Painel 2 - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis e
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Painel 2 - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis e
1 Curso de Especialização em Gestão Ambiental e Negócios no Setor Energético Environmental Management and Energy Sector Business Specialization Course Objetivo Capacitar profissionais para analisar, avaliar, controlar, planejar, estruturar e implementar projetos, de forma eficaz e eficiente, com base nos modernos conceitos de gestão ambiental, a partir de uma visão integrada das áreas de Energia e de Meio Ambiente, em seus aspectos técnicos, legais, institucionais, comerciais e organizacionais, face à crescente importância estratégica e operacional dessas áreas. Objective Enable professionals to analyze, evaluate, control, plan, organize and implement projects efficiently and efficaciously based on the modern concepts of environmental management, with an integrated view of the Energy and the Environment areas, in their technical, legal, institutional, commercial and organizational aspects, faced with the increasing estrategic and operational importance of these areas. Realização/ Organizationn Informações/Information Tels.: (55 11) 3091-2650 e 3091-2652 Fax: 3091-2653 [email protected] www.iee.usp.br/latosensu Próxima turma/Next class Fev/2012 Febr, 2012 Sumário/Summary Capa/Cover Na rota dos resíduos On the waste route Páginas 6 a 12 Pages 13 to 19 Fotos/Photos: iStockphoto/Cenbio Editorial................................................... 5 Projetos do Cenbio/Cenbio Projects 2º Seminário de Bioenergia reúne profissionais do setor e discute novas oportunidades ................ 21 2nd Bioenergy Seminar gathers professionals of the sector and discusses new opportunities ….... 31 Empresas Modernas/Modern Companies Fábrica da Braskem pode produzir 200 t/ano de plástico verde ........................................... 45 Braskem’s factory can produce 200 tons/year of green plastic ........................................... 48 Divulgação/dissemination Meryellen Duarte Meio Ambiente/The Environment Transformando o problema em solução ............ 27 Turning the problem into a solution.................. 29 Entrevista/Interview Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil, afirma que parceria de mais de uma década nunca esteve tão forte e deve aumentar .................................................. 37 Martin Langewellpott, the State of Bavaria Representative in Brazil, states that the over-onedecade partnership has never been so strong and is to get stronger …………………….............. 41 Artigo/Article Cancun – o futuro da Convenção do Clima ......... 49 Cancun – the future of the Convention on Climate Change .................................................... 52 Agenda Programe-se para os próximos eventos ........... 55 Include the next events in your Schedule .......... 55 3 Editora Editor Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Conselho Editorial Editorial Board José Goldemberg Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Daniel Pioch Centro Internacional de Pesquisas Agrícolas para o Desenvolvimento (Cipad) - Montpellier/França Eric D. Larson Universidade de Princeton/USA Fernando Rei Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) Francisco Annuatti Neto Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (USP) Frank Rossilo-Calle King´s College London/Inglaterra Helena Chum National Renewable Energy Laboratory/USA José Roberto Moreira Universidade de São Paulo (USP) Biomass Users Network Centro Nacional de Referência em Biomassa Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 Cid. Universitária CEP 05508-010, São Paulo, SP, Brasil Tel. (11) 3091-2649 http://cenbio.iee.usp.br Luiz Augusto Horta Nogueira Universidade Federal de Itajubá (Unifei) Luiz Gonzaga Bertelli Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Sérgio Peres Universidade de Pernambuco (UPE) Equipe de Produção Editorial Publishing team of Production Cristiane Lima Cortez Fernando Saker Sílvia Maria González Velázquez Jornalista Responsável Journalist in Charge Amorim Leite MTb 14.010-SP Reportagem e Redação Editing Amorim Leite Ivan Pagliarani Fernando Saker Victor Bianchin Projeto Gráfico Graphic Design Carolina Amorim Editoração Eletrônica Art Cristiane Martins Carratu Preparação de Texto Text Organization Amorim Leite Tradução para Inglês e Português Translation from and into English Mª Cristina V. Borba Ministério de Minas e Energia www.mme.gov.br A Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, é uma publicação trimestral do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), patrocinada pelo Ministério de Minas e Energia, por meio do Convênio nº 721606/2009, e distribuída para ministros de estado, senadores, governadores, deputados federais, prefeitos, deputados estaduais, diretores de agências reguladoras, secretários estaduais de meio ambiente e energia, cientistas, empresários e especialistas em meio ambiente e energia. As opiniões emitidas nas entrevistas e artigos são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição de seus editores. É permitida a reprodução parcial ou total das reportagens, desde que citada a fonte. The Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, is a quarterly publication of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio), sponsored by Ministério de Minas e Energia – Convênio nº 721606/2009 – and is distributed to federal government ministers, senators, deputies, federal legislators, mayors, state legislators, heads of regulatory agencies, state environmental and energy secretaries, scientists, businesspeople and specialists in energy and the environment. The opinions expressed in the interviews and articles are those of their authors and do not necessarily reflect the position of the editors. Partial and or total reproduction is permitted as long as the source is cited. Impresso por/Printed by Nywgraf Tiragem/Press run 5.000 exemplares/5,000 copies Editorial UM NOVO TEMPO A N ão há mais como fechar os olhos para o problema do lixo. Cada vez mais custosos para os governos municipais e estaduais, os detritos têm se tornado um problema de difícil solução com a saturação dos aterros e o aumento populacional. Pensar em uma solução adequada para o lixo não é mais uma questão negligenciável. É uma urgência. Nossa matéria de capa discute o problema do lixo no Brasil e mostra como ele pode ser usado para produzir energia, evitando que fique se acumulando em lixões e nos mares, onde gera problemas ambientais e despesas. O lixo pode ser queimado. E o calor gerado, usado em usinas termelétricas para produzir energia elétrica. Pode também ter seu gás (biogás) produzido nos aterros captado e usado para abastecer motores elétricos. Até o esgoto tratado em biodigestores tem capacidade de gerar energia. Só não dizemos que o céu é o limite porque há outro limite muito mais abaixo: o financeiro. Faltam iniciativas governamentais e parcerias público-privadas para viabilizar a construção de usinas de incineração e as pesquisas de outras tecnologias. Alguns projetos já existem, como é mostrado na reportagem, mas a estrada à frente ainda é longa. Pelo menos a tecnologia já temos disponível como aponta Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil, nosso entrevistado do mês. Conversamos com ele a respeito da parceria que existe entre São Paulo e Baviera desde 1997, sobre a vinda de empresas alemãs para o Brasil e sobre a situação da incineração de lixo aqui e lá. A ideia de abordar o tema do biogás também na seção “Meio ambiente” vem da importância do assunto: o lixo é uma questão urgente que precisa de solução no curto ou médio prazo. O mesmo vale para o acordo sobre emissões de gases causadores do efeito estufa, que foi nossa matéria de capa na última edição e agora retorna às nossas páginas em artigo do professor José Goldemberg. Ele explica que, ao mesmo tempo que se pode enxergar a Conferência de Copenhague como um fracasso, pode-se também verificar as tendências para os rumos das conversas sobre redução de emissões nos próximos anos: metas individuais. Cada país agora irá ditar, voluntariamente, quanto irá reduzir em suas emissões – e o mais provável é que a Conferência de Cancun só comprove isso. Outro assunto que volta à nossa revista é o Seminário de Bioenergia, série de eventos que se iniciou no ano passado e, agora, ganhou sua segunda edição. Nós, do Cenbio, trabalhamos muito para reunir um time de profissionais renomados para falar ao público e temos orgulho de saber que conseguimos. Mas o mais importante foi que o seminário esteve voltado para o futuro: falamos muito sobre novas tecnologias e novos tipos de biomassa. Muita gente ainda pensa que bioenergia se resume a etanol. O seminário ajudou a provar que isso está muito longe da verdade: existem iniciativas relacionadas a diesel de cana, gordura animal, bioquerosene e mais. Reunir todos esses profissionais em um mesmo lugar e vê-los falar sobre suas áreas de atuação é inspirador. Percebemos que, cada vez mais, a bioenergia e os bioderivados ganham espaço nas empresas e na mídia. A Braskem, maior petroquímica das Américas, por exemplo, está chamando a atenção do mundo com um plástico feito a partir de cana-de-açúcar, como se pode conferir em outra reportagem desta edição. Esta revista que você tem em mãos está, portanto, otimista. A bioenergia está em todo lugar e só não vê quem não quer. Nós, do Cenbio, que sempre lutamos para ver essa área crescer, agora observamos confiantes como o assunto ganha importância sozinho. É mais que um sinal dos tempos: é um amadurecimento. O mundo está mais velho e mais consciente, ainda que isso tenha acontecido a duras penas. Agora é torcer para que as iniciativas cresçam e deem certo. Boa leitura! Suani Teixeira Coelho Editora Coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo NEW ERA W e can no longer turn away from the garbage issue. Increasingly more costly to municipal and state governments, wastes have become an issue of difficult resolution due to the saturation of landfills and to the increase in population. Thinking of an adequate solution for garbage is no longer a negligible issue. It is urgent. Our cover article discusses the garbage problem in Brazil and shows how it can be used to produce power, preventing it from accumulating in dump sites and in the seas, where it generates environmental problems and expenses. Garbage can be burned and the heat generated can be used in thermopower plants to produce power. It can also have its gas (biogas) produced in landfills captured and used to fuel vehicles. Even sewage treated in biodigestors can generate power. We refrain from saying the sky is the limit because there is another limit far below: the financial one. There is a lack of governmental initiatives and publicprivate partnerships to allow the construction of incineration plants and researches into other technologies. Some projects already exist, as shown in the article, but there is still a long way to go. At least the technology is already available, as pointed out by Martin Langewellpott, a Bavaria State representative in Brazil, our interviewee this month. We talked to him about the partnership between São Paulo and Bavaria since 1997, on the incoming Bavarian companies in Brazil and about the garbage incineration situation here and there. The idea of approaching the biogas theme also in the “Environment” section derives from the importance of the subject: garbage is an urgent issue which needs a solution in the short and mid-term. The same goes for the agreement on greenhouse gases emissions, which was the cover article in our former edition and now returns to our pages in an article by Professor José Goldemberg. He explains that, whereas the Copenhagen Conference can be seen as a failure, the trends for the direction of the talks on emission reduction in the next years can also be verified: individual goals. Each country can now voluntarily state by how far it will reduce its emissions – and the Cancun Conference is very likely to prove this. Another issue that returns to our magazine is the Bioenergy Seminar, a series of events which started last year and has now had its second edition. We, from Cenbio, worked a lot to gather a renowned professional team to address the public and we are proud to say we succeeded. The most important, however, was that the Seminar concerned the future: much was said about new technologies and about new types of biomass. Many people still thinks that bioenergy is restricted to ethanol. The Seminar helped to prove that this is far from true: there are initiatives related to sugar cane and animal fat diesel, biokerosene and more. Gathering all these professionals at the same place and listening about the areas they act in is inspiring. We noticed that, more and more, bioenergy and bio-byproducts gain momentum in both companies and the media. Braskem, the largest petrochemical industry in the Americas, for example, is calling the world attention to a plastic made from sugar cane, as can be verified in another article in this issue. The magazine now in your hands is, therefore, optimistic. Bioenergy is everywhere for everyone to see. We, from Cenbio, who always struggled to see this area grow, now confidently observe how it gains momentum by itself. It is more than a sign of the times: it is maturation. The world is older and more aware, even if this has occurred at a high price. Now we have to keep our fingers crossed for these initiatives to grow and succeed. Enjoy your reading! Suani Teixeira Coelho Editor Coordinator of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) Institute of Electrotechnics and Energy Universidade de São Paulo 5 Capa NA ROTA DOS RESÍDUOS Eterno alvo dos ambientalistas, o lixo agora é matéria-prima para produção de energia elétrica e deixa de ser problema para virar solução Fotos: iStockphoto/Cenbio Aterros podem receber drenos por onde o biogás é captado e levado a uma usina de geração de energia 6 ixo. Um dos maiores vilões da saúde pública tornou-se, também, um problema grave de urbanização e logística. Isso porque não há mais onde colocá-lo: com o aumento da população e do poder aquisitivo dos brasileiros, o que se vê é maior descarte de resíduos inorgânicos demorando mais tempo para se decompor. Produzimos mais lixo do que a natureza consegue absorver, situação que, em algum momento, atingirá um limite. Segundo dados levantados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil gera, por dia, 182.728 toneladas (t) de resíduos sólidos urbanos. Desse total, 21.644 t (12%) não são sequer coletadas, sendo despejadas por civis em áreas abertas ou em rios, contribuindo para enchentes e outros problemas. Cada brasileiro gera por dia, sozinho, 1,152 kg de lixo. Esse número não é um mau indicador se comparado à média dos habitantes de países da União Europeia, que gera 1,2 kg ao dia. O problema é que, nos grandes centros do Brasil, a média é muito maior. Uma pessoa de Brasília, por exemplo, produz 1,698 kg de resíduos por dia, enquanto uma do Rio de Janeiro, 1,617 kg, e uma de São Paulo, 1,259 kg. São Paulo, inclusive, é um caso emblemático. Apertados por leis ambientais que visam a acabar com o descarte irresponsável, os municípios do Estado começaram a gastar mais com seu lixo. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) acirrou a fiscalização em todo o território paulista e passou a interditar lixões e aterros irregulares e a obrigar as prefeituras a assinar Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) comprometendo-se a realizar um descarte correto. Olhando pelo lado ambiental, pode-se concluir que deu bastante certo: no início de 2007, o Estado contava com 143 lixões – hoje, só existem três em operação. Por outro lado, o cerco das leis ambientais foi acompanhado de um esgotamento natural do sistema de aterros. O Bandeirantes, destino importante do lixo paulistano, foi fechado em L Novembro/November 2010 Capa 2007 e o São João, que funcionou durante dezessete anos e acumulou um total de 28 milhões de t de lixo, parou de receber resíduos neste ano. O resultado: não temos mais onde colocar nosso lixo. Sem opções, as prefeituras passaram a exportar seus resíduos. Araras, por exemplo, envia o lixo para um aterro particular, em Paulínia, a 120 km de distância. Já os resíduos de Itanhaém, no litoral Sul, viajam de caminhão serra acima, pagam pedágio e são despejados em um aterro em Itaquaquecetuba. A capital também exporta seus resíduos para outras cidades do Estado, como Guarulhos e Caieiras. Toda essa logística, é claro, custa caro: por ano, a cidade de São Paulo gasta R$ 900 milhões com o lixo, boa parte em transporte. Com o problema crescendo em níveis preocupantes, surge a pergunta: o que podemos fazer com esse lixo? A resposta: transformá-lo em bioenergia. A ENERGIA QUE VEM DO GÁS Existem duas formas de aproveitar a energia gerada pelo lixo. A primeira é queimá-lo e transformar essa energia térmica em energia elétrica por meio de turbinas movidas a vapor de água (veja quadro na pág. 12). A segunda e, até o momento, a mais popular forma é aterrar o lixo normalmente e instalar em toda a extensão do aterro um sistema que capture e transporte o biogás gerado naturalmente pelos detritos. “O metano representa cerca de 50% de todo o biogás gerado no aterro, que é composto também por, aproximadamente, 40% de gás carbônico, 3% de oxigênio e o restante de nitrogênio”, afirma Fernando Souza Nazareth de Freitas, coordenador operacional da Essencis Soluções Ambientais. Por ter essa composição, esse gás pode ser armazenado e usado em motores, substituindo o gás natural ou, então, utilizado para abastecer motores ciclo Otto adaptados, que produzem a energia elétrica e a armazenam em geradores. É possível, também, simplesmente queimar o gás, o que acontece em queimadores chamados de flares. Qualquer que seja o destino escolhido para o gás, o fato de o aterro impedir que ele seja lançado na atmosfera gera créditos de carbono, que podem ser negociados com a comunidade internacional. Mas instalar um sistema de captação do biogás não é fácil. “A primeira providência é a instalação de drenos verticais que permitam a extração do biogás e o escoamento do chorume”, afirma João Wagner Silva Alves, assessor da presidência da Companhia Ambiental do Com saturação dos aterros, o encaminhamento do lixo se tornou um problema para municípios de São Paulo RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU): UM PANORAMA 57 milhões de t de resíduos sólidos urbanos foram produzidos no Brasil em 2009 7 milhões desses resíduos deixaram de ser coletados 6,6% foi o aumento na geração per capita de RSU em relação a 2008 1% foi o aumento real na quantidade de RSU descartados 53% é a participação do Sudeste no total de lixo coletado, a maior entre as regiões 6% é a participação do Norte, a menor entre as regiões 43% de todo o lixo coletado em 2009 teve destinação inadequada 43,4% é a porcentagem de municípios brasileiros que não possuem nenhuma iniciativa de coleta seletiva 19,3% de todo o lixo coletado ainda vai para lixões (56,8% vão para aterros sanitários e 23,9% para aterros controlados) 1.688 lixões ainda existem no Brasil, contra 3.877 aterros Fonte: Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, Abrelpe, dados referentes a 2009 7 Capa Estado de São Paulo (Cetesb). Segundo ele, a instalação dos drenos deve obedecer a um espaçamento de cerca de 30 m de raio. “Externamente, à medida que a disposição e a cobertura dos resíduos avançam no aterro, tubulações de polietileno de alta densidade [PEAD] são interligadas nos drenos verticais internos que percorrem toda a massa de resíduo”, completa Fernando Freitas. Essas tubulações são conectadas a sopradores que realizam a sucção contínua do biogás, 24 horas por dia. Além dos custos de instalação dessa tubulação, que precisa ser ampliada conforme o aterro avança, também há o custo de manutenção da rede já instalada, que está sujeita a danos causados por agentes externos. O BIOGÁS NO BRASIL Aterros Bandeirantes e São João já possuem usinas termelétricas à base de seu biogás natural 8 A geração de energia elétrica por meio de captação de biogás já existe no Brasil. Inaugurada em 2004, a usina termelétrica do aterro Bandeirantes, em São Paulo, foi a primeira de geração de energia elétrica a gás metano a ser instalada no País, com capacidade para gerar 175 mil MW por ano, utilizando unidades geradoras. Ela foi totalmente financiada pelo Unibanco (hoje fundido ao Banco Itaú) e pela Biogas Energia Ambiental S.A. A Eletropaulo também teve participação, ficando responsável pela constru- ção de uma estação de chaveamento para transferir a energia elétrica para a rede convencional. Segundo estimativas do governo, a usina impedirá que cerca de 8 milhões de t de gás carbônico equivalente sejam emitidas até 2012. Já a usina termelétrica do aterro São João, também em São Paulo, foi inaugurada em 2008 com capacidade para gerar 200 mil MW por ano, o equivalente ao consumo de uma cidade de 400 mil habitantes, por meio de dezesseis unidades geradoras. Ela impede que 800 mil t de gás carbônico equivalente sejam emitidas por ano. A Biogas investiu cerca de US$ 30 milhões no Aterro Bandeirantes e cerca de US$ 50 milhões no São João. Os créditos de carbono já foram negociados em dois leilões, em 2007 e 2008, gerando R$ 71 milhões para a prefeitura, responsável pela venda, que aplicou os recursos em projetos nos arredores dos aterros. Está prevista para o final de 2010 a conclusão da Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), instalação que será explorada pela Gás Verde S.A. Quando estiver com toda a infraestrutura pronta, a usina irá captar cerca de 200 mil m3 de biogás diariamente. Ela será, além de o maior projeto brasileiro de redução de gases de efeito estufa, também o maior do mundo na ca- Novembro/November 2010 Capa tegoria de aterros, com capacidade para obter US$10 milhões em Certificados de Emissão Reduzidas (CERs) nos próximos quinze anos. A Petrobras tem contrato assinado para comprar o gás e usá-lo como fonte de energia na Refinaria de Duque de Caxias. O próprio Cenbio possui um projeto de obtenção de energia a partir do lixo. Seu nome é Aproveitamento do biogás proveniente do tratamento de resíduos sólidos e urbanos para geração de energia elétrica e iluminação a gás. Por meio dele, entrou em operação, em 2009, no Centro de Tratamento de