isis dos anjos silva produção de biogás em sistemas de
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isis dos anjos silva produção de biogás em sistemas de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA Dissertação de Mestrado Isis dos Anjos Silva PRODUÇÃO DE BIOGÁS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE DE BOVINOS, COM E SEM SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS NOS SUBSTRATOS SANTO ANDRÉ – SP 2014 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA Dissertação de Mestrado ISIS DOS ANJOS SILVA PRODUÇÃO DE BIOGÁS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE DE BOVINOS, COM E SEM SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS NOS SUBSTRATOS Dissertação apresentada à Universidade Federal do ABC (UFABC) como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação em Energia, para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Juliana Tófano de Campos Leite Toneli SANTO ANDRÉ – SP 2014 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade Federal do ABC Silva, Isis dos Anjos Produção de biogás em sistemas de produção de leite de bovinos, com e sem separação de sólidos nos substratos / Isis dos Anjos Silva — Santo André : Universidade Federal do ABC, 2014. 85 fls. Orientador: Profa. Juliana Tófano de Campos Leite Toneli Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do ABC, Curso de Pós-graduação em Energia, 2014. 1. Biogás 2. Biodigestor 3. Dejetos 4. Bovinos leiteiros 5. Separação de sólidos I. Toneli, Juliana Tófano de Campos Leite. II. Programa de Pós-graduação em Energia, 2014, III. Título. CDD 22 ed. 333.79 “É necessário fazer outras perguntas, ir atrás das indagações que produzem o novo saber, observar com outros olhares através da história pessoal e coletiva, evitando a empáfia daqueles e daquelas que supõem já estar de posse do conhecimento e da certeza.” (Mário Sérgio Cortella) Dedico esse trabalho àquelas pessoas sem a qual, a minha formação não poderia ter sido realizada: À minha tia-avó Inaide, a pessoa que sempre me incentivou nos estudos e me ensinou que o aprendizado é único „bem‟ que nunca poderá ser subtraído de nós. Mostrou-me como a vida é, e deve ser, feita de momentos simples sendo um grande exemplo de mulher que me proporcionou o privilégio do convívio, grandes momentos e histórias ao seu lado.A você meu eterno reconhecimento, agradecimento e amor. A minha mãe Iara por ser essa grande mulher, inteligente e um exemplo de força e dedicação. É a responsável pelas melhores referências que adquiri ao longo dos anos. Obrigada por sempre me apoiar e estar presente. A você minha eterna gratidão e um amor incondicional. Ao meu pai Dilson e a minha irmã Isadora, por terem me proporcionado uma infância feliz e serem responsáveis pelas melhores lembranças da época, sendo insubstituíveis na minha formação. Obrigada por fazerem parte da minha vida, amo muito vocês. Ao meu irmão Camilo pela amizade e companheirismo e ser um exemplo de dedicação e foco. Você é uma pessoa muito, muito especial, te amo! A você minha eterna admiração e respeito. A minha sobrinha Lara Abigail, que chegou a pouco tempo nesse mundo e tem uma longa jornada a seguir, que você tenha a oportunidade de crescer próxima de todas essas referências que me ajudaram a ser quem sou. Sempre vou estar ao seu lado, obrigada por existir. A você meu eterno amor. Ao meu padrasto, Roberto, por ter sido um maravilhoso segundo pai, por estar sempre ao nosso lado e presente nas mais diversas situações. Obrigada por toda paciência. A você carinho, amor e respeito. A todos meus amigos: de infância, da escola, da universidade, da „rua‟, da vida (...), sem a presença de vocês na minha vida, sem dúvidas, tudo seria mais difícil! Obrigada sempre pelo apoio e amor e tornar a vida mais leve como ela deve ser. AGRADECIMENTOS Ao meu primeiro orientador, Prof. Dr. Jorge de Lucas Jr, pela sua ‗eterna orientação‘ e amizade. Seu incentivo e dedicação foram fundamentais para a concretização desse feito. Você é um educador exemplar, um dos melhores seres humanos que já conheci. Você é um exemplo a ser seguido e serve de inspiração para muitas pessoas. Obrigada pela oportunidade e por fazer parte da minha vida. A minha orientadora Profa. Dra. Juliana Tófano de Campos Leite Toneli pela amizade e apoio nos momentos difíceis e, principalmente, pela infinita paciência. Obrigada por tudo! Você é, de longe, uma das pessoas mais lindas que conheci além da inteligência, dedicação e de todo o talento que possui. Foi uma honra ser sua orientanda e espero, um dia, ser um terço da pessoa que você. Muito obrigada. Aos membros da banca examinadora, Profa. Dra. Roseli Frederigi Benassi e Prof. Dr. Giovani Candiani, pela compreensão e por todas as correções, sendo muito valiosas as suas contribuições no aperfeiçoamento desse trabalho. À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP) pelo apoio e, em especial, ao Laboratório de Biodigestão Anaeróbia e todos seus funcionários que contribuíram em diversas etapas desse projeto e por viabilizar os experimentos e as análises desse trabalho. À Fazenda Campestre, por abrirem as portas para a realização desse estudo e contribuírem com o conhecimento em campo e coleta de amostras e dados para realização desse trabalho. À Universidade Federal do ABC pela oportunidade e pelo apoio e pelo conhecimento. A todos os professores e funcionários que colaboraram, de forma direta ou indireta, para a realização desse trabalho. A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização desse trabalho. Resumo RESUMO Nesse trabalho, objetivou-se avaliar a produção de biogás durante o processo de biodigestão anaeróbia de dejetos de bovinos leiteiros, com e sem a separação de sólidos, em duas etapas: na Etapa 1, foi realizada a biodigestão em 16 biodigestores do tipo batelada, com volume útil de 2L, abastecidos com dejetos obtidos em 4 diferentes condições: (1) o dejeto in natura após a lavagem dos pisos dos estábulos; (2) após o separador de sólidos; (3) após o separador de sólidos e um decantador de areia e (4) com o dejeto sólido retido no separador de sólidos diluído em água. O tempo de retenção hidráulica foi de 196 dias. As maiores reduções de sólidos voláteis (SV) foram obtidas para os biodigestores abastecidos com os dejetos que passaram por algum processo de separação de sólidos e o maior potencial de produção de metano (CH4) foi de 0,2686 m³ de CH4 kg-1 de SV adicionados para os biodigestores abastecidos com os dejetos após o separador de sólidos, porém as maiores produções de biogás ocorreram nos biodigestores sem a separação de sólidos. Na Etapa 2, foi realizada a biodigestão em 8 biodigestores do tipo contínuo, abastecidos com dejetos sem separação da fração sólida e com separação da fração sólida em uma peneira de malha de 1,0 mm. O experimento foi conduzido durante 23 semanas e foi convencionado um período, após a estabilização do biodigestor de 5 semanas para avaliar o processo de biodigestão. Os potenciais de produção de metano (CH4) foram superiores para os biodigestores com separação de sólidos sendo de 0,2407 m³ de CH4 kg-1 de SV adicionados e nos biodigestores sem a separação esse valor foi de 0,2101 m³ de CH4 kg-1 de SV adicionados. Na produção de biogás os biodigestores sem a separação da fração sólida obtiveram valores superiores sendo de 0,0456 m³ biogás kg-1 de dejeto enquanto nos biodigestores com a separação da fração sólida a produção foi de 0,0318m³ de biogás kg-1 de dejeto, porém o teor médio de metano foi mais elevado nos biodigestores com a separação de sólidos (66,5%). Observaram-se melhores potenciais de produção de biogás e metano quando ocorre uma redução na concentração de sólidos nos dejetos e, nesse caso, os tempos de retenção hidráulica podem ser reduzidos, o que reduz o volume do biodigestor e custos de implantação e de manutenção. Nos casos em que haja limitação de área e não seja desejável a mecanização ou manutenção dos biodigestores, a separação de sólidos é mais vantajosa, mas o resíduo separado deve ter uma destinação adequada para tratamento. Se o interesse for energético e não houver limitação de área, a não separação de sólidos propicia maiores ganhos, porém, o biodigestor necessitará de maior manutenção. Palavras-chave: Biogás, Biodigestor, Dejetos, Bovinos Leiteiros, Separação de Sólidos. Abstract ABSTRACT This research work aimed to evaluate the biogas production during the anaerobic biodigestion process of dairy cattle manure, with and without solids separation, in two stages: In the step 1, 16 biodigesters of the batch type were used, each one with 2L of capacity, supplied with manures in four different conditions : (1) The pure manure, after washing of the floors of the free stall system; (2) manure after the solids separator; (3) manure after the solids separator and sand decanter and (4) manure with the solid retained in separator solids, dissolved in water . The hydraulic retention time was of 196 days. The highest reductions of volatile solids (VS) were obtained for the biodigesters supplied with manure that went through some process of solids separation. The highest potential of methane production(CH4) obtained was of 0.2686 m³ CH4 kg -1 of added VS, supplied to digesters with manure after solids separator, but the highest biogas production occurred in the biodigesters without solids separation. In Step 2, 8 of the continuous type biodigestors were used. The biodigesters were supplied with manure without separation of the solid fraction and with separation of the solid fraction in a sieve of 1.0 mm. The experiment was performed for 23 weeks and a period of 5 weeks, after the stabilization of the biodigesters, was established, to evaluate the biodigestion process. The potential of methane production (CH4) was higher for biodigestors with solids separation, being of 0.2407 m³ CH4 kg-1 of added VS and for the biodigestors without solids separation, this value was of 0.2101 m³ CH4 kg-1 added VS. In the production of Biogas, the biodigestors without solid fraction separation showed higher values being 0.0456 m³ biogas kg-1 manure while for the biodigestors with the separation of the solid fraction, the production was of 0.0318 m³ biogas kg-1 manure. The average methane content was higher in biodigestors with solids separation (66.5%). The best potential for biogas and methane production was observed when there was a reduction of the solids concentration in manure and, in this case, the hydraulic retention time can be reduced, which reduces the volume of the biodigester and the cost of implementation and maintenance. In cases where there are an area limitation or the maintenance and mechanization of the biodigestors are not desirable, the separation of solids is advantageous, but the separated solids shall have an appropriate destination for treatment. If the interest is the energy and there is not any area limitation, the solids separation doesn‘t provide greater gains, however, the biodigester will require more maintenance. KEYWORDS: Biogas, Biodigester, Manure, Dairy Cattle, Solid Separation. Lista de Tabelas LISTA DE TABELAS Tabela 1- Composição média do Biogás................................................................................ 19 Tabela 2– Produção de Biogás de Bovinos ........................................................................... 20 Tabela 3-– Produção de Dejetos (L) e Sólidos Totais (%) da Fazenda Campestre ........... 39 Tabela 4- Tempo de operação, vazão de sólidos no separador, em kg/h, produção de dejetos sólidos, em kg, teores de sólidos totais, em % e kg e densidade da fração sólida, em kg/m3. ................................................................................................................................. 40 Tabela 5- Teores médios de sólidos totais (ST), em % e kg, e redução de ST para os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET. ....................................... 41 Tabela 6- Teores médios de sólidos voláteis (SV), em % e kg, e redução de SV para os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET. ....................................... 42 Tabela 7- Produção de biogás acumulada em sete dias, nos biodigestores bateladas abastecidos com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET ........................................... 44 Tabela 8- Produção de metano acumulada em sete dias, nos biodigestores bateladas abastecidos com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET e valores máximos e médios, em %, alcançados em cada tipo de dejeto .............................................................. 47 Tabela 9- Potenciais de produção de biogás, expressos em m3 de biogás por kg de dejeto, por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) ........................................................................................................................ 48 Tabela 10- Potenciais de produção de metano, expressos em m3 de metano por kg de dejeto por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) .................................................................................................................. 50 Tabela 11- Estimativa da produção diária de metano para a Fazenda Campestre (285 vacas) ....................................................................................................................................... 52 Tabela 12 - Teores médios de sólidos totais (ST), em % e kg, e redução de ST para os biodigestores sem separação da fração sólida (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) ...................................................................................................................................... 53 Tabela 13- Teores médios de sólidos voláteis (SV), em % e kg, e redução de SV para os os biodigestores com SSFS e CSFS. .......................................................................................... 53 Tabela 14- Produção diária de biogás nos biodigestores sem separação a fração sólida (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) ................................................................ 56 Tabela 15 - Produções médias diárias de metano obtidas durante um período de 5 semanas .................................................................................................................................... 58 Lista de Tabelas Tabela 16- Potenciais de produção de biogás, expressos em m3 de biogás por kg de dejeto por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) ........................................................................................................................ 60 Tabela 17- Potenciais de produção de metano gás, expressos em m3 de metano por kg de dejeto, por kg de ST e SV adicionados e por kg de SV reduzidos. ..................................... 61 Tabela 18 - Vantagens de Desvantagens da separação de sólidos ....................................... 63 Lista de Figuras LISTA DE FIGURAS Figura 1- Produção de dejetos segundo a produtividade de leite . ....................................... 8 Figura 2- Fases da biodigestão anaeróbia na geração de biogás. ....................................... 13 Figura 3- Representação tridimensional em corte do Biodigestor Modelo Batelada ....... 17 Figura 4 - Representação tridimensional em corte do Biodigestor Modelo Chinês do Biodigestor Modelo Indiano. ................................................................................................. 17 Figura 5 – Seção Transversal do Biogestor Modelo Tubular .............................................. 18 Figura 6- Localização do Município de São Pedro (SP). . ................................................... 25 Figura 7- Sala de Ordenha..................................................................................................... 25 Figura 8 - Instalações dos Animais – Free Stall ................................................................... 25 Figura 9 - Limpeza das Instalações ....................................................................................... 26 Figura 10 - Homogeneização dos dejetos .............................................................................. 26 Figura 11- Sólidos Separados ................................................................................................ 27 Figura 12- Separador de Sólidos ........................................................................................... 27 Figura 13- Caixas para decantação de areia ........................................................................ 27 Figura 14- Detalhe da Tubulação de Saída dos Dejetos após a passagem pela caixa de decantação de areia ................................................................................................................ 27 Figura 15 - Fluxograma do processo de coleta e de separação de sólidos dos dejetos utilizados no experimento. ..................................................................................................... 28 Figura 16 – Esquema do Mini-Biodigestor Batelada .......................................................... 