TCC: Danças circulares sagradas na integralidade

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TCC: Danças circulares sagradas na integralidade
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso de especialização em
“Desenvolvimento integrativo do ser: danças circulares e jogos cooperativos”,
intitulado danças circulares sagradas na integralidade do cuidado: uma história de
autoconhecimento individual e coletivo objetivou reconstruir a história do
surgimento da roda de dança circular bem como atribuir os significados pelos
integrantes na participação de oficinas sistemáticas de Danças Circulares Sagradas
em um Centro de Convivência da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas/SP.
A vinculação profissional com a região estudada antecedeu anteriormente ao
ano de 2002 quando ainda estagiaria participava das reuniões desse Centro de
Convivência para planejamento das suas ações. Ainda neste momento não
constituía-se como serviço do município, mas sim como estratégias potentes de
convivência saudável na região desde 1999, idealizado por profissionais da saúde,
assistência social, educação, cultura e principalmente por lideranças comunitárias.
Somente no final de 2002 após concurso público passei a trabalhar
efetivamente como terapeuta ocupacional no Centro de Saúde do município. Muitos
atendimentos foram realizados, participação em reuniões com a equipe e parceiros,
como também membro atuante na organização das ações do Centro de
Convivência Toninha, neste momento ainda como técnica.
A partir da necessidade de ampliação do projeto de vida de um caso clássico
da saúde mental em atendimento terapêutico ocupacional nesse Centro de Saúde,
foi criada em 2005, uma roda de dança circular na Praça dos Trabalhadores, mais
especificamente na Casa de Cultura Tainã, com objetivo inicial de favorecer suporte
sócio emocional e ampliação da comunicação verbal e não verbal através do
movimento de qualidade grupal ao caso referido.
As rodas foram sistematizadas em consonância com os atendimentos
individuais a fim de garantir a participação do mesmo. A evolução clínica obtida
desde os atendimentos domiciliares, a escuta qualificada dos familiares,
aproximação das danças circulares nos atendimentos e posteriormente os
atendimentos individuais no Centro de Saúde favoreceram a entrada, de um
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esquizofrênico recluso que apresentava corpo e mente cindidos pelo processo de
doença, em um ambiente de trocas afetivas e de novos desafios.
Há muito gostaria de poder relatar esta experiência exitosa – da transição
individual de um caso que começou a se beneficiar das estratégias adotadas do
recurso terapêutico ocupacional bem como das danças circulares, anteriormente
utilizadas exclusivamente nos atendimentos domiciliares para uma proposta de
ação coletiva para pessoas interessadas em dançar, de forma colaborativa,
proposta sugerida pelas danças circulares. Do um para o todo, e do todo para o
uno, ao poucos os objetivos foram se ampliando, assim como a participação de
novas pessoas na constituição de uma roda forte e a qualidade percebida na
melhoria da ambiência na Praça dos Trabalhadores após trabalho corporal com
qualidade.
Para apreciação da temática além dos registros imagéticos e memoriais que
foram obtidos ao longo destes seis anos foi elaborado um projeto que constituiu de
depoimentos orais de forma grupal dos participantes de maneira a compor e
valorizar versões da história do surgimento da oficina e os significados atribuídos
aos integrantes ao participarem sistematicamente das rodas de danças circulares.
Para composição dos relatos utilizei a técnica de grupo focal através de três
perguntas norteadoras como: a) quais as memórias do surgimento da roda e outras
pertinentes, b) qual o significado de participar da oficina de dança circular, e c) e
após o grupo eleger três músicas que marcaram a oficina, quais os sentimentos
atribuídos aos movimentos das danças circulares.
E como parte da técnica do grupo focal para busca de novos olhares para
pesquisa, o grupo montará uma imagem/cena para registro de uma fotografia que
melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo dançando.
Escolhi para registrar as pessoas e os dados que para esta pesquisa se
mostraram importantes, de forma diferencial, mas utilizada nas dinâmicas grupais,
um acolhimento inicial, incluindo: a) nome (identificação), o tempo que freqüenta a
oficina, c) o que eu trago para roda e d) o que eu levo da roda.
A escrita desta monografia desta maneira proporcionará um relato histórico
dos acontecimentos da roda e possibilitará demonstrar os benefícios atribuídos
pelos participantes ao realizarem a oficina de Dança Circular. Os resultados de
alguma forma contribuirão para divulgar o movimento das danças circulares como
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também demonstrar que as Práticas Alternativas e Complementares preconizadas
pelo Ministério da Saúde, mais enfaticamente desde 2006, e o jeito de fazer dos
Centros de Convivência baseado na participação igualitária dos sujeitos são
ferramentas potentes na integralidade do cuidado dos cidadãos.
APRESENTAÇÃO
As danças no meu caminho
Dançar parecia ser um verbo não reconhecido do meu vocabulário e
causava certo estranhamento ao meu corpo tímido, embora admirasse esta arte
nas outras pessoas em forma de espetáculo.
Em 1998 havia participado de um curso no espaço Brincante de
“Brincadeiras de Roda”, que havia adorado embora sentisse que faltava alguma
coisa, pois minha timidez me bloqueava e depois também participei de um encontro
para pessoas com deficiência que uma focalizadora leu a história de Môo e depois
fez duas danças circulares. Adorei o movimento, mas neste momento estava tão
impactada e extremamente emocionada de ver pessoas com tantas “limitações”
dançando juntas que eu não consegui entrar lá dentro, como a história inicial
sugeria. E como tudo estava se expandindo na minha vida, as danças circulares
sagradas aconteceram aos poucos, mas na hora certa!
Mas, foi no segundo ano de faculdade em um Congresso de Terapia
Ocupacional em Lindóia/SP, em 1999, que o encantamento de se permitir dançar
aconteceu: dançar junto apoiado em um coletivo. Ana Lúcia, terapeuta ocupacional,
e uma das autoras do Livro: Danças Circulares Sagradas: uma proposta de
educação e cura1 estava lançando o livro com direito a noite de autógrafos na
abertura do congresso. E este foi finalizado com algumas danças. A primeira
iniciática foi Ena Mythos. Ao ver aquela multidão diversa reunida com um único
objetivo – de celebrar o encontro, realizando passos tão harmoniosos e às vezes
atrapalhados, que fui literalmente fisgada pelo movimento das danças circulares.
Naquele momento não queria parar de dançar. Comprei o livro, com um belo
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O livro já havia sido lançado em 1998 com noite de autógrafos com todos os autores, mas no congresso de
terapia ocupacional, Ana Lúcia B. Da Costa foi homenageada e teve a possibilidade de divulgar melhor o
movimento das danças circulares para os terapeutas ocupacionais.
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autografo da autora que dizia “Para Denise, muitas danças em seu
caminho”, e fiquei conversando com ela e me encantando ainda mais por tudo
aquilo.
E a partir de então muitas danças circulares cruzaram o meu caminho... E é
hoje o meu caminho. Realizei diferentes vivências ao longo de quatro anos, que
acompanharam minha formação na faculdade, no entanto, não apresentavam
nenhum cunho de formação propriamente dita.
Depois de formada terapeuta ocupacional procurei realizar cursos de
formação em danças circualares, mas por diferentes motivos não foram possíveis.
Neste vai e vem que a vida nos coloca acabei prolongando a minha
formação. Mudei de cidade, assumi a responsabilidade de ser a primeira terapeuta
ocupacional do C. S. Integração após ter passado no concurso público, ampliei
serviços, fiz especialização e em 2003 me casei.
Para o dia do casamento tudo o que sabia era que teria danças circulares
como forma de celebração. Não sabia com quem e como conseguiria contato. Ao
entrar em contato com Triom Editora, indicaram Nadir Mercedes Tiveron, que
aceitou de imediato o meu convite.
Com toda a sua simpatia o casamento seguiu de forma mágica, diferenciado
e cheio de significados.
Em 2004 iniciei um curso de principiantes em danças circulares sagradas
com Renata Ramos, passei a participar sistematicamente da roda da Mirian, nossa
colega de pós, que iniciou um projeto com a Escola da Família. Neste espaço
conheci pessoas fantásticas como Janaina, Élida, Mairany, Júlia, Fernanda e Vânia.
E também conheci as rodas de dança circulares em parques de São Paulo.
Na sequencia iniciei alguns cursos com Wiliam Vale em Nazaré Paulista/SP,
como também com Innana e Tereza no mesmo local.
Em 2005 participei da tentativa de pós- graduação em danças circulares que
Uniluz
propôs com a junção dos focalizadores: Renata Ramos, Mônica
Gobertaing e Wiliam Vale.
Foi em 2005 também que iniciei o caminho da focalização ao abrir a roda de
danças circulares na Praça dos Trabalhadores, tema inspirado para escrita desta
monografia.
Também comecei a participar das Rodas no parque Ecológico organizadas
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por Mairany Gabriel em Campinas/SP e em Guarulhos/SP com Vanery.
Participei com grande emoção do Encontro Brasileiro em 2006 e lá tive o
grande prazer de conhecer Gwyn Peter, focalizadora que divide sua residência no
EUA e México, da qual obtive forte inspiração de trazer a leveza e a possibilidade
de fazer TODOS dançar na Roda.
As danças circulares me ajudaram profundamente a conduzir o mestrado e
este finalizei em 2006, mas com a demanda que ele exigiu a formação das danças
circulares ficou adormecida.
Realizei também vivencias de danças circulares com alunos de Terapia
Ocupacional como docente e convidada, bem como utilizei em grandes encontros e
eventos temáticos ao longo do meu trabalho na prefeitura de Campinas/SP.
Continuei realizando cursos de maior aprofundamento e em 2007 fiquei
grávida, mas não parei de dançar, só o fiz no final por restrições médicas. Hoje
tenho uma dançarina – Beatriz em casa que dança desde muito pequena.
Para que a roda não se extinguisse com minha licença gestante, convidei a
amiga e irmã do coração Janaina Campos para ajudar em uma formação para
estagiárias e aprimorandas de Terapia Ocupacional e um usuário da saúde mental
que se destaca pela facilidade rítmica e memória corporal, para que capacitados,
continuassem a Roda na Praça dos Trabalhadores. E assim foi: a roda cresceu e
ficou mais forte do que nunca!
Em 2008 como coordenadora do Centro de Convivência e Cooperativa
Toninha organizei uma pesquisa de opinião para saber dos benefícios das oficinas
desenvolvidas no espaço. A oficina de dança circular também foi avaliada
positivamente devido à integração que promove entre as pessoas.
Fiquei um período embalando a minha filha, muitas vezes com as músicas
de danças circulares e que também precisei ficar um período afastada das
formações.
E em 2009 ingressei no curso de pós-graduação: “Desenvolvimento
integrativo do ser: Danças Circulares e Jogos Cooperativos”, que foi um momento
mágico de encontro com amigos de alma e de muito desenvolvimento pessoal... E
a certeza de seguir o caminho como focalizadora nas danças circulares.
“O casamento acabou... mas as danças circulares ficaram!” Usei esta frase
em um módulo de formação com tom de brincadeira. Mas tem muita seriedade no
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sentido de estar no caminho certo... O das danças.
Aproximei-me novamente do Encontro Brasileiro de Danças Circulares, em
um encontro de grande nascimento e na certeza de estar dentro de uma comumunidade.
Este ano também tive o privilégio de ir ao XV Encontro Internacional de
Danças Circulares no México, organizado por Gwyn Peter que foi uma experiência
encantadora.
Enfim, as rodas na minha vida não param e este movimento leva a certeza
de estar no caminho certo... Do encontro do ser... Do encontro do outro... Do
encontro do UNO.
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CAPÍTULO I
1. Histórico das Danças Circulares Sagradas
A dança é o primeiro testemunho de comunicação criativa (WOSIEN, 2000).
A dança, assim como todas as artes, constituiu-se da necessidade de expressão
humana. Em sítios arqueológicos é possível ver pinturas rupestres representando
rodas de dança, constatando que as rodas em círculo é uma das formas mais
antigas de celebração comunitária (COSTA, 1998). Caracteriza-se como a
manifestação mais antiga do homem que leva a um caminho interior. Segundo
WOSIEN, é “(...) uma mensagem poética do mundo divino”, que em outras palavras
do autor, harmoniza corpo, espírito e alma (WOSIEN, 2000, p. 18). E para dançar
precisa-se única e exclusivamente lançar mão do seu instrumento: o corpo.
A dança é a única arte que não depende de nenhum elemento intermediário
para concretizar-se: o ser humano dançante é ao mesmo tempo criador e criação.
Segundo Wosien (2000) a dança era o modo mais natural do homem
harmonizar-se com os poderes cósmicos. O movimento rítmico seria, para o autor,
a chance para a compressão das leis que governavam as manifestações desses
poderes sedo, desta forma, um meio de estar em contato com a fonte da vida.
Para os povos antigos, integrados à natureza, a dança era uma ação
espontânea que se agregava no dia a dia no qual a comunidade marcava seu
pertencimento ao vivenciar valores e crenças. Dançar era forma de expressão da
natureza humana e as danças eram utilizadas em diferentes ocasiões: como forma
de celebração, nos diferentes ciclos de vida – nascimento, morte, entrada para
adolescência, para vida adulta e na tensão dos mistérios humanos e divino
(COSTA, 1998; OSTETTO, 2007). Dançavam assim os momentos considerados
importantes na vida: guerra, à paz, casamentos, funerais, plantação, colheita, as
estações, os ciclos da natureza, segundo GAURAUDY citado por OSTETTO em
2007, em seu livro “Dançar a vida”.
Existe uma forte relação do homem com o universo e sua Dança Cósmica
Sagrada. Assim, os movimentos circulares realizados em algumas danças
representam a expressão dos ciclos da natureza, com base na compreensão de
que o ritmo é o elemento fundamental que domina o movimento cósmico.
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Muitas técnicas corporais foram criadas ao longo da história da humanidade,
e aos poucos a experiência de dançar junto os acontecimentos foi se perdendo
para o avanço linguístico e para forma de expressão da dança clássica, rebuscada
com técnicas a serem seguidas. O palco passou a ser um local de destaque.
Saímos do natural aos incrementos de técnicas e estudos do funcionamento da
movimentação humana. Por um lado, ganhou-se em conhecimento técnico, mas
perdeu-se a alegria de poder simplesmente dançar junto. O que de certa forma
acompanhou a evolução científica. Para Wosien (2000) com o tempo foi se
perdendo cada vez mais o sentido da dança como alegria e como celebrações da
vida
Estas inquietações levaram Bernhard Wosien (1908-1986) coreógrafo
alemão/polonês a sintetizar os seus conhecimentos para criação de um movimento
que revolucionaria os conceitos artísticos da época e da atualidade: as Danças
Circulares Sagradas ou Danças Sagradas.
Bernhard Wosien nasceu em Passinheim Prússia do Leste, Alemanha.
Estudou teologia, dança, história da arte e pintura, na Universidade de Breslau e na
academia de artes em Berlim.
Para destacar o histórico das danças em especial das danças circulares
sagradas, contamos com o livro Danças: um caminho para a totalidade, de
Bernhard Wosien, que foi um marco para o fortalecimento do movimento. Começou
a esboçá-lo em 1985 quando considerou que estava com um todo precioso o
bastante para passar adiante aos seus alunos. Demonstrou a síntese de todos os
conhecimentos adquiridos na sua vida e também na sua carreira artística. Wosien
era um homem completo naquilo que se propôs a estudar e vivenciar.
Bernhard Wosien reuniu conhecimentos importantes desde aproximação na
infância com a música e danças de sua localidade, ao estudo das danças clássicas
constituindo-se em um grande bailarino da época, como também com o estudo
aprofundado desde 1962 das danças folclóricas, começando com as da Europa
Central e gradativamente expandindo para outras regiões.
Wosien já tinha passado dos 60 anos e estava procurando uma forma
orgânica de expressão de sentimentos. Aos frequentar os grupos folclóricos
percebeu a alegria, a amizade, amor, consigo e com as pessoas que dançavam
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(RAMOS, 1998). Percebeu que neste momento imperava um clima de Paz entre as
pessoas, independente dos conflitos externos que assombravam a humanidade.
Wosien comparou as danças de roda como um dialeto – é continuamente
transformado em uma encantadora evolução fonética.
Para ele são danças
originárias que apresentam fundo religioso e ritual. Segundo o autor há uma
vibração contagiante pelo “fogo maravilhoso da comunidade”. Acontece uma
liberação das energias criativas e ao mesmo tempo organizadoras.
Wosien
acrescenta que:
“(...) Na dança popular eu vivencio a essência de um povo e sua
tradução artística. Daí eu posso ler o caráter, a imagem e ao mesmo
tempo anímica, a vida e seus enraizamentos” (Wosien 2000, p. 109).
Em 1976, através de um pedido de Peter Caddy, Wosien levou para os
moradores de Findhorn uma coletânea de músicas e coreografias de dança de
roda, somando a elas uma consciência de círculo - conectando assim as pessoas
na roda. Seria esta grande contribuição de Wosien, inserir o poder do círculo nas
músicas
denominadas
folclóricas.
Trouxe
também
uma
coreografia
que
representava a Roda de Jesus dos versículos de São João (WOSIEN, 2000).
É importante destacar que a Fundação Findhorn2 uma ecovila3 formada em
1965 por Peter Caddy, Elien Caddy e Dorath Maclean já trabalhava na ‘governança
circular’, um dos preceitos das ecovilas. Neste sentido, Bernhard Wosien encontrou
um terreno fértil, ou uma mãe geradora das danças circulares, como comentou a
focalizadora Céline Lorthions (RAMOS, 1998). Implantou uma semente de um
acontecimento sagrado na dança. Na Fundação as danças trazidas por Wosien
obtiveram grande aceitação. Nasceu desta forma o que se denominou Danças
Circulares Sagradas, perpetuadas através dos tempos, na lógica da Cultura de Paz.
Com o tempo cada vez mais vinham pessoas para a comunidade e
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Segundo Wikípedia e Carlos Solano Carvalho, 1998, Findhorn Foudation, é uma Fundação em
forma de vilarejo, situada no norte da Escócia, sem fins lucrativos, onde vivem em torno de 400
pessoas de todos continentes, que mantêm uma vida comunitária e de partilha, com interesse
comum: estabelecer valores mais humanos na vida pessoal e coletiva. Desenvolvem cursos de
desenvolvimento pessoal. Foi uma das primeiras ecovilas a serem formadas, e hoje constitui uma
das mais importantes, sendo exemplo em diversas áreas como sustentabilidade, economia local e
educação holística.
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Comunidades urbanas ou rurais de pessoas que tem a intenção de integrar uma vida social
harmoniosa a um estilo de vida sustentável, (disponível no site Wikipédia. Acessado em
10/10/2011).
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dançavam as danças de roda como uma forma de meditação da dança e um
caminho para o silêncio, como ressaltava o percursor:
“(...) Ao dançar, o mundo é de novo circulado e passado de mão
em mão (…) sentimos na caminhada uma mudança através da reviravolta
conjunta (...) na atuação conjunta de ritmo, melodia e compasso, as
camadas mais antigas do fundo do poço da alma ganham vida, e como,
por um toque de mitos de outrora, fecundam criativamente o momento”
(Wosien, 2000, p. 120).
Cada vez mais Bernhard Wosien buscou os significados dos símbolos para
compreender os passos e manifestações que a dança abarca e para ele a dança
constituía-se como uma vivência harmoniosa do corpo e emoções.
Com o tempo notou que há uma passagem do singular para o comunitário, para um
estar junto em vibração.
