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1 1 2 16/out quinta 8h 10h 10h – 12h Inscrições, credenciamento e Alojamento de Estudantes Mesa de Abertura e Sessão de Homenagem a I. Martín-Baró: 25 anos do seu assassinato Representantes institucionais da UFG Salvador SandovalPresidente da ABPP Fernando Lacerda Júnior – UFG 14h – 16h Conferência de Abertura – Crise e insurgência: controle da subversão e subversão do controle 17/out sexta 18/out sábado 19/out domingo Simpósio 3 Memória e Violência de Estado: Guerrilha e Direitos Humanos Simpósio 5 Psicologia Política dos movimentos sociais: criminalização, vandalismo e lutas contemporâneas Comunicações Coordenadas Agustín Espinosa – PUCP, Peru David Pavón Cuellar – UMSNH, México Domenico Uhng Hur – UFG Salvador Sandoval – PUCSP/UNICAMP Aline Hernandez – UERGS Jáder Ferreira Leite – UFRN Simpósio 6 Psicologia Política e marxismo: resistência e transformação social Simpósio 7 Sexualidades, gênero e poder: Desejos em transgressão Gregório Kazi – Uniube/FGB Ilana Lemos Paiva – UFRN Alessandro Soares da Silva – USP Odair Sass – PUC-SP David Pavón Cuellar – UMSNH, México Carl Ratner - Institute for Cultural Research and Education, EUA Luiz Mello de Almeida Neto - UFG Frederico Vianna Machado - UFRGS Lenise Borges – PUC-GO Mesas Redondas Mesas Redondas Diálogos em Psicologia Política 1 Meios de comunicação, ideologia, violência e controle Comunicações Coordenadas Simpósio 4 Psicologia, Estado e políticas públicas: captura ou transformação? Elio Rodolfo Parisí – UNSL, Argentina 16h – 18h Simpósio 1 Psicologia Política: história, crítica e intervenções (16h-19h) José Manuel Sabucedo USC, Espanha Salvador Sandoval – PUC-SP Cornelis van Stralen - UFMG Agustín Espinosa PUCPeru Juan Romero - UTA, Chile 18h – 20h Simpósio 2 A subversão como educação e emancipação (19h20h30) Rafael Saddi - UFG Phillipe Linhares CONEP José Manuel Sabucedo - USC, Espanha Dennis de Oliveira – USP Nilton Rocha – UFG Diálogos em Psicologia Política 2 Psicologia política e militância: subjetividades insurgentes Fernando Lacerda - UFG Jaqueline Gomes de Jesus – FGV-RJ/UNIPLAN Adriana Molas – UDELAR, Uruguai Sessão Pôsteres, lançamento de livros e Atividade Cultural 2 3 AUTORIZAMOS A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. A EXATIDÃO DAS REFERÊNCIAS, A REVISÃO GRAMATICAL E AS IDEIAS EXPRESSAS E/OU DEFENDIDAS NOS TEXTOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES. VIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA POLÍTICA Crise e insurgência: controle da subversão e subversão do controle. Goiânia, GO, 2014. 273 p. ANAIS - VIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA POLÍTICA. Domenico Uhng Hur, Fernando Lacerda Junior, Amanda Cristina Fonseca Palla (orgs.) 1. Psicologia 2. Sociedade América Latina 3. Política 4. movimentos sociais 5. Capa: Rosana Ferrari 3 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO: PSICOLOGIA POLÍTICA EM TEMPOS DE CRISE Domenico Uhng Hur & Fernando Lacerda Jr. ........................................................................... 2121 SIMPÓSIOS .............................................................................................................................. 277 1- CRISIS E INSURGENCIA: CONTROL DE LA SUBVERSIÓN Y SUBVERSIÓN DEL CONTROL – EL PAPEL DE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA Elio Rodolfo Parisi.................................................................................................................. 288 2- MÁS ALLÁ DE LA PSICOLOGÍA DEL COMPORTAMIENTO AGRESIVO: LUCHA GUERRILLERA Y VIOLENCIA INSTITUCIONALIZADA EN EL DISCURSO DEL EJÉRCITO POPULAR REVOLUCIONARIO (EPR) DE MÉXICO David Pavón-Cuéllar................................................................................................................. 29 3- A POLÍTICA NÔMADE: DAS LINHAS DE FUGA ÀS LINHAS DE LUTA Domenico Uhng Hur ................................................................................................................. 30 4- A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À POBREZA EXTREMA Ilana Lemos de Paiva ................................................................................................................ 31 5- LUTAS CONTEMPORÂNEAS: ATIVISMO POLÍTICO E CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Aline Reis Calvo Hernandez ..................................................................................................... 32 6- CRIMINALIZAÇÃO OU REPRESSÃO; VANDALISMO E SABOTAGEM: ASPECTOS INERENTES DAS AÇÕES COLETIVAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS E DE PROTESTO SOCIAL? Salvador Sandoval..................................................................................................................... 33 7- A CONTRIBUIÇÃO DA PERSPECTIVA MARXISTA PARA A CIÊNCIA E A POLÍTICA DA PSICOLOGIA Carl Ratner................................................................................................................................ 34 8- PSICOLOGIA, POLÍTICA E MARXISMO Odair Sass ................................................................................................................................. 35 9- IDEAS RECTORAS PARA UNA REDEFINICIÓN MARXISTA DE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA David Pavón-Cuéllar................................................................................................................. 36 10- JORNALISMO E A ESFERA PÚBLICA INCIPENTE NO BRASIL Dennis de Oliveira .................................................................................................................... 36 11- O DISCURSO DO PARTICIPACIONISMO: UMA ANÁLISE PSICOPOLÍTICA DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NO BRASIL Frederico Viana Machado.......................................................................................................... 37 12- QUESTÕES LGBT EM DEBATE: SOBRE DESAFIOS E CONQUISTAS Luiz Mello de Almeida Netto (UFG, Brasil) .............................................................................. 37 4 5 13- CONSTRUÇÕES SOBRE LESBIANIDADE NA POSSIBILIDADES DE UM DISCURSO EMANCIPATÓRIO? MÍDIA TELEVISIVA: Lenise Santana Borges .............................................................................................................. 38 14- A SUBVERSÃO COMO EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO Phillipe Linhares ....................................................................................................................... 39 15- A MINORIA RADICAL: IDENTIDADE, RESISTÊNCIA E INSURGÊNCIA Jaqueline Gomes de Jesus ......................................................................................................... 40 16- A ATIVIDADE INSURGENTE DESDE A PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO HUMANA Fernando Lacerda Jr. ................................................................................................................. 41 17- EL ENGAÑO Adriana Molas........................................................................................................................... 41 MESAS REDONDAS.................................................................................................................. 42 A- EIXO: AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA .................................................................................................................................................. 43 1-POLÍTICAS DE MEDO: SUJEITO, CIDADE E LEI Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, Roberta Priscila Brasilino Barbosa, Bruno Giovanni de Paula Pereira Rossotti, Kely Cristina Magalhães Decottelli, Thiago Colmenero Cunha, Marcello Furst de Freitas Accetta, Maria Luiza Rovaris Cidade, Adriana Molas, Silvia Ignez Silva Ramos e Augusto Joaquim Guambe.............................................................................. 43 2- SEGREGAÇÃO URBANA E DIREITO À CIDADE: REFLEXÕES SOBRE AS CIDADES E OS PROCESSOS DE EMANCIPAÇÃO HUMANA Tadeu Mattos Farias, Fernanda Fernandes Gurgel, Raquel Farias Diniz, Tatiana Minchoni, Daniela Bezerra Rodrigues, Fernanda Cavalcanti de Medeiros e Silvia Carvalho E. de Souza 47 3- PRÁTICAS POLÍTICAS COLETIVAS E INSURGÊNCIA NO ESPAÇO URBANO: REFLEXÕES ESQUIZOANALÍTICAS Domenico Uhng Hur, Tadeu Mattos Farias & João Paulo Macedo ......................................... 51 4- CONTEXTOS RURAIS: ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DA PSICOLOGIA Jáder Ferreira Leite, João Paulo Macedo & Saulo Luders Fernandes ..................................... 55 5- REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS, VALORES E POLÍTICA Nildo Viana, Cleito Pereira dos Santos, Edmilson Marques & Jean Costa Santana................. 59 6- A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO COMO REALIZAÇÃO DA POTÊNCIA POLÍTICA Fernando H. Yonezawa, Priscila Tamis & Paulo Ricardo Bittencourt ..................................... 62 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL .................................................................................................................................. 66 7- PARA ALÉM DO ARCO-ÍRIS: AÇÃO POLÍTICA LGBT NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Mário Felipe de Lima Carvalho, Frederico Viana Machado & Marco Aurélio Maximo Prado 66 5 6 8- NUANCES EPISTÊMICAS DE FRONTEIRA: ASPECTOS ÉTICOS E POLÍTICOS DA RELAÇÃO DE PSICÓLOG@S, EM SITUAÇÃO DE PESQUISA, JUNTO A SUJEITOS EM CONTEXTOS DE DISCRIMINAÇÃO Jon Anderson Machado Cavalcante, Vinício Brígido Santiago Abreu, Lorena Brito da Silva & James Ferreira Moura Júnior ................................................................................................. 68 9- RELAÇÕES DE PODER E INSTITUIÇÃO NO CAMPO DAS ESQUERDAS Jaqueline Gomes de Jesus, Lia Vainer Schucman & Flávia Gilene Ribeiro ............................ 72 10- IDENTIDADES SOCIAIS CRIMINALIZADAS: O CASO DA PROSTITUIÇÃO, DA POBREZA E DO TRABALHO MARGINALIZADO James Ferreira Moura Jr., Jorge Castellá Sarriera, Verônica Morais Ximenes, Vinício Brígido Santiago Abreu & Lorena Brito da Silva................................................................................ 75 C- EIXO: CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA....................................... 79 11- RACISMO E CONSCIÊNCIA POLÍTICA Eliete Edwiges Barbosa, Maria Eugenia Augusto Gregório & Tatiana Cavalcante de Oliveira Botosso ................................................................................................................................. 79 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL ....................... 83 12- POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA: EMANCIPAÇÃO OU SUBMISSÃO? Carlos Roberto de Castro-Silva, Luciane Pinho de Almeida & Rosana Carneiro Tavares ....... 83 13- EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA Ilana Lemos de Paiva, Tatiana Minchoni & Daniela Bezerra Rodrigues................................. 87 E- EIXO: COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL .................................................... 91 14- BASES SÓCIO-HISTÓRICAS, AFETIVAS E CONSTRUÇAO DA INTERVENÇÃO SOCIAL EM SAÚDE COMUNITÁRIAS NA Carlos Roberto de Castro-Silva, Ludmila Moura & Nadia Viera ............................................ 91 F- EIXO: CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA .................................. 95 15- NORMA E TRANSGRESSÃO EM DIREITO, POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTE: DIÁLOGOS ENTRE DIFERENTES PERSPECTIVAS CRÍTICAS DA PSICOLOGIA Cristiane Souza Borzuk, Maria Regina de Silos Nakamura & Tiago Cassoli .......................... 95 16- IDEOLOGIA, ALIENAÇÃO E ANTIMARXISMO: O CASO DA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA Talitha Priscila Cabral Coelho, Bruno Peixoto Carvalho , Rafael Iglesias Menezes da Silva .. 99 COMUNICAÇÕES COORDENADAS.................................................................................... 103 A- EIXO AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ................................................................................................................................................ 104 1. “DAÍ EU FICO BOLADÃO!”: POSSIBILIDADES DE AÇÃO A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS AFETIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS Carina Borgatti, Felipe Salvador, Juliana Siqueira de Lara, Marina Dantas, Paula Tumolo, Polyana Alves, Yasmin Sampaio & Lucia Rabello de Castro................................................ 104 6 7 2. O PET-SAÚDE COMO DISPOSITIVO PARA FORTALECIMENTO DO CONTROLE SOCIAL DO SUS E DA PARTICIPAÇÃO POLITICA DO ESTUDANTE DE PSICOLOGIA Leonardo Sales Lima........................................................................................................... 105 3. LUTAR NÃO É ESPERAR: REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO POLÍTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE NATAL-RN Fernanda Cavalcanti de Medeiros, André Feliphe Jales Coutinho, Francisco Emanuel Soares Gomes & Raquel Ferreira Barbalho..................................................................................... 106 4. INSURGÊNCIAS PSI EM TEMPOS DE CONFLITOS: A ARTICULAÇÃO DE PSICANALISTAS E PSICÓLOGOS/AS IARA IAVELBERG (ARPIA) Lis Albuquerque Melo & Bruno Halysson Nobre ................................................................ 107 5. LAÇOS COLETIVOS NO CONTEXTO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES EM TEMPOS DE INDIVIDUALIZAÇÃO Lis Albuquerque Melo, Isa Kaplan Vieira, Joyce Diniz, Karima Oliva Bello, Laiz Prestes Carneiro, Sabrina Dal Ongaro Savegnago & Lucia Rabello de Castro ................................. 108 6. LACLAU Y UNA APROXIMACIÓN A LOS MOVIMIENTOS NACIONALPOPULARES, DESDE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA Hugo Adrian Morales .......................................................................................................... 109 7. AS VOZES DAS LUTAS ECOANDO ATRAVÉS DA ARTE E DA TECNOLOGIA Daniel Costa Vianna Mucciolo ............................................................................................ 110 8. PRÁXIS POLÍTICA: APROXIMAÇÕES PSICOPOLÍTICAS ENTRE VIGOTSKI E GRAMSCI. Leandro Amorim Rosa & Ana Paula Soares da Silva ............................................................111 9. OS PROTESTOS DE RUA EM 2013 NO BRASIL André de Melo Santos ......................................................................................................... 112 10. INTERESSES E RACIONALIZAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS Nildo Viana ......................................................................................................................... 113 11. REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS DO PROCESSO ELEITORAL .................... 114 Nildo Viana & Maria Angelica Peixoto................................................................................ 114 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL ................................................................................................................................ 115 1. RELAÇÕES DE GÊNERO E CLASSE NO CONTEXTO DA PROSTITUIÇÃO DE RUA DE SOROCABA- SP Mariana Luciano Afonso & Rosemeire Aparecida Scopinho................................................ 115 2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA IGREJA, DA POLÍCIA E DA ONG SOBRE PROSTITUIÇÃO E AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS PROSTITUTAS Mariana Luciano Afonso & Rosemeire Aparecida Scopinho................................................ 116 3. POLÍTICAS PERSPECTIVAS PÚBLICAS LGBT EM MATO GROSSO: HISTÓRIA E 7 8 Henrique Araujo Aragusuku & Moisés Lopes...................................................................... 117 4. SEXUALIDADE E ESQUIZOANÁLISE Eduardo Sousa Machado Arantes & Domenico Uhng Hur ................................................... 118 5. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES E VIOLÊNCIA DE GÊNERO É PROBLEMA DE QUEM? Isabel Cristina Gonçalves Bernardes.................................................................................... 119 6. EROS ADMINISTRADO: A RACIONALIDADE TECNOLÓGICA DIRECIONAMENTO DAS PULSÕES SEXUAIS EM HERBERT MARCUSE E O Hugo Leonnardo Cassimiro ................................................................................................. 120 7. GRANDE OUTRO | OBJETO (a)MOROSO: O ENQUADRAMENTO DO OBJETO AMOROSO NA CENA DO OUTRO Hugo Leonnardo Cassimiro ................................................................................................. 121 8. EXPERIÊNCIAS IDENTITÁRIAS DIVERSAS, PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO E PSICOLOGIA POLÍTICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS NO JUDICIÁRIO Maria Luiza Rovaris Cidade ................................................................................................ 122 9. TRAJETÓRIA POLÍTICA DOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS SOBRE A SEXUALIDADE Polianne Delmondeze & Mariana Monção de Lima............................................................. 123 10. PERFIL DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA DE NATAL-RN: REFLEXÕES, DEMANDAS E POSSIBILIDADES Francisco Emanuel Soares Gomes, André Feliphe Jales Coutinho, Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, Maria Teresa Lisboa Nobre Pereira, Fernanda Cavalcanti de Medeiros & Raquel Ferreira Barbalho..................................................................................................... 124 11. A “CRISE DA MASCULINIDADE” E O SUJEITO CONTEMPORÂNEO Wellington Roriz de Oliveira Júnior .................................................................................... 125 12. O DESCONHECIDO E A PRODUÇÃO DO PERIGO: UM OLHAR DA SEGURANÇA PÚBLICA PELA PERSPECTIVA DA ALTERIDADE E DAS RELAÇÕES COM A DIVERSIDADE Thiago Benedito Livramento Melicio .................................................................................. 126 13. A CULPA DO ESTRANHO E A PROCURA PELO FAMILIAR: A SEGURANÇA PÚBLICA PELOS PROCESSOS DE ALTERIDADE ENTRE MORADOR DE RUA, TRAVESTI E POLICIAL MILITAR Thiago Benedito Livramento Melicio .................................................................................. 127 14. NOVAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DE PRODUÇÃO DAS IDENTIDADES NO MOVIMENTO LGBT PAULISTA. Daniel Filipe Moraes ........................................................................................................... 128 15. CURTA A MISCIGENAÇÃO AFRO-BRASILEIRA: INTERVENÇÃO COM ADOLESCENTES NEGROS UM PROJETO DE Andreína da Silva Moura & Ana Caroline de Lima Silva Ferreira........................................ 129 16. CONCEPÇÕES DE SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE 8 9 PSICOPOLÍTICA A PARTIR DAS PARADAS DO ORGULHO LGBT DE SÃO PAULO E CAMPINAS Fábio Ortolano & Alessandro Soares da Silva...................................................................... 130 17. GÊNERO, SEXUALIDADE E INSTITUIÇÕES PENAIS: REGULAÇÕES E SUBVERSÕES DO CORPO NO CASO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO CONDENADO DE ITAÚNA, MG. Gleisson Rodrigues Peixoto & Leonel Cardoso dos Santos.................................................. 131 18. O INTERJOGO DECONSTELAÇÃO FAMILIAR Júlio César dos Santos ......................................................................................................... 132 19. A PSICOLOGIA E O COMBATE ÀS AÇÕES INTOLERANTES NUMA POLÍTICA PÚBLICA Djean Ribeiro dos Santos &Valdisia Pereira da Mata........................................................... 133 20. POLÍTICAS DA SEXUALIDADE E CONTROLE DA POPULAÇÃO: A NECROFILIA, O ‘SEXO BIZARRO’ E O ROMPIMENTO COM A ORDEM SOCIAL EM “A SERBIAN FILM” Leonel Cardoso dos Santos.................................................................................................. 134 21. DISTÂNCIAS E DIREITOS: SER-DA-TERRA E SER-NEGRO EM UBARANAS Debora Linhares da Silva, Wanessa Nhayara Maria Pereira Brandão, Daliene de Brito Cipriano, Jane Erika Oliveira e Silva, José Maria do Nascimento Amaral Neto, Vanessa Louise Batista ................................................................................................................................. 135 22. TERRITÓRIO SAGRADO: PROCESSO GRUPAL, RESISTÊNCIA E LUTA NO TERREIRO DE CANDOMBLÉ Patrick de Oliveira Silva...................................................................................................... 136 23. NOTAS SOBRE UMA PESQUISA COM MULHERES LÉSBICAS EM GOIÂNIA – PROBLEMATIZANDO O CAMPO Tanieli de Moraes Guimarães Silva ..................................................................................... 137 24. REVISANDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM: UMA PESQUISA COM UNIDADES DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS – BA Diogo Sousa Silva & Suely Aires ........................................................................................ 138 C- EIXO CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA...................................... 139 1. JEITINHO BRASILEIRO: ENTRE A CRIATIVIDADE E A CORRUPÇÃO Lisete Barlach ..................................................................................................................... 139 2. O ESQUECIMENTO DA POLÍTICA: REFLEXÕES SOBRE A DEMOCRACIA EM TEMPOS DE CINISMO Rodrigo da Costa Bezerra.................................................................................................... 140 3. A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DILMA ROUSSEFF: UMA ANÁLISE DAS CHARGES QUE A RETRATAM NA FOLHA DE S. PAULO Gabriel Pinelli Ferraz .......................................................................................................... 141 4. ADOLF HITLER, ENTRE O PODER, O CARISMA E A DESTRUTIVIDADE HUMANA 9 10 Luciana Helena Mussi & Salvador Antonio Mireles Sandoval ............................................. 142 5. CONSCIÊNCIA POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO NO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM – ESPÍRITOSANTO BRASIL NO PERÍODO 2009-2012 Leandro Vianna Silva Souza, Marcia PrezottiPalassi, Alfredo Leite da Silva ....................... 143 6. OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS NO BRASIL: FASCÍNIO E IDEOLOGIA Amanda Cristina F. Palla & Domenico Uhng Hur................................................................ 144 7. CONSCIÊNCIA POLITICA, EMOÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS Salvador Antonio Mireles Sandoval..................................................................................... 145 8. PSICOLOGIA SOCIAL DA LEGITIMIDADE: ESTUDO PSICOSSOCIAL DA DESOBEDIÊNCIA ÀS LEIS. Vanilda Aparecida dos Santos.............................................................................................. 146 9. O PODER PSIQUIÁTRICO E A CRIAÇÃO DE NOVAS PSICOPATOLOGIAS..... 147 Nágila Caruline Dias Patricio da Silva & Tiago Cassoli....................................................... 147 10. MÚSICA UNDERGROUND E RESISTÊNCIA CULTURAL NAS PERIFERIAS DO RIO DE JANEIRO – UM ESTUDO DE CASO Alexandre Bárbara Soares ................................................................................................... 148 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL ..................... 149 1. FORMAÇÃO DE PSICÓLOGAS E PSICÓLOGOS E A PRÁTICA SOCIAL EM SAÚDE Mariana Luzia Aron ............................................................................................................ 149 2. DIRETRIZES OFICIAIS PARA AO ATENDIMENTO À FAMÍLIA DE SURDOS Edneia de Oliveira Alves, Juliana de Abreu Barros, Luana Karine da Costa Nogueira, Maria de Fatima Pereira Alberto......................................................................................................... 150 3. EDUCAÇÃO E SURDEZ: CONCEPÇÕES OFICIAIS Maria de Fatima Pereira Alberto & Edneia de Oliveira Alves .............................................. 151 4. POLÍTICAS CARTOGRÁFICAS PÚBLICAS: UMA EXPERIENCIA ENTRE O INSTITUÍDO E O INSTITUINTE NA GESTÃO DA SAÚDE MENTAL PELOTENSE Moisés José de Melo Alves, Luis Artur Costa, Cynthia Luz Yurgel & Édio Raniere............. 152 5. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI Mitra Vivian de Barcelos & Tatiana Machiavelli Carmo Souza............................................ 153 6. PSICOLOGIA POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL Pedro Paulo Gastalho de Bicalho......................................................................................... 154 7. ENTRE POLÍTICAS DE IDENTIDADES E IDENTIDADES POLÍTICAS: OS DISCURSOS DE USUÁRIOS E FAMILIARES MILITANTES DA LUTA ANTIMANICOMIAL Débora Cidro de Brito. ........................................................................................................ 155 8. REABILITADORES, ABOLICIONISTAS E CONVENIÊNCIA TEÓRICA: ANÁLISE 10 11 PSICOPOLÍTICA DOS DISCURSOS ACERCA DA CRIMINALIZAÇÃO E DO APRISIONAMENTO Semíramis Costa Chicareli .................................................................................................. 156 9. DA PALMATÓRIA À POLÍCIA: GENEALOGIA DAS LÓGICAS DISCIPLINARES NO CONTEXTO ESCOLAR Thiago Colmenero Cunha.................................................................................................... 157 10. DIAGNÓSTICO E JUDICIALIZAÇÃO DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM DIVINÓPOLIS (MG) Marilene Tavares Cortez, Débora Silveira Duarte, Cláudia Lúcia Carazza & Fernanda Júlia Santos Dias ......................................................................................................................... 158 11. SOCIEDADE DE CONTROLE E A PROBLEMATIZAÇÃO CONTEMPORÂNEO: HISTÓRIA DO PRESENTE EM FOUCAULT DO Ana Gabriela Machado de Farias......................................................................................... 159 12. UM BREVE HISTÓRICO DO TROTE NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: IMPLICAÇÕES INSTITUCIONAIS E VIOLÊNCIAS Maria Fernanda Aguilar Lara & Mirian Sewo...................................................................... 160 13. A ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS DIANTE DA REALIDADE VIVIDA PELOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO Rosa Graciéla de Campos Lopes & Marcus Vinícius de Campos França Lopes ................... 161 14. JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO: DESAFIOS À RESSOCIALIZAÇÃO Fernanda Campos Marinho & Ana Lúcia Galinkin .............................................................. 162 15. POLÍTICAS PÚBLICAS: CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES DE POBREZA NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Vanessa Oliveira Mesquita & Lenise Santana Borges .......................................................... 163 16. POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE MENTAL: O QUE MUDOU NOS DISPOSITIVOS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL? Larissa Rodrigues Moreira & Elisa Alves da Silva............................................................... 164 17. UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE O BULLYING HOMOFÓBICO Bruno Halyson Lemos Nobre .............................................................................................. 165 18. A FORMAÇÃO POLÍTICA DO PSICÓLOGO: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO FORMATIVO A PARTIR DE UMA RELATO DE EXPERIÊNCIA Carlos Eduardo Esmeraldo Filho & José Maria Nogueira Neto............................................ 166 19. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E MERCADO DE TRABALHO: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE FORMAÇÃO E ACOMPANHAMENTO PROFISSIONAL DA APAE EM SALVADOR Larissa Novaes, Jéssica Teixeira, Eliane Conceição, Carla Patrícia, Hevilla Oliveira, Laisa Sacramento & Maria Virgínia Dazzani ................................................................................ 167 20. POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO: CONTROLE OU AUTONOMIA? Marina de Carvalho Oliveira & José Maurício Mangueira Viana ......................................... 168 11 12 21. TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM UM PRESÍDIO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE REDUÇÃO DE DANOS Fernando Figueiredo dos Santos e Reis................................................................................ 169 22. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA EM MATO GROSSO: REVELANDO LUTAS POR DIGNIDADE E CIDADANIA Ruzia Chaouchar dos Santos, Elen Romero de Oliveira, Jéssica Tomaz Lawall,Marcus Vinicius de Campos França Lopes, Jane Teresinha Domingues Cotrin, Marisa Helena Alves, Lucia Regina Soares Pereira, Rosa Helena Cesnique & Evanize Lemes Matos.............................. 170 23. SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE PSICOLOGIA: UMA ANÁLISE DOS PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR COM LICENCIATURA EM PSICOLOGIA Ida Celine Gonçalves Santos & Jordana de Castro Balduino................................................ 171 24. EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: ALGUMAS PROPOSIÇÕES Sheila Daniela Medeiros dos Santos & Karin Cristina de Souza Moraes Magalhães ............ 172 25. CIRCULAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM INSTITUIÇÕES DE ATENDIMENTO NA CIDADE DE SALVADOR Djean Ribeiro dos Santos & Juliana Prates .......................................................................... 173 26. CONSTRUINDO A NOÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM OLHAR SOBRE A CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Lucinéia Schuster ................................................................................................................ 174 27. PERCURSOS CRIATIVOS, AÇÕES ESPORTIVAS: POR UMA CIDADE EDUCADORA Pedro Alex de Sá Pereira, Debora Linhares da Silva & Vanessa Louise Batista.................... 175 28. SAÚDE HISTÓRIA MENTAL INFANTOJUVENIL: POLÍTICAS, CONCEPÇÕES E Marylia Glenda Lopes dep Sousa & Elisa Alves da Silva..................................................... 176 29. O DESAFIO DO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA NA JUVENTUDE Candida de Souza................................................................................................................ 177 30. A CONTRIBUIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL PARA A INSERÇÃO SOCIAL DO REFUGIADO COLOMBIANO EM MANAUS Júlio César Pinto de Souza & Marcelo Gustavo Aguilar Calegare........................................ 178 31. ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: PARA ALÉM DA EXPERIÊNCIA PUNITIVA Ana Marcela da Silva Terra & Alessandra Lacaz ................................................................. 179 32. AS EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO CAMPO EM JI-PARANÁ/RO: O ÊXODO ANUNCIADO Alberto Dias Valadão........................................................................................................... 180 33. ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA ITAPIREMA DE JI-PARANÁ: O EMBATE ENTRE O INSTITUÍDO E O INSTITUINTE Alberto Dias Valadão........................................................................................................... 181 12 13 34. DA POSSIBILIDADE DE EMANCIPAÇÃO HUMANA POR MEIO DA EDUCAÇÃO POPULAR Maria Aparecida Cunha Malagrino Veiga ............................................................................ 182 E- EIXO MEMÓRIA, VIOLÊNCIA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS .................... 183 1. “AQUI O BAGULHO É SÉRIO”: ANÁLISE DE PRÁTICAS DISCURSIVAS DO DOCUMENTÁRIO ÔNIBUS 174 Nathália Dourado Frazão & Ana Carolina Farias Franco ..................................................... 183 2. POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE DAS MUDANÇAS DAS SENSIBILIDADES NO CAMPO DO CONTROLE DO CRIME E DAS CONFIGURAÇÕES ACERCA DA VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE Karinne Regis Duarte .......................................................................................................... 184 3. MEMÓRIA E PSICOLOGIA SOCIAL: POSSIBILIDADES DE ELABORAÇÃO DE DANOS DA DITADURA CIVIL-MILITAR Luis Eduardo Franção Jardim .............................................................................................. 185 4. MEMÓRIA SILENCIADA: A DITADURA MILITAR NA VIDA E TRABALHO DE CIDADÃOS BRASILEIROS Luis Eduardo Franção Jardim .............................................................................................. 186 5. UMA CRÍTICA À INFÂNCIA MEDICALIZADA E JUDICIALIZADA PELO UNICEF Flávia Cristina Silveira Lemos............................................................................................. 187 6. VIOLÊNCIA E FATALISMO EM MARTÍN-BARÓ Gabriel Silveira Mendonça, Karina Oliveira Martins & Fernando Lacerda Jr....................... 188 7. REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS DE DROGAS Samara Takahashi das Neves ............................................................................................... 189 8. DROGAS E DIREITOS HUMANOS: DAS VIOLAÇÕES DE DIREITOS À VIOLÊNCIA ESTRUTURAL Renan Vieira de Santana Rocha & Lumena de Aleluia Santos.............................................. 190 9. GOLPES DE RESISTÊNCIA: A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA E O COMPROMISSO SOCIAL DA PSICOLOGIA NO CONTEXTO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA Lumena de Aleluia Santos & Renan Vieira de Santana Rocha.............................................. 191 10. PSICOLOGIA EMANCIPATÓRIAS E REPRESSÕES SOCIAIS: POSSIBILIDADES Alfredo Ubirajara Baleeiro Santos & Aline Moreno Mendes ............................................... 192 11. NARRAÇÃO, EXPERIÊNCIA E MEMÓRIA EM WALTER BENJAMIN E ADEUS, LÊNIN! Renato Gomes Vieira........................................................................................................... 193 F- EIXO MÍDIA, RELIGIÃO E POLÍTICA....................................................................... 194 1. A INTERNET COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS 13 14 Demetrius Lopes de Abreu .................................................................................................. 194 2. OS NOVOS REPERTÓRIOS DE AÇÃO COLETIVA E AS MOBILIZAÇÕES DE MASSA Demetrius Lopes de Abreu .................................................................................................. 195 3. TENSÕES SOBRE OS SUJEITOS DO FEMINISMO NAS “BLOGUEIRAS FEMINISTAS”: ENTRE DISPUTAS E REARTICULAÇÕES Alice de Alencar Arraes Canuto........................................................................................... 196 4. NARRAÇÃO, IDEOLOGIA E EXPERIÊNCIA: OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO NO JORNALISMO Paola Regina Carloni........................................................................................................... 197 5. “ESTÁ EM SUAS MÃOS PROTEGER NOSSAS CRIANÇAS”: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS DA CAMPANHA DO UNICEF NA GARANTIA DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Nathália Dourado Frazão Costa ........................................................................................... 198 6. A CONSTRUÇÃO DO ÁRABE NA IMPRENSA HEGEMÔNICA Babel Hajjar ........................................................................................................................ 199 7. DÍZIMO E CURA DIVINA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FIÉIS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS Ana Paula Hermoso Lopes & Bruna Suruagy do Amaral Dantas ......................................... 200 8. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CURA DIVINA E A RELATIVIZAÇÃO DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE Ana Paula Hermoso Lopes & Bruna Suruagy do Amaral Dantas ......................................... 201 9. A CONSTRUÇÃO DE NOVOS AFETOS, VALORES E AÇÕES: UMA PESQUISAAÇÃO COM JOVENS INTERNOS NUMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA Fernando César Paulino-Pereira & Vítor Luiz Neto ............................................................. 202 10. “NÃO FAÇAMOS UMA ARCA DE NOÉ TÃO PEQUENINA”. UTOPIAS, DEMOCRACIA E LIBERDADE RELIGIOSA ATUAÇÕES, Jaqueline Vilas Boas Talga .................................................................................................. 203 G- EIXO COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL ................................................... 204 1. ARTE, EDUCAÇÃO E AS POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO COLETIVA Roberta Trindade de Albuquerque ....................................................................................... 204 2. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO (A) NO CRAS – DESAFIOS E POSSIBILIDADES Angela Beatriz de Lima Borges ........................................................................................... 205 3. ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL COMO UM REFLEXO DA CULTURA DE MASSAS ATUAL: UMA AVALIAÇÃO PSICANALÍTICA E DA PSICOLOGIA CRÍTICA Cristina Aparecida Brolhani................................................................................................. 206 4. “PARCEIROS DE FIBRA”: OFICINAS DE ARTESANATO NA REABILITAÇÃO DE USUÁRIOS DE DROGAS André Moura de Souza Leão, Clariza Terezinha Guerra, Cristina Lopes da Conceição, Helena 14 15 Rodrigues Barbosa & Rosa Maria Lino Santana .................................................................. 207 5. DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA NO CONTEXTO DE ALDEIAS INDÍGENAS DA TRIBO KIRIRI Deane Barbosa de Jesus....................................................................................................... 208 6. COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA EM REDUÇÃO DE DANOS NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR Deane Barbosa de Jesus....................................................................................................... 209 7. DISCURSO DE TRANSFORMAÇÃO RESISTÊNCIA NA VELHICE: POSSIBILIDADES DE Priscilla Melo Ribeiro de Lima & Sostenes Cezar de Lima.................................................. 210 8. ANÁLISE DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS: O TRABALHO COM A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR NO CONTEXTO DO CONSELHO TUTELAR Jéssica Helena Vaz Malaquias.............................................................................................. 211 9. PARA ALÉM DA DICOTOMIA BEM/MAL: POTENCIALIZANDO A MULTIPLICIDADE DOS CAMINHOS DE JOVENS RECÉM-SAÍDOS DO TRAFICO DE DROGAS Lara Soutto Mayor Vieira, Renata do Carmo Chiquetto, William Pereira Penna, Bruno Giovanni de Paula Pereira Rossotti & Pedro Paulo Gastalho de Bicalho .............................. 212 10. CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS DE PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS EM ITAPERUNA- RIO DE JANEIRO: RELATO DOS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS EM REGIÕES INTERIORANAS Felix Berzins, Rosa M. Prista & Bruna Ramos .................................................................... 213 11. PSICOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE: ESTRATÉGIAS DE FORTALECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS Renan Vieira de S. Rocha & Lumena De Aleluia Santos...................................................... 214 12. SAÚDE MENTAL E DESIGUALDADE SOCIAL: EFEITOS PSICOSSOCIAIS DA DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE SOCIAL Lumena de Aleluia Santos & Renan Vieira de S. Rocha....................................................... 215 13. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL NA FORMAÇÃO ESTÉTICA DE EDUCADORES DE ARTE: UMA EXPERIENCIA NO CENTRO CULTURAL PIOLLIN Angela Maria Dias Fernandes, Pollyanna Calixto da Silva, Talita Barreto de Mello............. 216 14. SAÚDE MENTAL E RELIGIÃO: O PAPEL DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS RELIGIOSAS NA REINSERÇÃO SOCIAL DOS DEPENDENTES QUÍMICOS: O CASO DE UMA ONG NO DISTRITO FEDERAL. Daniel Zacarias dos Santos, Maria das Graças de Sousa & Cristina Aparecida Brolhani ...... 217 H- EIXO CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA................................. 218 1. PSICOLOGIA CLÍNICA INTERCULTURAL: PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES Allyne Fernandes Oliveira Barros & Lucienne Martins Borges............................................ 218 15 16 2. DA DEMOCRACITY A TIANJI ECO CITY: A CONSTRUÇÃO DO INDIVIDUO DEMOCRÁTICO NO SÉCULO DO EU Rodrigo da Costa Bezerra.................................................................................................... 219 3. CRÍTICAS E DIÁLOGOS NA RELAÇÃO BEHAVIORISMO–PSICOLOGIA COMUNITÁRIA Thales Cavalcanti e Castro .................................................................................................. 220 4. POLÍTICA SOCIAL NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA Ana Ludmila F. Costa & Oswaldo H. Yamamoto ................................................................. 221 5. A VIOLÊNCIA DO SABER QUE FRAGMENTA INDIVÍDUO E SOCIAL Rose Ani Jaroszuk, Lúcia Cecília da Silva & Sylvia Mara Pires de Freitas........................... 222 6. IMPACTOS PSÍQUICOS DA EXPERIÊNCIA MIGRATÓRIA - A CLÍNICA INTERCULTURAL Márcio Jibrin, Allyne Fernandes Oliveira Barros & Lucienne Martins Borges .................... 223 7. EPISTEMOLOGÍA Y PSICOLOGÍA POLÍTICA Hugo Adrian Morales .......................................................................................................... 224 8. A PSICOLOGIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA Luciana Helena Mussi & Salvador Antonio Mireles Sandoval ............................................. 225 9. ALCANCE E LIMITE DA MUDANÇA SOCIAL NA OBRA DE JOHN DEWEY: UMA LEITURA MATERIALISTA-DIALÉTICA. Bruno Pizzi ......................................................................................................................... 226 10. CARTOGRAFANDO A ATUAÇÃO DO SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS FLUMINENSE, EM CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS Silvia Ignez Silva Ramos..................................................................................................... 227 11. CONTRIBUIÇÕES PSICANALÍTICAS À INTERDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA POLÍTICA Ernesto Pacheco Richter...................................................................................................... 228 12. PSICOLOGIA EM CUBA: DA ALIENAÇÃO À TRANSFORMAÇÃO? Gervásio de Araújo Marques da Silva, Larissa Rodrigues Moreira Fernando Lacerda Júnior 229 13. IDEOLOGIA DO COMPROMISSO SOCIAL: DE TEMA A LEMA DA PSICOLOGIA NO BRASIL Danilo Oliveira e Silva ........................................................................................................ 230 14. DISCURSO E VERDADE NO LIMIAR DA LOUCURA: UMA RELEITURA À LUZ DE MICHEL FOUCAULT Joelmar Fernando Cordeiro de Souza .................................................................................. 231 15. DISPOSITIVO DE GRUPOS E ESQUIZOANÀLISE: PERSPECTIVAS. Douglas Alves Viana & Domenico Uhng Hur...................................................................... 232 I-EIXO TRABALHO, SAÚDE DO TRABALHADOR E COOPERATIVISMO............... 233 1. PSICOLOGIA, COOPERATIVISMO E FORMAÇÃO Mariana Luzia Aron, Cíntia Yoko Morioka & Claudenir Carolino Barbosa.......................... 233 16 17 2. O SERVIÇO DE PSICOLOGIA NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFMT/ CUIABÁ: REFLEXÕES NO ESTÁGIO BÁSICO EM CONTEXTOS CLÍNICOS E DE SAÚDE Andréia Maria de Lima Assunção & Henrique Araujo Aragusuku ....................................... 234 3. OS ATORES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: PERSONALIDADE ÉTICA UM ESTUDO SOBRE A Thelma Pontes Borges & Maria Thereza Costa Coelho Souza ............................................. 235 4. OS DISTÚRBIOS PSÍQUICOS MENORES E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE OS AGENTES PENITENCIÁRIOS DA CAPITAL POTIGUAR Mateus Estevam Medeiros Costa & Fernanda Fernandes Gurgel ......................................... 236 5. ESTUDO REALIZADO NO CONSÓRCIO ARENA NATAL: HÁ RELAÇÕES ENTRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E A SAÚDE DO TRABALHADOR? Mateus Estevam Medeiros Costa, Marcel de Brito Vital, Nadia Lígia da Cunha & Marisa Gabriela Gomes da Silva ..................................................................................................... 237 6. INTERFERÊNCIAS DA MEDICINA NA COMPREENSÃO E TRATAMENTO DAS PATOLOGIAS DO TRABALHADOR NA CONTEMPORANEIDADE Cristina Miyuki Hashizume................................................................................................. 238 7. MICROPOLÍTICA TRABALHADORES E SOFRIMENTO PSÍQUICO EM PROFESSORES- Cristina Miyuki Hashizume................................................................................................. 239 8- O PSICÓLOGO NA SAÚDE DO TRABALHADOR: UMA EXPERIÊNCIA DE GRUPO DE ACOLHIMENTO Isabel Lopes dos Santos Keppler ......................................................................................... 240 9. TRABALHO E SAÚDE MENTAL: EXPOSIÇÃO DE UM CENÁRIO Alciane Barbosa Macedo Pereira & Lívia Mesquita de Sousa.............................................. 241 10. CONSTITUIÇÃO DA DEMANDA PARA CLÍNICA DO TRABALHO NA UFG Lila de Fátima de Carvalho Ramos & Kátia Barbosa Macêdo ............................................. 242 11. DISPOSITIVOS DE PRODUÇÃO DO CUIDADO AOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE MENTAL Elisa Alves da Silva........................................................................................................... 2433 PÔSTERES ............................................................................................................................... 244 A-EIXO AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 1.CONTROVÉRSIAS EM TORNO DAS TÉCNICAS E PRÁTICAS DA ACUPUNTURA PELO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA E O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA Ana Claudia da Silva,Elias Rafael Kochhann Coradini, Larissa Maciel da Silva Lima, Luiza de Oliveira Padilha, Sarah Raquel Batista Leão & Tabata Fonseca Mazetto, ............................ 245 2. A ARTE CONTEMPORÂNEA COMO RECURSO TRANSFORMADOR E ALIADA DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS 17 18 João Victor Gama da Silveira Gutierres Gimenez & Henrique de Oliveira Lee .................... 246 3. A EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES (EBSERH) E SUAS RESSONÂNCIAS SOBRE OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL HISTÓRICO-GENEALÓGICA SOBRE A LEI 12.550/2011 Bruno Jáy Mercês de Lima .................................................................................................. 247 4. HOMENS E FEMINISMO: A PARTICIPAÇÃO DE HOMENS NO (S) MOVIMENTO (S) FEMINISTA (S) COMO UMA NECESSIDADE PARA AVANÇOS TEÓRICOS E POLÍTICOS Bruno Jáy Mercês de Lima .................................................................................................. 248 5. SUJEITO, SUBJETIVIDADE E AÇÃO COLETIVA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DAS “JORNADAS DE JUNHO” Marianne Lima Martins ....................................................................................................... 249 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL ................................................................................................................................ 250 1. JUVENTUDE, SUBJETIVIDADE E SEXUALIDADE: INTERFACES ENTRE POLÍTICA, RELIGIÃO, ECONOMIA E HOMOAFETIVIDADE E/OU HOMOEROTISMO Hugo Higino Perez de Andrade & Paola Biasoli Alves. ....................................................... 250 2. FAMÍLIAS HOMOPARENTAIS: VIVÊNCIAS FAMILIARES E EXPERIÊNCIAS SOCIAIS Mariana de Oliveira Farias & Salvador Antonio Mireles Sandoval ...................................... 251 3. OFICINA: IDENTIDADE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL Nadylva dos Santos Guedes................................................................................................. 252 4. O ARTESANATO NA DERIVA POLÍTICA DA MÃO Mônica Restelatto, Raquel Alquatti & Luciene Jung de Campos.......................................... 253 C- EIXO CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA...................................... 254 1. MEMÓRIA, CONSCIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA PSICOLOGIA NA USP - RIBEIRÃO PRETO Natália Amaral Antunes, Alessandro Soares da Silva & Leandro Amorim Rosa................... 254 2. ALCOOL E POLÍTICA PÚBLICA: ANÁLISE DA ATITUDE DOS CONDUTORES SOBRE À PROIBIÇÃO DO ÁLCOOL PARA QUEM DIRIGE Vanilda Aparecida dos Santos.............................................................................................. 255 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL ..................... 256 1. AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA NA CAPITAL POTIGUAR Cynthia de Freitas Melo Lins, João Carlos Alchieri, João Lins de Araújo Neto & Mateus Estevam Medeiros Costa ..................................................................................................... 256 2. RADIOGRAFIA DOS MÉDICOS NO CEARÁ: AS POLITICAS DO GOVERNO RESOLVERAM O PROBLEMAS? Cynthia de Freitas Melo Lins, Regina Heloisa Maciel, João Lins de Araújo Neto & Mateus Estevam Medeiros Costa ..................................................................................................... 257 18 19 3. AS CONTRADIÇÕES DA ASSISTÊNCIA AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: O CASO DO ALBERGUE MUNICIPAL D ENATAL Flávio Allan Soares Carmo, Juney Paulo de Lima, Thayse Mayra Paiva de Lima & Rafael de Albuquerque Figueiró.......................................................................................................... 258 4. POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS: A CONSTRUÇÃO DE UM DEBATE NA UNIVERSIDADE Noemi Bandeira & Luiz Eduardo Gomes Góes Filho........................................................... 259 5. PSICOLOGIA E AUTORITARISMO: A IMPLEMENTAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DAS UF’S DO ESTADO DA PARAÍBA E PERNAMBUCO Aléxia Thamy G. de Oliveira, Franciele Alves dos Santos & Oswaldo Hajime Yamamoto ... 260 6. IDENTIDADE E VIOLÊNCIA doméstica: A ESCOLA EM FOCO Fernando César Paulino-Pereira, Pollyane Lisita da Silva & Wanderson dos Santos Ribeiro 261 7. IDENTIDADE E VIOLÊNCIA doméstica: UMA PESQUISA REALIZADA NUMA ESCOLA MUNICIPAL DE CATALÃO-GO Heitor Abadio Vicente,Fernando César Paulino-Pereira & Letícia R. Pacheco ..................... 262 8. A GESTÃO PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL PARTICIPATIVA E EMPODERAMENTO CIDADÃO Alan Christi Vieira Rocha.................................................................................................... 263 E- EIXO MEMÓRIA, VIOLÊNCIA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS .................... 264 1. 50 ANOS DO GOLPE: MEMÓRIAS A RESPEITO DAS PREOCUPAÇÕES DA PSICOLOGIA DURANTE OS “ANOS DE CHUMBO” Franciele Alves dos Santos, Alexia Thamy de Oliveira & Candida Maria Bezerra Dantas.... 264 2. ANÁLISE INSTITUCIONAL: HOLOCAUSTO BRASILEIRO Amanda Soares Cruz, Bárbara Monielle & Domenica de Melo Silva................................... 265 F- EIXO MÍDIA, RELIGIÃO E POLÍTICA....................................................................... 266 1. GRAFITES E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE: CARTOGRAFIA DOS MUROS DE NATAL-RN Rafael de Albuquerque Figueiró & Lisabete Coradine ......................................................... 266 2. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ESTADO: RELAÇÕES DE DUALIDADE Aline Aparecida Santos da Silva & Franciele Alves dos Santos ........................................... 267 G- EIXO COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL ................................................... 268 1. POLÍTICA E O SABER PSICOLÓGICO NO SAMU: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Mayane da Silva Fernandes & Marisa Fernandes Seixas...................................................... 268 2. SERVIÇO DE PSICOLOGIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO Franciely Ozumi de Moraes, Jussane Lima de Oliveira & Tatiana Machiavelli C. Souza ..... 269 H- EIXO CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA................................. 270 1. A EDUCAÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NA PSICOLOGIA Adriano Diamarante de Oliveira Gomes & Fabricio Ferreira de Carvalho............................ 270 19 20 2. A PSICOLOGIA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: UMA CRÍTICA AOS MECANISMOS REGULADORES E ESTIGMATIZANTES José Rangel de Paiva Neto................................................................................................... 271 3. TRABALHO E SUBJETIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA DE PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Amom Rodrigues de Morais & Maurício Campos ............................................................... 272 I-EIXO TRABALHO, SAÚDE DO TRABALHADOR E COOPERATIVISMO............... 273 1. AS TRAMAS DO RENDAR NA SUBVERSÃO DO RENDER Bruno Simon, Luciene J. de Campos, Macuri Peteffi, Mônica Restelatto & Raquel Alquatti 273 20 21 APRESENTAÇÃO PSICOLOGIA POLÍTICA EM TEMPOS DE CRISE1 Domenico Uhng Hur & Fernando Lacerda Jr. Universidade Federal de Goiás CRISE – Núcleo de Estudos e Pesquisas Crítica, Insurgência, Subjetividade e Emancipação A Psicologia Política configura-se como um campo de conhecimento emergente na Psicologia brasileira. Possui múltiplas e distintas definições, tal como se pode constatar na revisão de Moya e Morales (1988), bem como em outras obras (Penna, 2000). Para um dos fundadores da Psicologia Política no Brasil, Salvador Sandoval (2001), é um campo recente no país que busca investigar a participação e o comportamento político na intersecção entre psicologia e política, pretendendo assim examinar o papel do pensamento humano, as emoções e fatores sociais como determinantes do comportamento político. Portanto, é um campo interdisciplinar que utiliza teorias psicossociais e sociais para analisar o mundo da política e o comportamento coletivo e individual numa sociedade referenciada pelo Estado. No âmbito mundial pode-se dizer que a Psicologia Política se origina com as reflexões filosóficas na antiga Grécia sobre o indivíduo e a governabilidade, mas obviamente sem constituirse enquanto uma disciplina autônoma. Outros afirmam que originou-se até antes da constituição da Psicologia Social, no fim do século XIX, com os estudos das massas e multidões (Parisí, 2007). Uma das áreas de estudos consolidados na Psicologia Política refere-se ao comportamento eleitoral 1 Esta apresentação é uma variação do texto de Hur, Sandoval e Dantas (2014). 21 22 e político, campo bastante trabalhado pelos norteamericanos. Na América Latina, assumiu um enfoque mais crítico e politizado do que na Europa e nos Estados Unidos, devido às demandas e lutas sociais que se configuraram nas décadas de 1960e 1970 no território latinoamericano. Ignácio Martín-Baró figura como um dos ícones desse período turbulento, em que produziu e inspirou muitas produções no campo da Psicologia Política latinoamericana. No Brasil sua origem situa-se no campo acadêmico. É um campo de estudos e pesquisas desenvolvido desde o fim da década de 1970, mas que se estruturou a partir dos grupos de trabalho na ANPEPP – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – nas décadas de 1980 e 1990. A partir da intensificação da atividade de grupos de pesquisas que se encontravam nos fóruns da ANPEPP, houve a fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Política no ano de 2000, em seu primeiro Simpósio Nacional, sediado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Posteriormente, por questões de ordem legal, a Sociedade mudou seu nome para ABPP – Associação Brasileira de Psicologia Política. Em 2001, houve o lançamento do primeiro volume do periódico científico, Revista de Psicologia Política, que semestralmente vem sendo publicado. Recentemente foi publicado o volume 13, número 26 e decidiu-se aumentar a periodicidade da revista: de semestral para quadrimestral. São publicados artigos de pesquisadores de todo o país, contando frequentemente com contribuições de pesquisadores internacionais importantes para a área, como: Bert Klandermans (Holanda), Angel Rodriguez Kauth (Argentina), Graciela Mota Botelho (México), José Luiz Álvaro Estramiana (Espanha), Maritza Montero (Venezuela), Silvina Brussino (Argentina), Mirta González-Suárez (Costa Rica), Elio Rodolfo Parisí (Argentina), Agustín Espinosa (Peru), entre outros. Desde a fundação da associação e a criação do periódico científico, os núcleos de pesquisa em Psicologia Política multiplicam-se no país. Alguns dos núcleos mais estruturados estão na PUCSP, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Além desses núcleos, há núcleos e grupos de pesquisas que possuem linhas de investigação ligadas à Psicologia Política em diversas partes do Brasil, como: Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Universidade Federal do Acre (UFAC), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade do Estado do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade Federal do Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Goiás (UFG), dentre outros. Os Simpósios nacionais, que ocorrem a cada dois anos, tiveram sede em tradicionais universidades do país, como PUC-SP (1º), UFMG (2º e 4º), UNESP (3º), USP (5º e 6º) e UERGS 22 23 (7º) contando frequentemente com pesquisadores e conferencistas internacionais. Em média, os eventos contam com a participação de 350 pessoas. Há um movimento de descentralização territorial. O VII Simpósio foi sediado na simpática cidade de São Francisco de Paula/RS (UERGS) e foi a primeira vez que o evento saiu da região sudeste. Na oitava edição, o evento saiu do eixo sulsudeste e foi para a região Centro-Oeste do país, sendo realizado na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás- FE-UFG (Goiânia), unidade que possui um recente curso de graduação em Psicologia (criado em 2006) e que acabou de abrir seu Programa de Pós-Graduação em Psicologia stricto sensu (mestrado acadêmico) em 2014. O VIII SBPP foi organizado por um também recente núcleo de pesquisa, intitulado CRISE – núcleo de estudos e pesquisas Crítica, Insurgência, Subjetividade e Emancipação. Trata-se, portanto, de um evento que contribuiu para o fortalecimento da pesquisa em Psicologia em uma região que a produção de conhecimento na área ainda é frágil. Além disso, a organização do evento na região Centro-Oeste contribuiu para possibilitar significativa participação de pessoas provenientes de estados do Norte e do Nordeste do Brasil. Desta forma, consideramos que sediar e oferecer o VIII Simpósio Brasileiro de Psicologia Política na UFG oportunizou: a) intercambiar conhecimentos entre pesquisadores regionais, nacionais e internacionais, b) possibilitar a participação de docentes, discentes e comunidade acadêmica num evento nacional com alta qualidade teórico/científica, c) integrar diferentes áreas do saber e promoção do debate interdisciplinar, d) estimular, visibilizar e difundir a produção teórica, científica e acadêmica de universidades da região Centro-Oeste a outras universidades do país, e) incrementar a cultura profissional e de iniciação científica para discentes de graduação. Para essa edição, devido à turbulência social que o país passa, foi proposto o tema “Crise e insurgência: controle da subversão e subversão do controle”. Desde o ano de 2013 distintos segmentos da população, uma “multidão” (Hardt & Negri, 2006), tomaram as ruas para protestar contra práticas políticas institucionalizadas, o tremendo gasto do erário público no que se convencionou chamar de “Megaeventos”, enfrentar a mercantilização do transporte público e assegurar o básico direito à moradia. Portanto, foram lutas que não destacaram apenas problemas ligados ao direito de ir e vir, mas, tal como Harvey (2008) destaca, expressaram a busca pelo direito de produzir a cidade de acordo com anseios coletivos. Neste contexto, discussões sobre as distintas formas de ação política, as novas modalidades de movimentos sociais, a circulação pelo espaço urbano, a legitimidade das instituições estatais e partidárias e os gargalos das políticas sociais e econômicas atuais reapareceram. Ao mesmo tempo, assistiu-se à intensificação da violência estatal, concretizada no recrudescimento da ação policial e militar frente aos movimentos sociais. Os aparatos repressivos do Estado agiram a partir de práticas de violência massiva e prisões arbitrárias como forma de intimidação social. Também perpetraram a 23 24 estratégia da criminalização da pobreza como forma de controle social, trazendo uma espécie de condensação entre “pacificação”, “higienização” e “violência estatal”, como por exemplo, com as atuais UPPs, supostas Unidades de Polícia Pacificadora. Nesta situação, ficou explícito que a violência repressiva não é uma estratégia adotada apenas por uma velha direita branca e oligárquica devedora da direita, mas empregada também por uma nova direita constituídas por ex-burocratas sindicais e encabeçada por uma ex-guerrilheira, que, em busca de manter uma pseudohegemonia de 12 anos, não poupou esforços para tentar quebrar, controlar e cooptar movimentos sociais independentes. Consideramos que neste caso vale a máxima de R. Michels (1982), sobre a oligarquização das minorias dirigentes dos partidos políticos e sindicatos, em que estes passam a se identificar e agir tal como os grupos dominantes, ao invés de manter uma ação coerente com os grupos sociais que representam. O atual contexto social apresenta velhas e novas temáticas que marcaram a história da Psicologia Política e, por isso, cabe atualizar a análise sobre o papel dessa disciplina no meio desses confrontos e convulsionamento social. Dentro dessa temática geral, o VIII Simpósio teve como objetivo apresentar questões contemporâneas de pesquisas realizadas no campo da Psicologia Política. Nele buscou-se traçar um panorama atual de modalidades de investigação a partir da Psicologia Política que estão sendo realizadas no Brasil e na América Latina, percorrendo diversos temas, como: movimentos sociais, políticas públicas e sociais, exclusão social, marxismo, memória, imigração, identidade, instituição religiosa, arte, gênero, raça, ambiente, comunidade, minorias étnicas, violência e forças armadas e policiais. Estas problemáticas expressam o desenvolvimento da Psicologia Política no país como campo de investigação diverso e plural, frequentemente adotando uma postura crítica em relação aos diversos processos sociais e políticos da América Latina. Por isso, a Comissão Científica do evento foi caracterizada pela diversidade e pluralidade contendo pesquisadores de todas as regiões do Brasil e de outros países. Constata-se que essa constelação diversificada de temas expressa a ampliação do fenômeno político na contemporaneidade, em que não é mais apreendido apenas em suas instituições tradicionais, como o Estado, o partido, os sindicatos e os movimentos sociais, mas também nas “políticas do cotidiano”, em que a política transversaliza as questões de gênero, ecológicas, raciais, comunitárias, públicas, religiosas, artísticas, identitárias, etc. Considera-se que os tópicos adotados no evento são temas relevantes de desafios que se defrontam na atualidade, mas que ainda estão longe de serem superados. O VIII SBPP contou com a participação de cerca de quatrocentos participantes de todas as regiões do país. Apenas três Unidades da Federação não foram representadas. Diferentemente dos outros simpósios, em que pesquisadores do sudeste eram a grande maioria, neste tivemos intensa 24 25 participação de pesquisadores do Nordeste. Também não houve muitos participantes da cidade-sede. Houve a aprovação de quase duzentos trabalhos em nove dos dez eixos propostos, sendo grande parte de alunos de pós-graduação (doutorado e mestrado). Ressalta-se o fato curioso de não ter havido a inscrição de trabalhos no eixo “Comportamento Eleitoral e Marketing Político”, um eixo tradicional nos estudos da Psicologia Política, principalmente norteamericana. Dos trabalhos submetidos contata-se em sua quase totalidade uma verve crítica e um comprometimento ético-político com o projeto da transformação social. Do ponto de vista do referencial teórico, percebe-se uma diversidade de teorias, corroborando o perfil da Psicologia Política brasileira de se ater mais ao campo e aos fenômenos estudados, ao invés de uma preocupação dogmática em reproduzir determinados enunciados teóricos. Também nos chama a atenção o aumento do número de trabalhos relacionados aos Estudos de Gênero, bem como de autores considerados pós-estruturalistas, como Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault. Consolida-se assim a Psicologia Política brasileira que assume um perfil político crítico, politizado, com uma preocupação com a transformação social, com a expressão dos grupos sociais minoritários e marginalizados e, muitas vezes, numa luta contra as práticas instituídas de Estado, independendo dos instrumentos teóricos que se adote. Nessa edição percebeu-se a preocupação com a construção de um campo comum, a partir da heterogeneidade dos participantes e de suas concepções. Um campo comum que se articulou a partir de um desassossego com o presente e na aposta na insurgência como um dispositivo de expressão, potencialização e transformação. Insurgência que foi incitada nesse encontro de muitos e que se expressa, às vezes de maneira mais explícita, nos trabalhos que se apresentam nesta coletânea. Então nossa aposta, nossa utopia ativa, é na multiplicação e intensificação dessa insurgência nas práticas cotidianas, seja micropolíticas ou macropolíticas, e nos saberes e fazeres da Psicologia brasileira, para quem sabe, haver o fomento de outras práticas e processos de subjetivação que vão em direção oposta à axiomática capitalista. Então, espera-se que estes anais possam configurar-se como uma espécie de grito, uma janela aberta por onde se possa respirar um pouco de ar fresco, para a constituição e produção de Psicologias Políticas alicerçadas com a construção de outros mundos e subjetividades possíveis. Referências bibliográficas: Hardt. M. & Negri, A. (2006). Multitud: Guerra y democracia en la era del Imperio. Barcelona: Debols!llo. Hur, D. U.; Sandoval, S. A. M. & Dantas, B. S. A. (2014). Psicologia Política: teorias e sociedade em transformação. In: Sandoval, S. A. M; Hur, D. U. & Dantas, B. S. A. (orgs). Psicologia 25 26 Política: temas atuais de investigação. Campinas, SP: Alínea. Harvey, D. (2008). The right to the city. New Left Review, 53, 23-40. Michels, R. (1982). Partidos Políticas. Brasília, DF: Ed. UnB. Moya, M. & Morales, J.F. (1988). Panorama histórico de la Psicología Política. In: Seoane, J. & Rodriguez, A. Psicología Política. Madrid: Pirámide. Parisí. E. R. (2007). Definiendo a la Psicología Política. In: Parisí, E. R. (Org). Psicología Política y otros temas de Psicología. Buenos Aires: ediciones cooperativas. Penna, A.G. (2000). Introdução à Psicologia Política. Rio de Janeiro: Imago. Sandoval, S.A.M. (2001). The Crisis of the Brazilian Labor Movement and Workers Political Consciousness. Psicologia Política, nº1, (1). 26 27 SIMPÓSIOS 27 28 1- CRISIS E INSURGENCIA: CONTROL DE LA SUBVERSIÓN Y SUBVERSIÓN DEL CONTROL – EL PAPEL DE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA Elio Rodolfo Parisi Universidad Nacional de San Luís, Argentina Crisis e insurgencia no siempre son sinónimos. No siempre una crisis decanta en subvertir determinados órdenes sociales que son los que, cuando agotan sus estructuras, generan la misma crisis. Por otra parte, subversión tampoco se asemeja al concepto de cambio. Subversión implica la modificación de las superestructuras en términos del status quo establecido. Ahora bien, cómo puede aproximarse a comprender la psicología política la crisis y la insurgencia con un sistema valorativo que, la más de las veces, está atravesado por categorías conceptuales que son foráneas y que replican modelos de dominación científica, cultural y económica. Mucho se ha hablado sobre los diversos objetivos de la psicología política desde los diferentes marcos conceptuales, pero existe uno que acapara mi interés desde hace tiempo y remite al hecho de pensar a la psicología política latinoamericana como un dispositivo de análisis de la realidad. Pero no como herramienta aséptica (por cierto que ningún marco conceptual es “neutral”, aunque en las fronteras del positivismo se pretenda la neutralidad); en este caso esta lectura se constituye desde el espacio complejo que significa transitar el abismo de la dialéctica entre ciencia y praxis, sin perder de vista una lectura ideológicamente al servicio de la emancipación. Y pensar en la emancipación implicaría definir que la psicología política sea latinoamericana y por tanto redefina su propia epistemología, entonces podrá incorporar describir los hechos, interpretarlos, comprenderlos y así acompañarlos para tener una intervención en ellos. De lo contrario, la psicología política latinoamericana se ubicará como una disciplina que busque, desde los aspectos teóricos, la mera descripción de los hechos, satisfaciendo así sus apetencias intelectuales y renegando de los motivos de sus surgimiento. 28 29 2- MÁS ALLÁ DE LA PSICOLOGÍA DEL COMPORTAMIENTO AGRESIVO: LUCHA GUERRILLERA Y VIOLENCIA INSTITUCIONALIZADA EN EL DISCURSO DEL EJÉRCITO POPULAR REVOLUCIONARIO (EPR) DE MÉXICO David Pavón-Cuéllar Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, México El Ejército Popular Revolucionario (EPR), grupo armado clandestino surgido en México en 1996, ha descrito repetidamente su lucha guerrillera como una defensa justa contra la violencia institucionalizada en el país. Desde este punto de vista, la violencia cotidiana, tanto gubernamental como económica, bastaría para justificar la insurrección armada popular y su impugnación revolucionaria de cierto Estado como detentor del monopolio del uso legítimo de la violencia, en el sentido weberiano de la expresión. La violencia estructural es aquí razón y fundamento, causa y derecho, de una acción colectiva irreductible a la concepción estática e individualista del comportamiento agresivo en la disciplina psicológica dominante. Esta disciplina tiende a congelar y cosificar la acción violenta, sustancializarla psicológicamente en la agresividad y personificarla individualmente en el sujeto agresivo, lo que puede apreciarse, no sólo en la atribución de un perfil psicológico personal a quienes actúan de modo violento, sino también en la explicación de la violencia por cierta forma de procesamiento de la información (Dodge) o por la experiencia o moldeamiento de un aprendizaje social (Bandura) o familiar (Patterson). En todos los casos, tenemos la psicologización de la violencia como aquello aprendido por un sujeto individual que así adquiere cierta personalidad y cierta preferencia cognitiva por soluciones violentas. Por el contrario, en el discurso del EPR, tenemos la justificación de la violencia como aquello realizado por un sujeto colectivo cuya opción por la lucha guerrillera no obedece a ciertas disposiciones agresivas mentales o personales, sino que responde a una situación de violencia institucional. Lo que aquí se tiene es una situación histórica y no una condición psicológica, una acción colectiva y no una disposición individual, una legitimación de la lucha guerrillera y no una sustancialización del comportamiento agresivo. Intentaremos demostrar el potencial del discurso del EPR para la crítica de la disciplina psicológica dominante, la cual, en cierto sentido, forma parte de aquello mismo contra lo que han luchado las guerrillas latinoamericanas. 29 30 3- A POLÍTICA NÔMADE: DAS LINHAS DE FUGA ÀS LINHAS DE LUTA Domenico Uhng Hur UFG, Brasil Este trabalho pretende conhecer o relato de ex-guerrilheiros sobre sua participação política na luta contra o Estado, para discutir a emergência de uma nova forma de agenciamento psicopolítico, que denominamos de política nômade. Foi escolhido o tema da luta armada, por entendemos que se trata de coletivos sociais que empreenderam uma luta radical pela Revolução e por seus princípios libertários. Não se tratava de mera reprodução discursiva de ideias, mas da revolução posta em prática, em movimento, em ação, podendo custar a própria vida. Entrevistamos quatro exguerrilheiros brasileiros de diversas organizações armadas (VPR, VARPALMARES, PCdoB – Guerrilha do Araguaia) que lutaram contra a ditadura militar no Brasil nas décadas de 1960 e 1970 e um ex-guerrilheiro colombiano que teve sua militância nas FARC - Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia - nas décadas de 1980 e 1990. Realizamos nossa análise a partir de conceitos da Esquizoanálise, criada por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Consideramos que a política nômade atua pelo primado da desterritorialização, numa luta contra as práticas instituídas de Estado. Assume um potencial instituinte de uma máquina de guerra contra o Aparelho de Captura, atualizando a lógica do guerreiro frente a do legislador. É crítica à ideia de que tomar o poder do Estado possa ocasionar a transformação social e está muito mais próxima de um devir revolucionário do que com o futuro da Revolução. Constata-se que ao traçar linhas de fuga frente às práticas instituídas, constitui linhas de luta que configuram estratégias e táticas de combate e de resistência frente ao Estado, em que se deve buscar armas ao mesmo tempo em que se escapa da opressão. Pois a fuga nunca é passiva, sempre há uma atividade combativa nela. Por adquirir tal lógica de movimento, de deslocamento, de posições territoriais variáveis e flexíveis, é que consideramos que instaura uma nova modalidade de prática política, a política nômade, em contraposição às políticas sedentarizadas da estrutura de um partido político e das práticas de Estado. No âmbito dos movimentos sociais, consideramos que coletivos que atuam a partir da política nômade passam a fazer parte de uma nova categoria, que ousamos chamar de movimentos sociais nômades. Apoio: CNPq e CAPES. 30 31 4- A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À POBREZA EXTREMA Ilana Lemos de Paiva UFRN, Brasil Ao longo da evolução e consolidação da Psicologia como ciência e profissão no Brasil, veem-se marcos que influenciaram sua conformação, mas que também constituíram foco de críticas quando se acirraram as discussões acerca do compromisso social assumido pelo campo. Tradicionalmente palco da atuação clínica, já desde a década de 1970, segmentos profissionais almejavam uma nova forma de conceber a Psicologia e o ‘ fenômeno psicológico ’ e, consequentemente, a atuação sobre ele. Era o início da discussão do compromisso social de uma profissão que desenvolvera-se sob perspectivas conservadoras, elitizadas, segmentadas e ideológicas. O auge desse movimento de renovação na Psicologia acontece em meados da década de 1980, quando o esboço de uma reforma do Estado após a decadência da autocracia burguesa dá espaço para a elaboração de políticas sociais de cunho menos conservador e com tendências redistributivas. Naquele momento, a psicologia intitulava-se uma ciência e profissão que tinha como perspectiva ética a possibilidade de transformação social. Tal fato a fez apostar numa competência potencial de trabalho para campos que exigiam posicionamentos e ações políticas que não faziam parte do cotidiano do trabalho profissional. Esse ideário era defendido eminentemente pelas entidades de representação, mas não absorvidos pela grande massa de psicólogos. Mesmo assim, esses últimos adentraram nos referidos campos e, desde então vários são os debates acerca do papel do psicólogo frente às políticas dirigidas prioritariamente a população pobre. A saúde pública, inicialmente, e, posteriormente, a assistência social foram campos que absorvem psicólogos, não sem críticas relativas à transposição de um arsenal teórico e técnico idealizado para uma população distante da que agora encontrava-se diante dos profissionais que buscavam no campo social a segurança e a consolidação de um mercado de trabalho achatado em tempos autoritários: a população pobre. As indagações giram em torno do que a Psicologia tem feito, como tem se posicionado, se sua ação tem garantido amplitude e acessibilidade dos usuários aos direitos sociais, adequação da atuação, enfim, questões que podem ser, de forma ampla, agrupadas em aspectos que dizem respeito aos eixos intrínseco e extrínseco a profissão. No eixo intrínseco, várias foram as discussões em torno dos modelos, da formação, do papel social do psicólogo. Era quase unanimidade o fato de que muito ainda se tinha que caminhar para que a Psicologia pudesse, de fato, oferecer uma prática socialmente transformadora das condições materiais de existência da população. Pretende-se, então discutir acerca da contribuição do trabalho do psicólogo no acesso da população-alvo das políticas públicas de combate à pobreza extrema, segundo sua perspectiva de integralidade na garantia de direitos sociais. Buscar-se-á, assim, realizar uma reflexão sobre a prática psicológica na promoção do acesso e garantia de direitos dessa população. 31 32 5- LUTAS CONTEMPORÂNEAS: ATIVISMO POLÍTICO E CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Aline Reis Calvo Hernandez UERGS, Brasil Propõe-se discutir as lutas de diversos movimentos sociais no Brasil contemporâneo e suas relações e articulações com as novas formas de comunicação em rede, a partir de sujeitos políticos difusos. Inicialmente, será feita uma análise de conjuntura política evidenciando alguns operadores teóricos importantes, a saber: a) o Estado como esfera pública, palco de disputas entre correlações de forças, sendo analisado a partir de dois planos superestruturais: a sociedade civil, sociedade política ou Estado, o domínio direto ou comando, ou seja, o Estado visto como governo jurídico. O Estado, visto como esfera pública é lócus onde a sociedade civil opera por persuasão, através de dispositivos de influência social, tendo como horizonte o “barulho” e a mudança social permanente. É na esfera pública que se criam canais de fala, de persuasão, de ação. Ali, no campo de tensões e conflitos o poder será questionado e transformado. O Estado é, então, uma arena de disputas e negociações, onde as reformas políticas deverão passar pelo exercício da cidadania, pelas vias do protesto; b) o poder, nos termos de Dussel a partir de sua diferenciação enquanto poder potestas e poder potentia. O primeiro efetivado através de um poder institucional, representativo, poder das elites representativas e o poder potência, em germe, sempre em atividade, mas com status de minoria ativa. Num segundo momento, serão analisados novos repertórios de ação coletiva e suas consequências diretas na criminalização dos movimentos sociais, a convergência entre movimentos sociais, as inovações comunicacionais, a crise de “bandeiras” de luta etc. E, finalmente, serão problematizadas as variáveis clássicas de análise do protesto, a saber: injustiça, identidade e eficácia. 32 33 6- CRIMINALIZAÇÃO OU REPRESSÃO; VANDALISMO E SABOTAGEM: ASPECTOS INERENTES DAS AÇÕES COLETIVAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS E DE PROTESTO SOCIAL? Salvador Sandoval PUC-SP/UNICAMP, Brasil Debates recentes sobre os movimentos sociais e as reações de autoridades do Estado perante as ondas de protesto que tem envolvido a maioria das sociedades europeias e americanas, tem destacado como uma critica a crescente criminalização dos movimentos sociais pelo Estado e a presencia de ações de vandalismo no decorrer dos protestos sociais. Esta apresentação pretende retomar esses dois pontos, analisando eles dentro de uma perspectiva histórica dos movimentos sociais focalizando os efeitos psico-politicos que ações de criminalização e repressão, por um lado, e vandalismo, por outro, tem na disposição dos segmentos da população de engajar-se em essas formas de ações coletivas. Na historiografia dos movimentos sociais há uma longa tradição de esforços por autoridades de criminalizar protesto social e ações coletivas dos movimentos sociais desde o Século XIX. Criminalização tinha alguns objetivos para desencorajar protestos: restringir os espaços públicos onde pessoas poderiam se manifestar coletivamente, punir lideranças e “provocadores” de ações coletivas ao mesmo tempo proteger a legitimidade das autoridades afrentados com conflito social e a ira dos manifestantes. Nossa apresentação focaliza nos efeitos psicológicos que tais estratégias de criminalização e repressão têm nas consciências de participantes, de participantes em potencial e de públicos espectadores. Outro aspecto de protesto social costuma ser o aparecimento de atos de violência resultantes da repressão policial por um lado e atos de vandalismo de parte de alguns grupos dos manifestantes. Este aspecto do protesto social tem ganhado destaque no Brasil desde os protestos contra a Copa Mundial de junho de 2013 na medida em que atos de vandalismo passaram a ser personificado nas figuras dos Black Bocs, um grupo de protestadores que usam o confronto violento e o vandalismo como formas de ação coletiva de protesto. Nos debates recentes e na focalização da mídia em relacionando violência nas manifestações com os Black Bocs, esqueceu outro aspecto inerente de protestos sociais, a provocação da violência por agentes do Estado com a finalidade de desacreditar o protesto social e provocar um maior nível de repressão. O presente trabalho pretende discutir esse aspecto da violência no protesto social e refletir sobre seu impacto psicopolitico na participação em ações coletivas. 33 34 7- A CONTRIBUIÇÃO DA PERSPECTIVA MARXISTA PARA A CIÊNCIA E A POLÍTICA DA PSICOLOGIA Carl Ratner Institute for Cultural Research and Education, EUA Esta apresentação explica como a ciência psicológica pode ser enriquecida pela incorporação da teoria social marxista. Eu também explico como a ciência psicológica pode ser mais socialmente e politicamente relevante por meio da incorporação da filosofia social marxista. O objetivo não é simplesmente apontar a relevância política do marxismo, mas explicar como as dimensões marxistas da ciência psicológica são politicamente relevantes. O foco da apresentação está, portanto, na ciência psicológica e o enriquecimento ou a transformação de seus caminhos políticos e científicos pela teoria social marxista. Destaco, também, que a ciência psicológica pode enriquecer a filosofia social marxista, pois pode conduzir o marxismo para um novo reino caracterizado por novos fenômenos. Ao acrescentar uma nova dimensão ao marxismo, a ciência psicológica o converte em um novo fenômeno e uma nova disciplina, pois acrescenta novos conceitos e processos a serem estudados. Assim, a psicologia não é um mero apêndice ao marxismo; mas é uma nova dimensão do marxismo. 34 35 8- PSICOLOGIA, POLÍTICA E MARXISMO Odair Sass PUC-SP, Brasil Uma discussão proveitosa acerca da psicologia política e suas possíveis relações com o marxismo precisa levar em consideração os seguintes aspectos: i) a proposição da psicologia política como disciplina específica é relativamente recente, à medida que retroage aos anos de 1970, que exprime a preocupação teórica, baseada principalmente na psicologia social anglosaxônica, das tentativas de inserir a ciência psicológica em estudos dos comportamentos individuais, coletivos ou de massas, seja em defesa e apoio aos movimentos sociais progressistas, seja nas lutas pela democracia nas sociedades ocidentais, marcadas pela expansão da indústria; ii) como disciplina parcelar ela não deveria ser dissociada dos esforços teóricos que investigaram as relações da Psicologia, de matrizes teóricas bastante distintas— tais como a psicologia social e experimental, a psicologia comportamental, a psicanálise, a psicologia dos povos, umas privilegiando o indivíduo, outras privilegiando os grupos ou o coletivo—, com a Política, os quais podem ser localizados pelo menos ao final século XIX, o que implica em perguntar, considerando suas origens, se ela é uma disciplina mais propriamente vinculada à Psicologia ou à Sociologia? Ou, ao gosto dos termos atuais, é uma ciência multidisciplinar?; iii) em contrapartida, é indispensável insistir que, de um lado, as suas eventuais aproximações com o marxismo não inauguram a relação da psicologia com a política, nem delas se pode deduzir o seu surgimento tardio e, de outro, como sua origem tem fonte diversa da concepção dialética materialista elaborada inicialmente por Marx e Engels, as possíveis relações que ela mantém ou pode vir a estabelecer com tal concepção há de levar em conta a tendência histórica da crescente especialização e fragmentação dos conhecimentos, em curso na sociedade industrial e de massas, de par com cisão e integração igualmente crescente entre sujeito e objeto do conhecimento bem como entre indivíduo ou grupos e sociedade. Esses aspectos orientam esta exposição que visa, primeiro, situar a ideia de uma psicologia política, quanto ao seu objeto de estudo, temas e métodos, bem como apontar elaborações teóricas precedentes que pretenderam relacionar a psicologia com a política e, segundo, discutir a possibilidade e os obstáculos de eventuais vínculos entre a psicologia política e o marxismo, considerando que há de se distinguir sem sofismas as possíveis contribuições de Marx daquelas que são genericamente enquadradas como marxistas ou marxianas, mais adequadamente atribuíveis aos intérpretes ou adeptos do materialismo dialético. 35 36 9- IDEAS RECTORAS PARA UNA REDEFINICIÓN MARXISTA DE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA David Pavón-Cuéllar UMSNH, México Se partirá de la incompatibilidad esencial entre las perspectivas epistemológicas del marxismo y de la psicología política hoy dominante en los centros académicos del mundo septentrional-occidental. Debiéndose elegir tan sólo una de las dos perspectivas mutuamente excluyentes, se optará de manera decidida por la marxista, pero también se verá la manera de no renunciar por ello al proyecto de una psicología política. Se presupondrá que esta psicología, como cualquier otra, no puede llegar a reconciliarse con el marxismo sin antes haberse transformado radicalmente. Se asumirá también que su transformación debe comenzar por su redefinición. Y será para la tarea de redefinirla que se propondrán y justificarán trece ideas rectoras. La psicología política, para ser compatible con el marxismo, deberá caracterizarse por su condición colectiva, situada, histórica, parcial, crítica, dialéctica, materialista, práctica, política, beligerante, subversiva, revolucionaria y liberadora. Estos rasgos característicos la opondrán a diversos vicios en los que ha incurrido la psicología política dominante: el individualismo, la descontextualización, el enfoque ahistórico, la pretensión de neutralidad, la objetivación acrítica, las redundancias irreflexivas, el academicismo idealista, la ciega tecnificación metodológica, la ilusión de apolitismo, el prejuicio pacifista, la reproducción ideológica, el reflejo reaccionario y el acatamiento implícito del pensamiento único y del orden establecido. 10- JORNALISMO E A ESFERA PÚBLICA INCIPENTE NO BRASIL Dennis de Oliveira USP, Brasil Jornalismo é uma atividade tipicamente do projeto liberal-burguês. Os seus princípios construtores se coadunam com o projeto iluminista, do esclarecimento e da formação da esfera pública. No caso brasileiro, o modelo conservador republicano não constituiu uma esfera pública no sentido clássico, de forma que o jornalismo brasileiro já nasce dentro de uma perspectiva não iluminista. Estas características particulares se coadunam com os traços distintivos da sociedade brasileira em que o racismo, a violência e a concentração de riquezas não são fatores pontuais ou episódicos, mas estruturantes. 36 37 11- O DISCURSO DO PARTICIPACIONISMO: UMA ANÁLISE PSICOPOLÍTICA DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NO BRASIL Frederico Viana Machado UFRGS-RS, Brasil Este trabalho discute a noção de participação social a partir de uma análise das relações entre os movimentos sociais e o Estado no Brasil, considerando o impacto dos discursos governamentais nos processos de mobilização. Para tal, foram analisados documentos produzidos pelo governo federal e entrevistas com militantes e ex-militantes que ocuparam cargos no governo federal, em Brasília, e nos governos estatuais e municipais nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Circunscrevemos nossa investigação às políticas e atores do campo da juventude e LGBT. Aqui apresentaremos uma categoria analítica que nomeamos de “Discurso do Participacionismo”, que aponta os sentidos e ambiguidades atravessadas no discurso governamental sobre a participação social. Argumentamos que os movimentos sociais não podem perder seu potencial criativo e devem buscar caminhos para reinventar coletivamente novas formas de ser e existir para além dos âmbitos institucionais e estatais da política. 12- QUESTÕES LGBT EM DEBATE: SOBRE DESAFIOS E CONQUISTAS Luiz Mello de Almeida Netto (UFG, Brasil) Esta comunicação problematiza o tratamento dados aos direitos sexuais no Brasil, por meio da análise crítica do processo de formulação e implementação de políticas públicas de combate à homofobia e de promoção da cidadania e dos direitos humanos da população LGBT. A despeito dos avanços nas iniciativas governamentais, especialmente no âmbito do Poder Executivo Federal, o que se observa é que nunca se teve tanto e o que há é praticamente nada. Essa talvez seja uma boa fórmula geral para mostrar o paradoxo da situação dos direitos da população LGBT no Brasil hoje. Todavia, para ilustrar a centralidade desse debate na cena política nacional, apresentaremos uma breve análise do tratamento dados às demandas do movimento LGBT brasileiro nos programas de governo dos três principais candidatos à Presidência da República nas eleições de 2014: Aécio Neves, Dilma Rousseff e Marina Silva. 37 38 13- CONSTRUÇÕES SOBRE LESBIANIDADE NA MÍDIA TELEVISIVA: POSSIBILIDADES DE UM DISCURSO EMANCIPATÓRIO? Lenise Santana Borges PUC-GO, Brasil A mídia faz parte de uma rede de saberes, como a ciência, movimentos sociais, Estado, igreja, entre outros, que, de forma distinta, produz e conforma ideias sobre temas diversificados como gênero e sexualidade. Considera-se que os meios midiáticos, em particular os televisivos, como as telenovelas, fornecem aos acontecimentos uma visibilidade peculiar, pois rompem barreiras espaço-temporais e levam informações para pessoas em diferentes contextos e, assim, modelam e influenciam o rumo dos acontecimentos. Nas últimas décadas temos acompanhado mudanças impressionantes na forma como a mídia tem retratado a homossexualidade/lesbianidade. De uma presença quase imperceptível na mídia televisiva, percebe-se atualmente uma participação reiterada de personagens gays e lésbicas nas novelas, tornando-se elemento indispensável nas tramas exibidas. Nessa mesa redonda, proponho retomar algumas reflexões iniciadas no meu trabalho de doutorado, analisando convergências e divergências no tratamento conferido à lesbianidade nas novelas da Rede Globo Senhora do Destino (2004-2005) e Em Família (2013-2014). A pesquisa que orientou esse trabalho teve por objetivo compreender as formas de se falar sobre a lesbianidade nas telenovelas Senhora do destino a partir de uma análise discursiva das narrativas intra-novela. A postura construcionista, aliada a uma leitura feminista, permitiu compreender a noção de lesbianidade como uma construção social na qual os discursos e a linguagem empregados variam segundo o contexto social e histórico específico. Tendo esse enquadre teóricoepistemológico como um olhar que perpassa todo o trabalho, questiono a inevitabilidade da existência da categoria lesbianidade, abrindo caminhos para buscar sua desnaturalização, caminho compartilhado tanto pelo construcionismo quanto pelo feminismo pelo caráter político que lhes é particular. O foco de análise se deu a partir das práticas discursivas, entendidas como linguagem em ação e a compreensão de que as versões são sempre múltiplas, situadas e dialógicas. A televisão, e especialmente a telenovela, constitui-se como uma prática social bastante presente no cotidiano da população brasileira. As novelas produzidas no Brasil ocupam lugar privilegiado e de fácil acesso como fonte de informação e entretenimento, além de desempenharem um papel importante na produção, manutenção e veiculação de determinadas versões sobre questões sociais, sobretudo em assuntos tabus como é o caso da lesbianidade. Passados dez anos entre uma novela e outra, percebe-se que apesar do tempo transcorrido pouca coisa mudou. Apesar das duas novelas incorporarem a temática lésbica como fluxo contínuo, o tratamento dispensado à relação lésbica ocorre a reboque de algumas máximas que reproduz exatamente os moldes de uma relação heterossexual como: o casamento, a maternidade, a monogamia, o amor romântico, a co-habitação, a assimetria entre os gêneros etc. 38 39 14- A SUBVERSÃO COMO EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO Phillipe Linhares Cordenação Nacional dos Estudantes de Psicologia, Brasil “Crise e insurgência” me dão pistas de como pode ser que lidemos com algumas situações. Algo que emerja dentro do meu campo perceptual me convoca de tal maneira que todo o meu ser se volta àquilo. Um objeto que me surpreenda é algo ao qual acredito poder dar a classificação de crítico, necessariamente pelo comprometimento que ele possa vir a me causar, pelo modo como ele me requisita. Mas se todas as vezes que respondessemos a uma situação de crise com um comportamento insurgente, tal como descrevi, tomaríamos conhecimento daquilo que nos afeta no momento de termos sido afetadxs, mas não é o que me parece ocorrer. Respondo em grande parte dentro de uma posição reativa. Nesse momento aparecem pra mim duas opções: prever tudo o que possa acontecer dentro de uma proximidade que nos afete, um posicionamento preventivo ou descobrir técnicas para reagir da melhor forma possível, dentro do mínimo gasto de energia, mas essas são as únicas opções? Esse modelo reativo evidencia uma história, encontrada na psicologia, partilhada da filosofia. Um modelo que esquadrinha o homem e analisa-o petulantemente, crendo descrever então o objeto ao qual se refere. Mas a experiência humana, seja lá o que esse humano quer dizer, é passível dessa redutibilidade ou será que podemos, mais uma vez, apostar que somos mais do que meramente aquilo como somos descritos? Se somos conjunções, encontros de linhas refletidas sobre si, estamos entrelaçados com a alteridade e nossa multiplicidade está projetada no mundo e não em nós mesmos. Somos encontros e não instâncias, imanências e não transcendências. Mas se somos “Nós”, que é esse eu que é apontado a todo o momento e o qual reivindicamos? Um eu de de-cisão, de separação de uma realidade interconectada ou mesmo um eu prévio a qualquer tipo de relação possível. Esse eu modelar é o comparador de experiências. Um eu-lugar é tão somente o facilitador dos acontecimentos e consequentemente das relações, o espaço do devir. Tal qual a cidade que é modelo de uma política programada, não pelos participantes, é claro, o modelo somente serve quando facilita os acontecimentos. O lugar só é útil quando prevê o espaço. E a academia? A qual cidade ela serve? Qual a função de um ambiente murado, o qual não facilita encontros que não conosco mesmo, enquadrados em um outro enclausurado e produtor de semelhanças mas do que diferenças. De desencontros, mas do que potencialidades. Que universalidade é essa? É possível outro tipo de conhecimento, talvez baseado em uma lógica de variação e não uma lógica modelar? Um conhecimento de encontros e de movimentos depende de um fator fundamental, uma escuta no lugar de uma leitura. Um posicionamento ético para com a diversidade. Uma educação que pergunte como ela deva ser para cada um. Uma esfera pública que compreenda o outro como espectro de nós mesmos, daquilo que podemos vir a ser. Essa prática de despersonalização é a segurança de que falaremos de tudo aquilo que sabemos, pela abertura de ouvirmos o que não sabemos. 39 40 15- A MINORIA RADICAL: IDENTIDADE, RESISTÊNCIA E INSURGÊNCIA Jaqueline Gomes de Jesus FGV-RJ / UNIPLAN, Brasil Na Psicologia Social, preponderantemente na linha social psicológica, a transgressão é tradicionalmente enfocada como algo intrinsecamente negativo, decorrente de situações de desorganização social, de anomia, ou de fatores personológicos patológicos. O senso comum (reproduzido pelos meios de comunicação mainstream), face às mobilizações sociais, anseia pela paz, publicizando discursos moralizantes, que reverberam um sentimento de terror ante à violência presente em atos reivindicatórios. Entretanto, não é razoável negar relações intergrupais conflituosas na política e nos movimentos sociais sem se negar, igualmente, a própria característica de violência que configura muitas ações humanas em sociedade, a qual, distinta do estado almejado da ordem estabelecida, regulado pelo Estado, pauta-se pela livre exposição de desejos, ansiedades e ódios, de certo modo fundamentando-se em um estado pré-simbólico, pré-verbal, da experiência humana, e que não pode ser aniquilados sem que se destrua, concomitantemente, a dimensão humana da política e da mobilização social. O que se observa nas manifestações de rua, ocupações e passeatas sob um viés crítico - é a insurgência como um mecanismo mais complexo, até certo nível sancionada, conforme o subgrupo que a interpreta, podendo ser defendida como uma forma de reparação dinâmica da organização social fragmentada, em decorrência da antipatia ou da repulsa partilhada com relação a determinados símbolos, regras, políticas e organizações. Nos protestos, a política pode ser desconstituída de seus conteúdos simbólicos tradicionais. Isso pode não apenas ser o indício das chamadas crises de representação, mas também a sua gênese. A resistência, nessa conjuntura vivamente diálogica das manifestações sociais, onde os saberes, mais que verbalizados, são vivenciados, pode ser entendida como uma estratégia afirmativa de expressão de identidades sociais invisibilizadas e marginalizadas, mesmo que sob vigilância. Pretende-se, por meio desta fala, conduzir um debate que não culpabilize os rebeldes pelas convulsões sociais, e sim que identifique e analise: (1) o parto da rebeldia pelos problemas sociais; (2) as manifestações como espaços pedagógicos que, paradoxalmente, ensinam os limites das normas pela sua infração, diferenciando-se substancialmente dos mecanismos institucionais de correção dos ilícitos; e (3) o papel do Estado (enquanto ordem política e força policial), no contexto das manifestações, no que tange ao reconhecimento dos manifestantes como sujeitos de direitos e as repercussões psicossociais do não reconhecimento do direito a resistência e da liberdade de se insurgir. Em suma, acompanhar e propor descrições desse jogo entre indivíduos, grupos e instituições, que as mobilizações sociais configuram, constitui-se na proposta da presente reflexão. 40 41 16- A ATIVIDADE INSURGENTE DESDE A PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO HUMANA Fernando Lacerda Jr. UFG, Brasil De diferentes maneiras o complexo Psi patologizou a atividade insurgente. Desde as clássicas afirmações sobre a irracionalidade das massas até a Perturbação de Oposição e Desafio do DSM, passando pelo fetiche da democracia burguesa pela Psicologia Política é possível identificar distintas maneiras pelas quais a revolta e a ação direta contra a ordem existente foram transformadas em manifestações anômalas ou patológicas que devem ser combatidas. Em lugar da atividade insurgente, no melhor dos casos, apresenta-se as disputas institucionalizadas das sociedades “democráticas” como a melhor forma de se fazer luta política ou buscar transformação social. Ao contrário desta abordagem tradicional, distintos autores que almejam a emancipação humana apresentam a atividade insurgente como parte constitutiva do processo de humanização de sujeitos alienados. No presente trabalho, pretendo apresentar, de forma introdutória, três propostas que buscaram introduzir novas angulações no estudo da atividade insurgente: (1) a abordagem fanoniana sobre a violência revolucionária; (2) o estudo de Martín-Baró sobre as condições necessárias para superação do fatalismo; e (3) a proposta de Shah-Shuja sobre os movimentos sociais anticapitalistas como zonas de desenvolvimento proletário. Em todos os casos, a atividade insurgente é tomada como parte do processo de construção de um novo sujeito. Por diferentes caminhos, psicólogos que trabalharam desde a perspectiva da emancipação humana, afirmaram a tese de que a atividade de transformar o mundo é precondição para se transformar o ser humano e superar processos de alienação. 17- EL ENGAÑO Adriana Molas Universidad de la Republica, Uruguai) El engaño del capitalismo actual es hacernos creer que no podemos hacer nada con lo que está aconteciendo, dijo Guattari durante “los años de invierno”. Hay algo que el capitalismo actual, no está pudiendo registrarcapturar ahora; los múltiples, infinitos, diversos, agenciamientos colectivos de enunciación, a nivel planetario, que se están componiendo y multiplicando, como si fueran un virus y que son deseo. Modos de lucha sin dirigentes, descentralizados, articuladores con lo global, inspirados en ideas de un mundo nuevo, solidaridad internacionalista, organización autónoma, horizontal y creativa, no militante. Desde “Mayo del 98`” (primeras acciones de AGP en el marco de la reunión G-8- en Inglaterra) a la fecha, asistimos a la emergencia de sujetos políticos no representables que ejercen como acción directa, otros modos de vida que escapan al control biopolítico y que producen mundos otros cada vez. Otros mundos posibles. Está aconteciendo. Procesos de singularización, devenires, que desmontan ensamblajes subjetivos provocados por múltiples dispositivos técnicos de gubernamentalidad, como son también los dispositivos de una psicología que insiste en reinar sobre un inconciente familiaristico burgués, disciplinado y obediente, construido por la culpa y el miedo. Si ha de existir una psicología que sea insurgente, afirmativa, ética, creativa, indisciplinada. Que sea una psicología política. 41 42 MESAS REDONDAS 42 43 A- EIXO: AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 1-POLÍTICAS DE MEDO: SUJEITO, CIDADE E LEI Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, Roberta Priscila Brasilino Barbosa, Bruno Giovanni de Paula Pereira Rossotti, Kely Cristina Magalhães Decottelli, Thiago Colmenero Cunha, Marcello Furst de Freitas Accetta, Maria Luiza Rovaris Cidade, Adriana Molas, Silvia Ignez Silva Ramos e Augusto Joaquim Guambe Os trabalhos que compõem a presente mesaredonda se propõem a colocar em análise as políticas de medo que atravessam o contemporâneo e a dimensão subjetiva que emerge como efeito de tal processo, e que condensam diferentes correlações de forças. A fim de problematizar a produção de uma certa fisionomia presente na construção tanto do sujeito, quanto da cidade ou das dimensões de ordem que fazem existir diferentes formas para a(s) lei(s) são elencadas discussões, referenciadas em analisadores advindos das políticas públicas brasileiras de enfrentamento às drogas e às manifestações populares, às lógicas de judicialização e medicalização presentes na disciplinarização do cotidiano escolar e nas concepções de infância, gênero e diversidade que fazem funcionar as políticas que constroem diferentes noções para o vocábulo cidadania. Afirma-se que tanto as definições de ordem, oriundas de uma tradição racionalista, quanto as noções de corpo social, oriundas de uma concepção biológica, entendem o desvio como elemento exterior e nocivo ao funcionamento social, provocando reações imediatas para prever e controlar as possíveis atitudes desviantes através das políticas de controle, que centralizam sua atuação em torno daqueles que não se enquadram nos modelos, valores e ideias para manutenção de determinada configuração social. Enquanto instrumental teóricometodológico, emerge como conceito-chave – e que atravessa toda a discussão presente nos três trabalhos – a noção foucaultiana de biopoder, que estabelece uma política do convívio social e do comportamento ideal, prescrevendo uma regulação do corpo-espécie e do existir em toda sua extensão – enquanto humanos-sujeitos, humanos-cidades, humanos-leis, que submetem ao mesmo tempo em que são submetidos. Assim, a noção de medo, que passa a ser instrumentalizada neste contexto, é tomada como um dado natural, um efeito de relações entre exercício de poderes e produção de saberes sobre um sujeito (e uma cidade) ditos como “normal”. Neste cenário, o medo aparece como estratégia de manutenção e, ainda, como um operador político – atravessado molecularmente às práticas sociais – na produção de práticas que se pretendem protetivas, configurando-se como instrumento de controle e de manutenção de uma certa noção de ordem, como forma de governo. Interroga-se, deste modo: em nome da proteção, do cuidado e da defesa da sociedade que políticas de medo (e de exclusão) temos produzido? 