Pai, Mãe: porque é que eu estou doente? Mãe, o mano está doente?
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Pai, Mãe: porque é que eu estou doente? Mãe, o mano está doente?
2P14MCPCV02 O medo da Bata Branca e das Picas Super Heróis com dói-dói Mãe, o mano está doente? Pai, Mãe: porque é que eu estou doente? Queridos Pais 2 3 Queridos pais, As crianças são como os super-heróis! Capazes de maravilhosos feitos, mestres em curiosidade, escondendo dentro de si uma imaginação sem fim. Nalguns momentos da sua vida, os super-heróis têm como missão vencer os seus dói-dóis. E aí, à sua força e energia, alia-se a força e energia dos sr. doutores, dos remédios e, muito, muito, importante dos super papás! Ter os filhotes doentes é uma aflição. Em primeiro lugar, porque o mal-estar dos pequenitos deixa qualquer pai ou mãe de coração apertado. Depois pelas dificuldades logísticas que uma criança doente obrigatoriamente impõe na rotina familiar. E ainda porque as crianças modificam os seus comportamentos habituais por se sentirem mal: surgem mudanças nos padrões alimentares e de sono, estão impacientes e birrentas, regridem muitas vezes para hábitos já ultrapassados, requerem mais atenção e são mais difíceis de entreter. Não é tarefa fácil para os pais! Por isso, a Oficina de Psicologia reuniu para vós, neste pequeno livro, algumas das sugestões mais úteis para vos ajudar a lidarem com o vosso filhote com dói-dói. Aqui, vão encontrar algumas razões que explicam porque é que o vosso filhote está a reagir da forma como reage, dicas e sugestões práticas sobre a melhor forma de lidar com comportamentos alterados pelo mal-estar e até alguns exercícios já preparados para usar com os miúdos que se debatem com dificuldades específicas. Em todas as dúvidas que tenha sobre a evolução e os sintomas do vosso filho, naturalmente, conte com o seu médico. E conte connosco também sobre a melhor forma de lidar com as suas emoções e comportamentos. Votos das melhoras rápidas do vosso pequenito, embrulhados num forte abraço. A equipa da Oficina de Psicologia 4 5 Índice Queridos Pais ............................................................... 5 Birrinhas do dói-dói ....................................................10 Sono com dói-dói ....................................................... 14 Então mas ele regrediu? ....................................... 20 O que tem o mano? ................................................. 24 Brincadeiras e distrações ..................................... 26 Pai, mãe: porque é que estou doente? ......... 30 Quando dói ................................................................... 32 O poder da imaginação infantil ...................... 40 Esquisitices da alimentação ................................ 46 O medo da Bata branca e das picas ............. 52 Cuide de si! ................................................................. 58 Iupiii! o meu filhote já está bom ...................... 62 Apresentação Oficina de Psicologia ............... 66 Bial .................................................................................... 68 6 7 Super Heróis com dói-dói 8 9 Porquê? Lembram-se da última vez que estiveram adoentados? Não era só o corpo que refilava, com dor e mal-estar, verdade? Também as emoções se degradaram: um humor birrinhas do dói-dói mais negro, uma impaciência grande, um não estar bem em lado algum. Numa criança tudo isto piora porque não tem a autonomia nem a capacidade de auto-regulação de um adulto. E muito desse mal-estar emocional é traduzido num comportamento birrento. De uma forma geral, com uma criança doente é preciso aumentar a dose da paciência e tolerância, mas demonstrando que se trata de uma situação excepcional. Mas, mesmo com esta dose extra de reforço, isso não significa que tudo lhes seja permitido, por isso, é importante que os pais e restantes elementos da família Birrinhas do dói-dói 10 conheçam algumas das nossas sugestões práticas para lidarem com estes comportamentos, assegurando a tranquilidade possível de todos. 11 O que fazer? A Dona Impaciência. • Como sempre, a prevenção é o melhor remédio e compreender A Dona Impaciência, quando está doente, cresce, cresce, até ficar do e prever que a frustração do seu filhote será maior nestes dias é o tamanho de um gigante. Até a voz da Dona Impaciência se transforma primeiro passo para combater as birras. num vozeirão grosso! Ora isto não é nada bom, porque a incomoda muito. Imagina se ficasses, de repente, do tamanho de um gigante! • Se perceber que aquilo que está na base da birra é insegurança e Nem a roupa te servia! E os teus amigos ficavam todos lá em baixo, carência devido ao facto de estar doentinho, responda com carinho e muito pequeninos, e não ias conseguir sequer brincar com eles. disponibilize mais tempo para o seu filho neste dia difícil. Por isso, a Dona Impaciência, que é muito esperta, quando está • Dê-lhe atenção quando se porta bem e faz aquilo que sabe ser doente, tem um truque para não crescer mais do que seria bom. suposto fazer, elogiando-o. Queres tentar o truque dela? Então, vamos lá. • Desvie-se dos conflitos, por exemplo, distraindo-o e, se possível, Deita-te de barriga para cima e fecha os olhos um bocadinho. Podes evite situações onde é costume fazer birra. colocar o teu bonequinho/peluche preferido sobre a tua barriga. Agora, inspira, como se estivesses a cheirar uma bonita flor. Preenche o teu • Relembre as regras e limites estabelecidos com um tom de voz calmo corpo com sensações agradáveis. A Dona Impaciência vai gostar e firme, para que o seu filhote perceba que apesar dos pais estarem porque ela gosta muito de flores. Expira devagarinho. Deita o ar fora, mais apreensivos, não vale a pena tentar testá-los ou manipulá-los. sem pressa, como se tivesses a apagar um bolo de anos cheio de velas. A barriga mexeu? O teu bonequinho subiu enquanto inspiravas • Não altere as rotinas do dia para que a criança não seja apanhada e desceu quando expiravas? É isso mesmo. Faz novamente. Inspira de surpresa, o que aumenta a possibilidade de recusar o que lhe é e sente a barriga a encher. Expira e sente a barriga a ficar muito pedido. magrinha. Repete várias vezes, sem pressas. Enquanto deitas o ar fora, imagina a Dona Impaciência a ficar cada vez mais pequenina. 