Resíduos de Caieiras, em São Paulo, um motor ciclo Otto com potência de 200 kW, de tecnologia nacional, que transforma biogás em energia elétrica. Apenas 2% do biogás captado são enviados para o motor, que é de pequeno porte – o resto é queimado em flare. A energia disponível pela vazão de metano no CTR Caieiras é de, aproximadamente, 340 MW por hora diariamente. RESÍDUOS RURAIS: UM NOVO MERCADO Em fazendas e outros ambientes de atividade agrícola ou de pecuária, também existe grande produção de resíduos. “A diferença do resíduo rural para o urbano é que o rural é mais homogêneo e rico em matéria orgânica, enquanto o urbano tem a matéria orgânica misturada a uma série de outros componentes, principalmente tóxicos”, explica João Wagner. Por causa dessa característica do material, a produção de energia se dá por meio da utilização de biodigestores. Um biodigestor é um compartimento totalmente fechado, sem entrada de ar, para onde os resíduos são enviados e fermentam anaerobiamente, transformando a biomassa em biogás. O equipamento funciona com um material totalmente orgânico ou muito próximo disso, o que inviabiliza seu uso em aterros de centros urbanos, onde o lixo é apenas cerca de 50% orgânico. O biogás resultante é utilizado para gerar energia elétrica e o material restante pode ser usado como fertilizante, por ser rico em nitrogênio, potássio e fósforo. Após muitos anos de discussão, hoje, finalmente, o dono da fazenda pode tanto utilizar a energia elétrica na sua propriedade como vendê-la para uma distribuidora. Isso porque, no final de 2008, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou a geração de energia a partir do biogás e sua comercialização em todo o País. Pela Resolução Normativa Aneel 390/2009, de 18 de dezembro do ano passado, qualquer distribuidora de energia elé- trica pode comprar eletricidade produzida por biodigestores em propriedades privadas. Além da energia elétrica, existe também, é claro, a questão dos créditos de carbono. Estudo realizado pelo Cenbio, coordenado pela Drª. Suani Teixeira Coelho, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que havia no Brasil quase 140 milhões de bovinos confinados, de cujos dejetos se poderia gerar quase 3.400 MW por ano. Considerando o valor da t de carbono como US$ 10, seria possível arrecadar US$ 150 milhões ao ano em certificados apenas com os dejetos de bovinos, ou seja, sem contar suínos, equinos, caprinos etc. E existem iniciativas apontando para essa direção. O Projeto Alto Uruguai, por exemplo, resultado de parceria entre instituições públicas e privadas, busca disseminar a instalação de biodigestores nas fazendas de dezenove municípios de Santa Catarina e dez do Rio Grande do Sul. Em 2011, prevê-se que, só na Região Oeste de Santa Catarina, existirão mais de 2 mil miniusinas geradoras de energia elétrica a partir do uso dos dejetos suínos. Um dos maiores projetos do gênero teve início agora em novembro, também na Região Sul. A Hidrelétrica de Itaipu, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), começou a instalar biodigestores em Criação de suínos: dejetos produzidos pela pecuária podem gerar biogás após serem encaminhados para biodigestores 9 Capa Hoje, na China, 15 milhões de casas possuem esgoto ligado a biodigestores para aproveitamento doméstico do gás 41 propriedades rurais do Paraná. O biogás será transportado por gasodutos para a usina termelétrica transformar o biogás em energia elétrica para ser usada nas próprias fazendas. O excedente vai ser vendido para a Companhia Paranaense de Energia (Copel), também parceira da iniciativa. Recentemente, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveu, em parceria com o Cenbio, Usinazul e duas entidades internacionais, a Winrock International e a The Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership (Reeep), um software que, perante dados da fazenda, estabelece o tipo de biodigestor adequado. O software pede informações – como o número de animais, a quantidade de resíduos produzida num dado período e o consumo de energia elétrica da propriedade – e devolve informações como o tamanho adequado do biodigestor para aquela situação, quanto o ruralista gastaria no projeto de instalação e qual a taxa de retorno. “A ideia do programa desenvolvido pelo Cenbio e seus parceiros é, justamente, incentivar a implementação de sistemas de tratamento de dejetos provenientes de suínos, bovinos de corte e bovinos de leite, em pequenas e médias propriedades, e o aproveitamento energético do biogás”, afirma a engenheira química e pesquisadora do Cenbio, Vanessa Pecora Garcilasso. ESGOTO: ENERGIA COM BIODIGESTORES O esgoto é outra fonte de resíduos da qual já se explora a obtenção de energia. Nesse caso, o aproveitamento também é feito por biodigestão anaeróbia, em biodigestores. “O que muda é o tempo de retenção hidráulica, ou seja, o tempo que demora para o efluente ser tratado dentro dos biodigestores”, afirma Vanessa. Segundo ela, o esgoto tem um tempo de retenção hidráulica de oito a doze horas, em média, e os dejetos rurais, principalmente de suínos, porque possuem maior carga orgânica, demoram cerca de trinta dias para serem tratados. Outra diferença é que o esgoto pode ter uma separação inicial de metais, partes sólidas, óleos e outros contaminantes, para que seja encaminhada ao biodigestor apenas a parte líquida. Mais uma vez, o sistema se configura não só como uma iniciativa sustentável, mas também como um negócio em potencial. Nos EUA, a empresa Synagro fatura, sozinha, US$ 320 milhões ao ano só coletando lodo de esgoto para vender a fazendeiros do país como fertilizante (a empresa não reaproveita o gás para 10 energia). Hoje, 15 milhões de casas na China rural possuem o esgoto ligado a biodigestores para aproveitar os resíduos – é o país que mais transforma resíduos de esgoto em energia em todo o mundo. No Brasil, onde o próprio tratamento de esgoto é escasso, o reaproveitamento com biodigestores ainda engatinha. Em Estados como São Paulo e Mato Grosso, é possível encontrar projetos em áreas rurais, geralmente atrelados a preocupações ambientais. Em 2005, o Cenbio instalou, como modo de demonstrar a tecnologia, um gerador ciclo Otto convencional em paralelo com uma microturbina de 30 kW na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Sabesp em Barueri, São Paulo, operando com o biogás produzido. Nilton Seuaciuc, superintendente de Novos Negócios da Sabesp, afirma que as vantagens econômicas ainda são incertas. “Se utilizarmos [a energia produzida com o esgoto], temos de comprar a demanda para paradas, o que encarece a operação”, diz ele. “Se vendermos, podemos obter um bom preço no varejo”, acredita. Em Petrópolis (RJ), opera, talvez, a mais bemsucedida iniciativa do gênero no País. Cerca de trinta famílias em bairros populares receberam biodigestores em suas casas para que seu esgoto não fosse despejado em rios. Cada dez casas que tratam seus esgotos em biodigestores geram gás para que uma seja autossuficiente – medições feitas pela ONG Instituto Ambiental (OIA), que apoia o projeto, apontam que a redução da carga orgânica dos resíduos chega a 98%. Ainda segundo a ONG, o custo para a construção de um biodigestor capaz de atender até quatro casas varia de US$ 1.000 a 1.500. Vale lembrar que existem vários tipos de biodigestor. “Para o tratamento de esgoto, o mais utilizado atualmente é o RAFA [Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente]. Para resíduos rurais, o biodigestor rural”, afirma Vanessa. Em abril deste ano, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e da Universidade de Gênova, Itália, desenvolveram um biodigestor que produz, em média, 40% mais biogás a partir do esgoto que os comercialmente disponíveis. O equipamento também purifica o gás, fazendo-o gerar cerca de 50% mais energia e tornando-o mais parecido com o gás natural veicular (GNV). A meta é que o produto seja patenteado até abril do ano que vem. Novembro/November 2010 Capa POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Assim como outras iniciativas ligadas à bioenergia no Brasil, o aproveitamento de resíduos é carente de leis de incentivo. Mas isso começou a mudar em 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, em agosto, o projeto de lei que cria a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), após este ter sido aprovado em março pela Câmara e em julho pelo Senado. O projeto de lei existe há mais de vinte anos: foi apresentado na Câmara dos Deputados em 1989, mas só agora saiu da casa. Ele estabelece a “responsabilidade compartilhada” entre produtores, consumidores e governo no gerenciamento e no manejo dos resíduos sólidos. Pela lei, fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores passam a ser obrigados a criar mecanismos para recolher as embalagens após o uso. A medida vale para os setores de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, eletroeletrônicos e para todos os tipos de lâmpada. Os consumidores, por sua vez, ficam com a responsabilidade de acondicionar de forma adequada o lixo para a coleta, inclusive fazendo a separação onde houver coleta seletiva. Eles também ficam proibidos de descartar resíduos sólidos em praias, no mar, em rios e em lagos. Os governos estaduais e municipais ficam proibidos de criar lixões. Eles poderão construir apenas aterros sanitários, onde só poderão ser depositados resíduos que não possam ser reaproveitados ou compostados. Todas as esferas do governo ficam obrigadas a elaborar planos para tratar resíduos sólidos, estabelecendo metas e programas de reciclagem. Os municípios terão até 2014 para fazer um plano de manejo dos resíduos sólidos em conformidade com as novas diretrizes. Essa é também a data limite para a erradicação de lixões. Para completar, a PNRS ainda incentiva o trabalho dos catadores, o que foi recebido como uma vitória pela categoria. Pelo projeto, o poder público deverá fomentar atividades de cooperativas e associações de catadores de resíduos recicláveis e entidades de reciclagem, por meio de linhas de financiamento. Outro ponto importante da PNRS é fazer a distinção entre resíduo e rejeito. O primeiro é o lixo que ainda pode ser reaproveitado ou reciclado; e o segundo é o lixo que já não é mais passível de reaproveitamento. O projeto não contempla, porém, os dejetos animais da zona rural, que são caracterizados como “efluentes”. Para Vanessa, falta uma legislação específica destinada aos efluentes líquidos, na qual se en- quadrariam o esgoto, vinhaça e dejetos animais, entre outros. Apenas um ponto criou polêmica entre a opinião pública. Originalmente, a proposta da PNRS previa que o aproveitamento energético dos resíduos somente seria permitido depois que todos os recursos recicláveis fossem separados, ou se não houvesse viabilidade técnica para a reciclagem. Esse trecho foi retirado na passagem do texto pelo Senado, o que gerou críticas de ambientalistas por supostamente desincentivar a reciclagem e abrir espaço excessivo para a incineração. Para Fernando Freitas, a PNRS traz duas grandes vantagens. A primeira é em relação ao aterro, que passa a receber mais resíduos biodegradáveis, fazendo com que tenha uma maior geração de gás para a produção de energia. A outra é em relação aos materiais recicláveis, que podem ser aproveitados de outras formas para a produção de energia. O coordenador operacional da Essencis também acredita que, por receberem menos materiais inorgânicos, os aterros podem ganhar um aumento na sua vida útil. Tiago Nascimento Silva, gerente de Produção da Biogas, acredita que a PNRS irá estimular as empresas a procurarem alternativas para coletar seus resíduos e dar a eles um destino final adequado. “As empresas que produzem álcool por meio de cana-de-açúcar hoje fazem a cogeração, que é a queima do bagaço em caldeiras para produção de vapor de processo e eletricidade”, exemplifica ele. Essa é a primeira lei do tipo com âmbito federal. O Estado de São Paulo já possuía, por exemplo, uma lei própria sobre o assunto, a 12.300/2006, embora ela não abrangesse re- Um motor ciclo Otto, como este, é abastecido com biogás e produz energia elétrica 11 Capa síduos rurais. Apesar de já ter caráter de lei e de já ter sido publicado no Diário Oficial, a PNRS ainda não foi regulamentado. O plano do governo era regulamentá-lo até novembro, mas o prazo não foi cumprido devido às eleições. Agora, todos esperam pela regulamentação: as empresas de energia, as empresas de coleta OPORTUNIDADE de lixo, os ambientalistas e a sociedade. Com o potencial triplo de diminuir a carga de lixo no ambiente, gerar energia elétrica e render créditos de carbono, o aproveitamento energético do lixo é um negócio que só tem a fazer bem para o País. Só é preciso que seja feito com responsabilidade. QUE SURGE DAS CINZAS Com a saturação dos aterros, queimar o lixo vem se tornando uma opção cada vez mais comentada no setor de manejo de resíduos. Além de ser uma maneira rápida de eliminar o material, ela também permite a obtenção de energia elétrica por meio da formação de vapor, que é usado para mover uma turbina. As usinas que realizam esse processo são, portanto, termelétricas e, no Brasil, são comumente chamadas de Usinas de Recuperação de Energia (UREs). No mundo inteiro, existem mais de seiscentas usinas desse tipo. Na Europa e no Japão, as prefeituras repassam os resíduos às empresas que fazem o processo e pagam a elas cerca de R$ 250, ou mais, por t de lixo. Os países da Comunidade Europeia, inclusive, já não consideram mais os aterros uma solução ambientalmente adequada e pretendem bani-los até 2020. A Alemanha proibiu a construção de aterros em 2005. A emissão de dioxinas e furanos, substâncias tóxicas e causadoras de câncer, era uma das maiores críticas às usinas de incineração, mas, com os avanços de tecnologia, o problema passou a ser contornado. Em 2003, a Agência de Proteção Ambiental (EPA), dos Estados Unidos, apresentou um estudo comparando as emissões de dioxinas pelos incineradores. Apesar de a quantidade tratada ter sido mantida (cerca de 30 milhões de t anuais), houve uma redução de 86,5% nas emissões de poluentes dos incineradores entre 1987 e 2002. “Ninguém é ameaçado pelas emissões de toxinas, dioxinas ou furanos porque os filtros são extremamente efetivos”, afirma Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil (confira entrevista completa na pág.37). “Esses argumentos dominavam a discussão política vinte anos atrás. As usinas modernas são seguras”, diz ele. A Baviera possui um dos projetos de incineração mais conhecidos do mundo e conta atualmente com dezessete usinas do tipo – recebem mais de 90% do lixo da região. A maior usina de incineração de resíduos do planeta fica em Amsterdã, na Holanda, processando 4.500 t de lixo por dia, gerando 1 milhão de MW e abastecendo 100% da iluminação pública da cidade. Além disso, os resíduos incinerados viram matéria-prima para a pavimentação de vias públicas e calçadas e para utilização na construção civil. O Brasil assinou, durante a Convenção de Estocolmo, em 2001, um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) que aponta a incineração de resíduos como uma das principais fontes geradoras de poluentes orgânicos. O acordo recomenda que o uso de incineradores seja eliminado progressivamente. Por esse motivo e também, principalmente, por falta de incentivo financeiro, a incineração no Brasil ainda é latente, caracterizando-se pela existência de grande quantidade de incineradores de porte muito pequeno, instalados em hospitais, casas de saúde e congêneres espalhados pelo País. Mas o novo panorama mundial já começa a mudar as coisas por aqui. Em 2010, o governo do Distrito Federal anunciou o estudo de uma parceria público-privada para desenvolver um projeto semelhante ao da capital holandesa, apoiado pela construção do primeiro aterro sanitário de Brasília. O projeto pode sair do papel em 2011. Em Recife, o consórcio Recife Energia anunciou este ano uma usina de incineração capaz de processar 1.350 t de lixo por dia e produzir 27 MW. Já a cidade de São Bernardo do Campo (SP) possui um projeto que deverá erguer a primeira usina de incineração de lixo doméstico do Estado. Ela terá capacidade para receber mil t de resíduos domésticos por dia e a energia gerada, de 30 MW/hora, será suficiente para abastecer diariamente uma cidade de 300 mil habitantes. A obra, que ainda não foi licitada, inclui um setor de separação dos resíduos orgânicos e recicláveis e está orçada em R$ 220 milhões. A expectativa da prefeitura da cidade é inaugurar a usina até 2012. Legalmente, as práticas de incineração são normatizadas no Brasil por meio das resoluções Conama nº 316 e nº 358, que dispõem, respectivamente, sobre os procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos e sua aplicação para resíduos da saúde. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a NBR 11157, que apresenta definições e padrões para análise de desempenho do incinerador, padrão de emissão, análise do resíduo etc. “O lixo brasileiro tem poder calorífico na faixa entre 1.400 e 1.900 kcal/kg, podendo ocorrer distorções, tanto para cima como para baixo dessa faixa, devido ao tipo de ocupação da área de geração, à época do ano e às classes sociais predominantes no roteiro de coleta, entre outros”, afirma Milton Norio Sogabe, engenheiro da Área de Qualidade do Ar da Cetesb. Segundo estimativa da Pöyry, empresa finlandesa especializada na instalação de termelétricas a partir de lixo, o Brasil tem capacidade para gerar 300 MW de energia com a incineração de 12 mil t de lixo ao dia. Uma usina com capacidade de queimar mil t de lixo por dia custa, aproximadamente, R$ 250 milhões, ligeiramente menos do que a construção de um aterro com a mesma capacidade. 12 Novembro/November 2010 Cover ON THE WASTE ROUTE An eternal target for environmentalists, garbage is now a feedstock for power production and ceases to be a problem to become a solution Photos: iStockphoto/Cenbio G arbage, one of the major villains for public health, has also become a serious problem for urbanization and logistics. The reason is that there is nowhere else to dump it: with the Brazilian growth in population and in purchase power, a greater disposal of inorganic waste is observed, which takes longer to decompose. More garbage is produced than nature is able to absorb, a situation which, at some point, will reach the edge. According to data surveyed by the Brazilian Association of Public Cleaning and Special Waste Companies (Abrelpe), Brazil generates 182,728 tons (t) of solid urban waste per day. Of this total, 21,644 t (12%) are not even collected, being dumped by civilians in open areas or into rivers, contributing to floods and to other problems. Each Brazilian alone generates 1.152 kg of garbage per day. This number is not a bad indicator if compared to the average inhabitant in European Union countries, who generates 1.2 kg a day. The problem is that, in large urban centers in Brazil, the average is far greater. An individual in Brasília, for example, produces 1.698 kg of waste per day, whereas one in Rio de Janeiro, 1.617 kg, and one in São Paulo, 1.259 kg. São Paulo, by the way, is an emblematic case. Pressed by environmental laws aiming to halt irresponsible dumping, the State municipalities began to spend more with their garbage. The State of São Paulo Environmental Sanitation Technology Company (Cetesb) made inspections stricter all over the State of São Paulo territory and started to close irregular dump sites and landfills and to force municipal governments to sign Conduct Adjustment Terms (TACs) which made them commit to carry out correct disposal. From the environmental viewpoint, it can be concluded that this worked very well: in the early 2007, the State counted on 143 dump sites – today, there are only three operating. Conversely, the environmental laws siege was accompanied by a natural exhaustion of Landfills can receive pipelines through which the biogas is captured and pumped to a thermopower plant 13 Cover With the saturation of landfills, the destination of garbage became a problem for municipalities in São Paulo URBAN SOLID WASTE (USW): A SCENARIO 57 million t of urban solid waste were produced in Brazil in 2009 7 million t of this waste failed to be collected 6.6% was the increase in per USW capita generation in relation to 2008 1% was the real increase in the amount of USW discarded 53% is the Southeast participation in the total garbage collected, the largest among the Brazilian regions 6% is the North participation, the smaller among the regions 43% of the whole garbage collected in 2009 had inadequate destination 43.4% is the percentage of Brazilian municipalities not counting on any selective collection initiative 19.3% of the whole garbage collected still goes to dump sites (56.8% go to sanitary landfills and 23.9% to controlled landfills) 1,688 dump sites still exist in Brazil, against 3,877 landfills the landfill system. Bandeirantes, an important destination of the São Paulo garbage, was closed in 2007 and São João, which worked for seventeen years and received a total 28 million t of garbage, stopped receiving waste this year. The result is that we have nowhere else to dump our garbage. With no options, the municipal governments started to export their waste. Araras, for example, sends its garbage to a private landfill in Paulínia, 120 km away. On the South coast, Itanhaém sends its waste on trucks uphill, pays toll and the waste is dumped in a landfill in Itaquaquecetuba. The capital also exports its waste to other cities in the State, such as Guarulhos and Caieiras. All this logistics is surely costly: São Paulo City spends R$ 900 millions a year on garbage, a large share going into transportation. With the problem growing at alarming levels, a question emerges: what can we do with this garbage? The answer is to transform it into bioenergy. GAS-DERIVED POWER There are two ways of taking advantage of the power generated by garbage. The first is to burn it and to transform this thermal power into electric power by means of turbines moved by water steam (see box in the page 19). The second and, so far, the most popular way is to bury the garbage normally and to install, all along the landfill, a system that captures and conveys the biogas naturally generated by the waste. “Methane represents about 50% of all the biogas generated in the landfill, which is also composed of approximately 40% of carbon dioxide, 3% of oxygen and the rest of nitrogen”, states