Teologia Sistemática – Augustus Hopkins Strong vol 1
Transcrição
Teologia Sistemática – Augustus Hopkins Strong vol 1
A ug ustus H o pk in s STRONG Prefácio de R u s s e 11 S h e d d Vol. I AUGUSTUS HOPKINS STRONG Nasceu em Nova York (Rochester), E.U.A., Em 1836. Homem de grande vigor intelectual, literato, filósofo e teólogo, Strong cresceu e se formou dentro da Igreja Batista. Tal perfil se faz presente em sua obra, não de forma limitante, mas criativa e atenta às mudanças que fervilhavam em sua época “fin-de-siécle”. Sua obra teológica, prezando a reflexão teológica qualificada e aprofundada mais que a quantidade, marcou toda uma geração de estudantes do início do século pas sado, inclusive no Brasil. Dentre suas obras, desponta a Systematic Theology, sua opus magnum. T E O L Q G I A SISTEMATICA A u g u s t u s H o p k in s STRONG Prefácio de Russell Shedd A D o u t r in a d e D e u s Vol. I A NAGNOS C opyright © 2003 por E dito ra H agnos S u p e r v is ã o E d it o r ia l Luiz Henrique Alves cia Silva Rogério cie Lima Campos Silvestre M. c/e Lima Silvia Cappelletti T rad u ção Augusto Victorino R e v is ã o Cláudio J. A. Rodrigues D ig ita ç ã o d e t e x to s Regina de Moura Nogueira C apa Rogério A. de Oliveira L a y o u t e A r te F in a l Comp System D ia g r a m a ç ã o Pr. Regino da Silva Noqueira Cícero J. da Silva C oord en ad or de P rod u ção M auro W. T errengui Ia edição - m arço 2003 - 3000 exem plares I m p r e s s ã o e a c a b a m e n to Im prensa da Fé D a d o s I n t e r n a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o (C I P ) (C â m a r a B r a s ile ir a d o L iv r o , SP, B r a s il) S trong, A u g u stu s H opkins T eologia sistem ática/ A ugustus H opkins S trong ; prefácio de R ussell Shedd ; [tradução A ugusto V icto rin o ]. - São P aulo : H agnos, 2003. T ítu lo o rig in al: S ystem atic theology C onteúdo: V. 1. A do u trin a de D eus 1. B atistas - D o u trin a s 2. Teologia doutrinai I. S hedd, R ussell. II. T ítulo. ISBN 85-89320-09-X 03-0919 C D D -230 í n d ic e s p a r a c a tá lo g o s is t e m á t ic o : I. T eologia sistem ática : R eligião 230 Todos os direitos d esta edição reserv ad o s à E D IT O R A H AG N OS R ua B elarm in o C ardoso de A n d rad e, 108 São Paulo - SP - 04809-270 Tel/Fax: ( x x ll) 5666 1969 e-m ail: h a g n o s @ h a g n o s.c o m .b r-w w w .h a g n o s .c o m .b r PREFÁCIO Foi uma grande surpresa saber que a Teologia Sistemática de Strong, aquela obra monumental de pensamento teológico da minha juventude na Escola Graduada de Wheaton, bem como no Seminário da Fé, estava sendo traduzida e editada em portu guês. Confesso que não tenho lido muito desta teologia, tão conhecida no mundo evan gélico durante mais de cem anos. Mas descobri que é uma vasta fonte de informação teológica e bíblica. Não é necessário concordar com tudo que Strong escreveu para aproveitar a impressionante coletânea de ensinamentos e textos que o incansável teólo go ajuntou. Augustus Strong foi eleito presidente e professor de Teologia Bíblica do Seminário Teológico de Rochester no estado de Nova Iorque em 1872. Ocupou estes dois cargos durante 40 anos, após pastorear a Primeira Igreja Batista de Cleveland, estado de Ohio, por sete anos. Não abandonou o espírito pastoral na “torre de marfim” do seminário. A Teologia Sistemática de Strong (primeira edição, 1886) encontra o seu centro em Cristo. Em suas palavras, “A pessoa de Cristo foi o fio da meada que segui; sua divindade e sua expiação eram os dois focos da grande elipse” (citado por W. R. Estep, Jr. na Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, ed. W. A. Elwell, Ed.Vida Nova, 1990, Vol. III, p. 420).O leitor não precisa ler os dois volumes para perceber a riqueza de apoio bíblico e teologia histórica. Entre os teólogos mais destacados dos Batistas do Sul dos Estados Unidos, E. Y. Mullins e W. T. Conner receberam forte influência de Strong Espero que o aparecimento desta Teologia Sistemática seja bem recebido no Brasil. Deve ser um referencial para os que procuram uma âncora para sua fé, mesmo que tenha sido escrita antes dos teólogos liberais tais como Paul Tillich e Rudolf Bultmann. A Deus toda a glória! Pr. D r. R u ssell S hedd José dos Reis E-Books Digital A g ra d e c e m o s a W A G N E R E D U A R D O D E L I M A f p o r q u em se v ia b iliz o u e d ita r esta. ob ra em lín g u a p o rtu g u e sa . OS EDITORES PREFÁCIO DO AUTOR A presente obra é um a revisão e am pliação da m inha Systematic Theology, prim eiram ente publicada em 1886. D a obra original foram im pressas sete edi ções, cada um a das quais incorporando sucessivas correções e supostos apri m oram entos. D urante os vinte anos que m ediaram entre a prim eira publica ção, reuni m uito m aterial novo, que agora ofereço ao leitor. M eu ponto de vista filosófico e crítico nesse período tam bém sofreu algum a m udança. Con quanto ainda eu sustente as doutrinas antigas, interpreto-as diferentem ente e exponho-as com m aior clareza, porque a m im m e parece ter chegado a um a verdade fundam ental que lança novas luzes sobre todas elas. E sta verdade tentei estabelecer em m eu livro intitulado Christ in Creation, e delas faço refe rências ao leitor para mais inform ações. Que Cristo é aquele único R evelador de Deus, na natureza, na hum anida de, na história, na ciência, na Escritura, a m eu juízo, a chave da teologia. Este ponto de vista im plica um a concepção m onística e idealista do m undo, junta m ente com um a idéia evolutiva quanto à sua origem e progresso. M as é o próprio antídoto do panteísm o que reconhece a evolução como único método do Cristo transcendente e pessoal, que é tudo em todos e que faz o universo teológico e moral a partir do centro da sua circunferência e desde o seu com e ço até agora. Nem a evolução, nem a alta crítica tem algo de aterrador para aquele que as considera com o parte do processo criador e educador da parte de Cristo. O m es mo Cristo em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conheci m ento fornece todas as salvaguardas e lim itações necessárias. Tão som ente porque Cristo tem sido esquecido é que a natureza e a lei tem sido personifica da, e a história tem sido considerada com o um desenvolvim ento sem propósi to, que se tem feito referência ao judaísm o com o tendo um a origem sim ples m ente hum ana, que se tem pensado que Paulo tirou a igreja do seu próprio curso m esm o antes de iniciar o seu próprio curso, que a superstição e ilusão vieram a parecer o único fundam ento do sacrifício dos m ártires e o triunfo das m issões m odernas. De m odo nenhum creio num a evolução irracional e ateísta com o esta. C ontrariam ente, creio naquele em quem consistem todas as coisas, 8 A ugustas H opkins Strong que está com o seu povo até o fim do m undo e prom eteu conduzi-lo em toda a verdade. A filosofia e a ciência são boas servas de Cristo, mas pobres guias quando rejeitam o Filho de Deus. Q uando chego ao m eu septuagésim o ano de vida e, no m eu aniversário escrevo estas palavras, sou grato por aquela experiência da união com Cristo que me capacitou a ver na ciência e na filosofia o ensino do m eu Senhor. Porém esta m esm a experiência pessoal fez-m e mais conscien te do ensino de Cristo na Escritura, e fez-m e reconhecer em Paulo e João um a verdade mais profunda do que a que foi descoberta por quaisquer escritores, um a verdade com relação ao pecado e a sua expiação e que satisfaz os mais profundos anseios da m inha natureza e que por si m esm a é evidente e divina. Preocupam -m e algumas tendências teológicas dos nossos dias, porque creio que elas são falsas tanto na ciência com o na religião. Com o hom ens que se sentem pecadores perdidos e que um a vez receberam o perdão do seu Senhor e Salvador crucificado podem daí em diante rebaixar seus atributos, negar a sua divindade e expiação, arrancar da sua fronte a coroa do m ilagre e sobera nia, relegá-lo ao lugar de um m estre sim plesm ente moral que nos influencia apenas com o o fez Sócrates com palavras proferidas através dos tem pos, pas sa pela m inha com preensão. Eis aqui o m eu teste de ortodoxia: Dirigim os nossas orações a Jesus? Invocam os o nom e de Cristo com o Estêvão e toda a igreja prim itiva? O nosso Senhor vivo é onipresente, onisciente, onipotente? Ele é divino só no sentido em que nós tam bém o som os, ou é ele o Filho unigênito, Deus m anifesto em carne, em quem habita corporalm ente toda a plenitude da divindade? Que pensais vós de C risto? esta ainda é a pergunta crítica, e a ninguém que, diante da evidência que ele nos forneceu, se não pode responder corretam ente, assiste o direito de cham ar-se cristão. Sob a influência de R itschl e seu relativism o kantiano, m uitos dos nossos mestres e pregadores têm deslizado para negação prática da divindade de Cristo e da sua expiação. Parece que estam os à beira do precipício de um a repetida falha unitária, que esfacelará as igrejas e com pelirá a cisões, de m aneira pior que a de C hanning e W are há um século. Os cristãos am ericanos se recupera ram daquele desastre som ente ao afirm ar vigorosam ente a autoridade de C ris to e a inspiração das Escrituras. N ecessitam os de um a visão do Salvador como a que Paulo teve no cam inho de D am asco e João na ilha de Patm os, para nos convencerm os de que Jesus está acim a do espaço e do tem po, que a sua exis tência antedata a criação, que ele conduziu a m archa da história dos hebreus, que ele nasceu de um a virgem , sofreu na cruz, levantou-se dentre os mortos, e agora vive para sem pre, é Senhor do universo, o único Deus com quem nos relacionam os, nosso Salvador aqui e Juiz no futuro. Sem haver avivam ento T e o l o g i a S is t e m á t ic a 9 nesta fé nossas igrejas se tom arão secularizadas, a m issão m orrerá, e o casti çal será rem ovido do seu lugar com o ocorreu às sete igrejas da Á sia e com o tem sido com as igrejas da N ova Inglaterra, que se apostataram . Im prim o esta edição revista e am pliada da m inha “Systematic Theology”, na esperança de que a sua publicação possa fazer algo para refrear esta veloz m aré que avança, e confirm ar a fé nos eleitos de Deus. Não tenho dúvida de que os cristãos, em sua grande m aioria, ainda m antêm a fé que, de um a vez por todas foi entregue aos santos e que eles, cedo ou tarde, hão de separar-se daqueles que negam o Senhor que os com prou. Q uando o inim igo entra com o um dilúvio, o Espírito do Senhor levanta o estandarte contra ele. E preciso que eu faça a m inha parte levantando tal estandarte. E preciso que eu conduza outros a reconhecer, com o eu, a despeito das opiniões arrogantes da m oderna infidelidade, a m inha firm e crença, reforçada som ente pela experiência e refle xão de m eio século nas velhas doutrinas da santidade com o atributo funda m ental de Deus, de um a transgressão e pecado de toda a raça hum ana, na preparação divina da história hebréia da redenção do hom em , na divindade, na preexistência, nascim ento virginal, expiação vicária e ressurreição corpo ral do nosso Senhor Jesus Cristo, e na sua futura vinda para julgar os vivos e os m ortos. Eu creio que estas são verdades da ciência assim com o da revela ção; que ainda se verá que o sobrenatural é m ais verdadeiram ente natural; e que não o teólogo de m ente aberta, m as o cientista de m ente estreita será obrigado a esconder a sua cabeça na vinda de Cristo. O presente volum e, ao tratar do M onism o Ético, da Inspiração, dos A tribu tos de Deus e da Trindade, contém um antídoto para a m ais falsa doutrina que agora am eaça a segurança da igreja. D esejo agora cham ar especialm ente a atenção para o assunto Perfeição e os A tributos por ela envolvidos, porque eu creio que a recente fusão da Santidade com o A m or e a negação prática de que essa Retidão é fundam ental na natureza de Deus são responsáveis pelos pon tos de vista utilitários da lei e os pontos de vista superficiais sobre o pecado que agora prevalecem em alguns sistem as de teologia. Não pode haver nenhu m a apropriada doutrina da retribuição, quando se recusa a sua preem inência. O am or deve ter um a norm a ou padrão, e isto só pode ser encontrado na San tidade. A velha convicção do pecado e do senso de culpa que conduz o peca dor convicto à cruz são inseparáveis de um a firm e crença no atributo de Deus logicam ente auto-afirm ante, anterior ao auto-com unicante e condicionado a ele. A teologia da nossa época carece de um novo ponto de vista sobre o Justo. Tal ponto de vista esclarecerá que deve haver um a reconciliação com Deus antes que o hom em seja salvo, e que a consciência hum ana seja apaziguada só na condição de que se faça um a propiciação à Justiça divina. N este volum e eu 10 Augnstus H opkins Strong proponho o que considero a verdadeira D outrina de Deus, porque nela deve basear-se tudo o que se segue nos volum es sobre a D outrina do H om em e a da Salvação. A presença universal de Cristo, luz que ilum ina a todo hom em tanto em terras pagãs com o cristãs, para dirigir ou governar todos os m ovim entos da m ente hum ana, dá-m e a confiança de que os recentes ataques à fé cristã fra cassarão no seu propósito. Torna-se evidente, por fim , que não só atacam -se as obras prim orosas, m as até m esm o a cidadela. Pede-se que se abandone toda a crença na revelação especial. D izem que Jesus Cristo veio em carne exata m ente com o qualquer um de nós, e ele era antes de A braão senão só no m esm o sentido que nós somos. A experiência cristã sabe com o caraterizar tal doutrina tão logo se estabelece de um m odo claro. E a nova teologia entrará em voga possibilitando que até m esm o crentes com uns reconheçam a heresia destruidora de alm as m esm o sob a m áscara de professa ortodoxia. Não faço apologia algum a do elem ento hom ilético do meu livro. Para ser verdadeira ou útil, a teologia deve ser um a paixão. Pectus est quocl teologum facit, e nenhum zom bador que apregoa a “Teologia P eitoral” rae im pedirá de sustentar que os olhos do coração devem ser ilum inados para perceber a ver dade de D eus e qiie, para conhecer a verdade, é necessário praticá-la. A teolo gia é um a ciência cujo cultivo pode ser bem sucedido som ente em conexão com sua aplicação prática. Por isso, em cada discussão dos seus princípios devo assinalar suas relações com a experiência cristã, e a sua força para des pertar em oções cristãs e levar a decisões cristãs. Teologia abstrata, na verda de, não é científica. Só é científica a teologia que traz o estudioso aos pés de C risto. Eu anseio pelo dia em que, em nom e de Jesus, todo joelho se dobre. Creio que, se cada um servir a Cristo, o Pai o honrará, e ele honrará o Pai. Eu m es mo não m e orgulharia de crer tão pouco, m as sim de crer m uito. Fé é a m edida com que Deus avalia o hom em . P or que haveria de duvidar que D eus falou aos pais pelos profetas? Por que haveria de pensar que é incrível Deus ressuscitar os m ortos? O que é im possível aos hom ens é possível a Deus. Q uando o Filho do hom em vier, porventura achará fé na terra? Q ueira D eus que encontre fé em nós, que professam os ser seus seguidores. N a convicção de que as trevas presentes são apenas tem porárias e que serão banidas por um glorioso alvore cer, ofereço ao público esta nova edição da m inha “Teologia” rogando a Deus para que qualquer que seja a boa sem ente que frutifique e qualquer que seja a planta que o Pai não plantou que seja arrancada. RO C H ESTER TH EO LO G IC A L SEM INARY R O C H ESTER , N. Y„ 3 de agosto de 1906. SUMÁRIO P arte I - PROLEGÔMENOS C apítulo I - IDÉIA DE TEOLOGIA...........................................................................21 I. Definição de Teologia................................................................................................21 II. A lvo da T eologia....................................................................................................... 22 III. Possibilidade da T eologia........................................................................................ 23 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o un iverso ..........................23 2. Na capacidade humana de conhecer D eus........................................................ 26 3. Na revelação do próprio D e u s............................................................................ 35 IV. Necessidade da T eologia......................................................................................... 41 1. No instinto organizador da mente hum ana....................................................... 41 2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter........42 3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador ........................................................................................................43 4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder da igreja.....................................................................................................................44 5. Nas injunções diretase indiretas da Escritura......................................................45 V. Relação da Teologia com a R eligião......................................................................... 46 1. D erivação...................................................................................................................46 2. Falsas Concepções................................................................................................... 47 3. Idéia Essencial..........................................................................................................49 4. Inferências ................................................................................................................ 50 C apítulo II - MATERIAL DA TEOLOGIA.................................................................53 I. Fontes da Teologia........................................................................................................53 1. A Escritura e a natureza........................................................................................54 2. A Escritura e o Racionalismo .............................................................................. 59 3. A Escritura e o Misticismo.................................................................................... 61 4. A Escritura e o Romanismo................................................................................. 64 II. Limitações da Teologia................................................................................................66 1. Na finitude do entendimento humano.................................................................. 66 2. No estado imperfeito da ciência natural e m etafísica........................................ 67 3. Na inadequação da língua...................................................................................... 67 4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras........................................... 68 5. No silêncio da revelação e sc rita ........................................................................... 68 6. Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado............................... 69 12 Augiistiis H opkins Strong III. Relações do Material com o Progresso da Teologia.................................... 1. É impossível um sistema perfeito de teolo g ia......................................... 2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva........................................... C apítulo III - MÉTODO DA TEOLOGIA........................................................ I. Requisitos para o Estudo da Teologia............................................................ 1. Uma mente disciplinada............................................................................... 2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico. 3. Conhecimento das ciências física, mental e m o ra l.................................. 4. Conhecimento das línguas originais da B íb lia......................................... 5. Afeição santa para com D eus...................................................................... 6. A influência iluminadora do Espírito Santo ............................................ II. Divisões da T eologia........................................................................................ III. História da Teologia Sistem ática..................................................................... IV. Ordem de Tratamento na Teologia Sistemática............................................ 1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico.... 2. O método sintético....................................................................................... . 69 . 69 . 70 . 72 . 72 . 72 . 73 . 73 . 74 . 75 .7 5 . 76 . 80 . . 88 88 89 P arte II - A EXISTÊNCIA DE DEUS C apítulo I - ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS ., I. Primeiras Verdades em G e ra l.......................................................................... 1. Sua natureza.................................................................................................. 2. Seus critérios................................................................................................. II. A Existência de Deus, uma Primeira Verdade............................................... III. Outras Supostas Fontes da Nossa Idéia.......................................................... IV. Conteúdo desta Intuição................................................................................... C apítulo II - EVIDÊNCIAS CORROBORATIVAS DA EXISTÊNCIA DE D E U S.............. .................................................................................................... I. Argumento Cosm ológico.................................................................................. 1. Defeitos do Argumento Cosmológico....................................................... II. Argumento T eleológico.................................................................................... 1. Mais explicações.......................................................................................... 2. Defeitos do Argumento Teleológico.......................................................... III. Argumento Antropológico............................................................................... IV. Argumento Ontológico..................................................................................... 1. De Samuel Clarke ....................................................................................... 2. De Descartes ................................................................................................. 3. De Anselm o................................................................................................... C apítulo III - EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CON CLUSÃO................... I. M aterialism o...................................................................................................... II. Idealismo M aterialista...................................................................................... III.Panteísmo Idealista............................................................................................ IV. Monismo É tico................................................................................. . 93 . 95 .9 5 .9 7 .9 8 106 113 118 120 121 123 124 128 131 138 138 139 139 144 144 151 158 165 T e o l o g i a S is t e m á t ic a 13 P arte III - A S E SCRITU RAS, U M A R EVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS C apítulo I - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.............................................. 175 I. Razões a Priorí para Esperar uma Revelação da Parte de D e u s..........................175 1. Necessidades da natureza do homem................................................................ 175 2. Pressuposição de um suprimento....................................................................... 177 II. As Marcas da Revelação que o Homem pode E sperar....................................... 179 1. Quanto à sua substância..................................................................................... 179 2. Quanto ao seu m étodo......................................................................................... 180 3. Quanto à sua certificação.................................................................................... 183 III. Os Milagres, um Atestado da Revelação D ivin a................................................. 183 1. Definição de Milagre .......................................................................................... 183 2. Possibilidade do Milagre .................................................................................... 189 3. Probabilidade dos M ilagres............................................................................... 192 4. Testemunho necessário para se provar um m ilagre......................................... 197 5. Força Evidenciai dos Milagres .......................................................................... 198 6. Falsos M ilagres..................................................................................................... 203 IV. Profecia Atestando uma Revelação D ivina............................................................206 1. D efinição................................................................................................................ 206 2. Relação da profecia com os milagres ................................................................ 208 3. Requisitos na profecia, considerados como Evidência da Revelação.........208 4. Caraterísticas Gerais da Profecia nas Escrituras ..............................................209 5. Profecia messiânica em geral.............................................................................. 210 6. Profecias especiais pronunciadas por C risto .................................................... 210 7. Sobre o duplo sentido da P rofecia......................................................................212 8. Propósito da Profecia - até onde não se cumpriu............................................ 214 9. Poder Evidenciai da Profecia - quando cumprida........................................... 216 V. Princípios de Evidência Histórica Aplicáveis à Prova de uma Revelação Divina........................................................................................................................... 217 1. Quanto à evidência documentária........................................................................2 17 2. Quanto ao testemunho em g eral.......................................................................... 218 C aítulo II - PROVAS POSITIVAS DE QUE A S ESCRITURAS SÃO A REVELAÇÃO D IVIN A............................................................................................222 1. Genuinidade dos Livros do Novo Testamento.................................................. 223 2. Genuinidade dos Livros do Velho Testamento.................................................250 II. Credibilidade dos Escritores da B íb lia................................................................... 259 III. O Caráter Sobrenatural do Ensino da E scritura.................................................... 262 1. O ensino da Escritura em g e ra l........................................................................... 262 2. Sistema Moral do Novo Testamento.................................................................. 266 3. A pessoa e o caráter de Cristo............................................................................ 279 4. O testemunho do próprio Cristo..........................................................................282 IV. Resultados Históricos da Propagação da Doutrina da Escritura......................... 285 14 A ugustus H opkins Strong C apítulo III - INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS................................................... 293 I. Definição de Inspiração..............................................................................................293 II. Prova da Inspiração.................................................................................................... 296 III. Teorias Sobre a Inspiração........................................................................................302 1. Teoria da Intuição ..................................................................................................302 2. Teoria da Iluminação..............................................................................................305 3. Teoria do D itado.....................................................................................................311 4. Teoria da D inâm ica................................................................................................314 IV. União dos Elementos Divino e Humano na Inspiração......................................... 316 V. Objeções à Doutrina da Inspiração ..........................................................................330 1. Erros em matéria de C iência............................................................................ 331 2. Erros em matéria de H istória........................................................................... 336 3. Erros no campo da M oral..................................................................................341 4. Erros de Raciocínio............................................................................................345 5. Erros na citação ou interpretação do Velho Testamento.............................. 347 6. Erros na Profecia................................................................................................349 7. Alguns livros não merecem um lugar na Escritura inspirada..........................351 8. Porções dos livros da Escritura escritos por outras pessoas que não são aquelas a quem são atribuídos............................................................................. 353 9. Narrativas Céticas ou Fictícias.............................................................................356 10. Reconhecimento da não inspiração de mestres da Escritura e de seus escritos..................................................................................................................359 Parte IV - NATUREZA, DECRETOS E OBRAS DE DEUS C apítulo I - ATRIBUTOS DE D E U S ........................................................................ 363 I. Definição do Termo Atributos.................................................................................. 364 II. Relação dos Atributos Divinos com a Essência D ivin a....................................... 364 1. Os atributos têm uma existência o b jetiva...................................................... 364 2. Os atributos são inerentes à essência d ivin a..................................................366 3. Os atributos pertencem à essência divina como tal ......................................367 4. Os atributos manifestam a essência d iv in a ....................................................367 III. Métodos para Determinar os Atributos D ivinos................................................... 368 1. Método racional.....................................................................................................368 2. Método bíblico.......................................................................................................369 IV. Classificação dos Atributos...................................................................................... 369 V. Atributos Absolutos ou Imanentes .......................................................................... 372 Primeira divisão - Espiritualidade e os atributos envolvidos por e la .................372 1. V id a ......................................................................................................................... 374 2. Pessoalidade................................................. ......................................................... 376 Segunda Divisão - Infinitude e os atributos envolvidos por e la ......................... 378 Terceira Divisão - Perfeição e os atributos por ela envolvidos.......................... 388 1. Verdade................................................................................................................... 388 I T e o l o g i a S is t e m á t i c a 15 2. A m or......................................................................................................................... 391 3. Santidade..................................................................................................................399 VI. Atributos Relativos ou Transitivos........................................................................... 410 Primeira Divisão - Atributos relacionados com Tempo e Espaço...................... 410 1. Eternidade................................................................................................................ 410 2. Imensidade............................................................................................................... 415 Segunda Divisão - Atributos relacionados com a C riação...................................417 1. Onipresença.............................................................................................................417 2. O nisciência.............................................................................................................. 421 3. Onipotência..............................................................................................................427 Terceira Divisão - Atributos relacionados com os seres m o rais.........................430 1. Veracidade e Fidelidade ou Verdade transitiva..................................................430 2. Misericórdia e Bondade ou Amor Transitivo......................................................431 3. Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva......................................................... 433 VII. Nível e Relações dos Vários Atributos .................................................................440 1. Santidade, atributo fundamental de D eu s...........................................................441 2. A santidade de Deus, a base da obrigação m o ra l............................................. 445 C apítulo II - DOUTRINA DA TRINDADE..............................................................452 I. Na Escritura há Três que são Reconhecidos como D eu s......................................454 1. Provas do Novo Testamento................................................................................ 454 2. Indicações do Velho Testamento..........................................................................472 II. Estes três são Descritos na Escritura de tal Modo que Somos Compelidos a Concebê-los como Pessoas Distintas.................................................................... 479 1. O Pai e o Filho são pessoas distintas uma da o u tra ..........................................479 2. O Pai e o Filho são pessoas distintas do E spírito............................................. 480 3. O Espírito Santo é uma pessoa.............................................................................480 III. Esta Tripessoalidade da Natureza Divina não é Simplesmente Econômica e Temporal, mas Imanente e Eterna............................................................................. 485 1. Prova da Escritura de que estas distinções de pessoalidade são eternas.... 485 2. Erros refutados pelas passagens anteriores........................................................ 486 IV. Esta Tripessoalidade não é Triteísmo; pois, Conquanto Haja Três Pessoas, há Apenas Uma Essência........................................................................................... 491 V. As Três Pessoas, Pai, Filho, e Espírito Santo, são Iguais .................................... 496 1. Estes títulos pertencem às Pessoas...................................................................... 496 2. Sentido qualificado destes títulos ....................................................................... 497 3. Geração e processos consistentes com a igualdade..........................................504 VI. Inescrutável, Embora não Autocontraditória, esta Doutrina Fornece a Chave para Todas as Outras Doutrinas.................................................................... 509 1. O modo desta existência triúna é inescrutável.................................................. 509 2. A Doutrina da Trindade não é autocontraditória.............................................. 512 3. A doutrina da Trindade tem importantes relações com outras doutrinas .... 514 C apítulo III - OS DECRETOS DE DEUS..................................................................522 I. Definição de D ecretos............................................................................................... 522 16 A ugustus H opkins Strong II. Prova da Doutrina dos Decretos...............................................................................525 1. Da Escritura............................................................................................................ 525 2. Da R azão................................................................................................................ 527 III. Objeções à Doutrina dos Decretos.......................................................................... 532 1. Que eles são inconsistentes com a livre atuação do homem .......................... 532 2. Que eles afastam todo o motivo do exercício humano.................................. 536 3. Que eles fazem Deus o autor do pecado............................................................ 539 VI. Notas Finais............................................................................................................. 544 1. Empregos práticos da doutrina dos decretos.................................................... 544 2. O verdadeiro método da pregação da doutrina................................................. 545 C apítulo IV - AS OBRAS DE DEUS; OU A EXECUÇÃO DOS DECRETOS . 547 SEÇÃO I - CRIAÇÃO I. Definição de C riação................................................................................................. 547 II. Prova da Doutrina da C riação .................................................................................. 551 1. Declarações diretas da Escritura..........................................................................551 2. Evidência indireta da Escritura........................................................................... 556 III. Teorias que se opõem à Criação ............................................................................. 556 1. D ualism o................................................................................................................ 556 2. Emanação............................................................................................................... 564 3. Criação a partir da eternidade............................................................................. 568 4. Geração espontânea..............................................................................................573 IV. O Relato Mosaico da C riação ..................................................................................575 2. Interpretação adequada..........................................................................................579 V. O Fim de Deus na Criação......................................................................................... 583 1. O testemunho da Escritura...................................................................................583 2. O testemunho da razão......................................................................................... 585 VI. Relação da Doutrina da Criação com as outras D outrinas................................ 590 1. Com a santidade e a benevolência de D eus...................................................... 590 2. Com sabedoria e livre vontade de Deus ............................................................592 3. Com Cristo como revelador de D eus................................................................. 594 4. Com a Providência e a Redenção .......................................................................597 5. Com a observância do Sábado............................................................................ 598 SEÇÃO II - PRESERVAÇÃO I. Definição de Preservação......................................................................................... 602 II. Prova da Doutrina da Preservação........................................................................... 603 1. Da Escritura............................................................................................................ 603 2. Da R azão................................................................................................................604 III. Teorias que virtualmente negam a doutrina da Preservação............................... 607 1. D eísm o....................................................................................................................607 2. Criação contínua ................................................................................................... 609 IV. Notas sobre a Parceria D ivin a..................................................................................612 SEÇÃO III - PROVIDÊNCIA I. Definição de Providência...................................................................................... 614 T e o l o g ia S is t e m á t ic a II. Prova da Doutrina da Providência.......................... 1. Prova escriturística............................................... 2. Prova racional ....................................................... III. Teorias opostas à Doutrina da Providência........... 1. Fatalism o............................................................... 2. Casualism o............................................................ 3. Teoria de uma providência simplesmente geral IV. Relações da Doutrina da Providência.................... 1. Com os milagres e com as obras da g raça........ 2. Com a oração e a resposta................................... 3. Com a atividade cristã......................................... 4. Com os maus atos dos agentes liv re s................ SEÇÃO IV - OS ANJOS BONS E OS MAUS I. Afirmações e Sugestões da E scritura..................... 1. Quanto à natureza e atributos dos anjos ........... 2. Quanto ao seu número e organização............... 3. Quanto ao seu caráter moral .............................. 4. Quanto às suas fu nções....................................... II. Objeções à Doutrina dos A n jo s............................... 1. À doutrina dos anjos em geral ........................... 2. À doutrina dós anjos maus em particular.......... III. Empregos práticos da Doutrina dos A n jo s ........... 1. Emprego da doutrina dos anjos bons................. 2. Empregos da doutrina dos anjos m aus.............. 17 615 615 622 625 625 626 627 632 632 633 642 646 650 650 655 658 660 673 673 674 677 677 678 Parte I PROLEGÔMENOS C a p ítu lo I IDÉIA DE TEOLOGIA I. D E FIN IÇ Ã O DE T E O L O G IA Teologia é a ciência de Deus e das relações entre D eus e o universo. Embora a palavra “teologia” seja empregada às vezes em escritos dogmá ticos para designar um simples departamento da ciência que trata da nature za e atributos divinos, o uso prevalecente, desde A b e la rd o (1079-1142 A . D.), que intitulou seu tratado geral “Theologia Christiana”, o qual abrange sob este termo todo o acervo da doutrina cristã. Por isso, a teologia trata, não só de Deus, mas das relações entre Deus e o universo, motivo por que falamos da Criação, da Providência e da Redenção. Os Pais chamam o Evangelista João de “o teólogo”, porque ele trata mais plenamente do relacionamento interno das pessoas da Trindade. G r e g ó r i o N a z i a n z e n o (328) recebeu esta designação porque defendia a divindade de Cristo contra os arianos. Para um exemplo moderno deste emprego do termo “teologia” no sentido restrito, veja o título do primeiro volume do D r . H o d g e : “Systematic Theology, Vol. I: Teologia". Mas teologia não é somente “a ciên cia de Deus”, nem mesmo “a ciência de Deus e do homem”. Ela também dá conta das relações entre Deus e o universo. S e o universo fosse Deus, a teologia seria a única ciência. Visto que o universo é apenas uma manifestação de Deus e distingue-se dele, há ciências da natureza e da mente. A teologia é a “ciência das ciências”, não no sentido de incluir todas estas, mas no de empregar os seus resultados e mostrar a sua base subjacente; (ver W a rd la w , Theology, 1.1,2). A ciência física não é uma parte da teologia. Somente como físico, H um boldt não precisava mencio nar o nome de Deus em seu Cosmos (contudo vejamos Cosmos, 2.413, onde ele diz: “O Salmo 104 apresenta uma imagem do cosmos todo”). O Bispo de C a rlis le : “A ciência é atéia, mas nem por isso pode ser ateísta”. Só quando consideramos as relações das coisas finitas com Deus é que o estudo delas fornece material para a teologia. A antropologia é uma parte da teologia porque a natureza do homem é obra de Deus e porque a forma de Deus tratar o homem lança luz sobre o caráter de Deus. Deus é conhecido através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas obras e atividades na medida que elas acompanham o nosso conheci mento. Todas outras ciências exigem a teologia para sua explicação completa. A ugustus H opkins Strong 22 P roudhon: “S e você se aprofundar muito na política, esteja certo de entrar na teologia”. II. ALVO DA TEOLOGIA O alvo da teologia é a certificação dos fatos que dizem respeito a Deus e às relações entre Deus e o universo, e a apresentação de tais fatos em sua unida de racional com o partes conexas de um form ulado e orgânico sistem a de ver dade. Ao definirmos a teologia como ciência, indicamos o seu alvo. A ciência não cria; descobre. A teologia responde a esta descrição da ciência. Desco bre fatos e relações, mas não os cria. Fisher, Nature and Method of Revelation, 141 - “ S c h ille r, referindo-se ao ardor da fé em Colombo, diz que, se o grande descobridor não tivesse achado um continente, ele o teria criado. Mas a fé não é criativa. S e Colombo não tivesse achado a terra - não teria havido uma resposta objetiva da sua crença - sua fé teria sido mera fantasia”. Porque a teologia trata de fatos objetivos, recusamo-nos a defini-la como “ciência da religião”; versus Am. Theol. Rev., 1850.101-126, eTHORNWELL, Theology, 1.139. Tanto os fatos como as relações de que a teologia trata têm uma existência independente dos processos mentais subjetivos do teólogo. Ciência não é apenas observação, registro, verificação e formulação de fatos objetivos; é também o reconhecimento e explicação das relações entre estes fatos e a síntese tanto dos fatos como dos princípios racionais que os unem em um sistema abrangente, corretamente proporcional e orgânico. Tijolos e madeiramento espalhados não são uma casa; braços, pernas, cabe ças e troncos separados numa sala de dissecção não são homens vivos; e fatos isolados não constituem ciência. Ciência = fatos + relações; W h e w e l l , Hist. Inductive Sciences, I, Introd., 43 - “Pode haver fatos sem ciência, como no conhecimento do cavouqueiro; pode haver pensamento sem ciência, como na antiga filosofia grega”. A. M acD onald: “O método a priori relaciona-se com o método a posteriori como as velas com o mastro de uma embarcação: quanto melhor é a filosofia, maior é a providência de um número suficiente de fatos; doutra forma ocorre o perigo de transtornar o empreendimento”. P reside nte W o o d ro w W ilso n : “A enfática injunção da nossa era diz aos historiadores: ‘dai-nos os fatos’. ... Mas os fatos em si não constituem a ver dade. A verdade não é concreta; é abstrata. É só a idéia, a revelação correta, do sentido que as coisas têm. Ela só é evocada pela distribuição e ordenação dos fatos que sugerem o sentido”. Dove, Logic of the Christian Faith, 14 “Perseguir a ciência é perseguir as relações”. Everett, Science of Thought, 3 - “Logia” (p.ex. na palavra “teologia”), de Xóyoç,, = palavra + razão, expressão + pensamento, fato + idéia; cf. Jo. 1.1 - “No princípio era o Verbo”. Como a teologia trata de fatos objetivos e suas relações, assim a disposi ção destes fatos não é opcional, mas determinada pela natureza da matéria de que ela trata. A verdadeira teologia repensa os pensamentos de Deus e os põe na disposição de Deus, como os construtores do templo de Salomão T e o l o g i a S is t e m á t ic a 23 tomaram as pedras já lavradas e as fixaram nos lugares para os quais o arquiteto as havia designado; Reginald Heber: “Não caiu nenhum martelo, nenhum machado tiniu; Como a longa palmeira, surgiu a fábrica mística”. . Os cientistas não temem que os dados da física bitolem ou comprimam o seu intelecto; nem devem temer os fatos objetivos que são os dados da teologia. Não podemos fazer teologia do mesmo modo que não podemos fazer uma lei da natureza física. Como o filósofo natural é “Naturae minister et interpres”, assim o teólogo é servo e intérprete da verdade objetiva de Deus. m . POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA A possibilidade da Teologia tem um a tríplice base: 1. N a existência de um D eus que se relaciona com o universo; 2. N a capacidade da m ente hum ana de conhecer Deus e algum as de tais relações; 3. N a provisão de m eios pelos quais D eus se põe em real contato com a m ente ou, em outras palavras, na provisão de um a revelação. Qualquer ciência em particular só se torna possível quando combina três condições, a saber, a verdadeira existência do objeto de que ela trata, a capa cidade subjetiva da mente humana conhecer tal objeto, e a provisão de meios definidos pelos quais os objetos entram em contato com a mente. Podemos ilustrar as condições da teologia a partir da selenologia - a ciência, não da “política lunar”, que de modo tão infundado John S t u a r t M il l pensava perse guir, mas da física lunar. A selenologia é possível sob três condições: 1. a existência objetiva da lua; 2. a capacidade subjetiva da mente humana de conhecê-la; e 3. a provisão de aiguns meios (p.ex ., os olhos e o telescópio) pelos quais a lacuna entre o homem e a lua se ligam e pelos quais a mente pode apossar-se do conhecimento verdadeiro dos fatos relativos à lua. 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo Tem -se objetado, na verdade, que desde que Deus e estas relações são objetos apreendidos só pela fé, não são objetos próprios do conhecim ento ou assuntos próprios da ciência. Respondemos: a) A Fé é conhecim ento e o m ais elevado tipo de conhecim ento. - A ciên cia física tam bém se apoia na fé - fé na nossa existência, na existência de um m undo objetivo e exterior a nós e na existência de outras pessoas além de nós m esm os; fé nas nossas convicções prim itivas,tais com o espaço, tem po, causa, substância, desígnio, certeza; fé na confiabilidade das nossas faculdades e no testem unho dos nossos sem elhantes. N em por isso a ciência física é invalida da, porque tal fé, em bora diferente na percepção sensorial ou dem onstração A ugustus H opkins Strong 24 lógica, é ainda um ato cognitivo da razão e pode ser definido com o certifica ção relativa à m atéria em que a verificação é im possível. A citada e respondida objeção à teologia expressa-se nas palavras de S ir - “Fé - crença - é o órgão pelo qual nós apreendemos o que está além do nosso conhecimento”. Mas ciência é conhecimento e o que está além do nosso conhecimento não pode ser maté ria de ciência. O P residente E. G. Robinson diz com precisão que o conheci mento e a fé não podem ser separados um do outro, como os compartimen tos de um navio, dos quais o primeiro pode ser esmagado enquanto o segundo ainda mantém o navio flutuando. A mente é uma só, - “ela não pode ser seccionada em duas com uma machadinha”. Fé não é antítese do conhecimento, eia é um tipo maior e mais fundamental de conhecimento. Ela nunca se opõe à razão, mas apenas à vista. Tennyson estava errado quando escreveu: “Nós temos somente fé: não podemos conhecer; Porque conhecemos aquilo que vemos” (In Memoriam, Introd...). Isto tornaria os fenômenos sensitivos os úni cos objetos do conhecimento. A fé nas realidades supra-sensíveis, ao contrá rio, é o mais elevado exercício da razão. S ir W illiam H am ilton declara consistentemente que a mais elevada con quista da ciência é o levantamento de um altar “Ao Deus Desconhecido”. Esta, entretanto, não é a representação da Escritura. Cf. Jo. 17.3 - “a vida eterna é esta, que te conheçam a ti como único verdadeiro Deus”; e Jr. 9.24 - “o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor”. Para a crítica de Ham ilton, ver H. B. Smith, Faith and Philosophy, 297-336. F ichte: “Nós nascemos na fé”. Até mesmo Goethe se dizia alguém que crê nos cinco sentidos. B a lfo u r, Defense o f Philosophic Doubt, 2 7 7 -2 9 5 , mostra que as crenças intuitivas nas categorias de espaço, tempo, causa, substân cia, justiça pressupõem uma aquisição de todo o conhecimento. Dove, Logic of the Christian Faith , 14 - “S e se deve destruir a teologia porque parte de termos e proposições primárias, deve-se, então, proceder de igual modo com todas as ciências”. M ozley, Miracles, define fé como a “razão não verificável”. W illia m Ham ilton, Metaphysics , 44, 531 b) A fé é um conhecim ento condicionado pelo sentim ento santo. - A fé que apreende o ser divino e sua obra não é opinião ou im aginação. É certeza rela tiva às realidades espirituais sobre o testem unho da nossa natureza racional e sobre o testem unho de Deus. Sua única peculiaridade com o ato cognitivo da razão é que está condicionado ao sentim ento santo. Com o a ciência da estética é produto da razão incluindo o poder de reconhecer o belo praticam ente inse parável do am or ao belo e com o a ciência da ética é produto da razão incluin do o poder de reconhecer o m oralm ente correto praticam ente inseparável do am or ao m oralm ente correto, assim a ciência da teologia é produto da razão, m as da razão que inclui o poder de reconhecer o Deus, que é praticam ente inseparável do am or a Deus. Empregamos aqui o termo “razão" para significar a força total do conheci mento. Razão, neste sentido, inclui o estado de sensibilidade desde que seja T e o l o g ia S is t e m á t ic a 25 -.dispensável ao conhecimento. Não podemos conhecer uma laranja só de olhá-la; para entendê-la, é tão necessário saboreá-la como vê-la. A matemá::ca do som não pode dar-nos entendimento da música; é necessário também ouvi-la. Só a lógica não pode demonstrar a beleza do pôr do sol, ou de um caráter nobre; o amor ao belo e à justiça antecede o conhecimento do belo e da justiça. Ullm an chama a atenção para a derivação de sapientía, sabedoria, de sapere, saborear. Não podemos conhecer Deus só pelo intelecto; o cora ção deve acompanhar o intelecto a fim de possibilitar o conhecimento das coisas divinas. “As coisas humanas”, diz P ascal, só precisam ser conhecidas para serem amadas; mas as coisas divinas primeiro precisam ser amadas para serem conhecidas”. “Esta fé [religiosa] do intelecto”, diz Kant, “funda menta-se na aceitação do temperamento moral”. S e alguém fosse totalmente indiferente às leis morais, continua o filósofo, até mesmo as verdades religio sas “teriam o apoio dos fortes argumentos da analogia, mas, do mesmo modo que o coração obstinado, o cético não poderia conquistá-las”. A fé, então, é o mais elevado conhecimento porque é a ação integral da alma, a perspicácia, não somente de um olho, mas dos dois olhos da mente, do intelecto e do amor a Deus. Com um olho podemos ver um objeto plano, mas, se quisermos vê-lo como um todo e captar o efeito estereótipo, deve mos empregar ambos os olhos. Não é o teólogo, mas o astrônomo não devo to que tem a ciência caolha e, portanto, incompleta. Os erros do racionalista são os da visão defeituosa. O intelecto tem-se divorciado do coração, isto é, da disposição correta, das afeições corretas e do propósito correto da vida. O intelecto diz: “Não posso conhecer Deus”; e o intelecto está certo. O que o intelecto diz, a Escritura também o diz: 1 Co. 2 .14 - “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente”; 1.21 - “na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus”. Por outro lado, a Escritura declara que “pela fé, entendemos” (Hb. 11.3). Para a Escritura a palavra “coração” significa tão somente a disposição governante ou sensibilidade + vontade; e ela indica que o coração é um órgão do conhecimento: Ex. 35.25 - “mulheres que eram sábias de coração”; SI. 34.8 - “provai e vede que o Senhor é bom” = o provar vem antes do ver; Jr. 24.7 - “Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam”; Mt. 5.8 - “Bemaventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”; Lc. 24.25 “tardos de coração para conhecer”; Jo. 7.17 - “S e alguém quiser fazer a von tade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou falo de mim mesmo”; Ef. 1 . 1 8 - “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais”; 1 Jo. 4.7,8 - “qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus”. c) Portanto, a fé, e só a fé pode fornecer o m aterial adequado e suficiente para um a teologia científica. - Com o um a operação da m ais elevada natureza racional do hom em , em bora distinta da visão ocular ou do raciocínio, a fé é o m ais elevado tipo de conhecim ento. E la nos dá o entendim ento que só pelos sentidos seria inacessível, a saber, a existência de Deus e ao m enos algumas das relações entre D eus e a sua criatura. 26 A ugustas H opkins Strong P hillipp i, Glaubenslehre, 1.50, seg ue G e rh a rd , ao to rn a r a fé um ato c o n ju n to do in te le cto e da von tade . Hopkins, Outline Study of Man, 77,78, fa la não só da “razão e sté tica ” , m as da “ razão m ora l” . M urphy, Scientific Bases of Faith, 91, 109, 145, 191 - “Fé é a certeza a respeito daquilo em que é impossível a verificação”. Emerson, Essays, 2.9 6 - “A crença consiste em aceitar as afir mações da alma - a descrença em rejeitá-las”. M o r e ll, Philos. of Religion, 38 ,5 2 ,5 3 , cita C o lle rid g e : “A fé consiste na síntese da razão e da vontade do indivíduo, ... e em virtude daquela (isto é, da razão), a fé deve ser uma luz, uma forma de conhecimento, uma contemplação da verdade”. A fé, então, não deve ser representada como uma menina cega apegada a uma cruz - a fé não é cega - “Doutra forma a cruz pode muito bem ser um crucifixo ou uma imagem de Gautama”, “A cega descrença”, não a fé cega, “sem dúvida deve errar, e esquadrinhar suas obras em vão”. Como na consciência reconhece mos uma autoridade invisível, conhecemos a verdade em exata proporção com o nosso desejo de “praticar a verdade”, assim na religião só a santidade pode conhecer a santidade e só o amor pode entender o amor (cf. Jo. 3.21 “quem pratica a verdade vem para a luz”). S e um estado correto do coração for indispensável à fé bem como o conhecimento de Deus, pode haver qualquer “ theologia irregenitorum”, ou teologia dos irregenerados? Sim, respondemos; do mesmo modo que um cego pode ter uma ciência da ótica. O testemunho dos outros dá sua reivindi cação a ele; a obscura luz que penetra a obscura membrana corrobora este testemunho. O irregenerado pode conhecer a Deus como poder e justiça, e temê-lo. Mas isto não é o conhecimento do mais íntimo caráter de Deus; ele fornece um certo material para uma teologia defeituosa ou desproporcional; mas não fornece material suficiente para uma correta teologia. Como, para tornar esta ciência da ótica satisfatória e completa, um oftalmologista compe tente deve remover a catarata dos seus olhos, assim, para qualquer teologia completa ou satisfatória, é preciso que Deus lhe retire o véu do coração (2 Co. 3 .15 ,16 - “o véu está posto no coração deles. Mas, quando [marg. ‘os homens’] se converterem ao Senhor, o véu se tirará”). A nossa doutrina da fé é o conhecimento e o mais elevado de todos; deve distinguir-se do de Ritschl, cuja teologia é um apelo ao coração para a exclu são da cabeça - para a fiducia sem notitia. Mas fiducia inclui notitia ; doutra forma é cega, irracional e anticientífica. R o b e rt B ro w n in g igualmente caiu num profundo erro especulativo quando, para comprovar sua fé otimista, estigma tizou o conhecimento humano como simplesmente aparente. O apelo tanto de R its c h l como de B row nin g da cabeça para o coração deve mais ser um apelo do mais estreito conhecimento do simples intelecto para o maior conhecimento condicionado à correta afeição. 2. Na capacidade humana de conhecer Deus Porém tem -se argum entado que tal conhecim ento é impossível pelas seguin tes razões: A) Podem os conhecer apenas os fenôm enos. T e o l o g i a S is t e m á t i c a 27 Respondemos: á) Com o conhecem os os fenôm enos físicos assim tam bém conhecem os os m entais, b) C onhecendo os fenôm enos, quer físicos, quer m entais, conhece mos a substância subjacente aos fenôm enos, m anifestada através deles e que constitui a base de sua unidade, c) A nossa m ente traz à observação do fenô m eno não só o conhecim ento da substância, m as tam bém de tem po, de espaço, de causa e de justiça, realidades que em nenhum sentido são fenom enais. Por que estes objetos do conhecim ento não são fenom enais, o fato de que Deus não é fenom enal não nos im pede de conhecê-lo. Não precisamos aqui determinar o que é substância. Quer sejamos realis tas ou idealistas, somos compelidos a admitir que não pode haver fenômenos sem os númenos, não pode haver aparências, não pode haver qualidades sem algo que seja qualificado. Este algo que serve de base ou está sob a aparência ou qualidade chamamos substância. Em nossa filosofia somos mais iotzeanos do que kantianos. Dizer que não conhecemos o eu, mas apenas as suas manifestações no pensamento, é confundir o eu com o seu pensamento e ensinar psicologia sem alma. Dizer que de modo nenhum conhecemos o mundo exterior, mas apenas as suas manifestações nas sensações, é ignorar o princípio que liga tais sensações; porque, sem algo a que as qualidades são inerentes, elas não têm base alguma para sua unidade. De igual modo, dizer que não conhecemos nada de Deus a não ser suas manifestações, é confundir Deus com o mundo e praticamente negar que haja Deus. S tã h lin , em sua obra sobre K ant, Lotze e R its c h l, 18 6 -19 1,218 ,219 , diz com precisão que “a limitação do conhecimento dos fenômenos envolve, na teologia, a eliminação de todas as reivindicações do conhecimento dos obje tos da fé cristã como são em si mesmas”. Esta crítica, com justiça, põe na mesma classe R its c h l junto com K an t, ao invés de pô-los com L o tze que sustenta que, conhecendo os fenômenos, conhecemos também os númenos manifestos neles. Conquanto R its c h l professe seguir Lotze, toda a tendência da sua teologia caminha na direção da identificação kantiana do mundo com as nossas sensações, a mente com os nossos pensamentos e Deus, com atividades tais que lhe são peculiares como nós as percebemos. Nega-se a natureza divina, independente das suas atividades, o Cristo preexistente, a Trindade imanente. Afirmações de que Deus é amor e paternidade conscien te de si mesmo tornam-se juízos de valor meramente subjetivo. Admitimos que conhecemos Deus só até onde as suas atividades o reve lam e até onde as nossas mentes e corações são receptivos à sua revelação. Deve-se exercer o conjunto de faculdades apropriadas - não as matemáti cas, as lógicas ou as que se referem à prudência, mas a ética e a religiosa. Ritschl tem o mérito de reconhecer a razão prática da especulativa; seu erro não consiste em reconhecer que, quando usamos adequadamente os pode res do conhecimento, tomamos posse não simplesmente da verdade subjeti va, mas também da objetiva e não somente entramos em contato com as atividades de Deus, mas com o próprio Deus. Os juízos religiosos normais, embora dependam das condições subjetivas, não são apenas “juízos de 28 A ugustus H opkins Strong mérito”, ou “juízos de valor”, - elas nos fornecem o conhecimento das “próprias coisas”. Edw ard C aird diz do seu irmão John C aird (Fund. Ideas of Chrístianity, Introd... cxxi) - “A pedra fundamental da sua teologia é a convicção de que se pode conhecer e conhece-se a Deus e de que, no sentido mais profundo, todo o nosso conhecimento é o dele”. O fenomenalismo de R its c h l está aliado ao positivismo de Comte, que considera todo o assim chamado conhecimento de outro tipo que não sejam os objetos fenomenais puramente negativos. A expressão “Filosofia Positiva” na verdade implica que todo o conhecimento da mente é puramente negativo; ver Comte, P os. Philosophy, tradução de M artin ea u, 26,28,33 - “Para obser var o vosso intelecto deveis fazer uma pausa nas atividades - embora quei rais observar essa mesma atividade. S e não puderdes fazer a pausa, não podereis observar; se a fizerdes, nada há a observar”. Dois fatos refutam este ponto de vista: 1) a consciência e 2) a memória; porque a consciência é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento dos seus pensamentos e a memória é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento do passado dela. Os fenômenos são “fatos, distintos da sua base, princípio, ou lei”; “não se percebem os fenômenos nem as qualidades, como tais, mas os objetos, as percepções, ou os seres; e é por um pensamento posterior ou por um reflexo que estes se ligam como qualidades e são tidos como substâncias”. Os fe n ô m e n o s p o de m s e r in te rio re s , /'.e., p e n s a m e n to s ; n e ste caso, o nú m en o é a m e n te cu ja s m a n ife sta çõ e s sã o os p e n sa m e n to s. P or o u tro lado, os fe n ô m e n o s po de m se r e xte rio re s, e.g., a cor, a du reza , a form a, o ta m a nho; ne ste caso, o n ú m en o é a m atéria, c u ja s q u a lid a d e s são as m a n ife sta çõe s. M as as qu a lid a d e s, q u e r m entais, q u e r m a te ria is, im p lica m a existê n cia de um a su b s tâ n c ia a que p e rte n ce m ; não se p o d e co n c e b ê -la s com o um a e xistê n cia a p a rte da su b stâ n cia , m ais do que co m o um la do su p e rio r de um a tá b u a a ssim co m o não se p o d e co n c e b ê -la s co m o e x is te n te s sem um lado inferior; ver M artineau, Types of Ethical Theory, 1 .4 5 5 ,4 5 6 - “A s u p o siçã o de C om te de que a m en te não p o de c o n h e c e r a si m e sm a ou os seu s estados o p õ e -se à de K ant, de q u e a m e n te n a d a p o d e c o n h e c e r a não s e r a si m e s ma. ... É e xa ta m e n te p o rqu e to d o o co n h e c im e n to ve m dos re la cio n a m e n to s q u e ele não ve m e nem p o d e v ir só dos fe n ô m e n o s. O a b so lu to não pode se co n h e cid o p er se po rqu e, ao s e r co n h e cid o , ele se re la c io n a ria ipso facto e não m ais se ria ab soluto. M as nem o e le m e n to fe n o m e n a l po de s e r co n h e cid o per se, i. e., com o fe n o m e n a l, se m a c o g n iç ã o sim u ltâ n e a do que é o não fen o m e n a l” . M cCosh, Intuitions, 138-154, e sta belece as c ara te rísticas das s u b s tân cias com o 1) ser, 2) poder, 3) perm anecer. Diman, Theistic Argument, 337,363 - “A te o ria que re je ita D eus, re je ita o m un do e x te rio r e a e xistê n cia da a lm a ” . C o n h e ce m o s alg o além dos fe n ô m e n o s, a saber, lei, cau sa, fo rça , - ou não p o d e m o s te r ciê ncia . B) Porque só podem os conhecer o que tem analogia com a nossa natureza ou experiência. Respondemos: d) P ara o conhecim ento não é essencial que haja sem e lhança de natureza entre conhecedor e conhecido. C onhecem os tanto pela diferença com o pela sem elhança, b) N ossa experiência passada, apesar de T e o l o g i a S is t e m á t i c a 29 facilitar grandem ente novas aquisições, não é a m edida do nosso conhecim ent : possível. Se assim fosse, seria inexplicável o prim eiro ato de conhecim ento e toda a revelação dos m ais elevados caracteres até os m enores seria excluída assim com o todo o progresso no conhecim ento que ultrapassa o nosso presen te conhecim ento, c) M esm o que o conhecim ento dependesse da sem elhança entre a natureza e a experiência, poderíam os conhecer Deus, visto que somos feitos à sua im agem e há importantes analogias entre a natureza divina e a nossa. a) O dito de Empédocles, “Similia similibus percipiuntur”, deve ser suple mentado por um outro: “Similia dissimilibus percipiuntur”. Mas conhecer é dis tinguir, e deve haver um contraste entre os objetos a fim de nos despertar a atenção. Deus conhece o pecado, embora este seja a antítese do seu santo ser. O eu conhece o não-eu. Não podemos conhecer até mesmo o eu sem considerá-lo objetivamente, distinguindo-o dos seus pensamentos e considerando-o como um outro. b) Versus H e rb e rt Spencer, First Principies, 79-82 - “Conhecimento é o reconhecimento e a classificação”. Mas retrucamos que é necessário perce ber primeiro uma coisa para reconhecê-la, ou compará-la com outra; e isto é verdade, tanto a respeito da primeira sensação como da última e as mais definidas formas de conhecimento; na verdade, não há nenhuma sensação que não envolva, como complemento, ao menos uma percepção incipiente. c) P o r te r, Human Intellect, 486 - “A indução só é possível baseada na suposição de que o intelecto do homem é um reflexo do divino, ou que o homem é feito à imagem de Deus”. Note, contudo, que o homem é feito à imagem de Deus, e não Deus à imagem do homem. A pintura é a imagem paisagística, não o contrário a paisagem, a imagem da pintura; porque há muito na imagem que não tem nada que corresponda a ela na pintura. A idolatria perversamente faz Deus à imagem do homem e deifica as fraque zas das impurezas do homem. A Trindade em Deus pode não ter a exata contrapartida na atual constituição do homem, embora possa descortinar-nos o objetivo do desenvolvimento futuro do homem e o sentido da crescente diferenciação das forças do homem. G o re , Incarnation, 116 - “S e o antropomorfismo aplicado a Deus é falso, ainda o teomorfismo aplicado ao homem é verdadeiro; o homem é feito à imagem de Deus, e as suas qualidades não são, a medida das divinas, mas a contrapartida destas e a verdadeira expressão”. C) Porque conhecem os apenas aquilo que podem os conceber, no sentido de form ar um a im agem m ental adequada. Respondemos: d) É verdade que conhecem os só aquilo que podem os con ceber se pelo term o “conceber” significam os nossa distinção entre o pensa m ento do objeto conhecido e os dem ais objetos. M as b) a objeção confunde concepção com o que é m eram ente seu acessório ocasional e auxílio, a saber, o quadro que a im aginação faz do objeto. N este sentido, não é teste final da verdade, c) Torna-se claro que a form ação de um a im agem m ental não é 30 A ugustus H opkins Strong essencial à concepção ou ao conhecim ento, quando lem bram os que, de fato, tanto concebem os com o conhecem os m uitas coisas de que não podem os for m ar im agem m ental seja ela qual for e que em nada corresponde à realidade; por exem plo: força, causa, lei, espaço, nossas próprias m entes. Assim pode m os conhecer D eus apesar de que não podem os form ar im agem m ental ade quada a respeito dele. A objeção aqui refutada se expressa mais claramente nas palavras de 25-36, 98 - “A realidade subjacente às apa rências é total e permanentemente inconcebível por nós”. M ansel, Prolegomena Logica, 77,78 (cf.. 26) sugere que a fonte deste erro encontra-se num ponto de vista falho da natureza do conceito: “A primeira caraterística distinti va de um conceito, a saber, que não pode por si mesmo ser descrito no sen tido e na imaginação”. P o r te r, Human Intellect, 392 (vertb. 429,656) - “Con ceito não é uma imagem mental” - só a percepção o é. Lotze: “De um modo geral não se representa a cor através de qualquer imagem; ela não se apre senta nem verde nem vermelha, mas não tem qualquer caraterização”. O cava lo, genericamente, não tem uma cor particular, embora individualmente pos sa ser preto, branco ou baio. S ir W illia m H a m ilto n fala das “noções de inteligência impossíveis de ser representadas em pintura”. M artineau, Religion and Materialism, 39,40 - “Esta doutrina da Nesciência encontra-se na mesma relação com o poder causai, quer você a construa com o Poder Material, quer com a Atuação Divina. Nem pode ser observada', deve-se aceitar um ou outro. S e você admite para a categoria do conheci mento o que se aprende a partir da observação, seja particular, seja genera lizada, então se trata de uma Força desconhecida; se você amplia a palavra ao que é importado pelo próprio intelecto em nossos atos cognitivos, para torná-los assim, então se conhece Deus”. A matéria, o éter, a energia, o pro toplasma, o organismo, a vida, - nenhum deles pode ser retratado para a imaginação; contudo, o S r. Spencer os trata como objetos da Ciência. S e não são inescrutáveis, por que ele considera inescrutável a Força que dá unidade a todas estas coisas? N a ve rd a d e , H e rb e rt S pencer não é co e re n te c o n s ig o m esm o , pois, em H e rb e rt Spencer, First Principies, diversas partes dos seus escritos, ele cha m a Realidade inescrutável dos fenô m en os a E xistê n cia A b so lu ta , P o d e r e C a u s a unas, ete rn a s, u b íqua s, in fin i tas, últim as. “ P a re ce ” , diz o P adre D a lg a irn s, “que se co n h e ce m uita coisa do D e s c o n h e c id o ” . Chadwick, Unitaríanism , 75 - “A p o b re e x p re ssã o ‘D e sco n h e c id o ’ to rn a -se , d e p o is das re p e tid a s d e s ig n a ç õ e s de Spencer, tão rica com o to d o o co n h e c im e n to s a lv a d o r de C re so ” . M atheson: “S a b e r qu e n a da sa b e m os já s ig n ific a te r c h e g a d o a um fa to do c o n h e c im e n to ” . S e o S r. Spencer p re te nd ia e xclu ir Deus do reino do C o nh ecim e nto, d e v ia prim eiro tê-lo excluído do reino da E xistên cia ; po rq u e a d m itir que ele é, já é a d m itir que nós não p o d e m o s co n h e cê -lo , m as, na verd ad e, em ce rto po n to , nós o co n h e ce m o s. D) Porque podem os conhecer, na verdade, só o que conhecem os no todo, não em parte. T e o l o g i a S is t e m á t ic a 31 Respondem os: a) A objeção co n fu n d e co n h ecim en to parcial com o conhecim ento de um a parte. C onhecem os a m ente em parte, m as não conhe cem os um a parte da m ente, b) Se a objeção fosse válida, nenhum conhecim en to real de qualquer coisa seria possível, visto que não conhecem os um a só coisa em todas as suas relações. C oncluím os que, em bora Deus não seja for m ado de partes, podem os ainda ter um conhecim ento parcial dele e tal conhe cim ento, em bora não exaustivo, pode ser real e adequado aos propósitos da ciência. a) A objeção mencionada no texto é estimulada por M ansel, Limits of Religious Thought, 97, 98 e é M artineau, Essays, 1.291 quem a responde. A mente não existe no espaço e não tem partes: não podemos falar do seu quadrante sudoeste, nem podemos dividi-la em metades. Contudo, encontra mos o material para a ciência mental no conhecimento parcial da mente. Assim, conquanto não sejamos “geógrafos da natureza divina” ( B o w n e , Review of Spencer, 72), podemos dizer com Paulo, não que “agora conhecemos uma parte de Deus”, mas que “agora conheço [Deus] em parte” (1 Co. 13.12). Podemos conhecer verdadeiramente o que não conhecemos exaustivamen te; ver Ef. 3 . 1 9 - “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento”. Não me entendo perfeitamente, contudo me conheço em parte; assim posso conhecer a Deus, apesar de não entendê-lo perfeitamente. b) O mesmo argumento que prova que Deus é incognoscível prova tam bém que também o mundo o é. Visto que todas partículas da matéria atraemse mutuamente, nenhuma delas pode ser explicada exaustivamente sem levar em conta as demais. Thomas C a rly le : “É um fato matemático que o lan çamento desta pedra da minha mão altera o centro de gravidade do universo”. Tennyson, Higher Pantheism: “Flor na parede rachada, eu a arranco das rachaduras; / Segure-se aqui, raiz e tudo, na minha mão, ó florzinha, porém não posso entender / O que é você, raiz e tudo, e em tudo, / Devo conhecer o que Deus é e o que é o homem”. Schurman, Agnosticism, 119 - “Mesmo parcial como é, esta visão do elemento divino transfigura a vida do homem sobre a terra”. P fle id e re r, Philos. Religion, 1.1 67 - “O agnosticismo de cora ção fraco é pior que o arrogante e titânico gnosticismo contra o qual ele pro testa”. E) Porque todos os predicados de Deus são negativos e, por isso, não for necem conhecim ento real. R espondem os: a ) Os predicados derivados da nos sa consciência, tais com o, espírito, am or e santidade são positivos, b) Os ter m os “infinito” e “absoluto” , contudo, expressam não m eram ente um a idéia negativa, mas positiva, - a idéia, naquele caso, da ausência total de limite, a idéia de que o objeto assim descrito continua e continua sem pre; a idéia, neste caso, de inteira auto-suficiência. Porque os predicados de Deus, portanto, não são m eram ente negativos, o argum ento acim a m encionado não fornece nenhum a razão válida por que não podem os conhecê-lo. 32 A ugustus H opkins Strong Versus S ir W illiam Ham ilton, Metaphysics, 530 - “O absoluto e o infinito podem ser concebidos somente com a negação do objeto do pensamento; a saber, de qualquer modo não temos em outras palavras nenhuma a con cepção do absoluto e do infinito”. Ham ilton aqui confunde o infinito, ou ausên cia de todos limites, com o indefinido, ou a ausência de todos limites conheci dos. Per contra, ver C a ld e rw o o d , Moral Philosophy, 248, e Philosophy of the Infinite, 272 - “A negação de uma coisa só é possível através da afirmação de outra”. P o r te r , Human Intellect, 652 - S e os moradores da Ilha de Sandwich, por falta de nome, tinham chamado o boi de não porco (not-hog), o emprego de um nome negativo não autoriza necessariamente a inferência de falta de concepções definidas ou conhecimento positivo”. Deste modo com o infinito, ou não finito, o incondicionado ou não condicionado, o independente, ou não dependente, - estes nomes não implicam que não podemos conceber e conhecer como algo positivo. Spencer, First Principies, 92 - “O nosso conhe cimento do Absoluto, embora indefinido, não é negativo, mas positivo”. Schurman, Agnosticism, 1 00, fala da “farsa da nesciência atribuindo à onisciência os limites da ciência”. “O agnóstico”, diz ele, “erige o quadro invisível de um Grand Être, sem forma e sem cor, separado de modo absoluto do homem e do mundo - branco interiormente e vazio por fora - com sua exis tência indistinguível da sua não existência e, curvando-se diante da criação idólatra, derrama a sua alma em lamentações sobre a incognoscibilidade de tal mistério e pavorosa ausência de identidade. ... A verdade é que se desco nhece a abstração agnóstica da Deidade, porque tal abstração é irreal”. Ver M cC osh, Intuitions, 194, nota; M iv a rt, Lessons from Nature, 363. Deus não é necessariamente infinito em todos aspectos. Ele só é infinito em toda a exce lência. Um plano ilimitado em um aspecto de comprimento pode ser limitado em outro aspecto, como, por exemplo, a respiração. A nossa doutrina aqui não é, por isso, inconsistente com o que se segue de imediato. F) Porque conhecer é lim itar ou definir. P or isso o A bsoluto com o ilim ita do e o Infinito com o indefinido não pode ser conhecido. R espondem os: a) D eus é absoluto, não com o existindo sem nenhum a relação, mas com o exis tindo sem nenhum a relação necessária; e b ) D eus é infinito, não excluindo toda a coexistência do finito com ele m esm o, m as com o a base do finito, e assim , não algem ado por ele. c) Deus, na verdade, está lim itado pela im utabi lidade de seus atributos e distinções pessoais bem com o pela auto-escolha das suas relações com o universo que ele criou e com a hum anidade na pessoa de Cristo. Portanto, Deus se lim ita e se define no sentido de tornar possível o conhecim ento dele. Versus M ansel, Limitations ofReiigious Thought, 75-84, 93-95; cf. Spinoza: “Omnis determinatio est negatio"; por isso definir Deus é negá-lo. Responde mos, entretanto, que a perfeição é inseparável da limitação. O ser humano pode ser um outro além do que é: com Deus não acontece isso, ao menos interiormente. Mas tal limitação inerente em seus imutáveis atributos e distin T e o l o g i a S is t e m á t i c a 33 ções pessoais, é a perfeição de Deus. Exteriormente, todas limitações sobre Deus são auto-limitações e, portanto consistentes com a sua perfeição. Esse Deus não deve ser capaz de limitar-se na criação e a redenção tornaria todo o seu sacrifício impossível e o sujeitaria à maior das limitações. Pelo exposto podemos dizer que 1. A perfeição de Deus envolve sua limitação a) a pessoalidade, b) à Trindade, c) à retidão; 2. A revelação de Deus envolve sua autolimitação a) no decreto, b) na criação, c) na preservação, d) no governo, e) na educação do mundo; 3. A redenção envolve sua infinita auto-limitação a) na pessoa e b) na obra de Jesus Cristo. Bowne, Philos. of Creation, 135 - “O infinito não é o todo quantitativo; o absoluto não é o não relacionado ... Tanto o absoluto como o infinito signifi cam apenas a base independente das coisas”. J u liu s M ü lle r , Doct. of Siri, Introd..., 10 - “A religião tem a ver não com um Objeto que deve ser por si mesmo conhecido porque da sua própria existência é contingente em ser conhecido, mas com o Objeto com que nos relacionamos, na verdade, submissos, na dependência dele e no aguardo da sua manifestação”. James M artineau, Study of Religion, 1.346 - “Não devemos confundir o infinito com o total. ... A abnegação própria da infinitude é tão somente a forma de autoafirmação e a única em que ela pode revelar-se. ... Embora o pensamento onisciente seja instantâneo, embora certa a força onipotente, sua execução tem de ser distribuída no tempo e deve ter uma ordem de passos sucessivos; em outros termos, o eterno pode tornar-se temporal e o infinito falar articuladamente no finito”. A pessoalidade perfeita exclui não a determinação própria, mas a que vem de fora através de um outro. As auto-limitações de Deus são as do amor e, consequentemente, as evidências da sua perfeição. São sinais não de fra queza, mas de poder. Deus limitou-se ao método da evolução desenvolven do-se gradualmente na natureza e na história. O governo dos pecadores por um Deus santo envolve constante auto-repressão. A educação da raça é um longo processo de abnegação divina. H e rd e r: “As limitações do aluno são também as do mestre”. Na inspiração, Deus se limita através do elemento humano por quem ele opera. Sobretudo, na pessoa e obra de Cristo, temos infinita auto-limitação: A infinitude se estreita até na encarnação e a santida de suporta as agonias da Cruz. As promessas de Deus são também autolimitações. Deste modo tanto a natureza como a graça são restrições impos tas a si mesmo por Deus e são os recursos através dos quais ele se revela. G) Porque todo o conhecim ento é relativo ao agente conhecedor; isto é, o que conhecem os, conhecem os, não com o é objetivam ente, m as só no que se relaciona com nossos sentidos e faculdades. R espondem os: d) Adm itim os que podem os conhecer só o que se relaciona com as nossas faculdades. M as isto som ente eqüivale a dizer que conhecem os só aquilo que vem ao nosso contato m ental, isto é, conhecem os apenas o que conhecem os. M as b) negam os que conhecem os aquilo que vem ao nosso contato m ental com o outra coisa além do que é. Até onde conhecem os, conhecem os com o é. Em outras palavras, as leis do nosso conhecim ento não são m eram ente arbitrárias e regulativas, mas 34 A ugustus H opkins Strong correspondem à natureza das coisas. C oncluím os que, em teologia, tem os a garantia de adm itir que as leis do nosso pensam ento são as leis do pensam ento de Deus e que os resultados do pensam ento norm alm ente conduzido em rela ção a Deus correspondem à realidade objetiva. Versus S ir W illiam Hamilton, Metaph., 96-116 e H e rb e rt Spencer, First Prin cipies, 68-97. Esta doutrina da relatividade deriva de Kant, que, na Crítica da Razão Pura, sustenta que os juízos a priori são somente “reguladores”. Res pondemos, entretanto, que, quando se acha que as crenças primitivas são apenas reguladoras, elas deixam de regulamentar. As formas de pensamento são também fatos da natureza. Diferentemente do vidro de um caleidoscópio, a mente não fornece as formas; ela reconhece que estas têm existência exte rior a ela mesma. A mente lê as suas idéias não rumo ao interior da natureza, mas nela. Nossas intuições não são lentes verdes que fazem o mundo todo parecer verde: são lentes de um microscópio, que nos capacitam a ver o que é objetivamente real (Royce, Spirit of Mod. Philos., 125). K a n t chamava o nosso entendimento de “legislador da natureza”. Mas isto é verdade, só como descobridor das suas leis, não como seu criador. A razão humana impõe as suas leis e formas sobre o universo; mas, fazendo isso, ela interpreta o senti do real dele. Ladd, Philos. of Knowledge: “Todo juízo implica uma verdade objetiva segundo a qual julgamos e que constitui o padrão e com a qual temos algo em comum, /.e., as nossas mentes são parte de uma mente infinita e eterna”. Aforismo francês: “Quando você está certo, você está mais certo do que pen sa estar”. Deus não nos põe em permanente confusão intelectual. Foi debalde que K a n t escreveu “trânsito não impedido” sobre a razão em seu mais elevado exercício. M artineau, Study of Religion, 1.13 5 ,13 6 - “Bem ao contrá rio da suposição de K a n t de que a mente nada pode conhecer além de si mesma, podemos estabelecer a suposição de Comte, igualmente sem garan tia, de que a mente não pode conhecer-se a si mesma ou os seus estados. Não podemos ter filosofia sem suposições. Você dogmatiza se diz que as formas correspondem à realidade; mas igualmente você dogmatiza se diz que não correspondem. ... 79 - Que as nossas faculdades cognitivas corres pondem às coisas tais quais são, é muito menos surpreendente do que se elas correspondem às coisas que não são". W. T. H a rris , in Journ. Spec. Philos., 1.22, expõe as contradições próprias de Spencer: “Todo o conheci mento não é absoluto, mas relativo; nosso conhecimento deste fato, entretan to, não é relativo, mas absoluto”. R its c h l, Justification and Reconciliation, 3.16-21, estabelece limites, com uma correta afirmação da natureza do conhecimento, e adere à doutrina de L o tze, distinta da de K a n t. A declaração de R its c h l pode resumir-se da seguinte maneira: Tratamos, não do Deus abstrato da metafísica, mas do Deus que a si mesmo se limitou e se revela em Cristo. Não conhecemos ou as coisas, ou Deus independentemente dos seus fenômenos ou manifesta ções, como imaginava P la tã o ; não conhecemos os fenômenos ou manifesta ções sozinhos, sem conhecer as coisas ou Deus, como supunha K ant; mas, na verdade, conhecemos tanto as coisas como Deus nos fenômenos e mani- T e o l o g ia S i s t e m á t i c a 35 'estações, como ensinava L o tz e . Não sustentamos a união mística com Deus, :endo como retaguarda toda a experiência religiosa, como ensina o Pietismo; a alma está sempre e somente em atividade e a religião é a atividade do espírito humano no qual o sentimento, o conhecimento e a vontade combi nam-se numa ordem inteligível”. Porém o Dr. C. M. M e a d , Ritschl’s Place in the History of Doctrine, bem ~iostra que R i t s c h l não seguiu L o tz e . Seus “juízos de valor” são apenas uma aplicação do princípio “regulador” de K a n t à teologia. Ele sustenta que pode mos conhecer as coisas não como são em si mesmas, mas só como se nos apresentam. Retrucamos que, o que as coisas são para nós depende do que são em si mesmas. R i t s c h l considera as doutrinas da preexistência de Cristo, divindade e expiação como intromissões da metafísica na teologia, matéria a respeito da qual não podemos conhecer e com a qual nada temos a ver. Não há propiciação ou união mística com Cristo; e Cristo é o nosso exemplo, mas não o nosso Salvador expiador. R i t s c h l faz bem em reconhecer que o amor em nós dá olhos à mente e nos capacita a ver a beleza de Cristo e sua verda de. Mas o nosso juízo não é, como ele defende, um juízo de valor meramente subjetivo, - é uma entrada em contato com o fato objetivo. 3. Xa revelação do próprio Deus Com o neste lugar não tentam os apresentar um a prova positiva da existên cia de D eus ou da capacidade que o hom em tem de conhecer a D eus, assim não tentam os, por ora, provar que D eus entrou em contato com a m ente hum a n a através da revelação. Daqui para frente considerarem os as bases desta crença. P or ora, nosso alvo é sim plesm ente m ostrar que, adm itindo o fato da revela ção, é possível um a teologia científica. Isto tem sido negado nas seguintes bases: A) Que a revelação, com o um processo de to m ar conhecido, é necessaria m ente interior e subjetiva - quer seja um m odo de inteligência, quer um des pertar das forças cognitivas - e, por isso, não pode fornecer nenhum fato obje tivo que constitua m aterial próprio para ciência. M o r e l l , Philos. fíeligion, 12 8 -13 1,14 3 - “A Bíblia não pode com a estrita exatidão da língua, ser chamada de revelação, visto que uma revelação sem pre implica um verdadeiro processo de inteligência em uma mente viva”. F. W. N ew m a n, Phases of Faith, 152 - “Nada conhecemos do nosso Deus moral e espiritual exteriormente - sempre interiormente”. T h e o d o r e P a r k e r : “A revelação verbal nunca pode comunicar uma simples idéia como a de Deus, da Justiça, do Amor, da Religião”. Jam es M a rtin e a u , Seat ofAuthority in Religion: “Tantas mentes quantas existem conhecem a Deus ao primeiro contato, tem havido tantos atos reveladores e tantos quantos o conhecem indiretamente são estranhos à revelação”; assim, admitindo que a revelação exterior seja impossível, M a r tin e a u sujeita todas provas de tal revelação à desleal crítica destrutiva. P f l e i d e r e r , Philos. Religion, 1 .1 8 5 - “Como toda revelação é origi- Augustus H opkins Strong 36 nariamente uma experiência de vida interna, o aparecimento da verdade reli giosa no coração, nenhum evento pode pertencer de si mesmo à revelação, independente de ser natural ou sobrenaturalmente ocasionado”. P r o f . G e o r g e M . F o r b e s : “Nada nos pode ser revelado que não se prenda à nossa razão. Segue-se que, na medida em que a razão age normalmente, ela é uma parte da revelação”. R itc h ie , Darwin and Hegel, 30 - “A revelação de Deus é o desenvolvimento da sua idéia”. E m resposta a esta objeção, apresentada principalm ente pelos idealistas na filosofia: d) A dm itim os que a revelação, para ser eficaz, deve ser o m eio de induzir a um novo m odo de inteligência, ou, em outras palavras, deve ser entendida. A dm itim os que este entendim ento das coisas divinas é im possível sem um despertar das forças cognitivas do hom em . A lém disso, admitimos que a revela ção, quando originariam ente transm itida, via de regra era interior e subjetiva. M a th e s o n , Moments on the Mount, 51-53, sobre Gl. 1.16 - “revelar o seu Filho em mim”; “A revelação no caminho de Damasco não teria iluminado Paulo se não fosse somente uma visão dos seus olhos. Nada pode ser reve lado para nós que não tenha sido revelado dentro de nós. O olho não vê a beleza da paisagem, nem o ouvido ouve a beleza da música. Do mesmo modo a carne e o sangue não nos revelam Cristo. Sem o ensino do Espírito, os fatos exteriores serão somente como as letras de um livro para uma crian ça que não sabe ler”. Podemos dizer com C h a n n in g : “Estou mais certo de que minha natureza racional vem de Deus mais do que qualquer livro que expres se a sua vontade”. b) M as negam os que a revelação exterior é, por isso, inútil e im possível. M esm o que as idéias religiosas surgissem totalm ente de dentro, um a revelação externa podia despertar os poderes dorm entes da m ente. Contudo, as idéias não surgem totalm ente de dentro. A revelação exterior pode transm iti-las. O hom em pode revelar-se através de com unicação exterior e, se Deus tem poder igual ao do hom em , pode revelar-se de igual m aneira. Eclipse of Faith, indaga assinaladamente: “S e a S ra . M o r e ll e a ensinam através de um livro, não pode Deus fazer o mesmo?” L o tz e , Microcosm, 2.660 (livro 9, cap. 4), fala da revelação “contida em algum ato divino, da ocorrência histórica ou repetido continuamente no coração do homem”. Mas, na verdade, não há nenhuma alternativa aqui; a força do credo cristão é que a revelação de Deus é tanto exterior quanto interior. R a in y , Criti cai Review, 1.1-21, diz com precisão que, sem garantia, M a r tin e a u isola da alma do indivíduo a testemunha de Deus. As necessidades interiores preci sam ser combinadas com as exteriores a fim de assegurar que não se trata de um capricho da imaginação. É necessário distinguirmos as revelações de R o g e rs , S r a . N ew m an T e o l o g ia S i s t e m á t ic a 37 Deus das nossas fantasias. Daí, antes de dar-nos o padrão interior, Deus, via se regra, nos dá o exterior, através do qual testamos nossas impressões. Somos finitos e pecadores e necessitamos de autoridade. A revelação exterior recomenda-se como tendo autoridade sobre o coração que reconhece as suas necessidades espirituais. A autoridade exterior evoca o testemunho interior e ihe dá maior clareza, mas só a revelação histórica fornece prova inconteste de que Deus é amor e nos dá a segurança de que os nossos anseios para com Deus não são vãos. c) P or isso a revelação de Deus pode ser e, com o verem os daqui em diante, é. em grande parte, um a revelação exterior em obras e palavras. O universo é um a revelação de D eus; as obras de D eus na natureza precedem as suas pala vras na história. C ontudo, reivindicam os que, em m uitos casos em que se com unicou a verdade originariam ente de form a interior, o m esm o Espírito que a com unicou efetuou seu registro exterior, de m odo que a revelação inte rior pôde ser transm itida a outros além dos que prim eiro a receberam . Não devemos limitar a revelação às Escrituras. O Verbo eterno antedatou a palavra escrita e, através do Verbo eterno, Deus se fez conhecido na natu reza e na história. A revelação exterior precede e condiciona a interior. No tempo certo a terra aparece antes do homem e a sensação antes da per cepção. A ação expressa melhor o caráter e a revelação histórica ocorre mais pelos fatos do que pelas palavras. D o r n e r , Hist. Prot. Theol., 1.231-264 “O Verbo não está apenas nas Escrituras. Toda a criação o revela. Na nature za Deus mostra o seu poder; na encarnação a sua graça e verdade. A Escri tura dá testemunho delas, mas não é a Palavra essencial. Na verdade, a Escritura a apreendeu e apropriou quando, nela e através dela vemos o Cris to vivo e presente. Ela não só confina a si os homens, mas aponta para Cristo de quem testifica. Cristo é a autoridade. Nas Escrituras ele nos aponta para si mesmo e demanda a nossa fé nele. Uma vez gerada esta fé, ela não nos leva a uma nova apropriação da Escritura, mas à uma nova crítica a respeito dela. Cada vez mais encontramos Cristo na Escritura e ainda julgamo-la cada vez mais segundo o padrão que há em Cristo”. N ew m a n S m ith , Christian Ethics , 71-82: “Há somente uma autoridade-Cris to. Seu Espírito opera de muitas maneiras, mas principalmente de duas: pri meiro, a inspiração das Escrituras e segundo, a condução da igreja rumo à verdade. Esta não deve isolar-se ou separar-se daquela. A Escritura é a lei da consciência cristã, e a consciência cristã no tempo faz a lei voltar-se para a Escritura - interpretando-a, criticando-a, verificando-a. A palavra e o espírito respondem um ao outro. A Escritura e a fé são coordenadas. O protestantis mo tem exagerado a primeira; o romanismo a segunda. M a r tin e a u deixa de captar a coordenação entre a Escritura e a fé.” d) Com este registro exterior tam bém verem os que ocorre sob adequadas condições a influência especial do Espírito de D eus, de m odo a despertar os 38 A ugustus H opkins Strong poderes cognitivos que o registro exterior reproduz em nossas mentes as idéias de que as m entes dos escritores estavam divinam ente cheias. Podemos ilustrar a necessidade da revelação interna a partir da egiptologia, que é impossível até onde a revelação externa nos hieróglifos não é inter pretada; a partir do tique-taque do relógio no escuro compartimento, onde só a vela acesa capacita-nos a narrar o tempo; a partir da paisagem espalhada em volta do Rigi na Suíça, invisível até que os primeiros raios do sol toquem os nevosos picos da montanha. A revelação exterior (çavépcoaiç, Rm. 1.19,20) deve ser suplementada pela interior (à7toKáXtn(/iç 1 Co. 2.10,12). Cristo é o órgão da revelação exterior, o Espírito Santo da interior. Em Cristo (2 Co. 1.20) estão o “sim” e “o Amém” - a certeza objetiva e a subjetiva, a realidade e a realização. A certeza objetiva deve tornar-se subjetiva para a teologia científica. Antes da conversão temos a primeira, a verdade exterior de Cristo; só na conversão e depois dela passamos a ter a segunda, “Cristo formado em nós” (Gl. 4.19). Temos a revelação objetiva no Sinai (Ex. 20.22); a revelação subjetiva no conhecimento que Eliseu teve de Geazi (2 Re. 5.26). Jam es R u s s e l L o w e ll, Winter Evening Hymn to my Fire: “Por isso, contigo gosto de ler os nossos bravos poetas antigos: ao teu toque como despertas a Vida nas palavras secas! Como a correnteza retrocede as sombras do Tempo! e como os lam peja ainda pela sua m assa morta o verso incandescente, Como quando sobre a bigorna do cérebro lança o brilho, ciclopicamente produzido Através dos velozes malhos latejantes do pensamento do poeta!” é) As revelações interiores assim registradas e as exteriores assim interpre tadas fornecem am bas fatos objetivos que podem servir com o m aterial pró prio para a ciência. A pesar de que a revelação, em seu m ais am plo sentido pode incluir e, constituindo a base da possibilidade da teologia na verdade inclui, tanto o discernim ento com o a ilum inação, tam bém pode ser em pregada para denotar sim plesm ente um a provisão dos recursos exteriores do conheci m ento e a teologia tem que ver com as revelações interiores só na m edida em que se expressam neste padrão objetivo ou que concordam com elas. Já sugerimos aqui o vasto escopo e ainda as insuperáveis limitações da teologia. Em qualquer lugar em que Deus se revela, quer na natureza, na história, na consciência, ou na Escritura, a teologia pode encontrar material para a sua estrutura. Porque Cristo não é somente o Filho de Deus encarna do, mas também o Verbo eterno, o único Revelador de Deus, não existe teo logia alguma separada de Cristo e toda ela é teologia cristã. A natureza e a história são apenas mais sóbrios e generalizados descortinos do Ser divino, de que a Cruz é o clímax e a chave. Deus não tem a intenção de ocultar-se. Ele quer ser conhecido. Ele se revela em todos os tempos tão plenamente como a capacidade das suas criaturas o permitem. O intelecto infantil não pode entender a infinitude de Deus, nem a disposição perversa entender a T e o l o g ia S i s t e m á t i c a 39 desinteresseira afeição de Deus. Apesar do que, toda a verdade está em Cristo e está ao dispor do descobrimento pela mente e pelo coração preparados. O Infinito, em qualquer lugar em que não se revela, sem dúvida é desco"necido do finito. Mas o Infinito, onde quer que se revela, é conhecido. Isto sugere o sentido das seguintes declarações: Jo. 1 . 1 8 - “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer”; 14.9 - “Quem me vê a mim vê o Pai”; 1 Tm. 6 .16 - “a quem nenhum dos homens viu, nem pode ver”. É por isso que nós aprovamos a definição de K a f t a n , Dogmatik, 1 - “A Dogmática é a ciência da verdade cristã crida e reconhecida na igreja baseada na revelação divina” - até onde ela limita o escopo da teologia à verdade revelada por Deus e apreendida pela fé. Porém a teologia pressupõe tanto a revelação externa de Deus, como a interna e estas, como veremos, incluem a natureza, a história, a consciência e a Escri tura. B) Que m uitas das verdades assim reveladas são dem asiadam ente indefini das para constituir m atéria para ciência porque pertencem à. região dos senti m entos, porque estão além do nosso pleno entendim ento, ou porque são destiraídas de um arranjo ordenado. Respondemos: d) A teologia tem que ver com os sentim entos subjetivos só naquilo em que ro d em ser definidos e apresentados com o efeitos da verdade objetiva na m en te. Elas não são m ais obscuras que os fatos da m oral e da psicologia e a m esm a objeção que excluiria tais sentim entos da teologia tornaria im possíveis estas ciências. Ver J a c o b i e S c h le ie r m a c h e r , que consideram a teologia como mero relato dos sentimentos dos devotos cristãos, em cuja base encontram-se fatos his tóricos objetivos, matéria de relativa indiferença (H a g e n b a c h , Hist. Doctrine, 2.401-403). Por isso S c h le ie r m a c h e r chamou seu sistema de teologia “Der Chrístliche Glaube”, e muitos, a partir da sua época, passaram a chamar os seus respectivos sistemas pelo nome “Glaubenslehre”. Os “juízos de valor” de R it s c h l, de igual modo, fazem da teologia uma ciência simplesmente subjeti va, se é que se pode ter ciência subjetiva. K a f t a n vai além de R it s c h l , admitin do que conhecemos, não só os sentimentos cristãos, mas também os seus fatos. A teologia é a ciência de Deus e não somente da fé. Em aliança com o ponto de vista já mencionado encontra-se o de F e u e r b a c h , para quem a reli gião é matéria de fantasia subjetiva; e o de T y n d a l l , que remete a teologia à região da aspiração e do sentimento vago, mas o exclui do reino da ciência. b) Os fatos da revelação que estão além do nosso pleno entendim ento podem , com o a hipótese nebular na astronom ia, a teoria atôm ica na química, ou a teoria da evolução na biologia, fornecer um princípio de união entre as 40 Augustus H opkins Strong grandes classes de outros fatos irreconciliáveis. Podem os definir nossos con ceitos de Deus e m esm o da Trindade ao m enos o suficiente para distingui-los de outros conceitos; e qualquer que seja a dificuldade que possa em baraçar a linguagem só m ostra a im portância de tentá-lo e o valor de um sucesso próximo. H orace B ushnell : “A Teologia nunca pode ser uma ciência em vista da debilidade da linguagem”. Porém este princípio tornaria vaga tanto a ciência ética quanto a política. F isher , Nat. and Meth. of Revelation, 145 - “Hume e Gibbon fazem referência à fé como algo demasiado sagrado para apoiar-se em provas. Assim as crenças religiosas são feitas para enforcar, suspenso, sem qualquer apoio. Mas o fundamento destas crenças não é menos sólido para a razão que os testes empíricos inaplicáveis a elas. Os dados nos quais se apoiam são reais e, com razão, tiram-se inferências a partir dos dados”. H odgson , na verdade, destila descontentamento em todo o método intuitivo ao dizer: “Qualquer coisa que você ignora totalmente, afirma ser a explicação de todas as outras coisas!” Contudo, é provável qúe admita começar suas investigações a partir da sua própria existência. Não compreendemos inte gralmente a doutrina da Trindade e aceitamo-la, a princípio, apoiados no tes temunho da Escritura; a sua prova completa encontra-se no fato de que cada uma das sucessivas doutrinas da teologia liga-se a ela e com ela permanece ou cai. A Trindade é racional porque explica a experiência e a doutrina cristãs. c) M esm o que não houvesse um arranjo ordenado destes fatos, quer na natureza quer na Escritura, um a cuidadosa sistem atização delas pela m ente hum ana não se provaria im possível, a não ser que se adm itisse um princípio que m ostrasse tam bém a im possibilidade de toda a ciência física. A astrono m ia e a geologia se constróem reunindo m últiplos fatos que, à prim eira vista, parecem não ter nenhum a ordem. O m esm o tam bém ocorre com a teologia. Contudo, apesar de a revelação não nos apresentar um sistem a dogm ático pron to, este não está só im plicitam ente contido nisso, m as partes do sistem a se operam nas epístolas do Novo Testamento, com o por exemplo, em Rm. 5.12-19; 1 Co. 15.3,4; 8.6; 1 Tm. 3.16; Hb. 6.1,2. Podemos ilustrar a construção da teologia a partir de um mapa dissecado, do qual um pai reúne duas peças, deixando ao filho a tarefa de reunir as restantes. Ou podemos ilustrar a partir do universo físico, que, sem pensar, revela pouco da sua ordem. “A natureza não tem cercas”. Parece que uma coisa desliza para a outra. A preocupação do homem é distinguir, classificar e combinar. Orígenes: “Deus nos dá a verdade em simples laçadas, que pode mos tecer em uma textura acabada”. A ndrew F uller diz que as doutrinas da teologia “estão unidas como encadeamento de projéteis, de tal modo que, se um entra no coração os demais seguem o mesmo caminho”. G eorge H erbert: “Ah! se eu pudesse combinar todas as tuas luzes, e a configuração da sua glória; vendo não apenas como brilha cada verso, Mas toda a constelação da história”! T e o l o g ia S i s t e m á t ic a 41 A Escritura sugere possibilidades de combinação, em Rm. 5.12-19, com seu agrupamento de fatos sobre o pecado e a salvação em torno de duas pessoas: Adão e Cristo; em Rm. 4.24,25, ligando a ressurreição de Cristo à ro ssa justificação; em 1 Co. 8.6, indicando as relações entre o Pai e Cristo; em 1 Tm. 3.16, resumindo de forma poética os fatos da redenção; em -ò . 6.1,2 afirmando os primeiros princípios da fé cristã. O fornecimento de fatos concretos da teologia por Deus, os quais nós mesmos deixamos de sistematizar, está em plena concordância com o seu método processual rela tivo ao desenvolvimento de outras ciências. IV. NECESSIDADE DA TEOLOGIA E sta necessidade baseia-se: 1. No instinto organizador da mente humana E ste princípio organizador faz parte da nossa constituição. A m ente não pode co ntinuar suportando a confusão ou aparente contradição nos fatos conhecidos. A tendência de harm onizar e unificar seu conhecim ento aparece tão logo a m ente com eça a refletir; na proporção exata dos dotes e cultura é im pulsionada a sistem atizar e form ular o desenvolvim ento. Isto é verdade em todos os departam entos da pesquisa hum ana, m as particularm ente no nosso conhecim ento de Deus. Porque a verdade relativa a Deus é a m ais im portante de todas, a teologia vai ao encontro da m ais profunda necessidade da natureza racional do hom em . Se todos sistem as teológicos existentes fossem hoje des truídos, novos sistem as surgiriam am anhã. Tão inevitável é a operação desta lei que os que m ais desacreditam a teologia m ostram que eles têm feito um a teologia para si m esm os e com freqüência m uito m agra e disparatada. A hos tilidade à teologia, onde não origina tem ores equivocados na corrupção da verdade de Deus, ou na estrutura naturalm ente ilógica do pensam ento, fre qüentem ente procede da licenciosidade da especulação que não pode tolerar o com edim ento de um sistem a escriturístico com pleto. P residente E. G. R obinson : “Todo homem tem tanto de teologia quanto possa comportar”. Consciente ou inconscientemente, filosofamos, tão natu ralmente quanto falamos. “S e moquer de Ia philosophie c’est vraiment philosopher”. G ore , Incarnation, 2 1 - 0 cristianismo tornou-se metafísico, só por que o homem é racional. Esta racionalidade significa que ele deve tentar ‘dar conta das coisas’, no dizer de P latão , ‘porque ele é homem, e não somente porque ele é grego’”. Freqüentemente os homens denunciam a teologia siste mática ao mesmo tempo em que enobrecem a ciência da matéria. Será que Deus deixou os fatos relativos a si mesmo num estado de tal modo não rela cionados que o homem não pode coordená-los? Todas as outras ciências só 42 Augustus H opkins Strong têm valor na medida em que elas contêm ou promovem o conhecimento de Deus. S e é louvável classificar os besouros, pode-se permitir raciocinar a respeito de Deus e da alma. Ao falar de S c h e l l in g , R o y c e , Spirít of Modem Philosophy, 173, satiricamente nos exorta: “Confiai no vosso gênio; segui o vosso nobre coração; mudai a vossa doutrina sempre que o vosso coração mude, e mudai-o freqüentemente, - como acontece com o credo dos român ticos”. R it c h ie , Darwin and Hegel, 3 - “Exatamente aquelas pessoas que negam a metafísica são às vezes mais capazes de ser infectadas pela doen ça que professam detestar - e não sabem quando isto ocorreu”. 2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter A verdade integralm ente digerida é essencial ao desenvolvim ento do cará ter cristão no indivíduo e na igreja. Todo o conhecim ento de D eus influi no caráter, porém principalm ente de todo o conhecim ento dos fatos espirituais em seus relacionam entos. A teologia não pode, com o m uitas vezes se tem objetado, m ortificar os sentim entos religiosos, visto que só tira de suas fontes e estab elece conexão racional de um as p ara com as outras verdades que m elhor se prestam a alim entar os sentim entos religiosos. Por outro lado, os m ais fortes cristãos são os que têm a m ais firm e segurança nas grandes doutri nas do cristianism o; as épocas heróicas da igreja são as que têm m ais consis tente testem unho delas; a piedade que pode ser ferida pela sua sistem ática exibição deve ser fraca, ou m ística, ou equívoca. Para a conversão é necessário algum conhecimento - pelo menos do pecado e de um Salvador; a união destas duas grandes verdades é o começo da teologia. Todo o subseqüente desenvolvimento do caráter está condicio nado à evolução do conhecimento. Cl. 1.10 - a\)Çavó|ievoi xfl èTciyvcoaei toá) 0Eoá) [omitir èv] = crescendo através do conhecimento de Deus”; o dativo ins trumental representa o conhecimento de Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta; cf. 2 Pe. 3.18 - “crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesu s Cristo”. Para os textos que representam a verdade como alimento ver Jr. 3.15 “vos apascentem com conhecimento e inteligência”; Mt. 4.4 - “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”; 1 Co. 3.1,2 - “como crianças em Cristo ... leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido”; Hb. 5.14 - “o mantimento sólido é para os perfeitos”. O caráter cristão apoia-se na verdade cristã como alicerce; ver 1 Co. 3 .10 -15 - “pus eu ... um fundamento e outro edifica sobre ele”. A ignorância é a mãe da superstição, não da devoção. T a l b o t W. C h a m b e r s : - “A doutrina sem o dever é uma árvore sem frutos; o dever sem a doutrina é uma árvore sem raízes”. A moralidade cristã é um fruto que cresce só a partir da árvore da doutrina cristã. Não podemos por muito tempo guardar os frutos da fé depois de cortarmos a árvore na qual eles cresceram. B a l f o u r , Found. of Belief, 82 - “A virtude naturalista é parasitária e, quando o hospedeiro T e o l o o ia S i s t e m á t ic a 43 perece, o parasita perece também. A virtude sem a religião também morre rá”. K id d , Social Evolution, 2 1 4 - Porque o fruto sobrevive por algum tempo quando removido da árvore, e mesmo maduro e saboreável diremos que é independe da árvore?” As doze maneiras pelas quais os frutos da árvoredo-natal só se prendem é que eles nunca crescem lá, e nunca reproduzem a sua espécie. A maçã murcha incha num recipiente vazio, mas voltará outra vez à sua forma mirrada primitiva; o mesmo ocorre com a retidão própria dos que se retiram da atmosfera de Cristo e não têm o ideal divino com o qual se comparam. W. M. L is l e : “É um equfvoco e um desastre do mundo cristão procurar os efeitos ao invés das causas”. G e o r g e G o r d o n , Christ of To-day, 28 - “Sem o Cristo histórico e o amor pessoal por esse Cristo, a grande teologia atual se reduzirá a um sonho, incapaz de despertar a igreja do seu sono”. 3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador A sua principal qualificação intelectual deve ser o poder de conceber clara e com preensivam ente e expressar precisa e poderosam ente a verdade. Ele pode ser o agente do E spírito S anto n a conversão e santificação dos hom ens só quando pode brandir “a espada do E spírito, que é a palavra de D eus” (Ef. 6.17), ou, em outra linguagem , só quando pode im prim ir a verdade nas m entes e consciências de seus ouvintes. Sem dúvida, nada m ais anula seus esforços do que a confusão e inconsistência na apresentação da doutrina. Seu objetivo é substituir as concepções obscuras e errôneas entre os seus ouvintes pelas corretas e vividas. E le não pode fazer isto sem conhecer os fatos relati vos a Deus e suas relações - em resum o, conhecê-los com o partes de um sistem a. C om esta verdade ele se investe de confiança. M utilar a doutrina ou interpretá-la falsam ente não é só um pecado contra o seu Revelador, - pode levar à ruína as alm as dos hom ens. A m elhor salvaguarda contra tal m utilação ou falsa interpretação é o estudo diligente das várias doutrinas da fé nas interrelações e especialm ente nas relações com o tem a central da teologia, a pes soa e obra de Jesus Cristo. Quanto mais refinada e refletida for a época mais requer razões para sen tir a Imaginação exercida na poesia e na eloqüência e, como na política ou na guerra, não é menos forte do que antigamente, - só é mais racional. Note o progresso vindo do “Buncombe” (N .T r a d linguagem desarrazoada e não sin cera), na oratória legislativa e forense, no discurso sensível e lógico. B a s s â n io , no Mercador de Veneza de S h a k e s p e a r e , - “Graciano profere uma porção infi nita de nulidades. ... Seus raciocínios são como dois grãos de trigo perdidos em dois alqueires de palha”. O mesmo ocorre na oratória de púlpito: não bastam simples citação da Bíblia e férvido apelo. O mesmo ocorre com um uivante daroês (N.Trad.: religioso muçulmano), a comprazer-se na jactanciosa 44 Augustus H opkins Strong declamação. O pensamento é a matéria prima da pregação. Pode aparecer o sentimento, desde que com a finalidade exclusiva de conduzir os homens “para conhecerem a verdade” (2 Tm. 2.25). O pregador deve fornecer a base do sentimento, produzindo a convicção inteligente. Ele deve instruir mais que comover. S e o objetivo primordial do pregador é o conhecer Deus e, a seguir, tornar Deus conhecido, o estudo da teologia é absolutamente necessário ao seu sucesso. C o m o po de o m é d ico e x e rc e r a m e d ic in a se m e s tu d a r fis io lo g ia , ou o a d vo g a d o e x e rc e r o d ire ito sem e s tu d a r ju ris p ru d ê n c ia ? P r o f. B l a c k ie : “ Bem se p o d e e s p e ra r de um m e stre em e sg rim a fa z e r-s e um g ra nd e patriota, do m esm o m od o que de um sim p le s retórico, um g ra n d e o ra d o r” . O pre g a d o r n e ce ssita de co n h e c e r d o u trin a p a ra não se to rn a r um sim p le s realejo, to c a n do sem p re, se m p re as m esm a s m úsicas. John H e nry Newman: “O fa lso p re g a d o r te m de dize r a lg u m a coisa; o v e rd a d e iro p re g a d o r tem a lg u m a co isa para d iz e r” . Spurgeon, Autobiography, 1.167 - “ M u d a n ça co n sta n te de cred o s ig n i fica , sem dú vid a, e sta r pe rdido. S e se tiv e r q u e a rra n c a r um a á rvo re du as ou trê s veze s p o r ano, não h a ve rá n e ce ssid a d e de um arm a zé m m uito gra nd e p a ra g u a rd a r as m açãs. Q u a n d o se m u d a m u ito de p rin cíp io s do utrin ário s, não se e sp e re a pro d u çã o de m uito s f r u t o s . ... N u n ca te re m o s g ra nd es p re g a do res en q u a n to não tiv e rm o s g ra n d e s te ó lo g o s . N ão espere, de estu d a n te s su p e rficia is, g ra n d e s p re g a d o re s que co n v e n ç a m a lm a s ” . P eq ue na s d iv e r g ê n cia s da d o u trin a c o rre ta d a n o s s a p a rte p o d e m s e r d a n o sa m e n te e x a g e rad as n a q u e le s que nos su ce d e re m . 2 T m . 2.2 - “E o que de mim, entre m uita s te ste m u n h a s, ou viste , c o n fia -o a h o m e n s fiéis, que se ja m id ô n e o s para ta m b é m e n sin a re m os o u tro s ” . 4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firm e e agressivo poder da igreja A segurança e o progresso da igreja dependem do “padrão das sãs pala v ras” (2 Tm. 1.13), e de ser “co lu n a e esteio da verdade” (1 Tm. 3.15). O entendim ento defeituoso da verdade, m ais cedo ou m ais tarde, resulta em falhas de organização, de operação e de vida. A com preensão integral da ver dade cristã com o um sistem a organizado fornece, por outro lado, não só uma incalculável defesa contra a heresia e a im oralidade, m as tam bém indispensá vel estím ulo e instrum ento no agressivo labor da conversão do mundo. Os credos da cristandade não se originaram de uma simples curiosidade especulativa e de minuciosos artifícios lógicos. São afirmações da doutrina em que a igreja atacada e em perigo procurou expressar a verdade que cons titui a sua própria vida. Os que zombam dos credos primitivos têm uma redu zida concepção do ápice intelectual e da seriedade moral que contribuiu para a sua feitura. Os credos do terceiro e quarto séculos incorporam os resulta dos das controvérsias que esgotaram as possibilidades de heresia relativas à Trindade e à pessoa de Cristo e que fixaram barreiras contra a falsa doutrina do fim dos tempos. M ahafi: “O que converteu o mundo não foi o exemplo da T e o l o g ia S i s t e m á t ic a 45 vida de Cristo, - foi o dogma da sua morte”. C o l e r id g e : “Aquele que não resis te, não está em lugar firme”. S r a . B r o w n in g : “A total tolerância intelectual é a marca daqueles que não crêem em nada”. E. G. R o b in s o n , Christian Theology, 360-362 - “Doutrina é apenas um preceito no estilo de uma proposição; pre ceito é apenas doutrina em forma de uma ordem. ... A teologia é o jardim de Deus; su as árvores são o seu plantio; e “avigoram -se as árvores do Senhor” (SI. 104.16). B o s e , Ecumenical Councils: “O credo não é católico porque um concilio de muitos ou poucos bispos o decretou, mas porque expressa a convicção comum de gerações inteiras de homens e mulheres que puseram em novas formas de palavras a sua com preensão do Novo Testamento”. D o r n e r : “Os credos são a precipitação da consciência religiosa dos homens e tempos poderosos”. F o s t e r , Chríst. Life and Theol., 16 2 - “Freqüentemente ela requer o choque de algum grande evento para despertar os homens para a clara apreensão e cristalização da sua crença substancial. Tal choque ocor reu através da rude e grosseira doutrina de Á r io , sobre a qual chegou à con clusão, no Concilio de Nicéia, seguido tão rapidamente na gelada água os cristais de gelo que às vezes se formarão quando o vaso que os contém recebe um golpe”. B a l f o u r , Foundations of Belief, 287 - “Os credos não eram explicações, mas negações de que as explicações arianas e gnósticas eram suficientes e declarações de que irremediavelmente empobreciam a idéia de Deus. Insistiam em preservar a idéia em toda a sua inexplicável plenitude”. D e n n y , Studies in Theology, 192 - “As filosofias pagãs tentaram atrair a igreja para os seus próprios fins, e voltar-se para uma escola. Em sua defesa pró pria, a igreja foi compelida a tornar-se uma espécie de escola por sua própria conta. Ela teve de fixar seus fatos; teve de interpretar a seu modo os fatos que os homens estavam interpretando falsamente”. P r o f . H o w a r d O s g o o d : “O credo é como a espinha dorsal. O homem não tem necessidade de usá-la diante de si; mas ele precisa tê-la, e que esteja correta, ou ele será flexível se não for um cristão corcunda”. É bom lembrar que os credos são credita, não credenda\ as afirmações históricas do que a igreja tem crido, não prescrições infalíveis do que a igreja deve crer. G e o r g e D a n a B o a r d m a n , The Church, 98 - “Os credos podem tornar-se celas prisio nais”. S c h u r m a n , Agnosticism, 151 - “Os credos são fortificações defensivas da religião; elas deveriam ter se tornado, às vezes, artilharia contra a própria cidadela”. T. H . G r e e n : “Dizem-nos que devemos ser leais às crenças dos Pais. Sim, mas em que os Pais creriam hoje?” G e o r g e A. G o r d o n , Christ of To-day, 60 - “A suposição de que Espírito Santo não se preocupa com o desenvolvimento do pensamento teológico, nem se manifesta na evolução intelectual da humanidade, é superlativa heresia da nossa geração.... A meta física de Jesus é absolutamente essencial à sua ética. ... S e o seu pensa mento é um sonho, seu empenho pelo homem é uma ilusão”. 5. Nas injunções diretas e indiretas da Escritura A Escritura nos estimula ao estudo integral e abrangente da verdade (Jo. 5.39, “exam inai as E scrituras”), à com paração e harm onização de suas diferentes Augustus H opkins Strong 46 partes (1 Co. 2.13 - “com parando as coisas espirituais com as espirituais”), à reunião de tudo em torno do fato central da revelação (Cl. 1.27 - “que é Cristo em vós, esperança da glória”), à pregação na form a sadia assim com o em suas devidas proporções (2 Tm . 4.2 “prega a palavra”). O m inistro do evangelho é cham ado “escriba que se fez discípulo do reino do céu” (Mt. 13.52); os “pas tores” das igrejas devem ser ao m esm o tem po “m estres” (Ef. 4.11); o bispo deve ser “apto para ensinar” (1 Tm. 3.2), “que m aneja bem a palavra da verda d e” (2 Tm . 2.15), “retendo firm e a palavra fiel, que é conform e a doutrina, p ara que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina com o para convencer os contradizentes” (Tt. 1.9). C o m o um m eio de in s tru ç ã o da ig re ja e de g a ra n tia do p ro g re s s o no e n te n d im e n to da v e rd a d e cristã, é bom q u e o p a s to r p re g u e reg ularm en te , a ca d a m ês, um se rm ã o d o u trin á rio e e x p o n h a os p rin c ip a is a rtig o s da fé. O tra ta m e n to da d o u trin a em ta is s e rm õ e s d e ve s e r b a s ta n te sim p le s a fim de s e r co m p re e n síve l à in te lig ê n c ia jo ve m ; co n vé m to rn á -lo v iv id o e in te re ssa n te a u xilia d o p o r b re ve s ilu stra çõ e s; e pelo m en os um te rç o de ca d a s e rm ã o deve s e r d e d ica d o a a p lica çõ e s p rá tica s da d o u trin a pro p o sta , ver o se rm ã o de J onathan E dwards so b re a Im p o rtâ n cia do C o n h e c im e n to da V erdade Divina, in Works, 4 .1 -1 5 . O s ve rd a d e iro s se rm õ e s de E dwards , co n tu d o , não servem de m o d e lo p a ra a p re g a çã o d o u trin á ria p a ra a no ssa g e raçã o. E les são de fo rm a m uito e sco lá stica , de s u b s tâ n c ia m uito m e ta física ; há m uito po uco de B íb lia e m u ito p o u c o de ilu s tra ç ã o . A p re g a ç ã o d o u trin á ria dos P u rita n o s Ing lese s de ig ua l m od o se d irig ia q u a se s o m e n te a ad ulto s. Por ou tro lado, a p re g a çã o do no sso S e n h o r a d a p ta v a -s e ta m b é m às cria n ça s. N enhum pa stor se c o n s id e ra ria fiel, se p e rm itis s e aos seu s jo v e n s c re s c e re m sem a in stru ção re g u la r do p ú lp ito no c írc u lo in te iro da d o u trin a cristã . S hakespeare , Rei Henri que VI, 2- parte, - “A ig n o râ n cia é a m a ld içã o de D eus; o co n h e cim e n to é a asa com que vo a m o s ao c é u ” . V. RELAÇÃO DA TEOLOGIA COM A RELIGIÃO A teologia e a religião relacionam -se um a com a outra com o efeitos em diversas esferas da m esm a causa. Com o a teologia é o efeito produzido na esfera do pensam ento sistem ático com os fatos relativos a Deus e o universo, assim a religião é o efeito que estes m esm os fatos produzem na esfera da vida individual e coletiva. Com relação à palavra ‘religião’, note: 1. Derivação a) A derivação de religare, “lig ar novam ente” (o hom em a Deus), é negada pela autoridade de C íc e ro e dos m elhores etim ologistas m odernos; em vista da dificuldade, nesta hipótese, de exp licar form as tais com o religio, religens; T e o l o g ia S is t e m á t ic a 47 e pela necessidade, em tal caso de pressupor um conhecim ento m ais com pleto do pecado e da redenção do que era com um ao m undo antigo. b) A derivação m ais correta é relegere, “reexam inar” , “ponderar cuidado sam ente” . Portanto, seu sentido original é “observância reverente” (dos deveres para com os deuses). 2. Falsas Concepções a) R eligião não é, com o declarava H egel, um tipo de conhecim ento; pois, então, só seria um a form a incom pleta de filosofia e a m edida do conhecim en to em cada caso seria a m edida da piedade. No sistema do panteísmo idealista, como o de H egel, Deus é tanto o sujei to como o objeto da religião. A religião é o conhecimento do próprio Deus através da consciência humana. H egel não ignora totalmente outros elemen tos na religião. “O sentimento, a intuição e a fé pertencem-lhe”, diz ele, “e o conhecimento desacompanhado é caolho”. Contudo, H egel sempre aguarda va o movimento do pensamento em todas formas da vida; Deus e o universo são apenas um desenvolvimento da idéia primordial. “O que o conhecimento precisa saber”, pergunta ele, “se Deus é incognoscível?” O conhecimento de Deus é a vida eterna e o pensamento é também a verdadeira adoração”. O erro de H egel está em considerar a vida como um processo do pensamen to, ao invés de considerá-lo como um processo da vida. Eis aqui a razão da amargura entre H egel e S chleiermacher . H egel considera corretamente que o sentimento deve tornar-se inteligente antes que seja verdadeiramente religio so, mas não reconhece a suprema importância do amor no sistema teológico. Ele abre menos espaço para a vontade do que para as emoções, e não vê que o conhecimento de Deus de que fala a Escritura não se limita ao intelecto, mas compreende o homem todo, incluindo a natureza afetiva e a voluntária. G oethe : “C o m o po de o hom em v ir a c o n h e c e r a si m esm o ? N u nca através dos p e n sa m e n to s, m as da ação. T ente p ra tic a r o seu d e v e r e vo cê sa b e rá o que vo cê m erece. Você não p o de to c a r um a fla u ta a p e n a s sop ra n d o , - você p re c is a e m p re g a r os d e d o s ” . Do m e s m o m o d o n u n c a p o d e m o s c h e g a r a co n h e c e r a D eus só a tra vé s do p e n sa m e n to . Jo. 7 . 1 7 - “Se a lg u é m q u e rfa z e r a v o n ta d e dele, p e la m e sm a d o utrin a, c o n h e c e rá se ela é de D eus” . Os G nósticos , S tapfer , H enrique VIII, m o stra ra m que p o d e h a ve r m uito co n h e cim e n to te o ló g ic o se m a v e rd a d e ira re ligião . A m á x im a de C hillingworth , “S o m e n te a Bíblia, a re ligião dos p ro te s ta n te s ” , é in a d e q u a d a e im p re cisa ; p o rq u e a Bíblia sem a fé, o am or, e a o b e d iê n c ia p o d e to rn a r-s e um fe tic h e e um a arm a dilha : Jo. 5.39,40 - “Vós examinais as Escrituras, ... e não quereis vir a mim para terdes vida”. b) A religião não é, com o sustentava S ch le ie rm a c h e r, o sim ples sentim en to de dependência; pois tal sentim ento de dependência não é religioso, a não ser quando exercido para Deus e acom panhado por esforço moral. 48 Augustus H opkins Strong Na teologia alemã, S chleiermacher constitui a transição do velho racionalismo para a fé evangélica. “Como Lázaro, com a mortalha da filosofia panteísta embaraçando os seus passos”, embora com a experiência morávia da vida de Deus na alma, ele baseou a religião nas certezas interiores do senti mento cristão. Mas o presidente F airbairn assinala: “A emoção é impotente a não ser que ela fale baseada na convicção; e onde há convicção existe a emoção que é poderosa para persuadir”. S e o cristianismo for apenas um sentimento religioso, não há diferença alguma entre ele e as outras religiões porque todas são produto do sentimento religioso. Mas o cristianismo se dis tingue das outras religiões pelas suas concepções religiosas peculiares. A doutrina precede a vida e a doutrina cristã, não o simples sentimento reli gioso, é a causa do cristianismo como religião distintiva. Apesar de que a fé começa com o sentimento, não termina aí. Vemos o demérito do sentimento nas emoções transitórias dos que vão ao teatro e nos ocasionais fenômenos avivaiistas. S abatier , Philos. Relig., 27, acrescenta ao elemento passivo da depen dência de S chleiermacher , o elemento ativo da oração. K aftan , Dogmatik, 10 “S chleiermacher considera Deus como a Fonte do nosso ser, mas esquece que ele também é o nosso Firri’. A comunhão e o progresso são elementos tão importantes como a dependência; a comunhão deve anteceder o progres so - ela pressupõe perdão e vida. Parece que S chleiermacher não crê nem num Deus pessoal nem na sua imortalidade pessoal; ver Life and Letters, 2.77-90; M artineau , S tudy of R eligion, 2.357. C harles H odge compara-o a uma escada num poço - boa coisa para quem quer sair, mas não para quem quer entrar. D orner : “A irmandade morávia era a sua mãe; a Grécia a sua pagem”. c) R eligião não é, com o sustentava K a n t, m oralidade ou ação m oral; pois m oralidade é conform idade com um a lei abstrata de direito, enquanto a reli gião é essencialm ente relação com um a pessoa de quem a alm a recebe bênção e a quem se entrega em am or e obediência. K ant , Kritikderpraktischen Vernunft, Beschluss : “Conheço apenas de duas coisas belas: o céu estrelado acima da minha cabeça e o senso do dever dentro do meu coração”. Mas o simples senso do dever quase sempre causa angústia. Fazemos objeção à palavra “obedecer” como um imperativo da religião porque 1) faz da religião somente matéria da vontade; 2) a vontade pressupõe o sentimento; 3) o amor não está sujeito à vontade; 4) faz que Deus seja todo lei e não graça; 5) faz do cristão apenas um servo, não um amigo; cf. Jo. 15 .15 - “Já vos não chamarei servos ... mas tenho-vos chama do amigos” - uma relação não de serviço mas de amor (W estcott, Bib. Com., in loco). A voz que fala é a voz do amor, em vez da voz da lei. Fazemos objeção também à definição de M atthew A rnold : “Religião é a ética elevada, iluminada, acendida pelo sentimento; é a moral tocada pela emoção". Isto exclui o elemento receptivo na religião assim como a sua relação com o Deus pessoal. A afirmação mais verdadeira é que a religião é a moral em direção a Deus, como a moral é a religião em direção ao homem. B ow ne , Philos. of Theism., 251 - “A moral que não vai além da simples consciência deve recor- T e o l o g i a S is t e m á t i c a 49 rer à religião”; ver L otze , Philos. of Religion, 128-142. G oethe : “A atividade desqualificada, seja de que tipo for, conduz, por fim, à bancarrota”. 