Têxteis Inteligentes – Uma breve revisão da literatura
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Têxteis Inteligentes – Uma breve revisão da literatura
Têxteis Inteligentes – Uma breve revisão da literatura Smart Textile – A Review of Literature (State of the Art) Alexandre José Sousa Ferreira Doutorando em Engenharia Têxtil da Universidade do Minho Fernando Batista Nunes Ferreira Professor do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho Fernando Ribeiro Oliveira Professor do Departamento de Engenharia Têxtil da UFRN Resumo Nos últimos anos materiais têxteis inovadores vem sendo aplicados nas mais diversas áreas da Engenharia. Tratam-se de materiais que são largamente aceitos, fáceis de usar e com um enorme potencial para se tornarem uma poderosa ferramenta para a monitorização, fornecendo ao mesmo tempo um elevado grau de segurança e conforto para o seu utilizador. O número de investigações no segmento de smart textiles não tem cessado de crescer, sendo que a multidisciplinaridade é a principal responsável por esta extraordinária expansão. O objetivo principal deste trabalho é apresentar uma breve discussão sobre os denominados têxteis inteligentes fazendo uma abordagem sobre os diferentes conceitos que englobam esse assunto, tais como: o que é um smart material, a função de um smart textile, novas tecnologias aplicadas aos materiais fibrosos, materiais de mudança de fase (microencapsulamentos), materiais voltaicos, luminescentes e auxeticos, têxteis condutores, materiais piezoelétricos, entre outros.A metodologia utilizada reporta-se a uma revisão da literatura através de uma extensa pesquisa realizada a partir de artigos científicos e livros referentes ao tema Smart textiles. Através deste estudo sobre as inovações na área dos têxteis inteligentes, pode-se concluir que apesar do grande salto tecnológico dado até o momento, há ainda muito o que ser explorado e descoberto. Diante disso, diferentes áreas da Engenharia e do Design devem unir forças para tornar real, produtos que outrora eram inimagináveis. Palavras- chave: Materiais inteligentes, têxteis inteligentes, conceitos, funções Abstract Over recent years, the textile materials have been extensively used in several engineering fields. They are materials widely accepted, easy to use with a huge potential to become a powerful tool for monitoring, while also supplying a high degree of safety and comfort to the user. The effort of research in smart textile field has continually grown and the multidisciplinary is the major factor for this remarkable expansion. This paper aims to present a brief discussion about smart textiles, making an approach on the different concepts which includes this subject, namely: What is and what are the functions of smart textile; smart technologies applied in fibrous materials, phase change materials, photovoltaic, luminescent, auxetic materials and electronics textiles. The methodology used refers to a literature review by checking and comparing texts, books and scientific articles about issues related to smart textiles. With this research about innovations in the smart textile area, it can be www.cetiqt.senai.br/redige Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 concluded that despite the great technological evolution until this moment, there is still too much to be explored and discovered. In this way, different areas of engineering and design should work together to become real, products that were once considered only in science fiction films. Keywords: Smart materials, Smart textiles, concept, functions INTRODUÇÃO Em um cenário de crescente qualidade de vida dos cidadãos, com o consequente aumento do nível de satisfação e exigência, a que a evolução tecnológica está associada, é imprescindível procurar inovar e maximizar as potencialidades dos diversos materiais têxteis, dotando-os de características diferenciadoras que complementam as suas propriedades usuais. Esta procura por novas soluções tem criado grandes possibilidades para acrescentar valor aos substratos têxteis tradicionais através do incremento de diferentes funcionalidades, seja pela utilização de novas fibras (Ferreira et al., 2012, Ferreira et al., 2011, Xie et al., 2010, Andres Leal et al., 2007), pelo desenvolvimento de novas estruturas (Yanping Liu et al., 2010), pela aplicação de novos acabamentos (Oliveira et al., 2013, Vu et al., 2013) ou mesmo pela integração de sistemas eletrônicos (McCann e Bryson, 2009). A indústria têxtil está, desta forma, procurando alterar o seu foco principal para o desenvolvimento de produtos com maior