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EVANDRO EDUARDO PRECHLAK CONSEQÜÊNCIAS BIO-PSICO-SOCIAIS DA MASTECTOMIA NA VIDA DA MULHER PATO BRANCO NOVEMBRO/ 2006 2 EVANDRO EDUARDO PRECHLAK CONSEQÜÊNCIAS BIO-PSICO-SOCIAIS DA MASTECTOMIA NA VIDA DA MULHER Monografia apresentada à disciplina Projeto e Pesquisa em Enfermagem II do VIII Período do Curso de Enfermagem da Faculdade e Pato Branco – FADEP. Orientadora: Profa Dra Ceres Braga Arejano PATO BRANCO 3 NOVEMBRO/ 2006 TERMO DE APROVAÇÃO EVANDRO EDUARDO PRECHLAK CONSEQÜÊNCIAS BIO-PSICO-SOCIAIS DA MASTECTOMIA NA VIDA DA MULHER Monografia aprovada como requisito para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem da Faculdade de Pato Branco – FADEP, pela seguinte banca examinadora: ______________________________ Profa Dra Ceres Braga Arejano Orientadora - Faculdade de Pato Branco - FADEP ______________________________ Prof. Ms Luis Carlos Barbosa Rodrigues Faculdade de Pato Branco - FADEP ________________________________ Enfa Esp. Ediane dos Santos Secretaria Municipal de Saúde de Mangueirinha Pato Branco-Pr, 30 de novembro de 2006. 4 AGRADECIMENTOS Á família pelo constante apoio; a minha orientadora Profa Dra Ceres B. Arejano, pelos momentos que juntos passamos na construção desta pesquisa. Aos colaboradores e amigos da Unidade de Saúde de Bom Sucesso do Sul que contribuíram para alcançar os objetivos deste trabalho; aos professores e colegas do curso de 5 Enfermagem da Faculdade de Pato Branco – FADEP. Muito Obrigado. "O Senhor fez a terra produzir os medicamentos. O homem sensato não os despreza. Uma espécie de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; E dela se serve para acalmar as dores e curá-las, compõe ungüentos úteis à saúde e o seu trabalho não terminará, até que a 6 paz divina se estenda sobre a face da terra." Eclesiástico 38: 4,8 RESUMO Esta pesquisa relatou as conseqüências bio-psico-socias na vida da mulher que a mastectomia causa. Teve por objetivo identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher a nível pessoal, conjugal e social, desta forma, pretendeu refletir sobre as conseqüências psicológicas e comportamentais bem como os sentimentos da paciente no enfrentamento do processo cirúrgico. As ações de enfermagem relacionadas à mastectomia tem por objetivo de orientar as pacientes sobre a doença, de modo a reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, emocionais e sociais que podem advir do processo de ser acometido por um câncer. O método de abordagem foi o descritivo de caráter exploratório qualitativo. Para atingir os objetivos propostos foi utilizada como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada. A população a ser estudada refere-se a pacientes que foram mastectomizadas e residem no município de Bom Sucesso do Sul. A partir das respostas que contemplavam com os objetivos da pesquisa, estas foram consolidadas em três categorias a seguir: Medo da morte, Dificuldade de encontrar emprego, Pré-conceito da sociedade para com a mulher mastectomizada. Palavras-Chave: Mastectomia. Paciente. Enfermeiro. ABSTRACT This research told the bio-psico-socias consequences in the life of the woman who the mastectomy cause. It had for objective to identify to the consequences of the mastectomy in the life of the woman the personal, conjugal level and social, in such a way, it intended to reflect on the psychological and mannering consequences as well as the feelings of the patient in the confrontation of the surgical process. The related actions of nursing to the mastectomy have for objective to guide the patients on the illness, in order to reduce the physical, emotional and social mortality and repercussions that can happen of the process of being competed by a cancer. The boarding method was the description of qualitative exploratory character. To reach the considered objectives the half-structuralized interview was used as technique of collection of data. To be studied population mentions it patient that they had been mastectomizadas and inhabits in the city of Good Success of the South. From the answers that they contemplated the objectives of the research, these had been consolidated in three categories to follow: Fear of the death, Difficulty to find job, Daily pay-concept of the society stops with the mastectomizada woman. Word-Key: Mastectomy. Patient. Nurse 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.....................................................................................................11 2. REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................13 2.1. CÂNCER DE MAMA E A MASTECTOMIA..................................................13 2.1.1. O QUE É CÂNCER DE MAMA..................................................................13 2.1.1. INCIDÊNCIA DO CÂNCER DE MAMA......................................................14 2.1.3. PRINCIPAIS FORMAS DE TRATAMENTO..............................................15 2.1.4. PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA....................................................17 2.2. CONSEQUÊNCIAS DA MASTECTOMIA....................................................18 2.2.1. AUTO-ESTIMA PERTURBADA................................................................18 2.2.2. CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS DA PACIENTE QUE TEM BAEC ............................................................................................................................ 18 2.2.3. IMAGEM CORPORAL PERTURBADA.....................................................23 2.3. LADO EMOCIONAL AFETADO...................................................................23 2.4. O PAPEL DA ENFERMAGEM FRENTE À MULHER MASTECTOMIZADA..........................................................................................25 2.5. AÇÕES DE ENFERMAGEM PARA A MASTECTOMIA.............................26 2.6. DIREITOS DAS PESSOAS ACOMETIDAS PELO CÂNCER............................................................................................................27 3. METODOLOGIA............................................................................................29 3.1. TIPO DE ESTUDO......................................................................................30 3.2. LOCAL DE PESQUISA...............................................................................31 3.3. SUJEITO E AMOSTRA...............................................................................32 3.4. INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS...................................................33 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES..................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................41 REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................43 APENDICES.....................................................................................................45 10 11 INTRODUÇÃO Se tratando de saúde da mulher o câncer de mama tem sido responsável por um dos maiores índices de mortalidade do mundo, a Sociedade Americana de Câncer confirmou aproximadamente um milhão de novos casos no mundo no ano 2000. De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer) (2006) no Brasil esses números são parecidos, segundo o Ministério da Saúde o carcinoma mamário é uma das primeiras causas de óbitos entre as mulheres, sendo ultrapassado apenas pelas mortes provocadas por doenças cardiovasculares e causas externas (acidentes de trânsito e violência urbana) esses números se tornam mais graves ainda nas regiões Sul e Sudeste, o que indica uma mudança no perfil de mortalidade em que as doenças crônico-degenerativas, comparadas com as doenças infecto-contagiosas, que causaram muitas mortes até a década de 80, apresentam uma alta prevalência entre a população brasileira atualmente. Segundo o Inca, o número de casos de câncer de mama esperados para o Brasil em 2006, segundo o Ministério da Saúde, é de 48.930, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres. Segundo, ainda, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) o câncer de mama ou carcinoma mamário é o resultado de multiplicações desordenadas de células que se reproduzem em grande velocidade, fomentando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas que podem vir a atingir os tecidos próximos e ocasionar metástases. Esse tipo de câncer pode ser percebido pela própria mulher por meio do auto-exame por que ele aparece em forma de