43 44 QUANDO A LEI ENCONTRA A “RUA”: JUDICIALIZAÇÃO DAS VIDAS DE USUÁRIOS DE DROGAS E MANIFESTANTES. Roberta Priscila Brasilino Barbosa Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Bruno Giovanni de Paula Pereira Rossotti Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Pedro Paulo Gastalho de Bicalho Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] A atualidade experimenta uma maneira bastante peculiar no tratamento dispensado à regulação dos conflitos intrínsecos ao convívio social. O poder judiciário vem cada vez mais sendo acionado para decidir sobre o que é (e o que não é) considerado “um comportamento adequado”. E nessa forma eleita para o enfrentamento de expressões contrárias a uma certa noção de ordem forma esta que muitas vezes assume caráter penal - a produção de leis configura-se como instrumento de controle. O campo das políticas sobre drogas e das manifestações populares são dois exemplos nos quais esses processos de judicialização da vida que se utilizam da penalização como estratégia de manutenção de ordenamento tornam-se evidentes. Em ambos os casos observou-se certa atmosfera de pânico precedendo a criação de dois projetos de lei que visam regular o uso, produção e comércio de drogas, bem como a ação dos sujeitos nos atos populares de reivindicações. O primeiro deles, o Projeto de Lei da Câmara nº37 (PLC 37), foi elaborado no ano de 2010 pelo médico e deputado federal Osmar Terra, no mesmo momento dos primeiros alardes midiáticos acerca de uma pretensa “epidemia de crack” que estaria sendo vivenciada em território nacional. O segundo Projeto de Lei, PL 499 de 2013, apelidado de Projeto de Lei Antiterrorismo, foi elaborado pouco após o aumento em freqüência e adesão nas manifestações populares ocorridas a partir de junho de 2013 por brasileiros residentes em todo o Brasil e também no exterior. Este trabalho se propõe então a organizar uma reflexão sobre o uso político do medo como mecanismo de ordenamento de formas de ser e viver nas cidades a partir de uma análise desses dois projetos de lei que atualmente encontramse em tramitação no Senado Federal. Considerase ainda que tanto o PLC 37 quanto o PL 499 constituem-se estratégias de criminalização de sociabilidades e utilização dos espaços públicos, bem como que tais projetos de lei intentam implementar penalizações que podem, inclusive, estar travestidas de um discurso de cuidado para com aqueles aos quais se aplicam. Enquanto instrumental teórico-metodológico, a noção foucaultiana de biopoder, bem como a Análise Institucional francesa de Lourau, serão utilizadas de forma a debater uma determinada judicialização das vidas em sua articulação com os espaços urbanos. Palavras-chave: política; processos legais; drogas; judicialização da vida; manifestações 44 45 A PRODUÇÃO DA VIOLÊNCIA E DO MEDO COMO OPERADORES POLÍTICOS NA REGULAMENTAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR E EM DEFESA DA SOCIEDADE. Kely Cristina Magalhães Decottelli Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Thiago Colmenero Cunha Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Marcello Furst de Freitas Accetta Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] A presente discussão é proposta ao tomarmos como campo problemático o atual contexto escolar brasileiro, no que tange à emergência de acontecimentos relacionados à violência performada por seus alunos. Tais acontecimentos, midiaticamente massificados, lançam luz sobre a temática das ditas mentes perigosas na escola, que supostamente ameaçam a ordem social, promovendo a necessidade de se proteger e defender a sociedade. Este fato dispara uma série de discussões - em nível nacional sobre segurança pública, ao colocar em análise a questão do bullying e da violência no interior das escolas. Os atos de indisciplina tornam-se critérios para diagnosticar uma série de transtornos e até uma “futura psicopatia” do aluno tido como doente, perigoso e potencialmente criminoso. Tal lógica afina-se com o que Michel Foucault chamou de biopoder: um poder que estabelece uma política do convívio social e do comportamento ideal, prescrevendo uma regulação do corpo-espécie e do existir em toda sua extensão – enquanto homens, mulheres, alunos, cidadãos. Assim, a noção de violência, que passa a ser instrumentalizada neste contexto, é tomada como um dado natural, um efeito de relações entre exercício de poderes e produção de saberes sobre o ser uma criança-alunohumano normal. Torna-se possível observar um ‘pânico moral’ a respeito do que é ou não aceitável como violência ao passo que certas subjetividades vão sendo criminalizadas, medicalizadas e judicializadas. Neste cenário, o medo aparece como estratégia de manutenção e, ainda, como um operador político na produção de práticas que se pretendem protetivas. A questão que se coloca é: que lógicas a escola sustenta ao encarnar esses saberes e práticas? Que efeitos de exclusão vêm sendo produzidos em nome da proteção e da prevenção de riscos? De que modo tais efeitos aparecem encarnados em atuais políticas de segurança pública, como práticas de enfrentamento à violência no âmbito escolar? Diante de tais questões, toma-se como recurso metodológico a cartografia para seguir, no presente campo problemático, os efeitos de exclusão e eliminação de determinadas subjetividades criminalizadas na sua diferenciação, que fazem operar o biopoder através de tecnologias judicializantes e medicalizantes que permeiam a construção das atuais políticas educacionais e de segurança em nosso país. E ainda, apontar para a produção de novos olhares e encontros da Psicologia com a escola, de modo a potencializar outros modos de vida e saídas para os tensionamentos enfocados, que não a da judicialização da vida. Palavras-chave: Escola; violência; medo; biopoder. 45 46 POLÍTICAS PÚBLICAS E CIDADANIA: DIALOGANDO SOBRE INFÂNCIA, GÊNERO E DIVERSIDADE. Maria Luiza Rovaris Cidade Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Adriana Molas Universidad de la Republica (Uruguay) [email protected] Silvia Ignez Silva Ramos Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Augusto Joaquim Guambe Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) [email protected] Num contexto de debate sobre a produção da cidade, do sujeito e da lei, percebemos que complexas redes se constituem, estrategicamente, por intermédio de “políticas de medo” construídas molecularmente nas práticas sociais. “Políticas do medo” encontradas em distintas instituições como família, trabalho, justiça, educação, sexualidade e outras práticas sociais e intimamente vinculadas com a produção da sociedade na qual vivemos. Especificamente, trataremos do surgimento de um conceito de sujeito que se alia às práticas sociais e às formas de se governar. A perspectiva teórica perpassa pela Psicologia Social Crítica e pensadores como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Bruno Latour que investem em uma metodologia cartográfica e no diálogo interdisciplinar, fundamental para se pensar e construir políticas públicas num coletivo atravessado e referendado pelo Estado e pela lei. A partir do surgimento do Estado moderno, um conceito de sujeito aliado a uma noção objetiva de indivíduo emerge. A racionalidade do Estado nascente apresenta uma dupla função: centralizar o poder em normas e tratar do cuidado da população. Isso permite o governo da coletividade ao mesmo tempo em que se governa os indivíduos. A noção de indivíduo enquanto produção ontológica formal de uma verdade, que o direito brasileiro vai chamar de “verdade real”, se apresenta como uma necessidade do Estado de obter o registro e controle sobre as formas possíveis de vida vinculadas a um pacto social relacionadas à população inserida em um território. Aos deveres e direitos de cada indivíduo perante o Estado, insere-se a noção de cidadania. Pretendemos, portanto, colocar em análise a produção do conceito de cidadania em relação ao pensamento humano e aos acontecimentos sociais como determinantes do comportamento político e da produção das políticas públicas, a partir de duas problematizações que envolvem: os métodos de busca de obtenção da “verdade” no campo jurídico brasileiro, onde há um Sistema de Garantia de Direitos mais investido no eixo do controle e da defesa, do que no eixo da promoção; e as decisões do judiciário acerca da temática das identidades de gênero e das políticas públicas para a infância no Brasil assim como nas realidades de Moçambique e do Uruguai. Palavras-chave: políticas públicas; cidadania; infância; gênero; diversidade. 46 47 2- SEGREGAÇÃO URBANA E DIREITO À CIDADE: REFLEXÕES SOBRE AS CIDADES E OS PROCESSOS DE EMANCIPAÇÃO HUMANA Tadeu Mattos Farias, Fernanda Fernandes Gurgel, Raquel Farias Diniz, Tatiana Minchoni, Daniela Bezerra Rodrigues, Fernanda Cavalcanti de Medeiros e Silvia Carvalho E. de Souza As cidades, ao mesmo tempo em que são espaços fundamentais de moradia, sociabilidade e desenvolvimento humano, carregam em si as marcas das contradições do modo de produção capitalista. Além de centro de circulação e consumo de mercadorias é, ela própria, tomada como uma mercadoria, e os resultados dessa condição ficam salientes em seus territórios. As cidades se organizam em torno dos sentidos e dos valores de mercadoria que seus espaços possuem. Assim, é um lugar que segrega, invisibiliza, mas é também permeado de resistências e conflitos. Central no desenvolvimento capitalista, a cidade produz, dentro dela, sua própria negação, solicitando a seus moradores o enfrentamento das condições de miséria, de marginalização e criminalização da população mais pobre. Ademais, o desenvolvimento das identidades pessoais e comunitárias está intimamente ligado à disputa pela ocupação da malha urbana que, por sua vez, opera-se a partir da realidade econômica dos sujeitos. Nesse cenário, acentuam-se identidades sociais dicotômicas como nós da favela/eles do asfalto, periferia/centro, condomínios/espaço público etc. Tais tipos de polarização estão ligados a conteúdos ideológicos que também dicotomizam, tais como segurança/perigo, marginais/cidadão de bem, descamisados/bem-vestidos. Se por um lado o direito ao pleno acesso aos seus recursos é negado a grande parte da população, os movimentos que lutam pela democratização do solo urbano e das potencialidades da cidade têm sua força no sentido coletivo que podem produzir sobre o direito de usufruírem de tais potencialidades. É assim que se tem, de um lado, uma cidade expropriada de seus moradores pelo capital e, de outro, a luta pela ocupação e reapropriação por parte de indivíduos, grupos e movimentos. É nessa constante tensão que é possível pensar o pesquisador/profissional de psicologia que busca, em sua prática, processos de transformação social em tal contexto. A proposta dessa mesa redonda é problematizar as relações estabelecidas entre moradores e suas cidades, tendo em vista que a mediação da relação mercantil lhes priva do direito de gozar da plenitude desse espaço em suas criações cotidianas. Entendendo as cidades como espaços de práticas higienistas, negação de direitos, marginalização e criminalização, aqui é proposto discutir exemplos dessa relação perversa, mas também possibilidades de reapropriação e transformação de tais relações, a partir de movimentos sociais e mobilizações coletivas. É entendido também que o cenário das contradições urbanas é palco para reflexões interdisciplinares atravessadas pela dimensão ético-política da vida nas cidades e da prática em psicologia. Entremeando pelos campos teórico-metodológicos da Psicologia Comunitária e Psicologia Ambiental, buscar-seá refletir sobre o direito às cidades, violações de direitos humanos, relações pessoa-ambiente, apropriação do espaço, movimentos sociais urbanos, processos de exclusão e segregação espacial. Palavras-chave: direto à cidade, segregação urbana, movimentos sociais, transformação social. 47 48 A VOZ DAS RUAS Tatiana Minchoni Universidade Potiguar, [email protected] Daniela Bezerra Rodrigues Observatório da População Infanto-Juvenil em contextos de violência, [email protected] Silvia Carvalho E. de Souza Universidade Potiguar, [email protected] Fernanda Cavalcanti de Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] A população em situação de rua representa uma das expressões mais perversas da questão social. Esse contingente populacional, composto heterogeneamente por homens e mulheres de todas as faixas etárias, tem a rua como principal espaço de vivência e sociabilidade por diferentes razões, tais como desemprego ou vínculos precários de trabalho, fragilidade ou rompimento dos vínculos familiares, dependência química, êxodo rural, dentre outras. Fatores comuns que caracterizam a população em situação de rua são a extrema pobreza, a falta ou precarização no acesso às políticas de habitação, saúde, educação, segurança, e as constantes violências e violações sofridas, que vão desde o preconceito e a violência institucional, até os recorrentes homicídios. Historicamente, esse segmento populacional foi tratado por meio de lógicas higienistas, punitivas e caritativas. Indo na contramão desse processo, em 2004, após a chacina da Sé, pessoas em situação de rua de diversos lugares do país se organizam em um coletivo denominado Movimento Nacional de População de Rua (MNPR), visando a discussão política e a cobrança do Estado brasileiro dos direitos negados a essa população. Apenas em 2009, após forte pressão do MNPR, a Política Nacional de População em Situação de Rua é lançada e prevê ações intersetoriais como a criação de serviços de albergues municipais e Centros Pop, visando à superação das violações de direitos humanos que envolvem essa população. Em Natal/RN, o Movimento Potiguar de População em situação de Rua, criado em 2013 pela população de rua, a partir do contato com representantes do movimento nacional e impulsionados pelo Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) da UFRN, tem se organizado coletivamente buscando a garantia aos direitos previstos na Constituição, por meio da discussão crítica e reflexiva acerca da realidade em que vivem as pessoas de rua. Tendo isso em vista, este estudo objetivou investigar a importância da vivência do Movimento Potiguar para a organização política dessa população, em Natal/RN. Embasado na Investigação-Ação-Participante, foram realizadas observações participantes nas reuniões do Fórum, entrevistas com a população de rua e com profissionais do CRDH, além da produção de imagens que resultou na produção de um documentário. Os resultados indicam que, ainda que haja uma forte invisibilidade social, que o acesso às políticas sociais ainda se implementa de forma fragmentada com viés assistencialista, caritativo e punitivo, a população de rua vive um processo de organização, legitimando o Movimento como espaço de discussão, de denúncias e implicação de formas de enfrentamento a esses contextos, percebido pela argumentação na cobrança de melhorias dos equipamentos sociais, compreendendo tratar-se de direitos conquistados pelo MNPR e não ações caritativas. Trata-se de um processo inicial de organização que tem como desafios a necessidade de ampliação da discussão em outras regiões do estado; as práticas higienistas no contexto da copa do mundo; e a desnaturalização da situação de rua pela sociedade, uma vez que a população de rua é mais uma expressão da questão social, inerente e naturalizada pelo capitalismo. Palavras-chave: população em situação de rua, intervenção comunitária, empoderamento, potencialização, movimentos sociais. 48 49 COMUNIDADE DA ÁFRICA E O APARTHEID NATALENSE. Daniela Bezerra Rodrigues Observatório da População Infanto-Juvenil em contextos de violência, [email protected] Tatiana Minchoni Universidade Potiguar, [email protected] A cidade do Natal, é conhecida e vendida, no país e no exterior, como a Cidade do Sol, pelas suas dunas, vegetação e belas praias, características que encantam aos turistas e empresários. Porém, essa mesma cidade, possui uma divisão geográfica que caracteriza todo o processo de segregação, preconceito e desigualdade social, pois a cidade é cortada pelo Rio Potengi, dividida em região sul, que abrange as regiões administrativas leste, oeste e sul e, do outro lado, a região norte, que apresenta os indicadores de desenvolvimento mais baixos da cidade. Tal divisão representa, em nome do desenvolvimento, o recrudescimento da realidade da moradia da população pauperizada para regiões periféricas de morros, dunas e mangues, longe das belas paisagens, do turismo e comércio, com alta incidência de homicídio, precariedade dos serviços básicos, analfabetismo, alta taxa de desemprego e moradias precárias. Essa realidade se manifesta na atual geografia da cidade, em que as comunidades pobres não são visíveis aos olhos do mercado, sobretudo dos turistas, principal fonte de renda da cidade. O bairro da Redinha, localizado na zona norte da cidade, compõe o cenário de bela praia, do rio Potengi e da culinária típica da cidade, a ginga com tapioca. Entretanto, neste mesmo bairro que se localiza a comunidade da África, região que foi habitada originalmente pelas famílias Silva e Nascimento, ambas negras. Localiza-se em uma Zona de Proteção Ambiental, com mais de 4.000 habitantes, e é considerada um dos territórios de maior vulnerabilidade, com alto índice de homicídio da região norte; ruas sem calçamento; sem saneamento; precários serviços fundamentais (saúde, assistência, educação, lazer); com alto índice de desemprego e a renda média girando em torno de um salário mínimo. A população convive com o estigma e preconceito de pertencer a uma região pobre e violenta, que, a todo o tempo, é retratada como um território periculoso, que necessita da repressão estatal. Nesse sentido, o presente estudo se propõe a refletir a negação do direito à cidade aos sujeitos desta comunidade, fundamentado na cidade como mercadoria. De acordo com a população, e de diagnósticos oficiais, a juventude é a parcela da população mais exposta à violência e ao narcotráfico, que reproduz o medo social, naturaliza a violência, associando de forma mecânica a pobreza com a violência. É nessa dinâmica que se reforça de forma invisível e silenciosa o apartheid, pois o direito à cidade vivenciado pela comunidade da África se dá de forma segregada, sem o acesso digno à moradia, trabalho, cultura e lazer. A presença do Estado, por meio das políticas públicas se dá de forma fragmentada e precária, com maior eficiência do aparato policial, com vistas a repressão e o estabelecimento da ordem e manutenção na comunidade, mas não enxergando seus processos de sociabilidade, organização e cultura. No entanto, a comunidade da África, apresenta suas formas de resistência e apropriação do espaço, construindo ações de não-violência, seja nos espaços institucionais, como a escola, ou nas próprias ações comunitárias que surgem e tomam corpo, retratando interesses, a memória e a tradição cultural. São vários os grupos que surgem utilizando-se da arte, cultura afro-brasileira, da música que se estruturam como alternativas comunitárias à realidade de segregação social. Mesmo que a África potiguar não sofra a obrigatória da subserviência e segregação branca, não podemos deixar de reconhecer o quanto o direito à cidade em nossa África, é segregado, vivendo um apartheid social em consequência da dominação do mercado que criminaliza, controla e a torna invisível na bela paisagem da cidade. Palavras-chave: Direito à cidade, Segregação, Violência. 49 50 MEGAEVENTOS, DIREITO À CIDADE, E RELAÇÕES PESSOA-AMBIENTE: REFLEXÕES SOBRE A COPA DO MUNDO EM NATAL-RN Tadeu Mattos Farias Universidade Federal do rio Grande do Norte, [email protected] Fernanda Fernandes Gurgel Universidade Potiguar, [email protected] Raquel Farias Diniz Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] No ano de 2014 foi realizada a copa do mundo de futebol no Brasil, megaevento que mobilizou diversos setores da sociedade em função do investimento e impacto das transformações propostas para receber o evento. Os megaeventos esportivos, por sua dimensão, para além do entretenimento, promovem e aceleram transformações urbanas, redirecionam investimentos econômicos e atingem de forma diferente os diversos setores da população em suas cidades-sede. Sob o argumento de trazer investimentos para o desenvolvimento urbano, em seu nome são acelerados processos excludentes, violadores de direitos e segregatórios. Na cidade do Natal, as transformações promovidas se associam com o modelo de desenvolvimento turístico, principal atividade econômica da cidade, por conseguinte os resultados da união entre o megaevento esportivo e o desenvolvimento turístico foram a acentuação de um modelo de segurança que criminaliza as populações mais pobres, ações de cunho autoritário por parte do Estado nessas regiões, práticas higienistas direcionadas especialmente para as áreas de interesse turístico, repressão violenta às manifestações de rua, e constantes violações dos direitos humanos. Tendo em vista que esses processos do desenvolvimento urbano se dão favorecendo o setor turístico e alijando a participação popular das decisões sobre a direção dos mesmos, negando-lhes o direito à cidade, estão na esteira do fortalecimento de uma tendência iniciada ainda no século anterior: a mercantilização dos espaços físicos. Com isso está dito que, em níveis inéditos na história, a mediação das relações entre pessoas e os diversos espaços urbanos se dá pelo poder de compra, seja do próprio espaço, seja do que ele oferece. Tendo isso em vista, utilizando a técnica das redes semânticas, realizamos uma pesquisa com o objetivo de compreender os significados atribuídos ao evento e a percepção das mudanças ocorridas na cidade durante e após o evento em relação a diversos setores, como segurança pública, saúde, transporte, emprego, turismo. Nessa etapa preliminar, que ocorreu entre março e maio/2013 foram entrevistados 214 moradores. Nossa pesquisa mostrou que os termos de maior peso semântico relacionados à copa do mundo são Emprego, Turismo e Futebol. Das mudanças avaliadas para o período do evento, também turismo e emprego, juntamente com a imagem da cidade, foram indicadas como os setores onde ocorreriam melhorias, enquanto para o período pós-copa, saúde, segurança e trânsito receberam as piores avaliações. Esses resultados preliminares nos mostram uma relação com a cidade do Natal mediada pelo desenvolvimento turístico, que por sua vez segue um modelo que, além de concentrar os recursos em um setor, precarizando outros serviços básicos, se organiza em torno de um formato excludente e discriminatório. Apesar de serem ainda resultados prliminares, que antecipam outras etapas ainda a serem realizadas, há uma indicação da associação imediata entre a copa do mundo e o desenvolvimento turístico e uma descrença na qualidade dos serviços básicos. Essas informações vão ao encontro da consideração feita de que os megaeventos são, efetivamente, catalisadores de processos que já estão em movimento no modelo de urbanização vigente. Assim, é possível afirmar que esse tipo de evento se efetua como mais uma confirmação da negação do acesso democrático aos recursos da cidade. Palavras-chave: megaeventos, relações pessoaambiente, direito à cidade 50 51 3- PRÁTICAS POLÍTICAS COLETIVAS E INSURGÊNCIA NO ESPAÇO URBANO: REFLEXÕES ESQUIZOANALÍTICAS Domenico Uhng Hur, Tadeu Mattos Farias & João Paulo Macedo O espaço urbano é um território de luta, por mais organizado, codificado e “pacificado” que possa parecer. Tal organização se dá a partir dos processos de normatização, disciplinarização, controle e codificação social pautados pelo Estado e pelos aparatos disciplinares e repressivos. Considera-se que esta suposta “pacificação” tem função discursiva e performativa de mascarar o exercício de poder praticado. Mas o exercício do poder é imanente a todas as relações sociais e na cidade as lutas se dão a todo o momento, seja em baixa ou alta intensidade. Retoma-se aqui a afirmação foucaultiana, inversão da máxima do general Karl Von Clausewitz, de que é “a política a continuação da guerra”, e não a “guerra que é a continuação da política”, ou seja, as relações político-sociais de forma alguma são uma expressão de uma civilização harmoniosa e pacífica, mas muito pelo contrário, tais relações políticas atualizam as relações de força características da guerra. Dessa forma, esta mesa-redonda busca conhecer ações políticas coletivas insurgentes que entram num regime de transgressão contra as práticas normatizadas pelo Aparelho de Captura, para discutir modos de subjetivação que assumem vetores distintos da subjetividade capitalística. Serão analisadas diferentes práticas políticas coletivas que se insurgem contra o que está instituído, tais como: as manifestações coletivas que tomaram as ruas de assalto desde 2013, as organizações armadas de guerrilha contra a ditadura militar, e a ação profissional de coletivos de psicólogos que adotam práticas instituintes e transformadoras no âmbito das políticas públicas de saúde. Busca-se refletir sobre esses diferentes fenômenos sociais a partir de pensadores da Filosofia da diferença, dando destaque às reflexões de Deleuze e Guattari, criadores da Esquizoanálise. Constata-se que tais coletivos sociais adotam lógicas coletivas distintas à lógica de Estado ou dos aparatos disciplinares e de controle. Traçam linhas de fuga, ou forçam uma maleabilidade, frente às tradicionais linhas de segmentaridade rígida que as Instituições assumem. Ousa-se afirmar que atualizam uma máquina abstrata que expressa uma luta de uma sociedade contra o Estado, de coletivos sociais que tentam fissurar o Aparelho de Captura estatal, na tentativa de incitar práticas instituintes e potencializadoras. Nos diferentes cenários do urbano, e com distinto quantum de intensidades, percebe-se a operacionalização de um processo de desterritorialização das condutas assumidas e da imagem de pensamento instituída. Cada trabalho exposto na mesa buscará discutir dimensões distintas do fenômeno e que expressam as lutas macro e micropolíticas de um cotidiano de uma sociedade que a cada dia se insurge mais contra o Estado, e em alguns casos, contra a axiomática do Capital. Palavras-chave: cidade. Esquizoanálise, política, 51 52 LINHAS DE FUGA NA CIDADE: AS MANIFESTAÇÕES DE RUA DE 2013 Tadeu Mattos Farias Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] O panorama atual das grandes cidades é reflexo da mercantilização e gestão da desigualdade social com a mediação do Estado. Há uma intensa militarização da intervenção urbana, com invasão e ocupação das favelas pelas polícias, políticas de internação compulsória de usuários de drogas, intensificação da violência e encarceramento da população negra e pobre, processos cada vez mais explícitos de segregação urbana, agressões civis ou estatais contra moradores em situação de rua e modelos de mobilidade urbana que tornam os espaços da cidade inacessíveis para grande parcela da população. Pode-se dizer, à maneira de Espinosa, que as relações estabelecidas na cidade, em larga medida são inspiradoras de paixões tristes, diminuindo a potência de ação dos corpos que a habitam, produzindo sujeição e dominação. Em outras palavras, nossas relações com o ambiente urbano são produzidas dentro de certas relações de poder, que determinam modos de viver e produzem discursos sobre os lugares e sujeitos, tais como o “indivíduo perigoso” ou o “lugar de tráfico de drogas e marginais”. Ao mesmo tempo em que produz processos de sujeição, a cidade gera suas próprias resistências imanentes, que por vezes se intensificam. No ano de 2013, tendo como disparadores os movimentos em prol da melhoria da mobilidade urbana e o contexto de organização da Copa das Confederações como ensaio para a Copa do Mundo, as capitais brasileiras se viram tomadas por manifestações e enfrentamentos de toda ordem. Para além da reivindicação em torno da mobilidade urbana, poderes foram confrontados e também deram o troco. A população se viu violentamente reprimida e os meios de comunicação prestaram um papel decisivo, mediando os discursos sobre os enfrentamentos a partir, especialmente, da criminalização dos participantes e a objetivação de uma “maneira certa de protestar” que seria oposta ao “vandalismo”. Os movimentos de rua de 2013 parecem ter ilustrado que, se por um lado a cidade é um diagrama de relações de poder que a todo instante interpelam, marcando e produzindo sujeitos com suas práticas e discursos, é também potência para agenciamentos e linhas de fuga que enfrentam e escapam aos poderes. A potência da ocupação das ruas pode ser entendida justamente em sua possibilidade de ser inesperada e criadora de novas relações com a cidade. O devir das manifestações de 2013 deve ser problematizada como sendo ela própria a problematização dos poderes que atravessam as relações urbanas contemporâneas e que marcam os corpos citadinos. Palavras-chave: cidades, manifestações de rua, linhas de fuga. 52 53 A GUERRILHA COMO MÁQUINA DE GUERRA: TÁTICAS NÔMADES DE LUTA ARMADA URBANA Domenico Uhng Hur Universidade Federal de Goiás CRISE – núcleo de estudos e pesquisas Crítica, Insurgência, Subjetividade e Emancipação [email protected] A luta armada dos movimentos da esquerda política na América Latina, característicos das décadas de 1960 e 1970, utilizaram em muitos países a forma da guerrilha armada para combater as classes dominantes no poder na busca pela Revolução Socialista. Alguns movimentos guerrilheiros exitosos, como a Revolução Cubana, caracterizou-se eminentemente pela guerrilha rural. Inclusive o Comandante Che Guevara afirmou que a “cidade é o túmulo do guerrilheiro”. Entretanto, muitas organizações guerrilheiras não seguiram a máxima do líder revolucionário e escolheram as cidades como campo de batalha. Seja os tupamaros uruguaios que se deslocavam no sistema de canalização sob a terra, ou o M-19, na Colômbia, que se destacou por tomar de assalto símbolos da cidade, como o Tribunal de Justiça, ou o grande seqüestro de embaixadores. Muitas organizações armadas optaram por traçar suas linhas de luta na cidade. Portanto, o presente estudo visa cartografar as estratégias e táticas nômades de luta armada contra o Estado durante a ditadura militar brasileira no território urbano. Realizamos revisão bibliográfica acerca da literatura sobre a guerrilha armada no Brasil e entrevistamos cinco exguerrilheiros de variadas organizações armadas. Constatamos que as táticas de guerrilha armada no espaço urbano brasileiro adotaram um funcionamento nômade nas cidades. Um tipo de prática política muito diferente dos tradicionais partidos de esquerda, pois assumiam um vetor centrífugo, articulado a partir de células, ao invés do vetor centrípeto, que organiza-se numa estrutura diretiva rígida. Não assumiam territórios fixos, mas posições móveis e elásticas. Não buscavam a visibilidade dos palanques, mas sim a invisibilidades dos becos, entrando num devir imperceptível de mistura com as multidões. Não faziam reuniões nas tradicionais sedes, mas muitas vezes em movimento, seja caminhando na rua, ou dentro de um carro em movimento. Não tinham identidades fixas, os nomes mudavam tal como mudavam de aparelho (casas em que habitavam), etc. Por isso podemos concluir que em tal tipo de agenciamento político, pautado nos deslocamentos fugazes no urbano, há a produção de outra modalidade subjetiva, uma subjetividade guerrilheira, que se singulariza por uma subjetividade militante nômade. Tal modalidade subjetiva atualiza o potencial disruptor dos agenciamentos de movimentos sociais nômades históricos brasileiros, como a impetuosidade da malta dos cangaceiros de Lampião e Corisco, bem como a insurreição indígena de trintas tribos indígenas nômades, articulada por Mandu-Ladino, contra os colonizadores portugueses no nordeste brasileiro. Portanto a guerrilha armada agenciase tal como uma máquina de guerra nômade e revolucionária lutando contra o Aparelho de Captura estatal. Palavras-chave: Esquizoanálise, militar, Psicologia ditadura Política. 53 54 AÇÃO PROFISSIONAL DOS PSICÓLOGOS E SUBJETIVAÇÃO POLÍTICA João Paulo Macedo Universidade Federal do Piauí (UFPI) [email protected] O fortalecimento da presença dos psicólogos nos diversos segmentos e serviços das políticas públicas no Brasil, especialmente na saúde e a assistência social, têm colocado em questão o seu lugar enquanto tecnologia biopolítica e de governo das subjetividades das populações. São muitos os questionamentos de pesquisadores brasileiros sobre a função ou o lugar da Psicologia enquanto prática de manutenção da ordem, alienação, disciplinamento e controle da população. Tal debate suscitou ao longo dos anos a construção de alguns horizontes reflexivos sobre o quais, travou-se inicialmente elaborações sobre a crítica da função social do psicólogo brasileiro, posteriormente, avançou-se para a discussão sobre o compromisso social da profissão, e mais recentemente, os questionamentos têm sinalizado para a responsabilidade social e os projetos políticos profissionais que estão em jogo em nossa categoria. Porém, é sobre este último ponto que gostaríamos de aprofundar o debate nesta comunicação. É fato que em nossa profissão há uma pluralidade teórico-metodológica e de posturas políticas na ação profissional do psicólogo. Mas afinal, que subjetivações políticas estão em jogo nas ações profissionais dos psicólogos em tais projetos políticos profissionais, em especial, nas políticas públicas? A partir deste ponto de reflexão nos valemos das ações realizadas nos serviços de atenção primária e psicossocial da saúde e assistência social pelos psicólogos para pensar sobre as subjetivações políticas aí implicadas. Assim, a inserção dos psicólogos nas políticas públicas fez-nos indagar sobre o modo que esses profissionais se conformam trabalhadores nesse campo. São ações que estão voltadas para o ensinamento do léxico, da racionalidade e do uso da palavra, a partir da demonstração, argumentação e interlocução daqueles considerados “despossuídos”, nos seus trabalhos em grupos e de organização e participação comunitária, transformando-os em sujeitos políticos? Ensinando-os a moverse no jogo das relações de forças, no tabuleiro das artes de governar? Ou são ações que agenciam uma crítica do que estamos fazendo de nós mesmos, dos assujeitamentos que somos alvo, e que passamos a experimentar a diferença e não a igualdade quando nos pomos a reivindicar outra vida e não a vida boa que estão a nos prometer? Essa segunda forma de subjetivação diz de uma ação política do embate, do enfrentamento, do dissenso e não da ordem. Nossas práticas profissionais agenciam quais? Por outro lado, também passamos a perceber que nossas práticas produzem subjetivações não apenas àqueles a quem dirigimos nossas ações, mas a nós mesmos enquanto profissionais. Por fim, questionamos sobre o próprio assujeitamento ou o baixo poder de governabilidade daquilo que os psicólogos normatizam como constituinte de sua ação profissional. Como efeitos, podemos enumerar alguns: o empobrecimento da crítica e o investimento de poucos questionamentos sobre a produtividade (ou a reprodução) avassaladora do fazer tecnocientífico de nossa ação profissional; ou ainda o fato de que continuamente somos apenas demandados pela própria técnica, em vez de pensar a nós mesmos como seu agente e controlador. Não estaria aqui, na ação crítica (ético-política), que se expressa na problematização da nossa ação prática, as possibilidades de liberdade ou libertação da herança normatizadora da Psicologia? Palavras-chave: Governo. Psicologia, Política, 54 55 4- CONTEXTOS RURAIS: ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DA PSICOLOGIA Jáder Ferreira Leite, João Paulo Macedo & Saulo Luders Fernandes A presente mesa redonda propõe apresentar alguns recortes da ruralidade brasileira e refletir de que modo a Psicologia pode dialogar com tais recortes. Para tanto, destacam-se três cenários em que os modos de subjetivação aliados aos contextos socioculturais e políticos podem se colocar como campo de análise para a psicologia. O primeiro cenário apresenta modos de vida em um assentamento rural extrativista no litoral do Piauí, onde o autoritarismo estatal da política ambientalista brasileira e os interesses do mercado com a exploração predatória dos recursos naturais expõem as contradições dos modos de vida da população assentada nesse espaço. Tais contradições se apresentam na tentativa de gerenciamento das condutas dos assentados, numa espécie de governo das subjetividades, mas também da contracondutas, de movimentos de resistência, ações de insubordinação contra o assujeitamento a determinadas formas de subjetividade que circulam nesses lugares. O segundo cenário destaca a aproximação do saber psicológico aos territórios quilombolas e as categorias geralmente utilizadas nos estudos para dialogar com as comunidades desses contextos. Por meio de um levantamento bibliográfico, identificou-se as categorias temáticas identidade, memória social, vínculo e relações familiares e conhecimentos e saberes tradicionais. Percebe-se, em tais categorias, um deslocamento na utilização de conceitos de natureza psicologizante. Por fim, o terceiro cenário destaca processos de subjetivação relativos à questão de gênero em mulheres de uma área de assentamento rural, do Estado do Rio Grande do Norte. Destacam-se três eixos norteadores desses processos de produção subjetiva: os modos de relação que tais mulheres estabelecem com o trabalho, família e participação política. Identifica-se que a inserção das mulheres nos espaços de participação política via movimento social altera, de certo modo, os padrões tradicionais tanto no modo que se relacionam no espaço doméstico, quanto nas atividades laborais, com ganhos de relativa autonomia Palavras-chaves: Populações extrativistas; Comunidades Quilombolas; Assentamentos rurais 55 56 ENTRE A HOMOGENEIZAÇÃO DA POLÍTICA AMBIENTAL E DOS INTERESSES DO MERCADO: O GOVERNO DAS CONDUTAS E CONTRACONDUTAS DOS POVOS DA RESERVA EXTRATIVISTA DO DELTA DO PARNAÍBA João Paulo Macedo Universidade Federal do Piauí (UFPI) [email protected] Objetivamos nesta comunicação ressaltar aspectos do autoritarismo estatal da política ambientalista brasileira e os interesses do mercado com a exploração predatória para pensarmos as contradições, tensões e o governo das condutas e contracondutas dos povos da Reserva Extrativista Marinha (Resex) do Delta do Parnaíba. A Resex do Delta, criada em 2000, está distribuída em 5 povoados (Canárias, Passarinho, Caiçara, Torto e Morro do Meio) e conta com aproximadamente 2.500 habitantes, que vivem basicamente da pesca, da cata do caranguejo-uçá e agricultura familiar. A região é formada por um grande estuário, resultante do encontro do Rio Parnaíba com o Oceano Atlântico, ramifica-se entre o MA e o PI, com mais de 80 ilhas e ilhotas, cercadas por rios, igarapés e baias, conta com cinco barras: do Caju, Melancieiras e Tutóia, no Maranhão; Canárias, entre o Maranhão e Piauí; e Igaraçu, no Piauí; cada uma com uma foz, com formação em Delta. É a única formação em mar aberto das Américas, existindo somente mais duas semelhantes: Rio Nilo (África) e Rio Mekong (Ásia). Quanto à Reserva, a mesma está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA do Delta do Parnaíba), considerando a importância ecológica, econômica e social de base sustentável e necessidade de conservação. O expressivo acervo natural e biodiversidade, a presença de áreas protegidas e populações tradicionais, as fragilidades quanto as condições de vida na região, a prática extrativista predatória do caranguejo-uçá e outras espécies, o crescente aumento do interesse turístico pela região e a necessidade de formulação de políticas para o desenvolvimento sustentável, faz desse lugar palco de diversos interesses, conflitos, contradições e relações de forças. Além da fragilidade e carências em termos de infraestrutura das habitações, escolaridade, duras condições de trabalho e renda com a cata do caranguejo, acesso à agua tratada, destino dos dejetos e do lixo, acesso aos serviços de saúde, a localidade enfrenta situação conflituosa com os mediadores da unidade de conservação e o descrédito com demais atores institucionais. A ausência de espaços de cogestão, que fomentem a participação nos processos decisórios, bem como a não valorização das culturas tradicionais, é resultado do próprio processo de criação da Reserva sem a participação dos habitantes. O resultado foi o surgimento de inúmeros conflitos intracomunitários, o que facilitou a realização de ações verticais de implantação da política ambiental, que acabou homogeneizando saberes, práticas, paisagens e comportamentos da população. Os interesses comerciais e empresarias com a especulação imobiliária e o turismo nacional e internacional cada vez mais presente na região, também têm sido um vetor de homogeneização e normalização de condutas e subjetividades nesses espaços. Ambas estratégias, governamental e empresarial, convivem sem conflitos na região e atuam no governo desses territórios e populações, disciplinando-os, normalizando-os, controlando-os, enfim, gerindo as condições para que as pessoas e grupos possam pensar, se reconhecerem, agirem, sonharem e exercerem suas vidas. Porém, contracondutas, movimentos de resistência, ações de insubordinação, diante do controle de comportamentos e identidades, ou seja, contra o assujeitamento a determinadas formas de subjetividade e organização também circulam nesses lugares. Palavras-chave: Unidade de Conservação; Delta do Parnaíba; Populações extrativistas; Governamentalidade 56 57 COMUNIDADES QUILOMBOLAS: O QUE A PSICOLOGIA TEM A FALAR? Saulo Luders Fernandes Universidade Federal de Alagoas (UFAL) [email protected] O presente trabalho apresenta-se como uma pesquisa bibliográfica em andamento que objetiva problematizar a inserção dos saberes psicológicos no mundo rural, especificamente nas comunidades quilombolas. As comunidades quilombolas são compreendidas como grupo étnico/racial, que pautados em processos históricos de resistência e luta política à desigualdade sofrida, buscam afirmar seus direitos e modos de vida. Apesar da psicologia apresentar estudos no mundo rural, sua tradição teórico-metodológica consolida-se em pesquisas desenvolvidas nos centros urbanos, no desenvolvimento de categorias analíticas voltadas a esta realidade. Categorias estas, que por vezes, inscritas como universais, são deslocadas para compreensão do modo de vida rural. Tal deslocamento enquadra as expressões do sujeito do campo aos moldes do mundo urbano, realizando uma leitura enviesada a qual não apreende as especificidades e as pluralidades dos territórios rurais. Utilizou-se como metodologia deste estudo a pesquisa bibliográfica com base em duas fontes: primárias, amparadas em uma revisão sistemática que encontra-se em processo, na qual buscou-se levantamento bibliográfico, por meio das bases de pesquisa Scielo e Lilacs, com os descritores quilombo(s) e comunidade(s) quilombola(s) presentes em qualquer parte dos artigos (resumo, palavraschave e corpo do texto). Foram encontrados 143 artigos distribuídos nas diversas áreas do conhecimento, como recorte do estudo, foram selecionado apenas os artigos publicados em periódicos específicos de psicologia entre 2004 à 2014. Neste recorte temporal e por área de conhecimento foram encontrados 11 artigos que tratavam da temática, os quais foram lidos sistematicamente para formação posterior de categorias temáticas por assunto tratado. Como fontes secundárias buscou-se com os autores Arruti (2006), Leite (2008) e Souza (2008) o entendimento do conceito de quilombo como categoria política insurgente, e com Guimarães (2009), Schucman (2010), Martins, Santos e Colosso (2013) o entendimento das relações étnico/raciais. Relações estas indispensáveis para se pensar a realidade dos territórios quilombolas. As análises iniciais dos 11 artigos possibilitaram formação de quatro categorias por assuntos tratados: identidade (4 artigos), memória social (2 artigos), vínculo e relações familiares (2 artigos) e Conhecimentos e saberes tradicionais (2 artigos). Um dado relevante é que mesmo os 11 artigos tratarem das comunidades quilombolas, caracterizadas como territórios negros, apenas três deles problematizam e incluem em suas reflexões a temática étnico/racial, o que revela pouco contato dos psicólogos com tal temática e a necessidade de inserirem-se nestas discussões, para não situarem-se nos territórios quilombolas alheios às suas especificidades. Assim, ainda que com contribuições teóricas relevantes para a inserção dos saberes psicológicos nas comunidades quilombolas, no entendimento de seus processos políticos e psicossociais, as investigações nestas comunidades apresentamse incipientes, levando em conta que em 10 anos foram publicados apenas 11 estudos. Outra consideração relevante é a necessidade de considerar o território quilombola, para além do local ou tema no qual a pesquisa se desenvolve, e tomá-lo como objeto de estudo, na construção de categorias e conceitos que contemplem suas relações, processos e peculiaridades, na produção de saberes que auxiliem as comunidades em sua organização e luta política. Palavras-chave: Psicologia rural; Comunidades Quilombolas; Movimentos Sociais 57 58 ARTICULANDO GÊNERO E SUBJETIVIDADE A PARTIR DAS DIMENSÕES TRABALHO, FAMÍLIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: UM ESTUDO COM MULHERES DE UM ASSENTAMENTO RURAL DO RIO GRANDE DO NORTE Jáder Ferreira Leite Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) [email protected] O presente estudo objetivou investigar processos de subjetivação relativos à questão de gênero em mulheres de uma área de assentamento rural, coordenada pelo MST, do Estado do Rio Grande do Norte. Para tanto, propomos três eixos norteadores desses processos de produção subjetiva: os modos de relação que tais mulheres estabelecem com o trabalho, família e participação política. Teoricamente, embasamos nossa investigação nos estudos sobre os processos de subjetivação e as relações de gênero em sua articulação com o campo da Psicologia social. Os procedimentos metodológicos incluíram uma etapa de campo através de: (a) visita ao Assentamento rural Resistência Potiguar, localizado no Município de Ceará-Mirim e coordenado pelo MST, composto por 43 famílias e com cinco anos de existência. Participaram do estudo as mulheres que demonstraram consentimento livre, idade a partir de 18 anos e que compunham uma unidade familiar (seja como beneficiária titular ou cônjuge de beneficiário titular do assentamento). Os dados foram produzidos a partir da aplicação de um instrumento sociodemográfico junto às famílias assentadas, realização de entrevistas semiestruturadas (guiadas por um roteiro de questões não fechadas que incluíam as dimensões trabalho, família e participação política) com 10 mulheres assentadas e realização de observação participante junto às mulheres assentadas, com a finalidade de apreender suas práticas cotidianas em torno das dimensões trabalho, família e participação política. A análise das entrevistas, do grupo focal e da observação participante fundamentaram na perspectiva teórica dos estudos sobre os processos de subjetivação e gênero. Identificou-se que no tocante às relações de trabalho, as mulheres vivem de modo paradoxal entre a invisibilidade de suas atividades laborais na agricultura, mas também na tomada de decisões em torno de algumas tarefas como plantar e comercializar, especialmente onde são chefes de família. Em relação à participação política, destaca-se algumas conquistas de autonomia e de inserção em espaços institucionais de decisão política aquelas que têm uma trajetória marcada pela entrada no movimento social (MST) desde o momento inicial de luta pela terra até os dias atuais enquanto lutam por efetivação das políticas públicas para o assentamento em que vivem. Por fim, a dimensão familiar tanto aponta para permanências em torno do papel tradicionalmente posto para as mulheres de cuidado com as tarefas da casa e do cuidado dos filhos, mas também de entrada das mulheres, especialmente em atividades nãoagrícolas como forma de complemento da rende familiar. Por outro lado, em menor número, encontrou-se situações em que as mulheres conduzem os processos produtivos na agricultura enquanto seus maridos se inserem em atividades principalmente nas cidades próximas ao assentamento. Tal fato desloca os papéis tradicionalmente desenhados para a família, na medida em que as mulheres passam a gerenciar o lote e conduzir o processo produtivo. Palavras-chaves: Relações de gênero, participação política, Assentamentos rurais, Família, Trabalho. 58 59 5- REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS, VALORES E POLÍTICA Nildo Viana, Cleito Pereira dos Santos, Edmilson Marques & Jean Costa Santana A mesa redonda “representações cotidianas, valores e política” visa estabelecer uma relação entre algumas manifestações culturais (as representações cotidianas – o que geralmente se denomina “senso comum” –, o imaginário – as representações cotidianas ilusórias – e os valores) e a política, no sentido marxista da palavra, como toda e qualquer manifestação direta ou indireta da luta de classes. A força das ideias, das representações cotidianas, das ilusões, dos valores, nas lutas sociais não pode ser desconsiderada em nome de um economicismo empobrecedor. A concepção segundo a qual a consciência é mero reflexo da realidade também não dá conta da realidade. Tal como bem colocou Karl Korsch, as ideias fazem parte da realidade e por isso atuam sobre ela, sendo mobilizadoras. Nesse sentido, assume grande importância analisar as representações cotidianas, a forma de consciência da maioria da população (e sua manifestação específica, o imaginário, ou seja, representações cotidianas ilusórias) e os valores em sua relação com a política em geral, a luta de classes. Analisar as manifestações populares, seus avanços e recuos, as greves, as lutas políticas institucionais, significa não só buscar entender os acontecimentos, mas as intepretações, posições, valores, opiniões, da população em geral e do proletariado em particular, nesse contexto, pois isso ajuda a compreender a dinâmica das lutas sociais e da hegemonia burguesa e da resistência proletária. Assim, partindo de uma análise crítica das representações cotidianas, dos valores e do imaginário, fica mais fácil perceber os processos políticos contemporâneos e ver o seu papel na dinâmica da luta de classes, especialmente das classes exploradas. Nesse sentido, é fundamental compreender as representações cotidianas, suas formas, características, processos, bem como mais especificamente o imaginário, com maior presença e dominância na cultura das classes exploradas, e os valores (dominantes e marginais), bem como utilizar tal compreensão para perceber o desenvolvimento dos processos políticos, do passado e do presente. As representações cotidianas e o imaginário sobre eleições, partidos políticos, governos, Estado, sociedade e política em geral, são importantes, bem como analisar as representações cotidianas e sua dinâmica de produção e reprodução envolvida na luta de classes, influenciada pelas ideias dominantes, sociabilidade capitalista, meios oligopolistas de comunicação e sua resistência e contradições, bem como as influências da teoria revolucionária, grupos radicais e intelectualidade engajada. Da mesma forma, analisar os valores manifestos na sociedade e nas classes sociais, suas mutações e contradições, sua produção e influência nos movimentos sociais e população em geral, são outros aspectos importantes para compreender a política e as relações sociais na sociedade contemporânea. IDEOLOGIA, REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS E MOVIMENTOS SOCIAIS Nildo Viana Universidade Federal de Goiás Os movimentos sociais são criações da sociedade moderna que estão envolvidos na dinâmica das lutas de classes e na luta cultural que se realiza no seu interior. Os movimentos sociais são constituídos por grupos sociais reais, compostos por indivíduos concretos, e, por conseguinte, manifestam relações sociais concretas e se manifestam através de diversas formas de consciência, sendo, ao mesmo tempo, produtores/reprodutores de concepções e representações, bem como valores, e assim repassam e recebem diversas manifestações 59 60 culturais. A dinâmica dos movimentos sociais é envolvida tanto pelo universo cultural existente, e, por conseguinte, pelas lutas culturais travadas no seu interior, quanto por relações sociais concretas. Tendo em vista que o poder financeiro, os meios oligopolistas de comunicação, os aparatos estatais, entre diversos outros, são fundamentais para garantir a hegemonia burguesa e isso ocorre efetivamente na sociedade civil, então o mesmo se reproduz no caso dos movimentos sociais. Para compreender a hegemonia burguesa nos movimentos sociais é necessário entender, entre outras coisas, a força da ideologia dominante e das representações cotidianas, como elas se reforçam reciprocamente. A força da ideologia dominante se expressa inclusive como forma como determinados movimentos oposicionistas acabam reproduzindo-a, o que significa a existência da hegemonia burguesa nos movimentos sociais. As representações cotidianas, por sua vez, podem entrar em contradição ou reforçar tal hegemonia, sendo que, devido a própria ação da ideologia e dos meios oligopolistas de comunicação, tende a reforçar, inclusive criando novos chavões que aparentemente são contestadores e, no fundo, são reprodutores das ideias dominantes. ESCOLA, VALORES E MENTALIDADE BURGUESA Jean Costa Santana Faculdade Anhanguera de Anápolis Vivemos numa época de risco, onde as políticas neoliberais seguem a dinâmica do mercado em detrimento do desenvolvimento humano. Nesse sentido, conjectura-se que a “educação”, proporcionada pela instituição escolar, condicionada, ao mesmo tempo, pelas políticas neoliberais, tenha o objetivo de propor uma homogeneização de indivíduos e de valores, pautada em concepções capitalistas. Nesse sentido, mesmo que a instituição escolar seja um local de relações sociais e, portanto, de contradições sociais, questiona-se o seu posicionamento passivo e receptivo, diante das políticas neoliberais que se retroalimentam da reprodução dos valores e da mentalidade burguesa. Sendo assim, a instituição escolar, como um dos aparatos ideológicos do estado, logicamente reprodutora dos valores da sociedade capitalista, têm a priori, em suas concepções, o objetivo de criar metas predeterminadas para seus alunos. No entanto, aqueles que não conseguem atingir ou caminhar dinamicamente nesse processo são discriminados. Nesse sentido, depreende-se que a instituição escolar, estando aliada aos interesses da classe dominante, se distancia cada vez mais de sua responsabilidade social, e, em sua submissão e passividade diante das políticas neoliberais capitalistas, reproduz, por outro lado, os valores construídos e disseminados pela mentalidade burguesa. A instituição escolar comete uma violência, tanto psicológica como moral em seus alunos, já que essa instituição busca a reprodução das relações de produção e sociais capitalistas padronizadas. Sabemos, todavia, que a escola é formada por pessoas. Diante disso, se torna necessária a luta pelo desenvolvimento da consciência das mesmas, para que a escola se torne um local de contradição e questionamento social, centro de resistência, ao invés de local de passividade e reprodução da mentalidade burguesa. 60 61 REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS E RACISMO Cleito Pereira dos Santos Universidade Federal de Goiás Procuramos, aqui, apresentar a relação entre a formação da ideologia racial e as representações cotidianas destacando a diversas formas assumidas pelo racismo e seus impactos sobre a sociedade e os movimentos sociais, tais como o movimento negro. Por um lado, destacamos o contexto histórico e social do surgimento da ideologia racial e, por outro, a maneira como tal ideologia é popularizada e disseminada na sociedade. Destacamos também os conflitos oriundos da emergência da ideologia racial, tanto da contestação radical dos seus pressupostos - realizada pelo movimento negro radical, pelo marxismo libertário, dentre outros - quanto das formas moderadas assumidas pelo pensamento burguês (intelectuais, movimentos sociais reformistas, partidos políticos reformistas, conservadores e pseudoesquerdistas). Em síntese, trata de discutir a complexa relação entre emergência da ideologia racial (construto dos intelectuais) e os impactos sobre o cotidiano, sua divulgação, popularização, disseminação, vulgarização no contexto social. CAPITAL COMUNICACIONAL, REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS E INTELECTUAIS Edmilson Marques Universidade Estadual de Goiás O capital comunicacional é um setor do capital que lucra através da mercantilização da comunicação e da produção cultural, mas, além disso, também executa uma ação de reprodução das ideologias, ideias e valore dominantes na sociedade. Ele tem um papel fundamental na disseminação da hegemonia culturla burguesa e isso afeta as representações cotidianas das classes desprilegiadas, sob as mais variadas formas. Através de várias produções artíticas (cinema, quadrinhos, literatura, música, etc.), científicas, doutrinárias, propagandísticas, repassa os valores dominantes, determinadas concepções e representações, que objetivam criar a adesão da população ao capitalismo. Apesar das contradições que ocorrem no seu interior, o que predomina é sua ação reprodutora. Os meios oligopolistas de comunicação, ao usarem diversos recursos que atinge grande parte da população (Rádio, TV, etc.) com sua programação axiológica e ideologêmica, acaba não somente repassando ideias, mas ajudando a moldar as representações cotidianas das classes desprivilegiadas. As representações cotidianas, que se caractgerizam formamente por realizar um processo de simplificação, naturalização e regularização a nível das ideias a respeito das relações sociais, acabam tendo um reforço poderoso do capital comunicacional e seu processo de violência cultural. Esse reforço é ainda mais eficaz ao divulgar ideologias, ideologemas, vulgarização do pensamento ideológico, no sentido de se tornar mais acessível à população. No entanto, existem contradições, tanto no interior do capital comunicacional quanto da sociedade e as lutas de classes na sociedade acabam criando um contraponto a esse estado de coisas. As representações cotidianas não são vazias e por isso também assimilam, simplificam, as ideias dominantes e nesse contexto de luta cultural, aparece como fundamental o papel dos intelectuais engajados no sentido de uma atuação que reforce a resistência proletária. 61 62 6- A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO COMO REALIZAÇÃO DA POTÊNCIA POLÍTICA Fernando H. Yonezawa, Priscila Tamis & Paulo Ricardo Bittencourt A ocupação do espaço público é questão extremamente pertinente para a contemporaneidade, pois hoje o espaço privado se hipertrofia sobre o espaço público (Arendt, 2008, p.43), que mingua, porque a política se iguala a uma grande administração doméstica. Temos nos distanciado da identidade entre política e liberdade, que seria, para Arendt (2013, p.60), o sentido original da coisa política, realizada necessariamente no espaço público, espaço de ação entre os homens: a liberdade consistia lidar com a pluralidade-diferença entre os homens. Assim, o espaço público era lugar de encontro, embate e conexão de distintos pensares, relações e poderes existentes. Então, nos aproximamos do sentido de política para Foucault (2010, p.164) - jogo dinâmico das relações de poder que se dão historicamente em uma sociedade. São as relações de poder que constituem os sujeitos e corpos (Foucault, 2000, p.148) da sociedade. Estas relações de poder constituintes dos corpos são as mesmas que circunscrevem os espaços públicos: tanto os corpos quanto as praças e ruas são territorialidades de realização da potência política, porém, passíveis de serem despolitizados, quando esvaziados da liberdade de ação e das possíveis resistências ao poder. Esta mesa objetiva problematizar a intervenção sobre os espaços públicos, a partir da discussão de três experiências de ocupaçãointervenção nestes. A primeira trata de um movimento autogestionário ocorrido em Campinas (SP), em que os usuários do Museu da Imagem e do Som retomaram a luta pela valorização da cultura, a partir da ameaça colocada pela prefeitura de deslocar o museu e seu acervo da casa histórica em que estava instalado. Discutiremos a capacidade de autoanálise (implicação) e de resistência ao poder que os cidadãos desse movimento precisavam ter para intervir politicamente e apropriar-se de um espaço de promoção cultural, que oferecia atividades gratuitas à população, a maioria realizadas e geridas pelos próprios usuários. A segunda traz uma cartografia das experiências de trabalhadores da saúde em seus deslocamentos cotidianos em transporte público para o trabalho e a possível relação da experiência no trânsito-trajeto com a produção de saúdes e subjetividades destes transeuntes da cidade de São Paulo; referendando macro e micropolíticas investidas no desejo de ser gente numa cidade. A terceira diz respeito as ações coletivas ocorridas recentemente, em 2011, em prol da educação chilena, denominadas cacerolazos; ações que utilizam-se de diversos tipos de panelas e/ou utensílios domésticos para produzir um território de alta intensidade e complexidade sonora. Tal experiência, a partir das memórias dos cacerolazos iniciados já em 1971, nos permite entrar em contato com ações que agenciam múltiplas lembranças e formas de expressão sonoras a favor das lutas de um povo. Então, pretende-se compartilhar como tais experiências se configuram em estratégias de guerra, que engendram novas coletividades e ações políticas, que passam a considerar a cidade como espaço a favor da vida, das memórias singulares e, assim, produzir outros modos de vida, para além dos que já estão postos. Vemos daí, que o espaço público, como campo de ação e resistência é construído tanto nos territórios urbanos, quanto nos microespaços entre os corpos. Palavras-chave: ocupação, potência, espaço público, política, subjetividade 62 63 TRAJETOS NA CIDADE - OCUPAÇÃO E INTERVENÇÃO NO TRANSPORTE COMO ESPAÇO PÚBLICO E DE DIREITO Priscila Tamis Universidade de São Paulo (USP) [email protected] Nesta investigação cartografamos as experiências de trabalhadores da saúde em seus deslocamentos cotidianos em transporte público para o trabalho e pesquisamos a possível relação da experiência do percurso cotidiano com a produção de saúdes e subjetividades destes transeuntes da cidade de São Paulo: pequena parcela da população, que diz da experiência cotidiana vivida por um coletivo de milhões de pessoas. Em junho de 2013 uma dinâmica intempestiva e que foge aos modelos conhecidos de organização política tomou ruas e praças. Segundo Cocco (2013), afirmação de uma democracia radical firmada entre as redes e as ruas: autoconvocação e discussões nas redes sociais, formação e participação de multidões nas manifestações de rua, coragem inabalável em enfrentar a repressão. As manifestações trouxeram para a visibilidade, pela voz do povo, a violência cotidiana sofrida no transporte, criando um processo de desnaturalização do alto preço das tarifas, da violência no trânsito, da dificuldade no deslocamento, da desapropriação dos espaços públicos (e quase que da própria vida), da precariedade das condições estruturais e funcionais do transporte público. E então, em 4 de dezembro de 2013 foi aprovada a proposta de emenda constitucional, PEC 90, que torna o transporte um direito social, alegado como condição-meio de acesso aos demais direitos fundamentais garantidos na Constituição. Com orientação transdisciplinar, a pesquisa parte da interlocução da Psicologia com saberes da Filosofia e Ciências Sociais; uma bricolagem de conceitos, perceptos e afetos experienciados no trânsito da cidade, empregando o método cartográfico com entrevistas semi-estruturadas e produção audiovisual - registros que acompanham o acontecimento e dão voz às sensibilidades que ocupam os corpos-espaços. Foucault (1979) diz que o espaço deixa de ser desqualificado em relação ao tempo (dialético, fluido, flexível), deixa de ser o fixo, imóvel e morto para ser arma de administração, expressão, guerra e gestão; estratégico e parte de um discurso combatente que se faz terreno e objeto de práticas políticas. É também neste sentido que os conceitos de saúde e subjetividade, enquanto efeitos da relação de forças no e com o espaço público, passam a ser dispositivos analisadores de investigação dos modos de vida contemporâneos. A problematização de conceitos e práticas implica nas possibilidades de novas territorializações, novas maneiras de compreender saúdes e subjetividades, novas políticas de ocupação dos espaços. Saúde que não é só cura ou ausência de doenças, mas produção e afirmação de diferença e vida. Subjetividades que são constantemente as possibilidades de diferir-se, a invenção e criação de si e do mundo. Construímos, pesquisadora e participantes-colaboradores, um bordado em linhas sobre as condições do transporte público e os efeitos dessa qualidade de deslocamento na vida da população. Em um tempo que a lógica do lucro ignora o direito, travamos uma conversação entre macropolíticas do Estado e micropolíticas do cotidiano - a complexificação dos espaços comprimidos, a vontade de ser gente numa cidade. A pesquisa é uma construção coletiva e tem função pública de luta por ações eminentes de formulação e implementação de políticas públicas que estejam à altura do cotidiano experienciado por milhões de pessoas. Palavras-chave: público, saúde, trânsito-trajeto, subjetividade, espaço política 63 64 CACEROLAZOS - A MÚSICA PALPITANTE DAS RUAS COMO ENCONTRO POTENCIALIZADOR DE RESISTÊNCIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA Paulo R. Bittencourt Universidade de São Paulo (USP) [email protected] Os espaços urbanos o qual estabelecemos contato são atravessados por tramas sonoras que se mesclam em nossas experiências corpóreas e incorpóreas. As cidades em suas microestruturas passaram a ser o local onde se faz sentir toda e qualquer mudança e impacto nas relações de produção, distribuição e consumo, produzindo-se, desta maneira, imbricadas nas novas relações de tempoespaço. As ruas se tornaram lugares habitáveis, interessantes, solidários, disputáveis, festivos e apaixonantes; ao mesmo tempo em que as casas, o trabalho e a televisão se tornaram mais mentirosos nas promessas. Nelas pode-se ser anônimo, ser muitos, ser gente, gritar e cantar manifestando a vida das ruas (Christlieb, 2004). Os cacerolazos ou panelaços, como são conhecidos no Brasil, surgiram em meados de 1971 no Chile, e espalharam posteriormente pela América do Sul. São ações coletivas que aglutinam múltiplas formas de expressão sonoras a favor das lutas de um povo. Em sua maioria, os participantes de tais ações se utilizam de diversos tipos de panelas e/ou utensílios domésticos para produzir um território de complexa intensidade sonora. A série de protestos de grande relevância no cenário chileno e onde se insere parte de nossos trajetos cartográficos, foram iniciados em agosto de 2011 e se estenderam até as datas recentes. Tais cacerolazos dizem respeito ao fortalecimento do papel do Estado na educação, à garantia do acesso à educação pública gratuita e de qualidade, reivindicando o fim ou diminuição das atividades com fins lucrativos no setor educacional. A pesquisa é cartográfica e permeada por muitas vozes, através de relatos e depoimentos. Foi utilizado questionário semi-estruturado e entrevistas com 9 alunos participantes de federações da Universidad Alberto Hurtado e Universidad Técnica Federico Santa María, ambas em Santiago do Chile. A partir de uma escuta sensível dos relatos, e permeado por conceitos político-filosóficos o objetivo foi perceber o quanto tais ações se produzem enquanto ferramentas ético-estético-politicas, permitindo, desta maneira, acompanhar os devires e processos de singularização do próprio movimento. Nas análises podemos vislumbrar os corpos e desejos em constante deslocamento e, assim, por meio dos relatos de experiências, pudemos acompanhar as processualidades e agenciamentos de forças não sonoras e que se tornam sonoras a partir das produções de memórias que se efetuam nos cacerolazos. São verdadeiros rizomas e ritornelos (Deleuze & Guattari,1997) que permitem que todo o sonoro dos cacerolazos seja retirado ou deslocado de seu território acústico, agenciando ações coletivas tecidas nas entranhas de cada indivíduo, que se percebe criativo e não consegue conter as forças que lhe atravessam. São nestes encontros que existe a possibilidade de construção de uma polifonia, de texturas que são por si só coletivas e assim possibilitam uma ação potente no que diz respeito às formas de ação e mobilização política. É a música das ruas: nervosa, palpitante, explosiva; um mapa aberto; uma música que flutua (Santos, 2002). A cidade começa a se ver, desta maneira, potente em sua coletividade e permite que as pessoas, ao se cruzarem, se vejam como ativas e potencializadas em seus modos de existir. Palavras-chave: cacerolazos, territórios sonoros, agenciamentos coletivos, participação política 64 65 A AUTOANÁLISE NUM MOVIMENTO DE AÇÃO SOBRE O ESPAÇO PÚBLICO: O MOVIMENTO MIS NO PALÁCIO E A RESISTÊNCIA PELA CULTURA Fernando H. Yonezawa Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] Neste trabalho, gostaríamos de analisar uma experiência de movimento político de resistência ocorrido em Campinas (SP): o Movimento MIS no Palácio atuou por um ano, lutando pela revalorização da cultura e pelo investimento público no Museu da Imagem e do Som (MIS), espaço público, no qual ocorriam inúmeras atividades culturais, realizadas e geridas pelos seus próprios usuários. Neste espaço, aconteciam oficinas artísticas, ensaios de teatro, exposições, sessões de cinema alternativo, cursos de fotografia, audições musicais. O Movimento MIS no Palácio foi desencadeado pela ameaça trazida pela prefeitura da cidade de deslocar o museu para um espaço ainda mais inadequado para receber todo seu rico acervo audio-visual e suas atividades. Seus usuários desencadearam um movimento que atrairia também outros coletivos de resistência da cidade, das áreas do teatro e da dança. Entre as ações de valorização do museu e da cultura, o movimento realizou passeatas e intervenções na câmara dos vereadores, mas também bailes de máscaras, oficinas de fotografia, oficinas de artes corporais. Um movimento como este só podia se realizar a partir de uma capacidade de autoanálise: era preciso analisar a implicação, o modo como cada um dos integrantes e o movimento como um todo se inseriam dentro das relações de poder ali existentes. Todos estabeleciam alguma relação com o museu, com a arte e com a cidade e, como tal, sustentavam relações de poder, posicionamentos, modos de agir, constituintes tanto de si, como do espaço. Sabemos que, para Foucault (2010, p.164), o trabalho de analisar as relações de poder que constituem os corpos é justamente uma ação política. Isso porque as relações de poder agem materialmente sobre os corpos, através de dispositivos discursivos e tecnologias concretas. Contudo, as relações de poder nunca vêm separadas de relações de resistência e liberdade (Foucault, 2004, p.277). Neste momento, além do conceito de relações de poder, é interessante trazermos o conceito de espaço público de Arendt. Para a autora, o espaço público é um espaço de liberdade, por ser essencialmente um lugar de ação política, de ação entre os homens. Se o espaço público é o lugar da política, é justamente porque só pode haver política onde se tiver que lidar com a diversidade e diferença entre os homens e sua igualdade apenas relativa (Arendt, 2013, p.21 e 24). Em outras palavras, o espaço público só é político se nele houver liberdade, isto é, se for possível que as diferenças se componham ou ainda, em termos foucaultianos, se as relações de poder tiverem que se confrontar com resistências. Nesta experiência do Movimento MIS no Palácio, pôde fazer de um museu um território de uma dupla política: a de valorização da cultura e a de constituição de um espaço genuinamente público, em que os cidadãos eram levados a resistir às arbitrariedades da prefeitura, a partir da composição de suas diferenças e modos existir no mundo. Sem a produção simultânea de relações de poder e de ações de resistência, não haveria uma ação política e nem espaço público a se realizar como lugar de liberdade. 65 66 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL 7- PARA ALÉM DO ARCO-ÍRIS: AÇÃO POLÍTICA LGBT NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Mário Felipe de Lima Carvalho, Frederico Viana Machado & Marco Aurélio Maximo Prado Quase duas décadas depois da realização da primeira parada do orgulho LGBT no Brasil, o panorama das políticas e direitos sexuais indubitavelmente mudaram. Ao longo das últimas décadas, diversos atores políticos entraram em cena na construção de propostas de ações governamentais, agendas política e novas perspectivas de direitos. A caracterização da pauta LGBT no espectro dos direitos humanos não foi, e continua não sendo, um processo simples e ausente de conflitos. No limite, considerar o direito a livre orientação sexual e expressão de gênero como um direito humano fundamental significa politizar práticas sexuais e apresentações sociais do gênero. Entretanto, em grande medida as parcas conquistas do ativismo LGBT se processam através da transformação de sujeitos sexuais em vítimas sexuais (vítimas de uma epidemia, de assassinatos, de tráfico de pessoas, de um transtorno mental) que pode ser compreendida como um processo de despolitização do sexo, de acordo com as recentes proposições do cientista político argentino Mário Pecheny. O desafio de repolitizar o sexo passa pela relação paradoxal entre sexualização (individual, particular e enviesada); e dessexualização (universal, coletiva e imparcial). Nesta mesa pretendemos apresentar considerações sobre a ação política do ativismo LGBT no Brasil contemporâneo, a relação Estado – movimento social, a produção de sujeitos políticos, a construção de (des)identidades coletivas, entre outros pontos, visando contribuir para um debate mais profundo sobre a relação sexo - política. “VISIBILIDADE” E “CIDADANIA” NA PROPAGANDA POLÍTICA DO ATIVISMO DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS NO BRASIL (2004-2014) Mário Felipe de Lima Carvalho Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) No dia 29 de janeiro de 2004 foi lançada a campanha “Travesti e Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate. Na escola. No trabalho. Na vida”, produzida em conjunto pelo movimento de travestis e transexuais e o Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (Programa Nacional de AIDS, na época). Desde então esta parceria tem produzido campanhas sistemáticas visando à “promoção da cidadania da população de travestis e transexuais” e o dia 29 de janeiro foi tomado pelo ativismo como o “Dia da Visibilidade Trans”. Neste trabalho, analisamos os principais materiais produzidos em tais campanhas, assim como alguns desdobramentos locais dessas ações. Esta análise toma as categorias “visibilidade” e “cidadania” como nativas e, portanto, carregadas de sentidos distintos dependendo dos contextos e agentes que as utilizam. Assim, podemos colocar em questão o processo de disputa entre regimes de visibilidade como uma ferramenta política que opera uma luta por reconhecimento, seguindo a proposição de Axel Honneth, a qual é atravessada no contexto brasileiro por um processo de SIDAdanização, conforme elaborado por Larissa Pelúcio. 66 67 ATIVISMO LGBT, ESTADO E DIFERENCIALISMO IDENTITÁRIO Frederico Machado Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Na década de 2000 observa-se um crescimento significativo dos movimentos sociais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil. Este crescimento foi acompanhado de uma abertura Estatal para as pautas e demandas destes movimentos, a partir de iniciativas como editais de financiamento, conselhos e conferências de políticas públicas, programas e planos nacionais etc. Este cenário traz discursos e formas de interação ambíguas, no que tange às possibilidades de democratização do Estado e da sociedade. Para analisar estas relações, abordaremos alguns usos das diferenças identitárias que marcam as interações sociais entre atores situados nas fronteiras que separam Estado e sociedade civil. Nomeamos de diferencialismo identitário o discurso sobre as diferenças presente no campo de identificações que posiciona os atores na arena política, engendrando determinadas negociações e estratégias políticas. A mecânica deste discurso ofereceu instrumentos para a análise das interações sociais dos atores coletivos nos espaços institucionais de participação e as formas que o político vem imprimindo no fazer coletivo dos movimentos LGBT. ENTRE A REGULAÇÃO E A DIFERENÇA: MOVIMENTOS LGBT E A FRAGILIDADE DA DIMENSÃO DA EQUIVALÊNCIA NOS DIREITOS. Marco Aurélio Maximo Prado Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG) Os movimentos sociais podem ser entendidos como a expressão de antagonismos contemporâneos que revelam-se centrais na radicalização dos princípios democráticos em uma sociedade. Assim, suas expressões podem ser consideradas fundamentais para pensarmos o sentido democrático da equivalência dos direitos na vida em sociedades. Destarte essa concepção idealista, os movimentos sociais se organizam a partir da relação com o Estado e suas formas de governança, estabelecendo através deste complexo, as relações fronteiriças entre o sentido político de suas ações e os sentidos da política institucional fomentada pelo Estado e pelas formas de regulação e de governança das sociedades e dos indivíduos. Nas últimas décadas, temos visto no Brasil um novo fenômeno o qual tem, em muito, delineado a produção simbólica e concreta da política no contexto das ações dos movimentos sociais contemporâneos. Esse fenômeno pode ser nomeado como um binômio que produz não só os elementos regulatórios da ação dos movimentos sociais, mas também a impossibilidade de que os vários movimentos, mesmo os que compõem alguma frágil unificação, reconheçam equivalência de direitos a partir da diferença de suas próprias demandas. Entre a regulação e a diferença instalou-se no contexto brasileiro uma zona cinzenta capaz de destituir qualquer fronteira política necessária para a expressão de antagonismos sociais e a produção de sujeitos políticos. Ao invés das fronteiras política, a palavra-chave da atualidade se dissipou em contexto institucional participativo. Assim, nos interessa analisar como o movimento LGBT, especificamente, tem buscado enfrentar estas impossibilidades de equivalência e quais relações com o Estado brasileiro têm sido produzidas no contexto do debate sobre diversidade sexual e de gênero. Para tal, utilizaremos da proposta teórica de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe ao analisar as lógicas da diferença e da equivalência na produção dos antagonismos sociais contemporâneos e de trabalhos que objetivam analisar os movimentos LGBT no Brasil. 67 68 8- NUANCES EPISTÊMICAS DE FRONTEIRA: ASPECTOS ÉTICOS E POLÍTICOS DA RELAÇÃO DE PSICÓLOG@S, EM SITUAÇÃO DE PESQUISA, JUNTO A SUJEITOS EM CONTEXTOS DE DISCRIMINAÇÃO. Jon Anderson Machado Cavalcante, Vinício Brígido Santiago Abreu, Lorena Brito da Silva & James Ferreira Moura Júnior Esta mesa visa suscitar uma problematização acerca da relação entre pesquisadores/as psicólogos/as e sujeitos participantes que vivenciam contextos de marginalização e de discriminação. Nesse sentido, serão partilhados saberes de experiência vivida junto a diferentes populações da cidade de For: prostitutas pobres, pessoas em situação de rua e garotos de programa. Compreende-se que o ato de pesquisa trata-se, sobretudo, de uma prática social, ou seja, perpassada por relações de natureza histórica e cultural. Assim, as condições de produção do conhecimento passam pelas possibilidades de contato e de interlocuções entre os sujeitos sociais. Desse modo, o/a pesquisador/a psicólogo/a, ao ingressar em um “campo de pesquisa”, é atravessado/a pelas dimensões éticas e políticas das relações que instituem as vidas das populações participantes. Acredita-se que, com esta mesa, possa-se partilhar e refletir acerca das problematizações dos/as autores/as sobre o exercício metodológico de estudos junto a sujeitos que vivenciam, sofrem e resistem a práticas de marginalização e de discriminação. A ad-miração (mirar de dentro), proposta por Paulo Freire, representa o movimento epistêmico em comum dos três estudos desta mesa. A inserção nos contextos sociais de prostitutas pobres, de pessoas em situação de rua e de garotos de programa revela a potência epistêmica do encontro com os sujeitos participantes já que as mediações inerentes a esse contato trazem consigo as tensões de seus modos de vida, também de trabalho. Dessa forma, o processo de pesquisa transporta uma aproximação com as fronteiras das relações de trabalho, de gênero e do cotidiano dos sujeitos (pesquisadores/as e populações participantes) e das apreensões acerca de suas existências. Os trabalhos desta mesa apontam, portanto, para os estranhamentos, os desafios e as indagações éticas e políticas suscitadas pelas peculiaridades e contradições dos cenários nos quais se encontram essas populações. Surgem, diante disso, cuidados e experimentações de posturas metodológicas que permitam a construção de práticas de pesquisa que são também sociais e epistêmicas, pois atuam na fronteira dos lugares simbólicos e políticos dos sujeitos, inclusive, também atravessados pelas lógicas de discriminação e de marginalização. Enfim, com esta mesa pretende-se a partilha dos saberes sistematizados pela análise e pelas teorizações acadêmicas, bem como os saberes da experiência de pesquisa nas quais nuances constitutivas da população participante e dos pesquisadores/as tornam-se presente na fronteira de um encontro epistêmico e, por isso, política e eticamente provocador. Palavras-chave: metodologia, Pesquisa, experiência, alteridade 68 69 A NUDEZ DO PESQUISADOR: NOTAS ETNOGRÁFICAS SOBRE A INSERÇÃO NO CAMPO DA PROSTITUIÇÃO MASCULINA EM FORTALEZA Vinício Brígido Santiago Abreu Universidade Federal do Ceará (UFC) [email protected] O garoto de programa, figura central da chamada prostituição masculina, é definido aqui, através do pressuposto da Organização das Nações Unidas, como todo indivíduo que, mediante remuneração, de maneira habitual, sob qualquer forma, entrega-se em relações sexuais com diversas pessoas do mesmo sexo ou de sexo oposto. Esses trabalhadores do sexo caracterizam-se como personagens ocultos na história, pois são relegados à marginalização, exclusão social, precariedade no trabalho e culpabilização, tendo relegados o acesso à Saúde, ao Direito do Trabalho, à Segurança Pública e, principalmente, à dignidade. Essa situação se reproduz no campo da Psicologia, pois, mesmo com a prática quase militante de alguns pesquisadores sobre a temática, esses trabalhadores do sexo são figuras tradicionalmente invisíveis nas produções acadêmicas em Psicologia do país. Com o objetivo de problematizar a situação de marginalização desses sujeitos nas pesquisas e produções da psicologia, essa comunicação utiliza vivências, experiências e implicações adquiridas na dissertação “Entre o marginal e o laboral: o trabalho de garotos de programa da cidade de Fortaleza” a ser defendida em agosto de 2014. Foram utilizados recursos etnográficos de observação participante como metodologia para inserção no campo e obtenção dos dados. Nela o pesquisador/observador se insere no ambiente/cultura a ser estudada com o objetivo de realizar sua pesquisa científica, colhendo dados através da relação e sendo parte do contexto, e, nesse processo, modificando e sendo modificado pelo campo. Durante dez meses frequentei os dois principais estabelecimentos utilizados pela prostituição masculina em Fortaleza, as saunas Dragon Health Club e Thermas California, como cliente regular, seguindo as regras e normas de conduta existentes nesses espaços, entre elas o ato de despir-se para permanecer nesses locais somente vestido com uma toalha. A semi nudez significou mais que o simples “tirar a roupa”, mas um ato de despir-se das posturas formais de pesquisador, do suposto distanciamento dos sujeitos investigados e do caderno de anotações, possibilitando o pesquisador se confundir entre outros frequentadores, estando lá como um deles. Essa interação sem barreiras do suposto saber científico foi a etapa mais difícil e rica dessa pesquisa, pois explicitou meus medos, preconceitos e resistências construídas social e culturalmente. Na construção da dissertação, observei que falar sobre o trabalho de garotos de programa significa também ser militante na defesa de direitos e da cidadania dos trabalhadores marginalizados. Produzir um trabalho acadêmico nessa temática é defender a existência desses trabalhadores em uma sociedade que finge não enxergá-los. A superação de preconceitos, a aproximação de espaços da cidade até então desconhecidos, a ressignificação sobre o funcionamento do mercado do sexo e das pessoas que nele estão inseridas a partir da imersão nos campos possibilitaram minha identificação com o fazer etnográfico. A identificação de garotos de programa como trabalhadores, insere essa temática pesquisada no campo da Psicologia Social do Trabalho, questionando o papel que essa vem desempenhando junto aos trabalhadores marginalizados. Palavras-chave: Psicologia Social do Trabalho. Prostituição Masculina. Trabalho Marginal. Preconceitos. 69 70 A RUA COMO CAMPO DE PESQUISA: DESAFIOS ÉTICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA COM PROSTITUTAS DO BAIXO MERETRÍCIO. Lorena Brito da Silva Faculdades Luciano Feijão (FLF) e /Vale do Jaguaribe (FVJ). [email protected] A rua esconde e revela histórias e significados, sendo lugar do anonimato, do marginal, dos encontros e lócus de construção da vida coletiva e individual, potencializando pertencimentos e enfrentamentos. Ter a rua como campo de pesquisa e investigar grupos sociais estigmatizados e segregados territorialmente, convida a Psicologia à romper com teorizações elitizadas e utilitaristas e a criar arranjos teórico-metodológicos comprometidos ético-politicamente. Esta comunicação é fruto da dissertação “Implicações Psicossociais da Violência nos Modos de vida de prostitutas pobres”, defendida na Pós-graduação em Psicologia da UFC, que teve a etnografia como perspectiva metodológica. Especificamente este trabalho objetiva problematizar a construção do campo de pesquisa em contextos de prostituição de rua, analisando aspectos éticos e políticos da postura do investigador. A construção do campo foi se fortalecendo ao longo do período de inserção (ANGROSINO, 2009), respeitando critérios acadêmicos, pragmáticos, afetivos e simbólicos, tendo a Barra do Ceará congregado características potentes e desafiadoras: historicamente possui diferentes e complexos pontos de prostituição, está inscrita em um bolsão de pobreza da cidade e é marcada por conflitos entre o tráfico organizado e a polícia, cenário que explicita uma série de vulnerabilidades e aponta cotidianamente a construção de modos de enfrentamento por parte dos seus moradores. Inspirada nas atuações em Psicologia Comunitária (GÓIS, 1993), o processo investigativo foi compreendido enquanto encontro e problematização de questões cotidianas, sendo qualitativamente pautado pela historicidade (VYGOTSKY, 1984); pela participação colaborativa (MONTERO, 2007); pela processualidade (FLICK, 2009) e pelo potencial criador e inovador (SCARPARO, 2008). Considerando a centralidade do diálogo e da práxis foram utilizados como recursos metodológicos a inserção comunitária (GÓIS, 2005; 2008), onde a partir das caminhadas comunitárias, das visitas domiciliares e institucionais, da presença nos bares e cabarés da região, foi possível realizar um mapeamento psicossocial prostitucional, reconhecendo os códigos culturais, a relação das mulheres com o lugar, os sentidos que envolvem a prostituição, as relações de poder e os des.limites para a própria inserção. Dentre os principais acúmulos reflexivos está a compreensão de que não foi a simples presença no território que possibilitou a transformação do espaço em campo de pesquisa, mas as relações e as pactuações simbólicas construídas e a abertura mútua, das participantes e minha, para a vinculação. A inserção possibilitou também conhecer as condições psicossociais do modo de vida do lugar que impedem e que potencializam as mulheres se tornarem sujeitos de suas histórias, entendendo a materialidade da vivência em condição de pobreza e de rua em seus psiquismo e modos de socialização, tencionando e questionando obviedades (MARTIN-BARÓ, 1998). Ficou explicito a necessidade de ter referenciais locais mediando a entrada e participação diante da configuração local e da resistência com “estrangeiros”. O fato de ser mulher explicitava a importância desses referenciais, diante das questões de gênero que marcavam o meu corpo enquanto pesquisadora naquele território. Por fim, evidencia-se as contribuições da Psicologia Comunitária, em seus aspectos formativos/acadêmicos, enquanto lente de análise e postura de atuação em contextos psicossociais, por possibilitar um reconhecimento aprofundado da realidade estudada, fortalecendo ferramentas teóricometodológicas criativas, descolonizadoras e participativas. Palavras-chaves: Contexto de rua; Prostituição; Psicologia Comunitária. 70 71 A PESQUISA EM SITUAÇÕES DE POBREZA: ARENAS DE RECONHECIMENTO ENTRE INDIVÍDUOS POBRES, PESQUISADOR E PROFISSIONAIS DE POLÍTICAS PÚBLICAS. James Ferreira Moura Júnior Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) [email protected] A pobreza concebida no modelo multidimensional acarreta formas específicas de constituição identitária, geralmente estruturadas em perspectivas opressoras de manutenção do status quo e de enfraquecimento das potencialidades dos indivíduos a partir do processo de estigmatização do pobre.As pessoas em situação de rua estão posicionadas na representação mais opressora dessa realidade de pobreza, pois são privadas de condições básicas de moradia, alimentação, segurança, assistência, saúde e educação, como também são constantemente alvo de agressões e de práticas discriminatórias. Igualmente, entendese que os profissionais de políticas sociais também podem reproduzir determinados formas de reconhecimento embasados por perspectivas depreciativas das pessoas em situação de pobreza. Partindo desses pressupostos, estabelece-se a pergunta: como são estrututuradas as formas de reconhecimento da tríade pesquisadorparticipante-profissional de política públicas a partir de questões de classe. O percurso metodológico da pesquisa é embasado pelo âmbito qualitativo, utilizando as técnicas de entrevista narrativa, de observação participante e de diários de campo. Foram entrevistados quatro pessoas e realizadas observações participantes em diversas situações a partir da perspectiva etnográfica. A pesquisa ocorreu no Abrigo Provisório para pessoas em situação de rua removidas da Praça da Bandeira e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (CREAS-POP). Ambos estão vinculados a Secretaria Municipal de Assistência Municipal da cidade de Fortaleza. A análise dos sentidos da pesquisa foi baseada na análise temática narrativa. Como resultado, é verificado a preponderância de papéis sociais, personagens e formas de reconhecimento relacionados de forma depreciativa a identidade social de pobre e de morador de rua, gerando práticas de discriminação, de agressão e de ofuscamento das compreensões das pessoas em situação de rua como portadoras de potencialidades. Igualmente, o pesquisador inicialmente é reconhecido como sendo portador de dinheiro; como inocente em relação à realidade de rua e de pobreza; e como alguém que é portador de um conhecimento privilegiado educionalmente. Essas concepções estão vinculados a aspectos ideológicos e opressores de depreciação das pessoas em situação de pobreza desenvolvidos pelas próprios indivíduos em situação de rua. No entanto, com o tempo, passaram a existir novos significados vinculados a interação pesquisador-participantes, voltados para valores de intimidade, proximidade e de solidariedade. Diferentemente, a relação entre participantes-profissionais foram permeadas pelo reconhecimento depreciativo das pessoas em situação como unicamente baseadas em usuárias de droga, criminosas, vagabundas, etc, não ocorrendo uma modificação desses sentidos desenvolvidos pelos profissionais ao longo da investigação. É apontado, por fim, a necessidade de fomento de processos cooperativos, dialógicos e críticos para superação dessa situação de opressão. Igualmente, a problematização dessas posturas desenvolvidas pelos profissionais das políticas publicas. É prestado agradecimentos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Palavras-chave: Pobreza. Discriminação. Pesquisa. 71 72 9- RELAÇÕES DE PODER E INSTITUIÇÃO NO CAMPO DAS ESQUERDAS Jaqueline Gomes de Jesus, Lia Vainer Schucman & Flávia Gilene Ribeiro A presente mesa redonda visa a problematizar as relações de poder e instituições, no campo das esquerdas, a partir de diferentes olhares voltados para as relações étnico-raciais, destacando a questão da branquitude e do racismo institucional, todos orientados por posicionamentos analíticos de crítica ao status quo e ao modelo operacional de anuência a priori com o sistema capitalista, o que os caracteriza politicamente, de maneira genérica, no campo das esquerdas. A primeira comunicação fundamenta conceitualmente a discussão, e a posiciona no campo da Psicologia, ao apresentar um panorama teórico-reflexivo sobre as contribuições da ciência psicológica ao estudo das relações de poder e das instituições, reconhecendo as suas diversas expressões epistemológicas. A segunda comunicação investiga o fenômeno da branquitude, demonstrando como as relações de poder entre grupos racializados, mediadas pelo racismo, são utilizadas para a permanência da ideologia da supremacia racial de brancos sobre não-brancos. A terceira e última comunicação demonstra, por meio do conceito de racismo institucional, como essas relações raciais de se estruturam, no âmbito das organizações, para legitimar e preservar mecanismos de segregação. COMPREENDENDO O RACISMO INSTITUCIONAL Flávia Gilene Ribeiro Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) [email protected] Este texto pretende discutir alguns componentes importantes referentes aos conceitos de racismo e de racismo institucional. A ênfase das discussões se dará na perspectiva do racismo e também, da denominação Racismo Institucional, quando esta surge dentro dos debates sobre as relações raciais, quando começa a discussão nas instituições brasileiras e quais caminhos ela tem percorrido. O racismo é uma construção ideológica pautada em uma essência de subordinação, ora justificando alguns de seus aspectos, ora outros aspectos. Enquanto ideologia, o racismo está presente no desenvolvimento e aplicação de políticas públicas, nas estruturas de governo e nas formas de organização dos Estados, alcançando pessoas e grupos. A ação do Estado brasileiro, logo após o período da abolição da escravatura, em fins do século XIX, deu-se no sentido de agenciar a segregação, fazendo uso de suas atribuições legais para reprimir e limitar o acesso da população negra aos mais variados espaços sociais e políticos, não lhes permitindo o acesso ao trabalho, negando-lhes o serviço formal, a educação, a cidadania, o direito ao voto e impedindo-lhes a prática de sua cultura, língua e religião. Legitimou-se e executou-se assim o racismo. O racismo institucional é um conceito que nasceu no século XX. No Brasil ele vem ganhar espaço apenas em 2001, quando surgem planos e metas de combate ao racismo institucional, com maior ênfase à saúde à população negra. O racismo institucional é apontado por Geledés (2013) como sendo o modo de organização do racismo patriarcal heteronormativo, subordinando os conceitos de Direito e de democracia às necessidades do racismo, fazendo desse modo, com que os direitos dos cidadãos segregados sejam precários ou inexistentes. Tais ações aprofundam os mecanismos de exclusão e, neste contexto, tornam-se conceitos que caminham muito próximos ao conceito de vulnerabilidade. Compreende-se que as instituições são parte da sociedade, sobretudo, na sociedade capitalista. Palavras-chave: Racismo, Racismo Institucional, População Negra. 72 73 RELAÇÕES DE PODER E INSTITUIÇÕES NA PERSPECTIVA PSICOSSOCIAL Jaqueline Gomes de Jesus Fundação Getúlio Vargas (FGV) [email protected] Desde os ensinamentos de Foucault (1979; 1999; 2008) compreende-se que as relações de poder funcionam por meio de dispositivos anteriores às instituições, os quais produzem efeitos de saber e estabelecimento de verdades que buscam subordinar alguns sujeitos a outros, e estes a instituições. Apesar de sua importância, poder é um tema pouco explorado na Psicologia sob a sua perspectiva institucional, à exceção da Teoria do Poder Organizacional de Mintzberg (1983), com sua repercussão especificamente localizada no contexto da Psicologia Organizacional e do Trabalho nacional (Paz, 1997; Martins & Paz, 2000; Paz, Mendes e Gabriel, 2001; Paz, 2004; Paschoal, 2008; Dessen & Paz, 2010), e das problematizações apresentadas por diferentes vertentes da Psicologia Social Crítica (MartinBaró, 1983; Lane & Codo, 1984; Ciampa, 1987; Sawaia, 1987; Martin-Baró, 1989; Martin-Baró, 1996; Codo, 1997; Berger & Luckman, 1974; Chanlat, 1993; Lane & Sawaia, 1995; Jacques, 1999; Rubio, 1999; Codo, 2000; Bock, Furtado & Teixeira, 2001; Sawaia, 2001; Guareschi, 2003; Bock, Ferreira, Gonçalves & Furtado, 2007; Farr, 2010; Guareschi, 2012; Lima, 2012); e comumente a relação do profissional com as instituições é abordada, no âmbito das instituições formadoras, desvinculada de reflexões críticas, prática extensamente analisada e questionada, sistematicamente, no campo da Análise Institucional (Lourau, 1970; Bleger, 1984; Barbier, 1985; Lapassade, 1989; Ardoino (1990); Passos & Barros, 2000; Levy, 2001; Baremblitt, 2009; Guirado, 2009) e da Psicologia Política (Moya & Morales, 1988; Sandoval, 1997; Sawaia, 1999; Coimbra, 2001; Sandoval, 2001; Borges & Cardoso, 2005; Sousa Filho, 2005; Timm, Pereira & Gontijo, 2005). A presente comunicação visa, para além de proceder a uma revisão bibliográfica acerca da temática do poder e das instituições, sob o olhar da Psicologia Social e do Trabalho, posicionar essa investigação teórico-empiricamente ante a considerações quanto às práticas institucionais, a multidimensionalidade do desejo-saber-poder na vida em grupos, a realidade social das instituições, as estratégias de intervenção adotadas, as políticas de agenciamento dos indivíduos, a valorização dos conhecimentos dos sujeitos de fala, a dialética da alienação dos saberes em contraposição ao desenvolvimento dos individualismos e o engajamento ético-político dos psicólogos no contexto organizacional. Esse quadro reflexivo mantém o seu foco na realidade social dos indivíduos em grupo, na questão das diversas identidades sociais no campo do cultural e do histórico, e na possibilidade da produção de novos modos de existência, por meio de micropolíticas, no complexo sistema de significados, normas e expectativas configurado pelas instituições. Palavras-chave: Poder, Instituições, Micropolítica, Psicologia Social e do Trabalho, Psicologia Política. 73 74 BRANQUITUDE E PODER Lia Vainer Schucman Universidade de São Paulo (USP) [email protected] Esta comunicação se insere no eixo temático que tem como intuito pensar a categoria raça e sua interlocução com a psicologia política, para tal este trabalho tem como objetivo compreender e apresentar as formas pelas quais os sujeitos considerados brancos agem cotidianamente para que possibilite a manutenção dos privilégios materiais e simbólicos dos brancos em relação a outros grupos racializados em nossa sociedade. E a partir daí, investigar quais as formas de poder que a branquitude exerce sobre as outras identidades raciais. Entendemos neste trabalho que a identidade racial branca – branquitude se caracteriza nas sociedades estruturadas pelo racismo como um lugar de privilégio materiais e simbólicos construído pela ideia de “superioridade racial branca” que foi forjada através do conceito de raça edificado pelos homens da ciência no século XIX delimitando assim fronteiras hierarquizadas entre brancos e outras construções raciais. Assim, a branquitude é entendida como uma posição em que sujeitos considerados e classificados como brancos foram sistematicamente privilegiados no que diz respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e que se mantêm e são preservados na contemporaneidade. Portanto, para se entender a branquitude é importante entender de que forma se constroem as estruturas de poder concretas em que as desigualdades raciais se ancoram. Por isso, é necessário entender as formas de poder da branquitude, onde ela realmente produz efeitos e materialidades. Trata-se, afinal, de buscar o poder naquele exato ponto no qual ele se estabelece e produz efeitos. Para esta compreensão utilizo a análise de falas de brancos paulistanos de diferentes classes sociais sob o enfoque de compreender como o poder branco é posto em ação no cotidiano dos sujeitos. Os resultados da pesquisa apontam que os sujeitos brancos sabem que são privilegiados em relação aos não brancos, porém não se responsabilizam por este fato. Neste sentido, a ambiguidade e fragmentação dos discursos dos sujeitos me pareceram algo muito relevante para a compreensão de como se mantém o racismo na sociedade brasileira. A ambiguidade do discurso e das próprias falas dos sujeitos aparece como artifício fundamental para que os estes mantenham os privilégios, eximindose da responsabilidade moral. Palavras-chave: Racismo, Branquitude, Poder. 74 75 10- IDENTIDADES SOCIAIS CRIMINALIZADAS: O CASO DA PROSTITUIÇÃO, DA POBREZA E DO TRABALHO MARGINALIZADO James Ferreira Moura Jr., Jorge Castellá Sarriera, Verônica Morais Ximenes, Vinício Brígido Santiago Abreu & Lorena Brito da Silva O processo de criminalização está permeado por uma perspectiva discriminatória, sendo desenvolvido a partir de um estigma. Este desencadeia um processo de reconhecimento depreciativo, havendo assim determinadas identidades sociais que podem ser reconhecidas como estigmatizadas. Esta mesa redonda tem como objetivo analisar as identidades sociais do pobre, da prostituta e do trabalhador marginalizado a fim de desvelar o processo de depreciação impetrado. Assim, na primeira apresentação, o pobre é geralmente reconhecido em papéis sociais de conformado, de perigoso, de culpado pela sua situação e de vagabundo. Essas características identitárias foram desenvolvidas historicamente com fins de manutenção de uma realidade social desigual e de enfraquecimento das potencialidades dos indivíduos em situação de pobreza. No segundo trabalho, os catadores de material reciclado, os garotos de programa e traficantes de drogas poderiam ser compreendidos como esses grupamentos representariam esse trabalho marginalizado. Eles se localizariam em espaços de exceção, mas não inertes: estar à margem significa encontrar-se em espaços de criatividade e experimentação. O “lugar” ocupado por esses trabalhadores pede a criação de estratégias de “sobrevivência”, como artifícios para lidar com fronteiras incertas do legal e ilegal; negociação de regras, limites e protocolos; e agenciamento de contra-condutas, de tal modo que as próprias fronteiras do Estado se estendam ou sejam refeitas na busca de segurança ou de justiça em suas vidas cotidianas. Em relação ao último trabalho, a prostituição feminina também perpassa por uma questão de gênero. As mulheres ainda que sejam reconhecidas diversas conquistas feministas, cotidianamente são associadas às suas representações tarefas de cuidado, sendo legitimados estereótipos de autosacrificadas, submissas sexuais, promiscuas. A prostituta, então, caracteriza-se como inserida no território simbólico polissêmico. Essa atividade sexual que visa ganhos financeiros é entendida como um trabalho e trás para si o que mais há de precário nas atividades laborais: é improdutivo, informal e marginal. As prostitutas do baixo meretrício encontramse em uma zona de desfiliação, pois vivenciam uma situação de flutuação na estrutura social, devido à instabilidade de seus vínculos sociais e à constancia da realidade de pobreza e de rua. O pobre, a prostituta e o trabalhador marginalizado materializam lugares da criminalização do estigmatizado/a na contemporaneidade. Dando-os/as visibilidade acadêmica, pretende-se problematizar essas práticas opressoras. Palavras-chave: Pobreza. Trabalho Marginalizado. Prostituição. 