Fernando Souza Nazareth de Freitas, operational coordinator of Essencis Soluções Ambientais. For having this composition, this gas may be stored and used in engines, replacing natural gas, or else used to fuel adapted Otto cycle engines, which produce electric power and store it in generators. It is also possible to simply burn the gas, which happens in equipment called flares. Whatever is the destination chosen for the gas, the fact that the landfill prevents it from going into the atmosphere generates carbon credits that may be traded with the international community. Yet installing a biogas capturing system is not an easy task. “The first step is to install vertical drains that allow extracting biogas and the slurry outflow”, states João Wagner Silva Source: Solid Waste Scenario in Brazil, Abrelpe, data concerning 2009 14 Novembro/November 2010 Cover Alves, Board advisor of the São Paulo Environmental Sanitation Technology Company (Cetesb). According to him, the drain installation has to comply with a spacing of about 30 m of radius. “Externally, as the disposition and coverage of the waste advance in the landfill, high density polyethylene pipes are interlinked in the internal vertical drains running along the whole waste mass”, completes Fernando Freitas. These pipes are connected to blowers which conduct the continuous suction of biogas, 24 hours a day. Besides the installation costs of this piping, which has to be expanded as the landfill advances, there is also the maintenance cost of the network already installed, which is subject to damages caused by external agents. BIOGAS IN BRAZIL Power generation through biogas capture already exists in Brazil. Starting its operations in 2004, the Bandeirantes landfill thermopower plant, in São Paulo, was the first methanederived power generator to be installed in Brazil, with capacity to generate 175 thousand MW a year, using generating units. It was fully financed by Unibanco (now merged with Banco Itau) and by Biogas Energia Ambiental S.A. Eletropaulo also participated, accounting for the construction of a switching station to transfer the power to the conventional grid. According to governmental estimations, the plant will prevent about 8 million t of carbon dioxide equivalent from being emitted until 2012. The São João landfill thermopower plant, also in São Paulo, started operating in 2008, with capacity to generate 200 thousand MW a year, the equivalent to the consumption of a city with 400 thousand inhabitants, by means of sixteen generating units. It prevents 800 thousand t of carbon dioxide equivalent a year from being emitted. Biogas invested about US$ 30 millions in the Bandeirantes Landfill and about US$ 50 millions in the São João one. The carbon credits were already traded in two auctions, in 2007 and 2008, generating R$ 71 millions for the municipal government, responsible for the trade, which invested the resources in projects in the landfills neighborhood. For the late 2010, the conclusion of the Biogas Plant of the Metropolitan Landfill from Jardim Gramacho, in Duque de Caxias (RJ), is planned; it will be exploited by Gás Verde S.A. When the whole of the infrastructure is ready, the plant will capture about 200 thousand m3 of biogas daily. Besides being the largest Brazilian greenhouse gas reduction project, it will also The Bandeirantes and São João landfills already possess biogas-based thermopower plants 15 Cover Swine breeding: waste generated by stockbreeding can generate biogas after being sent to biodigestors be the largest one in the world in the landfill category, with capacity to obtain US$ 10 millions in Reduced Emissions Certificates (RECs) in the next fifteen years. Petrobras has a contract signed to buy the biogas and use it as a source of energy in the Duque de Caxias Refinery. Cenbio itself counts on a project for obtaining power from garbage. Its name is Use of the biogas derived from solid and urban waste for generating power and lighting from gas. By the project, in 2009, in the Caieiras Waste Treatment Center, in São Paulo, a 200 kWpowered Otto cycle engine started operating; its technology is Brazilian, and it transforms biogas into power. Only 2% of the biogas captured are sent to the engine, which is small – the rest is burned in flares. The energy available from the methane outflow in the Caieiras WTC is of approximately 340 MW per hour daily. RURAL WASTE: A NEW MARKET In farms and other agricultural or livestock breeding activity environments, there is also a significant production of waste. “The difference between rural and urban waste is that the rural one is more homogeneous and rich in organic matter, whereas the urban one has the organic matter mixed with a series of other components, 16 mainly toxic ones”, explains João Wagner. Due to this characteristic of the material, power production occurs by the use of biodigestors. A biodigestor is a fully closed compartment, with no air inflow, to which the waste is sent and anaerobically fermented, transforming biomass into biogas. The equipment works with fully organic matter or very close to that, which prevents its use in urban center landfills, where the garbage is only about 50% organic. The resulting biogas is used to generate power and the remaining material can be used as fertilizer for being rich in nitrogen, potassium and phosphorous. After many years of discussion, today, finally, the farm owner can both use the power in the rural estate and sell it to a distributor. This is possible because, in the late 2008, the National Power Agency (Aneel) regulated power generation from biogas and its trade all over Brazil. According to the Aneel Normative Resolution 390/2009, from December 18, 2009, any power distributor can purchase power produced by biodigestors in private estates. Besides power, of course, there is the credit carbon issue, as well. A study conducted by the Cenbio, coordinated by Dr. Suani Teixeira Coelho, based on data from the Brazilian Institute for Geography and Statistics (IBGE), revealed that there were almost 140 million bovines confined in Brazil, from the manure of which almost 3400 MW a year could be generated. Considering the value of the carbon t to be US$ 10, it would be possible to collect US$ 150 millions a year in certificates from bovine manure alone, that is, without counting manure from swine, equine, goat, etc. There are initiatives pointing in that direction. The Alto Uruguay Project, for example, derived from a partnership between public and private institutions, seeks to disseminate the installation of biodigestors in farms of nineteen Santa Catarina municipalities and of ten ones in Rio Grande do Sul. In 2011, in the West region of Santa Catarina alone, more than 2 thousand miniplants generating power from the use of swine manure are expected to exist. One of the largest projects of the kind started in November this year, also in the South Region. The Itaipu hydropower plant, in a partnership with the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa), started to install biodigestors in 41 rural estates in Paraná. The biogas will be conveyed by gas pipelines for the thermopower plant to transform the biogas Novembro/November 2010 Cover into power to be used by the farms producing it. The surplus will be sold to the Paraná Power Company (Copel), also a partner in the initiative. Recently, The State University of Campinas (Unicamp), in a partnership with Cenbio, Usinazul and two international entities, Winrock International and the Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership (Reeep), developed a software that, having the farm data, establishes the adequate biodigestor type. The software asks for information – such as the number of animals, the amount of manure produced in a given period and the power consumption of the estate – and returns information such as the adequate size of biodigestor for that situation, how much the farmer would spend in that installation project and the return rate. “The idea of the program developed by Cenbio and its partners is exactly to stimulate the implementation of systems for treating swine, meat cattle and dairy cattlederived manure, in small and medium-sized estates, and the energy use of biogas”, states the Cenbio chemical engineer and researcher, Vanessa Pecora Garcilasso. SEWAGE: POWER FROM BIODIGESTORS Sewage is another waste source from which power production is already exploited. In this case, the use is also made by anaerobic biodigestion, in biodigestors. “What changes is the time for hydraulic retention, that is, the time it takes for the effluent to be treated within the biodigestors”, states Vanessa. According to her, the sewage has a hydraulic retention time of eight to twelve hours, on average, and rural waste, mainly from swine, as they have greater organic load, take about thirty days to be treated. Another difference is that sewage may have an initial separation of metals, solid parts, oils and other contaminants, so that only the liquid share is sent to the biodigestor. Once again, the system is configured not only as a sustainable initiative, but also as a potential business. In the USA, the Synagro company alone earns US$ 320 millions a year simply by collecting sewage sludge to sell to US farmers as a fertilizer (the company does not use the gas for power). Today, 15 million houses in rural China count on sewage connected to biodigestors to use their waste – it is the country that mostly transforms sewage waste into power all over the world. In Brazil, where even sewage treatment is scarce, the reuse by biodigestors is still incipient. In States such as São Paulo and Mato Grosso, it is possible to find projects in rural areas, usually linked to environmental concerns. In 2005, Cenbio installed, as a way of presenting the technology, a conventional Otto cycle generator in parallel with a 30 kW microturbine at the Sabesp Sewage Treatment Station (ETE) in Barueri, São Paulo, operating with the biogas produced. Nilton Seuaciuc, Sabesp New Businesses superintendent, claims that the economic advantages are still uncertain. “If we use [the energy produced from the sewage], we have to buy the demand for pauses, which makes the operation expensive”, he says. “If we sell, we can obtain a good retail price”, he believes. Maybe the most successful initiative of the kind in Brazil operates in Petrópolis (RJ). About thirty families in popular neighborhoods received biodigestors in their homes so that their sewage was not dumped into rivers. Every ten houses treating their sewage in biodigestors generate gas for one to be self-sufficient – measurements made by the NGO Environmental Institute (OIA), which supports the project, point out that the reduction in the waste organic load reaches 98%. Also according to the NGO, the cost for building a biodigestor capable of serving up to four houses varies from US$1,000 to US$1,500. It is worth noting that there are several types of biodigestors. “For sewage treatment, the most used today is the RAFA [Upward Flow Anaerobic Reactor]. For rural waste, the rural biodigestor”, states Vanessa. In April this year, researchers from the Faculty of Pharmaceutical Sciences (FCF) - USP and from Genoa University, Italy, developed a biodigestor which produces, on average, 40% more biogas from sewage than the commercially available ones. The equipment also purifies gas, making it generate about 50% more energy and making it more similar to vehicular natural gas (VNG). The goal is to have the product patented by April next year. China currently has 15 million houses with their sewers directly connected to biodigestors for domestic use of the gas NATIONAL SOLID WASTE POLICY As for other initiatives connected to bioenergy in Brazil, the use of wastes lacks incentive laws. Yet this started to change in 2010. President Luiz Inácio Lula da Silva signed a bill establishing the National Solid Waste Policy (PNRS) in August, after its approval by the House of Representatives in March and by the 17 17 Cover A fuel-adapted Otto cycle engine, like this one, is supplied with biogas and produces electric energy 18 Senate in July. The bill exists since over twenty years ago: it was presented to the House of Representatives in 1989, but only recently it did leave the House. It establishes “shared responsibility” among producers, consumers and government for managing and handling solid waste. According to the Law, manufacturers, importers, distributors and vendors now have to create mechanisms to collect the containers after their use. The measure is valid for agrotoxic, batteries, tires, lubricating oils, electro-electronic sectors and for all sorts of lamp bulbs. Consumers, in turn, are incumbent with adequately packing the garbage for collection, which includes separation wherever there is selective collection. They are also forbidden from disposing solid waste in beaches, into seas, into rivers and into lakes. The state and municipal governments are forbidden from creating dumping sites. They can only build landfills, where only waste that cannot be reused or composted can be deposited. All the governmental spheres are obliged to elaborate plans to treat solid waste, establishing goals and recycling programs. The municipalities will have to make a plan for managing solid waste in conformity with the new directives by 2014. This is also the deadline for phasing out dump sites. To complete, the PNRS also stimulates collectors’ work, which was welcome as a victory by the category. According to the project, the public sector will have to stimulate activities of recyclable waste collectors’ cooperatives and associations and of recycling entities, by means of financing lines. Another important PNRS point is to distinguish between waste and refuse. The first is the garbage that can still be reused or recycled; and the second is the garbage that is no longer fit for reuse. The project, however, does not contemplate animal manure from the rural area, which is characterized as “effluents”. For Vanessa, a specific legislation concerning liquid effluents is lacking, in which sewage, vinasse and animal manure, among others, would fit. Only one point caused heated discussion in the public opinion. Originally, the PNRS proposal provided that the energy use of waste could only be allowed after all the recyclable resources were separated, or if there were not technical feasibility for recycling. This section was removed from the text when it was passed in the Senate, which generated criticism by environmentalists for supposedly discouraging recycling and for opening excessive space for incineration. For Fernando Freitas, the PNRS provides two great advantages. The first concerns landfills, which start to receive more biodegradable waste, making them have greater gas generation for power production. The other concerns recyclable materials, which may be used in other ways for power generation. The Essencis operational coordinator also believes that, for receiving less inorganic material, the landfills may gain an increase in their service lives. Tiago Nascimento Silva, Biogas production manager, believes that the PNRS will encourage companies to seek alternatives to collect their waste and to give them an adequate end destination. “The companies that produce sugar cane ethanol today make cogeneration, which is burning the bagasse in boilers for producing process steam and electricity”, he exemplifies. This is the first Law of the kind with federal ambit. The State of São Paulo, for example, already counted on a Law on the subject, the 12.300/2006 one, although it did not include rural waste. Despite already having a character of Law and of having already been published in the Official Gazette, the PNRS has not yet been regulated. The government plan was to regulate it by November, but the deadline was not met due to the general elections. Everybody is now waiting for the regulation: power companies, garbage collection Novembro/November 2010 Cover companies, environmentalists and the society as a whole. With the triple potential of reducing the garbage load in the environment, generating power and yielding OPPORTUNITY carbon credits, the energy use of garbage is a business that can only do good to the country. It is only necessary for this to be responsibly carried out. EMERGING FROM ASHES With the saturation of landfills, burning garbage has become a more and more commented option in the waste management sector. Besides being a quick way of eliminating the material, it also allows obtaining power by means of steam formation, which is then used to move a turbine. The plants conducting this process are, therefore, thermopower ones and, in Brazil, they are usually called Power Recovery Plants (UREs). All over the world, there are over six hundred plants of this type. In Europe and in Japan, the municipal governments forward the waste to the companies that conduct the process and pay them about R$ 250, or more, per ton of garbage. The European Community countries, by the way, no longer consider landfills an environmentally adequate solution and intend to ban them by 2020. Germany forbade the construction of landfills in 2005. The emission of dioxins and furans, toxic substances causing cancer, used to be one of the major criticisms to incineration plants but, with technological advancements, the problem started to be controlled. In 2003, the USA Environmental Protection Agency (EPA) presented a study comparing dioxin emissions by the incinerators. Although the amount treated has been kept constant (about 30 million t a year), there was an 86.5% reduction of pollutant emissions by the incinerators between 1987 and 2002. “No one else is threatened by the emission of toxins, dioxins or furans because the filters are extremely effective”, claims Martin Langewellpott, representative of the State of Bavaria in Brazil (check full interview on page 41). “These arguments prevailed in the political discussion twenty years ago. Modern plants are safe”, he says. Bavaria has one of the best known incineration projects in the world and now counts on seventeen plants of the kind – receiving over 90% of the region garbage. The largest waste incineration plant in the planet is located in Amsterdam, in the Netherlands, processing 4,500 t of garbage per day, generating 1 million MW and supplying 100% of the city public lighting. Furthermore, the incinerated waste is turned into feedstock for paving public roads and sidewalks and for being used in civil construction. During the Stockholm Conference in 2001, Brazil signed a United Nations (UN) treaty which classifies waste incineration as one of the major sources for generating organic pollutants. The agreement recommends that the use of incinerators is gradually phased out. For this reason and also mainly for lack of financial incentives, incineration in Brazil is still latent, characterized by the existence of a large number of very small-sized incinerators, installed in hospitals, clinics and similar entities scattered in Brazil. However, the new world scenario has already started to change things here. In 2010, the Federal District government announced the study of a public-private partnership for developing a project similar to that of the Netherlands capital, supported by the construction of the first landfill in Brasília. The project may be started in 2011. In Recife this year, the Recife Energia consortium announced an incineration plant capable of processing 1,350 t of garbage per day and of producing 27 MW. The city of São Bernardo do Campo (SP) counts on a project to build the first domestic garbage incineration plant in the State. It will have capacity to receive thousands of t of domestic waste per day and the power generated, of 30 MW/hour, will be enough to daily supply a 300 thousand inhabitants city. The work, still not bidden, includes an organic waste and recyclable separation sector and is estimated to cost R$ 220 millions. The city government expects the plant to start operating by 2012. Legally, the incineration practices are standardized in Brazil by Conama resolutions n. 316 and n. 358, which respectively provide on the procedures and criteria for operating waste thermal treatment systems and their application for health waste. The Brazilian Association of Technical Standards (ABNT) has NBR 11157, which presents definitions and standards for analyzing incinerator performance, emission standard, waste analysis, etc. “The Brazilian garbage has calorific power ranging between 1,400 and 1,900 kcal/kg, with possible distortions, both above or below this range, due to the type of occupation of the generation area, to the season of the year and to the predominant social classes along the collection route, among others”, states Milton Norio Sogabe, Cetesb Air Quality Area engineer. According to the estimation made by Pöyry, a Finnish company specializing in installing garbage thermopower plants, Brazil has capacity to generate 300 MW of power with the incineration of 12 thousand t of garbage a day. A plant with capacity for burning a thousand t of garbage per day costs about R$ 250 millions, slightly less than building a landfill with the same capacity. 