Livro_Plano diretor
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Plano Diretor Carmen Ballão Watanabe Cesar A. da Silva Curitiba-PR 2013 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância © INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ – EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Este Caderno foi elaborado pelo Instituto Federal do Paraná para a rede e-Tec Brasil. Prof. Irineu Mario Colombo Reitor Prof. Joelson Juk Chefe de Gabinete Prof. Ezequiel Westphal Pró-Reitor de Ensino - PROENS Gilmar José Ferreira dos Santos Pró-Reitor de Administração - PROAD Prof. Silvestre Labiak Pró-Reitor de Extensão, Pesquisa e Inovação - PROEPI Neide Alves Pró-Reitor de Gestão de Pessoas - PROGEPE Bruno Pereira Faraco Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional – PROPLAN Prof. Marcelo Camilo Pedra Diretor Geral do Câmpus EaD Prof. Roberto Ari Guindani Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão – DEPE/EaD Coordenador Geral da Rede e-Tec Brasil – IFPR Prof.ª Adnilra Sandeski Coordenadora de Ensino Médio e Técnico do Câmpus EaD Prof.ª Elaine Cristina Arantes Coordenadora do Curso Hilde Silvana Pontes Coordenadora Adjunta Silmara Camargo Assistente Pedagógica Prof.ª Ester dos Santos Oliveira Coordenadora de Design Instrucional Lídia Emi Ogura Fujikawa Vanessa dos Santos Stanqueviski Designer Instrucional Sílvia Kasprzak Iara Penkal Revisores Editoriais Izabel Portugal Diagramação e-Tec/MEC Projeto Gráfico Thiago da Costa Florencio Diretor Substituto de Planejamento e Administração do Câmpus EaD Catalogação na fonte pela Biblioteca do Instituto Federal do Paraná Apresentação e-Tec Brasil Prezado estudante, Bem-vindo à Rede e-Tec Brasil! Você faz parte de uma rede nacional de ensino, que por sua vez constitui uma das ações do Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. O Pronatec, instituído pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira propiciando caminho de o acesso mais rápido ao emprego. É neste âmbito que as ações da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) e as instâncias promotoras de ensino técnico como os Institutos Federais, as Secretarias de Educação dos Estados, as Universidades, as Escolas e Colégios Tecnológicos e o Sistema S. A Educação a Distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou economicamente, dos grandes centros. A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos técnicos a todas as regiões do país, incentivando os estudantes a concluir o Ensino Médio e realizar uma formação e atualização contínuas. Os cursos são ofertados pelas instituições de educação profissional e o atendimento ao estudante é realizado tanto nas sedes das instituições quanto em suas unidades remotas, os polos. Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educação profissional qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética. Nós acreditamos em você! Desejamos sucesso na sua formação profissional! Ministério da Educação Novembro de 2011 Nosso contato [email protected] 3 e-Tec Brasil Indicação de ícones Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Mídias integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e outras. Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado. 5 e-Tec Brasil Sumário Palavra do professor-autor 11 Aula 1 – Urbanização mundial 1.1 Como conceituar a Cidade? 13 13 1.2 O que é o processo de urbanização mundial? Aula 2 – A urbanização brasileira 2. 1 A urbanização brasileira 14 19 19 2.2 Como enfrentar a “desordem” urbana? 21 Aula 3 – Meio ambiente e degradação ambiental 3.1 O que é o meio ambiente? 23 23 3.2 O que é a problemática ambiental? 24 Aula 4 – Desenvolvimento sustentável 4.1 Um novo modelo econômico 27 27 Aula 5 – Meio ambiente urbano e sustentabilidade 5.1 A sustentabilidade urbana 31 31 5.2 Perspectivas para a sustentabilidade urbana no Brasil 33 Aula 6 – Os problemas urbanos 6.1 A problemática urbana 35 35 Aula 7 – Qualidade de vida nos centros urbanos 7.1 A qualidade de vida 41 41 Aula 8 – O planejamento territorial da cidade 8.1 O que significa planejar? 47 47 8.2 Mas, por que planejar a cidade? 47 8.3 Etapas do planejamento da cidade 48 Aula 9 – O risco de não planejar 9.1 E se não Planejar o que acontece? 51 51 e-Tec Brasil Aula 10 – Desenvolvimento rural 10.1 A realidade rural brasileira 55 55 Aula 11 – Plano diretor 11.1 Plano diretor 59 59 Aula 12 – A construção do plano diretor participativo – Parte I 12.1 A cidade que queremos 63 63 Aula 13 – A construção do plano diretor participativo – Parte II 69 13.1 2ª. Etapa - Definição dos eixos, temas e objetivos do plano diretor 69 13.2 3ª.Etapa – Elaboração do projeto de lei do plano diretor e definição dos instrumentos 70 Aula 14 – A construção do plano diretor participativo – Parte III 73 14.14ª. Etapa - Envio do projeto de lei, discussão e aprovação final na Câmara Municipal. 73 14.2 5ª. Etapa - Implementação do plano e revisão periódica pelo menos a cada dez anos. 74 Aula 15 – O estatuto da cidade 15.1 O que é Estatuto da Cidade? 77 77 77 15.2 As diretrizes gerais da política urbana brasileira Aula 16 – O s instrumentos da política de desenvolvimento urbano 16.1 Os instrumentos da política urbana 81 81 16.2 Instrumentos de intervenção no uso e ocupação do solo 81 Aula 17 – O s instrumentos de indução do desenvolvimento urbano 17.2 Transferência do direito de construir (Art. 35) e-Tec Brasil 85 86 17.3 Operações urbanas consorciadas 87 17.4 Direito de Preempção 87 Plano Diretor Aula 18 – Instrumentos de financiamento da política urbana 89 18.1 Qual é o custo de um Plano Diretor? 89 Aula 19 – Instrumentos de regularização fundiária 19.1 A regularização fundiária 93 93 Aula 20 – G estão democrática da cidade 97 Referências 101 Atividades autoinstrutivas 103 e-Tec Brasil Palavra dos professores-autores Prezado (a) aluno (a), Você, provavelmente, já deve ter percebido em sua cidade a existência de algum problema relacionado ao crescimento da população urbana. Falta de moradia, favelização, ocupação de encostas ou mananciais, segregação espacial, desemprego, violência compõem a problemática de quase todas as cidades brasileiras. Atualmente, a resolução desses problemas não cabe somente ao poder público. Todos nós devemos exercer a cidadania atuando na questão urbana. Este material foi organizado, portanto,para dar suporte teórico a você, aluno da Disciplina Plano Diretor do Curso Técnico em Gestão Pública, interessado em intervir na realidade de seu município por meio da construção e na participação de melhorias por meio do Plano Diretor Participativo. Será, então, apresentada uma leitura que contemple aspectos urbanísticos, financeiros, administrativos e jurídicos. Contudo, você deve ter consciência de que este é um material básico e introdutório, sendo necessário complementá-lo com leituras referenciadas ao final deste módulo. Vale lembrar ainda, que não há receita pronta para a construção do Plano Diretor. Muitas serão as dificuldades encontradas. No entanto, é preciso que o otimismo prevaleça e que você, cidadão brasileiro, faça sua parte para que todos tenham assegurado o direito às cidades sustentáveis. Bom trabalho! Atenciosamente, autores Profª Carmen Ballão Watanabe Prof. Cesar A. da Silva 11 e-Tec Brasil Aula 1 – Urbanização mundial Vivemos em cidades, mas o que é uma cidade? Qual a importância das cidades e quais os resultados de morarmos aglutinados em centros urbanos? Em nossa primeira aula discutiremos o conceito de cidade e sua localização espacial. 1.1 Como conceituar a Cidade? O último censo demográfico (2000), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 81,2% dos brasileiros vivem em cidades. É bem provável que você faça parte dessa porcentagem. Se esse não for seu caso, ao menos, você deve ter uma ideia de como é uma cidade. Então, para você o que é cidade? Certamente, não é fácil defini-la. Um dos mais importantes geógrafos, o francês Pierre George, afirma que “é quase impossível definir o que é cidade”. Isso porque as cidades não são iguais no mundo todo. Podem ser pequenas, médias ou grandes, populosas ou não, densamente ou fracamente povoadas e dotadas ou não de infraestrutura adequada à demanda populacional. Enfim, cada uma revela a história de seu povo e as relações sociais, políticas, econômicas e culturais que nela se processam. Dessa maneira, o conceito de cidade varia muito de um país para outro. Em alguns, ela é definida como qualquer aglomeração com mais de 20 mil habitantes; em outros, como toda aglomeração com infraestrutura urbana e população dedicada às atividades industriais ou de serviços. No Brasil, segundo o IBGE qualquer núcleo urbanizado que possua sede administrativa situada no perímetro urbano, pode ser classificado como cidade. Mas, quando, onde e por que surgiram as cidades? As primeiras cidades surgiram na antiga Mesopotâmia (atual Iraque) há cerca de 3000 anos a.C. Sua existência está relacionada aos seguintes aspectos: 13 e-Tec Brasil necessidade humana de organização em torno de um bem comum; produção e troca de produtos e serviços; e manifestação cultural. A maioria das cidades foi construída de forma espontânea, ou seja, o seu desenvolvimento não foi planejado (Rio de Janeiro e Tóquio/Japão). Quando uma cidade surge a partir da intencionalidade governamental, dizemos que ela foi planejada, como é o caso de Brasília (Brasil) e Canberra (Austrália). Espontâneas ou planejadas, as cidades do mundo inteiro especializaram-se em funções específicas como: político-administrativa (Brasília e Canberra); religiosa (Aparecida e Fátima/Portugal); portuária (Santos e Roterdã/Holanda); industrial (Cubatão e Córdoba/Argentina); ou múltiplas funções (São Paulo e Nova York/Estados Unidos). Independente de sua função, as cidades não param de crescer. Cada vez mais ocorre o aumento da população urbana em relação à rural. Segundo previsões da ONU, antes de 2010 mais de 50% da população mundial estará vivendo em cidades, ou seja, o planeta será considerado urbanizado. 1.2 O que é o processo de urbanização mundial? O processo de urbanização consiste no aumento da população urbana devido ao êxodo-rural, concomitantemente às mudanças econômicas, resultantes dos avanços técnico-científicos, e às transformações sociais, geradoras de uma nova identidade cultural. Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2003, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a taxa de urbanização mundial, ou seja, o percentual dos habitantes da zona urbana sobre o total da população do planeta era de 38% em 1975, 48% em 2001, com estimativa de atingir 54% no ano 2015. No final do século XVIII, durante a Primeira Revolução Industrial, essa taxa não ultrapassava 3%. Em pouco mais de 250 anos, a taxa de urbanização cresceu mais de 15 vezes. Muitos estudiosos associam esse rápido crescimento populacional das áreas urbanas com a industrialização, no entanto, é preciso cautela ao analisar essa relação. e-Tec Brasil 14 Plano Diretor É bem verdade que a urbanização foi acelerada com a industrialização, notadamente quanto à geração de empregos nos setores secundário ou terciário. Contudo, é preciso lembrar que o processo industrial não foi o único fator determinante desse processo. Até meados do século XIX não existia nenhum país urbano no mundo. A Inglaterra, pioneira na industrialização foi o primeiro país a conhecer a urbanização. Figura 1.1 : Vista parcial de Londres-Inglaterra Fonte: Regiane Mazepa Ballão. Desde então, os índices de urbanização não param de crescer. É crescente o número de países considerados urbanizados. Nos países ricos e nos países ditos “emergentes” as taxas de urbanização parecem estar estabilizando-se, enquanto nos países mais pobres ela ainda é crescente. Vale ressaltar que a urbanização não ocorreu da mesma forma nos países ricos e pobres. Nos ricos, principalmente na Europa, a urbanização aconteceu durante o século XIX, acelerando na transição para o século XX. Nos países pobres da América Latina, Ásia e África, a urbanização ocorreu somente após meados do século passado, concomitante ao processo de industrialização (SENE; MOREIRA, 2008). Caso nossa análise fosse restrita a esses casos, certamente concluiríamos que a urbanização resultou exclusivamente da industrialização, ou seja, que as transformações sofridas pela cidade foram provocadas unicamente pela indústria. No entanto, não podemos esquecer que existem países industrializados que não são urbanos (China e Índia) e países urbanos que não são industrializados. Vejamos, por exemplo, o caso da China. A China, atualmente uma das maiores economias do mundo, com um PIB de 2,2 trilhões de dólares, do qual 46% provem do setor secundário, segundo o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2007, continua sendo um país rural com uma taxa de urbanização de aproximadamente 40% (Tabela 1.1), ou seja, é um país industrializado, mas não é urbano. Aula 1 – Urbanização mundial 15 e-Tec Brasil Ocorre também o contrário, países urbanos como Kuwait, Líbano, Djibuti e Arábia Saudita (Tabela 1.2) que não são industrializados. Tabela 1.1: Taxa de urbanização dos países industrializados TAXA DE URBANIZAÇÃO (%) Países industrializados Países tardiamente ou recentemente industrializados País 1975 2004 2015 País 1975 2004 2015* Bélgica 94,3 97,2 97,5 Argentina 81,0 89,9 91,6 Reino Unido 82,7 89,6 90,6 Brasil 61,7 83,7 88,2 Austrália 85,9 88,0 89,9 Coréia do Sul 48,0 80,6 83,1 Japão 56,8 65,7 68,2 China 17,4 39,5 49,2 Fonte: HUMAN development report 2006. Nova York: PNUD/Palgrave Macmillan, 2006. p.297-300. In: MOREIRA e SENE (2007). *Estimativas. Tabela 1.2: Taxa de urbanização dos países não industrializados TAXA DE URBANIZAÇÃO (%) DOS PAÍSES NÃO INDUSTRIALIZADOS Pouco urbanizados Muito urbanizados País 1975 2004 2015 País 1975 2004 2015* Nigéria 23,4 47,3 55,9 Kuwait 89,4 98,3 98,5 Serra Leoa 21,2 39,9 48,2 Líbano 67,0 86,5 87,9 Haiti 21,7 26,0 31,6 Djibuti 67,1 85,6 89,6 Etiópia 9,5 15,7 19,1 Arábia Saudita 58,4 80,8 83,3 Fonte: HUMAN development report 2006. Nova York: PNUD/Palgrave Macmillan, 2006. p.297-300 In: MOREIRA e SENE (2007). *Estimativas. Portanto, a industrialização não foi o único fator determinante da urbanização, mas quais seriam os outros? Entre os outros fatores destacam-se: o crescimento do setor de serviços no meio urbano, que funciona como um fator atrativo e as precárias condições de vida no meio rural associadas à mecanização da agropecuária, que age como um fator repulsivo. Os fatores atrativos predominaram nos países ricos. A industrialização europeia, por exemplo, foi acompanhada pela geração de empregos e renda tanto no setor industrial como no setor de serviços. Os fatores repulsivos marcaram a urbanização dos países pobres. As desfavoráveis condições de vida no campo, como baixos salários, desigualdade na distribuição de terras e uso de máquinas agrícolas, intensificaram o êxodo-rural. e-Tec Brasil 16 Plano Diretor Os núcleos urbanos não estavam adequadamente preparados para atender às necessidades de sua crescente população. As cidades cresceram rapidamente, assim como seus problemas. Resumo Em nossa primeira aula abordamos o conceito de cidade e os fatores que levaram à sua formação. Algumas surgiram de forma espontânea como a cidade do Rio de Janeiro e outras de forma planejada como Brasília. Abordamos também que algumas possuem funções específicas como político-administrativa, religiosa, portuária, industrial ou de múltiplas funções, sendo que mundialmente mais de 50% da população vive em cidades, abandonando o campo. Na próxima aula, avaliaremos a urbanização brasileira. Atividades de aprendizagem 1. Defina com suas próprias palavras o que é viver em uma cidade. 2. Pesquise em sua prefeitura como ocorreu a formação de sua cidade. Anotações Aula 1 – Urbanização mundial 17 e-Tec Brasil Aula 2 – A urbanização brasileira Na aula anterior vimos que mais de 50% da população mundial vive em cidades, e no Brasil, será que é diferente? Nesta aula abordaremos como ocorreu a urbanização brasileira. 2. 1 A urbanização brasileira Durante séculos, o Brasil foi um país agrário. As vilas e as pequenas cidades surgidas nos séculos XVIII e XIX não foram suficientes para caracterizar o País como urbano (MILTON SANTOS, 2005). Naquele período, a população urbana permaneceu estável, representando de 6% a 8% do total em consequência do predomínio do trabalho no setor primário. Foi somente no início do século XX, diante das transformações estruturais pelas quais passava a sociedade e a economia brasileira, que o nosso país iniciou seu processo de urbanização. A nascente industrialização da década de 1930 foi um fator preponderante para acelerar o processo urbano experimentado, inicialmente por São Paulo e, posteriormente, estendendo-se por todo o território brasileiro. Na década de 1970, o Brasil já era considerado um país urbano, ou seja, mais da metade de sua população residia nas cidades. Desde então, verificou-se um crescimento vertiginoso da população urbana em relação à população rural, conforme a tabela 2.1. Tabela 2.1: População urbana e rural no Brasil: 1940 2006 Ano do Censo População Total População Urbana % População Rural % 1940 41.236.315 12.880.182 31,24% 28.356.133 68,76% 1950 51.944.397 18.582.891 35,77% 33.361.506 64,23% 1960 70.070.457 31.303.034 44,67% 38.767.423 55,33% 1970 93.139.037 52.089.984 55,93% 41.049.053 44,07% 1980 119.002.706 82.436.409 69,27% 36.566.297 30,73% 19 e-Tec Brasil Ano do Censo População Total População Urbana % População Rural % 1991 146.825.475 110.990.990 75,59% 35.834.485 24,41% 2000 169.799.170 138.800.000 81,23% 23.999.170 14,13% 2006 186.119.238 165.832.920 89,10% 20.286.318 10,90% Fonte: Estimativas da população residente 1940-2000, IBGE e estimativas do autor com base em índices do IBGE para 2006. Podemos observar que no período entre 1940 e 2000 a população urbana absoluta do Brasil aumentou mais de dez vezes, passando de 12,8 para 138 milhões. A taxa de urbanização que era de 31,2% passou para 81,2%. Essa mudança na distribuição da população brasileira, entre a zona rural e a urbana, está diretamente relacionada ao êxodo rural. Somente entre 1960 e 1980, os migrantes rurais foram responsáveis pelo aumento em 53% da população urbana. Lembre-se: a população absoluta (total) de um país, estado, município ou cidade cresce a partir de duas taxas: a taxa de crescimento natural (diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade) e a taxa de migração (diferença entre o número de emigrantes e imigrantes). O intenso êxodo-rural foi, principalmente, um reflexo da mecanização do campo, porém, não podemos esquecer-nos do fascínio que a modernização da cidade exerce sobre o migrante. De um lado, a forte concentração fundiária agiu como um fator repulsivo sobre a população rural que se viu substituída por máquinas agrícolas. Por outro, a modernização da sociedade urbana, promovida pela industrialização, passou a exercer forte atração sobre o homem do campo, que viu na cidade uma alternativa para melhorar sua qualidade de vida. Desta maneira, se intensificou a migração campo-cidade. O ritmo da transferência da população rural para a zona urbana foi mais acelerado que o ritmo de geração de empregos, da ampliação de serviços públicos e da realização de obras de infraestrutura, capazes de atender adequadamente a crescente população da cidade. As cidades brasileiras passaram a retratar as desigualdades econômicas e sociais presentes em seu território, como a ocupação de áreas ambientalmente frágeis em contraposição aos bairros residenciais formados por condomínios de alto padrão. e-Tec Brasil 20 Plano Diretor Passaram a conviver num mesmo espaço geográfico dois grupos distintos: uma minoria privilegiada, habitando áreas dotadas de total infraestrutura; e uma maioria excluída, convivendo em situação urbanística precária. A definição desse padrão de ocupação do solo sempre esteve baseada nos investimentos dos mercados imobiliários da classe média e alta. As melhores áreas da cidade são ocupadas por essas classes, enquanto as piores ficam reservadas à classe mais baixa da sociedade. Desta maneira, muitos brasileiros vivem segregados espacialmente, residindo em submoradias como as favelas. Segundo dados do IBGE (2000), existem 3905 favelas no Brasil, abrigando 6,8 milhões de pessoas. Dos 5507 municípios brasileiros, 27,6% possuem favelas. Esse é o resultado da expansão urbana desordenada e injusta delineada nas últimas décadas do século XX em nosso país. Aos problemas sociais associam-se aos problemas ambientais urbanos como: enchentes, deslizamentos de encostas, poluição de mananciais, poluição do ar, entre outros, gerando uma verdadeira “desordem” urbana. Neste contexto, o desenvolvimento urbano tornou-se um grande desafio para a administração pública e uma enorme preocupação para a sociedade, remetendo-nos a um importante questionamento: 2.2 Como enfrentar a “desordem” urbana? A resposta para essa questão é o que os planejadores e gerenciadores das cidades buscam há muitas décadas. A solução está na construção de uma cidade democrática e sustentável, na qual todos tenham acesso igualitário aos benefícios que ela possa oferecer. O primeiro passo nesse sentido deve ser a construção de um planejamento territorial do município de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável. Para entendermos como proceder na construção sustentável da cidade é indispensável compreendermos alguns temas como: meio ambiente degradação ambiental, desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, que veremos na próxima aula. Aula 2 – A urbanização brasileira 21 e-Tec Brasil Resumo Sobre “Cidades”, entre no site do governo < http://www.cidades. gov.br/> que aborda todas as transformações e melhorias que aconteceram nos grandes centros ao longo dos anos. Na aula vimos como se deu urbanização no Brasil. Durante séculos nosso país baseava-se na agricultura, mas já na década de 70 mais da metade da população residia nas cidades. O êxodo rural, devido em especial à mecanização do campo, levou muitas pessoas às grandes cidades, e elas não preparadas para tal, resultou em gerações de favelas que com baixas condições de moradias. Na próxima aula iniciaremos o estudo da problemática que esses centros urbanos desordenados causam ao meio ambiente. Atividades de aprendizagem 1. A demanda demográfica em viver em cidades é sustentável? 