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Vol. 22 | nº 2 | 2013 ISSN 0871 - 6099 Revista da Sociedade Portuguesa de ANESTESIOLOGIA Journal of the Portuguese Society of Anesthesiology Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 1 desflurano Controlo preciso. Recuperação previsível. PROCEDIMENTO DESTINO ESTADO CRANIOTOMIA UCPA CONFORME PREVISTO ARTROSCOPIA DO JOELHO ALTA CONFORME PREVISTO ARTROSCOPIA TOTAL DA ANCA BLOCO 1 CONFORME PREVISTO COLECISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA UCPA CONFORME PREVISTO CABG BLOCO 2 CONFORME PREVISTO Referências 15 a 18. PACU • Rápido despertar1-4 e célere recuperação dos reflexos respiratórios protectores.5-6 • Recuperação imediata, rápida e previsível na maioria dos doentes e procedimentos cirúrgicos 1-3, 7-10 • Controlo preciso da profundidade anestésica e dos parâmetros hemodinâmicos7, 11-14 Referências: 1. Dexter F, Bayman EO, Epstein RH. Anesth Analg 2010;110:570-580. 2. Mahmoud NA, Rose DJA, Laurence AS. Anaesthesia 2001;56:171-182. 3. Juvin P, Servin F, Giraud O, Desmonts J-M. Anesth Analg 1997;85:647-651. 4. La Colla L, Albertin A, et al. Br J Anaesth 2007;99:353-358. 5. McKay RE, Large MJC, Balea MC, McKay WR. Anesth Analg 2005;100:697-700. 6. McKay RE, Malhotra A, Cakmakkaya OS, et al. Br J Anaesth 2010;104:175-182. 7. Dupont J, Tavernier B, Ghosez Y, et al. Br J Anaesth 1999;82:355-359. 8. Bilotta F, Doronzio A, Cuzzone V, et al. for PINOCCHIO Study Group. J Neurosurg Anesthesiol 2009;21:207-213. 9. Caverni V, Rosa G, Pinto G, et al. J Craniofacial Surg 2005;16(4):531-536. 10. Gupta A, Stierer T, et al. Anesth Analg 2004;98:632-641. 11. Eger EI II. Anesth Rev 1993;20(3):87-92. 12. Avramov MN, Griffin JD, White PF. Anesth Analg 1998;87:666-670. 13. Bennett JA, Mahadeviah A, Stewart J, et al. J Clin Anesth 1995;7:288-291. 14. Fanelli G, Berti M, Casati A. Eur J Anaesthesiol 2006;23(10):861-868. 15. Craniotomia: Günes, Y et al, Neurosurgery Quarterly 2009; 19: 110-115. 16. Artroscopia do joelho: Naidu-Sjösvärd, K et al, Acta Anaesthesiologica Scandinavica 1998; 42: 464-471. 17. Artroscopia total da anca: Chen, X et al, Anesthesia and Analgesia 2001; 93: 1489-1494. 18. Colecistectomia laparoscópica: Fanelli, G et al, European Journal of Anaesthesiology 2006; 23:861-868. 2 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Vol 22 - Nº 2 Revista da Sociedade Portuguesa de ANESTESIOLOGIA Journal of Portuguese Society of Anesthesiology Órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Vol. 22 | nº 2 | 2013 ISSN 0871 - 6099 FICHA TÉCNICA EDITOR CHEFE // Editor-in-Chief António Augusto Martins - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra EDITORES ASSOCIADOS // Associate Editors Isabel Aragão - Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Lucindo Ormonde - Centro Hospitalar Lisboa Norte Rosário Orfão - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra CONSELHO EDITORIAL // EDITORIAL BOARD Daniela Figueiredo - Centro Hospitalar do Porto Fernando Abelha – Centro Hospitalar S. João, Porto Hugo Vilela -Centro Hospitalar Lisboa Norte Joana Carvalhas – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Jorge Reis - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia - Espinho Jorge Tavares – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto José Luís Ferreira – Centro Hospitalar Lisboa Central Luís Agualusa – Unidade Local de Saúde de Matosinhos Paulo Sá – Hospital Amadora Sintra, CVP e Clínica de Santo António, Lisboa Pedro Amorim – Centro Hospitalar do Porto Rui Araújo - Unidade Local de Saúde de Matosinhos Sílvia Neves - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra DIRECÇÃO DA SPA // SPA Board Presidente // President Lucindo Palminha do Couto Ormonde Vice - Presidente // Vice - President Isabel Maria Marques de Aragão Fesh Secretrário // Secretary Maria do Rosário Lopes Garcia Matos Orfão Tesoureiro // Treasurer Maria de Fátima da Silva Dias Costa Gonçalves Vogal // Vowel Rui Nuno Machado Guimarães SPA // SPA Address Centro de Escritórios do Campo Grande Av. do Brasil, nº 1, 5º andar, sala 7 1749-028 Lisboa tel.: (+351) 913 609 330 e-mail: [email protected] Propriedade e Administração da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Portuguese Society of Anesthesiology Ownership and Management ISSN 0871-6099 Depósito Legal // Legal Deposit nº:65830/93 Preço Avulso // Individual Copy 7,5€ / Número // Number Assinatura // Subscription Rates: 4 edições // 4 copies / 30€ Distribuição: Gratuita aos Sócios da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Distribution: Without Charge for Membership of Portuguese Society of Anesthesiology Tiragem // Printed Copies: 2500 Periocidade: Trimestral (mar, jun, set, dez) // Frequency : Quarterly (Mar, Jun, Sep, Dec) Design, Concepção Gráfica e Paginação // Graphic Design, Paging and Printing: Letra Zen Comunicação [email protected] (+351) 936 206 030 Impresso em papel ácido livre // Printed on acid-free paper. Sumário // ContentS Editorial // 34 António Augusto Martins Consensos // Consensus 35 Recomendações Portuguesas para o Tratamento da Dor Aguda Pós--OperatóriA em Cirurgia AmbulatóriaJ // Portuguese recommendations for the treatment of acute post-operative pain in ambulatory surgery Paula Sarmento, Cristiana Fonseca, Ana Marcos, Manuela Marques, Paulo Lemos, Vicente Vieira Artigo de Revisão // Review 44 Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica // Fetal effects and neonatal impact of obstetric anesthesia David Nora, Joana Osório, Luís Saldanha Caso Clínico // Case Report 51 Priapismo Induzido por propofol: Um evento raro e inesperado // PROPOFOL-INDUCED PRIAPISM: A RARE AND UNEXPECTED EVENT Paulo Nave , Carlos Bento, Nuno Santos Perspetiva // Perspective 54 Histórias da História da Anestesiologia Portuguesa // Stories from the History of Portuguese Anaesthesiology OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 // THE ANAESTHESIOLOGISTS IN LISBON PUBLIC HOSPITALS: 1940 – 1980 LAURA MASSA Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 31 A via aérea supraglótica I-gel está agora indicado para reanimação e pode ser inserido em menos de 5 segundos com utilização em pacientes com um peso de 30-90 Kgs+, torna o i-gel indicado para a maioria dos adultos. Para experimentar i-gel visite www.i-gel.com, onde poderá encontrar mais informação, videos, downloads e as últimas novidades. 32 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 ´ Primeiro Inibidor Direto Oral do Fator Xa Proteção Simples para Mais Doentes Tratamento da trombose venosa profunda Com um só medicamento oral Nome: Xarelto 15 mg, 20 mg. Composição: Cada comprimido revestido por película contém 15 mg ou 20 mg de rivaroxabano. Forma Farmacêutica: Comprimido revestido por película. Indicações terapêuticas Prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico em doentes adultos com fibrilhação auricular não-valvular com um ou mais fatores de risco, tais como insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão, idade ≥75 anos, diabetes mellitus, antecedentes de acidente vascular cerebral ou acidente isquémico transitório. Tratamento da trombose venosa profunda (TVP) e prevenção da TVP recorrente e embolismo pulmonar (EP) após uma TVP aguda em adultos. Posologia e modo de administração: Prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico: A dose recomendada, que também é a dose máxima recomendada, é de 20 mg uma vez por dia. No caso de esquecimento de uma dose, o doente deve tomar imediatamente Xarelto e continuar no dia seguinte com a toma uma vez ao dia, conforme recomendado. Não deve ser tomada uma dose a dobrar no mesmo dia para compensar uma dose esquecida. Tratamento da TVP e prevenção da TVP recorrente e EP: A dose recomendada para o tratamento inicial da TVP aguda é de 15 mg duas vezes por dia durante as primeiras três semanas, seguida de 20 mg uma vez por dia para continuação do tratamento e prevenção da TVP recorrente e EP. A experiência com Xarelto nesta indicação durante mais de 12 meses é limitada. No caso de esquecimento de uma dose durante a fase de tratamento de 15 mg duas vezes por dia (dia 1 - 21), o doente deve tomar imediatamente Xarelto para assegurar a toma de 30 mg de Xarelto por dia. Neste caso podem tomar-se dois comprimidos de 15 mg ao mesmo tempo. O doente deve continuar no dia seguinte a toma diária e regular de 15 mg duas vezes por dia, conforme recomendado. No caso de esquecimento de uma dose durante a fase de tratamento de uma toma diária (dia 22 e seguintes), o doente deve tomar imediatamente Xarelto e continuar no dia seguinte com a toma diária, conforme recomendado. Não deve ser tomada uma dose a dobrar no mesmo dia para compensar uma dose esquecida. Passagem de Antagonistas da Vitamina K (AVK) para Xarelto: Em doentes tratados para prevenção do acidente vascular cerebral e embolismo sistémico, o tratamento com AVK deve ser interrompido e a terapêutica com Xarelto deve ser iniciada quando o INR for ≤3,0. Em doentes tratados para TVP e na prevenção da TVP recorrente e EP, o tratamento com AVK deve ser interrompido e a terapêutica com Xarelto deve ser iniciada assim que o INR for ≤2,5. Passagem de Xarelto para os Antagonistas da Vitamina K (AVK): Em doentes que passam de Xarelto para um AVK, o AVK deve ser administrado simultaneamente até o INR ser ≥2,0. Durante os dois primeiros dias do período de passagem, deve utilizar-se a dose inicial padrão do AVK, seguida de uma dose do AVK baseada nas determinações do INR. Enquanto os doentes estiverem a tomar simultaneamente Xarelto e o AVK, o INR não deve ser determinado antes das 24 horas após a dose precedente de Xarelto e antes da dose seguinte. Passagem de anticoagulantes parentéricos para Xarelto: Em doentes atualmente a serem tratados com um anticoagulante parentérico, Xarelto deve ser iniciado 0 a 2 horas antes da hora prevista para a administração seguinte do medicamento parentérico (ex.: HBPM) ou na altura da interrupção de um medicamento parentérico em administração contínua (ex.: heparina não fracionada intravenosa). Passagem de Xarelto para anticoagulantes parentéricos: Administrar a primeira dose do anticoagulante parentérico na altura em que deve ser tomada a dose seguinte de Xarelto. Os comprimidos devem ser tomados com alimentos. Compromisso renal moderado ou grave: Na prevenção do acidente vascular cerebral e do embolismo sistémico em doentes com fibrilhação auricular não-valvular, a dose recomendada é de 15 mg uma vez por dia; No tratamento da TVP e prevenção da TVP recorrente e EP: os doentes devem ser tratados com 15 mg duas vezes por dia durante as primeiras 3 semanas. Após isto, a dose recomendada é 15 mg uma vez ao dia com base em modelos farmacocinéticos. Xarelto deve ser utilizado com precaução em doentes com compromisso renal grave. Não é necessário ajuste posológico: compromisso renal ligeiro, população idosa, sexo, peso corporal. Não é recomendada a utilização em doentes com taxa de depuração da creatinina <15 ml/min. Está contra-indicado em doentes com doença hepática associada a coagulopatia e risco de hemorragia clinicamente relevante, incluindo doentes com cirrose com Child Pugh B e C. População pediátrica: não é recomendada a sua utilização em crianças com idade inferior a 18 anos. Contra-indicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Hemorragia ativa clinicamente significativa. Gravidez e aleitamento. Doença hepática associada a coagulopatia e risco de hemorragia clinicamente relevante incluindo doentes com cirrose com Child Pugh B e C. Advertências e precauções especiais de utilização: Risco hemorrágico, compromisso renal, doentes com risco aumentado de hemorragia. Os doentes com problemas hereditários raros de intolerância à galactose, deficiência de lactase Lapp ou malabsorção de glucose-galactose não devem tomar este medicamento. Doentes com válvulas protésicas. Doentes com embolismo pulmonar agudo. Procedimentos invasivos e intervenções cirúrgicas. Interacções medicamentosas: Inibidores do CYP3A4 e da gp-P: não é recomendada em doentes submetidos a tratamento sistémico concomitante com antimicóticos azólicos tais como cetoconazol, itraconazol, voriconazol, posaconazol ou inibidores da protease do VIH; Anticoagulantes: deve ter-se precaução se os doentes são tratados concomitantemente com quaisquer outros anticoagulantes; AINEs/ inibidores da agregação plaquetária: deve ter-se precaução nos doentes tratados concomitantemente com AINEs (incluindo ácido acetilsalicílico) e inibidores da agregação plaquetária; Indutores do CYP3A4; Os parâmetros de coagulação (ex.: TP, aPTT, HepTest) são afetados. Efeitos indesejáveis: Anemia (incl. parâmetros laboratoriais respetivos), tonturas, cefaleias, síncope, hemorragia ocular (incl. hemorragia conjuntival), taquicardia, hipotensão, hematoma, epistaxe, hemorragia do trato gastrointestinal (incl. hemorragia gengival, hemorragia retal), dores gastrointestinais e abdominais, dispepsia, náuseas, obstipação, diarreia, vómitos, prurido (incl. casos raros de prurido generalizado), erupção cutânea, equimose, dor nas extremidades, hemorragia do trato urogenital (incluindo hematúria e menorragia), febre, edema periférico, diminuição da força e energia de um modo geral (incl. fadiga, astenia), aumento das transaminases, hemorragia pós-procedimento (incluindo anemia pós-operatória e hemorragia da ferida), contusão, trombocitemia (incl. aumento da contagem de plaquetas), reação alérgica, dermatite alérgica, hemorragia cerebral e intracraniana, hemoptise, boca seca, anomalias da função hepática, urticária e hemorragia cutânea e subcutânea, hemartrose, compromisso renal (incl. aumento da creatinina no sangue, aumento de ureia no sangue), sensação de mal-estar, edema localizado, aumento da bilirrubina, aumento da fosfatase alcalina sanguínea, aumento da HDL, aumento da lipase, aumento da amilase, aumento da GGT, secreção da ferida, icterícia, hemorragia muscular, aumento da bilirrubina conjugada (com ou sem aumento concomitante da ALT), formação de pseudoaneurisma após intervenção percutânea, síndrome compartimental secundário a hemorragia, insuficiência renal/insuficiência renal aguda secundária a hemorragia suficiente para causar hipoperfusão Número da A.I.M.: 5132956, 5132964, 5132972, 5423918, 5423926, 5423934, 5424403. Data de revisão do texto: Dezembro 2011 Não comparticipado nas doses de 15 mg e 20 mg. Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações deverá contactar o titular da AIM Bayer Portugal, S.A., Rua Quinta do Pinheiro, nº 5, 2794-003 Carnaxide · NIF 500 043 256 L.PT.GM.02.2012.0192 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 33 Editorial Caros colegas, A Revista da SPA apresentou um processo de candidatura ao Serviço de Alojamento de Revistas Científicas Institucionais (SARC) do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) em Abril de 2013 e que foi aceite. Este serviço (SARC) permite oferecer um conjunto de serviços integrados associado ao alojamento de revistas científicas. Esta plataforma disponibiliza um conjunto de serviços que se estendem a todo o processo de submissão de trabalhos originais, revisão e publicação. O RCAAP (http://projeto.rcaap.pt/) tem por objetivos "aumentar a visibilidade, acessibilidade e difusão dos resultados da atividade académica e de investigação científica nacional e facilitar o acesso à informação sobre a produção científica nacional em regime António Augusto Martins de “open access” bem como integrar Portugal num conjunto de iniciativas internacionais Editor da Revista da SPA neste domínio" (sic). Dentro das iniciativas internacionais é salientada a relevância dada à comunidade lusófona. Neste processo de candidatura, a Revista da SPA cumpriu os critérios de elegibilidade necessários. Nomeadamente, ser uma publicação periódica, a sua disponibilização em versão digital, o processo de revisão por pares, a existência de um Conselho Editorial, a longevidade da publicação e o número de artigos publicados nos últimos três anos. Neste momento, iniciou-se o processo de parametrização básica da Revista e adaptar o que constitui a sua matriz original às normalizações exigidas por esta plataforma. Este pode ser considerado um passo importante na evolução da Revista, por diversas razões: 1. Constitui uma oportunidade de reformulação de aspetos funcionais da Revista e adaptá-la a parâmetros mais atuais e, também, mais exigentes. 2. Expandir a influência e visibilidade da publicação a públicos mais vastos, dentro e fora da comunidade lusófona. 3. A sua parametrização, segundo normas internacionais, facilita o acesso aos conteúdos e reforça-se, desta forma, o ponto anterior. 