12 Paradiplomacia no Brasil Mariana de Barros e Silva 1
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12 Paradiplomacia no Brasil Mariana de Barros e Silva 1
12 Paradiplomacia no Brasil Mariana de Barros e Silva 1 INTRODUÇÃO Desde as primeiras noções de grupamento social organizado registra-se as relações internaciona is. Tal qual a sociedade, elas não são estanques e transf iguram-se no t empo acompanhando a evolução do mundo. A partir do surgimento da concepção de Estado - seja na ót ica d e Bodin, Hobbes, Rousseau ou Maquiavel - a sociedade internaciona l evoluiu, mas permaneceu centrada fig ura estatal originária. Desde então, o Estado era o único ator legítimo das relações internacionais. Por deter com exclu sividade a personalidade jurídica de direito internacional era comum a sa ída de representantes do plano nacional para celebrar tratativas de alcance internacional. Este cenário de prevalênc ia intergo vernamental das relaçõe s estendeu-se até o séc. XX quando a sociedade internac ional, frente aos efeitos da globaliza ção, se vê compelida a mudanças teóricas, estruturais e legais. Com a derrubada das fronteiras em função do desenvolvimento tecnológico espalha- se no mundo um sentimento de integração universal. Paí ses passam a se associar, inicialmente no âmbito regional, para obter melhores condições de desenvolviment o tanto interno quanto externo. Este espírito invade a América do Su l que registra historicament e inúmeras tentativas de integração re gional até culminar na atual, o Mercado Comum do Sul. O pr imeiro capítulo desta dis sertação faz o recorte espacial sul americano destacando o Brasil como objeto de estudo. A partir daí, levanta-se todos os processos de integração que envolveu este país, tratando, e specificamente, da atuação do mesmo no Mercosul. Após uma observação aprofundada da atuação do Brasil no Mercosul percebe-se que, apesar de t er adotado a forma federalista de Estado, o que se subentende uma descentralização, este desenvolve tanto as política s internas quanto ex t ernas de uma forma concentrada. Não só o sistema jurídico brasileiro contribuiu para isto, mas a apatia 13 da sociedade civil fo i marcante para que o legado ditatorial estive sse presente nos tempos atuais. Na linha deste mesmo pensamento identifica-se nesta pesquisa que a política externa brasileira está cada vez mais afastada dos ideais democr áticos, pois como concentra suas decisões no Executivo Federal nem sempre esse tem condições de perceber as demandas do povo. O povo vive nos município s e assim, inicia-se um movimento denominado de paradiplomacia 1 no intuito de legitimar a participação dos governos subnacionais na elaboração de política externa. Aborda-se cientifica e empiricamente neste trabalho que um Estado federalista pode exercer seu poder de forma concentrada ou não, trata-se de uma faculdade. Por outro lado, a combinar esta forma de Estado com o regime de governo democrático torna-se um dever encontrar os melhores mecanismos de atendimento do bem comum, já que a soberania é popular. Demonstra-se, ainda neste capítulo, que a forma federalista de estado com políticas descentralizadas é a que mais apresenta condições de consolidar a democracia. O estudo sobre democracia e federalismo é o cerne nesta pesquisa. Por isso, destaca-se correntes prós e contras à paradiplomacia, pois apesar de aproximar o povo do poder, teme-se a volta do feudalismo ou a quebra do pa cto federativo. Na seqüência, percebe-se empiricamente, levantando os casos dos municípios de Santo André (SP) e Ipojuca (PE), que apesar d a previsão legal de um paí s descentralizado, o Brasil (Estado soberano), no âmbito do Mercosu l, pouco tem c ontribuído para esta integração. Como conseqüência dessa inércia, impulsiona a disseminação do movimento paradiplomático municipal. Apesar desses governos subnacionais estarem sendo considerados unidades ativas de efetiva contribuição para a integração do Mercosul, principalmente através da Rede Mercocidades, as desigualdade s regionais e o fator geo-político brasileiro concentrou este movimento, nas áreas circunvizinhas do 1 O envolvimento de entidades governamentais subnacionais nas relações internacionais. Isso ocorre por meio do estabelecimento de contatos formais e informais com entidades públicas ou privadas estrangeiras, com o objetivo de promover interesses políticos e socioeconômicos, bem como outros, dentro dos limites aos quais cada entidade governamental subnacional está constitucionalmente vinculada.” (CORNAGO PRIETO, 2003, p. 559). 14 mercosul, grandes metrópoles (geralmente capitais) e cidades d e desenvolvimento econômico consolida do. Isto reflete o afastamento na prática do ideal de democracia region al, ou seja, de bem comum a toda a região nacional (norte, noroeste, sul, sudoeste, leste, nordeste, oes te e noroeste). Assim, percebe-se que o movimento paradiplomático só irá contribuir efetivamente com a integração do Mercosul se expandir seu alcance territorial nas dimensõe s continentais do país. Os dois mecanismos para isso, analisados nessa pesquisa, seria o movimento paradiplomático através da Rede Mercocidades (que uma vez expandido envolveria municípios de e xpressivo potencia l internacional, como Ipojuca-PE) ou a legitimação desta associação de municípios, por questões democráticas, como órg ão componente da estrutura institucional do Mercosu l. 2 RELAÇÃO ENTRE O INTERNO E O INTERNACIONAL PÓ S- GLOBALIZAÇÃO Há muito, compreender as relações internacionais deixou de se r uma análise intergovernamental. O Estado ainda ocupa um status de principal na sociedade internacional, porém as relações nesse plano não se limitam a ele. Indo muito mais além, percebe-se que o campo de estudo das relações internacionais pode ser considerado o mais vasto de todas as ciências sociais e humanas. Is so se dá por não se limitar apenas aos fenômenos que ocorrem além das fronteiras estaduais, mas obrigatoriamente por fazer um liame entre endógeno e o exógeno, um vínculo entre a realidade interna e a p olítica externa do país. Assim, surge o que passou a ser cha mado de paradiplomacia, já que para compreender a atuação externa dos Estados e de outros atores internacionais é preciso a devida análise das condições internas que a motivam. É necessário ana lisar o estreito víncu lo entre a percepção ideológica de um governo e sua atuação internacional. 15 Mesmo assim, apesar de cons iderada a mais consistente da s políticas públicas, as at ividades e xternas governamentais sofrem alterações de prioridades com a mudança de governo, regime e inúmeras variáveis internas. Ainda por cima, o avanço da tecnologia da comunicação gerou um questionamento a respeito do f im do território como espaço estanque no interior da linha da fronteira e mais do que nunca a conexão entre o endógeno e o exógeno dá vazão ao surgimento de novos atores no cenário internacional. Diante da amplitude do campo de pe squisa do internacionalista, percebe-se também o caráter interdisciplinar desta análise, ou seja, requer do pesquisador um apanhado não mais meramente político, mas econômico, social, geográfico, histórico e jurídico. Esse último, o aspecto formal, até o século XX, lim itava-se apenas aos quarenta mil tratados registrados nas Nações Unidas, ma s ampliou-se em face à competência normativa das Organizaçõe s Internacionais (declarações, reso luçõ es, decisões e etc.) e indo mais além incluindo não só os atos unilaterais do Estado Soberano, mas também os parâmetros constitucion ais internos que possib ilitam a atuação externa de cada Estado, ou seja, a outorga legal de competência internacional a certos at ores internacionais, exemplo dos arts.15, 21 e 22 da Constituição Fede ral Brasileira 2: Apesar dos interesses do s naciona is internos, tanto público s quanto privados, inspirarem a atuação externa do Estado, é esse que por enquanto domina a forma e o conteúdo de agir no plano externo . NO caso do Brasil, somente a União detém a chamada personalidade jurídica de Dire ito Internacional, ou seja, é a ún ica dotada de competência normativa para celebrar acordos e tratados. 2 “ Ar t . 2 1 . C o m p e te à U n iã o : . .. I X- e l a b o r a r e e x e c u ta r p la n o s n a c i o n a is e r e g io n a is d e o r d e n a ç ã o d o t e r r i tó r io e d e d e s e n v o lv i me n t o e c o n ô mic o e s o c i a l ; c /c Ar t . 2 2 . C o m p e te p r iv a t iv a me n t e à U n i ã o le g is l a r s o b r e : .. . . .. V I I I- c o mé r c io e x t e r i o r e in t e r e s ta d u a l; c /c Ar t . 1 5 . C o mp e te a o s Es ta d o s e a o D is tr i to F e d e r a l : .. . . .. I I Iin s t i tu ir i m p o s to s r e l a t iv o s à c ir c u la ç ã o d e me r c a d o r ia s e à p r e s ta ç ã o d e s e r v iç o s d e tr a n s p o r te i n t e r e s ta d u a l e in te r m u n ic ip a l e d e c o m u n ic a ç ã o , a i n d a q u e a s o p e r a ç õ e s e a s p r e s ta ç õ e s s e in ic ie m n o e x te r io r .” ( PI N T O ; W IN D T ; C É S P ED E S , 2006). 16 Com o surgimento de novos atores no cenário internacional começa um movimento de pressão p erante o Estado Soberano para que, em nome do desenvolvimento econômico e social, as unidades ativas, exemplo estados-membros da federação e/ou municípios, também pudessem de alguma form a legislar internacionalmente. O mecanismo poderia ser através de uma competência concorrente, complementar ou até mesmo, mediante o aval do governo federal já que, em face do princípio da tutela da União esta deve controlar permanentemente as atividades internacionais. Esta mudança facilitaria a execução do processo de integração tanto nacional quanto internacional. Enfim, os governos subnacionais, principalmente os municípios mem bros da Rede Mercocidades, pressionam o poder central para a elaboração de um novo pacto federativo. Convém atentar que não se trata da q uebra do monopólio federa l frente às relações exteriores, imposs íveis na ordem estatal unitária , mas plausível quando falamos em Estados Soberanos Federalistas. No passado essas unidades federadas foram extremamente ativas no plano externo. Por isso é imprescindí vel destacar que não se trata de um retorno ao feudalismo ao se defender a necessidade de um novo pacto federativo, aparentemente possí vel na ótica do New Medieva lism (explicado no capítulo 3.2.1). A crítica à centralização da monarquia no séc. IX fez surgir a figura dos senhores feudais onde, fiéis a um reinado (supremo frente a todos), nos limites de seu domínio territorial, usufruíam de ampla autonomia, emitiam moedas, exerciam a tutela jurisdicional e arrecadavam tributos. A autonomia internacional identificada nes ses novos atores, especificamente nos municípios, pressiona para uma mudança legislativa em relação à per sonalidade jurídica internaciona l, mas jamais na amplitude conced ida aos feudos que mesmo subordinados ao reinado (primeiras noções de Estado) podiam até declarar guerra, como os antigos fecia is de Roma. Este pensamento seria inconcebível diante das conseqüências do Tratado de Vestifália que ao atribuir soberania aos Estados, exercidos 17 através de uma política centralizado ra, facultava aos mesmos até a subdivisão geográfica de sua base t erritorial em unidades de poder, mas não mais na amplitude anterior. A partir de então, a competência tributária estatal passava a ser exclusiva e indelegável e a guerra privada torna-se considerada ilegal com a criação da forças armadas estatais. No contexto contemporâneo por sua vez, a política externa s e concentra na figura da do Executivo F ederal, apesar de existir ca sos de países que adotam uma distribuição desta competência internacional a outras unidades políticas da federação 3. Percebe-se, com a ampliação dos temas da agenda política internacional a partir do século XX em detrimento da globalização, que a conseqüente aparição de novos atores, mudou o eixo central ao redor do qual giravam as iniciativas de competição e cooperação internacional. O Estado soberano ainda continua como personagem principal, porém coadju vantes intern acionais, tal qual o s município s, estados-membros e a própria socieda de civil organizada, muitas vezes de uma forma institucionalizada, passam a atuar paralelamente neste cenário internacional. Mesmo que de uma forma oficiosa (não autorizada por lei), criam o conceito d e paradiplomacia. Tomando este movimento paradiplomá tico como objeto de estudo , a pesquisa ora desenvolvida se dá n o prisma do território brasileiro . Compara-se dois municípios, Ipojuca (PE) e Santo André (SP), de localizações geográficas distintas e iniciat ivas polít icas diferentes frente ao processo de integração do Mercosul. Busca-se na análise comparada não se limitar a uma percepçã o localista da paradiplomacia, reforçando a premissa que e sta pesquis a não almeja servir a uma causa ideológica, mas, de uma forma acadêmica, busca-se perceber, entender e explicar a nova dinâmic a das relações internacionais. 3 Com a modificação do artigo 23 da Constituição alemã, os Estados federados (Länder) ampliaram sua participação no processo de tomada de decisão em política externa, sobretudo nos assuntos de integração européia. Eles podem designar um representante em Bruxelas e participam dos debates prévios na Câmara baixa do Congresso (Bundestag) sobre todos os temas que lhes interessam, no estudo de Seitenfus ( 2003, p. 77). 18 A percepção formalista (legal) da ação externa paradiplomática ainda esta muito incipiente e por isso o tema apresenta uma escassa matéria-prima aos pesquisadores interessados. Neste contexto, apoiando-se na visão do mundo mor alista/otimista que defende uma sociedade universal, analisa-se a conjuntura da sociedade interna, que almejando alcançar estrategicamente uma nova dinâmica internacional requer estudos críticos sobre sua estrutura de dependência e sujeição internacional a ser formada como facilitadora do processo de integração. O internacionalista Ricardo Seitenfus 4, não concebe a utilização do termo paradiplomacia, pois defe nde ser a atuação externa de iniciativa privat iva da União Federal, único ente soberano. O mesmo reconhece que a impropriedade é meramente terminológica já que nem sempre a ação subnac ional cam inha paralela à naciona l, exemplo da paradiplomacia contrária à canadense diplomacia da província federal. Assim de Quebec que caminha estaríamos diante de uma diplomacia de vários níve is, ou até, de uma pós-diplomacia. Por outro lado, revela-se como luga r comum nas últ imas dua s décadas, a tentativa de solidif icação de uma teoria paradiplomática. Logo, a corrente contrária deste pensamento não o desmerece já que na percepção formalista/legal esta a ssertiva é verdadeira, porém a sensibilidade do observador intern acional deve estar atenta que compreender as relações internaciona is hodiernas é inic iar a pesquisa na ponta do iceberg (ação externa do Estado soberano) e cont inuar a pesquisa analisando o que muita s vezes está submerso (não legitimado, não oficia lizado), não visí vel a todos, ou seja, ir a fund o nas iniciativas que motivaram e su stentaram determinada atividade supranacional (muitas delas oriundas de iniciativas de unidades at ivas internacionais desprovidas de persona lidade jurídica para tanto). Implica que a construção da atuação internacional requer a identificação do verdadeiro interesse nacional, oriunda da ligação entre a política interna e externa. Desta forma, a questão externa hoje 4 SEITENFUS, Ricardo. Conferência ministrada na Faculdade Integrada do Recife por motivo de inauguração do Instituto Ricardo Seitenfus – IRS em maio de 2006. 19 implica na consideração das variáve is intervenientes durante todo o processo de definição que vai da percepção, avaliação, decisão, açã o até a prospecção, e que muitas ve ze s inclu i a participação de setores públicos, privados, opin ião pública e o rganizações não governamentais. Isso se dá em fun ção da democracia representativa (variáve l analisada no capítulo 3.1) que per mite a manifestação de dist intas percepções. O fato de muitas iniciativas tomadas no âmbito interno ter incidência além da fronteira e essas últimas para terem eficácia dependerem de uma internalização condiciona à compreensão das ações externas às iniciat ivas internas. Podem-se exemplificar dua s situações: primeira, do chamado “retorno da decisão”, ou seja, a decisão externa não se exaure quan do é tomada, mas sua eficácia interna está diretamente relacionada à organização jurídica do Estado, à internalização do s termos do tra tado e principalmente, de ve-se interpretar que o exógeno muitas vezes é utilizado como instrumento de pressão interna quando o consenso se mostra difícil; segunda: quando um Estado não concorda com um disp ositivo de um Tratado por motivo de incompatibilidade jurídico/po lítico interna pode emitir reserva ou deixar de firmá-lo. A partir deste pensamento foi que esta pesquisa (problema e hipóteses) foi construída. Elaborad a por sua vez ciente de que, principalmente no hemisfério sul, o Estado monopoliza a criação d o conhecimento em Rela ções Internacionais fornecendo ou não matéria prima para as pesquisas. Para não correr o risco de transformar esse trabalho em mero ensaio é que se de cidiu comparar a paradip lomacia em dois municípios do Brasil. O primeiro Santo André (SP), de paradiplomacia instituciona lmente consolidada, facilitou o acesso à s informações e dados representativos desta unidade ativa; o segundo, Ipojuca (PE), apesar do grande pote ncial para o desenvo lvimento de política externa, ou melhor, apesar de ser uma unidade ativa em potencial no que tange a integração do Mercosul, ainda apresenta uma incipiente estrutura institucional na ár ea das relações internacionais, o que dificultou o acesso às informações necessárias à pesquisa. Ao confrontar duas fontes diversas (dois governos subnacionais de 20 realidades diferentes) foge-se do supe rficialismo empírico muita s vezes oriundos da falta de boa vontade do Estado em fornecer subsídios à análise do pesquisador. Neste contexto, para dar consistência acadêmica à pesquisa, já que as relações internacionais cont emporâneas são analisadas por juristas, cientistas políticos, sociólo gos, economistas, historiadores, jornalistas e etc., vincu lam-se a realidade observada à teoria do novo institucionalismo, no intuito de ordenar, sistematizar e externar a realidade percebida. Busca-se provar com esse embasamento teórico que na sociedade internacional, apesar dos Estados serem os atores principais, ele s dependem dos atores internos, ex. unidades autônomas de poder governamental, grupos de pressão, eleitorado, pois as variações da política externa sofre m alterações em detrimento dos constraints do sistema naciona l intern o de poder. Em outras palavras, a política ext erna pode ser vista com o conseqüência resultante da fusão dos constraints oriundos das necessidades internas e dos constrang imentos externos. Esta dis sertação desenvolvidas por mostra que Estado Federalista um as atividades internacionais concentrada no plano executivo federal é considerada ultr apassada (variável analisada no capítulo 3.2.1.), já que pode ser int erpretada como um resquício do antigo poder autocrático do regime monárquico e/ou ditatorial. Com o alastramento do modelo republicano, do Estado de Direito e com a conso lidação internacionais sentem-se emergente compelida s da a democracia, uma as relações descentralização. A condução da política externa contemporânea pela União encontra-se precária devido à ausência de um planejamento de alcance nacional e à prática da diplomacia presidenc ial (síndrome do Príncipe), ou seja, da personalização do sistema político int ernacional na pessoa do Chefe de Estado. Em conseqüência, por essa f resta permite-se enxergar novas unidades ativas de sign ificativa pressã o internacional. Esses entes infra-estatais passam a mostrar que através de uma política de atração de in vestiment os baseadas, por exemplo, na concessão de incentivos fiscais, tem f orca suficiente para remodelar o 21 mercado industrial nacional (guerra fiscal). Como a constituição federal (ex. Constituição Federal do Brasil - 1988, marcada pela superficialidade no trato das questões externas) permanece apática a esta demanda, permite-se, mesmo de uma forma velada, que outros entes federados exerçam a chamada paradiplomacia. Diante da ausência de uma previsão legal, pois os artigo s constitucionais desmotivam a participação subnacional frente ao excesso de etapas (autoriza ção do executivo e aprovação do senado – art.42, IV), estado s e municípios começam a se institucionalizar especificamente no campo da política externa criando secretarias, núcleos, setores, gabinetes, departa mentos e assessoria s capazes de desenvolver uma política estadual e /ou municipal de efeito externo. Trata-se de uma conexão in stitucional entre os interesse s domésticos e externos que deve ser criteriosamente previsto em lei sob o risco desses entes ao invés de integrarem a política nacional, as dispersarem, contraditarem ou enfraquecerem, culminando com uma secessão (ex. as aspirações de indep endência da Provín cia de Quebec no Canadá). Frente a este temor, o Brasil ( Esta do-membro do Mercosul e objeto de estudo desta pesquisa) legitimou, em 1988, o exercício da paradiplomacia através do Protocolo de Cooperação Reg ional e Fronteiriça 5 onde passa a reconhecer n o cenário internacional tanto no s governos estaduais quanto nos municipais. Não se trata de uma competência concorrente nem complementar da União, mas atribuir condições legais de cooperação local ao s municípios, intendências, províncias e estados, para no exercício de uma autonomia limitada contribuírem harmonicamente e em conjunt o com as questões regionais de alcance internacional. É quando nasce a rede Mercocidades marco instituciona l de uma nova fase das ações externas na região. Especif icamente no Brasil, o próprio Ministério das Relações Exte riores, diante da inquestionáve l 5 Programa de integração e cooperação econômica entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, Protocolo Regional Fronteiriço no. 23. Diário Oficial da União, n. 247 de 29 de dezembro de 1988. 22 perda de exclusividade na condução das relações externas, cria escritórios de representação espalha dos por todo o país 6. Esta é a comprovação de que o interesse nacional é elemento constitutivo da política externa e, por conseg uinte, essencial às relações internacionais. Esse interesse nacional pode advir dir etamente da sociedade civil através de sua representação municipal ou estadual. É ele que orienta a tomada de decisões de Chefe de Estado, tais como: a inserção ou não em Blocos Econômicos, a asso ciação ou não a Organiza ções Internacionais (como também o direcio namento no momento da votação multilateral), dentre outras situações. Assim, percebemos que a política externa reflete os anseios internos, o complexo é conseguir com precisão e nitidez identificar o verdadeiro conteúdo e limites dessas necessidades nacionais até transformarem-se no leimotiv da ação externa do Estado (percepção, avaliação, decisão, ação e prospecção ) já que o interesse nacional não existe de per se. No caso democrático estudado, a percepção majoritária do s responsáveis pela política externa do Estado é que determina o interesse nacional. Logo, a imparcialid ade do julgamento do que seria o interesse nacional genuíno se vê comprometida quando a cultura, moral, ideologia, interesse político/p artidário dessa maioria tende a interferir na sua visão e o interesse nacional passa a ser visto como interesse governamental (vontade do governo em exercício). A vontade política para um processo de integração é condiçã o sine qua non (princípio do voluntarismo), porém esta não deve ser interpretada como a vontade govern amental, mas uma estratégia de 6 Er e n e , Es c r it ó r i o d e R e la ç õ e s Ex te r io r e s d o N o r d e s te , s i tu a d o e m R e c i fe - P E , r e f le te q u e a p r ó p r ia i n s t it u c i o n a liz a ç ã o d o Mi n is té r io d a s R e l a ç õ e s Ex te r i o r e s d o Br a s il n e c e s s it o u d e u ma r e e s tr u tu r a ç ã o fr e n t e o n o v o c e n á r io i n te r n a c io n a l . As s i m , f o r a m c r ia d o s d e p a r ta me n t o s te m á t ic o s p a r a tr a t a r d e a s s u n t o s tr a n s v e r s a is c o m o d ir e i to s h u ma n o s , m e i o a m b ie n te , in te g r a ç ã o e c o n ô m ic a , c o n ta n d o a in d a c o m o u tr o s ó r g ã o s a e l e v in c u l a d o s e t a mb é m r e l a c io n a d o s a o s te ma s e m q u e s t ã o , e x . : As s e s s o r ia d e R e la ç õ e s Fe d e r a tiv a s , S u b s e c r e ta r ia - G e r a l d a A mé r ic a d o S u l . 