29 Figura 17- Biodigestores utilizados no experimento ........................................................... 30 Figura 18 - Peneiramento dos Dejetos para Separação dos Sólidos .................................. 32 Figura 19 - Abastecimento dos Biodigestor .......................................................................... 32 Figura 20 - Descarga do Biodigestor ..................................................................................... 32 Figura 21 - Corte transversal dos biodigestores tubulares utilizados no experimento .... 33 Figura 22- Esquema dos gasômetros utilizados no experimento ...................................... 34 Figura 23- Biodigestores contínuos utilizados no experimento .......................................... 34 Figura 24 - Produção acumulada de biogás (%) em biodigestores batelada operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC). .......................................................................................... 45 Lista de Figuras Figura 25- Produções médias diárias de metano em biodigestores batelada operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC) ........................................................................................... 46 Figura 26- Produção de biogás (m³), no período de 100 dias de experimento, em biodigestores contínuos, TRH de 30 dias e operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos com o dejetos sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS) ...................................................................................................................................... 55 Figura 27- Produção de metano (m³), no período de 5 semanas de experimento selecionado, em biodigestores contínuos, TRH de 30 dias e operados com dejetos de bovinos leiteiros obtidos com o dejetos sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS) .................................................................................................. 57 Sumário SUMÁRIO 1. INTRODUÇAO ................................................................................................................ 1 2. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................ 3 3. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 4 3.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 4 3.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 4 4. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 5 4.1 A Bovinocultura e a Produção de Leite ...................................................................... 5 4.2 Caracterização e Produção dos Dejetos Bovinos ....................................................... 7 4.3 Potencial de Aproveitamento dos Dejetos .................................................................. 9 4.4 Os Sistemas de Produção de Leite e a Viabilidade Econômica para Produção de Biogás ................................................................................................................................... 10 4.5 A Biodigestão Anaeróbia e os Fatores que a Influenciam ...................................... 12 4.6 Biodigestores ............................................................................................................... 16 4.7 O Biogás e Seus Usos .................................................................................................. 19 4.8 Separação de Sólidos .................................................................................................. 22 5. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 24 5.1 ETAPA 1- Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada ........... 24 5.1.1 Descrição do Local .............................................................................................. 24 5.1.2 Sistema de Manejo e Coleta dos Dejetos ............................................................. 26 5.1.3 Quantificação da Produção de Dejetos e de Sólidos .......................................... 27 5.1.4 Ensaio de Biodigestão Anaeróbia e Abastecimentos dos Biodigestores ............ 28 5.1.5 Estrutura dos Biodigestores ................................................................................ 29 5.1.6 Descrição das Análises Realizadas...................................................................... 30 5.2 ETAPA 2 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal em biodigestores contínuos ................................................................................................ 31 5.2.1 Descrição do local ................................................................................................ 31 5.2.2 Abastecimento dos Biodigestores ........................................................................ 31 Sumário 5.2.3 Estrutura dos Biodigestores: ............................................................................... 33 5.2.4 Descrição das Análises Realizadas...................................................................... 34 5.3 Métodos Empregados ................................................................................................. 36 6. 5.3.1 Teores de Sólidos Totais e Teores de Sólidos Voláteis ......................................... 36 5.3.2 Densidade da Fração Sólida ............................................................................... 37 5.3.3 Determinação da Produção do Biogás ............................................................... 37 5.3.4 Potenciais de Produção de Biogás e de Metano ................................................. 38 5.3.5 Determinação da Composição do Biogás ........................................................... 38 5.3.6 Análise Estatística dos Dados.............................................................................. 38 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 39 6.1 ETAPA 1 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada ............................................................................................................................... 39 6.1.1 Quantificação da Produção de Dejetos e de Sólidos .......................................... 39 6.1.2 Redução dos Sólidos Totais e Voláteis ................................................................. 40 6.1.3 Produção de Biogás e Metano............................................................................. 43 6.1.4 Potencial de produção de metano ....................................................................... 48 6.2 ETAPA 2 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal em biodigestores contínuos ................................................................................................ 53 6.2.1 Redução dos Sólidos Totais e Voláteis ................................................................. 53 6.2.2 Produção de Biogás e Metano............................................................................. 54 6.2.3 Potencial de Produção de Biogás e Metano ....................................................... 59 7. CONCLUSÕES............................................................................................................... 62 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 64 Introdução 1. INTRODUÇÃO O Brasil é grande produtor mundial do setor de agropecuária e, consequentemente, é um grande produtor de rejeitos provenientes desse tipo de atividade. Os dejetos animais mais comuns na agropecuária brasileira (bovinos, suínos e aves) são grandes fontes poluidoras e devido à sua composição físico-química rica em determinados elementos químicos como o fósforo e o nitrogênio de modo que se não forem destinados adequadamente, podem poluir o solo, a água e o ar, causando um grande impacto negativo sobre o meio. No setor de produção de leite bovino, o Brasil é um dos maiores do mundo e, nas últimas décadas, sua produção cresceu a taxas superiores às do crescimento da população. Considerando os dejetos desses animais como grandes fontes poluidoras, tem-se a necessidade do uso de técnicas eficientes para o tratamento adequado dos mesmos. Entre as possibilidades de tratamento, pode-se ressaltar o uso do processo de biodigestão anaeróbia que não só contribui para a redução do poder poluente dos resíduos, mas também agrega valor à produção, tendo como produtos finais o biofertilizante e o biogás que podem ser utilizados, respectivamente, para fertirrigação e como fonte energética renovável, minimizando os gastos com fertilizantes minerais e energia elétrica, por exemplo. O biogás é uma opção de fonte de energia a baixo custo a qual já é difundida em vários países e vem apresentando resultados favoráveis. Apesar de serem conhecidos há muito tempo, só mais recentemente os processos de obtenção de biogás vêm se desenvolvendo em maior amplitude, objetivando sua utilização com fins energéticos. O desenvolvimento de tecnologias que utilizem fontes renováveis de energia é um atrativo, tanto ambiental como social, pois elas possibilitam a utilização de fontes de suprimento descentralizadas e em pequena escala, e isto se torna fundamental para o desenvolvimento sustentável. Assim, a produção de energia elétrica a partir da biomassa, atualmente, é muito defendida como uma alternativa importante para países em desenvolvimento e também em outros países. Considerados um dos principais causadores de problemas ambientais no agronegócio, os dejetos gerados na criação de animais estão sendo aproveitados para a geração de gás combustível e fertilizante, onde esta matéria orgânica é utilizada como substrato para bactérias hidrolíticas e metanogênicas (bactérias formadoras de gás metano) responsáveis pela produção de biogás. Os biodigestores (equipamentos que conferem condições adequadas para que ocorra a 1 Introdução biodigestão anaeróbia) têm sido alvo de grande destaque, tendo em vista a demanda por energia e consequente busca por fontes alternativas, ressaltando que os biodigestores são importantes no intenso processo de modernização da agropecuária, que demanda energia e gera resíduos animais e de culturas que podem ocasionar problemas de ordem sanitária. Diante do exposto, torna-se necessário o desenvolvimento de pesquisas, não somente como proposta de modelos de produção sustentável, mas também como forma de incrementar o lucro gerado na atividade, por meio de produção de biogás e biofertilizante. Este trabalho foi realizado com o objetivo de, considerando o modelo de manejo de dejetos da produção de leite bovino com gado confinado no Brasil, quantificar a produção e qualificar a separação de sólidos dos dejetos bovinos e, assim, melhorar as taxas de degradação dos resíduos de bovinos no processo de biodigestão anaeróbia, buscando maiores rendimentos na geração de biogás, além de contribuir com informações que viabilizem a sustentabilidade na criação de bovinos leiteiros em sistemas intensivos. 2 Estrutura da Dissertação 2. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO O desenvolvimento da Dissertação foi embasado na obtenção e no tratamento de dados que permitiram avaliar a influência da presença de sólidos em dejetos de bovinos leiteiros sobre o processo de biodigestão anaeróbia, considerando o potencial de produção de biogás e metano. Desta forma, foi divida em duas etapas. Na Etapa 1, denominada ―Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada‖, foi realizada a coleta de dados e de dejetos em uma fazenda (Fazenda Campestre) localizada no município de São Pedro (SP). A partir dos dados coletados, foram estimadas produções de dejetos e de sólidos na fazenda e os dejetos foram submetidos à biodigestão anaeróbia em biodigestores do tipo batelada e foi determinada a produção de biogás, para diferentes concentrações de sólidos. Na Etapa 2, denominada ―Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal em biodigestores do tipo contínuo‖, foi estimada a produção de biogás, como ocorreria no campo, a partir do tratamento dos dejetos bovinos via biodigestão anaeróbia em biodigestores do tipo contínuo, com diferentes concentrações de sólidos. 3 Objetivos 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Esse trabalho teve como objetivo geral estudar o efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir de dejetos de bovino leiteiros em biodigestores batelada e contínuo. 3.2 Objetivos Específicos ETAPA 1: Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada Caracterizar o manejo dos resíduos da Fazenda Campestre e quantificar a produção de dejetos e de sólidos; avaliar o efeito da separação de sólidos sobre a produção e o teor de metano do biogás produzido a partir dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores batelada; avaliar a eficiência do processo de biodigestão anaeróbia como sistema de tratamento de resíduos de bovinos leiteiros em biodigestores batelada, a partir da determinação da redução de sólidos totais e voláteis; e estimar a produção de metano na Fazenda Campestre; ETAPA 2: Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal em biodigestores contínuos Avaliar o efeito da separação de sólidos sobre o volume e o teor de metano do biogás produzido a partir dos dejetos de bovino leiteiros em biodigestores contínuos; e avaliar a eficiência do processo de biodigestão anaeróbia como sistema de tratamento de resíduos de bovinos leiteiros em biodigestores contínuos, a partir da determinação da redução de sólidos totais e voláteis. 4 Revisão da Literatura 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1 A Bovinocultura e a Produção de Leite O Brasil se apresenta como um grande produtor de bovinos. Em 2012, possuía um rebanho com mais de 212 milhões de bovinos e, segundo o IBGE (2012), o total de vacas ordenhadas contabilizava cerca de 10,9% do efetivo bovino sendo de aproximadamente 22,9 milhões o número de cabeças de vacas ordenhadas. Tradicionalmente, além da sua importância nutritiva, o leite desempenha um relevante papel social em países em desenvolvimento como o Brasil, principalmente na geração de empregos, pois é produzido, em sua maioria, em pequenas propriedades rurais em que a mão de obra familiar é empregada (CARVALHO et al., 2003). O aumento da demanda por produtos de origem animal provoca a exploração intensiva de animais, que são agrupados em grande número, produzindo grande volume de dejetos em pequenas áreas, gerando problemas para o seu tratamento e disposição (VIEIRA, 1991). No Brasil, o setor leiteiro sofreu grandes transformações, tais mudanças afetaram de modo significativo o setor produtivo, resultando na saída da atividade de um grande número de produtores que não conseguiram se adaptar às novas exigências do mercado. Por outro lado, o volume ordenhado no país tem aumentado, indicando que os produtores estão buscando, através do aumento de escala da produção, obter os lucros que garantam sua permanência na atividade (POHLMANN, 2000). Assim, para promover uma maior rentabilidade em sistemas de produção de alimentos, uma alternativa é o aumento das densidades populacionais nas unidades produtoras, como é o caso do confinamento de bovinos. Segundo Burgüi (2001), o confinamento passou a ser visto como uma ferramenta estratégica para o pecuarista que quer ganhar em escala no seu sistema de produção e ganhar qualidade em seus produtos. Esse mesmo autor apontou alguns benefícios do confinamento como: adiantar receitas e acelerar o giro de capital, reduzir a lotação das pastagens durante a seca, aumentar a escala de produção e aumentar expressivamente a produtividade da propriedade. Em sistemas de confinamento de bovinos leiteiros, um volume considerável de dejetos animais é gerado diariamente e, segundo ASAE (2005), esse valor é de 5 Revisão da Literatura aproximadamente 55 kg/animal/dia. O manejo inadequado desses dejetos, os quais são ricos em matéria orgânica e agentes patogênicos, pode ser responsável pela poluição de águas superficiais e subterrâneas, devido ao carreamento desse material pela ação das chuvas (DORAN e LINN, 1979). À medida que o animal fica confinado, mesmo que por um curto espaço de tempo, para ordenha, por exemplo, os dejetos produzidos ficam concentrados e necessitam ser tratados para evitar contaminação e poluição (HARDOIM, 1999). O bovino usado para a produção de leite pode ser analisado como uma máquina que processa o alimento, convertendo apenas parte desse no produto leite, sendo que o restante é eliminado sob a forma de resíduo do sistema produtivo (HARDOIM, 1999). Segundo Van Horn et al. (1994), o bovino leiteiro, devido à sua natureza fisiológica, elimina cerca de 33% da energia ingerida dos alimentos. Esses dejetos possuem altos teores de nutrientes que, se manejados adequadamente, podem ser usados como fertilizantes, estimulando uma maior produção vegetal. O poder poluente dos dejetos gerados em uma propriedade é determinado, dentre outros fatores, pelo tipo de dejeto, o volume e o grau de diluição, pois diferentes consistências exigem técnicas específicas de manejo, tratamento e distribuição. As perdas e os desperdícios de água através de bebedouros da água utilizada na higienização das edificações e dos animais aumentam o volume de efluentes produzidos, agravando o problema da poluição e elevando os custos de armazenamento, tratamento, transporte e distribuição dos dejetos (PERDOMO, 2000). Invariavelmente, a grande densidade populacional de animais nas unidades produtoras favorece a concentração dos resíduos gerados em pequenas áreas, agravando os problemas ambientais. Essa limitação de espaço físico para a deposição dos resíduos aumenta as emissões de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), eutrofização de corpos hídricos e poluição do solo, afetando a qualidade de vida, de modo geral. Independente da origem, todo resíduo poderá ter seu descarte minimizado mediante uma análise abrangente de suas características, potenciais de uso e consequências desse uso, pois se corretamente manejado e utilizado, se reverte em fornecedor de nutrientes para produção de alimentos, melhorador das condições físicas, químicas e biológicas do solo e apresenta excelente potencial para reciclagem energética (PREZZOTO, 1992; GENEROSO, 2001). 