C2 – RELATÓRIO
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C2 – RELATÓRIO
GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ C2 – RELATÓRIO 1 – CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO 1.1 -INTRODUÇÃO 1.2 -ENQUADRAMENTO DA ÁREA EM ESTUDO Área de intervenção do Plano Evolução histórico- urbanística Enquadramento e acessibilidade Geomorfologia e clima Temperatura Geologia Hidrologia Precipitação Geada e nevoeiro Humidade relativa do ar Vento Caracterização do solo Caracterização ecológica Caracterização demográfica do concelho Sectores de actividade no concelho Condicionantes legais 1.3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA Introdução Metodologia Caracterização das edificações Caracterização dos espaços urbanos Caracterização sócio económica e de habitabilidade 2 – PROPOSTAS E FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICA 2 1– INTRODUÇÃO 2.2 – GRAUS DE INTERVENÇÃO 1 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ 2.3 – UNIDADES DE INTERVENÇÃO Unidade de intervenção nº 1 Unidade de intervenção nº 2 Unidade de intervenção nº 3 Unidade de intervenção nº 4 Unidade de intervenção nº 5 2.4 – FUNCIONAMENTO VIÁRIO PROPOSTO 2.5 – RISCO ARQUEOLÓGICO 2.6 – INFRA-ESTRUTURAS 2.7 – SISTEMA DE RECOLHA DE LIXOS 2 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ 1 – CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO 1.1- INTRODUÇÃO Com a elaboração do Plano de Pormenor de Renovação Urbana de Lapela, pretende-se implementar uma estratégia concelhia de promoção de áreas limítrofes do município, da qual Lapela faz parte, encetando a recuperação e reabilitação das mesmas. As estratégias do Plano de Pormenor destacadas já para a reabilitação do centro histórico da vila de Monção, apelam para um redimensionamento dos espaços concelhios e a sua promoção a nível local, regional, nacional e internacional. Plena de intenção e vocação para o desenvolvimento e interligação turística, essa transposição assenta num esforço de promoção/oferta não só de beleza dos espaços urbanos, quer medieval, quer setecentista da vila de Monção, mas também a beleza e a identidade de outros espaços rurais, como é o caso de Lapela, projectando-se assim todo o concelho. O concelho de Monção é extremamente rico em paisagem natural e humana, as quais, devidamente articuladas e promovidas dinamizarão a afluência de gentes e de novas formas de investimento. A articulação e exploração destes factores foram, em outros casos bem conhecidos, quer a nível nacional, quer internacional, fonte de riqueza, motivo de fixação das populações e consequente combate à desertificação humana, impulsionadores de novas industrias e de procura turística, desde que bem publicitados e dotados de infra-estruturas de lazer e animação. A componente humana/natural, um dos preciosos trunfos deste concelho, só fará sentido com o estabelecimento de regras que permitam a correcta assimilação dos valores intrínsecos à ruralidade/urbanismo monçanenses, dos saberes e particularismo dos seus povos, seus comportamentos e conforto etnológico. Para tal, e seguindo a tal estratégia de articulação/exploração de paisagem humana/natural, bem como do urbanismo/ruralidade monçanense, quer-se ligar o centro histórico de Monção a núcleos que encerrem particularismos intrínsecos do concelho, como é o caso de Lapela. Revelou-se imperioso assim, a recuperação de Lapela através do Plano de Pormenor de Renovação Urbana. A elaboração deste Plano pressupõe a sua divisão em 4 fases: 3 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ 1ª Fase – Elaboração dos estudos de caracterização e diagnóstico 2ª Fase – Propostas 3ª Fase – Proposta final do Plano 4ª Fase – Aprovação 4 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ 1.2 – ENQUADRAMENTO DA ÁREA DE ESTUDO A ÁREA DE INTERVENÇÃO DE PLANO Tratando-se de um conjunto algo vasto, mas com um carácter de agregação bem estruturado, define-se a área de intervenção do Plano abrangendo os locais compreendidos entre o Rio Minho e a estação do caminho-de-ferro e espaços anexos a ela de domínio público, como limite norte a sul, respectivamente, desde o início da Rua de Lapela até à linha da Ribeira de Lara como limites Este e Oeste. Todo este espaço encontra-se em progressiva degradação e urge intervir fundamentalmente junto à Torre, Monumento Nacional por decreto de 16/6/1910, cujas condições de visibilidade e empatia turística estão muito deteriorados. O restante espaço beneficiaria do plano e enquadraria com muita qualidade, tal como outrora, em elemento importante da história portuguesa. EVOLUÇÃO HISTÓRICO URBANÍSTICA 1- Torre de Lapela 5 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ Lapela evidencia-se das restantes trinta e duas freguesias do concelho de Monção pela sua localização sobranceira ao rio Minho, com uma deslumbrante paisagem natural, à qual se alia um dos símbolos do património histórico monçanense, sendo considera por decreto lei de 16 de Junho de 1910, n.