EDUCAÇÃO
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Clipping Nacional de Educação Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013 Capitare Assessoria de Imprensa SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br 02/10/13 00 RADAR LAURO JARDIM 02/10/13 00 SOBE Crianças na escola A porcentagem de crianças entre 5 e 6 anos na escola subiu de 77,2% para 92% no Brasil em uma década. SOBE/DESCE 02/10/13 00 CARTA AO LEITOR 02/10/13 00 EDUCAÇÃO Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 02/10/13 00 EDUCAÇÃO Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 30/09/13 RIO 00 Professores estudam se vão entrar na Justiça contra Estado Sindicato diz que desocupação da Câmara foi truculenta Docentes ameaçam invadir a Casa, que teve policiamento reforçado Débora Gares Gabriel Menezes RIO - Um dia depois da retirada pela polícia do grupo de professores que ocupava o plenário da Câmara de Vereadores, um grupo de 30 deles voltou na manhã deste domingo à porta da sede do legislativo municipal. Segundo eles, os profissionais, que pedem participação na elaboração de um plano de cargos e salários para os docentes do município, não descartam tentar invadi-la novamente. Eles disseram ainda que vão acampar diante do prédio a partir desta segunda e, no Largo do Machado, a partir de terça, quando haverá uma assembleia da categoria e deverá ser decidido se o Sindicato Estadual de Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) entrará na Justiça contra o Estado. Segundo a coordenadora-geral da entidade, Marta Moraes, a polícia agiu de forma truculenta, na noite de sábado, quando entrou no plenário para retirar os manifestantes. De acordo com Marta, além de os agentes não terem apresentado um documento legal com ordem de reintegração de posse, ainda usaram armas de choque e balas de borracha contra os manifestantes. Cerca de 20 professores registraram queixa por agressão na 5ª DP (Lapa). Dois docentes foram detidos e liberados em seguida. — Um dos professores foi agredido antes de ser detido. Ele foi atingido com uma arma de choque, caiu no chão e desmaiou. Mesmo desacordado, foi arrastado pelo chão por um policial — disse a coordenadora-geral do Sepe. — Eles puxaram pessoas com mais de 60 anos pelo braço. Uma senhora ficou com o supercílio cortado. Em nenhum momento houve ação violenta por parte dos manifestantes. No grupo só havia professores. Ninguém ali é marginal ou a favor da violência. Durante evento de inauguração da Cidade da Polícia, no início da tarde deste domingo, no Jacarezinho, o governador Sérgio Cabral criticou a ocupação da Câmara pelos professores, que estavam ali desde quinta-feira. Para ele, a ação “prejudica a democracia”. — Uma coisa é ter a participação da população, algo muito importante, outra é a ocupação do plenário de um prédio público de uma maneira que não é aquela que deve ser feita por quem quer participar dos debates. A democracia estabelece ritos que devem ser respeitados. Eu, como ex-parlamentar, acho que a participação da população deve se dar sempre, mas dentro daquilo que se chama direitos e deveres — disse Cabral. Acompanhando o evento de inauguração, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Luís Castro, negou que tenha havido truculência por parte dos policiais na ação de retirada. Do lado de fora da Câmara, imagens divulgadas pela internet mostram policiais jogando spray de pimenta em manifestantes. — A Polícia Militar entrou apenas com seu efetivo. Não utilizamos spray de pimenta nem balas de borracha, então acho que foi uma ação técnica na qual atendemos a solicitação do presidente da casa — disse o coronel. — O que as imagens mostraram foi a ação do lado de fora, onde houve uma tentativa de dificultar a atividade da polícia. Tivemos que fazer esse tipo de ação, também sem balas de borracha, que não usamos desde o dia 3 de setembro. Continua Continuação 30/09/13 Equiparação ocorreria em cinco anos A base do governo, com apoio de alguns vereadores de oposição, decidiu propor uma emenda que iguala os vencimentos de todas as categorias de professores, independentemente da carga horária. Mas os vencimentos daqueles que não migrassem para 40 horas semanais seriam equiparados apenas em cinco anos, com reajustes na hora-aula de 20% ao ano para todas as categorias. O líder do governo, Luiz Guaraná (PMDB), explicou que a proposta atende à realidade orçamentária da prefeitura, já que causará um impacto de R$ 3 bilhões nas contas do município. Paulo Messina (PV), da Comissão de Educação, disse acreditar que a proposta traz ganho em relação à versão original. 30/09/13 00 O PAÍS PERFIL / RONAL HENNING Quem conta um conto ganha vários pontos Continua Continuação 30/09/13 30/09/13 TENDÊNCIAS & DEBATES A3 Ousar no conceito de qualidade Paulo Gabriel Soledade Nacif A busca por inserir os alunos na diversidade territorial brasileira não deve ser referência de qualidade das universidades? Apesar de todas as críticas possíveis, não podemos esquecer que as universidades são públicas ou atuam, quando privadas, sob concessão do Estado brasileiro. É, por tanto, legítimo que a sociedade tenha referências de qualidade sobre as instituições que mantém. Ademais, tais informações são importantes para ações de políticas públicas, de regulação do Estado. A grande questão nas avaliações e em rankings é justamente a delimitação de critérios, ou seja, para hierarquizar, precisamos expor quais as epistemes que nos guiam. É necessária a exposição de um conceito de universidade. No caso do Ranking Universitário Folha (RUF), esse conceito baseia-se no modelo hegemônico e, felizmente, incontornável de universidade científico-tecnológica. No entanto, a universidade não pode ser apenas isso. Ainda é contemporânea a preocupação de Alceu Amoroso Lima, que considerava insuficiente a educação ou formação profissional que faz a pessoa ser apenas uma expert em conhecimentos. O conceito compreendido pelo RUF é muito óbvio e pouco colabora com o debate necessário ao país. Afinal, podemos falar em um conceito de universidade brasileira? O que há da experiência mais singular da universidade brasileira no RUF? Atrevo-me a responder: quase nada! Qualquer universidade, conceitualmente, deve ter na pesquisa a sua ação basilar e, nesse aspecto, talvez os 40 pontos (em 100), destinados à pesquisa no RUF, sejam até poucos. Vale ressaltar que não é aí que está a questão, inclusive porque a simplificação conceitual da universidade que preocupa ocorre efetivamente nos outros parâmetros! Será que não precisamos ousar sobre aquilo que tão ardentemente defendemos como "qualidade"? Pensar no conceito de universidade não deve significar também uma colaboração efetiva com a formação geral dos nossos estudantes? A universidade precisa ir além de preparar o que William Zinsser chamou de "bárbaros altamente qualificados". Qual o posicionamento das universidades brasileiras quanto ao recente comportamento dos nossos médicos em relação a colegas estrangeiros? Não há uma dimensão de formação acadêmica nessa questão? A consideração mais aprofundada da avaliação da formação geral presente no Enade pode contribuir para a análise de uma instituição universitária? A busca por inserir os seus alunos na diversidade territorial brasileira não deve ser referência de qualidade, que se soma aos conceitos emitidos pela área de recursos humanos de grandes empresas, como usa o RUF? Afinal, a busca de reconhecimento das diversidades étnico-racial, geracional e de gênero não deveria ser parâmetro de qualidade em um país como o Brasil, com feridas sociais tão doídas e abertas? Qual é a nossa opinião sincera sobre o preceito constitucional da extensão como pilar fundamental da universidade brasileira? Não