3. Idéia Essencial Religião, em sua idéia essencial, é vida em Deus, vivida no reconhecim en to de Deus, em com unhão com D eus e sob o controle do Espírito de Deus que habita o hom em . Porque é vida, não pode ser descrita com o consistindo unica m ente no exercício de qualquer das forças do intelecto, do sentim ento e da vontade. Com o a vida física envolve unidade e cooperação de todos os órgãos do corpo, assim a religião, ou vida espiritual, a obra unificada de todas as forças da alm a. P ara sentir, contudo, devem os atribuir prioridade lógica, visto que todo o sentim ento para com D eus com unicado na regeneração é condição para o verdadeiro conhecim ento de D eus e para o verdadeiro serviço prestado a ele. 1/erGoDET, on the Ultimate Design of Man - “ D eus no hom em , e o hom em em D e u s” - Princeton Review, nov. 1 880; P fleiderer , D/e Religion, 5-79, e Religionsphilosophie, 25 5 - A religião é “S a ch e des g a n ze n G e iste sle b e n s” (N.T.: O objetivo da vid a espiritual com o um tod o): C rane, Religion of To-morrow, 4 - “ Religião é a in fluê ncia pessoal do D eus im a n e n te ” ; S terrett, Reason Authorityin Religion, 31 ,3 2 - “A R e lig iã o é a re la çã o re cíp ro ca ou a com u n h ã o entre D eus e o hom em , e n volvend o 1) a revelação, 2) a fé; D r . J. W. A. S tewart : “ R eligion is fe llo w s h ip w ith G o d ” ; P ascal : “ P ie d a d e é a s e n sib ilid a d e de Deus para com o c o ra ç ã o ” ; R itschl , Justif. and Reconci!., 13 - “O c ristia n ism o é um a e lip se com do is fo c o s - C risto com o R e d e n to r e C risto com o Rei, C risto por nós e C risto em nós, re d e n çã o e m o ra lid a d e , re lig iã o e é tica ” ; K aftan , Dogmatik, 8 - “A re lig iã o c ris tã é 1) o reino de Deus com o a m eta a cim a do m undo, a se r a tin g id a pelo d e s e n v o lv im e n to m oral aqui, e 2) reconciliação com Deus p e rm itin d o a tin g ir e s ta m e ta a d e s p e ito d o s n o s s o s p e ca d o s. A teologia cristã, uma vez estabelecida no conhecimento que o homem tem de Deus; agora partimos para a religião, /.e., o conhecimento cristão de Deus, que chamamos fé”. H erbert S pencer : “Religião é uma teoria a príori do universo”; R omanes , Thoughts on Religion, 43, acrescenta: “que admite a personalidade inteligen te como a causa originadora do universo; a ciência trata do Como, o processo fenomenal, a religião trata do Quem, a Personalidade inteligente que opera através do processo”. H olland , Lux Mundi, 27 - “A vida natural é a vida em Deus que ainda não chegou a tal reconhecimento” - o reconhecimento do fato de que Deus está em todas as coisas - “contudo, não é, como tal, reli gioso; ... A religião é a descoberta, através do filho, de um Pai, que está em todas as suas obras, embora distinto de todas elas”. D ewey , Psychology, 283 - “O sentimento acha a sua expressão absolutamente universal na emoção religiosa, que é o encontro ou realização do eu em uma personalidade com pletamente realizada, que reúne em si a verdade, ou a unidade completa da A ugustus H opkins Strong 50 relação de todos os objetos, beleza ou unidade completa de todos os valores ideais, e retidão ou a unidade completa em todas as pessoas. A emoção que acompanha a vida religiosa é aquela que acompanha a nossa atividade com pleta; o eu se realiza e encontra a sua verdadeira vida em Deus”. U pton , Hibbert Lectures, 262 - “A ética é simplesmente o discernimento que se desenvolve na sociedade e o esforço para atualizar-se nela, o senso do rei nado fundamental e a identidade substancial em todos homens; conquanto a religião seja emoção, e a devoção que assiste a realização em nossa consciên cia própria sobre o mais íntimo relacionamento espiritual provindo dessa uni dade de substância que constitui o homem o verdadeiro filho do Pai eterno”. 4. Inferências D esta definição de religião segue-se: a) Que, a rigor, só há um a religião. O hom em é, na verdade, um ser reli gioso, que tem a capacidade desta vida divina. C ontudo, ele é realm ente reli gioso, só quando entra nesta relação viva com Deus. As falsas religiões são caricaturas que os hom ens fazem do pecado, ou a im aginação que o hom em tateia após a luz, form a da vida da alm a em Deus. P eabody , Christianity the Religion of Nature, 18 - “S e o cristianismo for verdadeiro, não é uma religião, mas a religião. S e o judaísmo também for verdadeiro, não se distingue do cristianismo, mas coincide com ele, que é a única religião com que pode relacionar-se. S e houver porções de verdade em outros sistemas religiosos, estes não são porções de outras religiões, mas da única que, de uma forma ou de outra se incorporaram a fábulas e falsidades”. J ohn C aird , Fund. Ideas of Christianity , 1.25 - “Você nunca pode alcançar a verdadeira idéia ou essência da religião somente tentando descobrir algo comum a todas religiões; não são as inferiores que explicam as mais eleva das, mas, ao contrário, a mais elevada explica todas as inferiores”. G eorge P. F isher : “O reconhecimento de alguns elementos da verdade nas religiões étnicas não significa que o cristianismo tem defeitos que devem ser corrigi dos tomando de empréstimo delas; significa que as crenças étnicas têm em fragmentos o que o cristianismo tem no seu todo. A religião comparativa não traz para o cristianismo alguma verdade nova; ela fornece ilustrações de como a verdade cristã vai ao encontro das necessidades humanas e aspirações e dá uma visão completa daquilo que o mais espiritual e o mais dotado entre os pagãos só discernem obscuramente”. D r . P arkhurst , Sermon on Pv. 2 0 .2 7 - “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor” - “Uma lâmpada, mas não necessariamente iluminada; uma lâm pada que pode ser acesa só pelo toque de uma chama divina” = o homem tem natural e universalmente capacidade para a religião, mas não é natural e universalmente religioso. Todas as falsas religiões têm algum elemento de verdade; caso contrário nunca poderiam ter obtido e conservado o apoio sobre a humanidade. Precisamos reconhecer tais elementos de verdade ao tratá-los. Há alguma prata em um dólar falsificado; caso contrário, não en T e o l o g i a S is t e m á t i c a 51 ganaria ninguém; mas o fino banho de prata sobre o chumbo não impede que seja um dinheiro de má qualidade. C l a r k e , Chrístian Theology, 8 - “Veja os métodos de Paulo tratar a religião pagã, em Atos 14 com o grosseiro paganis mo e em Atos 17 com a sua forma erudita. Ele a trata com simpatia e justiça. A teologia cristã tem a vantagem de andar à luz da manifestação própria de Deus em Cristo, enquanto as religiões pagãs tateiam em Deus e o adoram na ignorância”; cf. At. 14 .15 - “e anunciamo-vos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo”; 17.22,23 - “em tudo vos vejo acentuadamente religio sos. ... Esse que honrais não conhecendo é o que eu vos anuncio”. M a t t h e w A r n o l d : “O cristianismo é totalmente exclusivo, porque é absolu tamente inclusivo. Ele não é um amálgama de religiões, mas tem em si tudo de melhor e mais verdadeiro de outras religiões. É a luz branca que contém todas as demais cores.” M a t h e s o n , Messages of the Old Religions, 32 8-342 - “Cristianismo é reconciliação. Inclui a aspiração do Egito; vê, nesta aspiração, Deus na alma (bramanismo); reconhece o poder do mal do pecado com o Zoroastrismo; retrocede a um início puro como a China; entrega-se à fraternidade humana como Buda; extrai tudo do interior como o judaísmo; torna bela a vida presen te como a Grécia; procura o reino universal como Roma; apresenta o desen volvimento da vida divina como os teutões. O cristianismo é a múltipla sabe doria de Deus”. Q ue o conteúdo da religião é m aior do que o da teologia. Os fatos da religião se nivelam aos da teologia só naquilo que podem ser concebidos de um modo definido, precisam ente expressos em linguagem e postos em relação racional uns com os outros. b) Este princípio capacita-nos a definir os limites próprios de uma comunhão religiosa. Deve ser de tal modo amplo como a própria religião. Mas é impor tante lembrar o que é a religião. Ela não deve ser identificada com a capaci dade de ser religioso. Nem podemos considerar as perversões e caricaturas da religião como méritos da nossa comunhão. Caso contrário, poder-se-ia requerer que tivéssemos comunhão com o culto aos demônios, com a poliga mia, com o banditismo e com a inquisição; porque tudo isso tem sido dignifi cado em nome da religião. A verdadeira religião envolve um certo conheci mento, embora rudimentar, do verdadeiro Deus, o Deus da justiça; algum senso do pecado como o contraste entre o caráter humano e o padrão divino; um certo lançamento da alma sobre a misericórdia divina e o processo divino da salvação em lugar da justiça própria para obter o mérito e a confiança nas obras e nas sua memórias; algum esforço prático para realizar o princípio ético em uma vida pura e na influência sobre os outros. Sempre que aparece rem estas marcas da verdadeira religião, ainda que nos unitários, romanistas, judeus ou budistas, reconhecer-se-á a demanda de comunhão. Mas atribuí mos também estes germes da verdadeira religião na operação da obra do Cristo onipresente, “a luz que alumia todo homem” (Jo. 1.9), e vemos neles o incipiente arrependimento e a fé, embora o seu objetivo ainda seja nominal mente desconhecido. A comunhão cristã deve ter maior base na verdade cristã 52 A ugustus H opkins Strong aceita e a comunhão da igreja ainda maior base no reconhecimento comum do ensino do N.T. no que se refere à igreja. A comunhão religiosa, neste sentido mais amplo, apoia-se no fato de que “Deus não faz acepção de pes soas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (At. 10.34,35). c) Que a religião pode distinguir-se do louvor form al, que é sim plesm ente a expressão exterior da religião. Com o tal expressão, o louvor é “a com unhão form al entre Deus e seu povo” . N ele Deus fala ao hom em e o hom em a Deus. Portanto, inclui adequadam ente a leitura da E scritura e a pregação da parte de Deus e a oração e o cântico da parte do povo. S t e r r e t t , fíeason and Authority in Religion, 166 - “A adoração cristã é o pronunciamento do espírito”. Porém no verdadeiro amor existe mais do que se pode pôr numa letra amorosa e, na religião, existe mais do que se pode expressar quer na teologia, quer na adoração. A adoração cristã é comunhão entre Deus e o homem. Mas a comunhão não pode ser unilateral. M a d a m e de S t a ê l , que H e in e chamava de “torvelinho em saias”, encerra um dos seus brilhantes solilóquios, dizendo: “Que deliciosa conversa tivemos!” Podemos achar uma ilustração melhor da natureza do culto nos diálogos de T h o m a s à K e m p is entre o santo e o seu Salvador, na Imitação de Cristo. G o e t h e : “Contra a grande superioridade de uma outra pessoa não há remédio senão o amor. ... Louvar um homem é pôr-se no seu nível”. S e este for o efeito do amor e louvor ao homem, qual não deve ser o de amar e louvar a Deus! Inscrição na Igreja em Grasmere: “Quem quer que sejas tu que entras na igreja, não a deixes sem um louvor a Deus por ti mesmo, por aqueles que ministram, e por aqueles que adoram neste lugar”. Tg. 1.27 - “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, guardar-se da corrupção do mundo” - “religião”, epricrKeía, é cuitus exterior, e significa “o serviço exterior, o garbo externo, o próprio ritual do cristianismo, é vida de pureza, amor e devoção própria. O escritor não diz qual pode ser a sua verdadeira essência, o recôndito do seu espírito, mas deixa que se infira”. C a p ít u l o II MATERIAL DA TEOLOGIA L FONTES DA TEOLOGIA Em últim a análise, o próprio Deus deve ser a única fonte do conhecim ento a respeito do seu ser e relações. Portanto, a teologia é um resum o e explicação do conteúdo das revelações que D eus faz de si m esm o. São estas, em prim eiro lugar, a revelação de D eus na natureza; em segundo lugar e suprem am ente a revelação de D eus nas Escrituras. A m b r ó s io : “ A quem creditarei maior grandeza a respeito de Deus senão ao próprio Deus”? V o n B a a d e r : “É impossível conhecer Deus sem Deus; não há conhecimento sem aquele que é a fonte primordial”. C. A . B r ig g s , Whither, 8 “Deus revela a verdade em diversas esferas: na natureza universal, na cons tituição da humanidade, na história da nossa raça, nas Escrituras Sagradas, mas, acima de tudo, na Pessoa de Jesus Cristo, nosso Senhor”. F. H. J o h n s o n , W hatis Reality?, 399 - “O mestre interfere quando é necessário. A revelação auxilia a razão e a consciência, mas não as substitui. O catolicismo, porém, afirma que a igreja as substitui, e o protestantismo que é a Bíblia que faz isto. A Bíblia, como a natureza, dá muitos dons gratuitos, porém, em germe. O crescimento dos ideais éticos deve interpretar a Bíblia”. A. J . F. B e h r e n d s : “A Bíblia é apenas um telescópio; não é o olho que vê, nem as estrelas que o telescópio traz à vista. Você tem a preocupação e eu também de ver as estre las com os nossos próprios olhos”. S c h u r m a n , Agnosticism, 178 - “A Bíblia é uma lente através da qual se vê o Deus vivo. Mas ela é inútil quando você desvia dela os olhos”. Só podemos conhecer a Deus na medida em que ele se revela. Conhecese o Deus imanente, mas o Deus transcendente não conhecemos como só conhecemos uma das faces da lua, a que se volta para nós. A. H. S t r o n g , Christin Creation, 1 1 3 - “A palavra ‘autoridade’ deriva de auctor, augeo, ‘acres centar’. A autoridade acrescenta alguma coisa à verdade comunicada. O que se acrescenta é o elemento pessoal do testemunho. Isto é necessário sem pre que não se pode remover a ignorância com o nosso próprio esforço, ou a falta de vontade que resulta do nosso próprio pecado. Na religião preciso acrescentar ao meu próprio conhecimento aquilo que Deus concede. A razão, a consciência, a igreja, a Escritura, todas são autoridades delegadas e A ugustus H opkins Strong 54 subordinadas; a única autoridade original e suprema é o próprio Deus revela do e que se fez compreendido por nós”. G o r e , Incarnation, 181 - “Toda a legítima autoridade representa a razão de Deus, educando a razão do homem e comunicando-se com ela. ... O homem foi feito à imagem de Deus: ele é, na capacidade fundamental, filho de Deus, e torna-se assim de fato, e completamente, através da união com Cristo. Por isso, na verdade de Deus, como Cristo a apresenta a ele, pode reconhecer como sua a melhor razão, usando a bela expressão de P l a t ã o , ele pode saudá-la com a força do instinto como alguma coisa que está aquém de si mesmo, antes que dê satisfação intelectual dela”. B a l f o u r , Foundations of Belief, 332-337, sustenta que não existe a razão desassistida e, mesmo que houvesse, a religião natural não é um dos seus produtos. Diz ele: atrás de toda a evolução da nossa própria razão, está a Razão Suprema. “A consciência, os ideais éticos, a capacidade de admirar, a simpatia, o arrependimento, a justa indignação, assim como o prazer no belo e na verdade, tudo deriva de Deus”. K a f t a n , in Am. Jour. Theology, 1900.718,719, sustenta que não há outro princípio para a dogmática além da Escritura Sagrada. Embora ele sustente que o conhecimento nunca vem dire tamente da Escritura, mas da fé. A ordem não é: Escritura, doutrina, fé; mas Escritura, fé, doutrina. A Escritura não é uma autoridade direta mais do que a igreja. A revelação se dirige a todo o homem, isto é, à vontade do homem e reivindica obediência da parte dele. Visto que todo conhecimento cristão é mediado através da fé, ele se apoia na obediência à autoridade da revelação e a revelação é a manifestação própria da parte de Deus. K a f t a n devia ter reconhecido mais plenamente que não só a Escritura, mas toda a verdade capaz de ser conhecida, é uma revelação de Deus e que Cristo é “a luz que alumia todo homem” (Jo. 1.9). A revelação é um todo orgânico, que começa na natureza, mas tem seu clímax e chave no Cristo histórico que a Escritura nos apresenta. 1. A Escritura e a natureza P or natureza significam os aqui não som ente os fatos físicos ou os fatos relativos às substâncias, propriedades, forças e leis do m undo m aterial, mas tam bém os fatos espirituais ou fatos relativos à contribuição intelectual e moral do hom em e o arranjo ordenado da sociedade e história hum anas. Empregamos aqui a palavra “natureza” no sentido comum, incluindo o homem. Existe um outro emprego de tal palavra mais próprio que a torna somente um complexo de forças e seres sob a lei de causa e efeito. O Homem só pertence à natureza, neste sentido a respeito do seu corpo, enquanto imaterial e pessoal ele é sobrenatural. A livre vontade não está sob a lei da física e da causa mecânica. É como diz B u s h n e l l : “A natureza e o elemento sobre natural constituem juntos o sistema único de Deus.” D r u m m o n d , Natural Lawin the Spiritual World, 232 - “As coisas são naturais ou sobrenaturais conforme a posição em que se encontram. O homem é sobrenatural com relação ao T e o l o g ia S is t e m á t ic a 55 elemento mineral; Deus é sobrenatural com relação ao homem”. Em capítu los posteriores empregaremos o termo “natureza” em sentido mais restrito. O emprego universal da expressão “Teologia Natural”, contudo, compele-nos neste capítulo a valermo-nos da palavra “natureza” em seu sentido mais amplo, incluindo o homem, apesar de fazê-lo sob protesto e explicando este sentido mais adequado do termo. E. G. Robinson: “ B u s h n e ll s e p a ra a n a tu re z a do s o b re n a tu ra l. A na tu re za é um ceg o e n ca d e a m e n to de cau sas. D e us n a d a te m a v e r com ela, e xce to que anda nela. O ho m em é so b re n a tu ra l po rq u e e stá fo ra da na tureza, te n d o o po d e r de o rig in a r um in d e p e n d e n te e n c a d e a m e n to de c a u s a s ” . Se esta fosse a c o n ce p çã o a d e q u a d a da na tureza , p o d e ría m o s s e r co m p e lid o s a con clu ir com P. T. F o rs y th , Faith and Criticism., 100 - “ N ão há n e n h u m a re ve la çã o na n a tureza. N ão p o de haver, p o rq u e não há pe rdã o. N ão p o d e m o s e sta r certos dela. Ela é a p e n a s esté tica. Seu ideal não é a re co n cilia çã o , m as harm onia. ...pois a c o n s c iê n c ia a co m e tid a ou fo rte , não te m p a la vra ... A n a tu re za não con tém a su a p ró p ria te le o lo g ia e p o rq u e a a lm a m ora l que recu sa se r a lim e n ta d a de fa n ta sia , C risto é o s o rris o lu m in o so na te n e b ro s a fa ce do m u n d o ” . M as isto co n fin a v irtu a lm e n te a re ve la çã o de C risto à E scritu ra ou à e n ca rn a ção. C o m o ha via um a a s tro n o m ia s e m o te le scó p io , assim h a via um a te o lo g ia antes da Bíblia. G e o rg e H a r r is , Moral Evolution, 411 - “A n a tu re za é tanto um a e vo lu çã o co m o um a reve la ção. T ã o logo a q u e stã o Como é resp on did a, le va n ta m -se as q u e stõ e s De onde e Porquê. A n a tu re z a é p a ra D eus o que a fa la é p a ra o p e n sa m e n to . O títu lo do livro de H e n ry Drummond d e via te r sido: “A Lei Espiritual no Mundo Natural”, porque a natureza é tão somente a ativi dade livre embora natural de Deus; o que chamamos sobrenatural é somente a sua obra extraordinária. à) Teologia natural - O universo é um a fonte da teologia. As Escrituras afirm am que Deus se revelou na natureza. N ão h á apenas um testem unho exterior da sua existência e caráter na constituição e governo do universo (Sl. 19; At. 14.17; Rm. 1.20), m as tam bém um testem unho interno da sua ex istên cia e caráter no coração de cada hom em (Rm. 1.17-20,32; 2.15). A sistem ática apresentação destes fatos derivados da observação, história ou ciência, constitui a teologia natural. Testemunho externo: Sl. 19.1-3 - “Os céus declaram a glória de Deus”; At. 14 .17 - “Não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos”; Rm. 1 .2 0 - “Porque as coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão cria das”, Testemunho interno: Rm. 1 .1 9 — t ò yvcocttov to ú 9eov> = “o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta”. Compare o àjioKaMm-tetai do evan gelho no vs. 17, com o àKOKaXvmemi da ira no vs. 18 - duas revelações, uma da ôpyri, a outra da x á p iç ; uerSHEDD, Homiletics, 1 1 . Rm. 1 .3 2 - “conhe cendo a justiça de Deus”; 2 .1 5 - “mostram a obra da lei escrita no seu cora ção”. Por isso mesmo os pagãos são “inescusáveis” (Rm. 1 .2 0 ). Há dois 56 A ugustus H opkins Strong livros: A Natureza e a Escritura - uma escrita, a outra não: e há necessidade de estudar ambos. S purgeon falava de uma pessoa piedosa que, quando descia o Reno, fechava os olhos para não ver a beleza da cena que desviaria a sua mente dos temas espirituais. O puritano virava as costas para portulaca, dizendo que não levaria em conta coisa alguma encantadora na terra. Mas isto é des prezo às obras de Deus. J. H. B arrows : “O Himalaia contém as letras em alto relevo em que nós, crianças cegas púnhamos os dedos para ler o nome de Deus". Desprezar as suas obras é desprezar o próprio Deus. Ele está presen te na natureza e fala através dela. SI. 19.1 - “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” - verbos no presente. A natureza não só é um livro, mas também uma voz. H utton , Essays, 2.236 “O conhecimento direto da comunhão espiritual deve ser suplementado pelo dos processos divinos provindos do estudo da natureza. A negligência do estudo natural dos mistérios do universo conduz a uma intromissão arrogante e ilícita das aceitações morais e espirituais num mundo diferente. Esta é a lição do livro de Jó”. H atck , Hibbert Lectures, 85 - “O homem, servo e intér prete da natureza também o é, consequentemente, do Deus vivo”. Os livros científicos são o registro das interpretações passadas do homem relativas às obras de Deus. b) Teologia Natural Suplementada - A revelação cristã é a principal fonte d a teologia. As E scrituras declaram plenam ente que a revelação de Deus n a natureza não supre todo o conhecim ento de que um pecador necessita (At. 17.23; Ef. 3.9). Portanto, esta revelação é suplem entada por outra na qual os atributos divinos e as m isericordiosas provisões só obscuram ente projeta das na natureza tom am -se conhecidas ao hom em . E sta últim a revelação con siste em um a série de eventos sobrenaturais e com unicações cujo registro é apresentado nas Escrituras. At. 17.23 - P aulo mostra que, embora os atenienses, na edificação do altar a um Deus desconhecido, “reconhecessem uma existência divina além de qualquer que os ritos comuns da sua adoração reconheciam, tal Ser ainda lhes era desconhecido; eles não tinham uma concepção exata da sua nature za e suas perfeições” (H ackett, in loco). Ef. 3.9 - “o mistério que esteve oculto em Deus” - mistério este que, no evangelho, tornou conhecida ao homem a salvação. H egel, Philosophy of Religion, diz que o cristianismo é a única reli gião revelada porque o Deus cristão é o único de quem ela pode vir. Podemos acrescentar que, como a ciência é o registro da interpretação progressiva do homem relativa à revelação de Deus no reino natural, do mesmo modo a Escritura é o registro da interpretação progressiva do homem sobre a revela ção de Deus no reino espiritual. A expressão “palavra de Deus” não indica primordialmente um registro, - é a palavra falada, a doutrina, a verdade vitalizadora, descortinada por Cristo; Mt. 13 .19 - “Ouvindo a palavra do Reino”; Lc. 5.1 - “ouvir a palavra de Deus”; At. 8.25 - “tendo falado a palavra do Senhor”; 13.48,49 - “glorificavam a palavra do Senhor: ... a palavra do T e o l o g ia S is t e m á t ic a 57 Senhor se divulgava”; 1 9 .1 0 ,2 0 - “ouviram a palavra do Senhor,... a palavra do Senhor crescia poderosamente”; 1 Co. 1.18 - “a palavra da cruz” - designan do não um documento, mas uma palavra não escrita; cf. Jr. 1.4 - “veio a mim a palavra do Senhor”; Ez. 1.3 - “veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, o sacerdote”. c) As E scrituras, o p a d rã o f in a l de apelo - A ciência e a E scritura lançam luz um a sobre a outra. O m esm o Espírito divino que deu am bas revelações ainda está presente, capacitando o crente a interpretar um a pela outra e, assim, progressivam ente chegar ao conhecim ento da verdade. P or causa da nossa adequação e por causa do pecado o registro total das com unicações de Deus passadas na E scritura é m ais fidedigna fonte da teologia do que nossas con clusões a partir da natureza ou nossas im pressões particulares do ensino do Espírito. A teologia, portanto, encara a própria E scritura com o sua principal fonte de m aterial e seu padrão final de apelo. Existe uma obra interna do Espírito divino através da qual a palavra exte rior tornou-se a obra interior e a sua verdade e poder manifestam-se no cora ção. A Escritura representa a obra do Espírito, não concedendo uma nova verdade, mas uma iluminação da mente para que perceba a plenitude do sentido que se encontra envolto na verdade já revelada. Cristo é “a verdade” (Jo. 14.6); “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e ciência" (Cl. 2.3); Jesus diz que o Espírito Santo “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo. 16.14). A encarnação e a cruz expressam o cora ção de Deus e o segredo do universo; todas as descobertas da teologia são apenas desdobramento da verdade que estes fatos envolvem. O Espírito de Cristo capacita-nos a comparar a natureza com a Escritura e vice-versa e corrigir os equívocos na interpretação de um à luz do outro. Porque a igreja como um todo através da qual entendemos o conjunto dos verdadeiros cren tes em toda a parte e em todos os tempos tem a promessa de ser conduzida “em toda a verdade” (Jo. 16.13) é que podemos confiantes esperar o progres so da doutrina cristã. A experiência cristã às vezes é considerada como uma fonte original de verdade religiosa. Contudo, ela é apenas teste e prova da verdade contida objetivamente na revelação de Deus. A palavra “experiência” deriva de experior, testar, tentar. A consciência cristã não é “norma normans”, mas “nor ma normata”. Como a vida, a luz nos vem através da mediação dos outros. Embora esta vem de Deus como realmente aquela, da qual sem hesitação dizemos: “Deus me fez”, apesar de termos pais humanos. Como através do encanamento recebo a mesma água que se encontra armazenada nos reser vatórios no alto da montanha, assim nas Escrituras eu recebo a verdade que o Espírito Santo originariamente comunicou aos profetas e apóstolos. Calvino, tnstitutes, livro I, cap. 7 - “Como a natureza tem uma manifestação imedi ata de Deus na consciência, uma manifestação mediata nas suas obras, assim a revelação tem uma manifestação imediata de Deus no Espírito, e mediata nas Escrituras”. “A natureza do homem”, diz Spurgeon, “não é uma 58 A ugustus H opkins Strong mentira organizada, embora sua consciência interior tenha sido deformada pelo pecado e apesar de que uma vez tenha sido um guia infalível à verdade e ao dever o pecado a fez muito enganadora. O padrão de infalibilidade não está na consciência do homem, mas nas Escrituras. Quando em qualquer matéria a consciência contraria a Palavra de Deus, devemos saber que ela não é a voz de Deus, mas do diabo”. D r . G eoge A. G ordon diz que “a história cristã é a revelação de Cristo adicional ao conteúdo do Novo Testamento”. Não deveríamos dizer “ilustrativa”, em vez de “adicional”? H. H. B a w d e n : Deus é a autoridade máxima apesar de que existem autori dades delegadas, tais como a família, o estado, a igreja; os instintos, os sen timentos, a consciência; a experiência genérica da raça, as tradições, o valor utilitário; a revelação na natureza e na Escritura. Porém a autoridade de maior valor para os homens na moral e na religião é a verdade a respeito de Cristo contida na literatura cristã. A verdade a respeito de Cristo, encontra-se deter minada 1) pela razão humana condicionada pela atitude correta dos senti mentos e da vontade; 2) à luz de toda a verdade derivada da natureza, inclu indo o homem; 3) à luz da história do cristianismo; 4) à luz da origem e desenvolvimento das próprias Escrituras. A autoridade da razão em geral e a da Bíblia são correlatas visto que se desenvolveram sob a providência de Deus e esta em grande escala porém como reflexo daquela. Este ponto de vista capacita-nos a uma concepção racional da função da Escritura na reli gião. Este ponto de vista capacita-nos a raciocinar sobre o que se chama inspiração da Bíblia, natureza e extensão da inspiração, a Bíblia como ele mento histórico - registro do desdobramento histórico da revelação; a Bíblia como literatura - compêndio dos princípios de vida, mais do que um livro de regras; a Bíblia cristocêntrica - encarnação do pensamento e da vontade divinos e no pensamento humano e na linguagem”. d) A teologia da Escritura não é antinatural - A pesar de term os falado que as verdades sistem atizadas da natureza constituem a teologia natural, não devemos inferir que a teologia escriturística é fora do natural. Porque as Escri turas têm o m esm o autor que a natureza, os m esm os princípios são ilustrados em um a com o na outra. Todas doutrinas da B íblia têm sua razão na m esm a natureza de Deus que constitui a base de todas as coisas m ateriais. O cristia nism o é um a dispensação suplem entar, não contradizendo ou corrigindo erros na teologia natural, porém de m odo m ais perfeito revelando a verdade. O cris tianism o é o plano base no qual toda a criação é edificada - a verdade original e eterna cuja teologia natural é apenas um a expressão parcial. Por isso a teolo gia da natureza e a teologia da E scritura são interdependentes. A teologia natural não só prepara o cam inho para a teologia escriturística, m as recebe o estím ulo e auxílio dela. A teologia natural pode agora ser um a fonte da verda de, que, antes que a E scritura viesse, ela não poderia fornecer. J ohn C aird , Fund. Ideas of Chrístianity, 23 - “Não existe esta coisa que se chama religião natural ou religião da razão distinta da revelada. O cristianis T e o l o g ia S is t e m á t ic a 59 mo é mais profunda, compreensiva e racionalmente, mais concorde com os mais profundos princípios da natureza e pensamento humanos que a religião natural; ou, como podemos situá-lo, o cristianismo é a religião natural engran decida e feita religião revelada”. P eabody , Christianity the Religion of Nature, preleção 2 - “Revelação é o desvendamento, o descobrimento daquilo que antes já existia e exclui a idéia de novidade, de invenção, de criação.... A reli gião terrena revelada é a religião natural do céu.” Compare Ap. 13.8 - “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” = a vinda de Cristo não se fez por mudança; no verdadeiro sentido, a Cruz existiu desde a eternidade; a expiação é a revelação de um fato eterno no ser divino. Observe a ilustração de Platão da caverna que facilmente pode ser amea çada por alguém que tinha entrado com uma tocha. A natureza é uma luz embaçada que vem da entrada da caverna; a tocha é a Escritura. K ant para J acobi, in Jacobi’s Werke, 3.523 - “S e o evangelho não tivesse ensinado as leis morais universais, a razão não teria adquirido tão perfeito discernimento delas”. A lexander M c L aren : “O s pensadores não cristãos falam agora elo qüentemente sobre o amor de Deus e até mesmo rejeitam o evangelho em nome de tal amor, chutando a escada pela qual subiram. Mas foi a cruz que ensinou ao mundo o amor de Deus e independentemente da morte de Cristo os homens podem esperar que haja um coração no centro do universo, mas nunca estão certos dele”. O papagaio fantasia que ele ensinou os homens a falar. Do mesmo modo o S r . S pencer fantasia que inventou a ética. Ele só está empregando o crepúsculo depois que o sol se pôs. D orner , Hist. Prot. Theol., 252,253 - “Na Reforma, a fé primeiro forneceu certeza científica; daí em diante continuou a banir o ceticismo na filosofia e na ciência”. 2. A Escritura e o Racionalismo A pesar de que as Escrituras tornam conhecido m uito do que está além do poder da razão hum ana desauxiliada para descobrir ou com preender plena m ente seus ensinos, quando tom ados juntos, de m odo nenhum contradizem um a razão condicionada em sua atividade pelo santo sentim ento e ilum inada pelo Espírito de Deus. As Escrituras apelam para a razão, em seu am plo senti do, incluindo o poder da m ente de reconhecer D eus e as relações m orais - não no sentido estrito de um sim ples raciocínio ou o exercício da faculdade pura m ente lógica. A) O ofício apropriado da razão, neste sentido am plo, é: a) Fornecer-nos as idéias prim árias de espaço, tem po, causa, substância, desígnio, ju stiça e Deus, que são as condições de todo o subseqüente conhecim ento, b) julgar com rela ção à necessidade de um a revelação especial e sobrenatural da parte do homem. c) E xam inar as credenciais da com unicação que professam ser tal revelação ou dos docum entos que professam registrá-la. d) Avaliar e reduzir a um siste m a os fatos da revelação quando estes foram achados apropriadam ente ates tados. é) D eduzir destes fatos suas conclusões naturais e lógicas. A ssim a 60 A ugustus H opkins Strong própria razão prepara o cam inho para um a revelação acim a da razão e garante um a confiança em tal revelação quando dada. D ove , Logic of the Christian Faith, 318 - A razão termina na proposição: “Conte com a revelação”. L eibnitz : “A revelação é o vice-rei que apresenta logo as suas credenciais à assembléia provincial (razão) e, depois, ele mes mo preside”. A razão pode reconhecer a verdade depois que ela se tornou conhecida, como por exemplo nas demonstrações da geometria, embora ela nunca possa descobrir a verdade por si mesma, vera ilustração de C alderwood sobre o grupo perdido nos bosques, que toma sabiamente o curso indicado por alguém que se encontra no topo da árvore com maior visão do que a dele (Philosophy of the Infinite, 126). O noviço faz bem em confiar seu guia na floresta ao menos até que aprenda a reconhecer por si mesmo as marcas chamuscadas sobe as árvores. L uthardt , Fund. Thruts, lect. viii - “A razão nunca podia ter inventado um Deus auto-humilhante, tendo como berço uma manjedoura e morrendo numa cruz”. L essing , Z ur Geschichte und Litterature (A Respeito da História e da Literatura), 6 .13 4 - “Qual o sentido de uma reve lação que não revela nada”? R itschl nega que as pressuposições de qualquer teologia baseada na Bíblia como a infalível palavra de Deus por um lado, e na validade do conhe cimento de Deus obtido por processos científicos e filosóficos por outro. Por que os filósofos, cientistas e mesmo os exegetas, não concordam entre si, ele conclui que nenhum resultado fidedigno é atingível pela razão humana. Admitimos que a razão sem o amor cairá em muitos erros relativos a Deus e que, por isso, a fé é, portanto, o órgão pelo qual a fé religiosa deve ser apre endida. Reivindicamos que a fé inclui a razão e esta na sua mais elevada forma. A fé critica e julga os processos da ciência natural bem como o conteú do da Escritura. Mas ela também reconhece, anteriormente, na ciência e na Escritura a operação do Espírito de Cristo que é a fonte e autoridade da vida cristã. R itschl ignora as relações terrenas de Cristo e, por isso, seculariza e deprecia a ciência e a filosofia. A fé na qual ele confia como a fonte da teolo gia, sem garantia, está separada da razão. Torna-se um padrão subjetivo e arbitrário ao qual, mesmo o ensino da Escritura deve ter precedência. Sus tentamos um ponto de vista contrário; o de que observam-se resultados na ciência e na filosofia e na interpretação da Escritura como um todo e que tais resultados constituem uma revelação que tem autoridade, ver O rr , The Theology of Ritschl', D orner , Hist. Prot. Theoi., 1.233 - “A questionável razão na razão empírica é escrava da fé, que é a verdadeira razão nascente, não con fiante em si mesma, mas defensora do cristianismo objetivo”. B) Por outro lado, o racionalism o sustenta que a razão é a fonte últim a de toda a verdade religiosa enquanto a E scritura é a autoridade só naquilo que suas revelações concordam com as conclusões prévias d a razão ou pode ser dem onstrada racionalm ente. C ada form a de racionalism o, portanto, com ete ao m enos um dos seguintes erros: d) O de confundir a razão com o simples raciocínio, ou com o exercício da inteligência lógica, b) O de ignorar a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 61 necessidade de um sentim ento santo com o condição de toda a correta razão nos assuntos religiosos, c) O da negação da nossa dependência das revelações de Deus no nosso estado presente de pecado, ã) O de considerar a razão desapoiada m esm o em seu estado norm al e desapaixonado, com o capaz de desco brir, com preender e dem onstrar toda a verdade religiosa. Não se deve confundir razão com raciocínio, ou simples arrazoado. Vamos seguir a razão? Sim, mas não o arrazoado individual contra o teste munho dos que têm melhor informação do que nós; nem insistir na demons tração, na qual a evidência provável por si só é possível; nem confiar somen te na evidência dos sentidos quando estão em jogo as coisas espirituais. C oleridge , respondendo aos que argumentavam que todo o conhecimento nos vem dos sentidos, diz: “De qualquer modo devemos trazer à luz todos os fatos como os vemos”. É isto que o cristão faz. A luz do amor revela muita coisa que, de outra forma, seria invisível. W ordsworth , Excursion, book 5 (598) - “A razão desnuda não deve garantir o apoio da mente. A verdade moral não é uma estrutura mecânica edificada através de regras”. O racionalismo é a teoria matemática do conhecimento. A ética de S pinosa é uma ilustração disso. Ela deduziria o universo a partir de um axioma. O D r. Hodge muito erroneamente descreveu o racionalismo como “um abuso da razão”. Mais do que isso é o uso de uma razão anormal, pervertida, inade quadamente condicionada; ver Hodge, Syst. Theol., 1.34,39,55, e a crítica de M ille r, O Fetiche na Teologia. A expressão “intelecto santificado” apenas signi fica o intelecto acompanhado de justos sentimentos para com Deus e instru ídos na operação sob a influência deles. Bispo B u tle r : “Observe-se a razão, mas não se deixe que criaturas como nós continuem a opor-se a um esque ma infinito a ponto de não vermos a necessidade ou utilidade de todas as suas partes e a isto chamemos razão”. Newman Smith, Death’s Place in Evolution, 86 - “A descrença é uma haste imersa nas trevas da terra. Afundea mais e aparecerá no raio solar do outro lado da terra”. As pessoas mais desarrazoadas do mundo são as que dependem exclusivamente da razão, no sentido restrito. “Quanto mais elas exaltam a razão, mais tornam o mundo irracional”. “A galinha que choca patinhos anda com eles até à beira da água, mas pára ali e fica assustada quando eles avançam. Do mesmo modo a razão pára e a fé continua encontrando o seu elemento mais adequado no invisível. A razão são os pés que se apoiam na terra sólida; a fé são as asas que nos capacitam a voar; o homem normal é uma criatura que tem asas”. Compare yvcòcnç (1 Tm. 6 . 2 0 - “falsamente chamada ciência”) com èmyvcocn.ç (2 Pe. 1.2 - “conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor” = pleno conhecimento, ou verdadeiro conhecimento). 3. A Escritura e o Misticismo Com o o racionalism o reconhece que m uito pouca coisa vem de Deus assim o m isticism o reconhece-a excessiva. 62 A ugustus H opkins Strong A) O Verdadeiro Misticismo - Vimos que há um a ilum inação das m entes de todos os crentes pelo Espírito Santo. C ontudo, o Espírito não faz nenhum a revelação nova da verdade já revelada por C risto na natureza e nas Escrituras. A obra ilum inadora do Espírito é, portanto, a de abrir as m entes dos hom ens para entender as revelações prévias de Cristo. Com o um iniciado nos mistérios do cristianism o, cada crente verdadeiro pode ser cham ado de m ístico. O ver dadeiro m isticism o é o m ais alto conhecim ento e com unhão que o Espírito Santo concede através do uso da natureza e da E scritura com o m eio subordi nado e principal. “Místico” = iniciado, de núco, “fechar os olhos” - provavelmente para que a alma possa ter a visão interior da verdade. Porém a verdade divina é um “mistério”, não só como algo em que alguém deve iniciar-se, mas como Ú7cep(3áA.A,o-ucya xfiç yvcooeok; (Ef. 3.19) - ultrapassando o pleno conhecimento, mesmo para o crente; verMEYER sobre Rm. 11.25 - “Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério”. Os alemães têm a palavra Mystik com um sentido favorável, Mysticismus com um sentido desfavorável, - correspondendo, res pectivamente, ao nosso verdadeiro e falso misticismo. O verdadeiro misticis mo é sugerido em João 16 .13 - “aquele Espírito da verdade ... vos guiará em toda a verdade”; Ef. 3.9 - “dispensação do mistério”; 1 Co. 2 .10 - “Deus no-las revelou pelo seu Espírito”. N itzsch , Syst. OfChrist. Doct, 35 - “Sempre que a verdadeira religião revive, há um clamor contra o misticismo, /'.e., um conhecimento mais elevado, uma comunhão, uma atividade através do Espí rito de Deus no coração”. Compare a acusação contra Paulo de que ele esta va louco, em At. 26.24,25, com a sua própria vindicação em 2 Co. 5.13 - “se enlouquecemos, é para Deus”. Inge, Chrístian Mysthicism, 21 - “ H a rna ck fala do misticismo como racio nalismo aplicado à esfera acima da razão. Ele deveria ter dito razão aplicada à esfera acima do racionalismo. Sua doutrina fundamental é a unidade de toda a existência. O homem pode realizar a sua individualidade apenas trans cendendo-a e achando-se na unidade maior do ser divino. O homem é um microcosmo. Ele recapitula a raça, o universo, o próprio Cristo”. Ibid., 5 O misticismo é “a tentativa de realizar no pensamento e no sentimento a imanência do temporal no eterno e do eterno no temporal. Isto implica 1) que a alma pode ver e perceber a verdade espiritual; 2) que o homem, para conhe cer a Deus, deve ser participante da natureza divina; 3) que, sem a santidade, ninguém pode ver o Senhor; 4) que o verdadeiro hierofante dos mistérios de Deus é o amor. A ‘scala perfectionis’ é a) a vida purificadora; b) a vida iluminativa; c) a vida unificadora”. Stevens, Joanninne Theol., 239,240 - “O misticis mo de J oão ... não é do tipo subjetivo que absorve a alma na autocontemplação e devaneio, mas objetivo e racional, que vive no mundo da realidade, apreende a verdade divinamente revelada e baseia sua experiência nela. É um misticismo que se alimenta, não dos seus próprios sentimentos e fanta sias, mas de Cristo. Envolve uma aceitação e obediência a ele. O seu mote é: Perseverando em Cristo”. Como a pressão da força não pode dispensar o tipo, assim o Espírito de Deus não dispensa a revelação externa de Cristo na T e o l o g ia S is t e m á t ic a 63 natureza e na Escritura. E. G. R obinson , Christian Theology, 364, - “A palavra de Deus é uma forma ou molde ao qual o Espírito Santo nos entrega quando nos recria”; cf. Rm. 6.17 - “obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues”. B) Falso Misticismo - O m isticism o, contudo, com o se usa com um ente o term o, erra ao sustentar a aquisição do conhecim ento religioso pela com uni cação direta de Deus e da absorção passiva das atividades hum anas na divina. Parcial ou totalm ente perde de vista a) os órgãos externos da revelação, da natureza e das Escrituras; b) a atividade dos poderes hum anos na recepção de todo conhecim ento religioso; c) a personalidade do hom em e, por conseqüên cia, a personalidade de Deus. Em oposição ao falso misticismo, devemos lembrar que o Espírito Santo opera através da verdade revelada exteriormente na natureza e na Escritura (At. 14 .17 - “Não se deixou a si mesmo sem testemunho”; Rm. 1.20 - “as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, ... claramente se vêem”; At. 7.51 - “vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como os vossos pais”; Ef. 6.17 - “a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”). Através desta verdade já entregue devemos provar toda a nova comunicação que contradiz ou vai além dela (1 Jo. 4.1 - “não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”; Ef. 5 .10 - “aprovando o que é agradável ao Senhor”). Através destes testes podemos por à prova o Espiritismo, o Mormonismo, Swedenborgianismo. Note a tendência mística em Francisco de Sales, em Tomás à Kempis, em Madame Guyon, em Thomas C. Upham. Tais escritores parecem, às vezes, defender uma abnegação insustentável da nossa razão e vontade e uma “absorção do homem em Deus”. Mas Cristo não nos priva da razão e da vontade; ele só nos tira a perversidade da nossa razão e o egoísmo da nossa vontade; assim restauram-se a razão e a vontade à sua clareza normal e força. Compare SI. 16.7 - “o Senhor me aconselhou; até o meu coração me ensina de noite” = Deus ensina o seu povo através do exer cício das próprias faculdades deste. O falso misticismo está presente, embora, às vezes, não reconhecido. Toda expectação dos resultados sem o emprego de recursos participa dele. M artineau , Seat of Authoríty, 288 - “A vontade preguiçosa gostaria de ter a visão enquanto o olho que a apreende dorme”. Pregar sem preparação é como lançarmo-nos do pináculo de um templo e depender de que Deus man de um anjo a amparar-nos. A Ciência Cristã confiaria em agentes sobrenatu rais enquanto deixa de lado os agentes naturais que Deus já providenciou; como se aquele que está se afogando confiasse na oração, recusando-se a agarrar na corda. Usando a Escritura “ad aperturam libri” é como guiar a ação de alguém lançando o dado. A llen , Jonathan Edwards, 171, nota - “Tanto C harles como J ohn W esley concordavam em aceitar o método morávio de solucionar as dúvidas como curso de uma ação, abrindo a Bíblia ao acaso e considerando a passagem em que o olho se fixou primeiro como uma revela ção da vontade de Deus sobre o assunto”; cf. W edgwood , Life of Wesley, 193; A ugustus H opkins Strong 64 S o u th e y , Life of Wesley, 1.216. J. G. Paton, Life, 2.74 - “Após muitas orações e lutas e lágrimas, pus-me a sós diante do Senhor e, de joelhos, lancei sorte, com um solene apelo a Deus, e veio a resposta: ‘Volte!’”. Uma única vez ele fez isso na sua vida, em esmagadora perplexidade, sem encontrar luz vinda do conselho humano. “A quem quer que tenha esta fé”, diz ele, “obedeça-lhe”. F. B. M e y e r , Chrístian Living, 18 —“É um equívoco buscar um sinal do céu; correr de conselheiro a conselheiro; tirar sorte; ou confiar em alguma coinci dência fortuita. Isto não significa que Deus não possa revelar a sua vontade ^ desta forma; mas que este é um comportamento duro de um filho para com o Pai. Há um caminho mais excelente”, - a saber, o próprio Cristo que é sabe doria e, quando avançamos, é certo que seremos guiados à medida em que se der um novo passo, ou a cada palavra proferida, ou decisão tomada. O nosso culto deve ser “um culto racional” (Rm. 12.1); a ação cega e arbitrária é inconsistente com o espírito do cristianismo. Este tipo de ação nos torna vítimas de temporário sentimento e presas do engano satânico. No caso de perplexidade, aguardando a iluminação e aguardando a vontade de Deus, freqüentemente nos tornaremos capazes de tomar uma decisão inteligente, porque “o que não é de fé é pecado” (Rm. 14.23). “O falso misticismo alcançou seu resultado lógico na teosofia budista. Nes se sistema o homem torna-se mais divino na extinção da sua própria pessoalidade. Chega-se ao Nirvana através de oito passos do ponto de vista correto, da aspiração, da palavra, da conduta, do viver, do esforço, da mente, do êxta se; Nirvana é a perda da capacidade de dizer: ‘Este ser sou eu’, e ‘Isto é meu’. Tal foi a tentativa de Hipatéia, através da sujeição própria, ao ser impelida aos braços de Jove. G eorge E liot equivocava-se quando dizia: ‘A mulher mais feliz não tem história’. A autonegação não é auto-anulação. O sino quebrado não tem individualidade. Em Cristo tornamo-nos completos”. Cl. 2 .9 ,1 0 - “por que nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade e nele estais perfeitos”. R oyce , World and Individual, 2.248,249 - Impõe-se o homem espiritual; O homem natural é abnegado. A carnalidade do eu é a raiz de todos os males; o eu espiritual pertence ao reino mais elevado. Mas este eu espiritual jaz, a princípio, fora da alma; ele se torna nosso somente pela graça. P latão está certo quando faz das idéias eternas a fonte de toda a verdade e bonda de humanas. A sabedoria vem ao homem como o vcruç de A ristóteles” . A. H. B radford , The Inner Light, ao fazer o ensino direto do Espírito Santo a fonte suficiente senão a única do conhecimento religioso, parece ignorar o princípio da evolução na religião. Deus constrói sobre o passado. A sua revelação aos profetas e apóstolos constitui a norma e correção da nossa experiência indivi dual, mesmo quando a nossa experiência lança novas luzes sobre a revelação. 4. A Escritura e o Romanismo Enquanto a história da doutrina, m ostrando a progressiva apreensão e des dobram ento da verdade contida na natureza e na E scritura da parte da igreja é um a fonte subordinada da teologia, o protestantism o reconhece a Bíblia, sob Cristo, com o a autoridade prim eira e final. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 65 O R om anism o, por outro lado, com ete o duplo erro de a) tom ar a igreja, e não a Escritura, a fonte im ediata e suficiente do conhecim ento religioso; e b i de fazer a relação do indivíduo com C risto depender de sua relação com a igreja, ao invés de fazer tal relação com a igreja depender, seguir e expressar sua relação com Cristo. H á no Catolicismo Romano um elemento místico. As Escrituras não são o completo e final padrão de fé e prática. Deus dá ao mundo, de tempo em tempo, através de papas e concílios, novas comunicações da verdade. C ipriano : “Quem não tem a igreja como sua mãe não tem Deus como seu Pai". A gostinho : “Eu não creria na Escritura, se a autoridade da igreja também me influenciasse”. F rancisco de Assis e I nácio de L oyola representam a pes soa verdadeiramente obediente como um morto, movimentando-se só quan do movido por seu superior; o verdadeiro cristão não tem vida própria, antes é um instrumento cego da igreja. J ohn H enry N ewman , Tracts, Theol. andEccl., 287 - “Os dogmas cristãos estavam na igreja desde o tempo dos apóstolos, substancialmente sempre foram o que são agora”. Mas demonstra-se que isto não é verdade a respeito da concepção imaculada da Virgem Maria; a respeito do tesouro dos méritos distribuídos em indulgências; da infalibilida de do papa (ver G ore , Incarnation, 186). Em lugar da verdadeira doutrina, “Ubi Spiritus, ibi ecclesia”, o romanismo emprega a máxima, “Ubi ecclesia, ibi Spiritus”. Lutero viu nisto o princípio do misticismo quando disse: “Papatus est merus enthusiasmus”. Em resposta ao argumento romanista de que a igreja é antes da Bíblia e que o mesmo corpo que deu a verdade no princípio pode fazer acréscimos à verdade, dizemos que a palavra não escrita existiu antes da igreja e possibi litou esta mesma igreja. A palavra de Deus existiu antes que fosse escrita e por aquela palavra os primeiros discípulos bem como os posteriores foram gerados (1 Pe. 1.23 - “fostes regenerados ... mediante a palavra de Deus”). A contextura da verdade na doutrina católica romana se expressa em 1 Tm. 3.15 - “a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” = a igreja é a proclamadora da verdade, eleita por Deus; cf. Fp. 2 .16 - “retendo a palavra da vida”. Mas a igreja só pode proclamar a verdade edificada sobre a verdade. Deste modo podemos dizer que a República Americana é a coluna e base da liberdade no mundo; mas isto só é verdade desde que a República seja edifi cada no princípio da liberdade como seu alicerce. Quando o romanista per gunta: “Onde estava a sua igreja antes de L utero ?” o protestante pode retru car: “Onde estava o seu rosto antes de você lavá-lo? Onde estava a farinha antes que o trigo fosse para o moinho?” L ady J ane G rey , três dias antes da sua execução, em 12 de fevereiro de 1554, disse: “A minha fé está fundamen tada na palavra de Deus, não na igreja; pois, se a igreja for boa, a sua fé deve ser testada pela palavra de Deus, e não a palavra de Deus ser testada pela palavra da igreja, nem ainda a minha fé”. A Igreja Romana queria manter os homens em perpétua infância - fazen do-os ir a ela em busca da verdade, ao invés de ir diretamente à Bíblia; “como a mãe tola que guarda o menino em casa para que não tope o seu artelho; e quer amá-lo mais fazendo-o permanecer sempre um bebê e assim continuar 66 A ugustus H opkins Strong sendo a sua mãe”. M a r t e n s e n , Christian Dogmatlcs, 30 - “O romanismo está de tal modo preocupado com a construção de um sistema de salvaguardas que esquece a verdade do Cristo que ela quer garantir”. G e o r g e H e r b e r t : “Que desastre pode causar-lhe qualquer lugar, Cuja casa é repugnante enquanto ele adora a sua vassoura!” É uma doutrina meio parasita de segu rança sem inteligência ou espiritualidade. O romanismo diz: “O homem para a máquina!” O protestantismo: “A máquina para o homem!” O catolicismo repri me a individualidade; o protestantismo devolve-a. Não obstante o princípio romanista aparece em igrejas ditas protestantes. O catecismo publicado pela Liga da Santa Cruz, da Igreja Anglicana, contém o seguinte: “Só ao sacerdote a criança deve confessar seus pecados, se desejar que Deus lhes perdoe. Sabe por quê? É porque Deus, quando na terra, deu aos seus sacerdotes, e só a eles, o poder de perdoar pecados. Vá ao sacerdote, que é o médico da sua alma e que cura em nome de Deus”. Mas isto contradiz Jo. 10.7 - “eu sou a porta”; e 1 Co. 3.11 - “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” = atinge-se a salvação pelo acesso imedia to a Cristo e não há nenhuma porta entre a alma e ele. II. LIM ITAÇÕES DA TEOLOGIA A pesar de a T eologia derivar seu m aterial da dúplice revelação de Deus, ela não professa dar um exaustivo conhecim ento de Deus e de suas relações com o universo. D epois de m ostrar que m aterial tem os, devem os m ostrar que m aterial não temos. Já indicam os as fontes da Teologia; exam inarem os agora suas lim itações. São elas: 1. Na finitude do entendimento humano Isto dá surgim ento a um a classe de m istérios necessários, ou m istérios em conexão com a infinitude e incom preensibilidade da natureza divina (Jó 11.7; Rm. 11.33). Jó 1 1 . 7 - “ a lcan çarás tu os ca m in h o s de Deus, ou ch e g a rá s à perfe içã o do T odo -po de ro so?” Portanto, ca d a d o u trin a tem seu lado inexplicável. Eis aqui o sen tido pró prio das palavras de T e r t u l ia n o : “ C e rtu m est, quia im possibile est; quo ab surd ius eo ve riu s” ; de A nse lm o : “C re do ut in te llig a m ” ; e de A belardo: “Q ui cred i cito, levis co rd e e st” . Drummond, Nat. Law in Spirít World. “ D e sco n h e ce -se a c iê n cia sem m istério; é ab surd o um a religião sem m istério” . E. G. Robinson: “ Um se r finito não pode ca p ta r até m esm o sua s próprias relações com o Infinito” . H o v e y , Manual ofChrist. Theol., 7 - “ Inferir da pe rfe içã o de Deus que to d a s as obras [natureza, hom em , in spira ção ] serã o ab soluta e im utavelm ente p e rfe ita s; in fe rir do p e rfe ito a m o r de D e us qu e não p o de h a ve r pecado algu m ou s o frim e n to no m undo; in fe rir d a s o b e ra n ia de D eus que o hom em não é um ag en te m oral livre; - tud o isso é p re cip itação ; são in fe rên cias a partir da ca u sa para o e fe ito e n q u a n to se co n h e ce a ca u s a de um m odo im p e rfe ito ” . T e o l o g ia S is t e m á t ic a 67 2. No estado imperfeito da ciência natural e metafísica Isto dá surgim ento a um a classe de m istérios acidentais, ou m istérios que consistem na natureza aparentem ente irreconciliável das verdades que, tom a das separadam ente, são perfeitam ente com preensíveis. Somos vítimas de um astigmatismo, que permite ver só um ponto da ver dade como se fossem dois. Vemos Deus e homem, sabedoria divina e liber dade humana, o natural e o sobrenatural, respectivamente, como dois fatos desconexos, quando numa visão talvez mais profunda seria apenas uma. A astronomia tem suas forças centrípetas e centrífugas, embora sejam indu bitavelmente uma só. A criança não pode segurar duas laranjas ao mesmo tempo na sua mãozinha. Disse um pregador negro: “Você não pode carregar duas melancias debaixo de um braço”. S h a k e s p e a r e , Antony and Cleopatra, 1 . 2 - “No infinito livro secreto da natureza, Eu, pequenino, leio”. Cooke, Credentials of Sciense, 34 - “O progresso do homem na ciência tem sido tão constante e rapidamente acelerado que se tem obtido mais durante a vida do ser humano que durante toda a sua história passada”. E, contudo, podemos dizer com D’A rcy, Idealism and Theology, 248 - “A posição do homem no universo é excêntrica. Só Deus é o centro. Só em torno dele orbita a verdade completamente exposta. ... Há circunstâncias em que para nós o momento adiante da verdade pode parecer retrocesso”. 3. Na inadequação da língua Porque a língua é um m eio pelo qual se expressa e se form ula a verdade, a invenção de um vocabulário na Teologia, com o em cada um a das outras ciên cias, é condição e critério de seu progresso. As Escrituras reconhecem um a dificuldade peculiar no em prego das verdades espirituais em linguagem terre na (1 Co. 2.13; 2 Co. 3.6; 12.4). 1 Co. 2.13 - “não com palavras ensinadas pela sabedoria humana”; 2 Co. 3.6 - “a letra mata”; 12.4 - “palavras inefáveis”. Deus se submete a condições de revelação; cf. Jo. 16 .12 - “Tenho ainda muita coisa que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”. Tem de ser criada a linguagem. As palavras tem de ser tomadas do emprego comum e ser postas numa aplicação mais ampla e sagrada de modo que “variem sob o peso do sentido” - p.ex., a palavra “dia”, em Gn. 1, a palavra àyánri em 1 Co. 13. yerGouLD, 1 Co. 13.12 - “agora vemos como em espelho obscuramente” - metálico, cuja superfície é obscura e cujas imagens são obscuras = Agora contemplamos a Cristo, a verdade, apenas refletido na fala imperfeita - “mas então face a face” = ime diatamente, sem a intervenção de um meio imperfeito. “Tão veloz como um túnel num banco de areia do pensamento, as pedras da linguagem devem ser construídas em paredes e arcos, para um futuro progresso rumo à mina ilimi tada”. 68 A ugustus H opkins Strong 4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras Porque não é a sim ples letra das Escrituras que constitui a verdade, o pro gresso da Teologia depende da H erm enêutica, isto é, da interpretação da Pala vra de Deus. Note o progresso ao comentar, do homilético ao gramatical, ao histórico, ao dogmático, ilustrado em S c o t t , E l l ic o t t , S t a n l e y , L ig h t f o o t . J o h n R o b in s o n : “Na verdade estou persuadido de que o Senhor tem mais verdade ainda para revelar a partir da sua palavra”. Uma crítica recente mostrou a necessidade de estudar cada porção da Escritura à luz da sua origem e conexões. Tem havido uma evolução na Escritura, tão verdadeira como na ciência natural e o Espírito de Cristo que estava nos profetas causou um progresso desde a expressão germinal e típica até a completa e clara. Contudo, ainda necessita mos de apresentar a oração do SI. 119 .18 - “Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei”. 5. No silêncio da revelação escrita P ara nossa disciplina e prova, m uito se nos oculta, do que podem os com preender com nossas atuais forças. Exemplo de silêncio da Escritura sobre a vida e morte da Virgem Maria, o aparecimento pessoal de Jesus e suas realizações no começo da sua vida, a origem do mal, o método de expiação, o estado depois da morte. A mesma coisa sobre questões sociais e políticas, tais como a escravidão, o tráfico de bebida alcoólica, virtudes domésticas, corrupção dos governantes. “Jesus estava no céu na revolta dos anjos, embora ele nos conte pouca coisa a respeito dos anjos ou do céu. Ele não faz discurso a respeito do Éden, ou de Adão, ou da queda do homem, ou da morte como resultado do pecado de Adão; e pouco diz dos espíritos desencarnados, se estão perdidos ou salvos”. Foi melhor inculcar princípios e incumbir aos seus seguidores a sua aplicação. Seu evangelho não pretendia gratificar uma vã curiosidade. Ele não desviaria a mente dos homens de perseguir uma coisa necessária; cf. Lc. 13.23,24 - “Senhor, são poucos os que se salvam? E ele lhes respon deu: Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos pro curarão e não poderão”. O silêncio de Paulo sobre questões especulativas que ele deve ter ponderado com absorvedor interesse é a prova da sua inspiração divina. Cf. Jo. 13.7 - “O que eu faço não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois”. A coisa mais bela no rosto é aquilo que um quadro nunca pode expressar. Aquele que podia falar bem podia omitir bem. S t o r y : “A parte silen ciosa é a melhor de cada obra nobre; De todas expressões que não podem ser expressas”. Cf. 1 Co. 2.9 - “As coisas que os olhos não viram e os ouvidos não ouviram e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam”; Dt. 29.29 - “As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para os nossos filhos”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 69 6. Na fa lta de discernimento espiritual causada pelo pecado Porque o sentim ento santo é condição do conhecim ento religioso, toda a im perfeição m oral no cristão individualm ente, bem com o na igreja, serve como em baraço na operação de um a Teologia com pleta. Jo. 3.3 - “aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”. As eras espirituais produzem mais progresso para a teologia - é o testemu nho da metade do século após a Reforma e a metade do século após o gran de avivamento na Nova Inglaterra na época de J o n a t h a n E d w a r d s . Ueberweg, Logic (trad. de L in d s a y ), 5 14 - “A ciência tem sofrido muita influência da von tade; e a veracidade do conhecimento depende da pureza da consciência. A vontade não tem poder algum para resistir à evidência científica; mas não se obtém evidência científica sem a lealdade contínua à vontade”. L o r d e B a c o n declara que o homem não pode entrar no reino da ciência do mesmo modo que não se pode entrar no reino do céu sem se tornar uma criança. D a r w in descreve a sua própria mente como tendo se tornado uma espécie de máqui na de triturar as leis gerais das grandes coleções de fatos que resultam na “atrofia da parte do cérebro de que dependem os mais elevados sabores”. Porém é possível semelhante atrofia anormal no caso da faculdade moral e religiosa ( u e rG o R E , incarnation, 37). O Dr. A l le n diz na sua Introd. Lecture at Lane Theol. Seminary. “Estamos muito alegres ao vê-los na qualidade de estudantes; mas as cadeiras dos professores estão todas ocupadas”. m . RELAÇÕES DO M ATERIAL COM O PRO G RESSO DA TEO LO GIA 1. É impossível um sistema perfeito de teologia Não tem os esperança de construir tal sistem a. Toda a ciência apenas refle te a presente aquisição da m ente hum ana. N enhum a ciência é com pleta ou conclusa. A conteça o que acontecer com as ciências da natureza e do homem, nunca se chegará a um conhecim ento exaustivo da ciência de Deus. Não pode m os esperar que se dem onstrem todas as doutrinas apoiados em bases racio nais, ou m esm o em cada caso ver o princípio de conexão entre elas. Onde não podem os fazer isto, devem os, com o em cada um a das outras ciências, estabe lecer os fatos revelados em seus respectivos lugares e aguardar m ais luz, ao invés de ignorá-las ou rejeitar qualquer um a delas porque não as podem os entendê-las ou não podem os entender a sua relação com as outras partes do nosso sistem a. Três problemas insolúveis os egípcios transmitiram à nossa geração: 1) a duplicação do cubo; 2) a trissecção do ângulo; 3) a quadratura de um 70 A ugustus H opkins Strong círculo. D r . J o h n s o n : “ O s dicionários são como vigias; o pior é melhor do que nenhum; não se pode esperar que seja perfeitamente verdadeiro”. H o o d fala da “Contradição” do D r . J o h n s o n , tanto “interior” quanto “exterior”. S ir W illia m T h o m s o n (L o r d e K e l v in ) no qüinquagésimo aniversário de magistério disse: “Uma palavra carateriza o mais árduo esforço para o avanço da ciência que eu, persistentemente, fiz por cinqüenta e cinco anos: a palavra é falha; eu não entendo mais de energia elétrica e magnética ou das relações entre o éter, a eletricidade e a matéria ponderável, ou de afinidade química, do que sei e tentei ensinar os meus alunos de filosofia natural cinqüenta anos atrás em minha primeira sessão como professor”. A l l e n , Religious Progress, menciona três tendências. “ A primeira delas diz: Destrua o novo! A segunda diz: Des trua o velho! A terceira diz: Não destrua nada! Deixe o velho gradual e silen ciosamente desenvolver-se rumo ao novo, como queria E r a s m o . Devemos aceitar as contradições quer sejam intelectualmente soiucionáveis quer não. A verdade nunca prosperou forçando alguma ‘via media’. A verdade se encon tra mais na união das proposições opostas, como divindade e humanidade de Cristo e graça e liberdade. B l a n c o partiu de Roma para a infidelidade; O r e s t e s B r o w n s o n da infidelidade para Roma; assim os irmãos J o h n H e n r y N e w m a n e F r a n c is W. N e w m a n , e os irmãos G e o r g e H e r b e r t d e B e m e r t o n e L o r d e H e r b e r t d e C h e r b u r y . Um queria secuiarizar o divino, o outro divinizar o secular. Mas se um estava certo, o outro também. Adotemos ambos. Todo progresso é uma penetração mais profunda no sentido da antiga verdade e sua maior apropriação”. 2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva É progressiva no sentido de que nosso entendim ento subjetivo dos fatos pode e na verdade se aperfeiçoa. P orém a T eologia não é progressiva no sen tido de que seus fatos objetivos m udam , quer em núm ero, quer em sua nature za. Com M artineau podem os dizer: “A religião tem sido rejeitada com o não sendo progressiva; sendo im perecível, tem feito correções” . A pesar de o nos so conhecim ento poder ser im perfeito, ainda terá grande valor. N osso sucesso em construir um a Teologia dependerá da proporção que os fatos claram ente expressos da Escritura têm para com as sim ples inferências e sobre o grau em que elas são coerentes a respeito de C risto, p essoa e tem a centrais. O progresso da teologia está na apreensão da parte do homem, não no progresso da comunicação da parte de Deus. A originalidade na astronomia não está na criação de novos planetas, mas na descoberta dos que nunca foram vistos antes, ou no esclarecimento das relações entre aqueles de cuja existência nunca se suspeitara. R o b e r t K e r r E c c l e s : “A originalidade é um hábito de se voltar às origens - o hábito de garantir a experiência pessoal através da sua aplicação a fatos originais. Não se trata de uma inferência a partir de coisas novas quer da natureza, quer da Escritura, quer da consciên cia; em vez disso é o hábito de recorrer a fatos primitivos e garantir as expe- T e o l o g ia S is t e m á t ic a riências pessoais que surgem do contato com tais fatos”. F is h e r , Nat. And Meth. Of Revelation, 48 - “Os céus estrelados são agora o que eram desde a antigüidade; não há um aumento no universo estelar, a não ser que surja através do aumento da capacidade e emprego do telescópio”. Não podemos imitar o ingênuo marinheiro que, quando começou a dirigir, disse que tinha “navegado através daquela estrela”. M a r t in e a u , Types, 1.492,493 - “A metafísica desde que seja verdadeira no seu desempenho, é estacionária, exatamente porque trata não do que come ça ou do que termina, mas do que sempre é .... É absurdo louvar o movimento porque sempre faz o caminho, enquanto zomba do espaço porque ele ainda é o que sempre foi: como se o movimento que você prefere pudesse existir, sem o espaço que você reprova”. N e w m a n S m it h , Christian Ethics, 45,67-70,79 - “O verdadeiro conservadorismo é o progresso que provém do passado e cumpre o que é bom; o falso conservadorismo é uma limitadora e desespe rançada volta ao passado, e que trai a promessa do futuro. Jesus não veio ‘destruir a lei ou os profetas'; ele não veio ‘destruir, mas cumprir’ (Mt. 5.17).... O último livro sobre a Ética Cristã não será escrito antes do Dia do Juízo”. J o h n M il t o n , Areopagitica: “A verdade é comparada na Escritura a uma fonte corrente; se as suas águas não fluírem em progressão perpétua, elas adoe cerão na lagoa lodacenta da conformidade e tradição. O homem pode ser um herege na verdade”. Paulo em Rm. 2 .16 e 2 Tm. 2.8 - menciona o “meu evangelho”. É dever de cada cristão ter seu próprio conceito sobre a verdade, conquanto respeite os dos outros. Não esperamos novos mundos, nem neces sitamos de esperar novas Escrituras; mas podemos esperar progresso na interpretação de ambos. Os fatos findam, a interpretação não. 71 C a p ít u l o III MÉTODO DA TEOLOGIA I. REQUISITOS PARA O ESTUDO DA TEOLOGIA Os requisitos para o bem sucedido estudo da Teologia já foram em parte indicados quando se falou das suas lim itações. E m que pese algum a repetição, contudo, m encionam os os seguintes: 1. Uma mente disciplinada Só essa m ente pode, com paciência, coletar os fatos, sustentar em suas m ãos m uitos fatos de um a vez, inferir através de contínua reflexão seus prin cípios que estabelecem conexão, suspender u m julgam ento final até que suas conclusões sejam verificadas pela E scritura e pela experiência. R o b e r t B r o w n in g , Ring and Book, 175 (Pope, 228) - “ A verdade não está em nenhum lugar, embora esteja em todos, nisto; Não em uma porção abso luta, apesar de evoluída pelo todo: por fim evolui dolorosamente, sustentada por mim de modo vigoroso”. Os mestres e alunos podem dividir-se em duas classes: 1) os que já conhecem o suficiente; 2) os que querem aprender mais do que conhecem agora. O lema da Escola de Winchester na Inglaterra: “Disce aut discede” [N.T.: Estuda ou retira-te]. B u t c h e r , Greek Genius, 213,230 “Os sofistas fingiam que estavam comunicando educação quando somente estavam transmitindo resultados. A r is t ó t e l e s ilustra o método deles, dando o exemplo do sapateiro que, professando ensinar a arte de fazer sapatos indolores, põe na mão do aprendiz um grande sortimento de sapatos já prontos. Um espirituoso francês põe na mesma classe os que supostamente tornam popular a ciência, inteligível a metafísica e respeitável o vício. A palavra oxóA/n, que, inicialmente, significava ‘ócio’, daí ‘discussão filosófica’, e, finalmente, ‘escola’, mostra o puro amor do aprendizado entre os gregos”. R o b e r t G. I n g e r s o l l dizia que, em média, o clero provincial é como a terra do Potomac na fala de T o m R a n d o l p h , quase indigna do seu estado original e transformada totalmente assim pela cultura. L o t z e , Metaphysics, 1.16 - “o amolar constan te da faca é tedioso se ela não se dispõe a cortar”. “Fazer os seus deveres é apenas uma diversão”, é a descrição que T u c íd id e s apresenta sobre o caráter T e o l o g ia S is t e m á t ic a 73 a te n ie n s e . C h it t y p e r g u n t o u a u m p a i s o b r e a s q u a lif ic a ç õ e s d a le i: “ O s e u filh o p o d e c o m e r s e r r a g e m s e m m a n t e ig a ? ” 2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico ou, confiar nas convicções prim itivas assim com o em seu processo de raciocínio. O teólogo deve ter insight ( N.T.: discernim ento), assim com o enten dim ento. E le deve acostum ar-se a ponderar os fatos espirituais bem com o os sensoriais e m ateriais; a ver estas coisas em suas relações interiores como tam bém em suas form as exteriores; acalentar confiança na realidade e unida de da verdade. V in e t, Outlines of Philosophy, 39,40 - “S e eu não sinto que o bem é bem quem o provará a mim?” P a s c a l: “A lógica, que é uma abstração, pode abalar tudo. Um ser puramente intelectual será irremediavelmente cético”. C a lv in o : “Satanás é um teólogo refinado”. Algumas pessoas vêem uma mosca na porta de um celeiro à uma milha de distância, e não vêem a porta. Z e l l e r , Outlines of Greek Philosophy, 93 - “ O sofista G ó r g ia s era capaz de mostrar, metafisicamente, que nada existe; que não podemos conhecer aquilo que existe; e que aquilo que conhecemos não se pode transmitir aos outros” (cita do por W e n le y , Sócrates and Christ, 28). A r i s t ó t e l e s diferia dos moderados que pensavam ser impossível passar pelo mesmo rio duas vezes, - sustenta va que isto não podia ser feito nenhuma vez (cf.. W o r d s w o r t h , Prelude, 536). D o v e , Logic o fth e Christian Faith, 1-29 e especialmente 25, dá uma demons tração da impossibilidade do movimento: Uma coisa não pode mover-se no lugar onde está; não pode mover-se nos lugares onde não está; mas o lugar onde está e os lugares onde não está são os lugares que existem; por isso uma coisa não pode mover-se. H a z a rd , Man a Creative First Cause, 109, mostra que o fundo de um poço não se move porque não recua tão rápido como o topo também não avança. Uma fotografia instantânea torna a parte superior uma mancha confusa enquanto ele se refere à parte inferior distintamente visível. A b p . W h a te ly : O s argumentos fracos freqüentemente são confiados diante do meu caminho; porém, embora não sejam mais substanciais, não é fácil des truí-los. Não se conhece proeza mais difícil do que cortar uma almofada com uma espada”. Cf. 1 Tm. 6.20 - “oposições da falsamente chamada ciência”; 3.2 - “que o bispo seja ... sóbrio” —aáxppcov = “bem equilibrado”. A Escritura fala da “sã [t>yiíiç = sadia] doutrina” (1 Tm. 1.10). Contraste com 1 Tm. 6.4 [vocrâv = doentia] “delira acerca de questões e contendas de palavras”. 3. Conhecimento das ciências física, mental e m oral O m étodo para conceber e expressar a verdade da E scritura é assim afetado por nossas noções elem entares de tais ciências e as arm as com as quais a Teologia é atacada e defendida são tão freqüentem ente tiradas dos arsenais que o estudante não pode perm itir-se ignorá-las. 74 Augustus H opkins Strong G o e t h e explica sua própria grandeza através da fuga da metafísica: Mein Kind, Ich habe es klug gemacht: Ich habe nie über’s Denken gedacht” - “Meu filho, tenho sido sábio em nunca pensar em torno de uma coisa”; ele teria sido mais sábio se tivesse ponderado mais profundamente nos princípios funda mentais da sua filosofia. Muito do sistema teológico caiu, como C a m p a n il e em Veneza, porque os seus alicerces eram inseguros. S ir W il l ia m H a m il t o n : “Nenhuma dificuldade levanta na teologia aquilo que antes não tinha emergi do na filosofia”. N. W. T a y l o r : “Dá-me um moço na metafísica e eu não terei preocupação com ele em teologia”. P r e s id e n t e S a m s o n T a l b o t : “Amo a metafí sica, porque ela trata de realidades”. A máxima “Ubi tres mediei, ibi duo athei” (Onde há três médicos, lá estão dois ateus), atesta a verdade das palavras de G a l e n o : ã p ic rc o ç i a t p ò ç te a i <piA,óao<poç —“o melhor médico é também filósofo”. A teologia não pode dispensar a ciência nem a ciência pode dispensar a filo sofia. E. G. R o b in s o n : “A ciência não invalidou qualquer verdade fundamental da revelação, embora tenha modificado a afirmação de muitos. ... A ciência física, sem dúvida, chocar-se-á na cabeça de alguns dos nossos deuses de barro e quanto mais depressa melhor”. Há grande vantagem para o pregador em dedicar-se, como o fez F r e d e r ic k W. R o b e r t s o n , a uma ciência após outra. A química entrou na sua estrutura mental, como dizia ele, “como o ferro no sangue”. 4. Conhecimento das línguas originais da Bíblia Isto é necessário para capacitar-nos não só a determ inar o sentido dos ter m os fundam entais da Escritura, tais com o, santidade, pecado, propiciação, justificação, m as, tam bém , a interpretar declarações da doutrina através das suas conexões com o contexto. Emerson d izia q ue o hom em que lê um livro nu m a lín g u a estrangeira, quando pode le r nu m a b o a tra d u çã o , é um tolo . O D r. Behrends retruca que é tolo qu em se s a tis fa z com o su b stitu to . E. G. Robinson: “A líng ua é um grande org a n ism o e n e nh um e stu d o d is c ip lin a a m e n te co m o d isse cçã o de um o rg a n ism o ” . C risóstom o: “ Eis a ca u sa de to d o s os m ales - o no sso d e s c o n h e c i m e n to das E scritu ra s” . C o ntud o, um e ru d ito m o d e rn o disse: “A B íblia é o m ais pe rig o so de to d o s os do ns q u e D eus co n ce d e u ao h o m e m ” . É p o ssíve l a d o ra r a le tra e n q u a n to d e ixa m o s de p e rc e b e r o esp írito . U m a in te rp re ta ç ã o bito la d a po de c o n tra d iz e r o seu sen tido . D e p e n d e m u ito d a co n e xã o d a s exp ressõ es, co m o p o r exe m plo, o Sià t o w o e ècp’ cp, em Rm. 5.12. O P ro f. Philip Linosley, de P rin ceton , 1813-1853, d iz ia a o s se u s a lu n o s: “ Um dos m e lh o re s p re pa ros p a ra a m orte é o co n h e c im e n to in te g ra l da g ra m á tic a g re g a ” . E r a s m o , na sua ju ve n tu d e : “Q ua n d o rece bo algu m d in h e iro , a d q u iro a lg u n s livros de G rego e, d e p o is disso, a lg u m a s ro u p a s” . A s lín g u a s m ortas, na ve rd a d e , sã o viva s livre s do p e rig o do fa lso e n te n d im e n to p ro v in d o da m u d a n ça do em prego. A Providência divina pôs a revelação em formas fixas no Hebraico e no Gre go. S ir W il l ia m s H a m il t o n , Discussions, 330 - “Ser um teólogo competente é, de fato, ser um erudito". T e o l o g ia S is t e m á t ic a 75 5. Afeição santa para com Deus Só o coração renovado pode adequadam ente sentir sua necessidade da revelação divina ou entender tal revelação quando concedida. S I. 2 5 .14 - “O segredo do Senhor é para os que o temem”; Rm. 12.2 “para que experimenteis qual seja ... a vontade de Deus”; cf. SI. 36.1 “A prevaricação do ímpio fala no íntimo do seu coração”. “Não é o cérebro, mas o coração que chega ao altíssimo”. “Aprender de cor é mais que apren der através da mente, ou da cabeça (N.Trad .; “de cor” é uma locução que, em Latim, significa de coração, ou relativo ao coração, ou a partir do coração). Toda heterodoxia (N.Trad.; falsa doutrina) é precedida da heteropraxia (N.Trad.: falsa prática, ou comportamento). No “Peregrino”, de B u n y a n , o Fiel não atra vessa o Pantanal do Desânimo, como fez o Cristão; e ao atravessar por cima da cerca, deve achar um caminho mais fácil para que o Cristão e o Esperan çoso entrem no Castelo da Dúvida e se entreguem nas mãos do Gigante Desespero. “Grandes pensamentos vêm do coração”, diz V a u v e n a r g u e s . O pregador não pode, como fazia o D r . K a n e , acender uma fogueira com lente de gelo. A r is t ó t e l e s : “O poder de alcançar a verdade moral depende de agirmos com justiça”. P a s c a l : “Conhecemos a verdade, não só pela razão, mas pelo coração.... O coração tem razões que a razão desconhece”. H o b b e s : Até mesmo os axiomas da geometria seriam questionados se as paixões huma nas não se preocupassem com eles”. M a c a u l a y : “ A lei da gravidade ainda seria controvertida se ocorresse a interferência de interesses pessoais”. N o r d a u , Degeneration: “Os sistemas filosóficos somente apresentam as descul pas que a razão demanda para os impulsos da raça durante um dado período”. L o r d e B a c o n : “Uma tartaruga no seu passo normal vence um corredor no seu passo errado”. G o e t h e : “Tais são as inclinações como as opiniões.... A cabeça só pode compreender uma obra de arte com a acessória do coração. ... Só a lei pode dar-nos liberdade”. F ic h t e : “ N o s s o sistema de pensamento mui fre qüentemente é a história do coração. ... A verdade descende da consciência. ... A vontade dos homens não atende a sua razão, mas a razão é que atende a sua vontade”. O lema de N e a n d e r era: “Pectus est quod theologum facit” “O coração é que faz o teólogo”. J o h n S t ir l in g : “Terrível é o olho que pode dividir-se a partir de um vivo coração celestialmente humano, e ainda conser var sua visão introspectiva, - tal como o olho das Górgonas”. Porém acres centamos que esse olho não é introspectivo. E. G. R o b in s o n : “Nunca estude Teologia com sangue frio”. W . C. W il k in s o n : “A cabeça é uma agulha magné tica cuja verdade aponta para um dos pólos. Mas o coração é uma massa de ferro magnético oculta. A cabeça é atraída para o seu pólo natural, a verdade; mas a maior parte é atraída pelo magnetismo mais próximo”. 6. A influência iluminadora do Espírito Santo Com o som ente o Espírito sonda as coisas de Deus, só ele pode ilum inar nossas m entes para apreendê-las. A ugustus H opkins Strong 76 1 Co. 2 .11,12 - “ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus. Mas ... foi-nos dado o espírito que provém de Deus, para que pudésse mos conhecer”. C íc e r o , Natura Deorum, 66 - Nemo igitur vir magnus sine aliquo adflato divino unquam fuit”. P r o f . B e c k d e T ü b in g e n : “Para o estudante não há nenhum caminho privilegiado que conduz à verdade; o único é o mes mo do inculto; é o da regeneração e da gradual iluminação através do Espírito Santo; sem ele, a teologia não só é uma pedra fria, como um perigoso vene no”. Como todas as verdades dos cálculos diferenciais e integrais estão envoltas no mais simples axioma da matemática, do mesmo modo toda a teologia está compreendida na declaração de que Deus é santidade e amor, ou no proto-evangelho proferido nos portais do Éden. Entretanto, as mentes embotadas não podem por si mesmas desenvolver os cálculos a partir do axioma, nem os corações pecadores desenvolver a teologia a partir da pri meira profecia. É preciso que os mestres demonstrem os teoremas geométri cos, e que o Espírito Santo nos mostre que o “novo mandamento”, ilustrado na morte de Cristo, é o único “antigo mandamento que tivestes desde o prin cípio" (1 Jo. 2.7). Os Princípios de Newton são uma revelação de Cristo do mesmo modo que as Escrituras. O Espírito Santo nos capacita a penetrar no sentido das revelações de Cristo tanto na Escritura como na natureza; a inter pretar uma através da outra; e assim elaborar as demonstrações e aplicações originais da verdade; Mt. 13.52 - “Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. II. DIVISÕES DA TEOLOGIA C om um ente a Teologia se divide em B íblica, H istórica, Sistem ática e P rá tica. 1. A Teologia Bíblica tem com o alvo ordenar e classificar os fatos da reve lação lim itando-se às Escrituras quanto ao seu m aterial e tratando a doutrina só na m edida em que ela se desenvolveu até o fim da era apostólica. D e W e t t e , Biblische Theotogie\ H o f m a n n , Schriftbeweis ; System of Christian Doctrine. Contudo, esta última tem mais de ele Por exemplo: N it z s c h , mento filosófico do que de Teologia Bíblica. O terceiro volume de Justificação e Reconciliação pretende ser um sistema de Teologia Bíblica; o primeiro e segundo volumes são pouco mais do que uma introdução histórica. Mas a metafísica, de realidade e fenomenalismo kantianos, penetra tão grandemente na avaliação e interpretações de R it s c h l , que torna suas conclusões parciais e racionalistas. Observe um emprego questionável do termo Teologia Bíblica para designar a parte da teologia de uma parte da Escritura separada do resto, como na Teologia Bíblica do Velho Testamento de S t e u d e l ; Teologia Bíblica do Novo Testamento de S c h m id t e nas expressões comuns: Teologia Bíblica de Cristo, ou de Paulo. Estas expressões são passíveis de objeção ao indicar que os livros da Escritura têm uma origem humana. Aceitando a hipó tese de que não há uma autoria divina comum da Escritura, concebe-se a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 77 Teologia Bíblica como uma série de fragmentos correspondentes a diferentes ensinos dos vários profetas e apóstolos e sustenta-se que a teologia de Paulo não tem garantia e é um acréscimo incôngruo à teologia de Jesus. 2. A Teologia Histórica traça o desenvolvim ento das doutrinas bíblicas desde o tem po dos apóstolos até os nossos dias e dá conta dos resultados deste desenvolvim ento na vida da igreja. O desenvolvimento doutrinário é o progressivo desenvolvimento e absor ção que a igreja assume da verdade explfcita e implicitamente contida na Escritura. Ao explicar a forma da fé cristã nas declarações doutrinárias, a Teologia Histórica é chamada História da Doutrina. Ao descrever o resultado e acompanhamento das mudanças exteriores e interiores na vida da igreja, a Teologia Histórica é chamada História da Igreja. 3. A Teologia Sistemática tom a o m aterial fornecido pelas Teologias B íbli ca e H istórica e, com este m aterial, busca edificar um todo orgânico e consis tente do nosso conhecim ento de D eus e de suas relações com o universo, quer este conhecim ento seja originariam ente derivado da natureza, quer das Escri turas. Por isso a Teologia Sistemática é chamada teologia propriamente dita; a Teologia Bíblica e a Histórica são seus estágios incompletos e preparatórios. Deve-se distinguir a Teologia Sistemática da Teologia Dogmática. No empre go estrito, Teologia Dogmática é a sistematização das doutrinas expressas nos símbolos da igreja, associando a sua base às Escrituras e à apresenta ção, até onde possível, da sua necessidade racional. Por outro lado, a Teolo gia Sistemática não começa com os símbolos, mas com as Escrituras. Ela não indaga primeiro qual a crença da igreja, mas qual a verdade de Deus revelada na sua palavra. Examina a palavra com todos os acessórios que a natureza e o Espírito lhe deram, utilizando a Teologia Bíblica e a Histórica não como mestras, mas como suas servas e auxiliares. Note aqui o emprego técni co da palavra “símbolo”, de av>|xpSáXXco, = breve lançamento conjugado, ou afirmação condensada da essência da doutrina cristã. Sinônimos: Confissão, credo, consenso, declaração, formulário, cânones, artigos de fé. O d o g m a tism o e stim u la os re su lta d o s in e vitá ve is. C o ntud o, do g m a tism o não d e riva de “ d o g ” , com o jo v ia lm e n te s u g e re D o ug las J e r r o ld qu a n d o diz q u e “o d o g m a tism o é o ca n in is m o na p le n itu d e do seu d e se n v o lv im e n to ” , m as de SoKéco, pe nso , op in o. A T e olog ia D o g m á tic a te m dois p rincípios: 1) A a u to rid ad e a b so lu ta dos cred os, nas d e cisõ e s da ig reja ; 2) A a p lica çã o de tais c re d o s da ló g ica fo rm a l com o p ro p ó sito de d e m o n s tra r s u a ve rd a d e , visa nd o ao e n te n d im e n to . Na Igreja C a tó lic a R o m an a, a a u to rid a d e d e c is iv a não se e n co n tra na E scritura , m as na ig re ja e no d o g m a d a d o po r ela. C o n tra ria m e n te, o p rin cíp io p ro te sta n te é q ue a E scritu ra d e cid e e é e la que ju lg a o dogm a. S e g u in d o S chleierm acher, A lb e r t S ch w e itze r d e fe n d e o p e n sa m e n to de que o 78 A ugustus H opkins Strong termo “Dogmatik” deve ser descartado como essencialmente anti-protestante e que “Glaubenslehre” deve ocupar o seu lugar; e H arnack , Hist. Dogma, 6, assinala que o “dogma sempre, no progresso da história, tem devorado seus progenitores”. Conquanto seja verdadeiro que cada novo e avançado pensa dor na teologia tem sido contado como herege, sempre tem havido uma fé comum “a fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd. 3) - e o estudo da Teolo gia Sistemática tem sido um dos principais meios de preservar esta fé no mundo. Mt. 15 .1 3 ,1 4 - “Toda planta que o Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são condutores cegos”; = a verdade é plantada por Deus e tem vida divina permanente. Os erros humanos não têm vitalidade perma nente e por si mesmos perecem. 4. Teologia Prática é um sistem a de verdades considerado com o um meio de renovar e santificar o hom em ou, em outras palavras, a Teologia em sua dissem inação e reforço. Pertencem a este departamento da teologia a Homilética e a Teologia Pas toral, visto que estas são apenas apresentações científicas dos métodos cor retos de desdobrar a verdade cristã e de trazer aos homens e à igreja. Às vezes se afirma que há outros departamentos da teologia não incluí dos nos acima mencionados. Porém eles, em sua maioria, senão todos eles, pertencem a outras esferas da pesquisa e não podem apropriadamente ser classificados dentro da teologia. A assim chamada Teologia moral, ou ciência da moral cristã, ética, ou ética teológica, na verdade, é o resultado da teolo gia, mas não deve confundir-se com ela. A assim chamada teologia espe culativa, que trata a verdade como matéria de opinião, ou é extra-escriturística e assim pertence ao campo da filosofia da religião, ou é uma tentativa de explicar a verdade já revelada e, deste modo, entra no campo da Teologia Sistemática. “A teologia especulativa parte de alguns princípios a priori, e deles empreende determinar o que é e o que deve ser. Deduz seu esquema da doutrina das leis da mente ou de axiomas que supõe operar-se em sua constituição”. Biblia Sacra, 1852.376 - “A teologia especulativa tenta mostrar que os dogmas concordam com as leis do pensamento enquanto a filosofia da religião tenta mostrar que as leis do pensamento concordam com os dog mas”. A Enciclopédia (a palavra significa “instrução em círculo”) Teológica é uma introdução geral a todas as divisões da Teologia, juntamente com um cômputo das relações entre elas. A Enciclopédia de H e g e l era uma tentativa de apresentar os princípios e conexões de todas as ciências. As relações da teologia com a ciência e a filosofia têm sido variadamente estabelecidas, mas nenhuma melhor do que a de H. B. S mith , Faith and Philosophy, 18 - “A filosofia é um modo do conhecimento humano - não o conhe cimento todo, mas um modo dele - o conhecimento racional das coisas”. A ciência pergunta: “O que conheço?” A filosofia pergunta: “O que posso conhecer?” W illiam J ames , Psychology, 1.14 5 - “A metafísica não significa nada senão um incomum esforço obstinado de pensar claramente”. A ristóte les : “A s ciências em particular são o operário que trabalha com afinco enquanto a filosofia é o arquiteto. Os operários são escravos; existe para eles T e o l o g ia S is t e m á t ic a um s e n h o r livre. D e ste m odo é que a filo s o fia g o v e rn a a c iê n c ia ” . C om rela ção à filo s o fia e à c iê n cia L orde B acon a ssin a la : “A q u e le s que têm m an ejado o c o n h e cim e n to têm sid o ho m e n s ou o b s e rv a d o re s ou ra cio cin a d o re s a b s tra tos. A q u e le s são co m o a fo rm ig a : só c o le ta m o m a te ria l e o põe em uso im e diato. O s ra cio cin a d o re s a b stra to s são co m o as a ra n h a s que fa ze m as teia s da su a p ró p ria su b stâ n cia . M as a a b e lh a a ssu m e um m eio term o: ela colhe o seu m a te ria l das flo re s do ja rd im e do c a m p o e o tra n s fo rm a e d ig e re o que aju n to u a tra vé s da su a p ró p ria fo rça . N ão d ife re da o b ra do filó s o fo ” . N ovalis : “A filo s o fia po de não a s s a r n e nh um pão; m as ela p o de a p re s e n ta r-n o s Deus, lib e rd a d e e im o rta lid a d e ” . P rof . D e W itt de P rinceton : “A ciê ncia , a filo s o fia e a te o lo g ia são os trê s g ra n d e s m od os de o rg a n iz a r o u n ive rso em um siste m a in te le ctu al. A c iê n c ia n u nca de sce a b a ixo das ca u sa s se cu n d á ria s; se o faz, já não é m ais ciê n cia , - to rn a -s e filo s o fia . A filo s o fia e n c a ra o un ive rso com o um a u n id a d e e a s u a m e ta é se m p re p ro c u ra r e n c o n tra r a fo n te e o cen tro de sta un id a d e - o A b so lu to , a C a usa P rim eira. Tal m eta da filo s o fia é o ponto de p a rtid a p a ra a te o lo g ia . O que a filo s o fia está lu ta n d o p a ra achar, a te o lo g ia a firm a que já ach ou . P or isso a te o lo g ia pa rte do A b so lu to , a C a usa P rim e ira ” . W. N. C larke , Christian Theology, 48 - A c iê n c ia e x a m in a e c la s s ific a os fatos; a filo s o fia in qu ire os m eios esp iritu a is. A c iê n c ia p ro c u ra co n h e c e r o universo; a filo so fia , e n te n d ê -lo ” . B alfour , Foudantions ofBelief, 7 - “A c iê n c ia n a tural tem com o assu n to as co is a s m a te ria is e e v e n to s . A filo s o fia é a a p re s e n ta ç ã o s is te m á tic a das ba ses do no sso c o n h e cim e n to . A m e ta fís ic a é o no sso co n h e c im e n to sobre as re a lid a d e s não fe n o m e n a is, /.e., D eus e a a lm a ” . K night , Essays in Philosophy , 81 - “O alvo das c iê n cia s é o c re s c im e n to do c o n h e cim e n to a tra vé s da d e sco b e rta de leis em que to d o s fe n ô m e n o s p o d e m s e r in clu íd o s e p o r m eio dos q u a is po de m s e r e xp lica d o s. P or o u tro lado, o alvo da filo s o fia é e xp lica r as c iê n c ia s in clu in d o -a s e, ao m e sm o te m p o , tra n s c e n d e n d o -a s . A s u b s tâ n cia e e ssê n cia são a su a e s fe ra ” . B ow ne , Theory of Thoughtand Knowledge, 3-5 - “ F ilo so fia = doutrina do conhecimento (é a m e n te p a ssiva ou a tiva no c o n h e cim e n to ? - E p iste m o lo g ia ) + doutrina do ser (é fu n d a m e n ta l que seja m e c â n ic a e não in te lig e n te , ou p ro p o s ic io n a l e in te lig e n te ? - M e ta física ). Os s is te m a s de L ocke , H ume e K ant sã o p ro e m in e n te m e n te te o ria s do c o n h e cim e nto; os siste m a s de S pinosa e de L eibnitz são p ro e m in e n te m e n te teo rias do ser. H isto rica m e n te as te o ria s do s e r v ê m em p rim e iro lu g a r p o rqu e o o b je tivo é o ún ico d e te rm in a n te do p e n sa m e n to refle xo. P orém o in stru m e n to da filo s o fia é o p ró p rio p e n sa m e n to . E ntão, em p rim e iro lugar, de ve m o s estu d a r a Lógica, ou a te o ria do pe n sa m e n to ; em s e g u n d o lugar, a E p iste m o lo g ia , ou a te o ria do co n h e cim e n to ; em te rce iro , a M e ta física , te o ria do s e r” . P rof . G eorge M. F orbes sobre a Nova Psicologia: “L ocke e K ant represen tam as duas tendências da filosofia - por um lado, a empírica, física, científi ca, e, por outro, a racional, metafísica, lógica. L ocke fornece a base para os esquemas associativos de H artley , M ills e B ain ; K ant para o esquema idea lista de F ichte, S chelling e H egel. As duas não são contraditórias, mas complementares e os escoceses R eid e H amilton combinam ambas em reação contra o extremo empirismo e o ceticismo de H ume . H ickok , P orter e M c C osh representam a escola escocesa na América. É exclusivamente analítica', sua psicologia é a das faculdades; representa a mente como um feixe de faculdades. 79 80 A ugustus H opkins Strong A filo s o fia u n itá ria de T. H. G reen , E dward C aird , na G rã B reta nha e, na A m é rica, de W. T. H arris , G eorge S. M orris e J ohn D ewey fo i um a rea ção co n tra a p s ic o lo g ia das fa cu ld a d e s, so b a in flu ê n c ia de H egel. A se g u n d a rea ção sob a in flu ê n cia da d o u trin a h e rb a rtia n a da a p e rc e p ç ã o {N.Trad.: = in tu içã o, fa c u l dade de a p re e n d e r im e d ia ta m e n te pe ia c o n s c iê n c ia e sem in te rm e d iá rio ló g i co, um a idéia, um a ve rd a d e ) su b stitu i a fu n ç ã o p e la fa c u ld a d e to rn a n d o tod os p ro ce sso s fa se s da a p e rce p çã o . G. F. S tout e J. M ark B aldwin rep rese ntam e s ta p s ic o lo g ia . U m a te rc e ira re a çã o ve m da in flu ê n c ia da c iê n c ia física. Todas te n ta tiva s de un ifica ção releg am -se a um hades m e tafísico . N a da há a não s e r esta d o s e p ro ce sso s. A ú n ica u n id a d e sã o as leis da su a co e xistê n cia e su ce ssã o . Não e xiste n a d a a priori. W undt id e n tific a a a p e rce p çã o com a v o n ta d e e c o n s id e ra -a c o m o um p rin c íp io u n itá rio . K ülpe e T itchener não e n co n tra m um eu, ou um a von tade , ou um a alm a, m as tra ta m isto co m o in te resses q u a se sem ga ra n tia . A su a p s ic o lo g ia não tem alm a. A a n tig a p sico lo gia era e x c lu s iv a m e n te estática , e n q u a n to a no va dá ê n fa se ao ponto de vista g e né tico. O c re scim e n to e d e s e n v o lv im e n to são as idéias m e stra s de H erbert S pencer , P reyer , T racy , e S tanley H a ll . W illiam J ames é explícito, e n q u a n to G eorge T. L add é d e scritivo . C attel , S cripture , e M ünsterberg a p li cam os m é to d o s de F echner e o seu órg ã o é a Psichological Review. O erro d e le s e stá em su a a titu d e n e g a tiv is ta . A a n tig a p s ic o lo g ia é n e ce ssá ria à su p le m e n ta çã o da nova. Tem m aior e sco po e um a sig n ifica çã o m ais prática. III. HISTÓRIA DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA 1. Na Igreja do Oriente, pode-se dizer que a Teologia Sistem ática teve seu início e fim com J oão D amasceno (700-760). I nácio (+115 A.D. Tralles, cap. 9) d á -n o s “ a p rim e ira d e cla ra çã o de fé d is tin ta co m p o sta de um a sé rie de p ro p o siçõ e s. Tal s is te m a tiz a ç ã o form ou , m ais tarde , a base de to d o s os e s fo rç o s ” (P rof . A. H. N ewman ). O rígenes de A lexan dria (186-254) e scre ve u o seu nspi ’Ap%râv; A tanásio de A lexandria (300-373) seu tra ta d o so b re a T rin d a d e e a D ivin d a d e de C risto ; e G regório de N issa na C a pa dócia (332-398) seu Aóyoç k o c t t i x t |i : i k ò ç ó |iéyaç. H atch, Hibbert Lectures, 323, c o n s id e ra o “De Principiig' de O rígenes co m o o p rim e iro s is te m a co m p le to de d o g m a ” , e c o n s id e ra O rígenes co m o “o d is c íp u lo de C lemente de A lexan dria , o p rim e iro g ra n d e m estre do cris tia n is m o filo s ó fic o ” . M as en q u a n to os P ais m e n cio n a d o s p a re ce m te r c o n c e b id o o p la n o de e xp o siçã o o rd en ada das d o u trin a s e m o stra r o seu re la c io n a m e n to de um as com as ou tras, na ve rd a d e , foi J oão D amasceno (700-760), qu e m p rim e iro e xe cu to u ta l plano. S eu "E k Soctiç àKpipfiç -cfjç ôp0o5ó^on nía-cecoç (T ra n sm issã o E xata da Fé O rto do xa) p o d e s e r c o n s id e ra d a a m a is a n tig a o b ra de T e o lo g ia S is te m á tic a . N eander ch a m a -a “ o m ais im p o rta n te te x to d o u trin á rio da Igreja G re g a ” . C om o a Ig re ja G rega , em g e ra l, J oão é e s p e c u la tiv o , te o ló g ic o , s e m i-p e la g ia n o , sa cra m e n ta lista . O a ssim c h a m a d o C re d o d o s A p ó sto lo s, na sua fo rm a p re sen te, não é a n te rio r ao s é cu lo q u in to ; ver S chaff , Creeds of Cristendom, 1.19. O S r . G ladstone s u g e re que o C re d o d o s A p ó s to lo s é um d e s e n v o lv i m en to da fó rm u la b a tism a l. M c G iffert , Apostles’ Creed, atrib ui à fra c a fo rm a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 81 original uma data do terceiro quartel do segundo século, e considera provável a origem romana do seu símbolo. Foi estruturado como fórmula batismal, mas não especificamente em oposição aos ensinos de M a r c iã o , que, naquela época, causava muita perturbação a Roma. Contudo, H a r n a c k data o Credo Apostólico original no ano de 150 e Z a h n em 120. 2. Na Igreja do Ocidente, (com H agenbach) p odem os distinguir três períodos: Período do Escolasticismo, - in tro d u zid o p o r P e d ro L o m b a rd o ( 1 1 0 0 - a) 1 1 6 0 ) , ch eg an d o ao c lím a x c o m Tom ás d e A q u in o ( 1 2 2 1 - 1 2 7 4 ) e D uns S c o tu s 12 6 5 -13 0 8 ). E m b o ra a T e o lo g ia S is te m á tic a tiv e s s e tid o o seu co m e ço na Igreja do O riente, seu d e se n v o lv im e n to lim ito u -se qu a se to ta lm e n te ao O cid e n te . A gos tinho (353-430) e scre ve u o seu “Encheiridion ad Laurentiurri’ e a “ D e Civitate Dei', J oão S coto E rígena (t 850), R oscelino (1092-1122) e A belardo (10791142), na su a te n ta tiv a de um a e x p lica çã o ra cio n a l da d o u trin a cris tã prefiguravam as obras dos gra nd es m estres esco lá sticos. A nselmo de C antuária (10341109), co m seu “Prosiogion de Dei Existentia" e “ Cur Deus Homo”, tem sido, às ve z e s c h a m a d o , e m b o ra e rro n e a m e n te , o fu n d a d o r do E sco la sticism o . A llen , Continuity of Christian Thought, a p re s e n ta a tra n s c e n d ê n c ia de Deus com o o prin cíp io c o n tro la d o r da te o lo g ia a g o s tin ia n a e da O cide ntal. A Igreja O rien ta l, su ste n ta ele, tin h a b a se a d o a su a te o lo g ia na im a n ê n cia de Deus. Paine , Evolution of Trinitarism, m o stra que isto é erra do . A g o stin h o era um teísta da linha m onista. Ele declara que “ Dei v olun ta s rerum natura e st” (N.Trad.: a v o n ta d e de D eus é a n a tu re za d a s co isa s), e c o n s id e ra a p re se rva çã o de D eus um a cria çã o co n tín u a . A te o lo g ia o cid e n ta l re co n h e ce a im a n ê n cia de D eus ta n to com o a su a tra n sce n d ê n cia . C o n tu d o , P edro L ombardo (1100-1160), o “ m a g is te r se n te n tia ru m ” , foi o p rim e iro g ra nd e s is te m a tiz a d o r da Igreja O cid e n ta l e seu “ Libri S e n te n tia ru m Q u a to r” foi o livro de te x to da Idade M édia. M e stre s p ro fe rira m p re le çõ e s com base nas “ S e n te n ç a s ” (Sententia = se n te n ça , Satz, locus, ponto, a rtig o de fé), com o fize ra m nos livro s de A ristó te le s, que fo rn e c e u ao E sco la sticism o seu im p u ls o e d ire çã o . C a d a d o u trin a é tra ta d a na o rd e m da s q u a tro ca u sa s de A ristóteles : m a terial, fo rm a l, e fic ie n te e fin a l. (“ C a u s a ” aqui = requisito: 1) m a té ria em que um a c o is a co n siste , p.ex. tijo lo s e arg a m a ssa ; 2) fo rm a que assu m e, p.ex. o plan o ou pro je to ; 3) a g e n te produtor, p.ex., o con stru tor; 4) a finalidade por que foi feita, p.ex., moradia). A organização da ciência física bem como da teológica deve-se a A r is t ó t e l e s . D a n t e o chamou “o mes tre dos que conhecem”. J a m e s Ten B r o e k e , Bap. Quar. fíev., jan. de 18 9 2 .1-2 6 - “O Avivamento do Aprendizado mostrou ao mundo que o verdadeiro A r is t ó t e l e s era muito mais aberto que o Aristóteles escolástico - informação muito bem-vinda à Igreja Romana”. Para a influência do Escolasticismo, compare os métodos literários de A g o s t in h o e de C a l v in o , - aquele nos dá o seu mate rial em desordem, como soldados em bivaque durante a noite; este, pondo-os em ordem como os mesmos soldados formados para a batalha. C a n d l is h , art.: Dogmatic, In Encyl. Brit., 7.340 - “Ao lado de uma poderosa força intelectual tem preponderância todo o material dogmático coletado, e 82 A ugustus H opkins Strong cre scid o sem os g ra n d e s sis te m a s e s c o lá s tic o s , que tê m sido c o m p a ra d o s com as g ra n d e s c a te d ra is g ó tic a s o b ra d a m e s m a é p o c a ” . O d o m in ica n o T omás de A quino (1221-1274), o “ d o c to r a n g e lic u s ” , a g o s tin ia n o e rea lista , - e o fra n c is c a n o D uns S cotus (1265-1308), “d o c to r s u b tilis ” , - e la b o ra ra m a te o lo gia e sc o lá s tic a de m odo m ais co m p le to e de ixa ra m a trá s de si, em suas Summae, g ig a n te sco s m o n u m e n to s de in d ú s tria in te le ctu a l e arg úcia. O e s c o la sticism o tin h a com o alvo a p ro va e s is te m a tiz a ç ã o da s d o u trin a s da Igreja po r m eio da filo s o fia de A ristóteles . P or fim , to rn o u -s e um ilim ita d o c h a rco de su tile z a s e a b s tra ç õ e s e aca b o u no c e tic is m o n o m in a lis ta de G uilherme d e O ccan (1270-1347). b) Período do Sim bolism o, - representado pela Teologia Luterana de F ilipe M elanchton (1497-1560) e pela Teologia R eform ada de J oão C alvino (15091564); aquela em conexão com a Teologia A nalítica de C alixto (1585-1656) e esta em conexão com a Teologia Federal de C occeius (1603-1669). Teologia Luterana - Os pre g a d o re s vê m a n te s dos te ó lo g o s; L utero (14851546) e ra m ais p re g a d o r do que te ó lo g o . Mas M elanchton (1497-1560), “o p re c e p to r da A le m a n h a ” , co m o e ra ch a m a d o , in c o rp o ra v a a te o lo g ia da Igreja L u te ra n a em sua s “ Loci C o m m u n e s ” = p o n to s de d o u trin a co m u n s aos cre n te s (p rim e ira e d iç ã o a g o s tin ia n a , d e p o is s u b s ta n c ia lm e n te a rm in ia n a ; um d e s e n v o lv im e n to da s p re le çõ e s so b re a E p ísto la aos R om anos). Foi seg uido de C hemnitz (1522-1586), “cla ro e p re c is o ” , o m ais c u lto dos discíp u lo s de M elanchton . L eonhard H utter (1563-1616), c h a m a d o “ L u theru s re d iv iv u s ” e J oão G erhard (1582-1637) se g u ira m L utero m a is do q u e M elanchton . “C in q ü e n ta an os ap ós a m orte de M elanchton , L eonhard H utter , seu s u c e s s o r na c a d e ira de te o lo g ia em W itte n b e rg , n u m a é p o c a q u a n d o se a p e la v a para a a u to rid a d e de M elanchton , d e s tro n a v a -s e da p a re d e o retrato do grande R e form ador, e se e sm a g a va so b os pé s na p re se n ça da a s s e m b lé ia ” (E. D. N orris , num jo rn a l p o r oca siã o do 609 a n iv e rs á rio do S e m in á rio de Lane). G eorge C alixto (1586-1656) se g u iu M elanchton em v e z de L utero . Ele e n si na va um a te o lo g ia que re co n h e cia o la d o bom ta n to na d o u trin a re fo rm a d a com o na ro m a n ista e a isto c h a m a v a “s in c re tis m o ” . S e p a ra v a a É tica da Teo lo gia S is te m á tic a e a p lica va a esta o m é to d o a n a lítico de in ve stig a çã o , c o m e ça n d o co m o fim , ou a c a u s a fina l, de to d a s as coisas, a sa b e r: a b e m -ave nturança. E em seu m é to d o a n a lítico ele foi s e g u id o p o r D annhauer (1603-1666), que tra ta v a a te o lo g ia de u m a fo rm a a le g o riza n te ; C alóvio (1612-1686), “o m ais in tra n s ig e n te d e fe n s o r da o rto d o x ia lu te ra n a e o m ais d rá stico po le m ista co n tra C alixto ” ; Q uenstedt (1617-1688), que H ovey c h a m a “culto, ab ra n g e n te e ló g ico ” ; e H ollaz (t 1730). A te o lo g ia lu te ra n a tin h a co m o alvo p u rific a r a ig re ja existente, s u s te n ta n d o que a q u ilo qu e não é co n tra o e va n g e lh o é por ele. D a va ê n fa se ao p rin cíp io m a te ria l da R e fo rm a: a ju s tific a ç ã o pe la fé; m as co n s e rv a v a m u ito s c o s tu m e s ro m a n is ta s não p ro ib id o s e xp re s s a m e n te na E scritura . K aftan , Am. Jour. Theol., 19 0 0 .7 16 - “ P o rq u e a filo s o fia e sco la r m ed ie val su ste n ta v a p rin c ip a lm e n te o e m p re g o da arm a, a te o lo g ia p ro te s ta n te , re p re se n ta n d o a no va fé, a c o m o d a v a -s e n e c e ssa ria m e n te ao c o n h e c i m en to p o r ela co n d icio n a d o , isto é, as fo rm a s e sse n c ia lm e n te c a tó lic a s ” . T e o l o g ia S is t e m á t ic a 83 Teologia Reformada - A p a la v ra ‘R e fo rm a d a ” é aqui e m p re g a d a no se n ti do té cn ico , d e sig n a n d o a q u e la fa s e da n o va te o lo g ia qu e se o rig in o u na S u í ça. O re fo rm a d o r su íç o Z w ín g lio (1484-1531), d ife rin d o de L u te ro q u an to à Ceia do S e n h o r e q u a n to à E scritura , m ais do q u e L u te ro era ch a m a d o pelo no m e de te ó lo g o siste m á tico . A lg u n s dos se u s e s c rito s p o d e m s e r c o n s id e ra dos o co m e ço da te o lo g ia reform a da . M as c o u b e a João C alvino (1509-1564), após a m o rte de Z w ínglio , p ô r em o rd em os p rin c íp io s d a q u e la te o lo g ia em fo rm a siste m á tica . C alvino ca vo u ca n a is p a ra que o d ilú vio de Z w ín g lio flu ís se, co m o a co n te ce u com M e la n ch to n em re la çã o a L u te ro . S eu s Institutos (“ In stitu tio R e lig io n is C h ristia n a e ), é um a das m a io re s o b ra s de te o lo g ia (com o obra s is te m á tic a su p e rio r à “ Lo ci” de M e la n ch to n ). C alvino foi s e g u id o por Pedro, o M á rtir (1500-1562), Chamier (1565-1621) eTEODORO Beza (1519-1605). B e z a levou a d o u trin a c a lv in is ta da p re d e s tin a ç ã o ao e xtre m o do su p ra la p sa ria nism o , que é m ais h íp e r-c a lv in is ta do que ca lvin ista . C occeius (1603-1669) e, de po is dele, W itsiu s (1626-1708) fiz e ra m d a te o lo g ia o ce n tro em to rn o da id éia dos c o n ce rto s e fu n d a ra m a te o lo g ia F ede ral. Leydecker (1642-1721) tratou da te o lo g ia na ord em da s p e sso a s da T rin d a d e . A m ira ldo (1596-1664) e Plaques de Saumur (1596-1632) m o d ifica ra m a d o u trin a ca lvin ista , esta a tra vés d a te o ria da im p u ta çã o m e d ia ta e a q u e la a tra vé s da d e fe sa do h ipo té tico un ive rsa lism o da g ra ça divina. T u r r e t t in (1671-1737), e scla re cid o e p o d e ro so te ó lo g o cu ja o b ra a in d a hoje é livro de te x to em P rin ce to n e P ic te t (16551725), a m b os fe d e ra lis ta s m ostram a in flu ê n c ia da filo s o fia ca rte sia n a . A te o lo gia re fo rm a d a tin h a co m o a lvo e d ific a r um a nova ig reja , a firm a n d o que o que não d e riva da B íblia é co n tra ela. D a va ê n fa se ao prin cíp io fo rm a l da R eform a: a a u to rid a d e ú n ica da E scritura . Em geral, enquanto a linha entre católicos e protestantes na Europa corre do Ocidente para o Oriente, a linha entre os luteranos e reformados corre do sul para o norte; a teologia reformada flui com a corrente do Reno para o norte a partir da Suíça para a Holanda e para a Inglaterra, na qual os trinta e nove Artigos representam a fé reformada, conquanto o Livro de Oração da Igreja Inglesa é substancialmente arminiano. c) Período da Crítica e da Especulação, - nas suas três divisões: a Racionalista, representada por S emler (1725-1791); a Transitória, por S chleiermacher (1768-1834); a E vangélica por N itzsch, M üller , T holuck e D orner. Primeira Divisão. Teologias racionalistas: Apesar de a Reforma, em gran de parte, ter livrado a teologia dos laços do escolasticismo, após um cer to tempo vieram outras filosofias. O exagero das forças da religião natural Leibnitzianas e Wollfianas abria o caminho para os sistemas racionalistas de teologia. B u d d e u s (1667-1729) combatia os novos princípios, mas a teologia de S e m l e r (1725-1791) foi edificada sobre eles e representava as Escrituras como tendo um caráter simplesmente local e temporário. M ic h a e l is (17161784) e D o e d e r l e in (1714-1789) seguiram S e m l e r e a filosofia crítica de K a n t (1724-1804) para quem “a revelação era problemática e a religião positiva simplesmente um meio através do qual comunicam-se as verdades práticas, assistiu grandemente a tendência para o racionalismo” ( H a g e n b a c h , Doctrine 84 A ugustus H opkins Strong Hist., 2.397). A m m o n (1766-1850) e W e g s c h e id e r (1771-1848) representavam esta filosofia. D a u b , M a r h e in e c k e e S t r a u s s (1808-1874) eram dogmáticos hegelianos. O sistema de S t r a u s s assem elhava-se “a teologia cristã como o cemitério assemelha-se a uma cidade”. S t o r r , (1746-1805), R e in h a r d (17531812) e K n a p p (1753-1825), empenhados em reconciliar a revelação com a razão, no centro evangélico, porém não eram mais nem menos influenciados pelo espírito racionalizante. Pode-se dizer que B r e t s c h n e id e r (1776-1828) e D e W e t t e (1780-1849) tinham defendido uma base intermédia. Segunda Divisão. Transição para uma teologia mais escriturística. H erd er (1744-1803) e J ac o b i (1743-1819), com a sua filosofia mais espiritual, prepara ram o caminho para S c h l e ie r m a c h e r (1768-1834) formar a base da sua doutrina nos fatos da experiência cristã. Os escritos de S c h l e ie r m a c h e r marcaram época e tiveram grande influência no livramento que a Alemanha teve das armadi lhas do racionalismo em que ela havia caído. Agora podemos falar de uma. Terceira Divisão - e nesta podemos mencionar os nomes de N e a n d e r e T h o l u c k , T w e s t e n e N it z s c h , M ü l l e r e L u t h a r d t , D o r n e r e P h il ip p i , E b r a r d e T h o m a s iu s , L a n g e e K a h n is , todos eles expoentes de uma teologia bem mais pura e evangélica do que era comum na Alemanha de um século atrás. Con tudo, duas novas formas de racionalismo apareceram na Alemanha: uma baseada na filosofia de H e g e l , que contava entre os seus seguidores S t r a u s s e B a u r , B ie d e r m a n n , L ip s iu s e P f l e id e r e r ; a outra baseada na filosofia de K a n t e defendida por R it s c h l e seus seguidores: H a r n a c k , H e r m a n n e K a f t a n ; aque la dava ênfase ao Cristo ideal e esta ao histórico; porém nenhuma delas reco nhecia plenamente o Cristo vivo presente em cada crente ( verJohnson’s Cyciopeedia, art. Theoiogy, de A. B . S t r o n g ). 3. Entre os teólogos de pontos de vista diferentes da fé protestante prevalecente, podem ser m encionados os seguintes: a) B elarmino (1542-1621), C atólico Rom ano. A lé m de B elarmino , “ o m ais co n tro v e rtid o e s c rito r da s u a é p o ca ” (B ayle), a Igreja C a tó lica R o m an a co n ta entre os s eu s n o tá ve is teó log os: - P etávio (15831652), c u ja te o lo g ia d o g m á tica G ibbon c h a m a de “ um a o b ra de in críve l la b o r e a lc a n c e ” ; M elchior C anus (1523-1560), um o p o s ito r dos je s u íta s e se u s m é to dos esco lá stico s; B ossuet (1627-1704), que id e a lizo u o c a to lic is m o em sua E xpo siçã o da D o u trin a e a ta cou o p ro te s ta n tis m o na su a H istó ria das Igrejas P ro te s ta n te s ; J ansen (1585-1638), q u e te n to u , em o p o s iç ã o a o s je s u íta s , re p ro d u z ir a te o lo g ia de A gostinho , e q u e co n to u no se u po d e ro so a u ditó rio com P ascal (1623-1662). O ja n s e n is m o , no que se re fe re às d o u trin a s da graça, m a s não ao s sa cra m e n to s, é o p ro te s ta n tis m o virtu a l d e ntro da Igreja C a tó lica R om ana. O S im b o lism o de M oehler , as “ P re le ctio n e s T h e o lo g ic a e ” de P e rro n e e o “ C o m p e n d iu m T h e o lo g ia e D o g m a tic a e ” de H urter são as ú lti m as e as e xp o siçõ e s de m a io r a p ro va çã o da D o u trin a C a tó lica R om ana. b ) A rm ínio (1560-1609), o opositor da doutrina da predestinação. Entre os seguidores de A r m ín io deve-se contar E p is c o p iu s (1583-1643), que levou o arminianismo aos extremos do pelagianismo; H u g o G r o t iu s (1553-1645), 85 T e o l o g ia S is t e m á t ic a jurista e estadista, autor da teoria governamental da expiação; e (1633-1712), o mais completo expositor da doutrina arminiana. L im b o r c h c) L élio S ocínio (1525-1562) e F austo S ocínio (1539-1604), líderes do m ovim ento unitário. As ob ras de L é lio Socínio e do seu so b rin h o , Fausto Socínio c o n stitu íra m se o in ício do u n ita rism o m od ern o. L é lio Socínio e ra p re g a d o r e re fo rm a d o r e F austo Socínio, o teó log o; ou, co m o se e x p re s s a Baumgarten C rusius: “aq ue le foi o fu n d a d o r do s o c ia n is m o e este o fu n d a d o r d a s e ita ” . Os seu s e scrito s estão co le ta d o s na B ib lio th e ca F ratrum P o lo n o ru m . O C a te cism o R acoviano, que to m o u este no m e d e vid o à c id a d e p o lo n e s a de Racow , con tém a m ais re su m id a e xp o siçã o dos p o n to s de v is ta deles. Em 1660, a Igreja U n itá ria dos C o ccín eo s, na P olônia, foi d e s tru íd a p o r um a p e rse g u içã o ; um a ram ificação dela, na H ungria, co n ta com m ais de ce m co n g re g a çõ e s. 4. Teologia Britânica, representada pelos seguintes grupos; d) Os Batistas, J ohn B unyan (1628-1688), J ohn G ill (1697-1771) e A ndrew F uller (1754-1815). Parte da melhor teologia britânica é batista. Entre as obras de J o h n B u n y a n , podemos mencionar “ Verdades Abertas do Evangelho’’, apesar de que “O Peregrino” e a “Guerra Santa" são tratados teológicos em forma alegóri ca. M a c a u l a y chama M ilto n e B u n y a n de as duas mentes criativas da Inglater ra durante a última parte do século XVII. “O Organismo da Divindade Prática” de J. G ill apresenta muita habilidade, apesar de que o aprendizado rabínico do autor apresenta-se numa curiosa exegese, como na análise da palavra “Abba” ele assinala: “Vós vedes que esta palavra que significa ‘Pai’ é lida da mesma forma para frente ou para trás; o que sugere que Deus é o mesmo e de qualquer modo que o vemos”. “As Cartas sobre a Divindade Sistemática” de A n d r e w F u l l e r são um breve compêndio de teologia. Seus tratados sobre doutrinas especiais são marcados por um sadio juízo e um claro discernimen to. Eles foram o mais influente fator de salvaguarda contra o antinomismo nas igrejas evangélicas da Inglaterra. Justificam o epíteto que R o b e r t H a l l , um dos maiores pregadores batistas, lhe deu: “sagaz”, “esclarecido”, “poderoso". b) Os Puritanos J ohn O wen (1616-1683), R ichard B axter (1615-1691), J ohn Howe (1630-1705) e T homas R idgeley (1666-1734). O wen foi o mais rígido, do mesmo modo que B axter o mais liberal dos puritanos. A Enciclopédia Britânica assinala: “Como pensador e escritor teo lógico, J ohn O wen mantém o seu próprio lugar distintamente definido entre aqueles titânicos intelectos dos quais a época era abundante. Ultrapassado por B axter no assunto e no sentimento por H owe na imaginação e na mais elevada filosofia, não tem rival no poder do desdobramento dos ricos sentidos A ugustus H opkins Strong 86 da Escritura. Nos seus escritos foi pro em inentem ente o grande teólogo” . B axter e scre ve u um “M etho du s T h e o lo g ia e ” , e u m a “T e o lo g ia C a tó lic a ” ; J ohn H owe é c o n h e c id o p rin c ip a lm e n te p o r seu “T e m p lo V ivo ” ; T homas R idgeley p o r seu “ C o rp o d a D iv in d a d e ” . C harles H. S purgeon n u n c a d e ix o u de e s tim u la r os se u s e stu d a n te s a se fa m ilia riz a re m com os P u rita n o s A dams , A mbrósio , B owden , M anton e S ibbes . c) Presbiterianos escoceses T omás B oston (1676-1732), J ohn D ick (17641833) e T homas C halmers (1780-1847). Dos presbiterianos escoceses, B oston é o mais prolífico, D ick mo e justo, C halmers o mais fervoroso e popular. o mais cal ã) Os M etodistas J ohn W esley (1703-1791) e R ichard W atson (1781-1833). Dos metodistas, a doutrina de J ohn W esley encontra-se presente na “ Teolo gia Cristã", coletada dos seus escritos pelo R ev . T hornley S mith . O maior livro de texto metodista é “Institutos” de W atson , que sistematizou e expôs a teolo gia wesleyana. P ope , recente teólogo inglês, segue o arminianismo modificado e aprimorado de W atson , enquanto W hedon e R aymond , escritores america nos recentes, defendem um arminianismo radical e extremo. e) Quacres [quakers], G eorge F ox( 1624-1691) e R obert B arclay (1648-1690). C o m o Jesu s, o p re g a d o r e reform a do r, p re ce d e u o te ó lo g o Paulo; com o L utero , p re ce d ia M elanchton ; c o m o Z wínglio p re c e d ia C alvino ; co m o L élio S ocínio p re ce d ia F austo S ocínio ; c o m o W esley p re c e d ia W atson ; assim Fox p re c e d ia B arclay . B arclay e scre ve u um a “A p o lo g ia à V e rd a d e ira D ivindade C ristã ” , que o D r . E. G. R obinson d e s c re v e c o m o “ um tra ta d o não fo rm a l de T eolog ia S iste m á tica , p o rém a m ais hábil e x p o s iç ã o dos p o n to s de v is ta dos Q u a c re s ” . G eorge Fox e ra reform ador, W illiam P enn o fu n d a d o r social, R obert B arclay, o te ó lo g o dos qu acre s. f ) C lérigos ingleses, R ic h a rd H o o k e r ( 1 5 5 3 - 1 6 0 0 ) , G i lb e r t B u r n e t ( 1 6 4 3 1 7 1 5 ) e Jo h n P e a rs o n ( 1 6 1 3 - 1 6 8 6 ) . A igreja inglesa não produziu nenhum grande teólogo sistemático (veras razões em D orner, Geschichte derProtest. Theologie, 470). O judicioso H ooker ainda é o seu maior escritor teológico, apesar de que a sua obra encontra-se apenas na “Política Eclesiástica”. O B ispo B urnet é o autor da “ Exposição dos XXXIX Artigoé’, e a “ Exposição do Credo" do B ispo P earson . Ambos são livros de textos ingleses comuns. Um recente “ Compêndio de Teologia Dogmática” de L itton mostra uma tendência para a volta do arminianismo comum da Igre ja Anglicana para o velho agostinianismo; assim também os “Esboços da Doutrina Cristã’ do B ispo M oule e a “Fé do Evangelho" de M ason . T e o l o g ia S is t e m á t ic a 87 5. Teologia Americana, em duas linhas: a) O sistem a R eform ado de J onathan E dwards (1706-1758), m odificado sucessivamente por J oseph B ellamy (1719-1790), S amuel H opkins (1721-1803), Timothy D wight (1752-1817), N athanael E mmons (1745-1840), L eonard W oods (1774-1854), C harles G. F inney (1792-1875), Nathanael W. T aylor (1786-1858) e H orace B ushnell (1802-1876). O calvinism o assim m odificado, é freqüen temente cham ado de teologia da N ova Inglaterra, ou da N ova Escola. J onathan E dwards , um d o s m a io re s m e ta fís ic o s e te ó lo g o s, é um id e a lista q ue s u s te n ta que D eus é a ú n ica v e rd a d e ira ca u sa , q u e r no reino da m atéria, q u e r no da m ente. Ele c o n s id e ra o p rin cip a l be m co m o fe lic id a d e - um a fo rm a de se n sib ilid a d e . A virtu d e é a e s c o lh a v o lu n tá ria d e ste bem . P or isso a união com A d ã o nos atos e e x e rc íc io s é su ficie n te . E sta v o n ta d e de D eus causou a id e n tid a d e do s e r co m A d ã o . Isto c o n d u z iu ao s is te m a de e x e rc íc io de H opkins e E mmons , p o r um lado, e à n e g a çã o da p a rte de B elamy e de D wight de q u a lq u e r a trib u içã o do p e ca d o de A d ã o ou d e p ra v a ç ã o inata, p o r outro lado - em que com a ú ltim a n e ga ção c o n c o rd a m m uito s ou tro s te ó lo g o s da N ova In g la te rra que rejeita m o e sq u e m a de e xe rcício , com o , p.ex. S trong , T yler , S mally , B urton , W oods e P ark . O D r . N. W. T aylor a c re sce n ta um ele m en to m ais d is tin ta m e n te a rm in ia n o : o p o d e r da e s c o lh a co n trá ria - e com este en sin o da te o lo g ia de N ew H aven, C a rlos F inney, de O berlin, s u b s ta n c ia lm e n te con cord a. H orace B ushnell p ra tic a m e n te s u s te n ta o po nto de vista s a b e lia n o da T rin d a d e , e a te o ria de u m a in flu ê n c ia m o ra l na e xp ia çã o . A ssim , a p a rtir de ce rto s p rin c íp io s a d m itid o s p o r E dw ard s, qu e su s te n ta prin c ip a lm e n te a te o lo g ia da V e lh a E scola, d e se n v o lv e u -s e a N ova Escola. R o b e rt H a ll c h a m a v a E dw ards “ o m a io r do filh o s d o s h o m e n s ” . O D r. Chalm ers co n s id e ra v a -o co m o “o m a io r dos te ó lo g o s ” . O D r. F airbairn diz: “ Ele não é a p e n a s o m a io r de to d o s os p e n s a d o re s que a A m é ric a produziu, m as ta m b é m o m ais e le va d o g ê n io e s p e c u la tiv o do sé cu lo de zoito . Em um g ra u bem m ais eleva do que Spinoza ele era ‘um hom em in to xica do de D eus’” . S u a noção fu n d a m e n ta l de que não há n e n h u m a ca u s a lid a d e se n ã o a divina to rn o u -se a base de um a te o ria da n e ce ssid a d e qu e está na s m ãos dos deísta s a que ele se o p õ e e que é e stra n h a não só ao cristia n ism o , m as tam bé m ao teísm o. E dw ards não p o d ia te r re ce b id o o seu id e a lism o de B erkeley; pode te r-lh e sid o s u g e rid o p e lo s e s c rito s de Locke o u de N ew ton, C u d w o rth ou D e scartes, John N o r r is o u A r t h u r C o llie r . b) O velho C alvinism o representado por C harles Hodge, o pai, (17971878) e A . A . Hodge, o filho, (1823-1886), juntam ente com Henry B. S mith (1815-1877), R obert J. B reckinridge (1800-1871), S amuel J. B aird e W illiam G. T. S hedd (1820-1894). Todos estes, apesar das pequenas diferenças, sus tentavam pontos de vista sobre a depravação hum ana e graça divina em mais próxim a conform idade com a doutrina de A gostinho e C alvino e por esta razão se distinguem dos teólogos da N ova Inglaterra e seus seguidores pelo título popular de Velha Escola. 88 A ugustus H opkins Strong A teologia da Velha Escola, com o seu ponto de vista da predestinação, exalta Deus; a teologia da Nova Escola, dando ênfase à livre vontade, exalta o homem. Ainda mais importante é notar que a Velha Escola tem como dou trina caraterística a culpa pela depravação inata. Mas entre os que sustentam tal ponto de vista, uns são federalistas e criacionistas e justificam a condena ção de todos os homens por Deus baseados em que Adão representava a sua posteridade. Em geral são teólogos de Princeton, incluindo C harles H odge, A. A. H odge , e os irmãos A lexander . Contudo, entre os que sustentam a dou trina da Velha Escola sobre a depravação inata, há outros que são traducionistas e justificam a aplicação do pecado de Adão à sua posteridade basea dos na união natural entre aquele e esta. O “Elohim Revelado” de B aird e o ensaio de S hedd sobre o pecado original (Pecado como natureza e a culpa da natureza) representam esta concepção realista do relacionamento da raça com o seu pai. R. J. B reckenridge, R. L. D abney e J. H. T hornwell defendem o fato da corrupção inerente e culpa, mas recusam-se a admitir qualquer razão para isso, embora tendam para isso. H. B. S mith sustenta firmemente a teoria da atribuição mediata. IV. O R D E M D E T R A T A M E N T O NA T E O L O G IA S IS T E M Á T IC A 1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico d) O m étodo analítico de C a lix to com eça com o adm itido fim de todas as coisas, bênçãos e daí passa para o sentido pelo qual ele é assegurado. b ) O m étodo trinitário de L e yd eck er e M a rte n se n considera a doutrina cristã um a m anifestação sucessiva do Pai, do F ilho e do Espírito Santo, c) O m étodo federal de C occeius, de W itsius e de B oston trata a T eologia sob duas alian ças. d) O m étodo antropológico de C h a lm e rs e R o th e; aquele com eça com a doença do hom em e passa para o rem édio; este, dividindo a sua dogm ática em consciência do pecado e consciência da redenção, e ) O método cristológico de H ase, Tomasius e A n d rew F u l l e r trata de Deus, do hom em , com o pressuposi ções da pessoa e obra de C risto. Também pode-se fa zer m enção./) do método histórico seguido por U rsin o e adotado p ela H istória da redenção de Jon ath an E dw ards e g) o m étodo alegórico de D an n h au er, no qual o hom em é descrito com o um peregrino, a vid a com o um a estrada, o Espírito Santo com o um a luz, a igreja com o um candeeiro, Deus com o o fim e o céu com o o lar; do mesmo m odo é a G uerra Santa de B unyan e o Tem plo V ivo de Howe. A conhecida H/st. of Redemption de J onathan E duards “era na realidade um sistema de teologia em forma histórica. Ela “começava e terminava com a eternidade, com todos os grandes eventos e épocas do tempo sendo visto 'sub specie eternitatis’. As três palavras - céu, terra e inferno - seriam as cenas deste grande drama. Era para incluir os tópicos da teologia como fatores T e o l o g ia S is t e m á t ic a 89 vivos, cada um deles em seu próprio lugar", e formando um todo completo e harmonioso; verALLEN, Jonatham Eduards, 379,380. 2. O M étodo Sintético Q ue adotam os neste com pêndio, é o m ais com um e m ais lógico de pôr em ordem os tópicos da teologia. Parte da causa para o efeito, ou, em pregando a linguagem de Hagenbach (H istória da D outrina), “com eça com m ais elevado princípio, que é D eus, e destina-se ao hom em , C risto, a redenção e, para encerrar, o fim de todas as coisas” . E m tal form a de tratar a teologia, podem os pôr em ordem os nossos tópicos na seguinte disposição: I o A existência de Deus. 2o As Escrituras, um a revelação de Deus. 3o N atureza, decretos e obras de Deus. 4° O hom em , sem elhança original com D eus e subseqüente apostasia. 5° A redenção através da obra de C risto e do Espírito Santo. 