23 Estado. A soberania popu lar contemp orânea representa outra variável analisada nesta pesquisa (capítu lo 3.2 ). Além desse aspecto, o fato do surgimento de novos atores no cenário internacional e o surgimento de temas transversais trouxeram uma nova dinâmica à realidade internacional contemporânea onde o interesse nacional não mais se restringe ao da parcela do ele itorado que sustenta certo go verno no e xercício do poder, mas uma consolidação de interesse s das mais variadas unidades ativas de alcance transnacional, qua is sejam, Ongs, governos subnacionais, igreja, empresas multinacionais e transnacionais e o próprio indiv íduo. O surgimento desses, em face da globalização, acalenta a esperança de mudança do sistema internacional, pois a maioria dos Estados desenvo lve uma polít ica exter na reativa com o intuito único de manter ou melhorar seu status quo. E ainda, apresenta como motivação uma vontade política estritamente singular/personalizada, ou seja, trata-se de um vínculo entre as raízes nacionais, representadas pelo aspecto volitivo do grupo situação de poder, e a medida internacional, mais uma indicação da importância das condições endógenas na justificação da po lítica externa. Tendo em vista o exposto, como con seqüência das vicissitude s internacionais contemporâneas surge o tema paradiplomacia frente à valorização do endógeno. Por co nseguinte, demonstra-se nesta pesquisa que não basta a indicação de uma simples causa para justificar uma determinada política externa. A única forma de compreendê-la é através da combinação do externo com o interno, considerando tanto o estrutural (variáv eis estáticas e perenes) quanto o conjuntural (variáveis provisórias e dinâmicas) como modelo causal explicativo. A intenção de um estudo comparado de dois municípios reforça o destaque dado ao endógeno, pois se existisse uma espécie de blueprint, fórmula precisa, bastaria a plicá-la em qualquer grupamento de Estados, independente da singularidade de cada um. Logo, com fatores nacionais fa z nascer o mo vimento subnacional de política 24 externa peculiar e específica em cada Estado e variáve l em se u interior. Dentro do Mercosul a paradiplomacia passa a ser desenvolvid a por uma série de fatores. Como não há hierarquia entre eles, analisarse-á de uma forma não taxativa /exau stiva os que, por serem de maior destaque, condicionaram e ainda condicionam a po lítica externa mercosulina. Há o regime condicionante do de governo, processo de ou seja, integração a democracia regional via com o governos subnacionais. As condições físicas do Brasil, assim também como a da maioria dos países sul-americanos desde a época de Símon Bolívar, motivaram a busca de uma integração reg ional p or terem a consciência de serem espaços menos interessantes do ponto de vista estratégico e econômico. No caso específico ora analisado, até por uma tendência das relações internacionais hodiernas, a contigüidade geográfica agiu como um pólo de aproximação de perspectivas de cooperação e intensificação de trocas. Algo conven cional nesses tempos, já que o convívio fronteiriço desde das épocas remotas apresentou-se conflituoso (ex: contrabando, migração clandestina) por isso a maioria das políticas externas eram lim itadas ao espaço regional da vizinhança. Ao longo de toda a história da humanidade a posse da terra sempre simbolizou d imensão de poder , daí a valorização da geopolítica que vincula a dimensão territorial ao r eal poder estatal. Por outro lado, com o fim do modificaram-se modelo e sino-soviético passaram a as demonstrar relações que as internacionais guerras por conquistas territoriais foram subst ituí das por batalhas de conquis ta de mercado. Trata-se da mercantilizaç ão das relações internacionais norteadas por princípios que regem o comércio, investimentos, moeda internacional e a integração econômica. Apesar desta nova formatação das relações internacionais d e valorização da potencia lidade econôm ica, a configuração territoria l do Estado ainda mensura o seu maior ou menor grau de autonomia 25 externa, ex: Estados muito pequenos tendem a ser dependentes dos que desfrutam de amplo território. No caso do Brasil, por ter dimensões continentais, apresenta desequilíbrios regionais também nas mesmas proporções. Isso exig e uma administração pública atenta à s especificidades locais (variável analisada através da comparação empírica entre dois municípios brasileiros, Ipojuca (PE) e Santo Andr é (SP)). Por isso, selecionam-se as variáveis “condições física s do Est ado” como de maior destaque, no caso do Brasil frente a integração do Mercosul. Esta revelará toda a dificu ldade e os motivos do país ter procrastinado a enxergar e reconhece r a existência at iva/viva de novos atores internacionais, como os municí pios. A partir do momento em que percebeu, por pressão (constraint ) que ao escutá-los estaria contribuindo para o processo de integração, o país passa a cogitar uma paradiplomacia. Toma-se o regime de governo brasile iro democrático, como um a variável de forte expressão no in ventário causal do movimento paradiplomático. Percebe-se que nu ma democracia abre-se espaço para que a política externa seja definida pelos mais variados fatores e não simplesmente pela vontade de uma única pessoa ou partid o político como nos regimes ditatoria is. A organização formal do Estado, ou seja, o modelo institucional adotado (independência entre os poderes 7) funciona como norteador do tipo e da forma de política internac ion al a ser desenvolvida, ou seja, se centralizada na figura única do Esta do soberano (países Unitários e Federados) ou não (movimento paradiplomático identificado em alguns países federalistas). Apesar de se afastar cada vez mais do caráter ideológico aproximando-se paulatinam ente da política de conveniênc ia e por isso se pressiona por mudanças. 7 O judiciário poderá declarar inconstitucional uma parte ou a totalidade de um tratado internacional firmado pelo Executivo. O Legislativo terá oportunidade de refutá-lo. Há, ainda, Estados que permitem que o Legislativo aprove parcialmente o teor de um tratado e indique ao Executivo pontos que deverão sofrer modificações. O embate que ocorre nos EUA em torno do fast track é um exemplo dessa situação. Aspectos abordados no estudo de Seintfus (2003). 26 O tema analisado aponta a filosof ia econômica liberal como responsável pela permissão da atuaçã o de novos atores, tais como, os municípios e intendênc ias, princ ipalm ente no que tange a elaboração da pauta e opções de política externa. Por tradição os partidos políticos tendem a se dedicar a política interna, já que seus eleitores são movidos ao atendimento de suas necessidades públicas imed iatas. Assim, se configurava até a op inião pública passar a atuar como um ator singularmente representado tanto nacional quanto internacionalmente. Logo, os partidos políticos, por uma questão de estratégia política, passaram a inserir no seu plano de governo questões decisivas para o cenário internacional, tais como: o ingresso ou não à Área de Livre Comércio da s América s – ALCA, sua postura frente à hegemonia norte-ameriacana ou a indicação de um Estado para a disputa de uma possível vaga de membro permanente sul-americano no Conselho de Segurança da ONU. Reporta-se ao condicionante cultura l relativo a qualidade d o Chefe de Estado que enxergou nos municípios e intendências a capacidade de ut ilizar sua voz ativa nas questões mundia is, principalmente no que tange o process o de integração regional. Logo, a partir das considerações feitas até então, pode-s e observar uma extrema confluência entre o endógeno e o exógeno . Mesmo assim, pela complexidade da s relações internacionais e pe la alta diversidade dos condicionantes do interesse nacional, convém buscar modelos teóricos de comprova ção de hipóteses como o do novo institucionalismo, ora utilizado, para explicar todo o itinerário d a decisão que legitimou a participação de entes subnacionais no cenário internacional mercosulino. Em face do caráter recente, é árdua a identificação de toda a cadeia causal que suscitou no movim ento paradiplomático. Reitera-se que não se defende a perda da titu laridade da Execut iva Federal, pois a diplomacia continua frente o processo de integração regional, mas, mostra-se inevitável cons iderar as ações subnacionais como 27 instrumento de consecução da integração tão almejada entre os países da América do Sul. O p r i n c í p i o f e d e r a t iv o r e a l iz a a a s p ir a ç ã o d a p a r t ic ip a ç ã o , c o n c i lia n d o - s e , e n tã o , c o m a s id é ia s d e m o c r á tic a s q u e p r e d o m in a m a t u a l m e n te . Q u a n to ma is p r ó x i mo d o c e n tr o d a s d e c is õ e s p o lí tic a s e s tiv e r o c id a d ã o , ma i s a c o mu n id a d e p a r t ic i p a d o e x e r c íc i o . L o g o , o p r i n c í p i o d a p a r t iç ã o p o l í tic a p lu r a l a p e r fe iç o a m a is fa c il me n t e c o m a d e s c e n tr a liz a ç ã o p o l í tic a , p e lo q u e s e fo r t a le c e o p r in c íp i o fe d e r a tiv o q u e a c o n t e mp l a , i n f o r ma n d o u m mo d e lo d e in s t it u c io n a l iz a ç ã o d o p o d e r s e g u n d o ta l p a r a d ig ma ( R O C H A, 1 9 9 6 , p .7 7 ) . Em outras palavras, a paradiplomacia no momento em que pressiona para um reconhecimento da descentralização do poder político internacional contr ibui para a democracia, pois aproxima o cidadão do centro das decisões extern as. 2.1 Fundamentos históricos do processo de integração regional na América do Sul O séc. XX marcou as relações internacionais por ter criado o conceito de multilatera lismo inst itucio nalizado, ou seja, atravé s de um tratado, constituía-se uma organização internacional autônoma dotada de vontade coletiva própria, onde os Estados associados se uniam com o ânimus da cooperação militar, política ou econômica. Essa onda convergente de cooper ação coletiva também se manifestou no Continente Americano nessas mesmas três vertentes, ex: OEA – Organização dos Estados Americanos (cooperação política), TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (cooperação militar) e econômica). MERCOSUL No – entanto, Mercado a Comum so cie dade do Sul internacional (cooperação americana, historicamente, foi marcada por uma grande desarmonia geo-política, onde, nem sempre, a boa vontade, boa fé, coordenação e a cooperação, princípios fundamentais n o contexto externo, nortearam as relações intergovernamentais nas Amé ricas do Norte, Central e Sul. 28 Mesmo tendo iniciado este processo de cooperação econômica juntamente com a maioria dos paí ses do mundo globalizado não podemos comemorar os resultados da vertente econômica de integração nas Américas. A hegemonia e onipresença norte-americana, oposições h istórica s entre países da América Latina (ex. Brasil e Argentina), dificu ldades estruturais e uma precária cultura política dos povos e das próprias instituições em certos países americanos, funcionam como inibidoras dessa integração econômica entre os Estados Americanos. No que tange à integração das Américas este movimento não é recente e parte não só dos Estados e Organizações Internacionais, únicos sujeito s legit imamente detentores de personalidade jurídica d e direito internacional, mas também de empresas multinacionais, transnacionais, Ongs, opinião pública e igreja. Dentre esses atores temos a opinião publica internacional que tem se mostrado como uma das mais fortes unidades de pressão. Um outro grupo de ator internacional ora chamado de igreja, ma s que pode ser qualquer manifestação transnacional organizada de fé, incute hodiernamente uma imagem m ais conflituo sa do que o aspecto solidário e integracional de tanta s missões humanitárias. Isso se dá em face de seitas consider adas movimentos paralelo s de atuação internacional que nem sempre agem de forma vinculada aos princípios norteadores responsáveis pela harmonia internacional. Mesmo assim, ao longo da história encontramos movimentos de solidariedade, cooperação e integração advinda da igreja, e no caso nas Américas. Um dos mais antigos exemplos de manifestação em prol da integração dos Povos e Estados amer icanos se deu através da igreja, mais precisamente da religião cristã. Há muito, a defesa desta integração continental foi registrada historicamente não apenas no cunho político, econômico e militar, mas o próprio cristianismo se revelou como um dos mais ant igos ato res internacionais neste processo (desde 1531). 29 Considerando a tradição católica, ainda muito ativa , principalmente a América Central e do Sul, destacamos a ingerência religiosa do cristianismo ne ste proc esso de integração cont inental através devoção da Virgem de Guadalupe, padroeira das Américas e que prega a união dos povos americanos. A força dos devotos de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira/Mãe das Américas, incutiu um pensamento de cooperação para uma união americana e tornou o seu santuário o mais visitado depois do Vaticano. Como as normas religiosas também modelam as relações sociais (principalmente na ausência de normas coercitivas), percebemos a intensidade da pressão internacional da igreja cató lica neste p rocesso de integração não só em assuntos econômicos, mas humanitários de harmonização e integração social. Apesar da iniciativa dos sujeitos de dir eito (Estados Americanos e Organizações Internacionais) e atores internacionais (Igreja, Empresas Multinacionais, Ongs e outros) pou cos exemplos de integração e cooperação econômica na totalidade d o continente americano pode ser registrado. A ALCA - Área de Livre Comércio das Américas, ainda não preenche os requisitos mínimos para ser considerada uma organização internacional de alcance continent al, por falta de aderência e principalmente em função da resistência dos países sul-americanos, ex : Venezuela; o NAFTA – Área Norte Americana de Livre Comércio, envolve apenas Canadá, EUA e México, somente o BI D- Banco Interamericano de Desenvolvimento, pode ser considerado um a organização internacional de alcance continental por atuar em todo o território americano. Em suma, há quem questione se as experiências de cooperação e integração apenas começaram na América Latina e que se trata de um processo de amplo alcance que iniciado por essa região vislumbrando uma evolução paulatina de integração que no futuro irá integrar todas as Américas. Será que os observadores internacion ais confirmarão no futuro a hipótese que só tivemos condições de integrar do Alaska à Terra do Fogo, por que, de uma forma estratégica, lenta e gradual, iniciamos por 30 uma união regional dos Estados da América do Sul, Central e por último do Norte, para só depois desses organismos devidamente institucionalizados e cumprindo suas finalidades de integração regional conquistarmos o alcance harmônico de uma organização internaciona l de alcance continental no Novo Mun do. Um exemplo desta hipótese seria a institucionalização da ALCA através do aproveitamento da estrutura da OEA, Mercosul, Pacto Andino, NAFTA, formatando num tratado único a primeira organização internacional de alcance continental das América s. A idéia de integração se disseminou por todo o mundo inserindose na agenda política contemporânea como condição essencial para a sobrevivência econômica na sociedade internacional. Ass im, de uma vez por todas, o caráter mercantil assumi o papel de norteador dessas iniciativa s. A relevância de sta matéria foi tamanh a que resultou na criação d e uma nova Teoria - a da Integração 8 e no surgimento de um novo ramo do Direito especializado neste processo - o do Direito da Integração. Apesar deste arcabouço teórico/legal o processo de integração requer uma análise bastante acurada, pois não existe um projeto pronto e acabado capaz de oferecer garantias de um resultado integrativo eficaz. Assim, o proce sso de integração de u m determinado grupamento de Estados só pode ser compreendido nas suas características e modo de funcionamento se analisar profundamente primeiro as sociedades que o idealizaram e, sem seguida, as razões que impulsionaram esta associação. O processo de regionalização na Am érica do Sul não começou com o Mercosul. Na verdade a integração econômica da América Latin a precedeu a própria integração da Co munidade Européia com os ideais revolucionários 8 bolivariano que contribuiu com o processo de Although functionalism and neofunctionalism have provided dominant theories that have shaped integrations studies, more recent work, as noted in this chapter, hás emphasized the interplay between supranational institutionalism and intergovernmental institutionalism. (DOUGHERTY; PFALZGRAFF JR, 2001). 31 independência de vários paí ses promovendo a integração econômica e cultural latino-americana. Como o nosso recorte espac ial de e studo para esta pesquisa se deu na América do Sul, exclusivam ente no que tange Brasil, não convém nesta fase analisar a Liga e Confederação Perpétua entre as Repúblicas da Colômbia, Peru, América Central e o México, nem a GrãColômbia unindo Colômb ia, Peru, Ve nezuela e Equador, instrumento decisivo ao alastramento do espírito in tegracionista. Tendo em vista o exposto, várias iniciativas envolveram o Brasil nas mais bem intencionadas propostas de integração. Em 1948, a Organização das Nações Unidas, através da Comissão Econômica para a América Latina, passa a vislumbra r uma possível união aduaneira latino-americana. Em seguida, surge a ALAL C (Associação Latino Americana d e Livre Comércio – Tratado de Montevidéu, 15 de fevereiro de 1960) entre Argentina, Bolí via, Brasil, Ch ile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela, com o objetivo de criação de uma zona de livre comércio entre seus membros num prazo máximo de um an o (prazo alterado para 15 anos após a assinatura da Declaração dos Presidentes da América, pois a meta s eria com este tempo alcançar um Mercado Comum). Não alcançando seu objetivo, surge a ALADI – Associação LatinoAmericana de Integração com o intuit o de promover o desenvolv imento econômico e social na região. Diante dos consecutivos insucessos de integração na América Latina temos que, na década de 90, os presidentes da Argentina e Brasil, assinam a Ata de Buenos Air es institucionalizando o Mercado Comum Bilateral até 31 de dezembro de 1994 (reduzindo a metade os prazos acordados no Tratado de 1988). Com isso, em 26 de março de 1991 é celebrado o Tratado de Assunção, entrando em vigor em 29 de novembro do mesmo ano e envolvendo a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Posteriormente, 25 de junho de 1996, ingressam a Bolívia, o Chile e o Peru como membros assoc iados (sem direito a voto) e, com o 32 objetivo único de integrar-se a esses países no que tange uma zona de livre comércio. Em seguida, precisame nte em julho de 2006, ingressa a Venezuela como membro pleno e ou tros como associados, a legando interesses meramente comercias, mas que na pessoa do seu presidente, Hugo Chávez, nota-se ta mbém a natureza política neste ingresso. Nasce o Mercosul com a fina lidade estampada no art. 1º. do Tratado de Assunção de estabelecer a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos; est abelecimento de tarifa externa comum; a adoção de política comercial comum em relação a terceiros Estados; a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais; a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais visando assegurar condições adequadas de concorrência entre os Estados part es; o compromisso de harmonizar as legislações nas áreas pertinentes , com o intuito de fortalecer o processo de integração. Trata-se de um processo de integração que envolve o comércio exterior, agricultura, indústria, moeda, troca de capitais, serviços, transporte e comunicações, por isso in ternacionalistas, tais como Paulo Roberto Almeida (1999), acredita que este bloco caminha em d ireção de um modelo comunitário, porém nas condições atuais, não v islumbrase tanto. Inicialmente a proposta era criar um M ercado Comum do Sul a ser construído em longo prazo, através de uma realização progressiva, e por isso percorreria paulat inamente as etapas do processo de integração convencional (zona de livre comércio, união aduaneira, união comercial, mercado comum, união econômica e monetária, união militar e união política) podendo alcançar o expoente máximo almejado, qual seja, o de mercado comum entre inicialmente Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e integracional prevê a posteriorme nte livre circulação a de Vene zuela. bens, Este capital, tipo trabalho, serviços e tecnologia (sem gravame alfandegário) e uma Tarifa Externa Comum (TEC), ex: art. 1º. do Tratado de Assunção. 33 Em 1986, os presidentes José Sarn ey (Brasil) e Raul Alfonsin (Argentina) passaram a firmar dezenas de acordos de cooperação econômica no intuito de crescerem juntos e por isso foram considerados os impulsionadores da in tegração platina. Apesar de serem con sideradas as políticas pública s mais estáveis, as inic iativas governament ais externas estão diretamente vinculadas à situa ção interna. Então a mudança de um governo representa uma variável extremamente significativa para a configuração de sucesso de uma política supranaciona l. Os president es Fernando Collor de Mello e Carlos Menem inic ialmente puseram em cheque a cont inuidade da cooperação sul-americana, mas geriram as questões internacionais de forma muito ousadas. Alargaram o blo co de cooperação, incorporando o Paraguai e o Uruguai, decidiram transformá-lo num Mercado Comum e para isso fixaram a data de 31 de de zembro de 1994 para alcançar os objetivos do Tratado de Assunção (de 26 de marco de 1991). Posteriormente, perceberam que apesar de terem pulado algumas etapas seria muito difícil cumprir os objetivos do Tratado constitutivo do Mercosul na data aprazada, as s im com o Cronograma de Las Lenhas, renova-se o conteúdo determinando que em 31 de dezembro de 1994, em vez de Mercado Comum o Mercosul se atingiria o patamar de uma perfeita Zona de Livre Comércio. Apesar de idealizado desde 1985 com as iniciativas de cooperação entre José Sarney e Raul Alfonsin, o Mercosul só passa a existir jurid icamente com o Protocolo de Ouro Preto (dezembro de 1994). Esta convenção jurídica pode ser considerada o primeiro instrumento legal impulsionador da paradiplomacia (em especial com a criação do Foro Consultivo), pois cria o modelo instituciona l do Mercosul. Inicialmente o Tratado de Assunçã o (26 de marco de 1991 ) vislumbrava um aparelhamento institucional próprio, com a possibilidade até de criação de um judiciário mercosulino (com juízes independentes), porém esta modelagem supranacional fora descartada. 