Pai, Mãe: porque é que eu estou doente? Mãe, o mano está doente?

Transcrição

Pai, Mãe: porque é que eu estou doente? Mãe, o mano está doente?
2P14MCPCV02
O medo da Bata
Branca e das Picas
Super Heróis com dói-dói
Mãe, o mano
está doente?
Pai, Mãe:
porque é que eu
estou doente?
Queridos Pais
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Queridos pais,
As crianças são como os super-heróis! Capazes de maravilhosos feitos,
mestres em curiosidade, escondendo dentro de si uma imaginação sem fim.
Nalguns momentos da sua vida, os super-heróis têm como missão vencer
os seus dói-dóis. E aí, à sua força e energia, alia-se a força e energia dos
sr. doutores, dos remédios e, muito, muito, importante dos super papás!
Ter os filhotes doentes é uma aflição. Em primeiro lugar, porque o mal-estar
dos pequenitos deixa qualquer pai ou mãe de coração apertado. Depois pelas
dificuldades logísticas que uma criança doente obrigatoriamente impõe na
rotina familiar. E ainda porque as crianças modificam os seus comportamentos
habituais por se sentirem mal: surgem mudanças nos padrões alimentares e
de sono, estão impacientes e birrentas, regridem muitas vezes para hábitos já
ultrapassados, requerem mais atenção e são mais difíceis de entreter.
Não é tarefa fácil para os pais! Por isso, a Oficina de Psicologia reuniu para
vós, neste pequeno livro, algumas das sugestões mais úteis para vos ajudar a
lidarem com o vosso filhote com dói-dói. Aqui, vão encontrar algumas razões
que explicam porque é que o vosso filhote está a reagir da forma como reage,
dicas e sugestões práticas sobre a melhor forma de lidar com comportamentos
alterados pelo mal-estar e até alguns exercícios já preparados para usar com os
miúdos que se debatem com dificuldades específicas.
Em todas as dúvidas que tenha sobre a evolução e os sintomas do vosso filho,
naturalmente, conte com o seu médico. E conte connosco também sobre a
melhor forma de lidar com as suas emoções e comportamentos.
Votos das melhoras rápidas do vosso pequenito, embrulhados num forte abraço.
A equipa da Oficina de Psicologia
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Índice
Queridos Pais ............................................................... 5
Birrinhas do dói-dói ....................................................10
Sono com dói-dói ....................................................... 14
Então mas ele regrediu? ....................................... 20
O que tem o mano? ................................................. 24
Brincadeiras e distrações ..................................... 26
Pai, mãe: porque é que estou doente? ......... 30
Quando dói ................................................................... 32
O poder da imaginação infantil ...................... 40
Esquisitices da alimentação ................................ 46
O medo da Bata branca e das picas ............. 52
Cuide de si! ................................................................. 58
Iupiii! o meu filhote já está bom ...................... 62
Apresentação Oficina de Psicologia ............... 66
Bial .................................................................................... 68
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Super Heróis
com dói-dói
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Porquê?
Lembram-se da última vez que estiveram adoentados?
Não era só o corpo que refilava, com dor e mal-estar,
verdade? Também as emoções se degradaram: um humor
birrinhas do
dói-dói
mais negro, uma impaciência grande, um não estar bem
em lado algum.
Numa criança tudo isto piora porque não tem a autonomia
nem a capacidade de auto-regulação de um adulto.
E muito desse mal-estar emocional é traduzido num
comportamento birrento.
De uma forma geral, com uma criança doente é preciso
aumentar a dose da paciência e tolerância, mas
demonstrando que se trata de uma situação excepcional.
Mas, mesmo com esta dose extra de reforço, isso
não significa que tudo lhes seja permitido, por isso, é
importante que os pais e restantes elementos da família
Birrinhas
do dói-dói
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conheçam algumas das nossas sugestões práticas para
lidarem com estes comportamentos, assegurando a
tranquilidade possível de todos.
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O que fazer?
A Dona Impaciência.
• Como sempre, a prevenção é o melhor remédio e compreender
A Dona Impaciência, quando está doente, cresce, cresce, até ficar do
e prever que a frustração do seu filhote será maior nestes dias é o
tamanho de um gigante. Até a voz da Dona Impaciência se transforma
primeiro passo para combater as birras.
num vozeirão grosso! Ora isto não é nada bom, porque a incomoda
muito. Imagina se ficasses, de repente, do tamanho de um gigante!
• Se perceber que aquilo que está na base da birra é insegurança e
Nem a roupa te servia! E os teus amigos ficavam todos lá em baixo,
carência devido ao facto de estar doentinho, responda com carinho e
muito pequeninos, e não ias conseguir sequer brincar com eles.
disponibilize mais tempo para o seu filho neste dia difícil.
Por isso, a Dona Impaciência, que é muito esperta, quando está
• Dê-lhe atenção quando se porta bem e faz aquilo que sabe ser
doente, tem um truque para não crescer mais do que seria bom.
suposto fazer, elogiando-o.
Queres tentar o truque dela? Então, vamos lá.
• Desvie-se dos conflitos, por exemplo, distraindo-o e, se possível,
Deita-te de barriga para cima e fecha os olhos um bocadinho. Podes
evite situações onde é costume fazer birra.
colocar o teu bonequinho/peluche preferido sobre a tua barriga. Agora,
inspira, como se estivesses a cheirar uma bonita flor. Preenche o teu
• Relembre as regras e limites estabelecidos com um tom de voz calmo
corpo com sensações agradáveis. A Dona Impaciência vai gostar
e firme, para que o seu filhote perceba que apesar dos pais estarem
porque ela gosta muito de flores. Expira devagarinho. Deita o ar fora,
mais apreensivos, não vale a pena tentar testá-los ou manipulá-los.
sem pressa, como se tivesses a apagar um bolo de anos cheio de
velas. A barriga mexeu? O teu bonequinho subiu enquanto inspiravas
• Não altere as rotinas do dia para que a criança não seja apanhada
e desceu quando expiravas? É isso mesmo. Faz novamente. Inspira
de surpresa, o que aumenta a possibilidade de recusar o que lhe é
e sente a barriga a encher. Expira e sente a barriga a ficar muito
pedido.
magrinha. Repete várias vezes, sem pressas. Enquanto deitas o ar
fora, imagina a Dona Impaciência a ficar cada vez mais pequenina.