podemos esquecer que, ao determinarmos parâmetros de avaliações ou rankings, estamos também estabelecendo para a sociedade o conceito de universidade brasileira! Ao que parece, estamos nos distanciando, para o bem e para o mal, daquilo que sonhou gente como Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. PAULO GABRIEL SOLEDADE NACIF, 49, engenheiro agrônomo e doutor em solos, é reitor da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) 30/09/13 00 NOTAS & INFORMAÇÕES O piso unificado dos docentes Dois anos depois de terem arguido a inconstitucionalidade da Lei 11.738 que impôs o piso salarial unificado para os professores da rede pública de ensino básico, em 2008, os governadores estaduais agora querem mudar a fórmula de correção dos salários da categoria. Pela Lei do Piso, cuja constitucionalidade foi reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal em 2011, o índice de reajuste deve seguir o porcentual de variação, nos dois últimos anos, do gasto por aluno no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). "Alguns Estados caminham para tentar garantir ganho real para o piso, mas precisamos de um índice mais estável", afirma Eduardo Deschamps, secretário de Educação de Santa Catarina e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), depois de afirmar que a maioria dos governadores estaria disposta a apenas atualizar o piso salarial unificado pela inflação. "Como está, o reajuste não é viável", diz o secretário de Educação do Rio Grande do Sul, José Clóvis de Azevedo, depois de lembrar que a folha de pagamento do professorado já consome 85% do orçamento de sua pasta. O cálculo leva em conta o montante da receita de impostos municipais, estaduais e federais que compõem o Fundeb e as variações no número de alunos do ensino fundamental. Em 2010, havia 11,4 milhões de alunos matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental urbano da rede pública. Em 2012, eram 10,7 milhões de alunos. Como a estimativa é de crescimento da receita fiscal e de uma nova redução do número de matrículas nesse nível de ensino, em 2013, os governadores alegam que o próximo reajuste do piso unificado - que hoje é de R$ 1.567 - terá de ser de 19%. Evidentemente, a iniciativa dos governadores não foi bem recebida pelas entidades de professores da rede pública de ensino fundamental. Mas, conscientes do impacto nas finanças municipais e estaduais da fórmula de cálculo do piso imposta pela Lei 11.738, elas aceitam negociar. Uma das alternativas admitidas é a adoção do INPC do ano anterior, acrescido de 50% da variação nominal do Fundeb, mas sem descontar a inflação, como querem os governadores. Esse valor é mais do que o dobro do que os 7,97% que foram concedidos à categoria no início de 2013, dizem os governadores, com o apoio dos prefeitos de seus respectivos Estados. Alegando não dispor de recursos orçamentários suficientes e classificando o modelo salarial imposto pela Lei 11.738 como "insustentável" e "imprevisível", eles querem reduzir o aumento, que deverá ser concedido no início de 2014, a 7,7%. Para os governadores, a forma de reajuste em vigor impede o planejamento tributário dos Estados. Em documento enviado à Presidência da República, há duas semanas, eles propuseram que o reajuste do piso passe a ser feito com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior, acrescido de 50% da variação real (descontada a inflação) do Fundeb. Atualmente, segundo o presidente da CNTE, Roberto Leão, só quatro Estados e o Distrito Federal cumpririam integralmente a Lei do Piso. Para o Ministério da Educação (MEC), os reajustes acumulados do piso salarial unificado entre 2009 e 2013 totalizaram mais de 64%, sobrecarregando as prefeituras e os Estados mais pobres. O MEC também estima que o problema da remuneração do magistério público só será resolvido com a destinação de recursos dos royalties da exploração do pré-sal para a educação. A criação do piso salarial unificado foi uma iniciativa importante, uma vez que os salários dos professores da rede oficial de ensino fundamental sempre estiveram entre os mais baixos entre os profissionais qualificados do setor público. Mas a concessão de aumentos reais tem de estar condicionada à realidade fiscal dos Estados, por um lado, e aos repasses da União, por outro lado. Sem isso, a Lei do Piso continuará sendo desrespeitada pela maioria dos Estados. 30/09/13 00 METRÓPOLE RIO: Retirados da Câmara, professores vão à Justiça Continua Continuação 30/09/13 30/09/13 00 METRÓPOLE Desde 2009, Enem é alvo de mais de seis processos por semana na Justiça Continua Continuação 30/09/13 30/09/13 00 METRÓPOLE ‘É preciso que o Mec seja transparente’, diz estudante Continua Continuação 30/09/13 CORREIO BRAZILIENSE 30/09/13 BRASIL 00 Acesso ao ensino infantil lidera a lista de violações Por hora, os conselhos tutelares recebem, pelo menos, uma reclamação de descumprimento do direito à escola, garantido pela Constituição. As crianças mais novas são as principais prejudicadas pela falta de vagas e má qualidade das instituições GRASIELLE CASTRO A cada hora um conselho tutelar recebe uma denúncia de violação do direito de acesso à educação, garantido a todas as crianças do país. Nos últimos quatro anos, foram 43,9 mil queixas. Levantamento do Correio com base nos dados da Sistema de Informação para Infância e Adolescência (Sipia), da Presidência da República, com dados dos conselhos tutelares, mostra que as principais reclamações recaem sobre o ensino infantil: ou há dificuldade de acesso ou o serviço não é ofertado. Só nesse quesito, de 25 de setembro de 2008 a 25 de setembro deste ano, foram 22 mil queixas. Os dados, no entanto, são subnotificados, pois apenas 18 unidades da Federação encaminharam as reclamações para inclusão no sistema. As denúncias refletem a realidade: faltam creches e préescolas. Presidente do Conselho Tutelar de Bairro Novo, em Curitiba, Cristiane Noronha diz que muitas famílias a procuram para reclamar que não conseguem matricular os filhos. Segundo Cristiane, o problema é que o número de escolas não acompanha o crescimento da demanda. Cristiane orienta os pais a formalizarem o pedido de vaga. Se não conseguirem, o conselho encaminha a solicitação ao núcleo de educação. “De 100 casos, 90 contam com resposta negativa. O conselho, então, abre um procedimento no Ministério Público, que é encaminhado para uma futura ação civil pública”, explica. Poucas vagas Apesar de o Paraná estar no topo do ranking das denúncias, a realidade do estado é bem próxima à do resto do país. No Distrito Federal, algumas mães desistem de procurar uma vaga porque sabem que não vão encontrar. Foi isso que aconteceu com a mãe de Enzo Miguel, de 1 ano e 8 meses. A manicure Ildeneide dos Santos, 23 anos, ficou desanimada com a alta demanda. “Tem muita criança esperando por vaga. Já deixei de aceitar propostas de emprego porque não tinha com quem deixar o Enzo. O maior problema das mães é não ter com quem deixar os filhos”, destaca. Ela não sabe o que vai fazer quando o menino ficar mais velho. “Minha filha, de 7 anos, começou a estudar cedo e isso fez muita diferença no aprendizado. Nós morávamos em Goiás e eu consegui a matrícula. Sempre achei que no DF ia ser mais fácil, mas não está sendo.” A secretária da Criança do DF, Rejane Pitanga, reconhece que a capital do país tem uma dívida histórica com o setor. “Essa é uma política fundamental para o desenvolvimento da criança e para a autonomia das mães, que vão para o mercado de trabalho e precisam deixar os filhos bem cuidados, principalmente nas regiões de grande vulnerabilidade social”, reforça. A Secretaria de Educação do DF acrescenta que, em parceria com o Ministério da Educação, vai construir mais 