4. A publicação ao ficar mais acessível pode ser fator de motivação para um maior número de colegas a submeterem os seus trabalhos. O processo que se avizinha promete ser trabalhoso. Irá exigir algum esforço de adaptação a novas regras, mas a sistematização que a plataforma prevê promete tornar o trabalho dos autores e revisores mais organizado e, desta forma, com ganhos na eficiência. A seleção da Revista da SPA para o RCAAP deve constituir motivo de orgulho para todos os anestesiologistas. As últimas palavras são reservadas para felicitar e agradecer a todos os colegas que contribuíram para que este processo tivesse êxito, nomeadamente os autores que contribuíram com o seus trabalhos e os Editores e Conselhos Editoriais anteriores que proporcionaram a continuidade editorial e o histórico indispensável ao sucesso da candidatura. Os meus melhores cumprimentos, António Augusto Martins Editor da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia 34 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Consensos // Consensus Recomendações Portuguesas para o Tratamento da Dor Aguda Pós-OperatóriA em Cirurgia Ambulatória Paula Sarmento 1, Cristiana Fonseca 2 Ana Marcos 3 Manuela Marques 4 Paulo Lemos 5 Vicente Vieira 6 Palavras-chave: - Dor aguda pós-operatória; - Analgesia perioperatória; - Cirurgia ambulatória; - Recomendações Resumo O controlo da Dor Aguda Pós-Operatória é um dos aspetos mais importantes, para a obtenção de resultados de qualidade no âmbito da cirurgia de ambulatório. Apesar de todos os avanços farmacológicos e tecnológicos, a dor permanece como o sintoma pós-operatório mais vezes referido, sendo a primeira causa de readmissão após cirurgia de ambulatório, podendo ainda representar um obstáculo à expansão da cirurgia de ambulatório quando se equacionam a inclusão de procedimentos cirúrgicos mais complexos. O objetivo deste trabalho é tornar estas recomendações numa ferramenta de aplicação simples e prática a ser utilizada e adequada a cada Unidade de Cirurgia de Ambulatório, no sentido de aumentar a eficiência deste regime cirúrgico e a satisfação dos doentes. Estas recomendações resultam do trabalho conjunto de 17 anestesiologistas portugueses, provenientes de Hospitais com diversas realidades na prática da cirurgia ambulatória em Portugal. A primeira reunião de consenso, baseou-se na apresentação e discussão de todos os protocolos de analgesia pós-operatória das várias instituições representadas no grupo de trabalho. Esta análise mostrou-se um ponto de partida para o consenso quanto a estas recomendações e também permitiu a deteção das lacunas existentes na legislação o que levou a que um dos subgrupos de trabalho estudasse uma proposta de alteração à lei. Em várias reuniões subsequentes foi feita a análise e discussão pormenorizada do tema, recorrendo sempre à evidência científica mais recente publicada e nas questões onde não se encontrou evidência foram propostos protocolos, registada opinião e os respetivos autores. As conclusões das várias reuniões foram posteriormente divulgadas e novamente discutidas em reuniões mais abrangentes, nomeadamente no Congresso Ibérico da APCA (Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória). Portuguese recommendations for the treatment of acute post-operative pain in ambulatory surgery Paula Sarmento 1, Cristiana Fonseca 2 Ana Marcos 3 Manuela Marques 4 Paulo Lemos 5 Vicente Vieira 6 Keywords - Ambulatory Surgical Procedures; - Analgesics; - Consensus; - Pain, Postoperative; - Perioperative Period Abstract Control of Acute Postoperative Pain is one of the most important aspects to getting quality results in the field of outpatient surgery. Despite all the technological and pharmacological advances, pain, remains the postoperative symptom most often referred to, being the first cause of readmission after ambulatory surgery, and may also represent an obstacle to the expansion of the ambulatory surgery when you equate the inclusion of more complex surgical procedures. The aim of this work is to make these recommendations an application tool simple and practical to use and tailored to each Unit Outpatient Surgery, in order to increase the efficiency of this scheme surgical and patient satisfaction. These recommendations are the result of joint work of 17 portuguese anesthesiologists, from hospitals with different realities in the practice of ambulatory surgery. The first consensus meeting was based on the presentation and discussion of all protocols Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 35 Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória for postoperative analgesia of the various institutions represented in the working group. This analysis proved to be a starting point for consensus on these recommendations and also allowed detection of gaps in the legislation that led to one of the sub-working groups to study a proposal to amend the law. In several meetings subsequent analysis was performed and detailed discussion of the subject, always using the latest scientific evidence published. The conclusions of the various meetings were later released and again discussed in meetings most comprehensive, particularly in Iberian Congress of APCA (Portuguese Association of Ambulatory Surgery). 1 Assistente Hospitalar Graduada de Anestesiologia, Coordenadora da Cirurgia Ambulatória do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga - Sta. Mª da Feira, Portugal 2 Assistente Hospitalar de Anestesiologia, Centro Hospitalar do Alto Ave Guimarães, Portugal Assistente Hospitalar Graduada de Anestesiologia, Coordenadora da Cirurgia Ambulatória, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Portugal 3 4 Assistente Hospitalar Graduada de Anestesiologia, Centro Hospitalar Póvoa do Varzim/Vila do Conde, Portugal 5 Assistente Hospitalar Graduada de Anestesiologia, Centro Hospitalar do Porto, Portugal Assistente Hospitalar de Anestesiologia, Diretor do Serviço de Anestesiologia do Hospital de Braga, Portugal 6 Integram, ainda, o Grupo de Trabalho responsável por estas Recomendações: Ana Paula Silva, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Portugal Célia Pinheiro, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal Cristina Carmona, Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Portugal Emília Carneiro, Centro Hospitalar de São João, Portugal Isabel Baleizão, Hospital Santa Luzia de Viana do Castelo, Portugal Isabel Santos , Hospital Santa Maria Maior - Barcelos, Portugal José Macieira, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Portugal Mª João Santos, Hospital de Braga, Portugal Mª Lurdes Bela, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal Marlene Monteiro, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Portugal Silva Pinto, Centro Hospitalar Lisboa Central, Portugal A cirurgia em regime de ambulatório (CA) baseia-se num modelo organizativo de qualidade centrado no doente, onde se podem obter múltiplos benefícios para todos os intervenientes: utentes e familiares (humanização, acessibilidade), profissionais de saúde (satisfação) e Serviço Nacional de Saúde (custos, eficácia, eficiência). Apresenta assim particularidades que a distinguem do modelo de cirurgia convencional que vão muito além da simples duração da estadia hospitalar do doente. 1,2 O controlo da Dor Aguda Pós-Operatória (DAPO) é um dos aspectos mais importantes para a obtenção de resultados de qualidade no âmbito da CA. Apesar de todos os avanços farmacológicos e tecnológicos, a dor permanece como o sintoma pós-operatório mais vezes referido, sendo a primeira causa de admissão e readmissão após CA, podendo ainda representar um obstáculo à expansão da CA quando se equacionam a inclusão de procedimentos cirúrgicos mais complexos. 3 A sua interferência com a satisfação do doente, o seu retorno às atividades quotidianas, o prolongamento da estadia hospitalar ou mesmo da possibilidade de interna36 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 mento, 4-6 o risco da evolução da dor para a cronicidade 7 e mesmo a credibilidade da Unidade de Cirurgia de Ambulatório (UCA) perante a instituição e a população, pode pôr em causa todas as vantagens associadas a este regime cirúrgico (clínicas, sociais e económicas). Assim, e na sequência da publicação em Diário da República 1 de iniciativas propostas pela Comissão Nacional para o Desenvolvimento da Cirurgia Ambulatória (CNDCA): 1. Despacho nº 30114/2008 - adoção de critérios na organização de programas de CA, designadamente, a alínea f) que prevê o “desenvolvimento de protocolos clínicos adicionais como o estabelecimento de normas orientadoras para a analgesia pós-operatória”. 2 2. Decreto-Lei nº 13/2009 de 12 de Janeiro 8 que prevê a regulamentação da cedência de medicação para o domicílio de doentes submetidos a cirurgia em regime de ambulatório, com o objectivo de repor alguma equidade entre estes doentes e os doentes operados em regime convencional, e que levaram os profissionais de saúde dedicados à CA, a sentir necessidade de criar protocolos analgésicos em coordenação com a comissão de farmácia da instituição de forma a atuar em conformidade com a legislação. A Associação Portuguesa de Cirurgia de Ambulatório (APCA), considerou pertinente a criação duma Comissão Nacional para o Desenvolvimento da Implementação de Normas e Recomendações para a Analgesia Pós-Operatória da Cirurgia Ambulatória, com o objetivo de dar resposta às propostas legislativas anteriormente referidas. Objetivo O principal objetivo desta Comissão foi desenvolver "Recomendações para o tratamento da DAPO em CA", elaboradas com base na revisão sistemática e na análise da evidência científica disponível, de forma a melhorar a qualidade, a eficácia e a segurança de tratamento da DAPO neste regime cirúrgico. Estas recomendações incidem sobre o tratamento da DAPO quer para o adulto quer para a criança, e são propostas para a prática clinica diária, de acordo com a experiência dos clínicos e as características de cada Unidade. Pretende-se assim, incentivar a adaptação de protocolos de analgesia para o tratamento da DAPO nos serviços/ hospitais que disponham de programa organizado de CA. A monitorização dos resultados deste trabalho será fei- Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória ta, através da criação de um site público, onde elementos desta Comissão, poderão criar um fórum de debate e vigilância quanto às questões que possam surgir na aplicação destas recomendações, permitindo a atualização periódica do mesmo. O trabalho desenvolvido, será publicado e divulgado através da APCA e SPA (página web, revistas, reuniões científicas / congressos….) envolvendo, sempre que possível, especialistas nacionais e estrangeiros. Metodologia A metodologia utilizada para a realização destas recomendações, iniciou-se com a definição de um grupo de trabalho abrangente e representativo de hospitais com atividade organizada em CA, em Portugal. Foi pedido aos elementos do grupo para enviarem ao coordenador os protocolos analgésicos para cirurgia de ambulatório existentes no seu hospital, bem como o suporte bibliográfico e cientifico desses. O coordenador reenviou esses documentos a todos os elementos do grupo para que todos fizessem a sua análise e preparassem atempadamente a primeira reunião de consenso que decorreu em Novembro de 2011. Efetuou-se assim uma amostragem da nossa realidade atual, das várias instituições representadas no grupo de trabalho, o que se revelou muito interessante, com vários fatores positivos como o consenso que existia no tipo de analgesia multimodal e em alguns dos fármacos utilizados por todos. Nesta reunião, foi feita a análise e discussão pormenorizada dessa amostragem recorrendo sempre à evidência científica publicada e nas questões onde não se encontrou evidência, foram propostos protocolos, registada a opinião e os respetivos autores. A metodologia deste grupo de trabalho formado por 17 elementos foi definida e ficou decidido que: 1. A abordagem do tratamento da dor seria pelo nível de dor e não pelo procedimento cirúrgico, dadas as diferenças para a mesma cirurgia do nível de dor considerado em cada Unidade. 2. Se optaria por referir o grupo farmacológico em vez de identificar ou nomear apenas um fármaco. 3. Seria elaborada uma proposta de alteração à lei sobre cedência de medicamentos para o domicílio (Decreto-Lei nº 13/2009, 12 de Janeiro). Assim para tornar mais eficiente o nosso trabalho, formaram-se 4 subgrupos para o estudo do tratamento da dor leve a moderada, tratamento da dor severa, tratamento da dor em pediatria e proposta de alteração da legislação. Para cada subgrupo foi nomeado um Coordenador que teve como missão organizar o trabalho, promovendo da forma mais adequada a troca de informação científica (através da troca de e-mails, reuniões parcelares, etc.) entre todo o grupo. Numa segunda reunião geral, foi apresentado e discutido o trabalho de cada subgrupo e definido o índice para a elaboração da redação do documento provisório das recomendações que foi apresentado publicamente no VII Congresso Nacional da APCA em Maio de 2012. Seguiu-se a divulgação desse documento provisório no site da APCA aberto à participação de todos os interessados (através do e-mail: grupodeanalgesia.apca@gmail. com) que desse modo puderam emitir os seus pareceres e acrescentar alguma documentação que não tenha sido objeto de análise pelo grupo de trabalho. Um mês depois, foi efetuada pelos Coordenadores do Grupo a apreciação dos comentários / sugestões recebidos e realizadas as alterações consideradas pertinentes para se proceder à divulgação das recomendações definitivas. Abordagem e avaliação da dor aguda pós-operatória em CA O controlo eficaz da dor é um dever dos profissionais e um direito dos doentes. 4 A abordagem da dor pós-operatória em cirurgia de ambulatório requer um planeamento integrado de intervenção. Este plano de intervenção tem como objetivo adequar os recursos às necessidades do doente, através de uma atuação organizada, com medidas protocoladas e programas de ação multidisciplinares, envolvendo os profissionais de enfermagem, anestesistas, cirurgiões de forma a desenhar uma estratégia pré-determinada para a analgesia peri-operatória com uma boa relação custo-benefício. O êxito do plano integrado de intervenção requer a avaliação adequada do doente, conhecimento das suas expetativas, do seu contexto social, requer o ensino e formação do doente/família/cuidador, sendo estes parceiros fundamentais nos cuidados e preconizando a criação de canais de comunicação eficazes. 9,10 A abordagem inicia-se na avaliação pré-operatória, com uma comunicação eficaz entre o doente e a equipa de cuidados, o conhecimento da sua patologia associada, da medicação de ambulatório, de experiências dolorosas anteriores, o conhecimento da localização, natureza e duração da cirurgia, do tipo e extensão da incisão e dos cuidados anestésicos peri-operatórios. Os profissionais das UCAs devem funcionar como agentes de ensino junto dos doentes e familiares/cuidadores. Ensino sobre avaliação da dor (auto e heteroavaliação), ensino sobre a medicação analgésica, sobre formas de autocontrolo da dor reforçando tanto quanto possível o suporte emocional e psicológico do doente e família/cuidador. A circular normativa da Direção Geral de Saúde (DGS) de Junho de 2003 equipara a dor a 5º sinal vital, num esforço de Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 37 Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória valorização e tornando o seu registo obrigatório. 11 A avaliação da dor permite identificar o doente que tem dor, avaliar a sua intensidade, qualidade e duração, avaliar a eficácia do protocolo analgésico, a identificação de sintomatologia associada, sendo essencial para a decisão terapêutica. A dor é por definição subjetiva, o doente é o melhor avaliador da sua própria dor, considerando que a parte física se interliga com a psicológica, social, cultural e espiritual. 12 A equipa de trabalho deve ensinar no pré-operatório o doente, família/cuidador sobre a utilização dos instrumentos de avaliação da dor. Os instrumentos a usar devem ser adaptados ao grupo etário, ao estado de consciência do doente, sendo que a escala usada para um doente deverá ser a mesma em todo o processo. 11 O profissional deve assegurar-se da adequada compreensão por parte do doente. Estão validadas para a população portuguesa e para maiores de 3 anos as seguintes escalas: escala visual analógica, escala numérica, escala qualitativa e escala de faces. 11 Respostas comportamentais à dor incluindo a expressão facial, as alterações do humor, a resposta gestual e verbal são tidas em conta em escalas de grupos específicos como na criança e no idoso. 5,13 No idoso deve dar-se preferência às escalas numérica e qualitativa ou usar a observação comportamental recorrendo à heteroavaliação, quando se verificam dificuldades de comunicação. 13 As crianças diferem muito na sua resposta à dor, além da variabilidade individual devem ser considerados fatores relacionados com o contexto da dor. A partir dos 3 anos deve privilegiar-se a autoavaliação, e manter sempre o mesmo instrumento/escala de avaliação. A circular informativa da DGS nº 14/2010 5 faz referência às seguintes escalas para avaliação da dor no recém-nascido, e em crianças com menos de 3 anos. Até esta idade a avaliação baseia-se na avaliação do comportamento, sendo a FLACC ( face, legs, activity, cry, consolability) o instrumento recomendado para uso. Nas crianças com mais de 3 anos pode ser usada a escala de faces revista ou a escala de faces de Wong-Baker. Na avaliação do doente com dor deveremos ter presente o algoritmo: A- avaliar a dor regularmente e quantifica-la; B- basear-se nas informações do doente; C- capacitar os doentes e familiares; D- distribuir as intervenções de forma oportuna, lógica e coordenada; E- escolher a intervenção mais adequada ao doente e ao seu meio sociofamiliar. A avaliação da dor deve ser ensinada no pré-operatório, deve ser instituída nas fases de recuperação nas Unidades e estender-se ao momento após a alta hospitalar. ORIENTAÇÕES TÉCNICAS EM ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA EM CIRURGIA DE AMBULATÓRIO NO ADULTO O adequado controlo da dor pós-operatória tem sido 38 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 amplamente referido como o principal motivo de satisfação dos doentes. 14 É também reconhecido o seu papel na evicção de complicações a curto e longo prazo, não apenas as que implicam custos pessoais e sociais óbvios, como o atraso no regresso às atividades diárias e o absentismo ao trabalho, mas também as inerentes às alterações da fisiologia que a dor inadequadamente tratada pode acarretar. 6,15 Efeitos respiratórios < capacidade vital ⇨ dificuldade em tossir eficazmente ⇨ retenção de secreções ⇨ atelectasias… Efeitos cardiovasculares Taquicardia ⇨ > consumo O2 pelo miocárdio ⇨ isquemia miocárdica Inatividade / alectuação ⇨ estase ⇨ TVP Efeitos gastrointestinais Náuseas, vómitos, atraso no esvaziamento gástrico, dificuldades em retomar a alimentação, desidratação Efeitos urinários Retenção/dificuldade em urinar ⇨ atraso na alta Efeitos metabólicos Resposta ao stress aumentada Efeitos psicológicos Medo, ansiedade, revolta, insónia TVP - Trombose Venosa Profunda Se estas considerações são verdadeiras, independentemente do regime cirúrgico a que o doente foi submetido, assumem particular premência na Cirurgia do Ambulatório, onde a prevenção da dor e o seu contributo para o bem-estar geral do doente após a alta começam muito antes da cirurgia. 16 Fatores preditivos de dor pós-operatória A previsibilidade da intensidade da dor pós-operatória depende de vários fatores, 6,17,18 inerentes ao doente (sexo, idade, IMC, expectativas, informação e educação, experiência cirúrgica anterior, duração da dor previamente à cirurgia, medicação analgésica já instituída, genética…), à cirurgia (proposta e realmente efetuada, técnica cirúrgica, duração, adequação do binómio cirurgião - cirurgia…) e à técnica anestésica (opioide no intraoperatório, administração de anestésicos locais, bloqueios nervosos contínuos…), razão pela qual optamos por abordá-la pelo nível ou grau de dor expectável (ligeira, moderada, severa) e não por procedimento cirúrgico. As conclusões de diversos autores e a experiência de cada um de nós sugerem que o melhor fator preditivo da ocorrência de dor severa em casa, após a alta, é o seu inadequado controlo durante as primeiras horas do pós-operatório, incentivando-nos a tratar “agressivamente” a dor nesse período. 6,17 Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória Recomendações para analgesia no adulto em cirurgia de ambulatório A analgesia multimodal (ou balanceada) é, desde há algum tempo, a base dos planos analgésicos usados na profilaxia e no tratamento da dor pós-operatória na CA. Consiste na administração de uma combinação de analgésicos opioides e não-opioides que atuem em locais diferentes, quer no sistema nervoso central quer no periférico, com o objetivo de melhorar o controlo da dor e simultaneamente eliminar os efeitos laterais indesejáveis relacionados com o uso de opioides. 16,18-22 Aos fármacos classicamente usados (paracetamol; anti-inflamatórios não-esteróides – AINEs - tradicionais ou inibidores da COX-2; 21,23,24 opioides fracos como o tramadol ou a codeína), devem juntar-se, sempre que possível, anestésicos locais de longa duração de ação (ropivacaína, levobupivacaína) através de técnicas locais ou locorregionais mais ou menos complexas. 