6 Revisão da Literatura 4.2 Caracterização e Produção dos Dejetos Bovinos A pecuária leiteira, assim como todo o sistema de criação animal, acumula resíduos no seu processo de produção – principalmente os dejetos (fezes, urina), restos de ―cama‖, restos de alimentos e águas residuárias da industrialização do leite - que são passíveis de reciclagem. Para as operações de limpeza, uma granja leiteira chega a exigir um volume de água de 2,5 vezes o volume de leite processado. Essa água residuária apresenta-se rica em nutrientes e matéria orgânica biodegradável (RAMASAMY e ABBASI, 2000; RAMASAMY et al., 2004) e se não for tratada pode causar danos ao ambiente devido à suas altas demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO) e também à presença de outros nutrientes. A quantidade e a qualidade das descargas de águas residuárias de um sistema de produção animal dependem de vários fatores de manejo. O tipo de instalação adotado para o confinamento do gado leiteiro e o regime de confinamento são os principais fatores. Barber et al. (1979) argumentam que, quando o gado de leite é manejado em instalações do tipo free stall (baias de descanso individual de livre acesso), o manejo do esterco pode ser feito na forma líquida, semissólida e sólida. Se o regime de confinamento é total, a opção é por esterco líquido e todos os dejetos (fezes + urina) serão coletados. O manejo de dejetos na forma líquida é comum e é proveniente da mistura de sólidos, líquidos e água de limpeza das instalações e equipamentos, reduzindo os custos da extração diária dos resíduos e permitindo a mecanização simples desta operação. De acordo com Adhikari et al. (2003), o volume e o conteúdo de nutrientes nos dejetos varia com a idade, o tipo e o tamanho dos animais, a composição da dieta que recebem e o consumo, assim como também da quantidade de água ingerida, estação do ano e outros fatores. Podem ocorrer variações consideráveis na quantidade de dejetos produzidos pelas vacas leiteiras, dependendo da quantidade de matéria seca ingerida, concentração de nutrientes e da digestibilidade da dieta (VAN HORN et al. 1994). Morse et al. (1994) constataram que a ingestão recomendada de matéria seca pelas vacas leiteiras teve aumento de 30 a 50% na dieta e essa mudança na dieta, em busca de maior produtividade, resulta em maior produção de dejetos pelos animais. Para evitar perdas de nutrientes nos dejetos, realizam-se esforços na nutrição de ruminantes no sentido de aumentar a eficiência alimentar pelos animais através do 7 Revisão da Literatura fornecimento de dietas que atendam apenas o necessário, pois tão logo os dejetos são produzidos, ocorrem perdas de nutrientes para o meio e isso pode implicar em perdas econômicas (XAVIER, 2009). De acordo com Tamminga (2003) essas perdas são inevitáveis, mas podem ser prevenidas ou controladas. Os aspectos que influenciam as perdas são o tipo do sistema de produção, densidade populacional dos animais, a espécie e o nível de manejo alimentar e dos dejetos, sendo que significativas perdas ocorrem durante a estocagem e aplicação no solo (XAVIER, 2009). Nennich et al. (2003) desenvolveram um método para estimar a produção de dejetos de acordo com a produtividade de leite dos bovinos. Na Figura 1, pode-se visualizar os Produção de Dejetos (kg/animal/dia) resultados e o valor padrão determinado por ASAE 2005. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 15 kg leite/dia 25 kg leite/dia 35 kg leite/dia 45 kg leite/dia 2005 ASAE (40 kg leite/dia) Figura 1- Produção de dejetos segundo a produtividade de leite (Fonte: adaptado de Nennich et al., 2003). Dados coletados no controle zootécnico da UEP (unidade educativa de produção) de Bovinocultura Leite da EAFI/MG (Escola Federal de Inconfidentes, Minas Gerais) compararam a produção leiteira e a produção de dejetos e os resultados obtidos foram que a produção média de leite foi de 21,30 kg leite/animal dia e a produção média de dejetos foi 88,88 kg/ animal dia (SILVA e ROSTON, 2010), valores superiores aos encontrados na Figura 1, porém o manejo de dejetos utilizava água na limpeza das instalações. A quantidade total de efluentes orgânicos produzidos por confinamentos de vacas leiteiras varia de 9,0 a 12,0% do peso vivo do rebanho por dia e depende, também, do volume de água utilizado na limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos da unidade de produção (CAMPOS et al., 2002). O manejo de dejetos na forma líquida é comum e, nessa forma, os dejetos apresentam menos de 5% de sólidos totais (ST) (FULHAGE, 1997). No Brasil, onde a parte das granjas leiteiras é de pequena e média escala, o que parece predominar é o manejo dos 8 Revisão da Literatura dejetos na forma sólida, por raspagem do piso das instalações, nesta forma, os dejetos apresentam de 15 a 20% de ST (FULHAGE, 1997) e assim este sistema exige maior mão de obra por unidade de dejeto manejado em relação aos manejos de dejetos semissólidos e líquidos que podem ser manejados por sistemas hidráulicos, com menor exigência de mão de obra. Segundo Matos (2004), a água residuária produzida por vacas leiteiras gera uma DBO de 4 a 14 vezes maior que a do esgoto urbano e, em seu trabalho, Sousa et al. (2013) encontraram valores com altas concentrações médias de DBO (21.791,45 mg L-1), DQOt (84.397,80 mg L-1) e de sólidos totais (109.872,00 mg L-1) para as águas residuárias de vacas leiteiras. A contaminação do ambiente por parte da criação desse sistema não ocorre só por meio de seus dejetos. Esses animais têm como característica particular a degradação do alimento que é rico em fibras, por meio da fermentação ruminal. Esse processo leva à formação dos ácidos graxos voláteis (AGV‘s) aproveitáveis pelos animais e metano (CH4) não aproveitável que é liberado para a atmosfera por meio da eructação (XAVIER, 2005). 4.3 Potencial de Aproveitamento dos Dejetos Devido às características físico-químicas dos dejetos de bovinos, este material apresenta grande potencial de utilização como substrato para os processos biológicos de reciclagem. Segundo Lucas Jr. (1994), cada kg ou L de dejeto desperdiçado representa grande prejuízo para o ambiente e perda significativa para o produtor. Segundo Lucas Jr. (1994), o potencial de produção de biogás a partir do dejeto de ruminantes pode sofrer variações em função da qualidade nutricional dos alimentos fornecidos aos animais, esperando-se diferenças entre dejetos coletados de animais mantidos em pastagens em relação aos de animais que recebem alguma suplementação alimentar, principalmente de alimentos concentrados. A perda do potencial energético dos dejetos na forma de metano implica na redução dos lucros obtidos com a atividade, já que o gás poderia colaborar para a redução do uso de outras fontes de energia no processo produtivo. Segundo Minami e Tanaka (1997), a produção de metano fica em torno de 0,02 a 0,03 toneladas por animal. Dentre as atividades agropecuárias, a suinocultura e a bovinocultura têm se 9 Revisão da Literatura destacado como as principais fontes de recuperação de biogás, a primeira por apresentar um elevado potencial de produção de biogás (m3 de biogás kg-1 de esterco), e a segunda por produzir grande quantidade de esterco (kg de esterco/vaca) (DIAZ, 2006). Segundo Ramachandra et al.(2004), a produção de biogás resultante da fermentação de 1 kg de esterco bovino fica entre 0,036 a 0,042 m³, sendo suficiente para atender à demanda de biogás diária por habitante da zona rural, que está entre 0,023 e 0,043m³. O biogás produzido pode ter o seu conteúdo energético aproveitado na própria atividade rural, ou seja, de bovinocultura, em aquecimento, iluminação, misturadores de ração, geradores de energia elétrica, etc. De acordo com Moller et al. (2004) a produtividade de CH4 pode ser expressa como a produção de metano (L ou m3) por massa (g ou kg) de sólidos voláteis (SV) adicionados no biodigestor e é dita como rendimento final de metano e de SV reduzidos ou destruídos, e rendimento teórico, o que indica que toda a matéria orgânica foi degradada e para alcançá-la, um longo tempo de retenção hidráulica (TRH) é necessário. Amon et al. (2007) obtiveram as maiores produções de metano a partir de esterco de vacas com produção média de leite (30 kg de leite/animal) e alimentadas com um dieta equilibrada potencial, de SV adicionados de 166,3 L de CH4. kg-1. Demirer e Chen (2004) citaram potenciais de produção de CH4 por SV adicionados de dejetos de vacas leiteiras em diferentes tipos de biodigestores e operações e, para os biodigestores do tipo plug flow, citaram de 0,326 a 0,770 L de CH4 g-1 de SV adicionados, com TRH que variaram de 15 a 34 dias. Moller et al. (2004) encontraram potenciais de 148±41 L de CH4 kg-1 de SV adicionados e 468±6 L de CH4 kg -1 de SV reduzidos. Amon et al. (2007) encontraram potenciais de 125 a 166 L de CH4 kg-1 de SV adicionados quando utilizaram dejetos de vacas leiteiras de baixa, média e alta produção de leite. 4.4 Os Sistemas de Produção de Leite e a Viabilidade Econômica para Produção de Biogás Os sistemas utilizados para produção de leite no Brasil são os mais diversificados possíveis, variando desde os mais rudimentares até os que utilizam de tecnologias modernas. Há uma grande diferença entre os sistemas adotados pelos pequenos, médios e grandes produtores, além dos produtores de subsistência, porém, a maioria se caracteriza por baixo 10 Revisão da Literatura nível de informação dos produtores, produtores não especializados, baixa produtividade e baixos volumes de produção (GOMES e ZOCCAL, 2001). Conforme análise de Zanette (2009) a maior parte do potencial de produção de biogás concentra-se na pecuária bovina; entretanto, como uma parte do rebanho bovino corresponde à criação extensiva, este potencial deve ser visto com cautela, uma vez que a concentração dos dejetos para o aproveitamento do biogás pode ser inviável. De acordo com Roston (2001), as vacas leiteiras produzem mais dejetos que o gado de corte e mesmo onde não há confinamento, há sempre uma retenção dos animais em estábulos e, portanto, há também acúmulos de dejetos nestes locais e ainda resíduos da lavagem dos equipamentos necessários para a retirada do leite. A pecuária bovina intensiva e leiteira é uma das mais apropriadas para o aproveitamento do biogás, o que permite a coleta e o tratamento dos dejetos em uma escala maior. Nessas situações, o potencial de produção de biogás no Brasil totalizaria 15,5 milhões de m3 de CH4 por dia. Como termo de comparação, a produção nacional de gás natural disponibilizada para o consumo é de cerca de 43,5 milhões de m3/dia (ANP, 2011). Embora expressivo, este potencial deve ser avaliado com atenção, pois representa apenas o potencial de produção de biogás, e não do seu aproveitamento como fonte de energia (Zanette, 2009). Vilela (2004), discutindo as tendências e as perspectivas da pecuária de leite nacional, citou que os dois caminhos para a intensificação dos sistemas de produção de leite são o confinamento total das vacas e o uso de pastos fertilizados em manejo rotacionado. A viabilidade dos confinamentos depende de elevadas produções por animal, alta escala de produção e de outros produtos que agreguem valor para compensar os altos custos de produção. Já os sistemas de produção de leite a pasto são mais competitivos, com menores custos de produção, devido a menores custos com mão de obra, alimentação e por exigirem menor investimento em instalações e equipamentos. O autor também salientou que a preocupação com os transtornos provocados ao ambiente pelos sistemas de produção em confinamento total tem levado a reflexões sobre outras formas de produção de leite como uma solução alternativa para o manejo dos dejetos. Em um trabalho sobre a viabilidade da cogeração de energia elétrica com biogás advindo da bovinocultura leiteira feito por Coldebella et al. (2006) foi realizado um estudo de caso para um sistema de confinamento com 72 cabeças de gado leiteiro e concluiu-se que a viabilidade do sistema está diretamente relacionada à tarifa paga pelo produtor rural à 11 Revisão da Literatura concessionária de energia e pode tornar o produtor rural autossuficiente em energia elétrica e paga o capital investido na implantação do biodigestor e do conjunto motor/gerador. Nesse trabalho, considerando uma tarifa de R$ 270,00/MWh com o sistema trabalhando 10 horas por dia, o tempo de retorno estimado foi de 2,6 anos. Porém, estudos de Zanette (2009) concluíram que em propriedades de produção de pecuária leiteira, a escala mínima de produção que torna o aproveitamento energético do biogás economicamente viável no Brasil, corresponderia a 1000 animais. Outros fatores como o uso do biofertilizante produzido no biodigestor, substituindo os gastos com fertilizantes químicos, podem viabilizar ainda mais o uso de biodigestores. 4.5 A Biodigestão Anaeróbia e os Fatores que a Influenciam A biodigestão anaeróbia é um dos processos utilizados para tratamento de resíduos de origem orgânica. Consiste em um processo biológico natural que ocorre na ausência de oxigênio molecular, no qual um consórcio de diferentes tipos de micro-organismos interage estreitamente para promover a transformação de compostos orgânicos complexos em produtos mais simples, resultando, principalmente, nos gases metano e dióxido de carbono. Pode ser usada para tratamento de resíduos, tanto na forma sólida quanto na líquida, e produz como resultado o biogás e o biofertilizante. É uma maneira eficiente de tratar consideráveis quantidades de resíduos, reduzindo o seu poder poluente e os riscos sanitários advindos dos mesmos. É possível dividir o processo de biodigestão em até quatro fases (Figura 2). Na primeira fase, a matéria orgânica particulada é transformada em açúcares, aminoácidos e peptídeos por enzimas excretadas por bactérias fermentativas através da hidrólise de polímeros, degradação de proteínas a aminoácidos, de carboidratos a açúcares solúveis e de lipídeos a ácidos graxos de cadeia longa e glicerina (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994). Na segunda fase, a acidogênese, os compostos dissolvidos gerados na hidrólise são absorvidos nas células das bactérias fermentativas e excretados como substâncias orgânicas simples (ácidos graxos voláteis, álcoois, ácido lático e compostos minerais como CO2, H2, NH3, H2S, etc.). As bactérias envolvidas na acidogênese são importantes na remoção de oxigênio dissolvido, presente no material em fermentação (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994). 