Painel 2 - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis e

Transcrição

Painel 2 - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis e
1
Curso de
Especialização em
Gestão Ambiental
e Negócios no
Setor Energético
Environmental Management
and Energy Sector Business
Specialization Course
Objetivo
Capacitar profissionais para analisar, avaliar, controlar, planejar,
estruturar e implementar projetos, de forma eficaz e eficiente, com
base nos modernos conceitos de gestão ambiental, a partir de
uma visão integrada das áreas de Energia e de Meio Ambiente,
em seus aspectos técnicos, legais, institucionais, comerciais e
organizacionais, face à crescente importância estratégica e
operacional dessas áreas.
Objective
Enable professionals to analyze, evaluate, control, plan, organize
and implement projects efficiently and efficaciously based on the
modern concepts of environmental management, with an integrated
view of the Energy and the Environment areas, in their technical,
legal, institutional, commercial and organizational aspects, faced
with the increasing estrategic and operational importance of these
areas.
Realização/
Organizationn
Informações/Information
Tels.: (55 11) 3091-2650
e 3091-2652
Fax: 3091-2653
[email protected]
www.iee.usp.br/latosensu
Próxima turma/Next class
Fev/2012
Febr, 2012
Sumário/Summary
Capa/Cover
Na rota dos resíduos
On the waste route
Páginas 6 a 12
Pages 13 to 19
Fotos/Photos: iStockphoto/Cenbio
Editorial................................................... 5
Projetos do Cenbio/Cenbio Projects
2º Seminário de Bioenergia reúne profissionais do
setor e discute novas oportunidades ................ 21
2nd Bioenergy Seminar gathers professionals of
the sector and discusses new opportunities ….... 31
Empresas Modernas/Modern Companies
Fábrica da Braskem pode produzir 200 t/ano de
plástico verde ........................................... 45
Braskem’s factory can produce 200 tons/year
of green plastic ........................................... 48
Divulgação/dissemination
Meryellen Duarte
Meio Ambiente/The Environment
Transformando o problema em solução ............ 27
Turning the problem into a solution.................. 29
Entrevista/Interview
Martin Langewellpott, representante do Estado
da Baviera no Brasil, afirma que parceria de mais
de uma década nunca esteve tão forte e deve
aumentar .................................................. 37
Martin Langewellpott, the State of Bavaria
Representative in Brazil, states that the over-onedecade partnership has never been so strong
and is to get stronger …………………….............. 41
Artigo/Article
Cancun – o futuro da Convenção do Clima ......... 49
Cancun – the future of the Convention on Climate
Change .................................................... 52
Agenda
Programe-se para os próximos eventos ........... 55
Include the next events in your Schedule .......... 55
3
Editora
Editor
Suani Teixeira Coelho
Universidade de São Paulo (USP)
Instituto de Eletrotécnica e Energia da
Universidade de São Paulo (IEE-USP)
Centro Nacional de Referência em
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Universidade de São Paulo (USP)
Instituto de Eletrotécnica e Energia da
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Centro Internacional de Pesquisas
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Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade (USP)
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Tradução para Inglês e Português
Translation from and into English
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A Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, é uma publicação trimestral do
Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), patrocinada pelo Ministério de
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de estado, senadores, governadores, deputados federais, prefeitos, deputados estaduais,
diretores de agências reguladoras, secretários estaduais de meio ambiente e energia,
cientistas, empresários e especialistas em meio ambiente e energia. As opiniões emitidas nas entrevistas e artigos são de responsabilidade de seus autores, não refletindo,
necessariamente, a posição de seus editores. É permitida a reprodução parcial ou total
das reportagens, desde que citada a fonte.
The Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, is a quarterly publication of the
Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio), sponsored by Ministério de Minas e
Energia – Convênio nº 721606/2009 – and is distributed to federal government ministers,
senators, deputies, federal legislators, mayors, state legislators, heads of regulatory
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Editorial
UM NOVO TEMPO A
N
ão há mais como fechar os olhos para o problema do lixo. Cada vez mais
custosos para os governos municipais e estaduais, os detritos têm se
tornado um problema de difícil solução com a saturação dos aterros e o
aumento populacional. Pensar em uma solução adequada para o lixo não é mais uma
questão negligenciável. É uma urgência.
Nossa matéria de capa discute o problema do lixo no Brasil e mostra como ele
pode ser usado para produzir energia, evitando que fique se acumulando em lixões e
nos mares, onde gera problemas ambientais e despesas. O lixo pode ser queimado.
E o calor gerado, usado em usinas termelétricas para produzir energia elétrica. Pode
também ter seu gás (biogás) produzido nos aterros captado e usado para abastecer
motores elétricos. Até o esgoto tratado em biodigestores tem capacidade de gerar energia.
Só não dizemos que o céu é o limite porque há outro limite muito mais abaixo:
o financeiro. Faltam iniciativas governamentais e parcerias público-privadas para
viabilizar a construção de usinas de incineração e as pesquisas de outras tecnologias.
Alguns projetos já existem, como é mostrado na reportagem, mas a estrada à frente
ainda é longa. Pelo menos a tecnologia já temos disponível como aponta Martin
Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil, nosso entrevistado do
mês. Conversamos com ele a respeito da parceria que existe entre São Paulo e
Baviera desde 1997, sobre a vinda de empresas alemãs para o Brasil e sobre a situação
da incineração de lixo aqui e lá.
A ideia de abordar o tema do biogás também na seção “Meio ambiente” vem da
importância do assunto: o lixo é uma questão urgente que precisa de solução no curto
ou médio prazo. O mesmo vale para o acordo sobre emissões de gases causadores do
efeito estufa, que foi nossa matéria de capa na última edição e agora retorna às nossas
páginas em artigo do professor José Goldemberg. Ele explica que, ao mesmo tempo
que se pode enxergar a Conferência de Copenhague como um fracasso, pode-se
também verificar as tendências para os rumos das conversas sobre redução de emissões nos próximos anos: metas individuais. Cada país agora irá ditar, voluntariamente, quanto irá reduzir em suas emissões – e o mais provável é que a Conferência
de Cancun só comprove isso.
Outro assunto que volta à nossa revista é o Seminário de Bioenergia, série de
eventos que se iniciou no ano passado e, agora, ganhou sua segunda edição. Nós, do
Cenbio, trabalhamos muito para reunir um time de profissionais renomados para falar
ao público e temos orgulho de saber que conseguimos. Mas o mais importante foi
que o seminário esteve voltado para o futuro: falamos muito sobre novas tecnologias
e novos tipos de biomassa. Muita gente ainda pensa que bioenergia se resume a
etanol. O seminário ajudou a provar que isso está muito longe da verdade: existem
iniciativas relacionadas a diesel de cana, gordura animal, bioquerosene e mais.
Reunir todos esses profissionais em um mesmo lugar e vê-los falar sobre suas
áreas de atuação é inspirador. Percebemos que, cada vez mais, a bioenergia e os bioderivados ganham espaço nas empresas e na mídia. A Braskem, maior petroquímica das
Américas, por exemplo, está chamando a atenção do mundo com um plástico feito a
partir de cana-de-açúcar, como se pode conferir em outra reportagem desta edição.
Esta revista que você tem em mãos está, portanto, otimista. A bioenergia está
em todo lugar e só não vê quem não quer. Nós, do Cenbio, que sempre lutamos para
ver essa área crescer, agora observamos confiantes como o assunto ganha importância
sozinho.
É mais que um sinal dos tempos: é um amadurecimento. O mundo está mais
velho e mais consciente, ainda que isso tenha acontecido a duras penas. Agora é torcer
para que as iniciativas cresçam e deem certo.
Boa leitura!
Suani Teixeira Coelho
Editora
Coordenadora do Centro Nacional
de Referência em Biomassa (Cenbio)
Instituto de Eletrotécnica e Energia
Universidade de São Paulo
NEW ERA
W
e can no longer turn away from the garbage issue. Increasingly
more costly to municipal and state governments, wastes have
become an issue of difficult resolution due to the saturation of
landfills and to the increase in population. Thinking of an adequate solution for
garbage is no longer a negligible issue. It is urgent.
Our cover article discusses the garbage problem in Brazil and shows how
it can be used to produce power, preventing it from accumulating in dump sites
and in the seas, where it generates environmental problems and expenses.
Garbage can be burned and the heat generated can be used in thermopower
plants to produce power. It can also have its gas (biogas) produced in landfills
captured and used to fuel vehicles. Even sewage treated in biodigestors can
generate power.
We refrain from saying the sky is the limit because there is another limit far
below: the financial one. There is a lack of governmental initiatives and publicprivate partnerships to allow the construction of incineration plants and researches
into other technologies. Some projects already exist, as shown in the article,
but there is still a long way to go. At least the technology is already available,
as pointed out by Martin Langewellpott, a Bavaria State representative in
Brazil, our interviewee this month. We talked to him about the partnership
between São Paulo and Bavaria since 1997, on the incoming Bavarian companies
in Brazil and about the garbage incineration situation here and there.
The idea of approaching the biogas theme also in the “Environment”
section derives from the importance of the subject: garbage is an urgent issue
which needs a solution in the short and mid-term. The same goes for the
agreement on greenhouse gases emissions, which was the cover article in our
former edition and now returns to our pages in an article by Professor José
Goldemberg. He explains that, whereas the Copenhagen Conference can be seen
as a failure, the trends for the direction of the talks on emission reduction in the
next years can also be verified: individual goals. Each country can now voluntarily
state by how far it will reduce its emissions – and the Cancun Conference is very
likely to prove this.
Another issue that returns to our magazine is the Bioenergy Seminar, a
series of events which started last year and has now had its second edition. We,
from Cenbio, worked a lot to gather a renowned professional team to address the
public and we are proud to say we succeeded. The most important, however,
was that the Seminar concerned the future: much was said about new technologies
and about new types of biomass. Many people still thinks that bioenergy is
restricted to ethanol. The Seminar helped to prove that this is far from true:
there are initiatives related to sugar cane and animal fat diesel, biokerosene and
more.
Gathering all these professionals at the same place and listening about the
areas they act in is inspiring. We noticed that, more and more, bioenergy and
bio-byproducts gain momentum in both companies and the media. Braskem,
the largest petrochemical industry in the Americas, for example, is calling the
world attention to a plastic made from sugar cane, as can be verified in another
article in this issue.
The magazine now in your hands is, therefore, optimistic. Bioenergy is
everywhere for everyone to see. We, from Cenbio, who always struggled to see
this area grow, now confidently observe how it gains momentum by itself.
It is more than a sign of the times: it is maturation. The world is older and
more aware, even if this has occurred at a high price. Now we have to keep our
fingers crossed for these initiatives to grow and succeed.
Enjoy your reading!
Suani Teixeira Coelho
Editor
Coordinator of the Brazilian Reference
Center on Biomass (Cenbio)
Institute of Electrotechnics and Energy
Universidade de São Paulo
5
Capa
NA ROTA DOS RESÍDUOS
Eterno alvo dos ambientalistas, o lixo agora é matéria-prima para
produção de energia elétrica e deixa de ser problema para virar solução
Fotos: iStockphoto/Cenbio
Aterros podem
receber drenos
por onde o biogás
é captado e
levado a uma
usina de geração
de energia
6
ixo. Um dos maiores vilões da saúde
pública tornou-se, também, um problema grave de urbanização e logística.
Isso porque não há mais onde colocá-lo: com o
aumento da população e do poder aquisitivo
dos brasileiros, o que se vê é maior descarte de
resíduos inorgânicos demorando mais tempo
para se decompor. Produzimos mais lixo do que
a natureza consegue absorver, situação que, em
algum momento, atingirá um limite.
Segundo dados levantados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil gera,
por dia, 182.728 toneladas (t) de resíduos sólidos urbanos. Desse total, 21.644 t (12%) não
são sequer coletadas, sendo despejadas por
civis em áreas abertas ou em rios, contribuindo
para enchentes e outros problemas.
Cada brasileiro gera por dia, sozinho, 1,152
kg de lixo. Esse número não é um mau indicador
se comparado à média dos habitantes de países
da União Europeia, que gera 1,2 kg ao dia. O
problema é que, nos grandes centros do Brasil,
a média é muito maior. Uma pessoa de Brasília,
por exemplo, produz 1,698 kg de resíduos por
dia, enquanto uma do Rio de Janeiro, 1,617 kg, e
uma de São Paulo, 1,259 kg.
São Paulo, inclusive, é um caso emblemático.
Apertados por leis ambientais que visam a acabar com o descarte irresponsável, os municípios do Estado começaram a gastar mais com seu
lixo. A Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (Cetesb) acirrou a fiscalização em todo o
território paulista e passou a interditar lixões e
aterros irregulares e a obrigar as prefeituras a
assinar Termos de Ajustamento de Conduta
(TACs) comprometendo-se a realizar um descarte correto. Olhando pelo lado ambiental,
pode-se concluir que deu bastante certo: no início de 2007, o Estado contava com 143 lixões –
hoje, só existem três em operação.
Por outro lado, o cerco das leis ambientais
foi acompanhado de um esgotamento natural
do sistema de aterros. O Bandeirantes, destino
importante do lixo paulistano, foi fechado em
L
Novembro/November 2010
Capa
2007 e o São João, que funcionou durante dezessete anos e acumulou um total de 28 milhões de
t de lixo, parou de receber resíduos neste ano.
O resultado: não temos mais onde colocar
nosso lixo. Sem opções, as prefeituras passaram a exportar seus resíduos. Araras, por exemplo, envia o lixo para um aterro particular, em
Paulínia, a 120 km de distância. Já os resíduos
de Itanhaém, no litoral Sul, viajam de caminhão
serra acima, pagam pedágio e são despejados
em um aterro em Itaquaquecetuba. A capital também exporta seus resíduos para outras cidades
do Estado, como Guarulhos e Caieiras. Toda
essa logística, é claro, custa caro: por ano, a cidade de São Paulo gasta R$ 900 milhões com o
lixo, boa parte em transporte.
Com o problema crescendo em níveis preocupantes, surge a pergunta: o que podemos fazer com esse lixo? A resposta: transformá-lo em
bioenergia.
A ENERGIA QUE VEM DO GÁS
Existem duas formas de aproveitar a energia
gerada pelo lixo. A primeira é queimá-lo e transformar essa energia térmica em energia elétrica
por meio de turbinas movidas a vapor de água
(veja quadro na pág. 12). A segunda e, até o
momento, a mais popular forma é aterrar o lixo
normalmente e instalar em toda a extensão do
aterro um sistema que capture e transporte o
biogás gerado naturalmente pelos detritos. “O
metano representa cerca de 50% de todo o biogás
gerado no aterro, que é composto também por,
aproximadamente, 40% de gás carbônico, 3% de
oxigênio e o restante de nitrogênio”, afirma Fernando Souza Nazareth de Freitas, coordenador
operacional da Essencis Soluções Ambientais.
Por ter essa composição, esse gás pode ser
armazenado e usado em motores, substituindo
o gás natural ou, então, utilizado para abastecer motores ciclo Otto adaptados, que produzem a energia elétrica e a armazenam em geradores. É possível, também, simplesmente queimar
o gás, o que acontece em queimadores chamados de flares. Qualquer que seja o destino escolhido para o gás, o fato de o aterro impedir
que ele seja lançado na atmosfera gera créditos
de carbono, que podem ser negociados com a
comunidade internacional.
Mas instalar um sistema de captação do
biogás não é fácil. “A primeira providência é a
instalação de drenos verticais que permitam a
extração do biogás e o escoamento do chorume”, afirma João Wagner Silva Alves, assessor
da presidência da Companhia Ambiental do
Com saturação dos aterros, o
encaminhamento do lixo se tornou um
problema para municípios de São Paulo
RESÍDUOS
SÓLIDOS URBANOS
(RSU):
UM PANORAMA
57
milhões de t de resíduos sólidos urbanos foram produzidos no Brasil em
2009
7 milhões desses resíduos deixaram de ser coletados
6,6% foi o aumento na geração per capita de RSU em relação a 2008
1% foi o aumento real na quantidade de RSU descartados
53% é a participação do Sudeste no total de lixo coletado, a maior entre as
regiões
6% é a participação do Norte, a menor entre as regiões
43% de todo o lixo coletado em 2009 teve destinação inadequada
43,4% é a porcentagem de municípios brasileiros que não possuem nenhuma iniciativa de coleta seletiva
19,3%
de todo o lixo coletado ainda vai para lixões (56,8% vão para
aterros sanitários e 23,9% para aterros controlados)
1.688 lixões ainda existem no Brasil, contra 3.877 aterros
Fonte: Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, Abrelpe, dados referentes a 2009
7
Capa
Estado de São Paulo (Cetesb). Segundo ele, a
instalação dos drenos deve obedecer a um
espaçamento de cerca de 30 m de raio. “Externamente, à medida que a disposição e a cobertura dos resíduos avançam no aterro, tubulações de polietileno de alta densidade [PEAD]
são interligadas nos drenos verticais internos
que percorrem toda a massa de resíduo”, completa Fernando Freitas. Essas tubulações são
conectadas a sopradores que realizam a sucção
contínua do biogás, 24 horas por dia.
Além dos custos de instalação dessa tubulação, que precisa ser ampliada conforme o aterro avança, também há o custo de manutenção
da rede já instalada, que está sujeita a danos
causados por agentes externos.
O BIOGÁS NO BRASIL
Aterros
Bandeirantes e
São João já
possuem usinas
termelétricas à
base de seu
biogás natural
8
A geração de energia elétrica por meio de
captação de biogás já existe no Brasil. Inaugurada em 2004, a usina termelétrica do aterro Bandeirantes, em São Paulo, foi a primeira de geração de energia elétrica a gás metano a ser instalada no País, com capacidade para gerar 175 mil
MW por ano, utilizando unidades geradoras.
Ela foi totalmente financiada pelo Unibanco
(hoje fundido ao Banco Itaú) e pela Biogas Energia Ambiental S.A. A Eletropaulo também teve
participação, ficando responsável pela constru-
ção de uma estação de chaveamento para transferir a energia elétrica para a rede convencional.
Segundo estimativas do governo, a usina impedirá que cerca de 8 milhões de t de gás carbônico equivalente sejam emitidas até 2012.
Já a usina termelétrica do aterro São João,
também em São Paulo, foi inaugurada em 2008
com capacidade para gerar 200 mil MW por ano,
o equivalente ao consumo de uma cidade de
400 mil habitantes, por meio de dezesseis unidades geradoras. Ela impede que 800 mil t de
gás carbônico equivalente sejam emitidas por
ano.
A Biogas investiu cerca de US$ 30 milhões
no Aterro Bandeirantes e cerca de US$ 50 milhões no São João. Os créditos de carbono já
foram negociados em dois leilões, em 2007 e
2008, gerando R$ 71 milhões para a prefeitura,
responsável pela venda, que aplicou os recursos em projetos nos arredores dos aterros.
Está prevista para o final de 2010 a conclusão da Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias
(RJ), instalação que será explorada pela Gás
Verde S.A. Quando estiver com toda a infraestrutura pronta, a usina irá captar cerca de 200
mil m3 de biogás diariamente. Ela será, além de o
maior projeto brasileiro de redução de gases de
efeito estufa, também o maior do mundo na ca-
Novembro/November 2010
Capa
tegoria de aterros, com capacidade para obter
US$10 milhões em Certificados de Emissão Reduzidas (CERs) nos próximos quinze anos. A
Petrobras tem contrato assinado para comprar
o gás e usá-lo como fonte de energia na Refinaria de Duque de Caxias.
O próprio Cenbio possui um projeto de obtenção de energia a partir do lixo. Seu nome é
Aproveitamento do biogás proveniente do tratamento de resíduos sólidos e urbanos para
geração de energia elétrica e iluminação a
gás. Por meio dele, entrou em operação, em 2009,
no Centro de Tratamento de Resíduos de
Caieiras, em São Paulo, um motor ciclo Otto com
potência de 200 kW, de tecnologia nacional, que
transforma biogás em energia elétrica. Apenas
2% do biogás captado são enviados para o
motor, que é de pequeno porte – o resto é queimado em flare. A energia disponível pela vazão
de metano no CTR Caieiras é de, aproximadamente, 340 MW por hora diariamente.
RESÍDUOS RURAIS: UM NOVO MERCADO
Em fazendas e outros ambientes de atividade agrícola ou de pecuária, também existe grande produção de resíduos. “A diferença do resíduo rural para o urbano é que o rural é mais
homogêneo e rico em matéria orgânica, enquanto o urbano tem a matéria orgânica misturada a
uma série de outros componentes, principalmente tóxicos”, explica João Wagner.