2. Em sua opinião o que significa viver em favelas? e-Tec Brasil 22 Plano Diretor Aula 3 – Meio ambiente e degradação ambiental Na aula anterior vimos que muitos foram os fatores que levaram ao êxodo rural e, consequentemente, à problemas ambientais nos centros urbanos. Nesta aula abordaremos a degradação ambiental devido à urbanização não planejada. 3.1 O que é o meio ambiente? Os problemas ambientais sempre existiram, porém com intensidade e magnitude variadas ao longo da história humana. O fato é que com o crescimento populacional eles se agravaram. Quanto maior o número de habitantes no planeta, maior é a pressão sobre o meio ambiente e, consequentemente, maior é sua degradação. Quando se fala em meio ambiente é muito comum algumas pessoas associarem este conceito apenas aos elementos da natureza. No entanto, natureza e meio ambiente não são termos sinônimos. O conceito de meio ambiente evoluiu muito no decorrer dos tempos. À priori, foi considerado apenas sob seus aos aspectos biológicos e físicos, passando a uma concepção mais ampla em que o essencial passou a ser a interação entre os aspectos naturais e sociais (WATANABE, 2002). Vejamos alguns conceitos atuais: Segundo SACHS (1986), o meio ambiente é formado por três subconjuntos que interagem entre si: a natureza, a técnica e a sociedade. Para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA, 1994), o meio ambiente é o conjunto de elementos naturais e sociais que interagem provocando alterações no espaço e no tempo. Outro conceito de meio ambiente, considerado de grande importância, constituído na Conferência de Tbilisi (Geórgia), em 1977, considera o meio ambiente como “o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência” (BRASIL, 1994). 23 e-Tec Brasil Podemos perceber que estes conceitos além englobarem a interação entre os aspectos naturais e humanos destacaram a importância da natureza para a perpetuação das espécies, tanto animais e vegetais como da espécie humana. Contudo, podemos perceber que existe uma parcela da humanidade que não está plenamente consciente da necessidade de preservação e conservação do meio natural. Desmata, polui e degrada demonstrando que não se sente inserida no meio ambiente. Continua agindo como se fosse superior à natureza, como se ela existisse para satisfazer seus desejos e não suas necessidades. Essa dinâmica da interação sociedade-natureza evidenciou a necessidade urgente da conscientização ambiental da sociedade humana, pois, somente sentindo-se assim, poderá agir de forma participativa para que a transformação do espaço se dê de forma equilibrada ecologicamente e justa socialmente. 3.2 O que é a problemática ambiental? A problemática ambiental representa a relação entre o meio natural e o meio social, ou seja, a DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. Portanto, o estudo dos problemas ambientais deve considerar as inter-relações entre o meio natural e o meio social. Os problemas ambientais começaram a ser sentidos, com mais intensidade, a partir do momento que ocorreram as transformações dos ecossistemas naturais em ecossistemas humanos. Este fato não é recente, podemos constatar que a humanidade vem interferindo no ambiente natural desde as eras mais primitivas de sua existência. Analisando a evolução histórica das relações sociedade-natureza, percebemos que durante os estágios do pastoreio e da caça/coleta não havia degradação ambiental. O homem ao se sentir integrado à natureza não tinha intenção e nem meios para explorá-la acima de sua capacidade de regeneração. O processo de degradação ambiental teve início com o surgimento da agricultura. A partir desse momento, o homem sacrificou a paisagem natural para cultivar alimentos necessários a sua sobrevivência. Contudo, a mudança mais significativa no meio natural ocorreu com a industrialização. Não só a paisagem natural cedeu lugar às indústrias e à urbanização, como todo o meio ambiente passou a ser alterado. e-Tec Brasil 24 Plano Diretor A exploração dos recursos naturais acentuou-se para suprir a demanda de bens e produtos destinados a uma população que não parou de crescer e exigir melhores padrões de vida. As alterações sofridas pelos gradientes ar, o solo e a água trouxeram implicações diretas à saúde humana. A poluição do ar, por exemplo, passou a ser sentida por grande parte dos habitantes das cidades industrializadas, que se tornaram vítimas de doenças respiratórias como a asma, a bronquite, etc. Embora esses problemas estivessem constatados, a lógica capitalista determinava que o crescimento econômico não deveria ser freado, sendo necessário produzir cada vez mais para suprir a crescente demanda. Dentro da visão capitalista de mundo, o meio ambiente foi explorado até se perceber que o ritmo de exploração dos recursos naturais estava acelerado demais se comparado ao ritmo de sua regeneração. Esse descompasso entre a exploração e a regeneração resultou na problemática ambiental. A problemática ambiental pode ser entendida como resultante da contradição fundamental que se estabeleceu entre o modelo de desenvolvimento adotado pelo capitalismo, notadamente, após a Revolução Industrial, e a sustentação desse tipo de desenvolvimento pelos ecossistemas naturais. Dessa maneira, a sociedade contemporânea tem sido a maior responsável pelos problemas causados ao ecossistema mundial ao exigir melhores padrões de vida com uso de tecnologias mais baratas, mesmo que isso gere a degradação ambiental (SANTOS, 1997). Essa complexa situação de degradação do meio ambiente promovida pela sociedade induz à reflexão sobre a urgência da adoção de um estilo de desenvolvimento econômico em moldes sustentáveis e da formação de cidadãos comprometidos com a questão ambiental. Resumo Nesta aula abordamos os problemas que o meio ambiente enfrenta às atividades antrópicas, especialmente, relacionadas a agricultura e à indústria. As perturbações ao meio ambiente alterando a qualidade do ar, do solo e da água trouxeram implicações diretas à saúde humana. No entanto, a sociedade moderna ainda não havia sido sensibilizada que os recursos naturais são finitos, e muitos deles não são renováveis. Na próxima aula abordaremos um novo modelo de desenvolvimento econômico: a sustentabilidade. Aula 2 – Meio ambiente e degradação ambiental 25 e-Tec Brasil Atividades de aprendizagem 1. Explique porque durante a fase de pastoreio o meio ambiente não sofreu degradação. 2. Cite três ações que você poderia fazer para minimizar a degradação ambiental. Anotações e-Tec Brasil 26 Plano Diretor Aula 4 – Desenvolvimento sustentável O desenvolvimento a qualquer custo ocorrido no séc. 20 levou a sérios problemas ambientais, no entanto, algumas medidas para minimizar os impactos adversos das atividades humanas foram adotadas por muitos países, e uma discussão mundial sobre a sustentabilidade planetária começou a acontecer. Nesta aula, estudaremos o Desenvolvimento Sustentável. 4.1 Um novo modelo econômico A sociedade sempre esteve em contato direto com a natureza, fato que comprova a inter-relação das práticas sociais e ambientais. O resultado dessa relação nem sempre beneficiou o meio natural. Nas três últimas décadas do século XX, foi possível constatar o crescimento da problemática ambiental no cenário global, fruto do estilo de vida adotado, principalmente, dentro do sistema capitalista (AJARA, 1993). Isso fez com que fossem estabelecidas novas reflexões sobre o estilo de desenvolvimento econômico adotado pelas nações ricas e pobres. No início da década de 1970, foram apresentadas importantes abordagens sobre o desenvolvimento econômico ideal em eventos internacionais como o Clube de Roma e a Conferência de Estocolmo, ambos em 1972. O Clube de Roma defendeu a ideia de que o principal problema do futuro esgotamento dos recursos naturais era o aumento demográfico e, portanto, o crescimento econômico deveria ser desacelerado, chegando ao índice zero. Na Conferência de Estocolmo a ideia de crescimento zero, apresentada pelo Clube de Roma, não foi considerada como a melhor alternativa para solucionar a problemática ambiental. Nesta conferência a crítica esteve centrada no modo de vida contemporâneo caracterizado pelo consumismo e individualismo. Estes dois eventos marcaram o início das discussões em torno de um novo modelo de desenvolvimento econômico ecologicamente mais equilibrado e socialmente mais justo. Estava traçado o caminho rumo ao desenvolvimento sustentável (Watanabe, 2002). 27 e-Tec Brasil Foi, portanto, a partir da década de 1970 que a ideia de desenvolvimento sustentável ganhou notoriedade. Esse modelo de desenvolvimento foi, primeiramente, denominado de “ecodesenvolvimento”. O termo ecodesenvolvimento foi utilizado pela primeira vez em 1973 para caracterizar uma concepção alternativa de política de desenvolvimento. Os princípios básicos desse conceito foram elaborados por SACHS (1994), são eles: • satisfação das necessidades básicas; • solidariedade com as gerações futuras; • participação da população envolvida; • preservação dos recursos naturais e meio ambiente em geral; • elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas; • programas de educação; • defesa da separação dos países centrais e periféricos para garantir o desenvolvimento dos últimos. Esses princípios têm como pressuposto a existência da sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial e cultural. A adoção dessas cinco dimensões foi indicada como condição necessária para tornar compatíveis a qualidade de vida e a conservação ambiental. O ecodesenvolvimento surgiu como uma alternativa estratégica à ordem econômica internacional. Seus pressupostos iniciaram a introdução do tema ambiental nos modelos tradicionais de desenvolvimento econômico. Apesar de muitos esforços, o novo modelo perdeu impulso no plano prático durante a década de 1980, mas no plano teórico cresceu a produção a respeito do desenvolvimento sustentável. e-Tec Brasil 28 Plano Diretor Nas décadas seguintes, o impacto da crise econômica aliada à necessidade de reflexão sobre a problemática ambiental contribuiu para que a questão do equilíbrio entre economia e natureza voltasse a ser pauta de grandes conferências intergovernamentais sobre meio ambiente e desenvolvimento (JACOBI, 1999). A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas publicou, em 1987, o Relatório Brundtlandt que retomou a ideia de desenvolvimento sustentável ao relacionar esse conceito a uma proposta de adequação do crescimento econômico aos requisitos ambientais. O Relatório Brundtlandt apresentou uma lista de ações que deveriam ser adotadas pelas nações e definiu as metas a serem atingidas em nível global. No entanto, isso não foi suficiente para que o desenvolvimento sustentável fosse alcançado, faltava o delineamento das estratégias a serem aplicadas. O desenvolvimento sustentável é um caminho de progresso social e econômico que procura atender as aspirações do presente sem comprometê-las no futuro (Relatório Brundtlandt, 1987). Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio/92 - foram discutidas as estratégias para a promoção da sustentabilidade do Planeta. A Agenda 21 foi indicada como a mais importante e adequada de todas. Trata-se de um documento elaborado em consenso por representantes de governos e de instituições da sociedade civil de 176 nações. Destaca conceitos como cooperação e parceria, educação e desenvolvimento individual, eqüidade e fortalecimento dos grupos socialmente vulneráveis, planejamento, desenvolvimento da capacidade institucional e informação. Esses conceitos revelam-se a base para a construção das Agendas Nacionais. No entanto, é preciso esclarecer que as Agendas Nacionais não se resumem a uma mera cópia da Agenda Global, pelo contrário, é imprescindível que se faça uma adaptação para os planos nacionais, de modo que expresse as especificidades de cada país. A Agenda 21 é um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que se constitui na mais ousada e abrangente tentativa, já realizada, de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (WATANABE, 2002). Da Agenda Nacional deriva a Agenda 21 Local, construída e implementada em nível municipal pelo poder público em parceria com a comunidade. Sua construção pode ocorrer a partir das seguintes etapas: sensibilização, capacitação e institucionalização; elaboração; e implementação (WATANABE, 2002). Aula 4 – Desenvolvimento sustentável 29 e-Tec Brasil Vale lembrar que os municípios que implementaram suas Agendas 21 devem respeitá-las durante o processo de elaboração do Plano Diretor, pois tanto um quanto o outro tem como foco uma estratégia de desenvolvimento: uma mais aberta (Agenda 21) e outra mais fechada (Plano Diretor). Miranda (2008), ao discutir esse assunto, afirma que a união desses dois processos permite a construção permanente de instrumentos de gestão pública evitando o retorno ao planejamento funcionalista que predominou em nosso país nas três últimas décadas do século passado. “Um Plano Diretor incluído dentro do processo da Agenda 21 é um Plano Diretor aberto, em movimento, com controle social, ou seja, verdadeiramente democrático e sustentável.” Resumo Para Saber Mais Sobre Agenda 21 acesse o link: < http:// www.mma.gov.br/sitio/ index.php?ido=conteudo. monta&idEstrutura=18> e leia as especificações no site da secretaria da articulação institucional e cidadania ambiental. Nesta aula foi apresentado o conceito de um novo tipo de desenvolvimento econômico: o Sustentável. Vimos que a ideia de Crescimento Zero não foi bem recebida pelos governantes dos países em desenvolvimento, e em diversos encontros mundiais para debater o assunto um novo horizonte de possibilidades havia se apresentado: A Sustentabilidade, que visa preservar os recursos naturais para as gerações futuras. Na próxima aula aprofundaremos o tema. Atividades de aprendizagem 1. Você acredita em Desenvolvimento Sustentável? Se você acredita, o que tem feito em prol do meio ambiente? 2. Você tem uma vida sustentável economicamente? e-Tec Brasil 30 Plano Diretor Aula 5 – Meio ambiente urbano e sustentabilidade Conforme vimos na aula anterior, não podemos associar o termo sustentabilidade apenas à dimensão ecológica. Sua referência é muito mais ampla, atingindo as dimensões social, econômica, cultural, ecológica e espacial o que levou em consideração sua aplicação no meio ambiente urbano. Nesta aula, aprofundaremos o assunto considerando o ambiente urbano e a sustentabilidade. 5.1 A sustentabilidade urbana A sustentabilidade urbana ganhou maior relevância com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre os Assentamentos Humanos que aprovou a Agenda Habitat, documento que apresenta os princípios, compromissos e ações a serem adotadas pelos governos em parceria com a sociedade, objetivando alcançar o desenvolvimento sustentável dos centros urbanos. O desenvolvimento das cidades em termos sustentáveis implica no comprometimento com a questão ambiental, do desenvolvimento e ordenamento da expansão urbana, do desenvolvimento econômico do município, da promoção da justiça social, do planejamento e da gestão democrática e participativa, do acesso à moradia sadia para todos etc. Os países pobres têm enfrentado dificuldades em impor regulamentos urbanísticos que conduzam as cidades à sustentabilidade. No Brasil, as maiores barreiras são inerentes ao processo de urbanização acelerado e desordenado que induziu o descumprimento da legislação urbanística, resultando na contradição que se estabeleceu entre a cidade legal e a cidade e ilegal. “O ilegal do solo e as edificações em meio urbano atingem mais de 50% das construções nas cidades brasileiras, não considerando as legislações de uso e ocupação do solo, zoneamento, parcelamento do solo e edificações.” (Maricato, 1996). Isto conduz à aplicação dos princípios da sustentabilidade ao planejamento urbano para de fato construirmos a cidade sustentável. 31 e-Tec Brasil A construção da cidade sustentável, segundo Alva (1997), pressupõe um conjunto de mudanças e “depende da capacidade de reorganizar os espaços, gerir novas economias externas, eliminar as deseconomias de aglomeração, melhorar a qualidade de vida das populações e superar as desigualdades sócio-econômicas como condição para o crescimento econômico e não como sua consequência”. Depende também da gestão correta dos recursos ambientais da cidade, pois a deterioração ambiental das cidades é consequência da intensa exploração de seus recursos, da não observância dos seus limites e da capacidade de suporte do ambiente às atividades urbanas. A busca por uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente saudável conduz ao esforço de compreensão das novas dinâmicas do espaço urbano, que facilitem a construção de políticas públicas articuladas que priorizem a qualidade de vida, a produtividade, a preservação e a inclusão. Contudo, o crescimento acelerado e desordenado das cidades foi acompanhado pelo surgimento de graves problemas como: escassez de recursos financeiros; falta de emprego; aumento do número dos sem-teto, de moradias precárias, da pobreza, das desigualdades sociais, da falta de segurança, dos elevados índices de criminalidade; da inadequação dos serviços e da infraestrutura; da falta de saneamento básico; dos loteamentos clandestinos, do crescente congestionamento do tráfego; o aumento da poluição; a falta de áreas verdes; a degradação ambiental. (ONU, 2008) Todos esses problemas têm desafiado a capacidade dos governos, principalmente nos países pobres, de alcançar o desenvolvimento urbano sustentável. Entretanto, em qualquer cidade ou bairro, por mais pobre que seja, é possível melhorar a qualidade de vida da população caso os serviços de saúde, educação, transporte coletivo, infraestrutura urbana, etc., funcionem de forma adequada. (MOREIRA; SENE, 2007). Essas melhorias tendem a acontecer quando a sociedade se organiza e reivindica seus direitos, participando do processo de construção de uma cidade sustentável, ou seja, uma cidade que cumpra sua função social e siga os princípios da sustentabilidade. e-Tec Brasil 32 Plano Diretor 5.2 Perspectivas para a sustentabilidade urbana no Brasil São imensos os desafios que se apresentam para a sustentabilidade das cidades brasileiras, não há dúvida disso. No entanto, vale lembrar que os problemas urbanos estão sendo enfrentados com esforços conjuntos entre governo e sociedade. O desafio para a sustentabilidade das cidades brasileiras está na continuidade do inovador processo de gestão urbana-ambiental iniciado com a Agenda 21 e com o Plano Diretor. As cidades que implementaram esses instrumentos ampliaram as experiências bem sucedidas de desenvolvimento urbano, evidenciando que é possível alcançar o desenvolvimento sustentável durante o século XXI. Questões relacionadas à participação democrática na tomada de decisão, inclusão social, acesso à terra urbana, adequação dos serviços públicos às necessidades da população, conscientização ambiental, e outras, devem ser consideradas prioritárias nas agendas dos governos municipais para que de fato se construa a cidade sustentável Sobre esse assunto Grazia e Queiroz (2001) comentam que “somente o aprofundamento da democracia poderá viabilizar a sustentabilidade urbana ao conjunto da sociedade brasileira. Este aprofundamento necessariamente deverá incorporar não apenas o direito ao voto, mas também o direito de participação efetiva da população na forma de planejar, produzir, operar e governar as cidades e na definição do modelo de desenvolvimento do País. Tal participação por sua vez, passa forçosamente pela elaboração e implementação de políticas que deverão promover a justiça sócio-ambiental. (Cadernos Temáticos Brasil Sustentável) Resumo Vimos nesta aula que a busca por uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente saudável está relacionada com a construção de políticas públicas que priorizem a qualidade de vida, a produtividade, a preservação e a inclusão social, e que o crescimento desordenado das cidades resultou em problemas ambientais severos, com o aumento da pobreza e desigualdade social. Na próxima aula iremos avaliar os principais problemas urbanos. Aula 5 – Meio ambiente urbano e sustentabilidade 33 e-Tec Brasil Atividades de aprendizagem 1. Que tipo de problemas ambientais existe em seu município? 2. Para você, o que é democracia? Anotações e-Tec Brasil 34 Plano Diretor Aula 6 – Os problemas urbanos Foi a partir da Revolução Industrial, ocorrida no final do século XVIII, que os problemas urbanos de ordem social e ambiental começaram a se intensificar. A migração campo-cidade era a alternativa de busca por um melhor padrão de vida. Esta aula tem como objetivo a avaliação da problemática urbana. 6.1 A problemática urbana Os problemas urbanos começaram a preocupar os estudiosos do tema e os políticos a partir do momento em que os mesmos tornaram-se críticos. A ausência de infraestrutura e serviços públicos suficientes ao atendimento da crescente população resultaram em situações de desigualdade social e desvalorização humana. Atualmente, diversos são os problemas de ordem social e ambiental enfrentados pelos moradores das cidades brasileiras. Problemas como, por exemplo, subemprego, submoradia, segregação espacial, violência urbana, lixo, etc. Provavelmente, você já identificou alguns desses problemas em sua cidade. Veremos em mais detalhes cada um desses assuntos, assim ficará mais fácil compreender a importância de planejar o futuro da cidade. 