nódulos. Portanto, esse trabalho teve por objetivo identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher a nível pessoal, conjugal e social, desta forma, pretendeu refletir sobre as conseqüências psicológicas e comportamentais bem como os sentimentos da paciente no enfrentamento do processo cirúrgico. Sendo assim, o estudo pretendeu analisar aspectos relacionados à auto-estima e 11 12 sexualidade, tendo em vista que a mama expressa a identidade feminina, a maternidade e a beleza física da mulher. Neste sentido o trabalho procurou compreender também quais as transformações após a realização da mastectomia que sofre a mulher no relacionamento conjugal e com a sociedade em geral. A sexualidade não se limita apenas ao relacionamento homem/mulher, mas engloba uma série de fatores biopsicossocioculturais dentre eles a auto-imagem que fica abalada com a cirurgia. Segundo Roy e Andrews (1999 p.574) “A imagem corporal faz parte do autoconceito dos seres humanos, ou seja, a auto-imagem é formada pela maneira com que a pessoa se vê fisicamente e o nível de satisfação com a sua aparência”. O presente estudo se justifica tendo em vista a importância do profissional enfermeiro como apoio/auxilio à paciente mastectomizada no que for necessário para a sua melhora em todos os sentidos, segundo Gimenes e Queiroz (1997 p. 111-147) ”Existe a preocupação com a mutilação, desfiguração e suas conseqüências para a vida sexual da mulher”. O problema afeta direta e principalmente a vida social da mulher, seu relacionamento com o cônjuge e a sociedade em geral. Aliado a isto, trago como justificativa do estudo a minha vivência na cidade de Bom Sucesso do Sul onde a incidência do câncer de mama é relativamente alta, e por ter algumas pessoas conhecidas com esse problema, também viso enriquecer minha formação acadêmica com essa investigação e ao mesmo tempo auxiliar na assistência de enfermagem às pessoas acometidas dessa doença. Depois de concluída minha formação pretendo atuar na Saúde Pública salientando que a atuação do enfermeiro na atenção básica junto ao Programa da Saúde da Mulher é essencial para minimizar os índices de câncer de mama e na conscientização da mulher sobre a importância do auto-exame. Também, senti-me motivado pelo assunto pelo fato do câncer de mama e posteriormente em casos graves a mastectomia lidar com um dos fatores mais prezados para a sociedade moderna a imagem corporal, onde a beleza significa ‘bem estar’ e ‘sucesso’, esse sentimento fica abalado na mulher após a cirurgia. 12 13 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. CÂNCER DE MAMA E A MASTECTOMIA 2.1.1. O QUE É O CÂNCER DE MAMA? Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) o câncer de mama ou carcinoma mamário é o resultado de multiplicações desordenadas de células que se reproduzem em grande velocidade, fomentando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas que podem vir a atingir os tecidos próximos e ocasionar metástases. Esse tipo de câncer pode ser percebido pela própria mulher por meio do auto-exame por que ele aparece em forma de nódulos. Conforme o INCA os tipos de câncer são denominados conforme o lugar do corpo em que se encontram. No tecido de revestimento em nível da pele, mucosas e glândulas encontram-se os carcinomas. Quanto ao diagnóstico laboratorial do câncer da mama, a comunidade internacional reconhece dois sistemas. Um deles é denominado o sistema (TNM), instituído pelo médico Pierre Denoix, que denomina a doença em três fases: T, tumor; N, linfonodos axilares homolaterais; M, metástases à distância. A outra forma, complementar a esse método, identifica a doença por estágio. O câncer de mama ou carcinoma mamário evolui em estágios que variam de 0-IV, crescente por ordem de gravidade da doença. Isso indica que para a realização do diagnóstico do câncer preciso dependemos dessa classificação que demonstra a área atingida bem como a melhor forma de tratamento. Malzyner (1997) Salienta: As possíveis tentativas de cura são desenvolvidas de acordo com o nível que o câncer se encontra, para poder saber a área afetada e a sua gravidade, alem da melhor forma de tratamento, é necessário saber o estagio clinico do paciente. A escolha do método terapêutico apropriado irá depender, também, de vários fatores, tais como a idade da paciente, a localização e o tamanho do tumor, a disponibilidade financeira, a análise da mamografia e o modo da paciente lidar com a mama afetada. (pág. 72) 13 14 2.1.2. INCIDÊNCIA DO CÂNCER DE MAMA Se tratando de saúde da mulher o câncer de mama tem sido responsável por um dos maiores índices de mortalidade do mundo, a sociedade americana de câncer confirmou aproximadamente um milhão de novos casos no mundo no ano 2000. De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer)(2006) no Brasil esses números são parecidos, segundo o ministério da saúde o carcinoma mamário é uma das primeiras causas de óbitos entre as mulheres, sendo ultrapassado apenas pelas mortes provocadas por doenças cardiovasculares e causas externas (acidentes de trânsito e violência urbana) esses números se tornam mais graves ainda nas regiões Sul e Sudeste, o que indica uma mudança no perfil de mortalidade em que as doenças crônico-degenerativas, comparadas com as doenças infecto-contagiosas que causaram muitas mortes até a década de 80, apresentam uma alta prevalência entre a população brasileira atualmente. Segundo o Inca o número de casos de câncer de mama esperados para o Brasil em 2006 segundo o ministério da saúde é de 48.930, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres, na região Sudeste, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres com um risco estimado de 71 casos novos por 100 mil habitantes, sem considerar os tumores da pele não melanoma, este tipo de câncer também é o mais freqüente nas mulheres na região Sul (69/100.000), Centrooeste (38/100.000) e Nordeste (27/100.000), na região Norte é o segundo tumor mais incidente (15/100.000). O câncer de mama permanece como o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o primeiro entre as mulheres, segundo o INCA (2006): Fatores hormonais podem aumentar o risco do câncer de mama, a prescrição tanto de anticoncepcionais orais, como da terapia de reposição hormonal devem ter, sempre, a relação risco – benefício bem avaliado. Outros fatores de risco, comuns a outros tipos de câncer também estão associados ao câncer de mama como a obesidade pós – menopausa e exposição à radiação ionizante. 14 15 O Inca afirma que prevenção primária dessa doença ainda não é fácil se assegurar, pois fatores de risco ligados ao cotidiano das pessoas e características genéticas estão ligadas no seu desenvolvimento. Foram feitas pesquisas no âmbito de se achar outras formas de busca para nações em desenvolvimento já que o único método de detecção precoce que, até agora, mostrou diminuir a mortandade por carcinoma mamário foi a busca das mulheres que realizaram mamografia com idade de risco entre 50 e 69 anos segundo o INCA. Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde (SUS) está tentando aumentar o número de diagnósticos precoce de câncer de mama realizando o exame clinico da mama em pacientes que procuram o sistema de saúde por qualquer outra razão, principalmente as da faixa etária de maior risco. Os mamógrafos devem ser utilizados preferencialmente no diagnóstico da mulher com alterações prévias no exame clínico. O câncer de mama é considerado de fácil cura desde que detectado nos seus estágios iniciais, mas no Brasil justamente por ser diagnosticado geralmente muito tarde as taxas de mortalidade são muito elevadas, no mundo, por exemplo, a taxa média de vida após cinco anos de cirurgia é de 61%, no Brasil sendo reduzida drasticamente para 48% (INCA). 2.1.3. PRINCIPAIS FORMAS DE TRATAMENTO No final do século XIX foi descoberta uma técnica nova de remoção cirúrgica que poderia ser a cura do câncer de mama, pelo médico-cirurgião Hasteld, essa nova técnica consistia na retirada total da mama afetada pelo câncer, mas por ser uma cirurgia muito mutiladora e traumática atualmente vem sendo substituída por práticas cirúrgicas menos invasivas como por exemplo a quadranctomia e a lumpectomia. Atualmente mesmo sendo retirada toda a mama pode-se reconstruí-la utilizando-se silicone ou tecido do abdômen. Os aspectos que variam para a reconstrução mamária são:idade,peso, altura e/ou tratamento com radioterapia, estado de saúde e outros procedimentos cirúrgicos já feitos na paciente. 