111 unidades até o fim de 2014. A rede atual conta com 147 creches e pré-escolas, incluindo as conveniadas. Na semana passada, o ministro Aloizio Mercadante reafirmou a promessa do governo federal de construir 9 mil unidades até 2014. As queixas no Sistema de Informação para Infância e Adolescência (Sipia), entretanto, não se restringem ao ensino infantil. O sistema também registra reclamações contra outras etapas do ensino e a falta de estrutura adequada para o aprendizado. Continua Continuação 30/09/13 CORREIO BRAZILIENSE 30/09/13 00 Um remédio contra a evasão Para 2016, a educação brasileira tem o desafio de oferecer vagas para todas as crianças com 4 e 5 anos. De acordo com o relatório De olho nas metas 2012, do Movimento Todos Pela Educação, a taxa atual é de 81,7%. O levantamento indica que cerca de 1 milhão de crianças nessa faixa etária ainda está fora da escola. Embora a educação seja um direito, a oferta de vagas só é obrigatória dos 6 anos aos 17 anos. Para o ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná Carlos Eduardo Sanches, é fundamental que o ensino infantil seja acessível a todos. “Estudos provam que a chance de uma criança que passou por essa fase do aprendizado ter uma trajetória de sucesso é maior.” O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa), Luís Cláudio Megiorin, alerta que é nessa fase do ensino que os estudantes tomam gosto pela leitura e pelo aprendizado. “Lá na frente, vamos nos deparar com repetência e evasão. O estímulo tem que começar na creche e na pré-escola”, acredita. “Mas não adianta colocar a criança em um depósito. O bom resultado só é alcançado em um ambiente estimulador, com profissionais qualificados.” (GC) BRASIL CORREIO BRAZILIENSE 30/09/13 00 EDITORIAL Analfabetismo: bola de neve do atraso A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada sexta-feira passada pelo IBGE é trágico flagrante do atraso governamental em área essencial para o desenvolvimento do país: a educação. Depois de uma década e meia em declínio, o contingente de analfabetos brasileiros com mais de 15 anos de idade foi engordado em cerca de 300 mil pessoas no último ano com relação a 2011. Tivesse estagnado, a vergonha já seria grande, mas, pior do que isso, a curva do analfabetismo voltou a apontar para cima, com avanço de 0,1 ponto percentual, passando de 8,6% para 8,7%. Ressalve-se que tal grau de ignorância é observado em faixa etária bastante avançada para a vida escolar. E que aqui não se trata de pessoas desprovidas de pleno domínio da leitura e da escrita, mas de quem simplesmente é incapaz de ambas as coisas. Mais: o universo dos analfabetos funcionais (agora, sim, dos que não sabem ler nem escrever satisfatoriamente), entre os que chegaram ou ultrapassaram os 15 anos, é bastante superior, girando em torno de 20% do total. Ou seja, o infortúnio do estudante neste país vai de ponta a ponta. Para se ter ideia, cerca de 38% dos que cursam o terceiro grau têm sérias dificuldades para produzir e interpretar textos. No fim de 2012, mais precisamente em 9 de novembro, o governo federal lançou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O programa, com previsão de investimentos de R$ 2,7 bilhões neste ano e em 2014, tem como alvo crianças de 7 anos. Vejam que essa é a “idade certa”. Tanto que em 2008 foi instituída a Provinha Brasil, destinada a aferir se, aos 8 anos, os alunos do 2° ano do ensino fundamental da rede pública estariam, de fato, plenamente alfabetizados. Mas, passada meia década, percebe-se que os efeitos da louvável medida adotada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/ MEC) têm sido, no mínimo, insuficientes. Acabar com o mal endêmico que compromete geração após geração de brasileiros, como pesado entrave ao desenvolvimento sustentável do país, é desafio para toda a sociedade. Mas é preciso, antes, romper o círculo vicioso, para que as famílias adquiram condições de prestar cota de colaboração nessa tarefa gigantesca. Sem o mínimo, perde-se inclusive a possibilidade de aplicação de prática comum nos países desenvolvidos, de os pais lerem para os filhos pequenos, o que desperta o interesse pela leitura, desenvolve o raciocínio, amplia o conhecimento da língua e facilita o aprendizado das demais disciplinas. Fracassos em matemática, geografia, história, ciências e outras matérias se devem, sobretudo, a deficiências de leitura e escrita. Nessa bola de neve do atraso, a evasão escolar cresce, alimentada pelo desinteresse de quem está na escola sem entender nada. Mais: a própria cidadania é mutilada. Portanto, é preciso fazer valer cada centavo dos R$ 2,7 bilhões destinados a crianças de 7 anos em 2013 e 2014. Mas os jovens e adultos analfabetos também carecem de ação rápida e eficiente do Estado. É o futuro da nação que está em jogo. DESTAKjornal (DF) 30/09/13 00 BRASIL 02/10/13 00 COMPORTAMENTO O maior problema da educação do Brasil Metade dos jovens entre 15 e 17 anos não está matriculada no ensino médio. Pesquisa inédita mostra que a proporção dos que abandonaram a escola nessa etapa saltou de 7,2% para 16,2% em 12 anos João Loes Não é sempre que apenas uma estatística basta para dar um bom panorama da realidade. O mais comum é que seja preciso esmiuçar diversos números e informações para realmente compreender o que está em jogo. Quem se debruça sobre o ensino médio brasileiro, porém, se depara com uma única estatística que parece sintetizar, de forma clara, a desastrosa situação desta etapa da educação: a taxa de evasão escolar. Uma nova pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, revela que apenas metade dos jovens com idade entre 15 anos e 17 anos está matriculada no ensino médio. Pior: entre 1999 e 2011, a taxa de evasão nesta faixa mais que dobrou, saltando de 7,2% para 16,2%. Ainda que o número absoluto de alunos venha aumentando, segundo o Ministério da Educação, dados de evasão como esses criam um senso de urgência que se sobrepõe a tudo. “Chama a atenção a dificuldade de enfrentamento da crise do ensino médio”, resume o estudo. “A despeito das reformas, os resultados das avaliações nacionais continuam surpreendendo negativamente os responsáveis pela condução da política educacional brasileira”, conclui. ARREPENDIMENTO A evasão é grande, mas a maioria pensa em voltar à escola A evasão, nesse contexto, é menos causa que consequência dessa crise. Ela é a parte visível de um conjunto de problemas conhecidos há décadas, mas sobre os quais nenhum governo tem feito o suficiente. “A crise é inquestionável e não podemos mais adiar o enfrentamento de um problema tão grave”, diz Maria de Salete Silva, coordenadora do programa de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância, no Brasil (Unicef). “O ensino médio é o maior desafio da educação do País.” Currículo inchado, com disciplinas demais para tempo de menos, ausência de um programa de ensino técnico integrado a essa etapa escolar, baixa remuneração dos professores e, fundamentalmente, inadequação do ensino médio à vida, às expectativas e às necessidades dos jovens compõem o retrato das dificuldades. “Esperar cinco anos para agir é condenar uma geração que hoje tem entre 15 e 17 anos a não ter perspectivas de futuro”, resume Maria Salete. O paulistano Mateus Oliveira, hoje com 19 anos, sabe bem quanto abrir mão da educação nessa fase crucial limita as perspectivas de futuro. Quando tinha 17 anos e cursava pela segunda vez o primeiro ano do ensino médio, ele resolveu largar a escola para tentar a carreira de jogador de futebol. “Era um sonho que já tinha me custado a sétima série, que também repeti”, diz. Confiante no talento com a bola, ele insistiu, mas menos de um ano depois percebeu que o caminho não renderia frutos. Com 18 anos