6o N atureza e leis da igreja de Cristo. T O fim do atual sistem a de coisas. Parte II A EXISTÊNCIA DE DEUS C a p ít u l o I ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS Deus é o Espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas têm sua fonte, sustento e fim . Outras definições; C alovius : “Essentia spiritualis infinita”; E brard : “A fonte eterna de tudo o que é temporal”; K ahnis ; “O Espírito infinito”; J ohn H owe : “Um ser eterno, não causado, independente, necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma”; Catecismo de Westminster: “Um Espírito infinito, eter no, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e ver dade”; A ndrew F uller : “A primeira causa e o último fim de todas as coisas”. A existência de Deus é um a verdade prim eira; em outras palavras, o conhe cim ento da existência de D eus é um a intuição racional. Logicam ente precede e condiciona toda a observação e raciocínio. C ronologicam ente, só o reflexo sobre os fenôm enos da natureza e da m ente ocasiona seu surgim ento na cons ciência. O termo intuição significa somente o conhecimento direto. L owndes (Phil. of Primary Beliefs, 78) e M ansel (Metaphysics, 52) empregam o termo apenas para designar o nosso conhecimento direto das substâncias, como o eu e o corpo; P orter aplica-o, de preferência, ao nosso conhecimento das primei ras verdades como já foram mencionadas. H arris (Philos. Basis of Theism., 44-151, esp. 45,46) inclui ambos. Ele divide as intuições em duas classes: 1. Presentes, como a autoconsciência (em virtude da qual percebo a existên cia do espírito e já entro em contato com o sobrenatural), e a percepção atra vés do sentido (em virtude da qual percebo a existência da matéria, ao menos em meu próprio organismo e entro em contato com a natureza); 2. Racionais, como espaço, tempo, substância, causa, causa final, justiça, ser absoluto. Podemos aceitar esta nomenclatura, empregando os termos “primeiras ver dades” e “intuições racionais” como equivalentes uma à outra, classificando as intuições racionais sob o título de 1) intuições de relações, como espaço e tempo; 2) intuições de princípios, como substância, causa, causa final, justiça; 94 A ugustus H opkins Strong e 3) intuição do S e r absoluto, Poder, Razão, Perfeição, Personalida de, como Deus. Sustentamos que, na ocasião em que os sentidos conhecem a) a extensão da matéria, b) sucessão, c) qualidades, d) mudança, e) ordem, f) ação, respectivamente, a mente conhece (a) espaço, (b) tempo, (c) subs tância, (d) causa, (e) desígnio, (f) obrigação, ao conhecermos nossa adequa ção, dependência e responsabilidade, a mente conhece diretamente a exis tência de uma Autoridade Infinita e Absoluta, Perfeição, Personalidade de que depen-demos e perante a qual somos responsáveis. B owne , Theory of Thought and Knowledge, 60 - “Quando andamos em completa ignorância dos nossos músculos, pensamos, com freqüência, na ignorância completa dos princípios que fundamentam e determinam o pensa mento. Porém como a anatomia revela que o ato aparentemente simples de andar envolve uma atividade muscular altamente complexa, do mesmo modo a análise revela que o ato aparentemente simples de pensar envolve um sis tema de princípios mentais”. D ewey , Psychology, 238,244 - “A percepção, a memória, a imaginação, a concepção - cada uma delas é um ato de intuição. ... Cada ato concreto do conhecimento envolve uma intuição de Deus”. M artineau , Types, 1.459 - A tentativa de despojar a experiência de cada um dos preceitos ou intuições é “como a tentativa de raspar uma bolha na pesquisa das suas cores e seu conteúdo: in tenuem ex oculis evanuit auram”; (N.Trad desaparece dos olhos com a suave brisa) Study, 1.19 9 - “tente com todas as suas forças fazer algo difícil, p.ex., fechar a porta contra o furioso vento e você reconhecerá o Eu e a Natureza - vontade causai, contra a causalidade externa; 65 - “Como a Percepção nos dá a Vontade na forma de causalidade contra nós no não eu, assim a Consciência nos dá a Vontade na forma de Autoridade contra nós no não eu”; Types, 2.5 - “Na percepção, é o eu e a natureza, na moral o eu e Deus, que frente a frente estão em antítese subje tiva e objetiva”; Study, 2.2,3 - “Na experiência volitiva enfrentamos a causali dade objetiva; na experiência moral, a autoridade objetiva, - ambas são obje to do conhecimento imediato, no mesmo nível de certeza que a apreensão do mundo material exterior. Não conheço nenhuma vantagem lógica que a cren ça nos objetos finitos possa ostentar sobre a crença na Causa infinita e justa de tudo”; 51 - “No reconhecimento de Deus como causa destacamos a Univer sidade; no reconhecimento de Deus como Autoridade, destacamos a Igreja”. K ant declara que a idéia de liberdade é a fonte da nossa idéia de persona lidade; esta consiste na liberdade da alma inteira sobre o mecanismo da natureza. L otze , Metaphysics, par. 244 - “Até onde e até quando conhece a si mesma como idêntica à experiência interior, é, e é chamada tão somente por esta razão, substância”. Illingworth , Personality, Human and Divine, 32 “Nossa concepção de substância não deriva do mundo físico, mas do mental. Antes de nada, substância é aquilo que apoia nossos sentimentos mentais e manifestações”. J ames , Will to Believe, 80 - “Como diz K ant , substância signi fica ‘das Beharrliche’, o persistente, aquilo que será como tem sido, porque o ser é essencial e eterno”. Neste sentido temos uma crença intuitiva em uma substância permanente que apoia os nossos pensamentos e vontade e a isto chamamos alma. Mas temos também uma crença intuitiva em uma substân cia permanente que apoia todos fenômenos naturais e todos os eventos da história, e este ser denominamos Deus. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 95 L PRIM EIRAS VERDADES EM GERAL 1. Sua natureza a) Negativamente - U m a verdade prim eira não é a) Verdade escrita antes da consciência sobre a substância da alm a - pois tal conhecim ento passivo im plica um ponto de vista m aterialista da alm a; b) O verdadeiro conhecim en to de que a alm a tem posse no nascim ento - pois não se pode provar que a alma o tem ; c) U m a idéia, não desenvolvida no nascim ento, tem o poder de autodesenvolvim ento independentem ente da observação e da experiência pois isto contraria todo o conhecim ento das leis do desenvolvim ento mental. O rígenes , Adv. Celsum, 1.4 - “Os homens não seriam culpados se não tivessem em suas mentes noções comuns de moralidade, inatas e escritas com letras divinas”. C alvino , institutes, 1.3.3 - “Os que julgam corretamente sempre concordarão em que há um indelével senso de divindade inscrito nas nossas mentes”. F leming , Vocab. of Philosophy, art.: “Idéias inatas”- “Supõese que Descartes tenha pensado (e L ocke dedicou o primeiro livro dos seus Ensaios à refutação da doutrina) que as idéias são inatas ou conatas à alma; /'.e., o intelecto acha a si mesmo no nascimento, ou tão logo desperta para a atividade consciente a fim de ser possuído de idéias às quais cabe-lhe ape nas atribuir nomes adequados, ou juízos que ele apenas precisa expressar em proposições adequadas - /'.e., antes de qualquer experiência sobre cada objeto”. R oyce , Spirit o f Modem Philosophy, 77 - “Descartes ensina que, em cer tas famílias, a boa conduta e a queda são inatas. Contudo, naturalmente, os filhos de tais famílias precisam ser instruídos nas boas maneiras e as crian ças, aprendendo a andar, parecem perfeitamente felizes por estarem livres da queda. Do mesmo modo a geometria nos é inata, mas não vem ao nosso conhecimento sem muito esforço”; 79 - L ocke não encontra idéias inatas. Em resposta, ele sustenta que “as crianças, com as suas matracas, não dão sinais de consciência de que as coisas são iguais às mesmas que são iguais entre si”. S chopenhauer diz que “J acobi tem a banal fraqueza de tomar tudo o que aprendeu e aprovou antes dos quinze anos como idéias inatas da mente humana”. B ow ne , Principies of Ethics, 5 - “Ninguém questiona que a expe riência dos sentidos condiciona as idéias racionais e são conseqüência dela (/'.e., da experiência); do mesmo modo ninguém duvida de que a experiência mostra uma ordem sucessiva de manifestações. Mas o sensacionalista tem sempre apresentado uma curiosa cegueira sobre a ambigüidade de tal fato. Para ele, o que vem depois deve ser uma modificação daquilo que veio antes; contudo, ela pode ser aquilo, e pode ser uma nova manifestação de uma natureza ou lei imanente, apesar de condicionada. Afinidade química não é gravidade, embora aquela não se manifeste até que a gravidade estabeleça certas relações entre os elementos”. P fleiderer , Philosophy of Religion, 1 . 1 0 3 - “Este princípio não se encontra va presente desde o começo na consciência do homem; pois, para produzir Augustas H opkins Strong 96 idéias no pensamento, a razão, que no primeiro homem da raça podia ser de tal modo pequena como nas crianças, precisa desenvolver-se claramente. Contudo, isto não exclui o fato de que havia desde o começo o impulso racional inconsciente que é base da formação da crença em Deus, por múltiplos que possam ter sido os motivos que cooperam com ele”. O eu implica o mais simples ato de conhecimento. Os sentidos nos apresentam duas coisas, p.ex., preto e branco; mas não posso compará-los sem estabelecer a diferença para mim. Diferentes sensações não fazem nenhum conhecimento , sem um eu que as reúna. U pton , Hibbert Lectures, prel. 2 - “Pode-se provar tão facilmen te a existência de um mundo exterior ao ser humano que não tem sentidos para percebê-lo, como se pode provar a existência de Deus a alguém que não tem consciência dele”. b) Positivamente - U m a verdade prim eira é um conhecim ento que, apesar de desenvolvido na ocasião da observação e reflexão, não deriva nem de uma, nem de outra; ao contrário, tem tal prioridade lógica que deve ser assum ida ou suposta a fim de tom ar possível qualquer observação ou reflexão. Por isso, tais verdades não são prim eiro reconhecidas na ordem do tem po; algumas delas são adm itidas em um período um tanto tardio no desenvolvim ento da m ente; para a grande m aioria dos hom ens elas nunca são totalm ente form ula das. C ontudo, constituem as suposições necessárias nas quais repousa todo o conhecim ento, e a m ente não só tem a capacidade inata de envolvê-los tão logo se apresentem as ocasiões adequadas, m as o seu reconhecim ento é inevi tável logo que a m ente com eça a contar com o seu próprio conhecim ento. M ansel , Metaphysics, 52, 279 - “Descrever a experiência como a causa da idéia do espaço seria tão impreciso como falar do solo em que foi planta do, como a causa do carvalho - embora o plantio no solo seja a condição para que se manifeste a força do seu fruto”. C oleridge : “Vemos antes de sabermos que temos olhos; mas uma vez tomado conhecimento disso, per cebemos que os olhos devem ter preexistido para capacitar-nos a ver”. C oleridge fala das primeiras verdades como “aquelas necessidades da mente ou formas de pensamento, que, embora reveladas a nós pela experiência, devem ter preexistido para torná-la possível”. M c C osh , Intuitions, 48,49 As instituições são “como a flor e o fruto, que estão na planta desde o seu embrião, mas não podem ser realmente formados enquanto não tenham exis tido caule, ramos, e folhas”. P orter, Human Inteilect, 501, 519 - “Não se pode conhecer algumas verdades ou assenti-las antes de tudo”. Algumas chegam ao fim de tudo. A intuição moral freqüentemente se desenvolve tarde e às vezes, até mesmo, por ocasião de um castigo físico. “Todo homem é tão ocioso quanto lhe permitam as circunstâncias”. A nossa ociosidade física é ocasional; nossa ociosidade mental é freqüente; nossa ociosidade moral é incessante. Somos excessivamente ociosos para pensar e especialmente para pensar em religião. Por conta dessa depravação da natureza humana deve mos esperar que, finalmente, a intuição para Deus se desenvolva. O homem se T e o l o g ia S is t e m á t ic a 97 esquiva do contato com Deus e de pensar em Deus. Na verdade o seu desa grado da intuição para Deus o leva, não raro, a negar todas as outras intuições, mesmo as de liberdade e de justiça. Daí a moderna “psicologia sem alma”. S churman , Agnosticism and Religion, 105-115 - “A idéia de Deus ... se desenvolve mais tardiamente na consciência clara ... e deve ser mais tardia porque é a unidade da diferença entre o eu e o não eu, porque estes são pressupostos”. Mas “ela não tem menor valor em si; não atribui menos fide digna certeza de realidade que a consciência do eu ou a do não e u .... A cons ciência de Deus é o prius lógico da consciência do eu e do mundo. Mas, como já se observou, não o (prius) cronológico; porque, conforme a profunda observação de Aristóteles, o que vem em primeiro lugar na natureza das coisas é a ordem do desenvolvimento final. Exatamente porque Deus é o primeiro princípio do ser e do conhecer, ele deve ser o último a manifestar-se e a ser conhecido. ... O finito e o infinito são conhecidos simultaneamente e é tão impossível conhecer um sem conhecer o outro como apreender um ângulo sem os lados que o formam”. 2. Seus critérios São três os critérios pelos quais as verdades prim eiras devem ser testadas: b) Sua universalidade. Isto não significa que o hom em concorda com elas ou as entenda quando propostas em form a científica, mas que todos os homens m anifestam um a crença prática nelas através da linguagem , das ações e das expectações. b) Necessidade. N ão significa que é im possível negar estas verdades, mas que a m ente é com pelida por sua própria constituição a reconhecê-las com base na ocorrência de condições próprias e em pregá-las em seus argumentos para provar sua não existência. c) Independência e prioridade lógicas. Significa que estas verdades não podem ser resolvidas em nenhum a outra; que elas pressupõem a aquisição de todos os outros conhecim entos e, portanto, não podem derivar de nenhum a outra fonte que não seja um poder cognitivo da mente. Exemplos da negação reconhecida e formal das primeiras verdades: o positivista nega a causalidade; o idealista nega a substância; o panteísta nega a pessoalidade; o necessitário nega a liberdade; o niilista nega a sua própria existência. De igual modo o homem pode argumentar que não há necessida de de uma atmosfera; mas ainda enquanto ele argumenta, ele respira. É um exemplo de argumento arrasador para demonstrar a liberdade da vontade. Admito minha própria existência ao duvidar dela; pois “cogito, ergo sum”, como o próprio Descartes insiste, na verdade, significa “cogito, scilicet sum”; H. B. S mith : “Declaração é análise, não prova”. L add , Philosophy of Knowledge, 59 - “O cogito, no Latim bárbaro = cogitans sum: pensar é se r consciente de si mesmo”. B entham - “A palavra deve é de impostura de autoridade e precisa ser banida do reino da moral”. S pinoza e H egel , na verdade, negam a cons Augustus H opkins Strong 98 c iê n c ia p ró p ria q u a n d o fa z e m do ho m e m um fe n ô m e n o do in fin ito . R oyce a sse m e lh a o hom em que ne ga a p e s s o a lid a d e p a ra a q u e le que sai da sua p ró p ria ca sa e d e c la ra qu e n in g u é m m ora n e la po rq u e , qu a n d o olh a para d e n tro da ja n e la , não vê ninguém . O P rof . J ames , em sua Psichology, admite a realidade de um cérebro, mas recusa-se a admitir a realidade de uma alma. Esta é essencialmente a posi ção do materialismo. Porém esta suposição de um cérebro é metafísica, embora o autor reivindique estar escrevendo uma psicologia sem metafísica. L add , Philosophy of Mind, 3 - “O materialista crê na causa própria ao explicar a origem da mente a partir da matéria, mas, quando se lhe pede que veja na mente a causa da mudança física, no mesmo instante ele se torna um sim ples fenomenalista”. R oyce , Spirit of Modem Philosophy, 400 - “Eu sei que todos seres, desde que saibam apenas contar, acham que três e dois são cinco. Talvez os anjos não saibam contar; mas, se eles souberem, este axio ma é verdadeiro também para eles. S e eu encontrasse um anjo que declaras se que a sua experiência ocasionalmente havia mostrado que três e dois não são cinco, eu saberia de uma vez que tipo de anjo era ele”. II. A E X IST Ê N C IA DE D E U S, U M A P R IM E IR A V E R D A D E I. Que o conhecimento da existência de Deus responde ao primeiro crité rio da universalidade é evidente a partir das seguintes considerações: d) É fato reconhecido que a grande m aioria dos hom ens na verdade tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem eles supõem depender. Os Vedas declaram: “Há apenas um Ser - não um segundo”. M ax M üller, Origin and Growth o f Religion, 34 - “Não se invocam os seres visíveis, sol, lua, e estrelas, mas algo que não pode ser visto”. As tribos inferiores têm consciência, têm medo da morte, crêem em bruxas, fazem propiciação ou exorcizam os maus fados. Mesmo o adorador de fetiche, que chama a pedra ou a árvore um deus, mostra que já tem a idéia de Deus. Não devemos medir as idéias dos pagãos pela sua capacidade de expressão, nem julgar a cren ça da criança na existência do seu pai pelo seu sucesso ao desenhar um quadro dele. As raças e nações que, a princípio, parecem destituídas de tal conheci m ento, uniform em ente, têm sido encontradas com o possuindo-o, de modo que nenhum a tribo de que tem os conhecim ento pode ser considerada desprovida de um objeto de culto. Podem os adm itir que tal conhecim ento será visto como verdadeiro m ais adiante. b) M offat, que relata certas tribos africanas destituídas de religião, foi corri gido pelo testemunho do seu genro, L ivingstone : “A existência de Deus e de T e o l o g ia S is t e m á t j c a uma vida íu\ura é reconhecida em toda a parte da Áírica”. Onde os homens são os mais destituídos de qualquer conhecimento formulado de Deus, as condições do despertar da idéia são as mais ausentes. Uma macieira pode ser de tal modo condicionada que nunca produza maçã. “Não julgamos os carvalhos pelo não crescimento, ou espécimens sem flores nos confins do Círculo Ártico”. A presença de um ocasional cego, ou surdo ou mudo não anula a definição de que o homem é uma criatura que vê, ouve e fala. B owne , Principies of Ethics, 154 - “Não precisamos tremer por causa da matemática, mesmo que se encontrem algumas tribos que desconhecem a tabuada. ... Sempre nos deparamos com a existência sub-moral e sub-racional no caso de crianças; e, se encontrássemos isto em outra parte, não teria maior impor tância”. V ítor H ugo : “Alguns homens negam o infinito; alguns também negam o sol; são cegos”. G ladden , What is Left?, 148 - “O homem pode escapar da sua sombra indo para o escuro; se vem para a luz, ei-la de volta. Do mesmo modo o homem pode ser mentalmente tão indisciplinado que não reconheça estas idéias; mas aprenda ele a utilizar a razão e reflita sobre os seus próprios processos mentais e conhecerá que tais processos são idéias necessárias”. c) C orrobora esta conclusão o fato de que os indivíduos em terras pagãs ou cristãs que professam não ter qualquer conhecim ento de um poder ou poderes superiores a eles m anifestam indiretam ente a existência de tal idéia em suas m entes e sua influência positiva sobre eles. C omte diz que a ciência conduz Deus à fronteira e daí o lança fora agrade cendo os serviços prestados. Mas H erbert S pencer afirma a existência de uma “Força de que não se concebe limite algum de tempo e de espaço, da qual todos os fenômenos presentes na consciência são m anifestações”. A intuição de Deus, embora formalmente excluída, está contida implicitamen te no sistema de S pencer , na forma de “irresistível crença” num Ser Absoluto, que distingue a sua posição da de C omte ; ver H. S pencer , que diz: “Uma ver dade deve tornar-se sempre mais clara - uma inescrutável existência mani festa em toda a parte, que nem podemos encontrar e cujo princípio ou fim não podemos conceber - aquela certeza absoluta de que estamos sempre na presença de uma energia infinita e eterna da qual procedem todas as coisas”. O S r. S pencer admite unidade na Realidade subjacente. F rederick H arrison , escarnecendo, pergunta-lhe: “Por que não dizer ‘forças’ em vez de ‘força’? ” Enquanto H arrison nos dá um ideal moral supremo sem base metafísica, S pencer dá-nos um princípio metafísico último sem propósito moral final. A idéia de Deus é a síntese das duas: “São apenas luzes que partem de Ti, e tu, ó Senhor, és mais do que elas” (T ennyson , in Memoriam). S ó lo n fala de Deus como ó 0eóç e como tò Oeíov, e S ó fo c le s como ó ^é yaç Oeóç. O termo para Deus é idêntico em todas línguas indo-européias e, por isso, pertence a uma época anterior à separação daquelas línguas. Na Eneida de V irg ílio , Mezêncio é um ateu e despreza os deuses e confia só na lança e em seu braço direito; mas, quando lhe trazem o cadáver de seu filho, seu 100 A ugustus H opkins Strong p rim eiro ato é le va n ta r as m ãos ao céu. H ume era cético, m as disse a F erguson, em u m a noite e stre la d a : “A dã o, D eus e xiste ” ! V oltaire o ro u nu m a te m p e sta d e tro v e ja n te nos A lp es. S helley e scre ve u seu no m e no livro de v isita n te s na p o u sa d a em M o n ta n ve rt, e a cre sce n to u : “ D e m o cra ta , fila n tro p o , a te u ” ; c o n tu do, ele g o s ta v a de p e n s a r num “fin o e sp írito p e n e tra n d o o u n ive rso ” ; e ta m bém escre veu : “A q u e le p e rm a n e ce , m uito s m ud am e pa ssam ; a luz do Céu b rilh a se m p re , a s o m b ra da te rra v o a ” . S trauss a d o ra o C o sm o s po rq u e “a o rd em e a lei, a razão e a b o n d a d e ” são a su a alm a. R enan co n fia na bondade, no d e síg n io , nos fins. C harles D arwin , Life, 1.274 - “Nas m in ha s extrem a s flutuações, nu n ca fui ateu, no sentido de n e g a r a existência de Deus”. d) Este acordo entre indivíduos e nações tão am plam ente separados no tem po e no espaço pode ser satisfatoriam ente explicado supondo que tem sua base, não em circunstâncias acidentais, m as n a natureza do hom em com o tal. As diversificadas e im perfeitam ente desenvolvidas idéias do suprem o ser que prevalecem entre os hom ens são levadas em conta de m elhor form a como falsas interpretações e perversões de um a convicção intuitiva com um a todos. H uxley , Lay Sermons, 163 - “Há selvagens sem Deus, em qualquer senti do apropriado da palavra; mas não há nenhum sem espíritos”. M artineau , Study, 2.353, retruca com propriedade: “Ao invés de fazer outros povos voltarem-se para os espíritos e daí um apropriar-se de nós mesmos [e atribuir outro a Deus, podemos acrescentar] por imitação, partimos do senso de con tinuidade pessoal, e depois atribuímos os mesmos predicativos de outros, sob as figuras que conservam a maior parte do elemento físico e perecível”. G rant A llen descreve as mais elevadas religiões como “um grosseiro desen volvimento de um fungóide”, que se reuniu em torno do culto ancestral. Mas isto faz derivar o maior do menor. S ayce, Hibbert Lectures, 358 - “Não vejo nenhum traço de culto ancestral na literatura babilônica que tenha sobrevivi do até nós” - isto parece fatal para o ponto de vista de H uxley e de A llen de que a idéia de Deus deriva da primitiva crença do homem nos espíritos dos mortos. C. M. T yler , in Am. Jour. Theol., jan., 18 9 9 .14 4 - “Parece impossível deificar um morto, a não ser que haja uma consciência primitiva embrionária anterior ao conceito de divindade”. Renouf, Religion of Ancient Egypt, 93 - “Toda a mitologia do Egito ... gira em torno das histórias de Rá e Osíris. ... Descobriram-se textos que identifi cam Osíris e Rá. ... Conhecem-se outros textos em que Rá, Osíris, Ámon e outros deuses desaparecem, a não ser como simples nomes, e afirma-se a unidade de Deus na mais nobre linguagem da religião monoteísta”. Estes fatos são mais antigos que qualquer culto aos ancestrais. “Eles apontam para uma idéia original da divindade acima da humanidade” ( ver H il l , Genetic Philosophy, 317). Podemos acrescentar a idéia do elemento sobre-humano, antes de considerarmos o animismo ou culto aos ancestrais em uma religião. Tudo o que o homem primitivo via na sua natureza sugeria tal elemento sobre-humano, especialmente a vista dos altos céus e aquilo que ele conhe ce de causalidade relacionado com eles. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 101 2. Ver-se-á que o conhecimento da existência de Deus responde ao segun do critério da necessidade, considerando-se: a) Q ue o homem, sob circunstâncias adequadas à m anifestação deste conhe cim ento, não pode deixar de reconhecer a existência de Deus. A contem pla ção da existência finita, inevitavelm ente sugere a idéia de um ser infinito como seu correlato. Q uando a m ente percebe a sua finitude, dependência, responsa bilidade, im ediata e necessariam ente percebe a existência de um ser infinito e incondicionado de quem ela depende e perante o qual ela é responsável. Não podemos reconhecer o finito como tal a não ser comparando-o com um padrão já existente - o Infinito. M ansel , Limits of Religious Thought, prel. 3 - “A constituição da nossa mente nos compele a crer na existência de um Ser Absoluto e Infinito - crença que parece impor um complemento da nossa consciência do relativo e do finito”. F isher , Jour. Chr. Philos., jan. 18 83.113 — “O ego e o não ego, cada um condicionado pelo outro, pressupõe um ser não condicionado de que eles dependem. O ser não condicionado é a pressupo sição de todo o nosso conhecimento”. O ser dependente percebido implica um independente; o independente é perfeitamente autodeterminante; auto determinação é Personalidade infinita. J ohn W atson , in Philos. Re v., set. 1893.526 - “Não há consciência do eu sem a consciência de outros eus e de outras coisas; não há consciência do mundo sem a consciência da Realidade simples que ambos pressupõem”. E. C aird , Evolution of Religion, 64-68 Cada ato da consciência implica elementos primários: “a idéia do objeto, ou do não eu; a idéia do sujeito, ou do eu; e a idéia da unidade que pressupõe a diferença entre o eu e o não eu que agem e reagem numa relação recíproca”. b) Que o hom em , em virtude da sua hum anidade, tem capacidade para a religião. Tal reconhecida capacidade para a religião é prova de que a idéia de Deus é necessária. Se a m ente, na ocasião própria, não desenvolvesse esta idéia, não haveria nada no hom em para o que a religião pudesse apelar. “É a sugestão do Infinito que distancia a linha do horizonte, vista acima da terra ou do mar, muito mais do que as belezas de qualquer paisagem limitada”. Em situações de choque e de perigo, esta intuição racional torna-se cognoscível; o homem se torna cada vez mais consciente da existência de Deus do que da existência dos seus companheiros e instintivamente clama por auxílio da parte de Deus. Nos mandamentos ou reprimendas de natureza moral a alma reconhece um Legislador e Juiz de cuja voz a consciência é simples mente um eco. A ristóteles chamava o homem de “um animal político”; há mais verdade na declaração de S abatier , de que “o homem é um religioso incurável”. São B ernardo : “Noverim me, noverim te”. O. P. G iffort: “Como a nata do leite que, em condições adequadas não sobe, não é leite, do mesmo modo o homem que, no tempo proprio, não apresenta nenhum conhecimento de Deus, não é homem; é bruto”. Entretanto, não se deve esperar nata de um leite congelado. Há necessidade de condições e ambiente próprios. Augustus H opkins Strong 102 É o reconhecimento de uma personalidade divina na natureza que consti tui o maior mérito e encanto da poesia de W ordsworth . Em sua obra Abadia de Tintem, ele fala de “Uma presença que me perturba com a alegria de pen samentos elevados; um senso de algo muito mais profundamente mesclado Cuja moradia é a luz dos sóis poentes e o redondo oceano e o ar vivente, e o céu azul e, na mente do homem: Um movimento e um espírito que impele todas as coisas pensantes, todos os objetivos de todo pensamento, e rola através de todas as coisas”. R obert B rowning vê Deus na humanidade, como W ordsworth vê Deus na natureza. Na sua Hohenstiel-Schwangau ele escre ve: “Eis a glória concebida, ou sentida ou conhecida em todos: Eu tenho uma mente - Não minha, mas como se o fosse - porque é a dupla alegria que faz todas as coisas por mim e eu em seu favor”. J ohn R uskin sustenta que a fonte da beleza no mundo é a presença de Deus. Ele nos diz que, em sua juventu de, tinha “uma contínua percepção da santidade na natureza toda, desde as menores às mais vastas coisas - um misto instintivo de temor e prazer, uma indefinível comoção tal como às vezes imaginamos indicar a presença de um espírito desencarnado”. Porém o Espírito que nós vemos é encarnado. N itzsch, Chrístian Doctríne , par. 7 - “A não ser que a consciência inata de Deus como uma predisposição operante preceda a educação e a cultura, nada há que estas consigam realizar”. Que aquele que nega a existência de Deus deve tacitam ente assum ir tal existência em seu próprio argum ento, em pregando processos lógicos cuja vali dade se apoia no fato da existência de D eus. A plena prova disto se encontra no subtítulo seguinte. c) “Deus sabe que eu sou ateu” - é o absurdo que dá início à desaprovação da existência divina. C utler , Beginnings of Ethics, 22 - “Mesmo os niilistas, cujo primeiro princípio é que Deus e o dever são grandes espantalhos a serem abolidos, admitem que Deus e o dever existem e são impelidos pelo senso do dever a aboli-los”. S ra . B rowning , The Cry of the Human: ‘“Não há Deus’, diz o néscio; Porém ninguém diz: ‘Não há tristeza’; E a natureza sem pre clama por fé; Na amarga necessidade tomará emprestado; Olhos que o pregador não pode ensinar Pelas sepulturas à beira do caminho levantam-se; e os lábios dizem, ‘Deus tem piedade’, nunca dizem, ‘Louvado seja Deus”’. D r . W. W. K een , chamado para tratar da afasia de um irlandês, disse: “Bem, Dennis, como vai você?” “Oh! doutor, eu não posso falar!” “Mas, Dennis, você está falando”. “Oh! doutor, há muitas palavras que eu não sei falar!” “Bem, Dennis, vou tentar ajudá-lo. Veja se você não pode dizer: ‘cavalo’”. “Oh! que rido doutor, ‘cavalo’ é uma palavra que eu não sei dizer!” 3. Pode-se m ostrar que o conhecimento da existência de Deus responde ao terceiro critério da independência lógica e prioridade da seguinte maneira: a) Im plica todos outros conhecim entos com o condição e fundam entação lógica. A validade dos m ais sim ples atos m entais, tais com o percepção senso- T e o l o g ia S is t e m á t ic a 103 rial, consciência própria e m em ória depende da aceitação de que existe um Deus que constituiu as nossas m entes de m odo a dar-nos o conhecim ento das coisas com o são. P fleiderer , Philos. of Religion, 1.88 - “Não se deve encontrar a base da ciência e do conhecimento em gerai, nem no sujeito, nem no objeto per se, mas só no pensar divino a combinar os dois, que, como base comum das formas de ser em todas as coisas, possibilita a correspondência entre aquele e este, ou, em uma palavra, possibilita o conhecimento da verdade”. 91 “Pressupõe-se a crença religiosa em todo o conhecimento cientifico, como base da sua possibilidade”. Este é o pensamento do SI. 36.9 - “Na tua luz veremos a luz”. A. J. B alfour , Foundations of Belief, 303 - “Não se pode provar a uniformidade da natureza a partir da experiência, pois é ela que possibilita a prova da experiência. ... Admita-o e acharemos que os fatos se conformam com ela. ... 309 - Só se pode estabelecer a uniformidade da natu reza com o auxílio desse mesmo princípio que necessariamente está com prometido nas tentativas de prová-lo. ... Deve haver um Deus que justifique a nossa confiança nas idéias inatas”. B ow ne , Theory of Thought and Knowledge, 276 - “A reflexão mostra que a comunidade de inteligências individuais só é possível através de uma Inteli gência totalmente abrangente, originadora e criadora das mentes finitas”. A ciência apoia-se no postulado de uma ordem mundial. H uxley : “O objetivo da ciência é a descoberta da ordem racional que permeia o universo”. Esta ordem racional pressupõe um Autor racional. D ubois , New Englander, nov. 1890.468 - “Admitimos a uniformidade e a continuidade, ou não podemos ter ciência. Uma Vontade Criativa inteligente é uma hipótese científica genuína [postulado?] que a analogia sugere e a experiência confirma, não contradi zendo a lei fundamental da uniformidade, mas explicando-a”. R itchie , Darwin and Hegel, 18 - “A natureza como um sistema é uma suposição subjacente às mais antigas mitologias: preenche esta concepção no objetivo da mais tardia ciência”. R oyce , Relig. Aspect of Philosophy, 435 - “Existe uma coisa que se chama erro; mas o erro é inconcebível a não ser que haja uma sede da verdade, um Pensamento ou uma Mente que inclui tudo; é por isso que a referida Mente existe”. Só se pode confiar nos m ais com plicados processos da m ente, tais como a indução e a dedução, supondo um a divindade pensante que fez as várias partes do universo e os vários aspectos da verdade corresponderem -se uns aos outros e às faculdades investigadoras do hom em . b) Argumentamos a partir de uma maçã para com as outras que estão na árvore. A partir da queda de uma maçã N ewton raciocinou sobre a gravitação na lua e em todo o sistema solar. A partir da química do nosso mundo R owland raciocinou sobre a de Sírius. Em todos esses raciocínios admite-se um pensamento unificador e uma Divindade pensante. Este é o “emprego científico da imaginação” de T yndall . Diz ele: “Alimentado pelo conhecimento 104 A ugustus H opkins Strong em parte adquirido e ligado pela cooperação da razão, a imaginação é o mais poderoso instrumento da física; descobridora”. O que T yndall chama de “ima ginação” é, na verdade, o discernimento relativo aos pensamentos de Deus, o grande Pensador. O discernimento prepara o caminho para o raciocínio lógico; não é um simples produto do raciocínio. Por esta razão G oethe chama a imaginação “Die Vorschule des Denkens”, “a pré-escola do pensamento”. P eabody, Christianity, the Religion of Nature, 23 - “A indução é um silogis mo cujo termo constante são os imutáveis atributos de Deus”. P orter , Hum. Intellect, 492 - “A indução apoia-se na suposição, quando demanda como base, que existe uma Divindade pessoal ou pensante”; 6 58 - “Ela não tem sentido ou validade a não ser que admitamos que o universo é constituído de tal modo que pressupõe um originador não condicionado, mas absoluto de suas forças e leis”; 662 - “Analisamos os vários processos do conhecimento em suas suposições subjacentes e achamos que a subjacente a todas é a de uma Inteligência auto-existente que o homem não só pode, mas deve conhe cer para que possa conhecer outras coisas mais”. H arris , Philos. Basis of Theism, 81 - “Os processos de pensamento reflexivo implicam que o univer so se fundamenta na razão e em sua manifestação”; 560 - “A existência de um Deus pessoal é um dado necessário do conhecimento científico”. c) N ossa crença prim itiva n a causa final ou, em outras palavras, nossa con vicção de que todas as coisas têm o seu fim, que o desígnio perm eia o universo, envolve um a crença na existência de Deus. A dm itindo que há um universo, que é um todo racional, um sistem a de relações de pensam ento, adm itim os a existência de um pensador absoluto, de cujo pensamento o universo é expressão. P fleiderer , Philos. of Religion, 1.81 - “Só se p o de p e n sa r no real se se tra ta r de um p e n sa m e n to rea liza do , p re v ia m e n te e la b o ra d o , que po de repetirse. P or isso, o real, p a ra s e r o b je to do n o sso p e n sa m e n to , de ve te r sid o re a lizado a p a rtir da cria ção , de um a R a zã o d iv in a e te rn a que se a p re se n ta ao n o sso p e n sa r c o g n itiv o ” . R oyce , World and Individual, 2.41 - “A te o lo g ia u n i ve rsa l c o n stitu i a e s s ê n c ia de to d o s os fa to s ” . A. H. B radford , The Age of Faith, 142 - “O s o frim e n to e a tris te z a são u n ive rsa is. Q u e r D eus p o ssa ou não im p e d i-lo s e, p o r isso, ele nem é b e n é fico , nem am o ro so ; ou s e rá que ele não p o de im p e d i-lo s e co n se q u e n te m e n te há a lg u m a c o isa m a io r que Deus e, p o r isso, não há D e us? M as eis aqui o e m p re g o da razão no raciocínio in d ivid u a l. O ra cio cín io no in d ivíd u o n e ce ssita a razão a b s o lu ta ou universal. S e há uma razão absoluta, então o universo e a história são administrados em harmonia com a razão; nesse caso o sofrimento e a tristeza nem podem ser sem sentido, nem finais, porque seriam uma contradição da razão. Não é possível no universal e absoluto aquilo que, no homem, contradiz a razão”. d) N ossa crença prim itiva na obrigação m oral ou, em outras palavras, nos sa convicção de que o direito tem autoridade universal, envolve a crença na existência de Deus. A dm itindo que o universo é um todo moral, adm itim os a existência de um a vontade absoluta, de cuja ju stiça o universo é expressão. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 105 P fleiderer , Philos. o f Religion, 1 :88 - “A base da obrigação moral não é encontrada nem no sujeito nem na sociedade, mas somente na vontade uni versal e divina que combina a ambas ... 103 - A idéia de Deus é a unidade da verdade e do bem, ou das duas idéias mais altas que nossa razão pensa como razão teorética, mas requer como razão prática ... Na idéia de Deus nós encontramos a única síntese do mundo que é - o mundo da ciência e do mundo que deve ser - o mundo da religião.” S eth , Ethical Principies, 425 “Isto não é uma demonstração matemática. A filosofia jamais é uma ciência exata. É, pelo contrário, oferecida como o único fundamento suficiente da vida moral ... A vida de bondade ... é uma vida baseada na convição de que sua fonte e sua propagação estão no Eterno e no Infinito.” Como verdade e bondade finitas só são compreensíveis à luz de algum princípio absoluto que fornece a elas um padrão ideal, desse modo a beleza finita é inexplicável exceto quando ali existe um padrão perfeito com o qual pode ser comparado. A beleza é mais do que o agradável ou o útil. Proporção, ordem, harmonia, unidade na diversidade - tudo isto são características da beleza. Todas elas, porém, implicam um se r intelectual e espiritual, de quem elas procedem e por quem elas podem ser medidas. Tanto a beleza física quanto a moral, em coisas e seres finitos, são símbolos e manifestações daquele que é o autor e amante da beleza e que é em si mesmo a infinita e absoluta beleza. A beleza na natureza e nas artes mostra que a idéia da existência de Deus é logica mente independente e anterior. 1/erCousiN, The True, The Beautiful, and the Good, 140-153; Kant, Metaphysic o f Ethics, que sustenta que a crença em Deus é a pressuposição necessária da crença no dever. R epetindo estes quatro pontos de outra form a - a intuição de um a razão absoluta é d) pressuposição necessária de todos os outros conhecim entos de m odo que não podem os conhecer a existência de qualquer coisa sem, antes de m ais nada, adm itir que Deus existe; b) a base necessária de todo o pensam ento lógico de modo que não podem os confiar em qualquer dos nossos processos de raciocínio a não ser adm itindo que um a divindade pensante construiu nos sas m entes com relação ao universo e à verdade; c) a im plicação necessária de nossa crença prim itiva no desígnio de m odo que podem os adm itir que todas as coisas existem com um propósito, fazendo um a pressuposição de que existe um Deus proponente - pode considerar o universo como um pensamento somente postulando a existência de um P ensador absoluto; e d) o fundam ento necessá rio da nossa convicção de obrigação m oral de m odo que podem os crer na autoridade universal do direito, só adm itindo que existe um Deus de justiça que revela sua vontade tanto na consciência do indivíduo com o na moral do universo em toda a sua extensão. N ão podem os provar que Deus é; m as pode mos m ostrar que, para a existência de qualquer conhecim ento, pensam ento, razão, consciência, o hom em precisa adm itir que Deus é. Eis o que J acobi diz a respeito do belo: “Es kann gewiesen aber nicht bewiesen werden” - pode-se mostrar, mas não provar. B owne , Metaphysics, A ugustus Hopkins Strong 106 nosso conhecimento objetivo a respeito do finito deve apoiar-se na confiança ética no infinito”; 4 8 0 - “ O teísmo é o postulado absoluto de todo conhecimento, ciência e filosofia”; “Deus é o fato mais certo do conhecimento objetivo”. L add , Biblia Sacra, out. 1 8 7 7 .6 1 1 -6 1 6 - “Cogito ergo Deus est. Somos constrangidos a postular um ser que não é nós mesmos e que age em favor da racionalidade assim como da justiça”. W. T. H arris : “Até mesmo a ciência natural é impossível, onde a filosofia ainda não ensinou que a razão fez o mundo e que a natureza é a revelação do racional”. 472 - “O P ascal : “A N a tu re z a c o n fu n d e o p irrô n ic o e a R a zã o co n fu n d e o d o g m á tico. T e m o s u m a in c a p a c id a d e de d e m o n s tra ç ã o qu e a q u e le não p o d e v e n cer; te m o s u m a c o n c e p ç ã o da v e rd a d e q u e e ste nã o p o d e p e rtu rb a r” . “ Não e x is te n e n h u m in c ré d u lo ! Q u a lq u e r q u e diz ‘A m a n h ã ’, ‘o D e s c o n h e c id o ’, ‘o F u tu ro ’, c o n fia qu e a F o rça s o z in h a não o u s a re p u d ia r” . J ones , Robert Brow ning, 3 1 4 - “ N a v e rd a d e não p o d e m o s p ro v a r D e u s c o m o um a c o n c lu s ã o de um s ilo g is m o , p o rq u e ele é a p rim e ira h ip ó te s e de to d a s as p ro v a s ” . R obert B rowning , Hohenstiel-Schwangau: “ Eu sei q u e ele e s tá ali, co m o eu estou aq ui, co m a m e s m a pro va, q u e p a re c e não p ro v a r na da , e isto vai além das fo rm a s fa m ilia re s de p ro v a ” ; P aracelsus , 2 7 - “ C o n h e c e r c o n s is te em a b rir c a m in h o pe lo qu a l o e s p le n d o r a p ris io n a d o p o d e e s c a p a r em v e z de e fe tu a r a e n tra d a de u m a lu z q u e se s u p õ e e s ta r do la d o de fo ra ” . T ennyson , O S an to G raal: “ Q u e as v is õ e s da n o ite ou do d ia v e n h a m q u a n d o q u ise re m e m u ita s ve z e s . ... N os m o m e n to s q u a n d o ele s e n te q u e não p o d e m o rre r e não c o n h e c e n e n h u m a v is ã o de si m e sm o , e n e n h u m a de D e us nos altos, nem d a q u e le S e r que re s s u s c ito u ” ; O A n tig o S áb io , 54 8, - “Tu não po de s p ro v a r o In o m in á v e l, ó m eu filh o ! ne m p o d e s p ro v a r o m u n d o em q u e tu te m ove s. T u não p o d e s p ro v a r q u e tu és só um c o rp o , nem que tu és só e s p í rito, nem q u e tu és a m b o s em um . Tu não p o d e s p ro v a r q u e tu és im o rta l, não, nem a in d a qu e tu és m o rta l. O ra, m eu filh o , tu n ã o p o d e s p ro v a r que eu, qu e fa lo c o n tig o , n ã o e sto u em c o n v e rs a c o n tig o m esm o . P o rq u e nada que m e re ce p ro v a p o d e -s e provar, nem re je ita r: P o rta n to , sê sá b io , a p eg ate s e m p re ao la d o m ais e n s o la ra d o da d ú v id a e so b e em e s c a la d a p a ra a fé além das fo rm a s da fé ” . III. O U T R A S S U P O S T A S FO N T E S D A N O SSA ID É IA N ossa prova de que a idéia da existência de Deus é um a intuição racional não se com pletará enquanto não m ostrarm os que são insuficientes as tentati vas de contar, por outros m eios, a origem da idéia e requerem com o pressupo sição a própria intuição que elas suplantariam ou reduziriam a um a posição secundária. R eivindicam os que isto não pode derivar de qualquer outra fonte que não seja um a força cognitiva originária da mente. 1. Não da revelação exterior, quer com unicada a) através das Escrituras, quer b) através da tradição; pois, a m enos que o hom em tivesse de outra fonte T e o l o g ia S is t e m á t ic a 107 um conhecim ento prévio da existência de u m D eus a partir do qual pudesse vir um a revelação, esta não teria nenhum a autoridade para ele. a) H. B. S mith , Faith and Philosophy , 18 - “Uma revelação tem como certo que aquele a quem ela se faz tem algum conhecimento de Deus, embora possa ampliá-lo e purificá-lo”. Não podemos provar Deus a partir da autorida de das Escrituras e daí provar as Escrituras a partir de Deus. A própria idéia da Escritura como revelação pressupõe a crença em um Deus que pode fazêla. N ewman S myth , New Englander, 1878.355 - Não podemos derivar do reló gio de sol nosso conhecimento da existência de um astro deste tipo. O relógio de sol pressupõe o sol e não pode ser entendido sem um prévio conhecimen to deste. W uttke , Christian Ethics, 2 .10 3 - “A voz do ego divino não vem primeiro à consciência do ego do indivíduo a partir de fora; ao contrário disto, cada revelação externa pressupõe a interna; deve ecoar vindo de dentro do homem algo ligado à revelação exterior para ser reconhecido e aceito como divino”. Fairbairn , Studies in Philos. of Relig. and Hist., 2 1.2 2 - “S e o homem depende da revelação externa para a sua idéia de Deus, então ele deve ter aquilo que, com felicidade, S chelling expressou, denominando de ‘um ateís mo original da consciência’. Em tal caso a religião não pode estar enraizada na natureza do homem; ela deve ser implantada a partir de fora”. S churman , Beliefin God, 78 - “A revelação primitiva de Deus dotara o homem da capaci dade de apreender sua origem divina. Tal capacidade, como qualquer outra, realiza-se apenas na presença de condições apropriadas”. C larke, Christian Theology, 112 - “A revelação não pode demonstrar a existência de Deus, porque deve admiti-la; mas manifestará sua existência e caráter aos homens e lhes servirá como a principal fonte de certeza a respeito de Deus porque lhes ensinará o que não poderiam conhecer por outros meios”. b) Nem a nossa idéia de Deus vem primeiramente da tradição porque “esta só pode perpetuar o que já foi originado” (P atton ). S e o conhecimento assim transmitido é o de uma revelação primitiva, então, aplica-se o argu mento já estabelecido - que a própria revelação pressupunha naqueles que primeiro a receberam e pressupõe naqueles a quem é transmitida algum conhecimento de um ser de quem tal revelação poderia vir. S e o conhecimen to assim transmitido é somente o dos resultados dos raciocínios da raça, então o conhecimento de Deus vem originariamente da razão - explicação que consideraremos adiante. Semelhantes respostas devem ser dadas a muitas explicações comuns sobre a crença do homem em Deus. “Primus in orbe deos fecit timor” (Primei ro o medo na terra fez um deus); a Imaginação fez a religião; os Sacerdotes inventaram a religião; a Religião é matéria de imitação e moda. Porém per guntamos ainda: O que causou o medo? Quem fez a imaginação? O que tornou possível os sacerdotes? O que tornou natural a imitação e a moda? Dizer que o homem adora somente porque vê outros homens adorarem é tão absurdo como dizer que o cavalo come feno porque vê outros cavalos come rem-no. Deve haver na alma fome a ser satisfeita ou as coisas exteriores nunca atrairiam o homem à adoração. Os sacerdotes nunca poderiam impor A ugustus H opkins Strong 108 aos homens com tanta continuidade se não houvesse na natureza humana uma crença universal em um Deus que pudesse comissionar os sacerdotes como seus representantes. Por si mesma a imaginação requer alguma base de realidade, que aumenta à medida que a civilização avança. O fato de que a crença na existência de Deus amplia o apoio sobre a raça, que aumenta a cada século, mostra que, ao invés de o medo ter causado a crença em Deus, a verdade é que a crença em Deus causou o temor; na verdade, “o temor do Senhor é o princípio de toda a sabedoria” (SI. 111.10). 2. N ão da experiência, quer esta signifique a) percepção sensorial e refle xão do indivíduo (L ocke), b) os resultados acum ulados das sensações e asso ciações das gerações passadas da raça (H erbert S pencer), quer c) o real con tato da nossa natureza sensitiva com Deus, realidade supra-sensível, através do sentim ento religioso (N ewman S myth). A prim eira form a desta teoria é inconsistente com o fato de que a idéia de D eus não é a idéia de um objeto sensível ou m aterial, nem um a com binação de tais idéias. Porque o espiritual e o infinito são opostos diretos do m aterial e finito, nenhum a experiência destes pode contar com a nossa idéia daqueles. Com L ocke (Essay on Hum. Understanding, 2.1.4), experiência é recepti vidade passiva das idéias pela sensação e pela reflexão. A teoria da “tábula rasa” de L ocke confunde a ocasião das nossas idéias primitivas com a causa destas. Para a sua afirmação: “Nihil est in intellectu nisi quod ante fuerit in sensu” (N.Trad.: Nada há no intelecto, que não esteja anteriormente no sentido), L eibnitz responde: “Nisi intellectus ipse” (N.Trad.: a não ser o próprio intelecto). Às vezes a consciência é chamada a fonte do nosso conhecimento de Deus. Mas a consciência, como um simples conhecimento acessório de nós mesmos, ou dos nossos estados, não é propriamente a fonte de qualquer outro conhecimento. O alemão Gottesbewusstsein = não a “consciência de Deus”, mas o “conhecimento de Deus”; Bewusstsein aqui = não um “comciência”, mas o “ser-ciência”. F raser , Locke, 143-14 7 - As sensações são os tijolos e a associação a argamassa, do edifício mental. B owne , Theory of Thought and Knowtedge, 47 - “Desenvolver a linguagem permitindo que os sons se associem e evoluam o sentido por si mesmos? Contudo este é o exato paralelo da filosofia cujo objetivo é edificar a inteligência a partir da sensação. ... 52 - “Aquele que não sabe ler debalde olha para o sentido de uma página impressa e debalde pro cura auxiliar a sua deficiência utilizando óculos fortes”. Contudo, mesmo que a idéia de Deus fosse um produto da experiência, não teríamos a garantia de rejeitá-la como irracional. verBROOKS, Foundations ofZoology, 132 - “Não há nenhum antagonismo entre os que atribuem o conhecimento à experiência e os que o atribuem à nossa razão inata; entre os que atribuem o desenvolvi mento do germe a condições mecânicas e os que o atribuem à potencialidade inerente do próprio germe; entre os que sustentam que toda a natureza esta va latente no vapor cósmico e os que crêem que tudo na natureza tem uma T e o l o g ia S is t e m á t ic a 109 intenção imediata e predeterminada”. Todos estes podem ser métodos do Deus imanente. A segunda form a da teoria está aberta à objeção de que m esm o a prim eira experiência do prim eiro hom em do m esm o m odo que a últim a experiência do hom em pressupõe tal intuição assim com o outras intuições e portanto não podem ser a sua causa. C ontudo, m esm o que esta teoria da origem fosse corre ta, ainda assim seria im possível pensar no objeto da intuição com o se não existisse, ainda representaria para nós a m ais elevada m edida de certificação atualm ente ao alcance do hom em . Se a evolução das idéias destina-se à verda de ao invés da falsidade, é a parte da sabedoria que age sobre a hipótese de que a nossa prim itiva crença é verdadeira. M artineau , Study, 2.26 - “A natureza tanto é digna de confiança em seus processos, como em suas dádivas”. B ow ne , Examination o f Spencer, 163,164 - “Devemos nós buscar a verdade nas mentes dos macacos pré-humanos, ou nas cegas excitações de qualquer massa primitiva? Nesse caso podemos, na verdade, pôr de lado toda a nossa ciência, mas, juntamente com ela, pôr de lado a grande doutrina da evolução. A filosofia-experiência não pode esca par a esta doutrina; ou os pronunciamentos positivos da consciência da nos sa natureza devem ser aceitos como se apresentam ou toda a verdade deve ser declarada impossível”. C harles D arwin , em uma carta escrita um ano antes da sua morte, referindo-se às suas dúvidas quanto à existência de Deus, pergunta: “Podemos nós confiar nas convicções da mente de um macaco?” Podemos responder: “Pode mos confiar nas conclusões de alguém que outrora foi bebê”? B owne , Ethics, 3 - “A gênese e emergência de uma idéia são uma coisa; sua validade é bem outra. O valor lógico da química não pode ser decidido recitando princípios da alquimia; e o valor lógico da astronomia independe do fato de que ela come çou com a astrologia. ... 11 - Mesmo que o homem viesse do macaco, não teríamos necessidade de tremer pela validade da sua tabela de multiplicação ou da Regra Áurea. S e temos discernimento moral, não importa como o adquirimos; e se não temos tal discernimento, não há auxílio algum para qual quer teoria psicológica. ... 159 - Não devemos apelar para os selvagens e bebês a fim de encontrar o que é natural para a mente hum ana.... No caso de qualquer coisa que está sob a lei do desenvolvimento podemos achar a sua verdadeira natureza, não retrocedendo às suas rudes origens, mas estudan do o resultado acabado”. D owson , Mod. Ideas of Evolution, 13 - “S e a idéia de Deus for o fantasma de um cérebro símio, podemos confiar na razão ou cons ciência em qualquer outra matéria? Não podem a ciência e a filosofia por si mesmas ser semelhantes a fantasias, envoltas por mero acaso ou pelo ele mento desarrazoado?” Mesmo que o homem viesse do macaco, não há como explicar suas idéias através das dele: “O homem é o homem porque o é”. Devemos julgar os princípios pelos fins, não os fins pelos princípios. O importante não é como ocorre o desenvolvimento do olho nem como era imperfeito o sentido da visão, já que o olho agora nos dá a informação correta 110 A ugustus H opkins Strong dos objetos exteriores. Do mesmo modo não importa como se originaram as intuições de justiça e de Deus, visto que agora elas nos dão o conhecimento da verdade objetiva. Temos que admitir como certo que a evolução das idéias não vêm a partir do sentido para o não sentido. C. H. L ewes , Study of Psychology, 122 - “Podemos entender a ameba e o pólipo só através da luz refletida do estudo do homem”. S eth , Ethical Principies, 429 - “O carvalho explica o fruto até de modo mais veraz que o oposto”. S idgwick : “Ninguém apela do senso de belo do artista para o da criança”. Os maiores matemáticos não são menos verdadeiros porque podem ser apreendidos só pelo exercício do inte lecto. Não se atribui nenhuma importância estranha ao que se sentiu ou se pensou em primeiro lugar". R obert B rowning , Paracelsus : “O homem, tendo descoberto, imprime para sempre a sua presença a todas as coisas inertes. ... Um refluxo suplementar da'luz ilustra todos os graus inferiores, explica cada passo anterior no círculo”. O homem, com as suas mais elevadas idéias, mostra o sentido e conteúdo de tudo o que se destina a ele. Ele é o último degrau na subida da escada e, a partir deste mais elevado produto e de suas idéias, podemos inferir quem é o seu Criador. B ixby , Crisis in Morais, 162,245 - “A evolução dá ao homem apenas tama nha altura que ele pode ao menos discernir as estrelas da verdade moral que outrora estiveram abaixo do horizonte. Isto é muito diferente de dizer-se que as verdades morais são apenas produtos transmitidos da experiência da uti lidade. ... O germe da idéia de Deus como da idéia de direito devem ter esta do no homem logo que ele se tornou homem; ganhando do bruto, ela o tornou um homem. A razão não é apenas um registro dos fenômenos físicos e da experiência de prazer e de dor: é também criativa. Discerne a unidade das coisas e a supremacia de Deus”. S ir C harles L yell : “A presunção é enorme porque todas as nossas faculdades, embora sujeitas a errar, são verdadeiras na essência e apontam para os reais objetivos. A faculdade religiosa no homem é, de todas, uma das mais fortes. Existiu nas mais primitivas eras e, ao invés de desgastar-se ante o avanço da civilização, torna-se cada vez mais forte e hoje é mais desenvolvida entre as mais elevadas raças do que jamais fora antes. Penso confiar seguramente que ela aponta para uma gran de verdade”. F isher , Nat. and Meth. o f Rev., 137, cita A gostinho : “Securus judicat orbis terrarum” (N.Trad.: O universo seguro julga as terras), e diz-nos que se admite ser o intelecto um órgão do conhecimento, embora possa ter evoluído. Mas, se o intelecto é digno de confiança, também a natureza o é. G eorge A. G ordon , The Christ of To-day, 103 - “Para H erbert S pencer , a his tória humana é apenas um incidente da história natural e suprema é a força. Para o cristianismo a natureza é tão somente o começo e o homem a sua consumação. O que é que dá a mais elevada revelação da vida da árvore: a semente, ou o fruto?” A terceira parte da teoria parece fazer Deus um objeto sensorial a reverter a apropriada ordem do conhecim ento e sentim ento, a ignorar o fato de que em todo o sentim ento há pelo m enos algum conhecim ento de um objeto e a esque cer que a validade deste m esm o sentim ento só pode ser m antida adm itindo anteriorm ente a existência de um a divindade racional. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 111 N ewman S myth diz-nos que o sentimento vem em primeiro lugar; a idéia em segundo. Não se negam as idéias intuitivas, mas declara-se que são reflexos diretos dos sentimentos no pensamento. São elas a percepção ime diata daquilo que ele sente que existe. Considera-se idealista o conhecimen to direto de Deus pela intuição; considera-se que, chegar-se a Deus por infe rência, é uma tendência racionalista. Admitimos que, mesmo no caso dos impenitentes, grande perigo, grande regozijo, grande pecado freqüentemente transformam a intuição racional de Deus em intuição perceptível aos sentidos. Contudo, não se pode afirmar que a intuição perceptível aos sentidos seja comum a todos os homens. Não for nece fundamento ou explicação de uma capacidade universal para a religião. Sem a intuição racional, não seria possível a intuição perceptível aos senti dos, visto que é só o racional que capacita o homem a receber e a interpretar o elemento perceptível aos sentidos. A própria confiança que depositamos no sentimento pressupõe uma crença intuitiva em um Deus verdadeiro e bom. Em 1869 T ennyson dizia: “Sim, é verdade que há momentos quando a carne nada é para mim; quando eu sei e sinto que a carne é a visão; Deus e o elemento espiritual são o elemento real; ele me pertence mais do que as minhas mãos e pés. Você pode dizer-me que as minhas mãos e os meus pés são apenas símbolos imaginários da minha existência; posso até crer em você; mas você nunca, nunca pode convencer-me de que o eu não é uma Realidade eterna e de que o espiritual não é a minha parte real e verdadeira”. 3. Não do raciocínio, porque: A verdadeira aparição deste conhecim ento na grande m aioria das m en tes não resulta de qualquer processo consciente de raciocínio. Por outro lado, com base na ocorrência de condições próprias, ele lam peja sobre a alm a a rapidez e força de um a revelação im ediata. b) O poder da fé do hom em na existência de D eus não é proporcional ao poder da faculdade de raciocinar. Por outro lado, o hom em de m aior poder lógico é freqüentem ente um inveterado cético, enquanto o de fé não oscilante está entre os que não podem m esm o entender os argum entos da existência de Deus. d) c) Há mais neste conhecimento que o raciocínio jamais poderia ter forne cido. O hom em não lim ita a sua crença em D eus às conclusões do argumento. Os argum entos da existência divina, valiosos para os propósitos a serem m os trados daqui para frente, não bastam por si m esm os para garantir nossa con vicção de que existe um ser infinito e absoluto. A parecerá apoiado no exame que um argum ento a priori só é capaz de provar um a proposição abstrata e ideal, m as nunca pode conduzir-nos à existência de um S er real. Parece que os argumentos aposteriori da existência m eram ente finita, nunca podem dem ons trar a existência do infinito. Nas palavras de S ir W m . Hamilton - “Uma demons tração do absoluto a partir do relativo é logicam ente absurda com o em tal 112 A ugustus H opkins Strong silogism o podem os colecionar n a conclusão o que não está distribuído nas prem issas” - em resum o, a partir das prem issas finitas não podem os tirar con clusão infinita. S ir W m . H amilton : "Saindo do particular, admitimos que não é possível, em nossas mais elevadas generalizações, transcendermos o finito”. E. G. R obinson : “A mente humana revela maior provisão do que jamais contiveram os grandes reservatórios”. Existe mais na idéia de Deus do que poderia ter esco ado de um tão pequeno funil como é o raciocínio humano. Uma simples pala vra, uma nota acidental, ou uma atitude de oração sugere a idéia a uma crian ça. H elen K eller contou a P hillips B rooks que ela sempre soubera que há um Deus, mas não o conhecia pelo nome. L add , Philosophy of Mind, 119 — “ H á uma tola suposição de que nada se pode conhecer ao certo a não ser que seja alcançado como resultado de um processo silogístico, ou que, quanto mais complicado e sutil for tal processo, mais certa é a conclusão. O conheci mento por inferência sempre depende da certeza superior do conhecimento imediato”. G eorge D uncan , in Memorial ofN oah Porter, 246 - “Toda a dedução apoia-se num prévio processo de indução, ou nas intuições de tempo e espa ço que envolvem Infinito e Absoluto”. d) N em os hom ens chegam ao conhecim ento da existência de Deus por inferência; pois a inferência é silogism o condensado e, com o form a de racio cínio, está igualm ente aberto à objeção já m encionada. Vimos, contudo, que todo processo lógico se baseia na aceitação da existência de Deus. Evidente m ente o que se pressupõe em todo raciocínio não pode ser provado pela razão. Referimo-nos, naturalmente, à inferência, mediata, porque na imediata (p.ex., “Todos os governantes são justos; logo, nenhum dos governantes injustos governa bem”) não há nenhum raciocínio e nem progresso no pensa mento. A inferência mediata é raciocínio - é silogismo condensado; e o que é muito condensado pode ampliar-se em forma lógica regular. Inferência dedu tiva: “O negro é uma criatura como eu; logo aquele que bate no negro é uma criatura como eu”. Inferência indutiva: “O primeiro dedo fica antes do segun do; logo fica antes do terceiro”. F lint , Theism, 77 e H erbert , Mod. Realism Examed, chegariam ao conhe cimento da existência de Deus pela inferência. Esta declara que Deus é indemonstrável, mas, quanto à sua existência, infere-se como a dos nossos semelhantes. Replicamos, porém, que, neste último caso, só inferimos o fini to a partir do finito, mas, no caso de Deus, infere-se o infinito a partir do finito. Contudo, este processo de raciocínio pressupõe a existência de Deus como Razão absoluta, pelo processo já demonstrado. Substancialmente, H. B. S mith, Introd. to Chr. Theol., 84-133, e D iman, Theistic Argument, 316,364, ambos cometem o mesmo erro dos que admitem um ele mento intuitivo, mas empregam-no só para suprir a insuficiência do raciocí nio. Consideram que a intuição nos fornece apenas uma idéia abstrata, que não contém em si nenhuma prova da existência de um verdadeiro ser que T e o l o g ia S is t e m á t ic a 113 corresponde à idéia e que só chegamos ao ser real pela inferência dos fatos da nossa natureza espiritual e do nosso mundo exterior. Replicamos, entre tanto, com as palavras de M c C osh , que “as intuições, em primeiro lugar, dirigem-se individualmente aos objetos”. Não conhecemos o infinito no abstrato, mas o espaço e o tempo infinitos, e o Deus infinito. S churman , Belief in God, 43 - “Sou incapaz de atribuir à nossa crença em Deus uma certeza mais elevada que aquela que possuímos através da hipó tese da ciência ... 57 - A abordagem mais próxima que a ciência faz à nossa hipótese da existência de Deus encontra-se na afirmação da universalidade da lei ... baseada na convicção da unidade e na conexão sistemática de toda a realidade ... 64 - Só se pode encontrar esta unidade no espírito autoconsciente”. O defeito deste raciocínio é que ele não nos dá nenhum elemento necessário ou absoluto. Exemplos de hipóteses são a nebulosa na astrono mia, a lei da gravitação, a teoria atômica da química, o princípio da evolução. Nenhuma destas é logicamente independente ou tem prioridade. Cada uma delas é provisória e cada uma pode ser ultrapassada por nova descoberta. Não é o caso da idéia de Deus. Todas as outras pressupõem esta idéia como condição de cada processo mental e garantia da sua validade. IV. CO N TEÚD O D E ST A IN T U IÇ Ã O 1. N este conhecim ento fundam ental de que D eus é, necessariam ente está im plicado que, em certa extensão, o hom em conhece intuitivam ente o que D eus é, a saber, a) a R azão na qual se baseiam os processos m entais; tí) um a Força superior de que o hom em depende; c) um a Perfeição que im põe a lei sobre a natureza m oral; d) um a P ersonalidade que pode ser reconhecida na oração e no louvor. Sustentar que tem os um a intuição racional de Deus de m odo nenhum impli ca que é im possível um a intuição presente de Deus. Tal intuição presente tal vez fosse característica do hom em decaído; às vezes pertence ao cristão; será um a bênção do céu (M t. 5.8 - “os lim pos de coração verão a D eus” ; Ap. 22.4 - “verão a sua face”). As experiências dos hom ens de apreenderem Deus face a face, em perigo ou senso de culpa, dão algum a razão para crer que um conhecim ento de D eus pela sua presença é condição norm al da hum anidade. M as com o esta intuição da presença de D eus não está no nosso estado univer sal atual, reivindicam os aqui som ente que todo o hom em tem um a intuição racional de Deus. C onvém lembrar, contudo, que a perda do am or a Deus obscureceu até m esm o a intuição racional, de m odo que a revelação da natureza nas Escritu ras necessita de ser despertada, confirm ada e aum entada e a obra do Espírito de Cristo no sentido de tom ar conhecida pela am izade e com unhão. Assim, a partir do conhecim ento a respeito de D eus, conhecem os Deus (Jo. 17.3 - 114 A ugustus H opkins Strong “A vida eterna é esta, que te conheçam a ti” ; 2 Tm. 1.12 - “Eu sei em quem tenho crido”). P latão dizia que a substância não pode ser nenhum cm oi5ev sem algo à oTSev. H arris , Philosophical Basis of Theism, 208 - “Através da intuição racio nai o homem sabe que o Ser absoluto existe ; seu conhecimento daquilo que é progressivo, como progressivo é o conhecimento do homem e da natureza”. H utto n , Essays : “Uma presença assom brosa assusta o homem atrás e adiante. É um mal a que ele não pode escapar. Dá novos sentidos aos seus pensamentos e novo terror aos seus pecados. Torna-se intolerável. O homem é levado a estabelecer um ídolo esculpido segundo a sua própria natureza, que tomará o seu lugar - um Deus não moral que não perturbará o seu sonho de descansar. É uma Vida e uma vontade justa, não uma simples idéia de justiça que importuna tanto os homens”. P orter , Hum. Int., 661 - “O Absoluto é um Agente pensante”. A intuição não se desenvolve na certeza; o que se desenvolve é a ansiedade por aplicá-la e o poder de expressá-la. A intuição não é complexa; complexo é o Ser intuitivamente conhecido. O conhecimento de uma pessoa torna-se conhecimento pessoal através da verdadeira comunicação ou revelação. Em primeiro lugar vem o conheci mento intuitivo de Deus, o qual todo homem possui - a suposição de que existe uma Razão, uma Força, uma Perfeição, uma Pessoalidade que torna correto o pensamento e possível a ação. Em segundo lugar, vem o conheci mento do ser de Deus e os atributos que a natureza e a Escritura fornecem. Em terceiro lugar, surge o conhecimento pessoal vindo através da experiên cia, derivado da verdadeira reconciliação e intercomunicação com Deus, atra vés de Cristo e do Espírito Santo. S tearns , Evidence of Christian Experience, 208 - “A experiência cristã verifica as reivindicações da doutrina pela experi mentação, transformando o conhecimento provável em conhecimento real”. Biedermann, citado por P fleiderer , Grundriss, 18 - “Deus se revela ao espíri to humano, 1. como uma Base infinita, na razão; 2. como uma Norma infinita, na consciência; 3. como uma Força infinita, na ascendência à verdade reli giosa, à bem-aventurança e à liberdade”. Objetarei eu a esta experiência cristã, só porque relativamente poucos a possuem e não estou entre eles? Porque eu não vi as luas de Júpiter, como duvidarei do testemunho do astrônomo quanto à sua existência? A experiên cia cristã como a visão das luas de Júpiter, não é possível a todos. C larke, Christian Theoiogy, 113 - “Quem tiver prova completa da realidade da bonda de de Deus deve submetê-la ao teste experimental. Deve tomar o bom Deus como real e receber a confirmação que se seguirá. Quando a fé atinge Deus, ela o encontra.... Aqueles que o encontram serão os mais sensatos e os mais verdadeiros do seu gênero e as suas convicções estarão entre as mais segu ras entre os homens. ... Os que vivem em comunhão com o bom Deus cres cerão em bondade, e apresentarão evidência prática da sua existência além do testemunho oral que possam dar”. 2. As Escrituras, portanto, não tentam provar a existência de Deus, mas, p or outro lado, tanto adm item com o declaram que o conhecim ento de Deus é T e o l o g ia S is t e m á t i c a U 5 universal (Rm. 1.19-21,28,32; 2.15). D eus em butiu a evidência desta verdade fundam ental na própria natureza do hom em de m odo que em parte algum a há ausência de testem unho a seu respeito. O pregador pode, com confiança, seguir o exem plo da E scritura adm itindo-a. M as deve tam bém explicitam ente declará-la com o faz a Escritura. “Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno p o d er e d iv in d ad e, são c la ra m e n te v isto s d esd e a criação do m u n d o .” (x aG o p ax ai - espiritualm ente vistos); o órgão para este propósito é a voúç (voofyieva); m as, então - eles são “percebidos m ediante as coisas criadas” ítoTç 7ravrijj.aGiv, Rm. 1.20). Sobre Rm. 1.19-21, verW E iss, Biblische Theologie des Neuen Testament, 251, nota; i/ertambém os comentários de M eyer, A lford, T holuck e W ordsworth; tò yvcootov toí3 Geou = não “o que se pode conhecer”, mas “aquilo que se conhece” de Deus; vooúp.£va KccGopâ-coci = vêem -se claramente no que é percebido pela razão - voo-úp.eva expressa o modo de KaGopâ-uca (M eyer); comp. Jo. 1.9; At. 17.27; Rm. 1.28; 2.15. Sobre 1 Co. 15.34, ver C alderwood , Philosophy of Infinite, 466 —à y v c o a ía v 6eot> Tivèç ê x o u a i = não possuais o conhecimento de Deus especialmente exaltado, que pertence aos crentes em Cristo (cf. 1 Jo. 4.7 - “qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”). Sobre Ef. 2.12, ver Pope, Theology, 1.240 - â 6 e o i èv KÓqiep opõese a estar em Cristo, e significa mais abandonado de Deus do que negá-lo ou ignorá-lo inteiramente. E. G. R obinson : “A primeira afirmação da Bíblia não é que existe um Deus, mas que ‘no princípio criou Deus os céus e a terra’ (Gn. 1.1). A crença em Deus nunca foi e nunca pode ser o resultado de argumento lógico; doutra forma a Bíblia nos apresentaria provas”. Muitos textos em que se confia como provas da existência de Deus são simplesmente explicações da idéia de Deus; p.ex., SI. 94.9,10 - “Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho não verá? Aquele que interroga as nações não as castigará? E o que dá ao homem o conhecimento não saberá?” P latão diz que Deus sustenta a alma pelas raízes dela, pelo que não precisa demonstrar à alma o fato da sua existência. M artineau , Seat of Authority, 308, diz com precisão que a Escritura e a pregação só interpretam o que já está no coração ao qual se dirige: “Lan çando um sopro quente ao interior dos oráculos ocultos na invisível tinta, ele os torna articulados e deslumbrantes como o manuscrito na parede. O divino Vidente não tem para vós a sua revelação, mas capacita-vos a receber a vossa própria. Esta relação mútua só é possível através da presença comum de Deus na consciência da humanidade”. S hedd , Dogmatic Theology, 1.195220 - “A terra e o céu causam as mesmas impressões sensíveis nos órgãos de um bruto que os causam nos deüm homem; mas o bruto nunca discerne as ‘coisas invisíveis’ de Deus ‘tanto o seu eterno poder como a sua divinda de”’ (Rm. 1.20). Nossa atividade subconsciente, até onde é normal, está sob a orientação da Razão imanente. A sensação, antes de resultar em pensamento, tem em si elementos locais fornecidos pela mente - não nossa, mas do infinito. Cristo o Revelador de Deus, revela-o na vida mental de cada homem e o Espírito 116 A ugustus H opkins Strong Santo pode ser o princípio da consciência própria no homem como também em Deus. H arris , God the Creator, diz-nos que “o homem encontra a Razão que é eterna e universal revelando-se no exercício da sua própria razão”. S avage, Vida após a Morte, 268 - “Como você sabe que a sua consciência subliminar não fere a Onisciência e apossa-se dos fatos do universo?” Contu do, S avage nega esta sugestão e, erroneamente, favorece a teoria do espírito. Ver pp. 295-329 deste livro. C. M. B arrows , Proceedings ofSoc. for Psychical Research, vol. 12, parte 30, pp. 34-36 - “Existe um agente subliminar. Que pensar se este é somente um Ator inteligente, enchendo o universo com a sua presença, como o éter faz com o espaço; o Inspirador comum de toda a humanidade, hábil músico, presidindo sobre muitas flautas e teclas e tocando através de cada um, que música se ouvirá? O eu subliminar é uma fonte universal de energia e cada homem é um canal da correnteza. Cada eu pessoal está contido nela, e assim cada homem se torna unido a cada ser humano. Nesta Força profunda, o último fato atrás do qual a análise não pode ir, todos efeitos psíquicos e físicos encontram sua origem comum”. Esta afirmativa necessita de ser qualificada pela declaração da natureza ética do homem e personalida de distinta; ver nesta obra o Monismo Ético, no cap. III. Mas há aqui uma verda-de como aquela que C oleridge procurava expressar em sua Harpa Eólia: “E o que acontece se toda a Natureza animada for apenas harpas diversa mente estruturadas, que tremem no pensamento, quando por elas passa, Plástica e vasta, uma brisa intelectual, a um só tempo a alma de cada um, e o Deus de todos?” D orner , System of Theology, 1.75 - “O conhecimento de Deus é a verda deira firmeza da nossa própria consciência. ... Visto que é só na consciência de Deus que a mais íntima personalidade do homem vem à luz, de igual modo, por meio do entrelaçamento da consciência de Deus e do mundo, este mundo é visto em Deus (sub specie eternitatis), e a certeza do mundo obtém primeiro a segurança absoluta do seu espírito”. R oyce, Spirit ofMod. Philosophy, sinopse na N. Y. Nation: “O único fato indubitável é a existência de um eu infinito, um Logos, ou uma mente terrena (345). Isto se torna claro, I. Porque o idealismo mostra que as coisas reais não são nada mais, nem nada menos que idéias, ou ‘possibilidade de experiência’; mas a mera ‘possibilidade”, como tal, nada é e o mundo das experiências ‘possíveis’, até onde ela é real, deve ser o mundo da experiência verdadeira para um certo eu (367). Se, então, há um mundo real, ele tem tudo enquanto existe como ideal e mental mesmo antes de tornar-se conhecido pela mente particular com a qual nós concebe mos entrar em conexão (368). II. Mas há um mundo real; pois, quando eu penso em um objeto, quando eu me refiro a ele, não só tenho em mente uma idéia semelhante a ele porque eu o tenho por objeto, seleciono-o, em certa medida eu já o possuo. Então, o objeto já está presente em essência no meu eu oculto (370). Como a verdade consiste no conhecimento de conformidade com uma cognição do seu objeto, que, por si pode conhecer uma verdade que inclui tanto a idéia como o objeto. Este conhecedor é o Eu Infinito (374). Em essência sou idêntico a isso (371); é o meu eu maior (372); e só este eu maior é (379). Inclui toda a realidade, e conhecemos outras mentes finitas, porque estamos unidos a elas” (409). T e o l o g ia S is t e m á t ic a É instrutiva a experiência de G eorge J ohn R omanes . Durante anos ele não pôde reconhecer nenhuma Inteligência pessoal no controle do universo. Come teu quatro equívocos: 1. Esqueceu-se de que só o amor pode ver, que Deus não se revela simplesmente ao intelecto, mas apenas ao homem como um todo; à mente integral, que a Escritura chama “os olhos do coração” (Ef. 1.18). Finalmente, a experiência da vida ensinou-lhe a fraqueza do mero raciocínio e levou-o a depender mais dos sentimentos e intuições. Então, como se poderia dizer, ele deu ao raio X do cristianismo uma oportunidade de fotogra far Deus na sua alma. 2. Começou pelo fim errôneo, mais com a matéria do que com a mente, mais com as categorias de causa e efeito do que com o certo e o errado e, deste modo, envolveu-se na ordem mecânica e tentou interpretar o reino moral através dela. Resultado: em vez de reconhecer a liberdade, a responsabilidade, o pecado, a culpa, descartou-os como preten sos. Porém o estudo da consciência e da vontade o puseram no caminho certo. Ele aprendeu a levar em conta o que ele encontrava, em vez de voltarse para alguma coisa mais e, desta forma, veio a interpretar a natureza pelo espírito em vez de interpretar o espírito pela natureza. 3. Tomou as partes pelo cosmos, em vez de considerá-lo como um todo. Seu antigo pensamento insistia em encontrar uma determinação em cada parte em separado, ou em nenhuma parte. Porém, ao chegar à maior maturidade reconheceu que seria sábio e razoável tratá-lo como um todo ordenado. Entendendo que isto é um universo, não conseguiu desembaraçar-se da idéia de uma Mente organiza dora. Passou a ver que o Universo, como um pensamento, implica a existên cia de um Pensador. 4. Fantasiou que a natureza exclui Deus, em vez de saber que ela é o único método de operação de Deus. Quando aprendeu como se fez uma determinada coisa, a princípio concluiu que Deus e nature za não são mutuamente exclusivos. Deste modo, passou a não ver dificulda de até mesmo na aceitação dos milagres e da inspiração; porque o Deus que está no homem e de cuja mente e vontade a natureza é apenas a expressão, pode revelar-se, se necessário, de formas especiais. Portanto, G eorges J ohn R omanes voltou a orar, voltou a Cristo, e voltou à igreja. 117 C a p ít u l o II EVIDÊNCIAS CORROBORATIVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS E m bora o conhecim ento da existência de D eus seja intuitivo, pode ser explicado e confirm ado por argum entos tirados do próprio universo e das idéias abstratas da m ente hum ana. Nota 1. Tais argum entos são prováveis, m as não dem onstrativos. Por esta razão eles se suplem entam um ao outro e constituem -se um a série cum ulativa de evidências em sua natureza. Em bora tom ados de um a form a isolada, nenhum deles pode ser considerado absolutam ente decisivo, juntos fornecem um a corroboração de nossa convicção prim itiva da existência de Deus, que é de gran de valor prático e em si m esm os suficientes para aglutinar a ação m oral do homem. B u t l e r , Analogy, Introd., Bohn’s ed., 72 —A evidência provável admite graus desde a mais elevada certeza moral até a mais baixa presunção. Contudo a probabilidade é o guia da vida. Em matéria de moral e religião, não vamos esperar uma evidência matemática ou demonstrativa, mas apenas a provável e a mais leve preponderância de tal evidência pode ser suficiente para cegar a nossa ação moral. A verdade da nossa religião como a verdade das maté rias comuns, deve ser julgada pela total evidência global; porque, ao acres centarem-se as supostas provas, não só aumentam a evidência, mas multiplicam-na. D o v e , Logic of Christian Faith, 24 - O valor dos argumentos, tomados englobadamente, é muito maior do que o de qualquer um isolado. Ilustração da água, do ar e do alimento juntos, não separadamente, sustentando a vida; o valor de 1000 de libras não está no papel, na estampa, na escrita, na assi natura, tomadas separadamente. Um feixe de varas não pode ser quebrado, apesar de que cada vara do feixe o pode separadamente. A resistência do feixe é a força do todo. L o r d B a c o n , Essay on Atheism: “Uma mirrada filosofia inclina a mente do homem para o ateísmo, mas o seu aprofundamento apro xima a mente humana da religião. Por algum tempo a mente do homem res peita algumas causas secundárias separadas, pode às vezes apoiar-se nelas e não ir mais adiante, porém, quando olha para o encadeamento delas confe deradas e unidas, sente-se necessidade de voar para a Providência e para Divindade”. M u r p h y , S cientific Bases of Faith, 22 1-22 3 - “A prova de um Deus T e o l o g ia S is t e m á t ic a 119 e de um mundo espiritual que nos deve satisfazer consiste em numerosas linhas de prova divergentes e convergentes”. No caso em que só se alcança a evidência circunstancial, muitas linhas da prova convergem e embora nenhuma das linhas alcance a marca, a conclusão para a qual todas apontam torna-se a única racional. Duvidar de que haja uma Londres, ou de que houve um Napoleão, seria indicar insanidade; contudo, só a evidência provável demonstra a existência de Londres e de Napoleão. Não há nenhuma eficácia coativa no argumento da existência de Deus; mas o mes mo se pode dizer de todo o raciocínio não demonstrativo. É possível outra interpretação dos fatos, mas nenhuma outra é tão satisfatória como a de que Deus é; ver F isher , Nature and Method o f Revelation, 129. P rof . R ogers : “S e nos negócios práticos fomos levados a hesitar em agir até que tivésse mos demonstrada a certeza absoluta, nunca deveríamos começar a nos mover”. Por esta razão um velho oficial indiano aconselhou um jovem juiz a “dar sem pre o seu veredicto, mas sempre evitar de apresentar os seus fundamentos. B owne , Philos. of Theism , 11-14 - “Ao invés de duvidar de cada coisa que oferece condições para tal, melhor é não duvidar de nada até que sejamos compelidos a isso. ... Na sociedade, é melhor admitirmos que os homens são verdadeiros, e só duvidarmos quando houver razão especial, do que admitir mos que todos homens são mentirosos e crermos só quando a isso formos compelidos. Por isso, em todas as nossas investigações progredimos mais se admitirmos a veracidade do universo e da nossa própria natureza do que duvidarmos de ambos. ... O primeiro método parece mais rigoroso, mas só pode ser aplicado à matemática, que é ciência puramente subjetiva. Quan do tratamos da realidade, o método aproxima o pensamento de uma pausa. ... A lei que a lógica estabelece é: Não se pode crer em nada que não seja provado. A lei que a mente na verdade segue é: O que quer que a mente demande para a satisfação de seus interesses subjetivos e tendências podese admitir como real na ausência de uma refutação positiva”. Nota 2. U m a consideração destes argum entos pode tam bém servir para explicar o conteúdo de um a intuição que reconstituiu o elem ento obscuro e apenas sem iconsciente por falta de reflexão. N a verdade, os argum entos são esforços da m ente que já tem um a convicção da existência de Deus de dar a si m esm a um relato final de sua crença. U m a exata apreciação do seu valor lógi co e de sua relação com a intuição que buscam expressar de form a silogística é essencial para qualquer adequada refutação ao raciocínio ateísta e panteísta. D iman , Theistic Argument, 363 - “Não tenho reivindicado que a existência até mesmo deste Ser se pode demonstrar como podemos fazer com as ver dades abstratas da ciência. Tenho só reivindicado que o universo, como um grande fato, demanda uma explicação racional e que a mais racional que se pode dar é a concepção fornecida de um tal Ser. A razão apoia-se nesta conclusão e recusa apoiar-se em qualquer outra”. R ückert: “Wer Gott nicht fühlt in sich und allen Lebens-kreisen, dem werdet ihr nicht ihn beweisen mit Beweisen”. H arris , Philos. Basis of Theism, 3 0 7 - “A teologia depende da 120 A ugustus H opkins Strong ciência noética (que se origina no intelecto) e empírica para dar a ocasião a que surja a idéia do Ser Absoluto e fornecer o conteúdo à idéia”. A ndrew F uller , Part ofSyst. of Divin., 4.283, questiona “se a argumentação em favor da existência de Deus não criou mais céticos do que crentes”. Até onde isto é verdade, deve-se a um exagero nos argumentos e uma exagerada noção do que se deve esperar deles. “Evidências do cristianismo?” diz C oleridge , “estou cansado dessa pala vra”. Quanto mais o cristianismo foi provado, menos se creu nele. O avivamento religioso sob W hitefield e W esley fizeram o que todos os apologistas do século dezoito não conseguiram; ele despertou as intuições do homem para a vida, e praticamente as fez reconhecer Deus. M artineau , Types, 2.231 - O homem pode “dobrar os joelhos diante do Zeitgeist (espírito do tempo), enquanto dá as costas para o consenso de todas as eras”; Seat of Authority, 312 - “Nosso raciocínio nos leva a explicitar o teísmo porque parte do teísmo implícito”. Illingworth , Div. And Hum. Personality, 81 - “As provas são tenta tivas de dar conta e explicar e justificar algo que já existe; decompor um ele vado complexo através de um juízo imediato em seus elementos constituin tes, nenhum dos quais, quando isolado, pode ter a plenitude ou ação conjunta da convicção original como um todo.” B owne , Philos. of Theism, 31,32 - A demonstração é o único paliativo para socorrer na ignorância do insight. ... Quando chegamos ao argumento em que se destina a natureza toda, o argumento parece ser fraco ou forte confor me a natureza é débil ou plenamente desenvolvida. O argumento moral em favor do teísmo não pode parecer forte a alguém que não tem consciência. O argumento a partir dos interesses cognitivos esvaziará quando não há nenhum interesse desse tipo. As pequenas almas acharão muito pouco que exige explicação ou que desperta surpresa e estarão satisfeitos com um pon to de vista correspondentemente pequeno da vida e da existência. Em tal caso não podemos esperar um acordo universal. Só podemos proclamar a fé que está em nós na esperança de que esta proclamação não possa existir sem alguma resposta em outras mentes e corações. ... Só temos prová vel evidência da conformidade da natureza ou do sentimento dos amigos. Também não podemos provar através da lógica. As mais profundas con vicções não são as certezas da lógica, mas as da vida”. Nota 3. Os argum entos da existência divina podem ser reduzidos a quatro: I) C osm ológico; II) Teleológico; III) A ntropológico; IV) Ontológico. Exam i ná-los-em os em sua ordem , procurando determ inar as precisas conclusões a que respectivam ente conduzem e, então, certificar de que m aneira os quatro podem ser com binados. I. ARGUMENTO COSMOLÓGICO N ão se trata de um argum ento do efeito para a causa; pois a proposição de que cada efeito deve ter um a causa é sim plesm ente idêntico e apenas significa T e o l o g ia S is t e m á t ic a 121 que o evento causado deve ter um a causa. Ao invés disso é um argum ento da existência com eçada para um a causa suficiente de tal com eço e pode ser pre: s im ente estabelecido da seguinte m aneira: Tudo o que com eça, quer substância, quer fenôm eno, deve sua existência a ig u m a causa produtiva. O universo, pelo m enos no que se refere à sua form a presente, é algo com eçado e deve sua existência a u m a causa que corresponde à sua produção. Tal causa deve ser indefinidam ente grande. Convém notar que este argumento move-se no reino da natureza. A partir da constituição do homem e início neste planeta ele é considerado sob um outro título (ver Argumento Antropológico). Não só a observação pessoal, mas o testemunho da geologia garante-nos que a presente forma do universo não é eterna no passado, mas teve um início. Freqüentemente L ocke , C larke e R obert H all têm reivindicado que este argumento é suficiente para conduzir a mente a uma Primeira Causa Eterna e Infinita. Por esta razão prosseguimos mencionando 1. Defeitos do Argumento Cosmológico d) É im possível m ostrar que o universo, no que tange à sua substância, teve um com eço. A lei da causalidade declara, não que cada coisa tem um a causa pois, então, o próprio Deus teria um a causa - porém , ao invés disto, que cada coisa iniciada, ou em outras palavras, que cada evento ou m udança tem um a causa. H ume , Phil. Works 2.411 sg., declara, com razão, que nós nunca vimos um mundo feito. Muitos filósofos em terras cristãs, como M artineau , Essays, 1.206 e as opiniões prevalecentes dos tempos pré-cristãos sustentam que a maté ria é eterna. B owne , Metaphysics, 107 - “Para o próprio ser, a razão reflexiva nunca exige uma causa, a menos que o ser mostre sinais de dependência. A mudança é que primeiro ocasiona a demanda de uma causa”. M artineau , Types, 1.291 - “Não é a existência como tal que exige uma causa, mas o surgimento daquilo que não existia anteriormente. A lei intelectual da causa lidade é a lei dos fenômenos não da entidade”. b) A ceitando que o universo, no que se refere aos seus fenôm enos, teve um a causa, é im possível m ostrar que se requer qualquer outra além da que existe em si m esm a, com o supõem os panteístas. F lint , Theism, 6 5 - 0 argumento cosmológico por si só prova a força; e esta sozinha não é Deus. “A inteligência deve caminhar com ela para fazer com que o Ser possa chamar-se Deus”. D iman , Theistic Argum ent “O argu mento cosmológico sozinho não pode decidir se a força que causa a mudança 122 A ugustus H opkins Strong é a mente perene auto-existente, ou a perene matéria auto-existente”. Só a inteligência fornece base para uma resposta. No universo apenas a mente nos capacita a inferir a mente do criador. Porém o argumento a partir da inte ligência não é o Cosmológico, mas o Teológico e a este pertencem todas as provas da divindade a partir da ordem e combinação na natureza. U pton , Hibbert Lectures, 201-296 - A ciência tem que ver com as mudan ças que uma porção do universo visível causa em outra porção. A filosofia e a teologia tratam da Causa Infinita que faz existir e sustenta toda a série de causas finitas. Acaso perguntamos nós a causa das estrelas? A ciência diz: A nebulosa ígnea, ou um retrocesso infinito de causas. A teologia diz: Admitese; mas este retrocesso infinito demanda, para sua explicação, a crença em Deus. Devemos tanto crer em Deus como numa infinda série de causas fini tas. Deus é a causa de todas as causas, a alma de todas as almas: “Centro e alma de cada esfera, Contudo, quão perto de cada coração que ama”! Não necessitamos somente da ciência para pensar em qualquer começo. c) A dm itindo que o universo deva ter tido um a causa exterior a si, é im pos sível m ostrar que tal causa não foi causada, i.e. consiste em um a série infinita de causas dependentes. O princípio da causalidade não requer que todas as coisas com eçadas rem ontem a um a causa não causada; dem anda que atribua m os um a causa, m as não um a causa prim eira. O m esm o o co rre com to d a a sé rie de ca u sa s. O m a te ria lis ta se se n te na o b rig a çã o de e n co n tra r u m a ca u sa p a ra esta série, tã o logo ela tem início. Porém a p ró p ria h ip ó te se de um a sé rie in fin ita de ca u sa s e xclu i a id éia de tal início. U m a ca d e ia in fin ita não tem ne n h u m elo e xtre m o ( versus R obert H all ); um a s u ce ssã o sem ca u sa e e te rn a não n e ce ssita de ca u s a ( versus C larke e L ocke ). J ulius M üller , Doctrin of Sin, 2.128, diz que o re tro ce sso até ch e g a r m os a um a c a u s a que não é em si m e sm a um e fe ito não pode sa tisfa ze r o princípio causai - aq ue le que é a causa sur, Aids to Study of German Theology, 15-17 - A in d a que o un ive rso seja ete rn o, a su a n a tu re z a c o n tin g e n te e re la tiv a re q u e r que p o stu le m o s um C ria d o r ete rn o. D iman , Theistic Argument, 86 “C o n q u a n to a lei de c a u s a não co n d u z lo g ic a m e n te à co n c lu s ã o de um a c a u sa p rim eira , c o m p e le -n o s a a firm á -la ” . R e tru ca m o s que não é a lei da causa que nos co m p e le a afirm á -la , po rq u e esta, c e rta m e n te “ não nos leva, pela lógica, à c o n c lu s ã o ” . S e in fe rim o s um a ca u s a não ca u sa d a , fa ze m o -lo , não p o r p ro ce sso lógico, m as em v irtu d e da c re n ç a in tu itiva que há em nós. A ssim p e nsa m S ecrétan e W hewell , em Indications of a Creator, e em Hist. ofScientific Ideas, 2.321,322 - “A m e n te se re fu g ia na s u p o s iç ã o de um a C a u sa Pri m e ira a p a rtir de um e m p re g o in c o n s is te n te co m a s u a p ró p ria n a tu re za ” ; in fe rim o s n e ce ssa ria m e n te um a C a u sa P rim e ira e m b o ra as ciê ncia s paleonto ló g ic a s ap en as ap o n ta m -n a , m as não nos co n d u ze m a e la ” . d) A dm itindo que a causa do universo não foi em si m esm a causada, é im possível m ostrar que esta causa não seja finita, com o o próprio universo. O princípio causai requer um a causa não m aior que a suficiente para o efeito. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 123 P or isso, não p o d e m o s in fe rir um a ca u sa in fin ita a não s e r que o un ive rso se ja in fin ito e isto im p lica em a d m itir um in fin ito p a ra p ro v a r um infinito. Porém ne nh um nú m e ro p o d e se r in fin ito p o rq u e q u a lq u e r núm ero, em b o ra grande, pode re ce b e r o a cré scim o de um a unid ade , o que m o stra que a n te rio rm e n te não e ra infinito. M e sm o aqui nós v e m o s que as fo rm a s m ais a ce ita s do A rg u m ento C o sm o ló g ico são o b rig a d a s a a v a lia r-s e so b re a in tu içã o do infinito a fim de s u p le m e n ta r o p ro ce sso ló gico . Versus M artineau , Study, 1.4 18 “ E m bo ra não p o ssa m o s in fe rir d ire ta m e n te a in fin itu d e de D eus a p a rtir de um a cria çã o lim itada , in d ire ta m e n te p o d e m o s e x c lu ir q u a lq u e r o u tra posição reco rren do à ilim ita d a ce n a da e x is tê n c ia (e s p a ç o )” . Isto, porém , g a ra n tiria ig u a lm e n te a no ssa c re n ç a na in fin itu d e dos no sso s s e m e lh a n te s. O u se trata do a rg u m e n to de C larke e G illespie ( ver a b a ixo o A rg u m e n to O n tológico). S chiller , Die Gròsse Welt, p a re ce d e fe n d e r a e x is tê n c ia do un ive rso ilim itado. Ele mostra um espírito causado, buscando o limite da criação. Um segundo peregrino encara-o a partir dos espaços além, com as seguintes palavras: Steh! du segelst umsohnst, - vor dir Unendichkeit” - “Eia! em vão tu vagueias; diante de ti, só o infinito”. 2. O valor do Argumento Cosmológico, é, pois, tão som ente este; prova a existência de um a causa do universo indefinidam ente grande. Q uando vamos além disto e inquirim os se esta é um a causa do ser, ou sim plesm ente um a causa da m udança do universo; se é um a causa independente do universo ou é um a com ele; se é um a causa eterna ou um a causa dependente de outra; se é inteligente ou não, infinita ou finita, una ou m últipla, este argum ento não nos pode garantir. II. ARGUMENTO TELEOLÓGICO Este não é um argum ento do desígnio para o designador; pois que o desíg nio im plica um designador é um a proposição idêntica. Pode-se estabelecer mais corretam ente o seguinte: A ordem e a colocação útil, perm eando um sistem a im plicam respectivam ente inteligência e propósito com o a causa de tal ordem e colocação. Porque a ordem e a colocação útil perm eiam o universo deve existir um a inteligência adequada à produção dessa ordem e um a vonta de adequada a dirigir a colocação para fins úteis. Etimologicamente, “argumento teleológico” = argumento destinado aos fins, ou causas finais, isto é, “causas que, começando com um pensamento, elaboram-se em um fato como um fim, ou um resultado (P orter , Human Intelect, 592-618); a saúde, p.ex., é a causa fina! do exercício, enquanto este é a causa daquela. Esta definição do argumento se ampliaria o bastante para abranger a prova de uma inteligência oriunda da constituição do homem. Este, contudo, é tratado como parte do Argumento Antropológico, que ihe sucede, A ugustus H opkins Strong 124 e o Argumento Teleológico abrange apenas a prova de uma inteligência determinante provinda da natureza. Por isso, Kant, Crítica da Razão Pura, chama-o de argumento físico-teológico. H icks, Critique of Design-Arguments, 347-389, apresenta dois argumen tos em vez de um: 1) o da ordem para a inteligência ao qual ele chama de Eutaxiológico; 2) o argumento da adaptação para o propósito a que ele res tringe o nome Teleológico. Ele sustenta que a verdadeira teleologia não pode provar a inteligência porque, quando fala nos “fins”, afinal de contas, deve admitir a própria inteligência que ele procura provar; já se estabeleceu ante riormente que ela apenas prova o exercício intencional de uma inteligência. “As circunstâncias, forças, ou agentes que convergem para um resultado racional definido implicam volição - implicam que se pretende este resultado - a volição e o fim. Esta é a premissa maior da nova teleologia”. Ele faz obje ção à expressão “causa final”. Na verdade, o fim não é a causa - é um motivo. O elemento caraterístico da causa é o poder de produzir um efeito. Os fins não têm tal poder. A vontade pode escolhê-los, ou rejeitá-los. Admitida a inte ligência, os fins não podem prová-la. Concordamos com isto no ponto principal e consideramos um valioso auxílio para o estabelecimento e compreensão do argumento. Na própria observação da ordem, contudo, assim como no argumento a partir dela somos obrigados a admitir a mesma inteligência que estabelece a disposição total. Em vista disso, não vemos nenhuma objeção em fazer da Eutaxiologia a primeira parte do Argumento Teleológico como fizemos acima. 1. Mais explicações a) A prem issa m aior expressa um a convicção prim itiva. Isto não é invali dado pelas objeções: a) de que a ordem e a colocação útil podem existir sem propósito - pois a nossa própria constituição m ental nos com pele a negar isto em todos os casos onde a ordem e a colocação perm eiam um sistem a; b) de que a ordem e a colocação útil podem resultar da sim ples operação de forças e leis físicas - pois estas m esm as forças e leis im plicam , ao invés de excluir, um a inteligência e vontade originadoras e superintendentes. J anet , Final Causes, 8, nega que a finalidade seja uma convicção primiti va como a causalidade e chama-a resultado de uma indução. Por isso ele prossegue a partir 1) das marcas da ordem e colocação útil 2) para a finalida de na natureza e, a seguir, 3) para uma causa inteligente da referida finalida de, ou pré-conformidade com o evento futuro”. Do mesmo modo também, D iman , Theistic Argument, 105, reivindica simplesmente que, como a mudan ça requer uma causa, assim a mudança ordenada requer uma causa inteli gente. Contudo, já mostramos que a indução e o argumento de cada gênero pressupõem uma crença intuitiva na causa final. A natureza não a dá; mas ela também não nos dá a causa eficiente. A mente nos dá ambas e as dá de forma tão clara baseada na experiência como depois de um milheiro. L add : “As coisas têm uma mente em si: também nós não podemos lembrá-las”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a O D uque de A rgyll disse a D arwin que lhe parecia totalmente impossível atri buir os ajustes da natureza a qualquer outro agente que não seja a mente. “Bem”, disse D arwin , “esta impressão freqüentemente tem-me assediado com uma força intensa. Mas, então, outras vezes, ela me parece tudo e a seguir ele passou as mãos sobre os olhos, como que indicando uma visão alheia à vista. O Darwinismo não é uma refutação dos fins da natureza, mas apenas uma teoria particular relativa ao meio em que os fins se realizam no mundo orgânico. Darwin começaria com um germe infinitesimal e faria todo o subse qüente desenvolvimento não teológico. a) M omerie , Christianity and Evolution, 72 - “Só dentro dos estreitos limi tes é que se produzem, casualmente, os arranjos aparentemente propositais. E, por isso, à medida que os sinais do propósito se desenvolvem, a suposição da sua origem acidental diminui”. E lder , Ideas from Nature, 81,82 - “A uni formidade dos m árm ores de um menino m ostra que eles são produ to do desígnio. Quando se trata de um único pode ser acidental, mas uma dúzia não. Do mesmo modo a uniformidade atômica indica a manufatura”. D r . C arpenter : “O ateísta é como um homem que examina o mecanismo de um grande moinho e, achando que todo ele é movido por um eixo que se origina de uma parede de tijolos, infere que o eixo é a explicação suficiente para o que ele vê e que não há nenhuma força motora atrás de si”. L ord K elvin : “A idéia ateísta não é disparatada”. J. G. P aton , Life, 2.191 - “A perfu ração de um poço na ilha de Aniwa convence o chefe canibal Namakei de que Yahweh Deus, o Invisível, existe. b) B ow ne , Review of Herbert Spencer, 23 1-24 7 - “A lei não é uma causa ; é um método. O homem não pode apresentar o próprio fato a ser explicado como razão suficiente”. M artineau , Essays, 1.14 4 - “Damasco padronizado, não feito pelo tecelão, mas pelo tear”? Dr. Stevenson: “A casa não requer nenhum arquiteto porque é construída por especialistas em pedras e por car pinteiros”? J oseph C ook : “A lei natural sem Deus não é mais do que uma luva sem mão e tudo que se faz com a mão de Deus calçada na natureza, não é a luva que faz, mas a mão. A evolução não é uma força; é um processo; não é uma operatória, mas um método de operação. Um livro não é escrito pelas leis de soletração e da gramática mas de acordo com tais leis. Do mesmo modo, as leis do calor, da eletricidade, da gravitação, da evolução não escre vem o livro do universo, mas este é escrito de conformidade com tais leis”. G. F. W right , Ant. and Orig. of Hum. Race, lecture IX - “A evolução não pode fornecer evidência que afaste da natureza o desígnio. Ela pode retrocedê-lo a um ponto mais remoto da entrada, aumentando a nossa admiração na força do Criador no cumprimento dos desígnios ulteriores por processos dife rentes”. A evolução é o método de Deus. Ela se refere ao como, não ao por quê, dos fenômenos e, por isso, não é inconsistente com o desígnio, porém é a sua nova e mais elevada ilustração. H enry W ard B eecher : “ N o atacado, o desígnio é maior do que no varejo”. F rancês P ower C obbe : “É singular o fato de que, sempre que achamos como se faz uma coisa, nossa primeira conclu são parece indicar que não foi Deus quem a fez”. Porque iríamos dizer: “Quanto maior é a lei menor é Deus”? O teísta faz referência aos fenômenos como uma causa que se conhece por si mesma e sabe-se o que ela está fazendo; 125 126 A ugustus H opkins Strong o ateísta faz referência a eles como uma força de que nada se conhece e não se sabe o que ela está fazendo ( B o w n e ). G e o r g e J o h n R o m a n e s dizia que, se Deus fosse imanente, todas as causas naturais deveriam parecer mecânicas e não há argumento nenhum contra a origem divina que prove que se devem a causa natural: “As causas na natureza não tornam óbvia a necessidade de uma causa nela”. S h a l e r , Interpretation o f Nature, 47 - A evolução mostra que a direção dos negócios está sob o controle de algo como a nossa inte ligência: “A evolução soletra o propósito”. C l a r k e , Christ. Theology, 105 “A moderna doutrina da evolução tem despertado a existência de inúmeros fins dentro do universo, mas não o grande fim em favor do próprio universo”. H u x l e y , Criquitiques and Addresses, 274,275,307 - “Os pontos de vista teleológico e mecânico do universo não são mutuamente excludentes”. S ir W illia m H a m il t o n , Metaphysics: “A inteligência se põe em primeiro lugar na ordem da existência. As causas finais precedem as causas eficientes”. b) A prem issa m enor expressa um princípio operante de toda a ciência, a saber, que todas as coisas têm o seu uso, que a ordem perm eia o universo e que os m étodos da natureza são racionais. E vidências disto aparecem na correla ção dos elem entos quím icos uns com os outros; na adequação do m undo ina nim ado que é a base e suporte da vida; nas form as típicas e na unidade do plano que aparece na criação orgânica; na existência e cooperação das leis naturais; na ordem cósm ica e com pensações. E sta prem issa m enor não é invalidada pelas seguintes objeções: d) Que freqüentem ente entendem os m al o fim na verdade subm etido pelos eventos naturais e objetos; pois o princípio não é que conhecem os necessariam ente o verdadeiro fim, m as que necessariam ente crem os que há um certo fim em cada caso da ordem e colocação sistem áticas, b) Que a ordem do universo é m anifestam ente im perfeita; pois, se isto fosse aceito, argum entaríam os, não a ausência da invenção, um certo tipo de razão da im perfeição, ou nas lim ita ções da própria inteligência inventora, ou na natureza do fim que se procura (com o, por exem plo, a correspondência com o estado m oral e provação dos pecadores). As evidências de ordem e colocação útil encontram-se tanto na indefini damente pequena como na indefinidamente grande. As moléculas são arti gos manufaturados; e as compensações do sistema solar que guarnecem aquele achatamento da órbita terrestre resultarão num arredondamento des sa mesma órbita, como mostra uma inteligência bem mais transcendente que a nossa; i/e r C o o K E , Religion and Chemistry, and Credentials of Sciense, 23 “O belo é a harmonia das relações que a perfeita adequação produz; a lei é o princípio prevalecente que sustenta essa harmonia. Por isso, tanto o belo como a lei implicam desígnio. A partir da energia, da adequação do belo, da ordem, do sacrifício, demonstramos o poder, a habilidade, a perfeição, a lei, e o amor numa Inteligência Suprema. O cristianismo implica desígnio e é a T e o l o g ia S is t e m á t ic a complementação do seu argumento”. P f le id e r e r , Philos. Religion, 1 .1 6 8 - “Uma boa definição do belo é a intencionalidade imanente, o cenário teieoiógico da realidade ideal, o brilho da Idéia através dos fenômenos”. B o w n e , Philos. o f Theism, 85 - “O desígnio nunca é casual. Ele é apenas ideal e a sua realização demanda uma causa eficiente. S e o gelo não deve afundar existe alguma estrutura molecular que faça o seu volume maior que o de um peso igual ao da água”. J a c k s o n , Theodore Parker, 355 - “Os órgãos rudimentares são como as letras mudas em muitas palavras: ambos teste munham uma história passada; e há uma inteligência na sua preservação”. Diman, Theistic Argument: “Observamos não somente a mudança no mundo, que é a base do Argumento Cosmológico, mas percebemos que tal mudança age de acordo com uma regra fixa e invariável; na natureza inorgânica, na ordem geral, ou na regularidade ; na ordem orgânica, especial ou na adapta ção". B o w n e , Review of H. Spencer, 113-115, 224-230: “A ciência indutiva se apoia no postulado de que o racional e o natural são um”. K a n t : “O anatomista deve admitir que nada no homem existe em vão”. a) É fruto do desígnio que os rios sempre cortam grandes cidades? que as cidades são sempre fundadas em centros de jogatina? As plantas são fei tas em benefício do homem e o homem em benefício dos vermes? V o l t a ir e : “Os narizes são feitos para os óculos - vamos usá-los”! Pope: “Enquanto o homem exclama ‘tudo existe para o meu uso’, retruca o venturoso néscio: ‘em meu benefício’”. Não se colhem as cerejas no frio do inverno quando não têm bom sabor e as uvas no calor do verão quando o vinho novo se transforma em vinagre? A natureza divide os melões em seções por conveniência ao serem saboreados pela família? A corticeira é feita para arrolhar as garrafas? A criança a quem se perguntou por que existe sal no oceano, respondeu que isto se deve à existência do bacalhau, confundindo a causa final com a causa eficiente. O professor pergunta: “Que são marsupiais”? O aluno responde: “São animais que têm bolsas”. “Para quê?”, pergunta o professor. Resposta do aluno: “Para esconder-se dentro dela quando perseguidos”. Por que os dias são mais longos no verão do que no inverno? Porque esta é a pro priedade de todos objetos naturais: alongarem-se sob a influência do calor. Um professor da cidade de Hiena ensinava que os médicos não existem por causa da doença, mas as doenças é que existem para que possa haver médi cos. K e p l e r era um quixotesco astrônomo. Discutia as reivindicações de onze diferentes donzelas de se tornarem a sua segunda esposa e comparava os planetas a animais correndo pelo céu. Muitas das objeções ao desígnio sur gem da confusão de uma parte da criação com o todo ou uma estrutura no processo de desenvolvimento com uma estrutura completa. b) A lp h o n s e d e C a s t il e ofendeu-se com o sistema ptolomaico e insinuou que, se ele tivesse sido consultado na criação, teria sugerido progressos mais valiosos. L a n g e , em sua History o f Materialism, ilustra alguns dos métodos da natureza com milhões de barris de armas atirando em todas direções para matar apenas uma lebre; comprando dez mil chaves ao acaso para entrar num compartimento fechado; edificando uma cidade para obter uma casa. Não é um exagero o gelo que cobre os pólos? O ataque à natureza de J o h n S t u a r t M il l em sua obra póstuma, Essays on Religion, 29 - “ A natureza fere o homem, quebra-o como se sobre uma roda o lançasse para ser devorado 127 128 Augustus H opkins Strong pelos animais selvagens, esmaga-o com pedras como o primeiro mártir cris tão, mata-o de fome, congela-o com o frio, envenena-o com a rápida ou lenta peçonha das suas exalações e centenas de outras terríveis mortes, tais como a engenhosa crueldade jamais ultrapassada por N á b is ou por D o m ic ia n o ” . A doutrina da evolução responde muitas destas objeções, mostrando que a ordem e a colocação útil no sistema como um todo é necessária e adquirida ao baixo preço pela imperfeição e sofrimento nos estágios iniciais de desenvol vimento. Impõe-se a pergunta: O sistema como um todo implica um desígnio? Minha opinião é que não há nenhum valor quanto a utilidade de uma compli cada máquina para cujo propósito eu ignoro. S e eu me posto no começo de uma estrada e não sei aonde ela me conduz, presumo que ela assinale um destino mais direto. B o w n e , Philos. o f Theism, 20-22 - “Para contrabalançar as impressões que a aparente desordem e a imoralidade operam em nós, temos de admitir que o universo, em sua raiz, não é apenas racional e bom. Isto é fé, mas um ato do qual depende toda a vida moral”. Metaphysics, 165 “O mesmo argumento que nega a mente na natureza nega a mente no homem”. F is h e r , Nat. And Meth. of Re v., 2 6 4 - “Há cinqüenta anos, quando o guindaste tocou o topo da torre da Catedral de Colônia, ainda por terminar, não havia evidência nenhuma do desígnio da estrutura toda”? Embora aceitemos que, enquanto não podemos com J o h n S t u a r t M il l explicar as imperfeições do universo por quaisquer limitações da Inteligência que a planejou, não nos dispomos a considerá-las como se pretendessem corresponder ao estado moral e provação dos pecadores que Deus previu e proveu para a criação. 2. Defeitos do Argumento Teleológico Estes se ligam não às prem issas, m as à conclusão que se busca tirar delas. d) O argum ento não pode provar um Deus pessoal. A ordem e colocações úteis do universo só podem ser os m utantes fenôm enos de um a inteligência e vontade pessoais, com o supõe o panteísm o. A finalidade só pode ser a imanente. Existe uma coisa que se chama finalidade imanente e inconsciente. O espí rito nacional, sem o propósito estabelecido, constrói a língua. A abelha traba lha inconscientemente para os seus fins. Estráton de Lâmpsaco considerava o mundo como um grande animal. Neander: “A obra divina parte de dentro para fora”. J o h n F is k e : “O argumento do relógio tem sido superado pelo da flor”. I v e r a c h , Theism, 91 - “O efeito da evolução tem sido somente o de trans ferir a causa da mera influência externa operando de fora para um princípio racional imanente”. M a r t in e a u , Study, 1.349,350 - “De modo nenhum o teísmo comprometeu a doutrina de um Deus exterior ao mundo ... nem a inteli gência requer, para alcançar seu objetivo, que se exteriorize”. N e w m a n S m y t h , Place o f Death, 62-80 - “O universo existe em alguma Inteligência toda permeável. Suponha que você possa ver um pequeno mon te de tijolos, fragmentos de metal, e pedaços de argamassa, formando-se gradualmente nas paredes e estrutura interna do edifício, acrescentando-se T e o l o g ia S is t e m á t ic a 129 o material necessário à medida que a obra avança e, por fim, apresentando em seu acabamento uma fábrica mobiliada com máquinas variadas e bem trabalhadas. Ou uma locomotiva contendo um processo de auto-reparo para compensar o desgaste, aumentando o seu tamanho, soltando de si, com rela tiva freqüência, pedaços de latão ou de ferro dotados de capacidade de desenvolver-se passo a passo em outras locomotivas capazes de correr e reproduzir-se, por sua vez, em novas locomotivas”. Do mesmo modo, a natu reza, em suas partes separadas, pode parecer mecânica, mas no seu todo ela é racional. Weismann não “nega a força diretiva”; tal força é “a retaguarda do mecanismo como sua causa final ... que deve ser teleológica”. Por serem impressionantes estas evidências da inteligência no universo como um todo e em número aumentado à luz da evolução, devemos ainda sustentar que a natureza por si só não pode provar que esta inteligência é pessoal. Hopkins, Miscellanies, 18-36 - “Até onde existe essa inteligência impessoal e adaptável na criação irracional, não podemos necessariamente inferir a partir de leis imutáveis um Deus livre e impessoal”. Ver F is h e r , Supernatural Origin of Christianity, 5 7 6-5 78. K a n t mostra que o argumento não pro va a inteligência independentemente da palavra ( Critique , 370). Devemos tra zer a mente ao mundo, se quisermos achá-la nele. Deixe o homem ausente e a natureza não poderá ser apropriadamente interpretada: a inteligência e a vontade na natureza podem ainda estar inconscientes. Porém, no caso do homem, somos obrigados a ter a idéia da inteligência e da vontade na nature za a partir do mais elevado tipo de inteligência que conhecemos, isto é, a dele. “Nullus in microcosmo spiritus, nullus in macrocosmo Deus” “Recebe mos apenas o que damos e, na nossa vida, só vive a Natureza”. Por isso, o Argumento Teleológico necessita de ser suplementado pelo Antropológico, isto é, da constituição mental e moral do homem. Por si só, ele não prova a existência de um Criador. Porque a justiça pertence só à pessoalidade, este argumento não pode provar a justiça de Deus. F l in t , Theism, 6 6 - “A força e a inteligência, por si só, não se constituem Deus, embora sejam infinitas. Um ser pode possuí-las e, se não houver justiça, pode tratar-se de um diabo”. Vemos aqui novamente a necessidade da sua suplementação pelo Argumento Antropológico. b) M esm o que este argum ento pudesse provar a pessoalidade na inteligên cia e na vontade que originou a ordem do universo, não poderia provar ou a unidade, ou a eternidade, ou a infinitude de D eus; a unidade - pois as coloca ções úteis do universo poderiam ser o resultado da unicidade do conselho, ao invés de a unicidade da essência, na inteligência inventiva; a eternidade - pois um dem iurgo criado talvez pudesse ter designado o universo; nem a infinitude - porque todas as m arcas da ordem e colocação dentro da nossa observação sim plesm ente são finitas. D iman , Theistic Argument, 114 a firm a que to d o s os fe n ô m e n o s do universo se de vem à m esm a fo n te - visto que tod os, de igual m odo, estã o su je ito s ao m esm o m étod o de seq üê ncia , p.ex. gra vitaçã o - e que a e vidê ncia nos aponta 130 A ugustus H opkins Strong irresistivelmente para alguma causa explicativa. Podemos considerar esta afirmação somente como um pronunciamento de uma crença primitiva numa causa primeira, não como a conclusão de uma demonstração lógica por que conhecemos uma parte infinitesimal do universo. Do ponto de vista de uma Razão Absoluta, contudo, podemos cordialmente assentir com as pala vras de F. P. P a t t o n : “Quando consideramos a ‘correnteza da tendência’, o ‘incognoscível de S p e n c e r ’ , o ‘mundo da vontade’ de S c h o p e n h a u e r e a ela borada defesa da finalidade como o produto da inteligência inconsciente de H a r t m a n n , podemos perguntar se os teístas com a sua crença em um Deus pessoal não estão de posse da única hipótese que pode salvar a linguagem destes escritores da acusação de ausência de sentido e de delírio idiota” (Journ. Christ. Philos, abr. 1883,283-307). O mundo antigo, que tinha apenas a luz da natureza, cria em muitos deu ses. W illia m J a m e s , Will to Believe, 44 - “S e houver um divino Espírito do universo, a natureza, tal como a conhecemos, possivelmente não é a última palavra para o homem. Ou não há um espírito revelado na natureza, ou ele se revela inadequadamente nela; e (como tem admitido as mais elevadas religi ões) o que chamamos de natureza visível, ou este mundo, deve ser apenas um véu e uma aparência superficial cujo significado pleno reside num ele mento suplementar invisível, um outro mundo”. B o w n e , Theory of Thougth and Knowledge, 234 - “Mas a inteligência não é em si mesma um mistério dos mistérios? ... Sem dúvida, o intelecto é um grande mistério. ... Porém há uma escolha neles. Alguns mistérios deixam outras coisas claras, e alguns deixam as deixam tão obscuras e impenetráveis como sempre. Naquele caso encontra-se o mistério da inteligência. Isto torna possível a compreensão de todas as coisas exceto ela mesma”. 3. O valor do Argumento Teleológico é sim plesm ente este: prova a partir de suas colocações úteis e exem plos de ordem que claram ente tivem os um com eço, ou, em outras palavras, a partir da harm onia do universo, que existe um a inteligência e um a vontade adequadas ao seu plano. M as este argumento não pode garantir-nos se esta inteligência e esta vontade são pessoais ou im pessoais, se o criador ou m oldador é um ou são m uitos, se é finito ou infini to, se eterno ou deve seu ser a outro, se necessário ou livre. C ontudo, nisto dam os um passo a frente. O poder causativo que provamos através do A rgum ento C osm ológico transform ou-se num a força inteligente e voluntária. J o h n S t u a r t M il l , Three Essays on Theism, 16 8-17 0 - “No presente esta do do nosso conhecimento, as adaptações da natureza fornecem um grande balanço da probabilidade em favor da causa através da inteligência”. L a d d sustenta que, sempre que um ser age sobre o seu semelhante, cada um sofre mudanças de estado que pertencem à sua própria natureza sob certas cir cunstâncias. A ação de um corpo sobre o outro nunca consiste em transferir o estado de um para o outro. Por isso não há mais dificuldade nos seres que T e o l o g ia S is t e m á t ic a 131 são díspares agirem sobre um outro do que em seres semelhantes. Não trans ferimos idéias para outras mentes, - apenas despertamo-las para que desen volvam as suas próprias. Do mesmo modo a força não é positivamente transferível. B o w n e , Philos. of Theism, 49, começa com “a concepção das coisas que interagem segundo a lei e formam um sistema inteligível. Não se pode construir tal sistema através do pensamento sem que se suponha que um ser unitário é a realidade fundamental do sistema. 53 - Nenhuma passagem de influências ou forças terá valor para cobrir a lacuna, quando as coisas são consideradas independentes. 5 6 - 0 próprio sistema não pode explicar esta interação porque o sistema é formado apenas dos seus membros. Neles deve haver algum ser que é a realidade deles e de que em certo sentido são fases e manifestações. A saber, há um monismo fundamental”. Substancialmente este é o ponto de vista de L o t z e . F a l c k e n b e r g , Geschichte der neueren Philosophie, 454, mostra como o ponto de vista de L o t z e de que a sua suposição da unidade monística e continuidade não explicam como a mudança de con dição, como a equiparação e compensação seguem a mudança de estado de qualquer coisa. L o t z e explica esta realidade através da concepção ética de uma Pessoa de total extensão. m . ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO Este é um argum ento da condição m oral e m ental do hom em para com a existência de um Autor, L egislador e um Fim . As vezes é cham ado de Argu mento M oral. O título comum “Argumento Moral” é demasiadamente limitado, porque parece levar em conta apenas a consciência do homem, enquanto o argu mento que este título tão imperfeitamente designa, na verdade, procede da natureza intelectual do homem do mesmo modo que a moral. Ao escolher a designação que adotamos, desejamos, contudo, resgatar do simples termo médico “Antropologia” - um termo a que ele atribuiu uma significação muito limitada e que, ao empregá-lo, implica que o homem é somente um animal, para o qual a Antropologia é apenas o estudo de Ia bête humaine. A Antropo logia não é somente a ciência da natureza física do homem, sua origem, e relacionamentos, mas também a que trata do seu mais elevado ser espiritual. Por isso, em Teologia, o termo Antropologia designa a divisão da matéria que trata da natureza espiritual e seus dotes, seu estado original e subseqüente apostasia. Por isso, como argumento a partir da natureza mental e moral do homem, podemos, com perfeita propriedade, chamar o presente argumento de Antropológico. É um argum ento com plexo e pode dividir-se em três partes. 1. A natureza intelectual e moral do hom em deve ter tido como seu autor um Ser intelectual e moral. Os elem entos da prova são os seguintes: a) O homem, com o ser intelectual e m oral, teve um com eço no planeta, b) As forças m ate 132 A ugustus H opkins Strong riais e inconscientes não fornecem causa suficiente para a consciência, razão e vontade livre do hom em , c) O hom em , com o um efeito, pode referir-se a um a causa possuidora de natureza autoconsciente e moral, em outras pala vras, pessoalidade. Este argumento é parte de uma aplicação dos princípios tanto do Argu mento Cosmológico como do Teleológico ao homem. F l in t , Theism, 74 - “Embo ra a causalidade não envolva o desígnio, nem o desígnio a bondade, contudo este envolve a causalidade, e a bondade envolve tanto a causalidade como o desígnio”. J a c o b i : “A natureza oculta Deus; o homem o revela”. O homem é um efeito. A História das eras geológicas prova que o homem nem sempre existiu e, mesmo que as criaturas inferiores fossem seus progenitores, seu intelecto e liberdade não são eternos a parte ante. Consideramos o homem não como um ser físico, mas espiritual. T h o m p s o n , Christian Theism, 75 - “Toda a verdadeira causa deve ser suficiente para explicar o efeito”. L o c k e , Essays, book 4, cap. 10 - “A inteligência que cogita não pode ser produzida a partir da que não o faz”. Ainda que o homem tivesse sempre existido, não precisaríamos abando nar o argumento. Deveríamos partir, não do começo da existência, mas do começo dos fenômenos. Eu poderia ver Deus no mundo, do mesmo modo que vejo o pensamento, a vontade, no meu companheiro. F u l l e r t o n , Plain Argument for God: Eu não infiro a respeito de você, como a causa da existên cia do seu corpo: Reconheço que você está presente e operante através do seu corpo. As mudanças que ele apresenta no gesto e na fala revelam uma pessoalidade através deles. Deste modo não preciso argumentar sobre um Ser que outrora causou a natureza e a história; reconheço um Ser presente, exercendo sabedoria e poder, através de sinais tais que revelam pessoalida de no homem. A natureza é por si mesma o Relojoeiro manifestando-se no próprio processo da feitura do relógio. Este é o sentido do nobre Epílogo à Dramatis Personae de R o b e r t B r o w n in g , 252 - “Aquele rosto, longe de des vanecer-se, desenvolve-se, Ou decompõe-se, mas recompõe-se, Torna-se o meu universo que sente e conhece”. “Esse é o Rosto de Cristo; é assim que eu o sinto”. A natureza é expressão da mente e da vontade de Cristo, do mesmo modo que o meu rosto o é da minha mente e da minha vonta de. Porém em ambos os casos, formando a retaguarda e cobrindo o rosto, acha-se uma pessoalidade da qual este é apenas a expressão parcial e tem porária. B o w n e , Philos. Theism, 1 0 4 ,1 0 7 - “Os meus companheiros agem como se tivessem pensamento, sentimento e vontade. Assim a natureza olha como se o pensamento, o sentimento e a vontade servissem de sua retaguarda. S e negarmos a mente na natureza, devemos negá-la no homem. Contudo, se não existir uma mente controladora na natureza, também não pode existir no homem porque, se o poder básico é cego e necessário, então tudo depende também do que é necessitado”. L e C o n t e , em Royce’s Conception o f God, 44 - “Só existe um lugar no mundo onde podemos adquirir os fenômenos físicos, sob o véu da matéria, a saber, o nosso cérebro e nele encontramos o eu, a pessoa. Não será razoável que, se pudermos adquiri-lo sob o véu da natureza, T e o l o g ia S is t e m á t ic a 133 do mesmo modo achemos uma Pessoa? Porém a admitir-se isto, podemos deduzir uma Pessoa infinita e, portanto, a única Pessoalidade completa que existe. A pessoalidade perfeita não é apenas a consciência própria, mas a existência própria. Elas são apenas imagens imperfeitas, como se fossem fragmentos separados da Pessoalidade infinita de Deus”. Personalidade = consciência própria + determinação própria com vista a fins morais. O bruto tem inteligência e vontade, mas nem tem percepção pró pria, nem consciência, nem vontade livre. D im a n , Theistic Argument, 91,251 “Suponha que ‘as intuições da faculdade moral sejam resultados da expe riência recebida da raça lentamente organizados’; ainda, tendo achado que o universo oferece evidência de uma causa supremamente inteligente, pode mos crer que a natureza moral do homem oferece a mais elevada ilustração do seu modo de operar”; 358 - “Explicaremos as formas inferiores da vontade pelas mais elevadas, ou as mais elevadas pelas inferiores”? 2. A natureza m oral do hom em prova a existência de um Legislador e juiz santo. Os elem entos da prova são: d) A consciência reconhece a existência de um a lei m oral que tem autoridade suprem a, b) Os sentim entos de abandono do mal e tem ores do julgam ento são conseqüências das conhecidas violações desta lei moral, c) Porque esta lei m oral não é auto-im posta e porque as am eaças de julgam ento não são auto-executadas defendem respectivam ente a existência de um a vontade santa que im pôs a lei e do poder punitivo que executará as am eaças da natureza moral. Ver, do B is p o B u t l e r , Sermons on Human Nature , in Works, Bohn’s ed, 385-414. A grande descoberta de Butler é a da consciência na constituição moral do homem: “Se ela tivesse a mesma força que a justiça, se tivesse o mesmo poder com que manifesta a autoridade, governaria o mundo de um modo absoluto”. Consciência = justiça moral da alma - sem lei, sem policia mento, mas com juiz; ver abaixo Antrologia. D im a n , Theistic Argument, 251 “A consciência não depõe uma lei; adverte-nos da sua existência; e não só da lei, mas do propósito - não nosso, mas dos outros, missão a ser realizada”. Ver M u r p h y , Scientific Bases of Faith, 218, seg. Isto prova a pessoalidade do Legislador porque os seus pronunciamentos não são abstratos, como os da razão, mas encontram-se na natureza do mandamento; eles não estão no modo indicativo, mas no imperativo; o mandamento diz: “farás”, ou “não farás”. Isto convence a vontade. H u t t o n , Essays, 1.11 - “A consciência é um Moisés ideal, e os trovões de um Sinai invisível”; o ateu não considera a consciência como clarabóia, aber ta para penetrar na natureza humana uma infinita aurora vinda do alto, mas como um arco polido ou domo, completando e refletindo todo o edifício embaixo”. Porém a consciência não pode ser um simples reflexo e expressão da natureza, pois ela reprime e condena-a. T u l l o c k , Theism: “Como a agulha magnética, a consciência indica a existência de uma Força desconhecida que, de longe, controla suas vibrações e treme diante da sua presença”. Nero passa noites de terror vagando pelos salões da sua Casa Dourada. K a n t sustenta 134 Augustus H opkins Strong que a fé no d e ve r re q ue r fé num D eus que d e fe n d e rá e g a la rd o a rá o d e ve r ver Crítica da Razão Pura, 359-3 87. K ant, em su a Metafísica da Ética, re p re se n ta a ação da co n s c iê n c ia com o “co n d u zin d o um p ro ce sso p e ra n te a c o rte ” e a cre sce n ta : “A g o ra que ele é a cu sa d o d ian te da su a c o n s c iê n c ia s e ria a b su rd o im a g in a r que se ja ju s to a p ró p ria p e sso a e x e rc e r a fu n çã o de ju iz no trib u n a l; em tal circu n stâ n cia , o a c u sa d o r se m p re p e rd e ria a su a cau sa. P or isso a c o n s c iê n c ia de ve re p re s e n ta r p a ra si se m p re um a o u tra p e sso a c o m o Juiz, a não se r que p re te nd a e n tra r em c o n tra d iç ã o c o n s ig o m e s m a ” . Ver ta m b é m Crítica da Razão Práti ca, W erke, 8 .2 1 4 - “ Dever, su b lim e e p o d e ro so nom e, que na da te n s em ti q ue atra ia ou lucre, p o rém a m ais d e s a fia d o ra s u b m issã o ; e a in d a não a m e a ças d irig ir a v o n ta d e a tra vé s d a q u ilo que p o d e d e sp e rta r o te rro r na tural ou a ve rsão , m as so m e n te d iv a g a r so b re a Lei; a Lei, que p o r si m e sm a descob re e n tra d a na m e n te e m esm o qu a n d o nó s d e so b e d e ce m o s, co n tra a n o ssa v o n ta d e co m p e le -n o s à reve rên cia, u m a Lei em c u ja p re se n ça to d a s in clin a çõ e s se to rn a m m ais surd as, m esm o q u a n d o se to rn a m o cu lta m e n te reb eldes; que orige m existe que se ja d ig n a de ti? O n d e po de s e n c o n tra r a raiz da tu a nobre d e sce n d ê n cia , que o rg u lh o sa m e n te re je ita s to d o o re in a d o com as in c lin a çõe s? O A rcebispo Temple re sp o n d e em su a s Bampton Lect., 58,59, “ E sta Lei e te rn a é o p ró p rio E terno, o D eus O n ip o te n te ” . R o b e rt B r o w n in g : “ D entro de m im o se n so de que eu te n h o um d é b ito G a ra n te -m e - Em algum lu g a r deve h a ve r A lg ué m , p ro nto a c u m p rir o se u dever. T u d o se v o lta para o seg uinte: O nd e há o d e ve r e xiste a c o n s e q ü e n te a ce ita çã o : p ro c u ra A q u e le que ace ita o d e v e r” . S alter , Ethicai Religion, c ita d a no a rtig o de P fleiderer sob re M ora lid ad e sem R eligião, Am. Jour. Theol., 3 .2 3 7 - “A te rra e as e stre la s não cria m a lei da g ra vid a d e a q u e elas ob ed ece m ; nem o ho m em , ou os e xé rcito s dos sere s racion ais no u n ive rso unidos, cria m a lei do d e v e r” . A v o n ta d e e xp re ssa no im p e ra tivo m oral é superiora n o ssa po rq u e d o u tra fo rm a não h a ve ria ordens. C o ntud o ela é uma com a no ssa co m o a v id a de um o rg a n ism o está unida à dos se u s m em bros. A te o n o m ia não é h e te ro n o m ia , m as a m ais e le va d a a u to nom ia, a g a ra n tia d a n o ssa lib e rd a d e pe sso a l co n tra to d a a se rvid ã o hum ana. S êneca : “ D eo p a re re lib e rta s e st” (A lib e rd a d e se p a re ce com D eus). K n i g h t , Essays in Philosophy, 2 72 - “ Na c o n s c iê n c ia ve m o s um ‘a lte r e g o ’, em nós em b o ra não de nós, m as ou tra P e sso a lid a d e a p o ia n d o -n o s ” . M artineau , Types, 2 .1 0 5 - “S ó u m a p e sso a p o de te r a u to rid a d e so b re o u tra pessoa. ... Um ser so litá rio sem n a tu re za se n síve l no un ive rso não s e n tiria ne nh um d e ve r” ; 1.26 - “ C o m o a P e rce p çã o nos dá a V o n ta d e na fo rm a de Causalidade c o n tra nós no N o n-E g o, do m esm o m odo a C o n s c iê n c ia nos dá a V on tade na fo rm a de Autoridade em o p o siçã o c o m p le ta a nós n e le . ... 