Em Findhorn, Anna Barton, seguiu os trabalhos das danças circulares
sagradas dentro da Fundação, coordenando-os por 20 anos. E ainda hoje, as
danças sagradas são integrantes da dinâmica de Findhorn, nas quais são incluídas
em praticamente todos os programas de cursos oferecidos ao longo do ano
(CARVALHO, 1998).
As danças circulares sagradas continuaram a circular na Fundação Findhorn
e aos poucos foram repercutindo pela Europa e todo Ocidente. As danças
circulares sagradas continuaram vivas mesmo após o falecimento de seu criador
em 1986, continuando a semear o caminho das danças de meditação através da
dança, como desejava Wosien.
Findhorn continuou com a pesquisa de Wosien e existe também em paralelo
o trabalho desenvolvido por sua filha Maria-Gabrielle Wosien, coreografa e PhD em
mitologia que trás um estudo aprofundado dos símbolos através do movimento
(CARVALHO, 1998). Outra pessoa expoente para as danças circulares é a
bailarina, coreografa, e aluna de Bernhard Wosien, Freidel Klocke-Eibl, que tem
trazido
ao
movimento
criações
de
coreografias
através
de
musicas
contemporâneas que elevam a Alma.
Mas sem dúvida, acredito que as danças circulares sagradas deram um
colorido às práticas corporais por possibilitar ao mesmo tempo busca da inteireza
do Ser em seus aspectos mais simples como também o encontro, estar junto com o
Outro celebrando a vida.
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1.1. Das Danças Circulares Sagradas para as palavras: a
busca de uma definição
As Danças Sagradas, Danças Circulares Sagradas ou Danças dos Povos,
como também são denominadas, caracteriza-se por danças realizadas de mãos
dadas, com passos que vão dos mais simples aos mais elaborados, a partir de
músicas étnicas, clássicas e new age. Recupera e integra antigas formas de
expressões de diferentes povos, acrescida de novas criações, coreografias e
ritmos, que através da consciência de um centro comum favorece integração,
busca de autoconhecimento individual e grupal como também auto cura (RAMOS,
1998). E sintetiza OSTETTO (2009) o como se dança:
“(...) de mãos dadas, o grupo, voltado para o centro comum,
descreve formas variadas no espaço”. A principal e mais comum é
formação em círculo, que pode abrir-se ou fechar-se, desenhando linhas,
espirais, meandros na sua movimentação. As danças de pares são
também bastante comuns e lembram diretamente as tradicionais danças
de roda festivas (p. 179).
As Danças Circulares não enfatizam a técnica em si, mas acolhem os
possíveis erros, e incentivam os indivíduos a expressarem o que eles têm de
melhor do seu interior (RAMOS, 1998). Conforme Wosien (2000) o passo é o
símbolo essencial do bailarino. Ao se reportar às danças de roda ele acrescenta
que o passo de cada um encontra sua expressão viva nos grupos.
Wosien buscou os significados dos símbolos para compreender os passos e
suas manifestações na dança, por exemplo, caminhar para o lado esquerdo o
dançarino representa o passado e ir para a direita: o futuro. Segundo Wosien
somente no presente que podemos vivenciar o todo. O instante é o impacto de
atingir o conhecimento máximo, pois o ontem o e amanhã vivenciamos somente na
lembrança. Assim, o bailarino será exigido pela dança a sua presença mais atenta
– em sua totalidade, sendo assim o grande convite que as danças circulares nos
trazem.
Nas danças circulares sagradas quem centraliza uma ideia, ou seja, o
conhecimento das músicas, coreografia e “(...) foco de vibrações densas e sutis no
Círculo da Dança” (RAMOS, 1998, p. 190) para estas serem passadas com clareza,
calma e tranquilidade é o focalizador. O termo nasceu na Comunidade de Findhorn
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na Escócia, e que nos foi abrasileirado, como tanto outros. Segundo RAMOS
(1998) o focalizador:
“(...) vai um pouco além da simples orientação dos passos e do ritmo.
Implica na postura do orientador que se coloca como foco de atenção dos
participantes e, principalmente, como foco catalizador e expansionista de
energias mais sutis no momento da vivência, facilitando o Sagrado” (p.
10) 4.
As danças circulares sagradas empregam em sua maioria a) as músicas do
folclore dos povos, com passos originais, em sua maioria, ou seja, aqueles que
foram e continuam sendo usados pelo povo da região dos quais surgiram.
Recuperaram b) as danças étnicas, que remontam a cultura de um determinado
povo, simbolizando sua expressão musical, corporal e espiritual, e c) as músicas
coreografadas recentemente conhecidas como contemporâneas5, que são
regionais e não fazem parte do repertório de danças folclóricas e são coreografas
com um objetivo específico, levando as pessoas da roda da Dança a partilharem a
mesma atitude. Após a criação das Danças Circulares Sagradas por Wosien podese destacar focalizadores e coreógrafos importantes como Anna Barton, Peter
Vallace, Maria-Gabrielle Wosien, Anastasia Geng e tantos outros que vêm
contribuindo para enriquecer o movimento das Danças Circulares Sagradas
(RAMOS, 1998).
Assim, as danças circulares sagradas contemplam diferentes culturas,
tradições e como as da Grécia, Israel, Países Bálticos e América do Sul, entre
outros e simbologias a elas inscritas (OSTETTO, 2010).
Constituem também como legado cultural, ao possibilitar que as culturas e
tradições permaneçam vivas de forma integrada entre as pessoas de diferentes
culturas. Ao dançar, estamos ativando as expressões regionais e folclóricas dos
diversos povos e recriando/fazendo a cultura. Há possibilidade do entendimento da
cultura vivificada pelos cantos das músicas e melodias, dos ritmos, dos
instrumentos dos diversos povos.
Nas danças dos povos, como por exemplo, as danças gregas, há um
caminho do encontrar-se a si mesmo, mas também do encontrar- comunidade.
4
Referente a arte introdutória do livro, primeira página sobre a apresentação dos autores.
Conteúdos adquiridos na aula de Pós-graduação em desenvolvimento Integrativo do Ser: Danças
Circulares Sagradas e Jogos Cooperativos, promovido pela Unipaz Campinas e Faculdade campos
Elíseos de 2009 a 2011.
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Desta forma, reporta-se do passo individual para o grupal (Wosien, 2000).
“(...) Aquele que medita dançando encontra um adensamento de
seu ser em tempo não mais mensurável, no qual a força mágica da roda
se manifesta”. Quando os dançarinos se ordenam num círculo, de acordo
com a tradição, eles se dão as mãos. A mão direita torna-se que recebe e
esquerda que dá6” (Wosien, p. 29).
Wosien (2000) pesquisou as leis cósmicas na arte da dança através das
correntes das reminiscências, ou seja, dos primórdios da Dança e segundo o autor
“(…) os elementos das épocas magica, mítica, palaciana e outras, com suas
variações de estilos, continuam a viver em nossos tempos e conduzem a novas
gerações” (WOSIEN, p. 31), dando-nos a noção que estamos interligados com o
fluir da história civilizatória.
Wosien além de criar um movimento revolucionário para atualidade
colocando as pessoas em movimento de mãos dadas com o objetivo comum de
integração grupal, planetária e desenvolvimento pessoal, trouxe também para a
humanidade uma reconstrução histórica através das Dança as dimensões culturais
e tradicionais dos mais variados povos. Esta vivificação possibilitou a nós um
sentido de continuidade das gerações. Não é de se estranhar que o surgimento das
Danças circulares sagradas tenha ocorrido quando Bernhard Wosien tinha mais de
60 anos, culminando na fase, segundo Jung, de maior inteireza e integralidade do
Ser.
Esta questão se aproxima do conceito de geratividade estabelecida por
Erikson (1963) apud. Neri (2001) que, segundo Neri, é um tema de
desenvolvimento da vida adulta e velhice:
“(...) diz respeito à motivação e ao envolvimento com continuidade e
o bem-estar de indivíduos particulares, de grupos humanos, da sociedade
de modo geral e de toda a Humanidade. Sua origem é uma necessidade
interna de garantir a própria imortalidade, de ser necessário de passar o
bastão para geração seguinte, tanto no sentido biológico quanto
cultural” (NERI, 2001, p. 52).
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Os tradutores Maria Leonor Rodenbach e Raphael de Haro Júnior, do livro “Dança: um
caminho para totalidade” de Bernhard Wosien, acrescentam que no hemisfério sul, a mão direita dá
e a mão esquerda recebe.
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Para Erikson (1998), a geratividade “inclui procriatividade, produtividade e
criatividade, portanto, a geração de novos seres, novos produtos e ideais, incluindo
uma espécie de autogeração relativa ao desenvolvimento adicional da identidade”
(p. 59).
Para Céline Lorthiois assim como os cantos tradicionais e/ou juntos com eles
as danças circulares sagradas têm o poder de abarcar os costumes que se
transmitem de geração para a geração. Assim, “(...) além do seu ritmo próprio (este
ritmo que transmitimos à Terra com os pés e com o corpo), há nelas o poder do
ritmo das gerações sucessivas que as retomam” (LORTHIOIS, 1998, p. 37).
Segundo BONETTI leva-nos há transcender o Tempo e o Espaço, sendo que
suas imagens e fontes de inspiração são arquetípicas e primitivas e favorecem
entrar em contato com sentimentos e sensações registradas nos traços
encontrados na história da humanidade, e para a autora especialmente no
simbolismo mitológico (BONNETTI, 1998).
A partir de um movimento coletivo as marcas das tradições são dançadas e
acolhidas e experenciadas no círculo. O círculo é uma circunferência ininterrupta,
que simboliza a totalidade. Estabelece uma forma geométrica perfeita, na qual
todos os pontos estão na mesma distância do seu centro. E remete-nos a um
espaço igualitário de aprendizagem (BOLEN, 2003). No aspecto social, estar na
forma circular simboliza, em sua plenitude, fraternidade, igualdade e sensação de
pertencer à espécie humana.
O Círculo é a materialização da sabedoria associada aos aspectos femininos
da humanidade e correlação entre todos os seres e o planeta. Não apresenta
hierarquias e é a própria expressão de equidade. “(...) É assim que a cultura se
conduz quando ouve e aprende a partir da contribuição de todos” (BOLEN, 2003, p.
29).
Segundo Bolen (2003) há uma mandala invisível na existência de um Círculo
de Mulheres, como fonte de energia, compaixão e sabedoria. O centro é o
organizador do Círculo e da relação com as pessoas no grupo. É um local simbólico
de visão e sabedoria. O centro7 é o que torna o Círculo especial ou sagrado. E
justamente que o torna sagrado é uma parte invisível da roda que se conecta com
todas as outras do Círculo através do centro, o que possibilita certa familiaridade
Os gregos chamavam essa fonte invisível de luz e calor de Héstia a divindade feminina no centro,
Deusa da Lareira e do Templo (BOLEN, 2003).
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mesmo com pessoas estranhas no começo. Desta forma, há importância de
começar o Círculo com algo que centralize e valorizar a quietude como uma
maneira de centramento para possibilitar a chama que o alimenta. A conexão com
centro é sentida intuitivamente, é uma experiência subjetiva que nos leva a
conectar-se com o nosso centro como também com o Centro do Círculo.
Wosien (2000) acrescentou que o círculo representa uma imagem
microcósmica do espaço cósmico original. Sobrepõe ainda que é um processo de
transformação que representa o princípio da mudança.
De acordo com Mircea Eliade, no livro Sagrado e o Profano o “(...) centro é
justamente o lugar onde se efetua uma rotura de nível, onde o espaço se torna
sagrado, real por excelência” (ELIADE, 2008, p. 44).
O termo sagrado para o movimento das danças circulares não conotam um
sentido religioso, mas representa a essência da vida dos povos. Segundo
BONEETTI representa “(...) a confluência de sentimentos, pensamentos e visões de
mundo de um determinado povo, cultura e raça” (BONETTI, 1998, p. 109).
As
danças
circulares
sagradas
possibilitam
a
integração
e
resgate/reconstrução do sagrado na vida cotidiana. De acordo com NICOLESCU no
seu livro “O manifesto da Transdisciplinaridade”, o sagrado escapa da compressão
do saber, pois para ele “(...) entre o saber e a compressão há o ser” (p. 82). Para o
autor a realidade é constituinte ao mesmo tempo de Sujeito, Objeto e o Sagrado. O
autor completa ressaltando que uma sociedade viável é aquela que consegue o
equilíbrio das três facetas da Realidade. O sagrado, dentro desta ótica, faz parte
integrante da nova racionalidade (NICOLESCU, 2008). O sagrado, de acordo com
Eliade (2008) “(...) é o real por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de
vida e fecundidade” (ELIADE, 2008, p. 31).
Segundo Mircea Eliade o tempo de origem apresenta um cunho terapêutico
que é nascer de novo. “(...) a vida não pode ser reparada, mas somente recriada pela
8
repetição simbólica da cosmogonia ” (p. 75), neste sentido, o que se propõe também
as danças circulares sagradas. Ainda de acordo como o autor nas festas
8
Significado segundo dicionário da língua portuguesa Hoauiss cosmologia significa corpo de
doutrinas, princípios (religiosos, míticos ou científicos) que se ocupa em explicar a origem, o
princípio do universo; cosmogênese. 2 conjunto de teorias que propõe uma explicação para
o aparecimento e formação do sistema solar. 3. Qualquer fundamento teórico que busque
explicar a formação das galáxias a partir de um princípio primordial (Disponível em
http://educacao.uol.com.br/diconarios/, acessado em 08/10/2011).
15
encontram-se a dimensão sagrada da vida e nota-se uma repetição dos gestos
divinos. A participação no sagrado permite aos homens viver periodicamente na
presença dos deuses.
Desta maneira, o espaço sagrado é forte e significativo e conforme Eliade
(2008) ao estabelecer o tempo sagrado da origem aproxima-se o homem religioso,
tornando-o contemporâneo aos deuses. A experiência religiosa relacionada com o
simbolismo do Centro conota viver próximo dos deuses.
O Círculo, conforme Bolen (2003) vai além de uma experiência atual, pois é
uma experiência sagrada por excelência, por conter informações que estão
guardadas na imaginação e memória das pessoas como um legado da
humanidade.
Correlacionando
o
Círculo
das
Danças
Circulares
Sagradas,
eles
correspondem a muito mais que uma experiência da geração atual, é enfim uma
experiência sagrada. Essas informações já estão guardadas na imaginação e
memória das pessoas como um legado da humanidade. Outra relação existente
seria quando Bolen em 2003 expõe que estar em um Círculo nos leva a estar em
outros Círculos. Assim, a cultura de Paz que as danças circulares sagradas
promovem nos conecta a outras rodas de danças em diferentes lugares no mundo
e como também em outros momentos históricos da cultura dos povos.
1.2. O manifesto e o imanisfeto das danças circulares
Conforme discussão no item anterior, de acordo com Bolen (2003) no livro
Milionésimo Círculo há uma mandala invisível na existência de um círculo. Para ela
o Círculo intensifica a cooperação e aproxima emocionalmente as pessoas,
favorecendo um lugar igualitário de aprendizado. E complementando através de
OSTETTO (2009), a imagem de um círculo invoca equilíbrio, totalidade, integração
de diferenças e interdependência.
Desta maneira, segundo Renata Ramos, em 1998, “(...) o círculo formado
pelas pessoas de mãos dadas significa nossa vida, nosso dia a dia (...). No qual
também (...) transitamos em volta do Centro e que dele extraímos forças para viver”
(RAMOS, 1998, p. 184).
16
Wosien acrescenta que na dança o ser humano consegue exprimir todos os
altos e baixos de suas sensações. As danças sagradas equivalem como uma
oração e conversa com deus sem palavras, assim, o bailarino encontra o
reconhecimento (Wosien, 2006). Ressalta ainda, que nos tempos de irreligiosidade
geral de nosso tempo as Danças Circulares Sagradas prestam esta função de
comunhão com religioso, “sem palavras”. E ao expressar sobre o bailarino Wosien
ressalta que:
“(...) Nos exercícios diários ele constrói, dançando, a forma
movimentada do invisível, e supera sua crise existencial através da
experiência de uma transformação relativa ao ser e da elevação do seu
eu divino” (Wosien, 2001, p. 138).
As danças circulares são consideradas uma meditação em movimento, e
tem diferentes objetivos, tanto terapêuticos, como benefícios mentais e físicos,
quanto como atividade de relaxamento, diversão e integração de grupos. Ao
trabalharem o equilíbrio entre o individual e o coletivo estimulam as atitudes
cooperativas e o respeito às diferenças, já que a roda precisa de todos para
acontecer e cada um tem seu tempo de aprender.
As danças circulares sagradas apresentam um potencial curador, pois
através da forma circular e sua consciência favorecem espaço para potencializar
significados e organizar sentimentos e emoções. As formas com as quais as
coreografias vão desencadeando, aproximam-se de representações mandálicas, ou
seja, verdadeiras mandalas humanas dinâmicas, sendo o conteúdo amplamente
estudado por Jung.·.
De acordo com Wosien, as danças circulares sagradas favorecem como
propriedade dinamizadora como de diluir tensões (Wosien, 2001).
As danças circulares são polissêmicas, pois despertam novas linguagens,
ampliam repertório artístico-cultural, juntam diferente saberes. São reconhecidas
como um meio educacional funcional, pois ao mesmo tempo possibilita um
processo de autoconhecimento, pois os conteúdos falam em particular a cada
dançarino, possibilita também o reconhecimento do outro – e sua aproximação,
mesmo na diversidade9. O sujeito é despertado a integra-se com o pensar, o sentir
9
Baseado no site (HTTP://www.unipazcampinas.org.br), sobre o curso de especialização:
Desenvolvimento integrativo do Ser: danças Circulares Sagradas e Jogos Cooperativos, promovido
pela UNIPAZ e Faculdade Campos Elíseos.
17
e o agir. Aos realizar as danças circulares o sujeito é convidado a desempenhar um
movimento corporal de forma consciente, o que favorece assimilar melhor o
aprendizado.
O criador das danças circulares Bernhard Wosien (2001) no livro Dança: um
caminho para totalidade, já prenunciava que as danças são um dos meios em que
se destaca a pedagogia criativa. Traz também a dimensão lúdica, pois as
coreografias trazem um senso de bem-estar ao executá-la, ativando recursos de
nossa criança interior.
As danças circulares sagradas além de trazer a consciência para o
movimento de qualidade proporcionam melhoras em outros aspectos como: na
coordenação motora, na concentração, na flexibilidade, no seu próprio ritmo, e, por
conseguinte uma elevação na autoestima (RAMOS, 1998).
1.3. No Brasil também se dança: um pouco de história
Como toda história as danças circulares no Brasil apresentam algumas
versões para seu surgimento, mas sem deixar de cumprir os propósitos
preconizados por Wosien de pulverizá-las nos diferentes seguimentos: sejam eles
na saúde, na educação, no social e nas organizações.