Por causa dessa característica do material, a
produção de energia se dá por meio da utilização de biodigestores. Um biodigestor é um compartimento totalmente fechado, sem entrada de
ar, para onde os resíduos são enviados e fermentam anaerobiamente, transformando a
biomassa em biogás. O equipamento funciona
com um material totalmente orgânico ou muito
próximo disso, o que inviabiliza seu uso em aterros de centros urbanos, onde o lixo é apenas
cerca de 50% orgânico. O biogás resultante é
utilizado para gerar energia elétrica e o material
restante pode ser usado como fertilizante, por
ser rico em nitrogênio, potássio e fósforo.
Após muitos anos de discussão, hoje, finalmente, o dono da fazenda pode tanto utilizar
a energia elétrica na sua propriedade como
vendê-la para uma distribuidora. Isso porque,
no final de 2008, a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) regulamentou a geração de
energia a partir do biogás e sua comercialização
em todo o País. Pela Resolução Normativa
Aneel 390/2009, de 18 de dezembro do ano
passado, qualquer distribuidora de energia elé-
trica pode comprar eletricidade produzida por
biodigestores em propriedades privadas.
Além da energia elétrica, existe também, é
claro, a questão dos créditos de carbono. Estudo realizado pelo Cenbio, coordenado pela Drª.
Suani Teixeira Coelho, com base em dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), apontou que havia no Brasil quase 140
milhões de bovinos confinados, de cujos dejetos
se poderia gerar quase 3.400 MW por ano. Considerando o valor da t de carbono como US$ 10,
seria possível arrecadar US$ 150 milhões ao ano
em certificados apenas com os dejetos de bovinos, ou seja, sem contar suínos, equinos, caprinos etc.
E existem iniciativas apontando para essa
direção. O Projeto Alto Uruguai, por exemplo,
resultado de parceria entre instituições públicas e privadas, busca disseminar a instalação
de biodigestores nas fazendas de dezenove
municípios de Santa Catarina e dez do Rio Grande
do Sul. Em 2011, prevê-se que, só na Região
Oeste de Santa Catarina, existirão mais de 2 mil
miniusinas geradoras de energia elétrica a partir do uso dos dejetos suínos.
Um dos maiores projetos do gênero teve
início agora em novembro, também na Região
Sul. A Hidrelétrica de Itaipu, em parceria com a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), começou a instalar biodigestores em
Criação de suínos:
dejetos produzidos
pela pecuária
podem gerar biogás
após serem
encaminhados para
biodigestores
9
Capa
Hoje, na China, 15
milhões de casas
possuem esgoto
ligado a
biodigestores para
aproveitamento
doméstico do gás
41 propriedades rurais do Paraná. O biogás será
transportado por gasodutos para a usina
termelétrica transformar o biogás em energia
elétrica para ser usada nas próprias fazendas. O
excedente vai ser vendido para a Companhia
Paranaense de Energia (Copel), também parceira da iniciativa.
Recentemente, a Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) desenvolveu, em parceria
com o Cenbio, Usinazul e duas entidades internacionais, a Winrock International e a The
Renewable Energy & Energy Efficiency
Partnership (Reeep), um software que, perante
dados da fazenda, estabelece o tipo de
biodigestor adequado. O software pede informações – como o número de animais, a quantidade de resíduos produzida num dado período
e o consumo de energia elétrica da propriedade
– e devolve informações como o tamanho adequado do biodigestor para aquela situação,
quanto o ruralista gastaria no projeto de instalação e qual a taxa de retorno. “A ideia do programa desenvolvido pelo Cenbio e seus parceiros é, justamente, incentivar a implementação
de sistemas de tratamento de dejetos provenientes de suínos, bovinos de corte e bovinos de
leite, em pequenas e médias propriedades, e o
aproveitamento energético do biogás”, afirma
a engenheira química e pesquisadora do Cenbio,
Vanessa Pecora Garcilasso.
ESGOTO: ENERGIA COM BIODIGESTORES
O esgoto é outra fonte de resíduos da qual
já se explora a obtenção de energia. Nesse caso,
o aproveitamento também é feito por biodigestão anaeróbia, em biodigestores. “O que muda
é o tempo de retenção hidráulica, ou seja, o tempo que demora para o efluente ser tratado dentro dos biodigestores”, afirma Vanessa. Segundo ela, o esgoto tem um tempo de retenção hidráulica de oito a doze horas, em média, e os
dejetos rurais, principalmente de suínos, porque possuem maior carga orgânica, demoram
cerca de trinta dias para serem tratados.
Outra diferença é que o esgoto pode ter uma
separação inicial de metais, partes sólidas, óleos e outros contaminantes, para que seja encaminhada ao biodigestor apenas a parte líquida.
Mais uma vez, o sistema se configura não
só como uma iniciativa sustentável, mas também como um negócio em potencial. Nos EUA,
a empresa Synagro fatura, sozinha, US$ 320
milhões ao ano só coletando lodo de esgoto
para vender a fazendeiros do país como fertilizante (a empresa não reaproveita o gás para
10
energia). Hoje, 15 milhões de casas na China
rural possuem o esgoto ligado a biodigestores
para aproveitar os resíduos – é o país que mais
transforma resíduos de esgoto em energia em
todo o mundo.
No Brasil, onde o próprio tratamento de esgoto é escasso, o reaproveitamento com biodigestores ainda engatinha. Em Estados como São
Paulo e Mato Grosso, é possível encontrar projetos em áreas rurais, geralmente atrelados a
preocupações ambientais. Em 2005, o Cenbio
instalou, como modo de demonstrar a tecnologia, um gerador ciclo Otto convencional em
paralelo com uma microturbina de 30 kW na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Sabesp
em Barueri, São Paulo, operando com o biogás
produzido.
Nilton Seuaciuc, superintendente de Novos
Negócios da Sabesp, afirma que as vantagens
econômicas ainda são incertas. “Se utilizarmos
[a energia produzida com o esgoto], temos de
comprar a demanda para paradas, o que encarece a operação”, diz ele. “Se vendermos, podemos obter um bom preço no varejo”, acredita.
Em Petrópolis (RJ), opera, talvez, a mais bemsucedida iniciativa do gênero no País. Cerca de
trinta famílias em bairros populares receberam
biodigestores em suas casas para que seu esgoto não fosse despejado em rios. Cada dez
casas que tratam seus esgotos em biodigestores geram gás para que uma seja autossuficiente – medições feitas pela ONG Instituto
Ambiental (OIA), que apoia o projeto, apontam
que a redução da carga orgânica dos resíduos
chega a 98%. Ainda segundo a ONG, o custo
para a construção de um biodigestor capaz de
atender até quatro casas varia de US$ 1.000 a
1.500.
Vale lembrar que existem vários tipos de
biodigestor. “Para o tratamento de esgoto, o
mais utilizado atualmente é o RAFA [Reator
Anaeróbio de Fluxo Ascendente]. Para resíduos rurais, o biodigestor rural”, afirma Vanessa.
Em abril deste ano, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e
da Universidade de Gênova, Itália, desenvolveram um biodigestor que produz, em média,
40% mais biogás a partir do esgoto que os comercialmente disponíveis. O equipamento também purifica o gás, fazendo-o gerar cerca de
50% mais energia e tornando-o mais parecido
com o gás natural veicular (GNV). A meta é que
o produto seja patenteado até abril do ano
que vem.
Novembro/November 2010
Capa
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Assim como outras iniciativas ligadas à
bioenergia no Brasil, o aproveitamento de resíduos é carente de leis de incentivo. Mas isso
começou a mudar em 2010. O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sancionou, em agosto, o
projeto de lei que cria a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), após este ter sido
aprovado em março pela Câmara e em julho pelo
Senado. O projeto de lei existe há mais de vinte
anos: foi apresentado na Câmara dos Deputados em 1989, mas só agora saiu da casa. Ele
estabelece a “responsabilidade compartilhada”
entre produtores, consumidores e governo no
gerenciamento e no manejo dos resíduos sólidos.
Pela lei, fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores passam a ser obrigados a
criar mecanismos para recolher as embalagens
após o uso. A medida vale para os setores de
agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, eletroeletrônicos e para todos os
tipos de lâmpada. Os consumidores, por sua
vez, ficam com a responsabilidade de acondicionar de forma adequada o lixo para a coleta,
inclusive fazendo a separação onde houver
coleta seletiva. Eles também ficam proibidos de
descartar resíduos sólidos em praias, no mar,
em rios e em lagos.
Os governos estaduais e municipais ficam
proibidos de criar lixões. Eles poderão construir apenas aterros sanitários, onde só poderão ser depositados resíduos que não possam
ser reaproveitados ou compostados. Todas as
esferas do governo ficam obrigadas a elaborar
planos para tratar resíduos sólidos, estabelecendo metas e programas de reciclagem. Os
municípios terão até 2014 para fazer um plano
de manejo dos resíduos sólidos em conformidade com as novas diretrizes. Essa é também a
data limite para a erradicação de lixões.
Para completar, a PNRS ainda incentiva o
trabalho dos catadores, o que foi recebido como
uma vitória pela categoria. Pelo projeto, o poder público deverá fomentar atividades de cooperativas e associações de catadores de resíduos recicláveis e entidades de reciclagem, por
meio de linhas de financiamento.
Outro ponto importante da PNRS é fazer a
distinção entre resíduo e rejeito. O primeiro é o
lixo que ainda pode ser reaproveitado ou
reciclado; e o segundo é o lixo que já não é mais
passível de reaproveitamento. O projeto não
contempla, porém, os dejetos animais da zona
rural, que são caracterizados como “efluentes”.
Para Vanessa, falta uma legislação específica
destinada aos efluentes líquidos, na qual se en-
quadrariam o esgoto, vinhaça e dejetos animais,
entre outros.
Apenas um ponto criou polêmica entre a
opinião pública. Originalmente, a proposta da
PNRS previa que o aproveitamento energético
dos resíduos somente seria permitido depois
que todos os recursos recicláveis fossem separados, ou se não houvesse viabilidade técnica
para a reciclagem. Esse trecho foi retirado na
passagem do texto pelo Senado, o que gerou
críticas de ambientalistas por supostamente
desincentivar a reciclagem e abrir espaço excessivo para a incineração.
Para Fernando Freitas, a PNRS traz duas
grandes vantagens. A primeira é em relação ao
aterro, que passa a receber mais resíduos biodegradáveis, fazendo com que tenha uma maior
geração de gás para a produção de energia. A
outra é em relação aos materiais recicláveis, que
podem ser aproveitados de outras formas para
a produção de energia. O coordenador operacional da Essencis também acredita que, por receberem menos materiais inorgânicos, os aterros
podem ganhar um aumento na sua vida útil.
Tiago Nascimento Silva, gerente de Produção da Biogas, acredita que a PNRS irá estimular as empresas a procurarem alternativas para
coletar seus resíduos e dar a eles um destino
final adequado. “As empresas que produzem
álcool por meio de cana-de-açúcar hoje fazem a
cogeração, que é a queima do bagaço em caldeiras para produção de vapor de processo e
eletricidade”, exemplifica ele.
Essa é a primeira lei do tipo com âmbito federal. O Estado de São Paulo já possuía, por
exemplo, uma lei própria sobre o assunto, a
12.300/2006, embora ela não abrangesse re-
Um motor ciclo
Otto, como este, é
abastecido com
biogás e produz
energia elétrica
11
Capa
síduos rurais. Apesar de já ter caráter de lei e de
já ter sido publicado no Diário Oficial, a PNRS
ainda não foi regulamentado. O plano do governo era regulamentá-lo até novembro, mas o
prazo não foi cumprido devido às eleições.
Agora, todos esperam pela regulamentação:
as empresas de energia, as empresas de coleta
OPORTUNIDADE
de lixo, os ambientalistas e a sociedade. Com o
potencial triplo de diminuir a carga de lixo no
ambiente, gerar energia elétrica e render créditos de carbono, o aproveitamento energético
do lixo é um negócio que só tem a fazer bem
para o País. Só é preciso que seja feito com
responsabilidade.
QUE SURGE DAS CINZAS
Com a saturação dos aterros, queimar o lixo vem se tornando uma opção cada vez mais comentada no setor de manejo de
resíduos. Além de ser uma maneira rápida de eliminar o material, ela também permite a obtenção de energia elétrica por meio da
formação de vapor, que é usado para mover uma turbina. As usinas que realizam esse processo são, portanto, termelétricas e,
no Brasil, são comumente chamadas de Usinas de Recuperação de Energia (UREs).
No mundo inteiro, existem mais de seiscentas usinas desse tipo. Na Europa e no Japão, as prefeituras repassam os resíduos
às empresas que fazem o processo e pagam a elas cerca de R$ 250, ou mais, por t de lixo. Os países da Comunidade Europeia,
inclusive, já não consideram mais os aterros uma solução ambientalmente adequada e pretendem bani-los até 2020. A Alemanha
proibiu a construção de aterros em 2005.
A emissão de dioxinas e furanos, substâncias tóxicas e causadoras de câncer, era uma das maiores críticas às usinas de
incineração, mas, com os avanços de tecnologia, o problema passou a ser contornado. Em 2003, a Agência de Proteção
Ambiental (EPA), dos Estados Unidos, apresentou um estudo comparando as emissões de dioxinas pelos incineradores.
Apesar de a quantidade tratada ter sido mantida (cerca de 30 milhões de t anuais), houve uma redução de 86,5% nas emissões
de poluentes dos incineradores entre 1987 e 2002. “Ninguém é ameaçado pelas emissões de toxinas, dioxinas ou furanos porque
os filtros são extremamente efetivos”, afirma Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil (confira
entrevista completa na pág.37). “Esses argumentos dominavam a discussão política vinte anos atrás. As usinas modernas são
seguras”, diz ele. A Baviera possui um dos projetos de incineração mais conhecidos do mundo e conta atualmente com
dezessete usinas do tipo – recebem mais de 90% do lixo da região.
A maior usina de incineração de resíduos do planeta fica em Amsterdã, na Holanda, processando 4.500 t de lixo por dia,
gerando 1 milhão de MW e abastecendo 100% da iluminação pública da cidade. Além disso, os resíduos incinerados viram
matéria-prima para a pavimentação de vias públicas e calçadas e para utilização na construção civil.
O Brasil assinou, durante a Convenção de Estocolmo, em 2001, um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) que
aponta a incineração de resíduos como uma das principais fontes geradoras de poluentes orgânicos. O acordo recomenda que
o uso de incineradores seja eliminado progressivamente. Por esse motivo e também, principalmente, por falta de incentivo
financeiro, a incineração no Brasil ainda é latente, caracterizando-se pela existência de grande quantidade de incineradores de
porte muito pequeno, instalados em hospitais, casas de saúde e congêneres espalhados pelo País.
Mas o novo panorama mundial já começa a mudar as coisas por aqui. Em 2010, o governo do Distrito Federal anunciou o
estudo de uma parceria público-privada para desenvolver um projeto semelhante ao da capital holandesa, apoiado pela construção do primeiro aterro sanitário de Brasília. O projeto pode sair do papel em 2011. Em Recife, o consórcio Recife Energia
anunciou este ano uma usina de incineração capaz de processar 1.350 t de lixo por dia e produzir 27 MW.
Já a cidade de São Bernardo do Campo (SP) possui um projeto que deverá erguer a primeira usina de incineração de lixo
doméstico do Estado. Ela terá capacidade para receber mil t de resíduos domésticos por dia e a energia gerada, de 30 MW/hora,
será suficiente para abastecer diariamente uma cidade de 300 mil habitantes. A obra, que ainda não foi licitada, inclui um setor
de separação dos resíduos orgânicos e recicláveis e está orçada em R$ 220 milhões. A expectativa da prefeitura da cidade é
inaugurar a usina até 2012.
Legalmente, as práticas de incineração são normatizadas no Brasil por meio das resoluções Conama nº 316 e nº 358, que
dispõem, respectivamente, sobre os procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de
resíduos e sua aplicação para resíduos da saúde. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a NBR 11157,
que apresenta definições e padrões para análise de desempenho do incinerador, padrão de emissão, análise do resíduo etc.
“O lixo brasileiro tem poder calorífico na faixa entre 1.400 e 1.900 kcal/kg, podendo ocorrer distorções, tanto para cima como
para baixo dessa faixa, devido ao tipo de ocupação da área de geração, à época do ano e às classes sociais predominantes no
roteiro de coleta, entre outros”, afirma Milton Norio Sogabe, engenheiro da Área de Qualidade do Ar da Cetesb.
Segundo estimativa da Pöyry, empresa finlandesa especializada na instalação de termelétricas a partir de lixo, o Brasil tem
capacidade para gerar 300 MW de energia com a incineração de 12 mil t de lixo ao dia. Uma usina com capacidade de queimar mil
t de lixo por dia custa, aproximadamente, R$ 250 milhões, ligeiramente menos do que a construção de um aterro com a mesma
capacidade.
12
Novembro/November 2010
Cover
ON
THE WASTE ROUTE
An eternal target for environmentalists, garbage is now a feedstock for power
production and ceases to be a problem to become a solution
Photos: iStockphoto/Cenbio
G
arbage, one of the major villains for
public health, has also become a
serious problem for urbanization and
logistics. The reason is that there is nowhere
else to dump it: with the Brazilian growth in
population and in purchase power, a greater
disposal of inorganic waste is observed, which
takes longer to decompose. More garbage is
produced than nature is able to absorb, a situation which, at some point, will reach the edge.
According to data surveyed by the Brazilian
Association of Public Cleaning and Special
Waste Companies (Abrelpe), Brazil generates
182,728 tons (t) of solid urban waste per day. Of
this total, 21,644 t (12%) are not even collected,
being dumped by civilians in open areas or into
rivers, contributing to floods and to other
problems.
Each Brazilian alone generates 1.152 kg of
garbage per day. This number is not a bad
indicator if compared to the average inhabitant
in European Union countries, who generates
1.2 kg a day. The problem is that, in large urban
centers in Brazil, the average is far greater. An
individual in Brasília, for example, produces
1.698 kg of waste per day, whereas one in Rio
de Janeiro, 1.617 kg, and one in São Paulo, 1.259 kg.
São Paulo, by the way, is an emblematic case.
Pressed by environmental laws aiming to halt
irresponsible dumping, the State municipalities
began to spend more with their garbage. The
State of São Paulo Environmental Sanitation
Technology Company (Cetesb) made inspections stricter all over the State of São Paulo
territory and started to close irregular dump sites
and landfills and to force municipal governments to sign Conduct Adjustment Terms
(TACs) which made them commit to carry out
correct disposal. From the environmental
viewpoint, it can be concluded that this worked
very well: in the early 2007, the State counted
on 143 dump sites – today, there are only three
operating.
Conversely, the environmental laws siege
was accompanied by a natural exhaustion of
Landfills can receive
pipelines through which
the biogas is captured
and pumped to a
thermopower plant
13
Cover
With the saturation of landfills, the destination of garbage
became a problem for municipalities in São Paulo
URBAN
SOLID WASTE
(USW):
A SCENARIO
57 million t of urban solid waste were produced in Brazil in 2009
7 million t of this waste failed to be collected
6.6% was the increase in per USW capita generation in relation to 2008
1% was the real increase in the amount of USW discarded
53% is the Southeast participation in the total garbage collected, the
largest among the Brazilian regions
6% is the North participation, the smaller among the regions
43% of the whole garbage collected in 2009 had inadequate destination
43.4% is the percentage of Brazilian municipalities not counting on any
selective collection initiative
19.3% of the whole garbage collected still goes to dump sites (56.8% go
to sanitary landfills and 23.9% to controlled landfills)
1,688 dump sites still exist in Brazil, against 3,877 landfills
the landfill system. Bandeirantes, an important
destination of the São Paulo garbage, was
closed in 2007 and São João, which worked for
seventeen years and received a total 28 million
t of garbage, stopped receiving waste this year.
The result is that we have nowhere else to
dump our garbage. With no options, the municipal governments started to export their waste.
Araras, for example, sends its garbage to a
private landfill in Paulínia, 120 km away. On the
South coast, Itanhaém sends its waste on trucks
uphill, pays toll and the waste is dumped in a
landfill in Itaquaquecetuba. The capital also
exports its waste to other cities in the State,
such as Guarulhos and Caieiras. All this logistics
is surely costly: São Paulo City spends R$ 900
millions a year on garbage, a large share going
into transportation.
With the problem growing at alarming levels,
a question emerges: what can we do with this
garbage? The answer is to transform it into
bioenergy.
GAS-DERIVED POWER
There are two ways of taking advantage of
the power generated by garbage. The first is to
burn it and to transform this thermal power into
electric power by means of turbines moved by
water steam (see box in the page 19). The second
and, so far, the most popular way is to bury the
garbage normally and to install, all along the
landfill, a system that captures and conveys
the biogas naturally generated by the waste.
