Monografia Final Marcio Fontao - Práticas Projetuais
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Monografia Final Marcio Fontao - Práticas Projetuais
UNIVERSIDADE PRESBITERINA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO DEZEMBRO 2013 ALUNO: MÁRCIO BARBOSA FONTÃO ORIENTADORA: PROFa DRa ANA GABRIELA GODINHO LIMA “… we’re here to nudge forward the frontiers of Science” Jorn Utzon 1 2.....................................................................................................................................JORN UTZON 2.1....................................................................ANTECEDÊNCIAS, INFLUÊNCIAS E CARREIRA 2.2.................................................................................................................OUTRAS OBRAS 3....................................................................................................................SYDNEY OPERA HOUSE 3.1...........................................................................................................................HISTÓRIA 3.2.........................................................................................................................O EDIFÍCIO 4...............................................................................................................O PROCESSO DE PROJETO 5......................................................................................CENTRO DE MÚSICA E ARTES ARAÇATUBA 6...................................................................................................................................BIBLIOGRAFIA SUMÁRIO 1....................................................................................................................................INTRODUÇÃO agradecimentos que acompanharam todo o meu processo, atentos e sensíveis para ajudar a qualquer momento. Esta pesquisa aqui apresentada faz parte do trabalho final de graduação que desenvolvo durante o ano de 2013 para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mas antes de começar a falar sobre o trabalho, gostaria de agradecer a colaboração de todos aqueles que contribuíram para que esse texto pudesse ser escrito. De forma direta ou Não posso esquecer dos amigos que foram próximos e colegas que estiveram por perto acompanhando, colaborando e contribuindo de forma relevante para minha formação. E claro, gostaria de agradecer a professora Dra Ana Gabriela Godinho Lima que me acompanhou nos útlimos anos da graduação e me apresentou grande parte do conhecimento que eu carrego comigo agora. indireta, todos vocês estiveram presentes. Por fim, agradeço ao Deus que tem me amado e ensinado a Resumidamente, agradeço aos meus pais que tornaram amar. possível essa realidade e foram como alicerces para as colunas que construí ao longo desse período dentro da faculdade. Obrigado por serem atentos e dedicados! São Paulo, Dezembro de 2013 Agredeço também à minha irmã que graciosamente não cumpriu somente o papel que o sangue lhe outorgou, mas se fez também uma grande amiga. Márcio Barbosa Fontão Gostaria de registrar, a minha imensa gratidão aos familiares 3 _________________________________________________ * Croqui de Jorn Utzon e Sydney Opera House – fonte: Tese de Doutorado, Alberto Peñin, 2006. 1. introdução 2002; FRAMPTON, 1995). Algumas obras variam entre nenhuma e pouca abstração formal livre enquanto outras, O século XX foi marcado por inúmeras transformações na aproximam-se de padronização de elementos e até pré- arquitetura mundial. Palco da passagem do academicismo fabricação como por exemplo, sua própria casa e seus para o movimento moderno, esse período revelou muitos conjuntos habitacionais que assemelham-se muito às arquitetos e edifícios que se tornaram referência. Esse é o obras da primeira geração do movimento moderno. Josep caso de Jorn Utzon, arquiteto dinamarquês que foi um dos Maria Montaner argumenta que Utzon é um reflexo tanto da mais importantes e influentes do século XX. Sigfried melhor tradição da arquitetura moderna dinamarquesa Giedion aponta Utzon como o “representante máximo da quanto de inumeráveis influências internacionais. Esta terceira geração dos arquitetos modernos, sendo a Ópera estranha mistura, sabiamente dosificada e modelada para de Sydney a obra paradigmática desta geração” (2004). Na cada contexto, outorga um especial valor à obra de Utzon: mesma linha, Alberto Peñin afirma que o Ópera de Sydney “uma obra marcada pela vontade de concilicar fatores é “o edifício mais emblemático da terceira geração do contrapostos na arquitetura” (2001). Movimento Moderno”(2006). Mas antes mesmo das críticas serem escritas, o projeto de 1956 havia se tornado símbolo nacional australiano, desafiando as técnicas construtivas da época, e com sua forma expressiva, colocou Sydney sob os olhos do mundo. Mas apesar de toda a obra do arquiteto, é no Ópera de Sydney que Utzon dá a sua maior contribuição à arquitetura. Alguns autores escrevem que uma característica formal da arquitetura moderna da terceira geração é a idéia das “esculturas sobre a plataforma”, e é Segundo alguns historiades de arquitetura, a obra de Utzon nesse conceito que Utzon é um dos pioneiros. O Sydney concilia os preceitos universais da modernidade com a Opera House, pode ser considerado um dos melhores tradição vernácula e histórica (FORES, 2008; GIEDION, exemplo desse arquétipo. 5 Talvez o SOH* seja a obra mais reconhecida de Utzon, entretanto, um olhar sobre suas outras obras, desde os anos cinqüenta e mesmo já nos anos setenta, revelará sempre qualidades comparáveis à sua obra prima. Todo esse conjunto de obras rendeu-lhe inúmeros prêmios em todo mundo, inclusive o Pritzker Prize em 2003, o prêmio mais importante da arquitetura mundial. Michael Sorkin em What can you say about the Pritzker? (2005) aponta que ao lado de Louis Kahn, Utzon é o quarto arquiteto mais citado como influência nos discursos de recebimento do prêmio entre 1979 e 2005, ficando atrás apenas de Le Corbusier, Mies Van der Rohe e Frank Loyd e internacionais. Utilizando as palavras-chave: “Jorn Utzon”, “Sydney Opera House” e “Ópera de Sydney” no site da biblioteca virtual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie e da USP os seguintes resultados foram obtidos: 4.609 respostas para as palavras-chave “Sydney Ópera House” ou “Ópera da Sydney” e 190 respostas para “Jorn Utzon” somando às duas bibliotecas. Em ambas as bibliotecas, a busca não trouxe nenhum resultado em português, sendo os artigos e livros encontrados escritos em inglês, alemão, francês e poucos em espanhol. Wrhigt. Essa constatação pode ser uma evidência da relevância Uma nova busca realizada do Portal de Periódicos da Capes do arquiteto e de sua produção para a história da arquitetura. com a palavra-chave “Jorn Utzon” chegou a 250 resultados em A despeito de todo o reconhecimento de seu talento, Jorn Utzon ainda é um arquiteto pouco discutido em pesquisas nacionais. Com exceção de sua obra mais aclamada, pouco se sabe sobre as contribuições desse arquiteto para a arquitetura. Como confirmação de um certo “desinteresse” dos pesquisadores nacionais pelo tema, uma pesquisa foi realizada em bancos de dados nacionais _________________________________________________ * SOH – Sydney Opera House. diversos idiomas e apenas 1 resultado em português. Escrita por Ana Luisa Jardim Martins Rodrigues para a Universidade do Minho, Portugal, esta tese encontrada não é uma pesquisa dedicada ao estudo da vida e obra de Utzon e apenas cita o arquiteto ao descrever sobre “A habitabilidade do espaço doméstico : o cliente, o arquitecto, o habitante e a casa”. Com a palavra-chave “Sydney Opera House” 8.125 resultados foram encontrados e nenhum em português. O Banco de Teses da Capes não encontrou nenhuma Richard Weston e “Jorn Utzon, obras e proyectos” de dissertação ou tese com as mesmas palavras-chave e a Jaime Ferrer Fores, traçam um panorama da vida e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações levou a projetos realizados pelo arquiteto. “Studies in tectonic 1 resultado relativo ao assunto mas que dedicava-se culture” de Kenneth Frampton, “Espaço, tempo e exclusivamente ao estudo de tecnologias digitais no arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição” de desenvolvimento de projeto de arquitetura. Sigfried Giedion e “Depois do movimento moderno: a A pesquisa realizada no JStor com as mesmas palavraschave indicou 30 resultados para o nome do arquiteto e 3.930 para o nome da obra. Dos 30 primeiros artigos pesquisados, os 4 mais significativos são textos que analisam o arquiteto dentro de um conjunto de outros arquitetura da segunda metade do século XX” e “A modernidade superada: arquitetura, arte e modernidade do século XX” de Josep Maria Montaner também são bastante úteis pois traçam paralelos entre o autor e suas obras com a história da arquitetura. arquitetos. Já os 3.930 artigos, são publicações das áreas Uma das mais relevantes publicações encontradas foi um de música, teatro, cultura e turismo e dos 500 primeiros documento oficial do Governo da Austrália chamado textos conferidos, nenhuma tratava integralmente do Ópera “Nomination by the Government of Australia of the Sydney de Sydney, tampouco do arquiteto.* Opera House for Inscription on the World Heritage List Numa busca de bibliografia dentro das teses e artigos encontrados, foi possível verificar que alguns títulos eram frequentemente citados como referência. Livros como: “The Masterpiece. Jorn Utzon: A Secret Life”, de Philip Drew e “Utzon: inspiration, vision, architecture”, de _________________________________________________ * Todas as pesquisas em bancos de dados foram realizadas em Janeiro de 2013 2006.” Este documento reúne grande parte da bibliografia sobre o arquiteto e obra em inglês, possibilitando uma pesquisa mais direcionada. Entretanto, se por um lado há algumas publicações sobre Utzon em linguas estrangeiras, no Brasil, há uma lacuna no campo de pesquisas da história da arquitetura que não considera o estudo da obra 7 de um dos mais influentes arquitetos do século XX. Mesmo cado em livros, teses, dissertações, artigos e matérias relativo à havendo publicações, artigos, teses e dissertações que vida e obra de Jorn Utzon, que possam contribuir para a abordem o arquiteto e sua obra sob um aspecto ou outro, não interpretalção das ações projetuais do arquiteto. Entende-se há publicações em português dedicadas integralmente ao aqui que é de extrema relevância o estudo de uma trajetória que arquiteto ou a sua obra. marcou o movimento moderno e deixou heranças para as Mas a tarefa de investigar a biografia do arquiteto sempre foi futuras gerações. um grande desafio para pesquisadores. Contra a tendência dos O objetivo de estudar o processo de projeto do arquiteto star-architects Utzon se mostrou sempre reservado, buscando dinamarquês Jorn Utzon, leva em consideração a complexidade um anonimato em meio ao mundo da super exposição. de se estudar um “método” de projeto. A priori, gostaria de Segundo vários deixar claro que as leituras prévias da bibliografia, e a historiadores de arquitetura, como Tobias Faber e Kenneth participação em reuniões do Núcleo de Pesquisa Percursos e Frampton não conseguiram entrevistas com Utzon e também Projetos: Arquitetura e Design, já me instruíram a questionar um tiveram seus pedidos recusados (1999). Além de alimentar suposto método eficaz em Arquitetura. Entretanto, identificar mitos sobre suas obras, esse fato contribuiu para a escassez determinadas posturas projetuais, pode contribuir com as de publicações substanciais sobre ele, com exceção à pesquisas sobre processos de projetos, e este, talvez, seja meu ocasionais matérias ou capítulos publicados em revistas e principal objetivo. Philip Drew, durante muitos anos, livros. Como metodologia, esta pesquisa emprega o método qualitativo Motivado por essa realidade, a pesquisa aqui apresentada tem de estudo de caso, uma vez que a abordagem aqui terá um como intuito, o estudo do processo de projeto do SOH através caráter mais interpretativo. Os resultados aqui, permanecem em de uma busca, tradução e organizanização do material publi- aberto, assim como frequentemente acontece em um método de de projeto em Arquitetura. Uma particularidade deste trabalho está no fato de que essa criação escrita possui semelhanças com o percurso criativo arquitetônico. científica baseada em práticas. O conhecimento pragmático enfatiza a natureza experimental de certas formas de experiências, e é esse Assim, me apoiarei no trabalho de Richard Foqué em seu tipo de conhecimento que estamos lidando em processos livro “Building Knowledge in Architecture” (2010). Nesta de projeto, onde utilizamos predominantemente métodos publicação Foqué discute sobre a construção do não-textuais de expressão, como: croquis, desenhos, conhecimento comum em arquitetura, reconhecendo a modelagem, fotografia. Foqué afirma ainda que dados posição desta como disciplina oscilante entre a arte e a obtidos por meio do estudo de casos exemplares podem ciência, o que torna conflitante a construção de um ser aceitos como fatos por meio do consenso, e contribuir conhecimento científico. para a construção de um corpo de conhecimento. Entretanto, Foqué aponta que os estudos de caso são usados extensivamente como ferramentas de ensino nas escolas de Direito, Medicina e Administração de Empresas, entre outras, e propõe que a formação em arquitetura também deve incluir maior aprofundamento de estudos de caso. O autor defende “uso de estudos de caso como combustível da construção do conhecimento comum entre arquitetos” (2010). Assim, os estudos de caso podem fornecer resultados a partir de uma experiência " Ao compartilhar os resultados de estudos de caso, a própria profissão aceita ou refuta esse conhecimento, assim como o que acontece com os resultados de um experimento científico. Mas, em uma experiência científica, os fatos são comprovados verdade de forma objetiva e repetitiva, assim, o conhecimento comprovado baseado em caso é um dado subjetivo a ser aceito como fato e com isso, contribuir para a construção da teoria e da construção de um corpo de conhecimento " (Foqué, 2010) 9 2. jorn utzon “I stood looking at clouds over a low coastline, and I had a look at Kronborg Castle at Helsingor, and at Gothic churches. There you have forms against a horizontal line like the sea or the clouds without a single vertical line, northing constituting weight, and with forms that are different from all angles” Sheakspeare em Hamlet. 