19 19 Projetos do Cenbio BIOENERGIA: NOVOS RUMOS EM DEBATE 2º Seminário de Bioenergia reúne profissionais do setor e discute novas oportunidades Fotos: Meryellen Duarte lguns dos nomes mais importantes da bioenergia no Brasil se reuniram no dia 28 de setembro no Auditório Professor Dr. Paulo Ribeiro de Arruda, na Universidade de São Paulo, para o 2º Seminário Bioenergia: Desafios e Oportunidades de Negócios, organizado pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) e patrocinado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Com catorze palestras e mais de 120 pessoas lotando o auditório, o evento se desenrolou trazendo novas informações e visões sobre o tema proposto. Foram abordados, entre outros tópicos, aspectos técnicos da produção do etanol, tecnologias recentes, combustíveis alternativos e perspectivas para o futuro. A O evento se constituiu de uma abertura com quatro palestras, dois painéis (um com quatro e outro com cinco palestras) e o encerramento com palestra de um representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Cada painel foi seguido de debates em que representantes do público puderam fazer perguntas aos palestrantes. Após a última palestra, Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Cenbio, tomou a palavra para agradecer a presença de todos e celebrar a realização de um fórum com discussões relevantes e pontuais sobre a questão energética do Brasil. Confira a seguir os resumos de cada palestra e conheça os principais pontos discutidos no seminário. Evento reuniu, mais uma vez, profissionais de diversas áreas ligadas à bioenergia para palestrar sobre novas tecnologias e desafios 21 Projetos do Cenbio Público assistiu atento às palestras. Evento incluiu um painel dedicado a novas tecnologias e outro a novos produtos A visão do IEE para os biocombustíveis Prof. Dr. Adnei Melges de Andrade, vice-diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Adnei abriu o evento contando a história do Cenbio e suas contribuições para o setor de bioenergia no Brasil. “O centro caminha hoje para quinze anos de existência e é uma das principais instituições de pesquisa de bioenergia do País”, afirmou durante a explanação. O palestrante fez questão de destacar o projeto que transforma óleo de cozinha em biodiesel e anunciou que, em breve, serão iniciadas pesquisas que permitirão estudar motores de explosão com biodiesel. “A visão do IEE hoje é de modificação de comportamento”, afirmou o professor. “Focar não só em energia elétrica, mas também em bioenergia.” 22 Novembro/November 2010 Projetos do Cenbio Política energética e bioenergia Dr. Roberto Meira Júnior, consultor técnico do Ministério de Minas e Energia O futuro foi o grande foco de Meira Júnior em sua exposição. “A missão da minha coordenação é prospectar oportunidades a fim de impulsionar a bioenergia”, afirmou ele no início. Em seguida, o palestrante falou dos princípios e objetivos do Ministério de Minas e Energia, entre eles a diversificação da matriz e o desenvolvimento de novas tecnologias de obtenção. Em seguida, o palestrante comentou que 90% das fontes de energia elétrica no Brasil são renováveis e que, segundo projeção da Resenha Energética 2010, a perspectiva é que caia a participação dos combustíveis fósseis e aumente o uso da biomassa até 2019 – dos 6,1 GW de hoje, a produção deverá pular para 16,6 GW em 2019. “O Brasil hoje está na vanguarda, quer seja da bioenergia, quer seja de outras fontes renováveis”, afirmou. Panorama mundial da bioenergia Prof. Dr. José Goldemberg, professor da USP Recebido com muitos aplausos, Goldemberg abriu sua palestra falando da produção mundial de petróleo, que hoje é de 12,8 bilhões de litros (L) por dia, e a de etanol, 67 bilhões de L por ano. “A situação no resto do mundo não é encorajadora”, disse ele. “No Brasil, o etanol já substitui metade da gasolina, mas, no resto do mundo, ele tem um longo caminho a trilhar”, afirmou. Segundo Goldemberg, é preciso triplicar a produção atual de etanol para atender a demanda prevista para 2020. “Acredito que as barreiras para o etanol brasileiro entrar nos Estados Unidos e Europa irão cair, está nas cartas”, brincou. Goldemberg também comentou que o Brasil poderia pular do atual índice de 8 milhões de ha cultivados para produção de biodiesel para 65 milhões, mas que existe a competição com a indústria de alimentos. “A produção de etanol no Brasil recebeu críticas lá de fora porque teria o efeito indireto de empurrar o gado para a Amazônia”, explicou o professor. “Houve um grande ruído feito por publicações no exterior. Porém, foram feitos estudos que desqualificaram essas informações porque se comprovou que o etanol está sendo plantado em pastos degradados”, disse Goldemberg ao encerrar sua explanação. O papel do Cenbio no cenário dos biocombustíveis Profa. Dra. Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Cenbio Suani prestou-se a apresentar o extenso trabalho do Cenbio em sua palestra. Em primeiro lugar, a dirigente falou sobre a participação do centro em projetos internacionais, como o Global Network on Energy for Sustainable Development (Gnesd), uma rede de conhecimento formada por países em desenvolvimento que traz linhas de pesquisa para acesso à energia e tecnologia para biocombustíveis. Também comentou a participação do Cenbio em organismos internacionais, como a International Renewable Energy Agency (Irena) e o Conselho de Energia e Mudança Climática (Agecc) da Organização das Nações Unidas. Em seguida, Suani falou sobre os atuais projetos em desenvolvimento do centro. Eles incluem estudos de etanol de segunda geração, levantamento georreferenciado de resíduos da cana, projeto de biogás na zona rural, desenvolvimento de software que o produtor rural pode usar para calcular as emissões do seu gado (já disponível no site do Cenbio) e um projeto de eficiência energética para a AES Eletropaulo, uma das distribuidoras de energia elétrica do Estado de São Paulo. Por fim, a coordenadora do Cenbio destacou os projetos já concluídos e mostrou como o centro está atuante na propagação de informação, atuando por meio de seu site, Twitter, Revista Brasileira de Bioenergia e Atlas de Bioenergia do Brasil. 23 Projetos do Cenbio Painel 1 – Bioetanol Perspectivas de novas tecnologias Mediador: Prof. Dr. Gilberto de Martino Jannuzzi, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade Estadual de Campinas Avanços do etanol de primeira geração Dr. Henrique Vianna de Amorim, presidente da Fermentec A descoberta de uma nova levedura foi o principal fato levantado por Amorim em sua palestra. A FT 858L, que deve estar disponível em 2011, economiza insumos e antibióticos, usa metade da água utilizada atualmente no processo, diminui a quantidade de vinhaça e o tempo de centrífuga pela metade. Segundo Amorim, a Fermentec estudou mais de quatrocentas linhagens de levedura até achar as quatro usadas atualmente. “Antes, não dava para saber se a levedura ficava na dorna. Levamos quinze anos para descobrir”, disse ele. “Hoje, com as leveduras selecionadas, na metade da safra você ainda tem 80% das leveduras nas dornas”, afirmou. Também explicou que, atualmente, a levedura PE-2 é a mais utilizada porque é a que se adapta melhor. “A FT 858L pode ser a filha da PE-2”, disse o palestrante. Tecnologias para produção de bioetanol Prof. Dr. Carlos Eduardo Vaz Rossell, diretor do programa industrial do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) Rossell começou sua palestra apresentando o CTBE. Falou dos projetos do laboratório e do novo prédio que deverá ganhar: até a segunda metade de 2011, ele estará mais estruturado para a execução dos experimentos. Em seguida, voltou sua atenção para o etanol. “Nós atingimos o melhor do álcool de primeira geração com facilidade porque não tínhamos competição externa. Com o de segunda, teremos, e a corrida não será tão fácil”, alertou. Rossell, então, apontou etapas críticas da tecnologia de hidrólise enzimática e ácida. Dentre elas, destacou como principal a etapa de pré-tratamento físico-químico do bagaço. Ao final, o professor chamou a atenção para duas novas tecnologias que podem ser consideradas avanços nessa jornada: o Processo Mascoma (um micro-organismo que realiza, simultaneamente, a hidrólise e a fermentação de pentoses e hexoses, não requerendo pré-tratamentos ou adição de enzimas) e a criação da biorrefinaria, que combina a produção de etanol com a de derivados da pentose. Barreiras para a produção de etanol de segunda geração Profa. Dra. Elba Pinto da Silva Bon, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) “O que é biomassa? É a parede da célula vegetal”, apontou a professora em sua palestra. Segundo ela, a célula é formada por celulose (entre 30% e 35%), hemicelulose (20% a 35%) e lignina (5% a 30%) – essa última é de onde vem a maior parte da energia. De acordo com Elba, ninguém estuda no Brasil a combustão da lignina a partir de hidrólise enzimática. “Isso é ruim”, avaliou a professora. “O foco dos estudos no Brasil, atualmente, está no processamento térmico mecânico enzimático”, completou. Elba apresentou ainda detalhes de uma tecnologia interessante: a moagem com moinho de bola, descrita por ela como “ótima, porém, inviável” devido ao seu alto consumo de energia. Para finalizar sua apresentação, a professora comentou o ciclo de produção do etanol que seu laboratório na UFRJ está desenvolvendo. Em breve, o laboratório irá ganhar um novo prédio com uma planta adequada para o tratamento brando da biomassa, sem ácido e sem soda. Panorama e potencial de produção do etanol celulósico Dr. Pedro Luiz Fernandes, presidente da Novozymes “Cada tipo de biomassa exige uma enzima. Por isso, sempre existe pesquisa”, afirmou Fernandes ao abrir sua palestra recheada de dados do setor. Segundo ele, em 2006, o Brasil produziu 66 milhões de t de bagaço. Em 2009, o número saltou para 430 milhões. O etanol celulósico, afirmou, é um dos possíveis novos mercados que se abrem agora para o País. Além do combustível, é possível também extrair açúcar a partir do etanol celulósico. “Se realmente queremos sair do discurso e ir para a prática, temos de prestar atenção em tudo que podemos produzir com açúcar, sem mexer em uma gota de petróleo”, disse Fernandes. “Gostaria de ver um debate público maior sobre o que são as biorrefinarias.” 24 Novembro/November 2010 Projetos do Cenbio Painel 2: Etanol Novos produtos: biodiesel, diesel de cana, bioquerosene e biopolímeros Mediador: Dr. Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) Diesel de cana Dra. Luciana Di Ciero, gerente de Assuntos Regulatórios e Relações Institucionais da Amyris Luciana se apresentou ao público do seminário com a missão de falar sobre diesel de cana-de-açúcar, produto desenvolvido por sua empresa, a Amyris. O diesel de cana é um hidrocarboneto C15H32 produzido a partir da fermentação da cana com uma levedura sinteticamente alterada. Não é preciso modificar o motor de um veículo que já utiliza diesel comum para que ele use o de cana. Além disso, ele não possui enxofre e, portanto, polui menos. O único impeditivo, no momento, é que a densidade do diesel de cana ainda está um pouco abaixo da exigida por lei. “A biomassa é a mesma, mas a fermentação usa muito mais açúcar”, afirmou Luciana sobre o processo de fabricação. A fermentação é aeróbia (diferente da do etanol, que é anaeróbia), não tem desidratação (porque não tem água) e, no final, passa pela hidrogenação para a retirada de impurezas. Obtenção de biodiesel a partir de sebo bovino Dr. César Abreu, diretor industrial do Grupo Bertin O palestrante levou ao público informações sobre o biodiesel de sebo bovino, que hoje responde por 15% da produção de biodiesel do País. “O sebo é separado nos frigoríficos e vira matéria-prima. Antes disso, o material era até enterrado porque não havia o que fazer com ele”, contou Abreu. Ele explicou também que o biodiesel de sebo é feito com o mesmo processo do biodiesel dos óleos vegetais, a transesterificação, mas atestou: “O biodiesel de sebo é melhor que o de soja, pois tem mais estabilidade no ponto de fulgor.” Sua desvantagem é que, no frio, o biodiesel de sebo pode cristalizar e entupir o filtro do motor se estiver com pureza 100%. “Como a pureza do biodiesel de sebo geralmente não é 100%, não tem problema”, apontou Abreu. Ele mostrou ainda que, embora a produção cresça lentamente, pois depende do número de abates de cabeças de gado, a produção de biodiesel de sebo no Brasil é igual à soma das produções da Argentina, Paraguai e Uruguai. Além disso, afirmou o palestrante, as barreiras para a exportação de carne devem diminuir, aumentando a produção de sebo. Produção de biodiesel por rota etílica Dr. Geraldo Martins, diretor da Fertibom A palestra de Martins foi focada na história de sua empresa, a Fertibom. Segundo ele, quando a empresa surgiu, o País não tinha política de biodiesel. “O Brasil não sabia fazer biodiesel e o resto do mundo fazia pela rota metílica”, disse o palestrante. “O desafio era desenvolver uma fábrica para a produção de biodiesel etílico.” Os profissionais da Fertibom começaram a fazer pesquisas em laboratório e acabaram por catalogar mais de 2 mil reações. “Eventualmente, começamos a fazer biodiesel etílico em escala industrial”, contou Martins. A empresa, então, passou a atuar comercialmente e a participar de leilões de biodiesel. Hoje, o principal produto da Fertibom é o biodiesel Biomax, que pode ser feito com álcool etílico ou metílico. Vale lembrar que a produção de biodiesel por rota etílica possui patente brasileira e que o etanol, além de ser um combustível renovável, é também um produto mais barato e menos tóxico que o metanol. Isso sem falar que o etanol, por ser extraído da cana-de-açúcar, pode ser produzido no País e não precisa ser importado. 25 Projetos do Cenbio Painel 2 Bioquerosene de aviação Dr. Alexandre Tonelli Filogonio, engenheiro de Desenvolvimento de Combustíveis Alternativos da Embraer Para Filogonio, a aeronáutica mundial ainda é muito dependente do querosene de aviação, derivado do petróleo. Mas não é à toa: “Ele é um produto maduro e confiável que, além de prover energia, é lubrificante e atua como fluido hidráulico e refrigerante”, argumentou o palestrante. “Mas alguns combustíveis de fonte alternativa já estão sendo estudados”, observou ele, lembrando iniciativas como a Commercial Aviation Alternative Fuels Initiative (Caafi) e a Sustainable Way for Alternative Fuel and Energy in Aviation (SWAFEA). No Brasil, a Aliança Brasileira para Biocombustíveis de Aviação (Abraba), criada em maio, também deverá ter atuação importante, fomentando iniciativas públicas e privadas. Alguns experimentos do tipo foram citados na palestra, como voos-teste em 2008 e 2009 com matérias-primas diversas como gás natural, carvão, pinhão-manso e gordura animal, e o primeiro voo totalmente com biocombustíveis alternativos no Brasil, em 25 de março deste ano. Para substituir o querosene de aviação, os combustíveis alternativos precisam atender normas internacionais que exigem que sejam drop in (isto é, possam ser usados com os motores dos aviões atuais), o que ainda não ocorre. Há pelo menos três questões cruciais para que eles possam ser: a produção em larga escala, a certificação e a experiência operacional. “É um desafio”, avaliou Filogonio. Lembrando do primeiro voo experimental com biocombustíveis, em 1984, o palestrante terminou sua palestra dizendo: “O Brasil foi o primeiro no assunto de biocombustíveis para aviação, mas perdeu o embalo.” Biobutanol de cana-de-açúcar Dr. Wilson A. Araújo, gerente de Tecnologia e Operações da Butamax A empresa de Araújo, a Butamax, foi criada em 2009 para comercializar o biobutanol (butanol produzido a partir de biomassa), um álcool que pode ser misturado à gasolina em maiores concentrações que o etanol e até mesmo ser usado puro no motor. O biobutanol, segundo Araújo, é um pouco mais caro que o etanol, mas possui o equivalente a 80% da energia da gasolina, contra 65% do etanol. Para o palestrante, o biobutanol agrega valor à cadeia do etanol porque não precisa de uma cadeia logística própria: da mesma maneira que o etanol, vai direto para a refinaria para ser misturado à gasolina, não requer adaptações. Segundo o palestrante, porém, é preciso modificar as áreas de fermentação e destilação de uma usina de cana para fazer biobutanol. “O produto é estável”, defendeu Araújo. “Se adicionarmos água ao etanol, eles se misturam, mas se adicionarmos água à gasolina com biobutanol, o biobutanol não é solubilizado pela água”, afirmou. Os planos da Butamax são de, entre 2012 e 2014, ter uma usina comercial. Em 2010, a empresa já inaugurou seu laboratório de desenvolvimento de bioprocessos. Encerramento: Propostas de políticas públicas BNDES Dr. Carlos Eduardo Cavalcanti, chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES A palestra de Cavalcanti foi dedicada à exposição de serviços e planos oferecidos pelo BNDES aos empresários. “O carro-chefe do banco é apoiar o aumento da capacidade produtiva”, afirmou o palestrante, para, logo em seguida, adicionar que isso é feito com linhas de financiamento. “O que tentamos fazer é criar um financiamento que não seja muito oneroso para a empresa e que seja compatível com o que se espera da companhia”, declarou. O primeiro produto apresentado foi o BNDES Finem, que permite o financiamento de até 80% de máquinas e equipamentos agrícolas e industriais. O prazo de pagamento é definido de acordo com cada projeto. Já o Project Finance é um financiamento que exige garantias pré-operacionais como o aporte antecipado de equity caso haja dúvida acerca da capacidade de aporte dos controladores. Em relação à bioenergia, o BNDES atualmente apoia 165 projetos, que totalizam uma produção de etanol de 8 bilhões de L. “A onda de investimentos pós-crise em cogeração indica uma busca por maior estabilidade e mais previsibilidade dos fluxos financeiros, melhorando a percepção de risco das empresas”, concluiu Cavalcanti. O DEBATE CONTINUA O Seminário de Bioenergia é um evento anual realizado pelo Cenbio com o objetivo de reunir profissionais qualificados para palestrar sobre temas ligados à biomassa e biocombustíveis. A terceira edição ocorrerá em setembro do ano que vem (data e locais ainda estão indefinidos). Todos os leitores da Revista Brasileira de Bioenergia estão convidados a comparecer a este que será, com certeza, um novo marco da discussão sobre bioenergia no Brasil. 26 Novembro/November 2010 Meio Ambiente TRANSFORMANDO O PROBLEMA EM SOLUÇÃO O biogás, proveniente de resíduos orgânicos, pode agravar o quadro de aquecimento global. Mas, se bem utilizado, também pode ajudar na mitigação dos gases de efeito estufa Fotos: divulgação os últimos anos, a necessidade de se combater o aquecimento global tem sido extremamente perceptível: catástrofes climáticas ocorrem em intensidades e em locais nunca vistos até então, como consequências da elevação da temperatura média do planeta e do subsequente derretimento das geleiras em regiões polares e de grandes altitudes, o que causa uma série de mudanças nos ciclos hidrogeológicos do planeta. Entre as iniciativas estudadas e testadas para se reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, está o aumento do uso de fontes alternativas aos combustíveis fósseis. Nesse contexto, uma alternativa a ser explorada é o biogás: trata-se de uma mistura gasosa combustível, formada a partir da degra- N dação anaeróbia (sem presença de oxigênio) de resíduos orgânicos, como o lixo doméstico, resíduos de atividades agrícolas e pecuárias, dejetos de animais e lodo de estação de tratamento de esgoto. O metano (CH4), gás com potencial de aquecimento global cerca de 21 vezes maior que o do gás carbônico (CO2), é o maior componente do biogás. O mesmo gás que contribui em grande parte para o aumento do efeito estufa pode trazer ganhos energéticos e ambientais: quando o biogás é queimado em um motor de combustão interna adaptado para gás, acoplado a um gerador de energia elétrica, a queima do metano ali presente não só permite a geração de energia mas converte o mesmo gás em dióxido de carbono, proporcionando uma re- Uso de biogás: transformação do lixo em energia e redução das emissões de metano do aterro 27 Meio Ambiente Além do aspecto ambiental, usinas também podem gerar receita por meio da venda de créditos de carbono dução da emissão de CO2 equivalente (CO2e) que aconteceria caso o mesmo biogás chegasse à atmosfera. “O aproveitamento do biogás traz vários benefícios ambientais, econômicos, sociais e energéticos”, afirma o engenheiro João Wagner Alves, assessor da Presidência da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Ele explica que as medidas associadas ao uso do biogás, reduzindo assim as emissões de metano, implicam boas práticas e podem trazer vários benefícios, como a geração de energia e a economia de recursos financeiros, além da redução das demais emissões de poluentes pelo aterro sanitário. Segundo o Manual para aproveitamento de biogás, volume 1: Aterros sanitários, lançado em 2009 pelo ICLEI – Local Governments for Sustainability (Governos Locais para a Sustentabilidade), o biogás pode até ser usado para abastecimento de veículos. Para isso, contudo, a obra ressalta que é importante retirar o CO2 do biogás até que a porcentagem de metano fique próxima à do gás natural. mundial de 337, relacionados à redução de emissões de metano. Vale citar que os projetos implementados nos aterros Bandeirantes e São João, em São Paulo, já efetuaram seus leilões de créditos de carbono. “O Brasil participa de cooperações internacionais como a ‘Cooperação Mercados para Metano’, que, liderada pelos Estados Unidos, visa a fomentar a recuperação e uso energético do biogás de aterro em todo o mundo”, indica Alves. “No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina o uso energético de biogás e indica que, futuramente, serão definidas metas sobre essa prática.” O problema é que validar um projeto de captação e queima de metano não é simples – mesmo quando atende às normas e especificações internacionais. “Hoje, a validação dos projetos junto à ONU, para a obtenção de créditos de carbono, tem sido um processo muito lento e burocrático em virtude da quantidade de solicitações junto ao órgão”, aponta Freitas. INCENTIVOS E OBSTÁCULOS DOS O uso energético do biogás permite ainda a segunda redução de gases de efeito estufa na atmosfera. À medida que sua participação na matriz energética mundial aumenta, o biogás torna possível a redução da dependência energética de outras fontes de energia, entre as quais se encontram os combustíveis fósseis, mais poluentes. “Essa substituição faz com que se tenha menos extração de carbono [decorrente do petróleo] do fundo dos oceanos para lançamento na atmosfera”, explica Freitas. Outra vantagem ambiental do uso de biogás pode ser alcançada em pequenas comunidades isoladas, que usam a lenha, o querosene e o gás liquefeito de petróleo (GLP) como fontes de energia. “O biogás é um recurso energético que pode substituir outras fontes, tanto as que podem gerar desmatamento como os combustíveis fósseis, que têm ainda de ser transportados por longas distâncias [para chegar a essas comunidades]”, observa Alves. “A recuperação energética do biogás de resíduos rurais é praticada em larga escala em países como China e Índia, e a adoção dessa prática pode se mostrar viável também no Brasil.” “O biogás é um gás com poder calorífico muito baixo comparando-se com outros combustíveis”, acrescenta Freitas. “Porém, em se tratando do aproveitamento de um gás que existirá enquanto houver aterros, a energia elétrica gerada pello biogás, por menor que seja, será uma contribuição para a matriz