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• Caso a birra se instale, ignorar será a melhor solução, em situações
Enquanto expiras imagina a Dona Impaciência a ficar cada vez mais
pouco graves. Lembre-se: está doentinho, por isso, este não é o
bem disposta. Já não parece um gigante irritado, pois não?. Parece
momento para grandes estratégias educativas.
um formiguinha simpática e alegre! Como te sentes agora?
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Quando as crianças estão doentes, há um desequilíbrio
na rotina e tanto elas como os pais precisam mais uns dos
outros. Será marcante para a criança, o modo como os
pais cuidam dela nestas ocasiões.
O stress associado à doença irá certamente prejudicar
o sono e algumas vitórias antes conseguidas poderão
sofrer algumas regressões. São muitos os problemas
que podem perturbar uma família inteira quando uma
criança fica acordada e com exigências durante a noite.
O apoio, conforto e carinho são muito importantes, mas
a transmissão de segurança é fundamental. A criança
doente fica mais insegura, precisando de sentir que os
pais estão tranquilos e que tudo vai correr bem, para
conseguirem adormecer. As emoções também vão
influenciar o desenvolvimento da doença, por isso, quanto
mais tranquila estiver a criança, melhor será o sono e mais
depressa ficará bem.
Dê todo o apoio e explique quais os sintomas que a
criança poderá sentir de noite, para que não acorde muito
Sono com
dói-dói
assustada. Tranquilize-a dizendo que virá ao seu encontro
sempre que necessário.
Quando a criança estiver melhor, poderá continuar
alguns comportamentos adotados enquanto doente,
como por exemplo as dificuldades em adormecer. Estes
comportamentos terão que ser trabalhados de uma forma
firme. A criança fará todas as tentativas para conseguir
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captar a atenção dos pais que obteve enquanto doente. Assim,
a rotina habitual do dormir.
assegure-se que cria oportunidades para a criança voltar a adormecer
sozinha. Uma conversa pode ser muito importante para explicar as
• Termine o dia transmitindo-lhe uma imagem de segurança para que
medidas que vai tomar para ajudá-la a dormir sozinha a noite toda, e
o seu filho saiba que pode contar consigo durante a noite, e com uma
para que se sinta segura. Devagarinho, eles conseguem, e tudo não
mensagem de esperança de que irá ficar bom depressa.
passou de uma fase.
• A temperatura equilibrada, o quarto escuro e silencioso também
Dicas para regular o sono:
contribuem para que a criança adormeça mais facilmente.
• Estando doente é provável que tenha uma noite de sono menos
• Tomar um banhinho antes de ir dormir poderá ser relaxante e
sossegada, acorde mais vezes e chame os pais. Verifique se a criança
contribuir para o seu filhote durma melhor.
necessita de algo e tranquilize-a. Deve evitar pegar-lhe ao colo ou
deitar-se ao seu lado na cama, acender-lhe luzes fortes ou qualquer
• Atividades demasiado estimulantes e animadas, como cócegas,
outra coisa que possa estimulá-la, para que volte rapidamente aos
pulos, ver televisão, jogos de consola antes de dormir devem ser
seus sonhos.
evitados, pois despertam a criança e dificultam a ida para a cama e a
noite de sono.
É só chamada de atenção?
• Ler histórias pequenas e simples, ouvir uma canção calma, são
opções para preparar a ida para a cama de forma agradável.
Às vezes, com tanta informação disponível é fácil baralharmo-nos nas
informações de que dispomos e confundir conceitos. Muitas vezes,
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• Não abra exceções! Lembre a criança que deverá ir para a cama à hora
vem com um encolher de ombros a frase “Isso é só ele a chamar a
habitual. Manter a rotina é essencial para regular o sono, especialmente
atenção”. E ficamos com a noção de que uma chamada de atenção é
quando está doente, evitando o aumento da irritabilidade, sonolência e
algo de pouco importante, assim como um capricho que pode e deve
cansaço no dia seguinte.
ser negligenciado.
• Não deixe o seu filho adormecer nem dormir na cama dos pais. Caso
Muito particularmente no caso de uma criança doente, mesmo que
isso aconteça, assegure-se que a criança compreende que é uma
interprete um comportamento como chamada de atenção, saiba que
situação excepcional e quando a criança melhorar retome de imediato
é mesmo para lhe prestar atenção.
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compreensão e valide os sentimentos da criança, para que se sinta
O seu filhote está desconfortável e nem sequer percebe o que lhe
aceite: “sei que essas dores de barriga são muito aborrecidas, mas
está a acontecer e quando vai passar, por isso precisa da atenção
logo, logo elas vão passar e vais sentir-te muito melhor”. Desta forma
incondicional dos pais. Precisa de ser tranquilizado e mimado.
a criança sentir-se-á compreendida.
Precisa de injecções de carinho e tempo dedicado, sobretudo porque
• Leia histórias/contos divertidos: ao ler uma boa história ou conto,
não tem, ainda, a capacidade para se confortar a ele próprio, estando
ajuda a criança a estar entretida e a sentir que os pais estão ao seu
inteiramente dependente dos adultos que o rodeiam para conseguir
lado e disponíveis para si na sua recuperação.
manter-se em conforto.
Use o mimo como medicação: porque quando há dói-dói, o mimo
Assim, deixamos-lhe algumas dicas para aumentar a mimice nestes
é o melhor remédio. Porque não usar o mimo como medicamento e
momentos de dói-dói.
aliado da recuperação? Os pais poderão ser os “Doutores Miminho”
de serviço, sempre prontos a dar “um xarope de beijinhos”, “uma
Mimices ao máximo:
injeção de colinho”, “umas ampolas de abraços apertados”! Estas
expressões não só irão divertir a criança, como farão com que se sinta
mais segura, confortável e apoiada.
• Alimente pensamentos positivos: tenha um discurso positivo, para
que a criança tenha uma atitude positiva face à recuperação e não se
sinta tão tristinha por estar adoentada: “Que valente que tu és!”, “Forte
como tu és vais ficar bom rapidinho!”, “És mesmo muito corajoso!” são
expressões que ajudam a criança a sentir-se orgulhosa de si e mais
confiante.
• Reforce o quanto gosta do seu filho: Não tenha medo de exagerar ao
dizer diariamente ao seu filho o quanto gosta dele. Quando eles estão
adoentados, um “gosto muito de ti” faz com que as crianças se sintam
mais seguras e reconfortadas.