34 Cria-se uma estrutura intergoverna mental para dar o suporte institucional responsável pela con secu ção das fina lidades do Mercosul. Inicialmente formada apenas por quatro órgãos, quais sejam, Conselho Mercado Comum, Grupo Mercado Comum, Comissão Parlamentar Conjunta e a Secretaria Administrativa. Posteriormente, o Protocolo de Ouro Preto (17 de dezembro de 1994) criou a estrutura considerada como definitiva do Mercosu l inserind o no aparelhamento instituciona l dois novos órgãos: a Comissão de Comércio (1994) e o Foro Consultivo Econômico. Assim, deposita-se inicia lmente na figura do executivo federal o arcabouço técnico/administrativo encarregado de refletir, estruturar e executar todas as questões relacionadas à polít ica externa mercosulina. Esta estrutura se revela precária e e ssa deficiênc ia ins tituciona l abre espaço para atores, como municí pios e intendências, aturarem no cenário internacional do Mercosul, atr avés de uma espécie de sind icato de municípios, chamado Rede Mercocidades. Uma outra razão da aparição dos municípios e intendências na s políticas externas do Mercosul se deve ao Protocolo de Ushuaia (BRASIL, 2001). Este instrumento jurídico transformou o bloco em análise num guardião da democracia, pois passou a prevê a suspensão do sócio em caso de ruptura institucional do Estado de Direito. Ora numa demos=povo, cratos=poder tem-se a obrigação de se empenhar em ouvir, com mais nitide z, a pressão popular quanto às necessidade s públicas. Pelo fato das políticas extern as se concentrarem na parte alta da federação, nem sempre elas atendem as necessidades do povo. Logo, com o Protocolo de Ushuia, o Mercosul deixa de ser uma organização internacional meramente econômico/comercial e passa a agregar também o valor político de defesa da democracia. Ass im, torna-se mais flexível na recepta ção d e iniciativas de polít icas externas não oriundas do executivo federal, tais como as paradiplomáticas. A lealdade democrática facilita a atuação do Estado no cenário internacional e os que a repudiam sofrem sanções de natureza econômica, política, podendo, em casos de não se curvarem a esta 35 principal corrente do cenário exter no, serem estigmatizados como Estados-párias, ou seja, situado s na contramão da política internacional universal. Apesar das deficiências inst itucionais, da mudança de t ipologia (de bloco econômico para político/ec onômico) o Mercosul demonstra um crescimento durante quase toda a década de 90. Com a crise da Argentina em 1999 o Mercosul enfrenta uma desestruturação gravíssima tanto na área social quanto institucional. O que acarreta em muitos observadores o sentimento de fenecimento de mais uma tentativa de integração sul-americana. É quando surgem as mais variadas propostas de reforma do cenário externo. A partir daí passa a ser pregada a democratização internacional forçando uma reestruturação do maquinário institucional que integrou os mais variados Estados Soberanos como mecanismo capaz de acarretar maior legitimidade às ações de blocos econômicos e/ou organizações internacionais. E dentre as propostas de mudança encontramos a descentraliza ção do exercício também da polít ica externa através da paradiplomacia. A assertiva de que um país federalista pode ter uma política mais centralizada do que um unitário se mostra verídica quando tomamos a questão da política externa no Brasil. Estados Federados, apesar do impulso dado pela globalização na última década do séc. XX ainda padece da ausência de vontade p olítica capaz de reconhecer as cidades como atores de decisão pa rtícipes de um novo modelo de elaboração de política externa. Não se trata de ausência total de reconhecimento, pois o sistema legal tanto interno quanto ex terno, ainda que de uma forma não ideal, começa a incent ivar, a participaç ão deste ente nas relaçõe s internacionais, ex: Rede Mercocidades . As condições físicas do Brasil representavam um condicionante impeditivo da integração mercosulina. Simp lesmente por que movimento paradiplomático, ao longo de todas as cidades brasileiras, se desenvolverem de uma forma assimétrica, ex: se compararmos 36 municípios do Nordeste (Ipojuca-PE) com outros do sudeste (Santo André). Em geral, somente as megacidades, tendem a desenvolver a paradiplomacia. Apesar de muitas já terem despertado para este novo filão, priorizam a política interna, pois está mais próxima das necessidades imediatas da popula ção. A circunscrição federativa permite que, em nome da união indissolúvel do Estado, seja criado liv remente um determinado tipo de sistema jurídico desde que respalde esta iniciativa. Podendo atribuir poderes às unidades federadas da maneira que melhor lhe aprouver. Defende-se que quanto mais descentr alizado, mais se aproxima a política do povo. Assim, a federação brasileira concedeu a s mesmas autonomias (política, administrativa e financeira) a todas as unidades da federação, porém como somente a União federal é dotada de soberania resguardasse a competência internacional ex clusivamente a ela. A federação americana não concede autonomias as suas cidades, assim questionam se o federalismo no Brasil não deveria dar-se por satisfeito com seus poderes e parar de pressionar por sua ampliação de poder. A resposta é negativa, pois a onda convergente de democracia nas relações internacionais corrobora com a disseminação da forma federalista de Estado cons iderada a mais democrática por ser a que mais se aproxima do povo através da descentralização. Trata-se de uma questão de estrat égia política integrada d a federação em prol de uma polít ica inte rnacional sustentada que de uma forma integrada tentaria alastrar-se envolvendo outras cidades e não apenas as megas. Assim, com o reconhecimento lega l destes novos atores as cidades passam a construir no se io de sua administração pública instituições, órgãos capazes de definir seu interesse regional. Por conseguinte fica, mais fácil articulá-lo e alcançá-lo. Trata-se do desenvolvimento de uma nova política sintonizada com as relaçõe s globalizadas. 37 A diplomacia das cidades (no caso do Brasil, com autorização ou não da Asses soria de Re lações F ederativas) existe e tendem a aumentar via o movimento organizado desses atores através de consórcios de municíp ios, frente de pr efeitos, confederação nacional de municípios ou de redes internacionais regionais como as Mercocidades no Mercosul. Fechar os olhos para essa realidade seria o mesmo que andar n a contramão dos seus próprios projetos de desenvolvimento econômico do país, pois a paradiplomacia oriu nda das cidades e intendências representa uma forma regionalizada de defesa do interesse nacional. É necessário entender que o interesse nacional é o somatório de todos os interesses específicos de cada região que pela própria filosofia federalista varia de estado a estado, de província a província, de município a município, de intendên cia a intendência. São as peculiaridades regionais, fruto da originalidade singu lar de cada região, que deve ser preservada. Para isso percebe-se a forte atuação da política interna para ma nutenção dessa heterogeneidade econômica, cultural, social de cada localidade combinada com parcas iniciativa s internacionais. A fórmula para uma maior percepção das necessidades pública s regionais não se deve pura e simplesmente à forma de Estad o federalista. Esta, apesar da sua organização e distribuição de poder, não garante a eficácia econômico-administrativa, mas funciona como instrumento capaz de me lhor aco modar as tensões já que tem mecanismos (via as autonomias concedidas constitucionalmente) de proteção das diferenças regionais. Por isso conc lui-se que a forma de Es tado realmente democrática busca dar expressão à pluralidade de interesses presentes na sociedade através da participação política. Com isso, a atuação municipal estaria legitimada. 38 3 O PROCESSO DE I NTEGRAÇÃO NO MERCO SUL VI A GOVERNOS SUBNACIO NAIS O Mercosul é um projeto muit o mais que econômico, principalmente agora com a entrada da Venezuela. Compreendê-lo requer uma análise do contexto multifacetado (político, econômico, social, jurídico e geográfico) das rela ções internacionais que precedeu o processo de integração econômico e político regional em todo o mundo. Todo fenômeno internacional requer uma interpretação multidisciplinar. Identificar a natureza e o vínculo entre a realidade endógena e exógena do objeto pesquisado se faz essencial em face da complexidade e extrema vitalidade d as relações internacionais pósguerra fria e pós-11 de setembro. O cenário internacional hodierno não é de compreensão simples. Com o término do enfretamento Leste e Oeste, equilibrado pelo terror bipolar da Guerra Fria, houve uma multiplicação de Estados, um aumento de conflitos locais e a reviravolta dada na sociedade internacional resultaram numa época de imprevisibilidade e incertezas. A partir desse período o mundo passa a pensar em mecanismos de cooperação coletiva para buscar uma sociedade internacional mais justa, estável e pacíf ica. Dos aproximados dez anos que separaram a queda do muro de Berlim à das Torres Gêmeas esse o bjetivo não foi a lcançado o que tornou as relações internacionais m uito mais complexas. Torna-se quase impossível não se inspirar nas escolas teóricas realista e pessimista baseada nas observações de Hobbes e Maquiavel (STEINFUS, 2003) de que o homem é um animal selvagem, de instinto belicoso e que necessita de um poderoso freio representado pela força da ordem para detê-lo. É neste context o que volta-se a repensar Kelsen (1944) e sua teoria de garantir a paz através do Direito (para ele somente a força da lei seria capaz de inibir a focar instintiva de destruição da natureza humana). 39 A Segurança Colet iva é o meio atual de se buscar a paz e esta não é só a ausência de guerra, mas a garantia de condições dignas de vivência e convivência através de reg ras internacionais de cooperação e manutenção de justiça trabalhista (OIT), comercial (OMC), saúde (OMS), monetária (FMI) e etc, pois não se admite a busca da paz for a do âmbito do multilateralismo, ou seja, seria um retrocesso à ordem internacional a defesa à supremacia d e um interesse nacional a serviço da segurança de um só país. Assim, observa-se uma cu ltura su pranacional de superação política de potência através de um consenso normativo elaborado a aproximados cinqüenta anos, porém ainda não adaptado aos novos fenômenos multilaterais internacio nais. Esses cada vez ma is demonstram a necessidade de uma jurisdição internacional obrigatória capaz de harmonizar as relações inter nacionais através da força. O Estado, desde a Paz de Vestefália, vinha ocupando o papel de protagonista e ator exclusivo na sociedade internacional, onde, em certos casos, ex. guerra e paz, a igreja, os senhores feudais e o sistema colonial, só atingiriam seu governamental, pois as relações fim por intermédio do poder internacionais lim itavam-se às relações interestatais (1648-1945). Neste contexto, o sistema internacio nal regeu-se de 1648 (final da Guerra dos Trinta Anos onde surge o Estado como ator inconteste nas relações internacionais) a 1945 (da paz de Vestfália onde se reconhece a soberania dos Estados e o princípio da igualdade jurídica entre eles) condic ionado ao desiderat o dos Estados líderes, detentores dos maiores recursos mundiais qu e através de sua hegemonia econômica dominaram e colonizaram v árias regiões do mundo. Com o surgimento do Estado nasce o capitalismo burguês atravé s do deslocamento do e ixo de produçã o econômica do campo para as cidades. Esse passa a ser desenvolvido de forma variável entre as unidades de poder, mas sem prejudicar a noção de unidade territorial (espaço físico onde o Estado e xerce s ua soberania). Até esta época, as relaçõe s interna cionais eram consideradas interestatais. Dominadas pela atuação exclusiva dos Estados, 40 funcionou dessa forma até tornar-se a partir do séc. XX. A partir daí passa a considerar novos atores, muitas vezes contraditos à vontade estatal, ex: Organizações Não Governamentais de alcance transnacional, que pela não participação de Estados é desprovida de autonomia/personalidade jurídica internacional e atua competindo com ele tanto no plano nacional quanto inte rnacional. O reconhecimento desses novos atores, assim como do processo de integração mundial nada mais são do que conseqüências da globalização mundial que rompe as barreiras estáticas das fronteiras estatais e tenta agrupar o mundo como um todo. Assim como os demais blocos econômicos, a estrutura do Mercosul se opõe, por ser de alcance regional, à pressão de um mundo globalizado. Com o fim da União Soviética as relações internacionais passaram a ser conduzidas pela Lex Mercatória e a partir dessa se dá duas interpretações distintas do cenário internacional. Os defensores argumentam ser este movimento positivo por internacionalizar a produção, liberalizar trocas, elimina r as distâncias, dentre outros motivos. Por outro lado, os opositore s temem que os Estados tenham sua soberania ameaçada, principalmente por que a globalizaçã o acarreta a perda da singularidade nacional pela massificação. Apesar de ter t ido seu expoente no final do séc. XX, a globalização ainda é uma realidade q ue justifica a s interdependências financeiras, comerciais, culturais e d e comunicação entre os Estados. Dentre essas realidades tomamos como objeto de análise o sistema do comércio internacional a partir de 1980 para registrá-lo como o ano que consolida de ve z o regionalismo come rcial (hoje marcado pela crise da multiplicação de acordos e b locos). O inserção Mercosul foi idealizado nas relaçõe s como internacionais um por instrumento enaltecer o de melhor mecanismo multilateral frente o individua lismo. Este, como a maioria dos atores de um processo de integração, foi constituído como um bloco de natureza econômica, porém com o tempo passa a se redimensionar através de uma nova estrutura organizacional que vise uma maior integração. 41 Como vantagem de alcance regional temos que quanto mais próximo os parceiros mais intensos serão a integração e a cooperação (é a geografia a serviço deste process o contrariando o legado históric o de que zona de fronteira é local conflit uoso). A teoria da integração busca explicar o fenômeno planetário que tem por objetivo a adoção de uma política comum que diminua os obstáculos entre as relações (geralmente comerciais) dentro da zona convencionada e uniformize as cond ições entre eles e terceiros que não fazem parte do b loco. Em suma, e les almejam a construção de uma nova realidade entre si e a diferenciam da vivenciada com terceiros. Continuam com a personalidade jurídica individual distinta da vontade coletiva dos Estado s associados, plen amente aptos a celebrar acordos bi ou multilaterais fora do bloco. Ainda de acordo com esta inferência, a aproximação entre Estados é pos itiva, po is demonstra uma empatia política conjugada, incrementa a produção, diminuindo o custo e tornando melhorando os recursos tanto a mais disponíveis, qualidade dos bens produzidos quanto a capacidade de in serção internacional. O incremento do intercâmbio intern acional em face de novo s atores transformou a antiga sociedade nacional numa economia transnacional. Este cenário abriu espa ço para a atuação expressiva de atores tais como as empresas transna cionais 9. Como essas não se limitam ao e spaço de suas fronteiras estatais passam a ser objeto de cobiça entre os Estados Soberanos de todo o mundo, pois as mesmas propiciam desenvolvimento econômico na região anfitriã. Esse tipo de empresa tende a se implantar em Estados que lhe oferecem mão-de-obra abundante, um bom número de consumidores, garantias de não-desapropriação e incentivos fiscais (ausênc ia de barreiras para transferência de lucros a outros países). 9 O termo transnacional se contrapõe ao multinacional, pois a nacionalidade de uma empresa esta diretamente relacionada ao local onde se estabelece sua matriz, mesmo possuindo inúmeras filiais espalhadas por todo o mundo ou controlando ações em empresas que desenvolvem sua atividade em mais de um país. 42 Assim, o Executivo Federal firma acordos bilaterais visando à promoção desses investimentos. Por precisarem da ratificação temos um congestionamento de pauta e por isso muitos empreendimentos são extraviados do solo naciona l pela mora institucional. O movimento paradiplomático prevê o exercício de uma polític a externa descentralizada. No caso específico ora pesquisado, os municípios, teriam legitimidade para tomarem a iniciativa política de negociação desse tipo de acordo e pressionariam o Congresso para uma imediata ratificação. Por estarem mais perto da sociedade civil, visualizam melhor a necessidade pública e atuam como objeto de pressão mais eficiente, pois são dotadas de maior condição para invocar a sociedade civil organizada a participar deste movimento; podendo ainda funcionar como mediador entre a empresa transnacional e o Estado hospedeiro. Através deste contato direto do g overno subnacional teria ma ior condição de apontar os pontos fracos do país e pressionar o governo central a tomar iniciativa s de maior eficácia. 3.1 Democratizando o Mercosul Faz-se lugar comum reconhecer o Mercosul não mais apenas como um acordo comercial. Além do que foi realizado na área econômica é visível também o processo de integração política e cultural 10, tão almejado historicamente. A inovação recai no reconhecimento de novos partícipes desta vontade política de cooperação ante s centralizada apenas na figura estatal central. A partir do séc. XX as aspirações h istóricas de cooperar para integrar a América do Sul devem ser somadas à participação at iva de atores oriundos da: sociedade civil organizada, outras unidades de 10 Municípios nomeados como Unidades Temáticas do Mercosul (2005). 43 poder, empresas multinacionais/transnacionais, igreja, opinião púb lica nacional (ouvida internacionalmente), ou seja, a pressão internacional por uma integração passa a ser mult ilateral 11 nos âmbitos nac ional e internacional. Esses espaço s de visibilidade internacional só foram possí veis d e serem concebidos aos novos atores e m função do caminho democrático que a América do Sul passou a percorrer, no caso do Brasil a partir de março de 1985. Há mais de vinte anos os civis reassumiram o poder brasileir o sucedendo um longo período ditatorial. Trata-se, juntamente com a Carta Cidadã de 1988 e a eleição direta de 1989, dos marcos mais significativos da redemocratização. O Estado Democrático Brasileiro está positivado no art. 1º. do texto con stitucional de 1988. Democracia, nos séculos V e I V a.C. era um regime de governo onde as decisões políticas eram toma dos pelo conjunto dos cidadãos, reunidos em assembléia. Neste o go verno do povo correspondia ao sentido literal (cada cidadão participa va diretamente das decisões de governo e os cargos públicos era m preenchidos por sorteio). Os brasileiros herdaram não só a palav ra, mas sentido de democracia como “a alma do povo”. O povo brasileiro comungava do mesmo desejo, qual seja, “que o país cuida sse de seus próprios problemas, que seria a única maneira dele poder servir a humanidade” (SCHUMPETER, 1984, p.34). Frente à problemática brasileira atual (tamanho do Estado Nacional, grande quantidade de estad os federados, índice elevado d e população – inviabilizando reunir tod o o povo numa só assembléia-, complexidade das questões governa mentais) este conceito grego de democracia mostra-se inaplicá vel. Um dos motivos de maior destaqu e que resultou na impossibilidade de uso desta definição, além da impossibilidade de reunir todo o povo em praça pública, se deve ao fato 11 Diferente da acepção do termo multilateral utilizado nas relações internacionais, a conotação usada neste trecho da pesquisa refere-se à pressão interna, ou seja, elementos endógenos de pressão justificando uma determinada política externa. 44 da democracia grega excluir a cida dania da maioria dos habitantes (mulheres, escravos, estrangeiros e cr ianças). Logo, se a experiência democr ática atual apresenta a incorporação crescente dos vários grupos sociais à cidadania como uma de suas principais características, a concepção antiga desse regime foi compelida a ser modificada. Nossas democracias d itas representativas são criticadas ao pont o de receberem a adjetivação de delegativas que segundo O’Donnell (1992), representa para o presidente a vantagem de não ter praticamente nenhuma obrigatoriedade de prestar contas (accountabillity) horizontalmente. Ela também tem a aparente vantagem de permitir uma elaboração rápida de políticas, mas à custa de uma alta probabilidade de erros grosseiros, de implementação incerta, e de uma altíssima concentração da responsabilidade pelos resultados no presidente. Não é de surpreender que esses presidentes sofram vertiginosas variações em sua popularidade: hoje são aclamados como salvadores providenciais, manha são almadiçoados como só acontece aos deuses caídos. Is s o a c o n te c e p o r q u e e s tá c a d a v e z ma is d if íc il g e r a r u ma v o n t a d e c o le tiv a p a r tin d o d e g r u p o d e p e s s o a s c o m p r e f e r ê n c ia s d i fe r e n c ia d a s . A d iv e r s id a d e d e in te r e s s e s é im e n s a , p o r ta n to , mo s tr a m - s e s i n e q u a n o n me c a n is m o s d e me d ia ç ã o p a r a e v i ta r c o n fli to s s o c ia is e s e a lc a n ç a r e /o u ma n t e r u ma u n id a d e m ín i m a o n d e in d iv íd u o s d e s ig u a is p a r t il h e m pelo me n o s de u ma ig u a ld a d e p o lí tic a . ( O ’D O N N E L L , 1 9 9 2 ) . Neste contexto, na metade do séc. XX, a teoria do economista austríaco, Joseph Schumpeter (1984), vincula a existência da democracia a eleições competitivas, ou seja, se o governo fo i eleit o pelo método eleitoral, é democrático, porém a qualidade da democracia representativa (que nem sempre expre ssa a vontade e os interesses do povo que o elegeu) pode ser variável. Em outras palavras, O’Donnell (1992), afirma veementemente que há de se considerar uma tipo logia de democracias, variável em função de fatores históricos de longo prazo e do grau de profundidade da crise sócio-econômica que certos governos recentemente carregam como legado, conclui o autor citado. democráticos 45 Assim, por ser considerada poliarquia na linguagem de uma democracia recente (ou Dahl (1 997), o Brasil, a inda padece de variações de representatividade intern a, de fragilidades institucionais e de um legado autoritário que o to rna um Estado de Democracia delegativa e não representativa. Gostaria de reservar o termo “democracia” para um sistema político que tenha ,como uma de suas características, a qualidade de ser inteiramente, ou quase inteiramente, responsivo a todos os seus cidadãos. A esta altura não devemos nos preocupar em saber se este sistema realmente existe, existiu ou pode existir. Pode-se, seguramente, conceber um sistema hipotético desse gênero; tal concepção serviu como um ideal, ou parte de um ideal, para muita gente. Como sistema hipotético, ponto extremo de uma escala, u estado de coisas delimitador, ele pode (como um vácuo perfeito) servir de base para se avaliar o grau com que vários sistemas se aproximam deste limite teórico (DAHL, 1997). Apesar deste rótulo, os constraint internos dos representados passam ser ouvido por seus represent antes através tanto da soc iedade civil (ex. Ong s.) quanto do próprio governo (ex. Orçamento Participativ o de certas prefeituras, ex: Prefeitura Central de Recife em 2006) envolvendo também tanto políticas pú blicas internas quanto externas. A partir do fato acima, pelo menos no ponto de vista formal, percebesse que a democracia brasileira está avançando, pois além d a participação da sociedade civil nas políticas públicas (nacionais e internacionais) temos que os poder es executivo e legislativo são preenchidos através de eleições de competição ampla (onde o sistema eleitoral de tão efica z é tratado como referencial internacionalmente), o direito de voto foi ampliado ao seu limite (concedendo esse direito a analfabetos e jovens entre 16 e 18 an os) e, ainda, existe a alternância de poder (apesar da possibilidade de r eeleição). Outra confirmação da evolução formal da democrática no Brasil se dá através da alternância de poder acontecer de forma pacífica 46 entre governante da situação e seu op ositor 12. Isso é positivo, mas nã o garante a continuidade das políticas in ternas e externas. Nacionalmente, pelo fato da esquerda atual brasileira ter concentrado seus esforços em justiça social e aceitado o modelo econômico vigente, não foi sentido muita diferença da política anterior. O que se mostra at ípico, fora do ordin ário, pois a tendência de um novo governante opositor personalizar sua ao antecessor política, é geralmente utilizar seu mudando mandato para profundamente o cenário interno. Já no aspecto da polít ica internacio nal a tendência se dá ao continuísmo, pois a própria sociedade internacional, independente do chefe de Estado, regime de governo, partido político cria espécies de requisitos de admissibilidade, onde ou o Estado se esforça para possuí-los ou está condenado à frieza periférica. A onda convergente que cobre as relações internacionais atuais ditam regras, tais como: multilateralismo, voluntarismo, respeito à s normas de direito internacional, inte gração econômica/política/social, solução pacíficas de controvérsias, segurança coletiva, respeito à opinião pública internac ional e repúdio ao individualismo. Tais tendências forçam tanto esquerda quanto direita a moderar em seus programas de governo, abandonando seus diferenciais. Apesar da redemocratização no Brasil, certos direitos, tais como os tributários, trabalhistas e previdenciár ios, tiveram que recuar para não prejudicar a competitividade (moment o em que a globalização engessa as políticas governamentais). Assim, até o poder de voto do cidadã o passa não mais a representar a vontade coletiva do interesse naciona l, pois não teria como aplicá-la. Neste contexto, ao mesmo tempo em que parte da sociedade civil e do próprio Estado mostram-se inertes frente a um conformismo generalizado, outra parte revolta-se e passa a sugerir inúmeras propostas de transformação desta realidade. 