14,16,17,19,22 O interesse crescente por fármacos adjuvantes pertencentes a outras classes, como glucocorticoides (dexametasona), agonistas α2 (clonidina; dexmedetomidina), antagonistas dos recetores NMDA (cetamina; destrometorfano), anticonvulsivantes (gabapentina; pregabalina), βbloqueadores, em associação com AINEs, opioides ou técnicas locorregionais, tem contribuído para a obtenção de analgesia eficaz, mesmo nos casos de dor severa, com uma clara redução do consumo de opioides e dos desagradáveis efeitos secundários a eles inerentes. 18,19,22 De facto, o tratamento da dor severa após CA tem sido uma necessidade, face à crescente complexidade das cirurgias efetuadas também agora neste regime, sem esquecer que, por outro lado, a melhor monitorização e objetivação da dor no pós-operatório antes e depois da alta veio evidenciar a prevalência da dor e a sua intensidade. O aperfeiçoamento das técnicas locorregionais (no material disponível e na capacidade de execução) e a possibilidade de prolongamento da analgesia para além das 12 horas através de cateteres perineurais continuará, a par com o carácter tendencialmente menos invasivo das abordagens cirúrgicas, a contribuir para o alargamento do espectro das cirurgias realizadas em regime ambulatório. 7,19 Para além da realização de técnicas locorregionais mais elaboradas (bloqueios de nervos periféricos, de plexos, ou mesmo do neuroeixo), 17,18 a “simples” mas eficaz infiltração da ferida operatória ou a instilação intra-articular ou intracavitária de anestésico local, com ou sem adjuvantes, deve ser fortemente encorajada quer por anestesistas quer por cirurgiões, independentemente da intensidade de dor expectável (ligeira, moderada ou severa). 7,14,16,17,22 No entanto, chama-se a atenção para a recomendação de que “Técnicas analgésicas, que exijam supervisão em ambiente hospitalar, não devem ser utilizadas em doentes alvo de cirurgia ambulatória, devendo dar-se prioridade à utilização de fármacos e métodos que possam aliviar a dor sem aumentar o risco de efeitos secundários”. 17,19 Técnicas como PCA e analgesia epidural que exigem acompanhamento especial, não são as mais indicadas para tais doentes. No tratamento da dor aguda pós-operatória, para além das medidas farmacológicas referidas estão descritas medidas não farmacológicas tais como: imobilização/ mobilização; massagem; crioterapia; acupuntura; treino de habilidades de coping; técnicas de relaxamento (com imaginação, visualização e distração); terapia ocupacional; toque terapêutico; medidas de conforto e o TENS. 6,16,17 À luz dos conhecimentos, sempre em atualização, e dos resultados da prática clínica diária nas diferentes UCAs, estamos certos que o livre arbítrio dos profissionais face às particularidades de cada procedimento, conduzirá à escolha da melhor abordagem anestésica, não descurando a sua contribuição para a analgesia do período pós-operatório. Antecipação, doses terapêuticas, horários fixos, protocolos de resgate, numa perspectiva multimodal, serão os pilares dessa conduta, individual mas organizada. 6,14 Particularidades da Analgesia na População Geriátrica Neste grupo de doentes, cada vez mais frequente, existem particularidades que se devem ter em atenção: 3,13,19 - Dificuldades de comunicação mascaram a dor - alterações cognitivas, hipoacusia, subestimação, iliteracia… - Avaliação proactiva - “está tudo bem?” é diferente de “ tem dor? Quanta?” - Diferentes respostas à dor e aos analgésicos - comorbilidades, maior sensibilidade aos depressores do SNS…. - Titulação de doses - minimizar efeitos secundários como sonolência, cardiovasculares, gastrointestinais… - Evitar sobreposição com medicação habitual – fármacos complementares ou alternativos Abordagem analgésica segundo avaliação da dor pós-operatória no Adulto • Promover o uso de técnicas loco-regionais no intraoperatório. 6,7,14,16,17 • Identificação dos fatores preditivos pré-operatórios. 6,16 • Tratamento da dor em função da escala da dor (Quadro 1).14 Orientações técnicas em analgesia pós-operatória em cirurgia de ambulatório em pediatria As crianças, por serem uma população de baixo risco anestésico e normalmente submetidas a cirurgias de baixa complexidade, são um grupo excelente para a CA. Por outro lado, a possibilidade de se realizarem os cuidados pós-operatórios no domicílio, permite minimizar o trauma da separação dos pais. 25,26 Um bom controlo da dor pós-operatória é um ponto fulcral para o sucesso da cirurgia pediátrica de ambulatório. A dor é uma Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 39 Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória Quadro 1 – Recomendações para Analgesia Pós-operatória no Adulto em Cirurgia do Ambulatório RECOMENDAÇÕES PARA ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA NO ADULTO EM CIRURGIA DO AMBULATÓRIO Dor ligeira peri-operatória Paracetamol (1gr ev, repetível após 4-6h) + Anestésico Local (infilitração ferida op. /BNP) +/AINE (tradicional ou coxibe) Dor ligeira - domicílio até 5 dias Paracetamol (1gr p.o., no máximo de 8/8h) Dor Moderada peri-operatória Dor moderada - domicílio até 7 dias Paracetamol (1gr ev, repetível após 4-6h) + Anestésico Local (infilitração ferida operatória /BNP/ instalação intra-articular) + AINE (tradicional ou coxibe) +/Opióide (por exemplo: tramadol, codeína, profilaxia NVPO) Paracetamol (1gr p.o., no máximo de 6/6h) + AINE (p.o.; dose e horário fixo dependentes do fármaco escolhido) Alternativa (se AINE contraindicado) Paracetamol (1 gr p.o., de 8/8h) + Paracetamol 325 mg + Tramadol 37,5 mg (p.o. 8/8h) Dor Severa peri-operatória Dor Severa - domicílio até 7 dias Paracetamol (1gr ev, repetível após 4-6h) + Anestésico Local (infilitração ferida operatória /BNP com ou sem cateter, instilação intra-articular/intracavitária +/adjuvantes;bloqueios centrais) + AINE (tradicional ou coxibe) +/Opióide (por exemplo: tramadol, codeína, profilaxia NVPO) Paracetamol (1gr p.o., no máximo de 6/6h) + AINE (p.o.; dose e horário fixo dependentes do fármaco escolhido) + Opióide fraco/Analgésico central (p.o.; dose e horário fixo dependentes do fármaco; exemplo: tramadol, codeína/clonixina, metamizol?) +/Anestésico local (continuação administração por cateter perineural em casos seleccionados e supervisionados) BNP – bloqueio de nervos periféricos; NVPO – náuseas e vómitos pós-operatórios. entidade particular na cirurgia pediátrica, uma vez que estão envolvidos vários fatores que a diferenciam da dor do adulto. 3 O medo da sedação excessiva, o medo do atraso da alta do ambulatório, uma má avaliação da dor na criança, são alguns fatores para uma analgesia inadequada em cirurgia pediátrica de ambulatório. 3 O objetivo deste trabalho consiste na abordagem de alguns fatores passíveis de aumentar a dor no pós-operatório em pediatria, e delinear linhas de orientações na abordagem do tratamento da dor pós-operatória em cirurgia de ambulatório pediátrica, baseada na literatura e recomendações existentes. A avaliação da dor em pediatria, 5 pela sua complexidade será abordada no capítulo “Avaliação e abordagem da Dor”. 40 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Ansiedade Pré-operatória e Agitação Pós-operatória O delírio e agitação pós-operatória são frequentes na população pediátrica, podendo retardar a alta anestésica, o que implica maiores custos e menor satisfação por parte do doente. Estão correlacionados com os fatores de ansiedade no pré-operatório, pelo que a determinação desses fatores e sua correção, é um fator chave para uma experiência anestésica segura e agradável em regime de ambulatório. 27 Os fatores de risco de ansiedade pré-operatória que possam implicar maior agitação pós-operatória incluem crianças com idades inferiores a 5 anos, problemas no comportamento com necessidade de apoio de profissionais de saúde, procedimento cirúrgico de longa duração, admissões hospitalares frequentes (> 5) e pais ansiosos. A pré-medicação com midazolam não parece diminuir a incidência da agitação pós-operatória, enquanto vários estudos sugeriram que a cetamina tem um efeito favorável, bem como pequenas doses de propofol ou dexmedetomidina no fim da anestesia. 27 Assim, este grupo de trabalho recomenda para situações de agitação pós-operatória na criança submetida a cirurgia de ambulatório, a seguinte atuação: • Observação durante 5 a 10 min, especialmente se sevoflurano usado no intraoperatório. • Medidas de suporte: medidas de conforto, distração, aquecimento, outras. • Excluir outras causas de agitação como acessos venosos, penso. • Iniciar analgesia em função da avaliação da dor. 5 • Administração de fármacos sedativos: em caso de dor controlada, podem ser administrados em ambiente monitorizado. (exemplo: pequenas quantidades de propofol, na fase 1 de recobro). Fatores que favorecem a dor pós-operatória Uma correta abordagem analgésica da criança submetida a CA deve ter em consideração fatores individuais que possam favorecer a dor, a técnica anestésica utilizada e as características dos procedimentos cirúrgicos. As crianças com idades inferiores a 1 ano, com hiperalgesia aguda após queimaduras, ou múltiplas lesões, com história recente de procedimento cirúrgico doloroso, com hiperalgesia crónica por patologia oncológica, neurológica ou reumatológica ou com necessidade de avaliações frequentes, apresentam maior probabilidade de dor no pós-operatório. 3,27 É sabido que a técnica anestésica influencia o controlo analgésico no pós-operatório, sendo que a anestesia local e o uso de técnicas loco-regionais favorecem a diminuição da dor e menor consumo de analgésicos no pós-operatório, bem como diminuem a dose de opioides no intraoperatório, o que está associado a menor incidência de náuseas e vómitos. 3,28 Os bloqueios periféricos, Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória na técnica de “single-shot”, são altamente eficazes. Exemplo disso são os bloqueios peniano, ileoinguinal e do grande auricular usados largamente em procedimentos cirúrgicos de ambulatório em pediatria. 28 O bloqueio caudal é um bloqueio versátil e de grande aplicabilidade na CA, contudo está associado a analgesia de curta duração. 28,29 O uso de opioides, agonistas α2 como a clonidina e NMDA agonistas como a cetamina, associados ao anestésico local, podem prolongar a analgesia pós-operatória até 24 horas. 28 Associado aos fatores individuais e técnica anestésica, o procedimento cirúrgico é, igualmente, um fator determinante da dor no pós-operatório, pelo que cirurgias mais dolorosas implicam um esquema analgésico mais agressivo. O Quadro 2 diferencia os procedimentos cirúrgicos em função da dor. Quadro 2 - Diferenciação dos procedimentos cirúrgicos em função da dor Especialidade Procedimentos menos dolorosos Abordagem analgésica segundo avaliação da dor pós-operatória •Promover o uso de técnicas loco-regionais no intraoperatório •Tratamento dos fatores preditivos pré-operatórios da agitação pós-operatória •Tratamento da dor em função da escala da dor (Quadro 3) Quadro 3 – Recomendações para Analgesia em Pediatria em Cirurgia de Ambulatório Escalas de Avaliação de Dor na Criança <4 anos 4-6 anos Procedimentos mais dolorosos Oftalmologia Examinação de olho Estrabismos; vitrectomias Cirurgia Maxilofacial Extrações dentárias Palatoplastia; ORL Miringotomia; adenoidectomia; Amigdalectomia; Ortopedia Artroscopia diagnóstica Artroscopia; tenotomia; osteotomia Urologia Cistoscopia Hipospádias; reimplantação ureteral; lumbotomia Cirurgia Pediátrica Herniorrafia; orquidopexia Hipospádias, otoplastia, ginecomastia, cirurgia laparoscopica, reparação de sequelas de queimaduras Cirurgia Plástica Pequenos nevos Otoplastia, ginecomastia, nevos extensos, reparação de sequelas de queimaduras Recomendações para Analgesia em Pediatria em Cirurgia de Ambulatório A abordagem da dor pós-operatória em cirurgia de ambulatório pediátrica deve ser multimodal, em função do procedimento cirúrgico, técnica anestésica e segundo as necessidades da criança. Nos procedimentos cirúrgicos mais traumáticos, como por exemplo cirurgia ortopédica, o uso de AINE é aconselhado. Em caso de cirurgias potencialmente hemorrágicas, como é o caso da amigdalectomia, os AINE devem ser substituídos por outros grupos analgésicos, nomeadamente paracetamol e opioides fracos. O recurso a técnicas analgésicas loco-regionais, através de perfusões contínuas de anestésico local, tem ganho grande interesse na CA em procedimentos cirúrgicos mais invasivos e dolorosos. Contudo, o seu uso em pediatria de ambulatório deve ser acompanhado de mais estudos, no sentido de identificar indicações precisas, eficácia e segurança deste método, antes de ser instituído na prática clínica. 28 A abordagem analgésica da criança submetida a cirurgia de ambulatório foi realizada em função da avaliação da dor no pós-operatório. 5 FLACC-R (Face, Legs, Activity, Cry, Consalability Revised) Escala de Faces Escala de Faces de Wong-Baker >6 anos Escala Numérica Escala Visual analógica Faces Pain Scale-revised Escala de Faces Wong-Baker Analgesia pós-operatória segundo escala de dor Dor Ligeira Peri-operatório Paracetamol 20 mg/kg ev + AINE ev ou Infiltração da ferida operatória; BNP; Bloqueiosneuroeixo Para o Domicílio Paracetamol+ 15 mg/kg, 6/6h, p.o. 20mg/kg, 6/6h, rectal Duração até 5 Dias Dor Moderada Peri-operatório Paracetamol 20 mg/kg ev + AINE ev + Infiltração da ferida operatória; BNP; Bloqueiosneuroeixo ou Opioides Para o Domicílio Paracetamol 15mg/kg, 6/6h p.o. 20mg/kg,6/6h, rectal + AINE per os Duração até 7 Dias Dor Severa Peri-operatório Paracetamol 20 mg/kg ev + AINE ev + Infiltração da ferida operatória; BNP; Bloqueiosneuroeixo + Opioides Para o Domicílio Paracetamol 15mg/kg, 6/6h p.o. 20mg/kg,6/6h, rectal + AINE p.o. + Opioides 1 a 2 mg/kg de 8/8h Codeína 0,5 a 1 mg/kg 6/6h, p.o. Duração Até 7 Dias Tratamento da ansiedade pré-operatória e agitação pós-operatória • Observação durante 5 a 10 minutos, especialmente se sevoflurano usado no intraoperatório • Medidas de suporte: medidas de conforto, ver TV, jogos, aquecimento, outras. • Excluir outras causas de agitação como acessos venosos, penso. • Iniciar analgesia em escalada. •Administração de fármacos sedativos: pequenas quantidades de propofol (0,5mg/kg ev), na fase 1 de recobro BNP - bloqueio de nervos periféricos Sugestões de alteração ao Decreto-Lei n.o 13/2009 de 12 de Janeiro Um dos principais objetivos da Comissão foi propor alterações ao Decreto-Lei nº 13/2009, de 12 de Janeiro, criado para possibilitar a dispensa de medicamentos aos doentes submetidos a cirurgia em regime de ambulatório, pelas Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 41 Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória Quadro 4 – Recomendações para Analgesia em Pediatria em Cirurgia de Ambulatório Escalas Númericas e Visuais Analógicas da Intensidades da Dor Recomendações para Analgesia em Pediatria em Cirurgia de Ambulatório Escalas Avaliação de Dor na Criança FACE, LEGS , ACTIVITY, CRY, CONSOLABILITY Revised (FLACC-R) FACE 0 = Nenhuma expressão em especial ou sorriso 1 = Caretas ou sobrancelhas franzidas de vez em quando, introversão ou desinteresse, aparenta estar triste ou preocupado. 2 = Caretas ou sobrancelhas franzidas frequentemente; tremor frequente/constante do queixo, maxilares cerrados, face parece ansiosa, expressão de medo ou pânico Comportamento individualizado PERNAS 0 = Posição normal ou relaxada; tonificação normal & movimentação dos membros inferiores e superiores 1 = Inquietas, agitadas, tensas; tremores ocasionais 2 = Pontapeando ou com as pernas esticadas, aumento significado da espasticidade, tremores constantes ou movimentos bruscos Comportamento individualizado ACTIVIDADE 0 = Quieta, na posição normal, move-se facilmente, respiração regular, ritmíca 1 = Contorcendo-se, movendo-se para trás e para a frente, movimentos tensos ou cuidadosos; ligeiramente agitada (ex. cabeça para trás e para a frente, agressão); respiração pouco profunda, estabilizada, suspiros intermitentes. 2 = Curvada, rígida ou fazendo movimentos bruscos, agitação grave, bater com a cabeça, a tremer (com arrepios), suster a respiração, arfar ou respiros fundos, grave contracção muscular. Comportamento individualizado CHORO 0 = Sem choro/verbalização 1 = Gemido ou choramingo, queixa ocasional, explosão verbal ou "grunhidos" ocasionais 2 = Choro continuado, gritos ou soluços, queixas frequentes, explosões repetidas, "grunhidos constantes" Comportamento individualizado CONFORTABILIDADE 0 = Sem choro/verbalização 1 = Tranquilizada por toques, abraços ou conversas ocasionais. Pode ser distraída 2 = Difícil de consolar ou confortar afastandoo prestador de cuidados, resistindo aos cuidados ou às tentativas de conforto Comportamento individualizado farmácias e outros estabelecimentos e serviços de saúde, públicos e privados. Tal iniciativa visa a obtenção de equidade entre a abordagem cirúrgica convencional, onde os fármacos são disponibilizados no internamento sem encargos para o utente, e a abordagem cirúrgica de ambulatório, assim como uma maior racionalização económica ao Estado, já que permite evitar a interrupção na continuidade da terapêutica, assim como elimina a compra integral de embalagens de medicamentos. Contudo, algumas das características atrás plasmadas não foram cumpridas pelo legislador, pelo que a referida Comissão, vem agora sugerir a devida rectificação. Assim: 1 - Com o objectivo de evitar a iniquidade criada pelo Decreto-Lei n. 13/2009, de 12 de Janeiro, no que respeita à 42 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Fármacos e doses Administração Oral Administração Rectal Administração ev Dose de Carga: 20 mg/Kg Doses seguintes: 10 a 15 mg/ kg q6h Dose de carga: 30-40 mg/kg. Doses seguintes: 20 mg/Kg q6h. máximo 90 mg/ Kg/dia até 4g/dia 10 a 15 mg/ Kg q6h Diclofenac >1 A: 1 mg/Kg q8h (máximo 150 mg/d) >1 A: 1 mg/kg q8h (máximo 150mg/d) Ibuprofeno >6M/7Kg: 10 mg/ Kg q8h (máximo 800 mg) Cetorolac <50 Kg: 0.5 mg/ kg até 15 mg. >50 kg: 0.5 mg/ kg até 30 mg; q6h Paracetamol Codeína 0.5 - 1mg/kg q6h Tramadol 1-2mg/Kg q8h <50 kg: 0.5 mg/ Kg até 15 mg. >50 kg: 0.5 mg/ kg até 30 mg; q6h 1-2mg/Kg q8h dispensa de medicamentos unicamente passíveis de serem administrados por via oral através de formulações orais sólidas, o que limita claramente a dispensa de medicamentos a crianças ou doentes da área de oftalmologia, propõe-se que aquela abranja medicamentos passíveis de serem administrados por via oral, rectal ou tópica, e em formulações orais sólidas ou líquidas, supositórios, ou ainda colírios. 2 – Com o objectivo de aumentar a eficácia da terapêutica médica segundo a actual legis artis e de alargar este regime cirúrgico a procedimentos mais invasivos e/ou de maior complexidade com dor esperada no pós-operatório de maior intensidade não controlável somente com fármacos AINEs, propõe-se a inclusão de medicamentos classificados como opiáceos embora com potência de acção menor e efeitos laterais mínimos que os fármacos referência deste grupo farmacológico, como sejam o tramadol ou a codeína, comercializados de forma isolada ou através de Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória associações farmacológicas com o paracetamol ou outros. 