2 .7 - “ N ão po de m os d e d u zir os fe n ô m e n o s do ca rá te r a p a rtir de um a g e n te que n a da p o ssu i” . Hutton, E ssays, 1.41,42 - “Q u a n d o d e s o b e d e c e m o s à co n sciê n cia , a F orça in te rna d e ixo u de mover-nos; re tiro u -se a p e n a s p a ra o b se rva r- v ig ia r com o nos m o l d a m os a nós m e sm o s” . C ardeal N ewman , Apology, 3 7 7 - “Se não fo s s e pela voz que tã o cla ra m e n te fa la à m in h a c o n s c iê n c ia e ao m eu cora ção , eu seria um ateu ou um pa n te ísta , ou um p o lite ís ta ao e xa m in a r cu id a d o sa m e n te o m undo”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 135 3. A natureza emotiva e voluntária do homem prova a existência de um ser : _e pode fornecer em si um objeto satisfatório do sentimento humano e de um fim que manifestará as mais elevadas atividades do homem e garantirá o seu ~_is elevado progresso. Só um ser que possui poder, sabedoria, santidade e bondade e tudo isto infinitamente maior do que conhecemos na terra pode atender a demanda da alma humana. Não há dúvida de que tal ser existe. Caso contrário, não seria suprida a maior necessidade do homem e a crença em uma mentira seria mais produtiva virtude do que a crença na verdade. Feuerbach ch a m a D e us “o re fle xo do p ró p rio ho m e m a rru in a d o ” ; “a c o n s c iê n c ia de D e us = a c o n s c iê n c ia de si m e s m o ” ; “ a re lig iã o é um s o n h o da alm a h u m a n a ” ; “a te o lo g ia to d a é u m a a n tro p o lo g ia ” ; “ o ho m em fe z D eus à su a im a g e m ” . P oré m a c o n s c iê n c ia m o s tra que o h o m e m não re c o n h e c e em D eus a p e n a s um seu s e m e lh a n te , m a s ta m b é m o seu a n ta g ô n ic o . N ão com o G aleno: P ie d a d e = c o n s c iê n c ia + in s ta b ilid a d e ” . A s m ais re fin a d a s m en te s são as do tip o d e b ilita d o ; ver A g o stin h o , Confessions, 1.1 - “Tu nos fize ste para ti, e o m eu cora ção não tem repouso e n qu an to não de scan sa em ti” . Sobre John S t u a r t M il l - “ u m a m e n te q u e não p ô d e a c h a r D eus e um a m e n te que não p ô d e a g ir se m D e u s” . Comte, em se u s ú ltim o s dias, c o n s tru iu um o b je to de a d o ra ç ã o na H u m a n id a d e U n ive rsa l e in v e n to u um ritua l que H u x l e y c h a m a “ C a to lic is m o m inus C ris tia n is m o ” . Ver ta m b é m T y n d a l l , Belfast Address: “S e eu não cre sse , d iz ia -m e c e rta o c a s iã o um g ra n d e ho m em , que e xiste u m a In te lig ê n c ia no c e rn e das c o is a s , m in h a v id a na te rra s e ria in to le rá v e l” . A última linha do Peregrino de S c h i l l e r diz: “Und das Dort ist niemals Hier (“O ali nunca está aqui”). O finito nunca satisfaz. T e n n y s o n , Tw o Voices\ “Eis a vida de que os nossos nervos são escassos, Oh vida, não morte, por cuja causa ofegamos; Mais vida, mais completa eu quero”. S e th , Ethical Princi pies, 41 9 - “Um universo moral, um S er moral absoluto, é o ambiente indis pensável da vida ética, sem o qual não pode atingir o desenvolvimento perfei to. ... Há um Deus moral, ou isto não é universo". Jam es, Will to Believe , 116 — “Deus é o mais adequado objeto possível das mentes estruturadas como a nossa para conceber como enganosa a raiz do universo. Qualquer coisa sem muito de Deus não é um objeto racional, qualquer coisa mais do que Deus não é possível, se o homem não necessita de um objeto de conhecimento, sentimento e vontade”. R omanes , Thoughts on Religion, 41 - “ F a la r da R e lig iã o do in cog noscíve l, R eligião do C o sm ism o, a R e lig iã o da H u m a n id a d e , em q u e não se reco nh ece a p e sso a lid a d e da P rim e ira C a u sa não tem se n tid o do m esm o m odo que fala r do a m o r de um triâ n g u lo ou da ra cio n a lid a d e do e q u a d o r” . D izia-se que, no siste m a de C omte , “d e rra m a n d o -se o vin h o da p re se n ça real, p e dia-se que ad o rá sse m o s a ta ça v a z ia ” . “Q u e re m o s um o b je to de d e vo çã o e C omte nos brin d a com e s p e lh o ” (M artineau ). H uxley d izia que ele a d o ra ria a se lva g e ria dos m acacos logo que a dos p o sitivista s racion alizassem o conceito de hu m a 136 A ugustus H opkins Strong nidade. Trata-se apenas da humanidade ideal, seu elemento divino que pode ser adorado. Uma vez concebido isto, não podemos nos satisfazer enquanto isto não se realize em algum lugar ou em alguém, como em Jesus Cristo. U p t o n , Hibbert Lectures, 265-272 - H u x l e y crê que a evolução é “um pro cesso lógico materializado”; que nada permanece exceto o fluxo de energia e “a ordem racional o permeia”; Na sua primeira parte deste processo, a nature za, não existe moralidade nem benevolência. Mas o processo termina com a produção do homem, que pode ser a causa daquele apenas utilizando a guer ra moral contra as forças naturais que o impelem. Ele deve ser benévolo e justo. Não diremos nós, em que pese o ponto de vista do S r. H u x l e y , que isto deixa claro em que consiste a natureza do sistema e que deve existir um Ser benévolo e justo que a põe em ordem? M a r t in e a u , Seat of Authority, 63-68 “Embora se conheça a autoridade do mais elevado incentivo, ela não pode ser criada; por enquanto ela está em mim e acima de mim. ... A autoridade a que a consciência me introduz, embora emergindo na consciência, é objetiva em todos nós e necessariamente se refere à natureza das coisas indepen dentemente dos acidentes da nossa constituição. Ela não depende de nós, é independente. Todas as mentes nascidas no universo são introduzidas à pre sença de uma justiça real, tão certamente como numa cena de um espaço real. A percepção revela um outro ser além de nós mesmos; a consciência revela um mais elevado que nós mesmos”. Contudo, livremente devemos admitir que este argumento a partir das aspirações do homem só tem peso se supusermos que existe um Deus sábio, verdadeiro, santo e benévolo, que constituiu as nossas mentes para que o seu pensamento e sentimentos correspondam à verdade e a ele m es mo. Um ímpio poderia ter-nos constituído tal lógica que nos induziria ao erro. Por isso, o argumento é o desenvolvimento e expressão da nossa idéia de Deus. L u t h a r d , Fundamental Truths: “A natureza é como um documento escrito contendo apenas consoantes. Nós é que devemos fornecer as vogais que o decifrarão. A não ser que portemos conosco a idéia de Deus, a nature za mostrar-se-nos-á apenas muda”. d) Defeitos do Argumento Antropológico', a) não pode provar um criador do universo m aterial, b) N ão pode provar a infinitude de Deus. c) Não pode provar a m isericórdia de Deus. Mas b) O valor do Argumento é que ele nos assegura da existência de um ser pessoal, que nos dirige em ju stiç a e que é o próprio objeto do sentim ento suprem o e serviço. M as se este Ser é o criador original de todas as coisas, ou sim plesm ente o autor da nossa existência, quer seja ele infinito ou finito, quer seja ele um Ser de sim ples ju stiça ou tam bém de m isericórdia, este argumento não nos garante. E ntre os argum entos da existência de D eus, contudo, atribuím os a este o lugar principal, visto que ele acrescenta às idéias de poder causativo (que derivam os do A rgum ento C osm ológico) e da inteligência criativa (que deri- 137 T e o l o g ia S is t e m á t ic a '• amos do A rgum ento Teleológico), as bem m ais am plas idéias de pessoalida de e justo senhorio. S ir W il l ia m H a m il t o n , Works of Reid, 2 .9 7 4 , n o t a U ; Lectures on Metaph., 1.33 - “Os únicos argumentos válidos da existência de Deus e da imortalida de da alma encontram-se na natureza moral do homem”; “a teologia depende inteiramente da psicologia, pois, com a prova da natureza moral do homem permanece em pé ou cai a da existência de Deus”. Porém D im a n , Theistic Argument, 244, muito apropriadamente rebate este argumento a partir da natureza do homem como única prova da divindade: “Seria mais adequado mostrar os atributos do S er cuja existência já tem sido provada a partir de outras fontes”; “por isso o Argumento Antropológico depende tanto do Cosmológico e do Teleológico como estes dependem daquele”. Contudo, o Argumento Antropológico é necessário para suplementar as conclusões dos dois outros. Aqueles que, como H e r b e r t S p e n c e r , reconhe cem um Ser infinito e absoluto, Poder e Causa, podem ainda deixar de reco nhecer o referido ser como espiritual e pessoal somente porque não reconhe cem a si mesmos como tais, isto é, não reconhecem a razão, a consciência e a livre vontade do homem. O agnosticismo na filosofia envolve-o na religião. R. K. E c c l e s : “Todas as línguas mais avançadas escrevem as palavras ‘Deus’ e ‘ E u ’ com letra maiúscula”. C o o k , Religion and Chemistry. “Deus é amor; mas a natureza não pode prová-lo e é para atestá-lo que o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo”. Na filosofia, tudo depende do nosso ponto de partida, quer da natureza ou do eu, quer do elemento necessário quer do livre. Por isso, em certo sentido, na prática devemos começar com o Argumento Antropológico e, a partir daí empregar o Cosmológico e o Teleológico para garantir a aplicação das con clusões que temos tirado do homem para natureza. Como Deus está frente a frente ao homem na Consciência e diz-lhe: “Tu”; semelhantemente o homem está com relação a Deus na Natureza e pode dizer-lhe “Tu”. M u l f o r d , Republic of God, 28 - “Como a pessoalidade do homem tem seu fundamento na pes soalidade de Deus, assim também a realização da sua própria pessoalidade pelo homem aproxima-o mais de Deus”. É muito comum em tais circunstâncias tratar o que se chama os Argumen tos Histórico e Bíblico da existência de Deus - aquele argumentando, a partir da unidade da história, este a partir da Bíblia; tal unidade deve, em cada caso, ter a sua causa e explicação na existência de Deus. É uma razão sufi ciente para não discutir estes argumentos; sem a prévia crença na existência de Deus, ninguém verá unidade nem na história, nem na Bíblia. O pintor T u r n e r expôs um quadro que parecia um nevoeiro e uma nuvem até que ele lhe deu uma pincelada escarlata. Foi o que bastou para dar-lhe o verdadeiro ponto de vista e o resto tornou-se inteligível. Deste modo, a vinda de Cristo e o seu sangue tornaram inteligíveis tanto as Escrituras como a história humana. Ele ostenta em seu cinto a chave de todos mistérios. Schopenhauer, que não conhecia a Cristo, não admitia a filosofia da história. Considerava a história um simples jogo fortuito do capricho do indivíduo. P a s c a l : “Jesus Cristo é o centro e o objeto de todas as coisas; aquele que não o conhece ignora a natureza e a si mesmo”. A ugustus H opkins Strong 138 IV. ARGUMENTO ONTOLÓGICO Este argum ento infere a existência de D eus a partir de idéias abstratas e necessárias da m ente hum ana. A presenta-se em três formas: 1. D e S am uel C larke Espaço e tem po são atributos da substância ou ser. M as espaço e tempo são, respectivam ente, infinito e eterno. Portanto, deve haver um a substância infinita e eterna ou Ser a quem pertencem tais atributos. G illespie apresenta o argum ento de um m odo um tanto diferente. Espaço e tem po são m odos de existência. M as eles são respectivam ente infinitos e eter nos. Por isso, certam ente há um ser infinito e eterno que subsiste em tais m odos. P orém replicam os: Espaço e tem po nem são atributos de substância, nem m odos de existência. Se válido, o argum ento provaria que D eus não é m ente, m as m atéria, pois não poderia ser m ente, m as só m atéria, da qual o espaço e o tem po seriam ou atributos ou m odos. O Argumento Ontológico é chamado freqüentemente de argumento a priorí, isto é, daquilo que é logicamente anterior, ou mais antigo que a experiência, a saber, nossas idéias intuitivas. Todas as formas do Argumento Ontológico, neste sentido, são a príori. Para o ponto de vista contrário ver C a l d e r w o o d , Moral Philos., 226 - “Começar, como C l a r k e , com a proposição de que ‘algo existia desde a eternidade’, é virtualmente propor um argumento depois de ter admitido o que falta ser provado. A forma do argumento a priorí de G il l e s p ie , partindo da proposição de que ‘a infinitude da extensão existe necessa riamente’, está sujeita à mesma objeção com a desvantagem de atribuir a Deus uma propriedade da matéria.” H. B. Smith diz que B r o u g h a m interpretou mal C l a r k e : “O argumento de C l a r k e está na sua sexta proposição e supõe a existência provada daquilo que vem antes. Seu alvo aqui é estabelecer a infinitude e onipresença deste Primeiro Ser. Ele não prova a existência a partir da imensidão”. Porém retru camos que, ele nem pode provar a infinidade de Deus a partir da imensidão do espaço. Espaço e tempo não são substâncias nem atributos, mas rela ções. A doutrina de que espaço e tempo são atributos ou modos da existência de Deus tende ao panteísmo materialista como o de Spinosa, que defende que a “substância una e simples” (substantia una et unica) nos é conhecida através dos dois atributos: pensamento e extensão; mente = Deus no modo do pensamento; matéria = Deus no modo da extensão. D o v e , Logic of the Christian Faith, 127, diz, com propriedade que um Deus extenso é um Deus material; “espaço e tempo nem são atributos da matéria, nem da mente”; “devemos ter a idéia moral no mundo natural não a idéia natural no mundo moral”. H. M. S t a n l e y , on Space and Sciense, in Philos. Rev., Nov. 1898; 615 T e o l o g ia S is t e m á t ic a 139 - “O e sp a ço não é ch e io de coisas, m as as c o is a s sã o esp aço sas. ... Espaço é um a fo rm a de a p a re cim e n to d in â m ic o ” . P r o f . C. A. S t r o n g : “O m un do co m posto de co n s c iê n c ia e ou tra s e x is tê n c ia s não se e n co n tra no espaço, e m b o ra po ssa e s ta r em algo de que o e sp a ço é o s ím b o lo ” . 2. De Descartes Temos a idéia de um Ser infinito e perfeito. E sta idéia não pode ser deriva da de coisas im perfeitas e finitas. Portanto, deve haver um Ser infinito e per:eito que é a sua causa. Porém respondem os que este argum ento confunde a idéia de infinito com um a idéia infinita. A idéia que o hom em tem do infinito não é infinita, mas finita e de um efeito finito não podem os argum entar um a causa infinita. E sta fo rm a do a rg u m e n to O n to ló g ico , co n q u a n to s e ja a priorí, b a se a d a na idéia n e ce ssá ria da m e n te h u m a n a é, d ife re n te m e n te d a s ou tra s fo rm a s do m esm o arg u m e n to , a posteríori, ra cio cin a n d o a p a rtir d e sta idéia, com o um efeito, p a ra a e xistê n cia de um S e r qu e é a s u a causa. A rg u m e n to a posteríori = d a qu ilo que é m ais ta rd io p a ra o que é m ais an tigo , isto é, do efe ito p a ra a causa. O s A rg u m e n to s C o sm o ló g ico , T e le o ló g ico e A n tro p o ló g ic o são a posteriori. D e ste tip o é o de D e scartes; ver D e scartes, M editação, 3: H aec idea quae in no bis est re q u irit D eum pro cau sa; D e u sq u e pro in d e e xistit” . A idéia na m en te dos ho m en s é a im p re ssã o do no m e do tra b a lh a d o r in d e le ve lm e n te e sta m p a d a no seu tra b a lh o - a s o m b ra p ro je ta d a na alm a h u m a n a pelo Ser invisível de cu ja e x is tê n c ia e p re se n ça o b sc u ra m e n te ela nos inform a. B lunt, Dict. of Theol., 739; Saisset, Pantheism , 1.54 - “ D e sca rte s re strin g e o fa to da c o n sciê n cia , e n q u a n to Anselmo a co n c e p ç ã o a b s tra ta ” ; “O a rg u m e n to de Des c a rte s p o d ia se r c o n s id e ra d o um ram o do A rg u m e n to A n tro p o ló g ic o ou M oral, pelo fa to de que este últim o p ro ce d e da co n s titu iç ã o h u m a n a e não das suas id éia s a b s tra ta s ” . 3 . De A n s e l m o Temos a idéia de um Ser absolutam ente perfeito. Porém a existência é um atributo da perfeição. D eve existir um ser absolutam ente perfeito. R espondem os que este argum ento confunde existência ideal com existên cia real. N ossas idéias não são a m edida da realidade externa. A nselmo , Poslogion, 2 - “ Id q u od m a ju s co g ita ri ne qu it, non po test e sse in in te lle ctu s o lo ” . A p re m issa m a io r aqui não é que to d a s id é ia s p e rfe itas im p li cam a e x is tê n c ia do ob je to que e la s re p re se n ta m , p o rq u e en tão, co m o K ant con tra põ e, eu p o d e ria a rg u m e n ta r da m in h a id é ia p e rfe ita de um a nota de $1 00 que eu re a lm e n te po ssuía, o que está lo ng e do fato. D este m od o eu te n h o um a id éia p e rfe ita de um m au ser, de um ce n ta u ro , de nada, - m as não Augustus H opkins Strong 140 se segue que o mau ser, o centauro, ou que o nada existe. O argumento é mais exatamente da idéia do Ser absoluto e perfeito - de “que, não se pode conceber maior do que ele”. Só pode haver um ser assim como uma só idéia com esta mesma caraterística. Contudo, mesmo que se entenda deste modo, não podemos argumentar a partir desta idéia em favor da existência real de tal ser. C a s e , Physical fíealism, 173 - “Deus não é uma idéia e consequentemente não se pode inferir a partir de simples idéias”. B o w n e , Philos. Theism, 4 3 - 0 Argumento Ontológi co “apenas assinala que a idéia do perfeito deve incluir a da existência; mas nada há que mostre que a idéia autoconsistente representa uma realidade objetiva”. Imagino a serpente do mar, o Jinn das Mil e Uma Noites, “A Antro pofagia e os homens cujas cabeças crescem sob os seus ombros”. O Cavalo Alado de Uhland tinha todas as virtudes possíveis, mas faltava-lhe só uma, não tinha vida. S e cada idéia perfeita implica a realidade do seu objetivo, pode haver cavalo com dez patas e árvores com raízes no ar. “O argumento de Anselmo implica”, diz F is h e r , in Journ. Chríst. Philos., jan., 18 83.114, que a existência in Re. é um elemento constituinte do con ceito. Concluir-se-ia a existência do ser a partir da definição de uma pala vra. Esta inferência só se justifica com base no realismo filosófico”. D o v e , Logic o fth e Christ. Faith, 141 - “O Argumento Ontológico é a fórmula algé brica do universo que conduz a uma conclusão válida sobre a existência real só quando a enchemos de objetos que conhecemos nos argumentos a posteríori. D o r n e r , Glaubenslehre, 1.197, dá-nos a melhor afirmativa do Argumento Ontológico: “A razão pensa em Deus como existente. S e não fosse a razão, não se pensaria na existência de Deus. A razão só existe quando se admite que Deus é”. Porém, evidentemente, isto não é argumento; é uma vivida afir mação da suposição necessária da existência de uma Razão absoluta que condiciona e valida a nossa. A pesar de que esta últim a deve ser considerada a m ais perfeita form a do A rgum ento O ntológico, é evidente que nos conduz a um a conclusão ideal, não a um a existência real. Em com um com as duas form as anteriores do argumento, contudo, adm ite tacitam ente, com o já existindo na m ente hum ana, aquele conhecim ento da existência de D eus que derivaria da dem onstração lógica. Tem valor, portanto, para m ostrar o que D eus deve ser, se é que ele existe. M as a existência de um Ser infinitam ente grande, C ausa pessoal, C riador e Legislador, tem sido provada nos argum entos anteriores; pois a lei da parci m ônia requer que apliquem os as conclusões dos três prim eiros argumentos àquele único Ser e não a m uitos. A este Ser devem os agora atribuir a infinitu de e a perfeição, idéia na qual se assenta a base do A rgum ento O ntológico não porque são dem onstradam ente dele, mas porque a nossa constituição mental não nos perm itirá pensar de outra form a. A ssim , revestindo-o de toda a perfei ção que a m ente hum ana pode conceber e esta na ilim itada plenitude, temos aquele que com ju stiça cham am os Deus. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 141 M c C o s h , Div. Gov., 12, n o t a - “É neste lugar, se não nos enganamos, que entra a idéia do infinito. Não se pode provar (como defende K a n t ) que a capa cidade que a mente humana tem de formar tal idéia ou, mais do que isto, sua crença intuitiva, num Infinito que sente ser-lhe impossível formar um conceito adequado da existência de um Ser infinito; mas estamos convencidos de que os meios pelos quais a mente se capacita de revestir a Divindade, mostra-se existir em outras bases, com os atributos da infinitude, isto é, de ver este ser, poder, bondade, e todas as suas perfeições como infinitas”. E v e n F l in t , Theism, 68, que sustenta que chegamos à existência de Deus por inferência, fala das “condições necessárias do pensamento e sentimento e aspirações inerradicáveis que nos impõem idéias da existência absoluta, infinitude e perfeição, e nunca nos permitirão negar estas perfeições a Deus, nem atribuí-las a qual quer outro ser”. A crença em Deus não é a conclusão de uma demonstração, mas a solução de um problema. C a l d e r w o o d , Moral Philosophy, 226 - “Ou se admite a questão toda logo de início, ou não se atinge o infinito”. C l a r k e , Christian Teoiogy, 97-114, divide a sua prova em duas partes: I. Evidência da Existência de Deus a partir do ponto partida intelectual: Fazse a descoberta da Mente no universo, 1. inteligibilidade do universo para conosco; 2. através da idéia da causa; 3. através da presença dos fins do universo. II. Evidência da existência de Deus a partir do elemento religioso: Faz-se a descoberta do bom Deus, 1. através da natureza religiosa do homem; 2. através do grande dilema - Deus: o melhor ou o pior; 3. através da experiência espiritual do homem especialmente no cristianismo. Deste modo, até onde a prova do D r . C la r k e pretende ser uma afirmativa, não de uma crença primitiva, mas de um processo lógico, devemos sustentar que ela é defeituosa, do mesmo modo que as três formas de prova que vimos fornecer alguma evidência corroborativa da existência de Deus. Por isso D r . C l a r k e , com muita propriedade, acrescenta: A religião não se produz através da pro va da existência de Deus e não será destruída pela sua insuficiência em algu mas mentes. A religião existia antes do argumento; de fato é a preciosidade da religião que induz a buscar toda a confirmação possível da realidade de Deus”. As três formas de provar a existência de Deus já mencionadas - o Argu mento Cosmológico, o Teleológico e o Antropológico - podem ser compara das a três arcos de uma ponte sobre um largo e veloz rio. A ponte tem apenas dois defeitos, mas bem sérios. O primeiro é que não se pode avançar para ela; a extremidade da borda aquém não existe; não se pode entrar na ponte do argumento lógico a não ser que se admita a validade dos processos lógi cos; esta suposição tem como certo, de início, a existência de um Deus que induziu nossas faculdades a agirem corretamente; avançamos para a ponte, não por um processo lógico, mas somente por um salto da intuição e admitin do, logo ao começo, a própria coisa que se pretende provar. O segundo defei to da assim chamada ponte do argumento é que, quando se caminha, nunca se sai. Também falta a conexão com a outra margem. Todas as premissas com que argumentamos, sendo finitas, garantem-nos apenas a extração de uma conclusão finita. O argumento não pode atingir o Infinito e só Um merece ser chamado Deus. Não podemos sair da nossa ponte lógica por processo lógico, mas somente por outro salto final da intuição e admitindo mais uma 142 A ugustus H opkins Strong vez a existência do Ser infinito que em vão temos procurado alcançar por mero argumento. Parece haver aqui uma referência a Jó 11.7 - “Porventura alcançarás os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?” Com o processo lógico este é defeituoso, visto que toda lógica bem com o toda observação para sua validade depende da pressuposta existência de Deus e, visto que este processo particular, m esm o adm itindo a validade da lógica em geral, não garante a conclusão de que D eus existe, exceto com base na suposição de que nossas idéias abstratas de infinitude e de perfeição se apli quem tam bém ao Ser a quem o argum ento nos conduziu. Porém , apesar de que am bos os fins da ponte lógica são totalm ente falhos, o processo pode servir e n a verdade serve a um propósito m ais útil que o da sim ples dem onstração, a saber, o de despertar, explicando e confirm ando um a convicção que, apesar de a m ais fundam ental de todas, pode ter sido parcial m ente adorm ecida por falta de pensam ento. M o r e l l , Philos. Fragments, 17 7,17 9 - “De fato, não podemos provar a existência de um Deus através de um argumento lógico do mesmo modo em que não o podemos no que tange a um mundo externo; mas também não podemos ao menos obter tão forte convicção prática de um como do outro”. “Chegamos a uma crença científica na existência de Deus do mesmo modo em que o fazemos em qualquer outra verdade humana possível. Admitimo-lo , como uma hipótese absolutamente necessária a fim de explicar os fenôme nos do universo; e então as evidências de cada quadrante começam a con vergir para ele, até que, com o passar do tempo, o senso comum da humani dade, cultivada e iluminada por todo o conhecimento acumulado, pronuncie a validade da hipótese com uma voz raramente menos decisiva e universal que no caso das nossas mais elevadas convicções científicas”. F is h e r , Supernat. Origin of Christianity, 572 - “Qual é, então, o propósito e qual a força dos vários argumentos da existência de Deus? Respondemos que tais provas são os diferentes modos em que a fé se expressa e busca confirmação. Neles concebe-se ou define-se a fé ou o objeto desta e neles não se encontra a corroboração arbitrária, mas a substancial e valiosa daqui lo que a fé extrai da própria alma. Por isso, tais provas nem são, por um lado, suficientes para criar e sustentar a fé, nem, por outro lado, para desprezá-las como se não tivessem valor algum. A. J. B a r r e t t : “ O s argumentos, em si mesmos, não são tanto uma ponte, mas cabos que sustentam firmes a gran de ponte pênsil da intuição, através da qual atravessamos o abismo entre o homem e Deus. Ou, conquanto não sejam uma escada pela qual podemos alcançar o céu, são o Ossa no Pélion de cuja altura combinada podemos divisá-lo”. A n s e l m o : “Negligentia mihi videtur, si postquam confirmati sumus in fide non studemus quod credimus intelligere”. B r a d l e y , Apperence and Reality. “A metafísica é a descoberta das más razões por que cremos no instinto; mas descobrirmo-las não é menos que um instinto”. Il l in g w o r t h , Div. and Hum. T e o l o g ia S is t e m á t ic a Personality, Lect. III - “A c re n ç a num D e us pe sso a l é ju íz o in stin tivo ju s tifi cad o p ro g re s s iv a m e n te p e la ra z ã o ” . K night , Essays in Philosophy, 241 “Os arg u m e n to s são m e m o ria is h istó rico s do s e s fo rç o s da raça h u m an a para v in d ic a r a si m esm a a e x is tê n c ia de um a re a lid a d e da qual e la está c o n s c ie n te, m as que não po de d e fin ir p e rfe ita m e n te ” . H. F ielding , The Hearts of Men, 313 - “Os c re d o s são a g ra m á tic a da religião . E les são p a ra a religião o que a g ra m á tica é para a fala. As p a la vra s são a e x p re s s ã o da no ssa vo n ta d e ; a g ra m á tica é a te o ria fo rm a d a p o s te rio rm e n te . A fa la n u nca p ro ce d e da g ra m á tica, m as o co rre o co n trá rio . C o m o a fa la p ro ce d e e m ud a a p a rtir de causas de sco n h e cid a s, a g ra m á tic a d e ve s e g u i-la ” . P ascal: “O co ra çã o te m razões que a p ró p ria razão d e s c o n h e c e ” . F rancês P ower C obbe : “As in stitu içõ e s são ‘tu iç õ e s ’ de D e u s” . H egel , em sua Logic, p. 3, falando da disposição relativa às provas da existência de Deus como o único meio de produzir fé em Deus, diz: “Tal dou trina encontraria seu paralelo se disséssem os que comer é impossível antes de ter adquirido o conhecimento das propriedades químicas, botânicas e zoológicas do nosso alimento; e que devemos adiar a digestão até que tenha mos terminado o estudo da anatomia e da fisiologia”. É um erro supor que não há vida religiosa sem uma teoria correta da vida. Devo recusar-me a beber água ou a respirar o ar até que eu possa fabricá-los por mim mesmo? Algumas coisas nos são dadas. Entre elas estão “a graça e a verdade” (Jo. 1.17; cf. 9). Mas sempre há os que não querem receber nada de graça e insistem em operar todo o seu conhecimento, assim como toda a salvação, através do seu próprio processo. O pelagianismo, com a sua negação das doutrinas da graça é apenas um desenvolvimento de um racionalismo que se recusa a aceitar as verdades primitivas a menos que sejam demonstradas logicamen te. Visto que a existência da alma, do mundo, e de Deus não pode ser prova da por este processo, o racionalismo é levado a reduzir ou a interpretar falsa mente os pronunciamentos da consciência e disso resultam alguns sistemas a serem mencionados a seguir. 143 C a p ít u l o III EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CONCLUSÃO Q ualquer explicação correta do universo deve postular um conhecim ento intuitivo da existência do m undo externo, de si m esm o, e de D eus. O desejo da unidade científica, contudo, tem ocasionado tentativas de reduzir estes três fatores a um e, conform e um e outro destes três, tem sido considerado com o o princípio todo inclusivo, tem resultado em M aterialism o, Idealism o M ateria lista ou Panteísm o Idealista. U m sistem a que podem os designar com o M onismo É tico satisfaz m ais a contento este im pulso científico. Podemos resumir o presente capítulo da seguinte forma: 1. Materialismo: Universo = átomos. Resposta: Os átomos nada podem fazer sem a força e não podem ser coisa alguma (inteligível) sem as idéias. 2. Idealismo Materia lista: Universo = Força + Idéias. Resposta: As Idéias pertencem à Mente e a Força só pode ser exercida pela Vontade. 3. Panteísmo Idealista: Universo = Mente e Vontade Imanentes e Impessoais. Resposta: O espírito no homem mostra que o Espírito Infinito deve ser Mente e Vontade Transcendentes e Pessoais. Destas três formas de erro somos levados a uma conclusão que podemos denominar 4. Monismo Ético: Universo = Manifestação finita, par cial, graduada da Vida divina; a matéria é a autolimitação de Deus sob a lei da necessidade; a humanidade é a autolimitação sob a lei da liberdade; a Encarnação e a Expiação são as autolimitações de Deus sob a lei da graça. O Monismo Metafísico, ou a doutrina de uma Substância, Princípio ou Base do Ser, é consistente com o Dualismo Psicológico, ou a doutrina de que a alma é, por um lado, pessoalmente distinta da matéria e, por outro, de Deus. I. MATERIALISMO O M aterialism o é o m étodo de pensam ento que dá m aior prioridade à m atéria do que à m ente nas explicações do universo. Com base neste ponto de vista os átom os m ateriais constituem a realidade últim a e fundam ental de que todas as coisas, quer racionais, quer irracionais, são apenas com binações e T e o l o g ia S is t e m á t ic a 145 fenôm enos. A força é considerada com o um a propriedade universal e insepa rável da matéria. O elem ento de verdade no m aterialism o é a realidade do m undo externo. Seu erro está em considerar o m undo externo com o tendo existência original e independente e considerar a m ente com o seu produto. O materialismo considera os átomos como tijolos com cujo universo mate rial é construída a casa em que moramos. S ir W il l ia m T h o m s o n ( L o r d K e lv in ) imagina que, se uma gota de água fosse aumentada ao tamanho da nossa terra, os átomos em que ela consiste pareceriam maiores do que as bolinhas de vidro de um menino, e ainda bem menores que as bolas de bilhar. Todas coisas, visíveis e invisíveis, são feitas destes átomos. A mente, com todas as suas atividades, é uma combinação ou fenômeno de átomos. “Man ist was er iszt: ohne Phosphor kein gedanke” ( A pessoa é o que come: sem fósforo, não há nenhum pensamento). A ética é um bilhete de passagem; e a adoração, como o calor, é um tipo de movimento. Contudo, A g a s s iz , espirituosamente perguntou: “Então, os pescadores são mais inteligentes que os agricultores, porque eles comem tanto peixe e, por isso, ingerem mais fósforo”? E evidente que muito do que se atribui aos átomos, na realidade pertence à força. Prive da força os átomos e tudo o que sobra é extensão, que = espa ço = zero. Contudo, “se se estendem os átomos, estes não podem ser os últimos, porque a extensão implica divisibilidade e aquilo que se concebe como divisível não pode ser o último elemento filosófico. Porém, se os áto mos não se estendem, conseqüentemente uma infinita multiplicação e com binação deles não pode produzir uma substância extensa. Além do mais, não se concebe um átomo que nem é substância extensa, nem substância pen sante. O último elemento real é a força, que não pode ser exercida pelo nada, mas, como veremos doravante, só um Espírito pessoal pode exercê-la por que só ele possui as caraterísticas da realidade, a saber, definibilidade, uni dade e atividade”. Não só a força, mas também a inteligência, deve ser atribuída aos átomos antes de poderem explicar qualquer operação da natureza. H e r s c h e l não só diz que “a força da gravitação parece assemelhar-se à de uma vontade uni versal”, mas os próprios átomos, ao reconhecerem-se uns aos outros para combinarem-se, mostram em grande parte “a presença da mente”. L a d d , Introd. to Philosophy, 269 - “Um distinto astrônomo disse que cada corpo no sistema solar comporta-se como se soubesse precisamente como deveria fazê-lo em consonância com a sua própria natureza e com o comportamento de cada um dos outros corpos no mesmo sistema solar. ... Cada átomo já percorreu incontáveis milhões de milhas com incontáveis milhões de pares, muitos dos quais requeriam importante modificação no seu modo de moverse sem jamais apartarem-se do seu passo correto ou ritmo”. J. P. C o o k e , Credentials of Science, 104, 177, sugere que há algo mais necessário do que os átomos para explicar o universo. Deve-se admitir uma Inteligência correlata. Por si mesmo, os átomos seriam como um montão de pregos soltos, que necessitam de ser magnetizados para manterem-se unidos. Precisariam ser resolvidas todas as estruturas e desaparecer todas as formas da matéria se 146 Augustus H opkins Strong se quisesse afastar a Presença que as sustenta. O átomo, como as mônadas de Leibnitz, é “parvus in genere deus” - “um deus pequenino na sua nature za” - tão somente por ser a expressão da mente e da vontade de um Deus imanente. P l a t ã o fala dos homens que ficam “deslumbrados quando se aproximam de coisas materiais”. Não percebem que as próprias coisas materiais, visto que só podem ser interpretadas em termos de espírito, devem ser na essên cia espirituais. O materialismo é a explicação de um mundo do qual conhece mos alguma coisa - o mundo da mente - através de um mundo do qual quase nada conhecemos - o da matéria. U p t o n , Hibbert Lectures, 297, 298 - “Como estão os átomos materiais e as moléculas cerebrais? Eles não têm existência real a não ser como objeto do pensamento e, por isso, o próprio pensamento, que você diz que os átomos produzem, voltam a ser a precondição da sua própria existência”. Com isto concordam as palavras do D r . L a d d : “ O conheci mento da matéria envolve repetidas atividades da sensação e da reflexão, da inferência indutiva e da dedutiva, da crença intuitiva na substância. Tudo isto são atividades da mente. Só quando ela tem vida autoconsciente obtém-se qualquer conhecimento do que é a matéria ou do que ela pode fa zer.... Tudo aquilo que está sempre sujeito a estados mutantes é real. O que toca, sente, vê é mais real do que o tocado, sentido, visto”. H. N. G a r d n e r , Presb. Ftev., 1885.301, 665, 666 - “A mente dá à matéria seu principal sentido - por isso a matéria por si só nunca pode explicar o universo”. G o r e , Incarnation, 31 - “A mente não é um produto da natureza, mas seu constituinte necessário, considerado como um sistema ordenado cognoscível”. F r a s e r , Philos. of Theism: “Um ato imoral deve proceder de um agente imoral; não se conhece um efeito físico que origina sua causa física”. A matéria orgânica ou inorgânica pressupõe uma mente; mas não é verdade que a mente pressupõe a matéria. L e C o n t e : “S e eu pudesse remover a cober tura do seu cérebro, o que eu veria? Só alterações físicas. Mas quanto a você - o que você pode perceber? A consciência, o pensamento, a emoção, a vontade. Agora, tome o exterior da natureza, o Cosmos. De fora, o observa dor só vê fenômenos físicos. Mas não deve haver também neste caso - por outro lado - fenômenos psíquicos, o Eu, a Pessoa, a Vontade”? A impossibilidade de encontrar na matéria, considerada como simples áto mos, quaisquer atributos de uma causa, tem levado a um abandono geral deste velho materialismo de D e m ó c r it o , E p ic u r o , L u c r é c io , C o n d il l a c , H o l b a c h , F e u e r b a c h , B ü c h n e r ; e o Idealismo Materialista tomou o seu lugar, que, ao invés de considerar a força como uma propriedade da matéria, considera-a como manifestação da força. Por isso, a partir desta seção, passaremos ao sistema de forças e de idéias. Há um quarto de século, J o h n T y n d a l l , em seu discurso de abertura como Presidente da Associação Britânica em Belfast, declarou que, na matéria, dever-se-ia encontrar a promessa e a potência de cada for ma de vida. Mas, em 1898, S ir W il l ia m C r o o k e s , em seu discurso como Presi dente daquela mesma Associação Britânica, reverteu o apotegma e declarou que, na vida, ele via a promessa e a potência de cada forma da matéria. Em acréscim o ao erro geral indicado acim a objetam os a este sistem a do seguinte modo: T e o l o g ia S is t e m á t ic a 147 1. Em conhecendo a m atéria, a m ente se ju lg a necessariam ente diferente em gênero e em nível m ais elevado do que a m atéria que ela conhece. 1) Expomos aqui simplesmente uma convicção intuitiva. Ao usar seu organismo físico e ao pôr a natureza exterior a seu serviço, a mente reconhe ce-se diferente da matéria e superiora ela. VerM ARTiNEAU, citado na Brit. Quar., April, 1882.173, e no artigo do P r e s id e n t e T h o m a s H il l , Bibliotheca Sacra, abril, 1852.353 - “Tudo o que, na verdade, a ação sentido-percepção dá é existên cia do eu consciente, flutuando no ilimitado espaço e no ilimitado tempo rodea do e apoiado pela ilimitada força. A matéria móvel, que inicialmente pensa mos ser a grande realidade, é apenas a sombra do nosso verdadeiro ser, que é imaterial”. H a r r is , Philos. Basis of Theism, 3 17 - “Imagine um ser infinitesimal no cérebro, vigiando a ação das moléculas, mas omitindo o pensamento. Do mesmo modo a ciência observa o universo, mas omite Deus”. R o b e r t B r o w n in g , “ o mais sutil afirmador da alma em cântico”, faz o Papa, em Anel e o Livro, dizer: “A mente não é matéria, nem provém da matéria, mas do alto”. De igual modo o P r e s id e n t e F r a n c is W a y l a n d : “O que é a men te”? “O que é a matéria”? “Não vai ao caso”. S u l l y , The Human Mind, 2.369 “A consciência é uma realidade inteiramente distinta dos processos materiais e, por isso, não pode ser resolvida neles. O materialismo faz o que é conheci do imediatamente (nossos estágios mentais) subordinado àquilo que só indi retamente ou por inferência se conhece (coisas exteriores). Contudo, é um absurdo uma entidade material existente per se fora da relação com uma mente pensante”. Como os materialistas elaboram a sua teoria, a sua assim chamada matéria torna-se cada vez mais etérea, até, finalmente, chegar a um estágio quando não se pode distinguir daquilo que os outros chamam de espírito. M a r t in e a u : “A matéria que eles descrevem é tão excessivamente inteligente, que a tudo supera, mesmo ao escrever Hamlet e ao descobrir a sua própria evolução. Em resumo, mas ao soletrar o seu nome, ela não pare ce diferir apreciavelmente dos nossos velhos amigos: Mente e Deus”. A. W . M o m e r ie , Christianity and Evolution, 54 - “Um ser consciente da sua unidade não pode, possivelmente, ser formado de numerosos átomos inconscientes da sua diversidade. Qualquer pessoa que pensa ser isto possível é capaz de afirmar que meia dúzia de tolos poderiam resultar em um sábio”. 2. Visto que os atributos da m ente - d) identidade contínua, b) atividade própria, c) não relacionam ento com o espaço - são diferentes em gênero e de nível m ais elevado que os atributos da m atéria, é racional concluir que a m en te é em si m esm a diferente da m atéria em gênero e m ais elevada em nível que esta. Este é um argumento a partir das qualidades específicas que é subjacen te às qualidades e as explica, a) A memória prova a identidade pessoal. Não se trata de uma identidade de átomos materiais, porque os átomos mudam. As moléculas que vêm não podem lembrar as que partiram. Há alguma parte imutável no cérebro, organizado, ou não? O organizado desaparece; o desor 148 A ugustus H opkins Strong ganizado = a alma. b) A inércia mostra que a alma move-se a si mesma. Duas porções são necessárias, e estas, para a ação útil, requerem o ajuste através de uma força que não pertence à matéria. Evolução do universo é inexplicá vel a não ser que a matéria seja movida primeiro por alguma força exterior a si mesma, c) As mais elevadas atividades da mente independem das condi ções físicas. A mente controla e domina o corpo. Ela não pára de desenvol ver-se mesmo quando o corpo pára de crescer. Quando o corpo se aproxima da dissolução, a mente, com freqüência, afirma-se mais notadamente. K a n t : “A unidade da apreensão é possível por causa da unidade transcen dental da autoconsciência”. Obtenho a minha idéia de unidade a partir do eu indivisível. S t o u t , Manual of Psichology, 53 - “Até onde a matéria existe, inde pendentemente da presença de um sujeito cognitivo, não pode ter proprieda des materiais, tais como extensão, dureza, cor, peso etc. ... O mundo dos fenômenos materiais pressupõe um sistema de atuação imaterial. Neste se origina a consciência individual. Alguns dizem que este agente é o pensa mento, outros, que é a vontade". A. J. D u b o is , in Century Magazine, dez. 1894.228 - Visto que cada pensamento envolve um movimento molecular no cérebro e este movimenta o universo inteiro, a mente é o segredo do universo e não devemos interpretar a natureza como a expressão de um propósito subjacente. A ciência é a mente que segue os traços desta. Não pode haver mente sem uma antecedente. O fato de que todos os seres humanos têm os mesmos modos mentais mostra que estes não se devem somente ao meio ambiente. B o w n e : “As coisas agem sobre a mente e esta reage com o conhe cimento. O conhecimento não é uma aquisição passiva, mas uma construção ativa”. W u n d t : “Somos compelidos a admitir que o desenvolvimento físico não é a causa, porém é muito mais; é o efeito do desenvolvimento psíquico”. P a u l C a r u s , Soul of Man, 52-64, define a alma como “a forma de um orga nismo”, e a memória como “o aspecto psíquico da preservação da forma na substância viva”. Isto parece dar prioridade ao organismo ao invés de dá-la à alma, sem considerar o fato de que sem a alma não se concebe o organismo. A argila não pode ser o ancestral do oleiro, nem a pedra o ancestral do pedreiro, nem a madeira, do carpinteiro. W. N. C l a r k e , Christian Theology, 99 - “A inteligibilidade do universo para nós é forte e evidência sempre presente de que há uma Mente racional que invade todas as coisas e, a partir dela, o universo recebe a sua caraterística”. À máxima “cogito, ergo sum” devemos acrescentar a outra: “Intelligo, ergo Deus est”. P f l e id e r e r , Philos. Relig., 1 .2 7 3 - “Toda a filosofia idealística dos tempos modernos é, de fato, a elaboração e o embasamento da convicção de que o Espírito ordena a Natureza como um meio subserviente visando aos seus fins eternos; por isso não é, como pen sava o naturalismo pagão, um e todos, a última e mais elevada das coisas, mas tem sobre si o Espírito e os fins morais, como seu Senhor e Mestre”. A percepção pela qual as coisas são conhecidas precede-as na ordem lógica e, por isso, não pode ser explicada através delas ou derivar delas. 3. P o r isso, não a m atéria, mas a m ente deve ser considerada com o a enti dade original e independente a m enos que se possa cientificam ente dem ons trar esta é material na sua origem e natureza. M as são reconhecidam ente falhas T e o l o g ia S is t e m á t ic a 149 todas tentativas de explicar o psíquico a partir do físico, o orgânico a partir do inorgânico. Q uando m uito, o que se pode reivindicar é que as m udanças psí quicas são sem pre acom panhadas de m udanças físicas e que o inorgânico é o esteio do orgânico. A pesar de que se desconhece a exata conexão entre a m en te e o corpo, o fato de que a continuidade das m udanças físicas é insolúvel quando da atividade psíquica to m a certo que a m ente não é um a transform a ção da força física. Se os fatos da sensação indicam a dependência da m ente em relação ao corpo, os fatos da volição igualm ente indicam a dependência do corpo em relação à m ente. O químico pode produzir substâncias orgânicas, mas não organizadas. A vida não pode ser produzida a partir da matéria. Mesmo nas coisas vivas só o plano pode garantir o progresso. A multiplicação da vantagem desejada no esquema darwiniano requer um pensamento selecionado; a saber, afinal de contas, a seleção natural é artificial. J o h n F is k e , Destiny ofthe Creature, 109 “A fisiologia do cérebro diz-nos que, durante a vida presente, apesar de que o pensamento e o sentimento sempre se manifestam em conexão com uma forma peculiar da matéria, ainda não pode haver nenhuma possibilidade do pensamento e o sentimento serem produtos da matéria. Nada pode ser mais grosseiramente anticientífico do que a famosa nota de C a b a n is , de que o cére bro segrega o pensamento como o fígado segrega a bílis. Nem mesmo se deve dizer que se processa no cérebro. O que se processa no cérebro é uma série admiravelmente complexa de movimentos moleculares com os quais o pensamento e o sentimento são de alguma desconhecida forma correlatos, não como efeitos ou como causas, mas como concomitantes”. A “harmonia preestabelecida” de L e ib n it z indica a dificuldade de definir a relação entre a mente e a matéria. Elas são como dois relógios inteiramente desconexos, um dos quais tem o mostrador e indica a hora através dos pon teiros, enquanto o outro simultaneamente indica a mesma hora por seu apa relho de bater as horas. Para L e ib n it z o mundo é um agregado de almas atô micas que conduz almas absolutamente separadas. Não há nenhuma ação real de um sobre o outro. Tudo na mônada é o desenvolvimento de sua ativi dade não estimulada. Contudo, há uma harmonia entre todos eles ordenada desde o começo pelo Criador. O desenvolvimento interno de cada mônada ajusta-se de tal modo a todas as outras que produz a falsa impressão de que elas são mutuamente influenciadas entre si. A teoria de L e ib n it z envolve a completa rejeição da liberdade da vontade humana no sentido libertário. Para escapar desta arbitrária conexão da mente e da matéria na harmonia prees tabelecida de L e ib n it z , S p in o z a rejeita a doutrina cartesiana das duas substân cias criadas por Deus e sustenta que há apenas uma substância, a saber, o próprio Deus. Há um fluxo aumentado de sangue para a cabeça nos tempos de ativida de mental. Às vezes, no calor intenso da composição literária, o sangue brota com fartura através do cérebro. Nenhuma diminuição da atividade física acom panha os maiores esforços da mente, mas um maior aumento dela. “A cons ciência causa mudanças físicas, porém a recíproca não é verdadeira. Dizer 150 A ugustus H opkins Strong que a mente é uma função do movimento é dizer que a mente é uma função de si mesma, porque o movimento só existe em função da mente. É melhor supor que os elementos físicos e psíquicos são apenas um, do mesmo modo que o som do violino é a mesma coisa que a vibração. A volição é uma causa na natureza porque tem atuação cerebral do seu lado anverso e inseparável. Mas, se não há movimento sem a mente, então não pode haver universo sem Deus”. ... 34 - Porque dentro dos limites da experiência humana só se conhe ce a mente associada com o cérebro, não se segue que a mente não pode existir sem ele. A explicação de H e l m h o l t z sobre o efeito de uma das sonatas de Beethoven no cérebro pode ser perfeitamente corrigida, mas a explicação do efeito causado por um músico pode igualmente ser corrigida dentro da sua categoria”. H e r b e r t S p e n c e r , Principies of Psichology, 1. par. 56 - “Duas coisas coe xistem: a mente e a ação nervosa; mas não podemos imaginar de que forma elas se relacionam”. T y n d a l l , Fragments o f Science, 120 - “É impossível pen sar na passagem da física do cérebro para os fatos”. S c h u r m a n , Agnosticism and Religion, 95 - “Facilmente se crê que a metamorfose das vibrações para as idéias conscientes é um milagre em comparação com a flutuação do ferro (2 Re. 6.6), ou a transformação da água em vinho”. Bain, Mind and Body, 131 - Não há rompimento na continuidade física. 4. N egando a prioridade do espírito, a teoria m aterialista não pode fornecer nenhum a causa suficiente das m ais elevadas caraterísticas do universo exis tente, a saber, sua inteligência pessoal, suas idéias intuitivas, sua livre vonta de, seu progresso m oral, sua crença em Deus e na im ortalidade. H e r b e r t , Modern Realism Examined. “O materialismo não tem nenhuma evidência física da existência da consciência nos outros. Como ele declara que os nossos semelhantes são destituídos de iivre vontade, deve declarar também que o são de consciência; deve chamá-los, do mesmo modo que os brutos, de puros autômatos. S e o elemento físico é tudo, nem Deus, nem o homem existem”. Alguns dos mais antigos seguidores de Descartes costu mavam chutar os seus cães e bater neles, rindo enquanto eles ganiam, cha mando-os de “máquinas de chiar”. H u x l e y , que chama os brutos de “autôma tos conscientes”, crê no gradual banimento daquilo que chamamos espírito e espontaneidade de todas as regiões do pensamento humano; trata-se ape nas de um efeito sem causa". C l e r k M a x w e l l , Life, 428 - “Tenho olhado para a maior parte dos sistemas filosóficos e nada vi que opere sem um Deus”. P r e s id e n t e E. B. A n d r e w s : “A mente é a única coisa substantiva neste universo; tudo o mais é adjetivo. A matéria não é primordial, mas é uma função do espírito”. T h e o d o r e P a r k e r : “O homem é o mais elevado produto da sua própria história. O descobridor não encontra nada de tamanha estatura e grandeza como ele mesmo; nada tão valioso como ele. A maior estrela acha-se no pequeno terminal do teles cópio - ela olha, e não indaga, e nem vê”. O materialismo faz do homem “uma comitiva sério-cômica de figuras de cera ou de graciosos elencos de barro” (Bowne). O homem é “o mais gracioso T e o l o g ia S is t e m á t ic a 151 dos relógios”. Mas se não existisse nada a não ser a matéria, não poderia haver materialismo porque um sistema de pensamento como este implica consciência. M a r t in e a u , Types, prefaces, xii, xiii - “É a irresistível alegação da consciência moral que primeiro me induziu a rebelar-me contra os limites da concepção simplesmente científica. Tornou-se incrível para mim que nada era possível a não ser o real”. D e w e y , Psichology, 84 - “Sem elementos ideais o mundo seria o lar formado de quatro paredes e um teto para proteger do frio e da chuva; a mesa, uma refeição para animais; e o túmulo, um buraco na terra”. O m a r K h a y y á m , Rubaiat, estrofe 72 - “E aquela tigela invertida chamam de Céu, sob o qual, engaiolados vivemos e morremos, levantamos as mãos pedindo-lhe auxílio - porque a impotência nos impele tanto a você como a mim”. V ít o r H u g o : “Você diz que a alma nada é a não ser o resultado das forças corpóreas? Por que, então, a minha alma se mostra mais luminosa quando as minhas forças corporais começam a fracassar? O inverno cobre a minha cabeça, e a eterna primavera domina o meu coração. ... Quanto mais me aproximo do fim, mais claramente ouço as imortais sinfonias dos mundos, que me convidam”. D im a n , Theistic Argument, 348 - “O materialismo nunca pode explicar o fato de que a matéria sempre está combinada com a força. Princípios coorde nados? então se trata de dualismo ao invés de monismo. Força causa da matéria? então preservamos a unidade, mas destruímos o materialismo; por que ligamos a matéria a uma fonte imaterial. Atrás da multiplicidade das for ças naturais devemos postular alguma força simples - que nada pode a não ser a mente coordenadora”. M a r k H o p k in s resume o materialismo na Princenton Rev., nov. 1879.490, da seguinte maneira: “1. O homem, que é uma pes soa, é feito por uma coisa, isto é, matéria. 2. A matéria deve ser adorada como criadora do homem, se ela deve ser alguma coisa (Rm. 1.25). 3. O homem deve adorar a si mesmo - o seu Deus é o ventre”. H. IDEALISMO MATERIALISTA O idealism o propriam ente dito é o m étodo de pensam ento que considera todo o conhecim ento com o versado só com os sentim entos da mente perceptiva. Seu elem ento de verdade consiste no fato de que tais sentim entos da mente perceptiva são condições do nosso conhecim ento. Seu erro está em negar que através destes e nestes conhecem os aquilo que existe independentem ente da nossa consciência. O idealism o dos nossos dias é principalm ente m aterialista. D efine a m até ria e a m ente de igual m odo em term os de sensação e considera am bos como lados opostos ou m anifestações sucessivas de um a força subjacente e desco nhecida. O moderno idealismo subjetivo é o desenvolvimento de um princípio fun dado desde L o c k e . Ele deriva todo o nosso conhecimento da sensação; a mente apenas combina as idéias que a sensação fornece, mas não dá matéria 152 A ugustus H opkins Strong alguma propriamente sua. Berkeley sustenta que exteriormente podemos estar certos somente das sensações; não se pode estar certo de qualquer mundo exterior sem a mente. O idealismo de B erkeley , contudo, é objetivo; porque ele sustenta que, conquanto as coisas não existem independentes da cons ciência, elas independem da nossa consciência, a saber, na mente de Deus, que na filosofia correta toma o lugar de um mundo exterior que não tem a mente como a causa das nossas idéias. De igual modo, K ant defende exis tências fora das nossas mentes embora as considere como desconhecidas e desconhecíveis. Em oposição a estas formas de idealismo objetivo devemos colocar o subjetivo de Hume, que sustenta que internamente também não podemos estar certos de qualquer coisa que não sejam os fenômenos men tais; conhecemos pensamentos, sentimentos e vontade, mas não conhece mos a substância mental dentro deles, mais do que a substância material de fora; nossas idéias são uma fieira de contas sem qualquer fieira; não neces sitamos de causa alguma para estas idéias, no mundo exterior, na alma, ou em Deus. M ill , S pencer , B ain e T yndall são humistas (seguidores de) e é ao idealismo subjetivo deles que nos opomos. Todos eles consideram o átomo material como um simples centro de for ça, ou uma causa hipotética das sensações. Por isso a matéria é uma mani festação da força como para o velho materialismo a força era uma proprieda de da matéria. Mas se matéria, mente e Deus são apenas sensações, então o corpo não é nada mais que sensações. Não há nenhum corpo com a finalida de de ter sensações e nenhum espírito, a não ser o humano e o divino, que as produzam. J ohn S tuart M ill, Examination of Sir William Hamilton, 1.234-253, faz das sensações as únicas fontes originais do conhecimento. Ele define a matéria como “uma possibilidade permanente da sensação”, e a mente como “uma série de sentimentos despertos para ela mesma”. Deste modo, Huxley chama a matéria “tão somente um nome da causa desconhecida dos estados da consciência”; apesar disso, ele também declara: “S e sou compelido a escolher entre o materialismo de um homem como Büchner e o materialismo de Berkeley, optarei por Berkeley”. Ele defende a prioridade da matéria e ainda considera-a totalmente ideal. Visto que J ohn S tuart M ill, de todos os materialistas idealistas, dá as mais precisas definições da matéria e da men te, tentaremos mostrar a inadequação deste modo de tratar o assunto. Porter sustenta que a percepção original dá-nos somente os sentimentos do nosso próprio aparelho sensorial do corpo; como causa deles adquirimos o conhecimento da extensa exterioridade. S ir W illiam H amilton : “A sensação própria não tem nenhum objetivo a não ser um sujeito-objeto”. Mas P orter e H amilton sustentam que, através destas sensações conhecemos aquilo que existe independentemente das nossas sensações. O realismo natural de H amilton, contudo, é um exagero da verdade. B owne, Introd. To Psych. Theory, 257, 258 - “No desejo de S ir W illiam H amilton de não ter nenhum intermédio na percepção, ele se sente forçado a sustentar que cada sensação é sentida onde parece estar e por isso a mente ocupa o corpo inteiro. Do mesmo modo ele foi obrigado a afirmar que o objeto da visão não é a coisa em si, mas os raios de luz e, mesmo que o próprio objeto tivesse ao menos trazido à cons ciência. Assim ele chegou ao absurdo de que o verdadeiro objetivo da per cepção é algo de que somos totalmente inconscientes”. Seguramente não T e o l o g ia S is t e m á t ic a podemos estar imediatamente conscientes do que está fora do nosso conhe cimento. J a m e s , Psychology, 1.1 1 - “Os órgãos terminais são telefones, e as células cerebrais são os receptores que a mente ouve”. Existe, contudo, um idealismo que não está aberto às objeções de H amilton, às quais os filósofos modernos, em sua maioria, aderiram. É o idealismo objetivo de L otze. Ele argumenta que nada conhecemos sobre a extensão do mundo a não ser através do ar ou do éter, e o interpretamos como som, luz, movimento, conforme eles afetam nossos nervos auditivos, ópticos, ou táteis. Mas a única força que conhecemos imediatamente é a da nossa vontade; afinal de contas não podemos entender a matéria, ou devemos entendê-la como o produto de uma vontade comparável à nossa. As coisas são apenas “leis concretas de ação”, ou idéias divinas a que a vontade divina deu a reali dade permanente. Já vimos na seção anterior que os átomos não podem explicar o universo; eles pressupõem tanto as idéias como a força. Agora podemos ver que tal força pressupõe a vontade e tais idéias pressupõem a mente. Mas como se pode ainda reivindicar que esta mente não é autoconsciente e que esta vontade não é pessoal, passaremos na seção seguinte a considerar o Panteísmo Idealista de que tais reivindicações são caraterísticas. O Idealismo Materialista, na verdade é apenas a residência em meio ao caminho entre o Materialismo e o Panteísmo em que a lógica da inteligência não encontra nenhum abrigo permanente. Lotze, Outlines of Metaphysics, 1 5 2 - “Pelo exposto, a objetividade do nosso conhecimento consiste em que não é despropositado tratá-lo como simples aparência; mas põe diante de nós um mundo cuja coerência se orde na na busca da injunção da Realidade única do mundo, a profundidade do entendimento, o Bem. Por isso, o nosso conhecimento possui mais verdade do que se copiasse exatamente um mundo que não tem valor em si mesmo. Embora não compreenda tudo o que é fenômeno que se apresenta à vista, ainda entende qual é o seu sentido total; é como o espectador que compreen de a significação estética daquilo que ocorre no palco de um teatro e não obteria nada de essencial se ele fosse ver ao lado o mecanismo pelo qual alteram-se os efeitos no referido palco”. P r o f. C. A. S tro n g : “A percepção é uma sombra lançada sobre a mente por uma coisa em si mesma”. A sombra é o símbolo da coisa; e, como as sombras não têm alma nem vida, pode parecer que os objetos físicos também não têm alma e são mortos, conquan to a realidade simbolizada nunca é a da presença de uma alma e de uma vida. A consciência é uma realidade. A única existência que podemos conce ber é de natureza mental. Toda a existência em favor da consciência é, na verdade, da consciência. A sombra do cavalo o acompanha, mas não o ajuda a puxar a carroça. O evento cerebral é apenas o estado mental em si mesmo considerado a partir do ponto de vista da percepção”. A ris tó te le s : “A natureza da substância antecede ao relacionamento” = não pode haver relacionamento sem coisas que se relacionem. Fichte: O conheci mento, exatamente porque é conhecimento, não é realidade; não vem em primeiro lugar, mas em segundo". V e it c h , Knowing and Being, 2 1 6 , 2 1 7 , 2 9 2 , 2 9 3 - “O pensamento nada pode fazer, senão como um sinônimo do Pensa dor. Nem o consciente finito, nem o infinito, sozinhos ou juntos, podem cons tituir um objeto exterior ou explicar a sua existência. Esta logicamente precede 153 154 A ugustus H opkins Strong a sua percepção. Percepção não é criação. Não é o pensar que faz o ego, mas o ego que faz o pensar”. S eth , Hegelianism and Personality. “Os pensa mentos divinos pressupõem um Ser divino. Os pensamentos de Deus não constituem o mundo real. A força real não se encontra neles; ela está no Ser divino, como vontade viva e ativa”. Eis aqui o erro fundamental de H egel, que considera o universo simplesmente como uma idéia e tributa pouco pensa mento ao Amor e à Vontade que o constituem. A este ponto de vista podem os apresentar as seguintes objeções: 1. Sua definição de m atéria com o um a “perm anente possibilidade de sen sação” contradiz nosso juízo intuitivo de que, conhecendo os fenôm enos da m atéria, tem os o conhecim ento direto da substância com o fenôm enos subja centes, distintos das nossas sensações, e exteriores à mente que as experimenta. B owne , Metaphysics, 432 - “Provavelmente pode-se desconhecer a pos sibilidade de um odor ou gosto ser a causa da cor amarelada de uma laranja, a não ser para a mente que entende que dois mais dois são cinco”. M artineau , Study, 1.10 2 -112 - “S e as impressões exteriores são telegrafadas para o cérebro, a inteligência deve receber a mensagem no começo assim como liberá-la no fim. ... É o objeto exterior que dá a possibilidade, não a possibili dade que dá o objeto exterior. A mente não pode ser tanto a sua própria cognita como a sua cognitio. Não se pode dispensar uma base de apoio para os pés, ou a atmosfera para as asas”. Professor C harles A. S trong : “K ant sustenta que as coisas em si mesmas têm como retaguarda os fenômenos físicos bem como as coisas em si têm como retaguarda os fenômenos men tais; o seu pensamento é que as coisas em que formam a retaguarda da força física são idênticas às coisas em si como retaguarda dos fenômenos men tais. E visto que os fenômenos mentais, nesta teoria, não são espécimes da realidade e a realidade manifesta-se indiferentemente através delas e dos fenômenos físicos, naturalmente ele conclui que nós não temos base para supor que a realidade seja semelhante ou, que devemos concebê-la com ‘weder Materie noch ein denkend W esen’, ‘nem matéria nem ser pensante’, uma teoria do desconhecível. Seria o caso também do Impensável e do Indizível!” R alph W aldo E merson era um idealista subjetivo; mas, quando chama do a inspecionar uma carga de madeira de um fazendeiro, disse aos seus companheiros: “Desculpem-me por um momento, meus amigos; temos que dar atenção a estes assuntos, como se fossem reais”. 2. Sua definição de m ente com o “um a série de sentim entos conscientes dela m esm a” contradiz nosso juízo intuitivo de que, conhecendo os fenôm e nos da m ente, tem os conhecim ento direto de um a substância espiritual de que tais fenôm enos são m anifestações, que retém sua identidade independente m ente de nossa consciência e que, neste conhecer, ao invés de ser o recipiente passivo das im pressões vindas de fora sem pre age a partir de dentro através de um a força que lhe é própria. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 155 J ames , Psichology, 1.226 - “ É co m o se o fa to p síq u ico e le m e n ta r não fosse pensamento , ou este pensamento, ou aquele pensamento, m as o meu pen samento e tod o ele po ssuído . O fa to co n s c ie n te u n ive rsa l não é o de que ‘os p e n sa m e n to s e s e n tim e n to s e x is te m ’, m as o de que ‘eu p e n s o ’, e ‘eu s in to ”’. O P rofessor J ames é compelido a dizer isto apesar de que ele começa a sua obra Psicologia sem insistir na existência de uma alma. H amilton , Reid, 443 - “Acaso suporei que o pensamento subsiste por si mesmo? ou que as idéias podem sentir prazer ou dor”? R. T. S mith , Man’s Knowledge, 44 - “Dizemos ‘minhas noções e minhas paixões’ e, quando empregamos tais expressões, implicamos que o nosso eu central se sente algo diferente das noções ou paixões que lhe pertencem, ou caraterizam-no durante um certo tempo”. Lichtenberg: “Deveríamos dizer: ‘Pensa-se’; do mesmo modo que dizemos: ‘Brilha’, ou ‘Chove”. Então as faculdades são uma arma sem um general, ou uma locomotiva sem um maquinista? Neste caso não deveríamos ter, sensa ções; mas ser sensações. P rofessor C. A. S trong : “Tenho conhecimento de outras mentes. Este conhecimento não empírico - que transcende as coisas em si não derivam da experiência nem do raciocínio e, ao admitir que semelhantes conseqüências (movimentos inteligentes) devem ter semelhantes antecedentes (pensamen tos e sentimentos) e, ao admitir também instintivamente que existe algo fora da minha mente - isto refuta o fenomenalismo pós-kantiano. Percepção e memória também envolvem transcendência. Em ambas eu transcendo os limites da experiência de modo tão verdadeiro como no meu conhecimento de outras mentes. Na memória eu reconheço um passado, distinto do presen te. Na percepção eu conheço uma possibilidade de outras experiências semelhantes ao presente e isto só dá um senso de permanência e realidade. A percepção e a memória refutam o fenomenalismo. Convém admitir as coisas em si a fim de preencher as lacunas entre as mentes individuais e dar coerên cia e inteligibilidade ao universo e desta forma evitar o pluralismo. S e a maté ria pode influenciar e mesmo extinguir as nossas mentes, ela deve ter alguma força de si mesma, alguma existência de si mesma. S e a consciência é um produto evolutivo, deve ter surgido de fatos mentais mais simples. Porém tais fatos mentais são apenas outro nome para as coisas em si mesmas. Um pro fundo instinto pré-racional compele-nos a reconhecê-los porque não se pode demonstrá-los logicamente. Devemos admiti-los para dar continuidade e inte ligibilidade às nossas concepções do universo”. 3. Até onde esta teoria considera a m ente com o o anverso da m atéria ou com o um m ais tardio e m ais elevado desenvolvim ento da m atéria, m era refe rência tanto da m ente com o da m atéria a um a força subjacente não poupa a teoria de quaisquer dificuldades do já m encionado m aterialism o puro; por que, neste caso, tam bém a força é considerada com o puram ente física e se nega a prioridade do espírito. H erbert S pencer , Psychology, citado por F iske , Cosmic Philosophy, 2.8 0 “A mente e a ação nervosa são faces subjetivas e objetivas da mesma coisa. A ugustus H opkins Strong 156 Contudo ainda continuamos totalmente incapazes de ver, ou mesmo de ima ginar, como ambas se relacionam. A mente ainda continua a ser para nós algo como o reinado de outras coisas”. O w en , Anatomy of Vertebrates, citado por T albot , Bap. Quar., Jan. 18 7 1.5 - “Tudo que eu sei sobre a matéria e a mente em si é que aquela é um centro exterior da força e esta um centro interior”. New Engtander, set. 1883.636 - “S e o átomo for simplesmente um centro da força e não uma coisa real em si, então ele é uma essência supersensívei, um ser imaterial. Fazer de algo imaterial a fonte da mente cons ciente é fazer algo tão maravilhoso como uma alma imortal ou um Cria dor pessoal”. M artineau , Study, 102-130, e Relig. and Mod. Materialism, 2 5 “S e se toma a mente para construir o universo, como pode a negação da mente constituí-lo”? D avid H ill , Genetic Philosophy, 200,201, parece negar que o pensamento precede a força ou que a força precede o pensamento: “Objetos, ou coisas do mundo exterior, podem ser os elementos do processo do pensamento em um assunto cósmico sem que eles mesmos estejam conscientes. ... Uma verda deira análise e uma gênese racional requerem o igual reconhecimento dos elementos da experiência tanto objetiva quanto subjetiva sem prioridade de tempo, separação no espaço ou ruptura do ser. Até onde as nossas mentes podem penetrar a realidade, descoberta nas atividades do pensamento, em qualquer lugar enfrentamos uma Razão Dinâmica”. No relato do D r. H ill sobre a gênese do universo, contudo, vem em primeiro lugar o inconsciente e dele parece derivar o consciente. A consciência do objeto é apenas o anverso do objeto da consciência. Isto é, segundo assinala M artineau , Study, 1.341, fazer o mar embarcar no navio”. Preferimos grandemente o ponto de vista de L otze , 2.641 - “As coisas são atos do Infinito operadas só dentro das mentes ou estados que o Infinito não experimenta em parte alguma a não ser nas mentes. ... As coisas e os eventos são a soma das ações que o mais elevado Princípio apresenta em todos espíritos de modo tão uniforme e coerente que, para tais espíritos pode parecer um mundo de coisas substanciais e eficien tes que existem no espaço fora delas”. Os dados dos quais extraímos nossas inferências quanto à natureza do mundo exterior mental e espiritual é mais racional atribuir ao mundo uma realidade espiritual do que aquela de que a nossa experiência não tem nenhum conhecimento. 4. A té onde esta teoria sustenta a força subjacente de que a m atéria e a m ente são m anifestações em qualquer sentido inteligentes e voluntárias, torna necessária a suposição de que há um Ser inteligente e voluntário que exerce tal força. As sensações e as idéias, contudo, só são explicáveis com o m anifes tações da M ente. Muitos recentes pensadores cristãos como M urphy , Scientific Bases of Faith, 13-15, 29-36, 42-52, definiriam a mente como uma função da matéria, a matéria como função da força, a força como função da vontade e, conse qüentemente, o poder de um Deus onipresente e pessoal. Toda força, exceto a da vontade livre do homem, é a vontade de Deus. Escritores como H erschel, T e o l o g ia S is t e m á t ic a Lectures, 460; A rgyll , Reign of Law, 12 1-127; W allace , ort Nat. Selection, 363-371; M artineau , Essays, 1.63, 121, 145, 265; B ow en , Metaph. and Ethics, 146-162, são levados à sua conclusão em grande parte pelas considerações ^e que nenhuma coisa morta pode ser uma causa própria; essa vontade é a única causa de que temos conhecimento imediato; que as forças da natureza são inteligíveis só quando consideradas como esforços da vontade. Por isso a matéria é o centro da força - a expressão da mente e da vontade de Deus regular e, como se fosse, automática. As causas secundárias na natureza são apenas atividades secundárias da grande Primeira Causa. B owne sustenta também este ponto de vista em sua Metaphysics. Ele con sidera como real apenas a pessoalidade. A matéria é fenomenal, embora seja uma atividade da vontade divina fora de nós. Por isso, o fenomenalismo de B owne é um idealismo objetivo, altamente preferível ao de B erkeley, que, na verdade, defende a energia de Deus, mas só dentro da alma. Este idealis mo de Bowne não é panteísmo, pois sustenta que, conquanto não haja causas secundárias na natureza, o homem é uma segunda causa com uma pessoa lidade distinta da de Deus e elevada acima da natureza pelas forças da von tade livre. Contudo, R oyce , Religious Aspect of Philosophy, and The World andthe Individual, faz a consciência do homem uma parte ou aspecto de uma consciência universal e, assim, em vez de fazer Deus vir à consciência no homem, faz o homem vir à consciência em Deus. Enquanto em um ponto de vista este esquema parece poupar a pessoalidade de Deus, pode-se duvidar que garanta igualmente a pessoalidade do homem ou abra espaço para a liberdade, a responsabilidade, o pecado e a culpa do homem. B owne , Philos. Theism, 175 - “A ‘razão universal’ é um termo de classe que não denota nenhuma existência possível e que tem realidade só na existência possível de que se abstrai”. Bowne reivindica que o finito impessoal só tem procedi mento de um outro quando um pensamento ou ato o tem para com o seu sujeito. Não há nenhuma existência substancial a não ser em pessoas. Seth, Hegelianismo e Pessoalidade: “O neokantismo erige a Deus a simples for ma da consciência própria em geral, isto é, confunde consciência überhaupt (genérica) com uma consciência universal’. Bowne , Theory of Thought and Knowledge, 3 18-34 8 - “Há na existência algo que não seja eu mesmo? Sim. Para escapar ao solipsismo devo admitir ao menos outras pessoas. Existe o mundo de objetos que só aparecem para mim? Não; ele existe também para os outros, de modo que vivemos num mundo comum. E este mundo comum consiste em algo mais do que uma semelhança de impressões nas mentes infinitas, de modo que além dele não há nada? Este ponto de vista não pode ser desaprovado, mas concorda tão mal com a nossa experiência total que é praticamente impossível. Então, o mundo das coisas é uma existência contínua de algum tipo finito independente do pensamento e da consciência? Este ponto de vista não pode ser demons trado, mas é o único que não envolve dificuldades insuperáveis. O que é a natureza e onde fica o lugar desta existência cósmica? Eis a questão entre o Realismo e o Idealismo. O Realismo vê as coisas existirem num espaço real e como verdadeiras entidades ontológicas. O Idealismo tanto as vê como o espaço em que elas estão existindo só, como para úma Inteligência cósmi ca e independente de serem elas absurdas e corrtráditórias. As coisas inde- 157 158 A ugustus H opkins Strong pendem do nosso conhecimento total, de uma grosseira materialidade que é a antítese e negação da consciência”. III. PANTEÍSMO IDEALISTA Panteísm o é o m étodo de pensam ento que concebe o universo com o o desenvolvim ento de um a substância inteligente e voluntária, em bora im pes soal, que atinge a consciência só no hom em . Portanto, identifica Deus, não com cada objeto individualm ente no universo, m as com a totalidade das coi sas. O Panteísm o corrente nos nossos dias é idealista. Os elem entos de verdade no Panteísm o são a inteligência e a voluntariedade de D eus e sua im anência no universo; seu erro está em negar a pessoalidade e transcendência de Deus. O panteísmo nega a existência real do finito ao mesmo tempo que priva o infinito da sua consciência própria e liberdade. H utton , Popular Pantheism, in Essays, 1.56-76 - “O ‘creio em Deus’ do panteísta é uma contradição. Ele diz: ‘Eu percebo o exterior diferente de mim mesmo; porém, ao refletir mais tar de, percebo que tal exterioridade era em si mesmo um agente percebedor’. Assim, o objeto de adoração afinal de contas é o próprio adorador”. H arris , Philosophical Basis of Theism, 173 - “O homem é uma garrafa nas águas do oceano, por pouco tempo distinguível por sua limitação dentro da garrafa, mas perdida outra vez no oceano tão logo estes frágeis limites se quebrem”. M artineau , Types, 1.23 - A simples imanência exclui o Teísmo; a transcen dência conserva-o ainda possível; 211-22 5 - O panteísmo declara que “não existe nada a não ser Deus; ele não é apenas causa, mas efeito total; ele é tudo em todos”. Espinosa tem sido chamado falsamente “o homem intoxicado de Deus”. “Ao contrário, Spinoza trouxe Deus para o universo; foi Malebranche que o transfigurou em Deus”. O bramanismo tardio é panteísta. R owland W illiam s , Christianity and Hinduism, citado em M osley , Miracles, 284 - “No estado final a pessoalidade desvanece. Você não aceita, diz o brâmane, o termo ‘vazio’ como descrição adequada da natureza misteriosa da alma, mas você a apreenderá claramen te no estado fina! para tornar-se um pensamento, conhecimento, regozijo invisível e intocável - o que vem a ser o próprio Deus”. F lint, Theism, 69 “Onde se deseja o fim da existência, como entre os hindus, há marcante inca pacidade de pensar em Deus como causa ou vontade e constante tendência inveterada para o panteísmo”. H egel nega a transcendência de Deus: “Deus não é um espírito além das estrelas; ele é um espírito em todo espírito”; o que significa que Deus, o impessoal e inconsciente Absoluto, vem apenas à consciência do homem. S e o sistema eterno dos pensamentos abstratos fossem por si mesmos cons cientes, o consciente finito desapareceria; daí a alternativa: ou\não Deus />u não homem. S tirling : “A Idéia, desta forma concebida, é um ídofo-eegofsurdo, invisível e a teoria é a mais desesperançada jamais apresentada à huma- T e o l o g ia S is t e m á t ic a nidade”. Trata-se de uma autolatria prática, ou autodeificação. O mundo reduz-se a um mero processo de lógica; o pensamento pensa; há pensamen to sem pensador. A esta doutrina de H egel podemos opor as seguintes notas de L otze : “Não podemos fazer a mente o equivalente ao infinitivo pensar, sentimos para que isto possa ser aquilo que pensa; a essência das coisas não pode ser ou a existência ou a atividade; ela deve ser aquilo que existe e aquilo que age. Pensar não significa nada se deixarmos de fora o conceito de um sujeito distinto daquelas e de que eles procedem”. Para H egel, o Ser é o Pensamento; para S pinosa o ser tem Pensamento + Extensão; parece que a verdade é que o ser tem Pensamento + Vontade e pode revelar-se na exten são e na evolução (Criação). Contudo, para outros filósofos, H egel se interpreta de outra forma. O P rof . H. Jones, Mind, Jul., 1893, 2 8 9 -3 0 6 , reivindica que a Idéia fundamental de Hegel não é o Pensamento, mas o ato de Pensar: Para ele o universo não é um sistema de pensamentos, mas uma realidade pensante manifesta mais completamente no homem. ... A realidade fundamental é a inteligência uni versal cuja operação devemos procurar detectar em todas as coisas. No fun do toda realidade é explicável como Espírito, ou Inteligência, pelo que a nos sa ontologia deve ser uma Lógica e as leis das coisas devem ser as do ato de pensar". De igual modo, S t e r r e t t , Studies in Hegeís Philosophy of Religion, 17, cita a Lógica de Hegel, tradução para o inglês de W a lla c e , 89,91,23 6: “A Substância de Spinoza é, como se fosse, um escuro abismo sem forma, que devora todo conteúdo definido como totalmente nulo e, a partir dele, nada produz que tenha subsistência positiva em si. ... Deus é Substância; contudo, não é menos que Pessoa Absoluta”. Isto é essencial para a religião; entretan to, diz H egel, Spinoza nunca o percebeu: “Tudo depende da percepção da Verdade Absoluta, não simplesmente como Substância, mas como Sujeito”. Deus é um Espírito autoconsciente e autodeterminante. Fica excluída a necessidade. O homem é livre e imortal. Os homens não são componentes mecânicos de Deus, nem perdem a sua identidade, apesar de que verdadei ramente se acham nele. Com esta avaliação do sistema de Hegel concordam substancialmente C airo, Erdmann e M u lfo rd . Este é o “Mais Elevado Panteís mo” de Tennyson. S eth , Ethical Principies, 4 4 0 - “ H e ge l c o n c e b e a su p e rio rid a d e do seu s is te m a ao s p in o z is m o co n s is te n te na s u b s titu iç ã o do S u je ito pe la S u b s tâ n cia. O v e rd a d e iro A b so lu to de ve c o n te r relaçõ es ao in vés de ab oli-la s; o v e r da de iro m on ism o d e ve in clu ir o p lu ra lism o e não excluí-lo . A q u e le que, com o a S u b s tâ n c ia de S p in o za , ou o A b s o lu to he g e lia n o , não é ca p a z de pe nsa r nos m uitos, não p o de s e r o ve rd a d e iro U no - a u n id a d e da m u ltip licid a d e . ... V isto que o m al existe , S chopenhauer su b s titu i o P a n lo g ism o de H egel, que a firm a a id e n tid a d e do ra cio n a l e do real, um im p u lso ceg o da vida, p a ra a R azão a b so lu ta ele su b stitu i um a V on ta d e irra c io n a l” - s is te m a de p e s s im is m o prá tico. A lexander , Theories of \A/ill, 5 - “S p in o z a não re co n h e ce d istin çã o en tre a v o n ta d e e a a firm a çã o ou n e g a çã Q Jn te le ctu a l” . H egel cha m a a Id e n ti dade ou o A b so lu to de S ch e llin g “a noite in fin ita em qu e to d a s as va ca s são pre ta s” - um a a lusã o ao F austo de G oe th e, p a rte 2, ato 1, o n de se a c re s c e n tam as p a la vra s: “e os ga tos sã o p a rd o s” . E m b o ra a p re fe rê n c ia de H egel pelo te rm o S ujeito , em lu g a r de S u b stâ n cia , te n h a le vad o m uito s a su s te n ta r que 159 160 Augustus H opkins Strong ele cria em uma pessoalidade de Deus distinta da do homem, sua ênfase na Idéia, e seu relativo desprezo aos elementos do Amor e da Vontade, fica ainda a dúvida se a sua Idéia é algo mais que a inteligência inconsciente e impes soal - na verdade menos materialista que a de Spinoza, contudo, abrem-se muitas das mesmas objeções. O bjetam os a este sistem a da seguinte m aneira: 1. Sua idéia de D eus contradiz-se a si m esm a porque ela o faz infinito, em bora consistindo só no finito; absoluto, em bora existindo na relação neces sária com o universo; suprem o, em bora contendo em si um processo de autoevolução e dependência da autoconsciência do hom em ; sem autodeterm ina ção, contudo, a causa de tudo o que existe. S aisset , Pantheism, 148 - “Um Deus imperfeito, embora a perfeição surja da imperfeição”. S hedd, HistoryofDoctríne, 1 . 1 3 - “O panteísmo aplica a Deus um princípio de desenvolvimento e imperfeição, que só pertence ao finito”. C alderwood , Moral Philos., 245 - Seu primeiro requisito é o momento, ou o movimento, que assume mas não explica”. Aplica-se aqui o sarcasmo de Caro: “O vo sso D eus a in d a não foi fe ito - ele a in d a está em p ro cesso de fa b ric a ç ã o ” . Ver H. B. S mith , Faith and Philosophy, 25. O p a n te ísm o é um ateísm o p rá tico, po is o e s p írito im p e sso a l é a p e n a s u m a fo rç a ce g a e ne cessá ria. A ngelus S ilesius : “W ir be ten ‘Es g e s c h e h ’, m ein H e rr und G ott, de in W ille ’; Und s ie ’, Er hat nicht W ill’, - Er ist ein e w ’ge S tille ” - o que Max M üller tradu z da se g u in te form a: “ R o ga m os, S enhor, no sso D eus: F aze a tu a sa n ta v o n ta d e ’; e vê! D eus não tem vo n ta d e ; ele e stá ca lm o e tra n q ü ilo ” . A n g e lu s S ilesius c o n s is te n te m e n te fa z D e us d e p e n d e r da c o n s c iê n c ia p ró p ria no hom em : “Eu sei que Deus não pode viver um instante sem mim; ele deve deixar o espírito se eu deixar de existir”. S eth , Hegelianism and Personality. “O hegelianismo destrói tanto Deus como o homem. Reduz o homem a um objeto do Pensador universal e deixa-o sem qualquer verdadeira pessoalidade”. O pan teísmo é um jogo de solitário, em que Deus joga em ambos os lados. 2. A sua suposta unidade substancial não som ente carece de prova, mas contradiz diretam ente nossos juízos intuitivos. M artineau , Essays, 1.15 8 - “Mesmo para imanência deve haver algo em que se pode abrigar e, para a vida, sobre o que se pode apoiar para agir”. Muitos deles confundem harmonia entre duas e absorção em uma. “Na Escri tura nunca encontramos o universo chamado de to jcâv, porque isto sugere a idéia da unidade contida em si mesma; em lugar disto temos (^m toda parte tà Ttávta”. A Bíblia reconhece o elemento de verdade no panteísmo - Deus é ‘por todos’; também o elemento de verdade no misticismo* - Deus está ‘em vós todos’; mas acrescenta o elemento transcendência que kmbos deixam de reconhecer - Deus é ‘acima de todos’ (Ef. 4.6). G. D. B. PEPPÈRi-“Âquele que é sobre todos e em todos é, contudo, distinto de todos. S e alguém é acima de T e o l o g ia S is t e m á t ic a 16 1 alguma coisa, ele não é aquela mesma coisa sobre a qual ele é. S e alguém está em alguma coisa deve ser distinto dela. E do mesmo modo o universo sobre o qual e no qual Deus está deve-se pensar como alguma coisa distinta de Deus. A criação não pode ser idêntica a Deus ou uma simples forma de Deus”. Contudo, acrescentamos que pode ser uma manifestação de Deus de quem depende como os nossos pensamentos e atos são manifestações da nossa mente e vontade e dependem delas embora eles não sejam a nossa mente e a nossa vontade. Pope escreve: “Todos são apenas partes de um estupendo todo; A eles pertence a natureza corpórea; e Deus é a sua alm a” . Mas Case, Phisical Realism, 193, replica: “ Não é assim. A natureza é para Deus o que as obras são para os homens; e, como as obras dos homens não são o seu corpo, assim também a natureza não é o corpo de Deus” . Matthew A rn o ld , on Heine’s Grave : “O que somos nós todos senão um modo, um sim ples modo da vida Do Ser em quem existim os Que é o único de todas as coisas em um”? Hovey, Studies, 51 - “A Escritura reconhece o elemento de verdade no panteísmo, mas tam bém ensina a existência de um mundo de coisas, animadas e inani madas, distintas de Deus. Ele representa os homens como propensos a ado rar a criatura em lugar do Criador. Descreve-os como pecadores dignos de morte ... agentes morais, ... para ele, os homens são, literalm ente, partes de Deus mais do que os filhos partes dos seus pais, com o os súditos são parte do seu rei”. A. F. J. Behrends: “A verdadeira doutrina está entre dois extremos; o do dualismo grosseiro, que faz Deus e o mundo duas entidades contidas em si mesmas, e um m onismo substancial em que o universo tem apenas uma existência fenom enal. Não se trata de nenhum a entidade da substância, nem de divisão da divina. O universo é eternam ente dependente do produto não sim plesm ente fabricado do Verbo divino. A criação é principalm ente um ato espiritual” . P ro f. Forbes: “A matéria existe numa dependência subordina da a Deus. O corpo de Cristo é o Cristo exteriorizado, manifesto à percepção sensível. Quando apreendo a matéria, estou apreendendo a mente e a vonta de de Deus. Este é o mais elevado tipo de realidade. Nem a matéria nem os espíritos finitos são meros fenôm enos”. 3. Não atribui nenhum a causa suficiente ao fato do universo que é do nível mais elevado e, portanto, carece da m aior explicação, a saber, a existência de inteligências pessoais. U m a substância que em si m esm a é inconsciente e está sob a lei da necessidade não pode produzir seres que são autoconscientes e :vres. Gess, Foudations of our Faith, 36 - “O instintó animal e o espírito de uma nação que elabora a sua linguagem, poderiarfi fornecer analogias se, como resultado, produzissem personalidades, mas não o oposto. Tais tendências não se originam por si mesmas; são recebidas'dajjm a fonte exterior”. Seth, Freedom as na Ethical Postulate, 47 - “S e o homem é um 'imperium in impé rio’, não uma pessoa, mas apenas um aspecto ou expressão quer do univer so quer de Deus, então ele não pode ser livre. O homem pode ser desperso- 162 A ugustus H opkins Strong nalizado na natureza ou em Deus. Através da concepção da nossa própria personalidade chegamos à de Deus. Para desenvolver a nossa personalida de na de Deus seria necessário negar a própria grandeza divina, invalidando a concepção através da qual se chegou a ela”. B r a d l e y , Appearance and Reatity, 551, é ainda mais ambíguo: “A relação positiva de cada aparência para com a Realidade é como um adjetivo; e é como a presença da realidade perante as suas aparências em diferentes graus e com diversificados valo res; achamos que esta dupla verdade é o centro da filosofia”. Ele protesta tanto contra “uma transcendência vazia” como contra um “raso panteísmo”. A imanência hegeliana e o conhecimento, afirma ele, identificam Deus e o homem. Porém Deus é mais do que o homem ou do que o pensamento deste. Deus é espírito e vida - melhor entendido a partir do eu humano, com seus pensamentos, sentimentos e vontade. É necessário que a transcendência qualifique a imanência. “Deus não é Deus até que se torne tudo em todos e, um Deus que é tudo em todos não é o Deus da religião. Deus é um aspecto, e isto pode apenas significar uma aparência do Absoluto”. 4. Portanto, contradiz as afirm ações da nossa natureza m oral e religiosa ao negar a liberdade e responsabilidade do hom em ; fazendo Deus incluir em si todo o mal assim com o todo o bem ; e excluindo toda oração, todo louvor e toda esperança de im ortalidade. A consciência é a testemunha eterna contra o panteísmo. Ela dá testemu nho da nossa liberdade e responsabilidade e declara que as distinções morais não são ilusórias. R e n o u f , Hibbert Lect, 234 - “Está fora da condescendência para com a linguagem popular que os sistemas panteístas podem reconhecer as noções de certo e errado, de iniqüidade e pecado. S e tudo, na verdade, emana de Deus, não pode haver pecado. E os mais capazes filósofos que têm sido conduzidos aos pontos de vista panteístas debalde têm-se empe nhado em harmonizar tais pontos de vista com o que entendemos por noção de pecado ou mal moral. A grande obra sistemática de S p in o s a intitula-se ‘Ética’; porém podemos encontrar a verdadeira ética consultando os Elemen tos de Euclides”. H o d g e , Sistematic Theoi., 1.299-330 - “O panteísmo é fata lista. Em tal teoria, dever = prazer; direito = poder; pecado = bom de se fazer. Satanás, do mesmo modo que Gabriel, é um desenvolvimento de Deus. Os efeitos práticos do panteísmo sobre a moral popular e a vida, onde quer que tenha prevalecido, tanto na índia budista como na China, demonstram sua falsidade”. W o r d s w o r t h : “Volte os olhos para o alto céu! o industrioso sol Já corre em meio ao seu curso; Ele não pode parar ou desviar-se; Porém nosso^ espíritos imortais o podem”. P r e s id e n t e J o h n H . H a r r is : “Você nunca pede a opinião do ciclone a respeito dos dez mandamentos”. B o w n e , Philos. of Theism, 245 “O panteísmo torna o homem um autômato. Mas como pode umlautômato ter deveres”? Principies o f Ethics, 18 - “A Ética é definida como W ciência da conduta e apoia-se nas convenções da linguagem contam com aheebertura total do fato de que não há nenhuma ‘conduta’ neste caso. S e o homem é, na verdade, um autômato, bem podemos falar da conduta dos ventos do mesmo 163 T e o l o g ia S is t e m á t ic a moáo que âa corvdula de um set humano; e um \ta\ado sobte os movvmenlos planetários do sistema solar é tão verdadeiramente ético como um tratado sobre os movimentos humanos é a ética do homem”, Porque falta um claro reconhecimento da pessoalidade quer humana, quer divina, a Ética de H e g e l é desprovida de todo o alimento espiritual, - sua “Rechtsphilosophie” tem sido chamada de “repasto de fibras”. Contudo, o P r o f e s s o r J o n e s , Mind, jul., 1893.304, diz-nos que a tarefa de H e g e l é “descobrir que concepção do prin cípio simples ou unidade fundamental é por si só e coaduna-se com as dife renças que apresenta. Ele acha que o ‘ S e i não abre espaço para diferen ças; elas o potencializam excessivam ente.... Ele acha, ainda, que a Realidade só pode existir como consciência própria absoluta, como um Espírito, que é universal e que a si mesmo se conhece em todas as coisas. Em tudo isto ele trata não somente dos pensamentos, mas da Realidade”. Contudo, a vindicação do P r o f . J o n e s a respeito de H e g e l ainda deixa por decidir se aquele filósofo considera a consciência própria da parte de Deus distinta da dos seres finitos, ou se inclui somente estes. S. N ossa convicção intuitiva da existência de um Deus de perfeição abso luta com pele-nos a conceber um Deus possuído de cada um a das m ais altas qualidades e atributos dos hom ens e, portanto, especialm ente daquilo que cons titui a principal dignidade do espírito hum ano, sua personalidade. D im a n , Theistic Argument, 328 - “ N ã o t e m o s d ir e ito d e r e p r e s e n ta r a c a u s a s u p r e m a c o m o in f e r io r a n ó s m e s m o s , e m b o r a o fa ç a m o s q u a n d o a d e s c r e vem os com Nature, 351 e x p r e s s õ e s d e r iv a d a s d a c a u s a f í s i c a ” . M iv a r t , Lessons from - “ N ã o p o d e m o s c o n c e b e r q u a lq u e r c o is a c o m o im p e s s o a l, a in d a q u e d e n a t u r e z a m a is e le v a d a q u e a n o s s a ; q u a lq u e r s e r q u e n ã o t e n h a c o n h e c im e n t o e v o n t a d e d e v e s e r in d e f in id a m e n t e in f e r io r à q u e le q u e o s t e m ” . L o t z e s u s te n ta , c o m v e r d a d e , n ã o q u e D e u s é s u p r a - p e s s o a l, m a s infra-p e s s o a l e v ê q u e s ó n o S e r in f in it o e s t á a a u t o - s u f ic iê n c ia e , p o r is s o , a p e s s o a li d a d e p e r fe ita . K n ig h t , Essays in Philosophy, 224 - “A c a r a t e r í s t ic a r a d ic a l d a p e s s o a lid a d e é a s o b r e v iv ê n c ia d o e u p e r m a n e n t e s o b t o d a s a s f a s e s in c o n s t a n t e s o u e f ê m e r a s d a e x p e r iê n c ia ; a s a b e r , a id e n t id a d e p e s s o a l q u e e s tá e n v o lv id a n a a f ir m a ç ã o ‘e u s o u ’ . ... É a lim it a ç ã o u m a c e s s ó r io n e c e s s á r io Hegelianism: “Como e m n ó s h á m a is para nós mesmos para os outros, d o m e s m o m o d o e m D e u s h á m a is p e n s a m e n t o para ele mesmo d o q u e o p r ó p r io D e u s nos m a n if e s t a . A d o u t r in a d e H e g e l é a d a d e s s a n o ç ã o ” ? S eth, do que im a n ê n c ia s e m a t r a n s c e n d ê n c ia ” . H e in r ic h H e in e fo i a lu n o e a m ig o ín t im o d e H e g e l . D iz e le : “Eu e r a jo v e m e m e s e n t ia o r g u lh o s o e e r a a g r a d á v e l a m in h a v a n g lo r ia q u a n d o e u a p r e n d ia d e H e g e l q u e o v e r d a d e ir o D e u s n ã o e r a , c o m o c r ia a m in h a a v ó , o D e u s q u e v iv ia n o c é u , p o r é m e r a , e m v e z d is s o , mo aqui na terra”. J o h n F is k e , Idea of God, xvi - “Visto eu-mes- q u e a n o s s a r io ç ã o d e fo r ç a é p u r a m e n t e u m a g e n e r a liz a ç ã o d a s n o s s a s s e n s a ç õ e s s u b je t iv a s d e r e s is t ê n c ia s u p e r a d a , d if ic ilm e n t e h á m e n o s a n t r o p o m o r f is m o n a e x p r e s s ã o ‘Poder Infinito’ d o que em ‘Pessoa Infinita’. D e v e m o s s im b o liz a r a divindade d e a lg u m a f o r m a q u e te m s e n t id o p a r a n ó s ; n ã o p o d e m o s s im b o liz á - la c o m o 164 A ugustus H opkins Strong física; temos de simbolizá-la como psíquica. Por isso podemos dizer: Deus é Espírito. Isto implica pessoalidade de Deus”. 6. Sua objeção à pessoalidade divina, que diante do Infinito não pode haver na eternidade passada nenhum non-ego que invoque a autoconsciência, se refuta considerando que m esm o a cognição do non-ego por parte do hom em logicam ente pressupõe conhecim ento do ego, do qual o non-ego se distingue; que, na m ente absoluta, a autoconsciência não pode ser condicionada, como no caso da m ente finita, ao contato com o não-eu; e que, se a distinção do eu em relação ao não-eu fosse condição essencial da autoconsciência divina, as eternas distinções pessoais n a natureza divina ou estados eternos da mente divina poderiam fornecer tal condição. P f l e id e r e r , Die Fteligion, 1.16 3 ,19 0 sgt. - “A autoconsciência não é pri mordialmente uma distinção entre o ego e o não ego, porém, ao invés disto, é uma distinção entre o próprio ser e ele mesmo, isto é, entre a unidade do eu e a pluralidade do seu conteúdo. ... Antes que a alma estabeleça distinção entre o eu e o não eu, ela deve conhecer o eu - ou não poderá perceber tal distinção. Seu desenvolvimento tem conexão com o conhecimento do não eu, porém isto se deve, não ao fato da pessoalidade, mas da pessoalidade finita. O homem maduro pode viver por muito tempo com seus próprios recur sos. Deus não precisa de um outro, para estimular a atividade mental. A finitude é um embaraço no desenvolvimento da nossa personalidade”. L o t z e , Microcosm, vol. 3, cap. 4; trad. na N. Ingl. mar., 18 8 1.19 1-2 0 0 - “O espírito finito, não tendo por si mesmo condições de existência, só pode conhecer o ego na ocasião em que conhece o não ego. Por isso o infinito não é limitado. Só ele tem existência independente que não é introduzida nem desenvolvida através qualquer coisa a não ser ele mesmo, mas, numa atividade interior sem início nem fim, sustenta-se a si mesmo”. D o r n e r , Glaubenslehre: “Pessoalidade Absoluta = consciência perfeita do eu e perfeito poder sobre o eu. Nós necessitamos de algo exterior para des pertar a nossa consciência - apesar de que a autoconsciência vem [logica mente] antes da consciência do mundo. É o ato da alma. S ó depois de se distinguir o eu do próprio eu pode-se conscientemente distinguir o eu de um outro ser”. Revista Bristish Quarteriy, jan. 1874.32, nota; jul 18 8 4 .10 8 “O ego só é pensante em relação ao não ego; mas o ego é vivente muito tempo antes de qualquer relacionamento. S h e d d , Dogm. Theol., 1.18 5,18 6 No esquema panteísta, “Deus se distingue do mundo e, conseqüentemente, encontra o sujeito que o objeto requer;... no esquema cristão, Deus se distin gue de si mesmo não a partir de algo que não seja ele mesmo”. Sobre o panteísmo, i/erM A R TiN EA U , Study o f Reiigion, 2 .141-19 4resp . 192 - “A pessoalidade de Deus consiste na sua atuação voluntáriaxomo causa livre numa esfera não comprometida, isto é, a que transcendei a da lei imanente. Mas também isto constitui precisamente sua infinitudé, e stendendo sua influência depois que ela cobriu o real, sobre todo o possível, comandando T e o l o g ia S is t e m á t ic a 165 alternativas indefinidas. Embora você possa negar sua infinitude sem prejuí zo da sua pessoalidade, não pode negar esta sem sacrificar aquela: porque há um modo de ação - o preferencial, o próprio que distingue os seres racio nais - do qual você o exclui”; 341 - “Os metafísicos que, na impaciência de distingir, insistem em levar o mar a bordo de uma embarcação, não só a inun dam, o pensamento que ela defende, como abandonam uma infinitude que, quando não penetra nenhum olho e não cochicha a nenhum ouvido, contradi zem-se na sua própria afirmação”. Para o ponto de vista oposto, ver B ie d e r m a n n , Dogmatik, 638-647 - “ S ó o homem, espírito finito, é pessoal; Deus, espírito absoluto, não o é. Contudo, na religião as relações mútuas de intercâmbio e comunhão são sempre pes soais. ... Pessoalidade é o único termo adequado pelo qual podemos repre sentar a concepção teísta de Deus”. B r u c e , Providential Order, 76 - “Schopenhauer não nivela por cima a força cósmica à humana, mas nivela por baixo a força de vontade à cósmica. Spinosa sustenta que o intelecto em Deus não é mais semelhante ao do homem do que a estrela da constelação do Cão ao cão. H a r t m a n n acrescentou o intelecto à vontade de S c h o p e n h a u e r , porém o intelecto é inconsciente e nada entende das distinções morais”. ... Panteísmo = Deus consiste em todas as coisas; Teísmo = Todas as coisas consistem em Deus, base delas, não a sua soma. O espírito no homem mos tra que o Espírito infinito deve ser uma Mente e uma Vontade pessoal e trans cendente. IV. MONISMO ÉTICO M onism o Ético é o m étodo de pensam ento que sustenta um a só substância, base, ou princípio do ser, isto é, D eus, m as tam bém sustenta os fatos éticos da transcendência de D eus assim com o sua im anência e a pessoalidade de Deus distinta da pessoalidade do hom em , garantindo-a. Embora não admitamos aqui a autoridade da Bíblia, reservando a nossa prova disto à divisão seguinte sobre As Escrituras, uma Revelação de Deus, podemos, contudo, citar passagens que mostram que a nossa doutrina não é inconsistente com os ensinos da Escritura Sagrada. A imanência de Deus está implicada em todas declarações da sua onipresença, como por exemplo: SI. 139.7 sq. - “Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face”? Jr. 23.23,24 - “Eu sou apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? ... não encho os céus e a terra”? At. 17.27,28 - “não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, nos movemos, existi mos”. A transcendência de Deus está implicada em passagens tais como: 1 Re. 8.27 - “Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter”; SI. 113.5 - “que habita nas alturas”; Is. 57.15 - “o Alto e crSublime que habita na eternidade”. j Eis a fé que A g o s t in h o sentia: “ Ó Deus, tu nos fizeste para ti e o nosso coração não repousa enquanto não descansar em ti. ... E^nãro poderia ser, ó meu Deus, não poderia ser afinal de contas se tu não fosses comigo; se eu 166 A ugustus H opkins Strong não estivesse em ti, de quem são todas as coisas, por quem são todas as coisas, em quem são todas as coisas”. E A n s e l m o , Proslogion, faia s o b r e a natureza divina: “É a essência do ser, o princípio da existência, de todas as coisas. ... Sem partes, sem as diferenças, sem acidentes, sem mudanças, pode-se dizer, em certo sentido, que só ela existe porque, comparadas a ela, as outras coisas que aparecem não têm existência. O Espírito imutável é tudo o que é e ela é isto sem limite de modo simples e intérmino. É a Existência perfeita e absoluta. O resto proveio da não entidade e para lá voltará se não for sustentada por Deus. Ela não existe por si mesma. Neste sentido só o Criador existe; as coisas criadas não”. 1. Enquanto o M onism o Ético abrange o elem ento de verdade contido no Panteísm o - a verdade de que D eus está em todas as coisas e que todas as coisas estão em D eus - considera esta unidade científica inteiram ente consis tente com os fatos da ética - liberdade, responsabilidade, pecado e culpa do hom em ; em outras palavras, o M onism o M etafísico, ou a doutrina da substân cia, base ou princípio do ser, é qualificado pelo D ualism o psicológico, ou doutrina de que a alm a é pessoalm ente distinta, por u m lado da m atéria e, por outro, de Deus. O Monismo Ético defende os fatos éticos da liberdade do homem e a trans cendência e pessoalidade de Deus; é o monismo da livre vontade em que a pessoalidade tanto humana como divina, o pecado e a justiça, Deus e o mun do permanecem - dois em um, um em dois - em sua antítese moral bem como em sua unidade natural. L a d d , Introd. to Philosophy. “ O dualismo é submis são, na história e nas salas da razão, a uma filosofia monística. ... Alguma forma do monismo filosófico é indicada pelas pesquisas da psicofísica e pela filosofia da mente que constrói sobre princípios alicerçados em tais pesqui sas. Como realidades correlatas, o corpo e a mente devem ter uma espécie de base comum. ... Eles se completam na Realidade última; têm a sua vida entrelaçada como expressões daquela Vida que é imanente nos dois. ... Ape nas alguma forma do monismo que satisfará os fatos e verdades a que tanto o realismo como o idealismo apelam podem ocupar o lugar da filosofia verda deira e final.... Deste modo, o monismo deve construir seus princípios quanto à preservação, ou pelo menos não contradizer e destruir as verdades implica das na distinção entre o eu e o não eu, ... entre o moralmente bom e o moral mente mau. Nenhuma forma de monismo que erige seu sistema sobre as ruínas dos princípios e ideais fundamentalmente éticos pode persistentemen te sustentar-se”. ... Filosofia da Mente, 411 - “O dualismo deve ser diluído em alguma solução monística última. O Ser do mundo de què todos os seres em particular constituem-se apenas partes e devem assim concebidos como o que nele pode ter a base de todas existências e atividades iKterrel^cionadas. ... Este Princípio é a Outra Mente Absoluta”. ? D o r n e r , Hist. Doct. Person ofChrist, II, 3.101, 231 - “A unidade da essência em Deus e no homem é a grande descoberta da época presente. ... A caraterística marcante de toda a Cristologia recente é o empenho em assinalar a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 167 unidade essencial, Deus e homem. Para a teologia dos nossos dias o divino e o humano não são magnitudes mutuamente excludentes, mas conexas. ... Contudo, a fé postula uma diferença entre o mundo e Deus, entre os que a religião procura unir. A fé não quer um relacionamento consigo mesma ou com suas representações e pensamentos; isto seria um monólogo; a fé dese ja um diálogo. Por isso não combina com um monismo que reconhece só Deus, ou só o mundo; contrapõe tal monismo como este. A dualidade é, de fato, uma condição da verdadeira unidade vital. Mas dualidade não é dualis mo. Ela não tem nenhuma pretensão de opor-se à demanda pela unidade’’. P r o f e s s o r S m a l l de Chicago: “Com raras exceções de cada lado, toda a filosofia atual é monística em suas pretensões ontológicas; é dualística em seus procedimentos metodológicos”. A. H. B r a d f o r d , The Age of Faith, 71 “Os homens e Deus são, em substância, os mesmos, embora não idênticos como indivíduos”. A teologia de cinqüenta anos atrás era simplesmente indi vidualista e ignorava a verdade complementar da solidariedade. Do mesmo modo pensamos a respeito dos continentes e ilhas do nosso globo separados uns dos outros. O dissociável mar é considerado como uma barreira absoluta entre eles. Mas se se pudesse secar o oceano, ver-se-ia que, durante todo o tempo tinha havido conexões submarinas e a unidade escondida de todas as terras apareceria. Do mesmo modo a individualidade dos seres humanos, real como é, não é apenas realidade. Há o fato mais profundo da vida comum. Mesmo os grandes picos das montanhas da personalidade são distinções superficiais comparadas com a unidade orgânica em que elas estão arraiga das, em que elas se aprofundam e de que todas elas, como os vulcões, rece bem às vezes rápidos e transbordantes impulsos de discernimento, emoção e energia. 2. Em contraste com os dois erros do Panteísm o - a negação da transcen dência de Deus e a negação da pessoalidade de D eus - o M onism o Ético sus tenta que o universo, ao invés de ser um com D eus e contérm ino com Deus, é apenas um a m anifestação finita e progressiva da Vida divina: A M atéria é a autolim itação de D eus sob a lei da N ecessidade; a H um anidade é a autolim itação de D eus sob a lei da Liberdade; a E ncarnação e a E xpiação a autolim ita ção de Deus sob a lei da Graça. O universo se relaciona com Deus/do mesmo modo que os meus pensa mentos se relacionam com o pensadór, que sou eu. Eu sou maior do que os meus pensamentos e os meus pensamentos variam em valor moral. O Monis mo Ético remonta a um começo, enquàhtCLO^anteísmo considera o universo coeterno com Deus. O Monismo Ético afirma a transcendência de Deus, enquanto o panteísmo considera Deus aprisionado no universo. O Monismo Ético afirma que o céu dos céus não podem contê-lo, mas que, contrariamen te, o universo tomado em seu todo, com seus elementos e forças, seus sóis e sistemas solares são apenas um leve bafejo da boca divina ou uma gota de orvalho caída sobre a franja das suas vestes. U p t o n , Hibbert L e c t “O Eterno está presente em cada coisa finita e sente-se e se conhece a sua presença 168 A ugustus H opkins Strong em cada alma racional; porém ainda não está quebrada em individualidades; ao contrário, sempre permanece um e a mesma substância eterna, um e o mesmo princípio unificador, presente de modo imanente e indivisível em cada um dos que formam a incontável pluralidade dos indivíduos finitos em que o entendimento analítico dos homens disseca o Cosmos”. J a m e s M a r t in e a u , abr. 1895.559 - “O que é a natureza senão a província dos comprometidos com Deus e a habitual causalidade? E o que é o Espírito senão a província da livre causalidade atendendo às necessidades e sentimentos dos seus filhos? ... Deus não é um arquiteto aposentado, que pode a qualquer momento ser chamado a fazer reparos. A natureza não é por si mesma ativa e a atuação de Deus não é intrometida”. Muitos poetas mostram sua simpatia por esta doutrina. “Cada nova criação vigorosa, Improvisação divina, procede do coração de Deus”. R o b e r t B r o w n in g assevera a imanência de Deus; Hohenstiel-Schwahgau: “Eis a glória que em tudo que se concebe Ou se sente, ou se conhece, Reconheço uma mente não a minha, mas semelhante a ela - para duplo regozijo, Faz tudo em meu benefício e eu em seu benefício”; P o p e , The Ring and Book. “Tu, que neste lugar a mim és representado do modo como o concebe a minha alma - Sob a tua imensurabilidade, na minha amplitude atômica! A mente humana, o que é senão uma lente convexa, que converge todos os pontos espalhados Colhi dos da imensidão do céu, Para nele reunir, seja o nosso céu pela terra, O nosso Conhecido Desconhecido, nosso Deus revelado ao Ser humano”? Mas B r o w n in q também afirma a transcendência de Deus; Morte no Deserto: “O homem não é Deus, mas tem como fim servi-lo, Como um Senhor a ser obedecido, uma causa a ser defendida, Como algo a ser lançado, algo a ser transformado”; em Véspera de Natal, o poeta escarnece: “Importante tropeço De acrescentar, ele, o sábio e humilde, é também um só com o Criador”. Assim também o Alto Panteísmo de T e n n y s o n “ O sol, a lua as estrelas, os mares, os montes, e as planícies, não são estas, Ó minha alma, a visão daque le que reina? As trevas são o mundo para ti; tu mesmo és o motivo; Pois não ele, mas tu és tudo, tu, que tens o poder de sentir o ‘eu sou eu’? Fala-lhe tu, porque ele ouve e o espírito pode encontrar-se com o espírito; Ele está mais perto do que o sopro do que as mãos e os pés. E o ouvido do homem não pode ouvir e nem o olho pode ver; Mas se pudéssemos ver e ouvir não seria Ele mesmo esta visão”? 3. A im anência de D eus, com o um a substância, base e princípio do ser, não destrói, m as garante a individualidade e os direitos de cada porção do univer so de m odo que há variedade de nível e dotação. N o caso dos seres morais, determ ina-se o grau do reconhecim ento voluntário e apropriação do divino. Enquanto Deus é tudo, ele tam bém está em tudo; faz assim o universo um a m anifestação graduada e progressiva de si m esm o tanto no seu am or pela reti dão com o na sua oposição ao m al m oral. Tem-se acusado que esta doutrina do monismo envolve necessariamente indiferença moral; que a presença divina em todas as coisas quebra todas as T e o l o g ia S is t e m á t ic a distinções de nível e torna as coisas iguais umas às outras; que se legitima e se consagra o mal do mesmo modo que o bem. Isto é verdade a respeito do monismo panteístico, mas não o é a respeito do monismo ético; porque este é o monismo que reconhece o fato ético da inteligência e da vontade pes soais tanto em Deus como no homem e, com estes, o propósito de Deus tornar o universo uma variada manifestação de si mesmo. A adoração de gatos, de touros e de crocodilos no antigo Egito, e a deificação da luxúria nos templos bramânicos da índia eram expressões de um monismo não ético, que não via em Deus atributos morais e identificava Deus com as suas mani festações. Como ilustração dos equívocos em que os críticos do monismo podem cair por falta de discriminação entre o monismo que é panteísta e o monismo que é ético, fazemos a seguinte citação de E m m a M a r ie C a il l a r d : “As partes integrantes de Deus estão, nas premissas monísticas, enganosas, sensualistas, assassinas, de mau humor dos maus pensadores em cada des crição. Seus crimes e suas paixões intrinsecamente entram na experiência divina. O Indivíduo infinito em sua inteireza pode, na verdade, rejeitá-las, mas estes maus indivíduos finitos não se constituem partes dele, em menor esca la que os rebentos de uma árvore, embora não sejam árvore e, embora a árvore transcenda qualquer ou todas elas, apesar de que se constituem par tes dela. Pode aquele cuja consciência universal inclui e define toda a cons ciência finita ser outra coisa a não ser a responsável por todas ações e moti vos finitos”? A esta acusação podemos responder com as palavras de B o w n e , The Divine Immanence, 13 0-13 3 - “O vinho novo da imanência tem aquecido algumas cabeças fracas a ponto de pôr todas as coisas no mesmo nível, e considerar os homens e camundongos como se fossem de igual valor. Porém nada há na dependência de todas as coisas relativamente a Deus que remo va as suas distinções valorativas. Um conversador confuso deste tipo foi levado a dizer que ele não tinha nenhuma dificuldade quanto à noção de um homem divino, como também cria em uma ostra divina. Outros têm utilizado a doutrina para cancelar as diferenças morais; porque, se Deus estiver em todas as coisas e, se todas as coisas representam a sua vontade, qualquer coisa está certa. Mas isto é muito precipitado. Sem dúvida, mesmo a vontade má não independe de Deus, mas vive, e se move, e existe na vontade divina e através dela. Porém, pelo seu poder misterioso de individualidade e de autodeterminação, a vontade má é capaz de assumir uma atitude de hostili dade para com a lei divina que imediatamente vindica para si através das reações próprias. “Tais reações não são divinas no sentido ideal ou mais elevado. Elas nada representam daquilo que Deus deseja ou de que ele se deleita; mas são divi nas como coisas a serem feitas sob certas circunstâncias. No caso do bem, a reação divina se distingue daquela que é contra o mal. Ambas são divinas por representarem a ação de Deus, mas só a primeira o é por representar a apro vação e simpatia da parte de Deus. Todas as coisas prestam serviço, diz Spinoza. As coisas boas prestam serviço e este as favorece. As coisas más também prestam serviço de uma forma completa. Segundo J o n a t h a n E d w a r d s , os ímpios são úteis ‘pelo que eles representam e pelo de que dispõem’. Como ‘vasos de desonra’ eles podem revelar a majestade de Deus. Por isso nada 169 170 A ugustus H opkins Strong há na imanência divina em sua forma defensável, que cancele as distinções morais, ou minorem a retribuição. A reação divina contra a iniqüidade é ainda mais solene nesta doutrina. O cerceamento de Deus é o eterno e inevitável ambiente; e somente quando estamos em harmonia com ele é que podemos ter paz. ... O que Deus pensa a respeito do pecado e qual a preocupação da sua vontade pode-se claramente perceber nas conseqüências naturais que advêm do referido pecado. ... Na própria lei temos de encarar Deus face a face; e as conseqüências naturais têm um sentido sobrenatural”. 4. P orque Cristo é o L ogos de Deus, o D eus im anente, Deus revelado na N atureza, na H um anidade, na R edenção, o M onism o Ético reconhece o uni verso criado, sustentado, e governado pelo m esm o ser que, no curso da histó ria, m anifestou-se em form a hum ana e fez a expiação pelo pecado do hom em na m orte no C alvário. O segredo do universo e a chave para os seus mistérios encontram -se na Cruz. Jo. 1.1-4, 14, 18 - “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida e a vida era a luz dos hom ens.... E o Verbo se fez carne e habitou entre n ó s .... Ninguém jamais viu a Deus. O Filho unigênito que está no seio do Pai, este o fez conhecer”. Cl. 1 .1 6 ,1 7 - “porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam domi nações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”. Hb. 1.2,3 - “pelo Filho ... por quem ele também fez o mundo ... sustentando todas as coisas pela sua palavra do seu poder”; Ef. 1.22,23 - “igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” = preenche todas as coisas com tudo o que elas contêm de verdade, beleza e bondade; Cl. 2.2,3,9 - “mistério de Deus - Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. ... porque nele habita corporalmente a plenitude da divindade”. Este ponto de vista da relação do universo com Deus lança o fundamento para uma aplicação cristã da recente doutrina filosófica. A matéria não mais é cega e morta, mas é de natureza espiritual, não no sentido de que ela é espí rito, mas no sentido de que é a manifestação contínua do espírito, do mesmo modo que os meus pensamentos são uma manifestação viva e contínua de mim mesmo. Contudo, a matéria não consiste em idéias , pois estas, despro vidas de um objeto externo e de um sujeito interno, ficam suspensas no ar. As idéias são o produto da Mente. Porém só se conhece a matéria como a operação da força, e a força é produto da Vontade. Visto que esta força opera de forma racional, só pode ser o produto do Espírito. O sistema de forças que chamamos universo é o produto imediato da mente e da vontade de Deus; e, porque Cristo é a mente e a vontade de Deus em exercício, Cristo é o Criador e Sustentador do universo. A natureza é o Cristo onipresente, manifestando Deus às criaturas. T e o l o g ia S is t e m á t ic a Cristo é o princípio da coesão, atração, interação não só no universo físi co, mas também no intelectual e no moral. Em todo o nosso conhecimento, o conhecedor e a coisa conhecida estão “ligados por algum Ser que é a realida de deles”; este ser é Cristo, “luz que alumia todo homem (Jo. 1.9). Nós conhe cemos em Cristo, assim como “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At. 17.28). Como a atração gravitacional e o princípio da evolução apenas são nomes para Cristo, do mesmo modo ele é a base do raciocínio indutivo e o suporte da unidade moral na criação. Sou constrangido a amar o meu pró ximo como a mim mesmo porque ele tem em si a mesma vida que está em mim: a vida de Deus em Cristo. O Cristo em quem toda a humanidade é criada e em quem ela consiste, sustenta o universo moral, trazendo todo homem para si e, conseqüentemente para Deus. Através dele Deus “reconci lia consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl. 1.20). Como o Panteísmo = imanência exclusiva = Deus aprisionado, assim o Deísmo = transcendência exclusiva = Deus banido. O Monismo Ético defende a verdade contida em cada um destes sistemas, enquanto evita os seus erros. Fornece a base para uma nova interpretação de muitas doutrinas teo lógicas e filosóficas. Ajuda-nos a entender a Trindade. S e dentro dos limites do ser divino podem existir multidões de pessoalidades finitas, torna-se mais fácil compreender como dentro dos mesmos limites pode haver três pessoa lidades eternas e infinitas; na verdade, a integração da consciência de plural em uma consciência divina de total alcance pode encontrar analogia na inte gração da consciência subordinada na pessoalidade una do ser humano. O Monismo Ético, porque é ético, abre espaço para a vontade humana e para a sua liberdade. Conquanto o homem não pode romper o limite natural que o une a Deus, pode romper o espiritual e introduzir na nova criação um princípio de discórdia e mal. Amarre firme um cordão em torno do seu dedo; você o isola em parte, diminui a sua nutrição, provoca atrofia e enfermidade. Do mesmo modo se tem dado a cada agente pensante e moral o poder, a espiritualidade para isolar-se de Deus conquanto naturalmente ele ainda esteja ligado a Deus. Como a humanidade é criada em Cristo e vive só nele, o isolamento próprio do homem consiste na sua separação. S imon, Redemption of Man, 339 - “Rejeitar Cristo não é tanto recusar tornar-se um com ele, como é recusar continuar a ser um com ele e não deixar que ele seja a nossa vida”. Todos os homens são naturalmente um com Cristo através do nasci mento físico antes de se tornarem moralmente um com ele através do nasci mento espiritual. Os homens podem posicionar-se contra ele e opor-se a ele para sempre. Isto o nosso Senhor dá a entender quando nos diz que há varas naturais de Cristo, que não “estão na videira” ou que não “produzem frutos” e por isso “são lançadas fora”, “secam -se” e “são queimadas” (Jo. 15.4-6). Contudo, o Monismo Ético, porque é Monismo, capacita-nos a entender o princípio da Expiação. Embora a santidade de Deus nos constranja a punir o pecado, o Cristo que se juntou ao pecador deve compartilhar do seu castigo. Aquele que é a vida da humanidade deve tomar sobre o seu próprio coração o fardo da vergonha e da pena que pertence aos seus membros. Amarre o cordão em torno do seu dedo; não é só o dedo que sofre mas também o coração; a vida de todo o sistema ergue-se para expulsar o mal, para desatar 171 172 A ugustus H opkins Strong o cordão, para livrar o membro enfermo e sofredor. A humanidade está ligada a Cristo como o dedo ao corpo. Visto que a natureza humana está entre “todas coisas” que “subsistem” ou mantém-se unida em Cristo (Cl. 1.17), e o pecado do homem é uma autoperversão de uma parte do próprio corpo de Cristo, todo ele deve ser ferido pelo ferimento auto-aplicado; “convinha que Cristo padecesse” (At. 17.3). S im o n , Redemption of Man, 321 - “S e o Logos é o Mediador da imanência divina na criação, especialmente no homem; se os homens são diferenciações da efluente energia divina; e se o Logos é o prin cípio imanente controlador de toda a diferenciação - isto é, o princípio de toda a forma - não deve haver autoperversão de todas estas diferenciações que reagem naquele que é o seu princípio constitutivo”? Uma explicação mais completa das relações do Monismo Ético com outras doutrinas deve estar reservada ao nosso tratamento da Trindade, Criação, Pecado, Expiação, Regeneração. Parte III AS ESCRITURAS, UMA REVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS C a p ít u l o I CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES I. R A Z Õ E S A P R IO R I P A R A E S P E R A R U M A R E V E L A Ç Ã O D A PA R T E DE DEUS 1. Necessidades da natureza do hom em A natureza intelectual e m oral do hom em , para preservar-se da constante deterioração, e garantir seu desenvolvim ento e progresso, requer um a revela ção de autoridade e auxílio da verdade religiosa de um m ais elevado e mais com pleto tipo que qualquer outro a que, em seu presente estado de pecado, pode atingir sem o uso de forças auxiliares. A prova desta proposição é em parte psicológica e em parte histórica. A) Prova psicológica - a) N em a razão, nem a intuição lançam luz sobre certas questões cuja solução é da m ais elevada im portância para nós; por exem plo, Trindade, expiação, perdão, m étodo de adoração, existência pessoal após a m orte, b) M esm o a verdade a que chegam os através dos nossos poderes naturais necessita da confirm ação divina e autoridade quando dirige as m en tes e vontades pervertidas pelo pecado, c) Para quebrar esta força do pecado e fornecer estím ulo para o esforço m oral necessitam os de um a revelação espe cial do aspecto m isericordioso e auxiliador da natureza divina. a) Bremen Lectures, 72, 73; P latão, Segundo Alcibíades, 22, 23; Fedo , 85 - tó y o u Geíou tivóç Jâmblico, jtepi toí) n-uSayopiKov fkou, cap. 28. Esquilo , em Agaménon, mostra quão completamente a razão e a intuição deixaram de suprir o conhecimento de Deus necessário ao homem: “O renome é espalha fatoso”, diz ele, “e não deve perder o senso de que Deus é a maior dádiva. ... Ser louvado de modo ultrajante é grave; porque aos olhos de tal pessoa Zeus lança a pedra fulminante. Pelo que, na verdade, eu decido por tantas coisas e não por mais prosperidade do que a sua inveja não possa vigiar”. Embora os deuses pudessem ter seus preferidos, eles não gostavam dos homens como tais, mas tinham inveja deles e os odiavam. W illiam J ames , Is Life Worth Living? Intern. Jour. Ethics, out., 18 95.10 - “Tudo o que sabemos de bom e de belo procede da natureza, mas nada menos do que conhecemos 176 A ugustus H opkins Strong do mal. ... Para uma mulher de baixa reputação não devemos nenhuma fideli dade moral. ... S e há um Espírito divino do universo, ou da natureza tal como a conhecemos, é possível que, para o homem, não seja ela a última palavra. Ou o Espírito não se revela na natureza, ou revela-se de forma inadequada; e como todas as religiões elevadas tem admitido, o que chamamos de natureza visível, ou denominamos este mundo, deve ser apenas um véu e uma apre sentação superficial cujo pleno sentido reside num outro mundo, ou num mundo invisível”. b) Versus S ócrates: O s ho m en s só fa ze m o que é ce rto se o conhecem . P fleiderer , Philos. of Relig., 1.219 - “ Em o p o siçã o à o p in iã o de S ócra tes de qu e a m a ld a d e a p o ia -se na ig n o râ n cia , A ristóteles já le m b ra v a o fa to de que a p rá tica do bem nem se m p re e stá c o m b in a d a com o seu c o n h e cim e n to , p o r que isso ta m b é m d e p e n d e das pa ixõ es. S e a m a ld a d e c o n sistisse ap en as na fa lta de co n h e cim e n to , e n tã o os te o ric a m e n te m ais cu lto s d e ve ria m s e r os m elho re s, o que n ing uém se a rrisca a a firm a r” . W. S. L illy, Shibboleths: “Com fre q ü ê n c ia s u s te n ta -s e que a ig n o râ n c ia é a raiz de to d o s os m ales. Porém só o c o n h e cim e n to não tra n s fo rm a o caráter. E le não p o d e m in is tra r a um a m en te en ferm a. Não p o de c o n v e rte r a v o n ta d e m á em boa. Pode c o n d u z ir o crim e p o r d ife re n te s ca n a is e to rn á -lo m en os fá cil de de tectar. N ão m ud a as p ro p e n s o e s t ía lu r a s ü o h o m e m ou a s u a d is p o s iç ã o âe gratW icà-las a c u s ta de ou tra s. O co n h e c im e n to fa z o ho m em bom m ais p o d e ro so p a ra o bem e o m au m ais p o d e ro so p a ra o m al. E é só isso que ele p o d e fa z e r” . G ore , Incarnation, 174 - “ N ão d e ve m o s s u b e s tim a r o m é to d o do a rg u m e n to , p o rqu e Je su s e P aulo o c a s io n a lm e n te o e m p re g a ra m na fo rm a so crá tica , m as d e v e m os re c o n h e c e r que ele não é a ba se do s is te m a cristã o , nem o m étodo p rim o rd ia l do c ris tia n is m o ” . M artineau , in Nineteenth Century ; 1.331, 531 e Types, 1.112 - “ P latão diluiu a id éia do que é ce rto n a q u ilo que é bom e isto ain d a in d istin ta m e n te se m e scla co m a do ve rd a d e iro e do b e lo ” . c) Versus T homas P aine : “A re lig iã o n a tural e n sin a -n o s, sem q u a lq u e r p o s sib ilid a d e de eq u ívo co , tu d o o que é n e ce ssá rio e a p ro p ria d o p a ra se r c o n h e cido". P latão , Laws, 9.854, c, “ S ed e bo ns; m as, se não pu de rdes, su icid a iv o s ” . F arrar , Darkness and Dawn , 75 - “ P la tã o d iz qu e o ho m em nu nca c o n h e c e rá D e us e n q u a n to ele não se tiv e r re v e la d o na a p a rê n c ia de um ho m em s o fre d o r e que, q u a n d o tu d o e s tiv e r à b e ira da d e stru içã o , o m esm o D eus ve ja a a fliçã o do u n ive rso e, p o n d o -se ao lem e, re sta u re -o à o rd e m ” . P rom e te u, tip o da h u m an ida de , nu n ca s e rá lib e rta d o “ en q u a n to um deus não d e s ç a a ele nas n e g ra s p ro fu n d e z a s do T á rta ro ” . De igual m od o, S ê n e ca e n sin a qu e o ho m em não p o de s a lv a r-s e a si m e sm o ” . Diz ele: “V ocê acha estra n h o que o ho m em se d irija aos d e u se s? D eus ve m aos hom ens, sim, para dentro dos h o m e n s” . S o m o s p e ca d o re s; os p e n sa m e n to s de D eus não são os nossos, nem os se u s ca m in h o s o são . Por isso ele deve to rn á -lo s c o n h e c id o s a nós, e n s in a r-n o s o q u e som o s, o que é o ve rd a d e iro a m o r e o que é do seu ag ra d o . S haler , Interpretation of Nature, 22 7 - “O in cu lca m e n to das ve rd a d e s m ora is só p o d e e fe tu a r-s e com s u ce sso de m odo pessoal; ... d e m a n d a in flu ê n cia da p e sso a lid a d e ; o pe so da im p re ssã o d e p e n d e da voz e do olh o de um m e s tre ” . A saber, não só p re c is a m o s e x e rc e r a u to rid a d e , com o ta m b é m a m a n ife sta çã o do am or. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 177 B) Prova histórica - a) O conhecim ento da verdade m oral e religiosa das nações e épocas em que se desconhece a revelação especial é grosseira e cres centem ente im perfeito, b) A verdadeira condição do hom em nos tem pos précristãos e nas m odernas terras pagãs é de extrem a depravação m oral, c) Com tal depravação há um a convicção geral de desam paro e da parte das mais nobres naturezas um anseio e esperança de cim a. P itágoras : “Não é fácil conhecer [os deveres], a não ser que o próprio Deus, ou alguma pessoa que os tenha recebido dele, ou os obtenha através dos seus recursos, os ensine aos homens”. S ócrates : “Aguardemos com paciência, até que tenhamos a certeza do conhecimento de como devemos nos portar para com Deus e para com o homem”. “Aguardaremos alguém, seja Deus, seja um homem inspirado, que nos instrua sobre os nossos deve res e que afastemos as trevas dos nossos olhos”. Discípulo de Platão: “Faça mos da probabilidade a nossa jangada enquanto navegamos pela vida, a não ser que possamos ter um meio de transporte mais seguro e garantido, como deve ser alguma comunicação divina”. P latão pensava três coisas a respeito de Deus: 1. que ele nasceu com uma alma racional; 2. que ele nasceu grego; e 3. que ele viveu nos dias de Sócrates. Contudo, com todas estas vantagens é provável que ele tivesse apenas uma jangada em que navegava por mares estranhos ao pensamento além das suas próprias profundidades e aguarda va “uma mui firme palavra dos profeta s” (2 Pe. 1.19). 