12 O primeiro presidente eleito, Fernando Collor, era opositor do governo Sarney. Fernando Henrique, ministro de Itamar Franco, sucedeu Collor após seu impeachement e após dois mandatos foi substituído pelo seu opositor Luiz Inácio Lula da Silva. Todas as transições foram pacíficas. 47 Essa vontade de mudança in stituciona l, em especial nos casos d e política externa, passa, apó s o séc. XX, a ser ou vida com mais força em função do somatório de vozes dos novos atores internacionais (unidades de poder estatal desprovida de personalidade jurídica de direito internacional organismos (estados-federados, internacionais, empresas distritos e município s), multinacionais/transnacionais, Ongs, indivíduo, igreja). Dentre esses atores, destacamos nesta pesquisa as chamadas unidades subnacionais de poder municipal. Desprov idas de personalidade jurídica internacional começam a ter visibilidade no plano internacional como um mecanismo de resposta às demanda s populares. Não se trata de negar as conquistas democráticas brasileiras, mas o regime, embora nascido de e le ições competit ivas ( Schumpeter), parece incapaz de responder às demandas do povo. Por conseguinte, a natureza do mesmo compele a mudanças institucionais em prol da soberania popular (ex. Rede Mercocid ades). Por este motivo, nasceu a paradiplomacia, permitindo a participação subnacional no cenário in ternacional através desses novos atores, em especial dos municípios, objeto desta pesquisa. A permissão à inserção d ireta 13 desses n a elaboração da polít ica externa não se deu como mecanismo genuíno e altruísta de melhor e xercer o demos(povo) crato (poder), ou seja, o poder do povo. Ao contrário, essa abertura se deve à apatia frente a volonté générale (SCHUMPETER, 1984). Como conseqüência, encaram-se, nos tempos atuais, a filosof ia da democracia adotada no séc. XVIII como mera ficção. Os paises utilitaristas da doutrina democrática deixaram de ver a importância disso simplesmente porque nenhum deles considerou com seriedade qualquer mudança substancial na estrutura econômica e nos hábitos da sociedade burguesa. Enxergavam pouca coisa além do mundo do comerciante de ferro do século XVIII. Apesar do reconhecimento da participação desses novos atores ter acontecido no séc. XX, a quebra do paradigma democrático 13 Fórum Consultivo Econômico e Social do Mercosul. 48 romântico de alma do povo fora de scartado pelo novo con ceito de volonté générale criado pelos utilitaristas ainda no séc XVIII (SHCUMPETER, 1984). A partir desses, a vontade do povo deriva-se da vontade dos indivíduos e essas devem ser unifica das e soldadas através de uma discussão racional. Inspirada neste novo conceito de democracia é que organizações internacionais, como o Mercosul, criam mecanismos institucionais 14 para ouvir os dese jos ind ividuais des ses novos atores e sanc ioná-los através de razões utilitárias. Com este pensamento, Katzenstein (1996) afirma sobre new regionalism: Th e n e w r e g io n a l is m c r e a te s l o c a l p r o c e s s e s o f p o l it ic a l mo b il iz a ti o n a n d d e mo b i liz a t io n a r o u n d in t e r n a ti o n a lly a n d r e g io n a lly , in d u c e d p o li tic a l s tr u g g le s o v e r p o w e r , ma r k e ts , a n d id e n t i tie s . Th e in te r s e c ti o n s o f g lo b a l a n d lo c a l p r o c e s s e s a n d th e c o n n e c t io n s b e tw e e n r e g io n a l c o n t e x ts a n d n a t io n a l s ta te s ma y g iv e u s a s e n s e o f s o me o f t h e n e w ly e me r g in g p r o c e s s e s a n d s tr u c t u r e s a s w e w it n e s s t h e c o ll a p s e o f s o me o f th e o ld . Assim, a fragilidade política ins titucio nal democrática e o repúdio à centralização, herdada do regime autoritário brasileiro, conferem à variável regime de governo democrático condição essencial para a prática e desenvolvimento da paradiplomacia. 14 Fórum Econômico e Social do Mercosul. 49 3.2 Relativização do conceito hobbesiano de soberania a parti r do exercício da paradiplomacia D e o u tr a ma n e ir a n ã o h á q u a lq u e r o u t r o Es ta d o c u j a s o b e r a n ia r e s id a n u ma g r a n d e a s s e mb lé ia q u e n ã o s e e n c o n tr e , q u a n to à s c o n s u l ta s d a p a z e d a g u e r r a e q u a n to à fe i t u r a d a s l e is , n a me s ma s it u a ç ã o d e u m g o v e r n o p e r t e n c e n te a u ma c r i a n ç a ( H O B B E S, 2 0 0 6 ) . Thomas Hobbes em sua obra Leviatã (1651) fundou uma filosofia política construída através da visão racional da sociedade. Nessa explicou o poder absoluto dos soberan os e sobre isso defendia: O ú n ic o le g is l a d o r é o s o b e r a n o e m to d o s o s Es t a d o s , s e ja o Mo n a r c a o u o Pa r l a me n to . O s o b e r a n o d e u m Es ta d o n ã o s e e n c o n tr a s u je i to à s s u a s p r ó p r i a s le is c iv is , p o is te m o p o d e r d e fa z ê - la s e r e v o g á - l a s q u a n d o c o n v é m . Al é m d is s o , a p r á t ic a e o c o s t u me , s ó tê m v a l id a d e e n q u a n t o o s o b e r a n o n ã o s e ma n i fe s ta ( H O BB E S , 2 0 0 6 ) . Um soberano poderia ser uma pesso a ou um grupo de pessoas, eleitos ou não, mas o pensamento hobbesiano defende a monarquia, sem a presença concomitante de um Parlamento, como a melhor forma de governo, pois esse existindo dividiria o poder com o Leviatã, levando a sociedade ao caos civil. D o s p o d e r e s h u ma n o s o m a i o r é a q u e l e c o mp o s t o p e lo s p o d e r e s d e v á r i o s h o m e n s , u n id o s p o r c o n s e n t i me n to n u ma s ó p e s s o a , n a tu r a l o u c iv i l , q u e t e m o u s o d e t o d o s o s s e u s poderes na dependência de s ua vontade. É o caso do poder d e u m Es ta d o ( H O B B ES , 2 0 0 6 ) . A justificação de Hobbes para o poder absoluto é estritamente racional e utilitarista. Em todos os seus dizeres ele se afasta da religiosidade, do sentimentalismo, da origem divina do poder quebrando assim com todo o modelo político e m oral da Idade Média (por isso que seus escritos demoraram tanto a serem aceitos). Este pensador aproximava-se de Nicolau Maquiavel (2006) quando, na visão pessimis ta, alegava ser os seres humanos egoístas 50 por natureza e por isso necessitaria m de um soberano (Leviatã) que punisse aqueles que não obedecesse m ao contrato social 15. A existên cia de um pacto socia l entr e o indivíduo (egoísta) e o Leviata (Estado soberano) foi a grand e inovação trazida por Hobbes à estrutura de uma sociedade organizada. Hobbes enxergava a soberania com o uma forma de projeção legítima do plano político baseado, exclusivamente, no individualismo filosófico 16. Neste o Leviatã dominava, sem concorrência, a infinidade de indivíduos, que substituem sua von tade individual em detrimento da vontade do soberano que devendo este em contrapartida garantir uma proteção eficaz. A ú n ic a fo r m a d e c o n s ti tu ir u m p o d e r c o m u m , c a p a z d e d e f e n d e r a c o mu n id a d e d a s in o v a ç õ e s d o s e s tr a n g e ir o s e d a s in jú r ia s d o s p r ó p r io s c o mu n ie r o s , g a r a n tin d o - lh e s a s s i m u ma s e g u r a n ç a s u f ic ie n te p a r a q u e , me d i a n te s e u p r ó p r io tr a b a l h o e g r a ç a s a o s fr u to s d a te r r a , p o s s a m a l im e n t a r - s e e v iv e r s a tis f e i to s , é c o n fe r ir to d a a f o r c a e p o d e r a u m h o me m , o u a u m a a s s e mb l é i a d e h o me n s , q u e p o s s a r e d u z ir s u a s d iv e r s a s v o n t a d e s , p o r p l u r a l id a d e d e v o t o s , a u ma s ó v o n t a d e ( . . .) Es ta é a g e r a ç ã o d a q u e le e n o r me L e v i a t a , o u a n te s – c o m to d a r e v e r e n c ia – d a q u e le d e u s mo r ta l, a o q u a l d e v e mo s , a b a ix o d o D e u s I mo r ta l , n o s s a p a z e d e fe s a . ( H O B B E S, 2006). Apesar de contrapor-se a filosofia política da Idade Média, Thomas Hobbes, tinha uma visão bipolar da sociedade. Concentrava num pólo a figura do indivíduo (ou da infinidade generalizada do s mesmos) e no outro, a do Leviatã (Estado). Nem a família nem gerações e gerações marcadas por uma potência hereditária, enf im nada, era considerado relevante na estrutura de uma organização social que não as duas partes do contr ato social. Em sua obra “O Leviatã ou matéria, f orma e poder de um Estado eclesiástico e civil” (título original), e le chega até a expôr sua crítica a qualquer mecanismo de densidade social, de sociabilidade natural do homem, ao seu inst into comunitário e solidário e, principa lmente, à necessidade de participação do ind iví duo combinada com as açõe s do Leviatã. 15 A idéia de contrato social é iniciada por Thomas Hobbes, mas Jean Jaques Rousseau é quem escreve a obra O Contrato Social. 16 No individualismo filosófico o valor absoluto é conferido à vontade individual. 51 Assim, são totalmente estranhas ao pensamento hobbesiano as iniciativa s de atores não soberanos participarem da elaboração de políticas públicas sejam nacionais ou internacionais. Em suas palavras ele argumenta: “são pequenas repúblicas nos intestinos de uma maior, como vermes nas entranhas de um homem natural”. (HOBBES, 2006). A teoria hobbesiana enxerga o poder não simplesmente como um fenômeno de força, mas de uma potência institucionalizada através de um direito positivo que legit ima o cont rato social centralizado na figura do soberano. Trata-se da primeira teoria moderna de Estado, mas que passa a ser relativizada pela inconformação dos novos atores (pós- globalização) por não terem suas nece ssidades públicas a tendidas. Põe-se em choque o abso lutismo po lítico de Hobbe s versos a onda convergente da dissipação universal da democracia, ou seja, há muito mais atores entre o indivíduo e o Leviatã que a “vã” filosofia hobbesiana desconfiava. Deste choque percebesse que a consideração da densidade social, assim como sua necessidad e de participação nas políticas públicas desses novo s atores, não pode mais ser comparada a iniciativa s de pequenos vermes nas en tranhas de um homem natural. É quando o conceito hobbesiano de soberania passa a perder visibilidade por ser incompatíve l com ao processo democrático atualmente considerado como o pior r egime de governo, com e xceção de todos os outros 17. A partir deste pensamento e diante d o mundo globalizado chegase a vislumbrar, como Bobbio: Matteucci e Pasquino (1995), o fim da própria soberania dos estados nacion ais. Hipótese remotíssima frente ao sistema mundial de direitos que reconhece a soberania como elemento essencial do Estado 18 para exercício de um governo, somando-se a esse o elemento pessoal (povo) e o espacial (território). 17 Frase do ex-estadista inglês Wiston Churchill (1874-1965). A Convenção Panamericana de Montevidéu de 1933 sobre Direitos e Deveres dos Estados, promulgada pelo Brasil (decreto no. 1.570 de 13.04.1937) reza que: “O Estado, como pessoa de Direito Internacional, deve reunir os seguintes requisitos: a) população permanente; b) território 18 52 A processo de relativ ização do conceito de soberania não inicio u a partir do século XX. Tivemos em 1762 a concepção de soberania Rousseauniana que em sua obra O Contrato So cial transfere a titularidade da soberania do governant e para o povo. Com isso, ainda que de uma forma incipiente, dá margem a o nascimento do movimento paradiplo mático. Jean-Jaques Rossueau viveu o fenômeno da democracia direta e por isso vinculou o conceito de soberania à expressão da vontade geral, interesse comum ou bem comum (ROUSSEAU, 1996). Por julgar a soberania inalienável e indivisível, a teoria de Rousseau mostra-se também ultrapassada frente à globalização. Não do ponto de vista do formal, do dever ser, mas na ótica do ser. Este fenômeno do século XX veio para redefinir uma série de conceitos dentre eles o de soberania , já que a ingerência de certo s organismos internacionais, na prática, é tamanha que passa a tornar a soberania vendável. Assim também, com a mundialização, a soberania centralizada esta cada vez mais afastada do ideário democrático genebrin o (Rousseau) de indiv isibilidade. Este d efende que a vontade soberana é representada pela participação de tod os, não sendo necessário, porém, a unanimidade, mas todos os indivíduo s. Como Rousseau defende que a soberania ideal deve ser indivisíve l e inalienável percebemos que frente à globalização este conceito está cada vez mais impraticável, apesar de ser tratada como um princípio norteador do sistema regulador internacional. Diante disso, a sociedade g lobaliza da começa a construir u m novo conceito de soberania preve ndo: os limites de ingerência internacional em assuntos domésticos para evitar a alienação empírica da soberania (ex. Recomendações das Organizações Internacionais) e a descentralização da competênc ia int ernacional, antes exclu sivamente focada no governo central, permitindo a real participação de todos os determinado; c) governo; e d) a capacidade de entrar em relação com os demais Estados” (que seria através do poder soberano). 53 atores (antigos e novos) como legítimos representantes da vontade do corpo inteiro do povo. Assim, os teóricos contemporâneo s passam a repensar a soberania e/ou centralização de poder nos regimes democráticos, chegando a conclusões tais como a de Diniz: E m c o n tr a p o s iç ã o à s in te r p r e ta ç õ e s d ic o tô mic a s , p a r e c e - me ma is a d e q u a d a u ma p e r s p e c tiv a q u e in te g r e o s d o is p l a n o s da a n á lis e , a s s o c ia d o à d i me n s ã o e x te r n a os c o n d ic io n a me n to s in t e r n o s r e l a c io n a d o s a c o r r o s ã o d a o r d e m p r e g r e s s a . Po r e s t a r a z ã o , o d e s c o mp a s s o e n tr e o Es ta d o e a s o c ie d a d e s it u a - s e n o c e r n e d a p r e s e n te c r i s e . O h ia to e n tr e u m a i n s t i tu c i o n a li d a d e e s ta ta l r íg id a , d o ta d a d e fr a c o p o t e n c i a l d e i n c o r p o r a ç ã o p o lí t ic a , e u m a e s tr u tu r a s o c ia l c a d a v e z ma is c o mp le x a e d if e r e n c ia d a e x a c e r b o u a s te n s õ e s lig a d a s a o p r o c e s s o d e mo d e r n iz a ç ã o . In s ta u r o u - s e u m s is te m a mu l t if a c e ta d o e m u l ti p o l a r d e r e p r e s e n ta ç õ e s d e in t e r e s s e s , a tr a v é s d o q u a l a s o c ie d a d e e x tr a v a s o u d o a r c a b o u ç o i n s t i tu c i o n a l v ig e n te , i mp lo d in d o o a n t ig o p a d r ã o c o r p o r a t iv o d o Es ta d o s o b r e a s o c ie d a d e ( SA N TO S , 1 9 9 7 ) . Neste contexto, para a lcançar o b em comum ou a volont é générale após o surgimento da globalização, ou até mesmo para tentar fazer valer a acepção clássica de sob erania popular de Rousseau após o séc. XX, somente reconhecendo os mecanismos de part icipação d o indivíduo na consecução das políticas públicas tanto nacionais quanto internacionais. Diante disto, torna-se inevitável o reconhecimento do movimento paradiplomático tanto do ponto de v ista prático quanto legal (formal). Não se vis lumbra a hipótese da perd a da soberania estatal, mas, em nome desta, já que a partir de Rousseau ela se transfere do Leviatã para o povo, pressiona-se por uma permissão formal para a atuação combinada de todas as un idades de poder estatal no cenário e xterno, especificamente, dos governos munic ipais. 54 3.2.1 Neocolonialismo X Neofederalismo X Neofeudalismo como conseqüência da paradiplomacia A dimensão bicontinenta l das re lações internacionais fo i estabelecida com o processo de inde pendência das treze colônias d a América do Norte (4 de julho de 1776) que criou os Estados Unidos da América rompendo o víncu lo ing lês e compelindo o mundo, particularmente a Europa, a um novo modelo político e administrativo estatal, qual seja, federalista, republicano e anticolonialista. Neste contexto, após a Segunda Gu erra Mundial, Washington e Moscou dominaram o cenário internacional impondo modelos opostos de organização estata l e equ ilibrando este dis senso através do temor, pois receavam declarar uma guerra direta em função do desencadeamento de um conflito nuclear, assim Ramond Aron dizia ser na época “a paz impossível e a guerra improvável”. A partir do processo de de scolonizaçã o percebe-se a ascensão n a agenda política do tema desenvolvimento econômico em detrimento das questões securitárias. O novo modelo institucional do Estado Norte Americano impeliu a independência d a maioria das colônias Européias a partir do séc. XIX, porém chegando ao séc. XX, com a adoção do multilateralismo percebe-se uma nova dinâmica associativa de Estado s independentes através das organizaçõ es internacionais. Já não bastava a legitimação individualista frente ao coletivo internacional na figura do Estado sob erano autônomo e independente, eles queriam contemplar suas asp irações econômicas atravé s do quantitativo numérico de Estados soberanos reunidos de uma forma cooperada por uma mesma finalidade. Isso se deu já que a independência n o plano jurídico através de normas como igualdade entre os Estados e a não intervenção em assuntos domésticos eram manifestas, porém não escondiam a dependência política e econômica do continente Sul para com o Norte. Estabeleciam-se Estados eram metrópoles entre eles constituídos (recolonizarão) rela ções como que clientelistas patrimônio canalizavam onde os reservado recursos novo s das públicos exe 55 privados para ajuda internacional (esmola), daí a denominação de Estados débeis ou quase- Estados. É quando em 1960 a ONU através da sua Assembléia Geral, adota a resolução no. 1.515 (Ses são XV), no intuito de, in verbis: “ acelerar o progresso econômico e social dos países pouco desenvolvidos” e elegendo está como a Década do Desenvo lvimento, cria órgãos vinculados a sua Assembléia Geral, tais como a Conferencia das Nações Unidas par a o Desenvolvimento (Unctad) e Programa das Nações Unida s para o Desenvolvimento ( Pnud) no intuito de pensar o desenvolvimento baseado nos princípios da soberania, igualdade e solidariedade proporcionando o acesso ao mercado e recursos financeiros/tecnológico s. Mesmo reunidos em blocos contine ntais sempre foi notório o fosso e a dependência entre os países abastados e os desprovidos (pobres). Mesmo assim, não se con ce be a volta dos ideais norteadores do Movimento dos Não Aliados (espécie de sindicato de países pobres) que eram anticolonialistas e defendiam, no plano moral e ideológico, o afastamento da política de bloco s, pois as nações dever iam desempenhar seu papel de forma in dependente já que eram contra todas as formas de hegemonia seja po lítica ou econômica. Este movimento fora extinto frente às dissensões internas, mas principalmente com o término da bipolaridade, uma nova realidade abre possibilidades de uma cooperação, integração e globalização econômica entre nações de todo mundo e não mais entre dois eixos. A universalização das relações int ernacionais se concretizo u efetivamente na segunda metade o séc. XX. A partir do processo de descolonização, o fim da União So viética e a crise dos Bá lcãs o número de Estados prat icamente triplicou (de cinqüenta para quase duzentos) e é quando surgem as Organizações Internacionais como mecanismo institucional de integração universal, seja econômica, securitária, política e etc. Percebe-se que com o advento da Guerra Fria os conflitos internaciona is deixaram de s er ideológicos (já que os líderes mundiais são os EUA (unipolar) impondo seu modelo capitalista e de democracia formal, já que o marxismo só subsiste na Coréia do Norte e 56 Cuba, pois China e Vietnã pratica m o capitalismo) e nucleares, características da segunda metade do séc. XX, para retornarem à origem clássica em que a his tória, economia e geografia desempenharam um papel preponderante. É neste contexto que surgem as Organizações Internacionais de concertação buscando uma harmonização universal. Apesar da proposta formal das Organizações Internacionais se basearem em princípios da igualdade entre Estados, não intervenção em assuntos domésticos, coordenação e cooperação, o mundo se vê diante de um movimento que pode ser considerado um Neocolon ialismo voluntário, ou seja, Estados Soberano s, alguns dotados de c ivilizações avançadas são internacionais dominados e/ou Estados pelo colonialismo poderosos que lhe das organizações impõem valore s econômicos, culturais, sociais e ide ológicos no intuito de moldar o mundo a uma só imagem. Parece contraditório defender este pensamento, já que se inserindo voluntariamente numa organização internacional onde todo s os Estados-membros devem cooperar para a consecução da finalidade comum ainda assim, em ca so de discordância, é facultado ao Estad o emitir reserva sobre certas cláusulas. O termo, neocolonialismo voluntário, se mostra coerente quando se observa o plano do ser e não do de ver ser. Nesta ótica quest iona-se até que ponto esse voluntarismo associativo foi genuíno já que o multilateralismo é lugar comum na sociedade internacional quando repudia o individualismo/isolacionismo e os Estados se sentem jungidos a participar de organizações internacionais e blocos econômicos para não ficar para traz na política internacional; e ainda, até onde a ingerência política dos demais Est ados-membros e/ou da própria vontade coletiva da Organização, feita através de pressão internacional (que busca consenso), compele à aceitação/ratificações de tratados, resoluções, convenções, regulamentos , recomendações e etc. Isso acontece por que a vontade coletiva de uma Organizaçã o Internacional independe da vontade isolada do Estado-membro e por isso a relação entre a criatura e os criadores são deveras conflituosos. 