GIL FILHO, S. F. Colônia Polonesa e o Processo de
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GIL FILHO, S. F. Colônia Polonesa e o Processo de
ii AGRADECIMENTOS UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Firmo o registro de agradecer a Profª Drª Helena Köhn Campus Rio Claro Cordeiro por envidar os maiores esforços na orientação deste trabalho de pesquisa, assim como o incentivo e apoio em momentos cruciais de sua realização. COLÔNIA POLONESA E O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE CURITIBA: Reconheço com gratidão a continuidade do trabalho de orientação realizado pela Profª Drª Silvana Pintaudi que com a maior boa vontade encaminhou a fase final desta dissertação, IMPACTOS ESPACIAIS DA MODERNIDADE fato este motivado pela grande perda que foi o falecimento da Profª Drª Helena Köhn Cordeiro no início de 1994. Cumpro competência Sylvio Fausto Gil Filho o da dever também Coordenação de de reconhecer Pós-graduação a do organização Instituto e de Geociências e Ciências Exatas da UNESP/ campus Rio Claro na figura de seus professores e funcionários em fornecer toda a Orientação: Profª Drª Helena Köhn Cordeiro Profª Drª Silvana Pintaudi. infraestrutura necessária ao pleno desenvolvimento do curso. Cabe lembrar a concessão da bolsa de estudo e amparo a pesquisa fornecida pela CAPES sem a qual a conclusão do curso estaria Dissertação de Mestrado apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação em Geografia - Área de Concentração em Organização do Espaço, para obtenção do Título de Mestre em Geografia. comprometida. Devo destacar a atenção dos colegas: Prof Nilson Antonio de Morais (IAP), Nora Thaerzadeh (IAP), a historiadora Neda Mohtadi Doustdar (IPARDES), o companheiro de curso Prof. Paulo Rio Claro (SP) Roberto Rodrigues Soares (Departamento de Geociências da FURG), Débora Novas (estagiária de Geografia do IAP), Prof Henrique 1994 iii Firkowski (Departamento de Geociências da UFPR) e aos iv RESUMO companheiros de trabalho do Departamento de Geografia da UFPR. Em especial agradeço o apoio da Profª Ana Helena Corrêa de Freitas Gil (Escola Técnica da UFPR) minha querida esposa, ao grande amigo e velho companheiro Hercílio Josef pela ajuda com a tradução do Resumo para o inglês e ao meu sobrinho Daniel de Freitas Channe responsável pelo trabalho gráfico da maioria dos cartogramas. Esta dissertação sob o título de Colônia Polonesa e o Processo de Metropolização de Curitiba foi construída a partir das questões relativas a identificação de relações presentes no processo de reestruturação espacial a antiga Colônia Polonesa de Tomás Coelho no município de Araucária em face às transformações da Região Metropolitana de Curitiba (PR), assim como a verificação dos padrões de modernidade envolvidos neste processo. Partimos do pressuposto que o choque existente entre o espaço de produção tradicional e o espaço de produção moldado pelo capitalismo industrial monopolista representam o cerne desta realidade. Neste contexto elaboramos a hipótese de que as características tradicionais da Colônia Polonesa sofreram impactos devido ao processo urbano-industrial responsável pela marginalização do núcleo colonial e sua desarticulação. Para implementar a nossa análise partimos da configuração de estrutura espacial baseada em SANTOS (1985) e o conflito entre o tradicional e o moderno com base em LIPIETZ (1988). No que tange as aspectos intrínsecos à Colônia tomamos como base principal os estudos de WACHOWICZ (1976 - 1981). Quanto aos procedimentos metodológicos buscamos duas dimensões na coleta de dados: a primeira em relação a própria colônia em que foi utilizado uma amostragem de 20 (vinte) propriedades em levantamento realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) em 1985 pouco antes da inundação destas terras por causa da construção da Barragem do Rio Passaúna; em segundo lugar coletamos dados relativos a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) através da análise do Plano de Desenvolvimento Integrado da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC) e os dados de desempenho econômico dos setores da economia da RMC que referendaram a dinâmica urbano-industrial da região coletados da Secretaria da Fazenda do estado do Paraná. De acordo com os procedimentos adotados concluímos que o solo que pertencia a Colônia está sendo ocupado pelo setor industrial e o próprio avanço da malha urbana. Evidencia-se o fato de que a marginalização econômica da Colônia e sua tradução territorial comprovam as hipóteses levantadas. A perpetuação do tradicionalismo por parte dos colonos poloneses marcou uma profunda ruptura com a natureza do sistema capitalista hodierno e suas estruturas espaciais. Houve a consumação de um processo de desarticulação espacial da Colônia Polonesa de Tomás Coelho que não se apresenta como caso isolado porém, como as próprias incongruências do sistema hegemônico. v vi ABSTRACT This essay under the title of Poland Colony and the Metropolization Process of Curitiba was built from the questions related to identifications of relations present in the spatial restructuration of the old Poland Colony of the Metropolitan Region of Curitiba (Pr), in that way like the verification of the modernity patterns involved in this process. We begin buy the standing of the hypothesis that the chock existing between the space of industrial and monopolist capitalism represents the main of this reality. In this context we elaborate the hypothesis that the traditional characteristics of the Poland Colony suffered impacts due to the urban industrial process responsible buy marginalization of the colonial centre and its desarticulation. To implement our analysis we start from the configuration of spatial structure based in SANTOS (1985) and conflict between the traditional and the modern based in LIPIETZ (1988). In which refers to intrinsical aspects to the Colony we take as main base the studies of WACHOWICZ (1976-81). Talking about the methodological procedures we search two dimensions in collecting information: the first relative to the own colony in which was utilised a sample of 20 (twenty) properties in collecting information it was made by Paraná Institute of Economical and Social Development (IPARDES) in 1985 before the flood of these land because of the construction barrage Passaúna river ; in the second place we collected information related to the Metropolitan Region of Curitiba (RMC) we what concerns the analysis of the Development and Integrated Plan of Coordination of Metropolitan Region of Curitiba (COMEC) and the economical performace of the sectors of the economy of the RMC which confirmed the dynamic of the urban industrial of the region collected from the Financial Secretary of the State of Paraná. According to the procedures adopted we conclude that the ground which belonged to the Colony is being occupied by the industrial sector and the own advance of the urban area. It’s evident the fact that the economical marginalization of the Colony and it’s territorial effect comprove the hypothesis. The perpetuation of traditionalism by the polish colonisers marked a deep rupture with the nature of the modern capitalist system and it’s spatial structures. There was the consummation of a process of spatial desaticulation of the Poland Colony of Tomás Coelho which does not present itself as an isolated case never the less like the own incongrucies of hegemonic system. SUMÁRIO Introdução___________________________________________________________________i Apresentação da Problemática ______________________________________________________ 5 Bases Teóricas _____________________________________________________________ 13 Revisão Bibliográfica sobre a colônia polonesa de Tomás Coelho_____________________ 27 Procedimentos Metodológicos _________________________________________________ 28 Capítulo 01 __________________________________________________________________ Modernidade e Reestruturação do Espaço da colônia de Tomás Coelho ________________ 34 Capítulo 02 __________________________________________________________________ Sociedades Tradicionais: Resistência e Modernidade_______________________________ 55 Capítulo 03 __________________________________________________________________ Processo de Metropolização de Curitiba e a Organização do Espaço da Colônia Tomás Coelho ____________________________________________________________________ 78 3.1 O Processo de Urbanização no Brasil ____________________________________________ 78 3.2 O Processo de Metropolização de Curitiba _______________________________________ 84 3.3 Estrutura do Espaço da Colônia Polonesa de Tomás Coelho ________________________ 118 CAPÍTULO 04 _______________________________________________________________ Caracterização da Área de Pesquisa e Amostragem _______________________________ 157 CAPÍTULO 05 _______________________________________________________________ Tomás Coelho, Modernidade, Resistência e Marginalidade _________________________ 167 À Guisa de Conclusão ______________________________________________________ 176 Referências Bibliográficas ___________________________________________________ 179 Bibliografia _______________________________________________________________ 192 vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS viii LISTA DE TABELAS 01 POPULAÇÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DA RMC ENTRE 1940 E 1991.................88 BADEP - BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO PARANÁ 02 POPULAÇÃO POLONESA NO PARANÁ POR COLÔNIA EM 1884.............................. 125 CIAR - CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA CIC 03 NÚCLEOS COLONIAIS POLONESES NA REGIÃO METROPOLITANA DE - CIDADE INDUSTRIAL DE CURITIBA COMEC - COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 04 COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE TOMÁS COELHO EM 1877 SEGUNDO COPEL - COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA DNOS - DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS E SANEAMENTO IAP ORIGEM ÉTNICO-CULTURAL.......................................................................................... 128 - INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ 05 PRODUÇÃO DOS 792 ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IPARDES ARAUCÁRIA EM 1920 ........................................................................................................ 130 - INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E 06 PROPRIEDADES AGRÍCOLAS NO PARANÁ POR CATEGORIA EM HECTARES NO SOCIAL IPPUC - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA - PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DA RMC MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987............................................................ 156 PETROBRÁS - PETRÓLEO DO BRASIL SOCIEDADE ANÔNIMA PLAMEC ANO DE 1920 ........................................................................................................................ 136 07 DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ENTRE OS PROPRIETÁRIOS DE TOMÁS COELHO NO ITCF - INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E FLORESTAS PDI CURITIBA............................................................................................................................. 127 08 CONDIÇÃO DE POSSE E ÁREA DO IMÓVEL EM TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO - PLANO METROPOLITANO DA RMC DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 ............................................................................... .. 159 PMA - PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA REPAR-REFINARIA PETROLÍFERA DE ARAUCÁRIA OU REFINARIA PRESIDENTE MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 .............................. ............................. 160 GETÚLIO VARGAS 10 SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS HABITANTES DE TOMÁS COELHO NO RMC - REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA SANEPAR - COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987.......................................... ................. 165 SEDU - SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE DO PARANÁ SINPAS/FUNRURAL - SISTEMA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL / FUNDO RURAL SUREHMA - SUPERINTENDÊNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E MEIO DO ESTADO DO PARANÁ TELEPAR - TELECOMUNICAÇÕES DO PARANÁ SOCIEDADE ANÔNIMA 09 ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO AMOSTRA DE TOMÁS COELHO NO AMBIENTE ix LISTA DE FIGURAS 01 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA —ESTADO DO PARANÁ 1975.. ........ .... 02 02 TOMÁS COELHO: LIMITES ORIGINAIS...... ................................................ .................... 21 03 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1992.... .......................................... ............ 23 04 ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO — ADMINISTRATIVOS............... ......................... 46 05 TOMÁS COELHO: DISTRIBUIÇÃO DE LOTES........... .......................................... .......... 65 06 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1989........... ...................................... .......... 84 07 EXTENSÃO DAS ÁREAS URBANAS DA RMC ENTRE 1953 E 1976 - MUNICÍPIOS SELECIONADOS..................................................................................................... .............. 86 08 ARAUCÁRIA - QUADRO URBANO......................... ................................................. ........ 91 09 CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA............ ............................................. ............... 94 10 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1955..................... .. 97 11 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1965..... .................. 98 12 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1975...................... . 99 13 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1985..................... 100 14 EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO VALOR ADICIONADO POR SETOR DA ECONOMIA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA SOBRE O TOTAL DO ESTADO DO PARANÁ 1975/1986.............................................................. .. 107 15 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO NO ESTADO DO PARANÁ EM 1975..................... ................................................... ........ 108 16 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO DO ESTADO DO PARANÁ EM 1980...................... ................................................... ....... 109 x 2 FIGURA: 01 INTRODUÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 1975 Em meados dos Poloneses pode Morrer" anos 80 manchetes como: "Colônia de (Jornal do Estado 07 de fevereiro de 1984 ) ou "A Morte Líquida" ( Folha de Londrina 24 de abril de 1985 ) demonstravam a preocupação e certa perplexidade dos meios de comunicação em massa do Paraná sobre o destino da cultura imigrante polonesa tradicional do Estado. No inundação centro de uma desta polêmica parcela residia considerável o das fato da eminente propriedades que constituíam a colônia agrícola original de Tomás Coelho,1 em conseqüência da construção da barragem de captação de água do rio Passaúna, implementada pelo Governo Federal, a fim de abastecer a Região Metropolitana de Curitiba (fig. 01 p. 02). O Projeto do Passaúna decorreu de estudos desenvolvidos sobre a necessidade de água tratada na área metropolitana de Curitiba. O pleno aproveitamento dos recursos hídricos depende da formação de reservas para compensar a diminuta vazão dos rios 1A origem do núcleo colonial remonta a meados do século XIX. A crise do sistema fundiário brasileiro desencadeado pela escassez de mão-de-obra e alta de preços dos gêneros alimentícios fez com que o então presidente da Província do Paraná, Lamenha Lins, implementasse um projeto de assentamento de colonos europeus nos arredores da capital da província, com base na experiência obtida em outras colônias e no intuito de suprir Curitiba da carência de produtos alimentícios. Tomás Coelho distinguia-se de outras colônias implantadas no Brasil, onde os colonos não tinham a posse da terra que trabalhavam. No caso de Tomás Coelho o assentamento baseava-se na pequena propriedade e assim foram estabelecidos 270 lotes com uma área estimada em 1665,4 hectares, localizadas à 17 Km da capital. 3 4 demarcação das terras a serem inundadas a partir da cota de 892 existentes suas na região, nascentes. A formadores de construção da bacias hidrográficas barragem foi atribuição nas m, acima do proposto pelo levantamento de 1980. Houve necessidade, para garantir a qualidade da água, da do Governo Federal através do DNOS. A desapropriação da área ficou remoção a cargo do Governo Estadual. O acordo foi definido em 1977, correspondente porém somente em 1982 começou a ser realizado. preliminar Segundo o Plano Diretor de Abastecimento de Água e a indicação do rio Passaúna como reserva para o cobertura foi ao vegetal futuro da lago estabelecido área de artificial. que seriam cota No 873 m levantamento desapropriadas 179 propriedades. Mesmo antes das devidas indenizações serem efetivamente Controle de Poluição da Região Metropolitana de Curitiba de 1976 houve da realizadas a empreiteira contratada pelo Governo Federal invadiu abastecimento de água para a região, com vazão regularizada em a 2,2 m³/s. Já em 1977 recomendaram 3,0 m³, levando em conta a indenizações geraram protestos e revolta por parte dos colonos vazão média de 3,25 m³/s de longo período no local da barragem. poloneses Em 1980 outros estudos desenvolvidos fixaram um volume útil de desarticulação 48 x 10Å m³, delimitados entre o nível mínimo de 879,5 m e o existência e identidade cultural. nível normal de 887,2 m ( Plano Geral de Água/Esgoto da Região área. A ação inábil atingidos. final do Governo Esta de Estadual realidade Tomás Coelho no foi no que pagamento o marco tange a das da sua Este contexto é o clímax de vários impactos de tradução espacial imediata que a colônia polonesa sofreu no seu processo Metropolitana de Curitiba - SANEPAR ). Embora as controvérsias entre os relatórios hidrológicos, a obra foi declarada de utilidade pública através do Decreto espaço-temporal que justificam vários estágios de mudança. Ao nos reportarmos ao estudo dos impactos na 4291 de dezembro de 1977, tendo sido desapropriados 10.000 m² de reestruturação do espaço do núcleo colonial o nosso interesse terras na bacia do rio Passaúna. Com o término do prazo do pelo tema foi decisivamente estimulado. Decreto anterior, novo Decreto é sancionado, o de número 3031 de junho de 1984. Este novo decreto corrobora o primeiro e recomenda urgência para a formação do reservatório de água. O Governo do Estado acionou os órgãos auxiliares, autorizando a SUREHMA, a realizar as desapropriações e ao ITCF, hoje reunidos sob a denominação de IAP, para elaborar a Assim, no ano de 1985, na iminência da formação do lago artificial da represa do rio Passaúna, desenvolvemos um trabalho de pesquisa a nível de graduação, com o objetivo de estudar aspectos relativos a cultura polonesa ali radicada. No âmbito da Geografia Humanista-Cultural escolhemos então a estruturação do espaço mítico e sagrado como objetivo fundamental 5 6 da ao reconhecimento do caráter tradicional do núcleo colonial ou pesquisa. No seja, sociedade cujo vínculo essencial é a tradição (ELIADE, ano de 1989 retomamos os estudos sobre o núcleo 1972) cujas colonial porém, sob nova abordagem, na tentativa de explicar o estudos impacto (1990). da refinaria estava lógica de industrial petróleo estimulada REPAR, a redimensionando o partir caráter pela da implantação década tradicional de da 70, da que colônia. de A características WACHOWICZ produção específicas (1976/1981); perpetua-se são KERSTEN nos destacadas (1983) moldes e nos DOUSTDAR ancestrais com resistências acirradas ou esparsas às inovações tecnológicas e a Caracterizando a lógica industrial no município de Araucária e padrões Curitiba buscávamos explicar o avanço espacial deste fato em especificidades que delineiam uma tradição cultural transmitida detrimento ao espaço tradicional da Colônia Polonesa de Tomás através Coelho. conhecimento, valor e moral. Interessa-nos salientar que esta Esta segunda monografia a nível de especialização de modernidade. das realidade Entendemos gerações compõe um com corpo por padrão características cristalizado na cultural as próprias de construção da provocou uma série de questões não respondidas. Havia de fato a sociedade no que se refere ao modo como se organiza no espaço consumação de um processo de reestruturação espacial, ao qual geográfico. cabia uma análise mais aprofundada, além dos limites endógenos ao núcleo colonial. A junto a meta outro entendimento do presente estudo é outras, De o que envolve retomar essas o impacto de questões padrões e de lado, dos não menos denominados importante, padrões de refere-se ao modernidade. Reconhecemos modernidade como um todo constituído de uma força autônoma: a tecnologia, em última análise, responsável pela modernidade, recuperar a análise em uma nova dimensão: o patamar operacionalidade, difusão e evolução do sistema (SANTOS, 1985). da nova realidade sob uma visão diacrônica da estruturação do Sob este prisma os fenômenos de urbanização e industrialização espaço. perpassam as diversas instâncias do espaço total ora difundindo, gerando ou resistindo, em termos de processos aos padrões de APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA modernidade. A síntese que se apresenta através do impacto de novas Nesta dissertação dois aspectos se interpõem para a compreensão dos seus fundamentos: de um lado o aspecto que tange tecnologias, a partir de novas formas de produção inerentes ao sistema capitalista, nega a dicotomia tradicional/moderno. A 7 8 negação resultante deste conjunto de processos é a metamorfose da organização espacial. a) Quais são as relações existentes na reestruturação do O processo de modernização, em que fluem os padrões de modernidade, atinge a organização espacial perpassando as espaço do núcleo colonial polonês de Tomás Coelho em face às transformações da Região Metropolitana de Curitiba? diversas instâncias da sociedade. O espaço apresenta formas cristalizadas de momentos de b) Qual a ação dos agentes dos padrões de modernidade produção econômica diferenciados no plano histórico. O espaço processo apresenta-se Tomás Coelho? como mosaico de estruturas construídas em reestruturação do de reestruturação do espaço da colônia polonesa no de diferentes períodos históricos (SANTOS, 1982). No espaço entanto, ocorre em cabe uma ressaltar seqüência que de esta momentos históricos e é A partir desta preocupação definimos os seguintes objetivos específicos: assimilada pela superestrutura política e cultural em períodos não sincrônicos. No que tange ao caráter cultural dos núcleos coloniais o padrão de modernidade é quase um arquétipo de renovação a nível superestrutural. Contextualizando os impactos 1 - Caracterizar a estrutura espacial do núcleo colonial polonês de Tomás Coelho, enquanto parte integrante do sistema metropolitano espaciais relevantes ao de Curitiba, no decorrer do seu processo histórico. processo de modernização podemos obter uma visão mais adequada dos mecanismos, segundo os quais ocorrem novos arranjos 2 - Identificar o processo e os elementos dos padrões de espaciais. O locus central de assimilação destes impactos são os modernidade sistemas metropolitano de Curitiba. metropolitanos. Os núcleos coloniais limítrofes ou a partir dos anos 70 presentes no sistema presentes nos sistemas metropolitanos interagem com os impactos de novos padrões de modernidade. A partir deste contexto indagamos: 3 - Selecionar relevantes na os agentes reestruturação dos padrões de modernidade recente colonial polonês de Tomás Coelho. do espaço do núcleo 9 10 2ª Hipótese Para situar o objeto de pesquisa, assumimos o pressuposto de que o choque existente entre o espaço de produção tradicional e o espaço monopolista de produção representa a moldado pelo capitalismo síntese mais adequada da industrial realidade Considerando o processo mencionado explicitamos a segunda hipótese: A desarticulação recente do núcleo colonial polonês de espacial. Acreditamos que esta abordagem supera não apenas a clivagem tradicional/moderno, cidade/campo. Esta superação mas também de caráter a dicotomia conceitual percebe a organização espacial diferenciada, primordialmente sob o ponto Tomás Coelho e a reestruturação do espaço socioeconômico demonstram uma marginalização da colônia imigrante em relação ao processo de modernização. de vista da produção antes que pela organização social (MITRANY, 1957). Concomitante ao processo de marginalização podemos diagnosticar também a dissolução do caráter fechado da sociedade 1ª Hipótese colonial imigrante em relação ao macro contexto metropolitano Assim, levantamos a primeira hipótese: através do processo de descaracterização cultural. As características tradicionais do núcleo colonial Integramos, em nossa análise, a polonês em questão sofreu impactos devido ao processo urbano- questão industrial da Região Metropolitana de Curitiba o que resultou na distintivos das sociedades tradicionais: sua desarticulação. Núcleo Colonial Polonês estão afetos ao avanço territorial da Para tanto cabe ressaltar do espaço alguns à aspectos (i) O espaço sociocultural de caráter tradicional rompe com Entre outros fatores, a recriação e a desarticulação do cultural. produção a tendência de homogeneização do sistema capitalista moderno, reforçando o contraste que permite reconhecê-lo. (ii) A projeção da cultura na organização do espaço lógica urbano-industrial que se contrapõem à lógica camponesa revela-se como um pólo de referência. O espaço torna a cultura tradicional. algo legível e neste ponto passa a ser o plano de execução das formas representativas da organização social. (iii) No que se refere às sociedades arcaicas, organização social é como um espelho de projeções culturais da a 12 11 práxis da tradição e do modo como a produção econômica se realiza. Levando em conta a exposição anterior consideramos que a (iv) A tradição além de dar razão de ser à vida ordenada reestruturação do espaço do núcleo colonial polonês de Tomás em sociedade, transcende esta aparência e atinge a consciência e Coelho foi realizada no plano histórico através de sucessivos concretude do estilo de vida. A tradição viva se realiza na patamares de equilíbrio espaço-organizacionais da metrópole que dinâmica social, como uma gama de escolhas excludentes. Ou seja, referendam a situação atual. a práxis social de tarefas, a visão e a classificação do mundo No âmbito político e cultural o processo de modernização são reproduzidas sob regras fixas (MATTA, 1981). Regras fixas é estabelecidas assimilação dentro de uma forma de temporalidade e reproduzido pelos agentes Aceleram-se os processos de modernização incompletos. A processos de e como elemento determinante da variável cultural e ideológica, modernização atuam, acentuam principalmente na realidade dos núcleos coloniais poloneses. territorial (SANTOS, 1988 b). possibilidade de sistema sucessivos capitalista níveis nos de remete a equilíbrios organizacionais. Ao visualizar a Metrópole como estrutura podemos ressaltar que o ajustamento das diversas instâncias do espaço metropolitano sofrem um processo de interações nos diversos níveis: econômico, político/administrativo , cultural/ideológico e territorial que justificam os estágios de equilíbrio de sua existência (SANTOS, 1988). O novo arranjo espacial desenvolvido em cada fase sofre várias disfunções e quando nos referimos a um Núcleo Colonial como parte desta estrutura não olvidamos suas especificidades. sua diferenciada. disparidade do a é à reprodução dos padrões de modernidade. Consideramos a tradição distintas entanto, sociedade contrapartida lógicas No pela concretizadas em formas espaciais configuram-se como obstáculos No que tange ao nosso objeto de pesquisa o embate entre hegemônicos. Todavia a a seletividade o com de evolução/involução reagem modo vínculos e sociais os empobrecimento dialética de que territoriais em e a segregação modernidade/tradicionalismo, especial mais em sociedades radicais devido de às características culturais próprias. Podemos identificar duas formas de ação dos agentes dos padrões de modernidade em relação às sociedades arcaicas: a) Sob um aspecto o fato dos vínculos socioculturais serem mais fortes, podem configurar inovação uma resistência tecnológica tradicional vigente; que b) por tenaz comprometa outro lado, a a qualquer forma estrutura pode ocorrer de social que a própria configuração social facilite a assimilação e reprodução de novos padrões de modernidade. 