2. P ressuposição de um suprim ento O que conhecem os de D eus através da natureza fornece base para a espe rança de que estas carências de nosso ser intelectual e m oral encontrarão um suprim ento correspondente n a form a de u m a revelação divina especial. Argu m entam os isto a partir de: a) N ossa convicção necessária da sabedoria de D eus. Tendo feito o hom em u m ser espiritual, para fins espirituais, pode-se esperar que ele forneça os m eios necessários para assegurar tais fins. b) Sua verdadeira, em bora incom pleta, revelação já dada na natureza. V isto que D eus, n a verdade, em preendeu tom ar-se conhecido aos hom ens, podem os esperar que ele com pletará a obra que com eçou, c ) A conexão geral da carência e suprim ento. Quanto m ais ele vadas as nossas necessidades, m ais intrincados e engenhosos são, em geral, os artifícios para ir ao seu encontro, d) A nalogias da natureza e da história. Sinais de bondade reparadora na natureza e tolerância no providencial trato levam -nos a esperar que, conquanto se execute a ju stiça divina, Deus pode tom ar conhecido o cam inho da restauração dos pecadores. a) Houve dois estágios na fuga que o Dr. D uncan fez do panteísmo: 1. quan do ele primeiro creu na existência de Deus e “dançou de alegria o brig o’ 178 A ugustus H opkins Strong Dee”; e 2. quando, sob a influência de M alan , ele veio a crer que Deus devia conhecê-lo”. Na história do velho Leitor da Aldeia, a mãe sucumbiu completa mente quando o seu filho parecia tornar-se cada vez mais tolo, mas as suas lágrimas conquistaram-no e o mudaram. L aura B ridgeman era cega, surda e muda e tinha apenas um leve sentido do paladar e do olfato. Quando sua mãe, após longa separação, foi visitá-la em Boston, o seu coração materno estava grandemente aflito, supondo que sua filha não viesse a reconhecê-la. Finalmente, com um sinal que era peculiar à mãe, ela perfurou o véu da insensibilidade, o que proporcionou um momento feliz para ambas. Do mes mo modo, Deus, nosso Pai, tenta revelar-se às nossas almas cegas, surdas e mudas. A agonia da cruz é o sinal do pesar pela insensibilidade do ser huma no causada pelo pecado. S e ele é o Criador do ser humano, sem dúvida procurará adequá-lo à comunhão consigo para o que foi designado. b ) G ore , Incarnation, 52, 53 - “A natureza é o primeiro volume incomple to que demanda um segundo que é Cristo”, c) R. T. S m ith , Man's Knowledge of Man and o f God, 228 - “Os mendigos não fazem os seus pedidos num deserto onde não há quem lhes atenda. Eles têm recebido um suprimento suficiente para manter vivo o senso de necessidade”, d) Na ordem natural da cura das escoriações nas plantas e na soldadura dos ossos quebrados na criação animal, na provisão de agentes medicinais para a cura de doen ças humanas e especialmente no adiamento da aplicação do castigo sobre o transgressor e o espaço concedido a ele para que se arrependa, temos algumas indicações que, se não contraditadas por outra evidência, podem levar-nos a considerar o Deus da natureza como o da paciência e misericór dia. O tratado de Plutarco “De Sera Numinis Vindicta” é uma prova de que este pensamento tinha ocorrido entre os pagãos. Na verdade, é possível duvidar de que uma religião pagã continue a existir livremente sem algum elemento de esperança. Contudo, este próprio adiamento na execução do juízo divino gerou dúvida sobre a existência de um Deus que, ao mesmo tempo é bom e justo. “A Verdade perene no patíbulo, O Erro sempre no tro no”, é um escândalo para o governo divino que só o sacrifício de Cristo pode remover plenamente. O problema também se apresenta no Velho Testamento. Em Jó 21 e nos Salmos 17, 37, 49, 73 há respostas parciais; ver Jó 2 1.7 - “Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?” 24.1 - “Visto que do Todo-poderoso se não encobriram os tempos, por que não vêem os seus dias os que o conhecem?” O Novo Testamento sugere a existência de uma testemunha da bondade de Deus entre os pagãos, enquanto, ao mesmo tempo, declara que só Cristo traz o pleno conhecimento e a salvação. Com pare At. 14 .17 - “contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, bene ficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração”; 17.25-27 - “ele mesmo é quem dá a vida a respiração e todas as coisas; e, de um só, fez todas as gerações de hom ens.... para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, pudes sem achar”; Fim. 2.4 - “a benignidade de Deus te leva ao arrependimento”; 3.25 - “para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos sob a paciência de Deus”; Ef. 3.9 - “e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, T e o l o g ia S is t e m á t ic a 179 que tudo criou”; 2 Tm. 1.10 - “nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, peio evangelho”. C oncluím os esta seção sobre as razões a priori esperando um a revelação da parte de D eus no reconhecim ento de que os fatos garantem que o grau de expectação que cham am os esperança podem os m elhor cham ar de grau de expectação de segurança: e isto em razão de que, enquanto a consciência dá prova de que D eus é um D eus de santidade, não tem os, à luz da natureza, igual evidência de que D eus é um D eus de amor. A razão ensina ao hom em que, com o pecador, m erece condenação; m as ele não pode, só a partir da razão, saber que Deus terá m isericórdia dele e prover-lhe salvação. Suas dúvidas só podem ser rem ovidas pela voz do próprio D eus garantindo-lhe a “redenção ... o perdão ... dos delitos” (Ef. 1.7) e revelando-lhe o cam inho pelo qual o per dão se tom ou possível. A consciência não conhece nenhum perdão, nem Salvador. H ovey, Manual o f Christian Theology, 9, parece-nos ir longe demais quando diz: “Mesmo o sentimento natural e a consciência fornecem alguma diretriz para bondade e a santidade de Deus, embora seja necessário muito mais da parte daquele que se submete ao estudo da teologia cristã”. Admitimos que o sentimento natural dá alguma diretriz para a bondade de Deus, mas consideramos a consciência apenas como um reflexo da santidade de Deus e da sua aversão ao pecado. Concordamos com A lexander M c L aren : “O amor de Deus neces sita de prova? Sim, como mostra o paganismo. H á deuses cheios de vícios, deuses descuidados, deuses cruéis, deuses belos em abundância; mas onde há um deus que ama”? II. A S M A R C A S D A R E V E L A Ç Ã O Q U E O H O M E M PO D E E S PERAR 1. Q uanto à su a substância Podem os esperar que esta mais tardia revelação não se contraponha, mas confirme e amplie o conhecim ento de Deus que derivam os da natureza enquan to rem edeia os defeitos da religião natural e lança luz sobre os seus problemas. Isaías apela para as anteriores comunicações da verdade da parte de Deus: Is. 8.20 - “À lei e ao testemunho! S e eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a minha alva”. Malaquias segue o exemplo de Isaías; Mq. 4.4 - “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo”. O próprio nosso Senhor baseou seus argumentos nos primitivos pronunciamentos de Deus: Lc. 24.27 - “Começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas Escrituras”. A ugustus H opkins Strong 180 2. Quanto ao seu método Esperam os que ele siga os m étodos de D eus no procedim ento em outras com unicações da verdade. B ispo B utler (Analogy , parte ii, cap. iii) nega que haja qualquer possibili dade de julgar a príori como se dará uma revelação divina. “Nós não somos nenhum tipo de juizes por antecipação”, diz ele, “por cujos métodos, ou em cuja proporção se espera que esta luz e instrução sobrenaturais nos sejam fornecidas”. Porém o B ispo B utler, um pouco mais tarde, em sua grande obra (parte ii, cap. iv) mostra que o plano progressivo de Deus na revelação tem analogia com os lentos e sucessivos passos através dos quais Deus cumpre os seus fins na natureza. Sustentamos que a revelação na natureza fornece algumas suposições sobre a revelação da graça como, por exemplo, as que aparecem abaixo. L eslie S tephen , Niniteenth Century, fev. 1 8 9 1 .1 8 0 - “ B utler respondeu o argumento dos deístas, de que o Deus do cristianismo é injusto, argumen tando que o Deus da natureza era igualmente injusto. J ames M ill , admitindo a analogia, recusa-se a crer em ambos os Deuses. O D r . M artineau diz, por semelhantes razões, que B utler ‘escreveu um dos mais terríveis argumen tos ao ateísmo jamais produzidos’. Do mesmo modo o argumento da ‘morte ou da cura’ de J. H. N ewman é, em sua essência, ou que Deus não revelou nada, ou fez revelações em algum outro lugar além da Bíblia. Seu argumento, como o de B utler , pode ser de tal modo bem persuasivo ao ceticismo como à crença”. A esta acusação de L eslie S tephen respondemos que ele é convin cente só na medida em que ignoramos o fato do pecado humano. Admitindo este fato, o nosso mundo passa a ser de disciplina, provação e redenção e, tanto o Deus da natureza como o Deus do cristianismo são escoimados de toda a suspeita de injustiça. A analogia entre os métodos de Deus no sistema cristão e os seus métodos na natureza torna-se um argumento a favor daqueles. d) D o contínuo desenvolvim ento histórico; para ele que seja dado em ger m e às prim itivas eras e seja m ais com pletam ente desenvolvido quando a raça estiver preparada para recebê-lo. Exemplos de desenvolvimento contínuo na comunicação de Deus encontram-se na história geológica; no desenvolvimento das ciências; na educação progressiva do indivíduo e da raça. Nenhuma outra religião, a não ser o cris tianismo, mostra “um firme progresso da visão de um Caráter infinito desdo brando-se em favor do homem por um período de muitos séculos”. A rthur H. H allan , John Brown’s Rab and his Friends, 282 - “A Revelação é uma aproxi mação gradual do Ser irífinito com os recursos e pensamentos da humanida de finita”. Uma centelha pode incendiar uma cidade ou o mundo; porém o décuplo do calor desta centelha, desde que amplamente fracionado, não incendiará coisa alguma. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 181 b) Do pronunciam ento a um a simples nação e a simples pessoas nessa nação para que possa através delas ser com unicado à hum anidade. Cada nação representa uma idéia. Como o grego tinha o gênio da liberda de e do belo, e o romano da organização e da lei, a nação hebréia tinha “o gênio da religião” (R enan); contudo, esta última teria sido inútil sem o auxílio e supervisão divinos especiais, como testemunham outras produções desta mes ma raça semítica, tais como Bel e o Dragão, no Velho Testamento Apócrifo; os evangelhos do Novo Testamento Apócrifo; e, por fim, o Talmude e o Corão. Os Apócrifos do Velho Testamento relatam que, quando Daniel foi lança do pela segunda vez na cova dos leões, um anjo agarrou Habacuque, pelos cabelos, na Judéia, e o levou com uma tigela de sopa para dar a Daniel no jantar. Sete leões e Daniel entre eles permaneceram sete dias e sete noites. Tobias parte da casa de seu pai para garantir a sua herança e o seu cachorrinho vai junto. Nas barrancas de um grande rio um grande peixe ameaça devorá-lo, mas ele o captura e despoja. Finalmente, retorna com sucesso à casa do pai juntamente com o cachorrinho. Nos Evangelhos Apócrifos, Jesus leva água em seu manto quando da quebra do seu cântaro; faz passarinhos de barro no dia de sábado, e, repreendido, os faz voar; fere de morte um grupo de jovens, e, a seguir, amaldiçoa seus acusadores com a cegueira; zomba dos seus mestres e ressente-se do controle. Mais tarde, lendas muçulmanas declaram que Maomé causou trevas ao meio-dia; depois disso, a lua voou para ele, rodeou sete vezes a Caaba, curvou-se, entrou na sua manga direita, cortou em duas metades; lançando-se, depois, à esquerda e a duas metades; retirou-se para o extremo oriente e para o extremo ocidente reuniu-as. Estes produtos da raça semítica mostram que nem a influência do ambiente nem um gênio nativo da religião fornecem uma explicação adequa da das nossas Escrituras. Como a chama no altar de Elias não foi causada por varas mortas, mas pelo fogo do céu, do mesmo modo a inspiração do Onipotente pode explicar a única revelação do Velho e do Novo Testamentos. Os hebreus vêem Deus na consciência. Porque a mais genuína expres são da sua vida “devemos ver sob a superfície, na alma, onde a adoração e a aspiração encontram-se face a face com Deus” (G enung , Epic of the Inner Life, 28). Mas a religião do hebreu precisava ser suplementada pela vista de Deus na razão e na beleza do mundo. Os gregos tinham a beleza do conhe cimento e do senso estético. B utcher , Aspects o f the Greek Genius, 34 “Os fenícios ensinaram a escrita aos gregos, mas foram estes que escreve ram”. Aristóteles foi o iniciador da ciência e além da raça ariana, ninguém, a não ser os sarracenos, jamais sentiu o impulso científico. Porém os gregos evidenciaram o seu problema solucionando todas as quantidades desconhe cidas. Pensavam que nunca teriam obtido a aceitação universal e estabilida de se não fosse a jurisprudência e imperialismo romanos. A Inglaterra contri buiu com o seu governo constitucional e a América com o seu sufrágio universal e liberdade religiosa. Um pensamento tão definido a respeito de Deus incor porou-se a cada nação e cada uma tem uma mensagem para a outra. At. 17.26 - Deus “fez de toda geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habi 182 A ugustus H opkins Strong tação”; Rm. 3.1,2 - “Qual é, logo, a vantagem do judeu? ... primeiramente as palavras de Deus lhe forma confiadas”. A escolha da nação hebréia por Deus, como guardadora e comunicadora da verdade religiosa, tem analogia com a das outras nações, com relação à verdade estética, científica, e política. H egel : “Nenhuma nação que exerceu um papel de peso e ativo na história do mundo jamais produziu a partir do simples desenvolvimento de uma só raça as linhas estáveis de relacionamento sangüíneo. Deve haver diferenças, conflitos, um conjunto de forças opostas”. A consciência do hebreu, o pensa mento do grego, a organização do latino, a lealdade pessoal do teutônico, devem unir-se para formar um todo perfeito. “Enquanto a igreja grega era ortodoxa, a latina era católica; enquanto os gregos tratavam das duas vonta des em Cristo, os latinos tratavam da harmonia das nossas vontades para com Deus; enquanto os latinos salvavam através de uma corporação, os teutônicos salvavam através de uma fé pessoal”. B ereton , Educational Review, nov. 1901.3 39 - O problema da França é o das ordens religiosas; o da Ale manha, da construção da sociedade; o da América, do capital e trabalho”. P fleiderer , Philos. Religion, 1.18 3 ,18 4 - “As grandes idéias nunca vieram das massas, mas de indivíduos marcados. Contudo, quando propostas, estas idéias despertaram nas m assas um eco que mostra que elas tinham estado inconscientemente adormecidas nas almas dos outros”. Surgem as horas e aparece um N ewton , que interpreta a vontade de Deus na natureza. Do mes mo modo, um Moisés ou um Paulo que interpretam a vontade de Deus na moral e na religião. Os poucos grãos de trigo encontrados no punho fechado da múmia egípcia ter-se-iam perdido totalmente se um grão tivesse sido semeado na Europa, um outro na Ásia, outro na África e, por fim, um outro na América; plantados juntos todos num pote de argila e o seu produto no leito de um jardim e, mais tarde o seu produto, no campo de um agricultor, haveria o trigo do novo Mediterrâneo suficiente para distribuir ao mundo todo. Deste modo Deus seguiu o seu método comum concedendo a verdade religiosa a princípio a uma única nação através da qual pôde transmitir-se à humanida de toda. c) D a preservação escrita de docum entos transm itidos por aqueles a quem originariam ente foi com unicada. Para o conhecimento da história do passado dependemos principalmente dos alfabetos, dos escritos, dos livros; todas as grandes religiões do mundo são religiões de livros; os carênios (da Birmânia) esperavam que os seus mestres da nova religião lhes trouxessem um livro. Porém note que as falsas religiões têm escrituras, mas não a Escritura; seus livros sagrados não têm o princípio da unidade fornecido pela inspiração divina. H. P. S mith , Biblical Scholarship and Inspiration, 68 - “Maomé descobriu que as Escrituras dos judeus eram a fonte da religião deles. Chamou-os ‘povo do livro’, e empenhou-se em construir um código similar para os seus discípulos. Nele Deus é o único que fala; o profeta conhece todo o seu conteúdo por revelação direta; seu estilo arábico é perfeito; seu texto é incorruptível; é a autoridade absoluta na lei, na ciência e na história”. O Corão é uma grosseira paródia humana da Bíblia; T e o l o g ia S is t e m á t ic a 183 suas exageradas pretensões sobre a divindade, sem dúvida, são a melhor prova da sua origem puramente humana. Por outro lado, a Escritura não tem essas reivindicações para si mesma, mas aponta Cristo como a única e final autoridade. Neste sentido, podemos dizer como C larke, Chrístian Theology, 20 - “O cristianismo não é uma religião do livro, mas uma religião da vida. A Bíblia não nos dá Cristo, mas Cristo no-la dá”. Ademais, é verdade que, para o nosso conhecimento de Cristo, dependemos totalmente da Escritura. Ao dar a sua revelação ao mundo, Deus seguiu o seu método comum de transmitir e preservar documentos através da escrita. Contudo, recentes investigações tornam agora provável que a expectação que os carênios tinham de um livro foi a sobrevivência do ensino dos missionários nestorianos que, no começo do século oitavo, penetraram os lugares mais remotos da Ásia e deixaram no muro da cidade de Singuádu ao noroeste da China uma tábua como monumento dos seus trabalhos. 3. Q uanto à su a certificação Podem os esperar que esta revelação seja acom panhada da evidência de que seu autor é o m esm o que anteriorm ente reconhecem os com o o D eus da natureza. E sta evidência deve constituir-se a) num a m anifestação do próprio D eus; b) no m undo exterior assim com o no interior; c) só o poder ou conheci m ento de Deus pode fazê-lo; e ã) com o tal não pode ser contraditado pelo mal ou equivocado pela alm a cândida. Em resum o, podem os esperar que Deus ateste pelos m ilagres e pela profecia a m issão e autoridade divinas daqueles a quem ele com unica um a revelação. Tal sinal parece ser necessário, não só para assegurar ao recipiente original que a suposta revelação não é um capricho da sua própria im aginação, mas tam bém dar autoridade à revelação recebida por um só indivíduo e transm itida a todos (com pare Jz. 6.17,36-40 - Gideão pede um sinal para si; 1 Re. 18.36-38 - Elias pede um sinal para os outros). M as para que a nossa prova positiva de um a reveiação divina possa não ser obstada pela suspeita de que os elem entos m iraculosos e proféticos n a história da Escritura criem um a pressuposição contra sua credibilidade convém ocuparm o-nos neste ponto do assunto geral dos m ilagres e profecia. m . O S M IL A G R E S , U M A T E ST A D O D A R E V E L A Ç Ã O D IV IN A 1. D efinição de M ilag re a) D efinição prelim inar M ilagre é um evento perceptível aos sentidos, produzido com um propósi to religioso pela atuação im ediata de D eus; portanto, um evento que, apesar 184 A ugustus H opkins Strong de não contrariar qualquer lei da natureza, se plenam ente conhecida, não se explica sem a atuação direta de Deus. E sta definição corrige várias concepções errôneas de m ilagre: - d) M ilagre não é a suspensão ou violação de um a lei natural; porque a lei natural está em operação na época em que ocorre o m ilagre com o anteriorm ente, b) Não é um produto súbito de agentes naturais - sim plesm ente previstos por aquele que o opera; é o efeito de um a vontade exterior à natureza, c) Não é um evento sem causa; porque tem sua causa direta na volição de Deus. d) Não é um ato irra cional ou caprichoso de D eus; m as um ato de sabedoria realizado segundo as leis im utáveis de seu ser de m odo que, nas m esm as circunstâncias, segue-se o m esm o curso, é) N ão é contrário à experiência; porque não é contrário à expe riência de um a nova causa seguida de um novo efeito, f) N ão é m atéria de experiência interior com o a regeneração e a ilum inação; mas um evento per ceptível aos sentidos e que em tudo pode servir com o prova objetiva de que o seu operador é divinam ente com issionado com o m estre religioso. A definição acima tem a intenção simplesmente de referir-se aos milagres da Bíblia, ou, em outras palavras, aos eventos que professam atestar uma revelação divina contida nas Escrituras. O Novo Testamento designa estes eventos de uma dupla forma, focalizando-os, quer subjetivamente, produzin do efeitos sobre os homens, quer objetivamente, revelando o poder e a sabe doria de Deus. Naquele primeiro aspecto eles são chamados t é p a r a , ‘maravi lhas’, e enceta ‘sinais’, (João 4.48; At. 2.22). Neste segundo são chamados Svváneiç, ‘poderes’ e epya ‘obras’ (Mt. 7.22; Jo. 14.11). VerH. B. Smith, Lect. On Apologetics, 90-116, esp. 94 - “cnmeíov, sinal, marcando o propósito ou objetivo, o fim moral, colocando o evento em conexão com a revelação”. A Versão da União Bíblica uniforme e adequadamente traduz -cépaç por ‘mara vilha’, 5 ú v a| iiç por ‘milagre’, êpyov por ‘obra’, e arm eto v por ‘sinal’. G oethe, Fausto: “Alies Vergángliche ist nur ein Gleichniss: Das Unzulàngliche wird hier Ereigniss” - “Todo o transitório é uma parábola; o inatingível aparece como um fato sólido”. Assim os milagres do Novo Testamento são parábolas em ação; Cristo abre os olhos ao cego para mostrar que ele é a luz do mundo; multiplica os pães para mostrar que ele é o pão da vida; ressuscita os mor tos para mostrar que ele levanta os homens da morte dos delitos e pecados. UerBROADus, Com. de Mateus, Casa Publicadora Batista, 1 9 4 9 ,1 ã vol. p. 144a. Contudo, um grande grupo de físicos cristãos, no suposto interesse de uma lei natural demanda uma modificação desta definição de milagre. Tal modificação é proposta por B a b b a g e , Ninth Bridgewater Treatise, cap. viii. Ele ilustra o milagre com uma ação de uma máquina calculadora, que apre senta ao observador numa sucessão regular a série de unidades a partir de um até dez milhões, mas dá um salto e mostra, não dez milhões e um, mas cem milhões; E p h r a im P e a b o d y ilustra o milagre como um relógio de catedral que apenas soa uma vez em cada cem anos; contudo, ambos resulta dos devem-se tão somente à construção original das respectivas máquinas. B a b b a g e e P e a b o d y negam que o milagre se deve à atuação direta ou indireta T e o l o g ia S is t e m á t ic a 185 de Deus, e consideram-no pertencente a uma ordem mais elevada da nature za. Deus só é o autor do milagre no sentido de que, no princípio, ele instituiu as leis da natureza e no tempo próprio providenciou o seu resultado. A favor deste ponto de vista tem-se reivindicado que ele não dispensa a operação divina, mas apenas a recua para a origem do sistema enquanto ainda susten ta que a obra de Deus é essencial, não só para sustentar o sistema, mas também para inspirar o mestre religioso ou líder no conhecimento necessário à predição da obra incomum do sistema. A maravilha está limitada à profecia que pode igualmente atestar uma revelação divina. Mas é claro que um milagre deste tipo não tem muito da ‘sinalização’ necessária se a finalidade é cumprir o seu propósito. Apresenta a grande vantagem de que o milagre, como a princípio se define, possui uma providên cia muito especial como um atestado da revelação - a saber, a vantagem de que, enquanto a providência especial fornece alguma garantia de que esta revelação vem de Deus, o milagre dá garantia plena de que ele vem de Deus. Visto que o homem pode por meios naturais apossar-se do conhecimento das leis físicas, o verdadeiro milagre que Deus opera e o pretenso milagre que só o homem opera, estão nesta teoria bem menos fácil de distinguir-se entre si: Cortez, por exemplo, poderia enganar Montezuma predizendo um eclipse solar. Certos milagres típicos, como a ressurreição de Lázaro, recusamse ser classificados como eventos pertencentes ao reino da natureza, no sen tido em que esta se emprega comumente. Contudo, o nosso Senhor parece excluir claramente uma teoria como esta quando diz: “S e eu expulso demôni os pelo dedo de Deus” (Lc. 11.20); Mc. 1.41 - “Eu quero; sê limpo”. O ponto de vista de B a b b a g e é inadequado, não só porque deixa de reconhecer qual quer exercício imediato da vontade no milagre, mas porque considera a natu reza como uma simples máquina que pode operar independentemente de Deus - um método de concepção puramente deística. Sobre este ponto de vista muitos dos produtos da mera lei natural poderiam ser chamados mila gres. Os milagres seriam apenas a manifestação ocasional de uma ordem da natureza mais elevada, como o cometa que ocasionalmente invade o sistema solar. W il l ia m E l d e r , Ideas from Nature: “A planta do século que vimos crescer desde a nossa infância pode não desabrochar suas flores até que chegue mos à velhice, porém, não obstante, a súbita maravilha é natural”. Contudo, se interpretarmos a natureza mais que dinamicamente, e a considerarmos como a operação regular da vontade divina ao invés de considerarmos a ope ração automática de uma máquina, há muita coisa que podemos adotar neste ponto de vista. O milagre pode ser tanto natural como sobrenatural. Podemos sustentar com B a b b a g e que ele tem seus antecedentes naturais, enquanto, ao mesmo tempo, sustentamos que ele é produzido pela atuação imediata de Deus. A seguir, apresentaremos, portanto, uma definição alternativa e prefe rível, que, a nosso juízo, tem ambos méritos já mencionados. b) D efinição A lternativa e preferível M ilagre é um evento na natureza em si m esm o tão extraordinário e tão coincidente com a profecia ou a determ inação de um m estre religioso ou um 186 A ugustus H opkins Strong líder que garante plenam ente a convicção da parte dos que o testem unham que D eus o operou com o desígnio de certificar que o m estre ou líder foi com issi onado por ele. E sta definição tem algum as m arcantes vantagens em com paração com a anterior: - a) R econhece a im anência de D eus e sua atuação im ediata na natu reza ao invés de assum ir um a antítese entre as leis da natureza e a vontade de Deus. b) C onsidera o m ilagre sim plesm ente com o um ato extraordinário do m esm o Deus que já está presente em todas operações naturais e que está reve lando nelas seu plano geral, c) Sustenta que a lei natural com o m étodo da atividade regular de Deus de m odo nenhum exclui os esforços do seu poder quando estes garantiriam m elhor seu propósito na criação, d) Perm ite a possi bilidade de que todos os m ilagres tenham suas explicações naturais e daí em diante sejam atribuídos a causas naturais enquanto tanto os m ilagres como suas causas naturais podem ser apenas nom es da única e m esm a vontade de Deus. é) H arm oniza as reivindicações tanto da ciência com o da religião: da ciência, perm itindo quaisquer possíveis ou prováveis antecedentes físicos do m ilagre; da religião, sustentando que estes m esm os antecedentes juntam ente com o m ilagre devem ser interpretados com o sinais da com issão especial de D eus através daquele cujo ensino ou liderança o m ilagre se opera. A g o s t in h o , que declara que “Dei voluntas rerum natura est” (A natureza das coisas é a vontade de Deus), define o milagre em De Civitade Dei, 21.8 “Portentum ergo fit non contra naturam, sed contra quam est nota natura” (Não há milagre na natureza, mas no que se observa nela). Ele diz também, que o nascimento é mais miraculoso do que a ressurreição porque é mais maravilhoso que algo que nunca havia começado a ser, do que qualquer coisa que tinha sido e deixou de ser e com eçasse a ser outra vez. E. G. R o b in s o n ,, 104 - “O natural é obra de Deus. Ele o originou. Não há nenhuma separação entre o natural e o sobrenatural. O natural é sobrenatural. Deus opera em todas as coisas. Cada fim, embora atingido por processos mecânicos, é tão verdadeiramente o fim de Deus como se ele o operasse através de um mila gre”. S h a l e r , Interpretation of Nature, 14 1, considera o milagre como algo excepcional, embora sob o controle da lei natural; o elemento latente na natu reza manifestando-se subitamente; a resultante revolução da lenta acumula ção das forças naturais. No incêndio do Hotel Windsor o madeiramento aque cido e carbonizado subitamente irrompeu em chamas. A chama é bem diferente do simples calor, mas pode ser o resultado de uma temperatura regularmente crescente. A natureza pode ser a ação regular de Deus; o milagre, o seu único resultado. A ação regular de Deus pode ser inteiramente livre, embora o seu resultado extraordinário possa ser inteiramente natural. Com estas qua lificações e explicações podemos adotar a afirmação de B ie d e r m a n n , Dogmatik, 581-591 - “Tudo é milagre; por isso a fé enxerga Deus em toda a parte; Nada é milagre; pelo que a ciência não enxerga Deus em lugar algum”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a Os escritores da Bíblia nunca consideram os milagres como infrações da lei. B p . S o u t h a m p t o n , Place o f Miracles, 18 - “O historiador ou profeta hebreu considera os milagres apenas como a emergência na experiência sensível da força divina que estava desde o princípio, embora de modo invisível, contro lando o curso da natureza”. H a stin g s’ Bible Dictionary, 4.117 - “O hebreu não sentiria a força do milagre surgindo da noção da lei porque ele não tinha noção de lei natural”. S I. 77.19,20 - “Pelo mar foi o teu caminho, e tuas vere das, pelas grandes águas e as tuas pegadas não se conheceram” = Eles e nós não as conhecemos e por que meios precisos operou-se o livramento, ou por que trilha se efetuou a passagem do Mar Vermelho; tudo o que sabemos é que “Guiaste o teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e de Arão”. J . M. W h it o n , Miracles and Supernatural Religion: “O sobrenatural está na própria natureza, no seu próprio cerne, como a sua própria vida; não se trata de uma força exterior interferindo no curso da natureza, mas uma força interior vitalizando-a e operando através dela”. G r if f it h - J o n e s , Ascent through Christ, 35 - “O milagre, ao invés de um sortílego ‘monstro’, no dizer de Emer son, somente testemunha o aspecto de outra forma desconhecido ou irreco nhecível do caráter divino”. S h e d d , Dogm. Theol, 1.533 - “Fazer o sol e Láza ro levantarem-se, demanda onipotência; mas a forma como a onipotência opera em um caso difere da outra”. Milagre é uma operação direta de Deus; porém, porque todos processos naturais são operações imediatas de Deus, não é preciso negar o emprego destes processos naturais, aonde quer que eles se dirijam, no milagre. Deste modo, as maravilhas do Velho Testamento, como a destruição de Sodoma e de Gomorra, a separação do Mar Vermelho e do Jordão, a invocação do fogo do céu por Elias e a destruição do exército de Senaqueribe são obras de Deus quando se considera que foram operadas pelo emprego de recursos naturais. No Novo Testamento Cristo transformou a água em vinho, tomou cinco filões para torná-los pães, como em dez mil vinhas hoje as torna em mosto ao molhar a terra e em dez mil campos está transformando o carbono em cereais. O nascimento virginal de Cristo pode ser um exemplo extremo de partenogênese, que o P r o f e s s o r L o e b , de Chicago, demonstrou ocorrer em outra forma de vida, além das inferiores e que ele crê ser possível em todos. A ressurreição de Cristo pode ser uma ilustração do poder do normal e perfei to espírito humano tomar para si um corpo próprio e ser o tipo e profecia da grande mudança quando deixarmos a nossa vida e a retomarmos. O cientista pode ainda achar que a sua descrença não se refere apenas a Cristo, mas também à ciência. Todo milagre pode ter seu lado natural, embora no momento não sejamos capazes de discerni-lo; e ainda que isto fosse verdade, o argu mento cristão não se enfraqueceria nem um pouquinho porque ainda o mila gre evidenciaria a extraordinária obra do Deus imanente e a concessão do seu conhecimento ao profeta ou apóstolo que se tornou seu instrumento. Este ponto de vista do milagre torna inteiramente desnecessário e irracio nal o tratamento que alguns teólogos modernos fazem para harmonizar as narrativas da Escritura. Há uma credulidade do ceticismo que minimiza o elemento miraculoso na Bíblia e o trata como mítico ou legendário apesar da nítida evidência de que ele pertence ao reino da história real. P f l e id e r e r , Philos. Relig., 1.295 - “As lendas miraculosas surgem de dois modos: em 187 188 A ugustus H opkins Strong p a rte d a id e a liz a ç ã o do rea\ e em p a rte da re a liz a ç ã o do id ea i. ... T oda o c o r rê n c ia p o d e o b te r em fa v o r do ju íz o re lig io s o a s ig n ific a ç ã o de um sin al ou p ro va do poder, da sa b e d o ria , da ju s tiç a de D eus, g o ve rn a n te do m u n do. ... A s h istó ria s m ira cu lo sa s sã o re a liz a ç õ e s p o é tica s de id é ia s re lig io sa s” . P fle id e re r c ita o a p o te g m a de G oethe: “O m ila g re é o filh o q u e rid in h o da fé ” . F o s te r, Finality of the Christian Religion, 12 8 -1 3 8 - “ H o n ra m o s m ais as n a rra tiv a s d o s m ila g re s b íb lic o s q u a n d o p ro c u ra m o s e n te n d ê -lo s co m o p o e s ia s ” . R its c h l d e fine os m ila g re s co m o “a q u e la s o c o rrê n c ia s que têm co n e xã o com a e x p e riê n c ia re la tiv a ao a u x ílio e s p e c ia l de D e u s” . Ele a p re s e n ta d ú vid a s o b re a re ssu rre içã o c o rp ó re a de C risto e m u ito s da s u a esco la negam isso. N ão p re c is a m o s in te rp re ta r a re s s u rre iç ã o de C ris to co m o s im p le s a p a ri çã o do seu e sp írito a o s d iscíp u lo s. G ladden, Seven Puzzling Books, 202 “ N as m ãos do ho m em p e rfe ito e e sp iritu a l as fo rça s da n a tu re za são d ó ceis e tra ta d a s co m o se não fo s s e m no ssa s. A re s s u rre iç ã o de C risto é ap en as um sin a l da s u p e rio rid a d e da v id a do e s p írito p e rfe ito so b re as co n d içõ e s e xte rio re s. Ela p o de e sta r em p e rfe ito a co rd o co m a n a tu re z a ” . M y e r s , Human Personality, 2.2 8 8 - “ Faço um a p re d iç ã o de que, co m o co n s e q ü ê n c ia da nova e vid ê n cia , da qu i a um s é cu lo to d o s ho m en s ra zo á ve is cre rã o na re ssu rre içã o de C ris to ” . P od em o s a c re s c e n ta r qu e o p ró p rio Je s u s a p re s e n ta in dício s de que a o p e ra çã o de m ila g re s da qu i em d ia n te s e rá um a m a n ife sta çã o com um e natural da no va vid a que ele co n ce d e : Jo. 14.12 - “A q u e le que crê em mim ta m b é m fa rá as obras que eu faço e as fa rá m aiores do que estas, porque eu vou para m eu Pai” . A c re s c e n ta m o s n u m e ro sa s o p in iõ e s a n tig a s e m o d e rn a s a resp eito dos m ilagre s; to d a s no in te n to de m o s tra r a n e ce ssid a d e de d e fin i-lo s d e sta fo rm a p a ra n ã o se c h o c a r co m as ju s ta s re iv in d ic a ç õ e s da c iê n c ia . A ris tó te le s : “A n a tu re za não é c h e ia de e p isó d io s co m o um a tra g é d ia ruim ” . Shakespeare, A ll’s Well that Ends Well, 2.3.1 - “ D izem q u e os m ila g re s já p a ssa ra m ; e te m o s no ssas p e sso a s filo s o fa n te s que m o d e rn iza m e fa m ilia riz a m as coisas so b re n a tu ra is e se m cau sa. P or isso é qu e d a m o s p o u c a im p o rtâ n c ia aos te rro re s, o cu lta n d o -n o s no a p a re n te co n h e c im e n to q u a n d o d e ve ría m o s nos s u b m e te r a um te m o r d e s c o n h e c id o ” . H ill, Genetic Philosophy, 3 3 4 - “A ciê n cia b io ló g ica e a p s ic o ló g ic a u n e m -se p a ra a firm a r que c a d a e ve nto org ân ico ou p síq u ico de ve s e r e xp lica d o nos te rm o s dos se u s a n te c e d e n te s im e dia tos e só a ssim p o de m s e r e xp lica d o s. Por isso n ã o há n e c e s s id a d e algum a, não há lu g a r ne nh um p a ra in te rfe rê n cia s. Se a e x is tê n c ia de D eus d e p e n d e da e v id ê n c ia de um a in te rve n çã o e a tu a çã o s o b re n a tu ra l, a fé no ele m e n to d iv i no p a rece d e stru ir-se na m en te c ie n tífic a ” . T h e o d o re P a rke r: “ Em D eus não há ca p rich o ; p o r isso não há m ila g re na n a tu re z a ” . A rm o u r, Atonement and Law, 15 -33 - “ O m ila g re da red en ção, co m o to d o s os m ilagre s, o co rre po r in te rve n çã o de um a fo rç a a d e q u a d a , não da su sp e n s ã o da lei. A red en ção não é ‘a g ra n d e e x c e ç ã o ’. É a m ais c o m p le ta re ve la çã o e v in d ic a ç ã o da le i” . G o re , L ux Mundi, 3 2 0 - “A re d e n çã o não é na tu ra l, m a s s o b re n a tu ra l - isto é, em v is ta da fa ls a n a tu re za que o ho m em fe z p a ra si e xclu in d o D eus. C aso co n trá rio , a o b ra da re d e n çã o é a p e n a s a re co n stru çã o da n a tu re za que Deus p ro je to u ” . Abp. T re n ch : “O m un do da n a tu re za é um a te s te m u n h a in te gra l do m u n d o do e sp írito , p ro ce d e n te s da m e sm a m ão, d e s e n v o lv e n d o -s e a pa rtir da m esm a raiz e co n s titu in d o -s e p a ra a m e sm a fin a lid a d e . O s ca ra cte re s da T e o l o g ia S is t e m á t ic a 189 natureza que em toda parte encontram o olho não são uma escrita comum, mas uma escritura sagrada; são os hieróglifos de Deus”. P a s c a l : “A natureza é a imagem da graça”. P r e s id e n t e M a r k H o p k in s : “ O cristianismo e a razão perfeita são idênticos”. 2. Possibilidade do Milagre Um evento na natureza pode ser causado por u m agente nela em bora acim a dela. Isto é evidente nas seguintes considerações: a) As forças e leis inferiores n a natureza freqüentem ente contrapõem e transcendem as m ais elevadas (forças e leis m ecânicas pelas quím icas e as quím icas pelas vitais), conquanto ainda as forças e leis inferiores não são suspensas ou aniquiladas, m as surgem em m ais elevadas, e assistem em pro pósitos com plem entares no que são diferentes quando deixadas ao léu do seu destino. J a m e s R o b e r t s o n , Early Religion o f Israel, 23 - “Acaso é impossível haver coisas únicas no mundo? É científico afirmar que não haja”? G o r e , Incarnation , 48 - “A Evolução vê a natureza numa ordem progressiva em que há novos departamentos, ganha vigorosos níveis, desconhece os fenômenos anteriores. Quando apareceu a vida orgânica, o futuro não se assemelhava ao passado. O mesmo aconteceu quando o homem apareceu. Cristo é uma nova natureza - o Verbo criativo que se fez carne. Espera-se que, com a nova natureza ele apresente novos fenômenos. Dele irradiará nova energia vital controladora das forças materiais. Os milagres são os acessórios adequados à sua pessoa”. Podemos acrescentar que, como Cristo é o Deus imanente, ele está presente na natureza e, ao mesmo tempo, acima dela, e a sua firme vontade é a essência de toda lei natural; transcende a todos óbices passados dessa vontade. O Infinito não é um ser de infinda monotonia. W il l ia m E l d e r , Ideas from Nature, 156 - “Deus não está, sem esperança, limitado ao seu processo, como íxion, preso à sua roda” (íxion = deus grego condenado a ser amarrado no inferno a uma roda e a girá-la sem cessar). b) A vontade hum ana age sobre seu organism o físico e sobre a natureza e produz resultados que a natureza deixada ao léu do seu destino, nunca cum pri ria enquanto ainda não se suspende ou viola nenhum a lei da natureza. A gravitação ainda opera sobre o m achado enquanto o hom em o levanta à superfície da água - pois o m achado ainda tem seu peso ( cf. 2 Re. 6.5-7) Versus H u m e , Philos. Works, 4 .130 - “Milagre é violação das leis da natu reza”. Os apologistas cristãos com freqüência têm desnecessariamente se embaraçado ao aceitarem a definição de H u m e . O estigma é totalmente des merecido. S e o homem pode manter o machado na superfície da água enquanto a gravitação age sobre ele, não há dúvida de que Deus também 190 A ugustus H opkins Strong pode, através da palavra do profeta, fazer o ferro flutuar enquanto a gravitação age sobre ele. Mas este último é um milagre. M a n s e l , Essay on Miracles, em Aids to Faith, 26, 27 “Depois que a maior onda da estação fixou a pedra no alto da praia, eu posso removê-la um pouco mais adiante sem alterar a força do vento, ou da onda, ou do clima à distância de um continente. A. A. H o d g e : Retirar um novo registro do órgão não o impede de funcionar nem destrói a harmonia dos outros registros. A bomba não suspende a lei da gravitação, nem o lançamento de uma bola no ar. Se a gravitação não agisse, a velocida de da bola para cima não diminuiria e a bola nunca retornaria. “A gravitação atrai o ferro para baixo. Mas o magneto vence essa atração e traz o ferro para cima. Contudo aqui não há suspeita ou violação das leis, mas uma harmo niosa obra de duas leis, cada qual na sua esfera. Não é a vida, mas a morte que é a lei da natureza. Não obstante, os homens vivem. A vida é sobrenatu ral. Só uma força adicional às simples obras da natureza causam a existência da vida. Do mesmo modo a vida espiritual emprega as leis da natureza e as transcende” (Sunday School Times). G l a d d e n , What Is Leffí 60 - “Onde quer que esteja o pensamento, a escolha, o amor, você encontra algo que não está sob o domínio de uma lei rígida. São atributos da livre pessoalidade”. W il l ia m J a m e s : “Precisamos substituir o ponto de vista pessoal da vida pelo impessoal e mecânico. O racionalismo mecânico é a mais estreita e parcial indução dos fatos - isto não é ciência”. c) Em toda causalidade livre há um a atuação sem meio. O hom em age sobre a natureza exterior através do seu organism o físico, m as, ao m ovê-lo, ele age diretam ente sobre a m atéria. Em outras palavras, a vontade hum ana pode valer-se de m eios só porque ela tem o poder de agir inicialm ente sem eles. A . J. B a l f o u r , Foundations of Belief, 311 - “Não é só a Divindade que intervém no mundo das coisas. Toda alma viva, em sua medida e grau, faz o mesmo”. De qualquer forma, cada alma ao seu redor, age assim com relação ao princípio do milagre. P h il l ip s B r o o k s , Life, 2.350 - “ A prática de todos fei tos miraculosos não é uma abolição do milagre assim como o brilho solar, inundando o mundo, não é a extinção do sol”. G e o r g e A d a m S m it h , sobre Is. 3 3 .14 - “fogo devorador... chamas eternas”: “S e olhamos para um incêndio através de um vidro enfumaçado, vemos prédios desmoronando, mas não vemos fogo. Assim também a ciência vê os resultados, mas não a força que os produz; vê a causa e o efeito, mas não vê Deus”. P. S . H e n s o n : “ A corrente em um fio elétrico é invisível mesmo circulando uniformemente. Corte o fio e insira um pedaço de carvão entre os dois terminais rompidos e você terá um arco de luz que afasta a escuridão. Do mesmo modo o milagre é apenas uma interrupção momentânea na operação das leis uniformes, o que fornece luz por muito tempo”; ou, melhor dizendo, a mudança momentânea no método operacional pelo qual a vontade de Deus toma nova forma de manifestação. d ) O que a vontade hum ana, considerada com o força sobrenatural, e o que as forças quím icas e vitais da própria natureza são visivelm ente capazes de T e o l o g ia S is t e m á t ic a 191 ^nmprir não pode ser considerado com o além do poder de Deus, porquanto rle habita e controla o universo. Se a vontade do hom em pode agir diretam en te sobre a m atéria em seu organism o físico, D eus pode operar im ediatam ente 5: bre o sistem a que ele criou e sustenta. E m outras palavras, se h á u m D eus, e se ele é um ser pessoal, os m ilagres são possíveis. A im possibilidade dos m ilagres só pode ser sustentada nos princípios do ateísm o ou do panteísm o. Cox, Miracles , Argumento e Desafio: “É preferível o antropomorfismo ao hilomorfismo”. N e w m a n S m y t h , Old Faiths in a New Light, cap. 1 - “Milagre não é um súbito golpe aplicado na cara da natureza, mas o emprego desta, con forme a sua capacidade w\eteute, attavés das u\ais elevadas torças”. Oubq\%, Science and Miracle, New Englander, jul., 18 8 9 .1 -3 2 - Três postulados: 1) Todas partículas do universo atraem-se reciprocamente; 2) A vontade do homem é livre; 3) Cada volição se faz acompanhar da ação cerebral corres pondente. Por isso cada uma das nossas volições muda através do universo inteiro; ver também Century Magazine, dez, 1 8 9 4 .2 2 9 - A s condições nunca são dúplices na mesma natureza; tudo resulta da vontade, por sabermos que pelo menos o nosso pensamento abala o universo; milagre é tão somente a ação da vontade em condições singulares; o começo da vida, a origem da consciência, são milagres embora estritamente naturais; a oração, e a mente que a estrutura são condições que, na natureza, a Mente não pode ignorar. Cf. SI. 115.3 - “o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” = sua força onipotente e liberdade afastam todas objeções a priori sobre os mila gres. S e Deus não é só uma força, mas uma pessoa, então os milagres são possíveis. e) Tal possibilidade dos m ilagres tom a-se duplam ente segura aos que vêem em Cristo o D eus im anente m anifesto às criaturas. O Logos, ou a Razão divi na, que é o princípio de todo o desenvolvim ento e evolução, pode tornar Deus conhecido tão som ente por m eio de sucessivas concessões novas de sua ener gia. Porque todo o progresso im plica em increm ento e C risto é a única fonte da vida, toda a história da criação é testem unha da possibilidade do m ilagre. A. H. S t r o n g , Christin Creation, 1 6 3 - 1 6 6 - “Este conceito de evolução é o de Lotze. Esse grande filósofo cuja influência é mais poderosa do que qual quer outra neste pensamento, não considera o universo como um pienum ao qual nada se pode acrescentar por meio da força. Ele considera o universo mais como um organismo plasmável ao qual novos impulsos podem-se con ceder a partir daquele de cujo pensamento e vontade o universo é expressão. Tais impulsos, uma vez concedidos, continuam no organismo e daí em diante sujeitam-se à sua lei. Embora tais impulsos venham de dentro, não partem de um mecanismo finito, mas do Deus imanente. “A expressão de R o b e r t B r o w n in g , 'Tudo è amor, mas tudo é lei’ ( B r o w n in g faz um jogo de palavras ‘love’ meuXos \aswK «src\\sK\, «srcv p\ane\as e todas opetações da naluteza são teMeNações de um 192 A ugustus H opkins Strong Deus pessoal e presente, mas não se deve interpretar como se Deus corres se em trilhas, entre as quais ele está bitolado a um mecanismo inevitável de manifestações de poder único e surpreendente. “O homem constrói uma casa. Ao lançar o alicerce ele emprega pedra e argamassa, mas faz as paredes de madeira e o forro de folha-de-flandres. Na superestrutura ele se vale de leis diferentes das que se aplicam no alicer ce. Há continuidade não material, mas de planejamento. O desenvolvimento desde o porão até ao sótão requer quebras aqui e ali, e o emprego de novas forças; de fato, sem o emprego dessas novas forças, seria impossível a evo lução da casa. Agora substitua o alicerce e a superestrutura por coisas vivas como a crisálida e a borboleta; imagine a força de trabalho a partir não de fora, mas de dentro; e você observará que a verdadeira continuidade não exclui novos começos, mas envolve-os.” “A evolução, então, depende do incremento de forças somadas à conti nuidade do plano. Há possibilidade de novas criações porque o Deus imanente não se cansa. O milagre é possível porque Deus não está muito distan te, mas bem próximo para atender quaisquer necessidades que o universo moral possa requerer. São possíveis a regeneração e as respostas à oração pelo mesmo motivo de que são elas o objetivo para o qual o universo foi construído. Se fôssemos deístas, crendo em um Deus distante e em um uni verso mecânico, a evolução e o cristianismo seriam irreconciliáveis. Mas por que cremos em um universo dinâmico de que o Deus pessoal e vivo é a fonte interior da energia, a evolução é apenas a base, o alicerce e o cenário do cristianismo, a silenciosa e regular obra daquele que, na plenitude dos tem pos, profere a sua voz em Cristo e na Cruz”. A afirmação do ponto de vista do próprio L otze pode encontrar-se em seu Microcosmos, 2.479 sq. O P rofessor J ames T en B roeke interpretou-a da seguinte forma: “Ele faz a possibilidade do milagre depender da ação e rea ção próximas e íntimas entre o mundo e o Absoluto pessoal, em cuja conse qüência os movimentos do mundo natural realizam-se só através do Absolu to, com a possibilidade de variação no curso geral das coisas, conforme os fatos existentes e o propósito do divino Governante”. 3. P robabilidade dos M ilag res A) R econhecem os que, até onde confinam os nossa atenção à natureza, há um a predisposição contra os m ilagres. A experiência atesta a uniform idade da lei natural. A uniform idade geral é necessária para to m ar possível um cálculo racional do futuro, e um a ordem própria da vida. G. D. B. P epper : “Onde não há lei, não há ordem e não pode haver mila gre. O milagre pressupõe a lei e a importância atribuída aos milagres é o reconhecimento do reino da lei. Porém a fabricação e lançamento de um navio podem ser regidos por uma lei do mesmo modo que a navegação após o seu lançamento. Do mesmo modo a introdução de uma ordem espiritual mais elevada em uma ordem simplesmente natural constitui um novo e único evento”. T e o l o g i a S is t e m á t ic a 193 Alguns apologistas cristãos têm cometido o erro de afirmar que o milagre era anteriormente tão provável como qualquer outro evento, mas, na verdade, só a sua improbabilidade antecedente lhe dá o valor de prova da revelação. B) M as negam os que esta uniform idade da natureza seja absoluta e univer sal. a) Não é um a verdade da razão que não pode ter nenhum a exceção, a não ser que o todo seja m aior que as partes, b) A experiência não poderia garantir um a crença na uniform idade universal a não ser que a experiência fosse idên tica ao conhecim ento absoluto e universal, c) Sabem os, ao contrário, com base na geologia, que tem havido lapsos nesta uniform idade, tais com o a introdução da vida vegetal, da anim al e da hum ana que não pode ser tida senão com o m anifestação de um poder sobrenatural. a) Compare a probabilidade de o sol levantar-se amanhã cedo, com a certeza de que dois mais dois são quatro. H uxley , Lay Sermons, 158, com indignação nega que há um ‘deve’ em torno da uniformidade da natureza: “Ninguém tem o direito de dizer a priori que qualquer assim chamado evento miraculoso é impossível”. W ard , Naturalism and Agnosticism, 1.84 - “Não há nenhuma evidência para afirmar-se que a massa do universo é quantitativa mente definida e imutável”; 108, 109 - Por que se admite com tanta confiança que uma rígida e monótona uniformidade é a única, ou a mais elevada indica ção da ordem, a de um Espírito eternamente vivo, acima de tudo? Como é que depreciamos os artigos industrializados e preferimos os que apresentam o impulso artístico, ou a adequação do caso individual, livre para dar forma e fazer o que literalmente é manufaturado (feito à mão)? ... Tão perigoso como os argumentos teleológicos genericamente sejam, podemos ao menos com confiança dizer que o mundo não foi destinado a tornar fácil a ciência. ... Chamar de mecânicos os versos de um poeta, a política de um estadista, a ponderação de um juiz, implica, como L otze assinala, notável disparate, embo ra isto implique, também, precisamente tais caraterísticas - exatidão e invariabilidade - em que M axwell nos mostra um sinal do elemento divino”. Sem dúvida não devemos, então, insistir em que a sabedoria divina deve sempre correr em sulcos, que ela deve sempre ser repetitiva, nunca deve apresentarse em atos exclusivos como na encarnação e na ressurreição. b) S. T. C oleridge , Table Talk, 18 de dezembro de 1831 - “A luz que a experiência nos fornece é uma lanterna na popa do navio e só brilha nas ondas que deixamos atrás de nós”. H obbes : “A experiência nada conclui de modo universal”. B rooks, Foundations of Zoology, 131 - “A evidência só nos pode dizer o que aconteceu, mas nunca nos garantir que o futuro deve ser semelhante ao passado; 132 - A prova de que toda a natureza é mecânica não seria inconsistente com a crença de que tudo na natureza é sustentado imediatamente pela Providência e que a minha vontade explica alguma coisa na determinação do curso dos eventos”. R oyce , World and Individual, 2.204 “A uniformidade não é absoluta. A natureza é um reino da vida e do sentido mais vasto e nós, seres humanos, fazemos parte dele; a sua unidade final está na vida de Deus. O ritmo da pulsação cardíaca tem sua regularidade 194 A ugustus H opkins Strong normal, embora sua persistência seja limitada. A natureza pode constar sim plesmente de hábitos da vontade livre. Cada região deste mundo universal mente consciente pode ser o centro de onde procede a nova vida consciente para a comunicação com todos os mundos”. R eitor F airbairn : “Natureza é Espírito”. Preferimos dizer: “A natureza é a manifestação do espírito, da regu laridade da liberdade”. c) Outras quebras na uniformidade da natureza são a vinda de Cristo e a regeneração da alma humana. H arnack , W hatis Christianity, 18, sustenta que, embora não haja nenhuma interrupção na obra da lei natural, esta não é ainda plenamente conhecida. Conquanto não haja nenhum milagre, há uma fartura de milagrosos. O poder da mente sobre a matéria vai além das nossas con cepções atuais. B ow ne , Philosophy of Theism, 2 10 - Os efeitos não são mais conseqüências das leis do que as leis conseqüências dos efeitos = tanto as leis como os efeitos são exercícios da vontade divina. K ing , Reconstruction in Theology, 56 - Não devemos sustentar a uniformidade da lei, mas a sua universalidade ; porque a evolução tem estágios sucessivos e novas leis entram e dominam o que não aparecia anteriormente. O novo e mais elevado estágio é praticamente um milagre do ponto de vista do inferior. C) Porque a invocação da lei m oral n a constituição e curso da natureza m ostra que a natureza existe, não para si m esm a, m as para a contem plação e uso dos seres m orais, é provável que o Deus da natureza produza os efeitos além dos da lei natural, sem pre que haja fins m orais suficientem ente im por tantes a serem servidos por ela. Sob a expectação da uniformidade acha-se a intuição da causa final; por isso aquela pode ocasionar esta. Ver P orter , Human Intelect, 59 2-6 15 “As causas eficientes e as finais podem entrar em conflito e então as eficien tes dão lugar às finais. Eis o milagre. S hedd , Dogm. Theol., 1.534,535 “A ordem do universo não é um fim; é um meio e, como todos outros meios, deve abrir caminho quando o fim pode ser promovido de forma melhor sem ela. É um marco da mente fraca idolatrar a ordem e o método; apegar-se a formas estabelecidas de negócios quando dificultam ao invés de desenvolvêlos. B alfour , Foundations o f Belief, 357 - “A estabilidade dos céus à vista de Deus é menos importante que o desenvolvimento moral do espírito humano”. Isto é o que prova a Encarnação. O cristão vê em sua minúscula terra a cena da maior revelação de Deus. A superioridade do elemento espiritual sobre o físico ajuda-nos a ver a nossa verdadeira dignidade na criação, a dirigir o nosso corpo, a vencer os nossos pecados. O sofrimento de Cristo nos mostra que Deus não é um espectador indiferente à dor humana. Ele se sujeita às nossas condições ou, ao invés disso, revela-nos o eterno sofrimento de Deus por causa do nosso pecado. A expiação capacita-nos a solucionar o proble ma do pecado. D) A existência da desordem m oral conseqüente dos atos livres da vontade hum ana, portanto, m uda a pressuposição contra os m ilagres em pressuposição T e o l o g ia S is t e m á t ic a 195 em seu favor. O não aparecim ento dos m ilagres, neste caso, seria a m aior das m aravilhas. S tearns , Evidence of Christian Experience, 331-335 - Deste modo, a cons ciência pessoal que o homem sente a respeito do pecado e acima de tudo a sua experiência pessoal da graça regeneradora, constituirá a melhor prepa ração para o estudo dos milagres. “Não se pode provar o cristianismo a não ser para uma consciência má”. Com precisão disse o moribundo V inet : “O maior milagre que eu conheço é a minha conversão. Eu estava morto e estou vivo; era cego e vejo; era escravo e sou liberto; era inimigo de Deus e amo-o; a oração, a Bíblia, a comunhão dos cristãos eram para mim a fonte do profundo ennui (tédio); agora são os prazeres do mundo que me entediam e a piedade é a fonte de toda a minha alegria. Eis o milagre! E se Deus foi capaz de operá-lo, nada há de que ele seja incapaz”. Contudo os elementos físico e moral não são “como que separados por um machado”. A natureza é apenas um estágio inferior ou uma forma imper feita da revelação da verdade, da santidade e do amor de Deus. Ela abre o caminho para o milagre sugerindo, embora de forma obscura, as mesmas caraterísticas essenciais da natureza divina. A ignorância e o pecado preci sam de um novo descortino. G. S. L ee, The Shadow Christ, 84 - “A coluna de nuvem era a lâmpada noturna obscura que o Senhor conservava queimando acima dos seus infantes para mostrar-lhes que ele estava ali. Eles não sabi am que a çrópria noite era Deus”. Por que temos presentes de Natal em lares cristãos? É porque os pais não amam os seus filhos em outros tempos? Não; mas é porque a mente se torna preguiçosa ante a generosidade meramente regular e há necessidade de dons especiais a despertar-lhe a gratidão. Deste modo, as nossas mentes preguiçosas e desamorosas necessitam de teste munhos especiais sobre a misericórdia divina. Será que só Deus silencia para as tolas uniformidades de ação? Será que só o Pai celeste é incapaz de pro duzir comunicações especiais de amor? Então, por que os milagres e avivamentos da religião não são constantes e uniformes? Porque as bênçãos uni formes seriam consideradas simplesmente mecânicas. E) Com o a crença na possibilidade dos m ilagres se apoia na nossa crença na existência de um D eus pessoal, assim a crença n a probabilidade dos m ila gres se apoia na nossa crença de que D eus é um ser m oral e benevolente. A quele que não tem nenhum Deus, a não ser um Deus de ordem física consi derará os m ilagres com o um a im portante introm issão na referida ordem. Mas aquele que cede ao testem unho da consciência e considera Deus com o o Deus de santidade verá que a falta de santidade do hom em to m a a interposição m iraculosa de Deus m ais necessária ao hom em e m ais apropriada a Deus. N osso ponto de vista sobre os m ilagres, portanto, será determ inado pela nossa crença em um Deus m oral, ou am oral. F ilo , Life of Moses, 1.88, fa la n d o d o s m ila g re s d a s co d o rn ize s e da á g ua que jo rrou da rocha, diz que “tod as estas in e sp e ra d a s e extrao rdinárias coisas 196 A ugustus H opkins Strong são divertimentos e brinquedos de Deus”. Ele crê que há lugar para arbitrarie dade no procedimento divino. Contudo, a Escritura representa o milagre como um ato extraordinário e não arbitrário. É “a sua obra, a sua estranha obra ... o seu ato, o seu estranho ato” (Is. 28.21). O método extraordinário de Deus é o do crescimento e desenvolvimento regulares. C hadwick , Unitarianism, 72 “A natureza é econômica. S e ela quer uma maçã, desenvolve uma folha; se quer um ramo, desenvolve uma vértebra. Sempre formulamos um bom pensamento a respeito da coluna vertebral; e se foi uma sugestão sadia de Goethe, agora pensamos melhor a respeito dela”. É prático, mas bem errôneo, admitir que o milagre requer um exercício maior de poder do que aceitarem-se os processos comuns naturais da parte de Deus. Porém as nossas medidas de tal poder não se aplicam a um Ser onipotente. A questão não se prende ao poder, mas à racionalidade e ao amor. O milagre implica uma limitação, bem como um desdobramento da parte daquele que o opera. Por isso não se trata de um método de ação divina comum; é adotado somente quando não bastam os regulares; freqüentemen te parece acompanhado de um sacrifício de sentimento da parte de Cristo (Mt. 17 .17 - “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui”; Mc. 7.34 - “levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá, isto é, abre-te”; cf. Mt. 12.39 - “Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas”. F) Do ponto de vista do m onism o ético a probabilidade do m ilagre tom a-se ainda maior. Porque D eus não é sim plesm ente a razão intelectual, mas a razão m oral do m undo, as perturbações na sua ordem devidas ao pecado são m atéria que o afetam m ais profundam ente. Cristo, a vida do sistem a todo, assim com o a hum anidade, deve sofrer; e porque tem os evidência de que ele é m isericor dioso e ju sto é provável que ele retificará o m al através de recurso extraordi nário quando não forem suficientes os recursos sim plesm ente ordinários. Como a criação e a providência, como a inspiração e a regeneração, o milagre é uma obra em que Deus limita-se a si mesmo, através de um novo e peculiar exercício do seu poder, como parte de um processo de amor con descendente e como recurso para ensinar a humanidade sob o senso do ambiente e o fardo do pecado o que não aprenderia de outro modo. Contudo, a limitação própria é a própria perfeição e glória de Deus, porque sem ela nenhum amor que a si mesmo se sacrifica seria possível [v e r p. 9 F). Por isso, defende-se a probabilidade dos milagres não só a partir da santidade de Deus, mas também do seu amor. O seu desejo de salvar os homens dos seus pecados deve ser de natureza infinita. A encarnação, a expiação, a ressurreição, quan do se nos tomam conhecidas, recomendam-se, não só como satisfação das nossas necessidades humanas, mas como dignas da perfeição moral de Deus. Um argumento em favor da probabilidade do milagre pode ser tirado das concessões deTHOMAS H. H uxley, um dos seus principais opositores modernos. Em diferentes lugares, ele nos diz que o objetivo da ciência é “a descoberta T e o l o g ia S is t e m á t ic a 197 da ordem racional que permeia o universo!^ apesar do seu agnosticismo declarado é um testemunho inconsciente da Razão e Vontade, base de todas as coisas. Diz-nos, ainda, que não há necessidade alguma na uniformidade da natureza: “Quando mudamos ‘faremos’ por ‘devemos’, introduzimos uma idéia de necessidade que não tem nenhuma garantia nos fatos observados, e nem de que eu posso descobri-la em parte alguma”. Ele fala da “iniqüidade infinita que assistiu o curso da história humana”. Contudo, não tem esperan ça de que o homem possa salvar-se a si mesmo: “Eu gostaria de, em breve, adorar a selvageria dos macacos”, como a concepção panteísta de humani dade racionalizada. Ele admite que Jesus Cristo é “o mais nobre ideal que a humanidade jamais adorou”. Por que ele não avançou e admitiu que Jesus Cristo com muito maior veracidade representa a Razão infinita no cerne das coisas e que a sua pureza e amor, demonstrados através do sofrimento e da morte tornam provável que Deus empregará extraordinários recursos em favor do livramento do homem? É de duvidar que H u x l e y reconhecesse a sua própria pecaminosidade pessoal tão plenamente como reconhecia a da humanidade em geral. Fizesse ele isso, e teria desejado aceitar o milagre até mesmo apoiado na mais leve base atribuída por Hume, a qual passaremos doravante a mencionar. 4. O testem unho necessário p a ra p ro v a r um m ilagre Não é m aior do que o requisito para provar a ocorrência de qualquer outro evento incom um , m as perfeitam ente possível. H ume, na verdade, argum entava que o m ilagre é tão contraditório a toda a experiência hum ana que é m ais razo ável crer em qualquer som a de falso teste munho do que crer que um m ilagre seja possível. A forma original do argumento pode ser encontrada em H u m e , Philosophical Works, 4.124-150. Ver também Bíblia Sacra, out. 1867.615. O argumento sustenta, em substância, que as coisas são impossíveis porque são imprová veis. Ele ridiculariza a credulidade daqueles que “comprimem os seus punhos contra os postes E ainda insistem em ver os espíritos”, apoia o filóso fo alemão que declara não crer em milagre mesmo que veja com os seus próprios olhos. O cristianismo é tão miraculoso que produz o milagre para fazer alguém crer nele. O argum ento é falaz porque: a ) É acusável de petitio principi, fazendo a nossa experiência pessoal a m edida de toda a experiência hum ana. O m esm o princípio tom aria im possível a prova de qualquer fato novo. M esm o operando um m ilagre, Deus nunca o poderia provar. b) Envolve um a autocontradição porque procura derrotar a nossa fé no testem unho hum ano acrescentando ao contrário a experiência geral dos homens 198 Augustus H opkins Strong de que conhecem os só a partir do testem unho. Tal experiência geral, contudo, é sim plesm ente negativa e não pode neutralizar a que é positiva a não ser apoiada em princípios que invalidariam todo o testem unho qujalquer que seja. c) R equer crença em um a m aravilha m aior do que aquelas que escapariam . Q ue a m ultidão de hom ens inteligentes e honestos se uniriam contra todos os seus interesses na deliberada e persistente falsidade sob as circunstâncias narra das no registro do N ov o T estam ento, envolve u m a m udança nas seqüências da natureza bem m ais incríveis do que os m ilagres de C risto e de seus apóstolos. a) John S t u a r t M ill, Essays on Theism , 2 1 6 - 2 4 1 , admite que, mesmo que tivesse ocorrido um milagre, seria impossível prová-lo. Nisto ele só repete Hume, Miracles, 1 1 2 - “O padrão último através do qual determinamos todas polêmicas que podem surgir derivam sempre da experiência e da observa ção”. Porém neste ponto a nossa experiência pessoal torna-se o padrão atra vés do qual se julga toda experiência humana. W hate ly, Hist. Doubts, relati vas a Napoleão Bonaparte, m ostra que a m esm a regra exigiria que negássemos a existência do grande francês, porque as conquistas dele con trariam toda experiência e as nações civilizadas nunca tinham sido subjuga das anteriormente. O Periódico Londrino de 18 de junho de 1888, pela primei ra vez em pelo menos cem anos ou em 3 1 . 2 0 0 edições, apareceu com a data errada e em algumas páginas lia-se 17 de junho apesar de que esse dia era domingo. Contudo esse jornal o teria admitido em uma corte de justiça como evidência de um casamento. A verdadeira maravilha não é a falha na expe riência, mas a sua continuidade sem a falha. b) L yman A bbott : “S e o Velho Testamento contasse a história de uma bata lha naval entre o povo judeu e um pagão, em que todos os navios dos pagãos fossem absolutamente destruídos e nenhum só homem entre os judeus foi morto, todos os céticos teriam escarnecido da narrativa. Agora todos crêem na narrativa, exceto os que moram na Espanha” (Trata-se do fato histórico da Invencível Armada). Há pessoas que, de igual modo, recusam-se a investigar os fenômenos do hipnotismo, segundo a vista, a clarividência e a telepatia, declarando a priori que todas essas coisas são impossíveis. Desacredita-se a profecia no sentido de predição. Com base no mesmo princípio, o telégrafo sem fio poderia ser denunciado como uma impostura. O filho de Erin, acusa do de homicídio, defendeu-se dizendo: “Meritíssimo, eu posso trazer cinqüenta pessoas que não me viram cometer tal ato”. A nossa fé no testemunho não pode dever-se à experiência. 5. F o rç a E videnciai dos M ilag res a) Os m ilagres são os acessórios e atestados naturais das novas com unica ções da parte de Deus. As grandes épocas dos m ilagres - representadas por M oisés, pelos profetas, pela prim eira e pela segunda vindas de Cristo - coin cidem com as grandes épocas da revelação. Os m ilagres servem para atrair a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 199 atenção para um a nova verdade e cessam quando esta nova verdade ganhou curso e apoio. Os milagres não estão disseminados uniformemente em todo o curso da história. Poucos são registrados durante os 2.500 anos no período entre Adão e Moisés. Quando o Cânon do Novo Testamento se completou e a evidência interna da Escritura atingiu a plenitude da sua força, os atestados exteriores através do milagre ou são afastados ou começam a desaparecer. As maravi lhas espirituais da regeneração permanecem e por estas o caminho tem sido preparado pelo longo progresso desde os milagres do poder operado por Moisés até os da graça operados por Cristo. Os milagres desapareceram porque mais recentes e mais elevadas provas os tornaram desnecessários. Melhores coisas do que estas estão agora em evidência. T homas F uller : “Milagres são cueiros da igreja infante”. J ohn F oster : “Os milagres são o grande sino do universo que convoca os homens para o sermão de Deus”. H enry W ard B eecher : “ O s milagres são as parteiras das grandes verdades morais; as velas acendem antes do nascer do sol, mas apagam-se após o seu apa recimento”. Illingworth , Lux Mundi, 2 10 - “Quando nos dizem que os mila gres contradizem a experiência, apontamos para a ocorrência diária do milagre espiritual da regeneração e perguntamos: ‘Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda?’ (Mt. 9.5)”. Os milagres e a inspiração caminham juntos; se aqueles permanecem na igreja, esta também. A. J. G ordon , Ministry o fth e Spirít, 167 - “Os apóstolos foram comissionados para falar por Cristo até que as Escrituras do N.T., voz de autoridade dele, se completassem; o primeiro ser dotado de autoridade ad interim para perdoar pecados, e o segundo com autoridade in perpetud'. O Dr. Gordon traça uma analogia entre o carvão, que é a luz solar fossilizada, e o Novo Testamento que é a inspiração fossilizada. S abatier , Philos. Religion, 74 - “A Bíblia está bem livre dos prodígios da mitologia oriental. Os gran des profetas - Isaías, Amós, Miquéias, Jeremias, João Batista, não operaram nenhum milagre. A tentação de Jesus no deserto é uma vitória da consciên cia moral sobre a religião do mero prodígio físico”. T rench diz que os milagres agrupam-se em torno da fonte do reino teocrático sob o governo de Moisés e de Josué, e em torno da restauração desse reino sob Elias e Eliseu. No A.T., os milagres refutam os deuses do Egito sob Moisés, o Baal fenício sob Elias e os deuses da Babilônia sob Daniel. b) Os m ilagres geralm ente certificam a verdade da doutrina não direta, mas indiretam ente; de outra form a um novo m ilagre necessitaria acom panhar cada nova doutrina ensinada. Os m ilagres, em prim eiro lugar e diretam ente, certificam a com issão e autoridade divinas de um m estre religioso e, portanto, garantem a aceitação das suas doutrinas e aceitação das ordens de Deus, quer sejam com unicadas em intervalos, quer juntos, oralm ente ou em docum entos escritos. 200 A ugustus H opkins Strong As exceções do que se afirmou acima são bem poucas e ocorrem apenas em casos que não envolvem alguma doutrina fragmentária, mas toda comis são e autoridade de Cristo. Jesus apeia para os seus milagres como prova da verdade do seu ensino em M t. 9.5,6 - “Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados - disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para a tua casa”; 12.28 - “se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conse quentemente chegado a vós o Reino de Deus”. Do mesmo modo Paulo em Rm. 1.4 diz que Jesus “foi declarado Filho de Deus em p o d er... pela ressur reição dos mortos”. M a ir , Chrístian Evidences, 223, cita de Natural Religion, 181 - “Conta-se que o teofilântropo Larévellière-Lépeaux confidenciou a Talleyrand seu desapontamento com o insucesso na tentativa de trazer à voga um tipo de cristianismo melhorado, um tipo de racionalismo benévolo, que ele inventara para ir ao encontro dos anseios de uma era benévola. ‘Sua propa ganda não vingou’, disse ele. ‘O que teria acontecido’? perguntou. O ex-bispo Talleyrand educadamente lamentou, temeu ser difícil a tarefa de descobrir uma nova religião, e mais difícil do que imaginava, tão difícil que não tinha condições de aconselhá-lo. ‘Ainda’, depois de alguns momentos de reflexão, ‘há um plano que você poderia pelo menos tentar: Eu recomendaria que você fosse crucificado e ressuscitasse ao terceiro dia”. c) Portanto, os m ilagres, não são as únicas evidências. O poder sozinho não prova a com issão divina. A pureza da vida e a doutrina devem acom pa nhar os m ilagres para garantir-nos que um m estre religioso veio da parte de Deus. Os m ilagres e a doutrina sustentam -se um ao outro e fazem parte de um todo. A evidência interna do sistem a cristão pode ter m aior força em certas m entes e em certas épocas do que a evidência externa. O aforismo de Pascal - “as doutrinas devem ser julgadas pelos milagres e os milagres pelas doutrinas” - necessita de ser suplementado pela afirmação de M ozley de que “um fato sobrenatural é a própria prova de uma doutrina também sobrenatural, conquanto esta não é a própria prova de um fato sobrenatural”. E. G. R obinson , Chrístian Theology, 107, “defende os milagres, mas não faz deles um apoio para o Cristianismo. ... Quantidade nenhuma de milagres pode convencer um bom homem da comissão divina de um homem reconhecidamente mau; nem, por outro lado, qualquer tipo de poder mira culoso basta para silenciar as dúvidas de um ser humano de má índole. ... O milagre é uma certificação só para aquele que pode perceber o seu sentido. ... A igreja cristã tem em si a ressurreição sobrescrita. Sua própria existência é a prova da ressurreição. Doze homens nunca poderiam tê-la fun dado, se Cristo tivesse permanecido na tumba. A igreja viva é a sarça ardente que não se consumiu”. G ore , Incarnation, 57 - “Após a ressurreição, Jesus não apareceu aos incrédulos, mas só aos crentes, o que significa a coroação de uma fé já existente, não a criação de uma fé que não existia”. Chrístian Union, 11 de jul. de 1891 - “S e a antecipada ressurreição de Joseph Smith tivesse ocorrido, nada acrescentaria à autoridade dos Mórmons”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 201 S churman , Agnosticism and Religion, 57 - “Os milagres são apenas sinos a chamar os povos primitivos para a igreja. Doces como a música que outrora faziam, os ouvidos modernos os acham desagradáveis e desentoados e suas notas dissonantes afugentam almas piedosas que, resignadas, entrariam no templo de adoração”. Uma nova definição de milagre que reconhece sua pos sível classificação como ocorrências extraordinárias na natureza, embora ven do em toda ela a obra do Deus vivo, pode remover tal preconceito. B ispo d e S outhampton , Place of Miracles, 53 - “Sozinhos, os milagres não podem pro duzir convicção. Os fariseus os atribuíam a Belzebu. Embora Jesus tivesse feito tantos sinais, não creram. ... Embora fossem operados com tanta fre qüência, raramente constituíam-se um apelo para a evidência do evangelho. Eram apenas sinais da presença de Deus no mundo. Por si só o milagre não tem força evidenciai. O único teste distintivo dos milagres divinos em oposi ção aos satânicos é o caráter moral e o propósito de quem os opera; em vista disto, por sua força na apreciação anterior, os milagres dependem do caráter e personalidade de Cristo (79). Os mais antigos apologistas não se valiam dos milagres. Estes não tinham valor a não ser em conexão com a profecia.” Os milagres são a revelação de Deus não a sua prova. C ontudo, os m ilagres cristãos não perdem o seu valor evidenciai no correr dos tem pos. Quanto m ais elevada for a estrutura da vida e da doutrina cristãs m aior a necessidade da sua segurança. A autoridade de Cristo com o m estre de verdade sobrenatural apoia-se em seus m ilagres e especialm ente no da sua ressurreição. O m ilagre a que a igreja rem onta com o a fonte da sua vida leva consigo irresistivelm ente todos os outros m il registrados na Escritura; só nele podem os firm ar com segurança a prova de que as Escrituras são um a revelação de autoridade da parte de Deus. d) Os milagres de Cristo são simples correlatos da Encarnação - a própria insígnia da sua realeza e divindade. Contudo, através da mera evidência externa podemos mais facilmente provar a ressurreição do que a encarna ção. Em nossos argumentos para com os céticos não devemos começar com a jumenta de Balaão, ou o peixe que engoliu Jonas, mas com a ressurreição de Cristo; admitido isto, todos os outros milagres bíblicos parecerão apenas preparação natural, acessórios, ou conseqüências. G. F. W right , Biblia Sacra , 1889.707 - “As dificuldades criadas pelo caráter miraculoso do cristia nismo podem ser comparadas às assumidas pelo construtor quando se dese ja grande permanência na estrutura que foi levantada. É mais fácil lançar o alicerce de uma estrutura temporária do que a de uma que deve resistir por séculos”. P ressencé: “A tumba vazia de Cristo foi o berço da igreja e, se neste fundamento da fé a igreja tem-se equivocado, afirmo que ela deve ter neces sidade de lançar-se junto aos restos mortais, não de um homem, mas de uma religião”. P residente S churman crê que a ressurreição de Cristo seja um “quadro obsoleto de uma verdade eterna - o fato de uma vida contínua com Deus. H arnack , Wesen des Christenthums, 102, pensa que não há nenhuma união 202 A ugustus H opkins Strong consistente dos relatos da ressurreição de Cristo contidos nos evangelhos; aparecem dúvidas sobre uma ressurreição literal e física; contudo, o cristia nismo remonta a uma fé invencível na vitória de Cristo sobre a morte. Mas por que crer nos evangelhos quando falam da simpatia de Cristo e descrer deles quando falam do poder miraculoso? Não temos direito de confiar na narrativa quando nos apresentam as palavras de Cristo “Não chores” à viúva de Naim, (Lc. 7.13), e desconfiar dela quando nos fala da ressurreição do seu filho. As palavras “Jesus chorou" pertencem inse^aravelmente à história de que faz parte a expressão “Lázaro, sai para fora” (Jo. 11.25,43). É improvável que os discípulos tivessem crido num tão estupendo milagre como o da ressurrei ção de Cristo, se não tivessem antes visto outras manifestações do poder miraculoso da parte dele. O próprio Cristo é o grande milagre. A sua con cepção como o Salvador ressurrecto e glorificado só pode ser explicada pelo fato de que ele ressuscitou. E. G. R obinson , Theology, 109 - “A igreja atesta o fato da ressurreição exatamente do mesmo modo que atesta a origem divina da igreja. Como uma evidência, a ressurreição depende da existência da igreja que a proclama”. e) A ressurreição do N osso Senhor Jesus Cristo - pela qual significam os a saída do sepulcro em corpo e em espírito - é dem onstrada pela evidência com o variada e conclusiva que nos prova qualquer fato da história antiga. Sem ela o próprio cristianism o é inexplicável com o a falha das m odernas teo rias racionalistas m ostram no seu aparecim ento e progresso. Ao discutir a evidência da ressurreição de Jesus, defrontamo-nos com três teorias racionalistas: I. Teoria do desmaio, de Strauss. Ele sustenta que Jesus na verdade não morreu. O frio e as especiarias despertaram-no. Respondemos que o sangue e a água e o testemunho do centurião (Mc. 15.45) provam que ele estava realmente morto. A pedra removida e a força imediata de Jesus logo depois, são inconsistentes com o desmaio e suspensa animação imediatamente antes. Como foi preservada a sua vida? aonde ele foi? quando ele morreu? a não morte dele implica mentira da parte dele ou da parte dos seus discípulos. II. Teoria do espírito, de Keim. Na verdade morreu, mas apareceu apenas o seu espírito. O espírito deu aos discípulos um sinal da sua vida contínua, uma espécie de telegrama do céu. Porém respondemos que o telegrama não foi verdadeiro porque afirmou que o seu corpo ressuscitou do sepulcro. O sepulcro estava vazio e as peças de linho mostraram uma saída ordeira. O próprio Jesus negou que fosse um espírito sem corpo: “um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho (Lc. 24.39). A “sua carne viu corrupção” (At. 2.31)? O ladrão arrependido ressuscitou dos mortos como ele? G odet , Lectures in Defence o fth e Chrístian Faith, prel. i: Um dilema para os que negam o fato da ressurreição de Cristo: ou o seu corpo permaneceu nas mãos dos seus discípulos ou foi entregue aos judeus. Se os discípulos o retivessem, seriam impostores: mas os racionalistas modernos não defen dem isto. S e os judeus o retiveram, por que não o apresentaram como evi dência contra os discípulos? T e o l o g ia S is t e m á t ic a 203 111. Teoria da visão, de R enan. Jesus morreu e não houve nenhuma apari ção objetiva até mesmo do seu espírito. Maria Madalena foi vítima de alucina ção subjetiva contagiante. Isto ocorreu porque os judeus esperavam que o Messias operasse milagres e que ressuscitaria dentre os mortos. Responde mos que os discípulos não esperavam a ressurreição de Jesus. As mulheres não foram ao sepulcro para ver o Redentor ressuscitado, mas para embalsa mar um corpo morto. Tomé e os que çaminhavam para Emaús abandonaram toda esperança. Quatrocentos anos tinham-se passado desde os dias dos milagres; João Batista “não fez nenhum sinal” (Jo. 10.41); os saduceus diziam “não haver ressurreição” (Mt. 22.23). Houve treze aparições diferen tes: 1. a Maria Madalena; 2. a outras mulheres; 3. a Pedro; 4. aos caminhan tes de Emaús; 5. aos doze; 6. novamente, após oito dias, aos doze; 7. junto ao mar da Galiléia; 8. na montanha na Galiléia; 9. a quinhentas pessoas na Galiléia; 10. a Tiago; 11. ascensão em Betânia; 12. a Estêvão; 13. a Paulo, no caminho de Damasco. Paulo descreve o aparecimento de Cristo a ele como algo não subjetivo, mas objetivo e implica que os aparecimentos anteriores de Cristo aos outros também foram objetivos: “por derradeiro de todos [os aparecimentos físicos], ... me apareceu também a mim” (1 Co. 15.8). Bruce, Apologetics, 396 - “O interesse e intenção de Paulo em classificar ambas juntas era nivelar a sua própria visão [de Cristo] à objetividade das cristofanias primitivas. Ele cria que os onze, particularmente Pedro, tinham visto o Cristo ressurrecto com os olhos do seu corpo e reivindicava para si uma visão do mesmo tipo”. Paulo tinha uma natureza sã e forte. Visões subjetivas não trans formam vidas humanas; a ressurreição moldou os apóstolos; eles não cria ram a ressurreição. Tais aparições logo cessaram, diferentemente da lei das alucinações, que aumentam em freqüência e intensidade. É impossível expli car as ordenanças, o dia do Senhor, e até o próprio cristianismo, se Jesus não ressuscitou dentre os mortos. A ressurreição de nosso Senhor ensina três importantes lições: 1) Mostra que a sua obra da expiação completou-se e obteve a aprovação divina: 2) Que ele é o Senhor de tudo e que deu uma suficiente prova externa do cristianismo; 3) Forneceu a base e penhor da nossa ressurreição e deste modo “trouxe à luz a vida e a incorrupção” (2 Tm. 1.10). Convém lembrar que a ressurreição foi o único sinal sobre o qual o próprio Jesu s apoiou as suas reivindicações - “o sinal de Jonas” (Lc. 11.29); e que a ressurreição não é só uma prova do poder de Deus, mas do poder do próprio Cristo: Jo. 10 .18 “tenho poder para a dar e para tornar a tomá-la”; 2 .19 - “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”. ... 21 - “ele falava do templo do seu corpo”. 6. F alsos M ilagres P orque só um ato operado por Deus pode, com propriedade, ser cham ado de m ilagre, segue-se que os eventos surpreendentes operados pelos espíritos m aus ou por hom ens através do uso de agentes além do nosso conhecim ento não têm o direito a esta designação. As Escrituras reconhecem a sua existên cia, m as os cham am de “prodígios de m entira” (2 Ts. 2.9). 204 A ugustus H opkins Strong Estes falsos m ilagres em várias épocas m ostram que a crença neles é natu ral à raça e em algum lugar deve existir a verdade. Servem para m ostrar que nem todas ocorrências sobrenaturais são divinas e m ostrar a necessidade de cuidadoso exam e antes de aceitá-las com o divinas. Os falsos m ilagres com um ente podem distinguir-se dos verdadeiros: d) pela conduta im oral que os acom panha ou doutrina contrária à verdade já revelada - com o no espiritism o m oderno; V) por suas características interiores de inanidade e extravagância - com o na liquefação do sangue de São Januário, ou nos m ilagres do N ovo Testam ento A pócrifo; c) pela insuficiência de objetivos que se propõem a prom over - com o no caso de A polônio de Tiana, ou dos m ilagres que se dizem acom panhar a publicação das doutrinas da Im aculada C m ceã çãa e. <ia. «s». feAtók - com o nos m ilagres m edievais tão raram ente atestados pelas testem unhas contem porâneas e desinteressadas; e ) pela negação ou subestim a da prévia revelação que Deus faz de si m esm o na natureza - m ostrada pela negligência dos m eios com uns com o no caso da cura pela fé e da assim cham ada C iência Cristã. Somente o que é valioso é passível de falsificação. Os falsos milagres pressupõem os verdadeiros. F isher , Nature and Method of Revelation, 283 “Os milagres de Jesus originaram fé, enquanto as imitações medievais vie ram depois que a fé já se estabelecera. Os apóstolos deram o seu testemu nho em face da incredulidade dos saduceus. Por causa disto estes ridiculari zavam e maltratavam. Não havia tempo para sonhos devotos e invenção de romances”. Conta-se que o sangue de São Januário estava depositado numa salva que, de um lado do vidro era grosso, enquanto do outro era fino. Sem e lhante milagre operou-se em Hales em Gloucestershire. Santo Albano, o pri meiro mártir da Bretanha depois de decepada a cabeça, levou-a em sua mão. Na Irlanda, mostra-se o lugar onde São Patrício no século quinto dirigiu os sapos e cobras sobre um precipício nas regiões inferiores. A lenda, contudo só se tornou corrente alguns séculos depois que os ossos dos santos se esmigalharam no pó de Saulo, perto de Downpatrick. Compare com a história do livro de Tobias (6-8), que relata a expulsão de um demônio pela fumaça de um coração queimando e o fígado de um peixe apanhado no Rio Tigre e a do Apócrifo do Novo Testamento (I, Infância), que fala do menino Jesus expul sando, de Judas, Satanás na forma de um cachorro louco. Alguns escritores modernos têm sustentado que o dom dos milagres ainda permanece na igreja. Bengel: “A razão por que muitos milagres não se ope ram agora não é tanto porque a fé já se estabeleceu, mas porque reina a incredulidade". C hristlieb : “Atualmente o maior embaraço ao mais notável aparecimento desse miraculoso poder que circunstancialmente opera na ocultação silenciosa é a falta de fé. A incredulidade é a razão final e mais impor tante para o retrocesso dos milagres”. E dward I rving , Works, 5.464 - “A doen ça é o pecado que aparece no corpo, e o pressentimento da morte, precursora T e o l o g i a S is t e m á t ic a da corrupção. Ora, como Cristo veio para destruir a morte, e quer redimir o corpo da escravidão da corrupção, se a igreja tem as primícias ou o penhor deste poder, é porque recebe o poder sobre as enfermidades e sobre o penhor da morte". Em resposta aos que defendem a cura pela fé em geral devemos admitir que a natureza é plasmável nas mãos de Deus; que ele pode operar milagres quando e onde lhe apraz; e que ele prometeu, com certas limitações bíblicas e racionais, estimular a oração da fé na cura de enfermidades. Mas inciinamo-nos a crer que, ultimamente, Deus responde tal oração, não através de um milagre, mas de uma providência especial e de incentivo, fé e vontade, agindo desta forma diretamente através do seu Espírito sobre a alma e só indiretamente sobre o corpo. As leis da natureza são, genericamente a vonta de de Deus; ignorá-las e desusá-las significa presunção e desrespeito ao próprio Deus. A promessa da Escritura quanto à fé sempre é expressa e subentende o emprego dos recursos à disposição: devemos operar a nossa salvação pela mesma razão que é Deus quem a opera em nós; não adianta ao homem que está se afogando orar se ele se recusa a segurar a corda que lhe é lançada. Os remédios e os médicos são a corda que Deus nos lança; não podemos esperar um auxílio milagroso, enquanto negligenciarmos o auxílio que Deus já nos deu; recusar este auxílio é praticamente negar a reve lação de Cristo na natureza. Por que não vivemos sem comer do mesmo modo em que pretendemos recuperar a saúde sem tomar remédio? A fé na alimentação é tão racional como a fé na cura. Excetuar casos de doença a partir desta regra geral quanto ao emprego dos meios não tem nenhuma garantia nem na razão nem na Escritura. A expiação comprou a salvação completa e a qualquer dia a salvação será nossa. Mas a morte e a depravação ainda continuam, não como uma pena, mas como um castigo. O mesmo acontece com a doença. Hospitais para doenças incuráveis e a morte mesmo para os que defendem a cura pela fé mostra que eles também são compeli dos a reconhecer um limite à aplicação da promessa do Novo Testamento. Com base na discussão anterior não devemos considerar a assim chama da Ciência Cristã nem cristã nem científica. A S r a . M a r y B a k e r G. E d d y nega a autoridade de toda aquela parte da revelação que Deus fez ao homem na natu reza, e que sustenta que as leis da natureza podem ser desconsideradas com impunidade pelos que têm apropriada fé. B i s p o L a w r e n c e de Massachusetts: “Um dos erros da Ciência Cristã é a negligência do conhecimento acumulado, do fundo de informação armazenado nestes séculos cristãos. Tal conheci mento é tão magnífica dádiva de Deus como a obtida através da revelação direta. Ao rejeitar o conhecimento acumulado e a capacidade profissional, a Ciência Cristã rejeita o dom de Deus”. As professadas curas da Ciência Cris tã são, na maioria, explicáveis pela influência da mente sobre o corpo, atra vés da hipnose ou da sugestão. Os distúrbios mentais podem tornar o leite materno um veneno para o filho; a excitação mental é causa comum da indi gestão; a depressão mental induz a desarranjos intestinais; a mente deprimi da e as condições morais tornam uma pessoa suscetível à gripe, à pneumo nia, à febre tifóide. Lendo o relato de um acidente no qual o corpo é dilacerado ou mutilado, sentimos a dor no mesmo lugar em nós mesmos; quando a mão de um filho é esmagada, a da mãe, embora a certa distância incha; os stigmata 205 A ugustus H opkins Strong 206 medievais resultaram, provavelmente, da impressão contínua dos sofrimen tos de Cristo. Porém os estados mentais tanto podem prejudicar como podem ajudar o corpo. A esperança mental facilita a cura da enfermidade. O médico auxilia o paciente inspirando-lhe esperança e coragem. A imaginação opera maravi lhas especialmente no caso de perturbações nos nervos. Dizem que a Ciên cia Cristã cura as enfermidades deste tipo. De tempo em tempo os faquires, os mesmerianos e os impostores têm empregado estes recursos das forças mentais subjacentes. Induzindo a expectação, inculcando coragem, desper tando a vontade paralisada, indiretamente têm causado mudanças físicas que se confundem com o milagre. T ácito nos fala da cura de um cego pelo impe rador Vespasiano. Sem dúvida as curas têm sido operadas pelo toque real na Inglaterra. Visto que tais maravilhas têm sido feitas pelos íridios curandeiros, não podemos considerá-los como se tivessem qualquer caráter cristão espe cífico e quando, como no caso atual, vemo-lo utilizado na disseminação de uma falsa doutrina a respeito do pecado, de Cristo, da expiação e da igreja, devemos classificá-los como “prodígios de mentira” de que há advertência em 2 Ts. 2.9. IV. P R O F E C IA AT E ST AN D O U M A R E V E L A Ç Ã O D IV IN A C onsideram os profecia no seu sentido estrito de sim ples predição, reser vando para um capítulo subseqüente sua consideração com o interpretação da vontade divina em geral. 1. D efinição Profecia é a predição de eventos futuros em virtude da com unicação direta de Deus - predição, portanto, que, apesar de não contrariar quaisquer leis da m ente hum ana, se plenam ente conhecidas, sem a atuação divina, não se expli cariam suficientem ente. Ao discutir o assunto da profecia, enfrentamos, logo no começo, a contro vérsia de que não há e nunca houve, predição real de eventos futuros além do que é possível à presciência natural. Este é o ponto de vista de K uenen , Prophts and Profecy in Israel. P fleiderer , Philos. Relig., 2.42, nega qualquer predição direta. A profecia em Israel, sugere ele, é somente a consciência da retidão de Deus proclamando os seus ideais do futuro e declarando que a vontade de Deus é o ideal moral do bem e da lei da história do mundo, de modo que a sorte das nações condiciona-se à atitude para com o propósito de Deus: “O erro fundamental da apologética vulgar é que ela confunde pro fecia com a adivinhação dos pagãos - salvação nacional sem caráter”. W. R obertson S mith , Encyc. Britannica, 19.821, diz-nos que a “predição porme norizada ocupa um lugar bem secundário nos escritos dos profetas; ou, ao invés disto, na verdade, o que parece serem predições em pormenores são, T e o l o g ia S is t e m á t ic a via de regra, apenas livres ilustrações poéticas de princípios históricos, que nem receberam, nem demandaram um cumprimento exato”. Como no caso dos milagres, nossa fé em um Deus imanente, que não é outro senão o Logos ou o grande Cristo, dá-nos um ponto de vista a partir do qual podemos harmonizar as controvérsias dos naturalistas e sobrenaturalistas. Profecia é um ato imediato de Deus; porém, visto que todo gênio natural se deve também à atuação energética de Deus, não precisamos negar o emprego dos dons naturais de profecia no homem. Os exemplos de telepatia, de pressentimento, e de uma segunda visão que a Sociedade de Pesquisa Psicológica demonstrou serem fatos esclarecem que a predição, na história da revelação divina, pode ser somente uma intensificação de uma força latente sob o impulso extraordinário do Espírito divino no mesmo grau em todos homens. O autor de toda a grande obra da imaginaçãi criativa sabe que uma força mais elevada do que a dele o possui. Em toda razão humana há uma atividade natural da Razão divina ou Logos que é “a luz que alumia a todo homem” (Jo. 1.9). Deste modo há uma atividade natural do Espírito San to e aquele que completa o círculo da consciência divina também completa o da consciência humana, dá o senso do eu a cada alma, torna valiosos ao homem tanto os dons naturais como os dons espirituais de Cristo; cf. Jo. 16.14 - “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. O mesmo Espírito que no princípio “pairava sobre a face das águas” (Gn. 1.2) também paira sobre a humanidade e é ele que, segundo a promessa de Cristo, deve “anunciar o que há de vir” (Jo. 16.13). O dom da profecia pode ter o seu lado natural, como o dos milagres, embora, ao fim, possa explicar-se apenas como resul tado de uma obra extraordinária da qual o Espírito de Cristo que, em certo grau, se manifesta na razão e consciência de cada homem; cf. 1 Pe. 1.11 “indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir”. A. B. D avidson , em seu artigo sobre Profecia e Profetas, in Hastings’ Bible Dictionary, 4 .12 0 ,12 1, dá pouco peso a este ponto de vista de que a profecia se baseia no poder natural da mente humana: “Os argumentos pelos quais G iesebrecht , Berufsgabung, 13 sgs., apoia a teoria de uma ‘faculdade do pres sentimento’ têm pouca força convincente. Supõe-se que esta faculdade revela-se particularmente na aproximação da morte (Gn. 28 e 49). Os contempo râneos das mais religiosas personagens têm atribuído a eles um dom profético. A resposta de J ohn K nox aos que lhe creditam tal dom merece ser lida: ‘Minha segurança não são as maravilhas de Merlin, nem ainda as tenebrosas sen tenças da profecia profana. Mas, em primeiro lugar, a nítida verdade da pala vra de Deus; em segundo lugar, a invencível justiça do eterno Deus; e, em terceiro lugar, o curso comum das suas punições e pragas desde o começo são a minha segurança e a minha base’”. Conquanto D avidson admita o cum primento de algumas das específicas predições da Escritura, a serem daqui a pouco mencionadas, sustenta que “tais pressentimentos, até onde podemos observar sua autenticidade, são principalmente fruto da consciência ou da razão moral. A verdadeira profecia apoia-se em bases morais. Em toda parte o futuro ameaçador se prende ao mal ocorrido na palavra ‘portanto’ (Mq. 3.12; Is. 5.13; Am. 1.12)”. Sustentamos com Davidson o elemento moral na profecia, 207 208 A ugustus H opkins Strong mas também reconhecemos uma força na humanidade normal que ele mini miza ou nega. Reivindicamos que a mente humana, mesmo em sua operação comum e secular, apresenta índices ocasionais de transcendência das limita ções dos nossos dias. S e crermos na atividade contínua da Razão divina na do homem, não temos necessidade alguma de duvidar da possibilidade de uma perspicácia quanto ao futuro e esta é necessária nas grandes épocas da história religiosa. Expositor’s Greek Testament, 2 .3 4 - “Savonarola predisse em 1496 a tomada de Roma, o que aconteceu em 1527 e isto não só em termos gerais, mas em pormenores. Suas palavras concretizaram-se literal mente quando as Igrejas de São Pedro e de São Paulo tornaram-se, como o profeta predisse, estábulos para os cavalos dos conquistadores”. 2. R elação da p ro fe c ia com os m ilagres Os m ilagres são certificações do processo de revelação a partir do poder divino; a profecia é um a certificação do processo de revelação a partir do conhecim ento divino. Só Deus pode conhecer as contingências do futuro. Podese argum entar a possibilidade e probabilidade da profecia na m esm a base que a possibilidade e probabilidade dos m ilagres. Com o evidência da revelação divina, contudo, a profecia possui duas vantagens sobre os m ilagres, a saber: a) A prova, no caso da profecia, não deriva de testem unho antigo, mas está sob as nossas vistas, b) A evidência dos m ilagres não pode tornar-se mais forte enquanto cada novo cum prim ento se acrescenta ao argumento da profecia. 3. Requisitos na p ro fecia, considerados como E vidência da R evelação a) O pronunciam ento deve estar distante do evento, b) N ão deve existir coisa algum a que sugira que o evento seja simples presciência natural, c) O pro nunciam ento deve estar livre de am bigüidade, d ) Contudo, não deve ser muito preciso quanto ao assegurar seu próprio cum prim ento, e) O evento predito deve segui-la no tem po devido. Hume: “Todas pro fe cia s são ve rd a d e iro s m ila g re s e s o m e n te assim podem s e r a d m itid o s co m o p ro va de q u a lq u e r re v e la ç ã o ” , a) C e n te n a s de anos m e d i aram e n tre a lg u m a s p re d içõ e s do A.T. e o seu c u m p rim e n to , b) S ta n le y exe m p lifica a s a g a c id a d e n a tural de B urke, que o c a p a cito u a p re d iz e r a R e volu ção F rance sa. M as B urke ta m b é m p re d isse em 1793 que a F rança se ria rep artid a co m o a P olôn ia en tre um a co n fe d e ra ç ã o de fo rç a s ho stis. C a n n in g tam bé m p re d is s e que as co lô n ia s su l-a m e ric a n a s c re s c e ria m co m o os E stados U n i dos. D ’Is ra e li pre d isse que a n o ssa C o n fe d e ra ç ã o do S ul se to rn a ria um a na ção in d e p e n d e n te . Ing ersoll pre d isse que, d e n tro de dez anos, h a ve ria um a relaçã o de dois te a tro s p a ra ca d a ig reja , c) A m b ig ü id a d e da s p ro fe cia s ilu s tra d a pelo o rá cu lo de D elfos: “A tra v e s s a n d o o rio, tu de stró is um a grande na çã o ” - o o rá c u lo não d e te rm in a se de le m e sm o ou do inim igo, d) S tra u s s T e o l o g ia S is t e m á t ic a 209 sustenta que a própria profecia do A.T. determinou os eventos ou as narrati vas dos evangelhos, e) C a r d a n , matemático italiano, predisse o dia e a hora da sua própria morte e suicidou-se no exato momento para provar que a pre dição era verdadeira. O Senhor faz do cumprimento das suas predições a prova da sua divindade na controvérsia com os falsos deuses: Is. 41.23 “Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses”; 42.9 - “Eis que as primeiras coisas passaram, e novas coisas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir". 4. C araterísticas G erais da P ro fecia nas E scritu ras à) Sua grande quantidade - ocupando grande porção da B íblia e estenden do-se por centenas de anos. b ) Sua natureza ética e religiosa - os eventos futuros são considerados com o desenvolvim entos e resultados da presente ati tude dos hom ens para com Deus. c ) Sua unidade na diversidade - tendo como ponto central Cristo, o verdadeiro servo de Deus e libertador do seu povo. d) Seu verdadeiro cum prim ento quando considera m uitas das predições - con quanto parecendo não cum prim entos, explicam -se pela sua natureza figurati va e condicional. A. B. Davidson, em Hastings’ Bible Dictionary, 4.1 25, sugere razões para o aparente não cumprimento de algumas predições: A profecia é poética e figu rada; não deve haver muita pressão sobre os pormenores; eles são apenas ornamentos da idéia. Em Is. 13 .16 - “As suas crianças serão despedaçadas ... e a mulher de cada um, violada” - o profeta dá um quadro ideal do saque da cidade; estas coisas, na verdade não aconteceram, mas Ciro entrou na Babilônia “em paz”. Contudo, permaneceu a verdade essencial de que a cida de caiu nas mãos do inimigo. A predição de Ezequiel sobre a cidade de Tiro, Ez. 26.7-14, é reconhecida em Ez. 29.17-20 como tendo sido cumprida não nos pormenores, mas na sua essência - o verdadeiro evento foi a quebra do poder de Tiro por Nabucodonozor. Is. 17.1 - “Eis que Damasco será tirada e já não será cidade, mas um montão de ruínas” - deve ser interpretado como predizendo a extinção do seu domínio, visto que Damasco provavelmente nunca deixou de ser cidade. A natureza condicional da profecia explica outros aparentes casos não cumpridos. As predições freqüentemente eram amea ças que podiam ser revogadas pelo arrependimento. Jr. 2 6 .13 - “melhorai os vossos caminhos ... e arrepender-se-á o Senhor do mal que falou contra vós”. Jn. 3 .4 - “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.... 10 - E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrepen deu do mal que lhes faria e não o fez”; cf. Jr. 18.8; 26.19. Exemplos do verdadeiro cumprimento da profecia encontram-se, segun do D avidson, na predição que Samuel fez de algumas coisas que acontece riam a Saul e que a história declara que aconteceram. Jerem ias predisse a morte de Hananias no ano que ocorreu (Jr. 28 esp. vs. 16,17). Micaías predis se a derrota e morte de Acabe em Ramote-Gileade (1 Re. 22 esp. vs. 25 e 34). Isaías predisse o fracasso da coalizão do norte na sujeição de Jerusalém 210 Augustus H opkins Strong (Is. 7); a ruína de Damasco, em dois ou três anos, e do norte de Israel diante dos assírios (Is. 8 e 17); o insucesso de Senaqueribe no domínio de Jerusa lém e a dispersão do seu exército Os. 37.34-37). E, de um modo geral, inde pendentemente dos pormenores, as principais predições dos profetas relati vas a Israel e às nações verificaram-se na história, por exemplo, em Amós 1 e 2. As principais predições dos profetas referem-se à iminente queda dos reinos de Israel e de Judá; ao que está além disso, a saber, a restauração do reino de Deus; e quanto ao estado do povo em sua condição de felicida de final”. Sobre as predições do exílio e volta de Israel, ver especialmente Am. 9.9 - “Porque eis que darei ordem e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode o grão no crivo, sem que caia na terra um só grão. ... 1 4 - E removerei o cativeiro do meu povo Israel e reedificarei as cidades assoladas”. Mesmo que aceitemos a teoria da M-autoria do livro de Isaías, ainda temos a predição da volta dos judeus da Babilônia e a designação de Ciro como agente de Deus, em Is. 44.28 - “quem diz de Ciro: É meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao tempio: Funda-te”; ver G eorge A dam S mith , Hastings’ Bible Dictionary, 2.493. Frederico, o Grande disse ao seu capelão: “Dá-me em uma palavra a prova da origem divina da Bíblia”; o capelão bem respondeu: “Os judeus, Majestade”. No caso dos judeus temos ainda mesmo agora os únicos fenômenos de um povo sem terra e uma terra sem povo, embora am bos estivessem previstos séculos antes deste evento. 5. P ro fecia m essiânica em g e ra l d) Predições diretas dos eventos - com o as profecias veterotestam entárias sobre o nascim ento, sofrim ento e subseqüente glória de Cristo, b) Profecia geral do R eino no Velho Testam ento e seu triunfo gradual, c) Tipos históricos em um a nação e em indivíduos - com o Jônatas e D avi. d) Prefigurações do futuro em ritos e ordenanças - com o no sacrifício, na circuncisão, e na páscoa. 6. P rofecias especiais p ro n u n cia d a s p o r Cristo a) Q uanto à sua m orte e ressurreição, b) Q uanto aos eventos ocorrentes entre a sua m orte e a destruição de Jerusalém (m ultidão de im postores; guer ras e rum ores de guerras; fom e e peste), c) Q uanto à destruição de Jerusalém e a política ju d aica (Jerusalém sitiada pelos exércitos; abom inação da desola ção no lugar santo; fuga dos cristãos; m iséria; m assacre; dispersão), d) Q uan to à difusão do evangelho pelo m undo todo (a B íblia já era o livro de mais am pla circulação no m undo). A mais importante caraterística da profecia é o elemento messiânico; ver Lc. 24.27 - “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas Escrituras”; At. 10.43 - “a este dão testemunho T e o l o g ia S is t e m á t ic a todos os profetas”; Ap. 19 .10 - “o testemunho de Jesus é o espírito de profe cia”. Os tipos pretendem ser semelhança, designação de prefigurações; p.ex:. Jonas e Davi são tipos de Cristo. A natureza típica de Israel apoia-se no pro fundo fato da comunidade de vida. Como vida de Deus, o Logos é a base da humanidade universal e interpenetra em cada parte, pelo que desta humani dade universal se desenvolve genericamente Israel; de Israel, como nação, surge o Israel espiritual; de Israel espiritual, Cristo segundo a carne, - o alto da pirâmide encontra o clímax e culminação nele. Daí as predições relativas ao “Servo do Senhor” (Is. 42.1-7), e ao “Messias” (Is. 61.1; Jo. 1.41), cum prem-se em parte em Israel, mas de um modo perfeito só em Cristo. S abatier , Phitos. Religion, 59 - “Se, potencialmente, a humanidade não fosse em certo sentido Emanuel, Deus conosco, nunca teria produzido do seu seio aquele que nasceu e revelou este bendito fyome”. No A.T., o Senhor é o Redentor do seu povo. Ele opera através de juizes, profetas, mas ele mesmo continua sendo o Salvador; “só o elemento divino neles é que salva”; “Ao Senhor pertence a salvação” (Jn 2.9; Rev. e At. do Brasil). O Senhor se manifesta no reinado de Davi sob a monarquia; em Israel, o Servo do Senhor, durante o exílio; e no Messias, ou Ungido, no período pósexílico. Devido à sua consciente identificação com o Senhor, Israel é sempre um povo com visão avançada. Cada novo juiz, rei ou profeta é considerado um arauto do futuro reino de justiça e paz. Tais pronunciamentos terrenos são aguardados com arrebatadora expectação; os profetas expressam-na em ter mos que transcendem as possibilidades do presente; quando ela deixa de ser plenamente realizada, a esperança messiânica simplesmente se transfere para um futuro mais distante. Cada profecia em separado tem a sua roupa gem fornecida pelas circunstâncias imediatas e encontra sua ocasião em algum evento da história contemporânea. Mas gradualmente fica evidente que só um Rei e Salvador ideal e perfeito pode preencher os requisitos da profecia. Só quando Cristo aparece, torna-se manifesto o real sentido das várias predições do Velho Testamento. Então o homem é capaz de combinar as profecias aparentemente inconsistentes de um sacerdote que é ao mes mo tempo um rei (SI. 110) e de um régio Messias ao mesmo tempo sofredor (Is. 53). Não nos basta perguntar o que significa o próprio profeta ou o que entendiam por profecia os seus ouvintes. Isto eqüivale a considerar a profe cia como tendo um só autor e este humano. No espírito do homem em coope ração com o de Cristo, o Espírito Santo (1 Pe. 1.11 - “o Espírito de Cristo que estava neles”; 2 Pe. 1.21 - “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum; mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espí rito Santo”). Toda profecia tem uma dupla autoria: humana e divina; o mes mo Cristo que falou através dos profetas operou o cumprimento das suas palavras. Não é de estranhar que aquele que através dos profetas proferiu predi ções relativas a si mesmo tenha sido, quando encarnado, o profeta por exce lência (Dt. 18.15; At. 3.22 - “Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis”). Nas predições de Jesus encontramos a chave própria para a interpre tação da profecia em geral e a evidência de que, conquanto nenhuma das três teorias - dos preteristas, dos continuístas, dos futuristas - fornece uma 211 212 A ugustus H opkins Strong explicação exaustiva, mas cada uma tem seu elemento de verdade. Nosso Senhor fez o cumprimento da predição da sua própria ressurreição um teste da sua comissão divina: foi “o sinal do profeta Jonas” (Mt. 12.39). Ele prome teu que os seus discípulos teriam os dons da profecia: Jo. 15 .15 - “Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer; 16 .13 - “aquele Espírito da verdade ... vos anunciará o que há de vir”. Ágabo predisse a fome e o aprisionamento de Paulo (At. 11.28; 21.10); Paulo predisse heresias (At. 20.29,30), naufrágio (At. 2 7 .10, 21-26), “o homem do pecado” (2 Ts. 2.3), a segunda vinda de Cristo e a ressurreição dos santos (1 Ts. 4.15-17). 7. S ob re o duplo sentido da P ro fecia d) C ertas profecias aparentem ente contêm um a plenitude de sentido que não se esgota no evento a que m ais obvia e literalm ente se referem . U m a profecia que teve um cum prim ento parcial em um tem po não distante do seu pronunciam ento pode achar seu principal cum prim ento em um evento bem distante. Porque os princípios da adm inistração de D eus sem pre se repetem e am pliam a ilustração na história as profecias que já tiveram cum prim ento par cial podem ter ciclos inteiros ainda diante de si. Na profecia há uma ausência de perspectiva; como nos quadros japone ses o próximo e o longe parecem eqüidistantes; como nos pontos de vista diluídos, o futuro imediato se funde num futuro imensuravelmente bem dis tante. A vela que brilha através de uma abertura envia a sua luz através de uma área sempre crescente; as seções de um triângulo correspondem-se umas às outras, porém quanto mais distantes maiores se tornam que as mais próximas. O chalé junto à montanha pode parecer um gato preto sobre um monte de lenha, ou uma pinta na vidraça. “Uma montanha que parece estar pouco atrás de outra encontra-se numa abordagem mais próxima quando há um maior afastamento dela”. O pintor, ao reduzir, reúne coisas ou partes que são relativamente distantes umas das outras. O profeta é um pintor cujas reduções são sobrenaturais; ele parece livre da lei do espaço e do tempo e é arrebatado para a intemporalidade de Deus, vê os eventos da história “sub specie eternitatis”. A profecia é um esboço de um mapa. Mesmo o profeta não pode aclarar o rascunho. A ausência de perspectiva na profecia pode explicar o equívoco de Paulo na Carta aos Tessalonicenses, e a necessidade das suas explicações em 1 Ts. 2.1,2. Em Is. 10 e 11, a queda do Líbano (Assíria) está em conexão imediata com o aparecimento do ramo (Cristo); em Jr. 41.51, a captura e completa destruição da Babilônia estão em conexão recíproca, sem que se perceba o intervalo de mil anos entre ambas. Contudo, exemplos de duplo sentido da profecia podem ser encontrados em Is. 7.14-16; 9.6,7 - “uma virgem conceberá e dará à luz um filho, ... um filho se nos deu” - comparado com Mt. 1.22,23, onde a profecia se aplica a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 213 Cristo (verM eyer in loco)', Os. 11.1 - “Do Egito chamei a meu filho” - que originariamente se refere à chamada da nação do Egito - em Mt. 2.15 refere-se a Cristo, que incorporou e consumou a missão de Israel; SI. 118.22,23 “A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça de esquina” - que originariamente se referia à nação judaica, conquistada, retirada e jogada como inútil, mas divinamente destinada a um futuro de importância e grande za, é mencionada po/ Jesus em Mt. 21.42 como sendo ele mesmo, a verda deira incorporação de Israel. W illiam Arnold S tevens , em The Man of Sin, Baptist Quar. Rev., jul. 1889. 328-360 - Como em Dn. 11.36, o grande inimigo da fé, que “se levantará e se engrandecerá sobre todo deus”, é Antíoco Epifanes, rei da Síria, assim “o homem do pecado” descrito por Paulo em 2 Ts. 2.3 é o corrupto e ímpio judaísmo da era apostólica. Ele tinha o seu assento no templo de Deus, mas estava sentenciado à destruição ao vir o Senhor na queda de Jerusalém. Mas mesmo este segundo cumprimento da profecia não exclui um outro futuro e final. Broadus em Mateus. - Em Is. 41.8 até o cap. 53, as predições relativas ao “servo do Senhor “ fizeram uma gradual transição de Israel até o Messias; aquele só em 41.8, e o Messias também aparece em 42.1 sg., e Israel sumindo de vista no cap. 53. A mais notável ilustração do duplo sentido da profecia, contudo, deve ser encontrada em Mt. 24 e 25, especialmente 24.34 e 25.31, onde a profecia de Cristo sobre a destruição de Jerusalém passa a ser uma profecia do fim do mundo. A damson , The Mind in Chríst, 183 - “Para ele a história é a roupa de Deus e, por isso, uma constante repetição de posições realmente semelhan tes, caleidoscópicas combinações de umas poucas verdades, como os varia dos fatos em que elas devem ser incorporadas”. A. J. G ordon : “A profecia não se tornou mais rapidamente em história, do que a história em profecia”. L orde B acon : “A s profecias divinas têm elasticidade e cumprimento germinativo atra vés de muitos anos, embora a altura ou plenitude delas podem referir-se a uma época”. De igual modo há uma multiplicidade de sentidos na Divina Comédia de D ante . C. E. N orton , Inferno, xvi - “A narrativa espiritual do poeta é tão vivida e consistente que tem toda a realidade de um relato de uma verdadeira experiência; mas internamente e abaixo flui uma corrente de ale goria não menos consistente e dificilmente menos contínua que a própria narrativa”. A. H. S trong , The Great Poets a n d ih e ir Theology, 1 1 6 - “0 próprio Dante contou-nos que há quatro sentidos separados que ele pretende apre sentar na história. Há o literal, o alegórico, o moral e o analógico. No Salmo 114.1 temos as palavras: “Quando Israel saiu do Egito...”. Isto, diz o poeta, pode ser tomado literalmente como a verdadeira libertação do antigo povo de Deus; ou alegoricamente, como a redenção do mundo através de Cristo; ou moralmente, como o resgate da escravidão do pecado; ou analogicamente como a passagem tanto da alma como do corpo da vida inferior da terra para a mais elevada vida no céu. Deste modo, a partir da Escritura, D ante ilustra o método do seu poema”. b) N em sem pre o profeta estava consciente do sentido das suas profecias (1 Pe. 11.11). B asta que suas profecias constituam um a prova da revelação divina, se é que se podem dem onstrar correspondências entre elas e os verda- 214 A ugustus H opkins Strong deiros eventos são tais que indicam sabedoria e propósito divinos ao transm iti-las - em outras palavras, basta que o Espírito inspirador conheça o seu sen tido, m esm o que o profeta inspirado não o conheça. Não há inconsistência com este ponto de vista; ao contrário, confirma-se que o evento próximo, e riaõ o cumprimento distante, principalmente com freqüência, se não com exclusividade, na mente do profeta quando escreveu. A Escritura declara que os profetas nem sempre entendiam as suas próprias predições: 1 Pe. 1.11 - “indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir”. Emerson: “Ele mesmo da parte de Deus não podia ser livre; edificava mais do que sabia”. K eble : “Como as criancinhas balbuciam e falam do céu, assim são os pensamentos além dos seus pensamentos para os altos bardos”. W estcott : Preface to Com. on Hebrews, vi - “Ninguém limitaria o ensino das palavras do poeta ao que está bem claro em sua mente. Menos ainda podemos supor que aquele que é inspirado para dar a mensagem de Deus a todas as eras vê a plenitude da verdade que a vida toda serve para iluminar”. A lexander M c L aren : “Pedro ensina que os profetas judeus predisseram os eventos da vida de Cristo e especialmente os seus sofrimentos; que eles agiram deste modo como órgãos do Espírito de Deus; que eram de modo tão completo órgãos de uma voz mais elevada que não entendiam a significação das suas próprias palavras, mas eram mais sábios do que sabiam e tinham que sondar qual era o tempo e quais as caraterísticas das coisas estranhas que eles prediziam; e que pela revelação aprenderam que ‘a visão é ainda para muitos dias’ (Is. 24.22; Dn. 10.14). S e Pedro estava certo em sua con cepção da natureza da profecia messiânica, muitos sábios dos nossos dias estão errados”. M atthew A rnold, Literature and Dogma: “Não podiam os ide ais proféticos ser sonhos poéticos e a correspondência entre eles e a vida de Jesus, até onde é real, apenas um curioso fenômeno histórico?” B ruce, Apologetics, 359, retruca: “Tal ceticismo só é possível àqueles que não têm fé num Deus vivo, que realiza propósitos na história”. Isto só pode comparar-se à descrença do materialista que considera a constituição física do universo explicável pelo concurso fortuito dos átomos. 8. Propósito da P ro fecia - até onde não se cum priu a) Não capacitar-nos a m apear os porm enores do futuro; m as b) dar segu rança geral do poder de Deus e sabedoria previdente e a certeza de seu triunfo; e c) fornecer, depois do cum prim ento, a prova de que D eus viu o fim desde o com eço. Dn. 12.8,9 - “Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso, eu disse: Senhor meu, qual será o fim dessas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim”; 2 Pe. 1.19 - a profe cia é “uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça” = não até T e o l o g ia S is t e m á t ic a que os raios do dia possam dificultar os objetos de serem vistos; 20 - “nenhu ma profecia da Escritura é de particular interpretação” = só Deus, através do evento, pode interpretá-la. S ír Isaac N ewton : “Deus não deu as profecias para satisfazer a curiosidade dosjiom ens capacitando-os a entender antecipada mente as coisas, mas para que, depois de cumpridas, pudessem ser interpre tadas não pelo próprio intérprete, mas pelo evento manifesto ao mundo e pela providência do mesmo Deus”. A lexander M c L aren : “Os grandes tratados da Escritura nos são obscuros até que a vida os explique e, a partir daí, nos venham com a força de uma nova revelação, como as antigas mensagens enviadas através de uma faixa de pergaminho escrita, enrolada num bastão e ininteligível, a não ser que o destinatário tenha um bastão correspondente que a envolva”. A. H. S trong , The Great Poets and their Theology, 23 “Arquíloco, poeta que viveu aproximadamente em 700 d.C., fala de ‘uma afli tiva scytale' - a scytale era um bastão no qual se enrolava uma faixa de couro com a finalidade de escrever em sentido oblíquo, de sorte que a mensagem inscrita na faixa não pudesse ser lida a não ser que se enrolasse em outro bastão do mesmo tamanho; visto que só o remetente e o destinatário possu íam bastões de idênticos tamanhos, a scytale atendia a finalidade de uma mensagem cifrada”. A profecia é como a sentença alemã: não pode ser entendida apenas ao ler a última palavra. A. J. G ordon , Ministry of the Spirit, 48 - “A providência de Deus é como a Bíblia hebraica; para entendê-la, devemos começar do fim para trás”. Contudo o D r . G ordon parece afirmar que tal entendimento é pos sível mesmo antes do seu cumprimento: “Cristo não tinha conhecimento do dia do fim enquanto no seu estado de humilhação; mas conhece-o agora. Mostrou o seu conhecimento no Apocalipse e temos recebido a ‘Revelação de Jesus Cristo a qual Deus deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer’ (Ap. 1.1)”. Contudo, um estudo dos múltiplos e conflitantes pontos de vista dos assim chamados intérpretes da profecia nos leva a preferir o ponto de vista do D r . G ordon ao de B riggs , Messianlc Prophecies, 49 - “O primeiro advento é a solução de toda a profecia do Velho Testamento; ... o segundo dará a chave para a profecia do Novo Testamento. É ‘o Cordeiro, que foi morto’ (Ap. 5 .12 )... o único que abre o livro selado, que resolve os enigmas do tempo e os símbolos da profecia”. N itzsch : “É condição essencial da profecia que não perturbe a relação do homem com a história”. Na medida em que se olvida este pormenor e admite-se erroneamente que o propósito da profecia é capacitar-nos a mapear os eventos exatos do futuro antes que aconteçam, o estudo da profecia minis tra uma doentia imaginação e desvia a atenção de uma dúvida cristã prática. C alvino : “Aut insanum inveniet aut faciet”; ou, na tradução de L orde B rougham : “O estudo da profecia, ou acha o homem louco, ou o torna tal”. Os adeptos do segundo advento geralmente não buscam conversões. O D r. C umming adver tia as mulheres do seu rebanho que não deveriam estudar a profecia assim como não deveriam negligenciar os deveres de casa. Paulo tem isto em men te em 2 Ts. 2.1,2 - “pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo ... que não vos movais facilmente do vosso entendimento ... como se o dia do Senhor já estivesse perto”; 3.11 - “Porque ouvimos que alguns de vós andam desorde nadamente”. 215 216 A ugustus H opkins Strong 9. P o d er E videnciai da P ro fecia - quando cum prida A profecia, com o os m ilagres, não é a única evidência da com issão divina dos escritores e ensinadoreslfo Escritura. É som ente um a certificação corroborativa que se une aos m ilagres para provar que o ensinador religioso veio de Deus e fala com autoridade divina. Não podem os, contudo, dispensar a parcela de evidências, pois, a não ser que a m orte e a ressurreição de Cristo sejam even tos previstos e preditos por ele m esm o, assim com o pelos profetas antigos, perdem os sua principal prova de autoridade com o m estre da parte de Deus. S tearns , Evidertce of Christian Experience, 33 8 - “A p ró p ria v id a do c ris tã o é um c u m p rim e n to p ro g re s s iv o da p ro fe c ia de qu e a q u e le que a ce ita a g ra ça de C risto n a sce rá de novo, sa n tific a d o e salvo. P or isso o cristã o pode c re r no po d e r que D eus tem de p re d iz e r e nas v e rd a d e ira s p re d içõ e s de D e us” . S tanley L eathes, O. T. Prophecy, xvii - “Se não tiv e rm o s a ce sso ao s o b re n a tu ral, não te re m o s ace sso a D e u s” . N as n o ssa s d is c u s s õ e s so b re a profecia, d e ve m o s le m b ra r que a n te s de fa z e r a ve rd a d e do cris tia n is m o e le v a r ou ca ir em q u a lq u e r p a ssa g e m que te n h a sid o c o n s id e ra d a co m o p re dição, de vem o s e sta r ce rto s de q u e a p a ssa g e m tra ta de u m a p re d içã o e não sim p le sm e n te de um a d e scriçã o fig u ra tiv a . G ladden , Seven Puzzling Bible Books, 195 “O livro de Daniel não é um a profecia, é um a p o c a lip s e .... O autor [de tais livros] põe as su a s p a la vra s na bo ca de a lgu m e m in e n te e s c rito r h istó rico ou tra d i cio na l. Isto se p o d e e x e m p lific a r com o Livro de E noque, a A ssu n çã o de M o i sés, B aru qu e, 1, 2 E sdras e os O rá cu lo s S ib ilin o s. A fo rm a e n ig m á tica indica p e sso a s sem d e c la ra r-lh e s o no m e e os e v e n to s h istó rico s co m o fo rm a s de an im a is ou com o o p e ra çã o da na tureza . ... O livro de D a nie l não p re te nd e en sin a r-n o s histó ria . Ele não re tro ce d e ao s é c u lo se xto a.C ., m as ao s e g u n do. É um tip o de co n to que os ju d e u s c h a m a va m de H a ggada. Seu alvo é A n tío c o E pifanes, que, p o r su a s m a n ife s ta ç õ e s o c a sio n a is de m elan colia, foi ch a m a d o E pifanes, ou A n tío co , o L o u co ” . Qualquer que possa ser a conclusão quanto à autoria do livro de Daniel, devemos reconhecer nele um elemento que realmente se cumpriu. Os mais radicais intérpretes não fixam a sua data para mais tarde do que 183 a.C. O nosso Senhor vê no livro uma referência clara a si mesmo (Mt. 2 6 .6 4 - “o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”; cf. Dn. 7 .1 3; e com ênfase repete algumas predições do profeta ainda não cumpridas (Mt. 2 4 .1 5 - ‘Quando virdes, pois, a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel; cf. Dn. 9.27; 11.31; 12.11). Por isso o livro de Daniel deve ser tido como valioso não só por suas lições, mas também por suas predições de Cristo e do triunfo universal do seu reino (Dn. 2.4 5 - “do monte foi cortada uma pedra, sem mãos”). R em ovida esta pressuposição originariam ente existente contra os m ilagres e a profecia, podem os agora considerar as leis da evidência e determ inar as regras a seguir no cálculo do peso do testem unho da Escritura. 217 T e o l o g ia S is t e m á t ic a V. PR IN C ÍP IO S DE E V ID Ê N C IA H IST Ó R IC A A P L IC Á V E IS À P R O V A DE U M A R E V E L A Ç Ã O D IV IN A . L Quanto à evidência docum entária. a) Os docum entos aparentem ente antigos, que não têm em sua face as mar:as de falsificação e achados na custódia própria, presum e-se que sejam genuí nos até que não haja evidência em contrário. Os docum entos do N ovo Testa mento, porque se encontram na custódia da igreja, depositária natural e legítima, por esta regra, devem ser considerados genuínos. O s d o c u m e n t o s c r is t ã o s n ã o f o r a m e n c o n t r a d o s , c o m o o liv r o d o M ó r m o n , e m u m a c a v e r n a , o u n a c u s t ó d ia d e a n jo s . M a r t in e a u , Seat of Authority. 322 - “ O p r o f e t a M ó r m o n , q u e n ã o p o d e f a la r e m D e u s c o m o d ia b o p e r tin h o , e s tá b e m d e a c o r d o c o m a h is tó r ia d e a m b o s o s m u n d o s e c o m is s io n a d o p a r a r e c e b e r a s e g u n d a t e r r a p r o m e t id a ” . W a s h in g t o n G l a d d e n , Bible ? Who Wrote the - “ A p a r e c e u u m a n jo a S m ith e c o n t o u - lh e o n d e e n c o n t r a r ia e s te liv ro ; f o i à c la r e ir a d e s ig n a d a e a c h o u n u m a c a ix a d e p e d r a u m v o lu m e d e s e is p o le g a d a s d e g r o s s u r a , fo r m a d o d e f in a s p la c a s d e o u r o , d e o ito p o r s e te p o le g a d a s u n id a s p o r t r ê s a n é is d e o u r o ; e s ta s p la c a s e r a m r e c o b e r ta s c o m u m a e s c r it u r a n a ‘ lín g u a e g í p c ia r e f o r m a d a ’ ; c o m e s t e liv r o e s ta v a m o s ‘ U rim e T u m im ’ , u m p a r d e ó c u lo s s o b r e n a t u r a is , a t r a v é s d o s q u a is e le fo i c a p a z d e le r e t r a d u z ir ta l ‘ lín g u a e g í p c ia r e f o r m a d a ” ’ . S a g e b e e r , The Bible in Court, 113 - “ S e o liv r o R a z ã o ( u m d o s liv r o s c o n t á b e is ) d e u m a e m p r e s a s e m p r e fo i r e c e b id o e c o n s id e r a d o c o m o u m R a z ã o , s e u v a i o r n ã o é c o n t e s t a d o d e s d e q u e s e ja im p o s s í v e l c o n t a r c o m o s e u g u a r d a - liv r o s p a r t ic u la r p a r a c u id a r d e le . ... A E p ís to la a o s H e b r e u s n ã o s e r ia m e n o s v a lio s a c o m o e v id ê n c ia s e s e p r o v a r q u e fo i e s c r it a p o r P a u lo ” . b) As cópias de antigos docum entos, feitas pelos m ais interessados em sua fidedignidade, presum e-se que correspondam aos originais apesar de que estes não existem . Porque é do interesse da igreja ter cópias fiéis, a carga de prova repousa no opositor aos docum entos cristãos. Baseada na evidência de uma cópia dos seus próprios registros, porque os originais se perderam, a Casa dos Lordes decidiu reivindicar a nobreza; não há manuscrito de S ófocles mais antigo do que o décimo século, conquanto ao menos dois manuscritos do N.T. remontam ao quarto século. F rederick G eorge K enyon , Handbook to Textual Criticism of N. T.: “Devemos o nosso conhecimento da maior parte das grandes obras da literatura grega e latina É squilo , S ófocles , T ucídides , H orácio , L ucrécio , T ácito e muitos mais - a manuscritos produzidos desde 900 a 1500 anos após a morte dos seus auto res; enquanto do N.T. temos duas excelentes e quase completas cópias num intervalo de 250 anos. Ademais, dos escritores clássicos temos como regra 218 Augustus H opkins Strong só umas poucas vintenas de cópias (freqüentemente menos) uma ou duas das quais d estacam -se como decididam ente su p eriores às dem ais; porém, do N.T. temos mais de SÕOO cópias (além de grande número de ver sões) e muitas de valor distinto e intendente”. A mãe de T ischendorf chamava-o Lobgott porque o temor de que o seu bebê nasceria cego não se tornou verdadeiro. Nenhum ser humano jamais teve uma visão tão aguda do que ele. Ele passou a sua vida decifrando velhos manuscritos que outros olhos não podiam ler. O manuscrito Sinaítico que ele descobriu recua-nos três séculos do tempo dos apóstolos. c) Ao determ inar o fato, segundo o lapso de tem po considerável, permitese à evidência docum entária m aior peso do que a testem unha oral. N em a m em ória, nem a tradição podem prolongar a confiança de dar relatos absolu tam ente corretos de fatos particulares. Os docum entos do Novo Testam ento, portanto, são de m aior peso na evidência do que seria a tradição, m esm o que houvesse um lapso de apenas trinta anos após a m orte dos atores nas cenas que eles relatam . A Igreja Católica Romana, nas suas lendas dos santos, mostra quão vivi da a simples tradição pode tornar-se corrompida. Abraão Lincoln foi assas sinado em 1865, embora sermões pregados no aniversário de nascimento atualmente excluem-no do Unitarismo, do Universalismo e da Ortodoxia, con forme crê o próprio pregador. 