“Methane represents about 50% of all the
biogas generated in the landfill, which is also
composed of approximately 40% of carbon
dioxide, 3% of oxygen and the rest of nitrogen”,
states Fernando Souza Nazareth de Freitas,
operational coordinator of Essencis Soluções
Ambientais.
For having this composition, this gas may
be stored and used in engines, replacing natural gas, or else used to fuel adapted Otto cycle
engines, which produce electric power and store
it in generators. It is also possible to simply
burn the gas, which happens in equipment called
flares. Whatever is the destination chosen for
the gas, the fact that the landfill prevents it from
going into the atmosphere generates carbon
credits that may be traded with the international
community.
Yet installing a biogas capturing system is
not an easy task. “The first step is to install
vertical drains that allow extracting biogas and
the slurry outflow”, states João Wagner Silva
Source: Solid Waste Scenario in Brazil, Abrelpe, data concerning 2009
14
Novembro/November 2010
Cover
Alves, Board advisor of the São Paulo Environmental Sanitation Technology Company
(Cetesb). According to him, the drain installation has to comply with a spacing of about 30
m of radius. “Externally, as the disposition and
coverage of the waste advance in the landfill,
high density polyethylene pipes are interlinked
in the internal vertical drains running along the
whole waste mass”, completes Fernando Freitas.
These pipes are connected to blowers which
conduct the continuous suction of biogas, 24
hours a day.
Besides the installation costs of this piping,
which has to be expanded as the landfill
advances, there is also the maintenance cost of
the network already installed, which is subject
to damages caused by external agents.
BIOGAS IN BRAZIL
Power generation through biogas capture
already exists in Brazil. Starting its operations
in 2004, the Bandeirantes landfill thermopower
plant, in São Paulo, was the first methanederived power generator to be installed in Brazil,
with capacity to generate 175 thousand MW a
year, using generating units. It was fully
financed by Unibanco (now merged with Banco Itau) and by Biogas Energia Ambiental S.A.
Eletropaulo also participated, accounting for the
construction of a switching station to transfer
the power to the conventional grid. According
to governmental estimations, the plant will
prevent about 8 million t of carbon dioxide
equivalent from being emitted until 2012.
The São João landfill thermopower plant,
also in São Paulo, started operating in 2008, with
capacity to generate 200 thousand MW a year,
the equivalent to the consumption of a city with
400 thousand inhabitants, by means of sixteen
generating units. It prevents 800 thousand t of
carbon dioxide equivalent a year from being
emitted.
Biogas invested about US$ 30 millions in
the Bandeirantes Landfill and about US$ 50
millions in the São João one. The carbon credits
were already traded in two auctions, in 2007
and 2008, generating R$ 71 millions for the municipal government, responsible for the trade,
which invested the resources in projects in the
landfills neighborhood.
For the late 2010, the conclusion of the
Biogas Plant of the Metropolitan Landfill from
Jardim Gramacho, in Duque de Caxias (RJ), is
planned; it will be exploited by Gás Verde S.A.
When the whole of the infrastructure is ready,
the plant will capture about 200 thousand m3 of
biogas daily. Besides being the largest Brazilian
greenhouse gas reduction project, it will also
The Bandeirantes
and São João
landfills already
possess
biogas-based
thermopower plants
15
Cover
Swine breeding:
waste generated by
stockbreeding can
generate biogas
after being sent to
biodigestors
be the largest one in the world in the landfill
category, with capacity to obtain US$ 10
millions in Reduced Emissions Certificates
(RECs) in the next fifteen years. Petrobras has a
contract signed to buy the biogas and use it as
a source of energy in the Duque de Caxias
Refinery.
Cenbio itself counts on a project for
obtaining power from garbage. Its name is Use
of the biogas derived from solid and urban
waste for generating power and lighting from
gas. By the project, in 2009, in the Caieiras Waste
Treatment Center, in São Paulo, a 200 kWpowered Otto cycle engine started operating;
its technology is Brazilian, and it transforms
biogas into power. Only 2% of the biogas
captured are sent to the engine, which is small
– the rest is burned in flares. The energy
available from the methane outflow in the
Caieiras WTC is of approximately 340 MW per
hour daily.
RURAL WASTE: A NEW MARKET
In farms and other agricultural or livestock
breeding activity environments, there is also a
significant production of waste. “The difference
between rural and urban waste is that the rural
one is more homogeneous and rich in organic
matter, whereas the urban one has the organic
matter mixed with a series of other components,
16
mainly toxic ones”, explains João Wagner.
Due to this characteristic of the material,
power production occurs by the use of
biodigestors. A biodigestor is a fully closed
compartment, with no air inflow, to which the
waste is sent and anaerobically fermented,
transforming biomass into biogas. The
equipment works with fully organic matter or
very close to that, which prevents its use in
urban center landfills, where the garbage is only
about 50% organic. The resulting biogas is used
to generate power and the remaining material
can be used as fertilizer for being rich in
nitrogen, potassium and phosphorous.
After many years of discussion, today,
finally, the farm owner can both use the power
in the rural estate and sell it to a distributor.
This is possible because, in the late 2008, the
National Power Agency (Aneel) regulated
power generation from biogas and its trade all
over Brazil. According to the Aneel Normative
Resolution 390/2009, from December 18, 2009,
any power distributor can purchase power
produced by biodigestors in private estates.
Besides power, of course, there is the credit
carbon issue, as well. A study conducted by
the Cenbio, coordinated by Dr. Suani Teixeira
Coelho, based on data from the Brazilian
Institute for Geography and Statistics (IBGE),
revealed that there were almost 140 million
bovines confined in Brazil, from the manure of
which almost 3400 MW a year could be
generated. Considering the value of the carbon
t to be US$ 10, it would be possible to collect
US$ 150 millions a year in certificates from
bovine manure alone, that is, without counting
manure from swine, equine, goat, etc.
There are initiatives pointing in that direction. The Alto Uruguay Project, for example,
derived from a partnership between public and
private institutions, seeks to disseminate the
installation of biodigestors in farms of nineteen
Santa Catarina municipalities and of ten ones in
Rio Grande do Sul. In 2011, in the West region
of Santa Catarina alone, more than 2 thousand
miniplants generating power from the use of
swine manure are expected to exist.
One of the largest projects of the kind started
in November this year, also in the South Region.
The Itaipu hydropower plant, in a partnership
with the Brazilian Agricultural Research
Corporation (Embrapa), started to install
biodigestors in 41 rural estates in Paraná. The
biogas will be conveyed by gas pipelines for
the thermopower plant to transform the biogas
Novembro/November 2010
Cover
into power to be used by the farms producing
it. The surplus will be sold to the Paraná Power
Company (Copel), also a partner in the initiative.
Recently, The State University of Campinas
(Unicamp), in a partnership with Cenbio,
Usinazul and two international entities, Winrock
International and the Renewable Energy &
Energy Efficiency Partnership (Reeep),
developed a software that, having the farm data,
establishes the adequate biodigestor type. The
software asks for information – such as the
number of animals, the amount of manure
produced in a given period and the power
consumption of the estate – and returns
information such as the adequate size of
biodigestor for that situation, how much the
farmer would spend in that installation project
and the return rate. “The idea of the program
developed by Cenbio and its partners is exactly
to stimulate the implementation of systems for
treating swine, meat cattle and dairy cattlederived manure, in small and medium-sized
estates, and the energy use of biogas”, states
the Cenbio chemical engineer and researcher,
Vanessa Pecora Garcilasso.
SEWAGE: POWER FROM BIODIGESTORS
Sewage is another waste source from which
power production is already exploited. In this
case, the use is also made by anaerobic
biodigestion, in biodigestors. “What changes
is the time for hydraulic retention, that is, the
time it takes for the effluent to be treated within
the biodigestors”, states Vanessa. According
to her, the sewage has a hydraulic retention time
of eight to twelve hours, on average, and rural
waste, mainly from swine, as they have greater
organic load, take about thirty days to be
treated.
Another difference is that sewage may have
an initial separation of metals, solid parts, oils
and other contaminants, so that only the liquid
share is sent to the biodigestor.
Once again, the system is configured not
only as a sustainable initiative, but also as a
potential business. In the USA, the Synagro
company alone earns US$ 320 millions a year
simply by collecting sewage sludge to sell to
US farmers as a fertilizer (the company does not
use the gas for power). Today, 15 million houses
in rural China count on sewage connected to
biodigestors to use their waste – it is the
country that mostly transforms sewage waste
into power all over the world.
In Brazil, where even sewage treatment is
scarce, the reuse by biodigestors is still
incipient. In States such as São Paulo and Mato
Grosso, it is possible to find projects in rural
areas, usually linked to environmental concerns.
In 2005, Cenbio installed, as a way of presenting
the technology, a conventional Otto cycle
generator in parallel with a 30 kW microturbine
at the Sabesp Sewage Treatment Station (ETE)
in Barueri, São Paulo, operating with the biogas
produced.
Nilton Seuaciuc, Sabesp New Businesses
superintendent, claims that the economic
advantages are still uncertain. “If we use [the
energy produced from the sewage], we have to
buy the demand for pauses, which makes the
operation expensive”, he says. “If we sell, we
can obtain a good retail price”, he believes.
Maybe the most successful initiative of the
kind in Brazil operates in Petrópolis (RJ). About
thirty families in popular neighborhoods
received biodigestors in their homes so that their
sewage was not dumped into rivers. Every ten
houses treating their sewage in biodigestors
generate gas for one to be self-sufficient –
measurements made by the NGO Environmental
Institute (OIA), which supports the project,
point out that the reduction in the waste organic
load reaches 98%. Also according to the NGO,
the cost for building a biodigestor capable of
serving up to four houses varies from US$1,000
to US$1,500.
It is worth noting that there are several types
of biodigestors. “For sewage treatment, the
most used today is the RAFA [Upward Flow
Anaerobic Reactor]. For rural waste, the rural
biodigestor”, states Vanessa. In April this year,
researchers from the Faculty of Pharmaceutical
Sciences (FCF) - USP and from Genoa
University, Italy, developed a biodigestor which
produces, on average, 40% more biogas from
sewage than the commercially available ones.
The equipment also purifies gas, making it
generate about 50% more energy and making it
more similar to vehicular natural gas (VNG). The
goal is to have the product patented by April
next year.
China currently
has 15 million
houses with their
sewers directly
connected to
biodigestors for
domestic use of
the gas
NATIONAL SOLID WASTE POLICY
As for other initiatives connected to
bioenergy in Brazil, the use of wastes lacks incentive laws. Yet this started to change in 2010.
President Luiz Inácio Lula da Silva signed a bill
establishing the National Solid Waste Policy
(PNRS) in August, after its approval by the
House of Representatives in March and by the
17
17
Cover
A fuel-adapted
Otto cycle engine,
like this one, is
supplied with
biogas and
produces electric
energy
18
Senate in July. The bill exists since over twenty
years ago: it was presented to the House of
Representatives in 1989, but only recently it did
leave the House. It establishes “shared
responsibility” among producers, consumers
and government for managing and handling
solid waste.
According to the Law, manufacturers,
importers, distributors and vendors now have
to create mechanisms to collect the containers
after their use. The measure is valid for agrotoxic,
batteries, tires, lubricating oils, electro-electronic
sectors and for all sorts of lamp bulbs.
Consumers, in turn, are incumbent with
adequately packing the garbage for collection,
which includes separation wherever there is
selective collection. They are also forbidden
from disposing solid waste in beaches, into
seas, into rivers and into lakes.
The state and municipal governments are
forbidden from creating dumping sites. They
can only build landfills, where only waste that
cannot be reused or composted can be
deposited. All the governmental spheres are
obliged to elaborate plans to treat solid waste,
establishing goals and recycling programs. The
municipalities will have to make a plan for
managing solid waste in conformity with the
new directives by 2014. This is also the deadline
for phasing out dump sites.
To complete, the PNRS also stimulates
collectors’ work, which was welcome as a
victory by the category. According to the project,
the public sector will have to stimulate activities
of recyclable waste collectors’ cooperatives and
associations and of recycling entities, by means
of financing lines.
Another important PNRS point is to
distinguish between waste and refuse. The first
is the garbage that can still be reused or
recycled; and the second is the garbage that is
no longer fit for reuse. The project, however,
does not contemplate animal manure from the
rural area, which is characterized as “effluents”.
For Vanessa, a specific legislation concerning
liquid effluents is lacking, in which sewage,
vinasse and animal manure, among others,
would fit.
Only one point caused heated discussion
in the public opinion. Originally, the PNRS
proposal provided that the energy use of waste
could only be allowed after all the recyclable
resources were separated, or if there were not
technical feasibility for recycling. This section
was removed from the text when it was passed
in the Senate, which generated criticism by
environmentalists for supposedly discouraging
recycling and for opening excessive space for
incineration.
For Fernando Freitas, the PNRS provides
two great advantages. The first concerns
landfills, which start to receive more
biodegradable waste, making them have greater
gas generation for power production. The other
concerns recyclable materials, which may be
used in other ways for power generation. The
Essencis operational coordinator also believes
that, for receiving less inorganic material, the
landfills may gain an increase in their service
lives.
Tiago Nascimento Silva, Biogas production
manager, believes that the PNRS will encourage
companies to seek alternatives to collect their
waste and to give them an adequate end
destination. “The companies that produce sugar cane ethanol today make cogeneration,
which is burning the bagasse in boilers for
producing process steam and electricity”, he
exemplifies.
This is the first Law of the kind with federal
ambit. The State of São Paulo, for example,
already counted on a Law on the subject, the
12.300/2006 one, although it did not include
rural waste. Despite already having a character
of Law and of having already been published in
the Official Gazette, the PNRS has not yet been
regulated. The government plan was to regulate
it by November, but the deadline was not met
due to the general elections.
Everybody is now waiting for the regulation: power companies, garbage collection
Novembro/November 2010
Cover
companies, environmentalists and the society
as a whole. With the triple potential of
reducing the garbage load in the environment, generating power and yielding
OPPORTUNITY
carbon credits, the energy use of garbage is
a business that can only do good to the
country. It is only necessary for this to be
responsibly carried out.
EMERGING FROM ASHES
With the saturation of landfills, burning garbage has become a more and more commented option in the waste management
sector. Besides being a quick way of eliminating the material, it also allows obtaining power by means of steam formation, which
is then used to move a turbine. The plants conducting this process are, therefore, thermopower ones and, in Brazil, they are
usually called Power Recovery Plants (UREs).
All over the world, there are over six hundred plants of this type. In Europe and in Japan, the municipal governments forward
the waste to the companies that conduct the process and pay them about R$ 250, or more, per ton of garbage. The European
Community countries, by the way, no longer consider landfills an environmentally adequate solution and intend to ban them by
2020. Germany forbade the construction of landfills in 2005.
The emission of dioxins and furans, toxic substances causing cancer, used to be one of the major criticisms to incineration
plants but, with technological advancements, the problem started to be controlled. In 2003, the USA Environmental Protection
Agency (EPA) presented a study comparing dioxin emissions by the incinerators. Although the amount treated has been kept
constant (about 30 million t a year), there was an 86.5% reduction of pollutant emissions by the incinerators between 1987 and
2002. “No one else is threatened by the emission of toxins, dioxins or furans because the filters are extremely effective”, claims
Martin Langewellpott, representative of the State of Bavaria in Brazil (check full interview on page 41). “These arguments
prevailed in the political discussion twenty years ago. Modern plants are safe”, he says. Bavaria has one of the best known
incineration projects in the world and now counts on seventeen plants of the kind – receiving over 90% of the region garbage.
The largest waste incineration plant in the planet is located in Amsterdam, in the Netherlands, processing 4,500 t of garbage
per day, generating 1 million MW and supplying 100% of the city public lighting. Furthermore, the incinerated waste is turned
into feedstock for paving public roads and sidewalks and for being used in civil construction.
During the Stockholm Conference in 2001, Brazil signed a United Nations (UN) treaty which classifies waste incineration as
one of the major sources for generating organic pollutants. The agreement recommends that the use of incinerators is gradually
phased out. For this reason and also mainly for lack of financial incentives, incineration in Brazil is still latent, characterized by
the existence of a large number of very small-sized incinerators, installed in hospitals, clinics and similar entities scattered in
Brazil.
However, the new world scenario has already started to change things here. In 2010, the Federal District government
announced the study of a public-private partnership for developing a project similar to that of the Netherlands capital, supported
by the construction of the first landfill in Brasília. The project may be started in 2011. In Recife this year, the Recife Energia
consortium announced an incineration plant capable of processing 1,350 t of garbage per day and of producing 27 MW.
The city of São Bernardo do Campo (SP) counts on a project to build the first domestic garbage incineration plant in the
State. It will have capacity to receive thousands of t of domestic waste per day and the power generated, of 30 MW/hour, will
be enough to daily supply a 300 thousand inhabitants city. The work, still not bidden, includes an organic waste and recyclable
separation sector and is estimated to cost R$ 220 millions. The city government expects the plant to start operating by 2012.
Legally, the incineration practices are standardized in Brazil by Conama resolutions n. 316 and n. 358, which respectively
provide on the procedures and criteria for operating waste thermal treatment systems and their application for health waste. The
Brazilian Association of Technical Standards (ABNT) has NBR 11157, which presents definitions and standards for analyzing
incinerator performance, emission standard, waste analysis, etc.
“The Brazilian garbage has calorific power ranging between 1,400 and 1,900 kcal/kg, with possible distortions, both above
or below this range, due to the type of occupation of the generation area, to the season of the year and to the predominant social
classes along the collection route, among others”, states Milton Norio Sogabe, Cetesb Air Quality Area engineer.
According to the estimation made by Pöyry, a Finnish company specializing in installing garbage thermopower plants,
Brazil has capacity to generate 300 MW of power with the incineration of 12 thousand t of garbage a day. A plant with capacity
for burning a thousand t of garbage per day costs about R$ 250 millions, slightly less than building a landfill with the same
capacity.
19
19
Projetos do Cenbio
BIOENERGIA:
NOVOS RUMOS EM DEBATE
2º Seminário de Bioenergia reúne profissionais do setor e discute novas oportunidades
Fotos: Meryellen Duarte
lguns dos nomes mais importantes da
bioenergia no Brasil se reuniram no dia
28 de setembro no Auditório Professor Dr. Paulo Ribeiro de Arruda, na Universidade de São Paulo, para o 2º Seminário Bioenergia:
Desafios e Oportunidades de Negócios, organizado pelo Centro Nacional de Referência em
Biomassa (Cenbio) e patrocinado pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Com catorze palestras e mais de 120 pessoas lotando o auditório, o evento se desenrolou
trazendo novas informações e visões sobre o
tema proposto. Foram abordados, entre outros
tópicos, aspectos técnicos da produção do
etanol, tecnologias recentes, combustíveis alternativos e perspectivas para o futuro.
A
O evento se constituiu de uma abertura com
quatro palestras, dois painéis (um com quatro e
outro com cinco palestras) e o encerramento com
palestra de um representante do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Cada painel foi seguido de debates em que
representantes do público puderam fazer perguntas aos palestrantes. Após a última palestra, Suani Teixeira Coelho, coordenadora do
Cenbio, tomou a palavra para agradecer a presença de todos e celebrar a realização de um
fórum com discussões relevantes e pontuais
sobre a questão energética do Brasil.
Confira a seguir os resumos de cada palestra e conheça os principais pontos discutidos
no seminário.
Evento reuniu, mais
uma vez, profissionais
de diversas áreas
ligadas à bioenergia
para palestrar sobre
novas tecnologias e
desafios
21
Projetos do Cenbio
Público assistiu atento às palestras. Evento incluiu um painel dedicado a novas
tecnologias e outro a novos produtos
A visão do IEE para os biocombustíveis
Prof. Dr. Adnei Melges de Andrade, vice-diretor do Instituto de
Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP)
Adnei abriu o evento contando a história do Cenbio e suas contribuições para o setor de bioenergia no Brasil. “O centro caminha hoje para quinze anos de existência e é uma das principais
instituições de pesquisa de bioenergia do País”, afirmou durante a explanação. O palestrante
fez questão de destacar o projeto que transforma óleo de cozinha em biodiesel e anunciou que,
em breve, serão iniciadas pesquisas que permitirão estudar motores de explosão com biodiesel.
“A visão do IEE hoje é de modificação de comportamento”, afirmou o professor. “Focar não só
em energia elétrica, mas também em bioenergia.”