13 A realidade dos núcleos coloniais poloneses revela 14 a Munidos dos elementos essenciais à pesquisa procuramos reprodução dos padrões ancestrais de produção, sustentada pelas concatenar o trabalho de modo que sua estrutura apresente um características culturais e ideológicas dos imigrantes. tratamento crítico ao tema. Podemos diagnosticar certas resistências à modernidade, a partir dos (1983). métodos e em referência à coleta de dados, consideramos que a Resgatando a categoria analítica cultural a fim de explicar os opção teórico-metodológica não compromete as bases e as metas impactos da gestão e difusão de novos padrões de modernidade, propostas, verificamos expostas. social, estudos que não os de WACHOWICZ câmbios acompanham no que (1981) diz e KERSTEN Conscientes dos possíveis vazios, dada a aplicação dos respeito necessariamente as à dinâmica transformações tecnológicas. assim avalia satisfatoriamente as hipóteses Como procuramos diagnosticar mutações na estruturação do espaço, reconhecemos a dinâmica social como determinante deste A realidade cultural do núcleo colonial polonês de Tomás processo, insuflado pelas vias do capital hegemônico. Coelho não se harmoniza com a tendência de homogeneização do Segundo LIPIETZ (1988): capitalismo reinante na metrópole e, por conseguinte, representa Toda prática, toda relação social se inscreve em uma totalidade concreta sempre já dada, que a determina como sua condição de existência, condição que, à medida que é material, tem dimensão espacial. (p. 25) resistência à assimilação de padrões de modernidade. BASES TEÓRICAS A partir utilizadas. Familiarizados como área bem o espaço aqui é um aspectos Procuramos espaço é um fator da evolução social e que contém uma instância confrontar os dados endógenos e exógenos à Colônia Polonesa a da sociedade, uma instância econômica, uma cultural-ideológica e fim de obtermos os elementos da nova realidade da região sempre outra no sentido de um processo dialético das formas espaciais. níveis revelam a realidade da dinâmica espacial. Polonesa. como (1985), concepções que se manifestam através de processos, funções e formas. O Colônia estudo SANTOS as bibliografia existente, abordaremos a temática em separado dos sistema de comenta definimos conjunto de formas representativas de relações sociais presentes ao a Conforme premissa a endógenos com desta político-institucional. As diversas interações destes Segundo a mesma fonte podemos considerar que a estrutura espacial ampliado, como caráter referendando social, a tende a possibilidade reproduzir-se de demonstrar de a modo sua 15 qualidade de dominante em detrimento de outras 16 estruturas Ainda, no dizer de LIPIETZ, as relações sociais atuais preexistentes. O espaço organizado pelo homem revela, como as são outras estruturas sociais, uma as que estruturam ou reestruturam o tecido social, relação distribuindo assim os lugares enquanto localização. subordinação/subordinadora. Através da progressão espacial estas Na relações são apresentadas de acordo com o transformação das relações sociais condições herdadas do utilizam-se por condicionantes matéria prima as passado. Quando uma espaciais. sociedade O espaço, como fator social, apresenta uma arcaica desarticular-se a partir dos seus valores realidade sociais e da desintegração de sua atividade produtiva, estamos objetiva pois representa um produto da ação humana, ou seja, diante da subversão das forças produtivas por uma nova lógica de pode tornar-se conhecido pela produção. Como o espaço é uma acumulação capitalista. O produtor tradicional recria-se sob o condição necessária à mudança ele é um fator social. Porque as capital ou é obrigado a perder a condição de dono dos meios de formas espaciais são resultantes de processos passados e produção na medida em que o espaço que domina é cobiçado pela condições para processos futuros. O espaço também é parte de uma produção estrutura social quando é determinado pelos aspectos moderna industrial capitalista. Esta desarticulação da possui necessariamente uma dimensão espacial. organização social. Existe, Consideramos assim que a localização é um momento por certo, um choque entre a chamada lógica do industrial que compreende a forma avançada do capitalismo e a movimento dialético do mundo e o lugar, este sim, é um conjunto lógica camponesa de produção identificada como um arcaísmo. fixo de objetos. Pela razão de que a localização é resultado da O modo de produção dominante apropria-se e desarticula as dinâmica de um fluxo de forças sociais. É por este fato que formas arcaicas que resistem; dentro deste contexto as relações temos de considerar a periodização, ou seja, a variável entre exploradores e explorados atingem uma dimensão espacial temporal. propriamente dita. Segundo LIPIETZ (1988): Quando observamos que o espaço é um fator importante na É preciso compreender bem que o espaço socioeconômico concreto se apresenta, ao mesmo tempo, como articulação dos espaços analisados, como um produto, um reflexo da articulação das relações sociais e, enquanto espaço concreto já dado, com um constrangimento objetivo que impõem ao desenvolvimento dessas relações sociais. Diremos que a sociedade recria seu espaço concreto, sempre já dado, herdado do passado.(pp.24-25). evolução social estamos também partindo do pressuposto de que a realidade da dinâmica espacial não pode ser analisada fielmente se não considerarmos a dinâmica social que o estrutura. Como constante produto da transformação ação o social que o 17 18 dinâmico em A fim de compreendermos melhor esta realidade do espaço heterogeneidade do espaço justifica a é espaço habitado. total é necessário elementos. Como afirma SANTOS (1988): Os realizar elementos que um processo se dispõem de no fragmentação espaço em estão em constante relação em sua própria dimensão e entre um e outro. Podemos categorizar estes elementos em algumas dimensões Uma das características do espaço habitado é pois, a sua heterogeneidade, seja em termos da distribuição numérica entre continentes e países ( e também dentro destes), seja em termos de sua evolução. básicas: i) o trabalho do homem enquanto materialidade; Aliás, essas duas dimensões escondem e incluem a outra: a enorme diversidade qualitativa sobre a superfície da terra, quanto a raça, cultura, credos, níveis de vida, etc. (p. 40) As várias especificidades alocadas no espaço ii) o plano das idéias e das legitimações e normas; iii) a base física do território modificado. que em O última análise lhe concedem o próprio caráter, não podem ser interações analisadas desarraigando-as da totalidade. Entendemos que uma visão holística da realidade e as relações resultantes do sociais estão movimento de cristalizadas macro forças são nosso extrapolam uma compreendida espaço Não é ambição deste trabalho recuperar integralmente este micro estrutura devidamente explorado. espaciais. que contexto, e a redutibilidade das para das condições colônia identificada se evidenciará quando enfocarmos a peculiar Quando O lugar apresenta-se como uma combinação de variáveis de o as a análise por polonesa, um lugar. No será que melhor tange a interação dos diferentes componentes do capital apresentam uma aspecto, mas tentaremos oferecer um enfoque que ainda não foi diferentes fornecerão e realidade específica, a combinação de técnicas diferentes e a análise regional limitada. idades dimensões A totalidade do espaço e sociedade onde está inserido o e no que nos das estruturas como colocaremos a seguir. contradições que se manifestam na produção e conseqüentemente nas intercâmbio social do trabalho anteriormente possuidor apresentamos o especificidades espacial são sistemas dispostos em estruturas. elementos primeiro homólogos elementos momento que a mantém que compõem estrutura laços as formas como fator devemos capitalista industrial. As relações entre as variáveis vão ao um os espaço consideração Em que materializa colônia polonesa de Tomás Coelho diante das forças da lógica encontro de um contexto global. de de que de levar a espacial em totalidade apresenta hierarquia com a demografia, economia e setor financeiro. No segundo 19 20 momento sínteses que por sua vez serão novamente negadas gerando novas possui elementos não-homólogos de diferentes classes com laços sínteses que superam as anteriores. relacionados se apresentando como uma estrutura complexa. Nesta análise partimos da premissa de que os elementos Assim, podemos considerar que a estrutura espacial pode ser considerada a partir das seguintes subestruturas: cedem lugar a outros elementos de mesma categoria porém mais modernos. Ainda outros, elementos resistirão ao processo de demográfica, de produção, de renda, de consumo e de classes. inovação. Neste caso, elementos novos e arcaicos coexistem ao Além dos arranjos específicos de técnicas organizadas definindo mesmo tempo. No dizer de SANTOS (1985) o espaço se apresenta as relações de produção presentes. A interação entre a realidade como um mosaico de elementos de diferentes períodos históricos, social e o espaço. que Segundo SANTOS (1985) a evolução das estruturas seguem três princípios básicos: uma evolução exógena do sistema; O subsistemas segundo e é representado subestruturas o que pelo intercâmbio representa uma de evolução elementos do sistema isoladamente, interna e endógena. das lado a evolução da sociedade e de outro, expressa situações da atualidade. O espaço não pode ser isolado Consideramos estruturas que o sistema temporal coincide com o dividimos a evolução da colônia polonesa no seguinte sistema temporal: 1ª c) O terceiro é a evolução particular de cada parte ou evolução um período histórico. No que se refere ao nosso contexto de estudo interna ou endógena; A de da variável temporal. a) O primeiro é representado pela ação externa, ou seja b) indica aparece como um dos criando Etapa novas - implantação áreas de da expansão colônia agrícola a partir de 1876, circunstanciais à economia da época. pontos 2ª Etapa - desenvolvimento da organização do espaço chaves para a compreensão da transformação das formas espaciais socioeconômico da colônia polonesa em relação às transformações da colônia polonesa de Tomás Coelho. da economia agrícola e o choque da economia urbano-industrial de Como já analisamos, a questão dos elementos e estruturas espaciais, apresentaremos da 3ª Etapa - impactos marcantes a partir dos anos 70 do periodização, variável temporal que é a linha pela qual se processo de industrialização e expansão da ocupação urbana do desenvolve das espaço e o impacto decisivo da construção da barragem de o movimento o terceiro dialético ponto: a realidades questão caráter hegemônico. espaciais. A contraposição entre formas passadas e as presentes resultando 21 FIGURA: 02 captação de água do rio Passaúna (fig. 02 p.22). A sucessão dos períodos presos às circunstâncias da política institucional nacional vincularam uma série de mutações no espaço da Colônia internacional e Polonesa. nacional As macro articulam-se no relações plano a nível da totalidade espacial às mutações do micro contexto da colônia polonesa de Tomás Coelho. Na medida em que o capitalismo recria-se, transforma rapidamente as relações sócio-espaciais que sofrerão direta ou indiretamente o impacto destas transformações. O diagnóstico atual a partir da verificação das inovações define-se como: ... o resultado do equilíbrio entre os fatores de dispersão e de concentração em um dado da história do espaço. No presente período, os fatores de concentração são essencialmente, o tamanho das empresas , a indivisibilidade das inversões e as economias e externalidades urbanas e de aglomeração necessárias para implantá-las. Tudo isto contribui para a concentração em uns poucos pontos privilegiados do espaço, das condições para a realização de atividades mais importantes. (SANTOS, 1985: 29) As inovações apresentam-se sob várias formas, 22 porém podemos destacar as estruturas viárias e de comunicações que são formas induzidas no plano institucional e também serão vias para a circulação das inovações provenientes dos pólos mais avançados. TOMÁS COELHO - LIMITES ORIGINAIS 23 24 FIGURA: 03 Na medida em que a circulação desenvolve-se e conduz as novas exigências necessariamente do capital, readaptadas as formas adquirindo espaciais novas são dimensões e aspectos em relação a nova lógica que se impõem. Este é o caso da RMC (fig. 03 p.24), bem como das suas áreas camponesas. Ao encontro desenvolvimento sociedades do da segunda conceito marginais. A hipótese, de espaços fixação deste baseamo-nos no organizacionais conceito realiza-se de em tese na teoria da marginalidade, enquanto espaços locais. Espaço social marginal refere-se ao limite da assimilação de padrões de modernidade, no que tange à área metropolitana de Curitiba. Este processo de marginalização ocorre também em termos de produção do espaço, a lembrança de LIPIETZ (1988): Mas, mais profundamente, são as relações sociais que, a medida que têm uma dimensão espacial, "polarizam" o espaço social. A "região" aparece assim como produto das relações inter-regionais e estas como uma dimensão das relações sociais. Não há "região pobre", há apenas regiões de pobres, e, se há regiões de pobres, é porque há regiões de ricos e relações sociais que polarizaram riqueza e pobreza e as dispõem diferentemente no espaço.(p. 29). A distância destacar econômica grupos entre entre grupos específica. sociais as classes culturais Os marginais pólos de de sociais, característica hegemônicos outro também de concretizam um o podemos social lado e e os processo de modernização incompleta e involução como custo de adaptação ao sistema vigente (SANTOS, 1988). REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 1992 25 26 responsável pela distribuição de papéis sociais em meios nãoO processo de imigração no Brasil agravou a formação de periferias das grandes cidades ou bairros marginais. No entanto, o processo de favelamento ou bairros de precárias condições de industriais propriamente ditos. ( APTER, D. apud KOWARICK, 1977). O processo de modernização desencadeia rupturas e vida demonstram apenas uma faceta da realidade. Dentro de uma desorganiza quadros sociais preexistentes, assim como origina abordagem funcionalista da marginalidade a questão de integração descontinuidades social é considerada fundamental. Nesta colocação as dualidades incorporados por indivíduos e grupos que sofreram impactos pela tradicional/moderno metamorfose social ( DURKHEIM apud KOWARICK, 1977). ou marginal/integrado são vistas a nível macro-sociológico em termos estruturais (KOWARICK, 1977). as oposições conceito de exército entre explorados industrial de e exploradores reserva tateiam um ponto relação à produção econômica e cultural mais inserção e essencial e no reconhecendo reconhecidos tradicionais rurais. da problemática em outra supra estrutural, espaço o das caráter instâncias peculiar de partir de tal concepção teórica. algumas colonial em assimilar os padrões modernos, que são a sociedades tradicionais coloniais, viabilizaremos a análise a Retomando padrões Nas palavras de SANTOS (1985): econômica a os apenas enquanto sistema cultural. Considerando e como formas modelares urbano-industriais antagônicas às formas questão. Assim, reconhecemos duas formas de marginalidade: uma em sociocultural o A falta de identificação de um grupo social à cultura atinge padrão ou realidade que tentamos explicar. dominante o A marginalidade decorre da dificuldade de uma sociedade Encarando , mesmo dentro de uma aproximação de caráter Marxista entre das colocações da Teoria Em cada período, o sistema procura impor modernizações características, operações que procede do centro para a periferia. Não se trata de uma operação ao acaso. Os espaços atingidos são aqueles que respondem, em um momento dado, às necessidades de crescimento ou de funcionamento do sistema, em relação ao seu centro. As modernizações criam novas atividades ao responder a novas necessidades.(...) a modernização local pode representar adaptação de atividades já existentes a um novo grau de modernismo. O fato de que a cada momento nem todos os lugares são capazes de receber todas as modernizações explica porque: 1) certos espaços não são objetos de todas as modernizações; 2) existem demoras, defasagens, no aparecimento desta ou daquela variável modernizante; e isto ocorre em diferentes escalas. (pp. 31 e 32). da O aumento das disparidades de assimilação dos padrões de Modernização que podem espelhar questões de caráter local, modernidade no decorrer do processo histórico retrata graus de assumimos que a problemática, em termos analíticos, passa pela marginalidade à lógica urbano-industrial enquanto reestruturação consideração do surgimento de uma "lógica do industrialismo" do espaço e avanço em termos de território. 27 28 Coelho por se basear nos registros do SINPAS/FUNRURAL, revela uma reflexão interessante para a realidade do colono polaco REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A COLÔNIA POLONESA DE TOMÁS COELHO diante do sistema capitalista. Já o trabalho de DOUSTAR de 1990 demonstra No que tange a bibliografia utilizada destacamos outra faceta da realidade do imigrante polonês os enfrentamento do os aspectos tradicionais de sua cultura e o seguintes autores que trabalharam a questão da migração polonesa sentimento anti-polonês no Brasil. A análise do preconceito e que serviram de base para a presente análise: enfrentado pelo polonês no Brasil é o plano de reflexão de sua A obra de Romão WACHOWICZ (1975) conhecida como a Saga de pesquisa. Araucária revela em outras questões a luta do imigrante na PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS implantação das colônias, o trabalho da terra e as possíveis relações com os aspectos míticos e religiosos de suas vidas. Trata-se de um transparecendo trabalho o lado básico, romântico descritivo da história e, por vezes, da colonização polonesa no município de Araucária. diante das fontes. Antes, buscamos a pluralidade como meio de Sob o ponto de vista acadêmico de maior interesse foram os trabalhos de Ruy Chistovam WACHOWICZ: Tomás Coelho uma Comunidade Camponesa de 1976 e O Camponês Polonês no Brasil de 1981. Apoiado historiador, em referências constrói o originais referencial Não nos limitamos à rigidez de uma atitude preconcebida que em polonês, explica a construir a síntese mais próxima da realidade. Assumimos uma postura crítica diante da análise dos dados e não discriminamos os autores que tomamos como base teórica . como saída do Quanto ao quadro teórico buscamos a reflexão dialética. De acordo com a probabilidade de resposta à problemática da migrante polonês do século XIX na Europa e a difícil adaptação dissertação, muitas na sistêmico tratamento realidade brasileira. A apreensão da história do colono no vezes, dos torna-se dados para necessário posterior o resgate análise de polaco, principalmente no Paraná passa necessariamente por suas caráter crítico. Mesmo porque não escapamos totalmente à lógica pesquisas. formal na qual estamos imersos. Como afirma Hegel na sua Dentre as pesquisas mais recentes, especialmente sobre a Fenomenologia do Espírito: “O que há de mais fácil é julgar o Colônia Polonesa de Tomás Coelho, destacam-se os trabalho de que possui conteúdo e densidade. Mais difícil é apreendê-lo e o Márcia S. de Andrade KERSTEN e Neda M. DOUSTAR. O trabalho de mais difícil é produzir a sua exposição, que unifica a ambos” KERSTEN de 1983, embora restrito à análise da população de Tomás (Os Pensadores vol II 1992). Confrontando, a ver da história, 29 não existe regra, epistemologia, embora que não plausível seja e bem violada em fundamentada algum 30 na a) as características culturais específicas; momento. b) a questão da produção e existência econômica. (FEYERABEND, 1977). Uma postura racionalidade estática fundamenta-se de em uma uma teoria concepção à inerte da revelia da O desenvolvimento da pesquisa a partir dos objetivos específicos. 1º Objetivo situação social do homem. Para a caracterização espacial do Núcleo Colonial de Coleta de Dados Tomás Coelho no decorrer do seu processo histórico, consideramos Distinguimos quatro categorias para a coleta de dados: os seguintes momentos: 1ª - De caráter exploratório e bibliográfico referente às bases teóricas conforme delineada no item anterior. 2ª - Refere-se aos trabalhos específicos do IPARDES, IAP, dados da Prefeitura Municipal de Araucária a relativos à colonização polonesa em escala local. de Curitiba enquanto partir seu departamento de urbanismo. Também levamos em afetos à problemática em KERSTEN (1983) e DOUSTDAR (1990), assim como GIL (1985/1989), ou seja, nossos estudos anteriores. questão. 3) Levantamento a partir dos 71 laudos de desapropriação 4ª - organização A colônia espacial. Tomás Para Coelho tanto em si em consideramos termos a de seguinte subdivisão: a) do consideração os estudos históricos e etnográficos específicos de 3ª - Trata-se dos trabalhos referentes ao processo de metropolização 1) Levantamento feito a partir dos estudos mais recentes a colonização polonesa no plano histórico da sua responsável desapropriadas de proporcionaram em ocasião captação o pela de universo da avaliação formação água de do nossa rio das do terras lago e serem artificial Passaúna. pesquisa a a Os da laudos partir dos mesmos o reconhecimento dos produtores agrícolas da colônia de b) a colonização polonesa em seu caráter recente. os estudos de caso no âmbito circunstancial Tomás Coelho. No que tange a análise destes laudos, partimos dos da desestruturação da colônia. Duas ITCF barragem origem. c) do variáveis primordiais estudos do IPARDES (1987), onde foi selecionado uma amostra de propriedades para o trabalho de campo que se desenvolveu. Os foram consideradas objetivos relativos à organização do espaço em estudo: nos critérios utilizados nesta seleção se estabeleceram na seguinte forma: 31 32 a) Verificou-se que dos 71 laudos do ITCF apenas 61 eram 4) Levantamento do IAP a partir de fotografias aéreas de correspondentes a lotes propriamente rurais. Dos lotes rurais 1992 que reconstituíram o uso do solo da região nos fornecendo a alguns eram improdutivos e não faziam parte da dinâmica social realidade da colônia.2 colônia de Tomás Coelho. b) As proprietários propriedades o que restantes restringiu nosso pertenciam universo à a 28 A poucos famílias imagem atual partir após a destes concreta da inundação dados dinâmica das nos propriedades foi possível socioeconômica da antiga produzir responsável uma pela residentes sendo que nove dentre elas faziam apenas a guarda dos reestruturação espacial constante do local concatenando estas lotes que na verdade pertenciam a outros. Diante deste fato a características amostra, a mesma que utilizamos em nossa análise, limitou-se a cultural. as especificidades da supra estrutura 2º Objetivo 20 famílias.3 Para identificar o processo e os elementos agentes dos Neste levantamento considerou-se as seguintes variáveis específicas: com padrões de modernidade a partir dos anos 70 na área 3.1 - origem cultural do proprietário; metropolitana de Curitiba nos detivemos nas características do 3.2 - área estimada da propriedade em hectares; processo 3.3 - forma de produção do solo; analisamos 3.4 - condição de posse do imóvel; principalmente, o setor secundário responsável pela gestão da 3.5 - forma de aquisição do imóvel; modernidade. de metropolização. a expansão Para de tanto sistemas identificamos dinâmicos e como, 3.6 - pauta de produtos; Neste intuito consideramos os seguintes dados: 3.7 - base técnica das unidades de produção; 1) Levantamento do aglomerado industrial do município de 3.8 - volume de produção; Araucária a partir dos dados da Prefeitura Municipal de 3.9 - formas de comercialização da produção e Araucária e as organizações presentes no Centro Industrial de 3.10 - padrão de vida da população residente. Araucária (CIAR). Em plano secundário os dados correspondentes a Cidade Industrial de Curitiba (CIC). 2) Levantamento dos dados da expansão urbana e industrial 2 Algumas áreas improdutivas pertenciam a Rádio Cidade de Araucária e outros lotes pertenciam a empresa de cerâmica Klemtz e também as propriedades da Indústria e Comércio de Desidratados Ltda. 3Dessas famílias foi considerado, uma que fazia apenas guarda do lote porém, comercializava parte da produção. da RMC encontrados nos planos da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC). Cabendo ressaltar o Plano de 33 Desenvolvimento Integrado (PDI) e o Plano Metropolitano da RMC 34 CAPÍTULO 01 (PLAMEC) que referenda o comportamento do valor adicionado do setor secundário e terciário da RMC de 1974 a 1986. Além destes, MODERNIDADE E REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO DA COLÔNIA DE TOMÁS consultamos o Plano de Desenvolvimento Urbano do município de COELHO Araucária (New Plan) do departamento de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Araucária. A análise dos processos motivadores da reestruturação do 3) Levantamento específico em relação à construção da espaço da antiga Colônia de Tomás Coelho pressupõe a barragem de captação de água do rio Passaúna a partir do Plano caracterização do que entendemos por modernidade e a relação Geral de Água e Esgoto da RMC da SANEPAR. desta com a evolução da organização do espaço em questão. 4) Levantamento da descrição ambiental da bacia do rio A antiga colônia polonesa corresponde , em relação a sua Passaúna a partir de relatório técnico de 1990 da SUREHMA. Além área remanescente, à região situada entre o quadro urbano do das características próprias dos efeitos ambientais da barragem, município o uso do solo na área específica da colônia com o de Araucária e a sua fronteira ao norte com o devido município de Curitiba e Campo Largo (fig. 03 p. 24). Conforme o mapeamento. quadro teórico exposto na introdução, a evolução com as devidas 3º Objetivo transformações espaciais da antiga colônia de Tomás Coelho pode Selecionamos os agentes dos padrões de modernidade mais ser melhor compreendida através das figuras concretas que se atuantes no processo de metropolização de Curitiba e que cristalizam no espaço e testemunham a sucessão de épocas e as motivaram o processo de desarticulação que a Colônia Polonesa práticas produtivas. Estas mudanças se reconhecem na medida em vem sofrendo. Para tanto explicitamos a expansão espacial urbana que analisamos o processo de metropolização de Curitiba e em detrimento das antigas áreas rurais. Este processo está afeto relacionamos a sua dinâmica com a expansão urbano-industrial da ao crescimento industrial da região. Esta corresponde à síntese região. A metrópole desempenha o papel de área receptora e em resposta à problemática da pesquisa. propagadora de padrões de modernidade dependendo da sua condição hierárquica na rede urbana nacional. Tomando por base simultaneamente reflexo e CORRÊA condição (1989), a da divisão rede urbana é territorial do trabalho. No interesse do nosso argumento a lógica de acumulação 35 36 capitalista suscita o aumento da escala de produção, assim como permanente, tende a reunir o inconciliável; assim rompe com os o progresso técnico e a conseqüente expansão do território onde padrões tradicionais de culturas específicas, amalgamando-as em se realiza. Isto possibilita a valorização de determinadas áreas uma única em detrimento de outras. próprio passado. Entendemos a produção e dinamizadas no plano das relações sociais e das desenvolvimento do modo de produção capitalista. Em um de seus idéias do trabalhos mais recentes HARVEY (1992), explica referindo-se a conservadorismo representado por formas de produção arcaicas e Marx como um dos primeiros a analisar o processo de modernização relações do sociais e políticas prática restritas da a a tendência o estrutural, ou seja o processo de modernização articulado ao a modernidade fragmentando facilidade na aceitação e adoção de novas práticas relacionadas contrapõem de contínua, Porém não podemos desvincular a modernidade do seu âmbito se padrões de transformação à que por dinâmica tradição uma etnia e ou uma nacionalidade específica. uma conceitual interessante. A diversidade série agricultura. advento assim atribui a burguesia a de de transformações Porém, uma tudo economia relacionadas feito do a um dinheiro alto à indústria custo dissolve os e à social. O vínculos e relações próprias das comunidades tradicionais. A manutenção da lucratividade própria do sistema tende ao esfacelamento de modos arcaicos considerados avessos às transformações que a tendência homogeneizante do capitalismo impõe. A "novo" modernidade que espacial de se revela sobrepõe signos ao próprios constantemente "velho", da a experiência adornando modernidade em a das experiências relacionadas à modernidade tendem a romper com o do realidade contraste signos tradicionais. Ao relacionar a modernidade ao modo de vida, BERMAN, nos saída Sendo a par da sujeição da natureza humana a um complexo maquinário e Existe um tipo de experiência vital - experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências como "modernidade". Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, auto transformação e transformação das coisas em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como diz Marx, "tudo o que é sólido desmancha no ar". (p. 15). uma capitalista. criação de um internacionalismo relacionado ao mercado mundial, Segundo BERMAN (1987): aponta sistema Segundo GOMES & COSTA (1988): (...) a modernidade é um tempo de conflitos entre o moderno e tradicional, mas também entre as visões do novo e a imprevisibilidade das transformações, entre aos 37 as versões proclamadas da mudança efetivamente vividos. (p. 50). e os 38 processos Quando, A difusão da modernidade entra em conflito com diversas modernização rompe meados deste com limites torna-se os visível na século, o processo territoriais periferia, esta dos de países resistências e é um processo que possui diversas ambigüidades. O centrais resultado destes conflitos está impresso no espaço geográfico. configuração diferenciada pela temporalidade (BERMAN, 1987). O espaço é veículo e testemunha da dinâmica dos padrões e em atinge uma Entendemos que o modo de vida moderno reduz o passado a de modernidade. No espaço encontram-se os signos da permanência fragmentos porém, absolutamente não o apaga. Deste modo, as e da mudança (GOMES & COSTA, 1988). sociedades tradicionais são testemunhas de um rompimento com a Propondo a modernidade como articuladora de um processo modernidade e uma recrudescência da tradição. Sua resistência a de direcionamento da dinâmica metropolitana não queremos afirmar padrões de modernidade está na essência da explicação do modo de que vida da comunidade dita tradicional. a modernidade seja a única responsável. No entanto o conjunto dos diversos processos que a compõem é significativo e preponderante em relação a outros. Existe de fato uma lógica moderna, por assim dizer, articulada ao desenvolvimento capitalista, na razão direta em O peculiar de dimensão uma da produção massiva. modernidade, A produção concretiza-se no massiva espaço de modernização, capital, repercute enquanto no caráter produtiva, o que se refere ao conflito inerente do choque de Na medida em que a contradição entre a dinâmica social e o caráter privado sucessivos cristalizam-se períodos de no espaço, características conjunto dos processos articuladores do capitalismo industrial e determinada formação social (LIPIETZ, 1988). GOMES & COSTA (1988) afirmam que: O espaço metropolitano é extremamente enfático na medida em que revela as múltiplas conexões dos sentidos atribuídos à espacialidade e incorpora sinteticamente a mudança e a permanência, o caos e a ordem, sem os justapor, congregando-os em uma dinâmica comum que constitui, em certo sentido, a própria natureza dos processos de metropolização. (p. 56). prática padrões de modernidade a uma realidade tradicional. transformações como expressões concretas da modernidade. da à do metropolitano e nos caminhos de sua expansão urbana. Encaramos o suas implicações nas relações sociais e no espaço geográfico articulado acumulação que ela gera novas diretrizes em termos de relações sociais dinamizadoras processo A reconhecidas divisão social através de uma estrutura e são peculiares. conseqüências econômica do reconhece-se da espaço evolução As de reproduz-se já existente que determina a ação dos agentes econômicos. As características de uma sociedade tradicional se evidenciam em Tomás Coelho. A estrutura econômica da colônia baseia-se em uma pequena produção onde os excedentes são comercializados a nível regional. Possuem tradições arraigadas 39 40 ser equiparada a estas populações agrícolas locais. Os poloneses, apesar de seu atraso, com relação aos moldes da Europa Ocidental, sentiram sua superioridade técnica, e isto os satisfez em seu orgulho. Onde quer que as populações agrícolas nativas brasileiras entrassem em concorrência, os poloneses se impuseram na agricultura. (p. 12). que mantém a prática produtiva aos moldes arcaicos típicos de uma fase anterior ao capitalismo industrial. Esta realidade demonstra a oposição de uma lógica moderna à outra tradicional. A lógica industrial, cuja dinâmica é típica da modernidade, Até meados do nosso século, as características tende a romper com a pequena produção agrícola tradicional, na eminentemente agrícola tradicional da colônia polonesa não medida em que ela atende às necessidades de produção massiva sofreram mudanças marcantes. No entanto, a Região Metropolitana contrapondo aos níveis de acumulação do capital industrial. A de Curitiba sofreu o impacto das novas condições agrárias que se reprodução desta realidade tem origem no próprio desenvolvimento evidenciavam no país, o que possibilitou um incremento da rede do capitalismo; a própria criação de um proletariado reside no urbana nacional devido ao processo de modernização. fato da desintegração social e econômica da comunidade de A realidade agrícola tradicional da colônia polonesa se pequenos produtores (DOBB, 1987). A comparação de pequenos perpetuou desde a sua fundação, porém sofreu algumas mudanças em produtores feudais com os colonos poloneses de meados do século relação a inserção do colono polonês na economia de mercado que XIX é válida na medida em que os últimos apresentavam condições se sociais e econômicas pré-capitalistas, avançando apenas desenvolvia no Brasil nos anos 50. O processo de no industrialização tardio que se desenvolveu no Brasil, repercutiu comércio de excedentes. sensivelmente na Grande Curitiba. Já nos anos 70 os limites da Em Curitiba, como capital provincial, desenvolveu-se capital alcançaram a colônia polonesa. Neste período o município através de uma diversificação de serviços. A política de contribuir à de Araucária começa a industrializar-se. O capital industrial de instalação de imigrantes poloneses visava caráter monopolista referenda uma transformação profunda da necessidade de abastecer de gêneros alimentícios a capital. A lógica reinante, culminado com a progressiva desarticulação de realidade do Brasil do século XIX apresentava-se plena de formas espaços tradicionais. arcaicas de vida quando comparamos à Europa. O colono polonês e seus descendentes apresentaram-se Segundo WACHOWICZ (1981): conservadores e apegados às formas tradicionais que herdaram de No Brasil, os imigrantes poloneses encontraram também, predominando na sociedade, as formas arcaicas de vida. O Brasil novo apenas iniciava sua emergência, as formas arcaicas ainda predominavam. As populações agrícolas locais, constituídas de escravos, libertos e caboclos eram bem diferentes das populações agrícolas européias. A população polonesa aportada ao Brasil, maciçamente camponesa não poderia sua origem na Europa Central. Segundo WACHOWICZ (1981), na década de 70, ficou claro a superação imigrantes na concorrência apresentaram em que os relação luso-brasileiros ao colono e outros polonês. As 41 42 características da produção da colônia, baseada na subsistência Com base em OLIVEIRA (1982) a economia cafeeira baseada e no comércio de excedentes agrícolas se demonstrou resistente à no inovações. circulação internacional A partir condiciona causado a pela da premissa produção dinâmica do de que espaço do nos sistema os sistema o capitalista características brasileiro produtivos Brasil, do capital desenvolvimento reportamos ao impacto Praticamente capitalista no processo de repercutem e uma As em percebemos em que reelaboração a várias transformações uma urbano até os embora gere um primeiro produto de de mercadorias, no que interessa ao nacional anos 20 foi esta de caráter realidade abortivo. perpetuou-se, a exemplo de São Paulo que até este período não tinha expressão na rede urbana nacional. apresenta-se próprias. compulsório, ditames reestruturação da colônia polonesa. Considerando trabalho etapas do reorganização das relações evolução e quadro dos entre do com geral setores capital Sob difícil de prisma acontecer a industrialização pois esta se apoia do no Brasil seria desenvolvimento urbano. De fato o que vai ocorrer é que a nossa industrialização forçará uma urbanização sem precedentes. e trabalho. este Os imigrantes poloneses que se estabeleceram no Brasil de meados do século XIX encontraram uma realidade diferente daquela Três estágios da evolução do capital nacional de onde vieram. Curitiba era uma pequena vila em uma realidade desenvolvem-se a par com o processo histórico da formação da estritamente colônia polonesa de Tomás Coelho. estabelecimento O primeiro estágio —— da hegemonia do capital comercial — agrícola. dos A política colonos do poloneses Estado Brasileiro caracterizava-se no pela pequena propriedade rural dando preferência à tradição agrícola , devido as monoculturas de exportação, onde destaca-se o café do como economia de caráter comercial, sendo que os mesmos desfrutaram principal programa de gerador destes estabelecimento de capitais, colônias contemporâneo imigrantes na do então colono. Em Curitiba o colono polonês de uma certa autonomia em relação à se insere em uma produção e à venda dos província do Paraná. Na segunda metade do século XIX o Brasil se excedentes na cidade. No caso, ao colono polonês foi garantido a caracteriza por uma economia cuja lucratividade se baseava na posse da terra que o diferenciava do camponês nativo. exploração da mão-de-obra escrava, na manutenção dos latifúndios Nota-se que a economia primário-exportadora possuía um com a produção destinada ao mercado externo. Porém, a economia único elemento autônomo para o crescimento de renda, sendo o cafeeira já demonstrava sinais visíveis de esgotamento. É neste setor externo o centro dinâmico da economia (MELLO, 1982). contexto que os programas de imigração européia se intensificam. 43 O café investimento que de gerados e colono polonês na verdade capitais reinvestidos diretamente, não nacionais, na expansão está elemento capitais da integrado produção à que são cafeeira. produção posteriormente será base do O segundo estágio se apresenta com transição da economia agro exportadora para uma economia industrial. Também para cafeeira de que capitalismo industrial que se consolidará no Brasil. O cafeeira capitalista mercado interno. produção produção propriamente deste período á a transposição do modelo de uma autarquia rural a a estes do alimentícios para a sua subsistência e a venda de excedentes no é realidade principal reconhecida como a fase concorrencial. A característica peculiar entanto sua o gêneros No sendo era 44 que dinamiza a uma autarquia industrial. Para OLIVEIRA (1982), as indústrias que nascem, em um processo avançado de acumulação, modernização do país, pois são os capitais gerados com o café serão que processo produtivo em uma divisão social do trabalho anterior possibilitaram capitalista. Ou seja, o a pleno massa desenvolvimento de capital da gerado com lógica o café completamente autárquicas desde que não apoiavam seu que as ligassem ao campo. A industrialização que sediava-se nas transformou-se em capital industrial possibilitando a formação cidades, de mão-de-obra assalariada (MAZZEO, 1988). encontrar uma divisão social do trabalho que possibilitasse a Segundo MELLO (1982): Na que do capital comercial, não vai a organização de uma primeira metade do nosso século estabelece-se no Brasil um processo de industrialização que está fundamentado no aumento do lucro em um espaço rápido de tempo pela debilidade da concentração de capitais e as condições de mercado (CARLOS, 1988). Brasil MELLO (1982) foi imposto sugere pela que o capitalismo colonização estruturado européia. Deste modo no o próprio desenvolvimento do sistema guarda em seu bojo padrões estruturados no período colonial que se perpetua na fase inicial da importante burocráticos formação de unidades produtivas de pequeno porte. O período que se estende de 1888 a 1933 marca, portanto, o momento de nascimento e consolidação do capital industrial. Mais que isto, o intenso desenvolvimento do capital cafeeiro gestou as condições de sua negação, ao engendrar os prérequisitos fundamentais para que a economia brasileira pudesse responder criativamente à “Crise de 29”. De um lado, constituem-se uma agricultura mercantil de alimentos e uma indústria de bens de consumo assalariado capazes de, ao se expandirem, reproduzir ampliadamente a massa de força de trabalho oferecida no mercado de trabalho, que já possuía dimensões significativas; de outro forma-se um núcleo de indústrias leves de bens de produção (...) e, também, uma agricultura mercantil de matérias-primas que, ao crescerem, ensejariam a reprodução ampliada de fração do capital constante sem apelo às importações. (p. 109). Parece centros industrialização brasileira. Como exemplo podemos citar a economia estrutura baseada no trabalho assalariado, marca o início de uma economia autárquica, a reprodução e manutenção de grandes 45 46 unidades produtivas. Nesta fase a lógica era a substituição de concentração deve-se à aglomeração dos meios de produção e da importações. gestão A produção do espaço da colônia de Tomás Coelho, a despeito das transformações da economia nacional, se manteve nos moldes ancestrais com poucas modificações no processo produtivo. por parte das metrópoles. Acentua-se a especialização produtiva do espaço junto com as transformações dos meios de comunicação e transportes. Nesta fase de despontava como principal centro. O impacto da industrialização Curitiba na década de 70. A expansão da lógica industrial na se torna mais substancial na década de 50 já no início da fase região relaciona-se a articulação do capital multinacional e o do capitalismo industrial monopolista, principalmente pela ação Estado tende, em sua expansão territorial, a encampar setores de estatal. produção tradicional como Tomás Coelho no município de Araucária 2º pós-guerra impõe a produção região, como por exemplo a formação da Cidade Industrial de o relação de que o processo produtivo nacional vivenciava e onde São Paulo estágio em espaço brasileiro, terceiro transformações do Curitiba e região, na verdade, ficaram à margem das modificações No ocorrem redimensionamento Curitiba e uma (fig. 04 p. 47). A concentração, a formação dos conglomerados e reorganização da economia mundial. Esta realidade referendou a empresas multinacionais revelam uma nova lógica organizacional mudança na forma de exploração por parte dos países centrais em que se evidencia a nível espacial. relação aos países periféricos. Anteriormente os investimentos no exterior aberturas concentravam-se de filiais no controle manufatureiras e Neste de matérias-primas, espacial a disseminação espacial. de estágio anterior Neste a ponto a desarticulação reestruturação a as empresas com poder de operar no exterior e a luta pelos privados mercados equipamentos coletivos e planejamento. para produção dentro dos países periféricos (MAZZEO, 1988). grandes firmas e o espaço deixa de ser organizado pela indústria como simples unidade produtiva. Processa-se uma articulação de hierárquico multinacionais uma espaço atitude da uma visa por parte concreta na organização nova lógica amenizar dos as agentes produção de Nesta articulação do Estado com os agentes do Capital Segundo CARLOS (1988), a fase monopolista centra-se nas modo de do de Estatal insuficiências através alocação ação operações bancárias internacionais. Posteriormente ampliaram-se passou na e ocorre que através se do instalam capital, no Brasil caso das nos anos empresas 50. Esta industrial monopolista, as facilidades do acesso ao solo metropolitano por parte do capital hegemônico torna-se evidente. 47 48 A urbanização do Brasil, enquanto articulada pelo Estado FIGURA: 04 e as forças do capitalismo industrial monopolista, fixa um ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS período de intensa ocupação do espaço outrora rural. A princípio, reconhecemos, com base em OLIVEIRA (1982), uma certa incapacidade da iniciativa privada nacional para oferecer padrões de acumulação de capital necessários à dinâmica industrial. A articulação entre o Estado Nacional e as empresas multinacionais pode ser colocada como conseqüência da debilidade da iniciativa privada nacional. A intervenção estatal resgata a possibilidade de redirecionar a política rural e urbana do país a fim de atender emergentes interesses do capital internacional. O impacto inicial da lógica industrial sobre a Colônia polonesa de Tomás Coelho redimensiona as relações econômicas essencialmente mercantis que desde a sua fundação vigorava. Segundo KERSTEN (1983) o camponês fora redimensionado pelo capital, já que a posse do meio de produção dependia da venda de produtos agrícolas na cidade. A vinculação ao mercado no modo do capitalismo mercantil criara portanto, uma profunda dependência do colono que tinha que saldar o custo de produção e a manutenção da posse da terra. Para melhor caracterizar a forma de produção camponesa e o porquê de atribuir um caráter quase pré-capitalista à sua dinâmica citamos CHAYANOV (1981): O camponês ou artesão que dirige sua empresa trabalho pago recebe, como resultado de um ano trabalho, uma quantidade de produtos que depois trocada no mercado, representa o produto bruto de sem de de sua 49 unidade econômica. Deste produto bruto devemos deduzir uma soma correspondente ao dispêndio material necessário no transcurso do ano: resta-nos então o acréscimo em valor dos bens materiais que a família adquiriu com o seu trabalho durante o ano ou, para dizê-lo de outra maneira, o produto de seu trabalho. Este produto do trabalho familiar é a única categoria de renda (da terra) possível, para uma unidade de trabalho familiar camponesa ou artesanal, pois não existe maneira de decompô-la analítica ou objetivamente. Dado que não existe o fenômeno social dos salários, o fenômenos social de lucro líquido também está ausente. Assim é impossível aplicar o cálculo capitalista do lucro.(p. 138) A partir da década de 70, o capitalismo 50 modificam as regras de funcionamento da totalidade social. (p. 23). O antagonismo antes do mesmo cuja síntese Considerando industrial de produção industrial entanto, um novo modo de vida e a uma intensa supra valorização do solo. A situação de assédio do capital industrial em relação ao solo ocupado por colonos poloneses na grande Curitiba reflete as verificamos a condição que concretiza cada uma numa momento relação participando contraditória, configuração histórico se espacial. destaca pela arcaicas. anteriores mesmo que estrutural, Estas na tentativa permaneça ou reproduzem seja, o técnicas de auto caráter cultural e de períodos preservação. No tradicional no plano político, no plano modernidade. As transformações , muitas vezes, seguem a via econômica antes de afetar as relações propriamente sociais. pela expansão do espaço industrial e urbano. contexto, se acarretará distintas, estrutural ou econômico pode haver assimilação de padrões de novas relações de produção próprias da modernidade engendrados Neste espaço, lógicas podemos reconhecer a descontinuidade que representam as formas históricos a duas manifestação de sistemas dominados por técnicas diferenciadas, monopolista renova as relações de dependência, pois a produção reverte de do dominado A mudança tecnológica impõe uma reestruturação que afeta em relação ao dominante materializados no desmantelamento de uma a organização espacial agrícola tradicional e a reestruturação sob parte de um sistema urbano. Cumpre-se um papel funcional no formas avançadas do capitalismo industrial. contexto Para LIPIETZ (1988): A análise revelará, assim, por exemplo, o antagonismo de uma lógica industrial, correspondendo às formas avançadas do capitalismo, oposta a uma lógica fundiária , própria aos modos arcaicos; mas o estudo concreto mostrará o funcionamento de um sistema único e coerente, possuindo características originais, àquelas que a análise tem precisamente por finalidade explicar. Enfim, as próprias modalidades da articulação devem ser compreendidas como um processo, onde o modo dominante domina, dissolve, integra o modo dominado segundo fases sucessivas nas quais se sociedade tradicional principalmente metropolitano, assim como na quando divisão esta torna-se territorial do trabalho. Esta realidade justifica as próprias transformações organizacionais no seio destas sociedades. As transformações ensejadas pela assimilação de padrões de modernidade ocorrem em uma realidade concreta preexistente. Toda prática, toda relação social se inscreve nesta realidade concreta cuja premissa é a própria condição de existência, pois 51 52 É como se a dimensão temporal da modernidade envolvesse, através do e com o espaço, um fluxo multifacetado alternando pelo menos três segmentos:instabilidade (crise), em que são contestadas as formas vigentes e gerados os caminhos para o novo; luta pela imposição de um desses caminhos, aglutinada entre dois veios: o das propostas macropolíticas normatizadoras e o da recriação de micropolíticas diferenciadoras; relativa estabilidade e enraizamento do amálgama por essa luta. (p. 59). esta como é material necessariamente também é espacial (LIPIETZ, 1988). A resistência à nova lógica organizacional e produtiva torna-se efêmera, na medida em que a lógica capitalista moderna em expansão, sob diversas formas, reivindica território. Os proprietários Estado, A presença da produção do espaço em moldes tradicionais objetivando a acumulação de capital e reprodução da força de oferece-se como obstáculo a políticas organizacionais próprias trabalho, da modernidade. Em particular a resistência do modo de vida do direcionam dos os meios de processos produção sociais e que o organizam e reorganizam o espaço (CORRÊA, 1989). Neste ponto a categoria colono analítica espaço adquire significado, pois não podemos conceber modernidade revela-se acentuadamente no contexto de Curitiba e a região. sobrevivência de uma sociedade desvinculada do meio das relações socioeconômicas, o espaço. As transformações sociais e econômicas decorrentes do impacto de novas tecnologias deixa testemunho na organização espacial. A estruturação da lógica de modo algum é de Tomás Coelho à assimilação de padrões de Ao observar a metrópole como sistema podemos ressaltar, com base em SANTOS (1988), que o ajustamento das diversas partes do capitalista polonês sistema urbano no político-administrativa, que concerne cultural às e instâncias econômica, territorial sofrem um sucessivos níveis de homogênea, mesmo em um contexto metropolitano quando da expansão processo quase que tentacular da metrópole sobre diversas áreas e, mesmo equilíbrio, que justificam os diversos estágios de existência e apesar do planejamento imposto, criam-se vazios ou hiatos que dinâmica rompem de entanto, não é pleno, sofre várias disfunções. Se, por um lado, produção referendam esta realidade. Para GOMES & COSTA (1988) os agentes hegemônicos, no âmbito social e econômico, político e contrapondo-se a uma homogeneização globalizante o processo de cultural expansão de influência de uma metrópole revela uma crescente reproduzem, de outro aceleram-se os processos de modernização diferenciação e segmentação incompleta. Esta dualidade modernidade. A heterogeneidade medida que é a continuidade. O testemunho na de modos assimilação é própria de e arcaicos padrões de fundamental de da se em inter-relação, realidade alimentam gerando metropolitana. destes processos torna-se decorrente Este da cada novo arranjo, inovadores vez mais seletividade e díspar com que no os na a característica do processo de modernização. Ainda segundo GOMES modernização & COSTA (1988): dominantes, tanto novas burguesias como novas classes médias, é assimilada e reproduzida. Classes sociais 53 54 são geradas e estimuladas pelo processo. Também se acentua, na centros de produção e reprodução de inovações recebem um impacto maior parte da população urbana, o empobrecimento e o processo mais direto dos mesmos. de segregação territorial. Esta dialética de evolução e involução assume características específicas quando se trata de sociedades tradicionais presentes dentro da influência da metrópole. Não podemos descurar do fato de que uma sociedade tradicional apresenta um vínculo mais forte com o território do que aqueles presentes na sociedade urbana-moderna como um todo. Existem duas formas principais em que o processo de modernização interage com sociedades arcaicas. Sob um aspecto, o fato dos vínculos socioculturais serem mais profundos podem configurar uma resistência tenaz a qualquer forma de inovação tecnológica que comprometa a estrutura social tradicional. Por outro lado, pode ocorrer que, a própria configuração desta sociedade facilite a assimilação e até reprodução de inovações. No âmbito econômico a assimilação incompleta das ondas de modernidade na metrópole da periferia cria e assegura como sustentação empregos mal pagos e subempregos para grande parte da população. Este fato ocorre porque a Grande Cidade é o centro da ação de uma gama considerável de tipos de capitais que em tese, proporcionam trabalho para grande massa da população empobrecida (SANTOS, 1988). As sociedades tradicionais agrícolas próximas às áreas metropolitanas são assimiladas devido a oferta de novos empregos por parte da metrópole. A proximidade é um dado fundamental nesta análise. Sociedades tradicionais localizadas próximas a 55 CAPÍTULO O2 56 execução das Porque organização a culturais da formas práxis representativas social da é como tradição e da um do organização espelho modo de como social. projeções a produção SOCIEDADES TRADICIONAIS: RESISTÊNCIA E MODERNIDADE econômica de determinada sociedade se realiza. A resistência à dinâmica de renovações advindas do A partir da análise dos impactos espaciais do processo de processo de modernização encontra obstáculo no vínculo social. modernização na Metrópole e a implicação em estruturas Esta realidade se apresenta quando os padrões de modernidade de tradicionais que coexistem territorialmente, podemos delinear as certa forma comprometem a perpetuação da tradição. principais características da reorganização espacial e de uma A tradição além de dar razão de ser à vida ordenada em reestruturação econômica e sócio-cultural. sociedade, transcende esta aparência e atinge a consciência do Cabe ressaltar alguns aspectos distintivos no que se estilo de vida. A tradição viva se realiza na dinâmica social refere às sociedades tradicionais. A peculiaridade da como uma gama de escolhas excludentes. Ou seja, a prática social organização sociocultural específica cristaliza-se em formas de tarefas, a visão e classificação do mundo são reproduzidas concretas no espaço. sob regras fixas. Estas regras estabelecidas dentro de uma forma Neste contexto a organização sociocultural apresenta-se de temporalidade e concretizadas em formas espaciais configuramcomo uma determinante de como uma sociedade tradicional se como obstáculos à práxis da modernidade.4 relaciona-se com o padrão organizacional da metrópole. Ao O contraste distingue o espaço sociocultural resgatar a categoria analítica cultural, a fim de das explicar os impactos da gestão e difusão de novas tecnologias, sociedades arcaicas. Este contraste permite identificá-las no verificamos que os câmbios no que diz respeito às sociedades espaço metropolitano. acompanham necessariamente as transformações tecnológicas. Como explica DURKHEIM ( apud BETTANINI, 1982): A práxis social implica a constituição das formas sensíveis privilegiadas às quais estamos permanentemente prontos para referir todas as nossas experiências espaciais subjetivas. (p. 93). A projeção da cultura na organização do espaço revela-se como um pólo inteligível e de referência. neste ponto o O espaço espaço torna passa a a ser cultura o algo plano de 4 Quando nós vivemos sob regras sobre as quais percebemos que não temos controle, por serem inflexíveis, nos sentimos como numa prisão. Nestas condições são as regras que nos vivem impedindo modificações. O autor compara a um jogo onde o bom jogador pode atualizar com precisão as regras em que joga; um prisioneiro passa pela prisão sem poder desenvolver sua vivência mais básica (MATTA 1981). No plano da sociedade tradicional onde há uma reificação da tradição esta aponta como prisão obstruindo mudanças na dinâmica social, sendo esta a forma mais concreta de resistência às inovações impostas pelo sistema metropolitano. 