energética.” CRÉDITOS DE CARBONO A queima do biogás traz ainda a possibilidade de receita adicional com a obtenção e comercialização de créditos de carbono, concedidos a projetos enquadrados no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). “Com o avanço e o desenvolvimento de motores a biogás e o Protocolo de Quioto em vigor, hoje não tem como aterros sanitários não pensarem nessa receita extra que antes era desprezada”, afirma Fernando de Freitas, coordenador operacional da Essencis Soluções Ambientais, que administra o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Caieiras; segundo ele, o aterro em questão tem uma produção de 15 mil m3/h de biogás com 48% de metano. “Hoje, com o preço da energia no Brasil, um projeto de termelétrica a biogás tem se mostrado viável apenas com a receita dos créditos de carbono por intermédio do MDL paralelamente.” Segundo dados do projeto Capacity Development for Clean Development Mechanism (CD4CDM; “Desenvolvimento de Capacidade para Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), até novembro de 2010, 165 projetos de MDL foram registrados e reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) na área de biogás de aterro, 25 deles pertencentes ao Brasil. O País também conta com 47 projetos, dentre o total 28 OUTROS GANHOS AMBIENTAIS Novembro/November 2010 The Environment TURNING THE PROBLEM INTO A SOLUTION Biogas deriving from organic waste may aggravate the global warming scenario. Yet, if well used, it may also help to mitigate greenhouse gases Photos: dissemination n the last years, the need to fight global warming has been extremely perceptible: climatic catastrophes occur in intensities and in places never experienced before, as consequences of the planet increase in average temperature and of the subsequent defrost of the glaciers in polar regions and in high altitudes, which causes a series of changes in the planet hydro-geological cycles. Among the initiatives studied and tested to reduce greenhouse gases (GHG) emissions into the atmosphere, is the increase in the use of alternative sources to fossil fuels. In this context, an alternative to be exploited is biogas; it happens to be a gas blend fuel, formed from the anaerobic (without the presence of oxygen) degradation of organic waste, such as domestic waste, waste from agricultural and livestock breeding activities, animal manure and sewage treatment station sludge. I Methane (CH4), a gas with global warming potential about 21 times greater than that of carbon dioxide (CO2), is the major component of biogas. The same gas that largely contributes to increasing the greenhouse effect may provide power and environmental gains: when the biogas is burnt in an internal combustion engine adapted to gas, coupled to a power generator, the methane burning present there not only allows power generation but also converts the same gas into carbon dioxide, providing a reduction in CO2 equivalent (CO2e) emissions that would occur in case that biogas reached the atmosphere. “The use of biogas provides several environmental, economic, social and energy benefits”, states engineer João Wagner Alves, Board advisor for the State of São Paulo Environmental Sanitation Technology Company (Cetesb). He Biogas use: transforming the residues in energy and reduction of the landfill’s methane emissions 29 The Environment Besides the environmental aspect, the plants can also generate income through the sale of carbon credits explains that the measures associated to biogas recovery, which thus reduce methane emissions, imply good practices and may provide several benefits, such as power generation and saving financial resources, besides reducing the other pollutant emissions by the landfill. According to the Manual for biogas recovery, volume 1: Landfills, launched in 2009 by ICLEI – Local Governments for Sustainability, the biogas can even be used to fuel vehicles. For this, however, the work stresses that it is important to remove the CO2 from the biogas until the methane percentage is close to that of natural gas. CARBON CREDITS INCENTIVES AND BARRIERS Biogas burning also provides the possibility of additional income from obtaining and trading carbon credits, granted to projects that fit the Clean Development Mechanism (CDM). “With the advancement and development of biogas engines and the Kyoto Protocol enforced, landfills cannot fail to consider this extra income which was formerly despised”, states Fernando de Freitas, operational coordinator of the Essencis Soluções Ambientais, which manages the Waste Treatment Center (CTR) in Caieiras; according to him, the landfill in question has a production of 15 thousand m3/h of biogas with 48% of methane. “With the current price of energy in Brazil, a biogas thermopower project has shown to be feasible only with the carbon credits income intermediated by the CDM in parallel.” According to data from the Capacity Development for Clean Development Mechanism (CD4CDM) project, from the United Nations Programme for the Environment (UNEP), by November 2010, 165 CDM projects had been registered and acknowledged by the United Nations (UN) in the landfill biogas area, 25 of them presented by Brazil. The country also 30 counts on 47 projects, among the 337 world total, related to methane emissions reduction. It is worth mentioning that the projects implemented in the Bandeirantes and São Joao landfills, in São Paulo, have already conducted their carbon credit auctions. “Brazil participates in international cooperations such as the ‘Methane to Markets Partnership’ that, led by the United States, aims to foster the landfill biogas recovery all over the world”, Alves points out. “In Brazil, the National Solid Waste Policy determines the energy use of biogas and indicates that, in the future, goals will be defined concerning this practice.” The problem is that validating a methane capture and burning project is not a simple task – even when it abides by international norms and specifications. “Today, the UN validation of projects for obtaining carbon credits has been a very slow and bureaucratic process due to the number of demands at the organism”, Freitas points out. OTHER ENVIRONMENTAL GAINS The energy use of biogas also allows a second reduction of greenhouse gases in the atmosphere. As its participation in the world energy matrix increases, biogas makes possible to reduce the energy dependence on other sources of energy, among which are fossil fuels, more pollutant. “This replacement allows having a smaller carbon extraction [owing to petroleum] from the bottom of the oceans to be emitted into the atmosphere”, explains Freitas. Another environmental advantage of using biogas may be attained in small isolated communities that use firewood, kerosene and liquefied petroleum gas (LPG) as sources of energy. “Biogas is an energy resource that may replace other sources, both those that can generate deforestation and fossil fuels, which also have to be conveyed along long distances [to reach these communities]”, observes Alves. “The biogas energy recovery from rural waste is practiced in large scale in countries such as China and India, and the adoption of this practice may also show itself to be viable in Brazil.” “Biogas is a gas with very low calorific power as compared to other fuels”, adds Freitas. “However, concerning the use of a gas that will exist while there are landfills, the power generated by biogas, even being very small, will be a contribution to the energy matrix.” Novembro/November 2010 Cenbio Projects BIOENERGY: NEW ROUTES IN DEBATE 2nd Bioenergy Seminar gathers professionals of the sector and discusses new opportunities Photos: Meryellen Duarte ome of the most important bioenergy names in Brazil gathered at the Professor Dr. Paulo Ribeiro de Arruda Auditorium, at the University of São Paulo, on September 28, for the 2nd Bioenergy Seminar: Challenges and Business Opportunities, organized by the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) and sponsored by the Ministry of Mines and Energy (MME). With fourteen lectures and over 120 people crowding the auditorium, the event evolved bringing new information and visions on the theme proposed. Among other topics, technical aspects of ethanol production, recent technologies, alternative fuels and perspectives for the future were approached. S The event consisted of an opening session with four lectures, two panels (one with four and the other with five lectures) and the closing session with a lecture by a representative of the Brazilian Development Bank (BNDES). Each panel was followed by debates in which members of the audience could ask questions to the lecturers. After the last lecture, Suani Teixeira Coelho, Cenbio coordinator, took the stand to thank everybody’s presence and celebrate the conduction of a forum with relevant and punctual discussions on the energy issue in Brazil. Read below the summaries of each lecture and learn about the main points discussed in the seminar. The event gathered, once again, professionals from several areas connected to bioenergy to give lectures about new technologies and challenges 31 31 Cenbio Projects The audience carefully watched the lectures. The event had a panel dedicated to new technologies and another to new products The IEE view for biofuels Prof. Dr. Adnei Melges de Andrade, vice-director of the Institute of Electrotechnics and Energy of the University of São Paulo (IEE-USP) Adnei opened the event telling Cenbio’s history and its contributions to the bioenergy sector in Brazil. “The Center is now starting its 15th year of existence and is one of the major institutions conducting bioenergy research in Brazil”, he stated during his explanation. The lecturer made a point of highlighting the project that turns cooking oil into biodiesel and announced that researches that will allow studying combustion engines using biodiesel are soon to be started. “The IEE vision now is towards a change in behavior”, stated the professor. “Focusing not only on electric power, but also on bioenergy.” 32 Novembro/November 2010 Cenbio Projects Energy policy and bioenergy Dr. Roberto Meira Júnior, technical consultant of the Ministry of Mines and Energy The future was the great focus of Meira Júnior’s exposition. “My coordination’s mission is to prospect opportunities so as to enhance the use of bioenergy”, he stated at the beginning. Next, the lecturer exposed the principles and the goals of the Ministry of Mines and Energy, among which the diversification of the matrix and the development of novel obtainment technologies. After that, the lecturer commented that 90% of the electric power sources in Brazil are renewable and that, according to an Energy Review 2010 projection, the perspective is that there will be a decrease in the participation of fossil fuels and an increase in the use of biomass by 2019 – from the current 6.1 GW, the production is predicted to increase to 16.6 GW in 2019. “Brazil is now in the forefront, be it in bioenergy, be it in other renewable sources”, he affirmed. World bioenergy scenario Prof. Dr. José Goldemberg, professor of USP Welcome with a strong round of applause, Goldemberg opened his lecture addressing the world oil production, which is now 12.8 billion liters (L) a day, and that of ethanol, which is now 67 billion L a year. “The situation in the rest of the world is not encouraging”, he said. “In Brazil, ethanol has already replaced half of gasoline, yet, in the rest of the world, it has a long way to go”, he stated. According to Goldemberg, it is necessary to triplicate the current ethanol production to meet the demand forecast for 2020. “I believe that the barriers for the Brazilian ethanol to enter the United States and Europe will fall, it is written in the cards”, he joked. Goldemberg also commented that Brazil could jump from the present rate of the 8 million ha cultivated for biodiesel production to 65 million, but there is a competition with the food industry. “The ethanol production in Brazil was criticized abroad because it would have the indirect effect of pushing cattle into the Amazon region”, the professor explained. “There was a great roar caused by publications abroad. However, studies have been conducted that disqualified this information because it was proved that ethanol is being planted in degraded pastures”, said Goldemberg when finishing his explanation. The role of Cenbio in the biofuels scenario Prof. Dr. Suani Teixeira Coelho, Cenbio coordinator Suani presented the extensive Cenbio work in her lecture. Firstly, the Board member talked about the participation of the Center in international projects, such as the Global Network on Energy for Sustainable Development (GNESD), a knowledge network formed by developing countries that provides research lines for access to energy and technology for biofuels. She also commented on the Cenbio participation in international organisms, such as the International Renewable Energy Agency (Irena) and the Advisory Group on Energy and Climate Change (AGECC) of the United Nations. Next, Suani talked about the projects currently being developed at the Center. These include studies on second-generation ethanol, georeferenced survey on sugar cane waste, biogas project in rural areas, development of software that may be used by producers to calculate cattle emissions (already available at the Cenbio website) and an energy efficiency project for AES Eletropaulo, one of the State of São Paulo electric power distributors. Lastly, the Cenbio coordinator highlighted the projects already concluded and showed how active the Center is in disseminating information, acting by means of its website, Twitter, the Revista brasileira de bioenergia magazine and the Brazilian Bioenergy Atlas. 33 Cenbio Projects Panel 1 – Bioethanol Perspectives for new technologies Chairman: Prof. Dr. Gilberto de Martino Jannuzzi, coordinator of the Interdisciplinary Center of Energy Planning (Nipe) of the State University of Campinas Advances of first-generation ethanol Dr. Henrique Vianna de Amorim, Fermentec President The discovery of a new type of yeast was the major fact raised by Amorim in his lecture. FT 858L, which will be available in 2011, saves inputs and antibiotics, uses half of the water currently used in the process, reduces the amount of vinasse and the centrifuge time by half. As stated by Amorim, Fermentec studied over four hundred yeast lineages until it found the four currently used. “Formerly, it was not possible to know whether the yeast remained in the vat. It took us fifteen years to discover”, he said. “Now, with the yeasts selected, by mid crop, you still have 80% of the yeasts in the vats”, he claimed. He also explained that today the PE2 yeast is the most used as it is the one that best adapts. “FT 858L may be PE-2’s daughter”, said the lecturer. Technologies for bioethanol production Prof. Dr. Carlos Eduardo Vaz Rossell, director of the industrial program of the National Laboratory of Bioethanol Science and Technology (CTBE) Rossell started his lecture by presenting the CTBE. He talked about the laboratory’s projects and about the new building that, until the second half of 2011, will be better structured for performing the experiments. Next, he turned his attention to ethanol. “We easily attained the best first-generation ethanol because we had no foreign competitor. With the second-generation one, we will, and the competition will not be easy”, he warned. Rossell then pointed out critical stages of enzymatic and acid hydrolysis technology. Among them, he detached the bagasse physical-chemical pretreatment stage as the major one. Lastly, the professor called attention to two novel technologies that may be considered as advancements in this journey: the Mascoma Process (a microorganism that simultaneously carries out the hydrolysis and the fermentation of pentoses and hexoses, not requiring pretreatments or the addition of enzymes) and the creation of the biorefinery, which combines ethanol production with that of pentoses byproducts. Barriers to second-generation ethanol production Prof. Dr. Elba Pinto da Silva Bon, coordinator of the Graduate Biochemistry Program of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) “What is biomass? It is the vegetal cell wall”, the professor pointed out in her lecture. As she stated, the cell is formed by pulp (between 30% and 35%), hemicellulosis (20% to 35%) and lignin (5% to 30%) – the latter provides most of the energy. According to Elba, no one in Brazil studies the lignin combustion as from enzymatic hydrolysis. “This is bad”, said the professor. “The focus of the studies in Brazil currently lies on the enzymatic thermal-mechanical processing”, she completed. Elba also presented details of an interesting technology: ball mill grinding, described by her as “optimal, yet unfeasible” due to its high energy consumption. To end her presentation, the professor mentioned the ethanol production cycle being developed at her laboratory at UFRJ. The laboratory will soon count on a new building adequately planned for the soft treatment of biomass, without acid or sodium hydroxide. Scenario and potential of cellulose ethanol production Dr. Pedro Luiz Fernandes, Novozymes president “Each type of biomass requires an enzyme. Hence, research always has to be conducted”, stated Fernandes when starting his lecture filled with data from the sector. As he stated, in 2006, Brazil produced 66 million t of bagasse. In 2009, the number jumped to 430 million. Cellulosic ethanol, he claimed, is one of the possible new markets now being opened to Brazil. Besides fuel, it is also possible to extract sugar as from cellulosic ethanol. “If we really want to cease the speech and go into practice, we have to pay attention to everything we can produce with sugar, without using a single drop of petroleum”, said Fernandes. “I would like to witness a greater public debate on what biorefineries are.” 34 Novembro/November 2010 Cenbio Projects Panel 2: Ethanol New products: biodiesel, sugar cane diesel, biokerosene and biopolymers Chairman: Dr. Alfred Szwarc, consultant for Emissions and Technology of the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica) Sugar cane diesel Dr. Luciana Di Ciero, Amyris Regulatory Issues and Institutional Relations manager Luciana came before the seminar audience with the mission of talking about sugar cane diesel, a product developed by the company she is with, Amyris. Sugar cane diesel is a C15H32 hydrocarbon produced as from sugar cane fermentation with synthetically modified yeast. It is not necessary to modify the engine of a vehicle that already uses common diesel so that it can use that of sugar cane. Besides, it does not contain sulfur and, therefore, it pollutes less. The only impediment at the moment is that the sugar cane diesel density is still a little smaller than that legally required. “The biomass is the same, but the fermentation uses much more sugar”, stated Luciana on the manufacturing process. The fermentation is aerobic (differently from that of ethanol, which is anaerobic), does not have dehydration (as it does not contain water) and, finally, undergoes hydrogenation to remove impurities. Obtaining biodiesel as from bovine fat Dr. César Abreu, industrial director of the Bertin Group The lecturer informed the public about biodiesel from bovine fat, which today accounts for 15% of the biodiesel production in Brazil. “The fat is separated at the packing plants and turns into feedstock. Formerly, the material even used to be buried since there was nothing to do with it”, told Abreu. He also explained that the biodiesel from fat uses the same process as the biodiesel from vegetable oils, transesterification, but assured: “The biodiesel from fat is better than that from soybean, as it presents greater stability at the flash point.” Its disadvantage is that, in cold weather, the fat biodiesel may crystallize and clog the engine filter in case it has 100% purity. “Once the fat biodiesel purity is not usually 100%, there is no problem”, Abreu pointed out. He also showed that, although production grows slowly, as it depends on the amount of cattle slaughtered, fat biodiesel production in Brazil is equal to the sum of the Argentinean, Paraguayan and Uruguayan production. Moreover, the lecturer stated, the barriers for meat exports must decrease, increasing fat production. Biodiesel production by ethylic route Dr. Geraldo Martins, Fertibom director Martins’s lecture focused on the history of the Fertibom company. According to him, when the company was established, Brazil did not count on a biodiesel policy. “Brazil did not know how to make biodiesel and the rest of the world made it via methylic route”, he said. “The challenge was to develop a factory for ethylic biodiesel production.” The Fertibom professionals started conducting research in laboratory and ended up listing over 2 thousand reactions. “Eventually, we started to produce ethylic biodiesel in industrial scale”, Martins said. The company then started to act commercially and to participate in biodiesel auctions. Today, the major Fertibom product is the Biomax biodiesel, which can be made from ethylic or methylic alcohol. It is worth noting that biodiesel production via ethylic route has a Brazilian patent and that ethanol, besides being a renewable fuel, is also a cheaper and less toxic product than methanol. Not to mention the fact that ethanol, for being extracted from sugar cane, can be produced in Brazil and does not need to be imported. 