair à vontade. 9 Todos concordam que a apostasia final, como mencionada em Hebreus 6:6 e 2 Pedro 2:21, é algo realmente sério. Neste contexto, uma declaração de fé batista livre de 1.876 inclui a seguinte frase: “Cremos... que uma vez que alguém se torna participante do ESPÍRITO SANTO, se decair da graça, é impossível ser renovado ao arrependimento ou ser restaurado ao favor de Deus”.19 Sem dúvida tal apóstata não sentirá o desejo de se arrepender. Esta séria possibilidade significa que os cristãos precisam ser exortados e precisam se cuidar para confirmar sua vocação e eleição (2 Pedro 1:10). Por esta razão, o próximo seguimento adverte do perigo dos caminhos que levam à apostasia. Atenção: Caminhos à para a apostasia Uma obra histórica batista livre resume: “Os Batistas Livres afirmam que há um perigo, portanto uma possibilidade, de decair e se perder e que todo cristão deve estar de sobreaviso contra a apostasia”.20 1. Ensino falso. Doutrina que não é bíblica é um dos caminhos que mais comumente conduz à apostasia dentro da comunidade cristã. A doutrina liberal e as seitas são especialmente perigosas. Ambas assumem formas diversas e podem levar os crentes a colocarem sua fé em outro lugar. Paulo advertiu: “se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (maldito) (Gálatas 1:9)! Quando Cristo, o próprio Filho de Deus, é transformado pelos liberais em um grande mestre, porém meramente humano, que morreu como mártir e não ressuscitou dos mortos, a fé em sua obra redentora se torna impossível. Quando uma seita nega a realidade do pecado ou a divindade ou humanidade de Cristo, o evangelho é modificado de tal forma que a fé bíblica se transforma em algo diferente. 2. Brincar com o pecado. Não temos suficientemente medo do pecado. De acordo com Romanos 6, os que se batizaram como cristãos professaram que assumiram uma nova vida de obediência e serviço a Deus. Portanto, não devemos permitir que o pecado reine sobre nós. Se brincarmos com o pecado e tolerarmos um pouco de iniquidade aqui e ali, ele pode rapidamente se tornar o nosso senhor. Ninguém pode servir a dois senhores (Mateus 6:24). Se permitirmos que o pecado tome conta, podemos nos tornar desencorajados e tentados a descartar nossa primeira fé em Cristo (1 Timóteo 5:12). O Manual cita que “mediante as fraquezas e as multiformes tentações, o crente corre o perigo de cair”. O perigo é real. Envolver-se com o pecado abre as portas para uma terrível possibilidade. 10 Aqueles que procuram separar a fé do arrependimento (e, portanto, das obras) aumentam este perigo. É comum ouvir pessoas justificarem sua transgressão dizendo: “Afinal de contas, a salvação é pela fé e não pelas obras”, ou “estou sob a graça e não sob a lei”, ou ainda “Jesus é meu Salvador, não meu Senhor”. Tais atitudes antibíblicas nutrem a indiferença ao pecado; mas, com o pecado não se brinca. 3. Negligenciar o desenvolvimento espiritual. Segunda Pedro tem muito a dizer sobre a possibilidade de se fazer naufrágio da fé. Resumindo, a única forma segura de evitar a apostasia é “crescer na graça”. Em 1:5-11, Pedro conclama seus leitores a acrescentar à fé outras virtudes cristãs como evidência de seu crescimento espiritual. Ele adverte que aquele que não o faz corre o perigo de se esquecer de que foi purificado de seus pecados do passado (e, por implicação, de retornar a eles). Ele conclui: “amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 3:17-18). Deus graciosamente providencia aos crentes todo o necessário para progredir espiritualmente (2 Pedro 1:3) como a oração, a Palavra de Deus e a reunião sistemática na igreja para adoração, a pregação e as ordenanças. Os calvinistas cuidadosos concordam com várias declarações de fé Batistas Livres que afirmam: “Cremos que as boas obras são o fruto da fé salvadora e que ao se utilizar os meios de graça (e não pelos meios de graça) a vida eterna é prometida ao ser humano”.21 CONCLUSÃO Os Batistas Livres creem que a salvação é por meio da fé. Neste aspecto, são semelhantes a muitos outros cristãos: metodistas, nazarenos, a maior parte dos grupos Holiness e pentecostais, Igreja de Cristo, vários grupos de menonitas e Irmãos e alguns