No Brasil10, o mineiro Carlos Solano Carvalho foi o precursor ao vivenciar em
1984 a fonte primordial do movimento das danças circulares sagradas em Findhorn,
onde viveu por seis meses. Quando retornou para Belo Horizonte, começou a
reunir informalmente os seus amigos para dançar. E aos poucos sua paixão pela
10
Para a reconstrução história da utilização das danças circulares no Brasil foi necessário à consulta
em diferentes sites que abordam o assunto, pois ainda não existe um todo agrupado em forma de
publicação. Está sendo organizado por Renata Carvalho Lima Ramos um documentário que
retratará está história, bem como trará entrevista com Maria-Gabrielle Wosien, filha de Bernhard
Wosien que segue com uma linha do movimento das Danças Circulares Sagradas. Parte do
documentário foi apresentada no IX Encontro Brasileiro de danças Circulares Sagradas em 2010 em
Embu das Artes em São Paulo. No entanto, este documentário está na fase de edição. Utilizei para
reconstrução histórica sites como de Sirlene Barreto da Bahia, linha do tempo das danças circulares
descrito por Willian Vale de Belo Horizonte revisado e atualizado em 02/04/2009, disponível no site
http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, (acessado em 09 de setembro de 2011), ciranda de roda e
de outras informações de Renata Carvalho Lima Ramos. O principal livro que traça uma versão
histórica é Danças Circulares Sagradas uma Proposta de Educação e Cura da Editora Triom,
organizado por Renata Carvalho Lima Ramos (1998).
18
dança originou em trabalhos mais organizados através de cursos isolados, aulas
regulares e promoção de eventos (CARVALHO, 1998).
Como a história não se concretiza somente por um único fato e as versões
vão construindo um todo organizado, ao formar verdadeiros mosaicos de
acontecimentos, as danças circulares estavam circulando também desde
praticamente do surgimento do Centro de Vivências Nazaré/SP em 1981. Esta
comunidade alternativa foi construída nos moldes da ecovila de Findhorn, no norte
da Escócia. As danças passaram a ser utilizada através de gravações K7 e livretos
de 1982 a 1987, pois recebiam visitas de pessoas conhecedoras das danças
circulares, e o Centro de Vivências, passou desta forma, a experienciar a sensação
agradável de estar em roda e compartilhando-a. Duas pessoas expoentes e
moradores da comunidade foram Davi Arnaldo e Evelyn Zaydenberg11.
As danças circulares sagradas no Centro de Vivência em Nazaré Paulista
começaram a fazer parte das atividades cotidianas, sendo especificamente mais
utilizadas por Sara Marriot, ex-moradora de Findhorn, que passou a residir na
comunidade, trazendo grande conhecimento vivencial pelo fato de ter morado por
muitos anos em uma ecovila.
O Centro de Vivências em Nazaré Paulista começou também a utilizar em
1987 o material didático de Anna Barton coordenadora do programa de danças
circulares em Findhorn e introduziu em seu programa de cursos, vivências com
Carlos Solano Carvalho e desta maneira, ocorreram trocas de experiências com
David Arnaldo e Jane Vieira12.
Aos poucos o movimento das danças circulares sagradas no Brasil foi se
pulverizando por diferentes pessoas e lugares, por encontrar um terreno fértil entre
os brasileiros (RAMOS, 1998). Uma pessoa importante foi Bia Esteves que
começou a focalizar rodas de danças circulares para grupos em São Paulo e iniciou
o trabalho nos Parques também em São Paulo, em especial no parque da Água
Branca, assunto que será abordada nesta monografia adiante13.
Em 1992 Renata Carvalho Lima Ramos conheceu Finddhorn e ficou
surpreendida com que encontrou. Ela retornou a Fundação em 1993 para participar
de um treinamento das danças circulares sagradas com Anna Barton. Quando
11
Disponível em http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, acessado em 09 de setembro de 2011).
Idem a nota 11.
13
Idem a nota 12.
12
19
retornou para o Brasil, começou a ensiná-las. E somente em 1994 no Centro de
Vivências de Nazaré que Renata conheceu Carlos Solano Carvalho (RAMOS,
1998).
O movimento ganhou grande força no Brasil em 1995, ano que Renata
Carvalho Lima Ramos de São Paulo, Carlos Solano de Carvalho de Belo Horizonte
e Sirlene Barreto da Bahia, organizaram a vinda de Anna Barton, para ensinar as
danças no Brasil, indicado por May East, brasileira residente de Findhorn. Eles
estruturaram três workshops em suas cidades respectivas. Para Sirlene Barreto14
está data marca definitivamente a implantação das danças circulares no país.
De acordo com Renata Ramos em 1995 ocorreu um encontro internacional
em São Paulo chamado Imaginário no qual a brasileira residente em Findhorn May
East e o australiano Graig Gibsone também residentes à época da Fundação
focalizaram, importante momento para movimento das danças circulares no Brasil
(RAMOS, 1998).
Um episódio culminante foi à ida de 25 brasileiros para Festival dos 20 Anos
das danças Sagradas em Findhorn em julho de 1996, no qual marcou-se a
importância
do
trabalho
com
as
danças
circulares
sagradas
devido
à
responsabilidade da “(...) União dos Povos e a Comunhão das pessoas entre si e
com elas mesmas”, que lhes conferem (RAMOS, 1998, p.15).
Após o retorno do festival os brasileiros, Renata Carvalho Lima Ramos
autora e organizadora e mais 11 focalizadores: Ana Lúcia Borges da Costa, Céline
Lorthiois, Gláucia Helena Castelo Branco Rodrigues, Luiz Nogueira Arad, Marcus
Ivan Santana Sampaio, Maria Cristina de Freitas Bonetti, Maris Stella Alvares
Gabriel, Marizilda M. Rodrigues Eid, Nadir Mercedes Tiveron, Paulo Murakata,
escreveram o livro “Danças Circulares Sagradas: uma proposta de educação e
cura”, sobre as suas experiências com as danças circulares nas diferentes áreas de
trabalho. O livro foi prefaciado por Carlos Solano Carvalho precursor das danças no
Brasil, que também esteve no Festival. O livro foi lançado em 1998 pela Editora
Triom. Segundo Renata Carvalho Lima Ramos a elaboração do livro foi um
encontro com seus amigos “dançantes” para escrever sobre um tema comum que
tanto os encantavam (RAMOS, 1998).
14
Disponível em http://www.sirlenebarreto.com.br, e consultado no dia 09 de setembro de 2011.
20
Outros nomes foram importantes para o movimento das danças circulares no
Brasil e tantos outros estão surgindo para circular e harmonizar os diferentes
cantos de nosso país.
Foram criados também espaços de estudo, aprofundamento e divulgação
das danças circulares como: Triom Centro de Estudos, Semeia Dança, Dança Viva,
Ciranda da Lua entre outros15.
Segundo Sirlene Barreto em seu site16, na medida em que as danças
circulares de origem gregas, escocesas, celtas, israelitas, húngaras foram
encantando o país, as rodas brasileiras foram sentindo a necessidade de resgatar e
fortalecer as danças e cantigas sagradas estritamente brasileiras, dentre elas:
danças indígenas, cirandas, coco, samba de roda, carimbo, pau de fita, balaio,
pezinho, siriri, entre outras. Em 2005 foi organizado I Festival Vira a Dança que
para Sirlene foi um marco no fortalecimento das danças circulares brasileiras.
Para Maria Cristina Bonetti encontramos na nossa cultura raiz – a Indígena,
todo o sentimento de expressão da dança do povo brasileiro. Bonetti define que
somos “(...) a mistura de três raças e dessa base nasce a nossa Dança Sagrada.
Trazemos na formação do nosso povo os valores culturais das raízes, a Ameríndia –
cultura indígena, a Branca – cultura europeia e a Negra – cultura africana” (BONNETTI,
1998, p. 118).
Desde 2002, realiza-se sempre no feriado de Corpus Christi em São Paulo, o
Encontro Brasileiro de Danças Circulares... Sagradas, sob a organização de Rodas
dos Povos, através das focalizadoras Renata Carvalho Lima Ramos, Andreia
Leoncini e Sônia Yamashita Lima, no qual reúne pessoas de todos os cantos do
país, proporcionando uma grande troca de informações, contato e aprendizado com
focalizadores vindos de diversas partes do mundo.
A partir desta iniciativa importante para as danças circulares sagradas no
Brasil, outros encontros foram surgindo como Rodas do Sul, Encontro do Nordeste,
recentemente Encontro do Vale do Paraíba, entre outros.
Atualmente, as Danças Circulares Sagradas acontecem cada vez mais
disseminadas pelo nosso país, através de diversos focalizadores em diferentes
regiões do Brasil. E são realizadas em diferentes ocasiões como eventos temáticos,
empresas (corporativo), parques, escolas, eventos, workshop e como recurso
15
16
Grupos de meu maior conhecimento.
Disponível em http://www.sirlenebarreto.com.br, e consultado no dia 09 de setembro de 2011.
21
terapêutico possibilitando a harmonização individual e/ou grupal na busca de
autoconhecimento e auto cura (Ramos, 1998).
As pesquisas relacionadas às danças circulares sagradas estão crescendo
nas academias universitárias como: Unipaz/Faculdade Campos Elíseos, Unimonte,
Anhembi Morumbi, na Unicamp, Puc- São Paulo e Universidade Católica de Goiás,
em trabalhos de especialização, mestrado e doutorado. Os principais trabalhos
encontram-se em anexo (Anexo 4). Vale ressaltar que em 2009 ocorreu a criação
do primeiro curso de pós Graduação ligado a Unipaz e Faculdade Campos Elíseos
em danças circulares sagradas, intitulado “Desenvolvimento Integrativo do Ser:
danças circulares e jogos cooperativos”, que trouxe para o movimento das danças
circulares no Brasil mais um espaço para reflexões e expansão do movimento, que
encontra-se em anexo a teia curricular do curso (Anexo 3).
1.4.
Danças Circulares nos Parques
A prática da vivência de danças circulares em parques em áreas verdes,
mais especificamente, na cidade de São Paulo, teve início com Beatriz Esteves e
focalizadores voluntários na década de 1990 com a perspectiva de expandir, às
mais diversas pessoas e lugares, a Cultura de Paz17.
Assim o primeiro parque em São Paulo a ter sistematicamente a vivencia de
danças circulares foi o Parque da Agua Branca. E depois em 1995 que se inicia
roda no Parque Trianon também com Bia Esteves.
Em 2006 as vivências das danças integraram a programação das atividades
da UMAPAZ18, instalada no Parque do Ibirapuera, orientadas para a sensibilização
das questões socioambientais e incorporações dos valores da cultura de paz.
O sucesso dessa ação favoreceu em 2009 na proposta de descentralização
das vivências de danças circulares nos diversos parques municipais, promovido
pela UMAPAZ em parceria com o DEPAVE (Departamento de Parques e Áreas
Verdes), sob a coordenação de Estela Maria G. P. Gomes.
Em São Paulo há uma programação sistemática das danças circulares em
17
Disponível em http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, acessado em 09 de setembro de 2011).
Universidade aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, da Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente.
18
22
diversos parques. A cada domingo do mês, em sua maioria as 10 h: 00 recebe-se
um focalizador19 diferente a fim de reunir pessoas dispostas a dançar em círculo.
Por exemplo, no primeiro domingo do mês a vivência ocorre no Parque Ibirapuera,
no segundo no Parque da Luz, no terceiro no Parque Trianon e no último domingo
no Parque da Água Branca, e outros que também estão se organizando, realizando
em dias diferentes da semana.
Em Campinas/SP, segundo depoimento de Mairany Gabriel20, grande
expoente das rodas de dança circulares sagradas em nossa cidade e no Brasil,
relatou que nos anos de 2002 e 2003 ela e Maria da Glória Coelho, mais conhecida
como Góia, psicóloga da Prefeitura Municipal de Campinas, realizaram o primeiro
de curso de danças circulares com Marcos Guilherme e Paula, que moravam no
Centro de Vivências Nazaré, e após a vivência abriram a primeira Roda em
Campinas. A primeira a se formar foi no Bosque São José, permanecendo por três
anos.
Posteriormente a Góia iniciou um trabalho de comunhão de Danças
Circulares Sagradas e Movimento Vital Expressivo no Parque Ecológico.
Atualmente está iniciativa conta somente com a prática do Movimento Vital
Expressivo, realizado todos os domingos do mês.
Outra pessoa importante para o movimento das Danças Circulares Sagradas
em Campinas foi Mirian Dias Furlanetti, que iniciou Roda nas escolas em 2004, e
estas aconteciam todos os domingos do mês. O projeto estava ligado ao Programa
Escola da Família, e por muito tempo permaneceu na escola Estadual Aníbal de
Freitas e tinha grande objetivo incluir os adolescentes nas Rodas.
Estas rodas possibilitaram encontro de focalizadores e incentivaram outros
como: Mairany Gabriel, Janaina Campos, Vânia e como também me impulsionou
ao desenvolver o trabalho das Danças Circulares. Era um verdadeiro laboratório e
encontro de Almas.
A focalizadora Mirian Dias Furlanetti também realizava algumas vivências no
Parque Taquaral em Campinas, uns dos principais parques da cidade, mas estas
eram esporádicas.
Em 2005 Janaina Campos inicia rodas sistemáticas no Distrito de Barão
19
Denominação atribuída a pessoa que ensina as danças circulares.
Relatos colhidos por e-mail no mês a agosto de 2011. Organizadora Raízes e Matrizes Eventos
Culturais.
20
23
Geraldo em Campinas e vivências em alguns parques esporádicas também. No
mesmo ano forma-se a Roda tema desta monografia na Praça Esportiva dos
Trabalhadores.
No dia primeiro de maio de 2007 iniciou-se uma nova roda sistemática com
Mairany Gabriel no Ripado do Parque Ecológico, que objetivava primeiramente
realizar uma roda de meditação com Reiki e que fora um sucesso. Atualmente a
Roda acontece dentro de um salão de um restaurante desativado, todo o último
domingo de cada mês, as 10 h: 00, com participação de mais de 60 pessoas por
encontro.
Segundo Mairany Gabriel focalizadora da roda de dança circular do Parque
Ecológico, a característica que se mantem é que ela continua desenvolvendo como
se fosse uma Roda regular, pois tem preocupação com a preparação energética do
ambiente, traz sempre água com hortelã, velas, a carta dos anjos para
harmonização e também se preocupa com a finalização da Roda.
De 2009 para atualidade, a roda no Parque Ecológico apresenta em média
60 participantes a cada domingo e com a média de 30 a 40 % que nunca
dançaram. Para ela o objetivo da roda está sendo cumprindo: divulgar o movimento
das Danças Circulares Sagradas na Cidade de Campinas/SP, ao impulsionar que
outras rodas se formem, como também, segundo Mairany, o “fazer acontecer” o
primeiro curso de Pós-graduação em danças Circulares sagradas, vinculado a
UNIPAZ Campinas, que para ela está atrelada a esta Roda.
1.5. Danças circulares na saúde
Para produção de saúde efetiva há necessariamente a ampliação dos contextos
de saúde no qual os diferentes seguimentos de suporte social, emocional e
educacional se confluem para está prática (BRASIL -MS 2009). Estas proposições
no campo da saúde se aproximam da construção cientifica transdisciplinar, pois
visa agregar saberes favorecendo de forma integrativa para compreensão
abrangente da realidade em seus diferentes níveis, interagindo ao mesmo tempo
sujeito, objeto e o sagrado (NICOLESCU, 2008).
“(...) Abordagens científicas como a Transdisciplinaridade e a Visão
24
Integral vêm trazendo de forma consistente uma revisão dos paradigmas
sobre os quais se fundamenta a visão contemporânea, ou pós moderna
de realidade possibilitando novas formas de compressão do humano que
contemplam a ciência e a transcendência simultaneamente, e, portanto
nos remetendo a possibilidades transdisciplinares, transpessoais e
integrais de compreensão da vida e do homem. Tais compreensões têm
se mostrado altamente integrativas e capazes de conciliar saberes de
modo que os seres humanos possam rever suas perspectivas de vida e
vislumbrar um futuro pessoal e coletivo com sustentabilidade (BERNI,
2009, p.7).
Para Berni (2002), estudos evidenciam que a necessidade de mudança do
pensamento moderno que foram levando o homem à separação do corpo e mente
e o predomínio da racionalidade em detrimento da intuição e da sensibilidade,
reforçada pela visão científica cartesiana, levou-nos também ao distanciamento do
homem e da natureza (BERNI, 2002).
As danças circulares segundo Berni se enquadram no novo contexto de
saúde, no incentivo ao emprego de novas práticas, ou seja, novas formas de
tratamento, complementares as técnicas do homem tradicionais, e que trabalha-se
pela busca de harmonização dos ritmos e conexões energética (BERNI, 2002). E
segundo o mesmo autor em 2009, as práticas das danças circulares promovem
uma compreensão da realidade de forma mais integrativa de maneira que uma vida
com qualidade corresponde, de acordo com Berni, como uma ação de
autoconhecimento que viabilize a sustentabilidade. Este autoconhecimento é
desejável ao se utilizar os referenciais mentais, emocionais, corporais, e espirituais,
para vivenciar o presente e construir um futuro sustentável (BERNI, 2009).
A formulação em 04/04/2006 da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PNPIC) consolidada dentro do contexto nacional e
recomendada pelas OMS através de práticas anteriormente denominadas
alternativas constitui estratégias potentes para fortalecimento de um novo
paradigma: o da harmonização, do qual abrange os aspectos fiscos, emocionais,
mentais e ambientais concomitantemente.
O docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp Nelson Felice de Barros, teceu comentário em
forma de Carta sobre PNPIC, no periódico Ciências da Saúde, ressaltando que:
25
“(...) A Política, de caráter nacional, recomenda a implantação e
implementação de ações e serviços no SUS, com o objetivo de garantir a
prevenção de agravos, a promoção e a recuperação da saúde, com
ênfase na atenção básica, além de propor o cuidado continuado,
humanizado e integral em saúde, contribuindo com o aumento da
resolubilidade do sistema, com qualidade, eficácia, eficiência, segurança,
sustentabilidade, controle e participação social no uso” (BARROS, 2006,
s/n p).21
A Portaria geral n°. 3059 de 27/04/2007 da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no SUS PNPIC- SUS, mais especificamente na
cartilha de Atitude de Ampliação de Acesso, ressalta que estudos têm evidenciado
que tais abordagens contribuem para a ampliação da corresponsabilidade do
indivíduo pela sua saúde, colaborando assim para o aumento do exercício da
cidadania. Os benefícios foram demonstrados na melhora na formação de vínculos,
na ampliação da percepção dos problemas e no empoderamento das redes
pessoais e da possibilidade de resolução de situações adversas junto à
comunidade.
Estas práticas integrativas e complemetares22, como homeopática, ioga,
acupuntura, danças circulares, medicina antroposófica, movimento vital expressivo,
lian gong, entre outras, objetivam aumentar a resolutividade das práticas do
Sistema Único de Saúde - SUS, incentivar o controle e participação social e intervir
através dos diferentes níveis de realidade e em especial a promoção de saúde.
Desta maneira, as distintas abordagens configuram-se como prioritárias para o
Ministério da Saúde, tornando opções preventivas e terapêuticas do SUS.
As danças circulares dentro deste novo paradigma podem ser aplicadas em
diferentes contextos de saúde e podem ser utilizadas como oficinas de Centros de
Convivência, em grupos abertos, Unidades Básicas de Saúde, como estratégia do
NASF – Núcleo de Atenção a Saúde da Família, CAPS – Centro de Atenção
Psicossocial, hospitais, abrangentes do público do território em questão, ou
delimitado pelos profissionais de saúde, quando utilizada em cunho estritamente
21
Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/5143-8/232006000300034, acessado em 08/10/2011 no portal
Scielo.
22
Ainda não há um consenso fechado segundo Ministério da Saúde de quais práticas entram como práticas
integrativas ainda encontram-se em discussão. Em Campinas/S P a Secretaria Municipal de Saúde inclui as
danças circulares no rol das atividades saudáveis e práticas integrativas, observadas no site http://2009.
Campinas.sp.gov.br/saúde/.
26
terapêutico, para um público especifico.