12 Revisão da Literatura Figura 2- Fases da biodigestão anaeróbia na geração de biogás (Fonte: Weiland, 2001). A seguir, inicia-se a acetogênese, quando ocorre a conversão dos produtos da acidogênese em substratos para a produção de dióxido de carbono, hidrogênio e acetato. Também nesta etapa ocorre a formação dos ácidos acético e propiônico, sendo gerada grande quantidade de hidrogênio, contribuindo para diminuição no valor do pH do meio. Na quarta fase, a metanogênese, ocorre a formação de metano a partir da redução de ácido acético e hidrogênio pelas bactérias metanogênicas. De acordo com Stams (1994), as bactérias metanogênicas dividem-se em decorrência da afinidade entre o substrato e a produção de metano em: metanogênicas acetoclásticas, aquelas utilizadoras de acetato; e metanogênicas hidrogenotróficas, utilizadoras de hidrogênio. A mistura gasosa resultante da biodigestão anaeróbia é denominada biogás, sendo essencialmente constituído de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), podendo apresentar quantidades menores de gás sulfídrico (H2S), nitrogênio (N2) e hidrogênio (H2), sendo a proporção de cada gás na mistura dependente de vários parâmetros como o tipo do digestor e do substrato a digerir. Outro subproduto da biodigestão é o efluente que resta e este é denominado de biofertilizante e isso se deve às suas excelentes características como fertilizante, devido principalmente à diminuição da relação C/N (proporcionada pela perda de carbono na forma de metano e gás carbônico) e ao aumento na disponibilidade de nutrientes como o nitrogênio, entre outros que apresentam boas respostas na adubação das culturas. Na utilização dos resíduos rurais, pode-se considerar que, geralmente, não há interesse em se atingir um nível de tratamento que leve ao esgotamento do resíduo, pois é de 13 Revisão da Literatura grande importância a reciclagem do efluente na adubação de plantas. Dessa forma, atualmente os enfoques principais na utilização do processo no meio rural são a produção de biogás e o aproveitamento do biofertilizante (LUCAS JR., et al., 1994). O tratamento anaeróbio de resíduos pode ser considerado como um dos principais métodos de proteção ambiental e preservação de recursos, podendo os resíduos tornarem-se importante fonte de nutrientes, condicionadores do solo e, também, fonte de energia. (Callaghan et al., 1999; Lettinga e Van Lier, 1999 apud STEIL L., 2001). Assim, tem-se que a biodigestão anaeróbia representa uma atividade economicamente interessante para os produtores, tendo em vista a produção de biogás, que é uma fonte de energia renovável que pode ser aproveitada na própria atividade agropecuária em substituição a outras fontes energéticas, diminuindo os custos da produção. Considerando o aumento dos custos das fontes convencionais de energia, essa pode ser uma excelente técnica alternativa, objetivando a produção energética (SANTOS 2001). O sucesso do processo de biodigestão anaeróbia está ligado à sequência bioquímica de transformações metabólicas e é influenciado por uma série de fatores que podem interferir no processo. Dentre esses fatores, podem ser destacados a temperatura, o tempo de retenção hidráulica, o pH, a presença de nutrientes, teor de sólidos, entre outros. A temperatura é um fator de extrema importância na biodigestão anaeróbia, uma vez que influi na velocidade do metabolismo bacteriano, no equilíbrio iônico e na solubilidade dos substratos (FORESTI et al., 1999). Temperaturas não convenientes podem vir a inibir e até mesmo causar danos irreversíveis às bactérias. As bactérias envolvidas na degradação anaeróbia podem ser divididas em três grupos, de acordo com sua temperatura ótima: 5 a 25°C para bactérias psicrofílicas; as mesofílicas com temperaturas ideais entre 32°C e 45°C, e as bactérias termofílicas com temperaturas acima de 50 °C. As bactérias envolvidas no processo são mais sensíveis a interferências externas, com o aumento da temperatura (WEILAND, 2001). Estudos de Chae et al. (2008) concluíram que a temperatura da digestão tem uma influência sobre a produção de biogás final, bem como o conteúdo de metano. Na faixa de temperatura de 25 a 35°C, quanto maior a temperatura, melhor o rendimento do metano. No entanto, o rendimento não aumenta linearmente com o aumento da temperatura. Os autores concluíram que, embora a metanogênese seja muito sensível à temperatura, esta possui grande capacidade de se adaptar às alterações de temperatura (CHAE et al., 2008). Segundo Silva 14 Revisão da Literatura (2001), variações da temperatura do substrato na ordem de 2 ºC no intervalo de um dia podem paralisar a produção de biogás. O tempo de retenção hidráulica (TRH) é o intervalo de tempo que o afluente permanece dentro do biodigestor e esse deve ter um valor adequado para que a degradação ocorra de maneira adequada. O TRH é determinado, num processo contínuo, dividindo-se o volume útil do digestor pelo volume diário de carga introduzida (SILVA, 2001). Lucas Jr. (1994) avaliou os efeitos dos tempos de retenção hidráulica 50, 30, 20 e 15 dias, no processo de biodigestão anaeróbia de estrume de suínos, por exemplo, e verificou que a maior eficiência foi obtida no TRH de 30 dias, ocorrendo pior aproveitamento do estrume no TRH de 15 dias. O TRH também está relacionado com o teor de sólidos totais (ST). O teor de sólidos totais (ST) se refere ao material remanescente após a remoção da água de uma amostra quando esta é submetida a uma temperatura de 105 ºC por um período de 1 hora. Corresponde ao total de sólidos fixos e voláteis e ao total de sólidos suspensos e dissolvidos (MERKEL, 1981). Para produção máxima de biogás por unidade de tempo e de volume de biodigestor, recomenda-se concentração de ST máxima de 6 a 8%, faixa na qual também é facilitado o movimento do material no interior do biodigestor. Para concentrações maiores que 10%, além de diminuição da eficiência do biodigestor, aumenta a probabilidade de formação de ―crosta‖ que poderá causar entupimentos (SILVA, 2001). Sólidos voláteis (SV) são aqueles convertidos a gases voláteis quando os sólidos totais são submetidos ao forno mufla a 600 ºC durante duas horas. São considerados como a matéria orgânica presente no resíduo passível de transformação. Os SV são os responsáveis diretos pela produção de biogás, sendo que quanto maior for a concentração de SV na alimentação diária do biodigestor, maior será a capacidade do biodigestor de produção de biogás. O valor de pH é um importante indicador do desenvolvimento metanogênico. A produção ótima de biogás é conseguida quando o valor do pH do conteúdo do biodigestor está entre 7,0 e 7,2. Este assumirá valores maiores que o normal quando os dejetos apresentarem alto teor de sólidos voláteis (ITODO e AWULU, 1999). Silva (1983) citou que durante a fase ácida, o pH pode chegar a 6,0 devido à produção aumentada de dióxido de carbono, em consequência, há formação de amônia e a seguir, ocorre uma redução da produção de dióxido de carbono e aumento da produção de metano e, então, o pH se eleva e se mantém em torno 15 Revisão da Literatura de 7,0. A disponibilidade de certos nutrientes é essencial para o crescimento e atividade microbiana. O carbono, nitrogênio e fósforo são essenciais para todos os processos biológicos. A quantidade de N e P necessária para a degradação da matéria orgânica presente depende da eficiência dos micro-organismos em obter energia para a síntese, a partir de reações bioquímicas de oxidação do substrato orgânico (FORESTI et al., 1999). Para que o processo ocorra sem interrupção, a relação C/N ideal do substrato se encontra no intervalo de 20 a 30 (COMASTRI FILHO, 1981; YADVIKA et al., 2004). Gerardi (2003) comenta em seu livro que a relação C/N ótima é de 25:1. Maior relação C/N pode levar a uma deficiência de nitrogênio, o que reduziria o crescimento da biomassa e reduziria a degradação. Além da relação C/N, também desempenha um papel importante a relação C:N:P:S. A proporção deve apresentar uma oferta adequada de nutrientes para as bactérias em torno de 600:15:5:1 (WEILAND, 2001). Em contrapartida, caso o substrato seja rico em lignina e celulose, que possuem baixa biodegradabilidade, este será um fator limitante para a degradação anaeróbia e, consequentemente, a produção de biogás será afetada em decorrência da constituição do mesmo (MATA-ALVAREZ et al., 2000). 4.6 Biodigestores Na prática, a produção de biogás é possível com a utilização de um equipamento denominado biodigestor. O biodigestor constitui-se de uma câmara fechada onde é colocado o material orgânico, em solução aquosa, o qual sofre decomposição, gerando o biogás que irá se acumular na parte superior da referida câmara. Existem diversos modelos de biodigestores e estes diferem tecnologicamente para obtenção de melhores rendimentos e também nas características que os tornam mais adequados ao tipo de resíduo que se pretende utilizar e à frequência com que são obtidos. Estes podem ser confeccionados de alvenaria ou até por uma manta plástica, se adaptando a diferentes realidades. Dentre os biodigestores anaeróbios utilizados no meio rural, são encontrados com mais frequência o batelada (Figura 3), quando o resíduo é obtido com periodicidade ou acumulado em períodos; o indiano e o chinês (Figura 4), no caso dos resíduos produzidos 16 Revisão da Literatura diariamente; com uso mais recente e que tem se popularizado no Brasil é o biodigestor tubular, ou canadense, (Figura 5) e também biodigestor do tipo contínuo. Segundo Deublein e Steinhauser (2008) o biodigestor canadense é um modelo tipo horizontal, apresentando uma caixa de carga em alvenaria e com a largura maior que a profundidade, possuindo, portanto, uma área maior de exposição ao sol, o que possibilita grande produção de biogás, evitando o entupimento. Durante a produção de biogás, a cúpula do biodigestor infla porque é feita de material plástico maleável (PVC), podendo ser retirada. Figura 3- Representação tridimensional em corte do Biodigestor Modelo Batelada (Fonte: Deganutti et. al, 2002) Figura 4 - Representação tridimensional em corte do Biodigestor Modelo Chinês (esquerda) e do Biodigestor Modelo Indiano (direita) (Fonte: Deganutti et al, 2002). 17 Revisão da Literatura Figura 5 – Seção Transversal do Biogestor Modelo Tubular (Fonte: Elaboração Própria) Os biodigestores em batelada são carregados de uma só vez, mantidos fechados por um período conveniente, sendo que a matéria orgânica biodigerida é descarregada posteriormente. Esse sistema não admite entrada nem saída de produtos durante o processamento da reação. Este modelo, apesar da simplicidade, pode ser útil em situações em que o resíduo é obtido periodicamente. Nesse tipo de reator, as variáveis como temperatura e concentração não variam com a posição dentro do reator, mas variam com o tempo. A produção de biogás neste sistema não é constante (KUSCH, 2007). Sistemas de biodigestão em batelada são amplamente usados para testar a viabilidade e o grau de digestão anaeróbia de vários materiais orgânicos (GRADY, 1985). Considerando que este modelo de biodigestor apresenta produção de biogás na forma de picos, que é abastecido de uma só vez e que o tempo de fermentação é relativamente longo, o problema consiste basicamente em adequar estas premissas à necessidade energética contínua, isto é, diária e durante o ano todo. Uma forma de solução é a adoção de uma bateria de unidades biodigestoras. A consistência do projeto está na confiabilidade dos estudos realizados sobre o potencial energético da biomassa, isto é, no comportamento da produção de biogás, durante o tempo previsto (DEGANUTTI et al., 2002). Quando a disponibilidade dos resíduos é diária, o interesse se volta para os biodigestores contínuos como os modelos Indiano, Chinês e Tubular (LUCAS JR., 1994) que são caracterizados pela alimentação contínua de substrato e a produção de biogás é mais constante, comparado ao sistema em batelada (KUSCH, 2007). A biomassa no interior do biodigestor se movimenta por diferença de carga hidráulica, entre a entrada do substrato e a saída do biofertilizante no momento do carregamento. Cada carga requer um tempo de retenção, geralmente entre 30 e 50 dias, dependendo se a temperatura do meio onde está 18 Revisão da Literatura inserido o biodigestor é elevada ou baixa. Para evitar mudanças bruscas na temperatura, os biodigestores contínuos são subterrâneos (BENINCASA et al., 1991). 4.7 O Biogás e Seus Usos O biogás é composto principalmente de metano e dióxido de carbono com pequenas quantidades de sulfeto de hidrogênio, sendo esse último o que confere ao biogás o odor pútrido característico à mistura quando o gás é liberado, e alguns outros gases como nitrogênio, hidrogênio entre outros, como pode ser visto na Tabela 1. O poder calorífico do biogás depende diretamente do seu teor de metano. Lucas Júnior (1987) analisando o biogás produzido em biodigestores modelos indiano e chinês, com dejetos de suínos, pelo período de um ano, encontrou, em média, 57,7% de CH4 e 34,2% de CO2 . O mesmo autor afirmou que a inflamabilidade do metano (15,5 ºC e 1 atm) ocorre em misturas de 5 a 15% com o ar. O biogás, com um teor de metano entre 50 e 80% terá um poder calorífico inferior entre 4,95 e 7,92 kWh/m³. Tabela 1- Composição média do Biogás Gás Símbolo Concentração no Biogás (%) Metano CH4 50-70 Dióxido de Carbono CO2 25-50 Hidrogênio H2 0-1 Nitrogênio N2 0-7 Gás Sulfídrico e outro H2S 0-3 Fonte: Adaptado de CETESB (2006) A capacidade de produção de biogás, segundo Santos (2000), a partir de dejetos de bovinos está expressa na Tabela 2: 19 Revisão da Literatura Tabela 2– Produção de Biogás de Bovinos Produção especifica de biogás (m³ kg-1 SV*) Produção diária (m³/animal/dia) Vaca Leiteira com 600 kg de peso Bezerro até 150 kg de peso 0,980 0,28 Bovino engorda entre 120 a 520 kg de peso 0,294 0,292 Fonte: Santos, 2000 * SV= Sólidos Voláteis Adicionados Assim, a biodigestão anaeróbia é um processo de produção natural do metano, sendo uma forma alternativa de obtenção desse hidrocarboneto em relação às jazidas subterrâneas, onde se encontra às vezes associado ao petróleo. Nessa forma, o metano se encontra como um importante combustível fóssil bastante explorado e utilizado. O biogás apresenta potencial para substituir o gás liquefeito de petróleo (GLP), a gasolina e o óleo diesel em motores estacionários de combustão interna, sistemas de geração de energia elétrica ou térmica e até a lenha ou óleo combustível em caldeiras. Para utilização do biogás em substituição ao GLP sem purificação do metano, basta uma adaptação dos queimadores. Quando o biogás vem diretamente do biodigestor, esta adaptação consiste no aumento do diâmetro dos bicos injetores (1,5 a 2,0 mm) apropriados ao uso do GLP para compensar a menor pressão do biogás que, em geral, está entre 0,015 a 0,025 kgf/cm2, o que equivale a uma altura manométrica de 15 a 20 cca (centímetro de coluna de água) (MIRANDA, 2009). Em países limitados pela falta ou pela distribuição inadequada de energia, os biodigestores têm sido adaptados para atender as necessidades rurais. Na Índia, comprovou-se que a utilização do esterco de gado para a produção de combustível não ocasiona a perda de suas características como adubo orgânico. A partir de 1939, o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola, em Kanpur, desenvolveu a primeira usina de gás de esterco. O sucesso da experiência levou a uma grande popularização do processo e, em 1950, formou-se o Gobar Gas Institute, cujas pesquisas conduziram a uma enorme difusão do biodigestor como forma de tratar o esterco e obter combustível sem perder o efeito fertilizante. Durante a Segunda Guerra Mundial, na França e Alemanha, devido à escassez de combustível, o metano de biodigestores foi usado para mover automóveis (GRANATO, 2003). 20 Revisão da Literatura Outra utilização intensa das possibilidades da biodigestão deu-se na China, a partir de 1958, ampliando-se em 1980, com a instalação de cinco milhões de biodigestores de uma nova concepção, o modelo chinês, todos eles localizados ao sul do Rio Amarelo, onde as condições climáticas eram mais favoráveis à produção do biogás. Na década de 90 cerca de 25 milhões de chineses já usavam biogás, principalmente para iluminação e cocção. Aproximadamente 10.000 digestores de médio e grande porte se encontram em funcionamento em fábricas de alimentos, destilarias, fazendas de gado, entre outros. O biogás produzido em grandes unidades é transferido para estações centralizadas, onde é aproveitado na geração e potência mecânica (existem cerca de 420 estações com capacidade instalada de 5.849 HP) e potência elétrica (822 estações responsáveis pela produção total de 7.836 kW). Análises mostram que a taxa de retorno de investimento em biogás na China é elevada, com o período variando de um a quatro anos (FIORE, 1994). Na Europa, a capacidade instalada em plantas de aproveitamento do biogás é superior a 2000 MW, concentrada principalmente na Alemanha e Reino Unido, enquanto nos Estados Unidos essa capacidade é de cerca de 1000 MW (IEA, 2006). O interesse pelo biogás, no Brasil, intensificou-se nas décadas de 70 e 80, especialmente, entre os suinocultores. Programas oficiais estimularam a implantação de muitos biodigestores focados, principalmente, na geração de energia, na produção de biofertilizante e na diminuição do impacto ambiental. Os objetivos dos programas governamentais eram de reduzir a dependência das pequenas propriedades rurais na aquisição de adubos químicos e de energia térmica para os diversos usos (cozimento, aquecimento, iluminação e refrigeração), bem como, reduzir a poluição causada pelos dejetos animais e aumentar a renda dos criadores. Infelizmente, os resultados não foram os esperados e a maioria dos sistemas implantados acabaram sendo desativados (ICLEI, 2009). Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil contava, em 2013, com 19 usinas de biogás instaladas, o que equivale a 74.388 kW, representando 0,06% da matriz de energia elétrica do país (BEN, 2013). Considerando a concentração elevada da população brasileira e a expressiva produção agropecuária e agroindustrial, é possível supor que o aproveitamento do biogás no Brasil encontra-se abaixo do seu potencial. Segundo Zanette (2009), os resíduos agropecuários no Brasil resultariam em um potencial de produção de metano de 66,3 milhões de m³/dia e os efluentes industriais em potencial de 12,7 milhões de m³/dia. 21 Revisão da Literatura 4.8 Separação de Sólidos Os dejetos, ao serem recolhidos para entrar no reator anaeróbio, podem conter frações que podem ser consideradas não biodegradáveis ou lentamente biodegradáveis advindas de partes da alimentação não degradadas pelo animal, como é o caso das fibras (WEN et al., 2007), ou de restos provenientes do processo de lavagem como a areia, por exemplo. Essas frações podem afetar o processo de biodigestão anaeróbia e alguns autores recomendam que haja a separação dessa fração para que processo se torne mais eficiente (maior produção de biogás/ kg de sólido), rápido (menor tempo de retenção hidráulica) e mais econômico por necessitar de reatores com menor tamanho para um mesmo número de animais (MOLLER et al., 2004). A forma mais comum de separar frações menos degradáveis, quando se fala de águas residuárias, é a separação da fase sólida da fração líquida, que pode ser feita por meio de peneiras, tambores rotativos, centrifugação e decantação. A fração líquida possui uma quantidade maior de nutrientes solúveis, que são mais degradáveis, enquanto na fração sólida estão presentes frações de mais difícil degradação, como a celulose e lignina. Os dejetos de vacas leiteiras como substratos para biodigestores têm alto conteúdo de fibras, o que limita o processo de biodigestão anaeróbia devido à difícil decomposição e problemas de entupimento nos biodigestores (WEN et al., 2007). Devido a esse problema, Moller et al. (2004) estudaram o efeito da separação de sólidos de dejetos de vacas e de suínos na produção de biogás e verificaram que os dejetos de vacas tinham a maior proporção de carboidratos, mais dificilmente degradáveis do que os dejetos de suínos, e atribuíram ao tipo de alimentação que esses animais recebem, o volumoso, com lignina ligada à celulose. Observaram também que vacas que receberam apenas volumosos tiveram menores produtividades de biogás do que aquelas que receberam volumoso e concentrado na dieta. O fato de a fração sólida possuir um menor potencial de produção de biogás não implica que essa fração deva ser descartada do processo, a decisão vai depender da eficiência e a rapidez que se necessita para tratar os dejetos. Caso a decisão seja favorável à separação de sólidos, é necessário ter em mente que essa fração ainda tem um poder poluente elevado e necessita de tratamento adequado antes de ser aplicada no meio ambiente. A compostagem seria uma forma de tratar a fração sólida (menos degradável) dos dejetos restando como produto final um composto orgânico. Orrico Jr. et al. (2009) obtiveram bons resultados após 22 Revisão da Literatura submeterem a fração sólida dos dejetos de suínos à compostagem e, no processo de biodigestão anaeróbia, a separação dos sólidos reduziu a produção de biogás e metano remanescente dos efluentes de biodigestores. 23 Material e Métodos 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1 ETAPA 1- Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada 5.1.1 Descrição do Local A coleta de dados de campo foi efetuada na Fazenda Campestre situada no município de São Pedro-SP (Figura 6). A sala de ordenhas está representada na Figura 7 e a instalação onde se localizavam os animais era do tipo Free Stall1 (Figura 8) com capacidade para 500 Vacas em lactação, porém com um plantel 285 vacas no período de coleta de dados. Os experimentos com os biodigestores foram realizados na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Jaboticabal – SP, sendo a coleta de dados de campo e de dejetos para amostras e composição dos substratos dos biodigestores efetuadas na Fazenda Campestre. O campus possui as coordenadas geográficas 21º15‘22‘‘S e 48º18‘58‘‘W e altitude média de 575 metros, cujo clima se caracteriza como seco no inverno e chuvoso no verão, com precipitação anual em torno de 1.400 mm e temperatura média anual próxima dos 21,5ºC. Localiza-se a cerca de 200 km do município de São Pedro (SP) e de 360 km do município de São Paulo (SP) (Figura 6). ¹Free Stall – Estabulação livre onde os animais têm livre acesso às baias individuais com ‗cama‘ 24 Material e Métodos Figura 6- Localização do Município de São Pedro (SP). (Fonte: Google Earth, 2013). Figura 7- Sala de Ordenha Figura 8 - Instalações dos Animais – Free Stall 25 Material e Métodos Os ensaios de biodigestão anaeróbia foram realizados nas dependências do Departamento de Engenharia Rural, nos Laboratórios de Biomassa e Biodigestão Anaeróbia, e nos biodigestores instalados no campo. 5.1.2 Sistema de Manejo e Coleta dos Dejetos A Fazenda Campestre, durante o período analisado, mantinha um sistema rotativo de ordenha, realizando 3 ordenhas diárias. A limpeza era realizada apenas 2 vezes ao dia, de manhã e a tarde, sendo que no período da manhã havia maior quantidade de dejetos, já que eram acumulados os dejetos de 2 períodos. Os dejetos foram coletados por raspagem após a adição de água (Figura 9), com o auxílio de um trator, e foram despejados em um tanque de recepção onde foram homogeneizados com o uso de um trator (Figura 10). Figura 9 - Limpeza das Instalações Figura 10 - Homogeneização dos dejetos Foi efetuada a caracterização dos dejetos obtidos no Free Stall, para as seguintes condições: in natura (dejetos com estrume, urina e água de lavagem do piso); após a homogeneização (Figura 10); fração sólida retida no separador (Figura 11); fração líquida obtida após separador (Figura 12); fração líquida após os decantadores (Figura 13); Nessa caracterização, foram determinados os teores de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV). 26 Material e Métodos Na Figura 12 é apresentado o separador de sólidos utilizado em campo e, na Figura 14, o detalhe da tubulação de saída dos dejetos após as caixas de decantação. Figura 11- Sólidos Separados Figura 13- Caixas para decantação de areia 5.1.3 Figura 12- Separador de Sólidos Figura 14- Detalhe da Tubulação de Saída dos Dejetos após a passagem pela caixa de decantação de areia Quantificação da Produção de Dejetos e de Sólidos Para a quantificação da produção de dejetos e de sólidos da Fazenda Campestre, foi calculado o tempo de funcionamento do separador de sólidos e, depois de determinados os volumes das caixas de decantação, foi calculada a vazão com base no tempo de enchimento das caixas. Esse procedimento foi realizado 3 vezes, durante o procedimento de limpezas das instalações, em diferentes dias, ao longo de 20 dias, em 2 períodos: manhã e tarde,. No período da manhã, foram acumulados dejetos de 2 ordenhas enquanto que no período da tarde foram acumulados somente os dejetos de 1 ordenha. A quantificação da produção de sólidos foi efetuada através da pesagem dos sólidos 27 Material e Métodos que ficaram retidos no separador e pelo volume de dejetos que atravessavam o mesmo. 5.1.4 Ensaio de Biodigestão Anaeróbia e Abastecimentos dos Biodigestores Os biodigestores foram abastecidos com amostras nas seguintes condições, coletadas na Fazenda Campestre: 1,8 kg do substrato sem separação de sólidos – DEJ-INN; 1,8 kg do substrato coletado após separador de sólidos – DEJ-SEP; 1,8 kg substrato coletado após separador/decantadores – DEJ DEC ; e 0,300kg de sólidos retidos no separador mais 1,5 kg de água – SOL-SEP; Para todas as amostras foram realizadas 4 repetições, sendo que, o tempo de retenção hidráulica (TRH) foi estabelecido como 196 dias, tempo suficiente para que o biogás não fosse mais produzido. Na Figura 15, apresenta-se um fluxograma que ilustra o processo de coleta e separação de sólidos dos dejetos e os pontos onde foram coletadas as amostras analisadas no processo de biodigestão. Figura 15 - Fluxograma do processo de coleta e de separação de sólidos dos dejetos utilizados no experimento. 28 Material e Métodos 5.1.5 Estrutura dos Biodigestores Foram utilizados 16 mini-biodigestores com uma capacidade útil de fermentação de 2 litros de substrato cada. As Figuras 16 e 17 representam os dados de projeto e a estrutura externa dos biodigestores, respectivamente. Estes são constituídos por três tubos de PVC com diâmetros de 75, 100 e 150 mm, acoplados sobre um capes de PVC com capacidade operacional de 2 litros de substrato em decomposição, cada. Os tubos de 75 e 150 mm foram inseridos um no interior do outro, tendo uma das extremidades acoplada por um capes. Uma das extremidades do tubo de 100 mm era vedada, também por um capes, conservando-se apenas uma abertura para descarga do biogás, proporcionando, assim, condições anaeróbias e de armazenamento do gás produzido. Figura 16 – Esquema do Mini-Biodigestor Batelada (medidas em cm e desenho sem escala) Uma campânula flutuante de PVC, emborcada no ―selo d‘água‖2, propiciou as condições anaeróbias sob as quais se desenvolveu o processo de biodigestão, além de permitir o armazenamento do gás produzido. Selo d‘agua – procedimento operacional que isola determinada área produtora de gás e consiste em inundar uma tubulação de tal forma que a coluna de água no interior da mesma tenha pressão superior à pressão do gás na entrada desta tubulação, não permitindo, portanto, a passagem ou entrada de gás. 29 Material e Métodos Figura 17- Biodigestores utilizados no experimento 5.1.6 Descrição das Análises Realizadas Os ensaios foram realizados à temperatura ambiente, a qual foi aferida semanalmente na ocasião da leitura da produção de gás, com o auxílio de um termômetro digital portátil. Durante o ensaio de biodigestão anaeróbia, foram avaliadas a produção de biogás (volume), a qualidade do biogás e a redução dos teores de sólidos totais e sólidos voláteis para as diferentes condições de concentração e sólidos no substrato, assim como será descrito, no item 5.3, métodos empregados. Para a realização dessas análises, foram coletadas amostras da fração líquida de todos os tratamentos antes de colocá-la no biodigestor e após os 196 dias de experimento. 30 Material e Métodos 5.2 ETAPA 2 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal, em biodigestores contínuos 5.2.1 Descrição do local O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, localizada em Jaboticabal (SP), a 360 km do município de São Paulo (SP). O campus possui as coordenadas geográficas 21º15‘22‘‘S e 48º18‘58‘‘W e altitude média de 575 metros, cujo clima se caracteriza como seco no inverno e chuvoso no verão, com precipitação anual em torno de 1.400 mm e temperatura média anual próxima dos 21,5ºC. Foram utilizados os resíduos de bovinos da raça Holandesa em lactação, com peso corporal médio de 640 kg localizados no setor de Bovinocultura de Leite. A instalação era do tipo Tie stall3 em piso de concreto. Para realizar o preparo das cargas, foram utilizados dejetos coletados manualmente por meio de raspagem do piso concretado, com auxílio de enxada. Foram estudados os dejetos provenientes de vacas leiteiras alimentadas com uma dieta composta de 60% de concentrado e 40% de volumoso. Em cada abastecimento, a mistura (dejeto + água) foi preparada para ter um teor de sólidos totais próximo a 3,0%. 5.2.2 Abastecimento dos Biodigestores As amostras foram dispostas nos biodigestores contínuos e mantidas por um tempo de retenção hidráulica (TRH) de 30 dias. As cargas foram realizadas diariamente por 23 semanas, entretanto, foi convencionado um período de 5 semanas para analisar o processo. Para o cálculo da quantidade de afluente diária adicionada nos biodigestores foi considerado o TRH de 30 dias de acordo com a Equação (1): TRH = Volume do Biodigestor Carga diária (1) Para o ensaio de biodigestão anaeróbia foram utilizados biodigestores do tipo contínuo com os seguintes tratamentos para o dejeto, com 4 repetições: 3 Tie Stall – Estabulação em que os animais permanecem lado a lado, em baias individuais 31 Material e Métodos sem separação da fração sólida (SSFS); e com separação da fração sólida (CSFS) No tratamento descrito como sem separação da fração sólida (SSFS) utilizou-se apenas essa fração líquida, já no tratamento com separação da fração sólida (CSFS) foi efetuado o peneiramento (Figura 18) dessa mistura em peneira com malha de 1,0 mm e assim, o líquido que atravessou a peneira foi utilizado para abastecer os biodigestores. Diariamente, os biodigestores foram abastecidos com 250 gramas do dejeto bovino e diluídos em 1,65 litros de água. Essa fração líquida foi a base para todos os tratamentos. Figura 18 - Peneiramento dos Dejetos para Separação dos Sólidos Na Figura 19 observa-se o processo do abastecimento e, na Figura 20, a descarga dos biodigestores. Figura 19- Abastecimento dos Biodigestor Figura 20- Descarga do Biodigestor O teste de queima do biogás produzido foi efetuado durante a primeira semana do experimento, indicando a predominância de metano no biogás após 1 semana do abastecimento. 32 Material e Métodos 5.2.3 Estrutura dos Biodigestores: Foram utilizados 8 biodigestores contínuos com capacidade útil de 60 litros de substrato em decomposição anaeróbia, sendo que o modelo pode ser visto na Figura 21 . Os biodigestores tubulares contínuos utilizados são constituídos por duas partes distintas, sendo que uma delas é utilizada para o armazenamento do material em fermentação e a outra, para o gás. O recipiente com o material em fermentação é composto por um cilindro reto de PVC com diâmetro de 300 mm e com 1 m de comprimento, tendo as extremidades fixadas com duas placas de PVC com 1,5 cm de espessura de cada lado. Em uma placa, encontra-se o cano de entrada por onde é feito o abastecimento e a outra extremidade possui dois canos, sendo um destinado à saída do biofertilizante e outro, à saída do gás. Figura 21 - Corte transversal dos biodigestores tubulares utilizados no experimento (medidas em cm e desenho sem escala) O gasômetro (Figura 22) é constituído por dois cilindros de 250 e 300 mm de diâmetro que se encontram inseridos um no interior do outro, de tal forma que o espaço existente entre a parede externa do cilindro interior e a parede interna do cilindro exterior comporta um volume de água (―selo de água‖), atingindo profundidade de 500 mm. O cilindro de 300 mm de diâmetro é fixado sobre uma placa de PVC com 2,5 cm de espessura, recebendo o cilindro de 250 mm de diâmetro no seu interior. O cilindro de 250 mm diâmetro tem uma das extremidades vedadas com um cap para receber o gás produzido, a outra extremidade emborcada no selo de água para armazenar o gás. Os gasômetros foram dispostos sobre uma bancada, em condições de temperatura ambiente. 33 Material e Métodos Figura 22- Esquema dos gasômetros utilizados no experimento (medidas em cm e desenho sem escala) Inicialmente, os biodigestores contínuos (Figura 23) foram abastecidos com 60 kg do substratos que foram homogeneizados manualmente com o auxílio de pás e introduzidos nos biodigestores contínuos. Figura 23- Biodigestores contínuos utilizados nos experimentos 5.2.4 Descrição das Análises Realizadas Os ensaios foram realizados à temperatura ambiente, a qual foi aferida semanalmente 34 Material e Métodos na ocasião da leitura da produção de gás com o auxílio de um termômetro digital portátil. As temperaturas ambiente e do biogás foram aferidas diariamente na ocasião da leitura da produção de gás com o auxílio de um termômetro digital portátil momentos antes de dar início ao abastecimento dos biodigestores. Durante o ensaio de biodigestão anaeróbia foram avaliadas as produções de biogás, qualidade do biogás, reduções dos teores de sólidos totais e sólidos voláteis, conforme os métodos descritos no item 5.3, Métodos Empregados. 35 Material e Métodos 5.3 Métodos Empregados As metodologias descritas a seguir foram aplicadas para análise do substrato e do biogás tanto na Etapa 1 quanto na Etapa 2. 5.3.1 Teores de Sólidos Totais e Teores de Sólidos Voláteis Para determinação de sólidos totais, as amostras dos afluentes e efluentes dos biodigestores foram acondicionadas em triplicata em recipientes de alumínio, previamente tarados, pesados para obtenção do peso úmido (Pu) do material. Após a pesagem, foram levados à estufa com circulação forçada de ar, à temperatura de 65º C, até atingirem peso constante, sendo a seguir resfriadas em dessecador e novamente pesadas em balança com precisão de 0,01g, obtendo-se então o peso seco (Ps). O teor de sólidos totais foi determinado de acordo com a Equação (2), no início e no final do experimento, segundo metodologia descrita por APHA (2005). Onde: (𝑃𝑈−𝑃𝑆) 𝑆𝑇 = 100 − 𝑈 𝑒 𝑈 = 𝑃𝑈 𝑥 100 (2) Onde: ST = teor de ST, em porcentagem; U = teor de umidade, em porcentagem; PU = peso úmido da amostra, em g; PS = peso seco da amostra, em g; Para a determinação dos sólidos voláteis, o material já seco em estufa, resultante da determinação dos sólidos totais, foi levado à mufla, em cadinhos de porcelana previamente tarados e mantidos a uma temperatura de 575º C por um período de 2 horas e 30 minutos. Após o término da queima, os cadinhos foram retirados da mufla e levados ao resfriamento em dessecadores. O material resultante foi pesado em balança analítica com precisão de 0,0001g, obtendo-se o peso das cinzas ou matéria mineral. Os teores de sólidos voláteis foram determinados de acordo com as Equações (3) e (4), no início e no término do experimento, e expressos em porcentagem de matéria seca segundo metodologia descrita por APHA (2005). 