15 16 De acordo com Duarte e Duarte (2006) as melhorias constantes ocorridas nos últimos anos na área cirúrgica vem resultando em grandes avanços para a melhoria da auto-estima e conseqüências psicológicas na mulher ao minimizar o trauma pela cirurgia. Segundo as autoras o desenvolvimento de técnicas que auxiliam na área da radiologia e quimioterapia nos últimos quarenta anos, possibilitou que o câncer de mama fosse tratado de forma multidisciplinar e integrado, alcançando maiores índices de sobrevida e qualidade de vida das mulheres acometidas por essa doença. Atualmente, a mastectomia somente é indicada para tumores avançados e consiste na retirada da mama afetada juntamente com os linfonodos axilares. A literatura consultada (MALZYNER, 1997). No entanto, não explica os motivos pelos quais, nos Estados Unidos, a mastectomia radical é realizada somente em 3% dos casos, ao passo que, no Brasil, de acordo com Souhami (1985, citado por Farstein, 1989), "um grande número de cirurgiões e radioterapeutas ainda continuam relutantes em aceitar uma nova forma terapêutica e permanece submetendo suas pacientes às formas mais radicais de terapia" (p. 180). Talvez por uma falta de qualificação para realizar essa cirurgia menos mutiladora, opte pela mastectomia radical que invariavelmente acarreta várias limitações a mulher já que de acordo com pesquisadores e estudiosos da área, essa cirurgia é um acontecimento marcante com implicações sociais, psicológicas e sexuais (Kovács, Amorim Filho & Sgorlon, 1998; Boff, 1999 pág159-185). Segundo Duarte e Duarte (2006): A cirurgia plástica evoluiu muito nesses últimos anos e proporcionou ótimos resultados para melhorar a auto-imagem da mulher que fora abalada pela mastectomia, técnicas novas ajudaram nessa melhoria como a quimioterapia e radiologia e possibilitaram para que o tratamento fosse de forma multidisciplinar e juntas aumentaram consideravelmente a sobrevida com qualidade desses pacientes, atualmente só se indica mastectomia para tumores em estágios muito avançados. Dessa forma é imprescindível à prevenção do câncer de mama para evitá-lo ou até mesmo detecta-lo precocemente, sendo nesse ponto essencial a presença do enfermeiro capacitado, promovendo campanhas que difundam a idéia do auto- 16 17 exame e a sua importância, já foi provado que a prevenção ainda é o melhor método de combate a essa doença. 2.1.4. PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA Segundo o INCA, órgão do Ministério da Saúde responsável, entre outras ações, afirma que a melhor forma de combater qualquer tipo de câncer ainda é a detecção precoce. De acordo com o INCA, formas de combate a essa doença por meio de novas estratégias estão sendo criadas no nosso pais. Essas novas estratégias sugerem orientar 500 mil mulheres e capacitar 100 mil profissionais da área de saúde. Como já descrito nesse trabalho o câncer de mama vem aumentando a sua incidência na sua forma mais grave, por isso se tornou um problema grave da saúde pública não só no Brasil, mas no mundo todo e: "(...) tem colocado a necessidade de se investigar a complexa relação entre conhecimento, crenças, atitudes e comportamentos de saúde" (SEIDEL & GIMENES, 1997, p. 260). São três as ações de saúde imprescindíveis para a detecção precoce do câncer de mama segundo o INCA: a) auto-exame das mamas, AEM, realizado de forma adequada; b) exame clínico das mamas, ECM, feito por um profissional especializado e; c) mamografia. Apesar de todos os esforços e campanhas para a conscientização da importância do auto-exame, nota-se que as mulheres não tem sido estimuladas o bastante para fazê-lo, faltando nesse ponto talvez um maior envolvimento de todas as esferas da área da saúde no mesmo propósito da prevenção, sendo ai essencial à presença do enfermeiro para o sucesso da desse programa. A condição econômica está diretamente ligada a adesão no tratamento, alguns estudos sugerem que pessoas com maior nível de escolaridade tem mais chances de concluir o tratamento e realizar os exames necessários para a sua cura (SEIDEL & GIMENES, 1997; GONÇALVES & DIAS, 1999), já que as mesmas têm mais acesso a informação e a tratamento qualificado. 17 18 Para Gonçalves e Dias (1999, p. 141): Esses estudos vêm corroborar a idéia de que as campanhas educativas que abordam a prevenção do câncer de mama precisam ser destinadas e adaptadas à realidade da população feminina de baixa renda e de baixa escolaridade. Geralmente as mulheres acometidas dessa doença, não têm acesso a um serviço público de saúde de qualidade e, quando se dão conta de procurá-lo a já pode ser tarde demais. Além disso, não se conhecem profundamente as percepções, crenças, níveis de informação que essas mulheres têm a respeito do auto-exame, para que se possa traçar estratégias educativas no sentido de melhor orientá-las. O enfermeiro tem o dever de orientar as mulheres da comunidade a qual atende sobre a importância do auto-exame, por meio de palestras educativas e também marcando se necessário o exame clinico das mamas e a mamografia. 2.2. CONSEQUÊNCIAS DA MASTECTOMIA 2.2.1 AUTO-ESTIMA PERTURBADA Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004, p.378) a auto estima perturbada é o estado no qual o individuo apresenta, ou corre o risco de apresentar, uma auto avaliação negativa sobre si mesma ou de suas capacidades e pensamento fixado na morte. Tem com características definidoras: Explicitas ou implícitas, verbalização auto-negativa, expressões de culpa ou de vergonha, avalia a si mesmo como incapaz de lidar com os eventos, racionaliza ou rejeita o feedback positivo e exagera o negativo sobre si mesma,incapacidade para estabelecer metas, medo excessivo,indecisão,falta de solução ou soluções erradas para os problemas,apresenta sinais de depressão (sono, apetite),busca aprovação ou tranqüilizarão excessivamente,má apresentação corporal (postura, contato visual, movimentos),comportamento auto-abusivo (mutilação, tentativas de 18 19 suicídio, roer as unhas, abuso de substâncias, considerar-se vitima),hesitação em experimentar coisas novas\situações diferentes,negação de problemas óbvios para outros,projeção da culpa\ responsabilidade pelos problemas,racionaliza os fracassos pessoais ,hipersensibilidade a menor crítica,grandiosidade. Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004, p.479) pode ser tanto um evento episódico quanto um problema crônico. O fracasso em resolver um problema ou os múltiplos estresses seqüenciais pode resultar em Baixa Auto-Estima Crônica. Os fatores que ocorrem ao longo do tempo e são associados com a Baixa Auto-Estima Crônica são indicados pela sigla BAEC. 2.2.2. CARACTERISTICAS DEFINIDORAS DA PACIENTE QUE TEM BAEC Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004 p. 60), as características que aparecem frequentemente nas pacientes com BAEC são as respostas negativas verbal ou não-verbal, negativa á mudança rela ou suposta, na estrutura ou funcionamento (isto é, vergonha,embaraço, culpa repugnância). Características menos evidentes nas pacientes com BAEC não olhar para a parte do corpo, não tocar a parte do corpo, esconder ou expor demasiadamente parte do corpo, mudanças no envolvimento social. Sentimento negativo sobre o corpo, sentimento de desamparo, desesperança, impotência, vulnerabilidade, preocupação com a mudança ou perda,recusa em verificar a mudança real,despersonalização da parte ou da perda,comportamentos auto-destrutivos (isto é mutilação, tentativas de suicídio, excesso ou escassez de alimentação). Segundo a pesquisa realizada por Rodrigues, Silva e Vilela (2002, p.29-30): Com mulheres mastectomizadas a mulher quando submetida á retirada de uma ou ambas as mamas pode ter sua sexualidade fortemente abalada, pois os seios são vistos como fonte de beleza e prazer, e ainda, pelo receio de mudanças de atitudes do companheiro ou cônjuge. Juntamente com a cirurgia, o câncer pode provocar na mulher sentimentos de ansiedade e medo pelo prognóstico negativo. 