Na cidade de São Paulo, as práticas corporais começaram a serem
fortemente utilizadas em 2001 nos serviços de saúde, influenciadas pelas práticas
corporais da Medicina Tradicional Chinesa (Lian Gong em 18 Terapias, Tai Chi Pai
Lin, meditação, Lien Ch’i, Xian Gong, Tai Ji Qui Gong) e atualmente as práticas
integrativas e complementares em saúde vão além, incluindo caminhada,
alongamento, relaxamento, danças circulares, shantala, entre outras. A Secretaria
Municipal de Saúde criou estratégias e vem investindo em capacitações de
profissionais. Desta maneira, as formas de mobilização corporal e comunitária,
adaptadas às necessidades e realidades de cada polo de atuação, atingem em
média 70% de equipamentos municipais de saúde (MORETTIL, ANEIDALL,
WESTPHALL, BÓGUSIV, 2009).
Em Campinas/SP, em 2001 ocorreu a criação do Projeto Corpo em
Movimento, idealizado pelo GETRIS – Grupo de Estudos e Trabalho em Terapias
Integrativas com objetivo de trabalhar a prevenção, diagnósticos e tratamento dos
transtornos
musculoesqueléticos
no
SUS
Campinas,
para
garantir
maior
empoderamento dos usuários em seu tratamento. Atualmente este projeto
transformou-se em um programa da Secretaria Municipal de Saúde, coordenado
pela área de assistência do Departamento de Saúde, especificamente na área da
Saúde Integrativa, sob a responsabilidade do médico Dr. William Hypólito
Ferreira23.
As danças circulares são ofertadas em algumas Unidades Básicas de Saúde
e Centro de Convivência, compondo a grade municipal na relação de atividades
saudáveis e práticas integrativas, grupos educativos, vivências e terapêuticas do
Programa Saúde e Movimento. Em 2008 e 2009 ocorreram cursos introdutórios de
capacitação sobre esta temática aos funcionários da saúde, distribuídos
equilibradamente entre os distritos de saúde do município para disseminação desta
prática. O curso foi ministrado por profissionais defensores destas novas práticas
na cidade de Campinas e funcionários da Prefeitura Municipal de Campinas, como
psicóloga Maria da Glória Coelho, que iniciou as práticas integrativas a mais de 10
anos em uma Unidade Básica de Saúde, como o Sistema Rio Abierto e danças
23
Matéria de Denize Dias do dia 14/11/2006, extraído no site da Prefeitura Municipal de Campinas,
disponível em: http://2009.campinas .sp.gov.br/saúde/, acessado no dia 08/10/2011.
27
circulares sagradas. Atualmente, estas atividades são desenvolvidas no Distrito de
Barão Geraldo24.
Entre os anos de 1989 a 1991 a terapeuta ocupacional Eliane Dias de Castro
(1992) utilizou a dança (sem a denominação circular) como recurso terapêutico
através de grupo aberto em um CAPS para pessoas com transtorno psíquico e
constatou que a dança e a expressão corporal constituem-se como um recurso de
autoconhecimento e expressão para pessoas que buscam auxílio psiquiátrico,
assim como os instrumentaliza para a própria vida. Em seus estudos de avaliação
processual notou melhoras nos aspectos físicos como: alterações na postura,
movimentação, respiração, cor, temperatura. Nos aspectos psíquicos destaca a
possibilidade de expressão de sentimentos, ideias, sensações, percepções e das
próprias emoções. Já nos aspectos sociais observou trocas entre o grupo,
vinculação entre as pessoas e aproximação de si mesmo.
A dança é um dos meios mais destacados da pedagogia criativa e possibilita
alto valor terapêutico, pois a dança, segundo Wosien (2000), educa o homem como
um todo. Para ele há uma interdependência e conexão entre as funções do
movimento e as funções psicofísicas. “(...) Ela exige adaptação e integração, cria
equilíbrio, dá asas à fantasia, relaxa e solta, e oferece um plano a partir do qual se
pode acessar a multiplicidade da educação” (Wosien, 2000, p. 64-5).
, Maria
Gabrile Wosien (2002) completa que nas danças de roda, a liberdade e a ligação se
equilibram e ocorre, segundo a autora, uma correção continua do balanço interno e
externo. A dança também oferece ferramenta de integração com os pares – o
encontrar-se – de – si e o encontrar-da-comunidade, ou seja, no prazer na
convivência conjunta. E segundo Wosien está no rol da formação humana.
As danças circulares sagradas também foram retratadas através de outro
lugar, em material do Jornal Folha25, na qual a jornalista foi traçando aspectos
importantes sobre os benefícios da mesma. Para enriquecer a matéria à jornalista
24
Matéria do dia 21/02/2011 da Notícias SUS Campinas – Núcleo de Comunicação da Secretaria
Municipal de Saúde de Campinas. Centro de Saúde Barão Geraldo: “Quando a dor de viver vira
doença”, extraído do site http://2009.campinas.sp.gov.br/saude/carta_da_saude/ed_14_barao.htm,
acessado em 08/10/2011.
25
Dados extraídos de matéria jornalista escritos para Jornal Folha de São Paulo na parte Equilibram
por Iara Bederman, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/740581-dancascirculares-rompem-circuito-alternativo-e-viram-moda-ate-na-noite.shtml, acessado em 08 de outubro
de 2011.
28
Iara Bederman utilizou-se de entrevistas e depoimentos de pessoas implicadas com
as danças circulares, em especial da saúde, mas sob diferentes olhares. Ressaltou
os aspectos inclusivos e coletivos proporcionados pelas danças circulares
sagradas, ressaltando a capacidade de criar vínculos e relações de solidariedade
entre os participantes.
Este aspecto embora de conteúdo social está intimamente ligado com a
saúde integral, pois estudos internacionais e nacionais apontam que a qualidade
percebida de suporte de relacionamentos tem evidenciado contribuições na saúde
e no bem-estar dos indivíduos. Assim, pessoas que sentem-se apoiadas enfrentam
melhor as condições de doenças, estresse e outras dificuldades relacionadas com
experiência de vida. Neste sentido, a qualidade de relacionamentos tem efeitos
psicológicos, afetando, por exemplo, os níveis de depressão e qualidade de vida
percebida, e efeitos físicos, associados com frequência de doenças, mortalidade e
funcionamento fisiológico (ANTONUCCI 2001).
Segundo Berni (2002) as danças circulares contribuem enquanto instrumento
de ampliação de consciência individual e grupal, sendo um canal de
desenvolvimento humano pessoal e da interação grupal.
Outro aspecto levantado na matéria jornalística, já citada, refere-se aos
conteúdos neurotransmissores, pois segundo médico psiquiatra Paulo Toledo
Machado Filho, do Instituto Sedes Sapientae em São Paulo, as danças em círculo
levam a um ritmo diferente daqueles estabelecidos pelos comportamentos
ansiosos, pois a dança circular, segundo o médico, relaxa, alterando os
neurotransmissores do estresse.
Há também através desta prática a liberação de neurohormônios, como a
endorfina, ligados à sensação de bem-estar, que são liberados pelo fator de prazer.
Desta maneira, na alegria da música, na animação do grupo, assim como na
liberação de efeitos de uma atividade cardiovascular.
Agregando outro aspecto bastante requisitado, seria o que a fisioterapeuta
Beth Gervitz relacionou na matéria, supracitada, como aspecto neuromotor, uma
vez que, ao dançar desenvolve-se bastante a bilateralidade, controle motor dos
lados esquerdo e direito do corpo sob o movimento de forma não habitual. Para ela
o movimento em roda leva ao dançante fazer o contrario de quem está a sua frente,
ou espelho do outro. A fisioterapeuta acrescenta ainda que a contagem rítmica das
29
diferentes culturas expressas nas coreografias, também favorece ao aprendizado
de movimentos corporais que eram pouco utilizadas e na medida em que os passos
se repetem essas novas informações são assimiladas gradativamente. Esta
assimilação é importante para inclusão de diferentes pessoas, que sabem ou que
nunca tiveram experiência de danças, possibilitando a inclusão de todos na roda.
Existem igualmente os benefícios extras corporais que de acordo com
Glaucia Rodrigues, do Centro de Estudos Universais, também citada na matéria
jornalística, pois o movimento circular ajuda a pessoa a se autocentrar e a se
equilibrar. Como exposto no capítulo anterior o círculo é o modelo organizador da
psique e ao materializa-lo em forma de movimento externamente, auxilia a pessoa
a se organizar internamente. O que também ressaltou BERNI (2002) que as danças
circulares do ponto de vista da dinâmica psicológica facilitam abertura para canais
de circulação de energia psíquica entre o Self e o Ego, ora de um eixo extroversor,
de dentro para fora, ora introversor, de um eixo de fora para dentro (BERNI, 2002;
2009).
Outro aspecto importante seria que as danças circulares sagradas convidam
as pessoas a estarem inteiramente na situação, sendo esta conexão entendida
como uma forma de meditação ativa, ou uma oração em movimento (BERNI, 1998,
2002).
Para Wosien (2000) a dança é simplesmente vida intensificada e há:
“(...) No jogo rigidamente regulamentado, do qual ele desenvolve
foças mágicas, na livre manifestação de sentimentos, pendulado entre
êxtase, movimento e calma, entre visão e meditação, o homem que
dança liberto pela vontade, sente o hálito da respiração universal (…). A
dança se comunica do ponto onde a respiração, a representação, a
imagem e a vivência onírica afloram e se tornam criativas, desprendidas
do plano da realidade prosaica e dos grilhões terrestres” (WOSIEN, p.
26).
Wosien (2000) acrescenta que a dança surge no silêncio, a partir da
meditação. Para o bailarino o objeto da meditação é o seu corpo. Na oração corpo
e alma participam – natureza espirito corporal, pois uma oração puramente
espiritual é adequada somente aos anjos e não aos homens. “(...) A dança também
não é uma viva imagem reminiscente – a dança é, em tempo e espaço, um signo,
um acontecimento visível, uma forma cinética para o invisível” (Op. Cit, p. 27).
30
Através dos signos a dança transmite uma tradição de interioridade objetiva na
compreensão do homem em sua totalidade. “(...) O homem vivencia na dança a
transfiguração de sua existência, uma metamorfose transcendente e seu interior,
relativa ao ser e também à elevação ao seu divino. A dança, como na forma de
uma imagem característica e móvel é o próprio sagrado (…)” (Wosien, pp. 27-8).
De acordo com BERNI (1998) a Saúde e Educação, cada vez mais estão
inclinadas para uma visão integral, e para o papel ativo que o homem tem na cura
de seus males. Para ele energia parada é doença e energia em movimento é
saúde. Dentro desta correlação, Berni apontou o significado da meditação ativa,
que seriam técnicas com foco na atenção que nos levam a realizar a conexão com
o nosso ser interior divino, através de um olhar consciente do Eu Exterior para o Eu
Interior26. Assim:
“(...) No círculo, mobilizamos uma energia poderosa, criativa e
construtiva – alegre e introspectiva – que nos traz de volta a criança
interior, a pureza no nível mais elevado de energia, que se dá através de
conexão do nosso eu Exterior como nosso eu Interior, e que nos remente
a energia Cósmica (BERNI, 1998, p. 65).
Os arquétipos da Criança e da grande Mãe também foram estudados por
ALMEIDA, (2005) e OSTETTO (2006), relacionados ao estudo das danças
circulares sagradas na saúde/psicologia e na educação através da formação de
educadores.
A terapeuta ocupacional focalizadora de danças circulares sagradas e
pesquisadora Ana Lúcia Borges da Costa foi pioneira ao empregar a técnica das
danças em 1995 em uma disciplina para alunos do terceiro ano do Curso de
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo na
qual objetivava ampliação do conhecimento de métodos e técnicas do aluno e do
desenvolvimento de análise de suas possibilidades terapêuticas, através de
vivências de expressão através da música, da dança e do teatro. Os resultados de
seu trabalho apontam que além das danças contribuírem com a reflexões de
emoções e sentimentos, também favorece um instrumento de formação grupal
através da universalização da comunicação através do movimento (COSTA, 1998).
26
Segundo Berni 1998, o Eu Exterior se traduz pela conexão com o mundo objetivo estabelecendo
relações sociais com o mundo exterior em que vivemos (Ego). Já o Eu Interior corresponde às
características mais permanentes da entidade humana (Self).
31
Neste ano (2011), Ana Lúcia Borges da Costa idealizou uma pesquisa na
área da saúde com a finalidade de validar cientificamente a importância da prática
das danças circulares. A pesquisa baseia-se em um questionário elaborado pela
pesquisadora. Para compor a pesquisa outras focalizadores convidadas farão parte
como:27 Estela Maria Gomes, Fernando C. Lima Ramos, Janete Aparecida Costa e
Nida Renata Remencius, profissionais da área da saúde do setor público e privado
da cidade de São Paulo. E para o desenvolvimento das vivências outras
focalizadoras farão parte como: Cathia Santos Bureloni, Nora Maraia S. Cortez e
Rosana Veloso, com pessoas que estejam dispostas a firmar um compromisso de
responder a este questionário padrão. Um destes grupos acontecerá no espaço da
editora Triom e através da focalização de Renata C. L. Ramos e Estela M. Gomes.
A orientadora convidada da pesquisa será a Dra. Maria Augusta Nogueira
Machado Dib, sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Secretaria Municipal de São Paulo.
A pesquisa será de grande valia para o movimento das danças circulares
sagradas ao destacar o segmento saúde, demonstrando a efetiva potência de sua
empregabilidade.
1.6.
Danças Circulares nos Centro de Convivência: uma
oficina possível
A aproximação das danças circulares com a proposta dos Centros de
Convivência demonstra-se frutífera devido aos objetivos propostos: facilitar o
encontro com o outro e consigo mesmo, ainda diante da diversidade.
Segundo Maria Cecília Galetti, terapeuta ocupacional e gestora de um Centro
de Convivência e Cooperativa em São Paulo28, os definem como dispositivos
institucionais que propiciam a invenções de novas relações entre sujeitos marcados
por histórias de “exclusão” e destes com o restante da população. E desta maneira
promovem:
27
Dados colhidos através do site do Centro de Estudos Transdisciplinares:
http://www.cetras.com.br/cursos/mod/forum/discuss php?d=217.
28
Berço dos movimentos da reforma psiquiátrica e da inovação de serviços substitutivos para
“pacientes” da saúde mental. No final da década de 80 do século passado.
32
“(...) O encontro entre as pessoas, criando condições favoráveis para
inserção e a integração dos indivíduos, isto é, colocá-los efetivamente em
cena por meio de atividades coletivas, como atividades manuais, culturais,
esportivas etc., interferindo, portanto, no cenário social” (GALETTI, 2004, p.
57).
BARROS e LOPES (2003) citam Isabel Cristina Lopes, idealizadora dos
Centros de Convivência e Cooperativa na cidade de São Paulo, na qual defende
que são espaços propícios para unir pessoas por afinidades, favorecendo a
convivência dos diferentes em um lugar comum. Apresentam um alcance
terapêutico e despertam a autonomia mediante a arte. Neste sentido, correlaciono
às danças circulares como uma prática artística que possibilitam estar com o outro
de forma igualitária, onde as pessoas se reconhecem enquanto parte importante
para constituição harmoniosa do Todo, através da ampliação da consciência
individual e coletiva.
GALETTI (2004) acrescenta que as práticas das oficinas dos Centros de
Convivência e Cooperativa, são marcadas pela hibridade, pela diversidade e
através de misturas e dos encontros, que se colocam como potentes espaços do
experimentar e efetivar a transdisciplinariedade, pois favorece a possibilidade de
experimentar as bordas e limites ao se criar outras formas de subjetividade, que de
certa forma, subvertem as formas majoritárias de assistência em saúde. Estes
projetos, segundo GALETTI favorecem mais que projetos de saúde “(...) formam
projetos de vida, entendendo a vida para além da simples ausência de doença, mas vida
como pluralidade, como inauguração de novas possibilidades, como impossibilidade de se
totalizar em modelos” (GALETTI, 2004, p. 123).
Em Campinas S/P, as experiências dos Centros de Convivência foram
diversas e apoiadas nas diversidades dos territórios e necessidades das demandas
locais. Em 2005 pela necessidade de possibilitar o encontro das pessoas que
estavam promovendo a convivência na cidade e a fim de estruturar algumas
definições e diretrizes com objetivo de estruturação de política pública para estes
dispositivos, foi criado um Fórum de Centro de Convivência municipal que definiu
estes espaços como:
“(...) Dispositivos comunitários que compõe a rede substitutiva de
saúde mental, que convida os usuários dos serviços de saúde e
comunidade geral a vivência de laços sociais e afetivos. Sendo o objetivo:
33
construir coletivamente espaços de convivência nos territórios capazes de
operar no fortalecimento de vínculos solidários, através de práticas que
promovam a cultura, educação, saúde e lazer, garantindo a singularidade
de cada um no acolhimento e desenvolvimento de potencialidades”
(Definição coletiva – produto Fórum Centro de Convivência Campinas) 29.
A prática destes dispositivos tem se mostrado um importante recurso de
produção de saúde e fortalecimento de cidadania das pessoas que lá frequentam.
Nota-se através de observações dos diferentes espaços em Campinas, um
aumento significativo das redes de suporte social, aumento na autoestima como
também maior empoderamento para autonomia e consequentemente para a
cidadania das pessoas envolvidas.
Em novembro deste corrente ano (2011) serão apresentados os resultados
de uma pesquisa de avaliação de Centros de Convivência, desenvolvida pelos
representantes do Fórum de Centro de Convivência em parceria com o Centro de
Educação dos Trabalhadores em Saúde – CETS, a fim de avaliar os efeitos das
ações oferecidas pelos Centros de Convivência aos usuários com objetivo de
legitimar os trabalhos desenvolvidos e reunir um instrumento para construção de
uma diretriz que aponte para política pública para este Serviço. Esta pesquisa
envolveu usuários, familiares, voluntários, parceiros, trabalhadores dos serviços,
gestores locais e municipais das secretarias de saúde, educação, esporte, cultura e
assistência social, para se criar minimamente um consenso deste potente espaço.
Nos Centros de Convivência e Cooperativas (CECCOS) de São Paulo a
prática também é oferecida na grade de atividades. As que eu pude tomar
conhecimento são no CECCO Vila Guarani, desenvolvida pela terapeuta
ocupacional Cathia Santos Soares Bereloni, e no CECCO Mooca realizada por
Maria Vilma Magalhães Carneiro, assistente social e por Laura Hiromi Abe no
CECCO Parque Previdência nas quais atuam de forma sistemática.
Em Campinas a prática das danças circulares em Centros de Convivência
deu-se de forma esporádica através de eventos temáticos. No entanto, a primeira
oficina sistemática de danças circulares ofertada em um Centro de Convivência foi
em 2005, que embasou o tema deste trabalho de conclusão de curso.
29
Definição apresentada no XXIV Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São
Paulo, através da apresentação de pôster.
34
Esta roda de Danças Circulares foi também à primeira oficina corporal ligada
as práticas integrativas sistematicamente oferecidas no Centro de Convivência
Toninha30, contribuindo desta forma, para sua reafirmação enquanto dispositivo
potente da rede de cuidado do Distrito de Saúde Noroeste situado na Praça dos
Trabalhadores, na cidade de Campinas/SP.