75 76 EVIDÊNCIAS DA CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA A PARTIR DA HISTÓRIAS DE VIDA DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA James Ferreira Moura Jr Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) [email protected] Jorge Castellá Sarriera Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) [email protected] Verônica Morais Ximenes Universidade Federal do Ceará (UFC) [email protected] As pessoas em situação de pobreza geralmente são reconhecidas por meio de características identitárias depreciativas relacionadas a um processo de criminalização da pobreza. Há uma série de papéis sociais e formas de reconhecimento que constituem essa artimanha opressora desenvolvidas historicamente. Entende-se que esse processo de criminalização e de marginalização do pobre funciona como um mecanismo opressor de manutenção da desigualdade social e concentração de riqueza. Assim, objetiva-se analisar os papéis sociais da identidade social de pobre que constituem o processo de criminalização da pobreza a partir de uma pesquisa de Mestrado em Psicologia com pessoas em situação de rua da cidade de Fortaleza. Assim, a perspectiva qualitativa foi selecionada para ser método empregado. Foi realizada observação participante por seis meses com uma grupo de pessoas em situação de rua que frrquentava um abrigo na cidade de Fortaleza. Igualmente, foram feitas entrevistas narrativas biográficas com 4 pessoas participantes dessas observações. As análises tiveram como perspectiva a análise temática narrativa. A partir desse compromisso, faz-se uma análise histórica da construção da identidade social de pobre, relacionando essa compreensão com a história de vida de pessoas em situação de rua pesquisadas. É percebido, assim, historicamente a reprodução de papéis sociais de pobre como conformado, como mártir e como crente em Deus como responsável por tudo desenvolvidos durante a Idade Média. Esse papéis sociais são entendidos como domesticadores das pessoas em situação de pobreza, ou seja, criados como forma de enfraquecer as possibilidades de enfrentamento dos indivíduos. Essas formas de reconhecimento estavam baseadas em premissas religiosas. Com o desenvolvimento das cidades e aumento populacional, há novos papéis sociais atrelados às pessoas em situação de pobreza que passam a serem vistas como perigosas, doentes e sujas. Com a industrialização e seu processo de intensificação por meio do liberalismo e do neoliberalismo, há a compreensão do pobre como vagabundo e culpado pela sua situação de pobreza. Esses outros papéis sociais tinham como objetivo depreciar de forma direta os indivíduos, tornando-os portadores de estigmas que traziam repercussões depreciativas nas interações sociais existentes. Esses papéis sociais tem origens históricas diferentes, mas continuam permeando as identidades das pessoas em situação de pobreza a partir de formas de reconhecimento depreciativo desses indivíduos, enfraquecendo suas potencialidades e suas estratégias de enfrentamento. É necessário, assim, a compreensão dessa artimanha perversa e opressora que permeia a realidade social de criminalização da pobreza, almejando a transformação desses processos de reconhecimento depreciativo. Palavras-chave: Pobreza. Criminalização. Pessoas em situação de rua. 76 77 À MARGEM: UM ESTUDO ACERCA DO TRABALHO MARGINAL SOB A PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO Vinício Brígido Santiago Abreu Universidade Federal do Ceará (UFC) [email protected] Tradicionalmente, compreendem-se populações marginais como aquelas constituídas por sujeitos que se encontram em situação de desemprego, subemprego ou pobreza; sendo comumente associados à violência e criminalidade urbanas. Supervisionada pela polícia, não por políticas públicas, essa população é culpabilizada pela situação de medo e insegurança que pairam sobre os grandes centros urbanos. Sob a perspectiva da Psicologia Social do Trabalho, esses sujeitos se caracterizam como trabalhadores marginalizados, o que significa que eles encontram-se inseridos na classe-quevive-do-trabalho e que, mesmo marginalizados, não se encontram exteriores ao Estado, mas estão tanto no interior quanto fora desse. Eles se localizariam em espaços de exceção, mas não inertes: estar à margem significa encontrar-se em espaços de criatividade e experimentação. O “lugar” ocupado por esses trabalhadores pede a criação de estratégias de “sobrevivência”, como artifícios para lidar com fronteiras incertas do legal e ilegal; negociação de regras, limites e protocolos; e agenciamento de contracondutas, de tal modo que as próprias fronteiras do Estado se estendam ou sejam refeitas na busca de segurança ou de justiça em suas vidas cotidianas. Com o objetivo de discutir a relação entre trabalho marginal e criminalização, utilizo nesse estudo três categorias laborais caracterizadas como marginais nas esferas social e trabalhista: garotos de programa, trabalhadores do tráfico de drogas e catadores de materiais recicláveis. É realizada, então, uma revisão teórica acerca desses grupamentos. Atualmente esses trabalhadores são relegados à marginalização, exclusão social, precariedade no trabalho e culpabilização; tendo o acesso às Políticas Públicas, em especial ao Direito do Trabalho e à Segurança Pública, relegado. Enquanto sujeitos, acabam perdendo sua cidadania e dignidade quando associados às suas atividades laborais. Através de pesquisa bibliográfica e discussões oriundas da dissertação “Entre o marginal e o laboral: o trabalho de garotos de programa da cidade de Fortaleza” a ser defendida em agosto de 2014, discuto acerca do lócus ocupado por esses trabalhadores em nossa sociedade, assim como as repercussões desse em suas vidas. O trabalho marginalizado apresenta-se como um espaço de conflitos, de ausência de direitos trabalhistas e, muitas vezes, civis e de cumprimento às leis. Tal atividade confere a esses trabalhadores, uma situação de vínculo aparentemente intermitente ou debilitado em relação ao mercado de trabalho. Estes vínculos precários ocorrem despossuídos de objetivos coletivos bem definidos, carecendo de “inscrição do sujeito em estruturas portadoras de um sentido” e ainda de projetos integrados que deem sentido às interações sociais. Destaca-se no cotidiano desses sujeitos a violência simbólica durante o trabalho, a ausência de representatividade de classe, de visibilidade de interesses e de participação na elaboração de políticas voltadas a eles. Ao mesmo tempo, essa atividade está diretamente vinculada com a formação de suas identidades pessoais, seu posicionamento diante do mundo e seu auto-julgamento de valor. Palavras-chave: Psicologia Social do Trabalho. Trabalho Marginal. Criminalidade. 77 78 A PROSTITUIÇÃO FEMININA E AS MARCAS DO ESTIGMA DE PUTA: DIÁLOGOS SOBRE MARGINALIZAÇÃO DA PROSTITUTA E CRIMINALIZAÇÃO DO TRABALHO. Lorena Brito da Silva Faculdades Luciano Feijão (FLF) e Vale do Jaguaribe (FVJ). [email protected] A prostituição permeia o imaginário das sociedades, causando inquietação, curiosidade, repúdio, desejo e estremecendo as lógicas entre a moral, o sexo e a liberdade do corpo. Dentre arranjos organizativos dessa realidade complexa, poderíamos falar em prostituições, visto que cada cultura e lugar a interpreta a partir de aspectos histórico-culturais. A prostituição é compreendida aqui como um trabalho marca pelo que há de mais precário nas atividades laborais: é informal e marginal, tendo uma dinâmica de organização que foje ao ideais esperados pela “mercado de trabalho”. No Brasil a prostituição não é considerada crime para o direito penal, tendo o nosso código uma vertente abolicionista em que perante a lei devem ser punidas pessoas que mediam ou organizam a prática prostitucional (cafetinas, rufiões, proxenetas). Ainda que a legislação nacional entenda o exercício da prostituição como um ato legal, não há a proteção para os direitos básicos das prostitutas e nem o entendimento do corpo como um bem comercial. Em meio a tais posicionamentos, tramita no congresso nacional o Projeto de Lei Gabriela Leite que busca descriminalizar os empregadores (cafetões) e legalizar os espaços de trocas comerciais (bordeis, agentes publicitários, hotéis), buscando garantir seu reconhecimento enquanto trabalho e a criação de espaços políticos e educativos para desassociar o estigma da prática e das suas escolhas. Esta comunicação tem como objetivo problematizar a prostituição feminina, tendo como pano de fundo os (des)limites entre a marginalização e a criminalização da atividade e dos direitos sexuais sobre os corpos. A partir da pesquisa de mestrado intitulada “Implicações Psicossociais da violência nos modos de vida de prostitutas pobres”, defendida na Pós- Graduação de Psicologia da UFC, foi abordado o contexto da baixa prostituição, o qual é caracterizado por uma relação dialética entre a batalha e o contexto da rua, potencializando uma série de vulnerabilidades e de modos de sociabilização. Como principais resultados destaca-se o processo de estigmatização que as prostitutas sofrem diante do isolamento social que o território da zona de prostituição produz, estando o cotidiano das prostitutas restritos as dinâmicas dos pontos. Percebe-se o fortalecimento de posturas fundamentalistas sobre a família e a religião que compreendem a prostituição como uma prática criminosa, sendo apontada a repressão e a penalização da prostituta e da rede prostitucional. A ausência de políticas públicas e sociais que atendam as necessidades coletivas e especificas das prostitutas revelam a exclusão por parte do Estado para com essas mulheres. Compreende-se que por traz da busca dos direitos trabalhistas existe um empecilho moral no que tange a garantia dos direitos sexuais das prostitutas, alimentado pelo estigma da puta, que regula e controla o corpo, os papéis e a sexualidade das mulheres. O estigma de puta carrega consigo um sofrimento ético político, que sutilmente tenta negar e anular essas mulheres pessoal e socialmente. Assim, a marginalização da prostituição e a estigmatização da prostituta alimentam processos criminalizatórios e depreciativos. A busca pela regulamentação da profissão dará visibilidade ao cotidiano das mulheres, sobretudo para as vulnerabilidades que são reproduzidas por conta dos silenciamentos. Palavras-chave: Prostituição Marginalização; Estigma. feminina; 78 79 C- EIXO: CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA 11- RACISMO E CONSCIÊNCIA POLÍTICA Eliete Edwiges Barbosa, Maria Eugenia Augusto Gregório & Tatiana Cavalcante de Oliveira Botosso As características singulares da sociedade brasileira, marcadas pela concentração de riquezas, pelo racismo estrutural e por processos de violência sistêmica contra movimentos sociais e grupos discriminados estruturam práticas cotidianas de autoritarismo social. Tais práticas constroem sujeitos que, mesmo em períodos de vigência de democracias institucionais, tem interditado a sua participação política e social plena e, mais ainda, são alvos de processos de violência sistêmica, em especial de gênero e raça. Este autoritarismo social se irradia por valores disseminados pelos meios de comunicação de massa que, em momentos de ascensão de movimentos representativos de tais segmentos que reivindicam políticas públicas de ações afirmativas, recorrem ao paradigma universalista liberal para desqualificá-los e legitimar a ordem vigente. Uma prática educativa crítica e conscientizadora é uma das possibilidades de enfrentamento destes autoritarismos sociais desde que esteja alicerçada em objetivos emancipadores. A mesa em questão abordará estes três aspectos – o autoritarismo social, o racismo midiático e educação emancipadora – como pontos-chave para a compreensão das dinâmicas de consciência política, cultura política e racismo na contemporaneidade. 79 80 RACISMO, MACHISMO E AUTORITARISMO SOCIAL Eliete Edwiges Barbosa Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) O capitalismo dependente brasileiro prescinde de mercado de consumidor interno. Apresenta como vantagem comparativa para o mercado internacional uma mão de obra barata e, do ponto de vista das relações políticas, a manutenção de um ordenamento sociopolítico em que o autoritarismo social é o centro das ações. Sempre houve enormes entraves para a constituição no país de uma sociedade civil com autonomia relativa. As reivindicações dos movimentos sociais foram tratadas sempre como perturbações da ordem e os mecanismos repressivos foram mais aperfeiçoados que os de mediação e negociação. Em contextos sociais desta natureza, a concentração de riquezas é uma característica central. As elites dirigentes de sociedades com este perfil querem se assemelhar não ao povo que dirige, mas às elites da metrópole as quais têm como referência. Estas singularidades históricas são importantes para que se trace uma configuração da sociedade liberal brasileira e de sua esfera pública. 1º.) O racismo como elemento estruturante das divisões de classe, uma vez que o processo transitório do modo de produção do escravismo colonial para o capitalista aconteceu sem rupturas e protagonizado pelas mesmas elites dirigentes do período anterior, mais que isto, os recursos acumulados para o desenvolvimento das bases do capitalismo vieram das atividades vinculadas ao modo escravista, como o tráfico. Além disto, o racismo se inseriu como uma lógica de pensamento entre os republicanos, ao tomar a questão étnica como um “problema a ser resolvido”; 2º.) A concentração de riquezas como elemento central na sociedade capitalista brasileira, uma vez que ela se constitui como um capitalismo dependente, portanto voltado ao atendimento prioritário das demandas externas, a manutenção da concentração da posse da terra oriunda do período colonial, a superexploração do trabalho como instrumento central da reprodução do capital; 3º.) A violência como prática política permanente e não episódica tendo em vista que a manutenção de uma ordem social nestes termos – racista e concentradora de riquezas – só é possível por meio da permanência de instrumentos de repressão continuada. As demandas sociais são tratadas como “casos de polícia”, o espaço para a negociação é reduzido e a criminalização dos movimentos sociais, uma constante. Desta forma, não se constitui no Brasil uma esfera pública como espaço de expressão livre das opiniões dos cidadãos e de discussão coletiva dos interesses comuns. A esfera política se constitui em uma dimensão em que representantes distintos das elites negociam e se apropriam privadamente dos aparelhos públicos. Há, assim, uma privatização do Estado desde as suas origens. Este perfil de poder necessita de uma legitimação ideológica. É o “autoritarismo social”, característica das relações sociais no Brasil e que fundamenta o que se conceitua como “matrizes de opressão” expressas no racismo, no machismo e na opressão de classe que faz com que a mulher negra seja a síntese destas múltiplas opressões. Palavras-chave: racismo e autoritarismo social; machismo e autoritarismo social; sociedade autoritária 80 81 CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CONSCIENTIZAÇÃO: UM DIÁLOGO ENTRE SANDOVAL E MARTÍN-BARÓ NA ANÁLISE DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA DE EDUCADORES E EDUCADORAS SOCIAIS DE ONGS DA ZONA SUL DA CIDADE DE SÃO PAULO Maria Eugenia Augusto Gregório Universidade de São Paulo (USP) Com a reconfiguração do Estado, do mercado e da sociedade civil ocorrida a partir o final do século XX imposta pelo neoliberalismo, os mais diferentes atores sociais passaram a intervir no espaço público em busca da implantação e efetivação das mais diversas políticas públicas. Parte dessa reconfiguração resultou na institucionalização de movimentos sociais sob o formato de Organizações Não Governamentais, ONGs, para oferecer parte daquilo que deveriam receber: serviços públicos pontuais no lugar de serviços públicos universais de Estado. Nesse sentido, destacamos o trabalho que moradores da periferia passaram a desenvolver como educadores sociais com crianças e adolescentes em ONGs. Estes moradores passaram a atuar em ONGs que se originaram como um braço da Igreja Católica que apesar de historicamente vir desenvolvendo um trabalho de assistência social no Brasil desde o Período Colonial, seguiu a reconfiguração neoliberal para que pudesse oferecer outros serviços de assistência social como as atividades socioeducativas previstas pela Constituição de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. (Montaño, 2002; Gohn, 2008). Muitos desses moradores eram membros atuantes da Igreja ou das próprias ONGs que se instituíram a partir delas e nesse sentido, essa experiência comunitária que posteriormente se institucionaliza vai produzindo uma Consciência Política dos agora educadores sociais, uma vez que sua identidade coletiva se constrói por uma experiência de reparação das injustiças a que os próprios educadores sociais foram submetidos. (Martín-Baró, 1986, 1998a, 1998b; Sandoval, 1994, 2001). Nesse sentido, buscamos evidenciar no discurso dos educadores sociais que atuam em Organizações Não Governamentais como se configuram sua Consciência Política a partir dessas experiências como membros da Igreja e posteriormente como educadores sociais. Em pesquisa de mestrado a ser defendido neste ano de 2014, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com educadores sociais com o objetivo de analisar o impacto da formação continuada da Ação Comunitária (uma organização parceira das ONGs) na Consciência Política dos educadores sociais. As entrevistas foram realizadas após uma apresentação em público do projeto de pesquisa para os educadores sociais no ano de 2013, a explicitação individual dos objetivos da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram realizadas quatro entrevistas durante o mestrado e nelas não foram exploradas na dissertação os impactos da experiência comunitária na formação da Consciência Política.Utilizamos da Análise de Conteúdo como proposta por Franco (2005) para a construção das categorias analíticas relacionando-as nosso referencial teórico. Palavras chaves: Conscientização, Consciência Política, neoliberalismo, Terceiro Setor 81 82 COMO A MÍDIA TRATA A QUESTÃO DO RACISMO NO BRASIL Tatiana Cavalcante de Oliveira Botosso Universidade de São Paulo (USP) A segregação socioeconômica da população negra brasileira remonta as relações sociais do período escravista. Embora a população negra seja maioria no Brasil, os negros estão subrepresentados nas esferas de poder. O racismo brasileiro é sistematicamente dominador e opressor contra o negro, sua finalidade é a manutenção de privilégios para a elite formada por uma minoria branca, composta de intelectuais conservadores, burgueses e ideólogos. (NASCIMENTO, 2010) A mídia opera os recursos dos meios de informação e comunicação atuando na esfera do poder simbólico. (THOMPSON, 1998) Representando as “elites logotécnicas” e pautando os fatos noticiados de acordo com critérios estabelecidos tecnicamente na produção de notícias. (SODRÉ, 1999; 2009) Casos de discriminação e injúria racial têm sido denunciados pela mídia como desvios de comportamento e apresentados em situações particulares, sem contextualizar o racismo como uma questão estruturante da sociedade brasileira. Essa descontextualização também ocorre na discussão sobre as cotas sócioraciais nas universidades, cujo posicionamento dos formadores de opinião é geralmente contrário.Para identificar o discurso da mídia acerca dos temas: racismo, educação e cotas sócio-raciais, foram analisadas as revistas impressas: Caros Amigos, Carta Capital e Veja, no período de abril a setembro de 2012, com 12 textos selecionados para análise. Foi utilizado o método de termos pivôs, que segundo OLIVEIRA (1997), aponta os conceitos nos quais o discurso pleiteia sua entrada no domínio da intertextualidade. Assim, os textos foram decodificados em três termos-pivô: educação, racismo e cotas. Os resultados das análises possibilitou a avaliação do discurso ideológico das revistas selecionadas sobre as cotas sócio-raciais nas universidades. Vários fatores podem ser observados nos discursos das revistas: A Caros Amigos, ao dar voz para um professor negro, gera um discurso de maior representatividade e legitimidade. Seu posicionamento favorável às cotas ocorre por conta de uma visão histórica e estrutural do racismo, apesar de questionar a maneira como a política de cotas será realizada. A Carta Capital apresenta dificuldade de tipificar o racismo, evitando emitir um posicionamento contrário ou favorável às cotas sócio-raciais. Dessa maneira, evita o comprometimento de se opor abertamente às políticas instituídas pelo Governo Federal e às elites contrárias a tais políticas.A Veja, embora reconheça as desigualdades socioeconômicas entre brancos e negros, justifica sua opinião abertamente contrária as cotas defendendo a continuidade de uma classe intelectual elitizada como legítima formadora de opinião e a alienação dos pobres pelo poder público, cujas políticas de inclusão seriam ineficazes e populistas. A principal conclusão dessa análise é que o discurso da mídia é conduzido pelo discurso autoritário da classe dominante brasileira, que Marilena Chauí (2013) denuncia como eficaz no bloqueio da esfera pública da opinião e de ações sociais que expressam direitos e interesses de classes e grupos sociais antagônicos e/ou diferenciados. Mantendo assim, as relações de poder e subalternidade naturalizadas na produção e reprodução das desigualdades através do discurso das elites que detém o poder simbólico da mídia. Palavras-chave: Racismo. Mídia. Cotas sócio-raciais. 82 83 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL 12- POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA: EMANCIPAÇÃO OU SUBMISSÃO? Carlos Roberto de Castro-Silva, Luciane Pinho de Almeida & Rosana Carneiro Tavares A constituição e fortalecimento de políticas públicas sociais mostra-se um lugar propicio de enfrentamento das desigualdades sociais, pois possibilita um contorno de necessidades e demandas de pessoas, grupos e comunidades, principalmente aquelas que vivem em situações de vulnerabilidade. Neste sentido a luta pelos direitos básicos torna-se uma bandeira que defende princípios ético-políticos norteadores, destacando a universalidade, equidade e participação social, entre outros. Todavia, com o avanço da globalização da economia e do neoliberalismo torna-se necessário se rediscutir o papel do Estado e novas formas de gestão de base democrática, principalmente aquelas que fortaleçam parcerias com organizações de base comunitária. Pois, notamos o avanço de Organizações sociais que promovem o desmonte do aparato público, como no caso da saúde, o aumento da força do tráfico de drogas que minam históricos de organizações comunitárias baseadas na cidadania, resultando no aumento do medo e do individualismo como formas de enfrentamento da pobreza, violência e outras formas de exclusão social. Consideramos que uma leitura crítica, na perspectiva da psicologia sóciohistórica e cultural possa potencializar políticas públicas sociais na perspectiva da promoção da cidadania e transformação social. Desta forma pretendemos trazer práticas sociais- políticas, programas e projetos de governo- a partir de diferentes áreas, como educação, saúde e Bem estar social, discutindo formas de politização de experiências concretas nas áreas descritas. Especificamente discutiremos no caso da saúde alguns dos impasses do desenvolvimento da Estratégia de saúde da Família (ESF) em territórios de alta vulnerabilidade, destacando a importância da participação social na mudança de situações de exclusão social. Ainda na especificidade da atenção à saúde, em interface com a inserção do adolescente nas políticas públicas, serão discutidos os significados da desinstitucionalização do adolescente que perpassam a política de saúde mental e as medidas socioeducativas, compreendendo essas políticas como preconizadoras de práticas participativas e democráticas, mas também, historicamente, reprodutoras de coerção social e adaptação passiva dos sujeitos. Apresentamos ainda uma breve reflexão, sobre a urgência de políticas públicas e sociais que possam abarcar a diversidade apresentada no âmbito territorial, a questão social na região de fronteira, impactando principalmente as políticas de saúde, educação e assistência social. Por outro lado, também queremos dar destaque à reflexão na qual compreendemos que a questão social pode provocar a reação contra a naturalização do ordenamento capitalista frente suas desigualdades apreendendo a política social como expressão dos embates entre classes e em especial dos enfrentamentos da população pelos seus direitos sociais. 83 84 POLÍTICAS PÚBLICAS E A QUESTÃO SOCIAL NA REGIÃO DE FRONTEIRA Luciane Pinho de Almeida Universidade Católica Dom Bosco Na esteira da intensificação mundial do processo de globalização da economia e de rápido crescimento e avanços das novas tecnologias, a sociedade contemporânea vem sofrendo grandes modificações no qual a produção para o consumo torna-se o pano de fundo de um contexto global que apresenta-se novo, acentuando as desigualdades sociais vigentes. Nesse sentido, observa-se alterações na articulação entre Estado e sociedade no processo de proteção social, propiciando uma menor qualidade de vida e de cidadania de parte da população, resultando em processos de intensa exclusão social. Diante desse cenário, a região de fronteira no Brasil apresenta muitos desafios que são lançados para a construção de novas políticas que nem sempre são tratadas com a devida importância que as problemáticas sociais vivenciadas por essas populações exigiriam. Desta forma, o Estado de Mato Grosso do Sul em sua dimensão territorial faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, países que provocam grande influência socioeconômica e cultural na região. Apesar da interessante localização como ponto estratégico de relações comerciais e econômicas com os países vizinhos, as relações sociais travadas nesse cenário apresentam-se de forma contraditória, isso se deve às condições socioeconômicas da população de fronteira, do Brasil e dos países vizinhos, que ainda sofrem com a precariedade de recursos. É importante destacar que regiões de fronteira impõem novos arranjos e conexões que apresentam-se de formas diversas e contraditórias, diferentes, portanto, de outras realidades urbanas e rurais. São muitas as realidades apresentadas pela população residente na aérea de fronteira, destacando-se a questão social indígena, a ribeirinha, a fronteiriça, a migratória para as usinas de cana de açúcar, e todas àquelas que transitam nessas regiões impondo ao Estado e ao país propostas de políticas que possam suprir as necessidades sociais da população que vive em situação de risco social e /ou vulnerabilidade. São diversas as expressões sociais vivenciadas por essa população desde a exploração sexual, o trabalho escravo, o tráfico de drogas, o tráfico humano e outras. Nesse sentido, apresentamos nesse trabalho breve reflexão, na qual não temos a pretensão de abraçar todas as problemáticas existentes, mas, entretanto levantar e refletir àquelas que mais se destacam e a urgência de políticas públicas e sociais que possam abarcar a diversidade apresentada no âmbito territorial impactando principalmente as políticas de saúde, educação e assistência social. Por outro lado, também queremos dar destaque à reflexão na qual compreendemos que a questão social pode provocar a reação contra a naturalização do ordenamento capitalista frente suas desigualdades apreendendo a política social como expressão dos embates entre classes e em especial dos enfrentamentos da população pelos seus direitos sociais. Palavras-Chave: Questão Social, Desigualdade Social, Políticas Sociais. 84 85 DILEMAS DE IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E FORTALECIMENTO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL Carlos Roberto de Castro-Silva UNIFESP-BS [email protected] A implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitou a alteração do modelo de atenção, compreendendo-a como uma forma de combinação de tecnologias para que se possa resolver problemas e dar encaminhamento às necessidades de saúde tanto em nível individual quanto coletivo. Nesta perspectiva a atenção primaria, denominada de atenção básica se mostrava como uma forma de se colocar em prática a universalidade das ações, destacando que muitas destas práticas tinham o foco nas doenças mais prevalentes. Em 1994 dentro destas reestruturações dentro do SUS foi criado o Programa Saúde da Família (PSF) com a finalidade de se superar desigualdades no acesso aos serviços de saúde e de se atingir a equidade dentro do sistema. Em 1997 o PSF é considerado uma estratégia, visando a reorganização do processo de trabalho em saúde no nível da atenção básica. Para que esta estratégia desse resultado deveria haver combinações de mudanças, como busca de novas tecnologias, que não fossem calcadas somente no modelo biomédico e nem funcionassem de maneira verticalizada. Nestes doze anos de implantação da ESF houve muitos avanços relacionados ao incremento da vigilância em saúde, estabelecimento de vínculos, observados pela avaliação de profissionais e usuários. Especificamente nos municípios de grande porte houve uma estagnação na expansão da ESF: relacionados principalmente a reestruturação dos serviços de saúde, como acesso aos serviços especializados, referencia e contra referência, apoio diagnostico e não enfrentamento dos determinantes sociais em saúde. Nesta linha observamos que a ESF tem propiciado pouco desencadeamento da reorganização do sistema de saúde. Neste sentido o objetivo deste trabalho é analisar e discutir aspectos éticopolíticos de organização da ESF e da comunidade que influenciam a construção de processos de participação social. Resultados: Na revisão de literatura a dimensão organizacional e politico-institucional são fatores que tem dificultado ações intersetoriais que pudessem enfrentar os determinantes sociais. Pois, a atuação da ESF tem refletido o caráter prescritivo respeitando pouco as diferenças entre os contextos politico, social, econômico e cultural resultando em poucas alterações nas estratégias para o enfrentamento dos problemas. Exemplo disto é que há poucas políticas desenvolvidas intersetoriais desenvolvidas como inciativas do nível local. Aspecto este que interfere diretamente na garantia da integralidade tanto no que diz respeito ao acesso a todos níveis de atenção, como à integração das práticas de promoção, prevenção, e recuperação. Nos estudos analisados não foram encontrados pesquisas sobre o desenvolvimento das tecnologias necessárias ao aperfeiçoamento das ações da atenção básica, ações intersetoriais e fortalecimento da participação popular. Quanto ao controle social percebemos que a participação social é muito prejudicada, pois, depende do perfil do gestor, mais ou menos democrático e principalmente pela maneira de produção de conhecimento. Ainda hoje há uma maneira tradicional de produzir conhecimento o que dificulta a troca entre equipamento de saúde e a comunidade. Palavras-chave: Estratégia Saúde da família, Participação social, Psicologia Sócio-histórica 85 86 “EU JÁ PERDI MUITA COISA, MINHA FAMÍLIA PRINCIPALMENTE”: UM ESTUDO PSICOSSOCIAL SOBRE DUAS POLÍTICAS DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE Rosana Carneiro Tavares PUC Goiás [email protected] Este estudo aborda os significados da desinstitucionalização do adolescente que têm perpassado a execução das políticas de Saúde Mental e do Sistema Socioeducativo (SINASE) no estado do Tocantins. A concepção de desinstitucionalização do adolescente que embasa este estudo se referenda nas propostas contidas em duas políticas nacionais: Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216, de abril de 2001) e SINASE (Lei 12.594, de janeiro de 2012). Ambas têm como diretriz a prioridade do convívio familiar do adolescente, a medida de internação como última possibilidade interventiva e de caráter breve (excepcionalidade e brevidade da internação). Paralelamente, essas duas políticas têm como história a consolidação de medidas coercitivas, em que adolescentes autores de ato infracional ou que têm necessidades de intervenções em saúde mental são retirados do convívio comunitário e familiar como estratégia de tratamento. Para este estudo, fez-se o recorte da atenção à saúde mental para a dependência de drogas. Portanto, o foco foi apreender quais são os significados da desinstitucionalização do adolescente autor de ato infracional ou que tem necessidades de saúde em decorrência do uso de álcool e outras drogas que têm permeado a execução da Reforma Psiquiátrica e do SINASE no estado do Tocantins. Este estudo é de abordagem qualitativa, na perspectiva da Teoria SócioHistórica, de Vigotski, fundamentada no materialismo histórico e dialético. Participaram do estudo juízes; promotores públicos; defensora pública; professores universitários dos cursos de psicologia e de direito; profissionais que atuam nas unidades do sistema socioeducativo e no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad III); adolescentes privados de liberdade no sistema socioeducativo e suas mães; adolescente em tratamento no CAPSad III de Palmas, Tocantins; e respectiva mãe. Ao todo, participaram deste estudo 18 pessoas. Todas foram entrevistadas individualmente, tendo um roteiro preestabelecido. Realizou-se também pesquisa em documentos para subsidiar as análises (prontuários dos adolescentes, documentos oficiais das unidades em que os adolescentes estavam vinculados). A análise das falas foi realizada a partir da sistematização das informações em três grupos: os Operadores do Direito, os Profissionais Executores (incluindo os professores universitários) e o Objeto da Lei (os adolescentes e suas mães). A partir dos núcleos de significação apreendidos, buscouse compreender os significados que cada participante atribuiu à desinstitucionalização proposta pelas duas políticas alvos deste estudo. Neste trabalho, defende-se a seguinte tese: os significados são marcados pela intervenção autoritária do Estado sobre a condição do adolescente pobre, reproduzindo as práticas históricas de institucionalização e pela invisibilidade social do adolescente pobre autor de ato infracional ou que tem necessidades de saúde em decorrência do uso de crack, álcool e outras drogas. Conclui-se que as duas políticas ainda não estão consolidadas e que, em função disso, as práticas ainda se estabelecem com base em modelos individuais e personalistas de intervenção, nos quais ainda prevalece a lógica de institucionalização dos adolescentes pobres como estratégia de tratamento; e, paradoxalmente, o afastamento do adolescente de suas famílias e a impossibilidades de essas se constituírem efetivos agentes de mediação no desenvolvimento de seus adolescentes. Palavras-chave: Desinstitucionalização do Adolescente. Políticas Públicas. Psicologia Sócio-Histórica. 86 87 13- EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA Ilana Lemos de Paiva, Tatiana Minchoni & Daniela Bezerra Rodrigues As ferramentas teórico-metodológicas do campo da Psicologia Comunitária podem ser utilizadas como uma proposta de mediação pedagógica com os coletivos sociais, ao mesmo que deve ser um ato político e prática libertadora de fortalecimento e transformação, a partir da valorização dos saberes sociais produzidos pelas classes populares. Esta concepção nos traz com um aspecto fundamental a ser considerado nos processos de inserção da Psicologia nas comunidades que é a relação dialógica, com vistas a facilitar uma compreensão da realidade concreta e a produção de identidades comunitárias, pautadas na autonomia e no auto reconhecimento. Nesta perspectiva, a proposta desta mesa redonda tem como objetivo discutir experiências de formação em Psicologia Comunitária, em duas instituições da região Nordeste do Brasil, Universidade Potiguar e Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com ênfase nas metodologias participativas da educação popular. Primeiramente será discutido a contribuição do Núcleo de Psicologia Social Comunitária e o seu papel na formação profissional de estudantes de Psicologia, bem como a sua relevância no âmbito de um serviço escola. Em seguida, será apresentada a vivência de tutoria junto ao processo formativo em Psicologia Comunitária, que teve como finalidade a inserção dos alunos nos diversos contextos comunitários e socioassistenciais. Por fim, será analisada a contribuição do projeto de ensino, pesquisa e extensão, o Observatório da População Infantojuvenil, que vem desenvolvendo uma perspectiva de formação crítica através da aproximação entre a academia e os diversos contextos comunitários, com vistas à fortalecer a garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens no estado do Rio Grande do Norte. Palavras-Chave: Psicologia Comunitária; Formação em Psicologia; Compromisso Social. 87 88 A CONTRIBUIÇÃO DO NÚCLEO DE PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA PARA OS “NOVOS” CENÁRIOS DA PROFISSÃO Tatiana Minchoni Universidade Potiguar [email protected] Daniela Bezerra Rodrigues Observatório da População Infanto-Juvenil em contextos de Violência [email protected] A Psicologia, historicamente, desenvolveu suas práticas a serviço das elites e do controle social. Na contramão desse processo, alguns movimentos questionadores de tais práticas propõem uma inserção profissional a serviço das classes populares, como por exemplo, a Psicologia Comunitária, que se desenvolve em meados dos anos 1970, especificamente na América Latina, visando uma atuação pautada na crítica do sistema vigente, buscando a potencialização dos sujeitos e comunidades, a libertação de diversas formas de opressão, inclusive a socioeconômica, e a transformação social. Entretanto, a formação profissional em Psicologia, revelada pela estrutura curricular dos cursos, ainda que haja uma tímida inserção de discussões voltadas à área social, indica uma predominância das chamadas áreas tradicionais (clínica, organizacional/trabalho, educacional/escolar), e, predominantemente a área clínica, quando se refere às práticas psicológicas nos serviços escolas. Todavia, cada vez mais, o psicólogo tem sido convocado a atuar em políticas públicas diversas, sobretudo na saúde e assistência social, com as minorias, e em contextos de violações de direitos. Nesse sentido, pautandose nas demandas que se colocam emergentes para o campo da Psicologia, bem como pela necessidade de proporcionar um espaço de atendimento das demandas reprimidas pelo modelo clínico individual, foi criado o Núcleo de Psicologia Social Comunitária da Universidade Potiguar (NUPSC/UnP), no ano de 2011, o qual visa ampliar a oferta potencial de serviços psicológicos realizados pelo Serviço Integrado de Psicologia (SIP/UnP), realizando o atendimento de determinadas demandas, notadamente aquelas agrupadas pela noção de minorias, dentre as quais destaca-se as violências contra a crianças e adolescentes, violências e violações contra raça, gênero, orientação sexual etc. Desde sua criação, o NUPSC se configura como espaço para a realização de estágios, práticas extensionistas e pesquisas na área Social e Comunitária. Tendo isso em vista, o presente estudo objetivou investigar o papel do NUPSC na formação profissional de estudantes de Psicologia, bem como a sua relevância no âmbito de um serviço escola. Para tanto, foi realizada entrevistas com 12 estagiários/exestagiários do Núcleo, de ambos os sexos. Os resultados indicam que, a vivência de práticas comunitárias, ainda na universidade, possibilitou a compreensão que a formação em Psicologia precisa extrapolar os muros institucionais, saindo do lugar de espera das demandas para ir em campo e ter um contato mais próximo com a realidade e com os problemas ali existentes. Ainda, houve o destaque para o aprimoramento da compreensão da necessidade de atuação interdisciplinar, do desenvolvimento de habilidades para a realização intervenções grupais, bem como ampliação das possibilidades de inserção no mercado de trabalho, visto que experienciaram o contato com sujeitos e/ou comunidades em contextos histórico-culturais diversos. Por fim, os sujeitos destacaram a importância da existência de um núcleo que trabalha em contextos social e comunitário, no âmbito de um serviço escola de Psicologia, por possibilitar uma atuação contextualizada, crítica, e que supera os modelos individualizantes. Conclui-se que o NUPSC configura-se como espaço potente para a formação de um profissional crítico e reflexivo, comprometido com a transformação social e a defesa dos Direitos Humanos. Palavras-Chave: formação do psicólogo, Psicologia Social Comunitária, compromisso social. 88 89 PERCURSO TUTORIAL NA DISCIPLINA DE ESTÁGIO BÁSICO EM PSICOLOGIA E PROCESSOS COMUNITÁRIOS Tatiana Minchoni Universidade Potiguar, [email protected] Daniela Bezerra Rodrigues Observatório da População Infanto-Juvenil em contextos de Violência, [email protected] O referente trabalho é fruto da experiência de trabalho como tutora de prática no curso de psicologia de uma universidade privada na cidade do Natal, Universidade Potiguar. Com vistas não concentrar as práticas de estágio em momentos estanques, o curso tem oferecido oportunidades de estágio que representam as bases para a atuação profissional. A matriz curricular prevê Estágios Supervisionados Básicos, com carga horária específica visando assegurar o contato do aluno em contextos e instituições, permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em ações profissionais. O estágio básico em psicologia e processos comunitários constitui-se na primeira inserção prática dos alunos, ocorre no segundo ano do curso, quarto período e tem como finalidade possibilitar ao aluno o conhecimento e a reflexão crítica sobre os diversos campos de atuação do psicólogo na área social e comunitária, permitindo-lhes a vivência de uma práxis fundamentada na interlocução da psicologia com outras áreas do conhecimento a partir da ação multiprofissional e interdisciplinar, além de apresentar ao aluno a forma de atuação com base no aporte teórico-metodológico da Psicologia Social Comunitária, construindo a análise diagnóstica dos campos visitados, utilizando-se de ferramentas metodológicas observação participante, diário de campo, entrevistas, questionários, entre outros, com o objetivo de construção de uma proposta de intervenção psicossocial, trabalhando com conceitos como comunidade, compromisso social, participação social, democracia, autonomia e emancipação, por exemplo, a partir das especificidades de cada campo. A vivência da tutoria junto ao processo formativo, tem como finalidade a inserção dos alunos nos diversos contextos comunitários e socioassistenciais, mediando os processos de aprendizagem, implicação ética de forma a contribuir com a aproximação da realidade acadêmica e vivência prática. Uma das atribuições da tutoria é a contribuição no planejamento pedagógico da disciplina, juntamente com o docente, além disso, é atribuição da tutoria participar das aulas de preparação para a entrada no campo buscando auxiliar e orientar os alunos acerca de sua inserção prática e da implicação ética e política destas; participar das supervisões de práticas nos encontros entre os docentes e os grupos, buscando contribuir com a identificação das necessidades das instituições e com as possibilidades de intervenções; estar disponível para os alunos para esclarecer dúvidas e questionamentos, bem como fornecer orientações práticas, desde que acordadas com o docente; monitorar, na medida do possível, as atividades desenvolvidas pelos alunos, desde sua inserção no campo até a devolutiva à instituição; monitorar, junto à instituição, o desempenho dos alunos e dos grupos. Portanto, a tutoria tem por excelência o papel de mediar a relação entre o campo vivencial, docentes e discentes apoiando a docência na operacionalização dos espaços comunitários com possibilidades de uso dos conteúdos teóricos e ferramentas de intervenção pertinentes ao referencial da psicologia social comunitária, além de favorecer o despertar das ações extensões com um dos pilares indissociáveis no processo de construção do conhecimento acadêmico juntamente com o ensino e a pesquisa, a exemplo desse processo, alunos transformaram as experiências da disciplina em projetos de extensão executados por eles, ou por alunos do quinto ano do curso, assim como, houve desdobramentos das vivências da disciplinas que foram ampliadas em executadas em outras disciplinas de forma integrada com o referencial da psicologia social comunitária. Palavras-Chave: Tutoria; Psicologia Social Comunitária; compromisso social; Intervenção psicossocial. 89 90 OBSERVATÓRIO DA POPULAÇÃO INFANTOJUVENIL EM CONTEXTOS DE VIOLÊNCIA: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA FORMAÇÃO CRÍTICA EM PSICOLOGIA Ilana Lemos de Paiva Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] As variadas formas de violência são, atualmente, umas das prioridades das agendas de políticas públicas de muitos governos democráticos e sociedade civil, além de diversas áreas de estudo, em que são abordadas as suas várias expressões e consequências. Uma vez encarada não como um fato isolado, mas sim como um fenômeno desencadeador de relações, a violência passa a exigir respostas e ações efetivas do poder público e da sociedade civil organizada. No entanto, parece que as respostas tem sido insuficientes, tendo em vista os alarmantes índices de expressão da violência, que atingem as diversas camadas e segmentos sociais, especialmente o público infantojuvenil. Tendo em vista a problemática destacada, o presente trabalho visa apresentar as ações do 'Observatório da População Infantojuvenil em Contextos de Violência' - OBIJUV, trata-se de um projeto integrado de pesquisa e extensão que tem como finalidade contribuir para a visibilidade e fundamentação de ações de enfrentamento à violência contra a população infantojuvenil do Rio Grande do Norte, através do desenvolvimento de estudos, pesquisas, e prestação de serviços direcionados à comunidade. O projeto tem atuado, nos dois últimos anos, na capacitação científica dos seus colaboradores, alunos e professores, fomentando a formação em uma área extremamente importante para a realidade social atual, ainda não contemplada totalmente pela formação graduada e pós-graduada da UFRN. O OBIJUV surgiu em 2010, no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com a proposta de aproximar a academia da realidade de crianças e adolescentes/jovens do estado, por meio de projetos integrados de pesquisa e extensão nessa temática. Apresenta, nas ações, um novo modelo de relação entre esse público-alvo e a sociedade. O OBIJUV tem realizado ações de bastante relevância, como o I Simpósio Nacional 'Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade', que trouxe pesquisadores de todo o país e da América Latina para discutir aspectos relacionados à juventude, além de ter realizado, em 2012, a formação dos profissionais do sistema socioeducativo de todo o estado do RN, através de convênio com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Além disso, o OBIJUV executou diversos projetos integrados de pesquisa e extensão de relevância para a temática em questão, como o projeto 'Juventudes e redes de vida: ações de enfrentamento à violência letal contra jovens no bairro de Felipe Camarão', financiado pelo PROEXT/MEC, em 2013. Dessa forma, o Observatório atua em consonância com a proposta pedagógica dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia, contribuindo para a formação crítica, contextualizada e comprometida com a garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens. Palavras-chave: População infanto-juvenil; Violência; formação em Psicologia. 90 91 E- EIXO: COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL 14- BASES SÓCIO-HISTÓRICAS, AFETIVAS E COMUNITÁRIAS NA CONSTRUÇAO DA INTERVENÇÃO SOCIAL EM SAÚDE Carlos Roberto de Castro-Silva, Ludmila Moura & Nadia Viera A noção de comunidade traz ao mesmo tempo uma nostalgia sobre relações mais acolhedoras e solidarias e por outro lado nos remete a constatação de uma realidade social marcada pela indiferença e por diferentes formas de violência. De uma forma ou outra aquela noção sugere um potencial de busca de soluções que apazígue os corações, fortalecendo o sentimento de pertencimento que amalgama os laços comunitários. Nesta perspectiva pensarmos formas de intervenção social que impliquem na compreensão das bases em que se dão os inter-relacionamentos entre pessoas e grupos, os quais são construídos em determinados contextos sociais, econômicos, culturais e psicológicos. Tais dimensões se entrecruzam produzindo subjetividades distintas catalizando diferentes formas de visão de si e do mundo. Todavia, parece que vivemos certa mesmice ou naturalização de dilemas que buscam soluções muitas vezes em formas reativas, por exemplo, na patologização da vida cotidiana, dificultando ações propositivas. Desta forma consideramos a dimensão ético-política um aporte para propostas de intervenções que se debrucem sobre a qualidade dos vínculos sociais e afetivos historicamente constituídos. Tendo o contexto da saúde como locus de discussão da temática proposta, notamos que intervenções sociais devem ser vistas como um processo que visem à construção de espaços promotores de saúde, principalmente aqueles que valorizam os princípios defendidos pelo SUS, destacando a integralidade, intersetorialidade, participação social e equidade. Assim ressaltamos alguns parâmetros importantes: valorização do contexto sócio-histórico e cultural no qual as pessoas constroem seus projetos de vida; aprofundamento da afetividade favorecendo uma discussão crítica de valores ético-morais presentes na sociedade capitalista e valorização da participação social como fator de fortalecimento psicológico e comunitário, balizados por processos subjetivos singulares relacionados com trajetórias de vida individuais e coletivas. Trataremos da temática proposta por meio das seguintes práticas de saúde: A violência contra a mulher na perspectiva de práticas de promoção e prevenção na Estratégia de Saúde da Família, especificamente desenvolvendo uma reflexão sobre as práticas do Agente comunitário de Saúde. Depois, cabe-nos a reflexão acerca das reais necessidades dos usuários de serviços de saúde. Essas devem ultrapassar o senso comum pensando a psicologia no seu aspecto político. Qual a realidade do transplantado cardíaco? Como pensar uma psicologia que realmente atenda às suas demandas. Pensar a psicologia a partir de territórios demarcados não nos parece uma estratégia ética e politicamente produtiva. Em contato com os usuários do sistema de saúde, campos disciplinares (e tão disciplinados...) se entrecruzam. A psicologia constrói discursos sobre o homem, mas o sujeito é múltiplo e é atravessado por processos sociais, culturais, econômicos e históricos. Por fim, A prática do ACS da ESF como um campo profícuo de compreensão dos sentidos de comunidade construídos em uma convivência diária com as consequências da desigualdade social, destacando a pobreza extrema e formas distintas de violência. Além disso, discutimos processos de participação social como um fator que qualifica o processo de trabalho do ACS, na medida em que se promovem a politização dos vínculos afetivos estabelecidos com os municípios e profissionais de saúde. 91 92 A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E ATUAÇÃO DOS ACS NA ESF Ludmila Moura UNIP-Santos [email protected] Desde a modernidade a violência é um problema social, que atinge todas as classes sociais, etnias, religiões e culturas, mas só ultimamente tem sido reconhecida como um problema de saúde. A violência contra a mulher avilta a sua condição de cidadã, pelo não reconhecimento de seus direitos, resultado de uma relação de desigualdade com os homens, onde este exerce seu poder e domínio sobre a mulher, geralmente sua companheira, caracterizando prioritariamente uma violência de gênero. As identidades de gênero são historicamente construídas, manifestadas como "jogos de força" do poder entre homens e mulheres, resultantes das forças sociais que se materializam nos indivíduos e grupos, e devem ser consideradas nos contextos em que ocorrem (Martín-Baró, 1977). Portanto, a violência, por ser um fenômeno complexo, só pode ser compreendida no contexto social, em um determinado momento histórico. Para esse autor, a violência se apresenta como “naturalizada” e, da mesma forma, a identidade e os papéis sexuais também são histórica e socialmente construídos, respondendo aos interesses da classe dominante. Martín-Baró (2005) nega que a masculinidade e a feminilidade sejam apenas determinadas biologicamente e/ou por características de personalidade, e aponta que a diferenciação entre o homem e a mulher, não deve justificar o preconceito e a opressão de um sexo sobre o outro. A violência, enquanto processo social, não se restringe à área da saúde, mas é neste setor que as vítimas são socorridas, além do importante papel na prevenção e promoção da saúde, visando o bem estar de todos. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) pode ser um instrumento de intervenção, por estar presente na comunidade, onde a família é o centro da atenção, havendo uma maior proximidade entre os profissionais e as pessoas da comunidade. Neste sentido acredita-se que seja possível que as mulheres vítimas de violência familiar sejam acolhidas e sintam confiança para relatarem seu sofrimento, devido ao tipo de vínculo mais facilmente estabelecido do profissional, com cada membro da família. Estudos apontam a importância do papel dos ACS em relação ao rastreamento para a detecção da violência contra a mulher, que tem suas raízes na desigualdade de gênero. As ACS percebem a violência vivida pelas mulheres que procuram o serviço, seja nas suas formas visíveis (com lesões) ou fisicamente invisíveis (como medo, cerceamento da liberdade, pressão psicológica), no seu dia a dia de trabalho, nas visitas e nos atendimentos nas unidades, ou por relato de outras pessoas da comunidade. Porém não se sentem preparadas para agir, sentem insegurança, sem proteção e limitadas quanto à resolutividade dos casos. A falta de preparo técnico as levam a ter condutas diferentes e até opostas, baseadas no “bom senso”. Muitas desconhecem os mecanismos legais e só conhecem a Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006) superficialmente. Portanto, é fundamental o papel dos ACS na prevenção da violência contra a mulher, fazendo com que a violência seja conhecida e reconhecida no interior dos serviços de saúde, um passo crucial para que seja compreendida e, consequentemente, um tratamento Intersetorial adequado e integral possa ser prestado às usuárias. Palavras-chave: Estratégia de saúde da Família, Agente comunitário de saúde, violência, saúde da mulher. 92 93 O CORAÇÃO COMO SEDE DOS AFETOS: EXPERIÊNCIAS DE TRANSPLANTE CARDÍACO. Nadia Vieira, UNINOVE-São Paulo, [email protected] É lugar comum pensarmos o coração como sede dos afetos. Interessa-nos aqui pensar as diferentes mudanças vivenciadas pelo transplantado cardíaco, a partir da crença de que o coração é sede dos afetos a considera-lo como uma bomba mecânica e investigar como se dá essa dialética entre negar e afirmar o coração como sede dos afetos.Nosso objetivo é compreender o lugar ocupado pelos afetos a partir da experiência de pacientes transplantados cardíacos obtida por meio da história oral e compreendida à luz do referencial teórico da Psicologia Sóciohistórica. Essa escolha teórica está alicerçada na nova concepção de homem para a Psicologia, tendo em vista que, essas formulações teóricas são contribuições muito importantes para se compreender o homem enquanto um processo sócio- históricocultural, ou seja, a ação humana é uma atividade mediada socialmente e que produz significados.O ser humano é constituído e ao mesmo tempo constitui a cultura. Entendemos Cultura como a produção coletiva de ações humanas. Essa linha teórica ao romper com a tradição filosófica que tem suas bases na representação, caracteriza-se pela interdisciplinaridade e nos traz um novo paradigma, um novo modo de pensar o que é o sujeito e o que é o objeto. Estes não são dados a priori, pois não possuem uma existência per si, mas são construções do discurso do qual fazem parte. Dessa forma, a Psicologia Social pensada a partir das contribuições da Psicologia Sócio Histórica centra-se no estudo dos fenômenos da diversidade, da pluralidade, e da singularidade das diferentes culturas. Como nos lembra Martin-Baró, o ambiente e o contexto sociocultural são determinantes essenciais. Neste trabalho vamos nos deter, mais especificamente, em suas contribuições para refletir acerca do lugar ocupado pelos afetos e suas implicações para pensar a saúde como potência de agir. Os afetos que emergiram a partir da experiência dos transplantados ao transitar por novos territórios de vida serão tomados como dispositivos analisadores e serão problematizados, a fim de refletir sobre as mutações que possam ter sido produzidas na vida desses sujeitos, tendo em vista que há uma crença de que o “coração é soberano por que além de sede dos sentimentos e das paixões é também detentor da inteligência e do pensamento, e é também o lugar privilegiado do encontro com os deuses; lugar de inspiração divina.” (Gallian, 2010). Seguindo os passos de Michel Foucault, pretendemos destacar existências que não são consideradas grandiosas por uma História Universal, mas existências particulares, de certo modo “infames”. As vidas que aqui comentamos, investigamos, são vidas esquecidas, raramente rememoradas. Retomamos histórias de vida que foram paradoxalmente marcadas pela morte e pela superação. Por um lado, o transplantado com seus medos, suas inseguranças; por outro, a tecnologia representada pela figura do médico que busca superar todos os limites do humano. As falas dos transplantados recolhidas enunciam verdades, na medida em que falam sobre sua transformação e dão sentido à sua trajetória. O que nos contam os transplantados cardíacos? Que marcas foram deixadas em suas histórias por essas experiências tão singulares? Pensar a psicologia a partir de territórios demarcados não nos parece uma estratégia ética e politicamente produtiva. Em contato com os usuários do sistema de saúde, campos disciplinares (e tão disciplinados...) se entrecruzam. A psicologia constrói discursos sobre o homem, mas o sujeito é múltiplo e é atravessado por processos sociais, culturais, econômicos e históricos. Cabe-nos a reflexão acerca das reais necessidades dos usuários de serviços de saúde. Essas devem ultrapassar o senso comum pensando a psicologia no seu aspecto político. Qual a realidade do transplantado cardíaco? Como pensar uma psicologia que realmente atenda às suas demandas. Palavras-chave: Transplante cardíaco, afetos, saúde, psicologia sócio histórica 93 94 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A POTÊNCIA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Carlos Roberto de Castro-Silva UNIFESP-BS [email protected] A Estratégia Saúde da Família (ESF) traz em seu bojo muitas das expectativas de construção de um sistema de saúde mais justo e eficaz, pois favorece uma maior proximidade das demandas da população e busca novas formas de intervenção calcadas na promoção de saúde e prevenção de doenças. Ao mesmo tempo, evidencia as contradições e deficiências de um sistema de saúde com muitas precariedades, principalmente aquelas advindas de uma lógica mercantilista da saúde e/ou daquelas que privilegiam intervenções de alto custo tecnológico, muitas vezes inacessíveis e ineficazes para a maioria das demandas da população (Ceccim e Merhy 2009; Pasche et al 2011). O Agente comunitário de saúde (ACS) ocupa um lugar de mediação importante entre comunidade e Estratégia de Saúde da Família (ESF). Todavia, em uma perspectiva critica consideramos que a atuação deste profissional, especialmente em territórios de alto grau de vulnerabilidade, evidencia a complexidade e contradições que devem ser discutidas em uma perspectiva ético-política. O objetivo deste trabalho é discutir aspectos da organização e convivência comunitárias que contribuem para a construção de processos de participação social do ACS. Metodologia: Estudo de caráter qualitativo, realizado em uma unidade de saúde da família no município de Cubatão, teve a pesquisa participante como balizador dos procedimentos empregados, destacando a observação participante e entrevistas semiestruturadas. Resultados: A construção dos indicadores referentes aos sentidos de viver e conviver na VP tem a função de problematizar aspectos que contribuam com uma visão crítica sobre as práticas dos ACS, visando o fortalecimento de processos de participação social. Compreendemos a participação social como formas de organização comunitária que promovem transformações sociais, por caminhos construídos a partir da convivência e necessidades de grupos e pessoas, tendo a construção de redes de apoio social e a solidariedade desencadeadoras de ações políticas (Lacerda, 2010, Melluci 2001, Castro-Silva, 2009). Assim, consideramos que a politização das práticas do ACS e possíveis incrementos de processos de participação social implicam na valorização do potencial de inserção na comunidade, principalmente do vínculo social e afetivo em sua dimensão política e transformadora. Além disso, os resultados indicam que o forte sentimento de comunidade e a proximidade com as forças politicas da comunidade contribuem com o processo de participação social, ao contrario da predominância do assistencialismo e do medo desencadeado por situações de violência. Palavras-chave: Estratégia de Saúde da Família, Agente comunitário de saúde, participação social, Comunidade. 94 95 F- EIXO: CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA 15- NORMA E TRANSGRESSÃO EM DIREITO, POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTE: DIÁLOGOS ENTRE DIFERENTES PERSPECTIVAS CRÍTICAS DA PSICOLOGIA Cristiane Souza Borzuk, Maria Regina de Silos Nakamura & Tiago Cassoli A proposta desta mesa redonda é tratar dos mecanismos de controle social que recaem sobre os indivíduos nas formas de organização social assentadas em ações de minimização de conflitos, encobrimento de desigualdades e na produção de processos de normatização. Tal discussão será efetivada sob três aspectos: a norma ditada pela disciplina do Direito, o controle por meio do riso nas políticas de humanização nos hospitais e o questionamento dos mecanismos sociais de aprisionamento do corpo e as possibilidades de subversão da política como aparato de dominação. Nessas três direções, pretende-se realizar a crítica a uma psicologia positiva e fenomenológica, a qual fornece substrato prático e teórico ao ajuste dos indivíduos a condições inumanas, ainda que intencionalmente busque contribuir para a aclamada qualidade de vida. Essa contribuição, que constitui campo profissional em expansão, necessita ser analisada no quanto pode a psicologia servir ao apaziguamento individual e social diante de condições objetivas e subjetivas de opressão e normatização. Com esse posicionamento geral, indica-se a necessidade de que a psicologia realize a crítica a si mesma. Para a consecução desse objetivo maior, na apresentação intitulada “Sobre o crime e o castigo: das relações entre o direito positivo e a psicologia”, será discutido o problema das concepções biodeterministas que buscam uma causalidade orgânica e/ou patológica subjacente ao comportamento criminoso. A ênfase aqui recai sobre as explicações monadológicas que são dadas para o crime, desde a teoria do criminoso nato de C. Lombroso até os estudos atuais para a identificação do criminoso psicopata, principalmente por meio da escala de R. Hare, o Psychopathy Checklist Revised (PCL-R). A crítica será estabelecida tendo como referência o pensamento de Theodor W. Adorno. Na apresentação “O riso na saúde: a aliança entre a psicologia e os palhaços”, propõe-se pensar, a partir da perspectiva genealógica de Michel Foucault, o palhaço de hospital como uma tática das políticas de humanização na Saúde, principalmente através de sua aliança com as Organizações Não Governamentais, e o riso como um gesto normatizado pelos saberes da psicologia, ou seja, como um elemento de uma estratégia da Biopolítica. Na apresentação “Atualidade da luta política por Eros: a confluência entre psicologia, filosofia, arte e política” serão discutidos os conceitos de mais-repressão, dessublimação repressiva e razão sensual de Herbert Marcuse, bem como serão tratados aspectos presentes na arte que podem iluminar a base de opressão presente na sociedade administrada e as possibilidades de libertação, na exposição de aspectos referentes à expropriação do corpo e a relação com a política na literatura de Louis Aragon e em peças de Samuel Beckett. Palavras-chave: Controle Normatização. Transgressão. social. Psicologia. 95 96 SOBRE O CRIME E O CASTIGO: DAS RELAÇÕES ENTRE O DIREITO POSITIVO E A PSICOLOGIA Cristiane Souza Borzuk Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí [email protected] O escopo deste trabalho incide sobre as relações existentes entre o avanço da ciência (em seus moldes positivistas) e seus reveses. Investigaremos uma tendência que, ao que tudo indica, tem-se fortalecido nas sociedades ocidentais nos últimos anos. Referimo-nos à tendência a buscar em uma suposta natureza humana individual as causas para comportamentos considerados hostis ou incompatíveis com o estágio de desenvolvimento da sociedade atual. Busca-se no indivíduo, na mônada psicológica, a origem do mal. Essa discussão será realizada a partir das aproximações entre o direito positivo e a psicologia, tanto em suas manifestações iniciais, representadas aqui pelo pensamento de Cesare Lombroso e sua teoria do criminoso nato, quanto às expressões atuais dessa mesma relação, tomando como referência o Psychopaty Check-list Revised (PCL-R), escala elaborada por Robert Hare para a identificação do criminoso psicopata. Tal instrumento tem ocupado um lugar de especial importância atualmente nas discussões sobre o crime, visto que é considerado como um meio capaz de identificar os indivíduos que estão predispostos à reincidência criminal. Centrado na análise da personalidade dos indivíduos que cometeram crimes, o Psychopaty Check-list Revised traz como pressuposto a separação entre a realidade social e os processos psíquicos, sendo os últimos considerados como mônadas. Concebe o comportamento criminoso como um sinal de natureza constitutiva do indivíduo, e não como fruto da esfera objetiva. Com a exclusão de referências às circunstâncias em que se vive, é ignorado também que a origem do comportamento criminoso se deve, em grande medida, a conflitos que são de natureza política e econômica, sendo, portanto, potencialmente superáveis. Neste caso, vê-se a impossibilidade de perceber no comportamento criminoso uma dimensão temporal. As condições atuais de vida são mantidas quase intactas, e os conflitos, que são datados, tornam-se naturais e, dessa forma, imutáveis. Consideramos que o direito positivo, principalmente a partir de sua associação com a psicologia, ainda que traga garantias para a vida em sociedade, tem servido, sobretudo, para encobrir as desigualdades sociais. Se essas reflexões dirigem-se a questões referentes ao crime, entendemos que o objeto deste trabalho pode ser considerado um exemplo de uma tendência mais geral das sociedades administradas, que cabe conhecer e, sobretudo, se contrapor. O referencial teórico-metodológico é a Teoria Crítica da Sociedade, em particular os escritos de Theodor W. Adorno. Palavras-chave: Direito positivo. Psicologia. Psychopaty Check-list Revised (PCL-R). Crime. 96 97 ATUALIDADE DA LUTA POLÍTICA POR EROS: A CONFLUÊNCIA ENTRE PSICOLOGIA, FILOSOFIA, ARTE E POLÍTICA Maria Regina de Silos Nakamura Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [email protected] O propósito desta apresentação é colocar em pauta as relações entre psicologia, filosofia, arte e política, tomando como ponto de apoio a afirmação de Herbert Marcuse, filósofo, pensador da teoria crítica da sociedade, contida no prefácio da 1ª edição de Eros e Civilização - uma crítica filosófica ao pensamento de Freud (1955/1968), de que as categorias psicológicas tornaram-se políticas, dada a absorção do indivíduo pela sociedade administrada. Com isso, o autor quer dizer que as fronteiras entre psicologia, no que tange ao indivíduo, e política e filosofia social, concernentes à existência pública, foram quebradas. Nessa obra é investigado o potencial para a emergência de uma cultura não-repressiva em contraposição à sociedade de administração total, na qual a falsa liberdade é defendida pelas pessoas que são metodicamente anestesiadas por meio de controles sociais eficazes. Conceitos como mais-repressão, dessublimação repressiva e razão sensual, bem como importantes elaborações sobre arte tornam-se chave para a compreensão do pensamento de Marcuse. Sua atuação intelectual englobava a crítica filosófica e ação política, no que foi tanto aclamado quanto criticado. A proximidade com os movimentos sociais desde a sua juventude dá notícias da direção de sua produção. É a defesa do indivíduo e de uma organização social não repressiva, fator comum entre os teóricos críticos, que é obstinadamente tratada por ele. Mas o indivíduo não pode ser pensado ou defendido como se estivesse fora das condições objetivas e subjetivas de sua individuação. Por essa razão, especificamente em relação à psicologia, fica claro que, ao assumir como campo de pensamento e prática o aspecto político, ela não o faz trazendo para si algo alheio. Ao contrário, coloca-se contra a teoria e a terapêutica positiva de adaptação das pessoas ao sofrimento, encarando a necessidade de ser psicologia negativa. Nesse sentido, retoma-se aqui a ideia da atualidade da luta política por Eros, o que significa fortemente a subversão da política como aparato de dominação e o questionamento de mecanismos sociais de aprisionamento do corpo. Para efeito de consolidar a discussão sobre o trânsito do pensamento crítico entre psicologia, filosofia, arte e política, em especial, no que se refere aos sentidos, ao sensível, à razão e à racionalidade, apresentam-se, além da discussão dos conceitos acima indicados, duas análises sobre obras de arte, uma proveniente de elaboração do próprio Marcuse em “Algumas Considerações Sobre Aragon: arte e política na era totalitária” (1998), e outra da autora, a partir de pesquisa em curso sobre a relação entre teatro e pensamento dialético, tomando algumas peças de Samuel Beckett como explicitação das possibilidades e impossibilidades enfrentadas pelo indivíduo para a libertação. Palavras-chave: Indivíduo. Política. Razão. Corpo. 97 98 O RISO NA SAÚDE: A ALIANÇA ENTRE A PSICOLOGIA E OS PALHAÇOS Tiago Cassoli Universidade Federal de Goiás [email protected] Este trabalho tem por objetivo principal problematizar a presença do palhaço nos hospitais em dois eixos de análise que se relacionam entre si: o saber que constitui a psicologia e a prática de intervenção com palhaço em hospital. Como os saberes da psicologia circunscrevem e justificam a presença do palhaço nos hospitais? Ao buscar seus interesses, seus objetivos, e relacionar o saber da psicologia às práticas de palhaço de hospital, intento compreender como o saber da psicologia se alia ao palhaço nos hospitais, ou seja, que procedimentos essa aliança propõe. Ao relacionar saber da psicologia e práticas de palhaços em hospitais, busco mapear a racionalidade política que surge dessa aliança e elencar quais são suas estratégias e táticas. Quando e como o palhaço entra no hospital? Como a psicologia fundamenta as práticas interventivas com palhaços de hospitais, que são desenvolvidas, em grande parte, por Organizações Não Governamentais, que se inscrevem na sociedade atual a partir dos interesses econômicos e políticos da filantropia empresarial, comumente integrada ao Estado que, ao fomentá-las e patrociná-las, programa e promove políticas públicas de humanização das condutas médicas e dos serviços de saúde? Para tanto, utilizo o método genealógico proposto por Michel Foucault para pensar a aliança entre a psicologia e o palhaço no domínio das práticas de cuidado nos hospitais, quais são os efeitos produzidos dessa aliança na produção de processos de subjetivação. Que racionalidade política emerge para justificar esses efeitos? Concluo que o saber psicológico, ao objetivar e justificar o palhaço no hospital, o faz ao tomálo como um elemento tático de uma grande estratégia da Biopolítica para a produção da vida; das condutas dos indivíduos e das populações, qual seja, a psicologia sustenta, através de sua aliança com os palhaços de hospitais, uma promessa de felicidade, de humanização. Segundo, a psicologia afirma que o riso emerge nessa tática como um elemento gregário, como um gesto que produz uma cumplicidade na relação com o outro, principalmente com o palhaço; um gesto que se refere a um bom rapport, algo intimista. O riso como um gesto legitimador de um sujeito que se oferece afirmativamente ao vínculo terapêutico e a tudo o que a ele diz respeito. E terceiro, o riso aparece, pelos saberes da psicologia, como um gesto da norma, um incremento no desenvolvimento do capital humano do individuo, isto é, algo que é esperado na busca pela felicidade. Palavras-chave: Humanização. Psicologia. Palhaços. 98 99 16- IDEOLOGIA, ALIENAÇÃO E ANTIMARXISMO: O CASO DA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA Talitha Priscila Cabral Coelho, Bruno Peixoto Carvalho & Rafael Iglesias Menezes da Silva Esta mesa reúne trabalhos cujo denominador comum é a tentativa de construção de uma psicologia fundamentada no marxismo. O primeiro trabalho analisa a apropriação dos autores neomarxistas pela Escola de São Paulo de Psicologia Social, o que significou a adesão – por parte desta escola – à ideologia do fim da história e suas derivações: o fim da sociedade do trabalho, o fim da classe trabalhadora, o fim das lutas de classes, o fim da ideologia, etc. Aqueles estudiosos que, nos anos 1980, cumpriram o papel de realizar a crítica aos modelos tradicionais de psicologia social, tentaram erigir uma psicologia social orientada pelo método dialético e defenderam que a psicologia social deveria contribuir para os processos de transformação social, tornaramse, nos anos 1990, representantes da ideologia burguesa. Para melhor dimensionarmos as conseqüências desta reformulação, avessa as teses matriciais do materialismo históricodialético, elegemos – dentre uma série de determinações categoriais imbricadas na análise de Marx – as categorias alienação e ideologia, as quais possibilitam novas relações da consciência com a realidade e, em decorrência, consigo mesma. Marx demonstra que em uma determinada etapa do desenvolvimento das forças produtivas, que provocaria um crescimento direto das capacidades humanas, pela divisão do trabalho, emerge, contraditoriamente, no processo social do trabalho, momentos de alienação. Isso por que o desenvolvimento histórico da atividade vital e, dialeticamente, da consciência humana possibilitou aos homens produzirem excedentes, mas tal oportunidade histórica inaugurou novas possibilidades, como, por exemplo, que um grupo de homens fosse escravizado por outro grupo mais forte e passasse a produzir os meios de sobrevivência necessários ao grupo dominador e a si próprio. Em outras palavras, o desenvolvimento das forças produtivas criou as condições objetivas da divisão do trabalho e conseqüente aparecimento de novas legalidades sociais (novas mediações materiais e psicológicas) que passam a reger do desenvolvimento humano, nas formas da escravidão, da servidão e do trabalho assalariado. Para Vigotski, em uma sociedade subdividida em classes a composição das personalidades humanas não pode ser compreendida como algo homogêneo, e a psicologia tem que levar em conta o fato básico das contradições de classes. Portanto, é fundamental que a psicologia reconheça a luta de classes e investigue as particularidades próprias da sociabilidade no capitalismo, onde a alienação se expressa como fetichismo da mercadoria. O terceiro trabalho pretende traçar uma incursão histórica do conceito de ideologia, intentando sistematizar as diferenças essenciais que este é submetido na análise marxiana da ideologia ao longo de sua obra e que de uma perspectiva epistemológica deriva em uma definição política, e que ambas tendências permanecem na tradição marxista ao longo do século XX, inclusive na psicologia, como o caso de L.S Vygotski. Entender esta influência na base histórica e metodológica na psicologia crítica é um dos objetivos. Palavras-chave: Psicologia Social Brasileira; neomarxismo; Alienação; Ideologia. 99 100 PSICOLOGIA SOCIAL E NEOMARXISMO OU “A MISÉRIA DA CRÍTICA” Bruno Peixoto Carvalho Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) [email protected] Este trabalho analisa o modo como a apropriação – presente nas produções dos anos 1990 – do conjunto de formulações dos autores representantes do neomarxismo (notadamente Heller e Habermas) pela Escola de São Paulo de Psicologia Social significou uma guinada do pensamento desta tradição de psicologia social em direção a uma perspectiva antimarxista. O concurso dos trabalhos de Agnes Heller e Jürgen Habermas na produção da Escola de São Paulo representou a adesão, por parte desta escola, à ideologia do fim da história e suas derivações: o fim da sociedade do trabalho, o fim da classe trabalhadora, o fim das lutas de classes, o fim da ideologia, etc. A referida adesão resultou em transformações ao nível dos fundamentos teórico-filosóficos, do complexo categorial da psicologia social e de certa compreensão da natureza da transformação social para a qual deve contribuir a psicologia, dentre as quais destacam-se: o deslocamento da centralidade ontológica da categoria trabalho para a esfera das objetivações sociais (Heller) e da ação comunicativa (Habermas); a manutenção do complexo categorial presente em Psicologia social: o homem em movimento (1984) acrescida da categoria afetividade que – hipostasiada como o fora, principalmente por BaderSawaia e Silvia Lane – joga uma carga idealista no conjunto categorial; a própria tríade atividade-consciência-identidade (personalidade para Leontiev) herdada da leitura da produção da psicologia soviética, passa a ser compreendida nos termos de uma estrutura de categorias vazias; a negação do papel da classe trabalhadora como sujeito revolucionário; a transformação social passa a ser posta não mais nos termos da necessidade de superação da sociedade de classes mas sim naqueles termos de uma revolução ética (ou socialismo ético), de uma transformação na esfera dos valores que – rechaçando qualquer forma de violência (inclusive a revolucionária) – deveria promover uma sociedade que realizasse as condições ideais de fala para uma razão comunicativa. Deste modo, a Escola de São Paulo de Psicologia Social que tomou a ideologia como categoria fundamental da Psicologia Social nos anos 1980, ao afastar sua compreensão do ser social da chave heurística da Economia Política passa a eternizar a ordem burguesa apresentando a ela respostas sempre parciais e não totalizantes, reproduzindo assim, ideologia. Palavras-chave: Psicologia Neomarxismo, Ideologia Social, 100 101 ALIENAÇÃO E FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE Talitha Priscila Cabral Coelho UNESP-Assis [email protected] Este trabalho discute a teoria marxista da alienação e aponta algumas contribuições da revisão desta temática para o campo da Psicologia. Os estudos de Marx, de modo geral, se objetivaram como um desvendamento da sociedade burguesa com contribuições inclinadas ao campo econômico, filosófico, sociológico e epistemológico; mas sua obra também fornece, categorias de análise ontológicas fundamentais para o campo da Psicologia. Em Marx, encontramos a análise de toda uma série de determinações categoriais imbricadas – trabalho, linguagem, cooperação, divisão do trabalho, alienação, etc. –, as quais possibilitam novas relações da consciência com a realidade e, em decorrência, consigo mesma. Parte do pressuposto de que a gênese do ser social é marcada pela posição teleológica e a capacidade especificamente humana de produzir idealmente (o concreto pensado na consciência) antes da produção material. Temos na gênese das criações humanas a imbricação dialética entre realizar trabalho e conhecer a realidade, em que o ato de conhecer transforma a realidade conhecida e o sujeito que conhece. O homem cria, pensa, escolhe a partir das condições materiais que lhe são postas, pelas conquistas e transformações anteriormente objetivadas e acumuladas, pelas suas necessidades e pelas novas relações que vai estabelecendo com o mundo e com os outros homens. Ocorre que em uma determinada etapa do desenvolvimento das forças produtivas, que provocaria um crescimento direto das capacidades humanas, pela divisão do trabalho, emerge, contraditoriamente, no processo social do trabalho, momentos de alienação. É indispensável considerarmos que o desenvolvimento histórico da atividade vital e, dialeticamente, da consciência humana possibilitou aos homens produzirem excedentes ao criarem meios (ferramentas) de controle da natureza em favor de sua sobrevivência. Tal oportunidade histórica inaugurou novas possibilidades, como, por exemplo, que um grupo de homens fosse escravizado por outro grupo mais forte e passasse a produzir (com ajuda das ferramentas) os meios de sobrevivência necessários ao grupo dominador e a si próprio. Em outras palavras, o desenvolvimento das forças produtivas criou as condições objetivas à produção de excedentes, que, por sua vez, possibilitou a divisão do trabalho, sendo uma de suas formas a escravidão. Marx, em seus Manuscritos econômico-filosóficos de 1844, apresenta o conceito de alienação do trabalho que extrapola como raiz de todo um complexo de alienações. Ao tratar da “oposição hostil” entre filosofia e ciência, formula questões acerca do sistema predominante de alienações desde sua expressão mais evidente na vida cotidiana até a oposição teoria e prática. Para Vigotski, em uma sociedade subdividida em classes a composição das personalidades humanas não pode ser compreendida como algo homogêneo, e a psicologia tem que levar em conta o fato básico das contradições de classes. Portanto, é fundamental que a psicologia reconheça a luta de classes e investigue as particularidades próprias da sociabilidade no capitalismo, onde a alienação se expressa como fetichismo da mercadoria. Palavras-chave: alienação; luta de classes; divisão social do trabalho; personalidade; Vigotski. 101 102 PSICOLOGIA E IDEOLOGIA: DO MATERIALISMO HISTÓRICO À L.S VYGOTSKI Rafael Iglesias Menezes da Silva Universidade Estadual de Maringá (UEM) [email protected] O trabalho a seguir discute o conceito de ideologia a partir da proposta do materialismo histórico dialético de Marx e Engels. Partindo do suposto de que a ideologia é um problema enfrentado pelo marxismo de maneiras divergentes, ora situando-o como problema epistemológico ou gnosiológico, ora tratandoo como conflito político derivado das condições materiais de produção ou ainda à sua forma autoproclamada de organização partidária como, por exemplo a própria ideologia socialista. Influenciado pela mesma corrente teórica, o psicólogo bielorusso L.S Vygotski traz uma apropriação do termo inserido na sua problematização sobre a crise da psicologia, que verte-se em questionar o futuro da ciência psicológica, analisando a tendência à redução de uma ideia original em ideologia, isto é, a deformação ideológica pela qual uma ideia antes útil em seu local de surgimento passa a incorporar dimensões do conhecimento que não à de seu local de origem, universalizando um princípio; um movimento clássico de dominação ideológica. Por tratar-se de tema que é trama de diversas interpretações mesmo dentro da obra de Marx, torna-se necessário explicitar a historicidade das transformações do conceito conforme as medidas que se tornaram presente, como diz Bakhtin, na palavra como arena da luta de classes. Assim, desde a cunhagem na batalha contra o idealismo alemão em A ideologia Alemã até a reificação da mercadoria em O capital, este itinerário não autoriza conceber uma dada definição do termo como a absoluta, categórica, em termos valorativos. O mesmo realiza Vygotski ao conceber que a ideologia tem a sua parcela de verdade, o mesmo assume que Lukacs conceberá a ciência em unidade com a ideologia, em que a última pode padecer de momentos apenas ideológicos, vislumbrando uma categorização ampla e outra restrita de ideologia. Essa compreensão permite ao psicólogo crítico se relacionar com as demais disciplinas da psicologia como apropriação dialética e não como rejeição panfletária, autorizando por outro lado a unificação de projetos políticos sociais cunhados em uma psicologia concreta do homem em torno de um fim político prédeterminado, sendo este fim para o materialismo histórico-dialético, a emancipação humana distinguida da emancipação política, já que a emancipação humana realiza o salto que vai do reino da necessidade para o reino da liberdade. Resulta que a projeção de uma psicologia crítica não pode dar diagnósticos para a crise da psicologia enquanto permanecer em movimento de rejeição ou de incompreensão dos adversários, o que não autoriza um ecletismo, mas o rigor ético na fundamentação de uma ciência que sujeitada como braço da exploração do complexo concreto do trabalho, investigue a si própria como momento particular da pré-história da humanidade. Assim, confluem-se Marx e Vygotski entre a necessidade da unidade da resolução da crise da psicologia para além e a partir do plano epistemológico, para o plano prático da realidade concreta, assim torna-se possível falar de um conceito de ideologia ampliado em Vygotski já que trata do tema da ideologia como dominação à ser enfrentada dialeticamente pela teoria e pela revolução das condições objetivas nas quais perpetuam-se as ideologias. Palavras-chave: Ideologia; L.S. Vygotski; Materialismo histórico-dialético. 102 103 COMUNICAÇÕES COORDENADAS 103 104 A- EIXO AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 1. “DAÍ EU FICO BOLADÃO!”: POSSIBILIDADES DE AÇÃO A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS AFETIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS Carina Borgatti Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Felipe Salvador Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Juliana Siqueira de Lara Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Marina Dantas Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Paula Tumolo Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Polyana Alves Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Yasmin Sampaio Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Lucia Rabello de Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Na tradição da Psicologia, a ideia de ação surge como a prática de um sujeito racional e autônomo. Essas características foram teoricamente vinculadas ao adulto, que seria, portanto, o sujeito apto a agir. Essa posição valida a ideia de que crianças e jovens precisam aguardar até a vida adulta, quando supostamente seu desenvolvimento intelectual e moral se conclui, para terem sua ação no mundo público reconhecida. Nesse sentido, o conceito de ação está fundamentalmente associado ao estatuto de sujeito político, este entendido como quem alcançou condições subjetivas que qualificam sua ação. O objetivo do presente trabalho é discutir a noção de ação, problematizando a concepção tradicional, e investigando possibilidades deste conceito abarcar a experiência afetiva de crianças e jovens. A partir desta problematização, entendemos que a subjetivação política não se dá anteriormente à ação, como uma forma de preparação e capacitação para esta, mas se constrói ao longo do processo de agir. Busca-se examinar de que forma as vivências extrafamiliares de crianças e jovens podem constituir um processo de negociação, diálogo e construção coletiva. Este trabalho se insere no projeto de pesquisa mais amplo, “Teorias da infância e da juventude: Articulações com os campos da política, dos direitos e da educação”, cujo objetivo é investigar criticamente as noções de autonomia, responsabilidade e ação, tendo em vista como o contexto contemporâneo interpela o estatuto atual destas noções. A presente investigação se encontra em andamento, mas aponta para aspectos importantes a serem considerados para uma compreensão da ação: como algo que não está totalmente roteirizado; que possui uma dimensão relacional e enraizada nas vivências pessoais, nos afetos e nos sentimentos. Estas questões teóricas são tratadas à luz das experiências de campo realizadas em escolas públicas de municípios do estado do Rio de Janeiro. As metodologias utilizadas nessas pesquisas foram a observação participante e a formação de grupos de discussão com crianças e jovens de diferentes idades. Como resultados parciais, discutimos como os afetos mobilizam a ação destes sujeitos, bem como seu ponto de vista sobre a potencialidade de suas ações na transformação do espaço escolar. Palavras-chave: Ação; Afeto; Sentimento; Crianças; Jovens 104 105 2. O PET-SAÚDE COMO DISPOSITIVO PARA FORTALECIMENTO DO CONTROLE SOCIAL DO SUS E DA PARTICIPAÇÃO POLITICA DO ESTUDANTE DE PSICOLOGIA Leonardo Sales Lima Universidade Estadual do Piauí – UESPI [email protected] A formação do psicólogo vem proporcionando mudanças nos últimos 10 anos. A implantação das diretrizes curriculares possibilitou a universidade pensar um psicólogo mais crítico, reflexivo e comprometido com a realidade social. O desenvolvimento da psicologia comunitária, nos últimos 30 anos, vem caminhando apontando caminhos sobre esse novo profissional que está se inserindo no espaço territorial de diversas políticas públicas, dentre elas: a saúde e a assistência social. Neste sentido, e guiado por movimentos incentivados pelo Sistema Conselho de Psicologia e pela Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, urge uma necessidade de pensar um psicólogo integrado e comprometido com as reais necessidades do povo brasileiro. Assim, a inserção nos Núcleos de Apoio a Saúde da Família e na Proteção Social Básica, através dos Centros de Referência da Assistência Social, vem convidando um olhar mais politizado e com aspectos que possibilitam a participação mais ativa desse profissional na vida das pessoas. O objetivo deste trabalho é apresentar as experiências da Formação de Psicólogos na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), considerando o âmbito da Psicologia Comunitária e das Políticas Públicas Sociais brasileiras. Neste sentido, a formação de psicólogos da UESPI vem se adaptando aos processos que vem sendo disparados desde então a nível nacional. Através de uma aproximação com metodologias ativas que focalizam a formação buscando uma aprendizagem significativa. O uso da Educação Permanente e de conceitos da Educação Popular vem contribuindo com os movimentos de ensino-aprendizagem, possibilitando o desenvolvimento de um psicólogo capaz de realizar uma leitura mais aproximada com o contexto de sua inserção, diminuindo a distância do mesmo com o indivíduo, ao mesmo tempo em que fortalece os vínculos entre o profissional e a população. Na experiência desenvolvida na UESPI, o estágio básico em educação em saúde, em conjunto com o Estagio Supervisionado em Psicologia Comunitária, o PET-SAUDE Controle Social e a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, vem conseguindo integrar conceitos, vivências e práxis que empoderam os envolvidos na construção de um olhar mais ampliado da prática. A utilização de ferramentas que envolvem os movimentos da cartografia de cada sujeito envolvido, o conjunto de afecções despendidas durante os encontros semanais, além dos portfólios reflexivos individuais desenvolvem sujeitos mais autônomos e capazes de serem mais ativos diante dos problemas do território social experimentado. As experiências atuais caminham para o fortalecimento de uma Psicologia Comunitária dinâmica que se constroem com as nuances de cada experiência e espaços vivenciados. Observa-se que o comprometimento dos psicólogos formados dentro desse processo percorre além da linha tênue da prática pela prática. Estes auxiliam no desenvolvimento do Controle Social, fortalecem as redes comunitárias e a intersetorialidade no âmbito das políticas públicas. Assim, a formação profissional proposta contribui para o fortalecimento de uma Psicologia Comunitária crítica e focada no desenvolvimento social do sujeito. Palavras-Chave: Empoderamento, Participação Formação Social, Politica 105 106 3. LUTAR NÃO É ESPERAR: REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO POLÍTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE NATAL-RN Fernanda Cavalcanti de Medeiros Centro de Referência em Direitos Humanos – CRDH/UFRN, [email protected] André Feliphe Jales Coutinho Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Francisco Emanuel Soares Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Raquel Ferreira Barbalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) A população em situação de rua constitui-se enquanto grupo populacional complexo e diversificado, que possui em comum, além da falta de acesso á moradia, a extrema pobreza, fragilidade ou rompimento de vínculos familiares, e a utilização do espaço público enquanto principal local de sociabilidade. Tal população habita as ruas e o imaginário popular brasileiro desde o período colonial, tendo sua condição naturalizada a partir de argumentos baseados na lógica da meritocracia, ou seja, que se encontram em tal situação por suposta incapacidade individual, o que acaba encobrindo os determinantes sóciohistóricos do fenômeno da população em situação de rua, bem como o fato deste grupo vivenciar várias formas de violações de direitos e expressões perversas da “questão social”. Para os homens e mulheres, crianças e idosos que vivenciam a vida nas ruas, o Estado brasileiro sempre dirigiu ações repressivas e higienistas, restando como única alternativa para essas pessoas as ações caritativas de grupos religiosos. A história de violações e sofrimento da população em situação de rua no Brasil começou a tomar novos rumos a partir do ano de 2004, quando após o Massacre da Praça da Sé, episódio em que pessoas em situação de rua foram violentamente assassinadas enquanto dormiam, um grupo de militantes de diferentes partes do Brasil se uniram e criaram o Movimento Nacional da População de Rua –MNPR. Tal movimento passou então a pressionar o Estado brasileiro, para que este pague a sua dívida histórica com a população em situação de rua, e como resultado direto desta pressão foi criada no ano de 2009 a Política Nacional de População em Situação de Rua, instituindo uma série de serviços e direcionamentos para o trabalho junto a tal segmento populacional. O MNPR chegou ao Rio Grande do Norte no ano de 2012 a partir de evento promovido pelo Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH), e desde então vem se formando e atuando politicamente no estado. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é compartilhar o processo de formação e participação política do MNPR/RN a partir da parceria e trabalho conjunto com o CRDH, e refletir acerca dos principais desafios colocados para o movimento, bem como sobre os avanços alcançados a partir da organização política de pessoas que vivem em situação de rua e são usuárias do albergue municipal de Natal-RN. O trabalho em parceria entre o MNPR/RN e o CRDH tem como principal metodologia oficinas de formação política, onde são discutidos direitos e estratégias de acesso aos mesmos, como audiências públicas, atos, entrevistas e comunicação através de redes sociais, dentre outras estratégias. O MNPR/RN já é um movimento reconhecido na sociedade potiguar e ocupa com legitimidade o seu papel de pressionar as secretarias e órgãos responsáveis pela abertura e execução qualificada dos serviços voltados para a população em situação de rua, bem como para a formação política e combate ás violações de direitos que envolvem as pessoas que vivenciam a realidade da vida nas ruas. Palavras-chave: população em situação de rua; participação política; direitos humanos. 106 107 4. INSURGÊNCIAS PSI EM TEMPOS DE CONFLITOS: A ARTICULAÇÃO DE PSICANALISTAS E PSICÓLOGOS/AS IARA IAVELBERG (ARPIA) Lis Albuquerque Melo Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Coletivo ARPIA [email protected] Bruno Halysson Nobre Universidade Federal do Ceará (UFC); Coletivo ARPIA [email protected] A Arpia -Articulação de Psicanalistas e Psicólogos/as Iara Iavelberg - surge em abril de 2013 com o propósito de implicar o saber e as práticas psicológicas e psicanalistas na construção e no fortalecimento dos movimentos sociais, trazendo a inquietação de como esses campos psi podem se relacionar aos referidos espaços de lutas, reconhecendo e enfrentando suas demandas, que exigem uma atuação crítica, criativa e comprometida ética e politicamente. Pretende-se assim construir espaços psi de participação nas lutas por garantia de direitos e justiça social, afirmando como princípios a confiança, o sigilo, o fortalecimento dos sujeitos individuais e coletivos, a autonomia, a emancipação, o enfrentamento da alienação, a dignidade humana e o compromisso com segmentos sociais explorados e oprimidos. Durante a disciplina de Teorias Psicológicas, ministrada a uma turma de Serviço Social da Terra (curso vinculado ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) por dois integrantes da atual Arpia, foi explicitada uma demanda urgente e significativa de cuidado e escuta por tais estudantes. Tratava-se de militantes de movimentos de luta pela terra, trabalho e moradia que se encontravam distantes de suas famílias e coletivos na tarefa de cursar uma graduação, mobilizados subjetivamente por tais circunstâncias. A demanda direta de atendimentos reuniu psicólogos/as e psicanalistas para realização de tais encaminhamentos. Desse momento inicial teve prosseguimento novos encontros, nos quais o grupo de psicólogos/as e psicanalistas foi se estabelecendo, fortalecendo laços – em especial junto ao Movimento Sem Terra (MST) - e abrindo espaços para novas possibilidades de atuação junto aos movimentos sociais. Da demanda de atendimentos clínicos, na qual se destaca a importância de atentar para a dimensão subjetiva nas práticas dos militantes e de seus coletivos, novas frentes de trabalho com pautas ligadas à educação, saúde e organização política desafiaram atuações do grupo psi. Agregando psicólogos/as, psicanalistas e estudantes psi, o coletivo apresenta uma diversidade de abordagens teóricas e metodológicas, encontrando pontos convergentes no que diz respeito à sua perspectiva política de atuação, radicalmente favorável a uma ciência e profissão comprometidas com as lutas sociais e políticas por direitos, igualdade e justiça, que superem a dimensão dos discursos e se concretizem em práxis de libertação. Desde sua formação, a Arpia vem realizando atendimentos a indivíduos e grupos ligados aos movimentos sociais, assim como tem estado presente em situações de enfrentamento de graves violações de direitos, a partir de intervenções de suporte e fortalecimento dos sujeitos e coletivos implicados subjetivamente nas lutas sócio-políticas. São exemplos o acompanhamento e assessoria em ocupações e assentamentos do MST, o plantão psicológico disponibilizado aos moradores de comunidade violentamente despejada em Fortaleza, a participação em debates públicos e em ações articuladas com outros campos e atores relacionados aos movimentos sociais, destacando-se a construção conjunta de estratégias de proteção e enfrentamento nas manifestações políticas intensificadas de 2013 até a presente data. Destacam-se ainda a produção e socialização de conhecimentos e os encontros de formação política promovidos pelo coletivo. 107 108 5. LAÇOS COLETIVOS NO CONTEXTO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES EM TEMPOS DE INDIVIDUALIZAÇÃO Lis Albuquerque Melo [email protected] Isa Kaplan Vieira [email protected] Joyce Diniz [email protected] Karima Oliva Bello [email protected] Laiz Prestes Carneiro [email protected] Sabrina Dal Ongaro Savegnago [email protected] Lucia Rabello de Castro (Profa. Orientadora) [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIPIAC/UFRJ) Compreendemos que a participação de crianças e jovens no meio escolar demanda o deslocamento subjetivo do indivíduo ao grupo, ao coletivo. No entanto, a tendência à individualização, ao solipsismo e à competitividade não favorecem esta abertura, mas, ao contrário, propiciam o fechamento de cada um em suas próprias questões e interesses, fazendo do processo escolar cada vez menos um empreendimento coletivo. Além disso, na escola as posições hierárquicas institucionalmente estabelecidas enrijecem as possibilidades de experimentação de outras formas de agir e participar. Neste trabalho, tem-se como objetivo mapear e descrever as formas coletivas emergentes de se estar e conviver na escola, e arriscar alguma compreensão sobre essa emergência em tempos de individualização e competitividade. Que tipo de identificações coletivas são possíveis hoje na escola? A que servem? Que condições institucionais ajudam a construção de uma participação coletiva ou a dificultam? Entre 2006 e 2014, nosso grupo realizou pesquisas e intervenções em diversas escolas, buscando compreender a participação de crianças e jovens nesses espaços. Alguns resultados parciais de pesquisas realizadas pelo grupo em escolas públicas e particulares do estado do Rio de Janeiro serão discutidos. Podem-se notar aspectos da vida escolar que de alguma forma “escapam” à estrutura institucional hierárquica e individualizante: sobretudo, dizem respeito à organização de atividades pelos próprios alunos em torno de seus interesses comuns e a valorização do estar entre amigos. Entre tais atividades, encontramse algumas mais espontâneas, como eventos e acontecimentos artísticos, e outras mais institucionalizadas, como o grêmio estudantil. A discussão incide sobre como tais “linhas de fuga” se inserem na dinâmica escolar, e o que oportunizam para os alunos. Perguntamo-nos qual a aposta que a escola faz hoje para construir laços mais solidários entre os alunos, e entre as gerações. Parece difícil para os alunos sustentar os desafios e riscos de agir coletivamente, ainda que se sintam injustiçados pelas mesmas causas, predominando a posição institucionalizada do aluno individualizado. A discussão mais ampla na qual se insere o presente trabalho investiga os processos pelos quais os jovens constroem hoje suas participações em diferentes coletivos: como essas participações emergem, em que se baseiam e como se sustentam. 108 109 6. LACLAU Y UNA APROXIMACIÓN A LOS MOVIMIENTOS NACIONAL-POPULARES, DESDE LA PSICOLOGÍA POLÍTICA Hugo Adrian Morales Universidad Nacional de San Luis, Argentina. [email protected] En el siguiente trabajo, se intenta una aproximación a determinados conceptos desarrollados por Ernesto Laclau desde la Psicología Política. Son diversas las temáticas que aborda Laclau a lo largo del recorrido de sus obras, en este caso analizaremos la construcción de identidades colectivas nuevas. Revisar, repensar, reflexionar sobre las conceptos de Ernesto Laclau es una ardua tarea, pero es necesario mencionar que es el mismo Laclau quien incita a la discusión, al cuestionamiento de los conceptos de unidad nacional sin contemplar en ello la confrontación, el dialogo constante entre diferentes lecturas e interpelar interpretaciones de un fenómeno político. Si esto no sucede, en la mayoría de los casos empieza a emerger la indiferencia, por ende mas de los mismos, y esto es lo peor que le puede suceder a cualquier sistema democrático. El contexto sociopolítico vigente, presenta nuevos desafíos y nuevas lecturas. Desde hace varias décadas vienen apareciendo nuevos procesos sociales y políticos que configuran nuevos escenarios en buena parte de América Latina, pero que también presentan nuevos peligros y nuevas amenazas: si bien se presenta una unificación de criterios en cuanto a la crisis del modelo neolibera, y predomina un discurso antiliberal en la mayoría de los países de la región, esto no significa la superación o derrota de este modelo político y, aunque en algunos países se evidencia su fracaso político, desde nuestra lectura, no lo ha sido en el terreno cultural. Todos estos procesos invitan a la exigencia de ampliar nuestros registros analíticos, de desnaturalizar nuestros propios paradigmas de investigación académica; en suma nos obliga a preguntarnos sobre nuestros propios horizontes, sobre nuestras propias posibilidades y compromisos en la construcción de nuevos escenarios. Pero analizar ciertas categorías políticas implica ir más allá de ciertos estereotipos que manejan los manuales y entender que la realidad es mucho más compleja, que ciertos conceptos instituidos como marco de referenciales. la construcción de sujetos colectivos nuevos, la revalorización o resignificacion del populismo, la construcción de hegemonía, la construcción de la democracia mas allá de las transformaciones de la economía y del Estado, participación de minorías raciales, reivindicaciones feministas, ambientalistas y demás, es decir pensar la construcción políticas mas allá de las oposiciones binarias o lógicas antagonicas. En la actualidad, ciertos modelos convencionales comienzan a ser problematizados, es necesario una investigación que vaya más allá de su carácter descriptivo, una reflexión que implique superar el paradigma pretendidamente neutro del trabajo académico. Es a este proceso de reflexión y construcción que nos invita Laclau, a pensar nuevas categorías políticas, nuevos sujetos políticos, nuevas alternativas políticas, que oscilen entre el pensamiento y la acción, la teoría y la praxis transformadora. 