57 58 Por certo que não somente a modernização é seletiva em Assim como a alta tecnologia prescinde do trabalho menos termos de classe assimilada na social, instância mas também tecnológica possui outras dimensões e não está reduzida apenas à uma nova marginalização e segregação espacial estão dentro das explicação principais conseqüências desta transformação no modo de produção características do No momento processo de entanto, a especializado, do mesmo modo, a produção nos moldes tradicionais não encontra mais condição para sua perpetuação. Sendo assim, nível. No diferencialmente mudança neste cultural. é histórico atual transformação as tecnológica representam uma nova forma de produção que está relacionada à dinâmica de responsável informações, por novo de patamar de decisão e conhecimento a polarização social decorrente deste novo impacto tecnológico identificamos, além do que podemos conceber, um acirramento desta disparidade sem paralelo nas metrópoles dos 1985). Ocorre uma reestruturação econômica a partir de novas países periféricos. Embora esta polarização social esteja sendo tecnologias incrementada, ela não produz um novo processo de formação de estas ensejam uma produtividade Retomando (CASTELLS, e um tomada capitalista. nova divisão territorial do trabalho, tanto em escala local como global. classes sociais, mas repercute significativamente em uma nova Na escala local, no âmbito da Metrópole, a nova divisão territorial do trabalho sociedades no bojo do sistema hegemônico que rearticula e torna complexa a tradicionais. A própria reestruturação do capitalismo redefine e organização espacial metropolitana. Existem relações específicas redistribui os papéis funcionais, podendo sociedades arcaicas em constante adaptação às novas condições econômicas e sociais. serem recriadas sob o capital ou completamente desarticuladas, Com base em SANTOS (1988), verifica-se o que o autor considera se de como um novo subsistema hegemônico determinante responsável pela tecnologia" redefinição direta e indireta da nova realidade metropolitana. considerarmos modernização (CASTELLS, e as o 1985) novas que onde redimensiona é o o papel características definido papel da como das divisão social do trabalho. Estamos diante de um novo elemento do "alta informação no processo processo de produção é fundamental. Reconhecemos que o terreno mais fértil à penetração da alta tecnologia localiza-se justamente nas áreas onde o trabalho se encontra politicamente organizado e mais preparado na disputa com o capitalismo. Este novo subsistema é a modernidade que neste período histórico se caracteriza por ser um fato irrecusável. Por ser não optativa como era há quarenta anos atrás, seu impacto é definitivo e sem retorno. A modernidade irrecusável se apresenta como um elemento inerente à lógica do capitalismo industrial no seu estágio atual monopolista. A oposição deste padrão às sociedade tradicionais 59 60 reside no fato de que estas são regidas por regras rígidas de ideológico. Todo este processo de mudança nas diversas esferas comportamento. da sociedade implica em um processo paralelo de desorganização capitalista No que entanto, toda considera-se sociedade possui patente uma no sistema aspiração a se modernizar. Este paradoxo resulta da convicção de que não há com diversos antes existentes. A à Para EISENSTADT (1969): Esses processos têm dois aspectos íntimos relacionados: o da desorganização propriamente dita dos padrões existentes da vida dos vários grupos, e o da crescente inter conexão entre grupos que experimentam tais processos, sua reunião em quadros comuns e seus impactos recíprocos. (p. 36). As ditas sociedades modernas se desenvolvem a partir de tradicionais resistência é parte integrante da modernização. sociedade tradicional. estruturas da Deste modo, ocorre que esta desorganização e deslocamento que nem sempre existe uma meta clara de desenvolvimento para uma diversas resultantes transformação. desenvolvimento possível sem a adoção de inovações próprias de padrões de modernidade. O diagnóstico desta pesquisa nos aponta conflitos partir desta premissa a marginalidade de uma sociedade tradicional em O relação à assimilação de novos padrões relacionados impacto considerável do processo de modernização no à comportamento social deixa suas marcas nas figuras concretas do modernidade pode ser atestada diante de como a superestrutura espaço geográfico. Cada vez mais os padrões hegemônicos próprios cultural, que justifica o comportamento tradicional, responde ao do sistema prevalecem sobre padrões arcaicos . caráter fechado de uma sociedade. DEUTSCH (1961) afirma que ocorre uma mobilização social Segundo EISENSTADT (1969) o processo de modernização das quando a erosão e ruptura de antigas vinculações sociais, diversas sociedades tradicionais possuem contornos peculiares ao econômicas e psicológicas tornam os indivíduos disponíveis à longo de seu desenvolvimento. assimilação de novos padrões de socialização. A ruptura ou desarticulação de determinados padrões Podemos reconhecer que a produção do espaço é fruto das sociais antigos disponibilidade representa, para novos em padrões certo de sentido, uma comportamento diversas interações compondo vários de elementos que se relacionam entre si que subsistemas de relações que nos remete à evidenciam novas práticas sociais e econômicas. O contraponto totalidade social (SANTOS, 1985 ). Esta concepção evidencia-se desta dinâmica verifica-se em sucessivas reestruturações espaçoem organizacionais que se articulam. nas diversas A modernização depende um processo temporal de articulações e desarticulações de sociais; de estruturação e reestruturação espacial. mudanças contínuas instâncias tanto a nível A econômico como a nível político-administrativo e urbanização em detrimento de sociedades rurais culturaltradicionais age como destruidora de padrões antigos de trabalho 61 e produção tornando, industrial, várias sob o ponto habilidades de vista plenamente de uma lógica supérfluas o que acarreta uma diminuição da segurança da estrutura tradicional. Para EISENSTADT (1969), esses processos 62 lançam O processo de vínculo social na colônia polonesa contribui para a preservação e manutenção das tradições. Para MATTA (1981), a tradição concede consciência ao estilo de vida as de determinada sociedade. Ter consciência é poder ser populações de sociedades tradicionais em uma gama de incertezas socializado, isto é, ter uma situação diante de uma lógica de de mercado de trabalho criando desemprego e subemprego, problema inclusões e exclusões fundamentais, um diálogo entre o que somos típico de uma realidade industrial. e aquilo que outros são, o que necessariamente não devemos ser. Sob atávicas este dos prisma, colonos de as características Tomás Coelho, socioculturais simples e fechada, proporcionou uma mobilização social resistente à um processo de A consciência de regras e normas próprias da tradição é uma forma de presença social em comportamentos bem marcados pelo grupo social. modernização local. Ou melhor, não se produziu mecanismos que viabilizassem lado a um processo cristalização de de modernização determinadas efetiva. Por práticas outro econômicas e A tradição proporciona um paradigma ao comportamento. A tradição viva e a consciência social subtendem responsabilidades. O que significa fazer uma série de escolhas sociais entraram em choque com interesses hegemônicos do capital seletivas industrial monopolista em sua expansão territorial. pressupõe escolhas que excluem formas de realização de tarefas e Tomás Coelho, paralelo as demais colônias de origem que determinam uma ação sobre o real. A tradição classificação do mundo. polonesa, não foi vitimada pelo processo de industrialização, Tradição significa vivenciar regras e opções quanto ao desenvolvimento por parte dos colonos de uma vocação conscientemente em determinado processo temporal. No entanto, a industrial. Houve de fato a reprodução de uma típica comunidade tradição pode ser restritiva como uma prisão, ou seja, quando as camponesa onde a pequena propriedade é característica. regras Embora os colonos tivessem um vínculo com o mercado da capital, a identidade étnica-cultural reforçou um caráter vivem pelas pessoas e não elas pelas regras. Nas tradições culturais este processo é dialético, há uma ação e reação entre o grupo social e o conjunto das regras na prática fechado onde diversas famílias foram se entrelaçando através de social. Podemos diagnosticar que nesse processo relacional casamentos, mantendo assim uma certa relação de parentesco entre chegamos ao ponto de o grupo social se sentir possuidor de uma os diversos moradores de origem polonesa. tradição cultural. 63 64 A condição fechada de Tomás Coelho contempla a interação devido ao próprio isolamento das colônias imigrantes no decorrer com a tradição e a auto preservação cultural. No entanto, os do seu processo histórico. padrões da lógica do capitalismo industrial se opõem a esta realidade diversa e pouco vida concentradas, organização esta, que não se configurou no Brasil. tradicional, assim como lhe oferece uma nova direção que se Particularmente, a colônia de Tomás Coelho se organizou de modo revelará linear, o que significou um rompimento na articulação social dos fundamental a na pouco subverte compreensão o modo do de No seu país de origem as residências dos aldeões eram processo de desarticulação do núcleo colonial. Caracterizando melhor a colonos. cultura imigrante polonesa reconhecemos entre outros aspectos distintivos o fato de que a religião praticada pelos colonos revela a relação que laços decorrência desta obstáculos inserção imigrante do em diversas reconhecer colônias e que realidades a não gregária mantiveram na Polônia sobretudo nas atividades religiosas que em grande parte serão reproduzidas no Brasil. A concretude organizacional da paróquia e a repercute da nas polarização práticas social, a tradição socioeconômicas, figura as condições de reprodução da cultura polonesa no Brasil. O recrudescimento catolicismo fatores, a polonês identidade da tradição conservador cultural. aliada a assegurava, Esta prática entre realidade a Polônia à e a cultura assimilação decorrentes novas práticas os Coelho, a polonesa. Estes dois da pela cultura estrutura dominante. cultural Os imigrante produtivas arcaísmos que, responsáveis no nosso pela entender, ruptura com a Todavia, não é somente a práxis cultural que reserva a peculiaridade religiosa satisfazendo Tomás modernidade. concreta da capela centraliza a dinâmica cultural da colônia. Além em dificultam a incorporação de novos padrões comportamentais assim como revela com barreiras abalarão a natureza gregária do camponês polonês. Esta natureza se que, aspectos revelam que a estrutura cultural na colônias mantinham certas podemos para Configura-se através da prática religiosa uma manutenção significativo na composição da imigração polonesa no Brasil. Em característica contribui mais amplos e radicais. dos Tomando por base WACHOWICZ (1981) o elemento aldeão é fato prática religiosa e a tradição polonesa obtivessem significados o imigrante sustenta na sua dinâmica social e esta com o solo. Este da resistência do colono polonês em relação a assimilação de padrões de modernidade; aliada à mesma está o sentimento nacional polonês. O aldeão imigrante, na preservação da tradição e identidade, reproduzirá o nacionalismo polonês no de um outros acentuou-se Brasil. Estas sociedade características imigrante, ou seja, reforçam uma o ruptura caráter isolado progressiva com da a 65 dinâmica capitalista dominante principalmente nas últimas décadas. baluarte dos vínculos prática colono com a terra natal de seus religiosa católica tradicional e o Para WACHOWICZ (1981): sentimento Na Polônia, o sacerdote era o líder inquestionável e absoluto dos aldeões. No Brasil, sua figura ainda permanecia forte e acatada. Porém novos fatores conjunturais vieram abalar esta liderança inquestionável. Inicialmente, a própria oposição do clero a emigração dos seus paroquianos para o Brasil veio corroborar a perda dessa liderança monolítica. Sua ligação com os grandes proprietários, bem como a defesa de seus interesses contra as aspirações dos camponeses, alterou a confiança ilimitada no seu vigário. No Brasil, devido ao próprio tipo de organização paroquial, excessivamente extensa com a imposição por parte da hierarquia de paróquias territoriais e não étnicas como nos Estados Unidos, os padrões poloneses viram-se obrigados a atender também os elementos de outras nacionalidades como brasileiros, italianos, alemães, sendo obrigados a pelo menos aprender a língua portuguesa. (pp. 107108). nacionalista combinam-se em uma sociedade social e espacialmente isolada. A não aptidão da superestrutura cultural a transformações inviabilizaram um novo equilíbrio espaço-organizacional imposto pela metrópole. Ou melhor, as pressões sofridas pela colônia polonesa a nível estrutural não repercutiram na supra estrutura cultural do ancestrais. Com melhor delineamento do argumento podemos inferir que a 66 cuja marginalidade e desarticulação são resultados evidentes. A estrutura da sociedade imigrante se apresentava como imagem da organização religiosa. A paróquia era o núcleo em A paulatina perda do poder político da igreja entre os torno do qual a dinâmica social vingava. Neste sentido para imigrantes não comprometeu particularmente a dinâmica social de melhor Tomás Coelho, mesmo porque a escola e o ambiente recreativo da compreendermos esta realidade há necessidade de entendermos a estrutura política da paróquia, de sua função em comunidade eram relação a comunidade imigrante. confluência do A paróquia tinha que ser a expressão da comunidade, pois a mesma precisava ser um meio de afirmação do colono. de poder certo modo religioso controlado não era pelo apenas clero. funcional A mas territorial. A disposição das propriedades de forma linear ao longo de A presença de um padre polonês foi sempre considerada vias onde se deslocavam as carroças polonesas, distavam entre si imprescindível pois era um meio de, inclusive, manter viva a de 500 a 1000 metros (fig. 05 p. 67). No decorrer do processo língua polonesa. Com o passar do tempo e a sucessão de gerações histórico a tendência de adensamento de propriedade cada vez o domínio da língua vai se tornando cada vez mais fraco. O papel mais se aproximou da área onde foi construída a igreja. político do padre na liderança da comunidade referendava a manutenção da polonidade. A religião se tornou o maior e último A igreja só foi edificada após o ano de 1879, ou seja três anos depois da fundação da colônia. Ainda no período do 67 68 FIGURA: 05 Império TOMÁS COELHO - DISTRIBUIÇÃO DE LOTES foi construída uma pequena capela na localidade denominada Campina dos Ausentes. O estado precário da capela fez com que 100 chefes de famílias se reunissem para uma reforma e a vinda de um sacerdote polonês. Na República a capela passou a se chamar Capela de São Miguel e centralizou a prática religiosa e a vida comunitária. Em 1903 passam a integrar o núcleo colonial os sacerdotes da congregação São Vicente de Paula, que estabeleceram uma escola para os filhos dos colonos. A figura sacerdotal não era apenas para a administração dos sacramentos da Igreja Católica Romana mas também um censor que fazia a manutenção dos costumes e a razão de ser do colono, ou seja, sua identidade cultural polonesa. Como centro comunitário a igreja também desempenhou o papel de fórum político dos problemas da colônia, assim como ponto de convívio social que permitia casamentos entre os religioso se colonos e seus descendentes. Observação: O intuito ao se reproduzir este mapa foi apenas demonstrar a distribuição original dos lotes. Apontamos que esta configuração contígua porém linear contribuiu para a não formação de centros urbanos, mesmo de pequeno porte. O original é de 1910 e encontra-se reproduzido no livro Tomás Coelho: Uma Comunidade Camponesa (WACHOWICZ, 1976). A dinâmica social revelada pelo centro manteve no decorrer das décadas e se reproduz no dia a dia dos colonos. Os símbolos religiosos estão sempre presentes na figura de santos nas casas, na bênção do alimento, na partilha da broa de centeio , nos textos religiosos reproduzidos nas vigas das casas e na oração em família. 69 70 A religião revela a própria nacionalidade e o culto da tradição. Mantém os vínculos ao mesmo tempo que impõe uma O manhã, cotidiano no preparo das mulheres da 1ª inicia-se refeição. às Depois cinco elas horas vão para da o disciplina à prática social assim como um isolamento cultural trabalho agrícola voltando a tempo de preparar a 2ª refeição. No peculiar. período Originários de clima frio porém seco, o colono passou por algumas dificuldades na nova realidade, impondo um As eram madeira feitas com troncos realiza a mesma seqüência de são responsáveis por todos os trabalhos domésticos. Aos domingos a missa é o principal evento e, mesmo nesta ocasião, de se os grupos se organizam por idade e sexo, a saber: de próximo à entrada lateral ficam as mulheres idosas; adiante os pinheiros encaixados nas extremidades, sem pregos, com telhados maridos; no pátio interno as moças e jovens senhoras; do lado de amplos, mais tarde rendilhados de madeira, com varandas, jardins fora, junto à construção os homens maduros conversam; apenas as e pomares. crianças desde construções também afazeres e o preparo da última refeição do dia. Além disso, elas redimensionamento da prática dos costumes que serão reproduzidos pelas gerações subseqüentes. vespertino circulam A nível familiar a distinção social dos sexos é mantida reproduzida a radioteledifusão infância. Considera-se o menino como o principal por todas inclusive no as interior alterou capela. alguns esta razão o homem deveria receber uma educação melhor, prática casos, a própria divisão social do trabalho. estrutura da submissão educação organização O impacto comportamentos tradicionais, A a da Esta herdeiro da propriedade da família e o continuador da mesma. Por e formal. À mulher era destinado o papel de mãe. O trabalho mais inclusive partes. da mulher formal ficou e, a é da mais em alguns cargo da pesado é reservado aos homens, no entanto, a preparação da terra congregação São Vicente de Paula que construiu a escola próxima com à igreja. As freiras que eram professoras falavam e ensinavam o o arado, mulheres e o plantio crianças. O e a colheita trabalho com são realizados tratores, pelas transporte e comércio é somente realizado por homens. As primeiros meninas anos do interrompem 1º grau e os são estudos exploradas polonês, em 1930 foi proibido pelo governo federal o ensino de línguas estrangeiras. Havia uma preocupação por parte geralmente pela família nos no do governo em uma assimilação efetiva das colônias imigrantes e também a vazão da ideologia nacionalista do governo. trabalho doméstico, enquanto a mãe e os irmãos estão no trabalho agrícola. porém O catolicismo atávico apresentado pelos colonos, reintegrou uma distintiva cultura cristã, associada ao idioma, e à prática agrícola de caráter tradicional. Fazem parte 71 72 integrante da cultura polonesa uma série de mitos e crenças A bênção dos alimentos, segundo a crença dos poloneses, aliadas às batizados, festas religiosas casamentos e da Páscoa, enterros. Os do Natal, habitantes além de dos origem cultural polonesa ainda falam o idioma de seus antepassados, mesmo os mais jovens. Os produtos resguarda a boa digestão dos mesmos durante o sábado. A água também é levada para a bênção e depois espalhada nas casas e nas plantações. Os enterros reservam um ritual que mantém características da alimentação básica dos colonos são próprias. Além do velório são servidos alimentos típicos para a produzidos no próprio local. A exemplo da batata-inglesa, milho, ocasião. centeio, feijão, cebola, aveia, cevada, couve, ervilha, repolho, A dimensão religiosa está presente no dia a dia do batata-doce, verduras em geral e algumas frutas. O preparo dos colono, nos casamentos, nos batizados e revelam a cultura do alimentos ainda segue os princípios de elaboração da culinária imigrante polonês e seu apego aos costumes de seus antepassados. tradicional polonesa junto à outros pratos comuns no Brasil. Mesmo na construção das casas, que inicialmente eram feitas de A atividade culinária é reservada às mulheres que aprendem pratos típicos desde jovem. A Coelho preservação através da da tradição observância é de troncos transversais, determinada fase efetiva costumes na e colônia com Tomás estes, os valores dos seus antepassados. sem pregos, com a madeira cortada em da lua para evitar pragas e os lambrequins nas varandas, se revelam aspectos religiosos e míticos. A cultura polonesa é a ruptura distintiva que nos permite reconhecer a dinâmica do espaço social de sociedades ditas A festa de Páscoa representa a separação de um ciclo de tradicionais. A própria distinção no plano da organização social tempo onde se desenvolvem certas tarefas como, por exemplo, a cristalizado pela cultura específica apresenta-se na formação pintura das casas realizada pelas mulheres da colônia durante a espacial. Quaresma. Sob este prisma, a organização sócio cultural representa Outra festa religiosa de especial importância é o sábado um determinante rompendo com o padrão organizacional autóctone de Aleluia onde se desenvolve a cerimônia do Swiçconka - bênção dando uma nova fisionomia ao espaço. O contraste distingue o dos espaço sócio cultural de sociedades tradicionais. alimentos. Também no sábado se comemora a festa de ressurreição de Jesus Cristo de maior importância nas tradições polonesas conhecido como Wielkanocac. Para CLAVAL (1979) as sociedades arcaicas não dispõem de memória objetiva, o que explicaria a perpetuação indefinida da reprodução de seus padrões organizacionais. Sob outro aspecto, necessariamente, vários níveis o processo sociais. de Embora aculturação se controversa a 73 74 desenvolve em A transição do aldeão polonês do século XIX, que vivia na perpetuação de padrões organizacionais são lastreados pela tradição. condição servil, fatalismo sobre na sua diversas terra natal, vicissitudes da onde apresentava vida, ou seja um "uns Em 1985, na eminência da formação do lago da barragem de nasceram para mandar outros para obedecer", se depararam com uma captação de água do rio Passaúna onde parte significativa da outra condição de vida a de colono com liberdade de ação e de colônia de Tomás bisneta de poloneses, Coelho foi retrata inundada, bem a a declaração importância do de uma apropriação do espaço. Tal circunstância gerou um conflito de que ora identidade expomos. sanar este conflito o colono apegou-se cultura polonesa não se dissipasse e deste modo o espaço sagrado Toda essa estrutura será rompida (estrutura social dos colonos, N.A.). O lago, formado pela barragem, vai separar as terras, vão chegar outras pessoas e aquela unidade, amizade e entendimento acabará. Será muito difícil deixar casas que já têm mais de 100 anos e mudar-se para outro local, viver entre pessoas desconhecidas, que não falam o polonês, não entendem as tradições. Para os mais velhos - existem pessoas de mais de 90 anos - isso será fatal. Elas jamais se acostumarão a rezar em outra igreja, conviver com outras pessoas que não falam o polonês, mesmo porquê, os mais idosos, mal falam o português. Além disso, a terra da Colônia é ótima para o cultivo e será impossível encontrar outra igual, mesmo recebendo uma boa indenização. (Folha de Londrina 24/04/85). Em vários momentos concretos antes e depois dos ofícios religiosos observamos o convívio entre os colonos onde parentes e vizinhos discutem seus problemas e os assuntos da semana. Os símbolos religiosos estão presentes no dia a dia do colono em casas, na colheita, no plantio. Nos episódios significativos da vida do colono a dimensão do sagrado está sempre presente. A para tenazmente à tradição e a religião. Este fato fez com que a Segundo entrevista de Lídia Lucaski: suas e religião os manteve unidos sentimento do nacionalismo polonês. e também manteve aceso e mítico assumiu uma importância peculiar. Como comenta ELIADE (1972) a função principal do mito é de revelar os modelos de todo os ritos e atividades dos homens, torná-las significativas. Essa concepção não perde a importância na compreensão do próprio homem de sociedades tradicionais. A própria vinda dos aldeões poloneses para o Paraná foi envolvida em uma atmosfera mítica, mito este que colocava o Paraná como um paraíso revelado pela Divindade, que retiraria o polonês de sua condição difícil para uma vida melhor principalmente, teria acesso fácil á terra. Segundo relato de Gil Castelo BRANCO (1984): No século passado, quando da "febre brasileira das migrações européias", o nome do Paraná foi envolvido em uma lenda, surgida pelas aldeias polonesas na qual manifestava-se a mentalidade simples do camponês, amplamente influenciado pelo jogo político estrangeiro, o qual procurava tirar-lhe a própria terra. Uma gente também profundamente marcada pelas tradições cristãs. Diz a lenda que o Paraná até então encoberto por névoas e que ninguém sabia a existência. Era a terra em que corria leite e mel. Então a Virgem Maria, madrinha e protetora da Polônia, ouvindo os apelos que o sofrido camponês e, 75 polonês lhe dirigia, dispersou o nevoeiro e predestinou-lhe o Paraná. Tal decisão da Virgem Maria havia sido comunicada ao Papa, o qual, sensibilizado pelo destino da cristandade polonesa, solicitou ao Imperador brasileiro que distribuísse essas terras aos poloneses, para que tivessem a fartura e ali pudessem viver felizes, expandido seu cristianismo. (mimeogr.). 76 O homem religioso estrutura o espaço de uma maneira qualitativamente diferente e assim o colono polonês recupera sua identidade quando vivencia a dimensão do sagrado. Em 1985, mantinham-se certas características de cultura O sagrado se revela nas manifestações vitais, expressas polonesa nas diversas edificações existentes na colônia. Porém o na dinâmica social reproduzidas na Colônia. Através da projeção uso dos cômodos das casas mudaram e também detalhes próprios de do uma construção moderna que se mesclam com o tradicional. mito, o homem de sociedades tradicionais encontra a A justificativa de uma transformação do seu cotidiano social e de espaço sua própria vida. O Padre Tadeu Kolodziejczyk (vigário da colônia de Tomás Coelho até 1986) acentuou que os colonos são extremamente Colônia. igreja Em é o nosso centro privilegiado diagnóstico anterior do social o fato da desapropriação de terras, propriedades da sobre Colônia a Tomás ocupação Coelho do pela o espaço construído se organiza. em 1985 na diversidade já apressado considerar apenas um determinado tipo de construção mas também isolamento de colonos remanescentes do acesso à própria igreja. o edificações presentes na colônia e seria A casa de troncos, embora existente muitas vezes, não é utilizada para moradia, mas sim em outra função. Além disso, novos tipos de construções são edificadas nas propriedades. A evolução espaço-temporal de determinadas propriedades Assim como assevera CRIPPA (1975): A dimensão sagrada do espaço apresenta-se como uma possibilidade radical na constituição do mundo e dos entes mundanos. A localização no espaço é vital. Nada pode o homem entender, nem realizar, sem sentir-se localizado. Fora do espaço, tudo se dilui em distâncias imperceptíveis e todas as significações perdem-se num além interminável.