6.1.2 Subemprego, submoradia e segregação espacial As grandes cidades de países pobres como o Brasil não têm capacidade de absorver o crescente número de migrantes. Muitas pessoas, geralmente detentoras de um baixo nível de instrução, que não conseguem emprego no mercado formal submetem-se ao subemprego ou tornam-se desempregados permanentes. Muitos não possuem casa própria e nem remuneração suficiente para pagar aluguel, restando-lhes: ocupar ilegalmente áreas onde se proliferam as favelas; invadir edificações não utilizadas nos grandes centros; abrigar-se debaixo de pontes e viadutos; etc. 35 e-Tec Brasil A Organização das Nações Unidas (ONU) define favela a partir de cinco características: acesso inadequado à água potável, falta de infraestrutura ou saneamento básico, aglomerações de moradias, estrutura pobre da construção das casas e residências inseguras. Dos mais de 6 bilhões de habitantes do planeta, cerca de 1 bilhão vivem em favelas e 500 milhões não tem lugar para morar. A falta de moradia digna para grande parcela da população mundial despertou a atenção dos governos que buscavam em conjunto soluções para o grave problema da submoradia. Na tentativa de encaminhar soluções para esse problema, aconteceu em Istambul, na Turquia, em 1996, a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos – Habitat II (a Habitat I foi realizada em Vancouver, no Canadá em 1976). Nesta conferência reuniram-se representantes de quase todos os países do mundo para discutir entre outros problemas urbanos a questão da moradia, principalmente, nas grandes cidades. Após intensas discussões, ficou decidido que os governos deveriam criar condições favoráveis ao acesso à moradia para a população urbana de seus países. Em 2001, os países participantes da Habitat II reuniram-se, em Nova York, na Conferência Istambul+5, para avaliar as estratégias propostas em 1996. Foi constatado que as ações governamentais neste campo foram pouco significativas. Para estimular os governos a implementarem políticas de acesso à moradia às famílias de baixa renda foi elaborado um plano contra a pobreza e às precárias condições de moradia em diversas cidades do mundo. A dificuldade em adquirir um imóvel não é apenas resultado dos baixos salários. A especulação imobiliária dificultou ainda mais a aquisição da casa Para saber mais sobre a Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos – Habitat II visite o site da ONU <www.un.org> e leia sobre as temáticas que envolveram a situação dos assentamentos. própria por milhares de pessoas. A supervalorização das áreas centrais condicionou a habitação das periferias pelos menos favorecidos, trazendo como conseqüência a segregação espacial. Distantes do centro da cidade, estes moradores não têm acesso à infraestrutura adequada, fato que contribui para a redução dos níveis de qualidade de vida. A ausência de ações efetivas na solução dos problemas urbanos como a submoradia, o subemprego e a segregação espacial, acaba agravando outro: a violência urbana. e-Tec Brasil 36 Plano Diretor 6.1.2 Violência urbana Homicídios, assaltos, sequestros, roubos e outras manifestações violentas atingem milhares de pessoas em todo o mundo. É importante destacar que existem pesquisas científicas, como os de Durkhein, que comprovam a inexistência da relação direta entre a pobreza e a violência. Segundo esses estudos, a violência se manifesta em indivíduos que têm propensão para a criminalidade, independente de sua condição socioeconômica. A Índia, por exemplo, considerada mais pobre que o Brasil, apresenta índices de violências menores que os nossos. Para se ter uma ideia da proporção, o índice de homicídios do Rio de Janeiro (59,4) é quase trinta vezes maior que o de Mumbai (2,44). O índice de homicídios é a relação entre o número de mortes em um ano para cada grupo de 100 mil pessoas. Segundo Wauselfisz (2004), os cinco países mais violentos são respectivamente: Colômbia, El Salvador, Rússia, Brasil, Venezuela, porém, não são os mais pobres do mundo. Estudos científicos, como a tese do “capital social” de Durkhein, explicam que a atuação das instituições sociais (família, escola, igrejas, governo, e outras) contribui significativamente para a redução da violência, pois ao sentir-se parte do grupo social, o indivíduo tem pouca propensão à criminalidade. Lembre-se que em Mumbai, cidade hindu onde a crença religiosa está acima de tudo, a Igreja exerce importante função na redução da violência. Portanto, a redução da violência urbana esta diretamente relacionada à inclusão social. O esforço para solucionar esses problemas sociais deve ser conjunto entre o poder público e a sociedade civil organizada. Torna-se fundamental que os governos busquem melhores condições sociais e também ambientais nas cidades. Devem aplicar medidas que melhorem o cotidiano das pessoas, como a implantação de parques, áreas verdes, arborização das ruas, sistema de coleta seletiva de lixo, transporte coletivo eficiente, moradias populares sadias, saneamento básico, fiscalização das emissões de poluentes atmosféricos por veículos automotores e indústrias, etc. Aula 6 – Os problemas urbanos 37 Sobre o capital social consulte a obra “A Divisão Social do Trabalho I” de Emile Durkheim, publicada em São Paulo pela Editora Nacional, em 1979 que aborda uma reflexão das ações do homem no convívio social. e-Tec Brasil À sociedade civil cabe a busca por um ambiente mais saudável para toda a coletividade. Todos nós devemos colaborar para a construção de uma cidade mais limpa e organizada, adotando ações simples em nosso dia-a-dia, como por exemplo, não jogando lixo nas ruas, separando o lixo que pode ser reciclado ou reaproveitado, reduzindo a produção do lixo, preservando áreas verdes, preferindo o transporte coletivo ao transporte individual, utilizando biocombustíveis, evitando o desperdício de água, etc. 6.1.3 Os resíduos sólidos urbanos Um dos problemas mais sérios que qualquer cidade do mundo enfrenta está relacionado à produção e ao destino final do lixo produzido pela sociedade. Diante desta situação, o que seria ideal fazer? Você separa o lixo que produz? Em seu município existe coleta seletiva do lixo? O destino final do lixo em sua cidade é o aterro sanitário ou o lixão? As questões anteriores têm como objetivo levar você a refletir sobre o seu consumo e, consequentemente, sobre a sua produção diária de lixo. Caso você possa fazer algo para mudar essa situação, faça! As ações globais se efetivam a partir da soma das ações locais. O lixo, ou seja, os resíduos sólidos, produzidos na cidade devem ser analisados sob a ótica da saúde pública e do meio ambiente. O inadequado destino final do lixo pode resultar na transmissão de diferentes doenças e na forte degradação ambiental. “A construção de aterros sanitários, embora minimize os impactos ambientais, não é apontada como solução para o problema” (MOREIRA; SENE, 2008). São inúmeros os problemas relacionados à implantação de um aterro sanitário como, por exemplo, a possibilidade de poluir o solo e os lençóis freáticos, a resistência dos moradores da área selecionada, etc. Portanto a solução dos problemas sociais e ambientais das cidades depende de ações do governo em parceria com a sociedade. O melhor caminho para evitar tais problemas ou enfrentá-los quando surgirem é o planejamento. Curiosidade! Cada pessoa produz em média 800 g a 1kg de lixo por dia. Isto significa que somente em São Paulo são geradas aproximadamente 15 mil ton de e-Tec Brasil 38 Plano Diretor lixo por dia. Isso equivale a 3750 caminhões baú diariamente. Em fila, esses caminhões cobririam por ano a distância entre São Paulo e Nova York ida e volta. Há cerca de 40 anos, a quantidade de resíduos ou lixo era bem menor que a produzida atualmente. Ecoguia. Disponível em <www.ecoguia.com.br/index1.html> Acesso em: 23 fev. 2008. Resumo Nesta aula abordamos os principais problemas dos centros urbanos, destacando a submoradia, a violência, o subemprego e a geração dos resíduos sólidos, que atualmente constitui um grave entrave à sustentabilidade devido ao consumismo. Na próxima aula abordaremos a qualidade de vida nos centros urbanos. Sobre a implantação de um aterro sanitário acesse o site <www.resol.com.br> Atividades de aprendizagem 1. Por que as ações locais são importantes para mudanças globais? 2. Qual é o destino final do lixo em seu município? Aula 6 – Os problemas urbanos 39 e-Tec Brasil Aula 7 – Qualidade de vida nos centros urbanos Com o advento do êxodo rural os centros urbanos passaram por muitas mudanças, entre elas a perda da qualidade ambiental. Nesta aula abordaremos a qualidade da vida, indispensável à sobrevivência da espécie humana. 7.1 A qualidade de vida A discussão sobre qualidade de vida é muito relativa. Não há consenso entre os cientistas sobre o conceito de qualidade de vida. Cada autor apresenta uma interpretação de acordo com o enfoque que pretende dar ao tema. Para Barbosa (1996), “o tema é permeado por indicadores objetivos e subjetivos, num contexto de percepção do indivíduo em relação a sua vida cotidiana e ao meio em que vive”. De acordo com o mesmo autor, podemos definir como indicadores objetivos da qualidade de vida os fatores econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos, etc. Os indicadores subjetivos podem ser classificados como a percepção do indivíduo frente a si mesmo e ao mundo, o estilo de vida adotado por cada um, etc. Esses indicadores relacionam-se entre si de forma direta com implicações significativas na vida da pessoa e da sociedade determinando o nível da qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. A qualidade de vida está relacionada ao estilo de vida adotado por cada um de nós, considerando fatores como a saúde, o bem-estar físico, psicológico, emocional e mental, a educação, a expectativa de vida, etc. (ROEDER, 2003). Costumamos dizer que estamos perdendo a qualidade de vida. Esta afirmação está fundamentada na ideia de que os problemas relacionados ao ambiente em que vivemos estão se agravando e consequentemente atingindo nossa saúde, nosso bem-estar, etc. 41 e-Tec Brasil Nas grandes cidades, convivemos com os congestionamentos, poluição do ar, violência, falta de moradias sadias, entre tantos outros que conduzem muitas pessoas ao chamado “estresse urbano”. O estresse urbano pode ser entendido como o estado de cansaço físico e mental responsável por diversas alterações em nossa saúde, portanto, está diretamente relacionado à qualidade de vida. Nas cidades pequenas o “estresse urbano” atinge um número menor de moradores, pois o modo de vida é bem mais tranquilo (embora os problemas sejam os mesmos). Neste contexto, podemos afirmar que a qualidade de vida nas cidades pequenas é melhor? Devemos lembrar, por exemplo, que nessas cidades a assistência de alguns serviços especializados na área de saúde não satisfaz plenamente as necessidades da população. Dessa maneira, onde temos a melhor qualidade de vida? Nas grandes ou pequenas cidades? Provavelmente, as respostas a essa questão não sejam as mesmas para cada um de nós. Alguns responderão que a qualidade de vida é melhor nas pequenas cidades e outros indicarão as grandes cidades, cada um com suas justificativas pessoais, pois, conforme já estudamos, a qualidade de vida está relacionada, entre outros fatores, à percepção sobre o modo de vida individual. Para direcionarmos esta discussão vamos analisar algumas constatações feitas a partir do final do século XX, apresentadas por Anne Versallhes (2004). 7.1.1 Constatações sociais: • 1/5 da população mundial não tem acesso à água potável e a água contaminada mata mais do que a AIDS; • 1/5 da população mundial sofre de desnutrição; • 82,6% do mercado mundial de medicamentos está dividido entre a América do Norte, a Europa e o Japão; • 1/5 da população mundial com mais de 15 anos é analfabeta; • as mulheres detêm apenas 1% da renda mundial; e-Tec Brasil 42 Plano Diretor • em 2050, 85% da população mundial viverá em países em desenvolvimento. 7.1.2 Constatações ambientais: • desaparecimento da biodiversidade; • desaparecimento dos habitats naturais; • transformação dos ecossistemas; • mudança climática; • catástrofes naturais; • poluições; • desmatamento; • desertificação. 7.1.3 Constatações econômicas: • desaparecimento das economias não capitalistas; • aparecimento de economias paralelas; • crescentes monopolizações; • globalização; • intensificação dos fluxos financeiros e da especulação; • crises petrolíferas. 7.1.4 Constatações tecnológicas: • aparecimento das “tecnologias limpas”; • descoberta de novos materiais; • intensificação da automação; • aumento da circulação da informação. Aula 7 – Qualidade de vida nos centros urbanos 43 e-Tec Brasil 7.1.5 Constatações filosóficas: • desaparecimento da ideologia marxista; • excesso de liberalismo; • tentativa de conciliar liberdade e justiça social; • construção de uma ética da responsabilidade; • reafirmação dos direitos humanos; • reafirmação das necessidades básicas; • preocupação com as futuras gerações. A partir dos tópicos citados anteriormente, podemos constatar que a qualidade de vida decaiu devido à degradação ambiental, mas cresceu a preocupação em melhorá-la. Através das constatações sociais percebemos que o individualismo, típico do capitalismo, ainda é muito forte entre nós. Esse individualismo revela dicotomias gritantes como, por exemplo, parcela significativa da população dos países pobres não ter acesso a tratamentos médicos, enquanto mais de 80% dos medicamentos circulam entre os países ricos. O desmatamento, as desertificações, as mudanças climáticas, entre outras constatações ambientais podem ser consideradas reflexos diretos das alterações econômicas. O consumismo, necessário ao crescimento econômico, acelerou o processo de degradação ambiental, contribuindo para a queda da qualidade do ar, da água, do solo, etc. Contudo, percebemos nas constatações tecnológicas e filosóficas que a sociedade mundial tende a adquirir consciência sobre os problemas que mais afetam sua qualidade de vida e, desta maneira, buscar meios para sua manutenção e melhoria. Meios como, por exemplo, a adoção de um novo estilo de vida calcado nos princípios da sustentabilidade, que priorizem a coletividade e não o individualismo, o consumo racional e não o consumismo. Portanto, é preciso planejar em moldes sustentáveis, isto é, pensar e agir em prol de todos, para que tenhamos uma sociedade mais justa socialmente, equilibrada economicamente e ambientalmente correta. e-Tec Brasil 44 Plano Diretor Resumo Nesta aula vimos que a qualidade de vida é relativa e podemos utilizar indicadores objetivos tais como fatores econômicos, sociais, entre outros, e indicadores subjetivos como a percepção do indivíduo sobre o mundo, como ferramentas para mensurar a qualidade de vida. Ainda discutimos que dependendo do ponto de vista cidades menores podem parecer atrativas no que se refere à qualidade, mas ao mesmo tempo, elas podem não atender todas as necessidades do indivíduo. Na nossa próxima aula, avaliaremos o planejamento territorial. Atividades de aprendizagem 1. Como você considera a qualidade de sua própria vida? 2. Em que a atitude sustentável pode contribuir para a melhora da qualidade de vida? Aula 7 – Qualidade de vida nos centros urbanos 45 e-Tec Brasil Aula 8 – O planejamento territorial da cidade Com o intuito de atingir a tal qualidade de vida almejada, é necessário antes tudo, aprender a planejar. O objetivo desta aula é elucidar um conceito muito importante para todos os habitantes de uma cidade: o Planejamento. 8.1 O que significa planejar? Planejar significa definir claramente um objetivo que desejamos alcançar. Aquele que planeja não improvisa. Todos nós planejamos algo: uma viagem, uma reforma, a compra de uma casa, de um carro, etc. Planejar significa programar uma ação futura. Provavelmente, você planejou tornar-se um técnico em Gestão Pública, ou seja, definiu esse curso como um objetivo a ser alcançado e deve estar fazendo o possível para que isso aconteça. Com o planejamento territorial não é muito diferente. Planejar o território é o mesmo que definir a melhor maneira de ocupar e organizar uma cidade, município ou região, selecionando as áreas propícias para cada atividade que desejamos desenvolver. 8.2 Mas, por que planejar a cidade? Existem diversos motivos para planejar uma cidade e o Instituto Polis indica os seguintes: • Para possibilitar o acesso igualitário aos benefícios que a cidade pode oferecer aos seus habitantes. • Para garantir o uso sustentável dos recursos naturais no presente, sem comprometê-los para o futuro. • Para resolver os problemas sociais, econômicos e ambientais que afetam a qualidade de vida. 47 e-Tec Brasil • Para que todos estejam comprometidos com o objetivo de construir uma cidade sustentável: “a cidade que queremos”. • Para garantir condições de financiamento do desenvolvimento urbano. Você pode perceber que motivos não faltam para fazermos o planejamento territorial de nossas cidades. Mas, como realizá-lo? Vejamos quais são as etapas necessárias. 8.3 Etapas do planejamento da cidade Todo processo de planejamento segue quatro etapas principais: a leitura da realidade local; o estabelecimento de acordos e parcerias; a implementação; e a avaliação/revisão (POLIS, 2008). Primeiramente, devemos identificar os fatores sociais, econômicos e políticos que atuam no processo de urbanização, para em seguida detectarmos os problemas que provocam a perda da qualidade de vida. Tendo conhecimento dos problemas e de suas causas devemos buscar instrumentos que possibilitem a superação dos mesmos. O estabelecimento de acordos e parcerias deve induzir o comprometimento de todos os agentes ou segmentos da sociedade envolvidos no processo como garantia de sucesso na implementação, avaliação e revisão do planejamento. A execução do planejamento territorial pela administração pública do município depende da elaboração de um conjunto de planos como: o Plano Diretor, o Plano Plurianual de Investimentos, a Lei Orgânica Municipal, o Plano de Ação do Governo e os Planos Setoriais (IBAM, 1994). Vamos entender o que é cada um desses planos! O Plano Diretor é um plano de caráter geral, ou seja, um instrumento básico de desenvolvimento da política urbana. O Plano de Ação do Governo é um instrumento estabelecido pela administração municipal que vigora durante o mandato de cada prefeito. É um planejamento de médio prazo que deve ser coerente às diretrizes do Plano Diretor e com os recursos disponíveis. e-Tec Brasil 48 Plano Diretor O Plano Plurianual de Investimentos determina os gastos anuais necessários à realização de obras e projetos estabelecidos no Plano de Ação de Governo ou no Plano Diretor. Os Planos Setoriais podem servir como instrumento de encaminhamento de problemas em diversos setores como, por exemplo, habitação, saneamento básico, educação, etc., pode se constituir em um poderoso mecanismo para obtenção de recursos externos e cooperação com organismos federais, estaduais e até internacionais. Os Planos Setoriais têm como base as diretrizes e propostas contidas no Plano Diretor, podendo conter os seguintes elementos: • caracterização do problema em determinado setor; • apresentação de soluções alternativas para o problema; • definição de medidas e elementos que viabilizam tecnicamente as soluções apresentadas; • estimativa de custos para a execução do plano; • cronograma geral para a implementação do plano. A prática do planejamento territorial do município exige, além de capacidade técnica e política, a criação de meios que garantam a vinculação do processo de planejamento com os mecanismos de tomada de decisão, ou seja, da institucionalização do processo de planejamento. A institucionalização do planejamento territorial do município começa com a definição dos propósitos da administração municipal e das ações que serão realizadas diretamente ou em parceria com o governo federal ou estadual (IBAM, 1994). Para fortalecer o processo de planejamento municipal devemos conceber o planejamento como sistema. Sistema é o conjunto de elementos que se relacionam e interagem no sentido de alcançar determinados objetivos. Nos municípios de pequeno porte o sistema de planejamento pode ser constituído pelo prefeito e seus auxiliares diretos que deverão promover a participação popular. Aula 8 – O planejamento territorial da cidade 49 e-Tec Brasil Para que o planejamento funcione como um sistema se faz necessária uma articulação precisa entre o núcleo responsável pela elaboração das ações, o órgão encarregado do orçamento e aquele que executará a ação. O processo de planejamento deve ser democrático, oportunizando a participação do indivíduo na tomada de decisão. Quanto maior o município mais complexo se torna o sistema de planejamento, sendo necessária a criação de um órgão de planejamento e coordenação. Esse órgão deverá ser responsável pela concepção de uma metodologia de planejamento que deverá ser repassada para todos os setores da prefeitura Resumo Sobre Planejamento você pode acessar o site do governo <http://www.planejamento.gov. br/secretaria.asp?sec=10> que revela como as cidades estão estruturadas e como acontece o planejamento das ações destas. Nesta aula estudamos a importância do planejamento para melhor fazer uso do solo e das condições ambientais de uma cidade. Vimos também que todo processo de planejamento segue quatro etapas principais: a leitura da realidade local, o estabelecimento de acordos e parcerias, a implementação, e a avaliação/revisão dos planos. Na próxima aula abordaremos o que pode acontecer se não planejarmos. Atividades de aprendizagem 1. Por que você escolheu realizar esse curso à distância? 