a importância da atuação do pedagogo na equipe de saúde
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a importância da atuação do pedagogo na equipe de saúde
73 A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EQUIPE DE SAÚDE: ESTUDO NO HOSPITAL REGIONAL DA ASA SUL (HRAS) E NOS HOSPITAIS DE UNAÍ-MG 101 SILVA, Marneide Amaral da ROCHA, Wilson Roberto Dejato da102 ALVES, Raquel Aparecida103 104 SILVA, Marnilda Amaral da Resumo: O presente estudo objetivou analisar a importância da atuação do pedagogo na equipe de saúde, bem como a aceitação desses profissionais pelos familiares das crianças internadas e profissionais de saúde do Hospital Regional da Asa Sul - HRAS e analisar como é realizado e quais são as características do trabalho pedagógico dentro da brinquedoteca do mesmo hospital e um possível trabalho do pedagogo nos hospitais de Unaí-MG. Para tal, foram utilizados a pesquisa documental nos hospitais de Unaí-MG, observação no HRAS e questionários para os funcionários, pais de crianças/adolescentes internados do HRAS e acadêmicos de enfermagem e Secretária de Saúde de Unaí-MG. Concluiu-se, após os resultados, que a atuação do pedagogo dentro do HRAS é de suma importância, tendo uma boa aceitação pelos profissionais de saúde e familiares, devendo apenas ser ampliado; em Unaí-MG esse trabalho é inexistente necessitando ser ainda implantado. Palavras-chave: Criança/adolescente. Hospital. Pedagogo. Abstract: The present study aimed to analyze the importance of pedagogues’ work in the health team, as well as acceptance of these professionals by children’s relatives and health professionals of Hospital Regional da Asa Sul – HRAS, and analyze how it is accomplished and what are the characteristics of pedagogical work within the same hospital playroom and if it is possible to realize the same work in hospitals in Unai, Minas Gerais. For this, we used documentary researchin hospitals at Unai, Minas Gerais, observation at HRAS and questionnaires to employees, parents of children / adolescents admitted at HRAS, to nursing students and Health Secretary of Unai, Minas Gerais. It was concluded, after the results, that the work of educationalist at HRAS is very important, having a good acceptance among health professionals and family, and it should be extended; in Unai, Minas Gerais this work doesn’t exist, still needed to be implemented. Key-words: Children/adolescent. Hospital. Pedagogue. 101 Licenciada em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC e Pós Graduanda em Psicopedagogia Institucional pela Faculdade do Noroeste de Minas-FINOM. 102 103 104 Mestre em Física e professor do Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC. Especialista em Gestão de Pessoas e professora do Instituto de Ensino Superior Cenecista – INESC. Licenciada em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Cenecista-INESC e Pós Graduanda em Psicopedagogia Institucional pela Faculdade do Noroeste de Minas-FINOM. 74 INTRODUÇÃO O presente trabalho buscou analisar a importância do pedagogo no âmbito hospitalar demonstrando a possível demanda de clientes (crianças/adolescentes hospitalizados) nos hospitais do município de Unaí-MG e verificar a atuação profissional do pedagogo hospitalar e seu ambiente de trabalho em um hospital do Distrito Federal. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente é direito desses indivíduos saúde e educação adequada105. Para garantir esses direitos no sentido mais amplo, passando pela saúde emocional e pelo desenvolvimento de habilidades e competências que são necessárias a um cidadão atuante na sociedade, surgiu a necessidade de se criar a pedagogia hospitalar, juntamente com a atuação do pedagogo nas equipes de saúde, pois com o trabalho desse profissional o atendimento hospitalar torna-se mais afetivo e humanizado. Torna-se evidente a importância do pedagogo na hospitalização da criança e do adolescente devido à necessidade da continuação dos estudos desses, já que esse profissional é o elo entre o aluno hospitalizado, sua escola e seus pais, sendo a família também de fundamental importância para o processo educativo. As ações e a presença do pedagogo no ambiente hospitalar irão resgatar nas crianças os sentimentos de aceitação, segurança e auto-estima, amenizando a possível desmotivação e o estresse causados pelos longos períodos de internação106. Ressalta-se ainda que é direito da criança e do adolescente hospitalizado ter alguma recreação assistida, portanto, destaca-se a importância do educador para atuar nas brinquedotecas e salas recreativas nas instituições de internação de terapias intensivas. 