2.1 antecedências, influências e carreira. Dana Cuff afirma que a prática projetual, como prática cultural, carrega as marcas de identidade da pessoa que a executa (1991). Estudar uma obra sem estudar o arquiteto e suas relações sociais e culturais pode evidenciar fatos incorretos ou apenas meias verdades. Para isso, usarei como bibliografia desse capítulo, grande parte do livro de Philip Drew: Masterpiece, Jorn Utzon: a secret life, 1999. Mas antes, gostaria de situar Utzon no cenário dos arquitetos do século XX seguindo os critérios adotados por reconhecidos historiadores de arquitetura, como Josep Maria Montaner, Sigfried Giedion e Kenneth Frampton. Para estes, Utzon faz parte da terceira geração de arquitetos modernos. Sabemos de uma primeira geração dos protagonistas do movimento que nasceu entre 1880 e 1895 e começou a desenvolver seu trablaho a partir de 1910. Podemos citar: Walter Gropius (1883-1969), Mies Van der Rohe (18861969) e Le Corbusier (1887-1965). Na segunda geração, temos arquitetos que nasceram entre 1895 e 1905 e tiveram seus trabalhos desenvolvidos por volta dos anos trinta. Alguns deles são: Oscar Niemeyer (1907-2012), Alvar Aalto (1898-1976) e Philip Johnson (1906-20XX). Por último, temos a terceira geração que é formada pelos arquitetos nascidos entre 1905 e 1925 que começaram suas carreiras a partir de 1945-1950. Podemos citar: Alfonso Eduardo Reidy (1909-1964), Eero Saarinen (19101961) e claro Jorn Utzon (1918-2008). A tabela ao lado mostra com mais clareza o contexto profissional em que Utzon estava inserido. _________________________________________________ Tabela com as fases do movimento moderno e seus arquitetos. Baseado na classificação de Josep Maria Montaner. 11 Filho de Estrid Utzon e Aage Utzon, Jorn Oberg Utzon nasceu em Copenhague em 1918, Dinamarca. Sua infância se desenvolveu entre os estaleiros de Aalborg e Helsingor, nos quais seu pai, engenheiro naval, foi diretor. Essa experiência aproximou Utzon do desenho de iates e velas que futuramente influenciaria sua obra-prima. Mas não foram só os barcos que influenciaram o desenho de Utzon. A semelhança entre Bennelong Point (Austrália) e a Península de Helsingor, ocupada pelo Kronborg Castle, na qual Utzon por muitas vezes navegou, pode ter sido a primeira assimilação de Utzon para o projeto do SOH. Durante a infância de Utzon, dois eventos foram relevantes para a decisão em tornar-se arquiteto. O primeiro, no verão de 1930, quando tinha 12 anos, aconteceu quando Aage Utzon levou sua família para ver a Exposição de Estocolmo desenhada pelo arquiteto sueco Gunnar Asplund. O evento impactou toda a Escandinávia em sua intenção de modernizar a economia sueca, substituindo os antigos métodos artesanais de produção pelas modernas práticas industriais. A exposição procurou afirmar o advento da nova cultura do industrialismo e Aage Utzon foi _________________________________________________ Península de Helsingor - fonte: Michael Moy, 2007 Aage Utzon – fonte: Peñin, 2006. o cliente mais fascinado. Após um ensino elementar mediocre – com dificuldades em Matemática e parcialmente prejudicado por sua “Meus pais voltaram para casa tomados pelas novas ideias e dislexia, Utzon completou seu útlimo ano do ensino médio pensamentos. Eles logo começaram a reformar a nossa casa. em 1937 na Aalborg Katedralskole com uma pontuação O conceito era de espaço e luz. Todos os móveis pesados e a total de 6.16, e mesmo depois da descoberta da arte, investiu em uma tentativa frustrada de ingressar na escola decoração com o mobiliário vitoriano foram movidos para fora naval. Até então, a possibilidade de se tornar um arquiteto e as coisas simples trazidas para dentro, e nós desenvolvemos não tinha sido considerada por Utzon pois devido ao seu novos hábitos alimentares mais saudáveis.” (Jorn Utzon em Drew, 1999) histórico familiar, a engenharia naval parecia uma escolha óbvia para ele. Ainda enquanto estudante, Utzon regularmente visitava seu pai no estaleiro Havn Landsret para examinar os modelos mais recentes de iates. Aage, o O segundo evento, em sua adolescência, foi a descoberta do universo arte. Em meados de 1930, Utzon conheceu dois artistas de Alsgarde. Atrás do cais, perto da casa de sua avó viveu o artista dinamarquês Poul Schroeder (1894- incentivou a seguir sua carreira de engenheiro naval e por várias vezes, seus resultados no exame de admissão não foram suficientes para colocá-lo em uma escola politécnica. 1957). Schroeder, ensinou Utzon a desenhar de maneira diferente daquela que seu pai o tinha ensinado. Ao invés de Mas foi em Copenhague que Utzon decidiu ser arquiteto. linhas precisas, o artista mostrou a Utzon como desenhar “Aos 18 anos, Utzon estava incerto sobre sua carreira” usando lápis macio e carvão, “expressando livremente sua escreve Drew, “mas seu tio Askel Einar Utzon-Frank lhe resposta para o mundo ao seu redor” (Drew, 1999). deu um conselho” (1999). 13 Einar Utzon-Frank, tio de Utzon, era um renomado e Segundo Giedion, durante o período da graduação, Utzon sofreu respeitado escultor, professor de escultura da Academia Real grande influência de Steen Eiler Rasmussen, um excelente Dinamarquesa de Belas Artes, em Copenhague. Einar historiador, planejador urbano e professor que procurou desde o recomendou que Utzon estudasse arquitetura, pois acreditava início ampliar o conhecimento do jovem aluno. Kay Fisker que a carreira de arquiteto era mais segura do que a carreira também foi professor de Utzon e convidou-o para trabalhar com de escultor, e a partir de então, mesmo com a permanente ele em alguns projetos. A maior contribuição de Fisker foi ter ideia de se tornar um engenheiro naval, Jorn Utzon passou a ensinado Utzon a trabalhar com grandes escalas e ter considerar a proposta. apresentado ao jovem estudante o famoso arquiteto finlandês Entre 100 candidatos concorrentes à vaga, Utzon foi um dos Alvar Aalto. 25 admitidos para o curso, mais especificamente, foi o Em 1942 Utzon casou-se com Lis Fenger, uma artista vigésimo-quinto aprovado. Em 1937, com apenas 19 anos dinamarquesa, e juntos tiveram três filhos: Jan (nascido em Utzon matriculou-se em arquietura na Royal Academy of Art 1944), Lin (nascida em 1946) e Kim (nascido em 1957). de Copenhague. Drew afirma que o exame final da escola Segundo o documento de inscrição do Ópera de Sydney para a regular que tinha impedido Utzon de se matricular em World Heritage List, um dos primeiros trabalhos de Utzon foi engenharia naval não foi importante na avaliação da escola com Gunnar Asplund em 1945 na cidade de Estocolmo, Suécia, de arquitetura. Lá, seus professores estavam mais e essa experiência o levou a desenvolver as tendências dos interessados em sua habulidade com desenhos a mão livre mestres. Entre 1942–1945 Utzon também foi arquiteto assistente do que sua pontuação em matemática. Aos poucos, os do seu professor Paul Hedquist. Mais tarde, colaborou com planos de se tornar um engenheiro naval foi abandonado e a Tobias Faber em concursos de arquitetura e recebeu uma carreira de arquiteto lhe parecia uma boa escolha (1999). menção honrosa para o projeto de Ny Ålborghal, que incluia uma sala de concerto e teatros. Em 1945, pouco tempo depois de sua formação, Utzon horizontais como elemento constituinte da expressão recebeu a Minor Gold Medal of the Royal Academy of Fine arquitetônica. Impressionado com a arquitetura maia e Arts, Copenhague, em um concurso anual para arquitetos asteca, essa experiência foi muito relevante e faz parte das com menos de 35 anos de idade. O prêmio foi pelo projeto referências que futuramente influenciariam seu processo de uma Escola de Música. Em 1946 o recém-formado de projeto, especialmente, para o Ópera de Sydney. arquiteto trabalhou rapidamente com o finlandês Alvar Aalto em Helsinki, antes de retornar a Copenhague. Utzon participou de inúmeros concursos na Dinamarca e Suécia, ganhando menções honrosas. Em 1947, Utzon passou a colaborar com o arquiteto Norueguês Arne Korsmo em concursos. Em 1948, Utzon encontrou-se com Le Corbusier e Fernand Léger e no mesmo ano, esteve no Marrocos. Segundo Giedion, nesta viagem o que mais interessou o arquiteto foi a “unidade entre cidade e paisagem proporcionada pelo mesmo material – a terra” (2002). Em 1949, ganhou um bolsa de estudos e foi aos EUA e depois ao México. Nesse período, além de estabelecer contato com Mies Van der Rohe, conheceu o arquiteto Frank Lloyd Wright no Taliesin. Mas foi no México, como aponta Giedion (2002), que Utzon reconheceu os planos _________________________________________________ Uxmal Palace, México – fonte: Annie e Georges, 2013. Sydney Opera House – fonte: Guilherme Fonseca, 2013. 15 No artigo “Plataformas e Platôs”, publicado na revista jou à China, Nepal, Índia e Japão. Giedion aponta que Zodiac em 1959, Utzon diz: durante a visita a Pequim, Utzon conheceu o professor “O platô é um elemento arquitetônico fascinante. Apaixoneime por ele no México numa viagem de estudos em 1949, quando encontrei muitas variações tanto em dimensões quanto em concepções de platôs... Uma força extraordinária emana deles”. (Giedion, 2004) Em 1950 Utzon passou a trabalhar em seu próprio escritório e estabeleceu parcerias com Erik and Henry Andersson. Entre 1953 e 1960 foi premiado com a primeira colocação em diversos concursos escandinavos, a maior parte para projetos residenciais. Um desses prêmios foi a Eckensberg Medal for Architecture (1957) para o projeto da Kingohousing desenvolvidas na Dinamarca. Também em Liang, que havia redigido as normas de construção chinesas antigas, desde antes de 800 d. C., e as traduzido para o chinês moderno. Essas normas: “descreviam com grande detalhe os sistemas construtivos préfabricados desenvolvidos não como atualmente, somente em termos de escala, mas em todas as combinações possíveis e com grande cuidado com relação a seu conteúdo simbólico.”(Giedion, 2004) Ainda no mesmo artigo “Plataformas e Platôs”, Utzon descreve sobre suas impressões da arquitetura japonesa: “o piso numa casa japonesa tradicional é uma plataforma 1957, foi anunciado como vencedor do concurso para o delicada, tipo ponte. A plataforma japonesa é como o tampo de SOH e passou a trabalhar a fundo em seu projeto. uma mesa, e não se caminha sobre o tampo de uma mesa. É Foi em 1957, no mesmo ano em que venceu o concurso uma peça de mobília.” (Giedion, 2004) que lhe daria reconhecimento internacional, que Utzon via- Mais uma vez, assim como sua experiência no México, bléia Nacional do Kuwait e trabalhou nesse projeto até Utzon destaca a plataforma como elemento compositivo da 1979. arquitetura. Em 1982 Utzon criou o Utzon Associates com seus filhos e Utzon desenvolveu o projeto do Sydney Opera House ainda em 1998, foi convidado pelo governo de New South Wales na Dinamarca até 1963, fazendo visitas anuais a Sydney. para o desenho de equipamentos do interior do Sydney Até que em 1963, o arquiteto fechou seu escritório na Opera House. Em 2003 Foi criado o Utzon Center na Dinamarca e mudou-se com sua família para Sydney. Em Universidade de Aalborg que reúne os principais arquivos 1965, a relação entre Utzon e o governo de New South de Utzon. Em 2003, o arquiteto foi premiado com o Wales assumiu rumos indesejados. Essa tensão levou o principal prêmio de arquitetura do mundo, o Pritzker Prize e arquiteto a abandonar o projeto em Fevereiro de 1966 e em 2008, Jorn Utzon morreu aos 90 anos em Copenhague, voltar para Dinamarca no mesmo ano. Adiante, no capítulo na Dinamarca. sobre a história do edifício, tratarei este fato com mais atenção. De 1968 até 1971 Utzon trabalhou em inúmeros projetos, incluindo o projeto para a Bagsvaerd Church em Copenhague e o Jeddah Sports Stadium na Arábia Saudita. Em 1971, Utzon e sua esposa mudaram-se para uma casa desenhada pelo próprio arquiteto na ilha de Majorca, no Mediterrâneo. Entre 1971 e 1973, Utzon foi professor visitante da Escola de Arquitetura da Universidade do Havaí e em 1972 ele foi premiado no concurso para a Assem- _________________________________________________ Jorn Utzon – fonte: “Between Earth and Sky”, Adrian Carter, 2008 17 2.2 outras obras. Podemos considerar que o primeiro edifício erguido por Jorn Utzon foi em Alsgarde, próximo da casa de sua avó em 1940. Ele foi seu criador, supervisionou o trabalho e participou diretamente de sua contrução, auxiliado por um construtor que foi contratado por sua família. Utzon ajudouo a construir o modesto “abrigo” sem muito significado arquitetônico, mas que diz muito sobre os valores de sua obra e sua maneira de trabalhar. Desde seu primeiro trabalho, Utzon revelou-se um arquiteto interessado no processo de construção. Desde este singelo projeto para sua avó até o Ópera de Sydney, uma das características mais marcantes da atividade profissional do arquiteto era o gosto pela participação na realização do edifício. Segundo Philip Drew, esta é a maneira que ele gosta de fazer as coisas: trabalhar com os fornecedores, dando instruções, assistindo ao progresso e corrigindo e ajustando os detalhes ao longo do caminho (1999). Arroyo aponta que a maior virtude de Utzon esteve sempre na capacidade de abordar temas e escalas de projeto com- pletamente diversos com a mesma competência (2009). Kenneth Frampton defende que o arquiteto com frequência recorreu a outras culturas, fruto de suas viagens e suas leituras, para definir uma arquitetura baseada em uma forma “transcultural” (1995). Mas podemos considerar que de forma geral, o trabalho de Utzon seguiu três principais conceitos. Segundo Frampton, o primeiro conceito é a ênfase dada à cobertura do edifício, o segundo é a importância dada a base do edifício, e por último, a validade cultural (1994). O mapa ao lado, mostra a localização de suas obras. Logo de partida, podemos notar que além no número reduzido de obras, não há nenhum edifício construído nas Américas. Se considerarmos uma carreira que foi de 1939 até 2008, teremos a média de uma pbra por ano. Outra questão importante a ser notada é o fato de suas obras serem majoritariamente residências de pequeno porte. Das duas 49 obras citadas, 36 são casas unifamiliares. É importante notar também, que em suas casas unifamiliares, o desenho de Alvar _________________________________________________ Mapa de localização das obras de Jorn Utzon. 