109 110 7. AS VOZES DAS LUTAS ECOANDO ATRAVÉS DA ARTE E DA TECNOLOGIA Daniel Costa Vianna Mucciolo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro [email protected] A arte e a tecnologia têm em comum possuírem um largo espectro de utilização, dentre alguns dos seus possíveis usos podemos citar o entretenimento, a educação e transformação social. No presente texto pretende-se trazer elementos que apontam como as diversas expressões artísticas e as novas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) vem sendo utilizadas para facilitar e ampliar a divulgação de ideais dos protestos dos movimentos sociais do século XXI. A arte tem sido bastante utilizada nos protestos ao redor do mundo através de cartazes, fantasias, personagens, músicas e intervenções urbanas. O intuito da discussão não contempla a questão de qual a função da arte e do que pode ser considerado arte, pois isto é um assunto complexo que requer um longo debate. Tem se por objetivo recorrer aqui ao poder da arte de criticar e transformar aspectos sociais. As TICs são agrupadas nesta discussão, pois facilitam a criação e disseminação de conteúdo através de uma nova rede de informação em contraposição a uma época em que a produção se encontrava na mão das grandes corporações. Sobre os pensadores desta nova ordem da informação: a cibercultura, Francisco Rudiger os divide em três tipos: os tecnófilos que possuem uma visão bem otimista da influência da tecnologia, os conservadores midiáticos que acreditam que a produção na mão de qualquer um não garante que seja algo de favorável a humanidade uma vez que não há garantia da qualidade do que é produzido, e os cibercriticistas que apontam que não podemos pensar a as influências da tecnologia fora do sistema econômico do qual estamos inseridos que interfere em sua produção. Estas divisões favorecem o pensamento sobre as mudanças acarretadas pelas novas tecnologias. Os principais objetivos do trabalho são: identificar as influências na sociedade das produções artísticas a respeito dos movimentos sociais disseminadas pelas novas tecnologias; explorar o processo e consequências do surgimento de canais alternativos de distribuição de informação; explorar o alcance das produções artísticas e audiovisuais dos movimentos sociais na era digital; analisar as potencialidades das novas tecnologias de informação e comunicação em convocar participantes de movimentos sociais Para o embasamento da questão em discussão foi necessário realizar uma pesquisa bibliográfica de pensadores que trabalham o impacto da tecnologia no cotidiano. Dentre os autores citados, cabe ressaltar os nomes de Don Tapscott, Clay Shirky, Manuel Castells. Além disso foi realizado um levantamento do número de canais classificados como mídias alternativas, e uma análise gráfica do número de acesso e a procura destes meios através de mecanismos de buscas da internet. Muitos autores apontam as transformações que as novas tecnologias estão causando na forma como relacionamos com o mundo em diversas esferas, e a reflexão sobre os usos sociais da tecnologia se torna muito relevante. O número de expressões artísticas que destacam aspectos que precisam ser repensados na nossa sociedade cresceu, atingido uma maior visibilidade graça aos avanços tecnológicos, que também foram fundamentais na organização e repercussão dos movimentos sociais deste século. Palavras-chave: Cibercultura, Movimentos Sociais, Mídias Alternativas 110 111 8. PRÁXIS POLÍTICA: APROXIMAÇÕES PSICOPOLÍTICAS ENTRE VIGOTSKI E GRAMSCI. Leandro Amorim Rosa Centro Universitário Unifafibe / Imes – Catanduva [email protected] Ana Paula Soares da Silva Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP [email protected] Os fenômenos relacionados ao comportamento político tem recebido significativa contribuição dos estudos situados no campo de intersecção entre a Psicologia e a Política. Entre os principais temas abordados nesse campo interdisciplinar está a participação política. A pesquisa que resultou no presente trabalho teve como foco de interesse compreender a participação política partindo das perspectivas dos sujeitos e das tensões por eles vivenciadas. Objetivou-se a partir do referencial vigotskiano, em articulação com a teoria gramsciana, estudar os sentidos e os significados atribuídos à participação política por sujeitos do setor de educação de um assentamento rural vinculado ao MST. A práxis política, ação objetiva que visa a intervenção no homem enquanto ser social – em suas relações políticas, econômicas e sociais -, é a categoria central do trabalho. Ela é entendida aqui como imersa em uma realidade social e política gramsciana e orientada a partir de uma subjetividade vigotskiana. Segundo o referencial aqui adotado, a constituição do sujeito é perpassada a todo o momento pelas relações sociais nas quais ele está inserido, ou seja, as tensões presentes no campo social e econômico também se manifestam no campo da subjetividade, na organização do seu drama subjetivo. Participaram da pesquisa quatro sujeitos adultos. Foram priorizados como participantes os envolvidos com as atividades de educação de crianças e jovens no assentamento. O corpus empírico foi construído por meio de duas entrevistas semiestruturadas individuais com cada participante e observações de atividades que envolviam o setor de educação do assentamento. As informações obtidas por esses dois instrumentos foram articuladas durante a análise. A análise foi elaborada a partir da construção de categorias baseadas nas entrevistas e nos referenciais teóricos. Foram realizadas análises individuais e uma análise transversal com o intuito de abordar elementos comuns aos quatro sujeitos. Os principais conceitos que orientaram o olhar para o corpus empírico foram: práxis política, sentido, drama e senso comum. Evidencia-se que a práxis política deve ser entendida como um processo em constante movimento e transformação relacionado a dimensões diversas: gerais e específicas; objetivas e subjetivas; cognitivas e afetivas. Além disso, o entendimento da práxis política não pode se limitar somente à participação no movimento social, mas deve abranger vivências nos diferentes campos da vida dos sujeitos: família, religião, trabalho, etc. Os papéis desempenhados nesses diferentes campos se entrelaçam com o papel de militante. Os sujeitos demonstram passar por contínuos processos de mudança relacionados à práxis política. Destacam-se aqui mudanças ligadas aos seus sentidos, aos seus dramas subjetivos e ao senso comum. Tais mudanças são apenas possíveis a partir das contradições e potenciais críticos presentes na própria subjetividade dos participantes e, em especial, em seu senso comum, o qual deve ser entendido como profundamente polissêmico e polimórfico. Por fim, defende-se a importância de se entender a práxis política dos sujeitos enquanto processo concreto sempre manifestado a partir de um contexto específico e um projeto/objetivo determinado. Palavras chave: Participação política; MST; subjetividade; práxis. 111 112 9. OS PROTESTOS DE RUA EM 2013 NO BRASIL André de Melo Santos Universidade Federal de Goiás [email protected] No mês de junho ocorreram protestos que há muito tempo estavam ausentes da cena política brasileira. Desde o fora Collor em 1992 não ocorreu uma mobilização popular de tal dimensão. Começou com o Movimento Passe Livre chamando uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus e terminou com grandes manifestações em todo o país reivindicando além da revogação do aumento, fim da corrupção, fim da violência policial, mais democracia entre outras. Estas manifestações trouxeram à tona questões que são recorrentes na sociedade capitalista, à luta de classes, o papel classista e repressivo do Estado como plano de fundo desses eventos. Com base no referencial teórico marxista analisaremos os protestos como expressão das contradições do capitalismo e, partindo da totalidade das relações sociais tentar elaborar explicações para o que motivou estes protestos e quais as consequências que estes terão na sociedade brasileira. O Estado no capitalismo não é neutro e nem a democracia representativa é um governo do povo. Como disse Marx o Estado capitalista é caracterizado pela hegemonia da burguesia e, a democracia é a forma como aparentemente é permitido à participação de todas as classes no processo decisório. Embora os mecanismos criados por esta democracia limitem a participação das classes exploradas e consequentemente as impede de alcançar o poder ou terem seus interesses atendidos pelos governos. O desenvolvimento capitalista, baseado na extração do mais-valor, gera segundo Marx (1978) crises, por exemplo, como observamos em 1929 e 1973. Segundo Viana (2009) o capitalismo passa por fases que cada uma é denominado regime de acumulação que se caracterizam por uma forma de organização do trabalho, uma forma estatal e uma forma de exploração internacional. Cada regime de acumulação expressa à luta de classes com a supremacia da burguesia, quando as lutas se acirram, instaura a crise. Neste contexto, percebemos as manifestações no Brasil como um sintoma da crise do regime de acumulação, aliás, que a mídia diz que vem desde 2008. Também do regime de acumulação vigente atualmente, o integral, que baseado na reestruturação produtiva, neoimperialismo e neoliberalismo, acirraram o conflito entre as classes, favorecendo a concentração de renda para a burguesia e, ao mesmo tempo aumentando a pobreza entre as classes exploradas. As reivindicações que estavam nas bandeiras deixam claro que o Estado serve aos interesses do capital, enquanto a maioria da população vive em condições desfavoráveis e sem perspectiva de melhorar. As manifestações mostraram os limites da democracia burguesa, representada na recusa dos partidos políticos. É certo que as contradições estão aumentando e, diante de uma impossibilidade de solução pela via democrática que possibilidades temos neste cenário? Basicamente temos do ponto de vista da burguesia um Estado autoritário, como na ditadura militar, ou do ponto dos trabalhadores, um processo de acirramento das lutas contra a burguesia que pode gerar uma transformação social. Palavras-chave: Protestos, capitalismo, regimes de acumulação. 112 113 10. INTERESSES E RACIONALIZAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS Nildo Viana Universidade Federal de Goiás [email protected] Os movimentos sociais são temas de pesquisas e análises de diversas orientações teóricometodológicas. Algumas análises dos movimentos sociais focalizaram o caráter “irracional” das mobilizações de massas, enquanto que outros enfatizaram a questão das “escolhas racionais”. Ainda existiram aqueles que focalizavam um desses aspectos e admitiam e atribuíamum certo papel ao outro. Contudo, a análise dos movimentos sociais ainda carece de uma teoria da cultura e dos processos psíquicos presentes em sua dinâmica e história. As análises de Marx a respeito dos interesses de classes, das representações ilusórias e da ideologia são aspectos importantes e fundamentais para se pensar os movimentos sociais. Da mesma forma, as análises de Sigmund Freud sobre o inconsciente e os processos psíquicos, especialmente a racionalização, são importantes para tal reflexão. Por último, as contribuições da sociologia da cultura e da psicologia social permitem avançar em outros elementos, como análise dos valores, representações cotidianas, formação de opinião, e outros processos culturais, que são importantes para repensar os movimentos sociais. A partir deste conjunto de contribuições é possível pensar que além das determinações sociais e das lutas políticas que envolvem ação estatal, luta de classes, etc., há também uma dinâmica cultural que é importante compreender para analisar os movimentos sociais. Nesse sentido, destacamos dois conceitos fundamentais para tal reflexão sobre os movimentos sociais: interesses e racionalização. O conceito de interesses retoma a contribuição de Karl Marx, que focaliza em suas análises os interesses de classes, mas em alguns momentos de sua obra avança para além do caso das classes sociais, entrando até para os casos individuais. Apesar de usar o termo, ele não desenvolveu uma teoria dos interesses e por isso é necessário desenvolver e aprofundar a reflexão sobre os mesmos, inclusive levando em consideração outras contribuições. No caso da análise dos movimentos sociais, o importante é entender como existem diversas formas de interesses, fundados em necessidades existentes no interior de determinadas relações sociais, e como eles são propulsores de ações e justificativas destas, mesmo se ocultando atrás de ideologias e racionalizações. Nesse sentido, a psicanálise freudiana contribui no sentido de explicitar o processo de racionalização, no qual os indivíduos buscam dar explicações racionais para suas ações e emoções. Desta forma, a análise dos movimentos sociais ganha maior complexidade, pois não se trata apenas entender os discursos, justificativas e declarações dos agentes dos movimentos sociais e sim observar quais são suas necessidades, interesses, valores e o processo de justificativa e racionalização por detrás deles. Isso, sem dúvida, aponta para retomar tanto as discussões sobre a manifestação do “irracional” quanto as concepções das “escolhas racionais”, pois, no fundo, na dinâmica dos movimentos sociais, tanto elementos inconscientes, sentimentais ou “não-racionais”, quanto elementos considerados “racionais”, tal como projetos políticos, ideologias, cálculo mercantil e valores culturais, estão presentes. No entanto, essa presença e seus componentes e elementos preponderantes variam de acordo com a época, lugar, grupo social, valores dominantes, conjuntura social e política, etc. A conclusão geral é a de que tal reflexão é fundamental para uma teoria dos movimentos sociais. Palavras-Chave: Interesses, Racionalização, Movimentos Sociais, Psicanálise, Marxismo. 113 114 11. REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS DO PROCESSO ELEITORAL Nildo Viana Universidade Federal de Goias [email protected] Maria Angelica Peixoto Instituto Federal de Educaçao - IFG [email protected] As manifestações populares do ano passado promoveram algumas interpretações que colocaram a existência de uma crise de legitimidade do estado capitalista e da democracia representativa. Nesse sentido, uma pesquisa sobre representações cotidianas do processo eleitoral assume grande importância, pois permite conferir junto aos entrevistados se essa crise de legitimidade pode ser vista em alguns casos. A análise das representações cotidianas permite pensar a crise de legitimidade do Estado capitalista e representações cotidianas no sentido de entender as convicções dos indivíduos em relação ao processo eleitoral através do uso da entrevista interpretativa. A teoria das representações cotidianas parte da distinção entre as convicções e as o e opiniões, entendendo o caráter arraigado do primeiro e volúvel das últimas. Buscando descobrir os valores fundamentais, os sentimentos mais profundos e as concepções mais arraigadas dos indivíduos, aliados com informações sobre representações, é possível ter uma percepção mais completa e profunda das convicções. A entrevista interpretativa parte de um conjunto de questões referentes ao indivíduo para saber de sua história de vida, valores mais fundamentais, formação, entre outros aspectos, o que permite analisar de forma mais profunda as suas representações cotidianas e, assim, entender sua posição diante do processo eleitoral. O objetivo geral é descobrir se as representações cotidianas do grupo estudado reforçam a hipótese de uma crise de legitimidade do estado capitalista e democracia representativa. Os objetivos específicos buscam descobrir as representações cotidianas do processo eleitoral, quais as convicções a este respeito e se o mundo das opiniões é predominante ou não. O procedimento utilizado foi a entrevista interpretativa, através do uso de informações pessoais, biográficas, culturais, representacionais e semiconscientes, no sentido de compreender a posição dos entrevistados sobre o processo eleitoral. Os participantes da pesquisa foram 10 eleitores escolhidos aleatoriamente via pesquisa através da internet. A pesquisa com representações cotidianas é realizada com poucas pessoas devido à sua extensão e profundidade, sem identificação dos indivíduos entrevistados. Os entrevistados foram informados que sua identidade não seria revelada e que qualquer prejuízo possível seria assumido pelos pesquisadores que deixaram seus contatos para os mesmos. Os resultados apontam para a conclusão de que a maior parte dos entrevistados que, certamente, representa a maior parte da população está desiludida com o processo eleitoral, sendo que as razões apontadas são: a corrupção, o não atendimento das demandas e promessas, etc. Apenas para alguns, a razão é o vínculo das eleições com o capitalismo. Uma parte minoritária ainda acredita no regime eleitoral, sendo aqueles sujeitos que possuem uma concepção mais tradicional e conservadora. 114 115 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL 1. RELAÇÕES DE GÊNERO E CLASSE NO CONTEXTO DA PROSTITUIÇÃO DE RUA DE SOROCABA- SP Mariana Luciano Afonso UFSCar, [email protected] Rosemeire Aparecida Scopinho UFSCar, [email protected] O presente trabalho trata-se de um recorte de uma pesquisa de mestrado finalizada em agosto de 2014, cujo tema geral foi a prostituição. Neste trabalho apresentamos as perspectivas de gênero e classe no contexto da prostituição de rua (baixo meretrício) da cidade de Sorocaba – SP. A prostituição, conhecida pelo senso comum como a “mais antiga profissão do mundo”, sempre foi envolta por muita polêmica, tanto nacional como internacionalmente. Historicamente, os Estados encontram-se divididos entre sua proibição ou regulamentação. Durante os últimos 30 anos o comércio sexual cresceu e diversificou-se rapidamente, configurando-se como uma indústria que faz circular bilhões de dólares. A maioria das prostitutas, no entanto, tem vivido em uma realidade de culpabilização, criminalização, exclusão social e invisibilidade, com sua atividade ocorrendo em um meio de risco devido à exposição à violência, álcool, drogas e doenças, deixandoas em uma situação de vulnerabilidade social. Na realização de revisão bibliográfica, verificou-se escassez de estudos sobre a temática na Psicologia como um todo, em contraposição à sua abundância na área da saúde, principalmente quando relacionados à DSTs, o que parece refletir a forma como socialmente a prostituição tem sido tratada: ela existe há cerca de cinco mil anos, na maior parte desse período foi invisibilizada, e seu debate veio à tona nos momentos em que surgiram e disseminaram-se doenças venéreas (a princípio sífilis, e depois AIDS), sendo as prostitutas ainda vistas mais como transmissoras em potencial, do que como sujeitos em sua integralidade. Faz-se relevante, portanto, a realização de estudos na área da Psicologia, em especial da Psicologia Política, sobre a temática. O objetivo deste trabalho é apresentar a forma como se dão as relações de gênero e classe no contexto da prostituição de rua da região central da cidade de Sorocaba. O método utilizado baseou-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa, consistindo em observações diretas com frequência semanal a quinzenal ao longo de dois anos, com posterior registro em diário de campo, e realização de entrevistas semi-estruturadas com sete prostitutas, número definido pelo critério de saturação. As análises das informações obtidas por estas diferentes fontes possibilitaram verificar que as relações de gênero se expressam nos fatos de a imensa maioria das pessoas em situação de prostituição naquele contexto serem mulheres – são cerca de 70 mulheres, seis travestis e cinco homens -, enquanto a quase totalidade dos clientes são homens; no fato de que todas as entrevistadas ingressaram na prostituição depois de divorciarem-se e não recebem pensão ou qualquer auxílio dos ex-maridos; e nas violências de gênero a que estão submetidas no universo da prostituição. As relações de classe, por sua vez, foram um forte determinante para a inserção e permanência dessas mulheres na prostituição. No contexto de reestruturação produtiva do capital, aumento do desemprego e da precarização do mundo do trabalho, essas mulheres, oriundas de famílias pobres, que tiveram acesso restrito à educação e uma trajetória profissional marcada pela precarização, ao depararem-se com o desemprego e a necessidade de criarem, sozinhas, os filhos, inseriram-se e permanecem na prostituição como uma estratégia de sobrevivência. Palavras-chave: Prostituição, gênero, classe social, trajetórias de trabalho, psicologia política. 115 116 2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA IGREJA, DA POLÍCIA E DA ONG SOBRE PROSTITUIÇÃO E AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS PROSTITUTAS Mariana Luciano Afonso UFSCar, [email protected] Rosemeire Aparecida Scopinho UFSCar, [email protected] Este trabalho trata-se de um recorte de uma pesquisa de mestrado finalizada em 2014, cujo tema geral foi prostituição. Neste trabalhoapresentamos os discursos e ações políticas de três importantes instituições da cidade Sorocaba (SP), inseridas no contexto da prostituição de rua do centro da cidade, possuindo contato muito próximo com as prostitutas: O Conselho de Segurança (CONSEG – Centro), formado por comerciantes e pela polícia militar; uma ala da Igreja Católica, a Aliança da Misericórdia; e uma Organização Não Governamental (ONG), a Associação Pode Crer. A prostituição sempre foi envolta por muita polêmica, tanto nacional como internacionalmente. De modo que, historicamente, os Estados encontram-se divididos entre sua proibição ou regulamentação.Na década de 1980, com o advento da AIDS, houve maior repressão à prostituição. Algumas prostitutas começaram a se organizar em defesa de seus direitos. De 1997 à 2012 foram propostos no Brasil quatro diferentes Projetos de Lei pela regulamentação da atividade, o último é o PL 4211/2012, de autoria do deputado Jean Wylys (PSOL), e encontra-se em tramitação. Até o momento presente, há uma disputa ideológica muito intensa acerca das concepções sobre os significados da prostituição e de quais medidas devem ser tomadas pelo poder público em relação a ela. Faz-se relevante a realização de pesquisas que possam contribuir com este debate. Os objetivosdeste trabalho são: Apresentar as representações sociais das instituições investigadas sobre a prostituição e sua regulamentação; Apresentar as ações políticas dessas instituições dirigidas às prostitutas; Ediscutir as políticas públicas dirigidas às prostitutas de Sorocaba.Com base no referencial da Teoria das Representações Sociais, foram realizadas entrevistas semiestruturadascom seis representantes das instituições; observação direta nelas e nas ruas onde há prostituição, análise de documentos e textos produzidos pelas instituições e revisão bibliográfica. A análise das informações obtidas por essas diferentes fontes possibilitou verificar que, para o CONSEG – Centro, a prostituição é considerada produto da degradação dos valores familiares, sua regulamentação é vista positivamente, pois entende que ela seria isolada em zonas de meretrício e suas ações consistem em incentivar repressão policial às prostitutas, para expulsá-las do centro. Para a Aliança da Misericórdia, a prostituição é considerada fruto do livre arbítrio, a instituição é contrária à regulamentação pois acredita que ela incentivaria a proliferação da atividade e suas ações consistem em convidar prostitutas a passarem um ano “servindo à Deus” ao lado da Aliança, posteriormente incentivando-as a outros trabalhos. Para a Associação Pode Crer, a prostituição é considerada um misto de escolhas individuais com condições sociais desfavoráveis, é a favor da regulamentação, pois entende que ela melhoraria as condições de trabalho das prostitutas e suas ações consistem na distribuição de preservativos e insumos para esta população. Constatou-se, portanto, que o único tipo de política pública que chega às prostitutas daquela região é terceirizada, consistindo na distribuição de preservativos pela ONG, através da política de redução de danos. Esta política tem seu valor, pois favorece a sobrevivência dessa população, mas não é suficiente, pois não possibilita uma inclusão social real, apenas uma inclusão precária e marginal. Palavras-chave: Prostituição, políticas públicas, instituições, representações sociais, inclusão social. 116 117 3. POLÍTICAS PÚBLICAS LGBT EM MATO GROSSO: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS Henrique Araujo Aragusuku Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] Moisés Lopes Universidade Federal de Mato Gosso [email protected] Este trabalho é parte de uma pesquisa de iniciação científica (PIBIC) em andamento, que tem como tema central o mapeamento e a análise das políticas públicas para a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis) no Estado de Mato Grosso e seus municípios. Vimos, nas últimas décadas, a abertura para a implementação de políticas de combate a homofobia e promoção de direitos para a população LGBT, em diversos países do mundo, a partir de leis de combate a discriminação homofóbica, campanhas governamentais, conquista do direito ao casamento homoafetivo e direito a adoção. No Brasil, a temática ganha atenção governamental a partir da publicação do Plano Nacional de Direitos Humanos 2 (2002) e do Programa Brasil Sem Homofobia (2004). Foram também realizadas duas conferências nacionais LGBT (2008 e 20 11), a publicação do Plano Nacional LGBT (2009), a criação do Conselho Nacional LGBT (2010) e por último a publicação do Sistema Nacional LGBT (2013). Apesar dos avanços nos últimos anos, houve diversas dificuldades na implementação e execução das políticas previstas, além de recuos do Poder Executivo, em um contexto de avanço das bancadas conservadoras e cristãs no Legislativo. Temos como exemplo o debate em torno da PL da “cura gay”, que visa sustar partes da Resolução nº1/99 do Conselho Federal Psicologia, que vedam a patologização das homossexualidades, e o enterramento da PLC 122, que criminaliza a homofobia. Existem atualmente poucas pesquisas que levantam a temática LGBT em Mato Grosso e não existe um levantamento geral das políticas LGBT que perpassam a esfera pública (projetos de lei, decretos, resoluções, planos). O mapeamento de tais políticas foi realizado inicialmente a partir de portais virtuais de notícias de Mato Grosso, por conta da escassez bibliográfica, tendo como finalidade a construção um breve histórico. A partir disso foram buscados os documentos oficiais – como decretos, portarias, projetos de lei, relatórios e planos. Posteriormente (neste momento em fase de andamento) foram realizados contatos com os atores sociais envolvidos na implementação de tais políticas, como gestores e militantes do movimento LGBT. Sobre as políticas públicas LGBT em Mato Grosso, tivemos como marco o Centro de Referência de Combate a Homofobia, que funcionou até 2011 neste formato, se tornando um Centro de Referência em Direitos Humanos. Há a aprovação de diversas leis em municípios, porém os projetos de leis em âmbito estadual foram barrados na Assembleia Legislativa. As Conferências Estaduais LGBT (2008 e 2011) foram importantes marcos de formulação de políticas para o Estado. Por fim, tivemos a implementação do Grupo Estadual de Combate a Homofobia em 2012 e a criação do Conselho Municipal LGBT de Cuiabá, no início deste ano. A análise se faz problematizando o papel do Estado na sociedade capitalista e das políticas públicas e sociais, analisando também suas transformações a partir das reformas neoliberais. É também levantada a história do movimento LGBT em Mato Grosso e de suas organizações, protagonistas na luta por direitos LGBT e pelo fim da homofobia e da heteronormatividade. 117 118 4. SEXUALIDADE E ESQUIZOANÁLISE Eduardo Sousa Machado Arantes Universidade Federal de Goiás [email protected] Domenico Uhng Hur Universidade Federal de Goiás [email protected] O objetivo deste trabalho foi investigar os discursos adotados por pesquisadores nacionais sobre a sexualidade, que tiveram como base teórica a Esquizoanálise. Analisamos prioritariamente a relação entre sexualidade e identidade, buscando identificar quais contribuições estes discursos apresentam mediante o modelo binário sexual, ou seja, analisamos a relação entre sexualidade e identidade encontrada nestes discursos, além da relação entre sexualidade, identidade e controle social. Como metodologia optamos por realizar uma revisão bibliográfica nas bases de dados scielo, pepsic, portal de periódicos da capes e google acadêmico, utilizando as palavras-chave sexualidade e esquizoanálise; sexualidade e deleuze; sexualidade e guattari. Após leitura integral do material encontrado ficamos com 16 artigos que faziam uma discussão sobre sexualidade e identidade, segundo a Esquizoanálise. Na maioria dos artigos a sexualidade foi apresentada enquanto uma energia que pode ser moldada, mas que por sua vez possui um potencial criador que contribui para que haja uma fuga dos moldes estabelecidos pela sociedade. Entendemos que todas as expressões da sexualidade são de alguma forma moldadas pela sociedade, porém encontramos no material investigado a crítica apenas à imposição do modelo binário sexual, onde a heterossexualidade é apresentada como um modelo a ser seguido, ajudando a manter certo padrão na sociedade. O controle sobre a sexualidade contribui para a formação de uma identidade moldada partindo de interesses políticos e econômicos, sendo essa a relação estabelecida entre sexualidade e identidade encontrada nos textos. As formas de expressão da sexualidade que fogem ao modelo binário apareceram enquanto algo positivo que veio para questionar esse modelo, constituindo-se enquanto uma linha de fuga que permite novas interações, podendo ainda levar a mudanças na estrutura social. Entre as sexualidades expressivas dessa fuga, estão as sexualidades trans e a expressão queer, sendo que a primeira é relevante por ser basicamente a presença dos dois gêneros (masculino e feminino) no mesmo corpo, rompendo com a lógica binária; e o segundo sendo relevante por ser uma crítica a toda forma de classificação sexual. Não encontramos diferenças consideráveis nos discursos sobre sexualidade e identidade, o que pode mostrar consistência teórica. Entretanto, observamos uma carência na efetivação desses discursos, que poderia vir por meio de mais estudos empíricos comprovando a possibilidade de um estilo de vida mais vibrátil. 118 119 5. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES E VIOLÊNCIA DE GÊNERO É PROBLEMA DE QUEM? Isabel Cristina Gonçalves Bernardes PUC-SP [email protected] As questões referentes às demandas das mulheres têm ganhado espaço entre o público comum (por meio da circulação de reportagens em diversas mídia) e o universo acadêmico (por meio de pesquisas, grupos de estudos, núcleos, etc). No entanto, ainda se percebe uma segregação e invisibilização do assunto em diversos espaços que, entendemos, deveriam discuti-lo. Durante séculos o conhecimento formal foi acessível e produzido por homens, de modo que se constituiu uma hierarquização e priorização dos assuntos que deveriam ser tratados que excluíam as mulheres, bem como as questões pautadas por elas. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho e nos espaços acadêmicos, passam a ser estudados temas do interesse dessa população, de modo que novos pontos de vista se constroem a respeito de temas desenvolvidos anteriormente por apenas uma “verdade”, bem como outros, que não eram considerados problemas dignos de receberem atenção. Além disso, o próprio paradigma de ciência passa a ser posto em cheque, já que, por ter sido construído por e para homens, intrinsecamente exclui as mulheres e considera inadequados à pesquisa diversos assuntos e pontos de vista que aparecem somente sob a ótica dessas agentes de produção de conhecimento. Este trabalho foi produzido a partir de instrumentos muito básicos da pesquisa científica: a observação e a reflexão. Para esclarecimento, cumpre informar que no primeiro semestre do corrente ano a autora iniciou pesquisa de mestrado a respeito da questão do atendimento da mulher em situação de violência, de modo que muitas leituras e elaborações (inclusive a própria apresentação a que fazemos referência no presente trabalho) foram realizadas para fundamentá-la. O interesse por tal estudo adveio da observação pela autora, ao longo da experiência de trabalho na Defensoria Pública do Estado, de deficiências no atendimento desse público em diversas instâncias que deveriam realizá-lo, tanto jurídicas quanto policiais. A partir, portanto, desse conhecimento prévio, e diante da observação dessa mesma negligência pela academia, manifesta na omissão do tema em evento acadêmico que pretendia discutir temas afetos (Segurança Pública e Direitos Humanos), ficaram facilitados a reflexão e o questionamento concretizados no presente trabalho. Por meio da visibilização da questão, pretendemos trazer essa discussão para a seara da Psicologia Política, buscando formas de superar a minimização de sua importância da recorrente consideração de que, por tratar-se de “tema específico”, não seria pertinente aos que não se percebem implicados nele. A ocupação de espaços “genéricos” é fundamental para que temas como violência contra as mulheres deixem de ser discutidos apenas entre aquelas/es que os pesquisam e passem a ser tratados como o que verdadeiramente são, qual seja, assunto de todos. Palavras-chave: mulheres, direitos humanos, academia 119 120 6. EROS ADMINISTRADO: A RACIONALIDADE TECNOLÓGICA E O DIRECIONAMENTO DAS PULSÕES SEXUAIS EM HERBERT MARCUSE Hugo Leonnardo Cassimiro Universidade Federal de Goiás - PPGE [email protected] Este trabalho versa sobre a interpretação de Herbert Marcuse acerca da articulação entre vínculo erótico e vínculo do trabalho. É parte da pesquisa de doutorado em educação A educação do sexo: direcionamento/enquadramento da escolha de objeto amoroso na cena do capital. Concentrase nos textos Eros e Civilização: uma interpretação filosófica de Freud e A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Dentre os teóricos que se propuseram uma articulação entre Karl Marx e Sigmund Freud, Herbert Marcuse é um dos que mais atenção destinou acerca dessa articulação entre os vínculos do trabalho tal qual pensados por Marx e os vínculos eróticos tal qual pensados por Freud. Para Marcuse, a Civilização Industrial Avançada ampliou e intensificou os controles sobre a vida como um todo. A racionalidade tecnológica instituída desde a produção afeta e sustenta a administração da vida também erótica, das pulsões sexuais. Se a Civilização ou a Cultura necessitava reprimir tais pulsões, na sua fase industrial desenvolvida, a lógica da dominação tecnológica permite uma liberação controlada da sexualidade. Entretanto, essa liberação não rompe a lógica do domínio total e totalitário. Mantém-se a sexualidade sob direção, enquadrada nos interesses da produção e circulação de mercadorias. Independente do objeto amoroso de um sujeito, que com as lutas sociais de sexo via organizações de gays, lésbicas, transexuais, travestis e feministas se tornam os mais diversos, a relação dos sujeitos com o objeto de amor é perpassado pela instrumentalização, operacionalismo, coisificação. Há uma promoção de uma atividade sexual ou genital intensa, ritmada e objetificadora que, concomitantemente, serve como desvio da energia erótica; serve ao esgotamento da vida erótica nessa forma hipergenitalizada direcionada pela industrial cultural. A promoção da experiência sexual intensa, mas sob controle, diminui a tensão entre princípio de realidade e princípio de prazer. O que contrasta com a primeira fase da industrialização e a cultura da era vitoriada na qual a moral exigia repressão da sexualidade. As próprias mercadorias são revestidas e investidas de características sexuais e eróticas e a indústria cultural cria imagens que vendem modelos de identificação conforme tal lógica da administração tecnológica e sua captura da vida erótica. Esta captura serve para a contenção da revolta, da recusa e da contradição de uma sociedade que mantém-se organizada para a dominação. Palavras-chave: sexualidade, racionalidade tecnológica, sociedade administrada, Eros. 120 121 7. GRANDE OUTRO | OBJETO (a)MOROSO: O ENQUADRAMENTO DO OBJETO AMOROSO NA CENA DO OUTRO Hugo Leonnardo Cassimiro Universidade Federal de Goiás – PPGE [email protected] Este trabalho é parte de uma pesquisa sobre a escolha de objeto amoroso na psicanálise. A partir d’O Seminário 10 – A Angústia (LACAN, 1962-63), elaborei formulações sobre o enquadramento, na cena do grande Outro, da escolha de objeto amoroso. A relação do sujeito com o objeto de seu desejo nessa cena é o que o embaraça. O enquadramento do objeto amoroso é na verdade o enquadramento do sujeito sobre sua imagem virtual de a. investe-se nessa imagem fixando algumas identificações com determinados objetos. A cena do Outro é o lugar em que essa fixação, esse fetiche em determinado objeto é constituída. Escolha de objeto amoroso implica todo um universo de estudos nos quais podemos tropeçar por meios de categorias como sexualidade, erotismo e gênero. A escolha de objeto amoroso remete à discussão da categorização sexual conforme teorizadas por Anne-Marie Devreux. As lutas sociais de sexo produzem identificações e estranhamentos entre sujeitos de acordo com o objeto amoroso com o qual, geralmente, este mais de identifica como objeto de seu desejo. Assim, temos heterossexuais, bissexuais, homossexuais, transexuais, travestis etc. Numa linguagem cotidiana: veados, vadias, bichas, travecos, boiolas, sapatão, lésbica etc. Nas nove primeiras lições d’O Seminário 10 de Lacan, a escolha de objeto remete à relação do sujeito com o objeto de seu desejo, a relação do sujeito com a, o objeto causa do desejo. O que o sujeito faz com o próprio desejo na cena do Outro é que é embaraçoso. O investimento na imagem especular, em reforça-la, afasta o sujeito de seu desejo. A imagem especular cerca o objeto, causa do desejo, com o qual o sujeito ama. Os objetos comuns com os quais o sujeito tenta tamponar a falta nem sempre são autenticados na cena do Outro. Lacan, no Seminário 10, volta a dois casos analisados por Freud para tratar de dois elementos do quadro da angústia: passagem ao ato e acting out. Ambos dão elementos para se pensar o embaraço do sujeito com seu desejo. Diante da absolutização do falo que a jovem homossexual revela diante da impossibilidade do amor ao pai, ela salta da cena pela não autenticação do representante do Outro, o próprio pai. O destino que ela deu à sua falta não pode encontrar objeto comum. A relação dela com os objetos estava perpassada pelo desejo de encontrar um e fixa-lo. A fixação em um objeto comum como objeto do desejo. A cena do Outro é uma ficção que tem efeito para o sujeito, por isso tanto embaraço. O sujeito se constitui na relação com o Outro. Por meio da questão sobre o que o Outro quer do lugar de sujeito. Contudo, o Outro também é furado, mas pode ser tomado como absoluto pelo sujeito. Diante da questão do Outro, investe-se numa imagem especular cada vez mais rija. A imagem especular, com os objetos comuns que são identificados a ela, seria parte desse processo de escolha de objeto amoroso e de categorização social. Palavras-chave: objeto amoroso, grande Outro, enquadramento, sexualidade. 121 122 8. EXPERIÊNCIAS IDENTITÁRIAS DIVERSAS, PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO E PSICOLOGIA POLÍTICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS NO JUDICIÁRIO Maria Luiza Rovaris Cidade Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] O presente trabalho, vinculado à minha pesquisa de mestrado no Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, parte da necessidade de reflexão sobre verdades, saberes e práticas psicológicas no contexto de processos de criminalização a experiências identitárias relacionadas ao gênero. O objetivo principal é estabelecer uma discussão inicial a respeito da intersecção entre processos de criminalização das experiências trans* e uma crítica à Psicologia enquanto saberes e práticas no campo jurídico, no contexto do estado do Rio de Janeiro. A análise parte da articulação entre elementos que surgem a partir de uma análise cartográfica de nove processos concluídos de retificação de registro civil (nome e sexo) de pessoas trans* no contexto do judiciário fluminense. Tais processos, datados de 2005 a 2012, foram obtidos através de uma busca a partir das categorias “transexualidade”, “transexual”, “transexualismo”, “retificação do nome”, “mudança de nome” e “mudança de sexo” no site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. São os únicos disponíveis a consulta no site por não estarem em condição de sigilo. A partir disso, articula-se a discussão com as noções foucaultianas de racionalidade política moderna e da produção da noção de indivíduo enquanto status jurídico, em relação com os processos de criminalização que incidem sobre experiências diversas da normatividade, numa discussão crítica em criminologia. A partir da aproximação metodológica com a cartografia no contato com tais experiências, processos e narratividades, convocamos uma análise do dispositivo da transexualidade, que se apresenta enquanto elemento potente para análise já que, em contrapartida às normativas identitárias binárias postas socialmente como possibilidades legitimadas pelo saber técnico jurídico, as experiências trans* persistem se reivindicar enquanto possibilidades de vida. A partir de uma análise inicial, pudemos elencar os seguintes analisadores que nos auxiliam a refletir sobre a questão: 1) a judicialização da vida; 2) a patologização das identidades trans* e, por fim, 3) a produção de verdades sobre as experiências identitárias por parte de especialistas. A judicialização da vida correspondente à expansão dos poderes judiciários como instância decisória dos conflitos da vida cotidiana. A patologização das identidades trans* se dá como condição essencial às decisões jurídicas no campo da transexualidade. E, por fim, com ênfase no trabalho em questão, a produção de verdades enunciadas por especialistas, dentre eles o campo da Psicologia, no que diz respeito às identidades diversas. Nesse sentido, percebeuse que as práticas psicológicas podem corroborar para a afirmação de verdades técnicas e objetivas sobre a transexualidade, aliando-se aos processos de judicialização da vida e patologização das identidades trans*. Há processos relacionados a práticas e movimentos sociais protagonizados por pessoas trans* que reivindicam possibilidades de existência, questionam a criminalização que incide sobre seus corpos e experiências, indicando a urgência do protagonismo dessas pessoas no que diz respeito às instâncias decisórias sobre suas vidas. Esses processos nos indicam a necessidade de uma reflexão ética sobre as práticas psicológicas e de uma crítica a respeito de nossos saberes e afirmações de verdades, pautadas em uma análise complexa da realidade social. Palavras-Chave: Transexualidade; Processos de Criminalização; Judicialização; Psicologia. 122 123 9. TRAJETÓRIA POLÍTICA DOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS SOBRE A SEXUALIDADE Polianne Delmondeze & Mariana Monção de Lima Universidade de Brasília [email protected] Este trabalho suscita discussões sobre a Psicologia como dispositivo de resistência, principalmente no que diz respeito aos recentes debates políticos ocorridos no Brasilacerca da diversidade sexual. Nesse sentido, mediante um recorte histórico, tem-se o interesse de discorrer sobre a trajetória em que a Psicologia tem se constituído discursivamente como saber estratégico ante propostas de patologização da experiência homo e transexual. Vivemos num período de transição social, política e cultural que gera efeitos sobre o modo como passamos a conceber as nossas identidades. Consequentemente, é possível dizer que em nosso cenário contemporâneo há transformações nos regimes de subjetivação existentes. Tais mudanças proporcionam o surgimento de novos grupos sociais que se articulam politicamente e demandam direitos em conformidade com essas transformações. A emergência e o fortalecimento dos movimentos das minorias sociais, em especial as sexuais e de gênero (feministas e LGBTI), por exemplo, têm produzido transformações nas políticas de identidade e nos processos de identificação constituídos nas práticas sociais.O que antes era tratado como psicopatologias sexuais e transtornos de identidade de gênero;agora passa por um processo de revisão de postura, conceitos e práticas, especialmente, devido às reinvindicações desses movimentos. Isso porque a sexualidade é construída social e historicamente, possibilitando-nos pensar que existem diferentes formas de constituir identidades sexuais e de gênero. Nesse sentido, é evidente a necessidade de se construir discursos em Psicologia que se articulem a uma nova prática política, problematizando teorias patologizantes sobre a sexualidade e tentativas de reificação das experiências de mulheres, homossexuais e transgêneros. Em especial, faz-se necessário questionar a hetenormatividade como um discurso capaz de regular as relações de gênero e as práticas sociais. O pensamento hetero tende a demarcar nítidas fronteiras entre identidades; a sociedade hetero, por sua vez, é marcada pela hegemonia de um grupo social que domina as diferentes formas de expressão da sexualidade. Assim, a heterossexualidade se estabelece a partir de um regime político e social que oprime mulheres, gays, lésbicas, transexuais e travestis. A Psicologia foi construída com base em teorias que articulam o desenvolvimento sexual ao desenvolvimento psíquico. Na mesma linha de raciocínio, pode-se afirmar a necessidade de um ambiente psíquico seguro para o desenvolvimento de uma sexualidade saudável e livre de repressões. Dessa forma, torna-se dever da Psicologia enquanto ciência, e nosso enquanto profissionais dessa área, atentar para o desenvolvimento das questões políticas em torno da sexualidade e seu impacto na psique. Palavras-chave: Discursos psicológicos; Sexualidade; Dispositivos de resistência. 123 124 10. PERFIL DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA DE NATAL-RN: REFLEXÕES, DEMANDAS E POSSIBILIDADES Francisco Emanuel Soares Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte; [email protected] André Feliphe Jales Coutinho Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] Ana Karenina de Melo Arraes Amorim Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] Maria Teresa Lisboa Nobre Pereira Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] Fernanda Cavalcanti de Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] Raquel Ferreira Barbalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [email protected] As mulheres que estão em situação de rua, sujeitos do presente trabalho, têm de enfrentar não apenas os obstáculos oriundos do preconceito que sofrem pela sociedade, mas também uma série de desafios que lhes são impostos pela vivência no espaço das ruas e suas evidentes violações de direitos. Diante disso, é importante trazer à tona essas violações de direitos a que mulheres estão sendo submetidas e a perspectiva destas acerca das possibilidades que podem ser colocadas em prática a fim de melhorar suas condições de vida e garantir seus direitos de cidadãs. É pertinente dizer que, no contexto investigado (cidade de Natal-RN), o número de mulheres em situação de rua é bastante reduzido se comparado ao de homens na mesma situação. Com isso, é necessário que políticas públicas voltadas especificamente para elas sejam pensadas e implementadas, tendo em vista as especificidades das demandas apresentadas por elas, tais como a maternidade. Considerando as políticas já existentes no município, também é necessário o aprimoramento e ampliação das mesmas a outras regiões da cidade. O objetivo geral deste trabalho é traçar um perfil das mulheres em situação de rua de Natal (RN). Com relação aos objetivos específicos, o trabalho propõe-se a identificar quais são as demandas específicas dessas mulheres e indicar possibilidades de melhoria de suas condições de vida a partir da perspectiva delas mesmas. Os critérios para a escolha das participantes foram declarar-se do gênero feminino e estar em situação de rua. Foram entrevistadas 07 mulheres com faixa etária entre 21 e 40 anos. Entrevistas semiestruturadas foram realizadas a partir de temas específicos, como dados pessoais, trabalho e violência policial. Esta pesquisa está em consonância com a Resolução 466/12-CNS. Os resultados apontaram que as participantes da pesquisa conseguem ter acesso a serviços de saúde e socioassistenciais. Das sete entrevistadas, seis não concluíram o Ensino Fundamental. Com relação a emprego e renda, cinco das entrevistadas nunca tiveram um emprego formal com carteira assinada e quatro trabalham atualmente sem vínculo empregatício. Cinco participantes da pesquisa relataram ter sofrido violência policial. Uma delas disse, inclusive, que foi estuprada por agentes da segurança pública. Três delas citaram a violência doméstica como uma das razões que as levaram à situação de rua, e quatro disseram estar nessa situação devido à perda do vínculo familiar. Seis das participantes disseram ter problemas de saúde. Elas sugeriram a melhoria e ampliação dos serviços já existentes e a implementação de políticas públicas de saúde, emprego e educação. Demandas específicas, como a maternidade, também foram apontadas. Por fim, este trabalho evidenciou fazeres possíveis da Psicologia junto às mulheres em situação de rua e às políticas públicas voltadas a essa população. Palavras-chave: perfil de mulheres em situação de rua; gênero; violações de direitos; políticas públicas. 124 125 11. A “CRISE DA MASCULINIDADE” E O SUJEITO CONTEMPORÂNEO Wellington Roriz de Oliveira Júnior Universidade Federal de Goiás – FE [email protected] Na atualidade, percebemos uma grande transformação nas concepções sobre o que é ser homem, podendo-se encontrar elementos que destoam dos padrões anteriormente estabelecidos. Concomitantemente a essas transformações, observamos a forte prevalência de valores arraigados a uma sociedade tradicional, patriarcal e machista. Essa coexistência de valores opostos pode indicar que estamos em uma situação de transição social no que se refere à (re)construção de um modelo de masculinidade. Nesse contexto, discute-se a existência de uma “crise da masculinidade” na contemporaneidade, termo utilizado por alguns autores para se referir a essa situação desse novo homem que mostra tal ambivalência. Percebe-se que alguns autores da psicologia, ao traçar um percurso histórico dos estudos de gênero, criticam a tentativa de criação de novas definições para a masculinidade. Argumentam que, com isso, há uma limitação do sujeito, o qual não é considerado em sua amplitude e complexidade. Nessa perspectiva, a crise da masculinidade seria vista, na verdade, como uma das expressões de uma crise mais ampla, que seria inerente ao sujeito na contemporaneidade. Pretende-se, neste trabalho, apresentar e discutir alguns aspectos históricos envolvidos no processo de constituição da crise da masculinidade, a partir de autores que utilizam a ideia de crise como possibilidade de subjetivação e transformação do sujeito no contexto histórico em que nos encontramos. Isso evidencia a necessidade de discussões que considerem a subjetividade em sua dimensão histórica, o que se mostra importante na psicologia diante da pluralidade e diversidade que marcam o sujeito contemporâneo. Para realizar tal discussão, utilizamos análise de conteúdo de artigos recentes sobre a temática da “crise da masculinidade”, os quais apresentaram um percurso histórico que evidencia a transformação do modelo de masculinidade e a constituição da crise nas últimas décadas. Conclui-se que alguns autores compartilham da ideia de que as identidades masculinas são múltiplas e fluidas, porém essa forma de pensar contrasta com uma tendência de se buscar definições fechadas para dizer deste novo homem. Torna-se necessário, portanto,discutir essa tensão sob um ponto de vista em que se amplia o foco de análise para uma crise geral desse sujeitoque se constrói e se reconstrói a partir das particularidades que caracterizam as transformações sociais na contemporaneidade. Palavras-chave:Crise da masculinidade, psicologia e história, sujeito contemporâneo. 125 126 12. O DESCONHECIDO E A PRODUÇÃO DO PERIGO: UM OLHAR DA SEGURANÇA PÚBLICA PELA PERSPECTIVA DA ALTERIDADE E DAS RELAÇÕES COM A DIVERSIDADE Thiago Benedito Livramento Melicio Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [email protected] O trabalho visa apresentar as discussões propostas na tese de doutoramento em que se problematizou o campo de segurança pública do Rio de Janeiro, no sentido de averiguar o quanto este se constitui como território de acolhida ou eliminação das diferentes formas de expressão psicossociais presentes na contemporaneidade. O intuito é o de averiguar como os desafios de se viver em comunidade produzem demandas relacionadas à alteridade, ora no sentido de segregação e exclusão, ora no sentido de integração e valorização da pluralidade social. Para tanto, são trazidas as ferramentas teórico-metodológicas compostas pelas conceituações de produção de subjetividade, biopoder e cartografia, discutidos, entre outros, por Deleuze, Guattari, Foucault e Rolnik. Nessa direção, são eleitos diferentes dispositivos de análise que permitem compreender como as redes discursivas, que sustentaram e sustentam as relações entre as instâncias administrativas, aparato policial e os diferentes grupos sociais, acabam por promover a supressão da diferença ou a propagação da diversidade. Primeiramente, são discutidas as continuidades e transformações nos paradigmas de segurança, do golpe militar de 1964 aos dias atuais, com o objetivo de dimensionar as raízes do imobilismo político no campo brasileiro da segurança. Posteriormente, para uma reflexão conjunta a outras experiências internacionais, são promovidas pontos de interface e estranhamento, em articulações com as experiências escocesas e norte irlandesas, resultantes do período de doutoramento sanduíche e do intercâmbio da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro no Reino Unido. Por fim, a pesquisa procura apontar para novas formas de monitorar e produzir as práticas de segurança, de maneira que o encontro com o “outro” seja vivenciado não pela hierarquia que a coloca em termos de superioridade e inferioridade, mas a partir das possibilidades de mundo que a presença de outrem apresenta. Nesse sentido, conclui-se que as práticas do psicólogo e o olhar para a alteridade se apresentam como uma possibilidade de contribuição para o balizamento da produção e monitoramento de políticas públicas na área de segurança, conferindo maior importância ao acompanhamento de processos na relação entre profissionais de classe, gestores e sociedade, em detrimento da preocupação estrita aos resultados mensuráveis e, por vezes, de interesses eleitorais, das ações públicas. Palavras Chave: Alteridade; Segurança Publica; Diversidade. 126 127 13. A CULPA DO ESTRANHO E A PROCURA PELO FAMILIAR: A SEGURANÇA PÚBLICA PELOS PROCESSOS DE ALTERIDADE ENTRE MORADOR DE RUA, TRAVESTI E POLICIAL MILITAR Thiago Benedito Livramento Melicio Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [email protected] Viver traz incessantemente a questão da diferença. As pessoas são diversas, como os são os locais em que se reúnem e as posturas que atualizam em seus comportamentos. Todavia, pela perspectiva teórica foucaultiana, há uma gestão dessas diferentes formas de vida, um ordenamento das coisas e dos modos de ser, em que a diversidade humana é recortada por instituições regulatórias e por distintos sistemas de reciprocidade. Nesse sentido, o presente trabalho elege o campo da segurança pública carioca como dispositivo de pesquisa e as relações entre policiais militares, travestis e pessoas em situação de rua como analisadores para se pensar as formas de produção de vida transversalizadas tanto pelo medo, como pelas redes de sociabilidade. Para tanto, a abordagem metodológica ocorre por meio da cartografia de territórios existenciais propostos por Deleuze e Guattari, uma vez que se referem a regimes de vida e poder, que constantemente se atualizam em um sistema psicossocial, dizendo sobre o espaço vivido e a rede de forças que dá visibilidade aos seres e coisas. As produções de perigo e de segurança colocam-se como complementares e o desconhecido encarnado em outrem figura-se seu motor. Os relacionamentos interpessoais, sejam eles regulados pelas categorias de moradia, família, orientação sexual, de trabalho ou de lazer, balizam-se em jogos de semelhança e diferença, de aproximação e distanciamento simbólico e prático. Desse modo, as territorializações em que policial, morador de rua e travestis se fazem presentes trazem elementos de como a alteridade transita tanto nas redes de convívio e solidariedade, como nas redes discriminatórias, ou seja, elas permitem visualizar como certos grupos dão vazão a práticas sociais específicas por meio da eleição de critérios de diferenciação entre “eu” e “outrem”. A questão que se intenta observar é como o acirramento dos elementos de tensão que a diferença traz são legitimados pelo discurso do medo, ao mesmo tempo em que referendam a culpabilização de grupos tidos como “perigosos”. Por meio da relação dos três atores sociais mencionados problematiza-se, de um lado, a segurança enquanto situação ou estado livre de incertezas e, de outro, as formas de criminalização de outrem em função do que este produz em termos de “não-familiar”, pois, afinal, no encontro com a diferença, devemos suspeitar de tudo que nos é desconhecido? Palavras Chave: Alteridade; Segurança Publica; Diversidade. 127 128 14. NOVAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DE PRODUÇÃO DAS IDENTIDADES NO MOVIMENTO LGBT PAULISTA. Daniel Filipe Moraes Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected] Existe no movimento LGBT uma série de contradições que integram a constituição da identidade coletiva, deste modo as análises devem enfatizar os antagonismos submersos na suposta unidade que se evidencia na rede de relações políticas. Essa população é frequentemente negligenciada e marginalizada pela sociedade; há uma escassez de estudos acerca das dissidências, disputas de poder e opressões internas aos movimentos LGBTs paulistas; portanto, a fim de contemplar e aprofundar essa discussão, o presente estudo investigou as complexas relações entre identidade e participação política;analisou como as novas formas de participação política interferem na produção das identidades coletivas e como as múltiplas identidades LGBTs se articulam e se confrontam internamente nos espaços de militância. As análises acerca da identidade se fundamentaram nos conceitos de Bauman, Sawaia e Melucci, pois discutem as disputas de poder, confrontos políticos, laços de solidariedade e pertença, que envolvem os processos de negociação e desenvolvimento da identidade. Em relação aos movimentos sociais, utilizaram-se os conceitos de Melucci para analisar as alterações morfológicas na estrutura da ação política, que envolvem redes de múltiplas associações, militância parcial e efêmera; assim como os de Gohn para fundamentar os conceitos de novos movimentos sociais, ação política, identidade coletiva, meios de comunicação e processos de articulação. A pesquisa de campo, desenvolvida entre março de 2013 e abril de 2014, com base na investigação-ação participativa, adotou como instrumentos metodológicos a observação participante e a realização de entrevistas semiestruturadas com dez militantes – dois gays, duas lésbicas, duas travestis, dois transexuais, uma bissexual e um transgênero. A análise dos dados seguiu os procedimentos da Hermenêutica de Profundidade, metodologia elaborada por John Thompson, que revelou as articulações, dissidências e embates característicos do processo de interlocução desses atores políticos. O desenvolvimento da sociedade contemporânea gerou avanços que favoreceram a população LGBT. Contudo, a aceitação social desse grupo é mediada, sobretudo, por seu poder de consumo. Não se realizou, portanto, uma transformação significativa do ponto de vista político e social. Na ausência de direitos, a visibilidade dessa população fica circunscrita aos guetos e a cidadania não é exercida, perpetuando as violências e prevalecendo o silêncio. Os resultados evidenciaram a reprodução das opressões heteronormativas no interior do movimento e o privilégio de uma identidade específica, os homens cisgêneros homossexuais, em virtude dos seus marcadores sociais. Por conseguinte, as demais identidades, oprimidas nos espaços de ação política, procuram se organizar em outros espaços para se fortalecer. Os sujeitos revelam a existência de novas formas de organização, articulação e participação, desvinculadas de um movimento organizado. Intitulam-se “militantes independentes” e priorizam a internet como principal ferramenta de convocação de novos militantes e organização de atividades políticas. Palavras-chave: Movimento LGBT, Ação Política, Identidade, Novos Movimentos Sociais, Militância Independente. 128 129 15. CURTA A MISCIGENAÇÃO AFRO-BRASILEIRA: UM PROJETO DE INTERVENÇÃO COM ADOLESCENTES NEGROS Andreína da Silva Moura Centro Universitário FACEX [email protected] Ana Caroline de Lima Silva Ferreira Centro Universitário FACEX O Brasil é comumente tido como uma democracia racial. Contudo, essa imagem não ultrapassa o status de mito: no nosso contexto, pessoas identificadas como negras possuem salários menores e menos acesso aos serviços de saúde e educação. A população negra sofre com variados tipos de violência, entre eles a simbólica. Essas e outras dificuldades impostas por um contexto discriminatório podem se associar a construção de uma autoimagem pouco positiva em adolescentes negros, principalmente no que diz respeito ao sucesso acadêmico e à aparência física. Pensando nisso, o projeto “Curta a miscigenação afro-brasileira” foi desenvolvido numa escola no interior do Rio Grande do Norte com o objetivo principal de trabalhar a autoimagem de alunos negros através do resgate da história do candomblé e dos orixás. Para tanto, solicitamos que fossem indicados alunos cujos professores avaliassem que poderiam ter uma autoimagem pouco positiva. Foram escolhidos cinco discentes(dois meninos e três meninas), com idades entre 14 e 16 anos. Num primeiro momento, a proposta foi apresentada aos alunos e todos concordaram em participar. Solicitamos que eles levassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para autorização dos responsáveis e devolvido o termo, foram agendados cinco encontros.O primeiro deles contou com a apresentação e, posterior discussão do vídeo denominado “A história completa dos orixás” sobre a criação do mundo de acordo com a visão do Candomblé. No debate sobre o vídeo, o enfoque principal foram as comparações entre a concepção da origem do mundo segundo a visão cristã e segundo a visão dos candomblecistas. No segundo encontro, todos receberam a letra da música “Hino dos orixás” e após a ouvirem, o grupo foi chamado a refletir sobre os temas tratados nela.No terceiro, foram distribuídas as histórias dos orixás para que cada aluno pudesse escolher com qual desses deuses se sentia mais identificado. Já no quarto, marcado em estúdio fotográfico, todos entregaram resumos dos textos selecionados e os participantes puderam escolher objetos que representavam o orixá de sua preferência. Após isto, foram fotografados individualmente, enquanto os outros colegas – juntamente com a fotógrafa – apoiavam e utilizavam palavras encorajadoras.No quinto encontro, durante a Semana da Consciência Negra, foram expostos banners que traziam fotos dos alunos caracterizados como orixás junto com a descrição da história desses deuses. No primeiro dia de exposição, os alunos se mostraram ansiosos e com medo do julgamento que fariam de suas fotos. Porém, acabada a semana, todos pediram as imagens digitalizadas para que pudessem usar na internet em suas redes sociais, relatando que foram elogiados pelas fotos feitas durante o projeto. O pedido das fotos foi significativo, pois mostra que os alunos gostaram de suas imagens e se sentiram confortáveis em exibilas nas redes de relacionamento. Avaliamos que as estratégias utilizadas para a realização dos encontros foram duplamente proveitosas, pois os alunos sentiram suas imagens valorizadas e ao mesmo tempo, houve divulgação das histórias dos orixás através da exposição. Isso pode contribuir, pelo menos em parte, para a desmistificação dos conceitos relacionados às religiões afro-brasileiras. Palavras-chave: adolescentes negros, autoimagem, religiões afro-brasileiras. 129 130 16. CONCEPÇÕES DE SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE PSICOPOLÍTICA A PARTIR DAS PARADAS DO ORGULHO LGBT DE SÃO PAULO E CAMPINAS Fábio Ortolano Universidade de São Paulo. [email protected] Alessandro Soares da Silva (Orientador) Universidade de São Paulo. [email protected] O presente trabalho traz uma análise psicopolítica das concepções de sexualidade e direitos humanos a partir das Paradas do Orgulho LGBT de São Paulo e Campinas, sendo nossa perspectiva epistemológica a produção de sentidos e significados no cotidiano. Inicialmente, apresentaremos nosso marco teórico, as concepções de sexualidade e direitos humanos, com base em autores referências na área; em seguida, descrevemos uma síntese de nossa metodologia, a constituição de um survey e o uso da análise de discurso como recurso técnico-teórico para aferir os dados das questões abertas. Na sequência, apresentamos o perfil de nossos respondentes e definimos o campo onde construímos nossa pesquisa, mostrando um como a psicologia política nos representa uma possibilidade de estudo interdisciplinar. E, finalmente, apresentamos uma discussão entre o marco teórico e os dados obtidos com o survey, concluindo com uma análise psicopolítica entre os resultados e o cenário político atual, na dimensão dos DDHH de LGBT no Brasil. Em síntese, observamos que: a) o que temos concebido sobre sexualidade e direitos humanos ao longo da história atravessa nosso cotidiano, b) estamos num processo em que significamos e resignificamos as coisas, a vida e o mundo, inclusive a sexualidade e os direitos humanos, a partir de nossas experiências e discursividades e c) as concepções de direitos humanos e de sexualidade estão imbricadas. Os resultados nos apontam para a importância de compreendermos os posicionamentos e concepções de sujeitos políticos que participam das paradas, bem como dos atores que estão associados às suas pautas, uma vez que nos oferece uma base cognitiva acerca dos processos de leitura desses temas para o campo das políticas públicas e da educação para os direitos humanos. Palavras-chave: Sexualidade. Direitos humanos. Psicologia política. Paradas do orgulho LGBT. Discurso. 130 131 17. GÊNERO, SEXUALIDADE E INSTITUIÇÕES PENAIS: REGULAÇÕES E SUBVERSÕES DO CORPO NO CASO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO CONDENADO DE ITAÚNA, MG. Gleisson Rodrigues Peixoto Faculdade Pitágoras de Divinópolis (FAP) [email protected] Leonel Cardoso dos Santos Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) [email protected] Objetiva-se com esse trabalho alimentar as discussões das categorias de sexualidade e gênero que se relacionam com o universo prisional brasileiro. Especificamente, pretende-se discorrer sobre como uma ala masculina do regime fechado da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) de uma cidade do interior de Minas Gerais se relaciona com questões de sexualidade e gênero em seu cotidiano. A APAC é uma entidade civil de direito privado destinada a recuperação e reinserção social de pessoas condenadas a penas privativas de liberdade, cujo método consiste em uma recuperação com base em uma filosofia cristã. Para ser possível a investigação, o trabalho foi estruturado na observação participante de inspiração etnográfica. Como subsídio teórico para análise das questões suscitadas no convívio com os/as funcionários/as e recuperandos, termo utilizado para caracterizar os sujeitos em cumprimento de pena, utilizouse dos Estudos Queer, e do acervo de produções de pesquisas e estudos de gênero e sexualidades. A pesquisa, ainda em andamento, está sendo realizada no interior do estágio em Práticas Institucionais e Grupais do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras de Divinópolis, MG. Pretende-se assim analisar, como a instituição acompanha e acolhe as discussões sobre sexualidades. Interessa saber como a metodologia da APAC relaciona-se com a noção de corpo e sexualidade e como os funcionários e recuperandos se apropriam do método APAC, visto que esse pretende agir no processo de assentamento de virtudes na subjetividade dos recuperandos. O trabalho busca também compreender os mecanismos de regulação e produção generificada do corpo, bem como expor a relação entre a estrutura física institucional, método APAC e a relevante importância da religião como estratégia de disciplina. Nesse bojo, por exemplo, podemos destacar o modo como as práticas sexuais entre os recuperandos ou mesmo manifestações de carinho entre os mesmos emergem e se ocultam frente o discurso institucional. Em outro ponto importante, pretende-se apontar como, na delimitação das fronteiras do que é família e parentesco, o Regulamento Disciplinar Institucional atualiza normas de gênero que expressam a heterossexualidade compulsória. O trabalho descreve também como os traços de masculinidade e feminilidade são importantes marcadores cotidianos utilizados nas relações entre recuperando/recuperando e recuperando/instituição. Como resultados preliminares desse trabalho, destacamos a ausência, no interior do método APAC, de uma apropriação e discussão das políticas de democratização sexual, aplicando um controle discriminatório e, nesse sentido, também produtivo dos corpos e suas manifestações de masculinidade/feminilidade. Também estão presentes no funcionamento institucional, as concepções heteronormativas de família nuclear, como a possibilidade matriz de conversão dos internos à boa conduta. No entanto é fundamental visibilizar também o modo como os recuperandos se apropriam do discurso institucional, gerando diferentes performances de gênero, bem como possibilidades de subversão dos modos institucionalizados pelos quais a instituição se relacionaria com a ‘administração’ e produção do corpo desses sujeitos. Palavras-Chave: Gênero; Sexualidades; Corpo; Instituições Penais; Estudos Queer 131 132 18. O INTERJOGO DECONSTELAÇÃO FAMILIAR Júlio César dos Santos Universidade de Brasília - UnB [email protected] O objetivo desse resumo é explicar os temas de memória e narrativas no interjogo da constelação familiar produto de invenção tecnológica de instituições parceiras UFRB/ UnB. Uma das situações-problema se insere nas narrativas terapêuticas onde alguma parte do passado está, para além do alcance da história oral, onde não existem vozes que vivem para entrevistar, e até onde existem, é necessário encontrar outros tipos de marcas de sua experiência, enquanto temas de significados coletivos e sentidos pessoais, muitas vezes intergeracionais. Nessas marcas estão o processoativo de criação de significados através do qual os indivíduos fazem sentido, como ato intencional da sua experiência social constituintes da memória pessoal e coletiva. Esse jogo é um instrumento que media as explicações do interjogo sistêmico das narrativas do participante e o constelador, em epochê, a possível ausência de juízo de valor. O interjogo se compõe dos seguintes elementos: (a) uma caixa de madeira de 61cm x 41 cm x 6cm - com três lâminas transparentes; (b) três pedras; (c) 15 Bonecos de polímeros de 4cm; (d) 2 miniaturas de madeira de animais; (d) Uma vara do coordenador, de 30cm;(e) 3 pincéis atômicos para quadro branco nas cores preto, azul e vermelho; (f) uma flanela de 10 cm x 10 cm. O interjogo inicia com a escolha de um participante que traga uma questão para ser constelada, tratada de modo terapêutico por um participante, o constelando. O constelador, coordenador do interjogo, auxilia o constelando na narrativa de sua história de vida, com situações intersubjetivas, da observação sobre si, das posições sociais em movimento, da pragmática linguística, as histórias da família intergeracionais, portanto, de duas ou mais gerações anteriores à do momento. Posicionam-se as peças do jogo como representantes de temas e pessoas da história do participante, sendo a peça inicial a representante do constelando falando sobre si, o self no cronotopo, o lugar do aqui-e-agora. Reforça-se a importância de acrescentar as coisificações das pessoas, e as personificações das coisas nas representações da história narrada pelo constelando. O constelador faz a primeira leitura das peças de modo intersubjetivo entre os personagens da história oral do constelando, e sistêmica, com as reverberações dos significados construídos nas gerações anteriores em que cada movimento pessoal posiciona e é posicionado na microcultura familiar. Estabeleça os nexos do tema e instituições da narrativa do constelando com até duas gerações anteriores, para que o constelando observe as reverberações dos significados das gerações anteriores na sua questão atual. Fazem-se movimentos de perspectiva futura/passado com os desenhos e os objetos que compõe o tema da questão utilizando um epochê entre constelador e o constelando. Através do diálogo cooperativo entre o passado, futuro e presentedos movimentos das peças do jogo com o foco no tema da questão cada movimento reverbera ressignificaçõesno jogo na perspectiva sistêmica fenomenológica. O jogo termina quando se entende o nexo entre o tema da questão, entre as gerações, na geração, os fatos de maiores reverberações. Se o constelador realizar a epochê, é possível que essa dramatização auxilie o constelando a reconstruir as lembranças com outras nuances históricas no movimento das peças no interjogo. O resultado desse processo terapêutico é que ao constelando se movimentar da posição de autor de sua história de vida, a ator sócio-histórico e agente do seu desenvolvimento, é possível a exposição do self, o que facilita ao constelador as intersubjetividades do processo terapêutico. 132 133 19. A PSICOLOGIA E O COMBATE ÀS AÇÕES INTOLERANTES NUMA POLITICA PUBLICA Djean Ribeiro dos Santos Secretaria de Promoção da Igualdade Racial [email protected] Valdisia Pereira da Mata Secretaria de Promoção da Igualdade Racial O presente resumo tem por objetivo relatar a experiência do setor de Psicologia no Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa - Nelson Mandela (CRCR) na cidade de Salvador - Bahia. Este serviço foi criado através do Decreto Estadual nº 14297, com a finalidade de receber, atender, encaminhar e acompanhar toda e qualquer denúncia de discriminação racial e/ou intolerância religiosa, no mês de Dezembro do ano de 2013. O CRCR faz parte da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (SEPROMI), compondo a Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, cuja configuração conta com apoio de outros órgãos públicos e entidades da sociedade civil organizada. Esta política pública, bem como a secretaria, é fruto das demandas apresentas pelo movimento social negro da Bahia ao longo das décadas, que evidenciou a muitas custas, as mazelas que a população negra está submetida. Sua configuração está circunscrita dentro de uma concepção de enfrentamento e resolutividade de forma multidisciplinar, com o apoio das áreas do serviço Jurídico e Assistencial, haja vista a complexidade multifacetada e metamorfoseada do racismo. Dessa forma, o escopo da Psicologia contribui para o enfrentamento das vicissitudes pertinentes ao racismo considerando as formas subjetivas e singulares de cada indivíduo, ouvindo os sujeitos assistidos, interagindo, analisando não apenas a experiência do racismo e realizando os encaminhamentos necessários para os serviços componentes da rede formal de combate ao racismo e intolerância religiosa, e da rede já existente de saúde e assistência. Além disso, o CRCR também se apresenta como um capacitador de enfrentamento ao racismo e à intolerância religiosa, seja no âmbito institucional, fomentando multiplicadores nas empresas e organizações, ou na lida com sujeitos acometidos com essa violência. Objetiva-se também apresentar o perfil de alguns casos já atendidos e as demandas apresentadas, bem como as limitações atuais do exercício da psicologia. Dessa forma, esta exposição é de suma importância, pois evidencia uma importante política pública que precisa ser divulgada e ampliada, já que é inédita a nível estadual, considerando as especificidades de cada região, fortalecendo a Psicologia como ferramenta de apoio a desconstrução do Racismo, contribuindo para uma sociedade mais equânime e justa. Palavras-chave: Racismo; Intolerância Religiosa; Centro de Referência; Psicologia; Políticas Públicas. 133 134 20. POLÍTICAS DA SEXUALIDADE E CONTROLE DA POPULAÇÃO: A NECROFILIA, O ‘SEXO BIZARRO’ E O ROMPIMENTO COM A ORDEM SOCIAL EM “A SERBIAN FILM” Leonel Cardoso dos Santos Faculdade Pitágoras de Divinópolis (FAP) [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar uma análise parcial de documentos e notícias de teor político e jurídico acerca da circulação de um filme sérvio que faz menção ao sexo com cadáveres. “A Serbian Film - Terror sem Limites” (2011) teve sua exibição proibida nos cinemas brasileiros por conter cenas, ‘não reais’, de sexo com cadáveres e um recém nascido. O filme conta também com a presença marcante de cenas de violência física durante os atos sexuais. O Ministério da Justiça suspendeu a análise da classificação indicativa, impedindo sua exibição em solo brasileiro, sendo liberado somente um ano depois. Na época de seu lançamento, uma série de debates, sobre a obra, em âmbito político e jurídico foram realizados no Brasil. Documentos e notícias resultantes desse debate são analisados nesse trabalho, com base no referencial teórico de Michel Foucault sobre Biopolítica, Sexualidade e Segurança Pública, com vistas à compreensão das formas de regulação e controle da população presentes nos vetos e proibições à exibição do filme. Com base na perspectiva teórica mencionada considera-se a sexualidade um dispositivo basilar no governo da população, que é operacionalizado por meio da produção de saberes científicos e de intervenções políticosociais. A sexualidade está, desse modo, intrincada à produção e disciplina das subjetividades por meio de instituições, práticas sociais e saberes científicos, emergindo como um aspecto do governo da população. Sendo assim, esse trabalho passa a questionar de que maneira a relação subversão/controle social está presente nos documentos e debates sobre ‘A Serbian Film’, que apresenta em seu enredo práticas sexuais de conduta criminosa. Se por um lado o filme apontaria a possibilidade de ampliação das formas de exercício do prazer, por meio de práticas sexuais, que no mercado pornográfico, são colocadas como não convencionais ou bizarras, por outro lado o filme toca em direitos humanos básicos e em questões éticas relacionadas à morte. O conteúdo dos documentos encontrados, em sua maioria, faz uma descrição das cenas do filme como algo ‘perigoso’ à manutenção social da família e da integridade de crianças, se valendo de noções como crime e doença para caracterizar os/as profissionais envolvidos/as na produção do filme e também possíveis telespectadores/as. Do ponto de vista analítico entende-se que a ligação crime-doença é uma estratégia discursivo-política que apresenta como efeito a essencialização e naturalização de relações das técnicas de governamentalidade. Assim, os argumentos construídos para garantir a proibição da exibição de “A Serbian Film” direcionam-se a confecção social dos corpos e o modo como essa confecção é transformada em objeto dentro do campo da segurança pública, garantindo, mesmo que de modo não permanente, o funcionamento de um conjunto de estratégias da ordem social. Palavras-Chave: Sexualidade; Sexo Bizarro; Necrofilia; Biopolítica; Crime. 134 135 21. DISTÂNCIAS E DIREITOS: SER-DA-TERRA E SER-NEGRO EM UBARANAS Debora Linhares da Silva Universidade Federal do Ceará, [email protected] Wanessa Nhayara Maria Pereira Brandão Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza, [email protected] Daliene de Brito Cipriano Universidade Federal do Ceará, [email protected] Jane Erika Oliveira e Silva Universidade Federal do Ceará, [email protected] José Maria do Nascimento Amaral Neto Universidade Federal do Ceará, [email protected] Vanessa Louise Batista Universidade Federal do Ceará, [email protected] O Córrego de Ubaranas localiza-se a 18 km da sede da cidade de Aracati- CE e está em processo de reconhecimento da terra. Uma comunidade de Remanescentes Quilombolas que, junto ao INCRA, conseguiu parte do Relatório Técnico de Identificação de Delimitação - RTID. Lá vivem cerca de 60 famílias cadastradas na Associação dos Agricultores e Agricultoras do Córrego de Ubaranas. Sua base econômica é a agricultura familiar, porém, com os conflitos territoriais, eles acabaram tendo que prestar serviços às empresas vizinhas, trabalhando, principalmente, na colheita de castanhas de caju. Neste território, compreende-se a relação dos moradores com o processo de pertencimento à terra, legalmente e espiritualmente falando, e as relações afetivas com o chão de antepassados escravos e escravistas. Nossas ações de pesquisa e extensão vem ocorrendo na comunidade desde março de 2013 numa parceria do Laboratório de Estudos Sobre a Consciência – LESC Psi e do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental – LOCUS, integrando o Projeto “Duas Fendas: Patrimônio, Cultura e Consciência Biocêntrica” (MEC/Sesu PROEXT 2013) e atualmente integrando o Projeto "Cidade Educadora: por uma educação patrimonial libertadora" (PREX/UFC 2014). Objetivamos construir ações que discutam Políticas Públicas voltadas à população negra e de Comunidades de Remanescentes Quilombolas em aspectos como adequações no currículo escolar, políticas de assistência social e uma educação emancipadora e sustentável. Utilizamos o método da observação participante em conjunto com a escuta de narrativas e entrevistas abertas além de registros em diários de campo, registros fotográficos e desenvolvemos com a comunidade algumas Rodas de Conversa e Círculos de Cultura.Toda essa trajetória deu origem as atividades que estão em andamento: a) Projeto Reciclagem e Permacultura, viabilizando o aproveitamento sustentável do que nem sempre é lixo mas que pode afetar a saúde dos moradores, degradar o ambiente, prejudicar na higiene do local e danificar a terra; b) Memórias da Terra: Raízes Históricas da Comunidade de Ubaranas, a qual propõe a construção de espaços de discussão e troca adotando uma relação facilitadores/grupo, que discuta as concepções de lugar, identidade e pertença;c) Oficina Rádio Patrimônio, que visa a valorização dos patrimônios materiais e imateriais da comunidade, por meio da produção e realização de programas de rádio; d)Pequenos passos com a Lei 10.639/03 para crianças, no sentido de fomento à identidade negra e na produção de valores e práticas que eduquem os cidadãos quanto a pluralidade étnico racial.Nossas construções coletivas no Córrego de Ubaranas estão ainda no começo: há muito ainda a saber destas 60 famílias, do ontem e do hoje, de cada faixa etária, dos gêneros, das pessoas em si, para pensar a construção de espaços políticos de reivindicação efetivos que tornem acessíveis os direitos destas pessoas. É preciso, mais que isso, que cada um ali se reconheça enquanto ser-no-mundo, capaz de modificar sua própria realidade. Acessar as políticas públicas é parte desse processo, mas, o mínimo deve ser acessível: educação, saúde, lazer e, principalmente, o direito ao usufruto de uma terra na qual vivem e são (da terra) há gerações. Palavras chave: Quilombolas; Pertencimento; Terra. Identidade; 135 136 22. TERRITÓRIO SAGRADO: PROCESSO GRUPAL, RESISTÊNCIA E LUTA NO TERREIRO DE CANDOMBLÉ Patrick de Oliveira Silva Universidade Federal de Goiás (UFG) [email protected] O presente trabalho visualiza o terreiro de Candomblé como espaço de luta e resistência. Refere-se o terreiro como território sagrado cuja a sobrevivência se dá através dos legados ancestrais e cosmogônicos que legitimam uma série de ritualísticas que impulsionam as vivências e as relações com o sagrado, bem como, históricos de luta e resistência que mantém vivo o enfrentamento do racismo e da intolerância religiosa. Insere o terreiro também em um espaço de relações humanas constituídas por ideais comuns, com identidade própria, linguagem, signos e outras formas de identificações. Ao referir-se o terreiro como lugar onde um referencial cosmogônico diferenciado se instaura, estabelecem-se outros apontamentos como possibilidade de ler, entender e compreender particularidades grupais. Desde a constituição do Candomblé como religião de matriz africana, a política brasileira alicerçada nos valores branco, judaico-cristão e eurocêntrico, tornou invisível qualquer possibilidade de aceitação dessa forma de religiosidade. Tendo como pressuposto as teorias do psicólogo social Martín-Baró entorno do conceito de processo grupal e poder social, o trabalho busca pensar a organização do terreiro como lugar onde um grupo de pessoas motivadas por ideais comuns, solidificam dinâmicas que tornam o terreiro território sagrado onde luta e resistência se constituem no enfrentamento ao racismo e às suas formas correlatas de subordinação, repressão e opressão. Durante os anos de proibição das praticas religiosas africanas no Brasil, os terreiros de Candomblé viveram diversas formas de invasões e proibições por parte da polícia, uma vez que se tratava de uma pratica religiosa proibida. Os anos de perseguições e repressões, possibilitaram a este grupo religioso a elaboração de estratégias de enfrentamento. Tais estratégias trouxeram uma série de conquistas tais como o decreto que tornou regulamentado a pratica de Candomblé no Brasil, bem como a liberdade de expressão de elementos da cultura afro-brasileira. Por fim, pensar a identidade do grupo, definindo o que é e o que caracteriza tal grupo frente a outros grupos, o poder que assegura o grupo em suas relações com outros grupos, sobretudo frente as questões em torno do racismo e da intolerância religiosa e a atividade grupal, ou seja, os signos sociais que produzem o terreiro como espaço de resistência e luta. Palavra-Chave: processo grupal, poder social, luta e resistência 136 137 23. NOTAS SOBRE UMA PESQUISA COM MULHERES LÉSBICAS EM GOIÂNIA – PROBLEMATIZANDO O CAMPO Tanieli de Moraes Guimarães Silva Universidade Federal de Goiás [email protected] Este trabalho é uma das reflexões do meu mestrado em andamento em Antropologia Social, o qual teve como ponto inicial a investigação sobre lesbianidades e envelhecimentos em Goiânia. Parti da ideia de Butler (2010) de que o gênero é culturalmente construído, mas não em função de um sexo imutável que diz de uma composição natural, e sim, de um aparato biológico que é tão construído socialmente quanto o gênero. E também da ideia de autores como Guita Debert (1997) e Júlio Simões (2004) sobre a velhice e/ou sobre o curso da vida em contraponto ao ciclo da vida, construindo uma ideia de que desenvolvimento se dá através de um processo marcado por questões biológicas, históricas e culturais que se entrelaçam gerando hiatos e improvisações e não um caminho linear e evolutivo. O método utilizado foi o etnográfico, tendo sido realizada observação participante com um grupo de mulheres lésbicas - que já possuíam laços de afetos e amizades independentes da pesquisa - durante três meses em bares, boates e na casa de algumas delas. Levando isso em conta, o que proponho aqui é apontar facilidades e dificuldades da minha entrada e inserção no campo; as reflexões possibilitadas pelo contato com as interlocutoras; e por fim, a explicitação das novas questões que surgiram a partir do campo. Grossi (1992) em sua discussão sobre subjetividade e trabalho em campo diz que há a necessidade de sedução mútua nesse para que só assim o outro seja descoberto, sendo preciso dar para conseguir criar laços. E dois fatores foram importantes para criar laços: a bebida e a presença física ou não da minha namorada. Ficar bêbada com elas e falar algo sobre minha relação me tirava de qualquer possibilidade de uma suposta neutralidade ou distanciamento de pesquisadora. Mesmo assim, sempre que eu perguntava algo, Anita (interlocutora) lembrava que aquilo eu poderia escrever na dissertação. De alguma forma, havia certo incômodo que evidenciava esse meu lugar, que por mais que eu parecesse ser uma delas, tinha algo que nos diferenciava, que insistia em me manter “vestida de antropóloga” (BRAZ, 2009). Me perceber sendo chamada pelo campo fez com que ficasse evidente o caráter participativo da experiência etnográfica. Construir reflexões a partir da vivência com minhas interlocutoras implicou necessariamente no compartilhamento de mim mesma e Anita foi a responsável pela marcante pergunta “você sai com a gente só por causa da pesquisa ou você se afeta?”, e eu respondi: “claro que me afeto!”, me lembrando do texto Ser Afetado de Favret-Saada (2005). A autora traz uma discussão sobre a antropóloga se afetar e assim o campo ampliar para possibilidades desconhecidas. Iniciar o campo com algumas questões na tentativa de encontrar respostas claras para a reflexão sobre envelhecimento e lesbianidade não foi o caminho que gerou conhecimento. Com o tempo, aceitar me afetar fez com que, no final, eu percebesse que o que estava mais evidente eram histórias sobre o passado de minhas interlocutoras, que talvez eu nunca alcançasse e que não negava minhas questões, mas as ampliava. Palavras-chave: Goiânia. lesbianidades, etnografia, 137 138 24. REVISANDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM: UMA PESQUISA COM UNIDADES DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS – BA. Diogo Sousa Silva Universidade Federal do Recôncavo da Bahia [email protected] Suely Aires Universidade Federal do Recôncavo da Bahia [email protected] A política que se propõe a pensar a saúde do homem e as estratégias para garantir esse direito é recente, lançada em 2008, e intitulada Leis e Diretrizes da Saúde do Homem. Em 2009, foi aprovada a portaria ministerial nº 1.944 que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Tal portaria refere-se ao homem enquanto sujeito biopsicossocial, entretanto, no conjunto de prerrogativas de que trata, o sujeito portador de pênis parece sobrepor-se e sintetizar o público para o qual se destina, além de respaldar-se sobre a questão de gênero, em especial, a masculinidade, como norteador dos programas de saúde. Se o homem tem ocupado uma posição privilegiada que lhe garante maior acesso aos bens e recursos sociais ao longo de anos, ao mesmo tempo, por preservar o status de provedor, viril, heterossexual, forte e autoritário, tem promovido uma estrutura social marcada pela misoginia, pela homo, bi, lesbo e pela transfobia. Essa construção histórica sobre o que é ser homem – que se atualiza de tempos em tempos – repercute diretamente na sua inserção nos serviços públicos de saúde, principalmente no que se refere àqueles que são dissidentes do padrão hegemônico (branco, heterossexual, classe média, cristão, reprodutor, cisgênero). Nesse sentido, o presente trabalho pretende discutir a Saúde do Homem na Atenção Básica a partir de uma pesquisa realizada com gestoras de treze unidades básicas de saúde do município de Santo Antônio de Jesus – BA que visou investigar a existência e/ou implementação de programas e/ou estratégias com ênfase na saúde do homem nessas instituições. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e seguiu os parâmetros da Resolução Nº 466/2012. Foram realizadas treze entrevistas semiestruturadas em dias previamente agendados com as gestoras de cada instituição. As entrevistas foram gravadas para posterior transcrição e análise. Verificouse com a pesquisa: baixa adesão dehomens aos serviços de saúde atribuída a aspectos culturais; a busca pelas unidades de saúde em função de procedimentos de urgência para sanar sintomas latentes; a inserção da população de homens idosos (em detrimento a crianças, adolescentes e adultos) devido ao Programa HiperDia; a entrada de homens nos serviços a partir do Programa de Planejamento Familiar; a inexistência de estratégias que vinculem o homem não heterossexual às unidades de saúde do município; a incompreensão das travestis ou homens trans como pessoas cobertas por essa políticas – e, em dado momento, a compreensão da vivência trans enquanto anormalidade –, dentre outros aspectos. Identificou-se ainda a carência de estudos sobre o tema e de capacitação das/dos profissionais de saúde sobre as demandas que dizem respeito à Saúde do Homem. Palavras-chave: Saúde do Homem; Atenção Básica; Gênero; Sexualidades; Saúde Pública. 138 139 C- EIXO CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA 1. JEITINHO BRASILEIRO: ENTRE A CRIATIVIDADE E A CORRUPÇÃO Lisete Barlach Docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo [email protected] Ao olhar o Brasil com olhos de estrangeiros (as), é possível constatar a existência de traços culturais peculiares, componentes da identidade nacional. Situado entre a criatividade e a corrupção, um desses traços o jeitinho brasileiro - tem sido retomado como objeto de estudo em função da reorganização do mercado internacional do trabalho, com a discriminação positiva ou valorização dos profissionais brasileiros trabalhando no exterior e também pelo interesse despertado pelo Brasil como um dos países emergentes reunidos nos BRICS. A atualidade do tema se manifesta na diversidade de assuntos a ele associados identificados na literatura, incluindo o impacto do jeitinho na inovação tecnológica e competitividade industrial e sua influência na cola, plágio e outras práticas desonestas na vida acadêmica. Este trabalho aborda a revisão da literatura sobre o tema, considerando publicações entre 2010 e 2014, além de uma releitura das bases históricas sobre o assunto, como o trabalho seminal de Lívia Barbosa e os aportes de Da Matta, Gilberto Freire e Dante Moreira Leite, dentre outros.Com as palavras-chave “jeitinho brasileiro”, utilizadas sempre em conjunto, foram identificados mais de 800 resultados no google acadêmico (www.scholar.google.com), tendo sido usado como filtro o período de 2010 a 2014. Destes, foram escolhidos nove deles, em função de sua representatividade, qualidade autoral e diversidade temática.A questão maior que emerge desses estudos, contribuindo para explicar o jeitinho brasileiro, refere-se à compatibilização – ou não – dos valores de impessoalidade e racionalidade do modelo weberiano com as singularidades culturais do Brasil. Uma vez que as normas são escritas e definidas in abstracto, é possível afirmar que “é o formalismo que acarreta a prática do jeito” (Vieira, Costa e Barbosa (1982, p. 25). Centrado num conflito permanente entre a pessoa e o indivíduo, o jeitinho emerge na revisão da literatura como uma relação de poder, que “distingue os que podem e os que não podem” (idem, p. 29). Uma vez que a burocracia adota critérios universalistas e impessoalizantes, o jeitinho é uma manifestação ritual da pessoalidade, característica tipicamente brasileira. Palavras-chave: jeitinho brasileiro, identidade nacional, pessoalidade 139 140 2. O ESQUECIMENTO DA POLÍTICA: REFLEXÕES SOBRE A DEMOCRACIA EM TEMPOS DE CINISMO. Rodrigo da Costa Bezerra UFRN [email protected] A comunicação pretende demonstrar como a mercantilização da política caminha passo a passo com as formas mais efetivas do capitalismo tardio relacionando diversas formas de esquecimento da política. No mapeamento dentre as formas de esquecimento da politica privilegiamos as ressonâncias da privatização da vida pública, a cientificização da economia, a fetichização da técnica, a despolitização religiosa e, por fim,o apagamento dos valores políticos em proveito dos valores morais. Todas essas formas de esquecimento não são somente recolhimentos fora da política, também constituem cinco maneiras de pensar a política, pois cada esquecimento pretende, à sua maneira, substituir a política. É possível que a forma mais grave de esquecimento da politica seja a redescrição da política a partir das metáforas de mercado e a redução do cidadão ao consumidor responsável protagonista de escolhas éticas e de compromisso social. A constatação é de que a política no invólucro da democracia representativa tornou-se mercadoria nos dias de hoje. Destaca-se, em primeiro lugar, que a personalização da política parece ser um fenômeno universal das democracias contemporâneas. O impacto dos meios de comunicação, que estabelecem uma relação direta entre representantes e representados, sem a necessidade de instituições de mediação política, como os partidos, e a consequente crise das identidades políticas tradicionais, vem provocando o surgimento de um novo tipo de governo representativo, denominado de “democracia do público”. Toma-se em relevo o conceito de ideologia cínica na obra de SlavojZizek de forma a discutir esta nova maneira das classes dominantes se portarem frente aos seus interesses no cenário politico das democracias contemporâneas. Mecanismo diferenciado da ideologia, para além do tradicionalmente conjunto de valores e crenças que visa a manutenção de uma determinada ordemsocial que ocultam elementos que a ameaçam e lhe são inerentes, a ideologia cínica ou a posição subjetiva cínica é o paradoxo mesmo de uma falsa consciência esclarecida que opera sabendo-se muito bem da falsidade, tendo plena ciência de um determinado interesse oculto por trás de uma universalidade ideológica, mas, ainda assim, não se renuncia a ela. Neste sentido os apontamentos do conceito de ideologia cínica reportam ao que Slavoj Zizek denomina de fantasia ideológica sendo fundamental para o arranjo de uma cultura política ilustrada em alguns fenômenos da politica brasileira. Palavras-chave: Esquecimento da política, Capitalismo, Democracia, critica daideologia, cinismo. 140 141 3. A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DILMA ROUSSEFF: UMA ANÁLISE DAS CHARGES QUE A RETRATAM NA FOLHA DE S. PAULO. Gabriel Pinelli Ferraz Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] Esse trabalho tem o objetivo de analisar a construção da representação social de Dilma Rousseff a partir das charges que a retratam na Folha de S. Paulo. A charge possui uma importante trajetória no trato dos assuntos políticos. Por meio da sátira e do humor, ela promove síntese das temáticas políticas do seu tempo, enquanto opina e faz críticas. Como um gênero jornalístico construído via ridicularização, a charge é capaz de provocar o leitor a refletir sobre as problemáticas da sociedade. Sua matéria prima são os assuntos do cotidiano. Desse modo, a charge é caracterizada como gênero jornalístico opinativo. Conhecer o processo de construção da representação social de Dilma Rousseff é tentar conhecer como ela é definida pela sociedade. Mais do que isso, é saber como seus comportamentos, seus discursos e suas políticas são entendidas e explicadas pela população. A relação entre governantes e cidadãos no sistema democrático passa diretamente pela maneira como um compreende o outro. Desse modo, investigar a maneira como Dilma Rousseff é retratada pelas charges, implica saber que todos aqueles que ela governa tentam explicá-la e compreendê-la. A população a percebe a partir das políticas públicas executadas por seu governo e também pelas informações midiáticas produzidas sobre ela. Sabendo da capacidade das charges para opinar, essa pesquisa quer conhecer as opiniões que foram emitidas sobre Dilma. É importante salientar, que esse trabalho não se deteve sobre Dilma Rousseff, mas sim, sobre as charges que a retrataram. Essa pesquisa analisou as charges publicadas entre janeiro de 2010 e dezembro de 2012. Esse período contemplou o processo eleitoral e a primeira metade do governo Dilma. Foram coletadas 171 charges. Os dados foram analisados à luz da Análise de Conteúdo. As charges construíram a representação social de Dilma comparando-a aos políticos aliados e aos seus adversários de pleito, ligando-a a Lula e atribuindo sentidos ao seu governo. A partir disso, Dilma foi representada como produto de Lula, como negociadora política incapaz, como combatente da corrupção e como gestora pública incompetente. Palavras-chave: Psicologia política. Representação social. Charge política. Dilma Rousseff. Comunicação. Política. 141 142 4. ADOLF HITLER, ENTRE O PODER, O CARISMA E A DESTRUTIVIDADE HUMANA Luciana Helena Mussi PUC-SP [email protected] Salvador Antonio Mireles Sandoval UNICAMP/PUC-SP [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar o perfil político de Adolf Hitler representado no cinema cujos enredos versam sobre questões ligadas ao nazismo no cinema alemão, americano e europeu, tendo como referência a Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici (2010). Para isso, trabalhamos com o estudo de três conceitos considerados fundamentais para o entendimento do objetivo proposto: o poder e o carisma trabalhados na visão dos autores Alexandre Dorna (2007) e Charles Lindholm (1993) e o enfoque da destrutividade humana por Erich Fromm (1972). O cinema, através de filmes de cunho político, deve levar as pessoas a fazer perguntas, ser provocativo, questionar pressupostos estabelecidos sobre o próprio cinema, seu papel enquanto indústria do entretenimento e espetáculo com efeitos políticos. O cinema tem, seguramente, um papel político a cumprir, questionando, desafiando e provocando reações e gerando reflexões, principalmente quando o que está no centro da questão é um homem como Adolf Hitler e o nazismo. Sobre ele, Lindholm ressalta que Hitler era claramente um virtuose do êxtase, inspirava medo e também despertava amor, oferecendo aos seus seguidores participação no seu desintegrador, mas controlado, frenesi ab-reativo. Que tipo de homem tem esta capacidade no mundo moderno? Fromm lembra que pensar em Hitler como um louco ou como um “neurótico”, e seus seguidores como igualmente doidos e mentalmente desequilibrados, não explica o problema. Para ele o nazismo é um problema psicológico, mas os próprios fatores psicológicos tem de ser interpretados como sendo moldados por fatores sócio-políticos; o nazismo é um problema econômico e político, porém o fascínio exercido sobre um povo inteiro tem de ser interpretado em bases psicológicas. Dorna ressalta que o nazismo exprime o ódio dos homens como uma espécie de máquina de morte que desumaniza e humilha o semelhante. Os procedimentos metodológicos adotados, nesse estudo, se apoiam na seleção de 37 filmes de longa-metragem da era nazista que versam sobre o nazismo, Hitler e staff (12 filmes de produção alemã, 13 de produção americana e 12 de produção europeia). Destes, 20 são documentários e 17 ficções com abordagens diferenciadas sobre a temática em foco que se constituíram objeto desta investigação. As análises efetuadas consideram como categorias: os diálogos expressos e/ou simbólicos e demais representações utilizados na construção dos filmes. O estudo contribui ao entendimento do perfil político do líder carismático, o uso do poder e da destrutividade humana como componentes de um regime autoritário. Palavras-chave: Poder; Carisma; Destrutividade Humana. 