105 BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Conanda. Brasília, 2006. 106 COSTA, Cintia Aparecida F. da. O vínculo da criança hospitalizada com a educação. 2008. Disponível em: http:// www.webartigos.com.br. Acesso em: 13 mar. 2011. 75 Assim, propôs-se com este trabalho estudar a relevância do pedagogo no âmbito hospitalar, bem como suas contribuições para a escolarização de crianças e adolescentes hospitalizados. DESENVOLVIMENTO Atualmente o pedagogo vem aos poucos conquistando um maior espaço no mercado de trabalho. Pode-se notar esse fator através das amplas áreas de atuação desses profissionais. A pedagogia e o pedagogo existem desde que houve a necessidade de cuidar de crianças e de promover sua inserção no contexto educacional, a pedagogia teve sua institucionalização com a modernidade, por volta do século XVI107. Sendo assim, compreende-se que o pedagogo tem como principal objetivo de sua profissão promover a formação do indivíduo competente e habilidoso para atuar em uma Sociedade dinâmica e contemporânea. Portanto, devido a necessidade de melhorar a qualidade de ensino em várias áreas do sistema educacional é que se torna necessário a presença do pedagogo, atuando em áreas cada vez mais valorizadas na sociedade do conhecimento. Esse profissional também tem presença marcante na necessidade da educação continuada, já que ela não precisa estar ligada ao contexto escolar, pois a educação pode e deve acontecer em vários âmbitos. Fazendo uma análise através de sua evolução histórica, buscou-se conceituar o termo pedagogia hospitalar, que teve seu início em 1935, quando Henri Sellier inaugura a primeira escola para crianças inadaptadas nos arredores de Paris; o exemplo da classe hospitalar foi seguido na Alemanha, em toda França, na Europa e nos Estados Unidos, sendo que o principal objetivo dessas classes hospitalares era de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas, sendo que tal doença acometia grande parte da população da época108. 107 LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 8. ed. São Paulo. 2009. 108 ESTEVES, Claúdia R. Pedagogia hospitalar: um breve histórico. 2008. Disponível em: http:// www.smec.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 09 abr. 2011. 76 O marco decisório das escolas em hospitais aconteceu durante a segunda guerra mundial, devido ao grande número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir à escola. Portanto, a partir dessa necessidade nos hospitais, fez-se necessário criar um engajamento, sobretudo dos médicos, incentivando a escola nos hospitais109. No Brasil, em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, o hospital Jesus foi o primeiro a desenvolver atividades em classe hospitalar que está em funcionamento até os dias de hoje110. Considerando isso, percebe-se que a pedagogia hospitalar sempre se fez necessária, garantindo ao pedagogo hospitalar um lugar de extrema importância na equipe de saúde. Mediante isso, percebe-se que a pedagogia hospitalar no contexto brasileiro ganhou força a partir da segunda metade do século XXI, principalmente na década de 90, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Acredita-se, contudo, que ainda há muito espaço para o crescimento da pedagogia hospitalar no cenário nacional. Atualmente, muito se tem discutido sobre a importância da atuação do pedagogo no âmbito hospitalar como provedor de afetividade e humanização nos atendimentos. A atuação do pedagogo no âmbito hospitalar diz respeito ao paradigma de inclusão e contribui para com a humanização da assistência hospitalar111. Dessa forma, percebe-se que a pedagogia hospitalar tem uma característica humanista, pois não é importante tratar só a doença, mas sim do paciente como um todo, e os pedagogos hospitalares podem contribuir muito nesse contexto de humanizar a equipe de saúde. A educação e a saúde se unirão em torno de uma nova educação que evidencia a vida e a sua melhor qualidade, pois quando se quer aprender e 109 ESTEVES, Claúdia R. Pedagogia hospitalar: um breve histórico. 2008. Disponível em: http:// www.smec.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 09 abr. 2011. 110 ANDRADE, Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS; E.L.M (Org). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 118-131. 111 BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília, 2002. 