𝑆𝑉 = 𝑆𝑇 − 𝑐𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 𝑐𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 = 1 − 𝑃𝑈−𝑃𝑚 𝑃𝑈 (3) 𝑥 100 (4) 36 Material e Métodos Onde: SV = teor de SV, em porcentagem; PU = peso úmido da amostra, em g; Pm= peso obtido após queima em mufla, em g. 5.3.2 Densidade da Fração Sólida Na Etapa 1, foi determinada a densidade da fração sólida retida no separador de sólidos. A fração sólida é particularmente importante para o processo de compostagem. Na determinação da densidade, utilizou-se um método que oferecesse resultados próximos as condições da fração sólida numa leira de compostagem. Da saída do separador de sólidos ao piso, existia uma altura de 2m. Para a obtenção da densidade (kg/m³), deixou-se a fração sólida cair dessa distância em um recipiente cilíndrico com volume de 4 litros, o qual foi pesado, determinando-se a taxa e a massa da fração sólida em condição natural de umidade. Este procedimento foi efetuado nos 3 dias em que se coletou dados na Fazenda Campestre, repetindo-se 3 vezes em cada dia. 5.3.3 Determinação da Produção do Biogás Para a determinação do volume de biogás produzido, o deslocamento vertical do gasômetro foi medido diariamente e multiplicado pela área da seção transversal interna do gasômetro, ou seja, 0,00785 m2 (batelada) e 0,04909 m² (contínuo). Com auxílio de um termômetro digital de haste longa, mediu-se a temperatura do biogás dentro do gasômetro. Após as leituras, efetuou-se a descarga do biogás, zerando-se os gasômetros. A correção do volume de biogás para condições de 1 atm e 20°C foi efetuada com base no trabalho de Caetano (1985). Utilizou-se a expressão resultante da combinação das leis de Boyle e GayLussac demostrada, na Equação (5), onde: 𝑉0 𝑃0 𝑇0 = 𝑉1 𝑃1 𝑇1 (5) Onde: V0 = volume de biogás corrigido, m3; 37 Material e Métodos P0 = pressão corrigida do biogás, para 1 atm, 10332,27 mm de H2O; T0= temperatura corrigida do biogás, 293,15 K; V1 = volume do gás no gasômetro (m³); P1 = pressão do biogás no instante da leitura, 9621,9239 mm de H2O; T1 = temperatura do biogás , em K, no instante da leitura. Considerando-se a pressão atmosférica média de Jaboticabal igual a 9641,77 mm de água e pressão conferida pelos gasômetros de 10,33 mm de água, obteve-se como resultado a Equação (6), para correção do volume de biogás: V0 = (V1 /T1 ) x 273,84 (6) 5.3.4 Potenciais de Produção de Biogás e de Metano Os potenciais de produção de biogás e de metano foram calculados utilizando-se os dados de produção diária e as quantidades de dejetos, substrato, ST e SV adicionados e SV reduzido nos biodigestores. Os valores foram expressos em m³ de biogás por kg de dejetos e substrato, por kg de ST e SV adicionados e SV reduzido. 5.3.5 Determinação da Composição do Biogás As análises de qualidade do biogás produzido foram feitas semanalmente para determinação dos teores de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). As amostras do biogás foram colhidas com auxílio de seringas de 50 mL de volume e analisadas em cromatógrafo de fase gasosa FINNINGAN GC-2001, equipado com as colunas Porapack Q e Peneira Molecular 5A e detector de condutividade térmica, utilizando o hidrogênio como gás de arraste. A calibração do equipamento foi feita com o gás padrão contendo 55,4% de metano, 35,1% de dióxido de carbono, 2,1% de oxigênio e 7,7% de nitrogênio. Os percentuais dos componentes foram determinados com o auxílio de um integrador processador. 5.3.6 Análise Estatística dos Dados Para o ensaio de biodigestão anaeróbia utilizou-se um modelo linear geral com 4 repetições. As pressuposições para análise de variância foram verificadas e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade no programa SAS (Statistical Analysis System). 38 Resultados e Discussões 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 ETAPA 1 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros da Fazenda Campestre em biodigestores do tipo batelada 6.1.1 Quantificação da Produção de Dejetos e de Sólidos Na Tabela 3 são apresentados os resultados das medições efetuadas em campo para a produção de dejetos na forma líquida da Fazenda Campestre, e como resultado tem-se que, nessa fazenda, é produzida uma média de 42.514 L/dia de dejetos líquidos. Esse valor serviu como base para o dimensionamento do volume útil necessário do biodigestor a ser utilizado para o tratamento desses dejetos, resultando em uma carga diária de aproximadamente 43 m³ para propriedades rurais com 285 cabeças de bovinos leiteiros. Observa-se, na Tabela 3, que o volume de dejetos na parte da manhã foi mais elevado que o volume de dejetos da parte da tarde, isso devido ao fato de que no período da manhã era acumulado o volume de dejetos de duas ordenhas, enquanto no período da tarde era acumulado apenas o dejetos de uma ordenha, pois o sistema de limpeza adotado na propriedade considera 3 ordenhas diárias e apenas duas lavagens do free stall. Tabela 3-– Produção de Dejetos (L) e Sólidos Totais (%) da Fazenda Campestre TEMPO DE FUNCIONAMENTO DO SEPARADOR, (h) VAZÃO NA SAÍDA DO SEPARADOR, (L/h) VOLUME DE DEJETOS LÍQUIDOS, (L) ST (%) APÓS DECANTADOR DIA PERÍODO ST (%) DEJETO BRUTO 1º MANHÃ 7,05 01:18:45 21.875 28.711 2,32 TARDE 6,08 00:37:08 22.388 13.807 2,69 MANHÃ 6,13 01:14:00 22.350 27.565 2,43 TARDE 6,31 00:38:56 22.116 14.351 2,70 MANHÃ 6,62 01:17:39 21.977 28.442 2,35 TARDE 6,48 00:39:53 22.065 14.667 2,66 6,45 01:55:27 22.129 42.514 2,53 2º 3º MÉDIAS DIÁRIAS O volume médio de 42.514 L, obtido nos 3 dias de coleta de dados, apresentou um teor médio de sólidos totais igual a 2,53%, o que implica em 1.075,60 kg de sólidos totais. 39 Resultados e Discussões Este resultado é particularmente importante para que se faça a estimativa da produção diária de biogás para sistemas como o estudado. O tempo de operação, a vazão de sólidos no separador, a produção de dejetos sólidos, os teores de sólidos totais e a densidade da fração sólida estão apresentados na Tabela 4. Observou-se que, em média, foram obtidos 8.050 kg de dejetos sólidos dia com teor médio de sólidos totais iguais a 21,63%, o que implica em produção diária de 1.741,76 kg de matéria seca. A densidade média dos sólidos produzidos no separador foi de 508 kg/m3. Os dados relativos ao material sólido obtido no separador são particularmente interessantes para o dimensionamento de pátios de compostagem uma vez que estes resíduos, devido ao alto teor de sólidos e por serem originários do alimento volumoso adicionado na dieta dos ruminantes, são mais adequados ao processo de compostagem. Tabela 4- Tempo de operação, vazão de sólidos no separador, em kg/h, produção de dejetos sólidos, em kg, teores de sólidos totais, em % e kg e densidade da fração sólida, em kg/m3. TEMPO DE OPERAÇÃO VAZÃO NO DEJETOS DO SEPARADOR, SÓLIDOS, SEPARADOR, (h) (kg/h) (kg) DIA ST ST POR DENSIDADE, DIA, (%) (kg) (kg/m3) DEJETOS LÍQUIDOS, (L) 1º 01:55:53 4.237 8.183 22,13 1.810,90 509 42.518 2º 01:52:56 4.280 8.056 21,12 1.701,43 512 41.916 3º 01:57:32 4.039 7.912 21,65 1.712,95 504 43.109 MÉDIAS DIÁRIAS 01:55:27 4.185 8.050 21,63 1741,76 508 42.514 Com base nesses resultados, observou-se que a média diária de produção de dejetos, nessa fazenda, quando se faz a separação de sólidos, para um plantel de 285 cabeças de bovinos leiteiros foi de 149,17 L de dejetos líquidos por animal e a média diária de produção de dejetos sólidos, com separação em separador com duas peneiras sequenciais de malhas de 0,90 e 0,75 mm, foi de 28,24 kg de sólidos por animal. 6.1.2 Redução dos Sólidos Totais e Voláteis Na Tabela 5, observam-se os valores referentes aos teores médios de sólidos totais (ST), em % e kg, bem como as porcentagens das reduções obtidas nos teores de ST dos substratos obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC). Os resultados se referem aos dejetos que foram utilizados no abastecimento dos biodigestores (afluente) e ao biofertilizante, obtido após o processo (efluente). 40 Resultados e Discussões Tabela 5- Teores médios de sólidos totais (ST), em % e kg, e redução de ST para os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET. AFLUENTE EFLUENTE REDUÇÃO DE ST ST(%) ST (kg) ST (%) ST (kg) (%) DEJ-INN¹ 7,05 0,1269 4,59 0,0826 34,91 bc DEJ-SEP2 2,43 0,0437 1,55 0,0279 36,16 ab DEJ-DEC3 2,32 0,0418 1,46 0,0262 37,32 a SOL-RET4 3,54 0,0637 2,39 0,0431 32,34 c Valores de P 0,0001 Valores de F 11,74 CV( %) 3,53 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05); 1 dejetos in natura; 2 dejetos após separador de sólidos; 3dejetos após decantadores; 4sólidos retidos no separador de sólidos No dia do abastecimento dos biodigestores com DEJ-INN se apresentava com 7,05% de ST, DEJ-SEP com 2,43%, DEJ-DEC com 2,32% e o SOL-RET com 21,26%. Após diluição de 0,300kg do SOL-RET em 1,5 kg de água, o substrato resultou um teor de 3,54% de ST. Os valores de ST para os DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET apresentam valores abaixo dos utilizados por Xavier e Lucas Júnior (2010), que estudaram a biodigestão de bovinos leiteiros, com e sem o uso de inoculo em biodigestores do tipo batelada, e encontraram valores que variaram de 7,14 a 9,09% e também inferiores aos valores encontrados por Backes (2011) que, trabalhando com biodigestão de dejetos bovinos leiteiros com e sem adição de glicerina em biodigestores do tipo batelada, encontrou valores que variaram de 5,60 a 10,56% de ST. Essa diferença nos teores de ST se deve aos diferentes procedimentos de lavagem dos estábulos e coleta dos dejetos que resultam em diferentes níveis de diluição. Na Tabela 6, observam-se os valores referentes aos teores médios de sólidos voláteis (SV), em % e kg, bem como as porcentagens das reduções obtidas nos teores de SV dos substratos obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC). Os resultados se referem aos dejetos que foram utilizados no abastecimento dos biodigestores (afluente) e ao biofertilizante, obtido após o processo (efluente). 41 Resultados e Discussões Tabela 6- Teores médios de sólidos voláteis (SV), em % e kg, e redução de SV para os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET. AFLUENTE SV(%) SV (kg) EFLUENTE REDUÇÃO DE SV SV (%) SV (kg) (%) DEJ-INN1 5,94 0,1069 3,85 0,0693 35,17 ab DEJ-SEP2 1,97 0,0355 1,23 0,0221 37,75 a DEJ-DEC3 1,85 0,0333 1,15 0,0207 37,84 a SOL-RET4 2,99 0,0538 2,00 0,0360 33,09 b Valores de P 0,0012 Valores de F 10,33 CV (%) 3,98 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05); 1 dejetos in natura; 2 dejetos após separador de sólidos; 3dejetos após decantadores; 4sólidos retidos no separador de sólidos Os teores de SV representaram 84,25%, 81,06%, 79,74%, 84,4% dos teores de ST, quantidade de SV presentes nos ST, nos afluentes dos biodigestores DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET, respectivamente. Esses valores estão próximos aos encontrados por Xavier e Lucas Júnior (2010) que encontraram valores que variam de 74,70 a 88,46% de SV. Backes (2011) encontrou o valor de 73,75% de SV para os dejetos de bovinos, menor do que o encontrado nesse trabalho. As reduções de sólidos voláteis durante o processo de biodigestão anaeróbia variaram de 33,09 a 37,84%, sendo os maiores valores para o DEJ-SEP (37,75%) e para o DEJ –DEC (37,84%), os quais não apresentaram diferenças significativas com o dejeto in natura (DEJINN). Observou-se que os sólidos retidos na peneira, os quais foram diluídos em água para o abastecimento dos biodigestores (SOL-RET), apresentaram a menor redução de sólidos voláteis, 33,09%. Em seu trabalho, Xavier e Lucas Júnior (2010), obtiveram reduções entre 22,41 e 50,72%, sendo o maior nível de redução obtido com uso de inóculo e Amaral et al. (2004), trabalhando com dejetos de bovinos leiteiros, submetidos a diferentes tempos de retenção hidráulica e tipos de biodigestores, obtiveram reduções de 26,08% a 40,36%. Orrico Jr. et al. (2010), trabalharam com dejetos de bovinos de corte, em biodigestores do tipo batelada, com diferentes alimentações e tempos de retenção hidráulica e encontraram reduções de sólidos voláteis que variaram de 28,35 a 63,42%, sendo a maior redução para os dejetos de bovinos 42 Resultados e Discussões alimentados com uma dieta com proporção de 40% de volumoso e 60% de concentrado e um TRH de 120 dias. Essa diferenças estão associadas a alimentação dos animais que irão afetar a composição dos resíduos. Na redução de sólidos voláteis dos biodigestores com DEJ-INN não houve diferenças estatísticas significativas, pelo Teste Tukey (5%), com os demais biodigestores. Houve diferenças estatísticas entre os biodigestores SOL-RET e os biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC. Os valores encontrados nesse trabalho estão próximos aos encontrados por Ribeiro et al. (2007), que encontraram reduções médias de SV de 30,37 a 41,92% para dejetos de bovinos confinados, recebendo diferentes dietas com diferentes fontes protéicas, utilizando biodigestores bateladas com TRH de 200 dias. A redução de sólidos voláteis para os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP e DEJ-DEC se aproximaram dos valores encontrados por Amaral et al. (2004) quando utilizaram biodigestores modelo chinês com TRH de 20 dias (38,58%) e com Orrico Jr. et al. (2010) quando os bovinos foram alimentados com uma dieta de 60% de volumoso e 40% de concentrado e o TRH foi de 60 dias (38,28%) 6.1.3 Produção de Biogás e Metano Na Tabela 7 são apresentados os resultados de produção de biogás, obtidos para cada tipo de dejeto utilizado no abastecimento dos biodigestores batelada. Os resultados estão apresentados em produção acumulada em sete dias, em m3. 43 Resultados e Discussões Tabela 7- Produção de biogás acumulada em sete dias, nos biodigestores bateladas abastecidos com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET DIAS PRODUÇÃO DE BIOGÁS (m³) DEJ-INN¹ DEJ-SEP² DEJ-DEC³ SOL-RET4 0 7 14 21 28 35 42 49 0 0,00117 0,00042 0,00021 0,00002 0,00000 0,00061 0,00112 0 0,00003 0,00004 0,00004 0,00007 0,00032 0,00057 0,00065 0 0,00002 0,00002 0,00002 0,00002 0,00023 0,00045 0,00046 0 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00001 0,00007 56 0,00137 0,00081 0,00064 0,00016 63 70 77 84 91 98 105 112 119 126 133 140 147 154 161 168 175 182 189 196 0,00177 0,00213 0,00201 0,00254 0,00022 0,00187 0,00111 0,00149 0,00192 0,00142 0,00165 0,00191 0,00157 0,00082 0,00059 0,00057 0,00055 0,0006 0,00045 0,00028 0,00122 0,00144 0,00155 0,0014 0,00047 0,00045 0,00034 0,00042 0,00042 0,0003 0,00023 0,00015 0,00008 0,00007 0,00006 0,00002 0,00000 0,00000 0,00000 0,00001 0,00104 0,0013 0,00128 0,00114 0,00038 0,00004 0,00025 0,00035 0,00031 0,00022 0,00013 0,00007 0,00004 0,00001 0,00001 0,00001 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00019 0,00076 0,00003 0,00042 0,00022 0,00003 0,00022 0,00028 0,00028 0,00030 0,00035 0,00049 0,00059 0,00064 0,00078 0,00076 0,00063 0,00063 0,00054 0,00046 TOTAL 0,03237 0,01117 0,00879 0,00940 1 - DEJ-INN- dejetos in natura; 2 - DEJ-SEP- dejetos após separador de sólidos; 3 - DEJ-DEC- dejetos após decantadores ; 4 - SOL-RET- sólidos retidos no separador de sólidos; A maior produção de biogás, durante o período experimental, ocorreu para os biodigestores abastecidos com DEJ-INN (0,0324 m³); DEJ-SEP (0,0112 m³) e SOL-SEP 44 Resultados e Discussões (0,0094 m³), sendo o menor volume produzido pelos biodigestores abastecidos com DEJ-DEC (0,0088 m³). Galbiatti et al. (2013) trabalharam com dejetos bovinos de corte confinados, em biodigestores bateladas similares aos utilizados nesse presente trabalho, por 129 dias, e obtiveram um valor de produção total de biogás de 0,0128 m³, próximo ao encontrado para o DEJ-SEP (0,0112 m³), em 196 dias. Para mesmo período, 129 dias, a produção de biogás para o biodigestor abastecido com DEJ-INN foi superior (73,4%) ao encontrado por esse autor (0,0222 m³) e, para o DEJ-SEP , 0,0107m³, a produção de biogás foi 16,4% inferior. Na Figura 24 observam-se as variações na produção acumulada, em % de biogás. Volume Acumulado (%) Produção Acumulada de Biogás (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 DEJ-INN DEJ-SEP DEJ-DEC SOL-RET 0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196 Tempo (dias) DEJ-INN- dejetos in natura; DEJ-SEP-dejetos após separador de sólidos; DEJ-DEC-dejetos após decantadores; SOL-RET- sólidos retidos no separador de sólidos Figura 24 - Produção acumulada de biogás (%) em biodigestores batelada operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC). Pela Figura 24, verificou-se que com aproximados 120 dias, mais de 90% da produção total de biogás foi alcançada para os biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC o que indica uma estabilização mais rápida do dejeto, enquanto os biodigestores com DEJ-INN e SOLRET alcançaram cerca e 70% e 35%, respectivamente, da sua produção de biogás, nesse mesmo período. Na Figura 25, observa-se um gráfico da produção de metano durante o período experimental. 