57 Ainda mais por que o modelo antigo de realidade internacional ainda não desapareceu completamente e o novo, pós-guerra fria desafia, já que ainda não conseguiu se firmar. Apesar disso, demonstra guiar-se por parâmetros como manutenção da paz e segurança internacional, defesa do meio ambiente, respeito aos direitos humanos, nac ionalidade e integração econômica regional. O processo de dominação de um grupo sobre outro não é um fenômeno internacional recente, porém o tipo mercadológico de subjugar é inusitado e desenvolvido através não mais apenas da persuasão e força armamentista, mas pela demonstração de um outro tipo de força e convencimento, qu al seja, a econômica (pressão econômica). A extraordinária superioridade quanto à capacidade econômica e bélica dos Estados Unidos demonstra a assimetria nas relações internacionais. Apesar da transnacionalização de interesses e dos inúmeros atores ora reconhecidos a sociedade internacional ainda gravita ao redor da estrutura hegemônica unipolar norte americana. É notório que tanto o surgimento quanto a eficácia de uma Organização Internacional decorre de iniciativa s de força dos Estados. Do momento da constituição, passando por todos os atos legais adotados posteriormente, a vontade c oletiva deveria ser da to talidade (maioria quantitativa (simples, qualificada), qualitativa ou mista), mas nem sempre o é. Assim, tanto o hemisfério Norte como o Sul, defendem uma profunda transformação institucional deste novo ator, pois argumenta que Organizações Internaciona is atualmente funciona como uma forma de institucionalizar e conceder le gitimidade a uma hegemonia consensual (neocolonialismo voluntár io). Não seria um problema se esta liderança pelo consenso representasse a ideologia da organização internacional agindo, de uma forma autônoma, como sujeito de decisão. O imbróglio se dá, po is muitas veze s a ideologia de certos atores, determinados Estados-membros é que prepondera. As relações internacionais, apesar de não possuírem um legislativo supranacional comum a tod os os Estado s, regulam-se pelos mesmos princípios jurídicos, tais como o da coordenação. Est e 58 norteador reforça que não existe , na ótica jurídica, um Estado mais soberano que outro pelo fato dessa sociedade ser descentralizada. Assim, exige-se primeiramente para a adesão a uma Organização Internacional o exercício da soberania primária. A partir da const ituição deste Organismo Internacional este passa a representar a vontade singular da própria criatura e não mais dos criadores isoladamente. Por outro lado, quando se analisa além do caráter institucional e por traz do processo decisório no âmbito de uma Organização Internacional percebesse os embates que se travam entre os Estadosmembros praticando uma espécie de lobby chegam a criar instâncias d e convencimento, ex: instancia P3 e P5 do Conselho de Segurança da ONU, onde na primeira EUA, Inglaterra e França se reúnem buscando uma decisão comum, depois na segunda, parte para convencer China e Rússia, para somente depois levar a questão para os demais membros não-permanentes do Conselho. Este paralelo exemplificativo com a forma de negociação do Conselho de Segurança da ONU se faz necessário, pois ao longo de toda sua história o Mercosul aparent ou estar nos seus estertores por não existir uma relação coordenada entre seus membros. Essa Organização Internacional fun cionou sob os auspício s norteadores do Brasil (que se auto-intitulou liderança regional SulAmericana) ou da Argentina (que não reconhece a liderança brasileira), quando não acéfala, em face dos em bates históricos entre esses do is países. O Mercosul como um todo raras às vezes se apresentou de um a forma uníssona e das poucas vezes que isso aconteceu às questões diplomáticas eram de pouca relevância para os Estados-membros. Isso se deve simplesmente pelo fato de não existir uma economia nacional de supremacia mundial. Por isso as potencias hegemônicas tentam afirmar sua zona de influencia, é o caso do Brasil na América do Sul. Argumenta-se existir um neocolonialis mo, embora frágil, também no âmbito mercosulino quando a lide rança consensual polar izada nos dois paises (Brasil e Argentina) não considera a vontade genuína da 59 totalidade dos seus Estados-membros. Ficando impossível, devido a este pensamento, uma coesão sistêmica por conta do perfil hierárquic o de certos Estados. Repudiar o neocolon ialismo no merco sul não significa levantar a bandeira do formalismo conceitual do princípio da soberania estatal. Até por que o princípio da equidade é tratar os iguais de uma forma igual e os desiguais de uma forma desigual. Assim, se ex istem profundas desigualdades entre os parceiros (e este é o motivo que o fazem buscar uma associação) o processo de tomada de decisão coletiva atravé s d o consenso deveria expor essas desigualdades, representando um peso diferenciado entre os paíse s envolvidos neste processo atentos a cotejar os interesses individuais no intuito de harmonizá-los. O e x e m p lo d o V a tic a n o v e m a r e f o r ç a r a te s e d e q u e o s Es ta d o s p o s s u e m c o mp e t ê n c i a s v a r iá v e is . N o e n t a n to , e s t a c o n s t a t a ç ã o n ã o p r e ju d ic a o p r in c íp io d a i g u a l d a d e ju r íd ic a e n tr e o s Es ta d o s . P o s t o q u e , ta n t o d e fa to c o mo d e d i r e i to , o s Es ta d o s n ã o s ã o ig u a is , d i to p r in c íp i o s c o n s a g r a a ig u a l d a d e fo r ma l e n tr e a s N a ç õ e s . Is t o s ig n if ic a q u e t o d o s o s Es ta d o s te m a c e s s o , e m id ê n tic a s c o n d iç õ e s , a o s p r o c e d i m e n to s ju r íd ic o s in te r n a c io n a is . Q u a n d o d a c o n c lu s ã o d e u m tr a ta d o , p o r e x e mp l o , a v o n ta d e m a n if e s t a d a p o r c o n ta d a p a r te me r e c e ig u a l estatuto j u r íd ic o . M u i ta s vezes , nas o r g a n iz a ç õ e s i n t e r n a c io n a is , a d o ta - s e o p r in c íp io d e u m Es ta d o , u m v o to . N e s t e c a s o , o d e s e q u il íb r i o d o p o d e r p o l í tic o e e c o n ô m ic o e n tr e o s me mb r o s p o d e m c a u s a r a in e fic á c ia d a o r g a n iz a ç ã o , p o is a s m a io r e s p o tê n c ia s d if ic i l me n te p e r ma n e c e r ia m n u m o r g a n is mo o n d e fo s s e m o b r ig a d a s a a c a t a r d e c is õ e s to m a d a s ma j o r i ta r i a me n te p o r Es ta d o s q u e n ã o p o s s u e m c o n d iç õ e s d e i m p le me n t á - l a s . Po r o u tr o la d o , o p r in c íp io d a i g u a ld a d e fo r ma l n ã o r a r o s e r v e a p r o t e g e r Es ta d o s e m p o s iç ã o d e fr a q u e z a , q u e p o d e m r e c o r r e r a o s p r o c e d i me n to s in te r n a c io n a is me s m o e m o p o s iç ã o à s N a ç õ e s Po d e r o s a s . ( SEITENFUS, 2003). Este tipo de movimento acontece por que após a Segunda Guerra Mundial aumentou a quantidade de Organizações Internacionais (aproximadamente trezentos e cinqüenta) e com a inserção de novo s temas no cenário internacional, assuntos que antes eram tratados no cerne do Estado passam a ser objeto de discussão desse tipo de instituição internacional. Não seria ne nhum constraint se a ingerência entre as Organizações Internacionais e os Estados respeitassem tanto 60 no plano do ser quanto no dever ser os assuntos domésticos, pois a proposta deste ator é atuar como um instrumento complementar à ação estatal. Por outro lado, o que se enxerga é u ma ingerência variável, pois se o país é poderoso ela serve como mais um instrumento de ação externa; se intermediário, mais um r ecurso de administração pública (ex: ingerência do FMI nas questões da América Latina); e por último, se debilitado financeiramente, as Organizações In ternacionais funcionam como fator de sobrevivência. Este se revela o centro nevrálgico entre internacionais os estão Estados-membros, numa constant e pois busca do essas instituiçõe s aumento de sua autonomia e por isso põem em prova na mesma freqüência os princípios que sustentam a sobera nia dos Estados. É quando os Estados sentem-se ameaçados por um movimento de dominação similar ao colonialismo. No que tange o neofederalismo temos que a nova atuação dos governos subnacionais rompe o modelo estatal pós-vestifaliano de soberania absoluta e individualism o internacional e compele a sociedade internacional a repensar o papel perene do Estado qu e muitas vezes são reduzido s a me ros responsáveis em caso de conflitos, ex: a questão da cr ise entre Petrobrás e o governo boliviano em 2006. Outro ameaçador à soberania estatal se dá com o avanço da sociedade da comunicação que não r espeita nem as fronteiras nem a aduana estatal. A o r d e m b r a s i le ir a r e s tr i n g e à U n iã o a q u a s e to t a li d a d e d o tr a ta me n t o d a s q u e s tõ e s e x te r n a s . D e n a t u r a l c o mp r e e n s ã o n o p a s s a d o , é d e s e p e r g u n ta r a té q u e p o n t o e s ta a ti t u d e s e ju s t i fic a n a a t u a l id a d e . R a r a s s ã o a s C o n s ti tu iç õ e s q u e , a o a tr ib u ir a c o n d u ç ã o d a s r e l a ç õ e s e x te r io r e s à U n i ã o , me n c io n a m c o m o e e m q u e me d id a o s c o m p o n e n te s d a Fe d e r a ç ã o p o d e m p a r tic i p a r d a s e s c o lh a s d e p o lí t ic a e x te r n a , q u e o b v i a m e n te a f e t a m o s s e u s i n t e r e s s e s . A Áu s tr ia , a Bé lg ic a e a A le ma n h a c o n s ti tu e m u ma e x c e ç ã o , m a s s o me n t e n o e u a tin e à a p r o v a ç ã o d e tr a ta d o s i n t e r n a c io n a is . A L e i Ma io r d o Br a s i l n ã o c o n s a g r a s e q u e r e s t a h ip ó t e s e . Pa r a R e n a u d D e h o u s s e , a p e s a r d a s r e c o me n d a ç õ e s d e n u m e r o s o s e s p e c i a l is t a s e a r e iv i n d ic a ç ã o d e m u i ta s a u to r id a d e s r e g io n a is , a c o o p e r a ç ã o d o s Es ta d o s fe d e r a d o s p a r a a fo r mu la ç ã o d a p o lí t ic a e x te r n a é la r g a me n t e in fo r ma l , in c o n s ta n te e p r a g má tic a . D e h o u s s e s u g e r e , e n tã o , n e s te 61 c a s o , a a d o ç ã o d o p r i n c í p io d a s u b s id ia r ie d a d e . C o m a p r e o c u p a ç ã o d e g a r a n tir q u e o s Es t a d o s f e d e r a d o s . d is p o n h a m d e u m c o n tr o le d e f u n d o d e d iv e r s o s p r o b le ma s que são p r o l o n g a me n to s i n te r n a c io n a is de suas c o m p e tê n c ia s , a U n iã o d e v e a g ir a p e n a s n o s d o mí n io s e m q u e e l a e s tiv e r m a is b e m c o lo c a d a e u a s a u to r i d a d e s r e g io n a is , o u n o s c a s o s e m q u e a s ú l ti m a s n ã o d is p õ e m d e c o n d iç õ e s d e b e m c o n d u z i- lo s . ( SEITENFUS, 2003). A acepção orig inal do termo sober ania deriva-se das teorias absolutistas marcadas pela concentração de poder. Num primeiro momento pode-se vincular o conceito de Soberania à própria definiçã o de Estado (povo, território e governo) , porém a classifica ção moderna deste conceito requer a subdivisão em dois tipos uno e indivisíveis de soberania, quais seja, interna e extern a. A soberania interna é a exercida no interior do território do Estado (solo, subsolo, espa ço aér eo, mar territorial, embaixadas, consulados, aeronaves e embarcações) e restringe-se às fronteiras estatais criadas como limite material ao exercício e ordenação de poder. Por outro lado, a soberania externa reside no aspecto da atuação supranacional, ou se ja, dota o Estado de competência para manter relações independente. Nos internacionais moldes do de uma Estado forma autônoma e moderno, defende-se a personificação do poder através de en tes estatais como um mecanismo de direito neutro a ser adotado no intuito de evitar a centralização e/ou concentração do poder executivo feder al. Assim, teríamos uma institu cionalização descentralizada e paulatina dos proced imentos intern acionais a serem seguidos por várias unidades de poder. Com isso se evitaria estar na contramão do próprio movimento de democratização das relações internacionais. Não se trata da retirada abrupta da so berania das mãos da Uniã o para a distribuição entre os demais entes da federação, mas a legitimação da paradip lomacia. Isso r equer apenas o reconhecimento pelo sistema jurídico internacional d e algumas prerrogativas já que neste cenário internacional, além dos Estados e das Organizações Internacionais, são peculiares à part icipação de outros atores. 62 Esses se vêem igualmente inserido s na formatação de uma política externa e por isso são denominados de sujeitos fragmentários (DALLAS, 2005), pois possuem fragmentos de prerrogativas que o impulsionam a agirem na sociedade internacional. Não se trata de uma proposta alienígena, muitos Estados Federados já apresentam essa configuração. Dentro de uma perspectiva integracionista a diminuiçã o da soberania se dará inevitavelmente, ou seja, quanto maior o processo de integração regional, menor o grau de soberania dos Estados, em outras palavras, a cada aumento do nível de integração que se tem, maior as renúncias de competência s inerentes à soberania do Estado , seja ela no conceito moderno, interna ou externa. Assim, dir imir a soberania interna de scentralizando-a através d a distribuição entre os demais entes fed erados pode tornar mais dinâmica a política internacional. Segue abaixo o pensamento direcionado ao s estados-federados que poderia, muito consistentemente, ser elastecido englobando também a figura dos municípios: O s Es ta d o s fe d e r a d o s e o s Es ta d o - me m b r o s e d e u m a U n iã o r e a l , d e a c o r d o c o m a s d is p o s iç õ e s d o in s tr u me n to ( C o n s ti tu iç ã o ) q u e e s tr u tu r a a U n iã o , p o d e m te r o u n ã o a p e r s o n a l id a d e in te r n a c io n a l . To d a v ia , q u a n d o a p o s s u e m, a s u a c a p a c id a d e d e a g ir n a o r d e m e x t e r n a v e m s u je i ta a ta is li mi ta ç õ e s q u e , n a v e r d a d e , a r e d u z e m a u m m ín i mo , in s i g n i fic â n c ia ju r íd ic a q u e le v o u D e l b e z e An z il o t ti a c o n t e s t a r e m a a f ir ma ç ã o d e S tr u p e L e Fu r , d e q u e o Es ta d o fe d e r a d o fo s s e Es t a d o f o r a d o c o n c e it o c o n s ti tu c io n a l . Fic a m o s , p o r é m, c o m a o p i n i ã o d o s ú l ti m o s , d e v e z q u e , s e n o ti p o a me r ic a n o d e Fe d e r a ç ã o o s Es ta d o s f e d e r a d o s n ã o te m n e n h u m a c a p a c id a d e d e a g ir in te r n a c io n a l, p e r te n c e n d o à p e r s o n a l id a d e e x tr e ma e x c lu s iv a me n t e à U n i ã o , o c e r t o é q u e a F e d e r a ç ã o d o ti p o d o mi n a n t e n a E u r o p a a d mi t e a o s Es ta d o s - me mb r o s a a tiv i d a d e i n te r n a c io n a l , d e n tr o d e c e r t o s li mi te s , c o mo é o c a s o d a S u íç a , c u jo s c a n t õ e s p o d e m c o n c lu ir c o m Es ta d o s e s tr a n g e ir o s a c o r d o s r e la tiv o s à p o l íc i a , a o c o mé r c i o e à s f in a n ç a s . J á o I m p é r i o a le mã o ta mb é m c o n c e d ia a o s Es ta d o s - me m b r o s a fa c u ld a d e d e c r ia r e e x e c u ta r r e g r a s d e D ir e i to I n te r n a c io n a l , s i tu a ç ã o q u e n ã o s e mo d i fic o u p e la C o n s ti tu iç ã o d e W e i ma r e a a tu a l C o n s t i tu iç ã o d e Bo n n . N a U n iã o So v ié tic a , t iv e mo s a U c r â n ia e a Bie lo R u s s ia , c o mo me mb r o s d a O N U , a o la d o d a U n i ã o . É , p o r c o n s e g u in t e , i n a d m is s ív e l negar a p e r s o n a lid a d e in t e r n a c io n a l a o Es ta d o fe d e r a d o , q u e a p o d e t e , a i n d a q u a n d o n o s e s tr e i to s l i mi te s d a c o n c e s s ã o c o n s t i tu c i o n a l. O q u e , p o r mo t iv o s ó b v io s , s e n e g a r á a o Es t a d o fe d e r a d o é a c o m p e tê n c ia d o J u s b e l li e t a mb é m d o d i r e i to d e c o n c lu ir tr a ta d o s p o l í tic o s c o m c o mp e t ê n c ia e s tr a n g e ir a , d e v e z q u e , e m ú lt i ma a n á l is e , a r e s p o n s a b i lid a d e a s s u mi d a p e lo Es ta d o Fe d e r a d o , e m q u a l q u e r ma t é r ia , r e c a ir á s o b r e a U n i ã o . Po r e s ta r a z ã o , e s t ip u la o a r t ig o 5 2 , V e V I , d a c o n s ti t u iç ã o 63 b r a s i le ir a d e 1 9 8 8 s e r d e f e s o a o s Es ta d o s e a o s m u n ic íp io s c o n tr a ir e mp r é s t i mo s e x te r n o s s e m p r é v ia a u to r iz a ç ã o d o Se n a d o Fe d e r a l, n a p r e s u n ç ã o , a o q u e p a r e c e , d e q u e ta is e m p r é s ti mo s p o s s a m s e r p e d i d o s a e n ti d a d e s e s tr a n g e ir a s n ã o Es ta d o s . C o m e f e i to , o e mp r é s t i mo s ó p o d e r i a s e r p e d id o a Es t a d o e s tr a n g e ir o e r e a l iz a d o me d ia n t e c o n v e n ç ã o o u tr a ta d o , c u j a c o n c lu s ã o é d a c o m p e tê n c ia e x c lu s iv a d a U n i ã o , s e g u n d o d is p õ e o a r t . 2 1 , I , d a m e s m a C o n s ti tu iç ã o .( B O SO N , 2000). Um Estado por ser soberano tem total poder para vestir as suas unidades federadas de competência para, através de sua ordem jurídica interna, legitimar a atua ção desses atores no plano internacional, até por que em última in stancia quem responde é a união federal. Ciente de que não se admite após os inventores do federalismo, a confusão entre autonomia com soberania, esclarece-se que não se trata de conceder um duplo grau de soberania ao complexo federativo. Como no interior da federação brasileira (desde 1891), diferente dos estados-federados normas de direito norte-americanos penal e processo, que a criam política suas externa próprias é feit a exclusivamente a partir da voz da União Federal. Por isso, reflete-se para uma melhoria da integração mercosulina um mecanismo de ouvidora estadual e/ou municipal. Estas devem permanecer com seu grau de dependência à União, mas em prol da melhoria das relações internacionais a constitu ição federal alteraria seu texto facultando às outras unidades da federação, dentro de sua autonomia, a utilizaçã o de uma capacidade maior de expressão e demonstração de suas vo ntade no cenário internacional. Maior, sim, pois na prática a personalidade internacional desse s entes não está de toda desaparec ida frente à previsão módica , existente no art. 42, I V da Constituição Federal Brasileira que permit e com autorização do Senado que os Estados, Distrito Federais e Municípios concluam acordos externos, desde que ouvido o Poder Executivo Federal. A proposta seria de ampliação desta autonomia interna com u m aval da União ao final da negoc iação , já que se revela extremamente 64 burocratizado os tramites atuais de olvidar o Executivo Federal e a passar pelo Senado previamente. A atuação dos estados-federados, províncias, intendências e municípios deveriam a contecer inde pendente de prévia autoriza ção, mas, como toda tratativa interna cional, se submeteria ao rito processual de internacionalização via o Poder Legislativo Federal. Teme-se que adotando esta sistemática estaria tentando elim inar a soberania estatal, ou seja, mais u ma vez a soberania é utilizada como pano de fundo para os centralizadores de poder. De que vale a defesa de um Estado Soberano e impe netrável? A p r e s e n ç a p e r s is te n te d a s o b e r a n ia l e v a a lg u n s a u to r e s a d e f e n d e r s u a i m u t a b i li d a d e c o mo c o n c e i t o e mi n e n te m e n te ju r íd ic o , ma s is s o n ã o i mp l ic a a s u a a p lic a b il id a d e il i mi ta d a . O c o n c e i t o d e s o b e r a n i a te m u m c a r á te r f i c c io n a l h á m u i to r e c o n h e c id o . T e m t a mb é m u ma fu n ç ã o e s p e c íf ic a : s im p l if ic a a r e a l id a d e d e m o d o a fa v o r e c e r a a ç ã o d o s a t o r e s e s ta ta is .