• Seja empático: quando as crianças estão doentes, é normal que
se queixem com frequência. Nessas ocasiões tenha uma atitude de
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Algumas crianças quando estão com dói-dói voltam a ter
comportamentos que já tinham deixado; pedir a chucha,
ir para a cama dos papás, voltar a usar fralda, pedir ajuda
nas refeições, a tomar banho, entre outras. Tendo em
Então, mas ele
regrediu?
conta o momento de fragilidade em que se encontra
estes comportamentos podem transmitir segurança e
conforto, facilitando de alguma forma, que o dói-dói
diminua de intensidade.
Algumas vezes os papás ficam preocupados porque os
filhos podem estar a “regredir” mas devem ter presente
o momento difícil para a criança e perceber que se trata
de uma situação temporária até que se volte a sentir
novamente forte e saudável.
As doses reforçadas de paciência e de tolerância são muito
importantes. Não forçar a extinção do comportamento nem
usar métodos drásticos, e evitar comentários negativos ou
de censura, são cruciais para que restabeleça as rotinas
anteriores ao dói-dói.
Logo que se apercebam que a criança ultrapassou a
situação, podem iniciar um treino gradual, começando a
restringir os comportamentos inadequados.
Caso perceba que há alguma resistência, envolva o
seu filho noutras atividades, dirigindo a atenção para as
mesmas, reforçando que são atividades de meninos mais
crescidos;
vá dando exemplos de pessoas que o seu
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filho admire que conseguiram ultrapassar a situação (como o irmão
mais velho ou um primo), mas transmitindo também a ideia de que foi
difícil para eles, para que não se sinta inferiorizado.
Não se esqueça de elogiar o seu filho em cada progresso
e recompense-o com mimos e, acima de tudo, com
atividades
conjuntas. Transmita-lhe confiança, segurança e apoio.
Quanto mais o seu filho sentir que está com ele para o ajudar, que sabe
que é difícil mas que acredita que ele é capaz, com mais coragem se
sentirá para avançar e enfrentar novos desafios do seu crescimento.
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Quando uma doença bate à porta ou um dos seus filhos se
magoa a sério, inevitavelmente há mudanças na dinâmica
familiar, sejam elas grandes ou pequenas. Quando as
crianças são mais novas serão mais influenciadas pela
forma como os pais sentem a questão, do que pelos factos
em si.
A idade irá também ser relevante na forma como a situação
é explicada. Assim, com crianças até uma média de 6 anos,
as explicações curtas e simples são mais adequadas. Não
é relevante dar nomes à doença ou explicar diagnósticos.
Por outro lado entre os 7 e os 12 anos, as explicações já
poderão ser mais próximas dos factos reais, no entanto não
o que tem
o mano?
serão necessários detalhes que mesmo um adulto tenha
dificuldades em ultrapassar.
Regra geral, evitar conversas sobre doenças graves na
presença de crianças é sempre o mais aconselhável.
Se o seu filhote ficou muito triste com o que se está a passar
com o mano, dê-lhe uma dose grande de carinho. Não
reprima as emoções se ele se mostrar abatido e a chorar.
Poderá abraçá-lo, dizendo algo como: “ chorar vai fazer
bem, é como lavar o coração e mandar a tristeza embora”.
O importante é transmitir tranquilidade à criança. Os receios
dos adultos deverão ficar com os adultos. Para a criança
será importante perceber que há solução e que em conjunto
ajudarão o mano a ficar melhor.
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A distração é muito importante quando não estamos
bem. Repare em si próprio: se tiver uma aflição, física ou
emocional, e se distrair a falar com amigos ou a trabalhar ou
Brincadeiras
e distração
numa tarefa qualquer do seu agrado, o tempo passa mais
rápido e é como se o volume do desconforto baixasse um
pouco.
Com as crianças isto é igualmente válido, com uma
vantagem acrescida: são muito mais fáceis de distrair!
Mesmo com as limitações impostas pela doença, podem
ser feitas adaptações às brincadeiras favoritas, há sempre
aquela história preferida e novas formas de os entreter.
Mas o seu filhote vai cansar-se mais depressa e vai estar
mais inquieto e com níveis de atenção diminuídos, por isso,
vai ter de reparar nos sinais que ele vai dando e ajustar
quer o nível de exigência das brincadeiras, quer o tempo.
Será melhor, contar com várias distrações diferentes e
menos tempo com cada uma, para que ele não se canse
tão depressa.
Brincar com o seu filho quando está adoentado acaba por
cumprir com duas funções: por um lado, cria uma distração
que lhe faz diminuir o desconforto próprio da doença e,
por outro, representa um tempo de qualidade e carinho de
que ele tanto precisa para se confortar do dói-dói.
E agora, deixamos-lhe algumas sugestões práticas.
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Dicas para as brincadeiras:
Pode aproveitar estes momentos para fazer as brincadeiras preferidas
do seu filho: fazer jogos de construções e puzzles, ouvir música, ler
histórias, fazer plasticina, dizer lenga-lengas, desenhar, fazer recortes
• Emoções. Faça alguns cartões com imagens de pessoas felizes,
tristes, zangadas, assustadas… Alternadamente, retiram um cartão
e dizem uma situação que pode levar a alguém a sentir-se daquela
forma e, quando se justifique, o que se poderia dizer ou fazer para
ajudar aquela pessoa a sentir-se melhor.
e colar…
Pode aproveitar para criar e experimentar brincadeiras que não é habitual
fazerem e que, para além de entreterem, estimulam a criatividade e a
curiosidade.
• Fantoches de dedo. Transformem luvas em animados fantoches,
decorando-as com diferentes materiais (marcadores, lã, botões
e restos de tecido…). O que surge? Animais da quinta, piratas e
princesas, extra-terrestres e super-heróis, palhaços e malabaristas?
• Bolachinhas para o lanche. As crianças adoram imitar os crescidos.
Porque não colocar o avental e deixar que a criança seja o ajudante
principal da sua cozinha, na preparação de um lanche especial:
pesando a farinha, partindo os ovos, mexendo a massa, usando as
formas…
• Caça ao tesouro. Elejam um figura geométrica. Círculo? O que
tem a forma de círculo em casa? Pratos, rodas dos carrinhos, porta
da máquina de lavar roupa… Ganha quem encontrar mais formas
geométricas em casa, num minuto. Podem repetir com várias formas.
• Brincar com sombras. Façam teatros de sombras, usando uma
lanterna e as mãos, num quarto escuro.
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Trata-se de uma questão algumas vezes difícil de responder,
pois varia em função da idade e da capacidade dos papás
adaptarem a linguagem a cada filho. O recurso a exemplos
de situações vividas pelas crianças no dia-a-dia, resultam;
quando brincaram no parque e fizeram dói-dói, quando
comeram muito e a barriga começou a doer, quando
estiveram ao sol na praia sem chapéu e fizeram dói-dói.