142 143 5. CONSCIÊNCIA POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO NO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM – ESPÍRITOSANTO - BRASIL NO PERÍODO 20092012 Leandro Vianna Silva Souza, Marcia PrezottiPalassi, Alfredo Leite da Silva Universidade Federal do Espírito Santo – UFES [email protected], [email protected], [email protected] O objetivo desta comunicação oral é apresentar uma análise sobre a dinâmica da consciência política e da participação cidadã dos membros do Conselho do Orçamento Participativo (OP) em Cachoeiro de Itapemirim – Espírito Santo – Brasil no período 2009-2011. A participação e mobilização popular como exercício cívico são relevantes na consolidação de uma democracia plena e das instituições que a fundamentam (MENDES, 2007). É essencial para uma democracia que os cidadãos articulem sua capacidade crítica em torno de diferentes modalidades de participação cidadã(MISES, 2009). O marco teórico adotado neste trabalho é o modelo de análise da consciência política para compreensão da participação em ações coletivas de Sandoval (2001) articulado com uma revisão de literatura sobre o orçamento participativo. Trata-se de uma pesquisa exploratória e qualitativa, cujos dados foram coletados através da observação participante, análise de documentos e entrevistas semiestruturadas com vinte e oito conselheiros do OP, durante a realização do OP, submetidos à análise de conteúdo(BARDIN, 2004). Os membros do conselho do OP são os membros da sociedade civil indicados pela Federação das Associações de Moradores e Movimentos Populares de Cachoeiro de Itapemirim (FAMMOPOCI), conselheiros eleitos durante as Plenárias Regionais e Temáticas, e representantes indicados pelo Poder Executivo e Legislativo. Os resultados revelam sentimentos de identidade coletiva, contradições entre justiça e injustiça, eficácia política, interesses antagônicos e adversários, vontade de agir coletivamente, crenças e valores societais e avaliação das metas do OP. Vinte e três conselheiros aprovam e participam do OP como importante mecanismo de gestão democrática e participativa e um meio de mobilização e transformação popular coletiva para superar barreiras. Em contrapartida, cinco o reprovam, sendo que três deixaram de participam. As principais falhas do OP apontadas pelos sujeitos da pesquisa são a falta de oportunidades iguais para todos, concessão de recursos insuficientes para atender às demandas, falta de abrangência de todas as comunidades e de concretização de algumas obras escolhidas. Conclui-se que diferentes concepções marcam a consciência política que motiva a participação no OP estudado:OP como mecanismo político eficaz de debate e partilha de recursos; OP como oportunidade para manifestar a identidade coletiva e privilegiar sua própria localidade; OP como oportunidade para discutir relações de poder relativas ao próprio orçamento. Estas concepções se apresentam em uma dinâmica na qual uma se articula com a outra no cotidiano do OP sem existir uma fronteira clara entre elas. Palavras-chave: Consciência política. Participação popular. Orçamento participativo. Administração pública. Estudos organizacionais. 143 144 6. OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS NO BRASIL: FASCÍNIO E IDEOLOGIA Amanda Cristina F. Palla Universidade Federal de Goiás [email protected] Domenico Uhng Hur Universidade Federal de Goiás O fascínio pelo esporte é um fenômeno emergente da atualidade que se expressa a partir da realização dos megaeventos, como a Copa do mundo de futebol organizada pela FIFA e os Jogos Olímpicos. O Brasil se insere nesse contexto de intensa adesão ao esporte na medida em que há uma grande mobilização da população para assistir aos “espetáculos esportivos” transmitidos pela televisão. Em menos de dez anos houve, contudo, uma mudança neste cenário devido à escolha do país enquanto sede da Copa do mundo em 2014, e posteriormente dos Jogos Olímpicos em 2016. Este processo de transformações teve seu início com a escolha da cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Panamericanos em 2007. A partir de então, notase a intensificação do encantamento pelo esporte de alto rendimento, o que pode ser comparado a um fenômeno de massas, na medida em que, apresenta comportamentos regressivos e perda da consciência crítica. Diante disso, o presente trabalho se propôs a realizar uma reflexão acerca do fascínio pelos megaeventos esportivos destacando os mecanismos psicossociais que contribuem para sua efetivação. O trabalho ainda teve como objetivos: construir o percurso histórico do esporte até se tornar megaevento, revelando as relações com o sistema capitalista e a indústria cultural; refletir acerca dos prejuízos decorrentes da realização dos megaeventos no Brasil e sobre o seu processo de ideologização. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico que buscou nas bases de dados do Scielo e Pepsic e no portal de periódicos da Capes artigos sobre o tema megaeventos esportivos. Também se realizou a apreensão de conceitos fundamentais acerca do fascínio a partir das teorias da psicologia, mais especificamente da psicanálise e da teoria crítica da escola de Frankfurt. A partir da análise feita, constatamos que o fascínio pelos megaeventos compreende uma articulação entre os mecanismos psíquicos e ideológicos, ultrapassando o âmbito da racionalidade e se inserindo na subjetividade dos indivíduos.A ideologia, portanto, faz com que o público permaneça alienado e contribui para que o fascínio aconteça. Os ideais de desenvolvimento econômico e cultural que o Brasil alcançaria com a realização dos megaeventos são, na realidade, propagandas feitas almejando maior adesão do público que sonha com a superação das dificuldades e melhoria do seu país. Neste trabalho, todavia, encontramos uma realidade distinta e ainda mais cruel, na medida em que os megaeventos, para serem realizados,violam os direitos básicos de milhares de pessoas. Palavras-chave: megaeventos psicologia, fascínio, ideologia. esportivos, 144 145 7. CONSCIÊNCIA POLITICA, EMOÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS Salvador Antonio Mireles Sandoval Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUCSP/ Universidade Estadual de CampinasUnicamp Entre as diferentes formas de atuação politica nas sociedades contemporâneas talvez a participação nas ações coletivas e nos movimentos sociais são os contextos que mais manifestam uma combinação de consciência politica e impulso emotivo dentre os diferentes participantes desses eventos. No entanto, apesar de a tal “explosão das emoções” ser uma das características das diferentes formas de participação nas ações coletivas dos movimentos e protestos sociais, surpreendentemente, encontramos poucas análises conceituais ou empíricas sobre este aspecto da psicologia da participação politica. Há alguns trabalhos nas correntes NorteAmericanas de estudos dos movimentos sociais que tocaram essa problemática, porém não há uma sistematização conceitual que reúne as contribuições da psicologia social e incorpora essas contribuições sobre consciência o componente das emoções. Este trabalho apresenta uma sistematização da noção de consciência politica e postula uma ligação entre os componentes da consciência e seus efeitos emotivos pensando o contexto da participação nos movimentos sociais. A abordagem apresentada neste trabalho tem dois objetivos: primeiro, servir como marco analítico para auxiliar os estudos sistemáticos da consciência politica de uma perspectiva psico-política e não apenas sociológica e, segundo, servir como um instrumental prático de referencia para analisar as práticas de conscientização que acontecem no decorrer do processo que comumente chamamos de movimento social. A abordagem de consciência politica e emoções apresentada neste trabalho pretende integrar diferentes contribuições da psicologia social sobre o tema da consciência, além de apresentar um olhar sobre as emoções como potencializador ou enfraquecedor do próprio processo de conscientização e da disponibilidade de ação coletiva. Considerando que nos últimos anos alguns países da América Latina, como no caso do Brasil, houve grandes mobilizações coletivas e confrontos políticos nas ruas de nossas cidades, o presente trabalho apresentauma abordagem analítica proposta para a realidade brasileira, especialmente os grandes protestos sociais dos últimos tempos. 145 146 8. PSICOLOGIA SOCIAL DA LEGITIMIDADE: ESTUDO PSICOSSOCIAL DA DESOBEDIÊNCIA ÀS LEIS. Vanilda Aparecida dos Santos Pontifícia Universidade Católica – São Paulo [email protected] De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas, 82% dos brasileiros reconhecem que é fácil desobedecer às leis no Brasil e 79% concordam que, sempre que possível, o cidadão brasileiro apela para o “jeitinho” ao invés de obedecer às leis. Tom Tyler argumenta que as pessoas obedecem às leis quando acreditam que é a lei é legítima, e não porque temem punição. A legitimidade baseia se na crença de que as autoridades, instituições e arranjos sociais são adequados e justos. As pessoas são influenciadas por outros porque acreditam que as decisões tomadas e as normas (ou leis) são adequadas e devem ser seguidas. As pessoas são cooperativas e obedientes em razão da legitimidade daqueles que elaboram as leis. Mauricio Garcia Villegas afirma que existe na América Latina uma cultura chamada "cultura de ilegalidade", remontando a herança da colonização portuguesa e espanhola. No Brasil existem muitas leis que estabelecem os padrões de comportamento, mas na vida cotidiana, existem situações recorrentes de desrespeito às leis. Essa cultura de ilegalidade pode ser vista como o traço identificado por Roberto Da Matta como " jeitinho brasileiro”. Essas reflexões e constatações contextualizam e direcionam o objetivo deste projeto de doutorado, que pretende analisar como a legitimidade das autoridades influencia as atitudes dos cidadãos em relação ao cumprimento das leis e interpretar os fatores psicossociais envolvidos nessa problemática. Os objetivos específicos são: entender como os cidadãos constroem as representações sobre as leis; identificar a relação entre as atitudes em resposta às leis e as respectivas justificativas; identificar as crenças antagônicas e as estratégias de manutenção da coerência cognitiva entre os cidadãos em relação às leis e discutir a efetividade das leis e das políticas públicas na perspectiva da psicologia da legitimidade. Este trabalho se apoiará na teoria da Dissonância Cognitiva de Leon Festinger (1975). A teoria da dissonância cognitiva considera que atribuímos justificativas aos nossos comportamentos para reduzir o desconforto interno, especialmente quando percebemos que nos comportamos de maneira irracional ou imoral. O método a ser utilizado na pesquisa ainda está sendo discutido com o orientador. Palavras-chave: Psicologia legitimidade; leis; política pública. Política; 146 147 9. O PODER PSIQUIÁTRICO E A CRIAÇÃO DE NOVAS PSICOPATOLOGIAS Nágila Caruline Dias Patricio da Silva Universidade Federal de Goiás/Regional Jataí. [email protected] Tiago Cassoli Professor adjunto da Universidade Federal de Goiás/ Regional Jataí. [email protected] O trabalho tem por objetivo problematizar a naturalização da medicalização através do discurso psiquiátrico. Temos como hipótese que o processo de normatização cria novas patologias e naturaliza a medicação como garantia de alívios. Para tanto, o método utilizado é a análise do discurso segundo Foucault que pensa as práticas discursivas como táticas de controle no campo social e que realizam alianças que respondem a interesses econômicos e políticos. Sendo assim, o ser humano é um corpo que olha para si mesmo e para o mundo que o cerca a partir dos discursos que possuem efeitos de verdade. O nosso objeto de análise é o discurso psiquiátrico. Buscamos analisar algumas doenças que constituem o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como legitimador desses discursos para pensarmos a criação de novas psicopatologias. Queremos saber como os transtornos mentais são produzidos? Tratamos de problematizar nossa atualidade em que novos transtornos e medicamentos são oferecidos pela indústria farmacêutica junto com os psiquiatras, que produzem discursos que naturalizam o uso de psicotrópicos como garantia de alívio e normatização do sofrimento humano. Tal sofrimento é descrito no DSM que muitas vezes tem como efeito a criação de necessidades sociais em função da busca de uma felicidade ilusória, com promessas de que o individuo é capaz de “escolher o seu humor” e o que se encontra é o aumento de diagnósticos e de novos medicamentos no mercado. E qual o objetivo disso? Sustentar a indústria psiquiátrica que criam necessidades vagas e diagnósticos imprecisos? Permitir que cada indivíduo escolha o seu humor sem arcar diretamente com suas dificuldades e sofrimentos? Pois, para cada uma das demandas estritamente humanas há um diagnóstico, logo uma prescrição médica levando a utilização de medicamentos. Deste modo, temos como resultado que para a construção e utilização do DSM são traçadas varias alianças entre associações ( psicológicas, estatísticas, politicas e econômica ) assim, como no uso prático do mesmo, onde se traça alianças entre a psiquiatria, a farmacologia, a cultura, a justiça, os meios de comunicação e de acordo com cada transtorno traçam-se alianças para uma definida atuação prática, como por exemplo em casos de transtornos alimentares, há uma aliança com a nutrição, no caso de compras compulsivas, há uma aliança com a cultura capitalista. Contudo, entendemos que a psicopatologia juntamente com a psiquiatria e outros discursos, também estão diretamente ligadas e atendem aos interesses políticos de controle social e ao mesmo tempo econômicos. Como se sabe, as classificações dos transtornos mentais descritas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais têm aumentado a cada uma de suas edições e acompanhado as mudanças culturais da época. E o aumento de doenças psíquicas tem se dado porque o que é dito nos DSMs quer englobar todas as dificuldades e todo tipo de sofrimento humano, de tal forma que o ser humano não pode se permitir e vivenciar momentos de fraqueza, angustia, aflição, ansiedade. Palavras-chaves: Psicopatologias, Psiquiatria, DSM, Política, Psicologia 147 148 10. MÚSICA UNDERGROUND E RESISTÊNCIA CULTURAL NAS PERIFERIAS DO RIO DE JANEIRO – UM ESTUDO DE CASO Alexandre Bárbara Soares Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [email protected] Este trabalho busca explorar as tensões entre resistência e dominação através de dimensões articuladas como a formulação de um discurso de oposição, a tomada de consciência crítica frente a situações de opressão e a ação coletiva. O objeto de análise são as expressões culturais tendo como base o percurso profissional de dois músicos da Baixada Fluminense, estado do Rio de Janeiro que fazem parte de um conjunto musical considerado underground e fora do roteiro reconhecidamente popular da produção cultural. Suas letras tratam de temas como os limites da propriedade privada, a ocupação de terras, a reforma agrária, o veganismo e os direitos dos animais. Interrogamos se, por meio de dispositivos culturais, diferentes e particulares falas cotidianas podem dar visibilidade a conflitos e tensões de nosso tempo histórico, provocando o deslocamento do olhar na direção da politização da cultura. Esta análise é parte de pesquisa de doutorado em curso, desenvolvida no Departamento de Pós-graduação em Psicologia da UFRJ, denominada “Juventude, cultura e resistência: a experiência juvenil nos movimentos culturais underground”. Desenvolvimento Recorremos a Duncombe (2002) que trabalha com a noção de resistência cultural de modo a articular a relação entre política e cultura. Esta perspectiva se estrutura em torno das ideias de dissidência dos jovens e de seus movimentos em relação a normas impostas, a padrões instituídos e a regras. Também recorremos a Scott (1990) que defende que a ritualização de identidades através dos eventos culturais colocaria em cena figuras simbólicas que permitiriam as camadas subordinadas criarem momentos de reconhecimento coletivo, pela linguagem e pelos encontros. Objetivos Discutir algumas facetas contemporâneas da dominação e de possibilidades de exercícios de resistência no âmbito cultural neste contexto urbano. Identificar possíveis elementos da resistência que se faz como processo de construção de si e de alternativas de vida, a partir da formulação de um discurso, de uma ação coletiva e da tomada de consciência de si frente a estas circunstâncias. Método Os depoimentos foram colhidos em duas entrevistas semiestruturadas, transcritas e analisadas através do método da análise de discurso. Também foram utilizados como elementos de análise partes do documentário “Meriturope”2. Todas as falas foram categorizadas e classificadas por saturação, relacionando os assuntos que se repetiam ou que constantemente retornavam no discurso dos entrevistados. Resultados/Conclusões A participação em coletivos culturais se configurou como uma porta de acesso a diferentes realidades e ações, estabelecendo a aquisição de um discurso próprio que produziu sentidos às circunstâncias de vida antes tidas como naturais ou imutáveis. Da mesma forma, a identificação de aliados reforçou a posição de rejeição aos padrões dominantes, consolidando um processo identitário coletivo. Ou seja, se há legitimação do controle e da dominação através de processos de subjetivação, também podem-se afirmar outras possibilidades de viver em sociedade como forma de resistência. Palavras chave (UNESCO Thesaurus): Juventude - resistência – ação cultural. 2 Documentário realizado pelos próprios membros da banda Confronto, ainda em fase de edição, sobre os contrastes observados por eles entre seu local de origem e dos locais pelos quais a banda passou em suas viagens de tournée. 148 149 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL 1. FORMAÇÃO DE PSICÓLOGAS E PSICÓLOGOS E A PRÁTICA SOCIAL EM SAÚDE Mariana Luzia Aron Universidade Nove de Julho – Uninove [email protected] Embora com mais de 50 anos de regulamentação e com intensas mudanças sociais em nosso país no mesmo período, ainda nos dias de hoje predomina o ensino da Psicologia Clínica em seus moldes mais tradicionais nos cursos de graduação em nosso país. Há uma transformação evidente não só na quantidade de indivíduos que acessa o ensino superior, e portanto também a graduação em Psicologia, como também na composição sócio-econômica destes universitários. O questionamento que se faz é por que não instrumentalizar tecnicamente estes futuros profissionais para que possam compor mais efetivamente transformações em seus locais de origem. Com a preocupação de capacitar os futuros psicólogos para atuarem na área da saúde de maneira mais condizente com a realidade social que se apresenta, desde 2010 são oferecidas propostas de estágio no ambulatório integrado de saúde de uma universidade particular da cidade de São Paulo que buscam integrar o futuro profissional à realidade sócio-culturaleconômica. As modalidades são: Visitas Domiciliares (Perin, 2010), Interconsulta (De Marco, 2003) em consonância com propostas mais humanizadoras, e Oficina de Memória. Tais estágios são oferecidos nos penúltimo e útimo semestres da graduação em Psicologia. A interconsulta visa apoiar e auxiliar o profissional de saúde no momento de necessidade em seu trabalho bem como estabelecer ou restabelecer o bom relacionamento entre ele e o seu paciente, entre ele e os acompanhantes/responsáveis do paciente ou ainda entre os profissionais da equipe que estão atuando junto a este paciente. A visita domiciliar pode ser considerada uma prática profissional de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, juntamente ao indivíduo em seu próprio meio social, ou familiar (Miranda; Silva; Silva; Jaeger, 2012). O psicólogo em visita domiciliar presta assistência nos domicílios e locais de vivências das pessoas, possibilitando um atendimento digno e de qualidade para aqueles que por alguma razão estão impossibilitados de se dirigirem a um local de atendimento. Neste contexto, a visita domiciliar é vista como um facilitador, pois permite a compreensão da realidade, bem como, auxilia no contato com os sujeitos assistidos, para a manutenção de sua saúde, desenvolvimento da autonomia e resgate de identidade (Miranda; Silva; Silva; Jaeger, 2012). Felizmente, diante destas condições estes sujeitos em formação têm a possibilidade de sensibilizarem-se com a realidade da maioria das pessoas e atuarem em conjunto com outros parceiros profissionais de saúde, promovendo, através de sua prática a atenção à saúde integral. Assim, a prática une-se à teoria na construção de sujeitos mais politizados e engajados. Palavras-chave: Interconsulta; Saúde; Nutrição; Psicologia; Formação 149 150 2. DIRETRIZES OFICIAIS PARA AO ATENDIMENTO À FAMÍLIA DE SURDOS Edneia de Oliveira Alves Universidade Federal da Paraíba [email protected] Juliana de Abreu Barros Universidade Estadual do Piauí [email protected] Luana Karine da Costa Nogueira Intituto Federal do Piauí, [email protected] Maria de Fatima Pereira Alberto Universidade Federal da Paraíba, [email protected] A trajetória da história de vida dos surdos tem sido marcada por exclusão e segregação, porém, o movimento da sociedade atual busca uma inclusão social e escolar desse sujeito, partindo de suas reais necessidades e potencialidades e respeitando-os como diferentes. A partir desta prerrogativa, é necessário que as variáveis intervenientes nesta inclusão sejam investigadas, dentre eles: as famílias e a inclusão educacional. Sendo assim, o recorte escolhido para este trabalho foi a análise os direitos assegurados às famílias de surdos na legislação brasileira. O estudo originou-se da necessidade de saber se os direitos ao atendimento psicossocial das famílias de surdos são assegurados por lei e nos demais documentos oficiais, assim como pela necessidade de oferecer retorno aos profissionais que atuam na educação, saúde e assistência social. Outra justificativa para este recorte é que há a necessidade de oferecer informações aos profissionais que atendem direta ou indiretamente aos familiares de surdos, dentre estes os professores aos quais são constantemente solicitadas informações. O embasamento teórico pauta-se na concepção de sentido e significado com base em Vigotsky e Bakhtin que concebem que os sentidos e significados se constituem por intermédio da linguagem, assim, o signo escolhido no momento de produção verbal que demonstra as ideologias e as percepções de mundo e estas são construídas por intermédio das interações sociais. A problemática em questão era saber se havia previsão legal a respeito do atendimento específico às famílias e o objetivo foi compreender as indicações regidas pelos documentos oficiais sobre o atendimento às famílias das crianças surdas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental, na qual foi realizada um levantamento dos documentos legislativos que abordam a temática, especificamente, a família do surdo e a Declarações de Salamanca. Esta foi incluída no corpus por ser o documento referência na inclusão educacional das pessoas com deficiência. A análise dos dados foi baseada na análise temática de conteúdo nos moldes propostos por Minayo. Com as palavras chave: deficiência auditiva, surdez, Libras, atendimento/família e atendimento especializado, foram encontrados 184 documentos, mas, após leitura flutuante e análise, apenas 5 documentos abordavam a temática de interesse, dentre eles a declaração de Salamanca porque é direcionada à pessoa com deficiência. Concluímos que os documentos oficiais que abordam a questão prevê o atendimento à família, porém, de forma muito vaga. Esses documentos não especificam o tipo de atendimento considerando o tipo de deficiência com atendimento específico que atendam à demanda das famílias de crianças surdas, principalmente, as usuárias de Libras. Palavras chave: política, família, surdo, Libras. 150 151 3. EDUCAÇÃO E SURDEZ: CONCEPÇÕES OFICIAIS Maria de Fatima Pereira Alberto Universidade Federal da Paraíba [email protected] Edneia de Oliveira Alves Universidade Federal da Paraíba [email protected] A perspectiva da educação bilíngue para surdos é recente no Brasil e encontra-se em fase de implementação pelo sistema educacional, assim, o interesse se justifica pela preocupação em contribuir com o acesso ao saber escolar e com a inclusão social do surdo usuário de Libras nesse novo contexto em que está sendo inserido o surdo. Os dados apresentados são parte dos resultados encontrados na tese de doutorado: “Concepção do surdo usuário de Libras sobre seu acesso à educação formal”. O problema que delineia o trabalho da tese como um todo é saber como o surdo concebe o acesso à educação formal. Porém, tem-se também como objetivo compreender as diretrizes documentais que atingem a educação desses sujeitos para uma análise contrastiva os discursos desses sujeitos, assim como as concepções que norteiam as ações de tomada de decisão. O embasamento teórico pauta-se na concepção de vivência e de sentido e significado. A primeira categoria teórica baseia-se nos estudos de Toassa sobre Vigotsky que considera a vivência como parte do indivíduo demonstrando como o eu experiência uma realidade que está fora de si. A segunda é baseada em Vigotsky e Bakhtin, assim, concebe-se que os sentidos e significados atribuídos à realidade vivenciada se constituem por intermédio da linguagem, assim, o signo escolhido no momento de produção verbal que demonstra as ideologias e as percepções de mundo e estas são construídas por intermédio das interações sociais. Os dados aqui apresentados foram abstraídos da pesquisa documental, uma das técnicas que compõe esta tese, cuja fonte foram leis e decretos com data a partir de 2002 e declarações de acordo internacionais – cujo intervalo de tempo não foi delimitado pois foram incluídos por terem sido citados por leis de inclusão educacional – e o Plano Nacional de Educação. A análise de dados foi baseada em análise de conteúdo temática – conforme proposto por Minayo – dos documentos oficiais que tratam sobre a educação de pessoas surdas usuárias de Libras. A exploração de interesse neste trabalho é da subcategoria: Concepções da temática: Princípios norteadores das ações políticas. Assim, podemos destacar que os documentos oficiais assumem como educação inclusiva fundamentalmente a manutenção de crianças com deficiência em um mesmo espaço escolar com as crianças não deficientes e que a educação especial é aquela fornecida para crianças com deficiência, com transtorno ou superdotação e, preferencialmente, na escola regular. Como reflexão sobre o assunto, que ainda está sendo amadurecida porque se trata de dados da tese em andamento, é que percebe-se uma contradição básica entre a exigência de que o professor atenda o aluno com suas necessidades específicas em um espaço cuja maioria dos alunos demanda um trabalho pedagógico que comumente é trabalhado em sala de aula, tais como: material didático e interação professor x aluno. Palavras chave: educação, política, surdo, Libras. 151 152 4. POLÍTICAS CARTOGRÁFICAS PÚBLICAS: UMA EXPERIENCIA ENTRE O INSTITUÍDO E O INSTITUINTE NA GESTÃO DA SAÚDE MENTAL PELOTENSE Moisés José de Melo Alves Universidade Federal de Pelotas, [email protected] Luis Artur Costa Universidade Federal de Pelotas, [email protected] Cynthia Luz Yurgel Gerente de Saúde Mental da SMS de Pelotas-RS, [email protected] Édio Raniere Universidade Federal de Pelotas, [email protected] Este trabalho desenvolve problematizações lógicas institucionais afirmadas nos processos concernentes aos desafios inerentes aos de gestão da Coordenadoria de Saúde Mental profissionais que buscam produzir inovação e de Pelotas. Durante um período de quatro flexibilidade na gestão de políticas públicas: meses o estagiário acompanhou rotinas, as tensões entre instrumentos burocráticos reuniões, estudou a estrutura organizacional e impessoais e as singularidades situacionais os instrumentos burocráticos de gestão das questões que enfrentam. Como pode atuar existentes no município.Seguindoas pistas o psicólogo na criação, regulamentação e cartográficas, o discente efetivou uma costura implementação de políticas públicas: como entre diversas tensões vivenciadas no campo construir metodologias institucionais de que são visibilizadas a partir da trajetória gestão do público que garantam ao mesmo singular da experiência do discente durante tempo sua impessoalidade e singularidade, seu período de estágio. Após a consolidação permanência e inovação? O presente estudo jurídica do movimento da reforma foi elaborado durante o estágio curricular em psiquiátrica brasileira desde a Carta de Bauru, Psicologia Institucional do curso de o "não" aos manicômios ainda necessita de Psicologia da UFPel, inserindo-se na tensão enormes esforços. Mais de um quarto de entre a consolidação da Reforma Psiquiátrica século se passou e a loucura continua em políticas públicas, os desafios da nova causando muito estranhamento. Dessa forma, lógica das redes de trabalho em saúde mental, esta cartografia problematiza a e a poiésis de uma biopolítica contemporânea. implementação e gestão de novos serviços Tal questão se faz premente no presente públicos mediante as políticas de governo momento onde vivemos a necessidade de municipais, estaduais e federais: residenciais, institucionalização das práticas da reforma programa de redução de danos e consultório psiquiátrica, as quais surgiram em um de rua, CAPS, etc. Assim, costurando a contexto de invenção e experimentação análise implicada das vivências cotidianas na constantes: como garantir sua perenidade e coordenadoria, junto da análise das diferentes estabilidade independente da sucessão dos portarias públicas, editais e leis que governos sem, no entanto, engessar sua lógica regulamentam o funcionamentos dos serviços inventiva e instituinte? Este é o objetivo geral municipais, a presente Cartografia faz uma do estudo: podemos produzir políticas leitura estratégica das relações entre a públicas de saúde mental institucionalizadas e Psicologia e as Políticas Públicas. Com o flexíveis a um só tempo? Alguns dos auxílio de alguns analisadores ela apresenta as objetivos específicos seriam: construir uma tensões existentes na criação, regulamentação ferramenta de formação de psicólogos no e implementação das políticas públicas no campo das políticas públicas; investigar como campo da saúde mental em sua atual vertente estão sendo elaboradas e implementadas as de afirmação e consolidação da reforma políticas públicas da reforma psiquiátrica; psiquiátrica: tutela e liberdade, padronização elencar os instrumentos dos quais dispõem os e singularidade, impessoalidade e contexto, gestores de saúde mental para gerir estas inovação flexível e perenidade, etc. palavraspolíticas; que modulações biopolíticas chave: Políticas Públicas; Saúde Mental; estamos construindo hoje? Percorremos este Biopolítica; Psicologia Social; Cartografia território através de uma Cartografia das 152 153 5. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI Mitra Vivian de Barcelos Universidade Federal de Goiás [email protected] Tatiana Machiavelli Carmo Souza Universidade Federal de Goiás [email protected] O fenômeno da adolescência em conflito com a lei tem preocupado tanto as esferas da sociedade civil quanto as governamentais. O crescente aumento e a gravidade dos atos infracionais contribui para que os adolescentes sejam vistos de forma negativa. Este trabalho buscou conhecer as crenças e valores atribuídos aos adolescentes partindo das representações sociais dos operadores jurídico-sociais sobre os Adolescentes em Conflito com a Lei (ACL). A pesquisa foi pautada nos pressupostos teóricos das representações sociais de Serge Moscovici. Foi aplicado questionário em 27 operadores jurídico-sociais envolvidos na designação e acompanhamento de medidas socioeducativas. O questionário buscava compreender quais eram as características dos sujeitos estudados (sexo, idade e grau de escolaridade), quais características atribuíam aos ACL, o que acreditavam ser fatores determinantes para o ato infracional, o que esperavam para o futuro dos adolescentes em conflito com a lei possíveis medidas de ressocialização. A amostra foi composta por 6 sujeitos que atuavam no Sistema Judiciário, 7 no Programa Liberdade Assistida e 14 em instituições que ofereciam espaço para o cumprimento das medidas. Nessa direção, foram constituídas seis categorias de análise: a) caracterização dos operadores jurídicosociais; b) representações sociais ligadas a questões positivas e negativas; c) adolescentes e família; d) adolescência e religião; e) adolescente em conflito com a lei e políticas públicas; f) (im)possibilidades dos adolescentes em conflito com a lei. As informações foram interpretadas de forma qualitativa a partir da análise de conteúdo. Encontrou-se que a grande maioria dos operadores jurídico-sociais eram do sexo feminino e possuíam nível superior completo. Quando questionados se já haviam tido algum tipo de problema com os adolescentes em conflito com a lei, 67% dos sujeitos afirmaram que sim. Esse dado pode ser fator determinante para que as representações acerca dos ACL fossem carregadas por estigmas negativos. Parte dos participantes atribuiu à família a culpa pela inserção do jovem nos atos infracionais e desoneraram o Estado de suas obrigações. Os participantes, além de acusarem a família, buscavam respostas ao fenômeno da adolescência em conflito com a lei por meio do Estado, assinalando o papel das políticas públicas e sua importância para a formação dos sujeitos. Ressalta-se o fato de parcela dos participantes terem atribuído a fatores hereditários a origem dos atos infracionais. Embora os sujeitos tenham atribuído características positivas aos adolescentes, prevaleceram nos discursos as negativas. Encontraram-se representações que tangenciavam a culpabilização da família, falta de religião e agravamento das questões sociais. Palavras-chave: Família, Religião, Políticas Públicas. 153 154 6. PSICOLOGIA POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL Pedro Paulo Gastalho de Bicalho Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] A pesquisa investiga produções de subjetividade no campo das políticas de segurança pública no Brasil. Analisa políticas de segurança pública que condensam diferentes correlações de forças, a fim de problematizar a criminalização de grupos estatisticamente minoritários e a adoção do extermínio subjetivo como política de contenção. A pesquisa, referenciada em analisadores advindos das políticas públicas brasileiras de enfrentamento ao tráfico de pessoas, é recortada no entendimento jurídico que diferencia migrações não-documentadas e tráfico de pessoas, em torno do conceito de consentimento. Ao problematizar tal critério, coloca-se em análise suas consequências na construção de políticas públicas específicas, atravessadas aos processos psicossociais e coletivos. Como metodologia, analisa as discussões acerca do saber psicológico presentes nas reuniões do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, instância de assessoramento do Ministério da Justiça do Brasil, evidenciando que a disseminação das informações advindas do meio científico, bem como a disponibilização de um conhecimento crítico da história das práticas e políticas contemporâneas de segurança pública é necessária a fim de fomentar a elaboração e o acompanhamento de políticas públicas brasileiras, promovendo o fortalecimento da Psicologia Jurídica não somente no Executivo e no Judiciário campos de atuação já consolidados - mas, também, no Legislativo brasileiro. A importância de discutir a emergência do saber criminológico e sua intrínseca relação com as manutenção de determinadas ordens sociais, pode ser melhor destacada em relação às políticas criminais e de segurança pública. Destacamos basicamente duas correntes da Criminologia (Positivista e Crítica) para analisar as relações entre controle social e criminalidade. A Criminologia Positivista busca uma causa explicativa da criminalidade, fundado num paradigma etiológico, ou seja, tendo por objeto a criminalidade concebida como um fenômeno natural, causalmente determinado, assume a tarefa de explicar as suas causas segundo o método científico. O crime é entendido como uma realidade em si, como desvio ou enfermidade de uma sociedade. Já as correntes da Criminologia Crítica (ao Positivismo), buscam entender o crime como complexidade, como o efeito de uma multiplicidade de determinantes (sociais, culturais, políticos, raciais, etc.), entendendo que as políticas de controle social definem as condutas desviantes, por processos de criminalização que caracterizam determinadas classes e sujeitos como criminosos potenciais/virtuais ou como clientela privilegiada do sistema penal, apontado o caráter político e ideológico dos mecanismos de controle social. As políticas brasileiras de enfrentamento ao tráfico de pessoas são (ainda) delineadas a partir de um Plano Nacional, pela inexistência de marcos legais específicos que definem os limites que definem migrações não-documentadas em contraposição ao tráfico de pessoas. Cartografar e interferir em tais discussões, no âmbito do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP), pelo viés da análise das produções de subjetividade expressas em tais discussões tornam-se relevantes a fim de contribuir para a consolidação do campo de pesquisa sobre a temática do enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, articulando-a aos estudos da subjetividade, promovendo debate entre as diversas esferas implicadas na garantia e promoção dos direitos humanos, além de fomentar a discussão na formulação e acompanhamento das políticas públicas. Palavras-chave: Psicologia Política; Políticas Públicas; Tráfico de Pessoas. 154 155 7. ENTRE POLÍTICAS DE IDENTIDADES E IDENTIDADES POLÍTICAS: OS DISCURSOS DE USUÁRIOS E FAMILIARES MILITANTES DA LUTA ANTIMANICOMIAL Débora Cidro de Brito. Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo [email protected] A luta antimanicomial brasileira, que teve seu início na década de 1980, permitiu mudanças importantes na política de atenção à saúde mental. Nessas ações, damos destaque à participação popular, em especial, de pessoas com diagnóstico de sofrimento psíquico e familiares que atuam por meio de coletivos antimanicomiais. Esses coletivos apresentam uma característica específica de países em desenvolvimento que, devido a dependência financeira de portadores de sofrimento psíquico e a visão paternalista sobre a doença mental, impedem a autonomia desse grupo, necessitando que tais coletivos sejam formados pela junção de trabalhadores, portadores de sofrimento psíquico e familiares. Embora exista uma ideia de fortalecimento das ações coletivas nesta junção, ainda encontramos os portadores de sofrimento psíquico e familiares ocupando um espaço marginal dentro destes coletivos, ou até mesmo, em oposição aos trabalhadores, transformando as ações coletivas em espaços de disputas entre seus membros. (Lobosque, 2003; Vasconcelos, 2003). Outro motivo para que essas desigualdades e conflitos aconteçam se dá pelo longo histórico de práticas manicomiais que transcenderam as torturas dentro dos manicômios, produzindo uma política de identidade que, conforme afirma Goffman (2008), define um modo possível de vivência para alguns indivíduos que, sem muita escolha, terminam por aceitar estas imposições em busca de aceitação. No caso da loucura, os conceitos de periculosidade ou incapacidade atravessam essas políticas de identidades. Os coletivos antimanicomiais apresentam esta possibilidade de imposição de políticas de identidades, seja pela necessidade de dar forma à sua luta, seja pela liderança dos trabalhadores que definem qual o espaço possível para o portador de sofrimento psíquico e/ou familiar dentro destes coletivos. Ainda assim, torna-se necessário reconhecer que são estes espaços, apesar de suas dificuldades, que proporcionam a possibilidade de construção de identidades políticas, que visam questionar as desigualdades sociais que foram naturalizadas ao longo dos anos e que fortaleceram uma identidade pressuposta para a loucura. (Ciampa, 2002; Almeida, 2005; Lima, 2010). A partir destas colocações, buscamos evidenciar as falas de usuários e familiares com experiência na militância antimanicomial, para que possamos entender como a tensão entre políticas de identidades e identidades políticas se manifestam em seus discursos sobre a luta antimanicomial. Essas falas foram colhidas durante a pesquisa de mestrado realizada neste ano. Para a realização das entrevistas foi utilizado roteiro semi-estruturado com o objetivo de colher as histórias de vida dessas pessoas, em especial a experiência da militância antimanicomial. As entrevistas foram realizadas após a explicação dos objetivos da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram efetuadas seis entrevistas, mas somente duas histórias foram escolhidas para a pesquisa de mestrado. No trabalho atual, a partir das contribuições dos autores já indicados, foram analisadas as seis entrevistas realizadas anteriormente, em que pudemos constatar o papel emancipador proporcionado pelos coletivos antimanicomiais, por meio das identidades políticas que se formaram na militância. Por outro lado, persiste na maioria das falas uma crítica sobre os limites da luta antimanicomial e a percepção de uma política de identidade que ainda busca impor uma forma possível para a loucura. Palavras chaves: luta antimanicomial, política de identidades, identidades políticas, militância. 155 156 8. REABILITADORES, ABOLICIONISTAS E CONVENIÊNCIA TEÓRICA: ANÁLISE PSICOPOLÍTICA DOS DISCURSOS ACERCA DA CRIMINALIZAÇÃO E DO APRISIONAMENTO Semíramis Costa Chicareli Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, [email protected] Este trabalho se constitui como parte das discussões teóricas e históricas sobre os posicionamentos político-ideológicos em torno da criminalização e do aprisionamento, e como parte da pesquisa de mestrado em andamento intitulada “Análise Psicopolítica da Pastoral Carcerária: Participação Política na Defesa dos Direitos Humanos desde a Década de 80”. A Psicologia Política emerge no século XIX desde um posicionamento comprometido com grupos que ocupam posição privilegiada nas relações de poder e como técnica de criminalização e de dominação de grupos sociais específicos (Silva, 2012), ou seja, como uma “Psicologia Política Criminalizadora” que demonstra claro recorte étnico/racial, econômico e político-ideológico. Já a partir de 1970, emerge uma tendência radicalmente oposta em países que vivenciaram regimes políticos autoritários e ditatoriais, contexto em que o Brasil está inserido, como uma Psicologia Política da Libertação e desde um posicionamento militante e anti-capitalista, inserida na luta dos movimentos sociais por acesso aos Direitos Humanos, e que compromete-se com a conscientização e libertação de grupos oprimidos historicamente e com a transformação social (Botello,1999; González-Suárez, 2008; Montero, 2009; Sandoval, 1989, 1994, 2001; Silva, 2012; Spadoni, 2009). De acordo com Almeida (2003), há um conflito ideológico dos discursos atuais sobre o sistema prisional e suas funções, seja na produção de conhecimento ou na promoção de políticas públicas de limitações ou de acesso aos direitos, e que essas discussões podem ser compreendidas a partir de três categorias de posicionamentos político-ideológicos: 1) Reabilitadores: liberal, criminalizador; 2) Céticos: esquerda, anti-capitalista; e 3) Conveniência teórica: centrista, contraditória à medida que assume ambos discursos antagônicos anteriores. A partir dessas articulações teóricas, buscaremos apontar como a tendência criminalizadora e reabilitadora produziu uma forma de conhecimento psicopolítico liberal que ainda se reflete na atualidade em produções acadêmicas brasileiras, nas políticas públicas, práticas judiciárias e nas estatísticas oficiais do sistema penitenciário, quando a maioria das pessoas selecionadas para habitarem as prisões pertencem à determinados grupos sociais historicamente oprimidos. Embora a Psicologia Política tenha surgido no século XIX em torno dos temas da criminalização e da punição de todos os grupos considerados subalternos (nãobrancos, pobres, latinos, socialistas, comunistas e anarquistas), na atualidade, e no contexto brasileiro, são escassos os estudos inseridos nessa tendência libertadora e militante que tratam diretamente desses temas de forma ampla (e para além dos chamados “presos políticos”), ou que se assumem radicalmente em oposição aos discursos liberais criminalizadores e reabilitadores que produzem criminosos, crimes e a “cura” para eles (Chicareli, 2011). Acreditamos que estudos inseridos na tendência libertadora da Psicologia Política tem como desafio a produção de conhecimentos que contribuam para novas leituras sobre o sistema de criminalização e aprisionamento, desde que, partindo dos seus pressupostos de desideologização,desalienação,desnaturalizaç ão e conscientização, e envolvidas em ações que levem ao fortalecimento de grupos que foram historicamente desfavorecidos, problematizem o papel das relações sociais, econômicas e políticas na produção do crime e do criminoso e como estratégia política estruturante da sociedade capitalista. Palavras chaves: Psicologia Política; Criminalização; Aprisionamento; Relações de Poder; Sistema Prisional. 156 157 9. DA PALMATÓRIA À POLÍCIA: GENEALOGIA DAS LÓGICAS DISCIPLINARES NO CONTEXTO ESCOLAR Thiago Colmenero Cunha Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] A presente discussão é proposta ao tomar como campo problemático o atual contexto escolar brasileiro, no que tange à emergência de acontecimentos relacionados à violência performada por seus alunos. Tais acontecimentos, midiaticamente massificados, lançam luz sobre a temática da segurança e da disciplina no cotidiano escolar, promovendo a necessidade de se proteger e defender a sociedade. Tomando como dispositivo as práticas de controle, punição e castigo no contexto escolar brasileiro ao longo dos séculos, o presente trabalho coloca em análise as lógicas disciplinares que circulam dentro desse espaço. A partir das reflexões trazidas por Michel Foucault, toma-se como recurso metodológico a genealogia, pois exige a busca da singularidade dos acontecimentos, ou seja, requer o entendimento da emergência e proveniência de um determinado saber, daquilo que é singular, contingente. Compreende-se a historia como um campo de forças em combate, a partir do qual certas verdades acerca do governo da sociedade emergem como hegemônicas, sendo objetivadas por aparelhos disciplinares e práticas normalização, especialmente em relação à produção de uma infância normal, dócil e disciplinarizada. Percebe-se que a escola, ao longo da sua historia, através de seus modos de educar, limpar, higienizar, ordenar e regular, foi útil para fazer funcionar determinados modos de governar. Desde o uso da palmatória, da repressão e atualmente do patrulhamento ostensivo feito pela Policia Militar nas Escolas Estaduais do Rio de Janeiro, o que se vê hoje afina-se com o que Michel Foucault chamou de biopoder: um poder que estabelece uma política do convívio social e do comportamento ideal, prescrevendo uma regulação do corpo-espécie e do existir em toda sua extensão – enquanto homens, mulheres, alunos, cidadãos. Assim, a noção de violência, que passa a ser instrumentalizada neste contexto, é tomada como um dado natural, um efeito de relações entre exercício de poderes e produção de saberes sobre o ser uma criança-alunohumano normal. Frente a esse contexto, busca-se fazer pensar que modos e lógicas são essas que os modos de organização na escola sustentam, preservam e mantém. E ainda, apontar para a produção de novos olhares e encontros da Psicologia com a escola, de modo a potencializar outros modos de vida e saídas para os tensionamentos enfocados, que não a da judicialização da vida. Palavras-chave: Genealogia, Biopoder, Disciplina, Educação, Infância. 157 158 10. DIAGNÓSTICO E JUDICIALIZAÇÃO DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM DIVINÓPOLIS (MG) Marilene Tavares Cortez INESP/FUNEDI/UEMG, [email protected] Débora Silveira Duarte INESP/FUNEDI/UEMG; [email protected] Cláudia Lúcia Carazza INESP/FUNEDI/UEMG, [email protected] Fernanda Júlia Santos Dias INESP/FUNEDI/UEMG, [email protected] O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos mentais infantis mais diagnosticados na atualidade. A despeito de ser um diagnóstico de difícil realização, ele vem sofrendo uma banalização tanto no campo da saúde, quanto no meio escolar. Várias pesquisas identificam a ocorrência de um número excessivo de diagnósticos no Brasil, bem como aumento preocupante no fornecimento de medicação à criança diagnosticada com esse transtorno. Em 2013 iniciamos uma pesquisa junto à Defensoria da Infância e Juventude e à Farmácia Complementar de Divinópolis e identificamos um número expressivo de processos judiciais solicitando a compra de metilfenidato, medicação ministrada no tratamento do TDAH. Sem recursos financeiros para custear a medicação, famílias de crianças com o diagnóstico de TDAH movem ação contra o município para receberem gratuitamente essa medicação. Diante desses dados buscamos investigar se em Divinópolis ocorre a judicialização do TDAH. Os resultados aqui relatados estão ligados ao projeto de extensão desenvolvido por nós, desde 2013, ainda em andamento. Desta maneira, esta pesquisa tem como objetivos: a) investigar a ocorrência da judicialização do TDAH em Divinópolis; b) propor às famílias das crianças que receberam o diagnóstico médico de TDAH que elas sejam submetidas à avaliação psicológica. A primeira etapa da investigação (ligada ao objetivo “a”) está encerrada e a segunda (ligada ao objetivo “b”) está em andamento. Assim, inicialmente fez-se um levantamento junto à Defensoria da Infância e Juventude e à Farmácia Complementar de Divinópolis sobre a existência de processos judiciais solicitando a compra de medicação para o escolar com o diagnóstico médico de TDAH. Utilizando de uma metodologia de caráter quantitativo, verificou-se a existência de tais processos em Divinópolis. O segundo momento da pesquisa, de caráter qualitativo, envolve a reavaliação diagnóstica da criança identificada como tendo o TDAH. As crianças convidadas a serem reavaliadas foram selecionadas aleatoriamente a partir de listas de processos judiciais existentes na Defensoria e na Farmácia Complementar. Aqueles que concordaram em participar dessa segunda fase da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (pais e/ou responsáveis) e o Termo de Assentimento (criança). Os resultados encontrados são parciais, uma vez que a pesquisa encontra-se em andamento. Identificou-se um aumento preocupante do número de processos judiciais de 2000%, entre os anos de 2005 e 2013, envolvendo a compra de medicação para a criança com o diagnóstico médico de TDAH. Espera-se, com o emprego de testes psicológicos, enquanto reforçador de diagnóstico, avaliar os processos cognitivos envolvidos no TDAH, como a memória de trabalho e a velocidade de nomeação, buscando-se fazer, assim, um diagnóstico diferencial dessas crianças. Esta avaliação nos permitirá identificar se há crianças fazendo uso de medicação para o TDAH, mas que não apresentam esse transtorno. Hipotetizamos que a ausência de políticas públicas claras e efetivas para os escolares que apresentam o TDAH e a precariedade do conhecimento dos educadores e dos profissionais da saúde pública sobre esse transtorno tem levado à sua judicialização. Palavras-chave: TDAH, diagnóstico, judicialização. 158 159 11. SOCIEDADE DE CONTROLE E A PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEMPORÂNEO: HISTÓRIA DO PRESENTE EM FOUCAULT Ana Gabriela Machado de Farias Universidade Federal de Sergipe [email protected] O presente trabalho circunda a problemática do modo de subjetivação, referente aos processos de produção do sujeito na concepção de Michel Foucault. Foi desenvolvido por meio de um estudo de obras deste pensador, de Gilles Deleuze, bem como de seus comentadores, com a finalidade de conhecer e operacionalizar seus principais conceitos. Além disso, para ampliar a visão dessas investigações, analisou-se a historicidade e o modo de produção do Cinema Novo, fazendo relação com o conteúdo teórico estudado. A partir do uso dessas ferramentas, buscou-se relacionar o pensamento foucaultiano com a questão do contemporâneo e da história do presente, no plano genealógico, em que não se parte de causalidades lineares. Utilizou-se como panorama a sociedade de controle, termo que passa a ser trabalhado por Deleuze, em discurso com a sociedade disciplinar, por Foucault. Este agrupamento de ideias permite a compreensão dos processos de construção de conceitos como a política e a história, de modo a responder o desafio de pensar uma espécie de diagnóstico do presente no qual a Verdade vai ser problematizada. Em uma reflexão acerca do modo de produção cinematográfica do Cinema Novo, é possível ter uma visão mais clara e ilustrativa desses conceitos. Este estilo de fazer filme demonstra uma narrativa polissêmica e complexa, com a evidência um pouco distante de um objetivo aparente, devido à dificuldade de decodificação instantânea da narrativa, na qual, entender uma “moral da história”, tornase tarefa difícil em relação a filmes que não seguem esta lógica. Assim sendo, a história não cronológica dessa linha cinematográfica apresenta a construção de um conhecimento como efeito da batalha de relações de poder, o que remete inclusive ao modo de Foucault de observar a história pela superfície. Ocorre um exame da história (movimento, mudança) como uma rede de saberes, de encontros e modificações; como uma história do presente. A história do presente enquanto um modo de produção de saber que se torna vivo no nosso dia-a-dia permite a discussão sobre a questão da sociedade de controle. Este termo é utilizado por Deleuze para se referir à sociedade contemporânea, caracterizando nosso modo de vida, subsequente à sociedade disciplinar descrita por Foucault. É marcante no surgimento da sociedade de controle a desobstrução das muralhas que delimitavam o dentro e o fora institucional na sociedade disciplinar. Enquanto o controle daquela ocorre ao ar livre, independente de espaço físico determinado, o domínio nesta está associado ao espaço de confinamento. O que se pode evidenciar a partir desse estudo, é que um novo olhar foi desenvolvido a respeito dos modos de produção de conhecimento e do pensar a vida, na configuração do sujeito e de seus modos de subjetivação. Assim, é proposto um constante questionamento sobre as verdades instauradas nas organizações sociais na contemporaneidade, bem como na forma peculiar de enxergar-se no mundo por meio das ideias baseadas no pensamento de Foucault e de Deleuze. Palavras-chave: Psicologia Social, Sociedade de Controle, Contemporâneo, História do Presente 159 160 12. UM BREVE HISTÓRICO DO TROTE NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: IMPLICAÇÕES INSTITUCIONAIS E VIOLÊNCIAS Maria Fernanda Aguilar Lara Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] Mirian Sewo Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] O trote, como um ritual de passagem da vida estudantil para a vida acadêmica, surge na Europa na Idade Média, quando foram instituídas as primeiras instituições de ensino superior. Nesta época o acesso à universidade era buscado como forma de ganhar status e ascensão social. Assim, aqueles que entravam nas universidades – novatos ou calouros – acabavam por se submeter à hierarquia instituída por aqueles já mais antigos nas universidades, os veteranos. Os recémchegados assistiam às aulas a partir de vestíbulos, por não poder frequentar os mesmo lugares que seus veteranos. Também tinham seus cabelos cortados e suas roupas queimadas, tendo como justificativa a prevenção à proliferação de doenças (ZUIN, 2002). Ao longo da história, o trote, se configurou como uma prática carregada de violência e opressão, que tem como base a hierarquia das relações entre os calouros e os veteranos. Tal prática tem como justificativa a tradição: é a forma tradicional e “natural” do meio acadêmico de recepcionar os recémingressantes. O presente trabalho tem como objetivo apresentar um levantamento histórico acerca das produções relacionadas ao trote universitário, tendo como recorte central a problematização da implicação das universidades no combate às violências que decorrem dessa prática. Advém de uma pesquisa em andamento – realizada a partir da disciplina Projeto Orientado de Pesquisa (POP), do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – que tem como objetivo compreender o processo histórico do trote nas universidades brasileiras e analisar como o trote se articula e se configura no curso de Psicologia da UFMT, campus Cuiabá. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica e análise documental, pontuando que está previsto, para as etapas seguintes da pesquisa, o trabalho de campo e a realização de grupos focais. Os resultados parciais obtidos são: o trote como ritual de passagem se configura desde o início como uma prática violenta; as universidades pouco se implicam no combate ao trote violento; há poucos trabalhos e pesquisas em torno desta temática; as medidas institucionais no combate ao trote se restringem a métodos punitivos e normativos. Observa-se que a falta de produções e debates acadêmicos apenas contribui para a naturalização de tal prática. As universidades não reconhecem esta configuração de trote – violenta e opressiva – como uma prática adequada de recepção, entretanto acabam por aceitá-la indiretamente ao não tratar este assunto com a devida consideração (NOVELLI, 1999). Assim se faz necessária a criação de espaços de debates sobre esta temática, onde a universidade assuma papel central como instituição formadora de opinião e atue sobre perspectivas educativas e transformadoras da realidade social atualmente vigente. Entender a problemática que envolve o trote nas universidades é um primeiro ponto de reflexão para a transformação desta prática. Devemos analisar o trote de forma histórica, compreendendo suas alterações e reconfigurações, e sua representação na atualidade, situando-o dentro do contexto atual da sociedade brasileira, que se estrutura em um sistema carregado de contradições, que preza pela competição e meritocracia. Apenas inserindo tal prática em sua totalidade social poderemos pensar em possibilidades de transformação. Palavras-chave: Trote; Universidade; Violência; Opressão. 160 161 13. A ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS DIANTE DA REALIDADE VIVIDA PELOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO Rosa Graciéla de Campos Lopes [email protected] Marcus Vinícius de Campos França Lopes Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] A presente proposta de estudo tem como objetivo analisar como o professor tem atuado no processo de inclusão e verificar como o psicólogo tem auxiliado neste processo. Assim sendo, está em andamento uma revisão da literatura a partir de alguns artigos selecionados com base no estudo de estado da arte de Bisol, Sangherlin e Valentini (2013), com o intuito de conhecer o processo de inclusão na qual os professores tem trabalhado. Por ter em vista a importância do professor no processo de inclusão e, ao levar em consideração o estudo de Bahia (2009) que aponta para o fato dos professores não receberem capacitação adequada, a falta de discussão sobre o tema e a divergência de avaliações do desempenho dos alunos, propõe-se um olhar para esse profissional que tem sido submetido a tais condições de trabalho que o impedem de entrar em contato com a significação do mesmo. Esse olhar terá como base os trabalhos feitos por Tanamachi, Proença e Rocha (2000), Meira e Facci (2007), Gomes e Souza (2012) e Guzzo e Lacerda Jr. (2007), que tem proposto um novo olhar sobre a psicologia escolar e também alternativas na relação do psicólogo-professor, abrindo espaço a novas práticas em psicologia direcionadas aos profissionais de educação. Também se utilizará o trabalho de Baró (1996), que propõe uma nova forma de se fazer psicologia, na qual se deve levar em conta o contexto vivido pelas pessoas atendidas, bem como a realidade histórica e política que circundam suas vivências. Sendo assim Dessa maneira, ao estudar como o processo de inclusão tem sido feito pelos professores e o modo como os psicólogos tem inserido sua atuação nesse contexto, deseja-se promover o estudo e pesquisa na área de forma que as discussões políticas e educacionais cheguem de forma mais efetiva nesses contextos, possibilitando aos educadores uma prática mais consciente. Será utilizada a revisão bibliográfica enquanto método, escolhendo artigos e livros que abordem o tema da inclusão na perspectiva do professor, e que discorram também sobre as atuais propostas de prática psicológica no contexto escolar. Com o intuito de verificar o que tem sido produzido sobre o tema e quais propostas tem sido apresentadas, dando continuidade a discussão. Palavras Chaves: Inclusão; Professor e Inclusão; Atuação do Psicólogo; Psicólogo e inclusão. 161 162 14. JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO: DESAFIOS À RESSOCIALIZAÇÃO. Fernanda Campos Marinho Instituto de Educação Superior de Brasília-IESB [email protected] Ana Lúcia Galinkin Universidade de Brasília-UNB [email protected] Ao longo da história das práticas sociais frente aos jovens considerados ‘desviados’ no Brasil, tem-se acumulado críticas ao modelo repressivo e punitivo, cuja técnica primordial utilizada é a da privação de liberdade. Os altos índices de reincidência e a cultura da violência no interior das unidades de internação para adolescentes ilustram os desafios a serem enfrentados para o alcance do ideal de recuperação deste público. Utilizando-se de uma abordagem interacionista, o objetivo geral deste estudo é analisar o processo de ressocialização a partir da percepção dos jovens e da realidade enfrentada por estes após liberação de medida socioeducativa privativa de liberdade. Como objetivos específicos têm-se: identificar a avaliação feita pelos jovens quanto à instituição e período de privação de liberdade; identificar as percepções destes acerca das mudanças advindas da experiência de internação; apreender suas percepções quanto ao seu universo relacional, tendo em vista a realidade pré e pós-institucional; conhecer quais dificuldades têm enfrentado no seu retorno à liberdade e com qual suporte estes têm contado. Foram realizadas entrevistas com 21 jovens liberados da medida privativa de liberdade, que cumpriram sentença em uma unidade de internação do Distrito Federal. A seleção dos participantes se deu intencionalmente, cujo critério foi o de conveniência. Como instrumento de coleta de dados foram utilizados questionários para caracterização sociodemográfica e entrevista com roteiro semiestruturado, composta por 13 perguntas. A análise dos dados foi realizada a partir do método da Análise de Conteúdo, utilizando-se da análise temática e análise das oposições para a construção de categorias. Os resultados apontam para altos índices de reincidência criminal, baixa instrumentalização dos jovens ao mercado de trabalho, restrição de redes sociais e de oportunidades de vida, ausência de trabalho com os egressos e com a comunidade, rotulação e estigmatização por eles enfrentadas. Discute-se a ineficácia das políticas voltadas à ressocialização. Avalia-se que os métodos utilizados pelas instituições totais são contraproducentes tendo em vista a falta de estrutura destas, a cultura que reproduz, ao fato de que não fornecem modelos adequados à aprendizagem nem possibilitarem o desenvolvimento psicossocial dos jovens. Por fim, critica-se o "ideal de ressocialização" baseado na concepção liberal de homem, em um modelo correcionalrepressivo e em instituições totais. Sugere-se a necessidade de avaliação dos resultados destas políticas e de seu impacto no desenvolvimento humano, que considerem os processos culturais, grupais e de socialização que envolvem tanto o aprisionamento, quanto o retorno ao convívio sociofamiliar. Palavras-chave: adolescentes em conflito com a lei; instituições totais; estigmatização; ressocialização. 162 163 15. POLÍTICAS PÚBLICAS: CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES DE POBREZA NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Vanessa Oliveira Mesquita Lenise Santana Borges Pontifícia Universidade Católica de Goiás Introdução: esta pesquisa surge no âmbito do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Processos Psicossociológicos do Programa de Mestrado da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Como proposta, este estudo, alinha-se a estudos voltados à promoção da equidade das relações entre riqueza e pobreza, partindo do pressuposto de que o fenômeno da desigualdade social é fruto de construções sociais. Desenvolvimento: devido a adequação do posicionamento temático/político, esta pesquisa utiliza-se da postura sócioconstrucionista vinculada à Psicologia Social Crítica como recorte teórico metodológico. Para isso, o estudo orienta-se por dois aportes teóricos que se complementam para justificar a realização deste estudo: Construcionismo Social e a Teoria Ator Rede. Objetivo Geral: Compreender os sentidos atribuídos à pobreza na Política Pública de Assistência Social Brasileira. Objetivos Específicos: a) Mapear documentos de domínio público que versem sobre o Programa Bolsa Família; b) Analisar como o Programa Bolsa Família tem articulado noções de pobreza na sua formulação e implementação; c) Articular os repertórios sobre pobreza a partir das vozes dos/as beneficiários/as e dos/as profissionais que atuam no Programa Bolsa Família. Método: A pesquisa foi realizada no âmbito da Assistência Social do município de Rio Verde – GO. Como procedimentos metodológicos foi realizado o levantamento dos documentos de domínio público, observações das reuniões de acompanhamento dos/as beneficiários/as do Programa Bolsa Família e, ainda, entrevistas com as beneficiárias e profissionais. A análise baseou-se na metodologia das práticas discursivsas visualizadas por meio de tabelas, mapas dialógicos, àrvores e linhas narrativa. Resultados/conclusões: As falas das beneficiárias remetem ao dinheiro recebido do Bolsa Família como uma ajuda/um auxílio que performa noções de pobreza e principalmente expõe um lugar de subalternidade. Outra questão emergente no estudo foram as visões de “superação” da pobreza. Tanto os documentos de domínio público como as profissionais entrevistadas reforçaram, a ideia do programa Bolsa Família como uma estratégia “combate à pobreza”. Essa busca de superação é vista principalmente pelas iniciativas voltadas a cursos de geração de renda. Para as beneficiárias os cursos são elementos fundamentais na inserção no mercado de trabalho. E o emprego é considerado como elemento primordial nas condições de melhoria de vida. Os resultados apontam a centralidade de questões como o acesso aos recursos e as relações de poder que envolvem o Bolsa Família. Tais questões são fundamentais para o empoderamento do gênero feminino. Porém, incidentes observados nas reuniões e também nas falas das beneficiárias denotam ainda uma baixa sensibilidade do programa para a discussão de gênero. Dessa forma, as questões de gênero dentro das políticas de acompanhamento familiar da instituição pesquisada, devem ser pensadas como possibilidades de aprimoramento do Programa Bolsa Família. Em âmbito nacional a pesquisa contribui no sentido de desconstruir noções de pobreza que ajudam ou mantém o fato da pobreza como inevitável na sociedade atual, bem como chama atenção para a centralidade das questões de gênero no contexto o do programa Bolsa Família. Palavras-chave: Bolsa-família; políticas públicas; psicologia social; construcionismo social. 163 164 16. POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE MENTAL: O QUE MUDOU NOS DISPOSITIVOS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL? Larissa Rodrigues Moreira Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás [email protected] Elisa Alves da Silva Universidade Federal de Goiás (UFG); Faculdade Estácio de Sá de Goiás (FESGO) e curso de Especialização em Saúde Mental Álcool e outras drogas UnB/Ministério da Saúde [email protected] O objetivo do presente trabalho é problematizar como o processo de constituição da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica no Brasil contribuiu para a transformação do cuidado, da atenção à saúde mental e para o estabelecimento de um novo lugar social para a “loucura”. Por meio de relatórios e documentos do Ministério da Saúde é possível identificar os avanços proporcionados no campo das Políticas Públicas em Saúde Mental, sendo que estudos nessa área podem auxiliar no processo de constituição desse novo modelo psicossocial. Nessa direção, essa investigação tem como método a revisão bibliográfica acerca da temática e se embasou na análise dos documentos que fundamentam as políticas públicas de atenção à saúde mental. Observou-se que a Reforma Psiquiátrica trouxe importantes avanços na atenção à saúde mental e a implementação de outros dispositivos, para além do hospital psiquiátrico, permitem que o enfoque biomédico não seja central na compreensão do processo saúde-doença. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as residências terapêuticas (SRT) e os programas de geração de renda para os usuários e familiares do sistema de atenção à saúde mental são dispositivos que imprimem uma nova lógica ao tratamento dos transtornos mentais, com vistas a garantir a promoção de saúde. Esse modelo de atenção proposto pela Reforma Psiquiátrica é composto por uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que abarca a saúde integral do indivíduo e conta com uma equipe interdisciplinar para o atendimento e as intervenções no Projeto Terapêutico Singular. Cada usuário tem seu projeto terapêutico construído com base na sua demanda específica e o principal avanço nesse novo modelo é que o isolamento e a internação deixam de ser o instrumento fundamental de tratamento, que passa a focar intervenções que privilegiem a inserção cotidiana desse usuário na sociedade com o objetivo de garantir sua autonomia e reabilitação. Além disso, a perspectiva de atenção integral às pessoas que possuem um sofrimento psíquico grave é o elemento relevante para uma compreensão que abarque as múltiplas determinações que marcam o processo de adoecimento. Sendo assim, o foco não é mais em um modelo hospitalocêntrico de compreensão da doença e sim em um modelo psicossocial que centra as ações na promoção de saúde e na garantia de produção de um cuidado que engendra garantias de direito e novos modos de viver. Palavras-chave: Saúde; Loucura; Reforma Psiquiática; Luta Antimanicomial; Políticas Públicas. 164 165 17. UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE O BULLYING HOMOFÓBICO Bruno Halyson Lemos Nobre Universidade Federal do Ceará [email protected] A instituição escolar, na contemporaneidade, tem sido atravessada por diversas questões problemáticas que têm colocado em xeque o seu papel na sociedade. Dentre estas questões, tem sido notório o destaque que a violência nesses espaços tem assumido. Dada sua prevalência e especificidades, cunhou-se o termo Bullying para descrever um determinado conjunto de práticas de violência em contextos escolares que representam o cotidiano de atitudes agressivas repetidas e intencionais produzidas ao mesmo tempo que produz relações desiguais de poder. Existem concepções variadas sobre como perceber o bullying em sua complexidade. Em geral, os autores consideram fatores de risco para sua ocorrência, entre eles os fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamento, além de influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade. Dentro desse quadro, a homofobia compõe parte das cenas nas quais o bullying ocorre, sendo descrita por um conjunto de ações e internalizações negativas acerca da diversidade sexual, possibilitando a ocorrência de atos de violência (física, psicológica, entre outras), invisibilização da existências sexo diversas, etc. O bullying homofóbico, então, é descrito como a prática de violência à pessoas sexo diversas e constituído a partir dos fatores de risco mencionados, prescindindo das reflexes e críticas à sociedade heteronormativa em que o “fenômeno” ocorre. Tendo em vista, nesse contexto, que pessoas que se identificam de forma não normativa quanto à orientação sexual e a identidade de gênero tendem a ser “vítimas” mais facilmente violentadas (dada a exclusão e não aceitação da diversidade sexual por parte da escola e da sociedade, além da fragilidade que representa afirmar-se como diferente, e, portanto, defender-se frente às violações) o presente artigo objetiva refletir criticamente o lugar do conceito de bullying, tomando como foco o bullying homofóbico e suas concepções envolvidas. Tem-se em vista, com isso, possibilitar elucubrações sobre o potencial dos discursos acadêmicos (que o delimitam como conceito) de manutenção ou transformação do status quo da realidade da violência nas escolas vivenciadas por sujeitos sexo diversos. Para tanto utiliza-se de revisão de literatura e análise de discursos acadêmicos correntes sobre o tema. Assim, é possível entender que o conceito de bullying carrega consigo limitações teórico-políticas, uma vez que concentra sua análise nas motivações individuais e grupais para o exercício da violência no contexto escolar, negligenciando o quanto os comportamentos associados ao bullying estão intrinsicamente ligados a relações sociais de poder e controle. Esses traços destacados nos estudos vêm mascarar a dimensão política subjacente aos fenômenos de violência nas escolas. Entendendo, a partir disso, ser imprescindível que se transformem as micro e macropolíticas sociais, a partir da compreensão de que são elas que fundamentam a construção dos sujeitos que praticam o bullying. Para uma efetiva transformação, a própria sociedade e seus regimes de verdade e dispositivos de disciplina e poder devem ser revisto em seu rechaço às existências dissidentes, no que se refere à raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, orientação religiosa, etc. Palavras-chave: Educação; Escola; Homofobia; Bullying 165 166 18. A FORMAÇÃO POLÍTICA DO PSICÓLOGO: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO FORMATIVO A PARTIR DE UMA RELATO DE EXPERIÊNCIA Carlos Eduardo Esmeraldo Filho José Maria Nogueira Neto FANOR/ DEVRY BRASIL [email protected] O objetivo dessa pesquisa é oferecer alguns elementos para reflexão sobre a formação política do estudante de psicologia, a partir da análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Psicologia da Faculdades Nordeste (Fanor/Devry Brasil). Como participantes do referido projeto, temos vivenciado experiências desafiadoras no que se referem a aspectos políticos da formação do psicólogo. Cremos que um dos principais desafios é colocar em prática um PPP relativamente complexo e sofisticado, que propõe, como ênfases, campos de estudo contemporâneos e contextualizados em relação à realidade brasileira e cearense, e conciliá-lo com as exigências de formação técnica voltada para o mercado. O PPP prioriza o estabelecimento de um percurso de enquadramento teórico-político, como estudantes em formação, que se sobressaia em um dado contexto de análise. Então, nessa perspectiva, são pensados eixos e áreas de atuação junto aos segmentos de ênfases. As áreas de atuação são as delimitações técnicoprofissionais que sinalizam a prática, o procedimento e o local de desenvolvimento do trabalho. As ênfases sugeridas são: IPsicologia, Instituições e Culturas, que tem objetivo empreender esforços no estudo e discussão dos aspectos que asseguram ou ameaçam a diversidade, considerando a constituição cultural do psiquismo humano; e II-Psicologia, Sociedade Civil e Direitos Humanos, que busca produzir discussões e pesquisas no que se referem aos elementos que promovem ou ameaçam a dignidade. Percebemos que as ênfases permitem problematizar o aspecto político na formação do psicólogo, na medida em que consideram os processos de mediação cultural do desenvolvimento humano, as questões relacionadas às diferentes formas de violência presentes na contemporaneidade e as discussões em torno de diferentes concepções de cidadania. Cada ênfase do curso se desdobra em dois eixos, os quais, por sua vez, originam dois campos de estudo e de atuação. Torna-se possível, assim, seguir em dois caminhos: o primeiro caminho parte da formação técnica em direção ao político. Esse é o caminho do campo “Clínica de Direitos Humanos e Clínica Ampliada”, com foco na violação de direitos e conflitualidades, que está vinculado à ênfase “Psicologia, Sociedade Civil e Direitos Humanos”. O outro caminho parte do político em direção ao técnico, como acontece com o campo “Clínicas Psicoterápicas”, pertencente à ênfase “Psicologia, Instituições e Culturas”. Observamos que esse duplo caminho possibilita a articulação da formação técnica com a formação política do estudante de psicologia, de maneira que nenhuma das duas se apresenta de maneira isolada. Questionar como os profissionais são formados e como podem estar se aparatando com essas novas discussões também pode ser algo a ser levado em consideração. Aqui, portanto, se apresenta um convite ao debate, uma proposta para que sejam possíveis o pensamento e a construção de novas ferramentas de trabalho que possam pensar a psicologia e as políticas como campos férteis para novas produções e novos entendimentos sobre o humano. Palavras-Chave: Formação do Psicólogo; Projeto Político Pedagógico; Direitos Humanos 166 167 19. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E MERCADO DE TRABALHO: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE FORMAÇÃO E ACOMPANHAMENTO PROFISSIONAL DA APAE EM SALVADOR Larissa Novaes, Jéssica Teixeira Eliane Conceição, Carla Patrícia Hevilla Oliveira, Laisa Sacramento Maria Virgínia Dazzani Universidade Federal da Bahia, [email protected] / [email protected] Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é uma instituição que trabalha na área social e não possui fins lucrativos, tendo por objetivo primordial a promoção da inclusão social e articulação dos direitos das pessoas com deficiência intelectual. O Centro de Formação e Acompanhamento Profissional (CEFAP) é um órgão vinculado a Apae que desenvolve um Programa de Educação Profissional visando possibilitar a inserção no mercado de trabalho. A partir dos 16 anos os jovens assistidos pela Apae são encaminhados para o Cefap, onde serão avaliados e acompanhados por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar. Dessa maneira, no presente estudo foi adotado o conceito de deficiência intelectual enquanto um quadro psicopatológico que se refere, de maneira especial, às funções cognitivas (Pereira, 2012). Por sua vez, o Ministério do trabalho (2014) conceitua a deficiência (geral) como uma limitação física, mental, sensorial ou múltipla, que incapacite a pessoa para o exercício de atividades normais da vida e que, em razão disto, tenha dificuldades de inserção social. Tais conceitos foram utilizados com o intuito de compreender as possibilidades e desafios na acessibilidade do deficiente intelectual ao mercado de trabalho, para tal foi abordada também a lei nº 8.213, de julho de 1991, destinada a garantia da reserva legal de cargos para deficientes nas instituições. Neste sentido, o presente trabalho se propôs a relatar a experiência vivenciada no Cefap durante a realização da visita técnica em junho de 2014, na cidade de Salvador, com intuito de investigar o papel do psicólogo dentro desta instituição e como se configura a inserção desses jovens no mercado de trabalho. Objetivos gerais deste estudo: investigar o trabalho realizado pela instituição Cefap Salvador; analisar a participação do psicólogo nesta instituição; e, compreender as possibilidades utilizadas pelo Cefap na inserção dos jovens com deficiência no mercado de trabalho. Objetivos específicos: identificar o papel do psicólogo no Cefap; analisar os procedimentos adotados pela instituição quanto à qualificação profissional desses jovens; e, elencar as dificuldades/facilidades na acessibilidade do deficiente intelectual ao mercado de trabalho e possível ascensão social. Quanto ao método, o procedimento de coleta de informação utilizado foi entrevista semiestrutura contendo aproximadamente dez questões. A entrevista foi realizada na instituição Cefap Salvador, localizada no bairro de São Joaquim, na data de 3 de junho de 2014. Participou da entrevista a coordenadora pedagógica e também membro da comissão de comunicação da sede. Em síntese, através da visita técnica realizada no Cefap foi possível identificar que a instituição busca proporcionar e garantir ao jovem com deficiência intelectual uma preparação adequada para que ele possa ser inserido no mercado de trabalho. Porém, não foi permitido, por regras da instituição, estabelecer contato direto com o psicólogo e consequentemente identificar o papel deste profissional dentro do Cefap. É relevante também refletir sobre os cargos ocupados pelos deficientes intelectuais nas empresas, que em geral não proporcionam ascensão social. Instituição como o Cefap juntamente com as leis que asseguram o acesso ao mercado de trabalho tem contribuído para inclusão social, embora saibamos que ainda há muito a se fazer. Palavras-chave: Deficiência Intelectual, Mercado de Trabalho, Inclusão 167 168 20. POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO: CONTROLE OU AUTONOMIA? Marina de Carvalho Oliveira Universidade Federal de Sergipe [email protected] José Maurício Mangueira Viana Os teóricos da saúde pública brasileira, em especial Martha Pereira e Cristovam Barcellos, afirmam a necessidade de produzir saúde no território. A organização destas práticas é pensada pela distribuição dos serviços seguindo a lógica de determinação de áreas de abrangência para atuação dos agentes de saúde e da equipe de saúde da família das unidades de saúde distribuídas dentro de um município. No campo da saúde mental, o Estado brasileiro instituiu os serviços substitutivos, CAPS, que seguem esta mesma lógica do território. Esta não é uma prática estruturada em grandes instituições hospitalares centralizadoras, ela representa as ações voltadas ao o sujeito no local onde reside. Desenvolvimento Para melhor entendimento destas práticas, torna-se necessário buscar na história o começo deste modo de pensar o cuidado com a saúde e quais contingências foram marcantes para sua emergência. Assim, o conceito de território de Foucault, como norteador das análises, é comparado com o termo utilizado no campo da saúde pública brasileira. A problemática gira em torno das políticas e propostas teóricas voltadas para estabelecer o cuidado mais dinâmico ao sujeito no território, sem que sejam formas de controla-lo, pois questões políticas são determinantes para que os indivíduos e suas respectivas condutas sejam uma grande preocupação do Estado. Objetivos e Métodos A partir das pesquisas histórico-genealógicas de Michel Foucault, em especial as obras “Segurança, Território, População” (2008) e “O nascimento da Medicina Social” (1979), este trabalho, de caráter preliminar, de revisão bibliográfica e análise conceitual, teve como objetivo buscar na história o começo deste modo de pensar o cuidado em saúde e problematizar os possíveis efeitos dessas políticas. Resultados/Conclusões Para os teóricos da saúde pública, território representa um conceito dinâmico de relações espaciais e sociais. Entretanto, Foucault considera o território como os limites de um espaço físico entre muros protegido pelo poder do soberano. Porém, vemos emergir no século XVIII um novo modo de governar, a Razão de Estado, além de novos conceitos que serão fundamentais no tocante ao tema da saúde, como os de meio e o de população. O meio refere-se ao espaço onde as coisas circulam e que atinge os indivíduos como população. É no cuidado com o meio que surge uma das vertentes da Medicina Social europeia, a francesa. Um dos objetivos desta é administrar o meio, fazendo emergir uma nova tecnologia política do corpo individual e social, a biopolítica. Evidenciamos a importância de aprofundar as discussões acerca das políticas de saúde contemporâneas voltadas ao território, já que a proposta encontra similaridade com as da medicina europeia do século XVIII, revelando uma continuidade, não uma novidade. Apontamos a problematização de tais propostas de saúde, se elas estariam para promover políticas mais participantes, e autonomia da população, ou se, atuariam como forma de aprofundar dependência e heteronomia dos sujeitos. Palavras-chave: Políticas de Saúde Pública; Saúde Mental; Território; Biopolítica; Michel Foucault 168 169 21. TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM UM PRESÍDIO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE REDUÇÃO DE DANOS Fernando Figueiredo dos Santos e Reis Psicólogo da Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça USP [email protected] O problema da dependência química e do uso de drogas ilícitas em presídios brasileiros é amplamente conhecido. Mesmo sendo um ambiente supostamente protegido, a entrada de drogas acontece, encontrado uma população em vulnerabilidade social e fragilidade psíquica. Portanto, levar tratamento adequado a esses sujeitos diz respeito tanto à saúde pública quanto à segurança pública, visto que os índices de reincidência criminal associados à drogadição são altos. Este trabalho relata a experiência de um programa de tratamento de dependência química em um grande presídio do Estado de Goiás, pautado pela política de redução de danos. De acordo com as Políticas Nacionais Sobre Drogas existentes no Brasil como o Plano Nacional Integrado de Enfrentamento ao Crack (BRASIL, 2010), e o Programa Crack: é possível vencer, que têm como objetivo geral criar e fortalecer instrumentos multissetoriais para a prevenção e o tratamento da dependência química em geral e do crack em especial, a redução de danos é um paradigma de tratamento reconhecido pelo Ministério da Saúde e incentivado pelas políticas públicas. A política de redução de danos busca minimizar as consequências adversas de natureza biológica, social e econômica do consumo de drogas, sem que haja a necessidade de o sujeito parar ou mesmo diminuir a frequência do uso de drogas (POLLO-ARAÚJO e MOREIRA, 2008 e BITTENCOURT e SOUZA, 2011).Contudo, dentre as práticas de redução de danos para o crack, uma das mais eficazes é a sua substituição pela maconha, outra droga ilícita. O efeito da maconha ajuda a combater os sintomas da fissura do crack e aliviam a ansiedade produzida pelo cárcere. Essa prática, ao mesmo tempo que gera importantes resultados, se sustenta na ilegalidade do consumo e comércio da maconha. O trabalho na fronteira destas contradições será exposto demonstrando a inserção política da psicologia tendo como foco a saúde biopsicossocial. A dependência química não surge somente da simples experimentação de algumas drogas, mas sim do modo como estas ocupam o lugar da falta. A escolha deste modo de tratamento levanta discussões sobre como ainda é preciso avançar nas políticas públicas sobre drogas e na questão da legalidade de algumas substâncias. A política de guerra contra as drogas, além de pouco eficaz, traz como consequência a superlotação de presídios com sujeitos que invés de encarcerados precisavam ter uma maior suporte social e um adequado tratamento. Palavras chaves: drogas, redução de danos, presídio. 169 170 22. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA EM MATO GROSSO: REVELANDO LUTAS POR DIGNIDADE E CIDADANIA Ruzia Chaouchar dos Santos, [email protected] Elen Romero de Oliveira, [email protected] JéssicaTomazLawall, [email protected] Marcus Vinicius de Campos França Lopes, [email protected] Jane Teresinha Domingues Cotrin, [email protected] Universidade Federal de Mato Grosso Marisa Helena Alves, Conselho Regional de Psicologia – 18ª Região Lucia Regina Soares Pereira, [email protected] Rosa Helena Cesnique, [email protected] Evanize Lemes Matos, [email protected] Centro Universitário de Várzea Grande O presente estudo tem por finalidade gravadas com sujeitos que se disponham a investigar e registrar o processo de compartilhar suas experiências com a constituição da Psicologia como profissão no coletividade. A história oral apenas pode ser estado de Mato Grosso, considerando sua empregada em estudos sobre temáticas inserção em seu contexto histórico, político e contemporâneas acontecidas em um passado social. Para tanto, este trabalho, de caráter não muito distante, para que os entrevistados histórico, tem como objetivos: identificar os se recordem dos acontecimentos. O estudo primeiros profissionais de Psicologia está sendo desenvolvido em duas etapas atuantes; investigar e caracterizar as primeiras complementares: a primeira, de identificação, áreas de atuação, práticas, teorias e já foi realizada e contou com uma pesquisa instrumentos, com a finalidade de traçar as documental junto ao Conselho Regional de predominâncias que se estabeleceram nessa Psicologia – 18ª Região, e foram identificados área de saber; levantar informações para os primeiros psicólogos credenciados no superação das lacunas de materiais históricos estado de Mato Grosso. A pesquisa se que registrem e analisem a história da encontra na segunda fase, de coleta de dados, Psicologia no estado; produzir referências realizada por meio de entrevistas, filmagens e bibliográficas; e contribuir para construção da busca de documentos com os psicólogos identidade do psicólogo. Conforme Ana pioneiros que atuaram no estado. Como Maria Jacó-Vilela, investigar a história da recorte temporal deste estudo foram fixadas Psicologia permite desnaturalizar os atuais as décadas de 1970 e início de 1980, pois saberes e práticas. Dessa forma, compreender referem-se aos primeiros registros da atuação a história da profissão no país e no referido de profissionais de Psicologia na região. estado pode ensejar novas perspectivas Posteriormente, esses profissionais foram políticas e de análise, incentivando pesquisas contatados para que as entrevistas iniciais em outras temáticas que derivem das fossem realizadas. Adicionalmente, no discussões e questões aqui identificadas. Os decorrer das mesmas, os profissionais citaram pressupostos teóricos que orientam este outros nomes, documentos e instituições, que estudo são baseados nas contribuições de não constavam no levantamento inicial. Os Franco Cambi; Ana Maria Jacó-Vilela; resultados preliminares apontam que os Marina Massimi; Mitsuko Aparecida Makino primeiros psicólogos se formaram em outros Antunes. O procedimento metodológico estados, principalmente no estado de São adotado é a história oral, tal como sintetiza Paulo, e vieram para o Mato Grosso no final Verena Alberti; essa técnica de pesquisa da década de 1970 e início de 1980. Atuaram objetiva complementar e enriquecer os dados principalmente na área de Educação, históricos presentes em documentos escritos, Educação Especial, Saúde Mental e imagens, dentre outras formas de registro, o Assistência Social. Esta primeira etapa do que possibilita novas perspectivas à projeto está prevista para ser encerrada no ano historiografia. Tal método consiste na de 2015. Palavras-chave: História da realização de uma ou várias entrevistas Psicologia, Memória da Psicologia, MT. 170 171 23. SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE PSICOLOGIA: UMA ANÁLISE DOS PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR COM LICENCIATURA EM PSICOLOGIA Ida Celine Gonçalves Santos Jordana de Castro Balduino Universidade Federal de Goiás [email protected] [email protected] Este trabalho tem como objetivo apresentar as discussões geradas a partir da investigação documental de uma pesquisa de Iniciação Científica, sobre o tema “Concepções de formação de Professor de Psicologia: um estudo em Projetos Políticos Pedagógicos das Instituições de Ensino Superior com licenciatura em Psicologia”, que serviu de subsidio à pesquisa intitulada “A formação do professor de Psicologia no âmbito das diretrizes curriculares nacionais: concepções e implicações para a atuação docente”. A discussão a respeito da relação Psicologia e Educação, a partir das novas diretrizes curriculares nacionais para os cursos de Graduação de Psicologia (Resolução n° 5 de 15 de março de 2011, DOU 16/03/2011) em que se estabelecem normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia, recolocam de forma imperativa a necessidade de se pensar nas concepções de formação desse professor e suas implicações para a atuação docente. A reelaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos das Instituições de Ensino Superior de todo o país com o curso de graduação de Psicologia se torna tema central no debate atual com a obrigatoriedade da oferta da licenciatura. Nessa pesquisa foi realizado um levantamento de todos os Projetos Políticos Pedagógicos das Instituições de Ensino Superior com licenciatura em Psicologia do país, além de realizar estudos sobre as diferentes concepções de formação de professores, visando apreender, no âmbito dos documentos que tratam da formação do professor de psicologia, as concepções de formação e suas implicações para a atuação docente. Para isso, foram desenvolvidas atividades de levantamento, identificação e análise das concepções da formação do professor de psicologia dos Projetos Político Pedagógico das Instituições de Ensino Superior com licenciatura em Psicologia; sistematização dos dados obtidos por meio de relatórios parciais; e análise dos dados encontrados. A partir do levantamento de dados, feito inicialmente no site do Ministério da Educação, na página do e-MEC (http://emec.mec.gov.br), foi constatado que no Brasil, há cadastrados 647 cursos de psicologia em atividade. Dos ativos apenas 27, entre públicas e privadas, ofertam licenciatura na graduação. No entanto, diante da dificuldade de acesso aos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) existentes e, também, da inexistência de outros, a investigação centrou-se na análise dos PPPs dos cursos de Psicologia gratuitos, ou seja, das IES públicas, contabilizando ao todo 11 Projetos Políticos Pedagógicos. Os resultados da pesquisa apontam um baixo o número de instituições que já adequaram seus cursos à legislação vigente desde 2011, em que se torna obrigatório a oferta da licenciatura em Psicologia. A partir da leitura na íntegra e análise de nove PPPs identifica-se a necessidade de um projeto de formação de professores de Psicologia em consonância com a cultura e concepção de formação de professores da própria instituição. Esses dados mostram a importância de estudos voltados para a formação do professor de Psicologia, não somente na sua especificidade e sim a partir da construção de um projeto coletivo de licenciatura que implicaria o envolvimento de todos aqueles que participam da formação de professores da instituição. Palavras-chaves: Formação Psicologia; de Licenciatura; professor. 171 172 24. EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: ALGUMAS PROPOSIÇÕES Sheila Daniela Medeiros dos Santos Docente da Programa de Pós-Graduação em Psicologia – FE/UFG [email protected] Karin Cristina de Souza Moraes Magalhães Graduanda em Pedagogia – FE/UFG [email protected] No Brasil contemporâneo, face ao universo ideológico neoliberal e pós-moderno, as discussões controversas endossadas e divulgadas nos vários panoramas sociais desvelam a urgência em encontrar propostas alternativas para minimizar o fenômeno da violência nas escolas, assim como apontam para a necessidade de implementar políticas públicas efetivas para enfrentar esse problema. De acordo com Sposito (2001) apenas no início da década de 1980, a partir da proposta de redemocratização do país, o debate sobre a relação entre a violência e a escola tornou-se objeto de estudo legítimo no meio público e acadêmico, recebendo a atenção do Estado e da imprensa escrita e eletrônica como um problema social. Com o passar dos anos, embora as pesquisas no domínio nacional ainda sejam incipientes, questões fundamentais são levantadas e incitam o surgimento de novos estudos, como os de Abramovay e Rua (2002), Candau (2001), Guimarães (2005), Patto (2007), Peralva (2000), Pino (2007), Schilling (2007), Sposito (2001) e Zaluar (1999) que contribuem para a problematização do fenômeno da violência no contexto escolar. Nessa direção, com intuito de encontrar pistas significativas sobre as vicissitudes da temática em pauta, a presente pesquisa objetiva analisar as expressões da violência no contexto escolar, aprofundando as reflexões sobre o modo como afetam as relações que se instauram na cotidianidade desse espaço institucional, a luz da perspectiva Histórico Cultural em Psicologia. Para efetivar esse estudo, de cunho marcadamente teórico, realizou-se um levantamento bibliográfico das principais produções teóricas no período de 2000 a 2013: livros que constam na base de dados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, depositária do patrimônio bibliográfico e documental do Brasil, e artigos científicos publicados em periódicos (Qualis A e B na classificação definida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES), ambos nas áreas da Educação e da Psicologia. Os estudos realizados apontaram para o fato de que as expressões da violência na escola, longe de ser manifestações de irracionalidade, referemse a elementos mediadores concretos da ordem da cultura que instituem e são instituídos pela atividade humana. Tem-se, portanto, a constituição de um fenômeno complexo, que não está restrito à realidade interna da escola, nem tampouco ao próprio indivíduo, mas que coloca em destaque questões inextricavelmente relacionadas a aspectos históricos, econômicos, políticos e sociais de determinada época/sociedade. Por fim, um caminho plausível para enfrentar a violência na educação escolar aponta para a ênfase em práticas participativas, na relação entre a escola e a comunidade, e para a construção da sociabilidade voltada para a formação da cidadania, para a concretização da democracia e para o reconhecimento da dignidade humana. Palavras-chave: violência, escola, perspectiva histórico-cultural. 172 173 25. CIRCULAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM INSTITUIÇÕES DE ATENDIMENTO NA CIDADE DE SALVADOR Djean Ribeiro dos Santos Juliana Prates Universidade Federal da Bahia [email protected] Este estudo tem por objetivo dissertar sobre a circulação de crianças e adolescentes nas instituições de atendimento na cidade de Salvador onde está sendo realizado através de um recorte da pesquisa “O impacto da vida na rua em adolescentes: Um estudo longitudinal sobre risco e proteção”. A intenção deste estudo é analisar este trânsito feito por estas crianças e adolescentes nos diferentes espaços que marcam as suas histórias e trajetórias, bem como os impactos causados. A circulação de crianças, apesar de ser um fenômeno antigo, é pouco estudada. Em meados do século XVIII institui-se no país o “sistema da roda” nos asilos para menores abandonados, a primeira forma institucional de circulação de crianças. Esse sistema informal de adoção, de “criação” de crianças, que de certa forma, absorveu boa parte daquelas que, por várias razões, não teriam viabilidades de terem sido criadas por seus genitores, teve essencial importância para a sobrevivência dessa prole (Serra, 2004). A circulação de crianças é considerada como o grande número de crianças que passam a maior parte da infância ou juventude em casas que não a de seus genitores (Fonseca, 1995). Podemos pensar naquelas que se encontram em instituições, em situação de rua e os chamados “filhos de criação”. Na literatura sobre circulação encontramos menção a cinco tipos e/ou motivações para a circulação de crianças, classificados como circulação por parentesco, onde as crianças são levadas para morar com seus parentes, no intuito de apoiar no sustento destas; Por aliança ou aprendizado, ocasião em que as crianças são tidas como elemento de troca para consolidar redes relacionais já existentes, dentro ou fora do grupo de parentesco; Por circulação doméstica, contexto em que impera o trabalho doméstico e os meninos e meninas são utilizados como mão de obra; Por razões educacionais, onde as crianças em idade escolar são mandadas para outro local/cidade para terem acesso à educação; e por Crise (Serra, 2004), esta ultima que daremos foco, é compreendida como a dissolução da família de origem devido a separação ou morte de um dos cônjuges, ou em dada situação em que a mulher encontra-se sem o marido, ou em difícil situação financeira cuja dificuldade central, tal como é percebida pela comunidade, é a sobrevivência dos filhos (Fonseca, 1995). Os dados foram coletados a partir dos diários de campo oriundos da Inserção Ecológica (Cocconello e Koller, 2003) dos pesquisadores, e de alguns instrumentos aplicados durante a pesquisa. Participaram do estudo 40 adolescentes de ambos os sexos e diversas faixas etárias. A partir das informações coletadas, foi possível perceber o quanto esse processo de circulação incide de forma negativa no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, que tem como uma das conseqüências, a dificuldade de formação de vínculo. Portanto, é necessário debruçar-se sobre a circulação e trajetórias de vidas dessas crianças e adolescentes institucionalizados, que são marcados pela sombra de abandonos das mais variadas espécies, a fim de possibilitar a construção de laços familiares, bem como a implementações de intervenções/políticas públicas que propiciem um bem-estar para esses sujeitos. Palavras Chave: Crianças e adolescentes; Situação de rua; Circulação. 173 174 26. CONSTRUINDO A NOÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM OLHAR SOBRE A CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Lucinéia Schuster PUC Goiás [email protected] Mundialmente, milhares de crianças e adolescentes já sofreram algum tipo de violência durante a sua vida, tiveram seus direitos violados, sua vida ameaçada, seus sonhos interrompidos. Infelizmente, o número de crianças e adolescentes que chegam à rede pública de saúde como vítimas de violência vem crescendo cada dia mais. Devido à preocupação com a preservação dos direitos das crianças e dos adolescentes e com a promoção da saúde da população em geral, foram criadas políticas públicas com o objetivo de assegurar a garantia dos direitos humanos fundamentais desse grupo específico nessa fase da vida. Para a implementação dessas políticas são estabelecidas normas técnicas e procedimentos rotineiros para orientação dos/as profissionais e para apoiálos/as na notificação e registro dos casos de violência, como medida inicial para o atendimento de proteção às vítimas e às suas famílias. Partindo dessa breve contextualização, o objetivo principal dessa comunicação é apresentar a pesquisa em andamento da Dissertação de Mestrado em Psicologia, o qual se propõe a investigar como tem sido o processo de capacitação dos/as profissionais psicólogos/as que atuam nos serviços de saúde voltados ao atendimento dos casos de violência contra crianças e adolescentes, buscando identificar e analisar os sentidos conferidos por esses/as profissionais às políticas públicas voltadas para essa temática, ou seja, como os/as profissionais/as têm apreendido as leis, portarias e manuais implantados pelos Governos Federal, Estadual e Municipal. Trata-se de uma pesquisa qualitativa em Psicologia Social, com características do estudo ordinário ou cotidiano, a qual objetiva focar nos questionamentos dos atores sociais, tal como estes são vividos no cotidiano, norteada pela metodologia das Práticas discursivas e Produção de sentidos no cotidiano, tendo por base o referencial teórico do Construcionismo Social. A pesquisa está sendo realizada na cidade de Goiânia, e tem como fontes de informação: documentos de domínio público que envolvem a temática, observações e entrevistas. Os resultados preliminares apontam algumas fragilidades nos serviços de saúde pesquisados. As capacitações acontecem, mas a adesão a essas capacitações e a participação das profissionais de psicologia ocorrem de maneira irregular e descontínua, trazendo como consequência problemas na efetivação e implementação das políticas públicas. Um dos problemas identificados remete à baixa adesão das profissionais no preenchimento da ficha de notificação compulsória para casos suspeitos ou confirmados de violência contra criança e adolescentes. Essa notificação pode ser considerada uma informação do setor de saúde ou qualquer outro órgão para o conselho tutelar, é um instrumento primordial para a proteção e o cuidado das crianças e adolescentes. Apesar das orientações técnicas para sua efetiva aplicação, continua a ser negligenciada na prática profissional, sobretudo dos/as profissionais de psicologia. Palavras-chave: psicologia social, construcionismo social, políticas públicas, violência contra crianças e adolescentes. 