º 136 de 23 de Junho, como Monumento Nacional – a Torre Medieval de Lapela. Sem dúvida que nos parece que, em tempos idos, foi em torno deste símbolo defensivo e do próprio rio, que juntamente com os campos envolventes, davam o sustento àquela comunidade. As origens de Lapela devem-se, no entanto, procurar no conjunto que constitui a história do concelho de Monção, onde um pouco por toda a parte se pode encontrar um testemunho do seu passado, muitas vezes pré-histórico, outras mais recente, mas sempre de grande importância, pois todos constituem as raízes desta região e seus habitantes. À semelhança de outros locais do concelho de Monção, não é de todo descabido pensar que nos terraços fluviais de Lapela existam indicadores arqueológicos de períodos tão remotos como o Paleolítico. Facto este a confirmar-se, vem corroborar com a teoria da importância do rio Minho para a fixação de população nas suas margens, desde muito cedo, pois este assume-se como um importante recurso económico primário e ponto de passagem e comunicação. Para avaliar a presença humana durante o Paleolítico, devemos atentar em publicações da autoria, por exemplo de José Augusto Maia Marques1 e Carlos Alberto Brochado de Almeida2, sobretudo no que respeita a relatórios de escavações recentes na vila de Monção, sede de concelho. A passagem do Homem por Monção durante a Pré-história recente não se fez sentir com muita intensidade, a julgar pela falta de evidências arqueológicas, não se conhecendo concretamente para Lapela nenhum vestígio deste período. O Homem de à 8 000/3 000 anos atrás, condicionado por uma economia proto- agrícola e fundamentalmente pastoril, fixar-se-ia preferencialmente em zonas altas, fazendo-se sentir a sua presença nos locais mais periféricos do concelho, junto à serra. Na Idade do Bronze, época em que se desce dos altos montes e as gentes se fixam junto a vias de comunicação e rios; vê-se maiores indícios destes povoados mais próximo do rio Minho e Mouro, contudo, apesar dos topónimos, continua-se a desconhecer vestígios arqueológicos para 1 MARQUES (1984):Marques, José Augusto Maia, Inventário Arqueológico de Monção. Estado da Questão, in separata da Revista de História da Universidade Livre, vol. I, pp. 73- 110. Porto, 1984. 6 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ Lapela, sendo o mais próximo a Cividade de Cortes, o Alto da Cataluda, onde se encontraram cerâmicas da Idade do Ferro (vulgo castrejas), e o próprio morro da vila de Monção. A importância adquirida pelos metais vai impedir a região de se fechar sobre si própria. Apesar de rico em estanho, eram carentes em cobre. A procura desse metal, indispensável ao fabrico do bronze, gerou uma diversidade de contactos com o exterior, permitindo um intercâmbio de culturas e experiências tecnológicas e artísticas, com povos distantes. Também as características naturais desta região mostraram-se favoráveis à instalação e desenvolvimento das comunidades da Idade do Ferro, permitindo uma persistência de formas de ocupação e aproveitamento dos recursos naturais existentes então. 2- Vista sobre Lapela, com barcas a travessarem o rio, ainda durante o século XX. Segundo Amélia Aguiar Andrade3, se pegarmos num mapa com a inventariação das estações castrejas do Norte de Portugal, elaborada por Armando Coelho da Silva, e a 2 ALMEIDA (1998-99):Almeida, Carlos Alberto Brochado de, Uma Intervenção Arqueológica na Residência Paroquial da Vila de Monção, in Separata da Revista Portugalia, nova série – vol. XIX-XX. Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 1998-1999. 3 ANDRADE (1994): Andrade, Amélia Aguiar: Vilas, Poder Régio e Fronteiras: o exemplo de Entre Lima e Minho Medieval. Lisboa. 1994. 