19 20 Como lembram Roy e Andrews (1999, p.574) “A imagem corporal faz parte do modo de auto-conceito, definindo a maneira da pessoa se ver fisicamente e o nível de satisfação com a sua aparência”. Neste estudo percebe-se que a maioria das mulheres se reportou ao passado, além do presente, e relembrou as emoções e os acontecimentos vivenciados em decorrência do processo cirúrgico, foi possível visualizar, ainda comportamentos adaptativos, resultantes das mudanças, tranqüilidade e serenidade. Segundo Rodrigues Silva e Vilela a mastectomia atuou como um estimulo na manifestação de comportamentos adaptativos, por meio do resgate de sentimentos favoráveis á manutenção as saúde e qualidade de vida, foi crucial também para manter a imagem corporal e ativar o self-consistência, culminando com a elevação do auto-conceito dessa mulher, a remoção cirúrgica da mama estimulou o desencadeamento de mecanismos de enfrentamento, com os quais os sentimentos foram minimizados e ocasionaram uma resposta adaptativa, ou seja, aceitação da condição de ser mastectomizada. Ainda segundo a mesma pesquisa, quanto á cirurgia a pesquisa relata que as respostas ineficazes á cirurgia mamária foram manifestadas por comportamentos não adaptativos que configuram alterações na maneira de se ver e perceber como mulher, algumas referiram dificuldades iniciais de conviver em grupo, temendo as reações de rejeição e preconceito, que hoje em dia ainda estão fortemente arraigadas na sociedade. Recorrendo a mecanismos de resolução desses conflitos, ela conseguiu se aceitar e conviver bem com esse problema, colocando-se indiferente aos fatos externos, para superar as dificuldades cotidianas vindas da mastectomia, algumas adotaram como mecanismo de enfrentamento um comportamento otimista, para alcance de sua recuperação psicossocial, obtendo assim, um resultado esperado do processo de enfrentamento, que para Gimenes (1997 p.111-147) resulta em uma adaptação psicossocial da pessoa e um nível satisfatório de qualidade de vida, entretando demonstram constrangimento e vergonha de expor a mama afetada, mesmo com o auxilio de uma prótese, que se caracteriza alternativa viável para a preservação da imagem corporal da mulher. A pesquisa afirma que o uso da prótese mamaria tem sido referido pelas mulheres como um dos mecanismos de enfrentamento importantes para a 20 21 preservação ou o resgate da auto-imagem feminina e também como um meio de afastar os olhares da sociedade, que dão ênfase aos seios femininos como atributos físicos das mulheres e elementos indispensáveis à feminilidade, nesse mesmo entendimento. Enfim a sociedade supervaloriza a mama e o seu significado de feminilidade e sexualidade, daí os efeitos traumáticos na auto-estima da mulher pela sua perda. A mastectomia a reconstrução mamaria e o ganho de peso destacou como os fatores mais importantes de alteração na imagem corporal da mulher segundo a pesquisa, já que contribuíram para colocar em evidencia a vergonha de expor o seu corpo ao cônjuge e a outra pessoas. A reconstrução da mama ajuda na melhora da auto-estima e auto-imagem da mulher, mas foi percebido que apenas isso não traria a satisfação completa, por que a cicatriz deixada pela cirurgia continuaria interferindo na sua imagem corporal e principalmente causando constrangimento frente ao parceiro, para enfrentar esses medos as pacientes fazem transparecer otimismo e a crença em DEUS. A pesquisa afirma que o estimulo para o comportamento de valorização maior de si foi representado pelo câncer de mama, que desencadeou atitudes de auto-preservação, pela consciência do risco de vida que a doença apresenta, a prótese mamaria foi um estimulo para melhorar o comportamento de saúde, recompor a imagem corporal e elevar o nível de adaptação á mastectomia. O uso da prótese é vista para Segal (1995 pág.79) “Como uma excelente estratégia de resolução do problema estético, bem como oferece a manutenção do equilíbrio corpóreo e da postura, prevenindo problemas de postura.” Além do câncer de mama ter estimulado uma mudança na conduta ao enfrentar a doença,ocasionando uma resposta adaptativa, outros fatores influenciaram a sexualidade como a mastectomia, a meia-idade e a ausência de companheiro, ambos os fatores mencionados vêm representando estímulos á ausência de contatos e sensações sexuais, desestimulando a procura por parceiros. De acordo com Roy e Andrews (1999, p. 574): Esses estímulos afetam o self-fisico (subárea do modo de auto-conceito), haja vista a repercussão sobre os componentes de sensação e imagem corporal, á medida que houve em alguns casos uma ausência de sensações sexuais, dos métodos de sua ativação e desinteresse em melhorar aspectos de sua aparência. 21 22 Além de situações que demonstram o self-consistência (componente do selfpessoal de Roy) das mulheres, ou seja, suas personalidades e maneira de se perceberem como seres, vislumbrados também ao self-ideal (componente do selfpessoal de Roy), ou seja, aspirações pessoais voltadas a mudanças no self, que segundo Roy e Andrews (1999 pág.574), se relaciona ao que uma pessoa é capaz de ser ou fazer. Segundo as autoras Rodrigues Silva e Vilela (2002, p. 29-30): As aspirações pessoais tiveram conotações diversas, dentre as quais podemos citar: desejo de ser uma pessoa com auto-estima elevada, de ter potencial para enfrentar as dificuldades cotidianas e ser uma pessoa mais ativa, para o alcance dessas idealizações, além do desejo da própria mulher em se ajudar, faz-se imprescindível um suporte familiar e profissional adequado, de maneira que possa satisfazer os sentimentos de valorização tão ausentes nessas mulheres, promovendo assim respostas adaptativas direcionadas ao seu auto-conceito, o apoio emocional pode ser muito importante nessa circunstância. As evidenciadas respostas ineficazes,houve destaque para vergonha para a exposição da mama afetada ao cônjuge e outras pessoa, insatisfação com aparência com a mudança no estilo de se vestir, e por sentimentos de angústia, desanimo e desolação, como estes fatores que estimularam a ocorrência desses comportamentos, destaco aretirada da mama, na maioria das circunstâncias, pelo significado pleno atribuído a ela, a cicatriz da incisão cirúrgica e da reconstrução mamaria, a vergonha da mudança aparente, e o ganho e perda de peso, a meiaidade, a ausência de parceiro sexual e o câncer de mama, para aquelas mulheres que atribuíram á doença uma maior preocupação pela possibilidade de morte. Diante das repercussões da mastectomia no auto-conceito, as autoras identificaram aspirações no self-pessoal (subárea de modo de auto-conceito de Roy) voltadas a mudanças na maneira de ser como mulher e no estilo de vida, que incluíam o desejo de ser como mulher e no estilo de vida, que incluíram o desejo de ter tido oportunidades de estudo e de elevar a auto-estima, esta última para saber 22 23 enfrentar as dificuldades cotidianas e para ganhar mais coragem no exercício de suas atividades domésticas e ocupacionais desenvolvidas anteriormente. De acordo com as autoras “O tipo de ajuda procurada pelas mulheres para o enfrentamento dessas situações inclui a busca de um ser supremo (DEUS) e de uma força interior, o suporte emocional das pessoas que representam o outro significante e o sistema de apoio, o uso de uma prótese e/ou a reconstrução mamaria”. 2.2.3. IMAGEM CORPORAL PERTURBADA Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004 p. 60) é o estado em que o individuo apresenta, ou está em risco de apresentar, uma perturbação na maneira como percebe a sua imagem corporal. Pelo fato da mastectomia lhe subtrair uma parte do corpo tão importante que representa a feminilidade, ela passa a se sentir insegura nas relações que expõe o seu corpo para a sociedade, desde um simples passeio na rua até o emprego se tornam algo incrivelmente perturbadores para ela,embora a sociedade de modo geral seja muito preconceituosa a mulher também tende a criar uma redoma sobre si de superproteção, evitando que esse episódios acontecem deixando da convivência social. 2.3. LADO EMOCIONAL AFETADO O câncer significa ou traz a idéia de uma doença corrosiva, contagiosa e que traz a pessoa por ela acometida e sua família um mal estar generalizado. Geralmente a maior preocupação da paciente e seus familiares após receber a confirmação do câncer de mama é o risco de vida que ela corre tudo em torno de si muda muito, consequentemente surgem às preocupações com o tratamento e se terá condições financeiras de bancá-lo. 23 24 Ainda existe a preocupação de como o corpo ficará após a mastectomia e como ficará a sua visa social após esse acontecimento (Gimenes & Queiroz, 1997). O tratamento e suas conseqüências são estressantes para a paciente e a família. Gimenes, (1997, p.147) afirma “que a mama é um órgão que remete às representações que simbolizam a feminilidade, a estética, a sexualidade, imagem corporal e maternidade”. O câncer de mama ocasiona mudanças no lado biopsicossocial da paciente que sofre a mastectomia causando vários outros problemas, como essa cirurgia é mutiladora pode ocasionar mudanças na auto-imagem e consequentemente afetar a vida sexual da mulher e o convívio social principalmente. Segundo a pesquisa realizada pelas autoras Rodrigues Silva e Vilela (2002, . 