No caso de se tratar de doenças inerentes à infância,
recorrer a exemplos dos papás, dos irmãos mais velhos
ajudam a tranquilizar a criança. Compreenda o medo do
seu filho no que respeita ao dói-dói e responda apenas em
função das questões que vai colocando.
Algumas vezes, o dói-dói implica a ida ao médico, o que
pode tornar a situação mais difícil para todos. Sabemos
que o médico, em muitos casos, é uma personagem
que deixa os mais pequenos com algum medo, por isso
aproveite para demonstrar que é um aliado e um amigo
para ajudar a ficar melhor.
Pai, mãe:
porque é que eu
estou doente?
Junte-se ao seu filho na “luta” contra a doença, criando
histórias em que, juntos, a vão derrotar e nunca desvalorize
o mau estar do seu filho.
Transmita confiança, ensine estratégias para lidar com a
doença e com os sentimentos negativos, suporte e apoie
o seu pequenito!
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A dor é muito útil como sistema de alarme que nos
concentra toda a atenção e aponta para a urgência na
resolução de seja lá o que for que requer “conserto”. Foi
assim o desenho que a natureza encontrou para nos
ajudar nesta difícil tarefa da sobrevivência. Infelizmente,
e como qualquer alarme, é muito desagradável e pode
mesmo retirar-nos pontualmente qualquer capacidade
para funcionar normalmente.
Numa criança, a dor é particularmente difícil. Como não
tem como perceber o que lhe está a acontecer, algo que
ajuda muito a suportar a dor num adulto, nem que vai
passar, fica facilmente subjugada pelo mal-estar, e não
consegue sozinha encontrar formas de se confortar.
Para os pais, também, é extremamente difícil verem o seu
pequenito aflito e quererem reduzir instantaneamente esta
aflição, sabendo que os “dói-dóis” levam o seu tempo a
sarar.
Felizmente, as crianças têm uma imaginação muito activa
e esta imaginação pode ser recrutada para lhes diminuir a
quando
dói
percepção de dor.
Além disso, há várias estratégias que também são úteis a
confortar a dor nas crianças. Deixamos-lhe algumas, bem
como uma actividade que poderá fazer com o seu filho,
estimulando-lhe a imaginação para lhe diminuir o dói-dói.
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Dicas para ajudar na dor:
Ver o seu filho com dor será um momento desconfortável e difícil,
contudo a sua colaboração e envolvimento serão de extrema
importância, quer o seu filho se encontre em casa ou em contexto
hospitalar.
• Procure manter-se tranquilo: o seu estado emocional será perceptível
para o seu filho, que se encontra já ansioso. Senti-lo tranquilo contribuirá
para que a ansiedade e medo do seu filho diminuam.
• Esteja presente durante os procedimentos dolorosos: sempre que
lhe for permitido pela equipa de saúde, mantenha-se próximo do
seu filho durante a realização de procedimentos dolorosos, exames
complementares de diagnóstico ou tratamentos necessários. Se
possível, segure-lhe a mão, incentive-o a respirar calmamente e
assegure-lhe que não o deixará sozinho;
• Se o seu filho for ainda uma criança de colo, e se a situação o permitir,
segure-o contra o seu peito. Esta posição, chamada posição de
canguru, tem provado ser eficaz para acalmar a criança e transmitir-lhe
segurança, o que contribui para a diminuir a dor;
• Seja a voz do seu filho: algumas crianças poderão não falar com os
profissionais de saúde acerca da sua dor por isso é importante que
diga aos médicos ou enfermeiros que o seu filho está desconfortável,
uma vez que só sabendo que a criança tem dor será possível tratá-la;
habitualmente o seu filho utiliza para expressar dor e que estratégias
utilizadas anteriormente foram eficazes;
• Quando a dor se torna mais intensa, ou se prolonga no tempo,
o seu filho ficará ansioso e desconfortável. Se em algum momento
sentir necessidade, não se iniba de recorrer a ajuda dos profissionais
especializados;
• Sempre que possível reforce o ensino do uso da escalas de dor que
lhe serão apresentadas pelos enfermeiros. Estas escalas são muito
úteis quer para perceber o nível de dor da criança, para que se possa
avaliar a eficácia das estratégias de controlo que estão a ser aplicadas.
• Técnicas de respiração: ao incentivar o seu filho a respirar
calmamente estará a proporcionar-lhe a possibilidade de relaxar e,
desta forma, a diminuir a sua dor. Alguns dos exercícios que podem
ser úteis são:
- encher o peito de ar e soprar devagarinho para afastar a dor;
- encher o peito de ar como se estivesse a cheirar uma flor e depois deitar
o ar fora devagarinho como se estivesse a soprar por uma palhinha;
- encher o peito de ar e depois mandar o ar fora como se estivesse a
fazer bolinhas de sabão.
• Imaginação guiada: com o intuito de induzir um estado de maior
relaxamento no seu filho convide-o a imaginar que está no seu lugar
preferido, onde se sente seguro, e incentive-o a falar sobre as suas
sensações e sentimentos. Poderá ainda reconstruir com o seu filho, os
momentos divertidos em família.
• Informe os profissionais de saúde acerca das palavras e sinais que
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• Meditação guiada: use o exercício de visualização para regular a
Ao olhar para pertinho dos teus pés, vês um búzio. É o búzio mais
dor na criança que lhe apresentamos de seguida, para promover um
bonito e maior que já viste. Enquanto pegas nele sentes o seu calor,
estado de relaxamento que ajude na diminuição da dor e da ansiedade
e as suas diferentes texturas. É o búzio mais bonito do mundo!
que a dor provoca.
E é mágico!!! Podes contar-lhe todos os segredos, problemas,
preocupações, que ele vai guarda-los em segurança. Podes também
Exercício de visualização para regular
a dor na criança:
falar-lhe sobre a tua dor, como te faz sentir, e como desejas que ela se
vá embora. Podes contar-lhe tudo, mesmo os problemas maiores, ou
os mais pequeninos de todos.
O objectivo deste exercício será proporcionar ao seu filho um estado
O teu búzio pegará nas coisas menos boas e transforma-las-á em
de relaxamento através de um processo meditativo, que combina a
coisas boas e pensamentos felizes.
visualização e a imaginação.