2. Quanto ao testem unho em g e ra l a) Q uanto aos fatos, a questão não é se é possível que o testem unho seja falso, mas se há probabilidade de que seja verdadeiro. É estranho, portanto, perm itir que o nosso exam e das testem unhas da Escritura seja prejudicado pela suspeita, sim plesm ente porque a sua história é sagrada. Não deve haver nenhum preconceito contra a verdade; a mente deve estar aberta; deve haver aspiração normal após os sinais de comunicação da parte de Deus. A telepatia, os quarenta dias de jejum, a partenogênese, tudo isto pode, por antecedência, ter parecido incrível. Agora vemos que teria sido mais racional admitir sua existência na apresentação de adequada evidência. b) Prova-se um a proposição de fato quando se estabelece através da sua verdade a evidência com petente e satisfatória. E vidência com petente é a natu reza daquilo que se adm ite estar provado. E vidência satisfatória som a de pro vas que via de regra satisfazem um a m ente sem preconceitos que está além da dúvida razoável. Provam -se, contudo, os fatos escriturísticos quando estabe lecidos pelo tipo e grau de evidência que, em assuntos da vida com um satis- 219 T e o l o g ia S is t e m á t ic a \ fazem a m ente e a consciência de um hom em com um . Q uando tem os este tipo e grau de evidência é irracional querer mais. Em matéria de moral e religião a evidência competente não precisa ser matemática nem mesmo lógica. Os casos de crime, em sua maioria, são decididos com base na evidência circunstancial. Não determinamos a nossa escolha dos amigos e dos companheiros através dos estritos processos de raciocínio. O coração e a cabeça devem permitir que uma voz e uma evidên cia competente incluam considerações que partem das necessidades morais da alma. Contudo, a evidência não requer demonstração. Até mesmo um leve balanço da probabilidade, quando nada mais certo se alcança, pode ser sufi ciente para constituir uma prova racional e determinar a nossa ação moral. c) N a ausência de circunstâncias que geram suspeita deve-se presum ir que cada testem unho é digno de crédito até que se prove o contrário; a carga de im pedim ento de seu testem unho está no opositor. O princípio que leva os hom ens a darem verdadeiro testem unho dos fatos é m ais forte do que aquele que os leva a dar falso testem unho. Portanto, é injusto com pelir o cristão a estabelecer a credibilidade de sua testem unha antes de continuar a aduzir o testem unho deles; é igualm ente injusto perm itir o testem unho não corrobora do de um escritor profano para preponderar o de um escritor cristão. Os teste m unhos cristãos não devem ser considerados interesseiros e, portanto, não fidedignos; porque eles fizeram os cristãos contrários aos seus interesses ter renos e porque eles não puderam resistir à força do testem unho. Variados rela tos entre eles deviam ser avaliados com o avaliam os os relatos dos escritores profanos. O r e la to q u e J o ã o f a z d e J e s u s d if e r e d o d o s s in ó t ic o s ; p o r é m d e s e m e lh a n te m o d o e p r o v a v e lm e n t e p e la m e s m a r a z ã o , o r e la to d e P la t ã o a r e s p e i to d e S ó c r a t e s d ife r e d o d e X e n o f o n t e . C a d a u m v iu e d e s c r e v e u o la d o d o s e u f o c o q u e , p o r n a t u r e z a m a is s e a d e q u a v a à c o m p r e e n s ã o ; c o m p a r e a V e n e z a d e C a n a l e t t o c o m a d e T u r n e r ; n a q u e le o q u a d r o d e u m e x p e r ie n t e p in to r , n e s te a v is ã o d e u m p o e t a q u e v ê o s p a lá c io s d o s d o g e s g lo r ific a d o s p e lo a r e n é v o a e d is tâ n c ia . (Hc. 3.4); Em C r is t o h á u m “ e s c o n d e r ijo d a s u a f o r ç a ” “ q u ã o p o u c o é o q u e t e m o s o u v id o d e le ” ! (Jó 26.14); m a is d o q u e S h a k e s p e a r e , e le é “ a m e n te m ir ió id e ” ; n ã o s e p o d e e s p e r a r q u e e v a n g e lis t a a lg u m o c o n h e ç a o u d e s c r e v a s e n ã o “ e m p a r t e ” C o bbe, Life , 2.402 (1 C o. 13.12). F rancês P ow er - “ T o d o s n ó s , s e r e s h u m a n o s q u e s o m o s , a s s e m e lh a m o - n o s a d ia m a n te s , q u e tê m d iv e r s a s f a c e t a s d o n o s s o c a r á te r ; e , c o m o s e m p r e a p r e s e n t a m o s u m a d e la s a u m a p e s s o a e o u t r a a o u t r a p e s s o a , v ia d e r e g r a h á u m v ig o r o s o la d o a s e r v is to e m u m a g e m a p a r t ic u la r m e n t e b r ilh a n t e ” . T enney, Coronation, 45 - “A E. P. v id a s e c r e t a e p o d e r o s a q u e e le [o h e r ó i d a h is t ó ria ] c o n d u z ia e r a c o m o a lg u m a s c o r r e n t e s : p r o f u n d a s , la r g a s , flu e n te s , q u e , in v is í v e is , f lu e m p e la s v a s t a s e e r m a s f lo r e s t a s . T ã o a m p la e v a r ia d a é a 220 A ugustus H opkins Strong natureza deste homem que todos os cursos da vida poderiam medrar em seus recônditos; e os seus vizinhos poderiam tocá-lo e conhecê-lo somente do lado a que se lhes assem elhava”. d) U m a leve porção de testem unho, até que não seja contraditada, prepondera sobre grande som a de testem unho sim plesm ente negativo. O silêncio de um a segunda testem unha, ou o testem unho dela, não pode contrabalançar o testem unho positivo de um a prim eira testem unha ocular. Portanto, devemos valorizar o silêncio dos escritores profanos a respeito dos fatos narrados na Escritura exatam ente com o devem os valorizá-lo se os fatos sobre os quais eles silenciam foram narrados por literatos profanos, ao invés de serem narra dos por escritores da Bíblia. Os monumentos egípcios não fazem nenhuma menção da destruição de Faraó e seu exército; mas, então, os despachos de Napoleão não mencio nam a derrota em Trafalgar. Na sepultura dele nos Inválidos de Paris, as paredes têm a inscrição de nomes de uma multidão de lugares em que ocor reram as suas batalhas, mas Waterloo, a cena da sua grande derrota, não está registrada. Do mesmo modo Senaqueribe, nunca se refere à destruição do seu exército na época de Ezequias. Napoleão reuniu 450.000 homens em Dresden para invadir a Rússia. Em Moscou a neve se incumbiu de derrotá-lo. Em uma noite 20.000 cavalos morreram de frio. Não é sem razão que, em Moscou, no aniversário da retirada da França, lê-se nas igrejas a exultação do profeta pela queda de Senaqueribe. J a m e s R o b e r t s o n , Early History of Israel, 395, nota - W h a t e l y , Historie Doubts, chama a atenção para o fato de que o principal jornal parisiense em 1814, no mesmo dia em que os exércitos alia dos entraram em Paris como conquistadores, não faz nenhuma menção a tal evento. A batalha de Poitiers em 732, que efetivamente registrou a expansão do maometismo através da Europa, nenhuma vez referiu-se a isto nos anais monásticos da época. S ir T h o m a s B r o w n e viveu durante as guerras civis e a Commonwealth, mas não há uma única sílaba nos seus escritos a esse res peito. Sale diz que os maometanos consideram a circuncisão como uma ins tituição divina antiga; o rito esteve em uso muitos anos antes de Maomé, embora não seja mencionado no Corão”. Embora admitamos que J o s e f o não faz menção a Jesus, temos um para lelo em T u c íd id e s , que nunca menciona S ó c r a t e s , a mais importante per sonagem dos vinte anos que abrangeram a sua história. Contudo W ie s e l e r , J a h r b u c h f ü r d ie T h e o l o g ie , 23.98, defende a genuinidade essencial da passa gem geralmente rejeitada sobre Jesus em J o s e f o , Antigüidades Judaicas, 18.3.3, omitindo, contudo, como interpoladas as expressões “se, com efeito, é correto chamá-lo homem”; “este é o Cristo”; “ele apareceu redivivo ao ter ceiro dia conforme a profecia”; a serem genuínas, estas provariam ser Josefo um cristão; ou, segundo os antigos relatos, não o seria. J o s e f o viveu de 34 a, possivelmente, 114 d.C. Na verdade ele fala de Cristo; porque ele registra (20.9.1), que A l b in o “reuniu o sinédrio de juizes e lhes apresentou o irmão de Jesus, chamado o Cristo, cujo nome era Tiago e alguns outros ... e os livrou T e o l o g ia S is t e m á t ic a 221 de serem apedrejados”. R u s h R h e e s , Life o f Jesus of Nazareth, 22 - “Para mencionar mais completamente Jesus seria preciso alguma aprovação da sua vida e ensino. Isto condenaria o seu próprio povo que ele desejava fosse recomendado à consideração dos gentios e parece que, covardemente silen ciou a respeito do assunto, mais notadamente àquela geração do que ele escreve de um modo mais completo”. “O crédito devido ao registro das testem unhas depende: prim eiro, da sua capacidade; segundo, da sua honestidade; terceiro, do núm ero e consistência do seu testem unho; quarto, da conform idade do seu testem unho com a expe riência; e quinto, da coincidência do seu testem unho com as circunstâncias colaterais” . C onfiantes subm etem os os testem unhos a cada um dos referidos testes. e) C a ít u l o II PROVAS POSITIVAS DE QUE AS ESCRITURAS SÃO A REVELAÇÃO DIVINA I. G EN U ID A D E DOS D O C U M EN TO S C R ISTà O S, ou prova de que os livros do Velho e do N ovo T estam entos foram escritos na época e pelos hom ens ou classe de hom ens a que lhes foram atribuídos. A presente discussão compreende a primeira parte e só esta, da doutrina do Cânon ( kccvcóv, cana, vara; daí, regra, padrão). É importante observar que a determinação do Cânon, ou lista dos livros da Escritura Sagrada, não é obra da igreja como entidade organizada. Nós não recebemos estes livros dos Pais ou dos Concílios. Recebemo-los, como os Pais e os Concílios os receberam , porque temos evidência de que eles são s os escritos dos homens, das classes de homens, cujos nomes eles detêm, merecem crédito, e são inspirados. S e a epístola citada em 1 Co. 5.9 fosse descoberta e univer salmente julgada autêntica, podia ser alinhada às outras de Paulo e faria parte do Cânon ainda que estivesse perdida por 1 800 anos. B r u c e , Apologetics, 321 - “De um modo abstrato o Cânon é uma Questão aberta. Ele nunca pode ser outra coisa além dos princípios do Protestantismo que nos impedem de aceitar como finais as decisões dos concílios eclesiásticos, quer antigos, quer m odernos. Mas praticam ente a questão do Cânon está en ce rra d a”. A Confissão de Westminster diz que a autoridade da Palavra de Deus “não se apoia na evidência histórica; não se apoia na autoridade dos Concílios; não se apoia no consenso do passado ou na excelência da matéria; mas no Espí rito de Deus, que testemunha aos nossos corações a respeito da sua autori dade divina”. C l a r k e , Christian Theology, 24 - “Para nós o valor das Escritu ras não depende de saberm os quem as escreveu. No A.T. metade das passagens é de autoria incerta. Novas datas significam nova autoria. A crítica é um dever, porque a data da autoria concede meios de interpretação. As Escrituras são poderosas porque Deus está nelas e porque elas descre vem a entrada de Deus na vida do homem”. S aintine , Picciola, 7 8 2 - “Por acaso uma fraca vara proveu o homem da sua primeira seta, sua primeira caneta, seu primeiro instrumento musical”? Hugh Macmillan: “A idéia dos primeiros instrumentos de corda a princípio derivou do som da corda do arco reíesado, quando o arqueiro atirava as setas; a lira e a harpa que discorrem a mais suave música de paz foram inventadas por aqueles que, a princípio, ouviam o seu som inspirador no T e o l o g ia S is t e m á t ic a 223 estímulo para a batalha. Do mesmo modo não há música tão deleitável em meio às altercações discordantes do mundo, transformando tudo em música e harmonizando terra e céu, como quando o coração surge da melancolia da ira e da vingança e converte o seu arco em harpa e entoa ao Senhor o cânti co do infinito perdão”. G e o r g e A d a m S m it h , Mod. Cristicism and Preaching of O. 7., 5 - “A igreja nunca renunciou a sua liberdade de revisar o Cânon. No começo, a liberdade não pode ser maior que a que vem depois. O Espírito Santo não abandona os líderes da igreja. Os escritores apostólicos em lugar algum definem os limites do Cânon mais do que Jesus o fez. Na verdade eles empregaram escritos extracanônicos. Cristo e os apóstolos em lugar nenhum impediram a igreja de crer em todos ensinos do A.T. Cristo discrimina e proí be a interpretação literal do seu conteúdo. Muitas interpretações apostólicas desafiam o nosso senso de verdade. Boa parte da sua exegese era temporá ria e falsa. O julgamento deles é que boa parte do que está no A.T. é rudimen tar. Isto abre a questão do desenvolvimento na revelação e justifica a tentati va de fixar a ordem histórica. A crítica do N.T. a respeito do A.T. dá liberdade para o criticismo, e a necessidade, e a sua obrigação. O criticismo do A.T. não é, como o de Baur a respeito do N.T., resultado de um raciocínio hegeliano a priori. A partir do tempo de Samuel temos uma história real. Os profetas não apelam para os milagres. Há mais evangelho no livro de Jonas quando trata do como parábola. O A.T. é uma gradual revelação ética de Deus. Poucos entendem que a igreja de Cristo tem a mais elevada garantia para o seu Cânon do A.T. do que para o do N.T. O A.T. é o resultado do criticismo no mais amplo sentido da palavra. Mas o que a igreja assim atingiu pode a qualquer momento revisar”. Reservamos para um ponto um tanto tardio a prova da credibilidade e a inspiração das Escrituras. Por ora apresentamos a sua genuinidade como apresentaríamos a de outros livros religiosos, como o Corão, ou documentos seculares como as Catilinárias de C íc e r o . A genuinidade no sentido em que empregamos o termo não implica necessariamente autenticidade (/.e. veraci dade e autoridade). Podem ser genuínos os documentos que são escritos integralmente ou em parte por outras pessoas além daquelas cujos nomes constam, desde que pertençam à mesma classe. A Epístola aos Hebreus, embora não escrita por Paulo, é genuína porque procede de alguém que per tence à classe apostólica. A adição de Dt. 34, após a morte de Moisés, não invalida a genuinidade do Pentateuco; nem a teoria de um mais tardio Isaías, mesmo que fosse aceita, desaprovaria a genuinidade dessa profecia; em ambos os casos as adições foram feitas por homens da classe profética. 1. G enuinidade dos L ivros do Novo Testamento Não precisam os acrescentar provas da existência dos livros do N ovo Tes tam ento antes do terceiro século, pois possuím os m anuscritos dos que têm pelo m enos catorze séculos e, porque no terceiro século as referências a eles tem -se entretecido em toda a história e literatura. Portanto, com eçam os a nos sa prova m ostrando que estes docum entos não só existiram , m as eram geral m ente aceitos com o genuínos antes do fim do segundo século. 224 Augustus H opkins Strong O rígines nasceu por volta do início de 186 A .D .; contudo, T r e g e l l e s diznos que as obras de Orígenes contêm citações abrangendo 2/3 do Novo Tes tamento. Hatch, Hibbert Lectures, 12 - “Os primitivos anos do cristianismo, em certos aspectos, eram como os nossos primeiros anos de vida. ... Estes são sempre os mais importantes para a nossa educação. Nesse período apren demos, a duras penas conhecemos, com esforço e luta e inocentes equívo cos, a empregar os nossos olhos e ouvidos, a medir a distância e a direção, por um processo que se desenvolve através de passos inconscientes até a certeza de que sentimos a nossa maturidade. ... Por esse processo incons ciente é que o pensamento cristão dos primeiros séculos adquiriu gradual mente a forma que encontramos quando ele emerge na humanidade do quar to sécuio”. A) Todos livros do N ovo Testam ento, com a única exceção de 2 Pedro, não só foram recebidos com o genuínos, m as foram usados num a form a mais ou m enos colecionada, na últim a m etade do segundo século. Estas coleções de escritos, tão vagarosam ente transcritos e distribuídos, im plicam a longa exis tência continuada dos livros em separado e proíbem -nos de fixar sua origem em data posterior à prim eira m etade do segundo século. (a) T ertuliano (160-230) apela para o ‘N ovo T estam ento’ form ado pelos ‘E vangelhos’ e ‘A póstolos’. Ele garante a genuinidade dos quatro evange lhos, de Atos, de 1 Pedro, de 1 João, das 13 epístolas de Paulo e do Apocalipse; em resum o, vinte e um dos vinte e sete livros do nosso Cânon. S a n d a y , Bampton Lectures for 1893, confia que os três primeiros evange lhos assumiram a sua presente forma antes da destruição de Jerusalém. Seu pensamento, contudo é de que o primeiro e terceiro evangelhos e provavel mente o segundo são de origem composta. Não foi depois de 125 A.D. que os quatro evangelhos ganharam reconhecida e excepcional autoridade. Profes sores de Andover, Divinity of Jesus Chríst, 40 - “O mais antigo dos quatro evangelhos foi escrito por volta do ano de 70. O mais primitivo, ora perdido, que em grande parte está preservado em Lucas e Mateus, provavelmente foi escrito poucos anos antes”. (b) O C ânon M uratoriano no O cidente e a Peshito no O riente (com um a data com um de cerca de 160) em seus catálogos dos escritos do Novo Testa m ento sim ultaneam ente com plem entam um ao outro as ligeiras deficiências, e juntas testem unham o fato de que cada livro do nosso atual N ovo Testam ento, a exceção de 2 Pedro foi recebido com o genuíno. H o v e y , Manual of Christian Theology, 50 - “O fragmento no Cânon, desco berto por Muratori em 1738, provavelmente foi escrito em 170 A.D., em Gre go. Começa com as últimas letras de uma sentença que deve ter sido uma referência a Marcos e continua a falar do Terceiro Evangelho como tendo sido T e o l o g ia S is t e m á t ic a 225 escrito pelo médico Lucas, que não viu o Senhor; a seguir, fala do Quarto Evangelho como tendo sido escrito por João, discípulo do Senhor, a pedido dos seus companheiros de discipulado e dos presbíteros”. B a c o n , N. T. Introduction, 50, apresenta o Cânon Muratoriano por completo; 30 - “T e ó f il o d e A n t io q u ia (181-190) é o primeiro a mencionar um evangelho pelo nome, citan do Jo. 1.1 como sendo de ‘João, um daqueles que foram vasos do Espírito”. (c) O C ânon de M arcião ( 1 4 0 ) , apesar de rejeitar todos os evangelhos menos o de Lucas e todas epístolas m enos dez das de Paulo, m ostra, contudo, que naquela época prim itiva “os escritos apostólicos eram considerados como regra de doutrina original e com pleta” . M esm o M arcião , contudo, não nega a genuinidade dos escritos que por razões doutrinárias ele rejeita. O gnóstico M a r c iã o era inimigo de todo o judaísmo e considerava-crDeus do A.T. uma divindade restrita, inteiramente diferente do Deus do N.T. M a r c iã o era “ipso Paulo paulinior” (mais paulino do que o próprio Paulo) - na expressão francesa “plus loyal que le roi” ou no ditado em português “mais realista do que o rei” . Ele sustentava que o cristianismo era algo inteiramente novo e que se opunha a tudo que apareceu antes dele. O seu Cânon consis tia em duas partes: o “Evangelho” (Lucas, com o seu texto truncado pela omissão dos hebraísmos) e o Apostólicon (as epístolas de Paulo). A epístola a Diogneto, de um autor desconhecido, e a epístola de Barnabé, participavam do ponto de vista de M a r c iã o . O nome de Deus foi mudado de Yahweh para Pai, Filho e Espírito Santo. O ponto de vista de M a r c iã o tinha prevalecido; o Velho Testamento ter-se-ia perdido para a Igreja Cristã. A revelação de Deus teria sido privada da sua prova a partir da profecia. O desenvolvimento a partir do passado e a conduta divina da história judaica teriam sido negados. Porém sem o Velho Testamento, como sustentava H. W. B e e c h e r , o Novo Testamento estaria despido de um cenário; nossa principal fonte de conheci mento sobre os atributos naturais de Deus - poder sabedoria e verdade estariam removidos; o amor e a misericórdia revelados no Novo Testamento pareceriam caraterísticas de um ser fraco que não podia fortalecer a lei ou inspirar respeito. Uma árvore tem tanto fôlego sob a terra como sobre ela; deste modo as raízes da revelação do Deus do Velho Testamento são tão extensas e necessárias como o tronco, os ramos e as folhas do Novo Testa mento. B) Os cristãos e Pais A postólicos que viveram na prim eira m etade do segundo século não só citam estes livros e fazem -lhes alusão, m as testificam que eles foram escritos pelos próprios apóstolos. Portanto, som os com pelidos a recuar bem m ais sua origem , a saber, ao prim eiro século, quando viveram os apóstolos. (d) Irineu ( 1 2 0 - 2 0 0 ) m enciona e cita os quatro evangelhos pelo nom e e entre eles o evangelho segundo João: “M ais tarde, João, o discípulo do Senhor, 226 A ugustus H opkins Strong que se reclin av a sobre o seu peito, igualm ente, publicou um evangelho, enquanto m orava em Éfeso, na Á sia” . Irineu era discípulo e am igo de P o u carpo (80-166), que pessoalm ente conheceu o apóstolo João. O testem unho de Irineu é virtualm ente a evidência de Policarpo, contem porâneo e am igo do A póstolo, de que cada um dos evangelhos foi escrito pela pessoa que leva o seu nome. A este testemunho objeta-se que I r in e u diz que há quatro evangelhos por que há quatro quadrantes do mundo e quatro criaturas vivas nos querubins. Porém respondemos que Irineu aqui não está firmando a sua própria razão de aceitar quatro e não mais que quatro evangelhos, mas o que ele concebe que a razão de Deus é que ordena que haja quatro. Nada nos garante nesta suposição que ele aceitasse quatro evangelhos em qualquer çutra base além do testemunho de que eles eram o produto de homens apostólicos. De igual modo, C r is ó s t o m o compara os quatro evangelhos a uma carrua gem e quatro: Quando o Rei da Glória estiver montado nela, receberá as aclamações triunfais de todos os povos. Do mesmo modo J e r ô n im o : Deus cavalga no querubim e, porque há quatro querubins, deve haver quatro evan gelhos. Entretanto, tudo isto é um esforço primitivo na filosofia da religião e não um esforço para demonstrar o fato histórico. L. L. P a in e , Evolution of Trinitarianism, 319-367, apresenta o ponto de vista radical da autoria do quarto evangelho. Ele sustenta que o apóstolo João morreu no ano 70 A.D., ou logo depois, e Irineu confundiu os dois homônimos que Papias tão claramente distinguiu: o apóstolo João e o presbítero João. Do mesmo modo que H a r n a c k , P a in e supõe que o evangelho foi escrito por João, o presbítero, contempo râneo de P a p ia s . Entretanto, respondemos que o testemunho de I r in e u implica uma longa tradição anterior. R. W. D a l e , Living Christ and Four Gospels, 145 - “Veneração religiosa tal como aquela com que Irineu considerava estes livros é de um lento desenvolvimento. Eles devem ter ocupado um importante lugar na igreja até onde alcança a memória humana”. (.b ) Justin o , o M á r t i r (falecido em 148) fala das ‘m em órias (à7to|_ivr||ioveú^xata) de Jesus C risto’ e suas citações, apesar de às vezes feitas de m em ó ria, evidentem ente aparecem nos nossos evangelhos. A este testemunho objeta-se: 1) J u s t in o , o M á r t ir , emprega o termo ‘memó rias’ em lugar de ‘evangelho’. Respondemos que em outra parte ele emprega o termo ‘evangelhos’ e identifica as memórias com eles: Apologia, 1.66 “Os apóstolos, nas memórias compostas por eles, as quais eram chamadas evangelhos,” /.e., não memórias, mas evangelhos, o que era propriamente o título ou os registros escritos. Ao escrever a sua Apologia a M a r c o A u r é lio e a M a r c o A n t o n in o , imperadores pagãos, escolheu o termo ‘memórias’, ou ‘memorabilia’, que X e n o f o n t e empregara como título da sua narrativa de Sócrates, tão somente para evitar expressões eclesiásticas não familiares aos seus leitores e pudesse recomendar os seus escritos aos amantes da literatura T e o l o g ia S is t e m á t ic a 227 clássica. Note que Mateus deve ser acrescentado a João, a fim de justificar a repetida afirmação de Justino de que havia “memórias” do nosso Senhor “escritas pelos apóstolos”, e que Marcos e Lucas foram adicionados para justificar sua posterior afirmação de que tais memórias foram compiladas pelos “seus apóstolos e os que os seguiram”. Em analogia ao emprego da palavra ‘memória’ por Justino encontra-se o termo ‘domingo’, em vez de sábado (Sabath): Apologia 1.67 - “No dia chamado ‘domingo’, todos os que moram em cidades ou no campo reúnem-se num lugar, e lêem-se as memó rias dos apóstolos e os escritos dos profetas”. Eis aqui o emprego dos nossos evangelhos nos cultos públicos, com igual autoridade às Escrituras do A.T.; de fato, J u s t in o cita constantemente as palavras e atos da vida de Jesus a partir da fonte escrita, empregando a palavra yéypcxtitcu. Objeta-se ao testemunho de J u s t in o : 2) Citando as palavras vindas do céu no batismo do Salvador, ele as faz dizer: “Meu filho, hoje te gerei”, citando, deste modo, o SI. 2 .7 e mostrando que ele não conhecia o nosso atual evan gelho, Mt. 3 .1 7 . Respondemos que provavelmente isto foi um lapso de memória perfeitamente natural numa época quando os evangelhos existiam de uma forma tão incômoda como eram os rolos manuscritos. J u s t in o tam bém se refere ao Pentateuco em dois fatos que não se encontram nele; porém não devemos, a partir disso, argumentar que ele não possuía o nosso atual Pentateuco. As peças de T e r ê n c io são citadas por C íc e r o e H o r á c io e não precisamos nem mais testemunhas e nem mais antigas para aceitarmos a sua genuinidade, - embora C íc e r o e H o r á c io tivessem escrito cem anos depois de T e r ê n c io . É injusto recusar semelhante evidência quanto aos evan gelhos. J u s t in o tinha um modo de combinar em um as palavras de diferentes evangelistas - uma insinuação que T a c ia n o , seu aluno, provavelmente seguiu ao compor o seu Diatessarão. ( c) P a p ia s (80-164), a quem Irineu cham a ‘ouvinte de Jo ão ’, testifica que M ateus “escreveu no dialeto hebraico os oráculos sagrados (x à X óyia)” e que "M arcos, o intérprete de Pedro, escreveu segundo Pedro, (uoxepov riexpco) (ou sob a direção de Pedro), um relato não sistem ático (oú t á ^ e i) ” dos even tos e discursos. A este te s te m u n h o o b je ta -se : 1) P apias não p o d ia te r tid o o nosso e v a n g e lho de M ateu s, p o rq u e este é grego. R e plicam o s, ou co m B leek , que Papias su p ô s e rro n e a m e n te que um a tra d u ç ã o h e b ra ic a qu e ele p o ssu ía de M ateu s fo s s e o te x to origin al; ou, com W eiss , que o te xto o rig in a l de M ateu s tin h a sido e scrito em h e bra ico, e n q u a n to o no sso te x to atu al de M a te u s é um a ve rsã o a m p lia d a do m esm o. A P alestin a, co m o o atual pa ís de G ales, era um te rritó rio b ilíng üe; M ateus, co m o T iag o, p o d ia e s c re v e r ta n to em h e b ra ico co m o em grego. E nq ua nto B. W. B acon d a ta o e s c rito de P apias tã o ta rd io com o 145160 A.D., L ightfoot o data de 130 A.D. N e sta ú ltim a da ta P apias fa cilm e n te p o d e ria le m b ra r as h istó ria s q u e lhe fo ra m c o n ta d a s até de 80 A.D., pe io s ho m en s m ais jo v e n s na ép o ca q u a n d o o S e n h o r a in d a vive u, m orreu, re ssu s citou e a sce n d e u ao céu. A o b ra de P apias tin h a co m o títu lo Aoyícov K u piaK âv èÇíiyricnç - “ E x p o s iç ã o dos O rá c u lo s re la tiv o s ao S e n h o r” = C o m e n tá rio s 228 Augustus H opkins Strong sobre os Evangelhos. Dois destes evangelhos eram Mateus e Marcos. O pon to de vista de W eiss mencionado acima tem sido criticado apoiado no fato de que as citações do Velho Testamento em discursos de Jesus em Mateus são todos tirados não do hebraico, mas da Septuaginta. W e s t c o t t responde a esta crítica sugerindo que, ao traduzir o seu evangelho hebraico para o gre go, Mateus substituiu a sua versão oral dos discursos de Cristo pela destes já existentes no evangelho oral comum. Há uma base oral comum do verdadei ro ensino, o “depósito” - xfiv 7iapa0fiKtiv - confiado a Timóteo (1 Tm. 6.20; 2 Tm. 1.12,14), a mesma história contada muitas vezes e recebida para ser contada da mesma forma. As narrativas de Mateus, Marcos e Lucas são ver sões independentes deste testemunho apostólico. Em primeiro lugar veio a crença; em segundo lugar, o ensino oral; em terceiro os evangelhos escri tos. Admite-se que o nome oriental para “joio” tenha vindo do oriental zawan, (Mt. 13.25) transliterado para o grego ÇiÇávux; o evangelho original foi escrito em aramaico. M orison, Coment.on Mathews, é de opinião que Mateus escre veu originariamente em hebraico uma coleção de frases de Jesus Cristo, que os nazarenos e ibionitas acrescentaram, em parte vindas da tradição, e em parte da tradução do seu evangelho completo até que o resultado fosse o assim chamado Evangelho dos Hebreus; mas que Mateus escreveu o seu próprio evangelho em grego depois de ter escrito as frases em hebraico. O pensamento do professor W. A. S tevens é que Papias provavelmente fez alusão ao autógrafo original que Mateus escreveu em aramaico, mas que depois ampliou e traduziu para o gregõr~ Ao testemunho de P apias também se objeta; 2) Marcos é o mais sistemá tico de todos evangelistas; apresenta os eventos como um verdadeiro analis ta em ordem cronológica. Respondemos que, no que concerne à ordem cro nológica, Marcos é sistemático; no que concerne à ordem lógica, ele é o menos sistemático de todos os evangelistas, mostrando pouco poder de agrupamento histórico tão discernível em Mateus. Mateus tinha como objetivo retratar uma vida mais do que registrar uma cronologia. Ele agrupa os ensinos de Jesus nos capítulos 5, 6 e 7; seus milagres em 8 e 9; suas orientações aos apósto los no capítulo 10; em 11 e 12 descreve a crescente oposição; no 13 enfrenta esta oposição com as suas parábolas; o restante do evangelho descreve a preparação do nosso Senhor para a morte, a sua caminhada para Jerusalém, a consumação da sua obra na cruz e na ressurreição. Eis o verdadeiro siste ma, um arranjo filosófico do material, comparado com o método de Marcos que é eminentemente o menos sistemático. (d) Os Pais A p ostólicos, - C lem en te d e Rom a (falecido em 101), Inácio A n tio q u ia (m artirizado em 115), e P o lic a rp o (80-166), com panheiros e am i gos dos apóstolos, deixaram -nos em seus escritos m ais de um a centena de citações dos escritos do N ovo Testamento ou alusões a eles e entre estes, está representado cada livro , exceto as quatro epístolas m enores (2 Pedro, Judas, 2 e 3 João). Embora simples testemunhos, devemos ter em mente que eles estão entre os principais das igrejas da sua época e que expressam a opinião das de T e o l o g ia S is t e m á t ic a 229 suas próprias igrejas. “Como estandartes de um exercito oculto, ou picos de uma fileira de montanhas distantes, representam e são sustentados pelos grupos compactos contínuos”. Num artigo de P. W. Calkins, M c C l in t o c k e a Enciclopédia de S t r o n g , 1.315-317, citações dos Pais Apostólicos em grande número colocam-se lado a lado com as passagens do Novo Testamento, das quais eles fazem citações ou alusões. Um exame de tais citações e alusões convence-nos de que estes Pais possuíam todos os principais livros do Novo Testamento. Nash, Ethics and Revelation, 11 - “ I n á c io diz a P o l ic a r p o : ‘Os tem pos chamam por ti como os ventos chamam pelo piloto’. Assim os tempos chamam pela reverente e destemida erudição na igreja”. Somos persuadidos de que tal erudição já demonstrou a genuinidade dos documentos do N.T. (e) Nos evangelhos sinóticos, a ausência de toda m enção do cum prim ento de todas profecias de Cristo a respeito da destruição de Jerusalém é evidência de que estes evangelhos foram escritos antes da ocorrência do referido evento. Em Atos dos A póstolos, universalm ente atribuído a Lucas, tem os um a alusão ao ‘prim eiro tratado’, ou o evangelho do m esm o autor, que deve, portanto, ter sido escrito antes do fim do prim eiro aprisionam ento de Paulo em R om a e provavelm ente com o auxílio e sanção do apóstolo. At 1.1 - “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar”. S e Atos foi escrito em 63 A.D., dois anos após a chegada de Paulo a Roma, então o “primeiro tratado”, o evange lho segundo Lucas dificilmente pode datar de após o ano de 60; visto que a destruição de Jerusalém ocorreu em 70, Mateus e Marcos devem ter publica do os seus evangelhos quando muito cedo, em 68, quando as multidões ain da estavam vivas e tinham sido testemunhas oculares dos eventos da vida de Jesus. F is h e r , Nature and Method of Revelation, 180 - “S eja qual for a consi deração de uma data mais tardia [do que a tomada de Jerusalém] evitar-se-ia ou explicar-se-ia a aparente conjunção da destruição da cidade e do templo com a Parousia. ... Deste modo, Mateus aparece depois do começo da luta mortal dos romanos contra os judeus, ou entre os anos de 65 e 70. O evange lho de Marcos ainda é o mais antigo. A linguagem das passagens relativas à Parousia, em Lucas, é consistente com a suposição de que ele escreveu depois da queda de Jerusalém, mas não da suposição de que foi muito mais tarde”. C) N os evangelhos sinóticos, a ausência de toda m enção do cum prim ento de todas profecias de Cristo a respeito da destruição de Jerusalém é evidência de que estes evangelhos foram escritos antes da ocorrência do referido evento. Em Atos dos A póstolos, universalm ente atribuído a Lucas, tem os um a alusão ao ‘prim eiro tratado’, ou o evangelho do m esm o autor, que deve, portanto, ter sido escrito antes do fim do prim eiro aprisionam ento de Paulo em Rom a e provavelm ente com o auxílio e sanção do apóstolo. A ugustus H opkins Strong 230 (d) H á evidência de que as igrejas prim itivas tom aram todo o cuidado para elas mesm as assegurarem -se da genuinidade destes escritos antes de aceitá-los. Evidências das precauções são as seguintes: Paulo, em 2 Ts. 2.2, estimu la as igrejas a tomarem cuidado, “não vos movais facilmente do vosso enten dimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavras, quer por epístola”; 1 Co. 5.9 - “Já vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem”; Cl. 4.16 - “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei também que o seja na igreja dos laodicenses; e a que veio de Laodicéia, lede-a vós também”. M e l it o (169), Bispo de Sárdis, que escreveu um tratado sobre o Apocalipse de João, foi à Palestina para certificar-se in loco sobre os fatos relativos ao Cânon do A.T. e, como resultado dessas investigações, excluiu os Apócrifos. R y l e , Cânon of O. T., 203 - “ M e l it o , bispo de Sárdis, enviou a um amigo uma lista das Escrituras do A.T. que ele professava ter obtido através de uma cuidadosa pesquisa, em viagem à Síria, no Oriente. O seu conteúdo concorda com o Cânon hebreu, exceto na omissão de Ester”. Serapião, bispo de Antioquia (191-213, Abbot), diz: “Recebemos Pedro e outros apóstolos como Cristo, mas, como homens sábios, rejeitamos aqueles escritos falsamente atribuídos a eles”. G e o g e H. F e r r is , Baptist Congress, 1899.94 - “Serapião, depois de permitir a leitura do Evangelho de Pedro em cultos públicos, decidiu-se, finalmente, contra ele, não porque pensasse não haver um quinto evangelho, mas porque na sua opinião ele não foi escrito por Pedro”. T e r t u l ia n o (160-230) dá um exemplo de deposição de um presbítero na Ásia Menor por publicar uma pretensa obra de Paulo. 0b) O estilo dos escritos do N ovo Testam ento e sua plena correspondência a tudo o que conhecem os das terras e tem pos em que eles professam ter sido escritos fornecem convincente prova de que eles pertencem à era apostólica. Note a mescla de Latim e Grego, como no caso de c7ceKo-uA,á,ta>p (Mc. 6.27) e KEv-ttipuov (Mc. 15.39) de Grego e Aramaico em jtp ao icd jip a o ia í (Mc. 6.40) e pSéXuyiaa Tfjç èpri(a.á>aecoç (Mt. 24.15); isto dificilmente teria ocorrido após o primeiro século. Compare os anacronismos de estilo e a descrição em “Henry Esmond” de T h a c k e r a y , que, a despeito dos estudos especiais do autor e de sua determinação de excluir todas as palavras e expressões que se origina ram no seu século, foi frustrado pelos erros históricos que M a c a u l a y , em seus momentos mais remissos, dificilmente teria cometido. J a m e s R u s s e l l L o w e l l disse a T h a c k e r a y que “different to” não tinha um século de existência. “Hang it, no!” replicou T h a c k e r a y . Diante desta falha, da parte do autor de grande habilidade literária, ao construir uma história com a pretensão de ter sido produzida um século antes da sua época e que podia servir de teste de crítica histórica, podemos bem considerar o sucesso dos nossos evangelhos em foco testes tais como uma demonstração prática de que eles não foram escri tos depois da era apostólica, mas nela mesma. (c) A genuinidade do quarto evangelho é confirmada pelo fato de que T aciano (155-170), o assírio, discípulo de Justino, repetidam ente citava-o sem nom ear T e o l o g ia S is t e m á t ic a 231 o autor e com pôs um a harm onia dos quatro evangelhos a que cham ou de Diatessarão; enquanto B asílides (130) e V alentino (150), os G nósticos, tam bém o citam. A o b ra cé tica in titu la d a “ R e lig iã o S o b re n a tu ra l” , p u b lic a d a em 1874, diz: “ N ingu ém p a rece te r visto a H a rm o n ia de T a c ia n o , p ro va ve lm e n te pe la s im ples razã o de que tal o b ra não e x is tia ” ; e “ não há n e n h u m a e vid ê n cia de co n e xã o do E va n g e lh o de Taciano com os do n o sso C â n o n ” . C o ntud o, em 1876, em V en eza foi p u b lica d o em Latim o C o m e n tá rio de Efrém S írio sobre T a c ia n o ; co m e ç a v a assim : “No p rin c íp io e ra o V erb o (Jo. 1.1). Em 1888, o Diatessarão foi p u b lica d o em R o m a na fo rm a de u m a tra d u ç ã o a rá b ica fe ita no sécu lo de zesse te a pa rtir da S iríaca. J. R e n d e l H a rris , na Contemp. Review, 1 8 9 3 .8 0 0 sq., diz que a re cu p e ra çã o do D ia te ssa rã o de T acia no p o sp ô s in d e fin id a m e n te o fu n e ra l lite rá rio de S. Jo ã o . O s crític o s ava n ça d o s, su g e re ele, s ã o a ssim e h a m a d o s po rq u e co rre m à fre n te dos fa to s que eles discutem . Os evangelhos devem ter estado bem estabelecidos na igreja cristã quando se propôs a combiná-los. S r a . A. S . L e w is , em S. S. Times, 23 jan. 1904 - os evangelhos foram traduzidos para o Siríaco antes de 160 A.D. Segue-se que o documento grego do qual eles foram traduzidos era mais velho ainda e, visto que um inclui o evangelho de S. João, o outro também o inclui. H e m p h il l , Literature of the Second Century, 183-231, dá o nascimento de Taciano por volta de 120 A.D. e a data do Diatessarão em 172 A.D. A diferença no estilo entre o Apocalipse e o evangelho de João se deve ao fato de que aquele foi escrito durante o exílio de João em Patmos, sob o império de Nero em 67 ou 68 iogo depois que João deixou a Palestina e fixou sua residência em Éfeso. Até então ele falara Aramaico e o grego lhe era relativamente pouco familiar. O evangelho foi escrito trinta anos depois, pro vavelmente por volta de 67, quando o Grego tinha se tornado para ele como se fosse a sua língua materna. Expressões e idéias que indicam uma autoria comum entre o Apocalipse e o evangelho são as seguintes: “o Cordeiro de Deus”, “o Verbo de Deus”, “O Verdadeiro” como um epíteto aplicado a Cristo, T a c ia n o “os ju d e u s ” co m o in im ig os de D eus, “ m a n á ” , “ a q u e le s que o tra s p a s s a ra m ” . No quarto evangelho temos à^voç, em Ap. temos àpvíov, talvez melhor para distinguir “o Cordeiro do diminutivo xò 0r|píov, “o animal”. Comuns tanto ao evangelho como ao Ap. temos noieív, “fazer” [a verdade]; 7ceputateív, sobre a conduta moral; àVr|9ivóç, “genuíno”; 8i\|/âv, rceivâv, os mais elevados desejos da alma; ctktivovv èv, jioiixaíveiv, óSriyevv; também ‘vencer’, ‘testemunho’, ‘noi vo’, ‘Pastor’, ‘água da vida’. No Apocalipse há solecismos gramaticais: nomi nativo em lugar do genitivo, 1.4 - à^ó ó âv; nominativo em lugar de acusativo, 7.9 - etSov... õxXoç ko7.úç; acusativo em lugar do nominativo, 20.2 - t o v Spáicovta ó ckpiç. Semelhantemente em Rm. 1 2.5 - tó 5é koc0’ êiç em lugar de to 5è kocS^ eva, onde xaxá perde essa regência - solecismo freqüente nos escritores gregos tardios. Emerson lembrava Jones Very que certamente o Espírito Santo escreve em boa gramática. O Apocalipse parece mostrar que Emerson esta va errado. O autor do quarto evangelho fala de João na terceira pessoa. Mas C é s ar fala de si mesmo do mesmo modo em seus Comentários. H a r n a c k considera 232 Augustus H opkins Strong tanto o quarto evangelho como o Apocalipse como obra do Presbítero ou Ancião, aquele escrito não depois de 110 A.D.; este de 93-96, mas é uma revisão de um ou mais apocalipses judaicos. V is c h e r expôs este ponto de vista do Apocalipse; P o r t e r sustenta substancialmente a mesma coisa em seu artigo sobre o Livro de Apocalipse no Hastings’ Bible Dictionary, 4.239266. “É óbvia a vantagem das hipóteses de V is c h e r - H a r n a c k que coloca a obra original na época de Nero e a edição revista e cristianizada na época de Domiciano”. ( S a n d a y , Inspiration, 371,37 2 descarta esta hipótese que levanta mais dificuldades do que as remove. Ele põe o Apocalipse entre a morte de Nero e a destruição de Jerusalém por Tito). M a r t in e a u , Seat ofAuthority, 227, apresenta objeções morais à autoridade apostólica, e considera o Apocalipse, desde 4 .1-2 2 .5 , como um documento puramente judaico que data de 66-70, suplementado e revisado por um cristão e editado não antes de 136: “Quão estranho é termos pensado que é possível alguém que assiste no ministério de Jesus escrever ou editar um livro mesclando ferozes conflitos messiânicos em que, com espada, veste ensangüentada, chama furiosa, vara de ferro, como seus emblemas, conduz a marcha militar e esmaga o lagar da ira de Deus até que o dilúvio de sangue chegue aos freios dos cavalos com a especulativa cristologia do segundo século, sem uma memória da sua vida, uma caraterística do seu olhar, uma palavra da sua voz, um retrospecto às montanhas da Galiléia, aos tribunais de Jerusalém, a estrada rumo a Betânia onde a sua'ímagem deve ser vista para sempre”! Contudo, a força desta afirmativa é grandemente quebrada se considerar mos que o apóstolo João, em seus primeiros dias, foi um dos “Boanerges, que significa: filhos do trovão” (Mc. 3.17), mas tornou-se nos últimos anos o apóstolo do amor: 1 Jo. 4.7 - “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus”. A semelhança do quarto evangelho com a epístola, esta, sem dúvida, obra do apóstolo João, indica a mesma autoria que a do evange lho. T h a y e r assinala que “a descoberta do evangelho segundo Pedro afasta meio século de discussão. Breve como é o documento recuperado, atesta indubitavelmente todos os nossos quatro livros canônicos”. R id d l e , em Popu lar Com., 1.25 - “S e um falsário escreveu o quarto evangelho então Belzebu tem estado expulsando demônios por estes dezoito séculos”. (d) A E pístola aos Hebreus parece ter sido aceita durante o prim eiro século depois que fo i escrita (assim testem unham C lem en te d e Roma, Justino, o M á r t ir , e a versão Peshito). Então, p or dois séculos especialm ente nas igrejas de R om a e do N orte da Á fric a e pro vavelm en te porque suas características eram inconsistentes com a tradição de um a autoria paulina, duvidava-se de sua genuinidade (T e rtu lia n o , Cipriano, Irineu, o C anon M uratoriano). No fim do quarto século, Jerônim o exam inou a evid ên cia e decidiu em seu favor; A g o stin h o fez o m esm o; o terceiro C oncilio de C artago form alm ente o reco nheceu (3 9 7 ); desde essa época as igrejas latinas se uniram ao Oriente, rece bendo-a, e assim definitivam ente se rem oveu a dú vida final. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 233 A Epístola aos Hebreus, cujo estilo é tão diferente do empregado pelo apóstolo Paulo, provavelmente foi escrita por A p o l o , judeu alexandrino, “varão eloqüente e poderoso nas Escrituras” (At. 18.24); porém, não obstan te, pode ter sido escrita por sugestão e sob a direção de Pauio e, conseqüen temente, na essência, paulina. A. C . K e n d r ic k , no American Commentary on Hebrews, assinala que, conquanto o estilo de Paulo seja predominantemente dialético e só em breves momentos torna-se retórico ou poético, na Epístola aos Hebreus predomina o estilo retórico, livre de anacolutos, sempre domina do pela emoção. Ele sustenta que estas caraterísticas apontam para Apolo como o seu autor. Estabeleça também um contraste do método que Paulo utiliza para citar o A.T.: “está escrito” (Rm. 11.8; 1 Co. 1.31; Gl. 3.10) com o de Hebreus: “diz ele” (8.5,13), “disse” (4.4). Paulo cita o A.T. cinqüenta e sete vezes, mas nunca deste modo. Hb. 2.3 - “a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois, confirmada pelos que a ouviram” - mostra que o escritor não recebeu o evangelho de primeira mão. L u t e r o e C a l v in o viram corretamente nisto uma prova decisiva de que Paulo não é o autor porque ele sempre insistia no caráter primário e independente do seu evangelho. A prin cípio, H a r n a c k supunha que a epístola tivesse sido escrita por Barnabé aos cristãos de Roma, 81-96 A.D. Com o passar do tempo, contudo, ele a atribui a Priscila, mulher de Áqüila ou à autoria conjunta. A majestade da sua dicção, contudo, parece desfavorável a este ponto de vista. W il l ia m T. C . H a n n a : “As palavras do au tor... são comandadas grandiosamente e se movem numa estratégia militar como um aumento de uma onda de maré”. P l u m p t r e , Introduction to N.T., 37, e no Expositorv ol. I, considera o autor da epístola o mes mo da Apócrifa Sabedoria de Salomão, esta composta antes, aquela depois da conversão do escritor ao cristianismo. Talvez a nossa conclusão mais segura seja a de Orígenes: “Só Deus sabe quem a escreveu”. Contudo, H a r n a c k assinala: “Já se foi o tempo em que a nossa antiga literatura cristã, Introd. to N.T., tinha sido considerada como um entrelaçamento de ilusões e falsificações. A mais antiga literatura da igreja é, nos pontos essenciais e, na maior parte dos seus pormenores, verdadeira e fidedigna”. (e) Q uanto a 2 Pedro, Judas e 2 e 3 João, epístolas m ais freqüentem ente tidas com o espúrias, podem os dizer que, apesar de não term os nenhum a evi dência externa conclusiva anterior a 160 A.D. e, no caso de 2 Pedro, nenhum a anterior a 230-250 A .D ., podem os argum entar em favor da sua genuinidade não só por suas características internas do estilo literário e valor m oral, mas tam bém pela sua aceitação geral desde o terceiro século com o verdadeiras produções dos hom ens ou classes de hom ens que lhes dão os nom es. F ir m il ia n o (250), bispo de Cesaréia, na Capadócia, é a primeira clara tes temunha de 2 Pedro. O r íg e n e s (230) cita-a, mas, ao fazê-lo, admite que a sua genuinidade é questionada. O Concilio de Laodicéia (372) foi o primeiro a recebê-la no Cânon. Com este mesmo reconhecimento e aceitação de 2 Pedro, compare a perda das últimas obras de A r is t ó t e l e s durante cento e cinqüenta anos após a sua morte e o reconhecimento delas como genuínas 234 A ugustus H opkins Strong tão logo foram recuperadas da adega da família de Neleu na Ásia; a primeira publicação de algumas cartas de L u t e r o por D e W e t t e após o lapso de tre zentos anos, embora sem ocasionar dúvida quanto à sua genuinidade; ou a ocultação do Tratado de Doutrina Cristã de Milton, entre os trastes do Diário Oficial de Londres, de 1677 a 1823. S ir W il l ia m H a m il t o n queixava-se de que havia tratados de C u d w o r t h , B e r k e l e y e C o l l ie r ainda não publicados e mes mo desconhecidos de seus editores, biógrafos e colegas de metafísica, mas ainda do mais elevado interesse e importância. 2 Pedro provavelmente foi remetido do Oriente pouco antes do martírio de Pedro; a distância e a perseguição podem ter impedido a sua rápida circulação nos outros países. S a g e b e e r , The Bible in Court, 114 - “Pode ter-se perdido o razão (livro contá bil) ou a sua autenticidade ao longo do tempo ser objeto de dúvida, mas, uma vez descoberto e provado é considerado fidedigno como qualquer parte dos res gestae (feitos ilustres)”. Os que duvidavam da genuinidade de 2 Pedro insistiam em que a epístola fala dos “vossos apóstolos”, do mesmo modo em que Jd. 17 sobre “os apósto los”, como se o escritor não se contasse entre eles. Mas 2 Pedro começa com “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo”, e Judas, “irmão de Tiago” (vs. 1) era irmão do nosso Senhor, mas não apóstolo. H o v e y , Introd. to N. T., xxxi “A mais antiga passagem manifestamente baseada em 2 Pedro parece estar na assim chamada Segunda Epístola do Romano C l e m e n t e , 16.3, que agora se sabe tratar-se de uma homilia cristã da metade do segundo século”. O r íg e n e s (nascido em 186) testifica que Pedro deixou uma epístola, “e talvez uma segunda de que se discute”. Também ele diz: “João escreveu o Apocalipse e uma epístola de poucas linhas; e pode ser que uma segunda e uma terceira; porque riênvfõdos admitem que sejam genuínas”. Também ele faz citação de Tiago e de Judas acrescentando que se duvida da sua canonicidade. H a r n a c k considera 1 Pedro, 2 Pedro, Tiago e Judas escritos respectiva mente por volta de 16 0 ,17 0 ,13 0 e 130, mas não pelos homens aos quais são atribuídos - a atribuição a estes autores é adição feita mais tarde. H o r t assi nala: “S e alguém me perguntasse, eu diria que o balanço do argumento é contra 2 Pedro, mas no momento em que ajo assim devo começar a pensar que eu devo estar errado”. S a n d a y , Oracles of God, 73 nota, considera os argumentos favoráveis a 2 Pedro não convincentes, mas o mesmo ocorre com os argumentos contrários. Ele não pode ir além do non liquet (não evi dente). Ele se refere a S a l m o n , Introd. to N. T., 529-559, ed. 4, expressando o seu ponto de vista. Porém mais tarde as conclusões de S a n d a y são mais radi cais. Em suas Bampton Lect. sobre a Inspiração, 348,399, diz: 2 Pedro “é provavelmente ao menos nesta extensão uma contrapartida que aparece sob o nome que não é o do verdadeiro autor”. C h a s e , em Hastings’ Bible Dict. 3:806-817, diz que “a primeira peça de certa evidência é a passagem de O r íg e n e s citada por E u s é b io , embora dificil mente se admite dúvida de que a Epístola fosse conhecida por C le m e n t e de A l e x a n d r ia . ... Não encontramos nenhum traço da epístola no período quando a tradição dos dias apostólicos ainda estava viva. ... Não é a obra do apósto lo, mas do segundo século ... adiantar-se sem qualquer motivo sinistro ... a personificação do apóstolo, um artifício literário e não uma fraude religiosa ou controvertida. A adoção de tal veredicto só pode causar perplexidade quando T e o l o g ia S is t e m á t ic a 235 a promessa do Senhor de guiar a sua igreja for considerada como total infali bilidade”. Contra este veredicto apresentamos a dignidade do valor espiritual de 2 Pedro - evidência interna que, a nosso juízo, faz a balança pender para a autoria apostólica. (/) Sobre nenhum a outra hipótese além da sua genuinidade pode a aceita ção geral destas quatro epístolas, desde o terceiro século, e de todos os outros livros do N ovo Testam ento, desde a m etade do segundo século, ser satisfato riam ente levada em conta. Se tivessem sido m eras coleções de lendas flutuan tes, não poderiam ter garantida am pla circulação com o livros sagrados pelos quais os cristãos responderiam com o próprio sangue. Se tivessem sido forja dos, as igrejas, em geral, nem poderiam ter sido enganadas quanto à sua não existência prévia, nem teriam sido induzidas unanim em ente a fingir que elas eram antigas e genuínas. C ontudo, tanto quanto outros relatos sobre a origem delas, inconsistentes com a sua genuinidade, agora correntes, continuam os a exam inar m ais detidam ente os m ais im portantes destes pontos de vista. A genuinidade do Novo Testamento como um todo ainda seria demonstrável mesmo que houvesse dúvida quanto a um ou dois dos seu livros. Não importa o 2- Alcibíades não foi escrito por P latão , ou P éricles por S hakespeare . O Concilio de Cartago em 397 deu lugar no Cânon aos Apócri fos do A.T., mas os Reformadores os cortaram. Sobre o Apocalipse Z wínglio diz: “Não é um livro bíblico” e L utero fala de modo desfavorável a respeito da Epístola de Tiago. O juízo da cristandade em geral é mais fidedigno que as impressões particulares de qualquer erudito cristão. Sustentar que os livros do N.T. foram escritos no segundo século por outras pessoas que não são as que levam os seus nomes não é somente uma falsidade, mas uma conspira ção de falsidade. Deve haver vários falsários da obra e, visto que os seus escritos maravilhosamente concordam, deve ter havido uma conspiração entre eles. Contudo, tais homens têm sido esquecidos, enquanto os nomes de escritores bem mais fracos do segundo século têm sido preservados. G. H. W r ig h t , Scientific Aspects of Chrístian Evidences, 343 - “Há na lei civil ‘estatutos de limitações’ determinando que o reconhecimento de um fato proposto durante um certo período será considerado como sua evidência con clusiva. Por exemplo: se alguém permanece na posse da terra sem ser per turbado durante um certo número de anos, presume-se que tenha o direito de reivindicá-la e a ninguém é dado o direito de contestá-lo”. M a ir, Evidences, 99 - “É possível que não tenhamos um décimo da evidência de que as igrejas primitivas aceitassem os livros do N.T. como produções genuínas dos seus autores. Temos apenas o seu veredicto”. W ynne, em Literature o fth e Second Century, 58 - “Aqueles que abriram mão das Escrituras são vistos por seus companheiros cristãos como ‘traditores’, traidores, desistiram basicamente daquilo que deveriam ter entesourado como a coisa mais preciosa da vida. Porém todos os seus livros eram igualmente sagrados. Alguns eram essen ciais à fé e outros não o eram. Por isso estabeleceu-se a distinção entre os 236 A ugustus H opkins Strong canônicos e os não canônicos. A consciência geral dos cristãos tornava-se um registro cada vez mais distinto”. A tal registro confere-se o mais elevado respeito e reforço à carga comprobatória sobre o opositor. D) Teorias racionalistas quanto à origem dos evangelhos. São tentativas de elim inar o elem ento m iraculoso dos registros do N ovo Testam ento e recons truir a história sagrada apoiada nos princípios do naturalism o. C ontra elas apresentam os a objeção geral de que são anticientíficas em seu princípio e m étodo. E xam inar os docum entos do N ovo Testam ento na suposi ção de que toda a história é um desenvolvim ento natural e que, portanto, os m ilagres são im possíveis, é fazer da história m atéria não de testem unho, mas de especulação apriori. N a verdade torna im possível toda a história de Cristo e dos apóstolos porque as testem unhas cujo depoim ento quanto aos m ilagres é desacreditado não pode m ais ser considerado digno de crédito no relato da vida e doutrina de Cristo. Há meio século, na Alemanha, era famoso “o homem que avança com o seu machado através da espessura do arvoredo” (SI. 74.5), do mesmo modo que entre os índios norte-americanos ele não era contado como o homem que não podia mostrar a sua cabeleira. Os críticos felizmente escalpam-se reciprocamente. N icoll, The Church’s One Foundation, 15 - “Como os mas carados no passado, os críticos céticos mandavam alguém adiante deles var rer com uma vassoura o palco, limpando-o para a apresentação do drama. Se admitirmos no limiar do estudo do evangelho que tudo que se refere à nature za do milagre é possível, as perguntas específicas decidem-se antes que os críticos comecem a operar a todo vapor". M atthew A rnold: “Nossa religião popular atualmente concebe o nascimento, o ministério e a morte de Cristo como impregnados de prodígios, transbordantes de milagres, e os milagres não acontecem". Esta pressuposição influencia as investigações de K uenen e de A. E. A bbott , em seu artigo na Encyciopaedia Britannica sobre os evange lhos. Damos atenção especial a quatro teorias baseadas nesta suposição. I a) A teoria do M ito de S trauss (1808-1874) Segundo este ponto de vista, os evangelhos são cristalizações das idéias messiânicas na história que por muitas gerações encheram a cabeça dos homens de im aginação na Palestina. O m ito é um a narrativa de que tais idéias incons cientem ente se revestem e cujo elem ento de engano intencional e deliberado está ausente. Este primitivo ponto de vista de S trauss , que se identificou com o seu nome mudou nos últimos anos para um outro mais avançado que ampliou o sentido da palavra ‘mito’ de modo a incluir todas as narrativas que brotam de T e o l o g ia S is t e m á t ic a 237 um a id é ia te o ló g ic a e que ad m itia m a e x is tê n c ia de ‘fra u d e s p ie d o s a s ’ nos e va ng elh os. B aur , diz ele, p rim e iro o c o n ve n ce u de que o a u to r do quarto e va n g e lh o tin h a não raro co m p o sto m era s fá b u la s sa b e n d o que eram fic ç õ e s ” . O espírito animador tanto dos velhos pontos de vista como dos novos é o mesmo. S tra u s s diz: “Sabemos com certeza o que Jesus não era e o que ele não fez, a saber, nada de sobre-humano e sobrenatural”. Nenhum evangelho pode reivindicar esse grau de credibilidade histórica que seria requerido para fazer-nos abater a razão até ao ponto de crer nos milagres”. Ele chama a ressurreição de Cristo “ein weltgeschichtlicher Humbug (um disparate históri co terreno)”. “S e os evangelhos realmente são documentos históricos, não podemos excluir o milagre da vida da história de Jesu s”. Vatke, Einleitung in A.T., 2 1 0 ,2 1 1 estabelece diferença entre mito e saga ou lenda: O critério do puro mito é que é impossível a experiência enquanto a saga é uma tradição de antigüidade remota; o mito tem em si só o elemento da crença, a saga tem em si o elemento de história. S abatier, Philos. Religion, 37 - “O mito só é falso na aparência. O Espírito divino pode valer-se das ficções da poesia do mes mo modo que o arrazoado da lógica. Quando o coração é puro, as veias da fábula sempre permitem que a face da verdade brilhe. E não ocorre a infância na maturidade e na “idade senil?” É claro que o amor infantil pela verdade não é o espírito animador de Strauss. Ao contrário, seu espírito é o da crítica sem remorso e da intransi gente hostilidade ao sobrenatural. Com muita propriedade se tem dito que ele reuniu todas as objeções anteriores dos céticos quanto à narrativa do evan gelho e as arremessou em uma massa exatamente como qualquer saduceu no tempo do julgamento de Jesus tinha posto todos os escárnios e chacotas, todos os tapas e insultos, toda vergonha e cusparada despedida contra a face do Redentor. Uma octogenária e santa senhora alemã sem suspeita dis se que “seja como for ela nunca podia estar interessada” na Leben Jesu (Vida de Jesus) de S trauss que o seu filho cético lhe dera como leitura religiosa. A obra é quase totalmente destrutiva. Só o último capítulo sugeria o ponto de vista do próprio S trauss sobre o que Jesus é. S e for verdadeiro o dito de L u te ro de que “o coração é o melhor teólogo”, S tra u s s deve ser considerado destituído da principal qualificação para a sua tarefa. Encyclopaedia Brítannica , 2 2 .5 9 2 - “A mente de Strauss é quase exclusivamente analítica e crítica, sem profundidade de sentimento religioso, ou penetração filosófica, ou simpatia histórica. Sua obra é raramente constru tiva e, exceto quando trata do espírito aparentado, ele fracassa como histo riador, biógrafo e crítico, ilustrando de modo marcante o princípio profunda mente verdadeiro de G oethe de que a amorosa simpatia é essencial à crítica produtiva”. P fle id e re r, Strauss’s Life of Jesus, xix - “Strauss mostra que a igreja forma tradições mitológicas a respeito de Jesu s por causa da fé nele como Messias; mas ele não mostra como a igreja veio pela fé de que o Jesus de Nazaré é o Messias”. O bjetam os à Teoria M ito de S trauss, da seguinte m aneira: d) O tem po entre a m orte de Cristo e a publicação dos evangelhos foi muito curto para o desenvolvim ento e consolidação de tais histórias míticas. Os mitos, 238 A ugustus H opkins Strong ao contrário, com o dão testem unho os hindus, os gregos, os rom anos e os escandinavos são o lento desenvolvim ento de séculos. b) O prim eiro século não foi um a época em que tal form ação era possível. Ao invés de ser um a época crédula e im aginativa foi de investigação histórica e de saduceísm o em m atéria de religião. H o rácio , Odes 1.34 e 3.6, denuncia a negligência e a esquaiidez dos tem plos pagãos e Juvenal, Sátira 2.150 diz que “Esse aliquid manes et subterranea regna Nec pueri credunt”. [Nem as crianças acreditam que haja algum manes (espírito bom) e reinos subterrâneos”]. A rnold de Rugby: “Ah, essas idéias de homens escrevendo histórias mitológicas entre os tempos de Lívio e uie de Paulo confundindo-os com realidades!” A pergunta cética de Pilatos, “o que é a verdade?” (Jo. 18.38) é o que de melhor representa a época. “Já se foi a era mitológica quando uma idéia se apresentava de forma abstrata independente da narrativa”. A seita judaica dos saduceus mostra que o espí rito racionalista não está confinado a gregos e romanos. A pergunta de João Batista, (Mt. 11.3) “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” e a resposta do nosso Senhor, (11.4,5) “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem ... os mortos são ressuscitados”, mostram que os judeus esperavam que o Messias operasse milagres; contudo, João 10.41 “João não fez sinal algum” não mostra nenhuma inclinação irresistível de investir os mestres populares de poderes miraculosos. c) Os evangelhos não podem ser um desenvolvim ento m ítico de idéias e expectações judaicas porque, em suas principais características, eles contra riam diretam ente estas idéias e expectações. O casm urro e exclusivo naciona lism o dos judeus não podia ter feito surgir um evangelho para todas as nações, nem as suas expectações de um m onarca tem poral podia ter conduzido à his tória de um M essias sofredor. Os Apócrifos do A.T. mostram quão limitada era a visão dos judeus. 2 Esdras 6.55,56 diz que o Onipotente fez o mundo “por causa de nós”; outros povos, embora “também originados de Adão”, “são apenas como a saliva”. Toda a multidão deles está apenas diante do Eterno “semelhantes a uma gota imunda que cai do casco” (C. G eikie , S. S. Times). O reino de Cristo difere daquele que os judeus esperavam, tanto pela sua espiritualidade como pela sua universalidade (B ruce , Apologetics , 8). Não existe nenhum impulso mis sionário no mundo pagão; por outro lado, para o tribal é uma blasfêmia fazer conhecido o seu deus a um estranho (N ash , Ethics and Revelation, 106). Os evangelhos apócrifos mostram que tipo de mitos na época do N.T. teriam sido elaborados: Conta-se que de uma moça demoníaca Satanás saiu em forma de um moço (B ernard , em Literature o fth e Second Century, 99-136). d) A crença e propagação de tais m itos são inconsistentes com o que sabe m os dos caracteres sóbrios e das vidas auto-sacrificiais dos apóstolos. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 239 e ) A teoria m ítica não pode explicar a aceitação dos evangelhos entre os gentios, que não tinham nada das idéias e expectações judaicas. f) E la não pode explicar o próprio cristianism o com a sua crença na cruci ficação e ressurreição de Cristo e as ordenanças que com em oram estes fatos. Como a existência da República dos Estados Unidos é prova de que hou ve outrora uma Revolução, do mesmo modo o cristianismo é uma prova da morte de Cristo. A mudança do sétimo dia para o primeiro, na observância do Sabbath (guarda do descanso) nunca poderia ter ocorrido em uma nação tão “sabatária” se o primeiro dia da semana não tivesse sido a celebração da verdadeira ressurreição. Do mesmo modo não se pode explicar a Páscoa Judaica e o Dia da Proclamação da Independência, o batismo e a Ceia do Senhor, senão como monumentos e memoriais de fatos históricos do começo da igreja cristã. 2 a) Teoria da Tendência, de B aur ( 1 7 9 2 - 1 8 6 0 ) Sustenta que os evangelhos se originaram na m etade do segundo século e foram escritos sob nom es supostos com o um m eio de ocultar tendências opos tas judaicas e gentílicas na igreja. “Estas grandes tendências nacionais acham sua satisfação, não nos eventos correspondentes a elas, m as na elaboração das ficções conscientes” . B aur data o quarto evangelho de 160-17 0 A.D.; Mateus de 130; Lucas 150; Marcos de 150-160. B aur nunca indaga quem era Cristo. Ele volta a sua atenção para os documentos. S e estes se provam anti-históricos, não há necessidade de examinar os fatos, pois não há fatos para examinar. Ele indi ca a pressuposição destas investigações, quando diz: “O principal argumento para a origem mais tardia dos evangelhos deve sempre continuar a ser esta, que separadamente e ainda mais quando reunidos eles dão um relato da vida de Jesus que implica impossibilidades” - /'.e., os milagres. Por isso ele queria remover a autoria deles para bem distante do tempo de Jesus a fim de consi derar os milagres como invenções. B aur sustenta que em Cristo unem-se o espírito universalista da nova religião, e a forma particularista da idéia mes siânica judaica; alguns dos seus discípulos dão ênfase a uma, alguns a outra; daí o primeiro conflito, mas por fim a reconciliação. E. G. R obinson interpreta Baur da seguinte maneira: “Paulo = Protestante; Pedro = sacramentalista; Tiago = ético; Paulo + Pedro + Tiago = Cristianismo. A pregação protestante deve residir mais na ética - casos de consciência - menos na mera doutrina, como regeneração e justificação”. B aur era estranho às necessidades da sua própria alma e, deste modo, ao caráter real do evangelho. Um dos seus amigos e conselheiros escreveu, após a morte dele, em termos laudatórios: “A sua natureza era inteiramen te objetiva. Nenhum traço de necessidade pessoal ou de luta se discerne em conexão com as suas investigações sobre o cristianismo”. A avaliação 240 Augustus H opkins Strong da posteridade talvez se expresse no juízo da E scola de T übingen feito por Harnack: “O possível quadro esboçado não era o real, e a chave com que ele tentou resolver todos os problem as não bastou para o mais simples. ... Os pontos de vista de Tübingen na verdade foram forçados a submeter-se a modificações. A respeito do desenvolvimento da igreja no segundo século pode-se dizer seguramente que a hipótese da Escola de Tübingen provou-se em toda a parte inadequada, muito errônea, e hoje só é sustentada por pou cos eruditos”. O bjetam os a Teoria-tendência de B aur da seguinte maneira: a) A crítica destrutiva a que sujeita os evangelhos, se aplicada aos docum en tos seculares, privar-nos-ia de qualquer conhecim ento certo do passado e tor naria toda a história im possível. A suposição de um artífice é em si mesm a desfavorável a um cândido exame dos documentos. Uma perversa perspicácia pode desacreditar as evi dências de um oculto animus nas mais simples e ingênuas produções literárias. b) As tendências doutrinárias antagônicas que professa achar nos vários evangelhos são m ais satisfatoriam ente explicadas apenas com o aspectos con sistentes variantes do m esm o sistem a de verdade sustentado pelos apóstolos. Baur exagera as diferenças doutrinárias e oficiais entre os principais após tolos. Pedro não foi sim plesm ente um cristão judaizante, mas o primeiro pre gador aos gentios e a sua doutrina parece ter sido subseqüentem ente influen ciada em grande parte pela de Paulo {ver P lumptre, sobre 1 Pedro 68-80). Paulo não foi exclusivam ente um cristão helenizante, mas invariavelmente dirigia o evangelho aos judeus antes de se dirigir aos gentios. Os evangelis tas apresentam quadros de Jesus de diferentes pontos de vista. Como o escultor parisiense constrói o seu busto com o auxílio de uma dúzia de foto grafias do seu propósito, todas partindo de diferentes pontos de vista, do mesm o modo a partir dos quatro exem plares que nos são fornecidos por Mateus, Marcos, Lucas e João devemos construir a sólida e sim étrica vida de Cristo. A mais profunda realidade que estabelece a reconciliação dos diferen tes pontos de vista possíveis é o verdadeiro Cristo histórico. M arcus Dods, Expositor's Greek Testament, 1675 - “Não se trata de dois Cristos, mas de um, que é a pintura dos quatro evangelhos: divergente no contorno e na fren te do rosto, mas recíproco com plem ento ao invés de uma contradição” . G odet , Introd. to Gospel Collection, 272 - Mateus mostra a grandeza de Jesu s - é o seu retrato em tamanho grande; Marcos, a sua incansável ativida de; Lucas, a sua benéfica compaixão; João, a sua divindade essencial. Mateus escreveu, inicialmente a Lógia Aramaica. Esta foi traduzida para o Grego e completada com uma narrativa do ministério de Jesus para as igre jas gregas fundadas por Paulo. Não foi Mateus que fez esta tradução, nem se valeu do texto de Marcos (217-224). E. D. B urton : Mateus = cumprimento da profecia feita no passado; Marcos = manifestação do poder presente. Mateus ) T e o l o g ia S is t e m á t ic a 241 é o argumento a partir da profecia; Marcos, a partir do milagre. Mateus, no que se refere à profecia, causou maior impressão nos leitores judeus; Mar cos, como poder, mais se adaptou aos gentios. O P rof. B urton sustenta que Marcos se baseia só nas tradições orais; Mateus, na Lógia (seu verdadeiro evangelho) e outras notas fragmentares; enquanto Lucas tem origem mais completa nos manuscritos e em Marcos. c) É incrível que produções de tal poder literário e tão elevado ensino reli gioso com o os evangelhos teriam surgido em m eados do segundo século, ou que teriam sido publicados sob nom es supostos para fins velados. O ca rá te r geral da lite ra tu ra do s e g u n d o s é c u lo é ilu stra d o pelo fa n á tico de sejo de m artírio da p a rte de Inácio, cujo v a lo r H e rm a s a trib u i ao rig or a scé tico, nas in síp id a s a le g o ria s de B arn ab é, na c re n ç a na fê n ix da parte de C le m en te de R om a e nos a b su rd o s dos E va n g e lh o s A p ó crifo s. O au to r do quarto e va n g e lh o e n tre os e scrito re s do s e g u n d o sé cu lo teria m sid o um a m on ta nh a entre os m o n tícu lo s. W y n n e , Literature ofthe Second Century, 60 - “Os e s c ri tos a p o stó lico s e su b a p o s tó lic o s d ife re m e n tre si com o um a pe p ita de ouro puro dife re de um b lo co de q u a rtzo com v e ia s do p re cio so m etal b rilha nd o a tra vé s d e le ” . D o rn e r, Hist. Doct. Person Christ., 1.1.9 2 - “A o invés dos e scri to re s do se g u n d o sécu lo , m a rca n d o um a va n ço na era a p o stó lica , ou d e se n vo lve n d o o g e rm e q u e os a p ó sto lo s lhes d e ra m , o se g u n d o sécu lo m o stra um g ra n d e re tro ce sso ; se u s e scrito re s não fo ra m ca p a ze s de reter ou c o m p re e n d e r tu d o o q u e lhes tin h a sid o d a d o ” . M artin ea u, Seat of Authority, 291 “ E scrito re s bá rba ros, não só na fala , e ru d e s na arte, m as tam b é m fre q ü e n te m en te p u e ris nos co n ce ito s, a p a ix o n a d o s no te m p e ra m e n to , e cré d u lo s na su a fé. A s lendas de Papias, as visõ e s de Hermas, a im b e cilid a d e de Irineu, a fú ria de T e r t u u a n o , o ra n c o r e in d e lic a d e z a de J e r ô n im o , a in te m p e s tiv a in to le râ n cia de A go stinh o, não podem d e ix a r de a tu rd ir e re p e lir o e stu dan te ; e, se ele se vo lta p a ra o m ais m an so H ipólito, é in tro d u z id o p o r um a ch o ca d a de trin ta h e resias que tris te m e n te d issip a m o seu so n h o da un id a d e da ig re ja ” . Não p o d e m o s a p lic a r aos e scrito re s do s e g u n d o s é cu lo a p e rg u n ta de Ingersoll na c o n tro v é rs ia Shakespeare-Bacon: “S e rá p o ssíve l que Bacon d e ixa ria os m elho re s filh o s do se u cé re b ro na s o le ira da p o rta de Shakespeare e apenas c o n s e rv a s s e em c a s a os d e fo rm a d o s ? ” d) A teoria requer de nós que creiam os em um a anom alia m oral, a saber, que um fiel discípulo de Cristo no segundo século pudesse ser culpado de fabricar um a vida do m estre, e reivindicar autoridade para isto na base de que o autor tinha sido um com panheiro de Cristo ou de seus apóstolos. “Genial posicionamento dos religionários jesuíticos” - com mente e cora ção suficientes para o evangelho segundo João e que, ao mesmo tempo com sangue frio têm a sagacidade suficiente para retirar dos seus escritos cada traço de desenvolvimento da autoridade da igreja pertencente ao segundo século. O recém-descoberto “Ensino dos Doze Apóstolos”, talvez datado da 242 A ugustus H opkins Strong primeira parte do referido século, mostra que tal combinação é impossível. As teorias críticas supõem que aquele que conheceu Cristo como homem não podia considerá-lo como Deus. L owrie , Doctríne o f St. John, 12 - “Se S. João escreveu, não é possível dizer que o gênio de S. Paulo impingiu à igreja uma concepção originariamente estranha aos apóstolos”. Fairbairn bem mos trou que, se o cristianismo tivesse sido somente o ensino ético do Jesus humano, teria desaparecido da terra como as seitas dos fariseus e dos saduceus; por outro lado, se a doutrina do Logos fosse somente a do Cristo divino, teria desaparecido como as especulações de P latão e de A ristóteles ; porque o cristianismo une a idéia do eterno Filho de Deus com a do encarnado Filho do homem é adequado a uma religião universal e se tornou igual a ela; ver Fairbairn , Philosophy of the Christian Religion, 4, 15 - “Sem o encanto pessoal do Jesu s histórico, os credos ecumênicos nunca teriam sido formulados ou tolerados e, sem a concepção metafísica de Cristo, a religião cristã há muito teria deixado de viver. ... Não é o Jesus de Nazaré que entrou tão poderosa mente na história; é o Cristo deificado que se tornou objeto de crença, de amor e de obediência como o Salvador do mundo. ... As duas partes da dou trina cristã combinam-se no nome ‘Jesu s Cristo’”. e) E sta teoria não pode dar conta da aceitação universal dos evangelhos no fim do segundo século entre as com unidades am plam ente separadas onde a reverência pelos escritos dos apóstolos era m arca de ortodoxia e onde as here sias gnósticas teriam feito novos docum entos sujeitos a suspeita e exam e m inucioso. A bbot , Genuineness ofthe Fourth Gospel, 52, 80, 88, 89. S e doutrina joanina do Logos fosse proposta na primeira na irietade do segundo século, teria imediatamente garantido a rejeição daquele evangelho pelos gnósticos, que atribuíram a criação, não ao Logos, mas aos sucessivos “eons”. Como os gnósticos, sem hesitação, vieram a aceitar como genuíno aquilo que na sua época tinha surgido nas igrejas? Conquanto B asílides (130) e V alentino (150), que eram gnósticos, citam o quarto evangelho, não discutem a sua genuini dade nem sugerem que fosse de origem recente. B ruce , em sua Apologetics, diz a respeito de B aur : “Ele cria na plena suficiência da teoria hegeliana do desenvolvimento através do antagonismo. Essa tendência ele viu em toda a parte. Qualquer coisa que se adiciona, proporcionando mais conteúdo à pes soa e ao ensino de Jesus do que se presta ao estágio inicial de desenvolvi mento, deve ser considerado espúrio. Se encontramos Jesus em qualquer dos evangelhos reivindicando ser uma pessoa sobrenatural, tais textos podem, com a máxima confiança, ser postos de lado como espúrios, porque tal pensamento não pode pertencer ao estágio inicial do cristianismo”. Porém tal concepção, sem dúvida, existiu no segundo século e antagonizava direta mente as especulações dos gnósticos. F. W. F arrar , sobre Hb. 1 2 - “A pala vra eon foi empregada mais tarde pelos gnósticos para descrever as várias emanações pelas quais eles tentavam ao mesmo tempo ampliar e estabele cer uma ponte sobre o abismo entre o humano e o divino. Sobre essa lacuna T e o l o g ia S is t e m á t ic a 243 imaginária João lançou a arca da encarnação ao escrever: ‘O Verbo se fez carne’ (Jo. 1.14)”. Um documento que contraditava tanto os ensinos gnósti cos não podia, no segundo século, ter sido citado por eles mesmos sem dis cutir a sua genuinidade se não tivesse sido há muito reconhecido nas igrejas como obra do apóstolo João. f) O reconhecim ento de B aur de que as epístolas aos Rom anos, aos Gálatas e aos C oríntios foram escritas por Paulo no prim eiro século é fatal para a sua teoria visto que estas epístolas testificam não só os m ilagres no período em que foram escritos, m as os principais eventos da vida de Jesus e o m ilagre da sua ressurreição com o fatos já há m uito reconhecidos na igreja cristã. B aur , PauI der Apostei (O Apóstolo Paulo), 276 - “Nunca houve a mais leve suspeita da não autenticidade lançada sobre estas epístolas (Gálatas, 1 e 2 Coríntios e Romanos) e elas apresentam de tal modo o caráter da origem paulina que não se concebe nenhuma base para a afirmação de dúvidas críticas neste caso”. Ao discutir a aparição de Cristo a Paulo no caminho de Damasco, B aur explica o elemento exterior a partir o interior: Paulo traduziu a intensa e súbita convicção da verdade da religião cristã numa cena exterior. Porém isto não pode explicar o som exterior que os seus companheiros ouviram. 3a) Teoria R om ance de R enan (1823-1892) E sta teoria adm ite um a base de verdade nos evangelhos e sustenta que todos eles pertencem ao século da m orte de Jesus. A expressão “Segundo” M ateus, M arcos, etc., contudo, significa^só que M ateus, M arcos, etc., escre veram estes evangelhos em substância. R enan reivindica que os fatos da vida de Jesus foram tão sublimados pelo entusiasm o e tão obscurecidos com a fraude piedosa que os evangelhos na form a presente não podem ser aceitos como genuínos; em resum o, os evangelhos devem ser considerados com o rom ances históricos que só se fundam entam no fato. O animus desta teoria é claramente apresentado em Renan’s Life of Jesus, prefácio à 13 8 edição - “S e os milagres e a inspiração de certos livros são reais, meu método é detestável. S e os milagres e a inspiração dos livros são crenças sem realidade, meu método é bom. Porém a questão a respeito do sobrenatural decide-se, para nós, com absoluta certeza através da sim ples consideração de que não há lugar para se crer em algo a respeito de que o mundo não oferece nenhum traço experimental”. “No seu todo”, diz R enan, “eu admito como autênticos os quatro evangelhos canônicos. Na minha opi nião, todos datam do primeiro século e os autores são, de um modo geral, aqueles que lhes são atribuídos”. Ele considera Gálatas, 1 e 2 Coríntios e Romanos “indiscutíveis e não discutidos”. Fala deles como “textos de auten ticidade absoluta, sinceridade completa e isentos de lendas” (Les Apôtres, A ugustus H opkins Strong 244 xxix; Les Évangiles, xi). Entretanto, ele nega a Jesus a “sinceridade para con sigo mesmo”; atribui a ele “artifício inocente” e tolerância à fraude piedosa, como, por exemplo, no caso das histórias de Lázaro e da sua própria ressur reição. “Não basta conceber o bem: é necessário que ele seja bem sucedido; para cumprir isso, é preciso, pelo menos, seguir as veredas puras. ... Sua consciência não perdeu nenhuma pureza original; sua missão o oprimia. ... Acaso ele negligenciou a sua natureza elevada e, vítima da sua própria gran deza, lamentou que não tivesse permanecido como um simples artesão?” Deste modo R e n a n “pinta mais tarde a vida de Cristo como uma miséria e mentira, embora ele requeira de nós que nos curvemos diante deste pecador e de seu superior, Xáquia-Múni, como semideuses” (verNicon, The Church’s One Foundation, 62, 63). Da imaginação altamente errônea operada a res peito de Maria Madalena, diz ele: “Ó divino poder do amor! sagrados momen tos em que a paixão de alguém cujos sentidos foram enganados nos dá um Deus ressurrecto!” Ver R e n a n , Life of Jesus, 21. A esta Teoria-rom ance de Renan objetam os: E la envolve um tratam ento arbitrário e parcial dos docum entos cristãos. A reivindicação de que um escritor não só tom ou em prestado dos outros, mas interpolou ad libitum (a seu bel-prazer), é contraditada pela concordância essencial dos m anuscritos citados pelos Pais e agora existentes. a) S e g u n d o M air , Christian Evidences, 153, R enan d a ta M ateu s de 84 A .D .; M a rco s de 76; Lu cas de 94; Jo ã o de 125. E stas d a ta s m a rca m um c o n s id e rá vel recuo das p o siçõ e s que B aur assu m iu . Em seu c a p ítu lo sob re os Recen tes Reveses na Crítica Negativa, M air a trib u i este re su lta d o às ta rd ia s d e sco b e rta s re la tiv a s à E p ís to la de B a rn a b é , a R e fu ta ç ã o de H ip ó lito a to d a s H e resia s, as H o m ilia s C le m e n tin a s e o D ia te ssa rã o de Taciano: “ C onform e B aur e seu s se g u id o re s im e dia tos, p o ssu ím o s m en os de um q u a rto do N.T. p e rte n c e n d o ao p rim e iro sé cu lo . P ara H ilgenfeld , a tu a l ca b e ç a da esco la de B au r , te m o s m e n o s de trê s q u a rto s p e rte n c e n te s ao p rim e iro sé cu lo , c o n q u a n to s u b s ta n c ia lm e n te a m e s m a c o is a s e p o d e d iz e r a re s p e ito de H olzmann . S e g u n d o R enan , te m o s d is tin ta m e n te m ais de trê s qu a rto s do N.T. in cid in d o no p rim e iro s é cu lo e, co n s e q ü e n te m e n te , d e n tro da era apostólica. Isto indica seguramente um retrocesso bem decidido e extraordinário desde o tempo do grande assalto de B a u r , isto é, dentro dos últimos cinqüenta anos”. Podemos acrescentar que a outorga da autoridade dentro da era apostólica torna nula a hipótese de Renan de que os documentos do N.T. foram amplia dos através de uma fraude piedosa pelo que eles não podem ser aceitos como relatos fidedignos de tais eventos como milagres. A própria tradição oral atingiu uma forma tão fixa que os muitos manuscritos empregados pelos Pais estavam em substancial acordo com respeito a estes mesmos eventos e a tradição oral no Oriente transmite-nos sem séria alteração narrativas muito mais longas que as dos nossos evangelhos. Os Pundita Rambai podem repe tir, após um lapso de vinte anos, porções dos livros sagrados hindus em uma quantidade muito grande do conteúdo do nosso Velho Testamento. Muitos T e o l o g ia S is t e m á t ic a 245 homens cultos em Atenas conheciam de cor toda a liíada e a Odisséia de A memória bem como a reverência conservam as narrativas do evan gelho livres da corrupção que R e n a n supõe. H omero. b) A tribui a C risto e aos apóstolos u m fervor alternado de entusiasm o rom ântico e falsa pretensão de poder m iraculoso que são inteiram ente irreconciliáveis com a m anifesta sobriedade e santidade de suas vidas e ensinos. Se Jesus não operou m ilagres, ele foi um im postor. Sobre Ernest Renan, His Life and the Life of Jesus, ver A. H. Strong, Christ in Creation, 332-363, especialmente 356 - “Renan atribui a origem do cristia nismo à predominância de uma suscetibilidade aos sentimentos místicos na Palestina. Para ele Cristo é a encarnação da simpatia e das lágrimas, ternos impulsos e apaixonados ardores, cujo gênio nativo era comover os corações dos seres humanos. Para ele, verdade ou falsidade faziam pouca diferença; era válida qualquer coisa que confortasse o pobre ou tocasse os mais refina dos sentimentos da humanidade; êxtases, visões, trejeitos derretidos, eram os segredos do seu poder. A religião era uma superstição benéfica, uma doce ilusão - excelente como bálsamo, consolo para a multidão ignorante, que nunca podia filosofar ainda que tentasse. Deste modo, o rio do evangelho, como diria alguém, se volta para a fonte de homens e mulheres cujos cére bros destilaram choro dos seus olhos e a perfeição da espiritualidade acaba por tornar-se um tipo de ébrio monasticismo. ... Quão diferente do forte e santo amor de Cristo, que salva o homem aproximando-o da verdade, e que reivindica a imitação deste tão somente porque, sem amar a Deus e a aima, ele não tem a verdade. Deste ponto de vista, quão inexplicável é o fato de que um puro cristianismo em toda a parte tem despertado o intelecto das nações e que cada avivamento, como a Reforma, é seguido de poderosos saltos da civilização para frente. Acaso foi Paulo levado por sonhos místicos e entu siasmo irracional? Que digam a aguda habilidade dialética das suas epístolas e a sua profunda firmeza nos grandes assuntos da revelação! Porventura tem a igreja de Cristo sido um grupo de choramingas sentimentalistas? Que teste munhe a morte heróica dos mártires em favor da verdade! Ele deve ter uma tacanha idéia do que ele é e mais ainda de quem é o Deus que o fez e crer que os mais nobres espíritos da raça surgiram para a grandeza através da abnegada vontade e da razão e tornaram-se influentes em todas as eras pela auto-resignação”. c) D eixa de dar conta da força e progresso do evangelho com o sistem a direto oposto ao sabor e predisposição natural dos hom ens - sistem a que substi tui a verdade por rom ance e a lei por im pulso. A. H. S t r o n g , Christ in Creation, 358 - “E se mais tarde os triunfos do cristianismo são inexplicáveis com base na teoria de Renan, como explicar o seu fundamento? O doce campônio da Galiléia, querido pelas mulheres por causa da sua beleza, fascinando a iletrada multidão com o seu discurso dócil 246 A ugustus H opkins Strong e seus ideais poéticos, confortando e enchendo de esperança os pobres, possuído de um poder sobrenatural que, a princípio, ele supõe não muito digno de negar e, por fim, gratifica a multidão fingindo exercer, levado por oposição a polêmicas e invectivas até que o agradável jovem rabi se torna um obscuro gigante, e obstinado fanático, feroz revolucionário, cuja denúncia contra os poderosos o leva à cruz, o que há dentro dele que explica a maravi lha moral que chamamos cristianismo e o começo do seu império no mundo? Nem as deliciosas pastorais como as do primeiro período de Jesus, nem a febre apocalíptica como a do segundo período, segundo o evangelho de Renan, fornecem qualquer explicação racional para esse poderoso movimen to que varreu a terra e revolucionou a fé da humanidade”. B erdoe, Browning, 47 - “S e Cristo não fosse Deus, sua vida no palco da história do mundo não poderia ter possibilidade alguma de possuir a força vitalizadora e compulsiva que as páginas de Renan em toda a parte descorti nam.” Ao esforçar-se por destruir a fé em Cristo, R enan fortaleceu-a. Ao discutir o aparecimento de Cristo a Paulo no caminho de Damasco, R enan explica a interiorização a partir da exteriorização, invertendo precisa mente a conclusão de B aur . Paulo considerou uma súbita tempestade, o cla rão de um relâmpago, um súbito ataque de febre oftálmica como aparição do céu. Porém retrucamos que um perspicaz e racional observador não poderia ter sido enganado desta forma. Nada poderia torná-lo o apóstolo aos gentios a não ser a visão real do Cristo glorificado e a revelação simultânea da san tidade de Deus, o seu próprio pecado, o sacrifício do Filho de Deus, sua eficá cia universal, a obrigação que lhe foi imposta de proclamá-la até o fim da terra. 4a) A Teoria D esenvolvim ento de Harnack (nascido em 1851) E sta teoria sustenta que o cristianism o é um desenvolvim ento dos germes destituídos tanto de dogm a com o de m ilagre. Jesus era um m estre de ética e o evangelho original é m ais claram ente representado pelo Serm ão do M onte. A influência grega e especialm ente a da filosofia alexandrina acrescentaram a este evangelho um elem ento teológico e sobrenatural e assim m udaram o cris tianism o de um a vida para um a doutrina. H arnack data Mateus de 70-75; Marcos de 65-70; Lucas de 78-93; o quar to evangelho de 80-110. Ele não considera o quarto evangelho nem o Apoca lipse como obras do apóstolo João, mas de João, o presbítero. Faz uma separação entre o quarto evangelho e o seu prólogo e considera este como prefácio adicionado após a composição original a fim de capacitar o leitor helenista a entendê-lo. “O próprio evangelho”, diz H arnack , “não contém nenhuma idéia do Logos; ele não se desenvolveu a partir de uma idéia do Logos, como floresceu em Alexandria; ele só está em conexão com a referida idéia. O próprio evangelho baseia-se no Cristo histórico; este é o assunto de todas as suas afirmações. Tal traço histórico, de modo algum pode ser dissol vido por qualquer tipo de especulação. A memória do que é verdadeiramente histórico ainda é muito poderosa para admitir neste ponto quaisquer influên T e o l o g ia S is t e m á t ic a 247 cias gnósticas. A idéia de Logos no prólogo é a do judaísmo de Alexandria, o Logos de Filo, e deriva, por fim, da expressão ‘Filho do homem’ do livro de Daniel. ... O quarto evangelho, que não procede do apóstolo João e não tem essa pretensão, não pode ser empregado como fonte histórica no sentido comum da palavra.... O autor o administra com soberana liberdade; transpõe ocorrências e as põe a uma luz que lhes é estranha; por si só compõe os discursos de acordo com seu próprio pensar, e ilustra elevados pensamentos inventando situações para eles. É difícil reconhecer que uma verdadeira tra dição na sua obra não possa ter falhas. Contudo, para a história de Jesus, dificilmente, em qualquer parte isso pode ser levado em conta; muito pouco se pode tomar a partir dele e, assim mesmo, com reservas. ... Por outro lado, ele é uma fonte de primeira linha para as respostas à questão de quais os vivos pontos de vista da pessoa de Jesus, que luz e que calor o evangelho trouxe ao ser”. À Teoria-desenvolvim ento de Harnack objetam os: a) O Serm ão do M onte não é a súm ula do evangelho, nem a sua forma original. M arcos é o m ais original dos evangelhos, contudo, om ite o Sermão do M onte e é proem inentem ente o evangelho do operador de m ilagres. b) Todos os quatro evangelhos dão ênfase não à vida e ensino ético de Cristo, mas à sua m orte e ressurreição. M ateus im plica a divindade de Cristo quando afirm a seu conhecim ento absoluto do Pai (11.27), seu juízo universal (25.32), sua autoridade suprem a (28.18) e sua onipresença (28.20), enquanto a expressão “Filho do H om em ” im plica que ele tam bém é “Filho de D eus” . Mt. 11.27 - “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aque le a quem o Filho o quiser revelar”; 25.32 - “e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; 2 8 .18 - “É-me dado todo o poder no céu e na terra”; 28.20 - “e eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos”. Estas palavras de Jesus no evangelho de Mateus mostra que o conceito da grande za de Cristo não era peculiar a João: “Eu estou” transcende ao tempo; “con vosco” transcende ao espaço. Jesus fala “sub specie eternitatis”; seu pronun ciamento eqüivale ao de João 8.58 - “antes que Abraão existisse, eu sou”, e ao de Hb. 18.8 - “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”. Paulo declara em Ef. 1.23 que ele é aquele que “cumpre tudo em todos”, isto é, onipresente. A. H. S t r o n g , Philos. and Religion , 206 - A expressão “Filho do homem” indica que Cristo é mais que homem: “Suponha que eu intentasse proclamarme ‘Filho do homem’. Quem não perceberia nisso uma impertinência, a não ser que eu reivindicasse ser algo mais. ‘Filho do Homem? Mas o que de que? Será que cada ser humano chama a si mesmo este ser?’ Quando se assume o título de ‘Filho do homem’ por sua designação caraterística, como o fez Jesus, está implicado que há algo estranho neste ser o Filho do homem; que esta não é a sua condição e dignidade originais; que ser Filho do homem é 248 A ugustus H opkins Strong uma condescendência da parte dele. Em resumo, quando Cristo chama a si mesmo Filho do homem está implicado que ele veio de um nível mais elevado para habitar nesta nossa humilde terra. E deste modo, quando nos pergun tam: ‘Que pensais vós do Cristo? de quem ele é filho?’ não devemos respon der simplesmente que ele é o Filho do homem, mas também Filho de Deus”. S anday : “O Filho é assim chamado primordialmente como encarnado. Mas por que ele também é a essência da Encarnação necessariamente é mais do que isso. É necessário ter as suas raízes na eternidade de Deus”. Gore, Incarnation, 65, 73 - “Cristo, o Juiz final, dos sinóticos, não está dissociado do ele mento divino, do Ser eterno, do quarto evangelho”. c) A preexistência e expiação de C risto não podem ser consideradas acrés cim o ao evangelho original visto que acham expressão em Paulo, que escre veu antes dos nossos evangelistas e em suas epístolas antecipou a doutrina do L ogos de João. d) Podem os adm itir que a influência grega, apesar da filosofia alexandrina, ajudou os escritores do N ovo Testam ento a discernir o que já estava presente na vida e obra e ensino de Jesus; mas com o o m icroscópio, que descobre, mas não cria, nada acrescenta à substância d a fé. G ore , Incarnation, 62 - “A divindade, a encarnação, a ressurreição de Cristo não representam uma soma à crença original dos apóstolos e de seus primeiros discípulos, pois todas estas são reconhecidas como matéria incon troversa de fé nas quatro grandes epístolas de Paulo escritas numa data em que a maior parte dos que viram o Cristo ressurrecto ainda estava viva”. A filosofia alexandrina não é a fonte da doutrina apostólica, mas apenas a forma como a doutrina foi apresentada, a luz lançada sobre aquela que pro duziu este sentido. A. H. S trong , Chríst in Creation, 146 - “Por isso, quando nos encaminhamos para o evangelho de João, encontramos nele tão somen te o desdobramento da verdade que substancialmente existiu no mundo nos últimos setenta a n o s .... S e a filosofia platonizante de Alexandria assistiu nes te desenvolvimento genuíno da doutrina cristã, então tal filosofia é um auxílio providencial à inspiração. O microscópio não inventa; ele só descobre. Paulo e João nada acrescentam à verdade de Cristo; o seu instrumental filosófico é apenas um microscópio que aclara a visão da verdade já existente”. P fleiderer , Philos. Religion, 1.12 6 - “A concepção metafísica do Logos, imanente no mundo e ordenadora segundo a lei, estava cheia de conteúdo religioso e moral. Em Jesus o princípio cósmico da natureza tornou-se um princípio religioso de salvação”. K ilpatrick sustenta que H arnack ignora a autoconsciência de Jesus; não interpreta racionalmente o livro de Atos quan do menciona o primitivo culto a Jesus na igreja antes que a filosofia grega a tivesse influenciado; refere-se às peculiaridades intelectuais das concepções dos escritores do N.T. nas quais Paulo insiste tão somente na fé de todo o povo cristão como tal; esquece a idéia da união com Deus garantida através da obra expiatória e reconciliadora do Redentor pessoal que transcende totalmente ao pensamento grego e fornece a solução para o problema em que a sua filosofia sem fundamento tateia. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 249 e) A pesar de que M arcos nada diz sobre o nascim ento virginal porque sua história se lim ita ao que os apóstolos testem unharam dos feitos de Jesus, M ateus parece dar-nos a história de José e Lucas dá a história de M aria am bas naturalm ente publicadas só depois d a ressurreição de Jesus. f) O m aior entendim ento da doutrina depois da m orte de Cristo foi predito pelo próprio Nosso Senhor (Jo. 16.12). O Espírito Santo deveria trazer à m em ó ria os seus ensinos e transm itir a todos a verdade (16.13) e os apóstolos deve riam continuar a obra do ensino que ele com eçou. João 16.12,13 - “Ainda tenho muito que vos dizer, mas não o podeis supor tar agora. Mas, quando vier aqueie Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade”; At. 1.1 - “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar”. A. H. S trong , Christ in Creation, 1 4 6 - “Que o discípulo amado, depois de meio século de meditação sobre o que tinha visto e ouvido de Deus manifesto em carne teria penetrado mais profundamente no sentido daquela maravilhosa revelação não apenas deixa de surpreender; é precisamente o que o próprio Jesus predisse. O nos so Senhor tinha muitas coisas a dizer aos seus discípulos, mas naquele tem po eles não estavam preparados para ouvi-las. Ele prometeu que o Espírito Santo traria à memória deles tanto a sua própria pessoa como as suas pala vras e os conduziria em toda a verdade. E aí está todo o segredo do que se chama acréscimo ao cristianismo original. Até onde elas estão contidas na Escritura, são descobertas e desdobramentos, não especulações e inven ções. Não são adições, mas elucidações, não vãs imaginações, mas inter pretações corretas. ... Quando mais tarde a teologia, então, lança fora o sobrenatural e o dogmático, como se não viessem de Jesus, mas das epísto las de Paulo e do quarto evangelho, o nosso argumento é que Paulo e João não só são inspirados e são, com autoridade, intérpretes de Jesus, vendo eles mesmos e fazendo-nos ver a plenitude da divindade que habita nele”. Enquanto H arnack , a nosso juízo, erra em seu ponto de vista de que Paulo contribuiu para os elementos do evangelho o qual ele mesmo originariamente não possuía, mostrou-nos bem claramente muitos dos elementos que ele foi o primeiro a reconhecer. Em sua Wesen des Christenthums, 111, ele nos con ta que há poucos anos um célebre teólogo protestante declarou que Paulo, com sua teologia rabínica, era um destruidor da religião cristã. Outros o têm considerado como fundador dessa religião. Mas a maioria o tem visto como o apóstolo que melhor entendeu o seu Senhor e fez o máximo para continuar a sua obra. H arnack sustenta que Paulo, logo no começo, compreendeu de um modo definido o evangelho: 1) como uma redenção completa e uma salvação presente - o Cristo crucificado e ressurrecto propiciando acesso a Deus e com isso justiça e paz; 2) como algo novo que afasta da lei a religião; 3) significativo para todos e, conseqüentemente, também para os gentios, na verdade, substituindo o judaísmo; 4) expresso não simplesmente em termos gregos, mas também humanos, Paulo tornou o evangelho compreensível ao mundo. O islamismo, que surgiu na Arábia, ainda é uma religião árabe. O budismo continua a ser uma religião Hindu. O cristianismo existe em todas 250 A ugustus H opkins Strong as terras. Paulo deu uma nova vida ao império romano e inaugurou a cultura cristã no Ocidente. Ele transformou a religião local em universal. Contudo, segundo H arnack , a sua influência tendia para a indevida exaltação da orga nização e do dogma e da inspiração do A.T. - pontos nos quais, a nosso ver, Paulo assumiu uma base sóbria e salvou a verdade cristã para o mundo. 2. G enuinidade dos L ivros do Velho Testamento Porque quase m etade do Velho Testam ento é de autoria anônim a e alguns de seus livros podem ser atribuídos a caracteres históricos definidos por clas sificação conveniente ou personificação literária, para nós genuinidade é honestidade de propósito e liberdade de qualquer coisa falsa ou intencional m ente enganosa a respeito da época ou autoria dos docum entos. M ostram os a genuinidade dos livros do Velho Testam ento: a) A partir do testem unho do N ovo Testam ento, no qual, a não ser seis, citam -se ou faz-se alusão a todos os livros do Velho Testamento como genuínos. O N.T. mostra coincidências na linguagem com os livros Apócrifos do A.T., mas contém só uma citação direta deles; enquanto, exceto Juizes, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Ester, Esdras e Neemias, cada livro do cânon hebraico é empregado ou para ilustração, ou para prova. A única citação do Apócrifo se encontra em Jd. 14 e, com toda a probabilidade, extraída do livro de Enoque. Embora V olkmar date este livro de 132 A.D. e, embora alguns críticos sustentem que Judas tenha citado só a tradição primitiva da qual o autor do livro de Enoque fez uso mais tarde, o peso da erudição moderna se inclina para a opinião de que o mesmo livro foi escrito, quando muito de 170-70 a.C., e que é dele que Judas faz citação; S anday, Bampton Lect. on Inspiration, 95 - “S e Paulo pôde citar poetas gentios (At. 17.28; Tt. 1.12), é difícil enten der por que Judas não poderia fazer o mesmo com uma obra que, sem dúvi da, estava no mais alto padrão entre os fiéis”; enquanto Jd. 14 nos dá a única e expressa citação de um livro Apócrifo, o mesmo livro, nos versos 6 e 9 contém alusões ao livro de Enoque e à Assunção de Moisés. Em Hb. 1.3, temos palavras extraídas de Sabedoria 7.26; e Hb. 11.34-38 é uma reminiscência de 1 Mc. b) A partir do testem unho das autoridades judaicas antigas e m odernas que declaram que os m esm os livros são sagrados, e só eles, que agora com preen dem as nossas Escrituras do Velho Testam ento. J osefo enumera vinte e dois destes livros “que, com justiça, gozam de crédito”. Nossa atual Bíblia Hebraica tem vinte e quatro; separa Rute de Jui zes e o livro de Lamentações do de Jeremias. F ilo (20 a.C.) nunca cita um livro Apócrifo, apesar de que ele cita quase todos os livros do A.T. G eorge A dam S mith , Modem Criticism and Preaching, 1 - “Os fatos não apoiam a teoria T e o l o g ia S is t e m á t ic a 251 que atribui o Cânon do A.T. a uma simples decisão da igreja judaica nos dias da sua inspiração. O desenvolvimento do Cânon do A.T. foi gradual. Virtual mente ele começou em 621 a.C. com a aceitação do livro de Deuteronômio por toda a tribo de Judá e a adoção da Lei, ou os cinco primeiros livros do A.T., com Neemias em 445 a.C. A seguir, vieram os profetas antes de 200 а.C. e os Hagiógrafos a partir de um ou dois séculos mais tarde. A definição estrita da última divisão não estava completa no tempo de Cristo. Ele parece dar testemunho da Lei, dos Profetas e dos Salmos; Nem Cristo, nem os seus apóstolos fazem qualquer citação de Esdras, Neemias, Ester, Cânticos dos Cânticos, ou Eclesiastes; este último ainda não era reconhecido por todas escolas judaicas. Porém, conquanto Cristo seja a principal autoridade sobre 0 A.T., ele também foi o seu primeiro crítico. Ele rejeitava algumas partes da Lei e era indiferente a muitas outras. Ampliou o sexto e o sétimo mandamen tos e reverteu o “olho por olho”, e a permissão do divórcio; tocou no leproso e considerou lícitos todos os alimentos; desprezou a observância literal do Sábado; não deixou nenhum mandamento a respeito do sacrifício, do culto no templo, circuncisão, mas, através da instituição da Nova Aliança ab-rogou estes sacramentos da Velha. Os apóstolos apelaram para os escritos não canônicos”. G ladden, Seven Puzzling Bible Books, 68 -9 6 - “Surgiram dúvidas na época do nosso Senhor quanto à canonicidade de várias partes do A.T., especialmente Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e Ester”. c ) A partir do testem unho da tradução da Septuaginta, que data da prim eira m etade do terceiro século ou de 280 a 180 a.C. Os manuscritos da Septuaginta contêm, na verdade, os Apócrifos do A.T., mas os escritores destes não reconhecem a sua própria obra como perten cente ao nível das Escrituras, que consideram distintos de todos outros livros (Eclesiástico, prólogo, e 48.24; tb. 24.23,27; 1 Mc. 12.9; 2 Mc. 6.23; 1 Ed. 1.28; б.1; Br. 2.21) Assim também os antigos e modernos judeus. No prólogo ao livro apócrifo de Eclesiástico lê-se “a Lei e os profetas e os demais livros”, o que mostra que até 130 a.C., data provável de Eclesiástico, reconhecia-se uma tríplice divisão dos livros judaicos sagrados. Contudo, a partir desta afir mação de que o avô de Jesus também escreveu, parece evidente que o autor não concebia tais livros como se eles constituíssem um cânon completo. 1 Mc. 12.9 (80-90 a.C.) fala dos “livros sagrados que estão agora em nossas mãos”. Hastings’ Bible Dictionary, 3.611 - “O A.T. foi o resultado de um pro cesso gradual que começou com a sanção do Hexateuco por Esdras e Nee mias e praticamente encerrou com as decisões do Concilio de Jâmnia” - Jâmnia é a antiga Jabne, 7 milhas ao sul do lado ocidental de Tiberíades, onde se reuniu um concilio de rabinos ao mesmo tempo entre 90 e 118 A.D. Tal Con cilio decidiu em favor de Cântico dos Cânticos e Eclesiastes e encerrou o cânon do A.T.. J osefo diz que a versão grega do Pentateuco que faz parte da Septuagin ta foi feita no reinado de Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, por volta de 270 ou 280 a.C., e por sua ordem. “A lenda diz que foi feita por setenta e duas pessoas em setenta e dois dias. Contudo, críticos modernos supõem que esta versão 252 A ugustus H opkins Strong dos vários livros é obra não de diferentes mãos, mas de épocas separadas. É provável que, a princípio, só o Pentateuco, tivesse sido traduzido e os demais livros gradualmente; mas crê-se que a tradução foi completada no segundo século a.C.” (Century Dictionary in vocé). Por isso fornece importan te testemunha sobre a genuinidade dos nossos documentos do A.T. D river , Introd. to O. T. Lit., xxxi - “A opinião, freqüentemente encontrada nos livros modernos, de que o cânon do A.T. foi encerrado por Esdras ou na sua época, não tem nenhum fundamento na antigüidade. Tudo o que pode ser tratado como histórico nos relatos dos trabalhos literários de Esdras limita-se à Lei”. d) A partir das indicações de que logo depois do exílio e recuando aos tem pos de Esdras e N eem ias (500-450 a.C.), o Pentateuco juntam ente com o livro de Josué não só existia m as era considerado possuidor de autoridade. 2 Mc. 2 .13 -15 indica que Neemias fundou uma biblioteca e há uma tradi ção de que uma “Grande Sinagoga” se reuniu nessa época para determinar o Cânon. Mas o Hastings, Dictionary, 4.644, afirma que “a Grande Sinagoga originariamente não era uma instituição, mas uma reunião. Reuniu-se de uma vez por todas e, tudo o que se diz a esse respeito, salvo o que lemos em Neemias, mais tarde, é pura fábula dos judeus”. De igual modo não se deve causar dependência da tradição de que Esdras miraculosamente restaurou as antigas Escrituras que se perderam durante o exílio. Clemente de Alexan dria diz: “Visto que as Escrituras desapareceram no cativeiro de Nabucodonosor, Esdras (forma grega de Ezra) o Levita, o sacerdote, no tempo de Artaxerxes, rei dos persas, tendo sido inspirado no exercício da profecia, restaurou novamente as Escrituras antigas por inteiro”. Porém a obra agora dividida em 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias, menciona Dario Codomano (Ne. 12.22), datado de 336 a.C. A máxima prova da tradição é que, cerca de 300 a.C., o Pentateuco, em certo sentido era atribuído a Moisés. e) A partir do testem unho do Pentateuco Sam aritano, que data do tem po de Esdras e Neem ias (500-450 a.C.). Os samaritanos foram trazidos de “Babel, e de Cuta, e de Ava, e de Hamate, e de Sefarvaim (2 Re. 17.6,24,26) pelo rei da Assíria, para apossar-se do lugar do povo de Israel que foi levado cativo para a sua própria terra. Os colonizadores trouxeram consigo os seus deuses pagãos, e as incursões de animais selvagens que a interrupção da lavoura ocasionou fez surgir a crença de que o Deus de Israel se opunha a eles. Por isso foi mandado um dos sacerdotes judeus cativos para ensinar-lhes “o costume do Deus da ter ra” e ele lhes ensinou como deviam temer ao Senhor (2 Re. 17.27,28). Como resultado eles adotaram o ritual judaico, mas combinaram o culto do Senhor com o das suas imagens de escultura (33). Quando os judeus voltaram da Babilônia e começaram a reconstruir os muros de Jerusalém, os samaritanos ofereceram-lhes auxílio, mas os judeus não o aceitaram (Ed. 4 e Ne. 4). Sur giu hostilidade entre judeus e samaritanos - que continuou não só na época T e o l o g ia S is t e m á t ic a 253 de Cristo, mas até os nossos dias. Visto que o Pentateuco Samaritano subs tancialmente coincide com o dos Hebreus, fornece-nos um passado definido no que de correto existe quase em sua forma presente. Ele testemunha a existência do nosso Pentateuco essencialmente em sua forma atual como no tempo de Esdras e Neemias. G reen , Higher Criticism of the Pentateuch, 44, 45 - “Depois de expulsos pelos judeus, os samaritanos, para substanciar a sua reivindicação de proce derem do antigo Israel, avidamente aceitaram o Pentateuco que lhes foi trazi do por um renegado sacerdote”. W. R obertson S mith, Encyclopaedia Brítannica, 21.244 - “A lei sacerdotal que se baseia totalmente na prática dos sacerdotes de Je ru sa lé m an terior ao cativeiro , red u ziu -se à form a ap ós o exílio, e Esdras publicou-a como a lei da reconstrução do Templo de Sião. Por isso os samaritanos devem ter derivado o seu Pentateuco dos judeus conforme as reformas de Esdras, /.e., após 4 4 4 a.C. . Antes disso, o samaritanismo não pode ter existido formalmente em tudo, ao que sabemos; mas houve uma comunidade pronta a aceitar o Pentateuco”. f) A partir da descoberta do “livro da lei” no tem plo, no ano dezoito do rei Josias, ou em 621 a.C. 2 Re. 22.8 - “Então, o sumo sacerdote Hilquias disse ao escrivão Safã: Achei o livro da Lei na Casa do Senhor”. 23.2 - “ O livro do concerto” foi lido diante do povo pelo rei, que o proclamou ser a lei da terra. C urtis , Hastings’ Bible Dict., 3.596 - “O mais antigo escrito da Lei ou livro de instrução divina de que ou de cuja ordem se tem um autêntico relato, é Deuteronômio ou sua principal parte representada como encontrada no templo no ano 18 do rei Josias (621 a.C.) e proclamada pelo rei como a lei da terra. Daí em diante Israel teve a lei escrita que ao crente piedoso se determinava observasse de dia e de noite (Js 1.8; SI. 1.2); e deste modo a Tora, como literatura sagrada, começava em Israel. A lei tinha como objetivo a aplicação correta dos princí pios mosaicos”. R yle , Hastings’ Bible Dict. 1.602 - A lei do Deuteronômio representa uma ampliação e desenvolvimento do antigo código contido em Ex. 20-23 e precede a formulação final do rito sacerdotal que só recebeu sua última forma no último período da revisão da estrutura do Pentateuco”. A ndrew H arper , sobre Deuteronômio, em Expositor’s Bible: “Deuteronô mio não reivindica ter sido escrito por Moisés. Fala-se dele na terceira pessoa na introdução e na estrutura histórica, conquanto as palavras de Moisés este jam na primeira. Nas partes onde o autor fala por si mesmo, a expressão ‘além do Jordão’ significa o ocidente do referido rio; a única exceção encontra-se em Dt. 3.8, que não pode originariamente ter sido parte da fala de Moisés. Porém o estilo de ambas as partes é o mesmo e, se as partes que estão na terceira pessoa são de um autor tardio, as que estão na primeira também o são. Ambas diferem dos outros discursos de Moisés no Pentateu co. Pode o autor ser um escritor contemporâneo que escreve as palavras de Moisés como João apresentou as de Jesu s? Não, porque Deuteronômio com preende apenas o livro da aliança, em Ex. 20-23. Ele emprega o JE, mas não o P, com o qual o JE se acha entrelaçado. Mas o JE aparece em Josué 254 Augustus H opkins Strong e contribui com ele um relato da morte de Josué. JE fala dos reis de Israel (Gn. 36.31-39). Deuteronômio nitidamente pertence aos primeiros séculos do reino, ou à metade dele”. B acon , Genesis of Genesis, 43-49 - “A lei no Deuteronômio era tão curta que Safã pôde lê-la em voz alta diante do rei (2 Re. 2.10) e o rei pôde lê-la toda diante do povo (23.2); compare a leitura do Pentateuco por uma semana inteira (Ne. 8.2-18). Foi na forma de aliança; difere por causa das maldições; era uma expansão e modificação de uma Tora de Moisés, totalmente dentro da legítima província do profeta, codificada a partir da forma tradicional de pelo menos um século antes. Essa Tora existente foi atribuída a Moisés e agora acha-se incorporada como “o livro do concerto” (Ex. 24.7). Por isso o ano de 620 é o terminus a quo de Deuteronômio. A data do código sacerdotal é 444 a.C”. S anday, Bampton Lectures, 1893, admite “1) a presença de um considerável elemento no Pentateuco que, em sua presente forma, muitos defendem ser mais antiga que o cativeiro; 2) a composição do livro de Deute ronômio, não faz tempo, ou não faz muito tempo antes da sua promulgação pelo rei Josias em 621, que deste modo se torna a data pivô na história da literatura hebraica”. g) A partir das referências nos profetas Oséias (743-737 a.C.) e Amós (759745) a um curso do ensino e revelação divinos estendendo-se até os dias deles. Os. 8.12 - “Escrevi para eies as grandezas da minha lei”; afirma-se aqui não só a existência de uma lei anterior ao profeta, mas de uma lei escrita. Todos os críticos admitem que o livro de Oséias é uma produção genuína do profeta, a qual data do seu oitavo século a.C. Am. 2.4 - “rejeitaram a lei do Senhor e não guardaram os seus estatutos”; eis uma prova de que, mais de um século antes do descobrimento de Deuteronômio no templo, Israel conhe cia a lei de Deus. F isher , Nature and Method of Revelation, 26,27 - “O eleva do plano encontrado pelos profetas não se encontrou num só limite. ... Deve ter havido uma raiz que se estendia pela terra”. K urtz assinala que “os mais tardios livros do A.T. seriam uma árvore sem raízes se a composição do Pen tateuco fosse transferida para um período mais tardio na história hebraica”. Se à palavra ‘Pentateuco’ substituirmos as palavras ‘Livro do concerto’, con cordaremos com as palavras de K urtz . Há evidência suficiente de que, antes de Oséias e Amós, Israel possuía uma lei escrita-com preendida em Ex. 20-24 - mas o Pentateuco, como o conhecemos hoje, incluindo Levítico, parece não datar de muito antes de Jeremias, 445 AC. A lei levítica, contudo, foi tão somente a codificação dos estatutos e costumes cuja origem é bem anterior e que se crê ser a expansão natural dos princípios da legislação mosaica. L eathes , Structure of O.T., 5 4 - “O zelo pela restauração do templo após o exílio implica que bem antes ele tinha sido o centro da política nacional, que havia um rito e uma lei antes do exílio”. Present Day Tracts, 3.52 - As institui ções levíticas não podiam ter sido estabelecidas por Davi. É inconcebível que ele “pudesse ter tomado uma tribo inteira e não sobrasse nenhum traço de tão revolucionária medida como o seqüestro das suas propriedades para fazêlos ministros religiosos”. J ames R obertson , Earty History of Israel: “A variada T e o l o g ia S is t e m á t ic a 255 literatura de 850-750 a.C. implica a existência da leitura e escrita há bom tempo. Amós e Oséias sustentam no período pós-mosaico o mesmo esque ma da história que os críticos modernos declaram não ser históricos, mas tardios. O século oitavo a.C. foi um período grandemente histórico quando Israel teve um relato a dar de si mesmo e da sua história. Os críticos apelam para os profetas, mas os rejeitam quando estes dizem que outros mestres ensinaram a mesma verdade antes deles e quando declaram que a sua nação recebeu o ensino de uma religião melhor e abriu mão dele, isto é, que tinha havido lei muito antes daquela época. Os reis não legislaram. Os sacer dotes propuseram-na. Deve ter havido um sistema de leis mais antigo do que admitem os críticos e também uma referência mais antiga ao seu culto, aos grandes eventos que fizeram deles um povo separado”. D illman recua mais e declara que Moisés pressupõe “um estágio preparatório da mais elevada religião em Abraão”. h) A partir das repetidas declarações da E scritura de que o próprio M oisés escreveu um a lei para o seu povo confirm adas pela evidência da atividade literária e legislativa em outras nações bem antes dessa época. Ex 24.4 - “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor”; 34.27 - “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme o teor destas palavras tenho feito um concerto contigo e com Israel; Nm. 33.2 “E escreveu Moisés as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme o mandado do Senhor”; Dt. 3 1.9 - “E Moisés escreveu esta lei e a deu aos sacerdotes, aos filhos de Levi, que levaram a arca do concerto do Senhor, e a todos os anciãos de Israel”; 22 - “Assim Moisés escreveu este cântico naque le dia e o ensinou aos filhos de Israel”; 24-26 - “E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras desta Lei num livro, até de todo as acabar, deu ordem Moisés aos levitas que levassem a arca do concerto do Senhor, dizendo: Tomai este livro da Lei e ponde-o ao lado da arca do concerto do Senhor, vosso Deus para que ali esteja por testemunha contra ti”. É possível que a Lei aqui mencionada seja só “o livro do concerto" (Ex. 20-24) e os discursos de Moisés em Deuteronômio tenham sido transmitidos oralmente. Mas o fato de que Moisés era “instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (At. 7.22), juntamente com o fato de que a arte de escrever já era conhecida no Egito por muitas centenas de anos antes dele, torna mais provável que a maior porção do Pentateuco era de sua composição. K eyon , Hastings’ Dict., artigo: Escrita, data os Provérbios de Ptah-hotep, a primeira composição registrada no Egito, de 3580-3586 a.C. e afirma o livre emprego da escrita entre os habitantes sumerianos da Babilônia tão antigos como 4000 a.C. Os estatutos de Hamurábi, rei da Babilônia, comparam-se por extensão aos de Levítico, embora datem do tempo de Abraão, 2 200 a.C.; na verdade, Hamurábi é agora considerado por muitos como o Anrafel de Gn. 14.1. Contudo, tais estatutos antedatam Moisés em setecentos anos. É interessante observar que Hamurábi professa ter recebido seus estatutos diretamente do deus Sol de Sipar sua cidade capital. K elso , Princeton Theol. Rev., juI., 1905.399-412 - Fatos “autenticam a data tradicional do livro do 256 A ugustus H opkins Strong concerto, lançam a fórmula profetas e lei, restauram a veiha Lei e Profetas e põem em perspectiva histórica a tradição de que Moisés foi o autor da legisla ção sinaítica”. C om o a controvérsia com relação à genuinidade dos livros do Velho Testa m ento vieram com as reivindicações da m ais alta crítica em geral e do Penta teuco em particular reunim os notas separadas sobre estes assuntos. A Alta Crítica em Geral. Alta Crítica não significa a critica em qualquer sentido insidioso, do mesmo modo que a Crítica da Razão Pura de Kant tam bém não era um exame desfavorável ou destrutivo. É tão somente uma inves tigação desapaixonada da autoria, data e propósito dos livros da Escritura à luz da sua composição, estilo, e caraterísticas internas. Como a Baixa Crítica, a Alta é uma crítica de estrutura. Um ilustre francês descreveu a crítica literá ria como alguém que destrói uma boneca para obter a serragem que há den tro dela. Isto pode ser feito com espírito cético ou hostii e pode haver pouca dúvida de que algumas das mais elevadas críticas do A.T. tenham iniciado os seus estudos com predisposição contra o sobrenatural, o que tem viciado todas as conclusões. Tais pressuposições são freqüentemente inconscien tes, mas nenhuma menos influente. Quando o Bispo Colenso examinou o Pentateuco e Josué, descartou qualquer intenção de atacar a narrativa mira culosa como tal; é como se ele tivesse dito: “meu querido peixinho, você não precisa ter medo de mim; eu não quero capturá-lo; eu só pretendo esgotar a água em que você vive”. Para muitos eruditos as águas parecem muito vaga rosas no Hexateuco e, na verdade, em todo o A.T. S hakespeare fez mais: incorporou muitas das velhas crônicas de P lutarco e H olinshed e muitos contos italianos e tragédias antigas de outros escritores; mas P éricles e T ito A ndrônico ainda são tidos como de S hakespeare . Ainda agora falamos da “Gramática Hebraica de Gesênius”, apesar de que, das suas vinte e sete edições, catorze foram publicadas após a sua morte. Fala mos do “Dicionário de Webstei", embora haja no seu todo milhares de pala vras e definições que W ebster nunca viu. F rancis B rown : “Um escritor moder no domina mais velhos registros e escreve um livro totalmente novo. O mesmo não acontece com os historiadores orientais. O que veio por ultimo, diz R enan, ‘absorve os seus antecessores sem assimilá-los, de sorte que os mais recen tes têm em seus fragmentos as obras anteriores num estado rudimentar’. O Diatessarão de T aciano é paralelo à estrutura composta dos livros do A.T. Uma passagem desenvolve as seguintes: Mt. 21.12a, Jo. 21.12a; Mt. 21.12b; Jo. 12.14b, 15; Mt. 21 12c, 13; Jo. 12.16; Mc. 11.16; Jo. 2.17-22; todos sucedem-se sem quebra”. G o re , L ux Mundi, 353 - “Nada há materialmente inverídico, embora haja algo acrítico a atribuir a toda a legislação, ao atribuí-la toda a Moisés agindo sob o mando divino. Apenas uma parte da coleção dos Sal mos proveio de Davi e o mesmo acontece com os Provérbios de Salomão”. Os opositores da Alta Crítica têm muito a dizer como réplica. S ayce, Early H istoryofthe Hebrews, sustenta que os primeiros capítulos de Gênesis foram copiados de fontes babilônicas, mas insiste em data mosaica ou pré-mosaica da sua cópia. H ilprecht , contudo, declara que a fé monoteísta de Israel nunca T e o l o g ia S is t e m á t ic a 257 podia proceder “da babilônica montanha de deuses - do mausoléu cheio de corrupção e de ossos humanos”. B issell, Genesis Printed in Colors, Introd., iv - “É improvável que tantas histórias documentares existissem há tanto tempo e que, existindo, o compilador tivesse tentado combiná-las. É estranho que o mais antigo fosse J e que fosse empregada a palavra ‘Yahweh’ enquanto mais tarde P empregasse ‘Elohim’, quando ‘Yahweh’ seria mais adequado ao Código Sacerdotal.... xiii - As tábuas babilônicas contêm numa narrativa con tínua os mais proeminentes fatos das alegadas seções eloístas, como os jeovistas de Gênesis e os apresentam especialmente na ordem bíblica. Várias centenas de anos antes de Moisés o que os críticos chamam dois fosse um. É um absurdo dizer que a unidade se deve a um redator do período do exílio em 444 a.C. Aquele que crê que Deus se revela ao homem primitivo como um Deus, verá na história acadiana uma corrupção politeísta da monoteísta origi nal”. Não devemos avaliar a antigüidade de um par de botas pelo remendo que o sapateiro acrescentou; nem devemos avaliar a antigüidade de um livro da Escritura pelas glosas e explicações posteriormente acrescidas pelos edi tores. O London Spectator assinala sobre o problema homérico: “É impossí vel que um poema, ou obra de arte, de primeiro nível se produza sem a mente de um grande mestre que, a princípio, concebe o todo como um refinado touro vivo se desenvolve a partir de salsichas de boi”. A seguir, veremos ainda que estes pronunciamentos atribuem valor elevado à unidade do Pentateuco e ignoram algumas evidências marcantes do seu desenvolvimento gradual e de sua estrutura composta. A Autoria do Pentateuco em particular. Recentes críticos, especialmente K uenen e R obertson S mith , têm sustentado que o Pentateuco é mosaico só no sentido de ser um agrupamento da lei tradicional em desenvolvimento gra dual, que foi codificado, quando muito tarde, no tempo de Ezequiel e, com o desenvolvimento do espírito e ensino do grande legislador, recebeu por ficção legal o nome de Moisés que lhe foi atribuído. Por isso, a verdadeira ordem da composição é: 1) O Livro do Concerto (Ex. 20-23); 2) Deuteronô mio; 3) Levítico. Entre as razões atribuídas a este ponto de vista estão os fatos: a) que Deuteronômio termina com o relato da morte de Moisés e, por isso, não podia ter sido escrito por ele; b) que os levitas, no livro de Levítico, são meros servos dos sacerdotes enquanto em Deuteronômio os sacerdotes são os levitas em exercício; isto é, todos os levitas são sacerdotes; c) que os livros de Juizes e 1 Samuel com o seu registro de sacrifícios oferecidos em muitos lugares não apresentam nenhuma evidência de que Samuel ou a nação de Israel tivesse qualquer conhecimento de uma lei que limitasse o culto a um santuário local. Em resposta tem-se argumentado 1) que Moisés pode ter escrito não em forma autobiográfica, mas, através de um escriba (talvez Josué) e que este pode ter completado a história em Deuteronômio com o relato da história de Moisés; 2) que Esdras ou os profetas que lhe sucederam podem ter sujeitado o Pentateuco a uma recensão e acrescentado notas explicativas; 3) que os documentos de épocas anteriores podem ter sido incorporados, durante a sua composição por Moisés, ou subseqüentemente por seus sucessores; 4) que a aparente falta de distinção entre as diferentes classes de levitas em Deuteronômio podem ser explicadas pelo fato de que, conquanto Levítico foi 258 A ugustus H opkins Strong escrito com pormenor exato para os sacerdotes, Deuteronômio é o registro de um sumário geral e a orla da lei dirigido ao povo em geral e, por isso, naturalmente menciona o clero como um todo; 5) que o silêncio do livro de Juizes quanto ao ritual mosaico pode ser explicado pelo propósito do livro de contar apenas a história geral e pela probabilidade de que, no tabernáculo, observava-se um ritual que o povo em geral ignorava. Os sacrifícios em outras partes acompanhavam apenas as manifestações divinas especiais que tornavam o destinatário temporariamente um sacerdote. Ainda que se pro vasse que a lei relativa a um santuário central não fosse observada não mos traria a não existência da lei, nem que a violação do segundo mandamento por Salomão prova sua ignorância do decálogo ou a negligência medieval do N.T. pela Igreja Romana prova que o N.T. não existia. Não podemos argu mentar que “onde não havia transgressão não havia lei” (W atts, New Apologetic, 83 e a The Newer Cristicism). À luz de recente pesquisa, contudo, não podemos considerar satisfatórias estas respostas. W oods , em seu artigo sobre o Hexateuco, Hastings’ Dict., 2.365, apresenta uma declaração moderada dos resultados da alta crítica que se nos recomenda como mais fidedigna. Ele a chama de teoria da estratificação e sustenta que “alguns documentos mais ou menos independentes que tratam da mesma série de eventos foram compostos em diferentes perío dos ou diferentes auspícios e mais tarde combinados de modo que o nosso atual Hexateuco, que nada mais é que o Pentateuco + Josué, contém estes vários estratos literários diferentes. ... Eis as principais bases para que se aceite a hipótese da estratificação: 1) que as várias peças literárias, com pou cas exceções, encontram-se para exame para arranjo através das caraterísticas comuns em grupos relativamente pequenos; 2) que uma consecução original da narrativa pode freqüentemente ser traçada entre o que, na sua presente forma são os fragmentos isolados. Pode-se entender melhor isto através da seguinte ilustração. Suponha mos um problema deste tipo: Dada uma colcha de retalhos, aplique o caráter das peças originais de que foram feitos os retalhos. Notamos em primeiro lugar que, conquanto as cores bem podem mesclar-se, embora possam for mar um todo bonito e completo, muitas das peças não são do mesmo mate rial, da mesma textura, do mesmo padrão, cor etc. Ergo (logo, portanto), elas foram feitas de peças de estofo bem diferente. ... Mas suponhamos que mais tarde cheguemos a descobrir que muitos dos retalhos, embora agora separa dos, são sem elhantes uns aos outros quanto ao material, textura, etc., podemos conjeturar que estes foram cortados de uma única peça. Porém provaremos isto além de qualquer dúvida razoável, se encontrarmos diver sos retalhos, quando não os unirmos, de modo que o padrão de um seja a continuação de outro; e ainda mais, se todos os de igual tipo formam, por assim dizer, quatro grupos; cada um dos quais foi anteriormente uma peça do estofo, embora as peças de cada um estejam em falta, porque, sem dúvida, não se exigiu que cada qual form asse o todo. Mas estreitaremos mais a analogia do Hexateuco se supusermos que, em certas partes, a col cha de retalhos que pertence, digamos, a dois destes grupos combina a tal ponto que forme um padrão subsidiário dentro de um padrão maior da colcha inteira; evidentemente foram costuradas umas das suas partes às outras; T e o l o g ia S is t e m á t ic a 259 podemos estreitar mais se supusermos que, além dos retalhos mais impor tantes, acrescentaram-se outros menores enfeites, bordados, etc. a fim de melhorar o efeito do todo”. Em seguida, o autor deste artigo assinala três partes do Hexateuco que diferem essencialmente entre si. Há três códigos distintos: o do Concerto (C = Ex. 20.22-23.33 e 24.3-8), o do Deuteronômio (D) e o Sacerdotal (P) (= do Inglês Priest). Tais códigos relacionam-se peculiarmente com a narrativa do Hexateuco. Por exemplo, em Gênesis, “a grande parte do livro divide-se em grupos de maiores ou menores pedaços, em geral parágrafos ou capítulos que se distinguem, respectivamente, pelo emprego exclusivo de Elohim ou de Yahweh como o nosso Deus”. Chamemos tais porções de J e E. Porém encontraremos tão estreitas afinidades entre C e JE que podemos conside rá-los substancialmente um. Veremos que a parte maior das narrativas, diferentemente das leis de Êxodo e de Números pertencem a JE, enquanto, com exceções especiais, as porções legais pertencem a P. Nos últimos capítulos de Deuteronômio e em todo o livro de Juizes encontramos ele mentos do JE. Neste livro encontramos também elementos que estão em conexão com D. “Convém observar que não encontramos aqui e ali trechos separados no Hexateuco, que, pelos seus caracteres, pertencem a estas três fontes, JE, D e P, mas trechos que apresentarão freqüentemente conexão através de uma óbvia continuidade do assunto quando reunidos a pedaços de remendos na mencionada ilustração. Por exemplo: Selerm ossem parar Gn. 11.17-32; 12.4b, 5; 13.6a, 11b, 12e; 16.1a, 3, 15 16; 17; 19.29; 2 1.1a, 2b-5; 23; 25.7-11a passagens principalmente com outras bases atribuídas a P, obteremos um quase contínuo e completo, apesar de muito conciso, relato da vida de Abraão”. Podemos admitir a substancial correção do ponto de vista assim proposto. Isto simplesmente mostra o verdadeiro método de D fazer o registro da sua revelação. Podemos acrescentar que qualquer erudito que admita que Moi sés não escreveu o relato da sua morte e sepultamento no último capítulo de Deuteronômio ou que reconheçam dois relatos diferentes da criação em Gênesis caps. 1 e 2 já começaram uma análise do Pentateuco e aceitaram os princípios essenciais da alta crítica. II. CREDIBILIDADE DOS ESCRITORES DA BÍBLIA Tentarem os provar isto apenas sobre os escritores dos evangelhos; pois, se eles são testem unhas dignas de crédito, a credibilidade do Velho Testamento, de que eles dão testem unho, vem com o conseqüência. 1. Eles são testemunhas capazes ou competentes, isto é, possuem real conhecim ento relativo aos fatos que professam , d) Tiveram oportunidade de observar e inquirir, b) Eram hom ens sóbrios e de discernim ento e não podiam por si m esm os ser enganados, c) As circunstâncias eram tais que os eventos de que eles testem unhavam im pressionavam de m odo profundo as suas mentes. 260 A ugustus H opkins Strong 2. Eles são testemunhas honestas. Isto é evidente ao considerar que: a) Seu testem unho não põe em perigo os interesses terrenos, b) A elevação m oral de seus escritos e a sua m anifesta reverência pela verdade e pelo seu constante inculcar relativo m ostra que eles não eram enganadores intencionais, mas hom ens de bem . c) H á indicações m enores da honestidade destes escritores no elem ento circunstancial de sua narrativa, na ausência de expectação de que elas seriam questionadas na sua liberdade de toda a disposição de protegê-las ou proteger os apóstolos de qualquer censura. 