45 Resultados e Discussões Produção metano (m³) Produção de Metano 0,002 0,0018 0,0016 0,0014 0,0012 0,001 0,0008 0,0006 0,0004 0,0002 0 DEJ-INN DEJ-SEP DEJ-DEC SOL-RET 0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196 Tempo (dias) DEJ-INN- dejetos in natura; DEJ-SEP-dejetos após separador de sólidos; DEJ-DEC-dejetos após decantadores; SOL-RET- sólidos retidos no separador de sólidos Figura 25- Produções médias diárias de metano em biodigestores batelada operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos após a lavagem dos pisos do estábulo (DEJ-INN), bem como das frações obtidas após o separador de sólidos (DEJ-SEP e SOL-RET) e após o decantador de areia (DEJ-DEC) O DEJ-INN, composto pelo dejeto in natura, foi o que produziu maior quantidade de biogás, seguido pelo DEJ-SEP, DEJ-DEC e, por fim, o biodigestor SOL-RET. As produções médias diárias de metano para os biodigestores DEJ-SEP e DEJ-DEC foram similares o que indica grande semelhança no processo de biodegradação, que se intensifica a partir de aproximados 30 dias do início do experimento, reduzindo sua produção após aproximadamente 80 dias. O DEJ-INN apresenta mais de um pico de produção de metano o que indica a presença de substratos com diferentes níveis de biodegradação. A produção de metano para o biodigestor SOL-RET apresenta um pico aos 70 dias de experimento e se intensifica após 130 dias, o que justifica a baixa produção acumulada de biogás no período anterior e indica a presença de substratos de mais difícil biodegradação. Assim, da Figura 25, pode-se concluir que, com a separação de sólidos, houve a separação de um material de mais difícil biodegradação, que ficou retido no separador de sólidos, que necessita de um tempo mais longo para se decompor. A teoria pode ser reforçada pela produção de metano do SOL-RET, composto pelos sólidos retidos no separador, que se intensifica após 130 dias enquanto no DEJ-SEP e DEJ-DEC o pico de produção ocorre aos 75 dias. Na Tabela 8 são apresentados os resultados de produção de metano, obtidos para cada tipo de dejeto utilizado no abastecimento dos biodigestores batelada. Os resultados estão apresentados em produção acumulada em sete dias, em m3. 46 Resultados e Discussões Tabela 8- Produção de metano acumulada em sete dias, nos biodigestores bateladas abastecidos com DEJ-INN, DEJ-SEP, DEJ-DEC e SOL-RET e valores máximos e médios, em %, alcançados em cada tipo de dejeto PRODUÇÃO DE METANO (m³) DIAS DEJ-INN¹ DEJ-SEP² DEJ-DEC³ SOL-RET4 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91 98 105 112 119 126 133 140 147 154 161 168 175 182 189 0 0,000071 0,000099 0,000067 0,000006 0,000000 0,000402 0,000855 0,001120 0,001421 0,001671 0,001511 0,001756 0,001470 0,001322 0,000789 0,001034 0,001396 0,001114 0,001340 0,001562 0,001287 0,000669 0,000479 0,000466 0,000452 0,000489 0,000370 0 0,000003 0,000010 0,000015 0,000038 0,000222 0,000446 0,000542 0,000700 0,001086 0,001266 0,001316 0,001170 0,000410 0,000410 0,000306 0,000371 0,000378 0,000273 0,000204 0,000139 0,000073 0,000063 0,000053 0,000021 0,000000 0,000000 0,000000 0 0,000001 0,000005 0,000007 0,000012 0,000164 0,000358 0,000390 0,000549 0,000919 0,001138 0,001095 0,000996 0,000344 0,000366 0,000225 0,000311 0,000275 0,000198 0,000114 0,000064 0,000034 0,000008 0,000010 0,000009 0,000000 0,000000 0,000000 0 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000009 0,000055 0,000127 0,000148 0,000607 0,000232 0,000320 0,000168 0,000233 0,000178 0,000227 0,000227 0,000245 0,000276 0,000378 0,000455 0,000494 0,000600 0,000583 0,000484 0,000484 0,000414 196 0,000226 0,000008 0,000000 0,000353 TOTAL 0,02344 0,00952 0,00759 0,00730 VALOR MÁXIMO (%) 82,3 92,1 91,1 82,6 72,4 85,2 VALOR MÉDIO (%) 1- DEJ-INN- dejetos in natura; 2-DEJ-SEP- dejetos após separador de sólidos; 3-DEJ-DEC- dejetos após decantadores; 4-SOL-RET- sólidos retidos no separador de sólidos; 86,4 77,6 47 Resultados e Discussões Os biodigestores abastecidos com DEJ-INN produziram maior quantidade de metano (0,0234 m³), seguidos dos biodigestores com DEJ-SEP (0,0095 m³) e, diferentemente da produção de biogás, os biodigestores abastecidos com DEJ-DEC produziram maior quantidade de metano (0,00759 m³) comparado com os biodigestores abastecidos com SOLSEP (0,0073 m³). Isso devido ao fato de que o biogás dos biodigestores abastecidos com DEJSEP apresentou teor de metano mais elevado (86,4%) comparados com os outros biodigestores, sendo o biogás dos biodigestores com SOL-SEP o que apresentou menor teor de metano (77,6%). Os teores de metano foram maiores do que os encontrados por Machado (2011) que variaram de 69,4 a 72,4 %, para dejetos bovinos leiteiros em biodigestores do tipo batelada, com diferentes tempos de exposição de ar. Orrico Jr. et al. (2010) encontraram valores que variaram de 65 a 81,0% sendo esse último o valor encontrado para dejetos de bovinos de corte, alimentados com uma dieta de 60% de volumoso e 40% de concentrado, em biodigestores bateladas com TRH de 120 dias. Galbiatti et al. (2009), encontraram para dejetos de bovinos, em biodigestores do tipo batelada, uma variação no teor de metano que apresentou picos de 84,8%, similar ao obtido pelo biodigestor abastecido com DEJ-INN. 6.1.4 Potencial de Produção de Metano Na Tabela 9 são apresentados os valores dos potenciais de produção de biogás, expressos em m3 de biogás por kg dejeto, por kg de sólidos totais (ST) adicionados, por kg de sólidos voláteis (SV) adicionados e por kg de sólidos voláteis reduzidos. Tabela 9- Potenciais de produção de biogás, expressos em m3 de biogás por kg de dejeto, por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) 3 DEJ-INN¹ DEJ-SEP² DEJ-DEC³ SOL-RET4 Valores de P Valores de F CV(%) m /kg Dejeto 0,0180 b 0,0062 c 0,0049 c 0,0313 a <0,0001 34,47 26, 67 PRODUÇÃO DE BIOGÁS m /kg ST adic. m3/kg SV adic. m3/kg SV red. 0,2551 a 0,3027 a 0,8605 a 0,2555 a 0,3151 a 0,8403 a 0,2104 a 0,2639 a 0,6927 ab 0,1475 b 0,1747 b 0,5263 b 0,0005 0,0004 0,0011 12,58 13,01 10,56 13,24 13,33 12,98 3 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05). 1 dejetos in natura; 2 dejetos após separador de sólidos; 3dejetos após decantadores; 4sólidos retidos no separador de sólidos 48 Resultados e Discussões A produção média de biogás por kg de dejeto nos biodigestores com DEJ-INN e SOL-RET (0,0180 e 0,0313 m³ respectivamente) se assemelha às encontradas por Amaral et al. (2004) que obtiveram como média 0,025 m³ de biogás por kg de dejeto e por Xavier e Lucas Jr. (2010), que obtiveram valores que variaram de 0,0163 a 0,0267 m³ de biogás por kg de dejeto. Os valores obtidos para os biodigestores abastecidos com DEJ-SEP e DEJ-DEC foram inferiores (0,0062 e 0,0049 m³ de biogás por kg de dejeto, respectivamente) e, comparados com a produção pelo DEJ-INN, houve redução de 65,5% e 72,8%, respectivamente, na produção total de biogás. Esses valores são compatíveis aos encontrados por Machado (2011) que obteve valores que variavam de 0,0026 m³ a 0,0080 m³ de biogás por kg de substrato e ao valor encontrado por Galbiatti et al. (2013) que obtiveram um potencial de produção de biogás de 0,056 m3 por kg de dejeto. Considerando a produção de biogás por kg de sólidos totais adicionados, um fator importante por eliminar a interferência do teor de água presente na biomassa, observa-se que variaram de 0,14875 a 0,2551 m³, valores superiores aos encontrados por Amaral et al. (2004), que variaram de 0,1019 a 0,1233 m³ por kg de ST adicionados. Os valores encontrados nesse trabalho estão próximos a valores encontrados por Xavier e Lucas Júnior (2010) que variaram de 0,1924 a 0,3101 m³ e aos encontrados por Machado (2011) variaram de 0,0970 a 0,2478 m³ de biogás por kg de ST adicionados. Orrico Jr. et al. (2010) encontraram valores próximos nos biodigestores bateladas, abastecidos com dejetos de bovinos alimentados com diferentes dietas de volumosos e concentrados, com um tempo de retenção hidráulica (TRH) de 30 dias que variaram de 0,160 m³ a 180 m³ de biogás por kg de ST adicionados. Para TRH maiores que 30 dias, Orrico Jr. et al. (2010), encontraram valores superiores que variaram de 0,300 a 0,420m³ de biogás por kg de ST adicionados. Os potenciais de produção de biogás por kg de sólidos voláteis adicionados para os biodigestores abastecidos com DEJ-INN, DEJ-SEP e DEJ-DEC foram de 0,3027, 0,3151 e 0,2639 m³, respectivamente, e foram próximos dos potenciais encontrados por Orrico Jr. et al. (2010), quando o TRH foi de 60 dias e variaram de 0,350 a 0,380 m³ de biogás por sólidos adicionados sendo superiores ao valores encontrados para um TRH de 30 dias (0,180 a 0,230 m³). Os potencias de produção de biogás dos sólidos voláteis reduzidos foram superiores para os biodigestores abastecidos com DEJ-INN e DEJ-SEP com valores de 0,8605 e 0,8403 m³ de biogás por kg de SV reduzidos, que estão na faixa de valores observada por Xavier e 49 Resultados e Discussões Lucas Júnior (2010), que variaram de 0,7243 a 1,082 m³ de biogás. Os valores encontrados por Amaral et al. (2004) foram inferiores quando comparandos com DEJ-INN, DEJ-SEP e DEJ-DEC, que variaram de 0,448 a 0,5324 m³ de biogás por kg de SV reduzidos sendo, esse último caso próximo ao valor encontrado para o biodigestor com SOL-RET (0,5263 m³ de biogás por kg de sólidos voláteis reduzidos) e próximo ao valor encontrado por Miranda et al. (2006) que trabalharam com dejetos de bovinos em biodigestores de bancada em batelada, e obtiveram o valor de 0,4729 m³ de biogás por kg de sólidos voláteis reduzidos. A produção de biogás, em m³ por kg de dejeto, nos biodigestores com DEJ-INN e SOL-RET, diferiram estatisticamente dos demais biodigestores, sendo os biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC, iguais estatisticamente. Para os demais parâmetros (m³ de biogás por ST adicionados, SV adicionados e SV reduzidos), somente o biodigestor com SOL-RET apresentou diferenças estatísticas significativas. Na Tabela 10 são apresentados os valores dos potenciais de produção de metano, expressos em m3 de metano por kg dejeto, por kg de sólidos totais (ST) adicionados, por kg de sólidos voláteis (SV) adicionados e por kg de sólidos voláteis reduzidos. Tabela 10- Potenciais de produção de metano, expressos em m3 de metano por kg de dejeto por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) 3 1 DEJ-INN DEJ-SEP2 DEJ-DEC3 SOL-RET4 P F CV(%) m /kg Dejeto 0,0130b 0,0053c 0,0042c 0,0243a <0,0001 34,74 26,89 PRODUÇÃO DE METANO m3/kg ST adic. m3/kg SV adic. m3/kg SV red. 0,1847ª 0,2193a 0,6232a 0,2177ª 0,2686a 0,7150a 0,1818ª 0,2279a 0,6003a 0,1145b 0,1356b 0,4105a 0,0003 0,0002 0,0008 13,89 15,34 11,33 13,30 13,39 0,74 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05). 1 dejetos in natura; 2 dejetos após separador de sólidos; 3dejetos após decantadores; 4sólidos retidos no separador de sólidos Com relação à produção de metano, os biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC tiveram reduções, 59,2% e 67,8% (0,0053 e 0,0042 m³ / kg de dejeto) respectivamente, comparados com o biodigestor com DEJ-INN (0,0130 m3/kg de dejeto). Apesar da menor produção de metano pelos biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC, eles apresentaram biogás com maior teor de metano e melhor produção de metano por kg de SV adicionados (0,2686 e 0,2279 m, respectivamente). Os potenciais de produção de metano por kg de SV reduzidos variaram de 50 Resultados e Discussões 0,4105 a 0,7150 m³, sendo que o menor potencial foi observado para biodigestor abastecido com SOL-RET, o que demonstra que, apesar de uma elevada produção de biogás por kg de dejeto, foram considerados, nesse caso, apenas os 0,300 kg de dejetos utilizados, ao passo que, nos outros biodigestores, os dejetos se encontravam diluídos pela água de lavagem dos estábulos, e o valor considerado foi de 1,8 kg de dejetos. Moller et al. (2004) encontraram potenciais com valores de 0,148± 0,041 m³ de metano por kg de SV adicionados e 0,468 ±0,061 m³ de metano por kg de SV reduzidos para dejetos de bovinos leiteiros. O mesmo autor considera que a variação entre os dejetos de bovinos é muito maior do que a variação entre dejetos de suínos e isso pode ser explicado pelo fato de que, para bovinos, há uma maior diferença na prática de alimentação e de produtividade entre diferentes produtores quando comparados com as produções suinícolas, assim, bovinos alimentados somente com volumoso obtêm menores rendimentos do que bovinos alimentados com volumoso e concentrado. Orrico Jr. et al. (2010) encontraram valores de 0,110 a 0,350 m³ de metano por kg de ST adicionados e 0,130 a 0,410 m³ de metano por kg de SV adicionados. Os potenciais encontrados foram maiores para os dejetos dos animais alimentados com 60% de concentrado e de 40% volumoso. Os valores mais próximos ao encontrado por Orrico Jr. et al. (2010) e nesse presente trabalho foram para um TRH de 60 dias com 0,220 e 0,230 m³ de metano por kg de ST adicionados e 0,200 e 0,260 m³ de metano por kg de SV adicionados comparado com os biodigestores com DEJ-INN, DEJ-SEP e DEJ-DEC. Assim como na produção de biogás, a produção de metano, em m³ por kg de dejeto, nos biodigestores com DEJ-INN e SOL-RET, diferiram estatisticamente dos demais biodigestores, sendo os biodigestores com DEJ-SEP e DEJ-DEC iguais estatisticamente. Para os demais parâmetros (m³ de biogás por ST adicionados, SV adicionados e SV reduzidos) somente o biodigestor com SOL-RET apresentou diferenças estatísticamente significativas pelo teste Tukey (P<0,05). 6.1.5 Estimativa da produção de metano na Fazenda Campestre A produção de dejetos na Fazenda Campestre foi quantificada no item 6.1.1, sendo o volume médio de dejetos líquidos diário, após o separador de sólidos, de 42.514 L e o volume médio de dejetos sólidos diário retidos no separador, de 8.050 kg. Tem-se que a produção de dejetos sem separação de sólidos corresponde ao volume 51 Resultados e Discussões médio de dejetos líquidos (42.524 L) que passou pelo separador somado com a massa média dos dejetos sólidos que ficou retida no separador (8.050 kg), o que resulta em um total de 50.564 kg de dejetos por dia no total (considerando a densidade dos dejetos líquidos como 1kg/L). A produção de dejetos com separação de sólidos é igual ao volume médio de dejetos líquidos que passou pelo separador, resultando em uma massa de 42.524 kg de dejetos no total. A partir dos teores médios de sólidos voláteis (SV) dos afluentes, calculados no item 6.1.2, e dos potenciais de metano, calculados no item 6.1.4, é possível estimar o potencial de produção de metano diário da Fazenda Campestre para um plantel de 285 vacas leiteiras Para as estimativas foram utilizados teores médios de SV e os potencias para o dejeto in natura (DEJ-INN) e dos dejetos após separador de sólidos (DEJ-SEP). Os resultados obtidos expressos na Tabela 11. Tabela 11- Estimativa da produção diária de metano para a Fazenda Campestre (285 vacas) Produção de Teor médio de SV Total SV Potencial em Total dejetos (afluente) adic. m³ metano/kg metano (kg/dia) (%) (kg) SV adic. (m³/ dia) DEJ-INN¹ 50.564 5,94 3003,50 0,2193 658,67 DEJ-SEP² 42.524 1,97 837,72 0,2686 225,01 ¹sem separação de sólidos in natura; ²com separação de sólidos Tem-se que, sem a separação de sólidos, a estimativa da produção diária de metano é de 658,67 m³ por dia e, com a separação de sólidos, a produção diária de metano é 65,8% menor (225,01 m³ de metano por dia). 