design objectos em volta

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design objectos em volta
EQUILÍBRIO À MESA
DESIGN OBJECTOS EM VOLTA
ISABEL GORJÃO HENRIQUES
26 | Domingo 18 Janeiro 2015 | 2
E
rgonomia, equilíbrio, peso e funcionalidade são as directrizes no desenho de
talheres, instrumentos de manipulação
do que nos alimenta. Faca, garfo e colher
têm, cada um, um papel muito específico
à mesa e exigem uma aprendizagem que
a nós adultos, e na cultura ocidental, nos parece
imediata; cortar, espetar, mexer, encher e levar
à boca, tudo em movimentos que se vão aprimorando à razão de normas e etiquetas mais ou
menos exigentes.
Os talheres estabelecem uma relação directa
entre a comida e o nosso corpo — a mão e a boca.
Pegamos numa faca, avaliamos o seu peso, encaixamos na mão e com a pressão do dedo indicador
tornamo-la um instrumento de corte. A lâmina,
com ou sem serrilha, é arredondada para permitir
o corte em todas as inclinações. Rodamo-la entre
os dedos, e o polegar ajusta o movimento de recolha em direcção ao garfo. Os dentes do garfo,
afiados para espetar, devem ser amaciados o suficiente para o contacto com a boca. A colher deve
apresentar um rebordo a direito que evite entornar líquido durante o percurso, mas não agressivo quando entra na boca. Há ainda a versão para
peixe, em que a faca apresenta uma lâmina mais
pontiaguda, para separar a carne das espinhas,
e um desalinhamento em relação ao cabo para
permitir a recolha mais delicada do alimento, por
baixo. O próprio garfo de peixe é mais pequeno
SD<SDF<F
Manhatann, da
Cutipol. Desenhado
por José Joaquim
Ribeiro. Lançado
em 1994, recebeu
o prémio do Centro
Português de Design
(já extinto) e marcou a
viragem da filosofia da
Cutipol, que passou a
criar as suas próprias
linhas. Faqueiro em
cromo níquel/aço
inoxidável 18/10, com
acabamento polido.
http://www.cutipol.pt
Grand Prix, desenhado por Kay Bojesen.
Faqueiro que demorou 30 anos a acabar,
deve o seu nome ao prémio que recebeu
na Exposição Mundial de Milão de 1951.
Está ao serviço em todas as embaixadas
dinamarquesas espalhadas pelo mundo
inteiro. Produzido em aço inoxidável
acetinado ou polido, ou ainda, na sua
versão original, em prata.
http://www.kaybojesen.com
F
Faqueiro
desenhado por
d
Arne Jacobsen,
A
produzido pela
p
Georg Jensen.
G
Datado do pós-II
D
Guerra, período
G
dos “anos
d
dourados”
d
do design
d
dinamarquês,
d
rrevolucionou a
cutelaria pelo
c
seu desenho de
s
llinhas depuradas,
diferente de tudo
d
o que até então se
produzia. Em aço
p
iinoxidável 18/8,
com acabamento
c
acetinado.
a
http://www.
h
georgjensen.com
g
do que o de carne, facilitando um manuseamento
mais minucioso, e os dentes mais curtos servem,
mais uma vez, só para separar as espinhas.
A distribuição do peso num garfo ou numa colher deve resultar num equilíbrio que garanta o
mínimo de oscilações quando o talher transporta
a comida do prato à boca. O peso deve ser sentido,
sem ser pesado.
O processo de produção de talheres mais frequente consiste na estampagem. Uma chapa, de
aço inoxidável, assenta numa matriz onde o corte
é feito pela aproximação do punção (negativo) ao
molde, resultando uma forma que irá ser acabada
e brunida num processo ainda maioritariamente
artesanal. O aço inoxidável deve ao crómio a sua
capacidade de resistência à corrosão, elemento
químico que permite ganhar brilho com o polimento. A chapa tipo 430 é a de uso mais corrente e
contém 16% a 19% de crómio. Quando se pretende
uma franca melhoria no processo de estampagem,
no acabamento e resistência do produto, utiliza-se
a chapa tipo 304, que, para além do crómio (18%),
tem no níquel (10%) a sua mais-valia (daí o nome
de aço inoxidável 18/10).
Embora o modo como manipulamos os talheres
permaneça inalterável, o seu desenho vai seguindo
a trajectória do tempo, apresentando propostas
formais que traduzem olhares renovados sobre
aquilo que já foi encontrado, como se fosse a primeira vez.
Malmö, desenhado por Miguel Soeiro para a
marca portuguesa Herdmar. A forma destes
talheres é uma reminiscência da torre projectada
por Santiago Calatrava para a cidade sueca
Malmö. O cabo plano é torcido 90 graus na zona
de encontro com a extremidade funcional e, ao
serem pousados sobre a mesa, o que se vê de
cima é praticamente uma linha. Em aço inoxidável
18/10, pode ser polido ou banhado a titânio de
várias cores (cobre, dourado, chocolate e preto)
http://www.herdmar.com/pt
Prisme, da Stelton. Desenhado
em 1960 pelo designer Gert
Holbek e o ourives Jørgen
Dahlerup. Recebeu o prémio
do Conselho de Ourivesaria da
Dinamarca pela sua inovadora
linguagem formal. Faqueiro
em aço inoxidável 18/8, com
acabamento acetinado.
http://www.stelton.com
Chaco, da Stelton. Desenhado em 1990 por Tias
Eckhoff. Garante um equilíbrio correcto na mão
e tem lugar permanente na colecção do Museu
Internacional de Design de Londres. Faqueiro em
aço inoxidável 18/8, com acabamento acetinado.
http://www.stelton.com
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