3. Os escritos dos evangelistas recíproca e simultaneamente apoiam-se. A presentam os sua credibilidade com base no núm ero e consistência do seu testem unho. C onquanto haja suficiente discrepância ao m ostrar que não tem havido conluio entre eles, há concorrência bastante para tornar a falsidade deles todos infinitam ente im provável. Q uatro pontos sob este tópico m erecem m enção: a ) Os evangelistas são testem unhas independentes. Isto suficiente m ente se dem onstra nas tentativas de provar que qualquer um deles abreviou ou transcreveu o outro, b) As discrepâncias entre eles não são nada irreconciliáveis com a verdade dos fatos registrados, mas só apresentam os fatos sob novas luzes ou com porm enor adicional, c) O fato de que estas testem unhas eram am igas de C risto não dim inui o valor de seu depoim ento unido, visto que seguiram Cristo só porque estavam convencidas de que os fatos eram verda deiros. d) C onquanto um a testem unha dos fatos do cristianism o podia estabe lecer sua verdade, a evidência com binada das quatro testem unhas nos dá garantia pela fé nos fatos do evangelho tal com o não possuím os de nenhum outro fato na historia antiga qualquer que seja. A m esm a regra que recusa a crença nos eventos registrados nos evangelhos “lançaria dúvida sobre qual quer evento na história” . Ninguém assina ou pode assinar duas vezes precisamente do mesmo modo. Por isso, quando duas assinaturas apostas pela mesma pessoa, são precisamente iguais, conclui-se com segurança que uma delas é falsa. Com pare o testemunho combinado dos evangelistas com o dos nossos cinco sen tidos. “Admitamos”, diz o D r . C. E. R ider, “que as possibilidades de equívoco sejam de um décimo, quando empregamos só os nossos olhos, um vigésimo, quando empregamos só os nossos ouvidos, um quarenta avos só o tato; quais serão elas, se empregarmos todos ao mesmo tempo? O verdadeiro resultado se obtém multiplicando estas proporções. Isto resulta um para oito mil”. 4. Conformidade do testemunho do evangelho com a experiência. Já m os tram os que, aceitando a realidade do pecado e a necessidade de um a atestada revelação de Deus, os m ilagres não podem fornecer pressuposição algum a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 261 contra o testem unho dos que registram tal revelação, m as com o essencialm en te pertencem a tal revelação, os m ilagres podem ser provados pelo m esm o tipo e grau de evidência com o se requer na prova de qualquer fato extraordinário. Podemos declarar, então, que nas histórias do N ovo Testamento não há nenhum registro de fatos não testem unhados na experiência com um - nos quais, por tanto, podem os crer se a evidência em outros respeitos é suficiente. 5. Coincidência deste testemunho com os fatos e circunstâncias colaterais. Sob este tópico podem os fazer referência a ) às inúm eras correspondências entre as narrativas dos evangelistas e a história contem porânea; b) o insucesso de cada tentativa longe de m ostrar que a história sagrada é contraditada por qualquer sim ples fato derivado de outras fontes; c) a infinita im probabilidade de que esta pequena e incom pleta harm onia sem pre deve ter sido assegurada em narrativas fictícias. 6. Conclusão a partir do argumento para a credibilidade dos escritores dos evangelhos. Tendo sido provado que estes escritores são testem unhas dignas de crédito, suas narrativas, incluindo os relatos dos m ilagres e profecias de Cristo e de seus apóstolos devem ser aceitos com o verdadeiros. M as Deus não operaria m ilagres ou revelaria o futuro para atestar reivindicações de falsos m estres. C risto e seus apóstolos devem , portanto, ter sido o que eles reivindi cavam ser, m estres enviados por Deus e a sua doutrina, revelação de Deus aos homens. Nenhum apologista moderno apresenta o argumento para a credibilidade do N.T. com maior clareza e força do que Paley, Evidences, caps. 8-10 “Nenhum fato histórico é mais certo do que os primitivos propagadores do evangelho voluntariamente sujeitaram-se a viver em fadiga, perigo e sofri mento no prosseguimento da sua empreitada. A natureza do empreendimen to, o caráter das pessoas que nele se empenharam, a oposição dos seus princípios às expectações fixadas do país em que no início os impulsiona vam, sua indisfarçável condenação da religião dos outros países, sua total falta de poder, autoridade ou força tornam, no mais elevado grau, provável que este deve ter sido o caso. “A probabilidade aumenta quando conhecemos o destino do Fundador da instituição, o qual foi morto por atentado e pelo que também sabemos do cruel tratamento dos convertidos à instituição trinta anos após o seu início ambos pontos atestados pelos escritores pagãos e, uma vez admitidos, acha mos incrível que os primeiros emissários da religião, que exerciam seu minis tério entre os que tinham destruído o seu Mestre, e mais tarde entre os que perseguiram os convertidos, sairiam impunes ou continuariam no propósito tranqüilos e seguros. 262 A ugustus H opkins Strong “Tal probabilidade defendida pelo testemunho estrangeiro, evolui, penso eu, para a certeza histórica através da evidência dos nossos próprios livros, através dos relatos de um escritor que foi companheiro de pessoas cujos sofrimentos ele relata, pelas cartas das próprias pessoas, através de predições das perseguições atribuídas ao Fundador da religião, que as predições não seriam inseridas nesta história, muito menos os estudos se fixariam, se não estivessem de acordo com o evento e que, mesmo que falsamente atri buídas a ele, só poderiam sê-lo porque o evento as sugeria; por fim, através de incessantes exortações ao fortalecimento e à paciência e por seriedade a repetição e urgência sobre o assunto que deveria diferentemente ter apareci do se não tivesse havido naquela época alguma chamada extraordinária para o exercício de tais virtudes. Escreveu-se, penso eu, com suficiente evidência que, tanto os mestres quanto os convertidos à religião em conseqüência da nova profissão seguiram um novo curso de vida e conduta.” “A questão seguinte é para que faziam isso. Era para uma história mira culosa do mesmo gênero, visto que para a prova de que o Jesus de Nazaré devia ser recebido como Messias, ou como mensageiro de Deus, eles nem tinham, nem podiam basear-se em qualquer coisa a não ser nos milagres. ... S e isto é assim, a religião deve ser verdadeira. Estes homens não podiam ser enganadores. Bastava não darem testemunho para que eles pudessem ter evitado todos estes sofrimentos e viver tranqüilamente. Homens em tais cir cunstâncias fingiriam ter visto o que nunca viram; afirmariam fatos de que não tinham conhecimento algum; andariam mentindo a fim de ensinar a virtude e, embora não só convencidos de que Cristo era um impostor, mas, tendo visto o sucesso da sua impostura na crucificação, ainda persistiam em trazer sobre si, por nada e, com pleno conhecimento das conseqüências, a inimizade, o ódio, o perigo e a morte?” Contudo, os que sustentam isto requerem que creiamos que os escritores da Bíblia eram “vilões cujo fim não era outro senão ensinar a honestidade, e mártires sem a mínima perspectiva de honra ou vantagem”. A impostura deve ter um motivo. A devoção própria dos apóstolos é a mais forte evidência da verdade, pois até mesmo Hume declara que “não podemos fazer uso de um argumento mais convincente em prova da honestidade do que provar que as ações atribuídas a quaisquer pessoas contrariam o curso da natureza e que nenhum motivo humano, em tais circunstâncias, poderia induzi-los a tal con duta”. III. O CARÁTER SOBRENATURAL DO ENSINO DA ESCRITURA 1. O ensino da E scritu ra em g e ra l A) A B íblia é obra de um a mente: a) Apesar da variedade da sua autoria e da grande separação de seus escritores ““ "“3 si no tempo, há um a unidade de assunto, espírito e objetivo em seu todo. Começamos aqui um novo departamento das evidências cristãs. Deste modo temos acrescentado apenas a evidência externa. Agora voltamos a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 263 nossa atenção para a evidência interna. A relação entre aquela e esta parece ser sugerida em duas perguntas de Cristo em Mc. 8.27,29 - “Quem dizem os homens que eu sou? ... quem dizeis que eu sou?” A unidade na variedade apresentada na Escritura é uma das principais evidências internas. Tal unida de está indicada na palavra “Bíblia”, no singular. Contudo, a palavra original era “Bíblia” no plural. O mundo passou a ver uma unidade no que outrora eram fragmentos: os muitos “bíblia" (livros) tornaram-se uma Bíblia. Num sen tido a controvérsia de R. W. E merson é verdadeira: “A Bíblia não é somente um livro”. Ela é formada de sessenta e seis, escritos por quarenta autores de todos os níveis: pastores, pescadores, sacerdotes, estadistas, reis, compon do suas obras num período de dezessete séculos. Evidentemente não é pos sível nenhum conluio entre eles. O ceticismo tende sempre a atribuir às Escri turas maior variedade de autoria e data, mas tudo isto aumenta a maravilha da unidade da Bíblia. S e é notável a unidade em meia dúzia de escritores, é de estarrecer o mesmo fato em se tratando de quarenta. Os bem diversos instrumentos desta orquestra executam uma música perfeita; por isso senti mos que eles são regidos por um maestro e compositor”. Contudo, o mesmo Espírito que inspirou a Bíblia ensina a sua unidade. A unidade não é exterior ou superficial, mas interior e espiritual. b) N enhum pronunciam ento m oral ou religioso de todos estes escritores foi contraditado ou derrotado pelos pronunciam entos dos que vieram mais tarde, m as todos constituem um sistem a consistente. Devemos aqui estabelecer a distinção entre a forma exterior e a substân cia moral e religiosa. Jesus declara em Mt. 5.21,22,27,28,33,34,38,39,43,44, “Ouvistes o que foi dito aos antigos ... eu porém vos digo” e, à primeira vista, parece que ele veio ab-rogar alguns dos mandamentos originais. Mas ele também declara nesta conexão: Mt. 5 .17 ,18 - “Não penseis que vim destruir a Lei ou os profetas; eu não vim destruir, mas cumprir. Porque, em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem nem um j nem um til se omitirá da Lei sem que tudo seja cumprido”. Os novos mandamentos de Cristo ape nas revelam o sentido oculto dos antigos. Ele não os cumpre na sua forma natural, mas em seu espírito essencial. Deste modo, o N.T. completa a reve lação do A.T. e dá à Bíblia uma unidade perfeita. Nesta unidade a Bíblia ocupa um lugar ímpar. Os livros religiosos hindus, persas e chineses não contêm nenhum sistema de fé consistente. Há progresso na revelação desde os mais antigos até os mais recentes livros da Bíblia, mas não através de sucessivos passos de falsidade; há progresso a partir do menos para o mais claro desdo bramento da verdade. A verdade total, em germe, encontra-se no proto-evangelho proferido aos nossos primeiros pais (Gn. 3 .15 - a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente). c) C ada um desses escritos, quer antigos quer tardios, têm representado idéias m orais e religiosas em grande avanço na época em que apareceram e essas idéias ainda dirigem o mundo. 264 Augustus H opkins Strong Todas as nossas idéias com todo o espírito progressista do cristianismo moderno devem-se às Escrituras. As nações clássicas não tinham tais idéias nem tal espírito a não ser quando os herdaram dos hebreus. A profecia de V irgílio em sua quarta Écloga, sobre a vinda de uma virgem e do reino de Saturno e a volta do período áureo era apenas o eco dos livros sibilinos e da esperança de um Redentor com a qual os judeus fermentaram o mundo romano todo. d) É im possível dar conta dessa unidade sem supor tal sugestão sobrenatu ral e controle que a Bíblia, enquanto em suas variadas partes escrita por agen tes hum anos, é ainda igualm ente a obra de um a inteligência sobre-hum ana. Podemos contrastar as contradições e refutações que seguem simples mente as filosofias humanas com a harmonia entre os diferentes escritores da Bíblia - p.ex., o idealismo hegeliano e o materialismo de Spencer. Hegel é “um nome para jurar como também pelo qual jurar”. O D r . S tirling, Secret of Hegel, “guarda todo o segredo para si, se é que o conhece”. Uma ocasião um francês perguntou a H e g e l se ele não podia englobar e expressar sua filosofia em uma sentença. “Não”, respondeu H egel, “pelo menos em francês”. S e for verdadeira a máxima de T a lle y ra n d de que aquilo que não for inteligível não é francês, a resposta de H e ge l está correta. H e g e l dizia a respeito dos seus discípulos: “I G oeschel , G abler , D aub , M arheinecke , E rdmann , sã o a ala d ire ita de H egel, ou re p re se n ta n te s o rto d o xo s e se u s s e g u id o re s no c a m p o da te o lo g ia . H egel é s e g u id o p o r A lexander e B radley na Ing laterra , m as c o n tra d ita d o por S eth e S chiller . U pton , Hibbert Lectures, 279-300, d á g ra n d io so va lo r à sua p o siçã o e in fluê ncia : Hegel é tod o p e n sa m e n to e vo n ta d e . A o ra çã o não te m nenhum e fe ito p a ra D eus; é um fe n ô m e n o p a ra p sico ló g ico . N ão e xiste livre von tade ; o p e ca d o h u m an o assim com o a s a n tid a d e é m a n ife sta çã o do Eterno. A e v o lu ção é um fato, m as só a e vo lu çã o fa ta lista . C o n tu d o , H egel pre sto u o g ra nd e se rviço de s u b s titu ir o co n h e c im e n to da re a lid a d e em fa v o r da relativid ad e o p re ssiva ka n tia n a e, a tra vé s do b a n im e n to da a n tig a noção de m a té ria com o s u b s tâ n c ia m iste rio sa in te ira m e n te d ife re n te e in co m p a tíve l com as p ro p rie da de s da m ente. Ele ta m b é m pre sto u o g ra n d e se rv iç o de m o s tra r q u e as in te ra çõ e s m a té ria e m e n te só se^exp lica m pe la p re s e n ç a do T odo A bso lu to em ca d a parte, e m b o ra e stive sse g ra n d e m e n te e rra d o ao e x p lic a r que a idéia da un id a d e D e u s/h o m e m além dos seu s lim ite s p ró p rio s e ao n e g a r que Deus deu à v o n ta d e do ho m em q u a lq u e r p o d e r de se c o lo c a r em a n ta g o n ism o à v o n ta d e do p ró p rio D eus. H egel p re sta um g ra n d e se rv iç o ao m o stra r que não p o d e m o s co n h e c e r nem m esm o a p a rte se não c o n h e c e rm o s o tod o, m as e rra ao ensinar, co m o T. S. G reen , qu e as re la çõ e s co n stitu e m a realid ad e da coisa. Ele priva ta n to a e x is tê n c ia fís ic a co m o a p síq u ica do g ra u de in d i v id u a lid a d e ou de in d e p e n d ê n cia e s se n cia l ta n to à c iê n cia com o à religião. N ão q u e re m o s a m era idéia, m as a su a v e rd a d e ira fo rça ; não o m ero p e n s a m ento, m as a v e rd a d e ira von tade . B) A m ente que fez a B íblia é a m esm a que fez a alma, porque a Bíblia adapta-se divinam ente à alma: T e o l o g ia S is t e m á t ic a 265 a) M ostra com pleto conhecim ento da alma. A Bíblia se destina a todas as partes da natureza do homem. Existem a Lei e as Epístolas em benefício da razão do homem; os Salmos e os Evange lhos para os sentimentos; os Profetas e as Revelações para a sua imagina ção. Daí a popularidade das Escrituras. Sua variedade sustenta os homens. A Bíblia entrelaçou-se à vida moderna. Lei, literatura, arte, tudo isso molda a sua influência. b) Julga a alm a - contraditando suas paixões, revelando sua culpa e hum i lhando seu orgulho. Nenhum produto da mera natureza humana pode contemplá-la e conde ná-la. A Bíblia nos fala a partir de um nível mais elevado. As palavras da mulher samaritana aplicam-se a todo o orbe da revelação divina; conta-nos todas as coisas que fazemos (Jo. 4.29). Um brâmane declarou que Rm. 1, com toda a sua descrição dos vícios pagãos, deve ter sido forjado depois que os missionários vieram à índia. c) Vai ao encontro das m ais profundas necessidades da alm a - através de soluções de seus problem as, revelações do caráter de Deus, apresentações do cam inho do perdão, consolações e prom essas de vida e de morte. Nem S ócrates , nem S êneca realçaram a natureza, a origem e as conseqü ências do pecado cometido contra a santidade de Deus, nem assinalaram o caminho do perdão e da renovação. A Bíblia nos ensina o que a natureza não pode, isto é: a criação de Deus, a origem do mal, o método da restauração, a certeza do estado futuro e o princípio do galardão e do castigo. d ) C ontudo, silencia a respeito de m uitas questões para as quais os escritos de origem puram ente hum ana buscam prover soluções. Compare o relato da infância de Jesus com as fábulas dos Apócrifos do N.T.: observe as raras afirmações da Escritura relativas ao futuro com as revelações de Maomé e Swedenborg sobre o Paraíso. e ) H á abism os infinitos e inesgotáveis alcances de sentido na Escritura, que a diferenciam de outros livros e que nos com pelem a crer que seu autor deve ser divino. S ir W alter S cott , no seu leito mortal: “Traze-me o livro!” “Que livro?” dis se L ockhart , seu genro. “Há apenas um livro”, disse o moribundo. R eville conclui um Ensaio na Revue des deux Mondes (1864): “Um dia começou a perguntar numa assembléia que livro condenava o homem à prisão perpétua 266 A ugustus H opkins Strong e a quem seria permitido levar à cela a não ser um livro. O grupo era formado de católicos, protestantes, filósofos e até mesmo de materialistas, mas todos concordavam em que a sua escolha recairia sobre a Bíblia”. 2. Sistem a M o ra l do Novo Testamento G eralm ente adm ite-se a perfeição deste sistem a. Todos adm itirão que ele ultrapassa grandem ente qualquer outro sistem a conhecido entre os homens. E ntre suas características distintivas podem ser m encionadas: a) Sua com preensibilidade, incluindo todos os deveres do hom em em seu código, m esm o os geralm ente m enos com preendidos e negligenciados enquanto não perm ite nenhum vício qualquer que seja. O budismo considera a vida familiar como pecaminosa. Muitos filósofos antigos condenavam o suicídio. Entre os espartanos, o furto era louvável; só quando apanhados roubando considerava-se crime. Os tempos clássicos des prezavam a humildade. T homas P aine dizia que o cristianismo cultivava “o espírito de um bajulador” e J. S. Mill afirmava que Cristo ignorava os deveres para com o estado. Contudo, Pedro estimula os cristãos a acrescentarem à sua fé a varonilidade, a coragem, o heroísmo (2 Pe. 1.5 - “acrescentai à vossa fé a virtude”), e Paulo declara que o estado é uma instituição de Deus (Rm. 13.1 - “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus e as autoridades foram ordenadas por Deus”). A defesa patriótica da unidade nacional e da liberdade sempre tem o seu principal estímulo e base nestas injunções da Escritura. E. G. R obinson : “A ética cristã não contém nenhuma partícula de palha - é feita toda de puro trigo”. b) Sua espiritualidade, não aceitando nenhum a conform idade sim plesm en te exterior com os preceitos justos, m as julgando toda ação através dos pensa m entos e m otivos dos quais ela surge. A superficialidade da moral pagã é bem ilustrada pelo tratamento do cadáver de um sacerdote em Sã: Cobre-se o corpo com folhas douradas e depois deixa-se apodrecer e brilhar. O paganismo divorcia a religião da ética. As observâncias exteriores e cerimoniais tomam o lugar da pureza do cora ção. Por outro lado, o Sermão da Montanha pronuncia a bênção somente sobre o estado interior da alma. SI. 51.6 - “Eis que amas a verdade no íntimo e no oculto me fazes conhecer a sabedoria”; Mq. 6.8 - “o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a beneficência e andes humildemente com teu Deus?” c) A sim plicidade, inculcando princípios ao invés de im por regras; redu zindo estes princípios a um sistem a orgânico; e estabelecendo conexão deste T e o l o g ia S is t e m á t ic a 267 sistem a com a religião, resum indo todo o dever hum ano a um a ordem do am or a D eus e ao próxim o. O cristianismo não apresenta nenhum extenso código de regras como o dos fariseus ou dos jesuítas. Tais códigos sucumbem sob o seu próprio peso. As leis do estado de Nova Iorque constituem apenas uma biblioteca própria que são de domínio exclusivo dos juristas. Conta-se que o maometano tem registrados sessenta e cinco mil exemplos especiais em que o leitor é orien tado como agir corretamente. O mérito do sistema de Jesus é que todos os requisitos se reduzem a um. Mc. 12.29-31 - ‘‘Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu cora ção, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é; Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”. W endt, Teaching of Jesus, 2.384,814, chama a atenção para a unidade interior do ensino de Jesus. A doutrina de que Deus é um Pai amoro so aplica-se com incontestável consistência. Jesus confirmava tudo o que é verdadeiro no A.T. e punha de lado o que é indigno. Ele não ensina tanto a respeito de Deus e do seu reino e da comunhão ideal entre Deus e o homem. A moralidade é a expressão necessária e natural da religião. Em Cristo, ensi no e vida se mesclam. Ele representa a religião que ensina. d) Sua praticabilidade, exem plificando seus preceitos na vida de Jesus Cris to; e enquanto declara a depravação e incapacidade do hom em de guardar a lei, fornecendo m otivos para a obediência e o auxílio do Espírito Santo para torná-la possível. A revelação tem dois lados: A lei moral e a provisão para o cumprimento da lei moral, que foi quebrada. Os sistemas pagãds^podem incitar reformas temporárias e podem aterrorizar com am eaças de castigo. Mas só a graça regeneradora de Deus pode tornar boa a árvore de tal sorte que o seu fruto também seja bom (Mt. 12.33). Há diferença entre tocar o pêndulo do relógio e dar corda neste: aquilo pode pô-lo temporariamente em movimento, mas isto pode garanti-lo regular e permanente. O sistema moral do N.T. não é mera mente uma lei; é também graça: Jo. 1.17 - “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Cristo”. O trato do D r. W illiam A shmore representa um chinês num poço. Confúcio olha para o poço e diz: “S e você tivesse feito o que eu lhe disse você nunca teria entrado aí”. Buda olha para dentro do poço e diz: “Se você estivesse aqui em cima eu lhe mostraria o que fazer”. Deste modo procedem tanto Confúcio quanto Buda. Jesu s salta para dentro do poço e ajuda o pobre chinês a sair. No Congresso de Religiões em Chicago foram propostos muitos ideais de vida, mas nenhuma religião a não ser o cristianismo mostrou que há poder para realizar tais ideais. Quando J oseph C ook desafiou os sacerdotes das religiões antigas a responderem a pergunta de L ady M acbeth : “Como limpar o vermelho desta mão direita?” os sacerdotes emudeceram. Mas o cristianismo 268 A ugustus H opkins Strong d e c la ra que “o sa n g u e de Je su s C risto , seu Filho, nos p u rifica de tod o p e c a do ” (1 Jo. 1.7). E. G. Robinson: O cristia n ism o , é d ife re n te de to d a s as ou tra s re lig iõ e s p o rq u e 1) é u m a religião histó rica ; 2) p o rqu e to rn a a lei a b stra ta em u m a p e sso a a s e r am a da ; 3) p o rq u e fo rn e c e um a d e m o n s tra ç ã o do a m o r de D eus em C risto; 4) p o rq u e pro vê a e xp ia çã o do pe ca d o e o p e rdã o do p e c a dor; 5) p o rq u e dá fo rç a p a ra c u m p rir a lei e s a n tific a a vida. B owne, Philos. of Theism, 2 4 9 - “O cristia n ism o , to rn a n d o a lei m oral a e xp re ssã o da S an ta V on tade , tiro u a q u e la lei da a b stra çã o im p e sso a l e g a ra n tiu -lh e o triu n fo final. O s p rin cíp io s m ora is po de m s e r o que era m an tes, m as a prá tica m oral é se m p re dife re n te . A té m esm o a te rra te m o u tra a p a rê n c ia a g o ra que tem um céu a cim a d e la ” . F rancis P ow er Cobbe, Life, 92 - “A p ro e za do c ristia n ism o não foi in cu lca r um a nova m o ra lid a d e , nem m esm o um a m o ra lid a d e sistemá tica] p a rtir da In tro d u çã o de um no vo espírito p a ra a m o ra lid a d e ; com o o p ró prio C risto disse, um fe rm e n to p a ra a m a ssa in fo rm e ” . Podemos argumentar que um sistema moral tão puro e perfeito, visto que ultrapassa todos os poderes humanos de invenção e corre contra os sabores e paixões naturais dos homens, deve ter tido uma origem sobrenatural, divina. Os sistemas pagãos de moralidade, via de regra, são defeituosos por não fornecer para a ação moral do homem nenhum exemplo, regra, motivo ou fim suficientes. Eles não podem fazer isso porque praticamente identificam Deus com a natureza e não conhecem a clara revelação da sua santa vontade. O homem é abandonado ao seu próprio ser e, visto que ele não é concebido como totalmente responsável e livre, permite-se que os baixos impulsos assim como os elevados influam e o egoísmo não seja considerado como pecado. Como o paganismo não reconhece a depravação, do mesmo modo não reconhece a sua dependência da graça divina e a sua virtude é a justiça própria. O paganismo é o vão esforço do homem para elevar-se a Deus; o cristianismo é a descida de Deus ao homem para salvá-lo. M artineau, 1.15 ,16 chama a atenção para a diferença entre a ética psicológica do paganismo e a do cristianismo. A ética psicológica começa com a natureza; e, achando na natureza a regra uniforme da necessidade e a operação da cáusa e do efeito, chega por fim ao homem e aplica-lhe a mesma regra, extinguindo deste modo toda fé na personalidade, na liberdade, na responsabilidade, no pecado e na culpa. A ética psicológica, ao contrário, sabiamente começa com aquilo que melhor conhecemos, isto é, o homem; e, achando nele a livre vontade e um propósito moral, continua a exteriorizar-se na natureza e interpreta-a como a manifestação da mente e vontade de Deus. “A ética psicológica é peculiar ao cristianismo. ... Outros sistemas come çam com a parte exterior e consideram a alma como homogênea ao univer so aplicando à alma o princípio da necessidade que prevalece fora dela. ... Na religião cristã, por outro lado, o interesse, o mistério do mundo concentram-se na natureza humana. ... O senso de pecado - sentimento que não deixou traço nenhum em Atenas - envolve uma consciência de alienação pessoal do Bem Supremo; a aspiração pela santidade dirige-se à união de sentimento e vontade com a fonte de toda a Perfeição; o agente da transfor mação do homem a partir da velha alienação para a nova reconciliação é uma Pessoa de quem os elementos divino e humano dependem; e o Espírito santificador pelo qual eles são sustentados nas alturas mais puras da vida, T e o l o g ia S is t e m á t ic a 269 é uma viva ligação da comunhão entre a mente deles e a Alma das almas. ... Deste modo, a Natureza, para a consciência cristã, imerge no acidental e no neutro”. Medindo-nos a nós mesmos pelos padrões humanos, alimenta mos o orgulho; medindo-nos a nós mesmos pelos padrões divinos, alimenta mos a humildade. As nações pagãs, ao identificar Deus com a natureza ou com o homem, não são progressivas. A arquitetura plana do Partenon, com suas linhas paralelas à terra, tipifica a religião pagã; os arcos aspirados da catedral gótica simbolizam o cristianismo. S terrett , Studies in Hegel, 33, diz que Hegel carateriza a religião chinesa como a da medida, ou conduta temperada; o bramanismo, como a da Fanta sia, ou inebriante vida de sonhos; o budismo como o auto-envolvimento; a do Egito, como a embrutecida relação do Enigma, simbolizado pela Esfinge; a da Grécia, como a religião do Belo; a judaica, como a religião da Sublimidade; e o cristianismo, como a religião absoluta da verdade e liberdade plenamente reveladas. Em tudo isto Hegel deixa de firmar-se nos elementos da Vontade, da Santidade, da Vida, que caraterizam o judaísmo e os distinguem de todas outras religiões. R. H. Hutton: “O judaísmo nos ensina que a natureza deve ser interpretada pelo nosso conhecimento de Deus, não Deus pelo conheci mento da Natureza”. Lyman A bbott; “O cristianismo não é uma nova vida, mas uma nova força ; não é uma convocação para uma nova vida, mas o seu ofe recimento] não uma reordenação da velha lei, mas o poder de Deus para a salvação; não o amor a Deus e ao homem, mas a mensagem do Cristo que nos ama e nos ajudará na vida do amor”. B eyschlag, N. T. Theology, 5,6 - “O cristianismo postula a abertura do coração do Deus eterno para o coração do homem que vem a ele. O paganis mo apresenta o coração do homem desatinadamente agarrando-se à bainha das vestes de Deus e, confundindo a Natureza, sua veste majestosa, com o próprio Deus. Só na Bíblia o homem se fixa nas manifestações exteriores de Deus rumo ao próprio Deus”. E m contraste com o sistem a cristão de m oralidade, os defeitos dos siste m as pagãos são de tal m odo m arcantes e fundam entais que constituem um a forte evidência corroborativa da origem divina da revelação escriturística. Em vista do que, aduzim os alguns fatos e referências relativas aos sistemas pagãos em particular. 1. C O N FU C IO N ISM O . C onfúcio (Kung-fu-tse), 551-478 a.C., contemporâ neo de P itágoras e de B uda. S ócrates nasceu dez anos após a morte de Confúcio. M êncio (371-278) foi discípulo de C onfúcio. M atheson, em Faiths of the Wolrd(St. Giles Lectures), 73-108, reivindica que o confucionismofoi “uma tentativa de substituir uma moralidade por uma teologia”. Contudo, L egge, Present Day Tracts, 3. n- 18, mostra que isto é um equívoco. C onfúcio somente deixou a religião onde ela se encontrava. Deus, ou o Céu, é adorado na China, mas só pelo imperador. A religião chinesa parece uma sobrevivên cia do culto da família patriarcal. O pai de família era o único chefe e sacerdo te. Na China, embora a família se expandisse na tribo, e a tribo na nação, o 270 A ugustus H opkins Strong pai ainda conservava a sua exclusiva autoridade e, como pai do seu povo, só o imperador oferecia oficialmente sacrifício a Deus. Entre Deus e o povo o abismo se ampliou tanto que se pode dizer que o referido povo praticamen te não tinha conhecimento de Deus, ou comunicação com ele. Dr. W. A. P. M artin: “O confucionismo degenerou-se numa mistura de panteísmo e tor nou-se a adoração a uma ‘anima mundi’, sob formas diretivas da natureza visível”. D r . W illiam A shmore , numa carta particular: “O povo comum da China tem: 1) O culto ancestral e o culto a heróis deificados; 2) Geomancia, ou a crença na força controladora dos elementos da natureza; mas atrás destes e anteda tando-os, há 3) o culto do Céu e da Terra, ou Pai e Mãe, dualismo bem antigo; isto também pertence ao povo comum, embora uma vez por ano o imperador, como um tipo de sumo sacerdote do seu povo, ofereça sacrifício no altar do Céu; neste só ele atua. ‘Jo ss ’ afinal não é uma palavra chinesa. É uma forma degenerada da palavra em Português ‘Deus’. A palavra ‘pidgin’ igualmente é uma tentativa de dizer ‘business’ [negócio, ocupação], (big-i-ness ou bidgin). Por isso ‘Joss-pidgin’ significa simplesmente ‘culto divino’, ou culto prestado ao Céu e à Terra, ou aos espíritos de qualquer tipo, bons ou maus. Há muitos deuses, uma Rainha do Céu, um Rei do Hades, Deus da Guerra, deus da literatura, deuses das montanhas, vales correntezas, uma deusa da bexiga, da gestação e de todos os negócios dos seus deuses. A mais elevada expressão chinesa é ‘Céu’, ou ‘Supremo Céu’, ou ‘Céu Azul’. Esta é a indica ção sobrevivente de que em tempos mais remotos eles tinham conhecimento de uma Força suprema, inteligente e pessoal que dirigia tudo”. O S r. Y ugoro C hiba mostrou que os clássicos chineses permitiam o sacrifício por todo o povo. Mas também é verdade que o sacrifício ao “Supremo Céu” está pratica mente limitado ao imperador que, como o sumo sacerdote judeu, oferece uma vez por ano pelo seu povo. C onfúcio nada fez para estabelecer a moralidade em base religiosa. Na prática, as relações dos seres humanos entre si são as únicas em consi deração. Usufruem-se a benevolência, a retidão, a propriedade, a sabedoria, a sinceridade, mas não se diz nenhuma palavra sobre o relacionamento do homem para com Deus. O amor a Deus não é um mandamento - não se pensa nisto como uma coisa possível. Embora o ser humano seja teorica mente uma ordenança de Deus, o homem é uma iei para si mesmo. O primei ro mandamento de Confúcio é o da piedade filial. Mas isto inclui a adoração dos ancestrais mortos e há tanto exagero como sepultar da vista os deveres relativos ao marido para com a mulher e do pai para com o filho. C onfúcio torna um dever do filho matar o assassino do pai, assim como Moisés insiste numa pena retaliativa com derramamento de sangue. Ele tratava os seres invisíveis e superiores com respeito, mas mantinha-os a distância. Reconhe cia o “Céu” da tradição; mas ao invés de aumentar o nosso conhecimento a seu respeito, abafava qualquer pergunta. Dr . L egge: “Tenho estado lendo livros chineses por mais de quarenta anos e qualquer exigência do amor a Deus, ou menção a qualquer que realmente o ame ainda está para passar pelos meus olhos”. E zra A bbot afirma que Confúcio deu uma regra áurea em forma tanto positiva quanto negativa. Contudo, parece que D r . L egge, Religions of China, T e o l o g ia S is t e m á t ic a 271 1 -58, nega-o. Wu Ting F ang, outrora ministro chinês para Washington, admite a afirmação de que Confúcio deu uma regra áurea apenas em sua civilização agressiva, que por isso, tornou-se dominante. A regra áurea que Confúcio deu é: “Não façais aos outros o que não quiserdes que eles vos façam”. Com pare isto com Isócrates : “Sede para os vossos pais o que quiserdes que os vossos filhos sejam para vós. ... Não façais aos outros as coisas que vos façam irar quando os outros vo-las fizerem”; H eródoto: “Aquilo que eu punir em outro homem, eu, por mim mesmo, evitarei”; A ristóteles : “Devemos nos portar para com os nossos amigos como queremos que eles se portem para conosco”; Tobias 4 .1 5 - “Não faças a ninguém aquilo que detestas”; F ilo: “O que detestas suportar, não lho faças”; Sêneca nos manda: “dá como que res receber”; R abino H illel: “O que quer que vos aborreça, não o façais a outrem; eis a lei completa e o demais é explicação”. (Em espanhol: “manos qui non dais qui esperais?”; no Brasil: “Deus lhe dê em dobro o que você me deseja”). B roadus, American Commentary on Matthew, 161 (O tra d u to r fa z citaçã o da E dição em P ortu guê s, C o m e n tá rio de M a te u s, John A. B roadus, Vol. I, 1949, C a sa P u b lica d o ra B atista, p. 23 4 a ) “ D e ve n o ta r-se q u e os ditos de Con fúcio, Isó cra te s e dos trê s m e stre s ju d a ic o s , sã o m e ra m e n te n e ga tivos; o de Sêneca lim ita -se a d a r e o de A r is tó te le s lim ita -se ao tra ta m e n to dos am igos. N osso S e n h o r dá um a reg ra de açã o p o sitiva , e p a ra to d o s os ho m e n s” . Ele e n sin a que eu esto u in cu m b id o de fa z e r aos o u tro s tu d o o que eles p o de riam com ju s tiç a d e s e ja r que eu lhes fize sse . Por isso a reg ra áu re a re q u e r um a su p le m e n ta çã o , p a ra m o s tra r o que os ou tro s p o d e m com ju s tiç a desejar, a saber, em p rim e iro lu g a r a g ló ria de D e us e o b e m -e s ta r d e le s com o se g un da e in cid e n ta l co n se q ü ê n cia . O cris tia n is m o fo rn e c e este p a d rã o divino e p e rfe i to; a fa lh a do co n fu c io n is m o é qu e não tem n e nh um p a d rã o m ais e le va d o que a c o n ve n çã o hu m an a. C o n q u a n to o c o n fu c io n is m o e x c lu a o p o lite fsm o , a id o la tria e a d e ifica çã o do vício é um s is te m a sem p ro fu n d id a d e e tan ta liza nte, po rq u e não re co n h e ce a co rru p çã o h e re d itá ria da n a tu re za hum ana, nem fo r ne ce re m é d io a lgu m p a ra o m al m o ra T a -fía o s e r as “d o u trin a s dos s á b io s” . “O co ra çã o do h o m e m ” , diz, “é de m od o n a tural p e rfe ita m e n te íntegro e co rre to ” . O p e ca d o é ap e n a s “u m a do e n ça , a s e r c u ra d a com a a u to d iscip lin a ; a dívid a de ve s e r c a n c e la d a p e lo s ato s m e ritó rio s; re m o ve -se a ig n o râ n cia a tra vé s do e stu do e da c o n te m p la ç ã o ” . OS SISTEMAS HINDUS. O bramanismo, expresso nos Vedas, data de a 1500 a.C. Como C aird (em Faiths of the World, St. Giles Lectures, preleção i) mostrou que ele se originou na contemplação da força na natureza independente da Pessoalidade moral que opera na natureza e através dela. Na verdade, podemos dizer que todo o paganismo é uma escolha humana do Deus amoral em lugar de um Deus moral. O bramanismo é um sistema de panteísmo, “uma consagração falsa ou ilegítima do finito”. Todas as coisas são manifestação de Brama. Por isso o mal é deificado do mesmo modo que o bem. Muitos milhares de deuses são adorados como representações par ciais do princípio vivo que se move através de tudo. “Quantos deuses têm os hindus” perguntava o D r . D uff à sua classe. H enry Drummond pensava que houvesse vinte e cinco. “Vinte e ^ n c o ? ” retrucou indignado o professor; “vinte 2. 1000 272 A ugustus H opkins Strong e cinco milhões de milhões!” Enquanto os antigos Vedas apresentam um cul to à natureza relativamente puro, mais tarde o bramanismo se torna o culto do vicioso, e do vil, do não natural e do cruel. Jaganata (= Vishnu, sob seu avatar Krishna, que significa: Senhor do Mundo. O verdadeiro centro é Krishna. Jaganata e Puri, e as cerimônias com ele relacionadas adquirem, por vezes, caráter licencioso; E.B.M.) e o sati (= cremação voluntária da mulher indiana que subia à fogueira em que se incinerava o marido, para acompanhá-lo na morte; C. A ulete in loco) não pertenciam à religião original hindu. B ruce , Apologetics, 15 - “Na teoria, o panteísmo sempre significa, na prá tica, politeísmo”. Os antigos Vedas manifestam esperança no espírito; mais tarde, o bramanismo vem a ser a religião do desapontamento. A casta se fixa e se consagra como uma manifestação de Deus. Originariamente pretendia expressar, em suas quatro divisões - sacerdote, soldado, agricultor, escravo - os diferentes graus de ausência de participação terrena e a atuação interna do elemento divino e torna-se um encadeamento de elos de ferro a impedir toda a aspiração e progresso. A religião hindu procurava exaltar a receptivi dade, a unidade da existência e o repouso a partir da autodeterminação e das suas lutas. Por isso ela atribuía aos seus deuses o mesmo caráter das forças da natureza. Deus é a força comum do bem e do mal. Sua ética é a de indife rença moral. Sua caridade é a que se dirige ao pecado e a temperança que ela deseja é a que só deixa intemperante. M ozoomdar, por exemplo, está pronto a aceitar tudo no cristianismo, menos a sua reprovação ao pecado e deman da de retidão. O bramanismo degrada a mulher, mas deifica a vaca. O budismo, começando com B uda, 600 a.C., “convoca a mente para uma elevação acima do finito”, de que o bramanismo sucumbiu. Em certo sentido, B uda foi um reformador. Ele protestava contra as castas e proclamava que a verdade e amoralidade valem para todos. Por isso, o budismo, possuidor de uma pequena parcela de verdade, apela para o coração humano e torna-se, depois do cristianismo, a maior religião missionária. Observe, em primeiro lugar, o seu universalismo. Entretanto, observe também que se trata de um falso universalismo, pois ignora o individualismo e leva à estagnação e à escravidão. Enquanto o cristianismo é uma refigrão da história, da vontade, do otimismo, o budismo é uma religião de ilusão, de quietismo, de pessimis mo. Ao caraterizar o budismo como religião missionária, devemos notar, em segundo lugar, seu elemento de altruísmo. Porém, tal altruísmo destrói o eu, ao invés de preservá-lo. O futuro Buda, da compaixão para o famélico tigre, permite que esta fera o devore. “Encarnado numa lebre, ele pula no fogo para cozer-se a fim de servir de alimento a um mendigo, tendo antes disso se abalado três vezes de sorte que nenhum dos insetos em seu pelo pereçam com ele. Buda pretende livrar o homem não através da filosofia, nem do asce tismo, mas da auto-renúncia. Todo o isolamento e pessoalidade são pecado cuja culpa, contudo, repousa não sobre o homem, mas sobre a existência em geral. Enquanto o bramanismo é panteísta, o budismo, em seu espírito é ateísta. Pfleiderer, Philos. fíeligion, 1.285 - “A acomia bramânica, que tinha expli cado o mundo como simples aparência, conduziu ao ateísmo budista”. A aco modação e a separação constituem um mal e o único meio de purificar e descansar é deixar de existir. Isto é o pessimisqio essencial. A mais elevada T e o l o g ia S is t e m á t ic a moralidade é agüentar aquilo que deve aparecer e escapar da realidade e da existência pessoal tão logo seja possível. Daí a doutrina do Nirvana. R hys Davis, em Hibbert Lectures, defende que o budismo primitivo identificado por Nirvana, não é uma aniquilação, mas a extinção da vida própria e que isto se atinge durante a presente existência mortal do homem. Porém o termo Nirva na agora significa, para a grande maioria dos que o empregam, a perda de toda a pessoalidade e consciência e a absorção na vida geral do universo. Originariamente o termo denotava só a liberdade do desejo do indivíduo e os que entraram para o Nirvana podiam ainda sair dele. Mas mesmo em sua forma original, procurava-se o Nirvana só a partir de um motivo egoísta. A auto-renúncia e a absorção no todo não era o entusiasmo da benevolência; era o refúgio do desespero. Trata-se de uma religião sem deus ou sem sacri fício. Ao invés da comunhão com um Deus pessoal, o budismo tem em vista só a extinção da pessoalidade como recompensa das indizíveis eras da autoconquista solitária que se estende através de muitas transmigrações. De Buda, na verdade se tem dito “que tudo aquilo que ele tinha para satisfazer a neces sidade do homem Nada era e o melhor do seu ser é Apenas o não ser”. W ilkinson, Epic of Paul, 296 - “Ele, por seu próprio ato de morrer em todo o tempo, Em incessante esforço de parar totalmente, Querer querendo não querer Deseja desejando não mais desejar até que, por fim a fugitiva cami nhada para ser livre, emancipe Apenas tornando-se nada”. A respeito de Cristo, com precisão, diz B ruce : “Que contraste este médico da enfermidade e Pre gador do perdão ao mais indigno, para B uda a religião da desesperança!” O budismo é fatalista. Ele inculca submissão e compaixão - virtudes meramente negativas. Mas nada entende da liberdade humana, ou do amor ativo - virtudes positivas do cristianismo. Leva o homem a fazer concessões aos seres humanos, mas não a ajudá-lo. Sua moralidade não gira em torno de Deus, mas do eu. Não tem em si nenhum princípio organizador, pois não reconhece de modo algum Deus, nem inspiração, nem alma, nem salvação, nem imortalidade pessoal. O budismo salva o homem apenas induzindo-o a fugir da existência. Para o hindu, a vida familiar envolve pecado. O homem perfeito deve deixar a esposa e os filhos. Toda ã gratificação dos apetites e paixões naturais é um mal. A salvação não se refere ao pecado, mas ao desejo e disto o homem pode ser salvo escapando da própria vida. O cristia nismo sepulta o pecado, mas salva o homem; Buda salva o homem matandoo. O cristianismo simboliza a entrada do convertido na nova vida levantandoo das águas batismais; o batismo budista deve consistir numa imersão sem emersão. A idéia fundamental do bramanismo, extinção da pessoalidade, con tinua a mesma no budismo; a única diferença é que o resultado é garantido pela expiação ativa naquele e contemplação passiva neste. A virtude e o conhecimento de que tudo na terra é uma desvanecedora centelha da luz original liberam o homem da existência e da miséria. P rof . G. H. P almer, de Harvard, in The Outlook, 19 jun. 1 8 9 7 - “O budismo difere do cristianismo pelo fato de abolir a miséria abolindo o desejo; nega a pessoalidade ao invés de afirmá-la; tem muitos deuses, mas nenhum Deus vivo e consciente; reduz a existência em vez de alongá-la como recompensa da retidão. O budismo não faz nenhuma provisão para a família, para a igreja, para o estado, para a ciência e para a arte. Dá-nos uma religião escassa, 273 Augustus H opkins Strong 274 enquanto necessitamos de uma farta”. D r . E. B enjamin A ndrews: “S chopenhauer e S pencer são apenas mestres do budismo. Eles consideram a fonte centrai de tudo como uma força desconhecida em vez de considerá-la um Espírito vivo e santo. Isto retira todo o impulso para uma investigação científica. Não é preciso partirmos de uma coisa, mas de uma Pessoa”. Para comparação do sábio da fndia, Xáquia Múni, mais freqüentemente chamado Buda (apropriadamente “o Buda” = o iluminado; mas que, apesar do título “Luz da Ásia” dado por E dwin A rnold, é representado não como o purificado dos prazeres carnais antes de começar a sua obra), com Jesus Cristo, ver Kellogg, The Light o f Asia and the L ig h to fth e World; B eal, Catena of Buddhist Scriptures, 153 - “O Budismo declara ignorar qualquer modo de existência pessoal compatível com a idéia de perfeição espiritual e, conse quentemente, ignorar Deus”; 157 - “A mais primitiva idéia do Nirvana parece ter incluído em si não mais que o gozo de um estado de descanso como conseqüência da extinção de todas as causas da tristeza”. O fato de que o próprio Buda foi uma apresentação apoteótica para fornecer um objeto de adoração mostra a impossibilidade de satisfazer o coração humano com um sistema de ateísmo. Foi assim que o budismo transformou-se em bramanismo. M o n ie r W illiams: “ M a o m é t e m m u it o m a is d ir e it o d e r e iv in d ic a r o tí t u lo d e ‘a L u z d a Á s ia ’ d o q u e B u d a . D e o n d e v e m a lu z d e B u d a ? N ã o v e m d a d e p r a v a ç ã o d o c o r a ç ã o , o u d a o r ig e m d o p e c a d o , o u d a b o n d a d e , ju s t iç a , s a n t id a d e , p a t e r n id a d e d e D e u s , o u r e m é d io p a r a o p e c a d o , m a s u n ic a m e n t e d e s a ir d o s o f r im e n t o fu g in d o d a v id a - d o u t r in a d o m e r e c im e n t o , d a a u to c o n fia n ç a , d o p e s s im is m o e d a a n iq u ila ç ã o d a p e s s o a lid a d e ” . C r is to , o s e r p e s s o a l, a m o r o s o e s a n to , m o s t r a q u e D e u s é u m a p e s s o a d e s a n t id a d e e a m o r . R o b e r t B r o w n in g : “ A q u e le q u e c r io u o a m o r n ã o a m a r á ? ” U n ic a m e n t e p o r q u e J e s u s é D e u s é q u e t e m o s u m e v a n g e lh o p a r a o m u n d o . A r e iv in d ic a ç ã o d e q u e B u d a é “ a L u z d a Á s ia ” le m b r a a d o h o m e m q u e d e c la r o u q u e a lu a v a le m a is q u e o s o l p o r q u e e la b r ilh a n a e s c u r id ã o e n q u a n t o o s o l b r ilh a d e d ia q u a n d o n ã o h á n e c e s s id a d e . 3. SISTEMAS GREGOS. Pitágoras (584-504) baseia a moralidade no prin cípio dos números. “O bem moral é identificado com a unidade; o mal com a multiplicidade; a virtude é a harmonia da alma e sua semelhança com Deus. O objetivo da vida é fazer representar a bela ordem do universo. Toda a ten dência prática do pitagorismo é ascética e inclui um estrito controle e uma diligente cultura”. Parece que já vemos aqui o defeito da moralidade grega confundindo o bem com o belo e fazendo a moralidade um simples autodesenvolvimento. M ath eso n , Messages of the Old Religions'. A Grécia revela a intensidade da hora, o valor da vida presente, a beleza do mundo atual. Sua religião é a da bela humanidade. Antecipa o novo céu e a nova terra. Por outro lado Roma firma-se na união, na incorporação, num reino universal. Mas a sua religião deifica só o imperador, não a humanidade. Não é a religião do amor, mas da força e identifica a igreja com o estado. Sócrates (469-400) faz do conhecimento uma virtude. A moralidade con siste em subordinar os desejos irracionais ao conhecimento racional. Apesar de que neste ponto elevamos o bem subjetivamente determinado como a T e o l o g ia S is t e m á t ic a m e ta d o e s f o r ç o m o r a l, a in d a n ã o t e m o s o s e n t id o a p r o p r ia d o d o p e c a d o . O m o tiv o n ã o é o a m o r , m a s o c o n h e c im e n t o . S e o h o m e m c o n h e c e o d ir e i to , e le o p r a tic a . E s ta é u m a g r a n d e a lt a a v a lia ç ã o d o c o n h e c im e n t o . P a ra S ó c r a t e s , o e n s in o é u m t ip o d e p a r t o - n ã o d e p o s it a n d o in f o r m a ç ã o n a m e n te , m a s e x t r a in d o o c o n t e ú d o d o n o s s o p r ó p r io c o n h e c im e n t o . (A is to , S ó c r a t e s d á o n o m e d e m a iê u t ic a = p r o f is s ã o d e p a r t e ir a . A m ã e d e le e x e r c ia ta l p r o f is s ã o ) . L e w is M o r r i s d e s c r e v e is s o c o m o a o b r a d a v i d a d e S ó c r a t e s d e q u e “ d ú v id a s la n ç a m f o r a d ú v id a s ” . S ó c r a t e s a c h a ju s t o f e r ir o s in im ig o s . E le s e o r g u lh a d o lo u v o r p r ó p r io e m s e u d is c u r s o p r ó x im o à m o r te . A d v e r te c o n t r a a p e d e r a s tia , e m b o r a t r a n s ija c o m e la . N ã o in s is te n a m e s m a p u r e z a d a v id a f a m ilia r d e s c r it a p o r H o m e ro e m U lis s e s e P e n é lo p e . C h a r le s K in s le y , em Alton Locke, a s s in a la q u e o e s p í r it o d a t r a g é d ia g r e g a é o ‘h o m e m d o m i n a d o p e la c ir c u n s t â n c ia ’ . M a s o s t r á g ic o s g r e g o s , c o n q u a n t o m o s tr a s s e m o h o m e m d e s ta f o r m a d o m in a d o , c o n t u d o a in d a o r e p r e s e n t a m in te r io r m e n te liv r e , c o m o n o c a s o d e P r o m e te u e e s t e s e n t id o d a lib e r d a d e e r e s p o n s a b ili d a d e h u m a n a s a p a r e c e a té c e r t o p o n t o e m S ó c r a t e s . Platão (43 0-3 48) s u s te n ta que a m o ra lid a d e é o p ra z e r do bem , com o o v e rd a d e ira m e n te b e lo e q u e o c o n h e c im e n to p ro d u z v irtu d e . O be m tem s e m e lh a n ç a com D eus; aqui te m o s vis lu m b re s de um ob je tivo e m od elo fora do hu m an o. O corp o, com o a m atéria, s e n d o in e re n te m e n te m au, é um e m b a raço p a ra a alm a; vis lu m b ra -s e aq ui a d e p ra v a ç ã o h e re d itá ria . M as P la tã o “ red uz o m al m oral à ca te g o ria de m al n a tu ra l” . Ele d e ix a de re c o n h e c e r D eus c o m o o cria d o r e se n h o r da m atéria; d e ix a de re c o n h e c e r a d e p ra va çã o do ho m em d e vid a à su a p ró p ria a p o s ta s ia de D eus; d e ix a de e n co n tra r a m o ra li d a de na v o n ta d e d ivin a ao in vés de e n c o n trá -la na p ró p ria c o n s c iê n c ia do ho m em . Ele nada sa b e da h u m a n id a d e co m u m e c o n s id e ra a virtu d e com o p re rro g a tiv a de po uco s. C o m o não há p e ca d o co m u m , do m esm o m odo não há re d e n çã o com u m . P la tã o pe n sa e n c o n tra r D e us só a tra vé s do intelecto, qu a n d o só a co n s c iê n c ia e o c o ra çã o c o n d u z ire m a ele. E le crê nu m a lib e rd a de da alm a num esta do p re e x is te n te em qu e se fa z u m a e s c o lh a en tre o bem e o m al, m as crê que d e p o is de to m a d a a d e c is ã o a n te rio r à te rre n a , os d e s tin o s d e te rm in a m os atos e vid a do hom em de m odo irre ve rsíve l. A razão c o n d u z dois cava lo s: o a p e tite e a e m o ção . P oré m o cu rso de le s já está p re d e te rm in a d o . O ho m em a g e do m od o em q u e a razã o ad m in istra . T odo o p e ca d o é ig no rância. N a da há ne sta v id a a não s e r o de te rm in ism o . M a rtineau, Types, 1 3 ,4 8 ,4 9 ,7 8 ,8 8 - P la tã o , de um m o d o ge ral, não tem um a noção p ró p ria da re s p o n sa b ilid a d e ; ele red uz o m al m ora l à c a te g o ria do m al na tu ral. C om um a ún ica e xce çã o sua s id é ia s não sã o ca u sa s. A ca u sa é a m ente e a m e n te é o Bem . O Bem é o á p ice e c o ro a das Idéias. O Bem é a m ais e le va d a d a s Idéias e e sta Idé ia m ais e le va d a é u m a C ausa. P la tã o te m um frá g il c o n ce ito de p e s s o a lid a d e q u e re m D eus, q u e r no hom em . E m b o ra D eus s e ja um a pe ssoa , em q u a lq u e r se n tid o o h o m e m é um a p e sso a e a p e s s o a li d a de do ho m em é a a u to c o n s c iê n c ia re fle xiva . A v o n ta d e em D eus ou no ho m em não é tão cla ra. A ju s tiç a se d ilu i no Bem . P la tã o d e fe n d e o in fa nticídio e o e xte rm ín io dos v e lh o s e de sam p araçlos. Aristóteles (3 8 4 -3 2 2 ) d e ix a de la d o até/ m e sm o o e le m e n to de s e m e lh a n ça com D e us e o m al a n te rio r ao te rre n o que P la t ã o de m od o tão ob scuro re c o n h e c e e fa z da m o ra lid a d e o fru to d a m e ra a u to c o n s c iê n c ia racion al. 275 276 Augustus H opkins Strong Ele a d m ite a in clin a çã o p a ra o m al, p o rém re cu sa -se a c h a m á -la de im oral. D e fe nd e um a c e rta lib e rd a d e da v o n ta d e e re co n h e ce as te n d ê n cia s inatas que ba ta lh a m co n tra esta lib e rd a d e , m as não sab e d iz e r co m o ta is te n d ê n c ia s se o rig in a ra m , nem com o o ho m em p o d e livra r-se delas. N em tudo pode s e r m oral; a m a io r p a rte p o de s e r im p e lid a pe lo m ed o. Ele não e n co n tra em D eus ne nh um m otivo e o a m o r a D eus não é ta n to co m o se a ch a m en cio nad o com o fo n te da ação m oral. O ho m em o rg u lh o so , se g u ro , e g o cê n trico e re se r vad o é o seu tip o ideal. A le xa n d e r, Theories of Will, 3 9 -5 4 - A ris tó te le s s u s te n ta o d e se jo e a razão co m o as fo n te s da ação. C o n tu d o ele não suste nta q u e o c o n h e cim e n to p o r si m esm o to rn a ria o ho m em virtu o so . Ele é d e te rm i nista. As açõ e s são livres a p e n a s no se n tid o de que d e vem s e r c a u sa d a s por c o m p u lsã o exte rn a. V ia a e s cra vid ã o co m o ra cio n a l e ju sta . B u tch e r, Aspect of Greek Genius, 76 - “ E nq ua nto A r is tó te le s a trib u ía ao E stad o um a p e s s o a lid a d e m ais co m p le ta do que re a lm e n te po ssui, não se a p e g a à p ro fu n d e za e se n tid o da p e sso a lid a d e do in divíd uo". A. H. S tro n g , Christ in Creation, 2 8 9 A ris tó te le s não te m n e n h u m a c o n ce p çã o de u n id a d e da raça hum ana. A sua d o u trin a da un id ade não vai além do E stado. “ D iz que ‘o tod o vem an tes das p a rte s ’, m as p a ra ele ‘o to d o ’ é o m u n d o p a n -h e lê n ic o , o reino un id o dos gre go s; nu n ca p e n sa na h u m a n id a d e e a e xp re ssã o ‘g ê n e ro h u m a n o ’ nu nca sai dos seu s lá bio s. Ele não p o de e n te n d e r a u n id a d e da raça hu m a n a po rqu e ele na da co n h e ce a re sp e ito de C risto , seu p rin c íp io o rg a n iz a d o r” . S ob re a c o n ce p çã o a ris to té lic a de Deus, ver James Ten B roeke, em Bap. Quar. Rev., ja n 1892 - R e co n h e ce -se D eus co m o p e sso a l, e m b o ra ele não se ja o Pai vivo, am oroso, p ro v e d o r da re ve la çã o he bré ia, m as a p e n a s a R azão G rega. À d in â m ic a em seu tra ta m e n to d a c a u s a lid a d e d ivin a A ris tó te le s s u b stitu i a ló gica . D eus não é poder; é pe n sa m e n to . Epicuro (342-270) considera a felicidade, sentimento subjetivo do prazer, como o mais elevado critério da verdade e do bem. Um cálculo prudente para o prolongado prazer é a mais elevada sabedoria. Ele leva em conta apenas esta vida. É tolice preocupar-se com o galardão e com a mais elevada sabe doria. S e há deuses, estes não se preocupam com o homem. “Sob o pretexto de atender à sua tranqüilidade, E p icuro saúda os deuses e os despede da existência”. A morte é a separação dos átomos e a cessação eterna da cons ciência. As misérias desta vida se devem à imperfeição do universo fortuita mente construído. Quanto mais numerosas tais imerecidas misérias, maior é o nosso direito de buscar o prazer. A le x a n d e r, Theories of the Will, 55-75 Os epicuristas sustentam que a alma é formada de átomos, mas a vontade é livre. Os átomos da alma são isentos da lei de causa e efeito. O átomo pode declinar ou desviar na queda universal; esta é a idéia epicurista de liberdade. Todos os gregos céticos, embora materialistas sustentavam este indeterminismo. Zenão, fundador da filosofia estóica (340-264), considera a virtude como o único bem. O pensamento deve subjugar a natureza. O espírito livre é legisla dor de si mesmo, dependente de si mesmo e autorsuficiente. O critério da verdade e do bem é não sentir, mas pensar. O prazer não é o fim da ação moral, mas a sua conseqüência. Há um irreconciliável antagonismo da exis tência. O homem não pode reformar o mundo, mas pode aperfeiçoar-se. Por isso o orgulho ilimitado é uma virtude. O sábio nunca se arrepende. Não há o T e o l o g ia S is t e m á t ic a mínimo reconhecimento da corrupção morai da humanidade. Não há nenhum ideal divino objetivo, ou vontade divina revelada. O estóico só descobre a lei moral interior e nunca suspeita da sua própria perversão moral. Por isso ele mostra controle próprio e justiça, mas nunca humildade e amor. Ele não necessita de compaixão ou perdão, e não admite nada para os outros. A virtude não é um caráter exteriormente operante, mas uma resistência pas siva à realidade irracional. O homem pode retratar-se a si mesmo. O estóico é indiferente ao prazer e à dor, não porque ele crê num governo divino, ou num amor divino para com a humanidade, mas como um orgulhoso desafio do mundo irracional. Ele não precisa de Deus ou da redenção. Como o epicurista se dá aos prazeres do mundo, o estóico se dá à queixa dele. Em todas aflições ele pode dizer: “A porta está aberta”. Para o epicurista o refúgio é a intoxicação; para o estóico o refúgio é o suicídio: “Se a casa fumega, abandone-a”. W uttke, Chrístian Ethics, 1.6 2-16 1, de quem se condensam muitos destes relatos dos sistemas gregos, descreve o epicurismo e o estoicismo tornando igualmente subjetiva a moral, embora o epicurismo considere o espírito como determinado pela natureza, enquanto o estoicismo considera a natureza como determinada pelo espírito. Os estóicos são materialistas e panteístas. Embora falem em um Deus pessoal, fazem-no como figura de linguagem. A falsa opinião é a raiz de todo o vício. C r ís ip o nega o que nós chamamos de liberdade de indiferença, dizen do que não pode haver efeito sem causa. O homem é escravo da paixão. Os estóicos não podem explicar como um viciado pode tornar-se virtuoso. O resultado é apatia. O homem só age segundo o caráter; esta é a doutrina do destino. A indiferença estóica ou apatia no infortúnio não é uma proeza, mas um covarde recuo. É no verdadeiro sofrimento do mal que o cristianismo encontra “a alma do bem”. O ofício do infortúnio é disciplinar e purificar. “A sombra da pessoa do sábio, projetada no vazio, chama-se Deus e, como o sábio há muito abandonou o interesse na prática da vida, ele espera que a sua divindade faça o mesmo”. Os estóicos reverenciam Deus exatamente por causa da sua inatingível majestade. O Cristianismo vê em Deus um Pai, um Redentor, um amparador nas mínimas necessidades, um libertador do nosso pecado. Ele nos ensina a ver em Cristo a humildade do ser divino, a afinidade com Deus, o supremo interesse de Deus na obra das suas mãos. Cristo morreu pela menor das suas criaturas. O reinado com Deus dignifica o homem. A individualidade que o estoicismo perde no todo, o cristianismo torna o fim da criação. O estado existe para desenvolvê-lo e promovê-lo. Paulo resume e infunde novo sentido a certas expressões da filosofia estóica sobre a liberdade e realeza do sábio, assim como João adotou e glorificou algumas expressões da filosofia alexan drina sobre o Verbo. O estoicismo é solitário e pessimista. Os estóicos dizem que a melhor coisa é não nascer; depois disso a melhor coisa é morrer. Por que o estoicismo não tem um Deus de socorro e simpatia, sua virtude é só a conformidade com a natureza, com o egoísmo majestoso e com a autocomplacência. Nos romanos Epíteto (89), Sêneca (+65) e Marco Aurélio (121180), o elemento religioso mais se aproxima do primeiro plano e a virtude mais uma vez aparece como semelhança a Deus. Mas é possível que mais tarde o estoicismo tenha sido influenciado pelo cristianismo. 277 278 A ugustus H opkins Strong 4. SISTEMAS DA ÁSIA OCIDENTAL. Zoroastro (1000 a.C.), fundador dos parses, era dualista, ao menos quanto à explicação da existência do mal e do bem através da presença original, em tudo, de dois lados opostos no autor. Aqui se encontra um limite na soberania e santidade de Deus. O homem não depende totalmente dele, nem a vontade de Deus é uma lei incondicional para as suas criaturas. Em oposição aos sistemas indianos, a insistência de Z o r o a s t r o na pessoalidade divina fornece uma base muito melhor para uma moralidade vigorosa e masculinizante. Deve-se obter a virtude através de uma luta dos seres livres contra o mal. Por outro lado, entretanto, concebe-se este mal como devendo-se originariamente não aos próprios seres finitos, mas a uma divindade má que guerreia contra o bem, ou a um princípio mau na própria divindade. Por isso o fardo da culpa é transferido do homem para o seu criador. A moralidade torna-se subjetiva e abalada. O amor próprio e o autodesenvolvimento é que fornecem o motivo e alvo da moralidade e não o amor a Deus ou a imitação a ele. Nenhuma paternidade ou amor se reconhe ce na divindade e há adoração de outras coisas além de Deus (p.ex., o fogo). Não pode haver nenhum aprofundamento na consciência do pecado, nem esperança de libertação divina. O único mérito do parseísmo é que ele reconhece o conflito moral do mun do; seu erro é que ele conduz este conflito moral à própria natureza de Deus. Podemos aplicar ao parseísmo as palavras da Conferência das Juntas de Missões Estrangeiras junto aos budistas do Japão: “Todas as religiões expressam a dependência do homem, mas só uma provê a comunhão com Deus. Todas as religiões falam de uma verdade mais elevada, mas só uma fala dessa verdade num amoroso Deus pessoal, que é o nosso Pai. Todas as religiões mostram a desesperança do homem, mas só uma fala de um salva dor divino, que oferece ao homem o perdão do pecado e a salvação pela morte de uma pessoa rediviva, que opera em todo aquele que nele crê, para torná-lo santo, e justo, e puro”. M atheson, Messages of Old Religions, diz que o Parseísmo reconhece um elemento de obstrução no próprio Deus. O mal moral é uma realidade; mas não há nenhuma reconciliação, nem se mostra que todas as coisas cooperam para o bem. Maomé (570-632 A.D.), fundador do islamismo, dá-nos, no Corão, um sis tema que contém quatro dogmas de imoralidade fundamentais, a saber, poli gamia, escravidão, perseguição, e supressão do juízo privado. O maometismo é o paganismo na forma monoteísta. Seus pontos bons são a consciência e o relacionamento com Deus. Tem prosperado porque tem pregado a unida de de Deus e porque é uma religião de um livro. Mas o mesmo acontece com o judaísmo e o cristianismo. Tem se valido dos santos do Velho Testamento e até mesmo de Jesus. Mas nega a morte de Cristo e não vê necessidade da expiação. Não reconhece a força do pecado. A idéia de pecado, entre os maometanos, é vazia de todo o conteúdo positivo. O pecado é tão somente uma falha, explicada pela fraqueza e pouca visão do homem, o que é inevitá vel no universo fatalista ou no momento de ira não lembrado pelo Pai indul gente e misericordioso. Perdão é indulgência e a concepção de Deus é vazia de qualidade de justiça. O mal só pertence ao indivíduo, não à raça. O homem alcança o favor de Deus através das boas obras, baseadas no ensino profé tico. A moral não é fruto da salvação, mas um meio para obtê-la. Não há T e o l o g ia S is t e m á t ic a 279 nenhuma penitência ou humildade, mas apenas a justiça própria; e esta é consistente com a grande sensualidade, o ilimitado divórcio e o despotismo absoluto nos negócios de família, nos civis e religiosos. Não há conhecimen to da paternidade de Deus ou da fraternidade entre os homens. Em todo o Corão não existe uma declaração como esta: “Deus amou o mundo” (Jo. 3.16). A submissão do islame não tem a ver com o amor de Deus, mas com a vontade arbitrária. No amor não há base para a moral. O mais elevado bem é a felicidade sensual do indivíduo. Deus e o homem são exemplos exteriores um do outro. Maomé é um mestre, mas não é um sacerdote. M o s l e y , Miracles, 140,141 - “Maomé não tem fé na natureza humana. Ele pensa que há duas coisas que o homem pode e deve fazer para a glória de Deus: praticar formas religiosas, e lutar, e nestes dois pontos ele é severo; mas na esfera da vida prática comum, onde estão as grandes provações do homem, seu código apresenta frouxidão desdenhosa do legislador que acomoda suas regras ao receptor e mostra sua valorização deste pela acomodação que ele adota. ... ‘A natureza humana é fraca’, diz ele”. L o r d H o u g h t o n : O Corão é todo sabe doria, todo lei, todo religião, por todo o tempo. Os mortos curvam-se diante do Deus morto. “Embora o mundo esteja girando em constante mudança e os reinos do pensamento estejam em expansão, a letra não se expande ou se altera, mas está rígida como a mão de um morto”. A qualquer lugar aonde o maometismo se vai, acha-se ou se faz um deserto. F a ir b a ir n , em Contemp. Rev., dez 1 8 8 2 .8 6 6 - “O Corão congelou o pensamento maometano; obede cer é abandonar o progresso”. M u ir , em Present Day Tracts, 3 . no. 1 4 “O maometismo reduz o homem ao nível da morte da depressão social, do despotismo e do semibarbarismo. O islame é obra do homem; o cristianismo é obra de Deus”. 3. A pessoa e o c a rá te r de Cristo A) A concepção da pessoa de Cristo, apresentando a divindade e hum ani dade indissoluvelm ente unidas e a concepção do caráter de Cristo com sua infalibilidade e total excelência não podem ser consideradas com o hipótese, mas com o realidades históricas. A estilóbata do Partenon em Atenas ergue-se cerca de três polegadas em meio a 101 pés (+ 34m), e quatro polegadas em meio a 228 pés (+ 76m) nos flancos. No entablamento acha-se uma linha mais ou menos paraiela. Os eixos das colunas inclinam-se para o interior^quase três polegadas numa altura de 34 pés, dando assim um tipo de caráter piramidal à estrutura. Deste modo, o arquiteto supera a aparente curvatura das linhas horizontais e ao mesmo tempo aumenta a aparente altura do edifício. O desprezo da contradi ção desta ilusão de óptica tornou a Madeleine em Paris uma cópia rígida e ineficaz do Partenon. O camponês galileu que por minuciosamente descre vesse tais particularidades do Partenon provaria, não só que o edifício era realmente histórico, mas que na verdade o tinha visto. B r u c e , Apologetics, 343 - “Lendo as memórias dos evangelistas, você se sente como outrora 280 A ugustus H opkins Strong alguém se sentiria numa exposição de quadros. Os seus olhos brilham quan do vêem o retrato de uma pessoa conhecida. Você olha para ele com intensi dade por um bom tempo e, a seguir, assinala ao seu companheiro: ‘Deve ser como o original. - é como se estivesse vivo’”. T he o d o r e P arker : “E u gostaria de ter Jesus para reproduzi-lo”. d) Não se pode atribuir nenhuma fonte de que os evangelistas pudessem ter derivado tal concepção. Os avatares hindus eram apenas uniões temporárias da divindade com a humanidade. Os gregos tinham homens feitos semideuses, mas não união entre Deus e o homem. O monoteísmo judaico achou a pessoa de Cristo um escândalo. Os essênios em princípio se opunham mais ao cristianismo do que os rabinistas. Herbert Spencer, Data o f Ethics, 279 - “É impossível a coexistência entre o homem perfeito e a sociedade imperfeita; os dois poderiam coexistir se a conduta resultante não fornecesse o padrão ético procurado”. Devemos con cluir que a humanidade perfeita de Cristo é um milagre, o maior dos milagres. Bruce, Apologetics , 346,351 - “Quando Jesu s pergunta: ‘Por que me chamas bom?’ ele quer significar: ‘Aprende primeiro o que é bondade e não chames homem algum de bom enquanto não estiveres seguro de que ele o merece’. A bondade de Jesus é totalmente livre do escrúpulo religioso; distingue-se pela humanidade; é cheia de modéstia e humildade. ... O budismo floresceu há 2000 anos, embora pouco se conheça do seu fundador. O cristianismo poderá perpetuar-se deste modo, mas não é o que acontece. Eu quero estar certo de que o ideal se incorporou na vida real. Caso contrário, trata-se ape nas de uma poesia e a obrigação de conformar-se com ele cessa”. b) Nenhum simples gênio humano e muito menos o gênio dos pescadores judeus podia ter originado tal concepção. Os maus só inventam tais caracteres com os quais eles simpatizam. Mas o caráter de Cristo condena a maldade. Tal retrato não podia ter sido desenhado sem o auxílio sobrenatural. Mas tal auxí lio não seria objeto de fabricação. A concepção só pode ser explicada aceitan do que a pessoa e o caráter de Cristo são realidades históricas. Conta-se que entre Pilatos e Tito 30.000 judeus foram crucificados em torno dos muros de Jerusalém. Muitos eram jovens. O que leva alguém a ficar fora das páginas da história? Duas são as respostas: O caráter de Jesus é perfeito e ele é ao mesmo tempo Deus e homem. G o r e , Incarnation, 63 “S e o Cristo dos evangelhos não é verdadeiro para a história, representa um esforço combinado da imaginação criativa sem paralelo na literatura. Mas as caraterísticas literárias da Palestina do primeiro século tornam a hipótese de tal esforço moralmente impossível”. Os evangelhos apócrifos mostram-nos o que a simples imaginação é capaz de produzir. O retrato de Cristo não é uma assertiva pueril, insana, histérica, egoística e autocontraditória e isto pode dever-se apenas ao fato de que é a fotografia da vida real. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 281 Para uma notável exibição dos argumentos sobre o caráter de Jesus, ver Nature and the Sobrenatural, 276-332 que menciona a originalida de e vastidão do plano de Cristo, apesar da sua simplicidade e adaptação prática; seus traços morais de independência, compaixão, mansidão, sabe doria, zelo, humildade, paciência; a combinação de qualidades nele aparen temente opostas. Com toda a sua grandeza, ele foi condescendente e sim ples; não foi mundano, mas austero; tem sentimentos fortes, embora possuído de si mesmo; indignou-se contra o pecado, mas compadeceu-se do pecador; mostrou devoção ao seu trabalho, mas tranqüilidade sob a oposição; filantro pia universal, mas suscetibilidade nos assuntos privados; autoridade de um Salvador e Juiz, mas a gratidão e ternura de um filho; a mais elevada devo ção, porém uma vida de atividade e esforço. B u shnell , B) A aceitação e crença nas descrições de Cristo no Novo Testamento não podem ser explicadas a não ser baseadas no fato de que a pessoa e caráter descritos tem existência real. d) Se estas descrições fossem falsas, ainda haveria testemunhas vivas que tinham conhecido Cristo e que as teriam contraditado, b) Não havia nenhum motivo para induzir a aceitação de tais falsos relatos, mas todo o motivo para o contrário, c) O sucesso de tais falsidades só poderia ser explicado com o auxílio sobrenatural, mas Deus nunca auxiliou a falsidade. Esta pessoa e este caráter, portanto, não devem ter sido fictícios, mas reais; e se reais, então as palavras de Cristo são verdadeiras e o sistema de que sua pessoa e caráter são parte é uma revelação de Deus. “A imitação pode por pouco tempo enganar o mundo todo; mas o aumento da operação da mentira faz nascer a verdade”. M a tth ew A rn o ld , The Better Part. “Cristo era um homem como nós? Vejamos se nós também podemos ser homens tais como ele foi!” Quando o espalhafatoso cético declara: “Eu não creio que esse Jesus jamais tenha vivido!” G eorge W arren simplesmente res ponde: “Eu gostaria de ser como ele!” D w ig h t L. M oody foi chamado de hipó crita, porém o valoroso evangelista respondeu: “Bem, suponho que eu sou. Como isto o torna melhor? Sei de algo melhor a meu respeito, mas não posso dizer nada contra o meu Mestre”. G o e t h e : “Que a cultura do espírito progrida sempre; que o espírito humano se amplie tanto quanto ele deseja; contudo, eie nunca ultrapassará a altura^e a cultura do cristianismo como ele cintila e brilha nos evangelhos”. R e n a n , Life of Jesus: “Jesus fundou a religião absoluta, nada excluindo, nada determinando, exceto a sua essência. O alicerce da verdadeira religião na verdade é a obra dele. Depois dele nada restou senão desenvolver e fruti ficar”. E um erudito cristão assinalou: “É uma espantosa prova da direção divina conceder aos evangelistas o que ninguém, da sua época, ou desde então, foi capaz de retocar o quadro de Cristo sem desvalorizá-lo”. Podemos encontrar uma ilustração disto nas palavras de C ha dw ic k , Old and New Unitarianism, 207 - “A doutrina do casamento ensinada por Jesus era ascética, sua doutrina da pobreza era a comunitária, sua doutrina da caridade era 282 A ugustus H opkins Strong sentimental, sua doutrina da não resistência era tai que se recomenda a Tolstoi, mas não a muitos outros da nossa época. O exemplo de Jesus é o mesmo dos seu s ensinos. Seguido sem reservas, não justificaria que se dissesse: ‘A esperança da raça está na sua extinção'; acabar subitamente com todas as nossas alegrias e tristezas?” A isto podemos responder com as palavras de H uxley , que declara que Jesus Cristo é o mais nobre ideal da natureza humana que o ser humano ainda adora”. G o r d o n , Christ of To-Day, 179 - “A questão não é se Cristo é suficientemente bom para representar o Ser Supremo, mas se o Supremo Ser é suficientemente bom para ter Cristo como seu represen tante. J ohn S tuart M ill encara a religião cristã como o culto a Cristo, ao invés de prestá-lo a Deus, e explica desta forma o beneffcio da sua influência”. J ohn S tuart M ill , Essays on Religion, 254 - “A mais valiosa parte do efei to sobre o caráter que o cristianismo produz sustentando numa pessoa divina um padrão de excelência e um modelo digno de imitação, é valioso mesmo para o totalmente descrente, e que nunca mais se perde para a humanidade. Porque é Cristo e não Deus que mantém para os que crêem um padrão de perfeição para a humanidade. É o Deus encarnado em vez do Deus dos judeus ou o da natureza, que, sendo idealizado, assumiu tão grande e salutar força na mente moderna. E seja o que for retirado de nós pela crítica racional, Cristo ainda permanece: a única figura, não mais diferente de todos os seus antecessores do que todos os seus seguidores, mesmo os que auferiram benefícios diretos da sua pregação pessoal. ... Quem, entre os seus discípu los, ou entre os seus prosélitos, foi capaz de inventar palavras atribuídas a Jesus, ou de imaginar a vida e o caráter revelado nos evangelhos? ... A res peito da vida e palavras de Jesus há um selo de originalidade pessoal em combinação com a profundidade de discernimento que, se abandonarmos a ociosa expectação de encontrar precisão científica onde algo bem diferente se objetivava, deve situar o profeta de Nazaré, até na valorização dos que não crêem na sua inspiração, no primeiro nível dos homens de gênio sublime de quem nossa espécie pode orgulhar-se. Quando este proeminente gênio se combina com as qualidades da probabilidade ou do maior reformador moral e mártir da missão que jamais existiu sobre a terra, não se pode dizer que a religião fez uma escolha má ao fixar neste homem o representante ideal e guia da humanidade; nem mesmo agora seria tranqüilo, até para um incrédu lo, encontrar uma tradução melhor da regra de virtude a partir do abstrato para o concreto do que o empenho no viver que Cristo aprovaria para a nossa vida. Quando acrescentamos a isto que, à concepção racional do cético per manece a possibilidade de que Cristo na verdade é ... um homem incumbido de uma comissão especial, expressa e única da parte de Deus de conduzir à verdade e à virtude, bem podemos concluir que as influências da religião no caráter, que continuarão depois que a crítica racional fez o máximo contra as evidências da religião, bem merecem ser preservadas e aquilo que lhes falta na força direta em comparação com as da mais firme crença é muito mais compensada pela maior verdade e retidão da moral que elas sancionam”. 4. O testemunho do próprio Cristo Como um mensageiro de Deus e uno com Deus. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 283 Só uma personagem na história reivindicou ensinar a verdade absoluta, ser um com Deus e atestar sua missão divina por obras tais que só Deus podia operar. A) Este testemunho não pode ser explicado com base na hipótese de que Jesus era um enganador intencional: pois d) a perfeitamente consistente santi dade da sua vida; b) a confiança não oscilante com que ele desafiava a inves tigação das suas reivindicações e firmava todos sobre o resultado; c) a grande improbabilidade de uma duradoura mentira nos declarados interesses da ver dade; e d) a impossibilidade de que o engano tivesse operado tal bênção ao mundo, tudo isso mostra que Jesus não era nenhum consciente impostor. F is h er , Essays on the Supernat. Origin of Christianity 515-538 - Cristo sabia quão vastas eram as suas reivindicações, embora estivesse firme em todas elas. Apesar de que outros duvidassem, ele mesmo nunca duvidou. Perseguido até à morte ele nunca abandonou o seu testemunho consistente. Continua a defender a humildade: Mt. 11.29 - “Eu sou manso e humilde de coração”. Como podemos reconciliar a sua constante auto-afirmação com a humildade? Respondemos que a auto-afirmação de Jesus é absolutamente essencial à sua missão porque ele e a verdade são um: ele não podia afirmar a verdade sem afirmar a si mesmo e não podia afirmar a si mesmo sem afir mar a verdade. Visto que ele é a verdade, é preciso que a diga por amor aos homens e por amor à verdade e poderia ser manso e humilde de coração ao dizê-io. Humildade não é autodepreciação, mas o julgamento de nós mesmos segundo o padrão perfeito de Deus. A palavra ‘humildade’ deriva de ‘humus’. É a descida do etéreo e vão auto-engrandecimento para a base sólida, solo impermeável, do verdadeiro fato. Deus só requer de nós humildade na medida que for consistente com a verdade. A glorificação própria do egocêntrico é nauseante porque indica gros seira ignorância ou falsa interpretação do eu. Mas é preciso ser auto-afirmativo, na medida em que representam os a verdade e a justiça de Deus. Há uma nobre auto-afirmação que é perfeitamente consistente com a humil dade. Jó conservou a sua integridade. A humildade de Paulo não era uma v a ria n te ^ Urias. Quando a ocasião exigia, ele podia afirmar a sua varonilidade e os seus direitos, como em Filipos no Castelo de Antônia. Do mesmo modo o cristão deve, com franqueza, dizer a verdade que está dentro de si. Cada cristão tem a sua própria experiência e deve contá-la aos outros. Ao testemunhar a verdade ele só está seguindo o exemplo de “Jesus Cristo, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão” (1 Tm. 6.13). B) Nem o testemunho de Jesus a seu próprio respeito pode ser explicado com base na hipótese de que ele enganava-se a si mesmo: pois isso indicaria d) fraqueza e tolice somadas à insanidade positiva. Mas seu caráter e vida total demonstram calma, dignidade, equilíbrio, insight, domínio próprio totalmen te inconsistentes com tal teoria. Ou indicaria b) uma ignorância de si mesmo e 284 A ugustus H opkins Strong exagero de si mesmo que só podiam brotar da mais profunda perversão moral. Mas a pureza absoluta da consciência, a humildade do espírito, a altruística beneficência da sua vida mostram que esta hipótese é incrível. R o g e r s , Superhumart Orígin o fth e Bible, - S e ele fosse um homem, exigir que o mundo todo se curvasse diante dele seria um escárnio como o que sentimos por algum monarca de Bedlam ostentando uma coroa de palha. F o r e s t , The Chríst of History and of Experience, 22,76 - Cristo nunca se uniu com os discípulos em oração. Ele subiu ao monte para orar, mas não orar com eles: Lc. 9.18 - “estando ele orando em particular, estavam com ele os seus discípulos”. A consciência da preexistência é precondição indispensá vel da demanda que ele faz nos sinóticos. A da m so n , The Mind in Chríst, 81,82 - Avaliamos o testemunho dos cristãos conforme a sua comunhão com Deus. Devemos muito mais avaliar o testemunho de Cristo. Só aquele que, sendo em primeiro lugar divino, também sabe que ele é divino, pode revelar as coi sas celestes com a nitidez e certeza que pertencem aos pronunciamentos de Jesus. Nele temos algo bem diferente dos flashes do discernimento que nos deixam na maior escuridão. N as h , Ethics and Revelation, 5 - “O respeito próprio apoia-se na capaci dade de tornar o que se deseja ser; e, se a capacidade freqüentemente é inferior à tarefa, as fontes do respeito próprio secam-se; os motivos da felici dade e da ação heróica murcham. A ciência, a arte, a generosa vida cívica e especialmente a religião vêm em socorro do homem”, mostrando-lhe sua ver dadeira grandeza e o fôlego do ser em Deus. O Estado é o eu maior do indi víduo. A humanidade e até mesmo o universo são partes dele. É dever do homem capacitar todos os homens a ser humanos. É possível que os homens não só de um modo verdadeiro, mas racional façam afirmativas até mesmo em assuntos terrenos. C hatham ao Duque de Devonshire: “Meu Senhor, creio que posso salvar este país, e que ninguém mais pode”. L eonardo da V in c i, aos trinta anos, ao Duque de Milão: “Posso completar todo tipo de obra de escul tura, em argila, mármore e em bronze; também em pintura posso executar tudo o que demandam, do)nesmo modo que quem quer que seja”. H o r á c io : “Exegi monumentum aere perennius” (Esculpi um monumento mais duradouro que o bronze). S avage , Life beyond Death, 209 - Um velho ministro famoso disse certa feita, quando um jovem e zeloso entusiasta ten tou entabular com ele uma conversa e, falhando, explodiu com isto: “Afinal você não tem uma religião?” “Não tenho nenhuma de que eu deva falai” , foi a resposta. Quando Jesus percebeu nos discípulos uma tendência para a glori ficação de si mesmos, argumentou com o silêncio; mas quando percebeu a tendência de Introdospeção e inércia, ele os mandou proclamar o que ele tinha feito por eles (Mt. 8.4; Mc. 5.19). Nunca é correto o crente proclamar-se a si próprio; mas, se Cristo não proclamasse a si mesmo, o mundo nunca poderia ser salvo. R ush R e e s , Life of Jesus of Nazareth, 235-237 - No ensino de Jesus, dois tópicos ocupam um lugar de destaque: o Reino de Deus e a sua própria pessoa. Ele procurava ser o Senhor, e não apenas o Mestre. Contudo, o seu Reino não é de força, ou nacional, ou exterior, mas de amor paterno e de fraternidade recíproca”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 285 Jesus realizou alguma coisa de efeito, ou como um simples exemplo? Não é assim. O seu batismo teve para ele um significado como de consagra ção de si mesmo à morte pelos pecados do mundo e a lavagem dos pés dos discípulos foi o apropriado começo da ceia pascal e o símbolo do abandono da glória celestial a fim de purificar-nos para as bodas do Cordeiro. T homas à K empis: “T u não és mais santo do que és louvado e nada pior porque tu és censurado. O que tu és, tu és, e isto nada vale para ser tratado como melhor do que tu és à vista de Deus”. A consciência de Jesus sobre a sua ausência absoluta de pecado e sua comunhão com Deus é o mais forte testemunho da sua natureza divina e missão. Se Jesus, então, não pode ser acusado de insanidade mental ou moral, seu testemunho deve ser verdadeiro e ele mesmo deve ser um com Deus e o reve lador de Deus aos homens. Nem C onfúcio, nem B uda reivindicavam ser divinos, ou órgãos da revela ção divina, embora ambos fossem mestres m orais e reformadores. Parece que Z oroastro e P itágoras criam ser incumbidos de uma divina missão, embo ra os seus mais antigos biógrafos tenham escrito alguns séculos após a mor te deles. S ócrates nada reivindicava para si que estivesse além do poder dos outros. M aomé cria que os estados extraordinários do seu corpo e da sua alma deviam -se à ação de seres celestes; ele produziu o Corão como “uma adver tência a todas as criaturas” , fez uma convocação ao rei da Pérsia e ao impe rador de Constantinopla, assim como a outras potestades, para que aceitas sem a religião do Islam; contudo, lamentou, quando à morte, que não tivesse tido a oportunidade de corrigir os equívocos do Corão e os da sua própria vida. Se C onfúcio ou B uda, Z oroastro ou P itágoras, S ócrates ou M aomé rei vindicassem todo o poder no céu e na terra revelariam insanidade ou perver são moral. Mas isto é precisam ente o que Jesus reivindicava. Ou ele era mental ou moralmente^insano, ou o seu testem unho é verdadeiro. IV. R E SU L T A D O S H IST Ó R IC O S D A P R O P A G A Ç Ã O D A D O U T R IN A D A E S C R IT U R A 1. O rápido progresso do evangelho nos primeiros séculos da nossa era mostra a sua origem divina. A) É uma reconhecida maravilha da história que o cristianismo teria suplan tado o paganismo em três séculos. A conversão do Império Romano ao cristianismo foi a mais espantosa revolução na fé e no culto jamais conhecida. Cinqüenta anos após a morte de Cristo havia igrejas em todas as principais cidades do Império Romano. Nero (37-68) encontrou (como declara T ácito) uma “ingens multituto” (grande 286 A ugustus H opkins Strong multidão) de cristãos para perseguir. P línio escreve a T rajano (52-117) que eies “invadiram não somente as cidades, mas as aldeias e campos de sorte que os tempios estavam quase desertos”. T e r tulian o (160-230) escreve: “Nós somos apenas de ontem e, contudo, temos enchido os vossos lugares, as vossas cidades, as vossas ilhas, os vossos castelos, as vossas casas de concilio, até os vossos campos, vossas tribos, vosso senado, vosso fórum. Nada vos temos deixado a não ser os vossos templos”. No tempo do impera dor Valeriano (253-268), os cristãos constituíam-se a metade da população de Roma. A conversão do imperador Constantino (272-337) subordinou o império todo, apenas trezentos anos após a morte de Cristo, ao domínio do evangelho. B) A maravilha é maior quando consideramos os obstáculos ao progresso do cristianismo: d) O ceticismo das classes cultas; b) o preconceito e a aversão pelo povo simples; e c ) as perseguições realizadas pelo governo. a) Os missionários, mesmo atualmente, acham difícil ter um ouvinte entre as classes cultas dos pagãos. Mas o evangelho apareceu na mais iluminada era da antigüidade - a era da literatura de Augusto'e da pesquisa histórica. T ácito chamou a religião de Cristo “exitiabilis superstitio” - quos per flagitia invisos vulgos Christianos appelabat” (fatal superstição - os quais, por causa da sua infâmia, o povo chamava de cristãos). P lín io : “Nihil aliud inveni quam superstitionem pravam immodicam”. S e o evangelho fosse falso, seus prega dores não se teriam aventurado nos centros da civilização e refinamento; ou se o tivessem, seriam detectados, b) Considere o entrelaçamento das reli giões pagãs com todas as relações da vida. Freqüentemente os cristãos tive ram de enfrentar o furioso zelo e a cega ira da turba, como em Listra e Éfeso. c) R aw linso n , em Historical Evidences, defende que as Catacumbas de Roma compreendiam novecentas milhas de ruas e sete milhões de sepulturas den tro de um período de quatrocentos anos - número bem maior do que poderia ter morrido de morte natural - e que grande multidão deles deve ter sido massacrada por causa da sua fé. Contudo, a Enciclopédia Britânica, chama a estimativa de Di M a r c h i, que R aw linson parece ter tomado como autoridade, um grande exagero. Ao invés de novecentas milhas de ruas, N orthcoate apre senta trezentas e cinqüenta. O número de enterros seria de menos que três milhões. As Catacumbas começam a ser desertadas no tempo de J e rô n im o . Na época, quando os cristãos as empregavam universalmente, não chega riam a mais de duzentos anos. Elas não começaram em covas de areia. Havia três tipos de tufo: 1) rochoso empregado em escavações e de consis tência dura para o propósito cristão; 2) arenoso, empregado em fossos de areia, muito macios para permitirem a construção de galerias e túmulos; 3) granuiar, empregado pelos cristãos. A existência das Catacumbas deve ter sido bem conhecida pelos pagãos. Depois do Papa Dâmaso começou uma exagerada reverência por elas. Eram decoradas e aprimoradas. Por isso muitas pinturas são de data posterior a 400 e testificam a política papal, não a do cristianismo primitivo. As botijas não contêm sangue, mas o vinho da eucaris tia celebrada no funeral. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 287 Fisher, Nature and Method of Revelation, 256-258, chama a atenção para a descrição de M atthew A rnold sobre as necessidades do mundo pagão, não obstante a cegueira a respeito do verdadeiro remédio: “Naquele duro mundo pagão o desgosto e aversão caíram; cansaço e saciada luxúria fizeram da vida do homem um inferno. No frio salão, olhos desfigurados, jaz o nobre romano; dirigia em furiosa aparência, através da Via Ápia; com ferocidade e rapidez bebia e coroava de flores o seu cabelo; nem mais tranqüilo, nem mais rápido passava as desvairadas horas”. Embora com mescla de orgulho e tris teza, o S r. A rnold fastidiosamente rejeita o alimento celestial. A respeito de Cristo ele diz: “Ei-lo agora morto! Longe daqui jaz, na longínqua cidade síria e, na sua sepultura, de olhos brilhantes, as estrelas sírias olham para baixo". Ele vê que os milhões “têm tal necessidade de alegria cujas terras são verda deiras que impregnam os corações do mesmo modo como no passado quan do ainda eram novas”. O mundo tem necessidade de: “Uma poderosa onda de pensamento e de alegria elevando a humanidade vigorosamente”. Mas o poeta não vê apoio para a esperança: “Tolos! tão freqüentes aqui, a felicidade zomba das nossas oraçpsã e acho que poderia fazer-nos temer semelhante evento alhures, fazer-nos voar não para os sonhos, mas para o desejo mode rado”. Ele canta o tempo quando o cristianismo era jovem: “Ah! se eu vivesse aqueles grandes dias, como a sua glória encheria a terra e o céu novamente e também captaria o meu espírito arrebatador!” Mas a desolação do espírito não traz consigo qualquer humildade de auto-estima, nem mesmo a humilda de que deplora a presença e a força do mal na alma e os anseios do livramen to. “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes” (Mt. 9.12). C) A maravilha torna-se ainda maior quando consideramos a insuficiência natural dos meios empregados para garantir esse progresso. d) Os proclamadores do evangelho eram em geral homens iletrados perten centes a uma nação desprezada, b) O evangelho que eles proclamavam era de salvação pela fé em um judeu que tinha sido levado a uma morte ignominiosa. c) O evangelho estimulava repugnância natural, rebaixando o orgulho dos homens, tocando na raiz dos pecados deles e exigindo vida de labor e autosacrifício. d) Contudo, o evangelho era exclusivo, não admitindo nenhum rival e declarando-se a religião universal e única. a) Não é mais improvável que os cristãos primitivos fizessem mais conver tidos do que os modernos judeus com relação aos prosélitos, em grande número nas principais cidades da Europa e da América. C elsus chamava o cristianismo de “religião da ralé”, b) A cruz correspondia à forca romana punição para os escravos. C ícero chama-a “servitutis extremum summumque suplicium” (suplício extremo e supremo da escravidão), c) Havia muitas reli giões más; por que o brando Império Romano perseguiu só as boas? Em parte a resposta é: A perseguição não tem origem nas classes oficiais; na realidade procedia do povo em geral. Tácito chamava os cristãos de “abominadores da raça humana”. Os homens reconheciam no cristianismo um inimigo de todos 288 Augustus H opkins Strong os seus antigos motivos, ideais e objetivos. O altruísmo romperia com a velha sociedade, porque todo esforço centrado no eu ou na vida presente era estigma tizado pelo evangelho como indigno, d) Não tendo credo ou princípios, o paganismo não se preocupava com a sua propagação. “O homem deve ser muito fraco”, dizia C elsus, “para imaginar que os gregos e bárbaros na Ásia, Europa e Líbia nunca podem unir-se sob o mesmo sistema de religião”. Deste modo o governo romano não permitiria religião nenhuma que não participas se da adoração do Estado. “Guardai-vos dos ídolos”, “nós não adoramos outro Deus”, era a resposta do cristão. G ibbon, Hist. Decline and Fali, 1. cap. 15, menciona como causas secundárias: 1) o zelo dos judeus; 2) a doutrina da imortalidade; 3) os poderes miraculosos; 4) as virtudes do cristianismo primitivo; 5) o privilégio na participação do governo da igreja. Porém estas causas eram apenas secundárias e todas seriam insuficientes se não hou vesse uma invencível persuasão da verdade do cristianismo. A perseguição destrói a falsidade ao induzir seus defensores a investigar as bases da sua crença; mas reforça e multiplica a verdade ao induzir seus defensores a ver mais claramente os fundamentos da sua fé. Deve ter havido muitos persegui dores conscientes: Jo. 16.2 - “Expulsar-vos-ão das sinagogas: vem a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”. O Decreto do Papa Urbano II reza: “Porque não consideramos homicidas os que, casu almente, em seu incandescente zelo contra os excomungados, os levarem à morte”. S. Luís, rei da França, estimulava seus oficiais: “Não discutais com os infiéis, mas dominai os incrédulos cravando a espada até onde ela possa penetrar”. Conta-se que a tortura na Inglaterra em certa ocasião, era empre gada com toda a brandura que a natureza do instrumento permitia. Isto lem bra a instrução de/tsaak Walton quanto ao uso da rã: “Ponha gancho atra vés da sua boca e da sua papada; e, ao fazer isso, use de muito amor para com ela”. R obert B rowning, em EasterDay, 275-288, dá-nos o propósito epitáfio de um Mártir, inscrito na parede das Catacumbas, que fornece um valioso con traste com o cético e pessimista esforço de M atthew A rnold: “Nasci doente, pobre e fraco, escravo; nenhuma miséria poderia impedir os guardadores da pérola preciosa da inveja de César; por isso duas vezes lutei contra os ani mais e três vezes vi meus filhos sofrerem por causa da sua lei; à distância sofri o abandono; houve ocasião em que eu estava para ser queimado, mas uma certa Mão aproximou-se de mim através do fogo que havia sobre a minha cabeça e conduziu a minha alma a Cristo, que agora vejo. Meu irmão Sérgio escreve-me este testemunho na parede - Por mim esqueci tudo”. Não se pode explicar o progresso de uma religião de tal modo desprovida de atrativos e sem compromisso com a aceitação e domínio exteriores, no período de trezentos anos, sem que se suponha a assistência de sua promulga ção e, portanto, que o evangelho é uma revelação da parte de Deus. Stanley, Life and Letters, 1.527 - “Na Catedral do Kremlin, sempre que o Metropolitano avançava do altar para dar a sua bênção, sob os seus pés T e o l o g ia S is t e m á t ic a 289 havia um tapete bordado com uma águia da antiga Roma Pagã, a indicar que a Igreja Cristã e o império de Constantinopla alcançou sucesso e triunfou”. 2. A influência benéfica das doutrinas e preceitos da Escritura onde quer que tenham tido preponderância, mostra a origem divina. A) Sua influência na civilização em geral, garantindo um reconhecimen to dos princípios que o paganismo ignorava, tais como Garbett menciona: a) a importância do indivíduo; b) a lei do amor recíproco; c) a santidade da vida humana; d) a doutrina da santidade interior; e) a santidade do lar; f) a monogamia e a igualdade religiosa de ambos os sexos; g) identificação da crença e prática. A contínua corrupção das terras pagãs mostra que esta mudança não se deve a quaisquer leis de simples progresso natural. As confissões dos escrito res antigos mostram que isto não se deve à filosofia. Sua única explicação é que o evangelho é o poder de Deus. B r a c e , Gesta Chrísti, prefácio, vi - “Práticas e princípios implantados, estimulados ou sustentados pelo cristianismo: As que levam em considera ção a personalidade do mais fraco e do mais pobre; o respeito pela mulher; o dever de cada membro das classes privilegiadas de elevar os infortunados; a humanidaae para com a criança, para com o prisioneiro e para com o estran geiro, para com o necessitado, e até mesmo para com o animal irracional; a incessante oposição a toda forma de crueldade, opressão e escravidão; o dever de pureza pessoal, e a santidade do matrimônio; a necessidade da temperança; a obrigação de uma divisão mais eqüitativa do rendimento do trabalho, e da maior cooperação entre empregadores e empregados; o direito que cada ser humano tem de maior oportunidade de desenvolver suas facul dades e de todas pessoas usufruírem iguais privilégios políticos e sociais; o princípio de que a ofensa à nação é ofensa a todos e o interesse e dever do comércio e intercâmbio irrestrito entre todos os países; e, finalmente, uma profunda oposição à guerra, uma determinação de limitar seus males quando advenham e impedir o seu surgimento através da arbitragem internacional”. M ax M üller: “O conceito de humanidade é o dom de Cristo”. G uizot, History o f Civilization, 1. Introd., conta-nos que nos tempos antigos o indivíduo existia em função do Estado; nos tempos modernos o Estado existe em função do indivíduo. “O indivíduo é uma descoberta de Cristo”. Sobre as relações entre o cristianismo e a economia política, ver A. H. S trong, Philosophy and Religion, pp. 443-160; sobre a causa da mudança do ponto de vista considerado na relação do indivíduo para com o Estado, verp. 207 - “O que operou a mudan ça? Nada a não ser a morte do Filho de Deus. Quando se viu que a menor criança e o mais humilde escravo têm uma alma tão digna de que Cristo deixasse o seu trono e entregasse a sua vida para salvá-lo, os valores do mundo alteraram-se e foi então que começou a história moderna”. Luciano, 290 A ugustus H opkins Strong satírico e humorista grego, 160 A.D., dizia a respeito dos cristãos: “Seu pri meiro legislador [Jesus] pôs na cabeça deles que eles são todos irmãos”. Foi o espírito da fraternidade com um que na m aioria dos países levou à abolição do canibalismo, do infanticídio, da queima das viúvas e à abolição escravidão. P ríncipe B ismarck: “ Para o bem -estar social eu não peço nada a não ser o cristianism o sem frases” - o que significa a religião de fatos mais do que de credos (Os rom anos diziam: Res, non verba - ações, não palavras). Na revelação histórica de Deus em Cristo só a fé tornou possíveis os feitos cristãos. S haler, Interpretation o f Nature , 232-278 - Se A ristóteles pudesse contem plar a sociedade dos dias atuais, pensaria no homem moderno como uma nova espécie, saindo em sim patia aos povos distantes. Isto não pode resultar de uma seleção natural, porque o sacrifício próprio não tem proveito algum para o indivíduo. As em oções altruísticas devem sua existência a Deus. A adoração a Deus fluiu sobre as em õções hum anas tornando-as mais sim páticas. A utoconsciência e simpatia, entrando em conflito com as emoções do bruto, originam o senso do pecado. É aí que com eça a guerra entre o elemento natural e o espiritual. O am or da natureza e absorção em outros é o verdadeiro Nirvana. A hum anidade necessita mais de educação do que de ciência física. H. E. Hersey, Introd. to Browning’s Christimas Eve, 19 - “S ídney Lanier diznos que os vinte últimos séculos gastaram o melhor de sua força no desen volvimento da personalidade. A literatura, a educação, o governo e a religião aprenderam a reconhecer o indivíduo como a unidade de força. B rowning vai um passo adiante. Ele declara que tão poderosa força é a personalidade com pleta que ao seu próprio toque dá vida, e coragem, e potencialidade. Ele se volta para a história em busca de inspiração para persistir na virtude e no estímulo a um esforço sustentado e encontra ambos em Cristo”. J. P. C ooke, Credentials of Science, 43 - A mudança do antigo filósofo para o moderno investigador é a da auto-afirmação para a devoção de si mesmo e a grande revolução pode ser traçada sob a influência do cristianismo e do espírito de humildade apresentado e iaculGado poc Gristo. Lewes,, Hist. Phiios., \ A 06 A moralidade grega nunca abrangeu qualquer conceito de humanidade; nenhum grego jamais atingiu a sublimidade de tal ponto de vista. K idd, Social Evolution, 165,287 - Não é o intelecto que impulsiona o mun do dos tempos modernos; é o sentimento altruísta que se originou na cruz e no sacrifício de Cristo. A Revolução Francesa tornou-se possível porque as idéias humanitárias solaparam as próprias classes altas, e foi-lhes impossí vel a resistência eficaz. O socialismo aboliria a luta pela existência da parte dos indivíduos. Que segurança haveria para o progresso social? Remover todas as restrições à população garante a deterioração progressiva. Uma comunidade não socialista vai além da socialista, onde todos os principais desejos da vida estariam garantidos. A tendência real da sociedade é pôr todo o povo em rivalidade, não só no que tange à igualdade política, mas às condições de oportunidades sociais equânimes. No futuro, o Estado interferi rá e controlará para preservar e garantir a livre competição, não obstá-la. O objetivo não é o socialismo ou o gerenciamento do Estado, mas a compe tição em que todos terão vantagens iguais. A evolução da sociedade humana não é primordialmente intelectual, mas religiosa. As raças vencedoras são as T e o l o g ia S is t e m á t ic a 291 religiosas. Os gregos tinham mais intelecto, mas nós temos mais civilização e progresso. Os atenienses estavam tão acima de nós como nós acima da raça negra. Gladstone dizia que somos intelectualmente mais fracos que os medie vais. Quando o desenvolvimento intelectual de qualquer setor da raça na época ultrapassa o ético, a seleção aparentemente é prejudicada, como qualquer outro produto inadequado. A evolução está desenvolvendo a reverência com suas qualidades aliadas: energia mental, resolução, empreendimento, apli cação prolongada e concentrada, com humildade e com o propósito único do cumprimento do dever. Só a religião pode sobrepujar o egoísmo e o indivi dualismo e garantir o progresso social. B) Sua influência no caráter e felicidade do indivíduo em qualquer parte tem sido testada na prática. Esta influência se vê d) nas transformações morais que eles operaram - como no caso do apóstolo Paulo e pessoas em cada comu nidade cristã; b) nos labores altruístas para o bem-estar humano que eles con duziam - como no caso de W il b e r f o r c e e J u d s o n ; c ) nas esperanças que eles inspiraram nos tempos de tristeza e morte. Estes frutos benéficos não podem ter sua fonte em causas simplesmente naturais independentemente da verdade e divindade das Escrituras; pois nesse caso as crenças contrárias seriam acompanhadas pelas mesmas bênçãos. Mas porque achamos estas bênçãos só em conexão com o ensino cristão podemos com justiça considerar esta como a sua causa. Este ensino, então, deve ser verdadeiro e as Escrituras devem ser uma revelação divina. Caso contrário, Deus teria feito uma mentira ser uma grande bênção para a raça. Os missionários morávios nas índias Ocidentais andavam seiscentas milhas para tomar um navio, trabalhavam pela passagem e vendiam-se como escravos a fim de obter o privilégio de pregar aos negros. ... O pai de J ohn G. P aton era um tecelão de meias. A família toda, exceto as criancinhas, traba lhava desde as 6 da manhã até as 10 da noite, com uma hora para o jantar e meia hora para o desjejum e para a ceia. Ainda a família regularmente orava duas vezes por dia. Nesses intervalos para as refeições diárias J ohn G. P aton empregava parte do seu tempo para estudar a gramática latina, a fim de preparar-se para a obra missionária. Quando o seu tio lhe disse que, se ele fosse para as Novas Hébridas, os canibais poderiam devorá-lo, ele retrucou: “Daqui a pouco o senhor vai estar morto e vai ser sepultado e eu prefiro ser devorado pelos canibais a ser devorado pelos vermes”. Os aneitiumesi durante quinze anos arrancavam raízes de mandioca e as vendiam para pagar as 1200 libras exigidas para a impressão da Bíblia em sua própria língua. A assistência uni versal da igreja e o estudo da Bíblia fizeram das Ilhas do Mar do Sul o lugar mais celeste da terra aos sábados. Em 1839, vinte mil negros da Jamaica reuniram-se para iniciar uma vida de liberdade. Em um caixão eram postos algemas e grilhões, relíquias da estaca de tortura e o açoite. Quando o relógio soava as doze badaladas à 292 Augustus H opkins Strong noite, um pregador clamava com grande ênfase: “O monstro está morrendo”! e deste modo, ao fim, com a última badalada, ele clamava: “O monstro mor reu!”. Então todos os que estavam de joelhos levantavam-se e cantavam: “Louvado seja Deus de quem fluem todas bênçãos!” ... “Por que fazeis isso?” dizia o enfermo chinês que o médico estava cuidando na cama com uma atenção que nunca ele havia recebido desde nenê. O missionário aproveitou a oportunidade para falar-lhe do amor de Cristo. ... Quando disseram a uma idosa mãe australiana que duas filhas missionárias na China tinham sido ambas assassinadas por uma turba pagã, só respondeu: “Isto me faz tomar uma decisão: agora eu é que irei à China e tentarei ensinar àquelas pobres criatu ras o que é o amor de Jesu s”. ... Dr- W illiam A s h m o r e : “Morra um missionário e dez virão ao seu funeral”. Um sapateiro, ensinando meninos e meninas abandonados, enquanto trabalhava em sua banca, causou o impulso à vida de fé de T homas G u th r ie . Devemos julgar as religiões não por seus ideais, mas por suas realiza ções. O mar K ayyám e M ozoom dar dão-nos belos pensamentos, mas aquele não é a Pérsia, nem este é a índia. Quando a pesquisa microscópica do ceti cismo, que tem caçado os céus e sondado os mares para negar a existência de um Criador, tem voltado a sua atenção para a sociedade humana e tem achado neste planeta um lugar de dez milhas q\iadradas onde um homem decente pode viver com decência, conforto e segurança, sustentando e edu cando seus filhos, livres de saques e poluição; um lugar onde a senilidade é reverenciada, a infância é protegida, o ser humano é respeitado, a mulher é honrada e a vida humana é tida na devida consideração - quando os céticos puderem encontrar tal lugar com dez milhas quadradas neste globo, aonde não chegou o evangelho de Cristo e limpou o caminho e lançou os fundamen tos e tornou possível a decência e a segurança, então estará em ordem que os literatos céticos se movimentem e ventilem os seus pontos de vista. Mas enquanto estes mesmos homens dependerem da própria religião, eles não gozarão desse privilégio, bem podem hesitar antes de roubar ao cristão a sua esperança e humanitarismo da sua fé no único Salvador que concedeu tal esperança de vida eterna que torna a vida tolerável e a sociedade possível e rouba da morte os seus terrores e da sepultura as suas agonias”. C a p ít u l o III INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS I. D E FIN IÇ Ã O DE IN S P IR A Ç Ã O Inspiração é a influência do Espírito de Deus sobre as mentes dos escrito res da Bíblia que fizeram dos escritos o registro de uma revelação divina pro gressiva, suficiente, quando tomada no seu conjunto e interpretada pelo mes mo Espírito que os inspirou a dirigir cada inquiridor a Cristo e à salvação. Observe o sentido de cada parte da definição: 1. Inspiração é uma influên cia do Espírito de Deus. Não é simplesmente um fenômeno da natureza, ou um capricho psicológico, mas o efeito da operação interior do Espírito divino pessoal. 2. Contudo, a inspiração não é uma influência sobre o corpo, mas sobre a mente. Deus garante o seu fim, não através da comunicação exterior ou mecânica, mas despertando os poderes racionais do homem. 3. Os escri tos dos homens inspirados são o registro de uma revelação. Eles não são, por si mesmos, a revelação. 4. Tanto a revelação como o registro são pro gressivos. Nenhum deles é completo no seu início. 5. Os escritos bíblicos devem ser considerados em conjunto. Deve-se ver cada uma das partes em conexão com a que precede e com a que se segue. 6. Para conhecermos a verdade, o mesmo Espírito Santo, que fez as revelações originais deve inter pretar o seu registro. 7. Assim empregados e interpretados, estes escritos são suficientes, tanto em qualidade como em quantidade, para o seu propósi to religioso. Não tem por fim fornecer-nos um modelo de história ou fatos da ciência, mas conduzir-nos a Cristo e à salvação. d) Por isso, a inspiração deve ser definida, não por seu método, mas por seu resultado. E um termo geral incluindo todos estes tipos e graus de influência do Espírito Santo que operaram nas mentes dos escritores da Bíblia a fim de garantir a postura na forma da verdade permanente e escrita melhor adaptada às necessidades morais e religiosas do homem. b) A inspiração pode freqüentemente incluir a revelação, ou a comunica ção direta da verdade de Deus que o homem não poderia atingir por forças desauxiliadas. Pode incluir a iluminação ou despertar as forças cognitivas do homem para entender a verdade já revelada. A inspiração, contudo, não inclui 294 A ugustus H opkins Strong necessariamente e sempre a revelação e a iluminação. É simplesmente a influên cia divina que garante a transmissão da verdade necessária ao futuro e segun do a natureza da verdade a ser transmitida, pode apenas ser uma inspiração de superintendência, ou pode ser também e ao mesmo tempo uma inspiração de iluminação ou revelação. c ) Não se nega, mas afirma-se, que a inspiração pode qualificar pronuncia mento oral da verdade, ou liderança sábia e atos ousados. Os homens podem ser inspirados a prestar serviço exterior ao reino de Deus, como nos casos de Bezalel e Sansão; apesar de que esse serviço é prestado involuntária ou inconscientemente como nos casos de Balaão e Ciro. Na verdade, toda a inte ligência humana se deve à inspiração do mesmo Espírito que criou o homem no princípio. Preocupamo-nos agora com a inspiração no sentido de autoria da Escritura. Gn. 2.7 - “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”; Ex. 31.2,3 “Eis que tenho chamado por nome B ezalel... e o enchi do Espírito de Deus ... e de ciência em todo artifício”; Jz. 13.24,25 - “chamou o seu nome Sansão; e o menino cresceu, e o Senhor o abençoou. E o Espírito do Senhor o começou a impelir”; Nm. 23.5 - “Então o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão e disse: Torna a Balaque e fala assim”; 2 Cr. 36.22 - “despertou o Senhor o espírito de Ciro”; Is. 44.28 - “quem diz de Ciro: É meu pastor”; 45.5 - “eu te cingirei, ainda que tu não me conheças”; Jó 32.8 - “há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-poderoso os faz entendidos”. Estas passagens mos tram o verdadeiro sentido de 2 Tm. 3 .16 - “Toda Escritura divinamente inspi rada”. A palavra eeóTtveua-coç deve ser entendida como alusão ao sopro origi nal da vida da parte de Deus, não como o sopro do flautista no seu instrumento. A flauta é passiva, mas a alma do homem é ativa. A flauta produz só o que recebe, mas o homem inspirado sob a influência divina é consciente e livre originador do pensamento e da expressão. Embora a inspiração de que esta mos tratando seja somente a dos escritos da Bíblia, podemos entender melhor este emprego restrito do termo, lembrando que todo o conhecimento real tem em si um elemento divino e que somos possuídos da consciência completa só quando vivemos, nos movemos e existimos em Deus. Porque Cristo, o divino Logos ou Razão, é “a luz que alumia a todo homem” (Jo. 1.9), uma influência especial do “Espírito de Cristo que estava neles” (1 Pe. 1.11) racionalmente explica o fato de que “homens de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe. 1.21). É possível auxiliar o nosso entendimento dos termos acima se acrescen tarmos exemplos de: 1) Inspiração sem revelação, como em Lucas e Atos, Lc. 1.1-3; 2) Inspiração incluindo revelação, como em Apocalipse, Ap. 1.1,11; 3) Inspiração sem iluminação, como nos profetas, 1 Pe. 1.11; 4. Inspiração incluindo iluminação, como no caso de Paulo, 1 Co. 2.12; 295 T e o l o g ia S is t e m á t ic a 5. Revelação sem inspiração, como nas palavras de Deus no Sinai, Ex. 20.1,22; 6. Iluminação sem inspiração, como nos pregadores modernos, Ef. 2.20. Outras definições são as de P ark : “Inspiração é uma influência sobre os escritores da Bíblia de tal sorte que todos os seus ensinos são fidedignos; de W ilkinson : “Inspiração é o auxílio da parte de Deus de modo a preservar o relato da revelação divina livre do erro. Auxílio a quem? Não importa desde que se garanta o resultado. O resultado final, isto é, o registro ou relato da revelação, deve ser imune de erro. A inspiração pode afetar um ou todos os agentes empregados”; de H o v e y : “A inspiração é uma influência do Espírito de Deus nas forças do homem que se preocupa em receber, em reter e expressar a verdade religiosa - uma influência de tal modo penetrante e poderosa que o ensino dos homens inspirados concorda com a mente de Deus. O ensino deles não abrange toda a verdade a respeito de Deus, ou do homem, ou o caminho da vida; mas compreende a verdade em cada assunto em particular de acordo com a medida da fé através do mestre inspirado e feita útil àqueles a quem se destina. Neste sentido, o ensino dos documentos originais que compõem a nossa Bíblia podem ser declarados isentos de erro”; de G.B. F o s t e r : “Revelação é a ação de Deus na alma do seu filho, resultan do na própria expressão divina: Inspiração é a ação de Deus na alma do seu filho resultando na apreensão e apropriação da expressão divina. A revela ção tem prioridade lógica, mas não cronológica”; de H o rto n , Inspiration and the Bible, 10-13 - “Por inspiração significamos exatamente as qualidades e caraterísticas que são marcas ou notas da Bíblia ... Dizemos que a nossa Bíblia é inspirada; com isso significamos que, através da sua leitura e estudo, encontramos o caminho para Deus, a sua vontade para nós, e o meio de nos conformarmos com a vontade dele”. F a ir b a ir n , Christ in Modern Theology, 496, c o n q u a n t o n o b r e m e n t e e s t a b e le c e a n a t u r a lid a d e d a r e v e la ç ã o , t e m u m c o n c e it o e r r ô n e o s o b r e a r e la ç ã o d a in s p ir a ç ã o c o m a r e v e la ç ã o d a n d o p r io r id a d e à p r im e ir a : “ P o d e - s e d iz e r q u e a id é ia d e u m a r e v e la ç ã o e s c r it a e n v o lv e lo g ic a m e n t e a n o ç ã o d e u m Deus v iv o . A fa la é p r ó p r ia d a n a t u r e z a d o E s p ír ito ; e s e , p o r n a tu r e z a , D e u s é e s p ír ito , s e r á p r ó p r io d a s u a n a t u r e z a r e v e la r - s e a s i m e s m o . M a s s e e le f a la a o h o m e m , s e r á a t r a v é s d e h o m e n s ; e o s q u e m e lh o r o u v e m s ã o o s m a is p o s s u í d o s d e D e u s . T a l p o s s e c h a m a - s e ‘ in s p ir a ç ã o ’ . D e u s in s p ir a , o h o m e m r e v e la : a r e v e la ç ã o é o m o d o o u f o r m a - p a la v r a , c a r á te r , o u in s t it u iç ã o - e m q u e o h o m e m in c o r p o r a o q u e r e c e b e u . O s t e r m o s , e m b o r a n ã o e q u iv a le n te s , s ã o c o e x t e n s iv o s : u m d e n o t a o p r o c e s s o o u la d o in te r io r , o o u t r o o e x t e r io r ” . E s ta a fir m a ç ã o , e m b o r a a p r o v a d a p o r S a n d a y , Inspiration, 12 4,12 5 p a re c e - n o s q u a s e p r e c is a m e n t e r e v e r t e r o s e n t id o c o r r e t o d a s p a la v r a s . P r e f e r im o s o p o n to d e v is t a d e E v a n s , Scholarship and Inspiration, 54 - “ P r im e ir o D e u s r e v e lo u - s e e , d e p o is , in s p ir o u h o m e n s p a r a in t e r p r e t a r e m , r e g is tr a r e m e a p li c a r e m e s t a r e v e la ç ã o . N a r e d e n ç ã o , a in s p ir a ç ã o é o f a t o r f o r m a l, d o m e s m o m o d o q u e a r e v e la ç ã o é o f a t o r m a te r ia l. O s h o m e n s s ã o in s p ir a d o s , c o m o d iz S to w e . O s p e n s a m e n t o s s ã o in s p ir a d o s , c o m o d iz o P r o f . B r ig g s . A s p a la v r a s s ã o in s p ir a d a s , c o m o d iz H o d g e . A u r d id u r a e a t r a m a d a B í b lia é o 7 tv e % ia : “ a s p a la v r a s q u e e u v o s d is s e s ã o e s p í r it o e v id a ” (J o . 6.63). A s b o rd a s e s c a p a m , c o m o é in e v itá v e l, p a r a o s e c u la r , m a t e r ia l e p s í q u ic o ” . P h il l ip s B r o o k s , 296 A ugustus H opkins Strong Life, 2.351 - “S e a verdadeira revelação de Deus está em Cristo, a Bíblia não é propriamente uma revelação, mas uma história desta. Isto não é apenas um fato, mas uma necessidade porque não se pode revelar uma pessoa num livro, mas deve-se encontrar revelação, se é que isto é possível, numa pes soa. Por isso o centro e o cerne da Bíblia encontram-se nos evangelhos, como a história de Jesu s”. Alguns, como P r iestley , têm sustentado que os evangelhos são autênti cos, mas não inspirados. Por isso, acrescentamos às provas da genuinidade e credibilidade da Escritura a prova da sua inspiração. C ha dw ic k , Old and New Unitarianism, 11 - “A crença de P riestley na revelação sobrenatural é intensa. Ele sente absoluta falta de confiança na razão como capaz de forne cer um conhecimento adequado aos assuntos religiosos e, ao mesmo tempo, uma perfeita confiança na razão qualificada para o elemento negativo e determinar o conteúdo da revelação”. Podemos reivindicar a verdade históri ca dos evangelhos ainda que não os chamemos de inspirados. G o r e , em Lux Mundi, 341 - “O cristianismo traz consigo uma doutripá da inspiração das Escrituras Sagradas, mas não se baseia nela”. W arfield e H o d g e , Inspiration, 8 - “Conquanto a inspiração das Escrituras seja verdadeira e, assim sendo, fundamental para a sua interpretação adequada, não é, em primeiro plano, um princípio fundamental da religião cristã”. II. P R O V A D A IN S P IR A Ç Ã O 1. Porque temos mostrado que Deus fez uma revelação de si mesmo ao homem, com razão podemos presumir que ele não confiará esta revelação totalmente à tradição e falsa interpretação humanas, mas também proverá um registro dela essencialmente fidedigno e suficiente; em outras palavras, que o mesmo Espírito que originariamente comunicou a verdade presidirá a sua publicação até onde for necessário para cumprir seu propósito religioso. Porque toda inteligência natural, como já vimos, pressupõe a habitação de Deus no homem e, porque na Escritura a atmosfera totalmente prevalecente, com sua constante pressão e esforço para entrar em cada fresta e em cada canto do mundo emprega-se como ilustração do impulso do onipotente Espírito de Deus a fim de vivificar e encher de energia cada alma humana (Gn. 2.7; Jó 32.8), podemos inferir que, a não ser para o pecado, todo homem seria moral e espiritualmente inspirado (Nm. 11.29 - “Quisera Deus que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!”; Is. 59.2 - “as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus”). Vimos também que o método de Deus comunicar a sua verdade em matéria de religião é talvez análogo ao de comunicar a verdade secular como a da astronomia ou a da história. Há um processo originai de falar à uma nação isoladamente e a pessoas isoladamente na mesma nação, para que através delas se chegue à humanidade. S anday , Inspiration, 140 - “Há um ‘propósito de Deus segundo a eleição’ (Rm. 9.11); há uma ‘eleição’ ou ‘seleção da graça’; e o objeto dessa seleção é Israel e os que tomam o seu nome a partir do T e o l o g ia S is t e m á t ic a 297 Messias de Israei. S e a torre é edificada em alas ascendentes, os que ficam nas alas inferiores ainda estarão em nível acima do chão e alguns podem estar mais elevados que outros, mas a plena e desimpedida visão está reserva da aos que estão no topo. Eis o lugar destinado a nós se quisermos assumi-lo”. Se seguirmos a analogia da operação de Deus em outras comunicações do conhecimento, razoavelmente presumiremos que ele preservará o registro de suas revelações em documentos escritos e acessíveis, transmitidos a par tir daqueles a quem estas revelações primeiro foram comunicadas, e esperase que tais documentos mantenham-se corretos e fidedignos a fim de cumprir o seu propósito religioso, a saber, o fornecimento ao honesto inquiridor de um guia rumo a Cristo e à salvação. O médico faz a sua prescrição por escrito; o amanuense do Congresso registra os seus procedimentos; o Departamento de Estado do nosso governo instrui os nossos embaixadores no exterior, não oralmente, mas através de despachos. Maior ainda é a necessidade de que a revelação seja registrada porque deve ser transmitida àg eras distantes; ela contém longos discursos; abrange doutrinas misteriosas. O próprio Jesus não escreveu; porque ele não é simplesmente o canal da revelação, mas a sua mensagem. A sua despreocupação com a imediata incumbência aos apósto los para que escrevessem o que eles viram e ouviram seria inexplicável se ele não esperasse que a inspiração os assistiria. Chegamos à discussão da Inspiração com uma suposição bem diferente da de K uenen e de W ellhausen , que escrevem no interesse do quase declara do naturalismo. K u e n e n , nas primeiras sentenças da sua Religião de Israel, na verdade afirma o governo terreno de Deus. Mas S anday , Inspiration, 117, está certo ao dizer que “K uenen conserva esta idéia bem no pano de fundo. Ele gastou um volume inteiro de 593 páginas impressas (Prophets and Prophecy in Israel, Londres, 1877) para provar que os profetas não foram movidos a falar por Deus, mas os seus pronunciamentos eram deles mesmos”. O seguin te extrato, diz S anday , indica a posição que o D r . K uenen realmente susten tava: “Não nos permitimos ser privados da presença de Deus na história. Nos sucessos e desenvolvimento das nações, e não menos claramente nos de Israel, nós O vemos, o santo e totalmente sábio Instrutor dos seus filhos humanos. Mas os velhos contrastes devem ser postos de lado. Quando deriva mos a nossa parte separada da vida religiosa de Israel diretamente provinda de Deus e permitimos que a revelação sobrenatural ou imediata intervenha em um só ponto, a nossa opinião do todo continua a ser incorreta e nós mesmos vemos cá e lá a necessidade de violentar o conteúdo bem autenticado dos documentos históricos. S ó a suposição de um desenvolvimento natural é que explica todos os fenômenos: (K u e ne n , Prophets and Prophecy in Israel, 585). 2. Jesus, de quem já se provou não só ser testemunha digna de crédito, mas um mensageiro de Deus, garante a inspiração do Velho Testamento citando-o na fórmula: “Está escrito”; declarando que nem um jota nem um til dele “se passará” e que a “Escritura não pode ser quebrada”. Jesus cita quatro dos cinco livros de Moisés, e Salmos, Isaías, Malaquias e Zacarias, com a fórmula “está escrito”; verMt. 4.4, 6, 7; 11.10; Mc. 14.27; 298 A ugustus H opkins Strong Lc. 4.4-12. Esta fórmula entre os judeus indicava que a citação vinha do livro sagrado e era divinamente inspirada. Sem dúvida Jesu s considerava o Velho Testamento com tanta reverência como os judeus contemporâneos. Ele decla rou que “nem um jota nem um til se omitirá da lei (M t. 5.18). Ele disse que “a Escritura não pode ser anulada” (Jo. 10.35) = “a autoridade normativa e judi cial da Escritura não pode ser desprezada; note aqui [no singular, f\ Ypacpri] a idéia da unidade da Escritura” ( M e y e r ). Leve-se em conta que o emprego da Escritura do A.T. pelo nosso Senhor era inteiramente livre do literalismo supersticioso que prevalecia entre os seus contemporâneos judeus. As expres sões “palavra de Deus” (Jo. 10.35; Mc. 7.13), “sabedoria de Deus” (Lc. 11.49) e “palavras de Deus” (Rm. 3.2) provavelmente designam as revelações origi nais de Deus e não os registros destes na Escritura; cf. 1 Sm. 9.27; 1 Cr. 17.3; Is. 40.8; Mt. 13.19; Lc. 3.2; At. 8.25. Jesus se recusa a aceitar a lei do A.T. sobre o sábado (Mc. 2.27), contaminação exterior (Mc. 7.15), divórcio (Mc. 10.2). Ele “não veio destruir a lei, mas cumprir” (Mt. 5.17); embora ele cumprisse a lei fazendo o interior do seu espírito uma vida perfeita, e não uma obediência formal e minuciosa aos seus preceitos. Os apóstolos citam o A.T. como um pronunciamento de Deus (Ef. 4.8 - 5tò Xéyei sc. 0eóç). A insistência de Paulo na forma de até mesmo uma simples palavra, como em Gl. 3.16, e o seu emprego no A.T. com o propósito alegórico, como em Gl. 4.21-31, mostram que, no seu ponto de vista, o texto do A.T. é sagrado. Filo, Josefo e o Talmude na sua interpretação do A.T., continuamente caem num “estreito e infeliz literalismo”. “O N.T., na verdade, não escapa aos métodos rabínicos, mas mesmo onde estes são mais proeminentes parece afetar a forma muito mais do que a substância. E, através da forma temporária e local, o escritor constantemente penetra no próprio cerne do ensino do A.T,”, 3. Jesus comissionou seus apóstolos como mestres e lhes deu promessas de um auxílio sobrenatural do Espírito Santo em seu ensino, como a promessa feita aos profetas do Velho Testamento. Mt. 28 .19,20 - “Ide ... ensinando ... e eis que eu estou convosco”. Compa re as promessas de Moisés (Ex. 3.12), Jeremias (Jr. 1.5-8), Ezequiel (Ez. 2 e 3). Ver também Is. 44.3 e Jl 2.28 - “Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne”; Mt. 10.7 - “e indo, pregai”; 19 - “não vos dê cuidado como ou o que haveis de falar”; Jo. 14.26 - “o Espírito Santo ... vos ensinará todas as coi sas”; 15.26,27 - “aquele Espírito da verdade ... testificará de mim; e vós tam bém testificareis” = o Espírito testificará em vós e através de vós; 16 .13 - “ele vos guiará em toda a verdade” = 1) limitação - toda a verdade de Cristo, /.e. não da filosofia e da ciência, mas da religião; 2) extensão - toda a verdade dentro de um limitado nível, /.e., suficiência da Escritura como regra de fé e prática ( H o v e y ); 17.8 - “porque lhes dei as palavras que tu me deste”; At. 1.4 - “determinou-lhes ... que esperassem a promessa do Pai”; Jo. 20.22 - “assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”. Eis aqui tanto a pro messa como a comunicação pessoal do Espírito Santo. Compare Mt. 10.19,20 - “será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito do vosso Pai é que fala em vós”. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 299 Aqui o testemunho de Jesus é o de Deus. Em Dt. 18 .18 se diz que Deus porá as suas palavras na boca do grande profeta. Em Jo. 12.49,50 Jesu s diz: “Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito”. Jo. 17.7,8 - “tudo quanto me deste provém de ti; porque lhes dei as palavras que me deste”. Jo. 8.40 - “homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido”. 4. Os apóstolos reivindicam ter recebido este Espírito prometido e falar sob a sua influência com autoridade divina, pondo seus escritos no nível das Escrituras do Velho Testamento. Não temos só declarações diretas de que tan to a matéria como a forma do seu ensino eram supervisionadas pelo Espírito Santo, mas temos evidência indireta de que este é o caso no tom da autoridade que permeia os seus discursos e epístolas. Afirmações: - 1 Co. 2 .10 ,13 - “Deus no-las revelou pelo Espírito ... as quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo nos ensina”; 11.23 - “eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” 12.8,28 - a Xóyoç aocpíaç parece um dom peculiar aos apóstolos; 14 .3 7 ,3 8 - “as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”; Gl. 1.12 - “não o recebi nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo”; 1 Ts. 4.2,8 - “vós bem sabeis que mandamento vos temos dado pelo Senhor Jesus ... portanto, quem rejeita isto não rejeita o homem, mas, sim, a Deus que nos deu também seu Espírito Santo”. As passagens a seguir põem o ensino dos apóstolos no mesmo nível da Escritura do A.T.: 1 Pe. 1 .11 ,12 - “o Espírito de Cristo, que estava neles” [pregadores do N.T.]; “pelo Espírito Santo vos pregavam o evangelho”; 2 Pe. 1.21 - Os profetas do A.T. “falaram inspirados pelo Espírito Santo”; 3.2 - “que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas” [V. T.] e do mandamento do Senhor e Salvador mediante os vossos apóstolos” [N.T.] 16 “torcem [as Epístolas de Paulo], e igualmente as outras Escrituras, para a sua própria perdição”. Cf. Ex. 4.14-16; 7.1. Implicações: 2 Tm. 5.16 - “Toda Escritura divinamente inspirada é provei tosa” - implicação clara da inspiração, embora não seja uma declaração dire ta a seu respeito = há uma Escritura divinamente inspirada. Em 1 Co. 5.3-5, Paulo, determinando à igreja de Corinto sobre o incestuoso, é arrogante ou inspirado. Há mais imperativos nas Epístolas que em quaisquer outros escri tos da mesma extensão. Observe a contínua afirmação da autoridade, como em Gl. 1.1,2 e a declaração de que a descrença do registro é pecado e, como em 1 Jo. 5.10,11. Jd. 3 - “fé que uma vez (cx7ia£) foi dada aos santos”. As passagens acima citadas mostram que os homens distinguem inspira ção do seu próprio pensamento desauxiliado. Estes homens defendem que a sua inspiração é a mesma que a dos profetas. Ap. 22.6 - “O Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as coi sas que em breve hão de acontecer” = a inspiração lhes deu o conhecimento 300 A ugustus H opkins Strong sobrenatural do futuro. Como a inspiração no A.T. é obra do Cristo anterior à encarnação, do mesmo modo a inspiração no N.T. é obra do Cristo que subiu ao céu e foi glorificado pelo seu Espírito Santo. Sobre a Autoridade Relativa dos Evangelhos, ver G erhar dt , em Am. Journ. Theol., abr. 1899, 275-294, o qual mostra que as palavras de Jesus nos evangelhos não representam a revelação final, mas que o ensino do Cristo ressurrecto e glorificado é visto em Atos e nas Epístolas. Estas são obras póstumas de Cristo. P a ttison , Making of the Sermon, 23 - “Os apóstolos, crendo-se inspirados, freqüentemente pregavam sem textos; e o fato de que os seus sucessores não seguiam o seu exemplo mostra que, por si mesmos, eles não faziam tal reivindicação. A inspiração cessou e, por isso, a autoridade encontra-se no emprego das palavras das Escrituras agora completas”. 