Imagina agora que estás a segurar no teu búzio e a segredar-lhe aquilo
Para que este exercício possa ser realizado necessita apenas de estar
que lhe desejas contar. Mais ninguém ouvirá o que lhe dizes, e ninguém
num local tranquilo que permita ao seu filho concentrar-se na sua voz
poderá saber o que lhe estás a contar. Só o teu búzio e tu! Ao mesmo
e, de modo pausado e calmo, ler o texto que lhe deixamos.
tempo que lhe vais falando sobre a tua dor e as tuas preocupações,
ele puxa-as para dentro dele, para que consiga afasta-las de ti.
• Coloca-te numa posição tão confortável quanto possível e fecha os
olhos. Respira com calma. Enche o peito de ar como se estivesses a
Aproxima um bocadinho mais o teu búzio e fala-lhe agora sobre a tua
cheirar uma flor e deita o ar fora como se estivesses a soprar por uma
dor. Conta-lhe tudo o que sentes e pensas quando tens essa dor.
palhinha.
( fazer uma pausa) E agora a dor desapareceu... Como que por magia
foi ficando mais pequenina e desapareceu.
Imagina que estás numa praia. É a tua praia preferida ...Ouves o som
das ondas do mar que rebentam contra as rochas, sentes o calorzinho
Enquanto seguras o teu búzio sentes-te relaxado, tranquilo, e sem
do sol na tua pele e a areia quentinha e macia nos teus pés. Quando
dor. Repara como o teu corpo está agora relaxado, e a tua respiração
reparas no mar, vês que ele tem muitos tons de azul e de verde, e ficas
mais calma. Guarda este sentimento. Sempre que tiveres dor podes
um bocadinho a olhá-lo, enquanto o sol pinta reflexos prateados ao
voltar a esta praia, segurar o teu búzio mágico, e voltar a sentir esta
ver-se ao espelho naquele mar imenso.
tranquilidade. E voltar a sentir-te sem dor. O teu búzio mágico vai estar
sempre à tua espera na tua imaginação.”
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Poderá assegurar o seu filho de que, quando estiver melhor, irão ambos
procurar o seu búzio mágico, aquele que para ele será o mais bonito.
Até lá, poderá sugerir lhe que use uma pedrinha, e oferecer-lha, para
que possa aperta-la sempre que tiver dor, e relembrar este exercício.
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O poder de fantasia e imaginação é útil muito para além da
regulação da dor. E, quando estamos doentes, são, muitas
vezes, as realidades que construímos dentro de nós, que
o poder da
imaginação
infantil
nos permitem conduzir internamente o organismo para
estados favoráveis a uma boa recuperação. Mais uma vez,
os miúdos ganham aos adultos na facilidade com que o
fazem!
Não é só a dor que precisa ser regulada e acalmada – todo
o desconforto associado à doença, seja ela qual for, pode
ser ajudado canalizando a capacidade de fantasiar e
até a disponibilidade do organismo para o processo de
recuperação pode ser melhorada.
Deixamos-lhe um pequenino exercício para fazer com o
seu filho. E também o pode fazer para si, claro.
Exercício tipo feixe de luz.
Numa posição muito confortável, sentado ou deitado...
imagina que estás num lugar muito sossegado, onde
não há mais ninguém... ao fundo uma estrela distante e
pequenina brilha... aparece e desaparece como numa
noite estrelada. Esta estrela mais brilhante guarda toda a
luz e energia do universo e por isso é tão bonita como um
diamante, é uma estrela cintilante e bondosa.
Esta estrela de luz está mais ou menos a flutuar a meio
da tua testa... pequenina, de luz branca, muito intensa
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e brilhante. Sente a força desta estrela tão bondosa... esta estrela
Repara o que esta luz brilhante faz no teu corpo, repara como te faz
começa agora a flutuar para cima... sobe no ar... e chega ao cimo
sentir bem, como te faz sentir tranquilo, como te faz sentir bem e calmo,
da tua cabeça. A estrela está agora a brilhar exactamente por cima
como te faz sentir cheio de energia, cheio de saúde. Repara como esta
da tua cabeça... tanta luz... está a aumentar de tamanho, está a
luz vai a todos os sítios do teu corpo, mesmo lá dentro, na barriguinha,
crescer... está maior e mais brilhante. Esta estrela é muito poderosa...
no coração, nos pulmões e deixa tudo a sentir-se bem… Tanta luz...
esta estrela branca, brilhante, pura, verdadeira, única é capaz de curar.
tanto bem-estar... e esta energia da estrela brillhante continua a descer
Sente o calor quentinho que ela dá, um calor que te faz sentir ainda
no teu corpo e vai agora até às tuas pernas, passando pelos joelhos e
mais confortável, aconchegado, protegido... Vê como esta estrela se
chegando às pontas dos dedos dos pés... esta estrela curativa limpa
torna cada vez mais brilhante e luminosa à medida que cresce e se
tudo o que existe no teu corpo e te faz mal, limpa tudo que causa dor...
torna maior... mesmo em cima da tua cabeça. Esta estrela vai limpar o
limpa o que faz dói-dói.
teu corpo todo, vai trazer-te mais energia, mais conforto, mais calma,
mais paz... e afastar tudo aquilo que não está bem.
Imagina que é um rio de água branca brilhante a correr e que a sentes
passar em todos os lados. Grande, cada vez maior, uma luz muito
Puxa esta estrela mais perto de ti... mais perto da tua cabeça e sente
branquinha, bondosa, quentinha... esta luz atravessa todos os poros
a energia dela a tocar-te... é tão boa esta luz, faz-te sentir tão bem, tão
da tua pele e chega a a todo o lado, até aos ossos...
calmo... esta estrela cuida de ti... cuida de todo o teu corpo.