77 conhecer, há no ser humano um desejo de viver112. Sendo assim, a presença do professor nesse momento de fragilidade retoma na criança a confiança automaticamente, como num passe de mágica a auto estima é recuperada e surge um estímulo vital que inibe a dor e a tristeza113. Com isso, as ações pedagógicas no contexto hospitalar contribuem de forma significativa para a auto-estima de crianças e adolescentes em longos períodos de internação. A instalação de brinquedotecas nos hospitais é de grande relevância para os mesmos, já que as brinquedotecas vieram contribuir para um atendimento mais humanizado, ou seja, trouxeram um espaço que garante aos internos uma viagem para fora da realidade hospitalar e, desse modo, contribuindo de forma significativa para a recuperação e bem estar de crianças/adolescentes internados. A instalação das briquedotecas nos hospitais só foi possível com a lei nº 11.104 de 2005, que tornou obrigatória a instalação de brinquedoteca nos hospitais, representa uma conquista no processo de modificação das estruturas hospitalares, tanto nos seus aspectos físicos quanto modificações de mentalidades114. A ludicidade é um aspecto da pedagogia hospitalar de extrema importância para a educação de crianças e adolescentes internados, pois ela traz a magia das histórias, dos contos e das brincadeiras. Enfim, é uma ação humanizadora no contexto hospitalar. Através dos brinquedos, brincadeiras, dos jogos e atividades lúdicas as crianças vivenciam a internação com mais entusiasmo e se permitem experimentar novas situações, buscando mecanismos para enfrentar os seus medos e angústias. Além disso, transforma as internações em momentos de magia sedativa, brincando e vivendo o seu faz-de-conta, através do ato de leituras, 112 CECCIM, Ricardo Burg. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Porto Alegre: Pátio, 1999. 113 CASTRO, Marleisa Zanella. Escolarização hospitalar: desafios e perspectivas: In: MATOS; E. L. M. (Org.). Escolarização hospitalar. Educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 35 51. 114 SANTIAGO, Renato. Termina prazo para a construção de brinquedotecas em hospitais. Folha de São Paulo. 2005. Disponível em: <http.www.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/vlt95v13304>. Acesso em: 15 maio 2011. 78 colagens e montagens, sendo que tudo isso é fundamental para uma melhora significativa da criança115. Além desses fatores, os pedagogos, para atuarem no setor de saúde, precisam estar em constante formação, pois a diversidade que se enfrenta exige uma dinâmica diferenciada da aplicada em sala de aula116. Compreende-se assim, como o pedagogo é fundamental na educação das crianças e adolescentes enfermos, pois ele é que dá o suporte para os internos nos momentos difíceis, trazendo conhecimentos através dos seus estudos e levando aprendizados através de sua formação continuada. MÉTODO Diante do tema em questão e segundo os objetivos propostos, que abordam o papel do pedagogo no âmbito hospitalar, sua aceitação junto à equipe de saúde do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e também a demanda para a atuação do pedagogo nos hospitais de Unaí-MG, a pesquisa classificou-se como: Quantitativa, qualitativa e documental. Os instrumentos de pesquisa foram questionários aplicados aos profissionais do HRAS, pais e acadêmicos de enfermagem do Hospital Municipal Dr. Joaquim Brochado (Unaí) e um questionário destinado à secretária de saúde do município de Unaí-MG. Nesse caso, as respostas deram subsídios para uma melhor interpretação sobre a importância atribuída ao pedagogo hospitalar no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS). Analisou-se também como está sendo a atuação do pedagogo no âmbito hospitalar e suas contribuições junto às equipes de saúde por intermédio de observação não-participante na classe hospitalar e brinquedoteca do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS). 115 PAULA, Ercilia Maria Angeli Teixeira. et al. O brincar no hospital: ousadia, cuidados e alegria. In: MATOS, E. L. M. (Org.). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 135-150. 116 ANDRADE, Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS, E. L. M (Org.). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 118-131. 79 No contexto dos Hospitais do município de Unaí-MG realizou-se uma pesquisa documental onde buscou-se informações sobre a demanda dos clientes dos hospitais, e ainda analisou-se também a importância do pedagogo hospitalar. RESULTADOS Primeiramente, analisou-se os dados referentes aos questionários com as respostas dos acadêmicos de enfermagem que passaram por estágio (realizado em 2010/2011) no Hospital Municipal Doutor Joaquim Brochado de Unaí-MG e dos profissionais de saúde do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), fazendo um paralelo entre as respostas dos alunos com as respostas da Secretária de Saúde do município de Unaí-MG. Posteriormente, foi feita a análise dos dados coletados em documentos dos hospitais de