19 Kingohouses Aalto parece ser a principal influência. Segundo Montaner, os primeiros projetos de Utzon, como as Com relação as datas em que essas obras foram feitas, há casas de Kingo, organizam-se como agrupamentos de casas que um fato interessante. No perído entre 1956 até 1966, em que se adequam ao contexto topográfico, cultural e natural. O autor esteve a frente do projeto para o SOH, Utzon também projetou escreve que os mesmos desenhos que representam a casa-tipo outros 13 projetos pelo mundo, inclusive um barco. Em 1967 enfatizam a importância neo-empirista pelo detalhe, pelo e 1968, anos de suguem a polêmica saída do arquiteto do artesanato e pela presença humana (2001). projeto em Sydney, não houve nenhum projeto feito pelo arquiteto. Entretanto, em 1969, dois anos após o desligamento, no mesmo ano foram projetados 10 edifícios. Aqui nessa parte do trabalho, eu separei alguns edifícios projetados pelo arquiteto, para podermos fazer algumas considerações mais gerais sobre o processo de projeto de Utzon. Uma visão mais holística nos ajudará a entender o arquiteto e suas diferentes escalas de projeto. São três projetos em escalas diferentes e com funções diferentes. Numa escala pequena, a Kingohouses. Numa escala média, a Igreja Bagsvard e numa escala grande, a Assembléia Nacional do Kuwait. Para Giedion, quando Utzon projetou a Kingohouses, com Bagsvard Church paredes unificadas pelo uso contínuo de tijolo amarelo, Como vimos anteriormente, após o abandono das obras do tinha em mente a unidade das construções primitivas que Ópera de Sydney, Utzon voltou à Dinamarca e realizou alguns visitara no Marrocos em 1948 (2004). projetos. Entre eles está a Bagsvard Church. Segundo “Inspirada nas imagens da arquitetura islâmica que visitou no Marrocos em 1947, onde foi fortemente impressionado pela Montaner, neste projeto, Utzon mais uma vez, assim como no SOH, busca atender as exigências da industrialização sem sacrificar a expressividade. Aqui, a forma exterior é definida coesão e integridade arquitetônica das casas do deserto por painéis pré-fabricados e peças de cerâmica enquanto o construídas com o barro local, na qual se uniam a paisagem. interior, supercífies onduladas em concreto armado formam o Essa unidade entre material e paisagem estava na mente de Utzon quando mais tarde, desenhou a kingohouse.” (GIEDION, 2004) teto (2001). Neste projeto, Utzon parece ter ignorado milênios de tradição que deu às igrejas certa forma clássica. Por fora, o edifício não se assemelha com um templo. Não há arcos, torres, pináculos, abóbodas, vitrais, ou qualquer outro tipo de solução que lembre uma igreja. Entretanto, por dentro, quando a luz zenital encontra as formas orgânicas do teto, a igreja assume um caráter solene comum nas igrejas. Para Drew, em vez de fazer uma atualização do gótico, Utzon viajou de volta para a era remota da igreja primitiva, quando pagãos e _________________________________________________ KingoHouses, vista externa, implantação e pátio interno fonte: Jorn Utzon: Metáforas para o cotidiano, Julio Arroyo, 2009. cristãos estavam misturados, e o cristianismo estava lutando para se estabelecer nas fronteira da Escandinávia (1999). 21 Do mesmo modo como fez no Sydney Opera House, Utzon escolheu uma forma geométrica para fazer o teto do edifício. Assim como a cobertura e o forro do edifício em Sydney, a Bagsvard Church adota o cilindro para compor a geometria da cobertura. Como explicação, Utzon afirma: “Eu costumava a me deitar na praia pela noite, no Havaí. Por causa dos ventos alísios, as núvens estavam diferentes. Elas estavam como bolas de algodão flutuando levemente. Os ventos sopravam diferente de como sopram para nós na Dinamarca. É como se fosse uma força muito forte onde você pode quase encostar. Enquanto eu estava lá, pensei: “Que lugar amável para uma igreja”. E a praia é atualmente usada para casamentos. Mas aquelas núvens e a luz entre elas e aquela praia me deram a idéia para a cobertura.” (Michael, 1994 em Drew, 1999) _________________________________________________ Croquis preliminares da Igreja de Bagsvaerd –fonte: “Jörn Utzon – Un Ricordo delle Hawaii” in Casabella, Françoise Fromonot, 1997. Igreja Bagsvard, elevação e corte – fonte: Tese de Doutorado, Alberto Peñin, 2006. Croqui de Utzon e foto do interior da igreja – fonte: “Between Earth and Sky”, Adrian Carter, 2008 Assembléia Nacional do Kuwait Talvez, este seja um dos edifícios que mais explicite o regionalismo de Utzon. Projetado em 1972, é um dos raros exemplos de uma declaração monumental efetiva no Oriente Médio. Segundo Curtis, Utzon tinha era bem-sucedido em combinar referências locais, tipos tradicionais genéricos e uma organização moderna de espaço (2008). Curtis aponta que Utzon precisava deixar todos os departamentos visíveis e disponíveis desde a entrada, e era isso que passava a idéia de uma rua central com o salão principal amplo para o mar na frente. Departamentos individuais eram restritos a dois andares de altura e eram dispostos ao redor de seus próprios pátios. Essas unidades celulares podiam ser adicionadas pouco a pouco, de modo que em planta o edifício do congresso era como uma abstração de uma cidade do Oriente Médio, com um mercado árabe principal como espinha dorsal, mas com extremidades amorfas que se estendiam até o limite retangular (2008). O complexo inteiro é coberto por uma ampla cobertura, que assemelhan-se com as formas elevadas de uma tenda. Para Curtis, visto de uma certa distância, o guarda-sol arqueado sobre a entrada também provoca associações com um dhow, pequenos barcos a vela tradicionais dos árabes, o símbolo nacional do Kuwait (2008). A estrutura do projeto foi concebida como um sistema prémoldado em concreto, com colunas regulares ritmadas que sustentam um teto com certa referência à “pureza da estrutura islâmica”. Segundo Curtis, o conceito da cobertura protetora como uma imagem do Estado invocava lembranças tribais que tinham a ver com a tenda principesca dos anciãos. _________________________________________________ Assembléia Nacional do Kuwait. fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/09.025/1776 acesso em 04/11/2013 23 A preocupação com a luz e a sombra reforça neste projeto as inclinações de Utzon ao regionalismo crítico. Mais do que uma experiência visual, Utzon buscava transmitir uma experiência sensorial. Nas palavras do próprio arquiteto: “A luz do sol perigosamente forte no Kuwait torna necessário nos protegermos na sombra – a sombra é vital para nossa existência -, e esse salão que fornece sombra para as sessões públicas talvez pudesse ser considerado simbólico da proteção que um governante estende ao seu povo. Há um ditado árabe: ‘Quando um soberano morre sua sombra se perde”. (CURTIS, 2008) _________________________________________________ Acima: foto do interior da Assembléia Nacional do Kwait – fonte: http://architecture.about.com/library/blutzon-kuwait.htm, 13/06/2013 Ao lado: foto de Bennelong Point, Sydney – fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. 3. história “The sun did not know how beautiful its light was, until it was reflected off this building” Louis Kahn 25 Para Montaner, as características formais da arquitetura que É evidente que essa história não começa no concurso começou a varia internacional. A discussão sobre um novo centro cultural em notavemente em relação aos padrões do período entre as Sydney já estava em pauta desde 1940. Segundo a Inscrição guerras. Essas mudanças colocam novos paradigmas na do Ópera para a World Heritage List (2006), Eugène história da arquitetura. “A Capela de Le Corbusier em Goossens, maestro da Orquestra Sinfônica de Sydney na Ronchamp e a Ópera de Sydney, junto com as obras época, foi o primeiro a propor que esse novo edifício fosse expressionistas de Eero Saarinen foram possivelmente os construído em Bennelong Point. Após o local ter sido manifestos mais significativos da evolução formal” (Montaner, aprovado por John Joseph Cahill, primeiro ministro de New 2001). Mas quais foram esses avanços? Sugiro que sejam South Wales, em 1955 um concurso internacional foi iniciado relatados e discutidos para inspirar futuros avanços. com o objetivo de escolher um projeto para o novo edifício. O desenvolver-se nos anos cinquenta Mas isso precisa ser feito com urgência. Como aponta Drew, levantar dados históricos sobre o SOH é necessário, pois muitas das pessoas que estavam envolvidas em seu projeto e construção estão em seus 70 ou 80 anos e como as pessoas naturalmente morrem, muitas das chances de descobrir os concurso foi aberto mundialmente e não especificava limites de custos, de maneira que a competição provocou grande interesse em australianos e estrangeiros. Ao todo, 233 arquitetos registraram suas inscrições em projetos (Messent, 1997). detalhes importantes sobre a obra foram perdidas (1999). Isso As diretrizes para o concurso estão registradas no Brown representa perder uma grande oportunidade de descobrir o que Book (1956) editado pelo Governo de New South Wales. Este realmente aconteceu durante a crise política que envolveu a livro, contrsução, por exemplo. A história que envolveu todo o edifício apresentando o edital, fotografia e desenhos do local, nome é tão extraordinária e complexa quanto o próprio edifício. dos jurados, entre outras. O programa do concurso, elaborado trazia informações gerais sobre o concurso, pelo prórprio Eugène Gossens juntamente com o Opera House Comité, solicitava uma sala sinfônica com capacidade para 3.000 a 3.500 espectadores, uma sala de ópera para 2.800 e um teatro para 1.200. Além desses equipamentos, o programa pedia camarins, salas de ensaio, depósitos, oficinas, restaurante, e outros locais que somados resultavam em 60.000m2 construídos. A imagem no canto direito inferior, mostra o juri responsável pela escolha do projeto vencedor. Era formado pelos professores Henry Ingham Ashworth, Cobden Parkes, Leslie Martin e Eero Saarinen. Muitos autores apontam que a participação de Eero Saarinem foi decisiva para a esolha do projeto de Utzon. Durante as avaliações dos projetos, Saarinen examinou os desenhos que já haviam sido eliminados do concurso e encontrou entre eles o de Utzon. Segundo Giedion, Saarinem voltou-se para o juri com o projeto em mãos e disse: “Senhores, este é o primeiro prêmio” (2004). Todos ficaram impressionados como a cor branca da cobertura em forma de conchas se relacionava naturalmente com a _________________________________________________ Capa do Brown Book e informações sobre o concurso. fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au/index.php/galleries/sydney-opera-house/sydney-opera-house-the-brown-book/ em 09/08/2013 27 baía e com as velas dos iates (Murray 2004: 10). Segundo o documento oficial divulgado pelos jurados: “O desenho é simples, quase um diagrama. Mas estamos convencidos de que representa um conceito que pode se transofrmar em um dos edifícios mais representativos do mundo. Esta proposta é a mais original e criativa também. Não obstante, estamos convencidos de seus méritos: em primeiro lugar a simplicidade de sua organização e depois a unidade da expressão estrutural. Acreditamos que esta seja uma O juri estava convencido que o desenho de Utzon era o mais original e criativo, capaz de criar um dos mais composição arquitetônica fascinante, perfeita para a paisagem incríveis edifícios do mundo. Mas ainda pairavam dúvidas de Bennelong Point. As abóbodas em formato de conchas se sobre a construtibilidade da estrutura do edifício, devido à inserem harmoniosamente na baía, como as velas de um barco.” (Publicado em The Builder, 1957. Citado em Peñin, 2006) inesperiência do jovem arquiteto. Para Giedion, foi um grande feito de Eero Saarinem (cuja carreira foi interrompida pela sua morte) ter reconhecido de imediato o significado em nível mundial da participação de Utzon e “ter insistido veementemente para que Utzon recebesse o primeiro prêmio e a obra fosse executada” _________________________________________________ (2004). Foto aérea de Bennelong Point antes da construção do SOH. fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au/index.php/galleries/sydney-opera-house/sydney-opera-house-the-brown-book/ em 09/08/2013 O projeto que Utzon enviou para o concurso, consistia em 12 pranchas com desenhos bastante genéricos. As elevações de Utzon mostravam a cobertura em concreto ainda sem fechamentos laterais e poucos detalhes construtivos. Após os resultados divulgados, uma aquarela do edifício, realizada por Ashworth, membro do juri, foi publicada em vários jornais do mundo. Até o momento, essa era a imagem mais esclarecedora sobre o novo Sydney Opera House. _________________________________________________ Fotos da capa, elevação e implantação apresentadas por Utzon. . fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au / em 09/08/2013 29 Até então, nem o juri, nem o arquiteto e tampouco os engenheiros imaginavam os desafios que teriam pela frente, entretanto já suspeitavam das dificuldades na execução do projeto. Segundo Weston, essa insegurança somada à pressão do governo de New South Wales em querer um arquiteto australiano quase provocou um novo concurso (2002). Essas dúvidas levaram os representantes do governo, jurados e Utzon a um encontro com engenheiros para garantir o desenvolvimento do projeto. Em 1957, na cidade de Londres, Ove Arup entra para a equipe por meio de um contrato independente. Estava claro que o conceito do desenho do Ópera de Sydney e sua escala, exigia novas soluções, tecnologias e materiais. Com o tempo, na medida em que estudos eram feitos em conjunto, mais material era produzido pela equipe. Esse material, foi publicado em dois livros oficiais. O primeiro, Red Book de 1958, e o segundo, Yellow Book de 1962, revelam o esforço da equipe em resolver os problemas construtivos do projeto de Utzon. _________________________________________________ Primeira página do Sydney Morning Herald, de 30 de Janeiro de 1957. Destaque para aquarela de Ashworth fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. _________________________________________________ Fotos da capa e de uma página do Red Book e Yellow Book, esta última, desenhada por Rafael Moneo, que trabalhou com Utzon. fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au/index.php/galleries/sydney-opera-house/sydney-opera-house-the-brown-book/ acesso em 03/04/2013 31 Enquanto alguns profissionais se concentravam em solucionar Incialmente, Utzon valorizou a mudança do governo por alguns processos construtivos, a obra já havia começado. A considerar que isso poderia resolver a situação em que a construçao do edício foi dividida em três partes. O pódio (estágio 1, obra e os pagamentos se encontravam. Entretanto, entre de 1958 – 1961), as abóbodas