2. Como você planejou realizar esse curso à distância? e-Tec Brasil 50 Plano Diretor Aula 9 – O risco de não planejar Muito bem! Já sabemos, porque devemos planejar! Mas, e os municípios que não planejam que riscos correm? É o que abordaremos nesta aula. 9.1 E se não Planejar o que acontece? A resposta para esta questão é simples! Sempre que realizamos alguma ação sem planejamento corremos o risco de errar. Neste caso, quando não planejamos tentamos improvisar e nem sempre o improviso traz bons resultados. Com os municípios não é diferente. O município que não planeja corre o risco de enfrentar a estagnação econômica, a migração da população jovem, a formação de favelas, problemas como os deslizamentos de encostas, as enchentes urbanas, o desperdício de recursos, etc. Antes que isso aconteça... ... o melhor que temos a fazer em relação ao desenvolvimento urbano é planejar. Não há a necessidade de existir uma secretaria exclusiva para o planejamento territorial, principalmente nos municípios pequenos. O importante é que todas as ações sejam coordenadas, que os planejadores conheçam a realidade local e tenham conhecimento do processo de planejamento. Caso o município não tenha uma equipe de pessoas habilitadas, pode contratar consultoria externa, que entre suas funções estará a de capacitar os profissionais locais (IBAM, 1994). O município onde você mora já realizou algum planejamento? Qual foi o resultado? Na maioria das cidades brasileiras o que ocorre na realidade é muito diferente daquilo que foi planejado. Isso se deve ao fato de que muitos municípios seguiram o padrão tradicional de planejamento urbano, institucionalizado nas administrações municipais a partir da década de 1970, em meio à ditadura militar. 51 e-Tec Brasil Esse modelo correspondia às ideias de um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado que era executado ano a ano para se atingir a cidade desejada. A implementação do plano era responsabilidade exclusiva do poder público municipal, que definia os padrões de organização da cidade através de investimentos públicos e da aplicação de uma legislação de uso e ocupação do solo (Lei Orgânica do Município). O território era dividido em zonas diferenciadas (zoneamento), definidas a partir de parâmetros específicos como a taxa de ocupação, coeficientes de aproveitamento, tamanho dos lotes, etc. O zoneamento, geralmente, indicava os usos proibidos ou permitidos da cidade. As obras planejadas iam muito além da capacidade de realização o município (POLIS, 2002). Esse modelo, importado dos países ricos, não refletiu a realidade da sociedade brasileira. Era um planejamento tecnocrata, autoritário, complexo e de difícil aplicação. A cidade era considerada um objeto técnico e a legislação aplicada deveria apenas regular o seu funcionamento. Não eram reconhecidas as injustiças no território da cidade. No final dos anos 1970, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado começou a ser questionado pelos movimentos sociais que lutavam pela reforma urbana, chamando a atenção do poder público para a cidade irregular, informal e clandestina. O Movimento Popular de Reforma Urbana encaminhou uma proposta de reformulação da legislação urbana vigente, através de uma Emenda Popular de Reforma Urbana, ao Congresso Constituinte de 1988. A proposta foi aceita e a Constituição Federal de 1988 dedicou um capítulo inteiro à Política Urbana, elegendo o Plano Diretor como instrumento fundamental do desenvolvimento municipal. Forneceu instrumentos para intervenção no mercado da terra urbana, possibilitando uma ação mais efetiva e direta na coerção à prática especulativa sobre o solo através do artigo 182, e seus parágrafos, e do artigo 183. A Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988), determina: e-Tec Brasil 52 Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Plano Diretor § 1.º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico § 2.º a propriedade cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Art. 183 – Aquele que possuir como sua área urbana de até 250m², por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Contudo, a aplicação desses instrumentos esbarrava na ilegalidade. Era necessária uma legislação complementar que regulamentasse os princípios e instrumentos enunciados no texto constitucional. Depois de onze anos de negociação entre o poder público e os diversos setores da sociedade civil, foi promulgada a Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que regulamentou a Política Urbana Brasileira. (ULTRAMARI, 2002). Com a promulgação do Estatuto da Cidade e sua vigência em território nacional os municípios passaram a ter respaldo legal para construírem ou revisarem seus Planos Diretores dentro de uma nova proposta, concebida a partir da ideia de que a propriedade assim como toda a cidade deve atender sua função social. Resumo Abordamos nesta aula as consequências do não planejamento que resulta em estagnação econômica, a migração da população jovem, a formação de favelas, problemas como os deslizamentos de encostas, as enchentes urbanas, o desperdício de recursos, etc. Vimos também que ano de 2001 foi promulgada a Lei Federal 10.257, que institui o Estatuto da Cidade, regulamentando a Política Urbana Brasileira. Atividades de aprendizagem 1. Você considera que sua cidade foi planejada? Aula 9 – O risco de não planejar 53 e-Tec Brasil 2. Você consegue imaginar uma cidade que não tenha qualquer tipo de planejamento? Como seria? Anotações e-Tec Brasil 54 Plano Diretor Aula 10 – Desenvolvimento rural Ao planejarmos o desenvolvimento rural devemos considerar que a diferenciação do campo em relação à cidade já não pode mais ser feita a partir das atividades econômicas desenvolvidas nestas duas áreas distintas do município. No meio rural presenciamos o crescente envolvimento dos trabalhadores em atividades que há pouco tempo eram características exclusivas da cidade. Cada vez mais os trabalhadores rurais estão envolvidos em atividades não-agrícolas, isto é, atividades do setor secundário e terciário como, por exemplo, na indústria de transformação e da construção civil, na prestação de serviços pessoais ou sociais, etc. Nesta aula, avaliaremos os desafios do desenvolvimento sustentável rural. 10.1 A realidade rural brasileira No ano de 1997, do total de 14 milhões de pessoas empregadas no meio rural, aproximadamente 4 milhões atuavam em atividades não-agrícolas. No nordeste, aproximadamente de 25% da população rural ocupava atividades não agrícolas e em São Paulo essa proporção já ultrapassava 50%. A maioria das atividades não-agrícolas no campo exige baixo nível de instrução e baixa qualificação profissional, contudo, é necessário que o governo local incentive a qualificação e a educação para promover o desenvolvimento humano e, consequentemente, promover o desenvolvimento rural. De acordo com Del Grossi (1999) a renda dos trabalhadores empregados em atividades não-agrícolas é geralmente 50% maior que a renda das atividades agrícolas. Segundo Kageyama (1999), os domicílios formados por trabalhadores ocupados em atividades agrícolas e não-agrícolas tendem a apresentar melhores condições de vida (renda, educação, habitação, etc.). Portanto, essa nova dinâmica do trabalho do campo deve ser considerada no planejamento rural. Entre as políticas públicas para o desenvolvimento rural, Kageyama (1999) indica as políticas de emprego e renda; políticas de fortalecimento da agricultura familiar; e políticas sociais e regionais de assistência, sendo fundamental melhorar as condições de vida no meio rural para que seja possível o pleno desenvolvimento do campo. 55 e-Tec Brasil Campanhola e Silva (1999) destacam outras três importantes políticas públicas que consideram essenciais ao desenvolvimento rural. São elas: infraestrutura básica; incentivos à auto-construção rural; e programas de garantia de renda mínima. A infraestrutura básica – rede de esgoto, abastecimento de água, energia elétrica, serviços de saúde, educação, transporte, etc. – no meio rural brasileiro ainda é muito crítica. As restrições de alguns serviços públicos no meio rural inviabilizam o desenvolvimento de atividades não-agrícolas, as quais poderiam contribuir para o aumento do emprego e renda nesta área. Incentivar a auto-construção significa estimular a construção de moradias sadias no meio rural pelos próprios habitantes do campo. Desta maneira, o número de moradias aumenta, assim como aumenta o emprego e renda. A renda mínima poderá ser garantida através das aposentadorias e pensões. CAMPANHOLA E SILVA (1999) destacam três instrumentos de apoio às políticas de desenvolvimento rural, são eles: educação, pesquisa associada à extensão rural, e associativismo. A partir dessa análise podemos perceber que o desenvolvimento rural enfrenta alguns desafios. É precária a vida dos habitantes do campo. Durante o planejamento deverão ser destacados meios de promover o nível de renda socialmente aceitável à população rural que seja compatível ao obtido pela população das cidades. Wanderley (2003) ao resenhar a obra de José Eli da Veiga - Cidades Imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula - destaca que “na origem deste problema, está a questão fundiária ainda não resolvida em nosso país. Basta lembrar que a primeira Lei de Terras brasileira, de 1850, foi promulgada, justamente, para impedir ao trabalhador livre – ex-escravo ou imigrante estrangeiro - o acesso à propriedade da terra. Da mesma forma, mais recentemente, o Estatuto da Terra de 1964 – nossa Lei de Orientação Agrícola - tendeu muito mais a subordinar a atividade agrícola aos interesses dos grandes proprietários fundiários. Se, numa sociedade moderna, a existência de terras sem agricultores parece destoante, mais absurda ainda é a existência de agricultores sem terra, resultado da excessiva concentração fundiária, que a modernização da agricultura não conseguiu reduzir.” e-Tec Brasil 56 Plano Diretor A mesma autora, afirma que deve ser vencido o isolamento das populações rurais, isto é, deve haver uma ligação entre o meio rural e a dinâmica urbana regional ou nacional. Não significa urbanizar o rural, mas promover uma articulação com a cidade, para promover a melhoria da qualidade de vida no campo. Assegurar a cidadania do homem do campo, no campo, este é outro desafio. O que se pretende é que o brasileiro que vive no meio rural não seja estigmatizado por esta condição de rural e que não precise deixar o campo para ser reconhecido como cidadão (Wanderley, 2003). Resumo Vimos nesta aula que no meio rural parte da população não ocupa atividade agrícola, e que essas atividades não agrícolas não exige alta qualificação e tem baixos salários, desmotivando a permanência no ambiente rural, mas apesar disso, ainda representa um ganho cerca de 50% maior do que aqueles que trabalham na agricultura. Discutiu-se ainda a necessidade de haver uma articulação entre o campo e a cidade, promovendo uma melhoria na qualidade de vida e a cidadania. Atividades de aprendizagem 1. Por que existe tanta dificuldade em segurar o jovem no campo? 2. Quais benefícios para a sociedade urbana poderiam ser atribuídos caso os municípios rurais atingissem a sustentabilidade? Aula 10 – Desenvolvimento rural 57 e-Tec Brasil Aula 11 – Plano diretor Nas aulas anteriores vimos a importância de haver planejamento urbano. Nesta aula abordaremos uma importante ferramenta para atingir a cidade que queremos. 11.1 Plano diretor O Plano Diretor é uma lei municipal criada com a participação de todos, aprovada na Câmara Municipal, que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade como um todo, tanto das áreas urbanas como das rurais. Esta lei deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. O principal objetivo do Plano Diretor é definir como a propriedade cumprirá sua função social, de maneira a garantir o acesso à terra urbana, de modo que todos os cidadãos tenham o direito à moradia digna e aos serviços urbanos. O Plano Diretor não é mais um simples instrumento de regulação do uso do solo urbano. Trata-se de um instrumento de indução do desenvolvimento sustentável das cidades que deve assegurar novos espaços à moradia de pessoas de baixa renda e prever condições atraentes para novas empresas se instalarem no município. Cada município deve ter um Plano Diretor para que todas as regras do Estatuto da Cidade sejam aplicadas. O Plano Diretor diz quais regras serão usadas em cada área do município. As propostas integrantes do plano devem ser justas socialmente e exequíveis tecnicamente. Ele define o futuro da cidade de acordo com o projeto de cidade que se quer. Embora o plano diretor seja considerado um instrumento de política urbana ele deve contemplar todo o território do município. LEITE (1991) ao referir-se ao assunto afirma que: [...] não se pode assegurar que o plano diretor só deve considerar a zona urbana, a cidade, já que o desenvolvimento desta depende daquela, ou seja, a zona rural. Assim, o município pode e deve considerar 59 e-Tec Brasil todo o seu território para promover o seu desenvolvimento urbano. [...] O que o município não pode é promover uma política agrária e instituir um zoneamento rural. O Plano Diretor somente tem validade quando é feito e colocado em prática com a participação popular. Quais municípios devem ter um Plano Diretor? O Estatuto da cidade definiu um grupo de municípios obrigados a ter um Plano Diretor Participativo. São aqueles que possuem as seguintes particularidades: • Possuem mais de 20 mil habitantes; • São integrantes de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; • São integrantes de áreas de especial interesse turístico, segundo as definições dos estados e da União; • Estão situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental na região ou no País, como usinas hidrelétricas, aeroportos, portos, grandes obras rodoviárias. Cada um dos 1683 municípios que se encaixa nessas categorias tinha até outubro de 2006 para elaborar ou revisar seu plano diretor, caso contrário o prefeito poderia responder por improbidade administrativa. As dificuldades apresentadas pelos municípios motivaram a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) a aprovar a prorrogação para 30 de junho de 2008 para a aprovação dos Planos Diretores Participativos (PDP). Os prefeitos deveriam enviar o projeto do PDP às câmaras de vereadores até 28 de fevereiro do mesmo ano (Polis, 2008). É recomendável que todos os municípios tenham um Plano Diretor, mesmo os que não se encaixam em nenhuma dessas categorias. Devemos planejar nosso futuro e decidir como queremos que nossas cidades cresçam É importante que todos os municípios construam seus planos diretores, pois somente através deles será possível aplicar os instrumentos contidos no Estatuto da Cidade. e-Tec Brasil 60 Plano Diretor Resumo Vimos nesta aula que o plano diretor é um instrumento de indução ao desenvolvimento sustentável das cidades, assegurando moradia digna às pessoas e, ao mesmo tempo, prevê o desenvolvimento econômico do Município sem comprometer a qualidade de vida. Dentre as condições que obriga os municípios a terem seu plano diretor destaca-se aqueles que possuem uma população maior que 20 mil habitantes. Na próxima aula abordaremos o Plano Diretor Participativo. Saiba Mais sobre os Aspectos Técnicos do Plano Diretor, Leia o Artigo da Socióloga SONIA NAHAS DE CARVALHO < http://www. scielo.br/pdf/spp/v15n4/10379. pdf> que aborda como as articulações do plano diretor e da política de desenvolvimento urbano tenham um alcance social de grande repercussão. Atividades de aprendizagem 1. Seu município se encaixa em alguma das condições citadas nesta aula para ser obrigado a elaborar o Plano Diretor? 2. Quais os benefícios de um Plano Diretor? Anotações Aula 11 – Plano diretor 61 e-Tec Brasil Aula 12 – A construção do plano diretor participativo – Parte I Uma cidade é feita para todos, portanto, a participação popular é imprescindível no sucesso da construção e implantação do Plano Diretor. Nesta aula abordaremos a participação da sociedade na construção do Plano Diretor, com o intuito de responder a seguinte questão: “Afinal, que cidade queremos?” 12.1 A cidade que queremos Em primeiro lugar devemos analisar e avaliar a cidade que temos para depois podermos planejar a cidade que queremos! Não há nenhuma fórmula mágica ou receita pronta para a elaboração do Plano Diretor. Contudo, é necessário que algumas orientações sejam apresentadas neste material, pois esse é o objetivo desse módulo, orientar a elaboração e a revisão do Plano Diretor. É importante destacar que o Plano Diretor deve ser elaborado pela municipalidade. Não é necessário contratar uma equipe externa para elaborar o plano. No máximo pode haver a contratação de uma consultoria. Qualquer município tem condições de construir seu Plano Diretor. Os municípios pequenos têm uma equipe técnica pequena, mas os problemas urbanos são menos complexos que os problemas das grandes cidades, que têm grandes equipes. Portanto, o Plano Diretor deverá ser do tamanho do município, nem maior e nem menor. A Secretaria de Planejamento, Urbanismo e de Obras é a secretaria indicada para assumir a elaboração do Plano Diretor. Porém, a prefeitura toda deve estar envolvida nesse processo, destacando técnicos de diferentes setores para compor a equipe responsável pela construção do Plano Diretor. O prefeito e sua equipe devem estar à frente do processo promovendo e mediando os debates públicos. O ideal é que exista uma equipe técnica permanente para realizar esse trabalho, formada por profissionais de diferentes áreas (habitação, meio ambiente, transporte, saneamento básico, etc.), e por articular a participação da sociedade (POLIS, 2008). A participação da sociedade é indispensável no processo de construção do Plano Diretor, sobretudo na implementação e gestão. 63 e-Tec Brasil As estratégias de intervenção urbana devem ser negociadas e definidas em conjunto por representes da sociedade, do governo local (prefeito, vereadores, secretários, etc.) e das empresas provedoras de infraestrutura urbana. O poder público estadual ou federal deverá participar desde que o município possua em sua área grandes obras como: rodovias; hidrelétricas; portos; aeroportos; etc. De acordo como o Instituto Polis (2008), as etapas de um Plano Diretor Participativo são as seguintes: 12.2 1ª Etapa - Leitura técnica e leitura comunitária da cidade Segundo o Instituto POLIS (2008), na primeira etapa o governo local deverá formar uma equipe que realizará as leituras técnica e comunitária da cidade. Nessas leituras deverão ser identificadas as características os problemas, conflitos e potencialidades do município como um todo. A leitura técnica é feita com dados e informações socioeconômicas, culturais, ambientais e de infraestrutura disponíveis que revelam as condições de vida dos habitantes do município. Esses indicadores podem ser facilmente e-Tec Brasil 64 Plano Diretor obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que realiza a cada dez anos o Censo Demográfico Brasileiro. Para se obter uma leitura real do município é importante identificar a situação atual e compará-la com a dos anos anteriores para verificar se houve ou não evolução. A caracterização geral do município deve ser comparada a de outros municípios da mesma região para se ter ideia do nível de desenvolvimento regional. Nenhuma leitura é exclusivamente técnica. Isso significa que os problemas e as potencialidades podem variar de acordo com a visão da equipe que faz a leitura técnica. Dessa maneira, a leitura participativa permite que visões diferentes sejam confrontadas. Portanto, a leitura técnica deve ser enriquecida com a leitura comunitária. A leitura comunitária serve para apresentar a caracterização da cidade a partir da visão daqueles que vivem nela. Cada cidadão deverá comprometer-se com o futuro de sua cidade, manifestando suas intenções junto ao poder público municipal que legitimará as mesmas. A participação popular nessa etapa, assim como nas demais, exige do poder público a realização de um trabalho de sensibilização, consulta e mobilização e envolvimento da sociedade. Segundo o Instituto Polis (2008) a realização da leitura comunitária segue as seguintes etapas: • identificação dos atores sociais e definição de estratégia de mobilização; • realização de reuniões com os atores sociais; • sistematização das informações; • definição dos eixos estratégicos; • devolução dos resultados à sociedade. Os atores sociais são as pessoas da comunidade que representam aqueles que vivem na cidade. Nem sempre estão organizados em associações ou entidades, no entanto, a identificação dos mesmos é importante começar Aula 12 – A construção do plano diretor participativo – Parte I 65 e-Tec Brasil pelos grupos já existentes como: associação comercial; associação industrial; sindicatos; maçonaria; associações de bairros; igrejas; Rotary Clube, organizações não-governamentais, etc. Muito bem! Já sabemos como identificar os atores sociais, e agora, como coletaremos as informações da sociedade? Existe um método ideal? Existem diferentes métodos ou maneiras de preparar a leitura comunitária. Podem ser usadas fotos, mapas, desenhos, entrevistas, depoimentos, pesquisas em órgãos governamentais e instituições públicas ou privadas (prefeituras, secretarias estaduais, Senai, IBGE, etc.) ou simplesmente registrar a percepção da sociedade em relação à cidade. O objetivo da leitura comunitária é traçar um perfil da cidade que evidencie seus problemas, conflitos e potencialidades do ponto de vista da comunidade. O traçado desse perfil poderá ser facilitado com o uso de mapas. Os mapas ajudam a visualizar as informações contidas nas leituras técnica e comunitária, e localizá-las no território. Podem ser utilizados mapas temáticos (clima, solos, geomorfologia, hidrografia, etc.), de caracterização e distribuição da população e seus movimentos, de uso do solo, da infraestrutura urbana, e da atividade econômica do município. A partir da análise e interpretação de mapas temáticos poderão ser mapeados (as): • os riscos para a ocupação urbana (deslizamentos, enchentes, erosão, etc.); • as áreas para preservação cultural; • a estrutura fundiária; • a evolução histórica da sociedade; • a inserção regional do município; • os indicadores de mobilidade e circulação. e-Tec Brasil 66 Plano Diretor Os mapas de caracterização e distribuição da população e seus movimentos permitirão identificar a população: • absoluta e relativa dos bairros; • por faixa etária e escolaridade; • por índices de emprego e renda; • por índices de crescimento e migração. Os mapas de uso e ocupação do solo facilitarão a visualização de todas as formas de ocupação: regular ou irregular; formais ou informais; vazios urbanos; ocupação rural, etc., indicando os diferentes padrões que existem na cidade. Através dos mapas da infraestrutura urbana será possível confirmar informações sobre: • serviços e equipamentos e os níveis de atendimento dos mesmos; • esgotamento sanitário, água, luz, telefone, drenagem, etc. • educação, saúde, lazer, esporte, etc. Nos mapas da atividade econômica do município poderão ser observadas as atividades econômicas predominantes, em expansão ou retração. Essas duas leituras, depois de confrontadas, devem ser sintetizadas em textos e mapas, nos quais seja possível a identificação das principais tendências, problemas, conflitos e potencialidades do município. A partir das leituras técnica e comunitária deverão ser definidos os eixos do plano, os temas a serem trabalhados, os objetivos a ser alcançados, os instrumentos que serão utilizados e os critérios para a aplicação dos mesmos. Resumo A construção do Plano Diretor deve envolver toda a sociedade. No município, é indicado que a Secretaria de Planejamento Urbanismo e de Obras coordene a construção do Plano Diretor, no entanto, todos os demais órgãos Aula 12 – A construção do plano diretor participativo – Parte I 67 e-Tec Brasil devem participar da elaboração. Primeiramente é necessária a construção da Leitura Técnica da cidade, apontando diretrizes de crescimento, levantando problemas e sugerindo soluções. A leitura comunitária tem como objetivo traçar um perfil da cidade, avaliando não somente os conflitos, mas também as potencialidades do município. Na próxima aula abordaremos as demais etapas da construção do Plano Diretor. Atividades de aprendizagem 1. Cite os passos necessários para realizar uma leitura técnica de uma cidade. 