12 • Caso a birra se instale, ignorar será a melhor solução, em situações Enquanto expiras imagina a Dona Impaciência a ficar cada vez mais pouco graves. Lembre-se: está doentinho, por isso, este não é o bem disposta. Já não parece um gigante irritado, pois não?. Parece momento para grandes estratégias educativas. um formiguinha simpática e alegre! Como te sentes agora? 13 Quando as crianças estão doentes, há um desequilíbrio na rotina e tanto elas como os pais precisam mais uns dos outros. Será marcante para a criança, o modo como os pais cuidam dela nestas ocasiões. O stress associado à doença irá certamente prejudicar o sono e algumas vitórias antes conseguidas poderão sofrer algumas regressões. São muitos os problemas que podem perturbar uma família inteira quando uma criança fica acordada e com exigências durante a noite. O apoio, conforto e carinho são muito importantes, mas a transmissão de segurança é fundamental. A criança doente fica mais insegura, precisando de sentir que os pais estão tranquilos e que tudo vai correr bem, para conseguirem adormecer. As emoções também vão influenciar o desenvolvimento da doença, por isso, quanto mais tranquila estiver a criança, melhor será o sono e mais depressa ficará bem. Dê todo o apoio e explique quais os sintomas que a criança poderá sentir de noite, para que não acorde muito Sono com dói-dói assustada. Tranquilize-a dizendo que virá ao seu encontro sempre que necessário. Quando a criança estiver melhor, poderá continuar alguns comportamentos adotados enquanto doente, como por exemplo as dificuldades em adormecer. Estes comportamentos terão que ser trabalhados de uma forma firme. A criança fará todas as tentativas para conseguir 14 15 captar a atenção dos pais que obteve enquanto doente. Assim, a rotina habitual do dormir. assegure-se que cria oportunidades para a criança voltar a adormecer sozinha. Uma conversa pode ser muito importante para explicar as • Termine o dia transmitindo-lhe uma imagem de segurança para que medidas que vai tomar para ajudá-la a dormir sozinha a noite toda, e o seu filho saiba que pode contar consigo durante a noite, e com uma para que se sinta segura. Devagarinho, eles conseguem, e tudo não mensagem de esperança de que irá ficar bom depressa. passou de uma fase. • A temperatura equilibrada, o quarto escuro e silencioso também Dicas para regular o sono: contribuem para que a criança adormeça mais facilmente. • Estando doente é provável que tenha uma noite de sono menos • Tomar um banhinho antes de ir dormir poderá ser relaxante e sossegada, acorde mais vezes e chame os pais. Verifique se a criança contribuir para o seu filhote durma melhor. necessita de algo e tranquilize-a. Deve evitar pegar-lhe ao colo ou deitar-se ao seu lado na cama, acender-lhe luzes fortes ou qualquer • Atividades demasiado estimulantes e animadas, como cócegas, outra coisa que possa estimulá-la, para que volte rapidamente aos pulos, ver televisão, jogos de consola antes de dormir devem ser seus sonhos. evitados, pois despertam a criança e dificultam a ida para a cama e a noite de sono. É só chamada de atenção? • Ler histórias pequenas e simples, ouvir uma canção calma, são opções para preparar a ida para a cama de forma agradável. Às vezes, com tanta informação disponível é fácil baralharmo-nos nas informações de que dispomos e confundir conceitos. Muitas vezes, 16 • Não abra exceções! Lembre a criança que deverá ir para a cama à hora vem com um encolher de ombros a frase “Isso é só ele a chamar a habitual. Manter a rotina é essencial para regular o sono, especialmente atenção”. E ficamos com a noção de que uma chamada de atenção é quando está doente, evitando o aumento da irritabilidade, sonolência e algo de pouco importante, assim como um capricho que pode e deve cansaço no dia seguinte. ser negligenciado. • Não deixe o seu filho adormecer nem dormir na cama dos pais. Caso Muito particularmente no caso de uma criança doente, mesmo que isso aconteça, assegure-se que a criança compreende que é uma interprete um comportamento como chamada de atenção, saiba que situação excepcional e quando a criança melhorar retome de imediato é mesmo para lhe prestar atenção. 17 compreensão e valide os sentimentos da criança, para que se sinta O seu filhote está desconfortável e nem sequer percebe o que lhe aceite: “sei que essas dores de barriga são muito aborrecidas, mas está a acontecer e quando vai passar, por isso precisa da atenção logo, logo elas vão passar e vais sentir-te muito melhor”. Desta forma incondicional dos pais. Precisa de ser tranquilizado e mimado. a criança sentir-se-á compreendida. Precisa de injecções de carinho e tempo dedicado, sobretudo porque • Leia histórias/contos divertidos: ao ler uma boa história ou conto, não tem, ainda, a capacidade para se confortar a ele próprio, estando ajuda a criança a estar entretida e a sentir que os pais estão ao seu inteiramente dependente dos adultos que o rodeiam para conseguir lado e disponíveis para si na sua recuperação. manter-se em conforto. Use o mimo como medicação: porque quando há dói-dói, o mimo Assim, deixamos-lhe algumas dicas para aumentar a mimice nestes é o melhor remédio. Porque não usar o mimo como medicamento e momentos de dói-dói. aliado da recuperação? Os pais poderão ser os “Doutores Miminho” de serviço, sempre prontos a dar “um xarope de beijinhos”, “uma Mimices ao máximo: injeção de colinho”, “umas ampolas de abraços apertados”! Estas expressões não só irão divertir a criança, como farão com que se sinta mais segura, confortável e apoiada. • Alimente pensamentos positivos: tenha um discurso positivo, para que a criança tenha uma atitude positiva face à recuperação e não se sinta tão tristinha por estar adoentada: “Que valente que tu és!”, “Forte como tu és vais ficar bom rapidinho!”, “És mesmo muito corajoso!” são expressões que ajudam a criança a sentir-se orgulhosa de si e mais confiante. • Reforce o quanto gosta do seu filho: Não tenha medo de exagerar ao dizer diariamente ao seu filho o quanto gosta dele. Quando eles estão adoentados, um “gosto muito de