valor agregado para compensar o ritmo dos negócios e dos mercados que tem decrescido, principalmente nos países desenvolvidos, fruto da conjuntura econômica mundial. Os denominados têxteis técnicos, funcionais e o conceito “wearable technology” fazem parte deste novo eixo de atenção. Nesse contexto, existe um extenso número de indústrias potencialmente interessadas, como a automobilística, a da saúde, da proteção pessoal, da construção civil e da arquitetura. A fusão de diferentes áreas levam à evolução e criação de novos produtos, solucionando assim os desafios que oferecem novas oportunidades de negócio. O desenvolvimento deste tipo de produto é sem dúvida alguma um grande fomento que necessita de investigação, desenvolvimento, experimentação e validação de novos artigos para a indústria têxtil. A inovação é facilitada quando as relações e pessoas envolvidas de diferentes áreas promovem e fundamentam a troca de ideias(Post, 1997). www.cetiqt.senai.br/redige │2│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 A generalização de tecnologias de base eletrônica, sensores ou comunicações tornou-se uma realidade(Jung et al., 2003). Os têxteis tradicionais, utilizados para aplicações comuns, como roupa para crianças recém-nascidas ou idosos, tecidos utilizados para forrar os assentos de automóveise até às barracas usadas pelos militares nos cenários bélicos começam a apresentar uma interface inteligente.Existe uma real necessidade de integrar as tecnologias nos materiais fibrosos para que o têxtil tradicionalmente “passivo”, possa ser transformado em uma estrutura interativa e inteligente, com funcionalidades agregadas para o utilizador final. Desta forma, o objetivo principal desta revisão literária é mostrar aos leitores as definições básicas sobre os têxteis inteligentes, apresentando uma breve abordagem sobre os diferentes conceitos que englobam esse assunto, tais como: o que é e quais as funções de um smart textile, novas tecnologias aplicadas aos materiais fibrosos, materiais de mudança de fase (microencapsulamentos), materiais voltaicos, luminescentes, têxteis condutores, materiais auxéticos e piezoelétricos. 1 SMART TEXTILES O termo "têxteis inteligentes" é uma tradução de smart textiles e derivado do conceito de materiais inteligentes ou smart materials. O conceito foi pela primeira vez apresentado no Japão, em 1989. Cronologicamente, as descobertas de materiais com memória de forma datam dos anos 60 e de materiais como géis poliméricos da década de 70. No entanto, foi apenas no final dos anos 90 que os materiais inteligentes foram introduzidos no setor têxtil. O primeiro material têxtil rotulado como um smart textile foi um fio de seda com memória de forma (Otsuka and Wayman, 1999). Tratava-se de um novo tipo de produto que oferecia um grande e potencial interesse para aplicações de natureza técnica. Para definir um material inteligente, será em primeira análise necessário entender o conceito de comportamento inteligente. O comportamento inteligente ocorre quando um material pode sentir um estímulo no seu ambiente e atribuir uma reação de uma forma útil, fiável, reprodutível e geralmente reversível. www.cetiqt.senai.br/redige │3│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 Por definição, estes materiais podem mudar as suas propriedades mecânicas (forma, dureza, viscosidade) ou propriedades térmica, óticas, eletromagnéticas, de forma previsível e controlada,para produzir uma resposta ao meio que os envolve. Podem ser incluídos neste conceito materiais que executam funções de detecção e atuação, piezoelétricos, elétricos, magnéticos ou materiais com memória de forma (Shape memory materials)(Meng and Li, 2013, Mondal, 2008, Lendlein and Kelch, 2002). Materiais inteligentes são aqueles que possuem uma ou mais propriedades que podem, de forma significativa, registrar uma mudança devido a um estímulo que pode ter origem através de estresse mecânico, temperatura, vapor, ph, sinal elétrico, magnético, entre outros (Wen, 1992). Existe uma variedade enorme deste tipo de materiais sendo que alguns já fazem parte do nosso cotidiano(Baurley, 2004). De acordo com as publicações de Xiamong Tao, os Smart Textile são definidos como “os materiais e estruturas que sentem e reagem às condições ambientais ou estímulos mecânicos, térmicos, químicos, elétricos, magnéticos ou de outras fontes” (Tao, 2001). Eles podem ser divididos em três subgrupos: - Têxteis inteligentes passivos: Apresenta o nível de complexidade mais baixo. Esse tipo de produto apenas pode sentir estímulos ou condições ambientais funcionando basicamente