Os encontros ocorrem semanalmente com uma hora e meia de duração com
frequência crescente de participantes, que em média hoje abarca 25 dançantes. A
metodologia empregada para a oficina de Dança Circular tem por base: a) uma
dinâmica de acolhimento e harmonização grupal com utilização de cartas de
qualidades nos quais os integrantes são convidados a retirar a carta e após a
leitura relacioná-la com o seu estado atual31; e b) 4 Danças Circulares de diferentes
povos favorecendo uma intercomunição de significados, em torno de quatro a cinco
músicas e c) seguido de reflexões a cerca da experenciação corporal e
harmonização/fechamento final.
A fim de avaliar o impacto das oficinas do Centro de Convivência Toninha foi
realizada no final de 2008 uma pesquisa de opinião (Anexo 6) entre os participantes
através de perguntas estruturadas tal como: “Depois que você começou a participar
das atividades, você percebeu mudança e/ou benefícios (na saúde física, mental,
nas relações sociais, entre outras)? Quais? Na tentativa de identificar os benefícios
oriundos do trabalho de qualificação do movimento e integração proporcionada
pelas oficinas do Centro de Convivência Toninha. Outra forma de coleta de dados
foram através da avaliação processual reflexões da vivencia corporal das rodas de
dança circulares.
Nesta ocasião, o Centro de Convivência Toninha estava vivendo um novo
momento, de estruturação de serviço e a pesquisa de opinião foi importante na
ocasião para demonstrar a importância deste dispositivo para o município de
Campinas como novo espaço de articulação de saúde.
Os dados obtidos com análise da escrita dos depoentes foram apresentados
no XXIV Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo,
através da apresentação em forma de pôster, intitulada: “As danças circulares na
30
Histórico encontra-se em anexo para melhor apropriação da potencia Centro de Convivência e a
sua particularidade Anexo 5.
31
Dinâmica utilizada a partir do Livro Cartas dos Anjos: mensagens de inspiração e de meditação de
Kathy Tyler e Joy Drake. Tal dinâmica é muito utilizada pela Fundação Findhorn, na Escócia, para
desenvolvimento de trabalhos grupais.
35
integralidade do cuidado: um caminho de autoconhecimento individual e coletivo”,
realizado no período de 21 a 23 de abril de 2010, em Campinas/SP. E
posteriormente apresentado no IX Encontro Brasileiro de Danças Circulares
Sagradas em Embu das Artes/SP.
Os resultados apontam que a partir da participação nas atividades do Centro
de Convivência e Cooperativa Toninha, em especial na oficina de Dança Circular,
ocorreram melhoras nos relacionamentos sociais devido ao fato de conhecerem
novas pessoas, estreitamento de laços afetivos, o reconhecimento da singularidade
de cada participante, através da interação entre as pessoas, o que tem gerado o
sentimento de união e comunhão entre elas, assim como, a ampliação da
comunicação. “(...) Mudou (minha vida) para melhor tive mais relações com as pessoas (...) e
danço (agora) apoiada no próprio grupo”.
(Participante 1 e 2). Ressaltaram também que
as danças contribuem para um aprendizado constante e melhora psíquica, motora
(percepção corporal), e emocional favorecendo o autoconhecimento e interação do
corpo e mente. “(...) Percebi bastantes mudanças na saúde e na participação das atividades (...)
melhorou o meu emocional minha “psicoemocional” corpo em geral”
(Participante 1 e 4). Para
os integrantes a oficina tem proporcionado mudanças interiores, pois facilita a
percepção dos seus sentimentos, aumentando o sentimento de felicidade,
estimulando novas sensações e “trocas de energias”. “(...) Eu me sinto mais feliz em
todas as coisas que tive conhecimento... (consegui) esquecer as próprias dificuldades, ser feliz”
(Participante 1 e 2).
Para eles, a percepção corporal e o acolhimento coletivo e individual, geram
o prazer de estarem em grupo, pois proporciona um caráter motivacional e
sensibilizador das emoções. (...) A mudança maior foi no meu interior (...) a cada aula eu fui
permitindo e aprendendo deixar os meus sentimentos vir à tona. Hoje eu sou muito mais feliz do que
era antes”
(Participante 3). E a oficina também favorece aos integrantes valores
culturais, pelo fato das danças serem representantes de diversas localidades do
mundo. “(...) Nunca pensei em escutar uma música deste pais... E mais legal foi dançá-la”
(Participante 1).
Desta maneira, avalia-se que a oficina de dança circular tem proporcionado
aos demais frequentadores: a) o autoconhecimento através da meditação ativa,
favorecendo ao mesmo tempo relaxamento e disposição para o agir; b) a
cooperação, a integralidade, harmonia grupal e integração entre os participantes; c)
a expressão da afetividade e equilíbrio emocional; d) a melhora nos aspectos
36
cognitivos como atenção, concentração e percepção; e) o fortalecimento da
memória operativa através de vivência lúdica; f) a melhora na coordenação motora,
na lateralidade, no ritmo, nas noções de espaço e tempo e no equilíbrio; g) o
desenvolvimento do repertório musical e cultural dos participantes e h)
favorecimento da noção de grupalidade sem perder a essência da individualidade.
Outro benefício que a roda tem produzido, que, no entanto necessita maior
avaliação, seria a harmonização do ambiente e “saúde” – da Praça dos
Trabalhadores que por muito tempo tornou-se um local ocioso e propicio somente
para as práticas ilícitas. Atualmente as pessoas sentem-se mais seguras para
transitar na Praça, assim como estão mais cuidadosas com os espaços públicos
quanto a sua conservação e embelezamento. Em consonância com esta produção
localizei em Maria-Gabrille Wosein uma aproximação dos achados na qual
destaque que “(...) o ser humano que se conecta novamente ao centro de vida pela
vivência da dança na comunidade, pode, enquanto transformador, atuar sobre o seu
ambiente, aprimorando-o” (Wosien, M-G., 2002, p. 66).
1. 7. De uma intervenção individual a uma proposta coletiva:
danças circulares sagradas como potente recurso... Um
pouco de histórias
É possível um objetivo do atendimento terapêutico ocupacional individual se
tornar em um instrumento de favorecimento coletivo?
A princípio a pergunta parece deslocada de contexto e fora da realidade
cotidiana dos atendimentos propostos em saúde mental. A desconexão nos remete
a imagem de uma pessoa esquizofrênica e foi exatamente está predefinição que
me direcionou a uma abordagem terapêutica ao caso que irei relatar.
Em janeiro de 2004 estava com horas expandida devido também a vinculação
com outra forma de contrato, Puc- Campinas, pois estava neste período fazendo a
cobertura de férias da docente da universidade que fazia supervisão a alunos de
terapia ocupacional na mesma unidade onde estava lotada na prefeitura.
O primeiro caso para acompanhamento foi de W.V, na época com 34 anos com
diagnóstico psiquiátrico de esquizofrenia paranoide. O acompanhamento do caso
37
havia sido uma solicitação do Centro de Atenção Psicossocial da região, serviço de
parceria estreita com Centro de Saúde em questão, pois desde sua inserção no
serviço poucos manejos foram possíveis ao longo de 10 anos, pois o usuário não
aceitava qualquer tipo de aproximação e já havia passado por inúmeras
internações psiquiátricas traumáticas.
A esquizofrenia segundo site de psiquiatria geral é um severo transtorno do
funcionamento cerebral que caracteriza-se como:
“(...) essencialmente definido pela presença de diversos sintomas entre um
grupo de sintomas característicos, acompanhados por uma deterioração
funcional significativa durante um período de tempo relativamente longo e
constante (variando de 1 a 6 meses, dependendo da definição que está sendo
usada). Em geral, os sintomas característicos permanecem por muito mais tempo
e, muitas vezes, alguns persistem pelo resto da vida da pessoa. A combinação
de incapacitação significativa, que começa cedo na vida, com a cronicidade da
doença tornam a esquizofrenia um distúrbio particularmente trágico para muitas
pessoas. Ademais, ela é bastante comum, ocorrendo entre 0,5 a 1% da
população. Esta combinação de características – comum, severa e pervasiva em
seus efeitos – torna a esquizofrenia “o câncer da psiquiatria” .(...) Comumente, os
sintomas
positivos
incluem
delírios,
alucinações,
fala
desorganizada
e
comportamento desorganizado e bizarro. Estes sintomas representam distorções
ou exageros das funções cognitivas ou emocionais normais. Enquanto os
sintomas positivos da esquizofrenia são, muitas vezes, exuberantes e atraem a
atenção para a doença do paciente, os sintomas negativos tendem a prejudicar a
capacidade da pessoa de levar uma vida cotidiana normal. Estes sintomas
tendem a impedir que os pacientes esquizofrênicos mantenham relacionamentos
familiares normais, frequentem escolas, mantenham um emprego ou formem
amizades e relacionamentos íntimos (NICOLAU, P.F, s/ ano, Disponível em
http://www.psiquiatriageral.com.br/esquizofrenia/aprendendo01htm> Acesso em
23 de out. de 2011).
Diante de um cenário nada propício e taxativo de impossibilidades, me
aventurei sem predefinições e estratégias para abordagem do caso. Embora
soubesse como profissional da saúde mental as complicações e dificuldades na
abordagem terapêutica diante do caso. No entanto, não foi esse norte que me
conduziu até a casa de W. V.
No contato prévio com sua mãe para marcação da consulta domiciliar fui
orientada que nenhuma abordagem com seu filho tinham dado certo, mas se eu
quisesse tentar, não seria ela que iria impedir. Mesmo ainda com está negativa, eu
38
estava disposta a achar alguma brecha de possibilidade, pois estava sendo guiada
pela crença do potencial de desenvolvimento humano que toda pessoa abarca.
Ao chegar ao seu domicílio fui recebida por L.V, mãe do caso referido, que
disse que o mesmo estava no quarto e se recusava a sair. Aos poucos fui
conhecendo as dependências e dialogando com sua mãe, conhecendo e me
fazendo conhecer naquele espaço novo e imprevisto. Em um dado momento, sua
mãe apresentou um cômodo externo relatando que W. V. havia ajudado seu pai a
construir. Aproveitei a brecha e comecei a perguntar da sala para o quarto, onde
ele estava, se ele realmente havia feito? Ele respondeu positivamente e a partir
deste momento o diálogo se tornou possível, mesmo em cômodos totalmente
diferentes. E o produto desta aproximação foi que na próxima semana ele mesmo
iria mostrar para mim como havia feito aquele espaço.
Os atendimentos seriam de 1 hora e meia de duração semanalmente e o
inesperado se cumpriu na semana seguinte. W. V. estava me esperando para
mostrar a sua feitura. Havia tocado um núcleo que até então estava adormecido
pelo perfil da doença e pela sua descrença e de seus familiares que alguma coisa
poderia ser mudada.
Aos poucos os atendimentos terapêuticos ocupacionais foram ganhando vida e
a participação da família (pai e mãe) neste espaço foi de extrema importância,
devido à segurança que W. V. tinha na figura familiar, como também a segurança
que a família precisava adquirir com a minha presença.
Uma das primeiras atividades propostas foi a leitura comentada de um livro
sobre cuidados com a saúde, de uma gerontóloga chamada Alda Ribeiro. A saúde
neste sentido começou a aparecer, primeiramente através de aspectos mentais, na
análise do livro sobre as implicações da saúde e posteriormente nos aspectos
corporais, sociais e relacionais. Na medida em que íamos avançando nos capítulos
W. V. também foi se permitindo a experimentar outras práticas que pareciam
impossíveis a um esquizofrênico recluso a um quarto de sua casa. Os
atendimentos eram construídos também como desafios, de experimentações em
sair do que estava estabelecido: “é assim e sempre será?” Para vamos tentar. Após
a leitura da parte do livro, a autora falava da importância da caminhada como
produtora de saúde e aproveitando esta deixa, propus a W. V. que no próximo
atendimento domiciliar iriamos caminhar. Seria a primeira tentativa de sair do
39
espaço protegido de sua residência, que segundo informações de sua mãe a muito
não acontecia. Na semana seguinte aconteceu a caminhada, sem maiores
dificuldades.
Um fator importante foi que a dinâmica proposta de atendimento em conjunto
com seus familiares possibilitou que W. V. se aproximasse de seu pai, que há muito
não o legitimava como tal, devido à desconexão da doença.
E a partir desta
aproximação foi possível que duas vezes na semana, pai e filho, começassem a
fazer caminhada no entorno do quarteirão da residência.
Outros livros foram lidos e os comentários ganhando riqueza de detalhes e
pensamentos que diria no mínimo filosóficos e de grande profundidade. Um livro
importante foi “Vivendo, amando e aprendendo” de Leo Buscaglia, um livro que
avalio como envolvente e que traz reflexões a cerca da vida de uma forma simples,
mas profunda.
Enquanto terapeuta ocupacional me emprestava como elo forte da realidade
para W. V. e concomitante a atividade reflexiva sempre propunha também
atividades expressivas e artísticas, embora com maior resistência.
Para minha surpresa, W. V. se interessou pelas danças circulares, em um dado
momento do atendimento na qual falava de “o encontro consigo mesmo” e a busca
da essência de cada um. Aproveitei a oportunidade de ressaltar outras práticas
corporais, além da caminhada, que propunham esta busca que tanto falava. Assim,
nos próximos atendimentos analisamos criteriosamente as diferentes gravações da
Meditação do Sol, ou Dança do Sol, coreografia de Bernhard Wosien, através de
uma cantata de Bach, (concerto para cravo, Ré Maior, Adágio).
Como se familiarizava ainda com fita k-7 realizei para W. V. a gravação na
mesma para que pudesse manusear seu gravador para escutarmos as versões da
música. No atendimento seguinte dançamos todas as versões de mãos dadas em
seu domicílio. W. V. teve grande aceitação, neste momento, a resistência maior
estava em seus familiares que não se propuseram a dançar. Nasceu desta
experiência o embrião da oficina de dança circular que iremos relatar adiante.
Os atendimentos estavam ficando cada vez mais ricos, seus sintomas
produtivos
estavam
amenizados
e
a
integração
familiar
acontecendo
gradativamente. No entanto, ainda não havia favorecido que W. V. estabelecesse
contato com outras pessoas além de seus familiares.
40
Após um ano e meio de atendimentos semanais em seu domicílio, outra brecha
foi possível. Havia ganhado no final do ano de sua mãe duas gravuras de pinturas
famosas e uma delas era: “O homem feliz”. Posteriormente, mandei colocar
molduras nas gravuras e trouxe para W. V. ver como tinha ficado, mas demonstrei
temorosa, ressaltando que teria dificuldades de pregá-las na sala do Centro de
Saúde. Para minha surpresa W. V. reafirmou que iria pregá-las para mim.
A partir desta oportunidade do viés do fazer os atendimentos domiciliares
migraram para atendimentos individuais no Centro de Saúde, sendo um grande
salto para o caso em questão.
Os atendimentos ganharam qualidade devido à diversidade de matérias que
poderíamos trabalhar no espaço terapêutico ocupacional e bem como na
aproximação de W. V. com outras pessoas, como na espera do atendimento na
sala de espera.
Mas estava na hora de produzir novos espaços que ultrapassassem as
fronteiras da saúde, dos atendimentos propriamente dito, para um contexto mais
ampliado de produções de relações, vida além dos aspectos tradicionais de saúde.
Desta maneira, criei a oficina de dança circular no Centro de Convivência que
ocorreria no horário posterior ao seu atendimento individual no Centro de Saúde.
Como os espaços eram próximos eu realizaria após a consulta o acompanhamento
terapêutico para W. H. para a oficina, que estava prevista para acontecer na casa
de Cultura Tainã.
Desta maneira, com objetivo de ampliação do projeto de vida de V.W. bem
como o favorecimento de suporte socio emocional e ampliação da comunicação
verbal e não verbal através do movimento de qualidade grupal a oficina de dança
circular inaugura-se.
E muitas foram as histórias de aproximações de diferentes seguimentos, a
ajuda incansável da docente da Puc-Campinas Denise Mulati e suas alunas e
aprimorandas de terapia ocupacional e principalmente da possibilidade de trocas
interpessoais que W. V. foi estabelecendo através do resgate da confiança no
outro, a integração espontânea de sentimentos no estar em outro espaço que
gerasse saúde, mas não estritamente na forma convencional de atendimentos. O
que antes se apresentava como corpo e mente cindido pelo processo de doença,
41
agora estava inserido em um ambiente de trocas afetivas e novos desafios e
integração gradativa de corpo, mente emoções.
Os atendimentos individuais, a inserção em uma nova prática de saúde como a
oficina de dança circular, a confiabilidade familiar no trabalho desenvolvido e os
medicamentos propostos pela médica do serviço especializado contribuíram para
melhora significativa do caso referido, com a diminuição de sintomas produtivos e
negativos, e em especial a partir do início dos atendimentos até o presente
momento W. V. não precisou de espaços mais protegidos como dos leitos
psiquiátricos e nem de qualquer forma de contenção para seu manejo. Aos poucos
além de participar da oficina destacada começou a frequentar um projeto de
geração de renda da região, incialmente com bastantes resultados positivos, pois
havia conseguido estar em um espaço de trabalho significativo.
Aos poucos, foi migrando cada vez mais para oficinas de convivência, por maior
identificação, saindo do projeto de geração de renda, e frequentando outras oficinas
como teatro, oficina ambiental, passeios externos entre outros. E a sua
continuidade na oficina de dança circular é marcada até a atualidade e cada vez
mais demonstrando confiabilidade no grupo e trocas afetivas com os participantes.
Embora os benefícios relatados estivessem focados no caso em questão, a
abertura desta oficina proporcionou para comunidade uma possibilidade de cuidado
em saúde e trocas sociais diferenciadas. Aos poucos os resultados levantados
ajudaram a conduzir discussões no território e com gestores da saúde sobre a
importância da sistematização das atividades para consolidação do Centro de
Convivência, como um serviço comunitário e de saúde.
Desta maneira, para Glaucia Helena C. B. Rodrigues:
“(...) quando se dança a dança de todos os povos, cria-se uma nova
identidade cultural universal, onde se vivencia a ideia da Unidade do
mundo, e se trabalha de forma incessante pela PAZ. Ao mesmo tempo, a
dança em grupo, com sua sequencia cadenciada e rítmica, proporciona
maior ordem, harmonia e alegria individual e coletiva” (RODRIGUES,
1998, p. 45).
42
CAPITULO II
PESQUISANDO A DANÇA CIRCULAR EM UM CENTRO DE
CONVIVÊNCIA EM CAMPINAS/SP
Descortina-se através desta pesquisa a possibilidade de trazer ao público
esta vivência que tem sido tão rica e gratificante do ponto de vista de uma
profissional da saúde mental, assim como focalizadora de danças circulares, que
tive a felicidade de construir ao longo da história desta oficina.
Desta forma a pesquisa resultante do trabalho de conclusão de curso
pretende-se:
OBJETIVOS GERAIS:
 Descrever as memórias coletivas da oficina de danças circulares do Centro
de Convivência Toninha.
 Verificar os significados e sentimentos individuais e grupais acerca da
participação em uma oficina de dança circular.
Objetivos específicos
 Verificar o grau de satisfação dos integrantes ao participarem de uma oficina
de dança circular sistematicamente.
 Identificar as motivações para integrarem em uma oficina de danças
circulares.
MÉTODO
Sujeitos/dançantes
Os sujeitos dessa pesquisa fazem parte dos bairros de abrangência dos
43
Centros de Saúde: Integração e Agápio de Aquino Neto, correspondendo a: Vila
Castelo Branco, Jardim Garcia, Jardim Londres, Vila Padre Manoel da Nóbrega e
Jardim Paulicéia, Jardim Campos Elíseos. Estão localizados - pela divisão da
Secretaria da Saúde do Município de Campinas, na região Noroeste de Campinas,
SP.