3 – Com o objectivo de aumentar a segurança clínica designadamente a possibilidade da existência de efeitos laterais de foro gastrointestinal provocados pela utilização de analgésicos anti-inflamatórios não esteróides tradicionais (AINEs-t), propõe-se ainda a possibilidade da inclusão de fármacos protectores gástricos. 4 – Com o objectivo de aumentar o conforto, mas sobretudo a racionalidade económica de tal iniciativa, propõe-se que a duração da medicação a dispensar possa ir até um máximo de 7 dias, em virtude, de inúmeros procedimentos cirúrgicos assim o exigirem. Parece-nos que as diferentes sugestões propostas pela Comissão criada pela APCA, e suportadas pela mais recente literatura científica e correta prática clínica, ajudarão a rectificar situações não previstas e/ou esquecidas pelo legislador aquando da criação do Decreto-Lei n. 13/2009, de 12 de Janeiro, e que a sua utilização ao longo dos últimos três anos em vigor o permitiu evidenciar, tornando este instrumento legal numa mais-valia para a promoção duma prática da cirurgia em regime de ambulatório em Portugal, mais segura, eficaz, e mais racional do ponto de vista económico. O comunicado do Conselho de Ministros de 9 de Maio de 2013 vem anunciar a alteração deste diploma e cujo teor se transcreve: “O Conselho de Ministros alterou o diploma que estabelece as condições e os requisitos para que os estabelecimentos e serviços prestadores de cuidados de saúde dispensem medicamentos para tratamento no período pós-operatório de situações de cirurgia de ambulatório. A alteração visa alargar o tipo de medicamentos a dispensar, por forma a abranger crianças e pacientes de oftalmologia. Altera-se, ainda, a quantidade de medicamentos dispensados após a intervenção cirúrgica, para a quantidade necessária para sete dias de tratamento, dado verificar-se essa exigência em inúmeros procedimentos cirúrgicos.” Esta alteração à lei vem expressa no recente Decreto-Lei n.º 75/2013 (Diário da República, 1.ª série – N.º 107 - 4 de junho de 2013). 6. Gupta A. Analgesia techniques for day cases. In: Lemos P,Jarrett P,Philip B, editors. Day surgery: development and practice. Porto: IAAS by Clássica Artes Gráficas; 2006. p. 209-27. 7. Jacob AK, Walsh MT, Dilger JA. Role of regional anesthesia in the ambulatory environment. Anesthesiol Clin. 2010; 28(2):251-66. 8. Decreto –Lei nº 13/2009 Diário da República, 1ª série, Nº 7, 12 de Janeiro 2009. Disponível em: www.sg.min-saude.pt/ NR/.../15330/getpdf.pdf 9. Rudkin GE, Rudkin AK. Ambulatory surgery acute pain management: A review of the evidence. Acute Pain. 2005; 7: 41-49. 10. Dor – Guia orientador de boa prática. Ordem dos Enfermeiros 2008. Disponível em: www.ordemenfermeiros.pt/publicacoes/ Documents/cadernosoe-dor.pdf 11. Circular normativa nº 09/DGS de 14/06/2003. Disponível em: www.min-saude.pt/NR/rdonlyres/.../ControlodaDor.pdf 12. The International Society for Quality in Health Care: ISQUA Page. Int J Qual Health Care. 2005; 17:85. 13. Circular informativa nº 015/2010 da DGS de Dezembro 2010. Disponível em: portal.esenf.pt/.../pk_ 14. Rawal N. Update on Pain Management. Euroanesthesia 2005; 2RC1:117-120. 15. Joshi GP, Ogunnaike BO. Consequences of inadequate postoperative pain relief and chronic persistent postoperative pain. Anesthesiol Clin North America. 2005; 23: 21-36. 16. Crews JC. Multimodal Pain Management Strategies for Office-Based and Ambulatory Procedures. JAMA. 2002; 288 (5): 629-32. 17. Rudkin GE, Rudkin AK. 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Anesth Analg. 2009; 109: 1073-8 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 43 Artigo de Revisão // Review Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica David Nora1, Joana Osório2, Luís Saldanha3 Palavras-chave: - Analgesia obstétrica; - Anestesia obstétrica; - Monitorização fetal; - Prognóstico neonatal. Resumo A segurança fetal é uma prioridade constante na prática anestésica em Obstetrícia. Constituem objetivos desta revisão, uma análise da evidência científica sobre as potenciais repercussões fetais e neonatais dos procedimentos anestésicos intraparto. Procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica on-line (PubMed). As referências consideradas relevantes foram selecionadas e revistas. Comparativamente com as técnicas regionais, a analgesia de trabalho de parto com opioides intravasculares tem maior incidência de bradicardia fetal, redução da variabilidade da frequência cardíaca fetal e, tal como a anestesia geral para cesariana, associa-se a menor índice de Apgar, maior défice de bases e maior incidência de depressão respiratória neonatal. Esses efeitos são acentuados se existe sofrimento fetal prévio. A escolha do opioide para analgesia intravascular deve basear-se na farmacologia de cada agente e na evolução do trabalho de parto, constituindo o remifentanil uma solução com relação custoeficácia favorável e com maior segurança fetal, dentro deste grupo de agentes. É importante não minimizar os potenciais efeitos secundários fetais das técnicas regionais, através da hipotensão materna e da hipertonicidade uterina, com consequente hipoperfusão uteroplacentar. Não há evidência sobre a técnica regional ideal, devendo esta ser adaptada às circunstâncias materno-fetais e ponderada em função do início e duração do efeito anestésico ou analgésico, da repercussão hemodinâmica materna e do risco de hipertonicidade uterina. A analgesia inalatória com protóxido de azoto (N2O) constitui uma alternativa válida às técnicas regionais. Fetal effects and neonatal impact of obstetric anesthesia David Nora1, Joana Osório2, Luís Saldanha3 Keywords: - Analgesia Obstetrical; - Anesthesia Obstetrical; - Pregnancy Outcome; - Fetal Monitoring; - Infant Newborn; - Heart Rate, Fetal 44 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Summary Fetal safety is a permanent priority during anesthetic practice for obstetrics. This review is intended to analyze the scientific evidence available on the potential fetal and neonatal impact of intrapartum anesthetic procedures. An online search (PubMed) was conducted. Relevant references were selected and reviewed. Compared to regional techniques, intravenous analgesia with opioids is associated with higher incidence of fetal bradycardia and decreased fetal heart rate variability, lower Apgar score, greater base deficit and higher incidence of neonatal respiratory depression. These effects are accentuated if there is prior fetal distress and are similar to those induced by general anesthesia for cesarean section. The choice of opioid for intravenous analgesia should be based on the pharmacology of each agent and on the progression of labor. Remifentanil offers good cost-effectiveness and a security profile among intravascular opioids. It is important not to underestimate the potential for secondary injury associated to regional techniques, namely by maternal hypotension and uterine hypertonicity, with resulting uteroplacentar hypoperfusion. There is no evidence on the ideal regional technique. It should be tailored to maternal and fetal characteristics, considering onset and duration of its analgesic or anesthetic effect as well as its influence on maternal hemodynamic and uterine hypertonicity. Inhalational analgesia with N2O may constitute an alternative to regional techniques. Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica 1 Interno de Anestesiologia, Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal. Assistente Hospitalar de Anestesiologia, Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal. 2 3 Chefe de Serviço de Anestesiologia, Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal AUTOR CORRESPONDENTE: David Nora Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica. Desde o advento da anestesia obstétrica, em meados do século XIX, a segurança fetal tem sido alvo de uma atenção crescente. Sir James Young Simpson (1811-1870), pioneiro na analgesia do trabalho de parto, reconheceu o efeito potencial dos agentes anestésicos no feto e defendeu a importância da monitorização da frequência cardíaca fetal no decorrer do parto. 1 Os trabalhos subsequentes de Snow (1853) e Zweifel (1877) demonstraram a transmissão placentar de fármacos – um dos principais mecanismos que medeiam os efeitos dos anestésicos no feto. 2 Porém, o reconhecimento científico generalizado de que as técnicas anestésicas podiam ter repercussões no feto e no período neonatal chegou apenas no início do século XX, com a evidente associação entre o crescente número de depressões respiratórias neonatais e a analgesia endovenosa no trabalho de parto com morfina e escopolamina. 3 Em 1953, Virginia Apgar, uma anestesiologista de Nova Iorque, descreveu um sistema simples e reprodutível de avaliação neonatal – o índice de Apgar –, que para além do valor prognóstico, possibilitou a aferição das repercussões neonatais das diferentes técnicas anestésicas. 4 A partir de 1960, começaram a generalizar-se as técnicas regionais, que pela eficácia e segurança evidenciadas, prevaleceram, até aos dias de hoje, na primeira linha da intervenção anestésica em Obstetrícia. 5-7 Nos anos mais recentes, a utilização de anestésicos locais em menores concentrações, facto para o qual contribuiu a administração concomitante de opioides por via epidural ou subaracnoideia, possibilitou que se alcançassem efeitos analgésicos isolados. 8 Este bloqueio diferencial tem vindo a diminuir a incidência das repercussões simpáticas e motoras das técnicas do neuroeixo, com benefício materno-fetal. 9 Constituem objetivos desta revisão, uma análise da evidência científica sobre as potenciais repercussões fetais dos procedimentos anestésicos intraparto – analgesia do trabalho de parto e anestesia para cesariana – e o impacto destas no período neonatal. Procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica online (PubMed), com as palavras-chave obstetrical anesthesia e fetal monitoring, obstetrical anesthesia e neonatal outcome, obstetrical analgesia e fetal monitoring ou obstetrical analgesia e neonatal outcome, restringindo os resultados a revisões, meta-análises e editoriais publicados nos últimos 10 anos, que incluíssem uma das combinações de palavras-chave no corpo do texto. Obtiveram-se 64 trabalhos com as palavras-chave obstetrical anesthesia e fetal monitoring, 11 com obstetrical anesthesia e neonatal outcome, 42 com obstetrical analgesia e fetal monitoring e 7 com obstetrical analgesia e neonatal outcome. Selecionaram-se os artigos cujo resumo mostrava um conteúdo concordante com os objetivos deste trabalho. A bibliografia dos artigos considerados relevantes foi verificada, selecionando-se adicionalmente as referência cujo conteúdo se adequava aos objectivos descritos. Efeitos fetais dos agentes anestésicos durante o parto Podem definir-se dois tipos de efeitos fetais dos procedimentos anestésicos, 3,9 com potencial impacto neonatal: - Diretos ou primários, associados à transmissão placentar de fármacos; - Indiretos ou secundários, resultantes de insuficiência placentar por disfunção materna primária. O paradigma dos efeitos primários é a teratogenicidade farmacológica, cujas repercussões são dose-dependentes e determinadas pela duração da exposição e pela idade gestacional à altura da mesma. 10 Corresponde ao mecanismo classicamente associado à anestesia geral na gravidez. 3,6,10,11 As estratégias para a sua minimização incluem uma ponderação cuidada da relação benefício/risco materna e fetal de todos os procedimentos anestésicos,12 em concordância com o perfil de toxicidade de cada fármaco. 13-15 O bem-estar fetal é criticamente dependente da oxigenação e perfusão placentares, constituindo, por isso, a hipoxia materna e a hipoperfusão útero-placentar as principais fontes de risco secundário. 10 A redução da oxigenação materna no âmbito da atuação anestésica prende-se com dificuldades na abordagem da via aérea e/ou na ventilação, tanto no contexto de anestesia geral como de uma depressão respiratória induzida por um bloqueio subaracnoideu ou epidural excessivo. 3 O motivo mais comum de hipoperfusão útero-placentar é a compressão aorto-cava pelo útero gravídico, significativa a partir das 18 a 20 semanas de gestação, e maximizada em decúbito dorsal. 16 Outras causas na área de intervenção anestésica são a hemorragia pré-parto, o bloqueio simpático não-compensado induzido por uma técnica regional ou os efeitos cardiodepressor e vasodilatador dos anestésicos gerais. Monitorização fetal A monitorização do cardiotocograma (CTG) é um método de vigilância com utilização generalizada antes e durante o parto. A análise da frequência cardíaca fetal, particular- Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 45 Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica mente se associada à análise do segmento ST e onda T do eletrocardiograma fetal, permite a vigilância contínua do bem-estar fetal e a deteção e intervenção precoces sobre situações de sofrimento agudo. 17 É a técnica que mais comummente se utiliza para monitorizar os efeitos da analgesia de trabalho de parto. Não obstante, não existe evidência clara de que a monitorização contínua da frequência cardíaca fetal durante a instalação e ação do bloqueio analgésico melhore a mortalidade e o bem-estar neonatal. 8,18 O perfil biofísico fetal analisa ecograficamente um conjunto de parâmetros morfológicos e funcionais que podem traduzir alterações de oxigenação fetal agudas e crónicas. 19 A SpO2 fetal complementa a informação obtida pelo CTG, aumentando a sua sensibilidade. 20 O estudo Doppler fetal fornece dados da circulação fetoplacentar com relevância diagnóstica e prognóstica. 21 Todas estas formas de monitorização possibilitam a avaliação da repercussão fetal das técnicas analgésicas do trabalho de parto. 22 Instrumentos de avaliação do bem estar do recém nascido A análise do sangue do cordão umbilical é o método de referência para avaliação do equilíbrio ácido-base neonatal e da função placentar. 17 O pH e o excesso de bases (BE) arterial e a PaCO2 são indicadores da condição fetal e neonatal, ao passo que os mesmos parâmetros no sangue venoso traduzem o estado ácido-base materno e a função placentar. O BE é um melhor indicador do prognóstico neonatal do que o pH. 8 Nenhum dos parâmetros é específico de qualquer etiologia. A sua utilização é restrita a alguns centros de referência e no contexto de investigação clínica, com custos elevados. O índice de Apgar é universalmente utilizado, pela sua fácil aplicação e reprodutibilidade, tem elevada sensibilidade, mas não é específico para os efeitos anestésicos. 23 A avaliação neurocomportamental do recém-nascido é discriminatória entre os efeitos depressores dos anestésicos sobre o sistema nervoso central e a asfixia perinatal. Porém, a falta de escalas validadas e confiáveis para a aferição das repercussões neonatais da administração materna de fármacos no período intraparto fez com que a sua utilização neste contexto tenha vindo a ser descartada. 24 A investigação neste âmbito tem-se centrado nos efeitos comportamentais a longo prazo associados à anestesia materna durante a gravidez para procedimentos não-obstétricos e para procedimentos fetais, bem como à anestesia neonatal e infantil. 25-27 Analgesia do trabalho de parto e impacto neonatal Na Europa e nos Estados Unidos, a analgesia do trabalho de parto é efetuada maioritariamente através de técnicas 46 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 regionais – bloqueio epidural, bloqueio subaracnoideu e bloqueio sequencial, constituindo a analgesia endovenosa com opioides a principal alternativa. 3,8,9,28 O bloqueio do neuroeixo tem efeitos primários mínimos sobre o feto, uma vez que não há evidência de toxicidade fetal direta induzida pelos anestésicos locais e/ou opioides quando administrados nos espaços epidural e/ou subaracnoideu. 9 Os efeitos indiretos podem ocorrer pela hipotensão materna não compensada provocada pelo bloqueio simpático e em situações de hipertonia uterina. 9 Este último mecanismo é tradicionalmente associado à utilização de opioides na abordagem do neuroeixo, mas pode ocorrer com qualquer técnica analgésica do trabalho de parto. 29 É mediado por uma alteração do equilíbrio de catecolaminas circulantes, com predomínio de noradrenalina sobre adrenalina e de efeitos α sobre efeitos β-adrenérgicos, de que resulta um aumento do tónus muscular uterino e vascular, contribuindo, ambos, para uma perfusão placentar e fetal inadequada. 8,17 Este efeito é mais marcado mediante a administração concomitante de uterotónicos e quando se procede à rotura artificial de membranas durante a instalação do bloqueio analgésico. O risco de hipotensão materna é minimizado pela utilização de concentrações reduzidas de anestésicos locais, pelo posicionamento (lateralização uterina), pelo preenchimento vascular e por vasopressores.30 A utilização profilática de vasopressores, no contexto de hipotensão materna após analgesia do trabalho de parto por técnica do neuroeixo, expõe o feto ao risco de taquicardia fetal e não melhora o prognóstico neonatal. 31,32,33 A pressão arterial materna deve ser avaliada previamente ao bloqueio analgésico e em intervalos regulares ao longo do trabalho de parto, com vigilância mais apertada durante os primeiros 20 a 30 minutos após realização da técnica. 8 As repercussões fetais traduzem-se em perturbações do ritmo cardíaco e têm uma incidência até 15 %.8 As mais comuns são bradicardia e desacelerações tardias, que surgem mais precocemente numa analgesia subaracnoideia (menos de 10 minutos após administração) do que numa analgesia epidural (15 a 30 minutos) e que têm uma duração habitual de 10 minutos. 34 Não existe evidência de que estes sinais fetais se repercutam em efeitos neonatais, nomeadamente no índice do Apgar, na incidência de pH fetal <7,15 e na admissão em Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais. 17 Não há evidência de diferenças estatisticamente significativas entre as várias técnicas analgésicas regionais no prognóstico neonatal.35 A analgesia epidural per se exerce uma influência mínima na fisiologia fetal e não se associa a efeitos adversos neonatais. 17 Nas situações em que é mantida a pressão arterial média (PAM) materna, o bloqueio simpático induzido pela técnica epidural contribui para uma redução da resistência vascular placentar e assim aumenta o fluxo sanguíneo umbilical, o que pode ser particularmente benéfico nos casos de sofrimento fetal Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica conhecido ou suspeito. 8,25 A diminuição plasmática de cortisol e catecolaminas maternas após o bloqueio analgésico epidural pode também contribuir para este efeito circulatório placentar. 