como sensores. - Têxteis inteligentes ativos: Esse grupo, além de conseguir sentir os estímulos ou condições ambientais como os anteriores, também tem a função de atuador, produzindo uma reação ao estímulo. - Têxteis muito inteligentes: Na escala da complexidade, este grupo é sem dúvida o mais complexo. Além de sentir o estímulo e provocar uma reação,este grupo tem ainda a capacidade de se adaptar de acordo com a resposta recebida. www.cetiqt.senai.br/redige │4│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 1.1 A escolha de têxteis para aplicar smart materials Quando se discute sobre este tema, uma questão que pode ser levantada é a seguinte: A que se deve a escolha da aplicação de materiais inteligentes em substratos têxteis? Os têxteis mostram muitas vantagens, sendo únicos em vários aspectos. A versatilidade das roupas, tanto nos processos de produção como na aplicação final é bastante elevada. As fibras ou filamentos Figura 1 - Esquema de funcionamento de membrana Goretex Fonte: Goretex, 2012 fazem parte deste processo de construção sendo possível a diversificados sua aplicação produtos em finais. múltiplos Além da e sua constituição básica e propriedades enquanto fibras/filamentos, podem ainda ser organizadas de várias formas (fios ou estruturas têxteis), podendo dar origem tanto a produtos bidimensionais como tridimensionais. Após a construção das estruturas têxteis, é ainda possível, através de processos de acabamentos, implementar propriedades complementares, como por exemplo hidrofilidade, hidrofobicidade, antimicrobiana, anti-UV, permeabilidade seletiva, autolimpante entre outras. A aplicação de Smart Textiles permite combinar estas estruturas têxteis com propriedades tradicionais obtendo produtos multifuncionais avançados (Tao, 2001, Tao and Institute, 2005, Van Langenhove and Hertleer, 2004). Por outro lado, as roupas podem ser consideradas a nossa segunda pele. É um elemento tão comum que se encontra presente em praticamente todas as atividades humanas. A sua produção é efetuada a nível industrial, de forma rápida e rentável. Estas características podem parecer redundantes, mas é por essa mesma redundância que as roupas são uma realidade para integração de Smart Materials (Van Langenhove and Hertleer, 2004). A integração da característica Smart no material têxtil pode ser realizada em vários níveis. Pode acontecer em fibras, a partir de um revestimento ou ainda pode ser adaptado a uma unidade completamente independente do material têxtil. Este conceito Smart Textile terá tendência a evoluir para que todo o sistema seja composto com materiais têxteis (os sensores, atuadores e todos os demais www.cetiqt.senai.br/redige │5│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 substratos sejam a base de fibras). A maior dificuldade em atingir este nível, será o de se conseguir obter um produto final maleável, flexível, com boa resistência mecânica, condutividade elétrica e ainda resistente à água. 1.2 Componentes fundamentais de um Smart Textile As funções fundamentais que podem ser encontradas em um Smart Textile são: Sensorização - O material captura um estímulo que teve origem no meio envolvente e o substrato têxtil (fibra/fio) deverá ter a capacidade de recolher e transmitir a informação detectada. Processamento de dados - Essa função é facultativa e apenas necessária se o material for ativo, sendo para isto necessário a integração de componentes eletrônicos. Apenas com materiais têxteis não é ainda possível fazer processamento de dados. No entanto a miniaturização de componentes eletrônicos é uma grande aliada para a integração desta função, sendo a resistência à água deste tipo de componentes o grande obstáculo a ser ultrapassado. Atuação - A função principal de um atuador é responder ao impulso que é captado pelo sensor. Um atuador realiza uma atividade, provoca uma resposta, move elementos, liberta substâncias, produz um impulso sonoro. Um exemplo são os materiais com memória de forma que mudam a sua estrutura em função da temperatura. Armazenamento - O armazenamento de energia é uma função que pode ser essencial para as funções anteriores se abastecidas com energia. Muitas investigações têm sido realizadas neste campo, existindo já soluções que produzem energia a partir do calor corporal, pela ação mecânica das roupas ou ainda por radiações solares. Comunicação - A comunicação entre as várias funções de um Smart Textile pode ocorrer a vários níveis, entre o utilizador e o produto têxtil e também no sentido inverso. www.cetiqt.senai.br/redige │6│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 