(p. 128). das como padrão. do rio Passaúna romperia com a articulação social dos colonos. só realizadas da prevíamos que a formação do lago da barragem de captação de água Não algumas pesquisas A preocupação de revelar o caráter típico polonês esbarra espaço realizado de de Secretaria Estadual da Cultura podemos caracterizar de que modo religiosos e freqüentam a igreja todos os domingos.5 A partir demonstram edificações geralmente de madeira, funcionalmente dispostas ao redor de um pátio gramado onde se acha o poço e onde vivem os animais domésticos. O pátio é importante na circulação e distribuição de atividades. Este micro espaço é a contrapartida do macro espaço da colônia como um todo, onde a função central da igreja integraliza vários contatos sociais que norteiam a prática social e econômica dos colonos. 5 Entrevista com o Padre Tadeu Koloziesczyk no dia 08/11/85. 77 Como se depreende do exposto, a Colônia de Tomás Coelho é representativa dimensão do mítica fato e que sagrada a resistência perpassa a que se realidade realiza do 78 CAPÍTULO 03 na espaço PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE CURITIBA E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO concreto e revela obstáculos aos padrões de modernidade. DA COLÔNIA TOMÁS COELHO 3.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL Considerar a urbanização no Brasil sob a égide do capitalismo industrial monopolista relaciona-se diretamente com a questão de fixar o período em que a industrialização desenvolveu-se. Como afirmava GEIGER (1963): Há, evidentemente, uma relação entre os fatos da história urbana e os fatos da história econômica. As transformações que ocorreram na estrutura urbana brasileira acompanham a substituição do sistema econômico colonial por um sistema de economia nacional. Por sua vez, o crescimento da população urbana é fator de expansão do mercado interno, causa de transformações na economia brasileira.(p. 61). Embora existam muitas descontinuidades na industrialização brasileira, podemos considerar o impulso neste processo com maior clareza no 2º pós-guerra mundial. No entanto, nos anos 20 e 30 intensificou-se a modernização nas principais cidades brasileiras com certa ênfase à concentração industrial em algumas áreas, como São Paulo, e os insumos adquiridos com a imigração européia no sul do país. As circunstâncias da crise pós 1ª guerra mundial e 79 80 a contexto que a intervenção estatal se fez presente a fim de depressão norte-americana de 1929, anos mais tarde forneceram oferecer algumas desenvolvimento condições para a intensificação das indústrias no Brasil. A partir da acumulação de recursos provindos da produção do para a capitalismo estruturação das bases industrial país (OLIVEIRA, no do 1982) citado anteriormente. cafeeira e a transferência destes para as cidades formou-se o excedente base para o desenvolvimento industrial. condições Através de um papel controlador, o Estado modificou a ação política referente às oligarquias agrícolas que até então Porém, não podemos asseverar que houve a formação de um exerciam o poder político e procedeu à implantação de infra- pleno capitalismo industrial neste período; o que nos remete a estruturas e políticas viáveis à ação do capitalismo no espaço premissa anterior, o 2º pós guerra. nacional. Todavia, a vinculação direta da urbanização à industrialização possui seus problemas. Porém, a expansão do capitalismo industrial monopolista não se fez apenas por ação do Estado Nacional, mas também devido Conforme SANTOS (1982): às condições ditadas nos países centrais que ampliaram o seu Há muito se vem tentando estabelecer uma relação entre urbanização e industrialização, considerada está última simultaneamente num sentido restrito e num sentido mais amplo, levando-se em conta o que ocorreu nos países atualmente desenvolvidos. Com efeito, pode-se indubitavelmente constatar um certo paralelismo na evolução desses países. Até mesmo a defasagem do fenômeno da industrialização entre diversos países coincide com a defasagem de sua urbanização. espectro para os países periféricos através das multinacionais. Para DAVIDOVICH (1984) o espaço econômico a nível mundial sofreu certas restrições com a expansão socialista após a 2ª Grande Guerra, o que pressionou o processo de industrialização da periferia. Os países centrais encontraram condições favoráveis na periferia como o baixo custo de matéria-prima e É difícil estabelecer relações tão sistemáticas nos países subdesenvolvidos, pois neles temos de lidar com pelo menos três dados: modernização, industrialização e urbanização. A modernização, fenômeno reflexo das transformações dos países mais adiantados, pode provocar a urbanização, sem contudo criar uma industrialização imediata. (p. 55). mão-de-obra. Neste contexto o Brasil foi privilegiado para a expansão da empresa transnacional entre os anos de 50 e 70. A ação do Estado nesta fase articulado com as grandes empresas multinacionais, foi determinante na industrialização e Resgatando a perspectiva histórica, um ponto fundamental modernização na compreensão da afirmação do capitalismo do Brasil. Este fato caracteriza a fase do industrial capitalismo industrial monopolista. A nova dinâmica implicou na monopolista no Brasil está ligado, de certa forma, à dificuldade hegemonia do estilo que a iniciativa privada nacional tinha em oferecer padrões de terciário da economia. acumulação necessários à nova dinâmica industrial. É neste urbano de vida e a expansão do setor 81 82 O palco urbano torna-se, sem dúvida, centro das funções Este modelo gerou uma grande disparidade social na medida relativas à circulação de capital e de mercadorias assim como a em localização processo, que acabou concentrando ainda mais a riqueza nas mãos dos sistemas institucionais públicos, empresas privada e a organização comercial e industrial do país. que a massa cafeeira da infra-estruturas vai aumentar ainda mais as não participou das benesses do O redimensionamento da urbanização passou pela expansão estilo urbano de vida é fato relevante desse período. A ascensão média população de poucos. O advento das classes médias como pivô da expansão do classe da disparidades de com sua conseqüente decorrentes acumulação da ação de do riqueza Estado no e pelas final do concentração de riquezas no país, na medida em que estas são um século passado e meados deste século. As condições econômicas apoio ideológico sem precedentes às classes dominantes. que Com aspectos base em DAVIDOVICH estruturais (1984) importantes podemos neste inferir período. Em alguns primeiro lugar a expansão dos contingentes administrativos impulsionada pelo padrão multinacionais classes organizacional que médias. foram Em das pontos seguida a empresas primordiais adoção nacionais da de um estrangeiro no Brasil em (1979) meados do a entrada século XX guiavam as diretrizes da expansão urbana no país. Esta expansão foi base para a acumulação de capital fixo nas cidades proporcionando condições para a expansão industrial. expansão das social do trabalho que a cidade propiciou de modo mais complexo, modelo de assim como foi palco da expansão do mercado interno. Esta trabalho JÚNIOR configuravam, O fato que gostaríamos de assinalar refere-se à divisão porém, pelo poder estatal. PRADO se e desenvolvimento para uma modernização acelerada do país imposta Segundo ora de capital equilibrou as vantagens realidade na medida proporcionou em locacionais distintas. A que a a rede diferenciadas hierarquia urbana e territorial articula-se com urbana pressupõe forma consideramos a do com valorizações especificidades contas externas do país e proporcionou um aparelhamento material funcionais concretas. e uma sensível progressão do padrão de vida nacional. Infra- brasileira como condição para um redimensionamento territorial estruturas portuárias e ferroviárias cresceram rapidamente e, do trabalho. especialmente, bases os energéticas transportes para desenvolvimento urbano. a rodoviários; progressão inauguraram-se industrial e as o Desta divisão a rede urbana Como afirma CORRÊA (1989): A cidade em suas origens constitui-se não só em uma expressão da divisão entre trabalho manual e intelectual, como também em um ponto no espaço geográfico que, através da apropriação de excedentes agrícolas, passou de certo modo a controlar a produção rural. Este papel de condição é mais tarde 83 transmitido à rede urbana: sua gênese e evolução verificam-se na medida em que, de modo sincrônico, a divisão territorial do trabalho assumia progressivamente, a partir do século XVI, uma dimensão mundial. (p. 49). Quanto à configuração da urbanização em 84 DAVIDOVICH (1984) coloca que: Na última década ..., o crescimento urbano mostrou-se ainda importante, apresentando uma taxa de 4,5% ao ano que suplantou por larga margem a de um incremento nacional da população da ordem de 2,5% anuais. (pp. 19-20). termos territoriais observamos que o maior crescimento populacional se deu na região Sudeste. Esta região foi o locus principal do A metropolização e a maior articulação na rede urbana com processo de urbanização do país assim como, a maior concentração centros mais distantes do território engendrados pelo Estado são da ação empresarial do Estado e dos setores privados nacionais e características marcantes da urbanização brasileira no período multinacionais. recente. O período de 1939 a 1960 caracterizou-se pelo Esta realidade tende a uma totalidade no sentido em que desenvolvimento de bens de produção localizados na porção centro envolve mudanças de caráter sócio-espacial rompendo as sul do país. limitações especificamente regionais e promovendo GEIGER (1963) comenta que: redimensionamento da estrutura social do país. Estamos diante do Capitais estrangeiros passam a interessar-se mais pela produção industrial no Brasil e todas as circunstâncias se conjugavam em prol da concentração no Centro-Sul. Aí era mais lucrativo instalar indústrias, principalmente em São Paulo que ganhara a fama de dispor de mão-de-obra mais eficiente. As grandes metrópoles, como Rio e São Paulo, ampliam seu espaço urbano, englobam novos subúrbios. Em Belo Horizonte, Contagem aparece como satélite industrial. Grande parte do incremento da população urbana observado entre os recenseamentos de 1940 e 1950 deve-se à evolução industrial, inclusive o gigantismo crescente das duas metrópoles nacionais. (p. 439). reflexo das características e da dinâmica do capitalismo industrial monopolista estruturado no país. 3.2 O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE CURITIBA O processo de metropolização e urbanização de Curitiba O incremento da cabeça da hierarquia da rede urbana estão articulados a uma gama de transformações do macro contexto brasileira redimensionou as metrópoles regionais da região Sul do Brasil e da América Latina. Este processo se encontra no bojo que sofreram um desenvolvimento industrial a partir da imigração da nova urbanização da América Latina e das diversas políticas européia e agora sofriam as conseqüências desta expansão. urbanas implementadas pelo Estado Nacional. A década de 1970 a 1980 demonstrou uma aceleração sem A interpretação detalhada desta realidade, reside por precedentes no processo de urbanização do país. assim dizer, em uma compreensão diferenciada do papel do Estado 85 86 e a sua ação planejada. Como afirma LOJKINE (1977), uma análise grande e médio portes. O setor terciário desenvolve-se nestas científica áreas de diferenciada uma do política Estado e urbana da reside política, numa no modo interpretação de produção devido (1986) explicitou, com infra-estruturas propriedade, que a continentes. O fato de que, a exceção de apenas quatro países questões distintas. demais apresentam a maioria de sua população em áreas urbanas, endossa esta problemática. O processo de metropolização revela mercado. As atividades em um diagnóstico preliminar pareça corroborar às afirmações de SINGER os o No que se refere a área metropolitana de Curitiba, embora urbanização latino-americana é prodigiosa e supera a dos demais latino-americanos, e financeiras também tendem a se agruparem nestas mesmas áreas. capitalista, em especial o estágio atual monopolista. SANTOS a (1985), a análise mais apurada nos indica algumas Em primeiro lugar houve no Brasil uma ação institucional através da lei complementar nº 14 de 08 de junho de 1973, onde o descontinuidades governo federal estabeleceu do do Curitiba. Esta mesma lei definiu os municípios integrantes de de metropolização revela uma deterioração da qualidade de vida urbana, restringe os recursos cada naturais, infra- Conselhos estrutura de serviços e, inclusive, problematiza o mercado de estadual. intensifica o uso do solo, compromete a trabalho. Em região Deliberativos Até termos Consultivos, formalizados era eminentemente um país em dos lei rural. trabalho cada vez mais complexa. radicalmente institucionalização das áreas estudo existirem atribuições vivia no meio rural. Em menos de uma década esta realidade foi um de Brasil as metropolitanas em um país implica em uma divisão espacial do em fato o estabeleceu Belo Segundo dados do IBGE, nesta época 54,5% da população do país (1985), o 1960, e e Paulo, áreas SINGER gerais, metropolitana São da Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belém, Fortaleza e processo de 164 embates entre o poder local e a comunidade regional. Na análise o metropolitanas artigo Constituição, (1975) regiões forma espaciais e por que não dizer funcionais, gerando uma série de IPPUC as na contemporâneo metropolitanas no Brasil, a transformada, da superior muitos já Unidos e França. países sendo o centrais, nosso como crescimento por exemplo urbano Estados referendava a realidade de que determinadas funções industriais, Porém, neste contexto a cidade de Curitiba e região não comerciais e financeiras cabem às áreas metropolitanas. O setor apresentava a maturação urbana, nem mesmo o grau de polarização secundário como conjunto de atividades eminentemente urbanas, típico de áreas metropolitanas desenvolvidas, o que nos leva a predominam em áreas metropolitanas, principalmente indústrias de acreditar, com base nos estudos do IPPUC e da COMEC, que, na 87 verdade, é a colocação em prática de políticas urbanas de 88 FIGURA: 06 desenvolvimento, principalmente em relação às infra-estruturas e ocupação intensiva do solo, que proporcionaram uma maturação progressiva da RMC (fig. 06 p. 88). Por certo na medida em que o processo de metropolização de Curitiba se desenvolve duas conseqüências básicas de natureza diversa se apresentam: i) Junto ao processo em questão é reconhecível uma série de problemas evidenciam a decorrentes incapacidade do do crescimento poder municipal demográfico de garantir que os meios necessários à uma vida urbana de qualidade, o aumento da demanda de serviços públicos e também as dificuldades na absorção de mão-de-obra por parte da iniciativa privada. ii) Por outro, lado, devido a expansão e aperfeiçoamento dos meios de transporte e comunicação a região apresenta sinais do progressivo desenvolvimento de tecnologias próprias e padrões de modernidade. Verificamos que a distância entre o local de moradia e de trabalho se ampliou. Articuladas à expansão dos eixos de transportes estruturou-se a ocupação de áreas devolutas que se encontravam no caminho de ligação de determinados núcleos urbanos e o centro metropolitano. REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1989 89 Os estudos do IPPUC, reconhecem a extrapolação sobre o avanço dos limites da malha municipais e 90 urbana, posterior aglutinação de atividades econômicas específicas próprias de um processo de metropolização que atualmente se intensifica (fig: 07 p.90). A região metropolitana se estrutura por um sistema de cidades que, ao mesmo tempo que polariza algumas atividades econômicas, possibilita a dispersão de outras. Segundo SANTOS (1988 b), o processo de metropolização do terceiro mundo é contemporâneo à mundialização da economia e da sociedade. Significa que o mesmo é resultado da seletividade com que os padrões de modernidade se estruturam no espaço, resultando uma ação desigual onde se privilegiam certas parcelas Fonte: COMEC do território em detrimento de outras. Trata-se metropolitana instâncias ideológica portanto, como um econômica, em escala em sistema se de considerar articulação político-administrativa aberta, porque gesta e a das e faz região diversas culturalcircular informações , novos capitais e padrões de modernidade que, ao serem incorporados pela sociedade metropolitana, atingem diferentes e sucessivos patamares de mudança e reestruturação econômica. Com base no Plano de Desenvolvimento Integrado da COMEC existem fontes exógenas de mudança na região metropolitana de Curitiba que se configuram nos fluxos migratórios, eixos de transporte e comercialização dos produtos paranaenses. 91 92 Assim Em um segundo nível situam-se os municípios de Araucária, como existem as fontes endógenas como os serviços urbanos e as locus fundamental de indústrias com seus padrões organizacionais. Almirante Tamandaré e Piraquara6. Podemos descrever a região metropolitana de Curitiba, em relação a ocupação do solo, como uma crescente expansão malha urbana primário da periféricas em economia. pelo metropolitana detrimento O quadro identifica das áreas processo urbano a ocupadas de dos ocupação municípios problemática em setor de áreas discussão região neste trabalho. Ainda segundo a COMEC o conjunto das cidades pertencentes à região metropolitana de Curitiba sofreram um crescimento maior a partir da década de 50 e 60. Alguns níveis de incremento urbano são identificáveis, e é possível classificar os municípios em determinados patamares hierárquicos (Tabela. 01 p. 92). No primeiro nível classificam-se os municípios de São José dos Pinhais e Campo Largo. Na década de 90 consolida-se a conurbação entre o município de Curitiba e São José dos Pinhais. Já Campo Largo desenvolve-se com uma certa autonomia através do crescente incremento da indústria cerâmica local. Estes municípios destacam-se pela importância econômica em relação aos demais. pesquisa, Rio Branco do Sul, TABELA Nº 01 da pelo da nossa POPULAÇÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DA RMC ENTRE 1940 E 1991 Almirante Tamandaré Araucária Balsa Nova Bocaiúva do Sul Campina G. do Sul Campo Largo Colombo Contenda Curitiba Mandirituba Piraquara Quatro Barras7 Rio Branco do Sul S. José dos Pinhais 1940 779 1950 799 1960 1080 1970 3857 1980 27193 1991 59038 763 437 325 233 1439 503 346 143 3846 559 671 301 5103 635 734 319 27435 1279 2399 3834 54074 2431 3239 12709 2195 631 468 101488 690 1238 ------431 1628 3076 423 775 171222 608 1267 ------715 3238 7915 1365 892 351259 657 2244 ------1934 7574 15402 1092 1047 584481 792 4141 719 5041 21184 37775 55187 3534 1052147 7265 61475 3531 14517 58235 53767 110161 4813 1313094 26225 91347 8122 23671 111915 Fonte: IBGE A classificação deste segundo nível considera o processo de industrialização de Rio Branco do Sul e, principalmente, o de Araucária que, recentemente, começa a demonstrar características próprias do primeiro nível. Almirante Tamandaré e Piraquara possuem pouca autonomia e fazem parte da periferia imediata do município de Curitiba. 6 O município de Piraquara está sendo considerado neste segundo nível pois o estudo em questão não considera a emancipação do distrito de Pinhais em 1991, onde situam-se os setores mais dinâmicos da economia local. 7Município emancipado após o censo de 1960. 93 94 totalmente Não podemos nos esquecer que no Brasil a industrialização dependentes de Curitiba onde as atividades econômicas de maior é típica dos países periféricos, ou seja, tardia, e sofrendo dinamismo são raras8. impactos, por modernizações seletivas. O terceiro O se desenvolvimento (utilizadas ajuda nível no como base compõe de para reconhecimento dos forças esta da municípios autônomas e classificação difusão e gestão As dinâmicas da COMEC) nos de padrões de pressões aglutinação e ação articulação do Estado das como forças co-responsável produtivas próprias estatal através de políticas urbanas pode ser seletividade da Segundo JAMARILLO & CUERTO (1990): O crescimento das cidades de nossos países continua até aumenta, não só em conseqüência da aceleração do ritmo vegetativo associado a mecanismos demográficos (...) como devido a impactos verificados na organização social do campo. Tanto a desintegração direta do sistema agrário tradicional em algumas zonas com impacto direto em outras, a partir da permealização dos circuitos trabalhistas, da difusão de práticas mercantis, das mudanças institucionais e assim por diante, desembocam no surgimento de uma super população relativa considerável que flui em massa para as cidades, (...) (p. 109). na da modernidade nos utilizamos da demonstração de LOJKINE (1981).A ação a cuja realidade local não está ausente. monopolista. a devido modernização, se fazem no contexto dos países periféricos e de modernidade que estão articuladas à fase atual do capitalismo Retomando populacionais, melhor compreendida sob três dimensões: i) a dimensão de planificar; Na ii) o caráter operacional onde as práticas reais apreciação do autor supra citado o processo de do industrialização, embora tenha um crescimento apreciável, não Estado Central se evidenciam através da ação local dos aparelhos consegue regular-se com a sua capacidade de incorporação ao estatais a nível financeiro e jurídico, intervindo sobremaneira mercado de trabalho da crescente população urbana, produzindo na organização do espaço urbano; também um considerável excedente populacional nas cidades. iii) a terceira dimensão materializa e mede os efeitos No sociais no espaço das ações de planificação e operações contexto local do município de Araucária (fig. 08 de p.95), urbanismo. A metropolização em questão possui aspectos diferenciados no que tange ao impacto do processo de modernização, onde o processo de industrialização da região é o vetor principal. 8 Note-se que com exceção de Colombo, os outros centros urbanos estão geograficamente mais distanciados de Curitiba, formando uma linha no mapa de municípios onde as atividades agrícolas são ainda predominantes. os processos de industrialização e modernização 95 96 FIGURA: 08 ARAUCÁRIA - QUADRO URBANO proporcionam uma intensa ocupação urbana através de loteamentos, que visam suprir a demanda de moradias na região. Não poderia ser de outro modo na medida em que o Estado viabilizou as infraestruturas, as facilidades financeiras e jurídicas na captação do grande capital privado através da implantação de um parque industrial. Esta realidade revela o Estado como protagonista central e o primeiro mentor do destino dos processos em discussão. Como explica BARRIOS (1977), o Estado é o responsável pela tomada de decisões tanto a nível de uma formação social com domínio sobre um território, como também representa as classes sociais dominantes através da manutenção da ordem estabelecida. A urbanização de Araucária é extensão do processo de urbanização de Curitiba. Este processo possui uma força motriz própria no que diz respeito a tendência e definição de estrutura e dinâmica. Seria difícil isolar para análise a questão da metrópole, pois a dinâmica das periferias e da formação social que a estrutura estão intimamente ligadas. Sendo assim, a urbanização da área pode ser considerada como síntese da ação do Estado e poder articulador da indústria em cujo bojo encontra-se a própria modernidade. A lembrança de CORRÊA (1993) sobre o espaço urbano no mundo capitalista nos parece relevante. O autor comenta que o 97 98 espaço urbano no mundo capitalista se apresenta fragmentado e Segundo a COMEC, a área em questão demonstrou um surto de implica em condicionantes sociais, com símbolos e lutas. Ou seja, é um produto social resultante de diversas atitudes que se acumulam no tempo histórico onde o espaço é produzido e consumido. Dentro desta dinâmica é que aparecem os conflitos e contradições. A estruturação e reestruturação do espaço através das vias do capital nos demonstram que tanto a realidade rural como a urbana e a síntese de ambas, nada mais são que criações e recriações do próprio sistema capitalista. A colônia Tomás Coelho no município de Araucária, pesando o fato da expansão urbano-industrial recente, não apresentou uma transformação da produção agrícola tradicional para uma produção moderna comercial ou mesmo industrial própria das tendências de reestruturação espacial na região específica. O crescimento da população urbana e a ampliação do perímetro urbano tornou-se significativo nas décadas de 70 e 80, lembrando que deslocamentos o no município âmbito não da está condicionado metrópole, mas sim, apenas a à uma reestruturação econômica na qual os investimentos concretos do capital, industrial, através do CIAR (fig. 09 p. 97) e do CIC, cristalizam-se espacialmente. Todo este contexto apoia a especulação imobiliária e diminui a qualidade de vida de parte significativa da população, sempre vitimada pelo baixo poder aquisitivo em decorrência dos desequilíbrios da distribuição de renda no país. crescimento urbano notável, admitindo a presença da REPAR 99 100 FIGURA: 09 como o indutor principal do processo. CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA As contradições verificadas no processo de urbanização da área são marcantes. O território adquire novas formas espaciais resultante de um complexo de fatores endógenos e exógenos ao sistema. A síntese que concretamente se apresenta dinamiza-se devido a variável modernidade. Contrapondo o avanço da malha urbana na Região Metropolitana de Curitiba em detrimento de áreas de produção agrícola ou áreas verdes naturais, podemos reconhecer a expansão da lógica urbana. Esta expansão representa, ao nosso entender, um conjunto de processos econômicos e sociais típicos de atos produtivos próprios da modernidade. Esta realidade esta ligada à seguinte afirmação teórica de GIDDENS (1991), ao analisar as conseqüências sociais da modernidade: Nas sociedades pré-modernas, espaço e tempo coincidem amplamente, na medida em que as dimensões espaciais da vida social são, para a maioria da população, e para quase todos os efeitos, dominadas pela "presença"- por atividades localizadas. O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomentando relações entre outros "ausentes", localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face. Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles. O que estrutura o local não é simplesmente o que está presente na cena; a "forma visível" do local oculta as relações distanciadas que determinam sua natureza. (p. 27). Reconhecendo que a questão da malha urbana da metrópole marca em sua essência uma reestruturação da produção do espaço 101 podemos inferir algumas proposições que nos ajudarão compreender as tendências de expansão da lógica urbana Metropolitana concentração de de circunstância é Curitiba. A excedentes e, socialmente lógica de urbana algum definido. Os em na cada excedentes são produzidos socialmente e garantem a manutenção de determinado modo de produção. superposição de Para formas HARVEY sociais (1980) a metrópole construídas que é espelham uma a reciprocidade, redistribuição e mercado de troca. A lógica implica em uma circulação de excedentes, ou seja, bens, serviços e movimento de pessoas. Sendo assim, na medida em que a expansão da malha urbana se concretiza implica a submissão de outras formas de ocupação e produção do espaço a esta forma dominante. A partir da observação das fotografias aéreas da malha urbana de Curitiba em momentos históricos diferentes, consideramos que a partir das estruturas viárias delineia-se a expansão. núcleos Verifica-se urbanos das uma cidades distância satélites considerável e o quadro entre os urbano do município de Curitiba, principalmente no que diz respeito às décadas de 50 e 60. Já a interação e compactação da malha urbana da Região Metropolitana é mais acentuada nas décadas de 70 e 80 (figs. 10, 11, 12 e 13 pp. 102 a 105). Segundo a COMEC é a partir da década FIGURA: 10 da Área implica modo, a 102 de 70 que Curitiba assume a forma compacta e verificamos o processo de conurbação em relação ao município Pinhais (antes de 1991 distrito do ÁREA URBANA RMC 1955 103 104 FIGURA: 11 FIGURA: 12 ÁREA URBANA RMC 1965 ÁREA URBANA RMC 1975 105 106 FIGURA: 13 município de Piraquara). Já a construção da CIC proporcionou a ÁREA URBANA RMC 1985 expansão da malha urbana em direção à oeste, município de Campo Largo e a sudoeste município de Araucária. Nota-se década que de município o crescimento 80 à congemina-se de Araucária. sudoeste à que expansão Esta relação se intensifica na urbano-industrial do determina um avanço significativo da lógica urbano-industrial em áreas de produção agrícola remanescente da colônia polonesa de Tomás Coelho. De um lado o crescimento implantação da industrial Refinaria REPAR de na Araucária década de motivado 70 que pela também estimulou uma série de políticas urbanas municipais que criaram o CIAR e os demais loteamentos entre o quadro urbano central da Araucária e a CIC de Curitiba. De outro, a expansão de áreas urbanas na Região Metropolitana de Curitiba revelam uma descontinuidade considerável entre as áreas ocupadas em 1953 e 1976. A década de 70 foi o marco definitivo da expansão urbana no que tange a estruturação concreta da lógica urbana. Esta evolução é significativa para a nossa análise pois reforça o pressuposto de que a reestruturação do espaço do núcleo colonial Tomás Coelho esta articulado com os sucessivos estágios de equilíbrio espaço-organizacionais da metrópole. A década de 70 marca para o município de Araucária a expansão urbano-industrial e ,concomitantemente, a fase onde se intensifica a desarticulação da colônia polonesa. 