29-30) existem outros fatos rotineiros que combinados com a confirmação da doença cronificam ainda mais a saúde já abalada da mulher como problemas financeiros, conjugais, sociais, idade e falta de informações corretas sobre sua doença e conseqüências. A pesquisa realizada por essas autoras também concluiu que o esclarecimento sobre as questões referentes à sexualidade, na fase pós-cirúrgica, não são habitualmente abordados nas práticas médicas de rotina. E a cada dia cresce a necessidade desse esclarecimento, pois este é visto como fundamental para assegurar o bem-estar e a qualidade de vida das mulheres que vivenciam essa situação, visto a importância da mastectomia na vida da mulher a psicologia possui uma ramificação que trata dos impactos psicológicos que a mastectomia implica para a mulher de uma forma geral, uma dessas ramificações é chamada de psicologizante que segundo Sant’Ana (1997, p. 43 e 70): Foram diretamente influenciadas pela psicanálise, nos anos de 60 e 70, que atribuem as causas do câncer de mama a experiências subjetivas e dolorosas e sugerem que a doença foi produzida pelo próprio sujeito, fortalecendo desse modo a auto-responsabilização pela doença. A mulher se acha culpada pela doença e por todos os malefícios que ela pode vir a trazer para a sua vida com eventuais rejeições amorosas e sociais (perda de parceiros afetivos e preconceito) . 24 25 2.4. PAPAEL DA ENFERMAGEM FRENTE À MULHER MASTECTOMIZADA O diagnóstico do câncer coloca em primeiro plano a vulnerabilidade do ser humano, trazendo a tona uma série de questões vitais sobre o significado da vida, sendo assim tanto o diagnóstico quanto o tratamento do câncer produzem graves traumatismos emocionais, manifestados sobre a forma de depressão, melancolia, solidão, retraimento, desesperança, revolta e idéias de suicídio, entre outras. Os portadores de câncer avançado comumente adotam atitudes fatalistas, apresentam medo da morte e das mutilações enquanto outros se tornam dependentes e sujeitáveis em relação á cura. Se analizar-mos o câncer do ponto de vista psicológico ele afeta diretamente o ego do paciente, entendido como semi-conciente, imagem interior ou semiinconciente, que é a imagem que a pessoa faz de si próprio durante a vida, suas vivências e familiares, com isso o paciente tende a acreditar que o seu ego foi ferido podendo isso vir a acontecer no momento mais agudo da doença, porque o ego terá de vencer as incertezas, dentre eles vários medos como o da dor, morte e a maneira que a sociedade o percebe, juntos ocasionam reações no inconsciente de negação e depressão enquanto na negação ele se nega a acreditar que esta doente e na projeção transfere para outro a sua doença, na depressão ele tem a idéia real que está negando a doença que sabe que tem. O câncer de mama traz problemas psicológicos para a mulher, já que a cicatriz e/ou a falta da mama podem gerar ansiedade e medo frente o parceiro na hora do ato sexual, podendo ser visto como um risco para a continuidade do relacionamento. O enfermeiro deve estar atento á maneira como o paciente conta a sua história a terminologia que usa e as suas circunstâncias na época do diagnóstico. Isto acrescenta informações sobre como ela lida com a doença, podendo ser especialmente válido para descobrir-se medos, fantasias ou imagens esteriotipadas 25 26 que possa ter, muito pacientes não revelam seus sentimentos e pensamentos nessa profundidade, mas se observar o que ele diz, e muitas vezes o que ele não diz, assim como a maneira que lida coma equipe e seus familiares, pode se ter valiosos indicadores do nível de stress que ele experimenta e o apoio de que ele precisa, a enfermagem deve servir de suporte emocional para o paciente. O tratamento cirúrgico torna os pacientes inseguros ansiosos e depressivos dados às limitações que se vêem acometidos, levando a intenso desgaste psicológico. 2.5. AÇÕES DE ENFERMAGEM PARA A MASTECTOMIA Segundo a autora Dreher (2005) as ações de enfermagem relacionadas à mastectomia tem por objetivo de orientar as pacientes sobre a doença, de modo a reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, emocionais e sociais que podem advir do processo de ser acometido por um câncer. O método de trabalho parte da concepção de que o cuidado com o paciente deve ser feito de forma holística e não se assumir ao tratamento do tumor. Dreher (2005, p.21) afirma que: A enfermagem pode desenvolver palestras informativas e atividades em que pacientes se reúnem para compartilhar sentimentos, nesse caso também é muito importante trocas de experiências de vida entre as pacientes, espera-se que o processo de cura passe pela reflexão e conscientização sobre com se tem vivido a própria vida, visando mudar maus hábitos e atitudes, podem produzir efeitos benéficos á pessoa como um todo, medidas com essa de resolução de problemas em grupo e de que é possível e muito positivo dividir suas experiência e sentimentos, segundo a enfermeira do Centro Brasileiro de Radioterapia, oncologia e Mastologia (CEAMA) Dra. Acilda Weirich. Segundo a autora a enfermagem, busca descobrir como cada um pode encontrar a melhor forma de se adaptar ao “stress” que cada tratamento provoca, mas como no CEAMA a enfermagem, não atuaria sozinha, mas com profissionais das mais variadas áreas como medicina e psicologia. Conforme Dreher (2005, p. 21-22): 26 27 A experiência dessas pacientes mostra que o câncer de mama não atinge só a portadora, mas sua família também. Por isso, o CEAMA promove reuniões mensais com os familiares,com o objetivo de favorecer a inclusão e a participação deles no processo de recuperação psicossocial da paciente e das relações em questão, mas não é necessário ter um grupo grande como esse para fazer a inclusão da mulher e a família na sociedade, nós como futuros enfermeiros podemos organizar essas reuniões até em pequenas cidades e bairros, utilizando o PSF e os postos de saúde da localidade. Segundo a médica Janice Matsuy (2005, p. 21-22) É possível que a dinâmica familiar seja revista, reconstruída a fim de melhorar a adaptação de todos a situação do adoecimento de um membro da família e do relacionamento com a sociedade. Segundo Dreher “as pacientes passam a enfrentar melhor a doença e aderir com mais assiduidade ao tratamento, além de melhorar a convivência com a família e a sociedade” (2005 p 21-22). Sendo nesse ponto a família o ponto de equilíbrio da mulher se a família lhe oferecer apoio, consequentemente a sua melhora se dará de forma muito mais acentuada. 2.6. DIREITOS DAS PESSOAS ACOMETIDAS PELO CÂNCER Geralmente as pessoas acometidas pelo câncer desconhecem seus direitos e muitas vezes pagam pelo que não devem, deixando assim de desfrutar os direitos e benefícios que a lei brasileira oferece de uma forma confusa, mas oferece. Dentre os direitos estão: A isenção do CPMF, Imposto de renda e no momento da aquisição de um Veiculo a isenção do IPI,ICMS,IOF e IPVA.Outros direitos como transporte urbano gratuito,medicamentos (gratuitamente e facilidade), e em cidades em que vigora o rodízio de automóveis (tem autorização para trafegar sem cumpri-lo). 27 28 Outro fator que esta prescrita na lei é que a mulher mastectomizada tem direito é a direção hidráulica e cambio automático na compra de automóveis novos, sem valor adicional, já que é comprovado que quanto menos força a mulher fazer com os braços e consequentemente com a região afetada pela cirurgia, menor as chances de um eventual efeito pós cirúrgico, como o inchaço do braço. O paciente acometido pelo câncer tem o direito de ser informado e o médico o dever de informar sobre o estado clinico do paciente, de forma simples e de fácil entendimento. Segundo a Antonieta Barbosa (2003): O paciente de câncer, pelo profundo sentimento que encerra sua doença, além de todos os benefícios enumerados, tem direito não apenas a uma morte digna, mas, sobretudo a uma vida digna, tendo em vista isso dignidade não só na sua relação com os profissionais de saúde, mas consigo mesmo e a sociedade em geral (p. 307). 