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PROCESSO DE FERMENTAÇÃO ALCÓOLICA E CARACTERIZAÇÃO DO FERMENTADO DE BUTIÁ (Butia eriospatha Mart. Ex Drude) 2 Fernando Miguel Zingler, 1Franciele Carlesso, 2Glênio Rosinski Ribeiro, 3Lisiane de Marsillac Terra 1 Bolsista de iniciação Científica PRAE/ UFSM, discente do curso de Engenharia Química Alunos de iniciação científica, discentes do curso de Engenharia Química 3 Professora da Universidade Federal de Santa Maria 2 1,2,3 Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Maria. Faixa de Camobi, Km 9 - Campus Universitário,prédio 7, Santa Maria – RS, CEP 97105-900. e-mail: [email protected] [email protected] RESUMO – O emprego industrial do butiá é incomum devido à falta de tecnologias apropriadas. O trabalho tem em vista a fermentação alcoólica como método de aproveitamento da fruta, observando-se as condições adequadas para produção de vinho. A fermentação alcoólica do butiá empregando-se leveduras comerciais (Saccharomyces cerevisiae) tem se mostrado uma eficiente alternativa por não ser de aplicação custosa, podendo vir a ser uma fonte de renda para pequenos produtores da região. Conhecer a composição do vinho através da caracterização nos permite o controle da qualidade, além de ser importante para se compreender os fenômenos que intervêm na elaboração e conservação do produto, visando o comércio e consequentemente oportunizando uma fonte de renda aos pequenos produtores regionais. Palavras-Chave: FERMENTAÇÃO, BUTIÁ, VINHO bem como a caracterização físico-química desta bebida são os objetivos deste trabalho. INTRODUÇÃO A uva é certamente conhecida como a principal matéria-prima para a produção de vinho, porém os avanços na vinicultura têm promovido a busca de novas tecnologias para a fermentação. LEA (1995) cita a produção de fermentados a partir de frutas como amora, abacaxi, laranja, kiwi, entre outras; porém, a falta de conhecimento sobre as condições apropriadas para estas fermentações impede o desenvolvimento comercial destas variedades. O Brasil destaca-se na produção de frutas tropicais, porém estas são pouco exploradas industrialmente por apresentarem períodos de maturação curtos e em específicos meses do ano. O butiá é uma fruta da família Arecaceae abundante na região sul do Brasil, mas é pouco aproveitada nas indústrias por ser perecível e se deteriorar em curto período de tempo. Os frutos são empregados principalmente em geléias, licores, ornamentação e da amêndoa é extraído o óleo (MAGRO, 2006). A fabricação de um fermentado alcoólico de butiá poderá ser uma boa alternativa para o aproveitamento de excedentes de safra. A comercialização visa minimizar o desperdício e desenvolver as agroindústrias regionais, colaborando diretamente para o crescimento econômico da região. O estudo das condições ideais para a fabricação de um vinho de butiá, MATERIAL E MÉTODOS Matéria - prima As frutas, provenientes da região central do Rio Grande do Sul, foram coletadas no período de maturação durante o verão, nos meses de fevereiro e março. Os butiás receberam tratamento higiênico adequado com água corrente e hipoclorito de sódio 10ppm, e após descaroçamento foram acondicionados em embalagens apropriadas e congelados a -18°C, para uso posterior. As frutas utilizadas possuem composição apresentada na Tabela 1: Tabela 1 - Composição da matéria-prima Análise No Produto Na Matéria Integral (g%) Seca (g%) Proteína Bruta 0,94 5,36 Extrato Etéreo 0,31 1,79 Fibra Bruta 1,85 10,54 Cinzas 0,51 2,89 Açúcares 6,02 redutores VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil Obtenção do mosto Os materiais utilizados para realização dos ensaios fermentativos foram higienizados com álcool 70%. A massa de butiá necessária para cada fermentação foi descongelada a temperatura ambiente, e em seguida triturada em um processador Walitta. Para obtenção de um vinho resultante com aromas delicados e refinados, filtrou-se o suco, obtendo um mosto sem fibras. Preparação do Inóculo Para a preparação do inóculo - o