em formato de conchas (estágio 2, as prioridades do novo governo, não figurava a construção 1662 – 1967) e finalmente os fechamentos de vidro e o interior do SOH – uma obra a qual sempre se opuseram. A frente (estágio 3, 1967 – 1973). O primeiro e segundo estágios da do conselho de obras públicas estava David Hughes, um contrução foram desenhados e supervisionados pelo próprio político que, segundo Peñin, “carecia de formação técnica arquiteto Jorn Utzon. Mas em 1965, reviravoltas políticas colocaram adequada” (2006). Desde o início do mandado, Hughes o governo de Nova Gales do Sul nas mãos do partido rural. tratou de livrar-se de Utzon com o pretexto de um corte de gastos, mas o arquiteto pensava que seria impossível terminar o edifício sem sua participação. Não foi isso que aconteceu. Peñin aponta que Hughes não demorou em bloquear não somente os procedimentos necessários para o andamento da obra mas também deixou de pagar pelo trabalho de Utzon (2006). Dessa forma, Utzon foi forçado a renunciar a obra em março de 1966, depois de 7 anos a frente do projeto e construção. Após a renúncia, o projeto passou por alterações no seu projeto inicial, que foram assinadas pela direção de um novo grupo de arquitetos locais, Peter Hall, Lionel Todd e _________________________________________________________ Peter Hall, Lionel Todd and David Littlemore fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. David Littlemore em conjunto do arquiteto do governo de New South Wale, Ted Farmer. Algumas propostas, continham de dólareas australianos. Foram seis anos a mais do que o alterações substanciais, como a mudança de uso das salas. estimado inicialmente e o custo da obra atingiu 10 vezes Segundo Rafael Moneo, o resultado arquitetônico dessas mais o valor inicial pretendido (Murray 2004). Weston aponta mudanças foi “obsceno” (2005). Concordando com Moneo, que foi dado muita liberdade para Utzon explorar, Peñin acrescenta que: experimentar e conceber a estrutura do edifício (2002), o que . “Não se respeitou os usos dos auditórios e suas configurações em planta e corte [...] desaparecendo o paralelismo subjacente na ideia inicial da casca de nóz. Os fechamento de vidro se realizaram sem montantes intermediárias exteriores e com uma pesada subestrutura metálica interior pintada de cor bronze que produz um efeito de reflexo que precisamente Utzon havia se esforçado para evitar. Definitivamente, [...] se pode ter colaborado para o encarecimento do edifício. Apesar da primeira apresentação no SOH ter acontecido em 1960, o cantor americano Paul Roberson cantou para os construtores da obra treze anos antes da abertura do edifício. Mas a abertura oficial do edifício aconteceu em 20 de outubro de 1973. Quando a Rainha Elizabeth II inaugurou oficialmente o Sydney Opera House e em 28 de Setembro de 1973, numa apresentação da Companhia de Ópera Australiana. Durante esse periodo, cerca de 300 jornalistas de todo o ignorou grande parte do trabalho de grande utilidade mundo estiveram em Sydney para “ver se o Sydney Opera elaborado ao largo de 7 anos e que estava a ponto de finalizar- House se tornaria um grande elefante branco ou não” (Kerr se” (Peñin, 2006) 1993). Um correspondente do Los Angeles Times escreveu: “Este, sem dúvida, pode ser o mais inovador, mais audacioso, mais dramático e de muitas formas, a mais bela Sem Utzon, o edifício seguiu em construçãoo e levou 16 casa de ópera construída, tornando-se a referêcia dos anos para ser finalizado, tendo um custo de 102 milhões tempos modernos” (Kerr 1993). 33 4. o processo de projeto “This circus tend is not architecture” Frank Loyd Wright Em The Value of Architectural Sketches, Ana Gabriela Godinho . Lima aponta que o processo de fazer determinadas coisas nos revela sobre nós mesmos. Segundo a autora, o processo de desenho “é sempre um processo de conhecimento e criação de algo que não estava claro ou não existia até o início do processo”. Lima defente o croqui como uma atividade capaz de Utzon, enquanto os croquis mais suaves e livres são gerar novas informações e que embora os croquis em arquitetura claramente influencciados por Poul Schroeder (1999). sejam mais frequentemente utilizados como ferramentas na representação do desenho, eles podem ser ferramentas de construção da habilidade do arquiteto em desenvolver e sofisticar Se por um lado há quem acredite que os croquis revelam conceitos que já estão prontos na cabeça do arquiteto, assim como Lima, Drew parece defender que: conceitos através do ato de desenhar no papel. Durante o tempo que passou na faculdade, algumas experiências “Linhas registram o humor. O modo como elas são desenhadas deram a Utzon uma capacidade de desenvolver estilos diferentes – se elas são “bruscas” ou suaves, leves ou pesadas, de croquis. Segundo Drew, os croquis formais com linhas firmes revelam a influência do professor Gunnar Biilman Petersen em _________________________________________________ Croquis de Jorn Utzon fonte: Yellow Book, 1962. espontâneas e imprevisíveis ou deliberadas e controladas – revelam o que se passa na cabeça do artista. Os desenhos de Utzon também revelam quais são suas intenções. Os borrões pesados em lápis 6B eram reservados aos seus primeiros pensamentos enquanto suas ideias são formadas e ainda Os primeiros croquis de Utzon para o SOH revelam essas explorações e experimentações defendidas por Lima e Drew onde as linhas não buscam revelar detalhes do projeto, mas primeiramente, revelar pistas para as soluções tentativas. Giram ao redor de “constelações” vagas desestruturadas e expressivas. Estes primeiros croquis são explorações com acidentais sugestões, pequenas pista e . pontos de partida.” (Drew, 1999) Embora existam muitas maneiras diferentes de desenhar, Drew sugere que Utzon tem duas preferidas: uma espontânea e exploratória, e outra delicada com muita precisão quase como é feito no computador. Cada uma servindo a propósitos diferentes. Nas palavras do autor: Há também os croquis que Utzon desenhou com a finalidade “O primeiro é sobre espontaneidade, como um tatear no de explicar seu projeto. São desenhos que foram feitos escuro em busca de algo, o segundo é semelhante a uma posteriormente ao SOH, e que revelam as influências que planta de engenharia naval bastante precisa, confiável e exata”. (Drew, 1999) marcaram o processo de projeto do arquiteto. _________________________________________________ Croquis de Jorn Utzon para o SOH fonte: Yellow Book, 1962. 35 Essas influências que resultaram na forma única do edifício incluem desde formas orgânicas naturais a uma variedade “eclética” de influências culturais, brilhantemente unificadas em um edifício escultural. Segundo Norberg-Schulz: O Sydney Opera House é a grande realização da síntese entre a terra e o céu, paisagem e cidade, íntimo e público, pensamento e sentimento, [...] uma união da tecnologia e da forma orgânica. Portanto podemos certamente dizer que o Sydney Opera House representa a obra-prima da genialidade criativa humana, e o mais significante passo na história da arquitetura moderna (1996). Esse conjunto de significados que Norberg-Schlz escreve também aparece em abordagens mais fenomenológicas de Giedion (1965) e Frampton (2004). Esses últimos, interpretam o edifício como um local que proporciona o florecimento de imaginação e espírito cultural nas pessoas que o frequentam e esse acendimento cultural se dá pela observação da forma e pela experiência no espaço construído. Não por acaso, estes mesmos autores apontavam Utzon como um dos principais nomes do Regionalismo Crítico. _________________________________________________ Clouds over the sea, Jørn Utzon, 1962; Sketch of a Japanese house, Jørn Utzon, 1962. - fonte: http://www.arcspace.com/bookcase/utzoninspiration---vision---architecture/ em 19/05/2013 Todas esss definições, servem para nos alertar sobre a complexidade que envolve analisar o projeto e o processo de projeto de arquitetura do SOH. Para evitar confusões, seguirei a ordem de análise que foi usada pela arquiteta e crítica francesa Françoise Fromonot, em seu livro: Jørn Utzon, architetto della Sydney Opera House, de 1998, a saber: o pódio, as cascas e os interiores. Por último, acrescentarei uma parte para falar dos fechamentos de vidro. _________________________________________________ Croqui Preliminar da cobertura do SOH, 1858 e Croqui conceitual do SOH, 1958. – fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. 37 As Plataformas A monumentalidade da entrada principal era uma Dentre os projetos enviados ao concurso, o de Utzon era o único preocupação tão forte do arquiteto, que um recurso pouco que organizava as salas de concerto uma ao lado da outra. econômico foi utilizado para sustentar o primeiro platô de Todas os outros projetos seguiam a solução mais óbvia – acesso ao conjunto. Segundo Peñin, Utzon desejava que esta colocar uma sala atrás da outra, induzidos pelo desenho da laje estivesse livre de colunas, não só para facilitar o giro dos península. automóveis do piso inferior (térreo), mas para criar um Mas não é só por isso que o SOH tem uma composição volume monumental na entrada (2006). excepcional. Seu conjunto formado por três grupos de coberturas em formato de conchas intercaladas colocadas sobre uma pesada plataforma que abriga os serviços, também é diferente da arquitetura que se produzia até então. Como citado anteriormente, uma das características formais da arquitetura moderna da terceira geração é a idéia das “esculturas sobre a plataforma”. No projeto de Utzon, essa plataforma assume a função de praça pública que favorece a realização de eventos. Talvez por isso, para Richard Weston, este local é possivelmente o melhor espaço público criado no século XX (2002). . ___________________________________________________ Implantação do SOH. fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. . Para isso, Arup propôs a eliminação dos pilares do térreo com uma solução de vigas protendidas que chegam a 1,40m de altura e vencem um vão de 50m. O acesso de veículos para embarque, desembarque, carga e descarga é feito pelo térreo e avança ao interior do edifício sob esse platô. Sobre esse acesso de veículos, existe a escadaria e o primeiro platô que formam a principal entrada da grande plataforma. Deste nível para cima, Utzon colocou tudo o que é público, e para baixo, tudo o que é serviço. O próprio arquiteto afirma em “Plataformas e Platôs” que: “a idéia foi deixar que o plano atravessasse o edifício como uma faca, separando completamente suas funções primárias e secundárias. No topo da plataforma os espectadores recebem a obra de arte concluída, e sob esta, ocorre toda a sua preparação”.( Jorn Utzon in Moy, 2007) _________________________________________________________ Corte do Platô e da Escadaria – fonte: Tese de Doutorado de Alberto Peñin, 2006. Planta do SOH – fonte: Documento do Concurso, Jorn Utzon, 1956. 39 Segundo Peñin, essa estratégia de Utzon de inserir os serviços nos planos baixos da plataforma, favorecia a liberação de espaços livres e otimizava as áreas superiores como locais públicos. Além disso, o pódio escalonado permite resolver com naturalidade alguma das questões funcionais que rodeiam um edifício dessa dimensão. Peñin ainda aponta que através dele, é possível acessar todas as salas de apresentação sem muito esforço, e a implantação do projeto propõe uma solução praticamente inédita até o momento (2006). Quando Peñin aponta que a solução da plataforma é praticamente inédita, deve-se entedenter que o autor refere-se aos edifícios modernos. Segundo Giedion, as plataformas constituiram os edifícios desde os Zigurates. Mas a incorporação do plano horizontal como elemento constituinte platôs maias e astecas (pag 15). Para Giedion, o acesso ao edifício feito pelos diferentes níveis ascendentes, por meio de degraus tão amplos, são em uma escala menor, algo bem semelhante às escalinatas dos monumentos astecas e maias (2004). Curtis, também reforça essa posição, dizendo que: “O tema da plataforma estava de qualquer maneira na mente de Utzon, como fica claro a partir de seus projetos de casas, mas em um contexto monumental pode ser que tenha havido uma inspiração específica nas colinas artificiais com degraus cerimoniais do Monte Alban, o antigo sítio mexicano que o arquiteto esboçara durante suas viagens.” (Curtis, 2008: pag 469) da arquitetura foi tão expressiva nessa época que foi entendida como um nova descoberta da terceira geração (2004). Como sabemos, Utzon conheceu a arquitetura maia e asteca, que utiliza os planos horizontais constantemente em seus edifícios. Podemos supor, assim como muitos autores que o desenho das plataformas de SOH nasce influenciado pelos Entretanto, apesar de toda a discussão sobre as origens do desenho da plataforma, é interessante notar que não há desenhos de Utzon que se dediquem a explicar a plataforma. A maior parte dos seus croquis, são tentativas de esclarecer as idéias para a cobertura. No croqui preliminar apresentado no início deste capítulo, Utzon desenha duas coberturas suspensas no ar, como seus desenhos de núvens e do telhado japonês. No caso do croqui conceitual, a cobertura também tem destaque de modo que a plataforma se resume a um borrão ainda pouco claro (pag 37). Evidentemente, não é possível afirmar que a plataforma não era uma preocupação de Utzon. É importante destacar que o desenho escolhido para a capa do projeto entregue no concurso de 1956 não é uma representação das coberturas, e sim uma perspectiva das escadarias sob a obertura. Uma outra análise, apresentada na página ao lado, mostra As imagens da próxima página mostram as pequenas também que a plataforma foi o elemento do edifício que menos alterações que foram feitas na plataforma desde o primeiro sofreu alterações em seu processo de projeto. Com exceção desenho enviado por Utzon até o desenho do projeto de algumas mudanças feitas dentro das salas e nos níveis construído. inferiores, a escadaria e os platôs que formam o espaço público apontado por Weston, sofreram pequenos ajustes que, se comparados com os que foram feitos na cobertura, passam despercebidos. Nesse momento, não vamos considerar as alterações das salas de concerto. Deixaremos essa análise para o subcapítulo referente aos interiores. _________________________________________________________ Capa do projeto de Jorn Utzon enviado a Concurso. fonte: Documento do Concurso, Jorn Utzon, 1956. 