107 108 Nota-se que a área ocupada em hectares pela malha urbana feitos e estratégias concretas. Podemos considerar os agentes de Araucária era em 1963 de 267 ha e em 1976 passou para 1410 ha, no mesmo período Curitiba apresentou um crescimento da malha urbana de 12192 ha para 22615 ha. O total da ocupação da malha como sendo os seguintes: (i) Os grandes proprietários (ii) os proprietários fundiários; hectares. (fig. 07, p. 90). (iii) os promotores imobiliários; a evolução da ocupação urbana da região (v) os grupos sociais marginalizados. pp. Consideramos a políticas 105) verifica-se urbanas o argumento governamentais da indução causaram que as vis-à-vis a descontinuidade apresentada no processo. Para região apreciar metropolitana melhor de a Curitiba é da lógica necessário urbana verificar na o desenvolvimento da estrutura econômica da região. Para tanto, lançamos mão da análise comparativa de dados fornecidos pelo LIPIETZ uma espacialidade (1988), de CORRÊA (1993) consideramos as ou as de formas ação mais diferenciada. avançadas do Como afirma capitalismo Os grandes proprietários industriais e das grandes empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaço. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas - junto ao porto, às vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população etc. A terra urbana tem assim, em princípio, um duplo papel: o de suporte físico e o de expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades. (p. 13). seguintes condições de reestruturação do espaço urbano: — sendo o espaço urbano fruto fragmentado de uma produção social onde agentes hegemônicos possuem papel preponderante, ele hegemônicos, Segundo CORRÊA (1993): contrapartida imediata na reestruturação do espaço. Tomando por estudos agentes o processo de valorização do capital. Partimos do pressuposto que a dinâmica econômica revela os os caracterizam-se por uma separação entre o processo do trabalho e SEDU e pela COMEC. base primeiramente seja, os grandes proprietários industriais, que em muitos casos possuem expansão os (iv) o Estado; e metropolitana da Curitiba de 1955 a 1985 (figs.10, 11, 12 e 13, 102 e controladores dos meios de produção em geral; urbana da região metropolitana de Curitiba em 1976 era de 31715 Conforme industriais A articulação da ação dos grandes proprietários também traduz em sua organização a cristalização da complexidade industriais de ação e o conflito entre os diversos agentes sociais, portanto políticas governamentais ditam o compasso da lógica do espaço os agentes que fazem e refazem este espaço urbano desempenham urbano capitalista. e comerciais, os proprietários fundiários e as faz a 109 110 Deste modo a expansão do setor secundário e terciário se Admite-se o fato de que a realidade agrária presente no sistema nível financeiro e dos mercados, mas também a nível metropolitano comparticipa de uma valorização intensiva do solo, territorial urbano. Esta realidade justifica a relação entre o próprio crescimento quantidade do setor terciário e secundário e a expansão territorial urbana. De fato valorização a diversas especulação excessiva do imobiliária espaço urbano que pressiona conflita com do de urbano, trabalho utilizações pois, humano em aí se aplicado. localizações encontra Assim, grande segundo diferenciadas, o as espaço a absoluto é suplantado pelos atributos relativos. A localização a de determinada parcela de solo permite uma série de vantagens necessidade dos setores hegemônicos de expansão territorial. Tal desde realidade revela uma articulação entre o Estado capitalista que vantajosa. deve garantir a desapropriação de terras e infra-estruturas e os interesses dos agentes hegemônicos. baixar A os custos retenção de ou terras mesmo explorar gera em em ocasião contrapartida a mais alta de preços, o que possibilita uma ampliação da renda do solo. Aos Cabe lembrar que os proprietários fundiários possuem um bem restrito que é a terra, contexto condição de existência e que não proprietários fundiários interessa potencial de que o uso do solo seja de um valorização cada vez maior. Na medida em que o pode ser reproduzida. A posse privada de determinada parcela do solo urbano valoriza mais do que o solo rural interessa aos espaço permite ao seu proprietário extrair uma renda absoluta ou proprietários de monopólio (HARVEY, 1980). transformação do solo em mercadoria se verifica pela razão de O proprietário pode extrair lucro na exploração da propriedade através de uso próprio ou de locação. A propriedade do solo, segundo MARX no volume 6 de "O Capital" (1991), baseiase no monopólio de determinada classe social. fundiários a expansão da malha urbana. A que os proprietários fundiários estão mais interessados no valor de troca do que no valor de uso. Neste contexto a capacidade de influência política dos agentes hegemônicos possibilita pressionar o Estado na criação A partir dessa premissa consideramos como base estrutural de infra-estruturas em áreas de valor de uso baixo, como o caso o valor econômico como determinante do processo de valorização das áreas rurais, para realocar grandes indústrias e grandes do espaço. condições O poder econômicas de uso do solo específicas, a depende revelia diretamente de atacadistas. da de loteadas para uso residencial ou comercial. vontade decisão Em toda forma de renda a sua apropriação é a forma econômica da realidade de posse de determinada parcela do solo. As áreas ocupadas por estes O solo urbano é regulado enquanto alto e melhor uso futuro (HARVEY, 1980). anteriormente são valor pelo seu mais 111 112 GAFFNEY (apud HARVEY, 1980) considera que muitas decisões verificou-se um acentuado grau de concentração das atividades sobre a alocação de terrenos são tomadas a partir da econômicas na região. possibilidade de aumentos eminentes no valor do solo, o que acarreta uma progressão a nível de território em áreas concêntricas. A participação da região metropolitana de Curitiba de 16,66% para 32,06% no total do Paraná entre 1975 e 1986 (fig. 14). A partir do mecanismo de reestruturação do espaço urbano Neste meios de produção na expansão urbana e em especial à No intuito de compreender melhor as nuances do processo região atuais das metropolitana atividades de Curitiba econômicas da reconhecemos região. Para os 1985. Os dados partem da evolução da economia o setor secundário em sua padrões tanto, nos utilizamos de indicadores de valor adicionado no período de 1975 à destaca-se Figura: 14 - Evolução da participação relativa no valor adicionado por setor da economia da Região Metropolitana de Curitiba sobre o total do Estado do Paraná 1975/1986 (em %) dinâmica da metropolização. na quadro preponderância em relação a atividade comercial. apresentado reconhecemos o papel preponderante dos proprietários dos passa 70 60 paranaense 50 publicadas pela Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná (1988). 40 PRIMÁRIO INDÚSTRIA Considera-se valor adicionado no setor secundário e na COMÉRCIO 30 atividade comercial a diferença entre os valores das operações financeiras de saída de mercadorias em relação aos de entrada. TOTAL 20 Inclui-se o consumo intermediário de serviços como transporte, 10 energia e despesas diversas. No setor primário não se deduziu os Considerando a participação da região 85 84 83 82 86 19 19 19 19 19 80 79 78 81 19 19 19 19 76 75 77 19 19 ou seja, apenas se levou em conta a parcela comercializada. 0 19 insumos e a parcela da produção destinada para o auto consumo, metropolitana de Curitiba na composição do valor adicionado do estado do Paraná, Fonte: Secretaria Estadual de Finanças (1975-1978) e Secretaria Estadual da Fazenda (1979-1986) 113 Dentre os setores da economia o que mais 114 apresentou Figura: 16 - Participação dos subsetores na composição do valor adicionado do Estado do Paraná 1980 desenvolvimento foi a indústria de transformação (figs. 15, 16 e 17 pp 113 implantação extrativa, e 114). do por CIC A e supremacia do exemplo, CIAR do setor justifica-se principalmente. representa uma A parcela pela indústria mínima na 16% 18% participação do valor adicionado. 2% 0% Segundo o PLAMEC convém levar em conta que as medidas Indústria Extrativa 1% recessivas a nível conjuntural, que se fazem sentir no fim da Indústria de Transformação 63% década de 70 junto ao impacto do preço do petróleo e alta de Outras atividades Industriais Comércio Varejista juros a nível capacidade de internacional, investimento implicaram do grande em uma capital. restrição Esta à Comércio Atacadista Outras Atividades realidade alterará substancialmente o comportamento do valor adicionado da Figura: 17 - Participação dos subsetores na composição do valor adicionado do Estado do Paraná em 1985 região. Figura: 15 - Participação dos subsetores na composição do valor adicionado do Estado do Paraná em 1975 20% Indústria Extrativa 19% 5%0% 24% 18% Indústria de Transformação 1% Outras Atividades Industriais 51% Indústria Extrativa Indústria de Tranformação 61% Comércio Varegista 1% 0% Outras Atividades Industriais Comércio Varejista Comércio Atacadista Comécio Atacadista Outras Atividades Fonte (figs 15 e 17): Secretaria de Estado da Fazenda (1979Fonte:Secretaria Estadual de Finanças (1975-1978) e Secretaria Estadual da Fazenda (1979-1986) 1986) 115 Já o setor comercial, embora sofra consideravelmente com a conjuntura econômica, se comportará com uma sensível evolução 116 Figura: 18 - Participação por setor no total do valor adicionado de municípios selecionados da Região Metropolitana de Curitiba e do Estado do Paraná em 1986 do comércio no atacado e varejo, principalmente nos produtos manufaturados de maior consumo na região. A nível específico do município de Araucária locus de nossa pesquisa se reconhece que a participação da indústria local no valor adicionado do total da Região Metropolitana de 100% 90% 80% Curitiba é significativa só perdendo para o município central de Curitiba (figs. 18 e 19 pp 115 116). São José dos Pinhais Rio Branco do Sul Piraquara Curitiba Colombo Campo Largo Bocaiúva do Sul Araucária 70% 60% 50% 40% 30% Almirante Tamandaré 20% 10% 0% Agricultura Indústria Comércio Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda (1979-1986) 117 118 Figura: 20 - Evolução do Valor Adicionado do município de Curitiba entre 1974 e 1986 (Em %) Figura: 19 - Participação no total do valor adicionado de municípios selecionados da Região Metropolitana de Curitiba e do Estado do Paraná em 1986 90 80 70 100% 60 90% 50 80% Industrial 10 Agrícola Colombo Campo Largo Bocaiúva do Sul Araucária Almirante Tamandaré 0% Participação no total do valor do Estado 86 85 19 84 19 83 19 82 19 81 19 80 19 79 19 78 19 19 77 Comercial 76 10% Participação na RMC 0 74 20% 19 30% Participação no valor total da RMC 20 30 19 40% Piraquara Curitiba 75 50% 40 19 60% 19 70% São José dos Pinhais Rio Branco do Sul Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda (1979-1986) A indústria é o setor preponderante na economia local, esta realidade industriais em está ligada detrimento de à expansão das áreas rurais evolução do onde áreas se urbanoinclui a colônia de Tomás Coelho. Nota-se no quadro da valor adicionado do município de Araucária que é a partir de 1977 que a produção agrícola regride em seu valor adicionado sensivelmente e a indústria assegura o patamar de crescimento significativo (figs. 20 e 21 p.117). Fonte (Figs 20 e 21): Secretaria de Estado da Fazenda (19791986) 119 120 da Criméia interrompia o fluxo de cereais procedentes da Rússia e que agora abastecia o exército russo. 3.3 ESTRUTURA DO ESPAÇO DA COLÔNIA O segundo impulso migratório está ligado ao renascimento POLONESA DE TOMÁS COELHO de epidemias de tifo e cólera que assolaram a região que já sofria com o problema de fome endêmica. O processo de migração e colonização eslava no Paraná Esta situação provocará a migração para a América e, está diretamente ligado à uma conjuntura emigratória da primeira conseqüentemente, o primeiro contingente de poloneses silesianos metade do século XIX, principalmente no que tange a emigração para o sul do Brasil. alemã. Esta relação aponta para algumas questões importantes na A presente explicação visa separar a migração polonesa da explicação do processo migratório e colonizador do Brasil na migração ucraniana e russa, pois a primeira foi dominante em segunda metade do século XIX. termos de representatividade Católica Romana o que diferencia em A emigração alemã se relaciona com a emigração polonesa por razões realidade de teve ordem social e repercussões econômica comum importantes no a ambas. Tal processo de colonização do Brasil meridional. prática religiosa eminência e Católica diferenciação entre cultural Ortodoxa os o contingente Oriental, impulsos além emigratórios, ucraniano da em de própria face da conjuntura prussiana do século XIX, abordada anteriormente. Este O primeiro impulso emigratório, com base na análise de WACHOWICZ (1981), trata-se de um contingente significativo de argumento é válido em que pese o fato dos povos mencionados serem de origem eslava. poloneses que habitavam territórios ocupados pela Prússia entre Além dos poloneses silesianos e prussianos muitos vieram 1840 e 1860. A região da Silésia assim como a Polônia Prussiana da Galícia, no entanto, o que os identifica e une é a prática revelava religiosa e o sentimento nacionalista que perdurará nas colônias na época uma decadência econômica associada a um processo de discriminação social que os poloneses sofriam em estabelecidas no Brasil. relação aos prussianos. Havia, por parte do governo prussiano, Trata-se de uma migração permanente onde os laços com o uma política de descaracterização do nacionalismo polonês e a país de origem se perpetuam no plano cultural-ideológico e onde ocupação do outrora solo polonês por populações germânicas. Além novas relações com um ambiente totalmente novo trazem problemas destes sérios fatos, as intempéries climáticas prejudicavam sistematicamente as colheitas nesta parte da Europa e a guerra nesta de assimilação e adaptação. nova realidade se apresenta, A adequação talvez, do menos imigrante traumática 121 122 quando se dá através do estabelecimento de comunidades com seus comuns. Trata-se de um grupo de pessoas com determinada articulação cultural e social que se insere numa determinada No quadro da dinâmica de formação de colônias no espacialidade. Sob o ponto de vista social, possui laços povoamento do Paraná, faz-se necessário levar em consideração próprios de cunho histórico e cultural que estruturam o espaço alguns aspectos de ordem teórica no que diz respeito à análise concreto das colônias. Estas relações revelam a apropriação do temporo-espacial que nos propomos realizar. A leitura de caráter espaço estabelecendo os limites de sua territorialidade que se histórico que desenvolvemos não é mera historiografia mas sim, confundem com a própria identidade cultural. uma Geografia das realidades passadas e presentes através da Ao se defrontarem com uma realidade diferenciada, os análise dos lugares e de suas múltiplas relações. Como comenta colonos apreendem o sentimento de ser diferente em relação à SILVA (1986) pode-se estudar o passado, o presente e o futuro sociedade dominante. Assim se inscreve a ruptura, a nível da lendo a Geografia com o espaço do tempo presente no espaço. supra-estrutura cultural, que permite a identificação do caráter A política Primeiro de Planalto proporcionou uma estabelecimentos do Paraná, estrutura em de colonos meados fundiária de do europeus século pequenas e no da colonização polonesa. XIX, médias Os colonos resguardam poloneses seus articulam religiosos de a marginalização do polonês Todavia, a produção do espaço do imigrante polonês em Curitiba, dominante se consolidou revela também a figura do colono "polaco" com suas relações repercussão na desintegração da colônia polonesa de Tomás Coelho atávicas com a terra e seu comportamento conservador diante da na década de 80. década de 70, já abrangia outras localidades. modernidade ditada pela metrópole. Consideramos espaço o organizacional grupo Tomás imigrante característico que polonês e com distintivo, culturalmente diferenciado dos demais grupos. um ou padrão seja, Coelho é a se explica agricultor no diante início revelação do concreta, um do é esta a única escala de mercado. A produção da batata-inglesa, contexto, contra diante antipolonês revelado em vários momentos da história do processo Neste proteção nacionais onde décadas se consolida no mercado de Curitiba e região. Porém, não colonização. e e comunidades processo da assimilação em propriedades com a produção de gêneros alimentícios. Nas últimas partir de valores se o sentimento processo da século de sociedade e teve particular e irredutível do grupo de origem polonesa na Região Metropolitana de Curitiba. Diante desse problema se faz necessário na compreensão do processo a análise da sobreposição do aspecto cultural ao aspecto espaço-organizacional. 123 124 de O colono polonês radicado em Curitiba e região preserva migração vai além da passagem de uma determinada população de autonomia própria pela sua situação eminentemente camponesa com uma relações De fato, localidade como assegura para outra MARTINS mas sob (1975), outro o aspecto processo implica na culturais extremamente catolicismo vinculado conservador transição que nacionalista. A religião e a ordem sócio cultural são recriadas indivíduos e grupos vivenciem para poder operacionalizar suas nas colônias sob uma nova dimensão política. Objetivava garantir próprias o pleno sentimento de segurança e identidade cultural do colono identidades. determinada Este articulação fato do de caráter cultural reverte espaço também social em coisificado uma na Sob GOTTDIERNER (1993) as relações comunitárias ligadas por parentesco e valores culturais, com certas reservas, espaço a nível de uma categoria de ação sócio-espacial originada dessas relações. esta perspectiva, partimos para uma leitura das estruturas espaciais elaboradas historicamente a fim de melhor compreendermos um processo de colonização já secular. podem ser recuperadas para análise em termos de valores de uso do sentimento dentro desta nova realidade permeada de contradições. organização do espaço. Segundo ao e engendrado elementos um caráter transição de uma sociedade para outra. Sob este ponto de vista a social considera por de A fim necessidade de de justificar um resgate esta análise diacrônico da cabe ressaltar realidade quando a se trata de compreendermos um processo. Concluí-se que nos deparamos diante de um fenômeno de O processo migratório no Brasil se realiza em um contexto ordem sócio-espacial em que os padrões da sociedade de origem e temporal característico, um período de grandes transformações a sociedade de adoção são tão gerais que fazem brotar, de um econômicas e sociais do Brasil. lado, as possíveis diferenças ou semelhanças entre as sociedades e de outro as disparidades internas em cada um dos padrões espaço-organizacionais. de discriminação ordem sofrida remontam Revolução Sob este prisma, a heterogeneidade do Brasil impele à conflitos As social pelo e cultural polonês como distintamente a de própria origens uma da nova Francesa também as Europa com ruptura condição e diversas destaque sua da que base revoluções as estrutura parece vinculada ideológica liberais transformações feudal em na na a Europa própria libertadora. várias Prússia Assim partes como, da por outros exemplo, a luta entre operários e militares em Berlim em 1848, a imigrantes, como os alemães, espanhóis e italianos, mais aptos implantação da economia do Zollverein que favoreceu a formação ao modo de produção capitalista gestado na metrópole a partir de um mercado comum alemão e em 1862 a unificação alemã. A das transformações sofridas neste século. influência destas transformações repercutiam na áreas polonesas ocupadas pela Prússia e no sentido amplo contribuíram 125 126 como caso trata-se de delimitar secções temporais que, de certo modo, motivadores das migrações transcontinentais. dirigem uma determinada variável de significância. Em cada um Para PETRONE (1982) a realidade européia do século XIX propiciou , em conseqüência de diversos fatores, uma quebra de vínculos de possibilitou grupos a e indivíduos aventura de com migrar seu além solo mar, pátrio o buscando dos períodos existem um conjunto articulado de ações que revelam a evolução dos espaços em questão. que Sob novos relacionar horizontes e oportunidades melhores de vida. As migrações transoceânicas assim como o êxodo rural são este os as distribuição espacial dispersão disponíveis e melhores condições de vida. organização da a possibilitam contingentes de imigrantes marcados pela pobreza, falta de trabalho e do acesso à propriedade fundiária. Todavia, as migrações transoceânicas, não são que processava. O fluxo migratório desempenha um papel de adaptação a uma nova realidade social e econômica dos países de de ocupação grupos padrões produção e história, de do culturais de as solo capaz de formas de brasileiro, a característicos, a cultura, as formas de articulação do espaço. A se pode falar apontar de sistemas caminhos espaço-temporais analíticos que propriamente em Curitiba e região compreende dois períodos fundamentais: i) O período da lógica Agrícola Mercantil, que se desenvolve desde a implantação das colônias em meados do século XIX até as transformações verificadas no início da década de 70. origem e de adoção das populações migrantes. Pela questão anteriormente levantada própria é A evolução espaço-organizacional da colonização polonesa estão ligadas ao desenvolvimento do capitalismo industrial que se de periodização geográficos. apenas resultado do mecanismo de repulsão e atração de população, mas de a Com base em SANTOS (1985) analogamente à estes argumentos é grandes da políticas espacial sul associado às condições de transporte da época possibilitaram de vista, periodização revela também as diferenças entre os lugares. Europa e as fronteiras abertas da América tanto no norte como no vinda de elementos colonização, motivados por razões próximas, ou seja, a procura de terras Havia grandes desequilíbrios demográficos e econômicos na ponto ii) O período da lógica Industrial, que se estabelece se faz necessário fundamentar a periodização do processo migratório e colonizador e, dentro deste quadro, destacar a migração polonesa. após a década de 70 com a intensificação do processo de urbanização e industrialização na região. Os dois períodos considerados se justificam porque A nível geral podemos conceber que cada sistema temporal buscamos um recorte temporal de uma realidade camponesa em face coincide com determinado período histórico (SANTOS, 1985). Nesse a metrópole. A colônia de Tomás Coelho em Araucária representa em seu desenvolvimento mudanças que só se 127 128 tornaram A mudança legal que permitiu a comercialização de terras significativas em relação à metrópole na década de 70, ou seja, consideradas da apropriação do espaço por parte do colono polonês do século migratório. XIX até a década de 70 não houve transformações profundas das imigrantes, em 1880 mais de 527.000 e em 1890 atingiu-se a casa relações com a metrópole no que concerne a uma reestruturação do de 1.200.000 pessoas. espaço. devolutas A partir possibilitou de 1850 um aquecimento adentraram no do país fluxo 117.000 Na segunda metade do século XIX a vinda de imigrantes A perpetuação da colônia polonesa se deve a um processo comunitário cujo lastro é a tradição, onde grandes mudanças brancos foi estimulada em detrimento de outras raças; havia a preocupação de desenvolver um processo de "branqueamento" do podem significar a destruição da identidade cultural e o próprio Brasil. As diferenças e preconceitos manipulados politicamente auto reconhecimento enquanto comunidade. estão estreitamente relacionados à expansão do capitalismo na No caso de Curitiba e região o ponto referencial foi a época. construção da Refinaria REPAR no município de Araucária. O poder O primeiro assentamento de imigrantes poloneses no Paraná indutor da implantação da refinaria abriu as portas ao capital se realiza sob este quadro conjuntural. Porém este assentamento industrial na região que culmina na construção da CIC e o CIAR. apresenta Este período avança na década de 80 com a construção da barragem autonomia das colônias onde foi assegurado a posse da terra de captação de água do rio Passaúna que marca a desarticulação assim como a liberdade na produção. do último foco colonial tradicional polonês na Grande Curitiba. A concretude do processo imigratório brasileiro No certas diferenças, Primeiro principalmente, planalto paranaense onde no que tange localiza-se a o se planalto de Curitiba, em 1871, se instalam na região de Curitiba realiza, principalmente a partir de 1840, ligado à expansão das conhecida como Pilarzinho 78 imigrantes poloneses. Estes eram fazendas de café em São Paulo e Rio de Janeiro. A mão-de-obra reimigrantes advindos de Santa Catarina (KERSTEN, 1983). imigrante foi utilizada em larga escala na economia cafeeira. Contudo o Paraná demonstrava uma economia até então Não se significativo verifica na neste economia do primeiro Paraná que momento se um mantém impacto até as diferenciada dependendo muito mais da extração e beneficiamento primeiras décadas deste século apoiada na erva-mate e madeira, da madeira e da erva-mate. Este fato junto ao esgotamento do produtos estes ligados ao mercado do Rio de Janeiro e da região trabalho escravo expressa a realidade econômica do século XIX. do Prata. A economia local era controlada por algumas famílias 129 130 tradicionais do Paraná que enriqueceram muito com a exportação técnicas agrícolas mais modernas em relação aos nativos além de da erva-mate (OLIVEIRA, 1982). dominarem uma estrutura de produção agrícola superior. As colônias que prosperaram se encontravam próximas às vias de comunicação, então sendo construídas no Estado. Os O relação colono ao polonês agricultor neste primeiro nativo por momento este se aspecto, impõe em formando, acessos à Curitiba, que já era centro de decisões políticas do inclusive, uma classe de pequenos proprietários de terras que se Paraná, perpetuou através de seus descendentes. faziam parte das políticas de ação do governo provincial. A dinâmica social das colônias se realizava de modo a não A distribuição dos lotes coloniais de modo disperso e formar um proletariado rural como em outras partes do Brasil. A linear exigia uma rede de comunicações mais razoável. O problema mão-de-obra familiar garantia a estrutura produtiva e a mesma de foi preservada até recentemente. transporte das safras agrícolas implicou, inclusive, a desistência de muitos imigrantes. São os núcleos coloniais A os responsáveis pela diversificação da produção de gêneros alimentícios e com certeza As de subsistência e o regime de pequena propriedade são as características mais marcantes da colonização polonesa no Paraná. constituíam a maior parte da mão-de-obra dedicada à atividade agrícola. agricultura Estima-se que em 1884 existiam 6500 poloneses no Paraná concentrando-se em Curitiba e região, sendo que 150 famílias colônias se estabeleceram em terras consideradas pobres no Estado. A passagem destas áreas para novas regiões junto a expansão demográfica repercutiu em diversos conflitos com a população nativa. estabeleceram-se em propriedades particulares (Tabela. 