7 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ sobrepusermos a uma outra com delimitação das paróquias constantes nas Inquirições de 1258, é clara a semelhança da densidade de ocupação humana. Sabe-se que os romanos também andaram por aqui, e que a conquista efectiva do Noroeste Português se efectuou por volta de 25 a C., contudo as marcas da sua passagem por estas terras não são muito vivas, tampouco a nível toponímico. Pois, os habitantes dos numerosíssimos castros que os montes e colinas minhotas, apesar de extremamente divididos, eram agressivos e senhores de uma cultura ancestral e rudimentar, senhores de uma civilização de granito e que, por isso, ofereceram grande resistência ao invasor e ocupante (PORTUGUÊS: 2002; 1024). Vestígios dos primeiros séculos já nossa era encontramos em Cortes, onde existe uma necrópole e topónimos como Cevidade e Parafita. Em Lapela os topónimos que poderão indicar alguma relação com este período são Agra, S. Lourenço e Crasto, embora todos eles afastados do núcleo central da freguesia, e fruto de intervenção. Segundo, ainda, Amélia Aguiar Andrade, os mesmos metais que haviam atraído os povos indo-europeus milénios antes de Cristo a fixarem-se nas margens verdejantes e idílicas do Minho, atraíram também a cobiça dos povos tradicionalmente chamados bárbaros, provocando a divisão da Península Ibérica. Coube aos suevos o domínio da parte exterior desta parte da Península Ibérica, mais precisamente na área correspondente ao Entre Lima e Minho. Contudo a passagem do domínio romano para as monarquias visigodas, bem como a instalação destas últimas no território actualmente pertencente ao concelho de Monção, é um campo que permanece lacunar, não só o que respeita a documentação sobre o assunto, mas também no que concerne a elementos fornecidos pela arqueologia (BROCHADO: 2002, 35). Quanto à toponímia esta pode resultar sem dúvida germânica mas também de origem sueva, visigótica ou da reconquista (ex. Mendo, Martins, Sende, Tarendo, etc.). Aí, onde a Europa e África quase se tocam, onde um exíguo estreito une mais do que separa, um destino impunha-se como óbvio aos invasores muçulmanos: a Península Ibérica (ANDRADE: 1994, 99)6. Assim, já no século VIII, os muçulmanos invadem o nosso território, não ocuparam efectivamente o território nestas paragens, mas as suas incursões no terreno 4 PORTUGUÊS (2002): Português, Ernesto, São Salvador de Cambeses: Memória e Identidade de um Povo. Monção, 2002. 5 BROCHADO (2001): Brochado, Cláudio R. Laranjeira, Evolução Histórica- urbanística de Monção, in Plano de Pormenor de Salvaguarda e Reabilitação do Centro histórico de Monção. Gabinete técnico de Monção, 2001. 6 ANDRADE (1994): obra citada. 8 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ obrigaram a população autóctone a procurar refúgio noutras paragens, que não o vale do rio Minho, tão sujeito a razias. Este período dos raids muçulmanos juntamente com a chegada dos normandos, a partir do século IX, tornaram a Idade Média um período conturbado, não se conhecendo nada sobre Lapela durante este longo período. A instabilidade resultante de tantas invasões forçou as populações a procurarem pontos estratégicos no terreno, em torno dos quais se agrupam e organizam pontos de defesa contra o inimigo que de tempos a tempos os visita. São os castelos roqueiros, por se implantarem em maciços graníticos de grandes dimensões e de difícil acesso, que agora são preferidos em relação às zonas baixas, facilmente assombradas pelos inimigos, como é o caso de Lapela. Em Monção o local por excelência é a Pena da Rainha que se destaca como o único conhecido castelo roqueiro, cabeça de terra, a par do lugar do Castelo, nos Milagres – Cambeses, e outros com este topónimo espalhados por todo o concelho, que também terá servido para o mesmo fim. Nesta altura a região de Entre Lima e Minho fazia parte de uma vasta área, a que Amélia Aguiar de Andrade chama de terra de ninguém, que separava cristãos e muçulmanos. No século IX, com o florescer do bispado de Tui, a região do Baixo Minho rejuvenesce, retorna-se à ocupação das zonas mais próximas do litoral, mais férteis e adequadas a práticas agrícolas, mais diversificadas que eram as mais familiares aos recém- chegados. Já no século XI, condes como Sisnando Davides, do condado conimbricence, juntamente com infanções, de Entre Douro e Minho, e do rei Afonso VI, conquistaram a Península Ibérica até à margem do rio Tejo, incluindo Toledo, ficando toda a região do Alto Minho novamente longe da fronteira com os sarracenos e restaura-se mais uma vez a diocese de Tui. Também ainda durante este século, XI, Afonso VI acolhe na Península Ibérica jovens cavaleiros, em busca de fama e de riqueza, que vinham em nome de Deus e da fama conquistar terras aos infiéis. As primeiras referências de Lapela como povoado, aparecem nas crónicas de Afonso Henriques, que dizem que este mandou povoar este lugar, após a sua vitória na Batalha de Valdevez, altura em que combatia com Galiza e Castela, e em que se mostrava de mor interesse a defesa do nosso território7. 