2. Faça um esboço de uma leitura técnica do seu município. e-Tec Brasil 68 Plano Diretor Aula 13 – A construção do plano diretor participativo – Parte II Na aula anterior vimos a Leitura da Cidade, agora daremos continuidade sobre a Construção do Plano Diretor Participativo. 13.1 2ª. Etapa - Definição dos eixos, temas e objetivos do plano diretor Os eixos, temas e objetivos do Plano Diretor deverão ser definidos a partir das reais necessidades e potencialidades do município. É importante definir eixos e temas cruciais para a cidade que, se trabalhados de maneira rápida e eficaz, possam redefinir o destino da mesma. De nada adianta um Plano Diretor tratar de inúmeros temas e não ter capacidade técnica ou financeira para intervir sobre eles. Para cada tema devem ser definidas as estratégias e os instrumentos adequados à transformação da cidade. Vejamos alguns exemplos, apresentado pelo Ministério das Cidades (2004): Eixo: Habitação. Tema: Moradia digna para todos. Objetivo: Ampliar a oferta de novas moradias. Estratégia: fazer a regularização fundiária das áreas irregulares; delimitar áreas para habitação de interesse social; etc. Tema: Expansão ilimitada do município para as periferias. Objetivo: Conter a expansão. Estratégia: Otimizar a infraestrutura instalada; induzir a ocupação de vazios urbanos, suprimir a área de expansão urbana, coibir novos parcelamentos em áreas periféricas; re-qualificar as áreas degradadas. Os temas prioritários do Plano Diretor deverão representar as principais características do município. Por exemplo: se o município possui um patrimônio ambiental um dos temas prioritários deve ser o meio ambiente. Contudo, 69 e-Tec Brasil o plano em si não deve ficar restrito ao aspecto ambiental, deve contemplar diversos aspectos como: culturais, sociais, econômicos, turísticos, etc. É importante que ao final desta etapa os eixos, os temas, os objetivos e estratégias sejam discutidos com os diferentes segmentos da sociedade e com todas as instituições envolvidas na construção do Plano Diretor. 13.2 3ª. Etapa – Elaboração do projeto de lei do plano diretor e definição dos instrumentos O Projeto de Lei é uma proposta de lei que será discutida e alterada se necessário, sendo votada artigo por artigo, na Câmara Municipal. Torna-se uma lei a partir do momento em que é aprovada. Qualquer um de nós pode participar da elaboração do Projeto de Lei decidindo o que deve ou não constar nele. É muito importante é que a proposta de lei seja pactuada por todos. Para isso, é importante que o assunto a ser tratado seja apresentado, explicado e debatido entre todos. Os instrumentos são ferramentas que viabilizam as intenções expressas no Plano Diretor. O estatuto da cidade oferece 30 instrumentos para que o município promova o desenvolvimento urbano. Além dos instrumentos normativos, o Estatuto oferece instrumentos para induzir a inclusão territorial da população marginalizada e para promover uma gestão democrática da cidade. O estatuto da cidade estabelece ainda que os instrumentos de política econômica, tributária e financeira dos municípios devem ser adequados aos objetivos do planejamento territorial. Isso significa que deve haver coerência entre o modo de aplicar tributos (como IPTU, ISS e, inclusive, a Lei Orçamentária) e o Plano Diretor do Município. As propostas de investimentos, inseridas no Plano Diretor, devem orientar as prioridades de governo definidas no Programa Plurianual (PPA) do município, nas diretrizes orçamentárias e nos orçamentos anuais, que serão elaboradas depois do Plano Diretor estar aprovado. Cada município deve escolher os instrumentos adequados a sua realidade. Estes instrumentos devem facilitar o cumprimento da função social da propriedade, ampliar as condições de financiamento do desenvolvimento e-Tec Brasil 70 Plano Diretor urbano e, sobretudo, possibilitar a implantação de um processo de planejamento participativo. Para tanto, é necessária a promoção da participação direta e representativa que pode ocorrer através de conferências e conselhos. As conferências são espaços coletivos de explicitação de ideias sobre a cidade que temos e a cidade que queremos. Os assuntos discutidos devem ser sempre os de interesse do município. As conferências são importantes para enriquecer o debate e para envolver e comprometer todos os segmentos da sociedade na implementação, controle e fiscalização do Plano Diretor. Nessas conferências devem ser eleitos delegados que farão parte dos conselhos. Os conselhos municipais são órgãos colegiados, dos quais participam representantes do poder público e da sociedade, que acompanham, controlam e fiscalizam a implementação do planejamento territorial. Além das conferências, as audiências públicas também são requisitos obrigatórios no processo de discussão para a aprovação do Plano Diretor na Câmara Municipal, sendo condição para validação da lei municipal que institui o Plano Diretor. Segundo Moreira Neto (1992), audiência pública é “um instituto de participação administrativa aberta a indivíduos e a grupos sociais determinados, visando à legitimidade da ação administrativa, formalmente disciplinada em lei, pela qual se exerce o direito de expor tendências, preferências e opções que podem conduzir o Poder Público a uma decisão de maior aceitação consensual.” Cabe ao poder público municipal dar ampla divulgação e facilitar o acesso aos documentos e informações produzidos durante todo o processo participativo de elaboração do Plano Diretor. Essa divulgação e a possibilidade de conhecer documentos e informações são indispensáveis para que parcela significativa da população participe efetivamente nos debates, até a aprovação final do Plano Diretor. Resumo Vimos nesta aula que existem cerca de 30 instrumentos que o município pode utilizar para promover o desenvolvimento urbano. Os instrumentos de política econômica, tributária e financeira do município devem ser adequados aos objetivos do planejamento territorial, ou seja, deve haver coerência entre a aplicação dos tributos (IPTU, ISS, entre outros) e o Plano Diretor do Município. Na próxima aula daremos continuidade à construção do Plano Diretor. Aula 13 – A construção do plano diretor participativo – Parte II 71 e-Tec Brasil Atividades de aprendizagem 1. Liste os temas prioritários de seu Município. 2. O que é um Plano Plurianual (PPA)? Anotações e-Tec Brasil 72 Plano Diretor Aula 15 – O estatuto da cidade Nesta aula abordaremos uma Lei Federal muito importante para todos os cidadãos: o Estatuto da Cidade. 15.1 O que é Estatuto da Cidade? O Estatuto da Cidade é uma Lei Federal (10.257/01) que regulamentou a Política Urbana brasileira (art. 182 e art. 183), ao entrar em vigor em outubro de 2001. Ao regulamentar os artigos constitucionais 182 e 183, o Estatuto da Cidade definiu como obrigatoriedade dos municípios o dever de garantir o direito à cidade a todos os seus habitantes, indicando o planejamento territorial e a gestão ambiental como os meios para este fim. Desta maneira, o enfrentamento das injustiças sociais e ambientais passou a ser o objetivo dos planejadores e gestores urbanos. Com o intuito de promover o planejamento e a gestão urbana dentro dos moldes sustentáveis, o Estatuto da Cidade traçou as Diretrizes Gerais e Instrumentos da Política Urbana Brasileira. 15.2 As diretrizes gerais da política urbana brasileira Entre as diretrizes gerais da política urbana brasileira destacam-se: • Garantia do direito à cidade sustentável; • Gestão democrática da cidade; • Função social da propriedade; • Recuperação dos investimentos públicos que tenham gerado valorização imobiliária; • Distribuição justa dos ônus e benefícios da urbanização; 77 e-Tec Brasil • Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira do desenvolvimento urbano. 15.2.1 Garantia do Direito à Cidade Sustentável A primeira diretriz do Estatuto reconheceu o direito à cidade sustentável como um dos direitos fundamentais da pessoa humana, incluído no conjunto dos direitos humanos. O pleno exercício do direito à cidade sustentável significa assegurar às presentes e futuras gerações condições dignas de vida, de exercício pleno da cidadania e dos direitos humanos, de participar da gestão da cidade e de viver em cidades com qualidade de vida, sob os aspectos sociais e ambientais. 15.2.2 Gestão democrática da Cidade A gestão democrática da cidade é considerada uma diretriz para o desenvolvimento urbano em moldes sustentáveis, com base nos preceitos constitucionais da democracia e da cidadania. Na gestão democrática da cidade, deve ser considerada a contradição estabelecida entre os incluídos e os excluídos, que configura a cidade. Deve-se assumir o compromisso de ampliar as discussões sobre os rumos da cidade, permitindo a participação dos diferentes setores sociais, respeitando-se o exercício da cidadania. O exercício da cidadania, através da participação é a garantia do direito fundamental da pessoa humana, expresso no direito à cidade sustentável. 15.2.3 Função social da propriedade Através da diretriz que trata da ordenação e controle do uso do solo, o Estatuto destaca a necessidade de se evitar a utilização inadequada (subutilização ou não utilização) dos imóveis urbanos em relação à infraestrutura instalada. Passou a induzir o uso e a ocupação do solo para que a propriedade cumpra sua função social, ou seja, os imóveis urbanos devem beneficiar a coletividade e não apenas os seus proprietários. O proprietário de um imóvel urbano dotado de infraestrutura pode ser penalizado se a propriedade estiver sendo subutilizada ou não utilizada. No caso de uma área urbanística onde existam prédios e galpões fechados e abandonados, o Plano Diretor pode, considerando o potencial da infraestrutura instalada, estabelecer os usos que estes imóveis devem ter, como, por exemplo, habitação, centros comunitários, cooperativas, etc. (POLIS, 2002). e-Tec Brasil 78 Plano Diretor De acordo com o §1º. Do artigo 5º, o imóvel é considerado subutilizado no caso do aproveitamento ser inferior ao mínimo definido no Plano Diretor. 15.2.4 Recuperação dos investimentos públicos que tenham gerado valorização imobiliária Você já deve ter percebido em sua cidade que determinadas obras de infraestrutura realizadas com recursos financeiros públicos geram a valorização imobiliária de seu entorno, produzindo ganhos para os proprietários. Entendendo que o poder público deve beneficiar a coletividade e não o indivíduo, o Estatuto da Cidade propôs a recuperação dos investimentos públicos que tenham gerado valorização imobiliária para permitir que os ganhos sejam revertidos a favor de todos dos habitantes da cidade. Esta diretriz propôs mecanismos que permitem a devolução de parte da valorização aos cofres públicos. 15.2.5 Distribuição justa dos ônus e benefícios da urbanização Segundo o Estatuto da Cidade os ônus e benefícios da urbanização devem ser distribuídos de maneira igualitária. Devem ser estabelecidos mecanismos que corrijam as distorções sociais existentes no cenário urbano, pois a maioria não pode continuar perdendo enquanto a minoria ganha com os investimentos públicos. 15.2.6 Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira do desenvolvimento urbano. Esta diretriz incumbe ao poder público municipal a adequação dos seus gastos aos objetivos do desenvolvimento urbano. A arrecadação, proveniente das taxas ou impostos, como o IPTU, ou os recursos financeiros do orçamento público municipal devem ser utilizados para promover a justiça social, e devem ser coerentes com as metas da política de desenvolvimento urbano. As diretrizes gerais da política urbana previstas no Estatuto da Cidade, por se tratarem de normas gerais de direito urbanístico, devem ser seguidas pelas três esferas de poder: Federal, Estadual e Municipal. Contudo, com base no artigo 182 e no princípio de preponderância do interesse, o município é considerado o ente federativo responsável pela promoção da política urbana. Cabe a ele a adequação das diretrizes gerais as suas especificidades. Para tanto, o Estatuto da Cidade disponibiliza novos instrumentos para que o município possa intervir no processo de planejamento e gestão urbana, garantindo a construção de uma cidade sustentável. Aula 15 – O estatuto da cidade 79 e-Tec Brasil Resumo Acesse o site do governo federal <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257. htm> que apresenta a lei que regulamenta as diretrizes gerais na execução da política urbana. Nesta aula nos aprofundamos no estudo do Estatuto da Cidade, vimos que esta definiu como obrigatoriedade dos municípios o dever de garantir o direito à cidade a todos os seus habitantes, dando ênfase ao planejamento territorial e a gestão. A Lei fixou ainda algumas diretrizes gerais da Política Urbana, destacando a garantia à cidade Sustentável e a Gestão Democrática. Na nossa próxima aula avaliaremos o Desenvolvimento Urbano e seus Instrumentos. Atividades de aprendizagem 1. O que você entende sobre cidadania? Você se considera um cidadão participativo? 2. Qual a importância do Estatuto da Cidade para a cidadania? e-Tec Brasil 80 Plano Diretor Aula 14 – A construção do plano diretor participativo – Parte III Nesta aula, daremos continuidade no estudo das etapas da construção do Plano Diretor do Município 14.1 4ª. Etapa - Envio do projeto de lei, discussão e aprovação final na Câmara Municipal. Depois de elaborado o projeto de lei do Plano Diretor deve ser encaminhado à Câmara Municipal que terá a função de aprová-lo ou não, após discuti-lo com a sociedade em audiências públicas. A realização de audiências públicas é obrigatória e as informações transmitidas nelas devem ser em linguagem simples e de fácil entendimento da população. Para que não ocorra retrocesso no processo de construção do Plano Diretor, os vereadores devem participem de todas as etapas anteriores à aprovação. Desta maneira, caso haja necessidade de alterações para melhorar o Plano Diretor essas poderão ser feitas antes da elaboração final do Projeto de Lei. Quando as alterações são feitas na Câmara Municipal, é muito importante que sejam feitas após debates públicos. O que não pode ocorrer é a aprovação de emendas que atendam interesses individuais. Caso isso ocorra o prefeito pode vetá-las. A tramitação do Projeto de Lei do Plano Diretor na Câmara pode variar de um município para outro. Após a aprovação do Plano Diretor pela Câmara, o prefeito deve sancioná-lo, tornando-o assim uma Lei Municipal (POLIS, 2005). No processo de aprovação o prefeito poderá vetar algumas partes do Plano. Trechos como emendas abusivas que beneficiem alguns indivíduos ou partes importantes do Plano. Para que isso não aconteça a população deve estar atenta à participação. Aprovada a lei do Plano Diretor o poder público municipal terá respaldo legal para induzir do desenvolvimento urbano, aplicando os instrumentos definidos como adequados ao processo. 73 e-Tec Brasil 14.2 5ª. Etapa - Implementação do plano e revisão periódica pelo menos a cada dez anos. A lei do Plano Diretor deve estabelecer a estrutura e o processo participativo de planejamento para implementar e monitorar o Plano Diretor. O monitoramento compreende avaliações, atualizações e ajustes sistemáticos, que devem ser definidos na lei. O Plano Diretor deve definir também as instâncias de discussão e decisão do monitoramento, como conselhos, sua composição e suas atribuições. A forma como o sistema de gestão e de planejamento será implementado e monitorado para garantir o controle social dependerá da montagem acordada no pacto de elaboração do Plano Diretor e deverá ser coerente com a capacidade de gestão do município. A conclusão do Plano Diretor não encerra o processo de planejamento. É recomendável que o próprio Plano Diretor determine os meios e a sistemática para revisá-lo. Conforme o Estatuto da Cidade, a lei que institui o Plano Diretor deverá ser revisada pelo menos a cada 10 anos. A revisão e os reajustes deverão ser discutidos e acordados de forma integrada com os demais fóruns de discussão atuantes no município, consolidados em conferências municipais e articuladas com as demais ações implementadas pelos diferentes níveis de governo. Resumo Nesta aula vimos que depois de elaborado o projeto de lei do Plano Diretor este deve ser encaminha à Câmara Municipal que após discuti-lo com a sociedade em audiências públicas poderá aprová-lo, ou não. O prefeito também pode votar emendas abusivas. Uma vez aprovado pela Câmara o prefeito deve sancioná-la, tornando-se, pois, uma Lei Municipal. A cada dez anos é necessária uma revisão do Plano Diretor. Na próxima aula aprofundaremos o estudo do Estatuto da Cidade. Atividades de aprendizagem 1. Cite exemplos de emendas abusivas que podem ser vetadas pelo prefeito no Plano Diretor. e-Tec Brasil 74 Plano Diretor 2. Explique por que a conclusão do Plano Diretor não encerra o processo de Planejamento urbano. Anotações Aula 14 – A construção do plano diretor participativo – Parte III 75 e-Tec Brasil Aula 16 – O s instrumentos da política de desenvolvimento urbano Esta aula tem com objetivo o estudo dos instrumentos da Política Urbana que são definidos no Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/01). 16.1 Os instrumentos da política urbana Os instrumentos da política urbana definidos no Estatuto da Cidade estão situados em três campos: os instrumentos de natureza urbanística dirigidos à indução do uso e ocupação do solo; os instrumentos que ampliam a possibilidade de regularização fundiária; e os instrumentos de democratização da gestão urbana que incorporam a ideia da participação popular nos processos decisórios. Esses instrumentos muniram o poder público de maior poder de intervenção no uso, expansão e desenvolvimento das cidades. 