ti” faz com que as crianças se sintam mais seguras e reconfortadas. • Seja empático: quando as crianças estão doentes, é normal que se queixem com frequência. Nessas ocasiões tenha uma atitude de 18 19 Algumas crianças quando estão com dói-dói voltam a ter comportamentos que já tinham deixado; pedir a chucha, ir para a cama dos papás, voltar a usar fralda, pedir ajuda nas refeições, a tomar banho, entre outras. Tendo em Então, mas ele regrediu? conta o momento de fragilidade em que se encontra estes comportamentos podem transmitir segurança e conforto, facilitando de alguma forma, que o dói-dói diminua de intensidade. Algumas vezes os papás ficam preocupados porque os filhos podem estar a “regredir” mas devem ter presente o momento difícil para a criança e perceber que se trata de uma situação temporária até que se volte a sentir novamente forte e saudável. As doses reforçadas de paciência e de tolerância são muito importantes. Não forçar a extinção do comportamento nem usar métodos drásticos, e evitar comentários negativos ou de censura, são cruciais para que restabeleça as rotinas anteriores ao dói-dói. Logo que se apercebam que a criança ultrapassou a situação, podem iniciar um treino gradual, começando a restringir os comportamentos inadequados. Caso perceba que há alguma resistência, envolva o seu filho noutras atividades, dirigindo a atenção para as mesmas, reforçando que são atividades de meninos mais crescidos; vá dando exemplos de pessoas que o seu 20 21 filho admire que conseguiram ultrapassar a situação (como o irmão mais velho ou um primo), mas transmitindo também a ideia de que foi difícil para eles, para que não se sinta inferiorizado. Não se esqueça de elogiar o seu filho em cada progresso e recompense-o com mimos e, acima de tudo, com atividades conjuntas. Transmita-lhe confiança, segurança e apoio. Quanto mais o seu filho sentir que está com ele para o ajudar, que sabe que é difícil mas que acredita que ele é capaz, com mais coragem se sentirá para avançar e enfrentar novos desafios do seu crescimento. 22 23 Quando uma doença bate à porta ou um dos seus filhos se magoa a sério, inevitavelmente há mudanças na dinâmica familiar, sejam elas grandes ou pequenas. Quando as crianças são mais novas serão mais influenciadas pela forma como os pais sentem a questão, do que pelos factos em si. A idade irá também ser relevante na forma como a situação é explicada. Assim, com crianças até uma média de 6 anos, as explicações curtas e simples são mais adequadas. Não é relevante dar nomes à doença ou explicar diagnósticos. Por outro lado entre os 7 e os 12 anos, as explicações já poderão ser mais próximas dos factos reais, no entanto não o que tem o mano? serão necessários detalhes que mesmo um adulto tenha dificuldades em ultrapassar. Regra geral, evitar conversas sobre doenças graves na presença de crianças é sempre o mais aconselhável. Se o seu filhote ficou muito triste com o que se está a passar com o mano, dê-lhe uma dose grande de carinho. Não reprima as emoções se ele se mostrar abatido e a chorar. Poderá abraçá-lo, dizendo algo como: “ chorar vai fazer bem, é como lavar o coração e mandar a tristeza embora”. O importante é transmitir tranquilidade à criança. Os receios dos adultos deverão ficar com os adultos. Para a criança será importante perceber que há solução e que em conjunto ajudarão o mano a ficar melhor. 24 25 A distração é muito importante quando não estamos bem. Repare em si próprio: se tiver uma aflição, física ou emocional, e se distrair a falar com amigos ou a trabalhar ou Brincadeiras e distração numa tarefa qualquer do seu agrado, o tempo passa mais rápido e é como se o volume do desconforto baixasse um pouco. Com as crianças isto é igualmente válido, com uma vantagem acrescida: são muito mais fáceis de distrair! Mesmo com as limitações impostas pela doença, podem ser feitas adaptações às brincadeiras favoritas, há sempre aquela história preferida e novas formas de os entreter. Mas o seu filhote vai cansar-se mais depressa e vai estar mais inquieto e com níveis de atenção diminuídos, por isso, vai ter de reparar nos sinais que ele vai dando e ajustar quer o nível de exigência das brincadeiras, quer o tempo. Será melhor, contar com várias distrações diferentes e menos tempo com cada uma, para que ele não se canse tão depressa. Brincar com o seu filho quando está adoentado acaba por cumprir com duas funções: por um lado, cria uma distração que lhe faz diminuir o desconforto próprio da doença e, por outro, representa um tempo de qualidade e carinho de que ele tanto precisa para se confortar do dói-dói. E agora, deixamos-lhe algumas sugestões práticas. 26 27 Dicas para as brincadeiras: Pode aproveitar estes momentos para fazer as brincadeiras preferidas do seu filho: fazer jogos de construções e puzzles, ouvir música, ler histórias, fazer plasticina, dizer lenga-lengas, desenhar, fazer recortes • Emoções. Faça alguns cartões com imagens de pessoas felizes, tristes, zangadas, assustadas… Alternadamente, retiram um cartão e dizem uma situação que pode levar a alguém a sentir-se daquela forma e, quando se justifique, o que se poderia dizer ou fazer para ajudar aquela pessoa a sentir-se melhor. e colar… Pode aproveitar para criar e experimentar brincadeiras que não é habitual fazerem e que, para além de entreterem, estimulam a criatividade e a curiosidade. • Fantoches de dedo. Transformem luvas em animados fantoches, decorando-as com diferentes materiais (marcadores, lã, botões e restos de tecido…). O que surge? Animais da quinta, piratas e princesas, extra-terrestres e super-heróis, palhaços e malabaristas? • Bolachinhas para o lanche. As crianças adoram imitar os crescidos. Porque não colocar o avental e deixar que a criança seja o ajudante principal da sua cozinha, na preparação de um lanche especial: pesando a farinha, partindo os ovos, mexendo a massa, usando as formas… • Caça ao tesouro. Elejam um figura geométrica. Círculo? O que tem a forma de círculo em casa? Pratos, rodas dos carrinhos, porta da máquina de lavar roupa… Ganha quem encontrar mais formas geométricas em casa, num minuto. Podem repetir com várias formas. • Brincar com sombras. Façam teatros de sombras, usando uma lanterna e as mãos, num quarto escuro. 