3. METODOLOGIA 28 29 A partir das considerações contidas no referencial teórico, que dão suporte a este estudo, apresentam-se a seguir alguns aspectos metodológicos que viabilizaram a investigação do problema da presente pesquisa. Esse trabalho teve por objetivo geral identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher, e como objetivos específicos conhecer as conseqüências psicológicas e comportamentais assim como os sentimentos envolvidos na cirurgia. Pretendeu, aliado a isto, analisar a auto-estima e sexualidade da mulher mastectomizada. A mama expressa a identidade feminina, maternidade e beleza sexual, neste sentido, o trabalho procurou entender também como se dá o relacionamento da mulher mastectomizada com o cônjuge e a sociedade em geral, pois a sexualidade não se limita apenas ao relacionamento homem/mulher, mas engloba uma série de fatores psicossocioculturais. A pesquisa foi realizada utilizando-se a abordagem descritiva de caráter exploratório qualitativo que, de acordo com Minayo (2001, p. 21), a pesquisa qualitativa “aplica-se nos casos em que se busca identificar o grau de conhecimento, as opiniões, impressões, seus hábitos, comportamentos, seja em relação a um produto, sua comunicação, serviço ou instituição”. A análise dos resultados da pesquisa foi embasada segundo o livro de Laurence Bardin “Análise de conteúdo” segundo o mesmo um estereótipo é “a idéia que temos de... imagem que surge espontaneamente, logo que se trate de....”, é a representação de um objeto mais ou menos desligado da sua realidade objetiva, partilhada pelos membros de um grupo social com certa estabilidade (p.51). A análise foi do tipo transversal que segundo Bardin (2000, p.66) “se dá recortando em redor de cada tema –objeto, que quer dizer, “tudo o que foi afirmado acerca de cada objeto preciso no decorrer da entrevista, foi transcrito para uma ficha, seja qual for o momento em que a afirmação tenha tido lugar.”“. Depois desse processo o material foi codificado, que segundo Bardin (2000) correspondente a uma transformação, efetuada segundo regras precisas, dos dados brutos do texto, transformação esta que por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação de conteúdo, ou da sua expressão, susceptível 29 30 de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices. Tendo em vista tudo o que já foi esclarecido sobre a análise dos dados da pesquisa será adotado o procedimento de Osgoo que propõe a seguinte abordagem segundo Bardin (2000, p. 199): -Escolha das unidades de registro (palavras-chave, por exemplo) e, a categorização (temas) se tal tiver cabimento. -Escolha das unidades de contexto e o recorte do texto em fragmentos. -Codificação: presença ou ausência de cada unidade de registro (elemento) em cada unidade de contexto (fragmento). -Cálculo das co-ocorrências (matriz de contingência). -Comparação com o acaso -Representação e interpretação dos resultados. 3.1. TIPO DE ESTUDO A pesquisa foi realizada utilizando-se a abordagem descritiva de caráter exploratório qualitativo que, de acordo com Minayo (2001, p. 21), a pesquisa qualitativa “aplica-se nos casos em que se busca identificar o grau de conhecimento, as opiniões, impressões, seus hábitos, comportamentos, seja em relação a um produto, sua comunicação, serviço ou instituição”. Sendo assim, este método oferece informações de natureza mais objetiva e aparente. Seus resultados podem refletir as ocorrências de seus segmentos, de acordo com a amostra com a qual se trabalha. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. A abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas. (MINAYO, 2001 pág.21). De acordo com Trivinos (1987, p. 110), o estudo descritivo “possui foco essencial no desejo de conhecer a comunidade, suas escolas, seus professores, 30 31 sua educação, as reformas curriculares os métodos de ensino. O mercado ocupacional, os problemas do fenômeno de determinada realidade”. De acordo com Marconi e Lakatos (2001, p. 87) pesquisas exploratórias “são investigações de pesquisa impírica” cujo objetivo é a formulação de questões ou de problemas, com tripla finalidade desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais preciosa ou modificada e classificar conceitos. Empregam-se geralmente procedimentos sistemáticos ou para a obtenção de observações impíricas ou para as análises de dados (ou ambos simetricamente). 3.2. LOCAL DA PESQUISA Bom Sucesso do Sul se localiza aproximadamente 25 Km de distância do município de Pato Branco – Paraná; sua área de unidade territorial é de 174 Km 2. Vale ressaltar que sua fundação ocorreu no ano de 1993, pois até então pertencia ao município de Pato Branco. Conta com uma população de aproximadamente 3.392 pessoas sendo que 1.307 são residentes da área urbana e 2.085 são residentes da área rural. FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DE BOM SUCESSO DO SUL 31 32 Bom Sucesso do Sul Fonte: Prefeitura Municipal de Bom Sucesso do Sul O município não dispõe de hospital, mantendo somente um posto de saúde (Nis II) que realiza atendimento das 7h às 19h, de segunda a sexta-feira. A figura 1 mostra a localização do município. 3.3. SUJEITO E AMOSTRA A população a ser estudada refere-se a pacientes que foram mastectomizadas no município de Bom Sucesso do Sul. O número total de mulheres mastectomizadas segundo a Secretaria de Saúde do mesmo Município é de aproximadamente dez, destas seis foram entrevistadas para a coleta de dados e compuseram, portanto, a amostra do estudo. Cabe destacar que de acordo com os princípios éticos (196/96 do Conselho Nacional de saúde) todos os entrevistados foram informados dos objetivos da pesquisa e concordaram em participarem da mesma assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice II) 32 33 3.4. INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS Para atingir os objetivos propostos foi utilizada como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada (APÊNDICE 1). A entrevista, de acordo com Marconi e Lakatos (2001, p. 107), “é uma conversação efetuada face a face, de maneira (semi-estruturada) que proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária”. Pode-se afirmar que a entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formular as perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. 33 34 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este capítulo visa responder aos objetivos do estudo que são: Identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher a nível pessoal, conjugal e social. Aliado a isto, pretendeu refletir sobre as conseqüências psicológicas e comportamentais bem como os sentimentos da paciente no enfrentamento do processo cirúrgico, levando em conta fatores comportamentais, culturais e psicossociais. Para responder aos objetivos propostos foram realizadas entrevistas com seis mulheres mastectomizadas no Município de Bom Sucesso do Sul/Paraná, visando conhecer o que mudou em suas vidas após a mastectomia. Para proceder à análise procurei relacionar as respostas das entrevistadas com a literatura, visando articular processo reflexivo com o fenômeno apresentado. A partir das respostas estas foram consolidadas em três categorias a seguir: 1-Medo da morte, 2-Dificuldade de encontrar emprego, 3-Pré-conceito da sociedade para com a mulher mastectomizada. 4.1. Caracterização da Amostra A média de idade é de 56,3 anos, de filhos é 4 e de moradia na cidade é 35,3 anos , a média salarial é de 735.00 Reais. Apenas 2 estão casadas atualmente, 2 são viúvas, 1 solteira e 1 é separada. 1. Medo da morte A morte já é na natureza humana, um medo constante e o surgimento câncer de mama tende a potencionalizar. Já a própria expressão “câncer” é diretamente relacionada à morte, no imaginário social. “Não tenho futuro nenhum, e não venha me dizer que tenho, esses tratamentos tentam prolongar a vida ma não vive direito e morre igual” (Tulipa). “Eu “afundei” fiquei depressiva e vou ficar até morrer, eu acredito que o câncer não tem cura por que sempre fazem o tratamento e sempre morrem” (Tulipa). 