e sem o ensino médio concluído, matriculou-se no programa de educação de jovens e adultos, onde um ano de ensino pode ser cumprido em seis meses, e rumou para a carreira militar. Atrasado, finalmente conseguiu concluir o ensino médio esse ano, mas viu e ainda vê oportunidades lhe escaparem por causa da formação atrasada. “Já era para eu ter concluído o curso técnico que acabei de começar, em informática”, diz. Com a capacitação, ele poderia estar ganhando mais no Exército – onde ainda recebe um salário de base, além de não ter segurança de carreira – ou trabalhando como técnico em informática em uma empresa da área. “Me arrependo das decisões que tomei”, diz. Continua Continuação SONHO FRUSTRADO Mateus Oliveira, 21 anos, abandonou o ensino médio aos 17 anos para tentar ser jogador de futebol. Não deu certo e agora ele quer se tornar técnico em informática Tratar o caso de Oliveira como o de um garoto perdido que simplesmente preferia jogar bola a estudar é, além de reforçar preconceitos, desperdiçar uma grande oportunidade de entender de onde vem o gigantesco desinteresse do jovem pela escola. Afinal, Oliveira não deixou o estudo só porque o futebol o atraía, mas também porque o colégio não parecia relevante o suficiente para ele. E não são poucas as razões que fazem da escola algo sem importância aos alunos, como mostra a pesquisa do Seade. O currículo é um dos maiores problemas. Reformado em 1998 e 2012, mas ainda inchado por 13 disciplinas obrigatórias, além de cinco complementares a serem ministradas em conjunto com as demais, ele tem sido considerado excessivamente extenso para os três anos de ensino médio. Recentemente, ganhou força a ideia de dividir as disciplinas em grandes áreas de interesse. Trata-se de uma contribuição vinda do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que surgiu com a única função de avaliar essa etapa educacional, mas que hoje acumula a tarefa de selecionar alunos para universidades federais do País. A proposta 02/10/13 é reunir, como acontece no Enem, biologia, física e química sob o guarda-chuva das ciências da natureza; história, geografia, filosofia e sociologia, sob ciências humanas, e assim por diante. “Mas o projeto é de difícil implantação, exige forte interdisciplinariedade, o que não se faz de uma hora para outra”, diz Luis Márcio Barbosa, diretor-geral do Colégio Equipe, em São Paulo. PROVEDOR Hudson Silva, 22 anos, saiu da escola para poder trabalhar e ajudar em casa Além das questões práticas, como o volume de disciplinas e o tempo disponível para cumpri-las, uma preocupação mais subjetiva com o currículo, mas não menos importante, tem ganhado cada vez mais espaço. Trata-se da distância abissal entre o conteúdo das disciplinas apresentado aos jovens e a realidade da vida que eles levam. “A escola continua muito tradicional, engessada diante da vida mutante do adolescente contemporâneo”, afirma o educador Barbosa. A chamada “integração do currículo às tecnologias educacionais”, meta no relatório do Seade, é um dos maiores gargalos. Hoje, segundo pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), 84,4% dos brasileiros com idade entre 15 e 19 anos usam a internet para estudar. Outros 25,9% recorrem a tablets e celulares. -Enquanto isso, poucas escolas no País fazem uma integração real de conteúdo e tecnologia, embora 73,8% delas já contem com computador e internet. Este descompasso entre expectativas dos alunos e entrega da escola é forte gerador de desinteresse, mas não é o único. A ausência de uma articulação mais eficiente entre ensino profissional e ensino médio também é tida como uma das razões para a evasão nesta fase. Reconhecer que nem todos, ao completar 18 anos, vão rumar para a universidade e oferecer a alternativa do aprendizado técnico durante o ensino médio pode ser um caminho para manter alunos na escola. Se essa opção estivesse disponível para o paulistano Hudson Laton da Silva, hoje com 21 anos, ele provavelmente teria terminado a educação básica. Morador da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Silva saiu do colégio para se dedicar integralmente ao trabalho quando cursava o primeiro ano do ensino médio. “Tinha que ajudar em casa”, conta. Ele trabalha como mecânico e, se um curso técnico nessa área tivesse sido oferecido na escola onde ele estudava, o jovem teria uma razão a mais para continuar frequentando a instituição. Hoje ele corre atrás do prejuízo. Mesmo empregado – ele é funcionário de uma grande concessionária na capital paulista –, Silva pretende fazer um supletivo e finalmente terminar o ensino médio. “Vou ser sincero: vontade de voltar a estudar eu não tenho, mas sei que é importante, então quero fazer o supletivo”, diz. Boa parte dos que deixam de estudar pensa como ele e fala em retornar. Segundo dados da pesquisa do Cebrap, 61,8% dos jovens que abandonaram a escola nessa fase Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação 02/10/13 Continua Continuação querem voltar para concluir o ensino médio, independentemente da razão que motivou a evasão. “Algumas decisões são tomadas de maneira impulsiva porque o adolescente já tem alguma autonomia, mas tem dificuldade para pensar a longo prazo”, diz Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá, para quem, na adolescência, tudo é mais interessante que estudar. “Mas eles pensam no que fazem, refletem e costumam se arrepender quando veem que fizeram besteira.” Cabe à escola e aos pais dar subsídios ao aluno para que ele consiga administrar os impulsos da idade. Nem sempre, porém, é possível. A paranaense Andreia Tawlak, hoje com 21 anos, conhece, como poucos, as consequências da entrega às paixões adolescentes. Dona de um histórico escolar conturbado – ela havia repetido a sétima série e cursava pela segunda vez o primeiro ano do ensino médio –, Andreia surpreendeu a todos quando, aos 17 anos, anunciou que estava de mudança para Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Apaixonada pelo primeiro namorado, de 23 anos, ela diz ter sido convencida por ele a largar tudo e acompanhá-lo. “Foi coisa de idiota”, admite, hoje. O relacio- 02/10/13 namento durou um ano e meio, Andreia teve de retornar para Foz do Iguaçu, onde morava, e hoje está às voltas com um supletivo que não consegue terminar enquanto sonha com cursos de design e um emprego na área. “Os amigos do tempo de escola que continuaram estudando estão todos trabalhando. E eu? O que estou fazendo?”, questiona. Embora muitos especialistas defendam que, mesmo em casos como o de Andreia, a escola tem responsabilidade por não ter mostrado à aluna a importância de permanecer em sala de aula, há visões contrárias a esta tese. A diretora do Sindicato dos Professores de São Paulo (SinproSP), Silvia Barbara, afirma que “jovens adultos” com seus 16, 17 anos devem assumir suas obrigações. “Nas análises dos problemas na educação, a escola e os professores são sempre os mais criticados e pouca ou nenhuma responsabilidade é legada ao adolescente e à família”, diz. Silvia diz ainda que a cruzada em favor de uma escola que privilegie ser agradável aos alunos antes de se preocupar em passar a eles o conhecimento acumulado da humanidade pode ter efeitos nocivos. “Vivemos em uma sociedade que valoriza de- mais o prazer e criminaliza demais o trabalho. E estudar sempre dará trabalho”, afirma. FASE Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá: "Na adolescência, tudo é mais interessante que estudar", diz ela Quando um jovem abandona a escola, perdem todos. A exclusão pela educação cria um abismo social e inibe o surgimento de um cidadão com uma participação social mais efetiva. Perde também o Brasil. “O País deixa de ter um profissional de nível médio com formação geral e um