16.2 Instrumentos de intervenção no uso e ocupação do solo Um dos maiores desafios das cidades brasileiras tem sido o enfrentamento da expansão desordenada. O rápido crescimento da população urbana foi acompanhado pela ocupação irregular de áreas mantidas às margens dos investimentos públicos, e pela formação de áreas dotadas de infraestrutura, cada vez mais valorizadas pelo mercado imobiliário. Na tentativa de combater a especulação imobiliária, o Estatuto da Cidade oferece um conjunto de instrumentos a ser utilizado pelo poder público para induzir o pleno desenvolvimento urbano, fazendo cumprir a função social da cidade e da propriedade. Os instrumentos urbanísticos de intervenção no uso e ocupação do solo que analisaremos são os seguintes: • Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios (art. 5º. e art. 6º.); IPTU progressivo no tempo (art. 7º.); desapropriação com pagamento em títulos (art. 8º.); consórcio imobiliário (art. 46); 81 e-Tec Brasil • Outorga onerosa do direito de construir (art. 28 a 31), direito de superfície (art. 21 a 24); • Transferência do Direito de Construir (art. 35); • Operações urbanas consorciadas (art. 32 a 34); • Direito de Preempção (art. 25 a 27). Através da aplicação destes instrumentos urbanísticos o poder público municipal pode garantir a utilização adequada dos imóveis, ou seja, a fazer cumprir a função social da propriedade. Os imóveis localizados em áreas urbanas definidas como prioritárias de ocupação, devem ser ocupados de maneira adequada. Caso isso não ocorra e comprove-se a subutilização ou não utilização, o poder público poderá induzir o uso desses terrenos através da edificação e parcelamento compulsório (art. 5º. e 6º.). Cabe ao município definir os critérios de avaliação do uso das propriedades, pois o conceito de subutilização pode variar de uma situação urbana para outra. Pode ser considerado subutilizado, por exemplo, um terreno sem nenhuma utilização, usado para estacionamento, edificado e inabitado, etc. Através da edificação compulsória poderá ser determinado um prazo para que proprietário apresente um projeto de aproveitamento da propriedade ao órgão competente. No mínimo um ano para entrada do projeto e de dois a partir de sua aprovação para a execução da obra. Caso os prazos fixados não sejam cumpridos, o município poderá aplicar o instrumento do IPTU progressivo no tempo (art. 7º.), que deverá ser aplicado por um período de 5 anos. A alíquota desse imposto poderá dobrar de um ano para outro, até atingir 15% do valor venal do imóvel. Se, mesmo assim, o imóvel continuar ocioso ou subutilizado, o município poderá desapropriá-lo pelo preço-base de cálculo do IPTU, utilizando títulos da dívida pública como forma de pagamento (art. 8º.). Em áreas onde existe carência de infraestrutura ou imóveis subutilizados ou não utilizados, o poder público pode atuar em parceria com a iniciativa privada, através do consórcio imobiliário (art. 46). O proprietário obrigado a parcelar, edificar ou utilizar seu imóvel mas que não possua condições finan- e-Tec Brasil 82 Plano Diretor ceiras para isso pode recorrer ao poder público municipal requerendo o estabelecimento do consórcio imobiliário. O poder público, por sua vez, urbaniza ou edifica o imóvel e, após a conclusão das obras, transfere ao proprietário unidades imobiliárias ou edificadas de valor equivalente ao seu antes de receber os benefícios. O pagamento em unidades imobiliárias ou edificadas dependerá da obrigação imposta ao proprietário. Se a obrigação era parcelar o imóvel, receberá como pagamento lotes urbanizados. Se a obrigação era utilizar ou edificar, receberá como forma de pagamento algumas unidades edificadas (apartamentos, casas, etc.). Os imóveis restantes permanecerão em posse do poder público que poderá comercializá-los, permitindo a utilização adequada. Esse conjunto de instrumentos tem como objetivo induzir a ocupação das áreas dotadas de infraestrutura e equipamentos, evitando a ocupação de áreas desprovidas de infraestrutura e frágeis do ponto de vista ambiental, fazendo-se cumprir a função social da propriedade. Resumo Nesta aula abordamos os instrumentos da Política Urbana dirigidos à indução do uso e ocupação do solo como ferramentas para conter a expansão desordenadas das cidades. Esse conjunto de instrumentos permite induzir a ocupação das áreas dotadas de infraestrutura e equipamentos, evitando a ocupação de áreas desprovidas de infraestrutura e frágeis do ponto de vista ambiental. Na próxima aula daremos continuidade no estudo dos instrumentos da Política Urbana. Assista o vídeo sobre a participação popular na melhoria da qualidade de vida: http://www.youtube.com/ watch?v=28HKEOu5l8U Atividades de aprendizagem 1. Cite os instrumentos urbanísticos de intervenção no uso e ocupação do solo elencados no Estatuto das Cidades. Aula 16 – Os instrumentos da política de desenvolvimento urbano 83 e-Tec Brasil 2. Qual a importância da aplicação destes instrumentos na Gestão Ambiental? Anotações e-Tec Brasil 84 Plano Diretor Aula 17 – O s instrumentos de indução do desenvolvimento urbano Nesta aula, vamos ver como pode ser induzido o desenvolvimento urbano. Reunimos aqui os instrumentos apresentados pelo Estatuto da Cidade e comentados pelo Instituto Polis. 17.1 Outorga onerosa do direito de construir e direito de superfície A Outorga Onerosa do Direito de Construir (Art. 28 a 31) e o Direito de Superfície (Art. 21 a 24) têm como objetivo separar a propriedade dos terrenos urbanos do direito de construir. Separando esses direitos, o poder público aumentará sua capacidade de interferir sobre os mercados imobiliários. De acordo com esses instrumentos o proprietário não pode ocupar o seu terreno da maneira que quiser. As normas urbanísticas, como o código de obras, as leis de parcelamento, as leis de uso e ocupação do solo, as normas ambientais por si já representavam um limite sobre o uso do terreno, determinando, por exemplo, áreas onde não seria permitida a instalação de indústrias. Contudo, o Estatuto da Cidade amplia o poder de intervenção do município quanto ao uso e ocupação do solo, ao instituir os instrumentos da outorga onerosa do direito de construir e do direito de superfície. O Direito de Superfície, além de definir o que pode ou não ser construído na superfície, define também limites para as construções nos espaços aéreo e subterrâneo. O proprietário pode conceder o direito de construir sobre ou sob seu terreno por tempo determinado ou indeterminado, de forma gratuita ou onerosa. Reconhece-se assim que o direito de construir está desvinculado do direito da propriedade, ou seja, o proprietário é o dono do terreno, mas não é ele quem decide o que pode construir nele. Através da Outorga Onerosa do Direito de Construir será possível o estabelecimento de algumas áreas limites acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado para toda a zona urbana. No entanto, esses limites, bem como as áreas que poderão sofrer alterações dos índices existentes, deverão ser definidos no Plano Diretor. 85 e-Tec Brasil O Coeficiente de aproveitamento é a relação entre a área edificável e a área do terreno. (Art.28 §1º. do Estatuto da Cidade) Este mesmo instrumento (art. 29) prevê a possibilidade de alteração do uso do solo em áreas previamente definidas, desde que o beneficiário mediante contrapartida do beneficiado. Esta contrapartida pode se dar sob a forma de obras, terrenos ou recursos financeiros.. Os recursos oriundos da outorga onerosa só podem ser aplicados (art 26, incisos I a IX) em projetos de regularização fundiária, habitação de interesse social, reserva de terras, implantação de equipamentos comunitários e áreas verdes e de lazer, áreas de interesse ambiental ou proteção do patrimônio histórico. Curiosidade! Em CURITIBA,a figura da outorga onerosa aparece como Solo Criado – Lei Ordinária no 7.420 de 16 de março de 1990 – cujo objetivo é gerar recursos para financiar a habitação de interesse social. O valor é pago para o Fundo Municipal de Habitação e empregado na compra de lotes ou na regularização fundiária. Segundo dados da Prefeitura, 720 empreendimentos habitacionais utilizaram-se do instrumento em 11 anos, arrecadando um total de R$ 18.036.387,04. A maioria dos imóveis onde foi aplicado o acréscimo de potencial construtivo localiza-se nas zonas residenciais 4, que são lindeiras ao sistema viário estrutural e às áreas no entorno do centro, embora ocorram também em outros pontos da cidade. (POLIS, 2001, p.77) (INSTITUTO POLIS. Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos.Brasilia: Caixa e Polis, 2001.) 17.2 Transferência do direito de construir (Art. 35) A transferência do direito de construir (Art. 35) se aplica aos casos em que o poder público municipal tem interesse em preservar os imóveis com grande valor histórico ou ambiental. Quando um imóvel é tombado como patrimônio histórico, por exemplo, o proprietário não tem mais o direito de modificá-lo. Para compensá-lo, o Estatuto da Cidade prevê a transferência do direito de construir (art. 35), ou seja, o proprietário pode utilizar ou vender e-Tec Brasil 86 Plano Diretor a diferença entre a área construída do imóvel preservado e o total de área construída atribuída ao terreno pelo coeficiente de aproveitamento, conforme estabelecido na legislação municipal. A transferência será permitida desde que o proprietário participe de algum programa de restauração, elaborado juntamente com o poder público ou pelo setor privado e aprovado pelo órgão técnico responsável. As condições de transferência devem ser definidas pelo poder público, assim como os imóveis em condição de ter aplicado este instrumento. 17.3 Operações urbanas consorciadas As operações urbanas consorciadas (Art. 32 a 34) são os instrumentos de intervenção urbanística que visam modificar a estrutura de um setor da cidade. O poder público, seleciona um setor específico a ser alterado de acordo com a política urbana, e em parceria com os proprietários, investidores privados, moradores e usuários permanentes, implementa um projeto de reconstrução urbana. Seu objetivo é viabilizar intervenções em maiores proporções, nas quais atuem conjuntamente o poder público e o setor privado. 17.4 Direito de Preempção O Direito de Preempção (Arts. 25 a 27) se refere ao direito de preferência de compra de imóveis dado ao poder público, no ato da venda. As áreas onde incide este direito devem ser definidas pela legislação municipal e utilizadas para regularização fundiária; execução de programas e projetos habitacionais de interesse social; constituição de reserva fundiária; ordenamento e direcionamento da expansão urbana; implantação de equipamentos urbanos e comunitários; criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental; proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico. Portanto, o objetivo deste instrumento é facilitar a aquisição de imóveis ao poder público, em área de seu interesse, para a realização projetos específicos. O Direito de preempção é um instituto jurídico que já tem sido aplicado em alguma situação. De acordo com o art. 27 da Lei no. 8245/91 (Lei do Inquilinato), o locatário tem preferência de adquirir o imóvel locado no caso de venda. Aula 17 – Os instrumentos de indução do desenvolvimento urbano 87 e-Tec Brasil Resumo Acesse o site de Estado do Paraná que apresenta na sua coluna o estatuto da cidade abordando o direito de preempção <http://www. parana-online.com.br/colunista s/237/45812/?postagem=O+DI REITO+DE+PREEMPCAO+NO+ ESTATUTO+DA+CIDADE+I> Nesta aula vimos que o proprietário não pode ocupar o seu terreno da maneira que quiser. Reconhece-se, entretanto, que o direito de construir está desvinculado do direito da propriedade, quer dizer, o proprietário pode ser dono do terreno, mas é o poder público quem decide que tipo de construção haverá nele. Vários instrumentos garantem a racionalidade no direito de construir, destacando entre tantos, o direito de Preempção que garante ao poder público a preferência da aquisição do imóvel para atender projetos específicos. Na próxima aula os instrumentos de financiamento. Atividades de aprendizagem 1. Por que o dono do terreno não tem o direito absoluto de construir o que quer e como quer? 2. Explique por que o poder público tem preferência na aquisição de bens imóveis. e-Tec Brasil 88 Plano Diretor Aula 18 – Instrumentos de financiamento da política urbana Para a construção de um Plano Diretor existe um custo. Nesta aula abordaremos as custas desta ferramenta legal para o bom Planejamento Urbano. 18.1 Qual é o custo de um Plano Diretor? O custo do Plano Diretor deve ser compatível com os recursos disponíveis pelo município. Os municípios com 50 a 120 mil habitantes que já elaboraram seus Planos Diretores gastaram entre 80 e 120 mil reais. Seria, aproximadamente, uma relação um por um, ou seja, um real gasto por habitante. (PÓLIS, 2004). As fontes de recursos são de origem tributária (taxas, impostos e contribuições) ou provém de multas, dívida ativa, rendimentos financeiros, etc. Além dessas fontes, existem alguns instrumentos definidos no Estatuto da Cidade que podem ser considerados instrumentos de financiamento da política urbana, embora não seja este o objetivo primeiro dos mesmos. Vejamos quais são as políticas tributárias e de financiamento do Plano Diretor apresentados pelo Estatuto da Cidade, segundo o Instituto Polis (2004): IPTU Progressivo no Tempo: é um instrumento que tem o objetivo de induzir o cumprimento da função social da propriedade. Aplica-se aos imóveis, dotados de infraestrutura, que estão servindo à especulação imobiliária. Existem restrições para a aplicação desse instrumento, mas o mais importante é deixar claro que o IPTU progressivo no tempo não tem a finalidade de arrecadar recursos. A arrecadação é uma conseqüência da aplicação do instrumento que visa o uso racional do solo urbano. Decorridos cinco anos da cobrança do IPTU progressivo no tempo, o poder público poderá desapropriar o imóvel, pagando com títulos da dívida pública aprovado pelo senado (PÓLIS, 2004). Outorga Onerosa do Direito de Construir: gera recursos na medida em que obriga o proprietário a pagar ao município pelo direito de construir, em circunstância definidas no Plano Diretor. 89 e-Tec Brasil Operações Urbanas Consorciadas: são instrumentos que servem para o poder público recuperar parte dos investimentos gastos em obras de infraestrutura que resultaram na valorização imobiliária. Transferência do Direito de Construir: permite, através de lei municipal, que o proprietário exerça o direito de construir em outro local quando seu imóvel for necessário para: preservação histórica, ambiental, etc., regularização fundiária, e implantação de equipamentos urbanos. Consórcio Imobiliário: permite que o proprietário, que não possua condições financeiras para viabilizar planos de urbanização ou edificação, transfira seu imóvel ao poder público e receba em troca unidades edificadas. A Política Tributária definida no Estatuto da Cidade prevê que os tributos e taxas sobre imóveis urbanos serão diferenciados em função do interesse social. Entre os Recursos Orçamentários dos municípios brasileiros, as transferências são as mais significativas, principalmente para os municípios pequenos, e as operações de crédito são de menor importância. Caso o município, mesmo aplicando os instrumentos de financiamento da política pública, não possua recursos próprios para financiar o Plano Diretor poderá recorrer ao governo federal que disponibiliza recursos do Orçamento Geral da União a fundo perdido para este fim. Algumas instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possuem linhas de financiamento próprias para viabilizar a construção do Plano Diretor. Portanto, a falta de recursos não pode ser considerada uma justificativa para os municípios deixarem de construir seus planos diretores. Resumo Saiba Mais Sobre Financiamentos Públicos, Acesse: < http://www.bndes.gov.br/ SiteBNDES/bndes/bndes_pt/ Navegacao_Suplementar/Perfil/ Administracao_Publica/> que apresenta como esta situação de financiamento funciona nos grandes centros. e-Tec Brasil Abordamos nesta aula que a elaboração do Plano Diretor tem custos, avaliado entre 80 e 120 mil reais para cidades de 50 a 120 mil habitantes. As fontes de recursos são de origem tributária ou multas, rendimentos financeiros, etc. Entretanto, existem instrumentos definidos no Estatuto da Cidade que podem auxiliar no financiamento da política urbana, como o IPTU Progressivo no Tempo, a Outorga Onerosa do Direito de Construir, as Operações Urbanas Consorciadas e o Consórcio Imobiliário. Na próxima aula estudaremos a regularização fundiária. 90 Plano Diretor Atividades de aprendizagem 1. Cite as principais fontes de financiamento para as despesas do Plano Diretor. 2. Por que entre os recursos orçamentários as operações de crédito são de menor importância para os municípios pequenos? Anotações Aula 18 – Instrumentos de financiamento da política urbana 91 e-Tec Brasil Aula 19 – Instrumentos de regularização fundiária Nos centros urbanos verificamos que muitas habitações estão em desconformidade com as leis. O objetivo desta aula é a discussão sobre os Instrumentos que podem regularizar a questão fundiária e resgatar a cidadania da população atingida. 19.1 A regularização fundiária A regularização fundiária é definida por Alfonsin (2004) como “o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social, que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária.” A legalização da propriedade urbana poderá ser efetivada pelo poder público através da aplicação de instrumentos como a usucapião. A usucapião é um instrumento de regularização fundiária, presente no Estatuto da Cidade, de imóveis ocupados ilegalmente pela população de baixa renda. Sua aplicação está diretamente relacionada à necessidade da melhoria da qualidade de sua vida e resgate da cidadania desse grupo social. Não são todas as pessoas que podem se beneficiar com a aplicação da usucapião. A concessão de uso será garantida aqueles que moram em uma área de até 250m² há pelo menos cinco anos consecutivos e que não sejam proprietários de imóvel urbano ou rural. Também é possível conceder coletivamente a usucapião quando se trata de uma área pública considerada de risco. O poder público fica obrigado a garantir ao possuidor o exercício do direito à moradia em outro local com base no artigo 17 do Estatuto da Cidade. Conforme Alfonsin (2004), “como soluções adequadas ainda parece estarem longe e nas cidades o crescimento natural e a migração exigem soluções imediatas, as populações continuam a ocupar e invadir áreas livres, públicas 93 e-Tec Brasil e privadas. Na ausência de soluções preventivas, resta ao poder público, em princípio, três alternativas: ignorar os fatos, despejo forçado ou regularização das ocupações. Em muitos casos, com até 2\3 da população vivendo em situações irregulares e ilegais, quase todas as administrações estão engajadas, de uma forma ou outra, na tentativa de regularizar as ocupações. (...) Porém, apesar dos programas de regularização fundiária terem se disseminado nas cidades brasileiras nos últimos anos, é flagrante a inexpressividade dos resultados (...), especialmente nas capitais. Existe uma imensa defasagem entre o número de famílias potencialmente beneficiárias dos direitos e o número de famílias objetiva e finalmente titulares do direito à terra.” Entre as razões que explicam esse fato está a dificuldade que os governos municipais enfrentam para atuar nas favelas, loteamentos ou propriedades privadas. Assim como a usucapião as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), enquanto instrumento de regularização fundiária, permitem a inclusão de parcelas marginalizadas da cidade, que por falta de possibilidade, ocupam áreas urbanas de maneira ilegal. As ZEIS, segundo o Guia do Estatuto da Cidade (2002), têm como objetivo: • permitir a introdução de serviços e infraestrutura urbanos nos locais em que antes não chegavam, melhorando as condições de vida da população; • regular o conjunto do mercado de terras urbanas, pois em se reduzindo as diferenças de qualidade entre os padrões de ocupação, reduzem-se também as diferenças de preços entre as terras; • introduzir mecanismos de participação direta dos moradores no processo de definição dos investimentos públicos em urbanização para a consolidação dos assentamentos; • aumentar a arrecadação do município, pois as áreas regularizadas passam a poder pagar impostos e taxas – vistas nesse caso, muitas vezes, com bons olhos pela população, pois os serviços e infraestrutura deixam de ser vistos como favores, e passam a ser obrigações do poder público; • aumentar a oferta de terras para os mercados urbanos de baixa renda. e-Tec Brasil 94 Plano Diretor Em áreas ocupadas ilegalmente pela população mais pobre é possível introduzir obras de infraestrutura, desde que estas estejam selecionadas como ZEIS no Plano Diretor. Um exemplo é caso da favela da Rocinha que está sendo urbanizada. O poder público pode reservar terrenos ou prédios com boa infraestrutura que não estejam cumprindo sua função social para moradia da população de baixa renda. Por exemplo, um imóvel subutilizado no centro da cidade pode ser transformado em ZEIS. Utilizando as ZEIS como instrumento de regularização fundiária estabelecido no Plano Diretor o poder público promove a melhoria das condições de vida da população de baixa renda. O estabelecimento de ZEIS significa a construção de uma legalidade que corresponda à realidade desses assentamentos e, portanto, da cidadania de seus moradores. Saiba mais sobre a urbanização da Rocinha acesse o site do Ministério das cidades: www.cidades.org.br. Que apresenta todo o processo de assentamento e revitalização na comunidade. Atenção! É importante definir ZEIS nas áreas centrais da cidade, equipadas e providas de infra-estrutura. Essa escolha vai induzir a ocupação mais equilibrada da cidade. As ZEIS demarcadas no Plano Diretor tornam-se uma garantia que a população de baixa renda que mora nessas áreas poderá permanecer nelas. Para implementar essas áreas, segundo o Instituto Pólis (2008), o Plano Diretor deve responder às seguintes questões: • Quais critérios serão utilizados para definir o que ZEIS? • O que considera população de baixa renda? • Quais áreas têm prioridade no processo de urbanização? • Como será a participação popular nas ZEIS? • Os planos de urbanização dessas áreas respeitam os princípios do desenvolvimento sustentável? Aula 19 – Instrumentos de regularização fundiária 95 e-Tec Brasil Respondidos esses questionamentos, as ZEIS poderão ser implementadas com sucesso. Resumo Vimos nesta aula que a Usucapião é um instrumento que de regularização fundiária que ajuda a população de baixa renda a legalizar sua estadia. Sua aplicação está diretamente relacionada à necessidade da melhoria da qualidade de sua vida e resgate da cidadania. Para ter direito a esse benefício as pessoas necessitam estar morando há pelo menos cinco anos consecutivos e que não sejam proprietários de imóvel urbano ou rural. As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), também é um instrumento que auxilia a inclusão de parcela da população dos centros urbanos que ocupa áreas de maneira ilegal. Na nossa última aula abordaremos a Gestão Democrática da Cidade. Atividades de aprendizagem 1. Para a população de baixa renda qual a vantagem do instrumento usucapião? 