Unaí-MG, referente ao tempo de internação das crianças, idade, enfermidade e quantidade de crianças internadas ao mês e da observação realizada no HRAS. Os participantes da pesquisa foram: 10 funcionários e 12 pais de crianças/adolescentes hospitalizados do HRAS, 15 acadêmicos de enfermagem e a secretária municipal de saúde de Unaí-MG, perfazendo um total de 38 respondentes. A partir das respostas dos funcionários do HRAS e dos acadêmicos percebeu-se que o pedagogo é importante na educação continuada das crianças e adolescentes internados, como mostra a Figura 1. Figura 1 – Relevância do Pedagogo na educação continuada. Fonte: Dados da pesquisa 80 A presença do pedagogo nos hospitais se faz necessária para garantir ao aluno enfermo a educação continuada e com a finalidade específica para atender a certos aspectos de natureza pedagógica117. O professor é um veículo útil e eficaz que entra como parceiro na relação entre o ambiente hospitalar, bem como com a família, fazendo uma interação entre ambos e, com isso, amenizando o sofrimento de todos118. Desse modo, observouse que a presença do pedagogo no hospital é de suma importância para adequar a educação continuada a um atedimento mais humanizado. Em relação à Lei nº11. 104 de 2005, que tornou obrigatória a instalação de brinquedotecas nos hospitais, foi perguntado aos enfermeiros do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) qual a função delas no ambiente hospitalar. As respostas são apresentadas no Quadro 1, em que os funcionários são denominados de A, B, C, D, E, F, G, H, I e J. Função das brinquedotecas 117 MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Teixeira Freitas. Pedagogia hospitalar. A Humanização integrando educação e saúde. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2009 118 FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo: Memnon, 2008. 81 Resposta Responde nte “Agiliza a recuperação, pois proporciona a eles momentos de A descontração e alegria”. B “Distrair as crianças, interagir, melhorar a estadia da criança no C hospital, psicológico e a auto-estima”. D “Amenizar a ansiedade das frente ao processo saúde/doença”. E “Proporciona um ambiente mais próximo com o da família, diminuindo F o estresse, contribuindo para a recuperação do paciente”. G “Fazer com que a criança saia um pouco da rotina hospitalar, que é H deprimente e volte a realidade de sala de aula, como se sua vida I J continuasse a mesma e para que não perca muito, fora da escola”. “Ajuda as crianças a superar a internação e manter uma boa convivência durante o tratamento e interagindo com a equipe e familiares”. “Ser conhecido pelas crianças e pais, para que os mesmos busquem auxilio ou solicite. Proporcionar alegria, satisfação em participar do processo programado pelo pedagogo. Tornar os dias mais amenos e aceitáveis bem como entender a necessidade do mesmo”. “Torná-lo mais humanizado através de atividades lúdicas pedagógicas, frequentes no cotidiano das crianças e famílias”. “Atenuar o stresse da criança internada no hospital, através de atividades onde ela possa ter contato com outras crianças num determinado período do dia. Ajuda na recuperação”. “É a de promover entretenimento e um momento de lazer. Deveria haver uma maior separação entre as atividades de classe hospitalar que incentivam o1 - acompanhamento pedagógico”. Quadro – Função das brinquedotecas. Fonte: Dados da pesquisa. 82 Visto que o brincar é extremamente importante na vida da criança em um momento de extrema fragilidade imposta pela internação, as brincadeiras e o espaço destinado a elas tornaram-se vitais para a recuperação de crianças e adolescentes. Dessa necessidade é que surgiu a Lei 11.104 que garante esse direito, e dispõe no primeiro e segundo artigo, sobre essa obrigatoriedade: Art. 1º Os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas dependências. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a qualquer unidade de saúde que ofereça atendimento pediátrico em regime de internação. Art. 2º Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar119. Em relação a essa questão a secretária de saúde de Unaí-MG respondeu que “a brinquedoteca é um mecanismo importantíssimo no entretenimento das crianças tanto internados quanto na sala de espera. Em internações prolongadas os benefícios são bem maiores, porém não temos esse tipo de internação ainda as crianças permanecem de 2 a 3 dias apenas internadas”. Independente do tempo que a criança está fora da escola, sejam dois dias, um mês, um ano, tal ausência irá afetar direta ou indiretamente seu desenvolvimento escolar120. Mesmo sendo poucos dias, a criança enferma também precisa que o seu processo de educação não seja interrompido, embora essa educação necessite de adaptações, por a mesma acontecer em um ambiente diferente do escolar é primordial que o processo de escolarização não seja prejudicado. 