7 Na Crónica do Imperador Afonso VII, Maurilio Pérez González, descreve o local onde este (Afonso VII) e Afonso Henriques se encontraram para o combate de Valdevez: “Depois o imperador acampou frente ao castelo chamado Pena da Rainha, no lugar denominado Portela do Vez. Por sua vez, o rei de Portugal levantou as suas tendas frente ao acampamento do imperador num lugar bastante elevado e abrupto, e havia um vale entre eles. Então muitos 9 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ Sabe-se então de uma carta de povoamento8, mas não há menções a qualquer tipo de obra fortificada, aliás até às guerras da Restauração, nada se sabe desta obra, que até nós só chegou a torre de menagem, datada por muitos do século XIV, alturas do reinado de D. Fernando9. Em 1212, altura em que Afonso III estava em conflito com as Infantas Sancha e Mafalda, Afonso IX, aproveita para invadir a fronteira norte de Portugal, destruindo o Castelo de Contrasta e conquista a Vila de Melgaço entre outras fortalezas da raia transmontana, não se fazendo, mais uma vez, qualquer menção a obra fortificada em Lapela. Durante as Inquirições de 1258 várias são as queixas de galegos invadirem a parte portuguesa do rio, com as suas redes. Mais motivos de rivalidades entre as duas margens do rio, que então funcionava como linha de fronteira10. Segundo Amélia Aguiar de Andrade existem dois pontos importantes a reter da leitura dos textos das Inquirições de 1258: as estruturas militares em pontos elevados que asseguram a vigilância das terras planas ou protecção de vias de comunicação; a formação do Condado Portucalense privilegia os flancos norte e leste = fortalezas isoladas, passíveis de manter com guarnições pouco numerosas e que poderiam assegurar a protecção a áreas mais ou menos alargadas, o que poderá justificar a existência do pequeno castelo de Lapela. duques e cavaleiros sem a ordem do imperador e os cavaleiros do rei deixaram o acampamento e começaram um combate entre si; e foram presos muitos de uma e outra parte ao cair dos seus cavalos a terra”. 8 Uma carta de povoamento, surge nesta época como um texto destinado à promoção do desenvolvimento de pólos de ocupação em zonas que, pela sua perigosidade militar, não se mostravam especialmente atractivas à ocupação humana, ratificando uma partilha de vantagens entre o rei e uma comunidade. Situação que sem dúvida atravessaria então toda a zona raiana do Minho. A carta de foral de Lapela, datada de 1208, renova os foros com que tinha sido povoada in diebus regis D. Alfonsi, existente no Livro II de Além Douro, folha 269. 9 Sabe-se através de documentos dos livros das Inquirições da P M H, que se cobrava portagem em Lapela e que esse imposto revertia a favor do monarca. “Item dixernut que in Lapela filiam portagem pora el rey”. P M H, Inq., 1º alçada, vol. I, fasc. 3, pág. 369. 10 Em Monção onde a teimosia dos galegos em lançarem as redes no lado português do rio, levava os habitantes da vila a dizerem aos inquiridores que se o «fazyam os desta villa os hyão espancar e os fazião meter em Regras». TT, Núcleo Antigo, n.º 289 – Tombo das delimitações de Trás os Montes e Dantre o Doiro e Minho, Livro XLIII, fl. 166. 