174 175 27. PERCURSOS CRIATIVOS, AÇÕES ESPORTIVAS: POR UMA CIDADE EDUCADORA Pedro Alex de Sá Pereira Instituto Federal de Educação, ciência e Tecnologia do Ceará [email protected] Debora Linhares da Silva Universidade Federal do Ceará [email protected] Vanessa Louise Batista Universidade Federal do Ceará [email protected] A partir de uma proposta de pesquisa e extensão vinculada ao Laboratório de Estudos sobre a Consciência (LESC-PSI/UFC) através do Projeto Cidade Educadora: por uma educação patrimonial libertadora (PREX/UFC 2014), construímos a análise da oferta de práticas voltadas para o esporte e o lazer, bem como os significados em torno da proposta de Cidades Educadoras e realizamos diálogos possíveis para tentar compreender a seguinte indagação: como o esporte e o lazer, sendo ferramentas educativas e de intervenção social, podem contribuir para uma transformação do pensar a cidade e seus citadinos segundo a perspectiva das Cidades Educadoras? Entendemos por Cidade Educadora, segundo Wink (2011, p.71), que “[...] esta expressão reflete um conjunto de idéias através de uma gestão municipal, que prevê na sua forma de governo e planejamento, o olhar educativo para todo o espaço da cidade e das possíveis redes que esta possa ter.”. Nessa perspectiva, nós focamos o olhar para a transformação do citadino e das relações existentes entre ele e a cidade e com eles mesmos. Através do método de pesquisa-intervenção, investigamos os meios possíveis de intervenção social a partir do lazer no âmbito do conceito discutido. Conseguimos identificar junto a comunidade do bairro do Pedregal (Aracati-CE), em especial adolescentes e jovens, a precariedade de ações e projetos com a finalidade esportivo-lúdico, principalmente no que concerne à ocupação do tempo disponível o qual os jovens e crianças dispõem na localidade. Como atividade interventiva, trazemos propostas de oficinas lúdicas e atividades de lazer, direcionando as compreensões para um olhar sobre a cidade e o bairro do Pedregal, usando nessas atividades a metodologia crítico superadora, para estimular o pensamento crítico e a ação criativa, bases de um olhar modificador da ideia de construção de uma Cidade Educadora. O público alvo foram/são crianças e adolescentes na faixa etária de 08 a 17 anos, residentes do bairro Pedregal. As oficinas de extensão que se desenvolverão já como resultado da pesquisa intervenção são: criação de brinquedos com materiais recicláveis, com a finalidade de estimular a capacidade imaginativa e criativa das crianças, gerando também a consciência de cuidado com o ambiente e reciclagem de materiais (faixa etária: 8 a 12 anos). Atividade de lazer que levarão atividades pré desportivas e lúdicas, com a finalidade de inserir os adolescentes na prática do esporte educacional e, a partir da vivência, gerar reflexões críticas sobre suas próprias realidades cotidianas e dando um aparato educador aos mesmos (faixa etária: 13 a 17 anos). Palavras-chave: Cidade Educadora, Lazer, Práticas Educativas 175 176 28. SAÚDE MENTAL INFANTOJUVENIL: POLÍTICAS, CONCEPÇÕES E HISTÓRIA Marylia Glenda Lopes dep Sousa Universidade Federal de Goiás [email protected] Elisa Alves da Silva Universidade Federal de Goiás (UFG); Faculdade Estácio de Sá de Goiás (FESGO) e curso de Especialização em Saúde Mental Álcool e outras drogas UnB/Ministério da Saúde [email protected] A atuação da Psicologia nos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) instiga ao estudo de alguns fenômenos, como a especificidade de atenção em saúde mental para as crianças e adolescentes. No Brasil, as políticas de saúde mental, implantadas a partir da Lei 10.216/2001 (BRASIL, 2001), contemplam uma série de dispositivos substitutivos e ações que visam alcançar os objetivos da Reforma Psiquiátrica que teve início na década de 1970 no país. Há, dentre os serviços preconizados, aqueles que são especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi). Discutir a forma como vem sendo problematizada a “saúde mental infantojuvenil” na construção das atuais políticas públicas é o escopo desse trabalho. Trata-se de um estudo teórico que se efetivou por meio do método de revisão da literatura. Para tanto, o intuito é abordar o desenvolvimento histórico da saúde mental infantojuvenil; apontar as políticas públicas de saúde mental e seus desafios atuais e; discutir o envolvimento da Psicologia nesse campo investigado. Cabe inicialmente problematizar a história da saúde mental infantojuvenil, enquanto um campo que tardou-se em ser apontado como alvo de intervenções, sendo outrora tratado como uma questão de assistência social e de educação. Discutir tal história implica debater como se revelam nela as concepções de “loucura”, saúde/doença, normal/patológico, que se desenvolveram ao longo do tempo, culminando na construção do que hoje se compreende por saúde mental. Na literatura destacam-se dois desafios para o desenvolvimento das atuais políticas de saúde mental para infância e adolescência: a escassez de estudos na área e a dificuldade em articular os diferentes setores que compõem a RAPS e que estão envolvidos na atenção, como a Educação, Saúde, Justiça e outros (COUTO et al. 2008; DELFINI E REIS, 2012). É possível apontar ainda, a partir da revisão realizada, que há pouca problematização das experiências dos dispositivos que têm como alvo a infância e a adolescência a fim de amparar discussões no campo. Ressalta-se, que a Psicologia é uma das áreas de atuação que compõem os serviços da RAPS, sendo, assim, relevante o olhar crítico às práticas quem vem sendo desenvolvidas na atenção psicossocial (JAPUR; LOUREIRO, 1997; PATTO, 1999). Essa investigação revelou que uma definição do que seja a saúde mental na infância e na adolescência é ainda controversa e que o caminho de desatenção e posterior atenção para esse público no Brasil é concomitante ao reconhecimento recente das crianças e dos adolescentes como sujeitos de direitos, havendo também a necessidade de mais estudos direcionados a essa área. Esse aprofundamento nos estudos se concerne principalmente no sentido de questionar a necessidade atual de definição de saúde mental para o público infantojuvenil e também de problematizar de como essa atenção tem impactado no movimento moderno de controle e medicalização às crianças e adolescentes. A Psicologia teve e tem papel ativo na construção de políticas públicas que contemplam o campo infantojuvenil, o que requer atenção e problematização de como esse conhecimento, que é direcionado às políticas públicas, vem sendo disseminado no campo da formação dos estudantes de Psicologia. Palavras-chave: Políticas Públicas; Saúde mental; Infância e Adolescência. 176 177 29. O DESAFIO DO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA NA JUVENTUDE Candida de Souza Universidade de Brasília [email protected] A violência consiste de um fenômeno multifacetado e multideterminado. A sua perpetuação na sociedade é derivada de diversos fatores, que incluem tanto questões macro como microssociais. Na sociedade atual, a violência, principalmente nos centros urbanos, tem se apresentado como uma das principais sequelas da “questão social”, tendo grande impacto na vida de várias pessoas, especialmente, do público jovem. Essa população lidera as estatísticas nacionais, como agente e vítima das diversas formas de manifestação dessa violência. Diante disso, o Estado tem sido chamado a atuar na prevenção e combate dessa forma de violação de direitos. No entanto, percebe-se uma histórica omissão de sua parte no âmbito da prevenção, prevalecendo um enfoque repressivo, por meio de forças coercitivas. A situação em Natal/RN corrobora os índices nacionais com relação à incidência da violência na juventude, e aponta dados alarmantes, especificamente nos seus bairros periféricos. Faz-se necessário, então, debruçar o olhar sobre esses espaços, a fim de trazer à tona uma reflexão acerca da histórica negação e violação de direitos que perpassa a população das comunidades pauperizadas. Optou-se por delimitar o campo da pesquisa no bairro de Felipe Camarão, dada a histórica alta incidência de homicídios contra a sua população jovem. Desta forma, o objetivo geral deste estudo foi identificar e analisar as iniciativas voltadas para a prevenção e combate à violência na juventude que estão sendo desenvolvidas em Felipe Camarão, em que estas se baseiam e como se traduzem em ações e, mais especificamente, visou-se realizar um levantamento e caracterização das instituições que possuem ações voltadas para a população jovem em Felipe Camarão, bem como analisar de que ponto partem os profissionais para a execução e articulação das ações no processo de redução da violência, identificando o que fazem e como fazem. Foram identificadas dez instituições que possuem suas ações total ou parcialmente voltadas para o público jovem. Foram realizados grupos focais com os profissionais de todas as instituições, que abordaram temáticas relativas aos contextos de violência que perpassam a juventude de Felipe Camarão. Os dados foram analisados a partir da perspectiva do método histórico e dialético, com base no Método Comparativo Constante. Para este trabalho, apresento os dados relacionados aos desafios e perspectivas encontrados no processo de redução da violência. Apontamos que o fenômeno da violência apresenta-se de forma banalizada na vida das pessoas, o que contribui para o reforço de uma cultura do medo, bem como de uma estigmatização do bairro, seja na mídia ou no imaginário social. Defendemos que a realização de ações de cunho emancipatório, especialmente junto aos jovens, que lhes possibilitem a construção de novos projetos de vida, aliado a um fortalecimento da atuação do Estado no âmbito preventivo, inclusive por meio de políticas de acesso à educação de qualidade e oportunidades de trabalho digno, além da consolidação de um efetivo capital social, são importantes fatores no processo de redução da violência em Felipe Camarão. Palavras-chave: jovens; violência; violação de direitos; prevenção. 177 178 30. A CONTRIBUIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL PARA A INSERÇÃO SOCIAL DO REFUGIADO COLOMBIANO EM MANAUS Júlio César Pinto de Souza [email protected] Universidade Federal do Amazonas Marcelo Gustavo Aguilar Calegare [email protected] Universidade Federal do Amazonas Desde o final da II Guerra Mundial, o número de refugiados no mundo vem aumentando gradativamente. Conforme dados estatísticos disponibilizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), em 2012 existiam cerca de 15,4 milhões de refugiados espalhados pelo mundo. Na América do Sul, o Brasil é um país muito procurado pelos refugiados devido à sua política de acolhimento, principalmente pelos refugiados da América Latina que tem o acesso de entrada facilitado devido às fronteiras secas. Os refugiados têm certa facilidade para solicitar refugio, após a homologação, em 1997, da Lei nº 9.474, a qual define mecanismos de implementação do Estatuto dos refugiados criado em 1951. O levantamento de dados para esta pesquisa foi realizado na cidade de Manaus, por meio de observação participante, ocorrida de junho de 2011 a junho de 2013, época em que um dos pesquisadores participou voluntariamente da entidade responsável pelo acolhimento e assistência aos refugiados em Manaus. Como a maioria dos refugiados eram colombianos optou-se por restringir a pesquisa com refugiados dessa nacionalidade. Neste período foi realizado o acompanhamento de diversas famílias colombianas em sua luta para se reestabelecer com dignidade em um território com diferenças sociais e culturais. A partir do vinculo de confiança estabelecido com os profissionais da entidade, os refugiados expressavam seus medos, conflitos interpessoais, desprezo da sociedade e sofrimentos vividos, que resultaram em dois relatórios a respeito dessas questões. Apesar desse apoio pela entidade, concluiu-se que as medidas adotadas para a inserção social dos refugiados na sociedade manauense estão muito aquém do necessário para garantir uma nova vida com dignidade a esse grupo. Questões de ordem política, social, econômica e cultural transformam os refugiados colombianos em um grupo de excluídos, pois uma série de óbices dificulta a inclusão social desses grupos que não encontram nas autoridades federais o amparo necessário para reiniciar a sua vida com a família, apesar de os refugiados serem uma realidade em Manaus. O objetivo deste trabalho é questionar, dentro de uma dimensão política, qual a participação do governo em relação à inclusão social do refugiado colombiano, visto que a carência de trabalho e a inexistência de programa social voltado para esse grupo obrigam os refugiados a aceitarem subempregos recebendo salários abaixo do oferecido ao habitante manauense. A disputa no mercado de trabalho ainda desencadeia conflitos intergrupais onde a situação de vítimas e agentes são alternadas constantemente, tendo como principal fenômeno presente à hostilidade entre esses grupos. Imergindo neste assunto, englobam-se aspectos como preconceito, racismo simbólico, associados aos problemas sociais e a inferiorização do marginalizado. Para a obtenção das informações analisou-se os relatórios do pesquisador e foi feito o cruzamento das informações com os relatórios da assistente social da entidade de acolhimento do período da pesquisa. Posto isto, debate-se criticamente a respeito da participação tímida do governo federal na inclusão social dos refugiados no Brasil, contribuindo para a exclusão desse grupo pelos habitantes locais, relacionando-se com o eixo da Educação, Políticas Públicas e Inclusão Social. Palavras-chave: refugiados; inserção social; trabalhos científicos. 178 179 31. ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: PARA ALÉM DA EXPERIÊNCIA PUNITIVA Ana Marcela da Silva Terra UERJ [email protected] Alessandra Lacaz Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] A vida supera qualquer saber ou conhecimento, na medida em que as categorias da razão brotam do processo do viver e não o esgotam, porque muito do que não pode ser pensado, só pode ser vivido (CASTRO, 1998, p. 44). Este trabalho tenciona colocar em análise o slogan de que o Brasil é o "país da impunidade", trazendo como analisador a questão da redução da maioridade penal e o trabalho realizado no Centro de Referência para Egressos do Sistema Socioeducativo (CRESSE), projeto social executado pela organização nãogovernamental Instituição do Homem Novo (IHN), com adolescentes que estão cumprindo ou já cumpriram medidas socioeducativas. O projeto de lei que propõe a redução da maioridade penal é, eventualmente, aclamado pela população que, almejando o fim da violência e maior segurança, acaba por pedir mais punição, atribuindo parte do problema social no Brasil à impunidade. No entanto, ao contrário do que se afirma comumente, o Brasil é um dos países que mais pune no mundo. Somos hoje a terceira maior população carcerária do planeta, segundo últimas pesquisas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). E essa realidade também se estende à punição dos adolescentes em conflito com a lei. Quanto ao universo dos adolescentes que hoje passam pelo sistema socioeducativo no Rio de Janeiro, nosso público-alvo, se trata de um recorte social bastante demarcado de classe, cor e territorialidade: são meninos majoritariamente pobres, negros e moradores de favelas ou áreas de periferia. Desse modo, fazendo uma análise mais detalhada acerca deste problema, podemos identificar que a punição não se restringe aos espaços formais de cumprimento de medidas socioeducativas, mas se atualiza cotidianamente em nossas práticas/discursos e nas condições de vida precárias desta parcela da população. Inventando gingas para driblar a perversidade capilarizada em seus modos de vida, estes adolescentes enfrentam as formas de poder e controle sobre eles afirmando outros modos de estar e viver alheios às normas sociais, seja através do consumo ou comercialização de drogas ilícitas, dos furtos ou assaltos, do abandono à escola, entre outros tantos exemplos que poderíamos citar. E ao cometerem atos infracionais são punidos, muitas vezes, severamente, pelo mero exercício da resistência. Nesse sentido, vale ressaltar que quando falamos em resistência queremos afirmá-la como criação de novos modos de vida ou re-existir. Para tanto, se alia às nossas ferramentas de trabalho a concepção de um psicólogo-cartógrafo, entendendo que nossa prática não é neutra e o modo como estamos no campo nos modifica e modifica-o igualmente. HECKERT (1992), ao propor a idéia de psicólogo-cartógrafo, propõe que nos dispamos de nossos especialismos para experimentar os processos vividos em cada espaço, em cada contexto. Apostamos, ao longo de um acompanhamento de 6 meses, na multiplicidade dos modos de vida, na criação de um vínculo potente e em uma relação de confiança com os adolescentes. Desse modo, vimos experimentando estar com eles numa perspectiva de produzir juntos uma relação de cuidado, priorizando práticas educativas e reflexivas em detrimento de discursos morais ou práticas punitivas, compreendendo as dimensões social e política deste tipo de projeto. Nossas apostas na produção de outros modos de vida com eles passa a ser a aposta deles neles mesmos. E a partir disso, passa a ser possível construir outras formas de pensar suas vidas, seus desejos e planos. Palavraschave: socioeducação; maioridade penal; punição. 179 180 32. AS EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO CAMPO EM JI-PARANÁ/RO: O ÊXODO ANUNCIADO Alberto Dias Valadão Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR [email protected] Nos últimos anos, o poder público de Rondônia intensificou o uso do transporte escolar para os alunos do campo se deslocarem para as escolas denominadas polos, assim como para as escolas urbanas e priorizou o fechamento das escolas do campo. No artigo sob o título Porque eles estudam tão longe? (Novembro, 2012) publicado na Revista Nova Escola por Elisângela Fernandes, a autora afirma que em Rondônia de 2000 a 2011 foram fechadas 70,14 % de suas escolas rurais. Essa política, contraria o dispositivo legal, pois a Lei nº 12.960/2014, altera a Lei no 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para fazer constar a exigência de manifestação de órgão normativo do sistema de ensino para o fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Nessa perspectiva, este trabalho, nasce da constatação de que cada vez mais crianças e jovens no interior de Rondônia se deslocam do campo a grande maioria em ônibus velhos, com péssimas estradas, para adentrarem numa escola urbana que como se observa não foi pensada para eles. Tencionamos, portanto, compreender: como tem sido o processo de escolarização das crianças e adolescentes que saem cotidianamente do campo e vão para as escolas urbanas? Quem são esses educandos? Que sentido tem essa escola para eles? Este trabalho, é resultado de um projeto em andamento apresentado ao Departamento de Ciências Humanas e Sociais da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Ji-Paraná e tem como objetivo compreender o significado que a escola urbana tem para os estudantes do campo que a frequenta e ainda, investigar as experiências educativas das crianças e adolescentes do campo no Ensino Fundamental das escolas públicas estaduais de Ji-Paraná. Para isso, foram escolhidas duas Escolas Estaduais urbanas, que contam juntas com 170 alunos do campo matriculados e fazendo uso do transporte escolar. Os participantes da pesquisa são 10 estudantes (meninos e meninas) de cada escola, escolhidos por morarem mais distantes da cidade. A pesquisa adota, como procedimento para a produção dos dados, entrevistas semiestruturadas junto aos estudantes, visando apropriar dos relatos das suas memórias e experiências e junto aos seus professores de Língua Portuguesa e Matemática por estarem mais tempo em contato com esses alunos. Utiliza-se ainda, da observação participante e da análise dos materiais didáticos-pedagógicos utilizados na escola pelos estudantes. Documentos do Ministério da Educação (MEC/SECADI, 2008), das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (CNE/CEB, 2002) e os aportes teóricos de Larrosa (2002), Freire (2005), Menezes Neto (2009), Souza (2010) e Arroyo (2011, 2014) serão importantes no diálogo com o problema proposto. Esse estudo, ao abordar a questão educativa das crianças e jovens do campo busca trazer algumas respostas de onde emergirão outras visando contribuir com uma população que pode estar sendo incluída nos dados estatísticos das escolas urbanas, mas que continua excluída, pois essa inclusão tem sido fruto de políticas públicas supletivas, compensatórias que não vêm ao encontro das necessidades de quem vive no campo e do campo. Palavras-chave: Educação do Políticas públicas. Êxodo jovem. Campo. 180 181 33. ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA ITAPIREMA DE JI-PARANÁ: O EMBATE ENTRE O INSTITUÍDO E O INSTITUINTE Alberto Dias Valadão Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR [email protected] A Pedagogia da Alternância nasceu na França em 1925, chegou ao Brasil em 1969 em Olivânia no Espírito Santo e em Rondônia em 1989. Essa proposta pedagógica para os agricultores nasce e se desenvolve a partir da necessidade desses, tendo como característica principal a busca da participação efetiva de todos os envolvidos: os jovens, as famílias, as comunidades, os educadores. Os instrumentos metodológicos específicos, se instituem como pontes entre a família e a escola na busca da promoção dos jovens. Em Rondônia hoje, são sete Escolas que adotam a Pedagogia da Alternância. Neste trabalho, enfocamos a prática educativa desenvolvida pela Escola Família Agrícola Itapirema de Ji-Paraná (EFA-Itapirema), que iniciou suas atividades em 1991 e oferece aos filhos de agricultores do interior do Estado Ensino Médio integrado com Educação Profissional Técnico em Agropecuária. Observa-se, pelo número de famílias que todo ano procuram a Escola em busca de vagas e o envolvimento dos egressos com atividades agropecuárias, que a mesma tem correspondido às expectativas dos responsáveis, principalmente, pais que estão na gestão da associação e monitores responsáveis pela parte pedagógica. No discurso destes, a proposta educativa da escola se caracteriza pela relação dialógica entre família e escola e tem o seu fazer cotidiano carregado de dinamicidade, propiciados pela estruturação pedagógica no tempo-escola e tempo-comunidade. Ao observar a prática educativa da Escola, se percebe de forma nítida contradições entre o dizer e o fazer. Este trabalho teve portanto, o objetivo de fazer uma análise da EFAItapirema à luz da Análise Institucional de Bleger (1991), Severo (1993), Rodrigues (1992) e Fernandes (1992), buscando compreender a relação entre o discurso (Estatuto da Associação Promocional, Projeto Político Pedagógico) e a prática cotidiana da Escola. Para isso, num primeiro momento a partir da observação, da leitura de documentos (atas, estatuto, projeto pedagógico), das entrevistas com pais, alunos e monitores buscamos conhecer a Escola em seus aspectos histórico, administrativo e técnico-pedagógico. A partir das ideias dos autores citados, se observa que as finalidades para as quais a instituição foi criada às vezes são relegadas a plano secundário dado a urgência de uma priorização no caso da EFAItapirema da situação financeira tendo em vista a continuidade do trabalho começado. Há um conflito ganhando terreno superando os objetivos para os quais foi criada (Bleger, 1991). O aspecto que mais se evidenciou a partir da análise e que interfere no andamento pedagógico foi a questão disciplinar, posto que está havendo uma dicotomia entre o que se estabelece como normal no comportamento dos jovens fora da escola e a rigidez escolar ditadas em assembleia de pais e que coloca os monitores em estágio de vigilância permanente. É preciso tornar consciente esse núcleo conflitivo, chamando para o embate alunos, pais e monitores, do contrário haverá postergação do problema (Severo, 1993). A escolha dos analisadores foi feita considerando os elementos mais visíveis na prática administrativa e pedagógica da Instituição. Podemos inferir a partir desse trabalho, que a Instituição está marcada pela contradição entre o instituinte e o instituído enquanto ação, fazer pedagógicoadministrativo. Palavras-chave: Pedagogia da Alternância. EFA-Itapirema. Análise Institucional. 181 182 34. DA POSSIBILIDADE DE EMANCIPAÇÃO HUMANA POR MEIO DA EDUCAÇÃO POPULAR Maria Aparecida Cunha Malagrino Veiga EACH/USP. [email protected] O Sistema Educacional brasileiro apoiado por políticas e reformas tenta há décadas conciliar múltiplos interesses sem que, contudo, consiga de fato superar os problemas sociais existentes no país. A Educação formal oferecida nas escolas tem se apresentado como o único caminho possível para a emancipação dos indivíduos, todavia, os problemas sociais não estão diminuindo, pelo contrário as desigualdades são facilmente reconhecidas. Devido a essa centralidade e difusão do conhecimento nas Instituições de Ensino, pensou-se em investigar a contribuição da Educação Popular na atualidade. Desta maneira este trabalho verificou a existência do caráter político da Educação Popular nos Encontros Regionais dos Sem Terrinha, por meio de ação e intervenção em quatro encontros. E o considerou a partir da analise da produção literária de alguns teóricos que trabalham com a idéia de que as desigualdades sociais são proporcionadas, entre outras coisas, por um Sistema Educativo apoiado no ordenamento capitalista e no consumo exagerado de bens materiais já na primeira infância. Neste contexto e no intuito de iniciar uma análise sobre a Educação Popular, esse trabalho se materializa posicionado por meio de estudos teóricos, sobretudo nos conceitos das Ciências Humanas e da Educação. No caso desse estudo articulamos o pensamento de Mészáros (2009) “Sem um progressivo e consciente intercâmbio com processos de educação abrangentes como ‘a nossa própria vida’, a educação formal não pode realizar as suas muitas aspirações emancipatórias”, reiterados pela teoria histórico - critica de Saviani (2008) “uma pedagogia articulada com os interesses populares, valorizará a escola, não será indiferente ao que ocorre em seu interior”, refletidas na concepção de Freire (1996) por uma escolarização com consciência política: “Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível; é o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo esta sendo”. Consideramos que a Educação Popular tem estabelecido às bases para que sejam contemplados os interesses dos mais pobres do campo ou da cidade, bem como, que as estratégias e metodologias frequentemente utilizadas para esse fim são confeccionadas no seio de movimentos populares, igrejas, esquerdas universitárias, e outros. Concluiu-se que a formação da consciência crítica e a participação responsável do indivíduo em processos culturais, sociais, políticos e econômicos através da educação, pode ser uma realidade no campo ou nas periferias já na primeira infância, se procurado novos subsídios na Educação Popular, para que possa exercer um papel importante na formação de uma outra sociedade mais solidária e ética. Palavras-chave: escola, educação, educação popular, emancipação. 182 183 E- EIXO MEMÓRIA, VIOLÊNCIA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS 1. “AQUI O BAGULHO É SÉRIO”: ANÁLISE DE PRÁTICAS DISCURSIVAS DO DOCUMENTÁRIO ÔNIBUS 174 Nathália Dourado Frazão Ana Carolina Farias Franco Universidade Federal do Pará [email protected] No ano de 2000, na cidade do Rio de Janeiro, um acontecimento produzido como um caso de violência urbana foi midiatizado ao vivo pelo jornalismo brasileiro. Os telespectadores do país puderam acompanhar o desenrolar do seqüestro do ônibus da linha 174, protagonizado por Sandro do Nascimento, o qual teve como trágico desfecho a morte de uma refém e de Sandro, que foi morto asfixiado no interior da viatura policial. O acontecimento trouxe à tona o debate acerca tanto sobre os direitos humanos na formação policial, quanto a cerca da midiatização da violência urbana. Em anos posteriores, o acontecimento ganhou abordagem cinematográfica, por meio do documentário “Ônibus 174”, do diretor José Padilha, em 2002, e em formato de ficção pelo diretor Bruno Barreto, no filme intitulado “Última Parada 174”, no ano de 2008. Neste ensaio crítico, colocamos em análise as práticas discursivas e não-discursivas que constituíram midiaticamente a vida de Sandro, a partir do documentário de José Padilha, com o objetivo de explicitar quais saberes foram acionados e que efeitos de poder produziram a trama documentada pela mídia no episódio em questão. Aqui, tomamos como referência o pensamento do filósofo francês, Michel Foucault, em especial seu conceito de poder, de saber e de vidas infames. O documentário de Padilha constrói uma perspectiva sobre a vida de Sandro, cuja história é contada, de maneira paralela a história do seqüestro. A partir de depoimentos de pessoas que conheciam o protagonista deste acontecimento, o diretor propõe produzir uma narrativa sobre a vida de Sandro, a partir de elementos distintos dos explorados pela grande mídia, dando visibilidade aos processos de exclusão social que o mesmo foi submetido. Analisamos que o documentário de Padilha faz críticas importantes acerca da crise de segurança pública, dos sistemas sócio-educativos ou, numa visão mais ampla, do sistema de garantias de direitos. Falências que, segunda esta narrativa, contribuíram para a conduta de Sandro, protagonista desta história, marcada contraditoriamente pela sua invisibilidade social. A partir do documentário, concluímos ainda que a mídia tem se constituído como um feixe de luz que lançado sobre a vida dos jovens infames, dá visibilidade a história dos desvios desvios destes a ordem social. As práticas jornalísticas, na atualidade, tem recomposto a biografia criminosa dos jovens, história de uma vida breve e infame que depõe contra o mesmo e que, muitas vezes, tem justificado a morte dos mesmos, desde modo, tomar à biografia de Sandro do Nascimento pode servir tanto para produzir explicações de suas condutas ditas criminosas, como para justificar o seu trágico fim. Palavras-chave: Ônibus urbana; vidas infames. 174; violência 183 184 2. POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE DAS MUDANÇAS DAS SENSIBILIDADES NO CAMPO DO CONTROLE DO CRIME E DAS CONFIGURAÇÕES ACERCA DA VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE Karinne Regis Duarte Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais [email protected] Este trabalho tem como objetivo problematizar as políticas de segurança pública no campo do sistema prisional, no atual cenário brasileiro. Nossas análises partem do papel que os agentes prisionais assumem na construção de significados sobre a violência e nas mudanças das sensibilidades produzidas neste campo por estes agentes sociais. Acreditamos que tais significados promovem mudanças no campo político, principalmente se levarmos em consideração a implementação de políticas de segurança nos presídios e penitenciárias, os interesses políticos das agências de controle do crime, e das categorias de profissionais que atuam no sistema prisional. Além disso, sugerimos que tais significados e mudanças orientam não só práticas mais punitivas que preventivas no controle do crime, acarretando, dentre outros fatores, um encarceramento em massa, bem como consolidam normas de tratamento do criminoso. O aumento da taxa de aprisionamento é visto como um fenômeno histórico, cujas mudanças estão nas sensibilidades jurídicas, ou seja, no campo político, e não nas práticas da polícia ou da justiça criminal. Os agentes prisionais, pelas condições de seu trabalho, são pessoas-chave na construção/consolidação de valores que estruturam o ethos das instituições prisionais e, enquanto empreendedores morais, participam do processo de produção de (des)criminalização e (des)criminação, concorrendo para a produção de novos discursos ou para a re-significação de valores neste campo. As mudanças observadas no campo do controle do crime são rearranjos que refletem as mudanças nas relações entre este campo e a ordem social. Assim, as práticas de controle do crime tiveram que se adaptar a uma economia insegura, marginalizadora e seletiva, que atinge os pobres e as minorias, a uma cultura cada vez menos tolerante e inclusiva, em que as agências oficiais de controle encontram-se cada vez mais descredibilizadas e deslegitimadas. A violência, enquanto recurso utilizado pelos agentes prisionais para o controle da violência provoca respostas também violentas da população carcerária, engendrando uma espécie de círculo vicioso e perverso. Por outro lado, a sociedade representa o preso como ameaça e risco e as políticas públicas de segurança se configuram neste contexto do imaginário social. As mudanças cíclicas das sensibilidades dos operadores do sistema prisional têm seguido uma direção que varia da indiferença do tratamento ao criminoso à intolerância de sua existência. As pesquisas de Becker (1996; 2009), Tonry (2004), Garland (2008) e Wiervioká (1997) contribuem para esta empreitada, apontando possibilidades teóricometodológicas para as análises sobre o assunto. Pela natureza do objeto de pesquisa, a abordagem qualitativa é opção metodológica privilegiada, e os métodos utilizados para a coleta e análise de dados são o uso do software Atlas. Ti, observação participante, questionários e entrevistas semiestruturadas. Estas preocupações fazem parte de pesquisa de doutorado que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Psicologia, da PUC/Minas. Acreditamos que problematizar tais questões contribui significativamente para a construção da violência enquanto objeto psicológico, para ampliar as discussões no campo dos Direitos Humanos e Segurança Pública, especialmente se considerarmos que estudos no campo do sistema prisional são escassos na área da psicologia. Palavras-chave: Violência; Sistema Prisional; Políticas de Segurança Pública 184 185 3. MEMÓRIA E PSICOLOGIA SOCIAL: POSSIBILIDADES DE ELABORAÇÃO DE DANOS DA DITADURA CIVIL-MILITAR Luis Eduardo Franção Jardim [email protected] Esta comunicação pretende discutir possibilidades de elaboração dos danos consequentes da ditadura civil-militar para o cidadão brasileiro. Este trabalho foi desenvolvido a partir do legado dos 21 anos de ditadura civil-militar no Brasil na experiência do cidadão comum e daqueles que lutaram contra o regime autoritário. As marcas profundas deixadas pela ditadura civil-militar atingiram não somente os perseguidos políticos e seus familiares, mas também a todo cidadão comum. Seu legado permanece vivo ainda hoje na memória individual e memória social do cidadão. O fim da ditadura impôs o silenciamento e esquecimento forçados, que impedem o direito à memória, verdade e justiça, bem como a elaboração dos danos produzidos. O enfrentamento de um problema com características psicológicas e políticas deve, necessariamente, atuar na fronteira entre o modo de ser do indivíduo e a cultura, área de atuação da Psicologia Social. Depois da Abertura e a transição, para muitos pesquisadores, ainda inconclusa, as possibilidades de elaboração dos danos ficaram restritas as organizações sociais que prestaram assistência e atendimento psicológico em grupo. Recentemente, a criação das Clínicas do Testemunho e Comissão Nacional da Verdade foram importantes iniciativas do Estado em direção a averiguação dos crimes, reconhecimento público de suas responsabilidades, politização do dano e sua elaboração. O trabalho de recuperação das memórias da ditadura é uma importante etapa na elaboração do dano do regime autoritário. Nesta comunicação pretende-se discutir o papel do psicólogo social e algumas possibilidades de elaboração psíquica e política dos danos produzidos pelos crimes da ditadura a partir do trabalho de recuperação da memória. Trabalho sobre o qual repousa a construção de novos sentidos à experiência individual e social. Esse estudo fundamenta-se na psicologia social e baseiase na análise e discussão de pesquisas de campo sobre a memória e relatos de atendimentos psicológicos às vítimas da ditadura militar brasileira. A psicologia social atua na fronteira entre o indivíduo e o social, entre o psicológico e político, importante para elaboração de danos da ditadura. O trabalho do psicólogo social com a evocação da memória pode contribuir tanto para elaboração e reflexão da experiência do depoente, quanto para a tarefa política de pensar seus fundamentos, para que esta experiência não se repita. Palavras-chave: memória; elaboração; ditadura; violência; psicologia social. 185 186 4. MEMÓRIA SILENCIADA: A DITADURA MILITAR NA VIDA E TRABALHO DE CIDADÃOS BRASILEIROS Luis Eduardo Franção Jardim [email protected] Esta comunicação visa apresentar os resultados parciais da pesquisa de doutorado em andamento sob o mesmo título. Em 2014 completaram-se 50 anos do Golpe CivilMilitar que instaurou no Brasil a mais duradoura ditadura do Cone Sul. Durante o regime, as ações repressivas e as políticas públicas instauradas pelo Estado afetaram não apenas os opositores diretos do regime, mas atingiram o campo social como um todo. A amplitude das ações do Estado penetrou dos espaços mais íntimos aos mais coletivos da vida social, trazendo repercussões ao cotidiano de todo cidadão brasileiro que viveu aquela época. A partir do resgate da memória de trabalhadores que viveram o período da ditadura, pretende-se investigar estas repercussões da ditadura no cotidiano do cidadão brasileiro. A pesquisa focaliza o impacto da violência institucionalizada e do autoritarismo do regime no cotidiano do trabalhador brasileiro. As áreas da saúde, educação, justiça e cultura, consideradas áreas essenciais à formação social da população, estão entre as áreas mais afetadas pelas políticas do Estado durante o regime autoritário. A interferência do Estado nestas áreas e a violência legitimada estendeu a ação do regime, por vezes de modo velado e insidioso, a todo cidadão que viveu aquela época, e também aos que hoje, sem saber, transitam por entre os emaranhados ocultos da malha política tecida pelo regime. Algumas ações do Estado de caráter mais pulverizado e com consequências sentidas mais a médio e longo prazo impactaram profundamente a sociedade, permanecendo, muitas vezes, silenciadas em sua relação com a ditadura. Tal pesquisa tem como objetivo identificar, analisar e discutir as marcas deixadas pela ditadura no cotidiano do brasileiro. A partir da análise e discussão de depoimentos sobre a memória de agentes trabalhadores implicados nas seguintes áreas institucionais afetadas pela ação do regime militar: educação, saúde, justiça e cultura, pretendemos interrogar sobre as formas pelas quais a ditadura abriu novos espaços de relação do trabalhador com seu cotidiano, construindo novos sentidos à sua experiência pessoal e coletiva. O estudo está fundado na psicologia social, por sua atuação na fronteira entre os modos de ser do indivíduo e a cultura (política) e parte da análise de depoimentos de trabalhadores que tenham construído uma sólida identidade profissional em áreas afetadas pelo regime, tendo exercido ativamente sua função durante o período da ditadura civil-militar. Até o momento, as entrevistas realizadas trouxeram elementos significativos que mostram o quanto o medo penetrou no cotidiano do cidadão trazendo impacto na relação com a família, no trabalho, na circulação pela cidade. As entrevistas revelam também como as marcas da ditadura não puderam ser elaboradas suficientemente e conectam-se com o cotidiano atual, emergindo sob a forma de emoções tardias e sofrimento. Essas marcas têm se mostrado presente e com sofrimento também nas gerações seguintes a esses trabalhadores. Palavras-Chave: Memória; Violência; Ditadura Militar; Psicologia Social 186 187 5. UMA CRÍTICA À INFÂNCIA MEDICALIZADA E JUDICIALIZADA PELO UNICEF Flávia Cristina Silveira Lemos UFPA E-mail: [email protected] Esta fala é parte de problematizações realizadas frente ao empresariamento da vida, realizado pelo UNICEF, ao fomentar a medicalização e judicialização da infância, no campo de promoção, garantia e defesa de direitos. Foucault, ao pensar a biopolítica, destacou que a mesma passou a gerir performances de gestão de riscos, tornando a vida um investimento, entrecruzando economia política com direitos humanos, no neoliberalismo, no denominado Estado Democrático de Direito governamentalizado. Ao estudarmos os documentos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no Brasil, é possível analisar as práticas que recomendadas de gerenciamento de riscos da vida de crianças e adolescentes e como as mesmas trazem elementos enunciados pelos cursos de Michel Foucault: Segurança, território e população e Nascimento da Biopolítica, na França, ao final da década de setenta, no século XX. As práticas operam pela constituição do cuidado como mercado biomédico no campo dos direitos, operando pela medicalização em articulação com a judicialização. Tratamos, nesta comunicação, da apresentação de resultados de estudos, realizados, com pesquisa documental, financiada pelo CNPQ, nos últimos anos, usando ferramentas da história nova e da arqueogenealogia em Foucault. A presente comunicação objetiva questionar as práticas citadas e pensar endereçamentos das mesmas às psicologias, na atualidade por meio da utilização de problematizações de relatórios e publicações de um organismo multilateral com intensa intervenção, no Brasil. O UNICEF tem uma página na internet, em português, com vários links que nos permitem acessar documentos variados, todos bem interessantes sob o ponto de vista de objetivos de pesquisa que implicam em pensar aspectos constitutivos dos saberes, poderes e processos de subjetivação contemporâneos na esfera dos direitos de crianças e adolescentes. Realizar perguntas aos arquivos é relevante para as psicologias políticas, sociais e institucionais, entre outras que valorizam a análise histórica com vistas a interrogar o que fazemos conosco e com os outros no presente. Os estudos históricos podem contribuir com as psicologias em termos de uma ferramenta teórica e metodológica. Decisões, planos, estratégias, políticas públicas, lutas e consensos foram materializados em arquivos ou em parte ou ainda totalmente silenciados nos mesmos. Vale à pena descrever e problematizar historicamente a produção e os efeitos dos arquivos no nosso cotidiano e nas nossas maneiras de viver, de sentir, de pensar, de nos relacionar e de agir. Temos clareza de que os documentos são monumentos e que podem ser deslocados e negados, implementados em parte ou articulados com outras práticas na gestão da vida. Palavras-chave: Infância; Medicalizada; Judicialização; UNICEF; Psicologias. 187 188 6. VIOLÊNCIA E FATALISMO EM MARTÍN-BARÓ Gabriel Silveira Mendonça Karina Oliveira Martins Fernando Lacerda Jr. Universidade Federal de Goiás [email protected] [email protected] Apesar de Martín-Baró ser um autor de nome veiculado entre os círculos de Psicologia Social e Psicologia Política brasileiros, suas contribuições sobre fenômenos psicossociais ainda são pouco estudadas. A maioria dos estudos apenas destacam as críticas do autor à Psicologia hegemônica, apresentam as teses gerais de Martín-Baró para uma Psicologia da Libertação ou sublinham sua relevância histórica nos debates latinoamericanos acerca da “crise da psicologia social” nos anos 1970. Visando contribuir para o resgate crítico da obra de Martín-Baró e da Psicologia da Libertação, o presente trabalho discute a relação entre violência e fatalismo na obra do autor. Os dois fenômenos foram estudados por Martín-Baró em suas discussões sobre a Psicologia Social como o estudo da ação enquanto ideológica. Assim, ao estudar a violência e o fatalismo, Martín-Baró analisou estes fenômenos psicossociais, enquanto processos constituídos por valores e interesses de determinadas classes sociais. Martín-Baró compreende o fatalismo como a expressão característica do conformismo nas sociedades latino-americanas, um processo psicossocial caracterizado pela: naturalização da realidade vivida; negação das bases históricas da vida cotidiana; e a delegação do próprio destino a outras forças para além do controle do sujeito. O fatalismo é ao mesmo tempo fruto e reprodutor das condições de desigualdade, injustiça e violência estrutural. Já na análise da violência, Martín-Baró apresenta uma abordagem histórica que concebe a violência como processo social fundado em relações estruturais de conflitos de classe, em que uma classe minoritária impõe seus interesses sociais às demais. Neste sentido, o significado histórico de uma ação violenta expressa interesses de grupos específicos em relação às condições estruturais, ou seja, pode ser instrumento tanto de desumanização, quanto de humanização, pois a sua significação social decorre de sua inserção em uma totalidade sócio-histórica e é acompanhada por diversas manifestações ideológicas que buscam justifica-la ou deslegitima-la. Com frequência, quando a violência ameaça a ordem social, ela é deslegitimada pelas classes dominantes, mas quando é parte do processo de manutenção e reprodução do status quo ela é naturalizada. Pode-se dizer que, em Martín-Baró, violência estrutural e fatalismo articulam-se na manutenção de relações de dominação e exploração entre classes, desprovendo a maioria da população de conhecer e determinar sua história. Uma psicologia que tenha como horizonte a libertação das maiorias populares de sua situação de exploração reconhece o papel libertador que a violência pode ter quando direcionada à superação das condições sociais que perpetuam condições de desigualdade e opressão. Palavras chave: Psicologia da Libertação, Martín-Baró, violência; fatalismo. 188 189 7. REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS DE DROGAS Samara Takahashi das Neves Universidade Federal de Goiás [email protected] A realização deste trabalho consistiu em analisar o contexto histórico de elaboração e de vigência das políticas de drogas, do ponto de vista legal e ideológico, que visam a criminalização do consumo, produção de matérias-primas, comercialização, dentre outras condutas relativas às drogas. Foi realizado um percurso sobre o histórico das drogas na humanidade, uma reflexão crítica sobre a política de “guerra contra as drogas” e uma discussão sobre a Política Pública denominada Política de Redução de Danos, como alternativa ao tratamento baseado em abstinência. A iniciativa para essa pesquisa emerge de um caminho trilhado no curso de Psicologia, partindo do entendimento de que vivemos numa sociedade classista, profundamente adoecida, que demanda compreensão e práticas que emerjam da realidade e sejam voltadas para a sua transformação. Trata-se de pesquisa exploratória, na qual foi realizado um levantamento bibliográfico e abordou-se o tema através do método dialético. A realização se deu a partir da compreensão de que as relações humanas são pautadas por sua atividade concreta no mundo. O método dialético, de acordo com o pensamento de Marx (2001, p.10), postula que a produção de conhecimento não deve partir de bases arbitrárias, dogmas e que a análise deve partir de bases reais, de indivíduos reais e suas condições materiais de existência. As políticas proibicionistas tratamse pois, de ações concretas e da relação de interesses presente no capitalismo. Esse percurso objetivou explorar, de forma breve, as tensões existentes entre as drogas, a lei e a sociedade; se há contradições na política que proíbe certas drogas, visando proteger a saúde pública e os motivos pelos quais tais medidas são mantidas. Abordou-se o fato de que o uso, em si, de drogas não representa a priori um risco à saúde, e de que a proibição faz com que essas drogas só possam ser adquiridas no mercado informal, fazendo com que a qualidade das substâncias não possa ser garantida. A inobservância das propriedades, das quantidades e da receptibilidade do corpo representam real perigo, pelo entendimento que as drogas não são, em si, perigosas, mas que não são de todo inofensivas. Foi realizada uma discussão sobre a temática do abuso de substâncias a partir da perspectiva da Política de Redução de Danos (política pública) como uma alternativa. Apesar das limitações da PRD, esta se coloca como forma de enfrentamento, que já mostra resultados no tocante à preservação da vida e/ou diminuição do sofrimento e respeito as liberdades individuais, se comparada ao modelo repressivo da Política Antidrogas. Um ponto importante na pesquisa foi a discussão do fracasso da Política Antidrogas, no sentido de proteção à vida, saúde pública e redução de oferta e demanda de drogas. O uso de drogas em si, não é a causa principal de mortes, mas o conflito gerado pela proibição. Tal reflexão elucidou que o conhecimento sobre as substâncias é fundamental para reduzir os danos que as drogas causam à saúde. O consumo excessivo trata-se do ponto mais importante a ser observado como problemático, entendendo que o ser humano é ponto central dessa questão. Palavras-chave: Drogas, Política, Estado, Proibição. 189 190 8. DROGAS E DIREITOS HUMANOS: DAS VIOLAÇÕES DE DIREITOS À VIOLÊNCIA ESTRUTURAL Renan Vieira de Santana Rocha (ISC/UFBA) [email protected] Lumena de Aleluia Santos (HESFA/UFRJ) [email protected] O debate sobre o uso abusivo de drogas, no contexto das últimas décadas, tem sido transversalizado por uma série de temáticas que o tangenciam, por conta desta discussão ter se fortalecido nos diferentes setores de governo e sociedade civil, fazendo emergir diferentes afetos e implicações por parte destes grupos ao abordar tal assunto. No bojo destas temáticas transversais, vemos surgir uma forte discussão sobre Direitos Humanos, especialmente no tocante aos condicionantes da violência – concebendo esta enquanto um conjunto de processos presente em praticamente todas as dimensões das relações sociais que permeiam o uso de drogas. Este debate se justifica ainda mais se pensarmos em duas situações muito presentes na díade drogas-violência: (1) a associação socialmente aceita de que todo usuário de drogas é violento; (2) a privação de liberdade aos usuários de drogas em situação de vulnerabilidade a partir das estratégias de internação compulsória. Por assim afirmar, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma problematização referente às relações que são estabelecidas entre o uso de drogas e as violações de direitos na sociedade contemporânea, buscando perceber se estas violações de direitos repercutem no fortalecimento de relações de violência. Sendo assim, como estrutura para a discussão proposta, utiliza-se: (1) uma contextualização conceitual sobre os Direitos Humanos; (2) uma trajetória histórica sobre o processo de criminalização do uso de drogas; (3) uma definição sobre violência, tomando como base a questão do uso de drogas e da vulnerabilidade social no contexto da sociedade brasileira; (4) um conjunto de aproximações e conexões entre a questão do “Uso de Drogas” com a discussão dos “Direitos Humanos” e da “Violência”; (5) e, por fim, indicações gerais de ações que possam auxiliar e instrumentalizar o início da reflexão e da articulação de novas atuações sobre o uso de drogas no Brasil. No transcorrer do trabalho, são ainda avaliados diferentes documentos nacionais que debatem a questão do uso de drogas e dos Direitos Humanos no Brasil – a exemplo do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos/PNDH-3 (de 2009) e do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack (de 2010) – no intuito de compreender como a questão da violência se incorpora à dimensão das instituições brasileiras, apresentando-se enquanto fruto de relações “adoecidas” entre as instâncias governamentais e sociais com determinados sujeitos que demandam delas cuidado – e, no caso desta discussão em particular, como isto afeta especificamente as ações voltadas aos usuários de drogas. Conclui-se que, estando estas relações institucionais permeadas de ideais estigmatizantes, perpassados na sociedade pela ausência de programas que discutam as bases da construção sócio-histórica da discriminação e da criminalização do uso de drogas, estas reforçam comportamentos violentos, agressivos psíquica e fisicamente. Esta mesma violência (então estrutural) lançará, assim, as bases que operacionalizarão todas as outras formas pelas quais a violência se manifesta (física, psicológica, etc.). A partir desta análise, objetiva-se também propor estratégias, pautadas nos referenciais dos Direitos Humanos, para produzir alternativas de enfrentamento aos problemas identificados. PALAVRAS-CHAVE: Drogas; Direitos Humanos; Violência; Violação de Direitos. 190 191 9. GOLPES DE RESISTÊNCIA: A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA E O COMPROMISSO SOCIAL DA PSICOLOGIA NO CONTEXTO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA Lumena de Aleluia Santos (HESFA/UFRJ) [email protected] Renan Vieira de Santana Rocha (ISC/UFBA) [email protected] O nascimento e o desenvolvimento da Psicologia brasileira estão diretamente correlacionados com a época da Ditadura Civil-Militar Brasileira, regime político autoritarista e militarista que esteve em voga no Brasil no período compreendido entre 1964 e 1985. Levando isto em consideração, o objetivo deste trabalho foi compreender a relação existente entre o Compromisso Social da Psicologia e a própria estrutura do regime, em análise estruturada a partir de distintos aspectos presentes em documentos originários destes processos, seja por estudos de entidades nacionais que se debruçaram sobre a temática, seja por relatos escritos de diferentes sujeitos que vivenciaram as violações ocorridas nesta época. Dessa forma, inicialmente, foi construído um pequeno resgate histórico sobre os primórdios da formação identitária da Psicologia na sociedade brasileira, buscando evidenciar as principais características do contexto histórico, político e econômico da Ditadura Civil-Militar que influenciaram o desenvolvimento epistemológico, bem como os posicionamentos da Psicologia, enquanto Ciência e Profissão. Assim, analisa-se como os elementos próprios da Ditadura CivilMilitar Brasileira refletiram e influenciaram na construção da Psicologia e de seus saberes e práticas – profissionais e políticas – na realidade do Brasil, partindo de uma breve retomada histórica dos componentes que propiciaram a instauração do regime e das diferentes formas como o poder foi exercido pelas Forças Armadas e pelas Elites Econômicas da época, ressaltando também as características confluentes de todos os campos de análise apresentados; em seguida, intentase apresentar as principais práticas e áreas de atuação da Psicologia Social Comunitária, evidenciando que a perspectiva sóciocomunitária pode ser considerada uma das pioneiras, em termos de intervenção no âmbito da Psicologia, frente às mudanças na trajetória de consolidação do projeto do Compromisso Social e da implicação com os Direitos Humanos; e, para, finalizar são trazidas algumas reflexões acerca do projeto do Compromisso Social enquanto mecanismo de transformação das estruturas de violações dos Direitos Humanos, bem como instrumento de resistência política frente às práticas e saberes da Psicologia consolidados em um dado momento da sua trajetória identitária frente ao regime da Ditadura CivilMilitar. PALAVRAS-CHAVE: Psicologia; Ditadura; Compromisso Social; Organizações Profissionais; Direitos Humanos. 191 192 10. PSICOLOGIA E REPRESSÕES SOCIAIS: POSSIBILIDADES EMANCIPATÓRIAS Alfredo Ubirajara Baleeiro Santos Aline Moreno Mendes Faculdade Guanambi [email protected] A partir de uma análise histórica é possível perceber como as perspectivas teóricas e práticas da psicologia, desde sua formação como ciência até a atualidade, vêm contribuindo na legitimação de determinadas ordens vigentes. Em consequência, tal aspecto indica que os estudos e ações da psicologia tem seguido determinados interesses político-ideológicos que geralmente buscam sustentar tanto relações de poder quanto formas de produções subjetivas. Contudo, temos também movimentos e perspectivas que confrontam essas relações e se comprometem com a emergência das estruturas sociais. DESENVOLVIMENTO No Brasil, estes movimentos na psicologia adquirem caráter peculiar, especialmente em relação a seu posicionamento frente às violações dos Direitos Humanos, como no período da ditadura civil-militar e também nas atuais práticas repressivas do Estado, bem como a busca pela efetivação destes Direitos. Tais aspectos podem ser analisados também na atualidade da insurgência das manifestações sociais iniciadas em junho de 2013, que têm demonstrado a intensa repressão policial e a criminalização dos movimentos e destas manifestações pelo país. Sendo assim, pensar em psicologia hoje é considerar a possibilidade de constituição de novas subjetividades coletivas e politizadas que rompam com processos naturalizados e proporcionem novas reflexões e práticas para a psicologia em suas intervenções sociais. OBJETIVOS Esse trabalho tem por objetivo uma análise histórica da psicologia junto aos movimentos políticos e sociais no Brasil, a fim de compreender práticas que estiveram alinhadas às formas de repressão e manutenção do sistema social conservador. Com esta compreensão e considerando a necessidade de romper com estas perspectivas, buscamos a consolidação de uma psicologia compromissada com a emergência social vinculada à realidade brasileira, bem como o respeito aos Direitos Humanos. MÉTODO Essa é uma pesquisa teórica, exploratória e qualitativa que busca descrever a influência da psicologia em paralelo ao posicionamento ante as práticas repressivas atuais, de forma a possibilitar novas práticas sociais. RESULTADOS E CONCLUSÕES Devido a todo o entendimento de uma psicologia que a muito tem servido a interesses elitizados, individualistas, alinhados ao sistema dominante, que se omite em grande parte das questões sociais apontadas, torna-se necessária uma psicologia compromissada com a emergência dos movimentos, com a identificação das forças de transformação e questionamento. Enfim, uma psicologia que ajude a embasar não a tortura e as práticas de alienação, mas sua emancipação junto a produções teóricas e práticas de intervenção direta sobre as demandas sociais. PALAVRAS-CHAVE: Psicologia; Repressão social; Direitos Humanos; Movimentos emergentes. 192 193 11. NARRAÇÃO, EXPERIÊNCIA E MEMÓRIA EM WALTER BENJAMIN E ADEUS, LÊNIN! Renato Gomes Vieira FE/UFG [email protected] Vamos analisar o filme Adeus, Lênin! (Wolfganger Becker, Alemanha, 2003), com os conceitos de Walter Benjamin: a narração, a memória, a experiência e a história. Alexander Kerner, personagem narrador, reconstrói em seu apartamento uma ambientação do “socialismo” da Alemanha oriental, para evitar emoções que possam levar à morte sua mãe, professora e militante, que sofreu um infarto e ficou em coma por um ano no período da queda do Muro de Berlim e da volta do capitalismo ocidental. Compreendemos o narrador do filme como uma personificação do narrador de Benjamim. Ambos aspiram a um outro mundo, a um outro tempo, a uma outra experiência. Esta, no entanto, só acontece com o resgate dos episódios que, mesmo submersos, podem ajudar a emancipação. Portanto, precisamos de uma outra narração, uma outra memória. O narrador do filme é como o anjo de Klee, no quadro Ângelus Novus, na imagem que Benjamin usa nas suas teses (IX) para representar a história sobre os fatos traumáticos, no seu caso a Alemanha oriental. Kerner “parece estar a ponto de afastar-se de algo em que crava o seu olhar. Seus olhos estão arregalados, sua boca está aberta e suas asas estão estiradas”. Trata-se de sua perplexidade frente à mudança. “O anjo da história tem de parecer assim. Ele tem seu rosto voltado para o passado. Onde uma cadeia de eventos aparece diante de nós, ele enxerga uma única catástrofe, que sem cessar amontoa escombros”. Seu olhar o faz ver os problemas da Alemanha e o leva aos protestos que destroem o Muro de Berlin. “Ele bem que gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços. Mas do paraíso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual dá as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce”. A catástrofe esta presente, pois o “progresso” (capitalismo ocidental) obriga-o a seguir, mas faz um movimento para resgatar do passado o que vê como possibilidade de construção de outra sociedade. Essa perspectiva no filme esta encoberta pelos escombros, logo a dificuldade em perceber os dilemas do narrador, em especial sua negação, tanto da burguesia quanto do burocrata, pois é no “momento da morte que o saber e a sabedoria do homem e, sobretudo sua existência vivida (...), assumem pela primeira vez uma forma transmissível”. A história é impulsionada por imagens do passado que forçam àqueles que rememoram os acontecimentos nas suas catástrofes e nos vencidos a agir. Se nossa experiência é empobrecida, evocar a memória pode romper o “tempo homogêneo e linear” do capitalismo e ajudar a recuperar a memória da solidariedade e da emancipação. Cabe ao narrador não traçar todos os caminhos como o autômato da tese I de sua concepção de história, que tudo sabe e domina, mas simplesmente fazer uma sugestão para a continuação de uma história que ainda não acabou, está em aberto e sendo narrada. Palavras-chave: Narrador. Memória. Experiência. História. Redenção. 193 194 F- EIXO MÍDIA, RELIGIÃO E POLÍTICA 1. A INTERNET COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Demetrius Lopes de Abreu Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] É comum os estudiosos dos movimentos sociais esbarrarem com práticas e conceitos como cibercultura, ciberativismo, mídias independentes digitais, e considerando os últimos protestos e manifestações mobilizadas e organizadas pela internet não dá para ficar imune a este “vírus”. Esta revolução tecnológica nos força a repensar desde questões éticas(ex. uso de conteúdos que estão no ambiente público do virtual), a novos métodos de pesquisa que usam a internet como suporte ou até com procedimentos exclusivamente virtuais. Com isso novas experiências metodologias e desafios tem sido enfrentados por bases de pesquisas e alunos que forçam a imaginação, preconceitos e códigos éticos tradicionais. Pretendemos juntar esforços neste sentido, e debater com a comunidade acadêmica nosso relato de experiência em utilizar o Facebook como instrumento de pesquisa. OG: Expor e colocar em debate o uso das redes sociais virtuais como instrumento metodológico. OE: Relatar as vantagens, dificuldades e desafios da experiência de utilizar tais instrumentos. Método Optamos pela netnografia das publicações das redes sociais virtuais. Criamos uma página da pesquisa no Facebook, e “seguimos” exclusivamente as mídias virtuais (Mídia Ninja, MIC) e os movimentos sociais(Passe Livre, Anônimos). Com intuito de complementar a revisão bibliográfica, e publicação científica auxiliar ao projeto de dissertação, e também de experimentar novos instrumentos metodológicos (informacionais) que possam vir a ser utilizado em etapas mais avançadas de nossa pesquisa. Como critério de inclusão, usamos as publicações em audiovisual, que o conteúdo fosse relacionado as mobilizações em espaços públicos das principais capitais brasileiras, no período de junho à agosto de 2013. Conclusões Conseguirmos resgatar aposteriori as reproduções em vídeo dos protestos, oque ampliou nossas impressões sobre o fenômeno para além de nosso olhar e espaço (outras capitais), em uma espécie de empírico estendido, sendo um ótimo instrumento para o solitário pós-graduando. Porém notamos dificuldade em trabalhar com um conteúdo muito heterogêneo, assim como a falta de clareza sobre a ética de pesquisa no ambiente virtual. A revisão em periódicos demonstrou que artigos sobre fenômenos recentes, concentram-se principalmente numa reorganização teórico conceitual e entrevistas de opinião com especialistas e poucas pesquisas com observações empíricas a curto e médio prazo. Acreditamos que com redução do preconceito e avanço na regulamentação ética sobre os dados virtuais, poderíamos reduzir o tempo de resposta da produção científica sobre fenômenos recentes. O acesso a informações sobre o fenômeno não é problema na contemporaneidade dado o avanço tecnológico, a questão reside na construção de eficientes filtros. E enquanto não se desenvolvem softwares específicos, o Facebook é um bom filtro: Podemos selecionar datas; criar redes de “informantes” que melhor capturem registros sobre nossos temas; criar grupos de discussão e fazer entrevistas online com integrantes de movimentos sociais; perceber inter relações dos movimentos sociais e detectar suas redes de apoio; programar para ser avisado dos locais e horários dos protestos, perceber a opinião dos internautas sobre determinados assuntos, e sobre as postagens dos movimentos sociais pelos comentários que eles deixam no ambiente público do site. Palavras-chaves: Movimentos sociais, Internet, metodologia de pesquisa. 194 195 2. OS NOVOS REPERTÓRIOS DE AÇÃO COLETIVA E AS MOBILIZAÇÕES DE MASSA Demetrius Lopes de Abreu Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] Os ciclos de ações coletivas iniciadas com as informalmente com manifestantes. mobilizações sociais que ganharam caráter de Conclusões Dentre os repertórios de ação massa a partir junho de 2013 no Brasil, coletiva detectamos uma mescla entre os agitaram a opinião pública de maneira ímpar tradicionais e os contemporâneos. considerando a tecnologia disponível, e Permanecem as tradicionais passeatas porém reanimaram o debate político acadêmico, que sem carro de som dos partidos políticos, pois tenta circunscrever e compreender este fato a atual rede de movimentos tem como lema o apartidarismo. Além de uma estética histórico, que ocorreu poucas vezes no Brasil. Diante disso problematizamos as relações diferenciada com paródias de músicas entre redes de movimentos sociais e o caráter populares (Funk, Rap e Tecnobrega), o teatro é substituído pelas performances públicas de de mobilização de massa, e nos perguntamos auto-flagelamento, onde evidenciam a qual seriam os novos repertórios de ação coletiva? “violência e o corpo que resiste”, projeções de Depois de historicizar e destacar a reatualização dos preconceitos as “massas” e traçar inter-relações entre movi imagens comcom palavras de ordem gigantescas Utilizamos como aporte teórico o confronto nos prédios, produção de documentários político (McAdam, Tilly, Tarrow), Redes de curtos onde os próprios manifestantes Movimentos Sociais (Sherer-warren, escrevem sua história. Castells), Psicologia política (Prado) na Entre os repertórios contemporâneos tentativa de circunscrever o fenômeno. despontam o uso das redes sociais virtuais e Objetivos Como objetivo geral procuramos telefonia móvel para organização e compreender qual a relação dos novos convocatória das manifestações. Porém nos repertórios de ação coletiva e o caráter de deparamos com outras sutilezas massa das mobilizações. E como objetivos informacionais como os abaixo assinados à específicos indagamos qual o papel das redes de movimentos sociais noocorrência fenômeno de E quais novos repe nível nacional, de “massa”. passeatas Impeachment, para categorizar os repertórios simultâneas em várias cidades, transmissão ao tradicionais. Depois criamos uma página da vivo dos protestos por mídias alternativas, pesquisa no Facebook, e “seguimos” hackterrorismos aos sistemas operacionais de exclusivamente algumas mídias virtuais e empresas e invasão de informações pessoais movimentos sociais. Optamos pela comprometedoras de servidores do Estado, netnografia nas mídias alternativas do várias pessoas acessam o mesmo site para que Facebook como a Mídia Ninja, MIC. E dos ele fique no topo das procuras nos programas movimentos sociais selecionamos o Passe de busca (Ex,Google)... O fato dos Livre e Anônimos. Com intuito de perceber movimentos articularem-se em redes e os novos repertórios de ação coletiva. Como utilizarem as redes virtuais, além dos novos critério de inclusão usamos publicações em repertórios, aumenta consideravelmente a audiovisual, cujo conteúdo fosse relacionado possibilidade das mobilizações aos protestos nas capitais brasileiras, no contemporâneas assumirem caráter de massa. período de junho a agosto de 2013. Também vivenciamos 3 manifestações em Natal onde Palavras chaves: Movimentos de massa; utilizamos diário de campo e conversamos repertório de ação coletiva; internet. 195 196 3. TENSÕES SOBRE OS SUJEITOS DO FEMINISMO NAS “BLOGUEIRAS FEMINISTAS”: ENTRE DISPUTAS E REARTICULAÇÕES Alice de Alencar Arraes Canuto Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Nos últimos anos, no Brasil, o tema dos feminismos ganha destaque nas mídias e redes sociais. Um dos movimentos que contribuíram para esse recente “boom” feminista foi o da criação de mídias independentes – blogs, websites, páginas e grupos no facebook, dentre outros – e o efeito viral alcançado por meio das redes sociais. À luz das teorias pós-coloniais, feministas, e da psicologia social, pretendo explorar a crescente difusão e pulverização da produção discursiva e possibilidades de engajamento/ação/organização feminista nas mídias, que nos levam a rever que “lugares” pensam, transmitem e acionam os feminismos. Essa comunicação tem por objetivo refletir sobre quem “são” os sujeitos do feminismo, a partir de uma análise dos textos produzidos pelas Blogueiras Feministas. Seguindo os enunciados expostos nos blogs: quem fala, de onde fala, como fala, e pra quem fala, algumas perguntas norteiam este estudo: quem são os sujeitos de fala, quais intersecções, pautas e demandas entram para o assunto, como determinados temas são abordados, e a que público(s) se dirige(m)? Entendendo o feminismo como um movimento plural, não homogêneo, diverso e não esgotado, com tensões e discordâncias no campo, é possível localizar uma série de disputas sobre a apropriação de termos, agendas e posições nos feminismos. Por tratar-se de uma pesquisa de Mestrado, em andamento, apresentamos algumas reflexões e análises parciais, pois entendemos a produção do conhecimento como um processo. Um dos objetivos dessa pesquisa consiste em identificar quais eventos ou temáticas produzem perguntas ou reflexões sobre “quem é o sujeito do feminismo”. O corpus da pesquisa será composto por matérias retiradas dos blogs, dentro de um recorte temporal que abrange o período de 2013 e 2014. Tal escolha se deu em decorrência de alguns eventos importantes, como: a escolha do pastor e deputado Marcos Feliciano para a presidência Comissão de Direitos Humanos, a visita do Papa Francisco ao Brasil, o movimento da “Marcha das Vadias”, a comoção do “movimento de Junho”, a tramitação de estatutos como o “Estatuto do Nascituro” (PL 478/2007); o debate da descriminalização do aborto; as polêmicas envolvendo o grupo auto-intitulado feminista, Femen; o genocídio dos/as jovens negros/as, as denúncias sobre violências obstétricas, e na Rússia a prisão do grupo feminista Pussy Riot e a lei sancionada pelo então Presidente Vladimir Putin que proíbe propagandas “gays”, dentre outros, que mobilizaram as mídias e redes sociais feministas em prol de uma politização dos acontecimentos. Reconhecer as mídias independentes feministas como um lugar que alia a escrita uma forma de engajamento político, parecenos fundamental para repensarmos a comunicação nestes lugares como espaço estratégico e alternativo de ação política. Espera-se com essa comunicação apresentar alguns dados da pesquisa, e contribuir para o debate acerca das tensões dos/entre feminismos na contemporaneidade. Palavras-chave: feminismos; blogueiras feministas; mídias; psicologia social. 196 197 4. NARRAÇÃO, IDEOLOGIA E EXPERIÊNCIA: OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO NO JORNALISMO Paola Regina Carloni Universidade Federal de Goiás, Faculdade Araguaia & USP [email protected] O jornalismo é um lugar privilegiado na transmissão de informações. Em meio às brigas pela necessidade do diploma para exercer a profissão, a área do jornalismo acabou por se lançar na discussão sobre a formação do jornalista. Discussão esta que precisou se intensificar com as novas diretrizes publicadas pelo MEC no Diário Oficial da União em setembro de 2013, que transforma as graduações nessa área em Curso de Jornalismo e não mais em Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Diante de tais discussões, este trabalho tem como objetivo perceber os processos que envolvem as contradições da formação do jornalista a fim de refletir sobre o conceito de narrativa, de experiência e a relação com a perda das tradições na sociedade contemporânea. Sociedade esta bombardeada por informações que não propiciam o esclarecimento e a emancipação. Este diálogo se dará a partir da sociologia do conhecimento, em especial a Teoria Crítica da Sociedade. A autora deste trabalho é graduada em Comunicação Social - Jornalismo e em Psicologia e mestre em Educação. Ela desenvolve, em seu doutorado, em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, uma pesquisa sobre a formação do jornalista. Este problema surgiu em sua prática profissional como professora em cursos de Comunicação Social - Jornalismo e ainda em suas percepções, já desde o mestrado, baseada no pensamento frankfurtiano de que uma formação humana ampla, que contemple a possibilidade de autonomia, uma promessa iluminista, se tornou, na sociedade capitalista, inviabilizada pela lógica do consumo. Adorno (2006) explica que a educação só forma para a emancipação se este for o seu objetivo e que o principal objetivo da educação deveria ser o combate à barbárie, situações essas que não ocorrem quando o objetivo da educação é a formação para o mercado de trabalho. O jornalismo tem, ainda, sua formação comprometida, segundo Benjamin (2012), já desde o seu surgimento, quando muda a maneira de a sociedade se comunicar. O surgimento da imprensa, e sua nova forma de comunicação, a informação, acabaram por acirrar a deformação do sujeito e contribui, ainda, para o declínio da capacidade de os indivíduos realizarem experiências. Neste sentido, é possível discutir a relação entre a imprensa, a ideologia capitalista, a perda da capacidade de realizar experiências e a formação humana, especialmente do profissional Jornalista e sua influência na sociedade. Para isso, recorre-se aos teóricos da Escola de Frankfurt, em especial, Benjamin (1979, 2012), Adorno (1994, 1995, 2006) e Horkheimer e Adorno (1985), dentre outros. Realiza-se uma pesquisa bibliográfica, já em construção, e será realizada, na segunda fase do projeto, que se iniciará em 2015, uma pesquisa empírica, em que se tentará perceber, na academia e nas relações com o mercado de trabalho, os processos práticos que envolvem a formação do jornalista. Por meio desta Comunicação Oral pretende-se relatar as experiências e construções teóricas da autora deste trabalho, a partir de um diálogo com a Escola de Frankfurt. Palavras chaves: jornalismo, experiência, formação. 197 198 5. “ESTÁ EM SUAS MÃOS PROTEGER NOSSAS CRIANÇAS”: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS DA CAMPANHA DO UNICEF NA GARANTIA DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Nathália Dourado Frazão Costa Universidade Federal do Pará [email protected] No contexto dos megaeventos no Brasil, em especial a Copa do Mundo FIFA, em 2014, foi lançada uma campanha pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), denominada Está em suas mãos proteger nossas crianças. Ela objetiva prevenir e denunciar casos de exploração e violência contra crianças e adolescentes em apoio à Agenda de Convergência, órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A campanha tem como carro-chefe um aplicativo para tablets e smartphones chamado Proteja Brasil, no qual consta a descrição dos tipos de violência que crianças e adolescentes podem vir a sofrer e os números de telefone de delegacias e conselhos tutelares da região de quem o acessa. As estratégias de comunicação utilizadas nos dão pistas de como os efeitos de poder circulam neste processo, sendo importante uma análise mais minuciosa. Este trabalho teve por objetivo analisar as estratégias de comunicação a partir da analítica de Michel Foucault, inscritas no conteúdo da campanha vinculada ao site do UNICEF e em suas redes sociais. A campanha é de um organismo multilateral que inscreve na sociedade práticas de cuidado de si e dos outros, disciplinando e orientando condutas por meio de financiamentos e elaborando materiais constituídos por regras a serem seguidas em nome de proteção, garantia e promoção de direitos. Suas ações são estratégias de proteção da infância, amparadas em discursos ditos científicos, evidenciando o ordem discursiva que circula na sociedade ocidental contemporânea. As estratégias de comunicação são entendidas como documentos resultantes de tensões e tramas de relações de saber-poder estabelecidas e sua desnaturalização é necessária na compreensão dos efeitos de poder que advém dessas lutas. Foram utilizados vídeos e predominantemente as redes sociais para divulgação do aplicativo. Compreendeu-se que estas estratégias atuam como práticas de judicialização da vida, caindo num denuncismo vazio ao invés de fortalecer a rede de garantia de direitos dessas crianças e desses adolescentes. Ao ter a possibilidade de uma resposta mais imediata e punitiva, esses serviços tornam-se a ferramenta prioritária midiatizada, quando há outras instâncias e mecanismos de protagonismo social para o cidadão exercer e garantir seus direitos. A necessidade de interrogar práticas presentes em campanhas que envolvem direitos de crianças e adolescentes vislumbra-se como indispensável para a compreensão dos efeitos de subjetivação em nossa atuação à garantia dos mesmos, para nos tornarmos atores do processo e não membros de um rebanho orientado por inúmeras agências que tomam para si nossas condutas. Palavras-chave: UNICEF; estratégias de comunicação; sistema de garantia de direitos. 198 199 6. A CONSTRUÇÃO DO ÁRABE NA IMPRENSA HEGEMÔNICA Babel Hajjar Universidade de São Paulo - Brasil [email protected] A representação dos sujeitos árabes, árabeislâmicos, orientais, ou outras nomenclaturas que lhe possam atribuir, para representar os habitantes do oriente médio e seus descendentes pelo mundo, passa necessariamente pela mídia hegemônica, e ainda mais fortemente pela imprensa. As informações emitidas pela imprensa hegemônica, no Brasil e no exterior, não raro traduzem visões tendenciosas e generalistas, ora reportando o radicalismo islâmico como origem das crises entre países do oriente médio, ora causando a impressão de uma homogeneidade de espaços sociais. A ideia de um sujeito árabe-islâmico se confunde, na imprensa, com a ideia de terrorismo e de mal a ser combatido. As informações retransmitidas no Brasil são, via de regra, as mesmas divulgadas pelos grupos midiáticos hegemônicos do ocidente, que se posicionam perante os países árabes conforme os interesses da geopolítica internacional. As bases epistemológicas que justificam uma narrativa distorcida do sujeito árabe-islâmico remontam às grandes colonizações, e encontram paralelos com a matriz eurocêntrica que classificou índios americanos e afrodescendentes escravizados como sujeitos inferiores ao “branco europeu”. Tal matriz, baseada em uma métrica onde a função do novo mundo era preencher necessidades europeias, desenvolveu os modos de produção escravista e servil nas américas coloniais, bem como, posteriormente, permitiu o estabelecimento de uma dominação atroz no ambiente árabeislâmico, especificamente oriente médio e norte da África. Objetivos: Constituindo-se como parte das articulações teóricas e categorias analíticas da pesquisa de mestrado em desenvolvimento intitulada “Práticas Colonial-Orientalistas na Midia de Massa”, pretende-se problematizar e analisar a produção dos discursos políticoideológicos contidos na representação do sujeito árabe-islâmico na mídia de massa hegemônica. Metodologia: - A partir da revisão das bibliografias de autores que problematizaram o colonialismo como resultante de uma ciência eurocêntrica e de uma lógica de produção global, entraremos mais especificamente nos trabalhos de Edward Said sobre Orientalismo. Pela definição de categorias proposta por este autor, buscaremos analisar a discursividade de textos jornalísticos, nacionais e internacionais, publicados em períodos anteriores e posteriores à atual guerra Síria (2011 até o presente. Resultados: Said aponta quatro “dogmas sobre o oriente”, a serem utilizados como principais categorias de análises: As dicotomias Ocidente-racional, desenvolvido, humanitário, superior /Oriente aberrante, subdesenvolvido, inferior; 2) Abstrações sobre a civilização oriental clássica preferíveis à representações modernas, extraídas das realidades atuais; 3) A imutabilidade, eternidade e uniformidade que leva o oriente a ser incapaz de definir a si mesmo; 4) o oriente como representação de perigo iminente para a “civilização”, ou a civilização ocidental. Discussão: A representação do sujeito árabe-islâmico no ocidente leva-o a ocupar um espaço social permitido, diferente do espaço por ele desejado. A discussão epistemológica sobre os saberes árabe-islâmicos dão-se em um nível “cultural”, “linguístico”, “gastronômico”, “comercial”, mas nunca político – vide o espaço reservado à discussão na academia – Estudos Orientais ou Relações Internacionais, disciplinas nas quais o debate político muitas vezes é secundário. A mitificação do conflito político vivido pelo sujeito árabe-islâmico é mascarada pela pauta dogmatizada do jornalismo hegemônico, que camufla que as questões do oriente médio são questões políticas, e não míticas. Palavras-chaves: Colonialidade, Orientalismo, Árabe; Islâmico. 199 200 7. DÍZIMO E CURA DIVINA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FIÉIS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS Ana Paula Hermoso Lopes Bruna Suruagy do Amaral Dantas Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected]; [email protected] Apesar do crescimento vertiginoso do neopentecostalismo no Brasil nas últimas décadas e do seu consequente impacto sociocultural, ainda são raras as pesquisas na área da psicologia social sobre este movimento religioso. Com o objetivo de compreender como esse fenômeno se articula no âmbito social e individual, o presente estudo buscou investigar aspectos relevantes dos bens simbólicos produzidos no contexto religioso a partir da análise das representações sociais da doença e da cura divina, compartilhadas por membros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). A pesquisa de campo foi realizada por meio de um método misto, envolvendo técnicas qualitativa e quantitativa, e a metodologia de análise adotada foi a hermenêutica de profundidade. Foram feitas entrevistas semidirigidas com 5 membros da IURD (coincidentemente, todas mulheres) e os temas mais relevantes nas respostas das entrevistadas foram selecionados. A análise revelou que a relação entre dízimo e cura é representada pelas colaboradoras de modo significativamente diferente do discurso institucional e revela a tentativa de manter a separação entre o mundo espiritual e o mundo secular. A instituição apresenta a cura divina como um direito adquirido no momento em que o fiel dá provas da sua fé por meio do dízimo. Este é caracterizado pela entrega de certa quantia de dinheiro à igreja e representa um investimento financeiro que trará diversos dividendos espirituais, entre eles, a cura divina. Enquanto no discurso institucional o dízimo é apresentado como um investimento, as entrevistadas o veem como ato de gratidão a Deus pelas bênçãos recebidas. As entrevistadas relataram suas experiências de cura divina como bênçãos imerecidas e argumentaram que o crente iurdiano exige a cura divina por meio da “revolta da fé”. Esta representa o momento da tomada de posição do fiel na batalha espiritual entre o bem e o mal, sendo mais uma confissão de fé que a simples exigência de um direito. O preconceito sentido e relatado pelos fiéis, frequentemente tratados como sujeitos alienados, enganados e explorados financeiramente, pode ser a causa dessa dificuldade de ancoragem e objetivação de um assunto tão complexo e desconfortável. Portanto, o presente estudo demonstrou que as representações sociais de cura envolvendo o dízimo são a síntese de um processo dialético ocorrido entre o discurso institucional e as concepções anteriores dos membros da igreja. O processo de ancoragem requer categorização e valoração dos novos conceitos, e por isso o conceito de que a cura é um direito adquirido pelo fiel por meio da prova de fé (no caso, o dízimo), presente no discurso institucional, acabou por ser modificado para evitar a tese da ‘compra’ da bênção. A contradição entre os discursos dos indivíduos em relação à instituição caracteriza-se por um deslocamento do dízimo no tempo: a partir do ponto de vista das entrevistadas, o dízimo é posterior à cura já que é demonstração de gratidão pela bênção; do ponto de vista da igreja, o dízimo é anterior à bênção, já que representa um passo de fé em direção à cura. Palavras-chave cura divina, representações neopentecostalismo, dízimo, IURD. sociais, 200 201 8. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CURA DIVINA E A RELATIVIZAÇÃO DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE Ana Paula Hermoso Lopes Bruna Suruagy do Amaral Dantas Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected]; [email protected] O neopentecostalismo, fenômeno religioso surgido na década de 1970, tem apresentado crescimento surpreendente desde então, tendo a teologia da prosperidade (TP) como sua característica mais significativa. Tal teologia caracteriza-se pela busca de prosperidade material, física e espiritual a partir de um complexo sistema de mecanismos de fé. O presente estudo procurou analisar de que forma os princípios da teologia da prosperidade surgem nos discursos dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no que se refere à cura divina. A metodologia utilizada foi mista, lançando mão tanto de técnicas qualitativas quanto quantitativas, e o método de análise dos discursos foi a hermenêutica de profundidade. Foram feitas entrevistas semi-dirigidas com 5 mulheres, todas membros da IURD que reletaram ter tido experiências de cura divina. As representações sociais da doença reveladas nas entrevistas são o resultado de um processo de acomodação onde as antigas representações do fiel modificam-se para acolher as novas ideias que a IURD oferece e, de igual modo, os novos sentidos se adaptam para serem ancorados. O fiel iurdiano acredita que a partir do momento em que passou a fazer parte da igreja com regularidade, sua vida melhorou significativamente em vários aspectos, pois há uma ressignificação da própria vida a partir dos princípios da igreja. Apesar dessa comemorada prosperidade, os discursos não apontam para a existência de uma quantidade maior de doenças antes do ingresso na igreja, como se poderia supor com base na teologia da prosperidade, que apregoa a saúde física, emocional e espiritual como indicativo da fé. Em vez disso, há o relato de doenças que surgiram enquanto – e porque – as fiés estavam envolvidas com os trabalhos da igreja e engajadas no proselitismo religioso. Assim, num esforço para tornar suportável a frustração de uma vida que não alcança a plenitude física e emocional e para explicar o adoecimento do fiel, surgem nos discursos das entrevistadas conceitos que poderiam ser entendidos como uma prosperidade relativa ou uma prosperidade às avessas. A prosperidade relativa está relacionadas às vitórias da fé que se manifestam na cura divina. Não havendo mudança no universo material (ausência de doença), há uma mudança no universo simbólico que suporta o significado atribuído às doenças e a postura que se adota para lidar com elas. As enfermidades são interpretadas, no universo simbólico iurdiano, sempre dentro de um contexto de guerra espiritual, e são sempre causadas pelos demônios (nunca por Deus). As entrevistadas reconhecem-se como vítimas do mal e as doenças passam a ser entendidas como uma oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, seja para que o fiel aprenda a lutar contra o mal, seja porque Deus quer provar o fiel para “treinar sua fé”. A prosperidade às avessas traz a justificativa para o adoecimento em momentos em que o fiel encontra-se bastante engajado nos trabalhos da igreja. Nesse caso, a doença seria uma causada pelo “inimigo” de forma a impedir que o fiel continue ativo na “luta contra o mal”. Palavras-chave cura divina, representações sociais, neopentecostalismo, teologia da prosperidade, IURD. 201 202 9. A CONSTRUÇÃO DE NOVOS AFETOS, VALORES E AÇÕES: UMA PESQUISA-AÇÃO COM JOVENS INTERNOS NUMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA Fernando César Paulino-Pereira Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Vítor Luiz Neto Universidade de Brasília, [email protected] O trabalho é resultado de intervenções na comunidade terapêutica Fundação Libertação Jovem, vinculada à Igreja de Cristo, em Catalão (GO). A inserção na comunidade se sustentou pela necessidade de uma práxis envolvida com políticas de identidades no âmbito da emancipação humana, buscando uma existência mais democrática a partir da reflexão crítica sobre a construção de identidades dentro de grupos terapêuticos. A pesquisa teve como objetivos investigar a movimentação dos sujeitos nos campos afetivo, valorativo e operativo e do grupo nas categorias sartreanas de análise grupal, além de analisar fatores que interferem nas dimensões dos processos grupais, que facilitem ou dificultem a emancipação. Para isso, utilizou-se o método materialista dialético, orientando uma pesquisa-ação baseada na teoria da Psicologia SocialComunitária, onde o homem é entendido como produto e produtor de realidades, singular e genérico, na vida cotidiana. Com a pesquisa-ação é possível se pensar em uma práxis que resulta da reflexão do grupo e dos sujeitos, tornando possível uma autonomia dentro do próprio processo. Para realizar tal proposta metodológica, foram utilizadas técnicas de vivência grupal e rodas de conversa baseadas nas necessidades do grupo, bem como o diário de campo como instrumento de registro do processo. Para embasar o trabalho, foram utilizados autores da Psicologia Social como Lane (2004), Reboredo (1983;1995) e Ciampa (2004), no sentido de discutir a construção das identidades dentro dos processos grupais, bem como a análise da movimentação dos sujeitos e do grupo. Os processos grupais são entendidos como espaço de problematização das relações de produção capitalistas que se configuram como relações de poder sofridas pelo grupo e por seus sujeitos na vida cotidiana, pensando que todo ser humano se encontra em um nível de alienação e que todo grupo está inserido em instituições. Com isso, buscou-se discutir fatores que dificultassem a emancipação frente à estigmatização do uso de drogas, emergindo questões como o preconceito por parte da sociedade, os sentimentos de culpa reforçados pela família e as faces do tratamento religioso exercido pela instituição, que gerava acolhimento, mas também controle, disciplinarização e segregação dos internos. No que diz respeito ao campo afetivo, é possível afirmar que os sujeitos apresentam grande sentimento de culpa em relação à família e que isso, de certa forma, os impulsiona a se recuperarem. Dentro do grupo, há também um afeto de empatia com a história do outro e da importância do vínculo criado entre os internos. Contudo, no campo operativo, eles passam por dificuldades de convivência, resolvidas, de certa forma, pela organização interna da instituição. No campo valorativo há influência da instituição religiosa, que, por vezes, agrega aos internos valores depreciativos, como sujeitos a serem salvos, deixando revelar discursos higienistas. Porém, em outros momentos, possibilita a emergência de valores cooperativos e fraternos entre os sujeitos. Em relação à movimentação grupal, o grupo se encontra em momentos de Serialidade, de exclusão dos sujeitos, passando pela Fusão e chegando ao Juramento, com o sentimento de pertinência ao grupo e de que cada um depende de todos. Palavras-chave: comunidade terapêutica; processos grupais; identidade; religião; família. 202 203 10. “NÃO FAÇAMOS UMA ARCA DE NOÉ TÃO PEQUENINA”. ATUAÇÕES, UTOPIAS, DEMOCRACIA E LIBERDADE RELIGIOSA Jaqueline Vilas Boas Talga UFG/Goiás e UNESP/Araraquara [email protected] Percebemos que cada vez mais vertentes do pensamento humano não se encontram coformadas com os caminhos tomados pela humanidade. Distintas linguagens procuram superações, procuram apontar alternativas. Essas linguagens, sejam de correntes científicas ou religiosas, questionam as relações sociais, as sociabilidades contemporâneas e propõem caminhos possíveis para superar a degradação da vida. Certamente, sabemos da existência de linhas de pensamento defensoras da prosperidade individual, do bem estar que parte do individual e abarca o coletivo. Da centralização do sujeito enquanto único responsável por seus atos, superações e fracassos, retirando todo o peso de uma lógica de relações e inter-relações imbricadas em sistemas micro e macro estruturais e ou simbólicos constitutivos da vida em sociedade. De linhas de pensamento que quando propõem alternativas, as fazem no sentido de promover a manutenção do existente. As linguagens propositivas de alternativas são amplas, seja na realidade concreta vivenciada por meio de reformas para alguns ou revolução para outros, seja na vida eterna para os cristãos, no retorno para o verdadeiro lar, após cessar as reencarnações, no caso do espiritismo kardecista, entre outros. Contudo todos acreditam na possibilidade de outro mundo possível e necessário, seja nesta vida ou em outra. São utopias, são pensamentos e ações concretas guiadas por essas utopias. Nessa perspectiva, propomos uma reflexão acerca das atuações de sujeitos pertencentes a distintas religiões, religiosidades e seus reflexos diante de situações e contextos sociais amplos, ao longo das últimas décadas no Brasil. Interpretamos essas distintas atuações enquanto resistências, movidas por utopias que aspiram por outras sociabilidades possíveis. Dialogamos com pensadores clássicos e contemporâneos das ciências sociais, autores preocupados em refletir e apresentar diagnósticos e ou alternativas para as sociabilidades. Compartilhamos de experiências brasileiras de propostas e ações de enfrentamento e defesa da liberdade religiosa, com ênfase na Caminhada pela Liberdade Religiosa. Entre as atuações destacamos a importância das ações de evangélicos históricos nas lutas por melhores condições de vida na cidade. De segmentos católicos que atuaram junto aos oprimidos, junto dos militantes que resistiram contra a ditadura civil-militar brasileira, como também nos catolicismos populares, relacionados a comunidades e grupos que vivenciam tradições, identidades e sociabilidades próprias. Dos religiosos das matrizes africanas que se afirmam enquanto pertencentes a uma ancestalidade africana, a identidades historicamente discriminadas, e a lutas coletivas em nome da liberdade religiosa. Reconhecemos a religião enquanto o “ópio do povo”, fator de alienação de acordo com Karl Marx (2005 [1843 ]) e que estamos lidando com o “divino mercado”, segundo Danny-Robert Dufort (2014). Contudo, também vislumbramos apoiados nas análises de Peter Berger (1985 [1967]), que a religião tem o potencial de desalienar. Em nome da mesma transcendência que justifica a ordem também existe a possibilidade de exercer atuações de “qualidade relativizadora, desmascaradora, desencantadora das pretensões do poder humano” (BERGER, 1985 [1967], p. 108, 109). Essa característica da religião diante de determinadas circunstâncias exerce efetivamente atuações na realidade. A partir do panorama dos casos de atuações religiosas compartilhados podemos afirmar que projetos utópicos existem, eles estão em disputa entre os campos e dentro dos campos, sejam eles religiosos ou científicos. Palavras-chave: Resistências, utopia, lutas sociais, religião. 203 204 G- EIXO COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL 1. ARTE, EDUCAÇÃO E AS POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO COLETIVA Roberta Trindade de Albuquerque Universidade Federal da Paraíba [email protected] Trata-se de um relato de experiência do trabalho com arte e educação que vem sendo desenvolvido na ONG, Centro Cultural Piollin, em João Pessoa/Paraíba. A ONG atende 80 crianças, adolescentes e jovens, em comunidades periféricas do centro histórico da cidade, oferecendo oficinas, teatro, arte da palavra (contado com literatura e letramento) e permacultura, buscando trabalhar educativamente, por meio dessas linguagens, aspectos da vida em sociedade. A parti do setor psicossocial da instituição (constituído por psicólogo, assistente social e pedagoga), tem sido realizadas formações com os educandos e educadores, sendo estes todos os que estabelecem relações com os estudantes, portanto a equipe administrativa, os professores e a equipe de apoio. A forma metodológica encontrada foi a de usar o cotidiano para que nele pudéssemos refletir e indagar, com discussões sobre os conceitos de autonomia, autogestão e desenvolvimento da criticidade. O referencial teórico utilizado é a psicologia sócio-histórica, com os estudos de Vygotsky, e os ensinos de Paulo Freire em Pedagogia da autonomia e pedagogia do oprimido. Com esse suporte teórico, buscamos identificar os mecanismos de expressão e repressão lançados aos educandos e as possibilidades de criação e reflexão política dos sujeitos que fazem parte da ONG. A tentativa é a de chegarmos com as formações cotidianas, a construir a praticar a noção de coletividade. Para por em prática essa estratégia, alguns espaços foram se fortalecendo como importantes na discussão coletiva: o “boa tarde”, encontro de todos da instituição no início das atividades do dia; as reuniões pedagógicas com momentos de estudo teórico; as reuniões ampliadas, espaço destinado a discussão das questões que envolve a gestão da ONG; e o espaço “Piollin pensa Piollin”, momento realizado pelo setor psicossocial com os educandos visando construir reflexões, indagações e proposições. A partir dos diálogos travados nesses espaços e das atividades com arte e cultura, uma consciência mais coletiva tem sido fortalecida. Espaços de autogestão e demais responsabilidade com a instituição tem se firmado, a exemplo da organização coletiva da conzinha e os mutirões de limpeza, manutenção e embelezamento dos ambientes. Contudo, há também muitos desafios. O entendimento sobre autonomia fica restrito, muitas vezes, ao campo conceitual e as possibilidades de expressão se sujeitam as barreiras da repressão, sejam do próprio indivíduo consigo mesmo ou a partir da visão do grupo. A pesar disto, o caminho apontado é o de continuidade, a fim de conquistarmos cada vez mais sujeitos críticos e criativos, capazes de se colocar e buscar, coletivamente, os direitos em sociedade. Palavras-chave: educação, autonomia, criticidade e coletividade. 204 205 2. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO (A) NO CRAS – DESAFIOS E POSSIBILIDADES Angela Beatriz de Lima Borges Secretaria Municipal de Assistência Social [email protected] A atuação do psicólogo na política de assistência social é recente e tem exigido um envolvimento mais crítico com as questões sociais representando um desafio na formação profissional que necessita de novos conhecimentos e mudança na postura das práticas profissionais vigentes. Além disso, a atuação do psicólogo deve compreender a realidade histórica e social da constituição dos indivíduos, a partir da análise da realidade concreta de vida das pessoas, revendo a noção de "sujeito psicológico” com a crença de que a Psicologia só intervém no sofrimento psíquico ou no ajustamento. Nessa perspectiva, processos de sensibilização e emancipação são importantes mecanismos psicológicos que levam em conta a realidade sócio histórica do sujeito, considerando as contradições de cada trajetória de vida. Para isso, os psicólogos devem ultrapassar os antigos modelos teóricos metodológicos, criando novas formas de conhecimento para que possam atuar no campo das políticas sociais em geral e que ultrapassem nas palavras de Freire (1998), modelos individualistas e individualizantes de pessoa e de sociedade. A Política de Assistência Social tem se pautado no rompimento de práticas assistencialistas e clientelistas visando práticas emancipatórias junto às comunidades vulneráveis/marginalizadas. O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) representa uma unidade física que desenvolve serviços, programas e projetos junto às famílias de territórios marginalizados atuando de forma preventiva, promovendo a garantia dos direitos, fazendo com que os integrantes dessas comunidades se percebam como sujeitos de direitos e contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida. As atividades são desenvolvidas por uma equipe multiprofissional (assistentes sociais, psicólogos e pedagogas) que desenvolvem intervenções diversas, tais como visitas domiciliares, palestras socioeducativas, rodas de conversa, atividades coletivas junto a lideranças locais, campanhas socioeducativas, fortalecimento de redes sociais de apoio e busca ativa. Para isso, iremos relatar a experiência desenvolvida numa unidade de CRAS do município de Aparecida de Goiânia - Goiás, durante 10 anos de atuação profissional como psicóloga social. Terá como objetivo propor intervenções na área social. Essa atuação profissional baseou-se nos princípios da Psicologia Social Comunitária e da Educação Popular Freiriana, que têm como horizonte a libertação de condições de opressão para condições de emancipação. Para tanto, é necessário elaborar modelos de intervenções psicológicas comprometidos com a transformação social, quebrando as cadeias da alienação, ou seja, superando as condições de opressão em que a maioria da população está imersa para a libertação pessoal e social. Palavras chave: Política de Assistência Social, Psicologia Social Comunitária e Emancipação. 205 206 3. ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL COMO UM REFLEXO DA CULTURA DE MASSAS ATUAL: UMA AVALIAÇÃO PSICANALÍTICA E DA PSICOLOGIA CRÍTICA Cristina Aparecida Brolhani (IESB) [email protected] O objetivo geral do presente ensaio é de tecer considerações teóricas sobre a compreensão de aspectos intrapsíquicos relacionados às questões culturais na dinâmica de funcionamento do que chamamos de adolescentes infratores e especificamente denominados, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de “adolescentes em conflito com a lei”. Para este objetivo vamos nos remeter basicamente aos textos de Freud sobre o Narcisismo (1914) e de Psicologia de Grupos (1921), assim como da Psicologia Crítica baseada nas abordagens de Crítica Social. Como objetivos específicos, buscarse-á uma compreensão psicossocial da adolescência, o seu significado na sociedade social, a relação entre exclusão social, violência e criminalidade e como a cultura de massa favorece a formação de uma forma de vida individualista e baseada em valores narcisistas. Justifica-se a importância do presente ensaio como uma forma de instrumentalizar os profissionais que atuam com adolescentes, por meio de uma visão psicossocial crítica de adolescentes que tendem ao envolvimento com de atos infracionais. Além disso, de se ter elementos de compreensão da atualidade, em que a tanto a violência simbólica quanto a concreta, permeia as mais variadas formas de relações sociais. Neste âmbito, constata-se que a corrupção, o individualismo exacerbado, a falta da vida comunitária, a diminuição da alteridade se tornam marcantes. Considera-se a adolescência marcada por intensas modificações de identidade e desenvolvendose no contexto social acima citado, a prática de atos ilícitos podem estar reproduzindo e denotando um sintoma deste mal estar atual, já que o adolescente está mais vulnerável às influências simbólicas da cultura de massa e de consumo. Muitos autores e textos se referem à nossa cultura na qual o “Narcisismo” é forma de funcionamento ‘normatizado’, isto é, o estar voltado a si próprio, como lembra a lenda de Narciso, são determinantes. O “voltar a si próprio” vem ficando tão predominante, a tal ponto do individualismo favorecer que as situações de violência e de corrupção tornem-se cada vez mais “naturalizadas” e banalizadas. Neste sentido objetiva-se trazer uma discussão teórica baseada na vivência empírica com adolescentes em conflito com a lei relacionada a elementos da Psicanálise e Psicologia Crítica buscando demonstrar que o funcionamento psíquico dos adolescentes que convivem com a ilicitude são traços simbólicos de uma cultura e contexto histórico contemporâneos permeados pela violência, individualismo, assim como a dificuldade de resignificar a própria existência. Palavras chaves: adolescência, ato infracional narcisismo, violência, cultura de massa. 