potencial profissional de nível técnico pós-médio ou de nível superior, com formação específica”, alerta Priscilla Tavares, professora e pesquisadora da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. “As consequências do abandono no ensino são severas para o crescimento econômico.” Já passou da hora de enfrentarmos esse desafio. Continua Continuação 02/10/13 CORREIO BRAZILIENSE 29/09/13 00 Educação Os governadores ameaçam novamente com o não pagamento do piso nacional dos professores, que já não é grande coisa. Onde está o prometido dinheiro do présal? Melhor seria se os parlamentares tivessem aprovado a federalização da educação básica, com a destinação de 10% da arrecadação de impostos, obrigatoriamente, para a área. Aí, com toda certeza, haveria melhoras na qualidade do ensino público do país. Washington Luiz Souza Costa, Samambaia SR. REDATOR CORREIO BRAZILIENSE 29/09/13 00 Mandou bem Alunos da Escola Classe 25, em Ceilândia, criaram uma cadeira de rodas movida por meio de estímulos cerebrais e movimentos do rosto. Depois de aulas de robótica e programação eletrônica, eles desenvolveram o protótipo da cadeira. CIDADES EIXO CAPITAL 28/09/13 00 METRÓPOLE 28/09/13 00 METRÓPOLE 28/09/13 00 METRÓPOLE 28/09/13 00 METRÓPOLE Desafio é manter o aluno a partir dos 15 anos Na faixa de 15 a 17 anos, pelo menos 1 em cada 10 já deixou estudo; entre 18 e 24 anos, idade universitária, só há 29,4% de estudantes LUCIANA NUNES LEAL / RIO - O Estado de S.Paulo Apesar dos avanços que garantem praticamente a universalização do acesso à escola para as crianças, os dados da Pnad 2012 mostram as dificuldades de manter adolescentes nas salas de aula. Na faixa etária de 6 a 14 anos, 98,2% frequentam a escola, aponta a pesquisa. O índice é o mesmo de 2011. Já na faixa dos 15 aos 17 anos, quando os jovens deviam estar cursando o ensino médio, a presença na escola cai para 84,2% da população, um avanço de meio ponto porcentual em relação aos 83,7% do ano anterior. Entre os jovens de 18 a 24 anos, portanto em idade universitária, apenas 29,4% estudam. No ano anterior, eram 28,9%. "Grande parte dos jovens que não prosseguem no estudo é formada por alunos repetentes que, desmotivados, abandonam a escola antes de completar o ensino fundamental. Outro fenômeno é a baixa atratividade do ensino médio. Há um profundo desinteresse dos alunos no modelo do ensino e por isso se discute muito a reestruturação curricular e a ênfase na educação profissional", diz a educadora Maria Clara Di Pierro. De acordo com a especialista, "existe ainda o fato de que na área rural a oferta de ensino médio é irrisória". "As políticas educacionais não têm sido capazes de ampliar a escola na área rural, mas de transportar jovens para zonas urbanas. Isso compromete o trabalho na agricultura", acrescenta ela. O trabalho no campo é uma das razões que levam a Região Sul a ter a maior proporção de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, de 18,3%. Dois em cada dez jovens nessa idade estão fora das salas de aula. O Sudeste tem a maior taxa de população nesta faixa etária que continua a estudar, de 85,8%. A consequência da saída precoce dos jovens da escola é o ainda baixo nível de instrução da população adulta. Um em cada três brasileiros de 25 anos ou mais (33,5%) não completou o ensino fundamental ou equivalente. Em 2011, eram 31,5%. Universidade. A boa notícia foi a redução dos adultos sem instrução, que caíram de 15,1% para 11,9%, conforme a amostragem. O porcentual de brasileiros de 25 anos ou mais que concluíram a universidade continua baixo, embora com avanços: passou de 11,4%, em 2011, para 12% em 2012. Continua Continuação 28/09/13 28/09/13 00 METRÓPOLE 28/09/13 00 METRÓPOLE Aposentado forma filhas e resolve estudar Ademir Figueiró mora em Porto Alegre, cidade em que o índice dos que não sabem ler já é residual ELDER OGLIARI / PORTO ALEGRE - O Estado de S.Paulo Depois de passar a maior parte de seus 56 anos trabalhando como instalador hidráulico do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) e de ver as duas filhas concluírem o ensino médio, o aposentado Ademir Figueiró decidiu recuperar algo que faltava em sua vida e tratou de se alfabetizar, há dois anos. "Eu sempre tive vontade de ir à escola, mas não tive oportunidade. Depois de encaminhar a família, resolvi cuidar também de mim e aprender a ler e escrever", diz, entre uma aula e outra do Colégio Paulo Freire, em Porto Alegre, onde frequenta uma turma da Educação de Jovens e Adultos (Eja). Atitudes como as de Figueiró ajudam a melhorar as estatísticas de redução do analfabetismo no Rio Grande do Sul. A capital gaúcha registra constante queda há pelo menos 20 anos, e chegou perto de 2,5% da população, índice considerado residual. Isso se reflete na queda da demanda pelas totalidades iniciais do EJA, equivalentes ao período da 1.ª à 5.ª séries do ensino fundamental de nove anos. Há 15 anos, havia 4 mil alunos nessa faixa. Em 2013 há 2,7 mil. Incentivo. Feliz com as descobertas que fez, Figueiró tem incentivado um irmão e amigos a também se alfabetizarem, confirmando uma percepção da Secretaria Municipal da Educação (Smed) de que a propaganda entre as pessoas da mesma faixa etária tem sido um grande chamariz para os bancos escolares. "Depois de uma certa idade, a decisão de aprender a ler e escrever está mais vinculada à divulgação entre eles do que às necessidades do mercado", observa a coordenadora do setor de Educação de Jovens e Adultos da Smed, Simone Lovatto. No Estado, a diretora adjunta do Departamento Pedagógico da Secretaria Estadual da Educação, Rosa Maria Mosna, diz que a pasta busca identificar bolsões de analfabetismo para investir nessas regiões com atraso educacional, em conjunto com as prefeituras. De modo geral, nos maiores aglomerados urbanos, como as regiões de Porto Alegre e Caxias, os índices de analfabetismo são menores do que em municípios com zonas rurais. Em algumas cidades do noroeste do Estado, os índices ficam entre 8% e 10%. 28/09/13 00 METRÓPOLE Para o governo, houve só um 'problema de amostra' Segundo ministra, dados ainda precisam ser mais analisados; secretária de Educação ainda fala em 'queda' de analfabetismo LISANDRA PARAGUASSU / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo A elevação no número de analfabetos mostrada pela PNAD foi tratada pelo governo como um problema de amostra. Escalada pelo governo para comentar os dados, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, nega que tenha havido um aumento na taxa de analfabetismo no País. "Os dados na verdade não permitem afirmar que houve ampliação. Acreditamos que é uma variação da amostra. É inclusive contra intuitivo, porque as taxas vêm caindo muito", afirmou a ministra em entrevista no Palácio do Palácio. "Não nos dedicamos ainda aos microdados da Pnad, vamos ter essa análise na segundafeira, mas possivelmente é estável." afirmou. Na verdade, a queda do analfabetismo é um dos índices sociais com mais resistência a melhorias no País. Em cinco anos, de 2004 a 2009, a taxa caiu apenas 1,8 ponto porcentual. De 2009 até 2012 reduziu 1 ponto. Ainda assim, a secretária afirma que o MEC vai analisar os microdados da PNAD - os números mais detalhados - para ver o que significa esse aumento. "Vamos ver se alguma reorganização é necessária nos programas", disse. A secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, Macaé dos Santos, explica que ainda não é possível fazer uma avaliação, especialmente porque apenas as faixas etárias de 40 a 59 anos tiveram aumento da taxa de analfabetismo, enquanto as demais tiveram redução e entre os jovens de 15 a 19, ficou estável. "A tendência é de queda. Outros dados importantes, como a redução do analfabetismo funcional, o aumento da escolaridade, da população com ensino superior e ensino médio completo, mostram outra situação. É um dado completamente diferente", Tereza Campello preferiu se concentrar nos dados positivos do levantamento, exaltando a queda no desemprego e o aumento da renda em todas as regiões (mais informações nas páginas seguintes). A ministra negou também que tenha havido um aumento na desigualdade no País, apesar do aumento da renda dos mais ricos ter sido um pouco maior do que a dos mais pobres. "Não tem aumento da desigualdade no Brasil. A gente teve uma redução muito grande na desigualdade. Teve agora uma desaceleração do processo, mas a desigualdade continua caindo." 