22
Novembro/November 2010
Projetos do Cenbio
Política energética e bioenergia
Dr. Roberto Meira Júnior, consultor técnico do Ministério de Minas e Energia
O futuro foi o grande foco de Meira Júnior em sua exposição. “A missão da minha coordenação
é prospectar oportunidades a fim de impulsionar a bioenergia”, afirmou ele no início. Em seguida, o palestrante falou dos princípios e objetivos do Ministério de Minas e Energia, entre eles
a diversificação da matriz e o desenvolvimento de novas tecnologias de obtenção. Em seguida,
o palestrante comentou que 90% das fontes de energia elétrica no Brasil são renováveis e que,
segundo projeção da Resenha Energética 2010, a perspectiva é que caia a participação dos
combustíveis fósseis e aumente o uso da biomassa até 2019 – dos 6,1 GW de hoje, a produção
deverá pular para 16,6 GW em 2019. “O Brasil hoje está na vanguarda, quer seja da bioenergia,
quer seja de outras fontes renováveis”, afirmou.
Panorama mundial da bioenergia
Prof. Dr. José Goldemberg, professor da USP
Recebido com muitos aplausos, Goldemberg abriu sua palestra falando da produção mundial
de petróleo, que hoje é de 12,8 bilhões de litros (L) por dia, e a de etanol, 67 bilhões de L por ano.
“A situação no resto do mundo não é encorajadora”, disse ele. “No Brasil, o etanol já substitui
metade da gasolina, mas, no resto do mundo, ele tem um longo caminho a trilhar”, afirmou.
Segundo Goldemberg, é preciso triplicar a produção atual de etanol para atender a demanda
prevista para 2020. “Acredito que as barreiras para o etanol brasileiro entrar nos Estados
Unidos e Europa irão cair, está nas cartas”, brincou. Goldemberg também comentou que o
Brasil poderia pular do atual índice de 8 milhões de ha cultivados para produção de biodiesel
para 65 milhões, mas que existe a competição com a indústria de alimentos. “A produção de
etanol no Brasil recebeu críticas lá de fora porque teria o efeito indireto de empurrar o gado para
a Amazônia”, explicou o professor. “Houve um grande ruído feito por publicações no exterior.
Porém, foram feitos estudos que desqualificaram essas informações porque se comprovou que
o etanol está sendo plantado em pastos degradados”, disse Goldemberg ao encerrar sua
explanação.
O papel do Cenbio no cenário dos biocombustíveis
Profa. Dra. Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Cenbio
Suani prestou-se a apresentar o extenso trabalho do Cenbio em sua palestra. Em primeiro lugar,
a dirigente falou sobre a participação do centro em projetos internacionais, como o Global
Network on Energy for Sustainable Development (Gnesd), uma rede de conhecimento formada por países em desenvolvimento que traz linhas de pesquisa para acesso à energia e tecnologia
para biocombustíveis. Também comentou a participação do Cenbio em organismos internacionais, como a International Renewable Energy Agency (Irena) e o Conselho de Energia e
Mudança Climática (Agecc) da Organização das Nações Unidas. Em seguida, Suani falou
sobre os atuais projetos em desenvolvimento do centro. Eles incluem estudos de etanol de
segunda geração, levantamento georreferenciado de resíduos da cana, projeto de biogás na
zona rural, desenvolvimento de software que o produtor rural pode usar para calcular as
emissões do seu gado (já disponível no site do Cenbio) e um projeto de eficiência energética
para a AES Eletropaulo, uma das distribuidoras de energia elétrica do Estado de São Paulo. Por
fim, a coordenadora do Cenbio destacou os projetos já concluídos e mostrou como o centro
está atuante na propagação de informação, atuando por meio de seu site, Twitter, Revista
Brasileira de Bioenergia e Atlas de Bioenergia do Brasil.
23
Projetos do Cenbio
Painel 1 – Bioetanol
Perspectivas de novas tecnologias
Mediador: Prof. Dr. Gilberto de Martino Jannuzzi, coordenador do Núcleo Interdisciplinar
de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade Estadual de Campinas
Avanços do etanol de primeira geração
Dr. Henrique Vianna de Amorim, presidente da Fermentec
A descoberta de uma nova levedura foi o principal fato levantado por Amorim em sua palestra. A FT 858L,
que deve estar disponível em 2011, economiza insumos e antibióticos, usa metade da água utilizada atualmente
no processo, diminui a quantidade de vinhaça e o tempo de centrífuga pela metade. Segundo Amorim, a
Fermentec estudou mais de quatrocentas linhagens de levedura até achar as quatro usadas atualmente. “Antes,
não dava para saber se a levedura ficava na dorna. Levamos quinze anos para descobrir”, disse ele. “Hoje, com
as leveduras selecionadas, na metade da safra você ainda tem 80% das leveduras nas dornas”, afirmou. Também
explicou que, atualmente, a levedura PE-2 é a mais utilizada porque é a que se adapta melhor. “A FT 858L pode
ser a filha da PE-2”, disse o palestrante.
Tecnologias para produção de bioetanol
Prof. Dr. Carlos Eduardo Vaz Rossell, diretor do programa industrial do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE)
Rossell começou sua palestra apresentando o CTBE. Falou dos projetos do laboratório e do novo prédio que
deverá ganhar: até a segunda metade de 2011, ele estará mais estruturado para a execução dos experimentos.
Em seguida, voltou sua atenção para o etanol. “Nós atingimos o melhor do álcool de primeira geração com
facilidade porque não tínhamos competição externa. Com o de segunda, teremos, e a corrida não será tão
fácil”, alertou. Rossell, então, apontou etapas críticas da tecnologia de hidrólise enzimática e ácida. Dentre
elas, destacou como principal a etapa de pré-tratamento físico-químico do bagaço. Ao final, o professor
chamou a atenção para duas novas tecnologias que podem ser consideradas avanços nessa jornada: o Processo
Mascoma (um micro-organismo que realiza, simultaneamente, a hidrólise e a fermentação de pentoses e
hexoses, não requerendo pré-tratamentos ou adição de enzimas) e a criação da biorrefinaria, que combina a
produção de etanol com a de derivados da pentose.
Barreiras para a produção de etanol de segunda geração
Profa. Dra. Elba Pinto da Silva Bon, coordenadora do Programa de Pós-graduação em
Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
“O que é biomassa? É a parede da célula vegetal”, apontou a professora em sua palestra. Segundo ela, a célula
é formada por celulose (entre 30% e 35%), hemicelulose (20% a 35%) e lignina (5% a 30%) – essa última é
de onde vem a maior parte da energia. De acordo com Elba, ninguém estuda no Brasil a combustão da lignina
a partir de hidrólise enzimática. “Isso é ruim”, avaliou a professora. “O foco dos estudos no Brasil, atualmente, está no processamento térmico mecânico enzimático”, completou. Elba apresentou ainda detalhes de uma
tecnologia interessante: a moagem com moinho de bola, descrita por ela como “ótima, porém, inviável”
devido ao seu alto consumo de energia. Para finalizar sua apresentação, a professora comentou o ciclo de
produção do etanol que seu laboratório na UFRJ está desenvolvendo. Em breve, o laboratório irá ganhar um
novo prédio com uma planta adequada para o tratamento brando da biomassa, sem ácido e sem soda.
Panorama e potencial de produção do etanol celulósico
Dr. Pedro Luiz Fernandes, presidente da Novozymes
“Cada tipo de biomassa exige uma enzima. Por isso, sempre existe pesquisa”, afirmou Fernandes ao abrir sua
palestra recheada de dados do setor. Segundo ele, em 2006, o Brasil produziu 66 milhões de t de bagaço. Em
2009, o número saltou para 430 milhões. O etanol celulósico, afirmou, é um dos possíveis novos mercados que
se abrem agora para o País. Além do combustível, é possível também extrair açúcar a partir do etanol
celulósico. “Se realmente queremos sair do discurso e ir para a prática, temos de prestar atenção em tudo que
podemos produzir com açúcar, sem mexer em uma gota de petróleo”, disse Fernandes. “Gostaria de ver um
debate público maior sobre o que são as biorrefinarias.”
24
Novembro/November 2010
Projetos do Cenbio
Painel 2: Etanol
Novos produtos: biodiesel, diesel de cana,
bioquerosene e biopolímeros
Mediador: Dr. Alfred Szwarc, consultor de Emissões e
Tecnologia da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica)
Diesel de cana
Dra. Luciana Di Ciero, gerente de Assuntos Regulatórios e
Relações Institucionais da Amyris
Luciana se apresentou ao público do seminário com a missão de falar sobre diesel de cana-de-açúcar, produto
desenvolvido por sua empresa, a Amyris. O diesel de cana é um hidrocarboneto C15H32 produzido a partir da
fermentação da cana com uma levedura sinteticamente alterada. Não é preciso modificar o motor de um
veículo que já utiliza diesel comum para que ele use o de cana. Além disso, ele não possui enxofre e, portanto,
polui menos. O único impeditivo, no momento, é que a densidade do diesel de cana ainda está um pouco abaixo
da exigida por lei. “A biomassa é a mesma, mas a fermentação usa muito mais açúcar”, afirmou Luciana sobre
o processo de fabricação. A fermentação é aeróbia (diferente da do etanol, que é anaeróbia), não tem
desidratação (porque não tem água) e, no final, passa pela hidrogenação para a retirada de impurezas.
Obtenção de biodiesel a partir de sebo bovino
Dr. César Abreu, diretor industrial do Grupo Bertin
O palestrante levou ao público informações sobre o biodiesel de sebo bovino, que hoje responde por 15% da
produção de biodiesel do País. “O sebo é separado nos frigoríficos e vira matéria-prima. Antes disso, o material
era até enterrado porque não havia o que fazer com ele”, contou Abreu. Ele explicou também que o biodiesel
de sebo é feito com o mesmo processo do biodiesel dos óleos vegetais, a transesterificação, mas atestou: “O
biodiesel de sebo é melhor que o de soja, pois tem mais estabilidade no ponto de fulgor.” Sua desvantagem é que,
no frio, o biodiesel de sebo pode cristalizar e entupir o filtro do motor se estiver com pureza 100%. “Como
a pureza do biodiesel de sebo geralmente não é 100%, não tem problema”, apontou Abreu. Ele mostrou ainda
que, embora a produção cresça lentamente, pois depende do número de abates de cabeças de gado, a
produção de biodiesel de sebo no Brasil é igual à soma das produções da Argentina, Paraguai e Uruguai. Além
disso, afirmou o palestrante, as barreiras para a exportação de carne devem diminuir, aumentando a
produção de sebo.
Produção de biodiesel por rota etílica
Dr. Geraldo Martins, diretor da Fertibom
A palestra de Martins foi focada na história de sua empresa, a Fertibom. Segundo ele, quando a empresa surgiu,
o País não tinha política de biodiesel. “O Brasil não sabia fazer biodiesel e o resto do mundo fazia pela rota
metílica”, disse o palestrante. “O desafio era desenvolver uma fábrica para a produção de biodiesel etílico.” Os
profissionais da Fertibom começaram a fazer pesquisas em laboratório e acabaram por catalogar mais de 2 mil
reações. “Eventualmente, começamos a fazer biodiesel etílico em escala industrial”, contou Martins. A
empresa, então, passou a atuar comercialmente e a participar de leilões de biodiesel. Hoje, o principal produto
da Fertibom é o biodiesel Biomax, que pode ser feito com álcool etílico ou metílico. Vale lembrar que a
produção de biodiesel por rota etílica possui patente brasileira e que o etanol, além de ser um combustível
renovável, é também um produto mais barato e menos tóxico que o metanol. Isso sem falar que o etanol, por
ser extraído da cana-de-açúcar, pode ser produzido no País e não precisa ser importado.
25
Projetos do Cenbio
Painel 2
Bioquerosene de aviação
Dr. Alexandre Tonelli Filogonio, engenheiro de Desenvolvimento
de Combustíveis Alternativos da Embraer
Para Filogonio, a aeronáutica mundial ainda é muito dependente do querosene de aviação, derivado do
petróleo. Mas não é à toa: “Ele é um produto maduro e confiável que, além de prover energia, é lubrificante
e atua como fluido hidráulico e refrigerante”, argumentou o palestrante. “Mas alguns combustíveis de fonte
alternativa já estão sendo estudados”, observou ele, lembrando iniciativas como a Commercial Aviation
Alternative Fuels Initiative (Caafi) e a Sustainable Way for Alternative Fuel and Energy in Aviation (SWAFEA).
No Brasil, a Aliança Brasileira para Biocombustíveis de Aviação (Abraba), criada em maio, também deverá ter
atuação importante, fomentando iniciativas públicas e privadas. Alguns experimentos do tipo foram citados
na palestra, como voos-teste em 2008 e 2009 com matérias-primas diversas como gás natural, carvão,
pinhão-manso e gordura animal, e o primeiro voo totalmente com biocombustíveis alternativos no Brasil, em
25 de março deste ano. Para substituir o querosene de aviação, os combustíveis alternativos precisam atender
normas internacionais que exigem que sejam drop in (isto é, possam ser usados com os motores dos aviões
atuais), o que ainda não ocorre. Há pelo menos três questões cruciais para que eles possam ser: a produção em
larga escala, a certificação e a experiência operacional. “É um desafio”, avaliou Filogonio. Lembrando do
primeiro voo experimental com biocombustíveis, em 1984, o palestrante terminou sua palestra dizendo: “O
Brasil foi o primeiro no assunto de biocombustíveis para aviação, mas perdeu o embalo.”
Biobutanol de cana-de-açúcar
Dr. Wilson A. Araújo, gerente de Tecnologia e Operações da Butamax
A empresa de Araújo, a Butamax, foi criada em 2009 para comercializar o biobutanol (butanol produzido a
partir de biomassa), um álcool que pode ser misturado à gasolina em maiores concentrações que o etanol e até
mesmo ser usado puro no motor. O biobutanol, segundo Araújo, é um pouco mais caro que o etanol, mas possui
o equivalente a 80% da energia da gasolina, contra 65% do etanol. Para o palestrante, o biobutanol agrega
valor à cadeia do etanol porque não precisa de uma cadeia logística própria: da mesma maneira que o etanol,
vai direto para a refinaria para ser misturado à gasolina, não requer adaptações. Segundo o palestrante, porém,
é preciso modificar as áreas de fermentação e destilação de uma usina de cana para fazer biobutanol. “O
produto é estável”, defendeu Araújo. “Se adicionarmos água ao etanol, eles se misturam, mas se adicionarmos
água à gasolina com biobutanol, o biobutanol não é solubilizado pela água”, afirmou. Os planos da Butamax são
de, entre 2012 e 2014, ter uma usina comercial. Em 2010, a empresa já inaugurou seu laboratório de
desenvolvimento de bioprocessos.
Encerramento: Propostas de políticas públicas
BNDES
Dr. Carlos Eduardo Cavalcanti, chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES
A palestra de Cavalcanti foi dedicada à exposição de serviços e planos oferecidos pelo BNDES aos empresários. “O carro-chefe do banco é apoiar o aumento da capacidade produtiva”, afirmou o palestrante, para, logo
em seguida, adicionar que isso é feito com linhas de financiamento. “O que tentamos fazer é criar um
financiamento que não seja muito oneroso para a empresa e que seja compatível com o que se espera da
companhia”, declarou. O primeiro produto apresentado foi o BNDES Finem, que permite o financiamento de
até 80% de máquinas e equipamentos agrícolas e industriais. O prazo de pagamento é definido de acordo com
cada projeto. Já o Project Finance é um financiamento que exige garantias pré-operacionais como o aporte
antecipado de equity caso haja dúvida acerca da capacidade de aporte dos controladores. Em relação à
bioenergia, o BNDES atualmente apoia 165 projetos, que totalizam uma produção de etanol de 8 bilhões de L.
“A onda de investimentos pós-crise em cogeração indica uma busca por maior estabilidade e mais previsibilidade
dos fluxos financeiros, melhorando a percepção de risco das empresas”, concluiu Cavalcanti.
O DEBATE CONTINUA
O Seminário de Bioenergia é um evento anual realizado pelo Cenbio com o objetivo de reunir profissionais qualificados para
palestrar sobre temas ligados à biomassa e biocombustíveis. A terceira edição ocorrerá em setembro do ano que vem (data e
locais ainda estão indefinidos). Todos os leitores da Revista Brasileira de Bioenergia estão convidados a comparecer a este
que será, com certeza, um novo marco da discussão sobre bioenergia no Brasil.
26
Novembro/November 2010
Meio Ambiente
TRANSFORMANDO
O PROBLEMA EM SOLUÇÃO
O biogás, proveniente de resíduos orgânicos, pode agravar o quadro de
aquecimento global. Mas, se bem utilizado, também pode ajudar na
mitigação dos gases de efeito estufa
Fotos: divulgação
os últimos anos, a necessidade de se
combater o aquecimento global tem
sido extremamente perceptível: catástrofes climáticas ocorrem em intensidades e em
locais nunca vistos até então, como consequências da elevação da temperatura média do planeta e do subsequente derretimento das geleiras em regiões polares e de grandes altitudes, o
que causa uma série de mudanças nos ciclos
hidrogeológicos do planeta.
Entre as iniciativas estudadas e testadas para se reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, está o aumento do uso
de fontes alternativas aos combustíveis fósseis. Nesse contexto, uma alternativa a ser explorada é o biogás: trata-se de uma mistura
gasosa combustível, formada a partir da degra-
N
dação anaeróbia (sem presença de oxigênio)
de resíduos orgânicos, como o lixo doméstico,
resíduos de atividades agrícolas e pecuárias,
dejetos de animais e lodo de estação de tratamento de esgoto.
O metano (CH4), gás com potencial de aquecimento global cerca de 21 vezes maior que o
do gás carbônico (CO2), é o maior componente
do biogás. O mesmo gás que contribui em grande parte para o aumento do efeito estufa pode
trazer ganhos energéticos e ambientais: quando o biogás é queimado em um motor de combustão interna adaptado para gás, acoplado a
um gerador de energia elétrica, a queima do
metano ali presente não só permite a geração
de energia mas converte o mesmo gás em
dióxido de carbono, proporcionando uma re-
Uso de biogás:
transformação
do lixo em
energia e
redução das
emissões de
metano do
aterro
27
Meio Ambiente
Além do aspecto
ambiental, usinas
também podem
gerar receita por
meio da venda de
créditos de
carbono
dução da emissão de CO2 equivalente (CO2e)
que aconteceria caso o mesmo biogás chegasse à atmosfera.
“O aproveitamento do biogás traz vários benefícios ambientais, econômicos, sociais e energéticos”, afirma o engenheiro João Wagner Alves, assessor da Presidência da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Ele
explica que as medidas associadas ao uso do
biogás, reduzindo assim as emissões de metano,
implicam boas práticas e podem trazer vários
benefícios, como a geração de energia e a economia de recursos financeiros, além da redução
das demais emissões de poluentes pelo aterro
sanitário.
Segundo o Manual para aproveitamento
de biogás, volume 1: Aterros sanitários, lançado em 2009 pelo ICLEI – Local Governments
for Sustainability (Governos Locais para a
Sustentabilidade), o biogás pode até ser usado
para abastecimento de veículos. Para isso, contudo, a obra ressalta que é importante retirar o
CO2 do biogás até que a porcentagem de metano
fique próxima à do gás natural.
mundial de 337, relacionados à redução de emissões de metano. Vale citar que os projetos implementados nos aterros Bandeirantes e São João,
em São Paulo, já efetuaram seus leilões de créditos de carbono.
“O Brasil participa de cooperações internacionais como a ‘Cooperação Mercados para Metano’, que, liderada pelos Estados Unidos, visa
a fomentar a recuperação e uso energético do
biogás de aterro em todo o mundo”, indica Alves. “No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina o uso energético de biogás
e indica que, futuramente, serão definidas metas sobre essa prática.”
O problema é que validar um projeto de captação e queima de metano não é simples – mesmo quando atende às normas e especificações
internacionais. “Hoje, a validação dos projetos
junto à ONU, para a obtenção de créditos de
carbono, tem sido um processo muito lento e
burocrático em virtude da quantidade de solicitações junto ao órgão”, aponta Freitas.
INCENTIVOS E OBSTÁCULOS DOS
O uso energético do biogás permite ainda a
segunda redução de gases de efeito estufa na
atmosfera. À medida que sua participação na
matriz energética mundial aumenta, o biogás
torna possível a redução da dependência
energética de outras fontes de energia, entre as
quais se encontram os combustíveis fósseis,
mais poluentes. “Essa substituição faz com que
se tenha menos extração de carbono [decorrente do petróleo] do fundo dos oceanos para
lançamento na atmosfera”, explica Freitas.