52 Resultados e Discussões 6.2 ETAPA 2 - Efeito da separação de sólidos sobre a produção de biogás a partir dos dejetos de bovinos leiteiros do Setor de Bovinocultura de Leite da UNESP Jaboticabal em biodigestores contínuos 6.2.1 Redução dos Sólidos Totais e Voláteis Na Tabela 12, são apresentados os dados de sólidos totais (ST), em % e kg, bem como as porcentagens de reduções obtidas nos teores de ST e, similarmente, na Tabela 13, são apresentados os dados obtidos para sólidos voláteis (SV), para os biodigestores sem separação da fração sólida (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS). Os resultados se referem aos dejetos que foram utilizados no abastecimento dos biodigestores (afluente) e ao biofertilizante obtido após o processo (efluente). Tabela 12 - Teores médios de sólidos totais (ST), em % e kg, e redução de ST para os biodigestores sem separação da fração sólida (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) SSFS¹ CSFS² AFLUENTE EFLUENTE REDUÇÃO DE ST ST(%) ST(kg) ST (%) ST (kg) (%) 2,20 1,48 0,044 0,03 1,32 0,38 0,0265 0,0076 39,75a 74,27b Valores de P 0,0001 Valores de F 64,48 CV (%) 10,43 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05) ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida Tabela 13- Teores médios de sólidos voláteis (SV), em % e kg, e redução de SV para os os biodigestores com SSFS e CSFS. SSFS CSFS AFLUENTE EFLUENTE REDUÇÃO DE SV SV(%) SV(kg) SV (%) SV (kg) (%) 1,71 1,10 0,0341 0,0220 1,05 0,29 0,0210 0,0058 38,48a 73,38b Valores de P 0,0001 Valores de F 64,55 CV(%) 10,99 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05) ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida 53 Resultados e Discussões No abastecimento dos biodigestores (afluente), os teores médios de ST foram de 2,20 e 1,48% e os teores médios de SV foram de 1,71 e 1,10% para biodigestores SSFS e CSFS, respectivamente. Galbiatti (2013), trabalhando com dejetos de bovino de corte, em biodigestores do tipo contínuo, sem a adição de cana-de-açúcar triturada obteve teores médios de sólidos totais (2,03%) e voláteis (1,68%) próximos aos teores sólidos totais voláteis dos biodigestores sem separação de sólidos (SSFS). Observa-se que os teores de SV representaram 77,8% e 74,3% dos teores de ST, ou seja, a quantidade de SV presente nos ST para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS), respectivamente. Esses valores foram próximos aos encontrados por Amaral et al. (2004) que trabalharam com dejetos de bovinos leiteiros, em biodigestores contínuos e diferentes tempos de retenção hidráulica (TRH), para o TRH de 30 dias (81,41%) e TRH de 20 dias (79,10%). Observa-se também que durante o processo de biodigestão, ocorreram reduções bem maiores nos teores de sólidos totais (74,27%) e voláteis (73,38%) no tratamento em que se separaram os sólidos (CSFS) ao passo que, no tratamento sem a separação de sólidos (SSFS) obtiveram-se valores de 39,75% e 38,48%, respectivamente para sólidos totais e voláteis Estas diferenças indicam que a separação de sólidos pode ser particularmente importante para propriedades rurais que dispõem de pequenas áreas para a aplicação dos dejetos, pois a separação de sólidos permite a retirada de um composto orgânico com mais alto teor de sólidos totais e a fração líquida obtida durante a separação sofre grandes reduções nos teores de sólidos totais durante o processo de biodigestão anaeróbia. A redução de sólidos voláteis nos biodigestores com separação da fração sólida (CSFS) foram próximas às valores encontradas por Miranda et al. (2006), que trabalharam com dejetos de bovinos em biodigestores de bancada em batelada, e tiveram redução de sólidos voláteis de 75,90%. Os autores comentam que as menores reduções de sólidos ocorreram nos biodigestores alimentados com dejetos bovinos, provavelmente devido à degradação do substrato ser dificultada pela fração fibrosa que compõe o volumoso da alimentação de ruminantes. 6.2.2 Produção de Biogás e Metano Na Figura 26 é apresentado o gráfico da produção de biogás com os dados obtidos em todo período experimental. 54 Resultados e Discussões Produção de Biogás 0,018 Volume de Biogás (m³) 0,016 0,014 0,012 0,010 0,008 0,006 0,004 SSFS 0,002 CSFS 0,000 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Tempo (dias) SSFS - sem sepaçaõ da fraçao sólida; CSFS - com separação da fração sólida; Figura 26- Produção de biogás (m³), no período de 100 dias de experimento, em biodigestores contínuos, TRH de 30 dias e operados com dejetos de vacas leiteiras obtidos com o dejetos sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS) Observa-se que o tempo para partida dos biodigestores nos dois tratamentos foi semelhante e a partida ocorreu com tempo aproximado de 25 dias, quando os dois tratamentos mostraram estabilidade na produção diária de biogás, com os biodigestores abastecidos com dejetos sem separação de sólidos (SSFS) sempre apresentando maiores produções. Para melhor análise dos resultados, optou-se por apresentar e discutir separadamente os resultados obtidos quando os biodigestores apresentavam estabilidade de produção. Desta forma, foram utilizados separadamente os dados obtidos em 5 semanas, ou seja dos 30 dias após o abastecimento inicial dos biodigestores até 64 dias de experimento. Os valores diários de produção de biogás estão apresentados na Tabela 14. 55 Resultados e Discussões Tabela 14- Produção diária de biogás nos biodigestores sem separação a fração sólida (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) PRODUÇÃO DIÁRIA DE BIOGÁS (m3) DIAS 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 TOTAL SSFS¹ 0,0089 0,0099 0,0118 0,0119 0,0102 0,0126 0,0108 0,0088 0,0102 0,0119 0,0117 0,0104 0,0112 0,0127 0,0127 0,0127 0,0119 0,0091 0,0094 0,0117 0,0116 0,0123 0,0110 0,0101 0,0127 0,0103 0,0087 0,0098 0,0093 0,0127 0,0148 0,0148 0,0132 0,0140 0,0134 CSFS² 0,0078 0,0084 0,0098 0,0106 0,0085 0,0103 0,0086 0,0067 0,0077 0,0092 0,0088 0,0075 0,0085 0,0094 0,0095 0,0101 0,0088 0,0054 0,0052 0,0080 0,0080 0,0078 0,0066 0,0057 0,0069 0,0050 0,0048 0,0061 0,0060 0,0081 0,0099 0,0103 0,0071 0,0089 0,0083 0,3992 0,2780 ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida 56 Resultados e Discussões A produção total de biogás nesse período foi de 0,3992 m³ e 0,2780 m³ para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS), respectivamente. Estes valores indicam que a separação da fração sólida levou a uma redução de 30,3% na produção de biogás. A média de produção de biogás semanal para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS) foram respectivamente 0,07984 e 0,0557 m³. Galbiatti (2013) obteve valores próximos aos biodigestores com separação da fração sólida (CSFS), com média semanal de 0,0465 e 0,0557 m³ de biogás para os dejetos sem cana-de-açúcar e com cana-de-açúcar, respectivamente. O pico de produção, nesse período, para o os biodigestores SSFS foi de 0,015 m³, valor próximo ao encontrado por Galbiatti (2013) para dejetos de bovino de corte, em biodigestores do tipo contínuo, sem a adição de cana-de-açúcar triturada que foi de 0,016 m³. Quando foi misturada cana-de-açúcar triturada, Galbiatti (2013) obteve um pico de 0,025m³ na produção de biogás. Para os biodigestores CSFS o pico, nesse período foi de 0,010 m³ de biogás, valor 33,3% inferior ao biodigestor SSFS. A produção de metano, durante o período de 30 a 65 dias de experimento é apresentada na Figura 27 e os valores diários da produção de metano, para esse período, estão na Tabela 15. Produção de Metano Produção de metano (m³) 0,012 0,010 SSFS 0,008 CSFS 0,006 0,004 0,002 0,000 30 35 40 45 50 Tempo (dias) 55 60 65 SSFS - sem sepaçaõ da fraçao sólida; CSFS - com separação da fração sólida; Figura 27- Produção de metano (m³), no período de 5 semanas de experimento selecionado, em biodigestores contínuos, TRH de 30 dias e operados com dejetos de bovinos leiteiros obtidos com o dejetos sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS) 57 Resultados e Discussões Tabela 15 - Produções médias diárias de metano obtidas durante um período de 5 semanas .PRODUÇÃO DIÁRIA DE METANO (m³) DIAS SSFS¹ CSFS² 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 0,0056 0,0063 0,0074 0,0075 0,0067 0,0082 0,0070 0,0058 0,0067 0,0078 0,0076 0,0064 0,0069 0,0078 0,0078 0,0078 0,0073 0,0056 0,0057 0,0071 0,0071 0,0075 0,0068 0,0062 0,0086 0,0070 0,0059 0,0066 0,0063 0,0085 0,0100 0,0085 0,0075 0,0080 0,0077 0,0048 0,0052 0,0061 0,0066 0,0058 0,0070 0,0058 0,0046 0,0053 0,0063 0,0060 0,0049 0,0056 0,0061 0,0062 0,0066 0,0058 0,0036 0,0034 0,0052 0,0053 0,0051 0,0044 0,0038 0,0050 0,0036 0,0034 0,0044 0,0043 0,0058 0,0072 0,0066 0,0046 0,0057 0,0053 TOTAL 0,2508 0,1852 VALOR MÁXIMO (%) 68,0 72,7 VALOR MÉDIO (%) 63,1 66,9 ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida 58 Resultados e Discussões Quando se avalia a produção de metano, observam-se produções de 0,2508 e 0,1852 3 m para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação de sólidos (CSFS), respectivamente. Estes valores indicam que a separação da fração sólida levou a uma redução de 26,2% na produção de metano. O pico de produção de metano, nesse período, foi de 0,010 para os biodigestores SSFS e nos biodigestor CSFS, esse valor foi 28,0% menor, (0,0072 m³). Os teores médios de metano no biogás foram de 63,1% para os biodigestores sem sem separação de sólidos (SSFS) e de 66,9% para os biodigestores com separação de sólidos (CSFS). Xavier (2005), trabalhando com dejetos de bovinos leiteiros e co-digestão de caldo de cana-de-açúcar em biodigestores contínuos, obteve média de 61,6% de metano no biogás para os biodigestores abastecidos apenas com dejetos de bovinos leiteiros e 58,8% de metano no biogás para os biodigestores com co-digestão de caldo de cana. Galbiatti (2013) encontrou média de 61,0% de metano no biogás para os biodigestores abastecidos somente com dejetos de bovinos e média de 55,2% de metano no biogás para os biodigestores com cana triturada. Os valores de teor de metano no biogás encontrados nos biodigestores para os dejetos de bovinos sem mistura de caldo de cana-de-açúcar (XAVIER, 2005) e sem a adição de cana-deaçúcar triturada (GALBIATTI, 2013) foram próximos ao encontrado nos biodigestores sem a separação da fração sólida (SSFS) (63,1%). Os teores de metano encontrados por Amaral et al. (2004), que trabalharam com dejetos de bovinos leiteiros submetidos a diferentes tempos de retenção hidráulica e tipos de biodigestores contínuos, foram inferiores e variaram de 60,4 a 53,95% de metano no biogás. 6.2.3 Potencial de Produção de Biogás e Metano Na Tabela 16 são apresentados os valores dos potenciais de produção de biogás, expressos em m³ por kg dejeto, por kg de sólidos totais (ST) adicionados, por kg de sólidos voláteis (SV) adicionados e reduzidos. 59 Resultados e Discussões Tabela 16- Potenciais de produção de biogás, expressos em m3 de biogás por kg de dejeto por kg de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) adicionados (adic) e por kg de SV reduzidos (red) PRODUÇÃO DE BIOGÁS 3 SSFS¹ CSFS² Valores de P Valores de F CV(%) m /kg Dejeto 0,0456 a 0,0318 b <0,0001 251,98 3,19 m3/kg ST adicionado 0,2596 a 0,2682 a >0,0005 1,84 3,39 m3/kg SV adicionado 0,3344 b 0,3616 a <0,0005 10,44 3,42 m3/kg SV reduzido 0,6621 a 0,3636 b <0,0001 37,29 13,47 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05) ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida O potencial de produção de biogás por kg de dejeto foi de 0,0456 e 0,0318 m³ para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS). Assim, os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) apresentaram um potencial de produção de biogás 30,3% superior aos biodigestores com separação da fração sólida (CSFS). Os biodigestores com separação da fração sólida (CSFS) apresentaram maiores potenciais de produção quanto ao volume de biogás por kg de sólidos totais e voláteis adicionados, o que indica uma melhor eficiência para tratamento dos resíduos. Galbiatti (2013) obteve potenciais de produção de biogás maiores durante o seu segundo período de experimental (31 a 60 dias), similar ao período utilizado para nesse trabalho. Nos biodigestores abastecidos somente com dejetos de bovinos e nos biodigestores abastecidos com dejetos com cana-de-açúcar triturada obteve produção de biogás de 0,074 e 0,087 m³ por kg de dejetos, 0,438 e 0,271 m³ por kg de ST adicionados e 0,541 e 0,336 m³ por kg de SV adicionados, respectivamente. Amaral et al. (2004) encontraram menores potenciais de produção de biogás por kg de dejetos (0,0231 a 0,0279 m³), por kg de ST adicionados (0,1104 a 0,1233 m³) e por kg de SV adicionados (0,1215 a 0,1558 m³). Os potenciais de biogás por kg de SV reduzidos obtidos por Amaral et al. (2004) (0,3999 a 0,5324 m³) encontram-se próximos aos encontrados nesse presente trabalho que foram de 0,6621 m³ de biogás para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e de 0,3636 m³ de biogás para os biodigestores com separação da fração sólida (CSFS) por kg de sólidos voláteis reduzidos. Na Tabela 17 são apresentados os valores dos potenciais de produção de metano, expressos em m³ por kg dejeto, por kg de sólidos totais (ST) adicionados, por kg de sólidos voláteis (SV) adicionados e reduzidos. 60 Resultados e Discussões Tabela 17- Potenciais de produção de metano gás, expressos em m3 de metano por kg de dejeto, por kg de ST e SV adicionados e por kg de SV reduzidos. PRODUÇÃO DE METANO 3 SSFS¹ CSFS² Valores de P Valores de F CV(%) m /kg Dejeto 0,0287 a 0,0212 b <0,0001 171,70 3,26 m3/kg ST adicionado 0,1631 b 0,1785 a <0,0005 13,79 3,43 m3/kg SV adicionado 0,2101 b 0,2407 a <0,0001 30,71 3,46 m3/kg SV reduzido 0,8823 a 0,4966 b <0,0001 31,25 14,15 P – probabilidade; F- significância; CV – coeficiente de variação; Médias na colunas com letras distintas diferem pelo teste Tukey (P<0,05) ¹sem separação da fração sólida; ²com separação da fração sólida Com relação à produção de metano por kg de dejetos, essa diferença do potencial de produção de metano por kg de dejeto cai para 26,1% já que o biogás proveniente dos biodigestores com separação da fração sólida (CSFS) apresentou um maior teor de metano em sua composição. Os biodigestores com separação da fração sólida (CSFS) apresentaram maiores potenciais de produção quanto ao volume de biogás e metano produzido por kg de sólidos totais e voláteis adicionados o que indica uma melhor eficiência para tratamento dos resíduos. Orrico Jr. et al. (2010) encontraram valores de 0,110 a 0,350 m³ de metano por kg de ST adicionados e 0,130 a 0,410 m³ de metano por kg de SV adicionados. Os potenciais encontrados foram maiores para os dejetos dos animais alimentados com teor de concentrado de 60% de volumoso 40%. Os valores obtidos para os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) (0,2101 e 0,2407m³, respectivamete) encontram-se acima dos potenciais obtidos por Moller et al. (2004) em termos de m³ por kg de SV adicionados que foram de 0,148± 0,041 m³. O potencial de metano em m³ por kg de SV reduzidos do biodigestor com separação da fase sólida (CSFS) (0,4966 m³) ficou próximo ao encontrado por Moller et al. (2004) que foi de 0,468 ±0,061 m³, já os valores dos biodigestores sem separação da fração sólida (SSFS) foram superiores (0,8823 m³ de metano por kg de SV reduzidos). Os biodigestores sem separação de sólidos (SSFS) e com separação da fração sólida (CSFS) apresentaram diferenças estatísticas significativas tanto para os potenciais de produção de metano, inclusive na produção de metano em m³ por kg de ST adicionados. 61 Conclusões 7. CONCLUSÕES Na Etapa 1, os resultados mostraram que com a separação de sólidos os biodigestores abastecidos com os dejetos com separação de sólidos (após o separador de sólidos e decantadores) obtiveram uma redução sobre a produção total de biogás em até 72,8% quando comparados com o biodigestor abastecido com o dejeto in natura. Porém, os biodigestores com separação de sólidos apresentaram estabilização mais rápida e um biogás com maior teor de metano. Com a separação de sólidos os tempos de retenção hidráulica podem ser reduzidos, o que irá reduzir o volume dos biodigestores e custos de implantação e de manutenção devido a entupimentos. Realizando a estimativa da produção diária de metano para a Fazenda Campestre, com um plantel de 285 vacas leiteiras, tem-se que sem a separação de sólidos a produção diária de metano é de 658,67 m³ de metano e, caso haja a separação de sólidos, a produção diária de metano reduz em 65,8% produzindo 225,01 m³ de metano. Na Etapa 2, a separação da fração sólida aumentou a redução de sólidos totais e voláteis durante o processo de biodigestão anaeróbia. Este aspecto e a separação de sólidos em si tornam-se particularmente interessantes em propriedades rurais que têm limitação de áreas para a disposição dos resíduos, pois, muito embora haja redução na produção de biogás, boa parte dos dejetos pode ser transportada na forma sólida para outros locais. A separação da fração sólida reduziu a produção de biogás em 30,3% e de metano em 26,2%, consequentemente apresentou melhoria na qualidade do biogás. E os biodigestores com separação de sólidos apresentaram melhor eficiência na produção de biogás e metano por kg de sólidos totais e voláteis adicionados, o que indica uma melhor eficiência para tratamento dos resíduos. De forma resumida, as vantagens e desvantagens da não separação ou separação de sólidos, estão expressas na Tabela 18. 62 Conclusões Tabela 18 - Vantagens de Desvantagens da Separação de Sólidos SEM SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS VANTAGENS: Maior produção de biogás e metano (maior ganho energético); COM SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS VANTAGENS: Menor produção de dejetos líquidos (manejar/transportar líquidos é mais difícil que manejar sólidos) uso de biodigestores menores biodigestores com baixa manutenção DESVANTAGENS: maior produção de dejetos líquidos ; necessário uso de biodigestores maiores; uso de biodigesotes com mecanização (para misturar os dejetos e diminuir a decantação de sólidos dentro do biodigestor) e com maior manutenção (para retirar sólidos retidos nos biodigestores e evitar entupimentos); DESVANTAGENS: Produção de dejetos sólidos que necessitarão de tratamento (Ex. compostagem) Menor produção de biogás e metano (menor ganho energético) Conclui-se que, caso o interesse seja energético e não haja limitação de área, a não separação de sólidos propicia maiores ganhos energéticos, porém, se houver uma limitação de área e/ou não seja desejável a mecanização ou manutenção dos biodigestores, a separação de sólidos é a mais vantajosa. 63 Referências Bibliográficas 8. 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