5. Os escritores apostólicos do Novo Testamento, diferentemente dos sábios e poetas pagãos reconhecidamente inspirados, atestaram através de milagres ou da profecia que eles eram inspirados por Deus e l/á razão para crer que as produções dos que não eram apóstolos, tais como Marcos, Lucas, Hebreus, Tiago e Judas foram recomendadas às igrejas como inspiradas, pela sanção e autoridade apostólicas. Os doze operaram milagres (Mt. 10.1). A expressão “sinais do meu apostolado” (2 Co. 12.12) (em grego otiixeTcc tovi ànoaTó^ot)); Rev. e Atualizada do Br., credenciais do apostolado; K ing J a m e s , signs of an apostle [sinais de um apóstolo] = milagres. A evidência interna confirma a tradição de que Marcos era “intérprete de Pedro”, e que o evangelho de Lucas e o livro de Atos tive ram a sanção de Paulo. Visto que o propósito da outorga do Espírito devia qualificar aqueles que seriam os mestres e fundadores da nova religião, é razoável admitir que a promessa do Espírito feita por Cristo era válida não só para os doze, mas para todos os que ocupavam o lugar deles e a estes não apenas como porta-vozes, mas também aos escritores, porque para isto eles tinham maior necessidade de direção. A Epístola aos Hebreus, juntamente com Tiago e Judas, aparecem enquanto alguns dos doze ainda eram vivos e continuaram inalteráveis; o fato de que todas elas, excetuando-se, possivelmente, 2 Pedro, bem cedo foram aceitas pelas igrejas organizadas e orientadas pelos apóstolos, é evidência suficiente de que estes as consideravam produções inspiradas. Para evidên cia de que os escritores consideravam os seus livros como autoridade univer sal, ver 1 Co. 1.2 - “à igreja de Deus que está em Corinto ... com todos os que, em todo lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” etc.; 7.17 - “É o que eu ordeno em todas igrejas”; Cl. 4 .16 - “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei também que o seja na igreja dos laodicenses”; 2 Pe. 3 .15 ,16 - “como também nosso amado irmão Paulo escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”. J o h n s o n , Sistematic Theology, 40 - “Os dons miraculosos foram concedi dos no Pentecostes a muitos além dos apóstolos. A profecia não era um dom incomum durante o período apostólico”. Não há nenhuma improbabilidade T e o l o g ia S is t e m á t ic a 301 antecedente de que a inspiração se estenderia a outros além dos principais líderes da igreja e, visto que temos exemplos expressos de tal inspiração em pronunciamentos orais (At. 11.28; 21.9,10), parece que deve ter havido exem plos de inspiração em pronunciamentos escritos também. Em alguns casos isto parece ter sido só uma inspiração de superintendência. Clemente de Ale xandria diz só que Pedro nem proibiu, nem estimulou Marcos em seu plano de escrever o evangelho. Irineu conta-nos que o evangelho de Marcos foi escrito depois da morte de Pedro. P apias diz que Marcos escreveu o que ele lembrava ter ouvido de Pedro. Lucas não parece ter estado consciente de qualquer auxílio miraculoso em seu escrito e seus métodos parecem ter sido os de um historiador normal. 6. Contudo, a principal prova da inspiração deve sempre ser encontrada nas características internas das próprias Escrituras como as reveladas pelo Espírito Santo ao sincero inquiridor. O testemunho do Espírito Santo combina com o ensino da Bíblia de convencer o mais ávido leitor de que este ensino está como um todo em toda a essência além do poder comunicador do homem e que, portanto, deve ter sido posto por inspiração de Deus em forma perma nente e escrita. F o s t e r , Christian Life and Theology, 105 - “O testemunho do Espírito é um argumento da identidade dos efeitos - as doutrinas da experiência e as da Bíblia - para a identidade da causa. ... A experiência da operação de Deus prova a da Bíblia. ... Isto abrange a Bíblia como um todo, senão por inteiro. Ela é verdadeira em tudo o que podemos testá-la. Deve-se crer muito mais se não há nenhuma outra evidência”. Lyman A bbott , em Theology of an Evolutionist, 105, chama a Bíblia de “o registro laboratorial de um ser humano no reino espiritual, uma história da aurora da consciência de Deus e da vida divina na alma humana”. Isto nos parece excessivamente subjetivo. Preferimos dizer que a Bíblia é também para nós um testemunho de Deus sobre a sua presen ça e obra do coração e do homem - a qual prova sua origem divina desper tando em nós experiências semelhantes às que ela descreve e que estão além do que o homem pode originar. G. P. F is h er , em Mag. Of Christ. Lit., dez. 1892.239 - “É a Bíblia infalível? No sentido de que todas as suas afirmações estendem-se até minúcias em matéria de história e ciência estritamente completa não é. Nem no sentido de que toda a afirmação doutrinária e ética em todos estes livros é incapaz de produzir correção. O todo deve formar juízo sobre as partes. A revelação é progressiva. Há um fator humano assim como um divino. O tesouro encontrase em vasos de barro. Mas a Bíblia é infalível no sentido de que qualquer que se rende num espírito dócil aos seus ensinos não cairá no doloroso erro em matéria de fé e caridade. Melhor do que tudo, encontrará nela o segredo de uma nova, santa e abençoada vida ‘escondida com Cristo em Deus’ (Cl. 3.3). As Escrituras testemunham de Cristo. ... Através delas ele verdadeira e adequadamente se faz conhecido a nós”. D e n n e y , Death o f Chríst, 3 1 4 “São termos correlatos a unidade da Bíblia e a sua inspiração. Se pudermos Augustus H opkins Strong 302 discernir nela uma unidade real - e creio podermos quando virmos que ela converge e culmina no amor divino que suporta o pecado do mundo - então tal unidade e inspiração passam a ser uma e a mesma coisa. E ela não é apenas inspirada como um todo; ela é o único livro inspirado. É o único livro no mundo pelo qual Deus põe o seu selo nos nossos corações quando o lemos na busca de uma resposta para a pergunta: Como o pecador será justo para com Deus? ... A conclusão do nosso estudo sobre a Inspiração deve ser a convicção de que a Bíblia nos dá um corpo doutrinário - uma ‘fé que uma vez foi dada aos santos’ (Jd. 3)”. III. T E O R IA S SO B R E A IN S P IR A Ç Ã O 1. Teoria da Intuição Sustenta que a inspiração é apenas um desenvolvimento do insight (discer nimento) da verdade que todos homens possuem em certo grau; um modo de inteligência em matéria de moral e religião que dá surgimento aos livros sagra dos, como um modo correspondente de inteligência em matéria de verdade secular dá surgimento a grandes obras de filosofia ou arte. Tal modo de inteli gência é considerado como produto das próprias forças do homem, quer sem influência divina especial, quer só através da operação de um Deus impessoal. Esta teoria naturalmente tem conexão com os pontos de vista pelagiano e racionalista sobre a independência do homem relativa a Deus ou às con cepções do homem como a maior manifestação de uma inteligência total mente permeável, mas inconsciente. M orell e F. W. N ewman na Inglaterra e Parker nos Estados Unidos representam esta teoria. Ver M o rell , Philos. of Religion, 127-179 - “A inspiração é apenas uma potência mais elevada que cada homem possui em certo grau”. Ver também F rancis W. N ewman (irmão de J ohn H enry N ew m an ), Phases of Faith (= fases da descrença); T heodore P ar ker , Discourses of Religion, and Experiences as a Minister. “Deus é infini to; por isso ele é imanente na natureza, embora transcendente a ela; imanente em espírito, embora transcendente a ele. Ele deve preencher cada ponto do espírito, do mesmo modo que do espaço; a matéria deve inconsciente mente obedecer; o homem, consciente e livre, até certo ponto pode desobe decer, mas obedecendo, o Deus imanente age no homem do mesmo modo que na natureza” - citado em C h a d w ic k , Theodore Parker, 271. Daí o ponto de vista de P arker on Inspiration: S e se cumprem as condições, a inspiração ocorre em proporção com os dons do homem e com o emprego desses dons. O próprio C ha dw ic k , em Old and New Unitrarism, 6 8 , diz que “as Escrituras são inspiradas na medida em que elas estão inspirando e nada mais”. W. C. G a n n ett , Life ofEzra Stiles Gannet, 1 9 6 - “O espiritualismo de Parker afirmava, como grande verdade da religião, a imanência de um Deus infinita mente perfeito na matéria e na mente e sua atividade em ambas as esferas”. M artineau , Study of Religion, 2 .1 7 8 -1 8 0 - “T heodore P arker trata os resultados T e o l o g ia S is t e m á t ic a 303 regulares das faculdades humanas como um aobra imediata de Deus e con sidera os princípios de N ew ton como inspirados. ... Em que, então, se toma a personalidade humana? Ele chama Deus não só de onipresente, mas de omniativo (que age em todas esferas). É então S hakespeare por cortesia o autor de Macbeth? ... S e isto fosse mais que retórico, seria panteísmo incon dicional”. Tanto a natureza como o homem são expressões da divindade em nós, mas a nossa razão e empenho pessoais, pensa ele, não podem ser =íribuídos a Deus. A palavra vovç não tem plural: sempre que o intelecto se manifesta, sendo um, como a verdade é uma e a mesma, embora possa apresentar-se na consciência de muitas pessoas; verMARTiNEAu, Seat ofAuthority, 403; P alm e r , Studies in Theological Definition, 27 - “Não podemos traçar nenhuma distinção aguda entre a mente humana descobrindo a verdade e a mente divina concedendo a revelação”. K uenen pertence a esta escola. Com relação a esta teoria assinalamos: ã) Na verdade, o homem tem um certo insight da verdade e admitimos que a inspiração o utiliza até onde pode e o faz um instrumento na descoberta e registro de fatos da natureza ou da história. Por exemplo: na investigação de assuntos puramente históricos, tais como os registros de Lucas, o discernimento meramente natural pode às vezes ter sido suficiente. Quando o caso é este, Lucas pode ter-se entregado ao exer cício de suas próprias faculdades, enquanto a inspiração apenas estimula e supervisiona a obra. G eorge H a r r is , Moral Evolution, 413 - “Deus não podia revelar-se ao homem, a não ser que primeiro ele se revelasse no homem. S e no céu estivessem escritas as letras: ‘Deus é bom’, - as palavras não teriam sentido, a não ser que a bondade já tivesse sido conhecida nas volições humanas. A revelação não é um impulso emocional, mas um processo contínuo. Não é algo imposto, mas inerente. ... O gênio é inspirado; porque a mente que percebe a verdade deve corresponder à Mente que fez todas as coisas serem o veículo do pensamento”. S anday , Bampton Lectures on Ispiration: “Ao reivindicar a inspiração da Bíblia não excluímos a possibilidade de outros graus inferiores ou mais parciais de inspiração em outras literaturas. O Espírito de Deus, sem dúvida, tocou em outros corações e outras mentes ... de tal modo a dar discernimento para a verdade, além dos que podiam reivin dicar a descendência de Abraão”. Filo pensava que os tradutores da LXX, filósofos gregos, e às vezes até mesmo ele, fossem inspirados. Considera P latão como “mais sagrado (iepráxa-toç), mas todos os homens bons são, em diferentes graus inspirados. Contudo, Filo nunca cita como tendo autoridade qualquer livro a não ser os Canônicos. Atribui a eles uma autoridade única em seu gênero. b) Em toda a matéria de moral e religião, contudo, o insight da verdade da parte do homem é viciado por sentimentos errôneos e, a não ser que uma sabedoria sobrenatural o oriente, ele certamente errará e induzirá outros ao erro. Augustus H opkins Strong 304 1 Co. 2 .14 - “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”; 10 - “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espí rito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”. Ver a citação de C o ler id g e , em S h a ir p , Culture and Religion , 114 - “A água não pode subir mais alto que a sua fonte; assim também a razão humana”; E m e r s o n , Prose Works, 1.474; 2.468 - “É curioso que nós cremos só na medi da do aprofundamento da nossa vida”. Por esta razão, sustentamos uma comunicação da verdade religiosa, pelo menos às vezes, mais direta e obje tiva do que admitia G eorge A dam S m it h , Com. on Isaiah, 1.372 - “Para Isaías, a inspiração não era mais nem menos que a posse de algumas fortes con vicções morais e religiosas, que, conforme ele sentia, deviam-se à comunica ção do Espírito de Deus e segundo o qual ele interpretava e ousava predizer a história do seu povo e do mundo. O nosso estudo, apoiado na evidência da própria Bíblia, afasta completamente esse ponto de vista da inspiração e predição como é sustentado na igreja”. S e isto significa uma negação de qual quer comunicação da verdade além da interior e subjetiva, nós nos opomos. Nm. 12.6-8 - “S e entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão, a ele me farei conhecer, ou, em sonhos falarei com ele. Não é assim com meu servo Moisés, que ele é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, não por figuras; pois, ele vê a semelhança do Senhor”. c) A teoria em questão, sustentando como o faz que o insight natural é a única fonte de verdade religiosa, envolve uma contradição; - se a teoria for verdadeira, então o homem é inspirado a proferir o que um segundo é inspira do a pronunciar falso. Os Vedas, o Alcorão e a Bíblia não podem ser inspira dos por contradizerem-se um ao outro. O s V e d a s p e r m it e m o r o u b o e o C o r ã o e n s in a a s a lv a ç ã o p e la s o b r a s ; e s te s n ã o p o d e m s e r in s p ir a d o s e a B íb lia ta m b é m . P a u lo n ã o p o d e s e r in s p i r a d o q u a n d o e s c r e v e a s s u a s e p í s t o la s e S w e d e n b o r g t a m b é m in s p ir a d o a o r e je it á - la s . A B í b lia n ã o a d m it e q u e o s e n s in o s p a g ã o s t e n h a m o m esm o e n d o s s o q u e o s s e u s p r ó p r io s . E n tr e o s e s p a r t a n o s o r o u b o e r a lo u v á v e l; s ó o s e r a p a n h a d o r o u b a n d o e r a c r im e . S o b r e a c o n s c iê n c ia r e lig io s a c o m r e la ç ã o à p e s s o a lid a d e d e D e u s , a b o n d a d e d iv in a , a v id a f u t u r a , a u t ilid a d e d a o r a ç ã o , e m t u d o o q u e a s e n h o r it a C o b b e , o S r . G r e g e o S r . P a r k e r d is c o r d a m u m d o o u tr o , i/e rB R u c E , Apologetics, 143,144. C o m M a t h e s o n p o d e m o s a d m i t i r q u e a id é ia m e s t r a d a in s p ir a ç ã o é “ o d e s e n v o lv im e n t o d o d iv in o a tr a v é s d a c a p a c id a d e d o h u m a n o ” , e m b o r a a in d a n e g u e m o s q u e a in s p ir a ç ã o s e lim ita a e s t a ilu m in a ç ã o s u b je t iv a d a s f a c u ld a d e s h u m a n a s e t a m b é m e x c lu a d a o p e r a ç ã o d iv in a t o d o s a q u e le s p r o n u n c ia m e n t o s p e r v e r s o s e e r r ô n e o s q u e r e s u lta m d o p e c a d o h u m a n o . d ) Faz a verdade moral e religiosa ser uma coisa puramente subjetiva matéria de opinião particular - não tendo nenhuma realidade objetiva inde pendentemente das opiniões que os homens têm dela. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 305 Neste sistema a verdade é aquilo que o homem ‘lança’; as coisas são aquilo que o homem ‘pensa’ - As palavras representam apenas o elemento subjetivo. “Melhor é o grego àWieeia = ‘não oculto’ (verdade objetiva)” - H arris , Philos. Basis of Theism, 182. S e não houver verdade absoluta, a ‘busca da verdade’ de Lessing é a única coisa que nos resta. Mas quem buscará se não houver verdade a ser encontrada? Até um gato sábio não caçará eternamen te a sua cauda. O exercício dentro dos seus limites sem dúvida é útil, mas o gato o interrompe logo que se convence de que não consegue apanhar a sua cauda. S ir R ichard B urton tornou-se católico romano, brârpane e maometano sucessivamente e parecia sustentar como Hamlet que “não há nada bom ou mau a não ser pensar em agir assim”. Este mesmo ceticismo quanto à exis tência da verdade objetiva aparece nas palavras: “A sua religião é boa para você e a minha para mim”; “Um nasce agostiniano, outro pelagiano”. Ver Dix, Pantheism, Introd., 12. R ic h te r : “Não é o objetivo, mas o curso que nos faz felizes”. e) Envolve logicamente a negação de um Deus pessoal que é a verdade e revela a verdade e assim faz o homem ser a mais elevada inteligência do uni verso. Isto deve explicar a inspiração através da negação da sua existência; porque, se não há Deus pessoal, a inspiração é apenas uma figura de lingua gem de um fato puramente natural. O animus desta teoria é a negação do sobrenatural. Como a negação dos milagres, ela não pode ser sustentada apenas nas bases do ateísmo ou do panteísmo. O ponto de vista em questão, como assinala H utton em seus Essays, seria permitir-nos dizer que a palavra do Senhor veio a Gibbon, em meio às ruínas do Coliseu, dizendo: “Vai escrever a história do Declínio e Queda!” Porém H utton retruca: Tal opinião é panteísta. A inspiração é a voz de um amigo vivo, diferentemente da de um morto, /'.e., a influência da sua memória. O impulso interior do gênio, de S hakespeare , por exemplo, não é apropriadamente chamado de inspiração. 2. Teoria da Iluminação Considera a inspiração simplesmente como uma intensificação e elevação das percepções religiosas do cristão, o mesmo em gênero, apesar de que maior em grau, com a iluminação de cada crente pelo Espírito Santo. Sustenta não que a Bíblia é, mas contém a palavra de Deus e que não os escritos, mas os escritores são inspirados. A iluminação dada pelo Espírito Santo, contudo, põe o escritor inspirado só em plena posse dos seus poderes normais, mas não comunica a verdade objetiva além da sua capacidade de descobrir ou entender. Esta teoria estabelece conexão com os pontos de vista arminianos da simples cooperação com Deus. Difere da Teoria da Intuição por conter vários 306 A ugustus H opkins Strong elementos distintivamente cristãos: 1) a influência de um Deus pessoal; 2) uma obra extraordinária do Espírito Santo; 3) o caráter cristológico das Escrituras, formando uma revelação da qual Cristo é o centro (Ap. 19.10). Porém, conquanto admita que os escritores da Bíblia foram “movidos pelo Espírito Santo” (<pepó)i8voi - 2 Pe. 1.21), ignora o fato complementar de que a própria Escritura é “inspirada por Deus” (0eÓ7tve-uaToç - 2 Tm. 3.16). O ponto de vista de Lutero assem elha-se a este. Na França, S a b a t ie r , Philos. Religion, 90, assinala: “A inspiração profética é a piedade elevada ao quadrado” - dife re da piedade do homem comum só em intensidade e energia. N a Ing laterra , C o le rid g e p ro p õ e este p o n to de y is ta em sua s C o nfissõ es de um E sp írito In q u irid o r (O bras, 5.669) - “ o que q u e r que se a ch e em m im dá te s te m u n h o de que p ro ce d e do E spírito S an to; na B íb lia há m ais que se acha em m im do q u e eu te n h o e x p e rim e n ta d o nos ou tro s livro s re u n id o s” . [C h a m a rem o s de in sp ira d o o “ R e p o u so d o s S a n to s ” de B a x te r en q u a n to não o c h a m a re m o s os Livros da C rô n ica s? ] Ver ta m b é m F. W. R o be rtso n, Sermon /; Life and Letters, ca rta 53, vol. 1.270; 2.14 3 -15 0 - “O outro ca m in h o , uns vinte ou trin ta h o m e n s na h is tó ria do m u n d o tiv e ra m co m u n ic a ç ã o e sp ecial, m ira cu lo sa , v in d a de D eus; so b re este ca m in h o , to d o s p o d e m tê -lo e p o r d e voto e ávid o c u ltiv o da m en te e do c o ra çã o p o d e m tê -lo a m p lia d o de fo rm a ilim ita d a ” . F re d e ric k W. H. M yers, Thoughts on the Bible and Theology, 10-20, dá ê n fa se à id é ia de que as E scritu ra s são, nas p rim e ira s pa rte s, não m e ra m e n te in a d e q u a d a s, m as p a rc ia lm e n te in v e ríd ic a s e, s u b s e q ü e n te m e n te s u p e ra da s p o r re ve la çõ e s m ais com p le ta s. O p rin cip a l p e n sa m e n to é o da acomoda ção-, o reg istro da re ve la çã o não é n e ce s s a ria m e n te in fa lível. A l l e n , Religious Progress , 44, c ita o Bispo T h ir lw a ll: “S e e s s e E sp írito a tra vé s do qu al cada ho m e m fa la d e sde os te m p o s a n tig o s é v iv o e pre se n te , as su a s lições m ais ta rd ia s bem po de m tra n s c e n d e r as m ais a n tig a s ” ; o c o lo ssa l ho m em de P as cal é a raça; os p rim itivo s ho m en s a p e n a s re p re s e n ta m a in fâ ncia; nós som o s ‘o s a n tig o s ’, e so m o s m ais s á b io s qu e os n o sso s pais. L a d d , em Andover Review, jul 1885, em What is the Bible ? e em Doctrine of Sacred Scripture, 1.759 - “Grande parte dos seus escritos (de autores nor- te-americanos) é inspirada; 2.178,275,497 - “essa é a falsa concepção fun damental que identifica a Bíblia com a palavra de Deus”; 2.488 - “Inspiração como condição subjetiva da revelação bíblica e o predicativo da palavra de Deus é especificamente a mesma iluminadora, vivificadora, engrandecedora e purificadora obra do Espírito Santo como a que se processa nas pessoas pertencentes à comunidade que crê”. Por isso, o P r o f . L a d d reduz o predica tivo profecia e considera Is. 53, não como direta e unicamente, mas apenas tipicamente messiânica. C l a r k e , Christian Theology, 35-44 - “Inspiração é exaltação, é o despertar da capacidade, estímulo do poder espiritual; é a ele vação e aumento da capacidade de percepção, compreensão e pronuncia mento; e sob a influência de um pensamento, uma verdade, ou um ideal que dominou a alma. ... A inspiração para escrever não é diferente da influência comum de Deus sobre o seu povo. ... A desigualdade nas Escrituras é nítida. ... Ainda que estivéssemos convencidos de que algum livro deveria ser omiti do do Canon, nossa confiança nas Escrituras não seria, por esta razão, aba lada. Não foi o Cânon que fez a Escritura, mas a Escritura que fez o Canon. A inspiração da Bíblia não prova sua excelência, mas sua excelência prova a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 307 sua inspiração. O Espírito produziu as Escrituras para auxílio da obra de Cris to, mas não para ocupar o seu lugar. Com Paulo a Escritura diz: ‘Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores do vosso gozo; porque pela fé estais em pé’ (2 Co. 1.24)”. E. G. R o b in s o n : “O ofício do Espírito Santo na inspiração não é diferente daquele que é exercido em favor dos cristãos na época em que os evange lhos foram escritos. ... Quando os profetas dizem: ‘Assim diz o Senhor’, sim plesmente estão significando que eles têm autoridade divina naquilo que eles estão pronunciando”. C a l v in E. S t o w e , History of Books of Bible, 19 - “Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas. Não são os pensamentos da Bíblia que são inspirados. São os homens que escreveram a Bíblia que o são”. T h a y e r , Changed Attitude toward the Bible, 63 - “Não foi antes do espí rito polêmico se tornar freqüente nas controvérsias que se seguiram à Refor ma que a distinção fundamental entre a palavra de Deus e o registro dessa palavra se tornou obliterada e tornou-se corrente a pestilente tendência de que a Bíblia é absolutamente livre de cada erro de todo tipo”. P r in c ip a l C a v e , em Homiletical Review, fev 1892, admitindo erros na Bíblia, embora nenhum sério, propõe uma afirmação mediadora para esta controvérsia, a saber, que a Revelação implica inerrância, mas que a Inspiração não. Tudo o que Deus revela é verdadeiro, mas muita coisa se tornou inspirada sem se tornar infalível. Com relação a esta teoria, assinalam os: d) Inquestionavelm ente Espírito Santo ilum ina a m ente de cada um que crê e adm itim os que pode ter havido exem plos em que a influência do Espírito na inspiração acrescentava só a ilum inação. Algumas aplicações e interpretações da Escritura do Velho Testamento, como por exemplo, a aplicação de João Batista a Jesus na profecia de Isaías (Jo. 1.29 - “Eis o Cordeiro de Deus, que tira [rodapé ‘leva’] o pecado do mun do”), e a interpretação de Pedro sobre as palavras de Davi (At. 2.27 - “Não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a cor rupção”), podem apenas ter requerido a influência iluminadora do Espírito Santo. Há um sentido em que podemos dizer que as Escrituras são apenas inspiradas para aqueles que em si mesmos são inspirados. O Espírito Santo deve mostrar-nos Cristo antes de reconhecermos a obra do mesmo Espírito na Escritura. As doutrinas da expiação e da justificação talvez não precisas sem novamente ser reveladas aos escritores do Novo Testamento; a ilumina ção relativa às antigas revelações podem ter sido suficientes. Mas provavel mente o fato de que Cristo existia antes da sua encarnação e de que há distinções pessoais em Deus, exigisse revelação. Édison diz que inspiração é simplesmente perspiração”. O gênio tem sido definido como o “ilimitado poder de tomar as dores”. Porém, ao invés disso - o poder de fazer esponta neamente e sem esforço o que o homem comum faz a duras penas. Todo o grande gênio reconhece que este poder se deve ao influxo de um Espírito maior que o seu próprio - o Espírito de divina sabedoria e energia. Os autores da Escritura atribuem o seu entendimento das coisas divinas ao Espírito Santo. 308 A ugustus H opkins Strong b) M as negam os que este foi o m étodo constante de inspiração ou que tal influência pode explicar a revelação da nova verdade dos profetas e dos após tolos. A ilum inação do Espírito Santo não dá nenhum a verdade nova, mas só um a apreensão da verdade já revelada. Q ualquer com unicação original da verdade deve ter requerido um a obra do E spírito diferente não em grau, mas em gênero. As Escrituras distinguem claramente revelação, ou a comunicação de uma nova verdade, da iluminação, ou o despertar das forças cognitivas para per ceber a verdade já revelada. Nenhum aumento na força dos olhos ou do telescópio fará mais do que aclarar o ponto de vista que já está dentro do seu nível. A iluminação não levanta o véu que oculta o que está além. Por outro lado, a revelação é um ‘desvendamento’ - o levantamento de uma cortina, ou o ato de trazer para dentro ou para o nosso nível o que antes estava escondi do. Tal operação especial de Deus é descrita em 2 Sm. 23.2,3 - “O Espírito do Senhor falou por mim e a sua palavra esteve em minha boca. Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim falou”; Mt. 10.20 - “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós”; 1 Co. 2.9 -13 “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao cora ção do homem são as coisas que Deus preparou para os que o amam, Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que está nele? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”. A clarividência e a segunda visão, de que em muitos casos de imposição e exagero parecem ser um pequeno resíduo de um fato provado, mostram que pode haver operações extraordinárias das nossas forças naturais. Mas, no caso do milagre, a inspiração da Escritura necessitava de uma exaltação de tais forças naturais que só a influência do Espírito Santo pode explicar. Parece claro que o produto é inexplicável por uma simples iluminação quan do nos lembramos de que a revelação às vezes excluía a iluminação quanto ao sentido daquilo que se comunicava, porque os profetas são representados em 1 Pe. 1.11 como “indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espí rito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofri mentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir”. Visto que nenhum grau de iluminação pode explicar a predição das “coisas que hão de vir” (Jo. 16.13), esta teoria tende à negação de qualquer revela ção imediata na assim chamada profecia, e a negação facilmente se estende a qualquer revelação imediata da doutrina. c) A sim ples ilum inação não pode resguardar os escritores da B íblia do freqüente e aflitivo erro. A percepção espiritual do cristão é considerada sem pre, em certa extensão, im perfeita e enganosa por conservar a depravação. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 309 A ssim o elem ento subjetivo predom ina nesta teoria para que não perm aneça nenhum a certeza com relação à fidedignidade das Escrituras com o um todo. Conquanto adm mos imperfeições nos pormenores em matéria não essencial ao ensino moral e religioso da Escritura, reivindicamos que a Bíblia fornece um norte suficiente rumo a Cristo e à salvação. A teoria que estamos considerando, contudo, ao fazer da santidade a medida da inspiração, torna até mesmo o testemunho coletivo dos autores da Escritura um guia incerto para a verdade. Por isso assinalamos que a inspiração não é de um modo absoluto limitada pela condição moral dos que são inspirados. No cristão, o conhecimento pode ir além da conduta. Balaão e Caifás não eram homens santos, contudo foram inspirados (Nm. 23.5; Jo. 11.49-52). A promessa do Messias assegurava ao menos a fidedignidade essencial do seu testemunho (Mt. 10.7,19,20; Jo. 14.26; 15.26,27; 16.13; 17.8). Esta teoria de que a inspira ção é uma comunicação da verdade totalmente subjetiva leva à rejeição prá tica de importantes partes da Escritura, pelo fato da rejeição de toda a Escri tura que pro fessa conter a verdad e além do poder de descoberta e entendimento do homem. Note o progresso de T h o m a s A r n o l d (Sermons 2.1.5) a M a t t h e w A r n o l d (Literature and Dogma, 134, 137). Note também a rejeição de S w e d e n b o r g de quase metade da Bíblia (Rute, Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e todo o Novo Tes tamento exceto os evangelhos e o Apocalipse), em conexão com a autorida de divina para esta nova revelação. “Todos os seus interlocutores ‘swedenborgam’” (R. W. Emerson). d) E sta teoria é logicam ente indefensável insinuando que a ilum inação relativa à verdade pode ser concedida sem conceder a própria verdade enquanto Deus deve prim eiro fornecer a verdade objetiva a ser percebida antes que ele possa ilum inar a m ente para perceber o sentido da verdade. A teoria assemelha-se aos pontos de vista de que a preservação é uma contínua criação; conhecimento é reconhecimento; regeneração é o aumento de luz. Para que haja preservação, deve-se primeiro criar algo que possa ser preservado; para que haja reconhecimento, algo deve ser reconhecido ou conhecido outra vez; para que haja aumento de luz em qualquer emprego, é preciso que haja primeiro a capacidade de ver. De igual modo, a inspiração não pode ser mera iluminação porque o exterior necessariamente precede o interior, o objetivo precede o subjetivo, a verdade revelada precede a apreen são daquela verdade. Caso a verdade ultrapasse a capacidade humana nor mal de perceber ou evoluir, deve haver uma comunicação especial da parte de Deus; a revelação deve anteceder a inspiração; a inspiração sozinha não é revelação. Não importa se a comunicação da verdade vem de fora ou de den tro. Como na criação, Deus pode operar a partir de dentro, embora o novo resultado não seja explicado como simples reprodução do passado. O olho não pode ver apenas quando recebe e utiliza a luz externa fornecida pelo sol, ape sar de que também é verdade que sem o olho não adiantaria haver a luz do sol. 310 A ugustus H opkins Strong P f l e id e r e r , Grundriss, 17-19, diz que, para Schleiermacher, revelação é o aparecimento originaWe uma vida religiosa apropriada; a vida não deriva da comunicação exterior, nem da invenção ou reflexão, mas de uma concessão divina, que não pode ser considerada como uma influência meramente ins trutiva ao homem, mas como dotação determinando toda a sua existência pessoal - dotação análoga às mais elevadas condições de exaltação poética e heróica. O próprio P f l e id e r e r dá o nome de “revelação” a “cada experiência original de que o homem se torna ciente e à qual ele se apega; verdade supra-sensível, que não vem de concessão exterior nem de uma reflexão proposta, mas de uma base transcendental consciente e indivisível e, deste modo, recebida como um dom de Deus por meio da atividade da Alma huma na”. K a f t a n , Dogmatik, 51 sgte. - “Devemos pôr a concepção da revelação no lugar da inspiração. A Escritura não é o registro da revelação divina. Não propomos nenhuma doutrina nova sobre a inspiração, em lugar da velha. Necessitamos apenas de revelação e, aqui e ali, da providência. Dá-se o testemunho do Espírito Santo, não para inspiração, mas para revelação verdades que tocam o espírito humano e têm sido historicamente reveladas”. A l l e n , Jonathan Edwards, 182 - Edwards sustentava que Deus dá a vida espiritual na alma só aos seus filhos queridos e preferidos, enquanto a inspi ração pode ser lançada fora como se fosse aos cães e aos porcos - Balaão, Saul, Judas. O maior privilégio dos apóstolos e profetas não é a sua inspira ção, mas a sua santidade. Ter graça no coração é melhor do que ser a mãe de Cristo (Lc. 11.27,28). M a lt b ie D. B a b c o c k , em S. S. Times, 1901.590 - “O homem que lamenta porque não se pode obter a infalibilidade na igreja, ou num guia, ou num conjunto de padrões, não sabe quando ele se sente bem fora. Como poderia Deus desenvolver as nossas mentes, a nossa capacidade de julga mento moral, se não houvesse nenhum ‘espírito para ser tentado (1 Jo. 4.1), nem necessidade de discriminação, nem disciplina a ser seguida e desafio e escolha? Dar a resposta correta a um problema é pôr o homem do lado da infalibilidade relativa à resposta, mas isto eqüivale a fazê-lo um erro inefável sobre a sua verdadeira educação. A bênção da escola da vida não está em conhecer a resposta correta, mas em desenvolver a força por meio da luta”. Por que J o h n H e n r y N e w m a n rendeu-se à Igreja de Roma? Porque ele supunha que uma autoridade externa é absolutamente essencial à religião e, quando se segue tal suposição, Roma é o único fim lógico. “O dogma”, diz ele, “é o princípio fundamental da minha religião”. O ritualismo moderno é uma volta à noção medieval. “O cristianismo dogmático”, diz H a r n a c k , “é Católico. Ele necessita de uma Bíblia inerrante e de uma igreja infalível que interprete essa Bíblia. O protestante dogmático está no mesmo campo que o católico sacramental e infalível”. L y m a n A b b o t t : “ A nova Reforma nega a infalibilida de da igreja. Não há autoridade infalível. A autoridade infalível é indesejável. ... Deus nos deu algo bem melhor, a vida. ... A Bíblia é o registro da manifes tação gradual de Deus ao homem na experiência humana, nas leis morais e suas aplicações e na vida daquele que é o Deus manifesto em carne”. L e ig h t o n W il l ia m s : “Não há inspiração alguma independente da experiên cia. Os batistas não são sacramentais, nem estão presos a credos, mas são cristãos por experiência” - não romanistas, nem protestantes, mas crêem numa luz interior. “À medida em que a vida se desenvolve, ela se desperta na T e o l o g ia S is t e m á t ic a 311 consciência própria. Esta se torna a mais confiável testemunha quanto à natureza da vida da qual ela é um desenvolvimento. Dentro dos limites da sua própria esfera, sua autoridade é suprema. A profecia é o pronunciamento da alma em momentos de profunda experiência religiosa. A inspiração dos auto res da Escritura não é uma coisa peculiar; é dada para que a inspiração pos sa ser perfeita naqueles que lerem os seus escritos”. Cristo é a única auto ridade final e revela-se de três modos: através da Escritura, da Razão, e da Igreja. Só a Vida salva, o Caminho conduz através da Verdade à Vida. Os batistas estão mais perto do sistema episcopal de vida do que do sistema presbiteriano de credo. W h it o n , Gloria Patri, 136 - “O erro está em olhar para o Pai acima do mundo ao invés de olhar para o Filho e para o Espírito dentro do mundo como a fonte imediata da revelação. ... A revelação é o desdobra mento da vida e do pensamento de Deus dentro do mundo. Não se deve estar perturbado ao achar imperfeições em qualquer obra física de Deus, como achá-la no olho humano”. 3. Teoria do Ditado E sta teoria sustenta que a inspiração consistiu em o Espírito Santo possuir as m entes e corpos dos escritores da B íblia, para que eles se tom em instru m entos passivos ou am anuenses - a pena e não o calígrafo de Deus. Esta teoria naturalmente tem conexão com o ponto de vista dos milagres que os considera como suspensão ou violação da lei natural. D o r n e r , Glaubenslehre, 1.624 o chama de “ponto de vista docético de inspiração. Defende a abolição das causas secundárias e a perfeita passividade do instrumento humano; nega qualquer inspiração de pessoas e defende a inspiração só dos escritos. Este exagero do elemento divino conduziu à hipótese de um sentido divino multiforme na Escritura e, ao atribuir o sentido espiritual, um espírito racionalista dirigiu o caminho”. Representam este ponto de vista Q u e n s t e d t , Theol. Didact., 1.76 - “O Espírito Santo inspirou seus amanuenses com as expressões que eles teriam empregado, se eles tivessem sido deixados livres para escrever como quisessem ”; Works, 2.383 - “Eles nunca falaram ou escreveram de si mesmos uma palavra, mas proferiram sílaba por sílaba o que o Espírito pôs nas suas bocas”; G a u s s e n , Teopneustia, 61 - “A Bíblia não é um livro cuja feitura Deus incumbiu os homens já iluminados sob a sua proteção; é um livro que Deus lhes ditou”; C u n n in g h a m , Theol. Lectures, 349 “A inspiração verbal das Escrituras [que ele defende] implica em geral que as palavras da Escritura foram sugeridas ou ditadas pelo Espírito Santo, assim como a substância da matéria, e isto não só em algumas porções das Escri turas, mas na sua totalidade”. Isto lembra a velha teoria de que Deus criou os fósseis nas rochas quando nem ainda os antigos mares existiam. S a n d a y , Bampton Lect. sobre a Inspiração, 74, cita Filo dizendo: “O profeta não produz nada de si próprio, mas age como intérprete ao soprar para um outro todos os seus pronunciamentos e até quando, sob a inspiração, ele está na ignorância; sua razão, afastando do seu lugar, dominando a cidadela A ugustus H opkins Strong 312 da alma, quartdo-o Espírito divino penetra nela e nela habita e afeta o meca nismo da voz, soando através dela a nítida declaração do que ele profetiza”; em Gn. 15 .12 - “E, pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abraão” - o sol é a luz da razão humana que se põe e dá lugar ao Espírito de Deus. S anday, 78, também diz: “J osefo sustenta que até mesmo as narrativas histó ricas como as do começo do Pentateuco, que foram escritas por profetas contemporâneos obtiveram-se graças à inspiração direta de Deus. Os judeus, desde o seu nascimento, consideram a sua Escritura como ‘os decretos de Deus’, aos quais eles obedecem estritamente, e em cujo favor morreriam, se necessário”. Os rabinos diziam que “Moisés não escreveu uma palavra tirada do seu próprio conhecimento”. Os reformadores defendiam um ponto de vista muito mais livre do que este. Lutero dizia: “O que não leva consigo a pessoa de Cristo não é apostó lico, embora Pedro ou Paulo o ensinasse. S e os nossos adversários se afas tarem da Escritura em oposição a Cristo, nós nos oporemos à Escritura em favor de Cristo”. Lutero recusava a autoridade canônica dos livros que não foram escritos ou compostos, na verdade, por apóstolos, como Marcos e Lucas, sob a direção deles. Assim ele rejeitava do rol da autoridade canônica os livros de Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro e Apocalipse. Até Calvino duvida va da autoria de Pedro à segunda carta, que leva o seu nome; excluía da Escritura o livro de Apocalipse sobre o qual ele escreveu Comentários e, do mesmo modo ignorou a segunda e terceira epístolas de João. A teoria ditado é posteriorà Reforma. H.P. Smith, Bib. ScholarshipandInspiration, 8 5 - “Após o Concilio de Trento, a polêmica Católica Romana tornou-se mais acirrada. Aquele partido empenhou-se em mostrar a necessidade da tradição e não confiar apenas na Escritura. Isto levou os protestantes a defender a Bíblia com mais tenacidade que antes”. A Fórmula Suíça do Consenso, em 1675, não só chamou as Escrituras “a palavra do próprio Deus”, mas declarou a pontuação hebraica das vogais como inspirada e alguns teólogos remon tam isso a Adão. J ohn O wen defendia a inspiração da pontuação das vogais. Sobre a era que produziu a teologia dogmática protestante, Charles Beard, Hibbert Lectures, 1883, diz: “Não conheço nenhuma época do Cristianismo a que eu pudesse mais confiadamente assinalar na ilustração do fato de que, onde não há teologia, há menos religião”. Sobre este ponto de vista assinalam os: A dm itim os que há exem plos quando as com unicações de Deus eram proferidas em voz audível ou tom avam form a definida de palavras e que isto, às vezes, era acom panhado da ordem de escrevê-las. a) Como exemplos, veja Ex. 3.4 - “bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés! Moisés!” 20.22 - “Vós tendes visto que eu falei convosco des de os céus”; cf. Hb. 12 .19 - “a voz das palavras, a qual, os que a ouviram pediram que se lhes não falasse mais”; Nm. 7.89 - “E, quando Moisés entra va na tenda da congregação para falar com o Senhor, ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório, que está sobre a arca do Testemunho entre os dois querubins; assim com ele falava”; 8.1 - “E falou o Senhor a Moisés, T e o l o g ia S is t e m á t ic a 313 dizendo”; Dn^4.31 - “Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino”; At. 9.5 “E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus a quem tu persegues"; Ap. 19.9 - “E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro”; 2 1.5 - “E o que estava assen tado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas”; cf. 1.10,11 - “e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas”. Do mesmo modo a voz vinda do céu no batismo e na transfiguração de Jesus (Mt. 3.17 e 17.5 verBroadus, nas páginas em loco). b) A teoria em questão, contudo, apoia-se em um a indução parcial de fatos da Escritura, sem garantia, adm itindo que tais exem plos ocasionais de ditado direto revelam o m étodo invariável das com unicações da verdade de Deus aos escritores da Bíblia. Em lugar nenhum a Escritura declara que a comunicação das palavras é universal. Em 1 Co. 2 .13 —o ò k èv SiSccktoTç àvGpcoiúvriç cocpíaç Àóyoiç, a k X èv SiSaK T oíç itv e fy ia to ç , texto citado como prova de invariável ditado - M e y e r diz: “aqui não há ditado; SiSaK-coiç exclui todo o elemento mecânico”. H e n d e rs o n , Inspiration, 333.349 - “Como a sabedoria humana não dita palavra por pala vra, assim também acontece com o Espírito”. Paulo reivindica para a Escritu ra um estilo geral de clareza que se deve à influência do Espírito. M a n ly : “Ditado para o amanuense não é ensino”. A nossa Versão Revista (norteamericana) apropriadamente traduz o resto do verso, 1 Co. 2.13 - “combi nando as coisas espirituais com as obras espirituais”. c ) N ão pode explicar o elem ento m anifestam ente hum ano nas Escrituras. H á peculiaridades de estilo que distinguem as produções de cada escritor das de outro e há variações nos relatos do m esm o trecho que são inconsistentes com a teoria de um a autoria exclusivam ente divina. Note o anacoluto de Paulo e as suas explosões de pesar e indignação (Rm. 5.12 sq., 2 Co. 11.1 sq.) e seu desconhecimento do número preciso de quem ele batizou (1 Co. 1.16). Um ou dois pedintes (Mt. 20.30; cf. Lc. 18.35); “uns vinte e cinco ou trinta estádios” (Jo. 6.19); “derramado por muitos” (Mt. 26.28 tem jtepí, Mc. e Lc. tem úitép). Ditado de palavras que imediata mente se perderiam por causa da transcrição imperfeita? C l a r k e , Christian Theology, 33-37 - “Não temos obrigação nenhuma de sustentar a inerrância completa das Escrituras. Nelas temos a completa liberdade da vida em vez da extraordinária precisão da afirmativa ou exatidão de pormenor. Nós nos tornamos cristãos não obstante as diferenças entre os evangelistas. As Escri turas são variadas, progressivas, livres. Não há autoridade na Escritura para a aplicação da palavra ‘inspirada’ à nossa atual Bíblia como um todo e a teologia não está escravizada à utilização desta palavra na definição das A ugustus H opkins Strong 314 Escrituras. O cristianismo se fundamenta na história e permanecerá quer as Escrituras sejam inspiradas quer não. S e a inspiração especial fosse total mente desaprovada, Cristo ainda seria o Salvador do mundo. Mas o elemento divino nas Escrituras nunca será desaprovado”. d) É inconsistente com um a sábia econom ia de m eios supor que os escrito res da B íblia teriam ditado a eles o que eles já sabiam ou o de que eles podiam inform ar-se com a utilização de recursos naturais. Por que, afinal de contas, empregar testemunha ocular? Por que não ditar os evangelhos aos gentios que viveram há milhares de anos? Deus respeita os instrumentos que ele chamou e os usa segundo os seus dons constitucio nais. G e o r g e E l io t representa o Stradivarius dizendo: - S e a minha mão enfraquecesse, eu roubaria Deus - visto que ele é o mais completo bem deixando um branco em lugar dos violinos, Deus não pode fazer os violinos de Antônio Stradivarius, sem o Antônio. Mc. 11.3 - “o Senhor precisa dele”, pode aplicar-se tanto ao homem como ao animal. é) C ontradiz o que sabem os d a lei da operação de D eus n a alma. Quanto m ais elevadas e m ais nobres as com unicações de Deus, m ais plenam ente o hom em está de posse e uso das suas próprias faculdades. Não podem os supor que esta m ais elevada obra do hom em sob a influência do Espírito fosse pura m ente m ecânica. Jo sé recebe a comunicação através de uma visão (Mt. 1.20); Maria atra vés das palavras de um anjo proferidas quando estava acordando (Lc. 1.28). Quanto mais avançado for o receptor, mais consciente é a comunicação. Estas quatro teorias quase podiam ser chamadas de: pelagiana, arminiana, docético, e dinâmica. S a b a t ie r , Philos. Religion, 41, 42, 87 - “No Evangelho dos Hebreus, o Pai diz no batismo de Jesus: ‘Meu Filho, em todos os profetas eu estava aguardando por ti, para que tu pudesses vir, e para que eu pudesse repousar em ti. Porque tu és o meu Repouso’. A inspiração se torna cada vez mais interior até que em Cristo seja contínua e completa. Com base no opos to ponto de vista docético, a mais perfeita inspiração deve ter sido a da besta de Balaão”. S e m l e r representa o ponto de vista pelagiano ou ebionita, como Q u e n s t e d t representa o seu docético. S e m l e r fixa o local e o tempo do conteú do da Escritura. Contudo, embora ele leve isto ao extremo de excluir qualquer autoria divina, presta um bom serviço ao encaminhar o estudo da Bíblia. 4. Teoria da Dinâmica Este ponto de vista verdadeiro, em oposição à prim eira destas teorias, sus ten ta que a inspiração não é sim plesm ente um fato natural, m as tam bém sobrenatural e que é obra im ediata de um D eus pessoal na alm a do homem. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 315 E m oposição à segunda, sustenta que a inspiração pertence não só ao hom em que escreveu a Bíblia, m as à B íblia que ele escreveu, de modo que, tom ada em seu conjunto, constitui um registro da revelação divina confiável e suficiente. Em oposição à terceira teoria, sustenta que as Escrituras contém um ele m ento hum ano assim com o um divino, de m odo que, enquanto apresentam um conjunto de verdades reveladas, estas são form adas em m oldes hum anos e adaptadas à inteligência hum ana com um . E m resum o, a inspiração nem é caracteristicam ente natural, parcial, nem m ecânica, m as sobrenatural, plena e dinâm ica. Sob o tópico União dos EleTTitTi\üs ^òrvYno rc Wirmano n a Inspiração, agrupar-se-ao m ais explicações na seção que se segue im ediatam ente. S e o círculo pequeno for tomado como símbolo do elemento humano na inspiração e o círculo grande como símbolo do divino, a Teoria da Intuição será representada só pelo círculo pequeno; a Teoria do Ditado só pelo círculo grande; a Teoria da Iluminação pelo círculo pequeno exterior ao grande, tocando-o só num ponto; a Teoria Dinâmica por dois círculos concêntricos, incluindo o pequeno no grande. Mesmo quando a inspiração é apenas a exal tação e intensificação das forças naturais do homem, deve ser considerada como obra de Deus assim como do homem. Deus pode operar tanto a partir de dentro como de fora. Como a criação e a regeneração é obra do Deus imanente ao invés do transcendente, do mesmo modo a inspiração em geral do íntimo da alma do homem ao invés da parte exterior. A profecia pode ser natural à humanidade perfeita. A revelação é o desvendamento e o Raio X nos capacita a ver através de um véu. Mas o discernimento dos autores da Escritura para com a verdade além das suas forças mentais e morais é inex plicável a não ser por uma influência sobrenatural na mente deles; a saber: se eles não forem elevados à Razão divina e dotados da sabedoria de Deus. Conquanto proponhamos esta Teoria Dinâmica como a que melhor expli ca os fatos da Escritura, não a consideramos, assim como as outras, como de importância essencial. Nenhuma teoria da inspiração é necessária à fé cristã. A revelação precede a inspiração. Havia religião antes do Velho Testamento e um evangelho oral antes do Novo. Deus podia revelar-se sem o registro; podia permitir o registro sem o atestado de algo mais que o ensino religioso e da história; apenas ela era necessária ao referido ensino religioso. Qualquer que seja a teoria que estruturamos, resultará de uma estrita indução dos fatos da Escritura e não um esquema a priori com o qual a Escritura deve conformar-se. A falta de muitas discussões passadas sobre o assunto supõe que Deus deve adotar algum método particular de inspiração ou garantir uma per feição absoluta dos pormenores em matéria não essencial ao ensino religio so da Escritura. Talvez a melhor teoria da inspiração seja não ter nenhuma. W a r f ie l d e H o d g e , Inspiration, 8 - “É importante estabelecer muitíssimas verdades religiosas e históricas antes de entrarmos na questão da inspira ção; p.ex., o ser divino e o seu governo, a condição do homem decaído, o fato 316 A ugustus H opkins Strong de um esquema redentor, a verdade geral histórica das Escrituras e a valida de e autoridade da revelação da vontade de Deus que elas contêm, /'.e., a verdade geral do cristianismo e suas doutrinas. Por isso, segue-se que, con quanto a inspiração das Escrituras seja verdadeira e, assim sendo, é um prin cípio fundamental da interpretação adequada da Escritura, não é, em primei ra instância, um princípio fundamental da religião cristã”. W a r f ie l d , em Presb. andRef. Rev. abr, 18 9 3 .2 0 8 - “Não achamos o sistema cristão todo na doutri na da inspiração. ... S e não houvesse esta coisa que se chama inspiração, o cristianismo seria verdadeiro e todas as suas doutrinas essenciais nos seri am testemunhadas de uma forma digna de crédito” - nos evangelhos e na igreja viva. F. L. P a t t o n , Inspiration, 22 - “Devo fazer uma exceção à disposi ção que alguns têm de arriscar as fortunas do cristianismo na doutrina da inspiração. Não que eu concorde com qualquer um em qualquer convicção profunda da verdade e importância da doutrina. Mas é natural ter em mente a imensa vantagem do argumento que o cristianismo tem também a partir da inspiração dos documentos nos quais ela se apoia”. IV. U N IÃO D O S E LE M E N T O S D IV IN O E H U M AN O N A IN SPI RAÇÃO 1. As Escrituras são igualm ente a produção de D eus e do hom em e, portan to, nunca devem ser consideradas com o sim plesm ente hum anas, ou sim ples m ente divinas. O m istério da inspiração não consiste separadam ente em nenhum destes term os, m as n a união dos dois. C ontudo, disto há analogias na interpenetração dos poderes hum anos pela eficiência divina na regeneração e santificação e na união das naturezas divina e hum ana na pessoa de Jesus Cristo. Segundo a “lei de Dalton”, cada gás é um vácuo para cada um dos outros: “Os gases são reciprocamente passivos e passam entre si como em vácuo”. Cada um interpenetra no outro. Porém isto não fornece uma ilustração perfei ta do nosso assunto. O átomo do oxigênio e o átomo do nitrogênio, no ar comum, permanecem lado a lado, mas não se unem. Na inspiração, os ele mentos humano e divino se unem. A máxima de L u t e r o “Mens humana capax divinae” (A mente humana está contida na divina), é um dos mais importantes princípios de uma verdadeira teologia. “Os luteranos pensam que a humani dade é algo feito por Deus para eie mesmo e para recebê-lo. Os reformados pensam na divindade como sempre preservando-se de qualquer confusão com a criatura. Eles temem o panteísmo e a idolatria” ( B is p o d e S a l is b u r y , citado em S w a y n e , Our Lord’s Knowlegde, xx). S a b a t ie r , Philos. Religion, 66 - “Esse mistério inicial, a relação em nossa consciência entre o elemento individual e o universal, entre o finito e o infinito, entre Deus e o homem, como podemos entender a coexistência e a união deles e como podemos sentir dúvida disso? Onde está o homem pensante que hoje não quebrou a fina crosta da sua vida diária e não captou um vislum- T e o l o g ia S is t e m á t ic a 317 óre daqueías profundas e obscuras águas em que fíutu a a nossa consciên cia? Quem não sentiu dentro de si uma presença velada e uma força muito maior do que a sua própria? Que trabalhador em uma elevada causa não percebeu dentro da sua atividade pessoal e saudou com um sentimento de veneração a misteriosa atividade de uma Força universal e eterna? ‘In Deo vivimus, movemur et sumus’ (Em Deus vivemos, movemo-nos e existimos).... Não se pode dissipar o mistério porque, sem ele, a religião não mais existiria”. Q u a c k e n b o s , Harper's Magazine , jul. 1900.264, diz que “a sugestão hipnótica é apenas inspiração”. A analogia da influência humana assim comunicada pode ao menos ajudar-nos a entender um pouco da divina. 2. Não se deve conceber esta união dos agentes divino e hum ano na inspi ração com o conceito e recebim ento externos. P or outro lado, os que D eus levantou e providencialm ente qualificou para a realização da sua obra, falaram e escreveram as palavras de Deus, quando inspirados, não de fora, m as de dentro, não passivam ente, porém na m ais cons ciente posse e no m ais elevado exercício de seus próprios poderes do intelec to, sentim ento e vontade. O Espírito Santo não habita no homem como a água num vaso. Podemos ilustrar a experiência dos autores da Escritura através da experiência do pre gador que, sob a influência do Espírito de Deus, é levado além de si mesmo e está consciente de uma apreensão mais nítida da verdade e da grande capa cidade de proferi-la do que pertencer à sua desauxiliada natureza, embora reconheça que ele não pode ser um veículo de uma comunicação divina, mas estar, como nunca antes, na posse e exercício de suas próprias forças. A inspiração dos escritores da Bíblia, contudo, vai além da iluminação admi tida pelo pregador que os capacita a estabelecer a verdade sem erro, na forma escrita permanente. Contudo, a inspiração é mais do que preparação providencial. Como os milagres, a inspiração pode valer-se das forças natu rais, mas tais forças naturais não a explicam. Moisés, Davi, Paulo e João foram providencialmente dotados e educados para a sua obra de produzir a Escritura, porém isto em si não é inspiração, mas a preparação para ela. B e y s c h l a g : “Com João, a lembrança e a exposição tornaram-se insepará veis”. E. G. R o b in s o n : “Os novelistas não criam personagens; eles reprodu zem, com modificações, o material representado à sua memória. Do mesmo modo os apóstolos reproduziam as suas im pressões de Cristo”. Hutton, Essays, 2.231 - “Os salmistas vacilam entre a primeira e a terceira pessoas quando expressam os propósitos de Deus. Ao se aquecerem com a inspira ção espiritual eles se perdem na pessoa do Deus que os inspira e depois voltam-se outra vez ao que eram”. S t a n l e y , Life and Letters, 1.380 - “A reve lação não se resolve num simples processo humano porque somos capazes de distinguir a atuação natural através da qual ela foi comunicada”; 2.102 “Parece-me que você transfere muito as nossas noções modernas da origem divina a estes antigos profetas e escritores e chefes. ... A nossa, ou melhor, a moderna noção puritana da origem divina é a de uma força ou voz preterna- 318 A ugustus H opkins Strong tural, pondo de lado os agentes secundários e separados de tais agentes por um abismo Introdansponível. A noção bíblica oriental antiga é a de uma von tade suprema atuante através de tais agentes, ou melhor, inseparável deles. Nossas noções de inspiração e comunicação divina insistem na perfeição absoluta dos fatos, da moral, da doutrina. A noção bíblica é que a inspiração é compatível com a fraqueza, a enfermidade, a contradição. L a d d , Philosophy of Mind, 182 - “Na inspiração, os pensamentos, sentimentos, propósitos organizam-se num outro Ser que não é o eu no qual eles mesmos nasceram. Esse outro Ser está neles. Estes entram em comunhão com ele. Entretanto, este pode ser sobrenatural, embora se empreguem os recursos psicológicos. Inspiração exterior, afinal de contas, não é inspiração”. Contudo, esta última sentença parece-nos um desnecessário exagero do princípio verdadeiro. Conquanto Deus inspire originariamente a partir de dentro, ele pode também comunicar a verdade a partir de fora. 3. Portanto, a inspiração não rem oveu, m as investiu para o seu próprio serviço todas as peculiaridades pessoais dos escritores com todos os seus defeitos de cultura e estilo literário. Toda a im perfeição não inconsistente com a verdade na com posição hum a na pode existir na E scritura inspirada. A B íblia é a P alavra de Deus no sentido de que ela nos apresenta a verdade divina nas form as hum anas e é um a revela ção não para um a classe seleta, m as para a m ente com um . C orretam ente entendida, esta própria hum anidade da B íblia é prova da sua divindade. L o c k e : “Quando Deus fez o profeta, não desfez o homem”. P r o f . D a y : “A sarça em que Deus apareceu a Moisés continuou sendo sarça, embora ainda queimasse com o brilho e a expressão da majestade da mente de Deus”. Os parágrafos do Corão são chamados ayat, ou “sinal”, por causa da sua suposta elegância sobrenatural. Mas as elegantes produções literárias não tocam o coração. A Bíblia não é simplesmente a palavra de Deus; é também o verbo que se fez carne. O Espírito Santo oculta-se a si mesmo para poder apresentar Cristo (Jo. 3.8); ele é conhecido apenas pelos seus efeitos - um padrão para os pregadores, que são ministros do Espírito (2 Co. 3.6). O m a o m e ta n o d e c la ra q u e c a d a p a la v ra do C o rã o ve io do sé tim o céu pela a tu a çã o de G ab riel e que o seu p ró p rio p ro n u n c ia m e n to é in sp ira d o . M e lh o r é a d o u trin a de M artineau, Seat of Authoríty, 289 - “ E m b o ra o p a d rã o seja d iv i no, a te ia que o su s te n ta a in d a d e ve s e r h u m a n a ” . J a c k s o n , James Martineau, 255 - “ N ão se de ve p e rm itir que a m e tá fo ra de P au lo so b re ‘esse te so u ro em va so s de b a rro ’ (2 Co. 4.7) se ja o seu guia; não b a sta a p e n a s que o te so u ro v e n h a do alto, m as ta m b é m , do m e sm o m odo, o e scrín io e que s e ja do cristal ce le ste . É p re ciso s e r o reg istro divino , não só no esp írito , m as tam bé m na le tra ” . C h a rle s H o d g e , Sistematic Theology, 1.15 7 - “Q u a n d o D eus ord en a qu e a b o ca d a s cria n ça s louvem , elas d e ve m fa la r com o cria n ça s, ou perders e -á to d a a fo rç a ou b e le za trib u ta d a ” . E v a n s , Bib. Scholarship and Inspiration, 16,25 - “O nve^iaa de um vento morto nunca muda, como pensavam os antigos rabinos, em 7ive0|^a de um T e o l o g ia S is t e m á t ic a 319 espírito vivo. Os corvos que alimentaram Elias não eram mais que um pássa ro. Nem o homem, quando sobrenaturalmente influenciado, deixa de ser um homem. Um homem inspirado não é Deus, nem um autômato divinamente manipulado”; “Na Escritura pode haver tanta imperfeição como nas partes de qua\c\uet orçjarúsmo; seó a consistente com a perfeWa adapteção de \a\ orga nismo ao fim a que se destina. Então, a Escritura, tomada no seu conjunto, é uma afirmação da verdade moral e religiosa suficiente para a salvação dos homens, ou uma regra infalível e suficiente de fé e prática”. J. S. W rig h tn o u r : “Inspira meios para Intrododuzir o ar, como o flautista sopra o seu instrumen to. Como diferentes flautas têm diferentes formas, peculiaridades, o que pareceriam ser defeitos, aqui também ocorre o mesmo; contudo, todos são soprados pelo mesmo Espírito. O mesmo Espírito que os inspirou selecionou os instrumentos melhores para o seu propósito, do mesmo modo que o Sal vador selecionou seus apóstolos. Por isso, nestes escritos, nos é dado de forma precisa, o melhor caminho para nós: a instrução espiritual e o alimento de que necessitamos. O alimento para o corpo não é dado na mais concen trada forma, porém na que mais se adapta à digestão. Do mesmo modo Deus dá o ouro, não em moeda cunhada, mas no quartzo da mina de onde deve ser cavado e fundido”. Os restos de A r t h u r H a lla m , em John Browrís Rabe and his Friends, 2 7 4 - “Vejo que a Bíblia é adequada a cada parte do coração humano. Eu sou um ser humano e creio que ele é o livro de Deus porque é o livro do homem”. 4. N a inspiração D eus se vale de todos m étodos corretos e norm ais da : im posição literária. Com o reconhecem os na literatura a função própria da história, da poesia, e i a ficção; da profecia, da parábola e do dram a; da personificação e do provér bio; da alegoria e da instrução dogm ática; e m esm o do m ito e da lenda; não podem os negar a possibilidade de D eus usar qualquer destes m étodos da ver dade com unicante, deixando que determ inem os em qualquer simples caso qual iestes m étodos ele adotou. Na inspiração, como na regeneração e na santificação, Deus opera “de muitas maneiras” (Hb. 1.1). As Escrituras, como os livros da literatura secular, devem ser interpretadas à luz do seu propósito. A poesia não pode ser trata da como a prosa, e a parábola não pode ser tratada de qualquer forma (em Inglês “andar de quatro”), quando ela indica o caminhar ereto e o simples contar uma história. O drama não é história, nem a personificação deve ser considerada como uma biografia. Há um exagero retórico que apenas tem em vista uma vivida ênfase de uma importante verdade. A alegoria é um modo popular de fazer ilustração. Mesmo o mito e a lenda podem trazer grandes lições de outra forma impossíveis que mentes infantis e sem instrução apre endam. Para julgarmos a Escritura há necessidade de um senso literário, o que falta na crítica muito hostil. D enney , Studies in Theology, 21 8 - “Há um estágio em que todo o conteú do da mente, embora não tendo capacidade para a ciência e para a história, 320 Augustus H opkins Strong pode ser chamado mitológico. O que a crítica nos mostra, ao tratar dos capí tulos iniciais de Gênesis, é que Deus não menospreza o falar à mente, nem através dela, mesmo quando num estágio inferior. Até mesmo o mito, no qual o início da vida humana, estando além da possibilidade de pesquisa, é repre sentado numa linguagem infantil da raça, pode tornar-se um recurso da reve lação. ... Mas isso não faz do primeiro capítulo de Gênesis ciência, nem tam bém do terceiro capítulo história. E a autoridade nestes capítulos não é a forma semi-científica ou semi-histórica, mas a mensagem que através deles vem, da sabedoria e força criativas de Deus, ao coração do homem”. G o r e , em Lux Mundi, 356 - “Os variados tipos de atividade mental e literária desen volvem-se em suas diferentes linhas a partir de uma condição primitiva na qual não se diferenciam, mas fundem-se. Podemos chamar vagamente isto de estágio mítico da evolução mental. Mito não é falsidade; é um produto da atividade mental, instrutivo como mais tarde qualquer outra produção, mas carateriza-se por não ser distinta da história, da poesia e da filosofia”. Do mesmo modo G rote chama de mitos gregos o grupo intelectual todo da época a que pertenciam - a raiz comum de toda história, poesia, filosofia, teologia, de que mais tarde divergiram e de que procederam. Assim, a parte inicial de Gênesis pode pertencer à natureza do mito no qual não podemos distinguir o germe histórico, embora não neguemos que ele exista. O Clive e Andrea dei Sarto de R obert B row ning são essencialmente representações corretas de caracteres históricos, embora os pormenores em cada poema sejam imaginários. 5. O Espírito inspirador deu as Escrituras ao m undo por um processo de evolução gradual. Com o, ao com unicar as verdades da ciência natural, Deus com unicou as verdades da religião em passos sucessivos, a princípio em germe, m ais plena m ente tom ou o hom em capaz de com preendê-las. A educação da raça é sem e lhante à de um a criança. Prim eiro vêm as figuras, as lições objetivas, os ritos externos, as predições; depois a chave destes em C risto, e sua exposição didá tica, nas Epístolas. Assim tem sido “muitas vezes”, assim como “de muitas maneiras” (Hb. 1.1). As primeiras profecias como a de Gn. 3 .15 - a semente da mulher esmagan do a cabeça da serpente - eram apenas fracos lampejos da aurora. O homem tinha de elevar-se porque era capaz de receber e transmitir a comunicação divina. Moisés, Davi, Isaías marcam sucessivos avanços no recebimento e transparência da luz celestial. A inspiração tem-se valido de homens de vários graus de capacidade, cultura e discernimento religioso. Como todas as ver dades dos cálculos estão, de forma germinal, no mais simples axioma da matemática, do mesmo modo todas as verdades da salvação estão compre endidas na afirmação de que Deus é santidade e amor. Mas nem todo erudito pode dominar o cálculo do axioma. O mestre pode ditar proposições que o aluno não entende; ele pode demonstrar um caminho de tal modo que o aluno participe do processo; ou, melhor ainda, ele pode estimular o aluno a operar T e o l o g ia S is t e m á t ic a 321 a demonstração por si mesmo. Parece que Deus empregou todos estes métodos. Mas há exemplos de ditado e iluminação e a inspiração às vezes os inclui; o método geral parece ter sido o despertar divino das forças humanas para que o homem descubra e expresse a verdade por si mesmo. A. F. B alfour , Foundations of Belief, 339 - “Vista do lado divino, a inspira ção é aquilo a que chamamos de descoberta quando vista do lado humano. ... Cada acréscimo ao conhecimento humano, quer no indivíduo, ou na comu nidade, quer científico, ético ou teológico, deve-se a uma cooperação entre a alma humana que assimila, e o poder divino que inspira. Nem age, ou poderia agir, num isolamento independente. Para a ‘razão desassistida’, é uma ficção, e é impossível conceber-se uma pura receptividade. Mesmo o mais vazio recipiente deve limitar a quantidade e determinar a configuração de qualquer líquido que possa enchê-lo. ... A inspiração não se limita a qualquer idade, ou país, ou povo”. Os antigos semitas tinham-na, como também os grandes reformadores orientais. Não se colhem uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos. Tudo o que é verdadeiro ou bom na história humana pro vêm de Deus. 6. A inspiração não garante a inerrância em coisas não essenciais ao prin cipal propósito da Escritura. A inspiração não vai além da fidedigna transm issão dos escritores respon sáveis pela apresentação da verdade. Inspiração não é onisciência. É a conces são de vários tipos e graus de conhecim ento e auxílio, de acordo com a neces sidade; às vezes sugere um a nova verdade, às vezes preside a coleção do m aterial preexistente e resguarda do erro essencial na elaboração final. Como a inspiração não é onisciência, não é santificação com pleta. N em invoca infa libilidade pessoal. Deus pode valer-se de recursos imperfeitos. A imperfeição dos olhos não desaprova a autoria divina e, como Deus se revela na natureza e na história a despeito das suas deficiências, assim a inspiração pode cumprir o seu propó sito tanto através dos escritores como dos escritos em certo sentido imperfei tos. Deus está, na Bíblia assim como na história dos hebreus, conduzindo o seu povo para Cristo, mas apenas através de um desdobramento da verdade. Os autores da Escritura não eram perfeitos. Paulo, em Antioquia, resistiu Pedro “porque era repreensível” (Gl. 2.11). Mas Pedro diferia de Paulo, não nos pronunciamentos públicos, nem nas palavras escritas, mas em seguir os seus ensinos (cf.. Atos 15.6-11). Os defeitos pessoais não invalidam um embaixa dor, apesar de que eles podem dificultar o recebimento da sua mensagem. O mesmo ocorre com a ignorância dos apóstolos sobre o tempo da segunda vinda de Cristo. Só gradualmente eles vieram a entender as doutrinas cristãs; eles não ensinavam as doutrinas todas de uma só vez; seus últimos pronun ciamentos suplementavam e completavam os primeiros; e todos eles forne ciam só aquela medida do conhecimento que Deus via necessária ao ensino moral e religioso da humanidade. Muitas coisas ainda estão sem ser reveladas 322 A ugustus H opkins Strong e muitas que inspiraram os homens a pronunciar, eles não entendiam plena mente. P fle id ere r , Grundríss, 53, 54 - “A palavra é divina-humana no sentido de que contém a verdade divina condicionada na forma humana, histórica e indi vidual. A Escritura Sagrada contém a palavra de Deus de um modo claro, e inteiramente suficiente para gerar a fé salvadora”. F rancês P ow er C obbe , Life, 87 - “A inspiração não é uma coisa miraculosa e conseqüentemente incrível, mas normal e concorde com o relacionamento natural entre o espírito infinito com o finito, influxo divino da luz mental em analogia perfeita com a influência moral que os teólogos chamam graça. Como toda alma devota e obediente pode ter a expectativa de compartilhar da graça divina, do mesmo modo elas têm compartilhado, como ensina P arker , na inspiração divina. E, como o rece bimento da graça mesmo em grande medida não nos torna impecáveis, assim também o da inspiração não nos torna infalíveis. Podemos admitir com a S rta. C obbe que a inspiração é consistente com a imperfeição embora admitamos que os escritores da Bíblia têm uma autoridade mais elevada que a nossa. 7. A Inspiração nem sem pre, ou geralm ente, envolve com unicação direta dos escritores da B íblia com as palavras que eles escreveram . A pesar disso, é possível pensam ento sem palavras e, na ordem da natureza, ele precede as palavras. Os escritores da B íblia parecem ter sido tão influen ciados pelo Espírito Santo que perceberam e sentiram m esm o as novas verda des que eles deviam publicar, com o descobertas das suas próprias m entes e, ao expressar tais verdades, perm itiu-se a ação das suas próprias m entes, com a única exceção de que eles eram sobrenaturalm ente im unes na seleção de pala vras erradas e, quando necessário, proviam as corretas. Portanto, a inspiração não é verbal, conquanto reivindiquem os que não se adm itiu nenhum a forma de palavras tom adas em suas conexões que ensinassem o erro na Escritura. Antes da expressão é preciso que haja algo a ser expresso, apesar de que é possível o pensamento sem linguagem. Pode existir o conceito sem pala vras. O inspirador interrompe só quando a memória do falante deixa de exis tir. O mestre guia a mão do aluno só quando este tende a errar. O pai permite que o filho ande sozinho, a não ser que ele corra o perigo de tropeçar. S e o conhecimento se tornar certo, ele é tão bom como a revelação direta. Porém sempre que a mera comunicação das idéias ou a direção rumo ao material apropriado for suficiente para garantir o pronunciamento correto, os escrito res sagrados eram orientados na própria seleção das palavras. A crítica minuciosa prova de modo cada vez mais concludente a adequação da roupa gem verbal dos pensamentos expressos; toda a exegese bíblica, na verdade, baseia-se na suposição de que a sabedoria divina fez da forma exterior um veículo fidedigno da substância interior da revelação. W atts , New Apologetic, 40, 111 sustenta a inspiração verbal: “As garrafas não são o vinho, mas se elas se quebrarem, o vinho derramará”; o Espírito inspirador deu a linguagem a Pedro e aos outros no Pentecostes, pois os T e o l o g ia S is t e m á t ic a 323 apóstolos falaram em outras línguas; os santos homens do passado não só pensavam, mas “os homens santos de Deus falaram inspirados peio Espírito Santo” (2 Pe. 1.21). Assim também G o r d o n , Ministry o fth e Spirit, 171 - "Por que o estudo minucioso das palavras da Escritura, produzido por todos expo sitores, a busca da precisa sombra do sentido verbal, sua atenção para os mínimos detalhes da linguagem e para todo o delicado matiz do tempo, modo e pronúncia”? Os eruditos liberais, pensa o Dr. Gordon, assim afirmam a dou trina que eles negam. R o t h e , Dogmatics, 238, fala de uma “língua do Espírito Santo”. Oetinger: “É o estilo da corte celestial”. Porém B roadus , erudito quase igualmente conservador, em seu Com. on Mathews 3 .17 diz que a diferença entre “Este é o meu Filho amado”, e Lc. 3.22 “Tu és meu Filho amado”, nos faz tomar cuidado em teorizar a inspiração verbal e sugere que essa hipótese não oferece garantia. A teoria da inspiração verbal é refutada por dois fatos: 1. que as citações que o N.T. faz do A.T., em 99 casos diferem tanto do hebraico como da LXX; 2. que as próprias palavras de Jesus são relatadas com variações pelos diferentes evangelistas. H elen K eller disse a P hillips B rooks que sempre ela soube que há um Deus, mas nunca tinha conhecido o seu nome. O D r . Z. F. W estervelt , do Instituto de Surdos-Mudos tinha sob a sua responsabilidade quatro filhos de diferentes mães. Eram todos mudos embora não tivessem a falta da audição e os órgãos da fala eram perfeitos. Mas as suas mães nunca os tinham ama do e nunca tinham conversado com eles de uma forma amorosa, que provo casse imitação. Os filhos ouviam fria e duramente, mas isto não os atraía. D o m esm o m od o os v e lh o s m e m b ro s da igreja, em p a rtic u la r e nas reu niões de o ra ção d e ve ria m e n s in a r os m ais n o vo s a falar. M as a á sp e ra e c o n te n c io s a c o n v e rs a não p ro d u zirá o re su lta d o ; é p re ciso q u e s e ja um a co n ve rsa de am or cristão. W illiam D. W itney, na M axM üller’s Science of Language, 26-31, co m b a te o po nto de vista de M ü lle r de q u e o p e n s a m e n to e a lin g u a g e m são id ên ticos. A re sp o sta do M a jo r B liss T a y lo r a S a n ta A nn a: “O G e n e ra l Taylor n u nca se re n d e !” é s u b s ta n c ia lm e n te co rre ta , e m b o ra a ve rsã o das v e rd a d e i ras p a la vra s p ro fa n a s do g e n e ra l fo s s e d ip lo m á tic a e e u fe m ística . C a da au tor da E scritura pro fe riu um a a n tig a v e rd a d e em n o va s fo rm a s com as qu ais sua p ró p ria e x p e riê n c ia a reve stiu. D avi ch e g o u à su a g ra n d e z a a b a n d o n a n d o a m era re p e tiçã o de M o isé s e fa la n d o do seu p ró p rio cora ção . P aulo ch e g o u à su a g ra n d e z a d e s p re z a n d o o q u e lhe te ria sid o e n s in a d o e m o stra n d o em que c o n siste , afin al de con tas, o p la n o da m is e ric ó rd ia de D eus p a ra com tod os. A go stinh o: “S c rip tu ra est s e n su s S c rip tu ra e ” - “A E scritu ra é o que a E scritura significa”. E ntre os e s c rito re s de te o lo g ia q u e a d m ite m a p o ssib ilid a d e de os a u to re s da B íblia e rra re m em m a té ria não e s se n cia l ao e n sin o m oral e e sp i ritual e stã o L u te ro , C alvino, Cocceius, T h o lu c k , Neander, Lange, S tie r, Van O osterze e, John Howe, R ichard B a x te r, Conybeare, A lf o r d , Mead. 8. C ontudo, não obstante o elem ento hum ano sem pre presente, a inspira ção das Escrituras, totalm ente perm eável, faz destes vários escritos um todo orgânico. P orque a B íblia é em todas as suas partes a obra de Deus, cada parte deve ser julgada, não isoladam ente, mas em sua conexão com cada um a das outras 324 A ugustas H opkins Strong partes. As Escrituras não devem ser interpretadas com o tantas produções sim plesm ente hum anas de diferentes autores, m as tam bém com o a obra de uma m ente divina. Coisas aparentem ente triviais devem ser explicadas a partir da sua conexão com o todo. U m a história deve ser edificada a partir de vários relatos da vida de Cristo. U m a doutrina deve suplem entar a outra. O Velho T estam ento é parte de um sistem a progressivo, cujo clím ax e cuja chave devem ser encontrados no N ovo Testam ento. O assunto central e o pensam en to que liga todas as partes da B íblia a cuja luz devem ser interpretados, é a pessoa e obra de Jesus Cristo. A Bíblia diz: “Não há Deus” (SI. 14.1); mas, então, deve-se tomar o contex to: “Disse o néscio no seu coração”. A expressão de Satanás “está escrito” (Mt. 4.6) é suplementada pela de Cristo: “Também está escrito” (Mt. 4.7). As trivialidades são como o cabelo e as unhas - eles têm o seu lugar como par-tes de um todo. O verso que menciona a capa de Paulo em Trôade (2 Tm. 4.13) é 1) sinal de genuinidade - um embusteiro não o inventaria; 2) uma evidência de necessidade temporal suportada para o evangelho; 3) uma indi cação dos limites da inspiração: mesmo Paulo devia ter livros e rolos. Cl. 2.21 - “não toques, não proves, não manuseies” - deve ser interpretado com o contexto no v. 20 - “por que vos carregam ainda com ordenanças”? e pelo verso 22 “segundo os preceitos e doutrinas dos homens”. H o d g e , Sistematíc Theology , 1.16 4 - “A diferença entre o evangelho de João e o livro das Crôni cas é como entre o cérebro do homem e o cabelo da sua cabeça; contudo, a vida do corpo está de modo tão verdadeiro no cabelo como no cérebro”. Como os cupons da estrada de ferro, os textos da Escritura “não devem ser desatacados". C ro o k e r, The N ew Bible a n d its N ew Uses, 137-144, nega inteiramente a unidade da Bíblia. O P r o f . A. B. Davidson, de Edimburgo, diz que “Uma teolo gia do A.T., na verdade, é impossível, porque o A.T. não é um todo homogê neo”. Estas negações procedem de um conhecimento insuficiente do princí pio da evolução na história e doutrina do A.T. As doutrinas no começo da Escritura são como os rios na sua fonte; não estão completamente expandi dos; muitos afluentes ainda virão. B ruce, Apologetics, 323 - “A literatura dos estágios antigos da revelação devem compartilhar os defeitos da revelação que ela registra e interpreta. ... A revelação final capacita-nos a ver os defei tos dos mais antigos. ... Devemos achar Cristo no A.T. como a borboleta na lagarta e o homem, coroa do universo, na nuvem ígnea”. C ran e , Religion of To-morrow, 224 - Cada parte deve ser modificada por outra. Nenhum verso é verdadeiro fora do Livro, mas o Livro inteiro é verdadeiro desde que tomado no seu conjunto. G o re , L u x Mundi, 350 - “Reconhecer a inspiração das Escri turas é entrarmos na escola em cada parte delas”. 9. Q uando se reconhece plenam ente a unidade da Escritura, a Bíblia, ape sar das im perfeições em m atéria não essencial ao propósito religioso, fornece orientação segura e suficiente para a verdade e para a salvação. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 325 O reconhecim ento da atuação do Espírito Santo torna racional e natural crer na unidade orgânica da Escritura. Q uando se tom am as partes m ais anti gas em conexão com as m ais tardias e quando se interpreta cada parte como um todo, desaparece a m aioria das dificuldades relativas à inspiração. Tom a das juntas, tendo Cristo com o clím ax e explicação, a B íblia fornece a regra de fé cristã e prática. A Bíblia responde a duas perguntas: “O que Deus fez para me salvar? O que devo fazer para ser salvo? As proposições de Euclides não são invali dadas pelo fato de que ele cria que a terra é plana. A ética de P latão não deve ser rejeitada por causa dos seus equívocos relativos ao sistema solar. Do mesmo modo a autoridade religiosa independe do conhecimento mera mente secular. - S ir J oshua R eynolds foi um grande pintor e um grande mes tre da sua arte. Suas preleções sobre a pintura lançaram os princípios que têm sido aceitos como autoridade por diversas gerações. Mas ele ilustra o assunto a partir da história e da ciência. Era uma época quando tanto a histó ria como a ciência eram jovens. Em alguns assuntos sem importância, que não afetam nem um pouco as suas conclusões, ele ocasionalmente vacila; suas afirmações não são seguras. Por isso não é ele uma autoridade no que tange à sua arte? - O Duque de Wellington uma vez disse que nenhum ser humano sabia quando começou a batalha de Waterloo. Um historiador rece beu a história de um combatente e fixou a hora como sendo onze da manhã. Um outro historiador teve a informação vinda de um outro combatente e fixou-a como ao meio-dia. Podemos dizer que esta discrepância indica erro em todo o relato e que não mais temos certeza de que ocorreu a batalha de Waterloo? Deve-se admitir livremente tais insignificantes imperfeições, conquanto ao mesmo tempo insistimos que a Bíblia, tomada como um todo, é incompa ravelmente superior a todos os outros livros e “que pode fazer-te sábio para a salvação” (2 Tm. 3.15). H ooker , Eccl. Polity. “O que quer que se fale de Deus ou das coisas pertencentes a ele além do que é a verdade, embora pare-ça uma honra, é uma injúria. E como os louvores tributados aos homens tão freqüentemente abatem e prejudicam o crédito da sua merecida aprova ção, assim devemos de igual modo tomar cuidado para que, ao atribuir à Escritura mais do que ela possa ter, não causemos incredulidade mesmo naquelas coisas que abundantemente sejam avaliadas com menos reverên cia”. B axter , Works, 21.3 4 9 - “Aqueles que pensam que as imperfeições humanas dos escritores avançam mais e podem aparecer em algumas pas sagens de cronologias ou da história que não são parte da regra de fé e vida, não destroem a causa cristã. Porque Deus pode capacitar os seus apóstolos para um registro e pregação do evangelho infalíveis, mesmo nas coisas necessárias à salvação, embora ele não os tivesse feito infalíveis em cada variante ou circunstância, nem ainda numa vida sem defeito”. A Bíblia, diz B eet , “contém erros possíveis em pequenos pormenores ou alusões, mas dá-nos com absoluta certeza os grandes fatos do cristianismo e, com base neles e só neles apoia-se a nossa fé”. E vans, Bib. Scholarship and Inspiration, 15, 18, 65 - “Ensina que a concha é parte do cerne e os 326 A ugustus H opkins Strong homens que acham que não podem guardar a concha jogam-na fora junta mente com o cerne. Esta afirmação da inspiração fez R enan , B radlaugh e I ngersoll céticos. ... Se, na criação, Deus pode operar um resultado perfeito através da imperfeição, por que não pode fazer o mesmo na Inspiração? S e em Cristo Deus pode aparecer na fraqueza e ignorância humanas por que não na palavra escrita ? ” Por isso abrimos exceção ao ponto de vista de W atts , New Apologetic, 71 - “Adote-se a teoria dos erros históricos e dos científicos e o cristianismo compartilhará do destino do hinduísmo. S e os seus escritores inspirados erram quando nos dizem coisas terrenas, ninguém crerá quando falarem das celestiais”. W atts acrescenta exemplos de Espinosa desistindo da forma enquanto reivindica sustentar a substância e, deste modo, reduzir a revela ção a um fenômeno do panteísmo naturalista. Respondemos que nenhuma teoria a priori sobre a perfeição na inspiração divina deve cegar-nos quanto à evidência da real imperfeição da Escritura. Como na criação e em Cristo, assim na Escritura Deus se humilha para adotar métodos humanos e imper feitos da sua própria revelação. Ver J onathan E dw ar ds , Diário: “Observo que os velhos raramente têm qualquer vantagem de novas descobertas porque eles estão à beira do caminho que utilizaram durante tanto tempo. Resolvido, se eu viver durante anos, serei imparcial ao ouvir as razões de todas as pre tensas descobertas e, se racionais, recebê-las embora por muito tempo eu tenho me valido de outro modo de pensar”. B o w n e , The tmmanence of God, 109, 110 - “Aqueles que acham a fonte da certeza e a sede da autoridade só nas Escrituras, ou só na igreja, ou só na razão e na consciência, ao invés de encontrá-la na complexa e indivisível cooperação de todos estes fatores devem ter em mente a história do pensa mento religioso. A mais rígida doutrina da inerrância da Escritura não tem evitado conflitantes interpretações; e os que situam a sede da autoridade na razão e na consciência são forçados a admitir que fora da iluminação pode haver muito lugar para ambos. Em certo sentido, a religião do espírito é um fato muito importante, mas, quando se coloca em oposição à religião de um livro, a luz que está nele é capaz de tornar-se em trevas”. 10. C onquanto a inspiração constitui a E scritura um a autoridade m ais fide digna que a razão individual ou os credos da igreja, a autoridade últim a é o próprio Cristo. C risto não construiu a E scritura para dispensar sua presença pessoal e ensino através do seu Espírito. A E scritura é o espelho im perfeito de Cristo. O espelho é deficiente, contudo, reflete-o e conduz a ele. A autoridade não está no espelho, m as em Cristo e o seu Espírito capacita individualm ente o cristão e a igreja coletivam ente a distinguir o essencial do não essencial e assim perceber a verdade em Jesus. Julgando e interpretando desta form a a Escritura, não som os racionalistas, porém , ao invés disso, crentes naquele que prom eteu estar conosco todos os dias até o fim do m undo e dirigir-nos pelo seu Espírito a toda a verdade. T e o l o g ia S is t e m á t ic a Tiago faia da lei como um espelho (Tg. 1.23-25) “como o varão que con templa ao espelho o seu rosto natural ... que atenta para a lei perfeita”); a lei convence do pecado porque reflete Cristo. Paulo fala do evangelho como um espelho (2 Co. 3.18) - “todos nós, refletindo como um espelho a glória do Senhor”); o evangelho nos transforma porque reflete Cristo. Contudo, tanto o evangelho como a lei são imperfeitos; são como espelhos de metal poli do, cuja superfície é freqüentemente opaca e cujas imagens são obscuras; (1 Co. 13 .12 - “Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face”); mesmo os homens inspirados conheciam apenas em parte e a profecia só em parte. A própria Escritura é a concepção e o pronun ciamento de uma criança, e que desaparecerá quando vier o que é perfeito, e virmos Cristo como ele é. A autoridade é o direito de impor crenças ou de ordenar obediência. A autoridade única é Deus, porque ele é a verdade, a justiça e o amor. Mas ele pode impor crenças e ordenar obediência só na medida em que ele é conhecido. Por isso a autoridade pertence só ao Deus revelado e, porque Cristo é o Deus revelado, ele pode dizer: “Toda autoridade me é dada no céu e na terra” (Mt. 28.18). A autoridade final na religião é Jesus Cristo. Cada uma das suas revelações de Deus tem autoridade. Tanto a natureza como a natu reza humana são tais revelações. Ele exerce a sua autoridade através das autoridades delegadas e subordinadas, tais como os pais e o governo civil. Estes corretamente reivindicam obediência, dentro dos limites das suas res pectivas esferas e reconhecem a sua relação de dependência dele. “As auto ridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm. 13.1), apesar de que elas são manifestações imperfeitas da sabedoria e justiça dele. As decisões da corte suprema são de autoridade embora os juizes são falíveis e limitados no estabelecimento da justiça. Autoridade não é infalibilidade quer no governo da família, quer no do estado. A igreja da Idade Média considerava-se possuidora da autoridade absolu ta. Mas a Reforma Protestante mostrou quão vãs eram as suas pretensões. A igreja só é autoridade quando reconhece e expressa a suprema autoridade de Cristo. Os reformados sentiram a necessidade de alguma autoridade externa no lugar da igreja. Em substituição, eles usaram a Escritura. A expres são “a palavra de Deus”, que designa a verdade oralmente pronunciada ou que afeta a mente do homem vem a significar só um livro. A suprema auto ridade foi atribuída só a ele. Freqüentemente usurpa-se o lugar de Cristo. Enquanto vindicamos a apropriada autoridade da Escritura, devemos mostrar que a sua autoridade não é imediata e absoluta, mas mediata e relativa, atra vés de registros humanos e imperfeitos e que necessitam de um ensino suplementar e divino para interpretá-los. A autoridade da Escritura não inde pende de Cristo e nem está acima dele, mas na subordinação exclusiva a ele e ao seu Espírito. Aquele que inspirou a Escritura deve capacitar-nos a inter pretá-la. Não se trata de uma doutrina do racionalismo, pois ele sustenta a dependência absoluta da iluminação do Espírito de Cristo. Também não se trata do misticismo que sustenta que Cristo nos ensina apenas abrindo o sen tido das revelações passadas. Não esperam os palavras novas na nossa astronomia, nem novas Escrituras na nossa teologia. Esperamos, sim, que o 327 A ugustus H opkins Strong 328 mesmo Cristo que deu as Escrituras nos dê um novo discernimento para o novo sentido e nos capacite a fazer novas aplicações aos seus ensinos. O direito e o dever do juízo privado com relação à Escritura não perten cem a nenhuma casta privilegiada, mas são liberdades inalienáveis da igreja de Cristo e do membro da igreja individualmente. Contudo, de um outro ponto de vista, este julgamento não é privado. Não se trata de julgamento arbitrário ou fruto do capricho. Ele não torna a consciência cristã suprema, se por este termo significarmos a consciência dos cristãos independente do Cristo que neles habita. Tendo vindo a Cristo, ele nos une a si, senta-nos consigo no seu trono, dá-nos o seu Espírito e determina que empreguemos a nossa razão ao seu serviço. Ao julgar a Escritura, damos supremacia a Cristo, não a nós e reconhecemo-lo como a única autoridade última e infalível em matéria de religião. Podemos crer que a revelação total de Cristo na Escritura é uma autoridade superior à razão do indivíduo, ou a qualquer simples afirmação da igreja ainda que não creiamos que esta mesma autoridade da Escritura tem sua limitação e que o próprio Cristo deve ensinar-nos qual é a sua revelação total. Deste modo o juízo que a Escritura estimula a passar sobre as suas próprias limitações só induz a uma final e implícita confiança no vivo e pessoal Filho de Deus. Ele nunca pretendeu que a Escritura devesse ser um substitu to da sua presença e apenas o seu Espírito, que foi prometido para dirigir-nos em toda a verdade. Sobre a autoridade da Escritura ver A. H. S trong , Christin Creation, 113-136 - “A fonte de toda a autoridade não ó a Escritura, mas Cristo. ... Em lugar nenhum se diz que a Escritura por si é capaz de convencer o pecador ou de levá-lo a Deus. É uma brilhante palavra, mas é a ‘espada do Espírito’; e, a não ser que o Espírito a use, nunca penetrará no coração. É um martelo pesado, mas só o Espírito pode empregá-lo para despedaçar a rocha. É o tipo de forma fechada, mas o papel nunca receberá uma impressão enquanto o Espírito não aplicar o seu poder. Nenhum mero instrumento terá a glória que pertence a Deus. Toda alma sente a sua inteira dependência dele. Só o Espí rito Santo pode fazer a palavra exterior interiorizar-se. E o Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Cristo entra em contato direto com a alma. Ele mesmo dá testemunho da verdade. Ele dá testemunho da Escritura ao invés de a Escri tura dar testemunho dele”. 11. A discussão anterior capacita-nos ao m enos a lançarm os três princípios cardeais e darm os respostas a três perguntas com uns a respeito da inspiração. Princípios: a) A m ente hum ana pode ser habitada e receber energia da par te de D eus enquanto ainda atinge e retém sua m ais elevada inteligência e liberdade, b) Sendo obra do D eus uno bem com o dos hom ens em quem Deus se m ove e habita, as Escrituras constituem u m a unidade articulada e orgânica. c) A unidade e autoridade da E scritura com o um todo são inteiram ente consis tentes com sua gradual evolução e im perfeição das partes não essenciais. Perguntas: a) A lgum a parte da E scritura não é inspirada? Resposta: Cada parte da Escritura é inspirada em sua conexão e relação com cada um a das T e o l o g ia S is t e m á t ic a 329 outras partes, b) Há graus de inspiração? R esposta: H á graus de valor, m as não de inspiração. C ada parte em conexão com as dem ais é plenam ente verdadeira e plenitude não tem grau. c) Com o podem os saber que partes são de m aior valor e qual é o seu ensino integral? R esposta: O m esm o Espírito de Cristo que inspirou a B íblia prom ete tom ar as coisas de Cristo e, apresentando-as a nós, conduzir-nos progressivam ente a toda a verdade. Note o valor do Velho Testamento, revelando os atributos naturais de Deus como base e cenário para a revelação da misericórdia no Novo Testamento. A revelação encontra-se em muitas partes (itoVonEpmç - Hb. 1.1) assim como de muitas maneiras. “Cada oráculo, tomado isoladamente, é parcial e incom pleto” (R obertson S mith , O. T. in Jewish Ch., 21). Mas a pessoa e as palavras de Cristo resumem e completam a revelação, de modo que, em seu conjunto e em conexão com ele, as várias partes da Escritura constituem uma infalível e suficiente regra de fé e prática. A influência divina sobre as mentes dos escritores pós-bíblicos, levando à composição de alegorias tais como O Peregrino e dramas como o Macbeth não devem ser denominadas de inspiração, mas de iluminação porque tais escritos contêm erros assim como verdades em matéria de religião e de moral; além disso eles não acrescentam nada de essencial ao que as Escritu ras nos conferem; mesmo quando expressam a verdade, já feitas conheci das, elas não merecem um lugar no cânon sagrado. W. H. P. Faunce : “Quão distante está o verdadeiro Peregrino de B unyan de apresentar a experiência cristã! Ela é inverídica: 1. No que trata do desespero do mundo. O Peregrino tem de deixar este mundo a fim de ser salvo. A experiência moderna anseia por fazer a vontade de Deus aqui, e salvar outros ao invés de abandoná-los. 2. Na sua agonia relativa ao pecado e ao conflito assustador. Bunyan ilustra a experiência moderna melhor em a Cristã e seus filhos, que atravessam o Vale da Sombra da Morte durante o dia e sem o conflito com Apoliom. 3. Na incer teza constante da luta do Peregrino. O Cristão entra no Castelo da Dúvida e depara-se com o Gigante Desespero, mesmo depois de ter tido a maioria das vitórias. Na experiência moderna, “no tempo da tarde haverá luz” - (Zc. 14.7). 4. Na constante convicção de um Cristo ausente. O Cristo de B unyan nunca se encontra neste lado da Cidade Celestial. A Cruz diante da qual o fardo caiu simboliza um ato sacrificial, mas não é o próprio Salvador. A experiência moderna tem Cristo vivendo em nós e conosco sempre, e não somente um Cristo que esperamos ver no fim da jornada”. B eyschlag , N. T. Theol., 2.18 - Paulo declara que a sua própria profecia e inspiração, em essência, são imperfeitas (1 Co. 13.9, 10,12; cf. 1 Co. 12.10; 1 Ts. 5.19-21). Admitido isso, justifica-se uma crítica cristã mesmo nestes pontos de vista. Ele pode pronunciar um anátema sobre os que pregam ‘outro evangelho’ (Gl. 1.8,9), porque no que se refere a uma simples fé, os fatos da salvação são absolutamente certos. Mas onde o pensamento profético e dis curso vão além destes fatos relativos à salvação, a madeira e a palha podem misturar-se com o ouro, a prata e as pedras preciosas edificadas sobre um fundamento. Deste modo, ele distingue a sua modesta yvó^ti da èícvtaYTiKtipíov 330 A ugustus H opkins Strong (1 Co. 7.25,40)”. C larke , Christian Theology, 44 - “A autoridade da Escritura não põe limites, mas liberta. Escrevendo sobre a Escritura, Paulo diz: ‘Não que tenhamos o domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores do vosso gozo; porque pela fé estais em pé’ (2 Co. 1.24)”. C remer , em H erzog , Realencypaedia, 183-203 - “A doutrina da igreja é de que as Escrituras são inspiradas, mas nunca a igreja determinou como isso ocorreu”. B utler , Analogy, parte II, cap. III - “A única questão concernente à verdade é se a revelação é real, não se atende a cada circunstância que se espera; sobre a autoridade da Escritura, se ela é o que reivindica ser, não se é um livro de tal tipo, e promulgado deste modo, como os fracos são capazes de fantasiar um livro que contém a revelação divina. Por isso, nem a obscuri dade, nem a aparente incúria de estilo, nem as várias leituras, nem as primi tivas disputas sobre os autores de certas partes, nem outras semelhantes coisas, embora tenham sido mais consideráveis do que são, podem destro nar a autoridade da Escritura; a não ser que os profetas, os apóstolos ou o nosso Senhor tivessem prometido que o livro contendo a revelação divina garantiria estas coisas”. W. R obertson S mith : “S e me perguntarem por que eu recebo as Escrituras como a palavra de Deus e como a única regra de fé e vida, respondo com todos os Pais da igreja Protestante: ‘Porque a Bíblia é o único registro do amor redentor de Deus; porque só na Bíblia eu encontro Deus trazendo o homem a Jesus Cristo e declarando a sua vontade de salvar-nos. E o registro que eu sei que é verdadeiro pelo testemunho do seu Espírito, que está no meu coração, pelo qual eu estou certo de que nenhum outro, além do próprio Deus é capaz de falar tais palavras à minha alma”. O evangelho de Jesus Cristo é o ãtzaZ, Xeyó[iEvov do Onipotente. y. OBJEÇÕES À DOUTRINA DA INSPIRAÇÃO E m conexão com um a obra divino-hum ana com o a Bíblia, pode-se esperar que se apresentem dificuldades por si m esm as insolúveis. Contudo, até onde se sustenta sua inspiração pela com petente e suficiente evidência, tais dificul dades não podem com ju stiç a im pedir nossa p lena aceitação da doutrina, senão com o um a desordem e m istério na natureza garantem -nos o abandono das provas da sua autoria divina. Tais dificuldades dim inuem com o tempo; algum as já desapareceram ; m uitas podem ser devidas à ignorância e podem ser rem ovidas daqui em diante; as que são perm anentes podem pretender esti m ular a pesquisa e disciplinar a fé. É notável que as objeções com uns à inspiração apresentam -se, não tanto contra o ensino religioso das Escrituras, com o contra certos erros em assuntos seculares que se supõe entrelaçados com ela. M as se se provar que na verdade são erros, isto não derrotará necessariam ente a doutrina da inspiração; só nos com pelirá a dar m aior lugar ao elem ento hum ano na com posição das Escritu ras e considerá-las m ais exclusivam ente com o um livro-texto de religião. Como regra de fé e prática religiosas elas ainda são a infalível palavra de Deus. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 331 A B íblia deve ser ju lg ada com o um livro cujo único alvo é livrar o hom em do pecado e reconciliá-lo com Deus, e nestes respeitos achar-se-á um registro de verdade substancial. Isto aparecerá m ais plenam ente se observarm os as obje ções um a a um a. “As Escrituras nos são dadas não para ensinar como são os céus, mas como ir aos céus”. Seu objetivo certamente não é ensinar ciência ou história a não ser onde elas são essenciais ao seu propósito moral e religioso. Algu mas das suas doutrinas, como o nascimento virginal de Cristo e sua ressur reição física, são fatos históricos e alguns fatos, como o da criação, também são doutrinas. A respeito destes tão grandes fatos, sustentamos que a inspi ração nos dá relatos essencialmente fidedignos sejam quais forem as imper feições nos pormenores. Minar a fidedignidade científica dos Vedas indianos é minar a religião que eles ensinam. Mas isto só porque a sua doutrina é parte essencial ao seu ensino religioso. Na Bíblia, a religião não depende da ciên cia física. As Escrituras têm como objetivo somente declarar o ato criativo e senhorio do Deus pessoal. O método da sua obra pode ser descrito como uma pintura sem afetar a sua verdade substancial. As cosmogonias indianas, por outro lado, por serem politeístas ou panteístas, ensinam a inverdade essencial, descrevendo a origem das coisas como devidas a uma série de transformações sem sentido, desprovidas da base da vontade e da sabedoria. Quando as dificuldades da Escritura referem-se à forma ao invés de à substância de suas caraterísticas incidentais, em lugar de à principal doutri na, podemos dizer das suas obscuridades o que Isócrates disse da obra de Heráclito: “O que eu entendo dela é tão excelente que posso tirar conclusões relativas ao que não entendo”. “S e Bengel acha na Bíblia coisas tão duras para a sua faculdade crítica, ele não acha nada tão duro para a sua faculdade de crer”. Com J ohn S mith , que morreu em Amsterdã em 1612, podemos dizer: “Confesso minha mudança e ainda estarei pronto a mudar para melhor”; e com John Robinson, em seu discurso de despedida aos Padres Peregrinos: “Estou bem persuadido de que o Senhor tem mais verdade a surgir da sua santa palavra”. 1. E rros em m atéria de Ciência Sobre esta objeção assinalam os: d) Não adm itim os a existência de erro científico na Escritura. O que se acusa com o tal apresenta-se em form as populares e im pressionantes. A m ente com um recebe um a idéia m ais correta dos fatos não fam iliares quando narrados em linguagem fenom enal e resum ida do que quando descri tos em term os abstratos e no porm enor exato da ciência. Os escritores da Bíblia inconscientemente observam o princípio de estilo de Herbert Spencer: A economia da atenção do leitor ou do ouvinte; quanto mais energia se gasta na forma, menos sobra para agarrar-se à substância A ugustus H opkins Strong 332 (Ensaios, 1-47). W e n d t, Teaching of Jesus, 1.130, apresenta o princípio do estilo de Cristo: “Maior nitidez no menor espaço”. Por Isso a Escritura empre ga expressões da vida comum em lugar da terminologia científica. Deste modo emprega-se a linguagem da aparência em Gn. 7.19 - “todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu foram cobertos” - isto seria a aparência, mesmo que o dilúvio fosse local em vez de universal; em Js 10 .12 ,13 - “e o sol se deteve” - tal seria a aparência, ainda que os raios solares fossem uma simples refração de modo a sobrenaturalmente alongar o dia; no SI. 93.1 - “o mundo também está firmado e não poderá vacilar” - tal é a aparência apesar de que a terra gira em torno do eixo e se move em torno do sol. Na narrativa, substituir para “ocaso” alguma descrição científica desviaria a atenção da principal matéria. Seria preferível que se lesse no A.T.: “Quando a revolução da terra em torno do seu eixo fizeram os raios do luminar sol incidir horizontal mente sobre a retina, Isaque saiu para orar (Gn. 24.63)”? “Le secret d’ennuyer est de tout dire" (O segredo para enfadar está em dizer tudo). C h a rle s Dickens em American Notes, 72, descreve o ocaso numa campina: “Aqui o declínio do dia é bem magnífico; tinge o firmamento de um profundo vermelho e dourado o horizonte do arco da abóbada que está acima de nós” (citado por Hovey, Manual of Christian Theology, 97). Será que, por isso, Dickens cria que o fir mamento fosse uma peça sólida da obra de um construtor? C anon D river rejeita a história bíblica da criação porque as distinções fe i tas pela ciência moderna não podem ser encontradas no hebraico primitivo. No seu pensamento, o estado fluido da substância da terra devia ter sido chamado de caos emergente”, ao invés de “águas” (Gn. 1.2). A falácia de sustentar que a Escritura dá com pormenores todos os fatos ligados à narra tiva histórica induziu a muitos curiosos argumentos. O Calendário Gregoria no, que faz o ano começar em janeiro é contraposto por representar Eva sendo tentada no princípio através de uma maçã, o que seria possível só se o ano com eçasse em setembro. b) N ão é necessário ao ponto de vista próprio da inspiração supor que os autores hum anos tivessem em m ente a apropriada interpretação científica dos eventos naturais que registraram . B asta que esteja n a m ente do Espírito inspirador. A través das concepções relativam ente estreitas e da linguagem inadequada dos escritores bíblicos, o Espírito da inspiração pode ter garantido a expressão da verdade em tal forma germ inal a ser inteligível nos tem pos em que foi publicada e ainda capaz de expansão na m edida em que a ciência avança. N o quadro m iniatural da cria ção no prim eiro capítulo de G ênesis e em seu poder de ajustar-se a cada pro gresso n a investigação científica tem os forte prova da inspiração. A palavra “dia” em Gn. 1 é um exemplo deste modo geral da expressão. Seria um absurdo ensinar às raças primitivas, que lidavam apenas com números pequenos, as miríades de anos da criação. O objetivo da lição aos filhos, com o gráfico resumido, tem em sua mente uma verdade maior do que T e o l o g ia S is t e m á t ic a 333 a elaborada e exata afirmativa apresentaria. C onant (Gn. 2.10), sobre a des crição do Éden e seus rios, diz: “É claro que o objetivo do autor não é uma descrição topográfica minuciosa, mas uma concepção geral e impressionan te como um todo”. Embora o progresso da ciência só mostre que estes relatos não são menores, mas maiores que do supõem aqueles que a princípio o receberam. Nem os “shasters” hindus, nem qualquer cosmogonia pagã pode sustentar tal comparação com os resultados da ciência. Por que mudar nos sas interpretações da Escritura tão freqüentemente? Resposta: Não serem na origem mestres de ciência, mas apenas intérpretes da Escritura com as novas luzes que temos. Esta co n ce p çã o do a n tig o e n sin o da Escritura, e le m e n ta r e ad eq ua do à in fâ n cia da raça, se os fa to s o re q u e re sse m , to m a ria p o ssíve l in te rp re ta r os p rim e iro s ca p ítu lo s de G ê n e sis co m o m ito ló g ico s ou le g e n d á rio s. D eus podia c o n d e s c e n d e r com as “fó rm u la s de ja rd im de in fâ n c ia ” . G oethe diz que “ D e ve m os tra ta r as cria n ça s co m o D eus nos tra ta : nós so m o s m ais fe lize s sob a in flu ê n cia de ilusõe s in o c e n te s ” . L ongfellow : “Q u ã o be la é ju ve n tu d e ! com que brilho ela reluz, co m su a s ilusões, a s p ira ç õ e s , son ho s! Livro dos p rin c íp i os, h istó ria sem fim , ca d a d o n ze la um a h e ro ín a e ca d a hom em um a m ig o !” Podemos d e fe n d e r com G oethe e com L ongfellow , se a p e n a s exclu irm o s de D eus o e n sin o de to d o erro e sse n cia l. As n a rra tiv a s da Escritura podem d iri gir-se à im a g in a çã o e, d e ste m o d o a s s u m ir a fo rm a m ito ló g ica ou legendária, c o n q u a n to a in d a c o n te n h a m a ve rd a d e s u b s ta n c ia l que, de ne nh um outro m odo, o ho m e m bem as a p re e n d e ra ; ver o p o e m a “ D e s e n v o lv im e n to ” de R obert B rowning , em Asolando. Por o u tro lado, o C o rã o não d e ixa lu ga r para a im a gin açã o, m as fix a o nú m e ro de e s tre la s e d e c la ra que o firm a m e n to é sólido . H e n ry D ru m m ond : “A e vo lu çã o d e u -n o s u m a no va Bíblia. ... A B íblia não é um livro que foi feito ; ela se d e s e n v o lv e u ” . B ag e h o t diz-nos que “Um dos mais notáveis sermões do Padre Newman de Oxford explica como a ciência ensina que a terra gira em tomo do sol e como a Escritura ensina que o sol gira em torno da terra; e termina aconse lhando ao crente discreto a aceitar ambos”. Esta é uma escrituração contábil de duas entradas. L e no r m a n t , em Contemp. Review, nov 1879 - Enquanto a tradição do dilúvio sustenta tão considerável lugar nas memórias legendárias de todos os ramos da raça ariana, os monumentos e textos originais do Egito, com muitas especulações cosmogônicas, não têm fornecido, ainda que de longe, qualquer alusão a tal cataclismo”. L e norm ant aqui erroneamente admi te que a linguagem da Escritura é a científica. S e se trata de linguagem de aparência, então o dilúvio pode não ser uma catástrofe universal, mas local. G. F. W r ig h t , Ice Age in North America, sugere que as numerosas tradições do dilúvio podem ter tido sua origem nas enormes enchentes das geleiras recorrentes. No sudoeste da Queensland o Departamento de Meteorologia registrava a média padrão de 10%, 20, 35%, 10% de polegada pluvial, em 77% de polegada em quatro dias sucessivos. c) Pode-se dizer com segurança que a ciência ainda não m ostrou que qual quer passagem da E scritura bem interpretada seja in verídica. C om relação à antigüidade da raça, podem os dizer que, devido às diferen ças de leitura entre a Septuaginta e o texto hebraico há lugar para dúvida se 334 A ugustus H opkins Strong qualquer das cronologias recebidas tem a sanção da inspiração. A pesar de que a ciência tom ou provável a existência do hom em na terra num período ante rior às datas designadas nestas cronologias, nenhum a afirm ação da Escritura inspirada por isso se prova falsa. O esquema cronológico de Usher baseado no hebraico põe a criação no ano 4 0 0 4 a.C. Com base na LXX, H ales a situa em 5411 a.C. Os Pais segui ram a LXX. Mas as genealogias anteriores e posteriores ao dilúvio podem apresentar-nos só os nomes dos “líderes e representantes”. Alguns desses nomes parecem figurar, não como indivíduos, mas como tribos, p.ex.: Gn. 10.16 - onde se diz que Canaã gerou ao jebuseu e ao amorreu; 29 Joctã gerou a Ofir e a Havilá. Em Gn. 10.6, lemos que Mizraim pertencia aos filhos de Cam. Mas Mizraim é um dual, usado para designar as duas partes: o Alto e o Baixo Egito. Por isso um filho de Cam não podia ter o nome de Mizra im. Em Gn. 10 .13 lê-se: “E Mizraim gerou a Ludim”. Porém Ludim é uma for ma de plural. A palavra significa uma nação inteira, e “gerou” não é emprega do no sentido literal. Assim, os versos 15 e 16 Canaã gerou ... ao jebuseu”, uma tribo; um dos ancestrais teria sido chamado Jebus. Abraão, Isaque e Jacó, contudo, são nomes de indivíduos, não de tribos ou nações. E. G. R obinson : “Podemos bem seguramente remontar ao tempo de Abraão, porém, não mais longe”. Bíblia Sacra, 1 8 9 9 .4 0 3 - “As listas em Gênesis podem não referir-se a indivíduos, mas a famílias”. G. F. W r ig h t , Ant. and Origln of Human Race, Lect. II - Quando no tempo de Davi se diz que ‘Sebuel, filho de Gérson, o filho de Moisés, era o maioral dos tesouros’ (1 Cr. 23 .1 6 ; 26 .24), Gérson era o filho imediato de Moisés, mas Sebuel estava separado de Gérson por muitas gerações. Assim, quando se diz que Sete gerou a Enos quando tinha 105 anos (Gn. 5.6), entende-se que, segundo o emprego hebraico, Enos descendia da linhagem de Sete da qual se separava havia 105 anos e se omitiu qualquer número de ligação interme diária”. Parece que o texto completo se deve à sua alteração no curso dos séculos. Na expressão “Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão” (Mt. 1.1) omitem-se entre trinta e oito e quarenta gerações. Isto pode ter ocorrido em algumas genealogias do Velho Testamento. Há espaço para uma centena de milhar de anos, se for o caso (Conant). W . H. G r e e n , em Biblla Sacra, abr 1 8 90 .3 03 e em Independent, 18 de jun de 1891 - “As Escrituras não nos fornecem nenhum dado para um cálculo cronológico anterior à vida de Abraão. Os registros mosaicos não fixam, e nem pretendem fixar, a precisa data do Dilúvio ou da Criação. ... Elas dão uma série de vidas de espécimes, com os próprios números atribuídos, para mostrar, através de exemplos seleciona dos, o que foi o termo original da vida humana. Fazer deles um registro com pleto e contínuo e deduzir a partir deles a antigüidade da raça é empregá-los para uma finalidade a que não se prestam”. A comparação com a história secular também mostra que tal distância de cem mil anos para a existência do homem sobre a terra não parece necessá ria. R awlinson , in Jour. Christ. Philosophy, 1 8 8 3 .3 3 9 -3 6 4 , data o começo da monarquia caldaica de 2 4 0 0 a.C. Lenormant situa a entrada dos indianos sanscríticos no Indostão em 2 5 0 0 a.C. Os mais antigos Vedas estão entre T e o l o g ia S is t e m á t ic a 335 1200 e 1000 a.C. (M ax M üller ). A chamada de Abraão, provavelmente em 1945 a.C. É provável que a história chinesa tenha começado em 2356 a.C. (L e gge ). É possível que o antigo Império no Egito tenha começado em 2650 a.C. R aw linson situa o Dilúvio em 3600 a.C. e acrescenta 2000 anos entre o dilúvio e a criação, fazendo a era do mundo 1886+ 3600+2000 = 7486. S . R. P attis o n , em Present Day Tracts, 3. n2 13, conclui que “as deduções a partir da história, da geologia e da Escritura garantem um termo de cerca de 8000 anos”. A e v id ê n c ia de u m a n a tu re z a g e o ló g ic a e s ta r a cu m u la n d o , o que te n d e a p ro va r o a d ve n to do ho m em so b re a te rra pe lo m en os há dez mil anos. Uma ca b e ç a -d e -s e ta de co b re te m p e ra d o e n u m e ro s o s osso s hu m a n o s nas m inas de R o cky Point, p e rto de G ilm a n, C o lo ra d o , a 400 pé s a b a ixo da su p e rfície da terra, e n vo lto s nu m a veia de m in é rio pra te a d o . M ais de cem d ó la re s de m in é rio co la d o aos o sso s qu a n d o fo ra m re m o vid o s da m ina. G.F. W right , Man and the Glacial Epoch, p re le çõ e s IV e X e na McClure's Magazine, ju n 1901 e Bibiia Sacra, 1903.31 - “ fa lo u p rim e iro em 300 m ilh õ e s de anos co m o um a sim p le s b a g a te la de te m p o g e o ló g ico . S eu filh o G eorge lim ita a 50 ou 100 m ilhõe s; L orde K elvin , a 24 m ilhõe s; T hompson e N ewcomb p a ra ap e n a s 10 m ilh õ e s” . S ir A rchibald G eikie , na A s s o c ia ç ã o B ritâ n ica de D o ve r em 1899, disse que 100 m ilh õ e s de an os b a sta va m p a ra a p e q u e n a p o rção da h istó ria da te rra que está re g istra d a na c ro s ta das roch as e stra tifica d a s. S haler , Interpretation o f Nature, 122, considera que a vida vegetal existia no planeta pelo menos 100 milhões de anos. W arren U pham , em Pop. Science Monthly, dez 18 9 3 .15 3 - “Que idade tem a terra? 100 milhões de anos”. D. G. B righton , em Forum, d e z 18 93 .4 54 , s itu a o lim ite m ín im o da existê n cia do ho m em so b re a te rra em 50 mil anos. G. F. W right não d u vid a de que a p re se n ça do ho m em ne ste c o n tin e n te é p ré -g la cia l, isto é, há on ze ou doze m il anos. Ele a firm a que ho u ve um re b a ixa m e n to da Á s ia C e n tra l e do S u d e s te da R ú ssia d e sde o ad ve n to do ho m em e que a in d a se e n co n tra m focas á rtica s no Lago B aical na S ib é ria . C o n q u a n to a d m ite que a civ iliz a ç ã o eg ípcia pode re m o n ta r a 50 m il a.C ., ele su s te n ta que não m ais de 6 m il ou 7 m il anos an te s d isto era m n e c e s s á rio s co m o p re p a ra ç ã o p a ra a histó ria . L e C onte , Elements ofGeology, 6 1 3 - “ O s ho m e n s vira m as g ra n d e s g e le ira s da se g u n da ép o ca glacia l, m as não há e v id ê n c ia s e g u ra da s u a e x is tê n c ia an tes da p rim e ira época. D eltas, im p le m e n to s, as pra ia s la cu stre s, as qu ed as d ’água, in dica m ap e n a s de 7 m il a 10 m il an os. C á lc u lo s re ce n te s do P rof . P restwich , o m ais e m in e n te g e ó lo g o vivo da G rã B re ta n h a , te n d e a d a r-n o s o fim da ép o ca g la cia l a b a ixo de 10 m il ou 11 m il anos. d) M esm o que se encontrasse erro em m atéria de ciência na Escritura, não desaprovaria a inspiração, visto que ela se preocupa com a ciência só quando os pontos de vista científicos corretos são necessários à m oral e à religião. Grandes prejuízos resultam da identificação da doutrina cristã com as teorias específicas do universo. A Igreja Romana sustentava que a Escritura ensinava a revolução do sol em torno da terra e que a fé cristã requeria a condenação de G alileu ; J ohn W esley ensinava que o cristianismo é insepa 336 A ugustus H opkins Strong rável da crença na feitiçaria; os oponentes da alta crítica consideram a auto ria mosaica do Pentateuco “articulus stantis vel cadentis ecclesiae” (inabalá vel artigo ou assunto encerrado da igreja). É grande o nosso engano ao ligar mos a inspiração à doutrina científica. O propósito da Escritura não ensinar ciência, mas religião e, exceto a obra criadora e preservadora de Deus no universo, nenhuma verdade científica é essencial ao sistema de doutrina cris tã. A inspiração pode deixar os escritores da Bíblia de posse das idéias cien tíficas da sua época, apesar de que eles eram cheios do poder de declarar corretamente tanto a verdade ética como a religiosa. O espírito justo, na ver dade, recebe um certo discernimento quanto ao sentido da natureza e deste modo os escritores da Bíblia parecem estar imunes de incorporar na sua pro dução muitos erros científicos da sua época. Mas a inteira liberdade de tal erro deve ser considerada como um acessório necessário da inspiração. 2. E rro s em m atéria de H istória A esta objeção retrucam os: a) O que é atacado com o tal são freqüentem ente sim ples equívocos na transcrição e não tem nenhum a força com o argum ento contra a inspiração, a não ser que prim eiro se possa dem onstrar que os docum entos inspirados são pelo m esm o fato de sua inspiração isentos da operação das leis que afetam a transm issão de outros docum entos antigos. Não temos nenhum direito de esperar que a inspiração do escritor original será seguida de um milagre no caso de cada copista. Por que crer que haja copistas infalíveis, assim como impressores infalíveis? Deus nos ensina a tomar cuidado com a sua palavra e com a transmissão correta. O respeito tem conservado as Escrituras mais livres de várias leituras do que ocorre com os outros manuscritos antigos. Nenhuma das variações existentes põe em perigo qualquer importante artigo de fé. Contudo, provavelmente há alguns erros na transcrição. Em 1 Cr. 22.14, em vez de 100 mil talentos de ouro e um milhão de talentos de prata (=3 bilhões e setecentos e cinqüenta milhões de dólares), J osefo divide o total por dez. D r . H ow ard O s g o o d : “O escritor fran cês R evillout explica os números diferentes em Reis e Crônicas do mes mo modo em que, mais tarde ele explica as mesmas diferenças nos relatos egípcios e assírios, pela mudança no valor do dinheiro e desvalorização do poder aquisitivo. Ele mostra a mudança em toda a Ásia ocidental”. Em 2 Cr. 13.3,17, onde se diz que o número de homens nos exércitos da Palestina afirma-se que 400 mil e 800 mil e 500 mil foram mortos numa só batalha, “algumas cópias antigas da Vulgata e traduções latinas de Josefo registram quarenta mil, oitenta mil e cinqüenta mil”. Em 2 Cr. 17.14-19, o exército de Josafá reúne um milhão e seiscentos mil além das guarnições das suas fortalezas. É possível que, por erro na transcrição, estes números tenham sido multiplicados por dez. Outra explicação, contudo, talvez mais provável é apresentada na letra (d) abaixo. Semelhantemente, compare 1 Sm. 6.19, onde 50.070 são mortos contra 70 de Josefo; 2 Sm. 8.4 - “mil e T e o l o g ia S is t e m á t ic a 337 setecentos cavaleiros” contra 1 Cr. 18.4 - “sete mil cavaleiros”; Et 9.16 - 75 mil mortos pelos judeus contra LXX - “15 mil”. Em Mt. 27.9 temos “Jerem ias” em lugar de “Zacarias” - C alvino admite que isto seja um erro; e, se se trata de um erro, então foi cometido pelo primeiro copista porque ele aparece em todos os unciais, todos manuscritos e todas as versões, exceto a Siríaca Peshita onde ele é omitido evidentemente com apoio na autoridade do copista indivi dual e do tradutor. Em At. 7 .16 - “sepultura que Abraão comprara” - H ackett considera “Abraão” como um erro em lugar de “Jacó” (compare Gn. 33.18,19). b) Outros assim cham ados erros devem ser explicados com o um uso perm issível de núm eros redondos que não podem ser negados aos escritores sagrados a não ser apoiados no princípio de que a precisão m atem ática é mais im portante que a im pressão geral a ser garantida pela narrativa. Em Nm. 25.9 menciona-se que na praga caíram 24 mil; 1 Co. 10.8 fala em 23 mil. É possível que o número esteja entre os dois. Com base em sem e lhante princípio, não temos nenhum escrúpulo em celebrar o Desembarque dos Peregrinos em 22 de dez. e o nascimento de Cristo aos 25. Falamos da batalha de Bunker Hill, embora nesse local não tenha havido nenhuma bata lha. Em Ex. 12.40,41, declara-se que a peregrinação dos israelitas foi de 430 anos. Contudo, Paulo, em Gl. 3.17, diz que a doação da lei através de Moisés foi a 430 anos após a chamada de Abraão e esta ocorreu 2 15 anos antes de Jacó e seus filhos descerem para o Egito; Paulo teria dito 645 anos em vez de 430. F ranz D elitzs c h : “A Bíblia hebraica conta da peregrinação egípcia (Gn. 15.13-16), mais corretamente 430 anos (Ex. 12.40); mas segundo a LXX (Ex. 12.40) este número compreende a peregrinação em Canaã e no Egito, de modo que 215 de peregrinação em Canaã e 215 de cativeiro no Egito. Este tipo de cálculo não é exclusivamente helenístico; encontra-se também no antigo Midraxe Palestino. Paulo defende isto em Gl. 3.17, fazendo, não a imigração para o Egito, mas a aliança com Abraão o terminus a quo dos 430 anos que terminam no êxodo do Egito e na legislação”. O propósito de Paulo não era fazer cronologia, de sorte que ele seguiu a LXX e chama o tempo entre a promessa a Abraão e a entrega da lei a Moisés 430 anos e não os verdadeiros 600. Se ele tivesse dado um número maior, poderia ter causado perplexidade e discussão sobre o assunto que nada tinha a ver com a ques tão vital em foco. A inspiração pode ter empregado afirmações correntes embora não precisas em assuntos que se referem à história, porque eram recursos mais valiosos para impressionar a mente dos homens sobre a ver dade de modo mais importante. Em Gn. 15 .13 os 430 anos são arredondados para 400, o que também ocorre em At. 7.6. c ) D iversidade de relatos do m esm o evento no que não se refere a nenhum a verdade substancial pode dever-se à pequenez d a narrativa e pode-se explicar plenam ente se algum sim ples fato, ora não registrado, é som ente conhecido. E xplicar estas aparentes discrepâncias não só estaria além do propósito do A ugustus H opkins Strong 338 registro, m as destruiria um a valiosa evidência da independência dos diversos escritores ou testem unhas. N o ju lg a m e n t o d e S t o k e s , o j u i z f a lo u e m d u a s t e s t e m u n h a s a p a r e n t e m e n te c o n f lit a n t e s , m a s n e n h u m a d e la s n e c e s s a r ia m e n t e f a ls a . S o b r e a d if e à c e n a d o S e r m ã o d o M o n te (M t. 5.1; 6.17) ver S ta n le y , Sinai and Palestine, 360. Q u a n t o à e x is t ê n c ia d e u m c e g o o u d o is (M t. 20.30 cf. L c . 18.35) y e r B u s s , Com. on Luke, 275 e G a r d in e r , e m Biblia Sacra ju l 18 79.5 13,5 14; J e s u s p o d e t e r c u r a d o o s c e g o s d u r a n t e a r e n ç a e n tr e M a te u s e L u c a s q u a n t o cf. Lc. e x c u r s ã o d e u m d ia p a r t in d o d e J e r ic ó e is to p o d e s e r d e s c r it o c o m o “ q u a n d o e le s s a í r a m ” , o u “ q u a n d o e le s s e a p r o x im a r a m d e J e r ic ó ” . P r o f . M . B. R iddle : “ Lc. 18.35 d e s c r e v e o m o v im e n t o g e r a l p a r a J e r u s a lé m e n ã o o p r e c is o p o r m e n o r q u e a n t e c e d e u a o m ila g r e ; M t. 20.30 s u g e r e q u e o m ila g r e o c o r r e u d u r a n t e u m a e x c u r s ã o a p a r t ir d a c id a d e ; L u c a s m a is t a r d e fa la d a p a r tid a f in a l” ; C a lv in o d e f e n d e d o is e n c o n t r o s ; G o d e t d u a s c id a d e s ; s e J e s u s c u r o u d o is c e g o s , s e m d ú v id a e le c u r o u u m e L u c a s n ã o p r e c is a v a m e n c io n a r m a is de u m , a in d a q u e tiv e s s e M t. 20.30. E m M t. 8.28, c o n h e c im e n to o n d e s e r e g is t r a m de am bos; ver B ro a d u s s o b re d o is d e m o n í a c o s e m G a d a r a e L u c a s s ó u m e m G e r a s a , B r o a d u s s u p õ e q u e a a ld e ia d e G e r a s a p e r te n ç a à c id a d e d e G a d a r a , p o u c a s m ilh a s a o s u d o e s t e d o la g o e c it a o c a s o d e L a fa y e tt e : E m 1824 L a f a y e t t e v is it o u o s E s ta d o s U n id o s e fo i r e c e b id o c o m h o n r a s e p o m p a . A lg u n s h is t o r ia d o r e s m e n c io n a m a p e n a s L a fa y e tte , m a s o u tr o s r e la ta m a m e s m a v is it a e a s m e s m a s h o n r a s r e c e b id a s p o r d u a s p e s s o a s , a s a b e r , L a fa y e tte e s e u filh o . N ã o e s ta r ã o a s d u a s n a r r a t iv a s c e r t a s ? ” A g o s tin h o : “ L o c u tio n e s v a r ia e , s e d n o n c o n tr a r ia e ; d iv e r s a e , s e d n o n a d v e r s a e ” ( P r o n u n c ia m e n to s v á r io s , m a s n ã o c o n tr á r io s ; d iv e r s o s , m a s n ã o a d v e r s o s ) . B artlett , em Princeton Rev., jan 1880.46,47, dá as seguintes ilustrações modernas: Winslow’s Journal (da Plantação de Plymouth) fala de um navio enviado “pelo Mestre Weston”. Mas B radford em sua narrativa mais breve sobre o assunto, menciona-o como enviado “pelo Sr. Weston e uma outra pessoa”. J ohn A da m s , em suas cartas, conta a história da filha de Otis sobre os manuscritos do seu próprio pai. Na época ele a faz dizer: “Em um dos seus infelizes momentos ele os entregou todos às chamas”; contudo, numa segun da carta, ela se apresenta dizendo que “ele passou vários dias fazendo isso”. Um jornal diz: o Presidente Hayes assistiu ao centenário de Bennington; um outro diz: o Presidente e a sua esposa; um terceiro: o Presidente e o seu Gabinete. O Gabinete de Arquibaldo; um quarto: o Presidente, a Sra. Hayes e a maioria do seu Gabinete. Arquibaldo Forbes, em seu relato de Napoleão III em Sedan, assinala um acordo de narrativas quanto aos pontos relevantes combinados com as “desesperançadas e confusas discrepâncias quanto aos pormenores”, mesmo quando feitos por testemunhas oculares, inclusive ele próprio, Bismarck e o General Sheridã que estava em terra assim como os outros. T hayer , Change of Attitude, 52 fala do “rude anacronismo a respeito de Teudas” - At. 5.36 - “Porque, antes destes dias, levantou-se Teudas”. J o s e fo , Antiquities, 20.5.1, menciona um rebelde Teudas, mas a data e outros inci dentes não concordam com os de Lucas. Josefo, contudo, pode ter errado a T e o l o g ia S is t e m á t ic a 339 data com a mesma facilidade que Lucas, ou ter feito referência a um outro homem do mesmo nome. A inscrição na cruz é dada em Mc. 15.26, como “o Rei dos judeus”; em Lc. 23.38, como “Este é o Rei dos judeus”; em Mt. 27.37 como “Este é Jesus o Rei dos judeus”; e em Jo. 19.19, como “Jesus Nazare no, Rei dos Judeus”. A inscrição inteira em hebraico, grego e latim pode ter contido cada palavra dada pelos demais evangelistas combinados e pode ter sido “Este é Jesus, Nazareno, o Rei dos Judeus”, e cada relato separado pode ser inteiramente correto. d) Enquanto as descobertas históricas e arqueológicas em m uitas im por tantes particularidades sustenta a correção geral das narrativas da Escritura e nenhum a declaração essencial do ensino m oral e religioso da Escritura foi invalidado, a inspiração ainda é consistente com m uita im perfeição no porm e nor histórico e suas narrativas “não parecem estar isentas das possibilidades de erro” . As últimas palavras citadas são de S anday . Em suas Bampton Lectures on Inspiration, 400, assinala que “ela pertence aos livros históricos e tem uma lição religiosa em vez de histórias; interpreta em vez de narrar claramente o fato. O ponto crucial é que, quanto a estes últimos, parecem isentos das pos sibilidades de erro”. R.V. F o s te r , Sistematic Theology, (Presbiteriano de Cumberland): Os escritores da Bíblia “não foram inspirados a fazer outra coisa senão tomar estas afirmativas como as encontraram”. Inerrância não é estar livre de afirmativas equívocas, mas do erro definido como aquilo que desencaminha em qualquer sentido sério ou importante”. “Quando comparamos os relatos de 1 e 2 Crônicas com os de 1 e 2 Reis achamos naqueles um exage ro de números, uma supressão de material desfavorável ao propósito do escritor e uma ênfase naquilo que é favorável que contrasta fortemente com o método deste. Estas caraterísticas são de tal modo contínuas que a teoria dos erros na transcrição não parece suficiente para explicar os fatos. O obje tivo do autor é tirar lições religiosas da história e os pormenores históricos não têm para ele relativa importância. H. P. S m it h , Bib. Schorlarship and Inspiration, 108 - “A inspiração não corrige o ponto de vista histórico do escritor das Crônicas, nem corrige o cien tífico, que faz da terra o centro do sistema solar. Por isso deixa-o aberto para receber documentos e utilizá-los, os que idealizaram a história do passado e descreveram Davi e Salomão conforme as idéias dos tempos mais tardios e da classe sacerdotal. Omitiram-se pecados de Davi e multiplicaram-se os números a fim de dar maior dignidade ao reino antigo”. Como os Idílios do Rei de T ennyson apresentam um quadro mais nobre do rei Artur e um aspecto mais definido da sua história do que os verdadeiros registros justificam, enquanto o quadro ensina grandes lições morais e religiosas, assim o escritor das Crônicas parece ter manipulado o seu material no interesse da religião. Os assuntos de aritmética são de valor inferior. “Majoribus inventus est”. E. G. R o b in s o n : “Os números da Bíblia são caraterísticos de uma era semibárbara. Os escritores tiveram o cuidado de conjeturar o suficiente. 340 A ugustus H opkins Strong A tendência de tal época é exagerar sempre”. Dois selvagens de Formosa dividem cinco peças entre si, tomando duas cada um e jogando fora uma. As tribos inferiores podem contar só nos dedos das suas mãos: quando tam bém usam os artelhos, isto marca um avanço na civilização. Para a criança moderna cem é um número tão grande como um milhão. Do mesmo modo as Escrituras parecem empregar os números com uma ignorância infantil quan to ao seu significado. Centenas de milhares podem ser substituídos por deze nas de milhares e a substituição só parece um tributo próprio da dignidade do sujeito. G o r e , em Lux Mundi, 353 - “Não se trata de uma perversão conscien te, mas de uma idealização inconsciente da história, leitura de registros pas sados, de um desenvolvimento ritual que mais tarde se realizaria. A inspira ção exclui o engano consciente, mas parece ser perfeitamente consistente com este tipo de idealização; sempre supondo que