119 120 BRASIL, 2006. Estatuto da criança e do adolescente. Lei federal nº: 8069/90, 13 de julho de 1990. ANDRADE; Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS; E.L.M (org). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis; RJ: Vozes, 2009 p. 118 a 131. 83 Foi perguntado aos respondentes se eles diriam que o pedagogo tem boa aceitação dentro dos hospitais pelos outros profissionais da saúde. Com relação a esse questionamento chegou-se às respostas apresentadas na Figura 2. Figura 2 – Aceitação do pedagogo. Fonte: Dados da pesquisa Com o processo de humanização hospitalar percebeu-se que mais que medicamentos e tradicionais procedimentos médicos, os enfermos precisam de um outro tipo de atendimento para melhorar a estadia no hospital121, ou seja, na concepção desse autor, não apenas remédios e atenção médica é suficiente, outros procedimentos como, por exemplo, os humanizadores são igualmente importantes. No que se refere ao mesmo questionamento a Secretária de Saúde do município de Unaí-MG relatou que “já houve a participação de pedagogos no hospital municipal” e segundo a mesma “esses profissionais tem boa aceitação, principalmente por parte dos pacientes”. Sendo assim, compreende-se que apesar 121 PAULA; Ercilia Maria Angeli Teixeira. et al. O brincar no hospital: ousadia, cuidados e alegria: In: MATOS; Elizete Lúcia Moreira. (Org.). Escolarização hospitalar. Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 135-150. 84 das internações no hospital municipal não ser por períodos longos, a participação dos pedagogos e suas atividades pedagógicas tem boa aceitação pelos internos. Foi perguntado à Secretária se existem verbas para o hospital manter despesas com materiais didáticos e custos com profissionais da educação hospitalar e brinquedotecas, ela respondeu que “apenas parcialmente”. Nesse sentido, mediante a pesquisa documental a pesquisadora verificou que a brinquedoteca móvel do hospital foi uma doação de uma parceria entre o Governo Federal e a Compania Energética de Minas Gerais – CEMIG. Na opinião dos pais sobre como a frequência na brinquedoteca afeta o comportamento de seus filhos, verificou-se que a maioria deles acredita que o comportamento muda para melhor. As respostas de 11 pais, que respectivamente, são denominados de A, B, C, D, E, F, G, H, I, J e K, podem ser visualizadas no Quadro 2. Reflexos da brinquedoteca no comportamento das crianças/adolescentes hospitalizados Respondente Resposta A “Ele sai da rotina e também ajuda o tempo passar mais rápido. B C D E F G H I Também brinca e sorri com os outro internos do hospital e ajuda a atualizar nas atividades escolares”. “Eu acho que ajuda muito na recuperação dele, ajuda a esquecer que está em um hospital, ele fica muito feliz quando está brincando na brinquedoteca”. “Desenvolve a coordenação dele e o ensina a interagir com outras pessoas”. “ Ela fica menos estressada, é muito importante a brinqedoteca”. “Ele fica muito mais alegre e as vezes esquece que está internado”. “Ajuda muito porque o clima de um hospital é muito pesado e para 85 J uma criança um lugar diferente com um clima no qual não parte de um hospital ajuda na recuperação, na interação e troca de K experiência co as outras crianças”. “ A criança fica mais disposta e mais alegre porque está brincando”. “ Ele fica mais caumo e tranquilo”. “Aprende a compartilhar com os outros coleguinhas, se diverte, ajuda até a melhorar o humor, fica mais feliz e ajuda também a acalmar a mamãe”. “Ela fica mais e até se comporta bem para poder ir para lá”. “Faz ele se animar, tira ele da tristeza e perder o medo de sair da cama e andar, ele se sente muito melhor”. Quadro 2 – Reflexos da brinquedoteca no comportamento das crianças/adolescentes hospitalizados. Fonte: Fonte da pesquisa. A internação para as crianças é um momento de extrema sensibilidade, de medo e angústia, pois elas passam por procedimentos invasivos e dolorosos, assim sentem-se mais amparadas com as atividades da classe hospitalar e a presença do pedagogo122. A observação não participante foi realizada entre os dias 08 e 11 de Novembro de 2011, no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), nos períodos de 8:00 às 12:00 e de 13:00 às 17:00 horas, totalizando 24 horas. O Hospital Regional da Asa Sul possui uma sala denominada de Classe Hospitalar/brinquedoteca – CHB com uma área aproximada de 15 m², com dois computadores, uma TV com vídeo game, um armário com vários livros. A mesma conta com o atendimento de três pedagogas, porém no momento da pesquisa apenas uma estava trabalhando, pois duas encontravam-se afastadas do trabalho por problemas de saúde, esse fator 122 BOTELHO, Simone Simões. A afetividade na ação pedagógica no contexto hospitalar. In: AROSA, A. C. (Org.) A escola no hospital. Espaço de experiências emancipadas. Niterói, RJ: Intertexto, 2007, p.117- 131. 