Por se tratar de uma roda aberta para experiência da coleta dos dados todos
os integrantes que ali estiveram e dispostos a colaborar com a pesquisa foram
incluídos, não havendo para esta pesquisa uma definição prévia de sujeitos.
Participaram desta pesquisa 28 dançantes com idades que variam de 30
anos a 85 anos, com participação do público geral, pessoas com deficiência e
pessoas com transtornos psíquicos. Desta forma, mostra a heterogeneidade das
oficinas do Centro de Convivência em especial da oficina de dança circular. Como
toda e boa oficia “aberta” acolhemos diversas situações e problemáticas do
universo humano, que embora sejam fatores concretos, são amenizadas pelo
contexto grupal e igualitário que a roda provoca, mas sem, no entanto, mascarar a
situação posta, como da limitação de uma deficiência: visual, mental, motora, com
sequelas de tratamento de câncer e Parkinson e outras. Assim como pessoas com
transtorno mental, como esquizofrenia, depressão severa, ansiedade e outros e
demências senis. Desta maneira, a roda é constituída de pessoas interessadas em
dançar de forma conjunta através da metodologia das danças circulares.
Contamos com pessoas do sexo masculino e com predominância do sexo
feminino, moradores dos bairros acima descritos e a média de permanência é muito
variável por se tratar de roda aberta, pois existem pessoas que estão desde o
começo da oficina há seis anos , outras há seis meses e outras ainda que estejam
apenas há um dia.
PROCEDIMENTOS
Colhendo ... também depoimentos, emoções e sentimentos
O estudo realizado valeu-se da metodologia qualitativa, “termo genérico que
abrange uma multiplicidade de suportes filosóficos e métodos de pesquisa, onde as
informações são reunidas formando um mosaico de experiências humanas” (Lobiondo-
44
Wood & Haber, 2001, p. 123). Desta maneira, não se trata de um processo
acumulativo e linear, mas de idas e voltas, dentre as diversas etapas da pesquisa e
na interação com seus sujeitos (CHIZZOTTI, 1998).
Tal pesquisa aproxima-se da estratégia de pesquisa ação, pois agregou
vários métodos ou técnicas de pesquisa social, estabelecendo uma estrutura
coletiva, participativa e ativa ao nível da capacitação de informações. Assim os
sujeitos
foram
envolvidos
simultaneamente
para
transformar
a
realidade
(THIOLLENT, 2000). O método cria condições favoráveis para combinações de
técnicas apropriadas aos objetivos da pesquisa através da utilização de técnicas de
grupos para lidar com a dimensão coletiva e interativa da investigação. O
pesquisador nesta metodologia se faz participante. Desta maneira a pesquisa:
“(...) pode ser vista como modo de conhecer e de organizar uma
pesquisa social de finalidade prática e que de acordo com as exigências
próprias da ação e da participação dos atores da situação observada
(THIOLLENT, 200, p. 26).
Neste sentido, de agregar as técnicas favoráveis para a investigação dos
dados utilizei a principio a metodologia do grupo focal que se constitui como
importante recurso para coleta coletiva de informações em pesquisa qualitativa, o
que possibilita o reconhecimento de si nos outros integrantes da coleta, ao
favorecer a experiência grupal. Dados que poderiam ser negligenciados nos relatos
individuais são revistos, ou relembrados no depoimento grupal. Essa técnica
favorece um diagnóstico rápido, pois os depoimentos são realizados no momento
grupal (ANDRÉ & SPINOLA 2002).
A técnica de avaliação a cima citada, requer um moderador, muitas vezes, o
próprio pesquisador, para favorecer a participação de todos. Também se sugere a
presença de um observador para colher informações importantes do momento
grupal, que poderiam passar despercebidas pelo moderador. Além de anotações,
usa-se o gravador para facilitar a avaliação do conteúdo coletado (ANDRÉ &
SPINOLA 2002).
Neste sentido como observadores dispus do auxilio de uma estagiaria de
psicologia do Centro de Convivência e Cooperativa Toninha e um terapeuta
ocupacional, que em 2010 teve forte aproximação com a oficina devido ao
aprimoramento profissional ligada a Puc-Campinas em parceria com a Fundação
45
de Desenvolvimento e Apoio a Pesquisa - FUNDAP realizado no serviço.
Para apreciação da temática além dos registros imagéticos e memoriais que
foram obtidos ao longo destes seis anos através de avaliações processuais bem
como de reflexões da vivência corporal ao longo destes foi elaborado um
instrumento que constituiu de depoimentos orais de forma grupal dos participantes
de maneira a compor e valorizar versões da história do surgimento da oficina e os
significados atribuídos aos integrantes ao participarem sistematicamente das rodas
de danças circulares.
Para composição dos relatos a técnica de grupo focal foi utilizada através de
três perguntas disparadoras norteadas pelo objetivo da pesquisa como: a) quais as
memórias do surgimento da roda e outras pertinentes, b) qual o significado de
participar da oficina de dança circular, e c) e após o grupo elegerem três músicas
que marcaram as oficinas, quais os sentimentos atribuídos aos movimentos de
cada dança circular (Anexo 9).
E como parte da técnica do grupo focal para busca de novos olhares para
pesquisa, foi sugerida ao grupo à montagem de uma imagem para registro de uma
fotografia que melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo
dançando.
Escolhi para registras as pessoas e os dados que para esta pesquisa se
mostraram importantes, de forma diferencial, mas utilizada nas dinâmicas grupais,
um acolhimento inicial32, incluindo: a) nome (identificação), o tempo que frequenta a
oficina, c) o que eu trago para roda e d) o que eu levo da roda, para valorizar os
conteúdos internos que cada dançante dispõe, além de observar os efeitos através
de qualidades após a vivência na oficina.
Levei também em consideração as observações grupais ao longo destes seis
anos para a interpretação dos dados a partir de ilustrações de episódios e registros
imagéticos relevantes.
Local
O local escolhido para os relatos grupais foi o salão Multiuso da Casa de
Cultura Tainã devido a maior tranquilidade, privacidade e pela diminuição de
possíveis ruídos, pois a oficina habitualmente acontece na Quadra Coberta da
Baseado em uma dinâmica de grupo do livro “Descoberta Divertida: uma abordagem da Fundação
Findhorn para desenvolver a confiança nos grupos”, de David Earl Platts, da editora Triom.
32
46
Praça dos Trabalhadores, sendo um local de grande trânsito de pessoas.
O local também servirá como disparador de memórias por constituir o
primeiro espaço oficial da origem da oficina.
Aspectos éticos
O projeto foi submetido ao Comitê de ética e Pesquisa da Faculdade Campos
Elíseos com aceite na sua aplicabilidade, vide Anexo1 e 2.
Os participantes foram convidados a participarem da pesquisa na própria
oficina, com objetivo de verificar o interesse em participar do estudo.
Nesse contato os participantes foram:

Convidados para participar do estudo

Informados sobre o a) objetivo do estudo, b) a instituição pela qual o
estudo está vinculado e assim como as c) as razões pelas quais foram
convidados a participar.

Motivados a participar com base na importância de sua colaboração por
“fazerem a roda acontecer”

Assegurados sobre a divulgação dos dados contidos nos depoimentos de
acordo com o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em Anexo 7.

Os dançantes, foram identificados com targetas (Anexo 8), de forma a
contribuir com a organização da transcrição dos dados, e principalmente
para não serem identificados com o seus nomes.

Informados sobre a possibilidade posterior de divulgação dos resultados
em eventos e publicações científicas.

Retorno para os depoentes do material transcrito.

Apresentação da versão grupal final da pesquisa para o grupo
pesquisado.
As entrevistas foram gravadas em gravador digital e filmadora, após
autorização dos mesmos, em um ambiente tranquilo, para garantir fidedignidade
dos relatos. Assim como fotos foram tiradas ao longo da pesquisa para vivificar os
acontecimentos para o resultado final.
47
ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
Baseado em Turato (2003), o tratamento e apresentação dos dados em
pesquisa qualitativa seguem algumas fases com: (a) preparação inicial do material
– transcrição das falas gravadas em fitas e das anotações de campo do
entrevistado para arquivos de computador; (b) pré-análise - realização da leitura
flutuante, (c) categorização e subcategorização – destacamento dos assuntos por
relevância e/ou por repetição e eventuais reagrupamentos; (d) validação externa –
supervisão com o orientador da investigação, discussão de seus pares em grupos
de pesquisa; (e) apresentação dos resultados – de forma descritiva e com citações
ilustrativas das falas, interpretando esse material.
Os depoimentos e outras informações foram analisados dentro do paradigma
fenomenológico, através da análise reflexiva das informações que as pessoas
contam. Somadas aos outros conhecimentos obtém-se um ponto de ancoragem
para retraçar o que foi vivenciado: as relações interpessoais, o contexto e os
significados a ele atribuídos. A investigação fenomenológica busca um significado
central, dentro do recorte temático escolhido, através das narrativas que as
entrevistas trazem (GIORGI, 1978, KVALE, 1997). E “estabelece um conjunto de
reflexões que permitem indagar sistematicamente os conteúdos de consciência,
privilegiando os dados experienciais” (TURATO, 2003, p. 440).
Pretendi identificar e organizar o conteúdo das entrevistas em unidades
significativas (GIORGI, 1978) a partir do referencial teórico adotado com vistas a
favorecer a compreensão, basicamente, das memórias significativas do surgimento
e do acontecer da oficina de dança circular coletivamente, os significados por eles
atribuídos ao participarem da oficina e os sentimentos atribuídos ao dançarem
coreografias preferidas relacionadas com sua vivência.
As fotos tiradas ao longo da pesquisa foram utilizadas no corpo do trabalho
para ilustração dos depoimentos bem como se deu a preparação da entrevista.
48
CAPÍTULO III
Produto grupal
O material da coleta grupal foi analisado a partir da análise fenomenológica,
destacando as unidades de significados que emergiram a partir das falas dos
dançantes individualmente e coletivamente e também através dos movimentos
corporais expressos nas danças e na intensificação de emoções nas falas,
conforme material da filmagem. E depois as unidades significativas foram
aglutinadas em temas.
Primeiramente, destaquei a contribuição de cada participante ao integrar
uma oficina de dança circular, material extraído da dinâmica inicial de acolhimento
para valorizar a bagagem que cada dançante traz no contexto circular e os
benéficos atribuídos por eles ao final de cada oficina, ou o conjunto das vivências.
No segundo momento, destaquei a versão da história referida pelos
dançantes e fotos que registraram estas passagens como forma de assegurar uma
versão coletiva do surgimento e principais acontecimentos da oficina de dança
circular.
Na sequencia, interpretei os significados atribuídos pelos dançantes ao
participarem da oficina.
E por último abordei os sentimentos relacionados às músicas que
elegeram como as que mais marcaram a oficina e outros relacionados a vivencia
desses seis anos.
Interpretando os resultados
O que eu trago para a roda
A figura abaixo representa de forma figurada as qualidades atribuídas pelos
dançantes, o que trazem de si, ou seja, o seu melhor para compor um Todo
harmonioso e cooperativo. As palavras com maior repetição encontram-se em letra
maiúscula.
49
Esperança
Cooperação
ALEGRIA
Vontade
CARINHO
AMOR
AMIZADE
União
Convívio
Paz
Bondade
Força
Figura 1: Representação das qualidades que eu levo para a roda.
As qualidades trazidas que mais se repetiram foram: amor, carinho, amizade
e alegria.
Outras se mostram interessante como abundância, que segundo o Livro
Cartas dos Anjos, significa cultivar “uma atitude generosa e aja como se existisse
fartura para você e para todos, em todos os lugares. Doe generosamente e
livremente” (TYLER e DRAKE, 2011, p. 36), tema que abordo as relações afetivas e
sociais que vão sendo traçadas com a participação na oficina.
As qualidades permearam sentimentos valiosos que são fundamentais para
trabalho grupal, relacionam-se ao convívio, cooperação, sentimento de união,
doação, “ajudar quem não pode dar um passo” (dançante 13), compaixão e bondade.
50
As qualidades que se referiram a conteúdos internos que segundo o
dançante 15 protagonista do surgimento da roda retrata: “essa energia de dentro que
faz girar a vida ... do eu interior” . Como a: coragem, força, muita vontade, paz,
carinho, amor, agradecimento, bondade e curiosidade.
Mesmo diante das dificuldades cada dançante pode trazer com bastante
emoção as qualidades que eles dispõem para estarem em grupo, em roda
dançando. Assim a dançante 4 relatou: “trago amor, paz, carinho...eu já sofri muito,
mas graças a Deus agora eu estou na Paz” (dançante 4) e como outra dançante : “vim
por porque eu andava muito triste... por questão emocional. Trago amor e carinho”
(dançante 7).
Ao colocar as pessoas como parte integrante na melhora de suas
dificuldades, trazemos aos sujeitos a possibilidade de autoconhecimento ao
descobrirem que mesmo na diversidade e na dificuldade na qual a vida nos impõe,
seja por uma doença, perda de pessoas querias ou por limites sociais, as pessoas
são autores na sua busca por saúde, bem estar ou qualidade de vida, assim como
queiram definir.
As danças circulares enfatizam a presença de cada um como constituintes
de uma roda, de um todo. A percepção de qualidades que eu posso ofertar a este
espaço constitui de princípio um movimento de autoconhecimento, na medida em
que favorece entrar em contato com minha parte essencial, pois mesmo em
condições adversas o ser humano é capaz de se perceber integrante e contribuinte
de uma dada realidade. Ao mesmo tempo em que a roda nos transforma também
vamos transformando-a através de minha bagagem, a partir de uma movimentação
cíclica, sem ponto de partida e nem de chegada.
O que eu levo da roda
A figura abaixo representa de forma figurada as qualidades ou os benéficos
que a roda de dança circular produz em suas vidas. Assim como a Figura 1 as
palavras com maior repetição encontram-se em letra maiúscula e as qualidades
trazidas encontram-se no centro, compondo a especificidade desta roda.
51
FELICIDADE
Contentamento
BEM ESTAR
Autoconfiança
Vontade
AMOR
Disposição
Cooperação,
vontade, amor, união,
esperança,
alegria,
amizade,
convívio, paz, força,
bondade.
ALEGRIA
Motivação
CARINHO
AMIZADE
Oração
Tranquilidade
Transformação
PAZ
RENOVAÇÂO
Força/Energia
Figura 2: Representação das qualidades do que eu trago da roda.
A dinâmica proposta se mostrou eficiente para que os dançantes pudessem
trazer conteúdos de seus benefícios ou efeitos que a roda produz ao participarem
da oficina de danças circulares.
As qualidades que mais apareceram foram: amor, felicidade, alegria,
amizade, carinho, bem estar e renovação.
A oficina apareceu como um espaço de enfretamento de estressores
expressa na fala da depoente 8, ao se espelhar nos exemplos das pessoas do
grupo: “o exemplo de cada um que dá força para continuar a luta de cada dia”.
52
Assim como o depoente 15, o incentivador da origem da roda, que expressa
ao participar da oficina adquiriu: “mais confiança no grupo”, ou seja, ressignificou a
sua condição de isolamento para se aventurar na relação com o outro.
Outro aspecto importante seria que uma depoente entendeu os benéficos e a
roda como uma oração, devido à comunhão entre as pessoas e de se pensar
coletivamente o bem para a humanidade.
Com maior detalhamento as qualidades atribuídas são próximas aos
conceitos de saúde e qualidade de vida: disposição, felicidade, alegria, motivação,
renovação, transformação, paz e bem estar e no que tange a enfrentamentos de
estressores, como suporte social destacam-se qualidades como: sentimento de
amizade, companheirismo e confiança no outro.
Outras qualidades que necessitam de outros campos de saberes também
foram expressos como levar consigo muita luz e energia, mas que também estão
ligadas com conceito de saúde a incluir em seu arcabouço os aspectos de
religiosidade, como proposta pela Organização Mundial de Saúde e pela
Classificação Internacional de Funcionalidade em 2003.
A roda e sua história
“(...) Ao dançar em roda, o indivíduo coloca-se em contato com o seu
corpo em movimento, com o seu ser em expressão e com o grupo,
estabelecendo e transformando suas relações sociais. É um instrumento
para a ampliação da consciência individual e grupal” (COSTA, 1998, p.
22).
Como abordado anteriormente está oficina de dança circular teve origem a
partir da necessidade de ampliação do repertório socio emocional de um caso
clínico atendido em um Centro de Saúde.
Inicia-se desta maneira no dia 26 de fevereiro de 2005 às 10 horas e 30
minutos na Casa de Cultura Tainã (cartaz de divulgação em Anexo 9) , relembrado
por um dançante: “a primeira vez que dançamos foi na biblioteca, na Tainã em 2005”
(Dançante 1).
A roda sempre teve objetivo de ser aberta, porém a aproximação das
pessoas aconteceu de forma gradativa e inicialmente com a participação em maior
número de pessoas acompanhadas por profissionais da saúde mental. Era também
composta pela docente Denise Mulati e suas estagiarias de terapia ocupacional da
53
Puc-Campinas, que davam suporte importante para a facilitação da roda, devido ao
número expressivos com pessoas com dificuldades na imagem corporal.
Aos poucos a oficina foi transferida para o salão multiuso da casa de Cultura
Tainã, possibilitando melhor acesso e ampliação da roda. A oficina também era
levada para atender eventos temáticos e comemorativos, sendo uma metodologia
interessante para que novas pessoas pudessem entrar na roda.
Imagem 1: Imagem das primeiras oficinas de dança circular
A roda uma vez aberta não deixou de existir. Mesmo em uma licença
gestante que precisei me afastar em 2008 por seis meses o grupo continuou a se
reunir e novas expansões aconteceram. Para tal iniciativa, um mês antes de sair
definitivo promovi em parceria com a focalizadora Janaina Campos uma
capacitação para iniciantes, através de 12 coreografias para aprimorandas de
terapia ocupacional e estagiarias que continuariam o trabalho, bem como a
capacitação do Dançante 1, que desde a origem da oficina demostrou facilidade
com os passos, boa memória para história das coreografias e por ser um facilitador
na oficina, expresso em seu relato: “E ensino a dançar.... ensinar para mais pessoas...
assim... quando alguém não sabe dançar, ajudo as pessoas com os passos” ( Dançante
54
1).
O grupo também o elegeu como aquele que ajuda a ensinar expresso na
opinião da dançante 3: “(...) quanto alguém não sabe o passo as pessoas perguntam
para ele”. O grupo também se manifestou: “olhamos para o pé dele”....fico olhando
sempre para os pés dele. Vamos vigiar os pés do dançante 1. E a dançante 3
acrescenta sobre sua capacidade de memória:
“(...) ele tem uma memória, não
esquece de nada, ele ensina...é impressionante” (Dançante 3).
No período da minha licença e com a expansão que o serviço Centro de
Convivência estava se propondo, a oficina passou a ser ofertada na quadra
Coberta da Praça dos Trabalhadores com objetivo de possibilitar maior participação
das pessoas uma vez que seria aberta e todos poderiam ver o seu funcionamento.
Segundo a percepção do depoente 1 a mudança de lugar foi: “ bem melhor ... para
conhecer mais pessoas achei que foi bem melhor, deu mais espaço para as pessoas,
fazerem amizade” (Dançante 1).
Imagem 2: Imagem que representa a mudança para a quadra coberta da praça dos
Trabalhadores.
55
Com a mudança tivemos alguns benefícios e novos desafios, uma vez que
novamente as danças circulares eram desconhecidas para muitas pessoas e de
princípio causavam estranhamentos. A roda neste momento passou a apresentar
nova configuração, como ampliação da população em geral e as coreografias
passaram novamente por aquelas de maior facilidade na aplicação e o aumento
das músicas de pares.