( C O U T O , 2 0 0 3 ) . A concepção de soberania está diretamente relacionada ao princípio norteador das relações internacionais denominado voluntarismo. Este tem seus efeitos tanto internamente, quando o torna senhor absoluto do direito interno, e externamente, quando se revela independente e no mesmo patamar em relação aos demais Estados. Seria o caso de transformar a sobe rania material (modificar o poder delegado pelas normas de d ireito internacional) e não elim inálas. Todo Estado dito soberano tem poderes para sistematizar seu ordenamento jurídico interno e seg undo, o conceito de soberania inspirado no centralismo da autocracia mostra-se ultrapassado frente à onda avassaladora da democratização. So v e r e i g n ty h á s a le g a l me a n i n g , a n d o n ly a le g a l m e a n in g . I t d e n o te s c o n s t it u tio n a l o r j u r is d ic t io n a l i n d e p e n d e n c e a n d h a s n o t h i n g to d o w i th a s ta te ’s a c tu a l p o w e r t o p e r fo r m s p e c i fic fu n c t io n s o r th e w a y s in w h ic h i ts f r e e d o m to a c t m a y b e c o n s tr a i n e d b y n o n - l e g a l fo r c e s o u ts i d e i ts c o n tr o l . As s u c h i t is a te r m w it h o n ly l i mi te d w o r th , b u t i t is n o t v a l u e l e s s : in p a r t ic u la r i t is o f c e n tr a l i mp o r ta n c e i n c o mp r e h e n d i n g th e n a t u r e a n d r o l e o f fo r m a l r u le s in in te r n a tio n a l s o c ie ty . A s o v e r e i g n s ta te c a n n o t fo r m a lly b e s u b je c t to a n y e x te r n a l ju r is d ic tio n e x c e p t b y its o w n c o n s e n t. O n e i mp lic a t io n o f t h is is t h a t th e s o le s o u r c e o f l e g i t im a t e a u t h o r i ty in s i d e o r o u ts i d e 65 th e s ta te is t h e s t a t e its e l f . H o w e v e r p r o fo u n d th e c h a n g e s i n in t e r n a t io n a l r e la ti o n s i n th e p a s t 5 0 y e a r s h a v e b e e n , t h e y h a v e n o t a lt e r e d th is c e n tr a l fa c t . ( A M STR O N G , 1 9 9 5 ) . Assim, reitera-se que a soberania ho bbesiana é uma concepção ficcional que deve ser convertida n uma acepção real, revelando a s desigualdades tanto políticas quanto econômicas. Este conceito se mostra atrelado à definição de poder . Logo, há muito, não pode ser considerado exclusivamente jurídico. E mesmo que fosse, com o alastramento do regime democrático reforça-se a descentralização e nos casos federalistas impõem-se à idéia de distribuição interna de poder internacional entre as unida des federadas (contrariando o modelo estático de soberania ligada à s noções territoriais). E me r g in g f o r ms o f “ c o mp le x s o v e r e ig n ty ” b r e a k d o w n th e in t e r n a l s tr u c t u r a l c o h e r e n c e o f t h e St a t e , r e p la c in g it w it h o f te n a u to n o mo u s r e g u la to r y a g e n c ie s w h o s e p u r p o s e is to me d ia te b e tw e e n t h e in te r n a ti o n a l a n d th e lo c a l o r n a ti o n a l ( J A Y A SU R I T A, 1 9 9 9 ) . Reflete-se ainda sobre a questão: Th e p o li tic s o f ma n y i n t e r n a ti o n a l n e g o tia ti o n s c a n u s e fu llly b e c o n c e iv e d a s a tw o - le v e l g a me . A t t h e n a t io n a l l e v e l , d o me s tic g r o u p s p u r s u e th e ir in te r e s ts b y p r e s s u r in g th e g o v e r n m e n t t o a d o p t fa v o r a b le p o l ic ie s , a n d p o li tic ia n s s e e k p o w e r b y c o n s tr u c t in g c o a l i tio n s a mo n g th o s e g r o u p s . A t th e in t e r n a t io n a l le v e l , n a t io n a l g o v e r n me n ts s e e k to ma x i miz e th e ir w o n a b il i ty to s a tis fy d o m e s t ic p r e s s u r e s , w h ile mi n i miz in g th e adv erse cons equences of fo r e ig n d e v e l o p me n ts . N e i th e r o f t h e t w o g a m e s c a n b e ig n o r e d b y c e n tr a l d e c is io n - ma k e r s , s o l o n g a s t h e ir c o u n tr i e s r e ma in in t e r d e p e n d e n t , y e t s o v e r e ig n ( PUTNAM; EVANS, 1993). Em toda democracia o governo é geralmente d ividido entre os níveis centrais e de outras unidade s de poder. No caso brasileiro adota-se o modelo consensual, temos, por conseguinte, como característica da política no Brasil a adoção legal da forma federalista de Estado e do método de descentralização de poder. Províncias, estados, cantões, länder , intendências, municípios, distritos podem ser constitucionalmente considerados unidades constitutivas de uma federação. No ar t. 1º. de sua constituição federal 66 o Brasil concede esse s tatus aos estados, municípios e distrit o federal 19. A todos esse s, acompanha-se a descentralização do poder, atribuindo aos quatro autonomia política, administrativa e finance ira. Arend Lipjhart (1989) defende que o f ederalismo não é condiçã o suficiente para uma descentralização e em sua ót ica ele exclu i o Brasil como modelo referencial “Somente seis dos nossos vinte e dois regimes democráticos – os Estados Unidos, o Canadá, a República Federal da Alemanha, a Suíça, a Áustr ia e a Austrália – são federais” O caso brasileiro justifica-se pelas marcas da centra lizaçã o deixadas pelo regime ditatorial. Apesar de formalmente democrático o Brasil vem enfrentando, principalment e após o séc. XX, uma pressão interna imensa para mudanças institucionais capazes de consolidar o seu regime tanto nas políticas in ternas quanto externas. O termo neofeudalismo ou NEW MEDIEVALISM se deve a um a interpretação derivada do próprio conceito de federação. Segundo . Riker (1975) pode-se defini-la da segu inte forma: O f e d e r a l is m o é u ma o r g a n iz a ç ã o p o l ít i c a e m q u e a s a ti v id a d e s g o v e r n a m e n ta is e s t ã o d ir ig id a s e n tr e o s g o v e r n o s r e g io n a is e o c e n tr a l d e ta l m o d o q u e c a d a e s p é c i e d e g o v e r n o t e m a l g u ma a t iv i d a d e s o b r e a s q u a is te m p le n a c o m p e tê n c ia . No momento em que Riker atribu i aos componentes da federaçã o a adjetivação de governos regionais possibilita a interpretação do federalismo como uma divisão do próprio território nacional onde as unidades componentes de uma forma autônoma são geograficamente definidas. Soma-se à característica da divisão d o poder (central e regional), segundo Lipjhart (1989), cinco outras também de identificação do federalismo, são e las: const ituição esc rita, existência de duas câmaras, direito dos membros participarem no processo de emenda da constituição federal (podendo, porém alterar unilateralmente as suas 19 Constituição Federal da Republica Federativa do Brasil, art. 1º. : “A Republica Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel do Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:” 67 próprias) representação (igual ou desproporcionalmente forte dos membros menores na câmara federal) e governo descentralizado. É importante destacar que dentre as autonomias atribuídas às unidades federadas encontra-se a polí tica que envolve os três poderes . De acordo com as palavras de Lipjhart supracitadas no parágrafo anterior essas podem alterar unilateralmente suas constituições regionais (desde que na hierarquia Kelseniana respeite os ditames da constituição federal) e assim tamb ém legislar no âmbito de sua jurisdição. Na maioria dos países federalistas a política externa é desenvolvida exclusivamente pelo po der central devendo a iniciat iva ser do Executivo, mas sob a apreciação posterior do Legislativo Federal. Nada impede que e xista m federações centralizadas e descentralizadas. Não teria problem a algum, pois nas palavras de Elazar (1976) a descentralização é um a faculdade: O termo descentralização implica a existência de um governo central que tem o poder de descentralizar e o governo que pode descentralizar pode recentralizar se assim entender. Portanto, nos sistemas descentralizadora difusão do poder é realmente uma questão de favor, e não de direito <...> o poder é tão difuso que não pode ser legitimamente centralizado ou concentrado sem quebrar a estrutura e o espírito da constituição. O autor citado refere a inda que o incômodo está quand o formalmente, através de um texto con stitucional, a federação revela-se descentralizada e na prática comporta- se diferente 20. É quando esse mesmo autor su gere a troca do term o descentralização por não centralizaçã o, pois a partir daí se mediria o grau de centralização de uma democracia. Segundo Lipjhart (1989), mensura-se este índice observando as receitas e despe sas das atividades governamentais. Comparan do a tributação central com a não central e a distribuição das receitas da União para os governos não centrais. 20 “O termo descentralização implica a existência de um governo central que tem o poder de descentralizar e o governo que pode descentralizar pode recentralizar se assim entender. Portanto, nos sistemas descentralizadora difusão do poder é realmente uma questão de favor, e não de direito” 68 No caso do Brasil, pode-se d izer qu e a maioria dos município s sobrevive do chamado Fundo de Participação, receita oriunda do repasse da repartição dos tributos federais e estaduais. Pouco s possuem uma arrecadação tributária capaz de suprir as necessidade s públicas municipais. O s estados-federados brasileiros, sobrevivem de seus próprios tributos (principalmente do ICMS – Imposto sob Circulação de Mercadoria e Serviços, tributo por enquanto estadual, mas que com a reforma tributária cogita-se a volta à competência federal), mas contam também com verbas federais (em especial para grandes obras). Isso demonstra o q uanto, apesar de federalista, o Brasil é centralizador, já que todas a s unidades demonstram profunda dependência econômica em relação ao governo central. Não haveria problema se a federa ção brasileira adotasse a centralização e respeitasse as d iretivas democráticas. No Brasil, as políticas públicas estão cada vez mais próximas da polít ica de conveniência carente da representatividade do verdadeiro interesse nacional. Nas palavras de Soares (1989) corrobora-se este pensamento: A r e la ç ã o e n tr e f e d e r a lis m o e d e mo c r a c ia é c r u c ia l , n ã o s ó p o r q u e a d e mo c r a c ia é c o n d iç ã o p a r a a v ig ê n c ia d o s is t e ma fe d e r a l, c o mo t a mb é m p o r q u e a d e mo c r a c i a , e m c o n t e x to s ma r c a d o s p o r h e t e r o g e n e id a d e s d e b a s e te r r i to r ia l ( q u e podem s er tr a d u ç ã o de h e te r o g e n e i d a d e lin g ü ís tic a , r e li g io s a s o u é tn ic a s ) s ó p o d e s u b s is tir s o b a f o r ma fe d e r a d a . A forma bicameralista de poder no Brasil sub-representa sua s unidades componentes. Não só por que sua cota de lugares legislativos não corresponde, em termos geo-proporcionais, à cota populacional (mesmo havendo vontade polít ica pa ra tanto, ex: propostas reforma eleitoral, mudança para o sistema de votação distrital), mas também, mesmo com uma representação mínima, as coligações, conchavos, lobbys e preferências individuais, f azem com que esta casa não represente o verdadeiro interesse nacional. Esta precária dinâmica favoreceu a ascensão, em virtude da democracia, de novos atores tanto no cenário nacional (ex. OngsOrganizações Não Governamentais, OCIP – Organização da Sociedad e 69 Civil de Interesse Público) quanto internacional (ex. Organizações Internacionais). Isso se deve nas pala vras de Tocqueville (FREY, 2000) à ao fato de que: Q u a n d o o p o d e r é r e p a r t id o , a c a p a c i d a d e d e a ç ã o é p e r c e p t iv e l m e n te d i f ic u l ta d a , p o r é m , e m c o mp e n s a ç ã o , g a n h a - s e u ma s o c ie d a d e c iv il c a p a z d e c o n tr o la r o s g o v e r n a n te s , o u s e ja , a r e s is tê n c ia s e e n c o n tr a e m to d o lu g a r . É o caso dos municíp ios que emerge m no cenário internacional. Na maioria das vezes, esses são pre ssionados pela própria soc iedade civil, no intuito de participarem da e laboração da política externa por não sentirem da representatividade federal condições (ou vontade política) para atender aos seus anseio s. Assim, como fruto da desarmonia entr e a descentralização estata l brasileira (que na prática revelou-se extremamente centralizada) e a finalidade democrática (governar para se chegar ao bem comum) nasce a paradiplomacia. A fórceps, inicia a pressão por uma legitimação da atuação dos novos atores, espec ifica mente para esta pesquisa, no que tange a participação municipal na po lít ica internacional. Propõe-se uma nova concepção de federalismo e também uma real e maior descentralização na política externa. Não confundir, portanto, com o neofeudalismo ou new medievalism, pois a própria legislação pátria combinada com a normativa internacional limitaria esta equiparação (já que a União continuaria respondendo como uma espécie de avalista). Este termo neofederalismo, neofeud alismo foi empregado at é então, ao pleito municipal por uma participação legitima na elaboração da política externa, pois segundo Mario Telò ( 2001): N e w s y s te ms o f la w a n d fo r ms o f g o v e r n a n c e , w h ic h g lo b a l iz a tio n i ts e l f d o e s n o t p r o v i d e , a r e d e ma n d e d . R e g i o n a l g o v e r n a n c e is o ft e n p o l it ic a l ly s tr e n g t h e n e d a n d l e g i ti m a t e d , a s a c o m p le m e n ta r y o r s u b s id ia r y le v e l o f n a ti o n a l a n d lo c a l governance. 70 Acontece que o cenário externo enfrenta uma realidade parecida a das federações democráticas, ond e novos atores demonstram uma maior potência que os originais. A literatura científica nomeou este fenômeno de paradigma do novo regionalismo, surgindo vária s correntes, dentre ela s convém destacar: a globalizante e a do novo m edievalismo. A primeira desfruta de uma visão n eoliberal e cosmopolita da economia global e por isso mostra-se receptiva à participa ção de qualquer unidade ativa no cenário in ternacional conforme segue nas palavras de Mario Telò (2001) : Tr a n s n a tio n a l c o mp a n ie s , g lo b a l f in a n c ia l ma r k e ts , p r iv a t e a n d p u b lic c o s mo p o li t a n n e tw o r k s a r e in c r e a s in g ly t a k in g fu n d a me n t a l d e c is io n s a n d c r e a t in g n e w a u t h o r it ie s . As a c o n s e q u e n c e , m a n y n a tio n a l g o v e r n me n t s o n ly h a v e t o c h o o s e w h e t h e r t o a d j u s t , o r n o t, to th e c o n s tr a i n ts o f th e g lo b a l iz e d e c o n o my . Nesta, a rede transnacional é guiada por decisões dos níveis de poder mais alto sem muita preocupação com a fonte dessa autoridade (se formal, informal, institu cional, n ão institucional, estatal ou não estatal). Este pensamento confronta-se com a acepção clássica de soberania (como já analisado no tópico 2 desta pesquisa). A dimensão dos arranjos regionais após a globa lização tornaram-se maiores, mais fortes e extremamente flexíveis. Isso se deu, para não tornar a globalização uma retórica ideológica. Portanto esta corrente admite a contribuição das polít icas globais, nacionais e regionais, ou seja, novamente nas palavras de Telò (2001): W h e n n a t io n a l a u th o r i ti e s a r e o v e r c o m mi t e d , n e w r e g i o n a l o n e s in te r v e n e a s ma n a g e r s o f t h e g lo b a liz a ti o n p r o c e s s . Ev e r y w h e r e i n t h e w o r l d , r e g io n a l a g r e e m e n t s a r e a b o u t to b e fo u n d e d a n d r e in fo r c e d b y s ta te d e c is io n s . T h e e m e r g in g e c o n o m ic a n d p o li t ic a l g e o g r a p h y is r e g i o n a l r a th e r t h a n g lo b a l . A participação desses novos atores passa a ser reconhecida, porém o debate atual se faz quanto à forma de consolidação e 71 profundidade desses projetos regionais. É neste contexto que se teme o retorno do feudalismo, pois somente com um sistema jurídico rigoroso que controle e limite a potência desses novos atores internacionais é que eles seriam impedidos de tolh er a soberania estatal. Assim, defende Marcelo de Almeida Medeiros (VIGEVANI, 2004 apud) N a v e r d a d e , a tr a n s mu ta ç ã o d a c o n c e p ç ã o d e fr o n t e ir a te m in s t a u r a d o n o v o s p a r a d ig ma s d e a n á l is e , q u e p r o c u r a m d e s lo c a r o e p ic e n tr o p o l í tic o p a r a a lé m – e a q u é m – d o Es ta d o - N a ç ã o . A is ó b a r a p o lí t ic a d e o u tr o r a a s s u me u m a fe iç ã o q u e é m a r c a d a p o r u m a a l ta p o r o s id a d e e q u e e s ti m u la o s ma is d iv e r s o s flu x o s , p r ic ip a l me n t e o s d e c a r á te r me r c a n ti l. D e s p o n t a , a s s i m , o q u e a l g u n s a u to r e s te m c h a ma d o d e N e w Me d ie v a lis m , n u ma r e fe r e n c ia a o t e c i d o c o m p le x o d e l e a l d a d e s e x is te n t e s d u r a n te o p e r í o d o fe u d a l. Neste mesmo contexto, surge o paradigma medievalist a questionador de onde a soberania deve ser alocada (fator não tão relevante para o paradigma da globalização). Esta corrente surge como conseqüência do multilevel global syst em of authority em que os atores originais de política externa, quais sejam, os Estados soberanos passam a se relacionar com outras ent idades, tal como, municípios . O novo medievalismo entende o no vo transnacionalismo com o embate entre a soberania territorial (poder político) e a funcional, mas não territorial. Como este cenário transnacional globalizado ainda não se consolidou estamos diante do chamado O.P.N.I. (Objeto Polít ico Nã o Identificado), pois através de teorias (ex. paradigma do novo regionalismo e suas duas vertentes – globalizante e neomedieval) busca-se redefinir conceitos como soberania (capítulo 2 desta dissertação) e federalismo (neste cap ítulo), principalmente a partir d a pressão dos governos subnacionais po r uma maior visibilidade. 3.2.2 Paradiplomacia municipal: a Rede Mercocidades Apesar do tema desta d issertação ser: “a federalização d a política externa desenvolvida atravé s da atribuição de competência internacional aos governos subnacionais municipais”, poder-se-ia 72 modificá-lo para um outro mais facilm ente realizável e de terminologia mais coloquial: “o pleito municipal pa ra a sua inclusão na elaboração censitária da política e xterna”. O secretário das re lações internac io nais do municíp io de São Paulo, Jakobsen (2004), argumenta que: O d e b a t e in te r n o s o b r e a p o l í tic a e x t e r n a d e u m p a ís , n ã o p o d e s e r d e r e s p o n s a b il id a d e a p e n a s d o p o d e r e x e c u t iv o d o s e s ta d o s n a c io n a is < . .. > Vis ã o p a r e c i d a c o m a ju s ti fic a t iv a d o v o to c e n s i tá r i o n o Br a s il d o s é c . XI X , o n d e a p e n a s o s h o me n s b r a n c o s in s tr u í d o s e c o m r e c u r s o s t in h a m d i r e i to a e x e r c ê - l o , p o is s o me n t e e s te s a d je tiv o s r e u n ia m a s fa c u ld a d e s n e c e s s á r ia s p a r a o e x e r c íc io d a p o l í tic a . Os municípios não intentam substituir o papel do Estado Nacional no plano externo. Por sua vez, clama m, em nome do devido exercício da democracia, por participar da discussão material dessa s decisõe s internacionais. Não se trata de um pensamento de rebeldia, muito menos revolucionário, mas frente os efeitos excludentes da globalização (liberalização do comércio, investimentos, avanço da tecnologia, maior fa cilidade de co municação) os paise s se vêem jungidos a adaptar sua leg islação n acional (mesmo que debilitand o seus instrumentos de políticas macroeconômicas). Diante disso, as cidades assumem um papel de protagonistas nas relações internacionais. Não significa dizer que um poder municipal poderá falar em nome do povo de um país, mas que ele tem condições de fazer bem mais pela nação (isso inclui os habitantes de seu município) do que simplesmente estabelecer Acordos de Irmanamento. São exemplos de ações municipais de alcance internacional: Ar tic u la ç ã o p o l í tic a d e in c lu s ã o s o c i a l in te r n a c io n a l , ta n t o s o b a ó tic a d o in te r c a m b io té c n ic o q u a n t o d a b u s c a d e r e c u r s o s e p r o g r a m a s p a r a c o mb a t ê - la a n ív e l l o c a l . A e la b o r a ç ã o d e v is õ e s c o m u n s d o s a d min is tr a d o r e s mu n ic ip a is e lo c a is , a s fo r ma s id e a is d e d e s e n v o lv im e n to e c o n ô m ic o e s o c ia l a d q u ir e m u m a im p o r tâ n c ia f u n d a me n ta l para in fl u e n c i a r as in s ti tu iç õ e s in t e r n a c io n a is q u e o p e r a m a s p o lí tic a s d e a ju s te e s tr u tu r a l e a busca de rec urso para i mp l e me n ta r ações c o n c r e ta s , c o m p le m e n ta a e s tr a té g ia . ( J A KO B S EN , 2 0 0 4 ) . 73 A integração regional no mundo não é um fenômeno recente, mas a forma e a intensidade da integração via globalização é que torna esta fenômeno peculiar. Da mesma mane ira, os grupamentos de cidades foram registrados nos países industrializados desde o início do século XX. A inovação se dá quanto à forma de gestão pública que passa a contar com os governos subnacionais como mecanismo estratégico de inserção internacional. Assim, nas palavras de Karina L. P. Mariano e Marcelo P. Mariano 21: “ À medida que os Estados-Nação tornam-se mais permeáveis às interações transnacionais, outras instancias governamentais acabam assumindo novas posturas e papéis.” Apesar de estratégicos precisam da soberania do poder central, já que as relações entre os governos subnacionais nem sempre sã o harmoniosas (geralmente especulativa s e predatórias, pois, au sente o pensamento de união ind issolúve l est atal, buscam suas necessidades de forma individual). E por isso, o movimento paradiplomático pode classificado nas pa lavras de Eduar do Kugelmas e Marcello Simão Branco 22 de: centrípeto ou centrífugo. A retenção do poder no governo central atribuindo de uma forma regulada e controlada autonomias às unidades nacionais, aproxima os municípios do poder central. Trata-se do movimento paradiplomático centrípeto. Já o movimento que se afasta do centro, onde as unidades subnacionais buscam maior autonomia para seus próprios interesses (também parte do interesse nacion al) é chamada de movimento paradiplomático centrífugo. Na seara interna do Mercosul os municípios não participam da negociações diretamente, mas busca ndo fortalecer a democracia e a descentralização foi const ituída a REMI (Reunião Especializada de Municípios e Intendências) e o Fórum Consultivo Econômico e Soc ial (FCES). O primeiro se trata de um espaço de expressão dos governos 21 WANDERLEY, Luiz Eduardo e Tullo Vigevani. Governos subnacionais e sociedade civil: integração regional e Mercosul. São Paulo: EDUC; Fundação Editora da Unesp, 2005. 22 ________Op. Cit. 74 locais, mas que por não terem ef eitos vin culantes ao Trado de Assunção tem sua ef icácia ba stante questionada, e o segundo, até então se apresenta como um mero espaço de discussões. Apesar municípios do aparelhamento brasileiros passam institu cional a se reunir (REMI e e lutar FCES) por os uma paradiplomacia centrífuga, de maior participação e visibilidade no Mercosul. Já que, segundo Marcelo Passini Mariano e Maria Inês Barreto 23: É p o s s ív e l a fir ma r q u e a c r is e d o Me r c o s u l p o d e s e r e x p l ic a d a , e m a lg u m a m e d id a , p e la i n c a p a c id a d e d o b lo c o a d min is t r a r a q u e s tã o s u b n a c i o n a l e d e , p e lo m e n o s e m c e r to s a s p e c t o s , a b d ic a r d e s e u fo r m a t o in te r g o v e r n a me n ta l e m p r o l d e a lg u ma p e r s p e c tiv a d e a tu a ç ã o s u p r a n a c io n a l. Se o o b je t iv o f o r a lc a n ç a r u ma i n t e g r a ç ã o d e fa t o , h a v e r ia a p o s s ib il id a d e d e a v a n ç a r p a r a a lé m d e u ma u n iã o a d u a n e ir a im p e r fe it a . A d e ma is , a a u s ê n c ia d e a tu a ç ã o in t e r n a c io n a l p o r p a r t e d e m u i to s e s ta d o s s u b n a c io n a is in te g r a n te s d o Me r c o s u l é t a mb é m u m fa t o r e x p l ic a tiv o d a e s ta g n a ç ã o d o mo d e l o d e n e g o c ia ç ã o a d o ta d o a té o mo me n t o . É quando Stuart (2004) ressalta o co nceito moderno do princípio da subsidiariedade como uma forma de repartição de atribuições ou competências entre diversos âmbitos, inclusive o munic ipal. Enquanto a previsão legal da const ituição de cada país em relação à ampliação da autonomia dos municípios em matéria internacional não acontece, institucionalizou-se a Rede Mercocidade que segundo Maria Del Huerto Romero 24 trata-se de: E m e s t e s e n t id o , e l h i to fu n d a c io n a l l o c o n s ti tu y ó e l Se m in á r io Mercos ur: O p ic io n e s y D e s a fi o s para lás C iu d a d e s ” , r e a liz a n d o e l 7 d e m a r z o d 1 9 9 5 , e n As u n c ió n , Pa r a g u a y , y p r o m o v id o p o r e s ta c iu d a d . El r e s u l ta d o d e e s ta r e u n i ó n f u e e x p r e s a d o e m l a D e c la r a c ió n d e As u n c ió n , fir ma d a p o r l o s Alc a ld e s d e As u n c i ó n y Mo n t iv i d e o , y r e p r e s e n t a n te s d e Br a s í li a , R io d e J a n e ir o , Bu e n o s Air e s Y Sa n t ia g o d e C h il e . E n d ic h a D e c la r a c ió n s e p la n t e ó l a n e c e s i d a d d e c e r a c ió n d e u ma R e d d e C iu d a d e s d e lo s p a ís e s q u e c o m p o n e n e l M e r c o s u r ( in c lu y e n d o n o s o lo a lo s p le n o s – Ar g e n tin a , Br a s i l, U r u g u a y y P a r a g u a y – s in o ta mb ié n lo s e n t o n c e s p o te n c ia le s a s s o c i a d o s – C h ile y Bo l ív ia ) p a r a o to r g a r a lã s autoridades m u n ic i p a le s e le g i d a s d e mo c r á tic a me n te l a p o s i b il id a d d e p a r tic ip a r d e l a s d e c is io n e s p a r a la in te g r a c i ó n r e g i o n a l e m te m a s d e s u s c o m p e tê n c ia s . Se o t o r g a a l a c iu d a d d e As u n c ió n la r e s p o n s a b i li d a d d e o r g a n iz a r l a Pr i me ir a C u mb r e d e l a R e d y c o n s t i tu ir s e e m s u p r i me r a Se c r e ta r ía E je c u ti v a . 23 Vigevani, Tullo. A dimensão subnacional e as relacoes internacionais. São Paulo: EDUC; Fundação Editora da UNESP, 2004. 