41 1956 1958 _________________________________________________________ Plantas do SOH com destaque para a plataforma. Projeto enviado ao concurso por Jorn Utzon, 1956 ; Red Book, 1958; Yellow Book; 1962. fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au/index.php/galleries/sydney-opera-house/sydney-opera-house em 03/04/2013 1962 Nota-se 3 principais mudanças no desenho da plataforma. A 1973 primeira é com relação a forma do restaurante. Na apresentação de 1956, a projeção do restaurante não aparecia, mas ao longo do processo, a planta passou a mostrar a projeção das conchas e um desenho mais definido sobre os limites do restaurante. A segunda alteração, acontece a partir dos desenhos de 1962, aonde as escadarias principais ganham mais uma plataforma entre os degraus, e uma pequena escadaria é adicionada no sentido longitudinal, colocando o restaurante num platô destacado do platô intermediário. Entretanto, mesmo após analisar o corte longitudinal, não é possível dizer se houve alguma alteração no pé direito dos andares. Outra alteração acontece na dimensão das escadas cobertas da laje superior. No primeiro desenho, aparecem localizadas no centro da planta, e são responsáveis por garantir o acesso coberto até as salas. O desenho estreito de 1956 é alargados na planta de 1958, e depois volta para uma dimensão intermediária. _________________________________________________________ Planta As Built do SOH. fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. 43 A Cobertura Segundo Murray, as comparações da forma da cobertura do SOH variam desde a forma de um monstro rastejando até uma "orgia de tartarugas". Mas talvez, nenhuma dessas comparações tenha sido tão contundente quanto à que fez Frank L.Wright. O arquiteto americano costumava dizer que "esta tenda de circo não é a arquitetura" (Murray, 2004). Não se tem registros de como Utzon reagiu a essa afirmação, mas vale lembrar, que o jovem arquiteto dinamarquês, sempre declarou Wright como uma de suas maiores influências (Giedion, 2004). A despeito disso, há muitas lendas sobre a verdadeira origem da solução esférica das conchas do edifício. Por um lado, autores defendem que a grande inspiração para o desenho da cobertura tenha sido as velas dos barcos que utzon costumava frequentar nos estaleiros de Aalborg. Mas, diferentemente disso, os significativa mudança ao longo do processo de projeto. De qualquer maneira, as cascas eram uma invenção espantosa, talvez influenciadas pelas abstrações curvas de crustáceos de Bruno Taut nos anos 1920, e talvez em parte motivadas pela complexa curvatura entrelaçada que Utzon vira no trabalho de Aalto (Curtis, 2008). esboços coneituais de Utzon mostram um telhado de templo Nos desenhos que Utzon enviou ao concurso, a fachada oriental suspenso acima de um plano nivelado, e até mesmo do edifício aparece desenhada com finíssimas cascas nuvens flutuando em um horizonte (pag 36). Não podemos que aparentemente estão relacionadas com outros afirmar sobre a inspiração de Utzon, olhando para o projeto final, projetos da mesma época (Felix Candela e Pier Luigi que foi construído, visto que a desenho das conchas, sofreu Nervi). Entretanto, elas por si só são dotadas de grande carga expressiva original. nadas pelo desenho das conchas. Elas revelam uma preocupação que começaria a fazer parte do trabalho de Utzon: o cuidado especial com a quinta fachada. Utzon compreendeu que o Ópera de Sydney poderia ser visto de todos os lados e deu ao prédio um carater de escultura urbana. Da cidade, do mar e até mesmo do alto dos altos prédios da área central de Sydney, o edifício pode ser enxergado sem revelar uma fachada principal. Assim como O Kronborg Castle, o SOH não possui apenas uma ou duas fachadas principais, mas cinco vistas diferentes proporcio- _________________________________________________________ Imagem 1 Bagsvaerd Church fonte: http://www.e-architect.co.uk/images/jpgs/copenhagen/bagsvaerd_organ.jpg Imagem 2 e 3 – Utzon Center fonte: http://www.mortenkristensen.com/Web2/what-are-we/ Imagem 4 – Madrid Opera House fonte: http://www.arcspace.com/bookcase/utzon-inspiration---vision---architecture/ Imagem 5 – Assembléia Nacional do Kwait fonte: http://www.flickr.com/photos/11878530@N08/6218348540/ 45 Mas se por um lado, o croqui conceitual da cobertura do SOH não se parece muito com o resultado alcançado em Sydney, o projeto de 1964 para o concurso da Casa de Ópera de Madrid, recebe grande influência dos desenhos que foram realizados anterioremente por Utzon. _________________________________________________________ Maquete Eletrônica produziada a partir dos desenhos de Utzon para o concurso Fonte: Sydney Opera House project: Story of an Australian Icon. http://www.youtube.com/watch?v=Cm7MtmjsVls _________________________________________________________ Croqui conceitual de Utzon para a cobertura do SOH fonte: fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. Maquete do projeto para o Madrid Opera House, 1964, Jorn Utzon. fonte:http://www.flickr.com/photos/seier/6089949839/in/photostream/ Mais uma vez, a cobertura assume um formato escultórico como aconteceu com o SOH e como acontecerá no projeto da Bagsvaerd Church. Aqui neste projeto para Madrid, a ideia das escadarias intercalando-se com platôs, volta ao desenho de Utzon. _________________________________________________________ Maquete física produzida por Utzon. Publicado no Red Book, 1958. fonte: www.gallery.records.nsw.gov.au/index.php/galleries/sydney-opera47 house/sydney-opera-house em 03/04/2013 Já no primeiro desenho de Utzon, representado pela aquarela A evolução do projeto e o estabelecimento de soluções só de Arshworth (pag 30), as conchas parecem influências foi possível a partir de decisões estruturais nascidas da claras da cobertura do terminal da TWA em Nova York, de engenharia. Em um certo momento, Utzon entrega o projeto Alvar Aalto. Inicialmente, a proposta de Utzon era de fazer nas mãos dos engenheiros e somente a decisão de conchas de concreto armado, entretanto, após o trabalho transformar a casca de concreto em abóboda nervurada intenso de Ove Arup e todo seu escritório, verificou-se a possibilida o andamento do projeto (Peñin 2006). impossibilidade de construção de uma cobertura desse tipo. Foram feitas pesquisas e cálculos por mais de 4 anos no escritório de Londres (Weston, 2002), de modo que eles propuseram cerca de doze diferentes geometrias para as conchas, todas elas com suas respectivas maquetes, cálculos e ensaios em túneis de vento, começando com superfícies parabólicas, passando por esquemas elípticos até chegar em anéis circulares. Não há como negar que a forma escultórica da cobertura do SOH foi composta a quatro mãos. A significativa participação de Arup no desenvolvimento das conchas, colaborou para que o desenho tomasse proporções não só mais construtíveis, mas também, mais “agradáveis”. _________________________________________________________ Sumário de Ove Arup com os diferentes esquemas desenvolvidos para a solução da cobertura, entre 1957e 1963. fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. Mas em 1961, “Utzon foi quem teve a idéia de que todas as fôrmas do telhado poderiam ser derivadas a partir de uma única esfera” (Murphy, 2004). A partir de um raio comum, os segmentos podem ser divididos em componentes individuais pré-fabricados e, em seguida montadas no local. Essas informações foram publicadas no Yellow Book. Nesta publicação (Yellow Book, 1962), há uma série de informações do engenheiro acústico e cênico, devido a relevância do conceito das salas, mas segundo Peñin, o livro não trás esclarecimentos sobre a construção das cascas que aparecem nervuradas em seu lado inferior, diferentemente dos primeiros desenhos do concurso. Entretanto, é neste livro que aparece o primeiro desenho que A disposição em diagonal dos quadrados de 12x12cm de explica o novo conceito da cobertura. Mediante ao corte cerâmica vidrada foi uma proposta da contratada para uma radial em distintas proporcões de uma mesma esfera de raio melhor adaptação à curvatura, assim como o aglomerante a superior a 75m, se obtem um perfil similar ao do concurso e base de resina. Segundo Peñin, o arquiteto Eero Saarinen se facilita a solução estrutural. Esta decisão possibilita a pre- colaborou na escolha da cor das peças, ao endossar a decisão fabricação e facilita a execução da obra, de modo que inicial de clarear a cobertura, em contraste com a tonalidade moldes da mesma curvatura são usados para prefabricar as cinzenta da maioria dos portos (Peñin, 2006). Weston aponta vigas de seção variada. Aqui, estabelece-se um dos maiores que essa solução foi fortemente influenciada pelos domos avanços que a arquitetura de Jorn Utzon ofereceu: a pré- refletores de luz e minaretes das vilas islâmicas e também pelo fabricação de peças estruturais unida a contundência da contato de Utzon com a arte cerâmica chinesa e japonesa forma obtida. (Weston, 2002). Por fora, a pré-fabricação também foi utilizada. Desde os primeiros desenhos, Utzon já imaginava revestir a cobertura do edifício. Peñin afirma que a opção de colocar as peças manualmente foi logo descartada, devido as dificuldades técnicas e a pouca garantia de uma boa execução (2006). Assim, foram estudadas soluções de painéis semiprefabricados em obra que garantiriam o controle da solução. Em um período de mais de dois anos, a empresa sueca Höganäs desenvolveu um sistema, desenhado em Y. _________________________________________________________ Pré-fabricação das placas de revestimento da cobertura. fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. por Mikami da O. Arup. 49 ESPAÇO RESERVADO PARA O ESQUEMA DE EVOLUÇÃO DA COBERTURA COLAR A3 DOBRADO Apesar da infinidade de maquetes feitas durante o processo, evidentemente, elas não seriam suficientes para resolver a complexidade das formas da cobertura do SOH. Durante a década de 60, a tecnologia para cálculo estrutural computadorizado ainda dava seus primeiros passos. Dos poucos computadores que eram capazes de fazer isso, a maior parte estava em universidades e centros de pesquisas. Assim, Arup e seus parceiros utilizaram o computador PEGASUS da Universidade de Southampton, e além disso, foi firmado um acordo entre a equipe da obra e a Universidade de Melbourne para o uso do ICL 1900. Esses computadores de grande porte eram necessários para calcular não somente a cobertura, mas também os fechamentos de vidro. Silvio Sguizzardi, em sua dissertação de mestrado: “Modelando o futuro: a evolução do uso de tecnologias digitais no desenvolvimento de projetos de arqutietura” (2011), aponta que novos softwares foram feitos para que as formas pudessem ser racionalizadas. O conhecimento para manusear esses programas eram tão raros que os engenheiros iam “descobrindo como fazer os estudos, à medida em que o projeto se desenvolvia” (Sguizzardi, 2011, pag: 47). , _____________________________________________________ Representação geométrica do encontro das conchas, 1958. fonte: gallery,records.nsw.gov.au 51 Como vimos no esquema de evolução das conhcas, duas páginas atrás, a solução da cobertura passou por 12 alternativas em seu processo de projeto. A partir dos desenhos mais orgânicos de Utzon, Arup e sua equipe passaram o incrível número de 350.000 horas para concluir os desenhos executivos (Sguizzardi, 2011). De 1957 até 1963, as soluções caminhavam para uma simplificação e racionalização, de modo que as peças pudessem ser padronizadas e o processo construtivo barateado. O interior – fechamentos de vidro. Nesta primeira parte, antes de abordar sobre o interior das salas, falarei sobre os fechamentos de vidro localizados em ambas as extremidades dos três edifícios acima do pódio. Não era possível realizar o desenho dos caixilhos antes da solução exata da cobertura, por isso, somente após os esforços realizados para a solução das abóbodas, foi possível resolver os fechamentos de grande complexidade geométrica. ____________________________________________________ Utzon apresentando o modelo da construção geométrica das conchas, 1961. Montagem dos painéis de revestimento sobre a estrutura da cobertura. Fonte: nsw.royalsoc.org.au Qualquer ato projetual equivocado prejudicaria todo o desenho investigação do arquiteto. O desenho irregular visto em planta empreendido para a realização do conceito das cascas. As denota uma preocupação de Utzon em evitar o fechamento características geométricas do projeto fazem desaparecer a plano e a sensação de apoio das coberturas sobre os vidros. ideia tradicional de fachada como plano vertical de fechamento. Como destaca Frampton, “aqui [Sydney Opera House] a aposta é na cobertura sobre um pódio” (Frampton, 1995). Um fechamento grosseiro poderia por abaixo a idéia da cobertura sobre o pódio. Antes de começar a falar sobre os vidros, é importante destacar o fato de que o próprio Jorn Utzon nunca viu as paredes de vidro como estão agora - ele nem sequer participau na sua concepção final. Como vimos no capítulo anterior, Utzon deixou o comando da obra em 1966, e as paredes de vidro foram projetadas e construídos entre 1970 e 1972. Em 1957, após o anúncio do vencedor, Utzon preparou uma maquete para apresentar o projeto à população australiana e aos juris. Nessa maquete, Utzon avança na solução data ao É interessante notar que os primeiros desenhos de Utzon fechamento, e propõe persianas verticais que logo em seguida enviados ao concurso, não mostravam qualquer tipo de seriam substituídas por peles de vidro. vedação das conchas, reforçando a idéia apontada por Frampton. Mas a partir do Red Book (1958), os estudo desses fechamentos constituem uma linha contínua de _________________________________________________________ Elevação SOH. Desenhos de Utzon para o concurso, 1956 53 Em 1958, no Red Book, o projeto para o fechamento de vidro adota uma configuração diferente: um zigue-zague em planta e vertical na seção, parecendo uma tela dobrável. Essa solução faz sentido do ponto de vista estrutural, pois os diferentes planos cruzados suportam um ao outro contra cargas de vento. As elevações mostram as paredes de vidro divididos em pedaços retangulares com travessas horizontais descontínuas. Essa solução aponta para uma questão importante: como eles se conectam com o lado interno curvo das conchas? A dificuldade de resolver o encontro dessas peças com a cobertura provou que esse fechamento não era o mais adequado. Assim, novas propostas foram produzidas no Yellow Book, em 1962 No Yellow Book, Utzon e sua equipe apresentam pela primeira vez uma proposta bem pensada para as paredes de vidro, pelo menos em termos geométricos. As fachadas de vidro assumem um desenho bastante sofisticado: cortinas de vidro, suspensas por molduras finas. _____________________________________________________ Maquete do SOH apresentada em 1957 após anúncio do vencedor do concurso e elevação do SOH apresentado no Red Book de 1958. fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydneyopera-house-decoding-glass-walls.html acesso em 14/10/2013 Em uma carta de 1965 Utzon explica: "O problema que eu enfrentei foi criar um sistema suficientemente flexível de vidros para compensar a forma irregular, e ter força suficiente para resistir às cargas de vento impostas sobre uma área tão vasta. As nossas tentativas iniciais para utilizar as estruturas compostas de concreto, aço ou bronze, eram E ele continuoucomplicadas : demasiadamente e rígidas. A resposta podia ser encontrada em um sistema de geometria simples, que consiste de uma série de painéis de vidro de dimensão modular mantidos entre montantes flexíveis, que podem ser ajustados de qualquer forma necessária.” (Fromonot, 1999) _________________________________________________________ Planta das salas de concerto com destaque para os fechamentos de vidro em zig-gag. Red Book, 1958. Desenho dos fechamentos de vidro apresentado por Utzon no Yellow Book, 1962. 