34 35 Segundo Rodrigues, Silva e Vilela (2002, p.29-30): (...) juntamente com a cirurgia, o câncer pode provocar na mulher sentimentos de ansiedade e medo pelo prognóstico negativo. O ser humano tende a ter medo do desconhecido, como poucas pessoas estão interadas quando o assunto é câncer, pensam apenas na morte. Como já foi citado anteriormente, o nível de instrução das mulheres entrevistadas é baixo, consequentemente tendem a basear suas idéias em fatos ocorridos com seus familiares ou com amigos que passaram por essa experiência com o câncer, que geralmente ligam essa doença a morte. “Eu sempre espero melhorar, mas todos os outros parentes que moreram foram para Curitiba e Chapecó e morreram por isso acho que ele só mata” (Tulipa). Todas as mulheres entrevistadas referiram ter algum tipo de medo relacionado à morte. Esse medo se intensificou após a descoberta do câncer de mama e consequentemente após a realização da mastectomia. Especialmente Tulipa refere na entrevista que já teve familiares com câncer que vieram a falecer, nesse sentido, apesar de meus esforços em esclarecer que o câncer se detectado precocemente tem muitas chances de cura, ela mantém a idéia de que essa doença representa a morte e que no seu caso não será diferente. “Nossa fiquei muito assustada, com medo de morrer mesmo, receosa, o que você sente é ficar sozinha no mundo e que vai morrer” (Violeta). “Eu fiquei muito apavorada e triste... com receios por que o câncer a gente sabe que pode se acalmar mas ele mata...de um jeito ou de outro” (Rosa). 35 36 Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004, p. 378): (...) racionaliza ou rejeita o feedback positivo e exagera o negativo sobre si mesma,incapacidade para estabelecer metas,medo,indecisão,falta de solução ou soluções erradas. Como a bibliografia citada e os relatos das mulheres afirmam, ocorre um acentuado medo da morte por parte das mulheres, percebeu-se receio das pacientes até mesmo para o tratamento pelo fato que ele lhes encurtaria inda mais o tempo de vida. Relataram não fazerem planos para o futuro “por saber que vão morrer logo”, deixaram de comprar roupas e de sair ou se maquiar. 2. DIFICULDADE DE ENCONTRAR EMPREGO “Ficou tudo mais difícil, o meu trabalho ficou de lado, de vez em quando dói, muda tudo, tentei trabalhar até que dá, mas não ganha direito, não tenho mais a saúde que eu pensava que tinha” (Orquídea). Segundo Roy e Andrews (1999, p. 574) “A imagem corporal faz parte do modo de auto-conceito, definindo a maneira da pessoa se ver fisicamente e o nível de satisfação com a sua aparência”. O problema afeta direta e principalmente a vida social da mulher, seu relacionamento com o cônjuge e a sociedade em geral, dessa forma a mulher não se sente bem estando em lugares onde seu corpo pode ser visto. Outra mudança significativa que foi relatada se refere ao comportamento das mulheres mastectomizadas para com a sociedade, percebeu-se uma grande resistência das pessoas em “reabsorver” essas mulheres como parte ativa da comunidade já que muitas vezes são julgadas “incapazes” para realizar certas tarefas. 36 37 “Eu me sentei com meu marido e meus filhos e fizemos projetos da casa que eu iniciasse, pedi que se eu não conseguisse terminar eles terminassem por mim, só as minhas costuras eu término ,não posso fazer planos muito grandes, olha a dificuldade que tenho para fazer qualquer coisa até para arrumar emprego, tudo ta difícil para mim agora, ma só ficou assim por causa dessa doença” (Orquídea). “A perda do meu marido, meu casamento desabando você tem noção do que é isso ficar sem a pessoa que você mais ama,e o pior é que todo mundo me olha como se fosse eu a culpada, tenho vontade de abandonar tudo e ir embora daqui de verdade, ma aqui que me conhecem já é difícil de arrumar algum “bico” desse jeito, imagine longe daqui, essa doença ainda não me matou ma ta me matando aos poucos pelas dificuldades que aparecem” (Jasmim). Segundo o Manual de Diagnóstico de Enfermagem (2004, p. 60), características menos evidentes nas pacientes com BAEC (Baixa Estima Crônica) não olhar para a parte do corpo, não tocar a parte do corpo, esconder ou expor demasiadamente parte do corpo, dificuldades no envolvimento social. As entrevistadas referiram ter dificuldade em obter um emprego fixo, no máximo arrumam trabalhos informais ou de diaristas, como refere a bibliografia acima, talvez pela própria dificuldade da paciente em se relacionar com o meio, ou por outro lado que ficou mais evidente na minha pesquisa que foi um certo preconceito que a sociedade oferece a essas mulheres, principalmente por morarem em uma cidade pequena onde todos se conhecem e sabem praticamente de tudo da vida um do outro. Outro fato que chama a atenção é que todas as mulheres entrevistadas, são domésticas, ou realizam trabalhos como diaristas, não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho. Apontaram-se duas explicações analisando os relatos e as bibliografias, o primeiro seria que a própria mulher não se sente bem nas situações em que seu corpo esteja ao alcance de vários olhos, sendo assim traumático a ida ao trabalho, a outra seria a sociedade oferecer certas barreiras as mesmas, como desqualificação delas até a desculpa de que as vagas oferecidas já foram preenchidas. 37 38 3. PRÉ-CONCEITO DA SOCIEDADE PARA COM A MULHER MASTECTOMIZADA “Mudou principalmente no meu casamento, meu marido parece que ficou com nojo de mim ou medo sei lá, o que os vizinhos pensam não me interessa, mas acho que meu marido me largou por causa disso, começou a procurara prostitutas e me deixou aos poucos, nem me escondia que saia com elas, acho que para eu mesmo pedir a separação, sabe ele fazia de propósito, chegou ao ponto de não termos mais relações sexuais, ele deve pensar que o câncer se pega transando, ele é muito burro” (jasmim). A literatura consultada indica que a família deve servir de apoio para a mulher, para enfrentar as dificuldades que por ventura aparecerem, mas nota-se vendo os relatos das entrevistadas exatamente o contrário, a família já começa oferecendo preconceitos e dificuldades, tornado-se praticamente impossível a adaptação da mulher a essa nova realidade, se sua família não a compreende e apóia o que dirá a sociedade então, percebe-se que elas sentem falta de afeto e carinho, encontram-se muito carentes lhes faltam um companheiro, alguém para compartilhar suas angústias e medos. A parte conjugal também foi abalada, as casadas relataram que ocorreu um “resfriamento” na relação ou até a erradicação do ato sexual, houve relato de um dos maridos que julgou a esposa mastectomizada incapaz de fazê-lo (sexo) “sinto sei lá um certo medo de machucá-la , ou às vezes sinto até nojo dela”...(marido de Orquídea) o que representa a total desinformação da sociedade para com o assunto deixando as pessoas acometidas por ele a mercê do destino que muitas vezes lhes é cruel. Notou-se uma falta de esperança das mulheres para com o futuro, até mesmo nos casos que a mastectomia obteve sucesso no controle do câncer elas relatam terem dificuldades para fazer planos para o futuro e consequentemente concretiza-los, já que as mesmas sempre me relataram que tinham certeza que o câncer as mataria, dessa forma percebe-se o grau de comprometimento psicológico dessas mulheres. 38 39 “Fiquei com vergonha de sair na rua por que os outros só falavam de mim parece, não sai mais nos idosos por isso como que ia arrumar namorado desse jeito (fala mostrando o corpo com as mãos e rindo) as pessoas mais antigas olham e falam olha lá a cancerosa (enche o olho de lágrimas) (Cravo)”. “Certo preconceito, assim por causa das pessoas que te rodeiam né... chegam assim parecem que tem medo de você....medo de te fazer alguma coisa, algum mal...eles tem receio ficam com vergonha da gente não sei....é uma vergonha para a família tirou um seio é isso ai” (Violeta). Ocorreu nessa categoria além das declarações de preconceito recebidos, uma tristeza para com a sociedade, família e principalmente com o marido, da forma que são tratadas e das dificuldades impostas pelos mesmos, já que elas relatam ter dificuldades de manter ou arrumar um companheiro,sendo esse um ponto muito forte da pesquisa, observou-se que todas se emocionaram a tocar nesse assunto, algumas vindo até a chorar, não apenas pelo fato do sexo ser uma necessidade fisiológica, mas pela parte do companheiro lhe dando força nas horas difíceis do enfrentamento da doença, que são muitos. “Imagine fiquei triste, abandonei o grupo de idosos e nem saio mais de casa direito sai lá me deu uma depressão parece que todo mundo ta olhando e falando só de mim” (Cravo). Já que a minha abordagem se deu na sua maioria com senhoras que freqüentavam o grupo de idosos local, as mesmas relataram ter “vergonha” e “medo” de continuarem no grupo referido, pelo fato de residirem em uma cidade pequena e todos saberem sobre suas vidas. Em um apanhado geral as pessoas que freqüentam esse grupo são idosas de pouca instrução e nível de escolaridade tornando-se consequentemente difícil à conscientização delas, por já terem uma idéia formada do que elas acham que é o câncer, embora completamente errada, dificilmente aceitam algo dito que vá contra os seus conhecimentos, apesar das palestras realizadas abordando esse assunto, percebeu-se a pouca absorção do conteúdo explanado. 