“(...) Achava estranho ficar em roda e a Isabel foi explicando para gente,
hoje faz parte da minha vida. Quando não tem, quando a Denise tira
férias ou acontece alguma coisa, parece que está faltando alguma coisa.
Porque eu já levanto feliz, cantando. Não é ser puxa saco não Denise,
sou suspeita de falar, é porque eu gosto mesmo. Eu amo as danças
circulares (Dançante 3).
Como estávamos em uma quadra dentro de uma Praça de Esporte a ideia
inicial das pessoas não era participar da oficina de dança circular, pois estas davam
preferencia
à
ginástica
como
recurso
para
potencializar
sua
saúde
e
emagrecimento. Mesmo porque a modalidade não era conhecida por todos. Essa
questão foi expressa pela depoente 23: “(...) Quando eu conheci não achava muito
legal... foi acontecendo, vai conhecendo as danças de outros lugares...” (Dançante 23).
A motivação para entrada na oficina também aparece de diferentes
maneiras. Pela curiosidade do convite de sua amiga “(...) É a primeira vez que eu
venho... vim mais pela curiosidade pela curiosidade de conhecer o grupo... hoje eu vim
para ficar mais nos aparelhos, fazer caminhada, mas mudei” (Dançante 19). Pelo
cadastro do Centro de convivência que divulgou a oficina: “(...) É a primeira vez que eu tô
vindo aqui, eu gostei muito... e fiz amizade com todo mundo (...) Fiquei feliz de dar certo
aqui, porque eu sou assim uma pessoa muito sofrida, Gostei muito...da roda. ...e estava
precisando ficar assim em roda” (Dançante 12). Ou pela orientação médica: “(...) vim
por necessidade ...tive que vir por necessidade e gostei muito. Procurei alguma ginástica
para meu problema que tive, vim gostei, continuo vindo há 4 meses e estou aqui”
(Dançante 14). E até mesmo como forma de aprimorar outros aspectos: “(...) eu já
falei muito nesta vida... agora quero dançar” (Dançante 8, p. 12).
Os depoentes também trouxeram outros dois eventos marcantes da oficina.
O primeiro se refere à participação da oficina de dança circular na creche do bairro,
com objetivo de levar a experiência para as crianças, como também de trazer um
56
novo conceito de itinerância e trouxe a tona aspectos intergeracionais.
“(...) Ainda no tempo da Isabel a creche nos convidou para fazer
roda...Normalmente as crianças dançam para os avós e lá dançamos
juntos...avó com neto...foi muito legal. lá foi o contrario, nos dançamos
para as crianças...foi uma coisa que marcou muito...jamais achei que
poderia acontecer” (Dançante 3).
O segundo acontecimento relaciona-se com a participação que a oficina teve
para filmagem do Ministério da Saúde através do Programa de Atenção Básica em
2010, que ainda não foi editada. (...) “Dançamos para a filmagem. A dança do mar
vermelho... Adorei! (referindo-se a música Al Achat)” (Dançante 2).
Também trouxeram das memórias as danças e seus estilos: “(...) A primeira
dança que dancei foi a “dança do sol” .Várias músicas me toca mais o que me tocou mais
foi Prisma (...) Gosto também de música agitadas da Irlanda...que faz tempo que não
dança” (Dançante 1).
Ou: “(...) A dança em caracol? ...em seu ponto foco...bem
organizada...começo meio e fim” (Dançante 15). Também relataram o reconhecimento
da dança circular em outro espaço, demonstrando identificação: “(...) Em Holambra,
dançaram a Dança do Sol, eu vibrei. E eu fiquei batendo palma, dançando junto na plateia
e no final foram até me cumprimentar” (Dançante 13). E músicas que os tocaram
profundamente: “(...) todas as músicas que você coloca eu gosto muito, que você colocou
para abrir a primavera, no meu aniversário... como chama (sementes de amor)...me tocou
muito” (Dançante 14).
57
A roda e seus significados
Figura 3: Desenho realizado como forma de expressão do que representa a roda
por uma integrante natural de Portugal e apresenta Síndrome de Down.
Os significados atribuídos pelos dançantes permearam toda a pesquisa.
Nas diferentes falas demostram a importância para eles em participar da oficina, no
que se referem à igualdade, cooperação, aspectos de produção de saúde, tanto
emocionais e como relacionais, busca de significados, aspecto do sagrado e outros,
das quais foram retratadas nas unidades de significados abaixo:
A roda representando a igualdade circular, cooperação e o encontro
com as diferenças:
Igualdade:
“(...) O círculo acolhe também a humildade” (Dançante 14, p. 13).
58
“(...) Muito bom estar no meio de todo mundo... com diversidade...é muito
importante as pessoas poderem desabafar” (Dançante, 21, p. 6).
Cooperação:
“(...) Pra mim é muito importante, porque toda a semana abre com está
roda (...) toda segunda começa a semana. Pra mim representa muito
espirito de cooperação, tod0s aqui são importantes para fazer a roda.
Individualmente ninguém não faz nada sozinho” (Dançante 2, p. 1).
Encontro com as diferenças:
“(...) Busco sempre dar o melhor de si, ajudo quem não pode dar um passo, vou lá
ajudo, converso, ajudo... é gratificante” (Dançante 13, p. 4).
A oficina também evidenciada como produtora de saúde, nos
aspectos:
- Emocionais:
Para Céline Lorthiois a dança seria uma ajuda real, “(...) capaz de limpar
angustias e temores, de re-erguer após a exaustão, a morte, o fracasso” (LORTHIOIS,
1998, p. 31), como também são observadas nas falas a seguir:
“(...) Eu acho que essa roda de dança é como se fosse autoajuda, porque começa a
semana com está dança ...seria uma coisa de autoajuda é o começo de tudo. Essa dança
é uma forma de autoajuda no começo da semana... o começo de tudo” (Dançante 2, p.
10).
“(...) Procurava distração, tenho muito problemas...sou uma pessoa muito
sofrida, com muitos problemas com marido e coma menina também. Vim
para desopilar com se diz em Portugal, pessoas bocado deprimida para
conviver que vem para libertar um pouco para conversar, sair da rotina...
venho à procura do melhor...estava um bocado deprimida estava
deprimida...buscar o convívio com o resto das pessoas, tomar ar fresco,
melhorar. conviver...” (Dançante 27, p. 7).
Segundo Maris Stella Alvares Gabriel, “(...) quando se dança, a repetição dos
passos leva a um estado alterado de consciência, possibilitando às pessoas entrarem em
contato com seu interior mais profundo, com suas raízes, o que as remete à tranquilidade e
à quietude” (GABRIEL, 1998, p. 141). E a autora completa observando que a dança
59
apresenta uma força curativa e para ela é explicado segundo o equilíbrio energético
do corpo através da regulação do tônus e por consequência a harmonização da
saúde psicofísica.
MURAKATA também completa que as danças sagradas ao entrarem em
contato com simbologias como círculo, o ponto, o centro, o lado externo, a espiral,
o labirinto, adquirimos “(...) a consciência de que, através dos movimentos corporais e,
principalmente, da intenção, podemos despertar e movimentar energias que equilibram,
harmonizam, curam e nos elevam, permitindo transcender nossa percepção comum”
(MURAKATA, 1998, P. 169).
- Relacionais - revendo aspectos da personalidade:
“(...) Era muito tímida e agora estou me soltando com a roda... e me sinto feliz”
(Dançante
16, p. 3).
“(...) Venho e me sinto muito feliz graças a Dona Rosa que conseguiu me trazer
para cá...me sinto muito bem” (Dançante 9, p. 3).
Nestas falas pode-se observar que o desenvolvimento humano não
tem limites de idades, a todo o momento podemos nos rever, e essa flexibilidade
também é entendida como fator protetor de saúde para as pessoas. Desta forma, é
possível desenvolver-se mesmo no envelhecimento. Neri (1995) aponta a velhice
como uma condição social e individual, vinculada aos ideais e valores de sociedade
no ambiente em que o indivíduo envelhece. As histórias pessoais e de seu grupo, a
forma de engajamento social são fundamentais nesse processo. Assim, o
desenvolvimento pessoal não se completa ao atingir o grau máximo de maturidade,
como era entendido pelos estudiosos da psicologia do desenvolvimento até
meados do século passado, mas incorpora-se em uma constante busca de
aquisição de novas metas.
Oficina como espaço para evitar o isolamento - conviver:
“(...) Não gosto de ficar em casa. Adoro estar no meio de todo mundo. Me faz muito
bem (estar na oficina) e isso é a coisa mais importante (Dançante 4, p. 5).
“(...) No nosso mundo hoje existe muita falta de amor” (dançante, 20, p. 7).
“(...) Moro há 45 anos no bairro e a maioria das pessoas não conhecia...agora
(depois da oficina) estou conhecendo ... tendo amizades. (Dançante, 3, p. 9).
60
Como destaquei no capítulo anterior as danças circulares promovem
benefícios à saúde e podem favorecer espaço de continência e de novos
encontros, contribuindo para efeitos positivos na saúde. As relações sociais
positivas funcionam como fator protetor a saúde (ANTONUCCI, 2001).
-Físicos:
“(...) Eu me sinto bem ... tá melhorando a minha caibra, fico contente” (Dançante 6,
p. 2).
Murakata conseguiu sintetizar os benefícios proporcionados pela dança
circular, que seriam eles: uma forma de meditação, um meio de alcançar outro nível
de consciência, forma de alinhar as energias, favorece a harmonização, e nos
conecta com a nossa divindade (MURAKATA, 1998).
Oficina favorece dançar os ritmos da vida:
“(...) Aquela vontade de estar junto e aquele desejo de estar
compartilhando cada passo., porque é um aprendizado. E assim cada
passo que a gente dá, agente percebe na própria vida da gente, são
passos que assim do que acontece no nosso dia a dia porque muitas
vezes não percebe, mas é muito lindo. Porque cada ritmo de dança, o
que agente dança é o que acontece na nossa vida, é o que acontece em
casa” (Dançante 20, p. 6).
A terapeuta ocupacional Ana Lúcia Borges da Costa também apresentou
semelhante apontamento percebido nas vivencias de danças circulares sagradas,
pois para ela os diversos ritmos e passos experimentados possibilitam “(...) uma
ampliação no repertório de movimentos de cada participante. Compartilhando com o grupo,
cria-se uma linguagem particular que se estabelece com a dança e que vai sendo decifrada
e assimilada por cada indivíduo à sua maneira” (COSTA, 1998, p. 22).
A dança e seus símbolos:
61
Renata Ramos em 1998 já apontava que ao dançarmos os movimentos
circulares sagrados experenciamos simbologias universais e curativas. Para ela
quando transitamos em volta do Centro resgatamos forças para viver devido à
representação do Centro do Círculo como Fonte ou Deus. Os encontros e
desencontros também são simbolizados nas danças de pares. Segundo a autora
dançar de forma espiral traz a paz e tranquilidade e significa aceitar o ciclo de
morte e renascimento. Assim como o Círculo que formamos de mãos dadas
representam nossa vida, ou seja, nosso dia a dia (RAMOS, 1998). Os símbolos
também foram expressos pelos dançantes:
Amor:
“(...) Simbologia a gente tem que ter na própria vida da gente... às vezes
um botão de rosa, quando aconteceu, uma vez,(de ter trazido para o
centro da roda) , além do perfume ele trás uma simbologia muito
importante que o símbolo do amor, que a gente pode e deve compartilhar
uns com os outros...porque no nosso mundo de hoje o que existe é muito
falta de amor. Entre todos os irmãos... porque todo mundo é irmão, filho
de Deus...independente de raça, cor, independente de tudo” (dançante,
20, p. 7).
Dançar de mãos dadas:
Este ato que as danças circulares favorecem através da movimentação com
qualidade, nos remete segundo Luiz Carlos Nogueira Arad, a uma “(...) sensação do
toque e a consciência de que se continua a ser um indivíduo dentro de um grupo em
harmonia (...) e a tolerância e a sutileza de perceber que, através do silencio, se estabelece
a comunicação amorosa” (ARAD, 1998, p. 84).
“(...) Para mim... o contato com gente (é muito importante)... adoro o beijo circular,
adoro pegar nas mãos... dançar de mãos dadas” (Dançantes, 3, p. 14).
“(...) Às vezes a gente comenta algumas coisas com as pessoas que não
dançam e eles não dão importância: “mas dançar de mãos dadas”? Que
só a gente que esta participando todo mundo junto sabe o ... como se diz
o mistérios da dança, porque, as pessoas que não dança não sabem, (...)
só quem tá junto que sabe explicar... a gente começa, a contar, contar,
mas ninguém sabe... às vezes as pessoas que não dança não dão
62
importância, mas nós que estamos juntos sabemos explicar. (Dançante,
13, p. 13).
Berni também ressaltou o segredo que as danças circulares sagradas
abarcam ao expressar que o sagrado é percebido e valorizado somente por
aqueles que vivenciaram a experiência. Segundo o autor a prática das danças
proporcionam uma busca da integração com o todo inseparável , que para ele
ocorre através da experiência particular de vivência com o Divino, levando-nos a
um despertar (BERNI, 1998).
O Sagrado também apareceu entre as falas, no sentido da dança ser
sagrada para eles, como um dia especial:
O Sagrado:
“(...) Este espaço é sagrado’ (Dançante 3, p. 1).
“(...) Segunda feira é sagrada... muito sagrado começar a semana aqui! Me sinto
bem aqui...a gente não esquece das danças” (Dançante 10, p. 4).
Outra participante referiu que para ela é tão importante este espaço que não
gostaria que acabasse:
“(...) A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi à roda... quando
termina, vou muito triste porque tem que ir embora. Por mim não acabava
nunca. Fico triste quando não tem...dança é comigo mesma. Quando vou
embora quero mais” (Dançante 13, p. 3).
A oficina também foi vista como privilégio, pois a depoente localiza que
não são todas as pessoas que podem estar em roda em plena segunda feira:
“(...) Na segunda feira as pessoas vão trabalhar Agradeço ser aposentada para
viver para a dança circular...agradeço todos os dias o privilégio de poder dançar”
(Dançante, 3, p. 9).
A seguir a carta na integra da dançante 11 sobre o significado de estar em
roda:
63
Figura 4: Carta na integra da depoente 11. Carta oferecida a focalizadora no dia da
pesquisa.
A roda e os muitos sentimentos
Em vários momentos da oficina os sentimentos foram acolhidos desde
perdas de familiares, as grandes catástrofes como o que aconteceu no Japão o ano
passado, ou o assassinato de crianças na escola este ano como também
celebração do nascimento e dos aniversariantes. Desta maneira, a pesquisa
evidenciou algumas emoções mais expressivas.
Oficina como espaço de elaboração de perdas e forma de oração:
64
“(...) Acabei de perder minha filha faz pouco tempo...encontro aqui muita,
paz, oração. Me sinto muito bem. Por isso que eu volto, quero continuar
fazendo parte. Me sinto, tão, bem me sinto, tão bem...É por isso que é o
primeiro lugar que voltei (foi aqui)...e queria agradecer a homenagem que
fizeram na semana passada a minha filha” (Dançante10, p. 4).
Nesta ocasião, a dançante havia perdido a sua filha abruptamente. E na
roda podemos falar a respeito e dançamos para seus familiares e que sua filha
pudesse ter a melhor passagem.
Vale ressaltar que o centro do dia da pesquisa foi presenteado com um
anjinho que a depoente 3 ofereceu no final para depoente 10 e a dançante 10
trouxe para compor o centro também a mensagem de falecimento para a sua filha.
Também na fala da dançante 4 que está atravessando momento de
recuperação de sua saúde que percebeu na roda um espaço para seguir seu
caminho lutando:
“(...) Amo muito, muito cada um... esse exemplo de cada um que dá força para
continuar a luta de cada dia” (Dançante, 8, p. 4).
Homenagem à mãe:
“(...) Gosto de todas as músicas mas aquela que você colocou em
homenagem a minha mãe, me tocou muito... (ficou muito emocionada)
(...) Sempre que tocar ou dançar esta música, vou lembrar, isto é uma
coisa que me toca muito. (...) Porque ir para o cemitério, levar flores, eu
não entendo isso, na minha cabeça temos que fazer quando a pessoa
está viva. Então, n(...) nós já tínhamos feito esta dança, e eu achei linda,
linda...e eu falei “vou pedir para Denise”. E eu achei que todo mundo foi
assim uma coisa mágica, um momento único, como se eu tivesse contato
com ela ali. Gostei muito, muito, eu só tenho a agradecer, toda vez que
eu venho eu sempre aprendo alguma coisa...e passo para as pessoas”
(Dançante 3, p. 12).
A dançante havia solicitado para a focalizadora dançar em homenagem a sua
mãe a coreografia da Nani Kloke – Estrela da Manhã. Já havíamos dançado em
outro momento, e a mesma gostaria de trazer a magia da dança para fazer lembrarse de forma diferente os 20 anos da morte de sua mãe.
65
Oficina como produtora de autoconhecimento:
Durante toda a pesquisa o dançante que instigou o surgimento da oficina
trouxe frases importantes, que poderiam parecer sem contexto, mas que avalio de
grande importância, pois nos convida a focar na nossa essência, sendo a frase
principal a seguir:
“(...) A essência como foco básico” (Dançante, 2, p.12).
Em consonância com esta frase SAMPAIO (1998) ressaltou que as danças
circulares sagradas possibilitam “(...) o desenvolvimento dos dois níveis de consciência,
individual e coletivo, desperta a percepção do espaço do outro como extensão do seu
próprio, e a percepção da própria individualidade como parte de um grupo maior”
(SAMPAIO, 1998, p. 101).
Ainda segundo Sampaio o tripé autoestima, autoimagem e autoconfiança são
reforçados pelo apoio do grupo, que desperta no individuo a coragem e a
determinação (SAMPAIO, 1998).
Na sequência, segue uma carta que a depoente 5 trouxe para a
focalizadora uma semana antes da pesquisa relatando transformações em sua
vida:
66
Figura 5: Carta elaborada pela depoente 5 como forma de contribuição para a
pesquisa.
Pertencimento:
Mesmo com dificuldades para dançar ao longo dos anos na oficina, o depoente
18 sente-se acolhido e valorizado neste espaço. O que pode ser observado o
dançar de diferentes maneiras:
67
“(...) Gosto muito do povo... tô muito acostumado e fico muito feliz. Quero só que
Deus dá boa saúde e abençoa todo mundo... aqui. Fico muito contente, alegre e feliz aqui”
(Dançante, 18, p. 6).
Grande emoção:
“(...) Se eu vir todo o dia na dança vou sentir a mesma emoção... eu procurei site
sobre dança circular, e têm coisas maravilhosas, eu acesso todo dia aquilo... mexe demais
comigo” (Dançante 11, p. 11).
Como produto das danças circulares escolhidas pelo o grupo os sentimentos
foram atribuídos por estas que marcaram a oficina de diferentes maneiras:
AlChat
Para o grupo representa sentimentos de: auto confiança, gostei me senti
muito bem, alegria, suavidade, confiança, amor, sentir-se bem, humildade,
presença, esperança, satisfação, tranquilidade, paz, flexibilidade, vontade, união,
controle, felicidade, perseverança.
Seeds of Love – Sementes de amor.