25 A probabilidade de ocorrer febre materna após um bloqueio epidural deve-se a uma perturbação da termorregulação induzida pela técnica, sem que tal origine uma maior incidência de infeções neonatais.36 O bloqueio subaracnoideu, enquanto técnica simples ou enquadrado em técnica sequencial, associa-se a uma maior incidência de hipertonia uterina e perturbação do ritmo cardíaco fetal, particularmente com a administração de opioides (efeito dose-dependente). 37 Este facto deve ser levado em conta na ponderação da técnica analgésica e nos fármacos e doses a utilizar, nas situações em que existe uma alteração prévia no padrão cardiotocográfico. 8,37 A analgesia do trabalho de parto com opioides endovenosos tem um risco aumentado de bradicardia e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca fetal quando comparada com técnicas regionais, a que se associam índices de Apgar mais baixos, depressão respiratória neonatal, redução da SpO2 neonatal que pode chegar até às 12 horas pós-parto e atraso no início do aleitamento. 38 Estes efeitos resultam da ação fetal direta via transferência placentar e da possível repercussão indirecta via hipotensão e/ou hipoventilação maternas e/ou hipotonia uterina. A petidina é o opioide de utilização mais comum a nível mundial. 17 A sua concentração plasmática fetal é inversamente proporcional ao intervalo entre a administração materna e o nascimento. Atinge um plateau máximo 60 minutos a 5 horas pós-administração, pelo que o risco de depressão respiratória neonatal é maior nos casos em que o nascimento ocorre durante esse período. 25 As administrações múltiplas levam à acumulação de norpetidina (semi-vidas materna e fetal de 25 e 60 horas, respetivamente), com consequente risco de depressão respiratória e convulsões neonatais. A morfina é raramente usada pelo seu tempo de latência e duração de ação prolongados e pelos efeitos deletérios maternos (depressão respiratória, náuseas e vómitos) e neonatais (depressão respiratória mais comum comparativamente à analgesia com petidina). 25 O fentanil tem um rápido início e uma curta duração de ação e não tem metabolitos ativos. Os níveis plasmáticos maternos e fetais descem paralelamente após um bolus materno e quando comparado com a petidina, associa-se a menor incidência de náuseas e sedação maternas e a um menor risco de depressão respiratória neonatal. 17 Se administrado em protocolo de analgesia controlada pelo paciente (patient controlled analgesia – PCA) endovenosa o risco de depressão respiratória neonatal é mais elevado, podendo atingir 44 % dos recém-nascidos, com Apgar <6 ao primeiro minuto. 38 O alfentanil tem uma elevada ligação proteica, pelo que a redução plasmática de α1-glicoproteína em fetos pré-termo aumenta a sua fração livre e potencia o risco de depressão respiratória. Em PCA endovenosa promove uma analgesia inferior ao fentanil e riscos neonatais semelhantes. 39 Apesar da sua elevada lipossolubilidade, o sufentanil tem um pico plasmático fetal tardio, uma vez que a transferência placentar é limitada pela sua extensa ligação proteica plasmática materna e pela captação placentar. Atinge um plateau sérico fetal máximo aos 45 a 80 minutos, pelo que pode constituir uma alternativa analgésica eficaz quando administrado no segundo estadio do trabalho de parto, nas situações em que seja previsível que o nascimento ocorra nos 45 minutos seguintes. 17 O remifentanil atravessa rapidamente a barreira placentar e é alvo de metabolização por esterases fetais. Está documentada a diminuição de variabilidade da frequência cardíaca fetal com a sua utilização, mas sem impacto neonatal no índice de Apgar, gasimetria arterial umbilical e depressão respiratória. 25 A analgesia de trabalho de parto com PCA de remifentanil revelou-se mais eficaz do que em infusão contínua e com menos efeitos sobre a frequência cardíaca fetal, comparativamente a PCA de petidina. 40,41 Não obstante a menor eficácia em relação à analgesia epidural, 42 constitui uma alternativa com relação custo-benefício favorável. 43 Os instrumentos para analgesia inalatória no trabalho de parto com N2O têm tido uma acessibilidade e utilização crescentes e eficácia demonstrada. 44 O N2O tem uma rápida transmissão placentar e não é metabolizado. Não tem efeitos sobre a contractilidade uterina nem sobre a frequência cardíaca fetal. A sua excreção é exclusivamente respiratória e ocorre apenas após o nascimento, com o início dos ciclos ventilatórios regulares neonatais, independentemente do tempo de administração. Não se associa a repercussões no índice de Apgar. 17 Anestesia para cesariana e impacto neonatal Os procedimentos anestésicos para cesariana incluem a anestesia geral e as técnicas regionais – bloqueio epidural, bloqueio subaracnoideu e bloqueio sequencial. 5,6 Tal como na analgesia de trabalho de parto, não há evidência sobre efeitos diretos induzida pelas técnicas regionais, assegurando, naturalmente, uma correta execução das mesmas, que exclua a administração intravascular de anestésicos locais e/ou opioides. Os efeitos secundários podem ocorrer na presença de hipotensão materna. O bloqueio simpático resultante da técnica anestésica promove uma redução da pré-carga e da pós-carga, com redução da PAM materna. A ausência de mecanismos de autorregulação na circulação placentar torna-a dependente da pressão de perfusão, pelo que uma redução da PAM se traduz numa hipoperfusão fetoplacentar. 8 A compressão aorto-cava pelo útero gravídico exacerba este efeito e é maximizada em decúbito dorsal. 16 O bloqueio simpático tem uma instalação mais precoce Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 47 Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica e maior risco de repercussão hemodinâmica num bloqueio subaracnoideu do que num bloqueio epidural, apesar da incidência de hipotensão materna ser idêntica em ambas as técnicas. 17,35 vez, deve ocorrer, no máximo, três minutos após a incisão uterina, já que esta manobra cirúrgica compromete estruturalmente a placenta e induz uma resposta vasoconstritora na circulação placentar íntegra. 17,25 Doses sedativas de benzodiazepinas, conjugadas ou não com opioides, utilizadas como adjuvantes numa técnica locorregional não se associam a efeitos nefastos fetais e/ou neonatais. 45 Outro dos mecanismos determinantes de efeitos fetais secundários é o défice de oxigenação materna e consequentemente fetal, associado a problemas na abordagem da via aérea e/ou ventilação. Neste âmbito, a prevenção começa com o planeamento individualizado da abordagem da via aérea da grávida, tendo em conta as suas especificidades e as alterações fisiológicas da gravidez. É importante não ignorar que o conceito clássico segundo o qual a oxigenoterapia materna é universalmente vantajosa para o feto, não é verdadeiro. 8,17,25 Desde logo, a utilização de O2 no metabolismo placentar faz com que PaO2 fetal não aumente proporcionalmente com a PaO2 materna. 17 Por outro lado, em cesarianas electivas, a oxigenoterapia materna com FiO2 ≥35 % não alterou significativamente o pH nem a PaO2 fetal. 54 Para além disso, a hiperoxémia fetal pode acarretar riscos de geração excessiva de radicais livres de O2, que se associam a enterocolite necrotisante, retinopatia e doença pulmonar no recém-nascido. 55 Este risco pode ser maior nos casos de cesariana sob anestesia geral, já que esta técnica pode incapacitar as defesas antioxidantes fetais e neonatais. 8 A oxigenoterapia deve, portanto, ser titulada em função do bem-estar materno e fetal. Os grupos farmacológicos de utilização corrente numa anestesia geral para cesariana e suas particularidades estão expressas no Quadro I. Admite-se, no contexto da anestesia geral, a possibilidade de efeitos diretos e indiretos sobre o feto. Os efeitos directos dependem da transferência placentar de fármacos, que para além de estar relacionada com as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas de cada fármaco (Quadro I), é variável com o tempo de exposição fetal ao(s) mesmo(s). Um intervalo de tempo curto entre a indução anestésica e a extração fetal com laqueação do cordão umbilical é crítico para a evicção dos efeitos fetais primários, já que minimiza a exposição placentar aos agentes anestésicos, mas também secundários, uma vez que as ações cardiodepressora e vasodilatadora destes fármacos, associados ao decúbito dorsal da grávida e à consequente compressão aorto-cava, podem provocar uma hipotensão materna severa. Recomenda-se um período inferior a dez minutos entre a indução anestésica e a clampagem do cordão, que, por sua 48 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Fármaco Anestésicos Inflamatórios A anestesia geral em cesariana associa-se a um índice de Apgar mais baixo, a um maior défice de bases e uma maior incidência de depressão respiratória neonatal. 5,6 Estes efeitos são mais acentuados nos casos de sofrimento fetal prévio e/ou atraso de crescimento intrauterino. 25 Tem vindo igualmente a admitir-se um efeito imunomodulador deletério neonatal associado à anestesia geral para cesariana. 53 QUADRO I – Efeitos fetais e neonatais dos principais grupos farmacológicos de utilização em anestesia geral. Efeito fetal/ neonatal N2O Hipóxia neonatal (com altas concentações)25 Halogenados Depressão respiratória e hipotonia neonatal (com altas concentrações) Sem diferenças significativas entre agentes no prognóstico neonatal Mais rápida eliminação neonatal com sevoflurano e desflurano Benzodiazepinas Anestésicos endovenosos As medidas de prevenção da hipotensão materna incluem a lateralização esquerda uterina, a fluidoterapia, a administração de vasopressores e a utilização de meias compressivas. 46,47 Não há evidência sobre a repercussão neonatal direta dos diferentes tipos de fluidos de administração materna. Os colóides parecem mais eficazes do que os cristalóides na prevenção da hipotensão materna após anestesia intratecal para cesariana, mas esta não é uma ideia consensual. 46,47,48,49 A fluidoterapia simultânea à instalação do bloqueio anestésico tem-se revelado mais eficaz na prevenção da hipotensão materna do que o preenchimento vascular prévio à realização da técnica. 47,48 Apesar de classicamente se assumir que a fenilefrina apresenta um maior risco de hipoperfusão fetal pelo seu efeito agonista α-adrenérgico sobre a circulação placentar, estudos recentes têm demonstrado que a utilização de efedrina se associa a maior incidência e gravidade de efeitos deletérios neonatais, nomeadamente baixos pH e BE umbilicais, sem que tal tenha reflexo estatisticamente significativo no índice de Apgar. 50,51,52 A fenilefrina tem, assim, surgido como vasopressor de primeira linha no tratamento da hipotensão materna após anestesia para cesariana. 51 Independentemente da escolha do vasopressor, que deve ter também em conta as particularidades maternas, o fundamental é corrigir a hipotensão. 17 Barbitúricos Propofol Etomidato Outros dados Efeitos nocivos provavelmente mediados por depressão cardiovascular materna Risco de laringospasmo após aspiração de secreções neeonatal com desflurano 16,25 Défice de desenvolvimento do sistema nervoso central (efeitos comportamentais) - modelos animais27 Síndrome de abstinência neonatal Atraso no aleitamento Hipotonia neonatal Hipotermia neonatal Depressão respiratória neonatal Baixos índices de Apgar Redução do pH arterial e venoso umbilical Possíveis efeitos comportamentais a longo prazo (investigações em curso) 25,26,27 Concentração máxima artéria umbilical aos 3-5 minutos, com diminuição até aos 11 minutos25 Rápida transferência fetal e curta semivida de eliminação Efeito vasodilatador placentar Insuficiência supra-renal neonatal até às 6 horas pós-natais 25 Hipoglicemia neonatal Indicações específicas em contexto obstétrico Cetamina Opioides Baixas índices de Apgar Depressão respiratória neonatal prolongada Síndrome de abstinência neonatal (se terapêutica materna crónica) Não afecta a circulação placentar Relaxantes neuromusculares Sem efeitos nocivos directos documentados em doses terapêuticas e sem comorbilidades maternas Possível curarização neonatal com succinilcolina se homozigotia materna para défice de pseudo-colinesterases25 Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica Conclusão As limitações éticas inerentes aos estudos clínicos prospetivos em grávidas condicionam a evidência científica do impacto da anestesia no período neonatal. Não obstante, a evidência das vantagens associadas às técnicas regionais do ponto de vista neonatal é inequívoca, com efeitos diretos mínimos, tanto no contexto de analgesia do trabalho de parto, como de anestesia da grávida. Não é consensual qual a técnica regional ideal em nenhum dos casos, devendo a escolha ser adaptada às circunstâncias. A anestesia geral, não obstante os riscos a ela associados, constitui a única alternativa válida às técnicas regionais para cesariana. Independentemente da técnica anestésica ou analgésica utilizada são fundamentais a prevenção e o diagnóstico e tratamento precoces das complicações que podem induzir efeitos fetais indirectos. É neste âmbito que a intervenção do anestesiologista tem maior impacto na melhoria do prognóstico neonatal. A investigação em curso sobre os potenciais efeitos neurocognitivos e comportamentais dos agentes anestésicos gerais e o desenvolvimento de novas metodologias inalatórias e endovenosas para a analgesia do trabalho de parto prometem, num futuro próximo, introduzir novos dados na discussão científica sobre o real impacto neonatal da anestesia obstétrica. Referências 1. Snow J. On the administration of chloroform during parturition. Assoc Med J. 1853; 1: 500-502. 2. Dunn PM. Perinatal lessons from the past: Sir James Young Simpson (1811-1870) and obstetric anaesthesia. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2002; 86:F207–F209. 3. Collis R, Plaat F, Urquhart J (Ed). Textbook of Obstetric Anaesthesia. Cambridge: University Press; 2010. 4. Apgar V. A proposal for a new method of evaluation of the newborn infant. Curr Res Anesth Analg. 1953; 32: 260-267. 5. Rollins M, Lucero J. Overview of anesthetic considerations for Cesarean delivery. Br Med Bull. 2012;101:105-25. 6. Toledo P. 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PROPOFOL-INDUCED PRIAPISM: A RARE AND UNEXPECTED EVENT Paulo Nave 1, Carlos Bento 2 Nuno Santos 3 Keywords - Propofol; - Priapism; - Penile Erection; - Phenylephrine Abstract We report a case of propofol-induced priapism in a 36-year-old male. Despite being only the fourth reported case, without any identified risk factors, the frequent use of propofol in sedation and anesthesia warrants that all Anesthesiologists should be aware of this phenomenon in order to establish early diagnosis and treatment, minimizing complications associated with the surgery and patient erectile function. 1 Interno do Internato Complementar de Anestesiologia, Área de Anestesiologia – Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de Santa Marta, Portugal 2 Assistente Hospitalar Graduado de Anestesiologia, Serviço de Anestesiologia - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal Assistente Hospitalar de Anestesiologia, Área de Anestesiologia – Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de Santa Marta, Portugal 3 Priapismo é definido como uma ereção persistente superior a quatro horas ou sem qualquer associação ao estímulo sexual, 1 sendo a sua abordagem uma emergência médica. Trata-se de um distúrbio pouco comum cuja causa pode ser primária, secundária ou idiopática. Apesar de pouco descrito e de mecanismos ainda relativamente desconhecidos, o priapismo induzido por propofol é um evento que parece estar relacionado com mecanismos de ação local, nomeadamente na atividade dos canais de Ca2+ voltagem dependentes e de ação central, mediada, em que a serotonina assume particular importância. Descrevemos um caso de priapismo após indução anestésica com propofol. Caso Clínico Doente do sexo masculino, de 36 anos de idade, internado com o diagnóstico de litíase coraliforme do rim direito, proposto para a realização de nefrolitotomia percutânea direita. Apresentava antecedentes pessoais de litíase coraliforme do rim esquerdo já intervencionada (2004) e deterioração cognitiva por traumatismo crânio-encefálico grave na sequência de acidente de viação (2002) com necessidade de ser traqueostomizado por ventilação mecânica prolongada. O doente negava alergias conhecidas ou qualquer medicação habitual. Durante exame objectivo mostrou-se pouco colaborante, com limitação da mobilidade cervical, classificação Mallampati III e apresentando na região cervical cicatriz de traqueostomia com retração da pele e ligeiro desvio das estruturas da linha média do pescoço. Sem alterações relevantes nos exames complementares. Classificado no final da avaliação anestésica como ASA II. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 51 Priapismo Induzido por propofol: Um evento raro e inesperado No dia da cirurgia, por antecipação de via aérea difícil, optou-se pela intubação fibroscópica vígil por via naso-traqueal. Previamente à indução anestésica foram administrados metoclopramida ev 10mg, ranitidina ev 50mg, midazolam ev 2mg, fentanil ev 50µg e foi feita administração tópica, através de quatro pulverizações, de lidocaína a 10 % na naso e orofaringe. Após visualização da carina foi realizada a indução anestésica com fentanil ev 50µg, propofol ev 150mg e rocuronium ev 50mg. A intubação decorreu sem intercorrências. Foi colocado na posição de Valdívia e aproximadamente 10 minutos depois da indução, antes de qualquer manipulação dos genitais, observou-se um ingurgitamento completo do pénis que impedia o Urologista de prosseguir o ato cirúrgico. Optou-se pela administração intracavernosa de fenilefrina 1mg, tendo havido detumescência completa em 1-2 min. A anestesia foi mantida com sevoflurano e protóxido de azoto e o restante ato cirúrgico decorreu sem intercorrências. Discussão A ereção peniana é um evento neurovascular complexo, modulado por fatores psíquicos, endócrinos, neurológicos e miogénicos. Para que ocorra, é necessária a libertação de mediadores, dos quais se destaca o óxido nítrico, que provocam o relaxamento do músculo liso das artérias cavernosas e helicínias que suprem o tecido erétil, resultando num aumento do afluxo sanguíneo peniano. Simultaneamente, o relaxamento do músculo liso trabecular do pénis, aumenta a compliance dos sinusoides, permitindo o preenchimento rápido e a expansão do sistema sinusoidal. Os plexos venosos sub-albugíneos e as veias emissárias são então comprimidos entre o tecido erétil e a túnica albugínea, resultando numa oclusão quase total do efluxo de sangue, atingindo-se a fase erétil. Pelo contrário, a detumescência resulta da contração do músculo liso trabecular do pénis que reabre as veias emissárias, aumentando a drenagem do sangue e o retorno à flacidez. No que concerne à inervação, o pénis possui uma componente autónoma e somática. Com origem nos segmentos medulares de T10-L2, as fibras simpáticas dirigem-se ao plexo hipogástrico superior e daí, pelos nervos hipogástricos, para o plexo hipogástrico inferior, onde confluem com as fibras parassimpáticas, com origem nos segmentos medulares de S2-S4, constituindo os nervos cavernosos, a partir dos quais são controlados os mecanismos de ereção e detumescência do pénis. As fibras pós-ganglionares parassimpáticas, predominantemente não-adrenérgicas-não-colinérgicas (NANC), são responsáveis pela ereção. As fibras pós-ganglionares simpáticas controlam o orgasmo, a ejaculação e a detumescência peniana. 