Esta luz está a cuidar de ti, esta luz está a proteger-te, é tua amiga e
Esta estrela está agora maior, liberta tanta luz... essa luz começa a a cair
ajuda-te a sentires-te melhor, com ais energia e com mais saúde.
sobre ti... sente a energia de tanta luz, em cada parte do teu corpo...
desde o cimo de cabeça, onde essa luz limpa os pensamentos maus,
E enquanto ela trata de ti, podes dar atenção a alguma parte do corpo
limpa todas as sensações desagradáveis e cria novos pensamentos...
que dói mais, dá atenção àquela parte do corpo que precisa de mais
pensamentos mais tranquilos, pensamentos mais positivos... que te
luz brilhante. Aí… exactamente aí... a luz vai agora brilhar com mais
fazem sentir melhor, mais forte, com mais energia.
força nessa parte do teu corpo, para ajudar a ficar bem e protegida e
Esta luz branca, luminosa e muito brilhante desce agora pelo teu
com saúde.
pescoço e pelos teus ombros e alivia toda a tensão que podes sentir,
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entra em todos os teus músculos, em todos os teus nervos, desce
Repara no teu corpo que continua a ser iluminado pela estrela que está
pelas tuas costas, e limpa tudo o que não está bem, limpa tudo o
no cimo da tua cabeça. Essa estrela vai agora começar a encolher...
que dói, limpa tudo o que te faz sentir mal. Esta luz entra em todos
encolhe... encolhe para o tamanho de pequena estrela, aquela estrela
os bocadinhos do teu corpo e limpa... cura... trata... dá-te energia...
que brilhava em frente à tua testa, estás a ver a estrela em frente à
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tua testa?... está novamente pequenina, mas tem tanto poder e dá-te
tanta proteção. Esta estrela protege-te, hoje e sempre, e brilha só para
ti, e vai continuar a iluminar-te todos os dias.
A energia que recebeste é tua, a energia que recebeste está dentro de
ti, a energia que recebeste está em cada parte de ti... e brilha como
aquela estrela distante e pequenina... que aparece e desaparece
numa noite estrelada.
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Grande parte das crianças, nalguma fase do seu
desenvolvimento, parecem apresentar recusa ou seleção
alimentar. Mas calminha, papás: esquisitices na hora das
refeições é uma tendência perfeitamente natural dos mais
Esquisitices da
alimentação
pequenotes, e na maioria das vezes, é de fácil solução,
pelo que não há motivo para grandes preocupações ou
alarmismos!
De qualquer modo, é sempre importante perceber qual
o motivo dessa recusa alimentar ou falta de apetite. Em
alguns casos existem factores orgânicos associados a
essa recusa alimentar, como por exemplo amigdalites ou
aftas que podem dificultar a deglutição de determinados
alimentos que são mais sólidos ou rijos.
E as crianças, por vezes, parecem simplesmente querer
ignorar os momentos de refeições porque lhes roubam
algum tempo às suas brincadeiras. A recusa alimentar
pode funcionar ainda como uma chamada de atenção
relativamente à família.
E por fim, tal como os adultos, também as crianças têm
as suas preferências quanto à alimentação, e o que
habitualmente acontece é que os alimentos mais saudáveis
são aqueles que os mais pequenotes colocam na sua lista
de “alimentos indesejados”, parecendo apresentar um
paladar mais apurado para os alimentos mais doces.
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Os estudos têm comprovado que o desejo pelo açúcar por parte das
afins… mas lembrem-se que é uma excepção e um reforço para todas
crianças está relacionado com a taxa de crescimento acelerado dessa
as conquistas do seu filhote.
fase de desenvolvimento.
Mas a luta pelos alimentos é uma batalha que pode ser ganha com
esforço e envolvimento por parte de todos os elementos da família…
Para além do recurso à fantasia
pode ainda:
Como diz o provérbio: “para grandes males, grandes remédios.”
• Mostrar-lhe que os momentos de refeição fazem parte da rotina
Alimentação: dicas
familiar, e que todos beneficiam desse momento único (por vezes, o
único do dia em família);
A atitude dos pais neste processo é fundamental e umas das estratégias
• A refeição deve ser igual para todos os elementos da família (caso
que podem utilizar é, por exemplo, criar uma pequena história onde a
não existam contra indicações), mas em doses diferenciadas;
criança esteja envolvida.
• Estabeleça horários regulares ao longo do dia para comer - Não
Em conjunto, podem recriar uma pequena história, onde a criança
permita que ele coma fora das horas das refeições, pois isso evita a
será um super-herói/heroína, ou um guerreiro(a), que tem como
falta de apetite que muitas vezes surge nos momentos das refeições;
missão conquistar novos alimentos, e que todos no seu reino a vão
reconhecer como alguém forte, corajoso e que procura lutar contra as
• Procure não esconder ou mentir acerca dos alimentos que a criança
suas adversidades ou imigos.
está a experimentar. É importante que ela saiba aquilo que come, pois
isso permite-lhe aprender a distinguir e a aceitar os diferentes sabores
Para motivar a criança nesta conquista, pode criar com ela um quadro
e texturas dos alimentos;
com autocolantes, e a cada alimento conquistado, conquista também
um autocolante.
• Nos momentos de experimentar novos alimentos, procure misturar
alimentos pelos quais a criança já demonstre preferência com esses
Quando finalizar o quadro, terá direito a um prémio, que poderá ser
novos alimentos, ou até com aqueles em que apresenta uma certa
fazer durante uma semana um jogo divertido em família (o preferido
resistência;
da criança) ou no final da semana ter direito a um lanche especial ou
à sua refeição preferida… preparem-se papás para as guloseimas e
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• Envolva a criança na participação de algumas refeições – poderá
ser benéfico uma vez que a criança começa a reconhecer alguns
alimentos e já não será novidade quando os vir já no prato cozinhados;
• Procure não dar muita importância à crítica pela comida; por vezes
são apenas tentativas para chamar a atenção e “oportunidades de
fuga às refeições”.
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Até os crescidos têm algum respeitinho a cenários médicos
e a agulhas a aproximarem-se, verdade? As crianças,
então, desenvolvem mesmo medo, frequentemente.
O medo, nesse caso, é bem natural: vão ao médico
quando não se sentem bem e, por vezes, têm de passar
por exames desagradáveis. E as picadas doem, claro. Por
isso, ocorre um mecanismo de associação muito natural:
contexto médico = coisas desagradáveis e picas = dor.
Muito simples, evidentemente.
O importante é que o seu filhote se sinta em segurança,
apoiado e compreendido nos seus receios pelo pai e mãe.
Nunca menospreze o susto e a ansiedade da incerteza
O medo da
Bata branca e
das picas
quanto ao que lhe pode reservar o consultório médico ou
de enfermagem.
Com palavras tranquilizadoras e adequadas à idade, é
importante ir explicando que são pessoas que o vão ajudar
a sentir-se melhor. Facilmente, o médico pode passar a
super-herói, capaz de assustar dói-dóis, mas primeiro
têm de os procurar os dois – crie espírito de colaboração
no seu filhote, para que ele se sinta mais no controlo da
situação.
Também é importante não o enganar, sobretudo em
procedimentos que possam doer – a dor, quando não
é esperada, é muito mais assustadora. E, no fim, dos
exames, consultas e procedimentos médicos, não se
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esqueça de lhe elogiar a coragem e recompensar com muito mimo!