1.3 O que não deve ser confundido com um Smart Textile Existem no mercado aplicações de têxteis técnicos que podem ser facilmente confundidas com smart textiles. O exemplo mais conhecido é a membrana GORETEX© (Goretex, 2012). Esta membrana foi desenvolvida há aproximadamente 20 anos e trata-se de um material que apresenta a função de respiração seletiva, pois permite que o vapor de água (em forma de suor) passe para o exterior, impossibilitando no entanto a passagem de água no sentido contrário (por exemplo água da chuva). A razão para não considerar este produto como smart textile está relacionada com a definição, pois as propriedades deste material não se alteram por influência do meio exterior. A respirabilidade destas membranas é uma função estática, o que as define como materiais funcionais (Figura 1). 2 TECNOLOGIAS INTELIGENTES APLICADAS EM MATERIAIS TÊXTEIS Em um cenário futurista, as roupas serão também uma infraestrutura de comunicação, fornecendo de forma imperceptível as informações geradas para monitorar áreas como saúde e/ou emoções. Pode-se considerar que a roupa é a última fronteira com o ambiente externo. A funcionalidade dos têxteis inteligentes passará por recolher informação do utilizador ou do meio circundante e em seguida por processar a informação recolhida. Para realizar estas funções, os Smart Textiles devem ser portadores de capacidades singulares que não se encontram nas fibras convencionais. Por exemplo, a função de detecção dos sensores (componentes dos Smart Textile) é essencial, e é usual recorrer-se atualmente a tecnologias que consigam complementar estas lacunas das fibras convencionais.Em um caso ideal, a própria fibra deverá ser capaz de tais funções. Os avanços nas tecnologias de ponta e em particular da nanotecnologia, permitem vislumbrar a evolução pretendida nos materiais fibrosos. Todas as tecnologias que serão descritas a seguir apresentam um ótimo potencial comercial. No entanto, tal como em várias outras tecnologias, necessitam ainda atingir um estágio de maior evolução, o qual apenas será possível com uma abordagem multidisciplinar. A tabela 1 mostra a relação entre o efeito físico e o princípio teórico do dispositivo sensorial aplicado. A monitoração contínua é uma www.cetiqt.senai.br/redige │7│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 vantagem reconhecida dos têxteis eletrônicos (e-têxteis) em várias áreas, como por exemplo nas áreas ligadas à saúde. Tabela 1: Tecnologias Inteligentes relacionando estímulo com a resposta Resposta Elétrica Magnética Ótica Térmica Mecânica Elétrico Eletrocrômicos/ Piezoelétrico Eletroluminescente Termoelétrico Eletro reológico Eletro-ótico Ótico Magnético Fluído magneto Mecânico reológico Magneto-ótico Magnetostritivo Fotocondutor Fotocrômico Térmico Estimulo Fluido dielétrico Termocrômico Termoluniscente Piezoelétrico/ Eletroresistivos Magnetorestitivo PCM Memória de forma Mecanicocrômico Auxéticos 2.1 Materiais de mudança de fase (Phase Change Materials - PCM) Os PCMs são materiais com a capacidade de mudar o seu estado físico dentro de um determinado intervalo de temperatura, absorvendo energia durante o processo de aquecimento e libertando-a durante o processo de resfriamento. Um efeito de conforto térmico pode ser alcançado com este tipo de material aplicado em materiais têxteis(Sánchez et al., 2010, Mondal, 2008). A tecnologia para a incorporação de PCMs em estruturas têxteis foi desenvolvida a partir de um programa espacial da NASA (National Aeronautics and Space Administration) no início dos anos 1980. O programa da NASA buscava aplicar este material em tecidos para trajes de www.cetiqt.senai.br/redige │8│ Alexandre Ferreira; Fernando ernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 astronautas com o objetivo de melhorar a sua proteção térmica contra as flutuações extremas de temperatura do espaço (Nelson, 2002). Empiricamente, a vantagem deste processo advém da possibilidade da temperatura se manter constante para o utilizador durante uma alteração abrupta das condições ambientais (aquecimento ou resfriamento). Ass aplicações têxteis desenvolvidas com PCM são normalmente aliadas às microcápsulas. Essas possuem diâmetros de alguns micrômetros e são aplicadas aplicad em revestimentos sobre a superfície perfície de uma estrutura estrutu têxtil conforme se verifica na Figura 2. 