batistas (por exemplo, Batistas Gerais e Batistas Separados). Todos estes compartilham da visão de que a apostasia pessoal é possível e que os crentes precisam ser advertidos para que não abandonem a Cristo e se percam. Os Batistas Livres divergem da maioria dos Presbiterianos ou Reformados, como também de alguns outros batistas, especialmente os Batistas Meridionais (da Convenção) e os Batistas Independentes (muitos destes nem são calvinistas). Isto significa que levamos a sério as advertências do Novo Testamento quanto à apostasia e o seu apelo a perseverar na fé. Uma de nossas associações tem tradicionalmente concluído o seu artigo concernente à perseverança com a observação 11 de que mesmo depois de sua conversão, “o ser humano é sempre objeto apropriado de admoestação e exortação”.22 Nas palavras do Manual, devemos advertir os crentes para que “vigiem e orem”. 1 Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 3ª edição, Missão Batista Livre do Brasil, 2008. Doravante grafado como Manual. 2 Para mais informações sobre Calvino e o calvinismo, consultar o Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Walter A. Elwell, Editor, Edições Vida Nova. 3 Para mais informações sobre Arminius e o arminianismo, veja a obra acima. 4 W. J. McGlothlin, Baptist Confessions of Faith (Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1911), 117. A Confissão também pode ser encontrada em J. Matthew Pinson, A Free Will Baptist Handbook (Nashville: Randall House, 1998), 131-142. 5 O sogro de Palmer, Benjamin Laker, deixou para ele em herança uma cópia da obra de Thomas Grantham, Christianismus Primitivus, uma obra teológica influente entre os Batistas Gerais. Veja Pinson, Handbook. 6 Paul Woolsey, God, a Hundred Years and a Free Will Baptist Family (Chuckey, TN: The Union Association of Free Will Baptists, 1949), 4. Os primeiros capítulos desta obra contam a história do fundador da Associação Tow River. 7 Veja Albert W. Wardin, Jr., Tennessee Baptists (Nashville: Executive Board of the Tennessee Baptist Convention, 1999), 113, 114; Robert E. Picirilli, History of Tennessee Free Will Baptists (Nashville: Historical Commission of the Tennessee State Association of Free Will Baptists, 1985), 27-29. 8 Manual, p. 31. 9 Minutes of the Thirty-ninth Annual Session of the Roberts McGee Association of Free Will Baptists (Oklahoma, 1939), 13. 10 Minutes of the Thirty-third Annual Convention [of the Cumberland Association] of Free Will Baptists (Tennessee, 1876), 11. 11 Para uma apresentação mais completa dos argumentos a favor da possibilidade de apostasia, veja Four Views on Eternal Security, J. Matthew Pinson, editor (Grand Rapids: Zondervan, 2002), especialmente o capítulo escrito pelo batista livre, Stephen M. Ashby, "A Reformed Arminian View," 137-187; e Robert E. Picirilli, Grace, Faith, Free Will (Nashville: Randall House, 2002), 183-233. 12 Grant R. Osborne, "Soteriology in the Epistle to the Hebrews," Grace Unlimited, Clark Pinnock, editor (Minneapolis: Bethany Fellowship, 1975), 146. 13 Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1949), 548. 14 Compare W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology (Grand Rapids: Zondervan reprint, n.d.), 557. 15 Muitos destes somente serão usados por aqueles que podem ser chamados (sem vexame) de “sub-calvinistas”, indicando que são menos do que totalmente calvinistas. Tipicamente concordam com os arminianos na maioria das doutrinas básicas quanto à salvação, menos na perseverança condicional. 16 Manual, p. 30. 17 Manual, p. 21. 18 Alguns batistas livres pendem mais para a visão “arminio-wesleyana” definida por J. Steven Harper em Four Views on Eternal Security, ed. J. Matthew Pinson (Grand Rapids: Zondervan, 2002). 19 Ata, Cumberland Association (1876), 11, 12. 20 T. F. Harrison e J. M. Barfield, History of the Free Will Baptists of North Carolina (W. E. Moye, n.d.), 134. 21 An Abstract of the Former Articles of Faith Confessed by the Original Baptist Church Holding the Doctrine of General Provision..." (New Bern, N.C., 1884), 7. 22 Minutes of the Seventeenth Annual Session of the Mount Moriah Free-Will Baptist Association (Alabama, 1874), 7.