206 207 4. “PARCEIROS DE FIBRA”: OFICINAS DE ARTESANATO NA REABILITAÇÃO DE USUÁRIOS DE DROGAS André Moura de Souza Leão Clariza Terezinha Guerra Cristina Lopes da Conceição Helena Rodrigues Barbosa Rosa Maria Lino Santana Universidade Federal de Mato Grosso-Campus de Rondonópolis (UFMT/CUR) [email protected] “Parceiros de Fibra” é um projeto de extensão universitária, desenvolvido com a participação professores e acadêmicos do curso de Psicologia e Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Universitário de Rondonópolis – UFMT/CUR – junto à comunidade, com o propósito de oferecer o resgate de práticas culturais, proporcionar a inclusão social, por meio de atividades artesanais sustentáveis, utilizando como matéria-prima os resíduos do pseudocaule da bananeira. O projeto teve início em 2008 e desde então vem desenvolvendo atividades em vários locais. Atualmente têm ações na Universidade Aberta à Terceira Idade UFMT/CUR, Instituições de atendimento a usuários de álcool e drogas, Assentamento Rural e escolas públicas. Em 2014 iniciou suas atividades no Centro de Atenção Psicossocial/Álcool e Drogas – CAPS/AD, que fornece um serviço específico para o cuidado, atenção integral e continuada às pessoas com necessidades em decorrência do uso de álcool, fumo e outras drogas ilícitas. Nesse sentido, as ações são voltadas ao incentivo da capacidade criativa e da cooperação, a troca de saberes e de práticas culturais, na constituição de conhecimentos necessários para melhorar a qualidade de vida. Os encontros ocorrem semanalmente com duração de três horas, tendo como facilitadores cinco acadêmicos, bolsistas de extensão e estagiários do curso de Psicologia, sob a supervisão da professora coordenadora do projeto. As atividades atendem usuários de drogas em processo de reabilitação, com oficinas centradas na tarefa de aprender a extração das fibras do pseudocaule, que também buscam propiciar interações entre os participantes, para pensar e discutir as necessidades relacionadas a implementação da proposta e questões relativas a sua realidade. Para confecção de peças de artesanato, as atividades são realizadas de acordo com as competências, desejos e necessidades de cada um, buscando auxiliálos à desempenhar sua capacidade motora, além de promover a geração de renda, oportunizando a autonomia dos participantes. Nesse contexto, o projeto se concretiza no âmbito da aprendizagem, ofertando aos seus participantes as possibilidades de aprender e ensinar, de criar e produzir, reconstruindo laços e vínculos sociais. Permitindo que seus integrantes, vivenciem a teoria na prática, instituindo novas formas de intervenção psicológica junto à comunidade. Assim vivências no CAPS/AD possibilitam o contato dos estudantes de psicologia com a realidade psicossocial da região, e também com algumas propostas de atendimento as demandas na área, mas sobretudo evidenciam a carência de políticas públicas e o quanto ainda é preciso avançar para contemplar as necessidades dos usuários, das famílias e de toda a sociedade. Palavras chave: práticas culturais, CAPS/AD, artesanato 207 208 5. DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA NO CONTEXTO DE ALDEIAS INDÍGENAS DA TRIBO KIRIRI Deane Barbosa de Jesus Universidade Federal da Bahia [email protected] As aldeias de Marcação e Mirandela da tribo Kiriri, localizadas nas adjacências do município de Banzaê, semiárido baiano, são comunidades indígenas oriundas do aldeamento Saco dos Morcegos fundadas pelos jesuítas. Os Kiriri são um povo indígena que antes da política colonial de expansão viviam espalhados pelo sertão nordestino, depois foram restritos a pequenas áreas, trabalhando para fazendeiros locais tendo em troca a terra para morar e plantar. A Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade ACCS Promoção da Saúde e da Qualidade de Vida, atividade de extensão interdisciplinar da Universidade Federal da Bahia, tem como objetivo a promoção de atividades artísticas e planejamento participativo de ações intersetoriais a partir da identificação, seleção e enfrentamento de problemas de saúde das referidas comunidades. No período letivo 2013.2 foram realizadas pesquisas sobre a história e a vida dos índios Kiriri a fim de embasar o questionário diagnóstico aplicado em fevereiro/2014 com representantes das famílias das aldeias. A partir das entrevistas foi possível, além de conhecer a atual realidade indígena, desde a organização política a real garantia de direitos, perceber as possibilidades e desafios para a atuação da psicóloga neste contexto cultural cujos regimentos de vida são diferentes do que se está colocado nos contextos não indígenas. Tornando possível a problematização de alguns vetores da formação em psicologia, como: a concepção do fazer psicológico e do entendimento da profissão – a que e quem esta está a serviço, o currículo do curso, a estrutura da universidade para ofertar ao estudante experiências que lhe possibilite contato com outras realidades. Estendendo estas reflexões para o âmbito da atuação profissional, na qual as fronteiras extrapolam a dimensão de um acompanhamento psicológico na assistência social, ou na saúde mental convocando, principalmente, para uma atuação frente ao empoderamento e autonomia da população indígena perante a si e ao Estado, na luta à conquista e garantia de direitos. Deste modo, esta experiência possibilitou a desconstrução de estereótipos dos indígenas e a reflexão sobre a formação e atuação da psicologia perante contextos histórico-culturais diferentes, rompendo com fronteiras e paradigmas, potencializando percepções sobre a atuação profissional tendo como ponto de partida um esforço pela garantia de direitos e a preservação da vida. Palavras-chave: população indígena; psicologia; formação; tribo Kiriri 208 209 6. COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA EM REDUÇÃO DE DANOS NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR Deane Barbosa de Jesus Universidade Federal da Bahia [email protected] A comunidade do Pilar, localizada no Distrito Sanitário do Centro Histórico de SalvadorBA, é uma comunidade carente onde é predominante o tráfico de drogas, bem como o uso abusivo de psicoativos. A Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade ACCS Arte e Redução de Danos: o grafiti como instrumento de intervenção na comunidade, atividade de extensão da Universidade Federal da Bahia, realizou trabalho de campo nessa comunidade no período letivo 2012.2 a 2013.1, correspondente de novembro de 2012 a setembro de 2013. Tendo como objetivo principal a criação de práticas que garantissem o desenvolvimento de diálogos saudáveis com os membros da comunidade e a valorização da identidade e história da referida população. Para tanto, teve-se como ferramentas atividades lúdicas, como oficinas de músicas e grafiti, cinema, roda de conversa a fim de favorecer entrosamento e socialização das experiências dos moradores da comunidade, desde os mais antigos aos mais novos. Tais práticas foram feitas à luz da política da Redução de Danos tendo como norte a tolerância e a compreensão da diversidade. As atividades eram realizadas duas vezes por semana, sendo inicialmente as idas a campo acompanhadas por redutora de danos da Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti, utilizando a distribuição de preservativos, encaminhamentos médicos como estratégia para criação e fortalecimento do vínculo. Esse foi o primeiro trabalho de campo realizado por essa ACCS após o Governo da Bahia inaugurar o conjunto habitacional, que passou a receber os antigos moradores da ladeira do Pilar. A partir desse trabalho de campo, tornou-se perceptível que, ao contrário do que é comumente aceito, os usuários de drogas não detêm um perfil ou tipo físico claramente delimitado, assim como é válido ressaltar que nem todos eles estão em conflito com a lei. Foi percebível também o quanto os fatores de vulnerabilidade social são inversamente iguais à presença do Estado na comunidade, e a garantia de direitos da referida população. Por fim, a Redução de Danos possibilitou desconstruir os estigmas dos usuários, de pessoas residentes em bairros/comunidades carentes e refletir sobre uma práxis da psicologia que extrapola os limites até então conhecidos, e convida para o cuidado com o outro, com a comunidade a partir de um esforço pela garantia de direitos e preservação da vida. Palavras-chave: redução de danos; Pilar; intervenção social 209 210 7. DISCURSO DE RESISTÊNCIA NA VELHICE: POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÃO Priscilla Melo Ribeiro de Lima Universidade Federal de Goiás [email protected] Sostenes Cezar de Lima Universidade Estadual de Goiás [email protected] Os discursos, de forma dialética, constroem as relações de poder e são construídos por elas. Instituições e grupos hegemônicos se valem das mais variadas formas e práticas discursivas para exercer e extrair daí benefícios sociais e econômicos. Nem todo exercício de poder constitui prática abusiva de poder. Considera-se uso abusivo do poder as práticas sociais e discursivas que submetem sujeitos ou grupos sociais a situação de dominação e exploração. O abuso do poder se manifesta no discurso toda vez que identidades e relações sociais, especialmente de sujeitos e grupos dominados, são construídas e representadas de modo desfavorável. São construídas representações de inferioridade, feiura, estranheza, aberração, anormalidade etc. de todos os sujeitos e grupos que diferenciam do padrão social hegemônico. Os discursos de resistência podem ser realizados em duas instâncias sociais: no espaço da ciência, onde atuam criticamente analistas sociais e analistas do discurso, e no espaço próprio das realizações discursivas, onde atuam sujeitos sociais conscientes das situações de dominação a que estão submetidos. No que se refere ao primeiro espaço, os discursos de resistência se caracterizam por buscar desvelar as estratégias de dominação discursiva utilizadas pelos discursos hegemônicos. No que se refere ao segundo espaço, os discursos de resistência se caracterizam por apresentar novos modos de construção e representação das identidades e relações sociais, abertamente dissidentes ao padrão hegemônico. Nosso objetivo é, a partir da análise de crônicas de Carlos Heitor Cony e Rubem Alves, mostrar como os autores constroem uma imagem dissidente da velhice. Resistir, enquanto prática discursiva, é desafiar padrões identitários hegemônicos e criar novas formas de existência para o velho. Dentre as resistências observadas, citamos uma busca por modificação da representação social da velhice como dócil, assexuada e decrépita. Há, em algumas crônicas, uma crítica ao uso dos termos terceira/melhor idade, bem como uma construção discursiva que auxilia o velho a transformar a ideologia dominante que reduz o lugar do velho a um indivíduo à espera da morte. Palavras-chave: velhice, resistência, narrativas. discurso de 210 211 8. ANÁLISE DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS: O TRABALHO COM A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR NO CONTEXTO DO CONSELHO TUTELAR Jéssica Helena Vaz Malaquias Universidade de Brasília – UnB [email protected] O pensamento sistêmico e o paradigma de redes sustentam a leitura complexa da condição intrafamiliar que se instaura com a violência. Partindo-se desses paradigmas, entende-se que as famílias vítimas devem ser acolhidas pela rede de atendimento e proteção; e inseridas em vinculações comunitárias e institucionais capazes de fortalecê-las. O presente estudo, desenvolvido em curso de Mestrado Acadêmico na Universidade de Brasília, objetivou conhecer o modelo atual de intervenção de conselheiros tutelares de uma unidade de Conselho Tutelar (CT) do Distrito Federal nos casos de violência intrafamiliar. Valendo-se de estudo de caso, direcionou-se o foco para as intervenções em casos de abuso sexual desenvolvidas em uma unidade de Conselho Tutelar em Brasília. O CT é uma instituição engendrada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que tem por atribuições centrais atender crianças e adolescentes em situação de direitos ameaçados ou violados e requisitar serviços públicos que realizem acompanhamento das situações de violação de direitos. Atualmente, a compreensão do papel do CT tem apresentado muitos desafios. Em meio a uma realidade de trabalho demarcada pela violação de direitos, os conselheiros não desenvolvem ferramentas para refletirem sobre sua prática e para compreenderem os conflitos psicossociais advindos da lide com a violência, com a miséria e com o risco. Como ferramentas de acesso às práticas dos conselheiros tutelares no contexto da pesquisa, foram utilizadas observação participante e entrevistas semiestruturadas. A análise das informações construídas na pesquisa se embasa na proposta da Epistemologia Qualitativa de González Rey. A partir das zonas de sentido construídas, entendeu-se que a realidade do CT exige que o órgão seja analisado em sua estruturação institucional; nas práticas empregadas pelos conselheiros na relação direta com as famílias; e também na dimensão tocante às intervenções coletivas empreendidas junto à rede de atendimento e proteção. Identificaram-se aspectos que fazem dos conselheiros tutelares autênticos agentes de proteção nas comunidades. Todavia, existem obstáculos às suas ações: as vicissitudes decorrentes da inserção das políticas públicas na realidade, uma capacitação que privilegia conteúdos formais e que não inclui uma formação pessoal para os atores, descontinuidade dos serviços da rede de atendimento e confusão sobre suas atribuições. Considera-se necessária a discussão a respeito da preparação para a atuação por parte desses atores, dado que o órgão é a porta de entrada da família para a rede de atendimento. Um método de formação subjetiva ofereceria espaço coletivo de elaboração sobre a relação com as famílias atendidas; as implicações emocionais do trabalho, e ainda sobre o que é ser conselheiro tutelar para esses sujeitos. É preciso que a afetividade, as histórias pessoais, as crenças e os valores, a ética dos conselheiros sejam verbalizados, elaborados e ressignificados. Com essa abertura, os conselheiros passam a estar implicados de maneira reflexiva, e não pela confusão emocional, pela incerteza de suas atribuições ou ainda pelo vínculo incerto na rede de serviços de proteção. Palavras-Chave: Conselho Tutelar; análise de práticas profissionais, violência intrafamiliar. 211 212 9. PARA ALÉM DA DICOTOMIA BEM/MAL: POTENCIALIZANDO A MULTIPLICIDADE DOS CAMINHOS DE JOVENS RECÉM-SAÍDOS DO TRAFICO DE DROGAS Lara Soutto Mayor Vieira [email protected] Renata do Carmo Chiquetto [email protected] William Pereira Penna [email protected] Bruno Giovanni de Paula Pereira Rossotti [email protected] Pedro Paulo Gastalho de Bicalho [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro. O presente trabalho nasce a partir da pesquisa-intervenção “Construindo um processo de escolhas mesmo quando ‘escolher’ não é um verbo disponível”, do Instituto de Psicologia da UFRJ, realizado no “Projeto Especial”, promovido pela Organização Não Governamental “Luta Pela Paz”, localizado no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro. Neste Projeto, cujo objetivo é apoiar a saída de jovens do tráfico de drogas por meio da educação formal e inserção no mercado de trabalho, percebemos a existência de um discurso que se propõe a recuperar uma juventude “perdida pela vivência no tráfico de drogas”, tomando como essencial o abandono deste caminho tido como “errado”. Procuramos, nesta pesquisa, problematizar este discurso dicotômico, que naturaliza caminhos a serem percorridos por estes jovens a partir de uma lógica maniqueísta. Entendemos que tal maneira de pensar está fortemente atrelada a um discurso moralizante produtor de verdade, que os aprisiona em determinados modos de ser e estar no mundo. Trata-se, aqui, de pensar em como essas dicotomias atravessam escolhas e subjetividades e, também, problematizar a força de uma determinada moral, tanto sobre estas produções de verdades, quanto sobre a existência dos jovens envolvidos no Projeto. Apontamos que essas dicotomias são atravessadas por certa lógica da falta que, ao capturar sujeitos a partir da ausência de elementos eleitos como necessários (documentação, escolaridade, “bons modos”, força de vontade para “vencer na vida”...) legitima os efeitos de uma determinada moralidade. Nesse sentido, esta lógica pode se configurar como um interessante analisador para que essas questões possam ser acessadas e questionadas. Tal acesso e possibilidade de questionamento dão-se através do uso de conceitos da Análise Institucional e da metodologia da Cartografia, que se articulam a partir da nossa inserção em atividades como reuniões com a equipe e encontros em grupo com os jovens que participam do Projeto, onde objetivamos analisar o juízo de valor atribuído às experiências dos jovens no tráfico de drogas, de forma que escape a lógicas dicotômicas. A partir da vivência destas atividades, foi verificado que o discurso moralizante presente no campo é atualizado por um “especialismo salvacionista” que, ao produzir aprisionamentos, impede que outras possibilidades de existência se criem para além daquelas ditas como “certas” ou “erradas”, “boas” ou “ruins”, e que outros caminhos sejam pensados para além daqueles colocados como os únicos possíveis. Concluímos desta forma, que pensar e potencializar a multiplicidade é romper com este modo de pensar produzido por relações de poder e jogos de verdade, os quais reiteram essa lógica da falta e produz lugares certos para sujeitos (in) adequados. Palavras-chave: Moralidade; Produção de Subjetividades; Processos de Normalização/Normatização; Processos Grupais e Coletivos; Tráfico de Drogas. 212 213 10. CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS DE PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS EM ITAPERUNA- RIO DE JANEIRO: RELATO DOS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS EM REGIÕES INTERIORANAS. Felix Berzins Rosa M. Prista Bruna Ramos Fundação São José de Itaperuna – Departamento de Psicologia [email protected] O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma iniciativa de estudo e intervenção na temática dos Direitos Humanos a partir de dois recortes: a particularidade dos Direitos Humanos na região Noroeste Fluminense; desafios e possibilidades da temática dos Direitos Humanos na formação crítica de futuros Psicólogos. Esse trabalho é fruto de uma iniciativa promovida pelo Centro Universitário da Fundação São Jose, onde inaugurou-se no primeiro semestre de 2014 o Centro de Estudos e Pesquisa em Direitos Humanos, com discentes e docentes do curso de Psicologia. O Noroeste do Rio de Janeiro é a região de menor desenvolvimento sócio econômico do Estado, sendo considerado atualmente um pólo estudantil por agrupar instituições particulares e públicas. A principal cidade da região é Itaperuna, habitada por 98.004 habitantes (IBGE, 2013). Em um primeiro levantamento de pesquisa sobre a caracterização social da região, percebemos a ausência de dados qualitativos e relatórios de forma geral. Esta carência é uma característica não somente dessa região do Estado, mas também da maioria das cidades e municípios de menor porte afastadas da região metropolitana, demonstrando uma grande invisibilidade da situação dos Direitos Humanos nas regiões interioranas do país. Dentro desse quadro de invisibilidade, o que nos destacou inicialmente foi que, apesar de possuir um Índice de Desenvolvimento Humano com percentual de 0,73 (considerado alto pelas estatísticas), o que percebemos como característica do Noroeste Fluminense, é o baixíssimo nível de exercício relacional. Apesar de Itaperuna ser uma cidade repleta de estudantes universitários, é notório a carência de estrutura cultural local: teatros, centros culturais, áreas de lazer e espaços públicos próprios para o convívio, nos fornecendo uma primeira indicação para o motivo da região ter um dos maiores índices de alcoolismo entre jovens e adultos do Estado. A ausência de pesquisas sobre a situação de Direitos Humanos convocou professores e alunos do curso de Psicologia a formar o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Direitos Humanos como forma de aprofundamento da reflexão sobre questões que permeiam esse cotidiano e onde a Psicologia pode, através de seu aporte teórico, possibilitar transformações sociais, tanto na sociedade local, como nos próprios alunos participantes dessa iniciativa. A partir de uma proposta teórico-metodológica participativa, cunhada pela PesquisaIntervenção, o objetivo do Centro de Estudos é mediar ações psicológicas à população da Região Noroeste do Rio de Janeiro que visem a preservação dos Direitos Humanos universais. Os objetivos específicos em execução são: levantamento das modalidades de violação dos direitos humanos na Região Noroeste do Rio de Janeiro; criação de estratégias de conscientização dos Direitos Humanos por meio de iniciativas educacionais; atender a população da Região Noroeste quanto a garantia dos Direitos Humanos em parceria com instituições particulares e públicas; e criação de espaços de exercício de cidadania por meio de mecanismos de participação social. O presente trabalho se propõem a expor um pouco do resultado dessas iniciativas, objetivando alterar o quadro de invisibilidade das regiões interioranas e contribuir para a qualificação dos futuros psicólogos que ali atuarão. palavras-chave: psicologia e direitos humanos, formação, transdisciplinaridade. 213 214 11. PSICOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE: ESTRATÉGIAS DE FORTALECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS Renan Vieira de S. Rocha (ISC/UFBA), [email protected] Lumena De Aleluia Santos (HESFA/UFRJ), [email protected] O objetivo geral deste trabalho consistiu na problematização teórico-vivencial das relações possíveis entre a Psicologia, a Promoção da Saúde e os Direitos Humanos no contexto da realidade cotidiana das Comunidades Tradicionais Brasileiras, tendo como base as experiências vivenciadas pelos autores na realização de três (03) projetos de extensão vinculados à Universidade Federal da Bahia (UFBA). O Projeto 01, intitulado Promoção da Saúde e Qualidade de Vida, ocorreu em 2013, no Quilombo Salamina do Putumujú, localizado em Maragogipe/BA – onde residem cerca de 40 famílias – sendo constituído por equipe multiprofissional. O projeto foi desenvolvido na linha da Promoção da Igualdade Racial, com enfoque na Promoção da Saúde e na Qualidade de Vida da população, através do desenvolvimento de ações de Educação Popular em Saúde, atividades teatrais, ações de planejamento participativo, e ações intersetoriais de saúde. O Projeto 02 – intitulado Educação em Saúde na Região de Subaúma – ocorreu no povoado de Oitis, em Esplanada/BA, localidade com descendência fortemente indígena, sob o enfoque multidisciplinar, e teve como principal estratégia a Educação Popular em Saúde. Através de atividades de mapeamento e Promoção da Saúde, promovendo constantemente uma interação entre os saberes já existentes na população e os conhecimentos técnicos relacionados às questões de Saúde, como resultado das ações, pudemos operacionalizar relevantes iniciativas de organização política, bem como ações eficazes de orientação e cuidado em Saúde com a população mais idosa e/ou mais vulnerável. O Projeto 03 – intitulado História do Direito, Direito Ambiental e Comunidades Tradicionais: Historicidade e Afirmação de Direitos – foi realizado através da visitação ao Terreiro de Candomblé Casa Branca, sediado em Salvador/BA, cujo produto foi resultante do mapeamento realizado dos principais conflitos relacionados à estruturação e manutenção do Terreiro, e com base nisso tirou-se como proposta a construção de um projeto de assessoria multidisciplinar, com vistas a auxiliar no encaminhamento de ações efetivas que contemplem a garantia dos seus direitos fundamentais. Tendo em vista tais experiências, utilizamos como base teórica os campos conceituais relacionados à Promoção da Saúde, ao Racismo Institucional e aos marcos regulatórios referentes aos Povos e Comunidades Tradicionais, assim como os principais documentos de referência da Psicologia no que tange ao debate das Relações Raciais, das Questões de Terra e do próprio Compromisso Social da Psicologia. Em suma, a partir de tais experiências, pudemos observar a importância da articulação dos espaços que se preocupam em elaborar ações comprometidas com a compreensão dos fenômenos psíquicos enquanto resultantes de condicionantes sociais e territoriais inerentes à dinâmica de organização dos Povos e Comunidades Tradicionais. Cabe ainda dizer que, ao trabalharmos com Comunidades Tradicionais, evidenciamos, em essência, a necessidade da colaboração da Psicologia no resgate da sua constituição identitária (por vezes intimamente relacionada à dimensão da territorialidade) enquanto sujeito, enquanto povo. Ao final, pudemos ainda evidenciar uma serie de estratégias possíveis a serem implementadas no que tange à atuação da Psicologia em contextos de Povos e Comunidades Tradicionais. Psicologia; Promoção da Saúde; Direitos Humanos; Comunidades Tradicionais; Universidade. 214 215 12. SAÚDE MENTAL E DESIGUALDADE SOCIAL: EFEITOS PSICOSSOCIAIS DA DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE SOCIAL Lumena de Aleluia Santos (HESFA/UFRJ) [email protected] Renan Vieira de S. Rocha (ISC/UFBA) [email protected] Quando colocamos em perspectiva a questão da Saúde Mental das Negras e Negros, o debate das Relações Étnico-Raciais e de Gênero são aspectos eminentemente associados, e que por isso merecem destaque. A constituição identitária do Brasil, para alguns segmentos populacionais, demarca processos desafiadores, evidenciando os efeitos psíquicos, socioeconômicos e políticos intimamente associados ao Sexismo e ao Racismo. Evidenciar estas discriminações fortemente marcadas pelos quesitos raça/cor e gênero, significa resgatar as dinâmicas históricas de violações dos Direitos Humanos, sobre as quais as relações entre homens e mulheres, brancos e negros, se constituíram – e, nesse mesmo sentido, a própria dinâmica de distinção entre classes sociais – todas frutos, em última instância, da própria organização capitalista de sociedade. Assim, se tomarmos especificamente a diferenciação por gênero, veremos que esta, hoje, sustenta as lógicas de manutenção das relações hierárquicas baseadas em já conhecidos jogos de poder das funções do ser homem e do ser mulher. Isto posto, nota-se o quanto estas formas de organização da vida social acabam por produzir nas mulheres uma postura de silenciamento e, consequentemente, sofrimento. Quando partimos para um debate sobre a questão racial, isto se apresenta de maneira bastante equânime. Ainda que escassas, diferentes pesquisas no campo das Ciências Humanas e Sociais aplicadas à Saúde, ao longo das últimas duas décadas, apontam para o fato de que uma pessoa que sofre discriminação racial, além de uma série de problemas sociais à qual é acometida, paralelamente pode apresentar prejuízos à sua saúde – física e psíquica. Isto leva-nos a crer que os efeitos dos processos discriminatórios não apenas transcendem a dimensão única dos agravos sociais, mas acabam por unir-se a eles na produção de sofrimento psíquico, aquilo a que chamamos de Efeitos Psicossociais da Discriminação de Gênero, Raça e Classe Social. No quesito raça/cor, estes processos manifestam-se na direção de um julgamento que condiciona o corpo a certa lógica, a certo estereótipo padronizado que deve ser seguido, e que (obviamente) não diz respeito à cultura negra, mas sim aos ditames da Branquitude. Por assim colocar, a opressão que se inicia pelos corpos acaba por metaforizar a opressão da expressão, no intuito de apagar a visibilidade positiva destes sujeitos em distintos âmbitos da vida social. Reconhecemos, assim, que este processo, tal qual o Sexismo, conduz a uma negação identitária, que inequivocamente não poderá deixar de produzir marcas na estrutura psíquica de diferentes sujeitos, vítimas desta alienação. Por tudo aqui colocado, acabamos por iniciar este projeto de pesquisa, no intuito de fazer dele um estudo qualitativo exploratório. Assim, objetivamos apresentar aqui os primeiros elementos e análises construídos a partir de revisão bibliográfica e experiências de intervenção no âmbito de nossas práticas profissionais imediatas. Ensejamos, ao fim deste trabalho, articular as discussões que serão apresentadas com os resultados das ações e levantamentos futuros, confiantes na possibilidade de produção de novas referências acerca de questões ainda frágeis, mas de imensa importância social. Palavras-chaves: Psicologia; Saúde Mental; Sexismo; Racismo; Desigualdade Social. 215 216 13. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL NA FORMAÇÃO ESTÉTICA DE EDUCADORES DE ARTE: UMA EXPERIENCIA NO CENTRO CULTURAL PIOLLIN Angela Maria Dias Fernandes Pollyanna Calixto da Silva Talita Barreto de Mello Universidade Federal da Paraíba [email protected] [email protected] [email protected] Situado no Bairro do Roger na cidade de João Pessoa (PB), o Centro Cultural Piollin é o espaço no qual se realiza o Projeto de Formação de Educadores de Arte. O Piollin foi criado há cerca de 30 anos e vem trabalhando como polo de formação em teatro e circo, mantendo um compromisso com a disseminação das artes cênicas, principalmente, através de atividades educativas de arte promovidas com crianças, adolescentes e jovens da cidade, estabelecendo relação com a rede pública de ensino. Tal projeto é desenvolvido junto aos profissionais do Centro Cultural Piollin, sendo realizado desde 2005, como parte das atividades de pesquisa e extensão, do curso de Psicologia, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem como objetivo evidenciar os processos de institucionalização bem como as forças que os tornam invisíveis, a partir do exercício de experimentação das formas de enfrentamento de conflitos e busca de novas possibilidades de ação institucional. Como principal base teórica que sustenta esse trabalho, está a Análise Institucional proposta por René Lourau; e como ferramentas auxiliares, não menos importantes, a idealização do espaço estético de Augusto Boal; as contribuições de Vigotski através das noções de relações estéticas, criação e imaginação e a ideia de potencialização das/pelas palavras encontradas na construção do universo vocabular de Paulo Freire que, para além do ato da alfabetização, compreende o homem inserido em seu mundo, através da linguagem, expandindo possibilidades de intervenção, destes, enquanto sujeitos produtores de cultura. As oficinas, como são chamados estes espaços, são realizados uma vez por mês de forma continuada, ou seja, cada nova oficina é formulada em função da anterior. Para isso são utilizados recursos que possibilitam o registro, tanto fotográfico, quanto em vídeo. Após cada oficina, estes vídeos são transcritos, de forma a captar todo o conteúdo dos diálogos desses profissionais, dando vida aos “textos coletivos”, como é chamado esse material. Os textos coletivos e as fotos auxiliam na construção de cada nova oficina, partindo da experiência vivenciada pelos participantes a partir de seus relatos e imagens produzidas, promovendo novas demandas ao desenvolvimento do projeto. Os vídeos, os textos e fotografias, constituem um rico acervo que além de auxiliar este trabalho, visa contribuir para a formação de estudantes e profissionais de Psicologia, ao colocar à disposição a experiência do uso das técnicas de intervenção. O Projeto de formação de educadores de arte tem sido desde o princípio um recurso significativo para a equipe do Centro Cultural Piollin, que relata a mudança no desenvolvimento de seu trabalho, uma vez que proporciona a reflexão sobre suas práticas diárias no espaço educacional. Partindo de tais relatos é que se pode concluir a importância de sua realização também para os educandos e à comunidade na qual o Piollin está inserido, uma vez que ao produzir mudanças na qualidade do trabalho dos educadores, produz-se mudança na educação e a quem dela se beneficia. Palavras-chave: Formação de educadores, Psicologia e arte, comunidade. 216 217 14. SAÚDE MENTAL E RELIGIÃO: O PAPEL DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS RELIGIOSAS NA REINSERÇÃO SOCIAL DOS DEPENDENTES QUÍMICOS: O CASO DE UMA ONG NO DISTRITO FEDERAL. Daniel Zacarias dos Santos Maria das Graças de Sousa Cristina Aparecida Brolhani (IESB) [email protected] O presente artigo foi resultado de pesquisa elaborada como requisito para a finalização da disciplina de Estágio II no Curso de Psicologia do IESB – Centro Universitário – DF. O objetivo geral da pesquisa foi averiguar o potencial de determinada comunidade terapêutica religiosa na reinserção social de dependentes químicos. Os objetivos específicos foram de analisar: se há potencial terapêutico na religiosidade para dependência química, as estratégias terapêuticas que a comunidade estudada utiliza, o potencial de reinserção social - ou não - desta instituição. Para os objetivos acima elencados, foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturada, aplicada em seis internos de uma comunidade terapêutica religiosa administrada por uma ONG, localizada no Distrito Federal. Justifica-se a presente pesquisa em demonstrar, ou não, a relevância da religiosidade como forma alternativa de terapêutica e de reinserção social de dependentes químicos em situação de exclusão social. Observamos que embora haja uma Política Nacional Antidrogas bem estruturada o seu alcance é limitado devido ao pequeno número existente de instituições públicas para esta finalidade. Nesta lacuna existente, observa-se que as instituições religiosas vêm surgindo como alternativa, mesmo que bastante criticada pelo Conselho Federal de Psicologia. Como metodologia de análise foi feita uma análise qualitativa dos dados, na qual os núcleos de significado dos discursos dos sujeitos da pesquisa foram analisados na perspectiva da Psicologia Crítica. Procuramos aglutinar elementos teóricos de Sociologia e Religião, estudos feitos na área de Saúde Mental e Religião além da perspectiva crítica em Psicologia Comunitária. Além das entrevistas foram feitas observações, visitas e entrevistas informais com os cuidadores da instituição. Como resultados, observamos se tratar de instituição não asilar, com recursos provenientes da própria instituição religiosa, (como doações) e sem auxílio do Poder Público. Apesar das precárias condições de funcionamento, a instituição estudada garante padrões mínimos necessários de moradia e também de intervenções que levam os seus usuários a questionarem o uso abusivo de drogas. Por meio dos depoimentos dos sujeitos, observamos que a instituição vem proporcionando mudanças de perspectiva de vida distante das drogas. Concluímos também, que a pesquisa corrobora com a literatura estudada, a qual vem demonstrando que a religiosidade pode ser uma forma de empoderamento de dependentes químicos e de reinserção social - desde que não atue com internações compulsórias e de forma asilar. Palavras Chaves: abuso religiosidade, comunidade reinserção social. de drogas, terapêutica, 217 218 H- EIXO CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA 1. PSICOLOGIA CLÍNICA INTERCULTURAL: PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES Allyne Fernandes Oliveira Barros Lucienne Martins Borges Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Das diversas funções da cultura para o psiquismo, uma é possibilitar o enfrentamento da realidade, na medida em que põe à disposição do sujeito formas de defesa e significações que protejam a si e ao grupo que está inserido. Logo, o encontro entre pessoas oriundas de diferentes culturas pode ser ameaçador para a identidade, resultando em um choque cultural, o que dependerá também de características subjetivas e sociais. Dentro desse contexto, o processo migratório ultrapassa a questão do deslocamento geográfico e implica também no contato com a diferença em seus diversos aspectos. A experiência individual da migração põe em questão o quadro referencial da cultura de origem de quem migra, podendo representar uma ruptura expressiva no sentido de pertencimento e, por conseguinte, um estado de vulnerabilidade psíquica. Ainda que o sofrimento seja inerente à condição humana, sua estruturação e expressão são fundamentalmente culturais. Tais considerações questionam as compreensões e práticas relacionadas à saúde mental dos imigrantes e demandam uma abordagem que se ocupe dessa discussão. A presente comunicação tem como objetivo apresentar os aspectos teóricos, históricos e epistemológicos da Psicologia Clínica Intercultural e suas contribuições. Ao considerar que esta é uma área ainda em construção no Brasil, também intenciona abrir um espaço de discussão a respeito da temática. Para tanto, utilizou-se um enfoque teórico, baseado nos principais autores que contribuem para a discussão e crítica nesse sentido. Percebeu-se que apesar de carregar em sua denominação a palavra “clínica”, a Psicologia Clínica Intercultural não se restringe a uma prática terapêutica. Trata-se de uma abordagem que se interessa pelos aspectos clínicos – afetos, sentimentos, emoções, manifestações sintomáticas – resultantes do encontro entre culturas, ou seja, advindos da diferença cultural. Se atenta também para as particularidades culturais da expressão de tais aspectos clínicos e as considera fundamentais para a compreensão do sofrimento. Seu aporte teórico advém dos principais pressupostos da Etnopsiquiatria, da Psicanálise e da Antropologia, entre eles o da universalidade psíquica, da complementaridade, da coerência e da mestiçagem. A coemergência entre o psíquico e o cultural torna obsoleta a dominância de um ou outro e valida a consideração complementar e não simultânea de ambos. A partir da Psicologia Clínica Intercultural, portanto, investiga-se as questões concernentes ao sofrimento psíquico das pessoas oriundas de outras culturas em sua complexidade e, pode-se repensar as práticas em saúde a tal população. Palavras-chave: Psicologia Clínica Intercultural; Imigração; Saúde Mental. 218 219 2. DA DEMOCRACITY A TIANJI ECO CITY: A CONSTRUÇÃO DO INDIVIDUO DEMOCRÁTICO NO SÉCULO DO EU Rodrigo da Costa Bezerra UFRN [email protected] Esta comunicação pretende demonstrar de que forma a psicologia participou do projeto politico de formação de uma nova mentalidade no que se convencionou chamar sociedade de consumo. A dinamicidade deste processo implicou em uma série de configurações psicológicas aliciadora de desejos e vontades de imagens de si e dos estilos de vida. O documentário, The century of the self, “O Século do Eu" é uma série de quatro episódios (240 min) produzida por Adam Curtis, e exibida pela BBC de Londres em 2002, que investiga como as revolucionárias ideias de Sigmund Freud no inicio do século XX foram aplicadas pelo seu sobrinho Edward Bernays, e bisneto Matthew Freud, para ajudar as corporações e políticos na manipulação dos desejos inconscientes das pessoas. Delineia-se o itinerário da engenharia do consentimento para a construção das formas modernas de democracia política incutindo no imaginário coletivo ou produzindo uma multidão psicológica - para utilizar um termo de Gustave Le Bon em Psicologia das Massas - com um genuíno sentimento de sociedade. Insígnia mais cara à Democracia, a liberdade, mesmo que esta esteja transfigurada na representação da individualidade na sociedade do consumo é um dos pontos chave para entender o documentário. Edward Bernays (1891- 1995) capturou o imaginário norte americano e forjou as diretrizes do capitalismo de consumo. A série também mostra como a revolta de alguns psicanalistas durante as décadas de 60 e 70 contra o uso da psicologia na manipulação das massas, ironicamente resultou no surgimento do individuo contemporâneo que sob as vestes da liberdade de consumo torna-se vulnerável à manipulação pelo mundo dos negócios e aos ditames da democracia neoliberal. O método de análise toma como ponto de partida a teoria critica da Escola de Frankfurt ao considerar a aliança da propaganda e da psicologia nos meios de comunicação de massa como uma “psicologia social perversa” ou uma “psicanálise às avessas” (ADORNO; HORKHEIMER, 1973, p.201). Atualizamos algumas questões utilizando-se a teoria social critica da psicanálise construída por Slavoj Zizek propondo um itinerário conceitual imprescindível para os desdobramentos subjetivos no percurso da contemporaneidade, principalmente no que se refere a uma critica da psicologia na construção política de uma mentalidade do discurso do consumo responsável aliada à defesa de princípios democráticos e a uma base de sustentação ideológica da livre escolha. O título da comunicação faz alusão a duas paisagens ideológicas de cidades do futuro: Democracity, a cidade verdadeiramente democrática do séc XX, uma utopia da liberdade e do capitalismo, inspirada por Bernays e Tianji Eco City, a maior eco-cidade autossustentável do mundo na China com previsão de conclusão em 2020, símbolo maior do capitalismo de consumo com a embalagem da sustentabilidade. Neste contexto a desconcertante questão a ser problematizada é: O capitalismo ainda precisa da Democracia?! Palavras-chave: Critica da Psicologia, Engenharia do Consentimento, Psicologia das massas, Subjetividade, Capitalismo de Consumo. 219 220 3. CRÍTICAS E DIÁLOGOS NA RELAÇÃO BEHAVIORISMO–PSICOLOGIA COMUNITÁRIA Thales Cavalcanti e Castro Universidade Federal de Goiás [email protected] A busca por teorias e práticas que respondam a problemas sociais e problematizem o papel que o psicólogo deve ocupar na sociedade é necessária para o desenvolvimento de uma Psicologia comprometida com a transformação da realidade social. No seio da Psicologia, as produções acadêmicas e intervenções nem sempre se mostram comprometidas com essa transformação, mas algumas áreas apresentaram alguns pressupostos e intervenções que, explicitamente, buscaram a superação de processos opressivos. O presente trabalho analisa diferentes relações entre a Psicologia Comunitária e o Behaviorismo. Pretende-se, ao discutir tais relações, problematizar a tese de que há um antagonismo entre ambos e discutir como os desenvolvimentos teóricos e práticos do Behaviorismo, especialmente aqueles derivados do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento, podem contribuir nos trabalhos que têm sido desenvolvidos na Psicologia Comunitária. Para atender o objetivo, a pesquisa bibliográfica foi utilizada como método de pesquisa e realizada a partir de um levantamento de textos das duas áreas e divididos em três categorias: 1) psicologia comunitária, caracterizando o contexto de desenvolvimento do campo e trazendo críticas dirigidas ao conservadorismo de teses behavioristas; 2) intervenção comunitária (Behaviorismo), reunindo relatos de trabalhos comunitários guiados por algum referencial behaviorista; 3) Behaviorismo e intervenção comunitária (discussões), reunindo trabalhos de reflexões teóricas sobre intervenções comunitárias. Na análise dos trabalhos problematiza-se a relação Psicologia Comunitária e Behaviorismo destacando diferenças e aproximações entre os dois campos por meio de uma comparação entre as ideias de autores behavioristas e os pressupostos defendidos na Psicologia Comunitária. As principais divergências relacionam-se à falta de participação dos sujeitos presentes nas intervenções analisadas, especialmente na definição dos problemas, e às preocupações com um modelo colaborativo que aparece nas discussões de Psicologia Comunitária. Quanto aos pontos de convergência, podem-se ressaltar as discussões teóricas em relação à necessidade de colaboração e participação da população e uma preocupação com intervenções que não se restrinjam ao o contexto imediato. Por fim, aponta-se que uma interface entre as duas áreas pode contribuir para um redirecionamento do Behaviorismo em direção a um novo compromisso social e fortalecer a Psicologia Comunitária com instrumentais de avaliação e intervenção que permitam o desenvolvimento comunitário. Palavras-chave: psicologia comunitária; behaviorismo; análise do comportamento. 220 221 4. POLÍTICA SOCIAL NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA Ana Ludmila F. Costa Oswaldo H. Yamamoto Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] O Sistema Nacional de Pós-graduação passa por crescimento significativo, sobretudo pelo maciço investimento estatal. Na Psicologia, 70 programas publicaram quase cinco mil artigos no triênio 2007-2009. Entretanto, não se sabe a que, de fato, este conhecimento tem servido, ou seja, que retorno a pós-graduação stricto sensu de Psicologia tem dado a uma sociedade que lhe tem feito grandes investimentos. Uma forma de contribuição possível é pela ampliação do debate sobre política social, que apesar de consistir em estratégias reformistas para as sequelas da contradição capital/trabalho, representam importante via de acesso da população a direitos sociais. Diante disso, objetivou-se caracterizar os programas de pós-graduação stricto sensu de Psicologia com produção científica sobre política social. Para tanto, utilizou-se como recorte temporal o triênio 2007/2009 (último período de avaliação da CAPES disponível para consulta no momento da coleta) e teses como tipo de produção científica (por consistirem no formato mais sofisticado de produção acadêmica, representando trabalho inovador e com impacto para a área do conhecimento). Os procedimentos adotados foram: levantamento na página eletrônica da CAPES dos cursos de doutorado com teses defendidas no período; coleta dos títulos das teses defendidas no triênio no Caderno de Indicadores “Dissertações e Teses” de cada programa; busca dos resumos das teses no Banco de Teses da CAPES e no Banco Digital de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia; leitura dos resumos para seleção das teses utilizando 6 critérios para definição temática (Atuação do Estado e “questão social”; Políticas setoriais e Legislação; Instituições, programas, serviços e unidades públicos; Cidadania e direitos sociais/humanos; Movimentos e Controle social; e Vulnerabilidades e Risco social). Os principais resultados são: foram defendidas 105 teses sobre políticas sociais (de 824 produzidas no período) em 20 cursos de doutorado da área (dos 29 com teses defendidas no período); as teses foram orientadas por 73 docentes, sendo que 73% destes orientaram apenas uma tese sobre a temática neste período; 13 desses cursos foram criados até o ano de 1999, o que indica participação dos cursos mais maduros; os 20 programas estão presentes em 9 dos 11 estados brasileiros que ofertam cursos de doutorado de Psicologia, com maior presença nas regiões Sudeste e Sul (15 programas); a maioria estão sediados em instituições públicas (15 programas); os programas de Psicologia Social produziram quase 60% das 105 teses e apenas dois cursos tem políticas sociais explicitamente como Área de Concentração; nenhum dos 20 cursos analisados recebeu conceito 3 da CAPES no período avaliado (2007/2009), tendo se concentrado nos conceitos 4 e 5, e um recebeu conceito 7 considerado de excelência para os padrões internacionais. Desses dados, pode-se concluir que há interesse da Psicologia pelo tema, presente em programas consolidados e qualificados, apesar de ser interesse transversal e não, principal, para o conjunto de cursos analisados. Debate-se que a presença de teses sobre política social não é suficiente para atestar o compromisso social da pós-graduação da Psicologia, mas representa importante passo para aprofundar o debate sobre sua função social. Palavras-chave: pós-graduação, produção científica, Psicologia e políticas sociais, compromisso social. 221 222 5. A VIOLÊNCIA DO SABER QUE FRAGMENTA INDIVÍDUO E SOCIAL Rose Ani Jaroszuk UEM - [email protected] Lúcia Cecília da Silva UEM – [email protected] Sylvia Mara Pires de Freitas UEM – [email protected] A violência é um fenômeno presente na história da existência humana. Apresenta-se de distintas maneiras no campo prático do contexto de cada época, de acordo com suas demandas e objetivos. Por aspectos morais tendemos a negar nossa violência, desvelando a alheia. Hoje a violência é múltipla, sendo nomeada de distintas maneiras. Sucintamente podemos dizer que a violência ocorre quando se oprime ou retira-se a liberdade de outrem causando sofrimento, dor, dano ou exercendo coerção de vontades. Resulta difícil ter uma consciência crítica sobre as nossas próprias práticas e se há algum tipo de violência contido nelas, pois para fazê-lo, necessário é termos uma conduta que interroga os fenômenos, interrogando-nos. Visar criticamente nossas atitudes, não se dá de maneira espontânea, pois a postura crítica resulta de aprendizado e passa pela experiência. Portanto, desenvolve-se na interdependência da subjetividade, objetividade e intersubjetividade. A pretensão desta comunicação, resultante da inquietação exposta, está em refletir sobre a violência do saber/fazer científico quando este dicotomiza aspectos indissociáveis do ser humano ou prioriza um em detrimento ao outro. A perspectiva filosófica sartriana evidencia que a atividade do homem em si mesma é dialética e para compreende-la é preciso um método correspondente. Não podemos dicotomizar ontologia e antropologia, subjetividade e objetividade, singular e universal, particular e coletivo sem fragmentar o homem retirando dele aspectos de sua humanidade. Neste trabalho, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Psicologia que está em andamento, consideramos através de uma compreensão dialética, a problemática em dicotomizar o binômio indivíduo/social no saber e prática científica. Embora não haja dicotomias na constituição do indivíduo e o social, pois se constituem relacionalmente, ao longo da história das ciências se estabeleceu o costume de produzir teorias sobre um recorte da realidade gerando um conhecimento fragmentário, insuficiente da realidade humana, mas suficiente para a violência do leito de procusto. Toda produção do homem gera uma contrafinalidade. Assim, aquilo que o homem produz agirá sobre ele também. A apropriação da produção do conhecimento é singular, ainda que a produção seja coletiva. A violência se manifesta não somente na barbárie, mas também na forma de se compreender e saber o mundo, as coisas, o homem. Quando o social ascende como organismo que precisa ser nutrido como promotor de mudanças, perde-se o individuo, consequentemente o sujeito da ação. A transformação da realidade só será efetiva se o indivíduo tiver reconhecimento do valor de sua ação, do contrário não haverá engajamento político, portanto um social enfraquecido, simples agrupamento de pessoas, serialidade e não agentes de mudanças. Nosso objetivo primordial é resgatar o valor da ação do individuo da massa do social, o qual se configura como obra sem autor. Palavras-chave: Violência; Produção do Conhecimento; Dicotomia Indivíduo e Social 222 223 6. IMPACTOS PSÍQUICOS DA EXPERIÊNCIA MIGRATÓRIA - A CLÍNICA INTERCULTURAL Márcio Jibrin Allyne Fernandes Oliveira Barros Lucienne Martins Borges Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] A Clínica Intercutural é um projeto de extensão universitária que se ocupa da atenção psicológica da população de imigrantes e refugiados residentes em Florianópolis. Inicia suas atividades em fevereiro de 2012, após o levantamento da população imigrante no estado de Santa Catarina e avaliação da relevância política do trabalho. Desde então realiza atendimento psicológico aos imigrantes e refugiados. Atualmente ampliou seus espaços de atuação e integra a rede de atenção a essa população, que ultrapassa os limites da clínica O processo migratório é psicológica. caracterizado por um deslocamento geográfico, de duração variada, tendo repercussões de natureza psicológica, social, política e cultural. As mudanças que ocorrem em todas essas dimensões geram estranhamento, podendo levar a um estado de vulnerabilidade psíquica. Os refugiados trazem consigo uma especificidade ainda maior de tal experiência, dado o caráter involuntário do deslocamento. Assim, muitas vezes, levam consigo pouco daquilo que caracterizava sua identidade, como seus hábitos cotidianos, profissão e redes. Este tipo de deslocamento geralmente é envolto por um sofrimento psicológico importante, que pode ser vivido como traumático, tendo em vista as situações de violência, desastres e mudanças abruptas as quais essas pessoas foram expostas, direta ou indiretamente. O objetivo desta comunicação é apresentar a Clínica Intercultural enquanto espaço de atenção aos impactos psíquicos da experiência migratória e de reconhecimento do status político desses sujeitos. As abordagens interculturais (psicologia clínica intercultural, etnospiquiatria, etnopsicanálise) compõem o corpo teórico e prático utilizado na Clínica Intercultural, inspirado nos trabalhos de Georges Devereux, Tobie Nathan e MarieRoso Moro. O modelo utilizado baseia-se no dispositivo clínico desenvolvido por Martins Borges e Pocreau no Service d’Aide Psychologique Spécialisée aux Immigrants et Réfugiés (Sapsir, Université Laval, Québec, Canadá). O dispositivo proposto é formado por um grupo de terapeutas de origens culturais diferentes. O grupo é composto por um terapeuta principal, um coterapeuta principal, um mediador cultural/intérprete (quando necessário), o profissional que encaminhou o paciente, e outros coterapeutas. O método de intervenção são sessões de psicoterapia, no setting descrito e negociado com o paciente, a fim de atender ao princípio de descentramento, colocando a experiência cultural do último no lugar central para a compreensão do sofrimento por ele trazido. O trabalho vem alcançando resultados positivos no que diz respeito a: diminuição dos sintomas e consequente aumento da vitalidade dos pacientes; a ampliação do reconhecimento do trabalho da clínica na comunidade; a sensibilização sistemática de alguns serviços; e o espaço político ocupado em sua articulação com o grupo de apoio aos imigrantes e refugiados em Santa Catarina, criado em março do ano corrente. A Clínica Intercultural busca facilitar as elaborações psíquicas do sujeito, atuando sobre os vínculos de origem, de afiliação e atuais; reestruturando a identidade; e organizando as significações, tornando coerentes as experiências passadas com as atuais. Palavras-chave: Sofrimento psicológico; Cultura; Psicologia Clínica Intercultural; Etnopsiquiatria 223 224 7. EPISTEMOLOGÍA Y PSICOLOGÍA POLÍTICA Hugo Adrian Morales UNSL, Argentina [email protected] En el contexto sociopolítico vigente y para el destino político, social, económico y cultural de la región, la Psicología Política encuentra un lugar privilegiado, pero también se encuentra en un dilema de revisión en relación con su rol y función política en su praxis, recordemos que uno de las objetivos de la disciplina es desentramar, analizar o reflexionar como impactan determinadas variables sociales, políticas , económicas, culturales pero, también entender que determinada lectura se realiza desde un posicionamiento ideológico. Definir a la política como objeto de estudio es sumamente complejo, y mucho más cuando este estudio o aproximación se hace desde la psicología, disciplina que, como tiene varias fuentes epistemológicas y en algunos casos se convierte en indefinible, ya que muchas veces su objeto de estudio es muy variado, por lo tanto la hibridación de ambas perspectivas no sólo implica un desafío y una ardua tarea, sino que implica sobre todo un posicionamiento ideológico no siempre expresado de manera explícita, lo que necesariamente obliga a repensar la funcionalidad que se practica en el ejercicio de tal enfoque. Es, en ese contexto, en el que es indispensable desde nuestra perspectiva una revisión de la Piscología Política, porque lo importante a nuestro entender, es que actualmente, y de manera casi obligada y, aprovechamos para citar a Parisí que sostiene: “debemos saber para qué y para quién trabajamos cuando trabajamos en psicología, y si bien consideramos que la psicología política es un ámbito propicio para tan reflexión” (Parisí, 2008,pp15), también consideramos que los escenarios políticos contemporáneos requieren de un nuevo rol de nuestra profesión, de un nuevo posicionamiento no sólo teórico, sino esencialmente práctico y para ello es indispensable, una revisión ya no de la Piscología política como tal, sino de la Política de la Psicología, es decir su denominada “política interna”, que indudablemente dirige su praxis. Es en este contexto, desde nuestra lectura, donde la Piscología Política está en proceso de discusión, en un proceso de encrucijada, entre la dependencia y la identidad, donde se plantea la posibilidad de revisión, para decidir si se sigue siendo expresión de nuestra historia de colonialismo y sumisión, de autodenigración, de la concepción que progresar no es evolucionar desde nuestra naturaleza sino sustituirla, desde la incomprensión de los nuestro, o si pensamos en la posibilidad de construir nuestros propios conocimientos, nuestras propias realidades, nuestras propios alcances para la construcción de nuestra propia identidad. 224 225 8. A PSICOLOGIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA Luciana Helena Mussi PUC-SP [email protected] Salvador Antonio Mireles Sandoval UNICAMP/PUC-SP [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar o desenvolvimento, participação e desafios da psicologia política na universidade brasileira. Para cumprir o proposto trabalhamos em quatro frentes: inicialmente apresentamos uma introdução sobre a história da disciplina no Brasil, desde sua criação até hoje, detalhando as dificuldades, os avanços e perspectivas para os próximos anos. Complementando a fase inicial desse estudo, construímos um cenário com a rede de pesquisadores em psicologia política. Em seguida, para compreensão do quadro anterior, trabalhamos na abordagem do impacto acadêmico da disciplina no Brasil. Assim fizemos um levantamento no CNPQ dos grupos de pesquisa existentes no país usando as seguintes palavras-chaves: psicologia política, psicologia da politica, comportamento político, participação política, crenças, valores e atitudes políticas. Paralelamente buscamos os principais eixos temáticos que existem na rede dos grupos de pesquisa, de norte à sul. Essa divisão é fundamental para a compreensão do cenário atual, participação e perspectivas futuras da psicologia política na universidade brasileira, segundo o objetivo estabelecido. A Psicologia Política é um campo interdisciplinar que utiliza teorias psicossociais e sociais para analisar o mundo da política e o comportamento das pessoas nesse mundo referenciado pelo Estado. O campo examina o papel do pensamento humano, emoções e fatores sociais como determinantes do comportamento político. O campo da Psicologia Política conta com uma rica tradição de pesquisa e teorização que não se esgota em apenas uma disciplina. A Psicologia Política focaliza alguns temas que permitem estudar como as pessoas formulam significados e interpretações políticas partindo de suas experiências e dos meios sócio-políticos, e como esses significados são vinculados às diferentes formas de participação política. Os procedimentos metodológicos adotados se apoiam em literatura recente sobre o tema com abordagens diferenciadas sobre a temática que se constituíram objeto dessa investigação. O estudo contribui para a maior compreensão do campo da psicologia do comportamento político examinando os enfoques psicossociológicos que são usados no estudo das diversas formas de ações políticas vigentes na sociedade atual. Apesar dos grupos que se dedicam ao estudo da Psicologia Política terem realizado algumas iniciativas em comum, concluímos que ainda não foi desenvolvido um referencial teórico geral que permitisse um intercâmbio científico de abrangência nacional. Palavras-chave: Psicologia Política; Rede de Pesquisadores; Impacto Acadêmico. 225 226 9. ALCANCE E LIMITE DA MUDANÇA SOCIAL NA OBRA DE JOHN DEWEY: UMA LEITURA MATERIALISTA-DIALÉTICA. Bruno Pizzi PPGP – UFRJ [email protected] John Dewey é autor central no surgimento da psicologia americana, ao lado de William James, quando lança, dentre outros escritos, The reflex arc concept in Psychology, em 1896. Sua extensa obra, editada de forma integral em 37 volumes, é marcada pela diversificação de domínios, tendo contribuído de forma marcante, além da Psicologia, para os campos da Filosofia, da Educação e da Política. Neste trabalho apresentaremos algumas reflexões sobre o sentido da mudança social valorizado na obra de Dewey. Por meio de pesquisa bibliográfica, seguindo as diretrizes do materialismo histórico e dialético, nossa intenção é a de demonstrar que o posicionamento político de Dewey encontra esteio na sua teorização em psicologia e em filosofia, além de buscar na pedagogia o campo privilegiado de intervenção social. Para uma compreensão aprofundada da dimensão de transformação social contida na obra deweyana, nos lançamos ao estudo da conjuntura histórica em que ela se insere. Primeiramente consideramos a época moderna como momento de consolidação do ordenamento burguês da sociedade, em que o resultado das revoluções sociais é a hegemonia industrial, capitalista e liberal. Posteriormente, a partir de meados do século XIX, novos embates sociais começam a apontar para a ascensão político-ideológica do movimento proletário que, se por um lado reivindica melhorias na ordem burguesa, progressivamente consolida seu projeto de classe como antagônico ao projeto burguês e, portanto, exige sua dissolução. Dewey foi bastante influenciado pela obra marxiana que serviu de alicerce para estes movimentos sociais. A Revolução de 1917 e seus desdobramentos foram acontecimentos marcantes, e toda a discussão política empreendida por Dewey nas décadas de 1920 e 1930 buscam dar respostas a eles. Além disso, houve um contato substancial – incluindo uma visita de Dewey à União Soviética – com os principais responsáveis pela pedagogia soviética, que consideravam sua obra como a principal contribuição ocidental sobre o assunto. No entanto, apesar de marcada influência marxista, o sentido da mudança social em Dewey não é a revolução, mas a reforma. Em diferentes momentos de sua obra aponta o caráter dogmático dos que insistem na violência como forma de encaminhar a mudança social, numa clara – e às vezes explícita – confrontação ao referencial da luta de classes. Neste contexto, Dewey se posiciona como um crítico reformador dos princípios liberais. Considera que o liberalismo clássico representou uma forte transformação para o homem moderno, libertando-o das amarras da sociedade feudal, mas que as concepções nele embutidas – de natureza humana e de liberdade econômica como viabilização do empreendimento individual – já não correspondiam às demandas do início do século XX. Para que o liberalismo reassumisse seu caráter de libertação da espécie humana, deveria pensar a atividade econômica a partir de um planejamento centralizado. Por fim, pretendemos matizar esse período histórico e tratar das propostas de Dewey no contexto da sociedade capitalista da fase monopolista, concluindo que estas propostas estão em consonância com os encaminhamentos necessários ao restabelecimento das condições produtivas. Palavras-chave: psicologia norte-americana; John Dewey; transformação social; marxismo. 226 227 10. CARTOGRAFANDO A ATUAÇÃO DO SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS FLUMINENSE, EM CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS. Silvia Ignez Silva Ramos Universidade Federal do Rio de Janeiro (IP/UFRJ) [email protected] O modo como a violência sexual contra crianças e adolescentes é tratada na contemporaneidade, principalmente pelo Sistema de Garantia de Direitos (SGD), revela uma atuação repressiva e punitiva inerente ao direito penal brasileiro. Esse viés com ênfase na punição produz certo saber sobre o tema, desenhando um modus operandi similar dentro de cada ente do SGD que atua em três eixos: promoção, defesa e controle. A partir dessa lógica, foi realizada uma pesquisa de mestrado junto ao Programa de PósGraduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa teve como objetivo compreender, por meio de análise documental de três processos concluídos (escolhidos aleatoriamente) de crianças que supostamente sofreram violência sexual, como foi a atuação do SGD desde a denúncia do caso até a sentença proferida pelo juiz. A escolha de poucos processos foi suficiente, pois o que estava em análise eram os seus acontecimentos. Como essa área temática leva de 4 a 8 anos para solução jurídica, cada processo apresenta intensa participação do SGD, agregando mais ou menos mil laudas em cada um. Por isso a escolha de apenas três processos. O objetivo geral foi a compreensão dos atores sobre seu papel nesses casos de violência sexual contra crianças; suas decisões e os conceitos utilizados nos autos, e, por fim, que argumentos propiciaram a decisão e a sentença. Percorrendo a legislação específica para a Infância e Juventude pode-se compreender como as questões dos direitos foram sendo incorporados às questões da infância, sobretudo nos últimos vinte anos. A perspectiva teórica foi alicerçada na Psicologia Social, fundamentalmente no pensamento de Michel Foucault que problematiza o conceito de verdade e de convicção íntima para as tomadas de decisões na esfera jurídica, seja especificamente do operador jurídico, seja de sua equipe de apoio psicossocial. Na realidade, a pesquisa revela que a ênfase nos princípios do direito penal toma a cena em sentido contrário dos cuidados necessários no atendimento a um sujeito em desenvolvimento e de sua família, colocando repetidamente a mãe no lugar de negligente. E o abuso, considerado no início dos processos como procedente, acaba desaparecendo no final. Palavras-chave: Violência Sexual; Infância e Juventude; Sistema de Garantias de Direito; Articulação. 227 228 11. CONTRIBUIÇÕES PSICANALÍTICAS À INTERDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA POLÍTICA Ernesto Pacheco Richter Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] A Psicologia Política tem se consolidado no meio acadêmico e se caracteriza como um campo eminentemente interdisciplinar. Assim, as contribuições epistemológicas das distintas áreas sociais do conhecimento têm contribuído na apreensão dos complexos fenômenos políticos. Autores como Gustave Le Bon (1895; 1910) e Graham Wallas (1908) salientaram a importância dos afetos e emoções em seus estudos, influenciando sobremaneira em sua emergência. Se por um lado, esses autores foram genéricos ao enfatizar aspectos subjetivos indo além da análise exclusiva das instituições políticas, por outro, a produção acadêmica de Harold Lasswell, um dos fundadores da Psicologia Política, relacionada aos fenômenos sociais e políticos destacou a relevância da teoria freudiana em suas reflexões. Não obstante a Psicanálise seja associada a um método terapêutico que leva em consideração a interpretação da resistência, da transferência e do desejo, ela também se constitui como um método de investigação dos significados inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias e, por conseguinte, deve ser considerada quando refletimos sobre os eventos sociais e políticos. Textos como Totem e tabu (1913), Psicologia das massas e análise do eu (1921), Futuro de uma ilusão (1927) e O mal-estar na civilização (1930) apresentam subsídios teóricos à compreensão dos fenômenos políticos. A capacidade de Sigmund Freud de “racionalmente explicar comportamentos ditos irracionais tornou possível a fusão entre psicologia e política; os determinantes de cada um desses campos tornaram-se cruciais na explicação do fenômeno do comportamento político” (Horowitz, 1979: 101). Considerando a importância dos aspectos subjetivos e as contribuições freudianas sobre a constituição psíquica dos atores políticos, bem como sua influência nos primeiros textos psicopolíticos de Lasswell, o objetivo deste trabalho é resgatar as contribuições da Psicanálise no processo de emergência, consolidação e expansão da Psicologia Política enquanto campo interdisciplinar de conhecimento. Para tanto, realizamos uma revisão bibliográfica dos artigos, com recorte psicanalítico, da revista Journal of Political Psychology (EUA), a qual faz parte de uma pesquisa mais abrangente que engloba outras revistas de Psicologia Política reconhecidas pela comunidade científica. Encontramos inicialmente 140 artigos, muitos dos quais citam a psicanálise, sem necessariamente se constituírem como textos com referencial teórico psicanalítico. Logo a expectativa é que esse número diminua. Entretanto, numa análise preliminar, verificamos um decréscimo no número de publicações passando de 60 na década de 1980 para 21 na última. Houve também a ampliação de teorias psicanalíticas empregadas na compreensão dos fenômenos políticos: teoria de relações objetais, teoria do apego e a teoria psicanalítica do self, entre outras pósfreudianas. Diante desses dados iniciais algumas questões se impõem. Teria a psicanálise perdido fôlego ou teria se descaracterizado, a tal ponto, com a psicologia do ego em solo americano, que qualquer menção a ela tenderia a desaparecer? Ou uma questão mais contundente: teria a Psicanálise algo a contribuir ao fenômeno político e à Psicologia Política? Estas e outras interrogações instigantes que buscamos responder. Parece-nos, portanto, fundamental que façamos a crítica de nossas práxis enquanto pesquisadores, pois somente ela nos permite avançar na compreensão dos complexos fenômenos políticos. Palavras-chave: Psicologia interdisciplinaridade; Psicanálise. Política; 228 229 12. PSICOLOGIA EM CUBA: DA ALIENAÇÃO À TRANSFORMAÇÃO? Gervásio de Araújo Marques da Silva [email protected] Larissa Rodrigues Moreira [email protected] Fernando Lacerda Júnior Universidade Federal de Goiás. Historiadores da Psicologia em Cuba, normalmente, a apresentam como uma ciência ou uma profissão muito diferente daquela que se desenvolveu na América Latina. O presente trabalho problematiza esta tese e questiona se, de fato, há propostas críticas e transformadoras na Psicologia em Cuba. Para tanto, foi realizado um estudo de conceitos teóricos específicos em trabalhos que foram publicados na Revista Cubana de Psicología, antigo periódico ligado à Faculdade de Psicologia da Universidade de Havana. A partir de estudo bibliográfico foram analisados dois temas: a apropriação do marxismo pela Psicologia em Cuba e como os estudiosos cubanos abordaram os conceitos de normalidade/patologia e o tratamento das doenças mentais. No primeiro caso, identificou-se que: (a) o marxismo foi utilizado especialmente como uma forma de fazer a crítica de outras teorias; (b) há a reprodução de teses provenientes da Psicologia Soviética, sem a elaboração original de novas contribuições; (c) a ausência de discussões importantes no marxismo, como a emancipação humana. A outra pesquisa identificou: (a) a existência de tentativas de elaborar novas perspectivas no estudo e na compreensão do processo de saúde-doença na Psicologia em Cuba; (b) discussões sobre a importância de trabalhos e estudos interdisciplinares sobre o processo de saúde; (c) descrições e análises sobre a Patopsicologia e a Psicologia Médica como campos originais para o estudo da atividade psíquica e seus transtornos; (d) análises teóricas sobre a contribuição de Vygotsky e sua Psicologia Histórico-Cultural para a constituição de uma nova compreensão sobre os processos de saúde-doença; (e) propostas de incorporação da participação ativa dos usuários na criação e gestão dos serviços de atenção à saúde; (f) ênfase na determinação socioeconômica dos processos de saúdedoença. Analisando conjuntamente os dados obtidos nas duas pesquisas, concluímos, a partir dos textos analisados, que a Psicologia Cubana foi profundamente influenciada pela Psicologia Soviética, reproduzindo seus campos de estudo e seus conceitos. Apesar dos avanços proporcionados pelas contribuições das teorias marxistas no processo de compreensão da realidade, não percebemos grandes inovações teóricas ou práticas que estejam diretamente relacionadas com processos de transformação social. Finalmente, nas considerações finais, analisamos que, ao invés de um movimento da alienação à transformação, há na Psicologia em Cuba ideias que cobrem tanto uma Psicologia hegemônica e normativa, quanto uma Psicologia diferente que tenta compreender de formas diferentes o fenômeno psicológico. Palvras-chave: Psicologia; Cuba; Marxismo; Saúde; Loucura. 229 230 13. IDEOLOGIA DO COMPROMISSO SOCIAL: DE TEMA A LEMA DA PSICOLOGIA NO BRASIL Danilo Oliveira e Silva UFG [email protected] O trabalho objetiva discutir nexos da “ideologia do compromisso social” no campo da Psicologia no Brasil. A reinvindicação recorrente do “compromisso social” (Amorim, 2010) contrasta com o fato de que as acepções deste são diversas e pouco se produz criticamente a respeito das suas relações com os processos históricos que as constituem. O intento de compreender os nexos implicados na “ideologia do compromisso social” é o de resistir à presentificação ideológica da história e à naturalização do campo da Psicologia. O estudo é eminentemente teórico. O trabalho é desenvolvido mediante análise bibliográfica-documental, referendando-se em aparato conceitual de tradição marxista (Marx, 2010; 2013; Marx & Engels, 2002; Lukács, 2013). O estudo analisa o fenômeno a partir da compreensão de que a contradição e o conflito são motores do movimento histórico, entendido a partir da perspectiva da totalidade e pela apreensão das dimensões filosófica, material e política que abarcam a questão (Mandel, 1978). Bock (2008) demonstra que a Psicologia no Brasil desempenha historicamente papel conservador, alinhada às elites. Patto (2005) discute que é recente o despertar do “sonho dogmático” (p.93) da Psicologia. Críticas situadas entres décadas de 1970 e 1980 sobre a “função social do psicólogo” foram, ao longo dos anos subsequentes, deixando de ser apenas mais um tema dentre outros discutidos na área da Psicologia e passou a ser uma discussão central reeditada com a insígnia do “compromisso social”, especialmente difundida por um grupo de psicólogos(as) que, no plano político, intencionaram ocupar as entidades sindicais e profissionais da categoria e, no teórico, combater às concepções individualizantes e a-históricas (Yamamoto, 2007; Amorim, 2010). O período descrito é marcado no Brasil pela reorganização da luta da classe trabalhadora (Fontes, 2010). De sorte que o “compromisso social” da Psicologia é coparticipante de uma situação política mais ampla. O “compromisso social” constitui-se como um importante complexo de ideias emergido de práxis que cumpre a função de justificar posições disputadas em conflitos sociais, sendo possível categorizar o “compromisso social” como “ideologia” (Lukács, 2013). O período de fim dos anos de 1980 e anos da década de 1990 é marcado por uma ofensiva neoliberal (Netto, 2009). Nestas décadas o trabalho do(a) psicólogo(a) sofre transformações frente à paulatina falência do modelo de atuação do profissional liberal, aumentando a ação deste enquanto trabalhador assalariado (Bastos, Gondim & Rodrigues, 2010) em uma conjuntura geral de desregulamentação do trabalho (Antunes, 1997). O que delimita-se como a “ideologia do compromisso social” se desdobra ao longo de décadas. Hipótese confirmada pelos estudos até o momento é de que há um processo de amoldamento da “ideologia do compromisso social” à ordem instituída a medida que o “compromisso social” é reduzido a qualquer ação que implique em transformação das relações sociais, independente do fim político a que se dirigi, de forma análoga a outros movimentos críticos emergidos na “redemocratização” do país. Isso pode implicar em proposições cujo limite é a suavização ou escamoteamento das resultantes da “questão social”. Palavras-chave: compromisso ideologia, Psicologia social, 230 231 14. DISCURSO E VERDADE NO LIMIAR DA LOUCURA: UMA RELEITURA À LUZ DE MICHEL FOUCAULT Joelmar Fernando Cordeiro de Souza [email protected] Universidade de Brasília O artigo em questão intenta estabelecer uma análise foucaultiana da loucura a partir de uma inter-relação existente entre linguagem e loucura. Nesse sentido, parte do pressuposto que a historia da loucura revela acima de tudo uma exclusão conceitual. Assim sendo, procura-se demonstrar como o discurso enquanto materialidade de um saber e promulgação de uma verdade no seu exercício intrínseco do poder, não é apenas uma unidade da linguagem, mas sobretudo a própria linguagem interferindo no processo natural da vida. Dessa forma, a loucura é abordada em detrimento das formações discursivas e regimes de verdade de modo a identificar os deslocamentos, aparições e novas formas de vontade que nela interpelaram desde o discurso Clássico até o Moderno. Podemos então, falar de uma loucura apreendida pela disciplina e saber científico que numa linguagem oriunda da experiência clássica e de sua tarefa fundamental do discurso atribui-lhe um nome às coisas e com esse nome o seu ser – por isso mesmo, até na experiência moderna da loucura existirá um retorno a época clássica, onde necessariamente o louco continuará a ser investido por uma prática discursiva e ser ordenado em termos de linguagem. Dessa forma, esta experiência reafirma que uma vez obtida a apreensão da loucura pelo campo da linguagem (em especial no campo das discursividades da psicopatologia), o louco se isenta de seu status de coisa, e passa a ser uma representação. Como sabido, a fronteira entre razão e loucura é delimitada pela verdade. Entretanto, longe de acessar o que é o verdadeiro e aquilo que é o falso, o discurso racional – sobre o escopo da sua verdade - só pode indagar-se sobre a função de sua vontade de verdade. Tal apercepção será discutida na genealogia, quando então Foucault dar-se conta de que as formações discursivas valem-se de práticas que estão todas elas - intricadas em relações de poder que, ao seu turno, interligam-se aos sistemas de dominação e exclusão vigentes na sociedade. Pensado assim, a loucura (bem como o sujeito) é tecida nos enunciados científicos. Desse modo, o discurso como prática discursiva, ora está acoplado às regras da língua ora como aquilo que efetivamente é falado. E assim sendo, o acontecimento discursivo torna possível no sujeito a pluralidade de posições e funcionalidades. O sujeito, a loucura, passa a ser um recorte de diversos elementos. Palavras-chave: Loucura, linguagem, práticas discursivas, discurso de verdade, formações discursivas, regimes de verdade. 231 232 15. DISPOSITIVO DE GRUPOS E ESQUIZOANÀLISE: PERSPECTIVAS. Douglas Alves Viana Domenico Uhng Hur UFG [email protected] [email protected] Essa pesquisa teve como objetivo investigar que dispositivos de intervenção são trabalhados na prática social, política, clínica e investigativa da psicologia social influenciada pela Esquizoanálise. Justifica-se devido à significativa parte dos estudos publicados sobre intervenção psicossocial na Psicologia Social carecer da discussão acerca de uma teoria da técnica, de uma explicitação dos processos de condução dos grupos e de intervenção, em que em muitas vezes se visibiliza os objetivos da intervenção, a mudança na forma como o sujeito se relaciona com seus sintomas ou com a instituição e os pressupostos teóricos e não a discussão da teoria do processo, da técnica de intervenção no grupo, ou do funcionamento do dispositivo. Assim a presente investigação busca responder as seguintes perguntas: qual é o funcionamento de tais dispositivos de intervenção? Como são trabalhados na prática do psicólogo? Quais são seus procedimentos e sua eficácia no processo de conscientização dos participantes? Portanto, investigamos as produções atuais sobre intervenção em grupos com uma ótica esquizoanalítica, em todos os periódicos eletrônicos da Psicologia brasileira. Utilizamos como palavras chaves para a pesquisa “Esquizoanálise and X”, como X sendo: esquizodrama, grupo, dispositivo, intervenção e análise, tendo ao todo 5 pares de busca. Posteriormente realizamos uma análise do conteúdo dos artigos selecionados buscando discriminar as diferentes temáticas desenvolvidas. Para análise dividimos os artigos em duas categorias: Intervenção e Analise Teórica. A primeira ainda teve uma subdivisão, em Técnicas, Oficinas, Grupo de discussão e Análise institucional. A divisão foi feita com o intuito de deixar mais claro as diferentes práticas encontradas no que se refere aos objetivos e formato de atuação. Por meio da analise do material foi possível concluir que não existe rigor em relação ao funcionamento dos dispositivos de intervenção. Os resultados apontam que o funcionamento dos dispositivos de intervenção não segue nenhum tipo de determinação. Assim a Esquizoanálise é usada como uma lente a ser utilizada para percepção dos processos subjetivos ativados e atualizados pela ação do pesquisador no grupo. Em relação aos procedimentos e a eficácia, os resultados são sempre apresentados como positivos, no que se refere capacidade do dispositivo em gerar reflexões críticas sobre a ótica institucional, no se refere ao movimento entre instituído-instituinte, gerando conscientização dos participantes no que se refere ao lugar ocupado por eles dentro da instituição. Não fica claro no material analisado o papel do Psicólogo nas intervenções, fazendo crer que qualquer profissional poderia coordenar o processo interventivo. Palavras-chave Esquizoanálise; Intervenção; Dispositivo de grupos; Análise; 232 233 I-EIXO TRABALHO, SAÚDE DO TRABALHADOR E COOPERATIVISMO 1. PSICOLOGIA, COOPERATIVISMO E FORMAÇÃO Mariana Luzia Aron Cíntia Yoko Morioka Universidade Nove de Julho Claudenir Carolino Barbosa Movimento em Defesa do Favelado [email protected] Em uma sociedade altamente de consumo, grande parte de sua população ignora um dos subprodutos básicos mais abundantes gerados por ela: seus resíduos sólidos, “o lixo”. Tido como algo sem valor e sem qualquer serventia, estes resíduos passam a ser negligenciados, bem como as pessoas que têm relação com o mesmo. Entretanto, nos dias atuais, uma via se apresenta, a da popular sustentabilidade. Ao transformar o lixo “sem valor” em material reciclável, está em transformação também, a concepção e as relações que as pessoas tem com o material e tudo o que o circunda. A economia solidária e o cooperativismo são importantes dentro de uma sociedade capitalista como a brasileira, na medida em que surgem como propostas para os modos de produção existentes, e os problemas decorrentes destes. Possibilitam oportunidades concretas de reinserção na economia e no mercado de trabalho, dos indivíduos pertencentes às camadas mais atingidas pelos problemas decorrentes do sistema capitalista. A psicologia enquanto ciência se preocupa tradicionalmente com o homem e suas relações, os comportamentos que o individualizam e, especificamente, a psicologia social, com o que o influencia e é por ele influenciado. Isto se dá pelas condições históricas, contexto social, relações de trabalho, linguagem e significados pertinentes a determinado grupo social e sua cultura, com todo seu sistema de valores (Lane; 1994). No que se refere ao papel da psicologia como reconhecedora das formas de trabalho na economia solidária e das pessoas a ela relacionadas, abre-se aí um novo campo de atuação interventiva, contribuindo para a conscientização individual e coletiva desses indivíduos, sua autonomia e a construção de novas identidades (Beiras, Espíndola, Alba, Lückmann, Coutinho; 2004). A psicologia social, por sua vez, pode contribuir em sua atuação junto a essas comunidades para auxiliar na construção coletiva de novas identidades para estes trabalhadores, outrora excluídos da sociedade, e a consolidação desses empreendimentos sociais. No entanto, esta aproximação da Psicologia com a problemática da Economia Solidária e do Cooperativismo é facilitada e encontra condições propícias de desenvolvimento à medida que esta temática integra a formação dos psicólogos. Propomos então a discussão da relação dialética entre formação e práxis, a partir da parceria firmada entre uma universidade privada e duas cooperativas: uma de reciclagem de materiais e a outra de produção e comercialização de alimentos saudáveis, via parceria com um movimento social de bastante representatividade na cidade de São Paulo. Avançamos na aproximação universidade – realidade social, mas muito ainda há de se fazer. Palavras-chave: Economia solidária; Cooperativismo; Psicologia; Trabalho; Identidade. 233 234 2. O SERVIÇO DE PSICOLOGIA NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFMT/ CUIABÁ: REFLEXÕES NO ESTÁGIO BÁSICO EM CONTEXTOS CLÍNICOS E DE SAÚDE Andréia Maria de Lima Assunção [email protected] Henrique Araujo Aragusuku [email protected] Universidade Federal de Mato Grosso O presente relato decorre de uma experiência de estágio desenvolvida em um Hospital Universitário da cidade de Cuiabá – Mato Grosso, através da disciplina Estágio Básico IV: Contextos Clínicos e de Saúde. A rotina hospitalar será descrita a partir do acompanhamento dos residentes em psicologia vinculados ao curso de pósgraduação Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso com ênfase em Atenção Cardiovascular, que possui ainda profissionais graduados em enfermagem, nutrição e serviço social. A metodologia utilizada refere-se à busca e leitura de referenciais teóricos e documentos oficiais (cartilhas, resoluções e normativas); o trabalho de campo, se utilizando da observação participante (BARROS, LEHFELD, 1990); e a discussão e análise dos dados coletados. Os pressupostos teóricos que orientam este trabalho são baseados nas contribuições de Paim (2009), Amarante (2007) e Carvalho (2013). Na ocasião, a equipe de profissionais de psicologia vinculados à residência era composta por três psicólogas, que realizavam intervenções junto aos pacientes, familiares e equipe multidisciplinar de alguns setores da instituição. A principal dificuldade encontrada refere-se à carência de psicólogos, visto que há apenas uma profissional efetivada por concurso público para atuar especificamente em áreas concernentes à psicologia. Deste modo, os serviços da referida área acabam sendo oferecidos majoritariamente pelos projetos e disciplinas de Estágio Supervisionado Específico, desenvolvidos pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso, além do programa de residência citado. Adicionalmente, foi observado, a partir do discurso das profissionais, que há um grande contingente de demandas aos serviços de acompanhamento psicológico e grandes dificuldades em atendê-lo. Este déficit de psicólogos efetivos sobrecarrega os poucos profissionais disponíveis, de modo que as residentes acabam se sentindo pressionadas a tentar atender toda a demanda do hospital, ocasionando sobrecarga e precarização das condições de trabalho. Recentemente foi implementada nesta instituição a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que é uma empresa pública criada pelo Governo Federal, dotada de personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, regida por seu Estatuto Social e Regimento Interno. A EBSERH instala uma lógica produtivista dentro dos Hospitais Universitários, estabelecendo metas de desempenho, prazos e indicadores. Em outras palavras, o governo aponta que o problema do hospital-escola não é a falta de profissionais ou financiamento, mas, sim, de gestão eficaz. Com sua entrada foi aberto um novo concurso público, com 349 vagas e, dentre estas, apenas uma vaga para psicólogo, que é insuficiente para as demandas do hospital, denunciando a invisibilidade da importância e da necessidade do trabalho da psicologia nesta instituição. Neste sentido, tem-se como objetivo expor as dificuldades de atuação encontradas pelo profissional de psicologia no presente contexto, apresentando aspectos que permitem identificar as lógicas institucionais que as reforçam, e que, por conseguinte, podem ser entendidos enquanto entraves para a consolidação do serviço de psicologia na referida instituição. Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Hospital Universitário; Estágio Básico. 234 235 3. OS ATORES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM ESTUDO SOBRE A PERSONALIDADE ÉTICA Thelma Pontes Borges Universidade Federal do Tocantins – UFT [email protected] Maria Thereza Costa Coelho Souza Universidade de São Paulo – USP [email protected] A economia solidária é pautada pela solidariedade nas relações de produção, elaboração e comercialização, portanto seus participantes precisam desenvolver a cooperação, o respeito e a generosidade a fim de garantir os princípios defendidos por ela. Por sua vez a Psicologia investiga como as pessoas desenvolvem virtudes e as incorpora no centro de sua personalidade, desenvolvendo uma personalidade ética. Dessa forma a pesquisa tem por objetivo averiguar as representações de si dos atores da economia solidária e verificar se possuem valores morais que nos permitam inferir uma personalidade ética. Para tanto foram realizadas dez entrevistas semi-dirigidas, gravadas e transcritas com participantes da economia solidária na cidade de Araguaína/TO. Os resultados apontam para dois grupos distintos: o primeiro, classificado como ‘personalidade ética’, em que aparecem elementos que nos permitem dizer de uma trajetória de vida, de escolhas e de projeção de futuro ético, encontram-se as seguintes sub-categorias: 1) Fatores familiares e de origem de vivências comunitárias; 2) Escolhas solidárias; 3) Princípios solidários e sua incorporação a valores pessoais; 4) Relações Cooperativas; 5) Futuro ético; o segundo, chamado de ‘necessidades absolutas’, em que as necessidades básicas de manutenção da vida se fazem presentes e prioritárias, não aparecendo referência a si ou aos demais de forma valorativa, nesse encontram-se as seguintes sub-categorias: 1) Fatores que derivam do outro e das necessidades básicas; 2) Escolhas Necessárias ou única escolha; 3) Ausência de princípios solidários e de sua incorporação aos valores pessoais; 4) Relações Individuais; 5) Futuro incerto. Concluímos que o estudo permite identificar características morais importantes dos atores da economia solidária, uma vez que os princípios dessa pedem por pessoas que tenham em sua vida aspectos morais que valorizem o ser humano em detrimento da lucratividade econômica. Assim se verificam que tanto àqueles que desenvolveram sua personalidade, pautados pela ética, quanto os que não desenvolveram ainda, necessitam de um ambiente cooperativo que favoreça e/ou fortaleça tais aspectos. Assim acredita-se que os empreendimentos pautados pela economia solidária podem ser favorecedores de tal desenvolvimento, desde que sejam considerados esses aspectos nos projetos de educação cooperativistas e de fomento a economia solidária. Para tanto as incubadoras e organizações que fomentam a economia solidária precisam conhecer e implantar em suas metodologias aspectos referentes aos estudos da Psicologia voltados à incorporação de aspectos morais na personalidade humana. Palavras-chave: Economia Solidária. Personalidade Ética. Virtudes. Moralidade. 235 236 4. OS DISTÚRBIOS PSÍQUICOS MENORES E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE OS AGENTES PENITENCIÁRIOS DA CAPITAL POTIGUAR Mateus Estevam Medeiros Costa Universidade de Fortaleza [email protected] Fernanda Fernandes Gurgel Universidade Potiguar [email protected] O cárcere é um local onde coabita um número exacerbado de sujeitos, desprovidos de assistência, sem nenhuma separação, em absurda ociosidade. É um mundo feito de coerências e incoerências, circunspeto por junções e conflitos. É um mundo visivelmente rígido, mas que necessita ser reafirmado, reconstruído a cada novo instante. É um mundo relacional em constante construção. E entre tais mediações está à atividade exercida pelos os agentes penitenciários, a qual se caracteriza pela difícil tarefa de (con)vivência na sociedade dos cativos, necessitando entender e apreender rapidamente a dinâmica da prisão para fins de manutenção da ordem. Precisam aprender “a pensar como o preso”, “trabalhando preso com o preso”, o que não se faz sem um enorme custo psíquico e identitário. Dentre estas altercações, a literatura aponta a possível relação existente entre as Desordens Psíquicas Menores e a Síndrome de Burnout. Assim, esse trabalho toma como objetivo investigar a relação existente entre estes dois constructos, elegendo como participantes os agentes penitenciários de três Unidades Penais de Natal. Partindo da perspectiva psicossociológica acerca dos conceitos, aportes técnicos e teóricos que norteiam a saúde psíquica e a Síndrome Burnout. A presente investigação se caracteriza como um estudo de cunho transversal, descritivo e quantitativo. Os instrumentos utilizados neste estudo foi um Questionário Sociodemográfico, o Questionário de Saúde Geral, versão de 12 itens e a Escala de Caracterização do Burnout, contendo 35 itens. A análise estatística se caracteriza como descritiva, onde os dados foram analisados com auxilio do pacote estatístico SPSS, versão 19. No entanto, para a inferência dos dois constructos investigados aplicou-se percentis, frequência por intervalo e análise de cluster. Já para correlacionar as desordens psíquicas menores e o burnout, aplicou-se o r de Pearson. A amostra do estudo corresponde a 61 sujeitos, no universo de 83 agentes. Os resultados indicam a predominância do sexo masculino, em sua maioria, casados, com a idade entre 24 a 53 anos, trabalhando cerca 48 horas semanais. Os principais resultados revelam que mais da metade da amostra se encontra tensa, contudo a saúde psíquica estar preservada para a maioria. Os resultados apurados também apontam que, ainda não existindo um número significativo de sujeitos acometidos pela Síndrome de Burnout, metade da amostra encontra-se no nível baixo-moderado da síndrome. Salienta-se que um terço da população investigada já apresenta falência em pelo menos uma das três dimensões. Conclui-se que o ambiente de trabalho carcerário pode ter um impacto na saúde psíquica do agente, suscitando sintomas depressivos e o surgimento da Síndrome de Burnout. Aconselha-se a introdução de políticas que visem o bem-estar e a qualidade de vida dos agentes. Por outro lado, sugeremse novas pesquisas que busquem compreender e analisar a configuração desta atividade, estudos com delineamentos longitudinais, aprofundando-se em discutir acerca dos fenômenos que norteiam a saúde deste trabalhador e suas condições no ambiente carcerário, no tocante, é imprescindível a realização de investigações intervencionistas que congreguem o uso de técnicas qualitativas no intuito de se verificar os fenômenos que influenciam a saúde psíquica no trabalho carcerário. Palavras-chave: Saúde Psíquica. Síndrome de Burnout. Agente de Segurança Penitenciária. 236 237 5. ESTUDO REALIZADO NO CONSÓRCIO ARENA NATAL: HÁ RELAÇÕES ENTRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E A SAÚDE DO TRABALHADOR? Mateus Estevam Medeiros Costa Universidade de Fortaleza [email protected] Marcel de Brito Vital Faculdade Natalense de Ensino e Cultura [email protected] Nadia Lígia da Cunha Faculdade Natalense de Ensino e Cultura [email protected] Marisa Gabriela Gomes da Silva Faculdade Natalense de Ensino e Cultura [email protected] A Arena das Dunas sediou os jogos da Copa do Mundo na cidade de Natal em 2014, considerada uma obra de grande porte, multifuncional, permitindo manifestações sociais, culturais, esportivas, de lazer e negócios. Esta obra é responsável também pela contratação de 736 trabalhadores da construção civil, distribuídos entre as terceirizadas prestadoras de serviço no período de agosto a dezembro de 2013. No entanto, os achados literários nomeiam a indústria da construção civil como um dos ramos da atividade econômica que mais propicia riscos à saúde dos trabalhadores. Diante deste argumento, este trabalho busca investigar as condições de trabalho e as relações existentes entre os distúrbios osteomusculares, a exaustão emocional e os transtornos psíquicos menores. A trajetória metodológica caracteriza-se como uma pesquisa de delineamento transversal, descritiva e de cunho quantitativo. Para tanto, aplicou-se ao público de 143 trabalhadores a Escala de Exaustão Emocional elaborado por Tamayo e Tróccoli (2000), Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (Pinheiro, Tróccoli & Carvalho, 2002), Perfil do Ambiente e Condições de Trabalho (Nahas, Rabacow, Pereira & Borgatto, 2009) e o Questionário de Saúde Geral, versão de 12 itens (Goldberg, 1972). Com auxilio do pacote estatístico SPSS foi cogente avaliar as correlações entre os itens dos instrumentos e calcular a estatística alpha de Cronhbach para constatar a consistência interna destes. A análise estatística cometida foi à descritiva, aplicando os percentis e a frequência por intervalo para a averiguação e para relacionar os construtos, aplicou-se o r de Pearson. Quanto aos resultados, averiguou-se que os trabalhadores apresentaram um nível moderado de exaustão emocional, com poucos casos de queixas musculoesqueléticas, salientando que as principais estão relacionadas a dores no ombro, pescoço, a parte superior das costas e quadril/coxas. As evidências do estudo demonstraram que os fatores remuneração e benefícios, relevância social do trabalho e o ambiente físico apresentam-se de forma negativa, permeando os escores entre ruins e sofríveis. Já os fatores que norteiam as consequências do trabalho para a saúde e qualidade de vida enquadraram-se no nível baixo. Congruentemente, os resultados revelam que os sujeitos estão com a saúde mental preservada. Conclui-se que o ambiente laboral, intrinsicamente o da construção civil, por suas características na maneira como se processa o trabalho, pode suscitar o surgimento da exaustão emocional e outros transtornos psíquicos. Deste modo, aconselham-se as empresas competentes introduzir programas intervencionistas que visem à promoção da qualidade de vida e da saúde do trabalhador. Palavras-chave: Condições de Trabalho. Saúde do Trabalhador. Saúde Psíquica. Construção Civil. 237 238 6. INTERFERÊNCIAS DA MEDICINA NA COMPREENSÃO E TRATAMENTO DAS PATOLOGIAS DO TRABALHADOR NA CONTEMPORANEIDADE Cristina Miyuki Hashizume Universidade Estadual da Paraíba – UEPB [email protected] O presente trabalho se propõe a desconstruir teoricamente a visão recorrente de que o diagnóstico físico e técnicas de imagem do corpo seriam as formas mais eficazes para buscarmos tratamento de uma doença ou mal estar. Nossa hipótese teórica é de que essa visão simplista sobre o mal estar laboral anuncia uma questão política, qual seja: uma ausência de problematização contextual a respeito de uma doença totalmente determinada cultural e socialmente. Na contemporaneidade deparamo-nos com o discurso médico mediando nossa relação com o mundo e com as relações sociais (Zorzanelli, Ortega: 2010) através de explicações biologizantes, propondo etiologias e tratamentos no âmbito do corporal. A popularização de exames computadorizados que acessam as outrora inatingíveis partes de nossa anatomia dão a impressão de ter tornado mais claro e facilmente curável os males modernos. O linguajar médico se infiltra nas conversas cotidianas, demonstrando –se que nunca se soube tanto, com tanta precisão sobre a anatomia, fisiologia e psicopatologia das doenças. Em contraposição, deparamo-nos com o fato de que novos males, sentidos e doenças modernos têm se manifestado nos trabalhadores em diferentes setores do trabalho. Objetivamos problematizar o discurso médico e suas possíveis explicações que se limitam a visões anátomo-fisiológicas e sobre o adoecimento do trabalhador, sem considerar de forma mais ampla as determinações sócio-político-culturais das patologias da contemporaneidade. Nosso método de trabalho é através da pesquisa bibliográfica discutir os aspectos sociológicos e psicológicos que confluem nesse enredamento psicossomático que colabora no surgimento das novas patologias. As conclusões parciais apontam para o foco transdisciplinar como modo de aprofundar e complexificar a discussão sobre o tema, sendo uma boa saída para discutirmos a etiologia e tratamento das doenças manifestas psicossomaticamente nos trabalhadores de forma geral. Análises e considerações finais: a partir do estudo de teóricos que discutem o culto à performance do trabalhador no meio corporativo, percebemos que a exigência pelo produtivismo e desempenho sobre-humano, quase maquínico, impõe aos trabalhadores o uso de dispositivos que garantam uma produtividade mecanizada e performática, quais sejam: medicamentos, intervenções de “qualidade de vida”, cirurgias e outros procedimentos médicos que coadunam com uma lógica medicalizante. O corpo do trabalhador, contextualizado biopsicossocialmente numa sociedade produtivista, deve ser compreendido e tratado a partir de um olhar transversal que contemple as diferentes disciplinas que dão conta da complexidade social: Psicologia, Sociologia, Antropologia, Política, Saúde Pública, Medicina, dentre outras. O olhar medicalizante sobre o mal estar do trabalhador denuncia uma visão despolitizada e individualista sobre o seu corpo. Situar esse mal estar laboral num contexto micropolítico requer cartografar como se dá a rede de determinantes de várias ordens, acreditando que ela possa ser ressignificada e transformada de modo que o trabalhador possa ser beneficiado num novo arranjo desses fatores. Palavras-chave: medicalização, saúde trabalhador; mal estar laboral contemporaneidade do na 238 239 7. MICROPOLÍTICA E SOFRIMENTO PSÍQUICO EM PROFESSORESTRABALHADORES Cristina Miyuki Hashizume Universidade Estadual da Paraíba – UEPB [email protected] Política na escola é assunto tabu no cotidiano educacional, e quando abordado, resume-se a tendências político-partidárias do governante no poder ou leis, sem que percebamos que ela se encontra arraigada em nosso fazer diário. Em nossa visão, a formação política começa desde nossas raízes culturais (que remontam a independência política do país em relação a Portugal) e se dá no cotidiano escolar ao nos preocuparmos com a vida pública, através de ações e omissões que determinam o “agir político”. O presente artigo objetiva problematizar teoricamente o conceito de política (associando-o com a recente palavra cidadania) como necessário e chave para entender as estratégias psicológicas garantidoras de saúde psíquica desenvolvidas pelos usuários e equipe escolar na práxis docente. Trata-se de um estudo teóricobibliográfico e qualitativo, construído a partir de pesquisas previamente publicadas pela autora. Resgata autores clássicos da política, mas também autores modernos e pós modernos (Deleuze, Guattari, Rolnik) no intuito de buscarmos a origem do termo, demonstrando que há uma apropriação indevida e equivocada do senso comum a respeito do conceito de política, e especialmente dos profissionais e comunidade escolar. A micropolítica se apresenta como estratégia de pequenas lutas em que, a partir do diálogo na coletividade permite um debate público (como requer a discussão política) com vistas a garantir a busca pelo interesse coletivo. Tais lutas reforçam ou intimidam o trabalhador, que é afetado por diferentes variáveis que podem desenhar marcas no modo como o indivíduo se percebe. Segundo Clot, a ressignificação de sua subjetividade, assim como a sua relação com o trabalho varia a partir de diferentes afetações do trabalhador em seu contexto. O sentido criado pelo indivíduo determinará a função psicológica do trabalho e da política na saúde mental do trabalhador. A micropolítica do cotidiano consegue garantir a possibilidade de se estabelecer pequenas alianças, negociações e aproveitamento da inteligência ardilosa do trabalhador, que dá sentido à sua atividade e garante a capacidade de se “exercer” de forma saudável o magistério. A educação, espaço privilegiado para debate, requer uma abertura e uma insistência por parte do trabalhador, a lutar todos os dias por sua ética, atualizando seus preceitos e sentidos sobre o trabalho. A presente apresentação conclui enfatizando que a participação política e a busca por novas formas de atuação pressupõem uma educação/ vivência políticas, que repercutem no trabalho docente garantindo a saúde mental de todos os profissionais que lidam com a educação Palavras-chave: micropolítica; saúde mental; fator psicológico; trabalho docente. 