fermento livre de outros microrganismos (antagônicos e competidores) cultivado em uma quantidade de mosto inicial, em alta taxa de multiplicação para a adaptação das leveduras - retirou-se uma alíquota de 20% do total a ser fermentado, que foi fervido em banho-maria durante 15 minutos e em seguida resfriado a temperatura ambiente; o restante do mosto fora devidamente refrigerado, conforme representado na Figura 1. Foram realizadas as análises físico-químicas: ºBrix (ATAGO N1), pH, acidez total (titulação com solução NaOH 0,1N , usando fenolftaleína como indicador). O pH foi corrigido até 4,0 com bicarbonato de sódio, buscando melhor adaptação das leveduras (Saccharomyces cerevisiae) para produção de álcool. (BLASI, 2006) Um pH elevado pode levar a produção de ácido acético, e um pH muito baixo inibe a eficiência das leveduras, que foram posteriormente acrescentadas ao mosto. Na sequência transferiu-se a solução resultante a um fermentador de vidro, mantido a cerca de 25ºC, isto porque estas leveduras não suportam temperaturas superiores a 30ºC. Fermentação Alcoólica Após 24 horas somou-se a outra fração do mosto ao fermentador, ajustada com sacarose para obtenção de um maior grau alcoólico e pH adequado. Durante o andamento da fermentação foram realizadas análises em amostras de 10mL até que ocorresse a estabilização do ºBrix. O produto foi submetido a um choque térmico para cessar a atividade das leveduras, e então ser armazenado por alguns dias em local resfriado e com proteção contra a luz. Isso garantiu a sedimentação de sólidos, decorrentes da fermentação. A partir de uma trasfega, o sobrenadante do vinho límpido foi utilizado em diversas análises a fim de caracterizar o fermentado produzido. Essas análises nos permitiram concluir sobre a qualidade de aspectos do vinho e verificar o enquadramento dele na legislação brasileira. Figura 1- Etapas da fermentação alcoólica do butiá Caracterização do Fermentado Primeiramente, o produto foi destilado para obtenção do grau alcoólico, que é a relação entre o volume de álcool contido nesse vinho e o volume total do vinho a uma temperatura de 20º. Outra análise importante é a determinação dos polifenóis totais do vinho que foram determinados através do método espectrofotométrico, onde mediu-se a absorbância da amostra com espectofotômetro HP 8453. A determinação dos sólidos solúveis foi obtida através da medição do grau Brix utilizando um refratômetro digital ATAGO Pal-1. Também se efetuou a medida do pH, a partir do qual pode-se avaliar a resistência do vinho à infecção bacteriana (BLASI, 2004). A acidez total foi determinada através de titulação de neutralização e a acidez volátil foi determinada a partir da titulação dos componentes voláteis destilados do vinho. Por fim, os açúcares redutores foram quantificados segundo o método de Lane & Eynon (MEYER, C.R, 1991). RESULTADOS E DISCUSSÕES O vinho obtido de butiá apresentou resultados satisfatórios, pois aparenta uma bebida leve com cor agradável e aroma típico como é observado na figura 2 . Figura 2-Produto obtido na fermentação alcoólica do butiá Os resultados obtidos dos ensaios que apresentaram a menor e maior variabilidade, denominados respectivamente como A e B, mostram o perfil da fermentação do butiá e são mostrados na Tabelas 2 e na Tabela 3: Tabela 2-Dados referentes ao ensaio de menor variabilidade, Ensaio A Tempo ºBrix pH Acidez (horas) (g/100mL) 0 27,6 4,35 0,7650 18 24,1 5,0 0,8550 22 21,4 4,88 0,9075 28 19,3 4,97 0,9525 48 15,1 4,95 0,9750 53 14,6 4,93 0,9525 68 13,7 4,92 1,0125 76 13,5 5,00 0,8625 91 13,2 4,86 0,8850 10 13,2 4,89 0,8850 Tabela 3- Dados referentes ao ensaio de maior variabilidade, Ensaio B Tempo ºBrix pH Acidez (horas) (g/100mL) 0 16,5 3,4 1,9500 18 13,1 3,53 1,2625 22 12,9 3,48 1,1250 28 12,9 3,53 1,3125 39 11,1 3,56 1,2000 48 10,4 3,56 1,1700 63 9,6 3,57 1,2375 73 8,9 3,36 1,2750 87 7,8 3,54 1,3200 99 7,2 3,53 1,3125 112 6,3 3,60 1,3200 121 6,3 3,56 1,2825 Pode-se observar duas fases bem distintas durante a fermentação do butiá: uma mais intensa, com um decréscimo mais rápido do ºBrix, e outra menos tumultuosa. Observou-se também que durante a primeira fase há uma grande variação na acidez, que passa a estabilizar em seguida. A fermentação ocorre satisfatoriamente até o ponto em que as leveduras não conseguem fermentar os açúcares disponíveis por falta de nutrientes, principalmente vitaminas do complexo B, segundo CARVALHO (2007), e pelo excesso de álcool no meio, estabilizando em um brix médio de 8, indicando que o vinho resultante será adocicado. Em seguida, a caracterização do vinho foi realizada para a verificação da qualidade do fermentado. A tabela 4, abaixo mostra a comparação entre as fermentações A e B, e os valores médios para vinhos tintos e brancos de acordo com a avaliação nacional de vinhos- Safra 2000: Características sensoriais e físico-químicas dos vinhos realizado pela Embrapa (2000). Conforme se observa na tabela 4, o grau alcoólico obtido nos ensaios A e B foram bastante distintos, devido às diferenças de °Brix nas condições iniciais; no ensaio A partiu-se de um °Brix mais elevado na tentativa de se obter um maior grau alcoólico, enquanto no ensaio B ajustou-se o °Brix de modo a se obter um acréscimo de 3°GL no vinho resultante. Segundo CORAZZA (2001), um dos principais fatores da qualidade de um vinho é sua composição fenólica. As substâncias fenólicas são reativas em presença de oxigênio pela transformação de fenóis em quinonas e a polimerização de flavonóides, alterando assim a turbidez, sabor e aroma do vinho. O teor de polifenóis totais encontrado representa um valor superior aos dos vinhos brancos, porém inferior aos dos vinhos tintos. Os açúcares são elementos importantes na fermentação. Uma parte será convertida em álcool pelas leveduras, durante a fermentação, e a quantidade restante no vinho exercerá influência na qualidade do produto final. Os açúcares redutores apresentaram valores muito próximos aos do vinho tinto. Tabela 4- Comparação entre o vinho de uva e o vinho de butiá. Volume mosto (mL) Volume de vinho (mL) Brix Inicial (ºbrix) Brix final (ºbrix) Grau Alcoólico (ºGL) pH médio Polifenois Totais ( mg acido gálico/L) Acidez Total (meq/L) Acidez Volátil (meq/L) Açúcares redutores (g/L) Ensaio A Ensaio B 700 400 27 13,2 13 4,0 661,10 7,9237 0,12 1,79 1500 1200 16,5 6 5 3,5 826,22 9,00 0,099 1,96 Vinho Tinto 12,21 3,33 1200 69,3 5,6 1,99 Vinho Branco 12,04 3,63 400 73,4 8,7 3,41 CONCLUSÕES O butiá é uma fruta com um grande potencial comercial na região sul do Brasil, entretanto é apenas utilizado artesanalmente e para consumo doméstico. A metodologia para a produção de vinhos artesanais de uva é satisfatoriamente aplicada ao butiá, utilizando as leveduras comerciais (Saccharomyces cerevisiae), originando um produto final de boa qualidade. Devido a simplicidade do processo, a fermentação alcoólica do butiá é uma prática viável aos pequenos produtores, visando manufaturar o butiá e conseqüentemente oportunizar uma nova fonte de renda. A otimização do processo de fabricação está sendo desenvolvida para a obtenção de um grau alcoólico maior, a fim de classificar o fermentado como vinho de fruta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLASI, T.C. (2004). Análise do Comsumo e Constituíntes químicos de vinhos produzidos na Quarta Colônia deImigração Italiana do Rio Grande de Sul e sua relação com as frações lipídicas sanguíneas. Tese de mestrado,Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. CARVALHO, G.B.M.; Rossi, A.A.; Silva, J.B.A. (2007) Elementos Biotecnológicos fundamentais no processo cervejeiro: 2º parte – A Fermentação. Revista Analytica, n.26, p. 46-54. CAMARGO, U.A. (1994) Uvas do Brasil EMBRAPA-CNPUV. Documentos, 9. Bento Gonçalves, Brasil. CORAZZA,, M.L.; Rodrigues, D.G.; Nozaki, J.P. 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E.; Miguel, C. de; Ramírez, M.; Food Microbiol. 1997, 14, 247. AGRADECIMENTOS Agradecimentos em especial ao professor Leandro Carvalho, ao colega Fábio da Luz; à PRAE, pelo apoio financeiro.