35 Cenbio Projects Panel 2 Aviation biokerosene Dr. Alexandre Tonelli Filogonio, Embraer Alternative Fuels Development engineer For Filogonio, the world aeronautics is still very dependent on the aviation kerosene, a petroleum byproduct. There is a reason, though: “It is a mature and reliable product that, besides providing fuel, is a lubricant and acts as a hydraulic and cooling fluid”, he argued. “But some alternative source fuels are already being studied”, he observed, mentioning initiatives such as the Commercial Aviation Alternative Fuels Initiative (Caafi) and the Sustainable Way for Alternative Fuel and Energy in Aviation (SWAFEA). In Brazil, the Brazilian Alliance for Aviation Biofuels (Abraba), established in May, can also play an important role, stimulating both public and private initiatives. Some experiments of the type were mentioned in the lecture, such as test flights in 2008 and 2009 with different feedstocks such as natural gas, charcoal, jatropha and animal fat, and the first flight using biofuels in Brazil, on March 25 this year. To replace aviation kerosene, biofuels have to comply with international normalization which requires them to be drop in (that is, that they can be used with the present airplane engines), which still does not occur. There are at least three crucial issues to allow this: largescale production, certification and operational experience. “It is quite a challenge”, said Filogonio. Mentioning the first experimental flight using biofuels, in 1984, the lecturer ended his presentation saying: “Brazil was the first in the aviation biofuels issue, but lacked momentum.” Sugar cane biobutanol Dr. Wilson A. Araújo, Butamax Technology and Operations manager Butamax, the company Araújo is with, was established in 2009 to trade biobutanol (butanol produced as from biomass), an alcohol that can be blended with gasoline in greater concentrations than ethanol and even be used alone in the engine. Biobutanol, according to Araújo, is a little more expensive than ethanol, but has the equivalent to 80% of the gasoline energy, against 65% of that of ethanol. For the lecturer, the biobutanol adds value to the ethanol chain because it does not need its own logistic chain: just as ethanol, it goes directly to the refinery to be blended with gasoline, it does not require adaptations. According to him, however, it is necessary to modify the fermentation and distillation areas of a sugar cane plant to make biobutanol. “The product is stable”, advocated Araújo. “If one adds water and ethanol, they blend, but if one adds water to gasoline with biobutanol, biobutanol is kept in the gasoline, it is not solubilized by the water”, he stated. Between 2012 and 2014, Butamax plans to have a commercial plant. In 2010, the company opened its bioprocesses development laboratory. Closing session: Proposals of public policies BNDES Dr. Carlos Eduardo Cavalcanti, Head of the BNDES Biofuels Department The lecture by Cavalcanti was dedicated to exposing the services and plans provided by BNDES to entrepreneurs. “The centerpiece of the bank is to support the increase in productive capacity”, stated Cavalcanti, who soon after added that this is done through financing lines. “What we try to do is to create financing that is not too costly for the company and that is compatible to what is expected from the company”, he declared. The first product presented was BNDES Finem, which allows financing up to 80% of machines and agricultural and industrial equipment. The payment deadline is defined according to each project. In turn, Project Finance is a type of financing which requires pre-operational warranties such as advanced payment of equity in case there is any doubt concerning the controllers’ payment capacity. In relation to bioenergy, BNDES currently supports 165 projects, which total an ethanol production of 8 billion L. “The post-crisis wave of investments in co-generation indicates a greater search for stability and greater foreseeability of financial flows, improving the companies risk perception”, concluded Cavalcanti. THE DEBATE CONTINUES The Bioenergy Seminar is a yearly event held by Cenbio aiming to gather qualified professionals to give lectures on themes concerning biomass and biofuels. The third edition will occur in September next year (date and venue not yet defined). All the Revista Brasileira de Bioenergia readers are invited to come to the event that will certainly be a new turning point in the discussion on bioenergy in Brazil. 36 Novembro/November 2010 Entrevista LAÇOS CADA VEZ MAIS ESTREITOS Martin Langewellpott, representante do Estado da Baviera no Brasil, afirma que parceria de mais de uma década nunca esteve tão forte e deve aumentar Divulgação E m 1997, o Estado Livre da Baviera (Alemanha) e o Estado de São Paulo firmaram a Declaração conjunta de colaboração mútua, que deu início a uma frutífera parceria nos anos 2000. Na época, o secretário Estadual do Meio Ambiente era o professor José Goldemberg e a secretária-executiva, a professora Suani Teixeira Coelho e, mesmo com o problema do lixo ainda não sendo tão grave como é hoje, já existia a preocupação de que ele pudesse tomar proporções preocupantes. Uma das principais iniciativas que surgiram da parceria foi o projeto “Gerenciamento de Resíduos Sólidos: Uma Visão de Futuro – Projeto Conjunto do Estado de São Paulo e Estado da Baviera (Alemanha)”, em 2004. O projeto foi criado com o objetivo de desenvolver uma nova e ampla concepção de gerenciamento de resíduos sólidos para o estado e a cidade de São Paulo, melhorando os procedimentos o quanto possível. Na primeira fase do projeto, foram feitos seminários e visitas técnicas com o objetivo de capacitar empresas e profissionais na incineração de resíduos sólidos. Na segunda, em 2006, foram realizados estudos dos processos de operação de unidades de tratamento de resíduos com base nas práticas e experiências da Baviera. Em seguida, foram avaliadas as soluções possíveis de aplicação em São Paulo. A relação entre Baviera e São Paulo também é notável pela presença de empresas do estado alemão no país – até o final de 2010, serão mais de trinta. Essa parceria ainda não inclui nenhu- ma companhia voltada à incineração de resíduos, mas esse deve ser o próximo passo. É no que acredita o representante do Estado da Baviera no Brasil, Martin Langewellpott. Envolvido no projeto desde seu começo, em 1997, Martin acompanhou a chegada das empresas ao Brasil e assistiu ao seu crescimento. Agora, ele espera que a preocupação crescente com o descarte do lixo atraia, finalmente, as empresas de incineração alemãs e que os empresários brasileiros aproveitem a onda para importar tecnologia e expertise da Baviera. Confira abaixo a entrevista exclusiva de Langewellpott para a Revista Brasileira de Bioenergia. Martin Langewellpott (o quarto da esq. p/ a dir.), com o professor Goldemberg (segundo da esq. p/ a dir.) e outros representantes da Baviera RBB – Como o senhor sabe, São Paulo e Baviera mantêm o projeto ‘Gerenciamento de Resí- 37 Entrevista duos Sólidos: Uma Visão de Futuro – Projeto conjunto do Estado de São Paulo e Estado da Baviera (Alemanha)’. A primeira fase (Capacitação) ocorreu em 2004 e a segunda (Estudo dos Processos de Operação), em 2006. Quando será a terceira e no que ela consistirá? Martin Langewellpott – A próxima fase exigirá um novo adendo à memória do entendimento entre São Paulo e a Baviera. Ele consistirá em uma cooperação no manejo de lixo e energias renováveis. Esse documento, provavelmente, será assinado pelos parceiros até o fim deste ano. “ Nosso serviço gratuito abrange o fornecimento de estudos de mercado, a procura de parceiros potenciais brasileiros e o apoio na abertura de uma filial no Brasil ” 38 RBB – Como o senhor avalia os resultados desse projeto até o momento? Langewellpott – Os resultados são muito positivos. Um deles, por exemplo, é a melhora na legislação de São Paulo no que concerne às energias renováveis pela Lei Estadual Nº 13.798, de novembro de 2009, que institui a Política Estadual em Mudanças Climáticas e fomenta o aumento na participação de energias renováveis na matriz. RBB – Como está a relação entre o Estado da Baviera, a Cetesb e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo? Langewellpott – A relação entre as secretarias de Meio Ambiente da Baviera e de São Paulo existe desde 1997, quando foi estabelecido um acordo de cooperação geral na área de proteção ambiental. Por parte da Baviera, foi desenvolvido um projeto de cooperação técnica no setor ambiental (Ambitec) no qual técnicos brasileiros são convidados para conhecer tecnologias de ponta na Baviera. Em 1999, iniciou-se o projeto em comum Proteção do aquífero Guarani e, em 2004, começou a cooperação na área de energias renováveis e assinou-se o acordo de cooperação na área de incineração de resíduos sólidos. Um ano depois, foi estabelecido um protocolo de intenções sobre a cooperação técnica nas áreas de energias renováveis e de mudanças climáticas. Na área de resíduos sólidos, existe um intercâmbio útil de know-how e experiências mútuas e uma assistência na legislação específica. Estamos muito satisfeitos com esses trabalhos conjuntos que fazem do Estado de São Paulo o maior parceiro da Baviera na América do Sul. RBB – Quais são as etapas que uma empresa deve seguir se quiser firmar acordo com a Baviera? Langewellpott – Uma empresa bávara que quer fazer negócios no Brasil normalmente entra em contato com a Representação do Estado da Baviera no Brasil, localizada em São Paulo. Nosso serviço gratuito abrange o fornecimento de estudos de mercado, a procura de parceiros potenciais brasileiros e o apoio na abertura de uma filial no Brasil. Além disso, organizamos participações bávaras em feiras brasileiras de destaque, missões comerciais e rodadas de negócios. Normalmente, uma empresa bávara consegue se instalar dentro de um período de dois anos. Quando a representação da Baviera começou a operar, em 1999, contávamos setenta empresas com atividades no Brasil. Hoje, o número é de mais de quatrocentas empresas bávaras com filial própria ou representação no Brasil – e a tendência é crescente. Também oferecemos serviços para empresas brasileiras que procuram parceiros de negócios na Baviera e que pretendem se instalar em território bávaro. A nossa agência, Invest in Bavaria, é ligada diretamente à Secretaria de Economia do Estado da Baviera e presta serviços especiais para empresas com planos de investimento. RBB – Quais são as dificuldades burocráticas? Langewellpott – Os procedimentos burocráticos, às vezes, não são fáceis, mas eu diria que os problemas não são tão grandes que não possam ser superados. Além dos instrumentos, que nosso escritório pode oferecer, sempre sugerimos às empresas novas chegando que procu- Novembro/November 2010 Entrevista rem o contato com empresas bávaras já operando no Brasil no mesmo setor. Dessa forma, as experiências podem ser aproveitadas e possíveis incertezas podem diminuir. RBB – Como está a adesão das empresas, quantas já estão atuando com incineração no País e que resultados elas estão obtendo? Langewellpott – O número de novas empresas bávaras com operações no Brasil para este ano deve superar trinta. Os eventos esportivos, como os Jogos Militares no ano que vem, a Copa em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, bem como os projetos de infraestrutura ligados a esses eventos e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), devem levar uma nova onda de empresas bávaras ao Brasil. Temas setoriais como o tratamento de lixo também oferecem a aplicação de novas tecnologias nessa área. Como os tradicionais aterros sanitários resolvem cada vez menos os problemas das grandes cidades brasileiras, com um volume de lixo cada vez maior, o uso da incineração é a alternativa viável. Tenho certeza de que a nova legislação brasileira de tratamento de resíduos vai beneficiar o avanço de tecnologias adequadas como a da incineração. Sendo o tema ainda novo, por enquanto nenhuma empresa bávara está atuando no setor da incineração. Mas empresas líderes de mercado, como a Martin GmbH, de Munique, que nos anos 1970 construiu a primeira usina de incineração em São Paulo, ou a Envi Con & Plant Engineering GmbH, de Nürnberg, que se apresentou em novembro no estande oficial da Baviera na Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade (Fimai), estão prontas para oferecer as suas tecnologias ao mercado brasileiro. RBB – E como está a situação da incineração na Alemanha atualmente? Langewellpott – Na Alemanha e em outros paí- ses da União Europeia, como a Bélgica e a Dinamarca, vemos muitos projetos de incineração. Temos 66 usinas de energia a partir de resíduos. Na Suíça, contamos 24 e, na Bavária, 16. Por outro lado, estão sendo planejadas ou construídas usinas adicionais para recuperação de resíduos sólidos. Na Alemanha, são queimados por ano cerca de 17 milhões de t de resíduos. Na Bavária, são 3 milhões de t. Mas há também muitos lugares para reciclagem e recuperação de materiais do lixo corretamente descartado. Estatísticas europeias mostram que, nesses países, o alto padrão em usinas de resíduos existe paralelo ao alto nível de recuperação de resíduos. O objetivo é produzir energia, calor, vapor e frio tanto quanto reciclar, para que não haja necessidade de combustíveis fósseis. RBB – A emissão de poluentes dessas usinas não é um problema? Langewellpott – Pode-se ficar tranquilo em relação ao CO2. Atualmente, mesmo o partido político dos verdes não critica as emissões das usinas de energia. Eles reconheceram os altos padrões ambientais dos incineradores europeus. Ninguém é ameaçado pelas emissões de toxinas, dioxinas ou furanos porque os filtros são extremamente efetivos. Esses argumentos dominavam a discussão política vinte anos atrás. As usinas modernas são seguras. No ano passado, nós tivemos um debate em Bruxelas com membros do Parlamento europeu. Não houve nenhuma discórdia ou controvérsia sobre as usinas modernas. RBB – Quem estabelece os padrões de tecnologia e qualidade que as empresas de incineração devem seguir no Brasil? Esses padrões são internacionais? Langewellpott – Os padrões de tecnologia e qualidade na Europa são estabelecidos pelas leis europeias e pela Comissão Europeia. Então, é recomendável que eles sejam seguidos “ Tenho certeza de que a nova legislação brasileira de tratamento de resíduos vai beneficiar o avanço de tecnologias adequadas, como a da incineração ” 39 Entrevista também no Brasil. Recentemente houve, na China, também uma nova legislação para as emissões com o objetivo de torná-las compatíveis com os padrões da União Europeia. “ Os custos reais de uma usina de incineração de lixo em São Paulo são difíceis de calcular. Mas achamos que o descarte em aterros é mais caro ” 40 RBB – Por que a parceria entre o Brasil e a Baviera é vantajosa para os empresários do País? Langewellpott – Somos da opinião que ambos os lados, Brasil e Baviera, irão se beneficiar com a parceria. Empresários brasileiros podem encontrar uma empresa de geração de energia a partir de resíduos e empreenderem eles mesmos um projeto de geração de energia, calor, frio ou vapor. Empresas da Baviera podem fornecer os equipamentos técnicos específicos e os fornos necessários. RBB – Na Alemanha, o sucesso da incineração existe paralelo ao sucesso da reciclagem, que chega aos 40%. No Brasil, só reciclamos 5% dos resíduos. Uma coisa não estaria relacionada à outra? Langewellpott – É verdade que em Estados europeus altamente desenvolvidos, a incineração corre lado a lado com a reciclagem. O índice geral de incineração e reciclagem, por exemplo, atinge 72% na Baviera. Isso inclui tanto a recuperação térmica como a por reciclagem. RBB – Com os aterros São João e Bandeirantes desativados, a cidade de São Paulo hoje exporta lixo. A incineração é a opção mais viável? Qual o custo de uma usina? Langewellpott – Os custos reais de uma usina de incineração de lixo em São Paulo são difíceis de calcular. Mas, se formos calcular e comparar com os de um aterro, que precisa de cuidados décadas após seu fechamento, para proteger o solo e o ambiente, achamos que o descarte em aterros é mais caro. Não esqueça o dióxido de carbono e o metano emitidos do aterro e os custos para proteger o ambiente deles. RBB – O gás metano emitido de aterros pode ser queimado em ‘flares’, permitindo a geração de energia térmica e elétrica, além da aquisição de créditos de carbono. Isso não compensa os custos de construir e manter o aterro? Ou a incineração é a melhor opção em todos os casos? Langewellpott – Nós achamos que usinas de transformação de lixo em energia são a melhor maneira de proteger o clima. Por um lado, podem-se substituir combustíveis fósseis por lixo e, por outro, o metano, gás 23 vezes mais perigoso que o gás carbônico, será completamente evitado. Incineração é a melhor opção para o lixo em todos os casos. Capturar todo o gás metano [em um aterro] é impossível. Além disso, o perigo causado pela poluição do solo e da água ainda existirá se continuarem construindo lixões. Na Alemanha e em grande parte da União Europeia, o aterramento de lixo biologicamente degradável é proibido. A manutenção de aterros depois de seu fechamento, por décadas, é muito custosa. RBB – Como está a questão da emissão de dioxinas e furanos, o grande alvo de críticas dos ambientalistas à incineração? Langewellpott – As tecnologias de incineração hoje em dia são tão avançadas que não existem mais emissões problemáticas. A legislação ambiental alemã é uma das mais rigorosas. Se houvesse problemas de emissões desses poluentes, as usinas na Baviera não poderiam estar no meio das cidades. RBB – Qual é o panorama da incineração de resíduos no Brasil para os próximos anos? Langewellpott – Acho que a transição de aterros sanitários para usinas de incineração vai ser um processo relativamente lento. A respeito de resíduos especiais – hospitalares, por exemplo –, vejo possibilidades de que usinas de incineração de menor tamanho se realizem mais rápido. Novembro/November 2010 Interview INCREASINGLY CLOSER TIES Martin Langewellpott, the State of Bavaria representative in Brazil, states that the over-one-decade partnership has never been so strong and is to get stronger Photos: dissemination I n 1997, the Free State of Bavaria (Germany) and the State of São Paulo signed a Mutual cooperation joint declaration, which started a fruitful partnership in the 2000s. At the time, the State Secretary for the Environment was Professor José Goldemberg and the DeputySecretary was Professor Suani Teixeira Coelho; even with the garbage problem not being as serious as it is now, there was already a concern that it might reach alarming levels. One of the major initiatives that emerged from the partnership was the project “Solid Waste Management: A Vision of the Future – Joint Project between the State of São Paulo and the State of Bavaria (Germany)”, in 2004. The project was created aiming to develop a new and broad conception of solid waste management for the State and for the City of São Paulo, improving procedures as far as possible. In the first phase of the project, seminars and technical visits were conducted aiming to build companies and professionals’ capacity to incinerate solid wastes. In the second, in 2006, studies on operation processes of waste treatment units were carried out based on Bavaria practices and experiences. After that, the solutions that could be applied in São Paulo were evaluated. The relationship between Bavaria and São Paulo is also remarkable for the presence of companies from the German State in Brazil – by the late 2010, they will be in excess of thirty. This partnership still does not include any company concerned with waste incineration, but this should be the next step. This is what the State of Bavaria representative in Brazil, Martin Langewellpott, believes. Involved in the project from its very beginning, in 1997, Martin followed the arrival of the companies in Brazil and observed their growth. He now expects that the increasing concern with garbage discarding finally attracts German incineration companies and that the Brazilian entrepreneurs take advantage of the trend to import technology and expertise from Bavaria. Below you can read the exclusive interview granted by Langewellpott to the Revista Brasileira de Bioenergia. Martin Langewellpott (fourth from left to right) with professor Goldemberg (second from left to right) and other representatives from Bavaria RBB – As you know, São Paulo and Bavaria keep the project ‘Solid Waste Management: A Vision of the Future – Joint Project between the State of São Paulo and the State of Bavaria (Germany). The first phase (Capacity building) 41 Interview occurred in 2004 and the second (Study on Operation Processes), in 2006. When will the third one be and what will it consist of? Martin Langewellpott – The next phase will require a new addition to the memory of the agreement between São Paulo and Bavaria. It will consist of cooperation in garbage management and renewable energies. This document will probably be signed by the partners by the end of this year. “ Our free services encompass supplying market studies, the search for potential Brazilian partners and support for opening a branch in Brazil ” 42 RBB – How do you assess this project’s results so far? Langewellpott – The results are very positive. One of them, for example, is the improvement in the São Paulo legislation concerning renewable energies through State Law N. 13798 from November 2009, which instituted the Climate Change State Policy and fosters the increase in participation of renewable energies in the matrix. RBB – How is the relationship among the State of Bavaria, Cetesb and the State of São Paulo Secretariat for the Environment? Langewellpott – The relationship between the Bavaria and the São Paulo Secretariats for the Environment has been in force since 1997, when a general cooperation agreement in the environmental protection area was signed. On the part of Bavaria, a technical cooperation project was developed in the environmental sector (Ambitec) in which Brazilian technicians are invited to know state-of-the-art technologies in Bavaria. In 1999, a common project was started, Guarani Aquifer Protection, and in 2004, a cooperation in the renewable energies area was started and a cooperation agreement was signed in the solid wastes incineration area. One year later, a protocol of intentions was established on the technical cooperation in the renewable energies and climate change areas. In the solid wastes area, there is a useful know-how and mutual experiences interchange and assistance on specific legislation. We are very satisfied with this joint work which makes of the State of São Paulo the greatest Bavaria partner in South America. RBB – What stages should a company follow in case it intends to sign an agreement with Bavaria? Langewellpott – A Bavarian company that wants to do business in Brazil usually contacts the State of Bavaria Representation in Brazil, located in São Paulo. Our free services encompass supplying market studies, the search for potential Brazilian partners and support for opening a branch in Brazil. Moreover, we organize Bavarian participations in detached Brazilian fairs, trade missions and business rounds. In