24 _______Op. Cit. 75 Inicialmente a estrutura organizacional do Mercosul não reconhecia oficialmente o papel departamentos dos dos municípios, países-membros. estados, Somente províncias a partir e da implementação da REMI – Reunião Es pecializada de Municípios (2000) e do Foro consultivo de Municípios, Estados Federados, Provín cias e Departamentos (decisão 41/04 do Conselho Mercado Comum) que institucionalmente o Mercosul começou a desferir atenção aos governos subnacionais. Por não atender às demandas polít icas e de partic ipação dos governos locais e principalmente por não ter dado às cidades tratamento temático, surge a Rede Mercocidades. Embora não faça parte da estrutura mercosulina funcio na como um fórum de articulação política e troca de experiência s de temas urbanos. As diferenças entre os Estados-membros do Mercosul são muitas. A concentração das iniciativas polític as internacional é bipolarizadas entre o Brasil e a Argent ina. Além dis so, apesar de federalistas e dito descentralizados, ambos centralizam o processo de elaboração da política externa no Execut ivo Feder al, não permitindo atender com eficiência as demandas populares (o povo vive nos municípios que é onde as necessidade s internas e ext ernas estão). As sim, pelo menos no que tange a política internacion al do Mercosul, permite-se uma visão otimista frente a uma maior participação desses atores subnacionais. Um otimismo relativo, pois, e specificamente o Brasil objeto de estudo desta pesquisa, apresenta elevadas assimetrias sócio- economicas, física-estruturais, de pr odução, divergência de objetivos entre as unidades federadas e principalmente desatenção aos compromissos assumidos, dentro do seu próprio território nacional. Isto acontece não apenas pelas dimensões continentais brasileiras, mas pela ausência de uma política macroeconômica de desenvolvimento envolvendo todas a s circunstancias heterogêneas dos seus estados-federados, municípios e distrito federal. 76 Destacam-se abaixo, dois casos que comprovam ser o Brasil uma federação dita descentralizada, mas ainda maculada por resquícios da centralização do período autoritário. No que tange o Mercosul, esta federação busca, através da paradiplomacia municipal (em especial da rede mercocidades), uma melhor integração. Para demonstrar a conquista da atuação de governos subnacionais no cenário int ernacional mercosulino, toma-se como exemplo a prefeitura de Santo André (SP), município extremamente ativo internacionalment e. O outro exemplo, mostra que este espírito de integração regional no Brasil a inda não alcançou, de for ma homogênea, todo o território nacional. Por isso municípios afastados das áreas contíguas do Mercosul, apesar de terem potencialidades às vezes maiores que certos governos subnacionais do sul e sudeste, enfrentam ainda o obstáculo geo-político interno, como exemplo se traz a prefeitura de Ipojuca (PE). 4 A FEDERALIZAÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA ATRAVÉS DA ATRIBUIÇÃO DE COMPET ÊNCI A INT ERNACIONAL AO S GOVERNOS SUBNACIONAIS MUNICIPAIS It is r e a l ly fr u i tl e s s to d e b a te w h e th e r d o me s tic p o li t ic s r e a l ly d e t e r min e in te r n a tio n a l r e la ti o n s , o r th e r e v e r s e . Th e a n s w e r is c le a r ly “ B o t h , s o me ti m e s ” . T h e mo r e i n t e r e s t in g q u e s t io n s 25 are “When?” and “How?. Tendo em vista o supracitado, após a comprovação teórica de que tanto o conceito de soberania quanto de federação precisam ser reestruturados em virtude da integração explícita da política interna com a externa em prol da consolid ação da democracia brasile ira. Mostra-se inquestionável nas palavras de Putnam, o e lo existente entre as políticas domésticas e as relações internacionais, inquietante é demonstrar como e quando elas se interligam. 25 _______Op. Cit. porém o 77 Nesses moldes, segue a apreciação e mpírica de dois casos reais que demonstram o movimento paradiplomático no Brasil. O prime iro total e instituc ionalmente materializa do como município plenamente integrado à política internacional; já o segundo, pelas razões oportunamente apresentadas, encontra-se precisamente na fase de elaboração deste “How?”, destacado p or Putnam em sua obra. Busca-se através desta comparação empírica destacar todas as variáveis (independentes, dependentes e interveniente s) responsáveis pela ascensão ou não do moviment o paradiplomático municipal no Brasil. Utilizando a teoria do No vo Institucionalimo convém destacar a s variáveis a serem analisadas: Variáveis Es tát ic as – Ap pr o ac h 26 St ru c tur a l Geográficas Formais • D i m ens ã o te rr ito ri al d o c ont in e nte br as i le ir o; • Or g an izaç ã o do Es ta d o – F e de raç ã o; • Pos iç ão i nt er n a (n ac i on al ) estr at ég ic a do m u nicí pi o p ar a o pr oc e s so i nte gr aç ã o do M e rcos ul. • R e pa rtiç ão d e p o de r ent re as d ife re nt es es fe ras d e g ove rn o – So b er an ia Aut o no m i as; • R e gi m e P olíti c o D e m oc r ac ia. D in â m ic a – V ol unt ar is t Ap pr o ac h 27 26 • D es env olv i m e nto re gi on al. – • Ins e rçã o I nte rn ac i o na l; • Es tr utu ra ec on ô m ica. MAHONEY, James; SNYDER, Richard. Rethinking agency and structure in the study of regime change. Studies in Comparative International Development, vol. 34, no. 2, pp. 3-32. 168, 1999. 27 Idem. 78 4.1 A competência internacional do município de Santo André (SP) no âmbito do Mercosul E m a l g u n s p a ís e s e m q u e o g o v e r n o n a c i o n a l n ã o c o n s e g u e e q u a c io n a r o s i n t e r e s s e s d a s c o mu n id a d e s s u b n a c io n a is , e p a r t ic u la r me n t e quando ess as c o m u n id a d e s e s tã o c o n c e n tr a d a s e m d e t e r min a d a s p r o v ín c i a s o u lo c a lid a d e s , o s g o v e r n o s p r o v in c ia is o u lo c a is n ã o s ó a tu a m c o m o e n t id a d e s d e d e fe s a d o s d ir e it o s h u ma n o s e c u l tu r a is d a s c o m u n id a d e s p r e ju d ic a d a s , ma s t a mb é m , e c a d a v e z m a is , a g e m c o mo s e u s a g e n te s n o me r c a d o mu n d ia l , n e g o c i a n d o a c o r d o s d e c o m é r c io e de i n v e s ti m e n to s com as s u b u n id a d e s g o v e r n a me n ta is correspondentes em o u tr o s p a ís e s . ( M AH O N E Y , 1 9 9 9 ) A rede Mercocidades conta hoje com 161 Cidades-membro no total e engloba os países do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, certamente em breve a Vene zuela (membro de ingresso mais recente) e países associados – Bolívia , Chile e Peru. O município de Santo André foi aceito como membro pleno em setembro de 1997. Em seu ingresso defendia ampliar parcerias com os municípios da região, proporcion ar intercâmbios e acumular experiências onde o objetivo maior é o desenvolvimento coordenado de ações integradas na formulação de políticas municipais no âmbito do Mercosul. Em 2005 (com gestão até o final de 2006) a Prefeitura de Santo André assume a Secretaria Executiva da Rede Mercocidades e esta definiu como tema central para seus trabalhos o DESENVOL VIMENT O LOCAL (cultural, econômica, social, a mbiental e política). Ela continua defendendo o s ideais da rede de democratização da s relações internacionais, bem como da inclusão dos municíp ios na integração regional mercosulina e para isso estabeleceu quatro mecanismos de fortalecer polit icam ente a rede mercocidade. São eles 28: I. Uma política de integração da rede mercosul: Sugere medidas de estreitamento entre governos nacio nais e a inserção da Rede no Mercosul (construindo assim um novo pacto de integração do 28 Plano de Trabalho da Secretaria Executiva da Rede Mercocidades . Anexo II. 79 organismo). Para isso propôs prosse guir com as articulações junto aos governos nacionais e demais órgãos do Mercosul, assumir papel de protagonista no Comitê de Municípios e criar uma agenda de inserção das cidades e inclusão social e econômica no processo de integração; II. Uma política ativa de comunicação e divulgação da Rede entre as cidades para que de uma forma organizada mobilizem ações e parcerias com os demais atores. Assim objetiva em parceria com a Secretaria Técnica Permanente ampliar o d iálogo institucional e socia l através do port al da Rede Mercocidades (http://www.mercociudades.org), publicar duas edições da revista DI ÁLOGO, apresentar a rede mercocidades em eventos de relações internacionais, produzir um banco de dados da Rede, visando uma maior integração e ntre as cidades membros; III. Promoção da integração regional do mercosul: Principalmente em relação aos go vernos loca is. Co m isso visa desen volver convênio com a Rede de Autoridades para a Gestão Ambiental nas Cidades da América Lat ina e Caribe, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), elaborar estratégias de trabalho com a rede Andina de Cidades, dar continuidade aos convênios firmados pela Rede Mercocidades (ex. Associação de Universidades do Grupo Montevidéu – AUGM), estudar novos acordos e con vênios internacionais que colaborem para o desenvolvimento das cidades (participação no seminário do banco interamerican o de desenvolvimento), promover a integração entre público-privado com abertura à sociedade civil (finalizar e apresentar a primeira etapa da pesquisa da cadeia produtiva do setor plástico, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert e Unicamp), estimular projetos de desenvolvimento lo cal (partic ipação d o World Urban Fórum em Vancuouver, Canadá e construir u m banco de dados com informações sócio-econômicas das Mercosciades em parceria com o IMA - Instituto Mercadológico d as Américas; 80 IV. Garantia do bom funcionamento da rede mercocidades resguardando a participação ativa das Unidades Temáticas (UT’s), encorajando o ingresso de membros e incentivando a integração de novas cidades, visando uma representação cada vez mais ampla (organização de reuniões com as cidades coordenadoras das UT’s, com o Conselho da Rede), manter a contribuição anual das cidades membros e procurar novas fontes de financiamentos Permanente de (apoiar mercocidades a (STPM) Secretaria na Técnica cobrança de contribuição. O município de Santo André é situado no estado de São Paulo, sudeste do Brasil, área de grande fluxo econômico. É também local de maior concentração não só das políticas internas federais, mas também de execução de políticas externas, já que ne sta concentra-se o s estados mais ricos e de melhor infra-e strutura, conforme segue a figura e indicadores abaixo: INFRA-ESTRUTURA DO MERCOSUL – ESTADO S MAI S RICO S 81 FONTE: GuiaNet - Guia Internet Brazil (2000) Info: [email protected] INFRA-ESTRUTURA DO MERCOSUL – INDICADORES ECONÔMICOS 82 Produto Interno Bruto (PIB) Periodicidade:Anual - Unidade: R$ de 2000(Mil) Regiões 1999 2000 2001 2002 68.025.564,35 76.541.951,47 80.311.877,96 84.656.871,94 85.358.172,87 46.936.978,06 50.649.598,28 53.076.456,65 57.271.511,90 56.896.570,41 NE - Região Nordeste 138.343.411,55 144.134.602,57 146.406.997,01 153.708.296,08 157.676.689,18 S - Região Sul 187.303.519,45 193.534.259,51 198.609.708,39 200.847.376,83 212.529.802,03 SE - Região Sudeste 614.629.574,81 636.394.495,36 637.304.928,81 640.721.448,71 630.950.064,95 CO - Região Centrooeste N - Região Norte 2003 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Apesar da estatística do IBGE mais atualizada se reportar ao ano de 2003, a economia brasileira pouco oscilou até então, ou seja, por maiores variações que estes índices tenham tido nesses últimos três anos, as regiões de concentração dos maiores e piores produtos interno bruto continuam as mesmas. O que implica, de acordo com a tabela acima, uma desproporcional concentração econômica nos eixos sul e sudeste. Preterindo as demais regiões, demonstra-se o choque dos ideais democráticos com a forma federalista de estado brasileiro. No que tange as políticas internacionais há um coeficiente de mesmo efeito: Exportações Brasileiras por município Periodicidade: Anual - Unidade: US$ FOB(Mil) Regiões 2003 2004 CO - Região Centro-oeste 2.029.206.080 3.210.817.127 N - Região Norte 4.065.212.911 5.138.977.174 NE - Região Nordeste 5.958.879.794 7.857.306.190 S - Região Sul 18.538.610.616 24.489.420.185 SE - Região Sudeste 42.336.448.592 55.484.057.613 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior – MDIC/Secex. 83 Assim, percebe-se que inicialmente por questões geográficas Santo André pode se considera r um município propíc io ao desenvolvimento de uma atividade paradiplomática. Muito embora esta só se confirme se aliada à vontade po lítica de realizá-la. Inicialmente, pelo fato do município possuir uma Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional com um departamento específico para Relações Internac ionais já se percebe sua predispo sição à inserção no plano internacional e culmina pela materialização da vontade municipal de fazer também política externa no momento em que aceita capitanear a Secretaria Exe cutiva da Rede Mercocidades. Este caso fora selecionado como um dos municípios brasileiro s de real e institucional a ção paradiplomática, pois todas as variáve is conspiraram para que o mesmo fosse considerado unidade ativa deste processo. Stephen Van Evera (1999), criou um diagrama de setas visando descrever e explicar as causas e efeit os de um certo fenômeno social. Assim, de acordo com o arrow-diagram de Evera, pode-se conectar as causas e hipóteses da paradiplomacia ter ascendido em Santo André (SP), da seguinte forma: DIAGRAMA I- Numa perspectiva formal te mos: • • • • Democracia = A Federação = B Descentralização = C Paradiplomacia = D A → B→ C →D X X A A X B Te x to e x p lic a t iv o d o a r r o w - d ia g r a m fo r ma l d e Sa n to An d r é : D e m o c r a c ia i mp lic a F e d e r a ç ã o ; F e d e r a ç ã o D e m o c r á tic a i mp lic a D e s c e n tr a l iz a ç ã o ; D e m o c r a c ia F e d e r a d a e D e s c e n tr a liz a d a im p l ic a p a r a d i p lo m a c ia . 84 Como já foi dis cutido nos capí tulos an teriores, não existe um blu e print, ou seja, uma fôrma para o processo de integração regional. Logo, o diagrama acima se mostra aplicável apenas no ponto de vista normativo. Nada descentralizada internacional garante permita que não que a uma democracia atuação o de govern o outros central. federada atores no Existem e dita cenário variáveis independentes, dependentes e intervenientes que podem alterar toda a sistemática de um mesmo fenômeno. É exatamente isso que se quer demon strar com esta pesquisa, ou seja, por que o Brasil, um país democrático, federalista e dit o descentralizado, não favorece a paradiplomacia municipal em toda a sua amplitude política e regiona l (continental). No caso de Santo André (SP) ap resentam-se as seguintes variáveis: • Dimensão territorial do continente bras ileiro (DV) = a • Posição interna (nacional) estratégica do município para o processo de integração do Mercosul (DV)= b • Desenvolvimento regional (Int. V) = c • Organização do Estado – Federação (CV) = d • Repartição de poder entre as diferentes esferas de governo: Soberania e Autonomias (CV) ou (IV) = e • Regime Político – Democracia (I V)= F • Inserção Internacional (DV) = g • Estrutura econômica (DV)= h Estas podem ser dispostas no seguint e arrow diagram: F →a→b→d→g→h→E X C Te x to e x p lic a t iv o d o a r r o w d ia g r a m d a p a r a d i p lo ma c ia d e S a n to An d r é ( S P) : a) Ap e s a r da d i me n s ã o c o n t in e n t a l do t e r r i tó r io b r a s ile ir o , esta pode ser c o n s id e r a d a u ma v a r i á v e l d e p e n d e n t e ( D V ) . Pa r a e s t e c a s o fa v o r e c e u a a t u a ç ã o d e Sa n t o An d r é n o p r o c e s s o in te g r a tiv o d o Me r c o s u l e m fu n ç ã o d a s á r e a s d e m a io r c o la b o r a ç ã o a o p r o c e s s o d e i n te g r a ç ã o m e r c o s u l in a c o n c e n tr a r e m- s e n o s u l e 85 s u d e s te ( ma is r ic a s e ma is p r ó x i ma s d a z o n a d e c o n t íg u a d e e s t a d o s - fe d e r a d o s d o Me r c o s u l) ; b ) A lé m d a p o s iç ã o g e o g r á f ic a p r iv i le g ia d a d e s te mu n ic íp io p a r a a s a ç õ e s d o me r c o s u l , s u a l o c a liz a ç ã o p o d e s e r c o n s id e r a d a e s tr a t é g ic a ( v a r iá v e l d e p e n d e n t e D V) p o r s e r u ma d a s p r in c ip a is c id a d e s d e u m d o s e s ta d o s - fe d e r a d o s ma is d e s e n v o lv id o s e c o n o m ic a me n t e n o Br a s i l ; c ) O d e s e n v o lv i me n t o r e g io n a l p o d e s e r c o n s id e r a d o u m a v a r iá v e l in te r v e n i e n te ( In t V) , p o is c o mo e le v e m c r e s c e n d o n o mu n ic í p i o ( o b s e r v a r c o m p a r a ç ã o f e i ta n a ta b e l a a b a ix o ) te mo s a in g e r ê n c i a d e u m fa t o r q u e in e v i ta v e l me n te d e m a n d a r á d a s u n id a d e s p a r a d ip lo má tic a s m u n ic ip a is a lg u m a ma n i fe s ta ç ã o . Santo André – SP Produto Interno Bruto 2000-2001 Valor adicionado na agropecuária – 2001 158 Mil Reais Valor adicionado na Industria – 2001 3.358.513 Mil Reais Valor adicionado no Serviço – 2001 3.190.743 Mil Reais 184.992 Mil Reais Impostos – 2001 1.013.977 Mil Reais PIB a Preço de mercado corrente – 2001 7.378.398 Mil Reais Valor adicionado na agropecuária – 2002 163 Mil Reais Valor adicionado na Industria – 2002 3.491.963 Mil Reais Valor adicionado no Serviço – 2002 3.312.589 Mil Reais 288.076 Mil Reais Impostos – 2002 1.194.138 Mil Reais PIB a Preço de mercado corrente – 2002 7.710.778 Mil Reais Dummy – 2001 Dummy – 2002 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais d ) A o r g a n iz a ç ã o d o Es t a d o n a fo r ma fe d e r a l is t a d e v e r ia s e r c o n s id e r a d a u ma v a r iá v e l in d e p e n d e n te n o q u e ta n g e a p a r a d ip lo ma c ia , p o r é m c o m o n e m to d o Es ta d o F e d e r a d o é d e s c e n tr a l iz a d o e x is te a p o s s i b il id a d e d e c o n c e n tr a ç ã o d a s p o l í tic a s p ú b lic a s n a s mã o s d o e n te c e n tr a l , i mp e d in d o a ma n i fe s ta ç ã o d e o u tr o s a to r e s . L o g o , t e m- s e q u e tr a t a r a fo r ma fe d e r a l is t a d e Es ta d o c o m o u m a c o n d it io n v a r ia b le ( C V) , o u s e j a , v a r i á v e l c o n d ic i o n a l . Ex is t ir á e s p a ç o p a r a a p a r d ip lo ma c ia 86 se fo r d e s e n v o lv i d o e s p e c i f ic a me n t e um Sa n t o fe d e r a lis mo André, e s ta d e s c o n c e n tr a d o . c o n d iç ã o passa No a caso ser do Br a s il , p a u la ti n a me n t e c o n q u is t a d a ( le g is l a ç ã o mu n ic ip a l e p r e s s ã o , a tr a v é s d a r e d e R e d e Me r c o c id a d e s , p o r u ma a lt e r a ç ã o c o n s ti tu c io n a l) ; e ) A “ r e p a r tiç ã o d e p o d e r e n tr e a s d i fe r e n te s e s fe r a s d e g o v e r n o : S o b e r a n i a e Au to n o mi a s ” podem ser c o n s id e r a d a s n e s te d ia g r a ma ta n to u ma v ariável c o n d ic io n a l ( C V) , o u s e ja , s e o s is te m a ju r í d ic o a tr ib u ir a u t o n o m ia a o s mu n ic í p i o s p a r a p a r tic ip a r e m d a p o l í tic a e x te r n a h a v e r á e s p a ç o p a r a a p a r a d i p lo ma c ia ; q u a n t o u m a v a r i á v e l in d e p e n d e n te ( I V) , p o is a ma n ife s t a ç ã o d e o u tr o s a to r e s s e mo s tr o u tã o n e c e s s á r i a a p ó s a g l o b a liz a ç ã o , q u e e le s a t u a m fo r ma l o u in f o r m a l me n t e . No c a s o d e S a n to An d r é , c o mo a c o n s ti tu iç ã o fe d e r a l a in d a n ã o a m p li o u a c o mp e tê n c ia in t e r n a c io n a l dos mu n ic í p io s , e le s exercem p a r a le la me n t e (ex . Rede Me r c o c id a d e s ) ; f) A D e m o c r a c i a b r a s il e ir a a p e s a r d e m u i to f r a g i liz a d a i n s t i tu c i o n a l me n te p e r mi t e a p a r t ic i p a ç ã o d o s n o v o s a to r e s n a c io n a l e i n te r n a c i o n a l me n te , e x . o n g s , o c ip s e o p r ó p r io mu n ic í p i o n a e s f e r a i n t e r n a c io n a l . T r a ta - s e d e u ma v a r iá v e l in d e p e n d e n te ( I V) ; g ) A in s e r ç ã o in te r n a c i o n a l n e s te c a s o d e Sa n t o An d r é a tu a c o mo u m a v a r iá v e l d e p e n d e n t e ( D V) , p o is e s t á c o n d ic io n a d a a v o n ta d e p o l ít ic a d o mu n ic íp io . C o m o h o u v e , a tr a v é s d a c r ia ç ã o d e ó r g ã o s n a p r ó p r ia p r e f e i tu r a e s p e c ia liz a d o s e m r e la ç õ e s in t e r n a c io n a is e c o m o in g r e s s o n a R e d e Me r c o c id a d e s , e s ta fa v o r e c e u a p a r a d ip lo ma c ia ; h ) A e s tr u tu r a e c o n ô m ic a p o d e s e r c l a s s i f ic a d a c o mo u ma v a r i á v e l c o n d ic io n a l ( C V) , p o is a t e n d ê n c i a d e u m g o v e r n o é c r ia r u m a l in h a g e m p r ó p r i a d e p o l í tic a s in t e r n a s e e x te r n a s , ma s o Br a s i l t e m r e g is tr a d o u m c o n t in u ís mo p o l í tic o , me s mo quando o governo é pass ado para o o p o s i to r . As s i m , essa variável vem fa v o r e c e n d o a p a r t ic i p a ç ã o d a s u n id a d e s s u b n a c io n a is n o c e n á r io in te r n a c io n a l. Sintetizando o diagrama seria como p ercorrer as causas e efeito s que levaram a democracia brasileira a abrir espaço para o movimento paradiplomático: F → E = Democracia → Paradiplomacia Tendo em vista o exposto, percebe-se que o município de Santo André (SP) é um ator paradiplomático ativo e contribui intensamente para o processo de integração do Mercosul. 87 4.2 As perspectivas internacionais do município do Ipojuca (PE) no que tange sua participação no processo de integração do Mercosul Inicialmente se faz oportuno relembr ar que apesar de ex istir a Rede Especializada de Municípios e Intendências do Mercosul - REMI e o Foro Consultivo de Municíp ios, Estados Federados, Províncias e Departamentos, é na Rede Mercocidades que os governos subnacionais são reconhecidos como atores na construção do Mercosul e não como meras cidades temáticas como prescreve o regimento legal mercosulino. Assim, todo municíp io dos Estados- membros e associados do Mercosul que quiser participar do p rocesso de integração regiona l estudado nesta dissertação, deve pleitear uma vaga de membro pleno na Rede Mercocidades. Destaca-se ab aixo a relação des ses municíp ios no que se refere ao Brasil. Alvorada Fortaleza Paranhos São Caetano do Sul Araraquara Foz do Iguaçu Penápolis São Carlos Bela Vista Goiânia Piracicaba São José do Rio Preto Belém Gravataí Porto Alegre São Leopoldo Belo Horizonte Guairá Praia Grande São Paulo Brasília Guarulhos Recife São Vicente Camaçari Jacareí Ribeirão Preto Sumaré Campinas Joinville Rio Claro Suzano Caxias do Sul Juiz de Fora Rio Grande Taboão da Serra Coronel Sapucaia Londrina Rio de Janeiro Uberlândia Cuiabá Macaé Salvador Varzéa Paulista Curitiba Mauá Santa María Viamão Diadema Maringá Santo André Vitória Esteio Mossoró Santos Vitória da Conquista Florianópolis Niterói FONTE: http://www.mercociudades.org São Bernardo do Campo 88 Existem hoje no Brasil vinte e sete unidades federadas e 5.507 municípios de acordo com o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 29. Convém ser redundante para ser enfát ico - cinco mil quinhentos e sete municípios brasileiros - de onde apenas quatro nordestinos, Fortaleza, Mossoró, Recife e Salvador, fazem parte da rede mercocidades. Ora, vive-se no Brasil sob os auspícios de um regime democrático e, apesar de não se ter mais a idéia romântica de Democracia, ela tem por compromisso político que refletir a soberania popular através da fiel representação do interesse nacio nal. Convém comparar o gráfico abaixo com o do Produto Interno Bruto (página 101) e concluir que enquanto o PIB se concentra no sul e sudeste, a maior parte da população está nas regiões norte e nordeste. Por conseguinte , integração política e econômica, se faz imprescindí vel, assim como todos os mecanismos favoráveis a esta dinâmica, tal qual a paradiplomacia. Área Geográfica publicada nos Censos30 Periodicidade: Decenal Unidade: Km2 Regiões 1985 1991 1995 1998 1.592.071,00 1.612.077,20 1.593.172,00 1.612.077,20 1.606.445,80 N - Região Norte 3.838.607,00 3.869.637,90 3.757.485,00 3.869.637,90 3.852.968,00 NE - Região Nordeste 1.539.657,00 1.558.200,40 1.552.552,00 1.558.200,40 1.550.939,70 S - Região Sul 562.071,00 564.305,90 562.459,00 564.305,90 563.404,20 SE - Região Sudeste 918.808,00 927.286,20 923.394,00 927.286,20 924.573,90 CO - Região Centrooeste 2000 Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – Censo Demográfico Comentário: As áreas geográficas podem mudar por redivisão de municípios ou por mudança nos métodos de mensurações. O universo de municípios da tabela é definido pelo IBGE no levantamento censitário e não necessariamente coincide com o oficialmente existente ou instalado na data de referência. 