28/09/13 00 METRÓPOLE Continua Continuação 28/09/13 28/09/13 00 EDITORIAL A dimensão das greves de professores Não há dúvida de que, sem a valorização do magistério, não se avançará na Educação. Mas também é crucial modernizar o ensino, premiando-se o mérito Professores e funcionários das redes de ensino estadual e municipal estão formalmente de braços cruzados, e já há algum tempo. Como sempre, os percentuais de adesão variam bastante a depender da fonte, grevistas ou governos. Independentemente disso, pela importância crucial da atividade, a suspensão ou descontinuidade do cumprimento do ano letivo tem implicações sérias, sejam ou não justas as causas da paralisação. Além dos problemas criados para famílias de baixa renda sem estrutura para deixar as crianças em casa sem aula — e sem merenda —, há os danos causados no aprendizado dos alunos. Agrava-se, portanto, o quadro já precário da formação no ensino público básico, um sério ponto fraco do próprio país. Nenhum país avançará na Educação sem que o professor seja valorizado. O preocupante é que este “valorizado” parece ter compreensões diversas. Para alguns, refere-se apenas a salários. Mas esta é a visão menos acurada da questão. No caso do município, há um aumento real (acima da inflação) de 8%, índice invejável. Claro, pode haver defasagens. Mas, por certo, no Estado brasileiro, não apenas no Rio, inexistem condições fiscais para se resolver este tipo de problema de uma vez. Há grande discussão em torno do novo plano de cargos de salários, que privilegiaria os professores de 40 horas semanais de trabalho, o mínimo necessário para garantir a possibilidade de um bom rendimento aos alunos. Mesmo que haja um acordo final em torno deste ponto, existem indícios de que por trás do movimento há uma oposição radical à modernização do modelo pedagógico da escola pública no estado e município, tudo potencializado por interesses político-partidários mobilizados pelo calendário eleitoral. No caso da cidade, há o correto interesse em estimular a jornada de 40 horas por semana, porque, em obediência a decreto municipal, o turno único estará em vigor em toda a rede até 2020 — considerado o melhor pelos pedagogos. Entre sindicalistas, no entanto, parece haver a preferência pela carga de 16 horas semanais, em que o professor vai poucas à vezes escola. O rendimento, assim, é baixo. Cai-se numa regra tóxica do serviço público: o governo finge que paga, o funcionário finge que trabalha. Existe subjacente, ainda, um temor visceral à meritocracia, como se fosse possível o país avançar na guerra do aprimoramento do ensino público sem que os melhores sejam premiados — este, inclusive, um fator de atração de bons alunos para o professorado. É preciso que a categoria de professores tenha uma visão mais ampla do que se passa hoje no Brasil — o que não serve de justificativa a baixas remunerações. Como o “bônus demográfico” — população jovem proporcionalmente maior —já está sendo resgatado, há um prazo fixo para o salto no desenvolvimento (mais 15 a 20 anos), a ser determinado pela instrução. Se a missão de se qualificar esta e a próxima geração não for cumprida, a ideia do “país do futuro” será passado. 28/09/13 00 RIO Governo do estado corta ponto de professores que estão em greve 28/09/13 00 CONTIDIANO Desigualdade e analfabetismo param de cair Pesquisa do IBGE revela que, após uma década, rendimento de ricos subiu em ritmo superior ao de pobres em 2012 Também chamou a atenção a constatação de que a diferença entre os salários de homens e mulheres voltou a crescer no país. Taxa de analfabetos é mais alta entre idosos, mas teve redução entre jovens; crianças ficam mais tempo na escola O levantamento, feito pelo IBGE, também mostrou que a taxa de analfabetismo parou de cair após 15 anos. DO RIO DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA A pesquisa anual que investiga as características socioeconômicas dos brasileiros detectou que a queda do analfabetismo e a desigualdade, conquistas marcantes nas últimas duas décadas, foi interrompida em 2012. Isso aconteceu principalmente entre os brasileiros com mais de 40 anos. O envelhecimento da população, segundo especialistas, deve tornar a redução dos analfabetos uma tarefa mais difícil. Segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a melhora na distribuição de renda foi estancada porque a remuneração dos mais ricos cresceu num ritmo superior à dos mais pobres. Alguns analistas interpretaram o dado como um sinal de que as políticas de transferência de renda estejam próximas do esgotamento, tese refutada pelo governo. A boa notícia é que essa taxa é cada vez mais baixa entre jovens. Outros dado positivo foi aumento dos anos de estudo desse mesmo grupo. A Pnad também traz importantes revelações dos hábitos de consumo das famílias. A mais curiosa: já são maioria no país os domicílios que usam o celular como o único telefone de casa. Outro destaque foi o aumento das famílias que possuem carro, num momento em que pega fogo o debate sobre o transporte público. 28/09/13 00 CONTIDIANO Analfabetismo no país para de cair pela 1ª vez em 15 anos Entre idosos, a taxa dos que não sabem ler nem escrever chega a 24,4%; já entre os jovens ela se limita a 1,2% analfabetismo, "já que a população envelhece e os não alfabetizados se concentram em faixas etárias mais elevadas". Melhoria perde ritmo porque analfabetos que restam são cada vez de mais difícil inclusão, afirma professora Entre os brasileiros com 60 anos ou mais, o percentual chegou a 24,4%. Na outra ponta, a menor taxa foi entre jovens de 15 a 19 anos (1,2%). MARIANA SALLOWICZ PEDRO SOARES DO RIO DANIEL CARVALHO DO RECIFE Pela primeira vez em 15 anos, a taxa de analfabetismo parou de cair, interrompendo a tendência de queda contínua --mais acentuada desde o fim dos anos 90. O percentual de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever no país passou de 8,6% para 8,7% entre 2011 e 2012. Restavam 13,2 milhões de analfabetos no país, concentrados nas faixas etárias mais elevadas, segundo a Pnad. Maria Lúcia Viera, gerente do IBGE, diz que a variação representa estabilidade, dentro da margem de erro e que será preciso aguardar os dados do próximo ano para verificar a tendência. Para a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, há um componente demográfico que influencia a taxa de Na avaliação de Eliane Andrade, professora do departamento de educação da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e da UniRio, a redução da taxa pode perder ritmo, uma vez que os analfabetos que restam no país são cada vez de mais difícil inclusão. Ela citou idosos e moradores de áreas rurais. "A tendência é chegar em uma taxa em que é difícil conseguir grandes variações." Com a elevada taxa de escolarização, a redução do analfabetismo fica mais complicada, avalia Kaizô Beltrão, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV. "A eliminação do analfabetismo ocorre principalmente pela entrada na escola." Entre as crianças de 6 a 14 anos, 98,2% já estavam na escola no ano passado. Por região, a Nordeste concentrava mais da metade dos analfabetos de 15 anos ou mais. A taxa chega a 17,4%, ante os 4,4% do Sul. Houve melhora em outros índices de educação. A média de anos de estudo na população com dez anos ou mais subiu de 7,3 para 7,5. A presença de crianças de quatro ou cinco anos nas escolas foi de 77,4% para 78,2%. 