55 Assim, Utzon abandonou a pura verticalidade de suas soluções anteriores para abraçar a solução de membranas articuladas como as asas de um pássaro. Em 1963, Utzon decidiu usar uma tecnologia bastante inovadora para realizar os montantes das peles de vidro. Pode parecer um pouco incongruente, mas desenvolver perfis de madeira como elementos estruturais para paredes de vidro imenso, foi resultado de uma investigação conjunta realizada pelo arquiteto com a empresa australiana Ralph Symonds Ltd. Utzon viu isso e percebeu que usando o processo de ensacamento a vácuo, poderia alcançar grandes vãos. Os montantes deveriam ser pré-fabricados e em seguida montados no local. O resultado, para a satisfação Utzon, combina a concepção de peças adequadas para a sua função com a precisão de “artesanato industrial”. Entretanto, essa solução não foi executada. Como parte das medidas de corte de gastos, o governo autraliano não aprovou a solução em madeira e logo depois, Utzon foi desligado do comando do projeto. _________________________________________________________ Solução do fechamento de vidro apresentado do Yellow Book. 1962 em comparação com o movimento da asa de um pássaro. fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-operahouse-decoding-glass-walls.html aceesso em 15/10/2013 O conceito final para as paredes de vidro, foi desenvolvido por Peter Hall com a ajuda da equipe de Arup: uma superfície de vidro contínuo sobre uma estrutura de aço. Então, como saberemos até que ponto a solução das paredes de vidro seguem as propostas de Utzon? Em The Sydney Opera House glass walls, um artigo escrito por David Croft e John Hooper, engenheiros da Arup, publicado no The Journal Arup em outubro de 1973 revela que soluções suspensas. 4 - Montantes devem ser finas aletas contínuas ao longo das paredes de vidro. 5 - Abaixo dos telhados não deve haver qualquer obstrução visual. 6 - As molduras devem ser construídas como uma série de unidades de seção constante [...]. técnicas detalhadas estavam disponíveis para as paredes de vidro no momento da demissão de Utzon. Há pelo menos, seis requisitos do arquiteto que podem ser facilmente enxergados no projeto final: 1- Todas as paredes de vidro em todo o Opera House devem ser desenhadas como uma família, com um layout estrutural similar. 2- A estrutura deve ser a mais limpa possível, com montantes reduzido ao mínimo, ou até eliminados. 3- Os montantes não devem ser lidos como apoio das conchas: as paredes de vidro devem parecer _________________________________________________________ Fotografia do fechamento da fachada norte do SOH.fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-opera-housedecoding-glass-walls.html acesso em 16/10/2013 57 Novos princípios que incorporam alguns dos ideais expressos por em uma estrutura já concluída sem quaisquer superfícies Utzon foram desenvolvidos e refinados. A escolha do material, o planas exigiu muito estudo e esforço. Muitas propostas método de fixação e vedação, todas as soluções necessárias, foram julgadas e rejeitadas em todo o período do projeto, tiveram de ser trabalhadas a partir dos primeiros princípios. A que durou de setembro de 1967 a maio de 1971. Mas no tarefa de montagem de uma parede de vidro de forma adequada final das paredes de vidro foram finalmente construída. _________________________________________________________ Detalhes dos tipos de vidros fabricados para o SOH, 1970. Fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-opera-housedecoding-glass-walls.html acesso em 16/10/2013 A escolha do vidro era uma decisão a parte das soluções da esquadria. Naquela época, pouco se sabia sobre vidros laminados, mas por medidas de segurança, esse tipo de vidro foi adotado após uma seguência de testes. A tonalidade exata (chamado demi-topaze) foi criada por um fornecedor de vidro na França e aplicada através de um processo chamado potcasting e em seguida, os vidros foram pré-cortados e enviados para Sydney. O tamanho máximo da folha necessário no local foi de aproximadamente 4,0 m por 2,1 m. Podemos considerar que a etapa de projeto do interior e dos fechamentos, foi o período mais complexo de todo o processo do Sydney Opera House. Em meio a confusões políticas e soluções insuficientes, Utzon afastou-se do projeto para nunca mais retornar. Então, seriam as paredes de vidro, pelo menos em alguma parte, Utzonianas? Sim, eles são. Vimos que o desenho final, não foi muito diferente daquilo que Utzon pensou enquanto comandava os trabalhos, e os Processo de projeto das paredes de vidro do SOH, isso resumese à frase de Ove Arup após o período em que trabalhou intensamente nessa solução: "Percebemos que só a integração íntima das várias partes ou as várias disciplinas irá produzir os resultados desejados" (Arup em Croft e Hooper, 1973) principais requisitos do arquiteto foram recebidos por Peter Hall e sua equipe. Mas se há alguma coisa que podemos aprender com o _________________________________________________________ Fotografia do foyer central sob a estrutura de aço vedada com vidro. fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-operahouse-decoding-glass-walls.html acesso em 16/10/2013 59 O interior – acústica das salas Sob o ponto de vista acústico, o SOH tinha poucas referêncais. Uma delas era o Lincon Center de Nova York, similar pela Entretanto, Utzon também foi buscar opiniões de Werner Gabler e Cremer, os prestigiosos acústicos da sala da filarmônica de Berlín de Scharoun (Peñin, 2006). magnitude e pela complexidade do programa. Outra referência As incertezas sobre o auditório maior, fizeram com que Utzon e era o Berlin Philharmonic do arquiteto Hans Scharoun. Esses ua equipe se concentrassem primeiro em solucionar a acústica dois exemplos que tiveram sua construção simultânea à do do auditório menor. A primeira proposta realizada, consiste em SOH, eram, até então, os melhores referenciais de sala de uma série de curvas côncavas, desenhadas a partir de uma concertos moderna que Utzon poderia ter. intenção estética e não acústica. Essa solução, produzia No SOH, inicialmente, a sala maior foi pensada para abrigar problemas graves de reflexão homogênea. 3.500 ouvintes. Desejava-se que esta sala alternasse sua programação com apresentações de ópera e concertos de orquestras, mesmo que esses usos tivessem tempos de reverberação diferentes (1,6 e 2,0 segundos respectivamente) e portanto, volúmes ditintos. Este programa levou a um trabalho durante anos para a solução de um auditório com acústica variável. Partindo da configuração sinfônica, era possível, mediante a painéis móveis, reduzir o volume da sala para alcançar o tempo de reverberação requerido. Desde 1958 o estúdo acústico estava nas mãos de Vilhelm Lassen Jordan que avaliou o esquema inical de Utzon. _________________________________________________________ Solução acústica inicial para a sala menor Fonte: Yellow Book, 1962 A mudança que Gabler e Cremer introduziram foi a implantação de uma geometria convexa. Utzon então propôs um cilindro maior que ao se deslizar gera uma série de perfiz circulares. Este princípio que utilizaria alguns anos depois na igreja de Bagesvaerd (1976). O trabalho conjunto entre Utzon e o engenheiro Joaquim Nutch, da Gabler e Cremer, permitiu resolver os aspectos mais relevantes da sala pequena, entretanto a sala maior permanecia sem solução (Peñin, 2006). _____________________________________________________ Modelo 3d do interior da sala menor. fonte: Utzon's Interiors for the Opera House, Philip Nobis, 1994, disponível em: www.youtube.com/watch?v=aU6oQpHfDz8. Acesso em 02/05/2013 _________________________________________________________ Croquis da solução acústica inicial para a sala menor fonte: http://www.arcspace.com/the-architects-studio/joern-utzonsketches/, acesso em 25/10/2013 61 A primeira aproximação da forma do teto da sala maior consiste em uma série de triângulos de madeira laminada nas laterais e no teto, como uma grande capa sobre a sala, que mermite multiplas reflexões. A geometria triangular adotada, cujos estudos elaborados ficaram a cargo de Yuzo Mikami, permite um sistema geométrico flexível que se adapta naturalmente a curva da estrutura e a qualquer nova ciscunstância que surgisse durante a construção. No entanto, em 1960, a solução geométrica mudou completamente. Sem outra justificativa, o comitê de arquitetura do Ministério de Obras exigiu uma maior coerência e unidade entre as duas salas. Mikami não concorda com essa alteração e em seu livro, aponta esse momento como um perído de “pânico” do arquiteto (Mikami, 2001). Apesar disso, uma nova solução com base na geometria da sala menor passa a ser estudada e resultados satisfatórios são obtidos em meados de 1965, seis anos após o início da construção (Peñin, 2006). _______________________________________________________ Projeto de 1962 para o interior da sala maior e maquete em corte do projeto para o interior da sala maior. fonte: Yellow Book, 1962 e www.powerhousemuseum.com/insidethecollection/2013/01/operahouse-models/ acesso em 25/10/2013 Entretanto, em 1965 Utzon se desliga da obra do SOH e ao assumir o controle do projeto, Peter Hall e a equipe de engenheiros e arquitetos alteram significativamente o projeto de Utzon para as duas salas. A sala maior perde a função de ópera e concertos e passa agora a ser apenas sala de concertos. Terraços de platéia são agrupados no entorno do palco e agora já não há mais a necessidade de fosso para orquestra. A platéia teve um aumento da capacidade de público de 2.000 para 2.700 ouvintes e o forro acústico também sofre alterações significativas. Já na sala menor, apenas o forro acústico é alterado e a platéia permanece com o mesmo desenho proposto por Utzon. Após a renúncia de Utzon, o consultor acústico Cremer Lothar, confirmou ao Comitê Executivo do SOH (SOHEC) que o projeto acústico original de Utzon permitido para apenas 2.000 lugares era ideal, e que o aumento do número de cadeiras para 3.000 seria desastroso para a acústica (Morgan, 2007). _________________________________________________________ Maquete em corte do projeto para o interior da sala maior. Fonte: www.powerhousemuseum.com/insidethecollection/2013/01/operahouse-models/ acesso em 25/10/2013 _______________________________________________________ Foto do nterior atual da sala maior e menor. fonte: www.environment.nsw.gov.au acesso em 12/08/2013 63 Ao que tudo indica, Cramer parecia estar certo. Hoje em dia, os acústicas, mas o espaço não é tão fantástico, como poderia problemas ser.” (Kamenev, 2011) acústicos da sala maior geram despesas desnecessárias e prejudicam de forma drástica a qualidade acústica da sala. No artigo: Sydney's Opera House: Easy on the Eyes, Not the A impressão final que temos é: se o Sydney Opera House é um dos edifícios mais impressionantes do século XX, o seu interior certamente não contribui para essa posição. Ears,da revista Time de outubro de 2011, a jornalista Mariana Kamenev aponta que as reclamações de músicos sobre a acústica da sala são constantes, ao ponto do ex-maestro da Orquestra sinfônica de Sydney, Edo de Waart, ameaçar boicotar o prédio por problemas acústicos. Kamenev reforça sua crítica quando comenta sobre uma pesquisa realizada pela revista de música australiana Limelight, aonde músicos, críticos e membros de conselhos de música, elencam as melhores salas de ópera e concerto da austrália. Segundo a pesquisa, a sala de ópera tem a pior acústica dos 20 principais locais. Já a sala de concertos, ganhou um sombrio 18º lugar. Richard Evans, diretor-executivo do Sydney Opera House na época, afirmou: "Nós todos sabemos sobre os problemas com o Opera House. Estão acontecendo algumas atualizações _________________________________________________________ Acima: Davis Hughes, ministro das obras públicas de New South Wales, no palco de um modelo da sala de concertos utilizado para testes de acústica. Fonte: http://www.bdonline.co.uk/5062333.article acesso em 01/11/2013 Ao lado superior: Corte As Built da sala maior. Ao lado inferior: Corte As Built da sala menor. fonte: Sydney Opera House, Nomination by the Government of Australia for Inscription on the World Heritage List, 2006. _________________________________________________________ Cortes As Built das salas de concerto. Fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-opera-house-decoding-glass-walls.html acesso em 01/10/2013 65 Considerações finais sobre o Processo de Projeto Por isso julgo apropriada a proposta de expor algumas ideias Aqui nesta seção do trabalho, proponho uma reflexão sobre o sobre o o processo de projeto de Jorn Utzon. processo de projeto do arquiteto Jorn Utzon. Chamei de Se nas ciências “duras” o método é de certa forma, rígido e “considerações” por entender que ainda é muito cedo para fazer universal, no processo de criação arquitetônica, é apenas conclusões sobre um tema que requer bastante experiência possível perceber alguns procedimentos semelhantes. O ato tanto acadêmica, como prática. Idéias equivocadas e de projetar um edifício carrega medidas intuitivas que muitas conclusções precipitadas poderiam afetar de maneira negativa vezes são limitadas por padrões ou normas. Kowaltowski, este trabalho, entretanto, deixar de expor essas considerações