• “Não vai doer nadinha” ou “Vai doer um bocadinho”? Evite tranquilizar
Deixamos-lhe algumas dicas para suavizar medos infantis naturais dos
a criança com frases que poderão não corresponder à realidade.
actos médicos e uma pequena história para contar aos seus filhotes,
Associe, antes, a dor a uma imagem engraçada que a possa atenuar.
que os ajuda a contextualizar a situação e a transformar medos em
(“se doer, pensa que é uma formiga maluca e aperta a minha mão com
curiosidade.
muita força!”, por exemplo).
Dicas para os pais:
• Valorize sempre! É importante que o seu filhote perceba que se
orgulha dele e que, se for mesmo muito difícil e ele precisar de chorar
• “Aquela bata branca assustadora!”. Muitas vezes, o medo da bata
branca e dos utensílios utilizados pelos médicos e enfermeiros surge
porque os mais pequenos não percebem qual a sua utilidade. No seu
imaginário, constroem significados assustadores. Explicando ao seu
um bocadinho, saberá compreender.
História para as crianças para
lidarem com o medo.
filhote o motivo pelo qual os profissionais de saúde usam as batas e
os utensílios estará a dar-lhes um significado concreto, acabando com
Às vezes, aparecia lá em casa um senhor muito chato. Era muito
estes “bichos papões”.
gordinho e grande, quase do tamanho de um elefante. Chamava-se
Senhor Medo.
• Empatize com o sofrimento mas não o antecipe. Ao ouvir e
compreender a angústia que o seu filho sente nestes momentos,
Este Senhor Medo Malvado, aparecia sempre quando chegava a
estará a promover uma sensação de segurança. Por outro lado, ao
altura de ir ao médico. Era muito estranho! Andava lá por casa, não
dizer-lhe que vai ao médico com demasiada antecedência, abrirá a
parava quieto…, sempre a chatear os meninos!
porta à chegada dos medos e das angústias.
Quando eram horas de jantar, o Senhor Medo agarrava-se à barriga
• “O meu amigo dos Doutores e das Picas”. Porque, em meio hospitalar,
dos meninos e eles não conseguiam comer. Sentiam a barriga tão
os pais nem sempre os pais podem estar tão perto dos filhos quando
apertadinha que não cabia lá mais nada.
gostariam, deixe que o seu filhote leve consigo um pequeno peluche.
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Em situações de internamento ou cirurgia, um pijama com bolso onde
Quando eram horas de dormir, lá vinha o Senhor Medo e falava, falava,
caiba o pequeno peluche poderá ser uma grande ajuda nos momentos
falava… Muito rápido e numa língua muito esquisita. Ninguém percebia
de maior ansiedade.
nada e, claro… os meninos quase não conseguiam dormir.
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Estes Senhores Medos tinham um jogo preferido que faziam sempre
No dia do médico, lá iam os meninos com os seus pais. E o Senhor
antes de ir ao médico! Com a ajuda dos meninos, dos pais e dos
Medo ia também! E levava quase sempre uma amiga: a Menina Birra.
peluches, era muito divertido! Era um jogo de imaginar!!
Eram muitos, quase não cabiam no carro, e era uma grande confusão.
E, ainda por cima, o Senhor Medo Malvado Gigante ficava ainda maior
• Imaginavam cores diferentes e muito giras para a bata dos médicos
no dia do médico. Era mesmo parecido com um elefante gigante…
e dos enfermeiros.
Os meninos chegavam ao médico sempre muito assustados. O Senhor
Medo pregava-lhes muitos sustos. E a Menina Birra? Fazia-lhes
• Imaginavam que as picas eram umas formigas tontas aos saltos em
cocegas na garganta e nos pés e os meninos não conseguiam parar
cima dos braços dos meninos.
de gritar e bater com os pés no chão.
• Imaginavam que aquelas coisas redondinhas e frias que os médicos
Era sempre assim…
põe no peito e nas costas dos meninos eram bolas de neve gigantes
a cair do céu.
Mas, um dia, os meninos encontraram outro menino no médico. Estava
com os pais e tinha um peluche muito pequenino e fofinho. O menino,
...Imaginavam muitas coisas e iam todos muito menos aflitos para o
os pais e o peluche estavam a falar com o Senhor Medo que ia lá a
médico!
casa deles!
Também ia um Senhor Medo a casa deles? Que estranho…
Sabiam que, se doesse, ia ser muito rápido e ia passar. E sabiam que
E o Senhor Medo Malvado Gigante lá de casa até já estava a ficar mais
os pais e o peluche iam estar lá sempre para ajudar!
calmo. Os meninos puderam assistir à conversa.
O Senhor Medo descobriu que não precisava de ter medo do Senhor
Foi, então, que perceberam o que se passava:
Doutor. Mas se tivesse, bastava falar e fazer o Jogo de Imaginar!
É que estes Senhores Medos tinham medo daquela bata branca
esquisita do médico. E daquelas coisas todas que eles usam para
fazer os exames também!
Era por isso que não paravam quietos e andavam sempre a tentar
pregar partidas aos meninos. Mas, quando os meninos, os peluches
e os pais falavam com eles, ficavam mais calmos.
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Não pense que cuidar de si é uma prioridade de
segunda ordem! É crítico em qualquer situação e, em
tempos de stress e que exigem disponibilidade emocional,
mais ainda.
Cuide de
si!
O seu filho é especialmente exigente, emocionalmente e
em tempo requerido, quando está doente. Por isso, saber
poupar-se, manter a tranquilidade, reservar tempo para
relaxar um pouco e salvaguardar o seu bem-estar são
tudo coisas absolutamente indispensáveis para conseguir
estar disponível para o seu filho.
Olhe em volta e recrute todas as pessoas que o
possam ajudar na tarefa de cuidar do seu filhote ou
nas outras suas tarefas que ficam por fazer por estar
dedicado ao acompanhamento da criança. Somos todos
interdependentes, pelo que temos de ser capazes de
pedir ajuda, sempre que necessário.
Aprenda a estabelecer prioridades e a dizer “não” a
tudo o que fique acima do seu limiar de conforto – não
é possível ter um filho doente em casa e manter todas
as responsabilidades habituais, por isso, vai ter de fazer
cedências e terá, também, de recusar algumas tarefas até
que possa retomar o seu dia-a-dia habitual.
E vai cansar-se mais, porque os pequenitos consomem
muita energia dos seus cuidadores quando estão doentes,
por isso, convém defender bem o seu tempo para que
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também possa descansar mais.