2. Você conhece em seu município alguma Zona Especial de Interesse Social (ZEI)? Qual a sua opinião a respeito? Existe especulação imobiliária nessa zona? e-Tec Brasil 96 Plano Diretor Aula 20 – G estão democrática da cidade Durante todas as aulas falamos da necessidade da participação popular nas decisões e no planejamento das cidades para atingir a Sustentabilidade. Nesta aula avaliaremos a Gestão da Participação Popular: a Democracia. 20.1 A democratização da cidade A participação social nos processos decisórios e na implementação da política urbana é fundamental para a democratização da cidade. É preciso acabar com o clientelismo presente em algumas gestões municipais, que acabam favorecendo o indivíduo em prejuízo à coletividade. A gestão democrática da cidade refere-se à adoção de princípios, estratégias e diretrizes, seguidas na formulação e implementação do Plano Diretor, que contemplem a efetiva participação da coletividade. O prefeito e os vereadores são responsáveis pela promoção da participação popular na construção e implementação do Plano Diretor. Caso não cumpram essa responsabilidade poderão ser punidos de acordo com o Art.52, inciso VI do Estatuto da Cidade com a Lei Federal 8.429/92. A participação deve se dar através de consultas e debates populares sobre os conflitos e as diferenças de interesse, bem como através de negociações e acordos necessários para a tomada de decisão. Quando a participação da sociedade não for garantida o Ministério Público pode ser acionado com um pedido de anulação do processo. Será aberto um Inquérito, uma Ação Civil pública e até uma Ação de Improbidade Administrativa contra os responsáveis. A Ação de Improbidade Administrativa é uma ação que visa punir os administradores quando cometem atos que prejudicam a receita do município ou burlam as leis. (PÓLIS, 2005) A má gestão de alguns instrumentos urbanísticos pode ser considerada improbidade administrativa. Podem ser considerados atos de improbidade administrativa, por exemplo, tumultuar, retardar, obstruir o processo; não publicar todos os documentos e informações sobre o Plano Diretor; 97 e-Tec Brasil criar obstáculo ou negar acesso aos documentos e propostas do Plano Diretor; permitir ou facilitar o enriquecimento de alguém através das propostas do Plano Diretor (Polis, 2008) As penalidades para a improbidade administrativa podem ser: a perda da função pública; suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos; proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais pelo prazo de três anos. A definição da pena dependerá da magnitude do dano causado. Para não ser punido por improbidade administrativa é preciso atenção ao construir e implementar o Plano Diretor. Tanto o planejamento quanto a gestão devem ser democráticos. Já vimos como deve ser o planejamento democrático. Vejamos, agora, a gestão democrática. O Plano Diretor deve prever um sistema democrático de gestão, estabelecendo prazos e maneiras de implementá-lo. Deve definir, também, como será o sistema de acompanhamento e controle de sua implementação. Caso esse sistema não esteja claramente definido a validade do Plano Diretor poderá ser questionada. De acordo com o Instituto PÓLIS (2005), o Plano Diretor deve: • Prever instâncias de planejamento e gestão democrática para implementar e rever o Plano; • Apoiar processo de gestão democrática e participativa de todos, de forma integrada; • Garantir acesso à informação para todos os cidadãos; • Monitorar a aplicação dos instrumentos urbanísticos do Plano. Os instrumentos de gestão democrática podem ser: Conselhos de Habitação e Desenvolvimento Urbano; Conferências da Cidade; Audiências Públicas; Estudo de Impacto de Vizinhança; Orçamento Participativo, e a Iniciativa Popular. e-Tec Brasil 98 Plano Diretor Os Conselhos são órgãos formados por representantes do poder público e da sociedade, que permitem a participação direta da população na construção da política urbana. Tem a função de acompanhar e fiscalizar o planejamento da cidade. As Conferências da Cidade são grandes reuniões promovidas pelo poder público com ampla participação popular. Nelas definimos a política de desenvolvimento urbano. As Audiências Públicas são apresentações de planos ou projetos pelo poder público à sociedade. O Estudo de Impacto de Vizinhança serve para medir o efeito da instalação de um grande empreendimento sobre o local. O Orçamento Participativo refere-se à participação da população nas decisões sobre os gastos públicos no ano seguinte. A Iniciativa Particular significa a proposição de projetos, planos ou alterações na legislação pela população. Assim você pode constatar que existem diferentes meios de participar da construção de uma cidade mais justa, de uma cidade sustentável. Através dessas aulas pudemos perceber que não é tão difícil construir e implementar o Plano Diretor quanto parece. É preciso, primeiro entender como funciona a cidade, ou seja, verificar qual é a cidade que temos para depois construirmos a cidade que queremos. Para isso temos a nossa disposição inúmeros instrumentos apresentados pelo Estatuto da Cidade. Vimos que é necessário que a cidade cumpra sua função social e desta forma se torne uma cidade sustentável onde todos tenham acesso à infraestrutura básica e moradia sadia. A cidade deve ser de todos e não apenas privilegiar alguns. Se já sabemos disso, a partir de agora é hora de colocar em prática tudo o que aprendemos. É hora de participar, de exercer nosso papel de cidadãos e juntos com o poder público melhorarmos nossa qualidade de vida. Leia sobre A Gestão Democrática das Cidades, Acessando: <http://www. forumreformaurbana.org.br/ index.php/plataforma-fnru/agestao-democratica-da-cidade. html> e veja como este processo funciona nos grandes centros. Resumo Vimos nesta aula que a má administração pode acarretar em uma Ação de Improbidade Administrativa que visa punir os administradores quando cometem atos que prejudicam a receita do município ou burlam as leis. Podem Aula 20 – Gestão democrática da cidade 99 e-Tec Brasil ser considerados atos de improbidade administrativa: não publicar todos os documentos e informações sobre o Plano Diretor; criar obstáculo ou negar acesso aos documentos e propostas do Plano Diretor; permitir ou facilitar o enriquecimento de alguém através das propostas do Plano Diretor, entre outros. Entre as penalidades destacam-se a perda da função pública e suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos. Abordamos também importantes instrumentos de gestão democrática como os Conselhos de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Conferências da Cidade, Audiências Públicas, Estudo de Impacto de Vizinhança, Orçamento Participativo, e a Iniciativa Popular. Atividades de aprendizagem 1. Aponte os instrumentos de participação popular à Gestão Democrática. 2. Diante de tudo o que você aprendeu nesta disciplina, como você vê agora sua participação na construção da cidade em que mora? É possível atingir a Sustentabilidade? e-Tec Brasil 100 Plano Diretor Referências ALFONSIN, B, Instrumentos e experiências de Regularização Fundiária nas Cidades Brasileiras. FASE/GTZ/IPPUR/UFRJ, 2004. p. 24. ALVA, E. N. Metrópoles (In) Sustentáveis. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997. BARBOSA, Sônia Regina da Cal Seixas. Qualidade de vida e suas metáforas. Uma reflexão socio-ambiental. 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Analise as proposições referentes à cidade e assinale a alternativa CORRETA. a) O francês Pierre George, afirma que cidade é qualquer aglomerado urbano que possua uma população superior a dois mil habitantes. b) O conceito de cidade é o mesmo em todos os países para facilitar os estudos sobre urbanização. c) Segundo o IBGE qualquer núcleo urbanizado que possua sede administrativa situada no perímetro urbano, pode ser classificado como cidade. d) No Brasil a cidade é definida como qualquer aglomeração com mais de 20 mil habitantes. e) Todas as cidades foram construídas de forma espontânea, ou seja, o seu desenvolvimento não foi planejado. 2. Analise as proposições sobre a urbanização mundial e marque a alternativa CORRETA. I. O processo de urbanização consiste no aumento da população urbana devido ao êxodo-rural, concomitantemente às mudanças econômicas, resultantes dos avanços técnico-científicos, e às transformações sociais, geradoras de uma nova identidade cultural. II. Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2003, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a taxa de urbanização mundial, ou seja, o percentual dos habitantes da zona urbana sobre o total da população do planeta, era de 38% em 1975, 48% em 2001, com estimativa de atingir 54% no ano 2015. III. A urbanização ocorreu da mesma forma nos países ricos e pobres. Nos ricos, principalmente na Europa, aconteceu durante o século XIX, acelerando-se na transição para o século XX. Nos países pobres da América Latina, Ásia e África, a urbanização ocorreu somente após meados do século passado, concomitante ao processo de industrialização. 103 e-Tec Brasil a) Apenas I está correta. b) Apenas I e II estão corretas. c) Apenas I e III estão corretas. d) Apenas II e III estão corretas. e) Todas estão corretas. 3. Atualmente este país representa uma das maiores economias do mundo. Possui um PIB de 2,225 trilhões de dólares, do qual 46% provem do setor secundário. Contudo, continua sendo um país rural, apresentando uma taxa de urbanização de aproximadamente 40%, ou seja, é um país industrializado, mas não é urbano. Marque a alternativa que corresponde ao país citado no texto. a) Argentina. b) Coréia do Sul. c) China. d) Brasil. e) Austrália. 4. As precárias condições de vida no meio rural associadas à mecanização da agropecuária agiram como um fator ____________________ no processo de urbanização dos países pobres. A única palavra que completa a frase CORRETAmente é: a) Intelectual. b) Atrativo. c) Repulsivo. d) Seletivo. e) Permissivo. e-Tec Brasil 104 Plano Diretor 5. Durante séculos, o Brasil foi um país agrário. As vilas e pequenas cidades, surgidas nos séculos XVIII e XIX, não foram suficientes para caracterizar o País como urbano (Milton Santos, 2005). Das alternativas abaixo sobre a urbanização do Brasil, avalie qual NÃO condiz com a realidade brasileira: a) Foi somente no início do século XX, diante das transformações estruturais pelas quais passava a sociedade e a economia brasileira, que o nosso país iniciou seu processo de urbanização. b) Na década de 1950 o Brasil já era considerado um país urbano, ou seja, mais da metade de sua população residia nas cidades. c) As cidades brasileiras passaram a retratar as desigualdades econômicas e sociais presentes em seu território, como a ocupação de áreas ambientalmente frágeis em contraposição aos bairros residenciais formados por condomínios de alto padrão. d) A nascente industrialização da década de 1930 foi um fator preponderante para acelerar o processo urbano, experimentado, inicialmente, por São Paulo e, posteriormente, estendendo-se por todo o território brasileiro. e) A mudança na distribuição da população brasileira, entre a zona rural e a urbana, está diretamente relacionada ao êxodo rural. 6. Quando se fala em meio ambiente é muito comum algumas pessoas associarem este conceito apenas aos elementos da natureza. No entanto, natureza e meio ambiente não são termos sinônimos. Sobre o conceito de meio ambiente é correto afirmar: I. O conceito de meio ambiente evoluiu muito através dos tempos. Foi considerado apenas sob seus aos aspectos biológicos e físicos, passando a uma concepção mais ampla em que o essencial é a interação entre os aspectos naturais e sociais. II. A Conferência de Tbilisi definiu o meio ambiente como “o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência”. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 105 e-Tec Brasil III. Para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA, 1994), o meio ambiente é o conjunto de elementos naturais e sociais que embora não interajam provocam alterações no espaço e no tempo. a) Apenas I está correta. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas II está correta. d) Apenas I e II estão corretas. e) Todas estão corretas. 7. A humanidade vem interferindo no ambiente natural desde as eras mais primitivas de sua existência. Sobre esse assunto é correto afirmar que: a) Durante os estágios do pastoreio e da agricultura não havia nenhum tipo de degradação ambiental. b) A mudança mais significativa no meio natural ocorreu com a industrialização. c) As alterações sofridas pelos gradientes ar, o solo e a água resultantes do processo de industrialização não trouxeram implicações diretas à saúde humana. d) A sociedade contemporânea não pode ser responsabilizada pelos problemas causados ao ecossistema mundial, pois mantém o mesmo padrão de vida ao longo de sua história. e) A exploração dos recursos naturais passou a ser menos acentuada para suprir a demanda de bens e produtos destinados a uma população em declínio a partir do século XX. 8. A problemática ambiental pode ser entendida como resultante da ___________________________ que se estabeleceu entre o modelo de desenvolvimento adotado pelo ___________________________, notadamente após a ___________________________, e a sustentação desse tipo de desenvolvimento pelos ecossistemas naturais. e-Tec Brasil Os termos que completam CORRETAmente o texto são: 106 a) Separação fundamental; socialismo; Revolução Industrial. b) Contradição fundamental; Socialismo; Revolução Cubana. c) Contradição fundamental; capitalismo; Revolução Industrial. d) Separação fundamental; Capitalismo; Revolução Russa. e) Contradição fundamental; Capitalismo; Revolução Francesa. 9. Nas três últimas décadas do século XX, foi possível constatar o crescimento da problemática ambiental no cenário global, fruto do estilo de vida adotado, principalmente, dentro do sistema capitalista. Isso fez com que fossem estabelecidas novas reflexões sobre o estilo de desenvolvimento econômico, tanto das nações ricas como das nações pobres. Analise as proposições sobre esse assunto. I. No início da década de 1970 foram apresentadas importantes abordagens sobre o desenvolvimento econômico em eventos internacionais como o Clube de Roma e a Conferencia de Estocolmo, ambos em 1972. II. O Clube de Roma defendeu a ideia de que o principal problema do futuro esgotamento dos recursos naturais era o aumento demográfico e, portanto, o crescimento econômico deveria ser desacelerado. III. Na Conferência de Estocolmo a crítica esteve centrada no modo de vida contemporâneo caracterizado pelo consumismo e individualismo. Marque a resposta CORRETA: a) Apenas I está correta. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas II está correta. d) Apenas I e II estão corretas. e) Todas estão corretas. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 107 e-Tec Brasil 10.Foi a partir da década de 1970 que a ideia de desenvolvimento sustentável ganhou notoriedade. Relacione a coluna A com a coluna B. Coluna A (1) Desenvolvimento Sustentável. (2) Agenda 21. (3)Ecodesenvolvimento. Coluna B ( ) E sse termo foi utilizado pela primeira vez em 1973 para caracterizar uma concepção alternativa de política de desenvolvimento. ( ) T ermo definido como um caminho de progresso social e econômico que procura atender as aspirações do presente sem comprometê-las no futuro. ( ) T rata-se de um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que se constitui na mais ousada e abrangente tentativa, já realizada, de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A ordem numérica CORRETA é: a) 2, 3, 1. b) 1, 3, 2. c) 1, 2, 3. d) 3, 1, 2. e) 3, 2, 1. e-Tec Brasil 108 Plano Diretor 11. Sobre a sustentabilidade das cidades é correto afirmar: a) Os países ricos têm enfrentado dificuldades em impor regulamentos urbanísticos que conduzam as cidades à sustentabilidade. b) A Agenda Habitat é um documento que apresenta os princípios, compromissos e ações a serem adotadas, exclusivamente, pelos governos municipais objetivando alcançar o desenvolvimento sustentável dos centros urbanos. c) No Brasil, não existem barreiras ao processo de urbanização, pois a legislação urbanística nunca foi descumprida. d) A sustentabilidade urbana ganhou maior relevância com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre os Assentamentos Humanos que aprovou a Agenda 21. e) O desenvolvimento das cidades em termos sustentáveis implica no comprometimento com as questões ambiental, do desenvolvimento e ordenamento da expansão urbana, do desenvolvimento econômico do município, da promoção da justiça social, do planejamento e da gestão democrática e participativa, do acesso à moradia sadia para todos, etc. 12.O crescimento acelerado e desordenado das cidades brasileiras foi acompanhado pelo surgimento de graves problemas como: I. Aumento do número dos sem-teto, existência de moradias precárias, aumento da pobreza e das desigualdades sociais. II. Falta de saneamento básico e surgimento dos loteamentos clandestinos. III. Falta de segurança, elevados índices de criminalidade, inadequação dos serviços e da infraestrutura. IV. Crescente congestionamento do tráfego, aumento da poluição, a falta de áreas verdes e degradação ambiental. a) Apenas I está correta. b) Apenas II e III estão corretas. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 109 e-Tec Brasil c) Apenas II está correta. d) Apenas I e II estão corretas. e) Todas estão corretas. 13. Analise as proposições e marque a alternativa que NÃO apresenta coerência com o assunto estudado. a) Em qualquer cidade ou bairro, por mais pobre que seja, é possível melhorar a qualidade de vida da população caso os serviços de saúde, educação, transporte coletivo, infraestrutura urbana, etc., funcionem de forma adequada. b) Questões como a participação democrática na tomada de decisão, entre outras, deve ser considerada prioritária nas agendas dos governos municipais para que de fato se construa a cidade sustentável. c) O desafio para a sustentabilidade das cidades brasileiras está exclusivamente nas mãos do poder público local, considerado único responsável pela melhoria da qualidade de vida da população. d) As cidades que implementaram a Agenda 21 e o Estauto da Cidade ampliaram as experiências bem sucedidas de desenvolvimento urbano, evidenciando que é possível alcançar o desenvolvimento sustentável durante o século XXI. e) Os problemas urbanos estão sendo enfrentados com esforços conjuntos do governo e da sociedade. 14.Atualmente, diversos são os problemas de ordem social e ambiental enfrentados pelos moradores das cidades brasileiras. Sobre os problemas urbanos analise as proposições e marque a alternativa CORRETA. a) Dos mais de 6 bilhões de habitantes do planeta, apenas 300 milhões vivem em favelas e 100 milhões não tem lugar para morar. b) Homicídios, assaltos, seqüestros, roubo e outras manifestações violentas atingem somente pessoas de países pobres, nos quais a manifestação da violência é maior. e-Tec Brasil 110 Plano Diretor c) A falta de moradia digna para grande parcela da população mundial despertou a atenção dos governos que buscavam em conjunto soluções para o grave problema da submoradia. d) A dificuldade em adquirir um imóvel é apenas resultado dos baixos salários recebidos pela maioria da população brasileira. e) Os problemas urbanos não comprometem a qualidade de vida, portanto não há necessidade de que os governos busquem melhores condições sociais e também ambientais nas cidades. 15. A ___________________________ dificultou ainda mais a aquisição da casa própria por milhares de pessoas. A supervalorização das áreas centrais condicionou a habitação das periferias pelos menos favorecidos, trazendo como conseqüência ___________________________. Distantes do centro da cidade, estes moradores não têm acesso à infraestrutura adequada, fator que contribui para a redução dos níveis de qualidade de vida. As palavras que melhor completam o texto são: a) Valorização da periferia; criminalidade. b) Especulação imobiliária; degradação ambiental. c) Superlotação central; especulação imobiliária. d) Especulação imobiliária; segregação espacial. e) Segregação espacial; criminalidade. 16.Sabendo que o conceito de qualidade de vida é permeado por indicadores objetivos e subjetivos, num contexto de percepção do indivíduo em relação a sua vida cotidiana e ao meio em que vive, analise as colunas e relacione-as CORRETAmente. (1) Indicadores objetivos. (2) Indicadores subjetivos. ( ) Fatores econômicos. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 111 e-Tec Brasil ( ) Fatores culturais e religiosos. ( ) Percepção individual frente a si mesmo e ao mundo. Marque a resposta que corresponde a ordem numérica CORRETA. a) 1, 2, 2. b) 1, 1, 2. c) 1, 1, 1. d) 2, 2, 1 e) 2, 1, 1. 17.Sobre a qualidade de vida, analise as proposições e marque a alternativa CORRETA. I. A qualidade de vida está relacionada ao estilo de vida adotado por cada um de nós, considerando fatores como a saúde, o bem-estar físico, psicológico, emocional e mental, a educação, a expectativa de vida, etc. II. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. III. A discussão sobre qualidade de vida é muito relativa. Não há consenso entre os cientistas sobre o conceito de qualidade de vida. Cada autor apresenta uma interpretação de acordo com o enfoque que pretende dar ao tema. a) I e II estão corretas. b) I e III estão corretas. c) II e III estão corretas. d) Todas estão incorretas. e) Todas estão corretas. e-Tec Brasil 112 Plano Diretor 18.Diversas constatações evidenciam a queda da qualidade de vida e outras destacam a crescente preocupação de sua melhoria. Sobre o assunto marque a alternativa INCORRETA: a) E m 2050, 85% da população mundial viverá em países em desenvolvimento. b) Um total de 1/5 da população mundial sofre de desnutrição; c) Construção de uma ética da responsabilidade; d) Aumentou a preocupação com as futuras gerações. e) Houve o desaparecimento das “tecnologias limpas”. 