2 Os nervos somáticos são os responsáveis pela sensibilidade e pela contração dos músculos bulbocavernoso e isquiocavernoso. Distinguem-se três tipos de ereção: reflexogénica, psicogénica e noturna. A ereção psicogénica é o resultado de estímulos audiovisuais ou fantasias que desencadeiam 52 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 impulsos cerebrais para os centros medulares (T10-L2, S2-S4) que ativam o processo de ereção. A ereção reflexogénica é desencadeada por estímulos tácteis dos órgãos genitais com arco reflexo ao nível do centro sagrado da ereção. Habitualmente, estes dois mecanismos atuam sinergicamente. 2 As ereções noturnas ocorrem sobretudo durante o sono REM (Rapid Eye Movement) e parecem ser o resultado de uma ativação diferencial dos neurónios colinérgicos no tegumento pontino lateral. 3 O priapismo é uma entidade clínica definida como uma ereção persistente por mais de quatro horas ou que não está relacionada com um estímulo sexual. 1 A causa pode ser primária, quando não é acompanhado de nenhum distúrbio responsável por uma ereção prolongada, secundária, quando é causado por fatores que direta ou indiretamente afetam a ereção peniana, onde se destacam distúrbios hematológicos, neoplásicos, neurológicos, infeciosos ou farmacológicos e idiopática. 4 Classifica-se em 3 subtipos: isquémico (veno-oclusivo, de baixo fluxo), não isquémico (arterial, de alto fluxo) e recorrente (stuttering). O priapismo induzido por fármacos pertence ao subtipo isquémico e, sendo um síndrome compartimental, constitui uma emergência médica pelo risco de disfunção erétil que pode atingir os 50 %. 2 Segundo Staerman et al., 5 aproximadamente 3,5 % dos doentes submetidos a cirurgia urológica sob anestesia geral com propofol desenvolvem ereção peniana intraoperatória, sendo o fenómeno mais comum em doentes com idade inferior a 50 anos. 3 Várias hipóteses têm sido elaboradas para explicar a possível relação entre a utilização de propofol e a ocorrência de ereção intraoperatória. Se alguns autores 6 defendem que um desequilíbrio provocado entre os tónus simpático e parassimpático parece ser o mecanismo subjacente, outros 7 atribuem o acontecimento ao efeito vasodilatador dose-dependente causado pelo fármaco, apesar de muitos dos doentes com ereção intraoperatória não experienciarem hipotensão sistémica. Vesta et al. 8 sugere que o fenómeno possa estar relacionado com a emulsão lipídica em que o propofol se encontra disponível, já que estão descritos alguns casos de priapismo associados à administração endovenosa de emulsões lipídicas a 20 % de nutrição parentérica. No entanto, esta não parece ser a causa mais provável uma vez que as doses de propofol administradas na indução anestésica possuem uma quantidade substancialmente inferior de lípidos quando comparadas com a utilizada na nutrição parentérica. Num estudo conduzido por Staerman et al. 5 observou-se um aumento significativo, in vitro e in vivo, da pressão intracavernosa após estimulação do nervo cavernoso em ratos anestesiados com propofol quando comparada com a dos animais anestesiados com pentobarbital. Concluiu-se, desta forma, que o mecanismo prevalente no relaxamento do músculo liso vascular, seria o efeito inibitório direto do propofol na atividade dos canais de Ca2+ voltagem dependentes, reduzindo o fluxo transmembranar de Ca2+ nas células do músculo liso. No entanto, este mecanismo de ação local não parece ser o Priapismo Induzido por propofol: Um evento raro e inesperado único implicado no fenómeno. O facto de estarem descritas alucinações sexuais durante e após sedações com propofol é consistente com a possibilidade de mecanismos de ação central terem também um papel importante. Num artigo recentemente publicado alguns desses mecanismos são hipotetizados. 9 A serotonina, responsável quer por um efeito inibitório direto no comportamento sexual masculino, quer pela inibição dos reflexos sexuais ao nível espinhal parece ser um dos responsáveis. Pelo efeito inibitório do propofol ao nível dos recetores 5- hidroxitriptamina (5HT), os doentes anestesiados com este fármaco apresentam concentrações plasmáticas de 5HT significativamente inferiores, o que pode contribuir para o aparecimento de ereções no intraoperatório. Outros mediadores, como a dopamina, o N-metil-D-aspartato (NMDA) e o ácido gama-aminobutírico (GABA), parecem contribuir para a manutenção da ereção peniana, não havendo, no entanto, consenso acerca do papel que cada um desempenha. Utilizando a escala de probabilidades descrita por Naranjo et al., 10 o propofol foi classificado como uma causa possível para a ocorrência do priapismo no nosso doente. Pelo facto de não ter havido qualquer manipulação dos genitais, de o paciente não possuir nenhum hábito medicamentoso, de nenhum dos restantes fármacos administrados estar associado a priapismo e pela relação temporal dos eventos, é nossa convicção de que estamos perante o quarto caso publicado de priapismo induzido por propofol. O antecedente de traumatismo crânio-encefálico grave do doente faz-nos pensar numa possível relação entre este e uma eventual susceptibilidade à ocorrência de priapismo, não havendo no entanto evidência desta associação na literatura publicada. A abordagem adotada, com a administração intracavernosa de fenilefrina 1mg, foi bem-sucedida, observando-se detumescência completa em 1 a 2 min e sem recorrência no intraoperatório. No entanto, a abordagem destes casos não é consensual. Alguns autores defendem o uso de um antimuscarínico endovenoso como o glicopirrolato, especialmente pelo seu perfil no que toca à estabilidade cardiovascular. 6 Outros defendem o uso da cetamina, que se revela um fármaco consistentemente eficaz pelo seu efeito dissociativo no sistema límbico. Também a injeção de bupivacaína 0,25 % 8 ml no espaço subpúbico para bloqueio do nervo dorsal do pénis foi associada a elevadas taxas de sucesso. 4 Segundo as recomendações da American Urological Association 1 para o tratamento do priapismo isquémico intraoperatório, a abordagem inicial deve passar pela aspiração, com ou sem lavagem, através de um catéter 19 a 21G, conseguindo-se desta forma resolução em cerca de 30 % dos casos. Se o priapismo se mantiver após aspiração/lavagem, deve-se proceder à injeção intracavernosa de agentes simpaticomiméticos. Dados apontam para taxas de resolução que variam entre os 56 % em doentes sem aspiração/lavagem prévia e os 77 % para doentes em que essa foi realizada. De entre os fármacos adrenérgicos disponíveis, a fenilefrina, com uma eficácia de cerca de 65 %, inferior aos 81 % da epinefrina, está indicada como fármaco de primeira linha, por minimizar o risco de efeitos cardiovasculares quando comparada com outros simpaticomiméticos. 1 O doente deve ser cuidadosamente monitorizado pelo risco de desenvolver hipertensão arterial grave e taquiarritmias. A utilização de um shunt cirúrgico só deve ser considerada depois de serem feitas administrações consecutivas de fenilefrina, 100 a 500 µg, a cada 3 a 5min, durante uma hora, sem sucesso. 1 Conclusão Apesar de há muito tempo conhecidos os efeitos alucinatórios e desinibitórios sexuais do propofol, e de se reconhecer uma eventual associação entre o seu uso e a ocorrência de priapismo no intraoperatório, apenas em 2006 foi publicado o primeiro caso de priapismo induzido por propofol. Este efeito parece ser o resultado de um conjunto de mecanismos de ação local e central que actuam sinergicamente. Todos os Anestesiologistas devem estar alertados para este fenómeno e preparados para intervir adequadamente. Esta relação farmacológica poderá ser de tal forma sólida que num artigo recentemente publicado9 os autores hipotetizam o uso de um derivado do propofol como um potencial fármaco no tratamento da disfunção erétil. Bibliografia 1. Montague D, Jarow J, Broderick G et al. 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Indian J Pharmacol. 2010; 42(4):238-239. 8. Vesta K, Martina S, Kozlowski E. Propofol-Induced Priapism, a Case Confirmed with Rechallenge. Ann Pharmacother. 2006; 40:980-2. 9. Sweni A, Meenakshisundaram R, Senthilkumaran S, Thirumalaikolundusubramanian P. Propofol’s derivative: A potential drug for erectile dysfunction. Med Hypoteses. 2011; 77:668-670. 10. Naranjo C, Busto U, Sellers E et al. A method for estimating the probability of adverse drug reactions. Clin Pharmacol Ther. 1981; 30: 239–45. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 53 Perspetiva // Perspective OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 Laura Massa 1 Palavras-chave: - Serviços de Anestesia; - Anestesiologistas; - Ensino Resumo A Especialidade de Anestesiologia surgiu nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) nas décadas de 50/60 do século passado. Os Hospitais Civis de Lisboa foram oficialmente criados em 1913 como um grupo de hospitais espalhados por Lisboa. O desenvolvimento de uma Carreira Médica própria, com concursos exigentes, antecedeu largamente a criação da Carreira Médica nacional. A Carreira Médica dos HCL foi aplicada à Anestesiologia a partir de 1953 e os Serviços de Anestesia foram criados em 1969. Os Anestesiologistas confrontaram-se com dificuldades específicas relacionadas com a evolução política do país e com a estrutura física dispersa dos HCL, nomeadamente no referente à formação de novos especialistas. THE ANAESTHESIOLOGISTS IN LISBON PUBLIC HOSPITALS: 1940 – 1980 Laura Massa 1 Keywords - Public Hospitals; - Anesthesia Department, Hospital; - Anesthesiology/education 1 Abstract Anaesthesiology, as a medical specialty, was introduced in Lisbon Public Hospitals in the decades of 50/60 of the past century. The Lisbon Public Hospitals were officially created in 1913 as a group of hospitals scattered around Lisbon. This group soon developed an internal medical career, with degrees and examinations, much before the national medical career was created in the late 60’s. Anaesthesiology was integrated in the internal medical career in 1953 and Anaesthesiology Services were created in 1969. The political evolution and the hospital geographic distribution raised some difficulties to the Lisbon Public Hospitals Anaesthesiologists, faced with difficulties, namely concerning medical education. Chefe de Serviço de Anestesiologia (aposentada dos HCL) Os Hospitais Civis de Lisboa A especialidade Anestesiologia evoluiu nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) inserida na tradição dos padrões de qualidade que muito marcaram esta quase centenária Instituição, adaptando-se à estrutura física do Grupo disperso pela cidade de Lisboa. No entanto, para entendermos como se implantou, funcionou e evoluiu a Anestesiologia nos HCL importa fazer um breve resumo do que é, e como surgiu, esta Instituição que muito contribuiu para o desenvolvimento da Medicina em Portugal. Os HCL surgiram oficialmente em 1913, mas a verdade é que este grupo hospitalar remonta a tempos bem mais antigos: 1775, na sequência da destruição parcial do Hospital-Real-de-Todos-os-Santos pelo terramoto de 1755 (a funcionar desde 1504, no Rossio, em parceria com a Misericórdia). 1 54 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 ROSSIO: HOSPITAL-REAL-DE-TODOS-OS-SANTOS (Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico) Em Abril de 1775 os doentes do Hospital-Real-de-Todos-os-Santos passaram para o edifício do antigo Colégio jesuíta de Santo Antão-o-Novo, doado pelo rei D. José em 1769, criando-se assim aqui o Hospital Real de São José (em homenagem ao rei), o qual sucedeu ao Hospital-Real-de-Todos-os-Santos, mantendo a estrutura funcional deste: os mesmos doentes, os mesmos funcionários e o mesmo corpo clínico, reunindo igualmente os rendimentos do Hospital e da Misericórdia (por Alvará de D. José de 31 de Janeiro) 1. Esta parceria manteve-se até 1851, altura em que se deu a separação definitiva do Hospital e da Misericórdia e se restabeleceu o cargo de Enfermeiro-Mor. 1 OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 no Hospital de São José, onde se situavam todos os serviços centrais (ficando os hospitais, com as respetivas valências, complementares do ponto de vista técnico) e extinguiu o cargo de Enfermeiro-Mor, atribuindo a designação de Diretor à entidade máxima. 1 HOSPITAL DE SÃO JOSÉ (ANTIGO COLÉGIO DE SANTO ANTÃO) (Arquivo particular) Esta Instituição, que veio culminar nos HCL, sofreu diversas Reformas ao longo dos anos, quer no campo estrutural, quer no logístico ou no da administração, das quais se refere apenas algumas para melhor compreensão do nosso tema. A partir de 1844, dada a necessidade de camas de internamento, começou a expansão do Hospital de São José, com a anexação da gafaria de São Lázaro e do convento de Rilhafoles, a funcionar como Manicómio de Rilhafoles, em 1848. Em 1857 novo espaço foi anexado - o antigo convento do Desterro, formando-se assim, por regulamentação de 1861, o Hospital de São José e Anexos, funcionando estes apenas como retaguarda de São José, sem autonomia administrativa. Esta organização dava azo a uma certa animosidade dos hospitais relativamente à centralização da administração, que era acusada de não lhes proporcionar os meios para o desenvolvimento técnico que ambicionavam. 1 As carências de internamento continuavam e novos espaços se foram somando ao Hospital de São José e Anexos. Em 1877, o então inaugurado hospital D. Estefânia (único hospital do Grupo construído de raiz, por iniciativa da rainha D. Estefânia) estava destinado apenas a crianças, mas a pressão de internamentos levava a que nele fossem instaladas camas de adultos; em 1892, era anexado o convento de Arroios para onde eram transferidos os doentes com tuberculose, para isolamento e em 1899, o Hospital de Odivelas para doentes crónicos e inválidos. Posteriormente foram anexados mais dois conventos – em 1903, o convento das Franciscanas Clarissas de Santa Marta 1,2, destinado a doenças venéreas e em 1906, o Convento do Rego das Franciscanas de Nossa Senhora do Rosário, para doenças infetocontagiosas, onde foram construídos 20 pavilhões para isolamentos (posteriormente designado Curry Cabral). 1 Em 1913, o Decreto Nº 126 de 9 de Setembro alterou a designação de Hospital de São José e Anexos para Hospitais Civis de Lisboa constituídos pelos hospitais de São José, São Lázaro, Desterro, Estefânia, Arroios e Rego, a que se juntou, em 1928, o Hospital de Santo António dos Capuchos (antigo convento, onde havia funcionado o Asilo da Mendicidade de Lisboa). Manteve, no entanto, a administração centralizada Esta situação manteve-se até 1918 altura em que, pelo Decreto com Força de Lei 4.565 de 9 de Julho, se deu uma profunda reorganização dos serviços: os hospitais foram classificados e, no seu conjunto, passaram a gozar de autonomia técnica e administrativa – o diretor passou a ser um médico, escolhido pelos seus pares, assessorado por um órgão consultivo - o Conselho Técnico. Foi também disciplinada a admissão dos facultativos para os quadros hospitalares, sempre mediante concurso documental e provas práticas e eliminatórias. Aliás, esta prática dos concursos já vinha de longe, como se pode ver em instruções, de 1859, para as provas práticas a prestar pelos candidatos a cirurgiões do Banco. 1 Esta tradição de concursos, de grande rigor e exigência, marcou sempre a carreiras médica dos HCL, única verdadeiramente existente no país, até aos anos de 1960-1970. Em 1951 foi criado o cargo de diretor clínico do hospital, como coordenador de todos os serviços clínicos. 1 A administração Hospitalar Em termos de administração, até aos anos 80, o órgão executivo máximo foi sofrendo diferentes designações ao longo dos tempos, desde o de Enfermeiro-Mor (cargo que surgiu intermitentemente, extinto definitivamente em finais da década de 60), a diretor, passando por uma Comissão Diretiva de Mobilização Civil, a uma Comissão Instaladora ou Comissão Coordenadora. Na década de 70 assistiu-se a alguma instabilidade na gestão dos HCL, inicialmente consequência de greves e, subsequentemente, com os problemas inerentes à revolução de 25 de Abril de 1974. Em 1971-72, na sequência de greves e de um movimento de internos que recusava o exame de saída do internato geral, foi nomeada uma Comissão Diretiva de Mobilização Civil constituída por médicos militares (a designada “época dos coronéis”). 3 Com o 25 de Abril de 1974 os hospitais passaram a ser geridos, por um curto período, por uma Comissão Provisória, 4 a que se seguiu uma Comissão Instaladora constituída por representantes ad hoc de todos os extratos profissionais. Em 1977, com a publicação da Lei Orgânica Hospitalar e do Regulamento dos Órgãos de Administração e Direção dos Hospitais, foi aprovado o Regulamento Interno dos HCL onde se definia o Conselho Geral (com representação dos órgãos de gestão, dos trabalhadores e das autarquias) e, como órgão executivo, a nível central, a Comissão Coordenadora. Surgiram também, pela primeira vez, os Conselhos de Gerência dos Hospitais Integrados (hospitais que constituíam o Grupo). 1 A partir de 1979 a gestão dos HCL entrou na normalidade. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 55 O ensino pré e pós-graduado e a pirâmide médica hierárquica hospitalar Podemos considerar que o ensino remonta ao Hospital-Real-de-Todos-os-Santos que, segundo o Regulamento, um dos cirurgiões - o residente - que tinha dois “moços” ajudantes externos, mas que comiam no refeitório, a quem era obrigado a dar uma lição teórica e prática. 5 Em 1556 foi criada por D. João III, no Hospital-Real-de-Todos-os-Santos, a cadeira de Anatomia, regida pelo cirurgião Duarte Lopes. Assim se iniciou o ensino da Anatomia, por vezes associada à Cirurgia, por diversos professores estrangeiros até 1764, altura em que o cirurgião português Manuel Constâncio (que acompanhou a mudança do Hospital do Rossio para Santo Antão, chefiando o corpo clínico) foi aí professor durante mais de 40 anos e organizou o ensino da Anatomia e da Cirurgia, precursora da Real Escola de Cirurgia. Esta veio a ser criada em 1825 por D. João VI (por Decreto de 28 de Julho) e aqui era ministrado um curso de 4 anos, com aulas práticas nas enfermarias de São José. Mais tarde, com as reformas de Passos Manuel (então ministro do reino) no campo do ensino, a Real Escola de Cirurgia passou, em 1836, a Real Escola Médico-Cirúrgica, que continuava a funcionar em São José. 1 Em 1850 foi criada a categoria de Cirurgião do Banco de São José e em 1860 surgiu o Regulamento do concurso de acesso a este lugar, do qual constavam duas provas - uma prova clínica e uma prova de cadáver - que criava um sistema de seleção que garantia qualidade técnica e de liderança. 