Outra vantagem ambiental do uso de biogás
pode ser alcançada em pequenas comunidades
isoladas, que usam a lenha, o querosene e o
gás liquefeito de petróleo (GLP) como fontes
de energia. “O biogás é um recurso energético
que pode substituir outras fontes, tanto as que
podem gerar desmatamento como os combustíveis fósseis, que têm ainda de ser transportados por longas distâncias [para chegar a essas
comunidades]”, observa Alves. “A recuperação energética do biogás de resíduos rurais é
praticada em larga escala em países como China e Índia, e a adoção dessa prática pode se
mostrar viável também no Brasil.”
“O biogás é um gás com poder calorífico
muito baixo comparando-se com outros combustíveis”, acrescenta Freitas. “Porém, em se
tratando do aproveitamento de um gás que existirá enquanto houver aterros, a energia elétrica
gerada pello biogás, por menor que seja, será
uma contribuição para a matriz energética.”
CRÉDITOS DE CARBONO
A queima do biogás traz ainda a possibilidade de receita adicional com a obtenção e
comercialização de créditos de carbono, concedidos a projetos enquadrados no Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL). “Com o
avanço e o desenvolvimento de motores a
biogás e o Protocolo de Quioto em vigor, hoje
não tem como aterros sanitários não pensarem
nessa receita extra que antes era desprezada”,
afirma Fernando de Freitas, coordenador
operacional da Essencis Soluções Ambientais,
que administra o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Caieiras; segundo ele, o aterro
em questão tem uma produção de 15 mil m3/h de
biogás com 48% de metano. “Hoje, com o preço
da energia no Brasil, um projeto de termelétrica
a biogás tem se mostrado viável apenas com a
receita dos créditos de carbono por intermédio
do MDL paralelamente.”
Segundo dados do projeto Capacity
Development for Clean Development
Mechanism (CD4CDM; “Desenvolvimento de
Capacidade para Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), até novembro de 2010, 165 projetos de MDL foram
registrados e reconhecidos pela Organização
das Nações Unidas (ONU) na área de biogás de
aterro, 25 deles pertencentes ao Brasil. O País
também conta com 47 projetos, dentre o total
28
OUTROS GANHOS AMBIENTAIS
Novembro/November 2010
The Environment
TURNING
THE PROBLEM
INTO A SOLUTION
Biogas deriving from organic waste may aggravate the global warming
scenario. Yet, if well used, it may also help to mitigate greenhouse gases
Photos: dissemination
n the last years, the need to fight global
warming has been extremely perceptible:
climatic catastrophes occur in intensities
and in places never experienced before, as
consequences of the planet increase in average
temperature and of the subsequent defrost of
the glaciers in polar regions and in high altitudes, which causes a series of changes in the
planet hydro-geological cycles.
Among the initiatives studied and tested to
reduce greenhouse gases (GHG) emissions into
the atmosphere, is the increase in the use of
alternative sources to fossil fuels. In this context,
an alternative to be exploited is biogas; it happens
to be a gas blend fuel, formed from the anaerobic
(without the presence of oxygen) degradation of
organic waste, such as domestic waste, waste from
agricultural and livestock breeding activities, animal manure and sewage treatment station sludge.
I
Methane (CH4), a gas with global warming
potential about 21 times greater than that of
carbon dioxide (CO2), is the major component
of biogas. The same gas that largely contributes
to increasing the greenhouse effect may provide
power and environmental gains: when the
biogas is burnt in an internal combustion engine
adapted to gas, coupled to a power generator,
the methane burning present there not only
allows power generation but also converts the
same gas into carbon dioxide, providing a
reduction in CO2 equivalent (CO2e) emissions
that would occur in case that biogas reached
the atmosphere.
“The use of biogas provides several environmental, economic, social and energy benefits”, states engineer João Wagner Alves, Board
advisor for the State of São Paulo Environmental
Sanitation Technology Company (Cetesb). He
Biogas use:
transforming
the residues in
energy and
reduction of the
landfill’s
methane
emissions
29
The Environment
Besides the
environmental
aspect, the plants
can also generate
income through the
sale of carbon
credits
explains that the measures associated to biogas
recovery, which thus reduce methane emissions, imply good practices and may provide
several benefits, such as power generation and
saving financial resources, besides reducing the
other pollutant emissions by the landfill.
According to the Manual for biogas
recovery, volume 1: Landfills, launched in 2009
by ICLEI – Local Governments for Sustainability, the biogas can even be used to fuel
vehicles. For this, however, the work stresses
that it is important to remove the CO2 from the
biogas until the methane percentage is close to
that of natural gas.
CARBON CREDITS INCENTIVES AND BARRIERS
Biogas burning also provides the possibility
of additional income from obtaining and trading
carbon credits, granted to projects that fit the
Clean Development Mechanism (CDM). “With
the advancement and development of biogas
engines and the Kyoto Protocol enforced,
landfills cannot fail to consider this extra income
which was formerly despised”, states Fernando
de Freitas, operational coordinator of the
Essencis Soluções Ambientais, which manages
the Waste Treatment Center (CTR) in Caieiras;
according to him, the landfill in question has a
production of 15 thousand m3/h of biogas with
48% of methane. “With the current price of
energy in Brazil, a biogas thermopower project
has shown to be feasible only with the carbon
credits income intermediated by the CDM in
parallel.”
According to data from the Capacity
Development for Clean Development
Mechanism (CD4CDM) project, from the United
Nations Programme for the Environment (UNEP),
by November 2010, 165 CDM projects had been
registered and acknowledged by the United
Nations (UN) in the landfill biogas area, 25 of
them presented by Brazil. The country also
30
counts on 47 projects, among the 337 world total, related to methane emissions reduction. It
is worth mentioning that the projects
implemented in the Bandeirantes and São Joao
landfills, in São Paulo, have already conducted
their carbon credit auctions.
“Brazil participates in international
cooperations such as the ‘Methane to Markets
Partnership’ that, led by the United States, aims
to foster the landfill biogas recovery all over
the world”, Alves points out. “In Brazil, the
National Solid Waste Policy determines the
energy use of biogas and indicates that, in the
future, goals will be defined concerning this
practice.”
The problem is that validating a methane
capture and burning project is not a simple task
– even when it abides by international norms
and specifications. “Today, the UN validation
of projects for obtaining carbon credits has been
a very slow and bureaucratic process due to
the number of demands at the organism”, Freitas
points out.
OTHER ENVIRONMENTAL GAINS
The energy use of biogas also allows a
second reduction of greenhouse gases in the
atmosphere. As its participation in the world
energy matrix increases, biogas makes possible
to reduce the energy dependence on other
sources of energy, among which are fossil fuels,
more pollutant. “This replacement allows having
a smaller carbon extraction [owing to
petroleum] from the bottom of the oceans to be
emitted into the atmosphere”, explains Freitas.
Another environmental advantage of using
biogas may be attained in small isolated
communities that use firewood, kerosene and
liquefied petroleum gas (LPG) as sources of
energy. “Biogas is an energy resource that may
replace other sources, both those that can
generate deforestation and fossil fuels, which
also have to be conveyed along long distances
[to reach these communities]”, observes Alves.
“The biogas energy recovery from rural waste
is practiced in large scale in countries such as
China and India, and the adoption of this
practice may also show itself to be viable in
Brazil.”
“Biogas is a gas with very low calorific power
as compared to other fuels”, adds Freitas.
“However, concerning the use of a gas that will
exist while there are landfills, the power
generated by biogas, even being very small,
will be a contribution to the energy matrix.”
Novembro/November 2010
Cenbio Projects
BIOENERGY:
NEW ROUTES IN DEBATE
2nd Bioenergy Seminar gathers professionals of the sector and
discusses new opportunities
Photos: Meryellen Duarte
ome of the most important bioenergy
names in Brazil gathered at the Professor Dr. Paulo Ribeiro de Arruda
Auditorium, at the University of São Paulo, on
September 28, for the 2nd Bioenergy Seminar:
Challenges and Business Opportunities,
organized by the Brazilian Reference Center on
Biomass (Cenbio) and sponsored by the
Ministry of Mines and Energy (MME).
With fourteen lectures and over 120 people
crowding the auditorium, the event evolved
bringing new information and visions on the
theme proposed. Among other topics, technical
aspects of ethanol production, recent technologies, alternative fuels and perspectives for the
future were approached.
S
The event consisted of an opening session
with four lectures, two panels (one with four
and the other with five lectures) and the closing
session with a lecture by a representative of
the Brazilian Development Bank (BNDES). Each
panel was followed by debates in which
members of the audience could ask questions
to the lecturers. After the last lecture, Suani
Teixeira Coelho, Cenbio coordinator, took the
stand to thank everybody’s presence and
celebrate the conduction of a forum with
relevant and punctual discussions on the
energy issue in Brazil.
Read below the summaries of each lecture
and learn about the main points discussed in
the seminar.
The event
gathered, once
again, professionals
from several areas
connected to
bioenergy to give
lectures about new
technologies and
challenges
31
31
Cenbio Projects
The audience carefully watched the lectures. The event had a panel
dedicated to new technologies and another to new products
The IEE view for biofuels
Prof. Dr. Adnei Melges de Andrade, vice-director of the Institute of Electrotechnics and
Energy of the University of São Paulo (IEE-USP)
Adnei opened the event telling Cenbio’s history and its contributions to the bioenergy sector
in Brazil. “The Center is now starting its 15th year of existence and is one of the major institutions
conducting bioenergy research in Brazil”, he stated during his explanation. The lecturer made
a point of highlighting the project that turns cooking oil into biodiesel and announced that
researches that will allow studying combustion engines using biodiesel are soon to be started.
“The IEE vision now is towards a change in behavior”, stated the professor. “Focusing not
only on electric power, but also on bioenergy.”
32
Novembro/November 2010
Cenbio Projects
Energy policy and bioenergy
Dr. Roberto Meira Júnior, technical consultant of the Ministry of Mines and Energy
The future was the great focus of Meira Júnior’s exposition. “My coordination’s mission is to
prospect opportunities so as to enhance the use of bioenergy”, he stated at the beginning.
Next, the lecturer exposed the principles and the goals of the Ministry of Mines and Energy,
among which the diversification of the matrix and the development of novel obtainment
technologies. After that, the lecturer commented that 90% of the electric power sources in
Brazil are renewable and that, according to an Energy Review 2010 projection, the perspective
is that there will be a decrease in the participation of fossil fuels and an increase in the use of
biomass by 2019 – from the current 6.1 GW, the production is predicted to increase to 16.6 GW
in 2019. “Brazil is now in the forefront, be it in bioenergy, be it in other renewable sources”, he
affirmed.
World bioenergy scenario
Prof. Dr. José Goldemberg, professor of USP
Welcome with a strong round of applause, Goldemberg opened his lecture addressing the
world oil production, which is now 12.8 billion liters (L) a day, and that of ethanol, which is now
67 billion L a year. “The situation in the rest of the world is not encouraging”, he said. “In Brazil,
ethanol has already replaced half of gasoline, yet, in the rest of the world, it has a long way to
go”, he stated. According to Goldemberg, it is necessary to triplicate the current ethanol
production to meet the demand forecast for 2020. “I believe that the barriers for the Brazilian
ethanol to enter the United States and Europe will fall, it is written in the cards”, he joked.
Goldemberg also commented that Brazil could jump from the present rate of the 8 million ha
cultivated for biodiesel production to 65 million, but there is a competition with the food
industry. “The ethanol production in Brazil was criticized abroad because it would have the
indirect effect of pushing cattle into the Amazon region”, the professor explained. “There was
a great roar caused by publications abroad. However, studies have been conducted that
disqualified this information because it was proved that ethanol is being planted in degraded
pastures”, said Goldemberg when finishing his explanation.
The role of Cenbio in the biofuels scenario
Prof. Dr. Suani Teixeira Coelho, Cenbio coordinator
Suani presented the extensive Cenbio work in her lecture. Firstly, the Board member talked
about the participation of the Center in international projects, such as the Global Network on
Energy for Sustainable Development (GNESD), a knowledge network formed by developing
countries that provides research lines for access to energy and technology for biofuels. She
also commented on the Cenbio participation in international organisms, such as the International
Renewable Energy Agency (Irena) and the Advisory Group on Energy and Climate Change
(AGECC) of the United Nations. Next, Suani talked about the projects currently being developed
at the Center. These include studies on second-generation ethanol, georeferenced survey on
sugar cane waste, biogas project in rural areas, development of software that may be used by
producers to calculate cattle emissions (already available at the Cenbio website) and an energy
efficiency project for AES Eletropaulo, one of the State of São Paulo electric power distributors.
Lastly, the Cenbio coordinator highlighted the projects already concluded and showed how
active the Center is in disseminating information, acting by means of its website, Twitter, the
Revista brasileira de bioenergia magazine and the Brazilian Bioenergy Atlas.
33
Cenbio Projects
Panel 1 – Bioethanol
Perspectives for new technologies
Chairman: Prof. Dr. Gilberto de Martino Jannuzzi, coordinator of the Interdisciplinary
Center of Energy Planning (Nipe) of the State University of Campinas
Advances of first-generation ethanol
Dr. Henrique Vianna de Amorim, Fermentec President
The discovery of a new type of yeast was the major fact raised by Amorim in his lecture. FT 858L, which will
be available in 2011, saves inputs and antibiotics, uses half of the water currently used in the process, reduces
the amount of vinasse and the centrifuge time by half. As stated by Amorim, Fermentec studied over four
hundred yeast lineages until it found the four currently used. “Formerly, it was not possible to know whether
the yeast remained in the vat. It took us fifteen years to discover”, he said. “Now, with the yeasts selected,
by mid crop, you still have 80% of the yeasts in the vats”, he claimed. He also explained that today the PE2 yeast is the most used as it is the one that best adapts. “FT 858L may be PE-2’s daughter”, said the lecturer.
Technologies for bioethanol production
Prof. Dr. Carlos Eduardo Vaz Rossell, director of the industrial program of the National
Laboratory of Bioethanol Science and Technology (CTBE)
Rossell started his lecture by presenting the CTBE. He talked about the laboratory’s projects and about the
new building that, until the second half of 2011, will be better structured for performing the experiments.
Next, he turned his attention to ethanol. “We easily attained the best first-generation ethanol because we had
no foreign competitor. With the second-generation one, we will, and the competition will not be easy”, he
warned. Rossell then pointed out critical stages of enzymatic and acid hydrolysis technology. Among them,
he detached the bagasse physical-chemical pretreatment stage as the major one. Lastly, the professor called
attention to two novel technologies that may be considered as advancements in this journey: the Mascoma
Process (a microorganism that simultaneously carries out the hydrolysis and the fermentation of pentoses
and hexoses, not requiring pretreatments or the addition of enzymes) and the creation of the biorefinery,
which combines ethanol production with that of pentoses byproducts.
Barriers to second-generation ethanol production
Prof. Dr. Elba Pinto da Silva Bon, coordinator of the Graduate Biochemistry Program of
the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ)
“What is biomass? It is the vegetal cell wall”, the professor pointed out in her lecture. As she stated, the cell
is formed by pulp (between 30% and 35%), hemicellulosis (20% to 35%) and lignin (5% to 30%) – the latter
provides most of the energy. According to Elba, no one in Brazil studies the lignin combustion as from
enzymatic hydrolysis. “This is bad”, said the professor. “The focus of the studies in Brazil currently lies on
the enzymatic thermal-mechanical processing”, she completed. Elba also presented details of an interesting
technology: ball mill grinding, described by her as “optimal, yet unfeasible” due to its high energy consumption.
To end her presentation, the professor mentioned the ethanol production cycle being developed at her
laboratory at UFRJ. The laboratory will soon count on a new building adequately planned for the soft
treatment of biomass, without acid or sodium hydroxide.
Scenario and potential of cellulose ethanol production
Dr. Pedro Luiz Fernandes, Novozymes president
“Each type of biomass requires an enzyme. Hence, research always has to be conducted”, stated Fernandes
when starting his lecture filled with data from the sector. As he stated, in 2006, Brazil produced 66 million t
of bagasse. In 2009, the number jumped to 430 million. Cellulosic ethanol, he claimed, is one of the possible
new markets now being opened to Brazil. Besides fuel, it is also possible to extract sugar as from cellulosic
ethanol. “If we really want to cease the speech and go into practice, we have to pay attention to everything
we can produce with sugar, without using a single drop of petroleum”, said Fernandes. “I would like to witness
a greater public debate on what biorefineries are.”
34
Novembro/November 2010
Cenbio Projects
Panel 2: Ethanol
New products: biodiesel, sugar cane diesel,
biokerosene and biopolymers
Chairman: Dr. Alfred Szwarc, consultant for Emissions and Technology of the Brazilian
Sugar Cane Industry Association (Unica)
Sugar cane diesel
Dr. Luciana Di Ciero, Amyris Regulatory Issues and Institutional Relations manager
Luciana came before the seminar audience with the mission of talking about sugar cane diesel, a product
developed by the company she is with, Amyris. Sugar cane diesel is a C15H32 hydrocarbon produced as from
sugar cane fermentation with synthetically modified yeast. It is not necessary to modify the engine of a
vehicle that already uses common diesel so that it can use that of sugar cane. Besides, it does not contain sulfur
and, therefore, it pollutes less. The only impediment at the moment is that the sugar cane diesel density is still
a little smaller than that legally required. “The biomass is the same, but the fermentation uses much more
sugar”, stated Luciana on the manufacturing process. The fermentation is aerobic (differently from that of
ethanol, which is anaerobic), does not have dehydration (as it does not contain water) and, finally, undergoes
hydrogenation to remove impurities.
Obtaining biodiesel as from bovine fat
Dr. César Abreu, industrial director of the Bertin Group
The lecturer informed the public about biodiesel from bovine fat, which today accounts for 15% of the
biodiesel production in Brazil. “The fat is separated at the packing plants and turns into feedstock. Formerly,
the material even used to be buried since there was nothing to do with it”, told Abreu. He also explained that
the biodiesel from fat uses the same process as the biodiesel from vegetable oils, transesterification, but
assured: “The biodiesel from fat is better than that from soybean, as it presents greater stability at the flash
point.” Its disadvantage is that, in cold weather, the fat biodiesel may crystallize and clog the engine filter in
case it has 100% purity. “Once the fat biodiesel purity is not usually 100%, there is no problem”, Abreu
pointed out. He also showed that, although production grows slowly, as it depends on the amount of cattle
slaughtered, fat biodiesel production in Brazil is equal to the sum of the Argentinean, Paraguayan and
Uruguayan production. Moreover, the lecturer stated, the barriers for meat exports must decrease, increasing
fat production.
Biodiesel production by ethylic route
Dr. Geraldo Martins, Fertibom director
Martins’s lecture focused on the history of the Fertibom company. According to him, when the company was
established, Brazil did not count on a biodiesel policy. “Brazil did not know how to make biodiesel and the rest
of the world made it via methylic route”, he said. “The challenge was to develop a factory for ethylic biodiesel
production.” The Fertibom professionals started conducting research in laboratory and ended up listing over
2 thousand reactions. “Eventually, we started to produce ethylic biodiesel in industrial scale”, Martins said.
The company then started to act commercially and to participate in biodiesel auctions. Today, the major
Fertibom product is the Biomax biodiesel, which can be made from ethylic or methylic alcohol. It is worth
noting that biodiesel production via ethylic route has a Brazilian patent and that ethanol, besides being a
renewable fuel, is also a cheaper and less toxic product than methanol. Not to mention the fact that ethanol,
for being extracted from sugar cane, can be produced in Brazil and does not need to be imported.
35
Cenbio Projects
Panel 2
Aviation biokerosene
Dr. Alexandre Tonelli Filogonio, Embraer Alternative Fuels Development engineer
For Filogonio, the world aeronautics is still very dependent on the aviation kerosene, a petroleum byproduct.
There is a reason, though: “It is a mature and reliable product that, besides providing fuel, is a lubricant and
acts as a hydraulic and cooling fluid”, he argued. “But some alternative source fuels are already being studied”,
he observed, mentioning initiatives such as the Commercial Aviation Alternative Fuels Initiative (Caafi) and
the Sustainable Way for Alternative Fuel and Energy in Aviation (SWAFEA). In Brazil, the Brazilian Alliance
for Aviation Biofuels (Abraba), established in May, can also play an important role, stimulating both public
and private initiatives. Some experiments of the type were mentioned in the lecture, such as test flights in
2008 and 2009 with different feedstocks such as natural gas, charcoal, jatropha and animal fat, and the first
flight using biofuels in Brazil, on March 25 this year. To replace aviation kerosene, biofuels have to comply
with international normalization which requires them to be drop in (that is, that they can be used with the
present airplane engines), which still does not occur. There are at least three crucial issues to allow this: largescale production, certification and operational experience. “It is quite a challenge”, said Filogonio. Mentioning
the first experimental flight using biofuels, in 1984, the lecturer ended his presentation saying: “Brazil was
the first in the aviation biofuels issue, but lacked momentum.”