39 40 Mas o caminho não é conscientizar apenas um grupo de idosos, mas sim o Brasil, já que esses problemas com preconceito, nesse caso com mulheres mastectomizadas não acontecem apenas em Bom Sucesso do Sul, mas no país inteiro, ficando aqui o registro da importância de uma campanha realmente preocupada em erradicar o preconceito em todos os seus níveis. Segundo a médica Janice Matsuy (2005, p.21-22) “’é impossível que a dinâmica familiar seja revista, reconstruída a fim de melhorar a adaptação de todos à situação do adoecimento de um membro da família e do relacionamento com a sociedade”. “Fiquei com vergonha de sair na rua por que os outros só falavam de mim parece, não sai mais nos idosos por isso como que ia arrumar namorado desse jeito (fala mostrando o corpo com as mãos e rindo) as pessoas mais antigas olham e falam olha lá a cancerosa (enche o olho de lágrimas) (Cravo)”. O preconceito fica evidente na busca de emprego, nas relações cotidianas, desde a ida para o supermercado até nas festas como me foi citado, fica ai explicito a falta de orientação das pessoas que oferecem o preconceito e das mulheres que sofrem dele. Como o trabalho ressalta a mulher tem vários direitos Dentre eles são: A isenção do CPMF, Imposto de renda e no momento da aquisição de um Veiculo a isenção do IPI, ICMS, IOF e IPVA. Outros direitos como transporte urbano gratuito, medicamentos (gratuitamente e facilidade), e em cidades em que vigora o rodízio de automóveis (tem autorização para trafegar sem cumpri-lo). 40 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho teve por objetivo identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher a nível pessoal, conjugal e social, desta forma, pretendeu refletir sobre as conseqüências psicológicas e comportamentais bem como os sentimentos da paciente no enfrentamento do processo cirúrgico. Em se tratando da Saúde da Mulher o câncer de mama tem sido responsável por um dos maiores índices de mortalidade do mundo, a Sociedade Americana de Câncer confirmou aproximadamente um milhão de novos casos no mundo no ano 2000. Analisando os dados obtidos na pesquisa com seis mulheres mastectomizadas que residem no município de Bom Sucesso do Sul, percebeu-se que todas referem ter medo do câncer ou da morte, 4 referiram ter sofrido algum tipo de preconceito e 5 que alguma coisa mudou em seu comportamento, seja com a sociedade ou com o cônjuge após a cirurgia. Percebeu-se também que essas mulheres não têm aspirações para o futuro, todas atualmente são domésticas (a maioria já teve outra profissão, mas após a mastectomia só conseguiram trabalhar informalmente como domésticas). A média de idade é de 56,3 anos, de filhos é 4 e de moradia na cidade é 35,3 anos , a média salarial é de 735.00 Reais. Apenas 2 estão casadas atualmente, 2 são viúvas, 1 solteira e 1 é separada. No decorrer do trabalho foram abordadas várias dificuldades que as mulheres mastectomizadas sofrem dentre elas a sua imagem corporal afetada, BAEC (Baixa Estima Crônica), seu lado emocional prejudicado e os danos sociais que absorvem a mulher mastectomizada. Procurei com esse trabalho demonstrar, a percepção da mulher mastectomizada em relação aos aspectos bio-psico-sociais. Ficam evidentes no estudo as necessidades da população feminina com respeito a campanhas que evidenciem a importância do auto-exame para a prevenção ou detecção precoce do câncer de mama, que na atualidade é um dos maiores causadores de mortes entre as mulheres no Brasil e no mundo. 41 42 Como Acadêmico de Enfermagem percebo que essa pesquisa enriqueceu meus conhecimentos, para que no futuro próximo como enfermeiro possa contribuir para minimizar os problemas e agravos de saúde da nossa população, sempre visando à melhoria da qualidade de vida. O enfermeiro deve estar atento á maneira como o paciente conta a sua história a terminologia que usa e as suas circunstâncias na época do diagnóstico. Isto acrescenta informações sobre como ela lida com a doença, podendo ser especialmente válido para descobrir-se medos, fantasias ou imagens estereotipadas que possa ter, muito pacientes não revelam seus sentimentos e pensamentos nessa profundidade, mas se observar o que ele diz, e muitas vezes o que ele não diz, assim como a maneira que lida coma equipe e seus familiares, pode se ter valiosos indicadores do nível de stress que ele experimenta e o apoio de que ele precisa, a enfermagem deve servir de suporte emocional para o paciente. A enfermagem, busca descobrir como cada um pode encontrar a melhor forma de se adaptar ao “stress” que cada tratamento provoca. Fica assim, o registro e a sugestão para futuros estudos nessa área, ou seja, a articulação entre as questões de saúde e as políticas públicas e a formulação de palestras educativas (ações de educação para a saúde), na comunidade onde os trabalhos enfoquem o nível preventivo e de promoção da saúde. 42 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN LAURENCE. Análise de Conteúdo ed. 70(p.51,66,103,175,199) fevereiro de 2000. CAMON, A. V. O imaginário e o adoecer: um esboço de pequenas e grandes dúvidas. In A. V. Camon (Orgs.), E a psicologia entrou no hospital (p. 181-213). São Paulo: Pioneira. 1996. CÂNCER, Direito e cidadania 8ª ed. Barbosa, Antonieta Maria 2003 (p.307). C, L, J. Manual de diagnóstico de enfermagem. 9.Ed. 2004 (p. 65,70,378,449) CRISTENSEN- (p.70 e 77. 1997). CRESPO, M. S.; CRESPO, J. M. R. S. Formularium - Compêndio de Fórmulas Magistrais.Vol. 1. São Paulo: 2002. p. XI. DUARTE. T.P. E DUARTE, A, N. Enfrentando a mastectomia. 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Pág. 339 e 347. 1994. 44 45 APENDICES 45 46 APÊNDICE – 1 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PERFIL Nome: Idade: Estado Civil: Escolaridade: 1. O que é para a Senhora Câncer de mama? 2. como recebeu o diagnóstico de câncer de mama? 3. o que mudou em sua vida após a mastectomia? 4. Quais foram/são as suas principais dificuldades? 6. Quais suas expectativas para o futuro? 5. Como você vê o trabalho do (a) enfermeiro (a) relacionado ao seu problema? 6. O que mudou para a senhora após a cirurgia em questão a sua sexualidade? 7.Tem filhos?Quantos? 8.Que profissão a senhora exerce? 9.Qual a renda familiar? 10.Quanto tempo mora em Bom Sucesso do Sul? 46 47 APÊNDICE – 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE FADEP – FACULDADE DE PATO BRANCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Venho respeitosamente através do presente, solicitar sua colaboração no sentido de participar do projeto de pesquisa acadêmica TCC (trabalho de conclusão de curso), que tem como objetivo, identificar as conseqüências da mastectomia na vida da mulher no município de Bom Sucesso do Sul - Paraná. A partir do seu consentimento, sua participação será o fornecimento de informações através de uma entrevista para análise. Em momento algum seu nome será divulgado, assegurando assim o compromisso com o sigilo e a ética nesse trabalho, respeitando a privacidade de cada participante. Entrevistadora: _____________________________ Orientadora: _______________________________ Pelo presente consentimento livre e esclarecido, declaro que fui informada, de forma clara e detalhada, dos objetivos, da justificativa e da forma de trabalho, fui igualmente informada: • Da garantia de receber respostas a qualquer perguntas de dúvida a cerca dos temas geradores; • Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, a deixar de participar do trabalho sem que me traga qualquer prejuízo; • Da certeza de que não serei identificada e que as informações relacionadas à minha pessoa serão confidenciais; • De que serão mantidos todos os preceitos éticos – legais durante e após o término do trabalho; • Do compromisso de acesso à informação em todas as etapas do trabalho, bem como dos resultados. Local: _______________________________________________________ Município: _________________________________________Data: __/__/__ Nome: ______________________________________________________ Assinatura do Enfermeiro: _______________________________________ Assinatura do Paciente: _________________________________________ Assinatura do Familiar: _________________________________________ 47 48 48 49 49 50 50