6 Em 1891 João Ferraz de Macedo criou o Internato Médico pelos Regulamento Provisório de 1891 e o Regulamento definitivo em 1896, que permitia a alguns alunos finalistas do curso de Medicina frequentar o Banco e as enfermarias de São José. 1 Este Internato sofreu vários desenvolvimentos nas décadas posteriores, dando origem a uma carreira estruturada e exigente. Se o Banco, que era o maior e mais importante serviço de urgência do país, constituía um local de aprendizagem importante na prática médico-cirúrgica e no ensino clínico, dada a vasta casuística foi, no entanto, o Internato que veio introduzir dinâmica e eficácia a uma instituição voltada para o ensino pós-graduado. 6 Assim, a partir de 1896, o provimento dos lugares de interno já era feito através de concurso de provas práticas e documentais e a exigência de aprovação em “mérito relativo” para ocupar as vagas constituiu, desde o início, uma condição importante de seleção, que se veio a manter ao longo de Reformas posteriores. Entretanto, além do Internato Geral, foram criados o Internato da especialidade em 1923, o Internato Graduado em 1925 e, em 1953, o Internato Intermédio, formando-se assim uma pirâmide de competências, no topo da qual se encontrava o lugar de “Assistente dos Hospitais”, também designado de “Facultativo dos quadros dos serviços clínicos dos HCL”, criado em 1926, de onde saiam as direções dos serviços e que, ao contrário dos outros graus, de duração limitada, representava um lugar vitalício. 6 56 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 O acesso a esta categoria exigia, para além da frequência com aproveitamento dos Internatos, a realização de concurso de provas públicas eliminatórias, com adaptações às especialidades, de dificuldade bem conhecida. Nestes concursos, as vagas eram sempre inferiores ao número de concorrentes e a conquista destes lugares representava uma chancela de qualidade para todos os que aspiravam à notoriedade no meio médico. Daqui que os professores das cadeiras clínicas da Faculdade de Medicina, a funcionar no Hospital de Santa Marta, apesar da autonomia da Faculdade, continuassem a candidatar-se ao lugar de Assistente dos HCL (sem este título, dificilmente poderiam aspirar ao topo da hierarquia académica). 6 Paralelamente ao Internato funcionava também o Externato Médico, em que era garantida a qualquer médico inscrito na Ordem, que o requeresse, a frequência dos Serviços hospitalares como externo, sob a responsabilidade do Diretor do Serviço e com a autorização do Enfermeiro-Mor. 7 Em 1911 foi criada a Universidade de Lisboa que integrava, entre outras, a Faculdade de Medicina, situada num moderno edifício do Campo de Santana, para a qual transitaram alguns professores da Escola Médico-Cirúrgica. À nova Faculdade passaram a estar anexos o remodelado Hospital de Santa Marta, como Hospital Escolar, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana e o manicómio Miguel Bombarda (antigo Rilhafoles). Nessa altura o ensino pré-graduado deixou de estar ligado aos hospitais e às suas enfermarias, onde permaneceu apenas marginalmente. 1 No entanto, este ensino veio a ser retomado nos HCL em 1974, por acordo entre a Instituição e a Reitoria da Universidade Clássica. 8,9 O ensino não se limitava aos médicos, estendendo-se aos enfermeiros, sendo criada, em 1923, a Escola de Enfermagem no Hospital de São Lázaro, posteriormente a Escola Profissional Artur Ravara a partir de 1930. A formação fazia-se também através do Departamento de Educação Permanente (DEP), existente desde 1973, inicialmente só para enfermeiros, alargado posteriormente (1980) a todas as categorias profissionais, 1 com exceção dos médicos, que dispunham de uma estrutura própria de ensino – o Serviço de Internato (competindo ao Chefe de Internos a distribuição e colocação dos internos e a promoção da realização periódica de sessões científicas de atualização) e, posteriormente, as Comissões de Ensino Médico (subcomissão da Comissão Técnica). 10 Como evoluiu a Anestesiologia no Grupo HCL Nos anos 40, com a evolução da cirurgia e os acidentes que por vezes ocorriam com a anestesia, começou também a sentir-se nos HCL a necessidade e o interesse em que a anestesia passasse a ser realizada apenas por médicos que a ela se dedicassem exclusivamente e não pelos “anestesiadores”, por vezes sem qualquer formação médica. Assim, alguns médicos da Instituição, como Victor Hugo Magalhães 11 e Eusébio Lopes Soares 12 frequentaram centros especializados no estrangeiro, passando a dedicar-se exclusivamente à es- OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 pecialidade. De salientar, no entanto, que já Centeno Fragoso (médico, embora sem formação especializada, tendo a sua preparação sido orientada por cirurgiões) se dedicava totalmente à anestesia no Banco do H. de São José, nas décadas de 20 – 30 (1926-1938) e defendia, em 1943, em artigo publicado no Jornal do Médico, a necessidade da “especialização anestésica”. 13 No entanto, podemos considerar que a “Carreira” de Anestesiologia se iniciou nos HCL na década de 50, mais concretamente em Dezembro de 1953, com a regulamentação dos concursos para o provimento de lugares de “Assistentes” de Anestesia e, em 1954, com a abertura de concursos para provimento de vagas para Internos Graduados da especialidade. Em Dezembro de 1953 foi publicado, em Ordem de Serviço, o Regulamento dos concursos para o provimento de lugares de Assistentes das especialidades criadas pela Portaria Nº 14536 de 15 de Setembro de 1953, nos HCL (entre as quais se encontrava a Anestesiologia). Com caráter provisório e para efeito apenas para o primeiro concurso para cada especialidade, segundo o capítulo IV, o concurso para o quadro de anestesistas definia o júri do Concurso (constituído por três cirurgiões e dois médicos), bem como o tipo de provas: 1) uma prova escrita sobre assunto de patologia ligada à especialidade; 2) uma prova clínica constando na observação de dois doentes para operar e indicação do tipo de anestesia, seguida de relatório escrito; 3) uma prova escrita sobre farmacologia dos anestésicos e seus adjuvantes; 4) uma prova escrita sobre terapêutica de acidentes anestésicos, imediatos e tardios. 14 Nessa década surgiram diversas reformulações ao Regulamento do Internato/Externato, condição prévia para poder concorrer ao referido concurso. O Internato tinha a duração de 5 anos: o Internato Geral, com a duração de 2 anos, o Intermédio de 1 e o Complementar de 2 (este na área de especialização do candidato), sendo conferido diploma no final, em caso de aprovação. Em 1952 deu-se uma alteração ao Regulamento dos concursos para Internos Graduados (Internos contratados além do quadro), em que o provimento dos lugares era feito por concurso de provas documentais, teóricas e práticas, públicas e eliminatórias, sendo os contratos pelo período de 1 ano, sucessivamente renováveis). 15 Em Abril de 1954 foram nomeados júris para concurso para provimento de vagas para Internos Graduados, entre os quais se encontrava a Anestesia, 16 em conformidade com o Regulamento do Internato/Externato posto em execução, com caráter provisório, pela Ordem de Serviço 4095 de 30 de Junho de 1951. Na sequência deste concurso foram colocados os Internos Graduados de Anestesia em Dezembro de 1954, Janeiro, Fevereiro e Março de 1955 - Drs. João Rodrigo Carvalho de Castro, Avelino Fontes Espinheira, Joaquim Gonçalves, Mário Santos e Hugo Heitor da Silva Gomes colocados, respetivamente, no Serviço 2 do H. de Arroios, Serviços 1 e 2 do H. do Desterro, Serviços 4 e 8 do H. dos Capuchos, Serviço 9 do H. de São José e Serviços 5 e 6 do H. de São José. 17-20 Em Fevereiro de 1955 foram publicadas as alterações definitivas à admissão aos Internatos Complementares e Graduados das especialidades criadas pela Portaria Nº 14536 de 15 de Setembro de 1953. Confirmava a duração dos períodos de Internato, bem como os concursos de admissão ao Internato Geral e Complementar, sendo a admissão ao Intermédio (considerado complementar), por simples despacho do Enfermeiro-Mor. Para o Internato Graduado, definia a composição dos júris (constituídos por facultativos dos quadros hospitalares em exercício), bem como o tipo de provas - documentais, teóricas e práticas, públicas e eliminatórias, sendo as vagas abertas pela Direção dos Hospitais. As provas para a Anestesia constavam de uma prova prática, com a observação de dois doentes para operar e a indicação do tipo de anestesia, seguido de relatório escrito e de uma prova teórica, escrita, sobre um assunto de patologia ligada à especialidade. Pelo artigo 10º, ao Internato Graduado de Anestesia só podiam concorrer os diplomados com o Internato Complementar de Medicina ou Cirurgia. 21 Em Julho de 1955 foram colocados mais dois Internos Graduados de Anestesia – Dr. Daniel Soares Cabeçadas e Dr.ª Leopoldina Conceição da Silva Campos, respetivamente no Serviço 3 do H. Curry Cabral e Serviço 6 do H. dos Capuchos, 22 na sequência do concurso para provimento de vagas para Internos Graduados, aberto em Maio de 1955. (23) Em Novembro de 1955 foi nomeado o primeiro júri do concurso para preenchimento de 3 vagas de anestesistas (futuramente designados de Assistentes de Anestesia), constituído por Mário Reis Figueiredo Carmona, Jacinto Vasconcelos Moniz de Bettencourt, José Teixeira Filipe da Costa, Fernando Pais de Vasconcelos e Eugénio de Miranda Rodrigues. 24 Em 1956 surgiram os primeiros três “Assistentes” de Anestesia dos HCL: Drs. Avelino Fortes Espinheira, Hugo Heitor da Silva Gomes e Eusébio Lopes Soares colocados, em Abril e Junho, no Serviço 1 do H. do Desterro, Serviço 5 do H. de São José e Serviço 2 do H. D. Estefânia, respetivamente. 25, 26 A. ESPINHEIRA HUGO GOMES E. LOPES SOARES Nesse mesmo ano, reconhecendo a Instituição as carências de anestesistas, nomeou os três “Assistentes” para estudarem a criação de um quadro de auxiliares de anestesia. 27 Em Setembro de 1956 foram colocados novos Internos Graduados - Dr.ª Marieta Nina Soveral Rodrigues e Dr.ª Maria dos Santos colocadas, respetivamente, nos Serviço 1 do H. do Desterro e Serviço 9 do H. de São José, 28 na sequência do Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 57 concurso aberto em Junho desse ano. 29 Em Junho de 1959 foi nomeado novo júri para provimento de vagas de Internos Graduados de Anestesia, o primeiro constituído apenas por anestesistas, do qual faziam parte Avelino Fortes Espinheira, Hugo Heitor da Silva Gomes e Eusébio Lopes Soares 30 e, em Outubro desse ano, foi nomeado novo júri para provimento de mais 3 vagas de “Assistente” de Anestesia, constituído por um cirurgião, um médico e os 3 “Assistentes” de Anestesia (Filipe da Costa, Fernando Alves Nogueira, Avelino Fortes Espinheira, Hugo Gomes e Eusébio Lopes Soares), 31 que vieram a ser preenchidas, no ano seguinte, pelos Drs. Marieta Nina de Soveral Rodrigues, Joaquim Gonçalves e Mário Santos. 32 Segundo a lista de antiguidades referente a Dezembro de 1959, os HCL dispunham, à altura, de 10 anestesistas: 3 anestesistas contratados (Avelino Fortes Espinheira, Hugo Heitor da Silva Gomes e Eusébio Lopes Soares) e 7 Internos Graduados contratados (Licínia Gonçalves de Oliveira, João Rodrigo Carvalho de Castro, Joaquim Gonçalves, Mário Santos, Leopoldina da Conceição Costa da Silva Campos, Marieta Nina de Soveral Rodrigues e Maria dos Santos. 33 Em Abril e Junho de 1960 foram colocados os “Assistentes” de Anestesia pelos diversos hospitais do Grupo (e já não por Serviços cirúrgicos), antecipando-se assim a criação dos futuros Serviços de Anestesia: Avelino Fortes Espinheira no H. de Santa Marta, Marieta Nina de Soveral Rodrigues no H. do Desterro, Joaquim Gonçalves no H. Santo António dos Capuchos, Mário Santos no H. de Arroios, 32 Hugo Heitor da Silva Gomes no H. de São José e Eusébio Lopes Soares no H. Santo António dos Capuchos. 34 Em Fevereiro de 1961 foram introduzidas novas alterações ao Regulamento do Internato/Externato de 1955. Referente à Anestesia, alterava a composição do Internato Intermédio, as condições de admissão ao Internato Graduado e as provas deste concurso. Relativamente ao Internato Intermédio, obrigava à permanência de 4 meses em Serviço de Medicina, 4 meses no Serviço de Sangue e 4 meses em Serviço de Cirurgia, devendo este período ser já orientado por um Assistente de Anestesia. Quanto às provas do concurso, estas constavam de uma prova teórica e uma prova clínica. A prova teórica, escrita, sobre técnicas e métodos de anestesia; acidentes e complicações de anestesia e suas terapêuticas; reanimação. A prova clínica, seguida de relatório escrito, constava da observação de dois doentes com indicação cirúrgica e descrição sumária do tipo de anestesia proposta, sendo o diagnóstico e o tipo de intervenção cirúrgica fornecidos ao candidato pelo júri. Pelo Artigo 10º, ao Internato Graduado só podiam concorrer diplomados com o Internato Complementar da especialidade 35 A primeira referência aos Serviços de Anestesia do Grupo surgiu em 1962, por Ordem de Serviço de 9 de Abril, 36 que regulamentava os Serviços de Anestesia e funções dos Assistentes desta especialidade: anestesistas dos Hospitais Civis de Lisboa e definia as vagas nos hospitais do Grupo. Pela importância do tema, transcreve-se a parte mais relevante: 58 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Com carater provisório determino: I – Os assuntos referentes à Anestesia devem decorrer junto das Direções Clínicas Hospitalares, em “Secções” anexas destinadas a este fim. II – Os anestesistas dos Hospitais Civis ficam encarregados de chefiarem essas “Secções” a fim de se estabelecer a coordenação da anestesia nas unidades hospitalares, de acordo com os Diretores e Assistentes dos Serviços Clínicos. V – Aos anestesistas dos Hospitais Civis compete ainda: a) – Inquirir junto dos Diretores dos diferentes Serviços Cirúrgicos, gerais e das Especialidades, das necessidades em pessoal e em material anestésico……. b) – Prover e orientar os estudos para a instrução e aperfeiçoamento dos Internos e voluntários de Anestesia. VII – Deve-se procurar tanto quanto possível manter a estabilidade das equipes, mas no estado atual da organização dos Serviços …. poderá determinar que qualquer elemento do pessoal de anestesia preste eventualmente assistência em mais de um Hospital ou em mais de um Serviço Clínico dentro de cada Hospital. IX – Os livros de ponto dos anestesistas estarão colocados nas dependências das respetivas “Secções”. X – Distribuição dos anestesistas….. Hospital de São José e Banco (2 anestesistas), Desterro e Maternidade Magalhães Coutinho (1 anestesista), Santo António dos Capuchos (2 anestesistas), Arroios e Curry Cabral (1 anestesista) e Santa Marta e D. Estefânia (1 anestesista). Em Abril de 1962 foi aberto novo concurso para provimento de uma vaga de “Assistente” de Anestesia, 37 que veio a ser ocupada em Outubro desse ano pelo Dr. João Rodrigo Carvalho de Castro, colocado no H. de Arroios. (nessa altura o Dr. Mário Santos, que se encontrava colocado no H. de Arroios foi transferido para o Hospital de S. José. 38 Em Junho de 1967 surgiu nova alteração ao Regulamento do Internato, nomeadamente ao Internato Intermédio que, no caso da Anestesia, passava a ser cumprido 3 meses em Serviço de Cardiologia, 2 meses em Serviço de Sangue e 7 meses em Anestesia. 39 Em 1968, por despacho ministerial de 27 de Julho de 1968, publicado em Diário do Governo Nº 224, II Série de 2 de Setembro de 1968, deu-se alteração da categoria de funcionários dos HCL e, assim, os Drs. Avelino Fortes Espinheira, Hugo Heitor da Silva Gomes, Eusébio Lopes Soares, Marieta Soveral Rodrigues, Joaquim Gonçalves, Mário Santos e João de Castro, passaram a Assistentes dos Serviços de Anestesia. 40 Nesse ano, com a entrada em vigor do Novo Estatuto Hospitalar, surgiu regulamentação transitória 41 de modo a tentar suprir as carências de anestesistas, que se transcreve em parte: 1 – A entrada em vigor do novo Estatuto Hospitalar e a adaptação de horários variados pelos diversos serviços carecidos de cobertura anestésica põem problemas de distri- OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 buição normal e ocasional dos médicos anestesistas, que só podem ser resolvidos se centrarem nas mãos de uma única pessoa os meios de fazer face a esses problemas, enquanto não se definirem as normas que regulamentarão e reorganizarão a especialidade. 2 – Nestes termos determina-se transitoriamente, que: 2.1 – Todos os anestesistas, qualquer que seja a sua categoria ou regime em que prestam serviço, serão agrupados e colocados sob a orientação de um Assistente da especialidade. 2.2 – Este Assistente organizará, ouvido o Sr. Diretor do Internato Médico, a distribuição normal dos médicos que prestam serviço da especialidade, de modo a assegurar a cobertura das necessidades anestésicas dos vários estabelecimentos do grupo. 2.3 - ….. para fazer face às necessidades …. deslocar para outros serviços os médicos normalmente distribuídos a serviços diferentes, 3 – Fica designado para este efeito o Sr. Dr. E. Lopes Soares Ainda em 1968 deu-se o alargamento de vagas para os Internatos Complementar e Graduado passando, na Anestesia, a ser de 10 para qualquer deles. 42 Em 1969, na Ordem de Serviço (OS) Nº 108/11/1969, surgiu pela primeira vez a referência a Diretor de Serviço de Anestesia, cargo que era efetivamente já desempenhado pelos Assistentes, atrás referidos, a funcionar nas “Secções” hospitalares. Julgo que é esta OS que marca o início do “verdadeiro” Serviço de Anestesia nos HCL, com uma direção idêntica aos seus pares, agregando os anestesistas que haviam completado a sua especialização e os que a ela concorriam. Por esta OS foram colocados os Diretores de Serviço nos Hospitais Integrados e emanadas diretrizes de modo a minimizar a carência de anestesistas - … o Serviço de Internato distribua pelos Serviços de Anestesia os Graduados e Internos da especialidade, conforme necessidades de cada Hospital e os interesses na formação dos Internos, que o Diretor de Serviço de Anestesia de cada Hospital assegure a cobertura anestesiológica do Serviço de Urgência instalado nesse hospital e, ainda, que um Diretor de Anestesia, designado anualmente pela Administração, fique encarregado de promover as diligências necessárias para remediar com o pessoal disponível as faltas de anestesistas que diariamente se verificarem. Os Diretores de Serviço passam a ter, por conveniência de serviço, as seguintes colocações: Avelino Fortes Espinheira no H. de Santa Marta, Hugo Gomes no H. de São José, E. Lopes Soares no H. dos Capuchos, Marieta Rodrigues no H. do Desterro, Joaquim Gonçalves no H. de Arroios, Mário Santos no H. Curry Cabral e João de Castro no H. D. Estefânia. 