86 limitou o funcionamento da CHB, pois por vários momentos ela teve que ser fechada quando a pedagoga precisou ir ao médico. Observou-se que a higienização da sala é feita por uma profissional específica da limpeza todos os dias, e para conservar o espaço organizado no final do dia a pedagoga guarda todos os objetos usados em armários. É preciso manter a limpeza dos materiais didáticos e lúdicos utilizados com as crianças enfermas, evitando assim, o acúmulo de poeira e resíduos. Esse cuidado com a limpeza é importante não apenas para evitar riscos a saúde, mas para tornar o ambiente acolhedor, agradável e convidativo à participação dessas crianças nas atividades desenvolvidas na sala classe e brinquedoteca do hospital123. O atendimento da CHB segue uma rotina onde todas as crianças são registradas em um livro com o objetivo de identificar se o aluno é da rede pública, pois ele tem prioridade no atendimento. Através desses dados é feito contato com a escola de origem do aluno e os pais ficam responsáveis em trazer documentos e os conteúdos trabalhados pela escola. Uma diversidade de acontecimentos (momento de exames, de medicação, mãos imobilizadas pelo soro etc.) se junta com a rotina de atividades da escola dentro do hospital. Essas situações precisam ser superadas com dinamismo por parte dos professores para que seus alunos enfermos tenham desempenho frente às atividades em desenvolvimento na sala de aula hospitalar124. Percebeu-se durante as observações que existem dificuldades em trabalhar as atividades escolares na brinquedoteca, sendo necessário separar a classe do local de brincar. Segundo a pedagoga as crianças que não podem ir à CHB são atendidas no próprio leito, porém durante a observação não houve esse tipo de atendimento. As pedagogas da CHB são cedidas pela Secretaria de Educação do Distrito Federal e esse ambiente tem funcionamento garantido através de doações e realizações de rifas para a compra de jogos e materiais. Há também o Projeto Mãos de Mãe que é uma oficina de costura com duas artesãs profissionais ensinando as mães artesanatos, isso evita que as mães fiquem com tempo ocioso quando os 123 FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed.São Paulo: Memnon, 2008. 124 FONSECA, Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo: Memnon, 2008. 87 filhos estão na UTI e não podem ficar acompanhados. Desse trabalho são geradas peças que são vendidas e a renda é revestida para melhorias no hospital. Não foi possível saber quanto tempo a CHB já funciona no hospital, pois a pedagoga acompanhada trabalha no hospital há apenas dois anos e não tinha esses dados disponíveis no momento da pesquisa. As três pedagogas da CHB possuem formação em pedagogia e as duas que estavam licenciadas nos dias da pesquisa participaram de treinamento em pedagogia hospitalar. Assim, o trabalho das pedagogas é de extrema importância, pois está voltado para o atendimento da brinquedoteca proporcionando lazer, alegria e interação entre as crianças e professores. A observação não participante possibilitou à imersão em um ambiente mágico dentro de uma instituição de saúde. Nesse ambiente as crianças podem amenizar um pouco de seu sofrimento através de atividades lúdicas promovidas pela pedagoga. Porém, mudanças no funcionamento da CHB podem melhorar o atendimento às crianças. Seriam elas: Ampliação da sala com a construção de banheiros, participação dos profissionais juntos às crianças que se encontram em seus leitos e maior interação do pedagogo com as crianças durante a execução das atividades. Com relação à pesquisa documental foi possível constatar que o número de internações infantis nos hospitais de Unaí-MG é variado com uma média de poucos dias de internação, porém esses dados não excluem totalmente a necessidade das intervenções pedagógicas e a presença do pedagogo em alguns desses hospitais, visto que o trabalho desses profissionais da educação já é reconhecido e admirado no âmbito hospitalar pelos profissionais da saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo investigou como é a aceitação dos profissionais de saúde, dos familiares das crianças e dos adolescentes hospitalizadas no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) em relação aos pedagogos hospitalares e