Finalmente, lembre-se que a tolerância é uma atitude sem destinatário:
se consegue ser tolerante para com a maior exigência do seu filho
nesta fase de mal-estar, também poderá aplicar a tolerância a si
mesmo, sabendo que, tal como ele, também poderá estar impaciente,
aflito e sem energias. Use o mesmo carinho que dedica ao seu filho
para cuidar de si também. Afinal, o carinho é inesgotável, gratuito,
amplamente disponível e, sobretudo, sabe bem a miúdos e a graúdos,
por igual.
Fique bem e as melhoras rápidas!
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Finalmente o dói-dói foi-se embora e o regresso à
normalidade familiar urge. Muitas vezes esta etapa é em si
mesma um desafio para a criança e para os pais.
Iupiii!
O meu filhote
já está bom
Os dói-dóis são visitas inesperadas e desagradáveis.
Procurando minorar os efeitos das suas estadias, as famílias
reorganizam as rotinas, ajustam os seus comportamentos
e disponibilidade emocional às necessidades fisiológicas
e emocionais específicas das crianças nestes momentos.
Assim acontecem os jantares dados à boca (mesmo aos
mais crescidos) no sofá tapado com a mantinha e enquanto
vê os desenhos animados… contornando a redução de
apetite e algumas esquisitices alimentares… Também assim
se acaba a dormir na cama dos pais, onde se sentem mais
quentinhos e acompanhados, e os pais também porque
dão conta de qualquer alteração ou necessidade urgente.
Se calhar, também são suspensas algumas tarefas como
o arrumar os brinquedos, ajudar a pôr a mesa...
...Até que as maleitas, finalmente, se decidem ir embora,
fazendo questão de deixar connosco algumas recordações
da sua visita que se prolongam ainda por alguns dias,
como a tosse, a maior vulnerabilidade a recaídas. É aquela
fase “nem-nem”, ou seja, “já não estou doente, mas ainda
não estou bom”. É nesta a fase que se vai preparando o
retorno à normalidade.
É importante que seja explicado à criança que já não está
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doente, de forma adequada à sua idade, bem como o que significa
estar a recuperar. Esta fase de transição, aos olhos de uma criança,
Depois de um período de grande atenção, voltar à escola pode ser um
pode ser confusa, por isso é também importante que se explique o que
desafio para as crianças pequenas ou verem os pais a regressar ao
é estar a ficar bom, porque é que se têm de manter alguns cuidados,
trabalho. Aquela proximidade acrescida soube bem e, provavelmente,
mas outros já não são necessários.
ambos gostariam de a prolongar. Reconhecer este desejo e as
emoções que a criança possa estar a sentir, ajudá-la a verbalizá-las
E é então que o combate às “manhas” entra em cena. Estar doente
e dar-lhe segurança é uma missão complexa e extenuante, mas
é desagradável, é certo, mas traz alguns ganhos secundários: vista
necessária.
grossa a algumas exigências, mimos extra que no dia-a-dia não são
possíveis de manter (como a permanência em casa com os pais ou
Permita que a criança escolha um objeto para levar consigo para a
avós), regalias de acesso à cama dos pais ou de refeições no sofá ou
creche ou escola. Algo de significativo e familiar que o apoie nesta
com a ajuda mais ativa do adulto…
transição. Aos mais crescidos é também importante assegurar que
caso seja necessário a educadora telefona e o irão buscar. Muitas
Combater as “manhas” exige grandes doses de carinho e tolerância;
vezes, nos períodos de recuperação o medo que o dói-dói volte está
importantes, pois ao fazê-lo estamos a mostrar confiança na
muito presente, pelo que assegurar que haverá uma resposta rápida
recuperação e, logo, a securizar a própria criança.
nessa eventualidade será tranquilizante.
Uma estratégia poderá ser apresentar cada mudança no sentido da
Cada pequena vitória no regresso à normalidade, é um passo mais
normalidade pré-dói-dói como uma vitória, uma conquista. Um sinal de
perto da recuperação total. A “Missão Saúde” é um trabalho de equipa
que vencemos o dói-dói e estamos cada vez mais fortes!
que exige muitas injeções de amor, mimo e tolerância!
Outra dica é apresentar uma alternativa à “manha” que represente
um ganho, algo de mais positivo e adequado. No lugar de desenhos
animados no sofá durante a refeição, porque não uma sessão de
cinema em família após jantarem todos juntos?
O fundamental no combate às “manhas” é que a criança continue a ter
a atenção e carinho que tão bem lhe souberam, mas num contexto de
saúde. Assim, a “manha” deixará de cumprir a função que pretendia.
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A Oficina de Psicologia é a mais reconhecida clínica de psicoterapia em
Portugal, com presença nacional. Valorizados pela qualidade e eficácia das
nossas intervenções, também assumimos um papel dinâmico ao descomplicar
a Psicologia e fazer chegar informação útil a todas as pessoas, contribuindo
para a melhoria da sua qualidade de vida.
Dispomos de uma equipa especializada em saúde mental das crianças,
adolescentes e famílias, responsável por estes conteúdos, além da equipa que
se dedica ao trabalho com o público adulto.
Com um website rico em informação sobre saúde mental e de elevado tráfego
http://oficinadepsicologia.com - um Facebook que reúne dezenas de
milhares de seguidores das nossas publicações diárias – http://facebook.
com/oficinadepsicologia - e uma presença constante nos órgãos de
comunicação social, a Oficina de Psicologia contribui de uma forma decisiva
para o conhecimento e utilização prática das ferramentas de gestão psicológica
conducentes a um pleno usufruto da vida.
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Telefones:
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220 997 151 (Norte)
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Os dados, opiniões e conclusões expressos nesta publicação não refletem
necessariamente os pontos de vista de Bial, mas apenas os dos Autores.
A Bial não se responsabiliza pela atualidade da informação, por quaisquer erros,
omissões ou imprecisões.
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• FEZ-SE UMA EDIÇÃO DE QUINZE MIL EXEMPLARES
EXCLUSIVA PARA:
Fim
AVENIDA DA SIDERURGIA NACIONAL
4745-457 SÃO MAMEDE DO CORONADO
PORTUGAL
• DESIGN
ICEBERGUE COMUNICAÇÃO
• IMPRESSÃO
ORGAL
• ISBN
978-989-8483-20-1
• DEPÓSITO LEGAL
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2P14MCPCV02
O medo da Bata
Branca e das Picas
Super Heróis com dói-dói
Mãe, o mano
está doente?
Pai, Mãe:
porque é que eu
estou doente?