43 Entretanto, os concursos de admissão aos Internatos Complementar e Graduado foram-se sucedendo, com júris constituídos pelos anestesistas dos HCL. Apesar do número de vagas limitado inicialmente, foram diversos os anestesistas que fizeram a sua especialização nessa década de 60. Em 1973 entrou em vigor, nos HCL, a Carreira Médica prevista no Decreto-Lei 414/71 de 27 de Setembro onde, obvia- mente, se encontrava a Anestesiologia. 44 Em 1975 a Anestesiologia acompanhou as alterações verificadas nos HCL, no período imediato pós 25 de Abril de 1974. A 18 de Janeiro de 1975 os anestesistas reuniram-se em Assembleia Geral e elegeram os seus órgãos internos de gestão, constituídos pela Mesa da Assembleia Geral, tendo como Presidente Maria Ester Veiga, Secretários João Santos Marques e Diniz Reis Miranda e o Colégio Diretor constituído por E. Lopes Soares, Emília Caetano, António Bento, Maria Clara Pereira e Maria Manuela Botelho. 45 Em Março de 1975 foi nomeada uma Comissão Consultiva para a Reestruturação e Organização Departamental da Anestesiologia e Reanimação nos HCL. Estava em curso o projeto de descentralização dos HCL, com autonomia dos Hospitais Integrados, considerado fundamental para a melhoria das condições assistenciais e, reconhecendo a Comissão Instaladora as dificuldades e carências na atividade da Especialidade de Anestesiologia e Reanimação nos HCL e das múltiplas causas que se encontram na sua base…, nomeou a referida Comissão, constituída por um dos órgãos de gestão interna – o Conselho Diretor. 45 Nessa sequência, em Setembro de 1976, foi Criado o Departamento Central de Anestesiologia dos HCL, pela OS Nº C.P.G.49, 46 com regulamentação do mesmo, que se transcreve parcialmente: 1 – É criado o Departamento Central de Anestesiologia e Reanimação dos HCL, que inclui todos os Serviços atualmente existentes. 2 – Os Serviços manterão a autonomia que atualmente possuem. 3 – O Departamento terá por função: a) – Distribuir o pessoal médico de acordo com as necessidades… b) – Propor medidas de planificação das atividades técnicas dos vários Serviços quando isso se mostre vantajoso …. quer por razões de ordem assistencial, económica ou de ordem didática. c) – Organizar o apoio da Anestesia às diversas Unidades de Urgência dos HCL. d) – Programar o ensino da Especialidade … em colaboração com o Serviço do Internato Médico. e) – Organizar Cursos periódicos para pós-graduados. f) – Colaborar no ensino pré-graduado g) – Racionalizar e uniformizar quanto possível o material anestésico… sem descurar a necessidade duma diversificação que permita o ensino e treino dos Internos. h) – Organizar em colaboração com o Serviço de Aprovisionamento, uma secção de material de Anestesia e Reanimação… i) – Emitir pareceres sobre compras de Anestesia e Reanimação… 4 – O Departamento será dirigido por um órgão Colegial eleito em Assembleia Geral de Anestesistas dos HCL. Será Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 59 constituído por 5 membros, … por um período de 2 anos. 5 – O Departamento terá instalações próprias e pessoal privativo. 6 - … o Número Mecanográfico: 208015. O ensino da especialidade O Ensino da Especialidade fez-se, inicialmente, pelo Serviço de Internato e Comissões de Ensino e Investigação, à semelhança dos outros médicos. Com a instalação dos Serviços de Anestesia estes vieram desempenhar um papel importante no ensino, com a realização de Reuniões Clínicas: Os Serviços de Anestesia destes Hospitais têm realizado obra meritória no que respeita à formação do pessoal médico do foro respetivo, através da realização de Reuniões Clínicas sobre temas da especialidade. Dado que não será possível programar convenientemente, para o período compreendido entre Outubro de 72 e Julho de 73, a formação dos médicos anestesistas … considera-se vantajosa a realização, durante o mesmo período, de Reuniões Clínicas em moldes idênticos aos que se enformaram anteriormente. As Reuniões Clínicas terão lugar ao sábado, entre as 10 e as 13 horas e para que os médicos anestesistas a elas possam assistir com regularidade, sugere-se aos Srs. Diretores dos Serviços Cirúrgicos uma programação das intervenções compatível com esse objetivo, sempre que isso não prejudique o movimento operatório. 47 Posteriormente, o ensino passou a ser orientado pelo Colégio Diretor. De salientar que a Instituição sempre procurou divulgar, através de Circulares informativas, ações de formação relevantes, como por exemplo a Circular Nº 75 de 1960 - ….. cursos de formação organizados pelo British Council de 21 de Fevereiro e de 20 de Março a 2 de Abril, de Anestesia e Cirurgia Cardíaca, respetivamente, 48 ou a de Setembro de 1961 - Curso de aperfeiçoamento para anestesistas – comunica-se que a Organização Mundial de saúde organiza o XII Congresso de Anestesiologia, a partir de Janeiro de 1962 em Copenhague o qual poderá ser frequentado por um bolseiro a designar pelo Ministério da Saúde e Assistência… 49 Funções dos anestesistas Aos anestesistas competia também assegurar, desde muito cedo, as necessidades anestésicas da urgência do Banco de São José, Maternidades e urgência pediátrica (ao dar-se a autonomia desta do Banco, para o hospital de D. Estefânia). À medida que o número de anestesistas crescia funcionavam em equipa, sob a orientação de um anestesista “mais velho”, sendo a distribuição pelas equipas da responsabilidade de um “coordenador”, consoante as necessidades e, também, a preferência do interno ou do anestesista. A determinada altura, passou também a ser função dos anestesistas a escolha de material a adquirir relacionado com a especialidade (aparelhagem de monitorização car60 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 díaca, de anestesia e reanimação … material dispendioso … esta aparelhagem deve ser adquirida por indicação do setor médico que preponderantemente o venha a utilizar, isto é, a anestesiologia ….), 50 ou a integração de Comissões de escolha e receção de equipamento relacionado com a “Anestesia e Reanimação” (por nomeação em Ordem de Serviço), 51 ou outras Comissões, como a designada em 1961 para estudo de equipamento para o recém-criado Pavilhão no H. Curry Cabral para paralisias respiratórias e poliomielite, da qual constava um anestesista: Lopes Soares. 52 Nos anos 70 deu-se a abertura para os Cuidados Intensivos com a nomeação da Assistente de Anestesia, Dr.ª Cristina Câmara, para o Pavilhão de Traumatizados Crânio-encefálicos do H. de São José, reaberto em 1971 (…fique encarregada da Reanimação do Pavilhão de Traumatizados Crânio-encefálicos). 53 Agradecimento A autora agradece a Jorge Tavares o incentivo para a realização desta investigação histórica (sem o qual provavelmente não a teria feito), bem como a análise do texto e a sua revisão. Também uma palavra de agradecimento à Emília Figueiredo pela amável cedência das fotos dos primeiros três Assistentes de Anestesia. Bibliografia 1. Matoso, António. Hospital de São José. In: Histórias da História do Hospital Real de Todos-os-Santos e seus sucessores. Lisboa: Edição Omnia Santorum By de Book / Centro Hospitalar de Lisboa, Central, EPE; 2012.p. 43 – 63. 2. Jorge, Francisco; Barata Moura, Rita. Hospital de Santa Marta. In: Histórias da História do Hospital Real de Todos-os-Santos e seus sucessores. Lisboa: Edição Omnia Santorum By de Book / Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE; 2012.p.32-3. 3.Ordem de Serviço Nº4 /72 de 144. Ordem de Serviço Nº C.P.G. 1 de 6/6/74 5. Leite, Ana Cristina. Hospital-Real-de-Todos-os-Santos. Uma obra moderna. In: Histórias da História do Hospital Real de Todos-os-Santos e seus sucessores.Lisboa: Edição Omnia Santorum By de Book / Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE; 2012.p.32-3. 6. Barros Veloso, António José. A Diáspora dos Hospitais Civis de Lisboa. In: Histórias da História do Hospital Real de Todos-os-Santos e seus sucessores. Lisboa: Edição Omnia Santorum By de Book / Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE; 2012.p.32-3. 7. Ordem de Serviço Nº 4548, de 1 de Fevereiro de 1955 8. Ordem de Serviço Nº 37/74 de 11/3/74 9. Ordem de Serviço Nº 39/74 de 13/3/74 10. Ordem de Serviço Nº 118/70 de 30/11/70 11. Ordem de Serviço nº 2313 de 11 de Dezembro de 1940 12. Ordem de Serviço nº 2565 de 21 Janeiro de 1943 13. Fragoso Centeno, S. Da necessidade da especialização anestésica. Jornal do Médico nº 59, 1 de Maio de 1943. 14. Ordem de Serviço Nº 4403, de 29 de Dezembro de 1953 15. Ordem de Serviço Nº 4267, de 4 de Dezembro de 1952 16. Ordem de Serviço Nº 4447, de 16 de Abril de 1954 OS ANESTESISTAS NOS HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA: 1940 – 1980 17. Ordem de Serviço Nº 4535, de 29 Dezembro 1954 18. Ordem de Serviço Nº 4547, de 30 de Janeiro de 1955 19. Ordem de Serviço Nº 4559, de 16 de Fevereiro de 1955 20. Ordem de Serviço Nº 4566, de 3 de Março de 1955 21. Ordem de Serviço Nº 4548, de 1 de Fevereiro de 1955 22. Ordem de Serviço Nº 4605, de 18 de Julho de 1955 23. Ordem de Serviço Nº 4587, de 13 de Maio de 1955 24. Ordem de Serviço Nº 4649, de 12 de Novembro de 1955 25.Ordem de Serviço Nº 4718, de 9 de Abril de 1956 26. Ordem de Serviço Nº 4748, de 16 de Junho de 1956 27. Ordem de Serviço Nº 4766, de 6 de Julho de 1956 28. Ordem de Serviço Nº 4793, de 4 de Setembro de 1956 29. Ordem de Serviço Nº 4756, de 16 de Junho de 1956 30. Ordem de Serviço Nº 5165, de 20 de Junho de 1959 31. Ordem de Serviço Nº 5197, de 16 de Outubro de 1959 32. Ordem de Serviço Nº 5278, de 11 de Abril de 1960 33. Mapa de antiguidades a 31 de Dezembro de 1959: Março de 1960 34. Ordem de Serviço Nº 5318, de 20 de Junho de 1960 35. Ordem de Serviço Nº 5386, de 2 de Fevereiro de 1961 36. Ordem de Serviço Nº 5537, de 9 de Abril de 1962 37. Ordem de Serviço Nº 5544, de 28 de Abril 1962 38. Ordem de Serviço Nº 5594, de 12 de Outubro de 1962 39. Ordem de Serviço Nº 6195, de 28 de Junho de 1967 40. Ordem de Serviço Nº 6464, de 30 de Setembro de 1968 41. Ordem de Serviço Nº 6391, de 29 de Junho de 1968 42. Ordem de Serviço Nº 6488, de 7 de Novembro de 1968 43. Ordem de Serviço Nº 108/11/1969 44. Ordem de Serviço Nº 28/73, de 15 /5/73 45. Ordem de Serviço Nº C.P.G. 15, de 18/3/75 46. Ordem de Serviço Nº C.P.G.49, de 3/9/76 47. Ordem de Serviço Nº 92/72, de 28 /9/72 48. Circular Nº 75/60 49. Circular Nº 112/61, de 18 de Setembro de 1961 50. Ordem de Serviço Nº 44/72 de 31/3/72 51. Ordem de Serviço Nº 33 de 25/5/73 52. Ordem de Serviço Nº 5438, de 10 Maio de 1961 53. Ordem de Serviço Nº 39/71 de 24/4/71 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 61 Normas de Publicação (estão a ser revistas) A Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia publica manuscritos considerados de importância para a Anestesiologia, Cuidados Intensivos, Terapêutica da Dor e Ciências Básicas, dando prioridade a Artigos Originais, Artigos de Revisão e Casos Clínicos. Publica ainda, temas de interesse noutras áreas, tais como: Ensino, Ética ou História da Anestesia. Os Editoriais são normalmente reservados aos Editores e à Direcção da S.P.A., podendo contudo, serem aceites os escritos de outros sócios, a pedido ou por iniciativa própria. Os manuscritos enviados para publicação, não devem ter sido publicados ou simultaneamente presentes para publicação, em qualquer outra parte (exceptuam-se os artigos publicados com a designação de “Intercâmbio”). Quando aceites, ficam propriedade da Revista, só podendo ser reproduzidos com autorização desta. As opiniões e metodologias neles expressas são da inteira responsabilidade dos autores, mesmo quando sujeitos a revisão editorial. Por artigo original entende-se todo aquele que, baseado em material clínico e/ ou experimental, pela sua originalidade, objetivo e qualidade de metodologia, representa um esforço de contribuição concreto na esfera do conhecimento cientifico. Quando pressuponha uma anterior investigação ou tratamento dos dados colhidos, para esclarecimento das conclusões, deve ser referenciado com o subtítulo “comunicação prévia”.O artigo de revisão é todo aquele que resulta de uma síntese crítica de informação contida em publicações existentes, apoiando-se fundamentalmente as afirmações nele referidas em citações bibliográficas recentes (últimos cinco anos). O caso clínico consiste na apresentação de uma história clínica, cuja evolução apresenta particularidades dignas de registo. CONSIDERAÇÕES LEGAIS Os artigos baseados em investigação clínica no Homem, devem deixar bem explícito que os ensaios foram conduzidos de acordo com as normas éticas da declaração de Helsínquia. Se se tratar de investigação animal, os autores devem estar atentos ao Decreto- lei l29/72, de 6/7/92 e à Portaria I005/92, de 23/I0/92. Nos casos clínicos, os autores, devem evitar quaisquer dados que identifiquem o doente, tais como o nome ou iniciais deste, fotografias que permitam a sua identificação (salvo com consentimento expresso) ou ainda referências hospitalares. A inclusão de material já publicado, como ilustrações ou quadros, implica a autorização do seu autor e editor. Preparação de manuscrito e suporte informático Devem ser enviadas três cópias de cada, em formato A4, escritos em língua portuguesa. As folhas devem ser dactilografadas de um só lado, a dois espaços, com margens não inferiores a 2,5 cm e paginadas. A primeira página deve conter o título e uma abreviação deste, não ultrapassando os 50 caracteres e espaços. Nesta página, deve ainda constar o nome e o apelido dos autores, categoria profissional, local de trabalho, direcção e telefone do autor, a contactar para troca de correspondência. Na página que se lhe segue deve constar o resumo e as palavras-chave em português, seguindo-se-lhe o título, o resumo e as palavras-chave em inglês. Estas deverão basear-se, sempre que possível, na terminologia do Index Medicus e não exceder o número de 10 (os editores, reservam-se o direito de revisão destas, quando justificada). Deverá ser entregue, uma disquete com a cópia do manuscrito, em formato de documento Word (Windows 97 ou outra versão anterior) ou de texto (.txt) ambos para PC. Os autores devem guardar uma cópia do material enviado, para a eventualidade da sua revisão ou extravio. Os manuscritos dividem-se consoante o tipo: ARTIGO ORIGINAL Subdivide-se, regra geral em: Sumário: Deve conter informação sucinta sobre o objetivo, metodologia, resultados e conclusões e ser elaborado de modo a permitir a compreensão do trabalho, sem necessidade de recorrer ao texto. Introdução: não deve ser referenciada com título. Deve ser concisa e conter as razões e objetivos do trabalho, podendo incluir referências sucintas e informação considerada pertinente para o tema tratado e com bibliografia devidamente referenciada. Metodologia: devem ser descritos os métodos utilizados, de modo claro e objetivo, de forma a que a experiência possa ser devidamente interpretada e reproduzida pelo leitor. Igualmente, no que se refere a análise estatística, deve ser referido, neste capítulo, o método usado. 62 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 Resultados: a apresentação de resultados deve ser feita de forma clara, reportando a significância a níveis de probabilidade e evitando repetições desnecessárias do texto, quadros e gráficos. Discussão: devem ser relacionados e interpretados os factos observados, assim como o seu significado em relação a estudos já publicados. Os dados considerados de interesse para as conclusões devem também ser discutidos. Os artigos originais não devem ultrapassar as quinze páginas. ARTIGO DE REVISÃO Para além do título, pode subdividir-se em sub-capítulos e alíneas, segundo o critério dos autores. Os artigos de revisão não podem ultrapassar quinze páginas. CASO CLÍNICO Para além do título e resumo, deve conter uma introdução sucinta, sem título, focando a razão de ser do relato clínico, podendo conter referências bibliográficas pertinentes. A esta introdução, segue-se a descrição do caso, sob o título “Caso Clínico”, em que se relatam os dados relevantes da doença actual, antecedentes pessoais e familiares, exames auxiliares, terapêutica e técnicas. Relatando o caso segue-se a Discussão, em que se analisam as características especiais do caso e se aprecia o seu significado, à luz da bibliografia existente. Os casos clínicos não devem ultrapassar as seis páginas. QUADROS Os quadros representam uma relação de dados em linhas horizontais. Se neles figurarem unidades (referentes aos resultados), devem ser colocadas no topo das colunas (não as repetindo nas linhas horizontais).Devem numerar-se com algarismos romanos, segundo a ordem de citação no texto, identificados com legendas na parte superior e apresentados em páginas separadas. ILUSTRAÇÕES Por ilustrações, consideram-se os esquemas, gráficos e fotografias. Numeram-se com algarismos árabes, pela ordem de citação no texto. Os esquemas e gráficos devem ser executados em papel branco e a sua identificação, com número de citação, autor e titulo do artigo, deve ser feita no reverso, a lápis. As legendas devem ser apresentadas em páginas separadas. AGRADECIMENTOS Se existem, devem ser curtos. BIBLIOGRAFIA As referências bibliográficas devem ser numeradas pela ordem em que são mencionadas no texto e identificadas neste por algarismos árabes, entre parênteses rectos. Os títulos das revistas ou jornais devem ser abreviados de acordo com o modelo utilizado no Índex Medicus. As referências de ma nuscritos ainda não publicados não devem ser consideradas como fontes bibliográficas. Exemplos de referências bibliográficas correctas: Revista: Jaeger MJ, Scheultetus RR.The effect of Brain circuit on gas exchange. Can J Anaesth 1897; 34:26-34. Livro: Greene NM. Key words in anaesthesiology, 3rd ed. New York, Elsevier, 1988. Capitulo de Livro: Hull CJ. Opioid Infusions for the management of post – operative pain. In: Smith G, Covino BG, eds. Acute pain. Butterworths,1985:155-179. CARTAS AO EDITOR Poderão ou não referir-se a material publicado na revista. Será, no entanto, dada prioridade de publicação às relacionadas com material já editado. NOTA Estas normas de publicação representam apenas uma orientação para os Autores que pretendem dar o seu contributo para a edição desta Revista. Para informação mais detalhada do modo de elaboração de um artigo cientifico, poderão ser consultados diversos textos dedicados a este tema, dos quais de destacam: -Bailar JC, Mosteller F. Guidelines for statistical reporting in articles for medical Journals. Annals of Internal Medicine 1988: 266-273 -Baron DN. Units, symbols and abbreviations: a guide for biological and medical editors and authors. 4th ed. London: Royal Society of Medicine Services, 1988:64 -Dudley H.The presentation of original work in Medicine and Biology. Churchill Livingstone, 1977. -Huth EH, Kinning K, Lock SP et al. eds. Uniform requirements of manuscripts submmited to Biomedical Journals. Annal of Internal Medicine, 1988; 108: 258-265. -Smith G. ed. Extended guide to contributors. British Journal of Anaesthesia,1990; 64: 129-136. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013 63 64 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 22 - nº2 | 2013