29 30 www.ibge.gov.br www.ipeadata.gov.br 89 Antes bastava a saída do território físico pátrio para se iniciar uma relação internacional. A partir d a Rede Mercocidades ela pode ir diretamente a qualquer município e lá se estabelecer. Esta inic iativa pode ser considerada os primeiros pas sos de uma cooperação política. A maioria das cidades brasile iras desenvolve, principalmente n o que tange a capta ção de recursos no exterior para suprir as carência s nacionais, um t ipo de rela ção internac ional, mas nem sempre de forma integrada com demais governos subnacionais e o nacional. O Estado Bras ileiro prevê o acesso ao Ministério das Rela ções Exteriores, muito embora exija tramite s formais e burocráticos para que um município se ja ouvido nacional e internacionalmente em matéria de política externa. O canal de interlo cução entre o Ministério das Relaçõe s Exteriores e os municípios pode se iniciar pela Assessoria de Relaçõe s Corporativas (instância de encaminha mento de questões internaciona is, mas sem poder de decisão). Além desta, o MRE regionalizou, frente as vicissitudes trazida pela globalizaçã o, o acesso criando escritórios regionais de representação do ministério da relações exteriores, chefiado no nordeste pela diplomata Mariane Bravo Leite. Assim, o município diretamente ou através da Frente Nacional de Prefeitos, Confederação Nacional de Municípios e Associação Brasileira de Municípios podem ple itear a implem entação de determinada política pública. Apesar da possibilidade estatal (através desses dos escritório s regionais do MRE) e da existência da Rede Mercocidades desde 1995, é muito baixo o índice de municípios nordestinos reconhecidos como membros plenos da Rede e/ou atuantes no cenário internacional. Ora, se a paradiplomacia visa contrib uir com a maior integração do Mercosul porque não d isponib ilizar mecanismos estatais de divulgação da Rede Mercocidades e/ ou instituciona lizá-la de um vez por todas como um órgão integrante do aparelho mercosulino. Assim, municípios como o de Ipojuca em Pernambuco, cujo potencial econômico está em ascensão sentiria mais interesse em participar do processo de integraçã o regional do Mercosul, via as 90 Mercocidades (particularmente em f ace à instalação do Estaleiro Atlântico Sul e da Ref inaria (Petrobrás e PDVSA). Atualmente convém asso ciar Ipojuca a um município portuário e turístico de visibilidade internacional. Situado no extremo sul da Região Metropolitana do Rec ife (50 km da capital do estado e aproximadamente 40 km do aeroporto internacional) tem interligação de rodovias estaduais com as principais rodovias federais 31 e, em projeto, uma ligação da malha ferroviária EF-101 com a transnordestina, importante para o escoamento da produção e recebimento de matéria prima. Assim, instrumento essa conexão facilitador para terrestre a atua in tegração também regional como nacional um e internacional. Percebe uma média g lobal de R$ 14. 000.000,00/mês (incluindo a sua própria e repasses) sendo por isso considerado a segunda maior receita pública do Estado de Pernamb uco 32. Principalmente por que sua área geográfica concentra além do distrito sede, os povoados de Camela, Nossa Senhora do Ó, Porto d e Galinhas, Praia de Touquinho e Suape. Dentre essas convém destacar pela grande visibilidade internacional a praia de Porto de Galin has e Suape. A primeira é reconhecida mundia lmente como uma das praia s mais belas do Brasil (cartão postal do país). Além disso, conta com uma infra-estrutura hoteleira que supera a capital em números de leitos 33, desenvolvendo relações interna cionais voltadas ao tur ismo. Já a segunda, Suape, em virtude do Porto Marítimo, concentrou um dos maiores pólos industriais de Pernambuco. Caminha para ser o maior do Estado a partir da implementação de dois projetos: O Estaleiro At lântico Sul e a Refinaria de Petróleo (parceria Petrobrás Brasil e PDVSA – Venezuela). Apesar Ipojuca 31 de todo historicamente este desenvolvimento permanece também industrial como uma e turístico , região de Sentido norte/sul: através da Rod. PE 60 e 42 com a BR 101 (via município do Cabo de Santo Agostinho) e sentido leste/oeste: interligação com a BR 232 através da PE 42 e 45 (via município de Escada e Vitória de Santo Antão). 32 Dados divulgados pela Secretaria de Governo do Município de Ipojuca. 33 Dados da Secretaria de Governo de Ipojuca-PE, IBGE e site do governo do Estado de Pernambuco. 91 exploração da cana de açúcar (antiga atividade princ ipal). São no total duas usinas e setenta e dois engenhos de cana. Numa seqüência gradual pode-se afirmar que da época d o convento de Santo Cristo de Ipojuca até então, as atividades econômicas do município foram se acumulando da seguinte forma: cana, turismo e indústria. A escolha deste município para aferir o grau de paradiplomacia s e deu por razões avessas as elencadas no capítulo anterior sobre Santo André. Enquanto Santo André apresentou inúmeras variáveis que lhe confirmou como unidade e xtremamente ativa dentro do processo de integração do Mercosul, Ipojuca, apresenta as mesmas como obstáculos ao exercício da paradip lomacia. Inicialmente, econômico sele cionou-se concentrar-se numa em z ona f unção do portuária seu potencia l consolidada e extremamente ativa, o que facilitaria a integração mercosulina. Em seguida, pelo fato da Venezuela, desde de julho de 2006, ter ingressado no Mercosul e concomitantemente estar desde 2005 em negociação com o Brasil, Pernambuco e especificamente com o município de Ipojuca, para a instalação de uma refinaria de petróleo no porto de Suape. A partir desta tratativa comercial com eça uma preparação interna do município para receber obras tão vultuosas. Con seqüentemente, a prefeitura de Ipojuca passa a se institucionalizar no que tange as relações internacionais; criando órgãos e departamentos internos (departamento de relações internacionais vinculados à secretaria de projetos especiais – ainda na fa se de discussão do projeto de lei). O município desde o ano passado já iniciou a implementação da infra-estrutura para receber um quantitativo de 230 mil pessoas a mais só à disposição da refinaria, preparan do-se também para os empregos diretos e indiretos. Para isso e stá instalando uma Escola Técnica Federal – CEFET na região; em parceria com o Senac busca maiores qualificações para sua popula ção; inicia obras de me lhoria da malh a viária no intuito de escoar por outros municípios não concentrando a movimentação em Ipojuca e favorec endo o crescimento de toda a 92 região; a demanda de energia elétrica passa a ser atendida pela CHESF (com auxílio da TEMO PE); e ainda, através da 141/2005 prevê benefícios fisca is, no que tan ge tributos municipais, para empreendimentos de natureza econômica que vierem a se implantar em Ipojuca. Especificamente a partir deste acordo 34 entre Brasil e Venezuela (e por que não chamá-lo, entre Ipojuca e Venezuela, po is como no Brasil os município s possuem autonomia política, administrativa e financeira, esta obra só está sendo implementada em face da aquiescência munic ipal) levantou-se uma ponta de esperança e um forte indício que este processo de integração do Mercosul, no que tange o Brasil, começa a se desce ntralizar. Saindo das áreas de concentração já analisadas, sul e su deste, e envolvendo a partir do município de Ipojuca, outros município s e estados nordestinos. A partir deste pensamento, poderia, mesmo que de uma forma arriscada, apostar num incremento da atuação municipal nas relações internacionais que envolvam o Brasil e, principalmente, um aumento do número de municípios na Rede Mercocidades. Assim, percebe-se que este município a partir da instalação da Refinaria e do Estaleiro Atlântico Sul terá maior visibilidade internacional, principalmente em função das estimativas de investimentos e criação de empregos diretos e indiretos em função do mesmo. Ainda ass im, apesar de todas as pote ncialidades des te município, no âmbito do Mercosul pouco se tem feito como unidade ativa em prol da integração. Isso se deve as variáv eis analisadas no arrow diagram abaixo: 34 Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, firmaram acordo para a cosntrucao de uma refinaria de petróleo em Ipojuca-PE, resultado de um parceria entre a Petrobrás e a PDVSA, estatal petrolífera venezuelana. O investimento estimado é de U$ 2,5 bilhões e cada empresa terá 50% da refinaria, que terá capacidade para processar 200 mil barris de petróleo pesado por dia. Cerca de 230 mil postos de trabalho devem ser gerados em quatro anos, de acordo com nota divulgada pela Petrobrás. A unidade de processamento de óleo deve ficar na região de Suape. 93 ARROW DIAGRAM • Dimensão territorial do continente bras ileiro (DV) = a • Posição interna (nacional) estratégica do município para o processo de integração do Mercosul (DV)= b • Desenvolvimento regional (Int. V) = c • Organização do Estado – Federação (CV) = d • Repartição de poder entre as diferentes esferas de governo: Soberania e Autonomias (CV) ou (IV) = e • Regime Político – Democracia (I V)= F • Inserção Internacional (DV) = g • Estrutura econômica (DV)= h Dispostas da seguinte forma: F →a→b→d→g→h→E X C * Me s m o d ia g r a ma , ma s c o m u m mo d e lo c a u s a l ( ju s ti f ic a tiv a ) d is tin t a . Te x to e x p lic a t iv o d o a r r o w d ia g r a m d a p a r a d i p lo ma c ia d e Ip o ju c a ( P E) : a) Ap e s a r da d i me n s ã o c o n ti n e n t a l do te r r i tó r io b r a s il e ir o e s ta pode ser c o n s id e r a d a u ma v a r i á v e l d e p e n d e n te ( D V ) . P a r a e s te c a s o , n ã o f a v o r e c e u a a tu a ç ã o d e I p o j u c a n o p r o c e s s o in te g r a tiv o d o Me r c o s u l e m fu n ç ã o d a s á r e a s d e ma io r c o la b o r a ç ã o a o p r o c e s s o d e in te g r a ç ã o me r c o s u l in a c o n c e n tr a r e m- s e n o s u l e s u d e s t e ( ma is r ic a s e ma is p r ó x i ma s d a z o n a d e c o n t íg u a d e e s ta d o s - fe d e r a d o s d o M e r c o s u l) e e s te mu n ic í p i o n o n o r d e s te ; b ) Su a l o c a l iz a ç ã o p o d e s e r c o n s id e r a d a e s tr a té g ic a ( v a r iá v e l d e p e n d e n te - D V) p o r s e r u ma d a s p r i n c ip a is c i d a d e s d o e s t a d o p e r n a mb u c a n o e a i n d a p o s s u ir o Po r to d e Su a p e a t iv o e c o n s o lid a d o , p o r é m p o r e s ta r a f a s t a d o d o s e s ta d o s fe d e r a d o s m a is d e s e n v o lv id o s e c o n o m ic a me n te n o Br a s i l é p r e te r id o p o r a lg u m a s empresas ; c ) O d e s e n v o lv i me n t o r e g io n a l p o d e s e r c o n s id e r a d o u m a v a r iá v e l in te r v e n i e n te ( In t V) , p o is c o m o e le v e m c r e s c e n d o n o m u n ic í p i o te m o s a in g e r ê n c ia d e u m fa to r 94 q u e in e v i ta v e l me n t e d e ma n d a r á d a s u n id a d e s p a r a d i p lo m á t ic a s mu n ic ip a is a l g u ma ma n i fe s ta ç ã o ; d ) A o r g a n iz a ç ã o d o Es t a d o n a fo r ma fe d e r a l is t a d e v e r ia s e r c o n s id e r a d a u ma v a r iá v e l in d e p e n d e n te n o q u e ta n g e a p a r a d ip lo ma c ia , p o r é m c o m o n e m to d o Es ta d o F e d e r a d o é d e s c e n tr a l iz a d o e x is te a p o s s i b il id a d e d e c o n c e n tr a ç ã o d a s p o l í tic a s p ú b lic a s n a s mã o s d o e n te c e n tr a l , i mp e d in d o a ma n i fe s ta ç ã o d e o u tr o s a to r e s . L o g o , t e m- s e q u e tr a t a r a fo r ma fe d e r a l is t a d e Es ta d o c o m o u m a c o n d it io n v a r ia b le ( C V) , o u s e j a , v a r i á v e l c o n d ic i o n a l . Ex is t ir á e s p a ç o p a r a a p a r d ip lo ma c ia se fo r d e s e n v o lv i d o um fe d e r a lis mo d e s c o n c e n tr a d o . No caso do Br a s il , e s p e c i f ic a me n t e I p o j u c a , e s ta c o n d iç ã o p a s s a a s e r p a u l a tin a me n te c o n q u is ta d a ( le g is la ç ã o m u n ic ip a l e p r e s s ã o p o l ít ic a d e me mb r o s d o g o v e r n o e s o c ie d a d e c iv il p o r u ma a lt e r a ç ã o c o n s ti tu c io n a l) ; e ) A “ r e p a r tiç ã o d e p o d e r e n tr e a s d i fe r e n te s e s fe r a s d e g o v e r n o : S o b e r a n i a e Au to n o mi a s ” podem ser c o n s id e r a d a s n e s te d ia g r a ma ta n to u ma v ariável c o n d ic io n a l ( C V) , o u s e ja , s e o s is te m a ju r í d ic o a tr ib u ir a u t o n o m ia a o s mu n ic í p i o s p a r a p a r tic ip a r e m d a p o l í tic a e x te r n a h a v e r á e s p a ç o p a r a a p a r a d i p lo ma c ia ; q u a n t o u m a v a r i á v e l in d e p e n d e n te ( I V) , p o is a ma n ife s t a ç ã o d e o u tr o s a to r e s s e mo s tr o u tã o n e c e s s á r i a a p ó s a g l o b a liz a ç ã o , q u e e le s a t u a m fo r ma l o u in f o r m a l me n t e . No c a s o d e Ip o ju c a , c o mo a c o n s t i tu iç ã o fe d e r a l a in d a n ã o a mp l io u a c o mp e t ê n c i a in t e r n a c io n a l d o s m u n ic í p io s , e le s c o me ç a m , a i n d a d e u ma fo r ma i n c i p ie n t e , e x e r c e - la p a r a le la me n t e ; f) A D e m o c r a c i a b r a s il e ir a a p e s a r d e m u i to f r a g i liz a d a i n s t i tu c i o n a l me n te p e r mi t e a p a r t ic i p a ç ã o d o s n o v o s a to r e s n a c io n a l e i n te r n a c i o n a l me n te , e x . o n g s , o c ip s e o p r ó p r io mu n ic í p i o n a e s f e r a i n t e r n a c io n a l . T r a ta - s e d e u ma v a r iá v e l in d e p e n d e n te ( I V) ; g) A i n s e r ç ã o i n t e r n a c io n a l n e s te caso de Ip o ju c a a tu a c o mo u ma v a r iá v e l d e p e n d e n t e ( D V) , p o is e s t á c o n d ic io n a d a a v o n ta d e p o l ít ic a d o mu n ic íp io . C o m o h o u v e , a tr a v é s d a c r ia ç ã o d e ó r g ã o s n a p r ó p r ia p r e f e i tu r a e s p e c ia liz a d o s e m r e la ç õ e s in te r n a c io n a is e com o ac ordo Br a s i l ( Ip o ju c a ) e V e n e z u e la , e s ta fa v o r e c e u a p a r a d ip lo ma c ia ; h ) A e s tr u tu r a e c o n ô m ic a p o d e s e r c l a s s i f ic a d a c o mo u ma v a r i á v e l c o n d ic io n a l ( C V) , p o is a t e n d ê n c i a d e u m g o v e r n o é c r ia r u m a l in h a g e m p r ó p r i a d e p o l í tic a s in t e r n a s e e x te r n a s , ma s o Br a s i l t e m r e g is tr a d o u m c o n t in u ís mo p o l í tic o , me s mo quando o governo é pass ado para o o p o s i to r . As s i m , essa variável vem fa v o r e c e n d o a p a r t ic i p a ç ã o d a s u n id a d e s s u b n a c io n a is n o c e n á r io in te r n a c io n a l. 95 Verifica-se por fim, que a gestão mu nicipal de Ipojuca dispõe de diferentes variáveis endógenas, que p ossibilitam estabelecer condições favoráveis nacional para e as diversas internacional, relações norteadas mercadológicas pelas de características âmbito sociais, econômicas e culturais do município. Podendo perfeitamente encaixarse no perfil de unidade at iva capaz d e contribuir para a integração do Mercosul e que ainda não houve por questões geo-políticas. 96 CONSIDERAÇÕES FINAI S Em se tratando de uma análise política pode-se considerar extremamente recente um fenômeno acontecido há aproximado um século. Assim, é oportuno dizer que após os efeitos avassaladores do fim da guerra fria e da globalização as relações internacionais a inda encontram-se em ebulição. Isso se deve ao fato de que com a integração regional entre Estados, conceito s aparentemente (e formalmente) inabaláveis, como o de soberania (Thomas Hobbes), com eçam a ser relativizados. Isto s e deve à aparição de novos atores no ce nário internacional antes limitado a relações intergovernamentais. A partir do séc. XX temos o surgimento do multilateralismo, onde os Estados não mais se reuniam para celebrar tratados e acordos internacionais; eles passavam a constituir um organismo vivo, institucionalizado, dotado de vontade coletiva própria e, prin cipalmente, detentor de personalidade jurídica de direito internaciona l. Este últim o atributo torna as Organizações Internacionais capazes de celebrar tratados internacionais nivelando-as a os Estados Soberanos no cenário internacional. Apesar do ingresso do s Estados a essas organizações ser regido pelo princípio do voluntarismo, tem-se que a ingerência deste grupamento possa vir a ferir princípios como da não intervenção em assuntos domésticos argumentar-se normativas que do e existe tratado, o próprio uma da soberania. a utonomia sabe-se que no coletiva Apesar do limitada às distanciamento do distanciamento do ser com o dever ser, o primeiro sempre saí prejudicado. É por isso que teme-se a volta do colonialismo, só qu e desta vez encabeçada por organismos internacionais. Este sécu lo também foi marcado pela abolição das fronteiras e nesta integração multilateral surge u ma infinidade de atores (muitos antes sucumbidos ao seu limite territorial) que de uma forma extremamente ativa começam a ter vis ibilidade internaciona l. Dentre eles, de stacamos nesta pesquisa os governo s subnacionais na figura da unidade política municipal. E para legitimar 97 esta atuação a ciência política cria a denominação – paradiplomacia para representar qualquer participação supranacional de sujeitos desprovidos de personalidade jurídica internacional. É quando, novamente teme-se a perda da soberania estatal, mas não mais como dito anter iormente por motivos de ingerência internacional (de cima para baixo), mas pelo movimento contrário (de baixo para cima), pela pressão centrífuga dos municípios de afastar-se do centro pleiteando maiores poderes. Um país federalista pode de senvolver-se de form a descentralizada ou não, mas, faz-se lugar comum reconhecer que desconcentrando aproximasse mais a política do povo. Assim, concluise, principalmente baseado nos autores citados no capítulo 2.1., deste trabalho que a melhor forma de estado para consolidar um democracia é o federalismo descentralizado. Por isso, em nome do bem comum percebe-se a inquietação municipa l e m ser tolhida na elaboração de uma política externa. O po vo vive nos municípios, lo cal onde a po lítica externa encontrará sua eficácia. Assim, por viver numa democracia, mesmo que de uma forma representada, a soberania é popular. Então, mais uma vez relativiza-se o conceito hobbesiano, podendo atr ibuir a Rousseau o títu lo de pai d a paradiplomacia. Ora, se a soberania está concentrad a no povo e, no que tang e governos, a esfera municipal é a que mais tem condições de representar esta volonté généralé, logo o município tem as melhores condições de todas as unidades de poder do Estado de implementar o bem comum. Trata-se de relativizar o conceito de soberania e não de destruílo. O que a paradiplomacia defende é um neo-federalismo e não um neo-feudalismo. Luta-se, antes isoladamente, mas na seara do Mercosul, através da Rede Mercocid ades, por uma maior autonomia política, uma espécie de competê ncia internacional subnacional, limitada e controlada pelo governo cen tral. Ao longo do texto revelou-se que não se trata de um ple ito alienígena, muitas federações já concedem este tipo de poder aos seus 98 governos subnacionais, principalment e como uma forma de contribu ir com o desenvolvimento econômico do país. Assim, comprova-se que no Brasil, no que tange todo o seu território nacional, em matéria de po lítica mercosulina, o movimento paradiplomático está muito in cipient e, como se analisa o caso do município de Ipojuca, mas que bem utilizado o movimento paradiplomático pode contribu ir para o progresso econômico de todo o país, como no caso da prefeitura de Santo André. 99 REFERÊNCI AS AFONSO, José Roberto Rodrigues; LOBO, Tereza. Descentralizaçã o fiscal e participação em experiências democráticas. Revista Planejamento de Políticas Públicas, São Paulo, n. 14, 1996. AFFONSO, Rui de Britto A.; SIL VA, Pedro Luiz. A federação em perspectiva: ensaios selecionados. São Paulo: Fundap, 2005. ALMEIDA, José Gabriel Assis. Me rcosul: manual integração. 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O que objetivamente a prefeitura fez para trazer a refinaria à Suape: a) Quantas viagens? b) Se foi à Venezuela? c) Quantas vezes e como foi o contato direto do prefeito com Hugo Chávez? d) Quantas vezes falou/reuniu-se com representantes da PDVSA? e) Qual será o próximo passo neste processo da Refinaria? 1.2. Apesar de ser uma obra de iniciativa do Poder Executivo Federal, em que momento o prefeito mostrou-se ativo neste processo? Exemplificar. 1.3. O que a esfera municipal tem feito para contribuir com este processo? E o que planeja fazer ? E as demais unidades da federação (governo estadual e federal)? 108 2º.) Proposta/Posição política da prefeitura sobre o Mercosul? 3º.) Quais os acorodos/contatos/convênios, comerciais (ou não), fechados com os países do Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela)? 4º.) Conhece a REDE MERCOCIDADES? 4.1. Se participa de alguma associação de municípios (ou qualquer outro grupamento, consórcio) de alcance nacional e internacional? Quais? 5º.) Quantas indústrias existem em Suape? Quantas e quais de nacionalidade argentina, uruguaia, paraguaia e venezuelana? 6º.) Qual o partido do prefeito? Como é sua relação com o governo do estado (PE), Jarbas Vasconcelos / José Mendonça Filho e federal, Luis Inácio Lula da Silva? 6.1. Como é a personalidade do representante político de Ipojuca (empreendedor, voltado mais à política interna que externa)? 7º.) O prefeito pretende se reeleger? Quais as chances dele conseguir? 8º.) Falar sobre a posição estratégica do município (Litoral PE, Porto Ativo)? 9º.) O que já tem como tecnologia e infra-estrutura para facilitar este acordo e o que precisará ser construído? 10º.) Qual a estrutura econômica do município (ideologia do partido político)? 11º.) Se tem algum índice que mensure o nível de desenvolvimento municipal atualizado evolutivamente de cinco anos para cá (período de maior crescimento econômico de Ipojuca em função da consolidação do Porto de Suape)? 12º.) Como está a avaliação da inserção internacional do município? Quais as últimas ações concretas nessa área? 109 13º.) Quais os órgãos da prefeitura que tratam das questões internacionais (se tem alguma secretaria, departamento ou setor específico para relações internacionais)? 14º.) Quais os projetos de alcance/visibilidade/efeito internacional da prefeitura? 15º.) Informações/Dados adicionais da prefeitura.