239 240 8- O PSICÓLOGO NA SAÚDE DO TRABALHADOR: UMA EXPERIÊNCIA DE GRUPO DE ACOLHIMENTO Isabel Lopes dos Santos Keppler UFRN [email protected] Esse trabalho se propõe a apresentar uma experiência de atuação no campo da Saúde do Trabalhador (ST). A ST tem como premissa que o profissional é um aliado do trabalhador, enquanto este deve ser protagonista de seu próprio cuidado. Esse campo ainda é marginalizado, por ser um contraponto à lógica dominante de saúde, que descontextualiza o sujeito de seus determinantes sociais, e por isso explicitar as contradições do modo de produção capitalista. Na formação do psicólogo o campo da ST não aparece, ou aparece de forma limitada. Por isso, torna-se relevante apresentar iniciativas que resgatam experiências alinhadas com a base teórica, metodológica e prática do campo. Nesse sentido, o estudo relata a experiência de um Grupo de Acolhimento realizado por estagiárias de Psicologia da Universidade Federal de São Paulo durante o ano de 2011 (Imbrizi, Keppler & Vilhanueva), em uma unidade do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Os encontros ocorriam duas vezes na semana, antes da triagem com os médicos com duração de 45 minutos, com trabalhadores que acessavam o serviço pela primeira vez, e recebeu o nome de Grupo dos Novos. O número de participantes variavam entre 3 e 8 membros, de acordo com os pacientes agendados. Todo grupo era seguido por um momento de supervisão de estágio, com problematização dos temas que surgiram e avaliação da intervenção das estagiárias. Além disso, mensalmente as estagiárias realizavam um diário de campo articulando com campo teórico. Entende-se que houve resultados para o serviço, como por exemplo a possibilidade de construir um perfil geral de quem eram os trabalhadores que acessavam ao CEREST e quais eram as suas demandas, e com isso desenvolver outras ações na unidade. Para os usuários, o Grupo dos Novos servia como um contraponto à lógica de culpabilização do trabalhador. No grupo, ao escutar outras situações semelhantes era possível obter uma dimensão social do processo de adoecimento no trabalho. Também possuía um caráter informativo, visto que o trabalhador ao adoecer encontra dificuldades diante de diversas informações desconexas e nem sempre compreensíveis, passando por uma “saga” entre o SUS, a Previdência Social, o sindicato etc. 240 241 9. TRABALHO E SAÚDE MENTAL: EXPOSIÇÃO DE UM CENÁRIO Alciane Barbosa Macedo Pereira UnB, IF Goiano [email protected] Lívia Mesquita de Sousa UnB, UFG [email protected] Constituímo-nos por meio dos outros e nos diferentes contextos, entre eles o do trabalho que na atualidade configura-se de modo cada vez mais competitivo, com sobrecarga e excesso de cobranças. Desse modo, o objetivo deste trabalho é apresentar como a Saúde Mental é trabalhada institucionalmente na Universidade Federal de Goiás (UFG). A concepção a respeito do humano que fundamenta este trabalho considera a relação indivíduo-sociedade como mutuamente constituídas. Esse estudo foi constituído a partir da experiência vivenciada pelas autoras enquanto psicólogas da UFG, via realização de entrevistas, atendimentos e observações. É importante ressaltar que para compreender a saúde e do adoecimento mental na UFG é preciso considerar que não se trata somente de questões individuais, ou meramente interpessoais, e sim de contextos mais amplos a nível institucional, cultural e social. O trabalho é central em nossa sociedade e constitui-se como espaço de prazer e sofrimento a partir da triangulação entre trabalhador, seu engajamento na realização do trabalho e o reconhecimento da qualidade de seu trabalho. No contexto da UFG, ele tende a ser variado, burocrático, com rígida organização, reduzida autonomia do trabalhador e de maneira geral valorizado socialmente. Nesse espaço algumas problemáticas são constituídas: para a maioria das pessoas é o primeiro emprego; é necessária melhor adequação das demandas às atribuições dos cargos, prevista em lei; há uma sensação de desigualdade, de pouca flexibilidade e de possibilidade de alteração do contexto de trabalho; há muitos conflitos e a luta direta e indireta por poder; o alto reconhecimento da instituição pela sociedade e a valorização da performance dos servidores, por meio de produção acadêmica ou do posicionamento na hierarquia dos cargos, tendem a estimular atitudes narcísicas por parte de docentes e de técnicos. Os órgãos instituídos, por sua vez, a fim de auxiliar no trabalho a respeito da Saúde e do Adoecimento Mental na UFG são: O Núcleo de Atendimento ao Servidor do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos (NAS/DDRH/UFG); o Subsistema de Atenção Integral à Saúde do Servidor (SIASS/UFG); e o Programa Saudavelmente da Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (PROCOM/UFG). Avalia-se que os programas desenvolvidos nos órgãos apresentados, no entanto, ainda precisam aprimorar a articulação e melhorar a definição das atribuições e das atividades desenvolvidas, a partir das demandas constituídas. Para que assim, haja mais atividades de promoção à saúde mental e de prevenção de agravos, a fim de viabilizar aos servidores, técnicos-administrativos e docentes da UFG, em situação de sofrimento e adoecimento mental, mais e melhores espaços públicos de fala constituídos pela cooperação, por meio das dinâmicas intersubjetivas e políticas. Palavras-chave: trabalho, saúde mental, adoecimento mental 241 242 10. CONSTITUIÇÃO DA DEMANDA PARA CLÍNICA DO TRABALHO NA UFG Lila de Fátima de Carvalho Ramos - Puc-Go [email protected] Kátia Barbosa Macêdo - PUC-Go [email protected] Dados da Organização Internacional do Trabalho - OIT(2013) apontam 2,3 milhões de mortes, por ano, que têm algum tipo de ligação com a atividade que o trabalhador exerce. No relatório A Prevenção das Enfermidades Profissionais, cerca de 2 milhões de mortes decorrem do desenvolvimento de enfermidades e 321 mil resultam de acidentes – cerca de uma morte por acidente para cada seis mortes por doença (SCHMIDT, 2010). Entender as organizações do trabalho e seus reflexos na saúde e no modo de adoecimento dos trabalhadores é de fundamental importância na compreensão e na intervenção em situações de trabalho que geram sofrimento e agravos à saúde. Para Martins (2004), no serviço público federal, a organização do trabalho, as atividades das tarefas, a deficiência de recursos humanos e materiais, o ambiente físico e social, exercem sobre o trabalhador constrangimentos, exigindo-lhe adaptação física, mental e emocional. De acordo com Dejours (2004), “a psicodinâmica do trabalho é uma disciplina clínica que se apoia na descrição e no conhecimento das relações entre trabalho e saúde mental; (…), é uma disciplina teórica que se esforça para inscrever os resultados da investigação clínica da relação com o trabalho numa teoria do sujeito que engloba, ao mesmo tempo, a psicanálise e a teoria social” (p. 28). Por isso, este estudo se baseia na Psicodinâmica do Trabalho para construir a demanda dos servidores adoecidos na Universidade Federal de Goiás. Foi realizado um levantamento quantitativo junto ao Programa Saudavelmente de janeiro de 2003 até dezembro de 2013, bem como quais os motivos que os levaram a buscar o programa, fez-se uma análise documental da situação socioeconômica através da ficha de acolhimento, análise das fichas de acompanhamento médico, relatório do Departamento de Pessoal apresentando o número se servidores ativos e aposentados. O Programa Saudavelmente foi criado em abril de 2003, funciona regularmente nas dependências do Prédio da Pró-Reitora de Assuntos da Comunidade, com espaço físico devidamente organizado para suas atividades específicas, cujo objetivo é atender às necessidades de atenção à Saúde Mental de toda a Comunidade Universitária, atendimento integrado aos vários serviços existentes na área, bem como desenvolver projetos de promoção de saúde mental e qualidade de vida,ou seja, trata-se de um programa que visa atender a comunidade universitária/UFG na atenção e cuidados da saúde mental.Como parte da constituição da demanda é previsto o uso da análise documental, sendo que o levantamento acima apresentado visou a fase de pré-pesquisa, tendo prevista a realização da fase de pesquisa em sequência. Como resultados têm-se: queixas psiquiátricas comportamentais 40,7%; diagnósticos psiquiátricos 37,6%; fatores psicossociais 18,8% diagnóstico clínico 2,9%. Palavras chave: Psicodinâmica do Trabalho, Organização do trabalho, Saúde Mental. 242 243 11. DISPOSITIVOS DE PRODUÇÃO DO CUIDADO AOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE MENTAL Elisa Alves da Silva Universidade Federal de Goiás (UFG); Faculdade Estácio de Sá de Goiás (FESGO) e curso de Especialização em Saúde Mental Álcool e outras drogas UnB/Ministério da Saúde [email protected] A proposta desse trabalho é apresentar e discutir alguns dos dispositivos de produção do cuidado aos trabalhadores dos Centros de Atenção de Psicossocial (CAPS), que integram os serviços substitutivos que são balizados pela atual Política Pública de Saúde Mental. Sendo o dispositivo compreendido como instrumento que abarca um conjunto de discursos, decisões regulamentares, enunciados científicos, proposições filosóficas, ou seja, composto por uma rede heterogênea que se estabelece por esses vários elementos que mudam de posições e funções conforme atualiza os acontecimentos e relações (Foucault, 1979). A investigação foi realizada em três CAPS da cidade de Goiânia (GO) e o método utilizado foi a pesquisa-ação (Barbier, 2002; Thiollent, 1996). Os instrumentos empregados foram análise documental e entrevistas semiestruturadas desenvolvidas com oito profissionais, três gestores dos CAPS e um gestor da Divisão de Saúde Mental/ Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no total de 12 participantes. O projeto deste estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CEP-IH-UnB). Os participantes da pesquisa receberam orientações quanto aos objetivos do projeto, sendo também informados sobre a desistência a qualquer momento e a garantia da confidencialidade, privacidade e sigilo. Após os esclarecimentos todos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), construído de acordo com a resolução196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Por meio da análise dos dados foi possível mapear os desafios e impasses do modelo psicossocial que abrangem os agenciamentos da produção do cuidado do cuidador que devem ser garantidos nos programas e estratégias dos serviços de saúde, quais sejam: supervisão clínico-institucional, capacitação, educação permanente, escola de supervisores, grupos de estudos, dinâmicas que envolvam as relações interpessoais e conversas sobre a organização dos serviços. Esse mapeamento possibilitou configurar a construção da caixa de ferramentas que aciona a produção do cuidado do cuidador, na qual foi destacada a importância da articulação das dimensões macro e micropolíticas. Outro ponto relevante são as relações interpessoais estabelecidas no trabalho em equipe, consideradas como fator que desencadeia maior ou menor potência na manifestação do envolvimento em projetos coletivos, nas decisões compartilhadas e na avaliação crítica do trabalho. Nesse âmbito, os gestores possuem um papel fundamental na garantia da participação colegiada e na responsabilização pela dinâmica interna da equipe. Importante observar que a potencialidade da caixa de ferramentas da produção do cuidado do cuidador está conectada à prática coletiva a ser construída entre os diversos atores envolvidos nas gestões e serviços, mediante o esforço de análise crítica e ética do cotidiano do trabalho. Essa temática ainda carece de reposicionamento subjetivo e novas conexões no campo da saúde mental, no sentido de promover mais encontros e afetos que desencadeiam momentos de criação e produção. 243 244 PÔSTERES 244 245 A-EIXO AÇÕES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 1.CONTROVÉRSIAS EM TORNO DAS TÉCNICAS E PRÁTICAS DA ACUPUNTURA PELO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA E O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA Ana Claudia da Silva, [email protected] Elias Rafael Kochhann Coradini, [email protected] Larissa Maciel da Silva Lima, [email protected] Luiza de Oliveira Padilha, [email protected] Sarah Raquel Batista Leão, [email protected] Tabata Fonseca Mazetto, [email protected] Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Cuiabá Após um levantamento documental baseado utilizadas 40 referências como aporte deste nas controvérsias entre o Conselho Federal de estudo, incluindo ensaios clínicos e revisões Psicologia (CFP) e o Conselho Federal de sistemáticas. Investigando-se o processo de Medicina (CFM), a acupuntura aparece como legalização e normatização da prática de uma prática terapêutica alternativa no centro acupuntura e das atribuições dos médicos, de uma disputa acirrada que envolve questões procura-se averiguar o desenvolvimento e a políticas, judiciais e legislativas, como foi o sustentação do discurso na disputa dos dois caso do desenrolar do Projeto de Lei Conselhos pela exclusividade de tal prática conhecido como Ato Médico que, após vários terapêutica. Observa-se que, além das debates, campanhas e manifestações disputas travadas em debates em diferentes culminaram na promulgação, com vetos, da meios de comunicação, nos tribunais, na Lei nº 12.842 de 2013. Visa cartografar as Câmara dos Deputados e no Senado Federal, controvérsias que envolvem a prática da campanhas e manifestações ocorreram, acupuntura, considerando o Conselho Federal principalmente por parte daqueles que eram de Psicologia e o Conselho Federal de contrários ao Projeto do Ato Médico. Além Medicina como principais atores dessa rede. disso, nota-se manifestações com maior Tendo em vista que a qualidade do serviço frequência e participação logo após as prestado é uma preocupação de todos, esse aprovações da Câmara, do Senado e da resumo contribui para que a sociedade se promulgação da lei. Em relação à prática da posicione de maneira mais crítica sobre o acupuntura, o discurso volta-se normalmente assunto, conhecendo e participando dos para a alegação de ser invasiva e muito debates sobre as atribuições dos profissionais delicada, no caso dos médicos, e para a de diferentes áreas da saúde. Na discussão de eficácia e objetivos da prática, no caso dos controvérsias, tomaram-se como referenciais psicólogos. Além disso, ambos os Conselhos teóricos trabalhos dos autores Latour e invocam constantemente questões de Venturini, cuja metodologia adotada foi a da legalidade e normatização. Dessa maneira, cartografia de controvérsias que consiste no pode-se concluir que a disputa pela prática da ato de fazer ciência, em que o objetivo central acupuntura possui relações complexas de é descrever fatos que acontecem em uma controvérsias. A busca por apoio de disputa entre dois ou mais atores conjecturada profissionais, estudantes e entidades das pela Teoria Ator-Rede. Esta revisão literária diferentes categorias, além da comunidade em teve o material bibliográfico levantado entre o geral, é um dos pontos mais presentes e período de maio a agosto de 2014, nas bases importantes no desdobramento dessa disputa. de pesquisas nacionais do Conselho Federal Além disso, apesar de ser utilizado de Psicologia, Conselho Federal de Medicina, constantemente o discurso de Pepsic e Scielo Brasil. Inicialmente, foram comprometimento com a saúde do cidadão, pesquisados temas no âmbito das Terapias não se pode deixar de constatar o interesse Alternativas, cuja busca se detiveram a artigos econômico de ambas as partes por essa prática de periódicos científicos, teses e dissertações terapêutica. Palavras-chaves: Controvérsias; publicadas preferencialmente nos últimos dez Acupuntura; Conselho Federal de Psicologia; anos. Ademais, para a pesquisa foram Conselho Federal de Medicina; Ato Médico. 245 246 2. A ARTE CONTEMPORÂNEA COMO RECURSO TRANSFORMADOR E ALIADA DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS João Victor Gama da Silveira Gutierres Gimenez Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT [email protected] Henrique de Oliveira Lee Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT [email protected] De que forma arte e política estiveram relacionadas, e como esses distintos campos influenciaram-se e constituíram-se mutuamente? Ao longo de sua história, o ramo do saber denominado Estética esteve fortemente inspirado pela filosofia de Platão e a busca do belo. A chegada da modernidade e a consolidação gradual do capitalismo e do espaço urbano permitiu uma quebra de valores e crenças irreversível, um rápido desenvolvimento das tecnologias e as mudanças no campo filosófico, industrial, cultural, científico e político, que levaram a um novo rearranjo coletivo. Com o surgimento da reprodutibilidade técnica, a arte é destronada de seu lugar sagrado. Essa dessacralização da arte, bem como o contexto emergente, permitiram pela primeira vez pensar em uma arte de massas. Mais do que isso, a arte gradualmente transbordou os espaços institucionalizados para invadir os espaços públicos e cotidianos, como as ruas, as casas, os veículos de comunicação etc. Paralelamente, o artista perderia o seu lugar mítico de uma genialidade de inspiração divina a serviço das instituições tradicionais para tornar-se a figura do artista de uma arte autônoma, desprovida de referências fixas de outrora, gozando de maior intimidade com a arte e recursos materiais de produção cada vez mais acessíveis, e, portanto, tendo a disposição infinitas possibilidades de se constituir. O presente trabalho tem como principal objetivo avaliar a relação entre a arte na contemporaneidade e os chamados novos movimentos sociais, comumente datados a partir da década de setenta, especialmente por uma das tendências que marca essas novas formas de fazer político: o processo de estetização dessas lutas democráticas. Essas novas formas de fazer político resgatam o caráter acessível e transformador da arte, como forma de questionar e desafiar o pensamento hegemônico e intervir gradualmente na história, na cultura e na sociedade em que os sujeitos se inserem, servindo de material para desafiar a lógica de institucionalização e da museificação como apropriação da arte por segmentos minoritários privilegiados economicamente. A aproximação entre os movimentos sociais e a preocupação estética é um fenômeno relativamente recente, no qual as possibilidades criativas surgem como meio de questionamento, investigação e transformação das vicissitudes de subjetivação e construções de sociedades. Para isso, pretende-se: 1) realizar um breve resgate histórico das concepções de arte, ligando-as com as forças políticas e materiais atuantes de cada época; 2) problematizar a questão dos novos movimentos sociais, definindo-os e distinguindo-os dos paradigmas políticos tradicionais; 3) e analisar de que forma a arte pode estar vinculada aos interesses dos povos. O procedimento adotado para a coleta de dados é o da pesquisa bibliográfica, com levantamento de publicações acerca do tema, livros e artigos acadêmicos que tratem de assuntos pertinentes ao presente trabalho, como história da arte, arte e política, novos movimentos sociais etc. Também recorre à perspectiva dos novos movimentos sociais de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe; a aproximação entre arte e política feita por Walter Benjamin; e o posicionamento estético de importantes filósofos como Platão e Arthur Schopenhauer. Palavras-chave: arte, política, novos movimentos sociais 246 247 3. A EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES (EBSERH) E SUAS RESSONÂNCIAS SOBRE OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL HISTÓRICO-GENEALÓGICA SOBRE A LEI 12.550/2011 Bruno Jáy Mercês de Lima PPGP-UFPA [email protected] Este estudo corresponde ao Trabalho de Conclusão de Curso do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará. A temática da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares tem tomado bastante conotação no contexto atual, uma vez que esta tem se apresentado como alternativa de gestão, pelo Governo Federal, frente aos problemas encontrados nos hospitais universitários. Parte-se, então, do diagnóstico de que os problemas destas instituições são de ordem gerencial, o que justifica o repasse da gestão para uma empresa pública de direito privado. Entretanto, são diversos os fatores que demonstram haver incoerência na implantação desta modalidade de gestão no âmbito do SUS, apontados, principalmente, pelos movimentos sociais em saúde, que tem se mostrado, em relação à temática, a única resistência, através do movimento estudantil e de servidores públicos das instituições de ensino superior que possuem hospitais universitários. Este trabalho, uma análise documental, tem como objetivo problematizar a inserção da EBSERH enquanto gestora dos hospitais universitários, utilizando, para tal, o método histórico-genealógico de Michel Foucault, que possibilita lançar questionamentos sobre as práticas e discursos construídos a partir do documento analisado, a saber, a lei 12.550/2011. Os resultados relacionam os achados nas bibliografias pesquisadas e organizadas nos subsídios teóricos do projeto (a construção do Estado Neoliberal no Brasil a partir do Consenso de Washington; a construção de saúde a partir da Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saúde: as leis 8.080/90 e 8.142/90; e a/ Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e suas contradições com o SUS) com as propostas de práticas e discursos emergentes a partir da análise da lei 12.550/2011, que cria a EBSERH. As análises revelaram discursos e práticas paradoxais àquelas que são preconizadas pela legislação em saúde vigente no Brasil. Isto deflagra o caráter neoliberal da implementação da EBSERH, uma vez que esta está alinhada à política neoliberal deflagrada a partir do Consenso de Washington. A necessidade do estudo sobre a EBSERH se faz imperativa, uma vez que vivemos o processo de desregulamentação da saúde e de desresponsabilização do Estado perante a este serviço essencial para uma sociedade. Dessa forma, questionar e problematizar sobre esta empresa é imprescindível para ratificarmos o SUS como uma política universalizante e que privilegia a construção de uma sociedade mais equânime, justa e solidária. Palavras-chave: Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; privatização da saúde; movimento social em saúde. 247 248 4. HOMENS E FEMINISMO: A PARTICIPAÇÃO DE HOMENS NO (S) MOVIMENTO (S) FEMINISTA (S) COMO UMA NECESSIDADE PARA AVANÇOS TEÓRICOS E POLÍTICOS Bruno Jáy Mercês de Lima PPGP-UFPA E-mail: [email protected] O Feminismo tem como marco histórico a Revolução Francesa como um momento de ascenso de lutas populares que deflagram uma mudança da história em que se consolida direitos universas do ser humano antes desrespeitados ou mesmo desprezados, com o intuito de manter os processos de exploração vigentes, as relações de poder. Entretanto, os direitos conquistados não alcançaram as mulheres, negligenciando sua participação nos levantes, assim como, reduzindo as suas existências, o que demarcava um caráter de revolução voltado para a conquista de direitos para homens. Demais momentos históricos são ressaltados como importantes para o desenvolvimento do Feminismo e a inserção das mulheres em outros âmbitos antes negados, mostrando seu potencial produtivo e capacidade para além daqueles antes determinados. Essas modificações geraram tensionamentos políticos como a reivindicação do direito ao voto, maior entrada no mundo do trabalho e ratificação de direitos de acesso à políticas públicas. A principal demarcação de reivindicação de políticas públicas foi, e ainda tem sido, o acesso de mulheres à educação. Uma vez que estas ainda estavam subjugadas aos ambientes domésticos, não tendo acesso à possibilidade de leitura, desenvolvimento profissional, através do avanço no processo educacional. Destarte, essa conjuntura foi modificada a partir de muitos processos de resistências, de jogos de poder que culminaram na consolidação de direitos indispensáveis à existência humana. Dentre estes, o mais ressaltado é o direito político, o acesso ao voto para mulheres. Entretanto, dentro dos movimentos feministas, ainda se perdura práticas que não acompanham o desenvolvimento científico do Feminismo, enquanto constructo teórico. Objetivou-se a partir deste artigo realizar um resgate histórico do Feminismo, ressaltando suas principais bandeiras de luta, para que fosse denotadas críticas às práticas e discursos vigentes dentre os movimentos que, dentre outras coisas, negam a participação de homens dentro de suas organizações, mantendo, assim, uma divisão binária dos sujeitos. Foi observado que ainda persistem práticas e discursos que impossibilitam a entrada de homens em debates e organizações feministas, o que dificulta, dentre outras coisas, a possibilidade de homens se tornarem agentes parceiros do Feminismo. Essa necessidade não retira a importância da mulher enquanto protagonista destes movimentos, afirmando a manutenção destas nestes espaços políticos. Denota-se, ainda, que há uma necessidade de apresentar estudos voltados nesta perspectiva da importância da inclusão de homens em movimentos. Palavras-chave: homens e feminismo; movimento feminista; gênero e feminismo. 248 249 5. SUJEITO, SUBJETIVIDADE E AÇÃO COLETIVA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DAS “JORNADAS DE JUNHO” Marianne Lima Martins Universidade de Brasília (PPGSOL/UnB) [email protected] A experiência das Jornadas de Junho em 2013, uma série de protestos que aconteceram no cenário nacional motivados inicialmente pelo aumento das passagens de ônibus na cidade de São Paulo (SP), sublinharam uma importante discussão no campo da Psicologia Política: A problemática da ação coletiva frente ao desenvolvimento Sociedade Capitalista, e possibilidades e limites de mobilização social por transformações societárias. Tal fenômeno traz à tona a discussão sobre o “sujeito coletivo” que se apresenta nas mobilizações sociais experienciadas, abrindo também possibilidades de compreensão sobre as formas de subjetivação que se configuram no atual contexto. O presente trabalho busca contribuições da Psicologia Social, desde uma interface entre a Psicologia HistóricoCultural, a Psicologia Política e a Sociologia do Trabalho (principalmente referenciado em Vygotsky, Prado e Iasi). Apontamos para uma teoria da ação coletiva que compreenda o sujeito como ser contraditório, agente de e influenciado por uma realidade objetiva (material e histórica), que o constitui subjetivamente desde as especificidades de um período e cenário, e a partir de processos de identificação e significação coletiva e pessoal, em que o político se realiza para além da institucionalidade. Abordamos as Jornadas como um fenômeno social cujo caráter político remete à sua qualidade duplamente particular e geral, onde se articulam o coletivo e o individual, o social e o subjetivo. Procuramos observar os conteúdos presentes nas mobilizações, e formas em que se apresentam, relacionando-os ao espaço político contemporâneo (no atual Estado Democrático de Direito) em que a participação social e a reivindicação consolidam-se como intermediárias da relação entre Estado e sociedade civil. De caráter qualitativo, o presente trabalho é uma reflexão fruto de observações de campo como material empírico, e de análise teórica, a partir de revisão de literatura e relatos de jornais/notícias sobre as Jornadas de Junho de 2013. A partir da reflexão proposta, pudemos apreender as Jornadas como um processo político, dinâmico e plural. E, nesse sentido, apresentamos uma discussão crítica sobre seu caráter e a noção de sujeito implicada. De modo geral, pudemos observar elementos identitários e emocionais que se relacionam a modos de subjetivação que propomos aqui compreender pelo seu aspecto coletivo e pessoal, marcado pela emergência de um nós que reafirma o “individualismo moderno”, configurada em diferentes níveis. Ainda, identificamos conteúdos associados a múltiplos sentidos (social/político/subjetivo), que trazem em seu cerne a democracia como processo discursivo e prático de significação do real, frente a um caráter de classe que se apresenta crítico e/ou conciliatório. Percebermos ressaltada a relação entre esses conteúdos e o atual cenário de consolidação do projeto político democrático e popular, que traz em seu cerne – e contratidoriamente – o questionamento do Estado como agente de proposição, controle, mudança; bem como um nós individualizado na mobilização social. Longe de querer esgotar o tema, o trabalho pretendeu problematizar o fenômeno da ação coletiva, no campo da Psicologia Política, bem como buscar um debate acadêmico em diálogo com a sociedade civil, a partir de questões que reafirmem e aprofundem o alcance da psicologia na problematização da relação entre sujeito/sociedade. Palavras-chave: sujeito, subjetividade, ação coletiva, psicologia histórico-cultural, Jornadas de Junho 249 250 B- EIXO RAÇA/ETNIA, RELAÇÕES DE CLASSE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL 1. JUVENTUDE, SUBJETIVIDADE E SEXUALIDADE: INTERFACES ENTRE POLÍTICA, RELIGIÃO, ECONOMIA E HOMOAFETIVIDADE E/OU HOMOEROTISMO. Hugo Higino Perez de Andrade. Paola Biasoli Alves. Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. [email protected] A sexualidade, durante a história da humanidade e seus diferentes registros e mentalidades, esteve sempre relacionada às dimensões ideológicas do sistema tais como religião, economia e política, transformandoas e sendo transformada por elas em uma relação dialética entre sujeito e sistema. É possível observar e analisar como o modo de produção, bem como as ideologias dominantes de diferentes épocas atravessaram e atravessam os processos e práticas sexuais da humanidade. No âmbito das teorias psicológicas, até meados da década de 80 do século XX, a sexualidade era abordada dentro dos contornos das relações de causa e efeito, ou mesmo de acordo com dimensões particulares e específicas dos indivíduos, sem grande vinculação à uma compreensão mais sintética e integrada entre sujeito, sociedade, história e cultura. A construção, no contexto latino americano, de teorias psicológicas com base em autores vinculados aos movimentos do materialismo histórico e dialético tornou possível se pensar a sexualidade enquanto processo de subjetivação, atravessado por características institucionais como religião, economia e política e também relacionais, em dinâmicas interpessoais e de redes de significado. A partir da visão macrossistêmica do desenvolvimento humano, ou seja, da construção histórica e cultural de crenças, valores e instrumentos simbólicos; perpassando os elementos que caracterizam as vivências interpessoais (papéis sociais, atividades cotidianas e não cotidianas, afeto, reciprocidade, equilíbrio de poder), o presente trabalho tem como objetivo compreender os processos singulares e/ou coletivos de subjetivação da sexualidade em contextos de práticas homossexuais enquanto parte do ciclo vital humano na contemporaneidade. Baseado na Teoria dos Sistemas Ecológicos de Urie Bronfenbrenner (1979/1996, 2005/2011), pretende-se buscar compreender tais processos do desenvolvimento humano por meio de uma pesquisa multi-instrumental, com coleta de dados incluindo entrevistas, jogos de sentenças incompletas, assertivas e jogos declarativos, focalizando a descrição e análise de quatro dimensões atuantes de maneira dinâmica na vida das pessoas: “Pessoa, Processo, Contexto e Tempo”. (BRONFENBRENNER & MORIS 1998). Assim, por meio de um método qualitativo descritivo pretende-se apresentar como jovens universitários da capital do estado de Mato Grosso vivenciam sua sexualidade na contemporaneidade, bem como sua visão sobre a sexualidade enquanto processo de desenvolvimento humano, incluindo aspectos afetivos, sociais, cognitivos e comportamentais, buscando-se sistematizar como esses jovens conceitualizam e problematizam as interfaces entre o individuo, sua sexualidade e instituições como a religião, a economia, a família e a política. Palavras-Chave: Sexualidade; Contemporaneidade; Instituições; Ideologia; Subjetivação. 250 251 2. FAMÍLIAS HOMOPARENTAIS: VIVÊNCIAS FAMILIARES E EXPERIÊNCIAS SOCIAIS Mariana de Oliveira Farias PUC-SP [email protected] Salvador Antonio Mireles Sandoval PUC-SP [email protected] A parentalidade exercida por gays e lésbicas é tema que gera opiniões controversas no Brasil, o que faz com que os membros de famílias homoparentais muitas vezes passem por situações de preconceito devido aos mitos relacionados à homossexualidade. O tema da adoção e da reprodução assistida, realizada por gays e/ou lésbicas é tema ainda de muitos questionamentos sociais e políticos no país, tendo tanto posicionamentos favoráveis, principalmente do movimento LGBT, quanto desfavoráveis, da parcela conservadora da sociedade. Compreendem-se tais questões, neste trabalho, a partir da abordagem do construcionismo social, que visa compreender atitudes relacionadas ao corpo e à sexualidade considerando historicamente as relações de poder que ditam o que se considera normal ou anormal. O objetivo deste trabalho encontrase dividido em duas etapas. Na primeira, foi realizado um estudo bibliográfico que analisou a problemática da homoparentalidade e os mitos presentes que prejudicam a relação das famílias nos diversos espaços sociais. Foram consultados três livros, três teses, duas dissertações, doze artigos científicos sobre a temática publicados no Brasil e 23 artigos estrangeiros, utilizando as seguintes palavras-chave: famílias homoparentais, famílias homoafetivas, mães lésbicas, pais gays, gay parents, lesbian mothers e gays families. Na segunda etapa, ainda em andamento, o objetivo é o de analisar vozes de membros de famílias homoparentais (pais/mães e filhos) sobre suas vivências familiares e experiências sociais. Nesta segunda etapa serão realizadas entrevistas semiestruturadas com 24 famílias homoparentais, buscando considerar diversas configurações: pais e mães em uniões estáveis ou solteiros/as, que tenham filhos do sexo masculino e/ou feminino que foram inseridos na família a partir da adoção, reprodução assistida ou advindo de relacionamentos heterossexuais anteriores. As entrevistas serão analisadas a partir da análise do discurso, considerando a construção histórica e social das vozes dos entrevistados. Os resultados do estudo bibliográfico mostrou que existem alguns mitos que mantêm o preconceito em relação a estas famílias. São eles: homossexuais tenderiam a abusar sexualmente de crianças e seriam desajustados; as crianças teriam problemas em seu desenvolvimento; as crianças sofreriam por conviver nestas famílias. Os resultados também apontam que as escolas ainda se mostram pouco preparadas para lidar com a temática, seja por falta de materiais didáticos e paradidáticos que trabalhem questões de diversidade familiar e sexual, seja pela falta de formação dos educadores para lidar com o tema. Apesar dos mitos existentes, os estudos demonstram que não há diferenças entre as crianças que convivem em famílias homoparentais ou heteroparentais em relação ao seu desenvolvimento ou vínculos estabelecidos. Porém, são poucos os estudos nacionais com membros destas famílias. O preconceito, a falta de referências positivas na sociedade e a falta de informação sobre a realidade familiar aqui estudada parecem contribuir para a existência dos mitos citados. Conclui-se que são fatores essenciais para combater o preconceito a atuação do movimento LGBT e a reflexão em relação às políticas públicas que considerem os diferentes modelos de família. Palavras-chave: Famílias Homoparentais, Homossexualidade, Preconceito, Mitos 251 252 3. OFICINA: IDENTIDADE, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL Nadylva dos Santos Guedes UEPA – Universidade do Estado do Pará [email protected] O trabalho descrito no presente texto refere-se ao projeto de educação afetivo-sexual, intitulado “Oficina Identidade, Gênero e Orientação Sexual”, desenvolvido com adolescentes de 12 a 16 anos de três escolas públicas do município de Barcarena, Pará. O objetivo principal do projeto é oportunizar aos adolescentes um espaço para reflexão e discussão do tema a partir de uma proposta interdisciplinar de fomentar o protagonismo juvenil e o posicionamento contra toda discriminação. Dividimos as ações do projeto em três etapas: Levantamento das escolas em maior vulnerabilidade social, capacitação de professores no tema e execução das oficinas. Utilizamos recursos audiovisuais (vídeo e músicas), além de reportagens de revistas e jornais. Tanto os textos quanto as atividades práticas baseiam-se nas recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais/orientação Sexual (MEC) Atualmente demanda-se uma maior discussão sobre Gênero, com a finalidade de retirar a invisibilidade das diferenças que existem entre as pessoas e que, muitas vezes ocultam discriminações. Vale ressaltar que nosso comportamento sexual é fortemente influenciado pelo modelo heterossexual dominante. Entendemos que gênero e sexualidade estão intimamente relacionados; ambos são construções históricas e sócio culturais, e o sexo talvez seja a primeira grande diferença que nos leva a dividir os seres humanos em duas categorias: machos e fêmeas. Ao transformar essa diferença em fonte de discriminação e desigualdades, abrem-se precedentes para que outras diferenças – de força física, de idade, de cor, de religião, de opinião política – sejam também hierarquizadas e transformadas em justificativas para a dominação de um sobre o outro. Nesse sentido mais que transmitir informações sobre temas, nossas oficinas buscam favorecer a educação integrada do sentir, do pensar e dos agir, bem como o desenvolvimento da competência dos adolescentes em monitorar a própria aprendizagem. Dentro dessa perspectiva, a metodologia adotada se define como vivencial, dialógica, reflexiva e proativa. Os resultados obtidos com o desenvolvimento desse trabalho inclui a atuação desses adolescentes como agentes de mudanças em suas escolas, em seus bairros e em suas comunidades, elaborando e realizando ações e projetos junto a outros adolescentes e consequentemente o empoderamento para participação direta no enfrentamento de suas vulnerabilidades. Palavras-chave: Relações de Gênero; Adolescência; Sexualidade. 252 253 4. O ARTESANATO NA DERIVA POLÍTICA DA MÃO Mônica Restelatto Raquel Alquatti Luciene Jung de Campos Universidade de Caxias do Sul [email protected] [email protected] [email protected] Esta produção deriva da pesquisa Artesanato e turismo: saberes e trocas simbólicas, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Caxias do SulPPGTur/UCS. Trata-se de uma pesquisa em zona de fronteira, abrangendo diferentes campos do conhecimento, tais como a Psicologia, o Turismo e a Arte. Articula-se no diálogo com autores que abordam trabalho, gênero, ideologia, inconsciente e deslocamento humano, tais como Marx e Engels (1998/1845-1846), Althusser (1996), Lacan (1979; 2008), Perrot (2005), Canclini (2000) Gastal e Moesch (2007). O presente recorte tece considerações sobre as ambiguidades e contradições do trabalho da mulher na posição artesã e tem como materialidade uma imagem fotográfica. A fotografia, em análise, apresenta uma mulher produzindo uma obra com linha, agulha, tesoura e tear. Ao fundo, compõe a cena, uma peça de mesma técnica artesanal, onde figura um homem em movimento de cortejo a uma mulher, ambos com trajes aristocráticos. Para realizar a análise da fotografia, toma-se o dispositivo teórico-analítico da Análise de Discurso Francesa de linha pecheutiana que trabalha com aportes teóricos da psicanálise, da linguística e do materialismo histórico. Nesta perspectiva a fotografia é tomada como um texto, enquanto unidade de análise do discurso. Esse texto é submetido a múltiplas leituras, sustentadas na desconstrução dos efeitos de evidência. A partir da análise discursiva da fotografia, produz-se uma reflexão acerca da prática artesanal feminina, compreendida como subsidiária na cadeia de produção. O artesanato – enquanto expressão artística associada às “classes populares”, muitas vezes, confinado à categoria do “folclórico”, ligado ao regional e ao tradicional, por oposição à arte contemporânea, conceitual e crítica – liga-se à construção histórica e política do feminino. Dois elementos são contundentes na fotografia: o primeiro é o gesto fora de foco, a mão da artesã em movimento, que adquire o aspecto de um borrão, de rasura simbólica do trabalho da artesã. É no movimento, sempre inacessível, se dá o ato de subversão. O segundo é a própria peça artesanal pronta e pendurada, enquanto cenário, atrás da artesã que trabalha. Peça figurativa que expõe a descontinuidade estrutural da cena entre a trabalhadora contemporânea e a nobreza de outrora. As tensões nas relações de classe e de gênero estão ao mesmo tempo expostas e negadas. A fotografia, enquanto uma linguagem, expõe o equívoco da cena social. Compreende-se que a ideologia é uma estrutura com falhas, que se por um lado aponta para a reprodução, por outro, possibilita a resistência no gesto do trabalho singular. O trabalho, enquanto via de sublimação, outorga no ato de criação a construção da resistência. Enquanto a peça, produto destinado ao consumo, atenta à estética mercantil. É na deriva do fazer que se transforma a lógica da reprodução das relações de trabalho pré-construídas. Palavras-chave: Artesanato, Mulher, Análise do Discurso, Resistência. Financiado pelo CNPq 253 254 C- EIXO CONSCIÊNCIA POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA 1. MEMÓRIA, CONSCIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA PSICOLOGIA NA USP - RIBEIRÃO PRETO Natália Amaral Antunes Alessandro Soares da Silva Leandro Amorim Rosa Universidade de São Paulo [email protected] Este estudo tem como proposta compreender os processos de inserção dos estudantes de psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, no Movimento Estudantil e como é formada a consciência política destes estudantes. Dessa forma, foi investigado como se deu a formação do ME da psicologia em Ribeirão Preto, sua organização e demandas e o que levou os estudantes a participarem ao longo da sua história. O estudante da Psicologia tem a especificidade de entrar em contato com o ME, em plena década de 60, em meio a Guerra Fria e a ‘ameaça comunista’ ao Brasil que levou ao golpe militar. Isto, porque a psicologia torna-se curso do ensino superior em 1957 e a profissão é regulamentada em 1962. Dessa forma, os estudantes entram em contato com o ME e uma constante do movimento será a questão do currículo. Foi realizada a construção da memória política do Centro Estudantil da Psicologia (CEP), acreditando que a memória é resultante das vivências e das representações dos sujeitos. Para a construção dessa memória, foram realizadas entrevistas com ex-participantes, e análises de documentos e produções do CEP, dividindo a história em décadas a partir de 60, pois a FFCLRP inicia suas atividades em 1964, até a primeira década do século XXI. Procurou-se analisar as memórias dos entrevistados sob um viés psicolítico de compreensão da relação do sujeito com o seu contexto sócio-histórico, tendo a memória não como individual, mas uma memória de um grupo. Na análise das memórias dos entrevistados foi utilizado o modelo teórico de consciência política proposto por Salvador Sandoval. O CEP é formado em 1965 com o nome de Centro de Estudos da Psicologia, constituindo um espaço onde os alunos poderiam debater questões relacionadas ao curso. No início da década de 70, ajuda na criação da Sociedade Psicologia de Ribeirão Preto e até fins dos anos 80, possui períodos de estudo da psicologia e períodos de uma atuação política em relação a universidade e a Psicologia. A partir dos anos 90, assume características que perduram até a atualidade, constituindo-se como um movimento estudantil da psicologia, um espaço desburocratizado e possibilitando o encontro dos estudantes. O CEP, na observação de sua história, nem sempre pôde ser caracterizado como um movimento estudantil, mas sim, um movimento de estudantes interessados em sua graduação e formação. A partir dos anos 90, parece tomar para si um formato de ME de forma a debater e representar os estudantes do curso. Na atualidade, o CEP se constitui de forma não hierárquica proporcionando um espaço onde os estudantes possam debater e propor ações para os acontecimentos da universidade e curso. O CEP e os estudantes que participaram do mesmo se mostraram muito distintos, em diferentes períodos. Em um período, estão próximos ao COREP e o ME da Psicologia, interessados na política da USP e na mobilização estudantil. Em outros momentos, apegado a questões mais acadêmicocientíficas, tornando-se um espaço de estudo e auxílio aos estudantes. Palavras Chaves: Memória, Movimento Estudantil da Psicologia e Consciência Política. 254 255 2. ALCOOL E POLÍTICA PÚBLICA: ANÁLISE DA ATITUDE DOS CONDUTORES SOBRE À PROIBIÇÃO DO ÁLCOOL PARA QUEM DIRIGE Vanilda Aparecida dos Santos Pontifícia Universidade Católica – São Paulo [email protected] Atualmente o trânsito é imprescindível na vida cotidiana de todas as pessoas e configura uma importante questão social, pois é responsável pelos altos índices de acidentes e mortes em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde morrem no mundo cerca de um milhão de pessoas por ano e 50 milhões sofrem algum tipo de lesão (OMS, 2004). Dentro deste contexto, a ingestão de bebidas alcoólicas seguida do ato de dirigir revela ser um fator acidentogênico e como tal, é causa de grande número de acidentes de trânsito. Em 2008, foi sancionada a lei 11705 (Lei Seca) para proibir os motoristas de dirigir depois de ingerirem bebidas alcoólicas. O objetivo geral deste estudo foi compreender quais os fatores políticos, culturais e sociais que influenciam a atitude dos condutores em relação à Lei 11.705 (Lei Seca). Para a consecução desse objetivo, partimos de uma pesquisa bibliográfica e optamos por realizar entrevistas semiestruturadas com motoristas que foram flagrados dirigindo alcoolizados e com motoristas que não dirigem após ingerirem bebidas alcoólicas. Utilizamos como referencial teórico a Teoria de Dissonância cognitiva de Leon Festinger. A referida teoria considera que atribuímos justificativas aos nossos comportamentos para reduzir o desconforto interno, especialmente quando percebemos que nos comportamos de maneira irracional ou imoral. A análise das entrevistas dos infratores e não infratores revelou que não houve diferenças significativas no posicionamento dos dois grupos ante a Lei Seca. Infratores e não infratores compartilharam do mesmo ponto de vista de crítica ao governo. Outro ponto relevante é que o descrédito em relação às leis e às ações do governo parecem ser uma justificativa para o descumprimento da lei. Em relação ao governo, todos os entrevistados mostram-se incrédulos em relação às políticas de trânsito: acham que as autoridades não estão realmente preocupadas em reduzir os acidentes quando elaboram e aprovam as leis, mas sim em arrecadar o dinheiro vindo das multas. A lei é vista pelos dois grupos como uma punição que não resolve o problema dos acidentes, porque existem maneiras de burlar a fiscalização e, além disso, existe outro problema que é a falta de fiscalização. O resultado da pesquisa apontou alguns questionamentos que discutiremos na tese de doutorado: Até que ponto o descrédito no governo alimenta a complacência com a desobediência às leis? Em que proporção a impunidade na esfera pública influencia as atitudes dos motoristas no Brasil? Em que medida a fiscalização aparece como uma questão pública, da responsabilidade do Estado e não do cidadão? Palavras-chave: Psicologia Política; lei seca; motorista; política pública. 255 256 D- EIXO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL 1. AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA NA CAPITAL POTIGUAR Cynthia de Freitas Melo Lins Universidade de Fortaleza [email protected] João Carlos Alchieri Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] João Lins de Araújo Neto Escola de Saúde Pública do Ceará [email protected] Mateus Estevam Medeiros Costa Universidade de Fortaleza [email protected] O Sistema Único de Saúde traduz-se no conjunto de ações de saúde pública, que tem a Atenção Básica como porta de acesso, operacionalizada através dos serviços de saúde oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde e, principalmente, pela Estratégia Saúde da Família (ESF). Ações que necessitam ser constantemente avaliadas, durante todo o seu processo, sob diferentes óticas. A avaliação de programas surge, portanto, como um tema multidisciplinar e multicêntrico, que envolve Saúde Pública, Saúde Coletiva e Gestão do Trabalho e da Educação. Nesse cenário, os psicólogos são convidados a se inserir, explorando a realidade da saúde pública brasileira, avaliando as políticas públicas de saúde, utilizando todo instrumental teórico e técnico da categoria, tais como conteúdos sobre relações intergrupais, crenças coletivas, atitudes, comportamentos individuais e grupais, relações de trabalho e construção de instrumentos de avaliação de comportamento. Respaldada nisso, a presente pesquisa exploratória e descritiva objetivou avaliar e caracterizar o perfil dos profissionais da ESF em Natal (RN), como forma de verificar qual a realidade desses sujeitos responsáveis por operacionalizar as ações e serviços de saúde oferecidos à população, para deste modo, verificar os aspectos positivos e negativos dessa realidade, oferecendo feedback aos gestores, na busca de melhoria das ações e políticas públicas. Para tanto, contou-se com uma amostra probabilística de 475 profissionais, que responderam um questionário estruturado, cujo os dados foram analisados através de estatística descritiva com auxilio do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows versão 20. Entre os resultados, verificou-se que os profissionais com 44,4±8,33 anos, apesar de atuarem há 16,69±8,00 anos na rede pública, possuem curta permanência na locação atual (7,38±2,83 anos), evidenciando alta rotatividade. Observou-se que 14,9% (f=71) possuem trabalhos paralelos, apesar do regime de dedicação exclusiva. Evidenciou-se ainda uma demanda de atendimento (3.108,31 famílias/equipe) superior às diretrizes. Concluindo-se que, apesar de seguir um modelo ideal, a ESF possui entraves no seu perfil de seus profissionais, que dificultam a operacionalização dos seus serviços. Palavras-chave: Saúde pública. Avaliação de programas. Estratégia Saúde da Família. Perfil profissional. Pesquisa descritiva 256 257 2. RADIOGRAFIA DOS MÉDICOS NO CEARÁ: AS POLITICAS DO GOVERNO RESOLVERAM O PROBLEMAS? Cynthia de Freitas Melo Lins [email protected] Regina Heloisa Maciel Universidade de Fortaleza [email protected] João Lins de Araújo Neto Escola de Saúde Pública do Ceará [email protected] Mateus Estevam Medeiros Costa Universidade de Fortaleza [email protected] O Sistema Único de Saúde traduz-se no conjunto de ações de saúde pública, estruturado numa pirâmide hierárquica, que tem a Atenção Básica como base de acesso. Dentro desse sistema, a Estratégia Saúde da Família (ESF) configura-se como a porta principal de acesso à Atenção Básica e eixo estruturante das políticas públicas de saúde. Observa-se, todavia, que dentre os principais entraves da ESF, constantemente denunciados pela mídia e comunidade acadêmica, está a falta de médicos. Realidade que levou o governo federal a criar dois programas com o objetivo de atrair médicos para atuarem na ESF e minimizarem essas lacunas nas ESF: o “Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica” - PROVAB (em 2011) e o “Programa mais médicos” (em 2013). Medidas que atraíram muitos médicos para o Ceará; estado destaque nos números de recepção de médicos no país: primeiro lugar no Provab (hoje com 628 médicos na ESF) e terceiro lugar no “Mais Médicos” (com 361 médicos na ESF). Diante disso, a presente pesquisa, trazendo a contribuição de psicólogos para a temática de avaliação de programas, objetivou avaliar a disponibilidade de médicos no Ceará, verificando se há defasagem de médicos e o tamanho desta, para dispor de uma quantidade ideal de médicos, com intuito de oferecer feedback aos gestores, na busca de melhoria das ações e políticas públicas. Através de uma pesquisa descritiva e exploratória foi realizado um levantamento nas bases de dados do CNES por estabelecimento e por equipe das 184 cidades do estado. Os resultados foram tabulados em dois bancos de dados (por cidade e por profissional) e foram analisados por meio de estatística descritiva, documental, com auxilio do pacote estatístico SPSS, através de uma sequência: 1) verificou-se a quantidade de médicos na ESF de cada cidade do estado; 2) a partir do tamanho populacional da cidade, analisou-se se atendia o ideal preconizado para ESF (3mil usuários/médico; 3) analisou-se a quantidade de médicos faltando em cada cidade e o total do estado. Entre os resultados, observou-se que existem no Ceará 1.786 Unidades de Saúde da Família (USFs) com 2.126 equipes, onde atuam 2.405 médicos. Identificou-se ainda que, dentre as 184 cidades do estado, 63 (34,24%) apresentam quantidade insuficiente de médicos para o seu tamanho populacional; observando-se uma demanda de usuários/ médico maior do que o recomendado (3.000 usuários/médico), e destas, 7 (3,80%) possuem demanda maior do que o limite máximo preconizado. Detectou-se, por fim, que são necessários 2.906 médicos atuando na ESF do estado para dar cobertura à população dentro do limite esperado. Como só existem 2.405, pode-se afirmar que há ainda uma defasagem de 405 médicos no estado. Pode-se concluir, portanto, que, apesar do investimento maciço do governo sobre os dois programas e alta atratividade de médico para o Ceará, ainda existe defasagem de médicos no estado, sendo necessário atrair mais médicos para a ESF, na busca da oferta de profissionais em quantidade suficiente para atendimento universal da comunidade. Palavras-chave: Políticas públicas. Avaliação de programas. Médicos. 257 258 3. AS CONTRADIÇÕES DA ASSISTÊNCIA AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: O CASO DO ALBERGUE MUNICIPAL D ENATAL Flávio Allan Soares Carmo Universidade Potiguar-UnP [email protected] Juney Paulo de Lima Universidade Potiguar-UnP [email protected] Thayse Mayra Paiva de Lima Universidade Potiguar-UnP [email protected] Rafael de Albuquerque Figueiró Universidade Potiguar-UnP [email protected] A comumente existência de sujeitos em situação de rua traz à tona a profunda desigualdade social a que estamos submersos, ancorada sob a pesada lógica capitalista, a pobreza, violência, e o preconceito muitas vezes se misturam e se fazem presentes no cotidiano desses sujeitos. Inicialmente, nas décadas de 1970 e 80, a assistência direcionada a PSR era basicamente de cunho assistencialista e filantrópico, principalmente através da Pastoral do Povo da Rua da Igreja Católica. Essas iniciativas religiosas acabaram por implantar casas de assistência e organizar movimentos de representação popular direcionados para a população em situação de rua. Apenas em 2006 foi publicado um decreto que dava início à formulação da Política Nacional de Inclusão Social da População em Situação de Rua, a qual foi composta pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Cultura, Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Justiça, Secretaria Especial de Direitos Humanos e Defensoria Pública da União, além da participação de representantes do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR), da Pastoral do Povo da Rua e do Colegiado Nacional dos Gestores Municipais da Assistência Social (CONGEMAS), representando a sociedade civil organizada. Apesar de termos algumas políticas públicas e dispositivos direcionados a essa população, inúmeros são os problemas vivenciados pelas pessoas em situação de rua na tentativa de fazer valer seus direitos. Deste modo o presente estudo tem como objetivo descrever as vivencias de indivíduos em situação de rua da cidade de Natal/RN, particularmente no que diz respeito a relação que esta população estabelece com o albergue municipal de Natal, principal equipamento destinado à assistência dessas pessoas na referida cidade. Foram realizadas entrevistas abertas com 22 pessoas em situação de rua (usuários do albergue) e observação participante do cotidiano do referido serviço durante dois meses. Os resultados mostraram que o modo de prestação de serviço do aparelho assistencial configura-se de forma totalmente contrária ao seu objetivo regulamentado na Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua, ofertando ações de caráter caritativo, e condicionado a determinados comportamentos por parte dos usuários. Além disso, chama a atenção no albergue pesquisado a instauração de regras e procedimentos rígidos de vigilância e punição semelhantes às instituições carcerárias, o que acaba transformando o aparelho assistencial em um dispositivo disciplinar e policialesco, afastando os usuários Palavras-chave: população em situação de rua; políticas públicas; albergue. 258 259 4. POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS: A CONSTRUÇÃO DE UM DEBATE NA UNIVERSIDADE. Noemi Bandeira Luiz Eduardo Gomes Góes Filho Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] Este relato de pesquisa enfoca a maneira como os acadêmicos da área da saúde da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Rondonópolis, enxergam as políticas públicas sobre drogas do Brasil, enfatizando as políticas de atenção ao usuário problemático de drogas. Diante do atual cenário político-cultural de embates e tensões ideológicas geradas em torno das relações do homem com as substâncias psicoativas, destaca-se a importância da Universidade como protagonista de debates e da produção de conhecimento em questões de relevância à conjuntura social, tais como as questões referentes ao uso problemático das drogas. O objetivo desse estudo é registrar a percepção dos acadêmicos da saúde sobre estas questões, principalmente no que tange à internação pautada pela abstinência e aos cuidados em meio aberto com estratégia de redução de danos. A metodologia tem caráter qualitativo, com a utilização dos aportes teóricos da hermenêutica dialética como diretriz para a análise do material recolhido em questionários, formulados com seis questões abertas discursivas. Para construção do referencial teórico, foram analisados artigos científicos e publicações de órgãos governamentais sobre o tema, além de o pesquisador ter frequentado as reuniões do Grupo de Estudos Sobre Drogas da Universidade durante as etapas de elaboração teórica da temática. Localizou-se, no material analisado, a polarização entre dois paradigmas nas políticas de atenção à saúde do usuário problemático de drogas. Se, por um lado, o Estado propõe uma Rede de Atenção Psicossocial equipada com dispositivos que garantem o cuidado pelo viés da redução de danos e da reinserção social e ocupacional do sujeito que faz uso excessivo de drogas, tal qual orienta a Política Nacional de Drogas de 2006; por outro lado, o Governo Federal destina investimentos aos programas que se utilizam de internações pautadas pela abstinência e isolamento social, como, por exemplo, o das comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos. Na análise dos resultados, foram formadas categorias de acordo com similaridades no conteúdo das opiniões apresentadas nos questionários aplicados. A maior parte dos acadêmicos apresentou posicionamentos contrários à internação compulsória em massa de usuários de crack em situação de rua, embora uma quantidade expressiva de estudantes tenha apresentado posicionamento favorável em relação a essa medida. A maioria não tem conhecimento sobre a Rede de Atenção Psicossocial do SUS e sobre o viés da redução de danos em tratamentos de usuários problemáticos de drogas. Este desconhecimento, entretanto, aparece com mais frequência em participantes que concordam com as medidas de internação compulsória em massa, o que permite sugestão de uma possível relação entre estas duas categorias. Palavras chave: Política Nacional sobre Drogas; Atenção Psicossocial; Toxicomanias; Redução de Danos. 259 260 5. PSICOLOGIA E AUTORITARISMO: A IMPLEMENTAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DAS UF’S DO ESTADO DA PARAÍBA E PERNAMBUCO Aléxia Thamy Gomes de Oliveira Franciele Alves dos Santos Oswaldo Hajime Yamamoto [email protected] O período autocrático burguês foi caracterizado por um momento na história do Brasil onde os militares tomaram posse do governo na data de 01 de abril de 1964 e passaram a modificar o panorama da política brasileira nas diversas esferas governamentais. Em tal cenário foram implementados os primeiros programas de pós-graduação Stricto Sensu da psicologia, os quais não ficariam excluídos dessas mudanças. Dessa forma, o que se registra da influência repressora e truculenta da ditadura implantada sobre esse sistema são perseguições às instituições de ensino e até mesmo nomeação de gente de confiança dos militares para posse de cargos em nível acadêmico. Assim, tendo em vista a influência do regime de exceção política e repressão estatal o qual atingiu até mesmo academia, este trabalho tem como objetivo fazer a explanação da influência do período autocrático burguês junto aos Programas de Pós-Graduação das universidades federais do estado da Paraíba e Pernambuco A escolha dos dois PPGs foi feita não de maneira aleatória. Este trabalho é recorte de um projeto maior intitulado “A implantação do sistema de pós-graduação em Psicologia no Brasil (1966-- 1976)” e foram escolhidos tais programas por serem pioneiros quanto a implementação de PPGs na região Nordeste do Brasil. Esta pesquisa está sendo feita a partir da análise documental do sistema de Pós-Graduação das universidades federais da Paraíba e Pernambuco. E como recorte temático para este trabalho, foi analisada a entrevista com uma das fundadoras do Programa de Pós-Graduação da UFPE. Para o embasamento teórico, foi utilizada bibliografia referente ao tema da constituição da elite burguesa e o ápice violento em formato de uma ditadura civil-militar. Foram utilizadas as obras “A Revolução Burguesa no Brasil”, do autor Florestan Fernandes e a obra “Estado e Oposição no Brasil (1964-1984)” da autora Maria Helena Moreira Alves, além de artigos científicos referentes ao tema. A análise da entrevista corrobora informações preliminares contidas na literatura utilizada sobre o tema, como por exemplo, o incentivo a programas fundamentados em abordagens quantitativas da psicologia as quais eram consideradas mais científicas entre as existentes, além de marcar a importância da expansão do foco acadêmico que se centralizava nas regiões Sul e Sudeste para o nordeste. Palavras-Chave: Ditadura; Universidade Federal da Paraíba; Universidade Federal de Pernambuco; Psicologia. 260 261 6. IDENTIDADE E VIOLÊNCIA doméstica: A ESCOLA EM FOCO Fernando César Paulino-Pereira Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Pollyane Lisita da Silva Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Wanderson dos Santos Ribeiro Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] A escola é um local de convivência de crianças e adolescentes por um espaço considerável de tempo, cerca de, no mínimo, quatro horas por dia durante cada ano letivo. Portanto, nesta convivência diária entre alunos e destes com as figuras de autoridade da escola podem surgir situações de conflito, estabelecimento de vínculos, reproduções de ideias aprendidas no ambiente familiar ou em outros espaços comunitários. Sendo assim, o contexto escolar é propício para o desenvolvimento de atividades que estimulem o pensamento crítico destas pessoas, e “a Psicologia Social Comunitária representa essa possibilidade, ou seja, as atividades comunitárias devem visar a educação e o desenvolvimento da consciência social de grupos de convivência os mais diversos” (MARTINS, 2007, p.78, 79). Partindo-se deste pressuposto é que as atividades deste projeto foram desenvolvidas, visando a problematização de questões acerca da violência a partir da realidade e dos recursos dos próprios alunos de quinto ano do ensino fundamental. O trabalho foi realizado em uma escola pública municipal da cidade de Catalão-GO. No segundo semestre de 2013 foram feitas observações, as quais consistiam em acompanhar todo o período de aula em um determinado dia, oferecendo apoio à professora quando necessário. Concomitantemente foram feitas análises do material didático-pedagógico utilizado na escola, além de leituras, fichamentos e discussões de textos relativos à prática escolar, violência doméstica, identidade e temas afins, os quais dariam embasamento para a observação e prática das atividades, acreditamos que “indagamos por que alguma coisa é como é apenas para saber melhor como aprimorar a prática” (TRIPP, 2005, p.452). Ao findar o período de observações, retornou-se à escola no primeiro semestre do ano 2014 para propor à professora as atividades elaboradas a partir do material coletado, tais como rodas de conversa, elaboração de cartazes, técnicas de grupos, dentre outros. Este trabalho buscou estudar a Violência Doméstica abrangendo a violência de gênero, a violência contra a criança e o adolescente, e, várias formas de manifestação de violência que estão presentes no convívio entre os alunos e entre alunos e professores no ambiente escolar. Também buscou estudar a relação identidade/violência, nas dimensões individuais e coletivas, identificando atitudes, cultura e valores de violência na dinâmica cotidiana dos atores envolvidos Por meio da pesquisa-ação possibilitar a concepção de valores acerca da equidade de gêneros, o respeito mútuo e a cultura de igualdade de maneira geral. Criar e manter espaços relacionais que facilitem a interiorização de atitudes, cultura e valores pacifistas inerentes à condição cidadã. O trabalho foi realizado de acordo como o método da pesquisa-ação, que conta com a intervenção do pesquisador na busca de uma melhoria para seu objeto de pesquisa, neste caso, a problematização do tema da violência doméstica, e, consequentemente a ampliação do pensamento dos alunos de quinto ano em relação à igualdade de direitos e à imposição dos papéis sociais. No decorrer dos encontros e durante as atividades realizadas com o grupo, notou-se no próprio discurso dos participantes a modificação de conceitos préconcebidos acerca da violência doméstica e as medidas preventivas para tal, ressaltando concomitantemente a importância da denúncia do agressor às autoridades competentes, fazendo-se cumprir os direitos da vítima e garantindo sua integridade moral e física. Palvras-chave: Violência Doméstica, Escola, Identidade. 261 262 7. IDENTIDADE E VIOLÊNCIA doméstica: UMA PESQUISA REALIZADA NUMA ESCOLA MUNICIPAL DE CATALÃO-GO Heitor Abadio Vicente Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Fernando César Paulino-Pereira Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Letícia R. Pacheco Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, [email protected] Neste trabalho apresentaremos os resultados de um projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do Programa Bolsas de LicenciaturaPROLICEN no curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás/ Regional Catalão. O nosso intento foi estudar a relação identidade/violência, nas dimensões individuais e coletivas, identificando atitudes, cultura e valores de violência na dinâmica cotidiana dos atores envolvidos. O trabalho contra a violência doméstica abordou não só o enfrentamento à violência contra a mulher como qualquer tipo de violência no âmbito doméstico. A violência doméstica tem características hierárquicas, ou seja, é comum nesses tipos de agressões que o agressor seja quem tenha algum tipo de força a mais que sua vitima. Entre as violências domésticas podemos citar algumas, tais como: violência verbal, psicológica, moral, física, sexual, material entre outros inúmeros tipos. O trabalho na escola teve a função de orientar alunos, de forma lúdica e simples, sobre como ocorre a violência doméstica e formas de evitar. Entre as atividades tínhamos jogos, recorte e colagens, desenhos, vídeos entre outros. Tudo isso como forma de aproximar os pesquisadores do cotidiano das crianças e jovens propiciando uma roda de conversa sobre os tipos de violência que ocorrem no lar. O projeto foi desenvolvido em duas turmas do quinto ano de uma escola municipal de Catalão/GO. Utilizamos como procedimentos metodológicos observações, levantamento, estudo e análise do material didático-pedagógico e; vivências grupais. Um instrumento valioso de trabalho utilizado foi o Diário de Campo, onde não somente narramse os fatos, mas colocam-se as impressões, observações, dúvidas e pontos relevantes para uma discussão posterior do grupo com o orientador. O diário de campo, individual e pessoal “retrata o que se olha, como se olha e o que faz (ou poderá fazer) como o que está olhando” (Pellisari, 1998). Foram realizadas três vivências nas quais levávamos materiais que auxiliassem a discussão do tema proposto, violência doméstica, mas que tivessem relação com o conteúdo que as professoras ministrariam em sala de aula e com as demandas que surgissem no grupo a partir das observações. Fizemos uso de poesias que remetessem a questão do respeito, das representações sociais de homens e mulheres, as relações de gênero e trabalhávamos estas poesias em atividades de grupo, que estimulassem a cooperação, o sentimento de pertença e consequentemente o respeito uns com os outros. Consideramos que adentrar a escola com intuito de possibilitar novos olhares acerca dos papéis cristalizados e ao mesmo tempo criar espaço para que os alunos se percebam enquanto grupo e repensem suas relações é de extrema importância na construção de novas Identidades políticas e emancipadas. Palavras-chave: Educação, Violência Doméstica, Identidade. 262 263 8. A GESTÃO PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL PARTICIPATIVA E EMPODERAMENTO CIDADÃO Alan Christi Vieira Rocha Universidade Severino Sombra Subsecretário de Prevenção à Dependência Química de Maricá – RJ [email protected] Este trabalho científico parte da articulação entre dois campos de atuação do autor. O primeiro é como professor na Universidade Severino Sombra, onde o conceito de poder e sua interface com o conceito de liderança vêm sendo tomados como objeto de estudo acadêmico, para se lecionar na graduação de Administração. O segundo é como gestor público, Subsecretário de Prevenção à Dependência Química da Secretaria de Assistência Social no município de MaricáRJ, numa perspectiva de executar um plano de gestão democrático-participativa, fomentando o exercício pleno da cidadania através da participação popular e comunitária. A justificativa para essa junção de estudo teórico-acadêmico e prática profissional, foi buscar os efeitos positivos para uma gestão pública que atinja seu objetivo maior: o cidadão, em seus aspectos individuais e coletivos. Desenvolvimento: Foram realizados o estudo e a revisão bibliográfica de diversas obras de Michel Foucault, com intuito de compreender seu conceito de poder, enquanto relação, enquanto dinâmica, enquanto potência criativa e autopoiética, tomando-o como ponto de partida para uma experiência de sua aplicação prática na gestão pública da Assistência Social, apostando numa ruptura da tendência assistencialista, gerando o empoderamento dos sujeitos às suas condições plenas de cidadania a partir do momento em que passam a ser ativos no processo de criação e execução dessas políticas públicas (objetivo geral). O problema apresentado era verificar até que ponto o conceito contemporâneo e revolucionário de poder proposto por Foucault, seria aplicável na gestão pública. Em um ano e meio de gestão pública na Subsecretaria, esse exercício de estimular a participação e intervenção direta dos usuários do SUAS, incluindo seus familiares, gerou movimentos internos e externos à Subsecretaria, como a aprovação do COMAD (Conselho Municipal de Prevenção ao uso abusivo de Álcool e Drogas); criação dos Grupos AD e do Grupo de Família (grupos reflexivos e operativos, de convivência e fortalecimento de vínculos); ampliação do Fórum Permanente de Prevenção à Dependência Química; criação dos projetos: Ações Públicas, Palestra nas Escolas, Banco de Dados em Dependência Química de Maricá, Centro de Inclusão Digital e Informativo Tribuna da Vida; e convocação da Conferência Municipal de Prevenção à Dependência Química. A implantação desses dispositivos passou a ser os objetivos específicos do projeto. Conclusão: O resultado foi a aplicação do poder como propõe Foucault “O poder é em realidade de relações, um feixe mais ou menos organizado, mais ou menos piramidado, mais ou menos coordenado, de relações” (FOUCAULT, 2001, p. 302), como base para a gestão pública, estimulando a participação crítica, política e democrática do cidadão e do usuário do SUAS no desenvolvimento de políticas públicas de assistência social para usuários de drogas. A efetividade disso foi verificada quando o número de usuários cadastrados cresceu, nesse período, de 184 para 750, com a grande maioria dessa demanda sendo espontânea e altamente participativa. Além disso, observamos a participação de mais de 70 instituições e setores de governo e da sociedade civil nos eventos e fóruns, mostrando que é possível uma gestão pública aonde o poder exercido passa a ser objeto de transformação social. Palavras-chave: poder, políticas públicas, gestão, cidadania, participação popular. 263 264 E- EIXO MEMÓRIA, VIOLÊNCIA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS 1. 50 ANOS DO GOLPE: MEMÓRIAS A RESPEITO DAS PREOCUPAÇÕES DA PSICOLOGIA DURANTE OS “ANOS DE CHUMBO” Franciele Alves dos Santos Alexia Thamy de Oliveira Candida Maria Bezerra Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] A regulamentação da psicologia como profissão ocorre em 1962, em meio à tensão política que antecedeu o golpe militar de 1964, que instaura no país um regime de exceção política e repressão estatal, o qual atingiu todas as esferas da vida, inclusive a ciência, a qual sofreu com a censura e, em muitos casos, serviu como instrumento de controle e doutrinação do regime. Em meio a tal cenário, surgem alguns questionamentos: quais as principais preocupações da psicologia como ciência e profissão na época? Tais preocupações, expressas em parte, na produção científica da área, revelam um saber a serviço do aparato ideológico dos governos militares ou revelam um posicionamento crítico com relação ao contexto da época? A partir desses questionamentos, este trabalho se propõe a investigar a produção científica na área da Psicologia no período do regime militar. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico na base de dados INDEX Psi Periódicos da literatura publicada em periódicos brasileiros sobre Psicologia e áreas afins durante a fase que é conhecida como “Anos de chumbo”, por ser a mais violenta e repressora do Regime, demarcada aqui, entre os anos de 1968, com o decreto do AI-5, e 1975, com o inicio da “abertura politica” no governo Geisel. Foram coletados 620 trabalhos, os quais foram catalogados de modo a extrair informações como: periódico no qual foi publicado, autor (es), descritores, e também, a área e subárea de conhecimento da psicologia a qual estaria hoje vinculado, conforme classificação do CNPq. Os resultados demonstram que a produção da Psicologia estava centrada principalmente na área da clínica tradicional com referenciais psicanalistas, tanto em produções teóricas, quanto em artigos mais voltados à prática. Outras temáticas recorrentes na produção são a orientação profissional, o psicodrama e a análise comportamental. Além dessas, notase também uma grande preocupação com o diagnóstico e análise psicológica a partir do uso de testes, principalmente o de Rorschach. Assim, verifica-se uma preponderância de produções com perspectivas que se aproximam de um saber fazer clássico na Psicologia, ancorando em perspectivas individualistas, ao lado de uma despreocupação com a realidade social, expressa na ausência de reflexões sobre o cenário politico, econômico e social da época. Palavras chave: Psicologia; Ditadura; Regime Militar; Material publicado. 264 265 2. ANÁLISE INSTITUCIONAL: HOLOCAUSTO BRASILEIRO Amanda Soares Cruz Bárbara Monielle Domenica de Melo Silva Universidade Federal de Goiás [email protected] [email protected] [email protected] Diante do cenário do movimento atual da reforma psiquiátrica brasileira, com a implantação de uma nova política de saúde mental pautada no modelo antimanicomial, o presente trabalho propõe uma análise institucional, sob a perspectiva de Lapassade, enquanto método de análise e reflexão da realidade social, trazendo críticas que contestam sua “natureza”, visando uma intervenção a fim de transformá-la. No caso da loucura, o isolamento, a separação entre loucos e normais, a instituição da doença mental, é considerada a instituição em si. O objeto analisado será o livro-reportagem da jornalista Daniela Arbex “Holocausto Brasileiro”, que conta com a história do maior hospital psiquiátrico do Brasil, situado na cidade mineira de Barbacena. O “Colônia” será aqui utilizado como campo de análise, em seu contexto histórico, modo de produção e formação social, em sua complexidade humana e política, compreendendo seus determinantes, assim como as denúncias descritas no livro, da experiência de desumanidade, confinamento, alienação e exploração, e das cerca de sessenta mil pessoas estimadas que perderam a vida por negligência, abandono ou tortura nas mais de cinco décadas de funcionamento do hospital, dentre as quais restam hoje menos de duzentas sobreviventes. Partindo do exposto acima tem-se como campo de intervenção a vida dos internos, enquanto grupo que ali se constituiu, submetido às imposições da organização e da instituição. O objetivo almejado é a extinção da instituição, no âmbito da ideologia, mecanismo coletivo de repressão e exclusão, além do instrumento utilizado para esse fim, a organização: o manicômio, no seu contexto de burocracia, autoritarismo e institucionalização. Seguindo o modelo de análise Standard o primeiro passo consistiu na análise da produção da demanda, que no caso do Colônia foi produzida pelo fracasso da oferta e do serviço oferecido, através da psiquiatria, pelo Estado. Serviço esse que se mostrava desumano, anacrônico e não resolvia os problemas de sua especificidade, ou contrário, produzia tais problemas. A análise aqui empreendida tomou como analisadores as pessoas que se engajaram na luta por melhores condições para os internos e como cenário a ação desses, ocorridas há décadas e por décadas. Diante do exposto identificou-se como primeiro “diagnóstico” o ambiente como enfermidade em si, ou, produtor da mesma, ao passo que se transformou em um depositário de pessoas que incomodavam a sociedade, legitimado pelo Estado como um instrumento político de repressão e dominação. Entretanto os resultados das ações empreendidas são visíveis: Barbacena conta hoje com 28 residências terapêuticas, nas quais residem 160 ex-pacientes do hospital Colônia, o que lhes confere identidade, autonomia e respeito. Embora já se tenha caminhado bastante em nível de superar a instituição, o sofrimento ainda existe. Essas mudanças ocorreram com o propósito de mudança do cenário, mas o método disciplinar permanece sem muitas transformações. Ainda existem hospitais no mesmo modelo, prevalecendo a cultura eugenista de limpeza social, colocando o portador de transtorno mental em uma condição de subumanidade. Discutir a instituição nesse âmbito, é discutir a própria cultura do estigma da loucura. Palavras-chave: organização, loucura, institucionalização 265 266 F- EIXO MÍDIA, RELIGIÃO E POLÍTICA 1. GRAFITES E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE: CARTOGRAFIA DOS MUROS DE NATAL-RN Rafael de Albuquerque Figueiró Universidade Potiguar-UnP [email protected] Lisabete Coradine Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN [email protected] Se no século XVIII a indústria foi a grande matriz para se pensar a cidade, a contemporaneidade é marcada pela comunicação, enquanto linha que delimita, dá contorno às configurações da cidade. A comunicação e o consumo são elementos que marcam o modo contemporâneo de estruturação das cidades. A comunicação que atravessa a cidade contemporânea, não é somente aquela oficial, formalizada em meios tradicionais de comunicação. Outros espaços e formas comunicacionais vem explodindo pela cidade, tornando-a cada vez mais complexa. Os grafites, as pichações, os “stencil” passam a ocupar os espaços da cidade transmitindo mensagens, ideias, ou simplesmente exibido assinaturas e marcas de determinados grupos. Nesse sentido surgem algumas questões: que comunicação é essa que vem sendo feita, inscrita nos muros da cidade? O que querem dizer aqueles que se utilizam desses recursos comunicacionais? Que processos de subjetivação estão em jogo nesse cenário? Este trabalho teve por objetivo cartografar os grafites realizados na cidade do Natal, Rio Grande do Norte (Brasil), mapeando seus efeitos e modos de subjetivação. Através do método da cartografia e utilizando a fotografia como recurso metodológico, foi possível observar que os grafites compõem discursos não hegemônicos, produzindo linhas de subjetivação capazes de disparar processos de singularização e re-semiotização dos modos de vida na cidade. A experiência de fotografar os grafites apresentados nesse trabalho, nos fez entrar em contato com uma outra Natal. Sobretudo nos fez entrar em contato com a perspectiva de uma cidade enquanto máquina produtora de subjetividade (Guattari, 1992). Subjetividade esta que encontra-se ameaçada de parilisia (idem), encontra na cidade uma possibilidade de re-singularização, de transformação das ideias e valores. Daí a importância da cidade, em sua capacidade de transformação social: “Sem transformação das mentalidades e dos hábitos coletivos haverá apenas medidas ilusórias relativas ao meio material” (Guattari, 1992, p.173). Assim, entendemos que o grafite, assim como as demais formas de expressão/comunicação,adquirem extrema importância pela capacidade de tensionar os discursos dominantes, produzindo fissuras, linhas de fuga, capazes de produzir diferentes maneiras de viver e experienciar a realidade, possibilitando o contato e a comunicação entre diferentes atores sociais, veiculando idéias que não transitam pela mídia hegemônica, produzindo assim, linhas de subjetivação diversas, capazes de disparar processos de singularização dentro do cotidiano das cidades. Palavras-chave: cidade; produção de subjetividade; grafite; cartografia. 266 267 2. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ESTADO: RELAÇÕES DE DUALIDADE Aline Aparecida Santos da Silva Franciele Alves dos Santos Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] Em 1912, na capital de Alagoas, Maceió, aconteceu um dos maiores atos de violação contra as religiões de matriz africana, tal ato ficou conhecido como a “quebra de Xangô”. A Quebra de Xangô consistiu na destruição de todos os terreiros de cultura afro-brasileira existentes na capital e espancamento de alguns pais e mães de Santo. Cem anos após esse fato, foi visto na Praia do Meio, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, duas mãos da Orixá Iemanjá arrancadas, dois anos depois, ela é mais uma vez vítima de tais intransigências e violências contra a religião. Ao tomar conhecimento dessas ações e entendendo o Estado brasileiro como laico, busco analisar alguns artigos e livros sobre intolerância religiosa e democracia. Como reconhecer as intolerâncias religiosas num Estado democrático? O intuito desta pesquisa é versar sobre intolerância, tolerância e discriminação religiosa, signos tão distantes e próximos. Partos desse questionamento de reconhecimento da intolerância dentro do Estado laico para propor a reflexão do quão são complexos os termos tolerância e intolerância. Estes perpassam caminhos tão próximos que entendê-los torna-se uma tarefa complicada, além de que ambos podem ser interpretados de forma negativa ou positiva, dependendo do modo em que são analisados. Tolerar uma religião não é garantir o seu devido respeito. Com essas informações, busco explicar as vertentes que a tolerância perpassa e uso da bibliografia produzida por autores de algumas igrejas Neopentecostais para fazer um paralelismo de tais religiões com o Estado e tornar a discussão mais didática (faço um adendo à essas religiões, pelo fato de os dados coletados nas pesquisas apontarem essas doutrinas como as que pregam mais veementemente o culto à intolerância para com as doutrinas afro-brasileira). As religiões Neopentecostais, tem em sua base e dogma, a demonização tanto das religiões africanas, quanto das que tem descendência afro, e se utilizam da bíblia cristã para firmar tais pensamentos. Se, casualmente, fosse pedido para serem retirados de seus rituais a discriminação das religiões afrobrasileiras, estaria assim, sendo perfurado um direito, o de livre culto; porém, muitas vezes as igrejas se beneficiam disso para usar de má fé tal direito. Faço uma ligação com um fato que repercutiu bastante no início do ano. Foram postados em um site de entretenimento, youtube, vídeos que claramen te denotavam ofensas ao Candomblé e Umbanda. Ao ser solicitado a retirada de tais vídeos - pedido feito pelo MPF (Ministério Público Federal) - foi dada a resposta de que não seria possível a retirada, pois, seria inferida a liberdade religiosa. Sendo assim, reporto-me em meio a discussão sobre intolerância religiosa e o papel do Brasil nesse âmbito. Religiões de matriz africana são "toleradas" em qualquer quadrante do país, mas isso não é o bastante para não sofrerem discriminação ou violência. Fato é que, enquanto as igrejas neopentecostais continuam disseminando ódio aos "demônios", mais frequentemente atacados são os terreiros. Palavras Chave: Intolerância, Neopentecostalismo, discriminação, Estado, democracia. 267 268 G- EIXO COMUNIDADE E INTERVENÇÃO SOCIAL 1. POLÍTICA E O SABER PSICOLÓGICO NO SAMU: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Mayane da Silva Fernandes Marisa Fernandes Seixas Faculdade Guanambi – FG/CESG. [email protected]/[email protected] A seguinte pesquisa é resultado da análise realizada na unidade de Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), visando analisar o atendimento préhospitalar efetivado pelo SAMU aos pacientes em surto psicótico. Mostrando a necessidade da psicologia como uma profissão de saúde de articulação ética-política de insere nesse contexto, de formar a transformar o discurso de um olhar mais humanizado para os pacientes em surto em ação governamental. PALAVRAS-CHAVE: SAMU; SURTO PSICÓTICO; PSICOLOGIA; POLITICA; INTRODUÇÃO: O estudo visa analisar o atendimento pré-hospitalar efetivado pelo SAMU aos pacientes em surto psicótico. Trazendo o profissional de psicologia em sua pratica ética-poltica inserido na SAMU a fim de trazer as reais necessidades dos pacientes em surto, articulando e organizando as demandas desse publico para que entre na agenda política. DESENVOLVIMENTO: A realidade do SAMU nos casos de emergência em situação de crise negligencia o paciente impossibilitando a probabilidade da escuta (DALMOLIM, 2006) sendo que o diálogo é o instrumento principal para se acolher e intervir esse sujeito. Observa-se a preocupação desse diálogo nos procedimentos, além da medicação abusiva e a falta de capacitação dos profissionais (AMARANTE, 2008). Sendo que o profissional de psicologia ao conhecer essa realidade trabalha juntamente com os outros profissionais de saúde inseridos no contexto, de forma a organizar e formular ações que venham adentrar no cenário político no que tange a capacitação e olhar humanizado para lidar com os pacientes em surto psicótico (CAMPOS e TEIXEIRA, 2001). OBJETIVO: Que o psicólogo insira na SAMU e articule seu saber com o resto da equipe de forma a cobrar do governo uma capacitação dos profissionais para lidar com pessoas em surto de forma mais empática e um tratamento mais humanizado. MÉTODOS: A análise de campo foi feita por duas pesquisadoras na unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) da cidade de Guanambi – Bahia. Foram entrevistados uma enfermeira e o coordenador geral da unidade. Utilizou-se para coleta de dados uma entrevista semi-estruturado, com embasamento no Exame de Avaliabilidade proposto por Joseph S. Wholey. RESULTADOS/CONCLUSÃO: A análise na unidade do SAMU traduz uma falta de relevância dada à população específica, com profissionais que se autodenominam sem preparação adequada para esse tipo de atendimento. E a psicologia inserida na SAMU deve se articular de forma a trazer um olhar mais humanizado aos pacientes em surto, de maneira que esse discurso se torne uma ação no campo político e por fim uma ação governamental, para que se consiga transforma essa realidade. 268 269 2. SERVIÇO DE PSICOLOGIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO Franciely Ozumi de Moraes Jussane Lima de Oliveira Tatiana Machiavelli Carmo Souza Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí [email protected] O presente trabalho teve por objetivo apresentar relato de experiência vivenciado no Estágio Específico em Psicologia e Processos Psicossociais I, a partir da implantação de Serviço de Psicologia no Ministério Público/Vara da Infância e Juventude da cidade de Jataí/GO, no primeiro semestre de 2014. O serviço foi criado em virtude de grande parcela dos casos atendidos pela promotoria envolverem questões sócioafetivas, como disputa de guarda, brigas familiares, conflitos envolvendo família e escola, dentre outros. O papel do psicólogo no Ministério Público, enquanto campo emergente para atuação deste profissional, é o de assegurar os direitos do indivíduo, assim como garantir o pleno exercício de sua cidadania. Na Vara da Infância e Juventude essa atuação foi voltada para os jovens e suas famílias, no sentido de auxiliá-los na resolução de seus conflitos e garantir o acesso às políticas públicas. As famílias foram encaminhadas após serem acolhidas pelo promotor e os atendimentos poderiam ocorrer no momento da urgência ou por meio de agendamento. Buscou-se atender famílias que procuravam a referida instituição auxiliando na resolução de conflitos e tendo a Psicologia Sócio-histórica como fundamentação teórica. Nesse sentido, almejava-se evitar a judicialização dos conflitos familiares e sociais, bem como amenizar o sofrimento dos sujeitos atendidos. Como metodologia de trabalho utilizou-se o plantão psicológico e a mediação familiar. No plantão, o psicólogo deve estar comprometido com a escuta e o acolhimento, sendo agente facilitador e estimulando a reorganização da família a partir dos próprios recursos. Na mediação, o papel do profissional é de restabelecer o diálogo cooperativo entre os envolvidos, ajudando-os a se ouvirem e a darem passos para a construção conjunta de novas possibilidades para suas histórias. Foi préestabelecido que seriam realizados no máximo seis atendimentos por família, caso houvesse necessidade, com duração máxima de uma hora e meia cada. Como instrumentos foram utilizadas entrevistas, intervenção lúdica, orientações, acolhimentos e ficha de dados. Foram atendidas sete famílias, no período do estágio, sendo que destas apenas três retornaram para o segundo atendimento. Através da prática de estágio pôde-se verificar a importância da inserção do psicólogo na instituição jurídica. Percebeu-se a necessidade da humanização dos serviços prestados no contexto em questão. Dificuldades foram observadas, como a morosidade do sistema judiciário, que acarreta em demora para a efetivação das ações. A prática teve grande relevância para formação acadêmica, pois proporcionou a vivência e aprendizado em um dos campos de atuação da profissão. Palavras chave: Plantão Psicológico; Psicologia Sociojurídica; Famílias. 269 270 H- EIXO CRÍTICA DA PSICOLOGIA E PSICOLOGIA CRÍTICA 1. A EDUCAÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NA PSICOLOGIA Adriano Diamarante de Oliveira Gomes Fabricio Ferreira de Carvalho Centro Universitário Cesmac Tendo em vista o percurso que a educação tem tomado, mais precisamente no ensino superior, questionar a entrada no empreendedorismo na graduação de Psicologia é imprescindível para entender como está inserido esse psicólogo e com quem, seus serviços vão estar comprometidos. O presente trabalho faz um breve percurso metodológico teórico histórico da educação e as influências do capital por meio da psicologia sócio-histórica a partir da obra do Mészáros, A educação para além do capital, que tem como fundamento o materialismo histórico dialético confrontando a noção educativa do empreendedorismo, que nega a sociabilidade do ser social e uma psicologia política e critica, pelo viés do capitalismo. Por intermédio da Psicologia sócio-histórica, que se baseia no materialismo histórico e dialético, pode-se compreender as contradições em meio às construções sociais, entendendo que tanto o momento histórico quanto as determinantes sociais fazem parte da sociabilidade do sujeito. Ao compreender o ser social, em sua condição histórica e em contínua transformação da realidade, a Psicologia deve adentrar na ontologia do ser social. Porém, para que se formule uma linha de conhecimento com o mínimo de formação política e humana, esta ciência tem como dever, abrir um diálogo amplo sobre realidade social e política, fatores esses que determinam a significação da subjetividade do ser social. Nesse parâmetro, torna-se imprescindível o entendimento sobre o neoliberalismo econômico com suas influências e transformações, sempre apoiadas por uma ciência positivista que fundamenta as possibilidades de mudança como algo naturalizado e que necessite de controle. Por estas razões, se faz necessário uma análise descomprometida com a educação capitalista, possibilitando o desnudamento do real interesse em naturalizar a educação monetária, ou seja, que tem como fundamento o materialismo histórico dialético uma educação que vise apenas incluir mão de obra e proprietários mantenedores da lógica do sistema social capitalista. A educação do empreendedorismo na lógica educacional, aponta para uma ideologia de sustentação da lógica mercadologia vigente com a institucionalização dos princípios do liberalismo na educação, tem forjado nos dias atuais a proposta de formação do Psicólogo empreendedor. O real compromisso da Psicologia e o seu caminho nas intervenções acadêmica junto à população, no âmbito psicossocial devem estar embasadas, epistemologicamente, em um processo crítico, que de certo modo, auxilie na transformação social, entendendo essa transformação como uma possibilidade de compreensão do ser, enquanto sujeito histórico, possuindo este a capacidade de provocar mudanças nas relações sociais. A necessidade de estímulos a pesquisas comprometidas com a nossa realidade, não podendo estas pesquisas ser fundamentadas por ideologias mercadológicas de ensino que descaracterizam qualquer possibilidade de transformação. No âmbito da formação, o psicólogo deve inserir em sua conduta um compromisso com a transformação social, possibilitando sempre a travessia de indivíduos para sujeitos, possuindo na educação, uma das mais primorosas áreas de comprometimento com a realidade a ser transformada. Porém uma educação que seja para além do capital. Palavras-chave: Empreendedorismo; Psicologia; Liberalismo; História da Educação. 270 271 2. A PSICOLOGIA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: UMA CRÍTICA AOS MECANISMOS REGULADORES E ESTIGMATIZANTES José Rangel de Paiva Neto Universidade Federal da Paraíba [email protected] Este estudo possui como objetivo norteador, realizar uma análise crítica sobre a conjuntura teórica e prática da psicologia na contemporaneidade, partindo da identificação do seu percurso histórico, tal como da caracterização do sistema econômico político como restringente das capacidades e possibilidades do ser humano e a relação do profissional de psicologia com este âmbito. Utilizando como subsidio metodológico a perspectiva sócio histórica; partindo da ideia de que a condição humana pauta-se na relação com os outros e com o mundo, transformando-se e transformando este mundo, a partir da atividade prática humana, o trabalho. Tendo como principais expoentes as concepções sociológicas de Karl Marx, Friederich Engels e do materialismo histórico dialético, como também de Vygotsky e Leontiev e as concepções das funções psicológicas relacionadas a observação do real. A psicologia diante de seu percurso histórico teve em sua gênese de composição como ciência propriamente dita o estudo de fenômenos psíquicos e comportamentais através de concepções cientificistas dicotômicas, baseando-se em perspectivas de tendências “internalistas” e “externalistas” (Cambaúva,2000), no entanto a adoção do modelo de ciência positivista inferiu na principal dificuldade para compreensão contextual do ser humano (Lacey,2010) em suas relações e no sistema econômico politico ideológico vigente, atingindo o profissional de psicologia na sua postura teórica e prática, proporcionando a Psicologia por diversas vezes sua utilização como instrumento de poder (Foucault, 1994), como instrumento de opressão e mecanismo regulador (Bock, 2003), ou mesmo proporcionando consequências negativas para diversos grupos. (Teo, 2011) Por outro lado vemos no sistema capitalista elementos que propiciaram a aproximação da psicologia de mecanismos individualizantes, estigmatizantes e reguladores, pois na dinâmica do modo de produção capitalista as contradições subsidiam esses meios através da acumulação de riqueza por um pequeno grupo detentor dos meios de produção e pela imensa concentração de miséria e degradação moral no polo oposto, que aliena sua força de trabalho na tentativa de reprodução. (Cruz,2010) Mais do que a desumana restrição econômica e exploração exacerbada da força de trabalho humana, este sistema também corrobora com a corrupção da personalidade por meio da divisão entre o trabalho intelectual e o físico, a segregação entre a cidade e o campo, a exploração cruel do trabalho, pobreza e a impossibilidade de um desenvolvimento livre e completo do pleno potencial humano. Construindo um processo de desapropriação do saber, mutilando as capacidades humanas e proporcionando um desenvolvimento unilateral e distorcido pela ideologia burguesa elaborada a partir dos elementos do capital. (Vygotsky,1930) A psicologia como ciência teórica e prática deve buscar a compreensão para não reforçar os elementos de exploração e opressão presentes no sistema capitalista, visualizando o sujeito como produto histórico deste, analisando criticamente o contexto durante sua atuação, não atrelando-se a modelos tautológicos, estigmatizantes, que isolam o sujeito e naturalizam todos os males que o afligem. Palavras-chave: Psicologia, Percurso histórico, Capitalismo e mecanismos reguladores. 271 272 3. TRABALHO E SUBJETIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA DE PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Amom Rodrigues de Morais Maurício Campos O presente trabalho trata de estabelecer a discussão da relação entre trabalho e subjetividade, mais precisamente no contexto da reestruturação produtiva. Entendendo o trabalho como central na vida do ser social. Pretendeu-se, a partir de um referencial teórico da Psicologia Social do Trabalho crítica, investigar a produção científica da área de Psicologia do Trabalho quanto à questão das mudanças organizacionais e as respectivas implicações na subjetividade dos trabalhadores. Nesse sentido, o objetivo foi problematizar as teorias que vem contribuindo para modificar as relações de trabalho na direção de garantir um envolvimento subjetivo cada vez maior dos trabalhadores no processo de produção. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica para verificarmos quantitativa e qualitativamente, como vem sendo abordada a relação entre trabalho e subjetividade. Pesquisou-se em dois periódicos, da área de Psicologia do Trabalho, artigos que traziam em seus resumos a temática do trabalho e da subjetividade. Foram escolhidas duas revistas científicas consideradas de maior relevância no campo da Psicologia do Trabalho, a saber, Cadernos de Psicologia Social e do Trabalho (Revista editada pela USP, difunde pesquisas na área da psicologia do trabalho e de processos organizacionais a partir da leitura da psicologia social, que apesar de apresentar artigos mais críticos o tema da reestruturação produtiva é pouco abordado); e Revista de Psicologia Organizacional do Trabalho (rPOT/UnB, que fomenta o debate crítico como consta em sua página). Observou-se que apenas 3,9% do total de artigos publicados por essas duas revistas abordam as categorias Trabalho e Subjetividade. Contabilizamos 12 artigos que tratavam da relação trabalho e subjetividade, estes foram lidos e analisados. Foi realizada uma análise de conteúdo (a partir de três categorias, Trabalho; Subjetividade; e a relação Trabalho e Subjetividade) sobre as formas de conceituação e teorização sobre a relação trabalho e subjetividade. Constatou-se que alguns artigos acabam enfatizando a relação entre a mudança nas organizações do trabalho e transformações nas formas de subjetivação do sujeito. No entanto, não foram encontradas análises detalhadas sobre a reestruturação produtiva e suas implicações subjetivas. O que justifica a necessidade de se debater a problemática aqui posta, dedicando-se por meio de mais pesquisas sobre o problema da subjetividade no contexto das atuais organizações do trabalho. O que está também relacionado à construção de um projeto éticopolítico para a Psicologia do Trabalho enquanto ciência e profissão. Projeto, pelo qual, portanto, coloca-nos o desafio de trazer contribuições sobre a relação entre trabalho e sociedade, contestando as formas contemporâneas de produção da subjetividade, bem como, tecer críticas às práticas organizacionais que tem em suas bases ideológicas um compromisso exclusivo com o lucro em detrimento do trabalhador. 272 273 I-EIXO TRABALHO, SAÚDE DO TRABALHADOR E COOPERATIVISMO 1. AS TRAMAS DO RENDAR NA SUBVERSÃO DO RENDER Bruno Simon Luciene Jung de Campos Macuri Peteffi Mônica Restelatto Raquel Alquatti Universidade de Caxias do Sul [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] O presente trabalho discute o artesanato a partir de um olhar discursivo frente às posições sociais atribuídas a este saber-fazer por uma instância do poder executivo municipal. Esta proposta é um recorte da pesquisa Artesanato e Turismo: saberes e trocas simbólicas, vinculada ao PPGTUR/UCS - Mestrado em Turismo. Esta pesquisa identifica o artesanato como manifestação cultural de uma comunidade. Busca-se indagar a respeito do saber e do fazer do trabalhador artesão, investigando sua posição social e discutindo possibilidades de autoria e de inscrição do sujeito. Este trabalho tem como objetivo discutir o jogo de forças na disputa de sentidos para o artesanato no enunciado proveniente do website da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, da cidade de Caxias do Sul. Através do dispositivo teórico metodológico da Análise do Discurso de vertente francesa, pensaremos a memória e o esquecimento enquanto um jogo de forças, inscritas em práticas. É neste entremeio que o artesanato cria uma rasura da cena capitalista, entre a resistência e a produção. O enunciado explicita o nó entre a memória e o esquecimento, onde o texto busca um resgate da “autoestima” do artesão. Neste movimento, é deslocada a responsabilidade daquilo que é subsidiário, dentro da Formação Social, através de um efeito de evidência que culpabiliza o sujeito. Explicita-se um esquecimento do Estado do lugar em que o artesão está inserido. Contudo, lembra-se da responsabilidade de guardar a tradição e de resgatar a história. A história, aqui, relacionase na afirmação do lugar da pobreza. Observamos no enunciado a marca da repetição em “estímulo a produção”, “cooperação econômica” e “geração de trabalho e renda”, causando um efeito de regularização, do artesanato como reprodução do modelo industrial, evidenciando o esquecimento do próprio fazer artesanal: o fazer executado pelo sujeito através de suas mãos, com tempo e forma imprevisíveis, único.O discurso volta-se à geração de emprego e renda. É preciso render-se à produção para pertencer. Render-se implica resistência. É no rendar que o sujeito não se deixa render. A renda é uma maneira de ser lembrado, de ficar vivo na memória, de não cair no esquecimento. Resistam, mas resistam aqui dentro. Palavras-chave: Artesanato, Análise do Discurso, Memória, Renda. 273