28 29 Trata-se de uma questão algumas vezes difícil de responder, pois varia em função da idade e da capacidade dos papás adaptarem a linguagem a cada filho. O recurso a exemplos de situações vividas pelas crianças no dia-a-dia, resultam; quando brincaram no parque e fizeram dói-dói, quando comeram muito e a barriga começou a doer, quando estiveram ao sol na praia sem chapéu e fizeram dói-dói. No caso de se tratar de doenças inerentes à infância, recorrer a exemplos dos papás, dos irmãos mais velhos ajudam a tranquilizar a criança. Compreenda o medo do seu filho no que respeita ao dói-dói e responda apenas em função das questões que vai colocando. Algumas vezes, o dói-dói implica a ida ao médico, o que pode tornar a situação mais difícil para todos. Sabemos que o médico, em muitos casos, é uma personagem que deixa os mais pequenos com algum medo, por isso aproveite para demonstrar que é um aliado e um amigo para ajudar a ficar melhor. Pai, mãe: porque é que eu estou doente? Junte-se ao seu filho na “luta” contra a doença, criando histórias em que, juntos, a vão derrotar e nunca desvalorize o mau estar do seu filho. Transmita confiança, ensine estratégias para lidar com a doença e com os sentimentos negativos, suporte e apoie o seu pequenito! 30 31 A dor é muito útil como sistema de alarme que nos concentra toda a atenção e aponta para a urgência na resolução de seja lá o que for que requer “conserto”. Foi assim o desenho que a natureza encontrou para nos ajudar nesta difícil tarefa da sobrevivência. Infelizmente, e como qualquer alarme, é muito desagradável e pode mesmo retirar-nos pontualmente qualquer capacidade para funcionar normalmente. Numa criança, a dor é particularmente difícil. Como não tem como perceber o que lhe está a acontecer, algo que ajuda muito a suportar a dor num adulto, nem que vai passar, fica facilmente subjugada pelo mal-estar, e não consegue sozinha encontrar formas de se confortar. Para os pais, também, é extremamente difícil verem o seu pequenito aflito e quererem reduzir instantaneamente esta aflição, sabendo que os “dói-dóis” levam o seu tempo a sarar. Felizmente, as crianças têm uma imaginação muito activa e esta imaginação pode ser recrutada para lhes diminuir a quando dói percepção de dor. Além disso, há várias estratégias que também são úteis a confortar a dor nas crianças. Deixamos-lhe algumas, bem como uma actividade que poderá fazer com o seu filho, estimulando-lhe a imaginação para lhe diminuir o dói-dói. 32 33 Dicas para ajudar na dor: Ver o seu filho com dor será um momento desconfortável e difícil, contudo a sua colaboração e envolvimento serão de extrema importância, quer o seu filho se encontre em casa ou em contexto hospitalar. • Procure manter-se tranquilo: o seu estado emocional será perceptível para o seu filho, que se encontra já ansioso. Senti-lo tranquilo contribuirá para que a ansiedade e medo do seu filho diminuam. • Esteja presente durante os procedimentos dolorosos: sempre que lhe for permitido pela equipa de saúde, mantenha-se próximo do seu filho durante a realização de procedimentos dolorosos, exames complementares de diagnóstico ou tratamentos necessários. Se possível, segure-lhe a mão, incentive-o a respirar calmamente e assegure-lhe que não o deixará sozinho; • Se o seu filho for ainda uma criança de colo, e se a situação o permitir, segure-o contra o seu peito. Esta posição, chamada posição de canguru, tem provado ser eficaz para acalmar a criança e transmitir-lhe segurança, o que contribui para a diminuir a dor; • Seja a voz do seu filho: algumas crianças poderão não falar com os profissionais de saúde acerca da sua dor por isso é importante que diga aos médicos ou enfermeiros que o seu filho está desconfortável, uma vez que só sabendo que a criança tem dor será possível tratá-la; habitualmente o seu filho utiliza para expressar dor e que estratégias utilizadas anteriormente foram eficazes; • Quando a dor se torna mais intensa, ou se prolonga no tempo, o seu filho ficará ansioso e desconfortável. Se em algum momento sentir necessidade, não se iniba de recorrer a ajuda dos profissionais especializados; • Sempre que possível reforce o ensino do uso da escalas de dor que lhe serão apresentadas pelos enfermeiros. Estas escalas são muito úteis quer para perceber o nível de dor da criança, para que se possa avaliar a eficácia das estratégias de controlo que estão a ser aplicadas. • Técnicas de respiração: ao incentivar o seu filho a respirar calmamente estará a proporcionar-lhe a possibilidade de relaxar e, desta forma, a diminuir a sua dor. Alguns dos exercícios que podem ser úteis são: - encher o peito de ar e soprar devagarinho para afastar a dor; - encher o peito de ar como se estivesse a cheirar uma flor e depois deitar o ar fora devagarinho como se estivesse a soprar por uma palhinha; - encher o peito de ar e depois mandar o ar fora como se estivesse a fazer bolinhas de sabão. • Imaginação guiada: com o intuito de induzir um estado de maior relaxamento no seu filho convide-o a imaginar que está no seu lugar preferido, onde se sente seguro, e incentive-o a falar sobre as suas sensações e sentimentos. Poderá ainda reconstruir com o seu filho, os momentos divertidos em família. • Informe os profissionais de saúde acerca das palavras e sinais que 34 35 • Meditação guiada: use o exercício de visualização para regular a Ao olhar para pertinho dos teus pés, vês um búzio. É o búzio mais dor na criança que lhe apresentamos de seguida, para promover um bonito e maior que já viste. Enquanto pegas nele sentes o seu calor, estado de relaxamento que ajude na diminuição da dor e da ansiedade e as suas diferentes texturas. É o búzio mais bonito do mundo! que a dor provoca. E é mágico!!! Podes contar-lhe todos os segredos, problemas, preocupações, que ele vai guarda-los em segurança. Podes também Exercício de visualização para regular a dor na criança: falar-lhe sobre a tua dor, como te faz sentir, e como desejas que ela se vá embora. Podes contar-lhe tudo, mesmo os problemas maiores, ou os mais pequeninos de todos. O objectivo deste exercício será proporcionar ao seu filho