19.Existem diversos motivos para planejar a cidade. Entre esses motivos apenas uma das proposições NÃO condiz com o planejamento: a) P ara possibilitar o acesso igualitário aos benefícios que a cidade pode oferecer aos seus habitantes. b) P ara resolver os problemas sociais, econômicos e ambientais que afetam a qualidade de vida. c) Para garantir condições de financiamento do desenvolvimento urbano. d) P ara que todos estejam comprometidos com o objetivo de construir uma cidade sustentável: “a cidade que queremos”. e) P ara garantir o uso dos recursos naturais para atender apenas às necessidades das gerações presentes. 20.Analise as colunas e relacione-as corretamente. (1) Plano Diretor (2) Plano de Ação do Governo (3) Plano Plurianual de Investimentos (4) Planos Setoriais. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 113 e-Tec Brasil ( ) Embora não sejam compulsórios, podem servir como instrumento de encaminhamento de problemas em diversos setores como, por exemplo, habitação, saneamento básico, educação, etc., pode se constituir em um poderoso mecanismo para obtenção de recursos externos e cooperação com organismos federais, estaduais e até internacionais ( ) É um plano de caráter geral. Trata-se de um instrumento básico de desenvolvimento da política urbana. ( ) É um instrumento estabelecido pela administração municipal que vigora durante o mandato de cada prefeito. ( ) Determina os gastos anuais necessários à realização de obras e projetos estabelecidos no Plano de Ação de Governo ou no Plano Diretor. Marque a alternativa que contem a ordem CORRETA. a) 1, 3, 2, 4. b) 4, 1, 2, 3 c) 4, 3, 2, 1 d) 2, 3, 4, 1 e) 1, 2, 4, 3 21.Analise as proposições sobre o planejamento urbano. I. O município deve, obrigatoriamente, ter uma secretaria exclusiva para o planejamento territorial, principalmente os municípios pequenos. II. O importante é que as ações sejam coordenadas, que os planejadores conheçam a realidade local e tenham conhecimento do processo de planejamento. III. Caso o município não tenha uma equipe de pessoas habilitadas, pode contratar consultoria externa, que entre suas funções estará a de capacitar os profissionais locais. e-Tec Brasil 114 Plano Diretor Estão CORRETAs: a) II e III; b) I e II; c) I e III; d) I, II e III; e) Apenas I. 22. Constituição Federal de 1988 dedicou um capítulo inteiro à Política Urbana elegendo o Plano Diretor como instrumento fundamental do desenvolvimento municipal. Forneceu instrumentos para intervenção no mercado da terra urbana, possibilitando uma ação mais efetiva e direta na coerção à prática especulativa sobre o solo através dos artigos: a) 123 e 124; b) 134 e 135; c) 182 e 183; d) 128 e 129; e) 157 e 157. 23.Depois de onze anos de negociação, entre o poder público e os diversos setores da sociedade civil, foi promulgada a Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como ___________________________, que regulamentou a Política Urbana Brasileira. A lei que completa a proposição é: a) Estatuto da Terra Urbana; b) Estatuto Urbano; c) Estatuto do Município; Aula 20 – Gestão democrática da cidade 115 e-Tec Brasil d) Estatuto da Cidade; e) Estatuto Regional. 24.No final dos anos 1970, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado começou a ser questionado pelos movimentos sociais que lutavam pela reforma urbana, chamando a atenção do poder público para: a) A cidade irregular, informal e clandestina. b) A cidade democrática e participativa. c) A cidade organizada e limpa. d) A cidade planejada. e) A cidade justa e ecologicamente correta. 25.Para Kageyama (1999), é fundamental melhorar as condições de vida no meio rural para que seja possível o pleno desenvolvimento do campo. Esse mesmo autor indica três principais políticas de desenvolvimento urbano. São elas: a) Políticas de emprego e renda; políticas de fortalecimento da agricultura familiar; e políticas sociais e regionais de assistência. b) Políticas de saúde; políticas de saneamento básico; e políticas de desenvolvimento cultural. c) Políticas de fortalecimento da agroindústria; as políticas de saúde regional; e as políticas de assistência social. d) Políticas de fortalecimento da agricultura comercial; políticas de educação nacional; políticas de renda apenas para os jovens. e) Políticas de assistência mútua; políticas de emprego no meio urbano; políticas de construção habitacional. 26.Analise as proposições e marque aquela que corresponde a definição de Plano Diretor. a) O Plano Diretor é uma lei federal criada com pelo Senado para organizar o crescimento e o funcionamento das cidades brasileiras. e-Tec Brasil 116 Plano Diretor b) O Plano Diretor é uma lei estadual criada com a participação de todos que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade como um todo, tanto das áreas urbanas como das rurais. Esta lei deverá ser revista, pelo menos, a cada quinze anos. c) O Plano Diretor é uma lei estadual que determina as diretrizes da política urbana em nível estadual e municipal. rurais. Esta lei deverá ser revista, obrigatoriamente, a cada dois anos. d) O Plano Diretor é uma lei municipal criada com a participação de todos, aprovada na Câmara Municipal, que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade como um todo, tanto das áreas urbanas como das rurais. Esta lei deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. e) O Plano Diretor é uma lei federal criada e aprovada na Câmara dos Deputados, que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade como um todo, tanto das áreas urbanas como das rurais. Esta lei deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. 27.NÃO corresponde ao o Plano Diretor: a) O principal objetivo do Plano Diretor é definir como a propriedade cumprirá sua função social, de maneira a garantir o acesso à terra urbana, de modo que todos os cidadãos tenham o direito à moradia digna e aos serviços urbanos. b) O Plano Diretor diz quais regras serão usadas em cada área do município. As propostas integrantes do plano devem ser justas socialmente e exeqüíveis tecnicamente. c) O Plano Diretor é mais um simples instrumento de regulação do uso do solo urbano. d) O Plano Diretor é um instrumento de indução do desenvolvimento sustentável das cidades que deve assegurar novos espaços à moradia de pessoas de baixa renda e prever condições atraentes para novas empresas se instalarem no município. e) O Plano Diretor somente tem validade quando é feito e colocado em prática com a participação popular. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 117 e-Tec Brasil 28.O Estatuto da cidade definiu um grupo de municípios obrigados a ter um Plano Diretor Participativo. Assinale a alternativa que NÃO corresponde às características dos municípios obrigados a construir o Plano Diretor. a) Integrantes de áreas de especial interesse turístico, segundo as definições dos estados e da União. b) Com mais de 20 mil habitantes. c) Situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental na região ou no País, como usinas hidrelétricas, aeroportos, portos, grandes obras rodoviárias. d) Integrantes de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas. e) Com menos de 200 mil habitantes. 29.Sobre a construção do Plano Diretor, assinale a alternativa CORRETA. a) O Plano Diretor deve ser elaborado por uma equipe externa composta por profissionais qualificados em planejamento e gestão urbana. b) A participação da sociedade é indispensável no processo de construção do Plano Diretor, sobretudo, na implementação e gestão. c) Nem todos os municípios têm condições de construir seu Plano Diretor. Os municípios pequenos têm uma equipe técnica pequena e uma complexa geração de problemas urbanos, inviabilizando a construção dos planos diretores. d) Na primeira etapa de construção do Plano Diretor o governo local deverá realizará as leituras técnica e comunitária da cidade, não sendo necessária a participação da população. e) Nas leituras técnica e comunitária deverão ser identificadas apenas os problemas do município. 30.Segundo o Instituto Polis a realização da leitura comunitária segue cinco etapas. Sobre o assunto, analise as colunas e relacione-as em ordem crescente. e-Tec Brasil 118 Plano Diretor (A) 1ª. Fase (B)2ª. Fase (C) 3ª. Fase (D)4ª. Fase (E) 5ª. Fase ( ) devolução dos resultados à sociedade; ( ) realização de reuniões com os atores sociais; ( ) definição dos eixos estratégicos; ( ) identificação dos atores sociais e definição de estratégia de mobilização; ( ) sistematização das informações. A sequência CORRETA é: a) 2, 4, 1, 3, 5 b) 5, 3, 1, 4, 2 c) 4, 1, 3, 2, 5 d) 1, 3, 2, 5, 4 e) 5, 2, 4, 1, 3 31.Analise as proposições sobre a segunda etapa da construção do Plano Diretor e marque a alternativa CORRETA. I. Os eixos, temas e objetivos do Plano Diretor deverão ser definidos a partir da realidade das necessidades e potencialidades do município. II. É importante definir eixos e temas cruciais para a cidade, que se trabalhados de maneira rápida e eficaz possam redefinir o destino da cidade. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 119 e-Tec Brasil III.De nada adianta um Plano Diretor tratar de inúmeros temas e não ter capacidade técnica ou financeira para intervir sobre eles. IV.Para cada tema devem ser definidas as estratégias e os instrumentos adequados à transformação da cidade. Estão CORRETAS: a) apenas I, II e III; b) apenas II, III e IV; c) apenas I, III e IV; d) apenas II e IV; e) todas as alternativas. 32.A terceira etapa de elaboração do Plano Diretor é a seguinte: a) Elaboração do Projeto de Lei do Plano Diretor e definição dos instrumentos. b) Definição dos eixos, temas e objetivos do Plano Diretor. c) Envio do projeto de lei, discussão e aprovação final na Câmara Municipal. d) Implementação do plano e revisão periódica pelo menos a cada dez. e) Leitura técnica e comunitária da cidade. 33.Quanto à elaboração do Projeto de Lei do Plano Diretor é CORRETO AFIRMAR QUE: a) apenas os vereadores devem participar; b) apenas o prefeito e o presidente da Câmara dos Vereadores devem participar. c) apenas os representantes da comunidade participam. e-Tec Brasil 120 Plano Diretor d) a participação é restrita aos representantes do setor secundário; e) qualquer um de nós pode participar da elaboração do Projeto de Lei decidindo o que deve ou não constar nele. 34.Cabe ___________________________ dar ampla divulgação e facilitar o acesso aos documentos e informações produzidos durante todo o processo participativo de elaboração do Plano Diretor. 35.Marque a alternativa que completa CORRETAMENTE a frase anterior. a) à comunidade; b) ao poder público municipal; c) aos representantes de bairros; d) ao poder público estadual; e) aos empresários locais. 36.É um instituto de participação administrativa aberta a indivíduos e a grupos sociais determinados, visando à legitimidade da ação administrativa, formalmente disciplinada em lei, pela qual se exerce o direito de expor tendências, preferências e opções que podem conduzir o Poder Público a uma decisão de maior aceitação consensual. A definição anterior refere-se à (ao): a) conferência; b) audiência pública; c) reunião colegiada; d) conselho municipal; e) reunião da Câmara. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 121 e-Tec Brasil 37.Sobre o Estatuto da Cidade analise as proposições e marque a alternativa CORRETA. I.O Estatuto da Cidade é uma Lei Federal (10.257/01) que regulamentou a Política Urbana brasileira ao entrar em vigor em outubro de 2001. I. Com o intuito de promover o planejamento e a gestão urbana dentro dos moldes sustentáveis, o Estatuto da Cidade traçou as Diretrizes Gerais e Instrumentos da Política Urbana Brasileira. III.Ao regulamentar os artigos constitucionais 182 e 183, o Estatuto da Cidade definiu como obrigatoriedade dos municípios o dever de garantir o direito à cidade àquelas pessoas que possuem melhor renda. As proposições CORRETAS são: a) II e III; b) I e III; c) I e II; d) Todas; e) Nenhuma. 38. Marque a alternativa que NÃO corresponde às diretrizes gerais da política urbana brasileira. a) Garantia do direito à cidade sustentável; b) Gestão democrática da cidade; c) Função social da propriedade; d) R ecuperação dos investimentos públicos que tenham gerado valorização imobiliária; e) Planejamento tecnocrático da cidade. e-Tec Brasil 122 Plano Diretor 39.O pleno exercício do direito à cidade sustentável significa assegurar às presentes e futuras gerações condições dignas de vida, de exercício pleno da cidadania e dos direitos humanos, de participar da gestão da cidade e de viver em cidades com qualidade de vida, sob os aspectos sociais e ambientais. O enunciado anterior refere-se a seguinte diretriz geral da política urbana brasileira: a) Garantia do direito à cidade sustentável; b) Gestão democrática da cidade; c) Função social da propriedade; d) Recuperação dos investimentos públicos que tenham gerado valorização imobiliária; e) Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira do desenvolvimento urbano. 40.Os instrumentos da política urbana definidos no Estatuto da Cidade estão situados em três campos. Marque a alternativa que corresponde a esses campos: a) Indução do uso e ocupação do solo; regularização fundiária; democratização da gestão urbana; b) C entralização da gestão da cidade; tecnocratização; regulação fundiária; c) A mpliação dos poderes públicos; redução da participação popular na gestão da cidade; indução do uso e ocupação do solo; d) A mpliação dos poderes públicos; regularização fundiária; redução da participação popular na gestão da cidade. e) C entralização da gestão da cidade, regularização fundiária; democratização da gestão urbana. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 123 e-Tec Brasil 41. Analise as proposições e marque a alternativa CORRETA. I. Os imóveis localizados em áreas urbanas definidas como prioritárias de ocupação, devem ser ocupados de maneira adequada. Caso isso não ocorra e comprove-se a subutilização ou não utilização, o poder público poderá induzir o uso desses terrenos através da edificação e parcelamento compulsório. II. Esse conjunto de instrumentos tem como objetivo induzir a ocupação das áreas dotadas de infraestrutura e equipamentos, evitando a ocupação de áreas desprovidas de infraestrutura e frágeis do ponto de vista ambiental, fazendo-se cumprir a função social da propriedade. III. Em áreas onde existe carência de infraestrutura ou imóveis subutilizados ou não utilizados, o poder público pode atuar em parceria com a iniciativa privada, através do IPTU progressivo. Estão CORRETAS: a) I e II; b) II e III; c) I, e III; d) I, II e III; e) Nenhuma. 42.O objetivo da Outorga Onerosa do Direito de Construir e do Direito de Superfície é: a) Separar a propriedade dos terrenos urbanos do direito de construir. Separando esses direitos, o poder público aumentará sua capacidade de interferir sobre os mercados imobiliários. b) Permitir o direito de construir em áreas públicas. Desta maneira o poder público estará incentivando o desenvolvimento local ao contribuir com a valorização imobiliária local. c) Proibir a edificação de áreas menores a 1000m² nas áreas centrais da cidade. e-Tec Brasil 124 Plano Diretor d) Induzir o uso de áreas distantes do centro urbano, doando terrenos à população de baixa renda e cobrando altos impostos de empresas aí instaladas. e) Criar áreas específicas para a população de baixa renda distante do centro da cidade. 43. O direito de preferência de compra de imóveis dado ao poder público, no ato da venda refere-se ao instrumento conhecido como: a) Direito de Superfície; b) Outorga Onerosa do Direito de Construir; c) Direito de Preempção; d) IPTU progressivo no tempo; e) Consórcio Imobiliário. 44. O ___________________________ permite que o proprietário, que não possua condições financeiras para viabilizar planos de urbanização ou edificação, transfira seu imóvel ao poder público e receba em troca unidades edificadas. O instrumento que completa corretamente a proposição anterior é: a) Direito de Superfície; b) Outorga Onerosa do Direito de Construir; c) Direito de Preempção; d) IPTU progressivo no tempo; e) Consórcio Imobiliário. 45. Analise as proposições e marque a alternativa CORRETA. I. A s Operações Urbanas Consorciadas geram recursos na medida em que obrigam o proprietário a pagar ao município pelo direito de construir, em circunstância definidas no Plano Diretor. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 125 e-Tec Brasil II. A Outorga Onerosa do Direito de Construir é um instrumento que serve para o poder público recuperar parte dos investimentos gastos em obras de infraestrutura que resultaram na valorização imobiliária. III. A Política Tributária definida no Estatuto da Cidade prevê que os tributos e taxas sobre imóveis urbanos serão diferenciados em função do interesse social. São CORRETAS as proposições: a) I; b) I e II; c) I e III; d) II; e) III. 46.Decorridos cinco anos da cobrança do IPTU progressivo no tempo o poder público poderá: a) Desapropriar o imóvel, pagando com títulos da dívida pública aprovado pelo senado; b) Desapropriar o imóvel, não sendo necessário o pagamento pelo mesmo; c) Conceder o direito de construir ao proprietário em qualquer área pública de sua escolha; d) Aplicar o instrumento das operações urbanas consorciadas; e) Cobrar cinco vezes o valor do IPTU do ano anterior. 47. A legalização da propriedade urbana poderá ser efetivada pelo poder público através da aplicação de instrumentos como: a) a usucapião; b) o direito de preempção; c) o IPTU progressivo no tempo; e-Tec Brasil 126 Plano Diretor d) a outorga onerosa do direito de construir; e) o consórcio imobiliário. 48. AS Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), enquanto instrumento de regularização fundiária, permitem a inclusão de parcelas marginalizadas da cidade, que por falta de possibilidade, ocupam áreas urbanas de maneira ilegal. Marque a alternativa que não corresponde a um dos objetivos das ZEIS. a) permitir a introdução de serviços e infraestrutura urbanos nos locais em que antes não chegavam, melhorando as condições de vida da população; b) regular o conjunto do mercado de terras urbanas, pois em se reduzindo as diferenças de qualidade entre os padrões de ocupação, reduzem-se também as diferenças de preços entre as terras; c) introduzir mecanismos de participação direta dos moradores no processo de definição dos investimentos públicos em urbanização para a consolidação dos assentamentos; d) aumentar a arrecadação do município, pois as áreas regularizadas passam a poder pagar impostos e taxas – vistas nesse caso, muitas vezes, com bons olhos pela população, pois os serviços e infraestrutura deixam de ser vistos como favores, e passam a ser obrigações do poder público; e) diminuir a oferta de terras para os mercados urbanos de baixa renda. 49. A participação social nos processos decisórios e na implementação da política urbana é fundamental para a democratização da cidade. Sobre esse assunto marque a alternativa CORRETA. a) A gestão democrática da cidade refere-se à adoção de princípios, estratégias e diretrizes, seguidas na formulação e implementação do Plano Diretor, que contemplem a efetiva participação da coletividade. b) O prefeito é o único responsável pela promoção da participação popular na construção e implementação do Plano Diretor. Aula 20 – Gestão democrática da cidade 127 e-Tec Brasil c) A participação popular deve se dar, exclusivamente, através de plebiscitos, garantindo o direito ao voto. d) Quando a participação da sociedade não for garantida o Ministério Público pode ser acionado com um pedido de aprovação do processo. e) A boa gestão de alguns instrumentos urbanísticos pode ser considerada improbidade administrativa. 50. As penalidades para a improbidade administrativa podem ser, EXCETO: a) a perda da função pública; b) suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos; c) proibição de contratar com o poder público por três anos; d) proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais pelo prazo de três anos; e) detenção de até 8 anos em regime fechado. 51. Os instrumentos de gestão democrática podem ser, EXCETO: a) Conselhos de Habitação e Desenvolvimento Urbano; b) Conferências da Cidade; c) Audiências Públicas; d) Estudo de Impacto de Vizinhança; e) Decisões particulares do poder público. e-Tec Brasil 128 Plano Diretor Palavra dos professores-autores Carmen Ballão Watanabe Professora de Geografia e Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR), nas modalidades presencial e a distância. Coordenadora do Curso Técnico em Meio Ambiente/EAD do IFPR. Pesquisadora Institucional do IFPR. Licenciada em Geografia pela Faculdade Estadual de União da Vitória. Geógrafa pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Análise ambiental (UFPR). Mestre em Geografia na área de concentração Análise e Gestão Ambiental (UFPR). Doutoranda em Geociências e Meio Ambiente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Na área ambiental, atua nas seguintes linhas de pesquisa: Impactos Ambientais, Educação Ambiental e Agenda 21. Cesar Aparecido da Silva Servidor efetivo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor de EaD do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Vice-coordenador do curso técnico em Meio Ambiente modalidade EaD IFPR. Engenheiro Ambiental pela UFPR. Especialista em MBA em Gestão Ambiental (UFPR). Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Mestre em Ecologia e Conservação, área de concentração ecotoxicologia (UFPR). Doutor em Ecologia e Conservação pela UFPR. Atua como pesquisador e consultor em Gestão de Resíduos Sólidos, Qualidade Ambiental de Recursos Hídricos e Ecotoxicologia, com diversos trabalhos publicados em Biomonitoramento. 129 e-Tec Brasil Anotações Anotações 131 e-Tec Brasil