'SABIDO' No Recife, o comerciante Armando Marques, 43, que parou de estudar na segunda série para trabalhar, sabe ao menos escrever o nome de batismo. Diz que perdeu "muita oportunidade na vida". "Mas eu me informo. Assisto TV e minha esposa lê jornal para mim", afirma. Mesmo analfabeto, virou um microempreendedor. Entrega pizzas e acabou de comprar uma barraca de coco. "Nunca me passaram a perna porque sou sabido, sou inteligente", diz Marques, que garantiu estudo aos seus quatro filhos e afirma acreditar que agora é possível conciliar trabalho e escola. "Vou abrir outros horizontes. Não vou mais depender de ninguém para assinar um cheque, para ler para mim", disse o comerciante. 28/09/13 00 CONTIDIANO ANÁLISE No Nordeste, alfabetização é comparável à taxa da Índia RÚSSIA E CHINA TÊM ÍNDICES MELHORES DO QUE O BRASIL não pega ônibus sozinho e nem pode ler a receita de um medicamento. SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO A taxa de população analfabeta com mais de 15 anos no Brasil (8,7%) é alta se comparada a países como EUA, Alemanha e Nova Zelândia, cujos índices giram em torno de 1% dos habitantes. De quem foi alfabetizado, poucos ficam na sala de aula. O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), divulgado em julho, mostrou que só metade da população adulta do país concluiu o ensino fundamental. Nesses países, ficam fora da escola comunidades pobres, isoladas e nativos. Ou seja: não saber ler é exceção. Rússia e China têm índices melhores do que o Brasil: em torno de 5% de analfabetismo segundo dados oficiais. Perdemos para a Índia: lá cerca de 25% da população acima de sete anos não sabe ler. A taxa indiana de analfabetismo é encontrada por aqui também. No Nordeste brasileiro, quase 25% da população economicamente ativa masculina não sabe ler. Trocando em miúdos, um em cada quatro homens com mais de 25 anos não escreve um bilhete, Com essa trajetória, quem chega ao ensino superior em idade universitária (18 a 24 anos) é uma minoria: 14% da população. Em países ricos, a taxa gira em torno de 70%. Os números mostram que programas de inclusão social no Brasil têm conseguido manter crianças na escola (a taxa de analfabetismo de 10 a 14 anos é de 1,9%), mas não atraiu a população jovem e adulta de volta às aulas. Uma alternativa para melhorar esse quadro é incluir em programas como o Bolsa Família a exigência de que o chefe de família também esteja estudando. E, claro, ter boas escolas para a população jovem e adulta. CORREIO BRAZILIENSE 28/09/13 00 BRASIL Cresce analfabetismo entre jovens e adultos Pnad registra leve aumento na proporção de pessoas acima de 15 anos que não sabem ler nem escrever. No ranking nacional, o DF é a segunda unidade da Federação com menor índice de população iletrada. Governo minimiza a pesquisa e diz que a taxa "está estável" RENATA MARIZ A cearense Josefa Gonçalves tem 74 anos e há dois estuda em um curso de alfabetização: "Agora, estou lendo devagarinho jornais e revistas" Emprego e renda em alta, acesso crescente a bens e serviços, mais escolaridade e diminuição da desigualdade são o retrato de um Brasil que melhorou nos últimos anos. Mas os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam também pontos em que o país não está bem na foto. O levantamento, que traça um panorama da atual sociedade, aponta como um dos maiores desafios pela frente o analfabetismo entre jovens e adultos — que sofreu leve aumento entre 2011 e 2012, passando de 8,6% para 8,7%, respectivamente, depois de anos em queda. Isso significa que, a cada 10 pessoas com 15 anos ou mais, praticamente uma não saber ler nem escrever. O Distrito Federal apresenta o segundo melhor índice (3,5%), perdendo apenas para Santa Catarina (3,2%). Os piores estão no Nordeste. Em toda a região, 17,4% da população com idade superior a 15 anos não sabem ler. Embora tenha saído de Icó, no Ceará, na década de 1950, rumo ao Distrito Federal, Josefa Garcia Gonçalves carregou a herança do analfabetismo. “Antigamente, não era fácil como hoje. Só quem tinha dinheiro ia para outra cidade estudar”, conta. Depois de dois anos nas aulas de um projeto social, ela conseguiu juntar letras para formar palavras. Apesar de difícil, diz Josefa, o aprendizado tem valido a pena. “Eu ficava muito triste quando precisava anotar um recado ou um número de telefone e não sabia. Agora, estou lendo devagarinho jornais e revistas.” Quando surge qualquer dúvida, as quatro netas vêm em socorro da avó, que está com 74 anos. A maior proporção de analfabetos adultos está entre os idosos. Quase 25% da população com 60 anos ou mais não sabem escrever nem ler. Em faixas etárias mais jovens, o problema também preocupa. Beira aos 10% o analfabetismo dos 40 aos 59 anos e 5% dos 30 aos 39. Coordenadora do projeto Alfabetização Cidadã, da Universidade Católica de Brasília, Gleice Amélia Gomes Lemos destaca que um dos principais problemas das classes para adultos é a evasão. “São vários os fatores que interferem. Entre os mais velhos, o difícil acesso à saúde, que leva ao adoecimento, impede a continuidade dos estudos. Há também a questão dos maridos, que não deixam ou dificultam a frequência das mulheres. Sem contar o esgotamento físico das pessoas, a maioria trabalhadora braçal”, enumera. Negação A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, rebateu os dados da pesquisa sobre o crescimento dos analfabetos — de 8,6% para 8,7% da população com 15 anos ou mais, o que representa 300 mil analfabetos a mais. O governo entendeu que a taxa ficou estável e que é preciso avançar. “Acredita-se que é uma variação da própria amostra. A avaliação do IBGE é que não dá para dizer que aumentou, está estável”, disse. Segundo Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad, será necessário aguardar o próximo levantamento para saber se o dado vai estabilizar, aumentar ou diminuir. “É uma variável estrutural, que não muda radicalmente de um ano para outro, a menos que houvesse um superesforço. O que podemos dizer Continua Continuação é que o dado está correto, mas um aumento de 0,1%, estatisticamente, é pouco significativo. Importante é acompanhar”, destaca. Para Maria Lúcia, a tendência é diminuir o contingente de analfabetos adultos, uma vez que a taxa de matrícula entre as crianças em idade escolar é de mais de 98%. “Se todos estão estudando, o analfabetismo vai cair. Mas ainda levará 20 ou 30 anos para vencermos o estoque existente hoje, de pessoas mais velhas que não sabem ler e escrever, porque elas são mais difíceis de atingir com programas de alfabetização. Os mais jovens, até por uma questão de emprego e de oportunidades, acabam se interessando mais”, afirma a gerente da Pnad. Para Gleice, essa ideia precisa ser superada, para que os idosos se encorajem. “É absolutamente falsa essa impressão de que a pessoa com mais idade não tem capacidade. O que influencia são as condições sociais dele, não o intelecto”, diz a alfabetizadora. Apesar das duas aulas por semana, nos últimos dois anos, ainda são grandes as dificuldades enfrentadas por Josefa. Ela conta que o maior embaraço se dá na hora de fazer cálculos. “Soma, subtração, 28/09/13 tudo é difícil para mim, mas tento aprender”, afirma a cearense. Ela lamenta ter esperado tanto tempo para começar a estudar. “Quando a gente casa, vive para a família, para os filhos. E também não é sempre que aparece uma