2 A busca de novas funcionalidades em materiais fibrosos vem Figura 2 - Imagem ilustrativa de PCMs em filamento Fonte: Sánchez et al., 2010 incentivando a indústria a uma maior utilização de processos de microencapsulamento microencapsula para conferir as propriedades de acabamento em têxteis de uma forma que que não é possível ou viável economicamente com a utilização de outras tecnologias (Shin et al., 2005, Mukhopadhyay Mukhopadhy and Vinay Kumar Midha, 2008). Outras potenciais potenciais aplicações incluem perfumes, hidratantes de pele, repelentes de insetos, corantes, vitaminas, antibióticos a entre outros. 2.2 Materiais com Memória de Forma De acordo com Lendlein and Kelch, este e tipo de material pode ser classificado em dois grupos (Lendlein Lendlein and Kelch, 2002). 2002 O primeiro engloba ngloba normalmente os materiais com formas estáveis a duas ou mais temperaturas. Nestas diferentes temperaturas, estes materiais podem assumir diferentes formatos. O outro grupo de Shape Memory Materials (SMM) são os denominados polímeros eletroativos (EAP – electroactive polymers) polymers em que a forma pode ser alterada em função de um estímulo elétrico. elétr Este tipo de polímero eletroativo tivo foi desenvolvido durante a última década. As aplicações com estes este materiais eriais foram potencializadas potencializ pela possibilidade de produzir mudança de tamanhos ou mesmo alteração de formas.. Os EAPs podem também ter funções funç sensoriais, sendo-lhes sendo atribuídos mecanismos de atuadores básicos e/ou de produção de movimento. www.cetiqt.senai.br/redige │9│ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 Baseados normalmente em ligas metálicas, por exemplo liga níquel-titânio, estes materiais foram desenvolvidos para proporcionar um mecanismo de proteção a variação de temperatura (Yoo et al., 2008). Neste caso, a diferença de temperatura de ativação pode ser modificada em função da concentração de Níquel ou Titânio. A proteção ao calor será ativada pela atuação da liga metálica. Os polímeros com memória de forma, mecanicamente, têm o mesmo funcionamento das ligas acima mencionadas, possuindo a vantagem de terem uma melhor compatibilidade com os materiais têxteis. Os primeiros polímeros com memória de forma foram desenvolvidos pela Chimie cdf Companie e eram ativados entre as temperaturasde 35º e 40ºC. Polímeros baseados em estireno, butadieno, tereftalato de polietileno foram posteriormente obtidos com o mesmo propósito(Lendlein and Kelch, 2002). Um aspecto muito importante com relação a esta tecnologia é que a temperatura de ativação destes materiais quando aplicáveis em peças de vestuário deve ser próxima da temperatura corporal. A ativação destes materiais geralmente desencadeia um mecanismo semelhante ao de uma mola. Esta mola encontra-se tencionada abaixo da temperatura de ativação e quando a temperatura sobe, faz com que ocorra o aumento do comprimento da mesma . Este efeito pode ser aplicado entre camadas de uma peça de vestuário e terá como resultado o aumento de distância entre estas camadas, traduzindo-se por exemplo, em um maior conforto térmico para o utilizador. 2.3 Materiais crômicos Estes materiais são conhecidos pelas suas propriedades “camaleônicas”, podendo mudar a sua cor em conformidade com diferentes estímulos externos. Por definição, materiais crômicos são aqueles que irradiam, anulam ou mudam a cor que apresentam em função de um determinado estímulo. A origem do estímulo será importante para classificar o tipo de material crômico, conforme se verifica na Tabela 2. www.cetiqt.senai.br/redige │ 10 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 Tabela 2: Denominação do material crômico em função do estímulo Material Estimulo necessario Fotocrômico Luz Termocrômico Calor Eletrocrômico Eletricidade Piezoelétrico Pressão Solvatocrômico Função da polaridade do solvente Fonte: Gregory et al., 2001, Neves, 1997 Os materiais termocrômicos são materias que alteram a sua cor em função da presença de calor. A aplicação mais usual é a utilização de pigmento/corante com capacidade de alterar a sua cor quando ativado por uma determinada temperatura. Esta tecnologia varia a partir de dois sistemas termocrômicos; a utilização de cristais líquidos ou do tipo de rearranjo molecular. Nesses dois sistemas é utilizada também a tecnologia de microencapsulamento sendo aplicada em forma de pigmento ao substrato (Neves, 1997, Pippi, 2010). A utilização de cristais líquidos resulta do processo de reflexão seletiva da luz pelo cristal líquido. As moléculas adjacentes rearranjam-se em forma de uma mola conforme se verifica na Figura 3. Quando existe variação do comprimento da mola (devido a variações térmicas), o comprimento de onda da luz refletida também varia e por consequência altera a cor (Neves, 1997, Pippi, 2010). Figura 3 - Esquema de funcionamento de cristais liquidos colestéricos com estrutura idêntica a uma mola Fonte: adaptado de Ely et al., 2007 www.cetiqt.senai.br/redige │ 11 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 Os materiais termocrômicos baseados no rearranjo da estrutura molecular de um corante baseam-se geralmente nas espirolactonas. O mecanismo que leva este fenômeno não se encontra ainda completamente esclarecido. O método de produção passa por microencapsular uma mistura de um revelador de corante em um solvente orgânico. O aquecimento ou arrefecimento irá revelar ou retirar a cor no ponto de fusão da mistura. Podemos ainda obter uma alteração da cor do substrato têxtil através de seu contato com a umidade. Estes materiais são conhecidos como hidrocrômicos, ou seja, são capazes de responder ao estímulo da água. No entanto, são compostos que apresentam uma baixíssima solidez à luz(Oakes et al., 2005). 2.4 Materiais luminescentes Os materiais luminescentes são aqueles que quando estimulados têm a capacidade de produzir luz (Lakowicz, 2006). Estes materiais podem ser divididos em vários subgrupos: • Oticoluminescentes, que conduzem a luz; • Eletroluminescentes, que têm como estímulo a eletricidade; • Quimiluminescentes, que têm uma reação química como estímulo; • Triboluminescêntes, que têm uma reação mecânica com estímulo; • Fotoluminescentes, que são estimulados pela luz; • Radioluminescência, estimulados por radiação iônica. Ultimamente, esses materiais têm sido utilizados em aplicações específicas, como elemento de segurança para detecção de imitações de etiquetas em peças de vestuário. São também utilizados em equipamentos de proteção individual ou em produtoscomo tapetes com marcações para orientar as pessoas durante falhas de energia em aeroportos, metrôs, rodoviárias, etc. A figura 4 ilustra o efeito de um material luminescente. www.cetiqt.senai.br/redige │ 12 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 Figura 4 - Exemplo de aplicação de fibras óticas Fonte: Lumigram, 2006 2.5 Materiais fotovoltaicos As propriedades e funcionamento dos materiais fotovoltaicos foram descobertos ainda no século XIX pelo físico francês e prêmio nobel Antoine Henri Becquerel (Fukuda, 1998). A capacidade de um material gerar uma corrente elétrica quando excitado com luz foi, sem dúvida alguma, uma descobertarevolucionária. Trata-se de uma tecnologia em desenvolvimento e que necessita ainda de muita investigação. As diferentes soluções, atualmente disponíveis em células solares comercializadas, apresentam uma eficiência relativamente baixa, variando de 5% até um máximo de 30%.Para aplicações têxteis, as células solares orgânicas serão muito vantajosas, no entanto Figura 5 - Modelo Generator. Uma exposição de 5 horas ao sol permite a utilização do seu computador portátil por 2-4 horas. Fonte: Ferreira et. al, 2012 apresentam ainda uma eficiência próxima de 5%, um valor bastante reduzido. Os smart textiles, atualmente comercializados com esta tecnologia, utilizam células solares convencionais integradas nos substratos têxteis, onde a luz é o gerador de corrente elétrica, a qual é direcionada para a funcionalidade pretendida. A alimentação elétrica deste tipo de aplicação poderá ser suficiente para carregar equipamentos eletrônicos de pequenas dimensões, tais como, leitores MP3 ou telefones celulares. Atualmente, a evolução destes tipos de equipamentos permitem www.cetiqt.senai.br/redige │ 13 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 em casos concretos a produção de cerca de 15 Watts de potência, conforme se verifica no exemplo ilustrado na figura 6. 2.6 Materiais Auxéticos Os materiais auxéticos foram descobertos há mais de 100 anos, mas só começaram a ganhar importância científica nas últimas duas décadas. Uma grande variedade de materiais auxéticos têm sido estudados e desenvolvidos, incluindo espumas metálicas e poliméricas, laminados de fibra de carbono, polímeros com microporosidade e estruturas denomidadas favo de mel (Bhullar, 2010). O comportamento auxético nos materiais pode ser explicado através da sua geometria e dos mecanismos de deformação (Grima, 2011). Estes materiais são definidos pela expansão transversal quando tensionados longitudinalmente, o que determina o Coeficiente de Poisson negativo. Desta forma, quando uma força (tração) é aplicada em uma direção, a estrutura expande-se horizontalmente na direção perpendicular à força aplicada (Sloan et al., 2011, Alderson, 2005, Steffens, 2012, Liu, 2006). Existem diferentes possibilidades para a produção de materiais auxéticos, as quais podem ser