Sugar cane biobutanol
Dr. Wilson A. Araújo, Butamax Technology and Operations manager
Butamax, the company Araújo is with, was established in 2009 to trade biobutanol (butanol produced as from
biomass), an alcohol that can be blended with gasoline in greater concentrations than ethanol and even be used
alone in the engine. Biobutanol, according to Araújo, is a little more expensive than ethanol, but has the
equivalent to 80% of the gasoline energy, against 65% of that of ethanol. For the lecturer, the biobutanol adds
value to the ethanol chain because it does not need its own logistic chain: just as ethanol, it goes directly to
the refinery to be blended with gasoline, it does not require adaptations. According to him, however, it is
necessary to modify the fermentation and distillation areas of a sugar cane plant to make biobutanol. “The
product is stable”, advocated Araújo. “If one adds water and ethanol, they blend, but if one adds water to
gasoline with biobutanol, biobutanol is kept in the gasoline, it is not solubilized by the water”, he stated.
Between 2012 and 2014, Butamax plans to have a commercial plant. In 2010, the company opened its
bioprocesses development laboratory.
Closing session: Proposals of public policies
BNDES
Dr. Carlos Eduardo Cavalcanti, Head of the BNDES Biofuels Department
The lecture by Cavalcanti was dedicated to exposing the services and plans provided by BNDES to
entrepreneurs. “The centerpiece of the bank is to support the increase in productive capacity”, stated
Cavalcanti, who soon after added that this is done through financing lines. “What we try to do is to create
financing that is not too costly for the company and that is compatible to what is expected from the
company”, he declared. The first product presented was BNDES Finem, which allows financing up to 80%
of machines and agricultural and industrial equipment. The payment deadline is defined according to each
project. In turn, Project Finance is a type of financing which requires pre-operational warranties such as
advanced payment of equity in case there is any doubt concerning the controllers’ payment capacity. In
relation to bioenergy, BNDES currently supports 165 projects, which total an ethanol production of 8
billion L. “The post-crisis wave of investments in co-generation indicates a greater search for stability and
greater foreseeability of financial flows, improving the companies risk perception”, concluded Cavalcanti.
THE DEBATE CONTINUES
The Bioenergy Seminar is a yearly event held by Cenbio aiming to gather qualified professionals to give lectures on themes
concerning biomass and biofuels. The third edition will occur in September next year (date and venue not yet defined). All the
Revista Brasileira de Bioenergia readers are invited to come to the event that will certainly be a new turning point in the discussion
on bioenergy in Brazil.
36
Novembro/November 2010
Entrevista
LAÇOS CADA VEZ
MAIS ESTREITOS
Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil, afirma que
parceria de mais de uma década nunca esteve tão forte e deve aumentar
Divulgação
E
m 1997, o Estado Livre da Baviera (Alemanha) e o Estado de São Paulo firmaram a Declaração conjunta de colaboração
mútua, que deu início a uma frutífera parceria
nos anos 2000. Na época, o secretário Estadual
do Meio Ambiente era o professor José Goldemberg e a secretária-executiva, a professora Suani
Teixeira Coelho e, mesmo com o problema do
lixo ainda não sendo tão grave como é hoje, já
existia a preocupação de que ele pudesse tomar
proporções preocupantes.
Uma das principais iniciativas que surgiram
da parceria foi o projeto “Gerenciamento de Resíduos Sólidos: Uma Visão de Futuro – Projeto
Conjunto do Estado de São Paulo e Estado da
Baviera (Alemanha)”, em 2004. O projeto foi criado com o objetivo de desenvolver uma nova e
ampla concepção de gerenciamento de resíduos sólidos para o estado e a cidade de São Paulo, melhorando os procedimentos o quanto possível. Na primeira fase do projeto, foram feitos
seminários e visitas técnicas com o objetivo de
capacitar empresas e profissionais na incineração de resíduos sólidos. Na segunda, em 2006,
foram realizados estudos dos processos de operação de unidades de tratamento de resíduos
com base nas práticas e experiências da Baviera.
Em seguida, foram avaliadas as soluções possíveis de aplicação em São Paulo.
A relação entre Baviera e São Paulo também
é notável pela presença de empresas do estado
alemão no país – até o final de 2010, serão mais
de trinta. Essa parceria ainda não inclui nenhu-
ma companhia voltada à incineração de resíduos, mas esse deve ser o próximo passo. É no
que acredita o representante do Estado da
Baviera no Brasil, Martin Langewellpott.
Envolvido no projeto desde seu começo,
em 1997, Martin acompanhou a chegada das
empresas ao Brasil e assistiu ao seu crescimento. Agora, ele espera que a preocupação crescente com o descarte do lixo atraia, finalmente,
as empresas de incineração alemãs e que os
empresários brasileiros aproveitem a onda para
importar tecnologia e expertise da Baviera.
Confira abaixo a entrevista exclusiva de
Langewellpott para a Revista Brasileira de
Bioenergia.
Martin Langewellpott
(o quarto da esq. p/ a
dir.), com o professor
Goldemberg (segundo
da esq. p/ a dir.)
e outros
representantes da
Baviera
RBB – Como o senhor sabe, São Paulo e Baviera mantêm o projeto ‘Gerenciamento de Resí-
37
Entrevista
duos Sólidos: Uma Visão de Futuro – Projeto
conjunto do Estado de São Paulo e Estado da
Baviera (Alemanha)’. A primeira fase (Capacitação) ocorreu em 2004 e a segunda (Estudo dos Processos de Operação), em 2006. Quando será a terceira e no que ela consistirá?
Martin Langewellpott – A próxima fase exigirá
um novo adendo à memória do entendimento
entre São Paulo e a Baviera. Ele consistirá em
uma cooperação no manejo de lixo e energias
renováveis. Esse documento, provavelmente, será
assinado pelos parceiros até o fim deste ano.
“
Nosso serviço
gratuito
abrange o
fornecimento
de estudos de
mercado, a
procura de
parceiros
potenciais
brasileiros e o
apoio na
abertura de
uma filial no
Brasil
”
38
RBB – Como o senhor avalia os resultados
desse projeto até o momento?
Langewellpott – Os resultados são muito positivos. Um deles, por exemplo, é a melhora na
legislação de São Paulo no que concerne às
energias renováveis pela Lei Estadual Nº
13.798, de novembro de 2009, que institui a
Política Estadual em Mudanças Climáticas e
fomenta o aumento na participação de energias
renováveis na matriz.
RBB – Como está a relação entre o Estado da
Baviera, a Cetesb e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo?
Langewellpott – A relação entre as secretarias de
Meio Ambiente da Baviera e de São Paulo existe
desde 1997, quando foi estabelecido um acordo
de cooperação geral na área de proteção ambiental.
Por parte da Baviera, foi desenvolvido um projeto
de cooperação técnica no setor ambiental
(Ambitec) no qual técnicos brasileiros são convidados para conhecer tecnologias de ponta na
Baviera. Em 1999, iniciou-se o projeto em comum
Proteção do aquífero Guarani e, em 2004, começou a cooperação na área de energias renováveis
e assinou-se o acordo de cooperação na área de
incineração de resíduos sólidos. Um ano depois,
foi estabelecido um protocolo de intenções sobre
a cooperação técnica nas áreas de energias
renováveis e de mudanças climáticas.
Na área de resíduos sólidos, existe um intercâmbio útil de know-how e experiências mútuas e uma assistência na legislação específica.
Estamos muito satisfeitos com esses trabalhos
conjuntos que fazem do Estado de São Paulo o
maior parceiro da Baviera na América do Sul.
RBB – Quais são as etapas que uma empresa
deve seguir se quiser firmar acordo com a
Baviera?
Langewellpott – Uma empresa bávara que quer
fazer negócios no Brasil normalmente entra em
contato com a Representação do Estado da
Baviera no Brasil, localizada em São Paulo. Nosso serviço gratuito abrange o fornecimento de
estudos de mercado, a procura de parceiros
potenciais brasileiros e o apoio na abertura de
uma filial no Brasil. Além disso, organizamos
participações bávaras em feiras brasileiras de
destaque, missões comerciais e rodadas de negócios. Normalmente, uma empresa bávara consegue se instalar dentro de um período de dois
anos. Quando a representação da Baviera começou a operar, em 1999, contávamos setenta
empresas com atividades no Brasil. Hoje, o número é de mais de quatrocentas empresas
bávaras com filial própria ou representação no
Brasil – e a tendência é crescente.
Também oferecemos serviços para empresas
brasileiras que procuram parceiros de negócios
na Baviera e que pretendem se instalar em território bávaro. A nossa agência, Invest in Bavaria,
é ligada diretamente à Secretaria de Economia do
Estado da Baviera e presta serviços especiais
para empresas com planos de investimento.
RBB – Quais são as dificuldades burocráticas?
Langewellpott – Os procedimentos burocráticos, às vezes, não são fáceis, mas eu diria que
os problemas não são tão grandes que não possam ser superados. Além dos instrumentos, que
nosso escritório pode oferecer, sempre sugerimos às empresas novas chegando que procu-
Novembro/November 2010
Entrevista
rem o contato com empresas bávaras já operando no Brasil no mesmo setor. Dessa forma, as
experiências podem ser aproveitadas e possíveis incertezas podem diminuir.
RBB – Como está a adesão das empresas,
quantas já estão atuando com incineração no
País e que resultados elas estão obtendo?
Langewellpott – O número de novas empresas
bávaras com operações no Brasil para este ano
deve superar trinta. Os eventos esportivos,
como os Jogos Militares no ano que vem, a
Copa em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016,
bem como os projetos de infraestrutura ligados
a esses eventos e ao Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), devem levar uma nova
onda de empresas bávaras ao Brasil.
Temas setoriais como o tratamento de lixo
também oferecem a aplicação de novas tecnologias nessa área. Como os tradicionais aterros sanitários resolvem cada vez menos os problemas das grandes cidades brasileiras, com um
volume de lixo cada vez maior, o uso da incineração é a alternativa viável. Tenho certeza de
que a nova legislação brasileira de tratamento
de resíduos vai beneficiar o avanço de
tecnologias adequadas como a da incineração.
Sendo o tema ainda novo, por enquanto nenhuma empresa bávara está atuando no setor
da incineração. Mas empresas líderes de mercado, como a Martin GmbH, de Munique, que
nos anos 1970 construiu a primeira usina de
incineração em São Paulo, ou a Envi Con & Plant
Engineering GmbH, de Nürnberg, que se apresentou em novembro no estande oficial da
Baviera na Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade (Fimai), estão prontas para oferecer as suas tecnologias
ao mercado brasileiro.
RBB – E como está a situação da incineração
na Alemanha atualmente?
Langewellpott – Na Alemanha e em outros paí-
ses da União Europeia, como a Bélgica e a Dinamarca, vemos muitos projetos de incineração. Temos 66 usinas de energia a partir de resíduos. Na Suíça, contamos 24 e, na Bavária, 16.
Por outro lado, estão sendo planejadas ou construídas usinas adicionais para recuperação de
resíduos sólidos. Na Alemanha, são queimados
por ano cerca de 17 milhões de t de resíduos.
Na Bavária, são 3 milhões de t. Mas há também
muitos lugares para reciclagem e recuperação
de materiais do lixo corretamente descartado.
Estatísticas europeias mostram que, nesses países, o alto padrão em usinas de resíduos existe
paralelo ao alto nível de recuperação de resíduos. O objetivo é produzir energia, calor, vapor e
frio tanto quanto reciclar, para que não haja
necessidade de combustíveis fósseis.
RBB – A emissão de poluentes dessas usinas
não é um problema?
Langewellpott – Pode-se ficar tranquilo em relação ao CO2. Atualmente, mesmo o partido
político dos verdes não critica as emissões das
usinas de energia. Eles reconheceram os altos
padrões ambientais dos incineradores europeus. Ninguém é ameaçado pelas emissões de
toxinas, dioxinas ou furanos porque os filtros
são extremamente efetivos. Esses argumentos
dominavam a discussão política vinte anos
atrás. As usinas modernas são seguras. No ano
passado, nós tivemos um debate em Bruxelas
com membros do Parlamento europeu. Não houve nenhuma discórdia ou controvérsia sobre
as usinas modernas.
RBB – Quem estabelece os padrões de tecnologia e qualidade que as empresas de incineração devem seguir no Brasil? Esses padrões
são internacionais?
Langewellpott – Os padrões de tecnologia e
qualidade na Europa são estabelecidos pelas
leis europeias e pela Comissão Europeia. Então, é recomendável que eles sejam seguidos
“
Tenho certeza
de que a nova
legislação
brasileira de
tratamento de
resíduos vai
beneficiar o
avanço de
tecnologias
adequadas,
como a da
incineração
”
39
Entrevista
também no Brasil. Recentemente houve, na
China, também uma nova legislação para as
emissões com o objetivo de torná-las compatíveis com os padrões da União Europeia.
“
Os custos
reais de uma
usina de
incineração
de lixo em
São Paulo
são difíceis
de calcular.
Mas
achamos
que o
descarte em
aterros é
mais caro
”
40
RBB – Por que a parceria entre o Brasil e a
Baviera é vantajosa para os empresários do
País?
Langewellpott – Somos da opinião que ambos
os lados, Brasil e Baviera, irão se beneficiar com
a parceria. Empresários brasileiros podem encontrar uma empresa de geração de energia a
partir de resíduos e empreenderem eles mesmos um projeto de geração de energia, calor,
frio ou vapor. Empresas da Baviera podem fornecer os equipamentos técnicos específicos e
os fornos necessários.
RBB – Na Alemanha, o sucesso da incineração existe paralelo ao sucesso da reciclagem,
que chega aos 40%. No Brasil, só reciclamos
5% dos resíduos. Uma coisa não estaria relacionada à outra?
Langewellpott – É verdade que em Estados europeus altamente desenvolvidos, a incineração
corre lado a lado com a reciclagem. O índice
geral de incineração e reciclagem, por exemplo,
atinge 72% na Baviera. Isso inclui tanto a recuperação térmica como a por reciclagem.
RBB – Com os aterros São João e Bandeirantes desativados, a cidade de São Paulo hoje
exporta lixo. A incineração é a opção mais
viável? Qual o custo de uma usina?
Langewellpott – Os custos reais de uma usina
de incineração de lixo em São Paulo são difíceis
de calcular. Mas, se formos calcular e comparar
com os de um aterro, que precisa de cuidados
décadas após seu fechamento, para proteger o
solo e o ambiente, achamos que o descarte em
aterros é mais caro. Não esqueça o dióxido de
carbono e o metano emitidos do aterro e os custos para proteger o ambiente deles.
RBB – O gás metano emitido de aterros pode ser
queimado em ‘flares’, permitindo a geração de
energia térmica e elétrica, além da aquisição de
créditos de carbono. Isso não compensa os custos de construir e manter o aterro? Ou a incineração é a melhor opção em todos os casos?
Langewellpott – Nós achamos que usinas de
transformação de lixo em energia são a melhor
maneira de proteger o clima. Por um lado, podem-se substituir combustíveis fósseis por lixo
e, por outro, o metano, gás 23 vezes mais perigoso que o gás carbônico, será completamente
evitado. Incineração é a melhor opção para o
lixo em todos os casos. Capturar todo o gás
metano [em um aterro] é impossível. Além disso, o perigo causado pela poluição do solo e da
água ainda existirá se continuarem construindo
lixões. Na Alemanha e em grande parte da União
Europeia, o aterramento de lixo biologicamente
degradável é proibido. A manutenção de aterros depois de seu fechamento, por décadas, é
muito custosa.
RBB – Como está a questão da emissão de
dioxinas e furanos, o grande alvo de críticas
dos ambientalistas à incineração?
Langewellpott – As tecnologias de incineração
hoje em dia são tão avançadas que não existem
mais emissões problemáticas. A legislação
ambiental alemã é uma das mais rigorosas. Se
houvesse problemas de emissões desses poluentes, as usinas na Baviera não poderiam estar
no meio das cidades.
RBB – Qual é o panorama da incineração de
resíduos no Brasil para os próximos anos?
Langewellpott – Acho que a transição de aterros sanitários para usinas de incineração vai
ser um processo relativamente lento. A respeito
de resíduos especiais – hospitalares, por exemplo –, vejo possibilidades de que usinas de incineração de menor tamanho se realizem mais
rápido.
Novembro/November 2010
Interview
INCREASINGLY
CLOSER TIES
Martin Langewellpott, the State of Bavaria representative in Brazil, states that the
over-one-decade partnership has never been so strong and is to get stronger
Photos: dissemination
I
n 1997, the Free State of Bavaria (Germany)
and the State of São Paulo signed a Mutual
cooperation joint declaration, which started a
fruitful partnership in the 2000s. At the time, the
State Secretary for the Environment was Professor José Goldemberg and the DeputySecretary was Professor Suani Teixeira Coelho;
even with the garbage problem not being as
serious as it is now, there was already a concern
that it might reach alarming levels.
One of the major initiatives that emerged
from the partnership was the project “Solid
Waste Management: A Vision of the Future –
Joint Project between the State of São Paulo
and the State of Bavaria (Germany)”, in 2004.
The project was created aiming to develop a
new and broad conception of solid waste
management for the State and for the City of
São Paulo, improving procedures as far as
possible. In the first phase of the project,
seminars and technical visits were conducted
aiming to build companies and professionals’
capacity to incinerate solid wastes. In the
second, in 2006, studies on operation processes of waste treatment units were carried out
based on Bavaria practices and experiences.
After that, the solutions that could be applied
in São Paulo were evaluated.
The relationship between Bavaria and São
Paulo is also remarkable for the presence of
companies from the German State in Brazil – by
the late 2010, they will be in excess of thirty.
This partnership still does not include any
company concerned with waste incineration, but
this should be the next step. This is what the
State of Bavaria representative in Brazil, Martin
Langewellpott, believes.
Involved in the project from its very beginning, in 1997, Martin followed the arrival of the
companies in Brazil and observed their growth.
He now expects that the increasing concern with
garbage discarding finally attracts German
incineration companies and that the Brazilian
entrepreneurs take advantage of the trend to
import technology and expertise from Bavaria.
Below you can read the exclusive interview
granted by Langewellpott to the Revista Brasileira de Bioenergia.
Martin Langewellpott
(fourth from left to
right) with professor
Goldemberg (second
from left to right)
and other
representatives from
Bavaria
RBB – As you know, São Paulo and Bavaria
keep the project ‘Solid Waste Management: A
Vision of the Future – Joint Project between
the State of São Paulo and the State of Bavaria
(Germany). The first phase (Capacity building)
41
Interview
occurred in 2004 and the second (Study on
Operation Processes), in 2006. When will the
third one be and what will it consist of?
Martin Langewellpott – The next phase will
require a new addition to the memory of the
agreement between São Paulo and Bavaria. It
will consist of cooperation in garbage management and renewable energies. This document
will probably be signed by the partners by the
end of this year.
“
Our free
services
encompass
supplying
market
studies, the
search for
potential
Brazilian
partners and
support for
opening a
branch in
Brazil
”
42
RBB – How do you assess this project’s results so far?
Langewellpott – The results are very positive.
One of them, for example, is the improvement in
the São Paulo legislation concerning renewable
energies through State Law N. 13798 from November 2009, which instituted the Climate
Change State Policy and fosters the increase in
participation of renewable energies in the matrix.
RBB – How is the relationship among the State
of Bavaria, Cetesb and the State of São Paulo
Secretariat for the Environment?
Langewellpott – The relationship between the
Bavaria and the São Paulo Secretariats for the
Environment has been in force since 1997, when
a general cooperation agreement in the environmental protection area was signed. On the
part of Bavaria, a technical cooperation project
was developed in the environmental sector
(Ambitec) in which Brazilian technicians are
invited to know state-of-the-art technologies
in Bavaria. In 1999, a common project was
started, Guarani Aquifer Protection, and in
2004, a cooperation in the renewable energies
area was started and a cooperation agreement
was signed in the solid wastes incineration area.
One year later, a protocol of intentions was
established on the technical cooperation in the
renewable energies and climate change areas.
In the solid wastes area, there is a useful
know-how and mutual experiences interchange
and assistance on specific legislation. We are
very satisfied with this joint work which makes
of the State of São Paulo the greatest Bavaria
partner in South America.
RBB – What stages should a company follow
in case it intends to sign an agreement with
Bavaria?