02 p. 129). Tomás Coelho destaca-se como a maior Colônia da região de Curitiba, contudo o tamanho dos lotes era reduzido devido ao A maioria dos lotes coloniais não passavam de 20 a 30 número de famílias. A região, na época conhecida como Freguesia hectares no Estado e em Curitiba e região não ultrapassava 08 do Iguaçu e mais tarde emancipada com o nome de município de hectares. Este fato impulsionou novas alternativas na produção Araucária, ainda contava com outras três colônias menores: 1) a de caráter mais intensivo e diversificado. Colônia Esperava-se que a estrutura agrária do Paraná de Santa Cristina com uma área de 434 hectares fosse distribuídos em 59 lotes com uma população de 294 colonos; 2) a alterada pela colonização européia, pois os europeus possuíam Colônia Costeira (antiga Barão de Taunay) que tratava-se de uma colônia mista de poloneses e italianos sendo que logo 131 prevaleceram apenas os poloneses com uma população de 132 255 colonos, 51 lotes totalizando 3940 hectares e 3) a Colônia Alice com 48 colonos, 9 lotes em uma área de 63,9 hectares. Os imigrantes desagregação significativa do poloneses trabalho chegam escravo, transformação na o ao que sociedade Paraná com corresponde tanto a a a uma nível do processo produtivo, como também um impacto cultural relevante. TABELA: 02 O maior contingente de poloneses vieram após a abolição POPULAÇÃO POLONESA NO PARANÁ POR COLÔNIA EM 1884 Colônia Habitantes Nº de lotes Área por lote (hectares) Lamenha 800 139 06 Santa Cândida 350 64 09 Santo Inácio 400 70 05 Órleans 350 65 12 Riviera 500 97 15 D. Pedro 120 25 14 Dona Augusta 200 36 05 Tomás Coelho 1400 270 04 Muricy 380 12 06 Insp. Carvalho 190 34 08 Abranches 360 94 05 Zacarias 140 30 13 Pilarzinho 150 30 05 da habitantes que 1887 Iguaçu, 1071 moravam em Tomás Coelho. viviam no vale do rio Iguaçu, próximos de Curitiba. A dedicavam maioria a dos outras imigrantes atividades eram agricultores, econômicas. Segundo poucos se WACHOWICZ (1981) a política imigratória no Brasil priorizou o aumento da produção de subsistência, por está razão a opção por camponeses em vez de trabalhadores urbanos. O núcleo colonial de Tomás Coelho foi implantado no ano de 1876, como parte da política de assentamento de imigrantes, no caso poloneses numa área próxima a Curitiba, Paraná (Tabela 03 p. 132). A Colônia foi implantada nos vales dos rios Barigüi e Passaúna, com 180 lotes rurais que foram ampliados para 270 lotes Brasileiro-Polonesa, 1:125, 1970. 3871 localizando-se diferentemente dos primeiros grupos que se localizaram bem mais Fonte: Gazeta Polska, 03, 22/06/1893. Anais da Comunidade Dos escravatura, na Freguesia do rurais. A área total da antiga colônia era de 1665,4 hectares, sendo cada lote de 06 a 07 hectares (Fig. 02 p. 21). 133 134 iii) Nossa Senhora das Dores e TABELA Nº 03 iv) Barigüi Correio (WACHOWICZ, 1976). (fig. 22 p. 134). NÚCLEOS COLONIAIS POLONESES NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA A população, poloneses Núcleo Colonial Data da Fundação Município Santa Cândida 1875 Curitiba Orleans 1875 Curitiba Santo Inácio 1876 Curitiba D. Augusto 1876 Curitiba Lamenha 1876 Curitiba Tomás Coelho 1876 S. José dos Pinhais9 advindos em de 1877, chegava diversas a regiões 1071 habitantes conforme Tabela com 04, abaixo. TABELA Nº 04 COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE TOMÁS COELHO EM 1877 SEGUNDO ORIGEM ÉTNICO-CULTURAL. Fonte: Wachowicz (1976) Dentre polonesa, as características destacamos o fato de locacionais que o da loteamento Nacionalidade Número de Habitantes Poloneses Galicianos 883 Poloneses Silesianos 178 Poloneses Prussianos 10 Total 1071 colônia teve uma Fonte: Wachowicz (1976) distribuição espacial que veio a dificultar o estabelecimento de um único um Sob o ponto de vista da produção agrícola destacavam-se obstáculo no intercâmbio social da comunidade. A distribuição as culturas agrícolas do centeio a princípio, além do milho, dos lotes manteve uma disposição linear. Em conseqüência, neste feijão e da batata inglesa. primeiro centro. período Posteriormente verificamos a esta realidade existência de seria quatro centros principais: Não podemos afirmar, no entanto, que a produção dos núcleos coloniais poloneses acarretou uma acumulação de capital i) Capela Velha; que poderia posteriormente financiar um processo de modernização ii) São Miguel; agrícola 9 A Antiga Freguesia do Iguaçu foi em 11/02/1889, por decreto estadual de nº 40, emancipada como município denominado Araucária, sendo Tomás Coelho incorporado ao mesmo. Fonte: WACHOWICZ, R. C. (1976) p. 10. ou mesmo industrial, colonização alemã e italiana. característica peculiar da 135 136 FIGURA: 22 Notamos que a evolução da produção do espaço, na colônia ARAUCÁRIA - NÚCLEOS DISTRITAIS polonesa, o centeio perde a importância para outros produtos. Já a partir da década de 20 não estará entre os principais cultivos da região. mercado e O centeio será quase apresentará que dificuldade abandonado pelos de entrada colonos no conforme Tabela 05 que segue. TABELA Nº 05 PRODUÇÃO DOS 792 ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA EM 1920 Produto Milho Feijão Batata Trigo Arroz Nº de estab. 783 688 582 76 01 Prod./tonel. 6727 785,2 2120 71,3 02,9 Fonte: Censo Agropecuário de 1920 IBGE Na década de 40, segundo CRAVO (1982), o incremento da produção através da Cooperativa Agrícola de Cotia levou a batata inglesa à maior produção do município de Araucária. A partir desta mudança, constatamos que os condicionantes do mercado que proporcionaram apontam para o a deslocamento preocupação das que oferecidas pelo sistema econômico. prioridades havia quanto às de produção alternativas 137 138 Todavia, as características da conformação espacial e as relações de produção não demonstravam transformações Figura: 23 - Porcentagem de estabelecimentos rurais do município de Araucária sobre o total geral entre 1940 a 1975 por categoria em hectares que pudessem por em risco a existência do núcleo colonial. As modificações criadas pela alteração e adaptação ao 70 mercado não comprometiam de modo algum a manutenção do modo de 60 vida tradicional e os arcaísmos da produção agrícola encontradas 50 entre os imigrantes poloneses. 40 Tomando por base os censos agropecuários de 1940 até % 30 1975, observamos a reprodução do sistema fundiário de pequenas e 20 a 50 ha 10 relações capitalistas de produção presentes 50 a 100 ha 100 a 1000 ha comercial ora decadente (figs. 23, 24 e 25 pp. 137 e 138). As até 20 ha 20 médias propriedades e das relações próprias de um capitalismo 0 1940 na 1950 1960 1970 1975 dinâmica do núcleo colonial demonstram apenas modificações de cunho superficial, ou seja, alterna-se produtos Figura: 24 - Porcentagem da área dos estabelecimentos rurais do município de Araucária sobre o total geral entre 1940 a 1975 por categoria em hectares agrícolas cultivados por motivo de várias adaptações ao mercado, mas não se modifica a essência da relação de produção que mantém a 50 reprodução da práxis social dos agentes de produção e do produto 45 final. 40 35 Os estabelecimentos agrícolas mantiveram o padrão de área 30 sem grandes mudanças, excetuando-se a fragmentação dos lotes em conseqüência de heranças. % 25 20 15 Mesmo que a partir de 1975 se note um decréscimo sensível da área destinada à produção agrícola, verifica-se que o colono até 20 ha 20 a 50 ha 50 a 100 ha 100 a 1000 ha 10 5 0 polonês continua mantendo as relações socioeconômicas e práxis 1940 1950 1960 social tradicionais. Fonte (Figs 24 e 25): IBGE 1970 1975 139 140 Esta diferenciação é observável pelas formas e técnicas agrícolas aplicadas próprias à produção familiar em relação ao Figura: 25 - Comparação entre o número de estabelecimentos rurais e a área ocupada no município de Araucária entre 1940 e 1975 posterior impacto da produção industrial no município de Araucária. No início da produção agrícola polonesa na região havia 45000 2500 um padrão técnico superior à configuração arcaica da produção 40000 2000 nativa. A partir do desenvolvimento do Capitalismo Industrial no 35000 30000 1500 25000 Nº Paraná a produção colonial polonesa passa a ser o impedimento à ha tendência 20000 1000 15000 10000 500 5000 0 0 Número de Estabelecimentos Rurais de homogeneização do Capitalismo Industrial Monopolista que se expande territorialmente. A contrapartida, em termos de transformações no processo Total de Área ocupada em hectares produtivo, realizada pelos poloneses se baseava inicialmente na 1940 1950 1960 1970 1975 introdução por parte dos colonos de métodos e técnicas agrícolas avançadas em comparação à realidade brasileira da época, meios Fonte: IBGE de circulação diferenciados, técnicas de construção de casas, O camponês polonês dominava uma técnica agrícola superior além da forma de aproveitamento do solo. O objetivo da política de colonização européia da época em relação ao luso-brasileiro. Contudo, este padrão trazido da Polônia em comparação ao da Europa Ocidental já era considerado era arcaico ( WACHOWICZ, 1981). compensando O domínio de técnicas diferenciadas unidas às características culturais produziam uma ruptura na configuração a transformação o atraso da e estrutura a pouca agrícola produtividade paranaense, do trabalho agrícola nativo (WACHOWICZ, 1981). Na realidade, com a própria estabelecimento estrutura das fundiária pequenas e foi espacial anterior. A produção do espaço nestes moldes representa transformada médias uma descontinuidade em relação à produção nativa. propriedades que se contrapunham aos latifúndios dos fazendeiros Parece-nos que a diferenciação da produção do espaço de de gado da região. Outra característica interessante está no Tomás Coelho manterá esta peculiaridade até meados da década de fato dos poloneses cercarem suas terras, prática desconhecida 70. entre os fazendeiros nativos e que propiciaram 141 142 diversos dispunha ocupados por proprietários de terras particulares que conflitos locais. se As terras que foram cedidas para os colonos se juntaram a um processo de compra de propriedades que se evidenciou nas dedicavam ou à agricultura ou pecuária. Dos 19.989.700 hectares, 5.302.709 estavam ocupados por 30.951 propriedades, Tabela 06.que segue. novas gerações. A opção dos descendentes dos primeiros colonos Através do Governo (colonização oficial), os poloneses foi de se interiorizar em direção a oeste e não em direção à receberam 6.434 lotes com extensão média de 20 ha representando capital. assim O urbano não foi opção para os colonos; muitas terras foram adquiridas dos nativos e assim povoaram praticamente todo 128.680 ha. Some-se deste processo podemos citar as localidades de Redondo, Miguel, etc.. Ipiranga, Além Campina destas, das Pedras, do município fora Rio de Verde, aos lotes adquiridos área média de 60 ha, correspondendo à área total de 460.020 ha. TABELA: 06 Roça PROPRIEDADES AGRÍCOLAS NO PARANÁ POR CATEGORIA EM HECTARES NO ANO DE 1920. Velha, Roça Nova, Costeira, Palmital, Rio Abaixo, Boa Vista, Campo lotes posteriormente, até 1920, o que perfaz 7.667 propriedades com o município de Araucária na Região Metropolitana de Curitiba. A exemplo estes São Araucária, Propriedade em Nº de % de Superfície em % ocuparam parte do município de Campo Largo, estendendo-se à Lapa ha Propriedades Propriedades ha Superfície em Serrinha e Catanduva que hoje formam o município de Contenda menos de 40 17.284 56 350.000 7 (Fig. 01 p. 02). 40 a 100 7.276 24 500.000 8 100 a 1000 5.677 18 1.600.000 30 Largo atingiram terras do município de Palmeira na localidade de 1000 a 25000 714 2 2.850.000 55 Papagaios Total 30.951 100 5.300.000 100 Os colonos de Tomás Coelho, além de penetrarem em Campo famílias Novos foram e São para Pedro, Irati. principalmente. Assim, Tomás Também Coelho, em algumas 45 anos Fonte: GLUCHOWSKI (1927) apud WACHOWICZ (1981). chegou a ocupar dez vezes mais terras do que a Colônia original. Praticamente os colonos poloneses povoaram todo o vale O diagnóstico de GLUCHOWSKI (apud WACHOWICZ, 1981) é de o Paraná apresentava, em 1920 , 27% os poloneses e seus descendentes tínhamos um total de 14.101 propriedades ou seja 588.700 ha. Considerando as médio do rio Iguaçu junto com os ucranianos. que Contando das terras de que 143 144 duas primeiras categorias da Tabela 06 podemos inferir que os colonos poloneses e seus descendentes possuíam 57,5 % das propriedades até 100 ha disponíveis no Paraná. das terras estavam nas mão dos poloneses e seus descendentes. Já as comércio a influência polonesa praticamente não existe; no modo de ver do colono as atividades comerciais eram Considerando a terceira categoria , ou seja até 1000 ha 12,3% No inferiores e provavelmente a origem desta visão está ligada a vários estereótipos medievais que estavam presentes na cultura e, conseqüentemente, na formação do colono. (WACHOWICZ, 1981). terras acima de 1000 ha correspondem aos No entanto, pouco a pouco nas Colônias o comércio latifúndios, onde encontramos casos isolados de descendentes de varejista começa a ficar nas mãos dos poloneses, sendo este colonos como proprietários. pouco especializado e restrito às colônias. O que podemos constatar a partir dos dados deste período é que a estrutura fundiária, baseada na pequena e A partir da década de 40 a produção agrícola por parte média dos poloneses de Curitiba e região direciona-se principalmente propriedade, está diretamente ligada a colonização polonesa no na produção da batata-inglesa. Os colonos passam destacadamente Paraná. a produzir batata-inglesa objetivando o mercado. A inserção do Entre os anos 20 e 30 podemos caracterizar a produção polonesa sob dois aspectos: camponês no mercado estabelece um redimensionamento no processo produtivo e nas próprias relações sociais das Colônias. (i) A atividade agrícola continua sendo prioritária e é Segundo MARTINS (1939) a economia do Paraná era quase responsável pela subsistência do colono assim como sua renda, exclusivamente baseada na produção agrícola e esta realidade só sendo a criação de animais muito reduzida. vai mudar nos anos 70 com o processo de industrialização. (ii) Nas profissões consideradas artesanais, o trabalho dos poloneses merece certo destaque pois era apreciado por fazendeiros e colonos de outras nacionalidades. No município de Araucária, de colonização eminentemente polonesa, destaca-se o fato de que 93,9% das propriedades serem individuais Em relação a profissões de caráter artesanal e urbano os e 89,7% eram explorados pelo proprietário diretamente poloneses que se dedicavam a serviços de sapataria, construção e Tomando por base o censo agropecuário de 1940 verificamos carpintaria de modo geral embora requisitados, logo perderam a que importância ultrapassam 50 hectares, o que reafirma uma estrutura fundiária devido a concorrência com nacionalidades e muitos se proletarizaram. imigrantes de outras 77,7 % dos estabelecimentos rurais baseada na pequena e média propriedades. do município não 145 146 Quando observamos os censos agropecuários entre 1940 e entre 1980 e 1991 de 0,90% no Paraná enquanto o país crescia a 1975 a variação nesta estrutura é pouco significativa. Há um uma taxa de 1,89%. pequeno aumento no número de estabelecimentos até 20 hectares e um decréscimo na área ocupada. A realidade agrícola tradicional da colônia polonesa se perpetuou desde a sua fundação, porém sofreu algumas mudanças no Na década de 80 observamos um radical decréscimo de áreas rurais e o avanço das áreas industriais e urbanas. que tange a inserção do colono polonês na economia de mercado que A instalação da REPAR e a demarcação do Centro Industrial de Araucária marca transformações brutais na Grande Curitiba. se desenvolvia no Brasil nos anos 50. O processo de industrialização tardio que se desenvolveu no Brasil, repercutiu sensivelmente na Grande Curitiba. Já nos anos 70 os limites da Segundo GERMER (1982) houve uma acentuada concentração de capital alcançaram a colônia polonesa. Neste período o município terras no Paraná a partir da década de 80. Essa concentração de Araucária começa a industrializar-se. O capital industrial de está relacionada à expulsão do campo de pequenos proprietários, caráter arrendatários, parceiros e ocupantes. A Região Metropolitana de lógica reinante, culminado com a progressiva desarticulação de Curitiba se afigura como centro industrial do Estado. espaços tradicionais. Sob este aspecto, o processo de urbanização e monopolista O colono referenda polonês e uma seus transformação descendentes profunda da apresentaram-se industrialização desencadeia uma progressão da valorização do conservadores e apegados às formas tradicionais que herdaram de solo, induzindo a venda deste por parte dos colonos. sua origem na Europa Central. Todavia é na região da monocultura da soja que a WACHOWICZ (1981) afirma que nos anos 70, ficou clara a concentração de terras se acentua de forma radical. Associado a superação na concorrência esta nova estrutura fundiária estão as mudanças de ordem técnica imigrantes na agricultura como a mecanização. A conseqüência direta desta características da nova realidade foi o Estado do Paraná apresentar uma das menores agricultura subsistência taxas de crescimento populacional do Brasil. Com uma emigração agrícolas apresentaram de que em os relação produção das e no luso-brasileiros ao colono colônias, comércio e outros polonês. baseadas de As na excedentes demonstrou-se decadente. de 911.544 habitantes ,com uma taxa de crescimento demográfico O surgimento do Brasil moderno industrial e urbano rompe entre 1970 e 1980 de 0,97% no Estado enquanto a população do com a realidade camponesa do polonês de Tomás Coelho. Tornou-se país patente crescia tendência se a uma repete taxa com de uma 2,48%. taxa de Na última crescimento década esta demográfico quão conservadora era a mentalidade dos colonos 147 poloneses que passaram a ser superados pela concorrência 148 de luso-brasileiros, alemães e italianos. A industrialização que se estrutura na região de Curitiba Segundo WACHOWICZ (1981): marca assim uma nova fase na ocupação do espaço, transformando radicalmente a composição urbano/rural da RMC. O camponês foi localizado no Brasil em terras devolutas, ou nas terras vendidas pelos grandes proprietários luso-brasileiros. Seu regime de propriedade é o homestead, como o denominam os norteamericanos. A classe dos pequenos proprietários sobrevive, propiciando na região o surgimento de uma numerosa classe média agrícola, composta fundamentalmente pelos descendentes de poloneses que repelem o latifúndio. Nas regiões de colonização polonesa é o latifúndio que se extingue e o homestead sai vitorioso. Entretanto, esta classe média agrícola, quando posteriormente muitos de seus membros abandonam o campo e dirigem-se `a cidade, proletariza-se de preferência, e tem dificuldades em desvincular-se de seus padrões de comportamento arcaico, não compatível com a vida urbana desenvolvida. O polonês ou seu descendente, já estabelecido na cidade e fazendo parte das classes médias ou superiores, vai envergonhar-se do comportamento de seus patrícios proletários. O fato de dedicarem-se os imigrantes poloneses predominantemente à agricultura de subsistência, atividade esta considerada não essencial e mesmo algo depreciativa desde os tempos coloniais, vai também levar os elementos de origem polonesa emergentes na sociedade brasileira, a manifestarem reticências quanto à origem polonesa, o que equivalia a admitir a procedência das mais baixas camadas sociais. ( p. 13). Neste Metrópole se reproduz na ideologia do progresso, base REPAR no município de Araucária marco da de município Curitiba, de Araucária, sofreu o parte impacto da da nova nesta nova fase recria o camponês polonês sob outra orientação no seu início agrícola e local, logo após altera principalmente drasticamente pela a expansão realidade urbana e a instalação de diversas indústrias. Em poucos anos verificamos "ilhas agrícolas" cercadas pelo crescimento urbano-industrial da metrópole, tanto no município de Curitiba como no de Araucária. Sob expansão esta do base capital de argumentação monopolista na podemos região dizer vai que a explorar o camponês, alterando o espaço agrícola com loteamentos e áreas reservadas a produção industrial. A personagem do camponês na medida que desenvolve sua atividade produtiva, altera-se sob o do discurso estatal da década de 70 que justificará a instalação da Refinaria Regional o realidade que se apresentava no país. A expansão capitalista A marginalização que a agricultura de subsistência irá apresentar contexto, capital, ou seja, há uma transformação em termos qualitativos na produção do espaço do núcleo colonial, influenciado diretamente pelo sistema. A passagem propriedade privada da terra determina esta relação definitiva para o período industrial e de expansão urbana na social: o camponês não é um proprietário rural apenas pelo fato região. de ser dono da terra. Para sê-lo necessita apropriar-se da produção econômica da terra. Como ele não se apropria desta produção, passa a ser proprietário decorativo, subordinado ao real proprietário dos meios de produção, às 149 150 instituições A cumplicidade do estado com o capital monopolista é uma governamentais e as empresas que estas instituições patrocinam. Podemos agricultura ao econômica do O CIAR foi criado sob este contexto, ou seja, através de capital, só distinto da indústria como setores diferentes na diretrizes municipais a fim de oferecer base de infra-estrutura articulação do sistema. Compreendendo esta relação fundamentamos à lógica capitalista industrial. sistema considerar capitalista que a vinculação transforma-a numa da realidade que não podemos desprezar no que se refere também ao vertente município de Araucária. a idéia de que a expropriação do camponês não é, na verdade, uma realidade social representante produção intocada, eminente alterado pela a assediada indústria, gênese do pela mas modernidade sim, um próprio sistema e espaço Lançando mão da infra-estrutura viária já instalada foi seu escolhida a área de Tomás Coelho e Barigüi. O CIAR surge após o de estabelecimento da refinaria REPAR, ponto chave, indutor desta capitalista nova lógica organizacional. brasileiro. De acordo com a Prefeitura Municipal de Araucária10 a No diagnóstico das transformações espaciais decorrentes REPAR impulsionou o que denominou de "progresso municipal" ou, da estruturação de uma nova ordem organizacional verificamos que em outras palavras, ponto atrativo para a injeção de capital a industrial. análise está no âmbito das redes de relações que se cristalizam no espaço. Para ESTRADA (1986): Ora, a tentativa de analisar esses processos pelo âmbito das redes de relações que se estruturam no espaço ou com ele revela que o espaço sofre uma ação deformadora, destruidora e desorganizadora quando considerado sob a ótica das características até então existentes. As formas de ocupação do espaço vão sendo afetadas como resultado das novas modalidades de produção econômica que aí se desenvolvem. Isso produz uma aparente desorganização do espaço. Aparente porque o que está em curso é uma mudança que exige a visão do problema por uma nova ótica, imposta pelo avanço do capital industrial monopolista nessas áreas. Aí também, o Estado é compelido a agir através de seus técnicos e planejadores para produzir as condições necessárias à manutenção da harmonia social e instauração de uma nova ordem. Essa busca de uma outra ordem guia a ação do planejador e o leva a analisar a realidade objetiva como desordem. (p. 71) A REPAR foi o impulso importante no desenvolvimento do modo de produção do sistema hegemônico que traz em seu bojo a modernidade como processo. O espaço resulta da incorporação do processo de ocupação que o transforma segundo as necessidades do sistema hegemônico (ESTRADA, 1986). Consideramos uma redução justificar a instalação da REPAR baseando-se na alegação de que a maior facilidade e o menor 10 Uma série de informações sobre a ação da Prefeitura Municipal de Araucária foi publicada em um caderno especial no Jornal da Indústria e Comércio do Paraná em 15/07/78 no momento do “boom” industrial da região. Este artigo foi intitulado "Araucária: Em cinco anos, da batata à chaminé" uma alusão interessante às radicais transformações do município — de grande produtor agrícola de batata inglesa para a atual realidade industrial. 151 152 custo de transporte do petróleo e seus derivados são fatores industrial determinantes. Relações Públicas da REPAR justifica a opção de mão-de-obra, O discurso político ligado a ideologia do progresso dos sem precedentes no município. O Departamento de energia elétrica e água; extensão e configuração adequadas ao anos 70 tornou o argumento anterior aceito por muitos, ou seja, conjunto as satisfatórios para a recepção do óleo cru e a distribuição de infra-estruturas presentes no município de Araucária industrial sua amplidão, seus recriação esgotamento dos resíduos industriais. o próprio sistema realiza para justificar sua expansão espacial. Os preço à viabilizariam a presença da refinaria. Trata-se, no caso, da que derivados, e conveniente do assim terreno e como meios condições de As vias de comunicação correspondem a extratos do capital estados do Paraná e Santa Catarina eram, antes da REPAR, abastecidos de petróleo por um sistema misto, utilizando- concretizados e relacionados à dinâmica dominante onde o lucro constitui o critério principal. se de parte da produção das refinarias Alberto Pasqualini (RS), Presidente Bernardes e Paulínia (SP), e Duque de Caxias (RJ). Como analisa GALBRAITH (apud MANZAGOL 1985): A REPAR foi construída entre 1973 e 1976 e desde sua implantação está "progresso", industrial em assim pleno como na região. funcionamento. a hegemonia Todavia, este Trouxe definitiva o O primeiro traço do sistema dominante é uma capacidade crescente de adaptar-se; de modelar o meio. Ele é dotado de uma estrutura coerente de um alto grau de organização e de grande aptidão para captar e tratar a informação. Isto implica restrições: funciona melhor onde o meio é sofisticado. Sua capacidade criativa é notável: novos métodos e produtos, inovações de toda ordem.