divididas em dois grandes grupos: intrinsecamente através dos polímeros (fibras desenvolvidas a partir do processo de extrusão e espumas auxéticas) e através do entrelaçamento de fios formando diferentes estruturas (tecidos ou malhas com comportamento auxético). O efeito auxético confere melhorias nas propriedades mecânicas dos materiais tais como: resistência à fratura, módulo de cisalhamento, resistência à indentação, variação da porosidade e permeabilidade (quando submetidos àpressão)(Sloan et al., 2011). Os materiais com Coeficiente de Poisson negativo podem ser aplicados nas mais diversas áreas, tais como, têxteis para proteção (capacetes), roupas esportivas, cordas, filtros, absorção de amortecimentos, absorção acústica, aplicações biomédicas entre outras(Steffens, 2012). 2.7 Têxteis Eletrônicos e Têxteis condutores O desenvolvimento de e-textiles (eletrônica+têxteis) iniciou-se na década de 80 quando foi verificado o potencial da inclusão dos materiais inteligentes em substratos têxteis. No fim da década de 90, surgiram relatos de várias experiências com www.cetiqt.senai.br/redige │ 14 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 materiais fibrosos, como a utilização de bordados para interação entre o homem e o computador (Post, 1997), uniformes com fibra ótica integrada para monitoração de soldados (Lind et al., 1997), uso de eletrodos têxteis para monitorar a atividade cardiopulmonar (Ishijima, 1997) e uso de tecidos termo e piezo resistivos para medição de variações térmicas e parâmetros biomecânicos(De Rossi et al., 1997). A maioria dos trabalhos desenvolvidos nesta área ainda apresenta um caráter laboratorial. Uma exceção são os denominados eletrodos têxteis, que já se encontram bastante desenvolvidos em algumas aplicações comerciais, principalmente na monitoração de funções vitais (Rossi and Paradiso, 2011). O vestuário possui uma interface abrangente e confortável e é sem dúvida alguma uma plataforma ideal para incorporação de módulos eletrônicos através da utilização de fibras e fios têxteis condutores, o que permite que estes se tornem sistemas eletrônicos totalmente funcionais e essencialmente práticos. O ato de integrar fios condutores no vestuário e em outros materiais têxteis deve levar em conta alguns importantes parâmetros. Um dispositivo integrado em uma peça de roupa deve ser leve, confortável, de pequenas dimensões e deve ainda ser muito eficiente a nível de consumo de energia. As fibras e os fios podem ser utilizados para estes casos, como dispositivos de ligação e como sensores funcionais. Os fios são produzidos a partir de misturas poliméricas não condutoras com cargas carbônicas, tal como nanotubos de carbono. Podem ainda ser utilizadas partículas metálicas ou fibras de aço. No entanto, a utilização de metal nos fios é uma desvantagem, pois o metal facilmente danifica a estrutura dos mesmos. Além deste fato, a incompatibilidade com ambientes úmidos e a pouca flexibilidade destes materiais podem refletir na redução da usabilidade, da mobilidade, do desconforto para o utente e do tempo de vida útil do artigo. Polímeros intrinsecamente condutores surgem como uma alternativa aos fios metálicos. Também conhecidos como metais sintéticos, conseguem juntar as propriedades elétricas, eletrônicas e magnéticas dos metais, mantendo as propriedades mecânicas e a sua processabilidade. Diversos trabalhos científicos foram realizados no desenvolvimento de polímeros intrinsecamente condutores ou no revestimento de materiais têxteis, utilizando diversos tipos de polímeros tais www.cetiqt.senai.br/redige │ 15 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 como, poliacetileno, polianilina, politiofeno, poli(p-fenileno), polipirrol entre outros. Um dos métodos que merece destaque e tem sido bastante empregado para produção de tecidos condutores é a síntese química de polipirrol sobre os tecidos(Lekpittaya et al., 2004, Wu et al., 2005, Oh et al., 2003, Molina et al., 2013). Esta síntese produz sobre o tecido uma fina e contínua camada do polímero condutor, o qual permite a condução elétrica deste tipo de material. Aplicações de polipirrol para obtenção de tecidos condutores são variadas e numerosas, sendo possível obter materiais anti-estáticos(Lekpittaya et al., 2004), sensores de gás(Ataman et al., 2013), sensores biomecânicos(Wu et al., 2005), dispositivos de aquecimento(Bhat et al., 2006) entre outros. Existe ainda outra alternativa para obtenção de materiais fibrosos condutores que são as nanofibras. Estas são necessárias em menor concentração e são por natureza mais finas, o que as torna mais flexíveis que as outras opções. O método de produção de nanofibras mais simples, econômico e com maior potencial é o “electrospinning” (Burger and Chu, 2007, Zhang et al., 2005). Novas possibilidades de aplicações e de métodos de produção para têxteis condutores não cessam de aparecer. Este é sem dúvida um campo que merece muita atenção por parte dos investigadores, pois há ainda muito o que ser descoberto (Kang et al., 2007). 