10 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ Durante o período conturbado do início da governação do Mestre de Avis, na Crónica de D. João I, Fernão Lopes faz referência à travessia do rei no Vau das Estacas, na freguesia de Lapela11. Não sabemos ao certo quando surgiu a povoação medieval de Lapela, nem ao certo onde ela se situaria, segundo os desenhos de Duarte d’Armas existia um pequeno aglomerado habitacional a sul do castelo, só visível pela vista Oeste, ou seja de Monção. A crescente importância geoestratégica do rio Minho, como fronteira, começou a pesar na influência das povoações. Os castelos multiplicam-se nos sítios mais estratégicos, isto é, nos locais das portelas, sobre a foz dos rios e ao longo dos grandes caminhos de tradição romana12. De modo muito nítido a sua localização responde aos caminhos das razias e incursões árabes, e posteriormente bárbaras a partir dos meados do século XII a ter em atenção os acessos e as rotas da Galiza e de Castela. Desde pelo menos o século X/XI que é evidente a ligação entre os castelos e os mosteiros, e uma hierarquização dentre as fortificações. Mas a subordinação destes montes defensivos, locais, ao castelo cabeça de terra é ainda mais evidente (...) Abrigando muitas vilas, de diversos possuidores, tudo sugere o seu aspecto comunitário e a sua tendência para o concelhio13, situação que se passaria provavelmente no território de Monção, que então se encontrava dividido em dois concelhos, o de Pena da Rainha e o de Valadares, dos quais dependeriam os restantes lugares e paróquias, entre eles Lapela. Já as torres que se multiplicam muito com as senhorias a partir do século XII, são geralmente particulares. Os castelos de Entre Douro e Minho mais que para iniciar o povoamento aparecem para o ampliar, defender e organizar14. 11 Crónica de D. João I, Capítulo CLXVII – Como el rey partio pera Gualliza e do que lhe enveio no vaoo do Minho Mas el rey, posto que taes novas ouvise e lhe dellas desprouvese, naõ mudou porem proposito do que na vomtade tinha que era emtrar por Gualliza por fazer guerra a seus inimigos. E partio loguo pera o Porto e daly mandou chamar suas gentes e foram jumtas a Pomte de Lima, homde fez seu alardo e achou quatro mill lanças e = muiots = peões e besteiros e moveo caminho a Mionçaom (...) E cheguando per açerqua de Monçaom, pediram a Dioguo dAbreu, Alcaide daquele lugar, que mandase huu seu escudeiro, que chamavam Ferna dAires, que lhe fose mostrar o vao (...) e chegaram ao vao das Estaquas - pag 366/ 367 12 ALMEIDA (1978): Almeida, Carlos Alberto Ferreira de, Castelologia Medieval de Entre Douro e Minho. Faculdade de Letras do Porto, Porto, 1978, P. 44. 13 ALMEIDA (1987): P. 46 14 ALMEIDA (1987): P. 47 11 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ É curioso verificar-se como a partir do século XI se nota a cristianização dos montes defensivos. Não são só as capelas castrais dedicadas a S. Miguel, o chefe das milícias celestes, mas também os santuários de devoção a patronos de gado, como S. Mamede 15. 1- Planta do castelo de Lapela segundo Duarte d’Armas A Torre de Lapela é a sentinela dos alvores da nossa nacionalidade a que D. António Costa chamou a Torre de Belém no Minho. Segundo a descrição de Duarte d’Armas, depois do recontro de Valdevez, D. Afonso Henriques mandou fortificar a fronteira do Minho com a Galiza. Entre os fidalgos que se evidenciaram no recontro figurava D. Lourenço de Abreu, senhor do Couto de Merufe. Foi a este fidalgo que Afonso Henriques terá confiado a construção do Castelo de Lapela, junto à margem esquerda do Rio Minho, num local aprazível onde se desfruta uma das mais belas paisagens deste rio. Mais tarde, e devido às novas tácticas militares , o seu valor foi diminuindo, tornando-se as suas muralhas obsoletas e, em 1706, D. João V ordenou a sua destruição, para com as suas pedras reparar as praças de Monção e Salvaterra. 15 ALMEIDA (1987): P. 49 12 GABINETE TÉCNICO LOCAL Câmara Municipal de Monção Largo de Camões 4950 Monção Tel: 251654809 _____________________________________________________________________________________________ Assim, o que nos resta hoje é a torre de menagem, datada provavelmente de D. Pedro I e terminada por D. Fernando, que lhe pôs sobre a porta de entrada o seu escudo de armas, tendo como primeiro alcaide a Vasco Gomes de Abreu. Em escavações arqueológicas recentemente efectuadas numa habitação perto da torre foram encontrados vestígios de um pano de muralha, fazendo-nos crer na dimensão das muralhas do demolido castelo de Lapela. Ainda segundo a tradição, D. Fernando terá reconstruído a torre para fazer frente às investidas leonesas. À qual, mais tarde, D. João I e D. Afonso V ter-lhe-ão adicionado muralhas por esta ser um ponto de passagem importante, continuando a tenência do castelo na família dos Abreu16. 13 ERROR: ioerror OFFENDING COMMAND: image STACK:
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