oportunidade, um curso gratuito para a gente. Agora, tenho o apoio dos meus filhos, que até brigam comigo quando quero faltar aula”, diverte-se Josefa. Ela lembra, com bom humor, dos “apertos” pelos quais nunca mais quer passar. “Uma vez, estava no hospital com um parente e não conseguia ligar, porque não conhecia os números. Me sentia muito mal.” “O que podemos dizer é que o dado está correto, mas um aumento de 0,1%, estatisticamente, é pouco significativo. Importante é acompanhar” Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad “Vários fatores interferem (na evasão de quem estuda para se alfabetizar). Entre os mais velhos, o difícil acesso à saúde impede a continuidade dos estudos” Gleice Lemos, coordenadora do projeto Alfabetização Cidadã Continua Continuação 28/09/13 CORREIO BRAZILIENSE 28/09/13 00 BRASIL Desastre no médio De cada 20 adolescentes de 15 e 17 anos, faixa etária em que a educação é obrigatória no Brasil, três estão fora da escola. A quase universalização obtida entre os meninos e meninas de 7 a 14 anos não se repete na idade posterior, segundo aponta a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad). A fase é considerada crítica porque os alunos se desinteressam pela escola. O desastre no ensino médio foi constatado pela última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que demonstrou a estagnação dessa etapa. De 2009 para 2011, o índice cresceu apenas 0,1, chegando a 3,7, numa escala de 0 a 10. Nos anos iniciais do ensino fundamental, essa menção chegou a 5. O Ministério da Educação, preocupado com o baixo desenvolvimento do ensino médio, chegou a anunciar uma reforma nessa fase escolar. A proposta ainda engatinha, já que a mudança curricular, apontada como o principal desafio, ainda não foi efetivada. A ideia é adequar as disciplinas às quatro áreas de conhecimento cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): matemática, ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e códigos. A preocupação faz sentido. Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Marcelo Neri chama atenção para a importância da instrução nessa fase da vida e sua repercussão para o futuro profissional. “Um estudo do Ipea mostra que a renda do jovem que faz ensino médio salta de R$ 700 para R$ 1,6 mil. Esse mesmo estudo mostra que o principal motivo para evasão é a falta de interesse do jovem, não é falta de escola, não é pobreza, é falta de interesse, 40% declaram isso”, diz Neri, que desempenha também a função de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Melhora Na escolaridade em geral, considerando pessoas de 25 anos ou mais, a Pnad aponta uma melhora na situação. Na comparação entre 2011 e 2012, cresceu a proporção dos adultos com nível fundamental incompleto ou equivalente, de 31,5% para 33,5%. Também caiu a quantidade dos sem-instrução ou com menos um ano de estudo: de 15,1% para 11,9%. A população com nível superior passou de 11,4% para 12% no mesmo período analisado. Dessa forma, no ano passado, havia 14,2 milhões de pessoas com nível superior completo, 6,5% a mais do que em 2011. (RM, Grasielle Castro, Étore Medeiros) CORREIO BRAZILIENSE 28/09/13 00 CIDADES EDUCAÇÃO » Ensino médio tem 22,6% de reprovação O índice, referente ao ano de 2011 na rede pública, está muito acima da taxa aceitável internacionalmente, de 2% a 3%. Houve também queda acentuada nas matrículas Manoela Alcântara Um material de divulgação interna da Secretaria de Educação, com dados compilados do Censo Escolar, caiu nas mãos de professores da rede pública e vem provocando discussão entre os docentes. De acordo com o material, os índices de reprovação estão muito acima do ideal. Enquanto organismos internacionais apontam como percentual razoável o máximo de 3% dos estudantes com rendimento insuficiente durante o ano letivo, na capital do país 22,6% dos alunos do ensino médio, em 2011, não conseguiram a aprovação. Há ainda uma queda no número de matrículas. Entre 2010 e 2012, a rede sofreu uma redução de 18 mil inscrições, enquanto as instituições privadas ganharam 16.529 novatos. Na pré-escola, que abrange alunos com idade entre 4 e 5 anos, ocorreu a queda mais significativa, de 17,5%. Entre as instituições pagas, no entanto, houve incremento de 8%. Especialistas ouvidos pelo Correio dividem opiniões sobre os dados. Alguns acreditam que a migração para o setor pago deve-se ao aumento do poder aquisitivo da população. Outros analisam que a opção dos pais ocorre devido à baixa qualidade do ensino público. O professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Conselho Nacional de Educação Erasto Fortes Mendonça ressalta que os números, de modo geral, reforçam um padrão da sociedade. “Quando a condição financeira melhora, as pessoas tendem a matricular os filhos na rede privada. Isso não significa que a escola do governo seja pior. Demonstra que há um imaginário construído há anos entre a população de que o privado é melhor do que o público”, analisa. Ele ressalta ainda que uma mentalidade consolidada é difícil de mudar. “Deveria ser diferente, mas muitos acreditam que funcionário público trabalha pouco, há essa mentalidade”, concluiu. O diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro), Washington Dourado, discorda. Para ele, esse processo ocorre devido a uma desmotivação geral. “Tanto da parte dos professores quanto dos pais, que acabam procurando outra alternativa para os filhos”, analisou. Ele ressalta ainda que os dados devem ser expostos de maneira clara para que sejam criadas políticas públicas a fim de corrigir o problema. docentes da rede em agosto, ainda na gestão do antigo secretário de Educação, Denilson Bento da Costa. Há menos de um mês na cadeira, Marcelo Aguiar se surpreendeu com a realidade apresentada e promete tomar providências para melhorar. “Já solicitei à área responsável uma revisão do estudo. Deve ficar pronta na semana que vem. O total de matrículas me surpreendeu. A rede pública, geralmente, tem crescimento anual de 30 mil alunos”, disse. Caso a pesquisa seja confirmada, ele pretende tomar providências. “Sou um entusiasta da avaliação. Os números me ajudam a melhorar a gestão”, concluiu. “Inaceitável” Os índices de reprovação preocupam ainda mais. O professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Católica de Brasília (UCB) Célio da Cunha ressalta que uma análise profunda deve ser concluída. “Em nível internacional, a taxa razoável de aceitação é entre 2% e 3%. Chegar a 22% no ensino médio é algo inaceitável pedagogicamente”, afirmou. No ensino fundamental, a situação é um pouco diferente, mas também é grave. Chega a quase 10% nas séries iniciais (Veja arte). “Se compararmos com a indústria, de 100 artefatos, 10 são jogados fora. Os alunos precisam ser ensinados com qualidade”, disse. Os números circularam entre os Continua Continuação 28/09/13 Uma das soluções sugeridas pelo especialista é a figura de um visitador educacional. “Alguém que vá até a casa do aluno quando ele falta, converse com os pais, traga a família para a escola. Isso ajuda muito a reter o estudante, compreender mais as necessidades deles”, ponderou. Um currículo mais moderno, ligado ao pensamento do jovem atual, também está entre as medidas que poderiam melhorar os índices. “O jovem é conduzido pela era digital. Nós, educadores, ainda não conseguimos dar respostas a essa mudança.” “Já solicitei à área responsável uma revisão do estudo. Deve ficar pronta na semana que vem. O total de matrículas me surpreendeu. A rede pública, geralmente, tem crescimento anual de 30 mil alunos” Marcelo Aguiar, secretário de Educação Continua Continuação 28/09/13 JORNAL DE BRASÍLIA 28/09/13 00 BRASIL Continua Continuação 28/09/13 Continua Continuação 28/09/13