Os sentimentos atribuídos pelo o grupo foram: oração, harmonia, parece que
esta pegando uma semente, serenidade, humildade, emoção, muito bom, união,
tudo de bom, paz, oração, harmonia, pegando alguma coisa, semente...,
serenidade e suavidade, coração dispara, emoção, foco.
Dança do Sol
Nesta dança os sentimentos levantados foram: tranquilidade, bem-estar,
sentir-se sol, leveza, ótima, tranquilidade, bem-estar (com que transmite),
suavidade, energia, paz, melhora ainda mais a roda.
Para finalizar o grupo elaborou com outra linguagem uma cena em imagem
congelada do que representava para eles o grupo. A foto a seguir mostra o
significado de união por eles batizados. O grupo se abraçou, olhando para o centro,
68
e no final com a mão esquerda no centro finalizaram como se fossem uma torcida
de uma equipe com o grito Há ha, utilizado também na prática da Ioga.
Imagem 3: Foto Cena final da pesquisa representando segundo o grupo UNIÃO.
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos iniciais de ampliação do repertório sócio emocional e bem como
aumento na comunicação do caso estudado foram possível, favorecendo benéficos
a ele, mas também como todos os integrantes da oficina.
A metodologia mostrou-se adequada para valorização das falas, emoções,
sentimentos e significados atribuídos pelos dançantes e demostra-se de fácil
utilização.
A oficina de Dança Circular tem se mostrado um importante recurso para
promoção
e
manutenção
da
saúde
dos
frequentadores
e
um
espaço
potencializador para a integralidade do corpo, da mente e das emoções do sujeito
devido ao autoconhecimento de suas competências.
A partir da percepção dos dançantes/depoentes, existe uma influência
positiva na participação em oficinas de danças circulares no que diz respeito ao
suporte social e emocional, além dos benefícios físicos que as práticas corporais
proporcionam, sendo os resultados que estão em consonância com a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
Novas rodas e pesquisas precisam ser feitas para avaliar os impactos para
verificar se há cruzamentos nos dados aqui apresentados.
A escrita desta pesquisa também contribuirá para valorização do movimento
das danças circulares no Brasil, através de dados consistentes, assim como para o
incentivo a implantação e sustentação dos Centros de Convivência como um
espaço possível do encontro com a heterogeneidade e novas formas de produção
de saúde.
“Não há sol a sois”
(Música: Inclassificáveis, Arnaldo Antunes)
E termino com a foto do centro utilizada na pesquisa como forma de
olharmos para nosso centro, de não termos a certeza do começo e nem do final,
mas
sim
da
busca
constante
que
precisamos
fazer
da
nossa
70
essência.
Imagem 4: Centro da oficina de Dança Circulares Sagradas do Centro de
Convivência Toninha. Arte do desenho do centro Guataçara Brasil.
Através da pesquisa foi possível a elaboração de um filme de 10 minutos que
retratou a sequência metodologia abrangendo vários sentimentos e movimentos
que não foram possíveis de serem expressos na escrita da monografia sendo
fundamental para abarcar a riqueza do produto desta oficina.
A pesquisa será apresentada como retorno aos depoentes, assim como aos
profissionais do Distrito de Saúde em questão. O resultado deste trabalho de
conclusão de curso de especialização será disponibilizado para o CETS – Centro
de Educação dos Trabalhadores da Saúde para eventuais consultas.
71
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áreas da saúde humanas. Petópoles, RJ: Vozes. 2003.
TYLER, K; DRAKE, J. O livro da carta dos anjos: mensagens de inspiração e de
meditação. 2° edição. São Paulo: Taygeta Editora e Consultoria, 2011.
WOSIEN, B. Dança: um caminho para totalidade. Edição Maria Gabrielle
Wosien.; (Maria Leonor Rodenbach, Raphael de Haro Junior, trads). 2. ed. São
Paulo: Triom. 2000.
WOSIEN, M-G. Danças sagradas: deuses, mitos e ciclos. (Maria Leonor
Rodenbach e Raphael de Haro Júnior, trads). São Paulo: Triom. 2002.
76
ANEXOS
77
Anexo 1
78
Anexo 2
79
Anexo 3
80
81
82
Anexo 4
Principais pesquisas relacionadas a danças Circulares Sagradas:
resumo e reflexões
Área sociologia: BERNI, L. E. V. A dança Circular sagrada e o sagrado: um estudo
exploratório das relações históricas e práticas de um movimento New Age, em
busca de seus aspectos os numinosos e herofanicos. Dissertação de mestrado,
PUC-SP, 2002, 204 p.
A pesquisa percorre sobre um rastreamento das danças circulares enquanto dança
contemporânea integrada no complexo Canto-Dança-Oração, que segundo o
pesquisador compõe uma técnica de autoconhecimento e transcendência. Busca
também as origens do canto-dança-oração, a biodança, danças étnicas, dança da
Paz Universal e as danças circulares sagradas através do histórico e descrição da
prática, análise do benefício e estudo do Sagrado. A pesquisa deu-se de forma
exploratória ao detalhar o aspecto histórico-prático do movimento, identificando
suas origens tradicionais, como também suas relações com o Sagrado sob a visão
fenomenológica. Além do estudo bibliográfico, o pesquisador realizou uma pesquisa
de campo com dez experientes focalizadores de danças circulares sagradas de
diferentes partes do Brasil e analisou as relações da prática com o Numinoso.
Para o autor as danças circulares retomam antigas formas de expressão de
diferentes culturas através da dança, trazendo a leveza e o estado de motivação ao
trazerem de novo o homem para dançar. São consideradas sagradas por
transcenderem as culturas onde surgiram promovendo a integração corpo-mente e
espírito. Para o pesquisador, do ponto de visa da prática tradicional, impregnada
pelo elemento cultural, surgem em uma denominação canto- dança- oração. Do
ponto de vista técnico transpessoal, são impregnas de elementos arquétipos e
promovem estados alterados de consciência tornando, desta maneira, as pessoas
que praticam mais competentes em melhorar sua qualidade de vida, como na
identificação de bloqueios. E ainda no aspecto da dinâmica psicológica essas
danças proporcionam abertura de canais de circulação da energia entre o Self e
83
Ego, agindo no eixo extroversor, de dentro para fora, como também no eixo
introversor, de fora para dentro.
Área psicologia: ALMEIDA, Lúcia Helena Hebling. Danças circulares sagradas:
imagem corporal, qualidade de vida e religiosidade segundo uma abordagem
junguiana. 2005. 311 f. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) – Programa de PósGraduação
em
Ciências
Médicas,
Universidade
Estadual
de
Campinas,
Campinas/SP.
A pesquisa considerou previamente que a ressignificação na imagem corporal, na
qualidade de vida e na religiosidade, pudesse contribuir para o ajustamento
psíquico no estado geral da pessoa. A pesquisa envolveu aspectos teóricos e
práticos, na qual a pesquisadora Lúcia Helena Hebling Almeida, realizou sua
pesquisa com 10 voluntárias do curso de pós-graduação em arteterapia na
Unicamp através de vivencias de danças circulares sagradas sob a análise sobre a
qualidade de vida possível através do questionário WHOQOL versão 100 e a
relações com as unidades significativas que mais apresentaram alterações foram
às relacionadas à: A) qualidade de vida social: as danças circulares propiciaram
que o grupo ficasse mais próximo e integrado. B) no domínio psicológico: ganho
intrapsíquico – as participantes referiram que houve melhoras no humor,
entusiasmo, revigoramento e sentiram-se mais alegres. C) nível de independência
– mobilidade física: as participantes pontuaram maior disposição física e sensação
do corpo mais relaxado. Em síntese, a pesquisa contatou modificações na imagem
corporal, alterações na religiosidade, melhora na qualidade de vida e a constelação
(aparecimento) do arquétipo da criança, do arquétipo da grande mãe e do arquétipo
do feminino.
Área educação: OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educadores na roda de dança:
formação-transformação. 2006. 250 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa
de
Pós-Graduação
em
Educação,
Universidade
Estadual
de
Campinas,
Campinas/SP.
84
A formação de educadores e a utilização da técnica de dança circular foram
amplamente estudadas por Ostetto (2006) em sua tese de doutorado para discutir
outras formas de dimensões da formação de professores. A pesquisa deu-se
realizado com quatro grupos de educadoras de Campinas (SP) e Blumenau (SC),
desenvolvido por meio de “encontros para dançar em roda”, segundo a
pesquisadora. No movimento das danças circulares e na atribuição de novas
ferramentas para educação, os conhecimentos advindos de seu estudo
possibilitaram abertura para novos olhares na educação a partir da utilização das
danças circulares, uma vez que, os resultados da pesquisa apontaram para a
compreensão da busca da inteireza do educador, da educação estética e do
espaço de encontro com a dimensão poética do ser, ou seja as múltiplas
linguagens do adulto educador. Utilizou-se do dialogo o campo da arte e a
psicologia de C. G. Jung.
Área da Educação Física: UEG –GO- Bonetti, Maria Cristina. Danças Folclóricas
Brasileiras. (Dissertação de Mestrado).
Área de Terapia Transpessoal: DEP- SP.Silva, Dagmar Ramos da Silva. Danças
Circulares sagradas e dinâmica da energética do psiquismo. (monografia de
especialização).
Área Terapia Transpessoal: Unipaz- DF. Zago, Isabel. A Terapia Sutil das danças
circulares sagradas. (monografia de especialização).
85
Anexo 5
Histórico do Centro de Convivência Toninha
A história do Centro de Convivência e Cooperativa Toninha (Cecco Toninha) é marcada por
uma memória coletiva através da construção diária desde seu surgimento. O Cecco Toninha surgiu
em 1999 para atender a necessidade
local (primeiramente a abrangência
dos bairros do C.S. Integração) que era
efetivar ações de convivência saudável
através do planejamento e construção
de melhorias de lugares e áreas
comuns
(praças,
sedes)
da
comunidade. Tais ações tornaram-se
possíveis graças à atuação de
diferentes atores sociais relevantes da
comunidade como grupos organizados
- Reviver -, Ongs - Progen e Casa de
Construção da Sede do Cecco Toninha - 2007
Cultura Tainã -, equipamentos de
saúde - C.S. Integração e CAPS
Integração -, escolas municipal e estaduais, parcerias pontuais da assistência social e conselho local
de saúde.
A metodologia para sua estruturação foi embasada no curso de Formação e Capacitação de
Agentes de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania promovido pela Themis e pela aproximação
teórica das experiências de Ceccos de São Paulo relatadas pelos profissionais de saúde mental.
Desta maneira algumas ações coletivas foram possíveis, tais como eventos temáticos
(intergeracional, semana da mulher, luta antimanicomial, festa junina), Saraus Culturais, incentivo a
revitalização da praça dos trabalhadores, ações na Sede Social da Vila Castelo Branco (SSVCB),
articulação comunitária para criação da Cooperativa de Reciclagem Santo Expedito, tematização de
grupos de geração de renda e primeiros passos da Casa das Oficinas, Feira “De Tudo um Pouco” e
reuniões sistemáticas com diferentes parceiros para concretização destas ações.
Vale destacar que o local das reuniões era itinerante acompanhando as ações no território e suas
demandas.
Em 2001, durante a I Conferencia de Saúde Mental de Campinas, o Cecco Toninha foi citado
como exemplo de experiência bem sucedida na ampliação de espaço alternativo extra-hospitalares
para pacientes com transtorno mentais.
A partir do fortalecimento das discussões municipais sobre Ceccos em 2005 disparada pela
apresentação das experiências dos Ceccos de Campinas e Belo Horizonte (articulação realizada pela
Coordenadoria de Saúde Mental do Ministério da Saúde), o Cecco Toninha ganhou maior
reconhecimento para além do seu território.
A única oficina na ocasião que ocorria sistematicamente era oficina de dança circular em
parceria com Centro de Saúde Integração, que ocorria em um espaço legitimo de convívio e
organização comunitária que era a Casa de Cultura Tainã.
No final de 2005, a priorização do projeto de geração de rendas – Casa das Oficinas –
implica em uma redução de pessoal e o Cecco vive um pequeno período de refluxo em suas
atividades.
86
Em 2006, além das parcerias de diferentes profissionais para desenvolver as ações acima
mencionadas, tivemos a disponibilização de 12 horas de um educador social para realizar ações
que, naquele momento, estavam voltadas para a revitalização da SSVCB. Nesse período retoma-se a
rotina de reuniões semanais de planejamento e avaliação, com a participação de representantes da
saúde, assistência social, educação, AR5, Casa de Cultura Tainã e Progen, além de eventuais
participações da GCRES Rosa de Prata.
Em meados de 2007 definiu-se a Casa de Cultura Tainã como sede para o Cecco Toninha,
visando evidenciar sua presença, dando-lhe uma concretude, uma materialidade e, assim, nomear e
sistematizar as ações até então desenvolvidas construindo sua identidade. Também o Cecco
Toninha ganhou visibilidade devido ao maior incentivo distrital, através da
contratação/remanejamento de um técnico da saúde mental para potencializar as ações.
O local foi estrategicamente escolhido devido a: a) geograficamente a Praça dos
Trabalhadores favorece o acesso para os principais bairros da região Micro Noroeste, b) o
reconhecimento da Casa de Cultura Tainã como pioneira das ações artístico/culturais e ações em
parceria com a saúde e c) atender a diretriz federal que preconiza a estruturação de Ceccos em
pontos de cultura (como a Casa de Cultura Tainã).
A definição da sede, articulação gestora e incremento de recursos materiais favoreceram a
ampliação de novas ações coletivas e criação de uma grade de oficinas abertas à população.
As ações no território estão inseridas nas ações macro do Cecco Toninha que englobam: a)
discussão da apropriação da Fazenda Roseira como Casa de Cultura, b) espaço de educação
ambiental e articulação das discussões de melhoria da sede Social da VCB e c) revitalização da Praça
dos Trabalhadores através de
eventos como Ação cidadã.
E o oferecimento de oficinas
sistemáticas que ganharam maior
destaque em 2008 a partir do
levantamento
de
interesses
realizados
através
de
um
questionário em 2007.
Atualmente a grade de oficinas
engloba ações de caráter cultural,
artístico, social, ambiental, que se
desenvolvem na área da Praça dos
Trabalhadores e seu entorno,
Grupo Vocal – Novembro de 2008
prioritariamente, mas que se
espalham pelo território da região
noroeste como um todo e, em alguns eventos, até abrangências maiores. (Vide Cronograma de
Atividades Regulares anexo)
Algumas ações estão sendo planejadas para prevalecer o caráter itinerante, e, assim
atender a demandas da região noroeste ampliada.
Atualmente, contamos com os seguintes profissionais: 1 TO 30 horas na coordenação das
atividades, 1 educador social de 36 horas. E as seguintes parcerias: 15 horas de um agente de
limpeza da Única ligada a Casa das Oficinas, 18 horas de psicólogos do CAPS Integração com três
profissionais distintos, 2 horas de TO do C. S. Integração, 1h30 de T.O. CAPS Integração, 6 horas de
TO do Balão do Laranja, 2 horas de psicologia do Craisa, 2 horas assistente social distrito de saúde
87
(para terapia comunitária), 20 horas do docente de T.O. Puc- Campinas na educação e projeto de
extensão e aprimoramento e estagiários e aprimorandos de TO da Puc- Campinas auxiliando nas
diferentes oficinas.
Muitas ações se tornaram possíveis pela parceria com o projeto de extensão da Puc- Campinas
como: oficina experimental, oficina de sociabilidade, oficina de teatro, oficina de saídas sócio
culturais, projeto de educação ambiental e grupo vocal, atividades essas que seguem o calendário
escolar e tem uma duração determinada para existir.
O Cecco Toninha está inserido em uma sólida rede de saúde mental da região noroeste de
Campinas o que possibilita viabilizar ações de promoção de saúde e pensar o sujeito integral dentro
do pulsar comunitário, fundamental para a reinserção social dos usuários e para o fortalecimento
dos laços comunitários.
Oficina de Movimento Vital Expressivo – Evento de encerramento de 2008
Equipe do Cecco Toninha
88
Anexo 6
Data:___/___/___
Avaliação das oficinas Centro de Convivência Toninha em 2008
Nome:_____________________________________________________(opcional)
Data de nascimento: _____/_____/______ (opcional)
Atividade(s) que realiza e a frequência:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________
Há quanto tempo realiza as atividade(s) acima?
___________________________________________________________________
_______________________________________________________________
Depois que você começou a participar da(s) atividade(s), você percebeu alguma
mudança e/ou benefícios (saúde física e mental, nas relações sociais, entre
outras)? Quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_____________________________________________________
Você tem alguma crítica(s), sugestão (ões) e outros comentários?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________
Quais são seus desejos em relação às atividades e outras para 2009?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
FELIZ 2009
89
Anexo 7
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada Sr (a).___________________________________________________
Quero convidá-lo (a) a para colaborar como depoente de um estudo que
estou realizando sobre o história da oficina de danças circulares do Centro de
Convivência e Cooperativa Toninha, intitulado “Danças Circulares Sagradas na
integralidade do cuidado: uma história de autoconhecimento individual e coletivo”.
O Sr (a) foi convidado (a) a participar do estudo, pois frequenta ativamente
das rodas de danças circulares, todas as segundas feiras, as 08h00min horas na
quadra coberto da Praça dos Trabalhadores.
Será realizado um encontro com uma hora de meia de duração, por mim, a
focalizadora responsável e um auxiliar colaborador. Para que não haja perda das
informações importantes, pretendo registrar o encontro através de uso de gravador
e filmadora.
Através deste encontro pretendo organizar um registro com qualidade das
memórias da formação da roda de dança circular e identificar possíveis significados
mediante a sua participação.
Esse estudo está ligado ao curso de especialização que faço na Unipaz/
Campinas ligado a Faculdade Campos Elíseos e depois os resultados serão
divulgados, sem, no entanto, citar o nome daqueles que forneceram as
informações. Os registros fotográficos feitos, serão utilizados para complementar a
análise que o trabalho fará, preservando melhor a memória para as futuras
gerações.
A Sr (a) terá, a qualquer hora, esclarecimento de quaisquer dúvidas acerca
de assuntos relacionados com a pesquisa, bem como poderá deixar de participar
dela a qualquer momento, sem nenhum prejuízo na participação na oficina e no
serviço. A sua participação é voluntária, não existindo nenhum pagamento e não
implica em nenhuma despesa ou risco para a Sr (a).
Aceito participar desta pesquisa e autorizo publicação posterior de meu
depoimento e das fotos em que eu aparecer.
Assine se concordar:
90
_________________________________________________________________
Nome ou
Responsável
Responsável: Denise Castanho Antunes
Terapeuta Ocupacional do Distrito de Saúde Noroeste
Fone: 3268-6244
91
Anexo 8
PARTICIPAÇÃO NOS DEPOIMENTOS GRUPAIS
(Registro do Pesquisador)
N.
1
Dançante
Assinatura
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
92
Anexo 9
PRÉVIO ROTEIRO PARA OS DEPOIMENTOS ORAIS DE FORMA
GRUPAL DOS ENTREVISTADOS
Harmonização grupal: abertura da Roda e dança para acolhimento do grupo.
1. Nome (dançante) e tempo que frequenta a oficina.
2. O que eu levo e o que trago para roda?
3. Quais as memórias do surgimento da roda e outras pertinentes?
4. Qual o significado para vocês ao participarem da oficina de dança circular?
5. Após o grupo elegerem três músicas que marcaram a oficina, trazer a
questão: quais os sentimentos atribuídos a cada música dançada
grupalmente (no final de cada dança)?
Finalização: Montagem de uma imagem para registro de uma fotografia que
melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo dançando.
93
Anexo 10
94