Langewellpott – A Bavarian company that
wants to do business in Brazil usually contacts
the State of Bavaria Representation in Brazil,
located in São Paulo. Our free services encompass supplying market studies, the search for
potential Brazilian partners and support for
opening a branch in Brazil. Moreover, we organize Bavarian participations in detached
Brazilian fairs, trade missions and business
rounds. In general, a Bavarian company manages to get established within a two-year
period. When the Bavaria representation started
to operate in 1999, we counted on seventy
companies with activities in Brazil. Today the
number exceeds four hundred Bavarian companies with their own branch or a representation
in Brazil – and we have an upward trend.
We also provide services for Brazilian companies seeking business partners in Bavaria and
that intend to get established in Bavarian territory. Our agency, Invest in Bavaria, is directly
connected to the State of Bavaria Economy Secretariat and renders special services to companies with investment plans.
RBB – What are the bureaucratic hindrances?
Langewellpott – Bureaucratic procedures,
sometimes, are not easy, but I would say that
the problems are not so great that they cannot
be overcome. Besides the instruments our office
can provide, we always suggest to the newlyarriving companies to pursue to contact Bavarian companies already operating in Brazil in
the same sector. Hence, experiences can be taken advantage of and possible uncertainties
may be reduced.
Novembro/November 2010
Interview
RBB – How is the companies adhesion, how
many are already acting with incineration in
Brazil and what results have they obtained?
Langewellpott – The number of new Bavarian
companies with operations in Brazil this year
will be over thirty. The sports events, such as
the Military Games next year, the FIFA World
Cup in 2014 and the Olympic Games in 2016,
along with the infrastructure projects connected
to these events and to the Growth Acceleration
Program (PAC), will bring a new wave of Bavarian companies to Brazil.
Sectoral themes such as garbage treatment
also provide the application of new technologies in this area. As the traditional landfills more
and more fail to solve the problems in large Brazilian cities, with an ever increasing garbage volume, the use of incineration is a viable alternative. I am sure that the new Brazilian legislation
on waste treatment will benefit the advancement
of adequate technologies such as that of incineration. As it is still a novel theme, for the moment
no Bavarian company is acting in the incineration sector. Yet market leading companies, such
as Martin GmbH, from Munich, which in the
1970s built the first incineration plant in São
Paulo, or Envi Con & Plant Engineering GmbH,
from Nuremberg, which made a presentation in
the official Bavaria stand in the International
Industrial Environment and Sustainability Fair
(Fimai) in November, are ready to supply their
technologies to the Brazilian market.
RBB – And how is the incineration situation
in Germany today?
Langewellpott – In Germany and in other
European Union countries, such as Belgium and
Denmark, several incineration projects can be
verified. We have 66 power plants using waste.
In Switzerland, we count on 24 and, in Bavaria,
16. Again, additional plants for solid wastes
recovery are being planned or built. In Germany,
about 17 million t of waste are burned per year.
In Bavaria, 3 million t are burned. There are also
many places for recycling and recovering
materials from garbage correctly disposed of.
European statistics show that, in these
countries, the high standard in waste plants
coexists with the high level of waste recovery.
The aim is to produce power, heat, steam and
cooling as much as recycling, so that there is
no need for fossil fuels.
RBB – Aren’t the pollutant emissions from
these plants a problem?
Langewellpott – We can be comfortable concerning CO2. Today, even the Green Party does
not criticize the power plants emissions. They
have recognized the high environmental standards of the European incinerators. No one is
threatened by the emissions of toxins, dioxins
or furans because the filters are extremely effective. These arguments prevailed in the political
discussion twenty years ago. Modern plants
are safe. Last year, we had a debate in Brussels
with European Parliament members. There was
no disagreement or controversy related to the
modern plants.
RBB – Who establishes the technology and
quality standards that incineration companies
have to comply with in Brazil? Are these standards international?
Langewellpott – The technology and quality
standards in Europe are established by European Laws and by European Commission Laws.
It is thus advisable that they are also followed
in Brazil. Recently in China, there was also a
new legislation for emissions aiming to make
them compatible with the European Union
standards.
RBB – Why is the partnership between Brazil
and Bavaria an advantage for Brazilian
entrepreneurs?
Langewellpott – In our opinion, both sides,
“
I am sure that
the new
Brazilian
legislation on
waste
treatment will
benefit the
advancement
of adequate
technologies,
such as that of
incineration
”
43
Interview
Brazil and Bavaria, will benefit from the partnership. Brazilian entrepreneurs may find a
waste-derived power generation company and
they can conduct themselves a power, heat,
cooling or steam generation project. Companies
from Bavaria can supply the specific technical
equipment and the necessary furnaces.
“
The real costs
of a garbage
incineration
plant in São
Paulo are
difficult to
estimate. Yet
we think that
discarding in
landfills is
more costly
”
RBB – In Germany, the success of incineration
goes in parallel with the success of recycling,
which reaches 40%. In Brazil, we only recycle
5% of the waste. Wouldn’t one thing be related
to the other?
Langewellpott – It is true that in highly developed European States, incineration goes side by
side with recycling. The general incineration and
recycling rate, for example, reaches 72% in
Bavaria. This includes both thermal and recycling recovery.
RBB – With the deactivation of the São João
and Bandeirantes landfills, the city of São
Paulo now exports garbage. Is incineration
the most viable option? How much does a plant
cost?
Langewellpott – The real costs of a garbage
incineration plant in São Paulo are difficult to
estimate. Yet, if we calculate and compare them
to the costs of a landfill, which needs tending
years after its closing, to protect the land and
the environment, we think that discarding in
landfills is more costly. Do not forget the carbon
dioxide and the methane emitted by a landfill
and the related costs to protect the environment
from them.
Langewellpott – We think that the plants for
transforming garbage into power are the best
way of protecting the climate. On the one hand,
fossil fuels can be replaced with garbage and,
on the other hand, methane, a gas 23 times more
dangerous than carbon dioxide, will be fully
avoided. Incineration is the best option for
garbage in all cases. Capturing all the methane
gas [in a landfill] is impossible. Again, the
danger caused by land and water pollution will
still exist if garbage dumps keep being built. In
Germany and for the most part of the European
Union, biologically-degradable garbage landfill
is forbidden. The maintenance of landfills after
they are closed, for decades, is very costly.
RBB – How is the dioxins and furans emission
issue, the great target of environmentalists’
criticism to incineration?
Langewellpott – The current incineration
technologies are so advanced that there are no
longer problem emissions. The German environmental legislation is one of the strictest ones.
If there were problems caused by the emissions
of these pollutants, the plants in Bavaria could
not exist within the cities.
RBB – What is the waste incineration scenario
in Brazil for the coming years?
Langewellpott – I think that the transition from
landfills to incineration plants will be a relatively
slow process. Concerning special wastes – from
hospitals, for example –, I see possibilities for
smaller-sized incineration plants to be
implemented faster.
RBB – The methane gas emitted by landfills
can be burned in flares, allowing thermal and
electrical power generation, besides the
purchase of carbon credits. Doesn’t this
compensate the costs of building and
maintaining the landfill? Or is incineration
the best option for all cases?
44
Novembro/November 2010
Empresas Modernas
Fotos: Divulgação/Mathias Cramer
PLÁSTICO
VERDE
Fábrica erguida pela Braskem no Rio Grande do Sul tem
capacidade de produzir 200 t/ano do material
brasileira Braskem, maior petroquímica
das Américas e terceira maior produtora de polipropileno (plástico derivado do propeno) do mundo, está pesquisando e
desenvolvendo, desde 2007, o polietileno verde, também conhecido como biopolímero ou
bioplástico.
De acordo com a instituição European Bioplastics, uma das maiores referências mundiais
no assunto, os biopolímeros são plásticos produzidos por meio de matéria-prima renovável e
têm suas características validadas por testes
normativos de instituições reconhecidas internacionalmente. A Braskem conseguiu atestar a
qualidade de seu produto, tanto que recebeu o
Bioplastics Awards 2007, na categoria Best
Innovation in Bioplastics, e, desde setembro
de 2010, produz o material em escala piloto.
A
O polietileno verde da empresa é um biopolímero fabricado por meio do etano verde, matéria-prima oriunda do etanol da cana-de-açúcar
que, por sua vez, é 100% renovável. Rodrigo
Belloli, responsável pelo Marketing de Biopolímeros da Braskem, diz que uma das maiores
vantagens do polietileno verde é que ele ajuda
a conter o aquecimento global. “Nosso material
captura e fixa 2,5 kg de dióxido de carbono (CO2)
por kg de produto durante todo o ciclo de produção, considerando desde o cultivo da cana
até a produção do material.” Ao contrário de alguns biopolímeros, o fabricado pela petroquímica brasileira, embora reciclável, não é biodegradável. Belloli explica que isso é vantajoso, pois faz com que o CO2 capturado durante o
cultivo da cana-de-açúcar permaneça fixado por
todo o período de vida do plástico.
Belloli: “Material
captura e fixa 2,5
kg de dióxido de
carbono por kg de
produto durante
todo o ciclo de
produção”
45
Empresas Modernas
FÁBRICA
Futuro promissor: até
2020, consumo de
polietileno verde
deve crescer acima
de 20% ao ano
46
Assim como o polietileno comum, que hoje
é o plástico mais consumido no mundo, o verde, segundo a fabricante, apresenta excelentes
qualidades técnicas e de processabilidade, tendo, em seu estado final, a mesma aparência e
características técnicas. Dessa forma, o biopolímero pode ser aplicado em diversos setores,
como higiene e limpeza, cosméticos, alimentício e automotivo.
A aposta da empresa com relação ao material é tão grande que, no dia 24 de setembro, foi
inaugurada a maior unidade industrial de eteno
derivado de etanol do mundo. Sua capacidade
de produção está estimada em 200 mil t de polietileno verde por ano. A planta, que consumiu
cerca de R$ 500 milhões, foi erguida na histórica cidade gaúcha de Triunfo, localizada a 75 km
de Porto Alegre.
“Nossa estimativa é que, até 2020, o consumo de polietileno verde cresça acima de 20% ao
ano, quando o volume anual chegará a 8 milhões de t”, revela Belloli, explicando ainda que,
embora o Brasil esteja num estágio inicial de
desenvolvimento, o número de clientes interessados aumenta de forma significativa, gerando
uma expectativa positiva com relação ao potencial brasileiro nesse mercado. A prova de que o
mundo está aberto ao material é que importantes conglomerados nacionais e internacionais,
como a Toyota Susho, Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Tetra Pak, Natura, Packtec,
Acinplas, Cromex e Estrela, já fecharam acordos com a Braskem.
Com a criação de sua unidade fabril em Triunfo, a Braskem ainda reforçou seu compromisso com o meio ambiente criando o Código
de Conduta para Fornecedores de Etanol, documento que deve ser seguido por todas as
empresas que fornecem o insumo à petroquímica. O documento visa a assegurar a sustentabilidade do processo produtivo desde a origem da matéria-prima até o produto final, observando a postura de seus fornecedores com
relação a queimadas, biodiversidade, práticas
ambientais, direitos humanos e trabalhistas e
análise do ciclo de vida do produto.
DIVULGAÇÃO
A Braskem desenvolveu o selo I’m Green,
que identifica no mercado mundial os produtos
da empresa que possuem biopolímeros na composição. Além do polietileno verde, o selo identificará outras resinas que a petroquímica pretende desenvolver a partir de fontes predominantemente renováveis.
Para divulgar o produto, a empresa ainda
tem promovido diversas ações de marketing em
revistas especializadas e em outras mídias de
interesse. Além disso, participa de seminários,
congressos e reportagens. “Divulgamos o
polietileno verde com o intuito de promover o
desenvolvimento do mercado, esclarecendo
seus benefícios sustentáveis, mitigando desentendimentos e buscando parceiros alinhados
com o conceito do produto”, explica Belloli.
Novembro/November 2010
Modern Companies
Photos: Dissemination/Mathias Cramer
GREEN
PLASTIC
Factory set up by Braskem in Rio Grande do Sul has capacity to
produce 200 t/year of the material
he Brazilian Braskem company, the
largest petrochemical industry in the
Americas and the third greatest polypropylene (propene-derived plastic) producer
in the world, has been researching and
developing green polyethylene, also known as
biopolymer or bioplastic, since 2007.
According to the European Bioplastics
institution, one of the most renowned world
references in the subject, biopolymers are
plastics made of renewable feedstock and have
their characteristics validated by normative tests
by internationally acknowledged institutions.
Braskem managed to certify the quality of its
product, and was even granted the Bioplastics
Awards 2007, in the Best Innovation in
Bioplastics category, and, since September 2010,
it has produced the material in pilot scale.
T
The company’s green polyethylene is a
biopolymer manufactured by means of green
ethane, feedstock deriving from sugar cane
ethanol that, in turn, is 100% renewable. Rodrigo
Belloli, accounting for the Braskem Biopolymers
Marketing sector, says that one of the greatest
advantages of the green polyethylene is that it
helps to refrain global warming. “Our material
captures and fixes 2.5 kg of carbon dioxide (CO2)
per product kg all along the production cycle,
considered from sugar cane growth up to the
material production.” As opposed to some
biopolymers, the one produced by the Brazilian
petrochemical industry, despite recyclable, is
not biodegradable. Belloli explains that this is
an advantage, as it makes the CO2 captured
along the sugar cane growth remain fixed all
along the plastic lifecycle.
Belloli: "The
material captures
and fixes 2.5 kg of
carbon dioxide
per kg of product
throughout the
production cycle"
47
Modern Companies
PLANT
Promising future: by
2020, consumption of
green polyethylene is
expected to grow
above 20% per year
48
Just as ordinary polyethylene, which is now
the most consumed plastic worldwide, the green
one, according to the manufacturer, presents
excellent technical and processability qualities
as, in its final state, it has the same appearance
and technical characteristics. Thus, biopolymer
can be employed in different sectors, such as
hygiene and cleaning, cosmetic, food and
automotive.
The company’s expectation concerning the
material is so great that, on September 24, the
largest industrial plant of ethanol-derived
ethane in the world started operating. Its
production capacity is estimated to be about
200,000 tons of green polyethylene a year. The
plant, which consumed about R$ 500 millions,
was built in the historical Rio Grande do Sul
city of Triunfo, located 75 km away from Porto
Alegre.
“We estimate that, by 2020, the consumption of green polyethylene will grow by over
20% a year, when the annual volume reaches 8
million tons”, reveals Belloli, also explaining
that, even though Brazil is at an initial development stage, the number of interested clients increase significantly, generating a positive
expectation concerning the Brazilian potential
in this market. The proof that the world is open
to the material is that important national and
international conglomerates, such as Toyota
Susho, Procter & Gamble, Johnson & Johnson,
Tetra Pak, Natura, Packtec, Acinplas, Cromex
and Estrela, have already signed agreements
with Braskem.
With the establishment of its plant in Triunfo, Braskem also reinforced its commitment with
the environment by creating the Code of
Conduct for Ethanol Suppliers, a document to
be abided by all the companies supplying input
to the plant. The document aims to ensure the
sustainability of the productive process from
the feedstock source to its end product,
observing its suppliers’ posture towards
burning, biodiversity, environmental practices,
human and working rights along with the
product’s life cycle analysis.
DISSEMINATION
Braskem developed the I’m Green tag that,
in the world market, identifies the company’s
products that contain biopolymers in their
composition. Besides green polyethylene, the
tag will identify other resins the petrochemical
industry intends to develop from predominantly
renewable sources.
So as to disseminate the product, the company has also promoted several marketing
actions in specialized periodicals and other media of interest. Moreover, it participates in seminars, congresses and news articles. “We disseminate the green polyethylene aiming to promote market development, clarifying its sustainable benefits, mitigating misunderstandings
and seeking partners aligned with the product
concept”, explains Belloli.
Novembro/November 2010
Artigo
CANCUN – O FUTURO DA
CONVENÇÃO DO CLIMA
A reunião de Cancun dos signatários da Convenção do Clima ocorre na sombra da
Conferência de Copenhague de 2009, que foi considerada por alguns um fracasso,
mas que na realidade mudou o paradigma em que as negociações do clima
ocorriam desde 1992
José Goldemberg
A esperança, desde a Conferência do Rio há 20 anos, era a
áreas em que se pode argumentar que os países industrializa-
de que os 183 signatários da Convenção do Clima acabariam
dos provocaram danos e prejuízos às nações menos desenvol-
chegando a um acordo mundial sobre as reduções de emissões,
vidas. Toda a era da expansão colonial desde a descoberta da
e que caberia a cada país referendar tais acordos e implementá-
América tem sido caracterizada por essas atividades, a começar
los. O Protocolo de Quioto seguiu esse figurino, mas acabou
pela destruição do império Asteca, no México, e do império
por adotar um caminho que se revelou equivocado: ao dividir o
Inca, no Peru. Reivindicar recursos da Espanha para compensar
mundo em países do Anexo I (industrializados), com metas e
os descendentes dos astecas e incas poderia ser também levan-
prazos mandatórios para reduções das emissões, e os países em
tado em negociações internacionais, mas simplesmente essa
desenvolvimento, que não estão sujeitos a essas metas, ele
não é a maneira pela qual as sociedades evoluem.
abriu caminho para um eventual fracasso. Os Estados Unidos
No caso das mudanças climáticas, as reivindicações por
não ratificaram o protocolo, e o Senado daquele país adotou –
compensações devidas à responsabilidade histórica das nações
por unanimidade!!! – uma resolução (Byrd-Hagel) declarando
que se industrializaram nos séculos 19 e 20 e que, portanto,
que não consideraria a sua ratificação sem que a China (e outros
contribuíram mais para as emissões de carbono que ainda per-
países em desenvolvimento) também adotassem prazos e metas
manecem na atmosfera são ainda mais difíceis de defender. Até
de redução.
1992, a gravidade das emissões de gases de efeito estufa não
A China, por sua vez, recusou-se a aceitar quaisquer metas
era reconhecida, o que só ocorreu quando a Convenção do
sob a alegação de que a “responsabilidade histórica” pelo aque-
Clima foi adotada no Rio de Janeiro. Aplicar retroativamente
cimento global é dos Estados Unidos (e outros países industri-
penalidades aos países que emitiram antes dessa data não pare-
alizados) e que, portanto, caberia a eles liderarem os esforços
ce ter amparo legal e pode servir apenas como um argumento de
para enfrentar o problema e cobrir seus custos. O Brasil tem
natureza ética e política para convencer os países industrializa-
atuado nas conferências do clima numa linha similar à da China.
dos a pagar pelos danos.
A questão das “responsabilidades históricas” tem pertur-
Além disso, a emergência da China como um grande emissor
bado seriamente as negociações sobre o clima e, na visão de
na última década – comparável aos Estados Unidos – enfraque-
alguns, não passa de uma peça de xadrez no intricado processo
ce muito o argumento porque poluir hoje é reconhecido como
de negociações internacionais como um instrumento para que
uma atividade perigosa e, dentro de dez ou vinte anos, o argu-
os países em desenvolvimento obtenham vantagens financei-
mento da “responsabilidade histórica” poderá ser usado contra
ras dos países industrializados. Com efeito, existem inúmeras
os atuais grandes poluidores, entre os quais o Brasil.