2.8 Materiais piezo elétricos O efeito piezoelétrico baseia-se no fato de alguns materiais conseguirem produzir um diferencial de potencial elétrico quando sujeitos a stress mecânico. A sua descoberta remonta ao século XX. Normalmente, são materiais que apresentam também a capacidade de emitir um sinal elétrico quando sujeitos a forças mecânicas. São materiais com grande potencial para serem aplicados em sensores e em atuadores. Os primeiros fenômenos piezoelétricos foram observados em cristais naturais (quartzo que ainda hoje pode ser encontrado em alguns relógios). Mais tarde, materiais cerâmicos foram produzidos com o mesmo objetivo. Estes materiais têm limitações físicas para serem aplicados em produtos têxteis. No entanto, já foram verificadas aplicações de filmes poliméricos piezoelétricos com a www.cetiqt.senai.br/redige │ 16 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 finalidade de se conseguir monitorar sinais vitais e movimentos (Edmison et al., 2002). O efeito piezoelétrico é o princípio básico que sustenta o funcionamento de alguns sensores utilizados nos dias de hoje. É baseado na variação deste princípio que se estudam, atualmente, sensores sensÍveis a diversos estímulos. As aplicações que utilizam cargas carbônicas (nanofibras de carbono, negro de fumo, nanotubos de carbono) em compósitos poliméricos, sustendadas pela piezoeletricidade são hoje uma das tecnologias de ponta orientadas para a industria têxtil (Ferreira et al., 2012, Ferreira et al., 2011, Kang et al., 2007). CONCLUSÂO A partir desta breve revisão bibliográfica, constata-se que após diversos esforços científicos e depois de ultrapassado o obstáculo de mercado não competitivo, os materiais denominados têxteis inteligentes representam hoje o futuro da indústria têxtil. As projeções mais recentes revelam que o potencial deste mercado está na ordem dos bilhões de dólares, o que justifica a grande dedicação em novos projetos de pesquisa e desenvolvimento nesta área no mundo inteiro. Não existe escassez de soluções nesta área, por outro lado, não existe uma solução universal que sirva para todas as aplicações. A orientação do desenvolvimento deste campo tem como objetivo melhorar as soluções existentes, adaptadas às exigências do mercado particular. O custo, durabilidade, miniaturização e o meio em que ocorre são variáveis que serão importantes na definição das propriedades do material. Conclui-se, desta forma, que as potencialidades dos têxteis inteligentes são imensuráveis. As áreas tecnológicas para aplicação são vastas e sedentas de novas soluções. A necessidade de se buscar novos nichos de mercado com produtos de grande valor agregado também existe. Assim, encontram-se reunidos todos os ingredientes para uma massificação destes novos materiais. O potencial está aí, pronto para ser explorado. Para os têxteis inteligentes a imaginação é, sem dúvida alguma,o limite. www.cetiqt.senai.br/redige │ 17 │ Alexandre Ferreira; Fernando Ferreira; Fernando Oliveira REDIGE v. 5, n. 01, abr. 2014 REFERÊNCIAS ALDERSON, K. Expanding materials and applications: exploiting auxetic textiles. Technical Textiles International, Worcestershire, p. 29-34, 2005. ANDRES LEAL, A.; DEITZEL, J. M.; GILLESPIE JUNIOR, J. W. Assessment of compressive properties of high performance organic fibers. Composites Science and Technology, [S.l.], v. 67, p. 2786-2794, 2007. ATAMAN, C. et al. A robust platform for textile integrated gas sensors. 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É Professor Associado do Departamento de Engenharia Têxtil e Diretor do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil da Universidade do Minho. Email: [email protected] Fernando Ribeiro Oliveira Graduado em Engenharia Têxtil pelo SENAI-CETIQT, tem mestrado em Química Têxtil e doutorado em Engenharia Têxtil pela Universidade do Minho (2009 - 2013). Possui ainda 4 anos de experiência profissional no segmento têxtil na área de desenvolvimento, produção e controle de qualidade de fios para aplicações técnicas. Atualmente é professor Adjundo do Departamento de Engenharia Têxtil da UFRN. Email: [email protected] www.cetiqt.senai.br/redige │ 22 │