um estado O teu búzio pegará nas coisas menos boas e transforma-las-á em de relaxamento através de um processo meditativo, que combina a coisas boas e pensamentos felizes. visualização e a imaginação. Imagina agora que estás a segurar no teu búzio e a segredar-lhe aquilo Para que este exercício possa ser realizado necessita apenas de estar que lhe desejas contar. Mais ninguém ouvirá o que lhe dizes, e ninguém num local tranquilo que permita ao seu filho concentrar-se na sua voz poderá saber o que lhe estás a contar. Só o teu búzio e tu! Ao mesmo e, de modo pausado e calmo, ler o texto que lhe deixamos. tempo que lhe vais falando sobre a tua dor e as tuas preocupações, ele puxa-as para dentro dele, para que consiga afasta-las de ti. • Coloca-te numa posição tão confortável quanto possível e fecha os olhos. Respira com calma. Enche o peito de ar como se estivesses a Aproxima um bocadinho mais o teu búzio e fala-lhe agora sobre a tua cheirar uma flor e deita o ar fora como se estivesses a soprar por uma dor. Conta-lhe tudo o que sentes e pensas quando tens essa dor. palhinha. ( fazer uma pausa) E agora a dor desapareceu... Como que por magia foi ficando mais pequenina e desapareceu. Imagina que estás numa praia. É a tua praia preferida ...Ouves o som das ondas do mar que rebentam contra as rochas, sentes o calorzinho Enquanto seguras o teu búzio sentes-te relaxado, tranquilo, e sem do sol na tua pele e a areia quentinha e macia nos teus pés. Quando dor. Repara como o teu corpo está agora relaxado, e a tua respiração reparas no mar, vês que ele tem muitos tons de azul e de verde, e ficas mais calma. Guarda este sentimento. Sempre que tiveres dor podes um bocadinho a olhá-lo, enquanto o sol pinta reflexos prateados ao voltar a esta praia, segurar o teu búzio mágico, e voltar a sentir esta ver-se ao espelho naquele mar imenso. tranquilidade. E voltar a sentir-te sem dor. O teu búzio mágico vai estar sempre à tua espera na tua imaginação.” 36 37 Poderá assegurar o seu filho de que, quando estiver melhor, irão ambos procurar o seu búzio mágico, aquele que para ele será o mais bonito. Até lá, poderá sugerir lhe que use uma pedrinha, e oferecer-lha, para que possa aperta-la sempre que tiver dor, e relembrar este exercício. 38 39 O poder de fantasia e imaginação é útil muito para além da regulação da dor. E, quando estamos doentes, são, muitas vezes, as realidades que construímos dentro de nós, que o poder da imaginação infantil nos permitem conduzir internamente o organismo para estados favoráveis a uma boa recuperação. Mais uma vez, os miúdos ganham aos adultos na facilidade com que o fazem! Não é só a dor que precisa ser regulada e acalmada – todo o desconforto associado à doença, seja ela qual for, pode ser ajudado canalizando a capacidade de fantasiar e até a disponibilidade do organismo para o processo de recuperação pode ser melhorada. Deixamos-lhe um pequenino exercício para fazer com o seu filho. E também o pode fazer para si, claro. Exercício tipo feixe de luz. Numa posição muito confortável, sentado ou deitado... imagina que estás num lugar muito sossegado, onde não há mais ninguém... ao fundo uma estrela distante e pequenina brilha... aparece e desaparece como numa noite estrelada. Esta estrela mais brilhante guarda toda a luz e energia do universo e por isso é tão bonita como um diamante, é uma estrela cintilante e bondosa. Esta estrela de luz está mais ou menos a flutuar a meio da tua testa... pequenina, de luz branca, muito intensa 40 41 e brilhante. Sente a força desta estrela tão bondosa... esta estrela Repara o que esta luz brilhante faz no teu corpo, repara como te faz começa agora a flutuar para cima... sobe no ar... e chega ao cimo sentir bem, como te faz sentir tranquilo, como te faz sentir bem e calmo, da tua cabeça. A estrela está agora a brilhar exactamente por cima como te faz sentir cheio de energia, cheio de saúde. Repara como esta da tua cabeça... tanta luz... está a aumentar de tamanho, está a luz vai a todos os sítios do teu corpo, mesmo lá dentro, na barriguinha, crescer... está maior e mais brilhante. Esta estrela é muito poderosa... no coração, nos pulmões e deixa tudo a sentir-se bem… Tanta luz... esta estrela branca, brilhante, pura, verdadeira, única é capaz de curar. tanto bem-estar... e esta energia da estrela brillhante continua a descer Sente o calor quentinho que ela dá, um calor que te faz sentir ainda no teu corpo e vai agora até às tuas pernas, passando pelos joelhos e mais confortável, aconchegado, protegido... Vê como esta estrela se chegando às pontas dos dedos dos pés... esta estrela curativa limpa torna cada vez mais brilhante e luminosa à medida que cresce e se tudo o que existe no teu corpo e te faz mal, limpa tudo que causa dor... torna maior... mesmo em cima da tua cabeça. Esta estrela vai limpar o limpa o que faz dói-dói. teu corpo todo, vai trazer-te mais energia, mais conforto, mais calma, mais paz... e afastar tudo aquilo que não está bem. Imagina que é um rio de água branca brilhante a correr e que a sentes passar em todos os lados. Grande, cada vez maior, uma luz muito Puxa esta estrela mais perto de ti... mais perto da tua cabeça e sente branquinha, bondosa, quentinha... esta luz atravessa todos os poros a energia dela a tocar-te... é tão boa esta luz, faz-te sentir tão bem, tão da tua pele e chega a a todo o lado, até aos ossos... calmo... esta estrela cuida de ti... cuida de todo o teu corpo. Esta luz está a cuidar de ti, esta luz está a proteger-te, é tua amiga e Esta estrela está agora maior, liberta tanta luz... essa luz começa a a cair ajuda-te a sentires-te melhor, com ais energia e com mais saúde. sobre ti... sente a energia de tanta luz, em cada parte do teu corpo... desde o cimo de cabeça, onde essa luz limpa os pensamentos maus, E enquanto ela trata de ti, podes dar atenção a alguma parte do corpo limpa todas as sensações desagradáveis e cria novos pensamentos... que dói mais, dá atenção àquela parte do corpo que precisa de mais pensamentos mais tranquilos, pensamentos mais positivos... que te luz brilhante. Aí… exactamente aí... a luz vai agora brilhar com mais fazem sentir melhor, mais forte, com mais energia. força