49
Artigo
Assim, chegamos a um impasse que o presidente Obama
lecesse metas e prazos mais rigorosos que o protocolo em questão.
dos Estados Unidos tentou solucionar, fazendo aprovar no
O que se pode esperar é algum progresso em questões es-
Congresso americano uma lei determinando reduções das emis-
pecíficas que não dependam da adoção de um novo protocolo,
sões de gases de efeito estufa próximas às fixadas pelo Proto-
como evitar o desmatamento das florestas tropicais (REDD) e a
colo de Quioto (17% de reduções até 2020). Essa Lei foi aprova-
administração dos fundos para mitigação e adaptação que fo-
da na Câmara dos Deputados, mas não no Senado. Com isso, o
ram anunciados em Copenhague.
esforço de Obama fracassou, e parece claro – com a vitória dos
No que se refere ao REDD, isto é, a mecanismos que levem à
republicanos nas últimas eleições legislativas – que os Estados
redução do desmatamento na Amazônia, progressos poderiam
Unidos não adotarão medidas desse tipo num futuro previsível.
ser obtidos caso os negociadores brasileiros apresentassem
Voltamos, pois, à estaca zero: um acordo mundial sobre re-
ideias concretas e uma quantificação dos recursos necessários.
duções de emissões em que todos participem é inviável a curto
As ideias concretas parecem prioritárias, porque já existem re-
prazo, e o que parecia ser um fracasso em Copenhague indicou
cursos da Noruega para esses programas. Entre as propostas
o caminho a seguir: os países comunicarão unilateralmente ao
que surgiram até agora, as principais são as de apoio ao
secretariado da convenção as medidas que pretendem adotar
extrativismo nas florestas nativas, todas de pequeno porte para
para promover reduções. Um grande número de países fez es-
ter impacto real sobre o desmatamento. Uma nova ideia que tem
sas comunicações independentemente de serem do grupo do
sido aventada é a de dedicar recursos para a recuperação dos
Anexo I ou não. O que isso significa é que a ficção criada pelo
solos degradados de áreas que já foram desmatadas, desde que
Protocolo de Quioto não existe mais. Todos os países comuni-
acopladas à preservação da floresta em outras áreas.
cam ao Secretariado suas metas e estas passam a ser objeto de
Outra ideia que agora parece voltar à cena é estimular a
controle internacional à medida que sejam transparentes e
criação de florestas energéticas, o que lembra o Projeto Floram,
verificáveis. A distinção entre metas mandatórias, tipo Quioto,
proposto há mais de vinte anos na Universidade de São Paulo.
e metas voluntárias que os países em desenvolvimento poderi-
A novidade nessa área é que, depois de muitos anos de discus-
am adotar desapareceu.
são, o Secretariado da Convenção aprovou a metodologia de
O que não desapareceu é a premissa fundamental da Convenção do Clima de que as obrigações dos diferentes países
50
reflorestamento em dois projetos no Brasil que serão objeto de
créditos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
são “comuns, mas diferenciadas”, o que é razoável, consideran-
Esta, aliás, sempre nos pareceu a rota mais simples para
do que países do Anexo I e os países em desenvolvimento se
recapturar carbono (CO2) lançado na atmosfera, mas que sofreu
encontram em diferentes estágios de desenvolvimento.
objeções de dois grupos muito diferentes:
O que isso significa é que o campo de batalha para se decidir
Alguns ambientalistas europeus que criticam refloresta-
as reduções de emissão de gases já não é mais o plenário de
mento como uma atividade que cria um “deserto verde”,
megaconferências como Copenhague ou Cancun, mas batalhas
originando problemas com suprimento de água, supres-
que se travarão dentro da cada um dos países. Os mais esclare-
são da biodiversidade e permanência da floresta plantada
cidos adotarão metas mais exigentes porque entendem a gravi-
por um longo espaço de tempo. As questões técnicas re-
dade do problema; outros tenderão a torná-las menos exigen-
ferentes ao tema já foram esclarecidas há muito tempo. Há
tes. Com isso, a diferença entre países do Anexo I e os outros
formas de promover o reflorestamento em mosaico com
passou a ser gradual, e não drástica como estabelecido no Pro-
áreas de vegetação heterogênea no meio e respeito às
tocolo de Quioto.
matas ciliares que se mostraram muito adequadas. Além
Não é possível, portanto, esperar que a reunião de Cancun
disso, os problemas criados pelas florestas são menores e
tenha sucesso no ponto em que a reunião de Copenhague fa-
menos controvertidos que a captura e armazenamento de
lhou, que era o objetivo de conseguir um “novo” Protocolo de
carbono (CCS), que é o método preferido das empresas de
Quioto que incluísse outros países além do Anexo I e estabe-
petróleo e carvão.
Novembro/November 2010
Artigo
Alguns diplomatas brasileiros que argumentam que plan-
recessão e existem preocupações de que o desmatamento torne
tar florestas no Brasil e capturar carbono é uma maneira de
a aumentar quando a recessão mundial acabar.
permitir que os países do Anexo I continuem a emitir. Essa
Em conclusão, o que veremos em Cancun são pequenos
posição, que é ideológica, não reconhece o fato de que os
progressos, o que deveria se repetir durante as várias Confe-
países da União Europeia adotaram metas e prazos de re-
rências das Partes nos próximos anos até que as consequências
dução de suas emissões independentemente da contri-
do aquecimento global se tornem mais evidentes e se consiga,
buição que o desmatamento em países como o Brasil po-
então, que os maiores emissores mundiais decidam que a situa-
derá fazer. Ele seria uma forma adicional de capturar carbo-
ção estará se tornando insustentável e retomando tentativas de
no e, se for objeto de transações do Mecanismo de De-
acordos globais que comprometam a todos.
senvolvimento Limpo (MDL), trazer recursos para o Brasil. A rigor, aqueles que se opõem ao uso do MDL para
projetos de reflorestamento deveriam se opor também ao
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em geral.
Com que credenciais o Brasil se apresenta em Cancun? Em
primeiro lugar, o país pode argumentar que “fez o dever de casa”,
apresentando em janeiro de 2010 os compromissos assumidos
voluntariamente de reduzir as emissões até 2020 de 36% a 40%
(aproximadamente) abaixo das emissões que ocorreriam nesse
ano caso nada fosse feito. Essa é uma forma estranha de apresentar compromissos porque é impossível prever hoje quais
seriam essas emissões. Ela destoa da forma com que os outros
países fizeram suas comunicações ao Secretariado da Convenção. A China e a Índia propuseram o índice de carbonização de
suas economias, que são números objetivos. Os Estados Unidos prometeram reduzir suas emissões em 17% abaixo do nível
de 2005 até 2020, mas não é claro como isso será feito, uma vez
que a lei em tramitação no Congresso americano não foi aprovada. O que se acredita é que reduções poderão ser conseguidas
por meio da ação da Environmental Protection Agency (EPA),
mas há dúvidas de que o Executivo daquele país o faça diante
da crise econômica que o país atravessa.
O Estado de São Paulo aprovou legislação mais enérgica
para reduzir suas emissões – como, aliás, o fez também o Estado
da Califórnia nos Estados Unidos – e até 2020 deverá promover
várias ações na direção de uma economia de baixo carbono, o
que o colocará na vanguarda de muitos países. Essa decisão
local provavelmente será aplaudida em Cancun e os negociadores brasileiros poderiam fazer uso dela.
Além disso, a redução do desmatamento da Amazônia que
está ocorrendo é um avanço significativo, mas é preciso lembrar
José Goldemberg
Instituto de Eletrotécnica e Energia
Universidade de São Paulo
[email protected]
que vivemos numa época em que a economia mundial está em
51
Article
CANCUN – THE FUTURE
OF THE CONVENTION ON
CLIMATE CHANGE
The Cancun Summit of the Convention on Climate Change parties occurs in the
shade of the Copenhagen Summit of 2009, considered a failure by some, but
which actually changed the paradigm on which the climate negotiations had
occurred since 1992
José Goldemberg
Since the Rio Conference 20 years ago, the 183 parties of the
chess piece in the intricate international negotiations process
Convention on Climate Change were expected to end up reaching
as an instrument for the developing countries to obtain financial
a world agreement on emission reductions, and that each country
advantages from the industrialized countries. Actually, there
would be incumbent with approving such an agreement and
are a number of areas in which it may be argued that industrialized
implementing it. The Kyoto Protocol followed this model, but
countries caused damages and liabilities to less developed
ended up adopting a path which revealed itself to be mistaken:
nations. The whole of the colonial expansion era, ever since the
when dividing the world into Annex I (industrialized) countries,
Discovery of America, has been characterized by these activities,
with goals and mandatory deadlines for emission reductions,
starting by the destruction of the Aztec Empire, in Mexico, and
and the developing countries, which are not subjected to these
of the Inca Empire, in Peru. Claiming resources from Spain to
goals, it opened the way for an eventual failure. The United
compensate the Aztec and Inca descendants could be another
States failed to sign the Protocol, and the Senate of that country–
issue to be raised in international negotiations, yet this is simply
unanimously!!! – adopted a resolution (Byrd-Hagel) declaring
not the way in which societies evolve.
that it would not consider signing it unless China (and other
In the case of climate changes, the claims for compensations
developing countries) also adopted reduction deadlines and
owed to the historical responsibility of the nations which turned
goals.
industrialized in the 19th and 20th centuries and that, therefore,
China, in turn, refused to accept any goals under the
contributed more to the carbon emissions that can still be found
allegation that the United States (and other industrialized
in the atmosphere are even more difficult to advocate. Until
countries) were ‘historically responsible’ for global warming and
1992, the seriousness of the greenhouse gases emissions was
that, therefore, they were incumbent with leading the efforts to
not acknowledged, which only occurred when the Convention
deal with the problem and with covering the costs. In the Climate
on Climate Change was adopted in Rio de Janeiro. Retroactively
Change summits, Brazil has adopted a line similar to that of
imposing penalties to countries which emitted before this date
China.
does not seem to have legal support and may serve only as an
The ‘historical responsibilities’ issue has deeply disturbed
the climate negotiations and, in some people’s view, it is but a
52
argument of ethical and political nature to convince the
industrialized countries to pay for the damages.
Novembro/November 2010
Article
Moreover, the emergence of China as a great emitter in the
last decade – comparable to the United States – very much
Annex I countries and the others became gradual, and not drastic
as established in the Kyoto Protocol.
weakens the argument because polluting today is acknowledged
It is not possible, therefore, to expect that the Cancun Summit
as a dangerous activity and, in ten or twenty years, the argument
succeeds at the point in which the Copenhagen Summit failed,
of ‘historical responsibility’ may be used against the present
that is, the goal to reach a ‘new’ Kyoto Protocol that would also
great polluters, amongst which Brazil.
include other countries besides the Annex I ones and that
Hence, we come to a stalemate the United States President,
Obama, tried to solve, having the American Congress approve a
established stricter goals and deadlines than the protocol in
question.
bill determining a reduction in greenhouse gases emissions close
What can be expected is some progress in specific issues
to those established by the Kyoto Protocol (17% reductions
that do not depend on the adoption of a new protocol, such as
by 2020). This bill was approved in the House of
avoiding the deforestation of tropical forests (REDD) and the
Representatives, but not in the Senate. With this, Obama’s effort
administration of the mitigation and adaptation funds that were
failed, and it seems clear – with the victory of the Republicans in
announced in Copenhagen.
the last legislative elections – that the United States will not
adopt this type of measures in a predictable future.
Concerning the REDD, that is, mechanisms that lead to the
reduction of deforestation in the Amazon Rainforest, progresses
We thus go back to square one: a world agreement on
could be obtained if the Brazilian negotiators presented concrete
emission reductions in which all take part is unfeasible in the
ideas and a quantification of the necessary resources. Concrete
short term, and what seemed to be a failure in Copenhagen
ideas seem to be a priority, since there are already resources
indicated the path to follow: the countries will unilaterally
from Norway for these programs. Among the proposals that
communicate to the Convention Secretariat the measures they
have emerged so far, the main ones are those supporting
intend to adopt to promote reductions. A large number of
extractivism in native forests, all too small in magnitude to really
countries have made these communications independently of
impact deforestation. A new idea that has been bred is that of
belonging to the Annex I group or not. What this means is that
dedicating resources to recover degraded lands in areas that
the fiction created by the Kyoto Protocol no longer exists. All
have already been deforested, since they are coupled with the
the countries communicate their goals to the Secretariat and
preservation of the forest in other areas.
these turn to be the object of international control provided that
Another idea that now seems to reappear is stimulating the
they are transparent and verifiable. The distinction between
creation of energy forests, which recalls the FLORAM Project,
mandatory - Kyoto type - and voluntary goals that developing
proposed more than twenty years ago at the University of São
countries could adopt has disappeared.
Paulo. The novelty in this area is that, after many years of
What has not disappeared is the fundamental premise of the
discussion, the Convention Secretariat approved the
Convention on Climate Change that the obligations of the
reforestation methodology in two projects in Brazil that will be
different countries are ‘common, but differentiated’, which is
the object of the Clean Development Mechanism credits.
reasonable, considering that the Annex I countries and the
developing countries are at different development stages.
What this means is that the battlefield for deciding on the
gas emission reduction is no longer the plenary assembly of
This, by the way, has always seemed to us the simplest
route for recapturing the carbon (CO 2) emitted into the
atmosphere, yet which suffered objections from two very
different groups:
megaconferences such as Copenhagen or Cancun, but battles
Some European environmentalists who criticize
that will be fought within each of the countries. The most
reforestation as an activity that creates a ‘green desert’,
enlightened ones will adopt more demanding goals because
originating problems with water supply, suppression of
they understand the gravity of the problem; others will tend to
biodiversity and the permanence of the planted forest for
make them less demanding. With this, the difference between
a long span of time. The technical issues concerning the
53
53
Article
theme have already and long been cleared. There are ways
the State of California in the United States – and by 2020 it will
of promoting a mosaic reforestation with areas of
promote several actions towards a low-carbon economy, which
heterogeneous vegetation within them and respecting the
will place it ahead of many countries. This local decision will
riverside vegetation, which have shown to be very
probably be applauded in Cancun and the Brazilian negotiators
adequate. Again, the problems created by the forests are
could make use of it.
smaller and less controversial than carbon capture and
Moreover, the reduction in the Amazon Rainforest
storage (CCS), which is the method preferred by coal and
deforestation now occurring is a significant advancement, but
petroleum companies.
it is worth stressing that we are living at a time when the world
Some Brazilian diplomats who argue that planting forests
economy is in recession and there are concerns that the
in Brazil and capturing carbon is a way of allowing the
deforestation will increase again when the world recession ends.
Annex I countries to keep on emitting. This position, which
In conclusion, what will be seen in Cancun are small
is ideological, fails to acknowledge the fact that the
progresses, which should be repeated in the different
European Union countries adopted goals and deadlines
Conferences of the Parties in the next years until the
for reducing their emissions independently of the
consequences of global warming become more evident and thus
contribution that the deforestation in countries such as
make the greatest world emitters decide that the situation is
Brazil may make. This would be an additional way of
turning unbearable and resume global agreements attempts to
capturing carbon and, if it is the object of Clean
which all of them are committed.
Development Mechanism (CDM) transactions, providing
resources to Brazil. Strictly speaking, those who oppose
the use of the CDM for reforestation projects should also
oppose the Clean Development Mechanism in general.
With what credentials is Brazil presented in Cancun? Firstly,
the country may argue that ‘it did its homework’, presenting in
January 2010 the voluntarily assumed commitments of reducing
its emissions, by 2020, from 36% to 40% (approximately) below
the emissions that would occur that year in case nothing was
done. This is a strange way of presenting commitments since it
is impossible to foresee now what these emissions would be. It
differs with the way other countries made their communications
to the Convention Secretariat. China and India proposed the
carbonization rate of their economies, which are objective
numbers. The United States promised to reduce its emissions
by 17% below the 2005 level by 2020, yet it did not make clear
how this will be done, since the Bill in process in the American
Congress failed to be approved. There is a belief that the
reductions may be attained by means of the Environmental
Protection Agency (EPA)’s action, but there are doubts that the
US Executive Power will do it due to the economic crisis faced
by the country.
The State of São Paulo approved a stricter legislation to
José Goldemberg
Institute of Electrotechnics and Energy
Universidade de São Paulo
[email protected]
reduce its emissions – as, by the way, it has also been done by
54
Novembro/November 2010
Agenda
PERSPECTIVAS PARA O APROVEITAMENTO ENERGÉTICO
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
PERSPECTIVES FOR ENERGY UTILIZATION OF THE
URBAN SOLID RESIDUES
Período: 24 de novembro de 2010
Local: Auditório Mário Covas da Escola Politécnica da USP –
São Paulo, SP, Brasil
Informações: http://www.saneamento.sp.gov.br/crbst_40.html
* Participação de José Goldemberg, membro fundador do
Cenbio, realizando a conferência Aproveitamento
energético de resíduos: Brasil x Outros Países, 9h40;
e da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho, na coordenação
da mesa redonda Resultados da Cooperação entre São
Paulo e a Baviera na área de Resíduos Sólidos para
implantação de URE – Unidade de Recuperação
Energética, no Estado de São Paulo, 14h30
Period: November 24th, 2010
Venue: Mario Covas Auditorium, USP’s Polytechnical School
– São Paulo, SP, Brazil
Information: http://www.saneamento.sp.gov.br/crbst_40.html
* Participation of José Goldemberg, Cenbio’s founding
member, realizing the Energy Utilization of Residues:
Brazil x Other Countries conference, 9:40 AM; and of
Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, in the coordination of the
Results of the Cooperation between São Paulo and
Bavaria in the area of Solid Residues for
implementation of the URE – Energy Recovery Unit, in
the State of São Paulo roundtable, 2:30 PM
COP 16 CANCUN
COP 16 CANCUN
Período: 29 de novembro a 5 de dezembro de 2010
Local: Hotel Moon Palace e Cancunmesse – Cancun, QR, México
Informações: http://cc2010.mx/es/
Period: From November 29th to December 5th, 2010
Venue: Moon Palace Hotel and Cancunmesse – Cancun, QR, Mexico
Information: http://cc2010.mx/en/index.htm
GNESD WORKING GROUP MEETING / CLEAN ENERGY
ACCESS FOR ALL: ERADICATING GLOBAL ENERGY
POVERTY WORKSHOP
GNESD WORKING GROUP MEETING / CLEAN ENERGY
ACCESS FOR ALL: ERADICATING GLOBAL ENERGY
POVERTY WORKSHOP
Período: 6 e 7 de dezembro de 2010
Local: Cancún Park Royal Grand Cancún (6/12) e Westin
Hotel (7/12) - Cancun, QR, México
Informações: [email protected] / [email protected]
* Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho,
realizando a apresentação Synthesis Report –
Bioenergy Theme no dia 6 de dezembro, 9h15
Period: December 6th and 7th, 2010
Venue: Cancún Park Royal Grand Cancún (12/6) and
Westin Hotel (12/7) – Cancun, QR, Mexico
Information: [email protected] / [email protected]
* Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho,
realizing the Presentation on the Synthesis Report by
the Coordinator, on December 6th, 9:15 AM
AGECC BRIEFING COP 16 SIDE EVENT
AGECC BRIEFING COP 16 SIDE EVENT
Período: 8 de dezembro de 2010
Local: Cancun, QR, México
Informações: [email protected]
* Participação da coordenadora do Cenbio e membro da
AGECC, Suani Coelho, na reunião de discussão sobre o
relatório Energy for a Sustainable Future
Period: December 8th, 2010
Venue: Cancun, QR, México
Information: [email protected]
* Participation of Cenbio’s coordinator and AGECC’s member,
Suani Coelho, in the meeting for discussion on the report
Energy for a Sustainable Future
WORLD ALGAE CONGRESS USA 2010
WORLD ALGAE CONGRESS USA 2010
Período: 6 a 8 de dezembro de 2010
Local: Marines’ Memorial Club – São Francisco, CA, Estados Unidos
Informações: http://www.terrapinn.com/2010/algae/
Period: From December 6th to 8th, 2010
Venue: Marines’ Memorial Club - San Francisco, CA, United States
Information: http://www.terrapinn.com/2010/algae/
CENTRAL EUROPEAN BIOMASS CONFERENCE 2011
2011 CENTRAL EUROPEAN BIOMASS CONFERENCE
Período: 26 a 29 de janeiro de 2011
Local: Messe Congress Graz, Tagungszentrum – Graz, Áustria
Informações: http://www.biomasseverband.at/
biomasse?cid=41143
Period: From January 26th to 29th, 2011
Venue: Messe Congress Graz, Tagungszentrum - Graz, Austria
Information: http://www.biomasseverband.at/
biomasse?cid=41143
AGRENER GD 2010 -8º CONGRESSO SOBRE GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA E ENERGIA NO MEIO RURAL
AGRENER GD 2010 -8 TH CONGRESS ON DISTRIBUTED
GENERATION AND ENERGY IN THE RURAL AREA
Período: 13 a 15 de Dezembro de 2010
Local: Centro de Convenções da Unicamp – Campinas, SP, Brasil
Informações: [email protected]
* Participação da coordenadora do Cenbio Profª Suani
Coelho, na Mesa Redonda Geração de Energia Elétrica a
partir de Biomassa da Cana-de-Açúcar no dia 15 de
dezembro, 8h30
Period: December 13th to 15th, 2010
Venue: Unicamp Conventions Center – Campinas, SP, Brazil
Information: [email protected]
* Participation of Cenbio´s coordinator, Suani Coelho, in the
Geração de Energia Elétrica a partir de Biomassa da
Cana-de-Açúcar Roundtable, on December 15th, 8:30AM
3º SEMINÁRIO BIOENERGIA: DESAFIOS E
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS
3RD BIOENERGY SEMINAR: CHALLENGES AND BUSINESS
OPPORTUNITIES
Período: Setembro de 2011 (dias a serem confirmados)
Local: São Paulo, SP, Brasil
Informações: http://cenbio.iee.usp.br
Period: September 2011 (days to be confirmed)
Venue: São Paulo, SP, Brazil
Information: http://cenbio.iee.usp.br/indexen.asp
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