(p. 153). chamado da lógica processo carrega consigo diversas seqüelas ambientais e sociais. As características do parque industrial de Araucária, concreta da lógica A situação referenda o que LIPIETZ (1988) diagnosticou além da refinaria, são a expressão do sobre a evolução do sistema capitalista que, na articulação dos sistema. De certo modo o CIAR é uma extensão da CIC pois ambos modos de produção, tende a substituir um bloco tradicional por localizam-se em áreas contíguas. O CIAR foi criado a partir da um bloco modernista. A refinaria e seu poder indutor representam ação esse bloco dito moderno, pois carregam consigo a Estado organizacional industrial representante da governamental através das secretarias responsáveis do lógica modernidade e dos órgãos de controle e empresas estatais como o sob IPARDES, COMEC, SUREHMA, TELEPAR, COPEL, SANEPAR, BADEP e vários diversas formas. agentes financeiros de capital privado. Segundo reportagem de Utilizando-se as novas vias concretas do capital e GREIN NETO (1988) o CIAR é composto da seguinte forma: incentivos governamentais estruturou-se um adensamento 153 No Ciar l, estão em atividade 55 empresas, em fase de terraplenagem ou em construção outras 18, em elaboração de projeto 04 e paralisadas 06, proporcionando um total de 83 indústrias, 5.839 empregos. No CIAR 2, estão em atividade 2 empresas, gerando 212 empregos. No CIAR 3, são sete indústrias em atividade uma em fase de terraplenagem, duas em elaboração de projeto - e o número de empregados é de 465. Na área urbana, existem em atividade 38 empresas e duas estão paralisadas gerando 566 empregos. Na área rural existem 9 empresas, uma em fase de construção e uma paralisada, sendo o total de empregos 127. Em números gerais são 11 empresas em atividade, 20 em fase de terraplenagem ou em construção, 6 em elaboração de projeto e 9 paralisadas. O total de 146 empresas gera 7.209 empregos. (Estado do Paraná 11/12/88) 154 CIAR 3. A terceira porção, ou o CIAR 3, abrange 11 milhões e 700 mil metros quadrados localizando-se acima do rio Passaúna, até a região conhecida como Guajuvira. Na totalidade o CIAR ocupa uma área de 4.614 hectares, da qual a maior parte possuía, ainda que potencialmente, uma produtividade agrícola satisfatória. Em Araucária, os processos de industrialização (via da modernidade) conjunto de empresas possuem um processo de ocupação urbana intensiva, que visa suprir a crescente demanda de moradia para a população Este viabilizam atraída pela realidade industrial. Este processo atividades decorre, principalmente, da ação do Estado responsável pelos diversificadas desde o refino e distribuição dos derivados de destinos da ocupação diferenciada do solo em detrimento de um petróleo, até artefatos de cerâmica e concreto para construção, contexto agrícola tradicional. artefatos metálicos, equipamentos industriais, perfumes e O Estado como responsável pela tomada de decisões a nível cosméticos, produtos para cozinha, ferramentas de precisão, de domínio territorial evidencia ações políticas de determinadas carcaça para componentes eletrônicos, máquinas para classes sociais que nele se inserem. Tal fato visa a reprodução recauchutagem de pneus, siderurgia, artigos de camping, material das relações de produção dominantes (BARRIOS, 1986). avícola e apícola, motores elétricos, compensados de madeira e A urbanização de Araucária e a colônia de Tomás Coelho derivados, indústrias químicas, manutenção industrial e são extensões do processo de metropolização da Grande Curitiba. automotiva, embalagens plásticas, tecidos de polietileno, Seria difícil isolar para análise a questão da metrópole, pois a artefatos esportivos, indústrias de alimentos, malhas, calçados, dinâmica das periferias e da formação socioeconômica estão carvão, alumínio e produtos para escritórios. intimamente ligadas ao macro contexto regional e nacional. A ocupação do solo do Centro Industrial de Araucária foi A urbanização da região se apresenta como síntese da dividido em três porções. A primeira porção chamada de CIAR l, superposição de uma lógica industrial à uma lógica agrícola perfaz 22 milhões e 437 mil metros quadrados de área incrustado camponesa. A taxa de crescimento da população urbana da RMC em quase integralmente ao espaço pretérito da colônia polonesa. O comparação ao Paraná e ao resto do Brasil nas últimas décadas CIAR 2, a segunda porção, ocupa 31 milhões de metros quadrados demonstram esta condicionante ( fig. 26 p. 154). localizados próximo à estrada da adutora, entre o CIAR 1 e o 155 A RMC apresentou uma taxa de crescimento anual superior a escala do estado do Paraná da Região Sul e a média do Brasil. A expansão populacional denota que a expansão de ocupação de áreas periféricas é um fato bastante significativo. 156 principalmente entre as décadas de 70 e 80 e continuou a desenvolver-se na década de 90 (fig. 27). A região não está condicionada apenas por deslocamentos internos, mas, sobremaneira, pela quantidade de investimentos A estruturação e reestruturação do espaço nas sociedades financeiros concretizados através do CIAR e do CIC. capitalistas nos demonstram que tanto a realidade rural como a A especulação imobiliária e a diminuição da qualidade de urbana e seus antagonismos, são criados e recriados pelo próprio vida da população foi incentivada por este contexto. A COMEC sistema capitalista. Não houve uma passagem da produção agrícola admite em seu Plano Diretor um surto de crescimento urbano na tradicional região da Grande Curitiba e destaca Araucária devido ao efeito para a concentração fundiária e a produção comercial. indutor da REPAR. Figura: 26 - Comparação das Taxas de Crescimento Anual da População entre a RMC, Paraná, Região Sul, Brasil nas duas últimas décadas Figura: 27 - Evolução da População Urbana do município de Araucária entre 1940 a 1991 (em nº de habitantes) 60000 100% 50000 80% 40000 60% 40% Brasil Região Sul Paraná 30000 20% RMC 20000 0% 1970-80 10000 1980-91 0 Fonte: IBGE 1940 O ampliação crescimento do da população perímetro urbano urbana do de Araucária município e a ocorreu Fonte: IBGE 1950 1960 1970 1980 1991 157 158 CAPÍTULO 04 As são contradições expressas pelo processo marcantes. O território em questão de urbanização adquire novas formas CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA E AMOSTRAGEM espaciais resultante de um complexo de fatores dentro e fora do próprio sistema. As formas espaciais suplantadas e as novas Dentro do quadro das transformações espaciais da Colônia formas que se cristalizam são evidentes na paisagem. Esta de Tomás Coelho devemos ressaltar que a área original instituída síntese do concreto dinamiza-se através do desenvolvimento de em 1876 de 16654 Km², que se estendia ao longo da Estrada de padrões de modernidade. Ferro Paraná até a Serra de S. Luís no município de Campo A incidência do processo de modernização é um reflexo de Largo, foi sensivelmente modificada pela própria expansão urbana fenômenos exógenos ao sistema local. Provoca em muitos casos, que Curitiba sofreu ao longo deste período até a atualidade. uma urbanização não vinculada ao processo de industrialização Nossa pesquisa considera o centro de São Miguel de Tomás local. O processo de modernização é seletivo no que se refere à Coelho como o mais característico, principalmente por ter sociedade, ou seja não ocorre em todas as camadas sociais, ele sofrido, em meados da década de 80, o impacto da construção da se processa diferencialmente. As classes dominadas assimilam os barragem de captação de água do rio Passaúna (fig. 28 p. 158). diversos padrões de modernidade de modo incompleto. O processo Segundo relatório de impacto ambiental desenvolvido pela de modernização é dinâmico e realiza-se no plano econômico Superintendência de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SUREHMA) através da história. em julho de 1990, o uso e ocupação da bacia do rio Passaúna insere-se no processo de desenvolvimento da região metropolitana de Curitiba, onde áreas rurais propriamente ditas cedem espaço à expansão urbano-industrial a partir dos anos 70. Desde o começo de sua ocupação a área correspondente a bacia do rio Passaúna caracteriza-se pela predominância da atividade agrícola. Porém o próprio zoneamento dos municípios causará mudanças a este aspecto. 159 FIGURA: 28 160 A bacia do Passaúna, onde se localiza São Miguel, situa-se à montante da represa na fronteira do município de Curitiba com o NÚCLEOS CENTRAIS DE TOMÁS COELHO E BARRAGEM município de Almirante Tamandaré e caracteriza-se por uma ocupação de alternância de faixas agrícolas na nascente do rio e áreas urbanizadas em Almirante Tamandaré, destacando-se loteamentos de Santa Cecília e Boa Vista com 516 lotes em uma área de 285,5 Km². Ainda nesta área há um processo de favelamento e também áreas ocupadas pelo prolongamento do bairro de Santa Felicidade. No compartimento médio da bacia do rio Passaúna, a leste de Curitiba encontramos uma pequena zona rural além de alguns loteamentos margeando a BR 277, no município de Campo Largo, a colônia polonesa de Orleans e os bairros de Três Marias e São Braz, no município de Curitiba. Na seqüência da BR Ferraria encontram-se os loteamentos em Campo 277 até Largo e Vila Cirene, Vila Xina, Parque Bom Jesus, Vila Glacy, Vila Torres I e Vila Torres II, localizados na margem esquerda do rio Passaúna. No compartimento inferior da bacia verifica-se intensa atividade industrial com o quadro urbano do município de Araucária e a Cidade Industrial correspondentes de aos Curitiba. limites da Tomás Coelho bacia dos incluía rios áreas Passaúna e Barigüi, sendo que a sua maior área se insere no compartimento inferior da bacia do rio Passaúna. O presente estudo partiu de dois levantamentos realizados na área de São Miguel: 161 162 1º Os laudos de desapropriação realizados pelo ITCF feito terras de terceiros que varia de 0,6 a 24,2 hectares, sendo que por ocasião da construção da barragem de captação de água do rio Passaúna. São 71 laudos sendo que 61 correspondem a lotes rurais. a maioria arrenda terras na própria colônia. Dentre os proprietários sete possuem também outras áreas que são consideradas na área total mobilizada para a produção. 2º O levantamento socioeconômico da área realizado pelo IPARDES que considerou que dos 61 lotes rurais descritos no (Tabela nº 07,). As condições de arrendamento de terra não obedecem a laudos do ITCF apenas 28 famílias eram residentes, sendo uma laços de parentesco e nem de etnia. Os dois ocupantes estão na família restantes condição de "chacreiros" e nada pagam ao proprietário da terra. apenas 20 foram consideradas produtivas. ( Sendo consideradas Sendo assim existe concentração de terras na região considerando produtivas as propriedades que comercializam pelo menos parte de o contexto local, embora em relação ao Estado do Paraná como um sua produção). todo não sejam consideradas grandes propriedades (figs. 29 e 30 em cada propriedade. Das 28 propriedades Para a nossa análise partimos da caracterização de Tomás pp. 162). Coelho conforme dados do IPARDES. TABELA Nº 07 Consideramos que as diversas influências que a área em questão foi e é vítima corresponde a uma realidade heterogênea em termos de produção do espaço e dinâmica social. A ênfase DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ENTRE OS PROPRIETÁRIOS DE TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 (PESQUISA DE CAMPO) corresponderá à caracterização econômica e estrutura fundiária. Faixa de Área (ha) Nº de Proprietários Área Ocupada (ha) % 0,2 - 4,3 03 5,7 3,6 4,8 - 8,5 05 30,2 19,0 9,6 - 17,0 03 38,7 24,3 24,2 - 31,2 03 84,7 53,1 Total 14 159,3 100 A condição de posse dos vinte lotes rurais considerados distribui-se da seguinte maneira: 14 lotes rurais são ocupados pelos próprios proprietários, 04 lotes são arrendados e os 02 restantes estão sob administração de ocupantes. Considerando os proprietários de terra, apenas três possuem uma área equivalente a 84,7 hectares de terra o que Fonte: IPARDES corresponde a 53,1% da área total produtiva do conjunto dos quatorze proprietários. Sete dos proprietários ainda arrendam 163 164 Tomás Coelho apresenta-se como uma colônia eminentemente Figura: 29 - Concentração de Terras entre os Proprietários de Tomás Coelho por categoria de área no município de Araucária no ano de 1987. polonesa. Na área considerada, 75% dos lotes rurais pertencem ou são ocupados por descendentes de poloneses e 25% por brasileiros de outras origens culturais. Dos 14 proprietários considerados 90 64% conseguiram as terras por herança e o restante adquiriu por 80 compra (Tabela nº 08 p.164). 70 60 50 40 0,2-4,3 30 4,8-8,5 20 9,6-17,0 10 24,2-31,2 0 Área Ocupada em Hectares Figura: 30 - Número de Proprietários por faixa de área em hectares de Tomás Coelho no município de Araucária em 1987. 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 0,2-4,3 4,8-8,5 9,6-17,0 1,5 1 0,5 24,2-31,2 0 Nº de Proprietários Fonte (Figs. 29 e 30): IPARDES 165 166 TABELA Nº 08 CONDIÇÃO DE POSSE E ÁREA DO IMÓVEL EM TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 Cond. Posse de Área do Imóvel (ha) Área do Outro Imóvel (ha) Prop. 01 31,5 9,7 Prop. Prop. Prop. Prop. Prop. Prop. 07 Prop. 02 03 04 05 06 29,0 24,2 16,9 12,1 9,7 8,5 08 7,3 Prop. 09 Prop. 10 Prop. 11 Prop. 12 Prop. 13 Prop. 14 Arrend.0 1 Arrend.0 2 Arrend.0 3 Arrend.0 4 Ocup 01 Ocup. 02 Área Total Mobilizada (ha) Participaçã o no total em % Origem Cultural Forma de Aquisição 41,2 12,5 Polonesa 29,0 60,4 20,5 12,1 24,2 9,9 8,8 18,2 6,2 3,7 7,3 3,0 Polonesa Polonesa Polonesa Polonesa Polonesa Polonesa Herança e Compra Herança Herança Herança Compra Compra Herança 7,3 2,2 Polonesa Herança 32,6 12,1 5,8 4,9 1,8 0,2 30,0 10,0 3,7 2,0 1,4 0,5 0,1 9,0 Polonesa Polonesa Japonesa Brasileira Polonesa Brasileira Brasileira Compra Herança Compra Compra Herança Herança 19,4 19,4 5,8 Brasileira 3,6 3,6 1,0 Polonesa 1,9 1,9 0,6 Polonesa 10,9 2,4 227,5 10,9 2,4 330,3 3,3 0,7 100 Polonesa Polonesa 4,8 4,8 4,8 4,3 1,2 0,2 30,0 Total:20 Fonte: IPARDES Área Arrendada (ha) 12,0 24,2 3,6 4,8 9,7 1,4 2,4 7,3 Parceri a com o 14 25,4 1,0 0,6 0,6 Meeiro 36,9 65,9 Quanto às famílias mais da metade é composta de cinco a seis membros perfazendo um total de 91 pessoas (Tabela nº 09, conforme que segue). TABELA Nº 09 ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO AMOSTRA DE TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 Faixa de Idade Nº de Indivíduos Menos de 01 ano de Idade 01 1a5 09 6 a 10 08 11 a 15 14 16 a 20 11 21 a 30 12 31 a 40 06 41 a 50 17 51 a 60 04 61 a 70 06 Mais de 70 anos de idade 02 Total 91 Fonte: IPARDES (0bservação: Os dados da presente Tabela não foram divididos por sexo pela própria fonte). A presente caracterização da área de pesquisa nos permite confirmar o pressuposto, que a Colônia Polonesa de Tomás Coelho 167 continuava sendo uma comunidade camponesa onde a imensa maioria 168 CAPÍTULO 05 da população se dedicava ao trabalho agrícola sob a forma da produção tradicional familiar. TOMÁS COELHO, MODERNIDADE, RESISTÊNCIA E MARGINALIDADE A partir da hipótese de que a desarticulação recente do núcleo colonial de Tomás Coelho e a reestruturação do espaço socioeconômico demonstram uma marginalização da colônia imigrante em relação ao processo de modernização construímos a presente análise. Dois aspectos foram considerados: a produção do espaço e a questão cultural. Integramos a questão estrutural da produção do espaço às linhas da questão cultural. Cabe ressaltar que as denominadas sociedades tradicionais apresentam características distintas em relação à sociedade moderna. Esta realidade resulta do fato de tendência que a produção homogeneizante do tradicional modo de não produção combina com dominante a da modernidade. Tomando por base o levantamento do IPARDES/ITCF por amostragem de propriedades rurais em São Miguel, pertencente à antiga colônia de Tomás Coelho, diagnosticamos o caráter tradicional da colônia imigrante. A produção do espaço baseia-se, desde o estabelecimento das propriedades, na produção agrícola nos moldes da mão-de-obra familiar onde se destaca a cultura da batata inglesa. A referida cultura é hegemônica tanto na área de plantio como na tonelagem de produção. A produção destina-se tanto ao consumo interno da 169 170 propriedade como para a comercialização. No período de dezembro arrendadas. Tanto crianças, em suas horas disponíveis, como as de 1984 a maio de 1985 foram comercializadas 9.925 sacas de 60 mulheres trabalham na lavoura. Kg cada o que não era mais significativo mesmo em relação a própria RMC. Dentre apenas A segunda cultura da região é a do milho e 56% desta produção destina-se a manutenção de pequenos animais domésticos. A terceira cultura é a do feijão e é a segunda mais três a população pessoas da amostra dedicam-se a podemos trabalho constatar que assalariado na indústria e outras duas como professoras na escola local. Dentre as pessoas que trabalham na indústria todas são de origem lusobrasileira. comercializada, seguida da cultura da cebola (em boa parte é As de origem propriamente polonesa dedicam-se quase que destinada a comercialização), do pimentão e do alho, além do exclusivamente ao trabalho agrícola. Entre os arrendatários de tomate e batata-doce. Em menor escala, planta-se o centeio e o origem luso-brasileira apenas os homens trabalham na agricultura trigo sarraceno denominado por eles de tartaco. enquanto as mulheres dedicam-se ao serviço doméstico. No caso Em termos de maquinário e insumos o mínimo é utilizado, o que referenda a incipiente adoção de inovações tecnológicas na dos poloneses costuma-se mobilizar toda a família.(Tabela 10 p. 170). produção agrícola e em conseqüência pouco incremento (IPARDES, 1987). As resistências características à assimilação denotam de o padrões fato de de que modernidade existe que se apresentam como testemunho local. A diferença em termos da divisão social do trabalho entre os de origem luso-brasileira e polonesa se deve, entre outras razões, à própria construção étnico-social de costumes das famílias polonesas. Neste caso o elemento cultura repercute em A produção se mantêm nos padrões ancestrais sendo que a formas diferenciadas de produção do espaço local. pouca utilização de inovações tecnológicas referenda este fato; A maioria dos produtores são proprietários de terra ou todavia devemos lembrar que a utilização de maquinário e insumos seja, detêm os meios de produção e também constituem a própria requer, em primeira instância, um aumento substancial no custo força de produção que em muitos casos invibializa a própria produção. tradicionais. de trabalho. No Esta entanto, realidade esta é própria das característica sociedades transforma-se, A situação apresentada pelos dados do IPARDES demonstra apesar das resistências, pois, cada vez mais, o produtor colono que a produção agrícola de Tomás Coelho é mantida pela força de polonês depende de condições externas para perpetuar o seu modo mão-de-obra de familiar tanto na propriedade como em áreas produção e sua própria sobrevivência. Evidencia-se um processo de proletarização crescente onde a produção tradicional cede lugar à necessidade de buscar recursos extras 171 172 para em questão. Esta ruptura na homogeneidade do sistema fundiário manutenção da vida. demonstra o processo de metamorfose da colônia. Verificamos que a resistência à assimilação de padrões de modernidade tendem, cada vez mais, a manifestar-se por um processo de desarticulação TABELA Nº 10 da colônia polonesa. SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS HABITANTES DE TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 .9 Categoria Área Mobilizada em hectares Tamanho da Família Residente Ocupação no Setor Primário da Economia Prop.01 Prop.02 Prop.03 Prop.04 Prop.05 Prop.06 Prop.07 Prop.08 Prop.09 Prop.10 Prop.11 Prop.12 Prop.13 Prop.14 Arrend.01 Arrend.02 Arrend.03 Arrend.04 Ocup.01 Ocup.02 Total: 20 41,2 29,0 60,4 20,5 12,1 24,2 9,9 7,3 32,6 12,1 5,8 4,9 1,8 0,2 30,0 19,4 3,6 1,9 10,9 2,4 330,3 6 9 5 3 6 4 6 1 6 3 5 3 2 5 8 5 3 2 4 5 91 3 2 2 3 5 3 3 1 3 3 2 2 2 1 3 2 2 2 2 1 47 Ocupação no Setor Secundário da Economia Ocupação no Setor Terciário da Economia O que fundamenta o nosso argumento é que a produção do espaço de Tomás Coelho fica à margem dos padrões de modernidade que circundam e que são criados na metrópole, porém está além 1 das condições de adoção de inovações tecnológicas na produção 1 agrícola. Ou seja, o próprio emprego de força de trabalho 1 evidencia uma realidade marginal na produção quase que em moldes pré-capitalistas. Segundo dados do levantamento do IPARDES (1987), observase que seis proprietários empregam mão-de-obra temporária tanto 3 no plantio como na colheita correspondendo a 42%. A mão-de-obra aplicada é em média de dois a três trabalhadores em um período de seis a quinze dias. A área total utilizada é de 162,4 ha 3 aproximadamente. 1 4 explicado pelo O emprego volume de de capital mão-de-obra que está assalariada nas mãos de é seis Fonte: IPARDES proprietários mencionados anteriormente. Contrapondo-se à situação dos pequenos produtores rurais Embora a concentração de terras não seja contrastante em de Tomás Coelho se encontram três proprietários que vão se relação ao contexto do município existe de fato uma concentração afirmando na hegemonia da produção local e que detêm 53% da área de capital que viabiliza a mobilização de mão-de-obra externa. 9 Na situação ocupacional não foram consideradas as crianças e as mulheres que trabalham exclusivamente no lar. Somente foram consideradas como trabalhadoras rurais àquelas que se dedicam exclusivamente ou dispendem a maior parte do tempo no trabalho agrícola ou externo. No caso do proprietário nº 12 também realiza trabalhos de marcenaria para completar a renda. No caso esta propriedade corresponde a 49% da área total utilizada na produção. A diferenciação que representa estes seis produtores em relação aos demais produtores de São Miguel de 173 174 Tomás Coelho pressupõe que exista uma relação com o mercado que meios de produção se realiza, como fato recente, através da justifica o emprego e a dinâmica de uma mão-de-obra externa ao venda das terras no mercado imobiliário. contexto familiar. As O camponês inserido nesta realidade econômica passa a ser colônia condições de Tomás de organização Coelho do perpetua-se espaço nos produtivo moldes da tradicionais um vetor do capital. Recria as relações capitalistas mercantis mesmo em condições de expansão da lógica espaço-organizacional que assim podem ser analisadas. urbano industrial representante do processo de modernização. Consideramos que a estruturação do espaço de Tomás Coelho caracteriza-se vinculada ao processo imediata de expressão econômica da propriedade. Ou seja, a não posse da teoria renda fundiária capitalista sob a forma em que está subordinada capitalista são aplicáveis à produção realizada na colônia. O a manipulação e a transferência da renda para outros setores camponês necessita do capital para manter sua auto-suficiência. econômicos fora do controle do colono. mercado de Curitiba. por uma excedentes Reconhecemos sociedade agrícolas a tradicional A expropriação do colono apresenta-se na verdade como um para priori a que as região bases da O colono necessita de produtos que não é capaz de produzir. O concreto sistema marginalização mantêm então estabelecidas. Cabe lembrar que estas pretende pequena manter posse da propriedade populacional fixado no campo. Porém, esta fixação acontece de até que a não produtos e insumos de que necessita. familiar em incentiva da camponesa regional, étnico e cultural influem nas relações de trabalho medida e diante Sendo assim, transforma sua produção em capital e a reverte em Estas relações atreladas às particularidades do contexto na de um contingente forma marginal no espaço produtivo. MESQUITA produção que (1988) revelam comenta sua que existem transformação, espaços o que em re- inclui a relações são responsáveis pela manutenção da produção agrícola dissolução das estruturas anteriores, mesmo que parcialmente. na colônia. Este processo renova a emergência de novas estruturas. Sob este As relações capitalistas penetram nas relações sociais do aspecto os espaços reproduzidos sociedade diferentes, diversas das pretéritas. tradicional. As formas espaciais transformam-se na medida em que novas relações se intensificam. Atualmente, usos caracterizam núcleo colonial e aos poucos subvertem o que entendemos por uma camponesa para se após diferenciados a formação do por e estarem com lago sendo valorizações artificial da Não existe de fato uma total proletarização do colono nas barragem de captação de água do rio Passaúna, a ocupação do solo circunstâncias atuais. O processo de expropriação do colono dos se mostra diferenciada. É o processo de reestruturação do espaço 175 que está em pleno desenvolvimento, é o que podemos constatar com REPAR abriu possibilidade para dezenas de outros empreendimentos ligados principalmente a manufatura. O perfil econômico do município de Araucária foi alterado. Configurava-se uma área de confluência cujos limites são representados pela CIC, REPAR, Rodovia do Xisto e a sede municipal de Araucária. É neste conjunto infra-estrutural que o Centro Industrial de Araucária é instalado e, com as políticas de facilidades ao grande capital industrial, logo se consolida e se amplia. Ora, com um parque industrial considerável a arrecadação do município aumentou substancialmente, pois o comércio de produtos agrícolas geralmente, realizados fora do município, nem ICM arrecadava. A nova investimentos conjuntura públicos no econômica setor reforçou um incremento em secundário em detrimento do setor primário da economia. De fato, este quadro demonstra o quanto a supra-estrutura política-institucional está subordinada aos interesses do grande capital. A reestruturação do espaço de Tomás Coelho é expressão concreta de práticas políticas e do conflito de classes. FIGURA: 31 TOMÁS COELHO - OCUPAÇÃO DO SOLO - 1992 o mapa síntese de uso do solo atual da área (fig. 31 p. 175). A 176 ÁREA PESQUISADA 177 178 À GUISA DE CONCLUSÃO a) De fato o avanço urbano-industrial provocou um processo de revalorização de áreas pertencentes a colônia de Tomás Coelho. Acentuadamente verificamos que o uso do solo, como O presente estudo partiu de uma problemática concreta, o avanço desta lógica moderna, apresentou o maior impacto. O devido ao alagamento de uma colônia polonesa centenária pela resultado foi a desarticulação da ordem espacial pretérita barragem de captação de água do rio Passaúna. Esta colônia era tradicional representada por Tomás Coelho. Tomás Coelho. Utilizamos desta realidade para demonstrar o b) O processo de marginalização da colônia de Tomás choque entre lógicas espaço-organizacionais diferenciadas. Coelho A conjuntura de desarticulação social, política evidenciou-se Metropolitana econômica pela dinâmica econômica Nesta realidade da Região e de Curitiba. sociedades de Tomás Coelho está afeta a inoperância do Estado em tradicionais com pouca participação no mercado e pouco acúmulo implementar planos de expansão urbano-industriais que de capital representam um obstáculo a melhor utilização futura considerassem aspectos de valor cultural ou mesmo étnico. Além do solo por parte do capital, principalmente industrial do mais, a relutância do Estado em pagar, aos desapropriados, a hegemônica. justa indenização por suas terras. c) Quanto à evolução do processo de reestruturação Sob este aspecto tentamos responder a todo um processo de espacial do núcleo colonial notamos que o denominado equilíbrio formação e desarticulação, expansão e destruição que se organizacional de interação do mesmo com a metrópole rompeu-se desenvolvem dialéticamente no espaço geográfico. devido Partimos do pressuposto teórico de que a a marginalização da colônia no processo de produção lógica capitalista. hegemônica urbano-industrial representa a tese da modernidade e d) A perpetuação do tradicionalismo por parte da dinâmica a lógica camponesa a negação da primeira, o tradicionalismo. produtiva de Tomás Coelho demonstrou uma profunda ruptura em Para poder responder às relações existentes na relação a evolução da Região Metropolitana de Curitiba. Isto estruturação do espaço do núcleo colonial de Tomás Coelho nos ocorreu devido a incongruência que existe na natureza do sistema reportamos a dinâmica metropolitana. Esta dinâmica representa a capitalista que, ao manter o moderno e o tradicional juntos no geração e a força dos padrões de modernidade. Neste sentido mesmo espaço, demonstra sua própria contradição. Embora a levantamos duas hipóteses como resposta a está problemática que desarticulação da colônia polonesa seja um fato consumado ainda foram analisadas no decorrer deste estudo. existem manchas de produção tradicional na região. No entanto, Chegamos aos seguintes resultados: 179 180 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS não mais existe a articulação do espaço social que nos permita identificar a colônia polonesa. Toda esta realidade, que representa a síntese objeto de 01 ALVES, Sílvia. Colônia de Poloneses pode Morrer. Jornal do nosso estudo, demonstra que embora o sistema capitalista tenha Estado. Curitiba: 07 de Fevereiro de 1984. uma tendência concreto, ela a só homogeneização, é atingida enquanto produção parcialmente. A do espaço realidade da 02 ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA Curitiba: IMPRIMAX, dinâmica cultural própria dos grupos sociais diferenciados, como v. 1, 1970. 130p. os colonos poloneses, é redimensionada e permanece dispersa na dinâmica metropolitana. 03 Esta imanência do tradicional no espaço ARAUCÁRIA: Em Cinco Anos, da Batata à Chaminé. Jornal da geográfico Indústria e Comércio do Paraná. Curitiba: 15 de Julho de coexiste com a lógica moderna em seus sinais mais concretos. 1978. Tomás Coelho representa esta totalidade. Não é apenas um caso isolado faz parte de um contexto maior e lhe dá significados 04 BARRIOS, Sônia. Political Practice and Space. Antípodes, peculiares. São Paulo: v IX (1), 1977. 05 BARRIOS, Sônia. A Produção do Espaço In: SANTOS, M.& SOUZA, M.A., A Construção do Espaço, São Paulo: Nobel, 1986. p.01-24. 06 BERMAN, M.. 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