Bianchi e Petreche (2011) sugerem um padrão de seria um prejuízo para um esforço que tem se estendido pelo pensamento período de um ano. memória, evolução de idéias, criatividade e experiência. Por isso, cautelosa e resumidamente, a nível de trabalho final de No que diz respeito à criatividade, esses mesmos autores graduação, escrevo sobre cinco aspectos que considerei apontam que um ato projetual novo não necessariamente é relevantes no processo projetual do arquiteto. Os conceitos um ato criativo. “[...] além de original, esse ato deve ter o apontados – que partem da bibliografia indicada no começo do propósito de contribuir para uma solução” (Kowaltowski, trabalho, são: criatividade x originalidade, refinamento da Bianchi e Petreche, 2011, pag: 24). ideia, etapas de incubação e solução, métodos de tentativa e erro e processo de criação coletiva. dos projetistas baseado em: raciocínio, Herman Hertzberger escreve que precisamos ter cuidado, e saber separar um projeto original de um projeto criativo. Ainda que estes aspectos sejam tratados com certa Segundo o autor, os projetistas precisam resolver problemas superficialidade, impostos externamente, satisfazer a necessidade dos clientes acredito que futuramente, eles podem alavancar discussões mais profundasem trabalhos posteriores. e além disso, criar objetos belos. “Sabe, para mim criatividade é achar soluções para todas essas modo que o resultado, passa a ser uma referência que cria novos paradigmas. coisas que são contrária, e o tipo errado de criatividade é que a gente esquece o fato de que às vezes chove, esquece que às A segunda consideração, discute a importância do refinamento da ideia ao longo do processo. Por mais que isso vezes tem gente demais, e só fazemos escadas bonitas a partir possa parecer consenso entre os arqutetos, minha daquela ideia que temos na cabeça. Isso não é criatividade, é experiência na graduação foi afetada pela imagem da solução falsa criatividade” (Hertzberger, 1994 em Lawson, 2011). instantânea do arquiteto genial. Essa imagem é exemplificada no conhecido e suspeito caso do projeto da Casa da Cascata, feito na noite anterior da entrega, por Frank Lloyd Wright. Em um dos capítulos de “Como arquitetos e designers pensam” (2011), enquanto Bryan Lawson escreve sobre o pensamento criativo, é interessante notar que o autor sugere que os projetos criativos são aqueles que reconhecidamente quebram o molde. Nas palavras de Lawson: “O que esses projetos têm em comum, [...] é que mudam o mundo de forma irrevogável” (Lawson, 2011). Ou seja, esses projetos passam a ser modelos e a partir deles, muitos outros podem ser desenvolidos. Essa, é a primeira consideração sobre o processo de Utzon. A criatividade do seu trabalho, ultrapassa soluções originais, de Lawson aponta a experiência de Mozart e Beethoven no processo de projeto de suas obras. Segundo o autor, embora Mozart escrevesse músicas quase prontas em momentos de grande inspiração, Beethoven sentia necessidade de reelaborar várias vezes as suas idéias. “Especialistas se espantam com tamanha deselegância das primeiras anotações de Beethoven, mas é claro que todos nos assombramos com o que ele acabou fazendo com elas” (Lawson, 2011). Após todo o levantamento e análise de fotos, desenhos, croquis e maquetes, estou inclinado a considerar que o pro67 cesso criativo de Uzton produz o avanço através da constante “Por exemplo , no caso de o revestimento exterior das conchas , evolução de soluções. Por mais que os momentos de grande não foi possível determinar a geometria da telha , até que o inspiração pudessem acontecer, o SOH mostra um processo de projeto que relativiza o mito da concepção formal tamanho completo maquetes tinha sido feito. Fizemos modelos instantânea, e expõe um pensamento projetual que se em grande escala, que eram ferramentas importantes, que, exterioriza, analisa, sintetiza e se refaz constantemente. juntamente com os desenhos , nos permitiu resolver problemas Mas o processo de refinamento da ideia não se limita num específicos. Por exemplo, o primeiro modelo da telha mostrou simples processo de redesenho do projeto. Lima aponta que a claramente que a nossa solução inicial não funcionou” (Jorn evolução de um projeto só é possível através do uso de inúmeros instrumentos projetuais como croquis, estudos Utzon em ‘Sydney Opera House, The Setting’, 2000). preliminares, construção de modelos físicos, elaboração de Nesse mesmo documento, uma outra passagem revela uma plantas, cortes e elevações, além de estudos fotográficos e de relação bastante comum entre arquitetos e engenheiros. Na natureza visual (Lima, 2009). Por esse ângulo, um olhar sobre ocasião, Ove Arup questionava Utzon, o fato dos arquitetos o processo de projeto de Utzon revela uma infinidade de não toleram algumas soluções estruturais para facilitar a propostas que foram desenvolvidas ao longo dos anos, com solução de projeto. De maneira que Utzon responde: diferentes soluções pensadas por meio de maquetes e modelos. Em um artigo publicado em 2000, o próprio arquiteto aponta que o uso de intrumentos projetuais no processo de refinamento da ideia, revela erros até então não percebidos: “Eu posso aceitar colocar as armações de aço no interior oco dos perfis de madeira e, assim, satisfazer a exigência do engenheiro. Mas precisamos fazer modelos em escala de partes dessa estrutura para garantir que os detalhes e as cores propostas estão corretos” (Jorn Utzon em ‘Sydney Opera House, The Setting’, 2000). _______________________________________________________ Acima: construção de modelo em escala 1:1 para soluçao das telhas. fonte: Tese de Doutorado de Alberto Peñin, 2006. Esquerda: teste com modelo estrutural da cobertura, na Universidade de Southampton, 1958. Fonte: http://www.engineering-timelines.com/who/Rice_P/ricePeter3.asp acesso em 01/11/2013 69 Sem dúvida, a dificuldade de execução do SOH levou à inadequação de uma ideia, mas a essênia dela talvez ainda seja número de modelos, testes e desenhos que frequentemente, válida (2011). os projetos do cotidiano não requerem. Entretanto, para um arquiteto em formação, como é meu caso, é sempre convinente lembrar que um processo se aperfeiçoa com o uso de instrumentos projetuais. Se até hoje, ainda não compuz um Requiem, é melhor observar Beethoven e adotar um processo de constante revisão e aprimoramento. A terceira consideração discute sobre as fases do processo criativo, mais especificamente, sobre a fase de incubação. No nono capítulo do mesmo livro citado anteriormente, Lawson identifica 5 fases no processo criativo: noção, preparação, incubação, inspiração e verificação. A primeira noção é um curto período de reconhecimento do problema existente e a atitude de tentar resolvê-lo. A segunda fase, preparação, é o esforço consciente para a resolução do Uma leitura do texto “A importância dos Arquitetos”, poderá revelar que Utzon reconhece a etapa da incubação como parte de um processo criativo. De início, Utzon afirma que “a arte é o resultado da liberação das forças criativas internas do homem” em alusão ao grupo de artistas holandeses, belgas e dinamarqueses CoBrA (1948-1951) com quem mantinha contato desde suas orígens. No parágrafo seguinte, ao citar Le Corbusier, Utzon afirma: “A mente humana é um lugar onde podemos derramar os elementos de um problema, deixá-los flutuar, ferver e fermentar por um momento. Então, um dia, num espontâneo impulso o filho emerge” (Citado em Penin, 2006) problema. Na incubação, terceira fase, o arquiteto passa por Essa afirmação parece ir ao encontro com as fases do processo um relaxamento das idéias e cria um ambiente para o criativo apontadas por Lawson. Podemos enteder que o “flutuar, surgimento súbito da solução, dando lugar a quarta fase. A ferver e fermentar”, seja uma referência ao periodo de quinta e última fase é a verificação da solução e segundo o incubação, onde nenhum esforço consciente é feito, e o “filho autor, é muito comum que o período de verificação revele a que emerge”, refira-se a fase de surgimento súbito da ideia. O quarto conceito que trás a ideia de tentativa e erro parte de Como vimos anteriormente, as soluções abandonadas e a uma imposição clara da dificuldade de execução da obra. A criação de novas propostas fizeram parte principalmente da complexidade do processo construtivo do SOH levou a concepção da cobertura do edifício. Entretanto, a solução equipe a adotar com naturalidade o método de tentativa e acústica das salas também exigiu soluções vindas de erro. Por isso a equipe gerou bastante material de experiências de tentativas e erros. investigação que depois foi descartado. A oposição entre este método e os valores de ajuste e eficácia da sociedade capitalista, assim como a incompreensão mutua entre cliente e arquiteto, provocou os desencontros que prejudicaram o desenvolvimento da obra (Peñin, 2006). Abandonar uma idéia estabelecida para começar a formulação de outra idéia não parecia ser um problema para Utzon. Como sabemos, a influência que o arquiteto recebeu do seu pai, contribuiu de modo efetivo para seu processo. Os métodos que Aage Utzon utilizava para projetar embarcações também foram incorporados ao processo de Utzon. Segundo Peñin, é importante destacar que durante 1960, a acústica era uma ciência incipiente e adotava métodos empíricos. Nas palavras do autor: “o processo de trabalho se baseava no procedimento de tentativa e erro” (Peñin, 2006). Devido a isso, hoje se faz necessária algumas correções em certas obras. Os métodos de tentativa e erro partem da imposição de restrições e de objetivos estabelecidos. A repetição de soluções é feitas até que se encontre a solução que melhor atenda às exigências. No caso do processo de Utzon, o método de tentativa e erro aparece sob a forma do processo Nas palavras do próprio Utzon, era costume “deixar de lado de geração e teste. uma solução previamente consensuada para dedicar-se a Esse processo consiste em buscar soluções baseadas em uma superior. […] Não havia regras fixas, o objeto do regras (mesmo que rudimentares). Diversas tentativas são processo era a perfeição” (Drew, 1999). realizadas, de modo que os resultados produzidos são 71 utilizados para guiar as próximas propostas até que se encontre a melhor solução (Andrade; Ruschel; Moreira, 2011). O último conceito trata do fazer o projeto como resultado de criação coletiva. Segundo Weston, o projeto de Utzon estava integralmente ligado à sua maneira de trabalhar (Weston 2004, pag 180). Ainda segundo o autor, Utzon estabeleceu um ambiente excepcional que fomentou uma criação coletiva e um notável espírito de inovação durante o projeto do edifício. Utzon era um arquiteto acostumado com escalas bem menores de construção e diante do Sydney Opera House, precisou do conhecimento de outros profissionais. Mesmo que seu espírito de trabalho estivesse acostumado com o ambiente coletivo, esse ambiente foi necessário devido ao grau de complexidade de execução do edifício. (Arup, 1988 em World Heritage List Nomination 2006). Lawson escreve que a participação de outros elementos no processo criativo é que torna a atividade de projetar tão desafiadora (2011). Utzon parece saber bem disso, afinal, a relação entre projetistas e o cliente (Governo de New South Wales) tomou rumos drásticos. Mas apesar de toda a reviravolta, devemos considerar que o processo de projeto do SOH desmitifica o culto ao arquiteto genial que tantas vezes é retratado. A despeito da criatividade de Utzon, poucos avanços seriam possíveis sem a participação de uma grande equipe de profissionais. Como foi visto anteriormente aqui, Ove Arup foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do projeto, num processo de negociação entre arquiteto e construtores. Segundo o Documento de Indicação do SOH para a World Heritage List, por causa dos problemas de projeto a serem Se por um lado a tensão entre arquiteto, engenheiro, cliente, resolvidos, muitas oportunidades foram criadas tanto no e os demais envolvidos pode gerar uma situação escritório como no canteiro de obra (2006). A estrutura do constrangedora, Lawson aponta que muitas vezes as edifício por exemplo, não foi resultado de um único homem, mas restrições impostas e as permissões concedidas favorecem uma colaboração entre arquiteto, engenheiro e até do contratante a construção de projetos mais sofisticados (2011). Por fim, há uma frase muito interessante de Utzon que pode revelar algumas pistas sobre seu processo. Gostaria de deixála como “conclusão” de um capítulo que não foi concluído e que dificilmente será. Na estrada desde a primeira idéia - o primeiro esboço - para a construção final, uma série de possibilidades surgem para o arquiteto, equipe de engenheiros, empreiteiros e artesãos. Somente quando o fundamento para a escolha entre as várias soluções, deriva da consciência de que a construção deve fornecer prazer e inspiração às pessoas, é que as soluções corretas para os problemas caem como frutas maduras. (Utzon em Weston. Utzon: Inspiration - Vision – Architecture, 2002. _________________________________________________________ Da esquerda para direita:: Michael Lewis, Ove Arup e Jack Zunz, durante o Segundo estágio de construção. fonte: http://facadesconfidential.blogspot.com.br/2012/05/sydney-opera-housedecoding-glass-walls.html acesso em 01/10/2013 73 5. centro de música e artes araçatuba “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte...” Titãs O projeto de um Centro de Música e Artes para a cidade de Araçatuba, nasceu de um reconhecimento da falta de equipamentos culturais nessa cidade. Como cidadão araçatubense, nascido numa família na qual a música sempre esteve presente, frequentemente me via diante de boas intenções culturais que raramente eram amparadas por uma infra-estrutura adequada. A partir disso, quando tive a oportunidade de escolher um tema de projeto para trabalhar durante o último ano de graduação, não tive dúvidas. Mas antes de apresentar o projeto, gostaria de apresentar o contexto no qual ele se insere. Araçatuba é um município brasileiro no interior do estado de São Paulo. Sua às cidades de Birigui e Guararapes. Juntas, as três cidades população é de 183.441 habitantes (IBGE, 2012). Seu alcançam a população de 300.000 habitantes. nascimento remonta a expansão cafeeira comum das cidades do interior no início do século XX e seu primeiro grande crescimento foi caracterizado pela chegada da linha do trem. O primeiro desafio foi encontrar um local apropriado para o desenvolvimento do projeto. Inicialmente, dois