investigar o trabalho do pedagogo no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e um possível trabalho do pedagogo nos hospitais de Unaí-MG. A pedagogia hospitalar teve seu início devido uma falha da saúde com crianças/adolescentes em longos períodos de internação, pois eles eram vistos apenas como corpos doentes e, desse modo, eram tratados sem o direito à 88 educação continuada, portanto, negando-lhes o direito a momentos de lazer e descontração nas brinquedotecas hospitalares e principalmente o direito à educação. Diante disso, esta investigação apresenta algumas conclusões: • Os profissionais da saúde já reconhecem os benefícios de contarem com a presença do pedagogo nos hospitais e a relevância das atividades pedagógicas desenvolvidas por eles e ainda ressaltam a importância desses profissionais para atuarem nas brinquedotecas hospitalares. • O estudo nos hospitais de Unaí-MG mostrou que o índice de crianças/adolescentes internados ainda é pequeno para a exigência de uma sala classe de educação continuada, no entanto, esse fato não exclui a importância da presença do pedagogo em alguns hospitais do município, pois eles poderiam estar atuando nas brinquedotecas e realizando atividades de entretenimento nas salas do pronto socorro e laboratório do hospital municipal. • A aceitação do pedagogo pelos familiares de crianças/adolescentes internados no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) é total, pois eles sentemse confortados e seguros por poderem contar com atendimento desses profissionais em momentos tão dolorosos em suas vidas. O pedagogo é aceito e respeitado pelas equipes de saúde, sendo preservados seus horários de estar com as crianças/adolescentes, bem como, sua interação junto da equipe de saúde. Foi observado na literatura que a pedagogia hospitalar vai além de uma hospitalização escolarizada, o profissional dessa área presta um atendimento de amor a criança/adolescente enferma gerando expectativa e esperança desse modo, contribuindo de forma significativa para a melhora física e psicológica dos pacientes. Portanto, o estudo reafirma a importância da atuação do pedagogo nas equipes de saúde, bem como as atividades pedagógicas realizadas por eles nas brinquedotecas e salas classes hospitalares, mostra também a importância de ampliar esse atendimento nos hospitais do Brasil, já que esse ramo da educação ainda é pouco conhecido. Ainda há muito que se estudar sobre a pedagogia hospitalar, pois esse é ainda um tema que precisa ser divulgado e pesquisado necessitando abrir mais esse campo da pedagogia para pesquisa. 89 Enfim, pode-se concluir que o presente estudo traz várias informações sobre a aceitação e atuação do pedagogo nas equipes de saúde, desse modo servindo como ponto de partida para novas pesquisas. REFERÊNCIAS ANDRADE, Janaína Cordeiro de. Educação: um direito interrompido? In: MATOS; E.L.M (Org). Escolarização hospitalar: Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 118-131. BOTELHO. Simone Santos. A afetividade na ação pedagógica no contexto hospitalar. In: AROSA, A. C. (Org.) A escola no hospital. Espaço de experiências emancipadas. Niterói, RJ: Intertexto, 2007, p.117- 131. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília, 2002. CASTRO, Marleisa Zanella. Escolarização hospitalar: desafios e perspectivas: In: MATOS; E. L. M. (Org.). Escolarização hospitalar: Educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 35 -51. CECCIM, Ricardo Burg. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Porto Alegre: Pátio, 1999. COSTA, Cintia Aparecida. F. da. O vínculo da criança hospitalizada com a educação. 2008. Disponível em: http:// www.webartigos.com.br. Acesso em: 13 mar. 2011. ESTEVES, Claúdia R. Pedagogia hospitalar: um breve histórico. 2008. Disponível em: http:// www.smec.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 09 abr. 2011. FONSECA; Eneide Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo: Memnon, 2008. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 8. ed. São Paulo. 2009. MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Teixeira Freitas. Pedagogia hospitalar. A Humanização integrando educação e saúde. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2009 PAULA, Ercilia Maria Angeli Teixeira. et al. O brincar no hospital: ousadia, cuidados e alegria. In: MATOS, E. L. M. (Org.). Escolarização hospitalar: Educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 135-150. 90 SANTIAGO, Renato. Termina prazo para a construção de brinquedotecas em hospitais. Folha de São Paulo. Disponível em: <http.www.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/vlt95v13304>. Acesso em: 15 maio 2011.