general, a Bavarian company manages to get established within a two-year period. When the Bavaria representation started to operate in 1999, we counted on seventy companies with activities in Brazil. Today the number exceeds four hundred Bavarian companies with their own branch or a representation in Brazil – and we have an upward trend. We also provide services for Brazilian companies seeking business partners in Bavaria and that intend to get established in Bavarian territory. Our agency, Invest in Bavaria, is directly connected to the State of Bavaria Economy Secretariat and renders special services to companies with investment plans. RBB – What are the bureaucratic hindrances? Langewellpott – Bureaucratic procedures, sometimes, are not easy, but I would say that the problems are not so great that they cannot be overcome. Besides the instruments our office can provide, we always suggest to the newlyarriving companies to pursue to contact Bavarian companies already operating in Brazil in the same sector. Hence, experiences can be taken advantage of and possible uncertainties may be reduced. Novembro/November 2010 Interview RBB – How is the companies adhesion, how many are already acting with incineration in Brazil and what results have they obtained? Langewellpott – The number of new Bavarian companies with operations in Brazil this year will be over thirty. The sports events, such as the Military Games next year, the FIFA World Cup in 2014 and the Olympic Games in 2016, along with the infrastructure projects connected to these events and to the Growth Acceleration Program (PAC), will bring a new wave of Bavarian companies to Brazil. Sectoral themes such as garbage treatment also provide the application of new technologies in this area. As the traditional landfills more and more fail to solve the problems in large Brazilian cities, with an ever increasing garbage volume, the use of incineration is a viable alternative. I am sure that the new Brazilian legislation on waste treatment will benefit the advancement of adequate technologies such as that of incineration. As it is still a novel theme, for the moment no Bavarian company is acting in the incineration sector. Yet market leading companies, such as Martin GmbH, from Munich, which in the 1970s built the first incineration plant in São Paulo, or Envi Con & Plant Engineering GmbH, from Nuremberg, which made a presentation in the official Bavaria stand in the International Industrial Environment and Sustainability Fair (Fimai) in November, are ready to supply their technologies to the Brazilian market. RBB – And how is the incineration situation in Germany today? Langewellpott – In Germany and in other European Union countries, such as Belgium and Denmark, several incineration projects can be verified. We have 66 power plants using waste. In Switzerland, we count on 24 and, in Bavaria, 16. Again, additional plants for solid wastes recovery are being planned or built. In Germany, about 17 million t of waste are burned per year. In Bavaria, 3 million t are burned. There are also many places for recycling and recovering materials from garbage correctly disposed of. European statistics show that, in these countries, the high standard in waste plants coexists with the high level of waste recovery. The aim is to produce power, heat, steam and cooling as much as recycling, so that there is no need for fossil fuels. RBB – Aren’t the pollutant emissions from these plants a problem? Langewellpott – We can be comfortable concerning CO2. Today, even the Green Party does not criticize the power plants emissions. They have recognized the high environmental standards of the European incinerators. No one is threatened by the emissions of toxins, dioxins or furans because the filters are extremely effective. These arguments prevailed in the political discussion twenty years ago. Modern plants are safe. Last year, we had a debate in Brussels with European Parliament members. There was no disagreement or controversy related to the modern plants. RBB – Who establishes the technology and quality standards that incineration companies have to comply with in Brazil? Are these standards international? Langewellpott – The technology and quality standards in Europe are established by European Laws and by European Commission Laws. It is thus advisable that they are also followed in Brazil. Recently in China, there was also a new legislation for emissions aiming to make them compatible with the European Union standards. RBB – Why is the partnership between Brazil and Bavaria an advantage for Brazilian entrepreneurs? Langewellpott – In our opinion, both sides, “ I am sure that the new Brazilian legislation on waste treatment will benefit the advancement of adequate technologies, such as that of incineration ” 43 Interview Brazil and Bavaria, will benefit from the partnership. Brazilian entrepreneurs may find a waste-derived power generation company and they can conduct themselves a power, heat, cooling or steam generation project. Companies from Bavaria can supply the specific technical equipment and the necessary furnaces. “ The real costs of a garbage incineration plant in São Paulo are difficult to estimate. Yet we think that discarding in landfills is more costly ” RBB – In Germany, the success of incineration goes in parallel with the success of recycling, which reaches 40%. In Brazil, we only recycle 5% of the waste. Wouldn’t one thing be related to the other? Langewellpott – It is true that in highly developed European States, incineration goes side by side with recycling. The general incineration and recycling rate, for example, reaches 72% in Bavaria. This includes both thermal and recycling recovery. RBB – With the deactivation of the São João and Bandeirantes landfills, the city of São Paulo now exports garbage. Is incineration the most viable option? How much does a plant cost? Langewellpott – The real costs of a garbage incineration plant in São Paulo are difficult to estimate. Yet, if we calculate and compare them to the costs of a landfill, which needs tending years after its closing, to protect the land and the environment, we think that discarding in landfills is more costly. Do not forget the carbon dioxide and the methane emitted by a landfill and the related costs to protect the environment from them. Langewellpott – We think that the plants for transforming garbage into power are the best way of protecting the climate. On the one hand, fossil fuels can be replaced with garbage and, on the other hand, methane, a gas 23 times more dangerous than carbon dioxide, will be fully avoided. Incineration is the best option for garbage in all cases. Capturing all the methane gas [in a landfill] is impossible. Again, the danger caused by land and water pollution will still exist if garbage dumps keep being built. In Germany and for the most part of the European Union, biologically-degradable garbage landfill is forbidden. The maintenance of landfills after they are closed, for decades, is very costly. RBB – How is the dioxins and furans emission issue, the great target of environmentalists’ criticism to incineration? Langewellpott – The current incineration technologies are so advanced that there are no longer problem emissions. The German environmental legislation is one of the strictest ones. If there were problems caused by the emissions of these pollutants, the plants in Bavaria could not exist within the cities. RBB – What is the waste incineration scenario in Brazil for the coming years? Langewellpott – I think that the transition from landfills to incineration plants will be a relatively slow process. Concerning special wastes – from hospitals, for example –, I see possibilities for smaller-sized incineration plants to be implemented faster. RBB – The methane gas emitted by landfills can be burned in flares, allowing thermal and electrical power generation, besides the purchase of carbon credits. Doesn’t this compensate the costs of building and maintaining the landfill? Or is incineration the best option for all cases? 44 Novembro/November 2010 Empresas Modernas Fotos: Divulgação/Mathias Cramer PLÁSTICO VERDE Fábrica erguida pela Braskem no Rio Grande do Sul tem capacidade de produzir 200 t/ano do material brasileira Braskem, maior petroquímica das Américas e terceira maior produtora de polipropileno (plástico derivado do propeno) do mundo, está pesquisando e desenvolvendo, desde 2007, o polietileno verde, também conhecido como biopolímero ou bioplástico. De acordo com a instituição European Bioplastics, uma das maiores referências mundiais no assunto, os biopolímeros são plásticos produzidos por meio de matéria-prima renovável e têm suas características validadas por testes normativos de instituições reconhecidas internacionalmente. A Braskem conseguiu atestar a qualidade de seu produto, tanto que recebeu o Bioplastics Awards 2007, na categoria Best Innovation in Bioplastics, e, desde setembro de 2010, produz o material em escala piloto. A O polietileno verde da empresa é um biopolímero fabricado por meio do etano verde, matéria-prima oriunda do etanol da cana-de-açúcar que, por sua vez, é 100% renovável. Rodrigo Belloli, responsável pelo Marketing de Biopolímeros da Braskem, diz que uma das maiores vantagens do polietileno verde é que ele ajuda a conter o aquecimento global. “Nosso material captura e fixa 2,5 kg de dióxido de carbono (CO2) por kg de produto durante todo o ciclo de produção, considerando desde o cultivo da cana até a produção do material.” Ao contrário de alguns biopolímeros, o fabricado pela petroquímica brasileira, embora reciclável, não é biodegradável. Belloli explica que isso é vantajoso, pois faz com que o CO2 capturado durante o cultivo da cana-de-açúcar permaneça fixado por todo o período de vida do plástico. Belloli: “Material captura e fixa 2,5 kg de dióxido de carbono por kg de produto durante todo o ciclo de produção” 45 Empresas Modernas FÁBRICA Futuro promissor: até 2020, consumo de polietileno verde deve crescer acima de 20% ao ano 46 Assim como o polietileno comum, que hoje é o plástico mais consumido no mundo, o verde, segundo a fabricante, apresenta excelentes qualidades técnicas e de processabilidade, tendo, em seu estado final, a mesma aparência e características técnicas. Dessa forma, o biopolímero pode ser aplicado em diversos setores, como higiene e limpeza, cosméticos, alimentício e automotivo. A aposta da empresa com relação ao material é tão grande que, no dia 24 de setembro, foi inaugurada a maior unidade industrial de eteno derivado de etanol do mundo. Sua capacidade de produção está estimada em 200 mil t de polietileno verde por ano. A planta, que consumiu cerca de R$ 500 milhões, foi erguida na histórica cidade gaúcha de Triunfo, localizada a 75 km de Porto Alegre. “Nossa estimativa é que, até 2020, o consumo de polietileno verde cresça acima de 20% ao ano, quando o volume anual chegará a 8 milhões de t”, revela Belloli, explicando ainda que, embora o Brasil esteja num estágio inicial de desenvolvimento, o número de clientes interessados aumenta de forma significativa, gerando uma expectativa positiva com relação ao potencial brasileiro nesse mercado. A prova de que o mundo está aberto ao material é que importantes conglomerados nacionais e internacionais, como a Toyota Susho, Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Tetra Pak, Natura, Packtec, Acinplas, Cromex e Estrela, já fecharam acordos com a Braskem. Com a criação de sua unidade fabril em Triunfo, a Braskem ainda reforçou seu compromisso com o meio ambiente criando o Código de Conduta para Fornecedores de Etanol, documento que deve ser seguido por todas as empresas que fornecem o insumo à petroquímica. O documento visa a assegurar a sustentabilidade do processo produtivo desde a origem da matéria-prima até o produto final, observando a postura de seus fornecedores com relação a queimadas, biodiversidade, práticas ambientais, direitos humanos e trabalhistas e análise do ciclo de vida do produto. DIVULGAÇÃO A Braskem desenvolveu o selo I’m Green, que identifica no mercado mundial os produtos da empresa que possuem biopolímeros na composição. Além do polietileno verde, o selo identificará outras resinas que a petroquímica pretende desenvolver a partir de fontes predominantemente renováveis. Para divulgar o produto, a empresa ainda tem promovido diversas ações de marketing em revistas especializadas e em outras mídias de interesse. Além disso, participa de seminários, congressos e reportagens. “Divulgamos o polietileno verde com o intuito de promover o desenvolvimento do mercado, esclarecendo seus benefícios sustentáveis, mitigando desentendimentos e buscando parceiros alinhados com o conceito do produto”, explica Belloli. Novembro/November 2010 Modern Companies Photos: Dissemination/Mathias Cramer GREEN PLASTIC Factory set up by Braskem in Rio Grande do Sul has capacity to produce 200 t/year of the material he Brazilian Braskem company, the largest petrochemical industry in the Americas and the third greatest polypropylene (propene-derived plastic) producer in the world, has been researching and developing green polyethylene, also known as biopolymer or bioplastic, since 2007. According to the European Bioplastics institution, one of the most renowned world references in the subject, biopolymers are plastics made of renewable feedstock and have their characteristics validated by normative tests by internationally acknowledged institutions. Braskem managed to certify the quality of its product, and was even granted the Bioplastics Awards 2007, in the Best Innovation in Bioplastics category, and, since September 2010, it has produced the material in pilot scale. T The company’s green polyethylene is a biopolymer manufactured by means of green ethane, feedstock deriving from sugar cane ethanol that, in turn, is 100% renewable. Rodrigo Belloli, accounting for the Braskem Biopolymers Marketing sector, says that one of the greatest advantages of the green polyethylene is that it helps to refrain global warming. “Our material captures and fixes 2.5 kg of carbon dioxide (CO2) per product kg all along the production cycle, considered from sugar cane growth up to the material production.” As opposed to some biopolymers, the one produced by the Brazilian petrochemical industry, despite recyclable, is not biodegradable. Belloli explains that this is an advantage, as it makes the CO2 captured along the sugar cane growth remain fixed all along the plastic lifecycle. Belloli: "The material captures and fixes 2.5 kg of carbon dioxide per kg of product throughout the production cycle" 47 Modern Companies PLANT Promising future: by 2020, consumption of green polyethylene is expected to grow above 20% per year 48 Just as ordinary polyethylene, which is now the most consumed plastic worldwide, the green one, according to the manufacturer, presents excellent technical and processability qualities as, in its final state, it has the same appearance and technical characteristics. Thus, biopolymer can be employed in different sectors, such as hygiene and cleaning, cosmetic, food and automotive. The company’s expectation concerning the material is so great that, on September 24, the largest industrial plant of ethanol-derived ethane in the world started operating. Its production capacity is estimated to be about 200,000 tons of green polyethylene a year. The plant, which consumed about R$ 500 millions, was built in the historical Rio Grande do Sul city of Triunfo, located 75 km away from Porto Alegre. “We estimate that, by 2020, the consumption of green polyethylene will grow by over 20% a year, when the annual volume reaches 8 million tons”, reveals Belloli, also explaining that, even though Brazil is at an initial development stage, the number of interested clients increase significantly, generating a positive expectation concerning the Brazilian potential in this market. The proof that the world is open to the material is that important national and international conglomerates, such as Toyota Susho, Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Tetra Pak, Natura, Packtec, Acinplas, Cromex and Estrela, have already signed agreements with Braskem. With the establishment of its plant in Triunfo, Braskem also reinforced its commitment with the environment by creating the Code of Conduct for Ethanol Suppliers, a document to be abided by all the companies supplying input to the plant. The document aims to ensure the sustainability of the productive process from the feedstock source to its end product, observing its suppliers’ posture towards burning, biodiversity, environmental practices, human and working rights along with the product’s life cycle analysis. DISSEMINATION Braskem developed the I’m Green tag that, in the world market, identifies the company’s products that contain biopolymers in their composition. Besides green polyethylene, the tag will identify other resins the petrochemical industry intends to develop from predominantly renewable sources. So as to disseminate the product, the company has also promoted several marketing actions in specialized periodicals and other media of interest. Moreover, it participates in seminars, congresses and news articles. “We disseminate the green polyethylene aiming to promote market development, clarifying its sustainable benefits, mitigating misunderstandings and seeking partners aligned with the product concept”, explains Belloli. Novembro/November 2010 Artigo CANCUN – O FUTURO DA CONVENÇÃO DO CLIMA A reunião de Cancun dos signatários da Convenção do Clima ocorre na sombra da Conferência de Copenhague de 2009, que foi considerada por alguns um fracasso, mas que na realidade mudou o paradigma em que as negociações do clima ocorriam desde 1992 José Goldemberg A esperança, desde a Conferência do Rio há 20 anos, era a áreas em que se pode argumentar que os países industrializa- de que os 183 signatários da Convenção do Clima acabariam dos provocaram danos e prejuízos às nações menos desenvol- chegando a um acordo mundial sobre as reduções de emissões, vidas. Toda a era da expansão colonial desde a descoberta da e que caberia a cada país referendar tais acordos e implementá- América tem sido caracterizada por essas atividades, a começar los. O Protocolo de Quioto seguiu esse figurino, mas acabou pela destruição do império Asteca, no México, e do império por adotar um caminho que se revelou equivocado: ao dividir o Inca, no Peru. Reivindicar recursos da Espanha para compensar mundo em países do Anexo I (industrializados), com metas e os descendentes dos astecas e incas poderia ser também levan- prazos mandatórios para reduções das emissões, e os países em tado em negociações internacionais, mas simplesmente essa desenvolvimento, que não estão sujeitos a essas metas, ele não é a maneira pela qual as sociedades evoluem. abriu caminho para um eventual fracasso. Os Estados Unidos No caso das mudanças climáticas, as reivindicações por não ratificaram o protocolo, e o Senado daquele país adotou – compensações devidas à responsabilidade histórica das nações por unanimidade!!! – uma resolução (Byrd-Hagel) declarando que se industrializaram nos séculos 19 e 20 e que, portanto, que não consideraria a sua ratificação sem que a China (e outros contribuíram mais para as emissões de carbono que ainda per- países em desenvolvimento) também adotassem prazos e metas manecem na atmosfera são ainda mais difíceis de defender. Até de redução. 1992, a gravidade das emissões de gases de efeito estufa não A China, por sua vez, recusou-se a aceitar quaisquer metas era reconhecida, o que só ocorreu quando a Convenção do sob a alegação de que a “responsabilidade histórica” pelo aque- Clima foi adotada no Rio de Janeiro. Aplicar retroativamente cimento global é dos Estados Unidos (e outros países industri- penalidades aos países que emitiram antes dessa data não pare- alizados) e que, portanto, caberia a eles liderarem os esforços ce ter amparo legal e pode servir apenas como um argumento de para enfrentar o problema e cobrir seus custos. O Brasil tem natureza ética e política para convencer os países industrializa- atuado nas conferências do clima numa linha similar à da China. dos a pagar pelos danos. A questão das “responsabilidades históricas” tem pertur- Além disso, a emergência da China como um grande emissor bado seriamente as negociações sobre o clima e, na visão de na última década – comparável aos Estados Unidos – enfraque- alguns, não passa de uma peça de xadrez no intricado processo ce muito o argumento porque poluir hoje é reconhecido como de negociações internacionais como um instrumento para que uma atividade perigosa e, dentro de dez ou vinte anos, o argu- os países em desenvolvimento obtenham vantagens financei- mento da “responsabilidade histórica” poderá ser usado contra ras dos países industrializados. Com efeito, existem inúmeras os atuais grandes poluidores, entre os quais o Brasil. 