nessa parte do teu corpo, para ajudar a ficar bem e protegida e Esta luz branca, luminosa e muito brilhante desce agora pelo teu com saúde. pescoço e pelos teus ombros e alivia toda a tensão que podes sentir, 42 entra em todos os teus músculos, em todos os teus nervos, desce Repara no teu corpo que continua a ser iluminado pela estrela que está pelas tuas costas, e limpa tudo o que não está bem, limpa tudo o no cimo da tua cabeça. Essa estrela vai agora começar a encolher... que dói, limpa tudo o que te faz sentir mal. Esta luz entra em todos encolhe... encolhe para o tamanho de pequena estrela, aquela estrela os bocadinhos do teu corpo e limpa... cura... trata... dá-te energia... que brilhava em frente à tua testa, estás a ver a estrela em frente à 43 tua testa?... está novamente pequenina, mas tem tanto poder e dá-te tanta proteção. Esta estrela protege-te, hoje e sempre, e brilha só para ti, e vai continuar a iluminar-te todos os dias. A energia que recebeste é tua, a energia que recebeste está dentro de ti, a energia que recebeste está em cada parte de ti... e brilha como aquela estrela distante e pequenina... que aparece e desaparece numa noite estrelada. 44 45 Grande parte das crianças, nalguma fase do seu desenvolvimento, parecem apresentar recusa ou seleção alimentar. Mas calminha, papás: esquisitices na hora das refeições é uma tendência perfeitamente natural dos mais Esquisitices da alimentação pequenotes, e na maioria das vezes, é de fácil solução, pelo que não há motivo para grandes preocupações ou alarmismos! De qualquer modo, é sempre importante perceber qual o motivo dessa recusa alimentar ou falta de apetite. Em alguns casos existem factores orgânicos associados a essa recusa alimentar, como por exemplo amigdalites ou aftas que podem dificultar a deglutição de determinados alimentos que são mais sólidos ou rijos. E as crianças, por vezes, parecem simplesmente querer ignorar os momentos de refeições porque lhes roubam algum tempo às suas brincadeiras. A recusa alimentar pode funcionar ainda como uma chamada de atenção relativamente à família. E por fim, tal como os adultos, também as crianças têm as suas preferências quanto à alimentação, e o que habitualmente acontece é que os alimentos mais saudáveis são aqueles que os mais pequenotes colocam na sua lista de “alimentos indesejados”, parecendo apresentar um paladar mais apurado para os alimentos mais doces. 46 47 Os estudos têm comprovado que o desejo pelo açúcar por parte das afins… mas lembrem-se que é uma excepção e um reforço para todas crianças está relacionado com a taxa de crescimento acelerado dessa as conquistas do seu filhote. fase de desenvolvimento. Mas a luta pelos alimentos é uma batalha que pode ser ganha com esforço e envolvimento por parte de todos os elementos da família… Para além do recurso à fantasia pode ainda: Como diz o provérbio: “para grandes males, grandes remédios.” • Mostrar-lhe que os momentos de refeição fazem parte da rotina Alimentação: dicas familiar, e que todos beneficiam desse momento único (por vezes, o único do dia em família); A atitude dos pais neste processo é fundamental e umas das estratégias • A refeição deve ser igual para todos os elementos da família (caso que podem utilizar é, por exemplo, criar uma pequena história onde a não existam contra indicações), mas em doses diferenciadas; criança esteja envolvida. • Estabeleça horários regulares ao longo do dia para comer - Não Em conjunto, podem recriar uma pequena história, onde a criança permita que ele coma fora das horas das refeições, pois isso evita a será um super-herói/heroína, ou um guerreiro(a), que tem como falta de apetite que muitas vezes surge nos momentos das refeições; missão conquistar novos alimentos, e que todos no seu reino a vão reconhecer como alguém forte, corajoso e que procura lutar contra as • Procure não esconder ou mentir acerca dos alimentos que a criança suas adversidades ou imigos. está a experimentar. É importante que ela saiba aquilo que come, pois isso permite-lhe aprender a distinguir e a aceitar os diferentes sabores Para motivar a criança nesta conquista, pode criar com ela um quadro e texturas dos alimentos; com autocolantes, e a cada alimento conquistado, conquista também um autocolante. • Nos momentos de experimentar novos alimentos, procure misturar alimentos pelos quais a criança já demonstre preferência com esses Quando finalizar o quadro, terá direito a um prémio, que poderá ser novos alimentos, ou até com aqueles em que apresenta uma certa fazer durante uma semana um jogo divertido em família (o preferido resistência; da criança) ou no final da semana ter direito a um lanche especial ou à sua refeição preferida… preparem-se papás para as guloseimas e 48 49 • Envolva a criança na participação de algumas refeições – poderá ser benéfico uma vez que a criança começa a reconhecer alguns alimentos e já não será novidade quando os vir já no prato cozinhados; • Procure não dar muita importância à crítica pela comida; por vezes são apenas tentativas para chamar a atenção e “oportunidades de fuga às refeições”. 50 51 Até os crescidos têm algum respeitinho a cenários médicos e a agulhas a aproximarem-se, verdade? As crianças, então, desenvolvem mesmo medo, frequentemente. O medo, nesse caso, é bem natural: vão ao médico quando não se sentem bem e, por vezes, têm de passar por exames desagradáveis. E as picadas doem, claro. Por isso, ocorre um mecanismo de associação muito natural: contexto médico = coisas desagradáveis e picas = dor. Muito simples, evidentemente. O importante é que o seu filhote se sinta em segurança, apoiado e compreendido nos seus receios pelo pai e mãe. Nunca menospreze o susto e a ansiedade da incerteza O medo da Bata branca e das picas quanto ao que lhe pode reservar o consultório médico ou de enfermagem. Com palavras tranquilizadoras e adequadas à idade, é importante ir explicando que são pessoas que o vão ajudar a sentir-se melhor. Facilmente, o médico pode passar a super-herói, capaz de assustar dói-dóis, mas primeiro têm de os procurar os dois – crie espírito de colaboração no seu filhote, para que ele se sinta mais no controlo da situação. Também é importante não