terrenos me chamaram a atenção e a partir disso, comecei a avaliar os prós e contras de cada local. Uma pesquisa, ainda no ano de 2012, Localizada a 519km da capital do estado, o acesso revelou duas áreas com bastante potencial para um equipamento principal da cidade se dá pela rodovia SP-300 Marechal de grande porte. Cândido Rondon e conta com estradas vicinais que levam _________________________________________________________ Vista aérea de Araçatuba Fonte: http://blog.segurosemcasa.com.br/seguro-total/total-segurosaracatuba acesso em 08/10/2012 75 A escolha do local só foi possível após um encontro com o secretário municipal de obras da cidade, Éderson da Silva, que destacou a importância de se escolher um local que ainda não tivesse planos de ocupação. Dentre os dois terrenos escolhidos, um deles, já contava com obras em andamento, e isso já servia como critério de escolha. Na mesma direção, o professor da disciplina de Metodologia, José Luís Telles, destacou a importância de se considerar o contexto próximo, ou seja, a paisagem que circundava os terrenos. Assim, a escolha do terreno foi caminhando para o local da Pedreira do Baguaçu. A Pedreira do Baguaçu está localizada a sudeste da cidade. O local teve suas atividades de extração iniciadas a partir de 1930, mas em 1970, após a Lei Municipal nº. 2.627, a Pedreira Baguaçu teve suas atividades encerradas (Castro, 2007). A partir dessa data, o local ficou abandonado e serve atualmente como área de descarte de entulho e terra vindos da construção civil. Entretanto, a área ainda oferece grande potencial de ocupação, principalmente para projetos de parques, devido a grande quantidade de vegetação e a uma lagoa que acabou se formando no vale de onde era extraído pedra. _________________________________________________________ Imagem do Google Maps com destaque para a área da Pedreira. acesso em 08/10/2012 A partir de então, decidi que o projeto seria apresentado em necessários para a compreensão do projeto. duas escalas. A primeira escala, que eu chamei de escala urbana, compreenderia em uma proposta urbana de requalificação da área através de um parque urbano com equipamentos culturais. Essa proposta seria apenas uma diretriz, e não seria detalhada. A segunda escala, que eu chamei de escala de projeto, compreenderia na proposta de edifício dentro do parque, com os desenhos e detalhes _________________________________________________________ Direita: Foto da área utilizada para descarte de material. 12/10/2012 Esquerda: Foto da lagoa formada na pedreira. 12/10/2012 Fonte: acervo do aluno. 77 Sabendo que o trabalho seria um Centro e Música, os primeiros desenhos feitos para o projeto são referentes ao autidório menor. Nessa etapa, eu procurei ainda entender os fluxos e definir um partido. Dois projetos foram bastante relevantes para a configuração desse primeiro desenho. Os projetos são: Casa da Música do Porto e Auditório da Escola de Música João Luís Carrilho da Graça, em Lisboa. ______________________________________________________ Abaixo: Casa da Música do Porto. Fonte: http://www.casadamusica.com/ acesso em 30/10/2013 Lado direito inferior: Auditório da Escola de Música JLCG. Fonte: http://www.archdaily.com/206489/school-of-music-in-lisbon-joao-luiscarrilho-da-graca/escola-de-musica-110a%C2%A9jsr/. Acesso em 10/10/2013 Mesmo sabendo que eu não precisava fazer nenhum detalhe do projeto do parque, decidi fazer alguns croquis de mobiliário urbano. No caso, um banco do parque é projetado para ter um desenho similar à uma tecla de piano, sendo seu assento a tecla de nota natural e o encosto, a tecla dos acidentes. Nessa mesma época, especulei alguns desenhos de volumetria que não foram levandos adiante. Mas infelizmente, eu não poderia passar o resto do ano fazendo croquis e espculando idéias genéricas sobre o projeto. Então, logo no começo do semestre, me foi exigido a entrega dos desenhos da área, para compreensão do terreno. Naquele momento, eu gostaria muito de ter continuado desenhando algumas idéias sem muito compromisso. Mas não havia tempo e o trabalho precisava continuar. 79 Além de desenhos da área, eu desenvolvi uma maquete que me ajudou a entender a topografia e situação de ocupação do local. Isso contribuiu bastante, já que em parte do terreno há ruas de terra sem saída, e loteamento sem qualquer planejamento e desenho urbano. Assim, o primeiro desafio seria resolver essas empenas que os fundos dos lotes geravam na grande gleba. Propus então que os fundos dos lotes que faceavam o terreno fossem ocupados por pequenos edifícios que serviriam de apoio ao parque, como sanitários, restaurantes, enfermaria, etc...No desenho ao lado, já se pensava em implantar o Centro de Música na parte superior do terreno, e essa ideia permaneceu durante todo o processo. Do ponto de vista viário, a primeira proposta é uma tentativa de continuar o desenho urbano com os traçados de ruas previamente sugeridos. 81 Mas devido à complexidade do programa e ao pouco tempo disponível para desenvolvimento do projeto, as idéias para o parque pararam nessa etapa e retomaram somente depois das soluções para o edifício. Então o primeiro desenho para o interior do projeto foi feito. Basicamente, o projeto era composto por duas salas de concerto, com restaurante, café, salas de apoio, oficinas, livraria, entre outros. Os locais eram dispostos em torno de um grande foyer central que conectava as duas salas. Até o momento, a solução volumétrica não ocupava um lugar relevante. Antes, minha maior preocupação era resolver o projeto em planta. Para isso, propus duas salas de concerto, sendo a maior em formato shoebox,e a menor, seguindo em partes, o desenho de “arquibancada” proposto nos croquis iniciais. Vale a pena destacar que é nesse momento que os dois volumes, que no desenho anterior estavam separados, são unificados e a escadaria ganha forma. Até à etapa anterior, uma grande área entre os edifícios servia como praça. Essa idéia foi abandonada no meio do caminho, e depois foi retomada. Já a escadaria, que Nesse momento, já próximo da primeira avaliação, sou era apenas um elemento para resolver o desnível, agora, passa a obrigado a resolver com mais precisão o desenho da sala de fazer parte de uma solução de projeto. concertos maior. Isso me coloca a procura de referências. Poderia parecer mais fácil usar a sala do SOH como referência de projeto, mas por algum motivo, as salas assimétricas com platéia em terraços me chamavam mais atenção. Assim, buscando referências desse tipo, encontrei dois projetos que influenciaram muito o desenho da sala maior. O primeiro, um clássico da arquitetura, é o Berlin Philharmonic do arquiteto Hans Scharoun, o segundo, mais recente, é o Danish Radio Concert Hall, do arqutieto Jean Nouvel. Se por um lado esses projetos tinham o desenho que eu buscava para a sala maior, para substituir a primeira proposta em shoebox, por outro, eles apresentavam um certo grau de dificuldade que me colocou muitas dúvidas sobre a viabilidade. Por isso, após uma planta desenhada a mão, eu deixei o projeto em duas dimensões e fui trabalhar em um programa de modelagem 3D. Isso, facilitou o desenho do projeto e acabou influenciando o andamento do projeto. Infelizmente o único registro que sobrou do desenho a mão é uma foto em péssima qualidade que um amigo ______________________________________________________ Acima: fotografia do Danish Radio Concert Hall. fonte: budcybtech.blogspot.com Abaixo: fotografia do Berlin Philharmonic fonte: www.acoustics.salford.ac.uk 83 registrou pelo celular. Desde o início estava previsto que a sala maior tivesse uma capacidade para 1.200 espectadores. Esse número foi mantido ao longo do projeto. A sala menor, desde o início tinha um número previsto para 600 espectadores e esse número também foi mantido. Todo o projeto da sala maior foi acompanhado pelo estudo de visibilidade. Somente depois que a sala maior teve seu desenho resolvido, fui tentar resolver a volumetria do edifício. Nas pranchas da próxima página, é possivel verificar algumas coisas. A primeira delas é que agora, o parque é uma grande área verde sem qualquer detalhe. O único destaque do parque é a lagoa formada no vale da pedreira. Outra coisa importante é que a parte superior da implantação ganha um desenho diferente com relação aos desenhos que haviam sido apresentados anteriormente. Outra coisa importante é notar que o desenho do foyer central, é modificado. Muitos problemas estruturais foram encontrados durante o projeto e estes, foram importantes para a definição da planta e da volumetria. A forma do edifício nesse momento é bastante diferente do que ele se tornaria depois. Mas aqui, a única coisa que eu queria era testar possibilidades. Não me preocupei com as exigências de uma entrega de projeto, e me permiti explorar e testar o alguma forma. Apesar disso, é nessa etapa que o projeto começa a ganhar um desenho mais técnico e preciso de modo geral. Os ambientes já são distribuídos de uma maneira mais clara, uma estrutura já aparece para suportar o edifício e alguns materiais já são definidos. Nessa avaliação, os professores apontaram alguns problemas que eu considerei bastante pertinentes. O primeiro comentário referia-se a linguagem do projeto. Segundo o professor Gilberto Belleza, eu precisava me decidir se meu projeto era uma aposta em fachada, ou uma aposta em volume. O segundo comentário dizia respeito aos acessos. Os professores achavam que faltava um espaço de transição que acolhesse os espectadores. Outro ponto, era com relação a cobertura, considerada até então, mal resolvida. E por último, os avaliadores sugeriram que eu voltasse a pensar na possibilidade de separar os volumes pra que a praça central pudesse reaparecer. 85 Considerando as críticas que foram feitas ao projeto, eu voltei a A praça entre os edifícios volta a ser descoberta e ganha um trabalhar o projeto no programa 3d e fui remodelar toda a jardim. Diferente do que o outro volume propunha, nesse volumetria. Aqui o projeto assume uma outra linguagem que aqui, eu preferi trabalhar com formas puras e alternar cores e pouco tem a ver com a anterior. Antes mesmo de desenhar as materiais. Enquanto uns volumes são de texturas diferentes, plantas e concluir os desenhos técnicos eu preferi pensar em pedra e vidro, outros têm a mesma textura mas de cores como a volumetria se resolveria e a partir disso, propor as diferentes. Por ser mais simples, esse volume contribuiu alterações de planta. para resolver a estrutura. Nessa etapa de projeto, eu consigo desenhar alguns detalhes, Para resolver o problema de transição apontado pelos como, por exemplo, os caixilhos. O fechamento de vidro tipo U- professores na última avaliação, a escadaria que antes era só Glas escolhido para vedar os ambientes de circulação, fazem um elemento para resolver o desnível, agora passa a ser esse contraste com a opacidade da pedra e do concreto. Em noites local no qual acontece a passagem do público para o privado. Os de espetáculo, quando as luzes do interior do prédio estão acessos principais para o foyer, que agora está enterrado sob a acesas, pode-se ver o edifício brilhando entre os volumes, de praça, são feitos por aberturas na escadaria, como mostra a modo que ele se torne um referencial na paisagem do parque. maquete eletrônica apresentada no começo desse capítulo. 87 ______________________ PLANTA DO NÍVEL +4.00 SEM ESCALA ______________________ PLANTA DO NÍVEL 0.00 SEM ESCALA 89 ______________________ PLANTA DO NÍVEL -4.00 SEM ESCALA ___________________________________________________________________ Maquete eletrônica do resultado final do teatro e elevações. 91 ______________________ CORTE DA SALA MAIOR SEM ESCALA 93 ___________________________________________________________________ Maquete eletrônica do resultado final da sala de concertos e modelo real do projeto final Os desenhos detalhados como esse corte que foi apresentado conseguir pensar e refletir sobre o processo de projeto. O na escala 1:100 numa folha A0, me ajudaram a entender muita fazer e a reflexão sobre o fazer. coisa do projeto, que até então eu não me preocupava. Da mesma forma, muitos erros foram revelados e muitas soluções ficaram inacabadas. Lamentavelmente, Por fim, retomo às considerações que fiz no início desse trabalho, quando apresentei este como uma produção semelhante a qualquer produto da arquitetura. o curto prazo de tempo para o desenvolvimento do projeto prejudica muito a qualidade do edifício, mas todos sabemos, que um arquiteto vai lidar com prazos por toda sua vida profissional. A grande questão é saber como operar diante dsso. Se na arquitetura nosso projeto nunca termina, e a “entrega” define o fim do projeto, aqui, este projeto também não termina. O prazo indica o corte de um processo que pode continuar ao longo da carreira. Assim como num projeto de arquitetura, aonde as alterações podem ser feitas e o edifício Infelizmente, usei boa parte do meu processo explorando uma pode ser aprimorado mesmo depois de “pronto”, este forma que foi completamente alterada no meio do caminho. trabalho ainda estimula e cobra avanços. Esse tempo, eu não considero perdido, mas acredito que essa etapa pode ser evitada se o processo for iniciado de maneira diferente. Por isso, evito mais uma vez fazer considerações definitivas, enxergando esta obra não como fim, mas como começo de um processo. Se por um lado julgo que até agora meu processo de projeto foi bastante ingênuo e imaturo, por outro, vejo que dificilmente a experiência do fazer amadurecerá meu processo. Prefiro acreditar que o processo amadurecerá somente quando eu 95 6. bibliografia ARROYO, Julio, Jorn Utzon: metáforas para o cotidiano, Portal Vitruvius, 2009. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.029/1810 BARRRON, Michael: Auditórium Acoustics and Architectural Design. E&FN Spon, London, 1998. CASTRO, Marcélio Galvão: Estudo sobre impactos causados por pedreira. UFSCAR, Dissertação de mestrado. São Carlos, 2008. CLARINGBOLD, David; TAYLOR, Lisa: Acoustics Of The Sydney Opera House Concert Hall. Part One: The Client’s Perspective. Proceedings of 20th International Congress on Acoustics, ICA 2010 23-27, Sydney, August 2010. CROFT, DAVID and HOOPER, John: Sydney Opera House glass walls. The Arup Journal, 1973. http://pt.scribd.com/doc/95260056/ArupJournal-1973-Sydney-Opera-House-glass-walls CUFF, Dana: Architecture: The Story of Practice. Cambridge/London: MIT Press, 1991. CURTIS, William J. 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