49 Artigo Assim, chegamos a um impasse que o presidente Obama lecesse metas e prazos mais rigorosos que o protocolo em questão. dos Estados Unidos tentou solucionar, fazendo aprovar no O que se pode esperar é algum progresso em questões es- Congresso americano uma lei determinando reduções das emis- pecíficas que não dependam da adoção de um novo protocolo, sões de gases de efeito estufa próximas às fixadas pelo Proto- como evitar o desmatamento das florestas tropicais (REDD) e a colo de Quioto (17% de reduções até 2020). Essa Lei foi aprova- administração dos fundos para mitigação e adaptação que fo- da na Câmara dos Deputados, mas não no Senado. Com isso, o ram anunciados em Copenhague. esforço de Obama fracassou, e parece claro – com a vitória dos No que se refere ao REDD, isto é, a mecanismos que levem à republicanos nas últimas eleições legislativas – que os Estados redução do desmatamento na Amazônia, progressos poderiam Unidos não adotarão medidas desse tipo num futuro previsível. ser obtidos caso os negociadores brasileiros apresentassem Voltamos, pois, à estaca zero: um acordo mundial sobre re- ideias concretas e uma quantificação dos recursos necessários. duções de emissões em que todos participem é inviável a curto As ideias concretas parecem prioritárias, porque já existem re- prazo, e o que parecia ser um fracasso em Copenhague indicou cursos da Noruega para esses programas. Entre as propostas o caminho a seguir: os países comunicarão unilateralmente ao que surgiram até agora, as principais são as de apoio ao secretariado da convenção as medidas que pretendem adotar extrativismo nas florestas nativas, todas de pequeno porte para para promover reduções. Um grande número de países fez es- ter impacto real sobre o desmatamento. Uma nova ideia que tem sas comunicações independentemente de serem do grupo do sido aventada é a de dedicar recursos para a recuperação dos Anexo I ou não. O que isso significa é que a ficção criada pelo solos degradados de áreas que já foram desmatadas, desde que Protocolo de Quioto não existe mais. Todos os países comuni- acopladas à preservação da floresta em outras áreas. cam ao Secretariado suas metas e estas passam a ser objeto de Outra ideia que agora parece voltar à cena é estimular a controle internacional à medida que sejam transparentes e criação de florestas energéticas, o que lembra o Projeto Floram, verificáveis. A distinção entre metas mandatórias, tipo Quioto, proposto há mais de vinte anos na Universidade de São Paulo. e metas voluntárias que os países em desenvolvimento poderi- A novidade nessa área é que, depois de muitos anos de discus- am adotar desapareceu. são, o Secretariado da Convenção aprovou a metodologia de O que não desapareceu é a premissa fundamental da Convenção do Clima de que as obrigações dos diferentes países 50 reflorestamento em dois projetos no Brasil que serão objeto de créditos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. são “comuns, mas diferenciadas”, o que é razoável, consideran- Esta, aliás, sempre nos pareceu a rota mais simples para do que países do Anexo I e os países em desenvolvimento se recapturar carbono (CO2) lançado na atmosfera, mas que sofreu encontram em diferentes estágios de desenvolvimento. objeções de dois grupos muito diferentes: O que isso significa é que o campo de batalha para se decidir Alguns ambientalistas europeus que criticam refloresta- as reduções de emissão de gases já não é mais o plenário de mento como uma atividade que cria um “deserto verde”, megaconferências como Copenhague ou Cancun, mas batalhas originando problemas com suprimento de água, supres- que se travarão dentro da cada um dos países. Os mais esclare- são da biodiversidade e permanência da floresta plantada cidos adotarão metas mais exigentes porque entendem a gravi- por um longo espaço de tempo. As questões técnicas re- dade do problema; outros tenderão a torná-las menos exigen- ferentes ao tema já foram esclarecidas há muito tempo. Há tes. Com isso, a diferença entre países do Anexo I e os outros formas de promover o reflorestamento em mosaico com passou a ser gradual, e não drástica como estabelecido no Pro- áreas de vegetação heterogênea no meio e respeito às tocolo de Quioto. matas ciliares que se mostraram muito adequadas. Além Não é possível, portanto, esperar que a reunião de Cancun disso, os problemas criados pelas florestas são menores e tenha sucesso no ponto em que a reunião de Copenhague fa- menos controvertidos que a captura e armazenamento de lhou, que era o objetivo de conseguir um “novo” Protocolo de carbono (CCS), que é o método preferido das empresas de Quioto que incluísse outros países além do Anexo I e estabe- petróleo e carvão. Novembro/November 2010 Artigo Alguns diplomatas brasileiros que argumentam que plan- recessão e existem preocupações de que o desmatamento torne tar florestas no Brasil e capturar carbono é uma maneira de a aumentar quando a recessão mundial acabar. permitir que os países do Anexo I continuem a emitir. Essa Em conclusão, o que veremos em Cancun são pequenos posição, que é ideológica, não reconhece o fato de que os progressos, o que deveria se repetir durante as várias Confe- países da União Europeia adotaram metas e prazos de re- rências das Partes nos próximos anos até que as consequências dução de suas emissões independentemente da contri- do aquecimento global se tornem mais evidentes e se consiga, buição que o desmatamento em países como o Brasil po- então, que os maiores emissores mundiais decidam que a situa- derá fazer. Ele seria uma forma adicional de capturar carbo- ção estará se tornando insustentável e retomando tentativas de no e, se for objeto de transações do Mecanismo de De- acordos globais que comprometam a todos. senvolvimento Limpo (MDL), trazer recursos para o Brasil. A rigor, aqueles que se opõem ao uso do MDL para projetos de reflorestamento deveriam se opor também ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em geral. Com que credenciais o Brasil se apresenta em Cancun? Em primeiro lugar, o país pode argumentar que “fez o dever de casa”, apresentando em janeiro de 2010 os compromissos assumidos voluntariamente de reduzir as emissões até 2020 de 36% a 40% (aproximadamente) abaixo das emissões que ocorreriam nesse ano caso nada fosse feito. Essa é uma forma estranha de apresentar compromissos porque é impossível prever hoje quais seriam essas emissões. Ela destoa da forma com que os outros países fizeram suas comunicações ao Secretariado da Convenção. A China e a Índia propuseram o índice de carbonização de suas economias, que são números objetivos. Os Estados Unidos prometeram reduzir suas emissões em 17% abaixo do nível de 2005 até 2020, mas não é claro como isso será feito, uma vez que a lei em tramitação no Congresso americano não foi aprovada. O que se acredita é que reduções poderão ser conseguidas por meio da ação da Environmental Protection Agency (EPA), mas há dúvidas de que o Executivo daquele país o faça diante da crise econômica que o país atravessa. O Estado de São Paulo aprovou legislação mais enérgica para reduzir suas emissões – como, aliás, o fez também o Estado da Califórnia nos Estados Unidos – e até 2020 deverá promover várias ações na direção de uma economia de baixo carbono, o que o colocará na vanguarda de muitos países. Essa decisão local provavelmente será aplaudida em Cancun e os negociadores brasileiros poderiam fazer uso dela. Além disso, a redução do desmatamento da Amazônia que está ocorrendo é um avanço significativo, mas é preciso lembrar José Goldemberg Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo [email protected] que vivemos numa época em que a economia mundial está em 51 Article CANCUN – THE FUTURE OF THE CONVENTION ON CLIMATE CHANGE The Cancun Summit of the Convention on Climate Change parties occurs in the shade of the Copenhagen Summit of 2009, considered a failure by some, but which actually changed the paradigm on which the climate negotiations had occurred since 1992 José Goldemberg Since the Rio Conference 20 years ago, the 183 parties of the chess piece in the intricate international negotiations process Convention on Climate Change were expected to end up reaching as an instrument for the developing countries to obtain financial a world agreement on emission reductions, and that each country advantages from the industrialized countries. Actually, there would be incumbent with approving such an agreement and are a number of areas in which it may be argued that industrialized implementing it. The Kyoto Protocol followed this model, but countries caused damages and liabilities to less developed ended up adopting a path which revealed itself to be mistaken: nations. The whole of the colonial expansion era, ever since the when dividing the world into Annex I (industrialized) countries, Discovery of America, has been characterized by these activities, with goals and mandatory deadlines for emission reductions, starting by the destruction of the Aztec Empire, in Mexico, and and the developing countries, which are not subjected to these of the Inca Empire, in Peru. Claiming resources from Spain to goals, it opened the way for an eventual failure. The United compensate the Aztec and Inca descendants could be another States failed to sign the Protocol, and the Senate of that country– issue to be raised in international negotiations, yet this is simply unanimously!!! – adopted a resolution (Byrd-Hagel) declaring not the way in which societies evolve. that it would not consider signing it unless China (and other In the case of climate changes, the claims for compensations developing countries) also adopted reduction deadlines and owed to the historical responsibility of the nations which turned goals. industrialized in the 19th and 20th centuries and that, therefore, China, in turn, refused to accept any goals under the contributed more to the carbon emissions that can still be found allegation that the United States (and other industrialized in the atmosphere are even more difficult to advocate. Until countries) were ‘historically responsible’ for global warming and 1992, the seriousness of the greenhouse gases emissions was that, therefore, they were incumbent with leading the efforts to not acknowledged, which only occurred when the Convention deal with the problem and with covering the costs. In the Climate on Climate Change was adopted in Rio de Janeiro. Retroactively Change summits, Brazil has adopted a line similar to that of imposing penalties to countries which emitted before this date China. does not seem to have legal support and may serve only as an The ‘historical responsibilities’ issue has deeply disturbed the climate negotiations and, in some people’s view, it is but a 52 argument of ethical and political nature to convince the industrialized countries to pay for the damages. Novembro/November 2010 Article Moreover, the emergence of China as a great emitter in the last decade – comparable to the United States – very much Annex I countries and the others became gradual, and not drastic as established in the Kyoto Protocol. weakens the argument because polluting today is acknowledged It is not possible, therefore, to expect that the Cancun Summit as a dangerous activity and, in ten or twenty years, the argument succeeds at the point in which the Copenhagen Summit failed, of ‘historical responsibility’ may be used against the present that is, the goal to reach a ‘new’ Kyoto Protocol that would also great polluters, amongst which Brazil. include other countries besides the Annex I ones and that Hence, we come to a stalemate the United States President, Obama, tried to solve, having the American Congress approve a established stricter goals and deadlines than the protocol in question. bill determining a reduction in greenhouse gases emissions close What can be expected is some progress in specific issues to those established by the Kyoto Protocol (17% reductions that do not depend on the adoption of a new protocol, such as by 2020). This bill was approved in the House of avoiding the deforestation of tropical forests (REDD) and the Representatives, but not in the Senate. With this, Obama’s effort administration of the mitigation and adaptation funds that were failed, and it seems clear – with the victory of the Republicans in announced in Copenhagen. the last legislative elections – that the United States will not adopt this type of measures in a predictable future. Concerning the REDD, that is, mechanisms that lead to the reduction of deforestation in the Amazon Rainforest, progresses We thus go back to square one: a world agreement on could be obtained if the Brazilian negotiators presented concrete emission reductions in which all take part is unfeasible in the ideas and a quantification of the necessary resources. Concrete short term, and what seemed to be a failure in Copenhagen ideas seem to be a priority, since there are already resources indicated the path to follow: the countries will unilaterally from Norway for these programs. Among the proposals that communicate to the Convention Secretariat the measures they have emerged so far, the main ones are those supporting intend to adopt to promote reductions. A large number of extractivism in native forests, all too small in magnitude to really countries have made these communications independently of impact deforestation. A new idea that has been bred is that of belonging to the Annex I group or not. What this means is that dedicating resources to recover degraded lands in areas that the fiction created by the Kyoto Protocol no longer exists. All have already been deforested, since they are coupled with the the countries communicate their goals to the Secretariat and preservation of the forest in other areas. these turn to be the object of international control provided that Another idea that now seems to reappear is stimulating the they are transparent and verifiable. The distinction between creation of energy forests, which recalls the FLORAM Project, mandatory - Kyoto type - and voluntary goals that developing proposed more than twenty years ago at the University of São countries could adopt has disappeared. Paulo. The novelty in this area is that, after many years of What has not disappeared is the fundamental premise of the discussion, the Convention Secretariat approved the Convention on Climate Change that the obligations of the reforestation methodology in two projects in Brazil that will be different countries are ‘common, but differentiated’, which is the object of the Clean Development Mechanism credits. reasonable, considering that the Annex I countries and the developing countries are at different development stages. What this means is that the battlefield for deciding on the gas emission reduction is no longer the plenary assembly of This, by the way, has always seemed to us the simplest route for recapturing the carbon (CO 2) emitted into the atmosphere, yet which suffered objections from two very different groups: megaconferences such as Copenhagen or Cancun, but battles Some European environmentalists who criticize that will be fought within each of the countries. The most reforestation as an activity that creates a ‘green desert’, enlightened ones will adopt more demanding goals because originating problems with water supply, suppression of they understand the gravity of the problem; others will tend to biodiversity and the permanence of the planted forest for make them less demanding. With this, the difference between a long span of time. The technical issues concerning the 53 53 Article theme have already and long been cleared. There are ways the State of California in the United States – and by 2020 it will of promoting a mosaic reforestation with areas of promote several actions towards a low-carbon economy, which heterogeneous vegetation within them and respecting the will place it ahead of many countries. This local decision will riverside vegetation, which have shown to be very probably be applauded in Cancun and the Brazilian negotiators adequate. Again, the problems created by the forests are could make use of it. smaller and less controversial than carbon capture and Moreover, the reduction in the Amazon Rainforest storage (CCS), which is the method preferred by coal and deforestation now occurring is a significant advancement, but petroleum companies. it is worth stressing that we are living at a time when the world Some Brazilian diplomats who argue that planting forests economy is in recession and there are concerns that the in Brazil and capturing carbon is a way of allowing the deforestation will increase again when the world recession ends. Annex I countries to keep on emitting. This position, which In conclusion, what will be seen in Cancun are small is ideological, fails to acknowledge the fact that the progresses, which should be repeated in the different European Union countries adopted goals and deadlines Conferences of the Parties in the next years until the for reducing their emissions independently of the consequences of global warming become more evident and thus contribution that the deforestation in countries such as make the greatest world emitters decide that the situation is Brazil may make. This would be an additional way of turning unbearable and resume global agreements attempts to capturing carbon and, if it is the object of Clean which all of them are committed. Development Mechanism (CDM) transactions, providing resources to Brazil. Strictly speaking, those who oppose the use of the CDM for reforestation projects should also oppose the Clean Development Mechanism in general. With what credentials is Brazil presented in Cancun? Firstly, the country may argue that ‘it did its homework’, presenting in January 2010 the voluntarily assumed commitments of reducing its emissions, by 2020, from 36% to 40% (approximately) below the emissions that would occur that year in case nothing was done. This is a strange way of presenting commitments since it is impossible to foresee now what these emissions would be. It differs with the way other countries made their communications to the Convention Secretariat. China and India proposed the carbonization rate of their economies, which are objective numbers. The United States promised to reduce its emissions by 17% below the 2005 level by 2020, yet it did not make clear how this will be done, since the Bill in process in the American Congress failed to be approved. There is a belief that the reductions may be attained by means of the Environmental Protection Agency (EPA)’s action, but there are doubts that the US Executive Power will do it due to the economic crisis faced by the country. The State of São Paulo approved a stricter legislation to José Goldemberg Institute of Electrotechnics and Energy Universidade de São Paulo [email protected] reduce its emissions – as, by the way, it has also been done by 54 Novembro/November 2010 Agenda PERSPECTIVAS PARA O APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PERSPECTIVES FOR ENERGY UTILIZATION OF THE URBAN SOLID RESIDUES Período: 24 de novembro de 2010 Local: Auditório Mário Covas da Escola Politécnica da USP – São Paulo, SP, Brasil Informações: http://www.saneamento.sp.gov.br/crbst_40.html * Participação de José Goldemberg, membro fundador do Cenbio, realizando a conferência Aproveitamento energético de resíduos: Brasil x Outros Países, 9h40; e da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho, na coordenação da mesa redonda Resultados da Cooperação entre São Paulo e a Baviera na área de Resíduos Sólidos para implantação de URE – Unidade de Recuperação Energética, no Estado de São Paulo, 14h30 Period: November 24th, 2010 Venue: Mario Covas Auditorium, USP’s Polytechnical School – São Paulo, SP, Brazil Information: http://www.saneamento.sp.gov.br/crbst_40.html * Participation of José Goldemberg, Cenbio’s founding member, realizing the Energy Utilization of Residues: Brazil x Other Countries conference, 9:40 AM; and of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, in the coordination of the Results of the Cooperation between São Paulo and Bavaria in the area of Solid Residues for implementation of the URE – Energy Recovery Unit, in the State of São Paulo roundtable, 2:30 PM COP 16 CANCUN COP 16 CANCUN Período: 29 de novembro a 5 de dezembro de 2010 Local: Hotel Moon Palace e Cancunmesse – Cancun, QR, México Informações: http://cc2010.mx/es/ Period: From November 29th to December 5th, 2010 Venue: Moon Palace Hotel and Cancunmesse – Cancun, QR, Mexico Information: http://cc2010.mx/en/index.htm GNESD WORKING GROUP MEETING / CLEAN ENERGY ACCESS FOR ALL: ERADICATING GLOBAL ENERGY POVERTY WORKSHOP GNESD WORKING GROUP MEETING / CLEAN ENERGY ACCESS FOR ALL: ERADICATING GLOBAL ENERGY POVERTY WORKSHOP Período: 6 e 7 de dezembro de 2010 Local: Cancún Park Royal Grand Cancún (6/12) e Westin Hotel (7/12) - Cancun, QR, México Informações: [email protected] / [email protected] * Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho, realizando a apresentação Synthesis Report – Bioenergy Theme no dia 6 de dezembro, 9h15 Period: December 6th and 7th, 2010 Venue: Cancún Park Royal Grand Cancún (12/6) and Westin Hotel (12/7) – Cancun, QR, Mexico Information: [email protected] / [email protected] * Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, realizing the Presentation on the Synthesis Report by the Coordinator, on December 6th, 9:15 AM AGECC BRIEFING COP 16 SIDE EVENT AGECC BRIEFING COP 16 SIDE EVENT Período: 8 de dezembro de 2010 Local: Cancun, QR, México Informações: [email protected] * Participação da coordenadora do Cenbio e membro da AGECC, Suani Coelho, na reunião de discussão sobre o relatório Energy for a Sustainable Future Period: December 8th, 2010 Venue: Cancun, QR, México Information: [email protected] * Participation of Cenbio’s coordinator and AGECC’s member, Suani Coelho, in the meeting for discussion on the report Energy for a Sustainable Future WORLD ALGAE CONGRESS USA 2010 WORLD ALGAE CONGRESS USA 2010 Período: 6 a 8 de dezembro de 2010 Local: Marines’ Memorial Club – São Francisco, CA, Estados Unidos Informações: http://www.terrapinn.com/2010/algae/ Period: From December 6th to 8th, 2010 Venue: Marines’ Memorial Club - San Francisco, CA, United States Information: http://www.terrapinn.com/2010/algae/ CENTRAL EUROPEAN BIOMASS CONFERENCE 2011 2011 CENTRAL EUROPEAN BIOMASS CONFERENCE Período: 26 a 29 de janeiro de 2011 Local: Messe Congress Graz, Tagungszentrum – Graz, Áustria Informações: http://www.biomasseverband.at/ biomasse?cid=41143 Period: From January 26th to 29th, 2011 Venue: Messe Congress Graz, Tagungszentrum - Graz, Austria Information: http://www.biomasseverband.at/ biomasse?cid=41143 AGRENER GD 2010 -8º CONGRESSO SOBRE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA E ENERGIA NO MEIO RURAL AGRENER GD 2010 -8 TH CONGRESS ON DISTRIBUTED GENERATION AND ENERGY IN THE RURAL AREA Período: 13 a 15 de Dezembro de 2010 Local: Centro de Convenções da Unicamp – Campinas, SP, Brasil Informações: [email protected] * Participação da coordenadora do Cenbio Profª Suani Coelho, na Mesa Redonda Geração de Energia Elétrica a partir de Biomassa da Cana-de-Açúcar no dia 15 de dezembro, 8h30 Period: December 13th to 15th, 2010 Venue: Unicamp Conventions Center – Campinas, SP, Brazil Information: [email protected] * Participation of Cenbio´s coordinator, Suani Coelho, in the Geração de Energia Elétrica a partir de Biomassa da Cana-de-Açúcar Roundtable, on December 15th, 8:30AM 3º SEMINÁRIO BIOENERGIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS 3RD BIOENERGY SEMINAR: CHALLENGES AND BUSINESS OPPORTUNITIES Período: Setembro de 2011 (dias a serem confirmados) Local: São Paulo, SP, Brasil Informações: http://cenbio.iee.usp.br Period: September 2011 (days to be confirmed) Venue: São Paulo, SP, Brazil Information: http://cenbio.iee.usp.br/indexen.asp 55