o enganar, sobretudo em procedimentos que possam doer – a dor, quando não é esperada, é muito mais assustadora. E, no fim, dos exames, consultas e procedimentos médicos, não se 52 53 esqueça de lhe elogiar a coragem e recompensar com muito mimo! • “Não vai doer nadinha” ou “Vai doer um bocadinho”? Evite tranquilizar Deixamos-lhe algumas dicas para suavizar medos infantis naturais dos a criança com frases que poderão não corresponder à realidade. actos médicos e uma pequena história para contar aos seus filhotes, Associe, antes, a dor a uma imagem engraçada que a possa atenuar. que os ajuda a contextualizar a situação e a transformar medos em (“se doer, pensa que é uma formiga maluca e aperta a minha mão com curiosidade. muita força!”, por exemplo). Dicas para os pais: • Valorize sempre! É importante que o seu filhote perceba que se orgulha dele e que, se for mesmo muito difícil e ele precisar de chorar • “Aquela bata branca assustadora!”. Muitas vezes, o medo da bata branca e dos utensílios utilizados pelos médicos e enfermeiros surge porque os mais pequenos não percebem qual a sua utilidade. No seu imaginário, constroem significados assustadores. Explicando ao seu um bocadinho, saberá compreender. História para as crianças para lidarem com o medo. filhote o motivo pelo qual os profissionais de saúde usam as batas e os utensílios estará a dar-lhes um significado concreto, acabando com Às vezes, aparecia lá em casa um senhor muito chato. Era muito estes “bichos papões”. gordinho e grande, quase do tamanho de um elefante. Chamava-se Senhor Medo. • Empatize com o sofrimento mas não o antecipe. Ao ouvir e compreender a angústia que o seu filho sente nestes momentos, Este Senhor Medo Malvado, aparecia sempre quando chegava a estará a promover uma sensação de segurança. Por outro lado, ao altura de ir ao médico. Era muito estranho! Andava lá por casa, não dizer-lhe que vai ao médico com demasiada antecedência, abrirá a parava quieto…, sempre a chatear os meninos! porta à chegada dos medos e das angústias. Quando eram horas de jantar, o Senhor Medo agarrava-se à barriga • “O meu amigo dos Doutores e das Picas”. Porque, em meio hospitalar, dos meninos e eles não conseguiam comer. Sentiam a barriga tão os pais nem sempre os pais podem estar tão perto dos filhos quando apertadinha que não cabia lá mais nada. gostariam, deixe que o seu filhote leve consigo um pequeno peluche. 54 Em situações de internamento ou cirurgia, um pijama com bolso onde Quando eram horas de dormir, lá vinha o Senhor Medo e falava, falava, caiba o pequeno peluche poderá ser uma grande ajuda nos momentos falava… Muito rápido e numa língua muito esquisita. Ninguém percebia de maior ansiedade. nada e, claro… os meninos quase não conseguiam dormir. 55 Estes Senhores Medos tinham um jogo preferido que faziam sempre No dia do médico, lá iam os meninos com os seus pais. E o Senhor antes de ir ao médico! Com a ajuda dos meninos, dos pais e dos Medo ia também! E levava quase sempre uma amiga: a Menina Birra. peluches, era muito divertido! Era um jogo de imaginar!! Eram muitos, quase não cabiam no carro, e era uma grande confusão. E, ainda por cima, o Senhor Medo Malvado Gigante ficava ainda maior • Imaginavam cores diferentes e muito giras para a bata dos médicos no dia do médico. Era mesmo parecido com um elefante gigante… e dos enfermeiros. Os meninos chegavam ao médico sempre muito assustados. O Senhor Medo pregava-lhes muitos sustos. E a Menina Birra? Fazia-lhes • Imaginavam que as picas eram umas formigas tontas aos saltos em cocegas na garganta e nos pés e os meninos não conseguiam parar cima dos braços dos meninos. de gritar e bater com os pés no chão. • Imaginavam que aquelas coisas redondinhas e frias que os médicos Era sempre assim… põe no peito e nas costas dos meninos eram bolas de neve gigantes a cair do céu. Mas, um dia, os meninos encontraram outro menino no médico. Estava com os pais e tinha um peluche muito pequenino e fofinho. O menino, ...Imaginavam muitas coisas e iam todos muito menos aflitos para o os pais e o peluche estavam a falar com o Senhor Medo que ia lá a médico! casa deles! Também ia um Senhor Medo a casa deles? Que estranho… Sabiam que, se doesse, ia ser muito rápido e ia passar. E sabiam que E o Senhor Medo Malvado Gigante lá de casa até já estava a ficar mais os pais e o peluche iam estar lá sempre para ajudar! calmo. Os meninos puderam assistir à conversa. O Senhor Medo descobriu que não precisava de ter medo do Senhor Foi, então, que perceberam o que se passava: Doutor. Mas se tivesse, bastava falar e fazer o Jogo de Imaginar! É que estes Senhores Medos tinham medo daquela bata branca esquisita do médico. E daquelas coisas todas que eles usam para fazer os exames também! Era por isso que não paravam quietos e andavam sempre a tentar pregar partidas aos meninos. Mas, quando os meninos, os peluches e os pais falavam com eles, ficavam mais calmos. 56 57 Não pense que cuidar de si é uma prioridade de segunda ordem! É crítico em qualquer situação e, em tempos de stress e que exigem disponibilidade emocional, mais ainda. Cuide de si! O seu filho é especialmente exigente, emocionalmente e em tempo requerido, quando está doente. Por isso, saber poupar-se, manter a tranquilidade, reservar tempo para relaxar um pouco e salvaguardar o seu bem-estar são tudo coisas absolutamente indispensáveis para conseguir estar disponível para o seu filho. Olhe em volta e recrute todas as pessoas que o possam ajudar na tarefa de cuidar do seu filhote ou nas outras suas tarefas que ficam por fazer por estar dedicado ao acompanhamento da criança. Somos todos interdependentes, pelo que temos de ser capazes de pedir ajuda, sempre que necessário. Aprenda a estabelecer prioridades e a dizer “não” a tudo o que fique acima do seu limiar de conforto – não é possível ter um filho doente em casa e manter todas as responsabilidades habituais, por isso, vai ter de fazer cedências e terá, também, de recusar algumas tarefas até que possa retomar o seu dia-a-dia habitual. E vai cansar-se mais, porque os pequenitos consomem muita energia dos seus cuidadores quando estão doentes, por isso, convém defender bem o seu tempo para que 58 59 também possa descansar mais. Finalmente, lembre-se que a tolerância é uma atitude sem destinatário: se consegue ser tolerante para com a maior exigência do seu filho nesta fase de mal-estar, também poderá aplicar a tolerância a si mesmo, sabendo que, tal como ele, também poderá estar impaciente, aflito e sem energias. Use o mesmo carinho que dedica ao seu filho para cuidar de si também. Afinal, o carinho é inesgotável, gratuito, amplamente disponível e, sobretudo, sabe bem a miúdos e a graúdos, por igual. Fique bem e as melhoras rápidas! 60 61 Finalmente o dói-dói foi-se embora e o regresso à normalidade familiar urge. Muitas vezes esta etapa é em si mesma um desafio para a criança e para os pais. Iupiii! O meu filhote já está bom Os dói-dóis são visitas inesperadas e desagradáveis. Procurando minorar os efeitos das suas estadias, as famílias reorganizam as rotinas, ajustam os seus comportamentos e disponibilidade emocional às necessidades fisiológicas e emocionais específicas das crianças nestes momentos. Assim acontecem os jantares dados à boca (mesmo aos mais crescidos) no sofá tapado com a mantinha e enquanto vê os desenhos animados… contornando a redução de apetite e algumas esquisitices alimentares… Também assim se acaba a dormir na cama dos pais, onde se sentem mais quentinhos e acompanhados, e os pais também porque dão conta de qualquer alteração ou necessidade urgente. Se calhar, também são suspensas algumas tarefas como o arrumar os brinquedos, ajudar a pôr a mesa... ...Até que as maleitas, finalmente, se decidem ir embora, fazendo questão de deixar connosco algumas recordações da sua visita que se prolongam ainda por alguns dias, como a tosse, a maior vulnerabilidade a recaídas. É aquela fase “nem-nem”, ou seja, “já não estou doente, mas ainda não estou bom”. É nesta a fase que se vai preparando o retorno à normalidade. É importante que seja explicado à criança que já não está 62 63 doente, de forma adequada à sua idade, bem como o que significa estar a recuperar. Esta fase de transição, aos olhos de uma criança, Depois de um período de grande atenção, voltar à escola pode ser um pode ser confusa, por isso é também importante que se explique o que desafio para as crianças pequenas ou verem os pais a regressar ao é estar a ficar bom, porque é que se têm de manter alguns cuidados, trabalho. Aquela proximidade acrescida soube bem e, provavelmente, mas outros já não são necessários. ambos gostariam de a prolongar. Reconhecer este desejo e as emoções que a criança possa estar a sentir, ajudá-la a verbalizá-las E é então que o combate às “manhas” entra em cena. Estar doente e dar-lhe segurança é uma missão complexa e extenuante, mas é desagradável, é certo, mas traz alguns ganhos secundários: vista necessária. grossa a algumas exigências, mimos extra que no dia-a-dia não são possíveis de manter (como a permanência em casa com os pais ou Permita que a criança escolha um objeto para levar consigo para a avós), regalias de acesso à cama dos pais ou de refeições no sofá ou creche ou escola. Algo de significativo e familiar que o apoie nesta com a ajuda mais ativa do adulto… transição. Aos mais crescidos é também importante assegurar que caso seja necessário a educadora telefona e o irão buscar. Muitas Combater as “manhas” exige grandes doses de carinho e tolerância; vezes, nos períodos de recuperação o medo que o dói-dói volte está importantes, pois ao fazê-lo estamos a mostrar confiança na muito presente, pelo que assegurar que haverá uma resposta rápida recuperação e, logo, a securizar a própria criança. nessa eventualidade será tranquilizante. Uma estratégia poderá ser apresentar cada mudança no sentido da Cada pequena vitória no regresso à normalidade, é um passo mais normalidade pré-dói-dói como uma vitória, uma conquista. Um sinal de perto da recuperação total. A “Missão Saúde” é um trabalho de equipa que vencemos o dói-dói e estamos cada vez mais fortes! que exige muitas injeções de amor, mimo e tolerância! Outra dica é apresentar uma alternativa à “manha” que represente um ganho, algo de mais positivo e adequado. No lugar de desenhos animados no sofá durante a refeição, porque não uma sessão de cinema em família após jantarem todos juntos? O fundamental no combate às “manhas” é que a criança continue a ter a atenção e carinho que tão bem lhe souberam, mas num contexto de saúde. Assim, a “manha” deixará de cumprir a função que pretendia. 64 65 A Oficina de Psicologia é a mais reconhecida clínica de psicoterapia em Portugal, com presença nacional. Valorizados pela qualidade e eficácia das nossas intervenções, também assumimos um papel dinâmico ao descomplicar a Psicologia e fazer chegar informação útil a todas as pessoas, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida. Dispomos de uma equipa especializada em saúde mental das crianças, adolescentes e famílias, responsável por estes conteúdos, além da equipa que se dedica ao trabalho com o público adulto. Com um website rico em informação sobre saúde mental e de elevado tráfego http://oficinadepsicologia.com - um Facebook que reúne dezenas de milhares de seguidores das nossas publicações diárias – http://facebook. com/oficinadepsicologia - e uma presença constante nos órgãos de comunicação social, a Oficina de Psicologia contribui de uma forma decisiva para o conhecimento e utilização prática das ferramentas de gestão psicológica conducentes a um pleno usufruto da vida. [email protected] Apresentação Telefones: 210 999 870 (Sede, Lisboa e zona Sul) 220 997 151 (Norte) 239 099 029 (Centro) 66 67 Os dados, opiniões e conclusões expressos nesta publicação não refletem necessariamente os pontos de vista de Bial, mas apenas os dos Autores. A Bial não se responsabiliza pela atualidade da informação, por quaisquer erros, omissões ou imprecisões. 68 69 • FEZ-SE UMA EDIÇÃO DE QUINZE MIL EXEMPLARES EXCLUSIVA PARA: Fim AVENIDA DA SIDERURGIA NACIONAL 4745-457 SÃO MAMEDE DO CORONADO PORTUGAL • DESIGN ICEBERGUE COMUNICAÇÃO • IMPRESSÃO ORGAL • ISBN 978-989-8483-20-1 • DEPÓSITO LEGAL 0000 70 71 2P14MCPCV02 O medo da Bata Branca e das Picas Super Heróis com dói-dói Mãe, o mano está doente? Pai, Mãe: porque é que eu estou doente?